Você está na página 1de 268

COMO CASAR UM

BARÃO

Amores indecentes – 5

MICHAELLY AMORIM

Copyright © Michaelly Amorim, 2019

Todos os direitos reservados. É proibido o armazenamento,


cópia e/ou reprodução de qualquer parte dessa obra ― física
ou eletrônica ―, sem a prévia autorização do autor.

Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com


nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido
mera coincidência.

Copydesk: Aisha Andris

Revisão: Barbara Pinheiro

Capa e diagramação: Michaelly Amorim

2018

1ª Edição

COMO CASAR UM BARÃO

Série — Amores Indecentes ― Livro 5

© Todos os direitos reservados a Michaelly Amorim

SINOPSE

PRÓLOGO

CAPITULO 1 ― FELIZ ANIVERSÁRIO


CAPITULO 2 ― IMPREVISTO

CAPÍTULO 3 ― REDENÇÃO

CAPITULO 4 ― LISTA

CAPITULO 5 ― PREPARAÇÕES

CAPITULO 6 ― O BAILE

CAPITULO 7 ― PEDIDOS

CAPÍTULO 8 ― RECUSAS

CAPÍTULO 9 ― FUGA

CAPÍTULO 10 ― EXPLICAÇÕES

CAPÍTULO 11 ― SEGREDOS

CAPÍTULO 12 ― CONVITE DE CASAMENTO

CAPÍTULO 13 ― CASAMENTO

CAPÍTULO 14 ― NÚPCIAS

CAPÍTULO 15 ― FERNANDA

CAPÍTULO 16 ― AMANTE

CAPITULO 17 ― REIS E PRINCESAS

CAPÍTULO 18 — SENTENÇAS

CAPÍTULO 19 ― EU AMO VOCÊ

EPÍLOGO

SINOPSE
Samantha Hemwer é uma simples dama de companhia, que
precisa fugir de um destino trágico nas mãos de um homem
sem honra. Durante sua fuga, uma tempestade a leva para
um baronato e, em meio à forte chuva, um choro infantil a
faz parar para socorrer uma criança perdida.

Sophia é a herdeira do Barão de Montress e, quando


Samantha a leva de volta para o pai, que, preocupado,
procurava a filha por todo lugar, enxerga ali uma chance de
recomeçar.

Servindo de babá para os Montress, Samantha percebe que


a pequena Sophia precisa desesperadamente de uma figura
materna, e incumbe a si mesma a missão de convencer o
viúvo Barão de Montress a se casar novamente e escolher
uma mulher adequada para ser a mãe de Sophia.

Entretanto, em meio à sua tentativa de servir de cupido, o


homem do qual fugia, reaparece, e ela precisará se proteger
dos monstros do passado, quer seja fugindo novamente ou
finalmente enfrentando-o.

PRÓLOGO

Inglaterra, outono 1820.

Samantha se escondeu na carroça, às pressas. Nem mesmo


tivera tempo de se despedir de sua amiga, mas não tinha
nenhuma outra escolha, se não partisse imediatamente, o
homem que a aterrorizava a alcançaria e ela não teria
nenhuma outra chance de manter a sua dignidade.

Ela deveria saber que acabaria naquele ponto, um homem


como aquele não estava acostumado a receber não e ela
tinha cometido o erro de lhe negar o que ele queria, apesar
de não ser o tipo de mulher com a qual ele gostava de se
relacionar, a negativa de Samantha o inflamou de desejos e
ela se tornou sua principal presa.

Samantha era corpulenta, voluptuosa e curvilínea. Bem


diferente das moças esguias que parecia chamar a atenção
do monstro que a perseguia, mas os gostos pessoais dele
não importavam agora, ele a queria, como nunca quis outra
mulher no mundo.

A jovem sabia que ele não a amava e, por mais que ele
dissesse que sim, sabia também que, assim que a tivesse, a
descartaria, como fez com todas as outras. O fascínio e a
paixão que ele afirmava sentir, não passavam de obsessão.

Se não fosse pela ajuda e proteção da amiga, ela já teria


caído nas garras dele, há muito tempo.

Sim, Agatha era mais que a mulher a quem servia de dama


de companhia, ela era sua melhor amiga desde que havia
nascido. Cresceram juntas no palácio, apoiando uma a outra,
e aquilo as tinha unido com um laço mais forte que o de
sangue.

Havia sido Agatha quem orquestrara aquela fuga, e era ela


quem a acobertava para que pudesse fugir aquela noite,
com a ajuda de alguns soldados que eram fiéis a ela.

A carroça partiu a toda velocidade, tendo-a escondida entre


os inúmeros sacos que carregava.
Ninguém a viu, além do dono da carroça, mas esse era leal à
princesa e não diria nada a ninguém.

As ordens do homem era levá-la até Rivenwood, onde


pegaria uma carruagem de aluguel e iria para a casa de
alguns parentes. Pelo menos, havia sido isso que dissera à
Agatha.

A verdade não era, nem de longe, tão animadora.

Quando contou à sua mãe o que estava acontecendo, a


mulher apenas lhe sorriu, almejando naquela situação uma
chance para ascender socialmente.

Nunca se esqueceria da conversa que teve com sua mãe.

― Mas isso é maravilhoso. O interesse dele por você nos dá


uma grande vantagem. Sei que casamento nunca
acontecerá, mas podemos lucrar com isso. Se ele quer que
você abra as pernas, faça isso. Você tem que mantê-lo
interessado em você, até que ele lhe dê um filho.

― Mamãe, eu não quero fazer isso.

― Não seja tola, deixe que ele faça o que quiser com você e
faça-o querer mais. Não lhe dei a vida para que perca
oportunidades como essa.

Sua família não a ajudaria. Seu pai diria que ela deveria
obedecer, calada, tudo que ele lhe ordenasse, afinal, todos
os soldados eram treinados para obedecer e o comandante
do exército real tinha que dar o exemplo. Se fosse por eles, a
entregariam embrulhada como um presente para o homem
do qual fugia.

A chuva começou a cair devagar e o vento frio lhe fez


estremecer, comprimindo-se em sua capa, na tentativa de
se manter aquecida. O sol já estava se pondo naquele
momento, mas aquela seria uma noite de lua cheia, o que
tornaria a noite mais clara, pelo menos, seria se as nuvens

densas não ameaçassem cobrir o luar.

A força e a velocidade com que a água caía do céu


aumentaram, assim como o vento que açoitava, sem
piedade, a carroça e deixava os animais inquietos.

Apesar do temporal, eles seguiram viagem, pois não


adiantaria permanecer parados na tempestade, precisavam
encontrar algum lugar para se abrigar e deixar os animais a
salvos e a estalagem mais próxima estava a quase quatro
milhas de distância.

O homem que guiava a carroça gritou junto com Samantha


quando os cavalos empinaram após um trovão aterrorizante
e partiram em um galope perigoso.

A carroça sacolejava vigorosamente, ameaçando virar a


qualquer momento. Samantha tentava se segurar, mas
estava difícil, alguns sacos a empurravam de um lado para
outro. Quando a roda do veículo encontrou um buraco
relativamente fundo antes de uma curva acentuada,
Samantha acabou soltando o banco da carroça e, sem ter
onde se segurar, foi jogada para fora do veículo, assim que a
carroça fez a curva.

O encontro de seu corpo com o chão lamacento não foi nada


agradável, seu quadril acabou por receber todo impacto da
queda, e a dor a fez gritar alto, mas o som se perdeu em
meio ao barulho do vento e da chuva.

Sozinha, suja, dolorida e encharcada, Samantha olhou ao


redor procurando um local onde pudesse se abrigar, estava
em um campo aberto e havia poucas árvores ali. A noite
estava escura por causa das nuvens que cobriam o céu, mas
ao forçar um pouco a visão, Samantha conseguiu ver
algumas luzes a algumas centenas de metros de distância.
Esperançosa, começou a andar naquela direção, com sorte
encontraria uma casa com lareiras quentes e comida.

Andou por quase uma hora, seu corpo já estava gelado, e


seus dentes batiam, as pernas estavam doloridas e
queimando por causa do atrito com a roupa molhada, e o
peso das roupas tornava ainda mais doloroso e difícil
caminhar.

A casa estava a apenas poucos metros e era essa a sua


motivação para continuar dando um passo dolorido atrás do
outro.

Estava quase lá.

O vento diminuiu, mas a chuva continuava forte, o barulho


das gotas de água batendo nas árvores e folhas já lhe era
familiar, um raio iluminou o céu e, logo em seguida, um
trovão a fez estremecer novamente, mesmo já tendo perdido
a conta de quantos trovões havia escutado naquela noite,
ainda se sobressaltava quando eles apareciam. Mas, sempre
após o trovão, seguiam-se alguns segundos de silêncio, e
nesse momento, ela escutou um som que não pertencia à
chuva ou aos trovões.

Parecia um choro. Baixinho e tímido.

Samantha pensou ter sido coisa da sua cabeça, mas o som


continuava baixinho, até que desapareceu. Ela decidiu que
não era tão criativa assim. Tinha alguém chorando ali perto e
parecia uma criança.

Decidiu procurar a origem do som, mas não ouviu mais


nenhum choro.
Um trovão a fez dar outro pulo e, então, ela pôde ouvir
novamente o gritinho seguido do choro.

Apressou-se para encontrar a criança que estava sozinha na


tempestade. O seu instinto materno a fez esquecer suas
próprias dores e o desejo de encontrar aquela criança
renovou momentaneamente suas forças.

Depois de cinco longos minutos encontrou uma menina


embaixo de uma árvore, agarrada a uma boneca e
completamente molhada e imóvel. A pequena tremia e já
estava ficando azul, de tanto frio.

Rapidamente Samantha a pegou no colo, a menina estava


quase desfalecida, mas parecia ainda respirar. Correu para a
casa com todas as forças que lhe restavam, e ao chegar a
uma distância onde poderia ser ouvida, começou a gritar por
ajuda, sem parar de correr para a casa.

A porta foi aberta, assim que ela deu a primeira batida, e um


mordomo preocupado, a encarava.

Ao ver a menina nos braços dela, rapidamente a puxou para


dentro.

— Ela está aqui. Encontramos — gritou acima do barulho.

Um homem desceu as escadas, a toda velocidade, e tomou a


garota dos braços de Samantha.

Seu olhar estava assustado e ele temia o pior. Sacudiu a


criança entre os braços, tentando acordá-

la.

— Sophia ! Acorde, filha, vamos. Acorde — ele pedia,


desesperado.
— Ela precisa se aquecer — Samantha avisou. — Está muito
fria.

— Tragam mantas secas — o homem gritou para qualquer


um dos criados que estivesse mais perto, enquanto
carregava a filha para perto da lareira.

Samantha o acompanhou, preocupada com a menina. E ao


ver que o homem não tirava as roupas molhadas da criança,
decidiu intervir:

— Me dê ela aqui, ela precisa tirar essa roupa molhada —


Samantha pediu e, apesar da desconfiança com que ele lhe
olhou, permitiu que a mulher pegasse sua filha.

Samantha a colocou sobre o tapete e começou a tirar o


vestido que a pequena usava. A manta chegou antes que
terminasse de tirar todas as peças. A menina precisaria de
mais do que a própria temperatura para se aquecer
novamente. A enrolou em apenas uma manta e se
aproximou da lareira. Friccionava a manta nos braços e
pernas da menina, para que ela pudesse se aquecer mais
rapidamente.

Lentamente a cor foi retornando ao rosto da criança e a


respiração se tornou mais forte. Ela abriu os olhinhos depois
de mais alguns minutos e, ao ver Samantha, sorriu.

— Mamãe? — sussurrou a menina, olhando para Samantha.

Antes que a moça pudesse falar algo, o homem puxou a


criança de seus braços.

— Minha filha, Graças a Deus! — o homem murmurou,


apertando a menina contra o peito, aliviado, por ter sua filha
a salvo. — Minha filhinha.
Samantha respirou, aliviada, por ter terminado tudo bem,
mas logo começou a sentir o peso da caminhada em seu
corpo, que tremia, descontrolado.

A mulher sentiu que alguém a observava e ergueu os olhos.


O homem a fitava intensamente e parecia preocupado.

— Meu Deus, senhorita, você não parece bem. Por favor,


deixe-me ajudá-la. É o mínimo que posso fazer por ter
salvado minha Sophia.

Samantha apagou antes mesmo de concordar com a ajuda


daquele desconhecido. Seu corpo tinha se exaurido além da
conta e uma escuridão reconfortante a tomou.

CAPITULO 1 ― FELIZ ANIVERSÁRIO

Baronato de Montress, primavera de 1822.

Samantha acordou assim que o raio de sol entrou por sua


janela, trazendo para o quarto escuro a claridade de um
novo dia. Levantou-se, sonolenta, mas logo um sorriso
atravessou seu rosto.

Afinal, era um dia especial naquela casa. E ela precisava


organizar tudo para que fosse perfeito.

Começou a se vestir para, então, ir ajudar a Sra. Fitzgerald a


pôr à mesa com o desjejum, aquela ajuda extra lhe
garantiria uma refeição quentinha, assim que a comida
estivesse posta e principalmente lhe garantiria a ajuda da
cozinheira naquele dia.

A Sra. Fitzgerald já tinha uma ajudante, mas a pobre Srta.


Gals tinha o equilíbrio de uma pata e, portanto, sempre
derrubava alguma bandeja quando tentava servir as mesas.
Por esse motivo, Samantha fazia essa tarefa no lugar da
moça.

Ao chegar à cozinha foi recebida pela cozinheira, que lhe


resmungou um bom dia, sem um pingo de entusiasmo, como
fazia todas as manhãs. Apesar de o mau humor matutino, a
Sra.

Fitzgerald era uma boa mulher e costumava ser gentil depois


do meio-dia, quando a irritação por ter acordado cedo
passava.

A Sra. Fitzgerald era uma mulher baixinha e roliça, mal


chegava ao ombro de Samantha, porém, conseguia ter a
paciência ainda menor que sua estatura, durante as manhãs.
Samantha, por outro lado, tinha uns dez centímetros a mais
de altura que a maioria das mulheres, e chegava a ser até
mais alta que muitos homens, fazendo com que muitos a
olhassem com repulsa. Isso sem falar do peso, que também
era maior do que a média. Apesar de que, por ser alta, seu
peso era mais bem distribuído.

Samantha, porém, era uma moça calma, de sorriso fácil e


gostava de apreciar as coisas simples. Apesar de estar há
apenas dois anos trabalhando para o Barão, era benquista
por todos que moravam em Greenmount Park.

Já na cozinha, a moça se apressou em pegar os pratos, que


estavam dispostos em travessas e prontos para serem
servidos à mesa, e começou a carregá-los um por um da
cozinha até a sala de refeições.
Estava colocando o último prato, que era a travessa de sopa
fumegante, quando viu de longe o barão descendo as
escadas e se direcionando para a mesa.

Às sete horas em ponto, o Barão de Montress descia para


tomar a refeição e gostava que a mesa estivesse posta e as
refeições ainda quentes e prontas para serem saboreadas.
Aquele era um hábito herdado do pai e que ele insistia em
manter.

Saudou-o educadamente:

— Bom dia, Lorde Montress.

— Bom dia, Srta. Hemwer — o barão respondeu polido e


sentou-se à mesa.

— Eu gostaria de sua permissão para levar Sophia para


passear hoje.

— Após as aulas? — o barão perguntou, não dando muita


atenção ao assunto.

— Não, senhor, não pretendia dar aulas a ela hoje. É o


aniversário dela. Pensei em comemorar.

— Samantha franziu o cenho ao ver a surpresa estampada


no rosto do barão.

— Maldição, eu sabia que estava esquecendo algo — o


homem ralhou consigo mesmo, espalmando a mão na mesa
e assustando Samantha. — Desculpe. Assustei você.

― Tudo bem.

― O que pretendem fazer hoje?


— Eu irei levá-la à confeitaria para comprar uma torta de
maçã, já que ela adora. E depois à loja de laços e fitas. Um
passeio pela cidade e pelo lago a deixará bem feliz e depois
a trarei para casa, para comemorarmos com um bolo e
alguns doces, o aniversário de cinco anos dela.

— Isso é bom. Pelo menos, ela irá se divertir.

— O senhor poderia ir conosco. Tornaria o dia dela ainda


mais especial. Faz tempo que ela não passa um tempo com
o senhor e está começando a achar que não se importa com
ela.

— Mas eu me importo com ela ― defendeu-se, sentindo-se


ofendido.

— Então, quer dizer que irá conosco hoje? — Samantha


perguntou, esperançosa.

Lorde Montress era um bom homem, um pouco ausente da


vida da filha, como era comum os pais serem, mas, ainda
assim, um bom pai. Ele sempre tinha um sorriso para Sophia
e palavras de carinho quando se encontravam para as
refeições.

Entretanto, era só naquele parco momento que Sophia tinha


contato com o barão, nos momentos em que sentava à mesa
com ele. Tanto é que as refeições eram o momento favorito
da criança.

— Eu tenho que resolver alguns negócios durante o período


da manhã, mas posso acompanhá-

las no período da tarde.

— Será perfeito, então — Samantha se animou. — Já que o


senhor vai nos acompanhar, deixaremos para passear
apenas no período da tarde. Durante a manhã ficaremos na
propriedade.

— Tudo bem, estarei livre a partir das duas, nos


encontraremos por esse horário, no lago.

— Sim, senhor — Samantha concordou, feliz por saber que o


dia de Sophia seria mais especial com a presença do pai.

O sorriso feliz que Samantha deu ao saber que o barão


estaria com elas, fez duas covinhas aparecerem em seu
rosto e aquilo chamou a atenção dele. Como nunca tinha
notado aquele detalhe?

Após aquela breve conversa, Samantha voltou à cozinha.


Precisava combinar com a cozinheira o cardápio especial
para a pequena Sophia, dali iria para os estábulos para
lembrar ao cocheiro que deixasse o cabriolé preparado para
a visita à cidade. Queria que aquele dia fosse inesquecível
para sua Sophia.

Desde que a salvara na noite da tempestade, Sophia havia


criado um vínculo inexplicável com Samantha e a criança
havia ganhado um lugar especial no coração da mulher e há
quase dois anos cuidava da criança amorosa e alegre que
era Sophia.

Samantha conversou com a Sra. Fitzgerald, que concordou


em fazer um bolo especial para comemorar aquela data tão
importante e, de presente, faria uma fornada dos biscoitos
preferidos de Sophia.

Após tratar com a cozinheira, Samantha seguiu para o


estábulo. O Sr. Fitzgerald, marido da cozinheira, era o
responsável pelos cavalos e a recebeu com um sorriso no
rosto. Diferente da esposa, o homem sempre estava com um
sorriso gentil no rosto envelhecido.
— Bom dia, mocinha — o homem a saudou.

— Bom dia, Sr. Fitzgerald — Samantha devolveu a saudação,


com um sorriso. — Como o senhor tem passado?

— Tirando as coisas ruins e as mais ou menos, estou ótimo


— repetiu a resposta que sempre dava quando lhe faziam
aquela pergunta, o que fez Samantha rir e balançar a
cabeça. — Eu estou bem, mocinha, graças ao bom Deus
continuo com saúde e disposição para trabalhar.

— Fico feliz em ouvir isso. — Samantha abriu um sorriso


carinhoso para o velho homem.

— Mas, me diga, em que posso ser útil?

— Precisarei que deixe o cabriolé pronto hoje à tarde, após o


almoço irei sair com a Senhorita Montress, hoje é o
aniversário dela e o barão já permitiu que eu a leve para
passear.

— Pode deixar, o cabriolé estará pronto quando vocês forem


sair.

— Fico muito agradecida.

Com um sorriso, a mulher saiu do estábulo e seguiu de volta


para casa, seu próximo destino era o quarto de Sophia.

Estava na hora de acordá-la.


Quando finalmente chegou a hora de partirem para a cidade,
Sophia estava extremamente ansiosa para saber o que iriam
fazer e os olhos brilhavam de felicidade e expectativa.

Samantha acomodou a menina no cabriolé e sentou-se ao


lado dela, passando um dos braços ao redor da criança para
segurá-la de encontro a seu próprio corpo. Sophia, por sua
vez, recostou a cabeça em Samantha.

O cocheiro se encarregou de pôr o veículo em movimento e


logo estavam a caminho da cidade.

— Eu poderei pedir uma torta de maçã? — Sophia perguntou,


ansiosa, por Samantha ter lhe revelado que iriam passear
para comemorar o aniversário dela.

— Claro que sim, meu bem, pode pedir o que quiser.

— Podemos visitar o parque do lago dos patos?

— Com certeza iremos. — Samantha sorriu ao ver os olhos


de Sophia brilharem de felicidade.

Sophia adorava dar migalhas às aves e não poderiam ir à


cidade e não fazer uma parada em um dos locais preferidos
da aniversariante.

— Oba! — comemorou. — O senhor Alfred deve estar


morrendo de fome. Será que ele ainda vai se lembrar de
mim?

O senhor Alfred era um pato velho e rabugento que vivia


grasnando inconformado com as migalhas que lhe eram
jogadas. Sophia o achara divertido e dissera que ele parecia
o mordomo da casa deles. Desde então, chamava o pato de
Alfred.

— Tenho certeza que sim.


— Podemos passar também na padaria? Eu vou precisar
comprar um pão desse tamanho —

Sophia abriu os seus bracinhos para indicar o quanto


compraria —, para dar para o Sr. Alfred.

— Se ele comer esse tanto de pão, vai explodir — Samantha


avisou, divertida.

— É verdade. Então é melhor eu levar um pedacinho bem


miudinho para ele não explodir.

— É mais sensato que dê um punhado de pão — Samantha


explicou. — Quando chegarmos ao lago, eu lhe ajudarei a
não explodir o senhor Alfred.

— Tudo bem, nós duas daremos comida ao senhor Alfred.

Seguiram por mais vinte minutos conversando


animadamente sobre o pato, depois passaram a conversar
sobre a Sra. Clemns, a boneca de pano preferida de Sophia.

— Podemos comprar uma fita para o cabelo da Sra. Clemns


também? Ela está com o cabelo

todo bagunçado.

— O que você quiser, pequena. Hoje é o seu aniversário.

— Oba. Então, eu vou querer um montão de coisas. Adoro o


meu aniversário. É o melhor dia de todos.

Samantha sorriu para a criança. Era tão simples fazê-la feliz,


bastava tirar um momento para fazerem algo e aquilo era
suficiente para garantir uma tarde repleta de alegria.

O cabriolé parou em frente à loja de utilidades da Sra.


Thomas, esposa do alfaiate da cidade e costureira, não
muito habilidosa ― infelizmente ―, mas muito prestativa. A
mulher esguia as atendeu com um sorriso amigável no rosto.

― Em que posso ajudá-las?

― Gostaríamos de ver as fitas.

― É claro, por aqui. Esta semana chegaram novas cores de


tons mais neutros, porém, ainda temos muitas opções
coloridas. Chegaram lenços também. Ah! E agora também
vendemos chapéus.

A mulher as guiou por entre as prateleiras amontoadas de


laços, chapéus, tecidos, lenços e vários aviamentos e
materiais para pintura em tela, até achegarem à seção de
fitas.

Havia vários tons, como a dona do estabelecimento afirmou;


os formatos e tamanhos também eram diversificados,
garantindo assim satisfação para todos os gostos.

― Qual deles você vai querer levar, Soph? ― Samantha


perguntou.

― Eu gosto do verde. É minha cor preferida ― a criança


respondeu, entusiasmada, escolhendo entre as fitas tons de
verde. ― Posso levar duas, Sam?

― Como é seu aniversário, pode escolher três fitas. O que


acha? ― Samantha a surpreendeu.

Ela sempre levava apenas uma fita quando iam até aquela
loja. Mesmo sabendo que poderia comprar bem mais que
uma, mas Samantha não queria que Sophia crescesse
mimada e, sim, que soubesse dar valor às pequenas coisas,
como ela mesma fora educada por sua própria babá.

Sophia se concentrou para escolher quais fitas levaria.


― Vou querer essas três! ― A menina mostrou, orgulhosa, as
fitas que havia selecionado.

― São lindas, querida ― Samantha aprovou, orgulhosa.

Após pagar pelas fitas com o seu próprio dinheiro, Samantha


seguiu com Sophia para a loja de doces.

A criança estava animada, segurando sua fitas, balançando-


as ao vento e exibindo-as para qualquer um que passasse na
rua naquele momento. Samantha nunca a tinha visto tão
feliz. Aquele era o primeiro aniversário que ela levava Sophia
para comemorar, tornando o dia realmente especial. No ano
anterior, a menina tinha adoecido e não tinham conseguido
comemorar como gostariam.

Ao chegarem ao destino, Sophia rapidamente pulou do


cabriolé, animada ao ver todos aqueles doces diante de si.

— Sammy, vamos logo. Vem — a menina chamou, já


entrando na loja, sem esperar pela mais velha.

— Sophia, espere por mim — comandou, antes que a


pequena desse mais um passo.

A menina voltou para onde Samantha estava e segurou a


sua mão, para logo em seguida puxá-la para a loja.

— Eu quero tortinha de maçã ― Sophia pediu, assim que


ficou em frente à vitrine onde os doces eram exibidos. Seus
olhos brilhavam ao observar os doces. ― Eu adoro torta de
maçã.

Samantha então fez o pedido à moça que as atendeu,


seguiram até uma mesa para se

acomodarem e ficarem mais à vontade. Samantha segurou


as fitas de Sophia para que ela não as sujasse e a menina
logo pôs-se a comer. Degustava sua torta com voracidade,
lambuzando-se toda com o recheio açucarado do doce.

― O que mais você vai querer, Soph?

― Pão de mel... e mais tortinha ― a menina respondeu, após


engolir o pedaço de torta que tinha na boca.

Samantha foi até o balcão e fez o pedido, mas em vez de dar


todos de uma vez à menina, guardou alguns em uma cesta,
para comerem quando estivessem no lago.

Sophia adorava doce. Se Samantha permitisse, ela passaria


mal de tanto comer açúcar, mas não negaria aquela
pequena fartura e exagero uma vez no ano, afinal, aquela
era uma data importante para a menina, e Samantha queria
que aquele fosse o aniversário perfeito.

Um terço de hora se passou antes que as duas saíssem da


loja. Seguiram para a padaria, onde compraram um pão
adormecido para dar ao Sr. Alfred e em seguida foram de
cabriolé ao lago.

Levaram dez minutos para chegarem ao destino. O lago era


grande, bonito e repleto de árvores ao redor, o que o tornava
um bom lugar para passeios, então era sempre comum
encontrar pessoas passeando por ali.

Naquela hora do dia o lago se enchia de patos, que


aproveitavam a água fresca para abrandarem o calor
primaveril daquela tarde.

Sophia desceu da carruagem e correu em direção ao lago,


fazendo alguns pombos, que estavam no caminho, voarem
quando ela passou.
A menina gargalhava com o voo assustado dos pássaros, e
se distraiu correndo atrás deles, para fazê-los alçar voo.

Samantha pegou uma cesta que havia separado ao sair de


casa e procurou uma árvore frondosa que fizesse uma boa
sombra para ela se sentar e ficar observando de longe a
criança alimentar os patos.

Ao encontrar a árvore perfeita, Samantha esticou um pano


que tinha trazido e sentou-se em cima, evitando, assim,
sujar seu vestido. Em seguida, pegou a cesta e tirou o pão
que usariam para alimentar a ave.

― Já posso dar comidinha a ele, Sam? ― A pequena correu


de volta para a babá. ― O Sr.

Alfred está com fome. Ele está ali. ― Apontou para a ave que
estava na borda do lago grasnando, aborrecido, como
sempre. ― Ele está faminto, o coitadinho. Está até fininho,
de tanta fome.

Samantha riu ao ver o drama feito pelo pato e por Sophia.

― Pode alimentá-lo, querida. ― Samantha entregou um


pedaço do pão para a pequena. ―

Quando terminar esse pedaço, lhe darei mais. Mas tome


cuidado, não chegue muito perto da água e nem jogue o pão
inteiro na água, como da última vez.

Sophia pegou o pedaço que Samantha lhe oferecia e voltou


correndo para onde o Sr. Alfred estava, e alimentou o pato,
jogando pedacinhos de pão na água, como Samantha
explicou.

A mulher ficou ali, sentada, olhando de longe a criança


conversando animada com a ave, que comia esfomeada os
pedaços que boiavam na água. Alguns minutos depois, a
pequena retornou para onde Samantha estava para pedir
mais pão.

― O Sr. Alfred já comeu tudinho e ainda está com fome. Ele


vai virar um pato enorme, se continuar comendo desse jeito
― a menina comentou, enquanto esperava Samantha lhe
entregar mais pão. ― Papai sempre briga quando eu como
muito doce no jantar. Eu falei ao Sr. Alfred para ele não
comer demais ou vai ficar com dor na barriguinha.

Ouvir a criança falar do pai, fez Samantha olhar ao redor.


Esperando ver ao longe o barão. Ele

havia prometido aparecer naquele dia e seria uma falta sem


perdão se não conseguisse encontrar tempo para passar
com sua filha.

Sophia voltou para os patos, que agora se amontoavam


junto ao Sr. Alfred, em busca de migalhas, completamente
alheia à preocupação que estava estampada no olhar de
Samantha.

Passaram a tarde toda no parque, Sophia comeu o restante


dos doces que compraram e deram uma volta pelo lago. Em
nenhum momento Samantha perdeu a esperança que,
talvez, que o barão aparecesse, mas ao entrar na
carruagem, voltando para casa, Samantha percebeu que
toda aquela esperança tinha sido vã.

Samantha estava decepcionada. A única coisa que a


consolava era que não tinha contado nada a Sophia
esperando fazer-lhe uma surpresa, portanto, a ausência do
pai nem sequer foi notada pela menina, que acreditava que
aquele era um momento só dela e de sua babá.
Após voltarem ao baronato, a refeição estava esperando
para ser servida, com todos os pratos preferidos da
garotinha, e todos os criados da mansão estavam
enfileirados para parabenizarem a criança por mais um ano
de vida.

― Onde está o meu papai? ― Sophia perguntou, depois de


receber todos os cumprimentos e não ter visto o barão.

― O Lorde Montress teve um imprevisto, mas ele deve


chegar antes da senhorita ir se recolher.

Ele pediu para a senhorita se divertir bastante ― o


mordomo, o mesmo Sr. Alfred que deu o nome ao pato,
explicou.

Por um momento, Sophia ficou triste. Amava o pai com todas


as forças e a ausência dele lhe doeu o coração. Olhou para
Samantha, que a pegou no colo, com carinho.

― Eu quero o meu papai ― murmurou, triste.

― Eu sei, meu amor. Seu papai estaria aqui, se pudesse, mas


ele me contou que vai trazer um presente mais lindo do
mundo para você, para compensar o seu aniversário.

― Ele não vai trazer nenhum presente, meu papai não gosta
mais de mim. ― A menina tinha lágrimas nos olhos.

― Não diga isso, minha princesa. Todos nós te amamos, o


seu papai te ama mais que todo mundo. Ele só não pôde
estar aqui agora, com certeza teve um imprevisto que o
impediu de chegar a tempo, mas logo ele vai chegar. ―
Samantha acariciou os cabelos da menina, enquanto tentava
consolá-la. ― Enquanto o seu papai não chega, o que acha
de jantarmos? A Sra. Fitzgerald fez tudo que você ama.
A menina fungou, mas sentou-se à mesa ao lado de
Samantha. Ao ver que a tristeza persistia e que a menina
mal tocava na sua refeição, Samantha começou a fazer
brincadeiras com a comida, algo que era totalmente proibido
e violava, no mínimo, uma dúzia de regras de etiqueta, mas
que se fez necessário naquele momento, tornando o jantar
uma verdadeira bagunça.

Logo Sophia nem lembrava mais que estava triste, enquanto


imitava o Sr. Alfred, o pato, tentando abocanhar um pedação
de pão que boiava em sua sopa já fria, após o verdadeiro Sr.

Alfred ter tentado realizar, sem sucesso, tal façanha — é


necessário ressaltar que o Sr. Alfred, o mordomo, não o pato,
precisou ser coagido pela esposa a realizar tal façanha.

Quando finalmente acabou o jantar, Samantha pediu que


trouxessem a última surpresa da noite: a cozinheira havia
preparado um bolo coberto com glacê, que encantou Sophia
de tal forma, que ela não conseguia deixar de admirá-lo.
Para ela, era o bolo mais lindo e gigante de todos.

― De onde eu venho, costumamos colocar uma vela em


cima do bolo e você tem que fazer um pedido e apagar a
vela, para o seu pedido se realizar. Minha avó dizia que a
fumaça que sobe da vela quando é apagada, leva o nosso
pedido para o anjo que realiza os nossos desejos ― a Srta.

Gals comentou, animada, e Sophia rapidamente quis realizar


aquele feito.

Uma vela foi posta no bolo e a Srta. Gals explicou como


deveria ser feito. Sophia prestava atenção a cada palavra e
quando a mulher terminou de lhe falar, a menina fechou os
olhos e fez o seu pedido, em silêncio, em seguida assoprou a
vela que se apagou, soltando um pequeno filete de fumaça
que subiu aos céus levando o pedido da aniversariante para
o anjo dos desejos.

CAPITULO 2 ― IMPREVISTO

Tudo o que Bernardo queria era ter estado em casa, na hora


certa, para poder passar um tempo com a filha e comemorar
o aniversário dela. E tudo o que fez foi correr para cima e
para baixo, atrás de ovelhas estúpidas e barulhentas.

Infelizmente, ele não teve outra escolha a não ser ajudar os


homens a recolherem as ovelhas que haviam fugido, e havia
uma centena delas para encontrar e levar de volta para o
cercado, antes que anoitecesse.

Tudo aconteceu rapidamente, sem dar-lhe tempo para evitar


a tragédia.

Tinha recebido o convite de um de seus arrendatários, o Sr.


Rocket, para ver de perto os primeiros testes de uma
máquina que garantiria uma maior rapidez na colheita. Era
apenas um protótipo que estava sendo trabalhado por um
escocês, primo do Sr. Rocket, que estava de passagem
visitando a tia enferma.

Patrick Bell era um inventor. E um dos bons. Bernardo


concluiu, assim que viu o protótipo e o esboço feito pelo
homem.
— Ainda estou aperfeiçoando e pode levar anos até que
consiga colocá-lo para funcionar com eficiência. Mas a ideia
é basicamente essa — o Sr. Bell concluiu sua apresentação.
— Fiz um pequeno protótipo a partir desse esboço.

Até aquele momento tudo estava indo conforme os planos.


Seguiram para o campo cuidado por Rocket, onde a
geringonça os aguardava.

Ela parecia um carro de mão. Uma única roda larga,


movimentava o equipamento. Primeiro Patrick a atrelou a
dois cavalos, depois pegou as rédeas dos animais e os fez
andar entre a cevada, puxando o equipamento.

Inicialmente tudo correu bem. Os cavalos andaram sem


problema pelo campo, mas a oscilação sobre uma única roda
fez o equipamento se inclinar para um dos lados, cortando a
plantação de forma desigual e acabou virando por completo
e se prendendo à terra.

Bernardo deveria ter ficado satisfeito com aquela


demonstração, em vez de tentar olhar mais de perto. Se ele
tivesse voltado para casa naquele instante, não teria perdido
o aniversário da filha, mas estava empolgado demais e ainda
havia muito tempo livre.

— Talvez duas rodas deem o equilíbrio necessário — sugeriu,


ao se aproximar do protótipo.

— Duas rodas podem ser realmente mais eficazes. Pode


impedir que ele tombe — Patrick murmurou, enquanto fazia
anotações. — Me incomoda que os cavalos pisoteiem a
plantação ao passar por ela. Pode causar certo prejuízo.

— E se inverter? Em vez dos animais puxarem a.... Como


pretende chamá-la?
— Ceifeira.

— Então, e se os cavalos a empurrarem, em vez de puxar? —


Bernardo sugeriu, em tom de pergunta.

— Pode dar certo... — o sr. Bell pensou em voz alta.

— Vamos testar na área já ceifada. — Montress animou-se,


indo em direção aos cavalos e desatrelando o protótipo para
inverter a posição.

Passaram pouco mais de duas horas ajustando o protótipo


para inverter os braços que eram atrelados aos cavalos.

Após a mudança, seguiram para o campo e o colocaram


preso aos animais, dessa vez na frente deles.

Bell montou em um cavalo e Montress subiu no outro. E,


juntos, colocaram os cavalos para trabalhar.

Continuaram testando por alguns minutos e debatendo


melhorias. Montress estava animado e já via com Bell a
possibilidade de um corte lateral para que as plantas
cortadas não fossem jogadas em cima dos cavalos.

Estava conversando com o outro homem, quando uma


serpente apareceu na frente dos cavalos, assustando-os. E,
depois disso, apenas tragédia se seguiu.

Os cavalos assustados empinaram e cada um tentou ir em


uma direção, o que fez o equipamento se quebrar, deixando
a maior parte com o cavalo montado por Bernardo.

Bernardo tentou controlar o animal, mas o cavalo estava


aterrorizado, não obedecendo aos comandos que o barão
fazia nas rédeas. O animal continuou correndo para o mais
longe possível da serpente, e acabou indo em direção do
cercado das ovelhas.
O cavalo desviou do cercado e, por um instante, tudo parecia
que terminaria bem, até que o protótipo que ainda estava
preso ao animal se chocou com a cerca de madeira, que se
quebrou com o impacto. O barulho assustou as ovelhas, que
fugiram pelo buraco na cerca.

O estrago estava feito.

Alguns criados da casa e arrendatários vizinhos ajudaram a


encontrar as ovelhas, porém, mesmo com toda ajuda extra,
só colocaram a última ovelha de volta no cercado quando o
sol já estava se pondo.

Bernardo havia perdido o dia inteiro ajudando a recuperar as


malditas ovelhas. E, agora, a caminho de casa, se sentia
culpado por não ter estado com sua filha.

Ao entrar na mansão, encontrou os criados limpando a sala


de jantar.

— Onde está minha filha? — ele perguntou a uma das


criadas.

— Está lá em cima, em seu quarto. A senhorita Hemwer está


colocando-a para dormir.

— Mas está cedo. — O barão estranhou o horário.


Normalmente sua filha dormia perto das nove horas da
noite.

— A senhorita Montress estava cansada e a babá achou


melhor colocá-la para dormir mais cedo.

— Tudo bem, irei vê-la.

Montress subiu a escadaria e abriu com cuidado a porta do


quarto.
Sophia já dormia profundamente, então o barão decidiu não
acordar a filha, falaria com ela pela manhã.

Samantha suspirou e se inclinou na cama para desejar boa


noite para a criança e, ao passar por Bernardo, parou e
disse:

— Gostaria de conversar com o senhor a sós, se não se


importar.

— Claro.

Bernardo seguiu com a mulher para a biblioteca e fechou a


porta para que tivessem privacidade.

— Pensei que o senhor estaria presente no dia do aniversário


de sua filha.

— Não me venha com sermões, senhorita Hemwer, eu tive


meus motivos.

— Ao inferno os motivos, ela é sua filha! — exaltou-se. — O


senhor não tem noção da tristeza que causou naquela pobre
criança, ao desprezá-la no dia de seu aniversário.

— Acha que eu queria ter faltado com minha palavra? —


perguntou um Bernardo incrédulo e ofendido. — Acha
mesmo que não me importo com minha filha? Ela é tudo o
que tenho e é a pessoa que mais amo no mundo, não
deixarei que me acuse do contrário. Então, cuidado com
suas

próximas palavras, senhorita Hemwer.

Samantha respirou fundo. Às vezes se esquecia de que não


estava mais em sua função anterior.
Então, após recuperar o controle sobre seus sentimentos,
voltou a falar.

— Não sou eu quem está duvidando do seu amor paterno, é


sua própria filha que acredita que o senhor não a ama mais.
Ela chorou bastante hoje, quando percebeu que o senhor
não estava em casa quando chegamos.

Aquilo pegou Bernardo desprevenido.

— Eu sinto muito, realmente tentei vir antes, mas houve um


imprevisto e não consegui chegar a tempo.

— Tem mais uma coisa... — Samantha começou, se sentindo


um pouco desconfortável em falar aquilo.

— O quê?

— Sophia precisa de uma mãe.

— Para quê? Ela tem você.

— Eu sou apenas a babá, não posso assumir o papel de mãe,


quando isso é apenas um trabalho.

Ela precisa de uma figura materna para se inspirar. Sophia


está crescendo e eu até posso ensinar como ela deve se
comportar, mas crianças não nos ouvem, elas nos imitam e
não creio que o senhor queira que sua filha imite uma babá.

— Você sempre se comportou de forma impecável, como


uma dama de verdade, não tenho nada contra ela lhe usar
de referência.

Samantha respirou fundo. Convencê-lo seria mais


complicado do que pensava.
— Sua filha sente falta de ter uma mãe, ela, às vezes, me
chama de mamãe e eu tenho que lembrá-la que não o sou.
Mas isso não está fazendo bem a ela. Talvez o senhor
devesse pensar na possibilidade de encontrar uma boa
mulher para tomar o lugar da antiga baronesa.

— Está dizendo que devo me casar novamente?

— Acredito que esse ainda é o modo convencional de dar


uma mãe para sua filha.

— Eu não quero uma esposa.

— Sei que não. Mas pense a respeito, pense na sua filha. Se


realmente ama Sophia, verá que isso é o melhor para ela.

Após aquelas palavras, Samantha se retirou, deixando o


barão sozinho e um pouco irritado.

Bernardo sabia que, no fundo, a senhorita Hemwer estava


certa, mas não queria admitir isso para si mesmo e, muito
menos, para ela.

Tinha-a contratado como tutora e babá da pequena Sophia,


e aquela havia sido a decisão mais acertada que tomou. Sua
filha havia se identificado imediatamente com a Srta.
Hemwer e dificilmente ele via a filha longe da mulher.

Pensar na filha o fez subir novamente as escadas. Sophia era


a pessoa mais importante de sua vida e, mesmo que não
fosse fácil criá-la sozinho, ele fazia o melhor que podia.

Não estava preparado para ser pai quando Sophia veio ao


mundo, muito menos, estava pronto para carregar sozinho
essa responsabilidade. Não teve um bom exemplo em casa,
e não tinha nenhuma referência de como um bom pai
deveria ser. Bernardo tentava ser um pai diferente daquele
que teve e fazia o que acreditava ser o melhor para sua
filha.

Não lhe deixava faltar nada, sempre que ela pedia algo, ele
logo o fazia, permitia que ela comesse à mesa com ele, e
sempre procurava conversar com ela durante as refeições.

Estava fazendo muito mais do que o pai fez para ele na sua
infância.

Se recordava da indiferença com a qual o barão tratava ele e


sua irmã, era como se eles nem

mesmo existissem para o pai. E, por muito tempo, a


sensação foi essa, até que certa noite o antigo barão notou
que tinha um filho.

— Já resolvi todos os trâmites de sua ida a Eton, Bernardo.


Você vai estudar lá e quando voltar, se casará com a
Senhorita Geneviève Delaware, filha do Barão de Kenston.

O antigo barão tinha o hábito de só enxergar aquilo que


podia ser vantajoso para si mesmo.

Alguns anos depois, quando a irmã de Bernardo tivesse


idade para debutar, se o pai deles ainda estivesse vivo,
também a notaria. Mas o homem morreu antes de vê-la ser
apresentada à sociedade.

Bernardo terminou de subir as escadas e entrou novamente


no quarto da filha, que estava iluminado por apenas duas
velas, uma no castiçal na parede perto da porta e a outra no
criado-mudo, ao lado da cama.

Sophia dormia serena, parecia um anjo com os cabelos


cacheados e as bochechas rosadas. O
barão sorriu com aquela imagem tranquilizadora.
Lentamente, para não acordar a filha, levou a mão aos
cabelos da criança e acariciou com suavidade os fios claros
que, provavelmente, escureceriam com o passar dos anos,
como acontecera ao seu próprio cabelo.

Ficar observando sua filha dormir daquela forma transmitia a


ele uma paz profunda, quase utópica e ele sentia o coração
bater forte ao observar aquele pequeno ser humano capaz
de deixá-

lo, um homem adulto, de joelhos.

Sophia era seu mundo e, mesmo que muitas vezes sua


incapacidade de externar aquilo fizesse com que parecesse
insensível, ele seria capaz de dar a vida por sua filha.
Morreria e mataria por ela.

Desde a primeira vez que a teve nos braços, soube que


estava perdido. Ela seria sua força e sua fraqueza e aquilo o
assustou pela intensidade. Sempre acreditou que os filhos
eram apenas consequência de um casamento produtivo e
que nada mais eram do que a perpetuação da linhagem.

Um produto que se colocava no mundo para manter a


riqueza e os bens no nome da família.

Havia sido condicionado a ver dessa forma e não conseguia


enxergar além do que lhe haviam ensinado, até que Sophia
foi posta em seus braços.

Pequena. Barulhenta. Frágil.

Sentiu-se aquecer por inteiro ao entender que aquela era


uma parte dele, a melhor parte.
Naquele dia, jurou protegê-la e amá-la, sem precisar dizer
uma palavra. Seu coração havia feito essa promessa em
silêncio.

Ficar perto de sua filha despertava nele o homem emotivo


que ele tanto escondia. Quase ninguém tinha visto aquele
lado do barão. A última vez que ele mostrou algum
sentimento, foi quando Sophia sumiu, dois anos atrás.

A antiga babá tinha ficado responsável por ela e a tinha


colocado para dormir, mas algumas horas depois, quando
Bernardo foi ao quarto da filha para vê-la dormir e desejar
boa noite, ela havia sumido. Ninguém tinha visto a criança e
o caos se instalara. Ele nunca esteve tão aflito.

Estava chovendo forte e ele temia que algo tivesse


acontecido a sua filha.

Ordenou a todos os criados que procurassem pela casa


inteira e mandou outros para verem se a encontravam do
lado de fora.

Finalmente, quando Sophia apareceu, ele sentiu o coração


parar ao vê-la desfalecida nos braços de uma mulher
desconhecida, e, desesperado, tentou acordá-la. Apenas
quando Sophia acordou, graças a Samantha, foi que ele
pode finalmente respirar, aliviado.

Nunca mais queria sentir aquela sensação.

Depois do incidente, havia perguntado à Sophia por que ela


havia saído, a garotinha respondeu

que havia ido buscar a sua boneca, Gertrude, que havia


ficado embaixo da árvore.
Como sua filha conseguiu sair sem que nenhum dos
empregados da casa a visse, era algo que Bernardo não
sabia explicar, mas tinha dispensado a babá naquela mesma
noite, uma vez que uma das funções da moça era tomar
conta da filha dele e ela não tinha feito o seu trabalho
corretamente.

— Papai... — A voz sonolenta de Sophia o fez voltar à


realidade.

A garotinha tinha acordado, mas quase não mantinha os


olhos abertos.

— Papai está aqui, minha princesa.

― Hoje foi meu aniversário ― informou a pequena, com a


voz embargada de sono.

― Você me perdoa por ter perdido o seu aniversário? ―


Montress se desculpou por não ter estado presente.

— Está perdoadinho. ― Sophia colocou uma mão no rosto do


pai, acariciando a barba espessa. ―Eu amo você, papai.

— Eu também te amo, minha pequena. Agora, volte a


dormir, amanhã você vai com o papai comemorar teu
aniversário.

— Mas meu aniversário é hoje.

— Eu sei, mas como eu não pude estar aqui,


comemoraremos amanhã, de novo, somente nós dois.

Sophia sorriu, feliz, em saber que o pai a amava, e logo o


sono a tomou novamente.

Bernardo seguiu para seus aposentos, e lembrou-se do que


Samantha havia dito sobre uma mãe para Sophia. Talvez a
babá tivesse razão e ele devesse se casar novamente, não
apenas para dar uma nova mãe à Sophia, mas também para
gerar um herdeiro, afinal, sua filha não poderia herdar o seu
título.

Naquela noite, Bernardo sonhou com uma mulher, mas


esqueceria o sonho pela manhã, quando acordasse, e
apenas se lembraria do vestido verde que a moça usava,
enquanto brincava, feliz, com a filha dele.

CAPÍTULO 3 ― REDENÇÃO

O dia amanheceu claro e radiante. Perfeito para ser passado


ao ar livre, em contato com a natureza.

Como sempre, Samantha se espreguiçou, tentando afastar o


sono e criar coragem para levantar.

Demorou bons cinco minutos para sair da cama, mas quando


saiu, rapidamente se arrumou e desceu para ajudar na
cozinha.

Após tudo estar pronto, subiu para acordar Sophia,


entretanto, deparou-se com uma cena um tanto incomum
para aquele horário.

O barão estava no quarto, acordando sua filha,


carinhosamente.
― Bom, dia minha princesa ― Bernardo dizia ao acordar a
filha. ― Pronta para o teu dia especial?

Sophia normalmente demorava para despertar e sempre


queria dormir um pouco mais, entretanto, naquele momento,
a menina se sentou na cama, animada com os planos que o
pai fazia.

― Sim. Estou pronta ― a criança concordou, ficando de pé


sobre a cama, mostrando que já estava acordada e ansiosa
pelo que o pai oferecia.

― Eu acho que é melhor chamar alguém para colocar roupas


mais adequadas ― Bernardo ponderou ao ver as vestes de
dormir usadas pela filha.

― Talvez eu possa cuidar disso ― Samantha se adiantou,


assustando ao barão, que não esperava que tivesse mais
alguém ali.

― Céus, você me assustou.

― O senhor deixou a porta aberta ― Samantha se justificou,


entrando no quarto. ― E, normalmente, a essa hora eu
venho acordá-la para o café da manhã.

― Tudo bem. Eu esperarei lá embaixo, enquanto a veste ―


Bernardo informou e saiu do quarto.

Samantha se apressou em vestir a menina, que estava


eufórica, porque passaria o dia com o pai.

― Meu papai me disse que vamos comemorar meu


aniversário hoje, de novo ― a menina contou, enquanto
Samantha passava o vestido por sua cabeça.

― Que bom, pequena. Espero que se divirta muito. ―


Samantha sorriu ao saber que o barão passaria mais tempo
com a filha. Sentia que o barão era um bom homem, um
pouco distante às vezes, mas não fazia por mal. Uma boa
esposa o ajudaria a ser um pai melhor e o auxiliaria a cuidar
do baronato. Isso, se ele aceitasse se casar e escolhesse a
mulher certa.

Pouco mais de meia hora depois, Sophia estava pronta para


o café da manhã. Usava um vestido azul, meias brancas e
um sapatinho também branco. Seu cabelo estava dividido
em duas tranças elaboradas com lacinhos azuis prendendo
as pontas.

Desceram para a sala de refeições e Sophia sentou,


animada, à mesa, chamando a atenção do pai para si.

— Já estou pronta, papai — avisou

— Quem é essa mocinha encantadora que se encontra em


minha mesa? Parece um anjo, de tão linda — o barão
perguntou, fazendo Sophia rir.

— Sou só eu, papai.

— Mas parece um anjo.

— Anjo tem asa, eu não tenho, não posso ser um anjo.

— Ouvi dizer que alguns anjos têm as asas invisíveis, para


não serem descobertos — Bernardo sussurrou, como se
fosse um segredo.

— Sério? — Sophia se admirou. — E como sabemos que eles


são anjos?

— Quando estamos perto deles, ficamos felizes. Eles sempre


sabem o que fazer para nos ajudar e cuidam de nós, quando
precisamos.
— Sammy, você é um anjo? — A menina rapidamente se
virou para a babá, que corou imediatamente.

— Infelizmente, creio não ser mais que uma reles humana.

Sophia fez uma carinha triste.

— Eu continuo achando que ela é um anjo — Bernardo


segredou baixinho para a filha, mas Samantha ouviu, mesmo
assim.

— Eu também acho — Sophia respondeu no mesmo tom,


confidenciando os pensamentos com o pai.

A babá ficou sem reação diante àquela conversa. Sabia que


Sophia a tinha em alta conta, mas nunca imaginou que o
barão pudesse vê-la daquela forma. Samantha acreditava
que ele apenas a enxergava como a mulher a quem ele
devia a vida de sua filha.

Samantha tentou concentrar os pensamentos, antes que


eles a levassem para um caminho sem volta. Afinal,
Bernardo não era um homem que passasse despercebido. Os
cabelos negros contrastando com a pele branca, uma altura
imponente e um corpo bastante musculoso o tornavam um
homem muito bonito e a barba espessa dava um ar
campestre a ele, algo que a mulher achava extremamente
masculino. Samantha sempre foi racional e jamais se
deixaria levar por emoções tolas e desnecessárias, ainda
mais, as que eram capazes de tornar qualquer ser
inteligente em um tolo.

— Sophia, tem que comer tudo — o Barão avisou, e a voz


estrondosa assustou Samantha, que já tinha se acostumado
ao silêncio.

— Mas eu não gosto de ervilha.


— Não precisa gostar, apenas engula. — Bernardo pegou
uma colher da sopa e colocou na boca, mostrando como a
filha deveria fazer.

— É ruim. Não quero comer.

— Neste caso, eu vou ganhar... — Samantha interveio.

— Ganhar o quê?

— O dia com o teu papai. Se eu comer as ervilhas primeiro,


você fica em casa e eu vou aproveitar o dia com o teu pai.

Samantha esperou Sophia entrar a brincadeira e a menina


logo esqueceu que odiava ervilhas. O

espírito competitivo da garotinha era seu ponto fraco.

Sophia se pôs a comer avidamente e durante alguns minutos


fez-se silêncio na mesa.

Samantha fez sua parte, comendo suas ervilhas, mas


sempre deixando Sophia ficar na vantagem.

— Terminei.

― Ah, eu sempre perco ― Samantha fingiu lamentar.

O barão observava àquela cena com um pequeno sorriso nos


lábios. Gostava muito da forma que Samantha cuidava de
sua filha. A mulher sempre era paciente e carinhosa com a
menina, apesar de já ter presenciado momentos em que
Samantha precisou ser firme, reconhecia que era para o bem
de sua filha. Confiava naquela mulher para saber o que era
melhor para Sophia.

Mas como iria encontrar tempo para procurar uma mulher


que fosse boa para sua filha e
pudesse lhe dar um filho? Havia algumas mulheres que se
jogavam a seus pés, e que sempre se insinuavam para ele.
Estas aceitariam facilmente ser a nova baronesa, entretanto,
ele não conseguia vê-las se importando de verdade com a
filha dele. E, por estar aceitando se casar apenas por causa
de Sophia, nada mais justo que encontrar alguém que a
aceitasse como sua própria filha e ninguém melhor para
encontrar essa mulher do que Samantha.

― Sophia, o que acha da Senhorita Hemwer ir conosco ao


passeio? ― Bernardo perguntou para a filha.

― Ela pode? ― A menina sorriu e seus olhos brilharam ao


olhar para a babá.

― Bem, se ela quiser nos acompanhar, será bem-vinda. ―


Bernardo olhou para Samantha.

― Eu não estou vestida para um passeio ― Samantha se


desculpou.

― Eu queria que você fosse ― Sophia resmungou.

― Eu também gostaria ― Bernardo concordou. ― E podemos


esperar que se troque, não temos pressa, não é, filha? O dia
está apenas começando.

― Não quero atrapalhar.

― Por favorzinho, Sammy ― Sophia pediu, segurando uma


mão de Samantha.

― Sim, por favor ― Bernardo endossou o pedido da filha. ―


Não irá nos atrapalhar.

Diante daquilo, Samantha cedeu e se levantou da mesa,


indo para os seus aposentos se vestir adequadamente.
Minutos depois, desceu, já pronta para o passeio e encontrou
o barão e sua filha na porta, esperando-a para saírem juntos.

— Iremos no cabriolé — Bernardo avisou. — Podem se


acomodar.

Bernardo ajudou as duas mulheres a subirem no transporte e


se acomodarem. Em seguida, tomou o lugar do cocheiro e
começou a conduzir a carruagem ao destino que tinha
planejado.

Seguiram pela estrada contrária a que levava para a cidade.


Samantha nunca tinha ido para aquele lado da propriedade,
não por falta de interesse e, sim, por não ter havido
oportunidade para tal.

— Aonde vamos? — Sophia perguntou à sua babá.

— Desta vez, eu não faço ideia, querida. Seu papai não me


disse.

Seguiram apreciando a paisagem, em silêncio. A floresta


parecia mágica: os pássaros cantavam, o vento balançava as
folhas e o sol passava entre os galhos, iluminando com
pequenos raios o caminho.

Não demorou muito e as árvores começaram a diminuir e o


barulho de água caindo se fez ouvir.

Na lateral do caminho havia um riacho, que desaguava mais


na frente em um lago de águas cristalinas.

Bernardo parou o cabriolé e ajudou as damas a descerem.


Assim que pisou no chão, Sophia correu, animada, para
desvendar aquele novo lugar, e logo em seguida voltou para
perto do pai.

― Gostou da surpresa?
― Eu amei. ― A menina abraçou a perna do pai. ― Quero vir
aqui todo dia. Veja, Sammy, tem uma cachoeira ali na frente.
― Após dizer isso, puxou Samantha para que ela a
acompanhasse de volta à sua exploração.

Bernardo retirou uma cesta e algumas toalhas que havia


levado e as colocou perto de onde as duas estavam. Parou
embaixo de uma árvore frondosa e estendeu o pano que
estava na cesta, para logo em seguida preparar o
piquenique que fariam ali.

— Aqui é maravilhoso — Samantha elogiou, sem conseguir


deixar de admirar o lugar ao voltar para perto de Bernardo.

— Que bom que gostou. ― Bernardo sorriu e estendeu a


mão, ajudando-a a se sentar e sentando-se em seguida ao
lado dela. ― Encontrei este lugar faz alguns anos. Eu
costumava vir aqui com mais frequência, antes de me casar.
Trouxe minha esposa algumas vezes, e tínhamos planos de
trazer a Sophia, mas tantas coisas aconteceram, que não
tive a oportunidade.

Enquanto falava, Bernardo dobrava as mangas da camisa e


abria um botão, o que fez Samantha desviar o olhar e fitar o
lago, um pouco vermelha, diante de tanta intimidade.

— Então faz mais de cinco anos que não vem aqui? —


perguntou.

— Cinco anos que não tiro um dia para apenas aproveitá-lo


— Bernardo respondeu, olhando a filha se aproximar do lago,
curiosa. — Eu devia ter feito isso há mais tempo.

— Devia, sim. Mas eu o entendo. Cuidar sozinho de um


baronato exige muito do senhor. Por que não distribui alguns
trabalhos? Muitos lordes têm criados que cuidam das
finanças e da administração dos bens.
— Eu tinha um contador. Faz dois anos que o mandei
embora, por estar me roubando. Ele trabalhava para a
família há mais de uma década.

— Que triste. Por que não contratou outro?

— Não sei. Acho que preferi fazer isso eu mesmo. Gosto de


me manter ocupado.

— Se ocupar é bom. Desde que seja com as coisas certas. —


Samantha olhou para Sophia e Bernardo entendeu a quem
ela se referia.

— Eu pretendo passar mais tempo com minha filha. Sei que


pareço que não me importo com ela, mas não é verdade.

— Eu sei que se importa. Nunca duvidei disso. — Samantha


sorriu.

— Mas ontem você disse que eu não a amava.

— Era sua filha quem estava começando a achar isso.

Bernardo olhou novamente para a filha que estava de


cócoras, mexendo na água com um graveto.

— Eu vou estar mais próximo, de agora em diante. Amanhã


contratarei um novo contador e tentarei ficar mais em casa.
E eu decidi que você estava certa, eu preciso de uma
esposa.

Samantha sorriu com aquela informação. Estava feliz que


Sophia, em breve, teria uma nova mamãe.

— Entretanto, não sei se as mulheres solteiras que eu


conheço seriam uma boa mãe para Sophia, visto que, ela é
fruto do antigo casamento. E não quero uma mulher que a
despreze, mas duvido que elas ajam com sinceridade na
minha frente, no que diz respeito à Sophia. Então, quero que
você escolha a mulher ideal.

— Mas e se não se agradar da mulher que eu escolher? —


Samantha não estava muito certa se aquela era uma boa
ideia.

— Eu quero uma mãe para minha filha, se essa mulher


provar ser uma boa mãe, eu me casarei com ela. Já me casei
uma vez, por conveniência, uma segunda vez não fará
diferença.

— Tudo bem, mas precisarei saber que tipo de mulher o


senhor aceita ou não, para refinar minha busca.

— Se nada impedir que essa mulher se case, então eu


aceitarei. Não tenho preferência. Mas se ela ainda puder me
dar filhos e se for mais nova que eu, lhe serei grato. Ah, se
puder ser no mínimo agradável à vista, eu agradeço. Afinal,
terei que conviver maritalmente com ela, e preciso de alguns
estímulos para aumentar minha prole.

— Entendi. — Samantha ria internamente, para quem não


tinha preferência, aquela era uma lista e tanto. — Uma
mulher solteira ou viúva, mais nova que o senhor, que tenha
uma aparência

agradável e que se importe de verdade com sua filha... Não


deve ser difícil encontrar — ironizou.

— Ah, não deve ser tão difícil assim. — Bernardo debochou.


— A parte mais difícil será saber se ela realmente se importa
com a Sophia. Pois a mulher não poderá saber o que se
passa, ou irá fingir se importar, apenas para se casar
comigo.
Samantha balançou a cabeça diante daquela última frase.
Homens e seus egos enormes.

— Então, vai encontrar uma esposa para mim? — ele


perguntou, alheio à reação dela à última afirmação. Como
Samantha demorou a responder, o barão pegou uma mão
dela e beijou o dorso.

― Por favor, eu lhe imploro.

Aquele toque deixou Samantha surpresa e a desestruturou,


por pouco não esqueceu a pergunta que ele tinha feito, mas
conseguiu voltar a si a tempo de lhe responder
adequadamente e sem demonstrar o momento de hesitação
e surpresa.

— Farei o possível, mas se não se agradar da que eu


encontrar, o senhor mesmo procurará uma.

— Combinado. — Sorriu, satisfeito, e novamente beijou a


mão da mulher. — Você é maravilhosa.

Samantha corou diante do elogio e removeu a mão


rapidamente, antes que ele notasse seu rubor. Não estava
acostumada com tanta atenção e, tampouco, ser o alvo dos
sorrisos, toques e elogios do barão.

― Sammy, vamos brincar de pegar? ― a menina pediu,


voltando para onde os adultos estavam.

― Só vou se o seu pai se juntar a nós.

― Eu não sei brincar disso.

― É simples, impossível não saber. Uma pessoa tem que


pegar as outras duas, a que for pega primeiro será a próxima
a pegar.
― Está bem, eu pegarei vocês. Darei alguns segundos de
vantagem.

Samantha levantou-se e começou correr junto com Sophia


para longe do barão, mas não chegaram muito longe, pois o
homem as alcançou facilmente. Pegou primeiro a filha e
depois a babá.

Sophia, por sua vez, correu atrás do pai primeiro, mas era
frustrante não o alcançar.

Samantha estava prestes a dizer que ele deveria facilitar,


quando Sophia decidiu trocar o alvo e pegar Samantha, que
se demonstrou ser um alvo mais fácil e voluntário.

Na vez de Samantha pegar, ela correu atrás do barão


primeiro. O homem fugia dela com rapidez e isso fez com
que pegá-lo se tornasse um dever pessoal. Sophia gritava,
incentivando Sammy a pegar o pai e ria dos dois adultos
correndo.

Bernardo corria de Samantha, apenas para continuar vendo-


a correr e, por mais que fosse errado de sua parte, não
deixou de notar o movimento que a corrida causava nos
seios da mulher.

Por um momento, ficou tão entretido em admirá-la que se


esqueceu da brincadeira e a mulher se jogou com tudo em
cima do barão, fazendo com que ambos fossem ao chão.

Samantha estava corada, por conta da corrida, e com os


cabelos desalinhados, arfava quase sem fôlego.

― Você... tem.... que... deixar... Sophia... pegar... você ― ela


avisou ao barão.
Bernardo, porém, não prestava atenção a nada que a mulher
dizia, uma vez que ela ainda estava em cima do corpo dele,
com o rosto corado, suada, arfante e descabelada. Aquela
imagem o fez imaginar outras situações em que ela poderia
ser descrita do mesmo modo.

Há muito tempo Bernardo não tinha uma mulher sobre si, e


sem que pudesse controlar, o desejo em seu corpo foi
despertado.

Ao perceber a posição comprometedora que se


encontravam, Samantha saiu de cima do barão e

sentou-se na grama.

― Tem que deixar... ela pegá-lo ― repetiu, com a respiração


mais regulada.

― Eu sei. É melhor você voltar para perto dela, antes que ela
se jogue no lago. ― Bernardo apoiou os cotovelos nos
joelhos e mal olhou para Samantha quando a mandou ver
sua filha, tudo isso para que a mulher não notasse o volume
que havia se formado em suas calças.

Após voltar a seu estado relaxado, Bernardo se direcionou


para onde as duas estavam e deram continuidade àquele
piquenique. Entretanto, a partir daquele momento, foi
impossível olhar para Samantha da mesma forma que antes.

CAPITULO 4 ― LISTA
Alguns dias depois...

Samantha havia preparado uma lista com todas as possíveis


nobres da região. Durante o seu trabalho no castelo, havia
aprendido todos os nomes dos membros da nobreza para
ajudar a princesa, caso ela se esquecesse de algum dos
nomes.

Aquilo agora lhe seria útil. Só precisaria ver se algumas das


mulheres ainda permaneciam solteiras. Para esse detalhe, a
Sra. Fitzgerald e a Srta. Gals foram bastante propícias em
ajudá-la.

Dos quatorze nomes na lista, seis já tinham se casado, três


estavam noivas e uma era viúva, porém, mais velha que o
barão. Restavam 4.

Lady Eloise Graham, filha mais nova do Conde de Valley.


Srta. Mary Ann, filha do Barão de Bresse. Srta. Georgiana
Granville, filha do Barão de Rivendell. Srta. Alice Melcon,
irmã bastarda do atual Marquês de Winchester.

Essas seriam ótimas baronesas, era certo. A educação que


receberam garantiria isso, mas teria que ver se elas também
seriam uma boa mãe. E, para isso, Samantha precisaria
conhecê-las melhor.

Samantha levou a lista até o escritório de Bernardo.


Precisava saber se ele tinha alguma restrição quanto a
algum dos nomes da lista.

Bateu à porta e esperou que ele permitisse a sua entrada.

—Milorde, fiz uma lista de possíveis mulheres que podem se


adequar ao papel de sua esposa, preciso saber se devo tirar
alguma delas.
Bernardo estendeu a mão, pedindo a lista, e Samantha a
entregou, sem hesitar.

— Remova a Srta. Alice. Winchester jamais permitirá que eu


me case com ela e, tampouco, me agrada casar com uma
criança. Quanto à Lady Graham, remova-a também, ela me
dá nos nervos com a voz esganiçada. A Srta. Granville e a
Srta. Rivendell também não são muito mais velhas que a
Srta. Alice... — Bernardo levou uma mão ao queixo,
enquanto pensava. — Só conseguiu listar essas?

— Essas são as únicas moças nobres mais próximas, as que


não estão comprometidas, ao menos.

— Não precisa ser nobre, pode apenas ser de uma boa


família — Bernardo informou.

— Neste caso, a lista irá aumentar significativamente e terá


mulher demais para escolher. —

Samantha massageou as têmporas, já imaginando o


trabalho que listar aquilo lhe traria.

— Dê preferência às que já passaram da idade de casar.


Normalmente, essas são mais fáceis de aceitar qualquer
homem para ser seu marido. Então, não haverá dificuldade
em aceitar um pedido meu e deve diminuir a quantidade da
lista.

Samantha balançou a cabeça. Nem precisaria estar


desesperada para aceitar se casar com o barão. Bastava
apenas ele querer se casar e uma fila de mulher se jogaria
aos pés dele. O homem chamava a atenção por onde
passava, e mais de uma mulher suspirava ao ter a atenção
dele voltada para ela. Incrivelmente, Montress parecia estar
alheio a tudo isso.
— Mas não esqueça que a mulher não deve ser muito mais
velha, pois ainda quero gerar um herdeiro — o barão
completou, fazendo Samantha corar um pouco ao escutar
algo tão inadequado.

— Vou tentar encontrar alguém interessante, mas seria


melhor se o senhor mesmo procurasse.

Quem sabe, até encontrasse alguém de quem gostasse...

— Você acredita em casamento por amor? — O barão riu.

— Eu não me referi a amor, falei apenas em encontrar


alguém que o senhor tenha alguma afinidade — ela
devolveu, com seriedade, ignorando o deboche na pergunta
dele.

Vendo que a moça continuava séria, Bernardo ficou


desconcertado.

— Eu não tenho essa necessidade, não imagino um futuro no


qual eu me apaixone pela minha esposa... É só que o amor é
algo tão raro de acontecer, que chega a ser utópico. ―
Bernardo sentiu que falar de amor o estava fazendo parecer
um idiota, então, decidiu mudar de assunto. ―

O dever nos chama e não há espaço para coisas como amor.


Você mesmo disse que devo me casar pela minha filha.

— Sim, não retiro o que disse, mas isso não quer dizer que
precise ser com uma mulher que o desagrade.

— Se você escolher uma boa mulher, eu creio que irei gostar


da minha esposa, quase tanto quanto gosto de você.
Coloque isso na lista. Ela tem que saber conversar como
você, sem medo de me ofender.
— Está querendo demais, milorde — Samantha debochou. —
Só falta escolher se ela terá cabelos e olhos claros, a altura
que deve medir e quanto deve pesar.

— O que não seria má ideia, isso diminuiria a lista


significativamente. — Bernardo cruzou os braços e se
recostou à sua poltrona, se divertindo com aquilo.

— Iria sim, mas deseja mesmo excluir algumas mulheres,


apenas pela aparência? Deverias saber que a aparência é
supérflua e não indica caráter.

— Eu sei que não. Estava apenas tentando ajudar a reduzir a


lista.

Samantha suspirou.

— Tudo bem, diga-me as características que prefere.

Bernardo a olhou bem, analisando-a descaradamente e


fazendo-a corar ao notar que ele a olhava da cabeça aos
pés. Bernardo concluiu que Samantha era uma mulher
bonita, muito bonita para ser exato, tinha cabelos escuros,
era bem alta para uma mulher, o que a fazia se destacar, e
tinha seios volumosos, que por mais discreto que fosse o
vestido, não conseguia disfarçar aquela parte da anatomia
feminina e não eram apenas os seios que eram avantajados,
ela parecia ter quadris largos por debaixo de todo aquele
tecido.

― Lorde Montress ― Samantha chamou-lhe a atenção,


quando não suportou mais aquela análise.

― Ah, desculpe, o que era mesmo? ― Se fez de inocente,


mas seu sorriso era cheio de malícia.

― As características.
— Gosto de mulheres com cabelo escuro, altas e que não
aparentem fragilidade.

Samantha não deixou de notar que ele listava alguns


atributos físicos que ela mesma tinha e isso a fez semicerrar
os olhos para ele. Só poderia ser coincidência.

— O que foi? Já tive minha cota de mulher frágil para toda


uma vida — Bernardo explicou, ao notar a expressão que
Samantha fazia. — Não quero repetir a experiência.

A jovem respirou fundo. Ele só podia estar brincando com


ela.

— Com a saúde debilitada, o senhor diz? ― A mulher fez o


melhor que pôde para continuar a sua tarefa.

Bernardo sorriu, travesso.

— Saúde também, mas eu me referia à mulheres mais


delgadas fisicamente. Você deve entender que sou um
homem grande e não quero ter que medir minha força, todo
momento que eu estiver

com minha esposa, por medo de machucá-la.

Samantha corou novamente, dessa vez completamente


envergonhada ao entender o que ele quis dizer e, mesmo
sem ter conhecimento do ato, imaginou-o beijando a esposa
e a abraçando com toda força. Provavelmente um abraço
apertado dele, sufocaria qualquer mulher, mas elas com
certeza morreriam satisfeitas.
Não deixou de notar que ela preencheria todos os atributos
listados por ele, inclusive, o último.

Samantha jamais seria considerada uma mulher delgada...


Pelo contrário, roliça seria um adjetivo que lhe descreveria
melhor, apesar de sua altura disfarçar um pouco o seu
tamanho, não se podia ignorar a verdade de que ela era
gorda. E ouvi-lo dizer que não queria mulheres magras, a fez
imaginar como seria ser escolhida por ele.

A babá balançou a cabeça para se livrar daqueles


pensamentos e para evitar continuarem por aquele assunto,
pediu:

— Senhor, sei que sou uma criada, e que já passo e muito da


idade de casar, mas devo lembrá-

lo que nunca me casei, portanto, permaneço inocente em


relação a assuntos íntimos e preferia que não os comentasse
na minha presença.

— Mas eu não falei nada de mais. — O barão sorriu,


misterioso, e em seguida fingiu inocência.

— Me referia aos momentos em que precisarei dançar com


ela, ou mesmo apenas fazer companhia. A senhorita foi
quem teve pensamentos maldosos. A propósito, o que
pensou?

— Não tive pensamento algum... — defendeu-se.

Bernardo apenas sorriu, se omitindo de dizer que não


acreditava naquelas palavras.

— Agora, se me der licença, tenho uma esposa para


encontrar. — Samantha se retirou rapidamente da presença
do barão.
O que estava acontecendo com aquele homem? Ele não
costumava deixá-la tão constrangida daquele jeito. Na
verdade, mal trocavam palavras além das necessárias sobre
o trabalho ou Sophia, nunca tinham falado assuntos tão
pessoais.

Bernardo observou Samantha partir, com um sorriso


malicioso no rosto. Havia algo de prazeroso em fazer a Srta.
Hemwer corar, e aquilo era algo que ele gostaria de repetir.

Samantha aproveitou que Sophia tirava um cochilo, lhe


dando, assim, algumas horas livres, para colocar na lista os
nomes das mulheres que ela conhecia e que se encaixavam
nas exigências do barão. Muitas mulheres preenchiam todos
os requisitos e isso não tornava a tarefa fácil. Ela precisaria
criar uma boa estratégia para isso. Ir a eventos onde essas
mulheres estivessem não lhe parecia uma ideia plausível.
Primeiro, porque babás não eram convidadas a eventos
importantes.

Segundo, porque Sophia também não tinha idade de


participar de nenhum evento e ela precisaria da criança para
testar o lado materno das mulheres.

A ideia de usar a menina para provar as mulheres lhe


pareceu magnífica. Que melhor forma de saber se uma
mulher seria uma boa mãe, do que ao ver a reação de tal
mulher a uma criança?

— Agora, que lugar seria mais propício para encontrar essas


mulheres? — Samantha sussurrou para si mesma, dando voz
ao que pensava, enquanto tamborilava o pequeno pedaço de
carvão no queixo. Uma mania que ela tinha quando tentava
se concentrar. — Tem a loja de fitas, que sempre
está cheia; a igreja; o lago... Não, ir atrás de uma por uma
não é a opção mais inteligente... Talvez, se o barão aceitar
fazer um evento aqui... Um sarau, não. Um concerto, não.
Uma caçada, bem qualquer coisa... Algo que justifique os
convites para um final de semana no baronato. Dessa forma,
o barão poderá conhecer as mulheres e eu poderei ver se
elas se adequam ao papel. Será perfeito. Tenho apenas que
convencê-lo a realizar o evento.

Aquele plano a deixou mais animada. Ela teria bastante


tempo para convencê-lo, já que a temporada Londrina ainda
estava em alta e boa parte das moças solteiras ainda
estavam longe do campo. Só precisaria decidir qual seria o
evento perfeito para escolher uma esposa para o barão.

Aproveitaria que as damas teriam contato com Sophia e com


ela, e as analisaria de perto, tomando cuidado para que não
descobrissem que estavam ali para uma delas ser escolhida
como a nova baronesa. Tentaria manter essa informação em
segredo, porém, mesmo que as mulheres descobrissem que
estavam ali para uma seleção matrimonial, ela observaria
como as damas agiam quando estivessem longe do barão:
como tratariam Sophia e como tratariam os criados da casa.

Porque, querendo ou não, todos seriam afetados com a


escolha da nova baronesa, e como parte da escolha estava
nas mãos dela, nada melhor do que procurar uma mulher
que fosse boa para todos naquela casa.

Se a mulher fosse gentil com as crianças e com os criados,


com certeza seria uma boa baronesa. Só esperava que tal
mulher despertasse o interesse de Bernardo. Apesar de que,
Samantha não estava preocupada com aquele ponto em
específico, uma vez que Bernardo lhe havia dito não esperar
se apaixonar por sua esposa.

No fundo, quase desejava que a mulher não despertasse tal


sentimento no barão, pois uma mulher tão perfeita assim,
com certeza teria qualquer homem a seus pés.

— Não, isso não é certo. É melhor que eles se apaixonem —


resmungou, balançando a cabeça para tentar afastar os
pensamentos maldosos. — Se houver sentimentos, eles se
tornarão uma família feliz e Sophia será muito amada pela
madrasta.

Mesmo falando aquilo em voz alta, Samantha não pôde


deixar de sentir um pouco de ciúme.

Havia se acostumado a ter o carinho e a atenção de Sophia


para si.

Batidas na porta fizeram-na pular em seu banquinho. Ao


abri-la, deparou-se com Sophia esfregando os olhos de sono.

— Eu acordei — a menina avisou, dando um bocejo.

Samantha sorriu ao ver a menina e deixou de lado as


anotações para cuidar da criança.

— Venha, pequena, vamos vestir uma roupa adequada para


brincarmos lá fora. O dia está lindo e fará bem ter um pouco
de ar puro.

Sophia segurou a mão de Samantha, ansiosa para sair e


poder brincar.

Da janela de seu escritório, Bernardo viu Samantha sair para


os jardins junto com sua filha. O
barão notou que Sophia sempre tinha um sorriso no rosto
quando estava com a babá. E aquilo lhe trazia uma sensação
de paz.

Sua filha nunca foi tão bem cuidada quanto o era agora por
Samantha. A mulher era incrível em lidar com crianças...
Bernardo se perguntava por que ela mesma não tinha ainda
se casado e tido

seus próprios filhos. Era evidente que amava crianças.

Apesar de trabalhar para ele há um tempo, Samantha nunca


revelou muito sobre o seu passado.

Bernardo sabia que ela tinha uma boa criação, pois sua
eloquência e postura eram indícios de que a moça teve uma
educação impecável.

Até aquele momento, nunca tinha se dado conta do quão


pouco sabia sobre a mulher. Passou tanto tempo grato por
ela ter salvado sua filha, que não se importava realmente o
que a trouxera até ele, mas agora estava curioso.

Desde que a mulher o colocara contra a parede e brigara


com ele sobre os cuidados e atenção com sua filha, ele tinha
passado a prestar mais atenção nela. Era como se a partir
daquele momento ele finalmente a tivesse enxergado e, a
cada dia que passava, ele ficava mais interessado em
conhecer aquela mulher. Sentia quase uma necessidade de
saber mais sobre a babá e precisaria encontrar as respostas
para as perguntas que agora lhe atormentavam.
Estava decidido, iria investigar e descobrir quem era
Samantha Hemwer...

Bernardo continuou a olhá-la por alguns minutos através da


janela, ela colocava Sophia nos braços e rodopiava, fazendo
a criança tirar os pés do chão, enquanto girava e ria. Aquela
cena o fez sorrir, não aceitaria uma mulher que tratasse sua
filha com menos consideração ou carinho do que
Samantha... Se ia se casar para dar uma mãe à Sophia,
então a mulher teria que mostrar ser, no mínimo, a melhor
mãe do mundo.

Lembrou-se de que deveria estar na sua mesa, revisando as


finanças do baronato, antes de contratar um novo contador,
e organizando sua agenda de visita aos arrendatários.
Entretanto, como fazer tais coisas quando era muito mais
interessante observar a babá e sua filha?

Enquanto observava as duas, Samantha acenou para ele e,


com um movimento de punho, o chamou para junto delas.

Em dias passados, ele teria ignorado o chamado e voltado


para os afazeres que eram sua responsabilidade, mas
naquele momento tudo que fez foi abrir a porta e descer
para os jardins.

Dizia para si que aquela era uma oportunidade para


conhecer melhor a mulher que insistia em ficar em seus
pensamentos e que esse era o único motivo pelo qual
deixava de lado suas obrigações e ia ao encontro de
Samantha e de sua filha.

Samantha não esperava que Bernardo estivesse observando-


a brincar com a filha dele, mas quando o viu, podia jurar que
ele sorria para elas. O barão não era um homem que sorria
com muita frequência, isso ela já estava acostumada, mas
ele sempre tinha um sorriso para sua filha, ainda que fosse
um curvar de lábios, sutil.

Como ele parecia não estar muito ocupado, decidiu que


aproveitaria aquela oportunidade para contar a ele sobre o
seu plano de fazer um evento ali na propriedade, para que
ele pudesse escolher uma esposa, por esse motivo, o
chamou para que se juntasse a elas, mas imediatamente se
sentiu uma tola ao vê-lo se afastar da janela. Ele nunca tinha
se juntado a elas durante as tardes, não seria agora que o
faria. Então baixou a mão e tentou esquecer aquele
momento de insanidade, voltando a se concentrar em
Sophia e retomar a brincadeira.

Estava tão concentrada na criança, que não o viu se


aproximar delas. E, por isso, assustou-se

quando se virou e o encontrou à sua frente.

― Você veio! ― ela comentou, surpresa, antes que pudesse


frear sua língua.

― Você me chamou ― ele justificou, erguendo uma


sobrancelha.

― Sim, mas não imaginei que se juntaria a nós.

― Papai! ― Sophia os interrompeu ao ver o pai e se jogou


nos braços fortes do barão, que a pegou sem dificuldade.

― Oi, minha princesa, papai pode se juntar a vocês? ― ele


perguntou para a filha, fazendo cócegas no pescoço dela
com a barba.

― Sim! ― a menina exclamou, alegre, e o barão a pôs no


chão. ― Eu estou brincando com a Gertrudes.
Bernardo olhou para onde ela apontava e viu a boneca que
havia dado de presente de natal para a menina.

― Então, vá brincar com a Gertrudes, que eu vou ficar


olhando, as duas para que ninguém perturbe vocês.

― Está bem, papai.

Sophia voltou para junto de sua boneca e sentou-se no chão,


ignorando completamente os adultos.

― Se não esperava que eu viesse, por que me chamou,


então?

― Eu tinha esperanças que deixasse o trabalho um pouco de


lado e aproveitasse um pouco deste dia maravilhoso.

Falar do dia fez o barão reparar à sua volta, coisa que há


muito tempo ele não parava para admirar. O céu estava
limpo, o sol brilhando forte, mas o vento ameno não deixava
o clima esquentar muito. As flores estavam exuberantes em
seu colorido, e os pássaros cantavam em alguma árvore
próxima, proporcionando um daqueles raros momentos
mágicos de paz. O barão inspirou fundo, sentindo o ar puro
lhe expandir os pulmões e depois expirou devagar, sentindo-
se mais leve.

― Realmente o dia está lindo. Está me fazendo sair mais de


casa, Srta. Hemwer ― ele concordou, dando um sorriso para
a mulher ao lado.

Samantha ficou um pouco enrubescida com o sorriso que o


barão lhe dera, pois não sabia o que fazer quando ele dava a
ela sua atenção, como se ela realmente lhe fosse
importante. Estava acostumada a ser invisível para ele.
― E então, algo mais? ― Bernardo perguntou, curioso, e isso
fez Samantha colocar os pensamentos em ordem.

― Ah sim, bem eu tive uma ideia que pode facilitar a escolha


de uma noiva para você.

― Ah... isso. ― Para sua própria surpresa, Bernardo não


compartilhou da empolgação de Samantha.

― Pensei em fazer uma temporada de campo, quando a


temporada londrina acabar ―

Samantha continuou a falar seu plano, alheia à falta de


ânimo de Bernardo. ― O senhor poderia convidar homens e
mulheres para passarem alguns dias aqui, poderíamos
organizar uma caçada, piqueniques, jantares, cavalgada até
a cidade... São tantas opções... E em meio a isso, poderia
escolher alguma mulher que fosse do seu agrado.

― Não acho viável. Seria um gasto muito grande para algo


desnecessário. Fora que eu odeio estar no centro das
atenções e, com certeza, eu seria, caso trouxesse tantas
pessoas para minha casa. Não gosto de multidões.

― Mas é a melhor forma de encontrar uma esposa, juntar


todas as mulheres da região em um

lugar, e ver aquelas que lhe agradam e as que não. Se não


gosta disso, ao menos, dê um baile. Só precisará dar
atenção às pessoas por apenas algumas horas.

― Não estou convencido de que é a melhor opção, mas


entre o baile e a temporada, o baile me agrada mais.

― Eu ainda insisto em fazer a temporada. Será a forma de


conhecer melhor as mulheres que lhe agradarem no baile.
Seria mais fácil para eu ver as mulheres que dariam uma
boa mãe para Sophia, se pudesse ver como elas tratariam a
sua filha, enquanto você não está presente. Se eu for tentar
encontrar uma por uma, podem levar anos até que eu tenha
testado as mulheres da lista, e não podemos esperar tudo
isso. Sabe disso.

Bernardo suspirou.

― Continuo não gostando dessa ideia.

― Não precisa gostar, apenas tem que concordar com ela.

― Você parece ansiar por esse evento. ― Ele reparou na


empolgação dela e na insistência com que ela defendia o
evento.

― Eu adoraria organizar algo assim. E facilitará a minha


missão de casar você.

― Maldito dia que eu concordei em arrumar uma esposa ―


resmungou. ― Pensarei sobre a possibilidade do baile e da
temporada.

Samantha sorriu, triunfante, e a empolgação a fez bater


palminhas.

Bernardo semicerrou os olhos diante da felicidade da mulher,


mas não pôde deixar de sorrir ao saber que ele havia
causado aquela felicidade. Quem diria que concordar com
algo, fosse lhe dar uma sensação tão gostosa de prazer.

― Prometo que será divertido ― ela garantiu a ele.

― Eu tenho minhas dúvidas quanto a isso, mas você parece


saber como fazer esse tipo de evento.

― Você não vai encontrar nenhuma mulher na Inglaterra,


que dê eventos tão bons quanto os que eu organizo ― ela se
orgulhou.

Bernardo sentiu a curiosidade assolar a sua mente. Sabia


que Samantha não era uma mulher comum e, naquele
momento, ao vê-la inflar o peito e seus olhos brilharem, com
o orgulho, típico de moças nobres, ele tinha certeza de que
ela não era uma plebeia.

― E onde aprendeu a realizar eventos nobres, como esse? ―


Bernardo perguntou, ansioso para descobrir mais sobre ela,
quem sabe ela desse mais pistas.

― Uma mulher tem que ter muitos talentos, milorde ―


Samantha respondeu, com um sorriso enigmático.

― Você é uma caixinhas de surpresas, senhorita Hemwer...


Hemwer... Esse sobrenome é de onde? Não conheço nenhum
Hemwer nas proximidades...

Samantha engoliu seco, sabia que um dia aquelas perguntas


viriam, mas preferia que ele não as fizesse.

Quando o barão perguntou como poderia ajudá-la na noite


em que encontrou a filha dele, Samantha apenas disse que
não tinha para aonde ir e que aceitaria um emprego, se ele
tivesse algum para ela. Ele não havia lhe perguntado mais
nada. E ela tinha ficado feliz com aquela situação. Por muito
tempo, esperou que ele a chamasse e fizesse as perguntas
sobre o passado dela, mas os meses foram passando e ele
nunca questionou nada.

― É comum mais para o norte da Inglaterra ― ela contou


uma pequena mentira, dando de ombros, como se não fosse
importante, mas no fundo torcendo para que aquela
resposta fosse suficiente.
Na verdade, aquele era apenas parte do seu sobrenome:
Hemsfield-Wert. Ela tinha usado as primeiras letras de cada
sobrenome para criar o que agora usava, não chegava a ser
um sobrenome falso, só não era o completo. Sua família era,
na verdade, do sul da Inglaterra, descendia de soldados leais
à coroa, e de nobres heróis de guerra. Sua família achava
que estava morta e, por isso, a deixaram em paz, caso
contrário, estariam procurando-a para que ela cumprisse
com seu dever. Ser filha de soldado fazia com que a
obediência fosse algo superestimado, e ser soldado da
guarda pessoal do rei, fazia com que as ordens fossem leis
absolutas, que deveriam ser cumpridas.

Samantha tinha escondido seu sobrenome para evitar que


sua família a encontrasse e a levasse de volta. Sabia que se
fosse descoberto o seu paradeiro, ela não teria outra
escolha, a não ser reviver o mesmo pesadelo do qual fugira.
Então, para o seu próprio bem, mantinha-o em segredo.

― Não conheço... Eu também não costumo viajar muito,


então, não é de se admirar que eu não tenha conhecido
ninguém com esse sobrenome. Eu nunca perguntei... O que
aconteceu na noite em que veio parar aqui? Você parecia
estar fugindo de algo...

― Eu preferia não me lembrar dessa noite em específico. ―


Samantha se retesou, não gostando do rumo da conversa.

― Eu sei, mas é importante que eu saiba o que aconteceu,


afinal, eu sou responsável por você.

Samantha respirou fundo, não precisaria citar os envolvidos,


apenas contar por alto o que aconteceu. Era melhor do que
não dizer nada e ele tentar investigar por si mesmo.

― Eu fugia de um homem importante. ― A voz da mulher


não passou de um sussurro. ― Um homem sem honra, que
queria se forçar sobre mim.

Ouvir aquilo foi como levar um soco no estômago. Bernardo


odiava aquele tipo de brutalidade.

As mulheres deviam ser protegidas, cuidadas, elas eram


frágeis e delicadas, jamais deviam passar por situações de
abuso. Homens que faziam aquele tipo de coisa lhe davam
asco.

― E sua família não fez nada? ― ele perguntou, mal


contendo a fúria na voz.

― Eles disseram que eu deveria abrir as pernas e agradecer


por ele querer algo comigo ― ela expôs a verdade,
constrangida por causa da falta de sensibilidade de sua
própria família.

Bernardo sentiu o sangue ferver. Fazia anos que não sentia


um ódio tão intenso correr em suas veias. A própria família
submeter a filha a uma situação tão desagradável quanto
aquela, lhe fez querer matar um por um. Imaginou o
desespero que Samantha deve ter sentido ao tentar recorrer
às pessoas em quem confiava e vê-las virar as costas para
ela. Nenhuma mulher merecia passar por aquilo.

― Malditos ― Bernardo xingou e isso fez Samantha olhar


para ele, assustada. O homem parecia possesso. Como se
desejasse matar alguém. E Samantha tinha certeza que ele
desejava. ―

Que queimem no inferno. ― Bernardo estava com os punhos


cerrados e parecia a ponto de explodir, mas ao ver que
Samantha o observava, respirou fundo e recuperou o
controle sobre suas emoções. ― Perdão... Sei que é tua
família, mas isso não se faz, eles deveriam ter protegido
você desse monstro. Se um dia um homem, seja ele quem
for, tentar se forçar sobre minha filha, eu o mandarei de
volta para o diabo, com minhas próprias mãos.

Samantha sorriu ao saber que Sophia jamais precisaria


passar pelo que ela passou. Bernardo era um homem
honrado, ela via isso nele. Jamais deixaria ninguém desonrar
sua filha, ou qualquer pessoa que ele amasse. A esposa dele
seria uma mulher de sorte.

― Eu não deixarei que isso se repita com você ― ele


prometeu, chamando a atenção dela ao segurar seu rosto,
obrigando-a a olhar para ele. ― Jamais deixarei que nenhum
homem a toque sem seu consentimento, enquanto tiver sob
minha proteção.

― Obrigada. ― Samantha sentiu os olhos se encherem de


lágrimas. E mesmo que no fundo soubesse que Bernardo
nada poderia fazer para protegê-la de um homem com a
influência de Edward, o segundo na linha de sucessão e, com
a doença desconhecida que acamava Henrique, possível
herdeiro do trono inglês, ela acreditou nas palavras do
barão.

CAPITULO 5 ― PREPARAÇÕES

Três meses depois...

Com a chegada do verão, o campo se tornou um local mais


agradável para permanecer do que Londres. Muitos nobres
se recolheram para o interior, onde o clima era mais ameno.
Aproveitando o retorno de muitas famílias ao campo,
Samantha decidiu que aquele era o momento certo para se
fazer o baile. Ela havia usado os meses que teve para
planejar cada detalhe do evento. Desde a ornamentação, até
a comida que seria servida, ela selecionou tudo. Claro que
fez as escolhas dentro do orçamento que o barão tinha lhe
informado. Apesar de não ter nenhum problema financeiro,
Montress não era um homem dado a gastos excessivos ou
desnecessários, entretanto, também não poderia ser
considerado um homem avarento ou que se importasse mais
com o dinheiro que com o bem-estar. Ele apenas não tinha
desejos de gastar sua riqueza com coisas supérfluas. Tanto
que Samantha precisou convencê-lo que um baile era um
investimento e não um gasto desnecessário. Lembrava como
se a conversa tivesse acabado de acontecer.

Ela havia entrado no escritório do barão com um papel


contendo as primeiras anotações sobre o baile.

― Aqui está a lista de algumas coisas que precisarei para o


baile. ― Ela estendeu o papel para o barão, que não ficou
contente ao ler o que ela tinha escrito.

― Decidi que é melhor não haver nenhum baile... ou


qualquer outro evento. Você é capaz de encontrar outro
modo de me arrumar uma esposa.

― Não seja medroso. ― Samantha ignorou a negativa, como


se ele não soubesse o que dizia.

― Sei que já participou de bailes. Não tente arrumar


desculpas.

― Não servirá para nada já que, depois dele, você quer


realizar a temporada de campo.
― Fico feliz que já esteja concordando com os eventos. Mas
o baile é essencial para selecionar as moças que participarão
da temporada. A não ser que queira convidar todas elas.

― Deus me livre de ter que passar uma semana aturando


tanta mulher.

― Nesse caso, concordamos com o baile. ― Samantha


sorriu, vitoriosa, e Bernardo estreitou os olhos.

― É uma despesa desnecessária, dinheiro jogado fora. ―


Tentou argumentar.

― De forma alguma! ― discordou. ― É um investimento.

Bernardo a encarou com os olhos semicerrados. Desde


quando uma mulher entendia de investimentos e negócios?

― Como assim: investimento? ― perguntou, desconfiado.

― O senhor investirá em sua futura esposa. Dará um baile e


depois uma temporada, apenas para encontrá-la e ainda
economizará tempo fazendo isso, pelo menos, o meu tempo.
Fora que, se encontrar a mulher certa, terá alguém para
cuidar do baronato, assumir algumas tarefas que o senhor
faz, e ainda dará uma nova mãe para Sophia. O que tornará
sua vida mais fácil e com menos preocupações. Ou seja, com
o baile e a temporada, investirá na sua esposa, na sua filha,
no seu baronato e, consequentemente, em si próprio. Isso,
se encontrarmos uma boa mulher, é evidente, o que não
difere em nada dos negócios, pois pode haver sempre maus
investidores.

Bernardo havia cruzado os braços, ainda tentando achar


argumentos para convencê-la a não fazer nenhum evento.
Vendo a resistência do barão, Samantha decidiu usar outra
estratégia para convencê-lo.

― Tudo bem, já compreendi, prefere que não tenha nenhum


evento aqui. Neste caso, sugiro que vá o mais rápido
possível para Londres.

― E por que eu faria isso? ― Bernardo perguntou, tentando


entender aonde ela queria chegar.

― Já que não quer um evento na propriedade, então, está


perdendo tempo aqui, uma vez que a temporada Londrina já
teve início. Desejo boa sorte com os bailes, jantares, chás,
passeios, concertos, saraus, e, principalmente, com as
matronas enlouquecidas desesperadas por um homem que
aceite se casar com alguma de suas filhas.

― Droga, mulher ― Bernardo xingou passando as mãos nos


cabelos ondulados, se havia algo pior do que realizar um
evento ali, seria ter que lidar com as matronas
casamenteiras. Uma vez já havia sido mais do que suficiente
para ele decidir nunca mais repetir o feito. ― Você me
convenceu.

Depois daquela perspectiva, Bernardo não teve outra opção,


senão concordar em realizar os eventos que Samantha havia
proposto.

Não foi difícil para Samantha organizar o baile. Pelo


contrário, resolveu tudo com muita facilidade, uma vez que o
baile teria menos convidados do que os eventos que ela
realizava para a família real. Gostava de toda aquela
expectativa e de deixar tudo o mais perfeito possível. Seria o
melhor baile já realizado naquela região. Tinha certeza disso.

Os convites já haviam sido enviados, a banda contratada, as


músicas escolhidas, a ornamentação espalhada com esmero
pela casa, mais criados foram contratados temporariamente
para ajudar com a limpeza do salão de baile, com o serviço
de copa e com a cozinha. A comida que seria servida estava
sendo preparada pela cozinheira e alguns doces foram
encomendados na padaria da vila.

Tudo estava em ordem para o baile que seria realizado


naquela noite.

— Senhorita Hemwer, aconteceu algo horrível. — A Srta.


Gals veio ao seu encontro, aflita.

— O que houve, Amelie? — perguntou, preocupada, ao ver o


desespero estampado nas feições da jovem.

— É a Sra. Fitzgerald, por favor, venha rápido.

Samantha seguiu a moça, preocupada com o que poderia ter


acontecido para justificar tamanho desespero.

Ao adentrar na cozinha notou o caos em que ela se


encontrava. Criados se amontoavam ao redor da Sra.
Fitzgerald, deixando seus afazeres para saber o que estava
acontecendo. As panelas fumegavam e o calor ali dentro
estava quase insuportável.

— Abram espaço, rápido. — A Srta. Gals acotovelou alguns


criados que impediam a passagem.

Quando finalmente chegaram à Sra. Fitzgerald, a cozinheira


se encontrava encurvada, com uma das mãos nas costas e
gemia de dor.

— Alguém já chamou um médico? — Samantha perguntou.

— Não, senhora, estamos esperando ordens suas — uma


criada contratada respondeu.
— Mande chamar um médico. Rápido — Samantha ordenou,
deixando de lado o fato da outra criada achar que ela era
sua superior. — O resto de vocês volte a seus afazeres, antes
que a cozinha vire um caos ainda maior com comida
queimada.

Rapidamente os criados a obedeceram dando, assim, espaço


para que Samantha visse de perto o estado da cozinheira.

— O que aconteceu? — Samantha perguntou, preocupada.

— Eu me abaixei para pegar a maldita panela e minhas


costas fizeram um barulho horrível ― a

mulher conseguiu dizer, entre um gemido de dor e outro. ―


E eu não consigo mais me endireitar.

— Oh, céus. Você consegue andar até o seu quarto? Pelo


menos, lá poderá se deitar, enquanto espera o médico.

— Mas e a cozinha? — a mulher preocupou-se.

— Não se preocupe, eu cuidarei de tudo aqui.

A Sra. Fitzgerald concordou, desgostosa, e com a ajuda de


duas criadas ela foi levada para os seus aposentos.

Samantha deu ordem para assim que o médico chegasse ele


fosse levado imediatamente para o quarto da cozinheira.

Após a preocupação inicial com a saúde da Sra. Fitzgerald,


Samantha respirou fundo e olhou ao seu redor. Não sabia
nem por onde começar a cuidar de uma cozinha, nunca
havia tido necessidade de realmente cuidar de algum
preparo. No máximo, havia ajudado a sovar pão ou mexer
alguma sopa para não queimar.

— Srta. Gals — a mulher chamou. — Você conhece alguma


outra cozinheira aqui perto, que esteja disponível para
ocupar o lugar da Sra. Fitzgerald, enquanto ela se recupera?

— Não conheço — a jovem criada respondeu, procurando em


seus pensamentos alguém que pudesse ocupar o cargo. —
Ah, tem a Sra. Clark. — Em seguida, abaixou o tom de voz e
completou, em um sussurro: — Só tem um porém, ela mora
em Magdala, mas soube que antes de se tornar uma
prostituta, ela era uma cozinheira muito habilidosa.

— Eu não me importo. Mande chamá-la.

Enquanto a moça fazia o que ela pedia, Samantha, inspirou


profundamente mais uma vez, criando coragem para realizar
o desafio de cuidar da cozinha, enquanto a outra cozinheira
não chegasse.

Ainda faltavam mais de dez horas para o início do baile e


Bernardo já estava apreensivo.

Aquela era a expressão que o definia melhor e um dos


motivos que o fazia odiar multidões e gente desconhecida.

Não entendia bem o motivo de ter aquela angústia quando


precisava falar em público ou simplesmente aparecer e ficar
recebendo as pessoas, só sabia que não gostava de ter as
mãos suando, o ar faltando e a péssima sensação de
sufocamento, ainda que não tivesse nada prendendo sua
garganta.
Tentou várias vezes cancelar aquele maldito baile, mas toda
desculpa que tentava dar para Samantha, era efetivamente
descartada e soluções eram dadas pela mulher. Pelo visto,
ela não desistiria do baile. Desse modo, decidiu que
encararia os seus demônios de uma vez, e faria o possível
para não haver outro evento, nem que naquela mesma noite
escolhesse para si uma esposa.

Ah, tem que dar certo. Não sou um covarde. Eu consigo.


Nem são pessoas tão desconhecidas assim — ele tentou se
acalmar, respirando fundo e compassadamente, tentando
deixar sua mente em branco.

Batidas na porta tiraram sua concentração e ele ordenou


que quem quer que estivesse batendo,

entrasse.

— Senhor, perdoe por lhe atrapalhar. Mas aquela mulher


está passando de todos os limites —

o mordomo, Sr. Alfred, o informou, preocupado.

— Que mulher, Alfred?

— A senhorita Hemwer.

— E o que ela fez? — Bernardo perguntou, curioso.

— Não me entenda mal, senhor. Gosto muito da babá, mas


ela está agindo como se fosse uma governanta, ou melhor,
uma baronesa, pois uma governanta não teria tamanha
ousadia, sem antes consultá-lo. A mulher está contratando
novos empregados, mandando chamar médicos, dando
ordens aos criados, e temo que não lhe informou nenhuma
dessas ações.
O mordomo estava aflito e bastante ofendido com a atitude
da babá.

— De fato, não informou — Bernardo respondeu, sério, mas


por dentro sentia uma enorme vontade de rir. — Agradeço o
seu cuidado para manter a ordem na casa e por me informar
do que acontece nela. Onde está a senhorita Hemwer agora?
Gostaria de conversar com ela sobre esse assunto.

— É claro, milorde. — Empertigou-se ao receber o elogio. —


Ela estava na cozinha, antes de eu vir vê-lo.

— Obrigado. Irei vê-la agora, pode retornar aos seus


afazeres.

Bernardo dispensou o mordomo e seguiu em direção à


cozinha. Nem mesmo sabia por que estava indo, uma vez
que não pretendia chamar a atenção da babá sobre aquele
assunto. Apenas dava um passo atrás do outro em direção
ao cômodo onde a senhorita Hemwer se encontrava.

A cozinha estava um caos. Ele percebeu isso assim que


entrou. Nunca teve tanta gente naquele cômodo quanto
naquele dia, e quando todos os olhos se voltaram para ele,
Bernardo travou no lugar.

Seu sangue pareceu gelar nas veias, o suor começou a lhe


escorrer frio pelo rosto e Bernardo sentiu a respiração se
tornar pesada e difícil. O desejo de sair dali o mais rápido
possível tomou conta do seu corpo e ele engoliu seco,
tentando se controlar.

— Ah, graças a Deus você está aí. — Samantha se


aproximou e, ao perceber que Bernardo parecia não a ouvir,
o puxou pela mão, para longe da cozinha. Sabia que não
deveria tocá-lo, mas precisava falar com ele.
O contato, entretanto, tirou Bernardo do torpor. Sentir a
maciez e o calor das mãos de Samantha pareceu acordá-lo e
foi impossível não olhar para o ponto exato onde os dois
corpos se tocavam.

― Me perdoe. ― Samantha se desvencilhou da mão dele,


assim que percebeu que a segurava.

― Não quis tocá-lo. O senhor está bem?

Bernardo, entretanto, voltou a segurar a mão dela,


hipnotizado com os dedos da babá. O toque era gostoso,
mais gostoso do que ele estava acostumado.

― Milorde, está tudo bem? — Samantha tornou a perguntar,


preocupada com aquela situação.

— Seus dedos são delicados, mas sua mão não é pequena. É


uma combinação bastante peculiar. Eu gosto.

― Lorde Montress! ― Samantha puxou a mão, corando com


aquela análise. Parecia algo íntimo demais, tê-lo ali, tocando-
a.

― Me perdoe. Acho que me distraí. ― Bernardo abriu o seu


melhor sorriso inocente. ― O que posso fazer pela senhorita?

— Eu pedi que chamassem um médico para ver a Sra.


Fitzgerald e mandei chamar uma nova cozinheira para
substituí-la. Queria lhe avisar sobre isso.

— Sim, claro, claro. — Montress acenou positivamente com a


cabeça, concordando com tudo aquilo. — O que tem a Sra.
Fitzgerald?

— Ela machucou as costas.

— Ah! Sim. Entendo.


— Você está mesmo bem? — Samantha perguntou, ainda
preocupada. — Quando você entrou na cozinha, pareceu
passar mal. Pensei até que desmaiaria.

— Eu estou bem. — Bernardo ajustou o lenço em seu


pescoço, agora mais à vontade. —

Apenas não esperava que tivesse tanta gente na cozinha.

— Não era para ter, mas ainda faltam muitos pratos para
finalizar os preparos, então pedi que mais criados viessem
ajudar.

— O papel de governanta parece que lhe cai bem. Tem se


mostrado bastante eficiente em gerenciar esta casa, para
que o evento aconteça. Espero que aceite ocupar este cargo.

Samantha não esperava aquela promoção.

— Não acredito que consegui deixá-la sem palavras —


zombou.

— Isso foi inesperado — expôs, um pouco envergonhada.

— Sei que sim, mas quero que aceite, mesmo assim. Claro
que neste caso terá que encontrar uma nova babá para a
Sophia.

— A moça que está cuidando dela hoje me parece bastante


competente.

— Maravilha, então. — Bernardo sorriu, satisfeito. — Você


será a governanta e a moça, a nova babá. Agora só falta
esse maldito baile acabar.

— Você está odiando esse evento, não é? ― Samantha


observou.
— Odeio multidões — Bernardo confessou. ― Não o baile em
si. Eu gosto de dançar, mas de preferência com o mínimo de
pessoas possíveis me olhando.

— Não entendo. São apenas pessoas, cuja maioria você já


conhece.

― Eu sei, mas isso não diminui a sensação ruim que me


causa. ― Tentou explicar.

Então, finalmente, Samantha compreendeu.

— Você tem medo de multidões. Deveria ter dito antes, eu


não teria insistido tanto. Se quiser, eu ainda posso cancelar.

Aquilo seria tudo que Bernardo queria, porém, não poderia


fazê-lo. Samantha já havia tido todo o trabalho duro para
realizar aquele evento, nunca se perdoaria se fizesse com
que tudo fosse em vão.

— Não é necessário. E eu não tenho medo de multidões,


como afirma, apenas não gosto —

Bernardo negou, não querendo deixar nenhuma fraqueza ser


vista.

— Claro que não, desculpe ter sugerido algo tão absurdo. —


Samantha fingiu que acreditava nas palavras dele, afinal,
não era fácil um homem assumir algo tão degradante.

— Eu vou voltar para o meu escritório.

— Eu estarei na cozinha, caso precise de mim. — Samantha


sorriu. ― Inclusive, durante o baile.

— Não vai participar do baile? — Bernardo pareceu confuso.

— Criadas não participam de bailes, senhor.


— Perdoe-me, às vezes me esqueço de que é apenas uma
criada.

— Não precisa se desculpar. — Samantha sorriu,


compreensiva.

— Claro. — Bernardo acenou com a cabeça e em seguida


voltou para o seu escritório.

Saber que estaria sozinho para receber os convidados o fez


ficar mais aflito. Infelizmente não teria como permitir que a
criada participasse do baile, todos já a conheciam e se
sentiriam

ofendidos pela presença dela.

Mas então uma ideia inusitada lhe surgiu, e o fez ter


esperanças que não precisaria passar por aquilo sozinho.

Decidido, Bernardo pediu que selassem seu cavalo e seguiu


a galope para a cidade.

CAPITULO 6 ― O BAILE

A chegada da cozinheira nova causou um alvoroço que


Samantha não previu. Alguns criados, por conhecerem a
mulher, se recusaram a continuar trabalhando no mesmo
lugar que ela e o ambiente se tornou caótico, quando
insultos e acusações começaram a ser jogados contra a Srta.
Clark.

― Eu não vou trabalhar com uma meretriz ― uma criada, a


Sra. Clemmens, praticamente gritava, incentivando as outras
companheiras a fazerem o mesmo.

― O que está acontecendo aqui? ― O mordomo entrou na


cozinha, preocupado, ao escutar os gritos.

― Essa mulher é uma prostituta, ela nem devia estar aqui,


senhor. ― A mulher cuspiu nos pés da Srta. Clark, em sinal
de total desprezo. ― Não devemos ter mulher desse tipo
entre nós.

― Ela dorme com o demônio ― outra acrescentou, fazendo


as mais próximas da recém-chegada se afastarem, como se
estivessem sendo queimados.

― A mulher que você mandou chamar é uma prostituta? ― O


mordomo olhou para Samantha, surpreso com aquela
informação.

― Não sou uma prostituta, senhor ― a mulher se defendeu.

― Mas foi uma ― outra mulher a acusou. ― Mulher suja.


Pecadora.

O mordomo encarou para Samantha com o olhar


indecifrável.

― Resolva isso, antes de o barão retornar. ― Em seguida, o


homem deu as costas e se retirou.

Ao ver a confusão que estava causando, a Srta. Clark olhou


para Samantha com tristeza no olhar, mas não parecia
surpresa com aquela reação.
― Senhora, é melhor que eu me vá, caso contrário, a
confusão não cessará. Obrigada por ter me chamado, mas
vimos que não dará certo.

Provavelmente, ser insultada e desprezada era uma situação


comum para a cozinheira, mas não para Samantha. Ela não
permitiria aquilo naquela casa. Seria a governanta e
situações como aquela jamais se tornariam corriqueiras, se
dependesse dela.

― A senhorita não irá a lugar algum. ― Samantha ergueu a


voz acima de todos, impedindo que a cozinheira desse mais
um passo em direção à saída. ― Não acredito que vocês se
dizem cristãs.

― Ela olhou furiosa para as outras mulheres que estavam na


cozinha. ― Vocês nem mesmo servem a Cristo, ao agir dessa
forma. Não passam de hipócritas que apenas usam o nome
Dele para apontarem o pecado dos outros na tentativa de
esconder os seus. A Srta. Clark veio aqui para trabalhar, e
vocês também. Apenas a Deus pertence o seu julgamento, o
que ela fez ou deixou de fazer é entre ela e Deus e, pelo que
vejo, Ele não está em nenhuma de vocês, pois enquanto
apontam o dedo para ela, se recusando a trabalharem em
conjunto, a bíblia ensina que Jesus acolheu a pecadora,
perdoo-lhe suas faltas e a fez sentir-se amada por ele. Onde
está o amor de vocês? “Amai-vos uns aos outros” é o
mandamento de Cristo, uma frase simples e direta, sem
exceções, devemos amar a todos. Eu não vi nenhuma
passagem bíblica em que Jesus aponta o dedo para um
pecador e o acusa de seus pecados, muito menos, alguma
passagem em que ele recusa permanecer entre os
pecadores. E se Jesus, que é o filho de Deus, não fez isso,
por que vocês se acham no direito de fazer? Por acaso, são
melhores que Deus?
As mulheres quase todas ficaram de cabeça baixa,
envergonhadas pelas atitudes que tiveram.

Samantha olhou uma por uma, até que encontrou o olhar da


Sra. Clemmens.

― Não somos melhores que Deus, mas há um ditado que diz:


fruta podre no meio de fruta boa, apodrece todo resto. ― A
mulher continuou firme na decisão de insultar a cozinheira.
― Se for para trabalhar com essa meretriz, eu irei embora.

― Fará um favor ao ir embora, não a quero semeando o ódio


entre os criados. A porta está aberta. ― Samantha apontou
para a saída. ― E quem mais quiser ir embora, esteja à
vontade, mas a cozinheira fica.

Três outras mulheres seguiram a Sra. Clemmens, que bufava


de raiva, rumo à saída. As demais mulheres permaneceram
na cozinha, ainda cabisbaixas e envergonhadas pela atitude.

― Eu não tolerarei qualquer insulto para com a Srta. Clark.


― Samantha foi firme naquela decisão. Jamais tolerarei algo
tão vil novamente para com outra mulher. ― Eu fui clara?

― Sim, senhora ― elas responderam em uníssono.

― Então, voltemos ao trabalho.

Samantha passou o restante da tarde entre a cozinha e o


salão, ora organizava o local principal onde seria realizado o
baile, ora ia à cozinha supervisionar o andamento das coisas
e conferir se todos estavam tratando bem a nova cozinheira.
Quando finalmente pôde parar um pouco, Samantha esticou
a coluna, na tentativa de amenizar o a dor causada pelo
cansaço e por andar tanto de um lado para o outro,
resolvendo os problemas que aconteciam.

Faltava uma hora para o início do baile e Samantha


precisava, ao menos, tirar aquele cheiro de suor causado
pelo dia exaustivo, caso precisasse resolver algo no salão
queria, pelo menos, não estar fedendo, uma vez que não
tinha perfumes caros para camuflar o odor. Um banho
quente seria uma regalia que adoraria usufruir. Entretanto,
teria que se conformar com um rápido banho gelado, até
porque não tinha tempo para se permitir ter aquele luxo.

Direcionou-se para seu quarto o mais rapidamente que suas


pernas, já cansadas e doloridas, permitiram. Entrou em seus
aposentos e, após trancar a porta, seguiu para sua tina.

O quarto estava levemente escuro, uma vez que o sol estava


se pondo e ela ainda não havia acendido nenhuma das velas
que iluminariam o ambiente. Não se importou, já conhecia a
disposição dos móveis e dificilmente erraria a direção a ser
tomada para que chegasse à sua tina.

Rapidamente tirou sua roupa e jogou água em seu rosto e


logo em seguida nas costas. O frio da água a fez tremer, mas
não desistiu, pegou o sabão e começou a espalhar em sua
pele. A ardência comum lhe era sinal de pele limpa. Fez todo
o processo o mais rápido possível e, logo em seguida, saiu
da tina e se enrolou em um pano, secando-se o melhor que
pôde.

A visão já tinha se acostumado com o escuro, e ela


conseguia ver o contorno dos móveis em seu quarto. Seu
baú com suas roupas estavam ao lado da cama e ela
começou a andar em direção a eles. Entretanto, ao chegar
próximo à cama, seu corpo cansado clamou que ela se
sentasse um pouco.

Cinco minutos de descanso não seria um pecado tão grande.

Aproveitando os minutos de paz, jogou-se na cama, mas em


vez de sentir embaixo de si os lençóis macios e gélidos,
sentiu-se cair em algo diferente. Confusa, Samantha
levantou-se e foi até

o criado-mudo, e pegou uma vela.

Ao ter o ambiente iluminado, a moça pôde ver em cima de


sua cama um vestido verde e ao seu lado uma máscara e
um pedaço de papel. Era um bilhete.

“Você inventou esse maldito baile, não passarei por isso


sozinho. Vista-se e me encontre no salão. Lembre-se de por a
máscara.

O bilhete não tinha assinatura, mas tampouco era


necessária. Samantha sabia que aquilo tinha sido enviado
por Montress. Pegou a máscara nas mãos e notou que ela
combinava perfeitamente com o vestido. Ficou curiosa: Não
era um baile de máscaras, por que ela usaria uma?

Entretanto, por saber que a máscara lhe permitiria não ser


reconhecida, faria o que o barão pediu.

Pegou o vestido nas mãos e sentiu o toque da seda, da


musselina e da delicada renda no corpete. Fazia tempo que
não tocava em algo tão belo e caro. Sorrindo e suspirando,
encantada, a mulher rodopiou abraçada ao vestido.

Apesar do cansaço, a ideia de participar do baile como


qualquer outra mulher convidada a animou. Poderia até
dançar com alguns dos cavalheiros que estariam presentes.

A alegria deu-lhe um novo ânimo para aguentar o restante


da noite. Seria ainda mais cansativo, e sabia que, no dia
seguinte, acordaria completamente dolorida, mas não se
importava, só queria aproveitar o baile.

Se antes Bernardo estava nervoso, naquele momento não


saberia mais que nome dar a seu infortúnio. As carruagens
não paravam de chegar, e cada pessoa que entrava em sua
casa o deixava mais desconfortável.

Não havia conseguido encontrar nas lojas da vila, máscaras


que dessem para todos. Por isso, decidiu que apenas as
mulheres as usariam. Pediu que os seus criados
distribuíssem as máscaras para as senhoras e senhoritas,
antes mesmo que elas descessem de suas carruagens.
Apesar de algumas reclamarem que não combinava com o
vestido, ou que iria bagunçar o penteado, todas as mulheres
portavam máscaras em seus rostos, impedindo assim que
ele as reconhecesse. Aquilo dificultaria saber quem deveria
convidar para a temporada de campo depois, entretanto,
não se importava.

Bernardo a viu de longe descendo as escadas, em um porte


áureo que faria muitas moças se empertigarem de inveja. O
vestido tinha lhe caído perfeitamente, deixando suas curvas
evidenciadas. Estava deslumbrante. Por um momento, o
barão esqueceu-se de seu próprio desconforto, hipnotizado
pela mulher que vinha ao seu encontro.
― Eu sabia que ficaria bonita no vestido quando eu o vi na
loja, mas não esperava que ficasse tão linda.

― Obrigada. Eu amei o vestido. ― Samantha sorriu,


realmente agradecida e encantada. Se sentia linda e saber
que ele também achava, a aqueceu por dentro. ― Mas por
que a máscara?

― Apenas assim poderia tê-la a meu lado. ― Bernardo sorriu


e estendeu o braço para ela. ―

Se importa de receber os convidados comigo?

― Não acredito que seja adequado, como irá me apresentar


para as pessoas? ― Samantha sabia que ele não iria
apresentá-la com o nome verdadeiro.

― Posso lhe apresentar como Srta. S.? ― o barão sugeriu. ―


Como todas as mulheres estão mascaradas, acho que
revelar o nome diminuiria consideravelmente o mistério.

― Isso dificultará que eu saiba quem é quem. Como saberei


quem escolher para convidar para a temporada?

― Eu estava ocupado em encontrar o máximo de máscaras


possíveis, para me preocupar com as consequências que isso
causaria, mas devo dizer, não me arrependo.

― Lógico que não, serei eu a adivinhar quem são as damas


por trás das máscaras ― Samantha alfinetou.

― Não seja tão negativa. Veja pelo lado bom, você está aqui
comigo.

― Me dará os nomes para que eu convide as damas para a


temporada. Encontre um jeito de descobrir.
― Está me dando ordens, Srta. S.? ― Bernardo ergueu uma
sobrancelha.

― Não, milorde, claro que não. ― Samantha ficou um pouco


envergonhada, não havia percebido que tinha falado em tom
imperativo, mas então percebeu que havia deboche no olhar
de Montress. ― Peço desculpas. Permita-me reformular a
frase: O senhor poderia fazer a gentileza de me informar, ao
final do baile, o nome das damas que lhe despertarem o
interesse?

Bernardo segurou-se para não gargalhar em meio à tanta


gente.

― Você é uma caixinha de surpresas.

Samantha sorriu com aquele elogio. Percebeu que gostava


de provocá-lo, assim como ele parecia ter adquirido o hábito
de fazer o mesmo com ela.

Seguiram ambos para a entrada. Os convidados continuaram


chegando, e Bernardo voltou a ficar tenso. Samantha
percebeu quase de imediato aquela situação, que confirmou
a suspeita que ela tinha sobre ele ter medo de multidões.

― Por que as mulheres usam máscaras e os homens não? ―


Samantha perguntou, assim notou aquela estranha situação.

― Eu não encontrei máscaras suficientes nas lojas ―


confidenciou, fazendo Samantha segurar a risada. ― Então,
ao final, só tinham máscaras para as mulheres.

― Foi muito inteligente ao encontrar essa saída. Porém não


direi que foi uma ótima ideia, pois a finalidade inicial do baile
era apenas selecionar as mulheres que convidará para a
temporada.
― Eu sei, eu sei, vai ficar sempre repetindo isso?

― Obviamente.

Bernardo revirou os olhos e voltou a recepcionar os


convidados que se aproximavam.

Samantha notou que, enquanto conversavam, Bernardo se


acalmava. Então decidiu que tentaria distraí-lo o máximo
que pudesse, afinal, queria que aquele fosse um momento
tão agradável para ele, quanto estava sendo para ela.

Os convidados foram se amontoando no salão de dança, os


músicos estavam prontos para tocar seus instrumentos e a
mesa de comida estava repleta de quitutes e petiscos, e
havia ponche e vinho para quem quisesse. A multidão
parecia se divertir e estavam mais que curiosos para
conhecer a mansão Greenmount.

― Está na hora de iniciar o baile, escolha uma dama para


que comece dançando com você. A primeira dança é uma
quadrilha.

― Tudo bem, vamos iniciar, então. Me daria a honra dessa


dança? ― Bernardo pediu, se inclinando galantemente e
estendendo a mão em direção à dama. Ele não queria se
afastar de Samantha tão rapidamente.

― Quando sugeri que escolhesse uma moça, estava me


referindo às outras do salão ― ela

sussurrou para que ninguém, além de Bernardo, ouvisse.

― Pretende negar-me essa dança?

Samantha olhou ao redor e percebeu que a demora em


aceitar o convite do barão estava chamando a atenção.
― Claro que não. ― Ela tomou a mão dele na sua e seguiram
juntos para o centro do salão.

Assim que se posicionaram, outros casais fizeram o mesmo,


e a banda começou a tocar.

Bernardo e Samantha dançavam em silêncio, ela tentando


não errar nenhum passo, uma vez que fazia muito tempo
que não dançava, e ele tentando ignorar todas as pessoas à
sua volta.

― Você está gastando uma de suas danças comigo ― ela


informou a Bernardo, quando pegou o ritmo e teve certeza
de que não mais havia risco de pisar no pé do barão.

― Não tem problema.

― Montress, o senhor terá que escolher moças para a


temporada, e não poderá fazê-lo, se passar a noite inteira
comigo. Terá que conhecer um pouco das outras mulheres,
para ver qual irá agradá-lo.

Bernardo suspirou, desgostoso, estava cansado de ouvir


Samantha falar que ele tinha que escolher as mulheres. Não
queria conversar com outras e, muito menos, escolher
ninguém.

― Se a senhorita tocar novamente nesse assunto, eu


cancelarei a temporada.

― Mas... ― Samantha tentou argumentar, entretanto, foi


silenciada pelo olhar firme do barão.

― Está bem, o senhor sabe o que tem que fazer, não vou
mais ficar relembrando de seu dever.

― Agradeço.
Bernardo conduziu Samantha habilmente no ritmo da
música.

A mulher sorria, deslumbrada, com a dança, e Bernardo não


pôde deixar de notar que ela dançava com muita graça.

― Fazia tanto tempo que eu não dançava que tinha


esquecido o quanto é maravilhoso ―

Samantha comentou, sorrindo.

― E você ainda queria negar este momento de prazer.

― Fico feliz que tenha insistido em dançar comigo.

― Eu não me permitiria dançar com nenhuma outra, se


primeiro não dançasse com a senhorita.

Somente desse modo é que conseguirei suportar a tortura


das horas que virão.

― Não seja dramático. ― Samantha riu. ― O senhor irá


aproveitar demasiadamente este momento e, quando
perceber, sentirá falta por ter chegado ao fim.

― Isso, minha cara, jamais acontecerá, mas sentirei falta,


sim, quando esta dança chegar ao fim, pois temo não
encontrar uma outra mulher que dance tão bem quanto a
senhorita.

Samantha apenas ria dos elogios do barão.

― Se continuar me elogiando assim, me fará crer que não


quer dançar com mais ninguém.

Bernardo não respondeu a essa pergunta com palavras, mas


deu a Samantha um olhar significativo, que a fez acreditar
que ela estava certa ao pensar aquilo.
Quando a primeira dança finalmente chegou ao fim, e
Bernardo seguiu com Samantha para a mesa de bebidas.
Pegou uma taça de vinho para si e entregou um com ponche
a ela. Como estava com sede, entornou o vinho de uma só
vez. Não se importaria de ficar levemente embriagado,
estava bastante animado e, talvez, até ajudasse a suportar o
calvário que seria aquela noite.

Enquanto mantinha Samantha ao seu lado, sentia-se menos


aflito, entretanto, pensar em dançar com outras mulheres,
que ele nem sequer conhecia, o deixava desconfortável. Não
que a culpa fosse das mulheres com quem dançaria, mas
odiava dançar ou fazer qualquer coisa que o deixasse como
centro das atenções. Precisaria fazer as coisas que o
deixavam desconfortável, mas nada o

obrigava a fazê-lo completamente sóbrio.

― Você não pretende ficar bêbado, não é? ― Samantha


perguntou, preocupada, ao ver que ele voltava a encher o
copo com vinho, de certa forma adivinhando os
pensamentos do barão.

― Não se preocupe, eu não costumo ficar bêbado com


facilidade.

Samantha concordou, apesar de continuar preocupada.


Bebericou um pouco do seu ponche, e voltou com o barão
para o salão.

― Em breve, teremos a segunda dança ― Samantha o


lembrou.

Bernardo olhou ao redor, tentando escolher quem seria a


mulher a dançar com ele a próxima dança. Encontrou um
antigo conhecido, o Sr. Helvet, ele havia sido amigo de seu
pai, e tinha uma filha, que ele supunha ser a mulher mais
jovem ao lado dele.

― Encontrei um par para a próxima dança — Bernardo


informou para Samantha. — Vamos.

— Você quer que eu o acompanhe?

— Obviamente.

Samantha suspirou. Pelo visto, ele não desgrudaria dela


nenhum segundo sequer. O problema disso, era que
Bernardo não percebia que estar o tempo todo com ela
poderia causar uma má impressão aos convidados e eles
acreditarem que os dois estavam juntos.

Caminharam até onde estava o Sr. Helvet e, após


cumprimentá-lo, ele lhes apresentou a esposa e a filha.

― Sra. Helvet. ― O barão fez uma leve reverência para a


dama casada, e em seguida cumprimentou também a
solteira. ― Srta. Helvet. A senhorita me daria a honra de
uma dança?

A moça olhou para os pais, aguardando aprovação deles,


antes de estender o cartão para Montress, que colocou seu
nome na parte interna do objeto.

Se despediram momentaneamente do casal e sua filha e


seguiram pelo salão.

— Quantas músicas escolheu para o baile?

― Serão oito. Três polcas, quatro quadrilhas e uma valsa e


tem mais duas músicas extras, caso ainda esteja disposto a
dançar com mais alguma dama.

— Então, ainda me resta escolher seis mulheres.


Bernardo escolheria as outras seis mulheres aleatoriamente.
Pouco lhe importava se seriam elas as convidadas para a
temporada ou não. Só queria acabar logo com aquilo. Seguiu
com Samantha para a mesa de bebidas e novamente tomou
vinho, dessa vez apenas meia taça.

A segunda dança começou, era a vez da polca. Bernardo


seguiu para a pista de dança, enquanto Samantha ficou em
uma das colunas do salão, observando de longe o barão
dançar.

Ela conseguia perceber que ele não estava à vontade,


sozinho ali, e isso era evidenciado pela pequena veia que
saltava da mandíbula do barão, indicando bastante
concentração.

Enquanto Bernardo dançava, Samantha passeou o olhar


pelas pessoas ali presentes. Todos observavam os casais no
centro do salão e pareciam se divertir. Alguns comiam e
algumas damas permaneciam sentadas, apenas observando
as outras mulheres dançarem.

Alguns homens passavam por essas mulheres sentadas e


nem sequer olhavam para elas. Em um baile como aquele,
em que os convidados masculinos foram selecionados com o
único propósito de não deixar nenhuma mulher sem dançar,
era um desrespeito que os cavalheiros não levassem seus
deveres a sério.

Samantha esperou que a dança terminasse, para poder


conversar com Montress sobre aquele fato.

— Preciso que converse com os homens, para que eles


dancem e não apenas bebam e conversem entre si. Você é o
anfitrião, precisa ter certeza de que cada moça dance, ao
menos, uma
música. Como não os conheço, não é adequado que me
aproxime deles e os lembre de dançar com algumas damas...

— Vamos remediar essa situação — Bernardo concordou, e


seguiram para onde estavam um grupo de cavalheiros e
algumas damas.

Bernardo fez as apresentações, e se arrependeu no mesmo


momento, ao perceber que metade dos homens começou a
olhar Samantha, com sorrisos maliciosos.

— É um prazer imenso conhecer uma dama tão bela — um


deles ousou dizer e recebeu um olhar carrancudo do barão,
porém, o homem só tinha olhos para Samantha e não
percebeu a forma como Montress o olhava.

— O prazer é meu. — Samantha deu-lhe o melhor sorriso de


encantamento que possuía, o que desgostou o barão. — O
senhor dança?

— Devo dizer-lhe, sem nenhuma modéstia, que sou um


exímio dançarino. Gostaria de comprovar isso, me dando a
honra da próxima dança?

— Isso é maravilhoso. — Samantha sorriu ainda mais. — Eu


fico lisonjeada com o convite, mas me machuquei um pouco
na última dança e temo não mais conseguir dançar hoje,
mas ficaria muito feliz se o senhor me mostrasse seu
talento, tirando uma de minhas amigas para dançar.

Infelizmente como estou acompanhando Lorde Montress,


não pude dar a devida atenção que minhas queridas amigas
merecem, mas se o senhor puder dançar com alguma delas,
eu ficaria eternamente agradecida.

O homem olhou para as mulheres que ocupavam as cadeiras


no salão com a animação visivelmente diminuída, não
parecia nada feliz em dançar com algumas delas, mas não
seria cavalheiresco recusar o pedido.

— É claro, minha dama. Se isso a deixar contente.

— Me deixará muito feliz, milorde. — Samantha piscou os


olhos toda coquete.

— Senhores, nos deem licença, ainda temos que


cumprimentar alguns outros conhecidos.

Aproveitem a festa — Bernardo de despediu abruptamente e


saiu quase arrastando Samantha pelo salão.

Samantha lembrou-se de mancar um pouco para não ser


tida como mentirosa pelos homens que ainda a observavam
ao longe, mas assim que ficaram fora de vista, ela voltou a
andar normal.

— O que pensa que está fazendo, flertando com os homens


daquela forma?

— Estava apenas tentando fazê-los dançar com as moças


nas cadeiras — Samantha justificou-se, sem deixar de notar
o quanto o barão parecia aborrecido.

— Não precisava se jogar para cima dele, como fez.

— Ele não as convidaria, se não pensasse eu flertava com


ele.

— Então, que não convidasse. Não quero que repita isso. Eu


a proíbo.

Samantha ergueu uma sobrancelha, enquanto encarava o


barão. Ele a proibia?
— Se não quer minha intervenção, faça com que os homens
dancem com as pobres moças, ninguém merece vir a um
baile e não dançar uma música sequer.

― Eu farei isso ― Bernardo respondeu, irritado. ― Ainda


tenho que dançar seis músicas, elas servirão. Inferno, ainda
restam seis.

Após dizer isso, Bernardo seguiu com Samantha para onde


as moças estavam sentadas sozinhas nas cadeiras, apenas
observando as outras dançarem. Havia cinco moças, uma
tinha cabelos pretos e usava um vestido amarelo claro, outra
delas, por sua vez, uma loira, usava um tom rosado, duas
das moças usavam tons claros de azul, uma tinha os cabelos
castanhos e a outra possuía fios loiros, e por fim, outra loira
usava um vestido branco.

― Senhoritas ― o barão as saudou, com uma inclinação


teatral.

As moças retribuíram a saudação com uma reverência e


esperaram que ele continuasse.

― Será que as belas damas poderiam salvar esse pobre


homem de seu desafortunado destino?

― Em que podemos ser úteis, milorde? ― Uma delas, a moça


de cabelos negros e vestido amarelo claro, perguntou,
representando as outras.

― Creio ainda ter seis músicas para dançar e nenhum par.


Espero que possam me ajudar a remediar essa triste
situação.

Samantha revirou discretamente os olhos diante do drama


exagerado feito pelo barão.
― Por que quer dançar conosco? ― a morena de vestido azul
perguntou, desconfiada, e levou uma cotovelada da moça
que estava ao lado e usava o vestido rosa.

Samantha se admirou com a moça. Era difícil encontrar


alguma moça que ousasse questionar algo. Aquela acabava
de chamar a atenção de Samantha, e não só a dela, pois
Bernardo sorriu de orelha a orelha ao ouvir aquilo.

― Perdoe a nossa amiga, senhor, ela não costuma ser tão


inconveniente ― desculpou-se a de branco.

― Não há o que desculpar ― o barão dispensou as desculpas


e em seguida olhou para a moça de vestido azul. ― Por que
eu não iria querer dançar com as senhoritas?

― Ninguém costuma dançar conosco ― a moça respondeu,


dando de ombros, sem expressar nenhuma emoção, era
apenas a constatação de um fato.

― Isso só mostra o quanto são tolos. ― Bernardo sorriu,


galante.

Bernardo parecia estranhamente à vontade perto daquelas


jovens e isso fez Samantha ficar curiosa. Até aquele
momento, ele não tinha flertado com nenhuma outra
mulher, e até parecia desanimado para fazer aquilo, até
encontrar aquelas mulheres.

A moça de azul sorriu com a resposta do barão.

― Isso nós já sabíamos ― ela comentou, orgulhosa.

Sempre dizia aquilo para as amigas. Os homens eram tolos.


Bom, quase todos. Havia alguns poucos homens que não
mereciam aquele título. Talvez, o barão fosse um deles.
― Nesse caso, poderei contar com as senhoritas para as
próximas danças?

As moças sorriram e, uma a uma, estenderam os seus


cartões de dança para que o barão pudesse colocar seu
nome.

Assim que terminou de colocar o nome nos cartões, os


músicos se prepararam para dar início à terceira dança e o
barão seguiu com a de azul, a mesma que tinha feito as
perguntas, para o salão.

Samantha ficou ao lado das outras moças, observando o


barão dançar com a mulher de vestido azul e decidiu sentar-
se, ocupando o lugar da que estava dançando.
Estranhamente não sentiu a menor vontade de interagir
naquele momento e, tampouco, as moças tentaram manter
uma conversa amistosa, ao que, mentalmente, ela
agradeceu.

A senhorita Hemwer não tirava os olhos do casal que


dançava no meio do salão em uma sincronia perfeita. O
sorriso despojado e sincero no rosto do barão a fez ter
certeza de que ele se divertia. Talvez tivesse encontrado a
mulher certa para ele.

Aquilo deveria deixá-la feliz. E ela estava feliz, ou era o que


tentava dizer para si, ao obrigar-se a erguer os lábios na
tentativa de demonstrar a felicidade que sentia.

Retirou a careta que a falha tentativa de sorrir formou em


seu rosto, antes que alguém visse.

Não havia nenhum motivo para que ela não se alegrasse


com o progresso do barão e isso a perturbava.
Talvez o fato de que logo ela voltaria a ser apenas a criada
da casa a deixasse triste. Sim, era

isso!! — convenceu-se. Estava triste porque quando ele se


casasse, não poderiam mais ter a mesma proximidade que
aqueles meses proporcionaram, preparando os eventos para
encontrar a esposa perfeita.

Logo ela não poderia mais passear com ele pelos jardins,
enquanto viam Sophia brincar. Não poderia ter as conversas
ácidas que tinham e ela não mais se sentiria protegida,
como se ele se importasse com ela. Em breve, aquela
proximidade não mais poderia existir.

Samantha respeitaria a nova baronesa e sabia que o melhor


seria se distanciar do barão, após o casamento, para evitar
falatórios indevidos que chegassem a causar ciúme na outra
mulher e se tornasse um problema no matrimônio e
acabasse com ela jogada na rua, difamada.

Samantha suspirou, entristecendo-se com um futuro que


nem sabia se haveria de acontecer, mas que apenas o
pensamento foi capaz de lhe tirar a alegria da noite.

O baile continuou noite afora, e Bernardo, à medida que o


vinho lhe entorpecia, parecia mais à vontade com as
pessoas ali. Entretanto, passou o resto da noite conversando
e dançando com as moças das cadeiras.

Samantha, por mais que tentassem incluí-la nas conversas,


não conseguiu interagir como deveria. Apenas não tinha
ânimo para participar de mais nada.

— Está tudo bem? — Bernardo perguntou-lhe, certo


momento, ao perceber o silêncio da mulher. — Você está tão
quieta.
— Apenas estou cansada — respondeu uma meia verdade.
— Hoje foi um dia longo e ainda não descansei.

— Me desculpe por isso, queria tanto que participasse


comigo, que nem notei o quão cansada estava.

— Tudo bem, não precisa desculpar-se. Eu estou bem.

— Logo o baile findará e poderá descansar o quanto quiser


— ele assegurou baixinho para que só ela ouvisse. — Poderá
tirar o dia de folga amanhã, se quiser.

— Obrigada. — Samantha sorriu, animada, esquecendo-se


momentaneamente de sua tristeza e já sentindo o quão
delicioso seria não precisar sair da cama no dia seguinte.

Bernardo sorriu ao vê-la se alegrar por algo tão simples


quanto um dia de folga.

Ela tem um sorriso não lindo... — pensou, após notar que os


olhos dela brilhavam quando ela sorria e as bochechas
criavam duas covinhas.

O início de uma nova dança, a última, para o alívio do barão,


o fez sair de perto de Samantha e ir novamente ao salão.
Entretanto, mesmo enquanto dançava com outra mulher,
não tirava os olhos de Srta. Hemwer, que permanecia
sentada ao lado das outras mulheres alheia aos seus
olhares.
CAPITULO 7 ― PEDIDOS

Bernardo acordou cedo. Muito cedo para alguém que tinha


ido dormir poucas horas antes de o sol nascer.

A noite anterior, apesar de não ter sido tão agradável, havia


lhe proporcionado bons momentos e uma pequena ressaca
causada pelo vinho.

A ressaca lhe deixou de mau humor e bastante irritadiço,


mas, ainda assim, ele desceu para tomar seu desjejum.

Ao entrar na cozinha, deparou-se com uma mulher que não


conhecia.

— Quem é você?

— Eu sou Eloise Clark — a moça se apresentou, um pouco


nervosa.

— E onde está a Sra. Fitzgerald? — Bernardo indagou,


erguendo uma sobrancelha.

— Ela se machucou ontem e eu fui contratada para assumir


a cozinha — a moça explicou, sem parar de mexer a panela.

— Você não é muito jovem para ser uma cozinheira? — o


barão perguntou, ao notar a aparente juventude da moça.

— Minha mãe era cozinheira e eu cresci entre as panelas,


então, acabei aprendendo o ofício desde pequena.

— E onde trabalhava, antes de ser contratada?

A moça hesitou momentaneamente, mas ergueu a cabeça


orgulhosamente.

— Em Magdala, milorde.
— Era a cozinheira das moças de lá? — perguntou, um pouco
desconfortável.

Fernanda também estava lá, era uma das idealizadoras da


casa de acolhida, e saber que aquela mulher a conhecia o
deixou com um nó na garganta e uma sensação ruim, que
não era causada pela ressaca.

— Eu sou uma das moças de lá.

— Entendo.

Bernardo ficou pensativo. Magdala tinha cada dia mais


moradoras, logo não conseguiria cuidar de todas as moças.
A sociedade ainda tinha um enorme preconceito com tais
mulheres e era difícil que elas conseguissem encontrar
algum trabalho.

— Há quanto tempo está morando em Magdala? — ele


perguntou, para saber o quanto a moça conhecia da história
da casa.

— Quase um ano.

— Entendi. — Bernardo voltou a ficar pensativo.

Será que a moça sabia o seu parentesco com a responsável


pela casa onde ela morava?

— Não vai me perguntar o motivo de eu estar morando lá? —


a cozinheira perguntou, com o cenho franzido.

— Não — Bernardo respondeu para a moça, fazendo-a o


fitar, surpresa. — Não que eu não me importe com o que
tenha lhe feito buscar refúgio em Magdala, mas minha
experiência me diz que a maioria das moças que vão para lá
é porque não tem mais para aonde ir. Estão fugindo dos
maridos ou dos bordéis... Ou até da família.
— Isso parece incomodá-lo, mas de um jeito diferente que
costuma incomodar as pessoas — a Srta. Clark declarou,
após observar o quanto ele parecia angustiado.

— Não me incomodo que tenha vindo de lá, não precisa


temer que eu a expulse por causa disso. Deixarei que
trabalhe em paz, Sra. Clark.

— Senhorita. Não sou casada.

— Senhorita Clark — corrigiu-se Bernardo. — A propósito,


quanto tempo ainda falta para a comida ficar pronta?

— Um quarto de hora e já será servido, senhor.

— Ótimo. O cheiro está muito bom.

Bernardo seguiu de volta para a sala de refeições e sentou-


se à mesa, esperando seu desjejum.

Pelo que tinha visto na cozinha, ele seria bastante farto.

Quando Samantha acordou, já passava do meio-dia, tinha


ido dormir exausta e as horas a mais de sono ajudaram a
recuperar as forças. Tinha aquele dia de folga, mas não sabia
muito bem o que iria fazer com ele. Provavelmente ficar na
cama o dia todo.

A ideia lhe parecia perfeita, mas sua barriga roncou,


discordando. O barulho alto no silêncio a fez rir e ela se
levantou na intenção de chegar à cozinha e conseguir algo
para comer, levaria para o quarto e passaria o dia
descansando e, talvez, para não ficar entediada, procuraria
na biblioteca algo para ler.

Desceu para a cozinha e de longe sentiu o cheiro delicioso


de comida bem feita. Não que a Sra.

Fitzgerald não cozinhasse bem, mas ela sempre fazia as


mesmas receitas, então o cheiro não era uma novidade,
diferente daquele que Samantha agora sentia. Não sabia o
que estava sendo preparado, mas mal podia esperar para
provar.

Para a sua tristeza, ainda teria que esperar alguns minutos


para a comida ficar pronta, mas não tinha problema em
aguardar.

O dia estava lindo, Samantha constatou após olhar pela


porta. Decidiu que um pouco de ar puro lhe ajudaria a
despertar por completo. Seguiu para fora e começou a
caminhar pelo jardim. O

outono já estava colorindo algumas árvores com os mais


diversos tons de cobre, e isso deixava a paisagem singular.

Observando a paisagem, Samantha notou os jardineiros


podando alguns arbustos. O jardineiro principal, o Sr. Roney,
era um homem rabugento, já cansado pelos anos de
trabalho, mas que agora ensinava o ofício de cuidar das
plantas e deixar o jardim sempre verde ao jovem James,
carinhosamente chamado por Jimmy por ela. O jovenzinho
devia estar na faixa dos quinze anos e havia nascido e se
criado no baronato; era filho de uma das empregadas da
casa, a Sra. Kleys, e, apesar de estar ali há mais tempo que
Samantha, era tido como um rapaz tolo e incapaz de se
comunicar, sendo muitas vezes excluído das rodas de
conversa, ainda que fosse quase sempre assunto delas, por
causa de sua gagueira.
― B-b-b-bom d-dia, Se-senho-ri-rita Hem-we-wer ― Jimmy
saudou alegremente, como fazia sempre que via Samantha
em algum lugar. Apesar de a maioria dos empregados da
casa não ter paciência com o jovem, Samantha nunca se
importou com sua gagueira.

― Bom dia, Jimmy ― ela o saudou, retribuindo o sorriso.

― Co-como a se-se se-nho-nhori-rita e-e-está?

― Eu estou bem, e você?

― Be-bem t-t-tamb-b-bém ― o rapaz respondeu e, em


seguida, se abaixou bruscamente e pegou uma flor do
arbusto que estava cuidando e a cortou do galho, tirando
com facilidade os espinhos, entregando a rosa à Samantha.
― P-p-para a s-s-senhorita. T-t-tenha u-um b-b-bom d-dia.

― Obrigada, Jimmy, isso é muito gentil da sua parte. ―


Samantha levou a flor ao nariz e inspirou o cheiro da rosa
que acabara de receber. Jimmy acenou com a cabeça, feliz
por ter aquele pequeno gesto e Samantha voltou à sua
caminhada.

Jimmy era um rapaz maravilhoso e sensível, esperava que


um dia ele encontrasse uma mulher que não se importasse
com a sua gagueira e que o fizesse feliz.

Seguindo o seu caminho pelo jardim, Samantha se demorou


um pouco observando a beleza da natureza moldada
meticulosamente para ficar impecável. Era um conjunto
lindo. Arbustos em formatos de cone, seguidos por outros
arredondados, que terminavam com mais um arbusto em
cone. Outros arbustos seguiam retos criando paredes
baixinhas que rodeavam todo o jardim. As roseiras eram
distribuídas de forma mais simétrica que os jardineiros
conseguiam, mas era difícil fazer com que as flores se
abrissem e tivessem o mesmo tamanho, sem falar na
coloração que variava do vermelho rubro até o branco
puríssimo. Apesar de tudo, não restava dúvidas de que era
um belo jardim.

Samantha ficou tão absorta com a paisagem, que nem


reparou que havia rodeado toda a casa e agora estava na
porta de entrada. Estava na hora de voltar para a cozinha e
ver se já estava na hora da refeição.

Usou a porta da frente para entrar, apesar de saber que


deveria evitar fazê-lo, por não passar de uma criada, porém,
Bernardo nunca a repreendeu por tal atitude e ela tampouco
deixaria de ter aqueles pequenos luxos.

Voltou a cheirar a rosa que recebera, fechou os olhos para


sentir melhor o perfume e quando os abriu novamente,
percebeu que estava sendo observada.

― Bom dia, milorde. ― Ela sorriu para o homem, que, por


sua vez, manteve o rosto impassível.

― Bom dia ― ele respondeu, seco, e em seguida fitou a rosa


que ela tinha em mãos. ― Vejo que os homens não
perderam tempo, já estão lhe mandando presentes.

― O quê? ― Samantha perguntou, confusa. ― Que homens?

― Os homens com os quais a senhorita flertou ontem à


noite. ― Bernardo cruzou os braços e soltou o ar dos
pulmões, com força.

― Eu flertei com um homem ontem, o senhor não me deixou


repetir o feito com outros, e a rosa não me foi dada por ele.

― Não? ― O barão pareceu quase aliviado. ― Então, quem


lhe deu essa flor?
Samantha notou com diversão o ciúme demonstrado pelo
barão, mas decidiu que não o torturaria mais.

― Não precisa ficar com ciúme, foi apenas o Jimmy que me


deu.

― Eu não estou com ciúme ― negou, mas ainda precisava


saber quem estava dando rosas a ela. ― Quem é esse tal de
Jimmy? Eu o conheço?

― É o James, o jardineiro, filho da Sra. Kleys. Eu o chamo de


Jimmy ― Samantha explicou e dessa vez, sim, ele pareceu
aliviado.

― Ah, o garoto James. ― Bernardo constatou, demonstrando


alívio, o rapaz não era nem um homem ainda, não havia
perigo algum de acontecer um romance entre os dois. ―
Neste caso, tudo

bem.

― Neste caso? ― ela perguntou, curiosa.

― Bem, não que você não possa ser cortejada, é só que não
quero perder minha nova governanta.

― Normalmente governantas são solteironas, então, não


precisa se preocupar, nesse ponto eu me encaixo
perfeitamente ― Samantha provocou, se divertindo com o
nítido ciúme do barão.
― Fico feliz que não pense em se casar, assim só terá que se
preocupar com as coisas do baronato. ― E comigo. Bernardo
pensou, porém, não expôs aquela parte.

― Isso é bastante egoísta de sua parte.

― Não posso fazer nada, se não quero ter que dividi-la com
outro homem ― o barão falou, sem pensar, e notou que
Samantha corou, só então percebeu o significado que suas
palavras poderiam ter. ― Eu quis dizer que não quero ter sua
atenção dividida entre um marido e os cuidados que um
posto de governanta exigem.

Samantha apenas acenou com a cabeça concordando com a


explicação.

óbvio que ele estava falando em relação ao baronato — ela


ralhou consigo em pensamento. Por que eu fico imaginando
outras coisas?

Samantha respirou fundo e tentou deixar a mente em


branco, era melhor que não pensasse naquilo. Estava claro
para si que o barão tinha ocupado seus pensamentos mais
do que deveria e que muitas vezes achava que ele poderia
sentir o mesmo por ela, pois ultimamente ele demonstrava
ciúme, fazia questão da companhia dela e sempre
encontrava um jeito de provocá-la.

O problema era que Samantha estava gostando cada vez


mais daquilo. A companhia do barão, os ciúme dele, as
reações à suas provocações a deixavam estranhamente
feliz. E quando ele se casasse, ela não teria mais nada
daquilo.

Era um pensamento que a afligia e, no fundo, a verdade


reverberava em seu peito: ela não queria perdê-lo para outra
mulher.
Samantha e Bernardo estavam à mesa para a refeição e
Sophia se juntou a eles na hora exata em que os pratos
foram servidos.

Samantha ficou ao lado da criança para ajudá-la a comer


tudo educadamente. Sophia estava completamente à
vontade com a mulher e a obedecia quase sem questionar e,
quando questionava, Samantha a persuadia a fazer o que
era seu dever.

Bernardo observava a mulher do outro lado da mesa e era


como se finalmente a visse de verdade. Ela tinha cabelos
negros encaracolados, pele clara, olhos que pareciam dois
topázios derretidos, ela era grande, quase da altura dele,
possuía curvas exuberantes, seios fartos, um quadril
avantajado, bochechas naturalmente rosadas e um sorriso
que a fazia parecer um anjo.

Ela era linda.

Perfeita.

Estava claro que aquela mulher mexia com ele de uma


forma que não sabia explicar. Isso ficava evidente nas
atitudes que tomava quando estava perto dela.

Ele perdia qualquer filtro que tivesse entre seus


pensamentos e sua boca, mesmo assim,

adorava conversar com ela. Samantha o deixava tão à


vontade que, falar sobre o que quer que passasse em sua
mente, se tornava algo tão natural quanto respirar.

A companhia dela o alegrava, a mera presença dela no


mesmo ambiente o fazia sorrir, mas o principal motivo que o
fez ter certeza de que aquela mulher mexia com ele era o
ciúme que vinha sentindo.
Ele tentou ignorar o sentimento da noite anterior, quando ela
flertou com outro homem no baile, mas o ciúme que sentiu
ao vê-la com uma rosa na mão, sorrindo e parecendo
apaixonada, o deixou com uma sensação de perda gigante
dentro do peito. Outro homem tinha dado aquela rosa e esse
mesmo homem era o motivo do sorriso dela. E ele não
gostou nada daquilo. Tanto que quando descobriu que a flor
tinha sido dada por seu empregado, o alívio em seu peito
fora gritante. Não havia outro homem, além dele.

Sabia que tinha disfarçado a verdade ao dizer que não a


queria dividida entre um marido e um baronato, mas a
verdade é que não queria vê-la casada com outro homem.

E pensar que passou tanto tempo sem notar a mulher


extraordinária que ela era. Não conseguia entender por que
não a enxergava antes, estando ela tão presente na vida
dele e da sua filha, mas se lembrava do momento exato que
a notou.

Havia sido quando ela o acusou se não se importar com a


filha no aniversário dela. Ela parecia uma leoa, ameaçando
qualquer pessoa que pudesse causar dor em sua cria. Ela
defendia aquela criança com unhas e dentes, ainda que
soubesse que nem mesmo era dela.

Que outra mulher trataria uma filha que não lhe pertencia
com tamanho esmero? Que outra mulher amaria mais
Sophia do que Samantha? Era nítido que Samantha amava a
criança. Ele podia notar o sentimento emanando da mulher
toda vez que ela olhava, tocava ou falava com sua filha.

Ela seria a mãe perfeita para Sophia, mas não apenas isso,
ela seria a mulher perfeita para ele.

Quem mais o deixaria tão à vontade? Quem mais o faria


sorrir com a intensidade que ultimamente vinha sorrindo?
Quem despertaria o ciúme que ele nem sabia que existia
dentro de si?

Tinha que ser ela.

Novamente não mediu as palavras, apenas queria que ela


soubesse o que tinha acabado de decidir.

— Não quero a temporada. Já achei a mulher perfeita para


mim — Bernardo anunciou, convicto, e viu Samantha levar a
taça de vinho aos lábios. Ela parecia surpresa e até...

Decepcionada. Então, ele sorriu e não hesitou em dizer: —


Você. Quero que você seja a minha esposa.

CAPÍTULO 8 ― RECUSAS

Samantha não sabia o quanto de vinho havia em sua boca,


mas sabia que tinha sido mais que suficiente para se
engasgar e tossir tudo que tinha, sujando toda a toalha de
mesa e estragando definitivamente aquela refeição.

— Calma, respira. Não vá morrer engasgada só porque que


eu a pedi em casamento. ―

Bernardo comentou, havia uma nota de humor em sua voz


que escondia sua preocupação com a resposta dela.

Por alguns instantes Samantha ficou radiante com aquela


ideia. Ele queria se casar com ela.
Jamais imaginaria que ele faria algo tão louco quanto pedi-la
em casamento, mas ali estava ele, praticamente dizendo
que ela seria esposa dele.

Seria tão maravilhoso se isso acontecesse... Ela seria a mãe


de Sophia, e eles seriam uma família. Não precisaria mais se
preocupar em dividi-lo com outra mulher.

Seria o momento mais perfeito de sua vida.

Ela teria uma família, um lar, um belo marido, uma filha linda
e poderia dar mais filhos a Bernardo.

Quase podia imaginar o quão maravilhoso seria poder


aceitar aquele pedido.

Entretanto, não poderia aceitar. Por mais que quisesse, não


poderia correr o risco de ser encontrada. E caso isso
acontecesse, Bernardo e Sophia poderiam ser alvos da ira do
homem do qual ela fugiu a primeira vez. E colocar os dois
em risco não era certo.

Samantha se entristeceu, mas não podia deixá-lo notar o


real motivo de sua recusa. Se ele descobrisse que não
aceitaria se casar com ele para não colocá-los em perigo,
com certeza iria convencê-la de que poderia cuidar de si
mesmo e dela.

Por esse motivo decidiu engolir sua tristeza e usar outra


estratégia.

— O senhor está brincando, não é? — ela perguntou fingindo


estar incrédula.

— Nunca falei tão sério na minha vida. Me ofende que pense


que eu me atreveria a brincar com uma situação como essa.
Samantha o fitou. Ele realmente estava falando sério e ela
sabia. Bernardo não era um homem que falava as coisas
sem ter convicção, mas não mudava o fato de que seria um
enlace escandaloso. Onde já se viu, um nobre se casar com
uma criada? Contos de fadas não existiam.

Ela teria que recusar o pedido. E precisaria de toda sua força


de vontade para isso, pois o nobre em questão estava
sorrindo para ela naquele momento como se ela fosse o sol
brilhando depois de muitos dias chuvosos, e homem algum a
tinha olhado com tanto fascínio antes. Com desejo sim, com
posse sim, mas não com aquela admiração tão real e pura.

Suspirou ainda mais triste.

Bernardo era lindo, seria um marido maravilhoso, mas não


poderia se casar com ele ou com mais ninguém.

— Sr. Montress...

— Bernardo. Já que vamos nos casar, pode me chamar pelo


meu primeiro nome.

— Não iremos nos casar, Sr. Montress. O senhor não


entende, nunca daria certo. — Ela informou..

— Por que não? É perfeito. Você é perfeita pra mim. Tem


tudo o que eu procuro em uma mulher.

— Eu sou apenas uma criada. Não tenho nada a lhe oferecer.


— Samantha contou uma meia

verdade.

— É claro que tem. Você tem a si mesma e isso vale muito


mais do que qualquer dote. Você é organizada, gentil,
inteligente, simpática, otimista e eu gosto de estar com
você. Seria uma baronesa maravilhosa, uma esposa incrível
e a mãe perfeita para Sophia.

Até aquele momento Samantha havia se esquecido da


presença da criança na sala e Sophia agora a olhava
maravilhada.

— Você vai ser minha mamãe. — A menina perguntou


esperançosa com um sorriso nos lábios.

— Não querida, o papai está apenas brincando. — Samantha


lançou um olhar assassino para o Barão. Com ódio pelo
barão obriga-la a destroçar aquela chama esperançosa que
brilhava no olhar de Sophia. Sentiu o próprio coração
quebrar ao ver a tristeza que abateu a criança.

— Eu queria você como minha mamãe. — A criança


choramingou.

— Sophia, meu anjinho, porque não sobe para o quarto


enquanto eu converso com o seu papai?

— Samantha pediu segurando sua raiva para não assustar


Sophia.

— Você vai ser minha mamãe? Eu quero que seja. Por favor...

— Eu prometo que vou pensar, está bem? Agora por favor,


suba para o quarto, enquanto eu tenho uma conversa de
adulto com seu pai.

Sophia seguiu com a nova baba a contragosto para o seu


quarto, e Samantha finalmente ficou sozinha com Bernardo.

— O que o senhor tinha na cabeça? Será que não percebe o


mal que fará a sua filha.
— Não há mal algum ela saber que você será a nova mãe
dela.

— O problema é justamente esse. Eu não posso me casar


com o senhor.

— Não vejo nenhum motivo para sua rejeição.

— Eu tenho uma lista de motivos.

— Então diga quais.

— Eu sou uma criada.

— Isso não impede que seja uma baronesa. Ninguém se


importa tanto com o que faço ou deixo de fazer, mesmo. E
eu conheço o pároco daqui e sei que ele não se importará
em nos casar. —

Bernardo deu de ombros como se o motivo fosse irrisório. —


Próximo motivo.

— Eu não posso me casar.

— Por que?

— Porque não.

— Porque não, não responde a minha pergunta. Seja mais


detalhada.

— Eu não quero me casar com o senhor.

— Por que não? Eu a desagrado de alguma forma?

— Sim.
Aquilo era mentira, e Samantha sabia, mas precisava de
tudo o que pudesse usar como desculpa para não se casar
com ele.

— Não acredito em você. — O Barão deu de ombros, muito


calmo para alguém que estava sendo rechaçado.

— Isso é problema seu. Essa conversa se encerrou. —


Samantha levantou-se da mesa, suas pernas estavam
trêmulas, mas ela não permitiria que ele notasse nenhum
sinal de fraqueza. —

Agora com sua licença, eu tenho coisas a fazer.

Samantha saiu da sala e seguiu pelo corredor, iria para o seu


quarto. Precisava se afastar daquele homem antes que
fizesse uma besteira enorme, como aceitar de casar com
ele.

Bernardo a observou se afastar. Ela até mandava nele como


se fosse sua esposa.

Inevitavelmente, sorriu. Ela seria sim sua esposa, seria só


uma questão de fazê-la enxergar as vantagens que aquele
casamento traria para ela.

Sentiu vontade de segui-la e continuar insistindo no


casamento, apesar de estar sendo rechaçado, adorava
deixá-la irritadiça; e, também, ela ficava linda com as
bochechas coradas.

Entretanto, permaneceu na mesa, por mais que quisesse tê-


la acompanhado para o quarto.

***

Samantha entrou no quarto e trancou a porta atrás de si.


Seu coração estava acelerado e seus pensamentos confusos.
Ele tinha mesmo pedido que ela se casasse com ele?

Era surreal que aquilo estivesse acontecendo com ela.

Queria muito poder dizer sim, mas mesmo com a tristeza


que negar o pedido lhe causou, ela sabia que tinha feito o
certo para os dois.

Mas fazer o certo não era nem um pouco fácil.

Samantha jogou-se na cama, pensativa, mas logo teve que


levantar-se ao ouvir discretas batidas na madeira.

Ao abrir a porta deparou-se com Sophia.

A menina jogou-se em seus braços, choramingando.

— O que aconteceu, minha pequena? — Samantha ficou


aflita, mas já até imaginava o motivo do choro.

— Por que você não quer ser minha mamãe? — a criança


perguntou, confirmando a suspeita de Samantha.

A mulher abaixou-se na altura de Sophia para olhá-la nos


olhos.

— Eu adoraria ser sua mamãe, nada me faria mais feliz. Eu


amo você. Sabe que eu te amo, não sabe? — A menina
confirmou com a cabeça e Samantha continuou: — Eu amo
você e adoraria ser sua mamãe, mas não posso. Para ser sua
mamãe, eu teria que me casar com o seu pai.

— Não gosta do papai? — a menina questionou.

— Claro que gosto, mas não é tão simples assim. Eu gostar


de vocês não torna menos complicado. Na verdade, é por
gostar tanto de vocês que não posso me casar.
— Por que não pode?

— Não posso porque tem um homem mau que, ao saber do


casamento, viria machucar a mim, você e ao seu papai.

— Papai é grande, ele nos defenderia.

Ao ouvir Sophia falando do pai, Samantha ficou desconfiada.


Será que o barão a tinha mandado ali? Esperava que o
homem não tivesse ousado usar a filha para convencê-la a
se casar com ele ou, então, ele iria conhecer uma Samantha
furiosa.

― Diga-me, Soph, seu pai a mandou aqui? ― Samantha


perguntou, para sanar sua dúvida.

― Não. Eu vim sozinha. — A menina pareceu confusa. O que


demonstrava que não esperava aquela pergunta. — Por quê?

― Por nada, meu anjo. — Samantha suspirou mais aliviada


por, pelo menos, não ter sido culpa do barão que a filha dele
estivesse ali. — Você não deve ficar preocupada com isso.
Em breve terá uma nova mamãe e ela a amará muito.

― Você vai ser minha mamãe?

― Soph, eu não posso. — Samantha entristeceu-se ao ver os


olhos da criança se encherem de

lágrimas.
― Eu não gosto mais de você! ― Sophia começou a chorar e
as lágrimas partiram o coração de Samantha. ― Você não
quer ser minha mamãe. Não gosta de mim.

― Soph, meu amor, é claro que eu te amo e adoraria ser sua


mamãe, mas eu não posso concordar em me casar com o
seu pai, e isso não quer dizer que a ame menos ou que eu
vou abandoná-la. ― Samantha enxugou as lágrimas no rosto
arredondado de Sophia. ― Você vai entender quando for
maior.

— Mentira. Você não gosta de mim. — A menina continuou a


chorar, inconsolável. — Eu não quero entender, eu quero
uma mamãe.

― Ah, graças a Deus! Achei você. ― A babá se aproximou


das duas, o semblante demonstrando a preocupação que
sentiu por não saber o paradeiro da criança. ― Eu estava
que nem uma louca procurando você, mocinha. O que
aconteceu?

— Não foi nada. Apenas tente fazê-la dormir um pouco. Ela


sempre dorme depois da refeição

— Samantha explicou, tentando ignorar os soluços de


Sophia, mas era difícil vê-la daquele jeito.

A babá a levou de volta para o quarto e Samantha decidiu


que talvez permanecer ali não fosse mais uma opção.

Ao ficar sozinha novamente, Samantha sentiu raiva. Raiva


por aquele maldito pedido ter estragado tudo que ela tinha
naquele lugar. Raiva porque nada voltaria ao normal. Raiva
de não poder aceitar ser a esposa de um homem
maravilhoso e mãe de uma esperta garotinha que ela amava
como se fosse sua filha.
Não poderia mais ficar ali e ser o motivo da tristeza de
Sophia, e não poderia aceitar a proposta do barão. Então,
teria que ir embora. Era o único caminho a seguir diante às
circunstâncias.

Estava triste, havia encontrado um lar ali. Pessoas que se


importavam com ela. Pessoas que ela aprendeu a amar e,
como da outra vez, teria que abandonar sem olhar para trás.

Já devia ter imaginado que sua felicidade não teria a sorte


de durar muito tempo. Estava feliz demais, por tempo
demais, era de se esperar que logo viesse a tempestade. E
como era uma pessoa religiosa, Samantha acreditava que
havia um plano divino por trás de tudo aquilo.

Sempre via as coisas pelo lado bom. Se não tivesse fugido


naquela noite, jamais teria encontrado o barão e sua filha.
Jamais teria sentido o que era pertencer a um lugar e,
mesmo sendo apenas uma empregada, sentia que ali
também havia se transformado em seu lar.

E poderia se tornar ainda mais, caso pudesse se casar com o


barão.

Mas não podia.

Estava decidida. Partiria na manhã seguinte.

CAPÍTULO 9 ― FUGA
Assim que o dia raiou, Samantha partiu. Pegaria a
carruagem de aluguel que partiria em alguns minutos e
desceria na cidade. De lá, Pegaria outra carruagem para
algum outro lugar que fosse esquecido o suficiente para não
ser encontrada.

Quando a carruagem parou, seus poucos pertences foram


colocados em cima do transporte e ela entrou, sentando-se
ao lado de desconhecidos. Apesar da hora da manhã, a
carruagem estava lotada, quatro mulheres, um jovem rapaz
e duas crianças, sendo uma delas de colo, olharam
Samantha subir e se acomodar no pequeno espaço que
ainda restava na carruagem. Duas das mulheres olharam
com cara feia para ela, provavelmente por causa do seu
tamanho avantajado que agora deixaria todos apertados na
carruagem.

— Rapaz, troque de lugar com a senhora de azul, assim


ficarão mais confortáveis. — O

cocheiro organizou os passageiros para distribuir o peso


dentro da carruagem. — E você, fique no meio, entre os dois.

Samantha sentou-se onde o cocheiro pediu e ficou ao lado


de uma mulher franzina e do rapaz que também era magro.
As outras três mulheres ficaram à sua frente, segurando as
crianças no colo.

Ninguém parecia satisfeito ou minimamente alegre àquela


hora da manhã. Nem mesmo as crianças tentavam brincar.
Estavam quietas e tristes.

Fingiu não se importar, mas era melancólico. Parecia que


estava indo para a forca, tamanha tristeza que havia ali.

Ela poderia ter usado a carruagem dos Montress, mas para


fazer isso teria que ter conversado com o barão, ou ao
menos mentir para o cocheiro. Que, mesmo assim, ficaria
desconfiado ao vê-la com suas bagagens e logo contaria ao
patrão.

Sabia que o barão não permitiria que ela fosse embora,


tentaria fazê-la desistir daquela ideia, e Samantha corria o
risco de não conseguir partir, caso ele assim pedisse.

Então, foi covarde e decidiu fugir sem que ninguém


soubesse. Na verdade, apenas uma pessoa sabia. A nova
cozinheira. Samantha tinha usado a porta da cozinha para
sair, sem chamar a atenção, mas a cozinheira notou,
entretanto, ao invés de tentar dissuadi-la da ideia, a mulher
lhe entregou um lenço com comida para a viagem.

Samantha suspirou fundo, pelo menos, não iria ficar com


fome durante a viagem. Abriu o lenço, expondo a comida. A
cozinheira tinha sido generosa ao colocar duas fatias
grandes de pão, carne curada e algumas frutas.

Entretanto, percebeu que agora todos olhavam para ela, ou


melhor, para a comida que carregava em seu colo,
principalmente as crianças.

— Você está com fome, pequenino? — ela perguntou para o


rapazinho enroscado nas pernas da mãe, que não tirava os
olhos da fatia de pão.

O menino acenou que sim com a cabeça e Samantha olhou


para a mulher, pedindo permissão para dar um pedaço à
criança. A mulher sorriu parecendo aliviada e Samantha
dividiu uma fatia com ele a sua mãe.

— Que Deus abençoe — a mulher agradeceu, guardando o


seu pedaço de pão após dar uma pequena e insignificante
mordida. — Vou guardar para mais tarde, ele logo ficará com
fome de novo e não sei quando conseguiremos comer. O
último dinheiro que eu tinha, gastei com as passagens,
estamos indo para a casa de um parente, e essa é a primeira
vez que ele tem o que

comer, em dois dias.

Sensibilizada com aquela história, Samantha fechou o lenço


e o entregou à mulher.

— E a senhora? — a outra perguntou, preocupada, porém,


aliviada ao receber mais comida. —

Terá o que comer, ao nos dar tudo?

— Terei, sim, não se preocupe, minha viagem não será tão


longa quanto a sua e nem estou há dois dias sem comer.

A mulher agradeceu novamente e dessa vez comeu uma


fruta, dando uma parte para seu filho e guardando o
restante para mais tarde.

Samantha permaneceu o resto da viagem brincando e


conversando com a criança. Que, após se alimentar, parecia
bem mais feliz e disposto.

Duas horas depois chegava à cidade.

Samantha despediu-se e desejou boa sorte à mulher e seu


filho, e seguiu o seu caminho. Havia optado por descer em
Wington, era uma cidade maior e teria mais opções de
transporte ali.

Entretanto, pouco conhecia aquele lugar, e poderia


facilmente se perder. A única coisa que conhecia era Willows
Castle, residência do Marquês de Winchester que se erguia
majestoso a poucas milhas ao norte da cidade. Não que
tivesse ido ao castelo alguma vez, mas sabia a quem
pertencia e, ao menos, isso já ajudava em alguma coisa.
Seguiu pelas ruas movimentadas. O comércio àquela hora da
manhã estava fervilhando.

Samantha sentiu o estômago roncar de fome. Tinha dado


sua comida e agora seu corpo reclamava da falta de
alimentos. Decidiu procurar um restaurante ou uma padaria
onde pudesse fazer uma refeição, antes de continuar seu
caminho.

Andou pelas ruas, sem pressa, como não tinha nenhum


destino, tampouco tinha pressa de chegar nele. Aproveitou
para conhecer um pouco da cidade. Carroças e carruagens
passavam o tempo todo pela rua, parecia que todos tinham
decidido sair de casa naquele dia.

Samantha se aproximava cada vez mais do centro comercial


da cidade, uma área mais civilizada. Sabia a diferença
porque nas ruas antes de chegar ali, as pessoas andavam
mais apressadas, provavelmente eram em sua maioria,
criados, que precisavam voltar rapidamente a seus afazeres.

Agora que as lojas se tornavam mais elegantes e


requintadas, o movimento da rua era diferente.

As pessoas ali não tinham pressa e andavam como se


tivessem todo o tempo do mundo para aproveitar. Também
percebeu uma mudança significativa no vestuário das
pessoas naquela parte.

Era quase impossível não reconhecer que aquelas pessoas


eram ricas ou até mesmo nobres.

Havia nobres demais para uma cidade tão afastada de


Londres.

Aquela constatação fez Samantha sentir-se apreensiva. Algo


estava acontecendo naquele lugar e pelo seu conhecimento
acerca dos hábitos da nobreza, significava que havia alguém
muito importante ali, possivelmente, alguém da família real.

Qualquer membro da família real e até algum nobre que


visitasse a corte com frequência poderia reconhecê-la.
Samantha sentiu o sangue fugir de suas veias e, por pouco,
não desfaleceu ao ver ao longe, montado em um cavalo, o
seu maior pesadelo.

Parecia que sua sorte tinha acabado.

Samantha não se permitiu desmaiar em meio à tanta gente.


Se isso acontecesse, seria definitivamente o seu fim. Pensou
rápido e entrou no primeiro lugar que encontrou aberto. Era
uma loja de laços, fitas, chapéus e lenços e decidiu que
ficaria ali até que as coisas do lado de fora se acalmassem.

Logo algumas mulheres entraram na loja conversando,


animadas. Olharam rapidamente para

Samantha e, após uma careta de repúdio, voltaram a


conversar, ignorando-a por completo.

Samantha sabia que elas deviam ter visto nela apenas uma
criada gorda e mal vestida, e agradeceu aos céus por não ter
posto um vestido melhor. Quanto menos atenção chamasse,
mais em segurança ficaria.

Fingiu estar interessada em um conjunto de fitas e chapéus,


ficando de costas para as mulheres que entravam.

— Você viu o sorriso dele? — uma das mulheres falou para a


outra. Por estar de costas, Samantha não soube qual delas
era.

— Ele é tão perfeito. Eu daria qualquer coisa para ser notada


por ele — outra voz acrescentou.
— Maldito dia que eu me casei — outra mulher resmungou.

— Não seja ingrata, o seu conde é riquíssimo, pelo menos,


você tem dinheiro para usufruir e esquecer que o seu marido
é velho. O meu está atolado em dívidas por não conseguir
manter o traseiro longe daquele maldito clube.

— Eu soube que Edward não tem nenhum vício. Ele é tão


perfeito.

Ouvir aquilo do homem que quase a tomou à força, fez


Samantha se contorcer em náuseas. Ele podia ser rico e não
gastar o dinheiro em jogos, mas era um monstro. Todas as
vezes que a encurralou contra a parede e ameaçou
desvirginá-la em um dos vários corredores do castelo, ele
mostrava o monstro que era. Nas vezes que a olhava, como
se ela fosse um pedaço de carne que logo seria servido para
ele, a fazia sentir-se enojada. Nada do que falassem dele
tiraria de sua mente a verdadeira face daquele monstro
vestido de roupas pomposas.

— Uma pena que ele não goste de mulher casada. Eu daria


tudo por uma noite com ele.

Aquela informação chamou a atenção de Samantha. Por


pouco, ela não perguntou o que a mulher queria dizer com
aquelas palavras, mas não precisou se expor, pois outra
mulher também estava interessada naquela informação.

— Como assim, ele não gosta de mulheres casadas? — O


suspiro desgostoso foi coletivo.

— Ouvi o Príncipe Edward comentando com o Conde de


Winsmore que prefere as virgens, pois não gosta de mulher
que já foi usava por outro homem. Não sente desejo por
mulheres casadas, na verdade, tem nojo de deitar com elas,
essas foram palavras dele.
— Isso é tão desanimador. Odeio estar casada ― uma delas
murmurou, triste.

Para Samantha aquela informação era motivo de alegria.


Havia um jeito de nunca mais ser importunada por aquele
homem, mesmo que ele a encontrasse.

— Eu também. Estou desolada, acreditei de verdade que


teria uma chance de ser amante dele

― outra mulher acrescentou e elas começaram a se afastar


de onde Samantha estava e, com isso, a conversa não pode
mais ser ouvida.

Samantha não se importava mais em não ouvir a conversa.


Estava muito feliz em saber que Edward não desejava
mulheres casadas. Ao se casar, estaria fora do alcance dele,
para sempre.

Samantha animou-se como há muito tempo não fazia.

Precisava retornar ao baronato e aceitar o pedido de


casamento de Bernardo, o mais rápido possível, antes que o
barão mudasse de ideia por causa do seu sumiço.

A mulher esperou que a quantidade de pessoas naquela rua


diminuísse, para poder finalmente ir embora daquele lugar. A
demora foi agonizante, mas logo chegou a hora do almoço e
as pessoas, aos poucos, retornaram para as casas onde se
hospedavam.

Samantha finalmente saiu da loja, mas não sem antes


comprar uma fita para levar de presente para Sophia, ela
sentiu-se obrigada a comprar algo, após ter passado tanto
tempo naquela loja se escondendo.
Voltou pelo mesmo caminho que tinha feito quando chegou e
ficou esperando a carruagem de aluguel passar novamente.

Alguns minutos depois viu seu transporte despontar ao


longe. Logo estaria em casa novamente segura e, se tudo
desse certo, se casaria e nunca mais precisaria temer.
Animou-se. Finalmente poderia ser feliz, sem medo que seu
passado a encontrasse.

Ela se apegava a esse pensamento, quando o seu momento


de esperançosa felicidade deu lugar ao terror, antes que o
seu transporte se aproximasse, alguns cavaleiros em seus
cavalos viraram na esquina e passaram pela rua onde ela
estava. E, para o seu infortúnio, um deles olhou para as
pessoas que estavam ali, e ela se viu cara a cara com o
príncipe.

As pessoas ao seu redor rapidamente se animaram a


acenaram para o príncipe Edward, que lhes devolveu o
aceno e sorriu para seus súditos. Para a maioria ali, aquele
era apenas o querido filho do rei, o príncipe com semblante
angelical e voz doce.

Eles não conheciam o diabo que habitava dentro daquele


homem.

Samantha abaixou a cabeça o mais rápido que pôde,


rezando para que ele não a tivesse visto e permaneceu
assim, até que o barulho dos cascos dos cavalos ficou
distante.

A carruagem parou e Samantha, após ter sua bagagem


colocada novamente e cima do veículo, entrou e acomodou-
se entre os outros passageiros rezando para que chegassem
logo, precisava mais do que nunca se casar, e quanto mais
rápido o fizesse, melhor seria.
CAPÍTULO 10 ― EXPLICAÇÕES

Bernardo foi acordado com a notícia de que a Srta. Hemwer


havia partido ao raiar do dia.

Primeiro, não acreditou nas palavras que entraram em seus


ouvidos.

― Ela o quê? ― perguntou, para ter certeza que ouvira


corretamente.

― Ela partiu, milorde ― o Sr. Fitzgerald repetiu.

― Tem certeza de que ela não foi apenas resolver algo na


cidade?

― Ela saiu com uma mala, milorde, não faria isso se tivesse
a intenção de retornar. Só não entendo por que ela partiu tão
abruptamente. Já pedi aos criados para conferirem todos os
objetos da casa, para saber se algo de valor foi roubado, pois
sair assim, sem avisar a ninguém, parece mais uma fuga do
que uma partida.

― Ela não roubou nada, tenho certeza. Eu sei o porquê ela


foi embora.

O criado não falou mais nada, apenas assentiu e saiu dos


aposentos do barão.

Bernardo ficou pensativo.


Ela o achava tão repugnante a ponto de fugir, apenas para
não se casar com ele? Sentiu raiva.

De si mesmo, por ter sido um tolo em pedi-la em casamento,


e dela, por ter fugido de uma forma tão covarde.

Será que ela havia pensado que ele a obrigaria a ser esposa
dele? Se ela pensava que ele faria algo daquele tipo, com
certeza não o conhecia. Talvez ele tivesse se precipitado.
Estava encantado demais com Samantha, para perceber que
ela não sentia o mesmo por ele. Se iludiu em acreditar que
ela também acharia aquele casamento uma boa ideia.

Entretanto, mesmo com aquele pensamento em sua mente,


sentia vontade de ir atrás dela e entender os motivos que a
faziam recusar e abandoná-lo, depois de tudo que fez por
ela.

Sim, o coração do barão estava partido.

Antes que pudesse continuar a se afundar mais em sua


própria tristeza, Sophia entrou em seu aposento, chorando.

― Ela foi embora ― a criança murmurava repetidas vezes,


entre uma fungada e outra. ― A Sammy foi embora.

― Eu sei, meu amor. ― Bernardo tentou acalentá-la ao tomá-


la nos braços e balançá-la em seu peito, de forma protetora.

— Ela foi embora por minha causa. Eu disse que não gostava
mais dela, mas é mentira, papai, eu gosto dela. Não deixe
ela ir embora.

— Por que você disse que não gostava mais dela?

— Porque ela não queria ser minha mamãe e eu queria que


ela fosse minha mamãe.
— Nem sempre podemos ter o que queremos, meu anjinho.
A vida não funciona assim.

― O senhor tem que trazer ela de volta, papai ― pediu,


ignorando o conselho educativo que o pai lhe dava, naquele
momento tudo que a garotinha queria era Samantha de
volta. ― Traz a Sammy de volta. Por favor, papai. Eu nunca
mais fico com raiva dela. Prometo.

― Eu vou procurar por ela ― Bernardo prometeu e colocou a


filha no chão para começar as buscas, imediatamente.

Samantha viu a mansão de longe e finalmente sentiu a


esperança lhe dar forças.

Durante toda a viagem de volta, esteve apreensiva, temia


que a qualquer momento a carruagem fosse parada e ela
fosse obrigada a descer e seguir até onde o príncipe estava.

Tinha conseguido chegar a salvo de volta ao baronato e o


fato fez seu coração voltar a bater e sua respiração se
normalizou. Seguiu a passos largos para a mansão ansiosa,
por estar novamente dentro das paredes protetoras da
residência.

Rodeou a casa e entrou pela porta dos fundos, como fez para
sair.

— Ah! Graças a Deus você voltou. — A cozinha suspirou,


aliviada, ao ver Samantha ali. —
Estavam todos loucos à sua procura. O barão saiu e nem
voltou ainda, ele foi procurar você.

Sophia não saiu da cama desde que soube que você partiu e
chora o tempo todo, estávamos preocupados que ela ficasse
doente.

— Obrigada. Subirei para vê-la, imediatamente ― Samantha


informou, preocupada com a criança e subiu rapidamente
para o quarto.

Abriu a porta e, assim que se aproximou da menina, Sophia


pulou na cama e jogou-se nos braços de Samantha.

— Sammy! Você voltou! — Sophia a apertou, chorando,


agarrada à Samantha. — Desculpe ter dito que não gostava
de você. Eu gosto muito. Não vai embora.

— Não vou pequena — Samantha prometeu, beijando o topo


da cabeça de Sophia. — E mais, se seu papai ainda aceitar,
eu serei sua mamãe.

— Sério? — a menina perguntou, exibindo um sorriso de


alegria e esperança.

— Se vocês ainda quiserem que eu seja.

— Claro que eu quero que você seja minha mamãe. —


Sophia abraçou forte o pescoço de Samantha, estava
exultante de felicidade com aquela notícia.

— Senhorita Hemwer, que bom que está de volta. ― Alfred


apareceu na porta do quarto de Sophia. — Lorde Montress já
deve estar voltando. Faz tempo que ele saiu e disse que
voltaria para o jantar.

— Esperarei por ele em minhas acomodações, você pode


avisá-lo que eu gostaria de falar com ele.
— É claro, Srta. Hemwer. Quer que eu mande a sua refeição
ser servida no quarto, quando o barão chegar, ou se juntará
a eles à mesa?

― Eu descerei para jantar. Não precisa se incomodar. ―


Samantha avisou e lembrou-se que não comeu nada o dia
todo, mas teria que esperar que o barão chegasse para que
a refeição fosse servida.

A mulher seguiu para o seu quarto, acompanhada de perto


por Sophia, que não queria sair do seu lado um segundo
sequer. Chegando aos seus aposentos, Samantha desfez as
malas que tinham sido carregadas por algum dos criados e
colocado em suas acomodações e ficou aguardando a
chegada do barão.

Entretanto, a espera por Bernardo foi em vão, pois Samantha


soube, assim que um dos criados lhe trouxe a comida em
seu quarto, que o barão não iria falar com ela naquele
momento. Aquilo a fez ficar ainda mais apreensiva, mas
respeitaria a vontade de Montress e daria a ele um pouco

mais de tempo. Pelo menos, tempo suficiente para fazer


aquela refeição.

Não conseguiria enfrentá-lo com a barriga vazia.

Bernardo soube que Samantha havia retornado através de


um criado e suspirou, aliviado.

Durante todo percurso de volta ensaiou o que diria a ela, o


que perguntaria, o que faria... Mas nenhuma de suas
previsões se concretizou.

Ao chegar em casa, não queria vê-la, talvez fosse para adiar


aquele momento em que teria que retirar o pedido, já que
ela fugiu por causa dele, ou talvez fosse porque não queria
que ela visse o quanto a fuga dela o abalou.

Era um tolo por ter se apaixonado por aquela mulher e não


queria que ela visse o quão abalado ele ficou e, muito
menos, o quão machucado ela o deixou. Não mostraria a ela
o quão vulnerável ele estava.

Preferiu não a ver de imediato, ainda que fosse aquilo que


mais desejasse fazer.

Entretanto, Samantha não tinha o mesmo plano.

Naquela noite, após terminar sua refeição, Samantha decidiu


que ela mesma iria conversar com o barão e não esperaria
que ele a procurasse, afinal, precisava se desculpar por sua
fuga e aceitar o pedido de casamento dele.
DADOS DE ODINRIGHT
Sobre a obra:

A presente obra é disponibilizada pela equipe eLivros e


seus diversos parceiros, com o objetivo de oferecer
conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos
acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da
obra, com o fim exclusivo de compra futura.

É expressamente proibida e totalmente repudíavel a venda,


aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo.

Sobre nós:

O eLivros e seus parceiros disponibilizam conteúdo de


dominio publico e propriedade intelectual de forma
totalmente gratuita, por acreditar que o conhecimento e a
educação devem ser acessíveis e livres a toda e qualquer
pessoa. Você pode encontrar mais obras em nosso site:
eLivros.

Como posso contribuir?

Você pode ajudar contribuindo de várias maneiras, enviando


livros para gente postar Envie um livro ;)

Ou ainda podendo ajudar financeiramente a pagar custo de


servidores e obras que compramos para postar, faça uma
doação aqui :)

"Quando o mundo estiver unido na busca do


conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e
poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a
um novo nível."

eLivros .love

Converted by ePubtoPDF
Então, decidida, seguiu até os aposentos do barão e bateu
na porta.

Bernardo se levantou, após a quarta batida. Não estava com


vontade de ver ninguém naquele momento e era isso que
pretendia dizer para quem quer que estivesse do outro lado.

Ao abrir a porta, deparou-se com Samantha. Sem expressar


nenhuma reação, fechou a porta sem dar-lhe chance de falar
nada.

Novamente Samantha tornou a bater. Incessantemente.

— Não estou disposto a conversar agora. — Bernardo fez-se


ouvir através da madeira maciça.

— Precisamos conversar. — Samantha insistiu e ouviu alguns


barulhos antes de a porta ser aberta novamente.

— Você pode continuar a trabalhar como governanta, não


voltarei a falar em casamento e até prefiro que esqueça esse
assunto. Agora que estamos conversados, pode me deixar
em paz.

Samantha sentiu a mágoa dele através daquelas palavras. E


o desespero a tomou quando ele retirou o pedido de
casamento. Precisava conversar com ele e convencê-lo de
que queria se casar e, por isso, quando ele começou a mover
a porta novamente, ela não pensou antes de pôr a mão para
evitar que ele a fechasse.

A dor a cegou por alguns instantes, e foi impossível não dar


um grito.

— Meu Deus, mulher! Você enlouqueceu?


Bernardo se preocupou que ela tivesse se machucado
seriamente e tomou a mão dela entre as suas, para
examiná-las melhor.

— Está doendo? — ele perguntou, enquanto movimentava a


mão dela na dele.

— Só um pouco, mas não acho que quebrou alguma coisa.


Vou ficar bem.

— O que tem na cabeça? — o barão perguntou, irritado.

— Eu precisava falar com você.

— E precisa colocar os dedos em perigo para isso?

— Você ia fechar a porta.

— Agora, vai dizer que a culpa também é minha? Eu fui o


culpado por sua fuga e agora pelo seu machucado? —
irritou-se, ainda mais.

— Não foi isso que eu quis dizer — defendeu-se,


envergonhada.

Bernardo suspirou profundamente e passou a mão entre os


cabelos, tentando organizar os pensamentos.

— Diga logo o que tem a dizer e, depois, me deixe em paz.

Samantha concordou com a cabeça e pensou bem nas


próximas palavras.

— Eu sinto muito por ter fugido. Eu errei. Ontem, a Sophia


veio saber se eu seria a mamãe dela e quando eu disse que
não podia, ela ficou brava comigo, e eu percebi que ela
queria a mim como mãe. Não uma mulher qualquer, mas a
mim. E enquanto eu estivesse aqui, ela não aceitaria
nenhuma outra.

— Está querendo dizer que fugiu para dar chances à outras


mulheres de serem a mãe da Sophia? Que altruísta —
Bernardo foi irônico.

— Não foi só por isso. Eu não podia me casar com você,


porque temia que Edward me encontrasse e pudesse fazer
mal a vocês dois.

— Novamente, afirma que fugiu para que ficássemos


melhor... Quanta bondade sua. — O

sarcasmo era evidente em seu tom.

— Eu amo a Sophia e não iria querer que nada acontecesse


com ela. Então, sim, eu fugi pensando nela. — Samantha
irritou-se com todo aquele deboche.

— E não passou por sua cabeça que eu poderia proteger a


vocês duas?

— Eu sei que tentaria. E que morreria por isso, se fosse


preciso. E justamente por saber disso, eu precisei fugir.

— E por que voltou? O que mudou?

— Eu descobri algo. Se eu me casar, o homem que me


perseguiu me deixará em paz. Ele não gosta de mulheres
casadas, não sente desejo ou coisa parecida.

— Por isso voltou, para aceitar o meu pedido de casamento?

— Sim — admitiu.

Bernardo ficou um tempo em silêncio e sua face não


delatava o que se passava em sua mente naquele momento.
Samantha estava começando a ficar preocupada, até que ele
se pronunciou:

— Pelo menos, você foi sincera. Não disse que pensou


melhor ou que me amava ou algo assim.

— Então, ainda irá se casar comigo?

— Se eu o fizer, será pela Sophia. Ela realmente vê você


como uma mãe. Mas me preocupa que fuja novamente.

— Eu não faria isso. Quando ele souber que me casei, me


deixará em paz e não precisarei mais me esconder ou fugir.

— E o que você fará, se apenas se casar não for suficiente?

Aquela pergunta desestruturou Samantha. E, se mesmo


casada, Edward ainda a quisesse? Ou pior, e se ele
considerasse uma afronta ela ter se casado e descontasse
toda sua frustração em cima de Bernardo e sua família?

— Droga! Não tinha pensado nisso. Ele não gosta de


mulheres casadas.

— Vai fugir novamente?

Samantha o olhou, assustada.

— E-eu não sei. Não quero que ele me encontre e tenho


medo do que ele fará com vocês —

Samantha revelou.

― Vejo o quanto confia em mim para protegê-la ― Bernardo


foi ácido dessa vez.

― Você não entende.


― Você que não entende. Eu posso proteger você. Não tenho
medo desse tal de Edward, seja lá quem ele for. Deixe que
ele venha, eu cuidarei de você.

— Você não sabe o que diz.

Bernardo deu um passo para trás, sentia-se cada vez mais


insultado por aquelas palavras e doía-lhe na alma a falta de
confiança nele.

— Primeiro, recusa meu pedido, depois foge, depois volta,


apenas por descobrir que casada poderia ser ignorada por
ele, e agora acha que não posso protegê-la.... Há mais algum
insulto guardado para mim?

— Pare com isso. Não estou tentando insultá-lo. Eu tenho


medo, muito medo dele. Será que não entende? Não é de
você que eu fujo, é dele — Samantha expôs, exaltada, dando
um passo na direção dele. Seus olhos estavam marejados e
suas emoções afloradas. — Eu queria não precisar fugir.
Queria não precisar ter medo dele, mas eu tenho, mais do
que tudo neste mundo. Eu tenho pesadelos com ele me
encontrando, me tocando e rindo de minhas tentativas de
fugir. Eu tenho tanto medo, a ponto de colocar a sua família
em risco, apenas para tentar fazê-lo desistir de mim.

Você tem razão, não há nada altruísta nisso.

Bernardo não conseguia entender o conflito que consumia


Samantha. Ela parecia não escutar nada do que ele dizia. Era
como se ele não fosse ninguém e não tivesse nenhum
recurso para cuidar da proteção dela. Ela estava tão
assustada, era impossível não querer protegê-la.

Samantha tremia e, sem notar, lágrimas começaram a cair.


Bernardo não conseguiu ficar parado diante daquilo. O
abraço era reconfortante e protetor, e Samantha o abraçou
de volta, aceitando aquele momento de paz e conforto que
Bernardo lhe dava.

— Ele nunca mais vai tocar em você. Eu prometo. Seja ele


quem for, eu não deixarei que ele encoste um dedo em você.

— Não prometa algo que não possa cumprir ― Samantha


comentou contra o peito dele, aproveitando o abraço para
esconder o rosto.

Bernardo a segurou pelos ombros e empurrou para que


olhasse para ele.

— Pare de duvidar da minha capacidade, mulher! Sua falta


de confiança em mim é degradante!

Cale a boca e me deixe cuidar de você, sim?

Bernardo a olhava fixamente e Samantha corou. Tinha que


contar onde ele estaria se metendo, ao decidir cuidar dela.

— Eu sei que fará de tudo para proteger a mim e a Soph,


mas entenda, não há muito a se fazer contra um príncipe.

Aquela informação pegou Bernardo desprevenido e o


chocou. Agora ele podia entender o medo dela.

— O tal Edward, que quase a tomou à força, é o príncipe


Edward?

Samantha concordou com a cabeça e, em seguida, a


abaixou, receosa que ele desistisse do casamento.

Bernardo sentiu o ódio ferver em seu sangue, após o choque


inicial passar. Finalmente tinha um nome e um rosto para o
homem responsável pelos traumas de Samantha.
Ao notar o silêncio se estender por mais tempo que o
necessário, Samantha ergueu os olhos para decifrar o que se
passava pela mente do barão e, por um momento, ela
acreditou que todo aquele ódio fosse para ela, e que
Bernardo ia retirar tudo que tinha dito e mandá-la embora.

Ela não o culparia se ele fizesse exatamente isso.

Em vez disso, Bernardo a puxou novamente para seus


braços, enquanto dizia:

— Ao inferno quem ele é. Se ele tocar na minha família, eu o


mato.

— E seria morto por isso — Samantha informou, com um


meio sorriso triste, sentindo seu coração acelerar ao
entender que ele ficaria do seu lado, cuidaria dela e mataria
por ela.

— Se eu tiver matado o infeliz, minha morte valerá a pena.

Dessa vez Samantha gargalhou, mas logo as lágrimas


começaram a cair por sua face novamente, mas o motivo
era diferente.

— Por que está chorando? — ele perguntou, ficando


preocupado.

— Porque você disse que vai cuidar de mim.

Bernardo riu ao ouvir aquilo. Qualquer outra mulher ficaria


feliz, mas aquela chorava ao ouvir as palavras que tanto
desejou.

— Você é louca. Louquinha — ele debochou, sorrindo.

— Não sou. — Samantha pensou bem. — Talvez um pouco.


Mas você também é. Só um louco aceitaria se casar com
uma mulher nas mesmas circunstâncias que eu.

— Nossas loucuras são parecidas, por isso, nos damos tão


bem — Bernardo concordou.

Ficaram ali, em silêncio, abraçados por algum tempo,


aproveitando aquele momento de paz.

— Ainda quer se casar comigo? — Samantha perguntou,


quebrando o silêncio.

— Sim, eu quero, mas preciso saber se é isso que você quer?

— É claro que quero.

— Você não entendeu. Eu sei que você precisa se casar, mas


você quer se casar comigo?

Casamento é para a vida toda, e eu sei que está se casando


apenas para fugir do príncipe. Não quero que se arrependa
disso.

— Eu o admiro, o respeito, gosto de estar com você, gosto


de nossas conversas e amo sua filha. Se eu não tivesse sido
perseguida, eu teria dito sim, ontem mesmo. Eu adoraria ser
a sua esposa e a mãe de sua filha.

Bernardo sorriu ao ouvir aquelas palavras. Não era uma


declaração de amor, mas sabia que era sincera. Ele também
gostava dela, talvez mais do que ela gostasse dele, mas
esperava que um dia ela deixasse o medo de lado e se
entregasse completamente. Naquele momento, desejou
beijá-la.

Saber como seria tê-la em seus braços. Sentir o sabor de


seus lábios e a textura de sua pele.
— Posso beijá-la para selar nosso acordo? — Bernardo
perguntou, observando a reação dela, temendo que a
tivesse assustado.

— Eu nunca beijei ninguém— ela confessou, envergonhada.


— Mas, sim, você pode me beijar.

Samantha fechou os olhos, apertados, e isso fez o barão rir.


Ele alisou as bochechas dela e ficou esperando-a relaxar.
Quando ela abriu novamente os olhos, sem entender nada,
ele a beijou.

Apenas tocou os lábios dele nos dela. Um leve roçar.

— Isso foi bom. — Samantha sorriu para ele.

— Eu nem comecei ainda — Bernardo murmurou, voltando a


unir os lábios nos dela.

Dessa vez, a provocou com a língua, até fazê-la gemer e


abrir os lábios para ele. Abraçou-a mais apertado à medida
que provava seu gosto, unindo os corpos tanto quanto
possível, diante de tantas camadas de roupa.

As mãos do barão agarraram os cabelos de Samantha


delicadamente e Bernardo aprofundou o beijo, acariciando a
língua dela com a dele e a fazendo emitir um gemido suave.

Bernardo sentia a excitação percorrer-lhe o corpo. A


inocência e entrega com que Samantha o beijava, o deixava
completamente louco por ela. Era evidente pela timidez com
que ela

movimentava os próprios lábios, que a moça era inocente


naquela arte e isso apenas a deixou mais desejável. Ele seria
o primeiro a tê-la completamente para ele. E faria o que
fosse preciso para que aquele momento fosse maravilhoso
para ela. E, para isso, precisava parar antes que o volume
entre suas pernas a assustasse.

Samantha estava ofegante quando o beijo terminou e


percebeu que queria mais. Queria voltar para os braços do
barão e não sair mais dali. Aquele beijo tinha sido incrível,
gostoso e ela não queria que tivesse acabado. Todo seu
corpo fervia e ela adorou a sensação.

— Isso foi.... — Ela tentou encontrar uma palavra adequada


para descrever.

— Delicioso — ele completou por ela.

— Sim. Tão gostoso, que me deu vontade de repetir. — Ela


corou.

— Então acho melhor marcar o nosso casamento para o mais


breve possível, pois a vontade de repetir é recíproca.

— Precisamos nos casar primeiro, para repetir o beijo? — ela


perguntou, confusa, e um pouco desanimada.

— Não, mas beijá-la me fará querer outras coisas, e essas é


melhor que façamos quando você for minha esposa.

— Oh. — Samantha corou com aquela informação. Sabia que


ele se referia à consumação do casamento, mas não sabia
que o beijo levava aquilo. — Neste caso, acho melhor nos
casarmos o quanto antes.

Bernardo sorriu e beijou a testa da sua noiva.

— Venha, vamos contar à Sophia que você será a nova


mamãe dela.
CAPÍTULO 11 ― SEGREDOS

O casamento aconteceria em pouco mais de um mês e


Samantha já estava se sentindo sufocada com todas aquelas
pessoas comentando que o barão havia enlouquecido por
querer se casar com uma criada. Todas as vezes que andava
na rua, sentia os olhares a julgando e quase ninguém fazia
questão de disfarçar quando ele não a acompanhava.

Claro que ninguém sabia que a família dela era uma das
mais ricas da Inglaterra e que mesmo sem ter títulos, era
muito benquista pelo rei. Samantha havia crescido na corte,
e sabia muito bem os deveres de uma lady. Jamais
envergonharia o seu futuro marido.

Naquela manhã tinha ido fazer mais uma prova do seu


vestido de casamento na costureira, e estava atrás do
biombo, se vestindo com a ajuda de uma das auxiliares da
costureira, quando escutou a voz de duas damas entrando
no recinto, junto com a costureira.

― Esperem aqui, enquanto eu vou buscar os seus vestidos ―


a costureira falou e, em seguida, avisou: ― Tem outra cliente
atrás do biombo.

― Tudo bem, mas volte rápido, tenho muitos assuntos ainda


a resolver e não posso me demorar

― uma das mulheres que entrou com a costureira


respondeu.
― Olha que vestido lindo ― a outra mulher comentou.

― Está completamente fora de moda. Esse é o problema das


costureiras velhas, não fazem nada atual.

― Eu gostei ― a outra respondeu, sem se afetar com o


comentário.

― Você tem um gosto péssimo, Alphonsine, chego até a


duvidar que seja mesmo da família.

A moça ficou em silêncio e Samantha imaginou que ela


estivesse constrangida com o comentário feito pela outra.

― Aqui está o teu vestido, senhorita, pode ir ali atrás e eu


lhe ajudarei a se trocar. ― A costureira voltou para o recinto,
alheia sobre os comentários que haviam sido feitos minutos
antes.

― Esse vestido é lindo. ― Alphonsine elogiou a costureira.

― Muito obrigada. Será o vestido de casamento da futura


Lady Montress.

― Então, é verdade que o Barão de Montress irá se casar? ―


Alphonsine perguntou, realmente surpresa. Pensei que
estavam apenas criando inverdades sobre o pobre homem.

A auxiliar da costureira que estava ajudando Samantha a se


vestir travou no lugar, ao perceber que as jovens falariam
sobre os Montress na frente dela. Samantha, porém, pediu
para que a mulher que lhe vestia permanecesse em silêncio
e continuasse a vesti-la.

― É claro que ele vai se casar! Eu mesma lhe contei.


Entretanto, nunca esperei algo tão tolo vindo dele... ― a
outra retrucou. ― Não depois de ele ter expulsado a irmã de
casa, para morrer sozinha em alguma vala escura.
Dessa vez foi Samantha quem travou. Estavam mesmo
falado de seu futuro marido? O Bernardo que conhecia não
seria capaz de tal coisa.

― O que aconteceu com a irmã dele? ― Alphonsine quis


saber.

Samantha ficou tão curiosa quanto a moça. Não fazia ideia


de que Bernardo tinha uma irmã. E

se ele tinha, o que aconteceu com ela? Samantha prestou


atenção na conversa, sem querer perder nenhum detalhe.

― Meu Deus, você não presta atenção mesmo nas notícias...


― Caroline resmungou, com um bufo.

― Senhoritas, não estamos sozinhas... ― A costureira


chamou a atenção das mulheres. ―

Seria melhor que deixassem as fofocas para outra hora.

Samantha quase bufou de raiva. Precisava saber mais.

― Desculpe-me. —Alphonsine envergonhou-se.

― Tolice, todos estão falando da falta de bom senso do barão


― Caroline alfinetou, com uma risadinha. ― Eu não diria
nada se fosse, ao menos, com uma moça de família rica,
mas uma empregada? É algo que jamais deveria acontecer.
Cada um deve ocupar o lugar que lhe foi dado.
Deveria ser proibido se casar com criados. Eles nem
deveriam ser considerados pessoas.

― Isso foi cruel, Caroline ― Alphonsine ralhou

― A verdade é cruel, minha cara.

Samantha estava tão pensativa diante da informação sobre


uma possível irmã do barão, que nem mesmo prestou
atenção ao insulto que lhe fora dirigido depois. Havia
passado dois anos no baronato e nunca sequer ouvira falar
que o barão tinha uma irmã. Ia se casar com aquele homem
e agora percebia que mal o conhecia e, ainda pior, as
pessoas sabiam mais sobre ele do que ela.

Samantha precisava voltar para casa, conversar com o barão


e entender o que estava acontecendo. Por isso, nem se
importou em esperar para provar o vestido, retirou o que a
ajudante tinha colocado e pegou suas roupas. Também não
se importou em sair de trás do biombo com as moças que
falaram dela ainda ali.

— Sra. Pearson, eu virei outro dia para provar o meu vestido


de casamento. Neste momento, tenho algo urgente a
resolver — Samantha informou à costureira e saiu
rapidamente, mas ainda pôde ouvir uma última conversa.

— Quem é ela?

— A futura Lady Montress. — Foi a resposta da costureira.

Bernardo estava em seu escritório, analisando alguns papéis


de arrendatários, quando Samantha irrompeu no recinto. Ela
parecia furiosa.

— Quando iria me contar o que aconteceu com sua irmã? —


Samantha perguntou, em tom acusatório.
Bernardo, ao entender o motivo da repentina raiva de
Samantha, ficou na defensiva. Não estava pretendendo
contar a ela sobre a irmã.

— Eu não ia. — Deu de ombros ao responder o


questionamento dela.

— Como assim, não ia?

Samantha estava corada de raiva e ouvir aquilo a deixou


ainda mais irritada.

— Minha irmã não é assunto seu.

— É claro que é assunto meu!

— Por que está tão nervosa com algo tão simplório?

— Como você esperava que eu reagisse ao saber o que fez


com sua irmã?

— O que eu fiz? — Bernardo ofendeu-se.

Samantha assustou-se ao vê-lo se erguer da cadeira de


mogno em que estava sentado e apoiar as mãos na mesa. O
olhar que ele lhe lançou a fez recuar um passo, perdendo
toda coragem que possuía quando entrou ali.

— O que acha que eu fiz, senhorita Hemwer?

— As mulheres disseram que expulsou sua irmã de casa e a


deixou para morrer, eu quero saber o que aconteceu —
Samantha respondeu, preocupada que o ofendesse mais
ainda. Nunca o tinha visto tão bravo.

— E o que mais as mulheres lhe contaram?


— Nada, elas não me contaram, eu apenas as ouvi
conversando, não sabiam que eu as ouvia.

— E você acredita no que elas falaram, que eu expulsei


minha irmã de casa e a deixei para morrer?

— Eu acho que não, mas preciso saber o que aconteceu,


você nunca mencionou que tinha uma irmã. — Samantha
respirou fundo, criando coragem. — O que mais não me
contou?

― Engraçado, a senhorita me perguntar isso. Nunca imaginei


que seria hipócrita. ― Bernardo a fuzilou com os olhos. ―
Você não tem o direito de me perguntar o que não lhe
contei, quando esconde tudo de mim.

― Eu não estou escondendo mais nada de você. Já lhe contei


sobre Edward.

— Mas não me contou sobre sua família. Eu precisei do seu


sobrenome para acertar a papelada do casamento e, qual
minha surpresa, ao não encontrar nenhuma família Hemwer
na Inglaterra.

Então, me lembrei de que você poderia estar usando um


sobrenome falso para se manter escondida. Um sobrenome
que não me contou.

― Saber meu sobrenome não é tão importante quanto saber


que você tem uma irmã. E não tente mudar de assunto, para
que eu me sinta mal por estar lhe questionando sobre o seu
passado.

― Você que entrou aqui, cheia de pedras na mão, pronta


para atirá-las por eu não ter lhe contado sobre Fernanda,
sendo que ignoras suas próprias omissões.
Samantha se viu encurralada. O pior era que sua mente
gritava que ele estava certo. Ela realmente tinha se irritado
por ele ter escondido aquilo dela, mas também guardava
segredos e não podia julgá-lo por não lhe contar tudo.

― Você tem razão. Sinto muito por ter julgado você. Eu


deveria ser mais compreensiva, dado o meu histórico, mas
eu perdi a cabeça quando disseram que você abandonou sua
irmã à própria sorte. Se fez isso com ela, poderia fazer o
mesmo, ou pior, comigo ― Samantha expôs o seu temor. —
Eu não quero acreditar nelas, não parece algo que você
faria.

— E não é. Eu não abandonei minha irmã. Ela fugiu. Eu


demorei muito tempo para encontrá-la e entender o que
aconteceu e, quando a encontrei, era tarde demais para
consertar tudo.

— O que aconteceu com ela?

— Fernanda é sete anos mais nova que eu. E, como irmão


mais velho, eu tinha a função de protegê-la e eu fiz isso por
muitos anos. Mesmo com a diferença de idade éramos muito
próximos.

Até que crescemos e acabamos nos afastando. Pouco antes


de debutar, ela sumiu. Havia fugido de casa e deixado um
bilhete que dizia que ela não mais era digna do nome
Montress e pedindo que eu não a procurasse. Eu fiquei louco,
desesperado, procurando por todos os lugares, aflito,
temendo que algo tivesse acontecido. Quando a encontrei,
vários meses depois, ela estava morando com uma ex-
prostituta e estava grávida. Eu pedi que ela me contasse
quem era o pai e brigamos feio. Ela me odiava e me
expulsou da vida dela. Eu tentei manter contato, mas ela
não aceitava. Nem mesmo minha ajuda financeira para
manter a casa e suprir as necessidades da criança ela
aceitava. Quando sabia que eu mandava dinheiro, ela
recolhia e enviava de volta.

Fernanda sempre foi muito orgulhosa e autossuficiente, mas


eu sou o irmão mais velho e jamais a deixaria desamparada,
mesmo que ela não aceite. Então, eu a ajudo através de
Winchester, ele é meu amigo mais antigo e marquês. Ele
tem me ajudado a cuidar dela. Foi ele quem a encontrou,
sabe? E ela parece confiar nele e aceita a sua ajuda —
Bernardo comentou e era nítida a nota de

ciúme no tom dele.

— E quem é o pai da criança?

— Eu não sei. Ela nunca me contou. E, na verdade, eu nunca


cheguei perto da filha dela. Já a vi algumas vezes, de longe,
mas nunca de perto. O que é triste, pois ela é quase da
idade da Sophia.

O nome dela é Alinn e ela é linda, parece um pouco com


Winchester. — Bernardo bufou ao se lembrar de algo. — Eu
até cheguei a pensar que pudesse ser filha dele, mas ele não
faria algo tão vil com minha irmã. Não deixaria, nunca,
aquela criança ser bastarda.

― E por que não faz as pazes com ela?

― Eu já tentei. Fernanda é teimosa. Não aceita nenhuma


aproximação minha. Ela cometeu um erro e eu já a perdoei
por isso.

― Você a culpa por ter engravidado? ― Samantha


perguntou, semicerrando os olhos na direção do barão. Se
ele tivesse feito aquilo por causa da gravidez, eles teriam
uma briga séria.
― Céus, não! A culpo por ter fugido e não ter me deixado
ajudar ― Bernardo explicou, se sentindo ofendido. ― Eu sei
que ela não quis que aquilo acontecesse, não foi culpa dela.
Um covarde a seduziu e a engravidou e depois a descartou.
Eu só queria que ela me dissesse quem foi o infeliz, para eu
matá-lo com minhas mãos.

― Matar quem fez isso com ela não vai mudar o passado,
mas você ainda pode trazê-la de volta para o seu presente.

― Não há nada que eu diga que a faça mudar de ideia.

― Não custa nada tentar de novo, e de novo, e de novo. Ela


é sua irmã e você a ama. Ainda dá tempo de voltarem a ser
uma família. Prometa que vai tentar...

―Eu vou falar com Winchester. Ele talvez me ajude.

― Você é um bom homem, Bernardo. Esse é um dos motivos


que eu vou me casar com você. ―

Samantha sorriu para o homem à sua frente e se inclinou


para beijá-lo na bochecha e, em seguida, se afastou na
intenção de sair da sala.

Bernardo ficou tocado com o gesto de afeto e a frase, mas


não podia se esquecer de que também precisava saber
sobre ela. E por isso a puxou para seu colo, antes que ela se
afastasse mais.

― Aonde a senhorita pensa que vai? Ainda falta me contar


sobre sua família.

Samantha corou um pouco. Tinha se esquecido de que


precisaria revelar tudo sobre si mesma.

― O sobrenome da minha família é Hemsfield-Wert, por isso,


não encontrou nenhum registro com meu sobrenome. Minha
família, apesar de não ter título, sempre esteve ao lado do
rei. Há anos protegemos o rei e seus filhos, meu pai é o atual
chefe da guarda, como o meu avô foi antes dele, e meus
irmãos são todos soldados. Cresceram aprendendo a
obedecer tudo que lhes fossem ordenado. Eu sempre fui
uma decepção para meu pai, por não ter nascido homem
também, mas isso nunca me incomodou. Não gosto de
guerras ou de armas, então, até fico feliz por ter nascido
mulher ou, neste momento, eu estaria treinando no pátio do
castelo com todos os outros soldados.

― E seu pai não tentou defender sua honra?

― Minha família nunca ousaria contrariar alguém da família


real. Se o príncipe ordenasse que eles vigiassem a porta
para ninguém entrar, enquanto ele me tomava à força, eles
fariam, sem questionar, não se importando com quem
estivesse dentro do quarto com ele. Ordem é ordem, eles
não ousariam desobedecer.

― Mas e sua mãe?

― Minha mãe é uma mulher ambiciosa... ― Samantha deu


de ombros .― Se o príncipe me usasse e resultasse em um
filho, ela ficaria exultante por ter um bastardo real na
família. Ela nunca

me perdoará por ter fugido dele. Desde que me tornei


mulher, ela insistia que eu seduzisse algum dos príncipes,
para que eles me tomassem como amante. Mas eu nunca fui
uma mulher sedutora e nem queria ser. Então, eu também
frustrei os planos dela.

― Isso não é verdade. Você é, sim, uma mulher sedutora. ―


Bernardo a apertou um pouco mais nos braços, mudando de
assunto ao ver que lembrar-se da família deixava Samantha
triste.
― Eu sou gorda, Bernardo. Tenho curvas em excesso no meu
corpo.

― E quem disse que isso não é sedutor? Tem homens que


dariam tudo para ter essa fartura na sua cama. Eu sou
afortunado.

― Você fala isso porque nunca viu meu corpo por completo.

― Podemos mudar isso agora, se você quiser. Eu não me


importo minimamente em provar que está errada. Vou
venerar cada parte sua, assim como já venero seus
deliciosos seios. ― Bernardo beijou o monte que aparecia
por cima do corpete e isso fez Samantha pular do colo dele.

― Bernardo! Isso não é apropriado.

― Eu não me importo. Em breve, iremos nos casar e eu não


vou precisar me conter perto de você. ― Ele a puxou
novamente para o seu colo. Por ser um homem alto e
grande, o peso dela não o incomodava, e a melhor parte é
que podia sentir o traseiro macio dela com facilidade, já que
ela não usava nenhuma armação por baixo de seu vestido
simples. Ele tomou uma das mãos de Samantha e levou a
palma à boca. ― Você me seduz. ― Depositou um beijo ali e,
em seguida, subiu para o pulso ― Você é a tentação
encarnada. ― Beijou aquela junção e subiu mais um pouco.
― Cada curva sua é como o mais delicioso manjar posto à
minha frente para que eu o saboreie. ― Beijou a dobra do
braço e subiu mais um pouco. ― É a mulher mais deliciosa
que eu tive o prazer de tocar.

O próximo alvo foi a boca de Samantha, que não ofereceu


nenhuma resistência ao barão.

Como poderia resistir quando ele a hipnotizava com palavras


e ações?
O beijo a deixou sem fôlego, mas ela preferia sufocar a
separar-se dele. Ele sabia ser tão maravilhoso que era quase
surreal que a quisesse daquela forma.

Quando Bernardo a tocava, ela sentia-se realmente capaz de


ser tudo o que ele afirmava que ela era: uma mulher linda e
sensual, que o fazia perder o controle. E ela adorava aquela
sensação.

CAPÍTULO 12 ― CONVITE DE CASAMENTO

Na manhã seguinte, Bernardo seguiu para Willow Castle.


Havia prometido à Samantha que tentaria consertar as
coisas entre ele e sua irmã, e sabia que Winchester o
ajudaria nisso.

O amigo, que um dia fora tão próximo, cuidava de Fernanda


como se ela fosse da família e sabia a importância de tentar
novamente fazer as pazes entre Bernardo e a irmã. Por isso,
esperava que Winchester o ajudasse.

Ao chegar ao castelo, esperou que o mordomo o anunciasse


ao marquês. Como estaria o amigo depois, de tanto tempo?
Ainda guardava um pouco de mágoa por Fernanda ter
escolhido confiar em Winchester e, não, nele, seu irmão, mas
já fazia tanto tempo, que era melhor deixar aquilo de lado.
Sua irmã com certeza deveria ter seus motivos para confiar
no marquês, além do que, por causa do título, ela estava
muito mais protegida com o outro homem do que com ele.
Se tinha alguém que poderia proteger a irmã ainda mais do
que ele, esse alguém era Winchester.

O mordomo voltou, indicando que o amigo iria recebê-lo e o


guiou até o escritório.

― Quanto tempo, Montress ― o marquês o saudou, com um


sorriso e uma expressão surpresa no rosto, Era evidente que
aquela visita era inesperada. ― Em que posso ajudá-lo,
velho amigo?

― Obrigado por me receber. Peço desculpas por não ter


avisado de minha visita com antecedência. Mas gostaria de
lhe pedir um enorme favor, em nome dos velhos tempos. ―

Bernardo estava um pouco tenso. Preocupava-se de que o


marquês negasse. Afinal, fazia tanto tempo e tantas coisas
haviam mudado entre eles, que nem podia dizer que ainda
conhecia o amigo.

― Diga. Se estiver ao meu alcance, o ajudarei ― Winchester


concordou e Bernardo sentiu um peso sair de seu peito. Ele o
ajudaria.

― Quero que me ajude a me reaproximar de minha irmã.

O marquês sorriu com aquela informação. E Bernardo se


animou ao ver a expressão do amigo, significava que ele
também queria que os dois fizessem as pazes.

― Fico feliz que, finalmente, tenha tomado essa decisão.


Tentarei ajudá-lo no que for preciso, mas precisamos ir com
calma, não será fácil, precisará ter paciência.

Bernardo sabia de tudo aquilo. Não seria nem um pouco fácil


resolver seus problemas com Fernanda, mas talvez, depois
de tanto tempo, ela também estivesse disposta a deixar o
passado para trás.

― Eu sei. Não teria vindo se não estivesse realmente


disposto a isso. Terei paciência, mas tenho que dar o
primeiro passo.

― O que mudou? ― Winchester perguntou.

Bernardo pensou um momento. Tanta coisa havia mudado....


A principal dela era que agora tinha Samantha em sua vida,
e ela queria que ele tivesse de volta a família dele.

― Uma mulher me fez ver que a família é um bem precioso


demais, para perder por coisas triviais.

O marquês sorriu.

― Será um prazer ajudar.

Assim que o assunto o qual o levou ali tinha sido resolvido,


Bernardo sentiu-se deslocado.

Antigamente aquilo nunca aconteceria, sempre tinham


assuntos interessantes para conversar, mas agora pareciam
dois estranhos. Bernardo não gostou da sensação.

— Aceita algo para beber? — Winchester ofereceu.

Bernardo deveria recusar, deveria voltar para casa, afinal,


tinha muito trabalho a fazer com as
revisões dos cadernos de finanças do baronato. Entretanto,
tentar ter de volta aquela amizade era mais importante.

— Brandy, por favor.

Quando retornou para casa, já estava quase anoitecendo, e


Bernardo estava aliviado e feliz.

Parte da felicidade era por causa das oito doses de brandy


que havia tomado e a outra parte era porque, pela primeira
vez, parecia que tudo estava acontecendo como tinha que
acontecer na vida dele. Finalmente tinha motivos para sorrir.

Ao entrar em casa, Bernardo perguntou ao mordomo onde


estava Samantha, queria contar a ela as novidades do seu
dia e, acima de tudo, queria aquela mulher em seus braços.

— Ela está na biblioteca com sua filha, senhor. Está


ensinando a senhorita Sophia a ler.

— Peça para a babá ir cuidar um pouco de minha filha,


preciso conversar com minha noiva.

— Imediatamente, senhor.

Bernardo seguiu para onde Samantha estava e entrou, sem


bater. As duas o olharam, assim que a porta foi aberta e
ambas sorriram ao vê-lo. Sophia foi a primeira a se levantar
da cadeira e correr para abraçar o pai. O barão a girou várias
vezes no ar e a abraçou, apertado, antes de colocá-la de
volta no chão e pedir que fosse junto com a babá.

Trancou a porta, assim que a filha e a babá se retiraram e


voltou-se para Samantha.

Ela usava um vestido simples, sem armações ou muitas


camadas como seria comum em outras mulheres da alta
sociedade. Bernardo adorava aquilo, pois lhe permitia ter
uma ideia melhor de cada curva que Samantha possuía, mas
o que mais o encantou foi que o cabelo dela estava solto.

Samantha percebeu que o barão não tirava os olhos de seu


cabelo e corou, envergonhada por ser vista com os cabelos
despenteados e soltos.

— Me perdoe, a Sophia queria ver meu cabelo solto, então


eu desfiz o penteado, mas se me der alguns minutos, eu
voltarei a amarrá-los.

— Não ouse — o barão respondeu, dando passos em direção


a ela. — Deixe-os como está, eu adoro vê-los assim, são tão
brilhantes.

À medida que a distância entre eles diminuía, o coração de


Samantha batia mais forte. Ele parecia tão predatório
andando para ela, daquela forma. Samantha sentiu seu
corpo se arrepiar, como se entendesse que ele iria devorá-la.

— Meu Deus, como você é linda — Bernardo elogiou,


admirado, enquanto tocava os cabelos de Samantha, com
devoção, e a mulher corou pela surpresa que o elogio e o
toque causaram. —

Tão perfeita.

Antes que pudesse dizer algo, o barão a puxou para seus


braços, em um beijo caloroso.

Samantha estava cada vez mais familiarizada com os beijos


de Bernardo, e sempre que pensava no homem que os dava,
seus lábios se abriam em um sorriso e seu coração se
aquecia.

Ela adorava quando ele a tocava, como se não conseguisse


resistir a ela quando estavam em um mesmo ambiente. A
forma como ele a segurava nos braços, o encaixe dos beijos,
o calor que

emanava dele e a aquecia, sempre a deixava torpe e ansiosa


por mais.

O gosto de brandy no beijo do barão surpreendeu Samantha.


Não havia percebido que o barão tinha o hábito de beber,
ainda mais, tão cedo.

— Você bebeu... — A indagação pareceu mais uma acusação.


— Aconteceu algo?

— Não aconteceu nada de mais, apenas fui conversar com


Winchester, para que ele me ajude a fazer as pazes com
minha irmã. E bebemos em comemoração a isso.

— Ah, isso é uma ótima notícia. — Samantha ficou feliz ao


saber que ele foi conversar com o marquês, para resolver o
assunto pendente com a irmã. Era um passo e tanto para
isso.

— Graças a você. Tudo isso está acontecendo graças a você.


— Bernardo a abraçou novamente. — Você é maravilhosa.
Há tempos não era feliz como sou agora, e devo tudo isso a
você.

— Eu não fiz nada de mais. Você quem tem feito tudo. —


Samantha sorriu, enquanto tocava o rosto do barão. Estava
feliz por ele e por ela mesma. — Também estou feliz.

Bernardo sentiu todo seu corpo pulsar por aquela mulher. A


desejava mais que tudo. Voltou a beijá-la com volúpia,
unindo seus corpos o máximo que podia por cima das
camadas de roupa.
— Eu amo você, Samantha — Bernardo confessou no ouvido
de Samantha. — Meu desejo por você é tanto que chega a
doer. Preciso que seja minha, necessito sentir você nua na
minha cama e me afundar em seu corpo. Sonho com isso há
muito tempo, e não penso em mais nada a não ser possuí-la.
Por favor, seja minha. Não posso mais esperar.

Samantha se retesou diante àquelas palavras. Bernardo a


amava e a queria. Ficou nervosa. Ela o amava também?

Gostava muito dele e o desejava, mas amar era algo muito


sério. Ainda mais, aquele tipo de amor. Amava Sophia como
se fosse sua filha, amava Agatha por ser sua melhor amiga,
e até amava sua família, apesar de tudo que eles lhe
fizeram, mas amar Bernardo era algo mais sério.

Ele merecia ser amado, mas ela ainda não tinha certeza se o
que sentia por ele era amor. Gostava dele, o respeitava, se
importava, queria vê-lo feliz... Mas isso era amor? Não sabia
a resposta para aquilo.

— O que foi? Eu disse algo que não devia? — Bernardo


perguntou, ao notar o silêncio dela ao se afastar, pensando
que era devido ao pedido para irem para a cama. — Se não
quiser que eu a toque antes do casamento, eu a respeitarei.
Não sou um animal no cio, que não pode controlar seus
impulsos. Não faremos nada que não queira.

— Não foi essa parte que me preocupou. Eu quero ser sua.


Me preocupa apenas o fato de não poder retribuir o seu
amor.

— Você não me ama?

— Eu gosto muito de você, o respeito e quero sua felicidade,


mas ainda não sei se te amo.
Aquelas palavras doeram em Bernardo. Apesar de não
costumar expressar com facilidade seus sentimentos, ele
sempre foi muito intenso. E saber que Samantha não o
retribuía, o deixou triste. E

se arrependeu de ter se exposto daquele jeito. Entretanto, já


tinha feito. E seu coração insistia em ter esperanças de ser
amado.

— Irá me amar algum dia?

— Sim, creio que sim. A cada dia, eu me importo mais com


você. — Samantha o tocou na face.

— Eu já sinto algo por você, só não sei o que é ainda, mas


assim que eu souber, eu o direi.

— Então, eu não me importo de esperar. — Bernardo sorriu,


se agarrando àquela esperança.

Entretanto, em seus olhos era visível o quanto aquela frase o


abateu.

Saber que não era correspondido era doloroso, e o medo de


que ela nunca o amasse da mesma

forma que ele a amava o assolou. Tinha se apaixonado por


ela e o amor, consequentemente, nasceu com a convivência,
todavia, pelo que via, apenas ele tinha se permitido sentir
algo.

Era um tolo por amá-la, mas não sabia como deixar de fazê-
lo.

Samantha podia notar o quão perdido em pensamentos


Bernardo estava, e sabia que era culpa sua aquela dor que
agora via no olhar dele. Queria poder dizer que o amava,
mas não seria certo mentir, afinal, o que sabia ela sobre
amar um homem? As mulheres ao seu redor estavam
casadas, apenas por interesses de seus pais, e nenhuma das
que conheceu amava o marido. Não existia amor na sua
família. O sentimento era algo desestimulado entre as moças
em idade para casar, era tido como algo egoísta e errado,
exceto depois do casamento, em que as mulheres eram
ensinadas a respeitar, honrar, obedecer e servir seus
maridos e dar-lhes filhos fortes e saudáveis. Na corte, amar
alguém era a maior tolice que uma dama poderia fazer.

Samantha gostava da companhia de Bernardo, das


conversas, dos beijos, gostava da forma que ele a protegia e
estava feliz com a ideia de casar-se com ele, mas isso
significava que o amava?

O que seria o amor entre um homem e uma mulher? Antes


que pudesse perguntar a Bernardo sobre esse assunto, ele
se retirou para o seu quarto e ela ficou sozinha no corredor.

CAPÍTULO 13 ― CASAMENTO

O dia do casamento finalmente chegou. Samantha estava


nervosa e preocupada, desde que Bernardo se declarou a
ela, ele a estava evitando.

Se viam apenas nas refeições e ele mal lhe dirigia a palavra.


Preocupava-se que ele tivesse desistido do casamento,
entretanto, o fato de não lhe comunicar nenhuma mudança
a manteve esperançosa que o enlace fosse realizado.
Quando as criadas invadiram seu quarto para prepará-la
devidamente, Samantha se permitiu respirar um pouco e se
agarrou à esperança de que ele iria se casar com ela.

Apenas quando uma criada veio lhe informar que o barão


havia ido para igreja e a aguardava lá, foi que ficou aliviada.
Ela estaria casada até o meio-dia.

Ficou ainda mais nervosa quando a carruagem foi buscá-la.


Não reconheceu o brasão no veículo, e isso a deixou
preocupada. Seria alguém a mando do príncipe para evitar
que se casasse?

Seus medos se tornaram infundados e ela se acalmou


quando uma mulher evidentemente grávida, com cabelos
claros e olhos acinzentados abriu a portinhola e a olhou, com
um sorriso no rosto.

— Sou Lady Winchester. O seu noivo a aguarda na igreja.


Você está pronta?

Samantha sorriu e assentiu. Aquela era a esposa do amigo


de Bernardo, o que o ajudaria com a irmã. Era evidente que
ele os teria convidado para o casamento.

Samantha subiu com a ajuda do cocheiro e se acomodou no


banco em frente à lady Winchester.

— Você está linda. — A mulher enxugou uma lágrima no


cantinho do olho. — Desculpe, a gravidez me deixou
emotiva. Uma hora estou dando risadas e logo em seguida
choro feito bebê.

— Não tem problema, milady. — Samantha deu de ombros.


— Está com quantos meses?
— Seis. Ainda falta um tempinho pra eu tê-lo nos braços — a
lady respondeu, acariciando a barriga, com carinho. — Mas
não estamos aqui para falar de mim, hoje o assunto é você.
Como se sente?

— Nervosa. — Samantha deu uma risadinha, evidenciando


sua resposta.

— Não precisa ficar. Winchester me contou que seu noivo é


um ótimo homem. Ele será um marido decente.

— Não é isso que me preocupa. Eu não poderia ter escolhido


homem melhor para me casar.

— Então o que a preocupa?

Samantha não sabia exatamente o que responder. Havia


sentido medo de o príncipe estar ali, ao ver a carruagem
luxuosa, mas até então nem sequer havia pensado nele.
Toda sua preocupação se relacionava a Bernardo desistir
dela.

— Ele vai estar na igreja me esperando, não vai?

— Vai, sim, querida. Por que ele não estaria?

— Ele disse que me amava — sem pensar, Samantha


comentou. Aquela mulher lembrava tanto Agatha, que a fez
falar. E toda mulher precisava de uma amiga no dia do seu
casamento. Se Bernardo podia ter o Lorde Winchester, nada
mais justo que ela tivesse à Lady Winchester.

— A meu ver isso é mais que suficiente para fazer um


homem subir ao altar. — Lady Winchester segurou a mão de
Samantha entre as suas e deu-lhe uns tapinhas
reconfortantes.
— Eu disse que não sabia o que sentia por ele. Acho que o
magoei.

— Oh, isso já complica um pouco mais, mas não deve se


preocupar, ele ainda está esperando a

senhorita no altar. Entretanto, deve corrigir isso o mais


rápido possível. Amores não correspondidos definham.
Então, se vai se casar com ele, deve tentar retribuir na
medida exata.

— E se eu não puder retribuir?

— Então, os dois terão um casamento infeliz. Pois quando se


casam por um motivo em comum é mais simples conviver
com aquilo e fazer o casamento dar certo, porém, se os dois
têm motivos diferentes, um vai sair muito machucado.

Samantha refletiu sobre aquilo, estava confusa. Teria sido


mais fácil se ele ainda estivesse de casando, apenas para
arrumar uma mãe para Sophia e ela para fugir do príncipe.
Ele nutrir sentimentos por ela tornava tudo mais complicado.

— Não íamos nos casar por amor, era apenas um arranjo que
beneficiaria a nós dois. Eu estava confortável com esse
arranjo, até ele dizer que me amava e depois me ignorar
completamente, por eu não ter dito que o amava também.

— O que faria se ele não se casasse com você? — Lady


Winchester perguntou, após alguns minutos.
— Não sei. Eu iria embora, com toda certeza. Ficaria triste e
sentiria falta dele e da Sophia.

A outra mulher observou Samantha por um tempo. Estava


curiosa. Se Samantha não sentisse nada pelo barão, não
estaria confusa. Talvez até já o amasse, só não sabia disso
ainda. Porque estava certa de que a moça sentia algo por
Bernardo.

— Tente imaginar um futuro sem ele. O que sente?

Samantha imaginou como seria um futuro em que o Barão


não estivesse. E tudo que viu foi uma vida de fugas, saudade
e dissabores. Não era uma vida que queria para si. Gostava
de estar ali com Bernardo e Sophia, sentia que ali era o seu
lar.

— Tristeza. Muita tristeza. Eu sentiria saudade.

— E a tristeza é por sentir falta dele ou por sentir falta da


vida que ele lhe oferece?

— Como assim?

— Se fosse outro homem no lugar do Bernardo, teria


concordado com o casamento?

Samantha mais uma vez refletiu. Se fosse outro homem


qualquer lhe oferecendo casamento, aceitaria?

Estava fugindo de um homem que tentou tê-la para si à


força, mas se entregava de livre e espontânea vontade para
outro. A única diferença é que o primeiro queria tomá-la, o
segundo conquistou o direito de tê-la. Não se via com
nenhum outro homem que não Bernardo. O barão tinha
conquistado a confiança dela, sabia que estaria segura com
ele e nenhum outro a faria se sentir assim.
— Eu não me vejo com outro homem, senão o Bernardo.
Confio nele e o respeito. Não me casaria com outro.

Bernardo esperava Samantha no altar ao lado do pároco, o


reverendo Carter e do outro lado, seu padrinho de
casamento, Lorde Winchester.

A igreja estava parcialmente lotada, tirando o noivo e o


barão, não havia mais nenhum nobre, apenas pessoas
comuns que faziam parte do dia a dia de Bernardo e
Samantha. Ambos haviam optado por um casamento
simples, sem muitos exageros, discreto.

Apesar de a aparência calma, por dentro o barão estava


preocupado.

Havia se arrependido de ter dito algo tão intenso, sem que


Samantha estivesse pronta para ouvir, ainda que fosse
verdade cada palavra que dissera. O silêncio o ajudou a
refletir sobre os motivos dela não o amar e impediu que seu
coração ficasse aos pedaços diante da falta de sentimento
demonstrado por ela. Havia dias que não conversava com
sua noiva e nem mesmo a tinha visto naquela manhã, e
agora temia que ela tivesse desistido do casamento, diante
à indiferença dele nos últimos dias.

Entretanto, logo tratou de afugentar aquele pensamento.


Samantha era racional demais para se deixar levar pela
emoção causada pela indiferença dele.

Aquele pensamento o fez rir, sarcástico.

Ela era racional demais para dizer que o amava, e isso tinha
causado aquela situação desconfortável, mas justamente
essa racionalidade dela o fazia ter certeza que ela estaria
em breve ali.
— O que é tão engraçado? — Winchester perguntou, ao se
aproximar do amigo e vê-lo dar algumas risadas que mais
pareciam bufos.

— Nada importante. — Bernardo deu de ombros, não


querendo contar para o amigo que seu amor tinha sido
rechaçado por sua noiva. — Alguma notícia de minha noiva?

Ao ver que o barão não lhe contaria os motivos da risada,


Winchester decidiu apenas responder a pergunta:

— Lady Winchester foi buscá-la. Já devem estar chegando.

— Tem certeza de que não fará mal a ela esse


deslocamento?

— Não é tão longe, apenas um terço de hora, então, não fará


nenhum mal. Fora que Clara estava ansiosa para conhecer
sua noiva, impedi-la de ir seria bem pior. — Dessa vez o riso
debochado partiu de Winchester.

— Vocês formam um belo casal.

— Eu concordo. Ela é perfeita para mim.

Bernardo sentiu inveja do amigo e baixou a cabeça para que


Winchester não notasse a tristeza em seu semblante. Queria
que sua esposa o amasse, como Lady Winchester amava o
marido.

Por estar de cabeça baixa nem reparou quando Winchester


se afastou de seu lado e se direcionou à porta da igreja. E
somente entendeu o que estava acontecendo quando ouviu
as notas musicais indicando que a marcha nupcial estava
acontecendo.

Bernardo levantou os olhos rapidamente, procurando por


Samantha na porta da igreja. Todos os seus pensamentos
sumiram quando ele a viu entrar. Sentiu o coração acelerar
de emoção. Ela estava magnífica.

Bernardo não tirou os olhos de sua noiva, cada passo que ela
dava ao encontro dele fazia seu coração se acelerar em seu
peito, o aquecendo por completo.

Ela estava deslumbrante, o vestido de seda e renda envolvia


o corpo de Samantha com perfeição. O delicado véu que
escondia suavemente o seu rosto ondulava de leve a cada
passo que ela dava. Bernardo mal podia esperar para retirar
aquele tecido e ver por completo o rosto de sua noiva.

O marquês a entregou a Bernardo, e Montress a tomou pela


mão, depositando um beijo em cima da luva de seda, em
seguida ergueu o véu da noiva, revelando o seu rosto e seu
coração quase

parou ao vê-la sorrir.

Sabia que não deveria sentir-se o homem mais sortudo do


mundo, e nem ficar tão feliz com aquele casamento, afinal,
ela não estava se casando por amor, mas era difícil não se
alegrar ao saber que a partir daquele momento Samantha
seria inteira e oficialmente sua.

Viraram-se para o altar, a cerimônia se iniciou e o reverendo


tomou para si a palavra.

Bernardo mal ouvia o reverendo Carter, toda sua


concentração estava no calor que a mão de Samantha
emitia ao tocar a sua e no movimento circular que o dedo
dela fazia nas costas da mão dele. Era um gesto carinhoso
do qual ele estranhava, já que ela nunca o tinha tocado com
tanto carinho antes. Poderia facilmente se acostumar com
aquilo.
O reverendo chamou a atenção de Bernardo e esse repetiu
seus votos, sendo imitado por Samantha, que logo repetiu os
seus, prometendo um ao outro, amar, respeitar, honrar e
cuidar em todos os momentos da vida, na saúde e na
doença, na riqueza e na pobreza, na alegria e na tristeza, até
que a morte os separasse.

O reverendo Carter, então os declarou marido e mulher e,


diante de todos os presentes, Bernardo beijou sua noiva. Não
um simples beijo como seria o correto, mas um beijo quente,
cheio de paixão que fez o reverendo pigarrear e resmungar
sobre a falta de respeito que na casa de Deus.

Samantha estava corada até a raiz do cabelo quando saíram


da igreja, mas seguia com um sorriso no rosto, feliz por estar
casada com um homem como Bernardo e por não mais ter
que se preocupar com nada, além de fazer o seu marido
feliz. Bernardo, por sua vez, também exibia um sorriso, o
seu, porém, era radiante. Não tinha ficado nenhum pouco
constrangido com o beijo que havia dado em Samantha,
agora, Lady Montress, muito pelo contrário, mal podia
esperar para beijá-la novamente, dessa vez, sem ninguém
para presenciar a cena e muito menos atrapalhar.

Seguiram para a sede do baronato, onde aconteceria a


recepção para os convidados poderem festejar aquele
enlace.

Os recém-casados seguiram juntos em uma carruagem,


enquanto os convidados seguiam atrás.

Sophia quis ir com sua nova amiga, a Marquesa de


Winchester, estava encantada demais em saber que tinha
um bebê na barriga da mulher e queria fazer companhia a
ela.
— Mas Lady Winchester precisa descansar. — Samantha
tentou convencer Sophia a ir na carruagem deles.

— Tolice. Eu estou bem e será muito bom ter a companhia da


senhorita Montress.

— Deixa, mamãe, eu prometo me comportar — Sophia pediu


para Samantha, com os olhos enormes e chorosos.

A recém-casada sentiu os olhos encherem de lágrimas ao


ouvir Sophia chamando-a de mamãe.

Agora ela era oficialmente a madrasta daquela criança e


cuidaria dela como se fosse a própria filha.

— Tudo bem, pode ir, mas não dê qualquer trabalho à Lady


Winchester! Ela não pode se preocupar.

Sophia abraçou Samantha e agradeceu, indo em seguida


com Clara e Winchester para a carruagem deles. Bernardo
ajudou sua esposa a entrar no transporte que os levaria em
casa e entrou após ela. Ambos mantinham um silêncio
agradável, trocando apenas sorrisos quando cruzavam os
olhares.

A carruagem começou a andar e Samantha se perdeu em


pensamentos, enquanto olhava pela janela. Bernardo, por
outro lado, não tirava os olhos da esposa. Desde que a vira
entrando na igreja, não parara um minuto de apreciá-la.
Antes com admiração, agora com luxúria causada pelo

beijo voluptuoso que dera nela. Bernardo queria poder pular


a recepção e a festa e partir logo para a consumação. Estar
casado e saber que agora Samantha era sua esposa o deixou
louco de desejo de consumar aquele casamento e se afundar
em sua mulher.
— O que pensa tanto? — Samantha perguntou, ao notar que
Bernardo a olhava fixamente.

— É melhor que não saiba dos meus pensamentos ou poderá


escandalizar-se — Bernardo respondeu, com um sorriso
lascivo.

— São tão ruins assim? — ela perguntou, inocente da


sensualidade no olhar do barão.

— Ruins? Longe disso. Perversos e luxuriosos definiriam


melhor o que se passa em minha mente.

Samantha corou ao dar-se conta do que aquelas palavras


significavam.

— Está pensando na consumação?

— Estou.

— Oh. E-eu devo avisar-lhe que nada conheço sobre esse


assunto, então precisarei que tenha paciência comigo, pois
não saberei o que fazer.

— Não precisa se preocupar, lhe direi exatamente o que


deve fazer.

— Mas é certo que o faça? Digo, é certo que tome para si a


responsabilidade que caberia a minha mãe ou outra mulher?

— Ninguém melhor que seu marido para lhe ensinar. Sua


mãe não saberia do que me agrada.

— E o que seria isso?

Bernardo sorriu ainda mais e se inclinou para a lateral,


fechando a pequena janela da carruagem, deixando os dois
com parca iluminação dentro do transporte, em seguida
sentou-se ao lado de sua esposa e inclinou para sussurrar-
lhe ao ouvido.

— Quando a noite chegar e estivermos sozinhos no quarto,


irei beijá-la até que não sinta mais as pernas e precise de
meu apoio para continuar em pé. Quando isso acontecer, irei
despi-la de qualquer roupa que ouse esconder seu corpo de
minha visão, e em seguida farei o mesmo com minhas
vestes. A deitarei nua na cama e beijarei cada centímetro do
seu corpo. Tocarei nos lugares que nunca foram tocados e
provarei o seu gosto, a levando ao paraíso. Devorarei seu
corpo como se fosse o mais delicioso dos manjares, e a
reverenciarei como o mais puro dos anjos. Irei apreciar e me
alimentar de seus gemidos, enquanto estiver provocando
cada um deles com minhas mãos. Tocarei em lugares nunca
tocados e a farei tremer sob meu toque. E quando estiver
completamente molhada e ansiando por mim, eu a tomarei
lentamente, para que aprecie cada momento, e a tocarei de
uma forma que se esqueça de tudo ao seu redor que não
seja eu.

Samantha já não se lembrava de mais nada que não fosse o


barão e suas palavras lascivas e sensuais, que a deixaram
corada e arrepiada, ansiando que aquele momento se
aproximasse.

— Bernardo... — O nome saiu suplicante dos lábios de


Samantha em um sussurro, quando ele beijou o pescoço
dela.

— Sim, meu amor? Diga-me, o que quer?

Antes que Samantha pudesse responder àquela pergunta a


carruagem parou, indicando que tinham chegado ao seu
destino.
— Maldição — Bernardo praguejou e arrumou seu lenço,
alinhando o casaco no corpo em seguida, abriu a porta da
carruagem, desceu e estendeu a mão para sua esposa. —
Venha. Por que decidimos fazer uma festa e convidar todas
essas pessoas mesmo? Poderíamos apenas ter nos casado
em uma cerimônia fechada e pronto. Apenas nos dois e os
Winchester.

— Acalme-se, pelo menos dessa vez todos que se encontram


aqui são seus conhecidos e amigos. Tente se divertir e logo
passará o tempo.

— Eu espero que passe logo — Bernardo concordou, ficando


sério, enquanto a guiava para dentro de casa.

Após recepcionar os convidados que haviam estado na igreja


e receber as felicitações de todos, Bernardo e Samantha se
juntaram ao marquês e a esposa, iniciando o almoço festivo.

Foi um alívio para Bernardo poder finalmente se sentar entre


seus amigos. Não estava confortável em ter tantas pessoas
na sua casa, ainda que conhecesse cada uma delas, mas
Samantha não tirou a mão da sua em nenhum momento,
nem mesmo quando ele a apertou com um pouco mais de
força do que deveria, e a presença dela acabou por acalmá-
lo, de tal forma que, ao se sentar ao lado de Winchester, já
exibia um sorriso genuíno.

A mesa estava abarrotada de comida e bebida, e as famílias


nobres da região sentavam-se à mesa junto com os recém-
casados. A família do noivo também havia sido convidada,
mas apenas parte deles tinham resolvido aparecer, uma vez
que alguns, ao saber que ele iria se casar com uma criada,
se ofenderam e o cortaram de seu círculo social.

Não que Bernardo se importasse, ele sempre teve predileção


por estar entre os camponeses, já que entre os homens
simples não se sentia avaliado o tempo todo, uma vez que
nenhum deles olhava para o barão com desprezo ou
superioridade. Com eles sentia-se à vontade para expor suas
ideias e conversar.

Por aquele motivo, do lado de fora da casa, os arrendatários


comemoravam também o casamento com comes e bebes
oferecidos pelo barão.

Todos pareciam se divertir, e depois de algumas taças de


vinho, até Bernardo se divertia, não se importando mais com
as pessoas ao seu redor. Seu foco havia se tornado
unicamente a sua esposa, não tirava os olhos dela e a cada
minuto que passava e a cada taça de vinho que bebia, se
tornava mais difícil manter as mãos longe dela.

Dessa forma, ao passarem pelo corredor onde ficava o seu


escritório, uma ideia surgiu.

Rapidamente, Bernardo destrancou a porta e entrou com


Samantha, sem ser visto.

— O que está fazendo? — Samantha perguntou, ao ver que


Bernardo trancava a porta.

— Aproveitando alguns minutos com minha esposa. — Ele


sorriu lascivo e se aproximou dela, a tomando em um beijo
apaixonado.

Samantha não resistiu, nem havia motivos para tal, ele era
seu marido e ela estava ansiosa por mais momentos como
aquele. Então, quando ele a tomou nos braços, ela o
envolveu pelo pescoço e aprofundou o beijo, sem nenhum
pudor.

Sentiu as mãos dele passeando por cima de seu vestido e


apertando suas curvas, puxando-a de encontro a ele. O
encaixe dos corpos era quase perfeito, devido às armações
por baixo do vestido de Samantha, que impediam que
Bernardo sentisse o corpo dela apesar do tecido.

— Odeio essa praga — ele murmurou, vendo que não


conseguiria apertar nada abaixo da cintura que não fosse a
crinolina. — Prefiro quando não a use. Assim posso tocar no
seu belo corpo.

Samantha sorriu com aquilo. Ela estava completamente


envolta em roupas. Eram luvas, espartilho, crinolina, meias e
camadas e camadas de tecido que a separavam de
Bernardo, enquanto ele não usava tantos empecilhos.

— Eu não poderia usar apenas um simples vestido no dia do


meu casamento — Samantha justificou, debochada.

— Você é malvada. Teve que colocar todos os obstáculos


possíveis para me impedir de te deixar nua antes que
termine a festa. — O Barão tomou novamente os lábios da
sua esposa, já que era uma das poucas partes que não
estava escondida atrás de roupas. — Vamos voltar antes que
eu realmente fique tentado e tomá-la aqui e agora. Estou
bêbado o suficiente para cogitar fazê-lo neste momento,
mas quero estar sóbrio quando tomá-la pela primeira vez.
Então, é mais prudente que voltemos para a festa.

— Espere. — Samantha o puxou para si, antes que ele se


afastasse. Ela queria que ele soubesse o que tinha decidido
na carruagem, após a conversa com Lady Winchester. — Eu
preciso dizer algo.
— Pode dizer — Bernardo respondeu, erguendo uma mão
dela, retirando delicadamente a luva e beijando os dedos e a
palma nua da mão.

— Não consigo me concentrar. Isso é tão bom. — Samantha


fechou os olhos quando ele subiu os lábios até a dobra do
seu braço.

— É algo importante?

— Sim — respondeu, num sussurro.

— Então, se concentre para dizer...

— Tudo bem. — Samantha colocou os pensamentos em


ordem e tentou ignorar os beijos do barão em seu pescoço.
— Não consigo. Se não parar, não conseguirei falar.

— Não quero parar. Sua pele é tão inebriante. Por mim,


acabaria agora com a festa e a levaria para minha cama,
mas infelizmente, não posso fazer isso. Inferno, mulher,
como poderei manter as mãos longe de você, quando tudo o
que quero é lhe agarrar? — Bernardo suspirou, resignado, e
se afastou de Samantha, antes que nunca mais parasse de
tocá-la. — Vamos voltar, antes que eu não consiga mais
resistir.

— Tudo bem.

— O que iria me dizer?

— Eu falo depois.

— Mas você disse que era importante.

— É importante. Eu só queria dizer que estou feliz por ser


sua esposa — Samantha falou uma meia verdade. Aquilo não
era tudo, mas ela preferia esperar a noite, quando
estivessem a sós, para falar que ela não queria mais
ninguém, além dele, e que ele era um homem maravilhoso e
talvez o que sentia por ele já fosse amor. — Era só isso.

— Eu também estou muito feliz. — Bernardo beijou a fronte


de Samantha e em seguida saíram do escritório e voltaram
para a festa.

CAPÍTULO 14 ― NÚPCIAS

A festa, para a felicidade dos recém-casados, finalmente


chegou ao fim. Graças a Marquesa de Winchester,
encerraram a festa algumas horas antes que o pretendido.

Bernardo havia anunciado que encerrariam as festividades


mais cedo para que a Lady pudesse descansar, sem toda a
barulheira da festa. A ideia, claro, havia partido da própria
Clara que, ao observar o casal, percebeu que eles estavam
ansiosos para se livrarem de toda aquela gente.

Assim que todos se recolheram aos seus aposentos,


Bernardo pôde finalmente ir para o seu quarto, onde sua
esposa já o esperava.

Ela tinha ido para os aposentos do barão, assim que os


convidados começaram a se recolher e, junto a ela, uma
criada seguiu para ajudá-la a retirar as roupas e se preparar
para sua noite de núpcias.
Quando Bernardo entrou no quarto e fechou a porta, notou
que Samantha já o esperava sentada na cama, dessa vez,
usando apenas uma camisola branca. Seus cabelos escuros
estavam soltos e desciam abundantes pelas costas,
contrastando com o tom da pele e da camisola.

Samantha parecia um anjo aos olhos de Bernardo. A peça de


roupa que usava não escondia suas curvas, em vez disso as
delineava. Os seios avantajados eram facilmente visíveis
pelo generoso decote que a peça possuía e mesmo que
tivesse completamente coberta, a mulher era uma visão
excitante para o barão.

Ao se aproximar, Montress percebeu que sua mulher parecia


nervosa. Ela não parava de esfregar as mãos uma na outra e
nem mesmo tinha se dado conta de que ele estava ali.

— Finalmente todos já se recolheram — Bernardo comentou,


iniciando uma conversa para que ela se desse conta de sua
presença. — Você parece nervosa...

— Estou um pouco. Nunca fiz isso antes, então, não sei o que


esperar.

— Eu cuidarei bem de você. Apenas confie em mim. Tentarei


ser o mais carinhoso possível. —

Bernardo sorriu para sua esposa, seguiu até a cama e ficou


em frente a ela.

— Eu confio.

Bernardo, suavemente levantou o queixo de Samantha e


tomou seus lábios em um beijo lento.

Com a língua pediu passagem entre os lábios dela e, ao ter


acesso completo à sua boca, provou mais uma vez o seu
sabor.

Os braços de Samantha procuraram o pescoço de Bernardo


para trazê-lo mais perto e aprofundar o beijo. Logo, ela não
se lembrava dos motivos de estar nervosa. Tudo que
importava era o aquele toque tentador.

Montress acariciou a nuca de sua esposa, entrelaçando


suavemente os dedos nas madeixas da mulher. O toque
resultou em um gemido que se perdeu entre um beijo e
outro.

Apesar de apreciar o beijo, Bernardo sentiu-se ficar ainda


mais faminto. Suas mãos estavam ávidas para tocar aquele
corpo e não pararam até encontrar os seios macios por
dentro do decote da camisola. A sensação desconhecida fez
Samantha arfar, assustada, mas logo passou a apreciar
aquela sensação maravilhosa que esquentava o seu corpo,
causando deliciosos arrepios.

Gemidos arfantes encheram o quarto quando o barão desceu


os lábios pelo corpo de Samantha.

Ele mordiscava, chupava e beijava a pele sensível do


pescoço, depois subia passeando a língua por trás da orelha
de sua esposa, para logo mais voltar a beijar-lhe o pescoço e
o colo.

Cada minuto que se passava, aumentava o desejo de


Bernardo.

— Vá para o meio da cama e se deite — ordenou.

Samantha obedeceu sem pestanejar e se colocou no local


desejado por ele. Bernardo subiu de joelhos na cama e
começou a erguer a camisola de sua mulher, expondo
tornozelos grossos mas, ao mesmo tempo, femininos, para
logo desnudar os joelhos. As coxas foram as próximas a
sentirem o ar noturno, após Samantha levantar parcialmente
o corpo da cama, facilitando o gesto de Bernardo. O trabalho
de despir continuou até que a camisola estava caída ao chão
do lado da cama.

Ao ficar nua, Samantha tentou se cobrir.

— Não se cubra. Deixe-me apreciar minha linda esposa. Há


séculos quero vê-la assim. Não me impeça de ter esse
prazer.

— Tenho marcas causadas por meu crescimento. Cicatrizes.

Bernardo observou as linhas brancas que marcavam o corpo


de sua mulher, assim como várias covinhas em seu quadril
avantajado. Lentamente passeou o dedo em cada detalhe,
enquanto a sentia estremecer sob seu toque.

— Elas não me incomodam. Com elas, eu conseguiria te


reconhecer em meio a centenas de outras mulheres. Elas te
fazem única. — Bernardo beijou cada marca do corpo de
Samantha para enfatizar suas palavras.

Depois de beijar o ventre de sua esposa, o barão observou


os seios de Samantha, encheu sua mão com eles e os
massageou suavemente. Sentiu a boca salivar com tamanho
desejo que sentia para prová-los.

— Você é tão perfeita. Adoro seus seios. Venero-os. São


lindos.

— E enormes.

— Por isso são lindos. Você é uma mulher abundante e eu


estou ansioso para provar deste farto banquete que me
oferece.
Diante daquelas palavras, Samantha fechou os olhos e
permitiu que ele a olhasse. E corou ao ouvir os elogios que
ele tecia sobre seu corpo.

― Tão linda... Tão macia... Tão incrivelmente perfeita... Tão


minha!

Samantha gemeu ao sentir a boca de Bernardo passeando


por seu corpo. Sentiu os beijos serem depositados em sua
barriga e subirem para o pescoço, para tão logo seguirem
para seus seios já endurecidos de paixão. Ao sentir a língua
molhada em seus mamilos, a mulher arfou e se contorceu
sob o toque do seu marido. Aquela sensação era nova para
ela e completamente deliciosa, o calor que a carícia lhe
causava, parecia se acumular em seu ventre e a cada novo
toque se intensificava.

Samantha estava adorando sentir-se assim, mas logo se


tornou torturante, precisava de mais.

Seu corpo se contorcia e se contraía, buscando algo além


daquilo, se preparando para algo mais intenso, mas apenas
com aquele toque ela jamais chegaria onde queria. Sentiu-se
frustrada, seu corpo clamava, suplicava, implorava por
aquilo.

― Bernardo... ― sussurrou, em tom de súplica. ― Por favor...


Eu preciso...

― Do que precisa, meu amor?

― Eu não sei... Mas não aguento mais isso.

― Quer que eu pare?

― Não. Não pare... ― Samantha se interrompeu quando ele


mordiscou o mamilo. Gemeu e arfou com o toque doloroso.
― Eu sei do que você precisa.

Bernardo se afastou do seio de Samantha e desceu por seu


corpo, ainda beijando e

mordiscando e posicionou seu rosto no meio das pernas


dela.

― Abra as pernas para mim, querida.

― O quê? Não! Isso é impróprio. Não é certo.

― Confie em mim. Eu sei exatamente do que precisa. Me


deixe vê-la.

Samantha continuou com as pernas fechadas. Estava


extremamente constrangida em tê-lo em um local tão
escandaloso, mas quando ele começou a acariciar suas
pernas e beijá-las, seu corpo a traiu e se abriu para ele, sem
nenhum pudor.

― Boa menina. Agora, me deixe saboreá-la como merece.

Samantha quase pulou da cama quando sentiu a boca de


Bernardo encontrar o seu sexo. Seu corpo se contorceu e se
arqueou, enquanto ela gemia descontroladamente, não era
mais dona de si.

Estava completamente à mercê daquele toque em seu


botão. Se a sensação anterior havia sido intensa, essa era
cem vezes mais.

Sentiu o desespero novamente a tomar, quando seu corpo


se contraiu de prazer, a sensação se intensificou ainda mais
e ela só queria fugir dali. Precisava acabar com aquilo.
Tentou se afastar do toque do seu marido, mas ele a
segurava com força pelo traseiro.
― Bernardo! ― ela gritou, entre um gemido e outro, ainda
tentando escapar, mas aquilo só o fez aumentar a
velocidade com que a tocava. E antes que ela pudesse
entender o que acontecia, seu corpo se retesou, se contraiu
e pulsou, enquanto ela molhava a cama com o seu gozo.

O relaxamento que se seguiu àquele momento foi surreal,


parecia que Samantha havia morrido e ido para o paraíso.
Um sorriso satisfeito marcava o seu rosto e era refletido no
rosto do barão, que ainda a olhava com desejo e orgulho.

― O que aconteceu? ― ela sussurrou, ofegante.

― Você teve a sua liberação, meu amor ― Bernardo


respondeu, ficando de pé em frente a ela e começando a
retirar a própria roupa.

Samantha apenas sorriu. Ainda estava fora de si, por causa


da intensidade de seu prazer, para assimilar o que
significava o fato de seu marido estar se despindo na sua
frente.

Entretanto, em vez de ir direto para a consumação, Bernardo


deitou-se ao lado de sua esposa e a puxou para os seus
braços, a beijando lentamente e a tocando com carinho. Foi
um esforço hercúleo para ele não se afundar de uma vez em
Samantha, seu membro latejava por isso e todo o seu corpo
clamava pela consumação, mas ele iria devagar, ela merecia
que aquele momento fosse o mais perfeito possível.

Samantha pôde sentir o seu gosto nos lábios de Bernardo, e


era até agradável. Nunca imaginou que ela mesma tivesse
sabor. Na verdade, mal conhecia o seu corpo, pois jamais
imaginaria que entre suas pernas tivesse algo que trouxesse
tanto prazer.

Bernardo parou de beijá-la e olhou para ela, com um sorriso.


― Está pronta?

― Pronta para quê? ― Samantha perguntou, sem entender.

― Para descobrir o que um homem e uma mulher fazem na


noite de núpcias.

― Ainda tem mais? ― surpreendeu-se.

― Agora que estamos começando. Esperei por você por


muito tempo, não quero terminar tão rapidamente. A noite é
toda nossa e pretendo usufruir ao máximo, antes de deixá-la
descansar.

Samantha não sabia o que dizer a respeito daquilo. Estava


levemente sonolenta, mas a curiosidade de saber o que mais
teria naquela noite a impedia de dormir.

― Eu não me oponho a isso, mas terá que me dizer o que


devo fazer.

Bernardo sorriu, malicioso.

― É muito simples. Comece me tocando. E não tenha


vergonha de me tocar ou olhar.

Samantha colocou timidamente a mão no corpo de


Bernardo. Tocando o peito, os ombros, os braços e sentindo a
maciez que cobria a firmeza dos músculos característicos de
alguém que se exercitava com frequência. A mulher
aproveitou para olhar seu marido completamente despido.

Bernardo era um homem bonito, de constituição forte e era


grande em todos os sentidos, braços e ombros enormes que
afunilavam em uma cintura estreita e logo abaixo...
Samantha não conseguiu descrever aquela parte da
anatomia masculina, mas podia dizer que era bastante
grande, entretanto, parecia lógico que o fosse, Bernardo era
um homem grande, então todas as partes de seu corpo
deveria ser assim, era o que ela pensava, não conhecia
muito de anatomia humana, então poderia estar enganada,
mas de uma coisa tinha certeza, aquele era um corpo
fascinante.

Samantha continuou passeando os dedos pela pele de seu


marido e ao chegar naquela parte anatômica que tanto a
fascinou, ficou receosa. Deveria tocar ou não aquilo?

― Pode tocar, coloque sua mão nele ― Bernardo informou,


ao ver que Samantha estava hesitando.

Lentamente Samantha o tocou. Primeiro só com as pontas


dos dedos. Deslizando suavemente pelo cumprimento.
Bernardo arfou com o toque dela.

― Não. ― Ele segurou a mão dela quando ela tentou tirá-la


por achar que fizera algo errado.

― Foi bom, continue tocando. Coloque sua mão nele. ―


Bernardo mostrou como gostaria que ela pegasse. ― Isso.
Assim. Agora movimente um pouco, lentamente, isso. Como
está seco tem que tocar devagarinho ou me machuca.

― Entendi. ― Samantha continuou tocando-o devagar como


ele havia ensinado.

Era agradável tocá-lo daquela forma, sua rigidez era


evidente, porém, o membro tinha um toque aveludado e
uma maciez surpreendente para algo tão duro.

― Você gostaria de me agradar? ― Bernardo perguntou, com


uma ideia indecente em sua mente.

― Sim.
― Me dê sua mão ― ele pediu e Samantha soltou o sexo
dele para fazer o que seu marido pediu.

Bernardo então pegou um dedo de Samantha o levou à boca


e o sugou.

― Está vendo o que estou fazendo?

― Sim.

Bernardo repetiu mais uma vez o gesto, dessa vez mais


devagar e demorando mais, antes de retirar o dedo dela de
sua boca.

― Quero que faça isso aqui. ― Ele tocou o seu membro


enrijecido. ― A mesma coisa que fiz em seu dedo. Você
consegue?

― E-eu vou tentar.

Bernardo sorriu com a concordância dela e a observou


lentamente colocar o seu membro na boca e sugar uma vez.

― Ah, isso! Perfeito. Que boca deliciosa ― ele elogiou e logo


em seguida arfou quando Samantha repetiu o movimento.

Para Samantha colocar o membro do marido na boca foi algo


estranho, mas quando o ouviu arfar e praguejar, enquanto a
elogiava, ela entendeu o quanto ele estava gostando
daquilo. Aquele conhecimento a fez sentir-se importante. Ela
estava dando prazer ao seu marido e ele sentia prazer em
tê-la tocando-o tão intimamente. Sugou com mais força. A
reação dele foi tentar ir mais fundo na boca dela, sem
esperar por aquela intrusão, Samantha engasgou e por
pouco não vomitou.

― Desculpe ― ela pediu, envergonhada.


― A culpa foi minha, eu que peço desculpa, não devia ter ido
tão fundo, mas sua boca é tão gostosa que não resisto.

― Devo continuar?

― Não. Não quero me derramar em sua boca. Não hoje.

Bernardo puxou sua esposa para si, e a beijou novamente,


enquanto a virava para que ela deitasse de costas na cama
e deitou-se por cima dela. Samantha recebeu aquele beijo
com prazer, abriu os lábios para que ele a beijasse
intimamente e rodeou os braços no pescoço dele,
impedindo-o de se afastar. Abriu as pernas para acomodar
melhor o corpo de seu marido e sentiu a dureza do membro
dele roçar em suas coxas.

Bernardo desceu uma mão para o meio das pernas de


Samantha e voltou a tocá-la em seu botão, que já pulsava,
sensível. Pequenos tremores tomavam o corpo dela no
mesmo ritmo que Bernardo a tocava. Em nenhum momento
o barão deixou de beijá-la. E aos poucos Samantha sentiu
novamente seu corpo se retesar em busca de sua liberação.

O barão parou de tocá-la e desceu a mão um pouco mais,


colocando um dedo em sua abertura.

Sua mulher já estava molhada e pronta para ele.


Lentamente começou a esfregar a cabeça de seu pênis no
sexo de Samantha e se segurava para não se afundar de
uma vez naquelas dobras quentes.

Samantha pulsava desejando que ele a levasse novamente


ao paraíso. Aquele movimento que seu marido fazia era
torturante, ainda mais torturante que o que ele fez com os
dedos e a língua.

― Bernardo, por favor, não me torture mais.


― Eu preferia que não sentisse nenhuma dor, infelizmente, é
inevitável, mas só doerá uma vez, prometo.

Samantha não entendeu. O que poderia doer? Não doeu da


última vez.

Ela estava prestes a expor seus pensamentos quando se


sentiu rasgar ao meio de uma vez. Foi uma dor aguda e
forte, uma pontada rápida, mas logo passou e sobrou apenas
uma ardência incômoda.

― Está doendo muito? ― ele perguntou, preocupado com o


bem-estar dela.

― Não. Arde um pouco.

―Tudo bem para você se eu me movimentar?

― Acho que sim.

Bernardo se moveu minimamente observando as reações


dela, e quando notou que a expressão de incômodo deu
lugar a uma de prazer, ele soube que não precisava mais se
conter tanto e a penetrou, com vontade.

A nova sensação de prazer pegou Samantha desprevenida.


Era algo maravilhoso. Sentia-se completa, preenchida
perfeitamente. Plena. Os gemidos escapavam de sua boca e
aumentavam à medida que seu prazer também crescia. Era
algo sublime. Bernardo aumentou a velocidade dos
movimentos e Samantha sentiu novamente a sua liberação
se aproximar, porém, não conseguiu alcançá-la, pois
Bernardo interrompeu os movimentos e, arfando, se
derramou dentro dela.

Antes que Samantha dissesse qualquer palavra, Bernardo


começou a tocá-la com os dedos, fazendo movimentos
circulares em seu ponto sensível. Não retirou seu membro,
pois queria senti-la encontrar o prazer, ainda dentro dela.
Sabia que ela não tinha gozado novamente e não permitiria
que sua esposa ficasse sem sua liberação. Acelerou os
movimentos de seus dedos e sentia que ela ficava cada vez
mais apertada.

Samantha se arqueava e gemia, enquanto sentia todo seu


corpo novamente se retesar em busca do ápice de seu
prazer. Bernardo a tocava com maestria, sabia exatamente
como tirar dela os

melhores gemidos e as arfadas mais profundas e não


demorou muito e Samantha alcançou seu prazer pela
segunda vez naquela noite.

Bernardo se retirou de Samantha, estava arfante e feliz. Sua


esposa era linda, perfeita e fogosa.

Eles haviam se encaixado tão perfeitamente, que era quase


surreal. Aninhou Samantha em um abraço protetor e devoto
e, antes que ela sucumbisse ao sono, beijou a testa dela e
sussurrou o seu amor.

CAPÍTULO 15 ― FERNANDA

Duas semana depois...

Bernardo estava no escritório quando uma carta enviada


pelo marquês chegou à sua casa. Nela, Winchester
informava que Fernanda tinha concordado em conversar
com o barão.

O local do encontro seria no dia seguinte, no lago dos patos,


e o barão deveria estar lá após o almoço.

Felicidade e nervosismo tomaram conta de Bernardo. Ele


tinha medo de dar tudo errado, como na última vez, mas
esperava que agora estivessem mais maduros para
resolverem aquela situação da melhor forma possível.

O barão foi até a janela e olhou para o jardim onde sua


esposa brincava com sua filha. Talvez levar as duas fosse
uma boa ideia, se fosse preciso usaria Sophia de trunfo para
fazer o coração de Fernanda amolecer.

As duas pareciam se divertir, Samantha sorria abertamente


e Sophia gargalhava. Sua filha estava exultante e qualquer
um podia ver isso. Inconscientemente, Bernardo sorriu com
aquela cena, sentia-se o homem mais sortudo do mundo por
ter aquelas duas mulheres na sua vida.

Como se percebesse que estava sendo observada, Samantha


olhou para a janela e Bernardo viu o sorriso dela se alargar
ao reconhecê-lo, em seguida a baronesa seguiu para perto
de Sophia e as duas desapareceram de sua vista.

Bernardo continuou a olhar para os jardins, enquanto sua


mente vagava pelas lembranças daquelas duas semanas
maravilhosas. Durante esse período, ele mal saía do quarto
com Samantha, passavam os dias e noites fazendo amor e
paravam apenas para comer algo, ver Sophia e dormir.

Aquele havia sido o primeiro dia em que saíram do quarto


para voltar a seus afazeres normais, para a tristeza de
Bernardo, pois só em ficar observando sua esposa, ele já a
desejava novamente, seu controle se devia apenas por saber
que à noite ela seria novamente sua.

Voltou para sua escrivaninha e viu novamente a carta do


marquês, com isso seu pensamento voltou a focar em sua
irmã. Fazia tantos anos que ele não a via que nem mesmo
sabia como ela estava. Não que a tivesse esquecido durante
todo esse tempo, pelo contrário, não houvera um dia que
não pensasse nela, entretanto, havia sido orgulhoso demais
para ser o primeiro a ceder e voltar atrás com tudo o que
disse para ela no dia que brigaram. Agora sentia-se culpado
e até mesmo um tolo por não ter tentado se reaproximar de
Fernanda antes e mudar aquela situação.

Não era um irmão ruim, mas ambos saíram machucado


daquela situação, por serem dois orgulhosos, deixaram a
situação permanecer da forma que ficou.

Alguns sentimentos ainda continuavam, Bernardo ainda se


sentia traído por sua irmã não ter confiado nele, não ter
buscado a sua proteção quando ficou grávida e nem mesmo
ter aceitado sua ajuda para resolver a situação. Ele não
sabia de quem ou como aconteceu a perda da virgindade de
sua irmã, ela não quis lhe contar, mas teria cuidado dela e
da criança, não sem antes matar o bastardo que a
engravidou e não a assumiu, era óbvio, mas cuidaria de sua
irmã.

Foi o fato da falta de confiança de Fernanda que lhe


machucou e o fez abandoná-la. Ele merecia saber o que
aconteceu, era a honra de sua irmã e sua família, e ela não
permitiu que ele fizesse o que lhe cabia como irmão mais
velho e senhor daquela família.

Sentia, porém, que sua esposa estava certa, já passava da


hora de resolver aquela situação.
Eles eram uma família e, diferente da qual Samantha havia
sido criada, eles queriam o bem um do outro. Talvez por ver
o quão odiosa tenha sido a família de Samantha, que
Bernardo decidiu que não queria ser aquele tipo de familiar.

Bernardo estava pensativo quando a porta de seu escritório


foi aberta. Samantha entrou sem pedir permissão, depois
que se casou com ele, não mais pediu. E ele gostava
daquela liberdade que ela tomava como se fosse senhora da
casa e dele. Porque, afinal, era exatamente aquilo que ela
era.

Samantha se aproximou e envolveu seus braços no pescoço


dele, acariciando de leve os cabelos do marido, enquanto ele
a segurava pela cintura.

— O que está pensando, marido?

Bernardo a beijou de leve nos lábios, antes de responder:

— Neste momento, na minha esposa linda e sedutora.

Samantha sorriu com o galanteio. Ele sempre tinha elogios


como aquele para ela. E era algo que fazia com que ela o
amasse ainda mais.

Nunca se sentiu tão linda quanto naqueles dias, ela


conseguia ver o quanto ele a amava e a desejava e isso a
fazia se sentir como a mais bela das mulheres. Sentia
também que cada dia que passava o sentimento que ela
nutria por ele se tornava mais intenso. O amava, sabia disso,
não podia ser outro sentimento que não amor, mas ainda
não tinha dito aquilo a ele. Não sabia exatamente o motivo
de não ter confessado, só sentia que ainda não era o
momento certo para declarar seu amor. Talvez estivesse
esperando a euforia do casamento passar e o desejo que
sentiam um pelo outro se acalmar. Não queria que ele
pensasse que ela o amava apenas por levá-

la ao paraíso todas as noites.

— Mas antes de você entrar aqui, eu estava pensando na


minha irmã — Bernardo confessou.

— Alguma notícia dela? — Samantha perguntou, curiosa.


Estava ansiosa por aquele encontro entre seu marido e sua
cunhada. Queria que ambos fizessem as pazes.

— Winchester me enviou uma carta essa manhã. Fernanda


aceitou se encontrar comigo amanhã no lago.

— Isso é uma ótima notícia. — Samantha sorriu com a


informação.

— É sim. Eu gostaria que você fosse comigo. Quero


apresentá-la junto com a Sophia para a minha irmã.

— É claro que iremos com você — Samantha concordou. — A


Sophia e eu podemos dar uma volta, enquanto vocês
conversam, assim ficarão mais à vontade.

— É claro — Bernardo concordou com a cabeça, enquanto


abraçava novamente sua esposa.

— Vai dar tudo certo. Vocês farão as pazes e tudo ficará


bem. Como deve ser.

— Temo que o orgulho de nossa família nos separe para


sempre.
— Então, seja o primeiro a ceder. Ela é muito mais
importante que o seu orgulho tolo.

Bernardo ficou em silêncio absorvendo aquelas palavras.


Ainda estava nervoso, mas ter Samantha ao seu lado o
enchia de esperança.

Na manhã seguinte, Bernardo seguiu com Samantha e


Sophia para o local combinado. Estava

nervoso, como se fosse enfrentar uma multidão e não


apenas sua irmã.

Desceram da carruagem e olharam ao redor, em busca da


figura de Fernanda, mas não a avistaram em nenhum lugar
dos arredores.

— Calma, ainda está cedo, ela vai aparecer. — Samantha


tentou acalmar o marido.

— Eu sei. Estou calmo.

— Você não para de apertar seu chapéu, o que, a propósito,


deixará marcas bem difíceis de retirar.

Bernardo então notou que ainda estava com o chapéu em


suas mãos. Para parar de torcer a aba, colocou-o na cabeça.

— Espero que ela não demore. Se bem que não devia me


espantar, ela nunca foi pontual.

Samantha suspirou, divertida. Seu marido parecia tão


nervoso naquele momento, mas jamais admitiria em voz alta
aquilo.

— Papai, eu quero dar comida ao Sr. Alfred.

— Quem? —Bernardo perguntou, confuso.


— É o pato — Samantha explicou, ao ver que Bernardo não
entendeu sobre quem Sophia falava.

— Aquele é o senhor Alfred, papai. — Sophia apontou para o


pato que grasnava no lago e parecia irritado. — Ele está com
fome.

Bernardo finalmente entendeu o que se passava.

— Eu não trouxe nenhuma migalha para alimentá-lo — o


barão se desculpou.

Sophia olhou para o pai com os olhos suplicantes e tristes e


em seguida direcionou o mesmo olhar para Samantha.

— Mamãe, eu esqueci de trazer comida para o Sr. Alfred, ele


nunca vai me perdoar.

Samantha ainda não havia se acostumado a ser chamada de


mamãe por Sophia, mas adorava que a menina a chamasse
assim, pois, mesmo que não a tivesse gerado, sentia que
aquela criança era sua filha.

— Há uma padaria aqui perto. Podemos ver se eles têm


alguns pães velhos — Samantha sugeriu.

— Podemos, papai? — Sophia se animou, enchendo-se de


esperanças.

Bernardo sorriu ao ver aquela cena. Sempre ficava feliz ao


ver quão bem sua filha se dava com sua esposa. Sentia-se
orgulhoso por ter feito a escolha certa. E, por um momento,
esqueceu-se do nervosismo ao se distrair com aquela
situação.

— Vocês duas podem ir, se assim quiserem, eu devo ficar,


para caso minha irmã apareça.
— A tia Fernanda? — Sophia perguntou para confirmar.

— Como sabe?

— A mamãe me contou que íamos encontrar a tia Fernanda.

— A mamãe está certa. A irmã do papai está vindo conversar


com ele, e você vai poder conhecer sua tia.

— Então é melhor eu ir logo pegar a comida do Alfred, antes


que a tia Fernanda chegue —

Sophia ponderou, expondo sua prioridade.

— Eu acho uma ideia fantástica — Bernardo concordou, mas


não gostou muito da ideia. Sentiu-se apreensivo ao perceber
que ficaria sozinho.

— Logo estaremos de volta — Samantha informou, ao


perceber o humor do marido. — Não se preocupe.

Bernardo observou sua esposa e filha se afastarem


lentamente. Esperava que elas não se

demorassem, podia até estar parecendo um covarde que


precisava de mulheres para resolver os próprios problemas,
mas não se importava, se Samantha e Sophia, de alguma
forma, ajudassem a resolver seu problema com a irmã, faria
questão de tê-las por perto.

— Você não mudou nada. — Uma voz familiar atrás de


Bernardo fez com que ele virasse bruscamente.

Com espanto, analisou a figura pequena que se encontrava


diante dele.

— Fernanda... — Bernardo sussurrou ao reconhecê-la.


Os cabelos estavam mais escuros do que ele lembrava e
cortados na altura do ombro, o rosto mais fino e mais
maduro, os olhos haviam perdido o brilho infantil e inocente.
E mesmo que ainda parecesse a sua irmã, de alguma forma,
sentia que não mais a conhecia.

— Lorde Montress — a mulher respondeu, ignorando o fato


de ele chamá-la pelo primeiro nome. — O senhor pediu este
encontro. Diga-me o que quer.

A rigidez na voz de Fernanda fez Bernardo perceber a


profundidade do abismo que agora existia entre eles.
Entristeceu-se.

— Eu gostaria de conversar. O que acha de sentarmos ou


darmos uma volta no lago?

— Aceito a caminhada — Fernanda concordou e ambos


começaram a caminhar em silêncio.

Após alguns minutos, Bernardo decidiu começar. Já estava


nervoso demais para prolongar seu martírio.

— Eu gostaria de me desculpar.

— Por que agora?

Pelo visto, não seria uma conversa simples.

— Não sei, só acredito já ter deixado tempo de mais essa


barreira entre nós.

— Você que escolheu isso.

— Não seja cínica — irritou-se — Nós dois fizemos isso


conosco. Se tivesse confiado em mim, isso nunca teria
acontecido.
— Você não mudou nada da última vez. Este encontro é um
erro.

— Não, espere. Me desculpe. Não sou o único culpado, mas


tenho, sim, minha parcela de culpa, mas entenda o meu
lado. Eu me senti impotente diante do que aconteceu com
você, unicamente pelo fato de não ter conhecimento do que
lhe ocorreu, até que fosse tarde demais. Você não ter
confiado em mim para me contar a verdade me magoou
muito.

— Eu entendo o seu lado, sempre entendi. Foi você quem


não entendeu o meu. Eu não podia lhe contar todos os
detalhes do que aconteceu. Na época, você queria justiça e
eu só queria ficar livre e em paz para cuidar de minha filha.
Se eu tivesse lhe contado, teria lhe arruinado, assim como
eu fui arruinada. Você simplesmente me deu as costas, após
dizer que eu não era mais sua irmã. Isso, eu nunca serei
capaz de esquecer.

— Eu sinto muito pelo que aconteceu a você. Queria poder


ter sido um irmão melhor. Sinto muito por ter dito palavras
odiosas.

Bernardo estava realmente arrependido do que disse, e


mesmo que não concordasse com tudo, decidiu abaixar a
cabeça e ser o primeiro a ceder, mesmo com seu orgulho
gritando para replicar e se defender daquelas acusações.

Fernanda suspirou. Estava ali por insistência do Marquês de


Winchester e por necessitar urgentemente de novos
protetores, era certo que no fundo também queria aquela
reconciliação, mas esquecer tudo o que houve não seria
fácil, e talvez nem fosse possível. Mas tentaria perdoar, se
não por si, pelo bem de sua filha.
Precisaria de toda ajuda possível para proteger sua filha,
ainda mais agora que Frederick

suspeitava da filiação da menina.

— Eu estou disposta a fazer as pazes e lhe contar sobre o


que aconteceu.

Bernardo concordou com a cabeça e por quase uma hora


ouviu Fernanda lhe contar a história sobre a concepção de
Alinn.

Bernardo não conseguia acreditar nas coisas horrendas que


haviam acontecido com sua irmã. A cada novo relato que ela
contava, ele se contorcia de ódio por dentro. Sentia-se
fracassado como irmão. Como pôde não ter cuidado e
protegido sua irmã? Era o dever dele.

— Bernardo, pare. Sei o que está pensando e nada do que


me aconteceu foi culpa sua. Eu fui a única culpada. Minha
ingenuidade me fez acreditar em Frederick e entregar minha
virgindade para ele. Eu deveria saber que ele jamais
cumpriria com sua palavra. Ele nunca me amou e nunca será
capaz de amar ninguém. Eu não esperava engravidar, e
talvez se não tivesse acontecido, eu teria retornado para
casa e mantido segredo sobre o que me aconteceu. Mas não
podia esconder um bebê. Não preciso que se culpe. Alinn é a
melhor coisa que me aconteceu, a única coisa boa dentro de
tanto caos.
— Mas eu devia ter feito algo. Ter exigido um duelo por sua
honra.

— Um duelo não traria de volta minha pureza e, muito


menos, tiraria Alinn do meu ventre.

Serviria apenas para lhe prejudicar e deixar todos sabendo


do ocorrido.

— Eu poderia ter tentado lhe arranjar um casamento.

— E me submeter a um homem e ser controlada por ele?


Não, obrigada, estou melhor sozinha.

— Então, o que eu poderia ter feito?

— Nada. Apenas aceitado minha decisão e me apoiado. Eu


sei que todos esses anos ajudou a manter Magdala através
de Winchester. E mesmo não tendo mantido a amizade com
ele por alguns anos, nunca deixou de mandar o máximo que
conseguia para manter o local em pé e suprir as minhas
necessidades e das meninas. E agora soube que contratou
uma delas como cozinheira.

Mesmo eu não tendo perdoado você completamente por ter


me abandonado, no fundo, eu soube que nunca o fez de
todo.

— Mesmo eu me sentindo traído por não ter me contado isso


antes, eu não poderia abandoná-la à própria sorte.

— Eu não contei porque sabia que iria atrás dele e como na


época ele ainda estava noivo, tive medo que o fizesse se
casar comigo.

— Não a culpo de pensar assim, talvez a ideia tivesse


passado pela minha cabeça e eu tentasse convencê-la a se
casar com aquele maldito, mas agora até prefiro que não
tenha me contado, pois casá-la com ele seria um erro
imperdoável.

Fernanda sentia um peso enorme de suas costas ser


removido. Nunca pensou que estava guardando tanta coisa e
que uma simples conversa com seu irmão mudaria tanto
dentro dela.

Bernardo agora conhecia sua história e parecia pronto para


apoiá-la, e isso a fez sentir que aquele elo que tinha com ele
estava os unindo novamente e ela nunca pensou que aquilo
lhe traria tanta paz.

Antes que pudesse declarar aquilo ao seu irmão, uma


criança agarrou as pernas de Bernardo

em um abraço.

— Sophia! — o barão chamou a atenção da menina,


enquanto a virava para Fernanda. — Essa é sua tia.

— É um prazer conhecê-la, tia Fernanda. — Sophia fez uma


pequena e desengonçada reverência para a mulher mais
velha.

— O prazer é todo meu, senhorita Montress. — Fernanda


sorriu, enquanto também reverenciava a mais nova.

— Onde está sua mãe? — Montress perguntou, ao notar que


Samantha não estava por perto.

— Ela não queria deixar eu vir conhecer a tia Fernanda, mas


eu queria conhecer, então ela falou para irmos comprar bolo,
mas eu não queria bolo e quando ela se distraiu, eu fugi.

— Oh céus, ela é pior que a Alinn. — Fernanda riu.


— Filha, sua mãe agora está preocupada com você, sem
saber onde você está. Não se pode fazer isso.

— Eu sei, mas eu queria conhecer a tia Fernanda. Quem é


Alinn?

— Alinn é minha filha — Fernanda explicou e em seguida


assumiu a postura de mãe. — Seu pai está certo, não se
deve fazer isso. E se alguém tivesse feito mal a você? Uma
criança sozinha na rua é muito perigoso.

Sophia estava triste e envergonhada, tinha feito algo errado


e agora era repreendida pelos adultos.

— Como se chama sua nova esposa? — Fernanda perguntou,


ao se lembrar que seu irmão se casou novamente. — A
propósito, meus parabéns.

— Obrigado. O nome dela é Samantha — respondeu,


orgulhoso. — Ela é incrível, você vai gostar dela.

Nem precisaram ir procurar por Samantha, pois logo a


avistaram caminhando em direção a eles. Ela se aproximou,
serena, mas ao encarar Sophia, lançou-lhe um olhar severo,
porém, nada disse para a criança.

— Comprei alguns doces novos que parecem deliciosos.


Comprei um para Bernardo, um para Fernanda... —
Samantha entregou os doces à medida que dizia os nomes.
— Um para mim e....

— Um para mim. — Sophia estendeu a mão para receber o


doce, mas Samantha não lhe entregou.

— Sim, eu tinha comprado um para você também, mas como


me desobedeceu e me deixou preocupada, não vai receber
nenhum doce e, tampouco, dará migalhas para o Sr. Alfred.
— Papai.... — A menina começou a chorar, pedindo a
intervenção do pai.

Bernardo se condoeu com as lágrimas de Sophia, mas ao


olhar para Samantha, percebeu que ela olhava para ele,
firme, que deixava claro que se intervisse, sobraria para ele.

— Se sua mãe disse que não receberá nenhum doce, então


ficará sem receber.

Sophia chorou, fazendo um escândalo e se sentou no chão,


com raiva. Os adultos apenas a ignoraram, mas sem tirá-la
de vista. Ao ver que chorar não estava resolvendo, Sophia se
calou, mas continuou sentada no chão, ainda chateada com
os adultos.

Fernanda foi apresentada à Samantha e logo começaram a


conversar sobre as crianças, marcando, inclusive, de se
encontrarem para que as duas meninas pudessem se
conhecer e brincarem juntas. Seria bom para as duas terem
uma a outra e puderem brincar com alguém da idade delas.

Ao ouvir sobre o novo passeio, Sophia se animou e esqueceu


que estava chateada com os adultos.

— A senhora vai me trazer para conhecer minha prima,


mamãe?

— Só se me pedir desculpas pelo que fez hoje e prometer


nunca mais fugir de mim de novo.

— Eu prometo. Desculpa ter fugido.


— Tudo bem. Está perdoada.

— Eu vou conhecer minha prima?

— Vai sim — Samantha confirmou e, em seguida, se virou


para Fernanda: — Podemos marcar amanhã, se você não
estiver muito ocupada.

— Por mim, está ótimo — Fernanda concordou.

— Aqui mesmo? — Samantha sugeriu.

— Eu preferia que fosse em Magdala, não gosto de trazer


Alinn à cidade. Temos um jardim bem bonito, e as terras ao
redor são de Winchester, então, podemos ficar bem à
vontade lá.

— Magdala? A Casa de acolhida?

— Sim, Eu moro lá. Algum problema?

— Nenhum. É que nossa cozinheira morava lá. Talvez a


conheça.

— Conheço sim. — Fernanda sorriu ao perceber que não


havia nenhum julgamento na voz de Samantha.
Definitivamente, gostava daquela mulher. — Era ela quem
fazia nossa comida.

Sentimos falta dela, mas ficamos felizes em cedê-la para


vocês.

— Ela cozinha maravilhosamente bem.

— Sabemos disso. — Fernanda riu.

Após combinarem o horário do encontro, Samantha se


despediu de Fernanda e indicou que Sophia fizesse o
mesmo.

— Dê um beijo de despedida em sua tia, vamos deixar que


ela e seu papai conversem mais um pouco a sós.

Sophia beijou a tia e seguiu junto à Samantha para a


carruagem. Não demorou muito e o barão se uniu a elas,
sentou-se ao lado de Samantha, segurou a mão de sua
esposa e beijou-lhe a face.

Bernardo estava feliz por finalmente ter feito as pazes com


sua irmã, aquele era o primeiro passo, mas era um passo
muito importante e ele estava orgulhoso por tê-lo dado.

No dia seguinte, duas horas antes da hora combinada,


Samantha seguiu com Sophia para Magdala. A criança
estava eufórica pois iria conhecer a prima. Havia levado até
uma boneca extra para poder brincar com Alinn.

Montress não as acompanhava, pois surgira compromissos


para ele resolver com alguns arrendatários. Então, apenas as
duas mulheres seguiram para o encontro.

Magdala era bem mais distante do que imaginava e, por


isso, partiram duas horas antes do combinado, para que não
se atrasassem.

Durante todo o percurso Sophia ficou conversando e


brincando com suas bonecas, e Samantha apenas a
observava se divertir, enquanto a carruagem seguia sem
interrupções para o destino delas.

O dia estava lindo e a paisagem era admirável. Samantha


aproveitou para observar o verde das árvores e o céu azul
pela janela da carruagem.

— Mamãe, a senhora está esperando um bebê?


A pergunta inesperada de Sophia assustou Samantha.

— Eu não sei, querida. É possível, mas ainda é cedo para


saber.

— Se você estiver, ele vai ser seu filho, e eu não — a menina


comentou, séria. — Você vai me trocar por ele?

— É claro que não, meu amor. Você sempre vai ser a minha
filhinha mais velha. Amarei os dois, igualmente.

— Mas e se quando tiver um bebê, ele não gostar de mim?

— Meu amor, ele irá amar você. Assim como seu pai e eu já
amamos.

— Eu não quero um irmãozinho — Sophia choramingou.

— Um irmão é sempre uma dádiva, não diga isso.

— Não quero. — Sophia cruzou os braços, indicando que não


seria facilmente demovida de sua decisão.

— A mamãe não está esperando nenhum bebê ainda, então


acho que podemos deixar essa conversa para depois, o que
me diz?

— Tudo bem, mas não quero.

Samantha segurou a risada diante da última negativa da


criança. Ela parecia bem resoluta quanto aquilo, mas
Samantha tinha quase certeza que, quando engravidasse,
Sophia iria mudar de opinião e até iria querer que o bebê
nascesse logo para ela poder cuidar dele. Mas já poderia
contar com uma boa dose de ciúme por parte da irmã.

Até podia ver a cena em sua mente. Ela grávida de um filho


de Bernardo, com a barriga enorme e o barão acariciando
seu ventre de um lado e Sophia do outro. Esperava que já
estivesse grávida.

Adoraria carregar em seu ventre um bebê de Bernardo.

Passaram-se mais alguns minutos e logo puderam avistar


Magdala ao longe. A casa ficava num local afastado da
cidade e, por isso, era um lugar bastante tranquilo.

Quando desceram da carruagem, Fernanda já as aguardava


na porta. Alinn estava tímida ao lado da mãe, se escondendo
nas saias do vestido dela, mas ao ver Sophia, ficou animada
e logo esqueceu a timidez.

As meninas não demoraram a se entrosar e logo se tornaram


amigas. Se divertiam, brincando com as bonecas no jardim e
tomando chá imaginário.

Samantha e Fernanda aproveitaram para se conhecerem um


pouco melhor e conversar sobre as crianças e sobre
Bernardo, que eram os assuntos que tinham em comum.

A tarde rapidamente passou e logo chegou a hora de


retornar para casa.

— Obrigada pelo convite. Espero que você também vá nos


visitar em breve e leve a Alinn —

Samantha convidou ao se despedir da cunhada.

— É claro — Fernanda concordou, com um sorriso.

Samantha e Sophia retornaram para a carruagem e trilharam


o caminho de volta para casa.

Ao passarem pelo lago, Sophia perguntou se podiam dar


comida ao Sr. Alfred, já que não o tinham feito no dia
anterior.
— Já está ficando tarde — Samantha comentou, para a
tristeza de Sophia.

— Mas eu trouxe um pão... — Sophia tirou de suas vestes o


pedaço de pão amassado.

— Onde conseguiu isso?

— A Alinn e eu estávamos com fome e pedimos para


cozinheira um pedaço de pão. Alinn comeu o dela todo; eu
guardei um pedacinho para o Sr. Alfred. Podemos ir no lago
dar comidinha para ele? Podemos? Por favor.

— Tudo bem, mas não vamos demorar. Está bem?

— Sim — a menina concordou, eufórica, batendo palmas e


quase pulando do banco onde se sentava.

Samantha informou ao cocheiro sobre o desvio na rota e


seguiram para o lago.

O sol ainda estava brilhando quando chegaram, mas em


breve se poria no horizonte, entretanto, os patos ainda
nadavam tranquilos na água e não davam indícios que
estavam se preparando para se recolherem. Apesar do
horário, muitas pessoas caminhavam sem pressa ao redor
do lago, o que era algo bem raro para aquele lugar.
Normalmente aquele era um local tranquilo e com poucos
visitantes, apesar de ser uma bela paisagem, era mais
frequentado no período matutino.

Sophia desceu assim que a carruagem parou e se adiantou


para encontrar o Sr. Alfred entre tantos patos. Não demorou
muito e o animal foi reconhecido pela criança e ela se
empenhou em alimentá-lo.
Samantha observava sua filha quando notou uma carruagem
que a fez estremecer: o brasão real.

A quantidade de pessoas no lago aumentou


significativamente e logo Samantha ficou verdadeiramente
preocupada. Não sabia qual membro estaria ali naquele
momento, mas não queria ficar para descobrir.

Sem desviar os olhos da carruagem ela foi até a Sophia e a


segurou pela mão.

— Temos que ir, pequena — Samantha avisou, com urgência


em sua voz. — Outra hora voltarmos para alimentar melhor
o Sr. Alfred.

— Mas... — Sophia se entristeceu, entretanto, seguiu


Samantha para a carruagem.

Assim que entraram, Samantha bateu no teto para indicar


que podia seguir caminho, mas antes que a carruagem se
colocasse em movimento, uma voz grossa e um tanto
familiar foi ouvida por Samantha.

Era uma ordem real para que ela fosse conduzida até onde o
membro da família real esta estava.

CAPÍTULO 16 ― AMANTE

Samantha sentiu o sangue esvair de seu corpo quando ouviu


aquelas palavras.
Seu primeiro pensamento foi em deixar Sophia protegida.
Então pediu que o cocheiro cuidasse dela, enquanto ela
seguiria os guardas até o local onde era esperada.

— Fique com o Sr. Barns — Samantha pediu à Sophia. — E


não saia de perto dele, eu já retorno.

— A criança deve ir junto — informou um dos guardas.

— Mamãe... — Sophia choramingou, se escondendo nas


saias de Samantha, assustada com aqueles homens que lhe
pareciam ameaçadores.

— Tudo bem, meu amor, ficaremos bem.

Escoltada pelos membros da guarda, cujo alguns ela


conhecia desde criança, Samantha foi levada até a
carruagem real com Sophia ainda agarrada às suas saias.

Já sabia antes mesmo de entrar que a conversa que teria


não seria amigável, mas naquele momento sua única
preocupação era a segurança de sua filha.

— Ora, ora, ora... Que mundo pequeno. Quem diria que eu a


encontraria aqui, ainda mais, viva?

O príncipe estava sentado na carruagem, completamente à


vontade, mas em seus lábios pairava um sorriso diabólico.

— Vossa Alteza — Samantha o saudou, fazendo uma


reverência e indicou que Sophia fizesse o mesmo.

— Sente-se, por favor. Temos assuntos inacabados para


conversar. Pode deixar a criança com um dos guardas.

Samantha não queria deixar Sophia sozinha com nenhum


daqueles homens. Mas um olhar familiar a deixou menos
assustada.
Hugh tinha a ajudado a fugir naquela noite. Era um guarda
leal à princesa e ela sabia que ele nunca faria nada contra
uma criança.

— Está bem — ela concordou com o príncipe. Entregou


Sophia para Hugh e apenas movendo os lábios, sem emitir
sons, pediu para que ele protegesse aquela criança.

Hugh a segurou e a levou para longe da carruagem, ficando


com a criança a seu lado, longe dos outros guardas.

— Em que posso servi-lo? — Samantha perguntou, se


voltando para o príncipe e se sentando como ele ordenou.
Odiou dizer aquelas palavras, mas não tinha outra escolha.

— Em muitas coisas, mas nenhuma aqui ou agora. — Edward


deu uma risada maliciosa. —

Soube que se casou... Fiquei magoado por não ter recebido


nenhum convite. Toda família ficou, depois de tudo que
fizemos por você.

— A festa contou apenas com os mais próximos da família do


meu esposo e alguns amigos dele.

— Que homem egoísta. Eu deveria mandar matá-lo por isso.


— O príncipe olhava as próprias unhas, enquanto dizia
aquilo, como se fosse um assunto corriqueiro e não uma
sentença de morte.

Em seguida, voltou a olhar para Samantha e percebeu o


olhar dela. — Não me olhe assim.

Qualquer coisa que eu fizesse para puni-la, seria pouco pelo


que fez.

— E o que eu fiz? — Samantha perguntou, entredentes.


Temia que se abrisse a boca, falaria mais do que devia e
acabaria em uma confusão ainda maior.

— Fugiu de mim e deu tudo o que eu queria a outro homem.

— Eu não tive escolha, Vossa Alteza me assustou —


respondeu, após algum tempo medindo as palavras.

Edward continuou a encará-la, seus pensamentos bem


escondidos atrás de um sorriso sarcástico.

— Tudo bem, foi culpa minha. Eu fui ingênuo naquela época.


Você era uma moça inocente e eu a tratei como uma puta,
mas não importa, não é? Você se casou com outro homem.
Agora não é mais inocente... Infelizmente. Eu sempre preferi
moças inocentes.

Aquelas palavras pareciam promissoras, mas o sorriso


diabólico no rosto do príncipe deixava claro que ele estava
aprontando alguma coisa.

— É verdade. Não sou mais inocente — Samantha confirmou.

— Uma pena... Eu teria adorado tirar sua virgindade com


você se contorcendo nos meus lençóis. Você até poderia
gostar do ato algum dia, quando se casasse com outro
homem. Eu só estava querendo ser o primeiro. Ser fodida
por um príncipe é uma honra que nenhuma mulher deveria
recusar. Na verdade, se tivesse se entregado a mim, eu teria
lhe arranjado um casamento ainda mais vantajoso.

Samantha permaneceu calada. Temia piorar a situação caso


desse uma resposta qualquer.

— Mas você preferiu fugir. E se casou com outro homem,


dando a ele o que seria meu, por direito. Você era minha,
sua virgindade me pertencia. E você a deu a outro. Mas não
tem problema, ele roubou o que era meu, e agora roubarei
de volta o que é dele.

Samantha não podia acreditar no que aquele homem dizia.


Ele deveria tê-la deixado em paz.

— Eu sou uma mulher casada e honro meus votos. Jamais


me deitarei com outro homem, que não o meu marido.

— Quer dizer que continuará negando um pedido de seu


futuro rei?

― Você não será rei.

― É só uma questão de tempo, até que meu irmão morra e


eu assuma o lugar que sempre deveria ter sido meu.

— Não me importo que seja o próximo herdeiro, nunca farei


o que me pede. ― Samantha não sabia de onde viera aquela
força, mas estava resoluta a não se deixar intimidar por
aquele homem.

— Que pena. Eu não queria ter que fazer isso. Pensei que se
conversasse amigavelmente com você, perceberia seu erro e
para consertar o que fez, voltaria comigo para o castelo.
Mas, pelo visto, não aprendeu nada. Odiarei ter que fazer um
homem tão evoluído e inteligente ser acusado de traição.
Mas não precisa se preocupar, eu mesmo cuidarei da
criança, como sinal de minha benevolência. Ela se tornará
uma bela mulher um dia e eu cuidarei muito bem dela.

A maldade no olhar daquele homem não deixava dúvidas de


que ele realmente seria capaz de fazer o que dizia.
Samantha não poderia fugir novamente. Não, se isso
significasse que Bernardo e Sophia sofreriam.
Toda coragem e força se esvaíram de Samantha e ela se viu
novamente à mercê daquele homem.

— Por favor, não os machuque — Samantha implorou.

— Eu não quero machucá-los, mas você não me dá escolha.


Se viesse comigo por livre e espontânea vontade, eu não
teria motivos para machucá-los.

— Eu vou, mas prometa que os deixará em paz.

— Não está em posição de exigir nada.

— Se me prometer isso, eu prometo nunca mais fugir.

— Interessante... Mas tenho uma promessa melhor.


Enquanto você colaborar comigo, eles estarão seguros. Faça
algo que me desagrade e eles sofrerão.

Samantha engoliu em seco. Segurou as lágrimas em seus


olhos e concordou. Não tinha escolha.

Teria que fazer aquilo.

— Eu posso levar Sophia para casa?

— Mande o seu cocheiro fazer isso. Estou com pressa e não


quero demorar.

— Eu preciso explicar a situação ao meu marido ou ele


pensará que fui raptada.
— Mande uma mensagem pelo cocheiro.

— Você me tem nas mãos, Edward. Eu jamais faria algo para


machucar as pessoas que amo. E

eu sei que se eu fugir, você cumpre sua promessa.

— O casamento lhe deixou mais inteligente — ironizou. —


Lhe darei esse voto de confiança.

Amanhã, ao nascer do sol, partirei de volta a Londres. Esteja


me esperando aqui para partirmos.

— Estarei, Vossa Alteza — Samantha concordou.

Samantha se levantou do banco e se preparou para sair, mas


o príncipe a puxou pela mão e a fez sentar-se no colo dele e,
segurando a cabeça dela, a beijou a força.

Samantha manteve os lábios juntos e fechou os olhos, com


força. Rezou para que ele a soltasse logo e ela pudesse
voltar para casa.

— Por essa vez, eu deixarei passar, mas a próxima vez que


me beijar tão mal assim, terá consequências — Edward
advertiu e fez sinal para que ela fosse embora.

Samantha se apressou em obedecer. Pegou Sophia e entrou


na sua carruagem. Assim que estavam longe, a baronesa
limpou a boca com a manga do vestido, esfregando tanto
que seus lábios ficaram vermelhos e inchados e, tentando
esconder as lágrimas de Sophia, chorou silenciosamente.

Assim que a carruagem parou na mansão Montress,


Samantha desceu junto com Sophia e entraram na casa,
apressadamente.
Bernardo as esperava, ansioso para saber como fora o
passeio. Tinha sentido saudade das duas, e elas só tinham
passado metade de um dia longe dele.

Sophia se jogou nos braços do pai, assim que o viu e


Bernardo a recebeu de braços abertos, a girando no ar e
dando-lhe um beijo na face, depois de tornar a colocá-la no
chão.

Ao olhar para Samantha, notou que algo não estava certo e


ver sua mulher subindo para o quarto às pressas o deixou
confuso e aflito. Algo muito ruim tinha acontecido.

— O que aconteceu?

— Eu não sei, papai, ela ficou triste depois que teve que falar
com o príncipe.

Ouvir aquilo fez o sangue de Bernardo ferver. Como aquele


homem ousava pôr as mãos em sua esposa? Iria matá-lo.

— Maldito — praguejou e em seguida subiu as escadas,


correndo, e deixou sua filha aos cuidados das criadas.

Assim que abriu a porta do quarto, viu Samantha deitada na


cama, chorando no travesseiro.

— Meu amor, calma, eu estou aqui. — Ele sentou-se na cama


e lentamente começou a acariciar

os cabelos de sua esposa. — Venha aqui.

Samantha respirou fundo, tinha que parar com aquilo, chorar


não ia resolver sua situação.

— Eu sinto muito. Sinto tanto.

— Está tudo bem, por que não me conta o que aconteceu?


Pensar no que aconteceu fez Samantha encher os olhos de
lágrimas novamente.

— Ele voltou.

— Eu soube. O canalha lhe tocou?

Samantha voltou a chorar, envergonhada por ele tê-la


beijado.

— Me beijou, mas eu não o beijei de volta.

— Não precisa se justificar. Você não tem culpa. — Bernardo


abraçou a sua mulher.

— Eu não quero ter que fazer isso, mas vocês são minha
família, não posso deixar que ele machuque vocês.

— Fazer o quê?

— Ele quer que eu vá com ele, de volta para o castelo.

— Você é minha esposa, ele não tem direito nenhum sobre


você. Eu tenho. Você é minha, não irá a lugar nenhum sem
mim.

— Se eu não fizer isso, ele irá mandar prendê-lo sob falsa


acusação de traição. Eu não posso ser a culpada de sua
morte, Bernardo.

— Eu prefiro morrer, a deixar que ele a leve para longe de


mim.

— Não sabe o que diz. Eu não valho esse sacrifício. E quem


cuidaria da sua filha?

— Ela tem a tia e tem você. Tenho certeza de que jamais a


abandonaria.
Samantha sabia que Bernardo faria de tudo por ela. E ela
não podia aceitar que ele se machucasse por causa dela.
Amava-o mais que tudo e precisava protegê-lo.

— Encontraremos um modo de sair dessa situação —


Bernardo garantiu.

— Sim. Encontraremos, sim. Ele me deu uma semana para


encontrá-lo na corte e me tornar amante dele — mentiu.

— Temos tempo, poderemos encontrar alguns aliados fortes.


O marquês com certeza não se importaria de nos ajudar.
Vamos todos a Londres falar com o rei.

— Tudo bem. — Samantha aproveitou que estava no colo de


Bernardo e o abraçou mais forte.

Não perderia mais nenhum segundo com conversas. Aquela


era sua última noite com o seu marido e aproveitaria o
máximo que pudesse. Guardaria cada toque, cada momento
na lembrança e o levaria no coração para se aquecer nos
dias mais frios que estavam por vir.

— Faz amor comigo? — Samantha pediu. — Preciso que me


ame com seu corpo, me possua.

Não quero mais pensar em ninguém que não você.

Bernardo fez o que ela pediu. Tirou a roupa dela lentamente,


e a beijou em todos os lugares possíveis. A tocou, fazendo
com que ela gemesse e a possuiu com paixão.

Passaram horas fazendo amor repetidamente, Samantha


parecia insaciável. Era como se estivesse prestes a partir e
quisesse aproveitar os últimos minutos com ele.

— Eu amo você, Bernardo — Samantha se declarou, olhando


nos olhos dele, após terem feito amor mais uma vez. — Amo
você com todo meu coração, minha alma, meu corpo. Você é
o único homem que irei amar nesta vida. Eu soube que te
amava no dia do nosso casamento, e tenho te amado um
pouco mais, desde então.

— Eu sempre quis escutá-la dizendo essas palavras, mas não


em um tom de despedida.

— Eu não estou me despedindo. É que guardei por tanto


tempo essas palavras, que agora percebi o quanto fui tola
por não as ter dito antes. Se algo tivesse me acontecido
hoje, eu não teria

sido capaz de dizê-las a você. Então, não mais cometerei


esse erro. Direi quantas vezes sentir vontade. Porque eu o
amo e eu preciso que saiba disso.

Bernardo olhou sua mulher deitada em seus braços. Tinha


certeza de que ela partiria, e ela declarar que o amava
confirmou seu palpite. Samantha fugiria mais uma vez. Não
confiava nele para protegê-la.

Aquilo o magoou. Mais uma vez ele era considerado fraco e


impotente.

— Eu preciso terminar de resolver algumas coisas no


escritório. Vou demorar um pouco.

Então, fique à vontade para descansar.

Samantha concordou e Bernardo saiu para o seu escritório.


Estava com o coração partido, mas não ia deixar aquilo
passar. Se ela fugisse por culpa do príncipe, faria de sua
meta de vida arruinar aquele homem, nem que para isso
fosse considerado traidor ou assassino.

Redigiu uma carta para o marquês, explicando a situação e a


enviou naquela mesma noite. Era um problema que
precisava ser resolvido urgentemente.

Ao voltar para cama, percebeu que Samantha continuava lá,


dormindo. Deitou-se ao lado dela e a abraçou com força.
Sentiu seu coração apertado e não conseguiu segurar as
lágrimas. Sem acordar Samantha, sussurrou nos cabelos
dela, enquanto a abraçava.

— Eu posso protegê-la. Por que não acredita nisso? Eu não


sou fraco. Eu consigo. Confie em mim. Eu não posso perder
você. Por favor... Você prometeu.. Eu te amo.

Demorou um pouco para Bernardo adormecer, ele temia que


quando acordasse Samantha não mais estivesse ali, mas
acabou sucumbindo ao sono.

Quando acordou, horas depois, com o mordomo batendo na


porta do quarto, estava sozinho na cama. Seu coração se
partiu.

— Senhor, Lorde Winchester está aqui, disse que recebeu


uma carta sua, pedindo urgência.

Bernardo concordou com a cabeça. O coração em pedaços o


deixou completamente racional.

Iria fazer o príncipe pagar por cada dor que estava sentindo.

— Estou descendo.

Samantha não tinha dormido um segundo sequer. Estava


planejando sair, assim que o barão adormecesse
profundamente. Esperou ele voltar do escritório e fingiu já
estar dormindo, para que ele fizesse o mesmo. Mas não
contava com as palavras sussurradas ao seu ouvido. Ouvir
aquela súplica mudou todo seu pensamento.

Não conseguiria deixá-lo depois daquilo. Não se o sacrifício


dela o faria acreditar que ela não confiava na capacidade
dele de protegê-la. Confiava nele, iria fazer o que o príncipe
mandou para protegê-lo. Mas, pelo visto, aquilo apenas iria
machucá-lo de uma forma ainda mais profunda.

Não permitiria. Não o machucaria daquela forma. Não mais.


Não de novo. Ela tinha prometido não mais fugir. Não ir
embora. Iria cumprir sua promessa.

Tentou dormir, mas sua mente estava muito agitada. E


quando finalmente estava quase cedendo ao cansaço, ouviu
uma carruagem se aproximar.

O sol ainda não tinha nascido. Será que o príncipe tinha


mandado alguém buscá-la?

Sem acordar o barão, se desvencilhou do abraço dele e saiu


da cama. Vestiu um robe para

esconder sua nudez e foi ver quem tinha chegado.

Se fosse um dos guardas, mandaria um recado para o


príncipe. Estava em dúvidas se o mandava para o inferno ou
se pedia para o diabo carregá-lo.
Entretanto, ao abrir a porta, para sua surpresa, era
Winchester quem estava chegando. Após saber o motivo da
visita, Samantha sorriu. Seu marido já tinha chamado
reforços.

Pediu que Alfred fosse chamar o barão, enquanto ela levava


Winchester para o escritório do marido.

Bernardo entrou no escritório sem nem olhar para quem


estava lá e foi direto para o armário de bebidas, precisava de
uma dose antes de começar.

— Não está muito cedo para beber? — Samantha perguntou,


assustando-o e fazendo-o derrubar a bebida das mãos.

Ver sua mulher ali parecia surreal.

— Você não foi embora?

— Não. Você falou que me protegeria, eu confio em você.

Sem se importar com mais nada, Bernardo avançou sobre


sua mulher e a beijou.

— Quando acordei, não a vi na cama. Pensei que tivesse


fugido novamente.

— Sei que o reencontro é emocionante, mas eu estou aqui.


Agradeceria se não copulassem na minha presença — o
marquês interrompeu a cena.

— Perdão. — Samantha corou. — Meu marido pensa o pior


de mim. Eu digo que o amo e ele acha que vou fugir.

— Mas você ia.

— Ia embora, mas não para fugir. Edward prometeu que


enquanto eu fizesse o que ele queria, não machucaria você.
— Então, você ia se entregar a ele?

— Se isso protegesse você, sim.

— Está tudo muito lindo, muito perfeito, depois que terminar,


vocês trocam juras de amor.

Agora, por favor, me expliquem o que realmente está


acontecendo porque só uma carta dizendo:

“minha mulher corre um grande perigo, preciso da sua


ajuda, urgente” não explica muita coisa.

Quem lhe ameaçou?

Bernardo e Samantha contaram tudo ao marquês, sobre a


fuga de Samantha do castelo antes de conhecer Montress
até aquele momento.

— Que situação. Precisaremos de mais reforço para levar


esse problema ao rei. Mas não se preocupe, tenho amigos
influentes, e muitos contatos que me devem favores.

— Edward me esperará ao nascer do sol. Se eu não for, ele


mandará prender Montress sob acusação de traição.

— Ele pode mandar prender, mas não o prenderá se não o


encontrar.

― Mas e Sophia? ― Samantha perguntou, preocupada que o


homem levasse a criança.

― Ela pode ficar com Clara. Minha esposa a manterá segura.


Precisamos nos apressar. Apesar de o príncipe estar em uma
caravana e precisar ir mais devagar que nós, precisamos
chegar o mais
rápido possível a Londres, para termos tempo de planejar e
reunir nosso contra-ataque.

— Contra-ataque, gostei disso. — Samantha sorriu, sentindo


que tinham grandes chances de dar fim àquela situação.
Finalmente ficaria livre daquele monstro.

Antes de partirem, Sophia foi mandada para a casa de Lady


Clara e Winchester enviou mensagens com cartas para os
seus amigos. Explicava-lhes a situação e pedia o apoio deles
em Londres.

Foram enviadas várias cartas para nobres que Winchester


sabia que o apoiariam e, entre elas, uma carta especial para
o sr. Williams, o Lorde do Rogue's, pedindo todo tipo de
informação e dívidas que a família real tivesse.

CAPITULO 17 ― REIS E PRINCESAS

Um dia depois, o sol mal havia nascido quando chegaram a


Londres. Viajaram a noite inteira e o dia anterior, parando
apenas para comer e permitindo, assim, que os cavalos
descansassem um pouco.

Winchester e Montress seguiram direto para o castelo de


Buckingham, moradia da Família real em Londres e onde o
rei passava seus dias quando precisava se reunir com o
parlamento.
Samantha tinha decidido ficar na casa de Winchester, ainda
não estava pronta para rever sua família ou desmentir a
notícia de sua morte. Então, apenas Winchester e Montress
foram ao castelo ter com o rei naquele primeiro momento.

Pediram uma audiência urgente com o soberano, informando


se tratar de um assunto importante.

Entretanto, o máximo que conseguiram foi uma reunião para


o final daquele dia, depois que Sua Majestade tivesse
encerrado os compromissos reais.

Retornaram para Winchester house e contaram o resultado


daquela visita para Samantha, que ficou bastante temerosa
em ter que esperar tanto.

— Pelo menos, dará tempo dos outros se juntarem a nós. —


Winchester foi otimista, como sempre.

— Mas Edward pode chegar antes e falar com o rei —


preocupou-se Montress.

— Não se aflija, caro amigo, o príncipe deve chegar apenas


amanhã. Ele vem devagar e, com certeza, precisa parar
algumas vezes para alimentar a caravana dele e, pelo que
sei, ele não viaja a noite porque gosta de passá-las em uma
cama com alguma mulher. Temos ainda algum tempo.

— Eu acho que poderia falar com a princesa — Samantha


informou.

— A princesa? Ah, é verdade, vocês eram próximas. Se ela


puder nos ajudar, irá facilitar muito — Winchester concordou
com aquilo.

— Talvez seja hora de voltar ao castelo — Samantha expôs,


não muito contente com a ideia.
Voltar e encarar o seu passado não seria fácil e nem
agradável.

— Eu irei com você — Bernardo anunciou.

— Eu gostaria que o fizesse. Porém será mais fácil passar


pelos guardas se eu for sozinha, afinal, eles me conhecem. E
mesmo que não me permitam entrar, conheço muitas
pessoas que informarão à Agatha minha presença e ela virá
até mim.

— Eu insisto. Ficarei do lado de fora lhe esperando, se


preciso for, mas sozinha não irá.

— Neste caso, não poderia recusar sua companhia —


Samantha declarou, com um sorriso.

Ficaria feliz com a presença protetora de seu marido, e até


queria que ele entrasse com ela, mas não havia mentido
quando supôs que seria mais fácil se ela entrasse no castelo
sozinha.

Estava preocupada com o que lhe aconteceria e pedia a


Deus que ele lhe fosse favorável.

Assim que estava pronta, seguiu junto com marido para o


castelo. Quase não trocaram palavras durante o trajeto, mas
em nenhum momento Bernardo soltou-lhe a mão. Apenas
aquele toque foi suficiente para lhe dar forças de enfrentar o
que estava por vir.

— Por favor, tenha cuidado e volte inteira para mim —


Bernardo pediu, quando a carruagem parou em frente ao
castelo.

— Voltarei. Eu prometo.
Bernardo beijou sua mulher na fronte, não queria pensar que
nada daria errado, mas sua vontade era colocá-la nos braços
e a levar para o mais longe possível dali.

— Eu amo você — Samantha declarou.

— Não ouse dizer que me ama, como se estivesse se


despedindo.

— Não estou me despedindo. Eu apenas te amo com todo


meu coração, e sentir em seu olhar o seu amor, me faz
querer dizer que eu também me sinto assim. — Samantha
tocou a face de Bernardo e o beijou de leve nos lábios. —
Agora eu vou indo. Não podemos mais adiar.

— Tudo bem. Estarei aqui para quando voltar.

Samantha sorriu e se direcionou para a entrada. Esperava


que a princesa a recebesse e a ajudasse a livrar-se daquela
situação.

No portão, encontrou guardas que não conhecia e o


mordomo abriu-lhe a porta, este, por outro lado, era o
mesmo de quando morava ali.
— Senhorita Hemsfield-Wert? É um fantasma que meus olhos
veem? A senhorita estava morta.

— Como pode ver, foram apenas boatos, estou viva e


retornei.

— Graças ao bom Deus. — O homem alegrou-se ao vê-la.

— Eu preciso falar com a princesa, Ambrose, você poderia


ver se ela me receberá? É urgente.

— É claro que sim. Entre. Espere aqui, irei informá-la de sua


presença.

Samantha esperou o mordomo retornar, mas não foi ele


quem veio ao seu encontro.

Agatha, ao saber que sua amiga estava no castelo, foi


rapidamente encontrá-la. Para Samantha ter retornado ali,
algo de muito ruim devia ter acontecido.

— Samantha, o que aconteceu? O que faz aqui? — A


princesa pegou as mãos da amiga nas suas. A tinha em
grande estima, era sua melhor amiga, a considerava a irmã
que nunca teve.

— Eu preciso de ajuda, Vossa Alteza.

— É claro. O que aconteceu? Conte-me tudo. Inclusive, onde


passou todos esses anos?

Samantha foi levada para uma sala privada e contou tudo o


que estava acontecendo para a princesa.

Uma hora e meia se passou e a preocupação de Bernardo se


intensificou. Samantha já devia estar de volta ou ter dado
notícias. E se algo tivesse acontecido a ela?
Como saberia se ela estivesse precisando dele? Aquela tinha
sido uma péssima ideia.

O som de uma carruagem parando atrás dele, fez Bernardo


virar-se pouco antes de ouvir a voz do príncipe, ordenando a
seus soldados que o prendessem por traição.

Samantha terminou de contar toda sua história para Agatha,


demorou mais do que previu, pois a princesa quis saber
todos os detalhes.

— E onde está o Lorde Montress agora? — a princesa


perguntou, ansiosa para conhecer o homem que tinha
conquistado o coração da amiga.

— Ele está lá fora, me esperando.

— Então, mandarei chamá-lo.

A princesa pediu que Anthony fosse chamar o barão, mas


quando o mordomo chegou ao local indicado, os guardas já
estavam prendendo o homem por traição. Anthony voltou
imediatamente para a princesa, lhe informando o
acontecido.

— Não pode ser — Samantha desesperou-se e se apressou


para a porta. — Eu tenho que ajudá-

lo.

— Você não vai conseguir ajudá-lo dessa forma. Não, se for


presa junto a ele. — A princesa se interpôs entre a amiga e a
saída. — Acalme-se, Samantha. Vamos conversar com meu
pai, antes que meu irmão o faça.

Rapidamente, seguiram para os aposentos do rei,


precisavam explicar a situação, antes que Edward o fizesse e
levasse Montress à condenação.

O rei, porém, não estava mais no quarto, tinha descido para


o salão real e estava em audiência.

As portas se mantinham fechadas e os guardas informaram


que o rei pediu que não fossem interrompidos.

— Inferno, precisaremos esperar a audiência terminar —


Samantha lamentou. — Você não pode soltá-lo?

— Não posso ir contra uma ordem direta do meu irmão.


Mesmo sendo eu a predileta do rei, ele é o segundo filho, e
com o Henrique piorando cada vez mais, é o mais cotado
para linha de sucessão, estou bem abaixo dele neste ponto.

— Voltaremos à idade das trevas quando ele assumir —


Samantha choramingou. — Um homem desses não deveria
ter o direito de governar. Seremos todos massacrados. Ele
nunca nos deixará em paz, e quando for rei, ninguém poderá
detê-lo.

— Acalme-se, minha amiga. Papai anda muito descontente


com a depravação e as atitudes de Edward e, inclusive, já
até ameaçou não lhe dar a coroa, caso não comece a agir
com dignidade.

Conseguiremos tirar as acusações de traição de Lorde


Montress. Eu irei ajudá-la, mas preciso que vá chamar seus
amigos. Quanto mais pessoas provarem a inocência do
barão mais chances teremos.
— Eu não sairei daqui. Não posso.

— Não tem outra escolha, é para o seu bem. Se ficar e


Edward te encontrar, ele pode fazer-lhe mal.

— Ele não ousaria na sua presença.

O semblante de Agatha ficou indecifrável. Naquele


momento, Samantha finalmente entendeu porque a
chamavam de princesa de gelo. Aquela era a mulher que os
homens temiam.

— Acredite. Ele se tornou um monstro ainda pior do que


quando você foi embora.

— O que ele fez? — Samantha perguntou, preocupada.


Nunca tinha visto a princesa tão fria.

— É melhor que não saiba. Agora, vá. Por favor. Confie em


mim, manterei seu homem seguro, por ora.

Samantha voltou para Winchester house rapidamente. Seu


coração temia por Bernardo, mas confiava em Agatha para
mantê-lo a salvo.

Junto ao marquês estava o Duque de Catterfield e o Duque


de Norfall, ambos estavam em Londres e rapidamente se
puseram à disposição ao saber do acontecido.

— Eles o prenderam. Edward chegou antes do esperado e o


encontrou no castelo. Precisamos ir imediatamente.

— Maldição — Winchester praguejou. — Vamos logo.

— Precisamos de um plano para liberá-lo — Norfall avisou. —


Não podemos apenas dizer que o príncipe mente.
— Só precisamos atestar a inocência dele — Winchester
replicou.

— Mas para isso precisamos de provas, pois é possível que o


príncipe tenha alguma que condene Montress.

— Meu marido é inocente.

— Sabemos, Lady Montress. Mas há várias formas de


incriminar um homem inocente — o Duque de Catterfield
apontou. — Que horas é nossa audiência com o rei?

— Às seis da tarde.

— Edward terá falado com o rei antes disso. Precisamos ir


agora. O rei está em uma audiência neste momento e ainda
terá mais algumas reuniões antes da nossa. Não podemos
esperar tanto.

— Calma, não podemos fazer as coisas no improviso —


Winchester pediu.

— Meu marido está numa cela escura e suja por minha


culpa, então não me peça calma.

— Precisamos pensar antes de agir, Lady Montress, ou


poderemos piorar a situação —

Catterfield novamente interpôs. — Edward é um homem


cruel, muitos têm medo dele. Não conseguiremos soltar o
barão, sem antes destruir quem o prende. O parlamento não
está contente com as ações do príncipe e podemos usar isso
a nosso favor. Afinal, temos um inimigo em comum.

Eu poderia falar com o parlamento e exigir uma audiência


para acabarmos de vez com a ameaça de Edward.
— O senhor pode fazer isso? — Samantha perguntou,
esperançosa.

— O rei usa a coroa, mas o parlamento é quem governa,


minha cara. E Edward tem sido uma pedra no nosso sapato
desde a juventude. Se o irmão dele vier a morrer, ele será o
herdeiro, e tudo o que não queremos é um reino inteiro nas
mãos de Edward. Se tivermos provas e acusações contra o
príncipe, podemos resolver de uma vez por todas essa
situação.

— Estamos esperando alguém. Ele vai nos mandar algumas


informações sobre o passado podre de Edward — Norfall
confidenciou.

— Quem é ele? — Catterfield perguntou, curioso e


interessado.

— Apenas um velho amigo.

A conversa foi interrompida pela entrada do mordomo que


informava a chegada do Conde de Dorset.

— Temos agora mais um para a causa. Entre em contato com


seus amigos do parlamento. Tente ver quem está disposto a
nos ajudar — Winchester pediu a Catterfield. — Agora temos
um plano.

CAPÍTULO 18 — SENTENÇAS
Agatha estava na porta da sala de reunião, esperando o rei
sair, quando ouviu passos se aproximarem.

— Ora, ora, ora, se não é a predileta do papai — Edward


debochou.

A princesa já estava acostumada com o sarcasmo do irmão


e, por isso, o ignorou, pois sabia que aquilo o enfureceria.

— Eu estou falando com você.

— Mas eu não tenho interesse em manter uma conversa com


você, então, deixe-me em paz e volte para o inferno de onde
saiu.

— Sempre petulante e desrespeitosa com seu futuro rei. Não


vai tardar o dia que eu a colocarei no seu devido lugar. O
papai não poderá protegê-la para sempre.

— Você nunca será rei.

— Henrique está a um passo da cova, não durará muito mais


tempo. Então, é claro que serei rei.

― Não ouse nem tocar no nome dele. Tenho certeza de que


ele só está assim por culpa sua.

Você quem merece estar morrendo e, não, ele.

― Você não tem provas contra mim, irmãzinha ― debochou.

— Seus dias estão contados, Edward. E eu mal posso esperar


para que seu fim chegue e eu estarei lá para comemorar.

O semblante de Edward mudou, ficando sombrio.

— O seu chegará primeiro. Vadia imunda. Eu devia ter


quebrado você quando tive a chance.
Devia ter feito com você o que fiz em todas as suas
amiguinhas. Era lindo vê-las gritar “não, por favor, eu sou
pura...”, até que não fossem mais. Mas ainda posso fazer
isso, então, não me irrite.

— Tente me tocar de novo e não serei tão misericordiosa


como fui da última vez. Eu juro que abro você do umbigo à
garganta, corto o seu membro e dou para os corvos.

— Você não passa de uma vadia miserável. Perderia a


cabeça por me machucar.

— Você já devia ter perdido a sua. Seria um favor para o


reino se alguém lhe matasse.

Agatha deu as costas para o príncipe.

— Não me dê as costas, vadia, eu ainda não terminei com


você.

Agatha continuou andando, ignorando as pragas que o irmão


lhe lançava e seguiu para a prisão do castelo que ficava nas
masmorras, precisava ver como o marido de Samantha
estava.

Seu guarda pessoal tinha ficado na porta a pedido dela, ele a


vigiava de longe, mas assim que ela passou por ele, a
acompanhou até seu destino.

— Não deverias irritá-lo tanto. Não quero ser enforcado por


matar o herdeiro por proteger Vossa Alteza. Não haverá
nenhum outro guarda bom o suficiente para tomar meu
lugar.

Agatha riu do comentário de seu guarda e amigo.

— Isso é verdade. Então, por ora, não vamos matá-lo.


— Mas falo sério, princesa, aquele homem se torna mais
instável a cada dia, temo que a machuque, se continuar a
bater de frente com ele.

— Não se preocupe, Sir Devon, meu irmão não me


machucará enquanto papai viver. Ele sabe que fazer algo
assim, faria com que perdesse a coroa. Papai nunca o
perdoaria.

— Mesmo assim, tome cuidado — o guarda insistiu.

— Tomarei.

Desceram as escadas que davam para a masmorra e Agatha


pediu ao guarda responsável pelos presos que a levasse até
a cela do Barão de Montress.

— Montress? — ela chamou, esperando que ele estivesse


bem. — Sou Agatha, sua esposa me mandou.

Montress saiu das sombras e se aproximou das grades que o


prendiam.

— Vossa Alteza — o Barão a reverenciou. — Minha esposa


está bem?

— Sim, a mandei de volta para a casa onde estão


hospedados, aqui em Londres, assim que soube que Edward
retornou.

— Obrigado. Me alivia saber que ela não está com aquele


monstro.
— A mim também — confessou. — Daremos um jeito de tirá-
lo daqui, peço só um pouco de paciência. Pedirei que não o
machuquem mais e que tragam algo para que coma.

— Agradeço, Vossa Alteza.

— Há algo mais que posso fazer pelo senhor?

— Não deixe aquele monstro tocá-la. É só o que peço. Ficarei


bem, enquanto minha esposa estiver longe dele.

— Farei isso.

Montress acenou com a cabeça e, antes que Agatha fosse


embora, agradeceu mais uma vez.

Enquanto Bernardo permanecia preso, o Duque de


Catterfield reunia boa parte do parlamento.

Só em mencionar o nome do príncipe, os parlamentares se


prontificaram para ver aquele homem finalmente cair.

Logo Winchester e seus amigos se uniram aos lordes


parlamentares. Eles tinham recebido de Henry as
informações que precisavam sobre as atrocidades feitas pelo
príncipe.

Se reuniram no castelo e ficaram na porta do salão de


reuniões, esperando que o rei terminasse aquela audiência.
Assim que o rei encerrou sua reunião com alguns lordes
escoceses, eles entraram.

— O que fazem aqui? Nossa reunião é daqui a dois dias. — O


rei levantou-se, confuso, ao ver o parlamento reunido.

— Vossa Majestade, temos um caso urgente que precisa de


vossa atenção. Não pode esperar para a próxima reunião.
O rei olhou para os homens que invadiam sua sala e
reconheceu Winchester entre eles.

— Parece que o seu problema era mesmo urgente para


juntar o parlamento, apenas para lhe dar apoio, Winchester.

— Devo dar todo crédito ao Lorde Catterfield. Ele quem foi


atrás dos parlamentares e decidiram que a causa que eu
defendo é relevante para eles.

— Entendo, mas perdoe-me se ainda não consigo ver o


motivo do seu problema ser relevante para o parlamento.

— Quando a esposa de um Lorde é ameaçada, o assunto se


torna relevante para todos os outros Lordes. Principalmente,
quando o homem que a ameaçou foi o seu filho, Vossa
Majestade.

O rei suspirou, cansado, e sentou-se, jogando seu peso sobre


a cadeira, com força. Aquela

informação não o surpreendia, sabia que era uma questão


de tempo até que o seu filho fosse longe demais.

— Suponho que esteja se referindo ao meu filho, Edward. —


O rei passou as mãos no rosto, odiando aquela situação.

— Sim, Majestade. Ele ameaçou a Baronesa de Montress,


para que ela se tornasse amante dele, mesmo sendo casada.
Quando ela o rejeitou, ele a ameaçou e ao seu marido e
filha. A mulher então concordou, mas pediu um tempo para
se despedir, porém, chegando em casa contou tudo ao barão
e eu rapidamente fui informado da situação e os trouxe para
cá, para resolver essa situação

― Winchester explicou a situação.

— Onde está a mulher em questão?


— Estou aqui, Vossa Majestade. — Samantha saiu do meio
dos homens e se colocou à frente deles.

— Por Deus, estou vendo um fantasma. Você não tinha


morrido, criança?

— Eu fugi para me livrar do seu filho. E nessa fuga quase


morri, mas Deus cuidou de mim e me conduziu até o Barão
de Montress. Depois de alguns anos, nos casamos. E
estávamos felizes, até o seu filho me encontrar.

— E onde está o seu marido?

— O príncipe Edward o prendeu nas masmorras, por suspeita


de traição — Samantha respondeu.

— Então, foi esse homem que ele falou ter prendido. Ele não
citou nomes, apenas falou que prendeu um traidor.

— Meu marido nunca lhe trairia, Majestade. O príncipe


Edward o prendeu apenas para me punir.

— Pedimos a liberação imediata do barão. Não foi


apresentada nenhuma prova de traição, e temos aqui
homens honrados que atestam a inocência de Montress e a
verdade sobre o motivo da prisão — Norfall tomou a palavra.

Os lordes do parlamento concordaram, instigando o rei a


soltar o barão.

— Silêncio — o rei ordenou, quando o burburinho se formou


na sala. — Preciso analisar todos os pontos. Chamem Edward
aqui.

Os guardas saíram para dar o recado que o príncipe era


requisitado no salão de reuniões. E

logo retornaram com ele.


Winchester colocou Samantha atrás de si, num gesto de
proteção.

— Em que posso ajudá-lo, meu querido pai? — Edward


perguntou, com um sorriso angelical.

Olhou rapidamente ao redor, e voltou sua atenção para o rei.

— É verdade que você prendeu um homem, apenas porque a


mulher dele o rejeitou?

— Eu jamais faria isso. Quem ousou me caluniar desta


forma? — Edward olhou ao redor, procurando por Samantha,
só poderia ter sido ela. Quando a achou, seus olhos
destilaram ódio e ele apontou para ela. — Não vai mesmo
acreditar na palavra de uma mulher qualquer?

— Ela não é uma mulher qualquer. É uma baronesa e você


irá tratá-la com respeito na minha presença — ralhou o rei.

— Eu nunca fiz nada. Ela mente. É uma traidora igual ao


marido e está tentando salvar a pele dele.

— Que provas você tem de que eles são traidores?

— Eu tenho provas. Só não estão comigo, ainda. Mandei


meus homens buscá-las para mim. Dê-

me alguns dias e as apresentarei.

— É mentira. Não há nenhuma prova — Samantha


contradisse.

— Ousa me chamar de mentiroso? Quem você pensa que é?

— Chega — interpôs o rei. — Você prendeu um nobre, sem


nenhuma prova do crime que o acusa?
A indignação era visível no semblante do rei.

— Eu terei provas, em breve. Não queria que ele escapasse.

George respirou fundo. Amava todos os seus filhos, mas não


podia defendê-los quando estavam errados, e Edward
sempre pendeu para o caminho errado. Seu filho tinha feito
algo que não devia e, por isso, precisava ser punido.

— Não se prende um homem sem provas de seu crime — o


rei declarou. — Você cometeu um erro.

— O senhor vai preferir acreditar numa rameira e não em


seu próprio filho? Ela não passa de uma vadia traidora. Ela
mente e o inflama contra mim. Eu terei as provas, em breve.

— Já chega. Deixe-nos e espere lá fora. Desta vez, passou de


todos os limites. Quando terminar aqui, conversarei com
você.

Edward saiu da sala, pisando forte, e quando a porta se


fechou atrás dele, a reunião continuou.

— Majestade, temo não ser apenas isso, tenho aqui


documentos que provam que Lady Montress não foi a única
mulher que sofreu nas mãos de seu filho. E temos também
documentos e testemunhas de algumas prisões de inocentes
e até relatos de torturas e assassinatos, ordenados por ele —
Winchester informou ao rei.

—Deixe-me ver esses documentos.

Winchester entregou a pasta ao rei que começou a folheá-la,


vendo as provas dos crimes de seu filho.

— Majestade, não podemos correr o risco de ter esse homem


como seu sucessor. Se o Henrique vier a falecer, ele será o
herdeiro direto. Não havíamos nos preocupado antes, mas
agora que há uma real possibilidade de ele assumir, é nosso
dever alertar sobre os perigos desse homem no trono. Ele
não tem as virtudes necessárias para um bom regente. Seria
até mais aceitável uma mulher no trono, do que o príncipe
Edward — Lorde Guilter, um parlamentar, acrescentou.

— Seu filho é uma ameaça ao reino, ele não respeita nem


mesmo os nobres. Agora foi com Lady Montress, mas
poderia ter sido com a esposa de qualquer um de nós —
outro parlamentar, Lorde Rauston, acrescentou.

— É verdade. Não podemos aceitar tamanho desrespeito.


Não queremos voltar para a idade das trevas. Não queremos
um tirano no trono — endossou Lorde Catterfield.

— Eu o castigarei para que aprenda a lição. Cortarei todas as


regalias dele. Ele aprenderá o que não deve fazer.

— Majestade, infelizmente isso não será suficiente. Seu filho


não irá parar, e com todas as provas que temos, ele poderá
facilmente ir para a forca. Nenhum rei deve estar acima da
lei. Mas em respeito a Vossa Majestade, exigimos apenas
que seu filho renuncie ao seu direito ao trono. Se ele fizer
isso, poderemos relevar os crimes que ele cometeu — Lorde
Guilter tomou novamente a palavra e expôs o que os
parlamentares queriam há anos.

— Maldição. Eu preciso pensar. Me deixem sozinho.

Os parlamentares saíram pela porta oposta a que o príncipe


estava e aguardaram o rei chamá-

los novamente.

Enquanto o rei estava sozinho, Agatha se aproximou do pai.


Tinha ouvido toda a conversa em
um canto do salão, escondida.

— Ele mesmo buscou isso. Não é culpa do senhor — ela


disse ao rei, tocando-lhe gentilmente o ombro dele.

— Eu quero ficar sozinho.

— Eu sei. Mas o senhor não pode apenas tirar o direito dele


ao trono. Terá que exilá-lo.

— Não exilarei meu próprio filho.

— Se o deixar aqui, todos nós correremos perigo. Ele é capaz


de acabar com cada irmão, apenas para não ter outro
sucessor, além dele.

— Ele não faria tal coisa.

— Ele é capaz de qualquer coisa para conseguir o que quer.


E vingará o que aconteceu hoje.

— Não me fará mudar de ideia.

— Nem mesmo se eu aceitar aquilo que tanto me pede?

O rei olhou para a filha. Passou meses tentando convencê-la


a se casar com um lorde escocês, para estreitar os laços
entre eles, e ela se recusava.

— O que ele fez de tão ruim para você, para querer que ele
sofra em um exílio?

— Ele não vai sofrer no exílio, infelizmente. Por mim, o


destino dele seria bem pior, mas o senhor não irá matá-lo,
então, é melhor que ele seja mandado para bem longe
daqui.

— Nunca a vi tão cruel.


— Eu não sou cruel, sou apenas justa, meu desejo é apenas
que ele sofra toda dor que infligiu às pessoas. Isso não é ser
cruel.

— O que ele lhe fez?

— Nada tão ruim quanto o que fez às pessoas que eram


importantes para mim. Pare de olhar para ele como pai e
olhe como rei. O senhor sempre foi um rei justo, não deixe
de sê-lo agora.

— Está mesmo disposta a isso. Eu aceito seus termos. O


fortalecimento dos laços com a Escócia é importante para o
reino. — O rei suspirou mais uma vez, confirmando
finalmente sua posição naquilo. — Agora, saia, tenho que dar
a sentença a seu irmão.

Agatha se juntou aos parlamentares atrás da outra porta e


ficou esperando o veredicto de seu pai, enquanto abraçava
Samantha.

Edward novamente entrou na sala, já não apresentava a


tranquilidade da primeira vez e, muito menos, sorria.

— Edward, você está sendo acusado de estupro, tortura e


assassinato.

Você nega esses crimes?

— Claro que nego, estão fazendo um complô contra mim,


meu pai. Todos não passam de traidores.

— Diferente de você, eles têm provas da acusação.

— São falsas. Foram todas forjadas.

— Aqui há provas incontestáveis. ― O rei apontou para a


pasta que havia recebido.
— Eu sou um príncipe, não podem fazer nada contra mim.
Quando eu for rei, irão pagar por essas acusações.

Aquela frase enfureceu o rei. Todos estavam certos, seu filho


nunca seria um bom rei.

— Você nunca será rei — o rei anunciou, furioso. — Não tem


mais este direito. O trono irá para o seu irmão mais novo.

— Você não pode fazer isso. ― O choque e a incredulidade


eram evidentes na face de Edward.

— Já está feito. A partir de hoje, você será eLivros e não será


mais considerado meu filho.

Agora, saia da minha presença.

— O senhor está brincando comigo...

— Saia — o rei bradou, furioso.

O príncipe saiu furioso e, na fúria, usou a porta oposta da


que entrou, dando de cara com os seus acusadores.

— Vocês fizeram isso — ameaçou, ao encontrar os lordes. —


Isso não vai ficar assim. E você, sua puta — apontou o dedo
para Samantha —, eu vou matá-la por ter causado o meu
exílio.

— Não foi ela, fui eu — a princesa corrigiu. — Eles apenas


conseguiram que você não tivesse mais nenhum direito ao
trono. Eu convenci papai a exilá-lo.

— Maldita. Que você queime no inferno. Eu vou acabar com


você.

— Guardas, tirem esse homem daqui, ele não pertence mais


a este lugar. Acompanhem-no até que ele vá para o exílio,
conforme a ordem do rei — Agatha deu a ordem e logo foi
obedecida.

Edward foi levado para fora do castelo, praguejando furioso.

Os lordes foram chamados pelo rei novamente e tornaram a


entrar na sala de reunião. Samantha e Agatha
permaneceram do lado de fora, ainda abraçadas.

— Conseguimos, ele não irá mais lhe ferir — Agatha


sussurrou no ouvido de Samantha.

— Como você conseguiu?

— Eu dei meu jeito. Agora, deve entrar, o rei irá ordenar que
soltem o seu marido e ele desejará vê-la quando entrar na
sala. Ele é um bom homem. Fico muito feliz que o tenha
encontrado.

— Obrigada por tudo. Eu nunca a esqueci. E agora que não


estou mais morta, e não corro mais perigo, poderemos nos
ver às vezes.

— Eu adoraria, mas irei me casar, e devo partir em breve


para a Escócia. Assim que me instalar lá, lhe mando uma
missiva e então poderemos trocar correspondências.

— Eu vou amar manter contato. Você me salvou, de novo. Eu


nem sei mais como agradecer.

— Não precisa, fiz isso por mim também. Agora, entre. Nos


vemos depois.

Samantha concordou com a cabeça e voltou para a sala de


reuniões. Finalmente seu tormento tinha chegado ao fim.
CAPÍTULO 19 ― EU AMO VOCÊ

Bernardo estava sentado no chão da cela quando os


soldados apareceram e o soltaram.

— Você está livre. O rei o aguarda na sala de reunião. Siga-


nos.

Seguiu os guardas, em silêncio, e a porta da sala foi aberta


para que ele entrasse. Mal colocou os pés para dentro
quando alguém se jogou nele.

— Graças a Deus está bem. — Samantha o abraçou forte e


logo em seguida o soltou, por estarem em público.

— Peço desculpas por esse mal-entendido, Montress — o rei


se pronunciou. — Como pode ver, tudo foi resolvido, já pode
voltar para sua casa, sem preocupação. O homem que o
ameaçava está agora eLivros.

— Obrigado, Vossa Majestade, fico muito feliz em saber que


o perigo para mim e minha esposa não existe mais —
Montress agradeceu.

— Espero que aceite esse presente como meu pedido


pessoal de desculpas por tudo que meu filho causou a você,
minha jovem — o rei se dirigiu à Samantha e um guarda se
aproximou dela, para lhe entregar uma caixa.
Samantha a abriu cuidadosamente e encontrou um colar de
ouro com rubis e diamantes e um pedaço de papel.

— A joia é para você e o título e as terras para seu marido e


filhos.

— Obrigada, Majestade, é lindo.

— Já podem ir — o rei os dispensou e todos saíram da sala.

Estavam saindo do castelo quando alguém começou a


chamar o nome de Samantha. Winchester e os outros
seguiram andando, deixando o casal para conversarem com
a mulher que corria em direção a eles para se aproximar.

Samantha, que andava apoiada no braço do marido, se


retesou ao reconhecer a voz que a chamava, e Bernardo, ao
ver a mulher mais de perto, soube de quem se tratava.

— Você está viva. Graças aos céus. Pensei que tivesse


morrido. Onde esteve esse tempo todo?

― A mulher abriu os braços, esperando que a filha fosse de


encontro a ela, mas ao ver que Samantha não o faria,
abaixou os braços e pegou-lhe a mão.

— Eu estou bem, mamãe ― Samantha respondeu, tirando


sua mão das mãos de sua progenitora.

— Como você foi capaz de fugir? ― a Sra. Hemsfield-Wert


ralhou com a filha. ― Aqui você tinha tudo para conseguir
crescer.

— A senhora sabe por que fugi.

— Tolice, eram apenas avanços inocentes.


Diante daquela frase, Bernardo não pode mais ficar em
silêncio.

— Avanços inocentes? Sua filha foi ameaçada e corria risco


de ser estuprada, e a senhora chama isso de avanços
inocentes? ― A fúria era evidente na voz de Bernardo.

— Senhor, não sei quem és e não aceito que fale desse


modo comigo. Eu gostaria de falar a sós com minha filha.

— Eu sou o marido dela, então não, não permitirei que fale


com ela, muito menos, a sós.

Indignada e surpresa, a mulher se voltou para a filha:

— Samantha, permitirá que este homem fale assim com sua


mãe?

— A senhora teve a chance de ser a minha mãe, anos atrás,


em vez disso mandou que eu abrisse as pernas e aceitasse o
meu destino. Por mim, ele pode falar como quiser, pois a
senhora não é e

nunca foi minha mãe. Agora, se me der licença, tenho muito


a comemorar com meu marido.

Em seguida, Samantha deu as costas para a mulher e, junto


com Bernardo, seguiram para onde os outros os esperavam.

— Você sabe que agora é conde, não sabe? — Samantha


comentou, quando estavam na carruagem a caminho de
Winchester House. Como já estava tarde para viajarem
naquele dia, partiriam no seguinte ao nascer do sol.

— Eu vou ter que me acostumar com isso. Eu sou o conde de


quê?

— Você, agora, meu querido, é Lorde Harrington.

— Eu vou mesmo demorar a me acostumar... Lorde


Harrington, soa tão estranho.

— Eu gostei.

— Fico feliz, Lady Harrington, que meu novo título a agrade.

— Nada me agrada mais do que uma noite nos braços do


meu marido — Samantha sussurrou no ouvido do novo
conde, uma vez que não estavam a sós na carruagem. —
Apenas, talvez uma vida inteira ao lado do homem que amo.

Winchester observava aquela cena com diversão e um pouco


de inveja, mal podia esperar para voltar para sua própria
casa e ficar ao lado de sua esposa. Pouco mais de um dia
longe dela e já estava com saudade.

Mais tarde naquela noite, após a janta e muito vinho,


Montress e Samantha se retiraram para seus aposentos.

— Eu nem acredito que finalmente estou livre daquele


monstro.

— Pois pode acreditar. Agora o único homem que deve


preocupá-la sou eu.

— Isso me apetece enormemente.

— Outra coisa enorme vai lhe apetecer ainda mais. —


Bernardo levou a mão de Samantha para a sua calça,
mostrando a ela o volume que havia se formado.

— Ah! Com certeza isso me apetece ainda mais — Samantha


respondeu, sorrindo maliciosamente para o marido,
enquanto acariciava o volume por cima do tecido.

— Vire-se.

Samantha fez o que lhe foi ordenado e Bernardo começou a


desfazer os laços do vestido da esposa. Tirou cada peça,
deixando-a completamente nua, expondo cada uma das
curvas da mulher.

Em seguida, Bernardo retirou a própria roupa e a abraçou


por trás, encostando a sua pele na pele macia de sua
mulher. As mãos se encheram com os seios de Samantha e
seu membro ficou roçando nas nádegas da mulher. Bernardo
beijou-lhe o pescoço, enquanto acariciava os seios dela e a
apertava contra si, ansiando por afundar-se nela.

— Você é tão deliciosa. Céus! Eu nunca me cansarei disso.

Bernardo desceu uma de suas mãos pelo corpo de


Samantha, até encontrar seus cachos íntimos, e começou a
tocá-la em seu ponto mais sensível, fazendo com que ela se
contorcesse de prazer em seus braços.

À medida que o prazer ia se intensificando, as pernas de


Samantha perdiam a força para mantê-

la em pé. Samantha elevou os braços e rodeou o pescoço do


barão, se aquilo continuasse com

certeza suas pernas não aguentariam. Bernardo a segurou


junto ao próprio corpo, ajudando-a a manter-se em pé. Ele só
pararia de tocá-la quando ela chegasse ao ápice do seu
prazer. Continuou a beijá-la, lambê-la e mordiscar o pescoço
da mulher, e sua mão não parava de tocá-la nem por um
segundo.

Samantha gemia, arfava e se contorcia com os toques do


marido, o deixando ainda mais duro e ansioso por afundar-se
nela. Desceu a outra mão para as pernas de sua mulher e
colocou um dedo na abertura de Samantha, causando uma
onda ainda mais intensa de prazer ao movimentar o dedo
dentro dela. A outra mão continuou tocando seu ponto
sensível e isso a deixou completamente à mercê do seu
prazer.

As ondas intensas de prazer foram se acumulando no baixo


ventre de Samantha, e se tornaram tão intensas que ela não
resistiu e atingiu o seu clímax. Todo seu corpo se contraiu
para, logo em seguida, tremer e relaxar, enquanto seu ponto
sensível pulsava e seu orgasmo molhava em jatos a mão do
seu marido.

— Perdoe-me, não consegui segurar. — Samantha estava


completamente envergonhada. Como pôde ter feito aquilo?
— Eu vou procurar uma toalha para limpá-lo. Eu não
imaginei que iria urinar em sua mão.

— Não é urina. — Bernardo sorriu. — Veja, não tem cheiro.

— É claro que é. Eu senti saindo de mim.

— Meu amor. Urina tem cheiro de urina e gosto de urina. Isso


aqui não é urina.

— Se não é urina, o que é?

— Não faço ideia, mas eu gostei de vê-la chegar a seu


orgasmo tão intensamente, a ponto de molhar minha mão.
Acho que nunca fiquei tão duro.
Samantha observou que o membro de seu marido
continuava ereto e ele lhe sorria, malicioso, enquanto
caminhava em sua direção.

— Acho que chegou a minha vez de molhar você toda. — Ele


a guiou até ficarem perto da cama e a colocou de costas
para si. — Ajoelhe-se na cama.

Samantha fez o que ele mandou e ficou de joelhos.

— Agora, encoste seu rosto na cama, sem tirar os joelhos do


lugar, você consegue?

Samantha não estava entendendo muito bem, mas fez o que


seu marido pediu. Assim que abaixou seu corpo para
encostar na cama, sentiu as mãos dele em suas nádegas.

— Que visão maravilhosa.

— Bernardo, isso não parece certo.

— Não se aflija, meu amor. Não há nada errado em fazer


amor com minha esposa em todas as posições que
pudermos. Você confia em mim?

— Claro que sim.

— Então, me deixe lhe dar prazer.

Samantha acenou com a cabeça e permitiu que ele


continuasse.

Bernardo colocou dois dedos dentro dela e gemeu.

— Você está absurdamente molhada para mim. Quer que eu


a tome assim? —
perguntou , enquanto esfregava o seu membro do ponto
sensível até a abertura de Samantha e a fazia gemer.

— Sim.

Sem mais delongas, Bernardo a penetrou lentamente,


colocando tudo dentro de Samantha e sentindo-a se apertar
ao seu redor. A visão que aquela posição lhe proporcionava
era por si só excitante, e ele não tirou os olhos em nenhum
momento, enquanto retirava e penetrava novamente

sua mulher.

Samantha sentia o membro enrijecido de seu marido lhe


penetrar fundo. Aquela posição lhe era estranha, mas
intensamente prazerosa e era impossível não gemer de
prazer.

Não demorou muito e logo os dois gemiam e arfavam,


próximos de alcançarem o clímax.

Samantha chegou primeiro ao seu, seguida então por


Bernardo, que se derramou dentro dela.

Depois que recuperou parte das forças, Bernardo deitou-se


na cama e puxou Samantha para seu peito e ficou
acariciando as costas de sua mulher.

— Eu gostei dessa posição — Samantha confessou.

— Eu também. — Bernardo sorriu. Aquela era sua posição


favorita, mas não diria isso a ela, até testarem todas as
outras.

Descobriram varias posições novas naquela noite e, pela


manhã, voltaram para casa.
EPÍLOGO

Bernardo estava em seu escritório, assinando uma papelada


que lhe permitiria obter algumas máquinas para ajudar seus
arrendatários a melhorarem a colheita de cereais.

Naquele dia, estava fazendo um mês desde que esteve em


Londres com sua esposa, para resolver o problema com o
príncipe Edward, agora eLivros.

Se lembraria daquele dia para sempre, pois cada detalhe


ficou gravado na sua memória. Os guardas indo até a cela e
informando que ele havia sido inocentado; ele sendo
conduzido à sala de reunião; o reencontro com Samantha,
que se jogou nos braços dele; o pedido de desculpas do rei;
a noite de amor e, por fim, a volta para casa.

Samantha tinha se tornado uma mulher diferente desde o


dia que o príncipe partiu no navio rumo ao exilio. Ela estava
mais feliz, sorria mais, andava de cabeça erguida e não
parecia se preocupar mais com o futuro.

Bernardo não poderia estar mais feliz por sua esposa.


Finalmente ela estava livre do homem que a aterrorizou no
passado e agora tinham o futuro inteiro para usufruírem.

Após terminar de assinar os papéis, Bernardo foi ao encontro


de sua esposa, que se divertia em um piquenique no jardim
com Sophia, aproveitando aquele dia de sol ameno.
Sophia brincava de pegar no ar as folhas alaranjadas, que
começavam a cair no chão com a chegada do outono,
enquanto Samantha ficava sentada, observando e
incentivando a criança a pegar mais folhas.

— A que devo a honra dessa visita? — Samantha gracejou,


quando Bernardo uniu-se a ela.

— Senti saudade das duas pessoas mais importantes da


minha vida.

Bernardo sentou-se ao lado da esposa e pegou um cacho de


uva que estava na cesta de piquenique e colocou uma fruta
na boca de Samantha.

— Três — corrigiu ela, após comer uma uva.

— Três o quê? — Bernardo perguntou, levando o cacho de


uva para a própria boca.

— Três pessoas importantes.

— Eu sei que somos três, mas eu me referia a você e a


Sophia, sem contar comigo. Logo, são duas.

— São três, você se esqueceu de colocar uma em sua


contagem.

Samantha levou a mão do conde à sua barriga para que o


homem entendesse sobre o que ela estava falando.

Bernardo demorou um pouco para entender o significado


daquele gesto, mas assim que o fez, não coube em si de
tanta alegria.

— Você está esperando um filho meu?


— Sim, estava esperando mais alguns dias para ter certeza,
mas é o segundo mês que minhas regras não descem.
Então, é possível que eu esteja, sim, grávida.

Bernardo sorriu de orelha a orelha, inclinou-se sobre a


barriga de Samantha e começou a beijá-

la, acariciá-la e falar com o seu filho, que crescia forte no


ventre de Samantha. Sophia notou aquela cena incomum e
se aproximou, curiosa.

— Papai, por que está beijando a barriga da mamãe? —


Sophia perguntou, confusa com a cena.

— Você vai ter um irmão ou uma irmã.

Demorou um pouco para Sophia entender o que aquilo


significava e quando entendeu, começou a chorar.

— Não quero. Eu não quero um irmão. Manda ele embora.

Bernardo se levantou, pegou a filha no colo e a abraçou.

— Não diga isso, seu irmãozinho já a ama muito.

— Ou irmãzinha ― Samantha acrescentou. ― Você terá com


quem brincar, Soph. Vai lhe fazer companhia.

— Eu não quero. — A menina continuou inconsolável.

— Mas por que não? — Bernardo perguntou, curioso.

— Vocês vão me trocar por ele — ela respondeu, enxugando


as lágrimas e fungando.

— Ah, minha filhinha, venha cá. — Samantha estendeu a


mão para a filha, e Bernardo a pôs no chão. — Nos nunca
trocaremos você. Você é nossa primogênita. Mesmo que eu
não tenha lhe gerado, lhe tomei para mim no dia que a
encontrei, embaixo de uma árvore, numa chuva forte.

Você é minha filha e sempre vai ser. E eu posso ter dez filhos
e jamais deixaria de amá-la.

— Promete?

— Prometo. Agora, enxugue esses olhinhos, você deve ficar


feliz.

Quando Sophia se distraiu novamente, Bernardo sentou ao


lado da esposa.

— Eu gosto da ideia.

— Que ideia?

— De termos dez filhos. Dez pedacinhos de você correndo


pela grama, se divertindo e alegrando meus dias. Olhe como
a Sophia se diverte.

Samantha olhou para Sophia, imaginando como seria a cena


e, alguns segundos depois, a menina tropeçou e começou a
chorar. Um choro estridente que parecia que tinha arrancado
um pedaço do corpo. Bernardo levantou-se para socorrer a
filha e Samantha começou a rir.

— Tem certeza que quer ter dez?

― Tudo bem, nove é suficiente, afinal, já temos a Sophia.

Samantha balançou a cabeça, incrédula, mas não se


importava de verdade. Teriam tantos filhos quanto Deus
permitisse, e amaria cada um da mesma forma, porque eles
seriam fruto do amor que sentia pelo seu marido.

E fazê-los era bom demais para não continuar tentando.


FIM
Document Outline
SINOPSE
PRÓLOGO
CAPITULO 1 ― FELIZ ANIVERSÁRIO
CAPITULO 2 ― IMPREVISTO
CAPÍTULO 3 ― REDENÇÃO
CAPITULO 4 ― LISTA
CAPITULO 5 ― PREPARAÇÕES
CAPITULO 6 ― O BAILE
CAPITULO 7 ― PEDIDOS
CAPÍTULO 8 ― RECUSAS
CAPÍTULO 9 ― FUGA
CAPÍTULO 10 ― EXPLICAÇÕES
CAPÍTULO 11 ― SEGREDOS
CAPÍTULO 12 ― CONVITE DE CASAMENTO
CAPÍTULO 13 ― CASAMENTO
CAPÍTULO 14 ― NÚPCIAS
CAPÍTULO 15 ― FERNANDA
CAPÍTULO 16 ― AMANTE
CAPITULO 17 ― REIS E PRINCESAS
CAPÍTULO 18 — SENTENÇAS
CAPÍTULO 19 ― EU AMO VOCÊ
EPÍLOGO

Você também pode gostar