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AMORES INDECENTES

Livro 3

Copyright © Michaelly Amorim, 2018

Todos os direitos reservados. É proibido o armazenamento,


cópia e/ou reprodução de qualquer parte dessa obra ― física
ou eletrônica ―, sem a prévia autorização do autor.

Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com


nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido
mera coincidência.

Preparação: Michaelly Amorim

Revisão: Ayanny P. Costa

Capa e diagramação: Michaelly Amorim

2018

1ª Edição

COMO IRRITAR UM LORDE


Série — Amores Indecentes ― Livro 3

© Todos os direitos reservados a Michaelly Amorim

NOTAS DA AUTORA

PRÓLOGO

CAPÍTULO 1 - RECUSAS

CAPÍTULO 2 – PROBLEMAS

CAPÍTULO 3 – ENCONTRO NA FLORESTA

CAPÍTULO 4 - HENRY

CAPÍTULO 5 - DEBUTE

CAPÍTULO 6 – RELÓGIO DE BOLSO

CAPÍTULO 7 – TRÊS DIAS

CAPÍTULO 8 - IRONIAS

CAPÍTULO 9 – ELA NÃO PODE ME AMAR.

CAPÍTULO 10 ― PLANOS

CAPÍTULO 11 – AFLIÇÃO

CAPÍTULO 12 - INTERVENÇÕES

CAPÍTULO 13 – VINGANÇA.

CAPÍTULO 14 – O BAILE DA DUQUESA

CAPÍTULO 15 – ELA É MINHA

CAPÍTULO 16 - CUIDADOS
CAPÍTULO 17 - CARRUAGENS E CLUBES

CAPÍTULO 18 - DE VOLTA PRA CASA

CAPÍTULO 19 - PROBLEMAS

CAPÍTULO 20 – ESPERANÇAS

CAPÍTULO 21 – CASAMENTO

EPÍLOGO

NOTAS DA AUTORA

Olá, caro leitor!

É uma alegria, para mim, trazer este livro para você, mas
antes de começar a leitura, preciso te contar um segredo.
Todo o universo de Amores Indecentes é fictício e algumas
coisas foram modificadas visando a história. Sendo assim,
não se preocupe! Se houver algo que te faça pensar que não
condiz com as regras e costumes da época, foi de escolha
minha e uma mudança pensada.

Peço, por favor, que venha com a mente um pouco mais


aberta, pois, foquei em uma escrita mais suave e abrindo
mão de alguns termos rebuscados, afim de não obrigar
nenhum leitor a depender do dicionário para compreender a
leitura.
Caso você não concorde com estes detalhes, tudo bem
também! Não se preocupe, eu vou entender perfeitamente e
respeitarei sua forma de pensar, assim como espero receber
seu respeito pela minha decisão.

Desejo que tenha uma ótima e divertida leitura.

Michaelly Amorim

PRÓLOGO

Condado de Warrex, 8 anos atrás.

Ainda estava de madrugada e mesmo que sentisse sono, ele


não conseguia dormir, pois estava de luto. Em parte, pelo
homem que estava no jazigo, aquele pertencente à família, e
em parte, por si mesmo, pois, apesar de ser um bastardo,
tinha muito apreço pelo pai, afinal ele era o único homem
que o Conde de Warrex tinha conseguido gerar, para o
repúdio da condessa.

Henry era filho de Eloise Willians, uma reles camareira que


chamou a atenção de Lorde Frederick Howland, o Conde de
Warrex, e em uma noite qualquer foi gerado no calor da
paixão e do desejo. Quando soube que a empregada estava
grávida de seu marido, Lady Violet Howland fez de tudo para
que a mulher perdesse o bebê, que era a prova da traição do
Conde, mas para sua infelicidade, a empregada deu a luz a
um bebê saudável que carregava todas as características
físicas do pai, não dando margem para dúvidas a respeito da
paternidade do Conde.

O nascimento do pequeno Henry causou alegria ao Conde e


uma profunda repulsa na Condessa, que o odiou desde o
momento que veio ao mundo e sempre deixou isso bem
evidente.

Nem os nascimentos de três filhas legítimas permitiu que a


Condessa deixasse de odiá-lo. Por isso ele sabia que logo
teria que partir daquela casa. Com a morte de seu pai, ele
não era mais bem-vindo ali.

― Não quero que vá. ― Sua mãe dizia enquanto o ajudava a


arrumar as coisas em seu pequeno quarto na ala dos
empregados. ― Mas sei que não tem opção.

― Eu queria que a senhora fosse comigo, mas não sei nem


sequer como vou me sustentar.

Pelo menos, aqui a senhora tem comida e um teto sobre a


cabeça. ― Henry abraçou a mãe. Os olhos dela estavam
cansados e suas mãos eram ásperas, percebeu ao tocar o
seu rosto, mas, ainda assim, eram quentes e amorosas, de
modo que ele lhe beijou as palmas.

― Eu sei, meu querido, mas mesmo que tivesse condições


de se sustentar, eu não iria lhe dar o fardo de me sustentar
também. Eu sabia que esse dia chegaria desde que a
Condessa o olhou com ódio e até me admira que ela não o
tenha conseguido expulsar antes. Seu pai o amava de
verdade, do jeito dele, mas o amava. ― Eloise retirou de
uma gaveta um saco puído contendo todas as economias
que conseguiu acumular nos últimos dezoito anos.. ― Ele me
deu alguns presentes e eu consegui juntar algumas
economias todos esses anos já pensando nesse momento. É
para você, Henry.

― Mãe, eu não posso aceitar. A senhora pode precisar desse


dinheiro. ― Henry rejeitou a ajuda.

― Não seja orgulhoso, Henry, aceite. Você vai precisar mais


do que eu. Leve com você e tenha cuidado. ― Sua mãe
colocou o saco de moedas no bolso de seu filho e se
despediu dele com um beijo. ― Para onde vai?

― Acredito que, em Londres, terei alguma chance. ― ele


respondeu.

― Tome cuidado, Londres é uma cidade grande e perigosa.


Prometa-me que vai se cuidar.

― pediu claramente preocupada.

― Eu prometo. ―Henry beijou sua mãe no rosto e em


seguida a abraçou, despedindo-se.

― Voltarei para buscar a senhora quando conseguir me


estabelecer. ― dito isso, saiu para sempre do lugar que uma
vez chamou de lar.

Londres era uma cidade hostil para os recém-chegados,


principalmente para aqueles que viessem do campo. Não era
o lugar dos sonhos no qual ouvira falar. Ela tinha um lado
cruel, onde qualquer resquício de inocência e de bondade
eram arrancados cruelmente. A vida das pessoas parecia
não ter valor.
Henry foi assaltado logo no primeiro dia em que chegou,
teve que dormir nas ruas e sobreviver ao frio e à fome,
aprendeu a brigar apanhando e quando a noite caía, ele
pedia para a morte o livrar do sofrimento que a vida o
infligia, mas a morte fugia dele.

Ele mendigava por uma refeição qualquer e todos os dias


procurava emprego. Depois de meses sem nenhuma
perspectiva, o rapaz conseguiu um trabalho temporário para
carregar e descarregar navios. No píer, começou a fazer
amigos e sua vida finalmente vislumbrou a perspectiva de
mudança. Assim passou os dois primeiros anos.

Era comum depois de um carregamento, os homens se


juntarem no cais e jogarem cartas, sempre apostando.
Henry, no início, só observava. Percebia os movimentos das
cartas e contava mentalmente cada uma. Considerava-se
um homem inteligente e talvez, por isso, não se rendesse
aos prazeres da jogatina, mas, por insistência de seus
amigos, aventurou-se em uma partida. E

para o espanto de todos, ele era muito bom no jogo.

Apostava baixo, não se arriscava e isso fazia com que fosse


motivo de chacota. Mas ele não se importava com o
escárnio. Crescera em meio à humilhação e aprendera a
lidar com ela em silêncio.

Quando Henry percebeu que era muito bom no jogo, supôs


que poderia aumentar suas economias se arriscando nas
apostas. E assim aconteceu, porém nem todos se
agradavam de perder para um bastardo sem nome e sem
história. Quanto mais ganhava, mais inimigos fazia. E

não demorou muito para o primeiro o apunhar pelas costas,


acusando-o de trapaça e exigindo seu dinheiro de volta.
― Você está roubando! ― exclamou Lorde Vincent. ― Seu
trapaceiro miserável.

― Não o fiz, Milord. ― Henry se defendeu.

― Exijo meu dinheiro de volta! ― O visconde gritava


enfurecido ao perder a quinta partida consecutiva. ― Seu
bastardo maldito.

― Não o terá. ― Henry se levantou, guardou o dinheiro e


deixou o homem na mesa de jogo esbravejando e jurando
vingança.

Ele devia ter dado ouvidos para as ameaças do homem, pois


elas logo se concretizaram.

Algumas noites depois, ele foi atacado quando voltava para


o quarto alugado em um albergue e,

no meio das vielas de Londres, Henry foi deixado para


morrer com uma faca nos flancos. Mas o destino não o
queria morto: naquela mesma noite, seu primo o reconheceu
no homem moribundo. E

ali, nas portas da morte, sua sorte mudou mais uma vez.

CAPÍTULO 1 - RECUSAS

Henry estava em seu quarto, dormindo, era meio-dia e ainda


estava cedo para ele levantar.
Quando se deitou já passava das quatro horas da manhã. Ele
havia se habituado a sua vida noturna, fazia cinco anos que
estava nela, então já tinha virado rotina.

O Rogue’s era sua vida e a vida de muitas pessoas, que


dependiam dele. Mulheres e homens dariam sua vida pelo
Lorde porque eles só estavam vivos graças a ele. Henry se
orgulhava de conseguir ser o homem que Rogue’s precisava.
Nem sempre ele podia fazer o que gostava, mas sabia que
tudo que fazia era necessário.

Para ser o dono do Clube, Henry teve que sacrificar sua


consciência em prol do funcionamento de seu
estabelecimento. Quando era necessário, ele podia ser o juiz
e o carrasco.

Então mesmo que ninguém soubesse quem era o homem


por trás da máscara de Lorde, todos o temiam.

Seu sono foi perturbado por uma batida na porta de seu


quarto. Ele se remexeu na cama e virou para o outro lado,
colocando o travesseiro sobre a cabeça para abafar o som
das batidas na madeira. Talvez se continuasse em silêncio,
quem quer que estivesse batendo, iria embora.

Foi inútil, a pessoa do outro lado era persistente e logo ele


soube o porquê.

‒ Vamos logo Henry. Tire esse rabo da cama e abra a porta.


Sei que está aí. Ed disse que não o viu saindo, então abra
logo essa porta. ‒ A voz soou abafada do outro lado e Henry
grunhiu irritado por ter seu sono perturbado.

Muito lentamente ‒ apenas para causar raiva no outro


homem ‒ , Henry se levantou da cama e se dirigiu à porta.
Não se importou em colocar uma camisa já que sabia quem
estaria do outro lado, e como poucas pessoas tinham acesso
ao seu quarto particular, não se preocupou ao abriu a porta.

‒ Que diabos! Não se pode mais dormir em paz! – ele


resmungou e o Duque de Norfall sorriu divertido ao vê-lo
naquela situação.

‒ Vejo que acordou de bom humor. ‒ Lorde Norfall disse


irônico.

‒ O que quer, Phill? ‒ ele perguntou carrancudo.

‒ Vim lhe perguntar se vai ao debute da Phillipa.

‒ Se for só isso, então nem precisava ter se dado ao trabalho


de me acordar e estragar o meu dia. A resposta continua
sendo a mesma que sempre dou. Agora, se me der licença,
quero voltar a dormir.

‒ Deixe de resmungar como um velho ranzinza. Estou lhe


fazendo um favor. Afinal, Deus ajuda quem cedo madruga.

‒ Como se Ele se importasse comigo. ‒ Henry respondeu


cético. Sua experiência de vida tinha tirado o pouco de fé
que ele possuiu um dia.

‒ Então qual vai ser a desculpa da vez? ‒ Phillip perguntou já


sabendo que o primo não compareceria à festa.

‒ Já usei doença? ‒ Henry perguntou tentando pensar em


algo convincente.
‒ Sim, de um leve resfriado a uma doença infectocontagiosa
e devo lembrar que o fato de ela saber que está doente só
vai fazê-la querer vir cuidar de você.

‒ Trabalho excessivo? ‒ ele tentou.

‒ Sempre usa essa. Eu não sei como ela ainda não


desconfiou que é uma mentira. ‒

Phillip riu da ingenuidade da irmã. ‒ Ou talvez ela saiba, mas


continua insistindo. Vai saber o que se passa na cabeça de
uma mulher.

‒ Por que ela insiste tanto que eu vá? ‒ Henry se irritou com
a sua prima. ‒ Se fosse eu, já teria desistido.

‒ Eu também, mas acredito que você seja importante para


ela, apesar de eu não entender o porquê, sempre que
Phillipa fala de você ela sempre fica… Animada. ‒ Phillip deu
de ombros como se aquilo não fosse importante.

Henry se lembrou de todas as vezes que Phillipa tinha lhe


convidado para visitá-la.

Mesmo quando não passava de uma criança, estava sempre


no lado dele, segurando sua mão e pedindo que ele a
levasse para passear ou que brincasse com ela de boneca.

Ele fazia aquilo porque era ordenado. A esposa de seu pai e


seus tios sempre davam ao rapaz a tarefa de ser babá da
caçula da família e, como era apenas um bastardo, filho de
uma criada, ele obedecia. Conforme foi crescendo, Henry
sabia que a prima tinha ficado apegada a ele.

Esse era mais um dos motivos para evitá-la tanto quanto


pudesse. Ele não era mais um criado, e muito menos
abrigado a fazer as vontades de ninguém. Não deixaria que
ninguém o humilhasse novamente. O homem sabia que a
família nobre de seu pai sempre pisaria em cima dele, como
sempre fizeram. Haviam poucas exceções, no entanto.

‒ Diga a ela que eu mando minhas desculpas, mas não


poderei ir, terei compromisso nesse dia. ‒ Henry deu sua
resposta definitiva.

‒ Claro. ‒ respondeu um pouco desconfortável. Phillipa tinha


insistido tanto que o primo fosse. Phillip sabia que ela ficaria
triste por não poder contar com a presença de Henry. Mas já
devia estar acostumada. O primo não aparecia em eventos
da família desde a morte do pai, há oito anos.

Assim que o primo saiu, Henry voltou para seu quarto. A


cama estava bagunçada, mas ele não se importou em
arrumar. Vestiu uma blusa e saiu para dar uma volta, pois
precisava de ar. Não gostava de ficar remoendo o passado, e
falar em Phillipa sempre o fazia relembrar coisas que preferia
manter enterradas.

Phillipa estava em seu quarto acariciando sua gata enquanto


olhava o teto, perdida em pensamentos.

Seu irmão, o Duque, tinha ido mais cedo levar o convite de


seu debute para Henry. E

apesar de saber que ele não apareceria, ela ainda tinha


esperanças de que ele poderia, por algum milagre, decidir
comparecer. Mas como sempre, a resposta que recebeu foi
negativa.

Entediada, Phillipa decidiu ir para a biblioteca, o ambiente


silencioso e o cheiro de livros lhe acalmava e dava sono. Era
um hábito que tinha adquirido quando o seu pai ainda
estava vivo.
Ela ficava ali quando ele estava viajando até que a babá dela
a encontrasse em sono profundo e a levasse de volta para o
quarto.

Entretanto, ao atravessar o corredor que dava para o seu


destino, percebeu que a porta do escritório de seu irmão
estava aberta. A curiosidade a assolou. Não era para seu
irmão estar ali àquela hora, ele tinha saído a menos de uma
hora, e sempre que saía tarde, costumava demorar a
retornar. Por esse motivo, entrou.

A sala estava vazia, exceto por algumas velas acesa sobre a


lareira que iluminavam parcialmente o ambiente. Phillip não
costumava deixar as velas acesas quando saía, mas talvez
tivesse voltado ali antes de sair e, por algum motivo,
esqueceu de apagar as velas.

Uma vez que estava ali dentro, decidiu sondar o ambiente.

Seus olhos percorreram a mesa organizada e limpa. Phillip


sempre foi um homem muito organizado, costumava guardar
tudo sempre no mesmo lugar e sempre mantinha tudo em
ordem.

Exatamente por essa razão que o papel em cima das


correspondências chamou sua atenção.

Era o convite que ela tinha escrito para Henry o convidando


para o seu debute.

Phillipa se aproximou da mesa e pegou o convite. O selo


nem mesmo tinha sido rompido.

Estava intacto. Ou Henry nem sequer tinha aberto o convite


ou Phillip não o tinha entregue.
― Phillipa? O que faz aqui? ― O Duque estava parado na
porta e olhava para a irmã com curiosidade.

― Estava esperando você chegar e encontrei isso. ― Ela


ergueu o convite para que ele visse ― Ele o devolveu ou
você não o entregou?

― Não o levei quando fui encontrá-lo, mas lhe fiz o convite


informalmente.

― Compreendo. Se importa se eu guardá-lo comigo? ―


Phillipa segurou o convite contra o peito e seu irmão lhe deu
um sorriso compreensivo.

Phillipa saiu do escritório do irmão com o convite. Já que


Henry não fora convidado formalmente, talvez ela pudesse
lhe fazer um novo convite. E talvez assim, com uma dama o
convidando, ele não ousasse recusar.

Voltou para seu quarto e decidiu que no dia seguinte, ela


mesma iria ao Rogue’s.

Phillipa acordou mais cedo que de costume. Ela se


espreguiçou na cama e logo desceu para tomar o desjejum.
Iria naquela mesma manhã ao clube de cavalheiros mais
notório de Londres. Esperava que, por estar em plena luz do
dia e por estar acompanhada, sua mãe não a impedisse.

‒ Eloá, eu preciso que você me ajude a me vestir. ‒ ela pediu


à sua criada particular para trocar seu vestido por um de
passeio.

‒ Milady, não sabia que a senhorita iria sair. ‒ Eloá estava


nitidamente confusa, mas se adiantou e começou a ajustar
as camadas do vestido em Phillipa. A moça costumava ficar
em casa pelas manhãs tendo suas lições com a Sra. Hugges,
apenas a tarde é que costumava sair para algum passeio.
‒ Não faz mal, apenas me ajude e depois vista-se, pois
precisarei que seja minha

acompanhante.

― Mas a Sra. Hugges... ― A criada ficou ainda mais confusa,


pois a acompanhante de Phillipa costumava ser a outra
mulher.

― Eu quero que você me acompanhe essa manhã. Hugges


ficaria histérica caso me visse indo a um clube de
cavalheiros.

― Milady, um clube de cavalheiros? A senhorita está


brincando, não é? Uma Lady não vai a clubes de cavalheiros,
sua reputação ficará arruinada! ‒ A criada estava pálida
como um fantasma, era evidente que não concordava com
aquela saída.

‒ Ninguém vai me reconhecer Eloá, eu colocarei uma capa. E


está de dia. Eu vou tomar cuidado. ‒ Phillipa estava
confiante e decidida.

― Milady, por favor, o que sua mãe diria? ― Eloá segurou as


mãos de Phillipa e ergueu os olhos, suplicante.

Aquilo deu a Phillipa o que pensar. A Duquesa jamais


permitiria que ela fosse a um local tão impróprio para uma
dama como ela, e mesmo que saísse sem avisar a mãe
aonde iria, Eloá certamente o faria antes mesmo que ela
pudesse dar um passo para fora dos portões da propriedade.
― Tem razão. A Duquesa ficaria histérica só em imaginar
aonde eu iria. Talvez seja melhor mandar apenas um
mensageiro.

Eloá respirou aliviada e ajudou Phillipa a despir o vestido de


passeio.

Apesar de ter dito a sua criada que não iria mais naquela
manhã, Phillipa não havia desistido de seu plano. Se não
poderia entregar o convite durante o dia e acompanhada,
teria que ir sozinha, durante a noite. Não seria fácil, mas
ainda se lembrava de como sair despercebida.

Tinha feito muito isso quando era uma criança e queria fugir
da babá.

Phillipa esperaria até a noite para realizar seu plano de


convidar Henry para seu debute.

Phillipa organizou tudo que acreditava precisar. Algumas


moedas para a carruagem, uma capa para encobrir seu rosto
e o convite. Se tudo corresse bem, não precisaria de mais
nada além daquilo. Subiria e desceria pela trepadeira e isso
não lhe faria necessitar de uma chave.

Não foi difícil sair pela janela, atravessar os jardins e abrir o


pesado portão da propriedade. Mas precisou esperar alguns
minutos até que passasse por ali uma carruagem de aluguel.
E enquanto esperava, Phillipa se sentiu aflita, afinal, era uma
mulher sozinha e desprotegida nas ruas de Londres e mesmo
à apenas alguns passos de sua casa, isso não diminuía o
perigo. Assim que avistou uma carruagem, respirou aliviada.
Phillipa entrou sem nem pensar duas vezes e logo indicou ao
cocheiro o seu destino.

O cocheiro não pareceu surpreso em levar uma jovem


sozinha para o Rogue’s.
Provavelmente já era acostumado a fazer aquilo algumas
vezes durante a noite, uma vez que

haviam mulheres trabalhando no Clube.

Ao descer em frente ao Clube, Phillipa ficou parada do outro


lado da rua, observando o Rogueś sem saber exatamente
como agir. Ela via as luzes do Clube acesas e isso indicava
que ele estava em pleno funcionamento. Um homem se
aproximou da porta e bateu pedindo entrada. Uma pequena
janela foi aberta, o homem falou alguma coisa, em seguida a
janela se fechou e a porta foi aberta permitindo a passagem
de tal.

Phillipa o viu receber uma máscara e logo em seguida sumir


porta a dentro. Não devia ser tão complicado afinal.

Ela criou coragem e bateu à porta.

Olhos negros por trás da janela a encararam sem nenhuma


emoção.

‒ Senha. ‒ O porteiro pediu com uma voz gutural.

Droga, devia saber que havia uma senha.

― Senha. ― O porteiro repetiu entediado e como ela não


respondeu, a janela se fechou.

Bateu novamente à porta. O mesmo homem abriu a


janelinha e a olhou como se ela fosse uma tola.

‒ Senha.

‒ Eu preciso falar com o Henry. ‒ ela explicou. Talvez se


soubesse disso, ele a deixasse entrar.

O homem fechou novamente a janela. Aquilo era frustrante.


Phillipa ficou chateada. Não custava nada ele a deixar entrar.

Ela bateu novamente. E o cara abriu a janelinha dessa vez


estava visivelmente irritado.

‒ Sem senha não entra.

A janela foi fechada antes que ela pudesse dizer algo.

Maldição! Eu vim aqui por nada! ‒ Phillipa estava frustrada.


Mas não iria voltar para casa sem ter feito o que tinha
planejado. Daria um jeito de falar com Henry e lhe entregar
o convite.

Devia ter outra forma de entrar ali e ela descobriria. Decidiu


dar uma volta pelo lugar.

Poderia haver uma segunda entrada, uma de empregados ou


algo assim.

Phillipa seguiu até a esquina e entrou em uma viela que


devia levar para os fundos do estabelecimento. Estava certa:
havia sim uma entrada para funcionários nos fundos. Talvez
a entrada por ali não necessitasse de senha.

Bateu à porta e novamente uma janelinha foi aberta.

‒ Senha? ‒ O homem disse.

‒ Ah não, isso de novo não! ‒ Ela não conseguiu evitar


revirar os olhos ao se ver decepcionada. ‒ O que eu preciso
fazer para falar com o Lorde?

‒ Ter uma senha. ‒ O porteiro lhe respondeu.

‒ Pelo menos seu vocabulário é melhor que o do outro. Ele


só sabia repetir a palavra
senha. ‒ Phillipa sorriu, apesar de ainda estar desgostosa
com a situação.

A portinha foi fechada e Phillipa suspirou. É, seu plano


falhara antes mesmo de poder dar certo. Só que não estava
pronta para desistir. Procuraria a senha correta no escritório
de seu irmão e então voltaria ali para falar com o Lorde.

Não voltaria para Arondalle sem antes garantir a presença


de Henry.

Decidida a adiar o plano e completamente frustrada, Phillipa


decidiu voltar para a rua de cima, que era mais
movimentada. Com sorte, logo passaria uma carruagem de
aluguel e ela poderia voltar para casa.

Antes que desse um passo sequer, uma carruagem parou


em frente a ela e Henry desceu junto com duas crianças e
uma mulher desacordada nos braços.

Henry estava irado. Não admitia que suas meninas fossem


agredidas. Mesmo que a agressão não tivesse acontecido em
seu Clube, mesmo que o agressor em questão fosse o
marido dela. Um homem que batia em uma mulher não
passava de um covarde para ele e merecia ser tratado como
tal.

Sarah Jenks era uma de suas funcionárias. Ela trabalhava


para ele há três anos servindo as bebidas no Clube. Nunca
faltou um dia de trabalho e já era a terceira noite
consecutiva que ela faltava. Estava preocupado que Sarah
estivesse doente, mas descobriu através das outras meninas
que o problema era maior que esse.

‒ Mande chamar uma carruagem para mim. ‒ ele ordenou


para um dos seus guardas. ‒

Separe um dos quartos para ela e as crianças essa noite.


Amanhã arrumaremos outras acomodações.

Passava das onze da noite quando saiu na carruagem para o


endereço que tinha em seus arquivos. Era um bairro pobre e
perigoso de Londres, mas ele não se intimidou.

Assim que chegou ao lugar quase não acreditou que ela


morasse ali com os dois filhos pequenos. A minúscula casa
parecia que desabaria a qualquer momento. O esgoto
passava na frente, deixando um mal cheiro horrível e a porta
era de madeira quebrada em alguns lugares.

Henry bateu levemente com medo de quebrar a porta, que


parecia tão frágil quanto o resto da casa. Esperou e quando
ninguém foi atendê-lo, bateu novamente.

Uma cabeça emaranhada de cabelos apareceu por uma


fresta da porta. Ele não soube dizer se era menino ou
menina, mas a criança estava visivelmente em um estado
lastimável e devia ter nove ou dez anos.

‒ Posso ajudar, senhor? ‒ a criança perguntou e pela voz ele


supôs que fosse menina.

‒ Sua mãe está? ‒ Henry perguntou.

‒ Papai disse que ela não deve receber visitas. ‒ a garotinha


disse.

‒ E onde está seu papai? – Henry perguntou mal contendo o


ódio.
‒ No bar, senhor. ‒ a pequena respondeu.

‒ Como é seu nome, criança? ‒ Henry perguntou. Não sairia


de lá sem levar Sarah e seus filhos de lá.

‒ Eu me chamo Georgia, senhor.

Ela era uma menina, como ele tinha suposto.

‒ Escute, Georgia, eu sou um amigo da sua mamãe e as


amigas dela disseram que ela não está bem, então eu vim
ajudar. Por que não chama sua mamãe? ‒ ele pediu torcendo
que a criança permitisse que ele entrasse.

‒ Gigi, quem está aí? ‒ uma voz perguntou de dentro da


casa.

‒ Um amigo da mamãe ‒ ela gritou a resposta para que


quem estivesse lá dentro pudesse ouvir.

Henry ouviu passos e logo outra criança estava ali. Esse


parecia ser mais velho e era claramente um menino.

‒ Quem é o senhor? ‒ o garoto inquiriu.

‒ Eu sou um amigo da sua mãe, meu nome é Henry e eu vim


ajudá-la.

‒ De onde conhece minha mãe? ‒ ele perguntou cerrando os


olhos.

‒ Trabalhamos no mesmo lugar.

O menino o perscrutou com o olhar, ele estava claramente


decidindo se deixaria ou não ele entrar. Henry se preparava
para tentar convencê-lo a deixá-lo entrar, quando ele se
afastou e abriu a porta.
‒ Ela está no quarto. ‒ o garoto disse não se importando em
indicar com a mão onde ficava o quarto, uma vez que só
tinha um na casa.

Henry respirou fundo e entrou onde Sarah devia estar. A


encontrou deitada em uma cama de palha, com o rosto
inchado e dormindo profundamente.

‒ Foi seu pai, não foi? ‒ Henry perguntou sentindo o ódio lhe
percorrer as veias.

‒ Sim.

‒ O quão mal ela está? ‒ ele perguntou não sabendo


exatamente se poderia movê-la sem aumentar seus
machucados.

‒ Ele a bateu ontem e hoje de novo quando ela não deixou


que batesse em mim. Mamãe disse que ia embora se papai
tocasse em mim ou na Gigi, foi quando ele bateu tanto nela
que ficou assim. Eu e a Gigi a trouxemos para o quarto. ‒ o
garoto respondeu visivelmente perturbado, suas mãos
estavam em punhos e ele tinha o rosto contorcido de raiva,
uma raiva muito profunda para um garoto tão jovem.

‒ Não acontecerá de novo. ‒ Henry sibilou entre os dentes. ‒


Pegue suas coisas e as coisas de sua irmã e de sua mãe. Tem
uma carruagem do lado de fora, levarei sua mãe pra lá e
vocês irão comigo. Seu pai não vai mais fazer isso.

O garoto o olhou desconfiado, mas a menina o olhava com


admiração.

‒ Você vai levar a gente embora? ‒ ela perguntou.

‒ Sim, vocês não vão mais ficar aqui e nem a mãe de vocês,
eu vou cuidar de vocês a
partir de agora. ‒ Henry falou convicto, olhando nos olhos do
filho mais velho de Sarah, que assentiu com a cabeça e
começou a arrumar as poucas coisas que tinham.

Henry pegou Sarah no colo e a levou para a carruagem.


Assim que as crianças entraram, ele deu duas pancadas no
teto da carruagem e esta voltou para o clube.

Durante o trajeto, observou os hematomas e cortes no rosto


e também, provavelmente, por todo corpo da mulher. Um de
seus olhos estava inchado, seus lábios e uma de suas
bochechas estavam cortados e lacerados. O pescoço tinha
marcas de estrangulamento.

Ver aquilo só o deixava com vontade de matar quem fez


aquilo, mas por hora não poderia fazer nada, precisava
cuidar dos meninos e de sua funcionária.

Quando a carruagem chegou ao Clube, já avançava para


além de meia-noite. Ele abriu a porta e permitiu que as
crianças descessem primeiro, logo em seguida, com Sarah
no colo, saltou.

Uma mulher observava a cena com evidente surpresa.

‒ Henry? ‒ escutou-a pronunciar e, ao ouvir a voz dela, ele


praguejou.

CAPÍTULO 2 – PROBLEMAS
‒ Maldição! O que faz aqui, Phillipa?

‒ Eu vim ver você. ‒ ela respondeu olhando para ele e para


os meninos. ‒ O que aconteceu?

‒ Não é da sua conta. Entre nessa carruagem e volte


imediatamente para casa. Nunca deveria ter saído de lá. ‒
ele disse seco.

‒ Você não pode estar falando sério! Nem ouviu o que tenho
a lhe dizer. ‒ ela teimou.

‒ Bruno! ‒ Henry gritou alto o suficiente para que seu


porteiro ouvisse, ignorando a mulher que o olhava resoluta.

O porteiro rapidamente abriu a porta ao escutar a voz de seu


patrão.

‒ Sarah! ‒ Bruno se assustou quando viu a mulher nos


braços de Henry e as duas crianças escondidas atrás de seu
patrão.

‒ Pegue-a aqui e a leve para o quarto que pedi para o Tim


reservar, ‒ ele falou para o porteiro e em seguida fitou o
segundo rapaz que cuidava da porta e levava os recados. ‒
Jimmy, peça para a Martha cuidar dela e a Beatrice para
cuidar das crianças, eles estão precisando de comida. Eu
voltarei logo.

Bruno pegou Sarah nos braços como Henry ordenou e as


crianças seguiram Jimmy em direção à cozinha. Henry se
virou para a mulher que ainda o aguardava na porta.

Não poderia ficar conversando com ela ali, se alguém a


visse, Phillip mandaria pedir as bolas dele em uma bandeja
de prata.
‒ O que diabos está fazendo em um clube de cavalheiros?
Quer manchar sua reputação antes mesmo de ter uma? ‒
ele perguntou irritado com a estupidez dela.

Phillipa se retraiu com a ferocidade e a irritação na voz dele.


Aquele não parecia o Henry que conhecera na infância. O
rosto era parecido, estava mais velho e os traços mais
acentuados, seu queixo estava escondido por uma barba
bem feita, os cabelos eram negros e lisos jogados para um
dos lados, o que dava um charme meio bagunçado. Ele
estava ainda mais lindo do que era quando jovem. Seu corpo
tinha crescido e tomado proporções adultas, ele não era
mais o jovem franzino que cuidara dela, mas o que mais a
surpreendeu foram os olhos: tinham um brilho cruel e não
eram parecidos com os olhos castanhos divertidos do garoto
do qual se lembrava.

‒ Entre já nessa carruagem. ‒ ele ordenou.

Phillipa o fitou incrédula e furiosa. E ao ver que ela não saia


do lugar Henry se irritou.

‒ Não tem juízo, mulher? Entre já nessa carruagem! Se for


vista aqui, terá um escândalo na sua cabeça.

‒ Eu sei que posso manchar minha reputação, é para


impedir isso que serve a capa.

‒ Ainda assim é perigoso uma mulher andar à noite por


Londres, algo de ruim poderia ter lhe acontecido.

‒ Mas não aconteceu. ‒ Phillipa revirou os olhos.

‒ Mas poderia.

‒ Mas não aconteceu. ‒ ela falou pausadamente cada


palavra.
‒ Vá para casa, Phillipa, não a quero aqui. Um clube não é
lugar para você. ‒ Henry cruzou os braços demonstrando
que aquela conversa tinha encerrado.

Phillipa ficou um tempo em silêncio, analisando aquele


homem tão diferente do que tinha em sua mente e em seu
coração.

‒ Você mudou… ‒ ela sussurrou. ‒ Você não é mais o Henry


que conheci.

‒ Ainda bem que percebeu, quem sabe assim para de


mandar aqueles estúpidos convites e eu paro de inventar
desculpas para não ir. ‒ Henry respondeu e Phillipa deu um
passo para trás.

Lá no fundo, ela sabia que este poderia ser o motivo de


tanta recusa, mas mesmo assim não estava preparada para
a frieza com que ele a disse.

Aquilo a irritou. Ela passou todos esses anos se importando


com ele. Havia se preocupado quando soube que sua tia
tinha expulsado Henry de casa antes mesmo do pai dele
esfriar no caixão. Tinha rezado todas as noites para que
ficasse bem e tinha sonhado com ele várias e várias vezes. E
agora, que Henry estava ali na sua frente, ela queria nunca
ter saído de casa.

‒ Podia ter dito logo que não queria ir, em vez de inventar
desculpas, assim eu não perdia meu tempo com você!
Pensei que ainda fosse meu amigo, mas vejo que talvez
nunca tenha sido. ‒

disse virando as costas para ele e caminhando em direção à


rua onde ela tinha descido da carruagem.
‒ Onde pensa que vai? ‒ ele perguntou ainda mais irritado
pelas palavras dela.

‒ Não é da sua conta. ‒ ela respondeu sem olhar para trás,


nem interromper seus passos para longe dele.

‒ Phillipa, não seja uma criança mimada, dê já meia volta e


entre nessa carruagem, ela vai deixar você em casa.

‒ Não sou responsabilidade sua, então não precisa se


preocupar comigo.

‒ Não estou preocupado com você – ele mentiu ‒ , mas se


alguma coisa acontecer com você, seu irmão descontará em
mim.

Henry deu alguns passos largos se colocou na frente dela,


impedindo que Phillipa continuasse andando para onde
queria

‒ Saia da minha frente. ‒ Ela tentou passar por seu primo,


mas ele não permitiu.

‒ Não me obrigue a levá-la à força para a carruagem. ‒


Henry ameaçou perdendo a paciência.

‒ Quero ver tentar. ‒ Desafiou-o.

‒ Você quem pediu. ‒ ele disse ao mesmo tempo que a


segurava pelo pulso e a arrastava em direção à carruagem.

Phillipa não esperava que ele a arrastasse para a carruagem


e se enfureceu.

‒ Seu animal, me solte! ‒ ela praguejou tentando se soltar


de seu agarro.
‒ Pare de ser cabeça-dura e entre nessa carruagem e eu
prometo que a soltarei. — ele

parou de puxá-la para olhá-la nos olhos e viu como ela


estava furiosa.

Phillipa puxou seu braço bruscamente e se virou para ir para


a carruagem, mas não tinha percebido que Henry estava
pisando na barra de seu vestido, e ao dar um passo para
longe dele, a barra se rasgou, expondo seus tornozelos.

Ao ver o estrago, ela seguiu furiosa para a carruagem, queria


mandá-lo mil vezes para o inferno! Naquele momento,
odiava-o.

Phillipa fechou a porta com exagerada força e verificou o


estrago em seu vestido. Tomou o pedaço rasgado em mãos e
isso ergueu seu vestido até a altura do joelho.

— Que lástima, como vou esconder isso da Sra. Hugges? –


Ela murmurou chateada. —

Vou ter que encontrar uma desculpa muito boa.

Antes que pudesse reclamar, Henry entrou na carruagem se


sentando à sua frente.

— O que diabos está fazendo? — ela perguntou entredentes,


esquecendo-se que tinha o vestido levantado até os joelhos.

— Me certificando que irá para casa. — respondeu olhando


para as pernas dela que estavam à mostra.

Phillipa usava meias de seda e aquilo chamou a atenção de


Henry. Apesar de ver mulheres que mostravam muito mais
que apenas meias de seda todos os dias, não conseguiu
deixar de desejar tocar aquela parte do corpo dela.
‒ Admirando o estrago que fez? ― Phillipa direcionou para
ele sua irritação ao mesmo tempo que abaixava as vestes
para minimizar a exposição de suas pernas.

‒ Se tivesse entrado por conta própria na carruagem, eu não


teria feito isso. ‒ Henry cruzou os braços e se recostou na
carruagem.

‒ Eu não teria recusado a carruagem se você não fosse tão


estúpido, mal educado e irritante. ‒ Phillipa alfinetou.

‒ Se você não tivesse vindo, eu não teria que ser o patife


que me acusa.

‒ Se tivesse aceitado meus convites, ou, ao menos, tivesse


sido sincero sobre não querer aceitá-los, eu não teria que
sair de casa no meio da noite para vir te entregar
pessoalmente o convite. ‒ Phillipa confessou e logo
percebeu que falou demais, levada pela raiva que sentia
dele.

‒ Veio aqui a noite correndo o risco de manchar a sua


reputação apenas para me entregar o maldito convite de seu
debute? ‒ Henry perguntou surpreso e irritado por ela ter
corrido um enorme risco apenas para convidá-lo.

‒ Não importa, sinta-se desconvidado. ‒ bufou irritada,


cruzando novamente os braços e desviando o olhar para a
janela.

‒ Eu não iria de qualquer forma. ‒ ele deu de ombros e viu


os olhos dela marejarem.

Aquilo lhe deu um aperto no peito que foi ignorado.

‒ Ótimo. ‒ ela respondeu segurando as lágrimas e seguiram


o resto do caminho em silêncio
Assim que a carruagem parou, Phillipa desceu pisando duro.
Se antes tinha uma enorme

admiração por aquele homem; hoje, queria-o o mais longe


possível.

Henry a observou ir embora. Era melhor assim. Precisava


voltar para seu Clube e ver como Sarah estava. Não podia
ficar se distraindo com uma garota mimada. A carruagem o
levou de volta e ele decidiu esquecer os acontecimentos
daquela noite.

Assim que entrou no Clube, foi direto para o quarto que tinha
reservado para Sarah. Ela estava acordada e as crianças
estavam ao seu lado na cama, ainda não tinham tomado um
banho, mas pareciam mais animadas. Sair daquele lugar
deixaria qualquer um feliz. Na manhã seguinte, mandaria
algumas mulheres arrumar algumas roupas e veria um lugar
para ela morar com as crianças.

‒ Vejo que está acordada. ‒ Henry falou para chamar a


atenção dela, já que a mulher estava absorta em
pensamentos.

Assim que o viu, Sarah baixou os olhos, envergonhada por


sua situação.

‒ Não faça isso. ‒ Henry ordenou ficando furioso ao rever os


ferimentos dela. A mulher o olhou confusa com a ordem e
ele explicou. ‒ Quem tem que se envergonhar é aquele
verme que lhe agrediu.
‒ Obrigada por ter me ajudado.

‒ Não tem o que agradecer, eu cuido de meus funcionários.


Vocês são minha família.

Ele viu os olhos da mulher se encherem de lágrimas, e Henry


já tinha tido sua cota de mulheres chorando por aquela
noite. Além disso, nunca sabia o que fazer diante daquilo,
então preferiu se retirar por hora.

‒ Agora que está bem, acredito que posso voltar a cuidar do


Rogue’s. Apenas se preocupe apenas em ficar bem. Aquele
crápula não vai mais lhe tocar.

Ela assentiu com a cabeça e Henry deixou a sala.

O cassino era dividido em quatro alas, cada ala tinha um


homem responsável pela segurança. Luxúria era a ala onde
alguns homens poderiam usufruir dos prazeres da carne o
quanto quisessem. Avareza era a ala dos jogos e apostas. Ira
era onde haviam as lutas livres, sempre tinha alguém
querendo apostar em um novo campeão. O ganhador levava
tudo. E, por fim, a ala da Gula era onde as bebidas e
comidas eram servidas e os homens poderiam ficar à
vontade para conversar nas mesas.

Claro que as alas acabavam se misturando, uma vez que


eram servidas bebidas na Avareza e haviam apostas na Ira,
mas a divisão deixava as coisas mais organizadas e permitia
que tudo funcionasse ao mesmo tempo.

No caminho até a porta que separava a ala dos empregados


da ala da Gula, Henry colocou a máscara que lhe dava a
identidade de Lorde. Sem ela era apenas Henry, o bastardo.

Assim que atravessou a porta, um de seus homens foi logo


se aproximando. Ele reconheceu
facilmente o ruivo enorme, apesar da máscara negra em seu
rosto. Dmitri era o seu braço direito ali dentro, era ele quem
cuidava de tudo quando Henry precisava se ausentar e
sempre lhe fazia um relatório quando retornava.

Dmitri era russo, e seu tamanho era intimidador. Acrescido a


isso, possuía metade do corpo repleto de cicatrizes que fazia
os homens o temerem instintivamente. Para completar,
apesar da cor verde, seus olhos eram sempre severos,
resultado da vida difícil que levou.

‒ Lorde, tivemos uma pequena confusão na Avareza. ‒


Dmitri lhe informou com sua voz grave, repassando-lhe o
relatório até aquele momento. ‒ Tivemos novas apostas no
livro e tem dois jogadores na Avareza querendo créditos
extras, eles já não têm o que apostar. Um deles é Catterfield
e o outro é Clawboot.

‒ Certo, libere 50 créditos para Clawboot e dê mais 20 à


Catterfield e depois mande-o para casa. Se ele insistir
ameace-o de suspensão; e eu quero o livro para validar as
apostas. O que aconteceu na Avareza?

‒ Jogo de cartas. Novamente, tentaram agredir a Copas. Já é


a terceira vez este mês. Esses filhos de uma cadela não
sabem perder para uma mulher. ‒ Dmitri resmungou
entredentes.

‒ Ela se feriu? ‒ Henry indagou erguendo uma sobrancelha.

‒ Não senhor. O Mikael estava lá e impediu que Glaswood a


atacasse.

‒ Onde ele está? ‒ Henry quis saber.

‒ Na Ira, o Mikael está lutando com ele, apesar dos protestos


do covarde em não querer participar da luta.
‒ Certo. Quantas faltas ele já tem?

‒ Duas com essa. A anterior por tentar forçar uma Dama de


Branco a ir com ele para a Luxúria.

‒ Certo. Mande o Michael caprichar. Vamos ver se ele gosta


de ser o agredido da história.

Depois disso dê uma suspensão de uma semana e avise que


a próxima falta causará a expulsão dele. Veremos se assim
Glaswood se comporta.

Dmitri assentiu com a cabeça e se afastou para fazer o que o


Lorde ordenara.

O Lorde seguiu para sua sala, gostava de ver o andamento


das coisas por si mesmo. Ele subiu para um andar exclusivo
onde poderia observar todos os membros que estavam em
seu Clube naquela noite, em todas as alas, e assim poderia
resolver qualquer problema que surgisse.

Sua sala era fechada, de uso exclusivo, portanto, apenas ele


tinha a chave. Isso garantia que Henry soubesse de tudo que
estava acontecendo em todas as alas, sem precisar ficar
transitando.

Ele observou a Avareza: os homens jogavam animados, as


Damas de Vermelho passeavam entre eles distribuindo
sorrisos e olhares sedutores, as de Branco passavam
servindo as bebidas e as de Preto eram responsáveis pelos
jogos.

Os quartos da Luxúria estavam parcialmente ocupados, dos


sete disponíveis apenas três estavam livres. Ele podia ver
tudo que acontecia dentro dos quartos, e suas funcionárias
sabiam disso, de modo que decidiam se queriam que o
patrão as visse ou não. Para impedir o acompanhamento,
bastava apenas que fechassem as cortinas atrás da cama,
isso lhes daria privacidade, mas, por saberem que estava
observando, muitas faziam questão que Lorde

assistisse. Não era incomum encontrar uma de suas Damas


de Vermelho tentando seduzi-lo.

Apesar das cenas serem excitantes, eram tão comuns que já


era difícil Henry se interessar pelos quartos da Luxúria,
mantinha a observação para a proteção de suas meninas.
Ele não permitia nenhum tipo de mau trato com suas
funcionárias. Apenas naqueles quartos, as máscaras podiam
ser retiradas sem resultar em expulsão imediata. E as
meninas poderiam se recusar a fazê-

lo caso quisessem manter o anonimato.

Ele passeou os olhos pela Gula e ela estava calma, uma vez
que a maior concentração estava na Ira. A luta estava ainda
acontecendo, apesar de Glaswood tentar fugir do ringue. O

Lorde sabia que aquela luta já estava ganha, Mikael era um


de seus seguranças mais fortes. Tinha a pele escura e era
muito maior que a maioria dos homens, até mesmo maior
que Dmitri, mas apesar do corpo e da força, Mikael tinha
sempre um sorriso amigável no rosto. Mesmo agora,
enquanto desferia um soco no abdômen do outro homem,
ele sorria como se não estivesse fazendo nada de mais.

As regras do ringue eram claras: valia tudo do pescoço para


baixo. Henry não permitia que os homens que lutavam
saíssem de seu Clube com o rosto marcado, e como todos
usavam máscaras, um soco no rosto poderia mostrar
acidentalmente a identidade do sócio quando a proteção
caísse, pela força do golpe.
Mesmo que todos estivessem mascarados, ele e seus
seguranças sabiam quem era cada homem por baixo da
máscara. Cada membro sempre usava a mesma máscara
desde a primeira noite e a usaria até que fosse oficialmente
desligado do Clube, que aconteceria apenas em caso de
expulsão ou morte. Em caso de desistência do membro, a
máscara ficava guardada até que o desligamento
acontecesse.

O número de cavalheiros ali dentro era limitado, o que fazia


muitos nobres não-sócios formarem uma fila gigantesca à
espera de uma nova vaga.

Batidas em sua porta interromperam suas observações.


Dmitri o esperava do lado de fora para validar as apostas.
Ele rapidamente validou cada uma delas, indicando que
eram justas, e Dmitri desapareceu na multidão junto com o
livro.

Como não tinha mais nada pra fazer além de observar,


Henry decidiu que podia se dar ao luxo de tomar uma
bebida. Era o mínimo que merecia depois de uma noite tão
conturbada.

CAPÍTULO 3 – ENCONTRO NA FLORESTA

Depois do café da manhã, Lady Norfall e sua filha, Lady


Phillipa, partiram de Londres.
Dois dias haviam se passado desde que a moça encontrara
Henry. A cena do encontro dos dois continuava ecoando em
sua mente.

Sempre imaginara que o homem seria grato a ela por não ter
esquecido que ele existia, ao contrário do resto da família,
que insistia em ignorá-lo desde a morte do Conde de Warrex.
Era quase proibido falar o nome do filho bastardo de
Frederick, a mancha na imaculada família Howland.

Phillipa tinha se desiludido com o homem rude e malvado


que seu primo se tornara.

Antigamente, ele era gentil, cavalheiro e divertido. Sempre


fazia o possível para fazê-la rir e a tratava com carinho,
diferente do homem que viu a duas noites atrás: um homem
frio e arrogante.

Estava na hora de esquecê-lo da forma que ele queria. ‒


Phillipa pensou decidida. Não desperdiçaria mais seu
precioso tempo pensando em Henry, ele não merecia.

A carruagem se distanciava ainda mais de Londres,


Arondalle era o destino. Phillipa estava silenciosa e distraída,
o único movimento que fazia era o de acariciar Henrieta, que
estava deitada em seu colo. Sua mãe continuava falando e
reclamando da falta de resposta de sua filha.

— Phillipa, é falta de cortesia, educação e um insulto ignorar


uma pessoa com o título maior que o seu, então pelo menos
finja que está ouvindo! — Lady Norfall ralhou. — Phillipa!

— Desculpe, mamãe, o que disse? — Phillipa piscou sem ter


realmente ouvido nada.

— Escuta aqui, mocinha, acho bom que não torne disso um


hábito. Não vou permitir que estrague o futuro que planejei
para você. Eu mandei uma carta para a sua tia e ela
concordou em lhe acompanhar em sua apresentação à
rainha na abertura da temporada. Você deve se comportar
divinamente. A Sra. Hugges repassará com você todas as
aulas de etiqueta, então nada de passeios a cavalo, ou fugir
de seus deveres, mocinha.

— Sim, senhora. — Phillipa respondeu, tornando a olhar pela


janela, e não viu o rosto surpreso de sua mãe ao receber
uma resposta tão complacente da filha.

Algumas horas depois, a carruagem parou em frente ao


castelo. Phillipa respirou fundo e foi direto para o seu quarto.
Queria um banho e um descanso depois de horas sentada no
veículo que a trouxera ali.

Soltou Henrieta, que rapidamente correu para dentro da


casa, perdendo-se de vista.

Quando estavam em Arondalle, a gata passava os dias


explorando o lugar e só aparecia à noite, quando decidia
dormir na almofada reservada para ela no quarto de Phillipa.

A jovem Lady seguiu para seu quarto e enquanto uma de


suas aias tirava sua roupa, a outra enchia a tina com água
quente e perfumada.

Depois do banho, ela se aconchegou na cama e adormeceu


facilmente por causa do cansaço da viagem.

Já era a manhã do outro dia quando Phillipa acordou. O café,


em breve, seria servido.
Phillipa se arrumou com a ajuda de uma criada e desceu
para tomar seu café. Não esperava ter dormido tanto.

Assim que desceu, encontrou sua mãe e seu irmão à mesa.


Ela os saudou e em seguida se juntou a eles. Seu debute
aconteceria em duas semanas, uma vez que a temporada
havia começado e, apesar de esse ser o sonho de toda
jovem, não era o dela. Na verdade, Phillipa acreditava que o
debute nada mais era que uma vitrine para mostrar que ela
também estava à venda para um possível casamento. A
última coisa que Phillipa queria era se casar e se ver
controlada por um homem que mal conhecia.

‒ O dote de Phillipa será um dos maiores de toda Inglaterra e


ela será uma das debutantes mais belas! A combinação
perfeita para um debute. Acredito que antes mesmo que
termine a temporada, ela já terá um pedido de casamento! ‒
a Duquesa comentava no café da manhã, animada, não
percebendo a apatia da filha em relação ao tema.

Phillipa continuou calada e de cabeça baixa comendo seu


café da manhã. Ultimamente, não estava disposta a replicar
as ordens de sua mãe, fazia dois dias que nem sequer isso
tinha vontade de fazer. O que até para ela era algo estranho.

‒ Phillipa, está me ouvindo? ‒ a Duquesa chamou sua


atenção e Phillipa tirou os olhos do prato fitando sua mãe.

‒ Perdão Mamãe, o que disse? ‒ Phillipa respondeu com


fingida inocência, dessa vez tinha escutado tudo, mas
quando a mãe dela entrava naquele assunto, preferia fazê-la
acreditar que não lhe dava ouvidos.

‒ Espero que durante o baile preste atenção em quem


conversar com você, sabe o quanto é rude ignorar dessa
forma. ‒ A Duquesa fechou o semblante carregando sua
frase de seriedade.
Phillipa voltou a olhar para seu prato. Teria que suportar
homens chatos e velhos lhe tirando para dançar e não
poderia recusar nenhuma dança. Seria uma tortura. Ela,
então, olhou para Phillip. Seu irmão poderia lhe ajudar, mas
como?

Uma ideia surgiu em sua mente. Era perfeito! Além de se


ajudar, ainda serviria para aproximar ainda mais o irmão da
sua mais nova amiga, a costureira Madame Charlotte.

A madame era uma jovem, bela e talentosa costureira que ‒


Phillipa tinha quase certeza

‒ tinha conseguido chamar a atenção do seu irmão. Desde


que os viu dançando juntos no casamento de Lady Elizabeth
Fernoy, atual Lady Dorset, colocou na cabeça que eles eram
perfeitos um para o outro.

E que melhor forma de juntar os dois que em um baile e


ainda garantir que a mãe se ocupasse com outra coisa além
dela? A ideia era perfeita!

‒ Phill, a Charlotte vem? ‒ a jovem perguntou com um


sorriso divertido que se alargou quando o Duque a olhou
com um misto de surpresa e cautela.

‒ A modista? ‒ a Duquesa perguntou olhando para os dois,


desconfiada. ‒ Por que a convidaríamos?

Phillip fitou a irmã em advertência e Phillipa riu por dentro.


Ele estava tentando esconder algo de sua mãe, tinha certeza
disso! Logo procuraria saber o que estava acontecendo de
verdade entre eles.

A última vez que viu os dois juntos se passou quando a


modista fora atacada e o Duque salvou, então ele a tinha
levado para a casa deles em Londres e cuidado dela. Phillipa
não tinha conseguido dormir, e como estava debruçada
sobre a janela, viu quando a carruagem chegou com os dois.
Phillipa buscou confirmar o que tinha visto no casamento, se
realmente tinha um sentimento entre eles e ficou feliz ao
perceber que sim.

Seu irmão merecia ser feliz. Por isso insistiu que a madame
fosse convidada. Para tal, disse a primeira desculpa que veio
a sua mente:

‒ Ora, se o vestido der algum problema, rasgar ou algo


assim, não quero estragar a peça colocando outra costureira
para consertá-lo. ‒ Phillipa disse com naturalidade e piscou
para Phillip, que respirou aliviado.

‒ Se acontecer algo assim, o que eu duvido muito, já que


todos estão em perfeito estado, você usa um dos outros e
mandamos o com problema para a madame consertar. ‒ a
Duquesa respondeu como se fosse óbvio, e na verdade o
era. Phillipa teria que encontrar outra desculpa.

‒ Mas e se acontecer durante o baile? Se alguém, sem


querer, pisar em cima quando eu estiver sentada e, ao
levantar, ele se rasgar. Todos os nobres falarão disso e eu
não terei coragem de aparecer mais em nenhum baile. ‒
Phillipa foi dramática de propósito ao tentar convencer a
mãe.

‒ Isso não acontecerá. Então não tem porque se preocupar. ‒


O desdém da Duquesa a frustrou, sua mãe tinha que
implicar com isso justo agora?

‒ Mas eu gosto dela, quero que ela esteja aqui. Por favor,
mamãe eu prometo me comportar. ‒ Phillipa implorou
falando meia verdade.
‒ Eu não vejo em que a presença dela em um evento como
esse traria algum benefício para nós. E a propósito, por que
tanto interesse nela? ‒ A Duquesa analisou bem Phillipa.

Phillipa nunca demonstrou tanto interesse em uma pessoa


em específico, além das inúmeras vezes que insistiu em
convidar o primo bastardo, mas depois de não conseguir
encontrar motivos para o suposto interesse, ela decidiu que
realmente poderia ser apreço pela costureira.

Afinal, em sua defesa, Phillipa sempre fez amizades fora de


seu círculo social, algo que a Duquesa acreditava ser um
desperdício de tempo.

‒ Mamãe, como o debute é de Phillipa acredito que ela possa


ter a própria lista de convidados. Ela também tem suas
amigas a quem, tenho certeza, gostaria de convidar. ‒ Phillip
interveio. Ele era o chefe daquela família e tinha a última
palavra. Então Phillipa soube que tinha conseguido o que
queria.

‒ Tudo bem, desde que ela não falte a nenhuma lição e não
dê nenhum trabalho a Sra.

Hugges, poderá mandar o convite para quem quiser. ‒ a


Duquesa disse, por fim, cedendo. ―

Suas lições começarão hoje depois do café.

Phillipa passou duas horas com a Sra. Hugges, repassando


todas as regras de etiqueta e as regras de boa educação.
Estudou um pouco de latim e leu em voz alta alguns trechos
em francês para treinar a pronúncia.

Quando finalmente a Sra. Hugges a dispensou, Phillipa


decidiu ir para o seu quarto, mas ao passar pelo escritório do
irmão, percebeu que a porta estava entreaberta e pela fresta
o viu olhando as coisas para o debute. Decidiu conferir se ele
iria realmente convidar Charlotte.

Phillipa não gostava de ser o centro das atenções, ainda


mais o centro das atenções da Duquesa, que no dia do
debute, com certeza apresentaria a filha para todos os
homens solteiros, ricos e nobres que comparecessem ao
evento.

Por esse motivo – garantir alguns momentos de distração –


Phillipa entrou no escritório do seu irmão. Ele parecia
aborrecido e ela não o culpava, organizar esses eventos
sociais devia mesmo aborrecer.

‒ O que quer, Lipa? ‒ o Duque lhe perguntou quando


percebeu sua presença. Ele sempre a chamava pelo apelido
de infância quando estavam sozinhos.

‒ Você vai convidar a Charlotte, não vai? ‒ Phillipa


perguntou, expondo sua preocupação sem preâmbulos, ao
mesmo tempo em que se sentava na cadeira em frente a
ele.

‒ Claro. Não foi o que combinamos? Por falar na Charlotte, o


que se passa nessa sua cabecinha petulante para querer
tanto convidá-la?

‒ Eu gosto dela, não vejo problema em querer convidar uma


amiga. ‒ Phillipa tentou esconder sua verdadeira intenção.
Não gostaria que ele pensasse que era egoísta ou que não
se importava com tudo que eles estavam fazendo para que
ela conseguisse um bom casamento, apenas queria um
pouco de paz.

‒ Sei… Uma amiga. ‒ O Duque ergueu uma sobrancelha


loura em deboche e ela percebeu que ele já sabia o real
motivo.

‒ Sim, e sabe o que eu acho? Você deveria dançar uma valsa


com ela, quando fez isso no casamento de Lady Dorset,
todos disseram que vocês dançaram muito bem juntos. Ela
parece ser uma ótima dançarina. ‒ Phillipa tentou soar o
mais indiferente possível, mas sabia que Phillip era
inteligente demais para não perceber o pedido por trás da
sugestão.

‒ Phillipa, você sabe que não me engana. Está querendo


desviar o foco da mamãe de cima de você durante o baile,
não é?

Por que ele tinha mesmo que ser tão observador? – Phillipa
pensou abaixando a cabeça envergonhada por ele ter
descoberto seu plano tão facilmente.

Ela sabia, no entanto, que sempre poderia contar com seu


irmão. Desde criança apesar da diferença de idade entre
eles, já que ele tinha vinte e cinco e ela tinha dezoito, Phillip
sempre a protegeu e ficou ao lado dela quando ela mais
precisava. Seu irmão era o único que entendia a sua falta de
entusiasmo no que se tratava da sociedade.

Ela se lembrava perfeitamente quando tinha começado a


perceber a hipocrisia da

sociedade. A sua primeira governanta, após as lições de


francês, sempre falava para ela sobre a diferença de
tratamento entre homens e mulheres. Claro que a Srta.
Alford não falava abertamente sobre suas crenças a respeito
da alta sociedade, entretanto, quando estava a sós com
Phillipa, ela sempre lhe dava uma ou duas lições a respeito
do que a esperaria quando debutasse. Em uma dessas
lições, a sua governanta havia dito que as temporadas eram
como leilões, onde as moças seriam expostas e os homens
avaliariam cada uma de acordo com o que estas poderiam
oferecer, seja em beleza, nobreza, ou em dinheiro. Aquelas
palavras tinham feito Phillipa refletir sobre o seu significado
perante a sociedade e desde então, ela tinha notado a
hipocrisia do mundo em que estava inserida.

Quando a Duquesa descobriu as lições “inadequadas” que


Phillipa estava recebendo, despediu a governanta e
contratou outra para tentar tirar as ideias rebeldes da filha,
mas para a tristeza da Duquesa, Phillipa não deixou de lado
os ensinamentos da Srta Alford.

Principalmente depois de ouvir as lamentações de sua tia, a


Condessa de Warrex, a respeito dos casamentos que estava
tentando arranjar para as primas, que, apesar de terem um
dote razoável, ainda não tinham conseguido nenhuma
proposta adequada, por isso a Condessa estava enumerando
os pares que considerava bom para suas filhas e esperava
que elas agarrassem algum deles.

‒ Não é você que vai ser jogado para cima de todos os


nobres solteiros e ricos. Eu não gosto de ser tratada como
uma mercadoria que será vendida a quem der o lance mais
alto. Pelo menos com Charlotte aqui, e caso você a tire para
dançar, mamãe vai me deixar em paz por alguns momentos
e todo esse debute será mais suportável. Se eu pudesse não
tê-lo, eu escolheria essa opção, mas não posso.

‒ Sabe que vai ter que encontrar um marido nessa


temporada, não sabe? ‒ Phillip perguntou e ela se
empertigou, estava tentando não pensar nisso.
‒ Eu sei. ‒ Phillipa respirou audivelmente e em pensamento
completou ‒ A mamãe não me deixa esquecer da minha
única missão nessa vida.

A moça não se importaria nenhum pouco em adiar esse


momento tão esperado pela Duquesa, mas sabia que se não
encontrasse um marido, Lady Norfall tornaria a vida dela
ainda mais insuportável. Não tinha outra escolha, a não ser
aceitar um noivado naquela temporada.

A não ser que Phillip interferisse. O pensamento trouxe


esperanças para Phillipa, que recorreu ao único que ainda
poderia ajudá-la a não depender puramente das escolhas da
mãe.

‒ Por favor, eu imploro, me prometa que não dará a minha


mão para alguém sem que eu antes tenha concordado com
isso. ‒ Phillipa pediu. Sabia que no fim tudo dependeria do
irmão e agradeceu aos céus por ele ser o Duque e ser
complacente com ela.

‒ Mamãe será insistente a respeito do homem que ela


escolher para lhe cortejar. ‒ ele avisou.

‒ Mas eu só serei obrigada a casar com ele caso você dê seu


consentimento, então eu fico em suas mãos e não nas de
mamãe. Por favor, Phillip, não me obrigue a casar com
alguém que eu não ame. ‒ Phillipa sentiu o desespero lhe
tomar. Apesar de Phillip ser o Duque, sua mãe muitas vezes
o manipulava para fazer a sua vontade e ele sempre dava
ouvidos à sua mãe, não percebendo a manipulação que ela
fazia.

‒ Phillipa, e se você não encontrar o amor nesse baile? Não


são todos que se casam por amor. Nem todos têm esse luxo.
Daniel teve sorte. Sei o quanto se animou ao ver como ele e
Elizabeth estavam apaixonados um pelo outro, mas eles são
a exceção e não a regra.

‒ Sei que eu posso nunca amar alguém, e não espero


exatamente me casar por amor ‒

Phillipa revirou os olhos em claro desdém ‒ , mas quero


casar ao menos com alguém que eu saiba que poderei
conviver o resto da vida. Por favor, não me tire a pequena
chance que me resta de encontrá-lo, eu lhe suplico, não me
condene a um casamento sem sentimento. ‒ Ela o olhava
com os olhos suplicantes, havia desespero na voz já
embargada pelas lágrimas contidas.

‒ E se nunca encontrar o que procura? ― seu irmão lhe


perguntou genuinamente preocupado.

‒ Se eu não encontrar, então acredito que posso me


contentar com o que escolherem para mim… ‒ ela
respondeu. ‒ Mas e se eu encontrar? Vai me deixar casar
com ele?

‒ Phillipa, sabe que as coisas não funcionam assim. Você é


uma Lady, tem deveres com a sociedade, assim como eu
tenho e não podemos nos dar ao luxo de nos casar com uma
pessoa qualquer. ‒ Phillip lhe lembrou e ela se jogou no sofá
de uma forma nem um pouco educada.

‒ Eu odeio a sociedade e suas malditas regras. ‒ Phillipa


praguejou cruzando os braços, irritada.

‒ Não devia falar essas palavras. ‒ Phillip a repreendeu com


um sorriso de puro divertimento.

‒ Ah, não! Você também não! ‒ Ela o olhou furiosa,


levantando-se em seguida. ‒
Aprendi com você, então não venha me repreender por falar
essas coisas.

‒ Eu posso falar, você não. ‒ ele lhe provocou.

‒ Mais uma regra injusta da sociedade. Está vendo? ‒ Ela


colocou as mãos na cintura e fez uma carranca.

‒ Tudo bem, você tem razão. Agora me deixe terminar isso


ou não terá nenhum debute. ‒

Phillip comentou e Phillipa se sentiu tentada a atrapalhar


ainda mais. ‒ Não ouse fazer nada do que está pensando ou
eu juro que coloco você para casar com o primeiro que a
pedir.

‒ Você não faria isso? ‒ Ela cerrou os olhos tentando ver se


ele falava sério ou brincava com ela.

‒ Não me provoque. ‒ ele a desafiou.

‒ Tudo bem, não vou mais lhe atrapalhar. ‒ Phillipa se


rendeu. ‒ Vai convidar Charlotte?

‒ Vou sim. Agora, dê o fora.

Ter Charlotte ali tornaria tudo mais fácil para ela e poderia
até ser divertido. Além de que seu irmão parecia gostar
muito da modista. Phillipa nunca tinha visto seu irmão
demonstrar tanto interesse em alguém antes e ele parecia
feliz quando falava dela. A jovem podia ver que a mulher
suavizava as feições de Phillip quando ele a mencionava.

Phillipa se direcionou para a porta e a abriu, mas não saiu.

‒ Phill. ‒ ela o chamou séria. ‒ Eu gosto de Charlotte. Apesar


de ela não ser nobre, eu
não me importaria de tê-la como irmã. Se ela te faz feliz,
então eu apoiaria vocês.

Phillipa fechou a porta antes que seu irmão pudesse formular


alguma negativa, o que, com certeza, ele faria caso lhe
desse oportunidade.

Como tinha ainda algum tempo livre até o almoço, Phillipa


decidiu andar um pouco a cavalo, fazia tempo que Açúcar
não saía para um passeio, e uma volta na propriedade seria
benéfica para ambas. Phillipa seguiu para o quarto onde
trocou seu vestido por um mais adequado e então foi para o
estábulo.

Aquele era um dos lugares preferidos de seu pai. Ele sempre


teve muito esmero ao cuidar de seus cavalos, de modo que
a criação que tinha era uma das mais formidáveis da
Inglaterra, mas, infelizmente, perdeu todo o brilho após a
morte do Duque.

Ao ficar viúva, Lady Norfall mandou vender todos os cavalos


e fechar o haras, uma vez que ele lhe trazia recordações do
falecido marido.

Phillipa observava o local com saudade. Tinha aprendido a


cavalgar ali, tinha boas recordações daquele lugar, seu pai
ficaria muito triste se visse o que havia restado de seu
precioso Haras. Uma pena que sua mãe nunca permitiu que
ela trouxesse de volta a antiga glória daquele lugar. Para a
Duquesa, aquele não era trabalho para uma dama e ela
preferia que aquele lugar continuasse como estava.
Phillipa entrou no estábulo, a única parte que continuava tal
e qual aquela época e se direcionou para a baia onde estava
sua montaria.

Açúcar era uma égua de raça puro sangue inglês, que ela
ganhou de seu pai no seu décimo aniversário. Sempre que
estavam no castelo ela gostava de escovar o animal e depois
dar uma volta para que ele pudesse correr livre. Além do
mais, gostava de sentir o vento nos cabelos e o ar puro nos
pulmões. O bosque por trás de Arondalle era um de seus
lugares preferidos para se sentir livre.

No estábulo, apenas o Sr. Jones estava. Ele era o único que


ainda zelava por aquele lugar e, por causa de sua velhice,
não podia mais fazer muita coisa. Toda a família passava
mais tempo em Londres do que ali, em Arondalle, e apenas
Phillipa compartilhava o apreço que o antigo Duque tinha
pelos cavalos.

— Boa dia, Milady. — O Sr. Jones a saudou com um sorriso


desdentado assim que Phillipa apareceu na porta do
estábulo. — Imaginei que a senhorita iria querer escovar
Açúcar, então já a deixei preparada.

— Obrigada Sr. Jones. — Phillipa agradeceu. O homem a


conhecia desde que era pequena e por isso ele sabia que ela
iria ao estábulo mesmo que ela não avisasse com
antecedência.

― É um prazer Milady. ― O cuidador se virou para a égua


que estava comendo um pouco de feno e fez carinho nela. ―
Eu sempre costumava selar os cavalos para o falecido Lorde
Norfall, que Deus o tenha. Sinto falta do que isso aqui um dia
já foi.

― Eu também, sr. Jones. Queria poder fazer alguma coisa,


mas mamãe não gosta nem de vir aqui. Jamais aprovaria que
o lugar fosse restaurado a sua antiga glória, eu e Phillip
fazemos o possível para ainda manter o haras funcionando.

― Eu já agradeço o que tem feito, seu irmão é um ótimo


Duque e tem outras preocupações mais importantes. Não é
todo mundo que tem o amor que seu pai tinha pelos cavalos.

― Verdade. Alguma notícia de Storm? O veterinário falou


alguma coisa sobre o estado dele?

― Apenas que ele está se recuperando lentamente. Ele


estava bastante apático e não comia, mas segundo o doutor,
ele começou a se alimentar.

― Que bom. Storm era um dos preferidos de papai, eu ficaria


muito triste em perdê-lo.

O relincho de Açúcar a recordou porque estava ali, então


com um aceno, se afastou do Sr.

Jones e voltou sua atenção para sua égua.

Era sagrado montar em Açúcar todas as manhãs sempre que


ficava em Arondalle. Para sua tristeza, sua mãe sempre
encontrava alguma coisa para ocupar o tempo de Phillipa e
sua governanta não permitia que faltasse as lições para
andar a cavalo.

Phillipa pegou a escova, o balde e calçou as luvas grossas


que impediam que suas mãos criassem calos. Sua mãe
sempre reclamava de seu gosto por equinos, e apesar de
também saber costurar, tocar piano, pintar e bordar, a
Duquesa sempre encontrava motivos para reclamar de sua
personalidade.

Talvez por isso gostasse tanto de cavalos e gatos. Eles eram


belos e fortes, eram livres, mas também sabiam ser
civilizados quando era necessário. Eram animais dóceis, leais
e inteligentes e ela gostava de pensar que tinha boa parte
dessas características.

Açúcar virou o pescoço quando Phillipa entrou na baia e


relinchou de leve, como se a saudasse.

— Eu também estava com saudades, garota, mas você sabe


que eu não tenho escolha quando mamãe decide partir para
Londres. Ela insiste que eu vá, mesmo que seja apenas para
ficar debaixo dos olhos dela. — Phillipa sorriu para o animal
enquanto se aproximava para escovar seu pelo.

Por um tempo, a jovem ficou passeando a escova


lentamente por todo pelo da égua que, percebendo o
silêncio da dona, virou o pescoço e relinchou novamente,
como se estivesse iniciando um diálogo.

— Eu o encontrei em Londres. — Phillipa confessou para sua


amiga equina. — Ele não é mais o mesmo que nós duas
conhecemos. Ele mudou, Açúcar. Eu fui tão tola em ter me
preocupado com ele esse tempo todo. Henry nunca se
importou comigo. Eu me odeio por ter perdido tempo
pensando nele, mas não devo ficar presa ao passado. Não
vale a pena viver assim.

Açúcar relinchou novamente e inclinou a cabeça para a


dona, empurrando-a lentamente com o focinho. Phillipa riu
da tentativa de sua amiga de consolá-la. Desde que tinha
ganhado Açúcar, conversava com ela como se fosse com
outra pessoa e a égua parecia escutar cada palavra e
entender o que ela dizia. Ela era sua melhor amiga desde
que tinha dez anos.

Phillipa se concentrou em não pensar no seu tolo primo. Ele


não merecia que ela perdesse
tempo pensando nele. Quando finalmente deixou a crina
trançada e livre de nós, pediu para o Sr.

Jones selar a égua e montou no animal.

Para evitar sermões, Phillipa seguiu primeiro em um trote


lento, mesmo que sua vontade fosse galopar veloz, mas
quando já não dava para vê-la das janelas do castelo, ela
afrouxou as rédeas permitindo que Açúcar ficasse livre para
correr.

O vento em seus cabelos era reconfortante, ele desmanchou


seu penteado fazendo várias mechas loiras caírem por seu
rosto. Phillipa não se importou, a emoção que corria em suas
veias não a permitia pensar em nada além de como gostava
de cavalgar daquela forma.

Ela e Açúcar seguiram a galope até um prado que havia


dentro do bosque: ele era cortado por um pequeno riacho,
que cruzava o castelo e terminava em um lago no lado
oposto da propriedade, onde seu pai gostava de pescar
quando era vivo.

Chegando ao prado, a égua diminuiu a velocidade e passou


a um trote animado. Ela parecia feliz, assim como a sua
dona.

— Eu realmente precisava disso. — Phillipa sorriu passando a


mão no pescoço de Açúcar em gratidão. — Obrigada menina,
está com sede?

Phillipa desmontou e deixou Açúcar livre. A égua se


aproximou do riacho para beber um pouco de água,
enquanto Phillipa procurou uma sombra perto das árvores
para se sentar.
— Eu nunca vi uma mulher cavalgar tão ferozmente. — Um
homem a cavalo chamou sua atenção surpreso com o que
tinha presenciado.

O moreno lhe sorriu e desmontou, segurando sua montaria


pelas rédeas enquanto se aproximava de Phillipa.

Phillipa sorriu minimamente após se recuperar do susto. Não


esperava ninguém na propriedade de sua família.

‒ Obrigada, acredito que seja um elogio, não?

‒ É claro. ‒ o homem respondeu lhe dando um sorriso que


mostrava os dentes enquanto apeava o cavalo. ‒ Estava
passando aqui por perto, nas terras da minha tia Lady
Rouverdale, quando a vi cavalgando. Inicialmente, pensei
que o cavalo estivesse desgovernado, e por isso a segui,
mas então percebi que não estava assustada e entendi que
estava no controle de tudo.

‒ Agradeço pela preocupação, se eu tivesse realmente em


apuros fico feliz em saber que o senhor teria me ajudado. ―
Phillipa corou pela forma como ele a olhava.

‒ É evidente que sim, jamais deixaria uma dama em perigo.


Ainda mais uma dama tão bela.

Phillipa corou com o elogio. Não gostava de estar sozinha ali


com um homem, mas ele parecia inofensivo.

― Espero que não se importe que eu lhe faça companhia. ―


o homem comentou esperançoso.

― Não seria muito adequado ficarmos próximos, sem


nenhuma acompanhante. ― Phillipa lembrou. ― Não
esperava encontrar ninguém por aqui, então não vi a
necessidade de trazer uma acompanhante.
― Não pensei que se importasse tanto com essas regras
estúpidas. ― o rapaz expôs seus pensamentos.

― E o que o fez pensar que eu não o faço? ― Phillipa


indagou curiosa.

― A forma como cavalgava. Não parecia se importar com


nenhuma regra de etiqueta. Era livre naquele momento para
ser quem é.

Phillipa sorriu com aquilo. Era exatamente como ela se


sentia. Livre. Aquele dia estava bem melhor do que tinha
começado.

‒ A senhorita costuma vir muito aqui? ‒ ele perguntou já


imaginando o próximo encontro.

― Às vezes. ― respondeu sem querer que ele soubesse de


seus hábitos matinais. Apesar de ter gostado da companhia
dele, não queria perder seus momentos de liberdade.

― Bom, espero encontrá-la mais vezes. Estará por aqui


amanhã?

― Não sei, ainda não fui apresentada a sociedade, então não


acredito que seja correto que tornemos a nos encontrar. ―
Phillipa lamentou.

― Debutará essa temporada? Por favor, diga que sim, não


quero esperar mais que algumas semanas para tornar a vê-
la. ― o homem perguntou aflito.

― Sim, será essa temporada. ― a jovem respondeu sorrindo


amavelmente.

― Fico aliviado ao receber essa notícia. ― ele confidenciou.


― Espero que nos encontremos durante sua temporada.
― Espero que sim. ― Phillipa concordou em um sussurro.

O homem voltou a montar seu animal e virou as rédeas na


direção que tinha vindo.

― Milady. ― despediu-se com uma mesura em cima do


cavalo.

― Milorde. ― Phillipa retribuiu o gesto e o viu se afastar,


deixando-a a sós com Açúcar.

Ficou ainda alguns minutos tentando entender o que tinha


acontecido, enquanto aproveitava o silêncio calmante da
floresta. Depois montou em sua égua e voltou sem pressa
para casa.

Seguiram direto para os estábulos e Phillipa deixou Açúcar


em sua cocheira sob os cuidados do Sr. Jones e voltou para o
seu quarto.

CAPÍTULO 4 - HENRY

Henry decidiu esquecer a visita noturna de Phillipa. Era o


melhor a se fazer. Quem sabe depois de ter sido tão grosso,
ela entendesse que não queria participar da vida dela e
assim parasse de convidá-lo para tudo. Ele tinha mais coisas
para fazer do que ficar cedendo aos caprichos de uma
mulher. Então, decidido a não pensar mais nela, voltou aos
seus afazeres.
Tinha passado aquele dia ocupado em encontrar uma casa
para Sarah e seus filhos. Até poderia usar um dos quartos
vazios do clube, mas não queria que ela criasse as crianças
ali. Uma possibilidade era a de que Sarah aceitasse um
emprego diferente daquele que tinha no Clube e era
justamente isso que estava indo resolver com ela.

Ele bateu à porta do quarto onde estava. Ela tinha


recuperado as forças e seus machucados estavam sarando.
Ao lado da mãe, estava Gigi que graças ao vestido novo e
aos cabelos penteados deixava claro que era uma menina.

― Olá. ― ele saudou quando entrou. ― Como estão?

― Estamos bem. Acredito que essa noite já poderei voltar ao


trabalho. ― Sarah disse com um sorriso agradecido.

― Sobre isso eu quero falar com você. ― Henry avisou. ―


Gigi, por que não pede a Mary uma fatia de torta? Ela já
deve ter terminado de preparar.

A garotinha saiu rapidamente alegre com a ideia de comer


uma torta.

― Não podemos manter as crianças aqui no clube. Não é um


bom local para eles. ―

Henry começou.

― Eu sei, Milorde, irei procurar um local para morar hoje


mesmo, se for preciso. ―

Sarah se pronunciou preocupada com sua situação.

― Eu estou cuidando disso e este é o ponto que quero tratar.


Já pedi que o Bruno procure algumas casas aqui por perto.
Encontraremos um bom lugar para você e seus filhos, mas
eu tenho outra proposta. Minha mãe mora em uma casinha
no campo não muito longe daqui e ela está ficando cansada
por causa da idade. Apesar de tudo, não aceita criadas,
exceto a cozinheira, mas se eu contar a ela que é para sua
segurança e das crianças, sei que ela aceitará ajuda para
cuidar da casa. Você moraria lá com ela e com as crianças,
receberia o salário de uma criada e teria comida e um teto
sobre sua cabeça e sobre a de seus filhos. Não diríamos
nada ao seu marido sobre onde estará, de modo que não
teria que se preocupar com ele.

Sarah o olhou com devoção. Seus olhos estavam


embargados e ela segurava as lágrimas.

Gostava do trabalho no clube, mas sabia que o quê ele


oferecia era uma segurança maior para os seus filhos.

― Eu nem sei o que dizer. Obrigada, milorde. Muito obrigada.


É claro que eu aceito. Mas sua mãe não se importará com as
crianças? ― Ela perguntou preocupada.

― Na verdade, elas são meu trunfo para fazer minha mãe


aceitar você como criada. Ela sempre adorou crianças.

Henry voltava para seu escritório no momento em que


Dmitri o interceptou.

― Lorde, uma carta para o senhor. ― O russo lhe entregou a


carta.

― Sarah concordou em ir para o campo ficar com minha


mãe. ― Henry lhe informou.
Tinha sido ideia de Dmitri aquele arranjo. Ele era quem
primeiro se preocupou com as crianças e por isso havia
sugerido o campo e um novo emprego para Sarah.

― Ela é uma boa mulher, sabia que faria uma escolha


sensata. ― Dmitri aprovou e em seguida voltou a seus
afazeres.

O homem o viu se afastar perdido em pensamentos. O


homem sempre tinha sido reservado, mas, após decidir
confiar em Henry, havia se mostrado um amigo leal.

Dmitri era mais novo que Henry, mas seu tamanho e sua
barba sempre cheia o faziam parecer mais velho. O pouco
que sabia do ruivo consistia no fato de que passara parte de
sua vida em um orfanato e quando saíra, precisou se virar
sozinho nas ruas.

Estava consigo há quatro anos. Henry encontrou Dmitri no


meio de uma briga no cais, o ruivo estava sozinho sendo
atacado por três homens, e até estava dando conta da
situação, mas Henry viu um dos homens retirar uma faca de
sua bota, e nesse momento decidiu intervir e, após ajudar
Dmitri a se livrar dos rapazes que o espancavam, lhe
ofereceu um trabalho no clube.

No início, o convívio foi complicado. Dmitri era arisco e


desconfiado, mas percebeu que o Clube poderia ser sua
nova casa se assim quisesse. Desde então, ele mudou seu
temperamento e se converteu no braço direito de Henry.

Haviam ali outras pessoas que, tal como Dmitri, Henry


salvou das ruas. O Lorde tinha sentido na pele como era
estar desamparado e não ter para onde ir, por isso se
sensibilizava sempre que via alguém passando pela mesma
situação que um dia viveu.
Tinha construído o Rogue’s, inicialmente, para provar à
sociedade que ele poderia ser um lorde se assim quisesse e
provar que era melhor que aqueles que o desprezavam pelo
seu nascimento. Conseguiu tal feito, não quando seu Clube
alcançou o sucesso, mas sim quando o Rogue’s se tornou
sua família e seu maior tesouro. Orgulhava-se do que tinha
construído e se orgulhava das pessoas que estavam sob o
seu cuidado.

Mesmo as prostitutas que trabalhavam para ele, faziam por


gostar daquilo e não porque eram forçadas. Suas meninas
eram bem cuidadas e só eram Damas de Vermelho porque
assim o queriam. Todas elas tinham escolhido continuar
como prostitutas, em vez de servir bebidas ou ajudar nos
jogos. Elas gostavam do que faziam e sempre tomavam
cuidado para não adquirirem doenças ou as passarem para
os clientes. Uma de suas Damas de Vermelho tinha
aprendido a arte de fabricar luva-de-vênus. Fora um
aprendizado muito útil. Todos os clientes que quisessem
usufruir de uma Dama de Vermelho tinham que usar os
preservativos para evitar filhos e doenças.

As que já chegavam ali doentes ou que apenas queriam sair


daquela vida eram enviadas para Magdala, uma casa de
acolhida no campo destinada a mulheres que gostariam
abandonar a prostituição. Henry conhecera o local por seu
sócio, o Marquês de Winchester, que era benfeitor

do local, e desde então enviava doações para ajudar a casa


a se manter em pleno funcionamento.

Henry entrou em seu escritório e abriu a carta que Dmitri lhe


tinha entregue. O brasão dos Norfall no selo indicava quem a
enviou.

Leu sem pressa, ficando cada vez mais descontente à


medida que seguia a leitura. Phillip estava cobrando a dívida
de tê-lo salvo. Henry suspirou. Não tinha o que fazer, o
pedido que agora ele lhe fazia não era nada comparado ao
fato que devia sua vida ao Duque, mas maldito fosse por
usar isso para que comparecesse ao debute de Phillipa.
Ainda que fosse apenas para afastar os pretendentes que a
rodeariam como animais famintos.

Lorde guardou a carta em uma gaveta. Logo abriria as portas


para o início de mais uma noite de trabalho. O clube abria às
seis da noite e fechava às duas da manhã. Ele retirou uma
máscara preta de sua gaveta, ela era lisa, sem muitos
detalhes e deixava apenas sua barba e seus olhos à mostra,
escondendo o restante de seu rosto.

Inicialmente, o uso de máscaras era incentivado para que


ninguém soubesse que o dono do Rogue’s era um bastardo,
mas quando o Clube se tornou sólido e os nobres mais
importantes começaram a frequentá-lo, a máscara se tornou
um acessório de proteção para Henry e para seus
funcionários, uma vez que eventualmente um nobre falia e
tentava reaver com Lorde o dinheiro perdido.

Muitas vezes essa tentativa incluía ameaças e violência, o


que não era novidade. Ele sabia muito bem que quando
alguns nobres não tinham o que queriam, eles usavam
meios covardes para isso. Por essas razões, o Clube possuía
sócios tão influentes como o Duque de Norfall, o Marquês de
Winchester e o Conde de Dorset para que, em casos como
esse, nenhum nobre arrogante tentasse usar o título contra
ele.

No final da noite, assim que fechou, Henry foi ter com Dmitri
e lhe avisou que não estaria no Clube no dia seguinte. Teria
um que ir a um debute.
CAPÍTULO 5 - DEBUTE

Phillipa estava nervosa, ainda mais do que na noite anterior


quando foi apresentada à Corte. Como não tinha sido a única
a ser apresentada à rainha, então estava mais calma.

Entretanto, ali, no seu baile, ela seria a atração da noite.


Todos os olhares estariam sobre ela e aquilo a deixava
inquieta.

― Aperte mais um pouco o espartilho. ― sua mãe pediu para


Eloá.

― Mas mamãe já está muito apertado. ― Phillipa protestou.


― Se apertar mais que isso, eu não vou conseguir respirar.

― Tolice, respire usando os seios, e não a barriga. Assim


quem sabe parece que tem um pouco mais. Uma pena não
ter herdado os meus, mas não importa. Será a mais bela da
noite. ― A Duquesa garantiu olhando com orgulho para a
filha enquanto esta terminava de ser vestida e arrumada.

O vestido que Charlotte tinha feito para essa ocasião estava


magnífico. O tecido era de um rosa pálido de mangas
bufantes e um leve decote quadrado. Ele marcava sua
cintura com uma fita ricamente ornada e descia em várias
camadas de tecido que o deixava levemente armado. Suas
mãos estavam cobertas por um par de luvas delicadas que
cobriam seus braços até pouco acima dos cotovelos, alguns
centímetros abaixo da manga do vestido.
Seu cabelo estava trançado e preso em um coque perfeito
por presilhas e pequenas pérolas, deixando seu pescoço
delgado à mostra. Para deixar sua pele como marfim, as
criadas tinham passado o dia cuidando da aparência dela e
quando terminaram Phillipa estava levemente corada, com
os lábios macios, brilhantes e muito bela.

Seu primeiro cartão de danças estava na sua mesinha ao


lado de um leque ricamente ornado com pérolas.

Sua mãe estava radiante de felicidade. Admirava a filha com


tanto orgulho que fê-la corar envergonhada pela atenção
que a mãe lhe dava.

O baile estava prestes a começar, a orquestra já estava


posicionada e os empregados já tinham deixado o salão de
baile pronto para acolher os nobres que chegariam a
qualquer momento.

‒ Estás magnífica, Phillipa. ‒ o Duque a elogiou se


aproximando para dar-lhe um abraço e recebendo um sorriso
tímido da jovem. ‒ Tente se divertir, irmãzinha. Tentarei
manter mamãe ocupada vez ou outra para que possa
respirar. ‒ ele lhe confidenciou baixo o suficiente para que a
Duquesa não ouvisse.

Em seguida, deu-lhe uma piscadela e desceu com a Duquesa


para o salão. Precisariam estar lá para receberem os
convidados, já estava na hora de iniciar o evento tão
esperado.

Phillipa ficou no quarto esperando que a Sra. Hugges


aparecesse para lhe dizer o momento certo de fazer sua
entrada na sociedade como uma mulher e não mais como
uma criança. A espera a deixou nervosa. Sentia o espartilho
apertado e, debaixo de tantas camadas de tecido, sentia o
calor lhe incomodar.
A ansiedade fez com que as horas se arrastassem e quando
finalmente a Sra. Hugges veio lhe buscar, Phillipa respirou
fundo e caminhou elegantemente até o salão, colocando de
lado todo

incômodo e o nervosismo que sentia, ou, pelo menos,


tentando não pensar em todas os acidentes que poderiam
acontecer enquanto ela descesse as escadas.

Phillip estava no fim, esperando-lhe com um sorriso radiante


de orgulho. Ela olhou para ele e retribuiu o gesto se sentindo
um pouco mais confiante. Desceu as escadas com o rosto
erguido, enquanto fitava a multidão que a observava com
interesse e curiosidade.

Em meio à multidão desconhecida, seus olhos se fixaram em


um par tão escuro quanto à noite, olhos que ela conhecia há
muito tempo e que a fitavam admirados.

Henry chegou quando quase todos já haviam entrado, fato


que o alegrou, assim não tinha que esperar na fila para
poder falar com o Duque. Mostrou seu convite e entrou no
salão de bailes.

Imediatamente, procurou por Phillip. Queria não precisar


estar ali, pois as pessoas o olhavam com curiosidade e
descaso.

Ainda que ele estivesse vestido de acordo com a última


moda e tentasse se misturar, era evidente que não pertencia
àquele lugar.

Achar o Duque não foi difícil, ele estava em pé no início das


escadas e olhava para cima sorridente. Henry elevou a vista
procurando o que o primo olhava e deparou com um anjo.
Era essa a única descrição para a criatura divina que descia
as escadas. Nunca tinha visto uma mulher tão linda e com
uma aparência tão inocente que beirava o angelical. Ele não
conseguiu desviar os olhos por nenhum segundo. Quando o
anjo o fitou, ele reconheceu os olhos azuis.

Não podia ser. Aquela mulher não poderia ser Phillipa. Ele
procurou em sua mente lembranças da noite em que ela
apareceu no clube. Estava com uma capa grossa que lhe
escondia o corpo e os cabelos estavam presos em um coque
apertado sem nenhuma delicadeza, e a jovem passou a
maior parte do tempo brigando com ele, completamente
diferente da mulher tímida e inocente que descia as
escadas. Mas quando Phillipa lhe fitou e seus olhos o
reconheceram, imediatamente o tom angelical foi embora. O
olhar assassino que lhe deu o fez ter certeza que se tratava
da mesma Phillipa que conhecia.

Isso quase o fez sorrir.

Ele nem sequer tinha percebido que tinha dado alguns


passos ao encontro dela enquanto a observava. Apenas
quando se colocou próximo ao Duque, percebeu que havia
atravessado o salão. Se obrigou a acreditar que tinha sido
porque tinha coisas importantes a dizer ao Duque a respeito
de servir de babá e não por causa da irmã dele.
Estava na hora da primeira valsa de Phillipa, então Henry
retrocedeu alguns passos, misturando-se aos outros
convidados. Assim que a dança terminasse ele poderia
conversar com Phillip em paz. Enquanto isso não acontecia,
ele apenas a observou dançar.

Phillipa mal respirava, além do espartilho reduzindo os


movimentos de seus pulmões, agora o nervosismo também
lhe afetava.

Meu Deus, que eu não desmaie, caia ou morra. ― Ela rezou


quando desceu o primeiro degrau.

A jovem terminou de descer as escadas e seu irmão lhe


estendeu a mão, que ela prontamente aceitou. A orquestra
começou a tocar dando início a primeira valsa da debutante.

Quando viu Henry se aproximando ela começou a ficar


nervosa e precisou respirar fundo para continuar. O que ele
estava fazendo ali?

— Você está linda minha irmã, veja como todos lhe admiram.
— Phillip disse galante, chamando a atenção dela para si.

— O senhor, Milorde, é suspeito para falar de minha beleza,


então seu elogio não é válido.

— Phillipa respondeu com um sorriso irônico e seu irmão riu.


— Quanto aos outros, me olham da mesma forma como
analisam um objeto que pretendem comprar.

— Já estava preocupado que toda essa arrumação tivesse


tirado sua personalidade. —

Phillip alfinetou brincalhão. — Não devia pensar dessa forma.


As mulheres, por exemplo, não parecem muito felizes em
comprarem você.
— É preciso bem mais que roupas bonitas e arrumações para
mudar o que eu penso, querido irmão. E quanto às mulheres,
é porque elas são tão objetos quanto eu, mas diferentes de
mim, elas anseiam por serem compradas e acreditam que eu
possa lhes tirar a chance de um casamento vantajoso. — a
debutante não conseguia entender como todas aquelas
mulheres gostavam de ficar sorrindo afetadas, tentando
fisgar algum nobre com olhares interesseiros e sorrisos
falsos. — Sinceramente, não sei como elas conseguem ficar
tão animadas com a ideia de ter um dono.

Ela revirou os olhos, um gesto que sua mãe já estava


cansada de reclamar para que não o fizesse, pois o
considerava extremamente deselegante. Phillipa procurou
Henry no meio dos convidados. Ele a observava encostado
em uma coluna mais afastada possível do salão.

— Você está muito amarga para ter apenas dezoito anos. —


o Duque bufou e ela voltou a olhar para ele — Elas não
querem um dono, querem apenas ter suas próprias vidas
longe dos pais.

Pense nas liberdades que você terá quando se casar. Cuidará


de sua própria casa, terá seu marido, poderá fazer coisas
que moças solteiras não podem fazer… — Phillip demorou
pra perceber que o que tinha dito poderia ser mal
interpretado pela irmã. E quando se deu conta, torceu para
que ela não percebesse o significado oculto naquelas
palavras.

— Não me interessaria me casar com alguém que mal


conheço só para poder usar vestidos escuros ou penteados
extravagantes, mas se casar me fizer parar de usar
espartilhos, eu acredito que posso até aceitar um. — Phillipa
apontou inocente e franziu a testa quando percebeu que
Phillip soltou o ar parecendo aliviado. — Está tudo bem?
— Claro. — respondeu rápido demais e para encerrar a
conversa, olhou para longe dela.

Aproveitou aquele momento para procurar a mulher que lhe


tomava todos os pensamentos entre a multidão, e quando
não viu seu rosto entre os que estavam ali, foi impossível
não se entristecer.

Entretanto logo outro rosto inesperado entre os convidados


lhe chamou a atenção. O que seu primo fazia ali? Phillip não
esperava que ele comparecesse ao debute. Fora uma
surpresa inesperada e faria Phillipa muito feliz.

— Algo errado? — Phillipa chamou a atenção do irmão.

— Quando eu a rodopiar, olhe para a coluna à direita da


porta. — ele lhe disse com um sorriso animado, e a girou
como exigia os passos de dança.

Phillipa entendeu o que queria que ela visse no momento


que seus olhos se encontraram novamente com os de Henry.

Assim que a valsa terminou, Henry se aproximou do Duque,


mas enquanto diminuía a distância, percebeu que outro
homem também se aproximava do casal. Ele conhecia o
homem, era Sutterford, um dos membros do clube, este
andava sorridente na direção de Phillipa.

A forma que o homem olhava Phillipa não o agradou, talvez


fosse exatamente para aquilo que Phillip o tinha obrigado a
vir, para afastar possíveis pretendentes, e decidido a fazer a
sua parte, em vez de saudar o Duque, Henry fez uma
reverência para Phillipa, o gesto fez Sutterford, muito a
contragosto, aguardar sua vez de conversar com a
debutante.

— Milady, concede-me a honra de reservar-me a próxima


dança? — ele pediu e ela o olhou com a sobrancelha erguida
como se o interrogasse silenciosamente.

— Não o esperava, Sr. Willians. — Phillipa foi apenas cortês,


não permitindo demonstrar nenhuma emoção, ignorando
deliberadamente o pedido dele. Isso o fez perceber que a
jovem ainda estava magoada. Talvez fosse melhor continuar
assim, mas Henry sabia que se não a convencesse a dançar
com ele a próxima dança, outro homem o faria e não poderia
deixar isso acontecer.

Sabia que não poderia impedi-la de dançar com os homens


naquela noite, mas iria mantê-

la longe dos mais perigosos. Era seu trabalho ali mantê-la


segura de caça-dotes e canalhas, e Sutterford se
enquadrava nas duas categorias. O conde ultimamente tinha
jogado mais do que poderia pagar em seu clube, e agora
estava endividado, e além do mais sempre fora um canalha,
mas Phillipa não sabia nenhuma dessas coisas. E quando viu
que ela estava sorrindo justamente para aquele nobre,
soube que precisaria dele, Phillipa era inocente demais para
própria segurança, não conhecia a maldade dos homens.

— Decidi que todo seu esforço para me convidar não poderia


ser em vão. — Henry explicou sério e deu de ombros como
se tanto fizesse estar ali ou em Londres. — Então, me dará a
honra de acompanhá-la na próxima dança?

A governanta dela se aproximou ao perceber que o Duque se


retirava de perto da debutante e olhar severo dela para
Phillipa mostrou que não estava feliz com a demora que
aquela conversa estava tendo.

Phillipa podia ter o rosto sereno, mas seus olhos eram uma
tempestade. Como ele ousava

aparecer ali depois de tudo que tinha dito A jovem respirou


fundo após olhar para a Sra. Hugges, tomando sua decisão.
Henry podia jurar que se não fosse pela requintada educação
que recebera e pela presença da severa mulher ao seu lado,
ela mandaria ele para o inferno.

— Sim, Sr. Willians, reservarei a próxima dança. — Phillipa


respondeu entredentes.

Henry sorriu e em seguida fez uma mesura, afastando-se de


sua prima.

Sutterford aproximou-se de Phillipa com um sorriso,


acompanhado de perto pela mãe de Phillipa, a Duquesa. O
homem, ao ver que o Duque tinha se afastado, foi procurar a
Duquesa para que os apresentasse.

Phillipa o tinha reconhecido e a presença dele ali a fez sorrir.


É claro que sabendo que teria um conde solteiro nas
redondezas, sua mãe faria de tudo para que ele
comparecesse.

Tinha gostado do encontro que haviam tido na floresta. Ele


tinha sido um cavalheiro e era muito bonito. Talvez o debute
não fosse tão ruim no fim das contas.
Henry olhou ao redor, analisando cada presente ali. Parecia
que Phillip tinha convidado a escória da nobreza para o
debute e todos eles analisavam a debutante pesando as
chances que teriam com a moça. Dos nobres que haviam ali,
apenas um ou outro seriam boas escolhas para Phillipa. Isso
fez Henry apertar a mandíbula, o Duque poderia ter
escolhido melhor.

— Obrigado por ter vindo. ― Phillip agradeceu assim que se


aproximou de Henry pelas costas. ― Eu não o teria obrigado
a vir, mas estava esperando alguém, então não poderia ficar
olhando Phillipa o tempo todo.

— Não gosto de servir de babá, mas entendo porque usou


minha dívida para pedir isso. ―

Henry comentou apontando com a cabeça para Sutterford.


― Não gosto dele, é arrogante, gasta mais do que tem no
Clube e é genioso. Não seria um bom marido para Phillipa.
Na verdade, a lista de convidados está bem precária, se me
permite a sinceridade. Vandhugh… Brandon…

Wharfolk… Ratisburn… Não teria uns nobres mais decentes


não?

― Viu como eu acertei em pedir que viesse? Quem mais me


daria um histórico tão detalhado dos possíveis pretendentes
de minha irmã? ― Phillip comentou divertido.

Henry observou os movimentos de Phillipa, o sorriso


amigável e a mesura elegante ao ser apresentada a
Sutterford.

― Não será fácil manter os homens afastados dela, além do


dote, a beleza dela chama muito a atenção. Qualquer
canalha poderia se sentir atraído por ela e qualquer caça-
dotes veria nela um alvo para encher os bolsos e ainda fazer
parte da família Norfall. E aqui tem muitos desses.

— Estou ciente de seu desgosto pelos membros da


aristocracia, mas nem todos são ruins.

Todos nós temos nossos vícios e pecados, Henry. ― Phillip


defendeu seus convidados, sem de fato se importar com
eles. Pelo que conhecia de sua irmã, ela não iria se casar
naquela temporada e o Duque não tinha pressa que isso
acontecesse, não para aquele ano. ― E quanto a Phillipa,
não

precisa se preocupar, ela não é tola de se deixar levar pelo


primeiro que aparecer. — o Duque respondeu com um sorriso
orgulhoso.

— Mas a moça é inocente, ela não conhece a falta de caráter


que os homens têm. — Henry não entendia como Phillip
podia estar tão pouco preocupado com a irmã. E quando
Phillip riu, Henry ficou ainda mais sisudo.

— Não se preocupe. Phillipa ficará bem. Ela é uma moça


inteligente e nunca faria nada que pudesse manchar sua
reputação. Sempre foi muito prudente e além do mais a Sra.
Hugges está com ela, não se afastará um segundo sequer. ―
Phillip assegurou.

Henry bufou incrédulo e se viu tentado a dizer que ela não


parecia tão prudente com sua reputação quando apareceu a
meia-noite em seu Clube sem a Sra. Hugges, mas segurou a
língua e fitou Phillipa.

Ela estava corada lindamente por trás do leque de seda e


Sutterford lhe sorria enquanto proferia algumas palavras
que, pela distância, eram inaudíveis a Henry. A Duquesa se
afastou do casal para conversar com outro convidado,
deixando Phillipa com sua governanta na companhia do
lorde.

Phillipa já não estava confortável com o espartilho muito


apertado, e somado ao o calor que estava dentro do salão,
era quase impossível manter uma conversação normal se
mal conseguia respirar.

Tudo que queria agora era sair dali e implorar a Sra. Hugges
que lhe afrouxasse o maldito espartilho para que ela
pudesse respirar direito. Olhou para a porta pensando se
seria muito rude caso virasse as costas e deixasse o homem
falando sozinho, afinal ele não tinha culpa e estava sendo
muito gentil. Então o jeito era tentar aguentar o máximo e
assim que o homem fosse embora, Phillipa correria para
fora, ainda que isso fizesse sua governanta desmaiar e sua
mãe a acusar e exilar por manchar a reputação impecável da
família.

Phillipa passeou os olhos pelo salão procurando outra rota de


fuga. Seus olhos encontraram os de Henry, que a estava
olhando com intensidade, e parecia ver sua alma.

Ela desviou o rosto. Ainda não entendia por que ele tinha
decidido aparecer. Ele havia mudado, isso era incontestável,
mas quando a convidou para a próxima dança parecia tanto
com o antigo Henry ao dar de ombros e o sorriso ainda era o
mesmo do qual se lembrava. E se o homem que conhecia
ainda estivesse ali dentro, escondido em algum lugar?
― Eu imploro, Milady, não me aflija com seu silêncio
enquanto espero tão ansiosamente por sua resposta. ― Ele
pediu a Phillipa que se viu perdida sem saber a que o
homem se referia.

Droga. O que ele tinha dito? O que diria em resposta?


Deveria ter prestado atenção.

― Acredito que o silêncio da dama é uma tentativa de não


lhe magoar os sentimentos, Lorde Sutterford, uma vez que
ela já prometeu a próxima dança a outro cavalheiro. ― a Sra.

Hugges interveio em socorro da jovem Lady.

― Sinto muito, milorde, eu realmente prometi a próxima


dança para o Sr Willians. -

Phillipa endossou o que sua governanta havia dito e


agradeceu mentalmente a ela por lhe livrar de uma situação
potencialmente embaraçosa.

― Então ficarei feliz em ter a dança depois dessa. – o


homem sugeriu sorrindo para Phillipa.

Grata por enfim saber o que ele estava perguntando, Phillipa


sorriu aliviada.

— É claro, milorde, será uma honra. — Phillipa lhe deu o


melhor sorriso e viu o olhar do homem se iluminar.

— Esperarei ansioso. — Ele lhe tomou uma mão enluvada e a


levou aos lábios depositando um beijo em seu dorso e
olhando para ela sedutor, em seguida se afastou, deixando
as duas sozinhas.

― Você precisa prestar atenção no que as pessoas falam,


Phillipa. É de extremo mau gosto ignorá-las dessa forma.

― Não foi porque eu quis. O espartilho está me sufocando. ―


Phillipa se desculpou em um sussurro, enquanto se abanava
com o leque na tentativa diminuir o calor e respirar melhor.

A senhora precisa afrouxá-lo um pouco, Eloá apertou muito


forte dessa vez a pedido de mamãe.

― Você precisa aguentar, não podemos nos ausentar de seu


debute, chamará muito a atenção.

― Se eu continuar nesse aperto poderei desmaiar antes


mesmo da primeira dança começar. Então acredito que um
desmaio chamará mais a atenção do que uma ida rápida ao
escritório de meu irmão. ― Phillipa tentou convencer a sua
governanta e esta, após ponderar, decidiu que a jovem tinha
razão.

Henry viu quando Phillipa e a Sra. Hugges seguiram para os


aposentos privados. Ele estava parado em um das colunas
principais do salão, sentia muitos olhares sobre ele e não
gostava nenhum pouco da atenção recebida. As mulheres
cochichavam no canto do salão, desde debutantes daquela
temporada a solteironas. Muitos se perguntavam quem era
ele e, os que o conhecia, o que fazia ali.

Por suas roupas, era evidente que Henry era um homem


rico, já que ele seguia a última moda londrina e veio em uma
carruagem própria, coisas essas que não passaram
despercebidas pelas senhoras, mas, mesmo com todo o
dinheiro que tinha, eles ainda o olhavam com desdém por
ser um bastardo.

Antes aquilo o enfurecia e humilhava, agora, só o


incomodava por causa daquela fixação desnecessária em
sua pessoa.

― Henry ― Lady Violet, a Condessa de Warrex, se aproximou


dele com os olhos semicerrados ―, o que está fazendo aqui?

Junto a ela, estavam outras senhoras que o olhavam com o


mesmo desdém que a viúva de

seu pai, e como a Condessa tinha a voz estridente, as


pessoas ao redor começaram a prestar atenção neles.

Henry odiava aquele tipo de atenção, onde as pessoas


apenas observam outra ser humilhada.

― Milady. ― Henry ignorou de propósito a reverência, não se


curvaria para aquela mulher, e respondeu secamente, não
sendo afetado pelo olhar de ódio que a mulher lhe dava. ―

Creio ter recebido o convite.

― Não sabia que agora distribuíam convites a pessoas como


você. ― A mulher destilou seu ódio enquanto fazia as
pessoas rirem dele pelo comentário.

Henry permaneceu calado, não responderia aquela mulher,


não lhe devia nenhuma satisfação.

― Mas me diga, já encontrou sua mãe? ― a Condessa


perguntou com um sorriso debochado e Henry cerrou as
mãos em punhos. Odiava aquela mulher, não apenas por ela
o odiar também e ter tornado a vida dele um inferno, mas
também pelo quê ela tinha feito à sua mãe.
Henry segurou a raiva, sua vontade era de esganá-la ali
mesmo e isso não poderia fazer, mesmo que ela merecesse.

Então respirou aliviado, quando a conversa deles foi


interrompida pelo mestre de cerimônias que anunciou a
chegada de um convidado inesperado e, com isso, todos os
olhares se voltaram para a porta principal.

A cada passo que a recém-chegada dava, a multidão lhe


abria caminho e se curvava diante da sua presença. A
princesa Agatha de Rudlan, quarta filha do rei George V,
também conhecida como Agatha, a Fria, adentrava o salão
com a cabeça erguida e seu semblante sempre sério. Ela ter
vindo ao debute era com certeza uma surpresa para todos,
menos para Phillip, Henry pôde perceber, que a observava
sorrindo.

Aproveitando a distração, Henry se retirou de perto daquela


mulher antes que cometesse um assassinato.

Entretanto as lembranças do que condessa-viúva de Warrex


tinha feito tomaram a sua mente.

Finalmente tinha conseguido comprar o local onde seria o


seu Clube. A localização era perfeita, exatamente onde a
nobreza de Londres se encontrava com a plebe. As reformas
começaram a toda velocidade, Henry tinha pressa de ver seu
Clube funcionando. Foram seis meses de intenso trabalho de
construção, até que o Rogue’s ficou exatamente como
queria.

Os convites foram confeccionados no melhor papel, os


convidados eram aqueles que já tinham sociedades com
outros clubes, de preferência aqueles que já gostavam de
apostar. Na noite de inauguração, a casa lotou. Ao passarem
pela portaria, cada homem recebia uma máscara, todas elas
iguais já que até então não havia distinção entre eles.
Henry tinha informado para os crupiês que fizessem o
possível para que os convidados não saíssem de lá com os
bolsos vazios, pelo menos não os que ele gostaria de manter
ali. Assim ele selecionou quem manteria no Clube.

No primeiro mês, qualquer pessoa poderia participar, afinal a


senha havia sido distribuída para todos os nobres londrinos,
mas assim que o mês acabou, os convites contendo a nova
senha foram entregues a apenas metade das pessoas que
compareceram ao primeiro mês.

Aos poucos, o Clube se consolidou. No final do primeiro ano


de funcionamento, já tinha um público fiel e sua fama
começava a se espalhar. No final do segundo ano, o Clube
finalmente estava estável e tornava Henry cada dia mais
rico.

Vendo que o Clube se manteria, Henry finalmente cumpriria


a promessa que fez a sua mãe.

Comprou uma casa nos arredores de Londres e foi a Warrex


para buscá-la.

Entretanto, ao chegar na mansão dos Warrex, Henry foi


recebido pela própria Condessa.

Ela demorou para reconhecê-lo, quando o viu descendo da


carruagem, arrumou-se e chamou as filhas para conhecerem
o cavalheiro que estava passando por ali.

Mas assim que abriu a porta e Henry retirou o chapéu, ela o


reconheceu.

― Voltem para dentro, meninas, não tem nada de


importante aqui. ― Lady Violet enxotou as filhas e olhou com
desdém para Henry. ― Então o filho pródigo à casa retorna?
Infelizmente aqui não é sua casa. Acha mesmo que uma
roupa bonita vai fazer eu aceitar o bastardo de meu marido?
Ele pode ter lhe reconhecido como filho, mas se depender de
mim, nunca mais tornará a pisar os pés nessa casa. Saia
imediatamente, você não é bem-vindo aqui.

― Onde está minha mãe, Milady? Só sairei daqui com ela. ―


Henry retrucou cruzando os braços na frente do peito. Ele
não tinha mais medo daquela mulher. Os anos que passou
em Londres tinham endurecido seus traços e sua
personalidade, ele não era mais o rapazote medroso que
saiu daquela casa. Ele agora era um homem e mostraria isso
a ela.

― Sua mãe? Eu mandei aquela meretriz justamente para o


lugar onde ela merece estar.

― Sugiro que meça as palavras antes de falar da minha


mãe. ― Henry a ameaçou dando um passo na direção da
mulher. ― Eu posso ser honrado o suficiente para não bater
em uma mulher, mas tenho outros meios de atingi-la e
acredite quando eu digo que o farei. Agora, onde está a
minha mãe?

― Ela não está aqui. ― a Condessa resmungou se


recompondo, Henry a tinha assustado, mas ela não deixaria
transparecer aquilo. Afinal, era uma Condessa e ele não era
nada.

― E onde ela está? ― Henry perguntou impaciente.

― Eu não faço ideia. ― a Condessa replicou. ― Agora saia de


minha casa ou eu chamarei os guardas e o acusarei de
invasão.

Henry saiu dali irado com aquela mulher, entrou na


carruagem e ficou pensando onde a mãe poderia estar.
Sabia que deveria ter voltado antes, mas estava tão ocupado
para deixar tudo pronto para enfim poder dar uma vida
melhor a sua mãe que tinha adiado aquele momento.

O homem gesticulou para que a carruagem seguisse, mas


antes que partisse, um dos cavalariços muito amigo de sua
mãe se aproximou dele e disse a verdade sobre o que tinha
acontecido: no ano seguinte à saída de Henry, a Condessa
havia acusado a Sra. Willians de roubo e esta tinha sido
levada para a prisão. Lady Violet ainda tinha proibido
qualquer empregado de comentar o assunto com quem quer
que fosse. A Condessa não queria que ninguém soubesse
que fora roubada dentro de sua própria casa.

Então, furioso com tão vil mulher e preocupado com sua


mãe, Henry seguiu direto para a casa do Duque, pois
precisaria da influência dele para tirar sua mãe da prisão.

Com o Duque o apoiando, conseguiram tirar a Sra. Willians


da prisão sem muita demora.

Henry fez o que foi preciso para retirar sua mãe daquele
lugar horrível e a levar consigo, isso incluiu suborno, mas ele
não se importou. Tudo que importava para ele era que sua
mãe ficasse bem.

Assim que a soltaram, Henry agradeceu a Phillip a ajuda e o


Duque voltou para casa. O

jovem levou sua mãe para a casa de campo que tinha


comprado e desde então ela tinha permanecido lá. A pedido
da Sra. Willians, Henry e Phillip não comentaram sobre ela
ter saído da prisão para ninguém, e por esse motivo a
condessa não sabia que a mãe de Henry estava livre.

Henry continuou andando sem prestar atenção aonde ia e


por isso esbarrou em uma dama que voltava para o baile,
fazendo-a derrubar o leque de seda.
― Mil perdões, Milady. ― Henry se desculpou enquanto se
abaixava para pegar o objeto caído no chão. ― Aqui está seu
leque… Ah, é você.

― Sim, sou eu. ― Phillipa respondeu mostrando a Henry um


olhar irritado. ― Quem esperava? A rainha?

― Bom, a princesa já está aqui, então não duvido que a


rainha também possa decidir dar o ar de sua graça. ― Henry
debochou demonstrando um meio sorriso.

― A princesa Agatha está aqui? ― Phillipa perguntou


surpresa tanto pela presença da realeza quanto pelo meio
sorriso.

― Chegou há poucos instantes. ― ele lhe respondeu


voltando a ficar sério.

Phillipa sorriu com aquela informação. Seu irmão tinha


convidado a princesa para que Phillipa tivesse um momento
de paz sem que a mãe a estivesse apresentando e
oferecendo para cada homem ali presente.

― Milady, precisamos estar no salão, logo vai iniciar a


segunda dança ― a governanta lembrou e se virou para
Henry ― e creio que esta tenha sido prometida ao senhor.

― Tem razão, vamos. ― Phillipa concordou. ― Me


acompanha, Sr. Willians?

― Claro, tenho que estar lá também.

A dança que Phillipa prometeu a Henry não demorou a


começar e ambos se colocaram em seus lugares para darem
início à quadrilha. Era um ritmo animado e Phillipa não
deixou de sorrir.
Henry dançava com perfeição e ela observava cada
movimento seu. Ele não sorria em nenhum momento, mas
sua seriedade apenas o deixava mais atraente. Estava tão
diferente. Estava maior e mais bonito. Naquela noite no
Clube, Phillipa não tinha conseguido vê-lo com a mesma luz
que agora o iluminava. O rosto estava mais anguloso,
marcado e severo e seu porte era de um homem
determinado. Os cabelos estavam mais escuros do que
quando era mais jovem, agora tinham a mesma cor dos seus
olhos que eram quase pretos, seu corpo tinha ganhado
proporções masculinas, ombros largos e cintura estreita, ele
era magro, mas ela podia sentir os músculos firmes de seu
braço por cima do casaco. O homem era “uma cabeça” mais
alto que ela, o que a fazia olhar para cima quando precisava
falar com ele. Essa fora a única coisa que não havia

mudado desde sua infância: Henry sempre tinha sido maior


que ela.

― Não lembrava que dançava tão bem. ― Phillipa disse para


tentar uma aproximação novamente. Ficou muito chateada
com Henry naquela noite, mas ele veio ao baile no fim das
contas.

― Eu aprendi quando era mais novo. ― ele explicou sem dar


mais detalhes.

Permaneceram em silêncio por um tempo até que Phillipa


não conseguiu evitar a pergunta.

Tentava entender desde que o tinha visto na festa.

― Por que você veio, Henry?

― Isso realmente importa? ― ele deu de ombros e se


concentrou em um ponto qualquer por cima da cabeça dela,
tentando evitar aquele assunto.
― Você nunca aceitou nenhum convite antes, o que mudou?
‒ Phillipa não desistiria fácil.

― Nada mudou. Continuarei recusando todos os convites


que mandar. ― Henry respondeu ríspido sem olhá-la nos
olhos ‒ Vim apenas porque o seu irmão não me deu outra
escolha ‒

Phillipa se retesou ao ouvir aquelas palavras.

Eles deram mais alguns passos da dança e o movimento os


aproximou. Ele tocou a mão enluvada dela e mesmo a dele
estando recoberta por sua própria luva, o homem sentiu a
delicadeza do toque dela.

Phillipa estava carrancuda.

Maldito homem que a fazia ter vontade de bater nele. Será


que Henry não tinha percebido que ela ficou feliz em vê-lo?

Como na última vez que se encontraram, o homem apenas a


deixava com os nervos a flor da pele.

― Nesse momento, eu o odeio. ― Phillipa o fitou, irritada. ―


E não se preocupe, não receberá mais nenhum convite da
minha parte.

— Sinto muito se minha sinceridade a machucou, mas é


melhor que seja assim. — Henry se desculpou, mas ela não
pareceu ouvi-lo. — A senhorita, então, pretende me ignorar o
resto da noite? — ele perguntou erguendo uma sobrancelha,
cético.

Phillipa o olhou, debochada.

— Claro que não, Sr. Willians, pretendo ignorá-lo o resto da


vida. — ela lhe sorriu amavelmente e continuou a dançar
sem olhar para ele, ignorando-o por completo.
Foi assim o resto da música, e quando essa terminou, Phillipa
fez uma reverência e se afastou de Henry. Estava chateada
demais com o homem, que um dia conhecera, para ser
educada, então decidiu ignorá-lo. Entretanto seus olhos
algumas vezes percorreram o salão à procura dele, mas ao
que parecia ele tinha ido embora.

Como ele mesmo dissera: era melhor assim.

A festa não estava tão divertida quanto ela gostaria, e sabia


que a culpa era toda de Henry.

Ele estava confundindo sua cabeça: uma hora parecia o


garoto gentil e sorridente que conheceu e na outra, era o
homem frio e distante que a deixava enraivecida.

A dança seguinte deu início e Sutterford não perdeu tempo


em tomar o seu lugar ao lado da

Lady. Phillipa tinha gostado do encontro com ele


anteriormente, quando tinha saído para cavalgar, mas
naquele momento era outro homem que lhe ocupava os
pensamentos, mesmo que apenas para deixá-la mais
irritada.

Ele tomou as mãos da jovem e Phillipa nem reparou que ele


a aproximava bem mais do que era permitido o decoro.
Então começaram a dançar.

Respirou fundo e tentou não pensar em Henry, em vez disso


decidiu focar-se no seu par.

Sutterford parecia ser um perfeito cavalheiro, era bonito e


era um Conde, sua mãe o aprovaria com certeza. Não que o
título significasse alguma coisa para Phillipa, ela realmente
não se importava se ele era o herdeiro da coroa ou o
próximo padeiro. Nunca tinha se importado com isso, apesar
de sua mãe sempre ter insistido que ela procurasse um
marido com títulos.

— Você dança divinamente, Milady. — Sutterford lhe elogiou


os passos de dança, iniciando uma conversa assim e
acariciando sua mão por cima da luva.

— Obrigada, Milorde, o senhor também é um ótimo


dançarino. — Phillipa respondeu corando pelo elogio.

— Eu tive bons professores. Minha mãe sempre diz que um


homem só era de fato um homem quando soubesse conduzir
uma dama com a leveza de uma pluma.

— Sua mãe é uma sábia mulher. — Phillipa respondeu com


um sorriso, era fácil conversar com aquele homem.

Eles dançaram os próximos passos em silêncio até que


Sutterford se pronunciou.

— A senhorita está bem? Parece pensativa.

— Eu estou bem sim, obrigada. — Phillipa sorriu com a


preocupação que o homem lhe demonstrava, mas não iria
aborrecê-lo ao falar de Henry, então arrumou uma desculpa:
— Perdoe-me se lhe preocupei, como o senhor sabe, é meu
primeiro baile, então estou nervosa em fazer algo errado.

Phillipa deu um sorriso envergonhado. Não tinha mentido,


apenas omitido que sua cabeça estava em outra pessoa.
Quando Sutterford lhe sorriu de volta, ela percebeu que ele
tinha acreditado.

— Não devia estar nervosa, estás sendo maravilhosa. ―


Sutterford elogiou com um sorriso galante.

— O senhor é muito gentil. — Phillipa respondeu e tentou se


concentrar novamente na dança.
Eles continuaram a dançar pelo salão e, quando a música
terminou, ele a reverenciou e guiou para uma cadeira.

— Gostaria de uma bebida? — ele ofereceu educado.

— Sim, obrigada. — Phillipa agradeceu enquanto era


conduzida para uma das cadeiras acolchoadas onde poderia
descansar um pouco. A Sra. Hugges a esperava para lhe
fazer companhia.

Com a pausa da orquestra, o burburinho de vozes tomou


todo o ambiente. Alguns homens começaram a se aproximar
e logo ela estaria cercada.

― Sra. Hugges, será que poderíamos ficar um pouco nos


jardins? Eu preciso de um pouco de ar e silêncio. Por favor,
retornaremos antes da próxima dança, eu prometo.

― Tudo bem, mas apenas por alguns minutos e só porque


hoje está um pouco quente.
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Assim, após Sutterford retornar com a bebida, Phillipa pediu
licença e as duas seguiram para os jardins do castelo.

Assim que terminou de dançar com Phillipa, Henry foi para o


labirinto. Ele só queria um pouco de paz. Conversar com
Phillipa tinha despertado emoções que ele não queria sentir.
Sim, ele se sentia atraído fisicamente por ela, mas quem não
se sentiria? Phillipa era uma jovem muito bela, somente um
cego não notaria sua beleza. E ele não era nenhum eunuco
para não sentir o efeito que a Lady causava em seu corpo.

Seus pensamentos retornaram para Phillipa. Foi agradável


conduzi-la por aquela dança, ela era leve e se deixava levar
facilmente.

Ela seria assim também em baixo dele?

Aquela pergunta evocou imagens provocantes em sua


mente: Phillipa, com os cabelos soltos e espalhados no
lençol, deitada e se contorcendo enquanto ele lhe dava
prazer. A imagem foi tão nítida que seu corpo todo
respondeu àquele pensamento.

Para tentar diminuir a excitação que lhe tomava o corpo,


Henry tentou tirá-la de sua mente e quando finalmente
conseguiu, uma voz no labirinto o sobressaltou.

— Mas que diabos… —Phillipa praguejou e em seguida


colocou a mão na boca e olhou para a Sra. Hugges,
esperando a repreensão que esta, com certeza, que lhe daria
pelo se palavreado. ― Desculpe, não esperava que tivesse
alguém aqui.

A governanta lhe deu um olhar reprovador e em seguida se


fixou em Henry.
— Apenas quis rever o labirinto, fiquei curioso de como ele
estava depois de tanto anos.

— Henry deu de ombros, como se não fosse nada demais e


se levantou fazendo menção de ir embora.

Antes que ele se retirasse, Phillipa se pronunciou.

― Não precisa ir embora se não quiser. Acredito que tenha


espaço suficiente para os dois.

Ela se arrependeu no momento que disse aquelas palavras.


Não devia convidá-lo a ficar ali. Tinha certeza que aquele
convite apenas faria com que Henry tivesse mais uma
oportunidade de lhe dizer que era melhor que se
mantivessem longe. Phillipa esperou aquelas palavras.

― Obrigado, mas acho melhor ir embora. Sua governanta


concordará comigo que é melhor para sua reputação que eu
parta, mesmo com a presença dela, ainda pode gerar
falatórios que prefiro evitar. Com licença. ― Henry tocou a
aba do chapéu e saiu apressadamente.

― Um rapaz muito sensato. ― a governanta elogiou assim


que Henry desapareceu entre as paredes de arbusto. ― Se
todos os cavalheiros fossem assim, nunca haveria nenhum
escândalo.

― E a sociedade seria ainda mais tediosa e irritante. ―


Phillipa acrescentou sarcástica.

― Mocinha, uma dama nunca deve usar sarcasmo. ― a


governanta a repreendeu ― Já lhe disse milhares de vezes
que uma moça bem educada nunca usa esse tipo de tom em
uma conversa.
Phillipa apenas revirou os olhos e se aproximou da beirada
da fonte onde se sentou.

Alguns instantes depois sentiu algo macio lhe roçar as


pernas, o vestido lhe impedia de ver o que era, mas aquele
gesto e o miado lhe eram familiar.

― Henrieta, você devia estar dentro de casa. ― Ela se


abaixou e procurou a gata debaixo de sua saia e quando a
encontrou, colocou-a no colo enquanto lhe acariciava o pelo
macio e marrom.

― Milady, solte já esse animal, ela está enchendo de pelos o


seu vestido. ― A governanta se adiantou em tirar a gata de
cima de Phillipa. Henrieta seguiu para os arbustos como se
nada tivesse acontecido e desapareceu no labirinto. ― Oh!
Céus. Veja o seu vestido. ― A Sra. Hugges apontou
horrorizada.

Phillipa abaixou os olhos para o seu vestido e percebeu,


atordoada, que havia uma mancha de terra nele. Tentou
limpar com a mão, mas ainda assim era perceptível a
sujeira.

― Não quer sair. ― a Lady gemeu desgostosa. ― Acredito


que terei que voltar pra festa com ele assim.

― Nem se atreva a aparecer com o vestido desse jeito. Eu


vou buscar um pano limpo para removermos essa mancha, a
senhorita não ouse sair daqui sozinha. ― Sra. Hugges
apressou-se a sair do labirinto para encontrar algo que
remediasse a situação.

Phillipa colocou toda a sua atenção no vestido e se


empenhou para tentar diminuir o estrago que Henrieta fez.
Se não amasse tanto aquela gata, iria mandá-la embora por
tanto atrevimento, mas para a sorte da felina, apaixonou-se
por ela no momento que Henry a trouxe consigo, há quase
dez anos. Ela fora o presente de aniversário ao completar
nove anos.

Passos se aproximando a tiraram de seus pensamentos.

― Que rápida. ― Phillipa disse e olhou para a abertura do


labirinto, e percebeu surpresa que não era sua governanta
que a espreitava. — Lorde Sutterford… — ela sussurrou
assustada, levantando-se de onde estava. — O-o que faz
aqui? Não o esperava.

— Eu não consegui ficar longe de sua beleza. Quando vi sua


criada saindo sozinha, eu soube que precisava aproveitar o
momento.

— Por favor, Milorde. Não é apropriado que permaneçamos


sozinhos. — Phillipa tentou apelar para o senso de moral do
cavalheiro.

Sutterford sorriu malicioso. Se ela pensava que aquelas


palavras iriam afastá-lo, estava muito enganada. Ele não
fora ao baile tedioso apenas para ser ignorado por ela.
Constatou que a havia impressionado no dia que a
encontrara na floresta, mas hoje, percebeu que Phillipa não
se casaria com ele por livre escolha, era óbvio que preferia o
bastardo rico. Não passou despercebido para ele que havia
algo entre eles, já que passou a noite toda observando-os.
Então teria que apelar, se fossem vistos sozinhos, a jovem
seria obrigada a se casar com ele e Deus sabia que
precisava arrumar uma esposa rica antes do fim da
temporada. Suas dívidas se tornaram bem maiores do que
esperava, além do que poderia pagar, e o jeito mais fácil de
arrumar dinheiro
seria um casamento.

— Preciso confessar-lhe meu desejo de cortejá-la. Então, não


vejo nenhum mal em ficarmos sozinhos.

O homem dava passos em sua direção e Phillipa recuava na


mesma proporção tentando manter a distância. Enganou-se
a respeito dele. Pensara que ele era um homem honrado,
mas agora percebia que não era exatamente um modelo de
virtude. Henry, mesmo com a presença da governanta, se
recusou a continuar ali porque causaria falatórios e
Sutterford parecia fazer questão de tê-los.

― Então deve dizer isso ao meu irmão, tenho certeza que ele
avaliará sua proposta. ―

Phillipa tentou manter a calma e se afastar o máximo


possível dele, maldita hora para sua governanta ter saído.

― Sim, farei isso, mas veja, quero antes saber se somos


compatíveis, entende?

― Não, senhor, não compreendo. ― Phillipa semicerrou os


olhos ficando furiosa com a audácia dele. ― Torno a pedir
que saia.

― Não está com medo de mim, está? ― O Conde lhe sorriu


debochado. ― Eu nunca a machucaria, doce Phillipa.

― Se o senhor não sair, então eu sairei, com licença. ―


Phillipa anunciou se direcionando para a saída, mas foi
interceptada pelo homem, que a prendeu contra uma
parede.

― Não devia tentar fugir, isso apenas me deixa desejoso de


persegui-la. ― Sutterford sussurrou com a voz rouca.

― Solte-me imediatamente ― Phillipa tentou se libertar


daquele homem asqueroso. Como desejou que nunca o
tivesse conhecido.

― Continue se contorcendo desse jeito e eu estarei tão


excitado que não conseguirei me controlar e a possuirei aqui
mesmo. ― ele ameaçou no ouvido dela e beijou-lhe o
pescoço. ― É

culpa sua, sabe. Eu tinha planos de lhe cortejar como uma


dama merece, mas a senhorita frustrou meus planos ao
mostrar que gosta daquele bastardo. Eu vi como o olhou
hoje. Uma pena que depois que eu acabar não poderá mais
tê-lo. Será minha, quer queira, quer não.

Os beijos em seu pescoço a deixavam enjoada e lhe


causavam repulsa. O homem pressionou o corpo contra o
dela e Phillipa fechou os olhos tentando segurar as lágrimas.
Seria desonrada no seu baile de apresentação, mas antes
que ele pudesse fazer qualquer outra coisa, o homem foi
afastado dela bruscamente.

Ao se ver livre, Phillipa abriu os olhos e na sua frente estava


Henry, e este encarava Sutterford com ódio e repulsa.

Henry estava apreciando as pequenas trepadeiras floridas do


labirinto, quando avistou a Sra. Hugges se direcionar para a
saída apressadamente. Ele esperou ver Phillipa a seguindo,
mas a jovem não acompanhava a governanta.
Ele deu de ombros e continuou a apreciar as flores, sem
ninguém ali, Phillipa estava segura. Mal tinha acabado de ter
esse pensamento, quando um homem entrou no labirinto.
Era Sutterford. Henry começou a segui-lo sem que o homem
o visse, desconfiava que as intenções do lorde não fossem
honradas. Se aquele canalha tentasse fazer algo com
Phillipa, ele o mataria.

Infelizmente, seu palpite estava certo. Assim que os


encontrou no centro do labirinto, o Conde estava mantendo
Phillipa contra a parede e aquela cena fez o sangue de Henry
ferver em suas veias e ele avançou furioso.

Desprezava homens que usavam a força para ter uma


mulher, eram malditos covardes e mereciam muito mais que
a morte.

Ele puxou Sutterford de cima dela e o homem caiu no chão


atordoado por ter sido interrompido.

― O que diabos… ― Sutterford praguejou ao se levantar e


encarando seu agressor. ―

Quem você pensa que é, seu verme?

Henry não respondeu, apenas avançou em cima do homem e


começou a socá-lo com força na mandíbula. O Conde
cambaleou com a força do impacto e tornou a cair no chão
se levantando trôpego. Willians avançou novamente pronto
para tirar mais sangue do canalha que tinha tocado Phillipa.

— Henry, pare, não faça isso. — a dama intercedeu tocando


no ombro de Henry.

Ele a olhou ainda furioso, mas quando percebeu que estava


olhando para ela, suavizou a expressão.
― Você está bem? ― ele perguntou preocupado soltando
Sutterford e se direcionando para Phillipa.

― Sim. ― ela respondeu e em seguida se assustou ao ver


que Lorde Sutterford se erguia e avançava. ― Cuidado!

Henry ouviu o aviso de Phillipa e conseguiu interceptar a


tempo o golpe que o Conde desferia com a sua bengala e foi
com tudo para cima do homem. Ele estava acostumado a
lutar no Clube, então sabia como nocautear o adversário, por
isso só parou quando o homem desmaiou com a força dos
golpes recebidos.

― Meu pai amado! ― A Sra. Hugges ficou alarmada ao voltar


com um pano úmido e ver a cena da luta entre os dois
homens. ― Eu a deixo sozinha por dois minutos e a senhorita
se mete em confusão. Por que diabos os dois estão
brigando?

Henry se levantou lentamente de cima do homem


desacordado e olhou para a governanta.

― Esse verme tentou beijar Phillipa. ― Henry explicou


resumidamente omitindo que o homem não tentaria apenas
beijá-la.

― É verdade. Assim que a senhora saiu, Sutterford entrou


aqui e tentou me beijar, eu pedi para ele sair, disse que não
podia ficar sozinha com um homem, mas o Conde insistiu e
em seguida tentou me beijar. Sabe Deus o que mais teria
feito se Henry não o tivesse impedido.

― Oh! Céus. Que confusão.

Henry respirou fundo. As duas mulheres estavam perdidas e


confusas com o que acontecera.
― Sra. Hugges, por que não leva Phillipa de volta para
dentro e pede para o Duque me encontrar aqui? ― Henry
pediu mantendo a calma e instruindo as mulheres a fazer
algo mais do que ficar simplesmente paradas ali. ― Tentem
fingir que nada demais aconteceu, não queremos que as
pessoas suspeitem de algo.

― Oh, é claro, venha querida. Não, espere, deixe-me limpar


seu vestido primeiro e então voltaremos. ― A Sra. Hugges se
apressou em diminuir a mancha do vestido.

Phillipa voltou para o baile na companhia de sua governanta.


Ninguém pareceu notar sua ausência, uma vez que estavam
ocupados demais em tentar chamar a atenção da princesa.
Phillipa agradeceu aos céus pela presença da realeza, pois
sabia que se sua alteza não tivesse aparecido todos
prestariam atenção nela.

A jovem debutante procurou por seu irmão e logo foi ao seu


encontro para avisá-lo que Henry o esperava no labirinto.

O Duque saiu discretamente do baile e foi ter com Henry no


labirinto. Phillipa ficou tentada a voltar lá também para saber
o que estava sendo discutido, mas antes que tomasse
qualquer atitude sua mãe a encontrou.

― Onde estava esse tempo todo? ― a Duquesa inquiriu.


Dera por sua ausência de Phillipa e a procurou em todos os
lugares, até mandou alguns criados encontrá-la.
― Eu estava apenas respirando um pouco. A Sra. Hugges
estava comigo. ― Phillipa tentou amenizar a desconfiança da
mãe ao citar o nome da governanta.

― Não me desaponte Phillipa, esperei anos pelo seu debute,


não o estrague sendo inconsequente.

― Não se preocupe mamãe, não estava fazendo nada


repreensível, apenas tomando um pouco de ar.

― Claro. ― A Duquesa suavizou as feições ao olhar para a


filha. ― Você está tão linda…

A Duquesa sorriu para a filha e isso a deixou alguns anos


mais nova. Sua mãe fora uma bela mulher, e ainda era
quando deixava de lado sua expressão de eterno desdém.

― Logo voltaremos a Londres para continuar a temporada lá.


Tenho quase certeza que arrumará um pretendente ainda
este ano. ― A Duquesa avisou, ficando animada com as
possibilidades. ― Ah, venha. Tenho que lhe apresentar a
outros nobres.

A Duquesa a guiou pelo salão, apresentando-lhe todos os


nobres solteiros e as mulheres influentes que assegurariam
que seu debute fosse um sucesso.

Meia hora depois de ter saído, o Duque retornou para o baile,


mas para a tristeza de Phillipa, ele a evitou o resto da noite.

Finalmente aquela noite tinha acabado, Phillipa desfazia o


penteado com a ajuda de duas criadas e se preparava para
dormir. Depois que todos os convidados tinham partido,
Phillipa

conversou com seu irmão. Este lhe assegurara que


Sutterford não mais seria bem-vindo em sua casa e para não
manchar a reputação de Phillipa, não marcou um encontro
ao amanhecer, o que não queria dizer que o Duque não
defendeu a honra da irmã ao dar, também, uma surra no
Conde.

O homem saiu de lá carregado pelos criados e não


apareceria na sociedade por um bom tempo.

Phillipa dispensou as criadas quando elas terminaram de lhe


desembaraçar os cabelos. Ela se deitou na cama e, apesar
de todas as emoções que sentiu naquela noite, estava
exausta e rapidamente adormeceu.

CAPÍTULO 6 – RELÓGIO DE BOLSO

Alguns dias se passaram desde o debute, Phillipa e a


Duquesa retornariam a Londres para passar o restante da
temporada por lá. A Duquesa estava animada e ordenava
aos criados que organizassem suas coisas na carruagem,
pois logo iriam partir.

Phillipa já tinha organizado tudo. Faltava encontrar apenas


Henrieta para levá-la consigo à Londres. A gata tinha saído
pela manhã e até então não tinha dado sinal de vida. Se não
a encontrasse nas próximas horas, sua mãe a obrigaria a ir
sem a felina.

Depois de procurar em toda casa, Phillipa seguiu para os


jardins e continuou sua procura.

Olhou nos roseirais, no celeiro e por último decidiu ir até o


labirinto. Quando chegou ao centro do labirinto, encontrou a
gata brincando com uma corrente que estava presa nos
arbustos.

Phillipa segurou a corrente e a puxou, quando teve o objeto


nas mãos percebeu que não era apenas uma corrente e sim
um relógio de bolso. Nas costas do objeto tinhas as iniciais
H. W.

Phillipa soube imediatamente a quem pertencia aquele


objeto.

― Henry deve ter derrubado quando brigou com Sutterford


na noite do baile. ― Phillipa externou seus pensamentos
para a gata que miava desgostosa ao ser afastada de seu
brinquedo. ―

Acredito que devo devolvê-lo, não acha, Henrieta?

A gata miou discordando e ergueu a pata tentando alcançar


a corrente do relógio.

― Não senhora, isso não é seu, é do Henry. Ele deve estar


sentindo falta do relógio, então tenho que encontrar uma
forma de entregá-lo assim que possível.

Cinco dias depois...

Henry estava no Clube. Deu por falta do relógio assim que


chegou em casa. O tinha procurado em todos os lugares,
mas não o encontrou, o que lhe rendeu um mau humor dos
infernos.

Havia ganhado o relógio de presente de sua mãe no natal


anterior e desde então nunca tinha saído sem o objeto.
Agora, sentia-se incompleto.

Deixando de lado o vazio que a falta do relógio lhe causara,


Henry colocou sua máscara e focou na administração do
negócio. Precisava repassar o livro de contas do
estabelecimento e isso demoraria, mas precisava ser feito.
Entrou em seu escritório, fechou as cortinas que lhe permitia
ver o que acontecia nas outras alas, acendeu algumas velas
para iluminar o ambiente, em seguida pegou o livro de
contas na estante e o levou até a mesa para iniciar seu
trabalho.

Depois de passar três horas seguidas fazendo contas, Henry


tirou um momento para esticar as pernas. Os números já
estavam embaralhando em sua mente, o que significava que
era hora de dar um tempo e se concentrar em outra coisa.
Ele apagou algumas velas, deixando apenas duas acesas,
abriu as cortinas que davam para as alas e ficou observando
a movimentação.

Ele conseguia observar porque na parede tinha uma peça de


vidro semelhante a um

espelho, mas que permitia ele ver o que acontecia em cada


“região” sem que quem estivesse lá o visse. Para isso, a
iluminação do escritório deveria ser menor que a das alas,
por isso apagou as outras velas e deixou apenas duas.

Tudo estava nos conformes, não havia nada de diferente


acontecendo naquela noite. Quase todos os seus associados
estavam ali. Ele passeou seus olhos por cada ambiente e a
viu.

Ela estava sentada em uma das mesas de jogos, com um


vestido vermelho e uma máscara delicada de pérolas,
entrara a pouco e olhava atentamente ao redor como se
procurasse algo ou alguém. Para qualquer um, ela se
passaria muito bem por alguém que trabalhava ali, e era
justamente isso que ele temia. Ela tinha que estar logo de
vermelho?

Henry a reconheceu facilmente, pois conhecia todas


mulheres que trabalhavam para ele e definitivamente ela
não era uma de suas funcionárias. Pelos cabelos loiros, olhar
curioso e o formato de coração da boca, o homem soube
quem era.

Como diabos ela tinha entrado ali? Ia conversar sério com


Bruno.

Henry desceu, furioso, as escadas, precisava tirá-la dali


antes que alguém a levasse para a ala da Luxúria e a
tomasse como uma prostituta.

Phillipa estava eufórica, finalmente tinha entrado e não fora


um trabalho fácil.

Primeiro, ela precisou subornar o mordomo para que ele lhe


entregasse primeiro, toda e qualquer correspondência —
custou-lhe uma pequena fortuna, mas valera cada libra.
Quando finalmente teve a senha em mãos, precisou fugir
novamente na calada da noite para ir ao clube, por pouco
não foi vista por Phillip, que estava chegando em casa.

Já na portaria do Clube, ao dar a senha correta, o homem lhe


avisou que usasse a porta dos fundos, que era a entradas
das mulheres. Então ela seguiu para lá. Após dizer
novamente a senha, sua passagem foi liberada e Phillipa
entrou no clube, animada.

A porta dos fundos dava para um vestuário com vários


vestidos e máscaras. Algumas mulheres se trocavam
enquanto conversavam e nenhuma prestou muita atenção
nela.

— Você deve ser nova aqui. Nunca a vi antes. — uma jovem


loira lhe perguntou com a voz amigável. Ela tinha os cabelos
de um loiro quase branco, pele pálida, olhos cinzas
expressivos e tinha bem menos curvas que ela. Ela parecia
ser ainda mais nova que Phillipa, mas seus olhos eram
experientes demais para supor pouca idade.

— É minha primeira vez aqui. — Phillipa disse um pouco sem


jeito.

— Também fiquei nervosa na minha primeira vez. — a


mulher solidarizou-se.

A mulher conversava enquanto amarrava o corpete de forma


que delineasse um coração vermelho no vestido preto.
Depois que arrumou o vestido colocou uma peruca ruiva que
contrastou lindamente com a pele alva dela. E em seguida
colocou rouge nos lábios e beliscou as bochechas lhe dando
uma aparência completamente diferente da que ela viu
antes da

transformação.
Aquela pessoa pálida de cabelos quase brancos,
completamente comum, agora se transformou em uma
beldade ruiva que chamava a atenção por onde passasse.

— Vai usar branco, vermelho ou preto? — ela perguntou


apontando para os vestidos interrompendo os pensamentos
de Phillipa.

‒ Como? Por que não posso usar o meu? ‒ Phillipa não


entendeu por que teria que trocar de vestido.

‒ É para sua própria segurança, meu anjo. Se usar o que


chegou aqui, alguém pode lhe reconhecer pela roupa quando
sair. E você não quer que a reconheçam, não é?

‒ Ah, é claro. Eu não tinha pensado nisso.

‒ Então qual cor vai usar?

Phillipa nem precisou pensar, sempre sonhara em usar um


vestido vermelho, mas sua mãe jamais lhe permitiu usar
uma cor tão escandalosa. Branco ela usava quase sempre,
sua mãe adorava vesti-la de branco, pois dizia que realçava
seus olhos e cabelos, então não usaria aquela cor ali. E ela
não gostava do preto, usou por dois anos depois da morte do
pai e odiava aquela cor por lhe lembrar da dor que sentiu
quando ele se foi, então escolheu o vermelho.

— Vermelho. — ela disse animada e viu a mulher a olhar com


um sorriso indulgente.

A jovem então pegou o vestido em uma das araras e uma


máscara na gaveta e entregou a Phillipa.

— Bom, não sei onde trabalhava antes daqui, mas o Lorde


sempre cuidou muito bem de nossas meninas, qualquer um
que lhe incomodar demais basta falar com os seguranças,
que eles irão lhe ajudar. Aqui não é permitido que
machuquem as meninas, então não se cale caso algo não
lhe agrade. Boa sorte. — A moça lhe sorriu e em seguida
colocou uma máscara preta em seu rosto e saiu por uma
porta que Phillipa acreditava dar para a área funcional do
clube.

Depois que trocou de roupa, Phillipa guardou a capa e seu


vestido dobrado no mesmo lugar que as outras meninas
deixavam os delas. Pegou a máscara que estava próxima ao
lugar que havia pego o vestido e a colocou. Finalmente
encontraria Henry e teria suas respostas. Então passou pela
mesma porta que a outra mulher.

Ela ficou maravilhada com o Clube, agora sim entendia por


que os homens faziam fila para poder entrar ali. Era o lugar
mais fascinante que já tinha visto.

Vários cavalheiros lhe sorriam quando ela passava e Phillipa,


por um momento, ficou preocupada que eles lhe
reconhecessem, mas logo descartou a ideia. Ainda não fora
a muitos eventos, então não era possível que a
conhecessem. Não deixaria que eles a intimidassem, estava
ali por Henry e só sairia depois que lhe devolvesse o seu
relógio.

Phillipa poderia ter entregue ao seu irmão o relógio e pedido


que entregasse o objeto ao dono, mas estava curiosa sobre o
Clube desde a primeira vez que tinha ido ali. Era tão injusto
que as mulheres não pudessem participar das mesmas
coisas que os homens.

Ainda mais decidida, Phillipa começou a procurar por Henry,


esperava conseguir reconhecê-lo usando máscara, já que
todos ali estavam mascarados, mas estava sendo uma tarefa
quase impossível.
De repente alguém passou a empurrando, o homem parecia
bêbado quando se desculpou enrolando-se em suas próprias
palavras e Phillipa se desequilibrou caindo sentada no colo
de alguém.

— Hoje parece ser meu dia de sorte. — disse-lhe o homem


mascarado enquanto segurava a cintura dela de forma
maliciosa.

— Sinto muito senhor, foi um acidente, por favor, me solte


para que eu possa me levantar.

— Phillipa estava corada pela situação vergonhosa de estar


sentada em um colo masculino.

Phillipa tentou se levantar, mas o homem a segurou com


mãos fortes a pressionando contra algo duro. O que diabos
era aquilo?

— Não tem porque se desculpar e muito menos se levantar,


estou adorando senti-la em meu colo, mas preferia que não
estivesse com essas roupas. Diga-me, quanto cobra para
que eu as retire?

Phillipa fitou o homem que a mantinha presa em seu colo e


semicerrou os olhos. Ele estaria mesmo pensando que ela
era uma prostituta?

Antes que ela pudesse dar voz a seus pensamentos, outro


homem se aproximou deles abrindo caminho pela multidão e
tinha um olhar assassino no rosto.
— Ela não está à venda. Solte-a imediatamente. — outro
homem bradou, irado.

Phillipa ainda não o tinha reconhecido por causa da máscara,


mas a voz do homem era familiar demais para que não
soubesse de quem se tratava.

— Sim Lorde, desculpe, ela estava de vermelho, então


pensei que estivesse livre para subir. — o homem balbuciou
enquanto tentava esclarecer a confusão e se manter como
membro do clube, por isso fez exatamente o que ele
mandou.

Henry segurou o braço dela e a levou até seu escritório.


Phillipa tentou protestar, mas o olhar que ele lhe deu foi
suficiente para calá-la.

O homem a arrastou o mais gentil que pôde por causa da


sua fúria, apesar de merecer umas boas palmadas, Henry
não queria que ela se machucasse. Levou-a para o seu
escritório e em seguida, daria um jeito de ela voltar para
casa depois que deixasse claro que Phillipa não devia estar
ali.

Ficou aliviado quando percebeu que a ala da Luxúria agora


estava vazia, pois pediu-lhe para entrar sem antes fechar as
cortinas.

― O que diabos você está fazendo aqui? ‒ ele inquiriu,


virando-se para ela.

― Ah, eu vim lhe devolver isso. ― Phillipa retirou o relógio do


bolso e entregou a ele.

― Você veio a um clube masculino correndo o risco de


manchar irreversivelmente sua reputação apenas para me
devolver o meu relógio? ― Henry perguntou pausadamente
tentando não se enfurecer com a atitude tola.

― Você falando assim até parece que eu fiz algo errado. ―


Phillipa cruzou os braços na frente do peito.

― Você fez algo errado. Nunca devia ter vindo aqui. De novo.
― Henry a repreendeu. ―

Se fosse sensata teria mandado o relógio por Phillip. Você


não se preocupa com sua reputação? ―

Henry indagou.

― É claro que me preocupo, sempre tomo cuidado para não


ser vista ao sair. ― Phillipa explicou como se aquilo fosse
prudente o suficiente para Henry parar de reclamar de sua
saída. ―

E pensei que ficaria feliz ao ter seu relógio de volta.

― Obrigado por trazê-lo, mas isso não diminui o erro.

Phillipa revirou os olhos cansada daquela conversa.

― Você se tornou irritante, sabia? ― ela comentou


secamente. ― Agora se me dá licença eu vou descer, não
suporto mais essa sua carranca.

‒ O que pretende fazer lá embaixo? ‒ ele perguntou


preocupado com o que ela aprontaria agora.

‒ Não sei o que se faz em um Clube, mas pretendo descobrir.


Deve ser legal já que tem muitos homens e mulheres lá.

‒ Você está louca se acha que vou deixar você perambular


pelo meu clube. Com esse vestido todos pensarão que é
uma prostituta. ‒ ele bradou irado.
― Nem é tão decotado assim. Não pareço uma prostituta,
estou bem decente nele.

― É uma regra do Clube. A cor do vestido indica a função da


mulher. ― Henry explicou para fazê-la entender o motivo de
não deixá-la descer. ― Por que acha que aquele homem lá
embaixo a agarrou?

― Ah, foi por isso? E-eu não sabia, devia ter escolhido outra
cor. Não tem problema, eu desço no vestiário e pego o
vestido branco.

― Você não vai ficar aqui. Se seu irmão apenas sonhar que
esteve em meu Clube, ele me mata.

‒ Seu clube? ‒ ela perguntou franzindo o cenho e então as


palavras do homem mais cedo ao chamá-lo de Lorde fizeram
todo sentido. ‒ Você é o Lorde.

‒ Não importa, não terá o que deseja. ‒ ele ignorou a


surpresa no rosto dela.

‒ Eu sempre pensei que não aceitasse meus convites porque


o Lorde não lhe permitia sair e esse tempo todo você era o
tal Lorde. ‒ Ela parecia magoada com aquilo.

‒ Você chegou a suas próprias conclusões sem mim, então


não me culpe só porque não a corrigi. Ninguém aqui sabe
quem é o homem por trás da máscara e espero que continue
assim. ‒

Henry se sentia desconfortável com o olhar magoado dela.

― Eu não ia contar para ninguém, se era isso que temia. ―


Phillipa baixou o olhar, ainda magoada pela falta de
confiança dele.
― Vá embora, Phillipa, antes que consiga arruinar sua
reputação. ‒ Henry passou as mãos nos cabelos e suspirou
audivelmente.

― Eu não pretendia arruinar nada. Apenas queria te ver


novamente. Eu não tive chances

de agradecer por ter me salvado de Sutterford.

‒ Agora já agradeceu, então pode voltar para casa. ‒ Henry


deu de ombros e isso irritou Phillipa.

‒ Você se tornou muito irritante, sabia? ‒ Ela revirou os


olhos.

‒ Se não me suporta é simples de resolver: vá embora. ‒ O


sorriso irônico no rosto de Henry a fez chegar ao limite. Era
definitivo, ele estava tentando fazer com que ela o odiasse e
estava conseguindo.

‒ Você... ‒ Ela procurou uma palavra para usar, mas não


encontrou nada irritante a altura

‒ Urgh! Nem sei por que eu me dei ao trabalho de vir aqui.

― Pois é, não precisava se dar ao trabalho. Aqui não é lugar


para você, o que mais eu preciso fazer para que vá embora?

Aquelas palavras a fizeram se sentir uma tola por ter ido ali.
Ele não estava disposto a reaver a antiga amizade que
tinham, ele nem sequer suportava estar no mesmo lugar que
ela.

Estava mais que claro isso.

― E qual é meu lugar Henry? Em chás, saraus e bailes,


sendo oferecida a todos os homens solteiros presentes,
como se fosse um produto em exposição? ‒ Ela se obrigou a
sorrir irônica, era isso ou permitir que seus olhos enchessem
de lágrimas por causa da rejeição.

― Exatamente. ― Henry se afastou dela. ― Volte para o seu


mundinho cheio de laços e fitas e me deixe em paz.

― Você é terrível. ― Phillipa seguiu furiosa para a porta e


saiu pisando duro.

Se ele achava mesmo que ela iria embora, estava muito


enganado.

Phillipa desceu as escadas e seguiu para a ala da Gula, pelo


menos lá tinha cadeiras onde poderia sentar e pensar
melhor. As cadeiras ficavam em frente à mesa onde algumas
bebidas eram servidas.

― Você não parece legal ― Uma mulher de vestido preto


comentou ao vê-la sentada carrancuda. ― Alguém a
machucou?

― Não, eu estou bem. Obrigada.

― Pegue, isso vai ajudar. ― A mulher lhe ofereceu um copo


com uma bebida âmbar.

― Obrigada. ― Phillipa olhou para o copo e reconheceu o


cheiro. Seu irmão adorava aquela bebida. Ela sempre fora
curiosa sobre o gosto, mas seu irmão nunca permitiu que ela
bebesse algo mais forte que vinho misturado com água.

Lembrou-se do irmão virando o copo de uma vez e decidiu


imitá-lo.

A bebida desceu queimando e ela se engasgou tendo um


ataque de tosse tão forte que chamou a atenção das
pessoas ao redor.
― É melhor tomar em pequenos goles. ― um homem ao seu
lado disse com um sorriso indulgente. ― Talvez uma cerveja
seja melhor para você.

O homem pediu à Dama de Preto, que trouxesse a bebida,


aproximou-se de Phillipa e lhe entregou a bebida. Ela bebeu
como se fosse água em grandes goles e ao sentir o gosto
amargo fez uma careta.

― Tome devagar.

Phillipa fez o que ele pediu e bebeu um gole pequeno a cada


vez. Ele realmente estava certo, a cada gole ela ficava
menos ruim, e quando acabou aquele copo, o homem
mandou que lhe trouxessem outro.

― O gosto é ruim, eu sei, mas melhora com o tempo. ― o


homem assegurou. ― Eu acho que nunca te vi por aqui.

― É minha primeira noite aqui. ― ela explicou. O homem


estava sendo gentil com ela, e por isso não quis ser rude e
ignorá-lo. Ele lhe parecia bastante agradável.

― Ah, seja bem-vinda então. ― lhe sorriu e ela achou que já


havia visto aquele sorriso em algum lugar, a voz dele
também não lhe era estranha. Entretanto não se recordava
de quem era ele, talvez fora um dos lordes apresentados a
ela no seu baile. Ela, por um instante, temeu que ele a
reconhecesse, mas logo descartou a ideia quando lhe olhou
fixamente e falou: ― Seus olhos são os mais lindos que eu já
vi. Nunca mais esquecerei deles, sonharei cada noite com
esse azul magnífico.

Phillipa ficou desconcertada com o elogio e corou.

― Você está vermelha? ― Ele se surpreendeu ficando


maravilhado. ― Fica ainda mais linda assim.
― Deve ser a bebida, eu não costumo ficar vermelha, mas
também não costumo beber. ―

Ela desviou o olhar e fitou o copo tomando outro gole da


cerveja.

― Eu adoro mulheres que enrubescem. ― O homem tocou


em seu rosto e ela sorriu.

Phillipa não sabia por que estava sorrindo, mas não


conseguiu tirar o sorriso do rosto. Ele estava sendo tão
galante. Henry bem que poderia ser assim.

Pensar no nome de Henry, teve o mesmo efeito que invocá-


lo porque ele apareceu em suas costas e a segurou pelo
braço.

― Venha comigo. ― ele pediu segurando a raiva.

― Não, obrigada, ficarei aqui. ― Phillipa olhou para Henry


por cima do ombro. ― Aqui está muito mais agradável.

Phillipa sorriu para o homem ao seu lado, mas ele não lhe
retribuiu o sorriso. Em vez disso, o tal se retirou após Henry
o fulminar com o olhar.

― Droga, você o espantou. ―Phillipa sussurrou desgostosa.


― Ele estava sendo legal.

― Ele só queria levar você para um dos quartos. ― Ele


finalmente se deu conta do copo nas mãos dela. ― Você está
bebendo?

― Apenas Brandy e cerveja, mas bebi só um copo de


Brandy, e dois copos de cerveja, espere, acho que esse é o
terceiro de cerveja. Nada demais. ― Phillipa contou. ― Estou
me sentindo tão bem. Nunca tinha bebido, mas acho que
gosto disso.
― Venha antes que chame ainda mais a atenção. ― ele
pediu um pouco mais gentil dessa vez.

Henry a guiou até seu escritório novamente. Iria mandá-la


para casa, mas se ela chegasse lá no estado em que estava
acordaria todos os criados e seria uma tremenda confusão.

Dessa vez Henry estava tão ocupado com Phillipa que se


esqueceu de fechar as cortinas que ele tinha aberto quando
ela saiu. Só percebeu isso quando já estavam dentro do
escritório e ela se concentrava em uma das janelas.

Os olhos de Phillipa se abriram ao ver a cena íntima


acontecendo diante de si, por mais que quisesse, não
conseguiu desviar a vista. O homem estava vestido, apenas
suas calças estavam arriadas, e como a mulher estava na
frente dele, ela não pôde ver o que tinha embaixo das calças

‒ graças aos céus por isso ou ficaria ainda mais


escandalizada. O homem estava atrás da mulher que estava
sobre quatro apoios na beirada da cama, com a face voltada
para onde Phillipa estava e o vestido erguido até a cintura. O
homem lhe dava tapas violentas no traseiro e a mulher
parecia sentir dor pelas expressões faciais que fazia.

‒ Feche os olhos! ‒ Henry brigou com ela ao perceber para


onde olhava ao mesmo tempo em que tentava se apressar
em fechar a janela. ― Maldição, faça o que eu mando!

‒ Ele a estava machucando! ‒ ela falou não se importando


com o que Henry tinha lhe dito. A expressão da mulher ainda
estava fresca em sua memória.

‒ Eu lhe garanto que não. ‒ tentou dar fim àquele assunto,


mas sua resposta teve o efeito contrário.
‒ Mas eu o vi batendo nela. Se isso não é machucar, então
não sei o que é.

‒ Ela gosta desse tipo de coisa. ‒ Henry explicou, tentando


preservar o máximo de inocência de Phillipa, mas ela estava
dificultando a tarefa que, por si só, era quase impossível.

‒ Eu duvido que alguma mulher goste de ser espancada. ‒


ela rebateu. Henry passou a mão nos cabelos, e as arrastou
pelo rosto rogando aos céus paciência.

‒ Ele não a estava espancando, ou melhor, estava sim, mas


aquilo dá prazer a ela. ‒

Henry desistiu de explicar sem tentar manchar a inocência


dela. Pelo que ela viu daquela cena, se ele continuasse sem
lhe dar explicações plausíveis, a jovem nunca o deixaria em
paz.

Phillipa o olhou desconfiada, a expressão da mulher parecia


tudo menos alguém que sentia prazer.

‒ Como alguém consegue sentir prazer apanhando? ―


Phillipa perguntou cética.

― Eu não vou falar disso com você. ― ele avisou. ― Guarde


essa pergunta para seu marido.

― Acha mesmo que poderei falar isso com ele? ― Phillipa


debochou. ― Os homens não gostam que suas esposas
falem ou saibam sobre esse tipo de coisa, o que eu acho
uma injustiça.

― Por que é uma injustiça? ― Henry perguntou se


recostando na parede ao lado das cortinas.

― O fato de termos que chegar na noite de núpcias sem


saber o que acontece lá. Os homens não chegam
inexperientes ou sem saber o que fazer. ― Phillipa se
aproximou dele e ficou ao seu lado em seguida, sentando-se
no chão. Sua cabeça rodava um pouco e ela temia cair.

― Alguém tem que saber como funciona, não? ― Henry


comentou se sentando ao lado dela para lhe fazer
companhia. Teria que esperar o efeito da bebida diminuir
antes que a mandasse para casa.

― Sim, mas por que a mulher também não pode saber?

Porque, se elas já são um perigo inocentes, imagine o


estrago que fariam se soubessem exatamente o que fazer
para seduzir um homem? ― Henry pensou em dizer, mas em
vez disso falou:

― Eu não faço ideia e, sinceramente, não me importo. ― deu


de ombros.

― Claro, não é você que chegará às escuras em seu


casamento. ― Phillipa ironizou.

― Se está tão insatisfeita com sua falta de conhecimento,


por que não pergunta a sua mãe?

― Henry sugeriu. Phillipa olhou para ele e revirou os olhos.

― Eu já tentei perguntar. Na primeira vez, ela se engasgou


com o chá e disse que eu não devia me interessar por essas
coisas e que meu marido saberia o que fazer. ― Phillipa
suspirou aborrecida que ninguém explicasse nada a ela. ― E
quando perguntei a Sra. Hugges, ela disse que isso não era
assunto para uma dama e que eu nunca mais tocasse nele.
Tentei subornar uma criada, mas ela não foi de muita ajuda,
dizendo que apenas era como os animais e que o meu
marido saberia o que fazer.
Phillipa não sabia se era o efeito da bebida, mas não
conseguia parar de falar e quando olhou para Henry, pegou-
o rindo. Era a primeira vez que ele ria na presença dela e
ficou fascinada com o sorriso dele.

― O que foi? ― ele perguntou quando ela passou um tempo


sem desviar o olhar da boca dele e, por um momento, o
homem se perguntou como seria beijá-la.

― Seu sorriso é ainda mais bonito do que quando eu me


lembrava. ― Phillipa comentou sem pensar. Definitivamente,
era efeito da bebida. ― Mas não devia rir da minha
desgraça.

― Eu não estou rindo da sua desgraça, estou imaginando as


situações que descreveu. ―

ele desviou o pensamento do assunto sobre beijos e virou o


rosto, porque tê-la olhando fixamente para sua boca só o fez
querer beijá-la.

― Ah. Mas diga-me, é como os animais? Porque eu já vi um


cavalo cobrindo uma égua e não me pareceu tão agradável.
O... ‒ Ela corou sem conseguir falar a palavra ‒ você sabe...
do cavalo... era enorme… O seu é daquele jeito?

Henry se engasgou e começou a tossir.

― Pelo amor de tudo que é sagrado, Phillipa, não me


pergunte essas coisas. ― Ele desviou o olhar desconsertado.

― Mas como vou saber se não perguntar? Você poderia me


responder.

― Seu marido lhe dirá. ― ele respondeu não dando margem


para que continuassem a conversar sobre aquilo.

Phillipa ficou em silêncio e abaixou a cabeça.


― Eu não disse que não é justo? A mulher não pode saber de
nada. Parece até que só servimos de enfeite.

Ficaram um tempo em silêncio.

― Henry, você já esteve com alguém? ― Phillipa perguntou.

― Por favor, Phillipa não vamos falar mais desse assunto.

― Por favor, não é nada demais. Só me responda.

― Já sim. Por quê?

― É que me disseram que é doloroso para mulher. É


realmente assim?

― Phillipa, esse realmente não é um assunto adequado. Sua


mãe lhe explicará tudo quando você for se casar. ‒ Henry
passou os dedos pelo cabelo, nervoso.

― Vocês também sentem dor na primeira vez? ‒ Ela ignorou


o pedido para mudar de assunto deliberadamente. Se sentia
tão desinibida que não queria perder a chance de elucidar
suas dúvidas e ele, com certeza, sabia sobre aquele assunto.

― Não. Agora chega desse assunto.

― Tudo bem. ― Phillipa concordou entristecida.

Ficaram alguns minutos em silêncio até que a jovem tornou


a perguntar.

― Henry. ― chamou-o e ele percebeu que ela estava corada.

Agora que ela decidiu ficar envergonhada?

― O que foi, Phillipa?


Olhou-o e fixou seus olhos na boca do Lorde. Lábios
carnudos e tentadores.

― Você já beijou alguém? ― perguntou mantendo o olhar


naquela região.

― Phillipa, aonde quer chegar? ― Henry perguntou, sentindo


o coração acelerar ao perceber que ela fitava sua boca.

― Como é... beijar? ― Ela perguntou ainda fitando a boca


dele.

― Pare com isso, por favor. ― Ele pediu ao ver que Phillipa
se afastava da parede e se aproximava dele. ― Isso não é
assunto para uma dama como você.

Henry sabia que devia impedi-la de fazer o que estava


planejando. Não só por ela, mas também por ele. Já estava
sendo difícil ficar ali com ela tão perto, ver em seus olhos o
desejo de beijá-lo era uma tentação que ele não sabia se
suportaria.

― Eu nunca estive tão próxima de alguém… ― ela


comentou, ignorando o protesto dele e se aproximou
mordendo o próprio lábio. ‒ E você é tão... Bonito.

― Phillipa... ― Ele tentou chamar a atenção dela ― Por


favor, não faça nada estando influenciada pela bebida,
presumo que se agir de forma impensada, poderá se
arrepender de seus atos.

― Não se preocupe, não estou influenciada pela bebida. ―


rebateu ainda olhando fixamente para a boca dele. ― E não
creio que me arrependerei.

― Não faça… ― ele avisou, mas já era tarde. Phillipa já havia


se inclinado e o resto da frase se perdeu quando ela ocupou
sua boca.

Henry sentiu os lábios dela nos seus e perdeu todo controle


que ainda restava em si.

Passou a língua nos lábios de Phillipa sentindo o gosto da


cerveja que ela tinha bebido.

Os lábios dela se moldavam perfeitamente aos dele, e ele


percebeu que nunca provou nada tão deliciosamente
provocante. Por um instante se esqueceu que ela era uma
Lady, tudo que sentia era o doce roçar dos lábios dela e não
conseguindo suportar tamanha tortura, invadiu a boca de
Phillipa com sua língua.

Henry não encontrou nenhuma resistência ao explorar a


boca macia e úmida de Phillipa, e muito menos ela lhe
impediu de afundar as mão nos cabelos loiros dela quando
ele a puxou mais para si. A inocência e a entrega dela lhe
eram fascinantes e ele se viu tentado a tomar tudo que ela
quisesse lhe oferecer.

Quando se afastou dela, ofegante, Henry percebeu o erro


que tinha cometido.

Maldição, aquela era sua prima, uma Lady, inocente e pura,


ele não tinha o direito de desejá-la, quanto mais de tocá-la
daquela forma.

Henry se repreendeu mentalmente, não devia ter permitido


que ela o beijasse, afinal, estava agindo sob o efeito de
álcool, tão logo este passasse, tinha plena certeza que
Phillipa se arrependeria.

Henry se ergueu e estendeu uma mão para ajudá-la a fazer


o mesmo.
― Permita-me.

― Para onde vamos? ― perguntou quando o viu se adiantar


para a porta.

― A levarei para casa.

― Acho que o efeito da bebida ainda não passou. ― Phillipa


tentou argumentar. Ainda não estava pronta para voltar para
casa, queria aproveitar mais um pouco de sua breve
liberdade.

― Não importa, escalarei a parede externa de seu quarto e a


colocarei na cama se for preciso, mas a quero em casa onde
estará segura.

― Estou segura aqui com você. ― a jovem apontou confusa,


ele poderia protegê-la, não?

― É exatamente aí que mora o perigo.

Phillipa não entendeu o que ele quis dizer com aquilo, pois
sabia que nunca a machucaria, afinal Henry era seu amigo e
sua família e já tinha provado que não deixaria algo de ruim
acontecer com ela, pois a tinha salvo de Sutterford.

― Você nunca deixaria ninguém me machucar. ― Phillipa


estava convicta disso.

― Estamos perdendo tempo. Apresse-se.

Henry a guiou primeiro para a cozinha, aonde lhe fez beber


um copo de água, em seguida a levou para fora do clube e
ordenou a um de seus empregados que trouxesse a
carruagem para levá-los até a casa de Phillipa. Pediu ao
cocheiro que fizesse o trajeto mais longo, dando assim a
Phillipa um tempo maior para tentar se recuperar.
Entraram na carruagem, mas por ser pequena, acabaram
sentando lado a lado. O

movimento do transporte e o sono causado pela bebida


fizeram a jovem se reclinar inconscientemente no ombro do
Lorde e rapidamente adormeceu ali.

― Phillipa, chegamos. ― Henry a sacudiu gentilmente


tentando acordá-la.

― O quê? ― perguntou sonolenta e confusa.

― Já chegamos, precisa ir antes que nos vejam aqui. Você


consegue andar? ― Henry desceu da carruagem e esticou a
mão.

― Eu estou bem sim. ― Phillipa respondeu e saiu da


carruagem, mas ao descer pelos degraus, acabou perdendo
o equilíbrio e precisou da ajuda de Henry para não cair.

― Steve, coloque a carruagem mais à frente e me espere lá.


― Henry ordenou para seu cocheiro. Ajudou Phillipa a
atravessar os jardins e seguir para a janela de seu quarto.

― Eu estou bem, nem bebi tanto assim. ― comentou, mas


sua voz não saiu tão limpa quanto gostaria. Além do mais,
seu equilíbrio estava levemente prejudicado e não sentia os
dedos das mãos nem dos pés.

― Pode ser que não, mas não é acostumada a beber. ―


Henry explicou.

Eles atravessaram o jardim silenciosamente e quando


chegaram em baixo da janela de Phillipa, Henry percebeu a
altura.

― Você não tem mesmo juízo não é. Tem noção do perigo


que correu usando a janela para sair? ― Somado às suas
palavras, Henry a fuzilava com o olhar reprovador.

― Nunca aconteceu nada. ― Phillipa respondeu se


aproximando da trepadeira para escalá-la.

― Não vai subir aí nesse estado. ― Henry a interceptou


antes que ela começasse a subir.

― Não tem outra forma de entrar sem acordar ninguém,


além do mais eu tranquei a porta do meu quarto. ― Phillipa
explicou colocando as mãos na cintura. ― Não tem perigo, já
fiz isso várias vezes.

― Maldição, mulher, ainda vai se matar desse jeito! ― Henry


passou as mãos pelo cabelo e olhou para cima tentando criar
um plano mais seguro que apenas ela escalar sozinha aquela
parede. O jeito seria ele mesmo escalar e jogar algo que
Phillipa pudesse usar como corda. Assim não teria tanto
perigo de ela se acidentar. ― Fique aqui.

Henry escalou a trepadeira com facilidade. O quarto dela


estava iluminado com apenas uma vela no castiçal da
parede, o que permitiu que ele enxergasse parcialmente o
interior. Entrou pela janela e começou a procurar por algo
que pudesse usar para puxar Phillipa para cima.

Decidiu optar pelas cortinas. Amarrou firmemente uma na


outra e fez um laço em uma extremidade, mas antes que
pudesse jogar o lençol pela janela, ouviu Phillipa gritar.

Henry correu até a janela, preocupado, e percebeu que


Phillipa estava pendurada tentado escalar. Ela tinha
conseguido chegar até próximo a janela, e graças aos céus
não estava fora do alcance de Henry.

Ele se esticou para segurá-la e com um pouco de esforço,


puxou-a para dentro do quarto.
Ambos caíram no chão quando a puxou com mais força do
que deveria.

― Você enlouqueceu? ― Henry estava furioso ao se levantar.

― Não foi nada demais. ― Phillipa tentou se justificar. ―


Apenas escorreguei, mas eu ainda estava segura.

― Pelo amor de Deus, mulher, se quer se matar faça isso


quando não estiver comigo. ―

Henry ainda estava preocupado e enfurecido.

― Eu não estava tentando me matar. ― Retrucou.

Henry respirou fundo.

― É melhor que eu vá embora. ― Henry resmungou se


aproximando da janela. ― Espero que tenha mais juízo, caso
contrário ainda quebrará esse pescoço.

Henry desceu rapidamente, estava tão furioso que quando


desceu puxou fortemente uma parte da trepadeira e esta
cedeu. E por pouco não se desequilibrou.

Maldita trepadeira.

Phillipa andou na direção da cama e tropeçou nas cortinas


que estavam jogadas no chão, não vira que estavam ali. Ela
recolheu as cortinas e colocou ao lado da cama. De manhã,
arrumaria aquela bagunça, mas naquele momento tudo que
queria era deitar e dormir. Retirou o vestido com dificuldade
e o escondeu dentro das cortinas; em seguida deitou na
cama e adormeceu.

― Milady, abra a porta. ― Uma criada batia e gritava por ela.


― Lady Phillipa, está aí?
Phillipa acordou no sobressalto, sentiu a cabeça rodar e a
boca tinha um gosto péssimo.

― Estou indo, só um momento.

Ao sair da cama, viu as cortinas e rapidamente tirou o


vestido de dentro delas, jogou-o dentro de um de seus baús
e tratou de recolocar as cortinas no lugar, mas seria
impossível com as pontas amarradas.

Cuidaria daquilo quando despachasse a criada. Ela seguiu


até a porta e a destrancou, abrindo em seguida apenas uma
fresta.

― Ah, graças a Deus, pensei que algo tivesse lhe ocorrido.


Estou batendo há vários minutos.

― Está cedo e eu estava com sono. ― Phillipa respondeu. ―


O que quer?

― A sua mãe está perguntando se não vai se juntar a eles


para a refeição.

― Diga a ela que eu não estou me sentindo bem, estou um


pouco cansada, poderia trazer algo para eu comer aqui?

― Claro, Milady. ― A criada se retirou e Phillipa se apressou


em retirar todas as provas de sua saída na noite anterior.

A cabeça da jovem doía e ela tentava se lembrar o que


fizera. Como um baque, as lembranças a atingiram, entre
elas, a do beijo de Henry. Phillipa tocou seus lábios ainda
sem acreditar no que fizera. Entretanto, apesar de surpresa
com a própria coragem, estava sorrindo.

Fora maravilhoso, ela se sentia viva, e pela primeira vez na


vida, sentia-se livre.
Enquanto arrumava as cortinas, um brilho próximo à janela
chamou sua atenção. Era um relógio. Ao reconhecer a peça,
Phillipa não pode segurar a risada. Parece que veria Henry
novamente mais cedo do que imaginaria.

CAPÍTULO 7 – TRÊS DIAS

Henry soube, assim que se deu conta da falta do seu relógio,


que veria Phillipa novamente.

O objeto devia ter caído em algum momento enquanto


estava na casa dela. Com certeza, ela o acharia e apareceria
lá para devolver o relógio.

Entretanto, dessa vez antes que ela aparecesse no Clube


outra vez, Henry daria um jeito de encontrá-la em um lugar
público e seguro. Depois de beijá-la na noite anterior, não
poderia correr o risco de repetir a façanha e, se ficasse
sozinho com ela, com certeza a beijaria, dessa vez sem que
ela o pedisse.

Passara a noite acordado pensando no beijo e amaldiçoando


a si mesmo por dar tanta atenção a algo tão trivial, afinal,
havia sido apenas um beijo, mas nunca fora beijado por uma
mulher antes. Era ele sempre quem tomava a iniciativa, mas
Phillipa tinha lhe beijado, bêbada, mas o tinha feito, e ele
não fizera nada para impedir porque não queria impedi-la e
sim tomá-la para si. Se importava com ela mais do que
gostaria de admitir.

Decidiu se ocupar, se ficasse apenas pensando em Phillipa


não faria nada de proveitoso naquele dia.

Phillipa teve um dia cheio, sua mãe fora ao seu quarto saber
como ela estava e, assim que constatou que a filha não
parecia tão doente, tinha lhe obrigado a lhe acompanhar em
um chá em Claire House e à noite, foram assistir à ópera no
Teatro Real. Fora apresentada a diversos cavalheiros que,
segundo sua mãe, eram potenciais maridos para ela.

A Lady não poderia estar menos interessada em cada


homem que conhecera. Não que algum deles realmente não
fossem bom partido, um ou dois tinham lhe sido bastante
agradáveis, entretanto não sentira vontade de se casar com
nenhum.

Quando finalmente chegou em casa, já passava das dez. Sua


criada lhe ajudou a trocar de roupa, assim que esta a deixou,
Phillipa colocou novamente seu plano em prática.

Estava empolgada, a noite anterior tinha sido maravilhosa,


menos a parte que Henry havia tentado expulsá-la do Clube.
Ela se sentiu viva quando bebeu na Ala da Gula, e se sentiu
ainda mais livre quando subiu para o escritório de Henry e o
beijo… Essa tinha sido a melhor parte da noite.

Phillipa sentia uma emoção diferente, era bom poder não ser
a dama da nobreza regrada e composta. A aventura da noite
anterior despertou nela um desejo de liberdade. Havia
passado o dia pensando no que faria quando chegasse a
noite.
Levaria o relógio apenas para usá-lo como desculpa para
quando Henry a encontrasse, mas ela estava indo mesmo
era pela promessa de liberdade que havia encontrado no
Rogue’s.

Subiu na cama e procurou o objeto em baixo do seu


travesseiro, tinha colocado o relógio

ali antes de ir para a ópera. Era o relógio de bolso de Henry.


Mais tarde, pretendia ir ao clube para devolvê-lo, mas dessa
vez não pretendia beber. Henry ficaria muito irritado ao vê-la
novamente lá. ― Aquele pensamento a fez sorrir.

Talvez irritá-lo não fosse uma boa ideia, mas não conseguia
resistir a causar nele um pouco de raiva. Ele bem que o
merecia depois de tudo que já tinha dito a ela. Era evidente
que a presença dela não o alegrava e Henry preferia que ela
não corresse nenhum risco de manchar sua reputação, mas
saber de tudo aquilo só a animou ainda mais. Tinha algo
muito irresistível em irritar Henry. Gostava demasiadamente
de tirá-lo do sério.

Depois de colocar um vestido simples e de cor escura e


pegar uma capa que lhe cobria a cabeça, Phillipa esperou a
criada verificar se já tinha dormido, quando essa se retirou e
a casa ficou silenciosa, a Lady olhou o relógio para ver se já
estava na hora planejada e desceu novamente pela
trepadeira.

Assim que virou a esquina a carruagem a esperava. Tinha


contratado os serviços do cocheiro naquela tarde e ficou
aliviada ao perceber que ele tinha seguido o combinado.

Não demorou muito e logo estava na porta dos fundos do


Clube de cavalheiros.
― Esteja aqui em uma hora, precisarei que me leve de volta.
― Ela pediu lhe estendendo algumas moedas. ― E gostaria
de contar com sua discrição, claro.

O homem assentiu em concordância e se retirou.

Novamente seguiu para o quarto onde as meninas se


trocavam. Dessa vez pegou um vestido branco e uma
máscara branca. Agora que sabia que o vermelho
significava, iria evitá-lo.

Phillipa andou um pouco pelo Clube, não tinha conseguido


ver muito da última vez já que o Henry tinha lhe visto e ido
ao seu encontro, agora ela não tinha pressa. Observou que o
ambiente era bem delimitado, as bebidas eram servidas em
um lado, as mesas de jogos ficavam mais à frente e em
outro lugar, tinha um espaço onde estava tendo uma luta.

O barulho naquela última ala chamou a atenção de Phillipa.


Dois homens se enfrentavam, ambos mascarados e um
deles estava desnudo da cintura para cima. Um deles era
ruivo, alto e tinha um corpo muito bem delimitado, os
músculos saltavam dos braços contraídos e este parecia
levar a melhor sob o loiro, que não tinha metade da
constituição física do ruivo.

Parecia uma luta desigual.

Os homens que assistiam estavam alvoroçados com a luta,


incentivavam ambos os lutadores, apesar de não chamarem
nenhum pelo nome. Ao que parecia nomes eram proibidos
ali.

Phillipa ficou um tempo observando o ruivo musculoso


desviar dos golpes fracos que o loiro aplicava, era evidente
que aquela era uma luta ganha.
― Ei, garota, vai ficar ai só olhando? Tem gente nas mesas
precisando ser servida. ―

Uma mulher, também de branco, chamou a atenção de


Phillipa.

― Desculpe. Eu me distraí.

― Percebi. Agora volte ao trabalho.

Phillipa seguiu a mulher, mas na metade do caminho, Henry


a interceptou.

― O que diabos faz aqui? ― sussurrou com uma voz


ameaçadora.

Phillipa sorriu com a irritação que ele demonstrava.

― Eu encontrei seu relógio, de novo. ― respondeu.

― E então não podia deixar de vir aqui, no meio da noite,


devolver… De novo. ― Henry completou ainda furioso. ― Eu
sabia que faria isso, só não pensei que fosse fazer hoje. Você
está pedindo por um escândalo.

― Não estou. ― Phillipa rebateu.

― Então o que diabos está fazendo?

― Apenas me divertindo. ― explicou como se fosse o óbvio.

― Se divertindo? ― Henry a fitou incrédulo ― Isso não é


modo de uma dama se divertir.

Sua reputação pode ser manchada a qualquer momento.


Isso não é diversão, é falta de bom senso.
― Mas o Phill pode se divertir aqui. ― Phillipa se irritou e
elevou a voz chamando a atenção para eles. ― Todos esses
homens podem se divertir aqui.

Henry a arrastou para o seu escritório, não faria uma cena


no meio do Clube.

― Podem. Eles são homens. ― retrucou assim que estavam


a sós. ― Eles não terão a reputação manchada caso sejam
descobertos e muito menos é errado que eles estejam aqui.
Por outro lado, a senhorita…

Não era preciso dizer mais nada. Phillipa sabia exatamente o


que ele queria dizer. Os homens podiam fazer o que bem
entendessem e continuavam sendo bem vistos pela
sociedade, já as mulheres deveriam seguir cada maldita
regra para não ser rejeitada pela sociedade.

― Eu odeio que as mulheres não possam fazer o mesmo que


os homens. ― praguejou.

― Vocês tem seus bailes, concertos e saraus. Tem uma


temporada toda para se divertirem.

― Henry tentou mostrar os pontos positivos e falhou


miseravelmente quando viu que isso só aumentou a ira de
Phillipa.

― A temporada nada mais é que uma exposição para ver


quem dá o maior lance. Uma exposição de possíveis noivas
para que os homens escolham o prêmio que levarão para
suas casas e chamarão de esposa. Temos que ser recatadas,
inocentes, obedientes, nunca elevar a voz, sempre sorrir
sem realmente sorrir, não podemos falar sobre politica, nem
discutir qualquer assunto que seja visto como masculino. Eu
estou cansada de tudo isso, Henry, será que é demais eu
querer me divertir um pouco, diversão de verdade? Mamãe
já cansou de dizer que eu nunca seria uma dama adequada
e tentou de tudo para que eu fosse moldada à sua vontade,
e eu juro que tentei, mas não dá. Não dá. Entende? Não
consigo evitar ser quem eu sou. Cansei de tentar fingir ser
alguém que eu nunca conseguirei ser. Eu tentei ser a mulher
perfeita, mas desde aquela primeira noite que eu vim aqui,
que eu saí escondida no meio da noite, eu me senti viva.
Naquela noite, me senti livre. Então não me peça para ir
embora. Se não for aqui, será em outro clube. Eu quero
poder viver, Henry, e não apenas ver meus dias passarem na
minha frente sem realmente serem vividos.

― E o que ganha com isso Phillipa? Sabe que não pode fazer
isso para sempre, não pode ficar fugindo de casa na calada
da noite e, quando se casar, o que acha que seu marido dirá
de suas aventuras? ― questionou sério.

― Eu não pretendo me casar. ― Phillipa sussurrou


debochada. ― Não sou adequada ao

papel de esposa, nunca soube ser submissa ou obediente.


Levaria meu marido à loucura em menos de uma semana,
tenho certeza.

Ela ria de si mesma e Henry revirou os olhos.

― Isso não é verdade.

― É claro que é. ― Phillipa respirou fundo e retirou do bolso


o relógio. ― Pegue.

‒ Onde você vai? ‒ Henry perguntou ao ver que ela se dirigia


para a porta.

‒ Procurar diversão em outro lugar, já que aqui não sou bem-


vinda.
Phillipa estava consciente que ele não permitiria que ela
continuasse ali e ela não iria se humilhar para isso. Teria que
encontrar outra forma de se sentir livre.

Henry viu a resignação e a determinação no olhar dela. A


moça não desistiria daquela loucura. E só Deus sabia o que
aconteceria se ela não estivesse sob o olhar dele.

― Eu vou me arrepender disso. Sei que vou. ― Henry falou


consigo e em seguida fitou Phillipa. ― Tudo bem, você
conseguiu.

― Como? ― Phillipa o olhou sem entender nada.

― Se não posso te impedir de fazer nenhuma tolice, então


pelo menos posso ficar de olho em você e te impedir de ser
ainda mais imprudente. Mas apenas hoje e só por uma hora.
Depois disso você vai para casa e vai prometer ficar longe de
qualquer coisa que possa manchar a sua reputação.

― Um mês. ― Ela barganhou com ele. ― Depois disso, eu


prometo ficar comportada.

― Até o fim da semana. ― Henry fez uma contra-proposta.

― Mas isso é só quatro dias.

― Ainda é melhor que apenas um. É pegar ou largar.

― Vinte dias. ― ela tentou.

― Até o fim da semana, nem um dia a mais.

― Quinze e não se fala mais nisso ― manteve o olhar firme.


― Mas se não quiser, eu vejo outro jeito de me divertir.

Henry semicerrou os olhos, a maldita sabia barganhar. Bom,


pelo menos, quinze dias ainda era melhor que um mês.
― Combinado. ― cedeu desgostoso.

Phillipa sorriu, a euforia a tomou e ela se jogou nos braços


de Henry. Ele recebeu o abraço, surpreso. O corpo
pressionado contra o seu e o sorriso de Phillipa tinham
desestabilizado sua irritação e ele a envolveu em seus
braços a apertando contra si sem ao menos perceber que o
fazia, era automático.

― Obrigada! ― a moça o fitou e Henry pode ver o brilho de


empolgação em seu olhar. ―

O que vamos fazer primeiro?

― Me diga você. O que gostaria de fazer em um clube? ―


Henry perguntou a afastando de si quando notou que ainda
a mantinha em seu abraço. Tinha gostado mais do que
deveria de tê-la em seus braços.

― Eu não sei, deixe-me pensar… ― Phillipa estava muito


empolgada, e isso fez falar apressadamente. ― O que os
homens costumam fazer aqui?

― Um pouco de tudo, bebem, jogam, apostam, lutam…

‒ Ontem eu bebi… ‒ ela se lembrou.

‒ Eu estou ciente desse fato. ‒ olhou-lhe desaprovador e ela


revirou os olhos.

― Então eu quero jogar cartas. Parece ser divertido. Vamos.


― ela o tomou pela mão e o se virou para a porta, mas
Henry não saiu do lugar.

― Se quiser fazer tudo isso, terá que ser aqui, onde estará
segura e ninguém irá lhe reconhecer.
― Eu sabia que estava bom de mais para ser verdade. ―
Phillipa bufou balançando a cabeça. ― Mas tudo bem, vamos
jogar.

Henry foi até sua mesa e abriu uma gaveta, retirando de lá


um baralho. Ele sentou-se de um lado da mesa e gesticulou
para que Phillipa sentasse do outro lado.

― Esse é simples, chama-se Blackjack. O propósito é


conseguir chegar ao número vinte um na soma das cartas,
ou ao número mais próximo que conseguir sem passar de
21. ― Ele mostrou as cartas e apontou para um ás ― O ás
vale um ou onze se tiver com ele um rei, uma dama, ou um
valete, que por sua vez valem dez cada um, então você tem
um blackjack. As cartas numeradas valem exatamente o
número que possuem. Ou seja, o cinco vale cinco pontos, o
sete vale sete, o dois vale dois… Entendeu?

― Sim, não parece muito complicado. ― Phillipa disse


olhando para as cartas e tentando decorar tudo que Henry
tinha instruído. ― O ás vale um, o rei, a rainha e o valete
valem dez cada um, e o resto vale o número que possui.
Devo tentar chegar ao vinte e um sem passar dele.

Entendido.

― Eu serei o Dealer. ― Henry embaralhou as cartas e pediu


que ela dividisse em dois montes. Colocou uma carta para
ela e uma para si, ambas com a face para cima, em seguida
acrescentou uma para ela e dessa vez a sua foi virada para
baixo. ― Você está jogando contra mim, terá que fazer mais
pontos do que eu. Você tem ao todo doze pontos e sabe que
no mínimo eu tenho seis. Você pode pedir uma nova carta ou
pode parar por ai. Se parar e eu tiver um 13, então eu terei
vencido. Se as minhas forem menor que doze, você vencerá.
Então o que quer? Pede ou para?
― Eu quero mais uma. ― Phillipa pediu e Henry colocou mais
uma carta para ela, era um sete de paus.

― Agora tem 19 pontos, pede mais uma ou para?

― Paro.

Henry desvirou a carta dele, e obteve um oito, fazendo treze


pontos. Então puxou mais uma, era um cinco de paus,
fazendo 18 pontos.

― Parabéns, você venceu. ― Henry sorriu para Phillipa.

― É muito fácil. ―Phillipa sorriu. ― Vamos de novo.

Jogaram novamente, mas dessa vez Phillipa fez vinte e cinco


pontos.

― De novo.

Henry riu e voltou a dar as cartas. Dessa vez ela, ganhou e


depois repetiu a vitória.

― É muito fácil ganhar de você. ― Phillipa comentou


divertida.

― Então está pronta para apostar? ― perguntou com um


sorriso malicioso.

― O que vamos apostar? ― Phillipa ficou ainda mais


animada.

― Dias.

― Como assim? ― A jovem ficou confusa.

― Vamos apostar quantos dias você fica aqui. ― Henry


explicou. ― Se você ganhar, uma quantidade de dias
apostada será acrescida aos seus quinze dias que já possui.
Se perder, os dias serão descontados. A não ser que tenha
medo de perder.

― Claro que não. Vamos jogar. Começamos com quantos


dias? ― Phillipa perguntou concentrada.

― Vamos começar com cinco dias.

― Não, cinco é muito. Vamos apostar dois.

― Tudo bem, com dois então.

Então começaram.

Henry deu a primeira mão de cartas, Phillipa recebeu um


nove enquanto ele mesmo recebeu um dois. A segunda carta
de Phillipa foi um sete. A jovem somou na cabeça, nove e
sete davam dezesseis. Tinha que tirar no máximo um cinco.
Deveria arriscar? Ela pediu mais uma carta. E quando ele
virou o cinco em cima da mesa uma euforia a atingiu. Um
Backjack. Tinha conseguido.

― Tenho dezessete dias agora. ― Ela comemorou. ― Vamos


de novo. Mais dois dias.

― Quando se está jogando apostado, se está ganhando tem


que aumentar a aposta. ―

Henry comentou enquanto recolhia as cartas.

― Tudo bem, três dias então.

― Quatro dias. ― Ele desafiou.

― Vamos lá. ― Phillipa concordou.


Henry deu novamente as cartas. Phillipa recebeu um rei e
um valete. E a carta de Henry era um cinco. Ela não pediu
nenhuma carta. O Lorde virou a que estava com a face para
baixo. Era um sete. Ele puxou nova carta. Um rei. Total vinte
e dois. Perdeu.

― Eu ganhei de novo! ― Phillipa estava eufórica. A emoção a


fazia se sentir confiante. ―

Eu tenho um Blackjack de dias agora.

― Então, vamos de novo? ― Henry sorriu com a animação


dela. Era assim que começava.

― O dobro ou nada?

A onda de vitória fazia o jogador se sentir poderoso, com


isso acabava se descuidando e fazendo uma rodada mal
pensada.

― Por que não apenas seis dias?

― O dobro ou nada. Você pode ficar em seus vinte e um


dias, ou pode tentar ficar com vinte e nove, é quase o mês
que você queria... ― Henry desafiou.

― O dobro, então. ― Phillipa concordou decidida a ganhar. ―


Oito dias.

Henry distribuiu as cartas novamente. Para ele, um rei. E


para ela, um cinco e um dois. Ela pediu mais uma carta.
Recebeu um três. Pediu mais uma. Recebeu um seis. Agora
tinha dezesseis.

Phillipa ponderou.

Ela seria uma boa jogadora ― Henry pensou. ― Não jogava


sem antes analisar as possibilidades.
― Quero mais uma. ― Ela pediu.

Henry lhe entregou mais uma carta. Dessa vez um dez.

― Maldição. ― Phillipa praguejou e a onda de tristeza e raiva


a atingiram. Tinha perdido oito dias. Agora só tinha treze
dias. Precisaria recuperar o que perdeu. ― De novo.

― A aposta inicial então. Dois dias.

― Tudo bem.

Eles voltaram a jogar. Phillipa fez dezenove pontos. Henry


fez vinte. Novamente, ela perdeu.

― Ah que inferno. Você sabia que eu ia perder não sabia? ―


perguntou furiosa.

― Não. ― respondeu com um sorriso. ― A vitória sempre


depende de jogador. Quer mais uma partida?

― Eu vou parar. Só me resta onze dias, e de forma alguma


eu vou perder. Não podemos apostar outra coisa?

Ela queria jogar, era evidente, mas estava com medo de


apostar seus dias. Não poderia mais perder, só lhe restavam
onze dias.

― Você pode apostar qualquer coisa que tiver… O que você


quiser. Mas você só tem mais quinze minutos, então só dá
tempo de mais uma partida. O que gostaria de ganhar?

Phillipa olhou para ele e percebeu que ele a olhava tão


intensamente que o beijo da noite anterior voltou a sua
mente. Tinha gostado muito daquilo.

― Um beijo. ― ela pediu envergonhada antes que perdesse


a coragem.
Henry observou as bochechas dela ficarem rosadas e ela
apertou as mãos no colo. Sim, ela queria um beijo tanto
quanto ele gostaria de dar. Maldição. Aquilo não terminaria
bem, deveria recusar e dizer que não aceitaria aquela
aposta, devia dizer que era tolice e até mentir dizer que não
a desejava. Era o correto a se fazer. Já ia se arrepender por
ter aceitado que ela participasse do Clube por quinze ―
agora onze ― dias.

Se é para se arrepender, que seja por alguma coisa grande.


Henry decidiu.

― E se você perder, qual será o meu prêmio?

― O que gostaria? ― ela estava incrédula que tivesse


realmente ponderando aquilo.

― A única coisa que me interessa ganhar são dias. Que tal…


Oito dias?

― Não. Não vou apostar meus dias. Você vai ter que me
aturar por onze dias. ― Phillipa

foi firme. Não perderia mais nenhum dia, quanto mais oito
de uma vez.

― E se eu melhorar a aposta? Estou disposto a dar quantos


beijos você quiser e mais quatro dias para que volte a ter
quinze dias.

Phillipa ponderou. Era uma aposta tentadora. Se ganhasse


teria, além dos dias de volta ao número original, quantos
beijos ela quisesse.

― Quantos beijos eu quiser mais quatro dias, se eu ganhar e


oito dias, se eu perder?

― Exatamente, o que me diz?


Phillipa olhou para ele pensando se devia arriscar ou não. Se
ela perdesse só lhe restariam 3 dias. Só se divertiria até o
fim da semana. Sentiu o coração bater acelerado, era uma
difícil decisão.

― Está com medo de perder? Não pensei que fosse covarde.


― Henry a provocou sorrindo e isso a fez se decidir.

― Tudo bem, vamos jogar.

O Lorde abriu um sorriso predador e deu a primeira carta a


Phillipa, era um rei. Enquanto que ele tirou um valete. Em
seguida, ele deu outra carta para Phillipa. Um dez. Ela sorriu,
ele teria que tirar um ás para ganhar dela. Henry puxou a
carta e a colocou de cabeça pra baixo, e ao perceber que ela
não iria mais pedir nenhuma, desvirou a sua, era um ás.

― Eu perdi? ― Ela olhou incrédula para as cartas. ― Droga.


Eu não pensei que fosse perder.

― Foi sorte. ― Henry juntou as cartas para guardá-las. ―


Pura sorte.

Henry guardou as cartas e se levantou. Ele se aproximou


dela e sentou-se na mesa, ficando em frente a Phillipa, que o
olhava com a expressão mais triste que ele já tinha visto.

― Acho que está na hora de ir.

― Eu sabia que não devia ter apostado, era exatamente isso


que você queria… ―

comentou desanimada. ― Mas, pelo menos, ainda me


restam três dias.

― Não seja uma má perdedora, Phillipa. Você acaba de


aprender uma lição valiosa: Nunca aposte mais do que está
disposta a perder. ― Henry debochou e isso a fez encará-lo
com raiva. Ela não esqueceria tão cedo dessa valiosa lição.
― Mas acredito que mereça um prêmio de consolação.

Henry se aproximou de Phillipa e segurou seu rosto entre


suas mãos. Sua fúria imediatamente se evaporou quando
sentiu o toque dele e outras sensações tomaram conta de
seu corpo. Seu coração acelerou junto com sua respiração e
tudo que ela sentia era Henry.

‒ Você quer seu prêmio de consolação? ‒ ele aproximou a


boca da dela sem pressa, provocando-a.

‒ Sim.

E então, com um sorriso, Henry a beijou.

O Lorde tinha gostado de beijá-la no dia anterior, mas o beijo


da noite anterior não poderia ser comparado com esse. O de
ontem ela não estava muito ciente do que fazia. Já nesse,
Phillipa se entregava àquelas sensações sedenta por mais.
Ela agarrou a lapela do casaco de

Henry e ele a puxou contra si. Suas línguas de movendo em


uma batalha erótica.

Phillipa sentiu seu ventre se apertar. Os braços de Henry ao


seu redor eram quentes e a envolviam deliciosamente,
apertando-a contra ele. Ela podia sentir os músculos firmes e
uma rigidez pressionada contra a barriga dela. As mãos dele
exploravam seu corpo por cima do vestido e ela sentia seu
próprio corpo responder aquele toque.

O Lorde desceu as mãos para as nádegas de Phillipa e a


puxou de encontro ao próprio quadril. Ah, como queria se
enterrar dentro dela. ― Henry gemeu ante o pensamento
que invadiu sua mente e o trouxe de volta para a realidade.
Precisava parar com aquilo, não devia nem sequer beijar
Phillipa. Maldição. Então ele se afastou da jovem,
interrompendo o beijo.

Ela estava ofegante e com os lábios vermelhos e o Lorde


nunca a viu tão linda. A vontade de beijá-la novamente e
fazer bem mais que isso era forte.

― Está na hora de ir para casa. ― Ele andou até a porta sem


olhar para ela. ― Vamos.

Phillipa estava tão absorta no que tinha acabado de


acontecer que não conseguiu encontrar palavras, então
apenas concordou com a cabeça e fez o que ele mandou.

Ele a guiou para o vestiário, esperou ela se trocar, seguiram


para fora do Clube e entrou com ela na carruagem.

― Não precisa ir comigo até em casa. ― a Lady anunciou,


corando quando percebeu que ele a acompanharia.

― Claro que preciso. Você vai subir por aquela maldita


trepadeira e eu só conseguirei dormir depois que ver que
não quebrou o pescoço caindo dali.

Phillipa observou o Lorde por um momento, ele não a olhava


e parecia irritado, mas, ainda assim, estava indo com ela
para mantê-la segura. Era evidente que ele se importava
com ela. Ela fitou a boca dele, era carnuda e deliciosa,
queria poder beijá-lo novamente, seu corpo queria isso.

Henry a observou morder e umedecer os lábios enquanto


olhava para a boca dele.

Maldição. Beijá-la tinha sido um erro. Os lábios dela eram um


pecado por si só e a forma que ela se entregou o fez
imaginar como ela seria na cama. Deliciosamente ativa.
Phillipa não ficaria parada esperando que seu marido fizesse
tudo, muito pelo contrário, seria do tipo que exploraria cada
pedaço de seu marido em busca do próprio prazer. Pensar
aquilo o fez sentir raiva e desejo. Raiva porque se imaginou
sendo o homem que ela levaria para cama e isso nunca
aconteceria, e desejo porque mesmo sabendo que não
poderia fazer aquilo, se sentiu tentado a tornar real aquele
pensamento.

Tinha que parar com aquilo. Não podia continuar pensando


nela daquela forma, ou antes mesmo dos três dias
terminarem, ele a teria desvirtuado. Não podia se permitir
desejá-la. Ela não merecia aquilo. Estragaria sua prima para
sempre e seria culpado da desgraça dela.

Henry se obrigou a parar de pensar naquilo e voltou para o


presente. Amanhã, ela estaria ali novamente, e que Deus o
ajudasse, porque parecia bem disposta a levá-lo ao limite.
Deveria tê-la denunciado a Phillip para que o Duque tomasse
as medidas necessárias para que ela nunca mais saísse de
casa, mas nem sequer isso tinha conseguido fazer. Pois,
apesar de tudo, não conseguiria machucá-la daquela forma.

A carruagem parou indicando que eles já tinham chegado.


Henry desceu e a ajudou a fazer o mesmo. Seguiram juntos
até a janela do quarto de Phillipa.

― Amanhã, espere a minha carruagem. Não quero que


pegue a de aluguel. Pode ser perigoso. ― Henry avisou e
Phillipa concordou, em seguida, subiu pela trepadeira com
facilidade e quando olhou para baixo, Henry não estava mais
ali.

O dia seguinte passou arrastado para Phillipa. O ponteiro do


relógio parecia mais devagar que o normal. Talvez fosse
porque estava ansiosa com o que aconteceria naquela noite.
Planejava ganhar seus dias novamente e quem sabe beijá-lo
novamente.

Naquela noite, disse que ia se deitar mais cedo, esperou


ansiosamente que todos fossem dormir e quando o relógio
anunciou que já era meia-noite, ela usou a trepadeira para
descer.

A carruagem estava no lugar que Henry disse que estaria.


Phillipa entrou e se surpreendeu ao encontrá-lo lá dentro.

― Não sabia que estaria me esperando. ― comentou com


um sorriso debochado.

― Prefiro me certificar que nada acontecerá. ― explicou. ―


O que vai querer fazer hoje?

― Quero recuperar os dias perdidos. ― Phillipa foi direto ao


assunto.

― Vai apostar os três dias que lhe restam? ― Henry ergueu


uma sobrancelha incrédulo.

― Não, dias não, pretendo apostar outra coisa.

― Não há nada que eu queira.

― Além de me ver fora de seu Clube. ― a jovem ironizou.

Henry sorriu.

― Exatamente.

― Bom, mas eu não estou muito inclinada a deixar de ir ao


Clube… E tem que ter algo que você gostaria.

― Não tem. Estou muito satisfeito em que você tenha


apenas mais três dias contando com hoje.
― Encontrarei algo que queira nesses dias. ― Phillipa
garantiu otimista e escondeu a tristeza com o comentário
dele atrás de um sorriso.

Eles seguiram em silêncio pelo restante do caminho. Quando


chegaram ao Clube, Henry entrou com ela pela porta dos
fundos.

― Eu não preciso trocar de vestido? ― Phillipa indagou


quando Henry a direcionou para a porta que separava o
vestiário do lugar.

― Não, ficará na minha sala. Ninguém a verá. Coloque


apenas a máscara. ― Henry instruiu e Phillipa obedeceu.

Eles seguiram direto para a sala do Lorde.

― O que faremos hoje? ― Phillipa indagou voltando a se


animar.

― Pensei que gostaria de assistir a uma luta. ― Henry


contou o que tinha programado. ―

Nas noites de sexta, contratamos lutadores profissionais


para alavancar as apostas, o Dmitri tem amigos nesse…
Ramo. Então, consegue trazê-los e os cavalheiros apostam
sobre quem vai ganhar

a luta.

― Parece interessante. ― Phillipa admitiu não muito certa


sobre isso, ver dois homens de espancando não era algo
atraente para uma dama, mas se os homens gostavam tanto
disso, deveria ter alguma coisa empolgante nisso.

― Pois bem. Venha, a luta se iniciará em dez minutos


Henry a levou até uma das cortinas e a abriu, revelando um
vidro pelo qual dava para se observar a ala da Ira. Vários
cavalheiros estavam alvoroçados, conversavam
animadamente, não dava para escutar o que diziam, pois o
som não passava pelo vidro, mas pela empolgação,
provavelmente discutiam a luta que teriam em breve.

― Eles não podem nos ver? ― Phillipa perguntou quando um


homem parou a sua frente do outro lado do vidro e olhou
diretamente para ela.

― Não. Eles vêm apenas o reflexo deles mesmos. ― Henry


assegurou.

― Como isso é possível? ― Phillipa estava surpresa com


aquele vidro. Parecia magia.

― A luz do lado de fora é maior que a deste lado, então eles


vêm apenas escuridão.

― Por isso aqui só tem uma vela. ― Phillipa comentou ao


perceber a única vela que clareava o ambiente. Nunca tinha
prestado atenção aquilo.

― Sim, sempre que preciso de mais luz, eu fecho todas as


cortinas e acendo outra vela.

― Bem engenhoso isso. ― Phillipa comentou interessada. ―


Nunca tinha ouvido falar de nada assim antes.

― Bem, a luta vai começar. ― Henry anunciou ao perceber


que os homens se posicionavam frente a frente no ringue.
Colocou-a diante de si, assistindo a luta por cima do ombro
do Phillipa.

O Lorde era maior do que a moça, mas Phillipa não era tão
pequena quanto as outras mulheres. A cabeça da jovem
chegava facilmente à boca de Henry.

― Aquele é um dos melhores lutadores. O nome dele é Zeus.


― Henry disse quando o homem subiu no ringue fazendo os
homens gritarem empolgados.

O lutador era um homem enorme, usava uma máscara


vermelha de tecido que cobria a cabeça inteira deixando
apenas dois buracos para os olhos, trajava uma calça preta e
uma blusa sem mangas acinzentada. Ele erguia as mãos
para o alto e parecia gritar, incentivando o público que o
assistia. Outro homem subiu no ringue, era ainda maior que
o primeiro e mais uma vez, os homens ficaram eufóricos,
levantando-se de seus lugares e movimentando os braços
em incentivo.

― Me diz qual a graça de ver dois homens brigando? ―


Phillipa comentou sem muita empolgação.

― A graça está nas possibilidades. Veja, o Zeus é um lutador


experiente, é rápido e tem um ótimo gancho de direita.
Entretanto, o Montanha é um lutador maior, mais forte e
também mais resistente, porém não tem a experiência de
Zeus. Quem você acha que tem mais chances de ganhar a
luta?

Phillipa analisou as opções.

― Acredito que a experiência conte mais do que a força. ―


concluiu.

― Então aposta no Zeus?

― Pode-se dizer que sim.

― Tudo bem, se estiver certa poderá pedir qualquer coisa,


exceto dias, como prêmio. ―
Henry prometeu.

― E se eu perder? ― Phillipa perguntou e Henry sorriu.

― Se perder, você vai embora mais cedo hoje.

― Não sei se gosto dessa aposta. Eu não posso pedir dias se


ganhar, mas se perder eu praticamente perderei o de hoje.
Não lhe parece injusto?

― Tudo bem. Então deixe-me ver. ― Henry levou o polegar


aos lábios e deu leve batidinhas. ― Se você perder, vai ter
que usar a entrada dos criados quando voltar hoje para casa
e durante os outros dias também.

― Está tentando se livrar de mim. ― Phillipa acusou ao


perceber o que ele estava tentando fazer e não gostou
daquilo.

― Claro que não, prezo apenas por sua segurança. ― Lorde


tentou parecer ofendido, mas o sorriso em seus lábios o
entregou.

― Então, quer que eu use a porta dos fundos apenas para


não quebrar meu pescoço caindo da trepadeira? ― Phillipa
foi sarcástica. ― Quer que eu acredite que esse seu desejo
pela minha segurança não tem nenhuma relação com a
possibilidade de alguém me pegar saindo pela porta dos
criados e eu ser obrigada a ficar em casa?

― É evidente que não. Então vamos apostar? ― Henry


perguntou sorrindo abertamente.

Phillipa tinha acertado em cheio em suas intenções, mas


aquilo só o divertiu.

― Vamos. Adorarei tirar esse sorriso do seu rosto quando eu


ganhar. E você acaba de me dar algo com o que apostar
para ter de volta meus dias.

Phillipa concentrou toda a sua atenção no ringue. Esperava


que Zeus vencesse.

― Bruno será o Juiz da luta. ― Henry explicou quando o


rapaz subiu no ringue e ficou entre os dois lutadores.

O juiz fez um sinal de mão e a luta começou.

Os homens se rodeavam, desferiam e desviavam socos.


Phillipa ficou hipnotizada com a luta, até que o primeiro
golpe acertou o alvo. Isso a fez estremecer. Quando a luta
ficou mais violenta, ela descobriu que não gostava de
assistir, mas não conseguia desviar os olhos. Apesar de
achar aquela briga tola e desnecessária, estava torcendo
para que Zeus vencesse.

― Você não parece muito empolgada com a luta. ― Henry


comentou.

― Não quando meu lutador está levando uma surra… ―


comentou e, no mesmo momento, para endossar o que dizia,
Zeus recebeu outro golpe e foi ao chão. Phillipa arfou e
prendeu a respiração se aproximando ainda mais da janela e
esquecendo Henry por um momento.

Zeus levantou do chão depois que acertou um chute no


abdômen do outro lutador. E isso fez Phillipa relaxar, tinha
ficado preocupada com o lutador. Ela percebeu que Henry
estava muito silencioso e quando olhou para ele, percebeu
que o Lorde sorria debochado.

― O que foi? ― perguntou, tentando entender o que ele


tinha visto que justificasse o

sorriso.
― Não é nada empolgante, não é? ― Henry ironizou e sorriu
ainda mais.

― Tudo bem, causa certa empolgação, ninguém gosta de


perder.

Zeus aplicou uma sequência de golpes no outro lutador e


isso fez o adversário ir ao chão completamente nocauteado.
Phillipa sorriu ao perceber que o seu lutador era vencedor.

― Ele venceu. ― ela anunciou alegre, virando-se para olhar


Henry. ― Eu venci.

― Parece que você está com sorte hoje, Milady. ― Henry


respondeu com um sorriso.

Sabia que Zeus venceria, ele estava invicto desde o início do


ano. ― Então, o que vai pedir?

Phillipa ponderou. O que pediria? Pedir que ele jogasse com


ela seria gastar seu pedido à toa. Ele o faria sem que ela
usasse o pedido. Talvez pudesse guardar o pedido para mais
tarde, para caso aparecesse algo que ela quisesse.

― Vou deixar meu pedido guardado. ― Phillipa concluiu.

Henry ergueu uma sobrancelha.

― Tudo bem, então. O que quer fazer agora? Ainda tem meia
hora.

― O que sugere? ― Phillipa perguntou.

― Deixe-me pensar em algo. ― Henry levou novamente o


dedo aos lábios e deu batidinhas com o indicador. O
movimento atraiu a atenção de Phillipa para a boca do
Lorde. E ela se lembrou do que aquela boca era capaz de
fazer na dela.
― Não me olhe assim. ― Henry pediu quando viu que ela o
olhava com desejo.

― Assim como? ― Phillipa perguntou confusa.

― Como se fosse me beijar. ― Henry explicou.

― Por quê? Tem medo que eu o faça? ― ela o provocou.

Henry foi impedido de responder por causa de uma batida na


porta.

― Fique aqui e não se mexa. ― ele pediu ríspido.

Phillipa o viu se direcionar para a porta e abrir apenas uma


fresta, em seguida, ele saiu sem dizer nada. Phillipa ouviu o
barulho da tranca da porta ser acionado. Ele a tinha
trancado ali para que ela não saísse.

Phillipa revirou os olhos.

Não tinha planos de sair mesmo. ― Ela deu de ombros e


passou a observar a sala.

Na parede, havia várias cortinas escondendo outros vidros


como o que ela havia usado para ver a ala da Ira. Ela
observou uma a sua esquerda, praticamente no lado oposto
da que estava a Ira. Então se lembrou da cena que havia
visto há dois dias atrás. Estivera um pouco embriagada e por
isso não se lembrava de todos os detalhes, apenas que tinha
se indignado com o que havia visto e que aquela cortina
dava para a ala da Luxúria.

Ela sabia que não devia querer ver o ato em si, mas estava
sozinha e não tinha ninguém para julgá-la naquele
momento, não custaria nada olhar apenas por um instante,
não poderia negar, estava curiosa. Todos sempre fugiam
daquele assunto e isso a deixava ainda mais curiosa sobre o
ato em si. Ela só queria compreender o que acontecia na
noite de núpcias.

Phillipa se aproximou da cortina e a abriu revelando um dos


quartos da Luxúria. Uma dama de vermelho estava sentada
em cima de um homem que estava despido. O vestido dela
cobria todo o torço dele o que impedia que Phillipa visse o
que estava por baixo.

Ela fazia movimentos lentos com o quadril e sorria maliciosa


para o homem. Este por sua vez puxou o vestido vermelho
para baixo revelando os seios abundantes da mulher e se
ergueu colocando-os na boca. A mulher levantou a cabeça
se deleitando com as carícias enquanto afundava as mãos
no cabelo do homem, incentivando-o a não parar. O homem
se afastou, falou algo e a mulher começou a retirar o vestido
pela cabeça, ficando completamente nua. O homem a tocou
em todos os lugares possíveis e ela parecia apreciar muito o
toque dele.

Sem as roupas para impedir a visão, Phillipa observou


claramente quando o homem segurou o membro enrijecido e
o guiou para dentro da mulher, que imediatamente começou
a se movimentar fazendo aquela parte da anatomia
masculina entrar e sair dela. Ambos pareciam gostar
bastante do ato. Os movimentos se intensificaram. A jovem
não conseguia desviar o olhar, sua mente estava repleta de
imagens semelhantes aquela, mas no lugar do casal estava
ela e…

Henry.

O som da fechadura na porta a tirou de seu torpor e Phillipa


imediatamente fechou as cortinas e se afastou. Virou de
costas para a porta enquanto tentava se recompor.
― Está tudo bem? ― Henry perguntou, estranhando o
silêncio dela.

― Sim. Está sim. ― respondeu rápido demais para não


levantar suspeitas e rezou mentalmente para que ele não
percebesse.

Henry a observou por um instante e percebeu que a cortina


que recobria a luxúria estava entreaberta. Ele se aproximou
e a abriu. Havia um casal ali.

― Pelo amor de Deus, me diga que não estava olhando.

O silêncio dela respondeu sua pergunta.

― Phillipa, você é uma dama, não deve ver ou querer ver


essas coisas. ― Henry murmurou exasperado. Ele queria
proteger a inocência dela, mas ela parecia querer tornar o
trabalho dele impossível.

― O que tem de mais em saber, Henry? ― perguntou se


voltando para ele. ― Por que não podemos saber o que fazer
na nossa noite de núpcias? Por que insistem em nos deixar
no escuro sobre isso? Não seria melhor se as mulheres
também soubessem o que fazer? Não seria mais agradável
para os dois?

Dessa vez, foi Henry que se manteve em silêncio. O homem


sabia que ela estava certa. A arrogância e o ego masculino
seriam ameaçados caso o conhecimento fosse
compartilhado com as mulheres. Ele não compartilhava
desse pensamento, mas sabia que era esse o motivo pela
qual a sociedade insistia em dizer que as mulheres eram
inferiores.

― Henry. ― ela chamou exigindo a atenção dele e Henry


olhou diretamente em seus olhos.
Os olhos de Phillipa estavam repletos de desejos luxuriosos,
Henry conseguia ver isso claramente e ela não estava nem
um pouco arrependida de ter visto um casal fazendo sexo.
Ao contrário do que uma cena íntima faria com outra mulher,
Phillipa tinha se excitado com a cena.

Henry poderia apostar que ela estava molhada depois de ver


visto aquilo tudo.

― Eu quero que me mostre. ― pediu se aproximando dele


lentamente sem desviar o olhar.

‒ Não. ‒ Lorde foi categórico. Cerrou as mãos em punhos e


lhe virou as costas.

‒ Você prometeu. Se eu ganhasse poderia pedir qualquer


coisa que não fosse dias. Eis o meu pedido então.

― Não me peça isso. ― Henry rogou, sabia que não


conseguiria negar caso ela realmente quisesse aquilo.

― Por favor, é o que eu quero. ― ela o lembrou da aposta.


Ele não poderia mais fugir. No seu Clube, pagar as dívidas de
jogo era sagrado.

― Isso é um erro, Phillipa. ― Henry tentou trazê-la de volta à


razão, mas não estava convencendo nem a si mesmo. ― Sua
reputação já corre sérios riscos só em estar aqui comigo, se
seu irmão soubesse o que estou fazendo com você, ele me
esfolaria vivo. Se eu fizer isso com você, não terá mais volta.
Estará arruinada para qualquer outro homem.

Estará arruinada para qualquer outro homem. ― A frase


ecoou no pensamento de Phillipa.

― Não importa, não quero outro homem. ― ela sussurrou e o


ouviu gemer.
Ela queria Henry, desejava apenas ele e ao que parecia,
Henry também a desejava.

Maldição, tinha se apaixonado por ele.

― Eu o quero. ― ela falou pela terceira vez e eliminou a


distância entre eles. Parou a poucos centímetros de Henry e
soube que não teria mais volta. E não queria voltar atrás.

Henry então a beijou, deixando-se levar pelo desejo que


havia tentado conter a todo custo.

Possuiu a boca de Phillipa como se pertencesse a ele e


naquele momento, pertencia.

Mergulhou uma das mãos nos cabelos dela, segurando o


delicado rosto contra a própria boca, enquanto com a outra
segurava a cintura da Lady, pressionando-a contra seu
corpo. A língua de Henry brincava com a dela e os lábios
dele eram sedentos, quentes e decididos.

Phillipa envolveu o pescoço de Henry com os braços se


apoiando completamente nele.

Sensações luxuriosas passeavam pelo seu corpo, fazendo-a


sentir desejos nunca antes experimentados e que agora ela
ansiava saciar. Seu corpo estava em chamas, queimava por
ele e aceitaria se tonar cinzas se aquilo significasse que teria
todos os desejos saciados.

Henry compreendeu a súplica silenciosa do corpo da mulher


que tinha em seus braços, pois ela era um espelho de seu
próprio desejo. Nunca tinha sentido tamanha luxúria por
alguém. O

desejo que Phillipa lhe despertava era intenso, incontrolável


e irresistível. Queria aquela mulher de todas as formas
possíveis.

Por isso, sem pensar nas consequências, ergueu-a do chão.


Com Phillipa no colo, caminhou até a sua mesa e a colocou
sentada nela. Então continuou a beijá-la vorazmente. Suas
mãos seguiram para o corpete do vestido e puxaram com
força para baixo, revelando dois seios pálidos com as pontas
rosadas. Ele colocou cada um em uma mão e começou a
brincar com os mamilos, que rapidamente se retesaram e
escureceram sob o toque hábil dele.

A boca do Lorde desceu pela mandíbula de Phillipa e


explorou o pescoço dela sem pressa, enquanto as mãos dele
continuavam cuidando dos seios da jovem. Ela era deliciosa,
e que Deus o ajudasse, pois não conseguiria resistir muito
mais tempo.

Henry brincava com os mamilos de Phillipa, eles eram


deliciosos, macios e tão lindos que ele não se importaria de
passar a noite toda desfrutando daquela parte sedutora do
corpo feminino.

Os seios dela eram pequenos, mas se encaixavam


perfeitamente na sua mão. Tudo nela parecia se encaixar
nele.

Phillipa se contorceu com o prazer que o toque dele lhe


proporcionou. Ela afundou os dedos no cabelo de Henry e o
puxou gentilmente para si, procurando novamente a boca do
Lorde em outro beijo erótico.

O prazer dominava os dois, o desejo de possuí-la era quem


guiava os atos de Henry.

Queria fazê-la sua, queria prová-la, saboreá-la, tomar tudo


que ela tinha a oferecer e depois repetir o ato milhões de
vezes até saciar o desejo avassalador que o consumia. O
Lorde ergueu a saia do vestido de Phillipa, e assim que
ultrapassou todas as barreiras de roupas que ela tinha, tocou
seus cachos macios e nunca explorados por ninguém.

Ela estava deliciosamente molhada, perfeita para ele.

Phillipa se assustou quando ele a tocou por baixo da saia,


não esperava a intensidade que um toque naquela região lhe
causaria. E foi impossível evitar os gemidos que se seguiram
quando ele começou a massagear o ponto sensível entre
seus cachos. Nunca tinha sentido tamanho prazer em toda
sua vida.

Henry levou novamente a boca para o pescoço dela,


enquanto trabalhava habilmente com a mão entre suas
pernas. Phillipa se contorcia de prazer, parecia que
explodiria a qualquer momento, seus músculos todos se
retesavam e uma onda avassaladora parecia arrastá-la para
um lugar desconhecido.

Uma das mãos de Phillipa agarrou a lateral da mesa,


enquanto a outra puxou os cabelos de Henry com tanta força
que ele mordeu de leve seu mamilo, em seguida, puxou com
os dentes. A leve dor latejante que a mordida causou,
misturada ao prazer, foi exatamente o que precisava para
alcançar sua liberação.

Henry sentiu sua mão ser encharcada com a liberação de


Phillipa. Ela amoleceu em seus braços ofegante e com um
sorriso satisfeito no rosto. Quando ele a olhou nos olhos, viu
que ela o olhava com algo parecido com paixão.

Aquilo trouxe um pouco de sanidade para sua mente. Não


podia permitir que ela se apaixonasse por ele. Não poderia.
Era um erro. Foi um erro. Então lentamente se afastou dela.
Foi um dos atos mais difíceis de sua vida.
― Vista-se ― Henry exigiu virando de costas para ela. Se
continuasse a olhá-la, não teria forças para resistir ao desejo.

― Hen…

― Vista-se e vá embora. Pedirei que Dmitri lhe acompanhe


até em casa. Não venha mais aqui.

― Mas ainda tenho dois dias.

― Não tem mais.

Ao dizer isso Henry, saiu da sala deixando-a sozinha.

Phillipa ficou furiosa. Estava tudo tão perfeito, ele tinha que
estragar tudo.

A jovem se levantou da mesa e arrumou o corpete


escondendo os seios e passando as mãos nos cabelos na
tentativa cega de arrumá-los. Segurou as lágrimas de ódio
que agora nublavam sua vista. Eram lágrimas de ódio, só
poderiam ser, se recusava a pensar que fossem de outra
coisa além da raiva e da frustração com as atitudes que ele
tinha tido.

Uma batida na porta a tirou dos pensamentos.

― Entre. ― Phillipa deu permissão para que a porta fosse


aberta.

Se ele tivesse voltado ela, com certeza, brigaria com ele,


mas antes que pudesse ter esperanças, Dmitri apareceu pela
porta.

― Milady, o Lorde pediu que a acompanhasse até em casa.


― ele a avisou sem expressar nenhuma emoção.
E então Phillipa seguiu o ruivo até a saída e dali ele a
acompanhou na carruagem até em casa. Não trocaram uma
palavra e ela se viu grata por não ter que o fazer.

Ao chegar em casa, subiu pela trepadeira e se jogou na


cama. Apesar de tentar evitar, chorou, de raiva, de
frustração, e por ter tido o coração partido.

CAPÍTULO 8 - IRONIAS

Uma semana depois…

Henry estava em seu escritório. Mal humorado.

Desde a noite que mandou Phillipa embora, sentia-se o mais


terrível dos homens; Dmitri lhe dissera que a moça não
derramou nenhuma lágrima na carruagem e que parecia
normal, mas Henry sabia que ela não tinha ficado satisfeita
com a sua atitude. Ele não se arrependia de tê-la afastado
de forma tão dolorosa ― não teria outra forma de fazê-lo ―
já se convencera disso.

Sabia que a jovem ficaria desolada, afinal, tinha certeza que


ela estava apaixonada por ele.

Não podia nutrir aquele sentimento, afinal era Phillipa, sua


prima, Henry a viu crescer , maldição! Como poderia desejá-
la tanto? Já a tinha visto doente, enlameada, com os cabelos
desarrumados, com o rosto sujo de comida. Ela era dez anos
mais nova, devia vê-la como irmã e não como uma mulher a
quem Henry adoraria levar para a cama.

Ele refreou o pensamento, se continuasse naquela linha,


logo imaginaria o que faria exatamente caso a tivesse em
uma cama. Tampouco, não queria pensar no quanto seu
beijo era delicioso e nem em seu rosto corado enquanto
estivesse aberta para ele, ou em como Phillipa ficaria
molhada caso Henry a beijasse entre as pernas…

— Mas que diabos!! — praguejou ao perceber que estava


ficando excitado.

Henry se levantou de sua poltrona e decidiu se ocupar. Tinha


muita coisa a ser feita e ele precisava pensar em outra coisa
que não fosse Phillipa. Não adiantava se torturar com
desejos que não poderiam ser realizados.

Ele sabia seu lugar e este era o mais longe possível de


Phillipa. Afinal, ela era nobre e, apesar de tudo, era inocente
sobre a vida. Se fosse uma mulher qualquer, não se
importaria em levá-la para a cama e usufruir de tudo que
tinha a oferecer, mas sabia que quando se tratava de
Phillipa, nada disso era possível.

Casar-se com ela não era uma possibilidade. Sequer passava


pela sua cabeça casar naquele momento e muito menos com
ela. Ele não queria colocar uma mulher na sua, tão
conturbada e perigosa, vida e muito menos uma como
Phillipa, que jamais aceitaria aquele lado dele. Ele não tinha
tempo para uma mulher na sua vida. Estava muito ocupado
com o Rogue's para ter que dividir sua atenção entre seu
Clube e uma mulher.

Por isso, o melhor que ele faria era esquecer tudo que
aconteceu na noite anterior e continuar vivendo como se
nada daquilo tivesse acontecido, afinal não iria se repetir,
então não tinha porque se torturar por algo que jamais teria,
fazê-lo era tolice.

Naquela noite, Henry estava em seu escritório e olhava


desinteressadamente todas as alas, sem realmente se
concentrar no que acontecia em seu clube. Uma batida na
porta o fez sorrir, Deus sabia o quanto precisava ocupar a
mente com qualquer coisa. Já dizia sua mãe: Mente vazia era
oficina do Diabo, e apesar de não ser religioso, chegou a
conclusão de que Phillipa devia ser seu demônio particular,
para trabalhar tanto na mente dele.

— Lorde, Norfall está aqui e quer vê-lo. — Dmitri avisou,


entrando no escritório para

assumir o lugar dele. — Ele está na mesa de sempre.

Henry franziu o cenho. O que o seu primo fazia ali? Teria ele
descoberto sobre Phillipa?

Não, era improvável. Se o fosse ele já teria invadido furioso o


escritório e não esperaria na mesa que ele descesse para
conversar.

Avistou o Duque de longe. Mesmo de máscara, ele o


reconhecia facilmente, pois foi seu primeiro sócio. Devia sua
vida e o seu Clube ao seu primo. Nada do que fizesse por ele
seria suficiente para saldar a dívida de vida que tinha com o
Duque.

Na noite em que tinha sido deixado para morrer com uma


faca enfiada em seu corpo, foi Phillip que o encontrou,
moribundo, e salvou sua vida. Lembrava-se daquela noite
com incrível clareza, apesar de ter passado metade do
tempo desacordado.

Quatro anos atrás.

Tinha vencido de novo, era bom no que fazia. No fim da


noite, quando recolheu os ganhos da noite e voltava para
casa, foi atacado por homens armados de facas e bastões.

Não era um assalto. Era vingança, pois pouco antes de ser


deixado inconsciente, Henry ouviu um dos homens dizer que
ele nunca mais trapacearia em nenhum jogo.

Covardes que não sabem perder. — Henry sussurrou antes


de desmaiar por causa da faca enfiada em sua barriga.

Quando acordou, estava deitado em uma cama macia, muito


diferente da que dormia habitualmente, e ao seu lado havia
um homem cuidando de seus ferimentos.

— Phillip? — Henry chamou sem acreditar nos seus olhos.

— Bem-vindo de volta. — Phillip sorriu ao ver o outro homem


acordado.

— Quanto tempo eu dormi? — Henry tentou se levantar e a


dor em sua barriga o fez voltar à posição inicial. — O que
aconteceu?

— Eu te encontrei ferido e desmaiado na saída do cais. Te


trouxe para casa e retirei a faca, estanquei o sangue e estou
a sete dias cuidando de você. Você teve febre e delírios, mas
graças a Deus, o corte da faca não atingiu nenhum órgão.
Você se lembra de alguma coisa?

Henry vasculhou sua memória a procura dos últimos


acontecimentos e se lembrou de tudo.
— Eu fui atacado, aqueles malditos me atacaram só porque
eu venci. — Henry bradou furioso. — Um bando de covardes.
Me atacaram e me deixaram para morrer.

— Você sabe quem eles são? — Phillip perguntou.

— Não, tenho muitos inimigos, poderia ser a mando de


qualquer um deles. — Henry suspirou desgostoso.

— Onde está morando? — Phillip perguntou curioso, havia


cinco anos que não o via.

— Em um barraco ao norte do cais. Fora da cidade. — Henry


respondeu.

— Onde trabalha? — o Duque continuou o interrogatório.

— Trabalho carregando e descarregando os navios.

— E como conseguiu esses inimigos? Carregar não me


parece algo tão perigoso assim.

— À noite, eu jogo cartas no cais e sempre que ganho, faço


um inimigo diferente.

— Você trapaceava? — Phillip perguntou cerrando os olhos.

— Não era preciso. Os homens não eram tão bons jogadores


assim. — Henry caçoou. —

Acham que só porque não estamos jogando em seus


cassinos idiotas não sabemos jogar. Se eu tivesse um
cassino, eu mostraria a eles o que era jogar.

— Alguns homens não sabem perder. — Phillip comentou e


em seguida ficou um tempo em silêncio. Seu primo também
fora um bom amigo para ele e desde a morte do conde de
Warrex, Henry sumira. — Por que você fugiu, Henry? Faz
cinco anos que não te vejo. Depois da morte de tio Frederick,
você desapareceu, eu e Phillipa ficamos preocupados com
você.

Principalmente ela. Minha irmã sente sua falta, pensa que o


único amigo dela o abandonou.

— Phillipa é uma criança gentil, vai encontrar novos amigos


e vai me esquecer. Nenhum de vocês precisa de mim e eu
não quero ser a lembrança constante da traição de meu pai.
Não preciso do ódio da sua família.

— Ninguém lhe odeia. Não é sua culpa ter nascido bastardo.


— o Duque apontou convicto.

— Não ser minha culpa não muda o fato de que eu sou um


bastardo e que nunca serei tratado como um filho legítimo.
— Henry replicou. Havia muita mágoa em seus olhos e no
tom da sua voz.

Naquele dia, Phillip salvou sua vida, desde então sua dívida
para com seu primo só aumentava.

Henry voltou sua atenção para o presente: Phillip estava


sentado na mesma mesa afastada que ele sempre reservava
para seus sócios. Bebia uma dose de whisky e parecia
animado. Assim que o nobre o viu, abriu um sorriso e Henry
soube que ele nem desconfiava de Phillipa.

— Aceita uma bebida? — O Duque ofereceu assim que Henry


se sentou à sua frente.
— Não, obrigado. Em que posso ajudar, Phill?

— É sobre Phillipa… — O Duque começou e Henry sentiu o


sangue gelar.

— Phillipa mandou outro convite? — Henry debochou,


tentando não demostrar sua preocupação. — Ela não
desiste, não é? — ele sorriu com aquelas palavras, sabia
bem demais como aquela mulher sabia ser insistente.

— Na verdade, o convite é meu. Gostaria que o aceitasse


como um favor para mim. ―

Phillip tomou outro gole antes de continuar. ― Percebi que


não está tentando mais evitar a nossa família.

― O que o faz pensar que não? ― Henry retrucou.

― Você foi ao baile, não.

― Você me obrigou, lembra? Sua carta foi bem enfática


quando falou que eu lhe devia isso.

― Isso é um detalhe. Você poderia ter recusado se quisesse.


― O Duque movimentou a mão descartando a resposta de
Henry ― Todos tem falado da sua presença no baile. Apesar
de tudo, você é rico, ainda que não saibam de onde vem sua
fortuna. Isso faz com que algumas portas se abram.

― Não creio que veio aqui falar de minha vida social. ―


Henry pegou um copo e encheu com a bebida âmbar. Sentia
que logo precisaria daquilo. ― Onde Phillipa entra nisso
tudo?

― Algo está acontecendo com ela. ― Phillip comentou


suspirando audivelmente. ― Ela não quer me contar nada, já
perguntei várias vezes e ela simplesmente me ignora e diz
que nunca esteve melhor.
― E por que acha que comigo ela falaria? ― O Lorde levou a
bebida aos lábios.

― Vi vocês conversando no debute dela e sei que minha


irmã ainda o tem em alta conta.

Ela sempre se abriu para você.

A imagem de Phillipa aberta em cima da mesa para ele


apareceu na sua mente. Henry quase se engasgou com a
bebida.

― Você está bem? ― Phillip perguntou franzindo o cenho.

― Sim. Continue.

— Acho que poderia fazer uma visita a Phillipa, creio que ela
ficaria muito feliz. Tente conversar com ela. Preciso saber o
que está acontecendo antes que tenha que retirar a pistola
da gaveta.

― Como assim? ― Henry ergueu uma sobrancelha.

― Ela está procurando um marido e está determinada a se


casar ainda essa temporada. ―

Phillip explicou.

― Não é esse o motivo da temporada? ― Henry tentou ser


racional. Aquilo não lhe parecia tão ruim, exceto por não
querer imaginá-la com outro homem, mas isso era problema
dele e Phillip não precisaria saber.

― Não para Phillipa, ela odeia a temporada, e havia me dito


que não queria se casar.

— E agora ela decidiu que quer se casar. — Henry afirmou,


mas o Duque viu isso como uma pergunta.
—Exatamente. ― respondeu como se explicasse tudo.

― Não deveria deixar que ela encontrasse um marido? ―


Henry perguntou não compreendendo o motivo de tanto
alarde.

― Você não está entendendo a gravidade da situação.

― Realmente está difícil compreender qual é o problema de


uma mulher querer casar.

― Ela está escolhendo os piores do mercado. ― Phillip


explicou. ― Ela nem olha duas

vezes para os homens decentes. Acho que está procurando


por um escândalo e nem sabe disso. Eu não sei o que
aconteceu para Phillipa agir dessa forma. Até mamãe está
preocupada e sabe o que ela faz? Minha irmã sorri.

Henry suspirou. Sua mente lhe dizia para não se intrometer


na vida dela, afinal, não era responsável por ela.

— Então agora entende minha preocupação? — Phillip


questionou. — Vai descobrir o que está acontecendo?

— Sim, o que quer que eu faça?

― Eu não poderei ir a todos os bailes e eventos, mas você


poderia ficar responsável por ela nos que eu não fosse. ― o
Duque falou com voz firme, mas seus olhos estavam
suplicantes. ―

E claro, tentar conversar com ela para descobrir o que está


acontecendo.

Se realmente existir Deus ou destino, eles devem estar rindo


muito agora. — Henry pensou na sua falta de sorte.
Henry concordou sentindo o desespero lhe tomar e ouviu
uma voz dentro de sua cabeça ―

sua consciência, talvez? ― lhe dar as boas-vindas ao inferno.

CAPÍTULO 9 – ELA NÃO PODE ME AMAR.

Phillipa estava sentada ao piano tentando ocupar a mente


com algumas sinfonias que entoavam habilmente das teclas
brancas e pretas. Fazia uma semana desde que tinha estado
pela última vez no clube. Ela até tinha tentado não pensar
muito nisso, mas era impossível se esquecer das sensações
que Henry lhe fizera sentir. E pensar nisso só lembrou o
quanto desejava mais.

Frustrada, Phillipa largou o piano. Não conseguia mesmo se


concentrar o suficiente para tocar algo com clareza. Dessa
vez, não poderia culpá-lo. Ela pediu aquilo, insistiu e fez de
tudo para que ele lhe desse aquilo, e Henry lhe dera o que
ela pedira, mas agora que tinha provado do fruto proibido,
Phillipa queria repetir o ato.

Ela não se arrependia, não de ter feito aquilo. O que a


incomodava era Henry tê-la expulsado do Clube, mas,
quanto a isso, ela não poderia fazer nada. Tinha ficado
ofendida e furiosa por ele ter lhe impedido de desfrutar dos
dias que lhe restavam.

Nenhum evento da sociedade se comparava à emoção de ter


estado no clube e nenhum cavalheiro despertava nela o que
Henry tinha conseguido despertar. Phillipa até tentou
aproveitar os eventos que a mãe havia marcado, mas havia
sido em vão. Seus pensamentos continuavam no clube e no
homem que o comandava.

Por pensar frequentemente nas noites em que foi ao


Rogue’s, Phillipa não conseguia prestar atenção nas
conversas que tinha com os cavalheiros durante os eventos
sociais, e com isso acabava concordando, sem querer, em
dançar com alguns que em outras circunstâncias jamais
dançaria.

— Phillipa — o Duque a chamou tirando a moça de seus


pensamentos e fazendo-a notar sua presença. — Tem uma
visita para você.
— E eu posso saber quem é? — perguntou sem parecer
empolgada. Estava acostumada a receber visitas frequentes:
fazia uma semana que todos os dias um cavalheiro aparecia
para visitá-

la. Novamente culpa de sua desatenção durante as


conversas.

— Acho que vai gostar da surpresa. A mamãe saiu para um


chá na casa da Condessa de Claire, e como tenho coisas a
resolver na cidade, não poderei fazer companhia a vocês. —
Phillip piscou pra ela ‒ Mas acho que você pode cuidar de
nossa visita sozinha.

Assim que Phillip saiu, a curiosidade a assolou e ela seguiu


rapidamente para a sala de visitas. Ele praticamente dissera
que ficaria sozinha com o visitante.

Abriu as portas, o mais calma possível, mas sabia que as


abrira rápido demais para os critérios da Duquesa. Assim
que seus olhos se focaram na visita, ela parou. S ó poderia
ter alucinações ‒ pensou piscando os olhos para ter certeza
que não era um fantasma ou uma ilusão.

Henry estava de costas para ela.

Phillipa aproveitou um pouco do tempo e ficou parada,


apreciando a vista, até se lembrar que estava com raiva,
mas, ainda assim, observou as costas largas dele e sua
altura imponente que, para outra pessoa, seria até
intimidante, mas não para ela. Henry parecia ocupado com
algo que via pela janela, ou era isso que sua posição ali dava
a entender.

A jovem percebeu que ele não se dera conta de sua


presença e aproveitou aquele momento
para se recompor. Não queria lhe demonstrar nenhum
sentimento, Henry não merecia nem seu ódio e, se ele
achava que podia ir ali e fingir que nada havia acontecido,
ela mostraria que também poderia fazer o mesmo.

— Senhor Willians. — Phillipa chamou a atenção dele. — A


que devo a honra dessa visita?

Henry se virou quando ouviu a voz dela e franziu o cenho


diante da frieza que ela demonstrava.

— Milady, sinto muito por aparecer sem lhe avisar com


antecedência, mas estava aqui por perto e pensei em lhe
fazer uma visita. — respondeu educadamente.

Phillipa respirou fundo, tentando segurar sua ira. Ele só


podia estar de brincadeira. Henry a obriga a prometer que
nunca mais irá procurá-lo à noite e ele mesmo decide
aparecer na sua casa só para torturá-la como se nunca
tivessem passado nada juntos.

‒ Pensei que não suportasse minha presença. ‒ Phillipa


alfinetou ignorando a boa educação que ele não a merecia
naquele momento. ‒ E que preferisse ficar longe de mim.

‒ É claro que não, sinto muito se a fiz entender dessa forma.


‒ Henry respondeu com um sorriso malicioso e Phillipa teve
vontade de esbofeteá-lo por isso.

— E como queria que eu pensasse, depois que praticamente


me expulsou de sua sala? —

Phillipa reclamou.

— Estou tentando não lembrar dessa noite específica. —


Henry virou o rosto novamente para a janela, como se nem
suportasse olhar para Phillipa, e isso a enfureceu muito mais
que as palavras. Ela deixou as aparências de lado: merecia
sim sua raiva e a sentiria com maior prazer.

‒ O que faz aqui Henry? Por que veio? Pensei que não
quisesse me ver nunca mais. E não minta, você nunca foi um
bom mentiroso para mim. — Ela cerrou os olhos, tentando
entender o que o tinha trazido a sua casa.

‒ Eu vim ver como você está. ‒ confessou, colocando as


mãos nos bolsos em um gesto displicente, ainda sem olhar
para ela. ― E também porque seu irmão está preocupado.

Então era isso? Phillip recorreu a Henry para saber o que


acontecia com ela depois que Phillipa se evadiu de suas
perguntas. Ela riu da ironia da situação. O causador de seus
problemas era o mesmo homem que estava ali para
descobrir o que ela tinha.

— Que interessante Phillip pedir que o meu problema resolva


o meu problema. — Phillipa sussurrou com um sorriso irônico
e então percebeu que ele ouviu.

— Então está assim por minha causa? — Henry a observou


com um ar arrogante.

— Não por sua causa. — Ela bufou. — Não seja tão


prepotente.

— Foi a senhorita que me acusou de ser seu problema. — o


homem exibiu um pequeno sorriso de canto de boca.

Phillipa tentou consertar o que disse, mas pensou melhor e


decidiu falar a verdade.

— Está bem, o senhor ganhou, se sente feliz agora?

— Um pouco. Pelo menos, agora sei o que causou todo o


comportamento tolo que vem demonstrando.
— Tolo? — indagou, irritada. Maldito homem para tirá-la do
sério.

— Exatamente. Dar oportunidades para que os homens tirem


sua virtude é uma completa idiotice. — Henry disse cruzando
os braços.

Phillipa riu sarcástica, o que o irritou.

― Qual é a graça? ― ele franziu o cenho.

— Parece até cômico que isso saia de sua boca. — ironizou.

― Não é cômico que você coloque sua reputação em risco a


ponto de seu irmão se preocupar e vir me procurar. ― Henry
devolveu irritado com a ironia e o sarcasmo dela. ― Acha
mesmo que eu gostaria de vir aqui lhe dar sermão sobre não
ser imprudente?

― Eu não lhe pedi que o fizesse. ― respondeu exasperada.

― Mas seu irmão sim.

― E você nunca recusa nada a ele. ― Phillipa comentou


debochada. ― Será que se Phillip pedir que se jogue na
frente de uma carruagem o fará?

― Não é brincadeira Phillipa. É sobre sua vida que estamos


falando.

― Eu sei cuidar da minha vida. Não se preocupe.

‒ Pois não é o que está parecendo. ‒ Henry se irritou com


ela. Será que ela não percebia o perigo de agir daquela
maneira?

‒ E o que está parecendo?


― Está parecendo que você não se importa com a
repercussão que um escândalo teria sobre sua família. ―
Henry grunhiu e Phillipa teve a decência de corar. ― Um
escândalo mataria sua mãe e abalaria Phillip. Sei que se
importa com seu irmão, então haja racionalmente ao menos
pelo bem dele.

― Não estou procurando nenhum escândalo, Sr. Willians. ―


a moça se defendeu, cruzando os braços.

― Não? E o que diabos fazia? ― Henry questionou, ainda


furioso.

― Nada. Apenas me permitindo ser cortejada, entretanto, eu


não pretendia fazer nada que machucasse a minha família.

― Inferno, então por que Phillip pediu que eu viesse colocar


juízo na sua cabeça?

― Talvez porque eu tenha aceitado alguns convites para


danças e dois ou três cavalheiros tenham pensado que lhes
dei algum sinal para me cortejar. ― Phillipa corou ― E talvez
eles não sejam os melhores partidos de Londres...

Saber que ela estava incentivando outros homens o fez


ferver por dentro. Céus, estaria com ciúmes?

― Pensei que tivesse dito que não iria se casar.

― E não iria, mas depois do que aconteceu, tenho pensado


bastante nas vantagens de um casamento. ― Phillipa
desviou o olhar, envergonhada. Sabia que ele entenderia
exatamente a que vantagens se referia.

― Nem todo homem sabe como dar prazer a uma mulher. O


que fará ao se casar com um
homem e perceber que ele não se importa em saciá-la? ―
Ele se ouviu dizendo carrancudo.

― Então é melhor eu me certificar antes de casar, não é? ―


Phillipa sorriu maliciosa e ouviu Henry prender a respiração.

Na realidade não planejava permitir que nenhum homem a


tocasse, não era imprudente a esse ponto, mas não podia
deixar de provocar o homem a sua frente.

― Você não está pensando em tentar algo antes de se casar,


está? ― Henry voltou a se irritar. Phillipa definitivamente era
louca. ― Acha mesmo que não ficará arruinada se outro
homem a tocar como eu toquei? Acha mesmo que alguém
conseguirá se controlar como eu consegui?

― Talvez eu não queira controle. ― Phillipa se ofendeu em


saber que ele não tinha sentido o mesmo que ela naquela
noite. Porque a única coisa que ela não tinha nas mãos dele
era controle.

― Pelo amor de Deus, Phillipa, não faça nada que se


arrependa depois. ― Henry pediu mal conseguindo segurar a
vontade de sacudi-la até que algum juízo entrasse na cabeça
dela.

― Sinto muito que não tenha apreciado como eu apreciei. ―


replicou furiosa e em seguida suspirou. ― Sinto muito que
você tenha se arrependido, mas não era assim que eu pensei
que as coisas terminariam.

― E como pensou? ― Henry perguntou franzindo o cenho,


tentando compreender as nuances do humor dela.

― Não importa, já acabou. ― Phillipa virou as costas para


Henry. ― Agora se me der licença, gostaria de ficar sozinha.
Quando se voltou para a porta, Henry já tinha partido.

CAPÍTULO 10 ― PLANOS

Os dias passavam arrastados, Henry tentou esquecer Phillipa


a todo custo, mas nunca se sentiu tão perdido na vida. O que
diabos ela quis dizer com: Não era assim que pensava que
as coisas terminariam? Até poderia suspeitar, mas ela não
estava louca de sequer cogitar largar tudo por ele, estaria?

Ela teria aceitado se casar se Henry fosse honrado o


suficiente para pedi-la em casamento? Sim. Sua mente lhe
respondeu. Tinha certeza que era exatamente isso que
Phillipa faria caso ele pedisse.

Henry sabia que era o que deveria ter feito. Era o correto a
se fazer depois de quase tê-la arruinado, mas não podia
correr o risco de que ela aceitasse. E este era um risco muito
real.

Todos aqueles pensamentos o irritavam, ele se odiava por


ainda pensar nela e nada parecia animá-lo. E quando não
estava irritado com tudo e todos, Henry bebia no bar. Isso
começou a preocupar seus funcionários que especulavam
entre si o que poderia ter acontecido.

Henry não era um homem dado às bebidas, mas sempre


podia abrir uma exceção para momentos como esse. Nada
melhor do que um bom e velho porre pra tentar esquecer os
últimos acontecimentos. Tentava se convencer que fizera o
que era correto, mas Deus era testemunha que não fora
fácil.

Ver a dor nos olhos de Phillipa fez algo dentro de si se


quebrar em pedaços, mas sabia que não poderia voltar atrás
e vira o quanto a moça estava triste pelas coisas não
acontecerem como sonhara, mas superaria aquele
sentimento. Ela tinha que fazê-lo e iria se casar com um
nobre, alguém como ela, de modo que seria feliz na medida
do possível.

Ele por outro lado, tentaria continuar sua vida de sempre,


cuidaria de seu Clube e voltaria a ser o homem que sempre
foi, ou tentaria ser, mas só depois que esvaziasse metade da
adega.

Henry pediu a quinta dose de Whisky e a dama de branco


relutou antes de dar o que ele queria.

— Sinto muito lhe dizer, mas seus problemas sabem nadar e


não se afogarão na bebida. —

disse uma mulher se sentando no banco ao seu lado.

— Talvez a ideia seja eu me afogar na bebida. — Henry


respondeu sem olhar para ela.

Pela voz, reconheceu sua melhor jogadora.

— Henry, o que está fazendo não vai ajudar. — Copas lhe


disse. Odiava vê-lo daquela forma. — Todos estão
preocupados com você. Não pode continuar com essa
embriaguez.

— Eu posso e eu vou. — Henry retrucou entornando o copo


para provar o que dizia e em seguida, pediu outro.
— Você deve amá-la demais para esquecer seu Clube e se
afogar na bebida. — Copas comentou pedindo para si
mesma uma dose.

— O que a faz achar que estou bebendo por causa de um


sentimento por uma mulher?

Henry perguntou, incomodado.

— Bem, os negócios parecem ir bem, tirando o recente


desfalque na adega, então acredito

que não seja por causa deles. Desde que sua prima
apareceu aqui, você tem agido estranho, então supus que
fosse por causa dela.

Henry se retesou diante daquelas palavras. Como ela sabia


de Phillipa?

— Creio que sabe que deve permanecer em segredo que ela


esteve aqui. — Henry avisou.

— Eu não colocaria meu próprio segredo em risco, Lorde, não


sou tola. — Copas se defendeu e depois de um momento
acrescentou: — E eu não me intrometeria nesse assunto se
não visse que você está perdido.

— Eu não preciso de ajuda.

— Sei que não precisa de ajuda, o que você precisa é dela.


Não sei o que aconteceu, mas como não a vi mais por aqui,
acredito que não estejam mais juntos.

— É verdade. — Henry confirmou. — Não estamos juntos,


nunca estivemos. Ela é boa demais para alguém como eu.
Nunca terei nenhum título para dar a ela.
— Eu conheço muitos lordes e são poucos os que são nobres
como você. São poucos os que respeitam e cuidam de seus
criados, e menos ainda os que se importam com eles como
você o faz. Se essa mulher não viu isso em você, ela é uma
tola.

— Você não entendeu: eu quem a mandei para longe. Não


podia fazê-la ter esperanças que teríamos algo.

Copas não esperava que ele fosse o causador do próprio


sofrimento. Os homens tinham o péssimo hábito de serem
excessivamente idiotas quando queriam.

— Você está bebendo por uma mulher que você mesmo


dispensou?

Ele ergueu sua taça indicando que a mulher acertara em


cheio em sua especulação.

— Sinceramente, acredito que quem está apaixonado é


você, que cometeu um erro ao mandar embora a mulher que
ama e que, ao que parece, retribui o sentimento. — a dama
apontou, bebendo a sua dose de uma única vez.

— Não importa, eu já tomei a decisão. Fiz a coisa certa para


ela. — Henry explicou sorvendo mais um pouco da bebida
âmbar em seu copo.

— Pode até ser a coisa certa, mas você será feliz com essa
escolha? — soltou a questão ao se levantar da mesa, tocou
em seu ombro em um gesto de solidariedade e voltou para
sua ala, deixando para trás um Henry pensativo.

No dia seguinte, o sol acabara de nascer quando Henry


acordou, sentiu a cabeça latejar e a garganta seca, estava
de ressaca, mas logo passaria. Enquanto bebia a mistura
gosmenta que preparou Mary, decidiu dar um tempo no
Clube. Copas tinha razão, beber não era a solução para
nada. Como fazia tempo que não visitava sua mãe, decidiu
que estava na hora de saber como ela estava e talvez os
ares do campo desanuviassem sua mente.

Depois de três horas de viagem, chegou à pequena casa de


campo que comprara para ela.

Sentiu o cheiro de pão e sua barriga roncou, estava na hora


do desjejum. Como a cozinheira de sua mãe sempre fazia
comida demais, não teria problema em chegar sem aviso
prévio. Além do mais, queria fazer uma surpresa para a Sra.
Willians.

― Henry! ― sua mãe gritou de alegria ao vê-lo se aproximar


e apressou os passos na

direção de seu filho.

A Sra. Willians era uma mulher bela, apesar da idade e dos


traços cansados que o trabalho lhe trouxe. Ela tinha os
mesmos cabelos negros cacheados do filho, mas agora
estavam ficando grisalhos, seu tom de pele era mais escuro
que o de Henry e ela mal alcançava o ombro do filho, pois
era baixa.

Ao se unir à sua mãe na metade do caminho, Henry a


abraçou amavelmente e recebeu os beijos que ela guardava
para quando ele decidisse aparecer.

― Estava com saudades. Oh, veja ali está a pequena Gigi.


Estou tão orgulhosa pelo que fez pela Sarah e pelas crianças.
― Sua mãe lhe confidenciou olhando para ele com orgulho
no olhar ― Se tornou um bom homem. Agora venha, deve
estar com fome. Mirtes está terminando de preparar o café
da manhã.

Era sempre assim. Sua mãe nunca perdeu a gentileza e a


alegria que possuía, nem mesmo o tempo que passou na
prisão conseguiu arrancar a bondade de seu coração.

Henry abraçou a mãe novamente e lhe beijou os cabelos. Era


bom vê-la novamente.

Dois dias se passaram, Phillipa decidiu erguer a cabeça e


aceitou que Henry não faria parte de sua vida. Tentou
esquecer de que um dia ele fizera. Decidida a não se deixar
abater por causa disso, ocupou seu tempo de alguma forma
em Londres.

Naquela manhã, optou por cavalgar, visto que ficar dentro


de casa o tempo todo não lhe estava fazendo bem. Como
ainda era cedo e sua mãe não havia acordado ainda, decidiu
não comunicá-la de seu passeio, afinal, pretendia voltar
antes que a Duquesa despertasse para o café da manhã.

Com a ajuda de Eloá, trocou sua roupa por uma de montaria


e em seguida seguiu para os estábulos. Avisou a sua criada
que, caso perguntassem por ela, informasse que tinha ido
cavalgar no Regence Park e logo voltaria.

Cavalgar tinha o dom de deixá-la feliz. Possuía o mesmo


amor que seu pai tinha pelos equinos. Seguiu animada para
os estábulos e surpreendeu-se ao encontrar o cavalo
preferido de seu pai ali. Trovão era um puro sangue inglês,
com pelagem marrom escura e bastante veloz. Era a estrela
da criação que o antigo Duque mantivera em seu Haras. Ele
normalmente ficava em Arondalle, por isso se espantou que
Phillip tivesse mandado buscá-lo.
Phillipa se aproximou da baia onde Trovão estava.

― Olá, garoto, que surpresa vê-lo aqui. ― Phillipa saudou o


garanhão esticando a mão e acariciando o animal. ― Está a
fim de dar um passeio?

O cavalo bufou como se respondesse e Phillipa entendeu


aquilo como uma afirmação, então pediu que o selassem e
meia hora depois, saía em um trote animado com Raio.

Quando retornou do passeio, sua mãe a procurava.

— Onde você estava? ― perguntou assim que ela entrou


pela porta, após se trocar.

‒ Estava cavalgando no Regence. ‒ Phillipa retirou o chapéu


e o casaco que usava e os entregou a uma criada, que
prontamente os levou para o seu quarto.

― Ah, que bom. Você já leu a coluna de fofocas hoje? ― a


Duquesa perguntou, passando os olhos pelo jornal em suas
mãos.

― Não, tem algo interessante?

― Sempre tem. Estão comentando os bons partidos dessa


temporada. O Phillip está na lista. ― A Duquesa sorriu
orgulhosa do filho.

‒ Quem mais está nela? ‒ a moça questionou curiosa.


― Lorde Tremount, Lorde Sutterford, Lorde Winchester, Lord
Bradwell… São os mais interessantes.

Ao ouvir o nome de Sutterford, Phillipa fez uma careta


desgostosa. A lembrança da noite de seu debute a encheu
de raiva. Aquele definitivamente não era um pretendente
interessante, muito pelo contrário, nem sequer deveria estar
na lista de partidos interessantes.

― Se esses são os interessantes, então eu posso esperar


mais uma temporada para ver se aparece algum nobre mais
aceitável. ― Phillipa riu da lista e sua mãe olhou para ela
desgostosa.

Nesse momento, o café foi servido e ambas ficaram em


silêncio esperando os criados as servirem. Um deles
entregou uma carta à Duquesa, que o abriu rapidamente e
leu evidentemente interessada em seu conteúdo.

― Nós fomos convidadas para um recital na casa de Lady


Catterfild, A duquesa de Catterfield. ― Ela expôs com um
sorriso à medida que lia ― Sua filha também debutou essa
temporada e ela fará uma apresentação. Exatamente o que
eu estava esperando.

‒ Para um simples recital a senhora parece bastante


animada ‒ Phillipa apontou curiosa com a reação da
Duquesa.

‒ Não é pelo recital em si, mas eu soube que Lorde


Winchester estará lá e ele será um ótimo partido para você.

Ahá! Ela sabia que sua mãe estava planejando algo que
envolvesse algum nobre solteiro.

‒ O amigo de Phill? ‒ Phillipa quis se certificar.


‒ Sim, eu soube que o rei o intimou a encontrar uma esposa
e logo agora que você debutou, é o momento perfeito.
Sempre achei que formavam um belo par.

‒ Eu espero que a senhora não esteja realmente pensando


em ter Lorde Winchester como parte da família.

‒ E por que não? Ele é um Marquês, jovem, bonito, solteiro,


nobre e rico e acredito que seu irmão aprovará a escolha ‒ a
Duquesa enumerou os pontos que achava importante na
escolha

de um pretendente e Phillipa revirou os olhos.

‒ Mãe, ele é um libertino! ‒ Phillipa protestou: todos


conheciam a fama de Winchester.

‒ O famoso sedutor que nenhuma mulher consegue resistir.


Não quero me casar com um homem que vá trocar mais de
amante do que de roupa. ‒ a jovem Lady falou em tom
jocoso. Ela, apesar de não conhecer Winchester tão bem
quanto conhecia Dorset, sabia que não suportaria ficar
casada com um homem como ele, posto que nunca levava
nada a sério, era inconsequente e só Deus sabia quantas
mulheres já arruinara, ou pelo menos, era o que as más
língua diziam.

‒ Como se existisse algum homem que fosse fiel a seus


votos. ‒ A mãe debochou com um nota amarga no tom. ‒ Ter
amantes é comum entre os homens, minha querida, não se
iluda que eles vão manter as calças fechadas.
‒ Mamãe! ‒ Phillipa protestou, escandalizada pela forma que
a mãe falou.

‒ É a verdade, minha querida. ‒ a Duquesa desdenhou o


protesto da filha e a deixou sozinha.

No dia seguinte, Phillipa e sua mãe foram para o recital de


piano de Lady Catterfild. A Duquesa de Norfall estava
animada e mal podia esperar para colocar em prática o seu
plano de unir Phillipa com o Marquês de Winchester.

Phillipa, por sua vez, pensava em como evitaria os


constrangimentos que, com toda certeza, sua mãe lhe
causaria, uma vez que a Lady Norfall não era conhecida pela
sua sutileza.

Tinha pego o seu maior leque, pois, por via das dúvidas,
esconderia sua vergonha atrás do objeto tão versátil.

As duas Ladies sentaram-se nas cadeiras e logo em seguida,


o recital de piano se iniciou.

Lady Clara de Catterfield começou a tocar a primeira


sinfonia, que era a sonata n° 1 de Beethoven, era
perceptível que a jovem era uma exímia pianista. Phillipa
observou melhor a moça ao piano: ela lhe parecia
vagamente familiar, mas não conseguia se lembrar de onde
já a conhecia, já que poderia ser de qualquer lugar.

Nessas horas, Phillipa gostaria de ter uma memória melhor,


nunca se lembrava de onde conhecia as pessoas e muito
menos se lembrava dos nomes. Graças aos céus que a
programação do recital tinha o nome da Lady ou Phillipa
correria o risco de não ter lembrado um nome simples como
Clara.
— Ele chegou. — a Duquesa sussurrou, chamando a atenção
da filha, mas era evidente que estava animada. — Veja ali
perto da porta.

Phillipa olhou discretamente e encontrou Lorde Winchester


com facilidade. Ele tinha um palmo a mais que o Lorde mais
alto ali presente, era o mais bonito e também o mais
libertino.

Phillipa revirou os olhos e voltou a prestar atenção no recital.

Lady Clara tocou uma sinfonia de cada compositor, começou


com Beethoven, passou por Pachelbel, Mozart, depois
Vivaldi, Bach e finalizou com o Minueto de Boccherini. Eram
as

sinfonias mais conhecidas de cada compositor e ela as


reproduziu com maestria.

Entretanto, quando a apresentação terminou, Phillipa não


teve outra opção a não ser conversar com os convidados
assim como sua mãe fazia, já que a Duquesa aproveitava
todos os nobres presentes para apresentar sua filha.

Quando se aproximaram do Marquês, a Duquesa lembrou a


Phillipa de sorrir e esta fez exatamente o contrário, sem que
a sua mãe visse ainda revirou os olhos. O Lorde Winchester
sorriu ao ver a irmã de seu amigo fazer aquele gesto pouco
educado. A jovem Lady sempre fazia essa expressão perto
dele e isso o divertia. Se ela não fosse tão nova e inocente, e
se seu irmão não fosse um de seus melhores amigos ‒ o que
era o real motivo ‒ já teria flertado com ela e a seduzido.

Era uma bela moça e qualquer que tivesse dois olhos, ou


mesmo apenas um em bom estado, poderia ver, mas o
Marquês sempre a considerou um caminho proibido e por
isso passara a vê-la como sua própria irmã, o que não fora
difícil já que possuía duas meio-irmãs mais novas e um
meio-irmão.

Seu pai não fora conhecido por manter as calças no lugar


diante de uma mulher bonita e não se importava muito em
fazer bastardos. Gabriel era o filho único que Lady
Winchester colocou no mundo, sendo o único herdeiro do
marquesado. Sua mãe faleceu quando ele contava doze anos
e seu pai faleceu dez anos depois, acometido por sífilis,
doença que provavelmente adquiriu com alguma de suas
várias amantes.

‒ Lorde Winchester, que prazer em vê-lo. ‒ A Duquesa o


saudou com um sorriso.

‒ Igualmente, Lady Norfall. Lady Phillipa. ‒ Winchester


saudou, educado ‒ Como estão, Miladies?

‒ Estamos muito bem. Quando Phillipa debutou, sentimos


sua falta na cerimônia, fiquei muito triste por saber que os
negócios o impediram de participar. Foi um verdadeiro
sucesso, não foi Phillipa?

‒ Deveras, mamãe. Foi maravilhoso. Uma pena milorde não


ter participado. ‒ Phillipa falou sem emoção e o Marquês riu
internamente da falta de empolgação dela.

‒ Tenho certeza que deve ter sido memorável, ainda mais


com uma debutante tão bela. ‒

Winchester flertou para a alegria da Duquesa e o desespero


de sua filha. ‒ Infelizmente, precisavam de mim para
resolver problemas na propriedade, alguns bárbaros
estavam dando prejuízos, mas já está resolvido.

‒ Que notícia excelente. Desde que o senhor assumiu o


marquesado, noto que tem prosperado como nunca antes.
Devo parabenizá-lo pelo seu excelente trabalho como
administrador. ‒ Lady Norfall o enchia de elogios e Phillipa
pensou que ele bem que podia explodir de tanto que
estufava o peito de orgulho. Não externou o pensamento,
mas sorriu com a imagem de Lorde Winchester explodindo.

‒ É tudo resultado de um bom planejamento e organização.


‒ o Marquês se gabou. ‒

Exercícios simples, mas que distinguem o bom e o mau


administrador.

‒ É claro, fazem toda a diferença. ‒ A Duquesa sorriu. ‒ Não


é mesmo, Phillipa? ‒ se voltou para a filha e ela quase pode
ouvir a ordem da mãe em seus pensamentos: Seja educada
e converse com o Marquês!

‒ É claro que sim. ‒ Phillipa concordou com a mãe e rezou


para que eles logo saíssem dali.

‒ Como está o Duque? ‒ o Marquês perguntou, iniciando um


novo assunto dessa vez diretamente para Phillipa, o que fez
a jovem lamentar.

Maldito marquês! – Phillipa praguejou internamente.

‒ Ele está muito bem, obrigada pela lembrança. ‒ Phillipa


respondeu polida. ‒ E suas meio-irmãs?

‒ A Cecilia casou ano passado. Segundo ela, está muito feliz


com seu marido e a Alice está bem, acredito que logo a
trarei aqui para conhecer Londres.

‒ Será um prazer conhecê-la. Por favor, não deixe de levá-la


para nos visitar, acredito que ela ainda não debutou, não? ‒
a Duquesa interveio quando Phillipa não falou nada.
‒ Não senhora, Alice debutará na próxima temporada, mas
ela sempre pede para conhecer Londres, então estou
pensando em trazê-la em um período mais calmo.

‒ Como milorde é atencioso. Nem parece que ela é apenas


sua irmã por parte de pai. O

senhor é muito bondoso também, não são todos os nobres


que não se importam em ter bastardo na família. ‒ A
Duquesa sorriu. ‒ Ele não é incrível, Phillipa?

‒ É sim, mamãe, incrível. ‒ Phillipa suspirou desgostosa. Se


dependesse de sua mãe elas não sairiam tão cedo dali,
então olhou ao redor em busca de algo que chamasse a
atenção da Duquesa. E foi então que viu Lady Clara próximo
a elas. Seus olhos brilharam com a ideia que lhe surgia e ela
olhou para o Marquês sorrindo. ‒ Milorde, a conversa está
bastante agradável, mas eu gostei tanto do recital que não
poderia me abster de parabenizar a pianista. Se me der
licença, eu volto logo.

― Oh, é claro, minha querida. Não permita que eu a


atrapalhe. ― O Marquês sorriu, pois sabia claramente que
ela estava fugindo.

Phillipa olhou para sua mãe esperançosa que ela a liberasse.

― Claro, eu farei um pouco mais de companhia ao Marquês


antes de me juntar a você. ―

a Duquesa acrescentou e permitiu que ela fosse conversar


com Lady Clara de Catterfield, assim conversaria em
particular com o Marquês.

Phillipa fez uma reverência elegante e seguiu na direção da


filha da Duquesa de Catterfield. Quando se aproximou da
Lady, essa lhe sorriu timidamente. Então a lembrança de
onde a conhecia apareceu na sua mente. Ela era a mulher
que estava no Clube no dia em que conseguiu entrar pela
primeira vez. Ela era Copas.

— Milady, que recital magnífico. — Phillipa elogiou sincera,


tinha realmente apreciado em demasia e também precisava
se aproximar dela. Estava surpresa de que a melhor
jogadora do Rogue’s fosse uma nobre.

— Muito obrigada, Lady Phillipa. — a outra respondeu,


ruborizando pelo elogio. — Fico feliz que tenha comparecido.

— Eu também estou feliz por ter vindo. — Phillipa sorriu.


Sabia que não poderia falar nada comprometedor com
tantas pessoas prestando atenção nelas. Então segurou a
curiosidade e decidiu usar a cabeça. — Quero lhe retribuir a
gentileza e lhe convidar para tomar chá comigo

amanhã. Acredito que temos tanta coisa em comum. Espero


que não recuse meu convite.

— Será um prazer, Milady, desde que conversamos naquele


dia, fiquei bastante curiosa sobre a senhorita, acredito que
seremos grandes amigas. — Clara lhe sorriu confidente,
deixando evidente que também se lembrava dela e Phillipa
retribuiu o sorriso.

— Eu acredito mesmo que sim.

Ambas se despediram e a Duquesa se aproximou de Phillipa


irritada.

― Vamos embora. ― a Duquesa chamou.

— O que se passa mamãe? — a Lady indagou preocupada,


fizera algo que desagradou a mãe?
— Não foi nada, vamos embora? — a Duquesa suavizou o
tom de voz ao perceber que estava chamando a atenção
para si. E, após Phillipa se despedir de Lady Clara, seguiram
para a carruagem, que já as esperava para levá-las para
casa.

CAPÍTULO 11 – AFLIÇÃO

Henry retornava no fim da tarde para o Rogue’s em sua


carruagem e não conseguia tirar de sua mente a conversa
que teve com sua mãe. Não tinha planejado comentar nada
com ela, mas não tinha como enganar a Sra. Willians. Sua
mãe sempre sabia quando ele precisava de ajuda ainda que
tentasse não demonstrar.

― O que lhe aflige? ― ela havia lhe perguntado depois que


tinham tomado café da manhã.

Eles estavam sentados na varanda observando as crianças


brincarem no jardim.

― Não é nada, mãe. Eu estou bem, não precisa se


preocupar.

Sua mãe lhe sorriu ternamente e pegou a mão dele entre a


sua, apertando-a levemente.

― É claro que eu me preocupo. Eu lhe amo. Agora me diga o


que lhe aflige.
Henry suspirou ao ponderar se deveria contar ou não o real
motivo de sua aflição. Ele não queria parecer tolo diante da
mãe, mas sempre fora muito próximo dela, mas não queria
aceitar que fora lá para fugir de Phillipa.

― Não é nada, realmente. Apenas pensando o quanto eu


deveria estar feliz pelo sucesso do Clube. Estamos com duas
centenas de membros cadastrados, as rendas estão ótimas,
tudo está tão indo como deve ser.

― Mas não está feliz…

― Não, quero dizer, estou feliz, mas não da forma como eu


acharia que deveria ficar. É

como se minha felicidade não fosse completa, como se


faltasse algo. Não consigo ficar feliz como eu estava antes.

― E o que aconteceu entre o antes e o agora?

Henry ficou calado, não poderia dizer que Phillipa tinha


acontecido. Precisava esquecer aquela mulher e não ficar
com ela nos pensamentos o tempo todo.

― Quem é ela? ― Sua mãe lhe surpreendeu com o


questionamento.

O homem demorou alguns segundos para se recompor.

― Ninguém que eu possa ter. ― contou a verdade. Omitir


era uma coisa, mentir era outra completamente diferente.
Ele não gostava de mentir para sua mãe.

― Por que ela é nobre ou por que ela não o ama?

― Porque eu não sou bom para ela. Merece alguém melhor


que eu. ― Henry disse, cerrando os dentes.
― E o que a moça diz?

― A moça não sabe o que diz. Ela deve se casar com um


nobre, como sua família quer. Eu não tenho nada a oferecer
para ela.

― Você sempre fez tanto por todo mundo. Sempre tem algo
a oferecer para quem precisa.

Título nenhum substitui a nobreza de um bom coração e


você pode não ter um título ou ser nobre, mas tem o
necessário para fazê-la feliz. Phillipa nunca se importou com
títulos.

Ao ouvir o nome de Phillipa, Henry olhou para sua mãe,


confuso.

― Como a senhora sabe? ― indagou, franzindo o cenho, e a


mãe riu se divertindo com a expressão do filho.

― As notícias correm por aqui. A Gigi me contou como você


salvou a Sarah, e ela tem uma memória surpreendente, por
isso se lembrou da moça que estava lhe esperando e como
você ficou agitado quando a viu. Depois eu soube que foi ao
debute, então não foi difícil juntar dois mais dois.

Henry ficou em silêncio. Estava desconfortável agora que


sua mãe sabia de tudo.

― Meu querido, se a moça o ama e você a ama, não deveria


colocar empecilhos.

― Não podemos ficar juntos. ― Henry foi categórico. ― E eu


não a amo.

― Uma pena, eu sempre gostei dela. ― A Sra. Willians deu


de ombros e mudou de assunto.
Henry queria que fosse tão fácil, mas nada era. Ele fazia o
melhor para Phillipa: sua prima merecia alguém do mesmo
nível, alguém que a própria família não odiasse, alguém que
ela pudesse exibir orgulhosamente como seu marido e que
não trouxesse vergonha para ela por ser bastardo.

Estava escuro quando chegou ao clube, mas o Rogue’s ainda


não iniciara as atividades noturnas. Durante o dia, apenas a
ala da Gula funcionava, mas a medida que ia anoitecendo
outras alas eram liberadas.

Henry desceu da carruagem e esta seguiu para o estábulo


onde ficaria até que ele precisasse dela novamente.

Mal deu um passo para a entrada, quando um homem saiu


das sombras.

― Então é aqui que o bastardo trabalha? ― ele falou


debochado. ― Sabe, não foi fácil descobrir sobre você. Suas
informações são bem guardadas.

― O que quer aqui, Sutterford? O Lorde expulsou você.

― Por sua causa.

― Você merece bem mais do que recebeu por tocar em


Phillipa.

― Eu perdi quase tudo por causa de sua interferência


naquele dia. Se não tivesse se metido onde não foi chamado,
eu ainda teria minhas terras, a garota e o generoso dote
dela. Mas não… Você tinha que se meter. Será a última vez
que interferirá na vida de alguém.

Sutterford olhou para um ponto escuro atrás de Henry e


moveu a cabeça sorrindo. Um homem então saiu das
sombras com uma faca nas mãos. Tentariam matá-lo de
novo.

― Essa vai ser sua vingança? ― Henry provocou. ― Então


sugiro que não me deixe vivo, porque se deixar, eu vou
acabar com você.

― E o que um bastardo como você pode fazer contra um


nobre como eu? ― Sutterford riu sarcástico.

― Vai descobrir em breve. ― Henry piscou para Sutterford e


antes que o homem contratado para matá-lo se aproximasse
mais para lhe atacar, Henry se virou e avançou sobre ele,
conseguindo desarmá-lo com facilidade ao surpreendê-lo,
em seguida o acertou com um gancho

que o nocauteou de primeira.

Não pôde se vangloriar por muito tempo, pois ao se virar


para Sutterford, percebeu que este segurava uma arma com
as mãos trêmulas e a apontava para Henry.

O som do disparo soou alto em seus ouvidos e logo uma dor


aguda tomou o corpo de Henry, em seguida o barulho de
passos correndo para longe chegaram aos seus ouvidos.

Depois do Recital, o Marquês seguiu direto para o Clube,


precisava de uma bebida forte depois de descobrir com
quem se casaria. Ele, no fundo, acreditava que o rei estava
apenas blefando quando disse que escolheria a sua noiva,
caso o próprio Winchester não o fizesse. Foi o que
aconteceu. O rei enviou uma carta requerendo sua presença
e anunciando com quem ele se casaria.

Lady Clara de Catterfield.

Sua noiva.

Ele não conseguia imaginar alguém mais sem graça e mais


ingênua. A mulher não tinha nenhuma curva, seu cabelo era
pálido e sem brilho, seu rosto era fino e seus olhos enormes
eram cinza. Ela parecia feita de mármore de tão branca. De
todas as nobres o rei escolheu a mais sem graça para ser a
esposa dele. Tinha certeza que o rei o castigava por não ter
escolhido ninguém.

Estava condenado ao eterno celibato. Certamente, teria uma


vida triste. Maldita promessa.

Tinha ido ao evento na esperança de que sua noiva não


fosse tão desprovida de beleza quanto ele lembrava, mas
não teve sorte, ela mantivera a mesma aparência.

Nem sequer tentou falar com ela. Não mentiria em dizer que
estava feliz com o arranjo do rei. Não era um crápula. Ela
não tinha nenhuma culpa. Por isso, assim que deixou a
Duquesa de Norfall, Winchester foi direto para o Clube. Todos
os arranjos já tinham sido feitos pelo Rei. A família da moça
já estava sabendo do acordo nupcial e ele também.

Winchester se casaria em seis meses, foi o máximo de


tempo que conseguiu com o rei. Sua majestade só o permitiu
sob forte ameaça de que, se ele tentasse desfazer o arranjo
de casamento, perderia o marquesado e seria considerado
traidor.

Ou seja, não poderia causar nenhum escândalo que


impedisse o enlace. Nada de mulheres, teria que se
comportar. E por isso, ele estava indo beber.

O barulho de um tiro chamou sua atenção e logo em seguida


alguém esbarrou nele. Era Sutterford que corria para longe
do clube.

Droga! Ele tinha conhecimento do que o homem ousara


fazer a Phillipa e Henry tinha impedido.

Henry. ― O pensamento atravessou a mente do Marquês


como um raio, e ele se viu correndo na direção que
Sutterford viera.

Encontrou Henry encostado à parede, junto de outro homem


e temeu pelo pior. Dmitri saiu

do Clube apressadamente e se juntou a ele também


preocupado. Logo outros empregados vieram em socorro a
Henry. Perceberam que não seria necessário.

― Aquele maldito. ― Henry gemeu em um sussurro ao tentar


se levantar. ― Acertou meu braço. Mas ele é idiota, um tiro
no braço não vai me matar.

— Você está reclamando por Sutterford não ter te matado?


— Winchester perguntou incrédulo.

― Agora eu vou ter que me vingar do maldito. ― Henry


explicou se colocando finalmente de pé. ― Como sabe que
foi ele?

― Ele esbarrou em mim tentando fugir daqui. Se eu


soubesse que não estava morrendo, teria segurado o
maldito, mas nem me ative em ir atrás dele.

― Vamos para dentro. Assim podemos ver o quanto está


machucado. ― Dmitri instruiu.
― O que quer que façamos com este aqui? ― ele perguntou
a Henry.

― Traga-o para dentro. Quando ele acordar, mandarei dar


um recado ao meu quase assassino. Se eu apenas revoguei
sua participação no Clube e cobrei as dívidas, agora ele
precisará ir para o exterior se não quiser morrer.

Todos entraram no Clube. Henry, Winchester e Dmitri


seguiram para a sala do Lorde, onde cuidariam do ferimento
de Henry.

Dmitri saiu para buscar o material de sutura e Winchester


começou a ajudar Henry a remover a roupa, mas parou de
despir o amigo quando a porta se abriu e uma mulher ruiva,
mascarada, vestida de preto com um coração vermelho
desenhado no vestido entrou na sala.

A mulher era linda, um misto de delicadeza em suas feições


com um caminhar que esbanjava segurança e força. Ela
tinha um mistério em seus olhos cor de tempestade que o
instigava a descobrir seus segredos e ele a desejou
imediatamente.

Ela olhou para Winchester e o reconheceu de imediato. Logo


em seguida, ignorou-o deliberadamente e se dirigiu ao
Lorde.

— Eu mal chego e já descubro que você estava brincando de


tiro ao alvo, sendo o alvo em questão. ― a mulher disse com
um sorriso brincalhão, mas seus olhos observavam Henry
com preocupação. ― Então vai me dizer o que aconteceu?

― Pois é. Um alvo desse tamanho e o filho de uma cadela


ainda erra o tiro... ― Henry explicou dando de ombros e se
arrependeu do gesto assim que sentiu uma pontada de dor
na região. ― Sutterford me atacou, querendo se vingar por
eu ter estragado a vida dele. Como se ele precisasse de mim
para isso.

― Não precisa parar de tirar a roupa dele por minha causa.


― Copas avisou olhando para Winchester.

― Você vai ficar aí olhando? ― Winchester perguntou


curioso.

― Não será nada que eu não tenha visto antes. ― Ela lhe
deu um sorriso divertido.

― Não o meu corpo. ― Henry ergueu uma sobrancelha para


Copas.

― Verdade, mas não se preocupe não vou me apaixonar por


você ou vai me mandar embora. ― Copas alfinetou.

Henry cerrou os dentes e olhou para ela com os olhos


semicerrados.

― Acho que deve sair agora, Copas. ― Henry avisou sério.

― Sabe que está sendo um idiota quanto à garota, não


sabe? ― ela o provocou mais um pouco. ― Mas não precisa
continuar assim. Converse com ela…

― Fora. ― Henry ordenou sem se dar ao trabalho de


responder.

Copas revirou os olhos e saiu.

Dmitri voltou à sala com o material para cuidar do braço de


Henry e começou a trabalhar no ferimento.

― Vou pegar uma bebida forte lá na Gula. Esqueci de trazer.


― Dmitri avisou se levantando.
― Não, eu pego. ― Winchester tomou a frente, apressando-
se em sair dali. Estava curioso demais sobre a mulher que
Henry supostamente gostava.

Ele foi para a ala da Gula, encontrou Copas sentada em uma


das mesas e se dirigiu a ela.

― Não saia daqui, gostaria de falar com você. ― ele


informou e seguiu para o balcão das bebidas, pedindo um
whisky envelhecido e retornando para o escritório de Henry
para entregar a bebida.

Copas falara aquilo justamente para chamar a atenção de


Winchester. Arquitetou um plano para unir Henry e Phillipa, e
ver aquele homem libertino ao lado da mulher que Henry
gostava a fez ter aquela ideia.

Depois de meia hora, Gabriel retornou.

― Como ele está? ― ela perguntou.

― Bêbado e costurado, mas vai ficar bem. A bala pegou


muito superficialmente, então ele não corre nenhum risco.
Desde que não infeccione, Henry ficará novo em folha em
breve.

― Obrigada por ter ajudado.

― Henry é meu amigo. ― Ele deu de ombros dispensando o


agradecimento dela. ― E por ele ser meu amigo que eu
gostaria de saber sobre essa mulher que o deixou daquele
jeito só em você mencioná-la.

― Ele se apaixonou por uma Lady. ― ela disse sorrindo. ― E


a mandou embora.

— Isso é tolice. Homens não se apaixonam, isso é coisa de


mulher que acredita em contos de fadas. — o Marquês
ironizou. — E se ele gosta dela por que a mandou embora?

— Porque ela é sua prima e uma dama. Por essas questões,


acha que não é digno dela.

— Lady Phillipa? Pensei que eles nem sequer mantivessem


contato. — Winchester estava surpreso.

— Bom, parece que as coisas mudaram e ambos acabaram


se envolvendo e, ao que me parece, ele decidiu terminar
tudo antes que as coisas se tornassem mais… Complicadas.
Mas eu pretendo dar uma mãozinha ao destino.

― E por que você pretende juntar o casal?

― Porque eu os vi juntos algumas vezes. Henry precisa dela.


Eu nunca o vi se apaixonar

antes, e nos dias que ela esteve aqui, parecia um homem


completamente diferente. Ele estava feliz.

De todos os homens, aquele é o mais merecedor da


felicidade, e eu farei o que for possível para que ele seja
feliz.

― Falando assim, parece que é você que o ama.

Aquelas palavras fizeram Copas rir.

― Não, Marquês. Eu apenas tenho uma dívida para com o


Lorde. Ele me ajudou quando eu precisei e continua me
ajudando até hoje. Não há sentimentos envolvidos entre nós
a não ser fraternos.

― Compreendo. ― O Marquês observou bem aquela mulher.


Ela falava com uma eloquência de alguém bem instruído.
Seria uma Lady arruinada? Imediatamente a vontade de
protegê-la o atingiu, mas então se deu conta que ela já tinha
um protetor, Henry, e que ela não era uma de suas meninas.

— E como pretende unir o casal?

— Ciúmes. — Ela lhe sorriu.

Ele ficou um tempo pensativo, ela realmente achava que


isso ia dar certo?

Só uma mulher mesmo para usar isso como plano.

— Como você pretende causar ciúmes? Ele não vai permitir


que ela apareça aqui já que a mandou embora.

Aquilo fez Copas lhe dar um sorriso enigmático e cheio de


segredos e o Marquês desejou novamente desvendar todos
eles.

— Não é ela quem sentirá ciúmes e sim ele.

Aquilo estava ficando cada vez melhor.

— E quem o fará sentir ciúmes? — Winchester perguntou


interessado.

— Inicialmente, pensei em Dmitri ou Caleb, mas agora tenho


em mente alguém melhor.

Isso é, se o senhor, Lord Winchester, aceitar colaborar.

Copas sabia quem ele era mesmo usando máscara. Isso o


deixou curioso. Quem era ela?

— Como sabe quem sou? — ele quis saber.

— Vai colaborar? — ela desviou ao manter o questionamento


anterior.
— Diga-me como sabe quem eu sou e eu a ajudarei.

Ela sorriu, seu plano agora seria perfeito.

— Eu o vi mais cedo, então reconheci suas vestes


facilmente. Agora que estamos entendidos, quero que se
aproxime de Lady Phillipa no baile. Dance com ela e tente
causar ciúmes no Henry, ele não vai gostar de ter um
libertino a cortejando. Ele espera alguém melhor para ela.

— Assim você me ofende. — comentou com um sorriso. Ela o


conhecia muito bem ao que parecia e isso o deixou animado.

— Não me parece ofendido. — rebateu sem se importar se


realmente o ofendia. — E tudo que eu falei é a verdade. Sua
fama lhe precede, Marquês. Fico feliz que tenha decidido
colaborar.

Agora preciso trabalhar. Até breve, Winchester.

Dizendo isso ela se levantou e saiu.

CAPÍTULO 12 - INTERVENÇÕES

No dia seguinte, Phillipa estava na sala de visita, esperando


ansiosa a chegada de Lady Clara de Catterfield. Ficara
verdadeiramente curiosa sobre a Lady em questão, mas
pensar nela, a fez pensar em Henry, pois fora no clube dele
que elas tinham se conhecido e compartilhado o mesmo
segredo. Seu coração se apertou ao pensar nele.
Não precisou esperar muito, pois na hora marcada o
mordomo entrou na sala anunciando a chegada de Lady
Clara.

Após os cumprimentá-la como pedia o decoro, ofereceu-lhe


chá, o qual a visitante prontamente aceitou.

‒ A senhorita tem uma bela casa. ‒ Lady Clara elogiou.

‒ Obrigada. E fico feliz que tenha aceitado o convite.

‒ Eu não o recusaria por nada. Além do mais, eu tinha um


propósito para ter vindo. ‒

Clara anunciou séria. ‒ Ele precisa de você.

Phillipa não podia fingir que não sabia do que ela falava,
porque as duas sabiam muito bem quem era ele.

‒ Não há nada que eu possa fazer, sinto muito.

‒ Ele não está bem. Sei que foi ele quem a mandou embora,
mas ele fez isso pensando em seu bem. Ele acha que não é
bom o suficiente para você. ‒ Clara jogou as palavras e elas
acertaram em cheio Phillipa.

‒ Henry fez as escolhas dele.

‒ Escolhas erradas. É evidente para todos, que trabalham no


Clube, que ele sente algo pela senhorita. Todos pudemos ver
isso facilmente.

‒ Ele deixou muito claro que não sentia nada por mim. ‒
Phillipa sussurrou envergonhada por dizer algo tão íntimo.

‒ Ele disse com palavras que não te ama, mas as ações dele
indicam que é louco por você. Não vim aqui pedir que se
humilhe e vá atrás dele, mas queria que não desistisse
daquela pessoa ainda.

‒ Não entendo aonde quer chegar.

‒ Estou apenas dizendo que ele precisa entender que não é


uma pessoa ruim para você.

Nós duas sabemos que existem muitos lordes bem menos


nobres que o Sr. Willians, mas ele não pensa assim. Se ele
perceber que você corre o risco de se casar com alguém que
o Sr. Willians considere pior, vai se interpor. Ouso dizer que
ele a ama Phillipa, só não admite para si mesmo.

Henry acredita que está te protegendo ao mandá-la para


longe dele.

Phillipa viu verdades naquelas palavras. Talvez Clara tivesse


razão, mas ainda não o tinha perdoado. Ele a fizera sofrer
como nenhum outro homem ousara fazer.

‒ Henry fez as escolhas dele, se realmente me amasse não


teria me magoado tanto.

‒ E que outra forma ele garantiria que a senhorita não


continuasse apaixonada? Henry

apenas usou as armas que tinha para que a senhorita o


odiasse. Porque se continuasse amando, nunca seguiria com
sua própria vida.

Phillipa suspirou.

‒ Talvez a senhorita tenha razão, mas eu não pretendo voltar


lá. Ele sabe como eu me sinto a respeito dele. Fez isso
conosco, então ele que conserte. ‒ Phillipa foi irredutível e
Clara sorriu ao ver o orgulho dela. Seriam mesmo ótimas
amigas. Ela era perfeita para Henry.
Phillipa sorveu um pouco do chá e desviou a vista. Apesar de
tudo ainda mantinha sentimentos por Henry e, mesmo que
tivesse lutado contra aquilo, não o havia esquecido. A
vontade de ir atrás de Henry era grande, mas não o faria,
não seria tola ao ponto de ir até ele e ter o coração
machucado novamente. Não suportaria ouvi-lo dizer que
tinha se arrependido do que fizeram, não suportaria que ele
a chamasse de tola ou de desajuizada. Já tinha sido uma
experiência dolorosa da primeira vez, não estava disposta a
repetir.

‒ Ele não o fará se não tiver um estímulo. ‒ Lady Clara


observou.

‒ Como assim?

‒ Ele precisa pensar que escolheu um noivo ainda pior que


ele. ‒ ela disse. ‒ Alguém que a fará infeliz.

‒ E quem seria? ‒ A curiosidade a assolou.

‒ Lorde Winchester.

‒ O Marquês? ‒ Phillipa perguntou horrorizada. ‒ Eu nunca


noivaria com ele. Nem suporto estar no mesmo lugar que
ele. O Marquês é um libertino da pior espécie.

‒ Eu sei. Por isso ele é perfeito para o nosso plano. ‒ Clara


deu um sorriso triste e Phillipa franziu o cenho. ‒ O maior
libertino de Londres nunca daria um bom marido.

‒ Está tudo bem? ‒ ela perguntou preocupada com a tristeza


abrupta.

‒ Sim, sim, está tudo bem ‒ Clara se recompôs. ‒ Eu falei


com o Marquês sobre Henry.
Na verdade, ele mesmo viu o estado em que o Lorde estava
e decidiu ajudar. Concordou em se aproximar da senhorita e
a dar a entender para Henry que a pedirá em casamento.
Claro que tudo não passa de um blefe e que é só para que
Henry tome alguma atitude.

‒ E se Henry não tomar nenhuma atitude, ou se achar que


estarei melhor com Winchester?

‒ Ele irá, Winchester fará questão de deixar Henry o mais


enciumado possível. ‒ Clara riu. ‒ Mas se isso acontecer, se
ele não tomar nenhuma atitude, então realmente estará
melhor sem ele. Entretanto, eu seria capaz de apostar com
você que ele tomará uma atitude.

‒ Eu ainda não tenho certeza se isso dará certo. ‒ Phillipa


baixou os olhos entristecida.

‒ Ele deixou bem claro que não me ama.

‒ Acredite, um homem só fala a verdade em dois momentos


da vida, quando é uma criança inocente e quando está
bêbado. ‒ Clara brincou fazendo Phillipa rir. ‒ E acredite em
mim quando digo que aquele homem a ama.

‒ Então eu acredito que posso tentar. ‒ Phillipa concordou. ‒


Mas eu não vou perdoá-lo com facilidade, ele me machucou,
e muito.

‒ Não esperava que o fizesse. Muito pelo contrário, contava


justamente com isso para ele

aprender a lição de uma vez. Isso vai ser divertido. ‒ Clara


comemorou sorridente e em seguida ficou séria. ‒ Gostaria
que mantivesse guardado meu segredo quando estivesse
com o Marquês.
Ele não sabe que eu e Copas somos a mesma pessoa, e eu
gostaria que permanecesse assim.

Então, caso ele pergunte como eu me envolvi nessa história,


a senhorita tem que dizer que pediu minha ajuda.

‒ É claro que sim, nunca ousaria contar para ninguém. Não


precisa se preocupar quanto a isso.

Durante o restante do chá, as duas ladies repassaram os


detalhes do plano, confiantes que tudo ocorreria conforme o
planejado.

CAPÍTULO 13 – VINGANÇA.

Os dias se passaram e o dono do Clube se recuperou do


ferimento.

Phillip, ao saber do que ocorreu com o primo, quis intervir,


mas Henry não permitiu.

Aquilo era entre ele e Sutterford. Henry comprou todas as


dívidas que Sutterford tinha com os outros nobres, o que foi
fácil, todos eles deviam ao Clube de alguma maneira e
queriam continuar nas graças do Lorde.

Após ter todas as dívidas de Sutterford em mãos, mandou


uma carta exigindo a presença do homem em seu Clube.
Quando este chegou, Henry já o esperava sentado atrás de
sua mesa de mogno em uma poltrona de couro. Como
sempre, usava a máscara que lhe escondia o rosto.

― Sente-se Sutterford. ― Lorde ordenou, mas o homem


permaneceu em pé. ― Soube que tentou matar Henry.

― Engana-se, meu Lorde, aquele bastardo me atacou duas


vezes. ― Sutterford mentiu. ―

Na primeira vez, eu apenas estava conversando


educadamente com a irmã do Duque de Norfall, quando
Henry me atacou pelas costas e me nocauteou.

― Quer dizer que ele mentiu sobre isso e que a bala nele
não foi culpa sua? ― Lorde questionou, erguendo uma
sobrancelha.

― Eu jamais atiraria em um homem desarmado. ―


Sutterford fingiu-se ofendido. ― A verdade é que vim aqui
tentar explicar o que realmente aconteceu no debute de
Lady Phillipa e quem sabe assim conseguir que me deixasse
frequentar novamente o Clube e ele me viu. Antes que eu
pudesse fazer qualquer coisa, Henry me atacou novamente e
eu, em minha defesa atirei nele, mas apenas em legítima
defesa. Aquele homem é instável, um louco. Não devia
confiar nele. Se ele tentou me matar sem nenhum motivo,
pode muito bem tramar algo contra o senhor.

― Então está dizendo que Henry mentiu? ― Lorde perguntou


debochado. Aquilo estava divertido.

― É claro que ele mentiu. Eu jamais faria algo assim. Ele por
outro lado… Eu soube que Henry roubou um velho nobre nos
jogos de carta e que não se pode confiar nele. Soube que
roubar é um negócio de família.
― Explique-se. ― O Lorde pediu curioso com o negócio de
família.

― Há alguns anos a mãe dele também foi presa por roubo,


ela roubou a esposa do falecido amante. A pobre Condessa
de Warrex ficou abismada quando soube. Primeiro, a mulher
tentara lhe roubar o marido e depois tentara roubar suas
joias.

Henry se segurou para não matar o homem naquele


momento. Estava até se divertindo com a tentativa de
Sutterford fazê-lo crer que era inocente, mas jamais
permitiria que alguém falasse mal de sua mãe.

― A Sra. Willians foi inocentada do crime. ― confidenciou,


fervilhando de raiva. Aquele maldito pagaria por tudo que
estava dizendo de sua mãe.

― Isso porque o Duque de Norfall interviu, mas eu escutei da


própria Lady Violet de

Warrex que a mulher seduziu o Conde e fez de tudo para


acabar com o casamento da Lady.

Aquelas palavras foram a gota d’água. Henry se levantou


furioso. Aproximou-se a passos largos do homem que,
intimidado, recuou.

― O senhor cavou sua própria cova ao falar da Sra. Willians,


Lorde Sutterford. ― Henry avisou parando a poucos
centímetros do homem. ― Eu devo minha vida àquela
mulher e não permitirei que um verme como você manche a
imagem dela.

― Mas, meu Lorde, eu não sabia que a tinha em tanto


estima, apenas tentei mostrar que o filho dela não é uma
pessoa boa. Não tenho nada contra a mãe dele.

― É melhor se calar, seu maldito, apenas está me deixando


mais furioso e se teme pela sua vida, vai fugir do país.

― Eu não posso, tenho responsabilidades aqui, eu sou um


Conde. Minhas terras, meu título…

― Acha que eu me importo com o que vai acontecer com


suas terras ou com o seu título.

Você tem duas opções: ou fica e eu mando matá-lo, ou foge.

― Você não pode fazer isso comigo, será enforcado se


mandar me matar.

― Eu posso, eu vou e nunca descobrirão que fui eu, pois no


momento que abrir a boca alguém o matará. Tenho muitos
espiões e sua cabeça estará a prêmio caso decida me
desobedecer.

― Lorde ameaçou. ― Eu fui claro?

―S-sim, eu vou sair do país. ― O homem estremeceu


quando o Lorde lhe apertou ainda mais o colarinho,
pressionando-o contra a parede.

― Se eu souber que colocou os pés novamente aqui, saiba


que seu próximo passo será para dentro de sua cova.

― E-eu entendi.
Lorde soltou o colarinho de Sutterford e esse caiu no chão,
ao sentir as pernas fraquejarem. Tentou se levantar com
dificuldade, e ainda tremendo, saiu do Rogue’s praguejando.

Alguns dias se passaram desde a visita de Sutterford, Henry


mandou alguns espiões ficarem de olho nele para saber se
tinha realmente seguido suas ordens: o homem realmente
tinha saído do país.

Aquilo tinha deixado Henry satisfeito, apesar de saber que


acabara de fazer mais um inimigo potencialmente perigoso.
Ele era apenas mais um para sua já extensa lista.

Esse era um dos motivos para não querer uma mulher em


sua vida, ainda mais Phillipa.

Nunca permitiria colocá-la em perigo. Ela não merecia uma


vida cheia de ameaças como a que ele tinha.

Sua prima merecia uma vida com alguém bom, que pudesse
protegê-la e dar a ela tudo que quisesse. Alguém que fosse
honrado e que a fizesse feliz. Henry não era nada disso.

Mesmo que o desejo entre eles fosse arrebatador e que ele a


quisesse mais do que tudo, não poderia tê-la. Porque se a
tivesse ainda que fosse apenas uma vez, não conseguiria
deixá-la ir embora.

― Maldição! ‒ Ele grunhiu, e tentou mudar o rumo de seus


pensamentos. Saiu do seu escritório e decidiu sentar-se em
uma mesa na ala da Gula.

Seu pensamento insistia em retornar a Phillipa. Ele fechou os


olhos e tentou esvaziar sua mente. E por esse motivo Henry
não percebeu quando Copas se aproximou e sentou-se à
mesa onde ele estava.
O pigarreio dela chamou a atenção dele e franziu o cenho.
Tudo que ele não queria era Copas falando sobre Phillipa.

― Se veio falar de Phillipa pode dar o fora. ― avisou ácido.

‒ Eu só vim saber se estava bem. ‒ ela respondeu com a voz


suave.

‒ Estou bem. ‒ Henry bufou sem nenhuma vontade de se


estender naquele assunto.

Copas ficou séria. O Lorde sabia porque ela estava ali e não
era só para ver se ele estava bem. Ele sabia que ela falaria
sobre Phillipa e sabia também que só iria embora depois de
fazê-lo.

‒ Diga de uma vez. ‒ Ele revirou os olhos. ― E então dê o


fora.

‒ O que vai fazer sobre Phillipa? ‒ a voz da dama não


passava de um sussurro.

‒ Não farei nada. ‒ murmurou, suspirando cansado de tudo


aquilo. ― E isso não é da sua conta.

‒ Você não está feliz. ‒ Copas apontou se levantando. ‒


Nenhum dos dois está. E sim, sua felicidade é da minha
conta.

‒ Não importa, ela vai esquecer e vai seguir em frente. Vai


encontrar um homem decente e se casará. ‒ sussurrou,
tentando convencer a si mesmo.

‒ E se ela não se casar com um homem decente? Já pensou


nessa possibilidade?

‒ Phillipa não é tola em fazer isso. ‒ bufou.


‒ O amor faz coisas estranhas com as pessoas Henry, se ela
não tem o homem que quer, pode aceitar qualquer um que
apareça simplesmente para esquecer você. Sabe como os
homens costumam aproveitar damas com o coração partido,
elas costumam ser alvos fáceis para um casamento
escandaloso.

Copas saiu depois de dizer aquelas palavras e Henry decidiu


ir para seu quarto e tentar dormir e com um pouco de sorte,
quem sabe esquecer Phillipa, ainda que por um breve
momento, mas infelizmente para ele, Phillipa estava em
todos os seus sonhos.

No dia seguinte, ele recebeu a visita de seu primo. Phillip foi


cobrar o favor, pediu que Henry ficasse de olho em Phillipa
na noite do baile. Fora lá para levar o convite e confirmar
sua presença. Henry até se esquecera do maldito baile, mas
não voltaria atrás com sua promessa, então não teve outra
escolha a não ser confirmar que estaria lá.

CAPÍTULO 14 – O BAILE DA DUQUESA

Phillipa estava animada com o plano que ela e Clara


elaboraram e o evento perfeito para isso seria o baile de
aniversário da Duquesa. Ela precisaria escolher o vestido
certo para que seu plano fosse perfeito e conseguir despistar
a Sra. Hugges para que não interferisse nos planos.

Clara tinha ficado responsável por manter a Sra. Hugges


longe dela naquela noite e, para não ficar com a consciência
pesada, Phillipa preferiu não saber o que ela faria com a
governanta.

Phillipa estava escolhendo entre os vestidos que tinha


encomendado para a temporada, mas nenhum parecia
provocante o suficiente. Queria algo que não fosse tão
recatado ou infantil, nada com muitos babados ou que não
lhe favorecesse, talvez Charlotte pudesse lhe ajudar. Ela
poderia lhe fazer um vestido novo bem ousado.

Antes que pudesse colocar em prática seu plano de ir visitar


Charlotte, Phillip bateu à porta. Ele tinha um sorriso no rosto
e parecia muito mais animado do que ela costumava ver.

‒ Como está a minha irmã preferida? ‒ Ele sentou e


perguntou como quem não quer nada.

‒ A sua única irmã está bem, por que a pergunta? ‒


desconfiou.

‒ Eu não posso apenas estar preocupado com o bem-estar


de minha irmãzinha? ‒ Ele piscou fingindo inocência.

‒ Sempre que você começa uma conversa perguntando


como eu estou na verdade está querendo alguma coisa. ‒
Ela sorriu.

‒ Tem razão. ‒ Ele sorriu e levantou os braços rendidos. ‒


Preciso de sua ajuda.

Como ele estava sorrindo, Phillipa sabia que Phillip não


estava com nenhum problema, pois sempre que se metia em
algo assim, ele ficava sério e preocupado.

‒ Em que posso ser útil? ‒ Ela se colocou à disposição.

‒ Bom, Madame Charlotte está fazendo vestidos novos um


pouco diferentes da moda atual. Ela precisará de mulheres
corajosas e belas para usar como modelos e eu pensei que
não havia nenhuma mais bela e mais audaz que minha
irmãzinha sapeca. ‒ disse e esperou pacientemente a
resposta dela.

‒ Vestido fora de moda? Será um escândalo! ‒ ela avisou


sorrindo. Era Perfeito, justamente o que precisava.

‒ Então usará? ‒ ele lhe sorriu, sabia a resposta só de olhar


pra ela.

‒ É claro que sim! Estava ansiosa para usar algo tão


escandaloso. ‒ Phillipa respondeu levando a mão a boca no
final da frase como se tivesse horrorizada.

‒ Então perfeito! Sabia que poderia contar com você!


Charlotte ficará ainda mais animada.

Ouvi-lo falar de Charlotte com brilho nos olhos que há muito


Phillip não tinha, fez Phillipa suspeitar que estava
acontecendo algo entre seu irmão e a modista e isso a
animou.

‒ Está passando muito tempo com a modista. ‒ a moça


alfinetou.

‒ Somos sócios, eu vendo seda e ela as compra. ‒ Phillip


respondeu rápido demais e
desviou os olhos no final, o que indicava que não estava
falando toda a verdade. Para completar, ainda se dirigiu para
a porta como se tentasse escapar de mais perguntas.

‒ Phillip! ‒ A mais nova chamou antes que ele fechasse a


porta atrás de si. ‒ Eu gosto muito dela. Seria uma ótima
Duquesa. ‒ Phillipa anunciou, pegando-o desprevenido e seu
irmão sorriu ao ouvir aquilo, em seguida lhe deu uma
piscadela e fechou a porta.

Phillipa riu. Seu irmão estava apaixonado, tinha quase


certeza disso. E esse conhecimento a deixou feliz. Seu irmão
merecia ser feliz, era um homem bom, merecia viver sua
própria vida com alguém que lhe fosse bom.

Ela nem percebeu que as coisas entre o Duque e Charlotte


tinham dado tão certo. Quando a convidou para o debute e
ela não apareceu, Phillipa acreditou que não tinham dado
certo, juntos, mas estava enganada, e ali estava a prova
disso. Phillipa notou, então, que estava tão ocupada
pensando em Henry que nem sequer percebeu que seu
irmão finalmente tinha se apaixonado, se bem que ele
escondeu isso muito bem, já que nem a sua mãe falava
sobre aquilo. Se Phillip realmente decidisse se casar com
Charlotte, nem mesmo a Duquesa poderia impedir, o que
tornaria ainda mais fácil para ela caso as coisas com Henry
também dessem certo, pois estaria seguindo os passos do
irmão, e ela teria o apoio não só do Duque, mas o de
Charlotte também.
Finalmente o baile da Duquesa chegou. Phillipa estava
demorando de propósito para que não tivesse como sua mãe
a impedir de usar o vestido. Apenas quando a Duquesa
desceu para receber os convidados, junto com o Duque, foi
que ela começou a se vestir com a ajuda das criadas.

O vestido que Madame Charlotte fizera era lindo. Ele era de


uma tonalidade rosa bem claro, a saia era exuberante e o
corpete contornava seu corpo com delicadeza, as mangas do
vestido deixavam seus ombros expostos, mas não
mostravam mais do que o decoro exigia.

Phillipa se olhou no espelho: estava exuberante. O vestido


tinha realçado seus olhos azuis e seus cabelos loiros, que
agora ornavam sua cabeça em delicados cachos. Estava na
hora de ir ao baile, não podia mais se demorar. Esperava que
o plano desse certo e que Henry estivesse lá.

Senhor, que ele esteja.

E com essa prece, ela adentrou o salão. Sua chegada causou


certa comoção no ambiente, todos olharam para onde
Phillipa estava e isso lhe acelerou o coração. Após algumas
respirações profundas, seus olhos percorreram o ambiente,
ansiosos e esperançosos, quando encontrou o olhar que
queria, ela ergueu a cabeça e desceu as escadas com uma
graça e elegância que nem Phillipa sabia que tinha.

Seus olhos azuis estavam fixos na única pessoa que


importava naquele momento.

Na noite do baile, Henry seguiu para a mansão Howland e


adentrou o salão. Procurou Phillip com o olhar e começou a
atravessar o lugar para saudá-lo, entretanto, se sentiu
compelido a olhar para as escadas à direita. E foi quando a
viu. E não conseguiu desviar o olhar.
Era quase como se ela fosse um ímã e ele, um metal. E
antes que pudesse ordenar a suas pernas que se movessem,
Henry já seguia naquela direção abrindo caminho entre a
multidão. E

não foi o único, alguns cavalheiros também faziam aquele


mesmo percurso.

Irritou-se.

Com ela.

Com eles.

Com Phillip.

Consigo mesmo.

Com ela por ser tão linda e atrair toda a atenção para si.
Com eles porque não os queria perto dela e com Phillip por
convidar todos aqueles machos desesperados para tê-la. E
consigo mesmo por desejá-la tanto quando sabia que devia
deixar Phillipa seguir seu caminho sem ele.

Mas Deus era testemunha que não conseguia ficar longe


dela, não quando o olhava como se ele fosse a única coisa
que mais importava naquele maldito salão de baile.

Ele olhou para os homens que estavam prontos para lhe


estender a mão. Conhecia todos, a maioria era frequentador
do Rogue’s.

Henry conhecia o pecado de cada um.

E, por isso, não resistiu ao lhe estender a mão. Não deixaria


que mais ninguém o fizesse.
Nenhum deles, incluindo a si próprio, era digno dela,
entretanto ele sabia seu lugar, os outros não.

‒ Você está linda. ‒ disse Henry a Phillipa e nesse momento


o Duque se aproximou. ‒

Pena que não fui só eu que reparei.

Era evidente o ciúme na voz de Henry e o desgosto com a


situação. Isso fez o coração de Phillipa saltar, mas ela não se
permitiu sorrir, ele ainda não merecia seus sorrisos.

‒ Precisava usar algo tão chamativo? Todos os homens estão


de olho em você! – ele disse entredentes quando ela não o
respondeu.

‒ Não seja tolo, Henry, só estou com os ombros amostra,


você fala como se eu estivesse nua. ‒ Phillipa rebateu
revirando os olhos e Henry cerrou os dentes. Phillip
observava a conversa com interesse crescente, mas a moça
não queria que ele desconfiasse de nada, por isso mudou de
assunto. ‒ Phillip, onde está Charlotte?

‒ Ainda não chegou. ‒ ele informou.

‒ E a mamãe? ‒ Phillipa perguntou com os olhos brilhando,


travessos, enquanto procurava a sua mãe na multidão. Ela
devia estar furiosa por a filha usar algo fora de moda.

‒ Sinto informar que, apesar de ela ter cerrado os olhos para


o vestido, assim que viu os nobres solteiros prestando
atenção em você, ela ficou digamos… animada com as
possibilidades.

Phillipa suspirou desgostosa ao perceber pela primeira vez


que todos a olhavam, os
homens solteiros com interesse, as mulheres com
curiosidade e algumas até com inveja. Viu Henry rangendo
os dentes e olhando furioso para os rostos masculinos que
ainda insistiam em olhar para ela, isso a fez deixar quase
todo o desgosto de lado. Esperava que Charlotte chegasse
logo, assim não seria apenas ela a chamar a atenção.

Enquanto Charlotte não chegava, Phillipa procurou por


outros nobres no salão. Winchester e Lady Clara. Mas parecia
que os dois estavam atrasados. O que era bastante
estranho, visto que eles tinham prometido que estariam ali.

‒ O que tanto procura? ‒ Henry perguntou curioso.

‒ Gabriel. ‒ respondeu como se fosse algo trivial.

‒ Gabriel?! ‒ Henry perguntou furioso. Ela já o tratava pelo


primeiro nome? Não gostou dessa intimidade.

‒ Sim, o Marquês de Winchester, pensei que o conhecesse. ‒


Phillipa foi irônica e voltou a se virar, dessa vez fingindo que
o procurava, mas na verdade, observava de esguelha as
reações de Henry.

‒ Não sabia que tinham se tornado tão íntimos a ponto de


chamá-lo pelo nome de batismo.

‒ Ele sabe ser persuasivo quando quer algo de uma mulher.


‒ Phillipa respondeu e viu Henry cerrar os punhos. Ele estava
chegando no seu limite.

‒ O que ele fez com você? ‒ questionou mal contendo a


raiva. ‒ Se ele a tocou, eu vou matá-lo.

‒ Não vejo como pode ser do seu interesse o que eu e o


Marquês fizemos ou deixamos de fazer, se não me falha a
memória, você fez coisa pior comigo e ninguém lhe matou.
‒ Alguém definitivamente devia ter feito. ‒ grunhiu irritado,
com o tom comedido para que apenas ela ouvisse. Não
queria chamar a atenção para eles.

O que não precisavam naquele momento era chamar a


atenção para eles.

Phillipa foi salva de responder aquilo com a entrada de


Charlotte. Ela estava linda e seu vestido era ainda mais
escandaloso que o dela. E como ela previra, todas as
cabeças se voltaram para a dama que acabava de chegar.
Phillip teve dificuldade para atravessar a multidão, que
parecia hipnotizada com a recém-chegada.

Assim que a Madame se aproximou, Phillipa não poupou


elogios e era claro que Charlotte merecia cada um deles.

‒ Charlotte, você está magnífica! ‒ Phillipa comentou,


percebendo que seu irmão não tirava os olhos da modista.
Sorriu ainda mais com essa observação.

‒ Você também está maravilhosa, Milady. ‒ Charlotte fez


uma reverência e deu um sorriso secreto para ela como se
tivessem planejado algo. ‒ Gostou do vestido que lhe fiz?

‒ Eu adorei! ‒ Phillipa falou suficientemente alto para que


todos a sua volta ouvisse, queria que todos soubessem que
o vestido tinha sido feito por Madame Charlotte. ‒ Você se
superou dessa vez! Ele é perfeito.

A mulher ficou corada com o elogio e o agradeceu meio


tímida, depois começou a procurar um rosto na multidão.
Com certeza procurava Madame Rosanna. Durante as provas
que

fez do vestido, Charlotte lhe contou o que a mulher tinha


feito e isso só fez com que Phillipa se envolvesse mais nos
planos de superar a “Madame do Mal”, como ela mesma
tinha apelidado a outra mulher.

‒ Ela está ao lado de minha mãe. ‒ Phillipa informou,


sabendo exatamente quem a modista procurava.

‒ Já posso até imaginar o que ela deve estar dizendo para a


Duquesa. ‒ Charlotte fechou a cara ao ver as duas
conversando.

Phillipa bufou ao observar a Madame do Mal. Com certeza,


coisa boa não saía dali. Se dependesse da moça, a outra
mulher nunca mais costuraria nenhum vestido em sua vida,
pelo menos não pra ela.

Phillipa percebeu que Charlotte ficou preocupada quando a


Duquesa olhou para ela de forma hostil, mas antes que
pudesse acalmá-la, Phillip já o fazia.

‒ Não se preocupe, mamãe não fará nenhum escândalo. Ela


odeia chamar a atenção de forma negativa.

Nesse momento, Phillipa notou os outros dois convidados


que estava esperando. Lady Clara e o Marquês.
Conversavam com outros nobres ali presentes. Ao lembrar
do plano, Phillipa não pode conter o sorriso.

Outra recém-chegada causou uma nova comoção no salão.


Mamãe, aquela altura, já está fervilhando de raiva por não
ser mais o centro das atenções – Phillipa pensou com um
risinho insolente.

A Condessa-viúva se direcionou primeiro à Lady Norfall e em


seguida se juntou a eles. O

seu irmão a elogiou, Charlotte se emocionou ao vê-la tão


bela e Phillipa apenas conseguia sorrir.
Estava tudo indo perfeitamente de acordo com os planos.
Com todos os planos.

A banda deu um intervalo para anunciar que logo iria se


iniciar a polca e vários casais já foram se organizando para a
dançarem a música animada.

‒ Me dará essa honra, Milady? – O Duque se virou para


Charlotte e Phillipa percebeu que a modista enrubescia ao
concordar.

Ela se perguntou se Henry a tiraria para dançar também


como no baile de seu debute, mas logo perdeu as
esperanças quando o ouviu dizer que ia pegar um refresco.

‒ Daniel, por que não dança com Phillipa, acredito que a


Lizzie vá brigar com você quando eu disser que não a tirou
para dançar. – a Condessa disse com um sorriso angelical
depois que Henry se afastou e Phillipa sorriu acanhada com
o gesto dela. Quando olhou para a mulher mais velha, teve a
sensação que ela sabia de tudo.

‒ Gostaria de dançar, Milady? – o Conde lhe indagou e


Phillipa concordou com um sorriso.

‒ Onde está Phillipa? – Henry perguntou preocupado quando


voltou e não a encontrou junto à Condessa.

‒ Está dançando com o Daniel. – explicou. ‒ Mas acredito


que ela preferiria dançar com você… ‒ a Condessa disse
como quem não quer nada e observou o homem ao seu lado
se retesar com o comentário. – Meu sobrinho tem dois pés
esquerdos quando não está com a esposa.

Acredito que por isso ele tenha demorado tanto para casar.
Margaery percebeu que a mentira acalmou o homem. Ele
tinha ficado preocupado que ela estivesse insinuando algo
entre eles e isso fez a Condessa sorrir por provar
exatamente o que suspeitava.

‒ Me surpreende vê-lo em um baile, Sr. Willians

‒ Recebi o convite, então decidi vir esse ano. ‒ respondeu


evasivo.

‒ Não recebeu os convites dos anos anteriores?

‒ Recebi, mas estava muito ocupado para vir. ‒ Ele deu de


ombros.

‒ Que bom então que conseguiu tempo para comparecer


esse ano.

A Condessa o observou olhar atentamente para Phillipa e


seu sobrinho, que dançavam animados no salão.

‒ Ela é a debutante mais linda dessa temporada. ‒ a mulher


anunciou animada. ‒ Veja, Winchester não tira os olhos dela.
Acredito que ele a tirará para dançar assim que a polca
terminar.

Henry cerrou os punhos ao olhar para o outro homem e a


Condessa observou sua reação com um sorriso zombeteiro.

‒ Com licença, meu rapaz, receio que preciso saudar uma


velha amiga. ‒ se despediu, deixando-o fervendo de algo
muito parecido com ciúmes.

Assim que a Condessa-viúva lhe deu as costas, Henry


avançou para onde o Marquês se encontrava. Ele precisaria
ter uma conversa com o amigo.
Winchester viu quando Henry se aproximou e sorriu ao
perceber que Copas tinha acertado qual seria exatamente a
reação de Henry ao saber que ele poderia estar envolvido
com Phillipa.

Estava claro para quem quisesse ver que Henry era um


homem tomado pelo ciúme. Assim que o amigo se
aproximou, o Marquês começou sua parte no plano.

‒ Henry, que surpresa em vê-lo! Não sabia que participava


de eventos sociais, ainda mais um baile na casa de Lady
Norfall.

‒ A casa é do Duque e ele me convidou. ‒ Henry falou


entredentes. ‒ Eu gostaria de conversar com você em
particular, se não se importa.

‒ Mas eu me importo, espero que o assunto possa aguardar


um pouco, pois agora eu pretendo tirar a jovem mais bela do
baile para dançar. Depois disso poderemos conversar. ‒

Winchester disse, ignorando-o deliberadamente.

Maldita hora para o Marquês mostrar sua arrogância.

‒ O assunto é urgente. ‒ Henry grunhiu.

‒ Acredito que nada é tão urgente quanto o meu desejo de


dançar com esta bela dama. ‒

O Marquês apontou para Phillipa, que estava sendo


conduzida para uma cadeira onde poderia descansar, e em
seguida ignorou Henry de propósito, indo na direção da
jovem e a convidando para a próxima dança.

Henry já não conseguia conter seu ciúme. A vontade que


tinha era de agarrar o amigo e o jogar para fora da casa,
mas sabia seu lugar. Sabia que fora de seu Clube, não
passava de um

bastardo. Henry Willians não era ninguém diante da


aristocracia.

‒ Acho melhor manter a calma. ‒ uma voz suave lhe avisou.


‒ Eles só estão dançando.

‒ E será a última vez. ‒ respondeu a Lady Clara.

‒ Pretende matá-lo? ‒ a moça indagou, genuinamente


curiosa.

‒ Por mais tentado que eu esteja, não, não vou matá-lo,


tenho apreço por minha vida e ele era meu amigo. ‒
respondeu, respirando fundo.

‒ Então não pode impedir que ele a corteje, ou que qualquer


outro homem aqui presente o faça. ‒ Clara acrescentou,
olhando o par se direcionar para o centro do salão quando a
segunda dança começou.

‒ Gabriel não é bom para ela. ‒ Henry sibilou. ‒ É um


libertino, não saberia ser fiel.

Não sabe manter as calças fechadas e ele mesmo disse que


nunca o conseguiria. Não pode mesmo pensar que Phillip o
deixaria cortejar a irmã.

‒ As pessoas mudam quando é necessário. ‒ disse, não


defendendo o Marquês, ela realmente já tinha chegado a
essa mesma conclusão depois de ele ter demonstrado
interesse em Copas, mesmo estando noivo dela. Clara falava
de si mesma. Muita coisa tinha mudado em sua vida nesses
dois anos. Já não era a mesma mulher.
‒ Ele nunca mudará. ‒ Henry disse o obvio. ‒ Ela será infeliz
se permitir que ele a seduza.

‒ O Marquês é um homem bonito e, pelo que as mulheres


dizem, parece saber dar prazer a qualquer criatura do sexo
feminino, então mesmo que ele não lhe seja fiel, acredito
que ela poderá se acostumar ao Marquês.

‒ Não acredito que disse isso. De que lado está? ‒ Henry se


afastou dela antes que procurasse briga com uma mulher.

Céus, ele daria qualquer coisa por uma boa briga naquele
momento.

Sem poder fazer nada mais do que observar, Henry se


encostou a uma coluna e esperou.

Cada vez que Phillipa sorria para o Marquês, ele imaginava


uma morte mais dolorosa para o nobre. E quando Winchester
se aproximou do ouvido de Phillipa para lhe sussurrar algo,
ele soube que não suportaria que nenhum homem a tocasse.
E Henry morreria antes de deixar que Winchester o fizesse.

‒ Você está com uma cara assassina. ‒ O Conde de Dorset


se aproximou.

― Pelo amor de Deus, todo mundo decidiu me importunar


hoje? Depois não sabem o porquê eu evito essas porcarias
sociais. ― Henry resmungou, exasperado.

Daniel riu. Estava sendo hilárias as reações de seu amigo e


um pouco preocupante, tinha que admitir, nunca o tinha
visto tão transtornado, mas como um bom amigo, não
poderia deixar de contribuir.

‒ O que Winchester fez para merecer um fim tão cruel? ―


Lorde Dorset perguntou.
‒ Nada importante. ‒ Henry não estava disposto a dizer que
era apenas ciúme.

‒ Não me parece ser sem importância, parece que vai


avançar nele a qualquer momento e retirar Phillipa de lá.
Está com ciúmes?

‒ Por que diz isso? ‒ Henry perguntou surpreso por ele


acertar exatamente o que tinha, apesar de não aceitar que
fosse ciúmes o ódio que sentia de seu amigo.

‒ Porque está olhando para ele da mesma forma que eu


olhei para o Duque quando ele dançou com Elizabeth. ‒ O
Conde riu e em seguida, ficou sério. ‒ Não sabia que nutria
sentimentos por sua prima.

‒ Não nutro.

‒ Pensei que gostava de Winchester, vivia dizendo que ele


era o mais legal de nós quatro.

‒ Não gosto mais e retiro o que disse sobre ele ser legal. ‒
Henry confessou em meio a raiva. ‒ É um patife da pior
espécie.

‒ Minha tia estava certa novamente. ‒ O Conde sorriu


debochado.

‒ Sobre? ‒ Henry perguntou sem tirar os olhos da pista de


dança.

‒ Sobre você estar apaixonado pela garota.

Isso chamou a atenção dele e ele olhou para o amigo.

‒ Não estou. ‒ Nem mesmo Henry se convenceu disso.


‒ É um tolo se não estiver porque está evidente que ela
sente algo por você. Já olhou umas quinze vezes para onde
estamos e não é para mim que olha. ‒ apontou com a
cabeça para onde Phillipa dançava e ela virou o rosto
envergonhada quando viu que foi pega em flagrante.

‒ Nunca teremos nada. ‒ Henry disse e se repreendeu


quando o tom de sua voz não passou de um lamento. Não
queria que Daniel soubesse que ele realmente lamentava
esse infortúnio.

‒ Por que não?

‒ Além do fato de eu ser um bastardo? ‒ Henry foi irônico.

‒ É um dos homens mais ricos de Londres, mesmo que


ninguém saiba a verdade sobre de onde vem sua fortuna.

‒ Não muda o fato de eu não ter título e de meu dinheiro vir


de um antro de perdição, como algumas senhoras
respeitáveis o chamam. ‒ Ele sorriu sarcástico.

‒ Não deixa de ser dinheiro e não vejo como Phillipa possa


estar interessada em um título, ela nunca foi esse tipo de
mulher. Desde que a conheço, ela sempre deixou claro que
preza muito mais a nobreza interior que a que é relacionada
a títulos. Acho que ela seria mais feliz com você do que com
qualquer outro nobre daqui. Pense bem meu amigo, suas
escolhas afetam as dela também. Ao negar que você a ama,
que eu aposto que é o mesmo que Phillipa sente, você a
condena a uma vida sem seu amor.

‒ Não a amo.

‒ Então é realmente um tolo… ‒ Dorset se afastou,


deixando-o sozinho no exato momento que a música acabou.
E quando voltou a observar Phillipa, ele a viu sair para o
terraço junto com Winchester.

Phillipa dançava com o Marquês com um misto de


entusiasmo pelo plano funcionar e apreensão pelo plano
funcionar. Henry estava furioso e tinha um olhar assassino
sobre eles. E era exatamente isso que a deixava nervosa.

‒ Não se preocupe, ele não vai me matar. ‒ Winchester


tentou lhe acalmar. ‒ Mas estou adorando vê-lo nessa
situação.

Phillipa sorriu com aquilo. Ainda não gostava do Marquês,


mas ele decidira lhe ajudar com o plano e isso fez com que
ela revesse um pouco seus conceitos.

‒ Não acredito que ele não o faria se tivesse oportunidade. ‒


a Lady comentou sorrindo.

‒ Ele vai se acalmar depois que souber que estou noivo. ‒


lhe contou e em seguida se retesou por ter falado demais.
Não era para ninguém saber ainda de seu noivado.

‒ Não sabia que o estava.

‒ Não coloquei ainda nos jornais, mas o farei no fim da


semana. Então se sinta privilegiada por ouvir em primeira
mão e mantenha isso em segredo, por favor. ‒ pediu, tenso.

‒ Não sou nenhuma fofoqueira, Lorde Winchester. Não


precisa temer que a notícia se espalhe.
‒ Não quis acusá-la disso, me perdoe, é que ainda não estou
preparado para aceitar essa realidade. ‒ confessou e ela
sentiu o quanto ele estava triste com aquilo.

‒ Foi escolha do Rei? ‒ ela perguntou com doçura, sabia


como era ter outras pessoas fazendo as escolhas por ela.
Sua mãe era perita nisso.

‒ Sim. Na verdade, eu não achei que ele falava sério quando


estipulou o tempo, devia ter percebido que ele não estava
brincando.

‒ Sinto muito. ‒ Phillipa lhe foi sincera.

‒ Eu também. ‒ Ele lhe sorriu e pela primeira vez, ela viu o


homem por trás da arrogância e da libertinagem. ‒ Mas ela
será sortuda por ter um homem como eu. Serei um bom
marido, ela não terá do que reclamar. Lhe darei uma casa,
filhos, um título e terá liberdade para fazer o que bem
entender. Desde que cumpra com suas responsabilidades
matrimoniais, a tratarei com respeito.

‒ Espero que seja suficiente para os dois.

Winchester também esperava, mas sabia que não seria. Não


quando não se sentia atraído pela mulher que seria sua
esposa. Entretanto não diria aquilo em voz alta, não
ofenderia sua noiva dessa forma, então decidiu mudar de
assunto.

‒ Dorset está dando uma palavrinha com o seu Henry.

Phillipa olhou imediatamente para onde eles estavam. O que


estariam conversando?

‒ Gosto do Conde. ‒ Phillipa foi sincera.

‒ E de mim? ‒ Winchester perguntou.


‒ Você tem se mostrado diferente do que eu imaginava, mas
continua o mesmo arrogante e presunçoso de sempre. ‒
Phillipa foi sincera.

‒ Não se esqueça do libertino. ― O Marquês brincou, em


seguida se inclinou para Phillipa e sussurrou: ― Sua
sinceridade me comove, mas se tirar a arrogância e a
presunção de um homem, ele não terá nada para atrair as
mulheres.

‒ Não há dúvidas que o senhor é um libertino. ‒ Phillipa


revirou os olhos.

Ele se aproximou de seu ouvido e sussurrou de novo:

‒ Eu disse para não se esquecer.

‒ Obrigada por avisar. ‒ Phillipa devolveu no mesmo tom e


ainda lhe deu uma piscadela, que o surpreendeu.

‒ Acho que acabo de me arrepender por não ter tentado


seduzi-la. ‒ Winchester brincou.

‒ Pena que a senhorita sempre esteve fora de meu alcance.

‒ Não sabe como isso me alivia, Marquês. Odiaria ter que


rechaçá-lo junto com os outros nobres. Acabo de descobrir
que não é o idiota como sempre acreditei e me afligiria
acreditar que voltaria a ser ao ter o coração partido.

‒ Eu não tenho coração. ‒ brincou. ‒ Mas se o tivesse, ele


estaria batendo pela senhorita nesse exato momento.

‒ Não vai funcionar comigo. Passei tempo demais não


gostando do senhor para cair de amores com apenas uma
frase. ‒ Phillipa sorriu, gostando da liberdade que ele lhe
dava para respondê-lo.
‒ Assim fere meus sentimentos. ‒ Ele fingiu tristeza. ‒
Pensei que me tivesse em alta conta.

‒ Sinto muito informá-lo disso, mas dentre os amigos de meu


irmão, era o que eu menos gostava. ‒ lhe foi sincera. ‒
Entretanto, devo-lhe dizer que estou criando certo apreço
por sua pessoa.

‒ Me deixa lisonjeado saber que estou me tornando


tolerável. ‒ sorriu para logo em seguida falar sério: ‒ E como
a senhorita foi sincera comigo, acredito que me permita ser
sincero também. Henry é um bom amigo, dê-lhe uma
chance. Tudo que ele fez foi apenas por se achar indigno da
senhorita.

Foi inevitável não olhar para Henry quando o Marquês


mencionou o nome dele, assim como todas as vezes que
pensou nele, o que não foram poucas. E dessa vez ele
ergueu a vista para ela, o que a deixou envergonhada por ter
sido pega em flagrante.

‒ Eu sei. Não estaria fazendo toda essa cena se não tivesse


a intenção de lhe dar uma chance, só espero que seja
suficiente.

‒ Se não for, saiba que estou aqui para consolá-la da forma


que precisar. ‒ Ela olhou para o Marquês e ele a olhava com
um sorriso lascivo e Phillipa soube que estava flertando de
brincadeira, mas ainda assim o estava.

‒ Você não tem jeito. ‒ revirou os olhos.

‒ Uma vez libertino, sempre libertino. ‒ Gabriel riu ao dizer a


frase.

‒ Pelo bem da sua esposa, eu espero mesmo que não. ‒


Phillipa disse e sentiu ele se retesar, o que foi muito
estranho, mas antes que pudesse dizer alguma coisa, a
dança chegou ao fim e ele se recompôs.

‒ O que acha de uma volta no terraço? ‒ O Marquês sugeriu.

‒ Ir ao terraço com o maior libertino de Londres? Henry com


certeza vai matá-lo, isso sem contar meu irmão.

‒ Vamos dar ao Henry uma chance de ficar a sós comigo, só


Deus sabe o quanto ele precisa colocar parte dessa raiva
para fora.

‒ É seu rosto no fim das contas. ‒ Phillipa deu de ombros e


se permitiu ser guiada para o terraço.

CAPÍTULO 15 – ELA É MINHA

Henry não esperou mais um segundo sequer. Seguiu para o


terraço furioso. Se eles fossem vistos sozinhos por qualquer
membro da sociedade, ela estaria arruinada.

Ela só poderia estar louca! Primeiro, ia a clubes furtivamente


durante a noite, agora ia para o terraço sozinha com um
homem. Como se não bastasse, aquele era o maior libertino
de Londres!

Fúria era pouco para definir o que Henry sentia. Ele mataria
os dois, com certeza. Que Deus o ajudasse, pois ele estava
cogitando fazer exatamente isso.
Viu quando eles foram para uma parte mais afastada do
terraço e isso o fez se apressar.

Nunca que ele deixaria que Winchester colocasse as mãos


nela, por isso acelerou os passos para alcançá-los antes que
eles se afastassem mais.

Phillipa estava de braços dados com o Marquês e eles


seguiam em silêncio.

‒ Acha que ele nos está seguindo? ‒ ela sussurrou, sem


olhar para trás.

‒ Tenho certeza que sim. ‒ Winchester garantiu.

‒ Ele pode tentar matá-lo, sabe disso, não é? ‒ Phillipa


perguntou apreensiva.

‒ Estou ciente desse fato, entretanto não pretendo permitir


que chegue a tanto. ‒ O

Marquês lhe deu uma piscadela e tentou parecer seguro no


que dizia, mas a jovem não se acalmou.

Winchester a sentou em um banco e esperou Henry se unir a


eles. Sabia que ele estava perto e por isso decidiu ficar
parado. O terraço estava vazio, o que era bom para eles. A
última coisa que precisavam era de plateia para o que
estava por vir.

‒ Eu devia matá-lo. ‒ Ele ouviu Henry dizer por trás de uma


árvore. ‒ Não sabe o quão tentado estou em fazer
exatamente isso.

‒ Pensei que éramos amigos.

‒ Foi exatamente isso que me impediu de já ter causado sua


morte.
‒ Mas diga, meu amigo, por qual crime quer me matar? ‒
Winchester perguntou debochado e Henry rangeu os dentes.

‒ Não devia tê-la tocado. A arruinará. Sabe disso.

‒ Acredito que quem deveria estar preocupado com isso seja


o Duque e até mesmo a doce Phillipa, não é mesmo?

‒ Ela é minha responsabilidade. ‒ Henry anunciou.

‒ Não sabia que tinha se transformado em uma


acompanhante.

‒ Mais uma palavra e eu vou matá-lo. ‒ Henry ameaçou.

‒ Acho que… ‒ Winchester não pode terminar a frase, pois


Henry avançou em cima dele, derrubando-o no chão com o
ombro ao cair em cima dele.

‒ Seu bastardo, eu vou matá-lo! ‒ Henry rugiu enfurecido


enquanto golpeava o amigo.

‒ Vai matar todos que se aproximarem de Phillipa? ‒ O


Marquês o provocou com um

sorriso debochado rolando por cima dele e lhe acertando um


soco na mandíbula.

‒ Se eles forem como você, pode ter certeza que sim! ‒


Henry devolveu o golpe rolando por cima dele.

‒ Como vai defender a honra dela se for pendurado por


assassinato? ‒ o Marquês perguntou o óbvio, mas sabia que
o amigo não estava raciocinando direito.

‒ Eu darei um jeito, não se preocupe. ‒ Ele sorriu e se


preparava para dar outro golpe quando o Marquês conseguiu
empurrá-lo com o pé para longe.
Ambos se levantaram e continuaram a briga em pé,
afastando-se cada vez mais do terraço e avançando por
entre as árvores.

Phillipa, que até então estava acuada sem saber o que dizer
ou fazer, ao ver os dois se engalfinhando como dois animais,
não conseguiu ficar parada. Eles se matariam.

‒ Parem com isso os dois. ‒ Ela avançou para onde os dois


estavam e tentou puxar Henry para longe de Winchester,
mas era o mesmo que tentar mover uma montanha. ‒ Solte-
o, Henry!

Não adiantou, ele não a escutava.

Henry levantou um braço para golpear o seu antigo amigo e


Phillipa cometeu o erro de tentar segurar o punho dele no
exato momento que ele descia o golpe, colocando o máximo
de força que possuía, o que não era pouca.

Por não conseguir conter o movimento, e ainda segurar o


braço de Henry, Phillipa se desequilibrou, batendo seu rosto
em uma árvore próxima. O grito de susto e dor os fez parar
imediatamente.

Henry se esqueceu, imediatamente, de Winchester e foi em


socorro de Phillipa.

‒ Meu Deus, você está bem? ‒ ele questionou, preocupado


ao ver o sangue escorrer pela bochecha dela. Ela machucou-
se ao bater na árvore.

Winchester retirou um lenço de seu casaco e entregou a


Henry, que o pressionou contra o machucado na face de
Phillipa. Ela gemeu com dor quando o pano encostou no
ferimento sensível.
‒ Eu estou bem, o machucado é superficial. ‒ esclareceu,
tentando se afastar dele.

‒ Onde estava com a cabeça para se meter em uma briga? ‒


ele a recriminou e ela o olhou furiosa.

‒ Se você não tivesse sido tolo em entrar em uma briga, eu


não teria que tentar separá-los!

‒ rebateu no mesmo tom que ele tinha lhe usado.

‒ Se tivesse juízo nessa sua cabeça, eu não precisaria tê-lo


feito. O que deu em você para sair furtivamente para o
terraço ao lado de Winchester?

‒ Isso não é da sua conta. ‒ ela se exaltou.

‒ Pelo amor de Deus, me diga que não veio aqui para trocar
carícias com ele, ou eu juro que realmente o mato. Ele não é
para você, Phillipa. Ele nunca vai fazer você feliz, não pode
se apaixonar e nem deixar que ele a seduza. Ele está noivo
de outra pessoa. Nunca lhe proporá casamento.

‒ Eu sei. ‒ comentou, mas Henry não pareceu ouvi-la.

‒ Ele nunca a honrará como merece, nunca lhe será fiel e


você merece um homem que a ame, que a respeite e que
mova o céu e a terra para lhe fazer feliz… Espere… Você
disse que sabe?

‒ Sim, eu sei que ele não é o homem certo para mim, mas
isso não lhe dá direito de atacar todo homem que se
aproximar de mim.

— Claro que me dá direito. — retrucou como se fosse óbvio


— Não vou deixar que estrague sua vida.
— Você não tem direito de se meter em minha vida, Sr.
Willians. Perdeu esse direito no momento que me mandou
embora da sua. Sabia o que eu sentia e ainda assim me
descartou como se eu nada fosse. Então não, o senhor não
tem nenhum direito sobre mim. — Phillipa mal conseguia
conter a raiva que sentia naquele momento. — Se eu quiser
me casar com o Marquês ou com qualquer outro homem que
o senhor não aprove, não pense nem por um segundo que
seria capaz de impedir.

— Eu estou tentando te impedir de cometer o maior erro de


sua vida. — Henry falou sentindo o coração despedaçar ao
vê-la com tanta mágoa.

— Não, o senhor está tentando controlar a minha vida,


controlar com quem eu me caso e eu não vou tolerar isso. —
A jovem ergueu a cabeça em desafio e Henry engoliu seco.
Phillipa nunca tinha falado daquela maneira com ele. — Eu
não pretendo me casar com o Marquês, mas foi apenas por
decisão minha e não por causa de sua interferência.

Henry suspirou diante daquilo, pelo menos ela não casaria


com Winchester, então por que estava ali justo com ele?

‒ Então por que diabos estava com ele? Não me diga que ele
a seduziu? ‒ Henry procurou Winchester com o olhar, mas
esse tinha sumido sem que eles percebessem.

‒ Ele não me seduziu e por que você se importa? ‒


questionou, ainda irritada com ele.

‒ Eu não quero ver você infeliz. ‒ ele falou suavemente


enquanto limpava o machucado dela com um cuidado que a
jovem nunca tinha visto e isso a desestabilizou. ― Não quero
que cometa um erro se casando com alguém que não a ame.
‒ Você não quer me ver infeliz? Isso está contraditório Sr.
Willians, porque eu me lembro muito bem de que minha
felicidade não lhe interessava em nada quando me expulsou
de seu clube ou me visitou em minha casa. Você não se
importa com a minha felicidade.

‒ Tudo que fiz foi para o seu bem, não quero que se


arrependa de nada. Não quero que seja infeliz. ‒ lhe
respondeu sentindo-se macucado por ela acusa-lo de não se
importar com ela.

Será que ela não percebia que era importante para ele? Que
tudo que ele fez foi para garantir que ela encontrasse
alguém melhor que ele?

‒ Por quê? ‒ insistiu fitando seus olhos e tentando entender


aquele homem.

‒ Isso importa? ‒ Henry desviou o olhar do dela.

‒ Importa para mim. ‒ ela suspirou. ‒ Você não quer me ver


infeliz, mas não me deu nenhuma outra escolha a não ser
viver sem o homem que amo.

Ao negar que você a ama, que eu aposto que é o mesmo


que ela sente, você a condena a uma vida sem seu amor. As
palavras de Dorset ecoaram em mente de Henry.

‒ Você não pode me amar, Phillipa, eu não a mereço, eu sou


um bastardo, a sociedade irá lhe virar as costas se ficar
comigo e você vai se arrepender de ter me amado. ― Henry
colocou uma mecha loira que tinha se desprendido do
penteado de Phillipa atrás da orelha da jovem, e logo em
seguida deixou o braço cair na lateral do corpo.

‒ A sociedade virar as costas para mim não doerá um


décimo do que senti quando você o fez. ‒ ela apontou e o
fez voltar a olhá-la quando Henry desviou o olhar, culpado
pela dor que tinha causado a ela. ‒ E é tarde demais para
não amá-lo… É tão ruim assim me amar também?

‒ O é quando não tenho nada a lhe oferecer. ‒ Ele afastou a


mão dela do rosto, porém não a soltou. — Me perdoe por tê-
la machucado, eu realmente acreditei que era a coisa certa a
fazer.

‒ Você tem uma visão distorcida do que é certo e errado


para mim. ‒ lhe disse suavemente. Inicialmente, pretendia
fazê-lo sofrer, mas ao vê-lo ali em conflito consigo mesmo,
não pôde machucá-lo ainda mais.

‒ Eu não a mereço. ‒ sussurrou tão baixo, que ela quase não


ouviu as palavras.

― Não é sobre méritos e prêmios, Henry. É sobre amor. E eu


o amo, quer você mereça, quer não. Você acha que não me
merece apenas por não ser um nobre, mas eu lhe conheço
há anos, mesmo que você diga que mudou, o Henry que eu
conheço e amo ainda está ai dentro, e eu sei que ele tem a
alma mais nobre que a maioria dos homens que estão lá
dentro. Não é um título que te faz nobre Henry e sim o seu
coração e a natureza de sua alma, e isso é o que eu mais
amo em você.

Henry, diante daquelas palavras não conseguia mais mentir


para si mesmo. Seu coração palpitava. Era surreal que ela o
visse dessa forma, mas ele se sentia... amado.

‒ Eu não sei como você se apaixonou por mim, mas


agradeço a Deus que o tenha feito, porque eu não posso
suportar que fique com mais ninguém. Eu posso não ser
digno de você, mas, pelo menos, passarei minha vida lhe
venerando e fazendo o possível para lhe fazer feliz.
‒ Não me coloque em um pedestal, Henry, sou imperfeita,
assim como você. Eu não quero que me venere. — Seu tom
de voz suavizou ― Quero apenas que me ame.

Henry a olhava com tanto sentimento que foi impossível não


compreender que ele sentia algo por ela, mesmo que o
homem ainda não dissesse em palavras.

Phillipa sorriu com aquela constatação e sua face doeu com


o movimento, provocando uma careta de dor.

‒ Acho que devemos entrar, quero olhar mais de perto esse


machucado, não acho que tenha sido tão superficial quanto
parece. ‒ ele comentou preocupado.

‒ Oh. ‒ Phillipa preocupou-se. ‒ No escritório do Phillip tem


alguns unguentos que ele usou em Charlotte. Acho que pode
ter algo que sirva. Vamos pela porta lateral, assim não
precisamos passar por todo mundo.

Henry acenou com a cabeça e a seguiu para o escritório do


irmão.

CAPÍTULO 16 - CUIDADOS

Dentro do escritório de Phillip, Henry fechou a porta e a


trancou com a chave, tudo que não precisaria naquela hora
era de um escândalo envolvendo ele e Phillipa.
Apenas uma parca luz do luar entrava pela janela e
iluminava o escritório, de modo que a Lady se apressou em
acender algumas velas, para tirá-los da penumbra, e quando
a iluminação estava melhor, pegou a maleta de primeiros
socorros que o irmão mantinha ali e a entregou a Henry.

‒ Espero que saiba usar essas coisas, pois eu não sei nada
de medicina. ‒ Phillipa se desculpou com um sorriso
envergonhado.

‒ Não se preocupe, tenho uma dessas no clube por causa da


Ira, então sei bem como usar.

Com a luz das velas iluminando Phillipa, Henry pode


observar o machucado dela, realmente não era profundo,
não passava de arranhões, mas tinha algumas farpas do
tronco velho da árvore onde se machucara.

Ela nunca imaginaria que ele sentiria tanto ciúme. No


entanto, sentir ciúme não queria dizer que a amava, a
desejar e a querer era diferente de amar, e ela queria que
Henry a amasse.

Então se lembrou das palavras dele com Winchester.

“Ela é minha responsabilidade”.

Desde quando a jovem era responsabilidade dele? Então se


recordou da última vez que fora vê-la e ele lhe partiu o
coração a pedido do irmão.

Certamente Phillip estava metido naquilo.

— Por que veio hoje, Henry? — Phillipa perguntou enquanto


ele retirava as farpas com uma pinça, limpando o
machucado.
Henry pensou antes de responder. Ponderava se contaria a
verdade ou mentiria. Decidiu falar a verdade.

— Seu irmão pediu que eu ficasse de olho em você. ‒ pegou


alguns frascos e começou a ler o rotulo.

Phillipa riu balançando a cabeça incrédula. Isso era mesmo a


cara de seu irmão: colocar Henry como seu guarda-costas.

— Bastou Phillip chamar e você veio correndo. ‒ Phillipa


alfinetou, sentindo uma pontada de mágoa e talvez até
ciúmes. Queria que Henry viesse por ela e não porque seu
irmão lhe ordenava.

— Eu devo muito a ele para lhe negar favores vez ou outra. ‒


Henry respondeu e em seguida sorriu ao perceber o ciúme
na voz dela. ‒ Está com ciúmes? ‒ indagou divertido
enquanto colocava no algodão o líquido esbranquiçado de
um dos frascos que retirou da maleta para limpar o
ferimento.

‒ Claro que não. Só porque eu passei oito anos lhe


convidando para o natal, para o dia de ação de graças, para
os meus aniversários e todos os outros eventos da família e
você nunca compareceu e assim que o Phillip o convidou
você apareceu, não é motivo para ciúme. ‒ foi

sarcástica e cruzou os braços na frente do peito, fazendo


seus seios aparecerem pelo decote do vestido, mas perdeu a
pose no momento que ele encostou o algodão em seu rosto,
pois precisou cerrar os dentes para não soltar um impropério
com a pontada de dor que aquilo lhe causou.

‒ Não apareci só porque ele pediu. Eu poderia ter recusado


como nas inúmeras outras vezes que ele me convidou. Eu
vim porque quis.
Ficaram um tempo em silêncio enquanto Henry cuidava do
ferimento e Phillipa se encolhia de dor.

— Henry, por que nunca aceitou meus convites? — indagou


assim que ele parou de mexer em seu machucado.

Phillipa passou a semana tentando encontrar um motivo


para a ausência dele e não chegou a nenhuma conclusão
satisfatória

‒ Eu não queria ser olhado com ódio, ou pena e muito menos


receber os olhares de superioridade que sua família é
especialista em distribuir por aí.

‒ Eu nunca o odiei, muito menos o olhei com superioridade e


sei que o Phill gosta de você como a um irmão. ‒ Phillipa
olhava nos olhos de Henry para que ele percebesse a
veracidade de suas palavras.

‒ Eu sei. Não me referia a você ou a seu irmão, e sim a sua


mãe, a condessa-viúva de Warrex, e a todo resto da família.
Eles sempre me olhavam dessa forma.

Henry guardou os medicamentos e fechou a maleta, pois


terminara os cuidados no machucado.

‒ Por isso que foi embora? ‒ questionou. ‒ Por isso sumiu por
oito anos?

— Depois que Frederick morreu, eu parti de Castle Garden.


Não poderia ficar ali, não era mais bem-vindo. Então, vim
para Londres à procura de um emprego e com um sonho de
tirar minha mãe daquele lugar. No início foi difícil, não
consegui nenhum emprego decente e quando consegui um
pouco de dinheiro, mal dava para me sustentar. Eu não
poderia ajudar minha mãe. -
suspirou, cansado de lembrar. - Mas, numa época, eu
comecei a ver como as pessoas jogavam cartas e só de
observar, aprendi vários truques e formas de ganhar. Então
comecei a jogar também e comecei a ganhar, de modo que
o dinheiro já não era tanto um problema.

“Mas as pessoas não gostam e nem sabem perder. Então,


um dia, me atacaram e deixaram para morrer em uma
estrada qualquer. Por sorte, seu irmão me encontrou e me
salvou. Depois do que passei e do que vivi, ao entender essa
natureza humana da ganância e dos prazeres carnais, eu
idealizei um antro de jogatina, um lugar que eu seria
respeitado e poderia jogar à vontade.

“Seu irmão pegou minha ideia e a melhorou, dando ares de


nobreza e sugerindo um clube para os nobres. Empolgados,
cada um sugeriu algo e quando percebemos, tudo estava
perfeito. Só precisávamos de investimento e comprar um
lugar.

“Eu tinha conseguido juntar bastante dinheiro e logo


conseguiria bem mais, só que dessa vez eu ia com Phill jogar
cartas e ganhar recursos dos nobres, se posso dizer. Assim,
consegui dinheiro suficiente para comprar o lugar e
transformei o prédio no Rogue's. Desde então, ele tem
prosperado e me dado muito lucro. Consegui tirar minha
mãe daquele lugar e ela vive na minha casa de campo.

“Eu não sou o homem bondoso que você pensa, Phillipa. No


meu clube eu já arruinei muitos nobres, já deixei que eles
jogassem até perderem tudo, inclusive a dignidade. Alimento
os vícios deles porque me dá lucro, não sou um Santo,
Phillipa, eu não sou um homem bonzinho. Eu sou temido
porque já machuquei quem tenta ficar contra mim ou
atrapalhar meus planos. Já arruinei mais homens do que
posso contar e vou continuar fazendo isso, porque é o que
eu faço e o que eu me tornei. Você não quer que eu a
coloque em um pedestal, mas quando a vejo assim... ―

Henry tocou o rosto de Phillipa ― tão pura e delicada, tão


boa... Eu não posso suportar manchar você com minha vida.
” Henry parou de falar. Nunca tinha contado sua história tão
completa para ninguém, mas sentia que precisava contar
para Phillipa. Precisava que ela soubesse onde estava se
metendo.

‒ Eu me preocupei com você. Todos esses anos eu nunca


cansei de procurar por você. E

rezava todas as noites para que, onde quer que estivesse,


ficasse bem. ― Ela o surpreendeu ao dizer aquelas palavras
― Durante oito anos eu apenas tive fé que Deus cuidaria de
você e ele cuidou. Você se tornou forte porque a vida assim
exigiu, e eu sei que só fez todas essas coisas que disse
porque foi preciso. Mas você não vai conseguir me fazer te
amar menos me contando isso.

Eu não tenho vergonha ou medo de te amar, para mim o


amor não é uma fraqueza.

Henry sentiu um sentimento estranho o envolver. Algo que o


queimava por dentro e lhe aquecia, era tão intenso que
chegava a doer, mas era a melhor sensação do mundo.
Nunca se sentiu tão maravilhosamente bem.

Henry não sabia o que dizer diante daquelas palavras. Ele


nunca pensou que ela o amasse da forma que amava. O
único amor de uma mulher que ele havia sentido tinha sido o
de sua mãe, que era completamente diferente do que
Phillipa sentia por ele.

Fitou Phillipa. Ela o olhava com tanto sentimento que foi


impossível não sorrir ao sentir-se amado por aquela mulher.
‒ Eu sempre tive medo que visse a situação em que eu me
encontrava e não queria que sentisse pena de mim. ― Henry
explicou a ela a sua ausência de forma resumida ― E depois
que eu comecei o Rogue’s, simplesmente achei melhor
continuar longe. Não queria que manchasse sua reputação.
― Henry sorriu para Phillipa com os olhos brilhando ― Você
era peralta demais e, com certeza, iria querer ver o Clube e
eu estava certo. Assim que soube que eu trabalhava lá, você
não perdeu tempo em ir me procurar.

‒ Parte disso é culpa sua. Sempre me incentivava a fazer as


coisas que eu queria quando era pequena. ‒ ela rebateu com
um sorriso peralta.

O clima entre eles mudou se tornando leve e ao mesmo


tempo nostálgico com as lembranças antigas.

‒ Não tenho culpa se você me olhava com os olhos enormes,


parecendo um cachorrinho implorando um pedaço de carne.
Eu não tinha nem chance de dizer não. ‒ a acusou
debochado e ela lhe deu um tapa de leve no ombro. ‒ Ai. ‒
fingiu o resmungo, segurando o ombro como se ela o tivesse
espancado.

‒ Ai meu deus, eu esqueci que está machucado. Vi


Winchester lhe acertando algumas vezes. ‒ ela se lembrou
dos socos que Henry havia trocado há poucos minutos com o
Marquês.

‒ Me desculpe. Deixe-me ver o quão mal… ‒ parou de falar


porque Henry estava rindo dela. ‒

Você não está tão machucado assim. ‒ constatou cerrando


os olhos por causa da brincadeira dele.

‒ Nada que eu já não esteja acostumado. Ele nem sequer fez


dano. ‒ Henry disse ainda rindo da expressão irritada dela.
‒ Da próxima vez, eu peço pra ele bater mais forte.

‒ Não seja má, ele me acertou de verdade se isso a deixa


menos irritada.

‒ Não vejo nenhum machucado em você.

‒ Não vê apenas porque ele me acertou o queixo, e a barba


cobre o possível hematoma.

Por isso gosto de deixá-la cheia, pois esconde os


machucados. ‒ Ele sorriu para ela e em seguida apontou
para a maleta que ainda estava na mesa. ‒ E já pode
guardar a maleta se quiser.

‒ Claro. ‒ Ela se levantou da cadeira, pegou a maleta e a


levou para o mesmo lugar de onde a retirou.

Quando se virou para voltar ao seu lugar, Henry estava atrás


dela e a olhava com desejo e malícia.

‒ Sabe para que mais uma barba serve? ‒ ele perguntou


com um sorriso lascivo.

‒ Não, para quê? ‒ Phillipa indagou, porque sabia que era


isso que Henry queria que ela fizesse.

‒ Serve para isso. ‒ Henry disse e tomou a mão de Phillipa


na sua. Ele retirou a luva que ela usava e encostou sua mão
em sua barba. Provocou cócegas na moça. ‒ E para isso… ‒
Ele passeou os pelos grossos por sua mão e subiu por seu
braço a fazendo arfar porque ali não havia sentido cócegas.

Ele passeou a barba pelo pescoço de Phillipa e percebeu


quando ela se arrepiou com a sensação que aquilo lhe
causava.
‒ Imagine essa mesma sensação só que mais forte. ‒ Ela
abriu os olhos surpresa e ele completou ‒ É o que sentirá
quando eu fizer isso em suas pernas.

‒ Oh! ‒ Foi só o que ela conseguiu dizer, pois seus


pensamentos estavam exatamente na cena que ele invocava
para sua mente.

‒ Você gostaria disso? ‒ Henry perguntou malicioso.

‒ Sim ‒ sussurrou quase sem voz, ainda perdida nas


sensações.
‒ Você é tão curiosa. ‒ Henry disse se aproximando de seus
lábios.

‒ A culpa é toda sua por me fazer querer essas coisas. Se


não tivesse dito nada eu não teria como ficar curiosa. ‒ ela
retrucou olhando para a boca quase escondida pela barba,
que tinha parado na metade do caminho, frustrando-a.

‒ Então talvez eu deva ver até onde essa curiosidade a leva.


‒ Henry lhe deu seu melhor sorriso cafajeste e Phillipa
mordeu o lábio ansiosa pelo que viria. ‒ Você gosta de
escutar o que eu vou fazer com você?

‒ Prefiro que o faça e não só que o diga. ‒ ela devolveu no


mesmo tom malicioso que ele usava e ergueu a mão para
tocá-lo. Não queria perder tempo.

‒ Você é uma tentação, sabia? ‒ Ele segurou o pulso de


Phillipa e beijou-lhe a palma da mão. Em seguida pressionou
as costas dela contra a estante e ergueu os seus braços em
cima da cabeça. ‒ Mas hoje sou eu quem vai tentar você.

Henry a beijou com desejo. Seus lábios eram possessivos e


quentes, e Phillipa retribuía na mesma intensidade, tinha
sentido saudade daquela boca, daquele gosto, daquela
sensação.

Entretanto, ele logo se afastou para sussurrar em seu


ouvido.

‒ Quer saber como eu vou tentar você? ‒ A voz dele saiu


rouca e carregada de desejo.

‒ Vou passear minha boca por seu pescoço, enquanto


descerei as mãos por seus braços passando meus dedos por
essa sua pele de pêssego, farei uma pausa nos seus belos
seios e apertarei os bicos rosados por cima do tecido. Sei
que vai gemer quando eu o fizer e sei também que gostará
tanto quanto eu.

Cada palavra dele, fazia a imaginação dela desenhar em sua


mente cada cena que ele lhe dizia e Phillipa queria aquilo.

‒ Você quer que eu faça isso? ‒ Ele a provocou mordendo o


lóbulo de sua orelha e a fazendo gemer com a sensação. ‒
Você quer que eu a toque?

‒ Sim.

‒ Peça, peça e eu lhe darei tudo o que quiser.

‒ Me toque, Henry. ‒ ela pediu soltando os seus braços das


mãos dele e afundando os dedos nos cabelos macios do
homem que a tentava ‒ Eu quero que me faça sua.

A resposta de Henry foi um grunhido quando se apossou


novamente de sua boca, mas ele sabia que uma vez que
começasse não poderia parar e queria que ela aproveitasse
da melhor forma possível aquele momento, sabia que ela
merecia pelo menos ter sua primeira vez em uma cama, por
isso se afastou.

‒ Não vou possuí-la aqui. ‒ conseguiu dizer entre um beijo e


outro.

‒ Então onde? ‒ Ela procurava por mais da sua boca.

‒ Não tem como chegar ao seu quarto sem ser visto, pelo
menos, por uma dúzia de pessoas.

‒ Poderíamos ir para o Clube. ‒ ela sugeriu com um sorriso


malicioso.
‒ Não está falando sério? ‒ Ele se empertigou se afastando
dela.

‒ Nunca falei tão sério na minha vida. ‒ Phillipa respondeu


com um sorriso, não percebendo a mudança de humor no
tom dele.

‒ Eu não vou tirar a sua virtude no Clube, você merece mais


que isso. ‒ ele se recusou e Phillipa revirou os olhos.

‒ Se eu quisesse um maldito castelo e um monte de regras,


eu teria me apaixonado pela realeza. Eu quero você em
todas as suas facetas e eu não me importo nenhum pouco
que seja no seu Clube, na verdade tenho um apreço enorme
pelas vezes que fui lá.

‒ Nem pense nisso. Depois que nos casarmos, vamos viver


no campo e nunca mais porá os pés naquele lugar. ‒ Ele
avisou.

Phillipa não esperava aquilo e se enfureceu com Henry. Por


que diabos todos tentavam controlar sua vida?

‒ Só pode estar de brincadeira! A melhor parte seria passar


as noites ali contigo. Nem pense só por um minuto que vai
me deixar no campo e ficar em Londres com a melhor parte
da

diversão... ― E então ela percebeu o que ele tinha dito. ―


Espere você falou em casamento? Você vai se casar comigo?

― É claro que sim sua bobinha, acha mesmo que depois de


tudo isso eu vou deixar você se casar com outra pessoa?

Henry voltou a beijá-la. Apenas um beijo leve e amoroso.

― Mas eu não vou ficar no campo. ― Ela avisou entre um


beijo e outro ― Mesmo que seja meu marido, não vai
conseguir me obrigar a ficar lá.

‒ Pensei que amasse o campo. ‒ Ele tentou mudar o


argumento. ― Cavalos, árvores, ar fresco...

‒ Amo tudo isso durante o dia, durante a noite, descobri que


gosto de frequentar o seu Clube.

‒ É muito perigoso para uma mulher como você ficar lá.

Phillipa se afastou. Que homem teimoso.

‒ Isso não impede que Lady Clara também o frequente.

Henry cruzou os braços e olhou sério para Phillipa. Porque


ela não podia deixar que ele cuidasse dela da forma certa?

‒ E ela corre perigo constantemente. Os homens não gostam


de perder para uma mulher.

‒ se irritou ao lembrar todas as vezes que ela foi ameaçada


e até tentaram agredi-la por ter ganhado uma partida. ‒ Ela
vive em constante ameaça e por isso não quero essa vida
para você.

Henry se afastou dela, as imagens com ela comandando o


Clube ao seu lado se tornou muito nítida, assim como os
perigos que aquilo significava. Qualquer um poderia tentar
atingi-la para chegar a ele.

‒ Eles não teriam motivo para me odiar. Não jogarei, não


farei nada demais. Apenas lhe farei companhia.

‒ Só o fato de me fazer companhia já lhe colocaria em


perigo. Há muitos homens que odeiam o Lorde e se ficar
comigo enquanto eu for ele, estará em perigo da mesma
forma.
‒ Estarei contigo, sei que vai me proteger. ― Phillipa
continuou refutando. Ela estava mesmo decidida a continuar
com aquilo.

‒ Eu a defenderei com a minha vida, mas mesmo assim, não


quero correr o risco. Não quero que fique em perigo.

‒ Mas e quanto ao que eu quero? ‒ ela insistiu. ‒ Eu não vou


ficar no campo enquanto você desfruta a noite em seu clube.
Eu também tenho vontade, sabia?

‒ Eu sei bem. ‒ disse irônico. ‒ Você é uma mulher bastante


geniosa, às vezes até demais.

‒ Então não espere que eu fique no seu maldito campo


sozinha. ‒ ela apontou furiosa, já estava cansada de que lhe
impedissem de fazer o que gostaria usando a desculpa de
tentar protegê-

la.

‒ Não pretendo deixá-la sozinha no campo. ‒ Henry informou


e quando ela compreendeu o que aquilo significava a fúria
desapareceu completamente, não esperava que ele fizesse
aquilo.

‒ Vai abandonar o seu Clube? ‒ Demonstrou-se confusa.

Ele não tinha pretensão de fazer isso até aquele momento,


vê-la insistir tanto em ir ao Clube e o medo que ela
realmente o fizesse quando ele não estivesse por perto, fê-lo
tomar a decisão. Era algo que nunca pensou em fazer, mas
que não via outra escolha para manter Phillipa longe daquela
vida. O Rogue’s era seu maior orgulho, sua vida se resumia
ao Clube, não sabia o que fazer além de ser o Lorde, mas
agora teria que descobrir, por Phillipa. Amava-a de mais para
colocá-la em risco. Amava-a. Ele se deu conta que tinha
assumido para si o que sentia.

‒ Dmitri pode muito bem cuidar dele na minha ausência.

‒ Mas não pode fazer isso, é tudo que você construiu.

‒ Eu já me decidi, Phillipa, quando nos casarmos, eu vou


deixar o clube. Só irei lá quando realmente for necessário
minha presença.

‒ Mas… ‒ A Lady procurou argumentos, mas não conseguiu


pensar em nada.

‒ Está decidido. ‒ ele foi firme e ela viu a tristeza tomar seus
olhos por um breve momento, antes de lhe virar as costas e
se afastar até a porta.

Ele tinha dado a última palavra e esperava ser obedecido.

Agora tudo fazia sentido, por isso que ele era conhecido
como Lorde. Lá no Clube, ninguém o olhava com
superioridade, pois era o Lorde quem comandava, Henry era
o nobre e todos os outros eram apenas membros que
dependiam dele para continuar ali ou não.

Ela se lembrou de Henry dando ordens a seus funcionários e


eles o obedecendo imediatamente.

“Pegue-a aqui e a leve para o quarto que pedi para Tim


reservar, ‒ falou para o porteiro e em seguida fitou o
segundo rapaz que cuidava da porta e levava os recados ‒
Jimmy, peça para a Martha cuidar dela, e a Beatrice para
cuidar das crianças, eles estão precisando de comida. Eu
voltarei logo.”

Lá ele era respeitado e temido, tudo que o bastardo Willians


não era fora do clube. “ ‒
Sim Lorde, desculpe, ela estava de vermelho, então pensei
que estivesse livre para subir.” Ela se recordou de quando
caiu sentada no colo do homem e ele a soltou assim que
Henry ordenou. Lá ele tinha voz e sua voz era lei.

Ele cuidava dos seus e ninguém mandava nele ou o


inferiorizava. “Bom, não sei onde trabalhava antes daqui,
mas o Lorde sempre cuidou muito bem de nossas meninas,
qualquer um que lhe incomodar demais basta falar com
qualquer um dos seguranças que eles irão lhe ajudar.”

Outra lembrança a assolou. O Lorde cuidava dos seus


empregados, de sua segurança e de seu bem-estar. Eles
eram sua família. E ela não tiraria isso dele. Henry construiu
seu próprio título e superou todas as expectativas. Ele era
incrível e Phillipa jamais se perdoaria se o seu amor
desistisse disso por causa dela. Por isso falou:

‒ Não, não está decidido. ‒ o homem se voltou para ela


irritado ao ouvir aquelas palavras, não gostava que lhe
desobedecessem, o que só mostrou o quanto ele carregava o
Lorde mesmo longe de seu Clube. Phillipa se empertigou e
ergueu a cabeça em desafio. Ela não iria deixar que ele
desse a ultima palavra quanto aquilo.

― Não seja teimosa Phillipa. ― Henry suspirou. Maldita


teimosia.

‒ Eu nunca me perdoaria se tirasse sua essência e o


mudasse. ― Phillipa explicou sem se alterar ― Apaixonei-me
por quem você se tornou e o Lorde faz parte disso. Se tê-lo
significa que vou tirar o que mais importa e lhe farei infeliz,
então prefiro ficar sozinha sabendo que continuará a ser feliz
em seu Clube.

Henry não esperava aquilo. Ela estava desistindo dele? Ela


não podia desistir dele. Não quando ele tinha assumido para
si mesmo que a amava. Ele já tinha decidido que faria aquilo
por ela, ele já tinha aceitado que esse seria o preço para tê-
la e estava disposto a pagar.

‒ Acredito que quem mais está abrindo mão aqui seja você.
‒ Ele suspirou cansado, voltando a se aproximar dela e a
puxando para seus braços. ‒ E para que saiba: eu não seria
feliz sem você, passei os piores dias de minha vida quando a
mandei embora e não pretendo repetir essa loucura. Mas é
você quem está desistindo de uma vida de luxos e respeito
para se casar com um bastardo dono de um antro de
jogatina.

Phillipa o fitou e desvencilhou um de seus braços para tocá-


lo no rosto.

‒ Eu estou desistindo de uma vida fútil e chata para me


casar com um homem incrível dono de um clube
maravilhoso, um homem que é respeitado e temido, que
cuida de seus funcionários como uma família devia cuidar de
seus membros. ‒ Phillipa declarou e Henry a olhou surpreso
e maravilhado. ‒ Clara me contou algumas coisas. Por
exemplo, como você a ajudou quando ela apareceu na porta
de seu clube e como permitiu que ela jogasse cartas. Ela
também me contou sobre como você salvou a Sarah dos
maus tratos do marido no dia que apareci no Clube pela
primeira vez. E algumas outras histórias sobre as pessoas
que trabalham no clube.

Então acredite, eu não desisto de nada, já você nunca seria


feliz se desistisse do Clube e ele não seria o mesmo sem
você.

‒ Eu posso ser feliz longe do Clube. ‒ ele garantiu ‒ Mas sem


você, eu não posso. Eu escolho viver com você.
‒ Oh! Henry, eu não permitirei que escolha se você pode ter
os dois. Não vai desistir de seu Clube por mim. Ele é parte de
quem você é e eu amo essa parte.

‒ Lá não é lugar para você, pode ser perigoso e escandaloso,


sua virtu... ‒ Henry começou e Phillipa o interrompeu.

‒ Você usa máscaras, ninguém sabe que você é o Lorde.


Durante o dia, podemos ser o Sr.

e Sra. Willians, um casal apaixonado que vive em uma


casinha simples e não tem nada de escandaloso além do
amor que sentem um pelo outro, e a noite… Bom, seu Clube
tem um Lorde, mas parece que falta uma Lady. ‒ Ela lhe
sorriu compassiva. ‒ Eu ficaria honrada em ocupar essa
vaga.

Henry a olhava e era como se a visse pela primeira vez. Ele


nunca tinha dito a ninguém a importância do Clube em sua
vida, e mesmo sem dizer, Phillipa conseguiu perceber o que
ele sentia a respeito de seu negócio. Ela sabia e se
orgulhava dele, podia ver isso em seus olhos.

Ninguém nunca o tinha olhado daquela forma, nem mesmo


sua mãe, que o olhava com amor e na maioria das vezes
preocupada, mas nunca o tinha olhado com tanto orgulho e
respeito como Phillipa o fazia naquele momento. Ela o
entendia e o amava ao ponto de estar ali, impedindo que
desistisse de tudo que ele tinha de mais importante. Sua
amada não se importava que seu maior tesouro fosse um
antro de jogatina, muito pelo contrário, ela entendia e o
amava ainda mais por isso.

‒ Eu não aceitaria mais ninguém se não você. ‒ Ele lhe


beijou completamente apaixonado e em seguida se ajoelhou.
― Eu desistiria de tudo por você e mesmo que me diga o
contrário, eu sei que nunca me arrependeria fazê-lo, porque
todo dia me lembraria de que abri mão do que tinha por um
tesouro ainda maior. Eu a amo Phillipa, de todo meu coração.
Me perdoe por ter demorado tanto a aceitar isso. Não posso
viver sem você e eu seria o homem mais feliz do mundo se
aceitasse ser minha Lady.

‒ Oh Henry, sim, sim, sim. Eu aceito! ‒ Ela se jogou nos seus


braços e se beijaram apaixonadamente. Depois de um
momento, Phillipa se afastou um pouco de seus lábios. ‒ Eu
também o amo, meu Lorde. ‒ ela declarou antes que ele
ocupasse novamente sua boca em outro beijo apaixonado.

— Venha. — Ele a tomou pela mão e dirigiu a porta.

— Aonde vamos? — Phillipa perguntou, mas já sabia a


resposta.

— Vamos ao Rogue's. — Ele lhe sorriu sedutor e Phillipa se


deixou levar.

CAPÍTULO 17 - CARRUAGENS E CLUBES

Sair do Baile sem serem vistos foi um desafio, que foi


resolvido quando Henry saiu na frente para preparar a
carruagem e, alguns minutos depois, Phillipa também
conseguiu sair sem chamar a atenção para si.

Assim que a Lady entrou no veículo, o homem indicou para o


cocheiro que podiam ir.
‒ Alguém a viu saindo? ‒ Henry perguntou preocupado.

‒ Não. Pedi a Clara que cuidasse da Sra. Hugges. Ninguém


se dará conta que eu não estou na festa.

‒ Que bom. ‒ Henry concluiu a puxando para seu colo e lhe


beijando os lábios sem nenhum pudor. Suas mãos agarraram
o traseiro da jovem, unindo ainda mais seus corpos.

O beijo era uma provocação por si só. Lento e excitante.


Henry não tinha nenhuma pressa, queria saborear, provocar
e excitar a mulher em seus braços. Queria tocá-la, explorar
seu corpo e, por isso, passeou as mãos pelas pernas de
Phillipa erguendo lhe o vestido para poder tocar a pele
sedosa que o tecido escondia.

O contato das mãos de Henry em suas pernas a fez arfar e


se arquear para ele, Phillipa também explorava a boca macia
de seu Lorde e suas mãos se afundavam em seus cabelos
negros.

Ela jamais se cansaria daquele gosto.

Continuaram a se provocar e se explorar, até que a


carruagem parou. Tinham chegado ao Clube. Henry desceu
primeiro e a ajudou a sair. Ele tinha mandado o cocheiro
parar na porta de serviço do Clube e entraram por lá.

No vestuário, Henry procurou uma máscara para Phillipa e


pegou a sua. Não a levaria para o escritório e tampouco
usaria um quarto na ala da Luxúria. Ele tinha um quarto ali,
no fim da ala dos empregados, e era para lá que levaria
Phillipa.

A jovem Lady estava ansiosa e ao mesmo tempo nervosa.


Ela perderia sua virtude naquela noite, queria isso é claro,
mas temia não saber o que fazer. Sua mãe ainda não tinha
tido A conversa com ela e ela se sentia despreparada.

‒ Está tudo bem? ‒ Henry a questionou ao ver que não tinha


dito uma palavra desde que saíram da carruagem.

‒ S-sim, é que eu não sei bem o que fazer. ‒ explicou,


envergonhada.

Ele sorriu e a beijou levemente nos lábios.

‒ Não se preocupe com isso. ‒ Ele disse para acalmá-la e a


guiou para seu quarto. ‒

Venha, é ali no final do corredor.

Ela o seguiu até a porta do quarto, ele abriu a porta e


Phillipa entrou na frente. Henry fechou e a trancou,
rapidamente acendeu algumas velas para iluminar o seu
quarto, que tinha as mesmas cores do Clube, branco, preto e
vermelho. Os moveis eram pretos, assim como a cama, e as
paredes eram brancas com detalhes em vermelho.

Com o ambiente iluminado, Henry pode observar Phillipa,


que estava parada no mesmo lugar, olhando para seus pés,
mordendo os lábios e torcendo as mãos no vestido. Era
evidente seu

nervosismo. Henry se aproximou, ergueu o rosto dela e a


beijou fervorosamente.

‒ Não precisa ter medo. ‒ sussurrou em seus lábios e tornou


a beijá-la.

O beijo aos poucos espantou o nervosismo que ela sentiu e


Phillipa relaxou nos braços de Henry. Ele continuou a beijá-la
explorando da mesma forma que fez na carruagem e com as
mãos, começou a desabotoar o vestido da moça.
Foi uma tarefa árdua, já que era um vestido de festa cheio
de camadas, amarrações, nós e botões. Essas costureiras
não poderiam fazer algo fácil de ser tirado não? Tantos
botões complicavam a vida dos pobres rapazes bem-
intencionados. O desejo dele era de rasgar cada maldita
camada de roupa que o impedia de ter Phillipa nua na sua
frente.

Depois de alguns minutos retirando cada peça de roupa, e


sem parar de beijá-la, Henry finalmente teve Phillipa como
desejava.

Phillipa tentou se cobrir com as mãos, mas ele a impediu. Ele


já tinha estado entre suas pernas ela, se lembrava muito
bem, mas nunca a tinha visto nua, então ela realmente
estava envergonhada, nenhum homem a tinha visto daquela
forma.

‒ Não se envergonhe, me deixe olhar para você. ‒ Henry


pediu suavemente enquanto se deliciava com a formosura
do corpo de Phillipa. ‒ És tão bela.

Ele a olhava com veneração e desejo e quando a tocou,


Phillipa se sentiu em brasas. Ele lhe tocou os seios e ela
gemeu, era tão intenso. O gemido dela despertou um desejo
urgente em Henry, de modo que a beijou com paixão
enquanto a guiava para a cama e a depositava em cima dos
lençóis.

Ele deitou por cima dela, desceu sua boca para o pescoço de
Phillipa e em seguida para seus seios, queria prová-la por
inteiro. Cada vez que ela gemia, arfava ou se contorcia fazia
com que o homem a desejasse ainda mais. Já estava pronto
para seu amor, mas precisava deixá-la pronta para recebê-
lo. Sabia que doeria, mas queria causar o mínimo de dano e
o máximo de prazer, por isso continuou a tocá-la.
As mãos de Henry alisavam as pernas da Lady subindo
lentamente até o meio das pernas femininas e só pararam
quando chegaram a seu montículo de pelos loiros. Os dedos
dele a exploraram e comprovaram que ela já estava
molhada, mas ainda não tanto quanto ele queria. Ela arfou
com o toque em sua intimidade e se arqueou para ele
quando encontrou seu ponto mais sensível.

Phillipa se contorcia sob o toque de Henry, ele sabia muito


bem como guiá-la para que tivesse sua liberação. E, oh céus!
Como o desejava. E então ele parou. Phillipa abriu os olhos
para reclamar, mas esqueceu o que ia dizer quando o viu
tirar a roupa.

Henry tinha a pele alguns bons tons mais escura que a dela,
o que o tornava ainda mais belo, seu corpo era enorme, seus
músculos tinham uma leve definição, quase não tinha pelos
no peito e o pouco que tinha ia se acumulando e descendo
como um caminho que se alargava no umbigo e se perdiam
dentro da calça que ele ainda vestia. Phillipa mordeu os
lábios em expectativa quando ele retirou-as. Suas pernas
eram grossas e musculosas e… Oh céus!

Henry não deu tempo para ela pensar, deitou por cima dela
e a beijou com desejo, enquanto uma mão acariciava seu
seio e a outra a provocava entre as pernas. A jovem sentiu
seu corpo todo se retesar e sabia que sua liberação estava
próxima.

‒ Quero que me diga se doer muito, tudo bem? ‒ o homem


sussurrou em seus lábios e ela não entendeu o que ele quis
dizer… até que guiou seu membro para entrada e a penetrou
de uma vez.

‒ Ah, maldição! Isso dói. ‒ ela praguejou surpresa com a dor.


‒ Eu sinto muito. Não tinha como fazer isso sem doer, mas
foi só essa vez, prometo que passa logo. ‒ ele garantiu e a
beijou novamente para que Phillipa não pensasse mais na
dor, fazia um esforço tremendo para não se mexer dentro
dela, mas era uma tarefa quase impossível. Ela estava tão
quente e molhada que não resistiria por muito tempo. ‒
Ainda dói muito?

‒ Um pouco. ‒ Ela gemeu sentindo ainda seu sexo latejar e


arder. Estava tentando entender como que as mulheres
gostavam de fazer aquilo se quando ele usou apenas as
mãos e a boca tinha sido muito melhor. Aquela coisa só
causava dor. ― É só isso?

‒ Agora que começamos. ― Ele lhe sorriu e em seguida


pediu ― Se voltar a sentir dor me avise.

Henry se retirou de leve de dentro de Phillipa para então


voltar a penetrá-la e, quando percebeu que ela não se
queixou, ele voltou a fazê-lo com mais vigor e rapidez.

Com a dor indo embora a cada movimento e o prazer


tomando o lugar, Phillipa entendeu que as mãos e a boca
não se comparavam com aquela sensação de plenitude e
prazer. Céus!

Aquilo era intenso e sublime. Morreria de prazer, tinha


certeza. Uma onda enorme se acumulava em seu ventre e
todo o seu corpo se retesava, estava quase lá.

‒ Oh! Hen... eu.... Ah... ‒ gemia sem conseguir pronunciar


nenhuma frase completa.

Henry a penetrava com força e o som dos gemidos de


Phillipa o levavam ainda mais a beira do abismo. Ele a beijou
engolindo seus sons e sentindo suas almas se conectarem.
Não era nada parecido com o que tinha feito antes. Era
intenso, profundo e único e a avalanche de sensações o fez
chegar ao ápice de seu prazer.

Henry se retirou rapidamente de dentro de Phillipa e sua


liberação caiu nos lençóis. Ele se deitou do lado contrário de
onde tinha lançado sua semente e puxou Phillipa para seus
braços, cobrindo-os com a parte limpa do lençol.

Ela era incrível. E agora era inteiramente dele.

Henry sorriu, depositou um beijo no topo da cabeça de


Phillipa e ficaram abraçados enquanto suas respirações
voltavam ao normal.

‒ Você está bem? ‒ questionou ao estranhar o silêncio de


Phillipa.

Ela acenou com a cabeça sem dizer uma única palavra ou


olhar para ele, e isso o fez ficar ainda mais preocupado.

‒ Phillipa… ‒ tornou a perguntar. ‒ O que se passa? Está


doendo?

‒ Não. Não é nada. Não dói. ‒ ela disse ainda de cabeça


baixa.

‒ Phillipa, olhe para mim. ‒ ordenou e a Lady não se moveu.


‒ Por favor, olhe para mim. ‒ Ela teria se arrependido do que
fez? Essa possibilidade assustou Henry.

Lentamente, Phillipa ergueu a cabeça e olhou para ele, mas


seus olhos não estavam arrependidos, então o que diabos
ela tinha?
‒ O que se passa? ‒ ele perguntou sem entender porque ela
estava daquele jeito. ‒ Você está arrependida?

‒ Não, eu não me arrependi. ‒ Ela revirou os olhos, parecia


irritada.

‒ Então pelo amor de Deus, o que você tem? Por que está
agindo assim? Não gostou do que fizemos? ‒ Por mil
demônios, se ela não tivesse gostado, o que seria dele? Não
conseguia mais se imaginar sem passar suas noites fazendo
amor com ela. Somente a ideia de que ela não tinha gostado
o deixou apavorado.

‒ Eu gostei… ‒ disse em um fio de voz e Henry percebeu


que ela estava envergonhada

‒ É só que estava tão bom, mas então você parou e…


Acabou. Não senti o mesmo da última vez.

Henry tinha sido um tolo, pensara que ela alcançara a sua


liberação assim como ele teve a dele, mas Phillipa não tinha
chegado lá, ao se retirar dela, impediu-a de alcançar a
própria liberação. Entretanto, não conseguiu conter o alívio
por não ser nada daquilo que pensou e por isso riu.

‒ Não ria de mim. ‒ ela pediu ainda mais envergonhada.

Então Henry rolou novamente por cima dela e olhou-a nos


olhos.

‒ Eu não estou rindo de você, meu amor, estou rindo porque


estou aliviado. Estava apavorado pensando que não poderia
fazer amor contigo tantas vezes por dia quanto eu tinha
planejado, porque você não tinha desfrutado do que fizemos,
quando na verdade a culpa foi minha.

Mas não se preocupe, eu vou remediar isso. Longe de mim


deixar a mulher que amo sem o prazer dela.

E então ele voltou a beijá-la lentamente, não tinha a menor


pressa, precisaria de um tempo para se recuperar, e também
queria compensar a frustração que ela tinha sentido ao ficar
sem sua liberação.

Henry teve todo cuidado com Phillipa, afinal ela ainda devia
estar dolorida, mas conseguiu se redimir.

Phillipa estava deitada em seus braços, a respiração


ofegante por causa do exercício e ele só podia pensar no
quanto ela era linda e se encaixava perfeitamente nele.

‒ Acho que tenho que voltar para a festa, antes que fique
tarde e deem por minha falta. ‒

ela cortou o silêncio agradável que estava entre eles.

‒ Claro tem razão. ‒ Ele a apertou entre os braços. ‒ Por


mim, você não sairia daqui, mas não quero ter que enfrentar
seu irmão ao amanhecer com uma pistola na mão.

‒ Ele não faria isso. ‒ A jovem sorriu incrédula e divertida.

‒ Não duvide disso. Ele jamais permitiria que homem


nenhum manchasse sua virtude.

‒ Sei disso, falo que ele não pediria retratação, não sabendo
que vai se casar comigo. ‒

Ela revirou os olhos.


‒ Graças a Deus por isso, odiaria machucá-lo.

‒ E eu odiaria que qualquer um dos dois se machucasse. ‒


Ela se desvencilhou de seus braços. ‒ Vamos, precisamos
nos apressar.

Henry se levantou da cama e se vestiu rapidamente, e foi


ajudar Phillipa com os botões e nós de seu vestido.
Finalmente apresentáveis, eles colocaram as máscaras e
saíram do Clube, voltando para o baile.

‒ A meu ver não está nem perto de acabar. ‒ Henry


sussurrou no pescoço de Phillipa. ‒

O que me dá alguns minutos a mais para desfrutar de você.

‒ Você é insaciável ‒ ela apontou enquanto o puxava para si


retribuindo cada carícia.

‒ A culpa é toda sua, Milady. ‒ ele replicou a beijando nos


lábios. ‒ Você me faz desejá-la o tempo todo.

‒ Eu nunca vou me cansar disso. ‒ foi sincera quando eles


pararam para tomar fôlego.

‒ Então eu serei o homem mais sortudo do mundo. ‒


completou, tornando a beijá-la.

Alguns minutos depois, Phillipa desceu da carruagem numa


área menos movimentada e voltou para a festa. Ainda
restavam alguns nobres, mas a maioria já tinha começado a
voltar para casa, o que indicava que a festa estava quase no
fim.

‒ Onde você estava? ‒ Sua mãe perguntou assim que a viu.


‒ Estou procurando você há horas. Hugges não conseguiu
encontrá-la em lugar nenhum.
‒ Eu estava com dor de cabeça e decidi me afastar um
pouco. ‒ Phillipa deu de ombros.

A Duquesa a olhou bem, mas não estava com cabeça para


descobrir se sua filha mentia ou não. Como ninguém tinha
comentado nada a respeito de Phillipa, então não devia ter
feito nada demais.

Phillipa ficou na festa até a última pessoa sair, mas não


prestava atenção em nada, estava absorta em pensamentos.
Quando finalmente o último nobre se despediu, ela pode
enfim subir para o seu quarto e não se deu conta do clima
estranho entre sua mãe e seu irmão.

CAPÍTULO 18 - DE VOLTA PRA CASA

Phillipa acordou com uma disposição que nunca tinha tido


antes. Ao se lembrar dos acontecimentos da noite anterior,
sorriu. Estava feliz. Levantou da cama cantarolando, uma
criada a ajudou a se vestir para que pudesse descer e tomar
o café da manhã.

A Duquesa estava à mesa. Phillipa se sentou ao seu lado e


para sua surpresa, a sua mãe não falou nada, parecia
absorta nos próprios pensamentos. A Lady mais nova tomou
seu café em um silêncio agradável, até que sua mãe o
quebrou.

‒ Você sabe quem é Lady Sophie? ‒ ela perguntou


desconfiada.
‒ A Viscondessa de Warinfell? ‒ Phillipa franziu o cenho.

‒ Não a Viscondessa, essa é uma tal de Sophie Murray de


Antholl. ‒ a Duquesa explicou.

‒ Não a conheço. Por que a pergunta? ‒ Phillipa olhou de


soslaio a mãe e ergueu uma sobrancelha..

‒ Nada, é coisa do seu irmão. ‒ Lady Norfall resmungou


voltando a comer, algo definitivamente a desagradava.

Phillipa terminou seu café e pediu licença para se retirar. Sua


mãe mal a ouviu, estava muito concentrada em qualquer
outra coisa, o que era muito estranho. Assim que passou
pela porta, a jovem encontrou o mordomo que levava para a
sala um periódico. Era o Chá das Cinco, o jornal de fofocas
mais conhecido de Londres. Todos os eventos importantes
apareciam ali com uma rapidez que até Deus duvidava como
o editor conseguia imprimir as notícias mais recentes dentro
de poucas horas.

Phillipa se adiantou e pegou o periódico antes que o


mordomo o levasse para sua mãe.

Queria ver o que tinham escrito sobre a festa da noite


anterior, e se alguém tinha percebido o sumiço dela.

Assim que abriu o jornal não pode conter a animação.

‒ Sr. Cramow, sabe onde meu irmão está? ‒ ela perguntou


ao mordomo.

‒ No escritório dele, Milady. ‒ O Sr. Cramow respondeu e


Phillipa foi eufórica ver o irmão. Queria que ele visse o jornal.

‒ Phillip, veja isso! – Phillipa invadiu o seu escritório sem se


importar se ele estava ocupado ou não. ‒ O baile de ontem
saiu no Chá das Cinco!
Ela mostrou para ele exatamente onde estava o trecho que
falava do baile e ele começou a ler:

‒ “O Baile em homenagem ao aniversário natalício de Lady


Catherine Albert de Norfall, realizado por Lorde Norfall, foi
um sucesso no quesito comentários. Não há nenhuma alma
que tenha participado do tal evento que não esteja
comentando sobre os acontecimentos, para lá de
inesperados, que foi proporcionado aos que estiveram
presentes no baile.”. ‒ Seu irmão fez uma pausa e olhou
para ela.

‒ Continue lendo, ainda não chegou na parte emocionante. ‒


ela informou e ele continuou:

‒ Os comentários vão desde ‘Festa magnífica’ à ‘Um


escândalo’. É notável o enorme bom gosto no que se refere a
bailes realizados pela família Howland de Norfall, e por isso
os comentários de apreciação à festa. Mas para a surpresa
de todos, um escândalo finalmente tocou a imaculada
família acima citada: Há boatos de que o Duque esteja
enamorado de uma certa costureira jovem e muito famosa, e
talvez por isso a mesma tenha estado presente na festa
realizada na noite anterior e até roubado, junto com mais
duas outras ladies respeitáveis, a atenção que deveria estar
sobre a anfitriã e aniversariante, Lady Howland.”

‒ Mamãe vai ficar furiosa com essa parte. ‒ Phillipa riu ao


imaginar a reação de sua mãe quando o lesse.

‒ Eu imagino que sim. Quando chegou o jornal? – Phillip


perguntou.

‒ Tem dez minutos, eu já imaginava que o baile seria


mencionado e assim que o recebi, eu conferi a matéria e te
trouxe. ‒ Phillipa respondeu sorridente. ‒ Continue.
‒ Está bem. ‒ Phillip voltou sua atenção ao jornal e leu o
último parágrafo. ‒ “O

escândalo, caro leitor, nada mais foi que vestidos


confeccionados, sem a menor dúvida, por Madame
Charlotte, e que foram usados por Lady Phillipa Howland,
irmã do Duque de Norfall, e Lady Margaery de Brant,
Condessa-viúva de Dorset, no baile. Os comentários acerca
desse acontecimento dividiram opiniões: algumas senhoras,
mais recatadas e conservadoras, acreditam que os vestidos
ultrapassam os limites do decoro e do bom gosto, já outras
nunca viram vestidos tão lindos, opinião essa que ecoou na
boca de muitos lordes solteiros ‒ e até mesmo casados ‒

que estavam presentes no baile.”

‒ Os vestidos foram um sucesso Phillip! – Phillipa disse


alegre assim que o irmão terminou de ler e ele sorriu
orgulhoso. ‒ Charlotte vai ficar tão feliz!

E então de repente ele dobrou o Jornal e ficou sério. Teria ele


descoberto alguma coisa?

Oh, céus que ele não soubesse de nada!

‒ Phillipa, gostaria de lhe contar algumas coisas. – ele falou


chamando a atenção de sua irmã.

‒ O que foi? Por que está tão sério? – Phillipa perguntou,


engolindo a seco e visivelmente preocupada.

‒ Não se preocupe, não é uma notícia ruim. ‒ Phillip sorriu


lhe acalmando.

‒ Então por que está sério? – indagou ainda desconfiada.

‒ Apenas é algo importante, só isso.


‒ Tudo bem. O que tem pra me dizer?

‒ Eu vou me casar. ‒ Ele anunciou.

Aquela notícia fez Phillipa pular de alegria dando gritinhos.


Finalmente seu irmão tinha aceitado lutar por alguém que
amava. E ela tinha certeza que a felizarda era Madame
Charlotte.

Então contornou a mesa e abraçou seu irmão, felicitando-


lhe.

‒ Estou tão feliz por você! Eu sabia que ia fazer a coisa


certa! – Phillipa estava eufórica!

‒ Eu sabia que tinham sido feitos um para o outro. ‒ E então


ela ficou cautelosa. ‒ A mamãe sabe?

‒ Sim. ‒ confirmou e Phillipa sentiu os olhos encherem de


lágrimas de alegria.

‒ Oh, Phill, eu estou tão feliz por você! Quando vocês vão se
casar? – ela perguntou encantada.

‒ Dentro de alguns meses. Precisarei organizar tudo antes do


casamento e ainda terei que lidar com todo o problema que
isso causará. ‒ explicou.

Claro que seria um escândalo. Um Duque se casando com


uma reles costureira! Era escandaloso e lindo! Estava tão
orgulhosa de seu irmão.

‒ É claro que eu lhe ajudarei no que for preciso. ‒ Phillipa se


prontificou animada. ‒

Eu gosto muito de Charlotte e estou feliz que ela vai ser


minha irmã agora.
‒ Sente-se, Phillipa, ainda há muita coisa para saber. ‒ Phillip
pediu e isso a fez silenciar instantaneamente, esperava que
ele lhe contasse tudo.

‒ Claro! Me conte tudo! - ela pediu, ansiosa para saber como


ele a tinha conquistado.

‒ Eu vou me casar com Lady Sophia Murray. ‒ anunciou e


Phillipa ficou confusa, já estava pronta para contestar
quando ele gesticulou pedindo para que ela não
interrompesse. ‒

Que é o verdadeiro nome de Charlotte. Ela fugiu de casa


para ser uma modista, era o sonho dela.

E passou muita coisa para chegar aonde está agora. Ela


passou anos em um navio, trabalhou para Madame Rosanna,
que a explorava, e apenas quando o irmão dela a encontrou
foi que as coisas começaram a melhorar para ela. Charlotte
construiu seu ateliê, e seus vestidos começaram a fazer
sucesso. Ela manteve a identidade de Madame Charlotte
para que seu pai não a encontrasse, até hoje. Ele a
encontrou e a levaria embora, mas eu não podia deixar a
mulher que eu amava ir embora novamente, então eu a pedi
em casamento ao Duque.

Phillip explicou resumidamente tudo que tinha acontecido e


esperou que sua irmã processasse toda informação que ele
tinha lhe dado.

‒ Então ela é uma nobre? – Phillipa perguntou para ter


certeza que tinha ouvido direito.

No fim das contas não seria tão escandaloso, quer dizer seria


sim escandaloso, pois Charlotte tinha enganado a todos, mas
a modista agora era nobre, então logo se resolveria.
‒ Sim, ela é filha de um Duque e eles estarão indo para
Arondalle ainda hoje.

‒ Ah! – Phillipa não conseguiu falar nada além disso. Tinha


ficado tão feliz ao saber que não seria a única que se casaria
com alguém que não tinha título e agora ela teria que
enfrentar a mãe e a sociedade sozinha. Devia estar feliz pelo
seu irmão, e o estava, mas estava um pouco decepcionada,
talvez gostasse mais da sua futura cunhada quando ela era
apenas Charlotte.

‒ Phillipa, o que se passa? – O Duque perguntou preocupado


e ela ergueu os olhos, tinha esquecido que ele estava ali. Ou
melhor que ela estava no escritório dele

‒ Não é nada. ‒ Phillipa tentou esconder-se atrás de seu


sorriso, mas sabia que falharia miseravelmente. Seu irmão
lhe conhecia bem demais para conseguir enganá-lo.

‒ Lipa, sabe que pode confiar em mim, o que a perturba?

‒ Não é nada, foi só um pensamento egoísta que eu tive. –


ela explicou dando de ombros e desdenhando o pensamento
para que ele não insistisse.

‒ Insisto que me diga. – Phillip exigiu. ‒ Sempre fomos


confidentes Lipa, não mude isso agora.

Ela ponderou por um momento, mas sabia que seu irmão


tinha razão.

‒ Eu preferia quando Char… Sophie era apenas Madame


Charlotte. Eu achava que quando você se casasse com uma
plebeia, mamãe não poderia me negar um casamento assim
também. Ou talvez não iria me culpar tanto por não querer
me casar com um nobre, mas a mamãe vai ter o que sempre
quis de qualquer forma: um casamento com alguém da
nobreza.

‒ Você acha que por Sophie ser nobre isso facilitou que ela
ficasse comigo? ‒ Phillip perguntou, tentando entender.

‒ Não exatamente, mas ela ser nobre tornará tudo mais fácil
agora. ‒ Phillipa tentou explicar, não queria que ele
pensasse que o casamento a desagradava, muito pelo
contrário ainda estava feliz pelo irmão e sabia que logo que
esse pensamento egoísta passasse, estaria eufórica
também.

‒ Eu já iria me casar com ela, mesmo sem saber que ela era
uma Lady. O fato de Sophie ser nobre não muda nada, Lipa.
Não é o título que define a nobreza do espírito de um
homem. Veja o Henry, ele não tem título, mas isso não torna
menos nobre para mim. Eu o respeito como um igual e
confio mais nele do que em muitos lordes que conheço.

Aquelas palavras fizeram os olhos dela se encherem de


lágrimas. Era o seu Henry. Seu irmão o respeitava e o queria
bem, então ele os apoiaria, certo?

‒ Eu sei disso, Phillip. ‒ Phillipa disse corando ‒ É só que se


ela não fosse nobre, tornaria mais fácil eu me casar com
alguém que também não é da nobreza.

‒ Você deseja se casar com alguém que não é nobre? ‒


Phillip perguntou erguendo uma sobrancelha.

Phillipa corou mais ainda e negou veementemente. Estava


na cara que sim, mas não falaria nada antes que Henry
conversasse com Phillip.

‒ Não! ‒ respondeu e percebeu que sua voz tinha saído


esganiçada, então respirou fundo e se recompôs ‒ É uma
suposição apenas. Porque pode aparecer alguém que eu me
interesse, só isso. Até agora conheço praticamente todos os
nobres e por mim todos sumiriam de minhas vistas, não
suporto a maioria.

Ela tentou parecer convincente, mas o Duque a perscrutava


atentamente e ela se obrigou a permanecer calma. Não ia
permitiria que ele a intimidasse com aquele olhar de eu sei o
que você anda fazendo e pensa que me engana?

‒ Entendo, – Phillip concluiu com um sorriso e ela percebeu


que ele tinha deixado de lado o assunto, ou, pelo menos,
pensava que sim, até que continuou falando. ‒ Você já sabe
o que a mamãe diz sobre isso, mas a palavra final é minha.
Então quero que saiba que eu a deixarei escolher o homem
com quem se casará, independente de título ou da riqueza…
Desde que eu veja que o escolhido a ama e que a protegerá
tanto quanto eu. Não aceitarei nenhum caça-dotes, ou
alguém que não a respeite. Quero que seja feliz Phillipa e se
casar com um homem sem título a fará feliz, então terá
minha benção.

Phillipa olhava para seu irmão maravilhada. Não poderia


olhá-lo de outra forma. Ele era maravilhoso. Seus olhos se
encheram de lágrimas. Ela seria feliz com Henry, já o era.
Queria dizer a ele, mas era melhor que Henry o fizesse. Mas
ali estava a resposta que ele diria sim ao pedido de seu amor
quando o fizesse. Estava tão orgulhosa do homem que seu
irmão tinha se tornado que não pode conter as lágrimas.
‒ Você mudou. – Foi o que saiu de sua boca enquanto
lágrimas caíam de seus olhos. ‒

Obrigada, Phillip. Eu te amo!

‒ Você também mudou, Lipa. – Ele disse a segurando


apertado. ‒ E eu também te amo.

Quando finalmente o soltou, Phillipa olhou para o irmão,


séria. Ele merecia ser feliz e desejou do fundo do coração
para que ele fosse feliz em seu casamento. O Duque parecia
mais determinado e era evidente que estava apaixonado.
Aquela era uma versão melhorada de seu irmão. E ela se
orgulhava demais dele.

‒ Eu estou orgulhosa do homem que se tornou e da mulher


que escolheu. Acredito que você precisava de Charlotte para
ter de volta o controle de sua vida. Toda a coragem e a força
dela em ir atrás do que queria fizeram você perceber que
também precisava ser assim às vezes.

Você precisava dela e ela precisava de você também, para


se sentir cuidada e protegida. Pelo que me contou, a
Madame vem cuidando de si mesma por um bom tempo.
Fico feliz que, agora, Charlotte tenha você agora para cuidar
dela e a proteger. Sua futura Duquesa não poderia encontrar
um homem melhor em toda Inglaterra, nem mais gentil, ou
mais bondoso. Mas acredito que ela saiba o homem que tem,
caso contrário não teria aceitado casar contigo, afinal a
modista sempre foi atrás do que acreditava, então se ela vai
se casar contigo é porque acredita em vocês dois. Só de
saber tudo que a mulher que ama passou para realizar seu
sonho, me mostra que ela não medirá esforços para ser feliz
e te fazer feliz. Espero um dia ter a força dela. Sua noiva é
uma mulher admirável.
‒ Sim, ela o é. ‒ Foi a resposta do Duque e ela viu seus olhos
marejados, esse era definitivamente um dia muito feliz.

Naquele mesmo dia, Phillipa e sua mãe voltaram para


Arondalle. Antes de entrar na carruagem, a Lady pediu para
um dos criados entregar uma carta a Henry. Ela o tinha
escrito informando para onde estava indo e o motivo da
partida súbita. Esperava que ele pudesse ir vê-la em breve,
uma vez que Arondalle ficava a poucas horas de viagem de
Londres.

Apesar de ter que se distanciar momentaneamente de


Henry, Phillipa estava animada em voltar para o castelo.

Ao chegarem ao seu destino, horas depois, a Duquesa logo


avisou que estava indisposta e que não queria que a
perturbassem, o que intrigou Phillipa. Sua mãe nunca
destrataria os convidados dessa maneira. Ela desconfiaria
que Lady Sophia era Charlotte?

Não importava, eles mereciam que alguém os recebesse e


acomodassem, então Phillipa mesmo o faria. Charlotte e seu
irmão mereciam isso. Charlotte não, Sophie. ‒ Ela se corrigiu
mentalmente, mas sabia que seria difícil não chamá-la pelo
nome de modista.

Ela avisou aos criados das visitas e ordenou que


preparassem quartos no lado leste do castelo, que eram o
mais longe possível do quarto da Duquesa e o mais próximo
dos aposentos do Duque. Seu irmão poderia lhe agradecer
depois.

Apesar do curto tempo que tinham, os criados conseguiram


deixar as acomodações impecáveis para os convidados, a
cozinheira já havia triplicado as porções que serviria no
jantar e ela já tinha separado uma criada para o uso pessoal
de Sophia e um criado para o Duque de Antholl. Esperava
que eles gostassem da estadia.

Quando o Duque chegou com Charlotte e seu pai, Phillipa já


o esperava na porta de entrada para saudá-los. Sua
governanta estaria orgulhosa dela, não teria do que reclamar
. Ou melhor, com certeza, arrumaria algum defeito para
poder criticá-la.

‒ Que bom que chegou, irmão. Mamãe pede desculpas, mas


não se sente bem para recepcioná-lo. – Phillipa o
recepcionou com alegria assim que eles desceram da
carruagem.

‒ Tudo bem. Venha. Deixe-me lhe apresentar o Duque de


Antholl, Lord Edmund MacKyle Murray e sua filha Lady
Sophia. – Phillip disse educado e Phillipa fez uma elegante
mesura ao ser apresentada.

O Duque possuía os mesmos cabelos avermelhados de sua


filha, mas que agora com a velhice perdiam a intensidade do
vermelho e destoavam para um loiro alaranjado, além do
cabelo, eles possuíam o mesmo nariz arrebitado e os olhos
expressivos e verdes. A semelhança entre eles deixava claro
que se tratava de pai e filha.

‒ Vossa Graça, é uma honra conhecê-lo. Espero que a


viagem não tenha sido cansativa em demasia.

‒ Um pouco, devo admitir, mas nada que me tire a alegria


de ter vindo. – O Duque foi educado e deu um sorriso sincero
para ela, e Phillipa soube que o tinha conquistado.

Phillipa deu mais um de seus sorrisos e se virou para Sophie


e lhe tomou as mãos nas suas.
Queria que a amiga entendesse que ela estava feliz por tê-la
na família.

‒ Fiquei tão feliz quando soube que ia se casar com meu


irmão. Sabe que sempre torci por isso! Espero que agora que
vamos ser irmãs, possamos ficar mais próximas, sempre
gostei de Charlotte e não vai ser diferente de Sophie.

‒ Obrigada, Phillipa. – A modista lhe sorriu agradecida.

‒ Vamos entrar, mandei que preparassem os quartos para


que pudessem descansar um pouco antes do jantar. ‒
Phillipa os conduziu para dentro e suspirou aliviada por não
terem se ofendido com a ausência da Duquesa.

‒ Obrigado. ‒ Phillip sussurrou ao passar por Phillipa e essa


se encheu de orgulho, tinha feito um ótimo trabalho como
anfitriã.

CAPÍTULO 19 - PROBLEMAS

Henry tinha recebido a carta dela avisando que iria para


Arondalle. Sua vontade era partir imediatamente para lá,
mas antes de pedir a mão de Phillipa ao Duque, havia
alguém a quem queria comunicar a notícia, além disso
queria comprar um anel para ela. Por isso, escreveu
avisando que teria alguns problemas para resolver e logo em
seguida, se juntaria a ela.
Decidiu primeiro resolver a questão do anel, mas era
péssimo nessas coisas. O que Phillipa gostaria de ganhar?
Um cheio de diamantes e um enorme rubi, ou algo mais
simples?

Nunca imaginou que comprar um anel de noivado fosse tão


complicado.

Estava na joalheria do Sr. Vries, que lhe mostrava


pacientemente os anéis e joias de mais alta qualidade, mas
quanto mais variedades ele tinha, mais indeciso ficava.

‒ Se meus olhos fossem azuis, eu adoraria esse. ‒ Ele ouviu


uma voz conhecida dizer.

Henry virou o rosto na direção de Lady Clara de Catterfield,


mas essa não o fitava e sim ao anel que tinha em mãos.

‒ Esse é um topázio azul, senhorita. ‒ O Sr. Vries informou


com um sorriso.

Clara tinha em mãos um anel delicado com uma gema


exatamente da cor dos olhos de Phillipa. A Lady colocou de
volta na bancada e pegou um que tinha um diamante.

‒ Mas como meus olhos são cinza, só me resta um diamante


com uma armação de prata, mas não vim aqui comprar
anéis de noivado, até porque não cabe a mim comprá-los.
Você tem algo pra mim hoje, Sr. Vries? ‒ Ela sorriu para o
joalheiro como se estivessem apenas os dois.

‒ Sim senhorita, tenho dois anéis e algumas abotoaduras


que adorará. Assim que terminar com esse cavalheiro, eu irei
buscá-los. ‒ O homem olhou para Henry. ‒ O senhor já se
decidiu?
‒ Sim, vou levar aquele que a dama segurava. ‒ Ele sorriu
para o homem que assentiu com a cabeça e após lhe indicar
o tamanho que queria, este sumiu por uma porta para pegar
o anel de tamanho correto.

‒ Obrigado por isso. ‒ Ele agradeceu a Lady.

‒ Não há de quê. Onde conseguiu o anel para servir de


modelo? ‒ Ela perguntou curiosa, pois tinha visto um igual
nos dedos de Josefine.

‒ Josefine me emprestou, era o mais próximo do tamanho de


Phillipa que eu consegui. Eu me esqueci de pegar um anel
com ela antes que partisse. ‒ respondeu com um meio
sorriso.

‒ Ah sim, bem que o achei parecido com o de Jo. ‒ Lady


Clara comentou. ‒ Fico feliz que vá se casar com ela.

‒ Eu também. ‒ Henry sorriu como fazia toda vez que


pensava em Phillipa.

Clara iria falar mais alguma coisa, mas foi impedida com a
volta do Sr. Vries. Então passaram a agir como dois
desconhecidos novamente e Henry saiu dali satisfeito
consigo mesmo.

Alguns dias depois da compra, Henry já tinha deixado tudo


organizado para os dias que passaria em Arondalle. Não teria
problemas deixar o Rogue’s por alguns dias com o Dmitri.

Confiava nele para manter o lugar em perfeito


funcionamento. Agora só faltava ir ver sua mãe e lhe contar
sobre o seu noivado com Phillipa antes que qualquer outra
pessoa o fizesse.
Naquela mesma manhã, Henry mandou selarem seu cavalo,
iria cavalgando até a casa de campo. O dia estava lindo e
não seria mais rápido se fosse de carruagem.

― Você está indo ver a Sra. Willians? ― Bruno perguntou


assim que viu Henry montar.

― Sim. ― Henry respondeu curioso com o interesse do


homem.

Bruno era um de seus porteiros e segurança mais antigo. Ele


era um jovem alto, mas esguio e sempre tinha um sorriso
brincalhão no rosto. Ele tinha trabalhado no cais com Henry,
e sempre foi alvo de chacota por sua magreza excessiva.
Henry o havia contratado quando ele apareceu na sua porta
pedindo emprego e desde então trabalhavam juntos, e
graças ao generoso salário que recebia, Bruno tinha
conseguido se alimentar e descansar melhor e sua
constituição física não era tão cadavérica quanto
antigamente.

― Se importa de levar algumas coisas para a Sarah? Eu


prometi que mandaria alguns brinquedos para a Gigi. ―
Bruno pediu e Henry olhou divertido para o amigo.

Sempre tinha percebido que Bruno e Sarah se davam muito


bem, mas nunca pensara que pudesse haver algo concreto
entre eles.

― Porque não vem comigo e entrega você mesmo? Sarah vai


gostar de ver você.

Bruno fechou o semblante ao ver a insinuação no olhar de


Henry.

― Não é o que está pensando. ― murmurou irritado.


― Eu não estou pensando em nada…

― Sei… ― O homem o perscrutou e quando viu que não


adiantava fazer careta para Henry, ele revirou os olhos.

― O Smith sempre mantém um cavalo pronto, vá buscá-lo.


― Henry ordenou ao ver que Bruno não iria sem uma ordem
direta. ― Você vai me acompanhar.

Depois de conseguir a montaria, Henry e Bruno partiram a


galope para a casa da Sra.

Willians.

Levaram algumas horas para chegarem lá, mas assim que


estavam lá, souberam que alguma coisa estava errada.

― Aquela é a Gigi? ― Henry perguntou apontando uma


pequena mancha correndo para longe da casa, que logo se
confirmou ser a filha da Sarah quando essa chegou mais
perto. A criança estava correndo na direção da cidade.

― Gigi! ― Bruno gritou, chamando a menina e fazendo com


que ela reconhecesse os dois.

― Tio Bruno! Tio Bruno! Ele pegou a Mamãe. Ele vai matar
minha mamãe! ― Ela chorava enquanto corria na direção
dos cavalos.

Bruno rapidamente apeou seu cavalo e correu na direção da


criança, amparando-a nos braços. Henry, por sua vez,
instigou sua montaria a acelerar na direção da casa. Já
conseguia até imaginar quem era ele a quem Gigi se referia.

Devia ter imaginado que o bastardo não deixaria Sarah em


paz.
Assim que parou na porta da casa de sua mãe, Henry desceu
antes mesmo do cavalo parar completamente. Ele conseguia
escutar os gritos vindos de dentro da casa, não parou para
pensar, apenas irrompeu pela porta sem se importar em
planejar nada. Precisava ver se sua mãe estava

bem.

Ao entrar na casa, Henry se deparou com a cena que fez seu


sangue ferver em fúria. Sua mãe estava caída em um canto
desacordada. Henry correu para onde a Sra. Willians estava
e quando constatou que ela ainda respirava, ficou aliviado. A
mulher acordou ao sentir o toque de Henry.

― Eu estou bem. Ajude a Sarah, ela está na cozinha. ― a


mãe de Henry pediu. ― Tem um homem armado lá.

Acenou com a cabeça. Henry seguiu silenciosamente para a


cozinha. Não queria revelar que estava ali. A surpresa seria
seu trunfo. Ele seguiu pela porta lateral e conseguiu ver a
cena que se desdobrava na cozinha. Sarah estava caída no
chão repleta de machucados e segurava a perna de Ivan, o
tal bastardo, tentando impedi-lo de se aproximar do filho que
segurava uma faca e olhava furioso para o pai.

― Ivan, não precisa fazer isso. Você já me tem, deixe ele ir


embora. É isso que quer, não?

Ele é só uma criança… ― Sarah implorou com lágrimas nos


olhos.

― Cale a boca, sua puta. ― Ivan desferiu um violento tapa


no rosto da mulher. ― Não vê que esse pentelho está me
desafiando? Alguém precisa ensinar ele a ficar no seu lugar.

Sarah começou a chorar diante daquelas palavras. E quando


Ivan deu mais um passo na direção do garoto, Henry o
interceptou. Não poderia avaliar a situação num momento
como aquele, que necessitava de intervenção imediata.

Aquele covarde pagaria caro pelo que estava fazendo com


Sarah. Nenhum ser humano que usava a força contra uma
mulher ou uma criança merecia ser chamado de homem. Era
um demônio covarde.

Sarah gemeu ao tentar se levantar. Tinha passado todo


aquele tormento para proteger os filhos e, quando
finalmente pensou que tinha se livrado do seu marido,
descobriu que apenas tinha piorado tudo.

― Quem é você? ― Ivan perguntou, segurando Sarah pelos


cabelos e retirando uma pistola de suas roupas, que a
apontou para Henry.

― Eu sinto muito, sua mãe… ― Sarah soluçou ao ver Henry.

― Está viva. ― Henry a acalmou ao perceber que a mulher


pensava que sua mãe tinha morrido.

― Tire meu filho… Ah! ― ela gemeu de dor quando Ivan lhe
puxou os cabelos, impedindo-lhe de concluir a frase.

― Solte-a. ― Henry ordenou se colocando na frente do


menino. ― Oliver, vá para a sala e veja como minha mãe
está.

― Eu dou as ordens aqui! ― Ivan anunciou apontando a


arma para Oliver. ― O pentelho não vai a lugar algum. Se ele
der um passo, eu o mato.

― Não o machuque. ― Sarah voltou a implorar.

― Você não quer que eu o machuque? Então não devia ter


fugido de mim. Se não tivesse me deixado, estaríamos em
casa e eu não teria que fazer nada disso. Foi culpa sua.
Espero que esteja feliz com o que me fez fazer. Olhe no que
me tornou. Isso é culpa sua, tudo é culpa sua.

― Você tem cinco segundos para soltar a Sarah e quem sabe


sairá daqui vivo… Direto para a cadeia, mas vivo. ― Henry
alertou olhando furioso para o homem a sua frente e
chamando a atenção dele para si.

― Quero ver você tentar, seu bastardo. Antes mesmo que


tente alguma coisa, eu mato essa puta. ― Ivan respondeu.
― E depois mato você e o moleque.

― Você não vai fazer nada disso. ― Bruno avisou encostando


o cano de sua pistola na nuca de Ivan. ― Antes que sequer
pense em machucar Sarah, eu estouro seus miolos.

Ao ouvir a voz e sentir o frio do cano na nuca, Ivan se


assustou e se virou bruscamente o corpo. O susto o fez
disparar a arma sem querer e, por reflexo, Bruno atirou
também.

Sarah correu para Henry quando esse se jogou em cima de


Oliver para protegê-lo da bala disparada por Ivan. A bala
tinha passado raspando nos dois, mas não acertou nenhum
deles.

O único que tinha perdido a vida naquele momento tinha


sido Ivan, que agora jazia no chão com um buraco de bala na
cabeça.

O dia do casamento tinha chegado e Phillipa estava


ajudando a noiva de seu irmão a se arrumar. Sophia estava
nervosa, seu vestido de noiva ainda não tinha chegado e ela
estava a cada segundo mais desesperada. Phillipa nunca
tinha visto a modista tão agitada e nervosa.

Mas o desespero de Sophia não durou muito, pois logo seu


vestido chegou e ela pode se acalmar. Phillipa deixou a noiva
com as amigas, as meninas do atelier, e seguiu para uma
janela.

Precisava respirar um pouco de ar puro. Estava muito


aborrecida por causa de Henry. Ele não tinha mais lhe
enviado nenhuma carta depois da que se declarava e
ninguém tinha lhe dado notícias sobre ele. Quando o Lorde
aparecesse, teria muito que se explicar.

Chegou a hora do casamento, Phillipa e Brigitte entraram


segurando a cauda do vestido de Sophia, e na metade do
caminho Phillipa o viu. Ele lhe sorria lindamente e
completamente impecável.

Phillipa semicerrou os olhos para ele e por mais que tivesse


aliviada por ele ter aparecido e parecer bem, não lhe
correspondeu o sorriso. Se ele pensava que poderia
abandoná-la por um mês e ficar por isso mesmo, estava
muito enganado.

A Lady então se fixou na cerimônia e mal olhou para o


Henry, mesmo que sua vontade fosse exatamente o
contrário do que se obrigava a fazer. E quando a cerimônia
chegou ao fim e todos foram convidados para a recepção no
castelo, finalmente se permitiu olhar para Henry, que lhe
sorria como se soubesse exatamente como ela agiria.

Quando ele se aproximou, Phillipa tentou manter a voz


neutra.
— Fico feliz que tenha decidido aparecer, Sr. Willians. — ela
alfinetou não se contendo e lhe cumprimentou com um leve
movimento de cabeça.

— Eu não poderia deixar de comparecer, afinal sou um dos


padrinhos. — respondeu lhe tomando uma de suas mãos
enluvadas e a levando aos próprios lábios. — E eu estava
com

saudades.

Phillipa sentiu um arrepio percorrer sua coluna com aquele


gesto e percebeu que ele estava jogando sujo ao fazer
círculos com o polegar no dorso de sua mão. Ela a retirou
bruscamente, antes que se esquecesse que devia estar com
raiva dele e o olhou atentamente.

Ele sorria compreensivo e ainda a olhava com carinho. Tinha


ainda manchas escuras embaixo dos olhos, que poderiam
ser apenas o resultado de noites sem dormir, e sua barba
estava maior do que se lembrava. Ela olhou melhor e
percebeu que ele parecia mais cansado que o normal.

— Você está bem?— perguntou preocupada, esquecendo-se


que deveria estar chateada por ele não ter lhe dado notícias
suas.

— Estou sim, tive um problema com o marido de Sarah, mas


já se resolveu. — Henry explicou sabendo que aquilo
amansaria a fúria por causa de sua ausência e Phillipa
imediatamente passou de irritada para preocupada, como
ele esperava.

— Como assim? O que aconteceu?

— Não foi nada demais. Não precisa se preocupar em vão. Já


está tudo resolvido.
—Não preciso me preocupar? Você não me deu nenhuma
notícia durante esse tempo todo e quer que eu não me
preocupe? — Phillipa ralhou com ele. Não gostava de não
saber das coisas.

Durante esses dias que não teve nenhuma notícia dele,


xingou-o de todos os impropérios que conhecia e tinha
mandado ele ao inferno, inúmeras vezes. Se soubesse o que
tinha acontecido, procuraria um modo de ajudar.

― Tudo se resolveu bem, por isso não lhe contei nada, não
havia necessidade de lhe preocupar.

— Eu não gosto de ficar no escuro, Henry, não quero


segredos entre a gente! —ela falou alto de mais e algumas
pessoas se viraram para olhá-los, inclusive sua mãe, que
semicerrou os olhos assim que os viu juntos.

Phillipa se afastou um pouco de Henry, ao perceber que


estava perto de mais dele e aquilo seria considerado
indecoroso.

— O que acha de irmos para um lugar mais privado? —


sugeriu não gostando da atenção que estava sobre eles. —
Me encontre em alguns minutos no labirinto.

Henry fez uma reverência e se retirou.

Phillipa passeou um pouco pelo salão, conversou com alguns


convidados, e usando o caminho mais longo, entrou pelo
lado contrário do labirinto, pois sabia que Henry tinha usado
o da frente e não queria levantar nenhuma suspeita,
principalmente de sua mãe.

Encontrou-o no centro do labirinto. Ele estava de pé, olhando


para o céu, quando ela se aproximou.
— Henry.— Phillipa chamou quase em um sussurro.

O homem se voltou para ela e lhe deu um sorriso, para logo


diminuir a distância entre eles e a tomar nos braços. Tinha
sentido saudade de tê-la junto a si e por isso, pediu que ela
fosse até o labirinto. Queria beijá-la, provar cada canto de
sua boca. Fazia um mês que a desejava sem poder

tê-la.

— Senti tanto a sua falta. — Henry sussurrou nos lábios da


Lady entre um beijo e outro . —

Ah, e como senti!

Phillipa se deixou levar pelo calor daquele ato. Ela também


tinha sentido falta daquilo.

Por isso, ela jogou os braços ao redor do pescoço de Henry e


o puxou ainda mais para si.

— O que pensam que estão fazendo? — Uma voz, ultrajada e


furiosa, soou atrás deles.

A Duquesa os olhava furiosa e Phillipa sentiu o sangue gelar


e empalideceu, temendo o que estava por vir.

— Como você ousa entrar na minha casa e desonrar minha


filha dessa forma? — Lady Catherine inquiriu tentando conter
a raiva. — Eu devia ter percebido, mas estava tão
preocupada que aquela mulher entrasse na minha família,
que não percebi que alguém pior que ela já estava inserido.

— Mamãe, por favor… — Phillipa tentou falar, mas foi


interrompida.

—Cale-se! Eu jamais esperava isso de você, Phillipa! Que


vergonha! Uma decepção ainda maior que a do seu irmão:
minha filha agindo como uma prostituta… Eu não a criei para
você acabar como uma meretriz qualquer. Como pôde deixar
esse bastardo lhe desonrar desse jeito?

— Milady, eu entendo suas preocupações, mas eu pretendo


me casar com ela. Eu a amo.

— Se casar com ela? — a Duquesa gargalhou alto. — Nunca


se casará com ela. Se realmente a amasse, já teria ido
embora e não a teria desonrado, deixaria que ela fosse livre
para se casar com alguém que a merecesse.

— Mamãe, a senhora não… — Phillipa tentou falar


novamente e novamente foi impedida.

— Não se atreva a falar comigo, você foi longe demais para


querer ter algum direito. — a Duquesa a recriminou. —
Quanto a você, Henry, deveria nunca ter voltado de onde
quer que estivesse. A nossa família estava muito bem sem
suas aparições indesejadas. Mas não, tinha que voltar para
corromper a minha pobre e inocente Phillipa.

— Eu lhe garanto Duquesa, as minhas intenções para com


Phillipa são as mais honrosas. E

eu irei me casar com ela, quer a senhora aceite, quer não. —


Henry declarou com as mãos em punhos, odiava ser tratado
daquela forma e não permitiria ser humilhado, de novo.

— Você não tem nenhuma honra, não passa de um bastardo


imundo sem nada a oferecer a Phillipa. Saia de minha casa
imediatamente. — Lady Catherine vociferou.

— Não, mamãe! — Phillipa ergueu a voz se impondo, estava


furiosa. — Se o expulsar eu irei com ele.
— Você não ousaria… — A Duquesa semicerrou os olhos em
desafio.

— Eu o amo, independente do que a senhora diga ou pense,


e me casarei com ele.

A Duquesa a olhou furiosa e Phillipa manteve o olhar


decidido.

— Se quer estragar seu futuro, case-se com ele, mas se for


por esse caminho saiba que não a considerarei mais minha
filha. Para mim, terá morrido. — A Duquesa lhe eu um
ultimato.

Phillipa sentiu seu coração se partir de tristeza, não porque


não soubesse qual decisão tomaria —quanto a isso, ela
nunca teve tanta certeza em sua vida —, e sim porque não
queria que

aquilo estivesse acontecendo. Então se virou e abraçou


Henry com força enquanto sua mãe deixava o labirinto com
o rosto inexpressivo.

Phillipa olhou para o lugar onde sua mãe estivera e suspirou


entristecida.

— Eu sinto muito. — Henry tentou acalentá-la. — É culpa


minha. Se você quiser desistir de nós, eu compreenderei.

— Não, não vou desistir. Como pode me sugerir algo assim?


— Phillipa se irritou. —

Você está desistindo de mim, é isso?

— Claro que não, meu amor, mas sua família é importante


para você. — Henry segurou o rosto dela delicadamente. — E
eu me odeio por tirar isso de você. Daria tudo para ser um
nobre nesse momento, porque, pelo menos, você não
passaria por isso, sua mãe ficaria feliz pelo seu casamento
com um homem que ela aprovasse e você não teria que
perdê-la.

— Eu não o iria querer se fosse nobre. — ela conseguiu dar


meio sorriso. — Nobres são arrogantes e tolos.

— Seu irmão é um nobre. — Henry comentou segurando o


sorriso.

— Ele é uma exceção à regra. — a jovem debochou.

― Dorset…

― Outra exceção.

― Winchester…

― Esse é quase uma exceção.

― Sempre admirei sua inteligência. ― Henry riu.

Eles ficaram algum tempo em um silêncio cômodo.

— Vamos voltar antes que percebam nossa ausência. —


Phillipa pediu.

— Você está bem o suficiente para voltar? — o homem


perguntou evidentemente preocupado.

— Não, mas temos que voltar mesmo assim. — Phillipa se


ergueu para lhe beijar os lábios suavemente. — Eu vou ficar
bem, não precisa se preocupar.

— Vá primeiro e fique próxima de seu irmão, esperarei um


pouco antes de entrar para que não pensem que estávamos
juntos. — Henry pediu e ela saiu pelo mesmo lugar que tinha
entrado.
Ele ficou pensativo. Não tinha nada que pudesse fazer para
que a mãe de Phillipa gostasse dele. Ela sempre
compartilhou o ódio que Lady Warrex, a esposa do pai de
Henry, tinha para com o filho bastardo. Mesmo quando era
apenas uma criança, Lady Norfall sempre o desprezara.

Todos sempre o desprezaram pelo seu nascimento.

Aquilo sempre o incomodou. Que culpa ele tinha por ter


nascido fora de um casamento?

Henry não tinha escolhido vir ao mundo naquelas


circunstâncias, entretanto, todos o julgavam como se o erro
fosse dele.

Apesar da raiva que sentia, não abandonaria a festa. Phillipa


precisaria dele por causa de sua mãe, não poderia deixá-la
enfrentar a Duquesa-Viúva sozinha. Henry saiu do labirinto e
voltou para o castelo.

Nenhum dos convidados pareceu perceber a ausência deles


e Phillipa suspirou aliviada por isso. Ela observou Henry
adentrar o salão e se dirigir ao local onde o Conde de Dorset
estava. Se ele ficasse entre as pessoas que ela conhecia,
então Phillipa poderia estar entre eles sem levantar
suspeitas.

Então com um sorriso, ela se aproximou de Daniel e de sua


família, que ela estimava muito.

A noite chegou e com ela, o baile. Phillipa e Henry dançaram


a valsa. Apesar de não estarem tão felizes por causa dos
acontecimentos recentes, eles não deixaram de aproveitar
os momentos que passavam juntos.

— Assim que as festas encerrarem, eu pretendo pedir sua


mão ao seu irmão. — Henry confidenciou em um sussurro no
ouvido de Phillipa. — Espero que ele não se oponha.

— Ele aceitará. — A jovem sorriu. — Conversei com ele e


Phill disse que não se importa com títulos.

— Temo que ele possa não me achar adequado para ser seu
marido. Não quererá vê-la envolvida nas coisas do Clube. —
Henry expôs um pouco aflito.

— Ele não terá escolha a não ser aceitar. — Phillipa garantiu


com um sorriso confiante.

Voltaram a dançar em silêncio. Os braços de Henry eram


fortes e ao mesmo tempo a conduziam com tanta delicadeza
que era até surpreendente. Henry era um homem grande,
em todos os aspectos, como ela já tinha confirmado, e muito
belo. Além de tudo era um homem de bom coração, gentil,
cuidadoso e carinhoso.

Não tinha como não se apaixonar por ele.

— Pare de olhar para mim assim. — pediu baixinho. — Ou


não vou me conter e a beijarei aqui mesmo.

Phillipa sorriu com aquilo e desejou poder abraçá-lo e beijá-


lo naquele momento. Mas guardou o desejo para mais tarde.
Ela daria um jeito de dar em Henry todos os beijos que tinha
acumulado durante o mês.

Quando a valsa acabou, o Duque convidou a todos para


brindarem a sua esposa. Os criados passaram por todos os
convidados distribuindo as taças de vinho e Henry e Phillipa
pegaram as suas e as ergueram assim como todo mundo.

Os dois trocaram olhares apaixonados enquanto brindavam


e bebiam de suas taças e então, o barulho de uma taça
caindo no chão, seguido do assombro dos convidados, fê-los
olhar na direção do som.

Phillip jazia no chão e Sophia gritava desesperada.

Imediatamente, Henry, Daniel, Gabriel e James, correram ao


encontro de Phillip para saber o que ele tinha.

— Winchester, vá procurar um médico. — Henry ordenou,


comandando a situação. —

Quanto a nós, levemos ele para o quarto.

Apesar de ser Henry a dar as ordens, ninguém ignorou o que


ele disse, muito pelo contrário seguiram-no sem pestanejar.

Levaram Phillip para o quarto e o colocaram na cama. Sophia


começou a retirar o excesso de roupa que se marido vestia
para facilitar a respiração e o exame médico quando esse
chegasse.

‒ O que ele tem? – A Duquesa-Viúva perguntou aflita ao ficar


ao lado do filho na cama.

Phillipa tinha entrado no quarto, trazia consigo a taça que


seu irmão tinha bebido e mostrou a Henry.

A aparência e o cheiro eram de vinho, mas só podia conter


algum veneno para causar aquela reação no Duque.

‒ Ele foi envenenado, mamãe. – Phillipa respondeu a mãe,


esquecendo-se dos problemas de mais cedo.

‒ Isso eu sei, mas qual o veneno, e por que ele foi


envenenado? – a Duquesa replicou segurando a mão de seu
filho e sem tirar os olhos dele.
‒ Teremos que esperar o médico chegar para sabermos que
tipo de veneno foi, se ele ainda estiver… ‒ Phillipa não
conseguiu completar a frase, mas todos ali no cômodo
entenderam a palavra omitida: Vivo, se ele ainda estiver
vivo.

‒ Ele ainda está respirando, com muita dificuldade, mas


ainda respira. ‒ Sophie disse com uma determinação
ferrenha ‒ Ele vai sobreviver!

Então a esposa do Duque partiu para a ação. Ela comandou


os criados para que trouxessem alguns materiais e raspou
carvão de algumas lenhas na lareira e em seguida fez Phillip
beber.

Quando o Winchester chegou com o médico, esse examinou


o Duque e deu a notícia de que tinha chances de Phillip
sobreviver, aquilo tirou um peso das costas de todos.

— Deixem o Duque descansar. — o médico havia pedido. —


E qualquer sinal de piora, me chamem imediatamente.

Assim os homens saíram do quarto, agora que a recuperação


do Duque só dependia dele mesmo e dos cuidados de
Sophia, eles se focaram no segundo problema.

— Quem pode ter feito isso? — Dorset perguntou. — E por


quê?

— Seu pai não me parecia muito feliz com a ideia do


casamento. — O Conde apontou para James. — Mas acredito
que ele não tenha motivos para machucar Phillip.

— Lorde Antholl nunca faria algo tão baixo e ele foi embora
antes mesmo do baile começar, ficou apenas para parte dos
festejos, pois tinha muitas coisas para fazer em Antholl.
Além do mais, essa era a taça que a minha irmã tomaria. —
James apontou para a taça que Henry tinha em mãos e
acrescentou furioso. — Acredito que o veneno era para ela.
Edmund jamais machucaria a própria filha, ainda mais sendo
ela a única herdeira, mas isso me lembra outra pessoa que
teria motivos para isso: Madame Rosanna.

— É por isso que mulher não presta em negócios, não sabem


ter espírito esportivo, apelam logo para os venenos… — o
Marquês debochou.

— Acredito que o motivo dela vá além da rivalidade entre


concorrentes. Sophia já trabalhou para Rosanna e eu a tirei
das garras daquela mulher. Ela deve ter ódio de minha irmã
porque suas clientes acabaram por seguir Sophia.

— Isso me parece um motivo para lá de suficiente. —


Winchester comentou. — Então o que faremos, porque se eu
estivesse na pele dela, com certeza, já estaria bem longe
daqui.

— Eu vou ver o que consigo descobrir, tanto sobre o veneno


quanto sobre a modista, ficarei de olho nela. — Henry
avisou. — Acho melhor alguém ficar por aqui, porque pode
ser que em vez de fugir, a intenção dela seja terminar o
serviço.

— Eu ficarei — James se dispôs. — O alvo era minha irmã.

Enquanto conversavam, Henry percebeu Phillipa sair do


quarto e ir apressadamente para a sala de música.
Preocupado com ela, Henry foi ao seu encontro.
CAPÍTULO 20 – ESPERANÇAS

Phillipa estava preocupada e temia pela vida de seu irmão.


Não sabia o que fazer ali, ver seu irmão tão pálido e
vulnerável a deixou com um mal estar. E não querendo
continuar a ver o irmão naquele estado, ela se retirou do
quarto dele.

A jovem entrou na sala de música, foi o primeiro lugar vazio


que encontrou e se permitiu chorar. Estava tão envolvida
pelas lágrimas que não percebeu quando Henry entrou na
sala, apenas deu-se conta de sua presença quando ele a
abraçou e permitiu que ela chorasse tudo em seu peito.

— Eu não quero que ele morra… — Phillipa conseguiu dizer


entre soluços. — Ele não pode morrer, Henry.

— Ele não vai. — Henry garantiu. — Seu irmão é um homem


forte, ele vai ficar bem. É

preciso mais que um mísero veneno para acabar com a vida


dele. E… Ele ainda não me deu o soco por desonrar você,
então ele ainda não completou a missão dele aqui.
— Ele não vai te bater. — Phillipa riu entre as lágrimas. —
Bom… Talvez ele bata um pouco, mas ele não precisa saber
que fizemos certas coisas.

Eles permaneceram abraçados por um tempo e fizeram uma


prece silenciosa pela recuperação do Duque.

— Eu preciso voltar para Londres. — Henry informou para o


desgosto de Phillipa.

— Queria que ficasse aqui comigo. — ela murmurou triste. —


Se alguma coisa acontecer, eu não terei mais ninguém a não
ser você. Por favor, não vá.

Diante daquilo Henry não conseguiu argumentar. A briga


mais cedo tinha feito Phillipa escolher a ele, mas com o
Duque correndo risco de morte, não sabia dizer se a
Duquesa-viúva voltaria atrás ou não com sua palavra de não
considerar Phillipa sua filha.

— Tudo bem. — Henry concedeu. — Pedirei que Winchester


vá a Londres.

— Obrigada. — Phillipa o apertou ainda mais em seu abraço


e enterrou o rosto em seu peito sentindo a proteção que os
braços dele lhe ofereciam.

Henry ficou em um dos quartos de hóspedes, assim como


James. Daniel, o Conde de Dorset, e sua família também
permaneceram em Arondalle até a recuperação do Duque.

No segundo dia, para o espanto de todos, a Duquesa-viúva


partiu para Londres. Não disse o motivo da partida, nem se
voltaria. Henry nunca a tinha visto tão silenciosa, mas com
Phillip entre a vida e a morte, ela não tinha direcionado
nenhuma palavra para ele ou a Phillipa. Para a mulher, era
como se eles nem estivessem lá.
No segundo dia depois do envenenamento, a alguns
quilômetros de Arondalle, mais

especificamente em Londres, Winchester recebeu a visita de


um dos informantes que Henry tinha lhe indicado para ficar
de olho em Madame Rosanna.

O rapazote estava alvoroçado, pois naquela manhã,


percebera que a Madame tinha finalmente aparecido no seu
atelier. E agora lhe dizia que uma outra carruagem tinha
parado em frente à casa.

Winchester não podia permitir que a Madame, fugisse por


isso foi imediatamente ao local, a tempo de ver a Duquesa-
Viúva de Norfall sair do atelier, sozinha, e entrar na
carruagem da família, para logo em seguida, afastar-se da
casa de Madame Rosanna. Aquela visita era tão inesperada
quanto suspeita. Winchester ficou apreensivo, o que diabos a
matriarca dos Norfall foi fazer ali?

O segundo informante que tinha observado os movimentos


da casa lhe afirmou que a Madame Rosanna não saiu em
nenhum momento da casa, portanto, tinha que estar lá
dentro.

Com certeza, a modista tentaria fugir aquela noite e ele não


permitiria. Passou a noite toda vigiando e nenhum sinal de
fuga.

Um grito o despertou, devia ter dormido em pé e nem


percebera. Uma das criadas gritava da casa completamente
histérica e pedia por ajuda. Winchester correu para lá. Por
um lado, queria saber o que tinha acontecido e por outro,
ajudar a pobre mulher que gritava descontroladamente.

Ao adentrar a sala, o homem se deparou com Madame


Rosanna no chão com um frasco purpura na mão: ela se
envenera.

Na manhã do quinto dia, Phillipa acordou com um homem


em seu quarto.

— Phillipa, acorde… — Henry lhe sussurrava carinhosamente


enquanto a despertava.

— Só mais um pouco… — Ela se cobriu com um lençol.

— É sobre seu irmão. — ele informou e rapidamente Phillipa


deu um pulo da cama, ficando completamente alerta.

— Ele… Ele… — perguntou assustada.

— Ele acordou. — Henry completou por ela. Viu os olhos dela


brilharem de alegria e ela saltar da cama com pressa.

— Como soube? — Phillipa perguntou enquanto vestia


rapidamente um robe por cima da roupa de dormir.

— Um criado me disse que ontem de noite quando foi ver se


a Duquesa precisava de algo, encontrou Phillip desperto. —
explicou.

— Eu vou vê-lo. — ela avisou enquanto saia correndo do


quarto.

Phillipa bateu à porta apenas por educação, mas sua


vontade era de escancará-la e ver se o irmão estava mesmo
bem.
‒ Phillip! Eu espero que você esteja decente porque eu vou
entrar ai em cinco segundos.

‒ ela gritou do lado de fora do quarto e começou a contar


em voz alta. — Um… Dois… Três…

‒ Não ouse entrar, Phillipa, ou então você não vai ficar sem
comprar vestidos novos por uma década. ‒ Phillip respondeu
lá de dentro rindo e ela se alegrou ao ouvir a voz dele, ainda
que um pouco fraca. Então, abriu a porta sem terminar a
contagem e entrou no quarto.

Phillip estava sentado na cama, com alguns travesseiros


servindo de apoio.

‒ Você devia ter vergonha! Estava acordado desde ontem e


não disse nada! ‒ correu e se jogou nos braços do irmão. ‒
Eu chorei até dormir por sua causa, pensando que você
poderia morrer a qualquer momento e você aqui, já
recuperado.

‒ Desculpe, meu anjo, mas não podia correr o risco de


acordarem Sophie. Ela estava mais morta do que eu. – disse
e recebeu um olhar divertido de sua esposa.

‒ Que bom que está vivo. ‒ Phillipa fungou ainda abraçada a


seu irmão. ‒ O que seria de mim sem você?

E então Phillipa começou a chorar de alegria.

‒ Ah, pelo amor de Deus, não chora! – Phillip implorou. ‒ Eu


já estou bem!

-E-eu n-não po-posso co-contro-lá-lar. – Phillipa falou


soluçando. ‒ E-eu pe-pensei que ia te-te perder. E-eu te a-
amo.
‒ Eu também te amo, mas se não parar de chorar vou te
expulsar daqui com um chute no seu traseiro.

‒ Você n-não fa-faria isso.

‒ Continua chorando que eu te mostro. – ameaçou e Phillipa


se afastou dele tentando engolir o choro.

Phillipa se obrigou a segurar as lágrimas e Sophia não


conseguiu reprimir a risada ao ver a expressão que a jovem
fazia, abruptamente a sua cunhada começou a rir
descontrolada, e logo estavam os três rindo por causa de
Sophie.

A felicidade tinha voltado a ser parte da família.

CAPÍTULO 21 – CASAMENTO

Depois que o Duque se recuperou da tentativa de


envenenamento, Henry e alguns convidados permaneceram
no castelo até que chegou a eles a notícia do suicídio de
Madame Rosanna. A carta tinha vindo através de Winchester
e foi recebida com evidente surpresa por parte de todos com
exceção da Duquesa-Viúva, mãe de Phillip.

Com a ameaça ao Duque agora inexistente, todos partiram


para suas casas. James voltou para a Escócia, Dorset e sua
família retornaram para suas propriedades e Henry retornou
a Londres, mas não sem antes conversar com Phillip.
Ele se lembrou do momento exato, antes de partir do castelo
quando aproveitou para conversar com o Duque a sós.

— O que aconteceu Willians? Está parecendo preocupado. —


Phillip tinha debochado quando Henry entrou em seu
escritório e ficou olhando para ele parecendo atordoado,
então lhe ofereceu um copo com conhaque — Pegue, parece
precisar.

— Phillip, eu gostaria de pedir permissão para desposar


Phillipa. — Henry anunciou após beber um gole de sua
bebida.

— Ah! Eu estava certo! Bem que eu suspeitei que era de


você que ela falava. — Phillip sorriu e em seguida ficou sério.
— Sabe que não tenho nada contra sua pessoa, mas não
gostaria de minha irmã envolvida com o Clube. Está
pensando em aposentar o Lorde?

— Eu até tentei, mas ela não permitiu. — Henry anunciou


com um sorriso amarelo.

— Céus, não me diga que ela descobriu sua identidade? —


Phillip resmungou passando as mãos nos cabelos,
preocupado.

— Não fui eu quem disse, ela somou dois mais dois na


segunda vez que ela foi ao Clube.

— Henry se defendeu. — Ela ouviu um homem dizer…

— Phillipa foi ao clube? — Phillip estava surpreso e furioso. —


Eu vou matar aquela criatura. Ela não tem nenhum pingo de
juízo? — então se virou para Henry — Alguém a viu?

Céus, é claro que não ou teria sido o escândalo do século.


— Não, ninguém a reconheceu, ela usava uma capa e como
estava de noite, não dava pra ver o rosto dela com
facilidade. — Henry assegurou.

— E por que não me disse? Há quanto tempo está


acontecendo algo entre vocês?

— Desde o debute. — Henry respondeu envergonhado.

— Maldição! Eu o mando afastar os pretendentes e você se


torna um. — Phillip bebeu de uma vez o resto da própria
bebida.

Subitamente a porta foi aberta e Phillipa entrou no escritório


de seu irmão.

— Phillip, eu e a mamãe… — Ela parou quando viu Henry. —


Oh. Desculpe, não sabia que estava aqui. Eu vou deixar que
conversem.

— Não, senhorita. Volte aqui, mocinha. Que história é essa


de ter ido a um clube de cavalheiros?

— Você contou a ele? — Phillipa fitou Henry, ultrajada. —


Prometeu que não contaria.

— Juro que foi sem querer. — Henry se defendeu levantando


as mãos em sinal de inocência.

— O que tinha na sua cabeça para ir a um lugar como


aquele? — Phillip chamou a atenção dela.

— Pelo amor de Deus não sou mais criança e é só um clube,


que logo será parte da minha vida também.

— Ir a um clube escondida no meio da noite não é uma


atitude muito adulta. — Phillip alfinetou.
— Para deixar claro, eu usei uma capa para cobrir minha
identidade.

— Eu a reconheci de imediato. — Henry não resistiu em


provocar.

— De que lado está? — Ela fitou Henry, furiosa.

— Não importa. — Phillip a cortou. — Vamos deixar isso para


lá. Henry nos deixe a sós um minuto, por favor.

Henry se retirou e então o Duque fitou a irmã.

— Henry veio pedir para se casar com você. É isso que você
quer? Casar com ele?

— Sim. É o que eu quero. — Phillipa respondeu com um


sorriso apaixonado.

— Você tem certeza? Henry é dono de um Clube, não é


nobre, e bem… É o Henry. Tem certeza que é essa vida que
quer? Sabe que poderia se casar com qualquer nobre.

— Você acha que ele não é bom para mim? Pensei que
gostasse dele! — Phillipa se ofendeu. — Ele é muito melhor
que qualquer nobre que conheci essa temporada. E eu o
amo, Phill.

— Bom nesse caso, só me resta então dar a minha


permissão. A mamãe sabe, não é? Por isso, ela está estranha
com você.

— Ela soube no dia do casamento. Encontrou-nos aos beijos


no labirinto. — Phillipa explicou e percebeu que falara de
mais.

— Ah, inferno! Não quero ouvir essas coisas. Você não devia
nem saber o que é beijo. —
Phillip disse desesperado.

— Vai dizer que não beijou Sophia antes do casamento. —


ela desafiou.

— É diferente. — ele tentou se defender.

— Não é. É a mesma coisa. E ele vai se casar comigo,


então…

— Ah ele vai sim, sorte a dele que já se adiantou em vir aqui


pedir permissão, caso contrário eu teria que atirar nele por
tocar em você.

— Não seja dramático, Phill. — Phillipa debochou.

— Não estou sendo dramático e sim realista. Ele a tocou. Se


não fosse se casar com você, eu o intimaria a um duelo por
sua honra. Mas enfim, tem certeza que quer isso? Sabe que
muitas portas se fecharão para você quando se casar, não
será mais convidada para eventos, bailes, recitais, e nem
será bem-vista na rua por se casar com um homem sem
título.

— Eu sei de tudo isso e estou disposta a me casar com


Henry, tenho certeza de que é isso que eu quero. Nunca me
importei com bailes, recitais e nenhum desses eventos.

— Então acho que só posso lhe desejar felicidades. — Phillip


abraçou a irmã. — Agora dê o fora que eu tenho algumas
coisas a conversar com o Henry. Mande-o entrar.
A primeira coisa que Phillip fez quando Henry entrou foi
acertá-lo com um soco no rosto.

— Isso foi por desonrar minha irmã. — Phillip explicou


quando Henry o olhou confuso. —

E só não bati mais forte porque já vai se casar com ela.

Depois de socado Henry, Phillip se sentou em sua


escrivaninha e juntos marcaram a data do casamento para
dali a um mês. Henry lhe garantiu que cuidaria bem de
Phillipa, mas avisou logo que não teria como mantê-la longe
do Clube e apesar da preocupação de Phillip, ele soube que
nada poderia fazer quanto àquilo.

Phillipa estava ansiosa com a perspectiva do casamento,


mas sua felicidade não era completa. Sua mãe se recusava a
falar com ela e também a ajudá-la nos preparativos. Isso a
machucava mais do que deixava transparecer.

Ao ver a tristeza da cunhada, Sophia tomou sobre si a


responsabilidade de cuidar de Phillipa. Ela fez todo o enxoval
para a jovem e lhe servia de conselheira e amiga. Tinham
ficado mais próximas que nunca.

Lady Clara também se tornou uma presença constante na


vida de Phillipa. Tinham se tornado amigas e faziam tudo
juntas, assim Phillipa descobriu que Clara estava prometida
em casamento ao Marquês e se surpreendeu quando a
amiga pediu que ela não revelasse seu segredo a
Winchester. Phillipa concordou em proteger o segredo.

O dia de seu casamento se aproximava, seria uma cerimônia


exclusiva para a família e amigos próximos, e seria realizado
ali em Londres. Durante o mês de preparativos, Henry a
visitava todo dia lhe levando rosas inicialmente brancas,
com o decorrer dos dias rosadas e por fim, vermelhas. Eles
passavam algumas poucas horas em companhia um do outro
e em seguida Henry voltava para o Clube. Às vezes, ele lhe
roubava um beijo antes de ir embora, mas sempre a tratava
com respeito, o que a frustrava, ela já tinha provado a
tentação e não queria mais resistir a ela.

Por isso uma semana antes do casamento, ela voltou ao


Clube. Estava cansada de ter apenas o respeito dele. Pediu a
Clara a senha, que lhe deu sem pestanejar, afinal, logo
aquela também seria sua casa.

Naquela noite, ela vestiu um vestido de cetim azul escuro


simples e colocou uma capa preta. Esperou que todos
fossem dormir e novamente usou a janela para escapar.

Ao chegar ao Clube, usou a entrada dos empregados e sua


entrada foi liberada após dizer a senha. Ela colocou uma
máscara azul que tinha encontrado junto com alguns
vestidos e seguiu direto para o escritório onde sabia que
Henry devia estar. Passou por Copas, que lhe sorriu

cúmplice, e seguiu para as escadas.

Henry estava sentado atrás de uma mesa, analisando o livro


de aposta, mas assim que ela entrou, ele ergueu a cabeça.
Seus olhos brilharam e um sorriso surgiu, para logo em
seguida franzir o cenho.

— O que faz aqui, não tem juízo, mulher? — perguntou


preocupado.

— Não vamos começar com isso de aqui não ser o meu


lugar. Daqui a uma semana, estaremos casados e não vai se
livrar de mim, já lhe disse isso.

Henry bufou, ela entendeu errado sua preocupação.


— Eu sei. Minha preocupação é mais com você saindo
durante a noite desacompanhada, pode ser perigoso. Não
quero que faça isso novamente, se quiser vir peça e eu irei
lhe buscar.

Sem seu irmão saber, claro. Ele não ficaria muito contente
em saber que veio me encontrar clandestinamente.

— Se eu soubesse que seria tão condescendente, eu teria


lhe falado de minha intenção de vir, mas pensei que ainda
iria se opor. — Phillipa estava surpresa.

— E adiantaria eu me opor? — ele foi sarcástico.

— Não. — Ela lhe sorriu, aproximando-se dele quando Henry


lhe abriu os braços.

Nesse momento, um casal entrou em um dos quartos da


Luxúria e Henry se adiantou para fechar a cortina quando
percebeu quem era. A mulher puxava o homem pela mão
em direção à cama e retirava a máscara e o homem fazia o
mesmo.

Eles tinham um trato, Henry sempre fechava as cortinas


quando era um sócio ou homem de confiança. E aquele
homem não só era de confiança como era um sócio
importante do Clube e o pior, Phillipa o conhecia.

Xingando ferozmente, Henry fechou a cortina, mas não em


tempo suficiente para que Phillipa não visse o Marquês de
Winchester no quarto. E o som surpreso que saiu da boca de
Phillipa confirmou isso.

— Henry, era Winchester ali? — ela perguntou incrédula. —


Mas ele está noivo…

Copas…
— Phillipa, nem todo homem se mantém fiel durante um
compromisso. Mas Winchester ainda não está casado e pelo
que conheço ele vai viver o máximo que puder antes do
casamento.

— Mas a Clara é minha amiga, não merece o que está


fazendo com ela.

— Os homens traem, Phillipa. A maioria deles, pelo menos.

— Você vai me trair, Henry? — perguntou irritada com


aquela desculpa. Em seguida, suspirou desgostosa. — Eu sei
que os maridos tomam amantes, sei que é mais comum do
que deixam transparecer, mas eu odiaria a ideia de te
imaginar com outra mulher.

— Não precisa ter medo que isso aconteça, jamais te trairia,


eu estou me casando por escolha própria, mas Winchester
está sendo forçado a isso, então não podemos julgá-lo se ele
quer estender ao máximo sua vida de solteiro.

— Não justifica o que está fazendo. — Phillipa cruzou os


braços impassível.

— Eu sei, mas não vamos falar deles, quero aproveitar a


noite contigo. — Henry falou

provocativo enquanto a puxava para si e a beijava no


pescoço. — Afinal, não queremos estragar a noite, faz muito
tempo que não posso te tocar dessa forma.

Phillipa sentiu um arrepio lhe eriçar os pelos do corpo


quando ele afundou os dedos em seu cabelo após arrastá-los
suavemente por sua nuca e quando a boca dele tomou a sua
em um beijo faminto, ela não conteve um gemido de
satisfação.
Ele a beijou com voracidade, estivera faminto por aquela
mulher, sua mulher, e mataria a saudade que estava de
possuí-la. Carinhosamente, ele separou suas bocas e se
dirigiu para porta, trancando-a para evitar interrupções.

Quando ele se virou para encará-la, Phillipa o olhava com


tanto desejo que ele se sentiu endurecer instantaneamente.
E quando o olhar dela percorreu o corpo dele parando na
protuberância de sua calça, Henry sorriu se aproximando. Ela
o desejava tanto quanto ele.

Henry a tomou nos braços e voltou a beijá-la com fervor. Os


braços da jovem se apertaram em volta do pescoço dele e
ele a ergueu do chão, segurando em seu traseiro. Andou
com ela até a mesa e a sentou em cima do móvel se
colocando entre suas pernas.

O desejo os consumia e Phillipa mal podia esperar para tê-lo


novamente dentro de si. Já fazia tanto tempo… Ela começou
a despi-lo ávida por sentir a pele macia e quente dele sob
seus dedos. Retirou seu casaco, em seguida, o suspensório,
depois desfez o nó perfeito de sua gravata, retirou o colete e
por fim, desfez os laços de sua camisa, puxando-a por sua
cabeça ao retirá-la de dentro de sua calça.

Seus dedos percorreram o peito nu de Henry, o que elevou


seu desejo. Ele grunhiu ao sentir o toque de Phillipa em seu
corpo. O homem a tocava por cima do tecido e gostou de
saber que ela não usava espartilho, pois sentia sua maciez
através do tecido. Ele procurou os laços do vestido e os
desfez puxando o tecido por seus ombros e prendendo os
braços dela, impedindo assim, seu toque nele ao mesmo
tempo em que libertava seus seios do vestido. Ele os
abocanhou sem cerimônia, sugando e brincando com os
mamilos, Phillipa se arqueou para ele, lhe dando mais acesso
a seu corpo enquanto gemia de prazer.
Henry lhe ergueu as saias retirou suas roupas íntimas a
deixando apenas com as meias de seda. Então arrastou os
dedos pela sensível pele de suas coxas indo em direção à
cavidade úmida no meio de suas pernas. Encontrou-a
molhada e apertada, tão apertada que gemeu ao imaginá-la
apertando sua ereção.

Phillipa já estava pronta para recebê-lo dentro de seu corpo,


por isso suplicou que ele a possuísse.

A necessidade de fazer exatamente o que ela pediu se


tornou insuportável e ele abriu as próprias calças liberando
seu membro rígido.

— Não vou conseguir esperar muito… — disse se


posicionando entre suas pernas e colocando seu membro em
sua entrada.

— Não espere, eu preciso de você.

Ele a penetrou de uma vez, afundando nela até preenchê-la


completamente. O prazer que o ato causou retirou um grito
de Phillipa e quando Henry se movimentou dentro dela, os
gritos se tornaram gemidos.

Ele aumentou a força dos movimentos elevando o prazer de


ambos até quase a liberação. E

apenas quando ela amoleceu em seus braços após alcançar


o próprio prazer, foi que ele se permitiu derramar dentro
dela sua semente.
O grande dia finalmente chegou. Phillipa não dormira na
noite, havia tentado de tudo para o sono a levar, mas fora
impossível acalmar sua mente e o coração para o dia
seguinte.

— O que aconteceu com seus olhos? — Sophia perguntou


assustada ao ver o estado da cunhada pela manhã. — Vai
ser difícil esconder isso. Devia ter dormido, Phillipa.

— Você fala como se eu não tivesse tentado. — Phillipa


bufou desgostosa com a bronca e logo várias criadas
irromperam o quarto para começar a arrumá-la para o
casamento.

As horas se arrastaram enquanto a noiva tentava se manter


acordada enquanto suas criadas arrumavam seus cabelos e
a banhavam. O sono que lhe fugira na noite anterior decidira
aparecer justo naquele momento.

Entre um bocejo e uma piscada exageradamente demorada,


ela ficou pronta e as criadas deixaram o quarto.

— Phillipa, — Sophia chamou sua atenção, parecia nervosa.


— sei que quem deveria lhe explicar essas coisas deveria ser
sua mãe, mas tendo em vista que estão mal se falando,
suspeito que ela não tenha lhe direcionado sobre o que
esperar de sua noite de núpcias. — A modista ficou
completamente envergonhada por tocar em um assunto tão
íntimo. — Você gosta mesmo do Henry?

— É claro que sim. — Phillipa respondeu confusa. — Por quê?

— Espere, acredito que me expressei mal. — Sophia deu um


risinho nervoso. — Não quis duvidar do que sente por ele. O
que quis saber foi se sente… Atração por ele. Se… O…
Deseja.
Phillipa corou até a raiz do cabelo.

— Acho que até demais. — ela respondeu.

— Oh, não querida, não pense dessa forma, mesmo que a


sociedade diga que a mulher não deve usufruir dos prazeres
do leito matrimonial, mas acho isso uma tolice. Com certeza,
quem fez essa regra foi uma mulher amargurada e mal
amada que nunca teve um marido como o Phillip. —

Sophia disse e então percebeu o que saiu de sua boca. — Ah


meu Deus, esqueça que eu disse isso, estou tão nervosa.

— Está querendo ter aquela conversa, não é? — Phillipa riu.

— Está gozando de mim? — acusou Sophia, semicerrou os


olhos, não acreditando naquilo.

— Claro que não. — Phillipa se defendeu erguendo as mãos


em um típico gesto de inocência.

— Bem, mocinha, não é engraçado! — Sophia ralhou


tentando parecer séria, mas ela própria estava tentando
segurar o riso. — Eu me sinto no dever de ter essa conversa
com você. —

A mais velha suavizou as feições — Seu irmão me disse que


já houve beijos entre vocês e

acredito que tenham sido agradável.

— Foram sim. Eu gostei bastante. — Phillipa corou e um


sorriso confidente se formou no rosto da amiga.

— Muito me alegra que tenha desfrutado do beijo. — Sophia


disse um pouco mais à vontade, mas ainda vermelha. —
Bom, se o beijo foi bom, então vai gostar de sua noite de
núpcias, mas bem… Pode não ser tão bom… Quer dizer a
primeira vez… Para a mulher sabe…

Pode machucar… Mas é só a primeira vez, depois vai


desfrutar bastante… Bom, eu espero que desfrute, ainda
mais por gostar do beijo, é um bom sinal…

— Foram mais que beijos. — Phillipa confidenciou à amiga,


ficando vermelha também e fazendo Sophia engasgar.

― Quanto mais? ― Sophia perguntou erguendo uma


sobrancelha e mexendo em seus óculos.

Phillipa ficou ainda mais envergonhada e baixou a cabeça


sem conseguir encarar Sophia.

― Ah, meu Deus. Vocês já dormiram juntos. ― a modista


afirmou surpresa e em seguida riu. — E eu aqui preocupada
em ter essa conversa que se mostrou desnecessária, já que
não é mais nenhuma mocinha inocente. Deveria ter me dito
isso antes, sinto-me enganada. — Sophia se fingiu ofendida.
— Eu mal dormi a noite preocupada com essa conversa. Isso
não deve ser bom para o bebê.

— Bebê? — Phillipa perguntou erguendo a cabeça


completamente surpresa e viu Sophia empalidecer.

— Ainda não é certeza e não falei para o seu irmão, então


não pode contar a ele, Phillipa, minhas regras estão
atrasadas, mas eu não quero preocupá-lo, elas nunca foram
regulares, então eu posso não esperar um filho, mas já
fazem… ― Sophia contou novamente nos dedos ― Dez dias,
então… Estou esperançosa… Eu quero ter um filho, mas
quero esperar um pouco para ter certeza antes de contar
para Phillip, não quero dar a ele falsas esperanças.
— Fico tão feliz em saber disso. Não vai se importar que seu
filho tenha uma tia dona de um Clube, não é? — perguntou.

— Claro que não. — Sophia riu. — Até vejo vantagens nisso.


Pode ser bom para os negócios. Afinal, eu fiquei curiosa,
quem faz os vestidos das moças do Clube?

Phillipa riu.

— A partir de hoje será você. — ela respondeu. — As


meninas merecem roupas novas.

— Como eu poderia não gostar de uma cunhada dona de um


clube?

— Claro que vou querer desconto… — Phillipa provocou.

— Estou começando a desgostar.

Ambas riram alegremente. Conversar com Sophia era


sempre um deleite inigualável. Ela tinha o dom de deixá-la
mais leve. Adorava a cunhada.

— Bom, agora está na hora, Phillip já está na porta


esperando. – Sophia avisou ao ver a carruagem pela janela.
— Você está tão linda, meu anjo.

— Seu vestido faz maravilhas. Ele é lindo, obrigada por ter


cuidado de tudo. — Phillipa
agradeceu emocionada.

— Não precisa agradecer, você é minha irmã agora e eu


sempre quis ter uma irmã, então fiz de coração e, se
pudesse, ainda teria feito mais.

As duas se abraçaram e logo em seguida, Phillip abriu a


porta onde elas estavam.

— Está pronta, Lipa? — perguntou sorrindo para a irmã,


depois de ter entrado e dado um beijo no rosto de Sophia.

— Estou sim. — ela respondeu com um sorriso.

— Então vamos, tenho uma noiva para levar ao altar.

Phillip ajudou a irmã a entrar na carruagem e sentou à sua


frente, enquanto Sophia se sentou ao lado de Phillipa.

Ficou preocupado que a ausência da Duquesa-Viúva tirasse a


alegria de Phillipa durante o próprio casamento. E não tinha
se enganado. Agora que estavam os três na carruagem, e
ela se aproximava da igreja, parecia triste. Ele percebeu que,
quando entrou no transporte, Phillipa olhou para trás, por um
breve momento, na esperança de ver alguém, mas sua mãe
não tinha aparecido na porta nem para mostrar insatisfação.
Desde que ele permitira o casamento, sua mãe não dirigia a
palavra para Phillipa.

— Você está bem? — questionou ao perceber que a jovem


estava estranhamente calada.
— Sim, estou. Apenas nervosa.

— Não se preocupe, as pessoas que importam estarão lá.

— Nem todas. — ela replicou triste.

— Sinto muito, eu tentei demovê-la de sua postura, mas ela


foi inflexível. Sinto não poder ter feito nada.

— Não é sua culpa. — Phillipa segurou a mão do irmão. —


Fico feliz em ter seu apoio, agradeço de coração aos dois,
nem sei o que faria sem vocês.

— Para isso que serve a família. — Phillip beijou a testa de


sua irmã, enquanto Sophia lhe segurou a mão
afetuosamente.

Depois disso, eles seguiram em silêncio até a igreja.

A Duquesa-Viúva estava no seu quarto. Phillip tentou


convencê-la mais uma vez a ir ao casamento e como da
última vez, ela tinha se recusado. A matrona já estava
juntando as coisas em sua valise e em seus baús, preferia
viver reclusa a apoiar aquele casamento desastroso, e antes

mesmo que seu filho ousasse expulsá-la, Lady Catherine


partiria.

Já havia mandado preparar uma carruagem para si e estava


terminando de arrumar as coisas que levaria consigo,
partiria antes que voltassem do casamento.
Ela abriu um baú antigo, com todas as coisas que lhe eram
preciosas. Seu vestido de casamento estava ao fundo junto
com algumas fitas de cetim, diários e outros objetos
pequenos de valor sentimental. A Duquesa retirou cada peça
relembrando a história de cada uma e, por fim, retirou o
vestido velho do baú para desocupá-lo, com isso, alguns
papéis caíram.

Eram cartas e desenhos de quando Phillipa estava


aprendendo a escrever. A Duquesa sempre reclamava da
caligrafia quando recebia alguma e fingia não se importar,
mas guardava as cartas da filha com carinho.

Ela tinha lhe enviado cartas até os dez anos, depois tinha
parado.

Catherine passou a mão carinhosamente nas cartas. Fazia


tanto tempo que as tinha guardado que até tinha se
esquecido da existência delas. Abriu uma delas e leu a frase
simples em letras enormes e oscilantes.

A primeira era um desenho da família Howland, o Duque no


meio junto com a Duquesa, Phillip ao lado do pai, Phillipa ao
lado da mãe. Sua menina lhe entregara o papel com o
desenho e lhe dito que era “um presente para a mamãe”. A
Duquesa pegara o desenho, olhado e em seguida o tinha
guardado no vestido. Essa tinha sido o primeiro de muitos
que se seguiram.

Ela pegou a carta seguinte.

“Mamae, a sem ora é a mamae mais limda do mumdo t


amo” Essa ela tinha mandado quando tinha cinco anos e
ainda não conhecia a escrita correta das palavras, fora a
primeira feita sem a ajuda da governanta.

Abriu outra carta aleatória.


“Mamãe, quando crescer quero ser bonita como a senhora”
Essa ela tinha escrito com sete anos, a letra tinha diminuído
de tamanho e estava mais legível e a grafia estava correta.

Em seguida, pegou outra carta.

“Mamãe, feliz aniversário. Eu te amo.” Esse tinha


acompanhado um broche que Phillipa comprara junto do
irmão para lhe presentear.

Abriu cada uma das cartas que tinha guardado. Algumas


tinham apenas desenhos infantis retratando a família, outras
continham poucas palavras, palavras soltas, mas em todas
estava explícito o quanto Phillipa a amava.

Aquelas cartas apertaram seu coração. Sua doce garotinha


tinha crescido e agora estaria se casando e ela não estava
lá.

Henry a viu entrar na igreja e tudo ao seu redor


desapareceu. Parecia um anjo enviado diretamente dos céus
para ele. Ela estava perfeita. E quando os olhares se
cruzaram e ela sorriu,

Henry quase não aguentou permanecer no lugar. Queria


correr em sua direção, tomá-la nos braços e enchê-la de
beijos.

Phillip entregou a irmã à Henry, que beijou a delicada mão


da moça ao recebê-la e ambos se viraram para o reverendo
para iniciarem a cerimônia.

— Meus irmãos e irmãs, estamos, hoje, aqui reunidos, para


unir esse homem e essa mulher em matrimônio… — Deu-se
inicio à cerimônia.
Phillipa olhava nos olhos do reverendo, mas sua mente
estava muito consciente da presenta do homem ao seu lado.
Finalmente eles poderiam ficar unidos para sempre. A
felicidade a inundou.

O casal trocou seus votos e o reverendo encerrou a


cerimônia declarando-os marido e mulher. Henry lhe beijou a
testa e sussurrou em seu ouvido que mal podia esperar o
momento em que estivessem a sós.

Ao se virarem para os convidados, lá no fundo da igreja,


Phillipa viu sua mãe. Ela estava na última fileira, e apesar do
semblante sério, dava para notar que tinha os olhos
marejados.

Phillipa levou a mão a boca ao vê-la, fora uma surpresa ela


ter ido.

— A senhora veio. — Phillipa sussurrou ainda incrédula


quando a mãe se aproximou.

— Apesar de eu não ser a favor de seu casamento… — a


Duquesa inquiriu e olhou para Henry rapidamente antes de
voltar a olhar para Phillipa. — Você ainda é minha filha, e eu
vim lhe desejar felicidades.

A jovem noiva abraçou a mãe com carinho.

Agora sim este era o dia mais feliz de sua vida.


EPÍLOGO

Um mês depois…

Phillipa estava na ala da Avareza junto com Copas antes que


o Clube começasse a funcionar. As mulheres se divertiam
jogando uma partida de cartas particular. Phillipa se
interessou pelo jogo e Copas lhe ensinava alguns truques.

Mas Phillipa estava muito preocupada para prestar atenção


ao que Copas lhe dizia.

— Está tudo bem?

— Sim, sim. — Phillipa respondeu puxando uma carta e


descartando logo em seguida.

— Sabe que pode me contar qualquer coisa, não sabe? —


Copas lembrou.

— Sei sim, obrigada, mas realmente não é nada de mais.

Copas voltou sua atenção para as cartas, deixaria que a


Lady lhe contasse quando se sentisse confortável.

— É o Henry. Sinto que ele está escondendo algo de mim.


Desde que voltamos no início da semana, está diferente. —
Phillip desabafou.

— Diferente como? — Copas perguntou.

— Ele mentiu para mim esta semana. Esses dias, lhe


perguntei se queria ir comigo ao Hyde Park e ele disse que
não sairia porque tinha muita coisa para fazer, então eu dei
uma volta e em seguida decidi ir na chapelaria comprar um
chapéu novo. Para a minha surpresa, o vi passando em uma
carruagem.
— Ele deve ter um motivo para ter mentido, mas não acho
que esteja com uma amante, se é isso que a preocupa. —
Copas acalmou os temores de Phillipa. Era exatamente isso
que ela tinha pensado.

— Eu sei que é normal que os homens tenham amantes, mas


não pensei que ele teria uma.

Disse-me que nunca teria uma, ainda mais um mês depois


de nos casarmos. — Uma lágrima rolou pela face de Phillipa
e ela a limpou rapidamente. — Eu nem sei por que estou
chorando, mas não gosto de imaginar ele com uma amante.
Não quero que tenha uma. Me partiria o coração.

— Ele não está lhe traindo, tenho certeza disso. O Lorde


nunca faria isso.

— Tem razão. Eu estou sendo uma tola. — ela suspirou. —


Fiquei tão preocupada com isso que até minhas regras
atrasaram.

— Quantos dias? — a outra perguntou.

— Era para ter vindo no início da semana, mas foi ai que


comecei a me preocupar e não vieram. Isso sempre
acontece, basta eu me preocupar e elas atrasam.

— Acho que pode não ser preocupação. — Copas disse com


um sorriso.

— É claro que é, o que mais faria… — Phillipa começou e


Copas apontou para sua barriga. — Oh, acha que estou
grávida?

— É uma possibilidade.

— Mas ela sempre atrasou quando eu ficava preocupada,


então pode não ser gravidez.
— Bom, só nos resta esperar para saber… — Copas concluiu.
— Ganhei.

Copas colocou as cartas na mesa, mostrando-as para que


Phillipa visse seu jogo.

— Nem sei por que jogo com você, eu sempre perco. —


Phillipa sorriu debochada. — O

Clube vai já abrir, amanhã jogamos de novo. Eu vou subir.

Copas assentiu e Phillipa se retirou da mesa e se dirigiu para


o escritório de Henry.

Seu marido estava inclinado sobre os livros de contabilidade


do Clube. Desde que voltaram da casa no campo, durante as
noites, ele alternava entre lhe dar atenção e cuidar do livro
de contabilidade do Rogue's.

— Muito ocupado? — Phillipa perguntou ao entrar no


escritório.

— Para você? Nunca. — respondeu sorrindo e fechando o


livro para dar atenção à sua mulher. Em seguida, Henry se
levantou. — Já estava finalizando as contas e iria descer para
lhe procurar. Eu tenho um presente para você.

— Um presente para mim? — ela perguntou com os olhos


brilhando de curiosidade.

— Sim, venha comigo.

Henry a pegou pela mão e saiu do Clube, sua carruagem os


esperava. Assim que entraram, o homem retirou sua gravata
e vendou os olhos dela.

— É uma surpresa. — lhe avisou enquanto a deixava no


escuro.
— O que você está aprontando? — a mulher perguntou
sorrindo. — O que é essa surpresa?

— Você verá. — Henry disse um pouco nervoso. — Eu passei


a semana tentando achar um presente que fosse perfeito
para você.

— Foi por isso que mentiu?

— Menti sobre o quê? — questionou confuso.

— Essa semana, eu perguntei se iria querer me acompanhar


ao Hyde Park e você tinha dito que não sairia de casa, pois
estava muito ocupado, mas te vi passar depois em uma
carruagem e ainda mais com uma mulher.

— Ah, naquele dia eu não tinha mesmo planos de sair de


casa, mas então o Dmitri mandou avisar que encontrou o
possível presente, então eu decidi ir ver, aproveitando que
estava fora.

— E onde a mulher se encaixa? — Ela perguntou sem jeito.

— Está sugerindo que a estou traindo? — Henry devolveu,


sentindo-se ofendido.

Phillipa baixou a cabeça envergonhada, pois não queria


acreditar que ele faria algo assim.

— Você não me tocou ontem, nem antes de ontem. — ela


sussurrou.

— Você tinha dito que estava com dor no baixo-ventre,


pensei que suas regras tivessem chegado.

— Ah, pensei que não me quisesse mais. — manteve o tom,


pois ainda estava envergonhada.
Henry a colocou em seu colo.

— Phillipa, eu nunca trairia você. Me ofende que pense


assim.

— Eu sinto muito. — Phillipa se desculpou sentindo as


lágrimas virem. Inferno, qualquer coisa está me fazendo
chorar, e la reclamou em pensamento enquanto fungava
forte para impedir que o nariz escorresse. — Não vou mais
duvidar de você.

— Você está chorando. — Henry se desesperou e retirou um


lenço, colocando na mão dela

—Não chore, não precisa chorar.

— Eu sinto tanto… Você passa a semana preparando uma


surpresa para mim e eu penso o pior. Eu fui tão tola.

— Já está tudo bem. — ele a abraçou.

Ficaram um tempo assim, abraçados, enquanto acariciava as


costas dela.

— Eu te amo muito. — Phillipa confessou depois que se


acalmou.

— Eu também te amo. — Ele beijou os lábios dela de leve. —


Estamos quase chegando.

Eles seguiram na carruagem por mais dez minutos, em


seguida, o transporte parou. Phillipa ouviu a portinhola ser
aberta e o movimento ao seu lado a fez entender que Henry
descera.

Haviam chegado ao destino.


— Não retire ainda. — Henry pediu quando Phillipa elevou as
mãos para remover a gravata que lhe cobria a visão.

— Mas eu não enxergo nada. — ela replicou desgostosa.

— Venha, eu te guiarei. — Pegou a mão dela, conduziu-a


para fora da carruagem e em seguida andaram alguns
passos para a frente.

Phillipa ouviu uma porta ser aberta e em seguida a gravata


foi removida de seus olhos.

Ela estava em uma casa e a sua frente, estavam algumas


pessoas.

— Bem-vinda, Milady. — disse uma mulher rechonchuda


após fazer uma reverência.

Phillipa a reconheceu como a mesma da carruagem, esta


estivera diante de si exibindo um sorriso nervoso. — Eu sou
a Senhora Mirts, a governanta da casa.

A Sra. Mirts apresentou as criadas e em seguida o mordomo


apresentou os homens que serviriam à mansão, após um
aceno de Henry, eles os deixaram a sós.

— Surpresa. — Henry sussurrou no seu ouvido a abraçando


por trás.

— Você me deu criados de presente? — Phillipa perguntou


emocionada se virando para olhar para ele.

— A casa também faz parte do presente. — ele sorriu tímido,


tentando saber se ela gostara do presente.

— Essa casa é para mim? — ela indagou olhando ao redor.


— Sim, mas se não gostou, posso procurar uma que seja do
seu gosto, sei que está acostumada a uma casa maior, e
essa não é tão gran…

— Não ouse colocar defeito na minha casa. — Ela colocou os


dedos nos lábios dele, impedindo-o de continuar a falar. —
Ela é perfeita.

Henry suspirou aliviado como se um peso tivesse saído de


seus ombros.

— Que bom que gostou, agora deixe-me lhe mostrar a casa,


por onde quer começar?

— O que acha do quarto principal? Quero mostrar o quanto


estou arrependida por ter duvidado de meu marido e
também agradecer a ele pelo presente. Como estou muito
grata e muito arrependida, acredito que os outros cômodos
poderão ficar para amanhã.

Phillipa disse sedutora e Henry sorriu lascivo, enquanto a


levava escada acima.

Fim.
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NOTAS DA AUTORA
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1 - RECUSAS
CAPÍTULO 2 – PROBLEMAS
CAPÍTULO 3 – ENCONTRO NA FLORESTA
CAPÍTULO 4 - HENRY
CAPÍTULO 5 - DEBUTE
CAPÍTULO 6 – RELÓGIO DE BOLSO
CAPÍTULO 7 – TRÊS DIAS
CAPÍTULO 8 - IRONIAS
CAPÍTULO 9 – ELA NÃO PODE ME AMAR.
CAPÍTULO 10 ― PLANOS
CAPÍTULO 11 – AFLIÇÃO
CAPÍTULO 12 - INTERVENÇÕES
CAPÍTULO 13 – VINGANÇA.
CAPÍTULO 14 – O BAILE DA DUQUESA
CAPÍTULO 15 – ELA É MINHA
CAPÍTULO 16 - CUIDADOS
CAPÍTULO 17 - CARRUAGENS E CLUBES
CAPÍTULO 18 - DE VOLTA PRA CASA
CAPÍTULO 19 - PROBLEMAS
CAPÍTULO 20 – ESPERANÇAS
CAPÍTULO 21 – CASAMENTO
EPÍLOGO

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