3 Retirada de fraldas: Infelizmente, existe uma pressão cultural para esse processo, e vale É importante frisar que a idade não como iniciar o “desfral- ressaltar que o tempo é da crian- é um bom parâmetro para a retirada de” do seu pequeno do ça, e não dos pais, nem da vizinha de fraldas. Em média, o processo jeito certo? e muito menos da escola ou da so- começa por volta dos 24 meses de ciedade. idade, sendo que a grande maio- ria acontece entre 30-36 meses de O processo de retirada de fraldas, Qual é a idade ideal para idade . (erroneamente chamado de “des- fralde”), deve ocorrer de uma forma retirar as fraldas? natural, respeitosa e gentil para a criança. A verdade é que não existem regras rígidas para o início. O processo co- Aqui, o grande protagonista é a meça quando a criança demonstra criança, ou seja, o papel dos pais sinais de que já está pronta para fi- e cuidadores é de supervisionar e car sem a fralda. O momento deve apoiar o pequeno. Afinal, ele é o ser individualizado e não em con- centro do processo e, por isso, cada junto, como é proposto em várias passo deve seguir o seu ritmo. Esse escolas. é um momento muito importante na conquista por mais independência. A retirada precoce de fraldas não traz nenhum benefício para a crian- ça, e não é sinônimo de inteligên- cia ou esperteza. 4 Parâmetros de um bom momen- Motor: to para a retirada de fraldas • Habilidade de andar até o banhei- Caso a criança tenha constipação, ro. é importante tratá-la antes de ini- Para o início do processo, é im- • Capacidade de sentar no vaso sa- ciar o processo. Normalmente, o portante que a criança não esteja nitário/penico. controle do coco se inicia antes passando por períodos de estresse • Conseguir ficar seca por várias do que o do xixi. como, por exemplo, a chegada de horas. um irmão, a perda de um ente que- • Capacidade de retirar a calça e a rido, mudança de casa, início em cueca/calcinha sozinha. uma nova escola etc. É importante que alguns marcos do • Capacidade de entender coman- desenvolvimento fisiológico, motor, dos de duas etapas. comportamentais e cognitivo este- • Saber comunicar o desejo de fa- jam presentes para iniciar o proces- zer xixi ou evacuar. so. São eles: Comportamentais/cognitivos: Fisiológico: • Capacidade para imitar compor- Controle dos esfíncteres pela crian- tamentos. ça. A inervação destes, normalmen- • Habilidade em dizer NÃO. te, se completa a partir dos 18 me- ses. Só depois disso que o pequeno • Mostrar interesse em iniciar o pro- poderá adquirir controle dos mes- cesso da retirada de fraldas. mos. • Diminuição da frequência de com- portamento de oposição. 5 Como se preparar para • retenção urinária e de fezes; esse processo? • doenças da bexiga (como espes- samento desta e contração invo- Para todo o processo de retirada luntária da sua musculatura, com de fraldas, os pais ou cuidadores perdas urinárias, infecção e dis- também devem estar preparados. túrbios de comportamentos). • Não devem preocupar com a pres- são de avós, escolas e pessoas O processo deve ser postergado até próximas. Devem estar cientes que os adultos percebam a motiva- que escapes poderão ocorrer e, ção, interesse e aquisição de ha- caso ocorram, devem agir com bilidades pela criança. Importante naturalidade, não devendo haver que, a partir do momento em que a punições. criança esteja preparada, pelo me- nos um cuidador tenha tempo e pa- ciência para supervisionar as idas As punições, ou o processo de re- ao banheiro. tirada de fraldas autoritário, pode resultar em graves consequências para criança, como: Importante: vale ressaltar que essas idades não devem ser usadas para tornar o processo de retirada de fraldas rígido. Esse parâmetro • quadros de constipação intesti- serve apenas para que os pais ou cuidadores prestem atenção se sua nal grave; criança está preparada para tal. 6 Dicas valiosas: Mais uma vez: quem irá or- questrar todo o processo será Minha criança está pron- Para que os pais ou cuidadores pos- a própria criança ta. E agora? sam atuar como coadjuvantes do processo, é importante que eles te- Caso a criança apresente escapes nham conhecimento dos marcos de de urina ou fezes durante o proces- O primeiro passo é comprar o peni- aquisição de habilidades da crian- so, é muito importante mostrar natu- co, redutor de assento com escadi- ça. São eles: ralidade e não puni-la por isso. Caso nha acoplada ou redutor de assen- a retirada de fraldas não esteja dan- to com banquinho. • A criança começa a notar que a do certo, ou haja alguma resistên- fralda está suja, e pode distinguir cia da criança, não hesite em parar a urina das fezes, a partir dos 18- o processo e reiniciá-lo em alguns Importantíssimo: a criança deve 24 meses. meses (1 a 3), mostrando sempre apoiar os pés no chão ou num para o pequeno que está tudo bem. banquinho para o adequado • O pequeno avisa que está com von- esvaziamento do intestino e bexiga. tade de fazer xixi ou coco a partir Os meninos, de preferência, devem dos 24 meses. aprender a fazer coco e xixi sentados • As crianças, normalmente, come- e, depois, passarem a fazer xixi em çam a pedir para usar o banheiro pé. Utilizar ferramentas que possam a partir de 30-36 meses. auxiliar no processo, como livros e • As crianças adquirem o padrão de vídeos lúdicos, é essencial. eliminação do adulto por volta de 48 meses. 7 • Coloque roupas que sejam fáceis O que você deve fazer: de serem retiradas pela criança. sanitário para que o pequeno en- • Quando sair de casa, sempre tenda o propósito da retirada de • Converse com todas as pessoas fraldas. que estarão envolvidas no proces- leve uma muda de roupas extra. so (mãe, pai, avós, babás etc) so- bre como manter uma constância • Incentive a criança a sentar de • Encoraje a criança a ir ao banhei- e harmonia no processo de “des- roupa no penico/ou redutor para ro quando ela demonstrar sinais fralde”. acostumá-la, principalmente em de que está fazendo xixi ou coco, momentos que a criança está como segurar a genital ou se con- • Converse com a escola e inicie o habituada a fazer coco (nor- torcer. processo em parceria. malmente, após as refeições). • Não puna, ou ameace a criança • Convide a criança a ir junto com- caso ela tenha perdas de xixi ou prar o penico/redutor de assento • Evite dar/usar termos pejo- adequado. rativos para o processo, as- coco. Sempre seja gentil e respei- sim como referir que “o chei- toso com ela. • Convide a criança a comprar e es- ro é ruim”, “fedido”, “eca” etc. colher a calcinha/cueca que irá • Utilize, durante o processo, fral- usar. • Encoraje a criança a sentar sem das-calças ou calcinha/cueca de fralda no penico/redutor depois treinamento reutilizáveis. • Coloque o penico ou redutor de que ela já estiver acostumada. assento em local de fácil acesso • Não dê descarga enquanto a crian- para a criança. • Coloque a fralda suja no peni- ça ainda estiver sentada no sani- co, ou jogue o coco da fralda no tário. 8 • Tente lembrar a criança de ir ao Quando iniciar a reti- banheiro quando acordar, e ao longo do dia também, principal- rada de fraldas no perí- mente se ela mostrar sinais. Evite odo noturno? excessos. O controle noturno da bexiga, ge- • Elogie sem exageros quando a ralmente, ocorre após o controle criança fizer xixi/coco no vaso/pe- diurno. Normalmente, a criança nico. Evite dar recompensas ma- está preparada para o processo de teriais. retirada da fralda noturna quando começa a acordar seca pratica- • A higienização deve ser sempre mente todos os dias da semana. da frente para trás nas meninas, e Esse período se inicia próximo aos ensine os pequenos a lavarem as quatro anos e se completa entre 5 mãos após fazerem xixi ou coco. a 7 anos de idade.
• Se a criança mostrar resistência
durante o processo, opte por con- versar com ela e adiar treinamen- to por 1 a 3 meses. Sempre deixe uma muda de roupa de cama e pijamas próximas a cama da criança durante o processo, facilitando a troca à noite. Nunca chame a atenção da criança ou a menospreze. Evite situações em que ela se sinta humilhada. 9 Dra. Mariana Vasconcelos
Graduada em Medicina Coordenadora do ambulatório de
(UFMG/2004) malformações congênitas dos rins Residência em Pediatria pelo Hos- e do trato urinário do Hospital da pital das Clínicas da UFMG em Clínicas - UFMG. 2005-2007. Dra. Mariana possui diversas pu- Residência em Nefrologia Pediátri- blicações científicas nacionais e ca (UFMG/2007-2008). internacionais da área de Nefrolo- gia Pediátrica e Pediatria. Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente (UFMG/2010). Doutorado Sanduíche na Erasmus Medical Center em Roterdam, Ho- landa. Doutora em Saúde da Crian- ça e do Adolescente (UFMG/2016).