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4 Excieng AZEVEDO 0 DIREITO DOS ESCRAVOS LUTAS JURIDICAS E ABOLICIONISMO NA PROVINCIA DE SAO PAULO Grafia atualizada segundo 0 Acordo Ortogrifico da Lingua Portuguesa de 1990. Em vigor no Brasil a partir de 2009, FICHA CATALOGRAFICA ELABORADA PELO SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UNICAMP DIRETORIA DE TRATAMENTO DA INFORMAGAO, Ax2Sd Azevedo, Elcicne. O direito dos escravos: lutas juridicas e abolicionismo na provincia de Séo Paulo / Elciene Azevedo. ~ Campinas, sp: Editora da Unicamp, 2010. 1, Gama, Luiz, 1830-1882. 2. Castro, Antonio Bento de Souza e. 3. Jus- tiga. 4. Abolicionistas ~ Sao Paulo (sp). 5. Brasil - Histéria — Aboligéo da escravidao — 1888. I. Titulo. DD 5326.098161 ISBN 978-85-268-0904-8 122 | : Indices para catilogo sistematico: 1. Gama, Luiz, 1830-1882 326.098161 2. Castro, Antonio Benzo de Souza ¢ 326.098161 5. Justiga 1Re 4. Abolicionistas ~ $0 Paulo (s») 326.098161 5. Brasil - Histéria - Aboligao da escravidao ~ 1888 326.098161 Copyright © by Elciene Azevedo Copyright © 2010 by Editora da Unicamp 1 reimpressio, 2015 Direitos reservados ¢ protegidos pela Lei 9.610 de 19.2.1998, E proibida a reprodugio coral ou parcial sem autorizagio, por escrito, dos detentores dos direitos. Printed in Brazil Foi feito o depésico legal. Dircitos reservados & Editora da Unicamp Rua Caio Graco Prado, 50 ~ Campus Unicamp ep 13083-892 ~ Campinas ~ sp ~ Brasil Tel./Fax: (19) 3521-7718/7728 wwweditoraunicampbr - yendas@editoraunicamp.br ie a ee he CAPITULO 2 PARA ALEM DOS TRIBUNAIS As histérias contadas no primeiro capitulo, embora tenham os proprios negros escravizados como personagens principais, dei xam entrever a atuagao de outra figura importante na resolugao das contendas judiciai o advogado. Escravos como José Mulato depositaram na Justiga a esperanga de mudarem radicalmente suas vidas ¢ nao servirem mais a scus senhores, mesmo que para isso ti- vessem que cometer crimes reais ou imaginarios. O importante era entregar seus destinos nas maos dessas autoridades, na esperanga de que elas encontrassem melhor solugao para seus problemas. A figura do advogado se tornou fundamental para essa definigéo, uma vez que cabia a esse profissional encontrar uma saida legal capaz de legitimar ¢ atender as demandas de seus curatelados. A historiografia muitas vezes tem apontado a centralidade desses profissionais no processo abolicionista. Ao atuarem em ages de liberdade impetradas pelos escravos contra seus senhores, contribuiram para desestruturar a politica de dominio senhorial, minando as bases da ideologia que sustentava a escravidao. Se escra- vos buscavam na Justiga a legitimagao de seus direitos, encontravam por isso nos tribunais o respaldo de homens letrados dispostos a utilizar criativamente seu saber em favor do principio da liber- dade', Nao é mero acaso, portanto, que um dos mais lembrados lideres do movimento abolicionista em Sao Paulo, Luiz Gonzaga Pinto da Gama, encerre em sua trajetoria de vida experiéncias que sao, em muitos aspectos, semelhantes as de outros tantos sujeitos histéricos presentes nesses estudos. Esse abolicionista foi escravo durante boa parte de sua vida e conseguiu sua carta de liberdade acionando os dispositivos legais, a exemplo do que muitos outros escravos fizeram ao longo do século XIX. Por outro lado, foi tam- 94 | Evcrens Aznvepo bém advogado ou, para ser mais exata, um rabula, que, mesmo sem ter frequentado os bancos académicos, fez do direito sua principal arma de luta contra a escravidao. A importancia de sua militancia na Justiga advogando causas de liberdade pode ser atestada pela importancia que cla tem como definidora de uma determinada periodizagao para o movimento abolicionista paulista. Sua morte, em 1882, foi frequentemente tomada como o marco de uma profunda transformagio ocorri- da na luta contra a escravidao: a partir dela o movimento teria deixado 0 tom moderado daqucles que, como Gama, teriam sua luta definida pelos limites do arsenal juridieo que utiliza- yam para buscar alternativas menos brandas de intervengao. Assim, a historiografia do processo de abolicao tem ressaltado, de forma quase un4nime, a agéncia de advogados como Luiz Gama, mas esses profissionais tém sido vistos muitas vezes sob © prisma da moderagio, avaliando-se que suas lutas nao levavam a um questionamento efetivo das bases legais sobre as quais se sustentava o regime escravista, em um tipo de “militancia bem- comportada”’. O fato de os escravos efetivamente buscarem, nesses bacharéis ¢ rabulas, 0 apoio de que precisavam em suas lutas pela liberdade indica, portanto, outras possibilidades de leitura do papel que desempenharam. Sem duvida, como procurei mostrar no capitulo anterior, a presenga e as press6es dos escravos nos tribunais sao fundamentais para entender o processo da constitui¢ao do movi- mento abolicionista em Sao Paulo. No entanto, seria impossivel contar sua historia sem entender a atuagao das pessoas que, nos tribunais, se associaram a eles na busca pela alforria. A trajetéria de Luiz Gama e de alguns outros advogados de seu grupo pode ser um meio de entender de forma mais densa essa relagao. A intengo é desvendar os significados que os contemporaneos atribuiram as suas atuagdes dentro dos tribunais, bem como o que elas podem ter representado em termos de luta politica fora deles. O objetivo deste capitulo serd, assim, o de perseguir esses “militantes” ¢ suas experiéncias — por meio de uma analise que enfoque primordial- mente suas ages, mas em dialogo com a prépria experiéncia e a Pana arém pos taipunais | 95 expectativa dos escravos em relagao as instituigdes e autoridades publicas nesses anos. A politica da lei No final da década de 1860, Luiz Gama era um funcionario pu- blico empregado na delegacia de policia da capital de Sao Paulo. Escravizado aos 8 anos de idade, havia sido libertado por volta de 1848, quando, a exemplo de muitos outros cativos, procurou as. autoridades publicas reclamando sua liberdade. Assim, tornou-se homem livre apés provar judicialmente, em circunstancias até hoje pouco conhecidas, ter sido mantido em cativeiro ilegal’. Vinte anos depois, como amigo intimo ¢ amanuense do conselheiro Furtado de Mendonga, delegado de policia, exercia uma gama variada de tarefas. Presenga constante nos processos policiais desde fins da década de 1840, seu nome figura aqui e ali, primeiro como co- pista do escrivao da delegacia, mais tarde como testemunha de apreensdes, em autos de corpo de delito ou mandados de busca, ou ainda, com bastante frequéncia, como escrivao nos inquéritos da policia*. Em janeiro de 1868, estava a cumprir suas obrigagdes na delegacia quando por Id apareceu Vitor Augusto Monteiro Salgado, apresentando trés escravos e uma procuragao. O proprietirio, re- sidente em Mogi das Cruzes, havia confiado a cle plenos poderes para negociar seus cativos, ou mesmo passar-Ihes carta de liber- dade, desde que houvesse quem por eles pagasse o prego exigido Salgado pretendia vender os escravos na Corte e, para tanto, foi até a delegacia requerer passaporte para que pudesse conduzi-los ao Rio de Janeiro sem problemas. Ao invés disso, entretanto, o que obteve do funciondrio dessa repartigao foi resposta bem diversa. No lugar do passaporte, recebew 0 aviso de que um dos escravos que conduzia seria apresentado ao chefe de policia: Apresento a v.s. 0 preto José, escravo do Tenente Coronel Antonio Mendes da Costa, Africano, de 22 a 25 anos de idade, seguramente BR re Sr Ee cE aA oC oe Gal a, —e_ 96 | Evcirne Azevepo importado depois da proibigao legal do trafico, o qual apreendi, como livre, a fim de v chefe de policia 0 leve [sic] & presenga do Ex.mo. sr. dr. Chamo a atengao de vs, para a procuragio inclusa, do préprio punho daquele tenente-coronel, na qual ¢ assinada a idade de 28 anos ao dito preto. © amanuense da policia Luiz Gonzaga Pinto da Gama’. © raciocinio do amanuense foi simples ¢ baseava-se em uma conta aritmética. Se tinha 28 anos, como declarava seu senhor na procuragao apresentada por Salgado, havia nascido em 1840, e se cra africano, como ele mesmo podia ver, s6 poderia ter entrado no Brasil depois da lei de proibigao do trafico negreiro, promulgada em 7 de novembro de 1831. Assim, encaminhou José a outro fun- cionério publico, o secretario de policia Antonio Louzada Antunes, que no mesmo dia informou a apreensio do escravo ao chefe de policia interino, Tito Augusto Pereira de Mattos. Este, por sua vez, mandou que José fosse imediatamente recolhido a Casa de CorregSo e expediu um officio ao delegado Furtado de Mendonga comunicando que o africano se achava 4 sua disposi¢ao — “como importado posteriormente a promulgacao da lei proibitiva do tréfico” —, para que fossem tomados todos os procedimentos de direito. Deu-se entao inicio as investigacdes sobre a legalidade ou nio da condig3o escrava em que se encontrava José. No vaivém das comunicagées, oficios e petigées que com- poem esse processo, salta aos olhos o fato de que muitos dos despachos sao assinados pelo secretario Louzada, seguidos da as- sinatura do chefe de policia Tito Mattos, mas com uma caligrafia que mostra terem sido, na verdade, escritos de préprio punho por Luiz Gama. Esse detalhe, aparentemente banal, j4 que ocupava 0 cargo de copista da repartigao publica, sugere seu livre acesso a0 alto escalao da policia e como acompanhou muito de perto todos os tramites legais da apreensio®. O leitor de boa memoria ja deve ter percebido que o chefe de policia interino nesse caso é 0 me mo que, delegado de policia em Campinas em 1861, havia acolhi- do as denuncias da escrava Agostinha contra o alferes Barros Dias. PARA AL M pos TRInUNAIS | Louzada, por sua vez, fazia parte de outro grupo do qual partici- pava Luiz Gama: era magom. E a magonaria, como se vera adian- te, comegava, por esses anos, a aderir publicamente a causa da emancipagio. Nesse caso, tal proximidade provavelmente facilitou o rapido andamento dos tramites para a instauragao de um pro- cesso cujas bases legais nao eram assim tio simples como queria fazer crer 0 amanuense De qualquer forma, a dentincia foi acatada pelo chefe de policia interino, e o delegado deu inicio ao inquérito interrogan- do José. Convencido de que havia indicios veementes de que ele estava em cativeiro ilegal, essa autoridade expediu uma série de mandados nomeando peritos para avaliar sua idade ¢ identificar sua “nagdo”; mandou depositar o suposto escravo e citar o senhor para que apresentasse provas que legitimassem sua propriedade. Embora 0 processo, por estar incompleto, nao permita saber se José conseguiu ou nao provar ter sido ilegalmente escravizado, ele revela um pequeno fragmento do cotidiano da delegacia na capital, indicando a possibilidade de que funcionarios como Luiz Gama estivessem agindo politicamente no exercicio rotineiro de suas fungdes. Assim como este, varios outros processos semelhantes podem ser encontrados em fins da década de 1860 — quando Luiz Gama ainda nao era o grande rabula das causas da liberdade, mas sim- plesmente um funcionario que, em fungo do cargo que exercia, lidava diretamente com os conflitos particulares entre senhores © escravos que acabavam na delegacia, ainda que nao tivesse para isso nenhuma formagio juridica’, Em 19 de junho do mesmo ano, por exemplo, encaminhou uma denuncia ao juiz municipal afir- mando que a liberta Geralda de Oliveira, que vivia fazia dois anos no gozo de sua liberdade, havia sido, na noite anterior, “agarrada extra-judicialmente pelo dr, Francisco de Paula Ferreira Rezende”. Conduzida 4 forga como se escrava fosse, alertava Luiz Gama ao de- legado, naquele mesmo dia teria sido obrigada a seguir de trem para fora da provincia, Fornecia inclusive detalhes de sua localizagao: “acha-se em um rancho, no Bairro das Palmeiras, nas imediagdes do Arouche”. Pela urgéncia da situagao ¢ factivel imaginar que 97 98 | Evcirne Azevevo alguém muito préximo de Geralda tenha corrido até a delegacia para pedir ajuda logo depois do acontecido. Familiarizado com os procedimentos legais, o papel do amanuense, nesse caso, foi o de viabilizar 0 cumprimento de um direito de Geralda, fazendo a demincia e requerendo, logo em seguida, que fosse concedido mandado de manutengao de liberdade, “nos termos de direito, a fim de que, em tempo oportuno, ¢ na forma da lei”, pudesse provar em juizo a sua completa liberdade’. Por essas € outras, pelo menos desde o inicio da década de 1860, Luiz Gama volta e meia era “aconselhado” por seus supe- riores a deixar de se envolver em questdes dessa natureza, ati- tude considerada inapropriada para um empregado da policia, sob pena de ser exonerado do cargo que exercia. O préprio Furtado de Mendonga, delegado de policia da capital, declarou que, “como amigo” do amanuense, o aconselhara nesse sentido “desde 1864”, Tais ameagas, por fim, se concretizaram em no- vembro de 1869, em um episddio de grande repercussao publi- ca, largamente comentado pela imprensa paulistana, que teve como estopim um caso parecido com 0 do africano José. Por seu teor, altamente polémico, o fato é especialmente revelador do surgimento, na capital de uma das provincias mais escravistas do Império, de um forte engajamento politico que, apoiando as reivindicagSes escravas na Justiga, procurou usar a lei como aliada na luta pela Abolic&o. O que argumento aqui ¢ que esse movimento surgiu antes mesmo da promulgago da lei de 28 de setembro de 1871 — que, ao legalizar o pectlio e a alforria forcgada, tornou as ages de liberdade processos sumarios — € teve dimensées significativas para a andlise da participagio es- crava no processo da Abolicéo'?. Em outubro de 1869, Luiz Gama enviou uma petigao ao juiz municipal suplente da capital, Antonio Pinto do Rego Freitas, contando a historia do africano Jacinto, “Congo de Nagao”, que se dizia importado no Rio de Janeiro em 1848 e levado para Ja- guari, Minas Gerais, por Antonio da Cunha. Tendo este falecido em 1849, Jacinto, que ainda era “visivelmente bogal”, foi arrematado m praga por Antonio Gongalves Percira''. Em poder de Pereira, PARA Atéim pos TRIBUNAIS | casou-se com a escrava dele, de nome Ana, de nagao cabinda, im- portada para o Brasil em 1850 e comprada em Jaguari no mesmo ano. Como prova da ilegalidade da condigao escrava do casal, Luiz Gama mencionava o fato de ambos terem sido batizados em Jaguari “pelo finado padre Joaquim José de Melo” e, apesar de poderem contar com o testemunho de seus padrinhos, nada constava nos livros de assentamento, “seguramente para evitar-se conhecimento da fraude [a] que procedeu o referido padre, batizando[-os] como escravos Africanos Livres”. Gongalves Pereira, sabendo que “a propriedade que tinha so- bre tais individuos cra ilegal, ¢ corria riscos de perdé-la”, levou-os para a cidade de Amparo, provincia de Sao Paulo, e os vendeu a Inacio Preto. Em meio a uma lista enorme de nomes de testemu- nhas que poderiam atestar a importagao “ilegal ¢ criminosa” de Jacinto e Ana, Luiz Gama terminava a petigao requerendo o que considerava ser de direito desses africanos: Em vista do que exposto fica vem [sic] 0 abaixo assinado requerer a v.s. que se digne mandar por incontinente em depésito o Afri- cano Jacinto; requisitar, com urgéncia, a apresentagio e remessa da mulher do mesmo, de nome Ana, do Amparo para esta cidade, para ser igualmente depositada; e, por precatéria, mandar ouvir as testemunhas indicadas; ¢ afinal declarando livres os ditos Afri- NY canos — nos termos da lei de 7 de novembro de 1831, Regula- "mento de 12 de abril de 1832, e mais disposigées em vigor — ofi- ciar ao juizo municipal de Jaguari para que reconhega ¢ mantenha em liberdade, pelos meios judiciais, os filhos dos mencionados Africanos, de nomes — Joana, Catarina, Indcia, Benedita, Agos- tinho, Rita, Jodo, Sabino, Eva ¢ Scbastido, e os seus netos, Mariana e Marcelino. © abaixo assinado jura a boa fé com que da a presente dentncia ¢ compromete-se a acompanhar 0 seu andamento em juizo, prestando 0 esclarecimentos que forem necessarios'”, A resposta do juiz Rego Freitas foi tio simples quanto Luiz Gama fez parecer, a primeira vista, ser o dircito 4 liberdade de Jacinto, sua mulher, seus dez filhos e dois netos, baseado em uma 99 too | Excien® AzEvepo lei que, mesmo logo apés ter sido promulgada, gerou inimeros debates sobre sua aplicagao e credibilidade!’. Sem atender ao pe- dido de depdsito judicial de Jacinto ¢ seus familiares, limitou-se a declarar laconicamente a incompeténcia de seu juizo; sendo o senhor do escravo residente em Amparo, o caso nao competia a sua jurisdigao. Apds pedir que o juiz reconsiderasse 0 seu despacho sem, no entanto, ser atendido, Luiz Gama voltou pela terceira vez em juizo protestando contra a “crassa ignorancia” do magis- trado em matéria que, em sua opiniao, era “muito clara e positi- va”, Advertia, portanto, que tamanho despropésito o obrigariaa tornar a sua presenga tantas vezes quantas fossem necessérias para “coagi-lo a cumprir sinceramente o seu rigoroso dever”. Convenga-se v.s. de que 0 suplicante tem moralidade e coragem para manter esse juizo na condigao legal a que o hé de elevar, a N despeito do estupido emperramento com que luta. E disto bem seguro, pede a v.s. que se digne reconsiderar o seu fiatil despacho hoje proferido. Sio Paulo, 5 de novembro de 1869" Foram exatamente essas palavras que levaram Gama a perder o emprego de amanuense na delegacia de policia, além de ser indiciado como réu em um proceso crime por injuria e calunia, pelo “descomedimento descabido” e pelos qualificativos nada li sonjeiros com que se havia oposto ao despacho do magistrado"’. A parte a viruléncia formal da petico, cujo tom desafiava os conhecimentos juridicos do juiz municipal, ressalte-se a radicali- dade da apropriagdo que Luiz Gama fazia, naquele momento, de uma lei que produzira poucos resultados desde que fora promul- gada. Ainda que muitos se esforcassem por fazer dela letra morta, ele — ao contrario — via ncla “matéria clara e positiva”, tentan- do com isso forgar a Justiga a decidir por sua aplicagio. O juiz, talvez subestimando o cabedal juridico do amanuense, ou ainda prudente devido a complexidade da questao, tentava ganhar tem- po, como que a esperar que o vulcdo que ameagava o seu juizo desistisse de entrar em erupgao. Mas tal atitude nao fazia o estilo

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