V I S ÃO G E R A L DO C O N T E ÚD O
Impermanência e Morte
Os Cinco Agregados
Samsara e Nirvana
Impermanência e Morte
Paráfrase do "Conselho de um
Homem Velho e Experiente"
Geshe Ngawang Dhargyey
A isto, o velho responde: "Se dizes que ajo, ando, falo e me movimento de
uma maneira diferente, não te sintas voando pelo céu. Põe os pés no chão
como eu e escuta as minhas palavras."
[Alguns jovens sentem que a velhice é apenas para os idosos e que nunca
lhes chegará. São muito arrogantes e não têm paciência para se
envolverem com os velhos.]
O velho continua: "Há uns anos atrás eu era muito mais forte, mais bonito
e mais vigoroso do que tu. Não nasci como sou agora.
[A maior parte dos idosos falam deste modo. O presente nunca é tão bom
como outrora.]
[Uma vez, na região onde vivi, havia um jovem que levava uma vida
luxuosa, abandonando-se continuamente aos prazeres. A pouco e pouco
tornou-se velho, seu corpo encurvou e seu provento diminuiu. Ele disse
aos seus amigos: "Nunca pensei que a velhice chegasse tão de repente"]
"Quando ficamos muito velhos, não gostamos de nós quando nos vemos
ao espelho. Nessa altura os nossos corpos e mentes tornam-se fracos. Os
nossos corpos começam a degenerar, da cabeça aos dedos dos pés. As
nossas cabeças ficam curvadas, como se estivessem sempre recebendo
uma iniciação do vaso."
"Os meus cabelos brancos, sem nenhum preto que lhes reste, não são
sinal de purificação. São a seta da geada da boca do Senhor da Morte que
aterrou na minha cabeça. As rugas da minha testa não são os vincos de
um bebê gorducho bebendo o leite de sua mãe. É a contagem dos anos
que já vivi pelos mensageiros do Senhor da Morte. Quando entorto os
olhos, não é que o fumo esteja nos meus olhos. É um sinal de impotência à
degeneração dos meus poderes sensoriais. Quando tento fazer um grande
esforço para ouvir pondo a mão na minha orelha, não é que esteja
fazendo uma comunicação secreta. É um sinal de degeneração da minha
audição."
"Quando me é difícil respirar e fico sem fôlego, não é que esteja curando
alguém soprando um mantra. É sinal da fraqueza e da exaustão das
energias do meu corpo. Quando faço muito pouco e tenho poucas
atividades, não é que esteja controlando intencionalmente as minhas
atividades. É devido às limitações do que um velho pode fazer. Quando
sou muito esquecido, não é que julgue os outros com menor importância
nem que os olhe com superioridade. É sinal da degeneração da
consciência da minha memória."
"Ó jovem, não gozes nem zombes de mim. O que eu agora experiencio não
é meu exclusivo. Todos experienciam isto. Espera para ver; em três anos,
chegarão os primeiros mensageiros da velhice. Não acreditarás no que
digo nem gostarás de o ouvir, mas aprenderás da experiência. Nesta
época das cinco degenerações, serás afortunado se chegares à minha
idade. Mesmo que vivas durante tanto tempo quanto eu, não serás capaz
de falar tanto quanto eu".
"Porém, eu não me sinto assim. Não estou certo de ter feito algo de
construtivo. Tenho medo da morte e estou grato por cada dia que posso
permanecer vivo. O meu grande desejo é o de continuar vivo todos os
dias."
O jovem muda de ideias e diz: "Ó velho, tudo o que dizes é verdade. O que
os outros me disseram sobre o sofrimento da velhice está de acordo com
o que vejo em ti. A demonstração da velhice que me fizeste foi muito útil à
minha mente. Estou espantado com o sofrimento da velhice. ."
“Uma longa vida não pode ser comprada com dinheiro nem obtida
através do conforto físico. Se tiveres confiança espiritual e souberes o que
queres da vida, então quanto fisicamente mais velho ficares, mais
felicidade e juventude mental terás. Se gozares muito conforto físico mas
tiveres levado uma vida vazia, então quanto mais velho ficares mais
infeliz te tornarás. Terás de viajar como turista para distraires a tua
mente da preocupação com a morte. Por outro lado, mesmo se tiveres
apenas um pouco de confiança espiritual, quanto mais perto estiveres da
morte, mais te sentirás como um filho que regressa feliz a casa. Não
sentirás aversão à morte, mas olharás em frente para as contínuas vidas
de felicidade."
[Uma vez, um grande mestre espiritual disse: "Como tenho confiança total
nos meus nascimentos futuros, não tenho preocupações nenhumas. A
morte pode vir a qualquer altura; será bem-vinda.”]
O jovem diz: "Tudo o que dizes é verdade e muito útil. Mas durante os
próximos anos não posso fazer essas coisas. Tenho outros trabalhos a
fazer. Tenho uma grande propriedade, tenho bens e assim por diante.
Tenho muitos negócios a fazer e preciso de cuidar da minha propriedade.
Daqui a alguns anos encontro-me outra vez contigo, e então farei as
práticas."
O velho fica muito infeliz e diz: "Tudo o que me acabas de dizer não
passam de palavras vazias e sem sentido. Tive o mesmo desejo de fazer
algo de significativo para depois de alguns anos, mas nunca fiz nada e
agora estou velho. Eu sei como é ilusório o que dizes. As coisas a fazer
daqui a alguns anos nunca acabarão. Irás adiá-las para sempre. As coisas
a fazer daqui a alguns anos são como a barba de um velho; se a fizer hoje,
mais crescerá amanhã. Depois de adiares até amanhã e depois, depressa
verás que a tua vida acabou. Este adiamento da prática do Dharma tem
enganado a todos. Não tenho confiança nenhuma de que um dia irás
praticar o Dharma. Por isso, falarmos é um total desperdício. Regressa à
tua casa, faz o que quiseres e deixa-me dizer uns manis (mantras)."
O velho ri: "Fazes-me essas perguntas, por isso acho que devo responder
o quanto tempo demora a realizar qualquer coisa. Em direção ao sul vive
o Senhor da Morte, que não se importa nada se acabaste ou não o teu
trabalho. Ele faz o que quer. Se puderes ter relações amigáveis com ele e
obter a sua permissão para realizares algo na vida, então podes relaxar.
Caso contrário, nunca o poderás fazer. As pessoas morrem a meio de uma
xícara de chá, enquanto a comida está na mesa, ao passearem, antes de
conseguirem acabar de fumar um cigarro."
"Isso acontece a todos, até aos grandes mestres. Muitos dos seus
ensinamentos estão incompletos porque morreram antes de os acabarem
de escrever. Por isso, quando o Senhor da Morte vier, não poderás dizer:
'Eu tenho uma grande propriedade e muito trabalho por fazer'. Não te
poderás gabar de nada; terás de deixar tudo. A este respeito somos
completamente impotentes. Não podemos determinar a duração da nossa
vida. Portanto, se puderes fazer qualquer coisa, começa a praticar agora.
Isso será significativo; senão, as tuas propriedades, em si, não têm
sentido. Mas hoje há poucas pessoas falando verdade sobre o que é útil. O
que ainda é mais raro é alguém que escute os conselhos sinceros."
O velho concorda e aceita. Diz ele: "Eu não sei muito, mas experienciei
bastante. Com isso posso ensinar-te. A coisa mais difícil é começar e
estabelecermo-nos no Dharma. Começar a praticar depois de velho é mais
difícil. Por isso, é importante começarmos com uma idade jovem."
“No Dharma não há regras rígidas. Por isso tenta não teres demasiados
pensamentos nem uma mente errática. Começa agora e mantém o teu
interesse no Dharma. Não mudes de ideias a cada momento. A partir
deste momento, dedica a tua vida – o teu corpo, palavra e mente – à
prática do Dharma."
[Atisha deu ênfase a esta questão. Contava com frequência que tinha uma
igual dedicação e devoção a todos os seus 155 gurus.]
O velho diz: "Eu ouvi estes ensinamentos dos meus mentores espirituais e
eles também são baseados na minha própria experiência. Que isto possa
beneficiar os ilimitados seres sencientes na obtenção da sua felicidade."
1. visões
2. sons
3. odores
4. sabores
5. sensações físicas.
1. consciência do olho
2. consciência do ouvido
3. consciência do nariz
4. consciência da língua
5. consciência do corpo
6. consciência mental.
Milarepa tinha uma irmã que insistia que ele encontrasse uma esposa e
tivesse casa e filhos, mas ao invés disso Milarepa deixou sua casa e
encontrou seu professor, Marpa. Quando sua irmã descobriu que Marpa
era casado e tinha casa e família, ela voltou a insistir com Milarepa.
“Por que você não faz como o seu professor?” ela perguntou.
“Quando um jovem e uma jovem se conhecem, eles são tão belos que
parecem deuses um para o outro e têm um desejo insaciável de olhar um
para o rosto do outro. Mas, quando eles já se conhecem há um tempo,
começam a olhar feio um para o outro. Em breve, se um disser duas
palavras, o outro dirá três. Logo eles começam a brigar. Se um toca o
cabelo do outro, o outro agarra o seu pescoço. Então um ameaça bater no
outro com uma vara e o outro pega uma colher de madeira para bater de
volta.
“Algum tempo depois, eu dei uma iniciação para a qual Rechungpa veio.
Eu mostrei um cordão de turquesas e disse, “se você quiser receber a
iniciação, terá que me dar isso”, sabendo muito bem que Rechungpa já
tinha dado sua turquesa! Como vocês veem, casais brigam. Quando
envelhecem e perdem os dentes, eles se parecem com bois e vacas.
Eventualmente se parecem com demônios e fantasmas! Por isso, não,
obrigado, eu não aceitarei sua oferta de me adotar.”
O homem persistiu, insistindo que ele tinha que ter um filho para cuidar
dele e de sua esposa, para lhes dar segurança. “Se você for nosso filho, nós
arranjaremos um casamento e você poderá ter filhos que cuidarão de
você.” Mas Milarepa recusou.
“É tão bom ter filhos. Quando você tem filhos, no começo eles são tão
belos – como os filhos dos deuses! E eles trazem tanta felicidade! Mas aos
poucos, quando crescem, eles exigem tudo de você. Agem como se
tivessem lhe emprestado dinheiro, constantemente importunando e
lembrando-o de pagá-los. Um dia os filhos trarão estranhos para casa,
amigos e namoradas para que os pais alimentem. Então eles tomam conta
da casa e aos poucos expulsam os pais de sua própria casa.
“Se você lhes perguntar algo amavelmente, eles gritam com você. Eles o
menosprezam quando você está velho e ficam com vergonha de você –
mesmo de sua própria mãe. Portanto, eles ficam totalmente diferentes do
que eram – doces principezinhos. Nunca te dão paz de espírito, nunca
retribuem sua bondade. Sempre farão o oposto do que você quer que
façam – cabelo bagunçado, roupas estranhas, sapatos esquisitos.”
“Se um filho dá tanto trabalho assim, nós preferimos uma filha”, sugeriu a
esposa sem querer desistir.
“Eles são iguais! Quando você os conhece, são todos sorrisos, tão
agradáveis, fazem você se sentir tão feliz. Então começam a contar
histórias e novidades, te convidam para ir aqui e ali e você nunca tem um
momento para si mesmo. Então você tem que voltar para casa para visitar
todos os parentes deles – eles contam todas as novidades e você nunca
tem paz. Depois disso, vocês trocam presentes e comida, preparam
refeições um para os outros. Logo começam a competir entre si. Cada um
precisa saber o que o outro está fazendo, eles ficam com ciúmes e as
rivalidades aparecem.
Os Quatro Maras
O Mara da Morte
A morte, logicamente, é o que mais interfere em nossa prática espiritual.
Não há como ter certeza de que nossa próxima vida será uma vida
humana preciosa, com todas as folgas e oportunidades que nos permitem
praticar sem obstáculos. Mesmo que tenhamos tal renascimento,
precisamos começar novamente o caminho espiritual como criança. Além
disso, a morte é um evento incontrolavelmente recorrente ao final de
cada vida.
Yama oculto ou secreto - são as três mentes conceituais mais sutis que
criam as aparências de uma existência verdadeira: limiar (nyer-thob,
quase-atingimento, aparência preta), difusão (mched, aumento,
aparência vermelha), e aparecimento (snang, aparência, aparência
branca). Cada renascimento começa com essas três mentes conceituais
sutis criando aparências que parecem existir verdadeiramente. Tendo
por base a falta de consciência, acreditamos que essas aparências
correspondem à realidade, e assim nos agarramos à existência
verdadeira e temos todas as emoções e atitudes perturbadoras que
derivam da falta de consciência e do agarramento.
Elogio ou crítica
Boas notícias ou más notícias — inclusive ter ou não ter notícias das
pessoas que amamos; ou ouvir sons agradáveis ou desagradáveis
Seguir com nossa prática do dharma sem nos importar com o que os
outros pensam à nosso respeito
Manter sempre nossos compromissos e a consciência profunda
Seguir continuamente com nossa prática sem nos deixar levar por
preocupações inúteis.
Consciência Primária
A escola Chittamatra adiciona mais dois tipos de consciência primária, o que faz de
sua lista um entrelaçamento de oito consciências primárias (rnam-shes tshogs-
brgyad):
Alayavijnana é uma consciência individual, não é universal, e está por trás de todos
os momentos de cognição. Ela tem ciência dos mesmos objetos que aparecem para
as demais consciências, mas é uma cognição que não define o que aparece (snang-
la ma-nges-pa, cognição desatenta) e não percebe com clareza seus objetos. Ela
carrega os legados kármicos e as impressões mentais de memórias, ambos
abstrações não estáticas imputadas no alayavijnana. A continuidade de uma
alayavijnana individual cessa quando se atinge a iluminação.
Assim como a consciência primária, os fatores mentais também são meras formas
de estarmos cientes de algo. Eles tem consciência de seus objetos de uma forma
especial, mas sem inserção (sgro-‘dogs, adicionando algo que não está lá) ou
repúdio (skur-‘debs, negando algo que está lá). Alguns executam funções que
ajudam a consciência primária a tomar cognitivamente (‘dzin-pa) seu objeto.
Outros adicionam um sabor emocional à tomada do objeto.
Consciência Principal
Por exemplo, o sistema Teravada apresentado em Um Texto Que Tudo Inclui dos
Pontos de Tópicos de Conhecimento (Pali: Abhidhammattha-sangaha) de Anuruddha
especifica cinquenta e dois fatores mentais. O tratado padrão do Bon sobre esse
tópico, encontrado no texto Núcleo Mais Profundo de Tópicos de
Conhecimento (mDzod-phug) de Shenrab Miwo (gShen-rab mi-bo), desenterrado
como um texto-tesouro (gter-ma, terma) por Shenchen Luga (gShen-chen Klu-dga’),
lista cinquenta e um fatores.
Asanga listou:
Essas listas de fatores mentais não são completas e definitivas. Existem muitos
outros fatores além dos cinquenta e um. Muitas das boas qualidades (yon-tan)
cultivadas no caminho budista não estão listadas separadamente – por exemplo,
generosidade (sbyin-pa), disciplina ética (tshul-khrims), paciência (bzod-pa), amor
(byams-pa) e compaixão (snying-rje). De acordo com a apresentação Gelug, os cinco
tipos de consciência profunda (ye-shes) – do espelho, equalizadora,
individualizadora, realizadora e esfera da realidade (Skt. dharmadhatu) – também
são fatores mentais. As várias listas são compostas apenas de determinadas
categorias significativas de fatores mentais.
Os Cinco Fatores Mentais Que Estão Sempre em Funcionamento
Por exemplo, com a cognição visual não conceitual, conseguimos distinguir formas
coloridas no campo sensorial visual como sendo uma forma amarela, por exemplo.
Segundo a tradição Gelug, a cognição visual também nos permite distinguir objetos
comuns, como uma colher. Nesses casos, a distinção não atribui o
nome amarelo ou colher, nem mesmo sabe que a cor é amarela ou que o objeto é
uma colher, apenas distingue o objeto como um item convencional. Assim, até um
recém-nascido consegue distinguir luz de escuridão e calor de frio. Isso é
conhecido como a distinção que toma a particularidade característica de um item
(don-la mtshan-mar ‘dzin-pa’i ‘du-shes).
Assim, ao atribuir um nome a seu objeto, como “amarelo” ou “colher”, esse fator
mental distingue essa categoria de tudo o que não é essa categoria; a categoria
“amarelo” não é a categoria “preto”, por exemplo, e a categoria “colher” não é a
categoria “garfo”. Isso é conhecido como a distinção que toma a particularidade
característica que diz respeito a uma convenção (tha-snyad-la mtshan-mar ‘dzin-
pa’i ‘du-shes). A cognição não conceitual não faz esse tipo de distinção.
(3) Um impulso (sems-pa) faz com que a atividade mental olhe para um objeto ou
vá em sua direção. Em geral, ele move o continuum mental para tomar
cognitivamente um objeto. Um continuum mental é uma sequência eterna e
individual de momentos de atividade mental.
(5) Prestar atenção ou trazer à mente (yid-la byed-pa) engaja (‘jug-pa) a atividade
mental com o objeto. O engajamento cognitivo pode ser simplesmente prestar uma
certa atenção ao objeto, desde muito pouca atenção a muita atenção. Pode ser
também focar no objeto de uma certa forma. Por exemplo, a atenção pode focar o
objeto de forma minuciosa, de forma a retomá-lo, de forma ininterrupta, ou mesmo
sem esforço.
Na verdade, não experimentamos um objeto a não ser que sintamos algum sentimento
do espectro que vai de feliz, passando por neutro, a infeliz
Não tomamos algo no campo sensorial como um objeto de cognição a menos que
consigamos distinguir alguma particularidade nele.
Nós sequer olhamos ou nos direcionamos a um objeto de cognição a não ser que
tenhamos um impulso para tal.
Não temos nenhuma base para sentir alguma coisa em relação ao objeto a menos que
tenhamos consciência dele através do contato, para que possamos distinguir se é
agradável, desagradável ou neutro.
Não nos engajamos verdadeiramente com o objeto específico a menos que prestemos
algum nível de atenção a ele, mesmo que seja extremamente baixo.
Vasubandhu definiu esses cinco fatores de forma genérica e afirmou que também
acompanham todos os momentos de cognição. Já Asanga os chamou de fatores
mentais determinantes e os definiu de forma mais específica. Para Asanga, eles
acompanham apenas as cognições construtivas que apreendem (rtogs-pa,
entender) seus objetos e, portanto, são subcategorias do que Vasubandhu definiu.
Eles permitem que a atividade mental determine (nges-pa) seu objeto, ou seja, que
o identifique com certeza.
(1) Intenção Positiva (‘dun-pa) não é a mera motivação para tomar qualquer objeto,
alcançar qualquer objetivo ou para fazer algo com o objeto ou o objetivo, uma vez
que o tenhamos tomado ou alcançado. É a vontade de ter o objeto construtivo
desejado, de fazer algo com ele, ou de atingir o objetivo construtivo desejado. A
intenção pode ser o desejo de encontrar um objeto construtivo previamente
conhecido, de não se separar dele ou um forte interesse (don-gnyer) em um objeto
construtivo que pode ser obtido no futuro. A intenção positiva leva à uma alegre
perseverança (brtson-grus) para conseguir o objeto ou atingir o objetivo desejado.
(2) Uma Convicção firme (mos-pa) foca em um fato que tenhamos validamente
identificado como sendo isso e não aquilo. Sua função é fazer com que nossa crença
na veracidade de um fato seja tão forte que outros argumentos e opiniões não
possam nos dissuadir. Para Vasubandhu, esse fator mental significa consideração.
Ele simplesmente considera que o objeto tem uma certa quantidade de boas
qualidades — no espectro que vai de nenhuma boa qualidade à todas as boas
qualidades — e essa percepção pode estar correta ou distorcida.
(3) Presença mental que se recorda (dran-pa) não é simplesmente manter o foco em
um objeto reconhecido. Aqui, ela evita que a atividade mental esqueça ou perca o
objeto construtivo com o qual está familiarizada. Possui três características:
O objeto deve ser algo construtivo com o qual estejamos familiarizados (‘dris-pa)
O aspecto (rnam-pa) deve ser que foca nesse objeto e não o esquece ou perde
A função deve ser prevenir a mente de vagar.
Assim, a presença mental é equivalente a uma “cola mental” (‘dzin-cha) que segura
o objeto em foco e não o larga. Sua força está no espectro que vai de fraca a forte.
Além disso, é necessário que se tome o objeto com consciência mental. Isto porque
o rotulamento mental é uma função restrita à cognição conceitual, que é
exclusivamente mental. Fixação é a permanência da mente em um objeto e pode
variar em força, desde fraca até forte. Serve como base para a consciência
discriminativa.
(3) Cuidado com o reflexo de nossas ações nos outros (khrel-yod) - é o sentido de
evitarmos comportamentos negativos por nos importarmos com o reflexo de
nossas ações naqueles que estão conectados a nós. Estes podem ser nossa família,
professores, grupo social, grupo étnico, ordem religiosa ou conterrâneos. Para
Vasubandhu, esse fator mental significa ter escrúpulos, e é evitar sermos
descaradamente negativos. Este, juntamente com o fator mental anterior,
acompanha todos os estados mentais construtivos.
A coragem que funciona como uma armadura (go-cha’i brtson-‘grus) para suportar
dificuldades. Vem de nos lembrarmos da alegria com a qual iniciamos nossa
empreitada.
(2) A raiva (khong-khro) mira em outro ser limitado, em nosso próprio sofrimento,
nas situações de sofrimento que surgem de um dos dois ou simplesmente em
situações de sofrimento. A raiva é impaciente (mi-bzod-pa) e deseja se livrar do
sofrimento, danificando (gnod-sems), machucando ou combatendo (kun-nas mnar-
sems). Tem como base considerarmos um objeto repulsivo por sua própria
natureza e funciona de forma a nos trazer sofrimento. Hostilidade (zhe-sdang) é
uma categoria da raiva e é direcionada principalmente, mas não exclusivamente, a
seres sencientes. Assim como acontece com o desejo, apesar da raiva poder
ocorrer na cognição mental e sensorial, ela se baseia em uma inserção conceitual
anterior. A inserção exagera ou adicional qualidades negativas ao objeto. Assim, a
inserção conceitual presta atenção ao objeto de forma discordante — por exemplo,
considerando incorretamente algo que não é responsável como sendo responsável.
(3) Arrogância (nga-rgyal, orgulho) é uma mente inflada (khengs-pa) com base em
uma visão equivocada em relação a um entrelaçamento transitório (‘jig-lta).
Conforme explicado abaixo, essa visão equivocada foca em algum aspecto ou um
entrelaçamento de aspectos do nossos cinco agregados e o identifica como um “eu”
monolítico e inalterável, separado dos agregados e senhor deles. Dentre as várias
formas e níveis de visão equivocada em relação a um entrelaçamento transitório, a
arrogância está baseada especificamente no surgimento automático de um
agarramento a um “eu” (ngar-‘dzin lhan-skyes). Funciona de forma que não
apreciamos os outros ou respeitamos suas boas qualidade (mi-gus-pa) e faz com
que não aprendamos coisas. Existem sete tipos de arrogância:
Arrogância (nga-rgyal) - é uma mente inflada que acha que eu sou melhor do que
alguém inferior a mim em certas qualidades.
Arrogância exagerada (lhag-pa’i nga-rgyal) -é um mente inflada que acha que eu sou
melhor que alguém igual a mim em certas qualidades.
Arrogância ultrajante (nga-rgyal-las-kyang nga-rgyal) - é uma mente inflada que acha
que eu sou melhor do que alguém superior a mim em determinadas qualidades.
Arrogância egoísta (nga’o snyam-pa’i nga-rgyal) - é uma mente inflada que pensa “eu”
ao focar em seus agregados perpetuadores do samsara (nyer-len-gyi phung-po).
Arrogância falsa ou antecipatória (mngon-par nga-rgyal) - é uma mente inflada que
acha que eu tenho alguma qualidade que na verdade não tenho ou ainda não tenho.
Arrogância modesta (cung-zad snyam-pa’i nga-rgyal) é uma mente inflada que acha que
sou apenas um pouquinho inferior a alguém que é extremamente superior a mim em
determinadas qualidades, e que sou superior a quase todo mundo.
Arrogância distorcida (log-pa’i nga-rgyal) é uma mente inflada que acha que um
aspecto perverso que adquiri (khol-sar shor-ba) é uma boa qualidade— como, por
exemplo, ser um bom caçador.
Vasubandhu mencionou que os textos budistas listam nove tipos de arrogância,
que podem ser resumidas em três das categorias acima — arrogância, arrogância
exagerada e arrogância modesta. Os nove tipos de arrogância são uma mente
inflada que acha que:
(5) Dúvida aflitiva (the-tshoms, dúvida) é ter duas opiniões sobre o que é verdade,
ou seja, é a indecisão entre aceitar e rejeitar aquilo que é verdade. O que é verdade
refere-se a fatos como as quatro nobres verdades e causas e efeitos
comportamentais. E ainda, a indecisão pode pender para o lado da verdade, para o
lado do que é falso ou estar igualmente dividida entre os dois lados. A dúvida
aflitiva funciona como base para não nos engajarmos no que é construtivo.
(6) Visões equivocadas (ing. deluded awareness) olham para o objeto de uma certa
maneira. Buscam nele e considerm-no algo a que se aferrar (yul-‘tshol-ba), sem
antes examinar, analisar ou investigar. Em outras palavras, é uma mera atitude em
relação aos objetos. Só ocorre em cognições conceituais e é acompanhada de
inserção ou repúdio. Entretanto, como fator mental elas por si só não inserem ou
repudiam nada.
Existem cinco visões equivocadas. Asanga explicou que cada uma é uma
consciência discriminativa (shes-rab nyon-mongs-can) equivocada e perturbadora.
Entretanto, não são subcategorias da consciência discriminativa que é um fator
mental determinante. Isto porque não preenchem o critério de Asanga para essa
consciência determinante, que é compreender corretamente seu objeto.
Além disso, Asanga explicou que cada uma das cinco visões equivocadas implica
em:
Tolerância com a visão equivocada, uma vez que consegue discriminar que ela traz
sofrimento.
Considerá-la inteligente.
(2) Uma visão extrema (mthar-‘dzin-par lta-ba, mthar-lta) considera nossos cinco
agregados perpetuadores do samsara de forma eternalista (rtag-pa) ou niilista
(‘chad-pa). Em sua Grande Apresentação dos Estágios do CaminhoGradual (Lam-rim
chen-mo), Tsongkhapa explicou que uma visão extrema é uma consciência
discriminativa equivocada e perturbadora que foca no “eu” convencional que a
atitude perturbadora anterior identificou com um entrelaçamento transitório. Ela
considera que o “eu” convencional tem uma identidade permanentemente ou que
não tem continuidade em vidas futuras. De acordo com Vasubandhu, uma visão
extrema enxerga os agregados produtores do samsara como durando eternamente
ou se extinguindo com a morte, sem continuidade em vidas futuras.
(3) Considerar uma visão equivocada como suprema (lta-ba mchog-tu ‘dzin-pa, uma
visão de falsa supremacia) considera suprema uma de nossas visões equivocadas e
os agregados através dos quais ela é produzida. Tsongkhapa especificou que a
visão que essa consciência discriminativa equivocada e perturbadora considera
pode ser nossa visão equivocada de um entrelaçamento transitório, nossa visão
extrema ou nossa visão distorcida. Segundo Vasubandhu, essa atitude
perturbadora pode considerar os agregados perpetuadores do samsara, que são a
base para as três visões equivocadas, com a atenção discordante de que são
totalmente limpos por natureza ou a fonte de felicidade verdadeira.
(4) Uma visão que toma uma moral ou conduta equivocada como suprema (tshul-
khrims-dang brtul-zhugs mchog-tu ‘dzin-pa) considera como pura, liberada e
definitivamente liberada alguma moral ou conduta equivocada, e também os
agregados perpetuadores do samsara que geram essa moral e conduta. Essa visão
equivocada vem de termos uma visão equivocada de um entrelaçamento
transitório, uma visão extrema ou uma visão distorcida. Ela considera a moral ou
conduta equivocada como o caminho que nos purifica (‘dag-pa) de forças kármicas
negativas (sdig-pa, potenciais negativos), nos libera (grol-ba) das emoções
perturbadoras e nos tira definitivamente (nges-par ‘byin-pa) do samsara (ciclo
incontrolável de renascimentos). Também considera os agregados produtores do
samsara, quando disciplinados por tais visões e condutas como tendo sido
purificados, liberados, e definitivamente liberados.
(5) Uma visão distorcida (log-lta, visão falsa) considera uma verdadeira causa, um
verdadeiro efeito, um verdadeiro funcionamento ou um fenômeno existente, como
não sendo verdadeiros ou existentes. Assim, é acompanhado de repúdio, por
exemplo, ao fato dos comportamentos construtivos e destrutivos serem as
verdadeiras causas da experiência de felicidade ou infelicidade. O repúdio pode ser
ao fato da felicidade e infelicidade serem o resultado do amadurecimento de forças
kármicas positivas e negativas. Pode ser também ao fato de que vidas passadas e
futuras realmente funcionam; ou ao fato de que podemos atingir a liberação e a
iluminação. Segundo Tsongkhapa e a escola Gelug-Prasangika, uma visão
distorcida pode também considerar uma causa, efeito ou funcionamento falso ou
um fenômeno não existente como verdadeiro e existente. Assim, também pode vir
acompanhada de um inserção, por exemplo, de que a matéria primal ou o deus
hindu Ishvara é a causa ou o criador dos seres limitados.
(1) Ódio (khro-ba) faz parte da hostilidade, e é a intenção veemente de causar mal.
(5) Inveja (phrag-dog) faz parte da hostilidade e é uma emoção perturbadora que
nos torna incapaz de suportar as boas qualidades e boa sorte alheias, devido a um
apego excessivo ao nosso próprio ganho e ao respeito que recebemos. Além disso,
a inveja deseja possuir as qualidades ou boa sorte dos outros e frequentemente
deseja que os outros não as possuam.
(10) Crueldade (rnam-par ‘tshe-ba) faz parte da hostilidade e possui três formas:
(12) Não importar-se com o resultado de nossas ações sobre os outros (khrel-med) é
parte de qualquer das emoções venenosas. É a ausência de qualquer disposição em
evitarmos comportamentos destrutivos por nos importarmos com o reflexo de
nossas ações nos outros. Esses “outros” podem ser nossa família, professores,
grupo social, grupo étnico, ordem religiosa ou nossos conterrâneos. Para
Vasubandhu, esse fator mental quer dizer não ter escrúpulos, e é não evitar ser
descaradamente negativo. Este, e também o fator mental anterior, acompanham
todos os estados mentais destrutivos.
(14) Distração mental (rgod-pa) é parte do desejo. É o fator mental que faz com
que nossa atenção fuja do objeto e lembre-se ou pense em algo atraente que já
experimentamos. Assim, faz com que percamos a paz mental.
(16) Preguiça (le-lo), faz parte da ingenuidade. Com a preguiça a mente não busca e
nem se engaja em coisas construtivas, porque se agarra ao prazer de dormir,
deitar, relaxar e assim por diante. Existem três tipos:
(18) Esquecimento (brjed-nges). Tem como base a lembrança de algo que nos
desperta uma emoção ou atitude perturbadora. O esquecimento é perder nosso
objeto de foco de forma que a mente vagueie em direção ao objeto perturbador. O
esquecimento serve como base para a distração mental (rnam-par g.yeng-ba).
Asanga listou quatro tipos de fatores mentais que que têm um status ético mutável.
Eles podem ser construtivos, destrutivos ou não especificados, dependendo do
status ético da cognição com a qual compartilham as cinco particularidades
concomitantes.
(1) Sono (gnyid) é parte da ingenuidade. O sono é um retirar-se da cognição
sensorial, caracterizada por uma sensação física de peso, fraqueza, cansaço e
escuridão mental. Nos faz deixar nossas atividades.
Budas e Arhats
Outra grande diferença, no que diz respeito aos budas, é que a escola
Mahayana é a única a afirmar a existência dos três corpos de um buda —
nirmanakaya, sambhogakaya e dharmakaya. O Hinayana não os
reconhece. Portanto, o conceito de buda é significativamente diferente
entre o Hinayana e o Mahayana.
Bodhisattvas
O Mahayana afirma que surgirão mil budas nesse “eon afortunado” e que
eles fundarão religiões universais, e também afirma que já existiram e
ainda existirão muitos outros budas em outras eras. O Mahayana também
afirma que todos podemos nos tornar budas, porque todos temos os
fatores da natureza búdica, que possibilitam isso. O Hinayana não fala
sobre a natureza búdica; entretanto a escola Theravada menciona
centenas de budas do passado. Um dos sutras Theravada lista 27 nomes.
E todos foram bodhisattvas antes de tornarem-se budas. O Theravada
também afirma que haverão inúmeros budas no futuro, incluindo
Maitreya, o próximo, e que qualquer um pode tornar-se um buda se
praticar as dez atitudes de vasto alcance.
Generosidade
Autodisciplina ética
Paciência
Perseverança
Estabilidade mental (concentração)
Consciência discriminativa (sabedoria)
Meios hábeis
Preces de aspiração
Força
Consciência profunda.
Renúncia
Sinceridade
Determinação
Amor
Equanimidade.
As Duas Verdades
Introdução
A meditação sobre essas quatro atitudes inclui gerar cada estado mental,
um de cada vez, primeiro dirigido-o a si mesmo, e depois à mãe, ao pai, à
família, aos estranhos, inimigos, aos compatriotas, e assim por diante, até
que o sentimento alcance todos os seres limitados. Depois de fazer esta
sequência com a primeira atitude incomensurável, geramos a próxima, e
a estendemos aos outros da mesma forma. As atitudes são:
A Tradição Mahayana
Antes de fazer essa afirmação, no primeiro desses dois textos, Atisha cita
uma longa passagem de O Sutra Ensinado pelo Arya Akshayamati, que
contém a citação mencionada acima. Assim sendo, poderíamos supor que
Atisha concorda com a ordem das quatro atitudes incomensuráveis
encontrada neste sutra, que começa com amor. No entanto, muitos dos
textos tibetanos que seguem sua orientação a respeito da sequência das
meditações mudam a ordem e colocam a equanimidade em primeiro
lugar.
Após a meditação nas formas com alvo e sem alvo das quatro atitudes
incomensuráveis, utilizando-se a sequência que começa com a
equanimidade, Longchenpa descreve mais meditações, mas agora
começando pelo amor. Estas meditações, que utilizam a ordem
tradicional das quatro atitudes, ajudam na diminuição do apego que pode
surgir ao alvo da meditação.
Patrul explica:
Ao definir a grande alegria como sendo o estado mental que se alegra com
a felicidade alheia, o Bon concorda com o Theravada, com o Nichiren e
com Patrul, mestre da tradição Nyingma. Apesar de muitas tradições e
textos tibetanos incluírem menções às causas da felicidade no amor
incomensurável e às causas do sofrimento na compaixão incomensurável,
o Bon parece ser o único a mencionar as causas da felicidade na alegria
incomensurável.
Variações Gelug
As várias práticas da tradição Gelug para nos efetivarmos como uma
figura búdica expõem uma grande diversidade de variações na
formulação das quatro atitudes incomensuráveis.
Kalachakra
Em Uma Sadhana Extensa da Mandala do Corpo, Fala e Mente de
Kalachakra (bCom-ldan-'das dpal dus-kyi 'khor-lo'i sku-gsung-thugs yongs-
su rdzogs-pa'i dkyil-'khor-gyi sgrub-thabs mkhas-sgrub zhal-lung) do
Sétimo Dalai Lama, repetida em Um Guru-Yoga Kalachakra Juntamente
com uma Prática de Seis Sessões (Thun-drug-dang ‘brel-ba’i dus-‘khor bla-
ma’i rnal-’byor dpag-bsam yongs-’du’i snye-ma) de Sua Santidade o
Décimo Quarto Dalai Lama, colocada em verso por Ling Rinpoche (Yongs-
’dzin Gling Rinpoche Thub-bstan lung-rtogs rnam-rgyal ‘phrin-las):
Nesse texto, Asanga afirma que existem três tipos de equanimidade: uma
variável subjacente ('du-byed, Skt. samskara) incluída no agregado de
outras variáveis subjacentes, um sentimento (tshor-ba, Skt. vedana) e
uma atitude incomensurável. A função mencionada acima é a da
equanimidade como variável subjacente, não da equanimidade
incomensurável. Como variável subjacente, a equanimidade é definida
por Asanga como um estado mental apropriado, que espontaneamente
realiza seu propósito sem se deixar influenciar por agitação ou torpor.
Vajrabhairava e Hayagriva
Outra variação na formulação ocorre em:
Akshobhya
Em Uma Sadhana de Vajra Akshobhya (bCom-ldan-'das rdo-rje mi-'khrugs-
pa'i sgrub-dkyil yongs-su rdzogs-pa'i cho-ga mngon-par dga'-ba'i sgo-
'byed), também do Quarto Panchen Lama,
Conclusão
A partir desta pesquisa, fica claro que existe uma grande variedade de
entendimentos, definições e práticas das quatro atitudes
incomensuráveis. Essa diversidade indica o amplo escopo da prática e, se
ao invés de vermos as diferentes tradições como contraditórias
tomarmos consciência da grande variedade de formas, enriqueceremos
nossa prática.
Sejam felizes
Sejam fisicamente felizes
Tenham a felicidade de um ser limitado (um ser que ainda não é um
buda)
Nunca se afastem a felicidade de um ser limitado
Tenham a felicidade de um arya
Tenham a felicidade temporária de um dos estados melhores de
renascimento e a felicidade definitiva da iluminação
Tenha qualquer dessas felicidades e as causas dessas felicidades
Tradição Monástica
Além do mais, ambos os lados concordam que, após análise, nada pode
ser encontrado existindo independentemente, por si só, estabelecendo
sua existência por si só, embora causa e efeito ainda funcionem. Os
Gelugpas explicam que as aparências da existência verdadeiramente
estabelecida são como uma ilusão, ou seja, não correspondem a nada real:
enquanto as outras três tradições enfatizam que a existência
verdadeiramente estabelecida é de fato uma ilusão.
Teoria da Percepção
Gelugpas afirmam que mesmo de forma não conceitual, nós não vemos
somente um momento de formas coloridas, mas a cada momento também
vemos objetos convencionais, como maçãs, que podem ser reconhecidos
através de vários sentidos e que perduram no tempo. A relação entre
pensamento conceitual e objetos convencionais não é que objetos só
possam ser reconhecidos conceitualmente, ou que eles sejam apenas a
criação do pensamento conceitual. Mas que só podemos explicar sua
existência em termos de rótulos mentais do pensamento conceitual,
conforme explicado acima. Portanto, ambos os lados concordam que
entender o papel do pensamento conceitual no nosso caminho para
reconhecer o mundo é essencial para sobrepujar e eliminar para sempre
nossa confusão e ignorância sobre a realidade – a causa mais profunda de
todo nosso sofrimento.
Conclusão
Introdução
Esta noite pediram-me para falar sobre a tradição Bon e a sua relação
com o budismo. Quando Sua Santidade o Dalai Lama fala das tradições
tibetanas, refere-se frequentemente às cinco tradições do Tibete:
Nyingma, Kagyu, Sakya, Gelug e Bon. Do ponto de vista de Sua Santidade,
Bon tem um lugar igual com as quatro linhagens do budismo tibetano.
Sua Santidade é muito aberto. Não todos concordam com essa posição.
Houve, e ainda há, várias ideias muito estranhas sobre Bon entre
professores budistas. Do ponto de vista da psicologia ocidental, quando as
pessoas estão tentando com muito esforco enfatizar coisas positivas das
suas personalidades antes que terem realmente resolvido coisas a um
nível profundo, então o lado-sombra é projetado em um inimigo. "Nós
somos os Bonpos, seguindo um trajeto puro e correto e eles são o diabo".
Infelizmente, os Bonpos têm sido os objetos tradicionais desta projeção
na história tibetana. Olharemos para as razões históricas para isto. Isto
precisa mesmo de ser compreendido dentro do contexto da história
política tibetana.
De acordo com a própria tradição Bon, foi fundada por Shenrab Miwo,
que viveu há trinta mil anos. Isso colocá-lo-ia algures na Idade da Pedra.
Eu não acho que isto significa que ele era um homem das cavernas. Uma
maneira comum de demonstrar grande respeito a uma linhagem é dizer
que ela é antiga. Em qualquer caso, as datas reais da sua vida não são
possíveis de provar. Shenrab Miwo viveu em Omolungring. A descrição
deste lugar parece ser uma mistura das ideias sobre Shambhala, Monte
Meru, e Monte Kailash. É a descrição de uma terra espiritual ideal. Diz-se
estar dentro de uma área maior chamada Tazig. A palavra "Tazig" pode
ser encontrada tanto no persa como no árabe para se referir à Persia ou à
Arábia. Em outros contextos, refere-se a uma tribo nomádica. Na tradição
Bon, Tazig é descrita como sendo a oeste do reino de Zhang-zhung, que
era no Tibete Ocidental.
Isto sugere que o Bon veio da Ásia Central, e provavelmente de uma área
cultural iraniana. É possível que Shenrab Miwo tenha vivido numa cultura
iraniana antiga e tenha depois ido para Zhang-zhung. Algumas versões
dizem que ele veio entre os séculos XI e VII a.C. Isso também foi há muito
tempo atras e, uma vez mais, não há maneira de provar uma posição ou
outra. O que é claro é que na altura da fundação da Dinastia Yarlung no
Tibete Central (127 a.C.) já havia algo como uma tradição nativa. Nós nem
sequer sabemos o que era chamada nessa altura.
A Conexão Iraniana
O budismo foi da India para o Afeganistão muito cedo. De fato, diz-se que
dois dos discípulos do próprio Buda vieram do Afeganistão e que levaram
o budismo para lá. Nos séculos I e II a.C., vemos que o budismo foi para o
próprio Irã e até mesmo à Ásia Central. O budismo estava lá. Se Bon diz
que ideias que parecem ser muito semelhantes ao que o Buda ensinou
vieram de uma área persa para dentro do Tibete Ocidental durante um
período muito antes de terem vindo diretamente da India, é muito
possível que tenham vindo de uma mistura de budismo e ideias culturais
iranianas locais que estavam presentes nessa área. A área que parece ser
a mais lógica fonte das ideias budistas iranianas é Khotan.
Khotan
Podemos ver que a apresentação do Bon é muito plausível. Pode bem ser
que veio de Khotan. Deste ponto de vista, poderíamos dizer que o
budismo chegou ao Tibete de duas direções: de Khotan ou das culturas
iranianas para o Tibete Ocidental e depois, mais tarde, da India. No
primeiro caso, poderia ter vindo na forma do antigo Bon. É bastante
possível que o budismo, e em especial o dzogchen, tenha vindo de ambos
os lados e que cada lado tenha emprestado do outro. Isso está
provavelmente mais perto da verdade.
O que é muito único ao antigo Bon é uma ênfase na vida após a morte,
especialmente no estado intermediário. Quando os reis morriam, íam
para uma vida após a morte. Porque precisavam de coisas para a sua
viagem, havia sacrifício de animais, e possivelmente até sacrifícios
humanos, embora isso seja discutível. Certamente, enterravam retratos,
alimentos e todas as coisas que uma pessoa necessitaria na sua viagem
após a morte.
Dentro da corte imperial havia uma fação pró-China, uma fação pró-India
e uma fação nativa xenófoba ultra-conservadora. O pai do imperador Tri
Songdetsen tinha casado uma rainha chinesa que tinha muita influência e
consequentemente o pai tinha sido pró-Chinês em muitos assuntos
políticos. A fação conservadora tinha assassinado o pai. Eu penso que esta
é uma das razões por que os chineses perderam o debate. Não havia
maneira de conseguirem ganhar um debate. Os chineses não tinham a
tradição do debate e foram postos contra o melhor debatente da India.
Não tinham uma língua em comum, por isso em que língua debateram?
Tudo estava sendo traduzido. Obviamente, foi uma estratégia política
para se livrarem da fação chinesa. Por causa dos chineses, o pai do
imperador tinha sido morto. Agora, além disso, o rei também se queria
livrar da fação anti-estrangeiros. A fação indiana era a menor ameaça ao
poder político do imperador. Assim, a fação política conservadora foi
enviada para o exílio. Esses eram os Bonpos.
O espírito vital de alguém podia ser roubado por espíritos nocivos. Todas
as tradições budistas tibetanas têm pujas para enganchar de volta um
espírito vital que tinha sido roubado por espíritos nocivos. Envolvem um
resgate: aqui está uma torma, dá-me de volta o meu espírito vital. Como é
que sabemos que o nosso espírito vital foi roubado? De um ponto de vista
ocidental, podemos chamá-lo um esgotamento nervoso ou estresse pós-
traumático, onde não podemos lidar com a vida. Alguém cujo espírito
vital foi roubado é incapaz de organizar a sua vida. Este espírito vital
governa a nossa vida como o Khan domina o país. A palavra tibetana para
espírito vital, "la", é usada na palavra lama. Um lama é alguém que tem
realmente um espírito vital. “La” é usado também em alguns contextos
para traduzir a “bodhichitta branca”, por isso é uma força ou essência
material muito forte dentro do corpo.
A ideia das bandeiras de orações também vêm do Bon. Elas vem com as
cores dos cinco elementos e são penduradas para harmonizar os
elementos externos para que as coisas estejam equilibradas para que
possamos fazer o trabalho interno. Muitas bandeiras de orações têm a
imagem do cavalo de vento (lungta, rlung-rta), que está associado com o
cavalo da fortuna. A China foi o primeiro país a desenvolver um sistema
de correio, em que os carteiros andavam de cavalo. Havia certos lugares
onde paravam e mudavam de cavalos. Esses cavalos dos correios eram os
cavalos do vento. As palavras chinesas são as mesmas. A ideia é que a boa
fortuna virá num cavalo como o carteiro traz bens, cartas, dinheiro, etc. É
muito tibetano/chinês.
Certos aspectos da cura Bon vieram para o budismo, tal como borrifar
água consagrada com uma pena. Em todos os rituais de iniciação budistas,
encontramos uma pena de pavão num vaso. O queimar das folhas e ramos
da árvore de junípero, chamada sang em tibetano, é feito nos topos das
montanhas para saudar alguém que está vindo. Fazem-no ao longo do
lado da estrada quando Sua Santidade regressa a Dharamsala. É
associado com o fazer-se oferendas aos espíritos locais.
Buda ensinou muitíssimo sobre muitos tópicos. Onde quer que o budismo
esteve na Ásia, as pessoas salientaram os elementos que íam ao encontro
da sua cultura. No budismo indiano existe uma menção de terras puras
porém não foi enfatizada. (Por outro lado,) os chineses, que tinham a
ideia taoista de irem para a terra ocidental dos imortais, puseram uma
enorme ênfase nas terras puras e expandiram-na muitíssimo. Assim,
temos o budismo da terra pura. É uma das escolas budistas chinesas mais
significativas. Do mesmo modo, dentro do budismo indiano, nós
encontramos a discussão dos protetores, dos vários espíritos, do
oferecimento de pujas, e assim por diante, mas os tibetanos expandiram
muitíssimo estes elementos porque se encontravam na sua cultura.
Conclusão
Eu penso que é muito importante ter-se muito respeito pela tradição Bon.
Há muitas coisas que podem ser identificadas como Bon ou como cultura
tibetana que não são completamente em comum com o budismo tibetano.
Há vários elementos nos ensinamentos budistas que também são
encontrados no Bon. O debate sobre quem copiou o que de quem não é
útil. O budismo e o Bon tiveram contato um com o outro e não há razão
porque não se influenciariam um ao outro.
Tantra: Teoria
Tantra: Avançado
Dzogchen: Avançado
Tantra: Teoria
As Principais Características do
Tantra
Dr. Alexander Berzin
O Significado de Tantra
As Classes do Tantra
Preliminares
Preliminares Partilhadas
As práticas preliminares partilhadas em comum com a prática sutra do
bodhisattva incluem a obtenção dos quatro pensamentos que
encaminham a mente para o Dharma (blo-ldog rnam-bzhi). Elas são a
apreciação:
Todas as classes de tantra exigem uma base estável nas outras práticas
sutra do bodhisattva. O tantra, na verdade, é um método para combinar e
praticar simultaneamente todas elas. As práticas do sutra incluem:
Preliminares Não-Partilhadas
Para purificar forças negativas internas (sdig-pa, sânsc. papa, potenciais
negativos) e acumular forças positivas (bsod-
nams, sânsc. punya, potencialidades positivas, méritos), a prática do
tantra também exige pelo menos um certo número de preliminares
especiais que não são compartilhadas com a prática sutra. Na maior parte
das vezes, elas incluem cem mil repetições de:
Empoderamento
A visualização de nós próprios como figuras búdicas exige primeiro que
se receba um empoderamento. Um empoderamento permite-nos ter
sucesso na nossa prática:
Permissão Subsequente
Depois de recebermos o empoderamento para uma determinada figura
búdica, podemos também receber uma permissão subsequente para a
figura:
Recolha de Mantras
Depois de recebermos um empoderamento para uma figura búdica
específica, também podemos receber uma recolha de mantras para essa
figura, quer tenhamos recebido a sua permissão subsequente ou não.
Para uma cerimônia de recolha de mantras, as vogais e consoantes (a-li
ka-li) do alfabeto sânscrito são escritas com pó coloridos na superfície de
um espelho metálico, geralmente com cada letra num quadrado separado
numa grade. Durante o ritual, o mestre tântrico lê, uma a uma, a
localização, na grade, da consoante e vogal para cada sílaba do mantra
principal da figura – por exemplo, as coordenadas vertical e horizontal do
quadrado que a contem. Depois de cada sílaba, um assistente tira algum
pó colorido do espelho e usa-o para escrever a sílaba na superfície de
outro espelho metálico. Através do ritual, obtemos firme convicção na
exactidão dos mantras.
Votos
A Rapidez do Tantra
O período de três anos e três fases da lua não deve ser tomado muito
literalmente nem usado como publicidade falsa ou propaganda de
marketing para seduzir pessoas para a prática de anuttarayoga. Ele
deriva da apresentação Kalachakra da contagem de um tipo especial de
respirações de vento-energia sutis (rlung, Sânsc.prana) durante uma vida
de cem anos e simplesmente representa um tempo muito curto. Por
razões propícias, os retiros de grande aproximação decorrem por essa
duração, tal como os retiros de formação básica em tantra de
anuttarayoga nas tradições não-Gelug.
A Prática de Visualização no Tantra
Dr. Alexander Berzin
Como Visualizar
Muitas pessoas dizem, “Bom, eu não consigo visualizar. Então como posso
utilizar esses métodos?” Na realidade, se investigarmos por um minuto,
perceberemos que todos temos poderes imaginativos. Por exemplo, tente
se lembrar como sua mãe ou seu melhor amigo, não importa qual, se
parece. Por favor, faça isso por um momento. Todos somos capazes de
lembrar como nossos entes mais queridos se parecem. Portanto, somos
capazes de visualizar.
Lembro-me que certa vez estava na Índia com uma amiga que realmente
tinha problemas em visualizar. Estávamos em uma longa viagem de
ônibus, juntos em um dia muito quente, e ela sofria com calor e sede.
Então comecei a, de certo modo, torturá-la dizendo, “Nossa, não seria
ótimo se tivéssemos nove laranjas geladas? Imagina como seria
refrescante o sabor. E o cheiro?” E de repente ela descobriu que
conseguia visualizar e imaginar muito bem uma laranja. Portanto, todos
somos capazes; é apenas uma questão de treinamento.
Outra utilização da imaginação no sutra é quando imaginamos um Buda
na nossa frente como objeto de concentração para ganharmos
concentração perfeita. O caminho sutra é dividido em Hinayana e
Mahayana, o “modesto veículo da mente” e o “vasto veículo da mente”.
Nas escolas Hinayana, a maneira usual de desenvolver concentração é
focar na respiração, o que utiliza a consciência sensorial. Focamos na
sensação física do ar entrando e saindo do nariz. O Mahayana, entretanto,
mostra que precisamos considerar o propósito para o qual estamos
usando a concentração. Usamos a concentração para sermos capazes de
focar concentradamente na realidade e permanecermos focados em
sentimentos de amor e compaixão. Portanto, o que queremos ser capazes
de fazer é concentrar com nossa consciência mental e não com a
consciência sensorial. Assim, no Mahayana, o método preferido para
desenvolver concentração é num Buda imaginário.
Mas não estamos apenas imaginando uma maçã na nossa frente, estamos
imaginando um Buda. Isso é muito significativo, porque no budismo,
como você sabe, temos a tendência de fazer muitas coisas ao mesmo
tempo. Focando no Buda para ganharmos concentração também focamos
nas qualidades do Buda. Isso nos ajuda a manter nossa concentração
perfeita nessas qualidades. Além do mais, ao nos concentrarmos no Buda,
nossa concentração é acompanhada de uma forte tomada de refúgio. Em
outras palavras, “Essa é a direção segura que quero tomar na minha vida”.
Podemos acompanhar nossa concentração com um intuito de
desenvolver bodhichitta também, em outras palavras, “Quero me tornar
um Buda, como essa figura que estou imaginando, para beneficiar a
todos.” Se conseguirmos desenvolver concentração perfeita na figura do
Buda, tendo em mente as qualidades do Buda, e quisermos seguir a
direção segura que o Buda indica e nos tornarmos um Buda para ajudar a
todos – se isso é o pacote em que estamos nos concentrando – então trará
muito mais benefícios do que simplesmente nos concentrarmos nas
sensações do ar entrando e saindo do nariz. Esse é um método vasto. Por
isso é chamado “Mahayana”, um veículo vasto de treinamento por
técnicas vastas.
“Clareza” e “Orgulho”
Para visualizarmos uma figura búdica, é claro que precisamos saber que
aspecto ela tem. Mas nos visualizarmos em um formato especial não é tão
difícil como poderíamos pensar. Por exemplo, tente sentir sua cabeça.
Primeiro, vamos tentar imaginar algo no topo de nossas cabeças. A
maneira de fazer isso é colocando a mão em cima da cabeça. Você
consegue sentir sua mão em cima da sua cabeça? Agora tire a mão.
Continua sentindo o topo da sua cabeça? É assim que se imagina algo
sobre a cabeça. Foque ali. Tudo o que precisa é sentir alguma coisa ali.
Não precisa estar em foco para fazer a meditação. Realmente não é tão
difícil.
Agora, para se imaginar como uma figura, tente estar consciente de sua
cabeça e também de seus braços e pernas e de seu corpo todo. Consegue
estar consciente de todo seu corpo? É assim que você imagina que é uma
figura búdica. Podemos não ser capazes de ver nosso rosto, podemos não
ser capazes de visualizá-lo, mas você consegue sentir que tem olhos, nariz
e uma boca? Portanto, é assim que os visualiza, que os imagina.
Mesmo quando essas figuras tenham muitos braços, também não é tão
difícil. Vamos tentar Chenrezig com quatro braços. Ponha suas mãos na
sua frente. Consegue sentir? Agora ponha suas mãos para os lados. Agora
imagine uma foto com dupla exposição. Ponha suas mãos no colo. Pode
sentir esses quatro braços? Não é tão difícil. É assim que trabalhamos
com nossa imaginação com essas figuras.
Para que tudo isso seja muito mais significativo, é crucial gerarmos todos
esses sentimentos, imagens e assim por diante, dentro do contexto de
nossa compreensão da vacuidade.
É preciso que dissipemos todas as fantasias loucas que temos sobre nós
mesmos, como as de que somos monstros. Isso se aplica especialmente no
tantra, onde trabalhamos com nossa autoimagem, que é com o que
estamos lidando quando nos imaginamos como uma figura búdica.
Contemplamos como nossa autoimagem usual é insana, sem nenhuma
referência. Compreendemos, “Não sou um monstro, porque monstros não
existem”. E então recitamos em uma prática tântrica de visualização
(a sadhana), “Na vacuidade eu surjo assim e assim.”
Isso não é autoengano porque sabemos que não chegamos lá, ainda não
somos um Buda. Mas também não é uma loucura ou distorção, porque
temos o potencial para chegarmos lá. Claro, podemos argumentar que
também temos o potencial para renascer como um cachorro. Mas não é a
mesma coisa, uma vez que não há nenhum benefício em nos imaginarmos
como cachorro. Mas há sim um grande benefício em imaginarmos que
temos compaixão e sabedoria perfeitas. Imaginar e praticar agora como
se tivéssemos sabedoria perfeita e assim por diante nos ajuda a
desenvolver mais rapidamente essas qualidades.
Nossa mente pode fazer com que essa mistura dos dois níveis quânticos
apareça com tendo aparência concreta ou não concreta. O problema,
entretanto, é que nossas mentes automaticamente farão com que essa
nossa aparência com uma figura búdica, baseada na natureza búdica,
surja como uma identidade concreta. E então podemos achar que temos
essa identidade concreta tipo, “Oba! Eu tenho clareza mental” “Oba! Eu
tenho sabedoria. Eu sou Manjushri”. Não tem que ser emotivo assim, pode
ser bem sutil, mas ainda há esse sentimento de solidez. Quando estamos
fazendo isso, esquecemos de todos os nossos outros aspectos, e então
pensamos que isso é “a minha identidade monolítica concreta”.
Entretanto, sabemos que ainda não chegamos lá.
Além disso, focando numa figura búdica durante a meditação, que pode
ser nós mesmos como uma figura búdica, faz com que seja muito mais
fácil desenvolvermos uma concentração absorta perfeita do que focando
em nosso corpo grosseiro. Essa é outra vantagem. A razão para isso é que
nosso corpo grosseiro está em constante mudança. A posição do nosso
corpo está sempre sofrendo uma leve mudança, mesmo quando estamos
sentados em meditação. E também tem dias em que nos sentimos bem e
outros nos quais não nos sentimos tão bem, e assim por diante. Sentimos
várias dores, sem falar nas coceiras. Devido a essas constantes mudanças,
não temos um objeto consistentemente estável para desenvolvermos
concentração absorta. Por outro lado, se nos concentrarmos nessa figura
búdica que imaginamos, ela nunca muda. Podemos sempre voltar para a
mesma visualização. Aquilo que imaginamos permanece sempre o
mesmo, portanto é muito mais fácil desenvolvermos uma concentração
estável focando nela.
O que estamos fazendo quando nos identificamos com uma figura búdica?
Estamos nos rotulando, nos denominando figuras búdicas baseados na
nossa natureza búdica. Ainda assim não conseguimos achar a figura
búdica e não conseguimos achar um Buda concreto dentro de nós.
Compreendemos, entretanto, que rotularmo-nos como figuras búdicas é
válido. Estamos nos rotulando como figuras búdicas, o segundo nível
quântico, tomando como base nossa natureza búdica. Mas não
conseguimos achar essa figura búdica, e não conseguimos localizar com
precisão esse segundo nível quântico de sermos uma figura búdica, mas
ainda assim compreendemos que esse é um rótulo válido. Assumimos
esse nível quântico de figura búdica porque temos os fatores da natureza
búdica que nos permitirão alcançar esse nível. Portanto, existimos como
figura búdica meramente na medida em que podemos nos rotular de
maneira válida como tal. Não há nada concreto ou que consigamos achar
em nosso interior que nos torne uma figura búdica.
Podemos entender isso de uma maneira muito mais fácil nos imaginando
como figuras búdicas, porque é obvio que não podemos encontrar nada
dentro de nós que nos faça uma figura búdica, nem mesmo uma figura
búdica que possa ser encontrada. Podemos estabelecer que existimos
como uma figura búdica meramente porque podemos validamente nos
imaginar assim e validamente nos referimos a nós próprios dessa forma e
validamente sentirmos que somos assim, com base nos fatores de nossa
natureza búdica. Na mera dependência desse fato – é isso que queremos
dizer com a expressão “originação dependente” – podemos dizer que
existimos como uma figura búdica, apesar de não haver nada dentro de
nós, concreto e encontrável, que nos faça assim.
Resumo
Perguntas
Seguindo o seu último raciocínio, devemos concluir que a natureza
búdica em si também é vazia?
Sim, tudo é vazio de modos impossíveis de existência. O que quer que seja
que exista efetivamente, ou seja, o que quer que seja validamente
cognoscível, não possui nada internamente que estabeleça sua existência.
Algo que seja encontrável dentro de um objeto é uma maneira impossível
de estabelecer que o objeto existe, porque não existe nada encontrável
dentro de alguma coisa. O que a vacuidade nega é a maneira impossível
de existência, pela qual haveria algo dentro, concreto e encontrável, que
por si só estabelecesse sua existência e consequentemente desse uma
identidade concreta, permanente, que nunca foi e nunca fosse afetada por
nada. Portanto, a única coisa que podemos dizer, se tivermos que dizer
algo sobre o que estabelece a existência das coisas, é somente rótulo
mental.
Isso não significa que o rótulo mental os cria, uma vez que podemos
rotular mentalmente alguém como um monstro, mas isso não faz da
pessoa um monstro. O que estabelece a existência de alguma coisa é que
ela é meramente o objeto de referência de nomes e conceitos, validado
por uma cognição valida do objeto ao qual nos referimos. Esse fato diz
respeito a tudo, inclusive à natureza búdica, iluminação, Budas e até a
vacuidade em si. Obviamente, temos que pensar profundamente sobre
isso para entendermos e compreendermos que é verdade.
Portanto, existimos como essa pessoa que somos porque as pessoas nos
concebem, pensam sobre nós, nos rotulam e nos chamam pelo nosso
nome; e é um rótulo correto. E é só isso! Nada mais é necessário para
estabelecer nossa existência. É o que queremos dizer com “apenas rótulo
mental”. O budismo tem toda uma argumentação bastante complicada
sobre como saber que um rótulo ou um nome está correto. Mas de novo,
só porque eu chamo aquela almofada de cachorro não faz dela um
cachorro. Mas formas válidas de saber é outro tópico muito grande nos
estudos budistas e não podemos entrar nisso hoje.
Bem, temos que ser um pouco cuidadosos aqui. Primeiro, todas essas
figuras búdicas também eram alheias à cultura tibetana, ainda assim os
tibetanos conseguiram, com o tempo, sentir-se confortáveis com elas. Ser
de uma cultura diferente não é uma barreira inerente. Segundo, essas
figuras não devem ser consideradas só pela aparência. Elas são usadas em
um método muito sofisticado. Todos os braços, rostos e assim por diante
representam muitos níveis diferentes de significado e carregam um
profundo simbolismo. Eles representam, por exemplo, diversas
realizações diferentes que estamos tentando ter simultaneamente em
nossas mentes. Tentar ter 24 insights simultâneos em nossa mente é
muito difícil se fizermos isso de maneira abstrata, não só
conceitualmente, mas também não conceitualmente. Estamos falando de
amor, paciência, compreensão e assim por diante. Mas se representarmos
esses 24 insights ou qualidades de maneira gráfica como 24 braços,é
muito mais fácil imaginarmos tudo isso ao mesmo tempo. Assim sendo, a
visualização dessas figuras com vários braços e varias faces é um
dispositivo para nos ajudar a manter todas as coisas que elas
representam simultaneamente em nossas mentes.
Portanto, temos que ser muito cuidadosos para não jogarmos fora um dos
principais propósitos dessas figuras, que é ter todos esses braços, pernas
e faces. Entretanto, quando a iconografia dessas figuras foi de um país
para o outro – da Índia não só para o Tibete, mas também para a China e
Japão – as características faciais, por exemplo, mudaram de indianas para
chinesas. Algumas roupas também mudaram. A mudança mais dramática
foi que Avalokiteshvara mudou de sexo e se tornou uma mulher na China.
Ele era um homem na Índia e no Tibete. Portanto, existem algumas coisas
que podem ser adaptadas em um nível superficial, mas temos que ser
muito cuidadosos. Fazer qualquer adaptação cultural, como meus
professores sempre disseram, requer um conhecimento muito completo
tanto da cultura original quanto da cultura para a qual estamos indo e,
logicamente, um conhecimento completo do budismo. Isso requer um
conhecimento muito vasto; não só profundo, como vasto.
Entendo que existem duas maneiras de se dissolver uma
visualização, e quero saber se isso é correto. Uma é, por exemplo,
quando visualizamos Vajrasattva no topo de nossa cabeça, no fim da
nossa prática ele se dissipa e se dissolve em luz e vai para o nosso
coração, certo? Esse é um tipo de dissolução. A outra é como com o
campo de mérito, onde uma figura se dissolve na outra. Isso está
correto?
Dedicação
Vamos então dissolver nossa sessão com uma dedicação – que é outra
maneira de dissolvermos uma aparência. Pensamos que qualquer
entendimento, insight ou força positiva que possamos ter ganhado nesta
noite cresça cada vez mais. Particularmente, o que discutimos nesta noite
não foi fácil; é bastante sofisticado. Portanto esperamos que nosso
entendimento torne-se cada vez mais profundo à medida que ouvimos as
gravações ou lemos as transcrições e tentamos compreender cada vez
mais, se estivermos interessados em fazer isso. Que possamos obter cada
vez mais benefícios a partir da integração desses ensinamentos na nossa
prática e na nossa personalidade, para que eles possam nos ajudar a
superar dificuldades e realizar mais e mais nosso potencial de ajudar da
melhor maneira a todos. E que tentemos juntar todos os pedaços do
quebra cabeça do Dharma, para que compreendamos mais e mais, e
possamos obter mais e mais benefícios dos ensinamentos e práticas.
Corpo Ilusório
O Corpo Onírico
O que é conhecido como corpo sutil (lus phra-mo) não é um corpo que
pode deixar a nossa forma física grosseira. Em vez disso, é o sistema de
energia sutil dentro dos nossos corpos grosseiros. É a rede dos canais
invisíveis de energia (rtsa, sânsc . nadi), dos nós de energia (rtsa-
`khor, sânsc. chakra), das gotas de energia criativa (thig-le, sânsc . bindu)
neles situadas, e dos ventos de energia (rlung, sânsc. prana) que correm
através deles. Partes deste sistema estão envolvidas no funcionamento
normal da percepção dos sentidos. Com absorta concentração e
treinamento avançado de yoga, é possível fazermos um uso especial deste
sistema para obtermos poderes extra-físicos e extra-sensoriais, tais como
telepatia e clarividência. No entanto, há também muitas doenças que
resultam de distúrbios e desequilíbrios dos ventos de energia. Tais
desordens podem produzir alucinações e percepções anormais, tal como
a sensação de se estar fora do próprio corpo.
Possessão
É também possível que o nosso corpo ou mente seja possuído por um ser
do reino dos espíritos. Isto pode ocorrer por razões benéficas, como no
caso dos oráculos em transe, ou por razões nocivas, como com um
encosto (espíritos famintos). Na literatura budista também há referências
de seres que morreram e renasceram como espíritos ou criaturas do
inferno e que, nestes estados, comunicaram com os seus anteriores
familiares e amigos. Isto é baseado em fortes conexões kármicas, como é
o reconhecimento, por exemplo, de um asno como a reencarnação do seu
falecido tio.
Pode acontecer que espíritos ou forças nocivas estejam fazendo com que
a pessoa tenha percepções alteradas ou perca o controlo da sua
consciência. Esta é também uma situação perigosa e deve ser cuidada por
um lama, por um médico [medicina tibetana] ou por um oráculo que seja
perito nos rituais de exorcismo. Se a sensação extracorpórea for uma
alucinação causada por uma droga, esta também não deve ser engajada.
Podem ocorrer efeitos a longo prazo causados por uma exposição
prolongada à distorção da consciência.
Conclusão
Yoga Tantra
Anuttarayoga Tantra
Fazer oferendas
Manter nossos votos.
5. As cinco práticas para estreitarmos nosso vínculo com a consciência
da esfera da realidade (sabedoria de dharmata) (Akshobia):
Amitaba
A História do Dzogchen
Dr. Alexander Berzin
Introdução
Bon, de acordo com a sua própria descrição, foi fundado por Shenrab
Miwo (gShen-rab mi-bo), em Tazig (sTag-gzig), uma área de cultura
iraniana na Ásia central, e foi levado no século XI a.C. para Zhang-zhung
(Tibete Ocidental). Não há nenhuma forma disto ser validado
cientificamente. O Buda viveu no século VI a.C., na India.
A análise histórica e política revela que o motivo para o exílio teve como
base a suspeita de que a conservadora e xenófoba facção política de
Zhang-zhung poderia assassinar o imperador por ele ser pró-indiano, tal
como tinham feito a seu pai. Apesar disso, o estado manteve os rituais
funerários e os sacrifícios Bon. Daí, é razoável concluir que se tratava de
uma perseguição à facção política de Zhang-zhung, e não uma
perseguição à religião Bon.
Por este motivo, vários eruditos ocidentais afirmam que neste período o
termoBonpo (seguidores do Bon) tinha principalmente uma conotação
política em vez de religiosa. Era usado para a facção política de Zhang-
zhung da corte e para os seus seguidores, em vez de ter sido usado para
os líderes espirituais que executavam os ritos religiosos de Zhang-zhung
na corte, e para os seus seguidores.
A Perseguição ao Budismo
O Bon também se reavivou nesta altura, mas agora os seus conteúdos são
muito budistas. Os textos Bon foram sistematizados em 1017 – na maior
parte textos não-dzogchen, nas categorias principais da literatura budista.
Mais tarde no século XI, textos Nyingma e mais textos dzogchen Bon
foram encontrados, frequentemente pela mesma pessoa.
Dado que tanto Nyingma como Bon asseveram ser a origem de dzogchen
e que a outra [tradição] copiou-o dele, há três possibilidades:
.
V I S ÃO G E R A L DO C O N T E ÚD O
Votos
Preliminares
Práticas Tântricas
Votos
Introdução
(1) práticas individuais para cada uma das Três Jóias (so-so'i bslab-bya)
(6) Adotar os padrões éticos que o Buda estabeleceu. Esta ética é baseada
no claro discernimento entre o que é útil e o que é prejudicial a uma
direção segura na vida, e não na obediência a um grupo de leis ordenadas
divinamente. Assim, seguir a ética budista significa nos refrearmos de
certos modos de conduta porque são destrutivos e dificultam as nossas
capacidades de beneficiar a nós ou aos outros, e abraçarmos outros
modos de conduta porque são construtivos e nos ajudam a crescer.
(7) Tentar ser benevolente e compassivo para com os outros tanto quanto
possível. Mesmo se os nossos objetivos espirituais forem apenas os de
obter a liberação dos nossos problemas pessoais, isto nunca [deve ser] à
custa dos outros.
Finalmente, para manter a nossa ligação com a Tripla Jóia, (8) fazer
oferendas especiais de fruta, flores e assim por diante, nos dias santos
budistas, tais como o aniversário da iluminação de Buda. Observar
feriados religiosos com rituais tradicionais ajuda-nos a sentir que
fazemos parte de uma comunidade maior.
As três ações a adotar como sinal de respeito são: honrar (4) todas as
estátuas, pinturas e representações artísticas de Budas; (5) todos os
livros, especialmente os relacionados com o Dharma; e (6) todas as
pessoas com votos monásticos budistas, e até os seus mantos.
Tradicionalmente, os sinais de desrespeito são: pisar tais objetos; sentar
ou estar de pé em cima deles; e colocá-los diretamente no assoalho ou no
chão sem colocar pelo menos um pedaço de pano embaixo deles. Embora
estes objetos não sejam as verdadeiras fontes de direção segura, eles
representam os seres iluminados, as suas realizações supremas e os
praticantes altamente realizados e avançados nesse objetivo, e nos
ajudam a permanecer conscientes deles.
(2) Oferecer diariamente à Tripla Jóia, com gratidão pela sua bondade e
apoio espiritual, a primeira porção das nossas bebidas e refeições
quentes. Geralmente isto é feito por imaginação, embora possamos
também colocar uma pequena porção da nossa primeira bebida quente
do dia perante uma estátua ou pintura de Buda. Mais tarde, imaginamos
que os Budas nos devolvam a oferta, para nós próprios a apreciarmos e a
bebermos. Seria altamente desrespeitoso deitar as nossas oferendas para
a latrina ou derramá-las no lavatório.
(5) Seja o que for que aconteça, confiar na nossa direção segura. Em
épocas de crise, a direção segura é o melhor refúgio porque lida com a
adversidade procurando eliminar a sua causa. Os amigos podem nos dar
simpatia mas, a menos que sejam seres iluminados, deixam-nos
inevitavelmente desapontados. Têm os seus próprios problemas e são
limitados naquilo que podem fazer. Porém, trabalhar constantemente
para a superação das falhas e dificuldades de uma maneira séria e
realista, nunca falha na hora da nossa necessidade.
Isto conduz ao compromisso final; (6) nunca abandonar esta direção na
vida, seja o que for que aconteça.
1. aspirativa (smon-sems),
2. engajada ('jug-sems).
Contexto
Esta queda refere-se especificamente a fazer algo que cause dano a um,
dois ou três monges ou monjas budistas, não obstante o seu status moral
ou nível de estudo ou prática. Tais ações são motivadas pela inimizade ou
malevolência, e incluem bater ou insultá-los, confiscar seus bens, ou
expulsá-los dos seus mosteiros. No entanto, expulsar os monásticos não é
uma queda, caso eles tiverem quebrado um dos seus quatro votos
principais, que sao: não matar, especialmente outro ser humano; não
roubar, particularmente algo pertencendo à comunidade monástica; não
mentir, especificamente sobre realizações espirituais; e manter o celibato
total.
A sexta queda- raiz é rejeitar os textos dos veículos dos shravakas ou dos
pratyekabuddhas como sendo as palavras autênticas do Buda. Aqui,
aceitamos que são, mas estamos negando a eficácia de seus ensinamentos
e afirmando que é impossível livrarmo-nos das emoções e atitudes
perturbadoras por intermédio das suas instruções, por exemplo, as
do vipassana (meditação da introvisão).
Mantendo os Votos
(1) Não considerar a ação negativa como sendo prejudicial, ver apenas
vantagens e cometer a ação sem nenhum arrependimento.
Enfraquecendo os Votos
Um nível ainda mais fraco de manter essa forma nas nossas vidas começa
quando não reconhecemos que haja algo de errado em recusar emprestar
o livro. Esse é o nível menor de corrupção média (zag-pa 'bring).
Acrescentando um ou dois dos outros fatores que amarram,
enfraquecemos essa forma ainda mais, com corrupção média principal e
corrupção principal (zag-pa chen-po) respectivamente. Quando todos os
quatro fatores que amarram estão presentes, cometemos uma queda- raiz
e perdemos completamente nossos votos de bodhisattva. Estamos agora
inteiramente sob o controle do apego e da avareza, o que significa que já
não estamos engajados na sua superação ou na realização dos nossos
potenciais de modo a podermos beneficiar os outros. Ao abandonarmos o
estágio engajado da bodhichitta, perdemos nossos votos de bodhisattva
que estruturam esse nível.
Observações Conclusivas
Introdução
1. generosidade
2. autodisciplina ética
3. paciência
4. perseverança
5. estabilidade mental (concentração)
6. consciência discriminativa (sabedoria).
(9) Não corrigir aqueles que atuam sob o poder das emoções e atitudes
perturbadoras
(2) Não nos livrarmos dos obstáculos que impedem a estabilidade mental
(3) Exercer esforço no estudo de textos não budistas quando isso não dever
ser feito
De acordo com os comentários, os textos não budistas referem-se a obras
sobre lógica e gramática. Podemos sem dúvida incluir aqui também livros
para aprender línguas estrangeiras ou qualquer tópico do curriculum
educacional moderno, tal como a matemática, a ciência, a psicologia ou a
filosofia. A falha aqui estaria em colocar todos os nossos esforços no
estudo destes assuntos e negligenciar nossos estudos e práticas do
Mahayana, de modo que eventualmente acabamos por esquecer-nos de
tudo sobre eles. Se, porém, formos extremamente inteligentes, capazes de
aprender coisas rapidamente, tivermos uma compreensão sadia e estável
dos ensinamentos do Mahayana com base na lógica e no raciocínio, e
formos capazes de reter esses ensinamentos nas nossas memórias por
muito tempo, não haverá falha em estudar textos não budistas se também
mantivermos, a cada dia, os nossos estudos e prática do Mahayana.
A sexta queda raiz é afirmar que os textos Mahayana não são as palavras
de Buda. Aqui, aceitamos que em geral eles são autênticos, mas criticamos
certos aspectos , especificamente os textos sobre as ações
inacreditavelmente extensas dos bodhisattvas e os ensinamentos
inconcebivelmente profundos sobre a vacuidade. Os primeiros incluem
relatos de Budas multiplicando-se em formas incontáveis, ajudando
simultaneamente inúmeros seres em uma miríade de mundos, enquanto
que os últimos incluem coleções de versos breves e concisos, e
extremamente difíceis de compreender. Degeneramos a nossa
consciência discernente ao repudiá-los em qualquer uma destas quatro
maneiras, pensando: que (a) o seu conteúdo é inferior – o que dizem é
absolutamente absurdo, (b) a sua forma de expressão é inferior – estão
mal escritos e não fazem sentido, (c) o seu autor é inferior – não são as
palavras de um Buda iluminado, ou que (d) o seu uso é inferior – não são
de benefício a ninguém. Discernindo falsamente deste modo, com a mente
fechada e impetuosa, danificamos a nossa capacidade de discernir as
coisas de maneira correta.
Também por causa das mesmas razões. Sete tipos de pessoas afligidas
por dificuldades requerem cuidado especial: (a) os cegos, (b) os surdos,
(c) os amputados e aleijados, (d) viajantes cansados, (e) aqueles sofrendo
de alguns dos cinco obstáculos que impedem a estabilidade mental, (f)
aqueles com inimizades e fortes preconceitos, e (g) aqueles que caíram de
suas posições de algum status elevado.
(4) Não tentar ensinar os que atuam de modo irresponsavel de acordo com
o seus caráteres
Não querer retribuir aos outros a ajuda que eles nos deram, ou não nos
lembrarmos de retribuir ou nem sequer pensarmos nisso. Não haverá
falha, porém, se ao tentarmos fazê-lo. por ejemplo, ao estarem
consertando os seus carros, nos faltar o conhecimento e a habilidade, ou
se estivermos demasiado fracos. Além disso, se aqueles que nos ajudaram
não desejam nada de retorno, não os forçaremos a aceitar a nossa oferta
de ajuda.
Desde que o que os outros querem que façamos ou o que eles gostem não
seja prejudicial a ninguém, é uma falha não concordar. Todos nós fazemos
as coisas de modos diferentes e temos gostos individuais. Esta falha
ocorre se não honrarmos isto, por causa da malevolência, preguiça ou
indiferença, ou se discutimos sobre coisas triviais como onde comer, ou
se somos insensitivos às suas preferências e causamos o seu desconforto
ou ressentimento ao escolher a comida.
Sumário
Os irmãos e as irmãs vajra são aqueles que têm votos tântricos e que
receberam um empoderamento em qualquer sistema de figura búdica de
qualquer classe de tantra do mesmo mestre tântrico. Os empoderamentos
não precisam ter sido recebidos ao mesmo tempo, nemprecisam ser do
mesmo sistema ou classe de tantra. Esta queda ocorre quando, sabendo
muito bem que certas pessoas são nossos irmãos ou irmãs vajra, nós os
importunamos ou abusamos verbal e diretamente sobre falhas, defeitos,
fracassos, erros, transgressões e assim por diante que eles podem ou não
possuir ou ter cometido, e eles compreendem o que dizemos. A motivação
tem de ser uma de hostilidade, raiva, ou o ódio. Indicar as fraquezas de
tais pessoas de uma maneira amável, com o desejo de as ajudar a superá-
las, não é uma falha.
Tal como com a nona queda-raiz tântrica, o vazio pode ser compreendido
de acordo com o sistema Chittamatra ou o sistema Madhyamaka. Quando
obtemos um entendimento (de uma destas visões) , é uma queda-raiz
deixar passar mais do que um dia e noite sem meditar nela. O costume
normal é meditar sobre o vazio pelo menos três vezes durante o curso de
cada dia e três vezes cada noite. Precisamos continuar essa prática até
nos termos livrado de todos os obstáculos que impedem a onisciência
(shes-sgrib) – ponto esse em que permanecemos diretamente cientes do
vazio o tempo todo. Se pusermos um limite pensando que já meditamos
suficientemente no vazio antes de alcançar este objetivo, poderemos
nunca vir a alcançá-lo.
(13) Não confiar corretamente nas substâncias que nos ligam intimamente
à prática tântrica (dam-rdzas)
Concentração na Respiração
Oferendas
Regozijo
Pedir Ensinamentos
Assim, nós estamos prontos para o sexto ramo, que é suplicar aos
professores que não morram. Nós pensamos, por favor nunca deixem de
ensinar; continuem para sempre! Nós não estamos suplicando dessa
maneira por causa do apego aos nossos professores. Mas, sim, estamos
reafirmando que somos sérios e sinceros em nossa prática. “Eu quero
seguir por completo até a iluminação, para ser capaz de ajudar todos.
Assim, não morra! Eu preciso de aprender”. Nós também nos dirigimos
aos ensinamentos em si; continuem a nos ensinar – Shantideva e seu
texto. Nos ensinem mais e mais. Deixem-nos obter cada vez mais
compreensão, e ter cada vez mais progresso com esse material. Nunca
párem até alcançarmos a iluminação; até que todos atinjam a iluminação.
Dedicação
O sétimo e último ramo é a dedicação. Nós pensamos que, o que quer que
aprendamos, o que quer que entendamos, isso possa agir como uma
causa para alcançarmos a iluminação e, assim, sermos capazes de
beneficiar os outros o mais possível. Possa nossa compreensão se
aprofundar mais e mais. Possa ela se entranhar e causar uma grande
impressão em nós, de maneira que gradativamente sejamos capazes de
aplicá-la ao longo do caminho para a iluminação. Especificamente,
possamos ser capazes de aplicar na nossa vida diária aquilo que
aprendemos, para que comece a fazer diferença na maneira como lidamos
com os outros, para que a pouco e pouco lhes possamos levar mais
alegria.
(7) Pela força positiva acumulada por tudo o que fiz dessa
maneira, que todos os sofrimentos
de todos os seres limitados possam desaparecer.
Com este receptivo estado mental que gerámos, estamos quase prontos
para começar as nossas aulas ou sessões de meditação. No entanto, é útil
primeiramente tomar a decisão consciente de ouvir, estudar ou meditar
com concentração. Nós decidimos que no caso da nossa atenção vaguear,
iremos trazê-la de volta, e caso comecemos a ficar sonolentos, iremos nos
alertar. Quando tomamos estas decisões conscientemente, temos uma
melhor chance de concentração.
Introdução
Sofrimentos Verdadeiros
Sofrimentos verdadeiros referem-se à nossa experiência dos resultados
do amadurecimento do karma. Esses resultados podem ser sentimentos
maculados de felicidade, sentimentos de infelicidade ou fatores agregados
maculados da experiência (phung-po, Skt. skandha). Em geral, “maculado”
(zag-bcas, contaminado) refere-se a algo que vem da falta de consciência
(ma-rig-pa, Skt. avidya; ignorância) da realidade, ou seja, não saber como
os fenômenos existem ou ter uma compreensão equivocada sobre como
eles existem.
Causas Verdadeiras
As verdadeiras causas desses três tipos de sofrimento são o karma e as
aflições mentias (nyon-mongs, Skt. klesha; emoções e atitudes
perturbadoras). “Aflições mentais” são fatores mentais que, quando
acompanham um momento de nossa experiência, nos fazem perder a paz
mental e o autocontrole. Além de motivarem ações kármicas, também
servem como condição para o amadurecimento das repercussões
kármicas dessas ações. Porém, em última análise, tanto o karma quanto
as aflições mentais derivam da falta de consciência sobre a natureza da
realidade ou, mais especificamente, do apego à existência inerente (bden-
‘dzin).
Um anseio (sred-pa)
Uma aflição obtentora (len-pa)
Um desejo kármico por mais uma existência
Resumindo:
Verdadeiro Cessar
O verdadeiro cessar do sofrimento só pode acontecer se houver um
verdadeiro cessar de suas causas. Assim, um verdadeiro cessar refere-se
à ausência absoluta de karma e de aflições mentais, e também daquilo que
deles amadurece: a experiência de sofrimento verdadeiro dos
sentimentos e agregados maculados. “Ausência absoluta” significa cessar
de forma a nunca mais surgir.
O Processo de Purificação
Primeiro livramos (spang-ba) nosso contínuo mental da rede de forças e
tendências kármicas. Esse termo, spang-ba, aqui traduzido como “livrar”
— normalmente traduzido como “abandonar” — significa purificar nosso
contínuo mental de alguns fenômenos maculados, de forma que eles
cessem verdadeiramente. Nos livramos de nossa rede de forças kármicas,
tanto positivas como negativas, e de todas as nossas tendências kármicas
quando atingimos o estado de arhat, ou seja, quando atingimos a
liberação.
O Nível Pré-Tantra
Apesar da meditação no mantra de Vajrasattva ser uma prática tântrica, a
maioria das pessoas começa a fazê-la antes de se engajar no tantra. Essa
prática inicial estaria no estágio em que treinam apenas no nível sutra do
Mahayana. Esse nível tem três estágios, de acordo com os níveis graduais
de motivação e metas apresentados nos ensinamentos dos caminhos
mentais do lam-rim: inicial, intermediário e avançado. Apesar de apenas o
nível avançado do lam-rim estar no nível de motivação estritamente
Mahayana, os níveis iniciais e intermediários precisam entrar como
degraus no caminho para o desenvolvimento da motivação avançada. E
ainda, todos os três níveis de motivação do lam-rim desenvolvidos no
contexto da prática sutra Mahayana precisam ser praticados como
degraus para a prática do tantra.
Neste nível, trabalhamos para nos purificar dos efeitos dos seguintes
karmas negativos:
Ter cometido cada uma das dez ações destrutivas (dez não virtudes)
Ter transgredido e, portanto, enfraquecido nossa direção segura
(refúgio) em cada uma das Três Joias Preciosas
Ter nos comportado de forma inapropriada com cada um de nossos
mentores espirituais e assim enfraquecido nosso vínculo de
proximidade (dam-tshig, Skt. samaya) com eles.
Ter transgredido ou enfraquecido cada um de nossos votos de
pratimoksha para liberação individual, cada um de nossos votos de
bodhisattva e cada uma das dezoito práticas de compromisso e vinte e
dois pontos de treinamento para limpar nossas atitudes (lojong;
treinamento de atitude; treinamento da mente).
O arrependimento sincero
A decisão firme de tentar não repetir a ação
A reafirmação de nossa base, ou seja, nossa direção segura e ideal de
bodhichitta
A aplicação de ações construtivas contrárias, tais como a meditação e
visualização de Vajrasattva.
Esse apego à existência inerente está por trás da aflição mental da culpa.
Visualização de Vajrasattva
De acordo com o contexto em que estivermos praticando, visualizamos a
forma correspondente de Vajrasattva sentado no topo de nossa cabeça. Se
tivermos dificuldade de visualizar em detalhes, podemos visualizar
apenas uma bola de luz branca. O aspecto de manter o orgulho da deidade
— neste caso, o sentimento de um Vajrasattva realmente sentado em
nossa cabeça — é mais importante do que o aspecto de nitidez da figura
em nossa imaginação. Um método para aprendermos a visualizar algo no
topo da cabeça é pôr a mão na cabeça e depois tirar. Ainda podemos
sentir o ponto em na cabeça onde nossa mão estava e ainda sentimos
como se algo estivesse lá.
Faça com que eu seja estável — através de minha eliminação das redes
de forças kármicas e tendências kármicas negativas do contínuo
mental.
Faça com que eu seja feliz — através da minha eliminação das redes de
todas as forças kármicas e todas as tendências kármicas negativas do
contínuo mental, para que eu atinja a liberação, com sua felicidade
imaculada.
Faça com que eu esteja protegido — de forma que minha mente nunca
se afaste da consciência bem-aventurada de clara luz da vacuidade.
SARVA = tudo; SIDDHIM = realização; ME = eu; PRAYACCHA = conceder.
Variações do Mantra
O mantra acima é a forma genérica do mantra de cem sílabas e aparece na
maior parte das práticas de kriya, charya e yoga tantra, bem como nas
práticas de Guhyasamaja, Mahachakra Vajrapani e Kalachakra do
anuttarayoga tantra. No entanto, existem diversas variações do mantra de
cem sílabas. Alguns mantras, por exemplo, terminam em AH HUM PHAT,
ou AH HUM, ou simplesmente AH, mas não faz diferença qual você usa.
Visualizações da Purificação
Vários textos e professores apresentam diferentes conjuntos de
visualizações para fazermos junto com a meditação no mantra de
Vajrasattva. Vamos detalhar um desses conjuntos de múltiplos passos.
Purificação Derradeira
A purificação derradeira é equivalente a um verdadeiro cessar, ou seja, à
remoção total das repercussões kármicas de nosso contínuo mental.
Conseguimos esse verdadeiro cessar através da repetida cognição não
conceitual da vacuidade junto com o ideal de bodhichitta — em outras
palavras, com a consciência discriminativa de amplo alcance da
vacuidade (perfeição da sabedoria), prajnaparamita. Tal cognição é o
derradeiro mantra de Vajrasattva. Conforme está escrito no Sutra do
Coração, “a consciência discriminativa de amplo alcance (perfeição da
sabedoria) é o (grandioso) mantra protetor mental, o mantra protetor
mental do grande conhecimento, o mantra protetor mental insuperável, o
mantra protetor mental igual ao inigualável, o mantra protetor mental
que subjuga todo sofrimento”
O Budismo na Índia
O Budismo no Tibete
O Budismo na Ásia Central
O Budismo no Sudoeste da Ásia
Diálogo Interreligioso
Budismo e Islã
Budismo e Islã: Avançado
Astrologia Tibetana
Medicina Tibetana
Shambhala
O Budismo nos Tempos Modernos
Transmissão do Budismo no Ocidente
O Budismo na Índia
A Sociedade e o Pensamento
Indianos antes e durante a Ēpoca do
Buda
Dr. Alexander Berzin
Harappa-Mohenjadaro
Os Vedas
O ato ritual de fazer oferendas era venerado ainda mais do que os próprios deuses
e, por conseguinte, os sacerdotes brâmanes desempenhavam um papel essencial
na sociedade. Ou seja, a sociedade acreditava que o seu bem-estar derivava não
tanto do favor dos deuses mas, pelo contrário, da correta execução pelos brâmanes
das oferendas rituais. Consequentemente, o hinduismo antigo é referido
geralmente como “bramanismo”. Além disso, a sociedade via o ritual das oferendas
como uma dívida aos deuses. Essa crença fez surgir o conceito bramânico dos atos
positivos como sendo o desempenho do nosso dever.
Os Upanishads
O Império Paurava começou a declinar no século VIII a.C., depois de uma enorme
inundação ter forçado a mudança da sua capital. Lentamente, o império dividiu-se
em numerosos pequenos estados. Alguns eram reinos; outros eram repúblicas.
Estas grandes mudanças na sociedade indiana marcaram o começo de um período
de especulação filosófica e religiosa.
A parte final dos Brahmanas eram os Upanishads, um corpo de literatura que
desenvolveu mais completamente a base filosófica para o bramanismo. Escrito no
decurso de várias centenas de anos, começando por volta do final do século VII a.C.,
doze dos Upanishads são anteriores ao Buda. Embora cada um dos doze
apresentasse ensinamentos ligeiramente diferentes, eles partilhavam contido
muitos temas gerais.
A Escola Ajivaka, fundada por Gosala, era determinista e, assim, rejeitava o processo
causal do carma. Afirmavam que os elementos constituintes do universo – terra, água,
fogo, vento, felicidade, infelicidade, e almas viventes (sânsc: jiva) – são mónadas ou
átomos indivisíveis não-criados que não interagem uns com os outros. Como tudo é
predeterminado, embora ações ocorram através dos átomos destes constituintes; não
obstante, nem as próprias ações nem os átomos causam realmente o acontecimento de
algo. As almas vivas atravessam um número enorme de renascimentos e, depois de
terem experienciado todas as vidas possíveis, entram automaticamente num estado de
paz e ficam assim livres do renascimento. Como consequência, a liberação não depende
do que alguém realmente faz.
A Escola Lokayata ou Charvaka, ensinada por Ajita, também rejeitava o carma. Não só
isso, rejeitava também o renascimento e qualquer coisa como uma alma viva. Advogava
o hedonismo, ensinando que todas as ações devem ser espontâneas e deviam vir da
nossa própria natureza (sânsc:svabhava) – ou seja, devem ser naturais. O objetivo da
vida era experienciar tanto prazer sensual quanto possível. Esta escola rejeitava todas
as formas de lógica e de raciocínio como modos válidos de se conhecer algo.
A Escola Jainista ou Nirgrantha, fundada por Mahavira, afastou-se da Escola de
Lokayata como uma forte reação contra ela. Por isso, asseverava a existência de almas
vivas experienciando renascimentos através da força do carma. O jainismo, existente
ainda hoje como um dos principais sistemas religiosos indianos, ensina um
comportamento ético extremamente estrito e, de fato, um ascetismo extremo como
meio de atingir a liberação.
A Escola Ajnana Agnóstica, liderada por Sanjayin, afirmava que era impossível obter
um conhecimento conclusivo sobre algo mediante especulações filosóficas ou debates
baseados na lógica. Advogava a vida em comunidades celibatárias que colocavam a sua
ênfase apenas na amizade.
O budismo desenvolveu-se como uma escola shramana que aceitava o renascimento
sob a força do carma, enquanto que rejeitava a existência do tipo de alma que as outras
escolas propunham. Além disso, o Buda aceitava, como parte do caminho para a
liberação, o uso da lógica e do raciocínio, assim como também o do comportamento
ético, mas não ao nível do ascetismo dos jainistas. E assim, o budismo evitou os
extremos das quatro escolas shramana precedentes.
Buda e os Eventos Políticos de Seu
Tempo
Dr. Alexander Berzin
Mas o rei sentiu a necessidade de uma terceira esposa, para lhe dar um
filho homem. E casou-se com Vasabha, a filha de Mahanama (rDo-rje-ma,
sânsc. Vajri), primo do Buda, que tornou-se governador de Sakiya após a
morte do pai do Buda. Mahanama era irmão de Ananda e Anuruddha,
discípulos próximos do Buda. Apesar de Mahanama ter apresentado
Vasabha como uma mulher nobre, na realidade ela era sua filha ilegítima
com uma escrava. Apesar de Vasabha ter dado um filho ao rei Pasenadi,
Vidadabha, sua posição como herdeiro do trono de Kosala era precária,
por conta da fraude em relação à linhagem sanguínea de sua mãe. Essa
fraude também colocou o Buda em uma posição difícil por ser parente de
Vasabha.
Quando o Buda tinha setenta e dois anos, seu primeiro patrono, o rei
Bimbisara de Magadha, foi forçado a abdicar do trono em favor do filho,
Ajatasattu (Ma-skyes dgra, sânsc. Ajatashatru). Ajatasattu prendeu o pai e
o deixou morrer de fome. A viúva de Bimbisara, Devi, irmã do rei
Pasenadi, morreu de desgosto. Como vingança pela morte da irmã,
Pasenadi declarou guerra a seu sobrinho Ajatasattu para tentar reaver os
vilarejos em torno de Varanasi, ao norte do Ganges, com os quais ele
havia presenteado Bimbisara, como parte do dote de Devi. A guerra foi
inconclusiva, e, para assegurar a paz, Pasenadi foi forçado a casar sua
filha Vajiri com Ajatasattu.
Cerca de um ano mais tarde, o Buda viajou novamente para sua terra
natal, Sakiya. Durante a visita do rei Pasenadi ao Buda, para prestar-lhe
os seus respeitos, o General Karayana armou um golpe e colocou o
príncipe Vidadabha no trono de Kosala. Pasenadi, o rei deposto, não tinha
para onde ir, fugiu para Magadha buscando a proteção de seu sobrinho e
genro, o rei Ajatasattu em Rajagaha. Entretanto, Pasenadi foi impedido de
entrar na cidade e foi encontrado morto no dia seguinte.
Enquanto isso, o novo rei de Kosala, Vidadabha, declarou guerra contra
Sakiya, como vingança pela fraude de seu avô Mahanama em relação a
sua linhagem sanguínea. Mahanama, você deve lembrar, era primo do
Buda e governador de Sakiya. Apesar do Buda ter tentado, por três vezes,
convencer o rei a não atacar, ele não teve sucesso. As forças de Kosala
foram ordenadas a matar todos os habitantes de Kapilavatthu, capital de
Sakiya. Sem conseguir evitar o massacre, o Buda fugiu para Rajagaha em
Magadha, buscando a proteção do rei Ajatasattu, a mesma proteção que
Pasendi não conseguiu fornecer.
Vassakara, o primeiro ministro do rei Ajatasattu, foi visitar o Buda. Ele lhe
contou sobre os planos de Ajatasattu em expandir o reino, e sua intenção
de invadir a República Vajji em breve. Apesar do Buda avisar que não
conseguiriam vencer a República Vajji pela força, que eles sempre
tentariam manter sua forma de governo, ele não conseguiu impedir a
guerra, da mesma forma que não conseguiu impedir a invasão de Kosala
pelos Sakiyas. O Buda ainda sofreu outra perda nessa época, Sariputta e
Moggallana morreram. O velho Sariputta morreu de uma doença e
Moggallana foi espancado até a morte por bandidos enquanto fazia um
retiro solitário.
Durante o curso das chuvas de monção, o Buda, já com oitenta anos, ficou
gravemente doente e estava à beira da morte. Ananda pediu que desse
uma última recomendação aos monges. O Buda disse que já os havia
ensinado tudo o que sabia e que, no futuro, os ensinamentos seriam seu
principal refúgio e direcionamento. Para se libertarem do sofrimento,
deveriam incorporar os ensinamento, e não depender de um líder ou
comunidade para salvá-los. E então o Buda anunciou que morreria em
breve.
Com seus primos discípulos, Ananda e Anuruddha, o Buda foi mais uma
vez atrás das chuvas. À caminho de Sakiya, eles pararam em Pava, uma
das duas principais cidades de Malla. Lá, um ferreiro chamado Chunda
(Tsu-nda, sânsc. Cunda) serviu porco envenenado ao grupo. Suspeitando
de alguma coisa, o Buda disse a seus primos que não comessem porco,
mas ele, por sua vez, comeu e pediu que enterrassem o que havia
sobrado. Malla era a terra natal do General Karayana, que liderou os
massacres em Sakiya, e é possível que o veneno tivesse como alvo
Ananda, que era famoso por ter memorizado todos os ensinamentos do
Buda. Se Ananda morresse, os ensinamentos e a comunidade do Buda não
resistiriam.
Introdução
Buda Shakyamuni
O príncipe Sidarta, que se tornou no Buda Shakyamuni, viveu de 566 a 486 a.C. na
parte central do norte da India. Após ter alcançado a iluminação com a idade de
trinta e cinco anos, vagueou como mendicante, ensinando aos outros. Uma
comunidade de buscadores espirituais celibatários depressa se reuniu em seu
redor acompanhando-o enquanto ele viajava. Por fim, quando surgiu a
necessidade, Buda estabeleceu regras de disciplina monástica para esta
comunidade. Os “monges” reuniam-se quatro vezes por mês para recitar essas
regras e purificar todas as infrações que pudessem ter ocorrido.
Cerca de vinte anos depois da sua iluminação, Buda iniciou o costume dos monges
permanecerem no mesmo local, todos os anos, durante a estação das chuvas, para
um retiro de três meses. A construção de mosteiros budistas desenvolveu-se a
partir deste costume. Poucos anos antes de falecer, Buda introduziu também uma
tradição de monjas.
Ananda (Kun-dga'-bo) recitou os sutras (mdo) – os discursos acerca dos vários temas
da prática.
Upali (Nye-bar ‘khor) recitou o vinaya – as regras de disciplina monástica.
Mahakashyapa (‘Od-bsrung chen-po) recitou o abhidharma (chos mngon-pa), acerca dos
tópicos especiais de conhecimento.
Estas três divisões dos ensinamentos de Buda formaram As Três Coleções tipo-
Cestos (sDe-snod gsum, sânsc. Tripitaka, Três Cestos).
De acordo com outros relatos, a verdadeira divisão aconteceu mais tarde, em 349
a.C. O ponto de disputa não era sobre questões de disciplina monástica, mas antes
sobre visões filosóficas. A divergência foi sobre a questão dos arhats – seres
liberados – serem ou não limitados.
Pondo de lado a data em que ocorreu o concílio, a sua principal tarefa era analisar
os ensinamentos de Buda e refutar o que os ortodoxos anciãos Theravada
consideravam como visões incorretas. Moggaliputta Tissa, o monge-líder do
concílio, compilou estas refutações analíticas em Motivos de
Controvérsia (pali: Kathavatthu), que se tornou o quinto dos sete textos do Cesto do
Abhidhamma Theravada.
Outras tradições Hinayana não relatam este concílio do mesmo modo que
Theravada. Em qualquer caso, um dos principais pontos filosóficos sobre o qual a
separação ocorreu era a existência de fenómenos passados, presentes e futuros.
Sarvastivada afirmava que tudo existe – as coisas que já não estão acontecendo, as
coisas que estão acontecendo atualmente e as coisas que ainda não aconteceram. Isto
porque são eternos os átomos de que as coisas são feitas; apenas mudam as formas que
eles tomam. Assim, as formas que tomam os átomos podem se transformar de coisas
que ainda não estão acontecendo em coisas que estão acontecendo agora e, depois, em
coisas que já não estão acontecendo. Mas os átomos que constituem cada uma destas
coisas são os mesmos eternos átomos .
A Escola Theravada conduziu o seu quarto concílio em 29 a.C., no Sri Lanka, sob o
patrocínio do rei Vattagamani. Face aos vários grupos que se tinham afastado da
Theravada devido a diferenças de interpretação das palavras de Buda,
Maharakkhita e quinhentos anciãos da Theravada reuniram-se para recitar e
escrever as palavras de Buda a fim de preservar a sua autenticidade. Esta foi a
primeira vez que os ensinamentos de Buda passaram a escrito e, neste caso, foram
transcritos na língua Pali. Esta versão das Três Coleções tipo-Cestos, Tipitaka, é
geralmente conhecida como o Cânone Pali. As outras escolas Hinayana, entretanto,
continuaram a transmitir os ensinamentos oralmente.
O mais famoso dos regentes de Kushan foi o rei Kanishka que, de acordo com
algumas fontes, governou de 78 a 102 d.C. e, segundo outras, de 127 a 147 d.C. Em
qualquer caso, a Escola Sarvastivada conduziu o seu quarto concílio durante o seu
reinado, na sua cidade-capital de Purushapura (atual Peshawar) ou em Srinagar,
Caxemira. O concílio rejeitou o abhidharma Sautrantika e sistematizou o seu
próprio abhidharma em O Grande Comentário (sânsc. Mahavibhasha). O concílio
também supervisionou a tradução de prakrit para sânscrito da versão Sarvastivada
das Três Coleções tipo-Cestos, e a escrita destes textos em sânscrito.
O Surgimento do Mahayana
Os sutras Mahayana apareceram pela primeira vez entre o século I a.C. e o século
IV d.C., em Andhra, no sul da India Oriental, área em que Mahasanghika estava
florescendo. Segundo as tradicionais narrativas budistas, estes sutras tinham sido
ensinados por Buda, mas tinham sido transmitidos oralmente e mais em privado
do que as obras Hinayana tinham sido. Alguns até tinham sido protegidos em
reinos não-humanos.
A Escola Madhyamaka, vinda de Nagarjuna, que viveu em Andhra entre 150 e 250 d.C.,
explica os Sutras Prajnaparamita. De acordo com narrativas tradicionais, Nagarjuna
recuperou estes sutras do fundo do mar, onde os nagas os tinham protegido desde a
altura em que Buda os tinha ensinado no Pico dos Abutres (Bya-rgod phung-pa’i ri,
sânsc. Grdhrakuta), perto de Rajagrha, no centro do norte da India. “Nagas” são seres
meio-humanos meio-serpentes que vivem debaixo da terra e debaixo de corpos de
água.
A Escola Chittamatra baseou-se no Sutra da Descida a Lanka (Lan-kar gshegs-pa’i mdo,
sânsc. Lankavatara Sutra). Embora este sutra tivesse primeiro aparecido em Andhra, os
ensinamentos Chittamatra foram desenvolvidos ainda mais por Asanga, que viveu
durante a primeira metade do século IV d.C., em Gandhara, no atual Paquistão Central.
Asanga recebeu estes ensinamentos através de uma visão do Buda Maitreya.
O tantra também emergiu entre os séculos III e VI d.C., com o primeiro aparecendo
uma vez mais em Andhra, no sul da India. Este foi o Tantra Guhyasamaja (dPal
gSang-ba ‘dus-pa’i rgyud). Nagarjuna escreveu vários comentários. De acordo com
a tradição budista, os tantras também tinham sido transmitidos oralmente desde a
época em que Buda os ensinou, mas de um modo ainda mais privado do que
tinham sido os ensinamentos dos sutras do Mahayana.
Songtsen-gampo
Essa região era fortemente budista e tinha sido influenciada principalmente pela
cultura iraniana. Seu idioma estava relacionado com idiomas iranianos que tinham
grande influência no Tibete, mas isso não é muito enfatizado nas histórias escritas.
Por exemplo, o alfabeto tibetano na verdade deriva da escrita Khotan, que por sua
vez já era uma adaptação do alfabeto sânscrito. Acontece que os professores
khotaneses que Thonmi Sambhota iria encontrar estavam na Caxemira, e era
necessário cruzar a Caxemira para chegar a Khotan. Por este motivo é dito
frequentemente que a grafia tibetana vem da Caxemira, mas após análise histórica
detalhada, vemos que não é o caso. Além disso, o sistema de tradução para o
tibetano foi fortemente influenciado pelo estilo khotanês de separar sílabas e dar
significado a sílabas individuais.
Mais tarde, o contato com a China e Khotan aumentou, e depois com a Índia. A
princesa de Zhang-zhung trouxe muitos rituais Bon para o estado, embora fossem
muito diferentes daquilo que chamamos de Bon hoje.
Aproximadamente 140 anos depois, em meados do século VIII DC, o Imperador Tri
Songdetsen focou na expansão do império e entrou em guerras com a China e
vários reinos turcos. De acordo com uma profecia, ele convidou o grande abade de
Nalanda, Shantarakshita para vir da Índia e ensinar no Tibete.
Naquele tempo, havia muitas facções políticas dentro do governo, umas das quais
era conservadora e contra estrangeiros e que nada gostou do fato de o Imperador
convidar Shantarakshita. Infelizmente, a chegada de Shantarakshita coincidiu com
uma pequena epidemia de catapora e ele acabou levando a culpa e servindo de
bode expiatório, sendo expulso do Tibete.
Antes disso, existiam templos, mas não monastérios que orientassem os monges
ordenados. Guru Rinpoche não achou as pessoas muito receptivas ou maduras
para ensinamentos mais avançados, e por isso enterrou textos sobre o dzogchen, a
classe mais elevada de ensinamentos do tantra de sua tradição, dentro dos muros e
pilares de Samye e em outros diversos locais no Tibete e Butão. A tradição
Nyingma vem dele.
Em meados do século IX, Tri Ralpachen decretou que sete lares deveriam ficar
responsáveis por apoiar cada monge. Objetivamente podemos dizer que ele era um
fanático religioso. Ao invés de impostos irem para o governo, todo o dinheiro era
destinado ao apoio de monges e monastérios. Isso devastou economicamente o
país e o governo. Ele também indicou ministros monges e os monastérios
ganharam mais e mais poder.
Kadam e Gelug
Por isso, houve uma profunda análise das traduções tibetanas de alguns textos
indianos mais complicados. Ao contrário de outros muitos autores que o
precederam, Tsongkhapa simplesmente não pulou partes obscuras. Estas
passagens complicadas eram aquelas que ele prazerosamente tentava entender e
explicar. Assim, chegou a uma interpretação radicalmente diferente de quase tudo.
De fato, Tsongkhapa era um grande revolucionário. Entre os seus vários discípulos
está o monge que posteriormente seria conhecido como o Primeiro Dalai Lama. O
título lhe foi dado postumamente, na época do Terceiro Dalai Lama. “Dalai” é um
nome mongol que significa “oceano”.
Houve uma terrível guerra civil por aproximadamente 150 anos até que os
mongóis chegaram e terminaram com ela. Naquela época, os mongóis
transformaram o V Dalai Lama no líder político e espiritual do Tibete e seu
professor passou a ser conhecido como o IV Panchen Lama. Em 2011, o XIV Dalai
Lama acabou com a tradição de os Dalai Lamas terem qualquer posição política.
Sakya
Kagyu
Nyingma
Muitos textos foram descobertos e era bastante confuso entender como eles
estavam conectados. Eles foram padronizados e esclarecidos no século XIII pelo
grande mestre Nyingma, Longchenpa, que é o verdadeiro pai da tradição Nyingma
que encontramos hoje. Há uma divisão entre a linhagem do tesouro norte e a
linhagem do tesouro sul. A tradição Nyingma é mais fragmentada que outras e não
conforma um estilo particular.
O Movimento Rima
Conclusão
Geografia
O Período Kushan
O rei mais famoso de Kushan foi Kanishka (governou 78 – 102 d.C.), cuja
capital ocidental era em Kapisha. Ele apoiava a Escola Sarvastivada
Hinayana. A sua subdivisão Vaibhashika era especialmente proeminente
no Tocaristão. Ghoshaka, o monge tocariano, foi um dos compiladores dos
comentários Vaibhashika sobre oabhidharma (tópicos especiais de
conhecimento), aceites durante o Quarto Conselho Budista, conduzido
por Kanishka. Quando, após o Conselho, Ghoshaka regressou a Tocaristão,
fundou a Escola Vaibhashika Ocidental (Balhika). Nava Vihara, o mosteiro
principal em Balkh, rapidamente se tornou o centro de estudos
superiores budistas para toda a Ásia Central, comparável ao Mosteiro
Nalanda na India Setentrional Central. Enfatizava principalmente o
estudo do abhidharma Vaibhashika e apenas admitia monges que já
tivessem composto textos sobre o tema. Visto que abrigava uma relíquia
do dente do Buda, era também um dos principais centros de peregrinação
ao longo da Rota da Seda, da China à India.
Os Turcos Ocidentais