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Fundamentos do Buda-Dhamma

na prática da meditação
Sayagyi U Ba Khin
Com um curto esboço biográfico
sobre a vida de U Ba Khin

Vipāssana Research Publications

Seattle, WA, U.S.A.

Nota dos editores eletrónicos: Este trabalho foi republicado pela Pariyatti como uma
publicação eletrónica. Perguntas e comentários referentes a esta edição eletrónica devem ser
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867 Larmon Road
Onalaska, Washington
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Pariyatti é uma organização sem fins lucrativos dedicada ao enriquecimento do mundo


mediante:
– a disseminação das palavras do Buda;
– a provisão de sustento para o caminho daqueles que buscam, e
– a iluminação do caminho do meditador.

Agradecimentos ao Vipāssana Research Institute, Igatpuri, Índia pela autorização para


traduzir e imprimir em língua portuguesa.
Sayagyi U Ba Khin (1899-1971) e Fundamentos do Buda-Dhamma na Prática da Meditação
foram ambos originalmente publicados no Sayagyi U Ba Khin Journal, 1991.

Primeira edição em 1991


Segunda edição em 1994

Primeira edição nos Estados Unidos: 1997


Reimpressão: 2003
© Vipāssana Research Institute, 1991

Editor:
Vipāssana Research Publications,
publicação da
Pariyatti Publishing
867 Larmon Road
Onalaska, WA 98570
www.pariyatti.com

Tradição portuguesa, 2010

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Prefácio
Embora de origem humilde, Sayagyi U Ba Khin (1899-1971) teve a sorte de
receber uma excelente educação em escolas missionárias, onde aprendeu a falar
fluentemente inglês. Com habilidades inatas e abundantes foi capaz de se
sobressair em tudo o que fez, tornando-se por fim Contabilista Geral da União
da Birmânia.
Começou a praticar meditação em 1937 com trinta e tantos anos, e também
nisso se sobressaiu rapidamente. Criou uma associação no seu local de trabalho
denominada de ―Associação Vipāssana do Escritório do Contabilista Geral‖, e
começou a ensinar meditação na sua assessoria numa sala que foi reservada
especialmente para esse efeito. A partir deste humilde inicio no escritório do
Contabilista Geral, a Associação Vipāssana com o tempo desenvolveu-se e
tornou-se no Centro Internacional de Meditação, à margem da Estrada Inya
Myaing, em Yangon. U Ko Lay, aluno e biografo de Sayagyi, referiu-se ao CIM
como o ―farol que ilumina o caminho dos viajantes que buscam a paz e a
verdade‖.
Os estrangeiros que visitavam Myanmar e estavam interessados em meditar
eram encaminhados a U Ba Khin devido a sua fluência em inglês e muitos
tornaram-se seus alunos de Vipāssana. Ele também ensinava meditação a
amigos e às famílias dos seus subordinados do escritório de Contabilidade
Geral, assim como a membros da comunidade indiana local. Foi deste modo
que alunos que levariam adiante os seus ensinamentos entraram em contacto
com Sayagyi e receberam a dádiva do Dhamma (a verdade, o ensinamento, o
caminho).
Sayagyi sempre pretendeu levar o Dhamma para além de Myanmar. Queria
levar o ensinamento a quem tivesse bons paramī (armazenamento de ações
meritórias do passado), àqueles dotados para escutar as palavras do Buda e para
dar passos neste caminho ancestral.
Todavia, devido às circunstâncias da época em Myanmar, ele não foi capaz de
realizar este desejo. Mas havia alguns, muito poucos, com paramī brilhantes
para irem até à terra dos pagodes dourados aprender aos pés de Sayagyi, e
esses tempos foram preciosos, onde apenas alguns foram contemplados com a
oportunidade de aprender diretamente do mestre – de meditar na sua
incomparável pequena ilha de paz enquanto eram servidos afetuosamente pelos
seus devotos alunos.
Os Fundamentos do Buda-Dhamma na prática da meditação são a transcrição de
uma mensagem de Sayagyi U Ba Khin gravada para os seus alunos
estrangeiros, que depois de visitarem Myanmar e de praticarem Vipāssana sob
a sua orientação retornavam aos seus países de origem. Esta rara destilação do
ensinamento do Buda foi oferecida pelo Sayagyi com grande zelo e compaixão,
para substituir a sua habilidade de orientar pessoalmente os seus alunos. Que

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boa fortuna, décadas mais tarde, estarem disponíveis para nós, tais instruções,
para podermos incorpora-las na nossas vidas e nas nossas praticas.
Nesta mensagem Sayagyi diz que ―mesmo nos dias de hoje é possível desenvolver-se
este conhecimento‖. Ele não se refere aos tempos do Buda onde vários eram
capazes de desenvolver este conhecimento; as suas palavras são ―mesmo nos dias
de hoje‖. Mas acrescenta: ―vocês devem prosseguir com rigor‖, e esta é a parte da
mensagem que tem de ser observada com atenção. Sayagyi estabelece o
caminho sobre o qual devemos caminhar, o caminho de nibbāna (a etapa da
libertação que está para além da mente e da matéria). Para experimentarmos os
frutos da prática é necessário seguir com rigor estas instruções. Sayagyi afirma
também que, ―bastaria alcançar o primeiro estágio (da libertação)‖. No mundo de
hoje, com as suas distrações intermináveis, este primeiro estado, denominado
de sotāpanna, parece ser uma meta pretensiosa. Não obstante, é este o
propósito deste libreto: como alcançar o primeiro estado no caminho para a
libertação final. Para dar inicio, um praticante sério tem de começar por
participar num curso de meditação de dez dias sob a orientação de um
professor competente. O propósito de tal empenho não é apenas para melhorar
a sua convivência com os outros, ou o seu bem-estar, embora tais benefícios
fluam naturalmente a partir dessa prática. O Dhamma é o caminho para a
iluminação e não para superar as fraquezas da alma.
Sayagyi U Ba Khin era um mestre do Dhamma, a arte de viver. As pessoas que
vieram até ele aprenderam a caminhar na trilha que leva a meta final. Atrevo-
me a dizer que se deparar com este panfleto – numa loja, na casa de um amigo,
num centro de meditação ou num mosteiro – você também tem os paramī para
caminhar neste caminho. Tudo o que precisa de fazer é dar os passos certos. O
ensinamento ainda está aqui, o caminho ainda está aqui: temos apenas de
caminhar nele e os bons frutos virão.
As últimas palavras do Buda ―A decadência é inerente a todas as coisas compostas.
Trabalhem com diligência para a vossa própria salvação.‖ Infelizmente Sayagyi U
Ba Khin nunca pode deixar Myanmar. No entanto, por intermédio do seu
aluno, S.N. Goenka, o ensinamento do Buda na sua forma pura está agora
disponível em todo o mundo. Atualmente, é possível ouvir estas palavras de
libertação e entrar em contacto com um professor capaz de instruir estes
ensinamentos. Trabalhemos diligentemente pela salvação trilhando o caminho
dos iluminados.
—Bill Crecelius
Mendocino, California, 1997

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Sayagyi U Ba Khin (1899-1971)

―O Dhamma erradica o sofrimento e dá felicidade. Quem dá esta felicidade?


Não é o Buda e sim o Dhamma, é o conhecimento de anicca dentro do corpo
que dá a felicidade. Daí a razão de ser necessário meditar e de se estar
continuamente consciente de anicca.‖
Sayagyi U Ba Khin
Sayagyi U Ba Khin nasceu em Iangum, a capital da Birmânia, a 6 de março de
1899. Foi o filho mais novo de duas crianças numa família de meios modestos
que morava num bairro operário. Na época a Birmânia era governada pela Grã-
Bretanha e aprender inglês era muito importante, de facto, os progressos no
mundo do trabalho dependiam de um inglês fluente.
Felizmente, um senhor de idade, de uma fábrica próxima, aconselhou U Ba
Khin a entrar para a Escola de Nível Médio Metodista aos oito anos de idade.
U Ba Khin provou ser um aluno talentoso, ele tinha uma memória excelente e
decorou o seu livro de gramática de inglês da primeira à última página.
Tornou-se no melhor aluno da escola acabando por ganhar uma bolsa de
estudos nessa mesma escola. Mais tarde um professor auxiliou-o a ser admitido
na Escola St Paul, onde de novo se tornou no melhor aluno das turmas do
ensino secundário.
Em março de 1917, foi aprovado no exame final do curso secundário e
condecorado com uma medalha de ouro e com uma bolsa de estudos. Mas as
pressões familiares forçaram-no a interromper os estudos para começar a
trabalhar.
O seu primeiro emprego foi num jornal birmanês chamado The Sun, mas, logo
pouco depois, começou a trabalhar como contabilista numa repartição do
Ministério das Finanças. Eram poucos os birmaneses empregados nas
repartições públicas, porque na época os serviços públicos eram
maioritariamente desempenhados por britânicos ou indianos. Em 1926, U Ba
Khin foi aprovado nos exames para o Serviço de Contabilidade, organizados
pelo governo da província da Índia. Em 1937, quando a Birmânia foi
desmembrada da Índia, U Ba Khin foi nomeado o primeiro superintendente
especial.

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Foi no dia 10 de janeiro de 1937 que Sayagyi experimentou meditar pela
primeira vez. Um aluno de Saya Thetgyi – um agricultor abastado e professor
de meditação – numa visita a U Ba Khin explicou-lhe o que era a meditação
Anapana. Quando Sayagyi tentou, sentiu-se tão concentrado e impressionado
que decidiu frequentar um curso completo. Assim, ele solicitou uma licença de
10 dias e partiu para o centro de meditação de Saya Thetgyi.
A determinação de U Ba Khin para aprender Vipāssana era tão grande que ele
arriscou perder o trabalho tirando uma licença sem a devida permissão e o seu
desejo de meditar era tão forte que passado poucos dias depois de ter
experimentado Anapana já estava a caminho do centro de Saya Thetgyi em
Pyawbwegyi.
O pequeno povoado de Pyawbwegyi ficava a sul da cidade, do outro lado do rio
Iangum, depois de percorridas extensas plantações de arroz. Embora apenas a
24 km da cidade, os campos enlameados antes da colheita faziam do percurso
um caminho distante e demorado.
Quando U Ba Khin cruzou o rio Iangum, era maré baixa e o barco que alugara
só o podia levar até Phyarsu – um vilarejo mais ou menos a meio do caminho –
por afluente que levava a Pyawbwegyi. Sayagyi saltou para a margem do rio,
atolado em lama até aos joelhos e percorreu o resto da distância a pé
atravessando as plantações, quando chegou ao seu destino tinha as pernas
cobertas de lama.
Nessa mesma noite, U Ba Khin e um outro aluno birmanês, aluno de Ledi
Sayadaw, receberam de Saya Thetgyi as instruções de Anapana. Os dois alunos
progrediram rapidamente e receberam Vipāssana no dia seguinte. Sayagyi fez
ótimos progressos durante o seu primeiro curso de dez dias e continuou com a
prática, fazendo frequentes visitas ao centro do seu professor e meditando com
Saya Thetgyi sempre que este vinha a Iangun.
Quando regressou ao trabalho, encontrou um envelope em cima da sua mesa.
Ele temia que fosse uma carta de despedimento, mas descobriu surpreso, que se
tratava de uma promoção. Foi escolhido para o cargo de superintendente
especial no escritório do Ministério das Finanças Birmanês.
Em 1941, ocorreu um incidente aparentemente fortuito que acabou por ser
muito importante na vida de Sayagyi. Numa viagem de trabalho ao norte do
país conheceu, por acaso, Webu Sayadaw, um monge que diziam ter atingido
estágios avançados de meditação. Webu Sayadaw ficou impressionado com
proficiência na meditação de U Ba Khin e aconselhou-o a ensiná-la. Sayadaw foi
a primeira pessoa a encorajá-lo a ensinar. Um relato deste histórico encontro e
subsequentes contactos entre estes dois grandes homens encontra-se no artigo
Venerável Webu Sayadaw e Sayagyi U Ba Khin.
U Ba Khin só começou a ensinar de modo formal uma década após o seu
primeiro encontro com Webu Sayadaw.

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Mas Saya Thetgyi também o encorajou a ensinar Vipāssana. Numa ocasião,
durante a ocupação japonesa, Saya Thetgyi veio a Iangum e ficou em casa de
um funcionário público seu aluno. Quando o seu anfitrião e outros alunos
demonstraram desejo de ver Saya Thetgyi mais frequentemente, ele respondeu:
―Eu sou como o médico que vos pode ver apenas algumas vezes. Mas U Ba
Khin é como o enfermeiro que vos verá a qualquer hora.‖
Sayagyi continuou com o seu trabalho na função pública durante mais 26 anos.
Ele tornou-se Contabilista Geral a 4 de janeiro de 1948, no dia em que a
Birmânia conquistou a sua independência. Ao longo das duas décadas
seguintes, foi designado para ocupar várias funções no governo, assumindo por
vezes dois ou mais cargos, cada um equivalente a chefe de departamento.
Houve uma altura em que assumiu simultaneamente a chefia de três
departamentos diferentes durante três anos e, noutra ocasião, dirigiu quatro
departamentos durante um ano. Quando foi nomeado Diretor do Conselho de
Estado do Comércio Agrícola, em 1956, o governo da Birmânia concedeu-lhe o
título de ―Thray Sithu‖, um elevado título honorário.
Sayagyi dedicou-se exclusivamente ao ensino da meditação apenas nos seus
últimos quatro anos de vida. O resto do tempo combinou as suas aptidões na
meditação com a sua devoção ao serviço público e às suas responsabilidades
familiares. Sayagyi foi um pai de família, casado, com cinco filhas e um filho.
Em 1950, fundou a Associação Vipāssana do Escritório do Contabilista Geral,
onde leigos, maioritariamente funcionários daquela repartição, podiam
aprender Vipāssana. Em 1952, o Centro Internacional de Meditação (CIM) foi
inaugurado em Iangum, a seis quilómetros a norte do famoso pagode de
Shwedagon. Aqui, muitos alunos, birmaneses e estrangeiros, tiveram a boa
sorte de receber de Sayagyi instruções em Dhamma.
Sayagyi esteve envolvido na organização do Sexto Conselho, conhecido como
Chatta Sangayana (a Sexta Recitação), que foi realizado em 1954-56 em
Iangum. Sayagyi foi também um dos membros fundadores em 1950 de duas
organizações que mais tarde se fundiram no Conselho Buddha Sasana da União
da Birmânia (CBSUB), o corpo mais importante da organização do Grande
Conselho. U Ba Khin foi membro executivo do CBSUB e diretor do comité de
patipatti (prática da meditação).
Foi também contabilista honorário do Conselho e por conseguinte, responsável
pela contabilidade de todos os recibos e despesas do dana (donativos). O
Conselho realizou um grande projeto de construção espalhado por cerca de 69
hectares edificando alojamento, refeitórios e cozinha, assim como um hospital,
uma biblioteca, um museu, quatro pousadas e edifícios administrativos para
promover a ―Maha Pasanaguha‖ (Grande Caverna), uma sala gigantesca onde
aproximadamente cinco mil monges birmaneses e do Sri Lanka, da Tailândia,
da Índia, do Camboja e de Laos se reuniram para recitar, purificar, editar e
publicar o Tipitaka (escrituras). Os monges trabalharam em grupos e

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prepararam os textos em pali para publicação, comparando-os com as edições
da Birmânia, do Sri Lanka, da Tailândia e do Camboja, e com a edição em
carateres românicos da editora londrina, Sociedade de Textos Pali. Os textos
corrigidos e aprovados foram recitados na Grande Caverna, essa recitação dos
monges foi escutada por cerca de quinze mil leigos, entre eles homens e
mulheres. A fim de lidar de forma eficiente com os milhões de donativos que
chegavam para este grande empreendimento, U Ba Khin criou um sistema de
impressão de livros de recibos em diferentes cores para diferentes somas de
dana, que variavam do mais modesto donativo até aos maiores montantes.
Apenas pessoas selecionadas é que eram autorizadas a lidar com as grandes
contribuições e cada donativo era escrupulosamente contabilizado, evitando-se
qualquer risco de apropriação indevida.
Sayagyi manteve-se ativo no CBSUB de diferentes modos até 1967. Desta
forma, combinava as suas responsabilidades e os seus talentos como leigo e
funcionário público com a sua forte volição de Dhamma para disseminar o
ensinamento do Buda. Além do importante serviço público que prestava,
continuava a ensinar Vipāssana regularmente no seu centro. Alguns dos
ocidentais que compareceram no Sexto Conselho procuraram Sayagyi também
para aprenderem a meditar, uma vez que naquela época ele era o único
professor fluente em inglês.
Por causa da intensa demanda das suas responsabilidades no governo, Sayagyi
pôde ensinar apenas um número reduzido de alunos. Muitos dos seus alunos
birmaneses eram colegas de trabalho, a maior parte dos seus alunos indianos
tinham sido apresentados por S.N.Goenka e os seus alunos estrangeiros eram
poucos mas diversificados, entre eles havia líderes budistas do Ocidente,
académicos e membros da comunidade diplomática de Iangum.
De tempos a tempos, Sayagyi era convidado, a dar palestras sobre o Dhamma
para plateias estrangeiras e numa ocasião, foi convidado a proferir uma serie de
palestras na Igreja Metodista, em Iangum. Essas palestras foram publicadas
num pequeno livro intitulado ―O Que é o Budismo‖. Foram distribuídas cópias
às embaixadas da Birmânia e a diversas organizações budistas em todo o
mundo. Esse pequeno livro inspirou alguns ocidentais a realizarem cursos com
Sayagyi. Uma outra palestra mais tarde publicada sob o título ―Os Valores
Reais da Verdadeira Meditação Budista‖, foi proferida para um grupo de
jornalistas israelitas, aquando da visita à Birmânia do primeiro-ministro
israelita, David Ben Gurion.
Sayagyi reformou-se finalmente da sua importante carreira na função pública
em 1967 e desde então até à sua morte, em 1971, permaneceu no Centro
Internacional de Meditação a ensinar Vipāssana. Um pouco antes de morrer,
recordou-se de todos aqueles que o ajudaram – do senhor que o ajudou a entrar
para a sua primeira escola, do professor que o auxiliou a entrar para a Escola
St. Paul e, dentre muitos outros, de um amigo que perdera o contacto há 40
anos e que agora viu mencionado num jornal local. Ele ditou cartas
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endereçadas a esse antigo amigo e a alguns alunos estrangeiros e discípulos,
inclusive a S.N.Goenka. No dia 18 de janeiro, Sayagyi ficou de súbito doente. E
quando o seu recém redescoberto amigo recebeu a sua carta, no dia 20 de
janeiro, ficou emocionado ao ler o aviso da sua morte recebido nessa mesma
correspondência.
Shri S.N.Goenka estava na Índia a conduzir um curso quando recebeu a notícia
da morte do seu professor. Ele enviou um telegrama ao CIM que continha o
famoso verso em pali:

Anicca vata sankhara, uppadavaya-dhammino.


Uppajjitva nirujjhanti, tesam vupasamo sukho.

Verdadeiramente impermanentes são as coisas compostas,


por natureza a surgir e a desaparecer.
Se surgem e são extintas, a sua erradicação traz verdadeira felicidade.

Um ano mais tarde, num tributo também ao seu professor, Shri S.N.Goenka
escreveu: ―Mesmo após o seu falecimento há um ano, observando o sucesso
contínuo dos cursos, eu cada vez mais me convenço de que é a força da sua
metta (amor compassivo) que me está a dar a inspiração e a energia para servir
tantas pessoas – Obviamente a força do Dhamma e imensurável.‖
As aspirações de Sayagyi tornaram-se realidade. Os ensinamentos do Buda,
cuidadosamente preservados durante todos estes séculos, ainda são praticados e
ainda trazem resultados aqui e agora.

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Fundamentos do Buda-Dhamma na prática da meditação

Anicca, dukkha e anattā — impermanência, sofrimento e inexistência do Eu –


são as três características básicas das coisas segundo o ensinamento do Buda.
Se se compreender corretamente anicca, conhecer-se-á dukkha como o seu
corolário e anattā como a verdade suprema, mas é necessário tempo para se
entender as três simultaneamente.
A impermanência (anicca) é, certamente, o facto essencial que tem de ser
primeiramente experimentado e compreendido pela prática. O mero
conhecimento intelectual do Buda-Dhamma não será suficiente para a
compreensão correta de anicca porque estará a faltar o aspeto experimental. É
apenas através da compreensão surgida da experiência da natureza de anicca,
como um processo de mutação constante dentro de cada um, que se entenderá
anicca do modo como o Buda gostaria que fosse entendida. Assim como nos
dias do Buda, agora também, esta compreensão de anicca pode ser desenvolvida
por qualquer leigo sem nenhuma relação com o budismo.
Para compreender a impermanência (anicca) deve-se seguir estrita e
diligentemente o Nobre Caminho Óctuplo que se divide nos três grupos de sīla,
samādhi e pannā – moralidade, concentração e sabedoria. Sīla ou vida virtuosa
é a base para o samādhi (controlo da mente que leva a uma única direção).
Apenas quando o samādhi for bom é que se poderá desenvolver pannā. Assim
sendo, sīla e samādhi são os pré-requisitos para pannā. Entenda-se por pannā a
compreensão de anicca, dukkha e anattā através da prática de Vipāssana, isto é,
a meditação da visão interior.
Quer tenha ou não surgido um Buda, a prática de sīla e de samādhi pode estar
presente no mundo humano. Elas são, de facto, os denominadores comuns de
todas as fés religiosas. Porém não são, os meios suficientes para a meta do
budismo – o completo fim do sofrimento. Em busca pelo fim do sofrimento, o
príncipe Sidarta, o futuro Buda, descobriu isso e trabalhou arduamente para
encontrar o caminho que levava ao fim do sofrimento. Após seis anos de duro
trabalho ele encontrou a saída, tornou-se completamente iluminado e, a partir
de então, ensinou os homens e os deuses a seguir o caminho que os levaria ao
termino do sofrimento.
Neste sentido, deveríamos compreender que cada ação – seja física, verbal ou
mental – deixa para trás uma força ativa chamada de saṅkhāra (ou kamma, na
terminologia popular) que é lançada a crédito ou a débito do indivíduo,
conforme a ação seja boa ou má. Há, portanto, um acumulado de saṅkhāras (ou
kammas) em todos nós, que funciona como uma fonte fornecedora de energia
que sustenta a vida, que é inevitavelmente seguida de sofrimento e de morte. É
pelo desenvolvimento do poder inerente da compreensão de anicca, dukkha e
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anattā que se consegue livrar-se dos saṅkhāras acumulados na conta pessoal de
cada um. Este processo começa com a compreensão correta de anicca, enquanto
acumulações futuras de novas ações e a redução do suprimento de energia para
sustentar a vida acontecem simultaneamente, de momento a momento e dia
após dia. Portanto para nos livrarmos de todos os nossos saṅkhāras iremos
precisar de uma vida inteira e provavelmente de várias mais. Aquele que se
livra de todos os saṅkhāras atinge a cessação do sofrimento, uma vez que
nenhum saṅkhāra restará para fornecer a energia necessária para o manter em
qualquer forma de vida. No final das suas vidas, os santos perfeitos, ou seja, os
Budas e os arahants, entram no parinibbāna e alcançam a cessação do
sofrimento. Para nós, hoje em dia, que praticamos a meditação Vipāssana, seria
suficiente compreender a anicca que nos permita alcançar o primeiro estágio de
um ariya (uma nobre pessoa), o estágio de sotāpanna ou iniciante, essa pessoa
precisará só mais sete vidas para atingir a cessação do sofrimento.
Anicca, que abre a porta para a compreensão de dukkha e anattā e a dado
momento, para a cessação do sofrimento, pode ser realizada na sua totalidade
apenas através do ensinamento de um Buda, desde que este ensinamento
relacionando o Nobre Caminho Óctuplo e os trinta e sete fatores da iluminação
(bodhipakkhiya dhammā) permaneça intacto e disponível para o iniciado.
Para progredir na meditação Vipāssana, um aluno tem de continuar a
compreender anicca tão continuamente quanto possível. O conselho do Buda
aos monges é de que eles deveriam tentar manter a consciência de anicca,
dukkha e anattā em todas as posturas do corpo, sentado, de pé, a caminhar,
deitado. A contínua consciência de anicca, assim como de dukkha e anattā, é o
segredo do sucesso. As últimas palavras do Buda antes de dar o seu último
suspiro e de passar para o mahāparinibbāna foram: ―A decadência (ou anicca) é
inerente a todas as coisas compostas. Trabalhem com diligência para a vossa
própria salvação.‖ Esta é, de facto, a essência de todos os ensinamentos durante
os quarenta e cinco anos do seu ministério.
Se mantiver a consciência de anicca, que é inerente a todas as coisas compostas,
sem dúvida que no decorrer do tempo alcançará a meta.
Ao se desenvolver na compreensão de anicca, a sua visão interior em relação à
―qual é a verdadeira natureza‖ tornar-se-á cada vez maior, de tal modo que, em
dado momento, não terá qualquer dúvida sobre as três características de anicca,
dukkha e anattā. Só então estará em condições de prosseguir em direção à meta
almejada. Agora que conhece anicca como primeiro fator essencial, deve tentar
compreender o que significa anicca com verdadeira clareza, tão amplamente
quanto possível, de modo a não se deixar confundir ao longo de uma prática ou
discussão.

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O verdadeiro significado de anicca é o de que a impermanência ou a decadência
é a natureza inerente de tudo o que existe no universo – seja animado ou
inanimado. O Buda ensinou aos seus discípulos de que tudo o que existe ao
nível material é composto de kalāpas. Kalāpas são unidades de matéria muito
menores do que átomos que são destruídas imediatamente após terem surgido.
Cada kalāpa é uma massa formada pelos oito constituintes básicos da matéria: o
sólido, o líquido, o calórico e o oscilatório, juntamente com a cor, o odor, o
sabor e o nutriente. Os primeiros quatro são denominados qualidades primárias
e são predominantes num kalāpa. Os outros quatro são subsidiários e
dependentes, brotam a partir dos primeiros. Um kalāpa é a mais diminuta
partícula no plano físico – ainda além do alcance da ciência de hoje. É apenas
quando os oito constituintes materiais se unem que o kalāpa se forma. Noutras
palavras, a momentânea disposição destes oito elementos básicos do
comportamento, os quais constituem uma massa apenas naquele momento, é
conhecida no budismo como kalāpa. A vida útil de um kalāpa é denominada de
um ―momento‖ e diz-se que um trilião desses momentos dura o mesmo que um
piscar de olhos. Estes kalāpas estão todos em estado de mudança ou fluxo
perpétuo. Para um aluno evoluído em meditação Vipāssana eles podem ser
percebidos como uma corrente de energia.
O corpo humano, embora possa parecer, não é uma entidade sólida e estável,
mas sim um contínuo de matéria (rūpa) que coexiste com a mente (nāma).
Saber que o nosso corpo é feito de minúsculos kalāpa todos em estado de
mutação e conhecer a verdadeira natureza da mudança ou da decadência
(anicca) ocasionada pelo continuado fracionamento e substituição de kalāpas,
todos num estado de combustão, tem de necessariamente ser identificado como
dukkha, a verdade do sofrimento. É somente quando se experimenta a
impermanência (anicca) como sofrimento (dukkha) que se compreende a
verdade, o sofrimento, a primeira das Quatro Nobre Verdades básicas na
doutrina do Buda.
Porquê? Porque quando se experimenta a natureza subtil de dukkha, de que
nem por um momento podemos escapar, ficamos verdadeiramente tomados
pelo medo, ou pelo desgosto, tornamo-nos conscientes da nossa própria
existência como mente-matéria (nāmarūpa) e procuramos um caminho para um
estado além de dukkha, para nibbāna, a cessação do sofrimento. É possível
experimentar-se esse fim do sofrimento, até mesmo como ser humano, quando
se atingir o estágio de sotāpanna, o estado daquele que entrou na corrente e
desenvolve a contento a prática para alcançar de modo incondicional o estado
de nibbāna, a paz interior. Porém, mesmo no quotidiano, na vida comum, assim
que conseguir manter a consciência de anicca na prática, saberá por si mesmo
que uma mudança para melhor está a acontecer, tanto física quanto mental.

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Antes de dar inicio à prática da meditação Vipāssana (isto é, depois de o
samādhi ter evoluído para um nível apropriado), um aluno deve familiarizar-se
com o conhecimento teórico das propriedades materiais e mentais, rūpa e
nāma. Na meditação Vipāssana contemplamos não apenas a natureza mutante
da matéria, mas também a natureza mutante da mente, dos elementos do
pensamento. Na atenção dirigida para o processo de mudança que acontece
dentro da matéria, haverá momentos em que a atenção estará focada na
impermanência relacionada com o lado material da existência. Ou seja, anicca
em relação a rūpa; e outros momentos, onde a atenção estará focada na
impermanência dos elementos do pensamento, o lado mental, isto é, anicca em
relação a nāma. Quando estamos a contemplar a impermanência da matéria,
percebemos também que os elementos do pensamento, simultâneos com aquela
consciência, também se acham num estado de transição ou mutação. Neste
caso, estaremos a conhecer, ao mesmo tempo, anicca em relação a rūpa e a
nāma.
Tudo que eu disse até agora está relacionado com a compreensão de anicca
através das sensações no corpo resultantes do processo de mudança de rūpa (ou
matéria) e, também, dos elementos do pensamento que dependem destes
processos de mudança.
Deve-se ter em mente que anicca também pode ser compreendida por outros
tipos de sensação. Anicca pode ser contemplada por meio de sensações que
surgem:
1. pelo contacto com uma forma visível através do sentido da visão;
2. pelo contacto com o som através do sentido auditivo;
3. pelo contacto com o odor através do sentido olfativo;
4. pelo contacto com o sabor através do sentido gustativo;
5. pelo contacto com o toque através do sentido táctil;
6. e pelo contacto com os objetos mentais através do sentido da mente.
Podemos assim desenvolver a compreensão de anicca por meio de qualquer um
dos seis orgãos sensoriais. Na prática, porém, achamos que de todos os tipos de
sensações, a sensação pelo contacto táctil com as partes componentes do corpo,
num processo em mudança, é aquela que cobre a área mais extensa para a
meditação introspetiva. Não apenas isso, a sensação pelo contacto táctil (por
meio de fricção, radiação e vibração dos kalāpas internos) com as partes
componentes do corpo é mais evidente do que os outros tipos de sensações. Por
conseguinte, um iniciante na meditação Vipāssana pode alcançar a
compreensão de anicca mais facilmente por meio das sensações corporais das
mudanças de rūpa, matéria. Esta é a principal razão porque escolhemos as
sensações corporais como meio de compreensão rápida de anicca.

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Todos aqueles que quiserem experimentar por outros meios poderão fazê-lo,
mas eu sugiro que primeiro fiquem bem estabelecidos na compreensão de
anicca através das sensações no corpo antes de fazerem qualquer tentativa com
outros tipos de sensações.
Existem dez níveis de conhecimento em Vipāssana, nomeadamente:
1.sammasana: a avaliação teórica de anicca, dukkha e anattā pela observação e
análise cuidadosas.
2.udayabbaya: o conhecimento do surgir e do desaparecer de rūpa e nāma pela
observação direta.
3.bhaṅga: o conhecimento da rápida natureza da mudança de rūpa e nāma como
uma súbita correnteza ou corrente de energia; em especial, clara consciência da
fase da dissolução.
4.bhaya: o conhecimento de que esta própria existência é aflitiva.
5.ādīnava: o conhecimento de que esta própria existência é cheia de maldades.
6.nibbidā: o conhecimento de que esta própria existência é repugnante.
7.muncitakamyatā: o conhecimento da necessidade urgente e da vontade de
fugir desta própria existência.
8.paṭisaṅkhā: o conhecimento de que chegou a hora de trabalhar pela plena
realização da libertação tendo anicca como base.
9.saṅkhārupekkhā: o conhecimento de que foi atingido o estágio para se
desapegar de todos os fenómenos condicionados (saṅkhāra) e de se libertar do
egocentrismo.
10. anuloma: o conhecimento que irá acelerar a tentativa de alcançar a meta.

Estes são os níveis de realização pelos quais se tem de passar ao longo da


meditação Vipāssana. No caso daqueles que alcançam a meta em curto prazo,
eles só podem ser conhecidos em retrospetiva. Podemos alcançar estes níveis
de realização – condicionados, enquanto progredimos na compreensão de
anicca, porém, em certos níveis, são necessários ajustes ou auxílios de um
professor competente. Devemos evitar a expectativa antecipada de tais
realizações visto que isso iria distrair-nos da continuidade da consciência de
anicca, a única que pode dar e que dará a recompensa desejada.
Deixem-me agora abordar a meditação Vipāssana no dia a dia de um pai de
família e explicar o benefício que se pode obter a partir dela – aqui e agora –
nesta mesma vida.

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O objeto inicial da meditação Vipāssana é ativar a experiencia de anicca dentro
de cada um e, com o tempo, atingir um estado de calma e equilíbrio interno e
externo.
Pode-se alcançar isto quando nos deixamos absorver pela sensação de anicca
dentro de nós mesmos. O mundo enfrenta agora sérios problemas que
ameaçam toda a humanidade e esta é a hora certa para todos adotarem a
meditação Vipāssana e aprenderem a encontrar um lago profundo de quietude
dentro de si mesmos. Anicca está dentro de todos. Está ao alcance de todos.
Basta olhar para dentro de si e estará lá – anicca pode ser experimentada.
Quando podemos sentir anicca, quando podemos experimentar anicca, quando
podemos deixar-nos absorver por anicca, poderemos e iremos desprender-nos
do mundo externo, da elaboração de ideias.
Anicca é, para um pai de família, a joia da vida que irá entesourar para criar um
reservatório de energia calma e equilibrada para o seu próprio bem-estar e para
o bem-estar da sociedade.
A experiencia de anicca, quando desenvolvida de forma apropriada, atinge a
raiz das doenças físicas e mentais e, aos poucos, remove de dentro de cada um
tudo o que seja nocivo, ou seja, as causas desses malefícios físicos e mentais.
Esta experiência não é restrita àqueles que renunciaram o mundo e optaram
pela vida errante. É também para os pais de família. Apesar dos obstáculos que
provocam inquietação aos pais de família nos dias de hoje, um professor ou um
guia competente pode ajudar o aluno a ter a experiencia de anicca ativada num
tempo relativamente curto. Uma vez ativada, tudo o que é necessário é tentar
preservá-la; mas com um compromisso de que, quando surgir a hora ou a
oportunidade para alcançar um maior progresso, irá trabalhar para atingir o
estagio de bhaṅganāṇa (conhecimento de bhaṅga).
Contudo, é provável que haja alguma dificuldade para quem não tenha
alcançado o estágio de bhaṅga. Para esse, será como uma batalha entre anicca
por dentro e as atividades físicas e mentais por fora. Para tanto, seria sábio
seguir o lema ―enquanto se trabalha não se brinca.‖ Não haverá necessidade de
se ativar a experiencia de anicca a todo o tempo. Bastará que isso fique restrito
a um período regular ou a períodos reservados para esse propósito durante o
dia ou à noite.
Durante essa hora, pelo menos, deve ser feita uma tentativa de se manter a
atenção focada dentro do corpo, com a consciência dedicada somente a anicca.
Isto é, a consciência de anicca deve ser mantida a todo o momento de modo tão
contínuo que não permita a interpolação de qualquer pensamento discursivo ou
perturbador, que é sem dúvida prejudicial ao progresso. No caso de isto não ser
possível, terá de retornar para a consciência da respiração, pois samādhi é a
chave para a contemplação de anicca.

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Para se obter um bom samādhi, sīla (moralidade) tem de ser perfeita, porque
samādhi é construído a partir de sīla. Se samādhi for excelente, a consciência de
anicca também se tornará excelente.
Não existe técnica especial para ativar a experiencia de anicca além do uso da
mente ajustada para um perfeito estado de equilíbrio e a atenção projetada
sobre o objeto de meditação. Em Vipāssana, o objeto de meditação é anicca e,
portanto, aqueles que estão acostumados a focalizar a sua atenção nas
sensações do corpo, podem sentir anicca diretamente. Ao experimentar anicca
no corpo, deve primeiro ser onde se pode obter com facilidade uma atenção
absorvida, mudando depois a área de atenção de um lugar para o outro, da
cabeça aos pés e dos pés à cabeça. Às vezes, investigando o interior. Neste
estágio deve ser claramente entendido que não se deve dar nenhuma atenção à
anatomia do corpo, mas à formação da matéria – os kalāpas – e à natureza das
suas constantes mudanças.
Se estes ensinamentos forem observados, certamente que haverá progresso,
mas o progresso depende também dos pāramī (isto é, da nossa disposição para
certas qualidades espirituais) e da devoção do indivíduo ao trabalho da
meditação. Ao se atingirem altos níveis de conhecimento, a capacidade para
compreender as três características de anicca, dukkha e anattā aumentará, e por
consequência, fica-se mais próximo da meta do ariya ou nobre santo – que cada
pai de família deverá manter em mente.
Esta é a era da ciência. O homem moderno não tem utopia. Não aceitará nada
além de resultados bons, concretos, vividos, pessoais e aqui e agora.
Uma vez o Buda falou assim ao povo de Kāḷāma:
―Agora vejam, kāḷāmas. Não se deixem enganar por relatos, nem por tradições
ou boatos. Não se deixem enganar pela proficiência das escrituras, pelo
raciocínio ou pela lógica, ou pela reflexão e aprovação de alguma teoria, ou
porque algum ponto de vista está de acordo com as vossas inclinações, ou pelo
respeito ou prestígio de um professor. Mas quando descobrem por vós
próprios: estas coisas são insalubres, estas coisas são censuráveis, estas coisas
são censuradas pelos sábios e quando praticadas e observadas, conduzem à
perda e à tristeza – então, rejeitem-nas. Mas se, em algum momento,
descobrirem por vós próprios: estas coisas são sãs, estas coisas são inócuas,
estas coisas são louvadas pelos sábios e quando praticadas e observadas,
conduzem ao bem-estar e à felicidade – então, kāḷāmas, tendo-as praticado,
tratem de aceitá-las‖.
Chegou a hora de Vipāssana – noutras palavras, do renascimento do Buda-
Dhamma, de Vipāssana na prática. Não temos qualquer dúvida de que os
resultados surgirão para aqueles que, com a mente aberta, fizerem um curso de
meditação sob orientação de um professor competente – resultados que serão
aceites como bons, concretos, vividos, pessoais, aqui e agora – resultados que
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vos serão de grande valia proporcionando um estado de bem-estar e felicidade
para o resto de vossas vidas.
Que todos os seres sejam felizes e que a paz reine no mundo.

Cursos de Vipāssana
Cursos de meditacao Vipāssana, como ensinada por S.N. Goenka na tradição de
Sayagyi U Ba Khin, são realizados regularmente nos centros permanentes ou
em locais alugados em vários países por todo o mundo.

© Vipassana Research Institute

Informações sobre Vipassana


www.pt.dhamma.org

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