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CURSOS DO DARMA 2015

MEDITAÇÃO
Facilitação: José G. Benetti M.
sob orientação do Lama Padma Samten
“A busca da estabilidade na natureza básica da mente é o caminho direto da meditação,
aquele no qual se busca praticar a mente liberta, a condição de libertação”.

Lama Padma Samten

Contexto, teoria e prática da meditação


O que é meditação? Muitas respostas são possíveis, pois a palavra “meditação” é usada
amplamente em diversas tradições religiosas, filosóficas e, mais modernamente, científicas.
Cada tradição irá determinar o seu significado e contexto de uso. A meditação não é
encontrada apenas no budismo, as práticas meditativas/contemplativas são utilizadas nas
tradições hinduístas, nos diversos ramos da yoga, no cristianismo, no islamismo, no judaísmo,
no sikismo, nas correntes New Age, no taoísmo, etc. No ocidente houve uma grande
popularização da meditação nas décadas de 1960 e 1970, especialmente com o Zen budismo,
a Meditação Transcendental e a yoga. Atualmente a meditação é objeto de diversos estudos
científicos, sendo seus efeitos pesquisados em diversas aplicações, como alterações no
sistema imunológico, recuperação de doenças, capacidade de concentração, etc.

Contexto budista
Iremos abordar a meditação no contexto budista dentro da prática do CEBB. Mesmo no
budismo existem inúmeras formas de meditação, com objetivos e técnicas diferentes. No caso
do budismo praticado no CEBB, a meditação é muito mais do que um método de
transformações mentais, emocionais e físicas. De acordo com o que o próprio Buda Sakyamuni
realizou em vida e, especialmente, de acordo com a ação de Guru Rinpoche, considerado por
muitos como um “segundo Buda”, e também como o mestre que deu origem ao budismo
tibetano, a ação iluminada é o ponto culminante. Ou seja, vamos praticar não para
permanecermos meditando, presos à própria meditação. Vamos meditar para agir. E agir de
forma iluminada.

Motivação | Bodicita | Por que meditar?


Este é um ponto crucial. O que motiva a nossa ação em todas as atividades cotidianas?
A palavra tibetana para motivação (kunlong) contém na sua etimologia o próprio resultado da
ação. Ou seja, a base do nosso impulso determina, na maior medida, o que vai acontecer.
Provavelmente todos concordam que impulsos negativos produzem resultados negativos e
impulsos positivos produzem resultados positivos, não é? É necessário contemplar que é
extremamente difícil nos esquivarmos da lei de causa e efeito. Só podemos fazer isso se
estivermos verdadeiramente repousados em uma natureza ampla, ou seja, se agirmos como os
bodisatvas, que são os seres que fizeram o voto de permanecer no mundo para benefício de
todos os seres.
Bodicita é isso! Esse voto sincero – porque baseado na confiança – de nos liberarmos
completamente do sofrimento, mas não por medo dele, e sim para benefício de todos os seres.
Esse seria o resumo teórico desse ensinamento. Seria a base do caminho Mahayana. É a base
do caminho que se busca praticar no CEBB. Embora tenham esses nomes, isso independe do
budismo. É um voto que pode ser tomado dentro de qualquer contexto tradicional. Sendo
sincero, verdadeiro, ele será livre e universal também.
Isso é de importância fundamental porque do contrário poderíamos estar, mesmo com a
meditação silenciosa, produzindo causas para renascimentos inferiores, entrando em
paisagens e bolhas de miséria, apego, aversão, inveja, etc.
Essas bolhas são as motivações comuns do samsara – ou ciclo de mortes e
renascimentos – que são apresentadas como sendo as emoções perturbadoras da Roda da
Vida. Todas as ações, incluindo a meditação e o caminho espiritual, podem ser tomadas como
ações comuns, parte da Roda da Vida, se forem motivadas pelas seis emoções perturbadoras,
que na Roda da Vida, ganham as formas dos Seis Reinos.

 SERES INFERNAIS | reino cujas emoções são a raiva e o medo e a ação


correspondente é a aversão. Ao entrarmos na bolha correspondente, queremos atacar,
sentimo-nos perseguidos, temos a sensação de que o mundo está contra nós.
 FANTASMAS FAMINTOS | reino cuja emoção é a carência, sendo a aquisitividade a
ação correspondente. Ao escorregarmos para essa bolha, sentimo-nos fracos, sem vida,
dependendo de outros seres, objetos, situações e lugares para nos sentirmos bem. A
intensidade dessa emoção é que nada nos satisfaz completamente, pois temos a
sensação de que os outros estão nos tirando as forças e consumindo o que é nosso.
 ANIMAIS | este reino é o único com o qual nos relacionamos a nível de corpo. Podemos
ver como os animais, por mais felizes e belos que pareçam com seus cantos, plumas,
caminhar esguio e sono e comida à vontade (no caso especial dos animais de
estimação), eles na verdade estão completamente submetidos aos seus impulsos
internos. Veem poucas possibilidades de ação no mundo a não ser comer, dormir e se
reproduzir. A emoção perturbadora correspondente é a obtusidade mental, ou seja, uma
mente fechada, completamente polarizada, e as ações que decorrem dela são a
indolência e a preguiça. A entrada na bolha correspondente nos coloca em um estado
de apatia e automatização inconsciente de ações que de preferência exijam o mínimo
de esforço da nossa parte.
 HUMANOS | primeiro dos reinos superiores, é o âmbito com o qual nos identificamos
diretamente. Nascemos em um corpo humano, cujas emoções perturbadoras são o
desejo e o apego, e temos os impulsos de ação correspondentes, ou seja, traçamos
objetivos, planejamos a vida e, etapa por etapa, avançamos em direção a essas metas.
Queremos casar, ter filhos, fazer formação em alguma área, sonhamos em aprender
uma língua nova, a aprender a dançar, a fazer alguma arte marcial. Queremos ter
regularidade na prática de ioga, traçamos planos até para meditar. Queremos chegar a
algum lugar. Temos a sensação de que, quando chegarmos lá, alcançaremos a paz, a
felicidade, a harmonia, a bem-aventurança. Trabalhamos a vida toda para alcançar tais
objetivos e, embora possamos conhecer um ou outro que diz ser completamente bem
sucedido, se analisarmos, veremos que o impulso de ação segue dentro da pessoa, que
a insatisfatoriedade é permanente, e que a felicidade plena não foi alcançada – no
mínimo a pessoa admitiu a impossibilidade de alcançá-la. Mesmo estando dentro da
Roda da Vida, diz-se que esse reino deve ser muito apreciado, já que é o mais propício
para a prática que vai nos liberar dessa roda. Apenas nascer num corpo humano,
contudo, não é garantia nenhuma. É necessário que essa vida humana seja preciosa.
Adiante, na descrição do roteiro de prática proposto pelo Lama, há mais sobre o tema.
 SEMIDEUSES | neste reino, sentimo-nos compelidos a competir uns com os outros.
Aqui a inveja é predominante. O mundo da política se aproxima bastante deste reino,
mas todos nós podemos experimentar a sensação de que a fama, o sucesso, o bem-
estar, os ganhos do outro deveriam na verdade ser nossos. Os semideuses competem
constantemente para galgar os postos dos deuses.
 DEUSES | quando nos sentimos orgulhosos, vaidosos, ou mesmo quando estamos
sustentando um ambiente interno de bem estar, ligados apenas ao que dá prazer,
evitando com todas as forças os desprazeres, aflições, medos, experimentamos esse
reino. É possível dizer que a maior parte do nosso trabalho no âmbito humano seja para
alcançar, vivenciar e sustentar este reino.

Se localizamos, internamente, que estamos respondendo aos estímulos do mundo


baseado em uma ou mais dessas motivações, estamos entendendo como o samsara funciona.
Entendemos, não só a nível cognitivo, mas de energia, que o sofrimento dos seres todos –
incluindo nós mesmos – advém, em primeira instância, da separatividade, ou seja, da noção de
que eu estou separado do outro, de que sujeito e objeto são entidades distintas, de que o
mundo é uma coisa e eu sou outra; mais adiante essa separatividade vai produzir a sensação
de medo, de carência, de inveja, de apego, etc.
Porém, não deveríamos simplesmente fazer esse diagnóstico, mas realmente
experienciar, de dentro, o que isso significa. Se vemos os seis reinos como uma experiência,
que é interna e externa ao mesmo tempo, somem até mesmo os culpados. Entendemos que
todos estamos imersos neste mesmo oceano de sofrimento, mas que, por ser um sofrimento
construído, é possível liberá-lo. Quando surge a clareza da liberação do sofrimento, pode ser
que surja em nós a confiança e a determinação de fazer algo, de nos colocarmos em marcha,
de gerarmos meios hábeis, pois não nos é suportável a dor do outro. Mesmo que não
estejamos completamente liberados, apenas o fato de vislumbrarmos a possibilidade da
liberação e o insight sobre o meio pelo qual podemos fazer isso já é o princípio do princípio de
bodicita. Podemos nos alegrar por isso!

MEDITAÇÃO SILENCIOSA | Shamata ou Quiescência


O mestre Tokuda San, do budismo Zen e professor do Lama Samten, diz: "Sem esforço
não há progresso, mas com esforço também não há progresso”. A noção do esforço surge
dentro do caminho. Ora, se estamos no caminho, é natural que façamos esforços. Nesse
sentido, é natural que queiramos objetivos, resultados. Porém, mais adiante vamos abandonar
até mesmo a noção de esforço.. Será apenas a frequência da prática que nos apoiará no
equilíbrio entre os extremos da urgência dura e do relaxamento desinteressado.
Com a frequência da prática, vamos descortinar a lucidez. Lucidez é simplesmente
lucidez e independe de um método determinado, como, por exemplo, a meditação, e por mais
paradoxal que pareça, ela não é uma etapa a ser atingida. Ao mesmo tempo, no contexto do
caminho, desenvolvemos inevitavelmente essa sensação de objetivo a cumprir. A lucidez nos
permite agir no mundo, no trabalho, nas relações, na vida cotidiana como um todo, de forma
livre. Não somos arrastados pelas emoções perturbadoras que surgem dos três venenos
(ignorância, aquisitividade e agressividade) que vão originar a experiência da Roda da Vida, e
apenas produzimos ações que facilitam a construção das Terras Puras.
Através da prática regular da meditação silenciosa, as aflições que surgem como
emoções perturbadoras (orgulho, inveja, ciúme, competitividade, desejo/apego, preguiça,
carência, raiva/medo) diminuirão naturalmente, melhorando as relações consigo mesmo, com
os outros, com a sociedade e com a biosfera. As respostas automáticas diante dos
acontecimentos no início serão refreadas, depois passarão a ser simplesmente contempladas,
como ornamentos de uma natureza livre. Teremos maior capacidade de agir de uma forma
mais construtiva e positiva. Os diversos níveis de sabedoria poderão ser alcançados, ampliando
a capacidade de enxergar a realidade como ela é e de ajudar os outros seres. Amor,
compaixão, alegria, equanimidade, generosidade, moralidade, paciência, perseverança,
concentração e sabedoria se manifestarão de forma mais natural e com menos obstáculos em
nossas vidas.
Os resultados da meditação não surgem, de modo geral, em um curto prazo. Os hábitos
mentais e emocionais que cultivamos há muito tempo não são transformados da noite para o
dia. A prática regular, sem grandes expectativas, dedicada e paciente trará os melhores
resultados.
O bom é que podemos começar exatamente do ponto onde estamos. Se silenciamos
nosso corpo e nossa fala por alguns minutos a cada dia, certamente nossa qualidade de vida
irá se transformar, nossa mente irá se pacificar, de um modo natural.
Podemos escolher um canto especial em nossa casa, ou algum lugar ao ar livre. Sentar
e respirar. De modo simples e profundo. Buscar em nós mesmos uma dimensão de silêncio que
não se altera diante das adversidades ou alegrias fugazes. Não precisamos buscar nada muito
místico. Podemos apenas relembrar que estamos vivos, respirando, e nos convidar a viver o
mundo de modo mais livre e desimpedido. É simples. Basta começar. Sem pressa, sem
pressão, apenas com interesse e ternura pelo processo.
Lançando mão de métodos artificiais, pois a meditação sentada pode ser vista dessa
forma, iremos reconhecer nossa condição natural de paz, contentamento e lucidez. A
meditação silenciosa pode ser compreendida e vivida como um processo que visa gerar
autonomia, e não como mais um processo de condicionamento. Iremos treinar nossa liberdade
frente aos impulsos e automatismos, recuperando uma autonomia de corpo, energia e mente.
Segundo Lama Padma Samten, as etapas descritas a seguir são um método de
realização simples e eficiente, dirigido à prática de equilíbrio e pacificação no contexto de
nossas relações cotidianas.
O Caminho da Meditação no Budismo
No caminho budista que se pratica no CEBB, a meditação silenciosa não é considerada
uma prática inicial. Para conseguirmos sentar imóveis e em silêncio precisamos ter cumprido
algumas etapas anteriores. Essa é a beleza do caminho gradual. Temos etapas às quais
podemos retornar.
Se sentamos em silêncio e nos sentimos muito perturbados, vamos localizar algumas
possíveis causas para essa perturbação. Talvez nossas ações de corpo, fala e mente tenham
gerado sofrimento para nós mesmos e para os outros, trazendo algum nível de perturbação ao
silêncio que nos propomos.
No caminho gradual apontado pelo budismo, vamos localizar algumas fontes de
sofrimento. Vamos observar:

no nível do corpo: ações como matar, roubar e gerar sofrimento através do sexo;
no nível da fala: ações como mentir, falar agressivamente, falar inutilmente e difamar outras
pessoas;
e no nível da mente: a avareza, a má vontade e as visões errôneas.

Tais ações são fontes de sofrimento para nós e para os outros.

Vamos observar também que ao cultivar amor, compaixão, alegria, equanimidade,


generosidade, moralidade, paz, energia constante, concentração e sabedoria, geramos
felicidade para nós e para os outros.

Tais recomendações do Buda não partem de uma moralidade dogmática, mas sim do
puro bom senso que surge da análise dos efeitos das ações, que podem ser constatados
através da experiência direta. Estas etapas pertencem ao Nobre Caminho de Oito Passos
descrito pelo Buda, sendo que a meditação silenciosa é ensinada no sexto passo.
É claro que não precisamos levar à perfeição cada uma destas etapas anteriores para
iniciarmos a meditação. O método é circular. Avançaremos em todas as etapas ao mesmo
tempo.
Outras compreensões preliminares que potencializam a prática da meditação são:

a vida humana preciosa,


a impermanência,
o carma,
e o sofrimento,
conhecidos como os Quatro Pensamentos que Transformam a Mente, que são estudados, por
exemplo, no livro Portões da Prática Budista, do mestre tibetano Chagdud Tulku Rinpoche,
mestre que ordenou Lama Samten, e no próprio Meditando a Vida, livro do Lama Samten, que
é estudado nos diversos CEBBs.

A estes pensamentos adicionamos a compreensão da dimensão protetora (linhagem,


homenagem ao Lama) e o refúgio na lucidez absoluta como fonte de felicidade genuína.
Instruções de Meditação
Todas as instruções devem ser seguidas de acordo com a possibilidade de cada um. Ninguém
começa com perfeição em todos os pontos. A meditação pode funcionar muito bem mesmo
que algumas destas instruções não sejam seguidas à risca.

Posição de corpo
Para que o corpo fique bem na posição de meditação é sempre muito benéfico trabalhar o
alongamento da musculatura envolvida e soltar as diversas articulações: tornozelos, joelhos,
coxo-femural (que liga cada coxa ao tronco), coluna vertebral, pescoço, ombros, cotovelos,
pulsos, dedos. O alongamento será conquistado lentamente, não deve ser forçado. Técnicas
como yoga, pilates, etc, podem oferecer grande auxílio, mas a persistência e a regularidade na
prática é que trarão a pacificação do corpo.

Como sentar
Existem várias opções de acordo com as possibilidades de cada um.

1) Postura da lótus completa:

É vista como a postura ideal para longos períodos de meditação, desde que seja
facilmente realizada. Ou seja, é preciso desenvolver o alongamento e a familiarização
necessários ao longo do tempo. Não deve ser forçada, pois é muito fácil se lesionar.

2) Postura do semi lótus:


Similar à lótus completa, mas com um pé sobre a coxa da outra perna e o outro pé no chão.

3) Pernas cruzadas:
Uma perna diante da outra, tocando o chão igualmente.

4) Outras posturas:
a) ajoelhada sobre uma pilha de almofadas, alta o suficiente para que os ísquios (ossos dos
glúteos) não toquem os calcanhares;
b) ajoelhada na mesma postura, mas sobre um banco de meditação;
c) sentada numa cadeira, com uma almofada para erguer a coluna;
d) em pé;
e) deitada: posição mais difícil do que parece, pois impossibilita pequenas alterações de
postura no meio da prática, caso haja dor por pressão, além de induzir com frequência ao sono,
mas também muito benéfica para propiciar um maior relaxamento, relaxando músculos e
liberando o corpo no solo;
f) caminhando: conhecida como kinhin na prática Zen, essa meditação exige explicações mais
detalhadas, porém pode-se dizer apenas que o importante é manter o olhar à frente
repousado, do modo como foi trabalhado durante o curso e como é explicado adiante, os
passos devem ser mais lentos do que o nosso usual e deve-se manter o mesmo ritmo do início
ao fim da sessão.

Quanto à postura sentada, há alguns pontos a serem observados:

1) Coluna: ereta, mas sem excesso de tensão. Podemos encontrar a melhor posição
balançando o corpo para frente e para trás, para a direita e para a esquerda.
2) Braços: ao lado do corpo, com os cotovelos levemente afastados
3) Queixo: ‘encaixado’ (levemente recolhido).
4) Rosto: relaxado, especialmente ao redor dos olhos.
5) Olhos: iremos meditar com os olhos abertos, direcionando a visão num ângulo de 45º em
relação ao chão, ou olhando diretamente à frente. Quando há um repouso natural, a
necessidade de piscar os olhos diminui. Ou seja, não vamos forçar para que isso aconteça. Se
surgir a necessidade de piscar, pisque. Como estamos buscando estabilidade para agirmos
melhor em meio ao mundo, e como no mundo estamos a maior parte do tempo com os olhos
abertos, é recomendável treinar diante dos próprios objetos.
6) Boca: fechada ou levemente entreaberta, com a língua tocando o céu da boca, o que diminui
um pouco a salivação. Do mesmo modo que com o piscar, se vir a salivação em excesso,
engula.
7) Mãos: há várias possibilidades para a posição das mãos. Na prática do CEBB, usamos duas:
ou sobre os joelhos, simplesmente repousadas; ou no mudra (gesto) da equanimidade: mão
direita sobre a mão esquerda aberta, com os polegares muito próximos, mas sem se tocar,
repousando diante da região do umbigo, mas mantendo a postura, ou seja, sem “despencar”
sobre os calcanhares.
8) Pernas: as pernas ficam inteiramente no chão. A almofada serve apenas para erguer os
ísquios. Ou seja, sentamos no chão mesmo (na almofada retangular maior, chamada zabuton,
por exemplo) e usamos a almofada ou o zafu para erguer a coluna. Caso o alongamento não
permita que as pernas estejam inteiras no chão, usamos almofadas para apoiá-las, distribuindo
o peso do corpo inteiramente sobre elas.
9) O mais importante: é a postura de mente. Os detalhes descritos aqui podem estar sendo
perfeitamente cumpridos e, justo por isso, a mente estar completamente tensa. Esse não é o
ponto. A posição deve ser sustentada, mas não deve gerar muita tensão. É preciso buscar um
repouso, que não é o relaxamento usual, como simplesmente se deitar no sofá, mas também
não é o oposto, a tensão excessiva.

Outras observações e instruções


Um item importante para a postura de meditação é a almofada adequada. Existem vários
modelos: com enchimento de espuma, com palha de arroz, com alpiste, mais altas, mais
baixas, redondas (zafu), retangulares, etc. Pode-se usar também o banquinho de meditação,
alternando ou não com a almofada. Para saber qual a melhor opção para você, é preciso testar.

As roupas devem ser leves e facilitar os movimentos.

A alimentação também influencia a meditação. Alimentos mais leves e em menor quantidade


facilitam a posição e nos ajudam a permanecer atentos.

O ambiente deve ser agradável e permitir o isolamento. Se houver muitas fontes de distração
por perto, ou se não nos sentirmos bem naquele local será difícil praticar no início. Podemos
arrumar o local com objetos que nos inspirem, imagens, flores, queimar incenso, etc. Tudo isso
pode ser testado por cada um. Os retiros procuram facilitar o isolamento. Com o tempo
sentiremos vontade de aplicar mais tempo para aprofundar as práticas. Mais adiante seremos
capazes de manter a concentração mesmo em lugares agitados, ou que sejam perturbadores,
como praças, ônibus, cemitérios, praias, etc.

Quanto tempo meditar?


Podemos começar com períodos de 5, 10 ou 15 minutos. Com a regularidade da prática,
o alongamento do tempo pode se dar naturalmente. Mais importante do que a duração da
sessão é o nível de atenção na prática e a regularidade com que praticamos. Abrir espaço no
cotidiano para que a prática de meditação seja um item importante da rotina é maravilhoso.
Com o tempo vamos sentindo vontade de fazer sessões mais longas ou retiros.
No início, a prática em grupo facilita o treinamento. Percebemos que no grupo nos
sentimos mais fortes e menos distraídos. Para isso existem os templos e salas de meditação. A
prática em casa, isolados, também é necessária, mas é mais fácil adquirir regularidade se
começarmos com um grupo.
Durante a sessão de meditação procuramos manter a imobilidade do corpo. Procuramos
não responder aos impulsos de coçar, ‘ajeitar-se’, de mudar de posição, etc. Se sentirmos dor,
avaliaremos se é uma pequena dor e podemos continuar, ou se estamos nos machucando;
nesse caso, é melhor parar.
Com o tempo percebemos que a simplificação do estilo de vida facilita a prática
meditativa.

Posição de fala (energia)


A posição de fala deve ser o silêncio. Fala e energia estão diretamente relacionadas. A energia
será pacificada através da respiração. A respiração deve ser tranquila, com progressivo
aumento da consciência.
Como a fala está ligada ao nível da energia, podemos reconhecer este nível também na
esfera das emoções; assim, por meio da nossa fala expressamos as diferentes modulações e
oscilações de nossa energia. Precisamos treinar a liberdade frente aos nossos impulsos no
nível da energia, precisamos entender que, como nos ensina o Lama Padma Samten

O domínio da energia é a sede da emancipação e o domínio cognitivo é


a teoria da emancipação.

O equilíbrio deste elemento pode vir a equilibrar todos os outros. Corpo e mente podem
entrar em sintonia e harmonia, diminuindo nossa responsividade, se simplesmente
equilibrarmos a energia (fala). A palavra tibetana para energia é lung. O Anexo V desta apostila
faz um aprofundamento neste ponto do lung, buscando iluminá-lo a partir de cinco aspectos,
ou os cinco elementos (éter, ar, fogo, água e terra).
Posição de mente
A mente deve seguir as instruções da prática específica que estiver sendo realizada. Por
exemplo, se é uma prática de concentração unifocada, procuraremos manter nossa atenção
100% no objeto de meditação, sem dar sequência aos pensamentos. O movimento dos
pensamentos não deve ser visto como um inimigo. Lutar contra a própria mente não gera
resultados. A mente deve estar concentrada, mas relaxada. Pensamentos sobre o passado ou o
futuro, aceitação ou rejeição, passam pela mente como nuvens no céu. Não os reprimimos,
mas também não os seguimos.
Em geral, o que chamamos de “pensamentos” são os impulsos cármicos que nos
mantêm sempre em atividade mental. Se ficarmos dominados por esses impulsos, a mente
estará sempre ocupada e teremos a sensação de sermos a todo momento arrastados por
nossos pensamentos. Estando a mente sobrecarregada e constantemente ocupada, temos a
sensação de não conseguirmos centrá-la em alguma outra coisa mais elevada, como o
caminho espiritual.
Logo, por meio da meditação, estamos gerando um processo pelo qual vamos poder
focar a mente em uma só coisa por vez, ou em várias delas em sequência, mas sempre por
escolha, por liberdade e não por impulso cármico. Por isso, tranquilizamos o corpo, a fala
(energia) e a mente.
Vemos os pensamentos surgirem e serem substituídos por outros, sucessivamente.
Inicialmente apenas observamos esse ir e vir. Pode ser que precisemos retornar diversas vezes
dentro de uma mesma sessão ao foco que elegemos, por exemplo, a respiração, ou a energia
(lung). Vamos fazendo isso de forma gentil e paciente, sem brigar com a mente e também sem
aceitar os conteúdos que surgem. Ao poucos, esse processo vai possibilitar que reconheçamos
os pensamentos que brotam como sendo bolhas de um vasto espaço de liberdade. Eles surgem
dali e ali mesmo se dissolvem. Essas bolhas podem nos oferecer enredos e histórias, ora
sedutoras ora repulsivas ora sem qualquer conteúdo efetivamente importante, mas na medida
em que reconhecemos que são apenas bolhas, elas estouram, voltam a pertencer ao lugar de
onde vieram, esse espaço de liberdade natural.
Procuramos não seguir as bolhas de pensamentos que surgem, simplesmente as
observamos sem rejeição e sem apego, nos mantemos presentes, atentos ao ciclo de
inspiração e exalação atual.

Durante a meditação, como estamos repousando nossa consciência na energia ou na


respiração, por exemplo, não vamos, ao menos num primeiro momento, dar importância a
qualquer conteúdo que surja a partir dos objetos mentais (pensamentos e imagens). Isso vai
nos deixar naturalmente relaxados, estáveis, atentos, com brilho nos olhos e abertos.
Paisagem
Reconhecendo a liberdade incessantemente presente, nos mantemos com corpo, energia e
mente estáveis e assim geramos uma paisagem interna de serenidade (ambiente interno de
serenidade). Substituímos as paisagens dos seis reinos (orgulho, inveja, desejo/apego,
preguiça/indolência/obtusidade mental, carência, raiva/medo), pela paisagem de serenidade e
paz.

Mandala
A cada ciclo de inspiração e exalação ampliamos mais e mais este ambiente interno de
serenidade, até repousarmos no espaço natural e incessante de serenidade, que é expressão
da Natureza Primordial. Assim, repousamos na “Mandala Natural de Serenidade de todos os
Budas.”
Céu
A natureza livre da nossa mente é a Natureza Primordial, o Espaço Básico, o aspecto do
Céu. Por meio da meditação, aos poucos, vamos reconhecendo que, em verdade, quando
geramos uma paisagem de serenidade estamos acessando um espaço natural e incessante de
serenidade, paz e liberdade, que nunca se distanciou de nós, reconheçamos isso ou não. A
cada inspiração e expiração aumentamos o brilho nos olhos e ampliamos a serenidade e a
estabilidade, nutrimos e curamos o nosso corpo.
Ao repousarmos no espaço básico, do qual tudo surge e ao qual tudo retorna,
reconhecemos que os fenômenos são totalmente puros, não há nenhum problema com eles em
si mesmos. O problema é quenos agarramos a eles, por apego ou aversão, é passamos a vê-los
de modo “contaminado”.
A partir do espaço básico também acessamos as Intenções Iluminadas – a energia que
nos anima, nos sustenta, dá brilho, força, magnetismo, lucidez, destemor, clareza e propósito
de vida. Ao localizarmos as Intenções Iluminadas e nos dedicarmos a nos mover a partir delas,
tomamos refúgio em algo que não é fugidio, entramos numa Terra Pura, operamos a partir de
uma Mandala. Mas isso ocorre quando tornamos prioridade a nossa transformação interna;
senão, seguiremos dependentes das condições externas.
O reconhecimento das Intenções Iluminadas como expressões de lucidez, onde a
energia natural e não condicionada – não por controle – nos move em meio ao mundo, gera a
inseparatividade entre a prática formal e a prática no quotidiano. Este é o despertar da
compaixão – a aspiração de manifestarmos as Sabedorias Búdicas como modo de
beneficiarmos amorosamente os seres em todas as direções.
Temos liberdade de trocar de paisagens. O Céu é o que nos permite saltarmos de uma
paisagem para outra, o Céu é essa liberdade incessantemente presente antes, durante e
depois de cada resposta que damos.
Por meio da meditação, estamos exercitando esta experiência de Céu, o repousar no
Espaço Básico, e somos capazes de, no silêncio, experimentarmos uma vivacidade, o brilho nos
olhos, e redirecionarmos nossa vida a partir deste brilho.
Então buscamos estabilidade de corpo, energia, mente, paisagem, mandala e céu, e
vamos nos dedicar a avançar nos níveis da Visão, da Meditação e da Ação.
Principais obstáculos
Existem muitos obstáculos que surgem durante as práticas meditativas, mas no início
eles estão divididos principalmente em dois grupos: a excitação ou agitação mental e o torpor
ou sonolência. A mente deve possuir uma qualidade de vivacidade durante a meditação, mas
sem agitação. No nível do corpo, a posição do olhar ajuda a lidar com estes dois fatores:
quando estivermos mais agitados, podemos olhar para baixo. Quando estivermos com sono
podemos olhar para cima. Inspirar e segurar o ar por alguns instantes também irá ajudar a
diminuir o sono. Um modo que se mostra bastante eficiente também é o repouso vivo sobre o
lung dos elementos (Anexo V). Por exemplo, repousar sobre o lung do éter nos desperta,
repousar sobre o lung da água nos flexibiliza, repousar sobre o lung da terra nos estabiliza, etc.
Outro obstáculo pode ser a noção de que estamos “piorando” quando começamos a
meditar. Parece que nossa mente fica ainda mais agitada. O que ocorre é que tomamos ainda
mais consciência de nossas mentes. Nossa mente pode ser comparada a um copo com água e
terra revoltas. Ao começarmos a praticar, tomamos consciência inicialmente desse copo e,
gradativamente, vemos a terra se assentar. Quando não praticávamos, a água e a terra eram
uma coisa só. Agora, elas começam a se separar e tomamos uma consciência maior da terra
que se assentou.
Quanto à dor física, tende a diminuir com o tempo de prática, mas é necessário que
combinemos as sessões formais, sempre alternando as posturas conforme descrito acima, com
alongamentos e práticas como ioga, pilates, etc. Ao mesmo tempo, a própria frequência tende
a acostumar o corpo e torná-lo mais dócil e flexível.
Podemos ter diversas “experiências” durante a meditação: ver luzes coloridas, imagens
que se movem na parede, fortes sensações de calor ou frio, histórias que surgem na mente,
seres estranhos próximos a nós, etc. Todos estes efeitos não devem ser reprimidos, mas
também não devemos lhes dar grande importância, pois eles nada mais são do que
manifestações da própria mente. Seguimos em frente focando a técnica que estivermos
praticando.
Paciência e perseverança são duas qualidades essenciais para sustentar a prática. Sem
elas, logo que os obstáculos surgirem poderemos pensar que não levamos jeito para a coisa,
que é muito difícil, que os resultados vão demorar muito, que nesta vida não dará mais tempo,
etc.

Quando encontrarmos obstáculos, podemos nos lembrar das preliminares à meditação,


ou seja da própria motivação, do principal motivo de estarmos praticando. Estamos praticando
apenas para atingir um bem-estar comum? Olhamos à volta e vemos a quantidade de
sofrimento que podemos infligir aos outros com nossa mente agitada. Olhamos e também
vemos o progresso que tivemos até agora. Com certeza já não respondemos mais do mesmo
jeito desde que começamos a praticar. Podemos contemplar Os Quatro Pensamentos que
Transformam a Mente. Podemos repassar os ensinamentos todos, a fim de nos motivar a
seguir.
ANEXO I
Motivação

MOTIVAÇÃO CORRETA - CONTEMPLAÇÃO EM 13 ITENS


Lama Padma Samten

ITEM 1. Homenagem ao lama


Homenagem à linhagem, àquele que sabe. Na verdade, prefiro olhar isso de uma forma muito
ampla: homenagem ao lama absoluto, homenagem ao Buda e também à linhagem toda.
Mesmo no sentido de linhagem, prefiro tomar isso em uma forma muito ampla, para que nos
alegremos pelo fato de que há muitos seres que, hoje mesmo, em diferentes linhagens, em
diferentes formas e diferentes tradições religiosas, dedicam-se inteiramente, integralmente, ao
beneficio dos outros seres. Nós estamos dentro de uma conspiração positiva, há muitos seres
articulados aspirando nosso beneficio. Eu diria assim: não só seres encarnados como nós
estamos, mas seres em todas as dimensões. Nesse sentido, nós podemos usar também a
noção da linhagem como a linhagem dos seres que estão aqui e dos seres que já passaram. Na
visão do Buda ele diz: “para aqueles que não tem inteligência, eu explico mortes e
renascimentos; para aqueles que têm a possibilidade compreensão, explico que há vida além
de morte e além de vida, além de nascimento além de morte”. Esse é o ensinamento maior. A
nossa presença, a nossa realidade se dá além de vida e morte. Então nós vamos encontrar os
Bodisatvas, os Budas incessantemente irradiando para nosso beneficio. É importante que
possamos nos dar conta disso. Nós temos as dificuldades, mas há uma irradiação incessante
em nosso beneficio.

ITEM 2 – A vida humana preciosa


Nós também estamos em tempos auspiciosos, tempos nos quais os ensinamentos estão
presentes,e isso é maravilhoso, é realmente especial. Como se diz em outros textos e outras
preces: “o Darma é infinitamente precioso, ele é muito raro, mesmo em milhares e milhões de
ciclos universais”. Há períodos nos quais os ensinamentos não existem. Agora nós estamos em
períodos maravilhosos. Nós estamos nesses tempos auspiciosos, se nós tivermos paciência e
um pouco de perseverança, nossa prática frutifica e nós podemos realmente melhorar. É
dentro dessa perspectiva que começamos a lembrar: nós somos filhos dos budas, filhos dos
bodisatvas, nós somos beneficiados por eles. E ai vem os primeiros dos quatro pensamentos,
que fala da nossa vida humana preciosa. O fato de nós termos um corpo humano, termos
saúde, e não estarmos em condições não auspiciosas; estamos em lugares aonde os
ensinamentos do Buda existem, e estão preservados. É muito importante contemplar os
ensinamentos tradicionais que tratam dos quatro pensamentos que transformam a mente. Meu
mestre, Chagdud Rinpoche enfatizava muito a importância desses ensinamentos.. Nós temos
essas qualidades. Patrul Rimpoche, nesse livro maravilhoso “Palavras do meu Professor
Perfeito” apresenta com detalhes esse tema, assim como Chagdud. Assim nós deveríamos
pensar/contemplar sobre cada uma dessas reflexões que tratam dessa classe de ensinamentos
referentes aos quatro pensamentos que transformam a mente. E aqui vou abreviadamente
falar sobre essa qualidade que temos, de nossa vida humana preciosa. No entanto, essas
qualidades favoráveis das quais dispomos hoje, existem por um tempo, mas passam.

ITEM 3 - Impermanência
A impermanência significa que aquilo que hoje está presente e é favorável pode desaparecer.
Vamos supor; os ensinamentos do Buda; no Brasil, eles são recentes. No final da década de 80
nós tivemos os primeiros movimentos aqui no Rio de Janeiro, então isso ainda é muito recente,
e do mesmo modo que os ensinamentos surgem, os ensinamentos podem cessar. É natural que
isso possa acontecer. Do mesmo modo, nossa saúde, nossa condição de aproveitar os
ensinamentos também é algo transitório, é triste pensarmos nisso, mas naturalmente essa é a
realidade. Nós precisaríamos entender que a impermanência pode se exercer sobre esses
fatores , hoje positivos, e que deveríamos usá-los do melhor modo. Eu tenho acompanhado
diferentes praticantes que já entraram em processo de morte... e morreram. Nessa hora,
quando a doença surge e se instala, sempre há essa perspectiva: “eu deveria ter praticado
mais, eu deveria ter aproveitado melhor o meu tempo”. E é evidente que essas circunstâncias
vão acontecer com cada um de nós, porque naturalmente nós temos o único pré-requisito
essencial para morrer, que é estar vivo, não falta mais nada, não precisamos de mais nada.
Então, nós naturalmente vamos passar por isso. Quando formos entrar nessa rota de forma
mais clara vamos ter a sensação de que deveríamos ter praticado mais. A impermanência
aquece as nossas costas, estamos andando e sentimos alguma coisa por trás, sentimos que
deveríamos andar mais rápido. É muito importante que entendamos isso. Deveríamos
aproveitar os ensinamentos que recebemos e transformá-los em realidade.

ITEM 4 - Carma
A melhor explicação para essa questão do carma, acredito, é a que fala do carma primário e
as condições secundárias. Por exemplo: “eu tenho um carma de brabeza?” Eu? não... como?”;
“nós somos pacíficos”. “Eu teria assim... carma para o reino dos infernos? Não... nem para o
reino dos seres famintos, nem para o reino dos animais etc”... a gente olha e parece que está
limpo, porém, quando as condições secundárias surgem... então aquilo pode aparecer. É
importante entender as condições secundárias, pois elas revelam as nossas fragilidades,
revelam nossas conexões com os seis reinos, revelam as ações não virtuosas. Por exemplo, nós
jamais mataríamos, exceto... percebemos que não faríamos nenhuma dessas dez ações não
virtuosas aqui nessa sala, por exemplo. Mas saímos daqui, saímos da meditação, vamos para
um outro lugar e ai surgem as condições secundarias que podem propiciar o impulso para as
ações não virtuosas, como se fosse uma grande inteligência. É assim mesmo que funciona,
essas são as condições secundárias. Precisaríamos entender que nós temos essa fragilidade.
Isso nos ajuda a compreender a importância de usar os ensinamentos o quanto antes.

ITEM 5 - O sofrimento
Depois, se entendemos que as ações não virtuosas, junto com o carma, propiciam sofrimento
para nós, então sabemos que se nós estamos bem agora, pode ser que daqui a pouco não
estejamos mais; pode ser que estejamos imersos em sofrimentos devido às nossas próprias
ações, devido às nossas próprias estruturas cármicas que constroem essas conexões. Nós
estamos bem, porém, o recado é esse: aproveitem essa condição imediatamente!

ITEM 6 – Refúgio nas Três Joias


E para aproveitar essa condição, nós tomamos refúgio no Buda. Nós temos quatro
pensamentos, um antes e um depois, este seria o pensamento depois, ou seja, nós
deveríamos tomar refúgio no Buda, não apenas no Buda, mas nas Três Joias: no Buda, no
Darma e na sanga.

Nós tomamos o Buda como nosso referencial, nós tomamos os ensinamentos do Buda e dos
mestres das linhagens, os ensinamentos mais elevados, o Darma, e tomamos a energia do
nosso encontro, a energia da sanga como a própria essência daquilo. Gostaria de comentar
brevemente, apesar de nosso tema não ser os Três Refúgios. Tomamos o refúgio no Buda como
a própria imagem do Buda, como o Buda histórico, mas também podemos tomar refúgio no
Buda como a natureza ilimitada, como o Buda Primordial, por exemplo. Nós também podemos
tomar refúgio na natureza de Buda como aquilo que nos anima, como a natureza primordial
inseparável de nós. Nós tomamos refúgio no Darma como os ensinamentos do Buda, mas nós
também podemos tomar refúgio no Darma como os ensinamentos dos mestres todos, e o
refúgio no Darma como a compreensão que brota internamente da própria natureza ilimitada
que é inseparável de nós. Nós tomamos refúgios na sanga como o grupo de praticantes
ordenados, e também podemos tomar o refúgio no grupo de seres que nos ajuda e sustenta
nossa prática e nos apóia dentro disso; podemos tomar refúgio na sanga como esse conjunto
tão amplo junto com a própria natureza, junto com a própria biosfera que sustenta nossa vida e
sustenta a vida de todos. Mas, especialmente, gostaria que vocês avaliassem a sanga como a
energia que nos une, que nos faz sorrir e nos leva a praticar e aprofundar na nossa prática.
Vocês podem olhar a sanga não composta propriamente de pessoas, mas na seguinte
perspectiva: a sanga como essa energia que nos anima quando nós nos juntamos. Eu tenho
uma imagem que gosto muito: pegamos muito galhos secos e tortos; para fazermos um fogo
nós juntamos esses galhos, e a chama cresce. Essa chama é o próprio Buda, essa chama é a
própria sanga, essa chama é o próprio Darma. No entanto, os galhos são cada um de nós. Torto
ou reto, mais lustroso, mais jovenzinho ou mais velho, aquilo essencialmente é um galho que
tem sua própria perspectiva. Ainda que não haja um galho igual ao outro, pelo o que eu vejo,
todos terminam queimados nas suas diferenças. Então, essa chama termina por remover as
nossas particularidades cármicas e nós vamos na verdade nos transformando nessa chama,
nessa energia. Por outro lado, se nós afastarmos esses galhos, a chama cessa. Pegamos as
brasas, botamos todos juntos de novo, aqueles galhos com brasa um pouco fraca, e aparece a
chama de novo. Então, na sanga nós nos juntamos com os nossos galhos tortos, mais bonitos
ou mais feios, vamos nos juntando(na verdade, todos bonitos né?). e aí surge a chama. Quando
a chama surge, todos nos aquecemos, aquilo que é cármico em nós vai se reduzindo a cinzas e
aquilo que é limitado em nós vai se transformando nessa chama, a energia surge e tudo anda.
Então a sanga é a expressão do próprio Buda. Quando nós entramos numa sala há essa
energia, essa energia é o Buda, vivo! Nós tomamos refúgio nisso: no Buda, no Darma e na
sanga. Tomamos refúgio também no lama. Mas aqui é muito importante vocês observarem que
o refúgio no lama deveria passar por um controle de qualidade que lembra uma observação do
próprio Buda: aquele que me olhar no fenômeno da minha aparência física e fizer prostrações
como diante de um Buda, esse é um herege, porque o Buda não pode ser reconhecido no
fenômeno de sua aparência física. Esse é um ponto de grande importância. Ele nos permite
entender por exemplo a noção de Tatagata. O Buda ele é o Tatagata, ele é um bodisatva de
nono nível, ele já é o Buda: o Tatagata. Mas o Tatagata, na perspectiva dos dez níveis de
bodisatva, ele é o nono, não o décimo. O Tatagata está em algum lugar físico; quando ele está
aqui ele não está em outro; está naquele lugar. Então ele vem àquele lugar e vai. O Tatagata é
aquele que vem e vai, ele se manifesta localmente. O Buda morreu, deixou de se manifestar,
esse é o Tatagata. Daí o Buda diz: aquele que me vê, aquele que vê o meu corpo, não vê o
verdadeiro Buda, o verdadeiro Buda é o Darmamega, o décimo estágio. Ele se manifesta
através das qualidades que não são temporais, nem espaciais. Hoje, por exemplo, podemos
acessar diretamente as qualidades do Buda (darmamega do mesmo modo que o Buda
Tatagata, o Buda Sakyamuni acessava essas qualidades. A função dos lamas é semelhante. Os
lamas se manifestam em corpo físico, todos mais parecidos ou mais diferentes uns dos outros;
eles vão manifestar essa natureza ilimitada, essa é a função deles. Nós tomamos refúgio nessa
natureza ilimitada através dos lamas e não na figura deles.

ITENS 7 a 13:
Paisagem - Prece de Sete Linhas - usamos a imagem de Guru Rinpoche sentado no lótus, no
Lago Danakosha de Ordjen. Lembramos do surgimento extraordinário de Guru Rinpoche e
pedimos as bênçãos de também nascer sobre o lótus, é a culminância da motivação.
Contemplar em energia, e não apenas no aspecto mental.

ITEM 7 - O Lodo
Reconhecemos as emoções perturbadoras, as ações não virtuosas, as condições não
auspiciosas presentes na situação? Vemos o lodo? Fazemos contato, de algum modo aquilo
parece que gruda mesmo em nosso pé!

ITEM 8 - A Água
Reconhecemos o sofrimento na forma de tristeza, desânimo, violência, revolta, etc? As
lágrimas estão presentes? Vemos a água?

ITEM 9 - O Talo do Lótus


Quando reconhecemos as condições não auspiciosas e as lágrimas, brota em nós a aspiração
de intervir de forma positiva? A raiz do talo surge no lodo (reconhecimento das emoções
perturbadoras). Irrigado pelas lágrimas, o talo do lótus surge e se eleva além das águas.
Geralmente somos arrastados, não temos essa aspiração de ultrapassar. Qual seria o sinal do
surgimento do talo? Nossos olhos se abrem e brilham, surge uma energia em nós. Vemos esse
brilho, surge em nós essa energia?

ITEM 10 - A Flor de Lótus


Surge a flor flutuando sobre a água. Meios hábeis. Amadurecimento do lótus. Corresponde à
base cognitiva, os recursos que temos para produzir benefícios, a base que permite tal
surgimento. O talo é a motivação (compaixão).

ITEM 11 - O Nascimento
A etapa seguinte seria o nosso nascimento sobre o Lótus. Existe essa visão de mundo que nos
permite intervir positivamente? Nós nos vemos surgindo no lótus, com recursos para ação
positiva? Há essa segurança, essa possibilidade de uma inserção no mundo? Assumimos que
vamos viver a partir da flor, dos meios hábeis ou retornamos para os 6 reinos? Se nos damos o
nascimento na flor, a motivação está completa.

ITEM 12 - Radiância
Energia auto-surgida; com essa motivação, vamos praticar, vamos sustentar esse nascimento
na flor de lótus e gerar benefícios. Surge uma alegria, uma energia que nem sabemos de onde
brota. Nos 6 reinos tb surgem energias que parecem dar sentido à vida, propósitos, etc. Mas
essas energias, não importa a força que tenham, são frágeis, cíclicas e oscilam. Quando os
mestres estão sustentados por essa radiância, sentem a inseparatividade dos Budas.
ITEM 13 - O Céu
Ainda que tudo seja extraordinário, tudo está dentro do espaço básico. Os Budas e Bodistavas
não têm realidade em si. Eles surgem, são manifestações mágicas, livres, lúcidas, dentro das
bolhas.
ANEXO II

A Mandala dos Cinco Elementos


Lama Padma Samten

Dentro do caminho, onde estamos agora, vamos aos poucos abandonando o aspecto
cognitivo e as identidades correspondentes, e a noção de espaço e tempo passa e não ter mais
tanta importância; não porque estamos nos opondo a algo, mas porque aos poucos estes
referenciais vão se evaporando e perdendo o sentido. Na verdade nem percebemos que
estamos abandonando algo, simplesmente começamos a fazer algo novo.
A observação do mundo circundante a partir dos lungs já é uma operação impessoal e
atemporal, está para além de vida e morte, transita pelos seis bardos e seis reinos sem
nenhuma preocupação.
O lung não diz respeito à observação de objetos, é um movimento de energia.
O lung não comporta divisão, a segmentação que fazemos é meramente didática, para
que possamos olhar com mais detalhes. É como se olhássemos para um diamante e
focássemos cada uma de suas faces para poder olhar com mais detalhe.

O lung é algo que não deveríamos dividi-lo em cinco partes – os cinco elementos. Nós
fazemos esta divisão para poder “olhá-lo” durante a prática. É como se tivéssemos um
diamante e olhássemos para um lado dele e localizássemos o lado do elemento éter, depois
olhássemos para o outro lado e localizássemos o lado do elemento ar, depois o elemento fogo,
o elemento água e o elemento terra. Mas nós não temos nenhuma dúvida de que se trata de
uma única pedra.

Assim, na nossa prática é muito importante nós não criarmos a ideia de que há esta
divisão e pensarmos que isolamos o elemento éter, ar, fogo, água e terra. Esses são aspectos
do lung que nós olhamos para conseguir “ver” com mais detalhe o foco da nossa prática.

Ao adentrarmos no aspecto dos lungs devemos primeiramente nos lembrar dos mestres
do passado, nos lembrarmos da linhagem.
Assim, lembramos do aspecto milagroso onde, através de um longo tempo, de geração
a geração, os mestres encontram um jeito de manter estes ensinamentos vivos.
ÉTER: Sentamos e mantemos a luminosidade do olhar. Quando cansamos, o brilho no olho
enfraquece. A mente possui a capacidade de fazer surgir o brilho no olho por si só, sem a
necessidade de algo externo. Começamos pelo reconhecimento do elemento éter: o brilho nos
olhos, a clareza da mente, um brilho que se funde com a espacialidade da mente. Na visão da
Mandala Primordial, o elemento éter corresponde à vastidão da mente, à experiência de
espacialidade.
No samsara, nos engajamos nos pensamentos e nas bolhas de realidade a partir do
elemento éter. Surge um pensamento e, sutilmente, dizemos “oh!” e entramos na corrente de
pensamentos. Os pensamentos produzem um brilho de um certo tipo em nós, e assim
entramos na cadeia de pensamentos discursivos. É através do brilho do elemento éter que
nascemos com um corpo sutil de uma identidade dentro de uma bolha particular. Se
estivermos com excesso de elemento éter, podemos ficar demasiadamente agitados e
empolgados. Na sua falta, nos tornamos apáticos e sem vida.

AR: Esse brilho da mente produz o elemento ar e nós respiramos. O elemento ar traz
movimento, uma fluidez que surge por dentro do brilho da mente. Na experiência da Mandala
Primordial, o elemento ar corresponde à expansão infinita do espaço básico, como respirar ao
contemplar a amplidão da realidade do alto de uma montanha.
Podemos também levar o elemento ar, através da respiração, para cada parte do nosso
corpo. Se estivermos com excesso de elemento ar, somos simplesmente arrastados de um lado
para o outro, literalmente ao sabor dos ventos cármicos. Na sua falta, nos tornamos fechados e
monótonos.

FOGO: Da união desse brilho sutil do elemento éter com a respiração, o movimento do
elemento ar, surge um calor interno e o nosso corpo se aquece: é o elemento fogo. O fogo
produz uma sensação de vida, nos permite ver as coisas, criar, dar significados, dar cor às
experiências. Sentimos um calor sutil preenchendo nosso corpo.
Podemos levar calor e aquecer cada parte do nosso corpo, sentindo o elemento fogo o
preenchendo. Quando nos engajamos nos pensamentos e nas bolhas que surgem na mente,
perdemos a estabilidade destes elementos e, consequentemente, a capacidade de 25plica25ce-
los. Se estivermos com excesso de elemento fogo, nos tornamos impulsivos, impacientes e
irritados. Na sua falta, nos tornamos apáticos e sem energia e criatividade.

ÁGUA: Do elemento fogo vem a fluidez do elemento água, uma ausência de rigidez. Sentimos
nosso corpo leve, fluido, sem tensão, pronto para agir. A natureza primordial é fluida, não-
obstruída. Podemos visualizar todo nosso corpo sendo inundado pela flexibilidade do elemento
água. Se estivermos com excesso de elemento água, afundamos nas emoções e pensamentos,
nos tornamos excessivamente emotivos. Na sua falta, nos tornamos insensíveis e secos, sem a
capacidade de flexibilizar.

TERRA: Na sequência surge a estabilidade do elemento terra, uma serenidade, uma confiança
e não oscilação do nosso movimento. Se estivermos com excesso de elemento terra, nos
tornamos rígidos, tensos. Na sua falta, oscilamos junto com as experiências, sem estabilidade
nenhuma. No samsara, todos nós aspiramos estabilizar tudo, ter experiências sólidas como
uma casa, um carro, um relacionamento, um emprego. Mas tudo se mostra impermanente. Mas
enquanto não reconhecermos a estabilidade da Natureza Primordial, não vamos conseguir
estabilizar nada. A Natureza Primordial é a estabilidade que podemos obter. É na verdade, a
única estabilidade possível.

Contemplando a Mandala dos Cinco Elementos


Para observar a mandala dos cinco elementos, precisamos apenas aplicá-los. Ou seja,
eles já estão presentes, A dificuldade que temos em reconhecer a mandala dos cinco
elementos vem da nossa fixação em manobrar a mente conceitual, esperando reconhecer os
elementos através de um comando da mente, ou seja, através dos pensamentos discursivos. A
habilidade que precisamos desenvolver é a de gerar uma liberdade frente à aparente
“obrigação” em manobrar os pensamentos. Os elementos não são cognitivos, por isso
precisamos soltar a mente conceitual.
No samsara, todos aspiramos ter brilho para as coisas (éter), ter empolgação e respirar
desimpedido (ar), ter calor, energia para realizar o que queremos (fogo), nos movimentar
desimpedidos, de maneira fluida (água) e conseguir estabilizar as experiências que vivemos
(terra). Nosso movimento por dentro do samsara sempre é de estabilizar os cinco elementos
através do controle do javali e do galo, tendo a cobra como a ação reativa sempre que nossas
aspirações falharem.
Nossa sensação de vida, de viver, vem dos cinco elementos. Quando reconhecemos
isso, o que fazemos? Sorrimos! Apenas isso. Vemos que a aparente “concretude” do samsara
tem na sua gênese a plasticidade dos cinco elementos, não há essa solidez.
Relaxar no reconhecimento dos elementos. Vemos que podemos acessar a energia dos
cinco elementos por liberdade e não pelas situações comuns do samsara. Assim, usamos agora
os elementos para surgirmos como Bodisatvas.
ANEXO III

Shamata ou Quiescência Pura


Gyatrul Rinpoche, comentando o texto de Dudjom Rinpoche

A quiescência pura é o próximo passo na experiência de permanecer em um estado de


concentração unifocada por um tempo indefinido. Há aqui uma tremenda claridade. Ainda que
a mente esteja imóvel, é lúcida e clara. Há uma lembrança completa da experiência de toda a
meditação e do período pós-meditativo.

Durante o estágio inicial da quiescência impura, os oito estados cognitivos 1 estão


obstruídos durante a meditação. À medida que avançamos em direção à experiência de
quiescência pura, a claridade se torna desobstruída uma vez que as experiências sensoriais
funcionam normalmente ainda que a mente nunca flutue da absorção unifocada.

Durante a meditação há a liberdade de permanecer na experiência de concentração unifo-


cada o tempo todo e em qualquer circunstância. A conclusão da meditação formal não
constituiria na finalização da quiescência porque o poder do estado de lucidez 2 permearia a
experiência pós-meditativa das atividades diárias.

Quanto tempo leva para chegar-se à pura quiescência? Este tipo de experiência vem como
resultado de um tremendo esforço na prática. Não é um resultado que venha facilmente ou
rapidamente.

Outros benefícios desta realização incluem relaxamento físico e mental; e, uma vez que
não há distração, a prática pode ser sustentada indefinidamente. Agora, quando você pratica,
tanto o corpo como a mente se cansam; e, à medida que você fica desconfortável, você liga
algo mais para mudar a experiência de desconforto. Ao chegar ao nível de pura quiescência, o
corpo e a mente estão sempre em estado de conforto. Entretanto, se a mente se apega à
experiência de sentir bem estar físico e mental, então, tal mente de apego começará a
produzir as causas de renascimento no reino do desejo, trazendo-o de volta novamente à
existência cíclica. É necessário que nunca haja apego à qualquer experiência.

Os oito estados cognitivos são: as consciências associadas aos olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo, mente,
consciência aflita e consciência básica ou mente básica de tudo.
2
[ingl. ”awareness”]
Geralmente você deveria manter na mente que, quando sua prática de meditação começar
a aprofundar-se, há três experiências que ocorrerão. A primeira é bem estar 3, a segunda é
clareza, e a terceira é a experiência de ausência de pensamentos. Quando tiver estas
experiências, se você ligar-se a elas pensando que, de algum modo atingiu o resultado
derradeiro, então estará novamente produzindo causas para renascimento em samsara. Não
confunda estas experiências com o resultado final de iluminação. Se apegar-se ao bem estar,
estará estabelecendo as causas para o renascimento no reino do desejo. Se apegar-se à
luminosidade ou claridade, isto estabelece as causas para o renascimento no reino da forma.
Apego à ausência de pensamentos estabelece as causas para o renascimento no reino dos
deuses sem forma. Estes são os três reinos (desejo, forma e não-forma) da existência cíclica
dentro do qual as seis classes de seres se debatem. Através da meditação você pode de fato
produzir as causas para o renascimento nestes três âmbitos de existência caso não seja
cuidadoso.

Esta é uma explicação concisa de como praticar para atingir a quiescência que inclui
instruções sobre o que evitar enquanto praticando. Se for capaz de praticar com sucesso, irá
atingir a quiescência por períodos prolongados de tempo e meditar com claridade, preparando-
se então para a segunda fase, a prática principal de cultivar a sabedoria primordial da intuição.

3
[ingl. “bliss”]
ANEXO IV

Metabavana | Meditação do Amor Universal


roteiro compilado a partir de ensinamentos do Buda Shakyamuni e do Lama Padma
Samten

Trazemos à mente uma pessoa próxima ou não, com a qual a relação seja boa ou não, que
esteja em dificuldades ou não. Montamos nossa “lista” de pessoas e então visualizamos, uma a
uma, e seguimos as oito recomendações abaixo:

Foque uma pessoa (...), que pode ser você mesmo, então repita (mentalmente ou verbalmente,
conforme as circunstâncias do entorno e sua disposição):

1. Que (...) seja feliz

2. Que (...) se liberte do sofrimento

3. Que (...) encontre as causas verdadeiras da felicidade

4. Que (...) supere as verdadeiras causas do sofrimento

5. Que (...) se libere totalmente do seu carma

6. Que (...) manifeste lucidez de modo natural e instantâneo

7. Que (...) seja verdadeiramente capaz de ajudar os outros seres

8. Que (...) encontre nisso sua fonte de alegria e energia

Reconhecemos em cada afirmação feita que isso é mesmo possível de ocorrer!

Meditar nestas oito frases tem o poder de reconstruir as relações, pelo simples fato de que as
coisas não são tão sólidas quanto parecem, e muito menos as relações. Podemos começar
conosco mesmos, depois com as pessoas mais fáceis, depois as mais difíceis.
DESPEDIDA

Neste minicurso aprendemos algumas técnicas de meditação e agora pode surgir a


pergunta: “O que fazer com isto tudo?” Todos aqueles que procuram praticar a meditação
deparam com o obstáculo básico de não encontrar tempo em suas rotinas agitadas e ocupadas
para introduzir a meditação silenciosa. A abordagem apenas através da disciplina dificilmente
funcionará, ela se sustenta por algum tempo, mas diante da menor desatenção ou problema
mais grave não conseguimos seguir com regularidade. Assim, melhor é encontrar bem-estar e
alegria na meditação e ver seus efeitos em nossas vidas, aí nos sentiremos motivados a
praticar mais. Melhor ainda é avaliar nossa motivação ao sentarmos para meditar. Se nossa
motivação for autocentrada, encontraremos maiores problemas. Se conseguirmos abrir nossas
mentes para a necessidade de nos capacitarmos para ajudar os outros seres, então o
combustível para a meditação durará um tempo maior.
Para estabelecer uma rotina, será necessário se esforçar um pouco, abrir mão de certas
vontades e saber dizer ‘não’, às vezes, aos convites que recebemos. Porém, sem exageros,
sem dureza excessiva, que não trazem resultados mais rápidos. Se conseguirmos meditar 15,
20, 30 minutos ou mais todos os dias, logo sentiremos os efeitos benéficos. A meditação é um
método que vem sendo testado há milênios, provavelmente é o único método que pode nos
ajudar a alcançar a paz mental e emocional que buscamos. Problemas, dificuldades, doenças
continuarão surgindo em nossas vidas, mas seremos capazes de lidar com eles de uma forma
mais lúcida e leve. Vale a pena experimentar!

Boa prática!
Que muitos possam ser beneficiados!!
REFERÊNCIAS / LEITURAS SUGERIDAS

- Lama Padma Samten – Meditando a Vida, Jóia dos Desejos, Nascendo no


Lótus, Mandala do Lótus, A Roda da Vida como Caminho para a Lucidez e
diversas transcrições de retiros e palestras, que podem ser encontradas no site
www.cebb.org.br
- B. Alan Wallace – Genuine Happiness, Revolução da Atenção, Budismo com
Atitude.
- S.S. Dalai Lama – Como Praticar, Simple Path, O Sentido da Vida e outros.
- Matthieu Ricard – A Arte de Meditar
- Chagdud Tulku Rinpoche – Portões da Prática Budista

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