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MICHAELLY AMORIM

HUGIN E MUNIN

2017

Copyright © Michaelly Amorim, 2017

Todos os direitos reservados. É proibido o armazenamento,


cópia e/ou reprodução de qualquer parte dessa obra ―
física ou eletrônica ―, sem a prévia autorização do autor.

Preparação: Michaelly Amorim

Revisão: Tainá Araujo

Capa e diagramação: Michaelly Amorim

[2017]

Todos os direitos reservados desta edição reservados à

HUGIN E MUNIN EDITORA.

www.hemeditora.com.br
COMO SEDUZIR UM CONDE

Série — Amores Indecentes. Livro 1

© Todos os direitos reservados a Michaelly Amorim

Notas da autora

Prólogo

Capitulo 1 — Lizzie

Capítulo 2 — Proposta

Capítulo 3 — Londres

Capítulo 4 — Insultos

Capítulo 5 — Compras

Capítulo 6 — O Duque de Norfall

Capítulo 7 — O Baile!

Capítulo 8 — Más Notícias

Capítulo 9 — Dívidas

Capítulo 10 — De volta a Londres

Capítulo 11 — Desejos e prazeres

Capítulo 12 — Convivência

Capítulo 13 — Consciência

Capítulo 14 — Descobertas*

Capítulo 15 — O Conde
Capítulo 16 — Fernoy

Capítulo 17 — Erros e acertos

Capítulo 18 — Reputação

Capítulo 19 — Acerto de contas

Capítulo 20 — E tudo se encaixa

Epílogo

Agradecimentos.

Notas da autora

Olá, caro leitor!

É uma alegria para mim trazer este livro para você, mas
antes de começar a leitura, preciso te contar um segredo.
Todo o universo de Amores Indecentes é fictício e algumas
coisas foram modificadas visando a história. Sendo assim,
não se preocupe! Se houver algo que te faça pensar que
não condiz com a realidade, foi de escolha minha e uma
mudança pensada.

Peço, por favor, que venha com a mente um pouco mais


aberta, pois, foquei em uma escrita mais suave e abrindo
mão de alguns termos rebuscados, afim de não obrigar
nenhum leitor a depender do dicionário para compreender a
leitura.
Caso você não concorde com estes detalhes, tudo bem
também! Não se preocupe, eu vou entender perfeitamente
e respeitarei sua forma de pensar, assim como espero
receber seu respeito pela minha decisão.

Desejo que tenha uma ótima e divertida leitura.

Prólogo

Baronato dos Winsmore, Inglaterra

Cinco anos atrás…

Era uma manhã chuvosa, o Sol tinha acabado de nascer,


mas se escondia por trás das nuvens carregadas que
deixavam o tempo escurecido. O clima parecia entender o
desespero de um homem que já tinha feito de tudo para
salvar a mulher que amava. O estado de Joanne havia
piorado e o Barão usara todas as suas economias na
tentativa de curá-la. Seus recursos já haviam acabado e não
tinha mais a quem pedir emprestado, pois todos os seus
conhecidos já haviam lhe ajudado da forma que podiam. O
único jeito seria pedir emprestado ao Barão de Winsmore,
não existia outra escolha.

Bateu à porta apressadamente. O médico chegaria em


poucas horas e ele precisaria ter o dinheiro em mãos, ou
não haveria remédio para sua doce Joanne. Mesmo sabendo
que era cedo demais para bater à porta de quem quer que
fosse, o homem não se importou. Nada o impediria de fazer
o que estivesse ao seu alcance para restaurar a saúde de
sua esposa.
O mordomo abriu a porta. Todos os criados refletiam a
mesma carranca de seu empregador, e mantinham a cara
de tédio e mesquinhez onde quer que fossem. Assim como
o Barão, todos ali eram soberbos e avarentos, mesmo não
tendo nada.

― Em que posso ajudá-lo? — o mordomo perguntou, sem


realmente estar disposto a dar nenhum auxílio.

― Preciso falar com o Barão — o homem falou com urgência


na voz.

― Tudo bem, espere um momento enquanto vejo se meu


senhor pode atendê-lo. — o mordomo lhe informou
enquanto desaparecia casa adentro para ter uma resposta
de seu senhor.

Instantes depois — que mais pareceram horas para o


homem que esperava na porta — o mordomo voltou lhe
trazendo a resposta.

― Meu senhor manda dizer que volte pela manhã, ele não o
atenderá. — O mordomo disse com um sorriso sarcástico no
rosto, mostrando o quanto estava se deleitando em mandar
o homem à porta embora.

Depois de dar o recado, o mordomo tentou fechar a porta


na cara do visitante, mas este foi mais rápido e colocou um
pé impedindo que a porta fosse fechada.

― Eu só saio daqui depois de falar com ele, então acho


melhor acordá-lo — o homem rugiu. Não tinha tempo para
besteiras de um criado insolente, e não ia voltar para casa
sem o empréstimo.

Mesmo a contragosto o criado foi acordar o Barão, que


desceu em toda sua arrogância cadavérica para falar com o
homem que o importunava tão cedo.

― O que quer? — perguntou o Barão com seu tom irritado


de sempre.

― Bom dia...sinto muito incomodá-lo em uma hora tão


inoportuna, mas estou desesperado, preciso que me faça
um empréstimo. — O homem foi direto ao ponto, não queria
se estender mais que o necessário. ― Minha esposa está
muito doente e eu já gastei tudo o que tinha com médicos e
remédios. Por favor, eu preciso da sua ajuda.

― E que garantia eu tenho que vai me devolver o dinheiro?


Uma vez que já gastou tudo que tinha, o que você me dará
como garantia de que terei de volta o que lhe emprestar? —
o Barão perguntou com seus olhos brilhando maquiavélicos.

― Qualquer coisa! O que quiser eu lhe dou, mas me


empreste o dinheiro. O médico já

deve estar chegando e, se eu não tiver o dinheiro, ele não


vai tratar a enfermidade da minha esposa. — o homem
respondeu desesperado, precisava do dinheiro
urgentemente.

― Ora, então me diga de quanto precisa, pois vejo que está


apressado, não vamos estender mais essa conversa. O valor
que precisar lhe darei, e não se preocupe com a quantia, a
saúde de sua esposa é mais valiosa que qualquer quantia.
— O Barão mudou o tom de voz e abriu um sorriso, um
repuxar de lábios que lhe retorceu a face e, junto com o
brilho malvado de seus olhos, se igualava a mesma
expressão diabólica de um demônio.

E assim o homem, desesperado por salvar sua esposa,


fechou negócios com o próprio diabo, sem saber que aquilo
poderia lhe custar o futuro e a felicidade daqueles que mais
amava.

Capitulo 1 — Lizzie

Baronato dos Fernoy, Inglaterra.

Dias atuais…

Lizzie acordou assim que o Sol atravessou a sua janela.


Como em todos os outros dias, se espreguiçou na cama
bocejando, e assim que criou coragem, levantou e se
arrumou com a ajuda da criada. Então, quando estava
pronta, desceu para tomar o desjejum com o pai.

Assim que viu o Barão, ela foi ao seu encontro e lhe deu um
beijo na bochecha, como fazia toda manhã, e depois sentou
em seu lugar.

― Dormiu bem? — perguntou seu pai.

― Sim, muito bem. E o senhor? — ela devolveu a pergunta


após engolir um bocado de ovos mexidos de seu prato.

― Eu dormi bem também, mas passei a noite pensando.

Seu pai sempre dizia isso. Toda vez que ia lhe falar sobre
casamento. Ela tinha debutado com quinze anos, mas tinha
sido muito breve, visto que sua mãe adoeceu e faleceu
durante esse período, encerrando bruscamente sua
apresentação à sociedade. Passou dois anos em luto e
depois não havia aparecido nenhuma proposta para ela,
com o que tentava não se importar, visto que não aceitaria
um casamento por conveniência, pois preferia casar por
amor, assim como seus pais o fizeram.

Ela sabia que já passara da idade de arrumar um


pretendente, mas não se sentia nem um pouco infeliz com
isso, muito pelo contrário, se dependesse dela, o casamento
seria algo que ainda demoraria a acontecer.

Diferente das moças de sua idade, que estavam


desesperadas para arrumar maridos ricos e subir de nível
social, não se importava com isso. Apesar de seu pai ser um
Barão, não ansiava por riqueza ou nobreza, queria apenas
casar por amor, esse era seu único requisito em um marido.

― Pai, eu não preciso de um marido. Estou feliz aqui, com o


senhor e os meninos.

― Não estou dizendo que tem que ser infeliz para casar — o
Barão replicou erguendo as mãos rendido e, vendo que a
filha já revirava os olhos diante do assunto, decidiu mudar o
rumo, pelo menos por enquanto. ― Mas me diga, terminou
aquele livro que lhe dei no começo da semana?

Eles seguiram falando sobre livros e Lizzie esqueceu,


momentaneamente, o assunto casamento.

Depois de tomar o desjejum, Elizabeth e o pai foram


caminhar nos jardins, como faziam todos os dias. A jovem
servia de companhia para o pai que, por ordem do médico,
fazia essa caminhada para melhorar sua saúde. Lizzie sabia
que se não acompanhasse o pai, ele voltaria para o
escritório antes mesmo de dar um passo sequer, então,
para que o Barão fizesse o que o médico
mandara, a garota o acompanhava todas as manhãs,
caminhando por uns bons vinte minutos pelo jardim.

Seu pai era um homem rechonchudo, os cabelos estavam


começando a ficar grisalhos e o rosto arredondado deixava
seu olhar ainda mais bondoso. Ela, por sua vez, era o
completo oposto do pai na aparência, era franzina e de
porte delicado, pequena — com seus 1,60 m de altura — e
possuía cabelos cacheados bem volumosos, que tentava
domar em um coque apertado. Tinha herdado tudo da mãe.

― Nunca mais vi Sir Oliver por aqui. Ele desistiu de você? —


o Barão perguntou e Lizzie logo imaginou onde ele queria
chegar.

― Ele deve estar em sua propriedade, papai. Só costuma vir


por aqui nas férias de verão, lembra? É quando ele visita a
avó e aproveita para nos visitar.

― Me lembre mais uma vez, por que não aceitou se casar


com ele? Ele é jovem e bonito, e é rico. Bom, não tem
nenhum título, mas você nunca se importaria com isso.

― Não estou interessada em me casar, papai, quero um


casamento como o do senhor com a mamãe, e isso não
acontecerá se eu casar com Sir Oliver.

― Mas um casamento não seria ruim para você, daria uma


ótima esposa. Cuida tão bem de mim que seu marido seria
um homem sortudo por tê-la — seu pai continuou depois de
um tempo em silêncio. ― Sir Oliver poderia facilmente amá-
la, se é que já não ama.

― Mas eu não acho que eu poderia amá-lo. O senhor sabe


que Sir Oliver é mais lerdo que uma tábua — ela disse
sorrindo, se lembrando das investidas do Sir em questão. ―
Eu não seria feliz ao lado dele. Então não, não vou me casar
com Sir Oliver, mesmo que ele tenha no seu terreno o lago
mais lindo que eu já vi, e seja bonito e rico, como o senhor
lembrou.

― Você precisa casar, Lizzie, já tem vinte e um anos. Não


estarei aqui para sempre e você é minha única filha. Preciso
casá-la antes de partir.

― Papai, o senhor não vai morrer. E tem o Jeremy e o Robert


— ela continuou tentando dissuadi-lo da ideia. — Robert
herdará isso tudo e cuidará de mim.

― Seu irmão só tem doze anos, quando ele se tornar


herdeiro, você já terá passado da idade de se casar. Quero
ver meus netinhos antes de morrer.

― Eles serão crianças iguais ao Jerry e ao Rob, darão


trabalho do mesmo jeito — Lizzie replicou revirando os
olhos.

A jovem sabia que seu pai não queria especificamente


netos, mas, como ela era a mais próxima, entre seus
irmãos, de ter filhos, ele usava essa desculpa para dissuadi-
la de continuar solteira. Entretanto, Lizzie sabia que o que
ele queria mesmo era vê-la casada.

Apesar da constante negação, Elizabeth sabia que ele


estava certo. As chances de arrumar um marido estavam
diminuindo a cada dia que passava, e até Sir Oliver um dia
desistiria dela, e a jovem não teria ninguém para cortejá-la.

Porém, ela queria um casamento por amor, e o único


homem que um dia amara na adolescência já era
comprometido antes mesmo de nascer. E mais, estava a
quilômetros de distância. Ele costumava frequentar sua
casa junto com a Condessa-viúva de Dorset, amiga de seus
pais, quando esta vinha visitá-los. Sempre muito educado e
sorridente, tinham se visto algumas poucas vezes e haviam
acontecido poucas conversas entre eles, uma vez que ele
era comprometido. A última vez que o tinha visto, Lizzie
tinha dezesseis anos e ele tinha vinte. Ele estava triste e, se
direcionou o olhar mais de duas vezes para ela, foi muito, e
ela não o culpava, parecia mais uma criança que uma
mocinha, nunca conseguiu chamar a atenção de nenhum
homem, além de Sir Oliver.

Apesar dos anos que se passaram e do fim da puberdade,


Elizabeth não tinha mudado em muita coisa, continuava
aparentando ter menos idade do que realmente tinha. Além
do mais, ela tinha puxado os cabelos negros e a pele cor de
oliva da mãe, não lhe permitindo ser tão branca quanto o
exigente padrão de beleza da época. Sempre que colocava
pó de arroz no rosto, ficava parecendo que lhe jogaram
farinha em sua face, e quando colocava também no colo,
adquiria uma aparência fantasmagórica. Por isso, ela
preferia não colocar nada dessas coisas.

Mas sabia que isso diminuía suas chances de conseguir um


marido. Com sorte, conseguiria um viúvo, ou algum
desesperado de seu nível social, mas jamais esperaria
conseguir um Conde, muito menos o qual por quem sempre
fora apaixonada.

Seu pai tinha colocado em seu dote, além de dinheiro, uma


pequena porção de terra que continha uma casinha de
campo, a qual era a sua preferida e onde a jovem
costumava passar as férias desde a infância. Seu sonho
sempre tinha sido morar lá.

Elizabeth sabia que não era comum um pai dar tanta


atenção assim a uma filha, mas como o casamento de seus
pais havia sido por amor e ela fora o primeiro fruto deles,
Lizzie tinha sido tratada como um verdadeiro tesouro por
seu pai. Ela possuía os mesmos traços da mulher que tinha
conquistado o coração do Barão, e esse era mais um dos
motivos para ele querer o melhor para a filha. E, no
pensamento do Barão, isso incluía arranjar-lhe um marido o
mais rápido possível.

Se sua esposa ainda estivesse viva, seria mais fácil, mas,


para sua infelicidade, ela tinha sucumbido a uma doença
grave que tirou sua vida aos poucos.

― A cada dia você fica mais parecida com sua mãe — disse-
lhe seu pai quando começaram a fazer o caminho de volta,
depois que terminaram a caminhada.

O Barão sentia falta da esposa. Isso era evidente pela


tristeza em suas palavras.

― Sinto falta dela — a jovem respondeu com os olhos


marejados.

― Eu também. — O Barão suspirou saudoso. ― Eu também.

Com o fim da caminhada, eles seguiram de volta para casa.


O Barão foi para seu escritório enquanto Lizzie seguiu para
seu quarto, lembrando-se que estava na hora de trocar o
livro que estava em seus aposentos. Tinha terminado de lê-
lo na noite anterior e já estava sedenta por novas
aventuras. O livro se tratava de pequenas e diversas
fábulas, e tinha chegado junto com um baú que seu pai
tinha comprado de um navio mercante.

Pegou o pequeno livro amarelado com cuidado e desceu a


escadaria em direção à biblioteca do pai, onde ele tinha
colocado o baú que havia adquirido por um preço simplório
no início da semana. Havia quase cinquenta livros ali
dentro, e ela agora tinha lido o primeiro.
Lizzie possuía total acesso à biblioteca e sempre havia
gostado do ambiente ali dentro, sentia-se segura e em paz.
Desde a morte de Lady Joanne tinha se tornado seu refúgio,
uma eterna recordação dos momentos felizes que passara
ali com sua mãe. E assim como havia sido o lugar preferido
da Baronesa, a biblioteca havia se tornado o seu lugar
preferido também.

Elizabeth abriu a porta da biblioteca e foi direto ao baú,


abriu-o com um pouco de dificuldade, assim como na
primeira vez, pois a maresia havia enferrujado as
dobradiças durante o período que passara a bordo do navio.
Quando ela conseguiu erguer a tampa, começou a olhar os
títulos dos livros que tinha ali.

Da última vez, assim que tinha aberto o baú, havia


encontrado o livro das fábulas e logo se interessou por ele,
fechando o baú sem se importar de ver os outros títulos que
tinha ali dentro.

Mas agora já tinha lido o das fábulas e precisava encontrar


outro livro para ler.

Começou a retirar um por um, a maioria eram livros


políticos e de administração, alguns

cadernos de contabilidade, mas nenhum romance. Isso a


entristeceu. Ela adorava romances e contos, mas não
encontrou nada que lhe interessasse. O único romance e
conto que tinha era o livro de fábulas, e esse já tinha lido.

Ela estava recolocando os livros de volta ao lugar de onde


saíram, quando um deles escorregou, deixando em sua mão
a capa do livro. Ela o pegou rapidamente, temerosa que o
pai soubesse que tinha rasgado um de seus livros novos,
mas ao analisar o estrago percebeu que se tratava de uma
capa falsa.
O livro, na verdade, não falava da história da Inglaterra, não
tinha nome na capa, apenas uma flor desenhada em alto-
relevo. Ao abrir o livro percebeu que era o diário de uma
garota. Ela leu as primeiras páginas e percebeu que não era
uma moça qualquer, e sim, uma cortesã.

― Cortesã? — Lizzie se perguntou, tentando se lembrar do


significado desse termo e onde já tinha visto essa palavra. E
então, como em um flash, ela lembrou. Tinha visto em um
dos romances da biblioteca de seu pai, e se lembrou de que
era uma amante de vários nobres, ou uma prostituta.

A curiosidade a assolou, como seria a vida de uma cortesã?


O que elas faziam? Sua consciência a alertou que essa não
era uma leitura para uma dama, porém, Lizzie não se
importou, estava curiosa para saber mais.

Ela fechou o baú e levou o livro para seu quarto. Chegando


lá, abriu o livro e começou a passar folha por folha, apenas
olhando por auto sem, de fato, ler. O início era apenas texto,
não havia gravuras e o diário lembrava um guia.

― Quinto dia. — Ela leu em voz baixa uma página aleatória.


— Querido diário, hoje Madame Rose me ensinou outra
lição. Ela disse que depois que eu conseguir que ele chegue
até mim, devo ignorá-lo. Isso é ridículo, por que eu deveria
ignorar o homem que eu quero seduzir?

Segundo ela disse, os homens gostam de desafios, e para


eles, a mulher não passa de um. Isso até que tem lógica. E
ela disse também que se eu me mostrar muito receptiva e
interessada inicialmente, ele não vai se sentir desafiado e,
logo, não vai se interessar por mim. Então, mesmo que a
vontade seja me jogar em seus braços, devo fingir que não
estou interessada. Isso fará com que ele se sinta desafiado
a me conquistar, pois, provavelmente, nenhuma mulher o
recusou antes. Será que funciona mesmo? Hoje à noite vou
testar e amanhã eu digo se funcionou.

O diário era interessante, e só possuía as lições. Era como


se ela estivesse escrevendo para não esquecer, ou para
depois passar para alguém. Não era muito grande, devia ter
apenas umas cinquenta páginas. Mas nem todas estavam
escritas, haviam algumas folhas em branco no final dele.

Na verdade, não estavam em branco, tinham desenhos


feitos à carvão. A garota desenhava bem. Eram gravuras.
Lizzie observou atenta os desenhos, mas assim que se deu
conta do que eles representavam, se escandalizou.

A jovem abriu os olhos e se viu sem palavras diante da


anatomia de um corpo masculino completamente despido e,
ao seu lado, uma mulher ajoelhada, também desprovida de
roupas.

Inúmeras outras imagens similares a essa decoravam a


página com pequenas descrições ao lado de cada uma
delas. Todas com a mulher com o membro do homem na
boca, mas em diferentes posições.

Rapidamente fechou o diário, seu coração batia acelerado,


era isso o que as prostitutas faziam com os homens? Ela se
preguntou, tentando acalmar seu coração que batia
acelerado em seu peito.

Bem que sua consciência tinha avisado. Não podia ler algo
tão vergonhoso e escandaloso, aquele não era um livro para
uma dama. Jamais deveria ter aberto aquele livro.

Decidiu colocar o livro de volta na biblioteca, que era onde


tinha deixado a capa falsa do livro. Mas antes que pudesse
levantar da cama, onde estava lendo, seu pai apareceu na
porta.
― Foi você que arrancou a capa do livro de História da
Inglaterra? Não encontro o miolo. ― ele perguntou com a
capa nas mãos. E ao ver a cara de espanto dela, se
desculpou pensando que o motivo do assombro fosse a sua
entrada repentina no quarto.

Ela pensou que o pai não sairia do escritório tão cedo, e


muito menos mexeria no baú, mas estava enganada. Se
soubesse, teria trazido a capa falsa com ela e evitado ter
que contar uma mentira.

― Eu vi essa capa, mas ela não tinha livro, acho que era só
a capa mesmo. ― Foi a melhor resposta que ela conseguiu
depois que conseguiu pensar direito.

― Que estranho! Todos os outros estão com a capa, deve


ser uma capa alternativa para algum outro livro. ― o Barão
falou baixinho como se falasse consigo. ― Mas enfim, o que
está lendo dessa vez?

Ela olhou o livro parcialmente escondido entre seu vestido,


droga não podia deixar seu pai ver o que era.

― Um livro de fantasia, princesa, dragões... essas coisas. ―


Ela falou rápido demais e com um pouco de nervosismo na
voz.

― É bom? ― Seu pai insistiu sem perceber a mentira da


filha. ― Lembro que você gostava quando eu lia esse tipo
de história para você antes de dormir.

― Eu também lembro. E sim, o livro é muito bom. ― ela


disse, tentando parecer natural.

― Então não vou mais atrapalhar sua leitura. Ah, já ia


esquecendo, mais tarde Lady Margaery virá aqui. Quando
ela chegar, quero que desça para lhe fazer companhia. Ela
vai adorar revê-la.

Seu pai saiu fechando a porta e só então Lizzie se permitiu


respirar aliviada. Foi por pouco. Ela não gostava de mentir,
mas não podia deixar o pai saber que tipo de livro estava
lendo.

Não podia deixar ninguém saber, na verdade. Tinha que dar


um fim naquele livro assim que possível.

Mas o diário em sua mão parecia rir dela e, para sua


infelicidade, continuava instigando sua curiosidade,
enquanto seu lado racional a criticava por ler algo tão
escandaloso.

Tentava se convencer que fora sem querer e que tinha agido


apenas por curiosidade. E

tentava, a todo custo, acreditar que tinha sido apenas uma


gravura, o que não era algo tão ruim assim, ou era?

― É só um desenho, só um simples desenho. ― Lizzie dizia


para si mesma, tentando acalmar seu coração, mas sua
mente insistia em voltar para os detalhes daquele desenho.
E ela se pegava pensando no porquê de a mulher da
gravura estar com a boca no membro do homem?

O assombro inicial estava passando e, novamente, sua


curiosidade voltava a lhe assolar, e dessa vez, ainda mais
forte.

Era assim que se faria um filho? Engoliria o xixi dele e no


xixi teria a sementinha e essa cresceria na barriga, dando
origem a um filho?
Isso é meio nojento. — Pensou consigo mesma — Os
homens realmente gostavam dessas coisas? Teria que fazer
isso para o seu marido quando casasse?

Essas eram as coisas que passavam em sua cabeça


inocente. Se era assim que se fazia um bebê, ela precisaria
saber mais na frente, pois, como não tinha mais sua mãe
para lhe explicar

essas coisas, precisaria aprender por si mesma. Talvez um


dia, quando fosse se casar, voltasse a olhar aquilo para
saber o que fazer com seu marido, então seria melhor
manter o diário consigo, já que ele lhe poderia ser útil. Ela
se convenceu, justificando a curiosidade que só aumentava.

Capítulo 2 — Proposta

Mais tarde naquele mesmo dia, Lorde Fernoy lhe chamou


para o salão. Por um momento, pensou que tinha sido
descoberta e que seu pai iria puni-la por ter lido algo tão
impróprio, mas não era nada disso. Assim que chegou à sala
e viu a Condessa, Lizzie se lembrou de que seu pai tinha
avisado que esta chegaria à tarde.

― Querida, veja quem chegou! — seu pai disse animado.


Lady Dorset era a melhor amiga de sua mãe. Cresceram
juntas e ela sempre vinha visitá-los quando estava nas
redondezas.

— Estávamos conversando há pouco e milady tem uma


proposta para você.
Qualquer que fosse a proposta, Lizzie percebeu que seu pai
estava muito satisfeito e isso deixou a jovem curiosa.

― Milady. — Lizzie fez uma reverência para a mulher. ― É


um prazer revê-la.

A Condessa era uma mulher elegante, cabelos castanhos


muito bem arrumados em um coque primoroso, seu vestido
era de seda e musselina, em alguns tons de azul. Ela tinha
um sorriso caloroso no rosto que se refletia em seus olhos
azuis. Tinha umas poucas mechas acinzentadas no cabelo e
uma ou duas rugas nos olhos indicavam que ela não era tão
jovem quanto aparentava.

― Como você cresceu, minha jovem! Se tornou uma bela


mulher. Está igualzinha à Joanne quando tinha sua idade —
disse a Condessa com carinho e seus olhos se entristeceram
por sentir falta da amiga.

― Obrigada, Milady. Fico muito feliz que tenha vindo nos


visitar.

A Condessa sorriu também se animando ao lembrar-se do


motivo da visita.

― Aqui está calor, não? O que acha de darmos uma volta no


jardim para que possamos conversar melhor? — convidou a
Condessa e as duas seguiram para o jardim.

Depois de andarem alguns minutos em silêncio, a mais


jovem perguntou curiosa.

― Meu pai disse que a senhora tem uma proposta para


mim… — Lizzie começou mal contendo a curiosidade.

― Ah, claro. Bom, estou indo passar uma temporada na


casa do meu sobrinho em Londres, e queria saber se você
gostaria de me acompanhar.

O rubor recobriu o rosto da jovem, o sobrinho ao qual se


referia era o Conde de Dorset, o mesmo homem pelo qual
se apaixonara em sua adolescência, e só a ideia de ficar
uma temporada com ele a fez sentir como se tivesse
borboletas no estômago.

― C-claro, eu adoraria. Nunca fui a Londres. — Lizzie tentou


disfarçar seu rubor abaixando a cabeça. Torcia para que a
Condessa acreditasse que seu rosto vermelho era vergonha
por nunca ter ido à tão conhecida cidade.

A Condessa, ao ver aquela reação inesperada, sorriu com


um brilho travesso no olhar. A mais nova não tinha
conseguido seu intuito de esconder o motivo de seu
nervosismo.

A Condessa desde que mostrara ao Conde quem era a sua


noiva de verdade, tentava a todo custo encontrar um novo
amor para ele. Não gostava da vida de lobo solitário que ele
levava e queria a todo custo ver seu sobrinho feliz. Mas
sabia que, para conquistar o seu sobrinho, teria que ser
uma mulher bonita e que não tivesse nenhum interesse em
dinheiro e status.

― Me diga, criança, por que nunca se casou? ― a Condessa


perguntou determinada a

saber se a jovem dama se encaixava naquilo que seu


sobrinho precisava.

― Não encontrei a pessoa certa ainda, Milady ― Lizzie


respondeu envergonhada.
― E quem seria a pessoa certa para você? O que procura
em um homem, meu bem? ― a Condessa perguntou
desconcertando a jovem garota que, novamente, ruborizou
envergonhada. ―

Não se preocupe, quero que me veja como uma amiga.

― Eu queria um casamento como o dos meus pais, eles se


casaram por amor e foram muito felizes — a jovem disse se
lembrando do amor que seus pais sentiam um pelo outro e
como eles não escondiam isso dos filhos.

― Mas amor é um luxo que nem todos podem ter ― a


Condessa replicou. ― O amor não enche a barriga de
comida, criança.

― Nem o dinheiro enche o coração de amor, Milady. Meus


pais foram felizes em seu casamento e, mesmo quando as
coisas estavam apertadas financeiramente, eles tinham o
apoio e o amor de um ao outro. O dinheiro é algo incerto,
hoje você pode ter e amanhã não, já o amor, desde que seja
alimentado, dura para sempre. Sei que pareço tola ao dizer
isso, e sei também que tenho obrigações com minha
família, terei que casar algum dia, terei que ter filhos, e
terei que ser uma boa esposa. E se por ventura eu tiver que
casar sem amor que seja, pelo menos, com um homem
honrado, e assim, quem sabe, eu não aprenda a amá-lo com
o tempo. ― Lizzie disse dando voz a tudo que acreditava,
esquecendo que aquele era um pensamento seu e que
podia ser visto como algo absurdo. E de repente se lembrou
com quem estava falando. — Me perdoe, Milady, não tinha a
pretensão de falar tanto.

Lizzie baixou a cabeça, envergonhada por defender o amor


de forma tão imprópria, não era bom uma jovem ter esse
tipo de pensamento. Isso só afastaria possíveis
pretendentes, ou daria vantagens a qualquer sem tostão de
tentar enriquecer às suas custas, com uma falsa ideia de
amor.

― É uma bela filosofia, tola, mas bela. Seus pais a criaram


de uma forma perigosa, não é bom que uma dama pense
essas coisas, é almejar muito alto. Mas gosto do seu ponto
de vista. É…

igualzinho ao da sua mãe ― a Condessa pronunciou,


acalmando o coração da jovem que temia ser tida como
infantil e tola.

Lizzie sorriu com a comparação, tinha muito de sua mãe em


si e se orgulhava disso.

Então, para a sua surpresa a Condessa viúva continuou.

― Não deixe que mudem isso. Em um mundo cheio de


mulheres interessadas em dinheiro, as que estão
interessadas em amor são raras e se destacam. Espero
mesmo que consiga encontrar o que tanto almeja.

Depois daquela conversa voltaram para dentro de casa.


Lizzie foi para seu quarto ver o que levaria, pois, partiriam
ainda naquele dia. Seu coração palpitava de ansiedade,
como estaria agora o homem que ela sempre amou em
segredo?

Lorde Daniel de Brant, o quinto Conde de Dorset estava na


biblioteca de sua casa em Londres e batia seus dedos na
mesa, indicando sua preocupação a respeito do prejuízo que
o atraso de seu navio cargueiro lhe causaria. A noite já tinha
caído e nenhuma mensagem sobre a sua preciosa carga
chegara. Se ela não chegasse em breve, perderia os
negócios que já tinha acertado
para as sedas que estavam a caminho. Já tinha vendido boa
parte do carregamento, e seus compradores, mesmo os que
ainda não haviam pago, estavam cobrando e reclamando da
demora.

E ele já estava perdendo a paciência com alguns deles.

Uma batida na porta o tirou de seus pensamentos sobre a


carga imprevisível. Seu mordomo trouxe uma carta em uma
bandeja, e ao observá-la melhor reconheceu a letra de sua
tia, e ao ler fechou a cara. Ela estava avisando que passaria
uns dias em sua casa, e chegaria em poucos dias.

Ele gostava muito da Condessa, mas sabia que a vinda dela


até Londres era uma novidade. Ela odiava aquela cidade,
dizia que era falsa e interesseira demais para o seu gosto.

Então sua vinda significava que tinha alguma coisa em


mente. O quê, não podia nem imaginar, sua tia era uma
incógnita desde que se entendia por gente. Sempre tinha
planos para todos e acabava sempre conseguindo tudo o
que queria. Era uma mulher astuta e inteligente, o que lhe
deixava ainda mais perigosa.

A última vez que ela estivera ali fora há cinco anos, quando
ele rompeu o noivado com Lady Letícia Denvern, e só
esteve ali para alerta-lo da megera que a noiva era. Ele
estava cego pela paixão e pela beleza da ex-noiva, e não
percebeu que a mulher com quem estava prometido a vida
toda, lhe era infiel e não lhe amava.

Devia ter desconfiado da sua tentativa de seduzi-lo


descaradamente, e da falta de pudor com que ela se
ofereceu a ele. Devia ter percebido que a ex-noiva parecia
experiente demais para uma virgem prometida em
casamento. E ele quase caiu nos truques dela. Quase. Ao
ver que ele não a tocaria até o casamento a pedido do pai
da noiva, ela tentou forjar um escândalo para que eles se
casassem o mais rápido possível, pois estava carregando o
filho de outro homem, e queria que parecesse que era dele.

Mas com a visita de sua tia, os planos de sua noiva foram


por água abaixo e ele acabou descobrindo tudo quando
confirmou que sua tia estava certa. Uma carta interceptada
por ele foi a prova que precisava para perceber que ela
estava armando contra ele, e isso foi suficiente para lhe
abrir os olhos e desfazer o noivado.

Sorte a dele que nunca tinha passado de beijos quentes


com a tal moça, caso contrário, estaria preso agora a um
casamento fracassado. Na época, era apenas um jovem tolo
de vinte anos, que tinha se mantido fiel a uma mulher que
não o merecia. Mas só se permitia ser tratado como tolo
uma única vez, e agora era um Conde bem-sucedido e rico,
que não pretendia jamais se casar. Deixaria, com todo o
prazer, o condado para seu primo.

A carta de sua tia o tinha feito remoer mágoas antigas,


nunca tinha se perdoado por ter sido tão idiota. Mandou que
chamassem um coche para ele, iria até o clube onde era
associado, diante daquelas lembranças tudo que precisava
era beber e tentar esquecer o passado.

Assim que chegou ao clube, disse a senha que tinha


recebido pela manhã no jornal. Como já estava de noite, o
clube estava quase lotado. Todos os cavalheiros
selecionados de Londres estavam ali. Para a segurança dos
mesmos, ao entrar no clube, eles recebiam uma máscara.
Ali tudo era permitido: jogos de azar, cartas, cassino, todo
tipo de apostas e, muitas mulheres para sua satisfação
pessoal.
Já com a máscara escondendo sua identidade e dentro do
clube, Lorde Dorset seguiu para o primeiro andar, que era
mais reservado, e se sentou em uma mesa um pouco mais
escondida.

Tudo ali já era familiar para ele, desde que o clube havia
aberto que ele era um associado.

O Conde observou os detalhes em vermelho e branco na


parede preta, as mesas redondas de madeira cobertas por
um tecido preto e rodeadas por cadeiras do mesmo
material, as divisões

entre cada mesa, as mulheres servindo as mesas com seus


vestidos coloridos. As de branco serviam apenas bebidas, as
de preto eram apenas acompanhantes nos jogos, e as de
vermelho eram as que eles poderiam comprar para ir a
algum quarto anexado ao clube.

O clube não era tão grande, já que a quantidade de


membros era limitada, uma vez que nem todos tinham a
senha. E também havia regras a serem seguidas por todos
ali dentro, a principal dela era: nunca tirar a máscara. Havia
uma lista negra de pessoas que tinham a entrada proibida
simplesmente por tê-las retirado em algum momento.

Sua atenção se voltou para a dama de branco que lhe servia


a bebida, ela também usava máscara, todos ali, inclusive os
empregados, usavam. Assim que a dama de branco se
afastou, uma de vermelho se aproximou, ele precisaria de
uma delas para afogar as mágoas. Então virou de uma vez a
bebida e deixou-se ser conduzido ao quarto onde poderia
esquecer, por alguns momentos, seus problemas.
Capítulo 3 — Londres

Elas partiriam naquele dia. As coisas de Lizzie já estavam


prontas desde a noite anterior e ela estava ansiosa,
esperando a chegada da carruagem da Condessa que a
levaria para Londres.

Lizzie estava em seu quarto decidindo como devolveria o


diário para o baú. Seu pai estava desde cedo na biblioteca e
a jovem não poderia deixar que seu pai encontrasse o
diário, pois ele tinha visto o livro com ela, e caso o
encontrasse na biblioteca depois, reconheceria a capa e
associaria com o que tinha visto com ela no dia anterior.

Ainda estava pensando no destino do livro, quando uma


criada entrou em seu quarto.

Instintivamente Lizzie escondeu o livro no primeiro lugar


que encontrou. Não podia permitir que mais ninguém
tivesse conhecimento do livro, sua reputação dependia
disso.

― Milady, a Condessa já chegou com a carruagem, seu pai


mandou avisá-la para que desça. — A criada deu o recado
que lhe tinha sido ordenado e, em seguida, voltou aos seus
afazeres, deixando Lizzie sozinha.

Lizzie ficou tão empolgada que, rapidamente, fechou sua


maleta e desceu indo se despedir logo do pai e dos irmãos.

― Eu devia dizer para ter juízo e não fazer nada que


envergonhe sua família, mas você nunca deixou de nos
orgulhar, e juízo nunca lhe faltou — disse seu pai assim que
ela o abraçou. —

Vou sentir saudade, não se esqueça de nos escrever.

― Papai, é só uma temporada, estarei de volta antes que


perceba — Lizzie disse com lágrimas nos olhos.

― Tome cuidado, meu amor, Londres não é como Fernoy.

― Pode deixar, papai.

Depois de se despedir de seu pai e abraçar cada um de


seus irmãos, a jovem subiu na carruagem da Condessa e
elas partiram para Londres.

― Vejo que está animada — disse a Condessa assim que ela


entrou na carruagem.

― E muito, Vossa Graça — ela respondeu com um sorriso de


orelha a orelha.

― Gosto da sua espontaneidade. É mais comum encontrar


moças dissimuladas e interesseiras e, por isso, fico feliz por
não ser como elas. — A Condessa aprovou os modos de
Lizzie e em seguida a instigou a falar mais. ― Mas me conte
mais de você, seu pai me contou de seu gosto pela leitura.

― Isso é verdade, meu pai sempre lia para mim quando era
mais jovem, então desde pequena que eu amo livros. Já li
vários gêneros, mas meu favorito é romance. — Os olhos de
Lizzie brilhavam quando ela falava de livros.

― Logo vi, seu modo de pensar lembra muito essas


mocinhas de romance. ― a Condessa disse irônica.
― Isso a incomoda? — a mais jovem perguntou franzindo a
testa, aquela resposta ditaria como deveria se portar no
restante da temporada. Se a Condessa se incomodasse com
sua liberdade teria que se conter ao máximo para não
incomodá-la.

― De forma alguma, muito pelo contrário, quanto mais


diferente você for das outras moças, melhor para nós. Isso
com certeza chamará a atenção de alguns pretendentes.

Aquelas palavras fizeram Lizzie cerrar os olhos ao entender


o porquê da Condessa a levar para Londres.

― Meu pai lhe pediu para me arrumar um marido, não foi?


— Lizzie perguntou desconfiada.

― Não exatamente, mas ele deixou bem claro que adoraria


vê-la casada. E não foi só uma vez — Lady Dorset
respondeu rindo e piscando um olho para a jovem que se
encolhia envergonhada ao saber que o pai tinha recorrido à
Condessa para arrumar um marido para Lizzie.

― Mas não se preocupe, não a trouxe para arrumar-lhe um


marido, e sim para ser minha acompanhante durante essa
temporada. Não gosto muito de Londres, é uma cidade fútil
e interesseira e você é o oposto disso, será uma ótima
companhia para mim.

A Condessa sorria de forma misteriosa, o que deixou Lizzie


com uma pulga atrás da orelha. Mas apenas acenou com a
cabeça concordando com a Condessa e seguiram em
silêncio o resto do caminho.
Lizzie olhava a paisagem passando pela janela da
carruagem, faltava pouco mais de uma hora para chegarem.
Estava ansiosa, por um lado queria ver como o homem de
seus sonhos tinha ficado e, por outro, temia o que poderia
encontrar.

Era de conhecimento público que ele não tinha se casado,


Lizzie soube disso através de seu pai que adorava se
informar sobre Londres. Tinha sido um escândalo na época,
ainda mais quando Lady Letícia, ex-noiva do Conde,
apareceu grávida pouco tempo depois de terem rompido o
noivado. Muita gente pensou que fosse dele, e por um
tempo ele foi visto com maus olhos. Isso até a criança
nascer e deixar evidente que seu pai não era o Conde,
então todos entenderam porque o Conde rompeu o noivado:
ela o tinha traído com um cantor de ópera muito famoso em
Londres.

Depois daquela notícia, Lizzie sonhou a semana toda com o


Conde de Dorset, sonhou com ele lhe declarando amor
eterno, indo buscá-la em casa e se casando com ela.
Sonhou com os filhos que teriam, com ela vivendo feliz para
sempre. Também tinha sonhado com ele na noite anterior,
mas, dessa vez, tinha sido um pesadelo. No sonho ele não
gostava dela e a mandava embora, e ela voltava humilhada
e desonrada.

― Você se lembra do meu sobrinho? — a Condessa


perguntou como quem não quer nada e Lizzie pulou do
assento, assustada ao ter os pensamentos interrompidos.

― O vi poucas vezes, Vossa Graça ― ela respondeu após se


recompor, tentando não pensar no homem que lhe invadia
os sonhos há algum tempo. — Ele me pareceu um bom
homem.
― Ah, verdade, ele me acompanhou até sua casa algumas
vezes… Graças aos Céus que ele não se casou com aquela
mulher. — A Condessa continuou falando fingindo não ter
visto o pulo que a jovem deu quando falou do seu sobrinho.
— Lorde Dorset se tornou um homem muito bonito,
cavalheiro e rico. Muito rico.

― Fico feliz que ele tenha superado tão bem o rompimento


com a noiva. E espero que ele não se incomode com minha
estadia na residência dele. — Lizzie fingiu não ter ouvido a
Condessa dar enfoque na palavra rico, não lhe interessava
de modo algum a riqueza do Conde, isso era o que menos
lhe chamava a atenção nele, e mesmo que não tivesse um
centavo continuaria apaixonada por ele.

― Ele ficará feliz em ter uma companhia feminina tão


espontânea, a maioria das moças que se aproximam dele é
para tentar fisgá-lo em casamento, e por isso, eu fico feliz
que você não esteja pensando em se casar. Ele ficará mais
à vontade ao saber que não precisa se preocupar em fugir
de você, como vem fazendo com todas as outras mulheres e
mães casamenteiras.

― Quanto a isso pode ficar despreocupada, Milady, continuo


não tendo nenhuma intenção de voltar para casa casada. —
Lizzie sorriu e ergueu o rosto olhando diretamente para a
Condessa para que ela soubesse que falava a verdade, pois
um casamento sem amor não lhe interessava, e não era tola
para acreditar que o Conde se apaixonaria por ela.

A Condessa a olhou, analisando cada expressão da jovem


dama. Ela seria perfeita para o sobrinho. Seu sobrinho
adorava desafios, e só de Elizabeth não querer
compromisso, por hora já lhe chamaria a atenção.

― Eu sei disso, criança, sei disso.

O mordomo bateu à porta de seu escritório para anunciar a


chegada de sua tia, e ele foi até a sala de estar para saudar
a recém-chegada. Deu-lhe um abraço de urso que a tirou do
chão, como sempre fazia quando estavam sozinhos. A tia
tinha sido como uma segunda mãe para ele. A Condessa
não tinha laços sanguíneos com lorde Dorset, uma vez que
era esposa do tio dele, o antigo Conde de Dorset, mas,
mesmo assim, ela assumiu o papel de mãe na vida dele
quando um acidente levou a vida dos pais de Daniel quando
esse tinha apenas quinze anos.

― Como está minha tia preferida? Parece que está mais


nova a cada dia que passa, nem parece ter chegado aos
oitenta anos — o Conde disse brincando enquanto colocava
a Condessa no chão que o olhava com indignação.

― Daniel! Já lhe disse para ter modos! E eu não tenho essa


idade! — a Condessa ralhou com o sobrinho, mas, ao
mesmo tempo em que seu semblante era severo, seus
olhos provavam que ela estava feliz em ver o sobrinho. —
Você já é um homem adulto para fazer essas brincadeiras
de criança. Tanto que eu falei para a senhorita Fernoy de
sua educação. O que ela irá pensar de você agora?

Aquelas palavras foram suficientes para que ele percebesse


que tinha outra pessoa na sala com eles. Ela o olhava com
admiração e ao mesmo tempo um sorriso travesso torcia
seus lábios para um lado. Ele fechou a cara rapidamente.
Aquela presença lhe tirou toda a alegria que sentira com a
chegada da tia.
― Senhorita Fernoy, este é Daniel de Brant, meu sobrinho e
quinto Conde de Dorset.

Daniel, esta é a senhorita Elizabeth Alexander Fernoy, filha


do Barão de Fernoy.

― Peço perdão pelo meu comportamento, senhorita, ele foi


deveras inapropriado, esperava encontrar minha tia…
sozinha. — Ele deu um enfoque na palavra sozinha, e olhou
desgostoso para a tia com o canto do olho enquanto fazia
uma leve mesura para a garota. ― Mas seja bem-vinda à
minha casa.

― É um prazer, Vossa Graça, e estando em vossa


residência, é de se esperar que se comporte da forma que
melhor lhe aprouver, logo, espero que minha presença não
o incomode —

a garota respondeu polida e educada.

A presença dela já lhe incomodava, não gostava da forma


como a tia sorria, e muito

menos desta ter trazido uma jovem para sua casa sem
antes ter lhe avisado. Sua tia sabia o quanto ele era contra
ter uma mulher em sua casa, ainda mais uma que ele não
conhecia e de nível social mais baixo que o dele, essas
eram as mais interesseiras. Com aquela garota ali teria que
dobrar o cuidado para não cair em nenhuma cilada que o
levasse a um casamento forçado, como várias vezes haviam
tentado fazer.

Se bem que aquela criança não poderia lhe fazer muito mal,
sua aparência era a de alguém que acabava de debutar, era
uns bons vinte centímetros mais baixa que ele, e era
esguia, o que não lhe despertava o interesse de forma
alguma.
Olhou mais uma vez para sua visita, ela tinha cabelos
negros e sua pele era uns tons mais escuros que as
inúmeras moças que ele costumava ver por ai, seu rosto
não tinha cosméticos e ela não parecia desgostosa com
isso. E tirando apenas os enormes olhos castanhos, ela não
tinha quase nada de exuberante. Era uma moça comum e
para a sua sorte não lhe despertava o desejo, e mesmo que
porventura lhe despertasse, não iria fazer nada que
causasse problemas futuros. Se precisasse de sexo já tinha
para onde ir. Depois de prestar atenção nela, teve a
impressão de já tê-la visto em algum lugar, mas não
conseguia lembrar onde.

― Edmond, por favor, mostre o quarto de visitas para a


senhorita Fernoy, assim ela poderá descansar da longa
viagem.

O mordomo levou a jovem para o quarto onde já estavam os


pertences que ela havia trazido de sua casa. Lorde Dorset
seguiu com a Condessa para seu escritório, e ela sabia o
que ela ia falar antes mesmo que abrisse a boca, e na
verdade já contava com isso.

― O que a senhora tinha na cabeça? — ele perguntou assim


que entraram no escritório, indo até uma poltrona e
sentando-se.

― Olhe como fala comigo, Daniel! — A Condessa exigiu


respeito. — E essa pobre garota não lhe fez nenhum mal
para não ser bem-vinda aqui — ela reclamou sentando-se
em uma poltrona em frente a ele.

― Só me diga que não está tentando dar uma de


casamenteira de novo — ele provocou.

― Claro que não. A Senhorita Fernoy é só minha


acompanhante e já sabe o quanto eu odeio essa cidade, ela
é uma das poucas jovens que não são interesseiras e fúteis
nessa cidade.

― Quanto a isso eu duvido. Toda mulher é interesseira e


fútil, se não for assim, é porque é um homem. — Ele
desdenhou das palavras da tia, apoiando os cotovelos na
mesa e colocando as mãos unidas em baixo do queixo.

― Está me chamando de interesseira e fútil, Daniel? — a


Condessa perguntou, fingindo se ofender com a afirmação
do sobrinho.

― Fútil não, mas interesseira, com certeza! Seu maior


interesse é me ver casado. E eu aposto minhas sedas como
tem um plano nessa cabecinha para que eu me apaixone
pela garota que trouxe.

― Não tem plano nenhum! E a jovem não quer se casar, por


isso a trouxe. Acha que eu a teria trazido se ela estivesse
procurando marido? Você é um partido e tanto, e só traria
dor de cabeça me preocupar com ela tentando te prender
num casamento.

― Ela não quer casar? Essa é nova! — Ele riu com gosto.
Toda mulher naquela maldita cidade procurava um marido
em potencial, e ele e seus amigos encabeçavam a lista.

― Qual o problema? Ela não tem interesse em riquezas e,


segundo o pai dela, foi decisão dela não se casar, ela
recusou todas as propostas de casamento que fizeram a ela.

― Isso não quer dizer que não possa começar a querer um


— o Conde rebateu. — E com certeza as propostas não
devem ter vindo de um Conde.
― Faça o teste você mesmo, se eu estiver errada te dou o
meu navio, e se estiver certa você me mandará fazer
vestidos com as suas melhores sedas.

― E como você quer que eu descubra se ela tem interesse?


Perguntando se ela quer se casar comigo? Não vou pedir a
mão dela em casamento. — O Conde semicerrou os olhos.
Sempre que apostava com a tia, tinha que ter cuidado, pois
ela sempre tinha uma carta na manga.

― Bom, não estou dizendo que você deve se casar com ela,
mas se quiser o meu navio, terá que provar que ela está
tentando te fisgar em um casamento e que ela não é digna
de confiança até o fim dessa temporada.

― Espero que não se chateie quando eu ganhar seu navio.


― Ele se levantou sorrindo para a tia.

― Digo o mesmo sobre suas sedas… ― A Condessa sorriu


de volta para o sobrinho ―

Bom, verei como está a senhorita Fernoy ― Ela se dirigiu


para as escadas e antes de subir, olhou para trás. ― Tente
ser menos grosseiro da próxima vez, ou nunca vai conseguir
ganhar a aposta.

Com isso, a Condessa deixou o Conde sozinho pensando em


como faria para ganhar a aposta.

No quarto, Lizzie olhava tudo maravilhada. O mordomo já


havia saído e deixado uma criada para ajudá-la a se trocar,
tudo naquela casa era lindo e muito bem colocado para dar
um ar ainda mais magnífico à casa. E o quarto de hóspedes
não era diferente.

Ela se deitou na imensa cama sentindo sua maciez. A criada


a olhava sorridente, aguardando sua ordem de modo
serviçal. Ela se levantou e permitiu que a jovem a ajudasse
a tirar a roupa para um banho rápido. Estava cansada da
viagem e também com fome. Não tinha comido nada desde
que saíram de casa.

Sua barriga roncou alto em meio ao silêncio do quarto e a


moça que lhe ajudava segurou o riso ao ver a jovem dama
envergonhada com o barulho feito pela barriga.

― O almoço será servido em instantes, senhorita — ela


avisou e pegou a roupa de viagem para lavar, saindo logo
em seguida do quarto.

Assim que ficou sozinha, Lizzie se esparramou na cama. Era


tão surreal estar ali. Estava tão feliz e animada, mas, ao
mesmo tempo, temia não ter causado uma boa impressão
ao Conde.

Ele tinha sido tão seco e seu semblante mostrava que ele
não estava contente com sua presença ali.

Sequer a olhara direito. Tinha praticamente a expulsado da


sala para poder conversar em paz com sua tia. Talvez ele
não fosse tão amável quanto o homem dos seus sonhos.

Ele estava diferente do que ela lembrava, estava mais


homem e até mais bonito, mas tinha perdido o ar inocente
que ela havia visto em seus olhos quando tinha quatorze
anos, e estava também menos feliz. Ele parecia possuir um
peso nos ombros que não gostava de carregar.

Mas não podia julgá-lo por apenas uma primeira impressão,


podia ser que o dia dele não estivesse indo bem. E tudo isso
fosse coisa de sua mente criativa. Além do mais, a presença
dela o pegou desprevenido, como ele mesmo tinha dito, não
esperava que a tia tivesse vindo acompanhada.
Então Lizzie decidiu não deixar isso afetá-la por demais,
estava em Londres, e não ia ficar triste só porque o homem
de seus sonhos não gostava dela. Era até aceitável esse
fato, visto

que ele tinha todas as mulheres de Londres a seus pés.

Batidas na porta a assustaram e ela se levantou depressa,


temendo ser vista de forma tão despojada na cama. Abriu a
porta devagar e deu de cara com a Condessa que a olhava
alegre.

― Está confortável, querida? ― a Condessa perguntou


quando Lizzie abriu a porta.

― Sim, Vossa Graça, aqui é tudo muito aconchegante —


disse Lizzie respondendo ao sorriso da Condessa com outro
sorriso.

― Espero que meu sobrinho não tenha lhe causado


constrangimento com seu comportamento. — A mais velha
se desculpou pelo Conde.

― De forma alguma, ele apenas foi pego de surpresa com


minha presença — Lizzie disse sem jeito, não queria dizer
que ela ficou sem graça ao ver a reação dele.

― Fico feliz que tenha compreendido. O Conde não gosta


muito de visitas femininas, pelo menos não depois do
escândalo com o rompimento do noivado. Ele deixou de
confiar nas mulheres, acha que todas são interesseiras,
mentirosas e que na menor oportunidade irão prendê-lo em
um casamento — a Condessa explicou. — Eu tento
persuadi-lo desse pensamento, mas acredito que ele não
me dá ouvidos, temo que ele seja infeliz o resto da vida já
que não se permite amar ninguém. E o que é uma vida sem
amor? Você mesma disse isso. Talvez, com você aqui, ele
possa ver que ainda há esperança afinal.

A Condessa disse cada palavra sabendo que iria inquietar a


filha do Barão, e depois saiu, indo para o próprio quarto se
trocar. Tinha começado a colocar suas ideias em ação e
faria tudo para seu plano dar certo.

Assim que a Condessa a deixou, Lizzie voltou para a cama.


Agora entendia o motivo da reação do Conde e se
compadeceu de sua história triste. A única mulher que ele
amou era uma megera que para fugir da ruína por causa da
gravidez fora do casamento, cuja criança não era do Conde,
tentou armar para que parecesse que o filho era dele, e
assim conseguir, além do título, não ser completamente
arruinada. E todas essas mentiras fez ele se fechar para o
amor.

Será que ela conseguiria mostrar que nem toda mulher era
igual à sua ex-noiva?

Esse era o único pensamento que ela tinha. Queria poder


ajudá-lo a superar isso, mas tinha que tomar cuidado, já que
ele acreditava que ela também podia estar ali para prendê-
lo em uma armadilha de casamento.

Lizzie ficou deitada na cama olhando para o teto branco


com detalhes em azul-claro, pensando o que poderia fazer
para mostrar para o Conde que não era igual a ex-noiva
dele, e enquanto pensava, a frase dita pela Condessa
ecoava em sua mente: “Temo que ele seja infeliz o resto da
vida”.

E pensando no Conde, acabou adormecendo.


Capítulo 4 — Insultos

Batidas na porta do quarto acordaram Lizzie. Era a criada


com o pedido da Condessa que Lizzie se juntasse a ela para
o chá da tarde. Segundo a criada, a Condessa não tinha
permitido que fosse acordada para o almoço, uma vez que a
viagem havia sido cansativa, e queria que ela descansasse.

Ela se arrumou com a ajuda da criada e desceu para fazer


companhia à Condessa, que estava na sala com outras
mulheres; assim que a viu, a Condessa abriu um sorriso
genuíno.

― Venha cá, querida — a Condessa chamou erguendo a


mão. — Quero que conheça a Condessa de Claire, Lady
Amélie de Averley. ― Ela apontou para a senhora a direita,
que usava um vestido lilás com muitas camadas de tecido e
extremamente chamativo. ― E esta é Lady Abigail de
Sinclair, Viscondessa de Sevan. ― A Viscondessa estava
com um vestido mais simples, cor de creme, bem menos
espalhafatoso que o da outra mulher e, por sua vez, parecia
mais simpática e agradável que a primeira.

― É um prazer. — Lizzie fez uma mesura ao ser apresentada


às distintas damas.

A Condessa de Claire acenou com a cabeça e com um


sorriso de superioridade no rosto, um gesto típico que ela
reservava para os membros de classe mais baixa. E a
viscondessa lhe deu um sorriso sincero e educado.
― Sente-se, minha querida. — A Condessa apontou um
lugar ao seu lado e Lizzie sentou-se silenciosa.

― Então, Margaery, quando vai fazer o Conde mudar de


ideia sobre se casar? — Lady Claire perguntou à Condessa
com o nariz empinado, ignorando totalmente Lizzie depois
da apresentação.

― Isso não está em minhas mãos, Amélie, ele é livre para


decidir se vai querer casar ou não.

― Mas é um desperdício um homem daquele não querer se


casar, ainda mais com tanta moça de berço debutando
nessa temporada. Ele seria um partido e tanto para
qualquer moça em idade de se casar.

― Isso é uma verdade — concordou a Condessa de Dorset.


— Mas, como eu disse, depende unicamente dele, quando
ele achar que deve se casar, ele se casará.

― Mas com certeza ele escuta você, e agora que está aqui
não se importaria em lhe acompanhar ao baile na minha
casa, foi por isso que eu vim lhe ver. ― A Condessa de
Claire tirou um papel do bolso enquanto falava. — Trouxe-
lhe pessoalmente o convite, para garantir que não iria
recusar ao meu pedido. Então, querida, diga que vai e leve
essa…bela jovem com você.

Acredito que ela nunca tenha participado de um baile tão


famoso quanto os que eu ofereço.

A Condessa havia olhado com um sorriso tão falso para


Lizzie que ela se sentiu sem graça. Sabia que a mulher tinha
debochado dela ao dizer que ela era bonita, uma vez que
não seguia nenhuma moda londrina e para eles, seguir a
moda era de suma importância para ser bem-aceita na
sociedade.
A chacota não passou despercebida por nenhuma das
mulheres que estavam tomando chá.

Lady Claire era conhecida por sua arrogância e vaidade, e


também por sua língua ferina.

A Condessa de Dorset sabia disso, e não gostava nem um


pouco da mulher que estava a sua frente com o ar
arrogante. Mas a etiqueta e o decoro não lhe permitia fazer
o que estava querendo fazer contra a mulher à sua frente.

― Farei o possível para convencer meu sobrinho a ir, mas


não lhe garanto nada — Lady Dorset disse em resposta ao
convite do baile. — Mas eu e a senhorita Fernoy iremos,
será bom para ela se divertir um pouco.

A Condessa de Claire ficou satisfeita com a resposta da


Condessa, e então voltaram a conversar sobre a última
moda londrina. Lady Claire não se continha ao falar dos
bens que possuía, ou de sua própria fama, ou da beleza de
sua filha que tinha chamado à atenção de vários homens de
berço nobre.

Elas passaram a hora do chá escutando Lady Claire se


gabar, e assim que a mulher saiu com sua acompanhante,
tanto a Condessa como Lizzie suspiraram aliviadas.

― Eu não suporto o ego dessa mulher! — a Condessa


confessou assim que ficaram sós.

― Se dependesse de mim, ela sumia para sempre da


sociedade, tenho certeza que ninguém sentiria falta dela.

― Por que aceitou o convite, então? — Lizzie perguntou sem


entender porque a Condessa tinha concordado com aquilo
se não gostava da outra mulher.
― Porque, infelizmente, ela realmente dá os bailes mais
famosos de Londres, e graças a isso, toda a nobreza
Londrina aparece por lá. E, apesar de não gostar dela, eu
gosto bastante de algumas pessoas que ela convida. E
quero que conheça essas pessoas, sua mãe conhecia a
maioria delas e seu pai também.

― Entendi, a senhora não vai nem tanto pela festa e sim


pela companhia que terá lá. —

Lizzie falou depois de um tempo pensando nas palavras da


Condessa.

― Exatamente, minha jovem. — A Condessa sorriu. ― O que


não suportamos pelos amigos, não?

Lizzie concordou com a Condessa com um sorriso.

― Ela, pelo menos, foi gentil ao trazer o convite. — Lizzie


pensou alto e a Condessa riu.

― Ali de inocente não tem nada! Ela quer é que eu leve o


Conde para a filha dela poder enfiar suas garras nele.

― Sério? — Lizzie ficou surpresa, mas então se lembrou das


frases ditas pela outra mulher sobre a própria filha, durante
sua breve visita. — Então ela quis dizer que a filha era um
ótimo partido para o Conde? — Lizzie disse dando ênfase na
palavra Conde.

― Exatamente, minha cara. Exatamente. Mas se depender


de mim meu sobrinho não chega nem perto daquela família.
Porque a filha é a mãe todinha. E eu prefiro não ter que
suportar nenhuma das duas — a Condessa disse enquanto
saia da sala com Lizzie e seguia para as escadas em direção
a seus aposentos. ― Daniel pediu para avisar que não
jantará conosco essa noite, então mandei que servissem
seu jantar em seus aposentos. Mais tarde mandarei que lhe
entreguem papel, tinta e pena. Acredito que gostaria de
enviar uma carta para seu pai, não?

― Sim, Milady, eu gostaria muito. Obrigada — Lizzie


agradeceu entrando em seu quarto e a Condessa seguiu
para o dela.

Como a Condessa havia dito, o jantar foi servido no quarto


de Lizzie, e logo em seguida um criado lhe trouxe papel,
tinta e pena, e ela escreveu uma carta para seu pai,
avisando que já tinham chegado e que estava animada com
a temporada.

No dia seguinte, no café da manhã, todos sentaram-se à


mesa. Lizzie comia de cabeça baixa tentando, em vão, não
olhar para o seu anfitrião. Não o tinha visto desde o dia
anterior, e tinha ficado inquieta com o que a Condessa
havia falado a respeito dele no dia anterior. Será que ele
ainda estava chateado por ela ter vindo junto? Pelo silêncio
que estava na mesa era provável que sim.

Em meio a tanto silêncio, Lizzie se perdeu em pensamentos


e, sem nem mesmo notar, começou a observar o Conde. Ele
comia sem pressa, mas não parecia saborear a comida, na
verdade, parecia até que o fazia apenas no automático, sem
pensar no que estava fazendo. Seu pensamento parecia
estar em algum outro lugar, um lugar bem distante.

Ele está tão sério — pensou ela se esquecendo de comer ao


observá-lo.

Ela guardava na mente cada detalhe daquela cena, o cabelo


ondulado e castanho do Conde, a forma como eles
escondiam seus olhos cor de mel quando se debruçava
levemente sobre o prato, seus dedos longos segurando o
talher, seus ombros largos que escondiam a cadeira atrás
dele. Ela devorava cada detalhe inconscientemente, quando
ele levou o talher à boca, a concentração da jovem ficou ali,
nos lábios do Conde.

Há quanto tempo aqueles lábios não sorriam? Será que ele


seria feliz algum dia novamente? É como se ele vivesse
apenas vendo os dias passarem. Ele não é feliz — julgou a
garota analisando o semblante do Conde.

Aquela afirmação sobre a felicidade do Conde a fez olhar


para o próprio prato. E então se lembrou da comida e voltou
a comer lentamente. Seus pensamentos continuavam no
Conde, procuraria uma forma de fazê-lo sorrir.

Quando ela tornou a erguer a vista, ele a olhava de volta


com a testa franzida. Lizzie ficou hipnotizada com a
intensidade do olhar dele e apenas quando se deu conta do
que fazia é que baixou os olhos para o prato, constrangida.

Depois disso, se obrigou a continuar de olhos na comida.

― Senhorita Fernoy, seus aposentos lhe agradaram? — o


Conde lhe perguntou fazendo a jovem dar um pequeno pulo
da cadeira, surpresa, ao ver que ele se dirigia a ela
educadamente, da mesma forma como a tratou no dia
anterior, só que dessa vez não parecendo tão desgostoso
com a presença dela ali.

― Sim, Vossa Graça, eles são muito aconchegantes. — ela


respondeu fitando sua boca sem conseguir o olhar nos
olhos. ― Muito obrigada por me aceitar aqui.

― Fico feliz que tenha gostado — ele respondeu, ignorando


o agradecimento da garota.
― E como vai o Barão?

― Está muito bem, obrigada. Enviei uma carta ontem para


ele, contando que já tinha chegado e que estava feliz por
estar aqui. — Lizzie disse ficando animada por ele estar
conversando com ela.

― Que bom ― o Conde respondeu e voltou a ficar em


silêncio enquanto terminava de comer.

Vendo que o Conde não ia falar mais nada, a Condessa


decidiu tomar a palavra.

― O que vai fazer hoje à noite, querido? — ela perguntou ao


sobrinho.

― Creio que tenha a noite livre, tia — ele respondeu sem


pensar e só depois percebera

seu erro. Uma vez dito que estaria livre, não havia como
voltar atrás. Nenhuma desculpa seria cabível para não
acompanhar a tia, e ela provavelmente o incumbiria de
acompanhá-las a algum lugar e ele iria gostar menos ainda
do lugar. Tinha quase certeza disso.

― Bem, a senhorita Otávia vai se apresentar na ópera, e


você sabe o quanto eu adoro ouvir aquela voz. Queria levar
a senhorita Fernoy, e gostaria que fosse conosco, não é
seguro duas mulheres andarem sozinhas nessa Londres tão
perigosa, e já que você está livre, irá nos acompanhar, não
é mesmo?

― E eu tenho escolha? — ele respondeu sem se deixar


contagiar com o entusiasmo da tia. Antigamente gostava de
ópera, mas depois que sua ex-noiva o traiu com um cantor
de ópera, fugia desse tipo de apresentação como o diabo
fugia da cruz.

― Sempre tem uma escolha, Milorde — Lizzie falou ao


perceber o desconforto do Conde. — Mesmo que não pareça
haver uma, sempre tem.

Aquelas palavras o deixaram um pouco sem graça, e ele


não gostou da sensação. Então fechou a cara e lançou um
olhar irritado para a intromissão da garota. Odiava quando
era repreendido, e ainda mais por uma mulher que mal
conhecia. Se antes já não simpatizava com ela, agora ela
perdera ainda mais pontos com ele.

― Vai perceber, senhorita Fernoy, que quando se trata da


minha tia, a escolha não é um luxo que se possa ter.

Diante daquelas palavras Lizzie calou-se, mas não sem


antes se repreender em pensamento por ter aberto a boca.
Ela apenas tentou dizer que se ele não quisesse ir não tinha
problema, mas acabou falando demais. E agora ele tinha se
chateado com ela.

— Bom, estaremos prontas às oito — informou a Condessa


para quebrar o clima tenso que tinha surgido após a
reprimenda do Conde. — Eu gosto que ele faça o que eu
peço, querida, e ele sabe disso, por isso, nunca me recusa
nada. E fora que a ópera é uma das poucas coisas boas por
aqui. Não perderia por um capricho do meu sobrinho.

Eles terminaram a refeição em um profundo silêncio,


beirando o constrangimento. Assim que terminou, Lizzie
pediu licença para se retirar e foi para seu quarto.

Na sala, a Condessa olhava irritada para o Conde.


― O que foi isso? — ela perguntou se referindo ao mau
comportamento dele.

― Isso o quê? Eu não fiz nada, apenas falei a verdade.


Quando se trata de você não tenho nenhuma escolha
mesmo.

― Eu sei, mas não precisava fuzilar a pobre garota com o


olhar. Já vi que não está muito afim do meu navio, já que
está contribuindo para que ela não goste de você. E já sabe,
se não provar que ela quer casar com você, eu ganho.

― Não tenho culpa se ela me irrita só em estar aqui, não


confio nela e não gosto dela.

― É simples resolver isso, desista da aposta e me dê logo as


sedas.

― E te dar esse gostinho? Jamais. — Ele sorriu. — Além do


mais eu sempre quis aquele navio.

― Nunca vai conseguir ganhar a aposta. A senhorita Fernoy


não é como sua ex. Ela só se casará por amor. Ela mesma
me disse isso.

― E a senhora caiu nessa conversa? O amor não existe, é


apenas uma desculpa para se burlar as regras, para fazer o
que bem entender. A única coisa que elas amam de verdade
é o dinheiro e os títulos que podemos oferecer a elas. Quero
ver o amor superar um título nobre ou uma herança
recheada de riqueza. — O Conde fez uma pausa profunda,
havia se perdido em pensamentos. Ele planejava o que iria
fazer para provar que ela era interesseira e algumas ideias
lhe ocorreram, mas assim que viu sua tia olhando-o
desconfiada, disfarçou. — O que eu não entendo, é como
pode confiar tanto nessa garota?

― Porque eu a conheço desde que nasceu e conheço sua


criação. Ela jamais faria algo tão baixo quanto Lady Letícia
Denvern, ou tão desonroso. E você também perceberia isso,
se deixasse de lado todo o ódio que alimentou contra as
mulheres.

Lorde Dorset ficou em silêncio, não acreditava nas palavras


da tia. Sua antiga noiva não o amava apesar de ter dito
diversas vezes que sim. No fim, o amor não foi suficiente
para impedir que ela o traísse com outro homem, se ela o
tivesse trocado por estar apaixonada pelo outro homem,
talvez ele ainda acreditasse em amor, mas em vez disso ela
descartou o pai do filho dela e tentou usar o Conde para
esconder a traição e também a gravidez que tinha sido
resultado de sua traição. Ela não amava ninguém além de si
mesma, e iria usar qualquer um para continuar no topo.

Queria apenas evitar um escândalo, não se importando se


iria ferir ou não os sentimentos do homem que a amava. E
ele quase foi feito de tolo. E jamais iria permitir que uma
mulher fizesse o mesmo novamente.

Vendo que o sobrinho não falaria mais nada, a Condessa se


levantou da mesa. ― Ah, e mais uma coisa, daqui a três
dias a Condessa de Claire vai dar um baile em sua casa, e
quero que você nos acompanhe e dance a valsa com Lizzie.

― Por que isso agora? Até parece que está jogando ela em
cima de mim. O que está tramando? — o Conde perguntou
desconfiado, levantando uma sobrancelha.

― Considere um favor pessoal para mim. E não se


preocupe, eu sei o que estou fazendo
― disse e em seguida completou, já andando para as
escadas. ― Esteja pronto às oito para nos levar à ópera.

Lizzie se sentia uma tola, tinha esquecido completamente


onde estava. Nunca devia ter aberto a boca. Mas não se
lamentaria mais por isso, já tinha passado. E, na verdade,
ela não falara nada demais para ele. Ele se ofendeu apenas
por não gostar dela — ela se convenceu em pensamento.

Se jogou na cama sem se importar que uma dama de


verdade não deveria fazer isso, e sentiu algo duro em suas
costas. Colocou a mão atrás de si e pegou o objeto que a
tinha machucado, era o diário que tinha encontrado no baú
de seu pai.

Ela não lembrava de tê-lo trazido para Londres, muito


menos de ter colocado ele ali na cama. O diário parecia
pedir que ela o lesse, as imagens que tinha visto já não lhe
atormentavam tanto. Talvez naquele diário ela conseguisse
pelo menos se distrair um pouco de seu constrangimento.
Então abriu na primeira página e começou a ler.

Querido diário, essa é a primeira vez que eu escrevo.


Madame Rose me deu você hoje, e pediu que eu escrevesse
toda lição que ela me passasse. Acho que

ela não sabe escrever ou ler, por isso, me pediu para fazer
isso. E como ela é boa para mim, eu faço com o maior
gosto.

Ela diz que em breve vai se aposentar e também por isso


quer que eu escreva sobre as lições de sedução, pois ela
não quer preparar prostitutas, e sim cortesãs. As melhores
cortesãs de toda a Inglaterra.

Uma cortesã é mais que apenas um corpo para aquecer


uma cama, é uma confidente, uma amante. Não pode ser
qualquer uma, tem que ser uma mulher inteligente e que
seja uma sedutora nata.

Claro que não se encontra uma mulher já pronta assim nos


saberes da sedução, e é aí onde entra o trabalho da
Madame, ela dirá passo a passo como seduzir um homem,
seja ele rico, pobre, gordo, magro, alto, baixo, feio ou
bonito, todos eles são, antes de tudo, homens e homens são
no fundo todos iguais, querem alguém que sacie seu desejo
e que incite sua inteligência. O que ele dificilmente encontra
em uma esposa, uma vez que a educação dessas as ensina
apenas a serem mães e donas de casa, e não a suprirem os
desejos de seus maridos.

Essa é a primeira lição de uma cortesã, seja a mulher que o


homem não encontra em casa. Isso fará toda a diferença na
hora de ele escolher você.

Os homens só nos procuram porque suas mulheres são frias


na cama, não sabem como satisfazê-los e nem gostam de
fazer isso, pois acham que é pecado uma mulher gostar de
deitar com seu marido. São poucas as que realmente
satisfazem os seus homens e esses são os que nunca
recorrem a nós.

Essa foi a lição que a Madame ensinou hoje, sobre não ser
servil como uma esposa. Segundo ela, se fosse isso que um
homem queria, ele daria meia-volta, iria para casa e deitava
com sua esposa.

Ainda bem que as damas não sabem satisfazer seus


maridos, caso contrário, não teríamos tantos fregueses.
Hoje ela vai passar a lição número um, segundo ela é algo
sobre como chamar a atenção, mesmo estando rodeada de
pessoas. É algo…
Lizzie estava tão absorta na leitura que nem sequer tinha
escutado a criada bater à porta, e nem percebeu quando ela
a abriu, por isso, ao ouvir a voz da criada dentro do quarto,
se assustou.

― Senhorita, o Conde quer vê-la. Ele pediu que eu a


acompanhasse até seu escritório.

Lizzie fechou o livro com tanta força que ele fez barulho.
Seu coração tinha acelerado e ela tinha segurado o grito de
susto.

― Me perdoe, eu bati à porta, mas a senhorita não


respondeu, pensei que estivesse dormindo por isso entrei.
— A criada se desculpou envergonhada por ter assustado a
jovem dama.

― Tudo bem. — Lizzie respondeu quando enfim se


recuperou do susto que a criada lhe causara, se levantando
e pegando o diário. ― Sabe dizer quem colocou esse diário
aqui?

A criada olhou para as mãos em um gesto típico de


vergonha.

― Fui eu, senhorita. Ele estava no meio de suas roupas e eu


o encontrei quando as estava

organizando no baú.

Lizzie ficou um pouco apreensiva.

― Você o leu?
― De modo algum senhorita, e-u-eu não sei ler — ela disse
ainda mais envergonhada por não ser letrada.

― Tudo bem, é que esse diário é muito particular. Mas já


que disse que não leu, eu fico mais aliviada. Agora vamos
que o Conde não deve gostar de esperar muito ― Lizzie
respondeu mais aliviada. Seria seu fim se a criada tivesse
visto as gravuras e levado o diário ao Conde.

Como conseguiria explicar algo tão impróprio em seus


pertences? Teria que colocá-lo em um lugar seguro onde
ninguém encontrasse.

A empregada a levou até a sala do Conde. Ele estava


sentado atrás de uma escrivaninha, em uma poltrona de
couro e olhava para a parede a sua frente ignorando
completamente a chegada dela. A criada ao deixá-la na
sala, saiu, deixando-a sozinha na sala com o Conde. Ela
pensou que ficar ali sozinha com ele podia ser impróprio,
mas estavam na sala dele, com as portas abertas, o
mordomo bem próximo da porta pelo lado de fora, então ela
se convenceu que não mancharia sua reputação ficar ali
com ele, os criados não falariam nada e o Conde não queria
nenhum escândalo.

Então sua reputação estava a salvo, pelo menos era o que


ela esperava.

― O senhor mandou me chamar, Milorde?

Ele finalmente virou seu olhar para ela e ficou um tempo a


observando em silêncio. Ele tinha mandado chamá-la,
queria conversar com ela, pedir desculpa pelo seu
comportamento e usar seu charme para conquistá-la e,
depois provar que ela queria casar com ele por interesse,
mesmo que precisasse seduzi-la para isso. Mas ao ver ela
parada ali na frente, com o rosto um pouco corado, as mãos
unidas, a imagem perfeita da inocência, ele se irritou, ela
parecia fingir muito bem que não queria nada com ele e isso
o fez esquecer todo seu plano.

Lizzie começou a ficar constrangida diante de tanta


observação. Mas antes que pudesse falar algo ele se
pronunciou.

― Você não é feia. É diferente. Não chega a ser uma


beldade, mas também não é feia.

Tem algum problema mental? ― ele perguntou não


escondendo sua frustração ao tentar decifrá-la.

― Milorde? — ela perguntou confusa e desorientada diante


de uma conversa tão constrangedora e inesperada.

Nunca, em toda sua vida, tinha tido aquele tipo de conversa


com outra pessoa, e muito menos recebido os adjetivos
usados por ele. E como ficou sem palavras ele continuou.

― Fico aqui me perguntando, o que faz solteira até agora.


Devia ter debutado novamente, o luto já passou, ainda tem
idade para casar. Por que continua solteira? Não me parece
ter nenhum problema que impeça tal ato.

Ela ficou perplexa. Ele a olhava como se estivesse avaliando


um objeto a ser vendido e ela ficou furiosa. Desde o dia
anterior que ele a insultava, e tratava como um estorvo, e
quando ela tentava ser gentil, ele a cortava fazendo com
que se sentisse errada. Mas aquilo já era demais, não se
importava que ele fosse um Conde e que ela estivesse de
visita na sua casa, não era obrigada a tolerar aquilo.

― Talvez, Milorde, isso se deva ao fato de eu não querer me


casar — ela respondeu tentando não se exaltar e com isso
dizer algum impropério. Quem ele pensava que era para
tratá-la daquela forma? ― Nem todas as mulheres estão à
procura de um casamento.

― Não seja tola, eu não acredito nessa história de mulher


não querer se casar. — Ele revirou os olhos.

— Se for só isso que esteja planejando me falar, então


poupe-nos do constrangimento e permita-me voltar para
meus aposentos.

Ele, ao perceber que ela estava irritada, mudou sua postura.


Não era essa a intenção desde o início, mas não tinha
conseguido se segurar, e acabou insultando ela. Sua voz
parecia ter vida própria, expondo os pensamentos que ele
não queria que ela soubesse. E com isso quase estragara
tudo. O Conde respirou fundo, tentando tomar o controle de
sua fala, e com isso voltar aos planos iniciais, de ser um
perfeito cavalheiro, apesar de saber que já tinha estragado
tudo.

― Perdoe-me, não quis ofendê-la, é que fiquei confuso. Não


é o sonho de toda mulher se casar? — Ele fez cara de
inocente e ela semicerrou os olhos diante da atuação de
bom moço.

Aquilo não tinha abrandado a raiva dela, muito pelo


contrário, tinha feito Lizzie ficar ainda mais na defensiva.
Ele se xingou mentalmente, e pensou em outros métodos,
apesar de que, a forma que ela o olhava, o impedia de
pensar corretamente.

― Talvez o seja, mas não é o meu sonho no momento. ― Ela


o encarou ríspida. — E

caso esteja passando pela sua nobre cabeça que estou aqui
tentando fisgá-lo em um matrimônio, sugiro que pare.
Porque, mesmo que eu quisesse me casar, jamais o faria
com o senhor, acredito que não suportaria aguentar todas
essas suas acusações desprovidas de lógica. Então com
licença milorde, vou para os meus aposentos, arrumar
minhas coisas.

Lizzie se virou sem esperar uma resposta do Conde e se


encaminhou para a porta, mas foi interceptada pelo Conde
que segurou seu braço delgado fazendo com que ela ficasse
nervosa com seu toque.

― Me perdoe se pensei mal a seu respeito, mas qualquer


outra pessoa pensaria o mesmo, pois, o que mais iria querer
fazer em Londres a não ser arrumar um marido?

― Acompanhar uma Condessa em sua viagem, talvez? —


Ela foi irônica ao expor o óbvio motivo de sua visita, não
gostando de tê-lo ali tão perto dela, ele a deixava
estranhamente nervosa.

O Conde se xingou ainda mais por dentro. Onde estava a


sua maestria em seduzir uma moça? Porque ele só
conseguia insultá-la?

― Milorde, me solte para que eu possa ir para meus


aposentos, já estou cansada dessa história de casamento.
― Ela pediu revirando os olhos, sabia que ele achava que
ela estava ali para tentar fazer ele se casar com ela, e
estava irritada com as acusações dele. Se continuasse ali
era quase certo que começaria a xingar o Conde.

― Não saio enquanto não me perdoar pelo meu


comportamento. — Ele sorriu usando seu charme para se
passar por bom moço, mas ela estava irritada com tudo que
ele disse e aquilo a deixou ainda mais irritada.

― Que eu saiba, para pedir desculpas tem que estar


realmente arrependido. ― Lizzie alfinetou. ― E pelo que
parece o senhor não está nem um pouco arrependido das
coisas horríveis que falou a meu respeito.

Vendo que um pedido de desculpas não ajudaria, o Conde


tentou explicar o ponto de vista dele.

― Não pode me culpar por achar que você está aqui com o
mesmo interesse que toda

mulher de Londres tem: casar com um nobre, de preferência


rico. Não confio em mulheres e muito menos nas que eu não
conheço. — O Conde disse também ficando irritado com a
dificuldade que estava tendo de ter uma conversa civilizada
com a dama.

Nunca imaginaria que aquela pequena mulher tivesse um


temperamento tão feroz. Ela só faltava xingá-lo, e agora o
olhava com uma careta irritada que fez ele ter uma súbita
vontade de rir.

― Eu vou repetir para ver se o senhor entende. ― Lizzie


respirou fundo para se acalmar.

― Se eu, por acaso, tivesse vindo tentar fisgá-lo em um


casamento, isso mudaria depois dessa conversa. Não acho
que uma vida ao seu lado me seria benéfica, independente
do quanto dinheiro haja em seus bolsos, ou da nobreza de
seu título, acredito que um casório com o senhor me seria
muito…torturante

― Tudo bem, eu a julguei mal, mas saiba que a sociedade


vai julgar da mesma forma, e ela vai ser até mais maldosa
que eu. Eles não são muito acolhedores com quem é
diferente deles.

E você é completamente o oposto de tudo que eles são. —


Ele tentou mudar a situação ao seu favor e falhou
miseravelmente. ― Estou apenas preparando você para o
que lhe aguarda lá fora.

Londres consegue ser bem ferina quando quer.

― Então agora está justificando que suas ações são para


meu próprio bem? Seja homem e assuma seus erros em vez
de ficar arrumando justificativas para eles. Desde que
cheguei só me insulta, me trata como se eu não fosse bem-
vinda e isso tudo por algo que não cometi, não fui eu quem
lhe traiu milorde, então pare de agir como se eu fosse a
culpada pelo erro de sua ex-noiva.

Aquelas palavras fizeram o Conde soltá-la imediatamente.


Lizzie não esperou que ele a dispensasse para voltar a seus
aposentos. Sabia que tinha tocado em um ponto sensível ao
falar de sua ex, mas não se arrependia, ele merecera por
tudo que tinha dito sobre ela.

Lizzie subiu imediatamente para o seu quarto, não sentia a


menor vontade de continuar ali, e dane-se as regras de
etiqueta, não era obrigada a aguentar calada os insultos de
um homem que ela mal conhecia, só porque ele era um
Conde. O coração dela estava acelerado com a adrenalina e
a única coisa que ela pensava era que ele não era o mesmo
rapaz simpático e bonito que ela tinha visto algumas vezes.
Talvez tenha sido algum dia, mas não mais. Ele tinha se
tornado um homem totalmente diferente.

A Condessa que a perdoasse, mas ela voltaria para casa,


não era obrigada a ficar em um lugar no qual não se
sentisse bem-vinda. E pouco se importava se ele era um
Conde ou não.

Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, a porta de seu


quarto foi aberta e o Conde entrou parecendo irritado. E
realmente estava, nenhuma mulher o tratava da forma que
ela tinha tratado. Ela manteve a cabeça erguida, em
desafio. Se ele estivesse ali para mandá-la embora ela iria,
mas não iria de cabeça baixa.

― Eu ainda não tinha terminado — ele disse assim que teve


a atenção dela.

― Mas eu sim — ela respondeu e ambos ficaram se


encarando dentro do quarto dela com a porta aberta, em
uma situação que facilmente poderia causar um escândalo.

Ele fechou os olhos e passou a mão pelos cabelos, parecia


que lutava consigo mesmo, por fim suspirou rendido.

― Me perdoe — ele disse frustrado e cansado.

Lizzie foi pega de surpresa, pensou que ele iria ali expulsá-la
de sua casa e estava preparada para ir embora, mas ela viu
que ele realmente estava sendo sincero em seu pedido de
desculpas.

― A Condessa me alertou que você pudesse achar isso, mas


nunca pensei que isso faria

minha estadia aqui tão indesejada, uma vez que nunca dei
nenhum indício de que estava procurando casamento — ela
disse em um sussurro.

Quando ele ouviu o título de sua tia no meio da conversa,


percebeu que a Condessa estava jogando sujo. Ela tinha
dado informações sobre o Conde à jovem, e isso era jogar
sujo. E

se a Condessa podia jogar, ele também podia.

― Não tenho culpa se a Condessa vive tentando dar uma de


casamenteira e agora ela veio contigo. Não é difícil associar
uma coisa à outra. — Ele falou passando novamente as
mãos pelos cabelos. ― Então achei que ela estivesse
tentando te jogar para cima de mim.

― E que culpa eu tenho? — ela perguntou voltando a se


irritar, ali estava o mesmo assunto de novo. — A única coisa
que fiz foi aceitar o convite de uma amiga para passar uma
temporada em Londres. Mas se eu soubesse que ia passar
por isso teria ficado em casa.

― Você não pode ir embora — ele anunciou quando a viu


juntando as coisas em cima da cama.

― E por que não?

Ele sabia que se ela fosse embora perderia todas as


chances de ganhar o navio, mesmo que tudo já parecesse
perdido, mas o pior era que se ela fosse embora a Condessa
iria ficar sozinha ali e ele iria se sentir culpado de sua tia
não ter mais companhia.

― Porque, se você for, lady Dorset vai ficar triste. ― Ele


falou a verdade.

― Explicarei a ela o motivo de minha partida — Lizzie


respondeu erguendo o rosto em desafio.

Vendo que ela realmente planejava ir embora ele engoliu o


orgulho. Tudo para um bem maior.

― Por favor, não faça isso. Diga-me como posso me


desculpar com você.

Ela ponderou por alguns minutos, e se lembrou da conversa


que teve com a Condessa.

Sobre o fato de ele não confiar em mulheres.


― Isso vai depender de como você agirá daqui para frente…
— Ela começou e ele ficou apreensivo. ― Quero que pare de
achar que eu sou como sua ex. Não sou como Lady Letícia.
Se quer que eu fique vai ter que confiar em mim.

Ele a olhou incrédulo, ninguém tinha coragem de mencionar


Letícia na sua frente, seus amigos fugiam do assunto como
o diabo foge da cruz, e ali estava aquela quase
desconhecida, falando se sua ex-noiva pela segunda vez em
menos de dez minutos, como se fosse um assunto trivial.

― Confiança se conquista. — Ele se defendeu cruzando os


braços como uma criança birrenta.

― E como eu vou conquistar sua confiança se você não


permite que nenhuma mulher se aproxime? Preciso que
pare de agir na defensiva, e então vai ver que não sou como
ela.

Ela o olhava com suavidade e com um pouco de compaixão,


como se ele fosse um animal ferido e ela pudesse curá-lo.
Ela lhe sorria com tanta sinceridade que ele sentiu vontade
de sorrir de volta, mas se segurou. Não podia gostar dela,
isso estragaria seus planos. Ela podia ser diferente, mas, no
fundo, era uma mulher e toda mulher era interesseira, ele
só precisaria mostrar isso.

― Tudo bem. Tentarei fazer o que pediu — ele respondeu


com um suspiro de rendição.

― Então eu te perdoo por ter me ofendido — ela disse


sorrindo.

— Obrigado. Quer dizer que vai ficar? ― ele perguntou para


se certificar.

— Sim, eu vou ficar.


Ele acenou com a cabeça e saiu do quarto pensativo. O que
diabos estava acontecendo?

Ele só precisava provar que ela não era interesseira e aqui


estava ela tentando mostrar a ele que não era nada disso.
Ganhar o navio seria mais difícil do que ele imaginara. Mas
não seria impossível. Ele sempre conseguia o que queria, e
com ela não seria diferente.

Capítulo 5 — Compras

Alguns minutos depois que o Conde saiu dos aposentos de


Lizzie, a Condessa bateu à porta do quarto e abriu sem
esperar convite para entrar. Ela estava arrumada e
acompanhada de duas criadas e a animação em seu rosto
era evidente e contagiante.

― Eu estava esquecendo, precisamos encomendar uma


roupa para irmos para o Baile.

Nós vamos à loja da Madame Charlotte o mais rápido


possível. Vamos garotas, ajudem ela a se trocar para ser
mais rápido, vamos sair imediatamente, não podemos
perder tempo. Daniel já está providenciando uma
carruagem, eu já mandei um cartão à minha querida
Charlotte avisando que estamos a caminho.

― Dará tempo de ela costurar os vestidos em menos de


dois dias? — Lizzie perguntou com a voz abafada pelo
vestido que estava sendo colocado por sua cabeça.
― Ah, terá que dar. Ela é a melhor de toda Londres e nada
como algumas moedas a mais para ela entregar o mais
rápido possível. ― A Condessa falava animada e apressava
as criadas para que andassem logo ― Vamos meninas, se
apressem, não podemos perder tempo.

Meia hora depois, Lizzie e a Condessa estavam seguindo a


caminho do ateliê de Madame Charlotte. Ele ficava no
centro de Londres e era fabuloso. Uma vitrine com os
vestidos da moda mostravam quão bons eram os vestidos
feitos ali. A loja ainda estava apinhada de gente, mas assim
que a Condessa entrou teve prioridade, o que não foi muito
bem aceito pelas outras damas ali presente.

Ao serem levadas para uma sala separada e já preparada


para elas, Madame Charlotte se apresentou. Lizzie esperava
uma senhora mais ou menos da idade da Condessa, e qual
foi sua surpresa ao encontrar uma jovem um pouco mais
velha que ela. Devia ter no máximo vinte e oito anos. E era
uma mulher linda. Usava um vestido simples, mas muito
bem elaborado que destacava exatamente seus melhores
atributos, como os seios e o colo cheio de sardas. Seu
cabelo ruivo estava preso de forma bem firme em um belo
penteado, não tinha nenhum fio solto. Ela usava óculos bem
singelos que aumentava ainda mais a beleza de seu rosto
em formato coração e destacava seus olhos verdes.

― Charlotte, minha querida! — a Condessa disse sorrindo


calorosa para a costureira. —

Há quanto tempo!

― Eu que o diga, Margaery, nunca mais veio me visitar,


deveria ter dito que não tinha vaga, como vingança por me
esquecer. — Brincou a costureira com uma intimidade que
poucos tinham com a Condessa.
― Quanto drama! E eu não esqueci. ― A Condessa
desdenhou o drama da outra com um aceno de mão, e em
seguida se lembrou que não estava sozinha. ― Lizzie esta é
a Madame Charlotte, a melhor costureira de toda Londres.

― É um prazer, Madame Charlotte. — Lizzie sorriu para a


mulher, que lhe retribuiu o sorriso.

― O prazer é todo meu, Milady — a outra respondeu com


uma leve reverencia. ―

Vamos começar? Meninas tragam aqui os tecidos que


separei.

Imediatamente as ajudantes de Madame Charlotte


começaram a fazer seu trabalho, muitos

tecidos foram testados: musselina, seda, cetim, rendas, se


amontoavam a cada prova.

― Quero que você faça para a senhorita Fernoy um vestido


que mostre toda a beleza dela, precisamos impressionar
alguns nobres — a Condessa disse, fazendo Lizzie corar.
Seus vestidos eram sempre simples e seguiam os mesmos
modelos dos que sua mãe encomendava, sempre muito
recatados e práticos, mas nunca elaborados e com a
intensão de impressionar.

― Certo, já sei exatamente o que fazer, mas preciso tirar


suas medidas, Milady — ela avisou e rapidamente as
ajudantes se adiantaram para ajudar Lizzie a tirar a roupa
ficando apenas com a roupa de baixo.
Logo depois de tirar as medidas, Madame Charlotte
começou a observar Lizzie e seus olhos brilharam quando o
vestido perfeito surgiu em sua mente. Ela pegou um
caderno pequeno das mãos de uma das meninas e começou
a desenhar algo à lápis.

― Se, ao usar este vestido, você não chamar a atenção de


todos os moços solteiros, eu não sei mais o que chamará —
ela falou para si mesma, baixinho, rabiscando no caderno,
mas Lizzie ouviu perfeitamente.

― Não estou procurando um marido, Madame — ela


respondeu revirando os olhos.

― Não disse que estava, Milady. Mas acredite, não há nada


melhor que se sentir desejada por alguém, vai ver. — Ela
piscou o olho e em seguida fechou o caderninho guardando
em um bolso escondido em sua saia.

Depois de ter pegado todas as medidas das duas damas, e


ter levado um susto pela pouca quantidade de tempo que
teria para fazer as roupas, e por isso ter cobrado o dobro
das clientes, Charlotte combinou de fazer a última prova na
casa da Condessa, na manhã do dia do baile, e depois dos
ajustes entregaria na tarde daquele mesmo dia.

Ela colocaria suas meninas para trabalhar dia e noite, mas


os vestidos estariam prontos e seriam os mais belos do
baile.

Na noite daquele mesmo dia corrido, o Conde esperava as


damas na porta de sua casa.

Assim que sua tia desceu, ele a acompanhou até a


carruagem a ajudando a entrar.
― Lizzie já está pronta, espere por ela na escada ― a
Condessa avisou sem que ele pedisse e o sorriso no rosto
dela deixou o Conde desconfiado.

Assim que ele a viu na ponta da escada não pôde deixar de


sorrir, diferente da Condessa o vestido dela não era
extravagante, nem caro, era um vestido simples, mas
bonito apesar de escondê-la quase toda, já que a gola dele
era alta e as mangas longas. Era um de seus melhores
vestidos, e o Conde logo percebeu isso.

Talvez cobri-la com roupas e presentes fosse a forma de


mostrar seu lado interesseiro, mas ela parecia tão contente
em um vestido simples que talvez não se importasse com
roupas caras. Na manhã seguinte iria provar se isso era
realmente verdade. Mas naquela noite iria ser apenas um
bom anfitrião e iria ao teatro com as damas. Mesmo a
contragosto.

Já no teatro, cada um tomou seu acento no camarote do


Conde. Binóculos foram entregues para os três e não
demorou muito, a Ópera teve início. Lizzie ficou
deslumbrada com a apresentação. E a Condessa não deixou
de notar que seu sobrinho olhava de esguelha para a garota
com a testa franzida, era quase como se tentasse decifrar a
garota ao seu lado.

O Conde não conseguia prestar atenção na ópera. Imagens


de sua ex-noiva usando o teatro para flertar com outro
homem, quando ele virava as costas, era completamente
contrária à imagem da garota que ele agora observava, sem
que ela percebesse. O interesse genuíno vindo dessa última
era ao mesmo tempo um alívio e uma confusão, um alívio
porque ela não estava flertando com ninguém como a outra
faria e uma confusão por ela não estar flertando com
ninguém, nenhuma mulher londrina ia ao teatro para ver a
apresentação, ali era apenas mais um local para elas
caçarem maridos, mas Lizzie parecia realmente não se
importar com isso. Ela realmente não era igual à outra
mulher com quem ele insistia em comparar.

O intervalo era o momento que os nobres usavam para


conversarem e logo alguns nobres ficaram ansiosos para
cumprimentarem a Condessa que fazia tempo que não
viam. E também saber que milagre fez o Conde ir ao teatro,
já que ele não pisava lá desde a descoberta da traição de
Lady Letícia.

Eles saíram para o corredor onde os nobres estavam e


rapidamente foram cercados por muitas damas, o Conde se
distanciou para que as ladies pudessem conversar em paz
uma vez que ele sabia ser o centro da conversa.

Ele percebia facilmente os olhares das mães casamenteiras


para si, e também a forma que as moças em idade de casar
o olhavam. Revirou os olhos e seguiu para uma área menos
movimentada. E ficou ali de longe observando a Condessa e
a sua acompanhante.

― Bela moça — disse uma voz conhecida e o Conde sorriu.


― Sabia que mais cedo ou mais tarde iria finalmente
aparecer a mulher que conseguiria lhe trazer de volta à vida
social.

O Marquês de Winchester se encostou na janela ao lado do


Conde e se apenas um deles já chamava a atenção das
moças, dois dos solteiros mais cobiçados juntos faziam com
que elas não tirassem os olhos de cima deles.

― Eu vim por minha tia, não por causa da senhorita Fernoy


— o Conde respondeu desviando os olhos da moça em
questão.
― Claro, Claro. — O Marquês sorriu para um grupo de jovens
e elas suspiraram e deram risinhos.

― Não devia fazer isso, sabe que as mães podem pensar


que está flertando com elas e fazer você se casar com
alguma delas — o Conde avisou, achando graça quando o
Marquês tirou imediatamente o sorriso cafajeste de rosto.

― Melhor não correr o risco. Essas mulheres londrinas são


um perigo. — O Marquês se virou para olhar pela janela
fazendo as damas suspirarem desgostosas, o que fez o
Conde rir.

― Você não presta, Winchester. Estão todas me olhando


agora, seu maldito. — O Conde virou as costas para evitar o
tanto de olhos que se voltaram para ele.

― Então, por que veio aqui hoje? Pensei que nunca mais
pisaria em um teatro na vida —

Gabriel perguntou.

― O que uma aposta não faz? — o Conde respondeu


bufando. ― Apostei com a Condessa que a tal lady é
interesseira e preciso arrumar um jeito de provar isso. Se eu
ganhar, o Siren será meu.

― Ela apostou o navio dela? — o Marquês perguntou


surpreso. ― Então, meu caro, só tenho uma coisa a lhe
dizer: você está ferrado! ― e acrescentou entre risos ― Ela
nunca apostaria aquele navio sem ter certeza que vai
vencer.

― Você mesmo disse que não se deve confiar em mulheres


— o Conde disse lembrando uma conversa antiga que tinha
tido sobre mulheres com o marquês. — Está mudando de
ideia?
― Não, quem disse isso foi você, eu apenas concordei
porque não tinha encontrado uma

que provasse o contrário e continuo sem encontrar, mas a


Condessa é muito astuta, ela deve estar armando alguma
coisa.

― Eu também acho, mas ainda não sei qual a vantagem


que ela teria caso vencesse a aposta. Se Lizzie não for
interesseira não mudará nada. ― O Conde refletiu em voz
alta.

― Vai saber o que se passa na cabeça dessa mulher. — O


Marquês riu — Ainda bem que o sobrinho dela é você e não
eu. Boa sorte, agora eu tenho que ir. Algumas damas me
esperam.

― Para alguém que não quer casar, você dá muita brecha


para acabar em um casamento

― o Conde resmungou.

― Não se preocupe, as minhas damas estão todas já


casadas, então não corro esse risco.

— O Marquês sorriu maldoso e então se despediu indo


embora. ― E eu sempre só fico uma noite.

O Conde revirou os olhos, seu amigo era um verdadeiro


canalha, mas era um dos poucos amigos de verdade que
podia confiar.

Sua atenção se voltou para Lizzie, que se afastava irritada


do meio das damas que rodeavam a Condessa. Ele logo
imaginou que alguém tinha falado em casamento. Ela era
fácil de ler, não era dissimulada e ele gostava disso. E sem
ao menos perceber já estava indo ao encontro dela no
camarote.

Ela estava debruçada olhando para o palco vazio, e


encostada em uma das paredes estava uma das damas de
companhia de sua tia, que o observava atentamente sem
nada dizer, pelo menos com a mulher ali se sentia mais
seguro em conversar com a jovem sem correr o risco de
gerar falatórios, ainda mais porque a ópera voltaria a iniciar
em breve e ser visto sozinho com ela ali poderia ser um
prato cheio para as fofoqueiras.

― Permita-me dizer que está linda, senhorita Fernoy — ele


disse galanteador, da forma mais natural possível, assim
que se aproximou.

Lizzie se ergueu e olhou atenta para seu rosto antes de


acreditar em suas palavras como um elogio.

― Obrigada, Milorde — ela respondeu depois de aceitar que


ele estava falando sério e não debochando dela.

― O que está achando da apresentação? — ele perguntou


curioso.

― É incrível! — ela falou esquecendo o motivo de sua


irritação de poucos minutos atrás.

— Nunca vi uma mulher alcançar notas tão altas. E é tão


emocionante, a música consegue trazer tantas emoções.

― Vejo que realmente gosta de música. — Ele constatou o


fato sorrindo para ela, gesto ao qual ela retribuiu.

― Sim, é um de meus vícios, mas não conte para ninguém.


Não é de bom tom que uma moça tenha um vício. — Ela
piscou e lhe deu um sorrisinho que o deixou perplexo.
Ele ia falar algo, mas foi interrompido com a entrada da
Condessa no camarote.

― Minha jovem, sinto muito pela grosseria daquelas


mulheres, mas se permitir que elas lhe ofendam só vai fazer
elas falarem mais. Suas roupas são lindas, e não é porque
não está na moda que vai deixar de ser ― a Condessa disse
para Lizzie, que corou por ter sido um pouco sentimental
demais.

Mas aquele era o vestido preferido de sua mãe, e ela não


deixaria que falassem mal dele só porque não estava na
moda. Antes que pudesse dizer alguma coisa, a ópera
recomeçou.

O Conde se sentou ao lado de Lizzie e quando essa fechou


os olhos e começou a se movimentar no ritmo da música
instrumental antes da tenor começar a cantar, o Conde não
conseguiu para de olhar para ela. E sorriu ao ver a cena tão
despojada.

O Conde passou o restante da ópera observando as reações


de Lizzie, que vez ou outra olhava para ele e sorria, e ele
nem percebeu quando a ópera terminou. Só se deu conta
que não havia mais pensado em sua ex, quando estava em
casa já se preparando para dormir.

Na manhã seguinte lorde Dorset acordou disposto. Ele tinha


um plano para colocar em prática. E, como não tinha tido
notícias de suas sedas, iria convidar a Condessa e sua
acompanhante para uma tarde de compras. Com direito a
uma caminhada pelo Hyde Park no final da tarde.

― Eu estava pensando em levar as damas para uma tarde


de compras, acredito que nada como um passeio pelas lojas
de fitas e chapéus para mostrar o melhor de Londres para a
senhorita Fernoy. — O Conde convidou gentilmente as duas
mulheres, tentando soar o mais natural possível, não queria
parecer muito empolgado, pois sua tia podia desconfiar de
tanta animação, ainda mais quando o motivo era compras.

― Não é uma má ideia — anunciou a Condessa. ― O que


acha de conhecer um pouco de Londres, minha querida?

― Eu adoraria — Lizzie respondeu e a Condessa sorriu


quando viu os olhos da jovem brilharem em expectativa. —
Sempre quis conhecer o Hyde Park.

― Então está combinado, iremos assim que as damas


terminarem o café e se arrumarem.

— O Conde anunciou animado

― Quer dizer que vai nos acompanhar? — a Condessa


perguntou cerrando os olhos.

― Tenho uns compromissos por aquelas redondezas que


não devem demorar, mas as acompanharei a maior parte
do tempo. — Mentiu o Conde, ele não tinha nenhum
compromisso, mas não daria a sua tia motivos para
desconfiar de suas ações.

A Condessa aceitou a resposta dele, apesar de sentir que


ele tramava alguma coisa, mas deixou que ele pensasse
que a enganava.
Diversas lojas faziam Londres fervilhar de pessoas. Nobres e
plebeus frequentavam as mesmas lojas, os primeiros para
escolherem eles mesmos o que comprar, e os outros em sua
maioria serviam a esses primeiros ou estavam lá para
vender seus produtos.

As cores chamativas das roupas das damas nobres e o


burburinho das conversas cochichadas pelas pessoas
tornavam o local bem colorido e barulhento. Lizzie sentiu
falta da calmaria do campo, ela gostava de comprar coisas,
mas não tanto quanto se esperaria de uma nobre. Seus
olhos tinham brilhado na expectativa de ir ao Hyde Park.

Enquanto as jovens solteiras faziam coleção de sapatos e


vestidos ela fazia coleção de livros. Não que vestidos não
fossem importantes, mas ela gostava mesmo era do cheiro
de livro novo.

― Aonde você quer ir primeiro, Lizzie? — a Condessa


perguntou tirando a jovem de seus pensamentos e a
lembrando de onde estava.

― Eu não sei bem, o que a senhora sugere? — Lizzie


realmente não sabia nem por onde começar a explorar.

― Depende do que vai querer. Roupas, fitas, chapéus,


lenços, o que gostaria minha querida?

Lizzie olhou para as lojas que tinham na rua, cada uma


tinha uma cor diferente, e algumas deixavam os produtos
expostos em vitrines, outras apenas o nome era suficiente
para indicar que tipo de produto vendia ali.

Uma loja marrom no fim da rua, com a vitrine de madeira


chamou a atenção de Lizzie, uma plaquinha bem simples no
alto da loja tinha um livro e alguma coisa escrita acima, pela
distância Lizzie não pode ler, mas seu coração palpitou
ansioso.

― Ali é uma livraria? — ela perguntou, dando voz a seus


pensamentos que clamavam por um livro novo, e já dando
passos em direção ao estabelecimento que havia chamado
sua atenção.

― Uma livraria? — o Conde perguntou semicerrando os


olhos, ele pensou que ela iria querer ver as lojas de
vestidos, ou de acessórios, chapéus ou algo assim, mas
livros? Sua antiga noiva nunca deixava passar a
oportunidade de conseguir mais uma peça de roupa, ou um
chapéu, e ele não conseguia nem imaginar Lady Letícia
lendo um livro. — Você gosta de ler?

Sua antiga noiva, não era dada a leitura, muito pelo


contrário, preferia tomar chá com as amigas e fofocar sobre
a alta sociedade. E sempre que aparecia em público tinha
que ter algo novo para usar. Odiava usar o mesmo vestido
mais que duas vezes.

― Sim, Milorde, é outro de meus vícios. Amo ler — Lizzie


respondeu trazendo-o de volta ao presente.

― Ah, claro. Então vamos. — Ele concordou e então a


acompanhou até a livraria.

Os três seguiram sem pressa para a livraria. Algumas


pessoas os reconheciam e saudavam para, logo depois,
seguirem seu caminho, cochichando sobre o possível
interesse do Conde na jovem recém-chegada a Londres.

― Margaery? Não acredito no que meus olhos estão vendo!


— disse uma mulher muito sorridente ao sair de uma loja de
vestidos, chamando a atenção da Condessa que parou ao
reconhecer um rosto amigo. Ela era de baixa estatura,
quase não chegando ao queixo da Condessa, e tinha o
cabelo castanho com algumas mechas já ficando
acinzentada pela idade. E pela circunferência de sua barriga
estava claro para qualquer um que estava esperando um
filho.

― Sophy? — a Condessa perguntou não acreditando que


sua amiga de longa data estava em Londres e muito menos
no estado que se encontrava. ― Minha nossa, você está…

― Grávida! — A mulher sorria e seus olhos brilhavam. — Eu


sei, é quase um milagre.

Nunca imaginei que esse dia chegaria, mas antes tarde do


que nunca.

Lady Sophia estava em idade avançada e nunca tinha tido


filhos, seu marido anterior morreu sem lhe deixar nenhum
filho, e por ela ser rica, não faltaram novos pretendentes.
Mas ela conseguiu mais que isso, ela se apaixonou por um
Visconde, também viúvo, pai de duas meninas, e eles se
casaram, aumentando ainda mais o patrimônio do Visconde.

― Nossa! Eu fico tão feliz por você, não imaginei que fosse
lhe encontrar por aqui, pensei que estivesse em sua casa de
campo em Warinfell — a Condessa disse sorrindo
verdadeiramente para a amiga, e tocou a barriga da mulher
gentilmente, admirando-se quando o bebe chutou.

― Ah, eu estava, mas, como Richard veio a Londres, pedi


que me trouxesse para poder comprar algumas coisas para
o bebê. Ele quis negar, mas o convenci que não teria
problema para

o nosso bebê. —Vendo que a conversa das duas iria se


estender, o Conde pigarreou para chamar a atenção das
duas damas que conversavam animadas. ― Ah, Daniel
como você cresceu, se tornou um homem muito bonito,
bem que disseram que você tinha se tornado um bom
partido, se eu fosse vinte anos mais nova e não fosse
completamente apaixonada pelo meu Richard, eu com
certeza, iria querer fisgar você. — A Viscondessa de
Warinfell sorriu para o Conde e lhe deu uma piscadela,
sempre gostara muito dele.

― Lhe asseguro Viscondessa que se não tivesse se casado,


eu pediria sua mão — Daniel respondeu sorrindo para a
amiga de sua tia.

Eles sempre foram próximos, e quando criança, sempre que


ia visitá-la junto com sua tia, a viscondessa mandava fazer
uma fornada de biscoitos só para ele. Sempre quisera ter
filhos, e como não os tinha, tratava Daniel como um,
mimando-o de todas as formas.

― E quem é essa bela jovem? — ela perguntou se virando


para Lizzie que sorria com a brincadeira genuína.

― Essa é Elizabeth Alexander Fernoy, filha do Barão de


Fernoy.

Lizzie fez uma reverência ao ser apresentada.

― Milady, é um prazer conhecê-la. — Lizzie sorriu educada e


a viscondessa lhe devolveu o sorriso.

― Daniel, por que você não acompanha Lizzie para a


livraria, assim não perdem tempo me esperando, eu farei
companhia à Lady Warinfell. — A Condessa pediu ao
sobrinho que prontamente atendeu ao pedido.

― Já que a Condessa vai me acompanhar, permita que


minha dama de companhia vá com vocês, assim não terá
problemas. — A Viscondessa pediu e sem esperar resposta
já foi ordenando à sua criada que os acompanhasse, uma
vez que não poderiam andar os dois sozinhos.

― Vamos? — O Conde se virou para Lizzie e lhe estendeu o


braço, e os dois foram para a livraria, seguidos pela criada
que ia a uma distância razoável como pedia o decoro.

― O que gosta de ler? — o Conde perguntou depois de


quinze minutos dentro da livraria.

Ele havia perdido o costume de ler ou, pelo menos, não lia
com frequência, sempre estava ocupado demais para poder
ler um livro, mas quando era mais novo, antes de herdar o
condado, ele sempre lia para passar o tempo.

― Eu leio um pouco de tudo, mas gosto mais de romance e


fantasia para passar o tempo

— Lizzie respondeu completamente envolvida pelos livros.

― É claro! — O Conde falou de forma depreciativa e isso foi


suficiente para chamar a atenção dela.

― Milorde acha que eu não devia perder meu tempo lendo


essas tolices? — ela perguntou colocando bastante ironia na
frase e colocando a mão na cintura enquanto olhava para
ele com um olhar feroz.

― Palavras suas, não minhas. — O Conde deu de ombros


sem perceber o olhar assassino que ela lhe lançou.

― Então o senhor não lê? — Ela cruzou os braços


levantando uma sobrancelha.

― É claro que leio. Mas evito perder tempo com romances


— ele respondeu observando a estante de livros a sua
frente com um sorriso, sabia que estava tirando a paciência
dela e gostava da sensação que aquilo lhe provocava. ― O
amor retratado nesses livros é um sentimento
supervalorizado, e é um tolo quem acredita que eles são
reais.

― Discordo completamente, na verdade, o amor é


desprezado no mundo real, e por isso passa essa impressão.
Se o mundo tivesse mais amor, as coisas seriam diferentes.

― No mundo em que vivemos, senhorita Fernoy, não existe


amor, existe desejo, luxúria e prazer. Para que amor quando
se tem isso? — O Conde olhou para ela divertido quando a
viu corar.

― Diga-me o senhor. O prazer, o desejo e a luxúria são


suficientes para o senhor, ou sempre anseia por algo mais?
— ela perguntou se voltando para a estante e observando
os livros.

― Eles são suficientes — respondeu sério não gostando do


rumo da conversa.

― Isso porque nunca experimentou o amor — Lizzie disse


baixinho, mas o Conde escutou.

― E o que você entende de amor? Só porque seus pais se


amavam não quer dizer que você vai encontrar o amor,
seus pais são a exceção e não a regra. — O Conde estava
furioso, pois conseguia ver uma verdade nas palavras dela.
E não gostava nem um pouco disso.

Ela não respondeu. Ficou em silêncio enquanto retirava um


livro da prateleira. Seus olhos brilharam ao ler o nome do
autor.

― Sempre quis ler algo escrito por uma mulher — ela disse
empolgada. — Até agora não tinha encontrado nada na
biblioteca de meu pai. Ah, nossa! ― ela exclamou ao ver
outro livro. — Não sabia que ele tinha lançado um novo. ―
Lizzie se virou para a outra estante, ignorando a conversa
que estava tendo com o Conde e encontrou outro livro que
lhe chamou a atenção. — Esse parece ser tão bom, já li dois
livros desse autor, é tão bom.

― Então vamos levar todos eles. — O Conde sugeriu e os


olhos dela brilharam de alegria.

― Não é necessário, eu escolho um. ― Ela olhou para os


três livros que tinha nas mãos, e ficou indecisa, não sabia
qual levar. Queria ler todos, mas não sabia qual escolher.
Era difícil escolher apenas um. No final, optou pelo da
autora, estava realmente curiosa sobre uma mulher
escrevendo.

Quando o Conde viu a tristeza em seus olhos, ele pegou os


outros dois livros que ela tinha devolvido a prateleira e
pagou pelos três livros, surpreendendo Lizzie.

— Eu disse para levar os três, teimosa. ― Ele revirou os


olhos, e ela sorriu com uma felicidade tão genuína que ele
ficou contagiado. ― Deixa de ser estraga prazeres.

Compraria a livraria toda se fosse para receber outro sorriso


desses.

Ele se retesou diante do pensamento e tirou o sorriso do


rosto mudando de assunto para ela não perceber o
incômodo que sentia.

— Já que gosta tanto de ler, sugira-me um.

― É uma difícil tarefa, mas acho que posso lhe dar algo
desafiador — ela ponderou já indo em direção à outra
prateleira. Tirou um livro grosso de lá, pensou um pouco e
então colocou de volta, andou pela prateleira com os dedos
tocando os livros e então ela pegou um deles e sorrindo
satisfeita com a escolha, lhe entregou. — Espero que goste.

― O castelo de Otranto — o Conde leu em voz alta. Já tinha


lido aquele livro, mas não o tinha ainda na sua biblioteca
particular, tinha lido quando caíra doente enquanto
estudava em Oxford, e esse era um dos livros de seu amigo,
o Marquês de Winchester, já tinha lido e havia gostado da
leitura. Mas não diria a ela.

― O que mais quer levar? Não se preocupe com o dinheiro,


isso não é problema para mim — ele disse tentando fazê-la
fisgar a isca ao ouvi-lo dizer que ela comprasse o que
quisesse por conta dele, ainda não tinha esquecido o porquê
estava ali, precisava provar que ela tinha interesse no seu
dinheiro.

― Ah, agradeço Milorde, mas só isso é suficiente para mim


— ela respondeu abraçando os livros, contente com as suas
compras, sem perceber nenhuma ironia no que ele disse.

― Então vamos ver as outras lojas, ainda temos tempo. ―


Ele lhe incentivou ― Além do mais, minha tia quando se
junta com Lady Warinfell sempre se empolgam na conversa
e podem passar horas sem se importar com mais nada.

Ela riu de sua colocação e, após pagar pelo outro livro, eles
seguiram pelas ruas de Londres. Ele parou em uma loja de
vestidos, queria ver se ela iria querer comprar algo, e por
isso insistiu.

— Não é necessário Milorde, encomendei um vestido novo


essa semana, então eu não necessito de outro. Tenho uns
que trouxe comigo também, então é realmente
desnecessário um novo vestido. Mas não me importo de
voltar aqui outro dia para comprar outro livro. ― Ela brincou
dando um sorriso alegre e os olhos brilhando.

— Tudo bem, o que acha de darmos uma volta no Hyde Park


e esperar minha tia lá? ―

Ele sugeriu e ela imediatamente aceitou a sugestão. ―


Podemos comprar sorvete no caminho caso esteja com
vontade.

Não demorou muito e a Condessa se juntou a eles no Hyde


Park, e o Conde saiu assim que esta chegou alegando ter o
compromisso do qual tinha falado mais cedo, antes que a
sua tia perguntasse sobre isso, coisa que certamente faria.

Lady Dorset e Lizzie retornaram para casa primeiro que o


Conde, que decidiu passar na casa de um amigo antes de
voltar para casa.

Capítulo 6 — O Duque de Norfall

A casa do Duque em Londres era uma das mais bonitas da


cidade, com um imenso jardim na frente, e um labirinto que
fazia qualquer um se perder ali. O Conde já tinha se perdido
uma vez, quando inventara de entrar no labirinto, tinha
encontrado o centro dele, e ficado maravilhado com a fonte
que tinha ali, e com os peixes coloridos e exóticos que
tinham sido adquiridos por um valor exorbitante pelo antigo
Duque de Norfall.

Tudo aquilo pertencia agora a Lorde Phillip Howland, o atual


Duque de Norfall, seu melhor amigo desde a adolescência e
também sócio em seus negócios.

Assim que o mordomo lhe abriu a porta, ele sorriu, e foi


mandado entrar enquanto seria avisado ao Duque de sua
presença. Não demorou muito e o Duque veio ao seu
encontro.

― A que devo a honra dessa visita? — Lorde Norfall sorriu


ao abraçar o amigo.

― Eu estava aqui por perto e decidi visitar um velho amigo.


— O Conde deu de ombros.

― Mentiroso! Está querendo enrolar sua tia de novo, não é?


— O Duque acusou rindo como quem tivesse descoberto o
segredo do outro homem.

― Só porque eu fiz isso uma vez, não quer dizer que eu


esteja fazendo de novo. — Lorde Dorset se defendeu
revirando os olhos.

― Sei, então não estava acompanhando sua tia às compras


hoje? — o Duque perguntou.

— Ela é uma bela jovem, se não me engano.

― Como sabe disso? — Daniel franziu a testa diante das


palavras acertadas do amigo.

― Eu passei no meu cabriolé e lhe vi conversando com a


Viscondessa. E como estava apressado, não parei. ― Phillip
explicou sorrindo da revirada de olhos que o Conde deu. —
Sua tia está tentando lhe arrumar uma mulher de novo?

― Dessa vez ela jura de pés juntos que não, mas eu tenho
minhas dúvidas. Ela insiste em dizer que a senhorita Fernoy
não quer casar e até apostou seu navio que a garota não é
interesseira.

― Isso até eu quero ver. E o que você apostou?

― Minhas sedas. — o Conde respondeu passando as mãos


no rosto e coçando a barba que estava começando a
pinicar.

― Apostaram alto — Norfall comentou. — E como pretende


ganhar a aposta?

― Eu ainda não sei. ― O Conde bufou irritado e então teve


uma ideia. — Talvez, se ela tiver um duque nas mãos, ela
mostre seu lado interesseiro. Se ela for interesseira não vai
se importar em não dançar comigo no baile amanhã caso
tenha você.

O Conde teve a ideia, e sorriu ao perceber que podia dar


certo. Se ela fosse interesseira não daria a mínima para o
Conde se tivesse um duque lhe dando atenção.

― Eu não pretendo ir ao baile dos Claire. — O Duque


informou para a infelicidade do amigo. ― Vai ter que achar
outro duque para dar atenção a ela.

― Ah, não mesmo! Você me deve uma, lembra? — o Conde


apelou.

― Você é um calhorda da pior espécie, sabia? — Lorde


Howland resmungou desgostoso por estar em dívida com o
amigo. — Se eu soubesse que ia me cobrar dessa forma, eu
mesmo tinha espantado aquele abutre de cima de Phillipa,
nem sei porque te pedi isso.

― Porque ela iria ficar muito chateada se soubesse que


você espantou o pretendente dela
— o Conde rebateu com facilidade.

― Pretendente coisa nenhuma, aquele caça fortuna estava


de olho apenas no possível dote de minha irmã, e olha que
ela nem debutou ainda, só na próxima temporada. Mas o
maldito já estava querendo garantir que ela se afeiçoasse a
ele, como se minha irmã fosse uma tola para cair na lábia
daquele verme. — O Duque bufou irritado se lembrando do
homem que há um mês, havia tentado se aproximar da irmã
dele com segundas intensões.

― Tenho pena do seu futuro cunhado. — O Conde sorria


divertido do infortúnio do Duque. ― E então vai fazer isso?

― E eu tenho escolha? — o Duque perguntou rendido.

― Não tem! — o Conde disse sorrindo e dando uma tapinha


no ombro do amigo. ―

Vejo-o no baile.

O Conde se despediu do Duque e voltou para casa, sua


mente estava repleta de imagens da garota, a forma que
ela sorriu na biblioteca, os seus olhos brilhando de emoção
quando ele comprou os livros, e a forma de pensar e dizer
exatamente o que estava pensando, então o Conde se
irritou por estar pensando na garota. Precisava mostrar o
quanto antes quem ela era de verdade para a tia antes que
ela o fizesse perder o juízo.

Capítulo 7 — O Baile!
O dia do baile finalmente havia chegado. Uma criada tinha
ido acordar Lizzie em seu quarto, a pedido da Condessa,
para provar o vestido que Madame Charlotte tinha trazido,
ela tinha ido fazer a prova para saber onde precisaria de
ajustes no vestido e tinha mandado entregar já pronto
poucas horas antes do baile.

Lizzie se arrumou com a ajuda da criada e pela primeira vez


se sentiu linda. O vestido era simplesmente magnífico, em
seda rosa bem clara que marcava a cintura alta e se abria
na altura do quadril, lhe dando curvas naquela região. O
tecido se encorpava em seus seios com um decote quase
beirando o escândalo, mas sem de fato ultrapassar os
limites do decoro, o que deixava seu colo exposto de forma
sedutora. As mangas levemente cheias no ombro davam
uma proporção encantadora por causa de sua cintura fina.
Seus cabelos estavam cacheados e presos parcialmente em
um coque bem elaborado feito pela criada da Condessa.
Seu rosto estava com pouca maquiagem, apenas ruge e um
leve toque avermelhado nos lábios.

Ela desceu esperando encontrar o Conde como na última


vez, mas, dessa vez, ele não estava ali. Apenas o cocheiro
que a esperava para levá-la à carruagem, onde a Condessa
já a esperava.

Lizzie, ao ver que o Conde não as acompanharia, ficou um


pouco triste. Tinha começado a gostar da companhia do
Conde.

― Não se preocupe, ele disse que nos encontraria lá. Tinha


uns assuntos a tratar sobre as sedas — a Condessa explicou
ao entender o motivo da tristeza nos olhos da moça. — Eu
tomei a liberdade de arrumar-lhe um cartão de dança.
A Condessa lhe estendeu um cartão simples e ela ficou
olhando para ele um pouco sem jeito. Sabia que precisaria
de mais do que um vestido bonito para ser convidada para
dançar.

Mesmo que o vestido seguisse a moda londrina, ela não se


adequava aos padrões. Mas não quis dizer nada a
Condessa, entretanto, essa percebeu sua apreensão.

― Está receosa que não lhe chamem para dançar, não é? —


A Condessa leu seus pensamentos.

― Nunca fui uma beldade, Milady, mesmo quando era eu a


debutante, nunca consegui dançar todas as músicas do
baile. Nunca me adequei à moda e nem à beleza exigida. —
Lizzie baixou a cabeça envergonhada.

― Minha querida, olhe para mim — a Condessa pediu


delicada. — Você é linda justamente por não se adequar a
nenhum padrão, e o baile estará tão cheio de mulheres
iguais uma as outras que será um alívio para os cavalheiros
dançar com você. E não lhe faltarão parceiros de dança se
mostrar a eles quem você é de verdade em vez de se
esconder atrás de regras de etiqueta desnecessárias. Seja
educada, como sempre foi, e sorria sem afetação. Vai ver
que no fim da noite precisará de um bom banco para
descansar as pernas.

Lizzie sorriu, decidida a acreditar em cada palavra que a


Condessa dizia.

Depois de entrarem no salão de baile da Condessa de


Claire, elas foram cercadas por outras mulheres que
conheciam Lady Dorset e queriam mostrar que estavam
animadas com a
presença da Condessa. Por não vir com frequência à
Londres, o fato de ela estar ali era assunto das conversas
das solteironas e das velhas que passavam o resto de seus
dias a falar da vida das pessoas.

Lizzie passeou pelo salão junto com a Condessa,


cumprimentando todos que falavam com ela. E de longe viu
uma jovem deslumbrante que distribuía sorrisos, ela lhe
lembrava muito a Condessa de Claire, talvez fosse a sua
filha.

― Vi que já viu Lady Vitória de Claire — a Condessa falou


baixinho olhando na mesma direção de Lizzie.

Lady Vitória de Claire, filha da Condessa e do Conde de


Claire, a filha mais nova do casal, era uma beldade, loira,
olhos azuis, corpo cheio de curvas, seios chamativos, e um
rosto de dar inveja a qualquer uma, pele que parecia
porcelana e um sorriso capaz de seduzir até um celibatário.

Mas assim que a jovem olhou para Lizzie, ela viu ali
desprezo e arrogância, e seu sorriso se curvou em uma
careta como se sentisse nojo de pessoas menos nobre que
ela. O que era o caso de Lizzie.

― Não a deixe afetar você. Finja que ela não existe e você
ficará muito bem — a Condessa aconselhou antes que a
Condessa de Claire se aproximasse junto com sua filha.

― Que bom que você veio, querida. — Lady Claire sorriu


para a Condessa de Dorset enquanto ignorava a presença
de Lizzie, e sua filha a imitou com perfeição.

― Eu agradeço o convite, Condessa — Lady Dorset


agradeceu educada.
― É uma honra tê-la conosco, Milady, fico muito contente
que tenha aceitado o convite, espero que se divirta essa
noite. Ah, se me permite, Lorde Brant virá? — Lady Vitória
de Claire perguntou com um sorriso educado.

― Vitória! Não é correto que pergunte por um cavalheiro! —


a Condessa brigou com a filha, mas era perceptível que não
estava brava com a filha, muito pelo contrário, também
queria saber o paradeiro do Conde.

― Não se preocupe, o Conde virá. Ele prometeu que


dançaria a valsa com a senhorita Fernoy ― a Condessa
anunciou com os olhos brilhando ao ver a expressão
arrogante da filha da Condessa passar para irritada. Ela com
certeza estaria guardando a valsa para o Conde uma vez
que o Duque ali presente raramente dançava.

A irritação por não poder dançar a valsa com o Conde era


perceptível nos olhos da Claire mais nova. Ela olhou Lizzie
de cima a baixo e depois virou o rosto como se não
suportasse olhar para ela.

Antes que elas pudessem estender a conversa a Duquesa


de Windsor foi anunciada e a Condessa de Claire foi logo
saudar a recém-chegada deixando as duas sozinhas para
aproveitar o baile.

― A senhora não devia ter mentido. — Lizzie olhou para a


Condessa rindo.

― Mas eu não menti, minha jovem. — A Condessa piscou


para Lizzie.

― Mas Lorde Dorset não prometeu dançar a valsa comigo, e


se ele não vier ou não quiser dançar? — Lizzie perguntou
receosa.
― Então ele seria um tolo, e meu sobrinho é tudo menos
isso. Agora sorria que o Barão de Saltsmore está vindo para
cá, e pelo que acredito ele irá pedir uma dança com a
senhorita.

O Barão de Saltsmore era um homem de quarenta anos,


viúvo, que estava atrás de uma noiva que tivesse dinheiro
para poder sair de suas dívidas. Lizzie sabia disso, mas
gostava ainda mais de dançar e não era educado rejeitar
um parceiro.

Depois de ter a primeira dança prometida ao Barão as duas


andaram mais um pouco. Não demorou e avistaram o
Visconde de Warinfell e sua esposa grávida, junto com eles
estavam o Duque de Norfall, outro dos solteiros mais
cobiçados de Londres e um grande amigo do Conde de
Dorset.

A Condessa já conhecia todos eles, então apenas


apresentou Lizzie ao Duque e ao Visconde. Depois de feitas
as apresentações, a Condessa informou ao Duque que
estava passando a temporada com Lizzie na casa de Lorde
Dorset. Ao saber que Lizzie estava hospedada na casa do
Conde, o Duque sorriu surpreso.

― Por falar em Dorset, onde está ele? ― O Duque quis


saber.

― Ele deve estar chegando ― respondeu a Condessa.

Alguns minutos depois, o mestre de danças anunciou que


iria começar a primeira dança e o Barão veio ao encontro de
Lizzie e seguiram para a pista de dança.

Dançaram quase toda a música em silêncio, o Barão era um


homem de poucas palavras, um pouco mais alto que Lizzie,
mas menor que a maioria dos ingleses. Era rechonchudo e
calvo, mas tinha um sorriso simpático e cheirava bem.

A dança terminou, o Barão a levou de volta para o banco


onde Lizzie estava antes com a Condessa, elogiou sua
leveza na dança e depois se retirou quando ela rejeitou
educadamente a bebida que ele lhe ofereceu.

Algum tempo depois, a segunda dança começou, um outro


cavalheiro lhe pediu a dança seguinte e ela prontamente
aceitou. Esse, diferente do primeiro, não dançava bem, e
pisou algumas vezes em seu pé. Lizzie deu graças a Deus
quando a música terminou e ainda tinha todos os dedos no
pé.

Por ser recém-chegada em Londres e amiga da Condessa,


Lizzie foi chamada para dançar todas as músicas. Apenas
para a valsa, que era a última dança, ela não tinha aceitado
convite.

Mas o Conde ainda não tinha chegado. Ele iria mesmo


faltar? Lizzie ficou preocupada.

Queria que ele dançasse com ela. Tinha guardado a dança


para ele. E foi pensando nisso que o viu. Parecia até que o
tinha conjurado. Ela sorriu quando ele adentrou o salão e
começou a andar na direção delas, mas foi interceptado no
meio do caminho pela Condessa de Claire e sua filha.

Eles conversaram por alguns minutos, Lizzie achou que


poderia ser apenas as boas-vindas, mas quando ele tomou o
cartão de Lady Vitória nas mãos e assinou, ela soube que
ele não dançaria com ela a valsa.

Lady Vitória de Claire sorriu para ele e em seguida a


procurou com o olhar como se dissesse: Eu ganhei.
Ela sabia o que aquele sorriso queria dizer, tinha visto
muitos dele quando ela mesma debutou. Ela tinha
acreditado nas palavras da Condessa e tinha garantido a
sua valsa com o Conde.

Lizzie baixou os olhos quando ele se aproximou, sentia-se


traída. Mesmo que não tivesse motivo real, uma vez que ele
não lhe prometera nada.

― Ah, que bom que chegou, bem na hora, a valsa vai


começar e você prometeu a valsa a Lizzie, lembra? ― a
Condessa disse alegre sem ter visto a cena quando ele
chegou.

O Conde levantou uma sobrancelha e olhou para Lizzie com


um pedido de desculpas no olhar.

― Desculpe, tia, mas acabei de concordar em dançar com a


filha de lady Claire. A mulher praticamente jogou a garota
para cima de mim, não vi como recusar, ainda mais sendo a
anfitriã do baile. ― Ele tentou se desculpar com a Condessa
e com Lizzie. ― Sinto muito,

senhorita Fernoy, terei que descumprir minha palavra com


minha tia.

Diante daquelas palavras, a Condessa olhou para o sobrinho


furiosa e decepcionada, ela teria muito o que conversar com
seu sobrinho quando chegasse em casa.

― Tudo bem, eu estou cansada mesmo ― Lizzie disse


tentando apaziguar o clima.

― Espero realmente que não esteja tão cansada a ponto de


me negar essa dança. ― O

Duque veio em seu socorro ao ver a tristeza nos olhos dela.


― Desde quando você dança, Norfall? ― o Conde alfinetou.
― Pensei que nunca dançava em bailes.

― E não danço, mas não posso deixar uma jovem tão bela
como a senhorita Fernoy sem a última dança da noite, e
como você já tem sua parceira, a honra caberá a mim. Se
ela aceitar, claro.

Ela já tinha simpatizado com o Duque, e depois disso, ficou


ainda mais encantada com a gentileza do Duque, e se
sentiu agradecida por ele estar ali.

― Será um prazer, Vossa Graça ― Lizzie disse sem jeito,


corada por ele ter dito que ela era bonita.

A valsa começou, e quando Lady Claire viu o parceiro de


Lizzie, ela se enfureceu mesmo estando com o Conde.

E Lizzie sabia o porquê.

Um Duque era um partido melhor que um Conde, isso se


estivesse procurando casamento como a Lady Claire mais
nova estava. Pois, além de rico, ele era lindo, cabelos loiros,
belos olhos verdes, um rosto quadrado muito bem
proporcional, seu único defeito era uma cicatriz em sua
bochecha que lhe dava um ar perigoso, mas que em nada
lhe diminuía a beleza. Tinha um sorriso bonito e era muito
gentil.

Começaram a dançar e Lizzie percebeu que o Duque era


também um ótimo dançarino.

― Muito obrigada, Vossa Graça, o senhor me livrou de um


momento embaraçoso ― ela lhe disse sincera em meio a
dança.
― Eu fico feliz por poder ajudar ― ele respondeu educado.
― O que está achando de Londres? — o Duque perguntou
baixinho quando se encontraram no meio do salão.

― É uma cidade muito bonita, mas gosto da calmaria do


campo ― ela lhe confidenciou sincera.

― Eu compartilho desse mesmo pensamento. ― Ele sorriu


quando se afastaram como pedia a dança. ― O Conde é um
tolo por tê-la trocado por Lady Vitória, na minha opinião.

― Eu agradeço a gentileza, mas ela é a anfitriã do baile


junto com sua mãe, seria ainda mais rude se ele a
rejeitasse.

― Mas não foi de todo ruim, eu estou dançando com a


mulher mais linda do baile ― o Duque disse sorrindo
sedutor. ― E o melhor é que isso deixa o Conde irritado.
Veja o quanto ele parece furioso, está olhando direto para
cá, provavelmente arrependido de ter aceitado a dança com
Lady Claire — ele acrescentou divertido.

― Ah, então foi para irritar o Conde que me tirou para


dançar ― Lizzie disse rindo. ―

Deveria me sentir ofendida, mas não estou. Ainda mais


depois de ver a cara da Lady em questão.

― Acho que gosto dessa sua sinceridade ― o Duque disse


sincero e se divertindo. ―

Não se encontra facilmente por aqui. As moças sempre


dizem o que acham que queremos ouvir e nunca o que
realmente pensam. Você é realmente diferente.

― Vou considerar isso um elogio ― ela disse sorrindo. ―


Mas diga-me, conhece o Conde há quanto tempo?
― Desde os tempos da Universidade. Estudamos juntos.
Mas eu sempre fui mais inteligente, como pode ver, já que
escolhi o melhor par para a valsa. ― Ele piscou um olho.

― A parceira dele é muito bonita também ― Lizzie rebateu.

― Sim, ela é bonita, mas o que ela tem de beleza lhe falta
em cérebro e caráter. Não acredito no amor, Milady, mas
não me casaria com uma mulher que eu não respeite, e a
forma que Lady Vitória Claire age, tentando fisgar um
marido por seu título, nunca vai merecer meu respeito.

― Acredito que Lorde Dorset pensa da mesma forma ― ela


disse, pensando no Conde.

― Temos algumas crenças em comum, por isso somos


amigos até hoje, mesmo que às vezes ele haja como um
tolo.

― Não acredito que ele fez por mal. ― Lizzie defendeu o


Conde.

― Mesmo assim, ele a deixou triste. ― O Duque apontou a


verdade. ― Não devia ter feito isso. Você tem um sorriso
lindo para escondê-lo por causa de Dorset.

Lizzie olhou bem para o Duque procurando algum traço de


ironia em suas palavras, mas não encontrou nada além de
um sorriso genuíno, e sorriu também.

A dança terminou impedindo que Lizzie dissesse algo em


resposta ao elogio. Por causa do exercício e também pela
quantidade de pessoas no salão, este estava quente. Os
leques das damas estavam em constante movimento
tentando amenizar o calor.

― Gostaria de uma bebida? — o Duque ofereceu.


― Sim, eu aceito, estou morrendo de calor — ela disse e ele
a deixou junto da Condessa para em seguida ir buscar uma
bebida para ela.

De longe ela viu o Duque e o Conde conversando, e logo em


seguida o primeiro foi para a mesa de bebida e trouxe o
copo para ela.

― Eu devo ir. Obrigado pela dança, senhorita Fernoy. — O


Duque se despediu rapidamente de todos e em seguida foi
embora, deixando Lizzie desconfiada de sua saída súbita.

A Condessa continuava entretida com a conversa com seus


amigos, e Lizzie se sentiu deslocada ali. O burburinho das
vozes começava a incomodá-la e ela se sentiu sufocada no
meio de tanta gente. Então decidiu andar um pouco, os
jardins pareciam um bom lugar, pelo menos lá teria um
pouco de paz e silêncio.

Não foi difícil chegar aos jardins da Mansão dos Claire. Ela
se sentou em um banco embaixo de um carvalho e respirou
fundo o ar puro. Aquilo lhe trazia lembranças de casa, as
plantas lhe recordavam o campo onde seu pai e seus irmãos
ficaram, e ela sentiu saudades de estar com eles.

― Não devia ficar aqui sozinha — uma voz conhecida disse


a assustando pela proximidade.

― Precisava tomar um ar, Milorde — ela respondeu quando


se recompôs do susto.

― Gostaria de me desculpar mais uma vez por não ter


dançado a valsa — o Conde se desculpou se sentando ao
lado dela.

― Não tem porque se desculpar, não foi a mim que


prometeu. E o Duque foi um excelente parceiro, foi um
prazer dançar com ele ― Lizzie disse sorrindo ao se lembrar
da dança e da conversa com o Duque e aquilo deixou o
Conde irritado.

Era tão previsível, bastava aparecer um título mais


chamativo e ela logo mudava o alvo

— ele pensou.

― Claro que foi. Ele é um duque afinal — o Conde falou


irônico. — Vi que não demorou a flertar com ele.

Aquelas acusações a ofenderam, e ela se levantou irritada.

― Não me referi ao título dele, e sim porque ele dança bem


e me tirou de uma situação embaraçosa que, eu devo
lembrar, foi causada pelo senhor — Lizzie disse com raiva
apontando o dedo para o Conde que se levantou também.
― E eu não estava flertando.

― Se sorrir e corar não for flertar, eu não sei o que é. — o


Conde rebateu também furioso.

― Eu sorri porque ele era gentil e divertido, e corei porque


ele me elogiou, e eu não sei o que fazer com elogios, então
eu fico vermelha. — Na raiva, ela foi sincera, não media
mais as palavras. ― Se fosse o senhor a fazer o mesmo com
certeza a minha reação seria a mesma. Eu iria sorrir e corar.
Mas o senhor é incapaz de fazer uma coisa dessas porque
está completamente preso ao passado, e desconfia de todo
mundo.

Lizzie estava vermelha por causa da raiva, sua vontade era


de bater em alguma coisa, mas em vez disso se virou
pronta para voltar ao salão. Mas antes que pudesse dar um
passo para longe dele, ele a segurou pelo braço e a puxou
virando-a para ele, entretanto ela se desequilibrou ao pisar
na saia do vestido e acabou caindo por cima dele.

Ele a segurou e ela olhou para cima irritada e envergonhada


ao mesmo tempo. Estava tão próxima que ele não pensou,
abaixou o rosto e tomou seus lábios.

Ela ficou surpresa com o beijo, os lábios dele eram macios,


mas ele não podia estar fazendo algo assim com ela, quem
ele pensava que era? Lizzie abriu a boca para reclamar e ele
aproveitou para aprofundar o beijo. Ela nunca tinha sido
beijada, e as inúmeras sensações que a envolveram lhe
impediram de pensar em qualquer coisa que não fosse no
Conde e nas sensações que ele lhe causava, e ela se viu
retribuindo o beijo dele.

Era um beijo urgente, a raiva dele aumentando ainda mais o


fogo entre eles. Ele queria tomar tudo dela. Sentiu-se
endurecer e a puxou ainda mais sobre ele e a apertou
contra seu corpo e sua ereção.

Ela gemeu no meio do beijo e o som o fez se lembrar de


onde e com quem estava. Ele a afastou de si,
interrompendo o beijo e ela viu seus olhos escurecidos de
desejo.

― Entre — ele disse ficando ainda mais irritado. ― Agora.

E apenas por querer fugir daquele momento, ela fez o que


ele disse sem contestar.

Depois de ter perdido o controle, Lorde Dorset saiu


imediatamente do baile, pouco se importando se tal ato era
rude de sua parte. Pegou uma carruagem de aluguel
deixando a sua para ser usada pela Condessa na volta para
casa.
Tinha sido estúpido ao beijar a moça. Não tinha planejado
fazê-lo, mas ao tê-la em seus braços, mesmo que por causa
de um desequilíbrio, não pensou nas consequências.

Ela estava tão linda, com o rosto corado e ao mesmo tempo


ali brigando com ele, que não resistiu. Precisava sentir seu
gosto. E pelos céus era magnífico. Assim que encontrou
seus lábios macios tinha se perdido nela. Por pouco não a
tomou ali nos jardins, quase a comprometeu em público.

Ela me seduziu. Só pode ter sido. Ele pensava ficando cada


vez mais irritado. E ainda tinha tido a audácia de negar que
tinha flertado com o Duque, algo que ele viu claramente.

Ele não esperava sentir raiva quando o Duque a tinha tirado


para dançar, e muito menos a fúria que sentiu quando a viu
rindo e corando nos braços do Duque. Não tinha estado
preparado para ouvir da voz do Duque que ela era
encantadora e diferente, e muito menos que talvez dessa

vez a Condessa tivesse acertado.

Se soubesse que ir ao baile lhe causaria todo esse


desconforto, teria aceitado ficar no hotel e beber com o
Marquês de Winchester, como esse tinha lhe sugerido. Ele
se lembrou da conversa como se esta estivesse
acontecendo naquele momento.

― Alguma notícia das sedas? ― o Marquês perguntou assim


que se sentou e lhe serviu um copo do qual o Conde bebeu
de uma só vez.

― A última notícia que eu recebi foi que estava vindo para


cá, tinha tido apenas um contratempo que a obrigou a
mudar a rota por cinco dias — o Conde explicou e encheu
novamente o copo.
Ele e o Marquês eram sócios nos negócios das sedas, então
sempre que o Marquês ia a Londres, o que era uma vez a
cada duas semanas, eles faziam uma reunião de negócios.

― Se as sedas já estão a caminho, porque está bebendo


como se quisesse se afogar no copo de whisky? — o
Marquês observou.

― Minha tia ― ele respondeu como se aquilo respondesse


tudo.

― E o que ela fez dessa vez que te obrigou a vir aqui acabar
com meu whisky? Pensei que gostasse da Condessa.

― E gosto, o problema é que acho que ela está tramando


alguma coisa. ― Ele bebeu mais um gole tentando esquecer
esse detalhe.

― E o que imagina que seja? ― O Marquês ergueu uma


sobrancelha morena.

― Se eu soubesse, não estaria bebendo preocupado que ela


esteja me levando para uma armadilha que possa terminar
no altar — ele respondeu revirando os olhos.

― É o mínimo a se esperar já que ela apostou contigo o


Siren. Já não devia estar preparado para possíveis golpes
baixos? — o Marquês disse como se aquilo fosse óbvio,
erguendo seu copo na direção do Conde como se
oferecesse a ele a bebida.

― Esse é o problema, minha tia sabe ser uma incógnita


quando quer, ela não deixa transparecer nada, e para piorar
a senhorita Fernoy não está colaborando com meus planos
de provar o interesse dela em um casamento com um
Conde. — Daniel confessou derrotado. ―
Mas eu sei que minha tia está enganada, toda mulher tem
seu preço, eu só preciso descobrir qual é.

― Bem, a Condessa não é de se enganar quando se trata do


caráter de alguém. ― O

Marquês apontou e o Conde bebeu mais um gole diante da


veracidade daquelas palavras.

― Eu sei. Isso é o que mais me preocupa.

O Marquês o tinha observado por tempo suficiente para


deixa-lo desconfortável e em seguida sorveu mais um gole
de sua bebida.

― Bom, eu tenho que ir, a minha tia me obrigou a ir no baile


dos Claire — o Conde anunciou desanimado. ― Mas vou
chegar o mais atrasado que puder.

― E por que não fica aqui e bebe comigo, acho que seria
bem melhor do que se ver rodeado por todas aquelas mães
casamenteiras, doidas e desesperadas, para casá-lo com
uma de suas filhas.

― Não tenho dúvidas que seria muito melhor ficar aqui e


acabar com seu Whisky, mas eu preciso ir. Tenho um plano
para pôr em prática. Hoje vou mostrar à minha tia que toda
mulher prefere um Duque.

― Interessante. ― Foi a única palavra que o Marquês disse


antes de sorrir e mudar de assunto voltando a falar das
sedas.

A carruagem chegou à casa do Conde, trazendo-o de volta


ao presente. Ele entrou e se trancou em seu escritório.
Precisava se ocupar com algo, mas não conseguia se
concentrar em nada que não fosse o beijo dado no maldito
baile. Lembrar-se dela em seus braços o endureceu.

Talvez fosse hora de visitar o bordel novamente.

Capítulo 8 — Más Notícias

No baile, Lizzie voltou para o salão, atônita. Tinha sido seu


primeiro beijo, e tinha sido delicioso. Nunca pensou que
poderia se sentir assim tão…viva.

A Condessa a olhava com um sorriso no rosto, o que a


deixava corada por pensar que Lady Margaery pudesse
supor o que tinha acontecido nos jardins. Depois de alguns
minutos, a Condessa decidiu que já era hora de voltar para
casa.

Já na carruagem, Lizzie evitava olhar para a Condessa com


medo de ela perscrutar seus pensamentos e descobrir tudo.

― Gostou da noite, minha cara? — a Condessa perguntou


depois que a carruagem começou a se mover.

― Sim, milady, foi de fato muito agradável — Lizzie


respondeu baixando os olhos e unindo as mãos no colo.

― Algo a incomoda? ― a Condessa perguntou vendo a


vermelhidão no rosto de Lizzie.

― N-Não, nada me incomoda, é só que agora que eu me dei


conta que dancei todas as músicas do baile — Lizzie disse
satisfeita por ter encontrado uma desculpa adequada. —
Nunca imaginei dançar tanto assim.

― Fico feliz que tenha se divertido — a Condessa disse


sincera e em seguida seguiram em silêncio.

Assim que chegaram em casa o mordomo já as esperava na


porta.

― Uma carta para a senhorita, Milady. É urgente.

Lizzie agradeceu retirando a carta da bandeja e abriu


sentindo um mau agouro. A carta era endereçada a ela e
tinha sido enviada pelo tesoureiro de seu pai.

“ Milady, desculpe informá-la por este meio, mas seu pai


voltou a cair doente. O médico acredita que é o coração
novamente, e teme que dessa vez ele não sobreviva. ”

Aquelas palavras lhe tiraram o fôlego. O coração de seu pai


tinha parado uma vez no ano passado, mas desde então
tinha estado bem.

Ela precisava voltar para casa imediatamente.

A Condessa assim que viu seu rosto assustado entendeu


que algo não estava bem. E ao se inteirar da situação se
dispôs logo a dar todo o suporte que ela necessitava para
voltar para Fernoy o mais rápido possível.

O barulho nas escadas chamou a atenção do Conde. Ele


saiu do seu escritório para ver seus criados se adiantando
para arrumar as coisas de Lizzie em um baú.

Ao ver que ninguém sabia lhe informar nada além da ida


súbita de Lizzie, ele subiu para
o quarto da Condessa para perguntar o que estava
acontecendo.

― O pai dela caiu doente. Ela precisa voltar imediatamente


para casa ― a Condessa disse e ele entendeu a situação.

― Mandarei preparar a carruagem ― avisou o Conde.

― Já fiz isso ― a Condessa respondeu.

Não tendo mais nada para fazer, ele seguiu para o quarto
de Lizzie, sabia que teria várias criadas lá no quarto dela,
preparando as coisas para a partida da lady e, portanto, não
estariam sozinhos, e não lhe traria risco nenhum. Ele só
queria ver como ela estava, e lhe oferecer seu apoio para o
que ela precisasse, era o mínimo que poderia fazer.

Ao bater à porta, uma Lizzie chorosa a abriu, já vestida com


a roupa de viagem.

― Espero que seu pai fique bem. Se tiver algo que eu possa
fazer… ― Ele se ofereceu.

― Obrigada, Milorde ― ela agradeceu enxugando as


lágrimas com a manga do vestido.

E pela primeira vez ele a viu com medo.

― Ele vai ficar bem. Ele é forte. ― Ela tentava se convencer.


Ele queria abraçá-la e afastar para longe o medo nos olhos
dela. Mas em vez disso ele deu meia-volta e desceu para
esperar a carruagem ser preparada.

Quando chegou à Fernoy, Lizzie desceu correndo da


carruagem, pouco se importando se era indecoroso, temia
não dar tempo de ver seu pai uma última vez.

Não tinha tempo para bater à porta e esperar o mordomo


vir abrir, ainda mais porque Walter já estava velho e
demoraria alguns minutos para abrir a porta. Então ela
rodeou a casa e entrou pela porta dos criados, passando
pela cozinha rapidamente e subindo para o quarto do pai.

Ver ele deitado e pálido na cama a fez pensar o pior. Sua


pele estava pegajosa e um pouco fria.

― Papai? ― ela chamou tentando acordá-lo. Lágrimas já se


formavam em seus olhos.

― Milady, seu pai está inconsciente.

Lizzie reconheceu a voz do amigo de seu pai e também


tesoureiro do baronato, Flinn Morgan, ela não tinha tirado os
olhos do pai.

― O que ele tem? ― Lizzie perguntou.

― No início o médico achava que era o coração, por isso


escrevi dizendo que era isso, mas ele acha que na verdade
o problema foi na cabeça. Os pés dele estão inchados, e ele
está com dificuldade para respirar e não acordou ainda, ele
se queixou de dor de cabeça um dia antes de desmaiar e
estava com uma careta estranha pouco antes de cair
desacordado.

― Mas ele vai ficar bem?


― O médico não soube dizer, Milady. Ele apenas disse que
não podia fazer mais nada além do que já vem fazendo.

Lizzie então deu lugar às lágrimas que segurava desde que


tinha recebido o bilhete do tesoureiro.

Lizzie não saiu de perto do pai em nenhum dos cinco dias


que ele permaneceu vivo. Mal comeu nesse período e
dormiu ali mesmo na cadeira. Conversava com seu pai todo
dia e pedia para ele se recuperar. Mas, no sexto dia, ele
faleceu.

O enterro foi pesado para Lizzie. No dia do velório a


Condessa estava presente e tinha lhe dado todo o apoio que
podia. O Conde também apareceu, e ela se sentiu grata que
ele estivesse ali.

Entretanto a dor da perda era muito grande, e ela só queria


ficar em seu quarto chorando, pelo menos lá ninguém a
julgaria.

Mas certa noite ela acordou com o barulho de um choro


infantil, o som vinha do quarto de seus irmãos, e quando ela
entrou a cena que viu fez seu coração doer. Seus irmãos
estavam chorando abraçados.

Ela então percebeu que não podia se fechar em sua própria


dor, abraçou os irmãos e decidiu ser forte por eles. Eles
adormeceram exaustos e na manhã seguinte Lizzie acordou
com um novo propósito.

Ela seria forte para os seus irmãos, que agora cresceriam


sem pai e sem mãe, e ela teria que ser suficiente para
suprir a falta que seus pais fariam para aquelas duas
crianças.
Robert era o herdeiro agora, e tinha apenas doze anos, ele
não poderia assumir nada, então ela iria fazer o possível
para garantir o estudo dele e de Jeremy, que com apenas
nove anos também precisaria de cuidados.

Com esse pensamento ela decidiu se reunir com o


tesoureiro e também com a governanta.

Precisaria saber como estava a situação do baronato e


entender o que precisaria fazer para cuidar de tudo por ali.

― Milady, com todo respeito, não creio que isso seja um


trabalho para uma dama, fora que devia se recolher ao seu
luto. Deixe que eu cuido dessa parte burocrática ― o seu
tesoureiro falou preocupado para Lizzie.

Ele remexia as mãos, nervoso, parecia não querer que Lizzie


não soubesse de algo.

― Não Flinn, eu agora tenho que cuidar de tudo, por favor,


não me deixe por fora de nada. Que papai me perdoe, mas
não posso me dar ao luxo de ter meu luto como deveria,
Jeremy e Robert precisam de mim ― ela retrucou cerrando
os olhos para o homem magricelo que conhecera a vida
toda.

Ele ficou sem saber o que dizer, mas conhecia aquela


mulher desde que nascera e sabia que quando ela colocava
algo na cabeça não tinha ser humano que tirasse. Ele se
orgulhou da força dela e se deu por vencido concordando
com a cabeça a levando para o escritório de seu pai.

Não queria que ela soubesse que o baronato estava quase


falido, o Barão tinha tentado fazer o possível para que os
filhos não soubessem e nem sofressem com isso. Mas agora
não tinha como não contar a Elizabeth o que estava
acontecendo.
Lizzie ficou perplexa ao saber que o baronato estava
quebrado desde a morte de sua mãe, o tratamento usado
com ela tinha sido caro, pois seu pai não tinha poupado
esforços para curar sua mãe. Não tinha sobrado quase nada
para manter os estudos de Robert e Jeremy, e agora depois
que o pai faleceu tinha ficado ainda menos dinheiro.

― Meu Deus Flinn, só tem aqui o dinheiro do meu dote ―


ela exclamou horrorizada.

― Seu pai insistia que casasse para tentar ver com seu
marido a possibilidade de melhorar as finanças, um acordo
entre os dois.

― Ele nunca me disse que era esse o motivo, se eu


soubesse teria me casado ― Lizzie

disse se lembrando de todas as vezes que seu pai a fez


pensar em casamento.

― Ele não queria que fosse infeliz em um casamento


apenas para ele poder pagar as contas. — O tesoureiro lhe
tocou a mão a reconfortando.

― Usaremos o dinheiro de meu dote para pagar as contas


em atraso e aos empregados.

Vamos cortar gastos desnecessários e logo sairemos do


vermelho.

― Eu tinha sugerido isso a ele, mas ele não queria mexer no


seu dote, pois como a senhorita iria se casar sem um dote?

― Eu pensarei em algo. Mas, por hora, é só o que temos. O


dinheiro dos impostos que recebemos mal é suficiente para
manter os estudos de meus irmãos, e os empregados
também precisam receber seus salários, vamos ter que
vender algumas coisas para tentar aumentar a renda da
casa, pelo menos para pagar as contas maiores. — Lizzie
pensava rápido, vendo o que poderia fazer para diminuir a
dívida.

Ela fazia as contas rapidamente e ele se orgulhou dela, ele


próprio já tinha chegado a essa conclusão alguns dias atrás
quando viu o quanto ainda dispunha para cuidar da saúde
do Barão.

Eles iriam dar um jeito de melhorar as finanças do baronato,


Lizzie era esperta, e se fosse só aquilo seria apenas um ano
apertado, e logo voltariam ao normal.

Capítulo 9 — Dívidas

Um mês tinha se passado desde que o pai de Lizzie


morrera, e o Barão de Winsmore decidiu que aquele seria o
melhor momento para cobrar a dívida feita pelo Barão de
Fernoy em uma noite chuvosa cinco anos atrás.

Bateu à porta e pediu para falar com o responsável pelo


baronato e quando foi direcionado ao escritório sorriu com
seu plano de mestre.

Há cinco anos tinha dado um empréstimo ao Barão de


Fernoy. O que ninguém sabia era que ele tinha armado para
cima do homem, apenas para conseguir ter as terras dele.

O Barão de Fernoy tinha ido lá quitar a dívida, mas o Barão


de Winsmore não tinha aceitado o dinheiro, amassando o
contrato e o jogando na lareira na frente do outro homem.
Tinha dito que perdoava a dívida como forma de mostrar
seu sentimento uma vez que também já tinha perdido a
esposa. Tudo isso fazia parte de seu plano ganancioso de
conseguir as terras dos Fernoy, e para isso ele tinha um
segundo contrato, que ele tinha falsificado a assinatura e
guardado no seu cofre.

O tempo passou e o Barão de Winsmore esperou o tempo


certo, sabia que uma hora o Barão partiria, o homem amava
demais a esposa para viver sem ela. E quando ele
finalmente morresse, o Barão teria as terras que sempre
quis.

E finalmente esse dia tinha chegado.

O Mordomo o levou ao escritório do Barão de Fernoy, e este


sentou-se pomposamente, e uniu as mãos debaixo do
queixo esperando sua presa que já estava avisada de sua
presença.

― Pois não, Barão, a que devo a visita? — Lizzie perguntou


curiosa com a presença do outro homem ali.

― Minha jovem, onde está o responsável pelo baronato,


tenho contas a acertar com ele.

— O Barão falou arrogante a olhando por cima dos óculos.

― Creio que o responsável seja eu, Barão. Então, diga que


negócios são esses. ― Lizzie respondeu séria. Não gostava
de ter o Barão ali, e muito menos da forma que ele a
olhava, como se ela fosse um inseto que estivesse em seu
caminho.

― Então tudo bem, eu vim cobrar a dívida de seu pai.


Esperei um tempo depois da infeliz morte dele, para lhe dar
tempo ao luto, mas agora preciso do dinheiro para resolver
minhas próprias pendências.

Lizzie sabia que o Barão era rico, e que ele nunca comprava
nada sem que não tivesse o dinheiro em mãos, e sabia
também que ele jamais emprestava o que era seu. E por
isso suspeitou da dívida.

― Creio que o senhor deva ter algum documento


confirmando a dívida. — Lizzie disse e ele sorriu retirando
um papel de seu bolso.

― Aqui está. — O Barão lhe entregou o papel que lhe


assegurava o valor a ser recebido.

Lizzie viu aquele valor e mandou chamar seu contador, não


poderia se dar ao luxo de retirar mais do que a quantia
exata que tinha no contrato. Precisaria vender mais
algumas coisas para poder restituir o dinheiro, mas, no fim,
daria certo. O que não entendia era porque no papel dizia
que caso ela não tivesse o dinheiro deveria dar como
pagamento desde as terras que faziam

fronteira com o baronato do Winsmore até o riacho que


cortava o baronato dos Fernoys. O que era quase quarenta
por cento das terras pertencentes aos Fernoys. Um valor tão
pequeno para ser pago com as terras era muito estranho,
então ela decidiu chamar o seu contador para analisar o
documento, ele saberia o que fazer.

― Walter. — Lizzie chamou em bom tom, e assim que o


mordomo apareceu na porta e ela pediu. — Chame o Flinn,
por favor.

― Sim, Milady. — O mordomo saiu imediatamente, tão


rápido quanto seus muitos anos permitiam.
Não demorou muito e Flinn irrompeu pela porta. Ao ver o
Barão ali ele olhou para Lizzie preocupado.

― Aconteceu algo? — ele perguntou para Lizzie que lhe


estendeu o papel para ele analisar.

― Você sabia dessa dívida? — ela perguntou e ele franziu a


testa.

― Dívidas? Todas as dívidas que temos estão anotadas. Eu


não sabia dessa. ― Ele analisou o papel com cuidado. E
arregalou os olhos à medida que foi lendo.

― Mas esses juros são exorbitantes! — o tesoureiro


exclamou e olhou bem a assinatura do Barão, e ficou ainda
mais assustado com o tempo que a dívida já estava
acumulando. — Esse valor...com esses juros…vai dar… — o
contador fez uns cálculos rápidos na cabeça ― …quase
cinquenta mil libras.

― Cinquenta mil? — Lizzie se engasgou com o valor, e


sentiu seu corpo gelar diante da quantidade exorbitante.

― Eu disse para ele que pegar emprestado comigo sairia


caro. Ele estava ciente de tudo que tem ai, nunca lhe
escondi nada. — O Barão de Winsmore deu um sorriso
sarcástico. ― Mas agora eu quero o que me é devido.

― Esses papéis são verdadeiros, mas o seu pai nunca tinha


me falado nada sobre essa dívida. Eu não sabia sobre ela —
Flinn admitiu preocupado

― Eu não tenho esse valor agora — Lizzie revelou em um


sussurro e percebendo que não pagar a dívida significava
que Robert não teria um baronato para cuidar, e ela decidiu
impulsivamente. ― Mas eu posso lhe arrumar. Me dê um
prazo e eu consigo lhe pagar toda essa dívida.
O Barão a olhou divertido, nunca que ela conseguiria quitar
uma dívida tão grande. E ele gostava do desafio, ainda mais
se pudesse ganhar algo em cima.

― Eu lhe dou até o final do mês — o Barão disse e viu Lizzie


concordar com a cabeça.

― Se conseguir me pagar, ótimo, se não, além das terras do


contrato eu quero a casa do lago.

Lizzie semicerrou os olhos, ele dava apenas três semanas


para ela conseguir o dinheiro.

Mas como aquele pedacinho de terra estava em seu dote e


era dela, então ela decidiu concordar.

Tinha bem mais a perder caso não conseguisse o dinheiro. E


três semanas teria que ser suficiente.

― Feito. ― Lizzie apertou a mão do homem para selar o


acordo, enquanto Flinn a olhava preocupado quando o
homem guardou o contrato em suas vestes e foi embora
com um sorriso vitorioso no rosto.

― O que vamos fazer, senhorita? Onde vamos arrumar todo


esse dinheiro em apenas três semanas? — Flinn perguntou
desesperado enquanto passava a mão pelos cabelos que já
começavam a ficar brancos.

― Não posso permitir que ele pegue o que pertence ao Rob.


Não posso deixar, Flinn.

Mas também não sei como vou arrumar esse dinheiro em


três semanas. ― Lizzie se jogou na

cadeira de seu pai e levou a mão ao rosto preocupada com


seu futuro e o futuro de seus irmãos. ―
Vender as terras é uma opção? — Lizzie perguntou,
pensando em alguma saída.

― Infelizmente não. As terras que sobraram estão atreladas


à herança de Robert, e elas não podem ser negociadas. E as
outras não são suficientes para pagar a conta. — Flinn disse
e Lizzie ficou cada vez mais desesperada ao ouvir aquilo.

― E o que vamos fazer? Eu sei que disse que podia arrumar,


mas apenas tentei ganhar tempo até que pudéssemos
pensar em alguma coisa — Lizzie explicou.

― Eu não vejo como, Milady. Se a senhorita fosse casada


com um homem rico, poderíamos recorrer a ele e tentar
resolver essa situação. Mas não temos um credor que nos
arranje essa quantia, ainda mais não sendo pedida pelo
próprio Barão.

― É isso! Se eu me casar com alguém rico eu posso


conseguir o dinheiro ― Lizzie falou animada ao ter a ideia.

― Mas dará tempo de arrumar um marido em apenas três


semanas? Terá que causar um escândalo para se casar tão
rápido ― ele lhe falou preocupado com o plano dela. — E o
mais importante com quem se casaria?

― Acho que eu terei que voltar a Londres, a maioria dos


homens ricos estão lá. — Ela se evadiu da última pergunta.

― Mas e seu luto? ― ele perguntou, pois ela não poderia


procurar um marido estando de luto.

― Não tenho tempo para ter meu luto. ― Ela suspirou triste.
— Eu não posso me dar ao luxo de viver o luto.

― Queria que tivesse outro jeito. — Flinn foi sincero.


― Eu também. — Ela assumiu ― Não gosto de pensar que
terei que me casar apenas por causa do dinheiro. ― Lizzie
disse se lembrando de como tinha defendido a ideia de se
casar por amor, e agora estava ali planejando se casar para
conseguir dinheiro.

― Talvez se eu tivesse sido melhor com as contas e


impedido seu pai de gastar tanto com vocês, e assim
impedido que ele fizesse essa dívida… ― Flinn disse se
sentindo triste com toda a situação que estava vivendo.

― Você sabe tanto quanto eu que meu pai não media


esforços para nos dar o melhor. E

você tem sido fiel a ele desde o começo. Agradeço mesmo


sua amizade. Não sei o que ele teria feito sem você. —
Lizzie acalmou o outro homem e se levantou. ― E da
mesma forma que meu pai fez o melhor para mim, tenho
que fazer o mesmo por meus irmãos, e se me casar garantir
o futuro de meus irmãos, então eu o farei ― ela disse e em
seguida saiu do escritório de seu pai e seguiu para seu
próprio quarto.

Chegando lá, fechou a porta e se escorou nela deixando seu


corpo descer em direção ao chão, então chorou. O luto lhe
tomando com força, e a tristeza por ter que se casar por
interesse lhe pesando a consciência. Mas não poderia agora
dar lugar ao amor, dessa vez não poderia dizer que não se
importava com o dinheiro, pois era exatamente por ele que
iria se casar.

Ela levantou a cabeça de seus joelhos, seus olhos inchados


e ainda molhados turvavam sua visão. Ela enxugou os olhos
e se perguntou como conseguiria um casamento, uma vez
que não era mais tão jovem, não tinha dinheiro, e não era
uma beldade. Como iria fazer alguém gostar dela?
De onde estava sentada ela podia ver embaixo da sua
cama, e um objeto chamou sua atenção. Era um livro. O que
um livro estava fazendo embaixo de sua cama? Ela decidiu
ir buscá-lo para colocar na biblioteca quando percebeu qual
livro era.

Era o diário da cortesã. E então ela entendeu o que teria


que fazer para conseguir se casar em três semanas. Teria
que seduzir um homem.

Capítulo 10 — De volta a Londres

Londres era mais calma fora do período da temporada.


Lizzie tinha tido três dias apenas para planejar como faria
tudo. Não poderia perder tempo, o Barão havia lhe dado
apenas até o final do mês para pagar a dívida e agora só
tinha duas semanas. Tinha escrito para o Conde de Dorset
informando que passaria uma semana em Londres e lhe
pedia que lhe indicasse alguma estalagem onde pudesse
ficar. Sabia que ele não lhe recusaria uma indicação. Mas
ele fez mais que isso. Lhe ofereceu sua casa para que ela
passasse quanto tempo fosse necessário. Isso não estava
nos planos dela, mas era uma ação que ela apreciou muito.
O dinheiro estava bem escasso, então não podia se dar ao
luxo de gastar.

Assim que pensou a quem tentaria seduzir, ela se lembrou


do único homem que a havia beijado: o Conde. E se lembrou
do tempo que passou com ele, e com um sorriso percebeu
que ele seria o marido ideal, mas não seria fácil conseguir
fazer ele se casar com ela, tinha que parecer que era uma
ideia dele e não dela. Talvez se ele a deflorasse se sentisse
obrigado a casar com ela.

Mas ele não poderia descobrir nunca que ela o estava


usando. Sabia que ele nunca a perdoaria se soubesse que
ela estaria fazendo a mesma coisa que a ex-noiva. Mas ela
não conseguia pensar em mais ninguém que ela pudesse
usar de alvo.

O tempo todo, porém, sua consciência lhe acusava de ser


interesseira e de estar sendo uma mentirosa igual à ex-
noiva do Conde. Ao que Lizzie tentava se convencer do
contrário, afirmando para sua consciência que Lady Letícia
tinha feito isso por si e ela o estava fazendo por seus
irmãos.

Mas sua consciência continuava pesando, entretanto, já


estava na metade do caminho, não podia voltar atrás, o
futuro de seus irmãos dependia dela. Ela só tinha mais duas
semanas para conseguir essa façanha. Não podia perder
nenhum segundo pensando se era certo ou errado.

Estava de volta à Londres, usava um vestido negro, pois,


apesar de tudo não queria parecer tão insensível à morte de
seu pai. Era o mínimo que podia fazer, e também porque
aquilo não iria lhe atrapalhar uma vez que não iria para
bailes ou coisas do tipo. Seu alvo frequentava outros locais
e já a tinha chamado para ficar em sua casa.

Ela bateu à porta do Conde, sua criada pessoal estava com


ela, como acompanhante.

Assim que a porta foi aberta o mordomo a deixou entrar,


levando-a para a sala de visitas enquanto ele ia avisar ao
Conde de sua chegada.

Ver o Conde naquelas circunstancias fez seu coração


acelerar, e ela não sabia se por causa da lembrança do beijo
que tinha tomado seu pensamento nos últimos dias ou se
pelo motivo de estar ali.

Ele sorriu ao lhe ver e a saudou educadamente.

― Fico feliz que tenha chegado, como foi a viagem? — ele


perguntou cortês.

― Foi um pouco entediante, já que dessa vez eu não tinha a


companhia da Condessa. Mas foi tudo bem graças a Deus —
ela respondeu o encarando com um sorriso de lado que ela
treinou de frente para o espelho como o diário ensinava a
fazer.

Ela tinha lido várias vezes cada capítulo do diário, tentando


aprender tudo que pudesse sobre como seduzir um homem,
iria precisar de tudo o que pudesse em pouco tempo para
fazer alguém se apaixonar por ela, ou melhor, para fazer o
Conde se apaixonar por ela.

No início tinha se escandalizado cada vez que virava a


página do diário, ali tinha coisas que nunca imaginaria uma
mulher fazendo. Quando ela viu as posições que o livro
ensinava quase desistiu. Eram muitas posições e cada uma
mais escandalosa que a outra. Mas ela se obrigou a colocar
sua vergonha de lado e aprender o máximo possível sobre a
arte da sedução.

― Reservei-lhe o mesmo quarto da última vez, assim ficará


mais confortável, por estar em um ambiente familiar.

― Muito obrigada, Milorde, está sendo muito gentil — ela


lhe agradeceu.
― Não há de quê. Venha, vou levá-la ao seu quarto — ele
anunciou e ambos seguiram escada acima, acompanhados
de perto pela criada, que ficou em um quarto em frente ao
de Lizzie.

Depois que estava instalada, ela pegou o papel que tinha


anotado os passos do livro de forma resumida, não podia se
arriscar a ser pega andando com um livro com aquele
conteúdo, ou então poderia acabar se metendo em
problemas, mas também não podia correr o risco de se
esquecer das coisas que tinha lido, por isso anotou cada
uma em uma lista e a trouxe consigo.

Ela leu a lista pela quinquagésima vez.

Escolher o pretendente

O Conde até agora era o melhor pretendente — Lizzie


pensava enquanto lia.

Chamar a atenção dele

Isso já tinha feito. Ele já a tinha até beijado. Mas iria fazer
de novo, só esperava que tudo desse certo.

Mostrar que o deseja.

Nessa parte ela tinha lido as dicas que o diário dava.


Segundo ele, uma das formas de mostrar interesse é dando
o primeiro passo, quer seja passando a mão nos ombros do
pretendente ou encarando a boca dele com vontade de
beijá-lo. Segundo o livro isso sempre funcionava.

O beijar com paixão

Esse item já tinha feito, mas iria fazer de novo para seguir a
ordem, e porque ela tinha passado meses pensando no
beijo. Era a única coisa capaz de amenizar seu luto.

Bancar a difícil

Essa opção a tinha deixado confusa. Mas iria fazer isso.


Segundo o livro era apenas esnobar o pretendente, para
que ele não achasse que já a tinha conquistado e se
sentisse instigado

a seduzi-la.

Incentivar seus avanços

Quando ela viu esse capítulo no livro pela primeira vez ela
precisou reunir toda a coragem para colocá-lo na lista. Mas
se o livro dizia que ela tinha que fazer isso, então ela teria
que criar coragem para fazer esse item. As dicas que o livro
dava incluíam: beijos no pescoço, mãos nas nádegas por
baixo das anáguas e seus seios livres do espartilho.

Excitar o pretendente

Toques um pouco mais íntimos seriam necessários para


realizar esse item. E se ela tinha achado escandaloso o item
anterior nem conseguia se imaginar fazendo esse, mas
tinha a convicção que conseguiria encontrar a sua coragem
na hora de realizar esse feito. Sabia que não poderia voltar
atrás depois que começasse a realizar os outros itens da
lista. E sabia também que precisaria mostrar segurança no
que fazia.

Dar a ele a melhor noite de sua vida.


Essa lição era a última e ela temia o que aconteceria
quando precisasse realizar esse item. Só esperava que
tivesse coragem para fazê-lo e que fosse o suficiente para
que o Conde a pedisse em casamento. Pelo menos
acreditava que a honra do Conde o obrigasse a pedi-la em
casamento uma vez que a tivesse deflorado.

O livro ensinava apenas a seduzir um homem e a mantê-lo


em sua cama, mas era um livro para amantes, então ela só
podia usar ele até certo ponto. Não podia basear seu
casamento no livro, mas tiraria o máximo de proveito para
ser uma boa esposa para seu marido, e o honraria e faria o
possível para ser suficiente para ele como esposa, para ele
nunca precisar usar uma amante para aquecer sua cama.

Mesmo que ele entrasse em um casamento enganado faria


de tudo para que ele não sofresse por isso e que, pelo
menos, vivesse feliz, era o mínimo que podia fazer já que
ele salvaria seus irmãos.

Ela tinha que começar a colocar o plano em ação. Tinha que


chamar de novo a atenção dele, e observar se ele a
desejava. Tinha decorado que “Só adianta insistir se
perceber interesse”

era quase a regra de ouro que a cortesã ensinava no diário.


Segundo ela um homem demonstra interesse de diversas
formas, desde uma declaração direta de amor, a uma
declaração direta de ódio. Ou seja, desde que ele não seja
indiferente a você, invista.

O livro sempre dizia que a mulher tinha que se mostrar


segura do que queria, caso contrário, o homem iria tomar as
rédeas da situação e isso tiraria todo poder que ela tinha
sobre ele.
Ela guardou o papel em seu bolso, não deixaria em qualquer
canto, ainda mais estando na casa do Conde, e decidiu
procurar o dono da casa. Tinha despachado a criada quando
chegara,

não podia ter a sua acompanhante o tempo todo. Isso


impediria seus planos de se realizarem.

Ela olhou no escritório dele e acertou em cheio, ele estava


lá sentado em sua cadeira, concentrado em uma pilha de
papéis. Ela respirou fundo, e bateu de leve na porta para
indicar que estava ali. Ele nem se mexeu, não havia ouvido
o barulho. Ela então bateu mais forte chamando
imediatamente a atenção dele.

O barulho da porta o fez virar a cabeça para ela. Ela sorriu


meio envergonhada e ele a convidou para entrar.

― Em que posso ajudá-la? ― ele perguntou levantando uma


sobrancelha para ela. Tinha pedido para não ser
interrompido, e ali estava ela, só podia supor que ela não
tinha encontrado ninguém na porta.

Assim que ela teve a atenção dele ficou nervosa, apertava


as mãos, já se arrependendo do plano idiota, aquilo não ia
dar certo, ela não era uma mulher sedutora, ele iria
rechaçá-la e riria da tolice dela, e daí se ele a tivesse
beijado uma vez, isso não queria dizer que ele o faria de
novo. Ele não estava apaixonado por ela como gostaria de
imaginar.

Ela se virou para sair dali e voltar ao seu quarto como a


tonta que era.

― Lizzie está tudo bem? Porque está nervosa?


Ele a chamou pelo apelido carinhoso. Era a primeira vez que
o fazia e ela gostou do som na boca dele, parecia uma
carícia tão íntima. Ela devia dizer que não tinha dado
permissão a ele para chamá-la assim, mas algo dentro dela
gostou tanto que não queria que ele parasse de tratá-la
como Lizzie e a tratasse como senhorita Fernoy.

― Eu não estou nervosa… — Ela se defendeu corando ainda


mais por ele ter percebido o desconforto dela.

― Então por que está olhando para suas mãos e quase


arrancando seu lábio fora? — ele perguntou com um sorriso
debochado.

― Não é nada. Eu estou bem. — Ela ergueu a cabeça para


mostrar que estava bem e ele estava tão próximo que ela
se assustou dando um passo para trás. Não tinha percebido
que ele estava tão próximo dela, e ali estava ele, com seu
corpo enorme comparado ao dela, exalando confiança e um
sorrisinho debochado no rosto, seus olhos brilhavam
divertidos e isso a enfureceu.

Ele estava se divertindo às suas custas. Sentiu-se tola mais


uma vez e quis fugir.

― O que se passa nessa linda cabecinha? — ele perguntou


enquanto colocava uma mecha de seu cabelo por trás da
orelha dela, e o breve contato de seus dedos com a pele
dela a fez suspirar surpresa com a mudança de brusca de
tom.

― Nada, eu devo ir, não é correto eu ficar só com um


cavalheiro. — Ela tentou novamente encontrar uma rota de
fuga, mas ele impedia todas elas.

― Não há ninguém aqui e meus criados são de confiança,


não se preocupe com sua reputação ela continuará intacta.
— Ele sorriu ainda mais brincalhão quando ela abriu a boca
surpresa como ele dizia as palavras como se fossem ter
algum tipo de intimidade. ― E eu já estive em uma situação
bem mais comprometedora com você. Ou não se lembra do
nosso beijo no jardim dos Claire?

Claro que ela lembrava, não tinha sido algo fácil de


esquecer, ainda mais por ter mexido com ela tão
profundamente. Ela olhou para a boca dele se lembrando,
novamente, do beijo…do toque de seus lábios nos dele…nas
mãos dele em seu corpo… Automaticamente levou as mãos
à boca quando quase sentiu de novo a sensação de como
era beijá-lo.

― Talvez eu deva relembrá-la? — ele sugeriu levantando a


sobrancelha e ela arfou em antecipação prendendo sem
perceber a respiração em expectativa. Seus pensamentos
ficaram

confusos e ela só conseguia imaginar a boca dele na dela,


tomando os seus lábios com paixão e ela se entregando
com ardor.

Mostrar que o deseja — Esse era um dos itens do livro não?


—, o pensamento veio rápido e ela decidiu tentar. Ele já
tinha iniciado o jogo. Ela sabia que ele já tinha experiência
nesse ramo, mas talvez ela conseguisse aprender alguma
coisa, ela era inteligente. Tinha que ser.

― Sim — ela sussurrou envergonhada, quando foi que a


situação se inverteu? Ela tinha ido ali seduzir ele e era ele
que estava seduzindo ela. Se ela não voltasse ao controle
da situação talvez acabasse se perdendo, e não podia
permitir isso. Então juntou toda sua coragem e ergueu o
rosto para que ele a beijasse
Ela o viu se aproximar e ele tocou em seu rosto puxando-a
para ele. E quando seus lábios se encontraram num roçar
suave ela se entregou. Não podia negar que o desejava.
Quando percebeu que ele não aprofundava o beijo, seus
braços tomaram vida própria e ela o puxou mais para perto,
aprofundando por si mesma o beijo.

Ela sentiu quando ele parou de resistir e a tomou com tudo.


Seu beijo se tornou urgente e logo, apenas o beijo não era
suficiente. Ele a colocou no colo e a ergueu a depositando
em cima da mesa. Ela automaticamente abriu as pernas
para que ele se acomodasse entre elas, permitindo que eles
continuassem a se beijar.

Ele não largou sua boca um segundo sequer, e os beijos


estavam deixando os dois excitados. Ela o tocava em todos
os lugares possíveis. Sentiu o tecido do vestido se mover ao
seu redor, mas não deu atenção até que sentiu as mãos
dele em suas pernas, alisando a pele de suas coxas
enquanto a explorava, e ela pôde sentir a ereção que lhe
apertava as calças, e o toque das mãos, junto com a
sensação daquela coisa dura tão perto de si a fez arfar e
gemer.

O toque incendiava cada pedaço do corpo dela, fazendo a


garota desejar algo que não sabia o que era além de um
desejo dolorido por ele. Precisava de mais dele. Queria
senti-lo.

Queria que ele tocasse cada pedaço do seu corpo e que ele
a incendiasse de prazer.

Eles já se beijavam desesperadamente, o fogo entre eles


era insaciável. Ele parou de beijar a boca dela e deu total
atenção a seu pescoço, fazendo ela se contorcer em seus
braços, erguendo os seios automaticamente em sua
direção.

Ele tocou nos seios que lhe era oferecido por cima do tecido
e ela arfou com a onda de prazer que sentiu com o simples
toque. Ela abriu os olhos surpresa com o choque que aquilo
causou entre suas pernas como se tivesse ligado
diretamente a seu ventre. Ela apertou as pernas
involuntariamente ao redor da cintura dele o trazendo mais
perto. Ela viu quando os olhos dele escureceram e ele
puxou seu decote para baixo, expondo seus seios, que
saltaram com a força do movimento.

Ela ia abrir a boca para protestar e se cobrir, mas ele foi


mais rápido e colou a boca em seus seios, e ela esqueceu o
que ia falar, e suas mãos que iam se cobrir foram direto
para o cabelo dele puxando-o mais para perto, num pedido
silencioso para que ele não parasse com aquilo.

Ela estava tão envolta no prazer, que as batidas na porta a


assustaram. Ela pulou da mesa arfante, corada e sem saber
o que fazer. Se afastou dele voltando com um baque à
realidade. Ficou de pé o encarando como se não acreditasse
no que acabara de acontecer, e talvez não acreditasse.

Então ele virou de costas como se não pudesse suportar vê-


la e ela se lembrou de que estava com os seios ainda
descobertos. Aquilo a constrangeu ainda mais, e ela
imediatamente subiu o corpete escondendo seus seios. A
segunda batida na porta fez o Conde se movimentar e ele
saiu da sala sem dizer nada.

Primeiro ela ficou constrangida e muito envergonhada de


toda a situação, mas então se

lembrou do que tinha ido fazer ali e não conseguiu segurar


o sorriso ao perceber que tinha conseguido fazer o Conde
beijá-la, e tinha sido incrível. Talvez ela conseguisse, afinal,
cumprir todos os passos.

Capítulo 11 — Desejos e prazeres

O Conde tinha ficado feliz ao saber que ela voltaria a


Londres, e ainda mais feliz ao saber que ela aceitou ficar na
casa dele. Desde que tinham compartilhado o beijo no
jardim dos Claire, ele não a tinha tirado da mente um só
minuto.

O beijo entre eles o tinha feito passar noites em claro, e


mesmo quando tentou se aliviar em outra mulher foi nela
que pensou e até grunhiu o nome dela nas vezes que se
liberou num bordel.

Mas agora tê-la ali de novo perto dele, mudava muita coisa.
Nunca se permitiu se apaixonar, mas não queria dizer que
não sabia aproveitar o que a vida lhe oferecia. E quando
desejava algo sempre conseguia o que queria, e no
momento ele desejava a senhorita Elizabeth Alexander
Fernoy e seus beijos deliciosos. E se ele estivesse certo ela
o desejava também. Só precisaria que ela desse alguma
pista e ele a tomaria para si, pegaria tudo que pudesse sem
comprometê-la…tanto.

A aposta tinha sido suspensa por motivos óbvios, sem Lizzie


ali não tinha como ele provar nada à Condessa e essa não
poderia também mostrar nada sobre o comportamento
íntegro da garota. Não tinham mais tocado no assunto
desde que a Condessa tinha voltado para a casa no campo.
Mas tinha recebido uma carta dela alegando que viria a
Londres fazer companhia a Lizzie depois que ele a tinha
avisado que a jovem passaria uma semana em sua casa.

Quando Lizzie chegou, ele quase não conseguiu disfarçar a


alegria. Vê-la lhe deu pensamentos ainda mais vívidos de
como seria tê-la.

Depois que a deixou no quarto ele desceu para o seu


escritório, precisava rever umas contas que eram urgentes,
mas que ele vinha adiando há algum tempo pois sempre
que parava em qualquer lugar e precisava se concentrar
começava a pensar no beijo que dera na dama que estava
no andar de cima.

Avisou a seu mordomo que não queria ser incomodado até


que a Condessa chegasse, e o dispensou. Entrou na sua sala
e se sentou em frente à papelada. Assim que pegou os
papéis conseguiu se concentrar por dez minutos, e logo seu
pensamento começou a recordar o sabor de certo beijo
dado no jardim dos Claire.

Ele se lembrou do desejo, causado pelo beijo, percorrendo


suas veias e aquilo foi suficiente para fazê-lo começar a
endurecer. Continuou pensando nela, na forma como ela
correspondeu o beijo, se entregando, e ele ficou imaginando
se ela faria o mesmo na cama e como seria tê-la embaixo
de si.

Afastou rapidamente seus pensamentos. Queria tê-la em


sua cama? Claro que sim, mas não o faria. Não podia chegar
perto da virgindade dela. Aquilo seria o mesmo que pedi-la
em casamento e ele nunca iria se casar.

Ela o atraía. Tinha algo nela que ele não conseguia resistir,
talvez fosse a forma como ela se ofendia e se irritava com
tudo que ele dizia, ou seu sorriso sincero quando não estava
irritada, ou seu jeito leve. Não importava, ele nunca a teria
para seu completo prazer, não podia se dar esse luxo.

Mas isso não queria dizer que não podia dar mais um ou
dois, ou dez beijos, não queria
DADOS DE ODINRIGHT
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"Quando o mundo estiver unido na busca do


conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e
poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a
um novo nível."

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Converted by ePubtoPDF
dizer que não poderia sentir prazer com ela, mesmo não
podendo se afundar nela como gostaria, tinha outros meios
de duas pessoas se darem prazer sem necessariamente
uma delas perder a virgindade.

Ele começou a fantasiar as coisas que faria com ela se ela


tivesse ali, e um movimento lhe chamou a atenção. Era ela.
O sorriso surgiu no seu rosto ao vê-la. Parecia que a tinha
conjurado em pensamentos. Já estava duro e quente, e com
ela ali não custava nada apagar um pouco do fogo que o
consumia.

Ela entrou em seu escritório e fechou a porta atrás de si e


ele sorriu com a inocência dela. Não permitiria que ela
saísse dali sem ter lhe dado pelo menos um beijo.

― Em que posso ajudá-la? ― ele perguntou levantando uma


sobrancelha, curioso com o que ela queria ali no escritório
dele.

Ao vê-la ficar corada, e apertar as mãos ele imaginou que


talvez ela tivesse pensando no beijo deles com a mesma
intensidade que ele, e ficou curioso. E então ela se virou e
andou em direção a porta.

― Lizzie, está tudo bem? Porque está nervosa? — ele a


chamou e se surpreendeu ao usar o apelido como fazia
quando fantasiava com ela. Gostava dele, era mais íntimo, e
em seus pensamentos eles ficavam muito íntimos.

Ele pensou que ela iria se irritar por ele chamá-la de forma
tão intima. E na verdade até esperava isso, se e somente
se, ela não sentisse nenhum desejo por ele, e fosse, de
verdade, a mulher santa que a tia tinha garantido. Mas ela
não reclamou, em vez disso respondeu corando ainda mais
pela intimidade proporcionada pelo apelido. Mesmo de
costas ele conseguiu imaginar perfeitamente seu rosto
avermelhado e ela mordendo o lábio inferior como ele já a
tinha visto fazer algumas vezes.

― Eu não estou nervosa… — Ela se defendeu e ele abriu um


sorriso enorme diante da mentira.

― Então por que está olhando para suas mãos e quase


arrancando seu lábio fora? — ele replicou com um sorriso
debochado. Tinha certeza que ela estaria repetindo esse
gesto, pois ela o fazia desde que tinha entrado ali. Ele a
observou por um tempo, apesar de estar usando preto
estava linda. Seu cabelo estava preso em um coque
bagunçado pela viagem, dando-lhe um ar despojado e lindo.
Reparou no ponto onde seu pescoço encontrava seus
ombros, e sentiu um desejo de dar um beijo ali.

Ele se aproximou dela, a curva do pescoço dela servindo de


tentação. E ela nem sequer percebeu. Qual seria a reação
dela se ele de fato fizesse isso? Ele se perguntou enquanto
se aproximava mais.

― Não é nada. Eu estou bem — ela disse e se virou para


ele, para afirmar sua resposta lhe olhando nos olhos.

Eles ficaram a poucos centímetros de distância e ele a


sentiu prender a respiração. Ele a olhou debochado,
imaginando se, caso ele a beijasse, ela o empurraria ou se
contorceria de prazer. Apostaria suas sedas como seria a
segunda opção.

― O que se passa nessa linda cabecinha? — ele perguntou e


colocou uma mecha de cabelo, que tinha caído em seu rosto
quando ela se virou, atrás de sua orelha.

― Nada, eu devo ir, não é correto eu ficar só com um


cavalheiro — ela respondeu se afastando do toque dele e
ele se sentiu estranho, como se simplesmente tocar nela já
o fizesse maravilhosamente bem.

Ela parecia querer fugir, e tentava colocar a capa de moça


responsável de volta, mas ele

tinha uma lembrança bem diferente dela nos jardins. E viu


ai sua chance de saber se ela também tinha ficado afetada
com aquele beijo.

― Não há ninguém aqui e meus criados são de confiança,


não se preocupe com sua reputação ela continuará intacta.
— Ele fez uma pausa esperando ela perceber o significado
oculto daquelas palavras e, quando ela percebeu, ele
continuou a provocando de forma clara e direta. ―

E eu já estive em uma situação bem mais constrangedora


com você. Ou não se lembra do nosso beijo no jardim dos
Claire?

Ele a viu ficar surpresa e abrir os lábios como se procurasse


ar para respirar. Viu o desejo nítido brilhar em seus olhos,
um reflexo do seu próprio desejo.

― Talvez eu deva relembrá-la? — ele provocou ainda mais e


a viu tomar a decisão antes de dizer a palavra.

― Sim — ela sussurrou e ergueu o rosto lhe dando acesso à


sua boca, e aquilo foi a perdição dele.

Ele não precisou de mais nada, suas mãos envolveram o


rosto de Lizzie suavemente e ele a puxou para si tomando
seus lábios em um beijo provocante, diferente daquela
noite. Esse era lento, ele a tentava com a língua, queria
medir o tanto que ela o desejava, e se deleitou quando
percebeu que era proporcional ao seu próprio desejo.
Ele se surpreendeu quando ela o beijou de volta, querendo
aprofundar o beijo e não se controlou mais, e fez o que todo
seu corpo gritava em necessidade. Tomou as rédeas de
volta a beijando com fervor, enquanto a erguia nos braços e
a colocava sentada na mesa onde antes ele tinha
organizado os papéis. Assim, ela ficava da mesma altura
que ele. Continuou a beijá-la e a apertar seu corpo contra o
dele evidenciando ainda mais o desejo que sentia ao se
colocar entre suas pernas.

O vestido dela, porém, o impedia de se encostar


completamente nela e ele o ergueu revelando suas pernas.
Ela estava tão envolvida no beijo que não percebeu que
suas pernas estavam à mostra até que ele as tocou.

O gemido dela apenas aumentou a libido dele, o deixando


completamente louco para se afundar nela, ali mesmo. Sua
boca percorreu o pescoço dela e suas mãos subiram para
seu corpete e ele brincou com seus seios por cima do
tecido.

Algumas mechas do cabelo dela se soltaram caindo


pecaminosamente perto do decote e o tentando a tirar
aquilo e libertar seus belos seios. E foi o que ele fez.
Bruscamente puxou o vestido para baixo deixando seus
seios de bicos rosados à vista e antes que ela percebesse o
que acontecia e o afastasse, ele caiu de boca em seus
mamilos, saboreando aquela pele macia e sensível que
rapidamente se retesou em sua boca.

Ela gritou de prazer e o membro dele se contorceu na calça,


querendo ganhar vida própria e participar da festa. Ele se
controlou, não podia tomá-la em cima da mesa. Mas poderia
fazer uma gama de coisas que não envolvessem tirar a
virgindade dela.
Ele realmente iria fazer algumas delas, até que batidas na
porta o interrompeu.

Imediatamente, Lizzie pulou da mesa e se afastou dele


completamente corada e com os olhos arregalados de
surpresa. Sua boca estava vermelha e levemente inchada
por causa do beijo e seu cabelo tinha ficado ainda mais
bagunçado.

Vê-la naquele estado só inflamou seu desejo e ele precisou


se virar de costas para não voltar ao que estavam fazendo
há poucos segundos. Quando percebeu que ainda estava
nua, ela subiu rapidamente o vestido escondendo sua nudez
dele.

Seu mordomo bateu de novo na porta esperando uma


resposta para poder entrar. Não

poderia deixar ninguém ver Lizzie desse jeito.

Só eu posso vê-la dessa forma.

Ele franziu o cenho diante do pensamento jogando-o para


bem longe e abriu a porta saindo logo em seguida. Já sabia
do que se tratava.

Tinha pedido a Edmond que apenas o incomodasse quando


a Condessa chegasse. E ela tinha acabado de chegar e ele
começava a se arrepender de ter contado a ela que Lizzie
estava ali.

Mas o desafio apenas o instigava mais, apenas teria que


tomar cuidado, para a Condessa não perceber nada. Não
seria ela que o impediria de ter Lizzie para seu próprio
prazer.
Capítulo 12 — Convivência

Lizzie estava soltando os cabelos, tinha dispensado a criada,


que já não era tão jovem e mostrava os sinais de cansaço
da viagem. Ela estava sozinha no quarto se lembrando dos
acontecimentos durante o jantar.

Ela ficou sabendo da chegada da Condessa naquela noite


quando, ao descer para o jantar, se deparou com lady
Dorset sorridente. No início, Lizzie tinha ficado alegre com a
presença da Lady, mas, durante a janta, percebeu a
distância do Conde e com isso entendeu que a presença da
Condessa ali talvez atrapalhasse seus planos.

Mas ela não iria desistir só por causa disso. Depois que ele a
deixou no escritório, ela percebeu que já tinha conseguido
avançar e muito nos seus planos. E que, talvez fosse mais
fácil do que imaginava. Se bem que ainda não tinha
chegado a parte difícil. Um beijo era uma coisa, mas dormir
com ele era outra. Contudo, estava determinada a levar seu
plano até o fim. Tinha que fazer isso pelos seus irmãos, e
era por isso que estava em Londres. Precisava voltar para
casa com o casamento marcado, então, tinha que se
apressar, pois lhe restava apenas três semanas para
conseguir isso.

Com a Condessa ali teria que ter ainda mais cuidado para
que a tia de Daniel não suspeitasse de nada. Não poderia
deixar nada atrapalhar seus planos.
― Querida, o que a trouxe a Londres? ― A Condessa havia
perguntado enquanto estavam jantando.

― Estou procurando um tutor para Robert e Jeremy. Pelo


que eu soube por alguns amigos em comum, aqui tem os
melhores. — Lizzie mentiu, pois já tinha encontrado o tutor,
o próprio Flinn já tinha conseguido isso no início do mês, ele
tinha um sobrinho recém-formado que queria seguir a
carreira de professor e precisava de um trabalho urgente.
Jones era o nome dele. Mas como ninguém ali sabia, era a
desculpa que tinha planejado dizer caso alguém
perguntasse sobre o motivo de estar ali.

― Me surpreendi com seu período de luto, não devia fazer


essas coisas. Não tem ninguém responsável pelo baronato
que pudesse arranjar isso para você? ― a Condessa
perguntou preocupada com o falatório que aquilo geraria, e
a imagem negativa que Lizzie teria diante da sociedade.

― Não temos nenhum parente próximo, Milady, meu pai e


minha mãe eram filhos únicos, como a senhora sabe, e os
primos que temos moram fora do país, então só resta a mim
cuidar da educação deles. Acredito que papai não se
importe que eu não esteja vivendo meu luto da forma
adequada, pois meus irmãos precisam de mim agora ―
explicou Lizzie

― Eles não estavam frequentando a escola? — a Condessa


perguntou evitando falar diretamente da morte do Barão.

― Perder nossos pais foi muito difícil para os dois, então eu


pretendo manter os dois comigo pelo tempo que eu puder.
Só temos uns aos outros agora e a família é mais
importante que tudo.

Lizzie havia respondido para a Condessa com convicção. E


estava tão concentrada
nela que não percebeu o Conde a observando com
admiração no olhar.

Ela não havia mentido, depois de conversar com seus


irmãos e eles implorarem para ela não os mandar para
longe, Lizzie decidiu contratar um tutor para cuidar da
educação deles. Entendia que eles deviam estar com medo
de perdê-la também. Eles só tinham uns aos outros agora.

Lizzie voltou para o presente quando sua criada bateu à


porta.

― Milady, a senhorita vai querer mais alguma coisa? — ela


perguntou da porta.

― Não, obrigada — Lizzie negou.

― Então vou me recolher, tenha uma boa noite. ― A criada


se despediu e Lizzie ficou sozinha.

Lizzie deitou na cama. Estava cansada da viagem e sua


mente voltou ao beijo dado naquele dia e ela sorriu com a
lembrança e adormeceu pensando no Conde.

O dia seguinte eles passaram em casa, a Condessa tinha


dito que iria passar a manhã cuidando de suas rosas, uma
vez que a primavera tinha acabado de chegar.

Ela era apaixonada por jardinagem e tinha uma estufa nos


fundos da mansão apenas para que ela cultivasse suas
rosas.

― E você Lizzie, estará ocupada hoje? — o Conde perguntou


depois que a Condessa se retirou para cuidar de suas rosas.
― Eu estava pensando em lhe mostrar minha biblioteca
particular.

― Eu tenho que procurar um tutor para os meninos, mas


acredito que possa procurá-lo amanhã. — Lizzie estava
empolgada. — Estou ansiosa para conhecer sua biblioteca,
podemos ir agora?

Lizzie estava empolgada com a ideia de conhecer a


biblioteca do Conde, e esse viu os olhos dela brilharem em
expectativa e sentiu uma pontada de felicidade por ser ele o
motivo de seu sorriso naquele momento.

― Claro, venha comigo — ele concordou sorrindo e lhe


estendeu o braço para que ela o acompanhasse.

A biblioteca do Conde era enorme, ocupava uma sala inteira


e estava repleta de livros.

Havia um sofá para tornar a leitura mais confortável e mais


ao fundo da sala, uma mesa grande de madeira esculpida
no que parecia ser carvalho, em cima da mesa havia papel,
um frasco de tinta e pena, atrás dela uma cadeira enorme
chamava a atenção por sua cor dourada.

As prateleiras que organizavam os livros eram de madeira e


essas ocupavam todas as paredes daquele ambiente. Duas
janelas permitiam a ventilação do ambiente, e uma delas
estava aberta tornando o lugar mais agradável. Uma lareira
entre as duas era utilizada nos dias frios e durante a noite
para aquecer o ambiente, e alguns castiçais estavam
espalhados em pontos específicos pela biblioteca para dar
uma melhor iluminação ao local.

― Nossa! Aqui é lindo! ― Lizzie exclamou maravilhada com


todos aqueles livros a sua frente. ― Eu poderia passar
minha vida aqui e não conseguiria ler todos esses livros.
Onde conseguiu tantos?

― Aqui tem poucos livros quando comparado à biblioteca de


Dorset House, mas aqui estão os livros que pertenceram à
minha mãe, ela era amante da literatura, e meu pai gostava
de presenteá-la com livros. — o Conde respondeu saudoso.
― Então ela tinha uma biblioteca só dela, quando me tornei
o Conde eu trouxe todos os livros de nossa casa para cá.

― Que incrível! Então esses eram os livros de sua mãe? Ela


tinha um gosto excelente para livros. — Lizzie elogiou lendo
os títulos. ― Sinto muito por sua perda.

― Tudo bem, já faz muitos anos e eu nem lembro direito de


como eles eram. Não passava de uma criança quando eles
partiram — o Conde falou com a voz embargada, não sabia
porque estava abrindo o coração para aquela mulher, mas
não conseguiu segurar as palavras. —

Se não fossem os quadros nas paredes, eu já teria me


esquecido de como eles eram — confessou virando as
costas para Lizzie não ver seus olhos encherem de lágrimas.
― Desculpe, estou sendo sentimental.

― Não se preocupe com isso, eu lhe entendo bem. Sei como


é ser órfã — Lizzie disse se lembrando de sua própria perda
recente e sua voz também ficou embargada.

― Sinto muito fazê-la recordar de seus pais. Não era minha


intenção deixá-la triste. — O

Conde se virou quando ouviu as palavras tristes de Lizzie. ―


Ainda está de luto e eu aqui a deixando triste. Sinto muito
por isso.

― Não precisa se desculpar, mesmo que a morte seja a


única certeza que temos, nunca estamos completamente
preparados para ela — Lizzie disse com um sorriso
melancólico.

― Isso é verdade — o Conde concordou e enxugou uma


lágrima que caiu no rosto de Lizzie.

Ao sentir aquele toque em seu rosto, Lizzie inclinou o rosto


em direção daquela mão, e fechou os olhos gostando da
sensação de aconchego que aquele gesto lhe
proporcionava.

O Conde a olhou confuso, o toque o enchia de sensações


novas, e dessa vez não era apenas desejo. Uma vontade de
tirar aquela dor dos olhos dela, de abraçá-la e protegê-la de
tudo e de todos era o que o deixava confuso, e a única coisa
que passava em sua cabeça era que ela merecia ser feliz e
ele queria poder fazê-la feliz.

Ao perceber para onde seu pensamento o levava, ele retirou


a mão gentilmente e limpou a garganta para diminuir o
clima que tinha surgido por causa da intimidade do gesto.

― Eu vou até o escritório, acredito que deixei coisas para


fazer por lá — o Conde disse se afastando sem olhá-la nos
olhos. — Fique à vontade para ler o livro que quiser.

Ele saiu rapidamente sem olhar para trás e Lizzie não soube
dizer o que o tinha feito fugir desse jeito. Mas deu de
ombros ao se lembrar do paraíso onde estava e logo se
esqueceu da fuga estranha do Conde ao abrir um livro e
mergulhar na história que ele contava.
O Conde foi para seu escritório e a primeira coisa que fez foi
pegar sua garrafa de Whisky e encher o copo, bebendo-o de
uma vez. A ardência em sua garganta foi bem-vinda e lhe
acalmou. Não podia ver Lizzie daquela forma. Não podia
começar a se importar daquele jeito com ela.

― Eu não me importo. — Ele tentou se convencer dizendo


em voz alta. — Não me importo nem um pouco.

― Não se importa com o quê, meu querido? — sua tia


perguntou lhe assustando, uma vez que estava de costas
para a porta e não viu quando ela entrou.

― Não é nada — ele mentiu recolocando a garrafa no seu


devido lugar e guardando o copo junto. — O que a senhora
deseja?

― Na verdade, vim dizer apenas que peça ao jardineiro que


me providencie uma tesoura nova, essa já está cega e está
machucando minhas rosas. — A Condessa levantou a
tesoura de jardinagem que tinha nas mãos para enfatizar o
que dizia.

O conde semicerrou os olhos diante do pedido dela, não


esperava que ela pedisse apenas a tesoura. Sempre que ela
o procurava, tinha sempre uma segunda intensão por baixo
de sua visita, então o fato de ela só pedir uma tesoura nova
— que poderia ter pedido diretamente a seu jardineiro que
teria algumas disponíveis e afiadas —, o deixou
desconfiado, então, esperou que ela dissesse o verdadeiro
motivo de sua visita. O que não demorou muito. — E
também quero saber o que há entre você e a senhorita
Fernoy — a Condessa disse com um sorriso irônico nos
lábios.

― Não há nada acontecendo entre ela e eu. Apenas a


convidei para ficar aqui, já que viria a Londres — ele
respondeu dando de ombros.

― E por que a convidou? — a tia perguntou o perscrutando


com o olhar.

― Ela é sua amiga, certo? Apenas fui gentil — ele disse


evasivo.

― Mas ela é uma mulher, e solteira, pode estar querendo


lhe amarrar em um casamento

— a Condessa ironizou em uma péssima imitação da voz do


Conde.

E então ele percebeu porque ela estava ali. A aposta. O


Conde bufou.

― Eu assumo que ela não parece ser assim — ele disse e a


Condessa sorriu triunfante —

Mas, como estou impossibilitado por causa do luto dela de


provar que ela é interesseira, a aposta continua suspensa. O
luto a impede de mostrar a verdadeira face, então nem a
senhora, nem eu, chegaríamos a um consenso.

― Muito esperto da sua parte. — A Condessa revirou os


olhos. — Viu que ia perder e decidiu dar uma desculpa para
suspender a aposta. Mas tudo bem então. Eu posso esperar
o tempo que for, sei que essa aposta já está ganha mesmo.
É só uma questão de tempo até que você assuma a derrota.
A Condessa então se retirou com um sorriso no rosto ao ver
a careta desgostosa que o Conde lhe deu.

O Conde estava distante no jantar, comia em um silêncio


profundo e evitava olhar para Lizzie, que ficou incomodada
com tanto silêncio. Entretanto, como a Condessa também
estava presente ela decidira não falar nada para que não
parecesse inconveniente.

Mas assim que o jantar terminou e todos se retiraram da


mesa, a Condessa se retirou para seus aposentos, o Conde
foi para o seu escritório, e Lizzie seguiu para seu quarto.

Sua criada a ajudou a tirar as inúmeras camadas de roupa e


a deixou confortável apenas com a camisola leve de
algodão. Já pronta para dormir ela dispensou a criada que a
deixou sozinha.

Ainda estava frustrada por causa do silêncio mantido pelo


Conde, que nem sequer olhou

para ela no jantar. Lizzie andou em direção à janela do seu


quarto e de lá avistou o jardim e se lembrou da estufa da
Condessa, o céu estava bem iluminado por causa da lua
cheia e ela decidiu se distrair vendo a pequena estufa da
Condessa.

Colocou uma capa, para cobrir a camisola e também porque


fazia frio lá fora, e sorrateiramente saiu do seu quarto e foi
para os jardins da casa do Conde.

A estufa era linda, pequena e aconchegante. Os vidros


transparentes lhe davam uma bela vista do céu estrelado.
As rosas eram lindas, organizadas por cores e tipo, o que
tornava tudo muito bem harmonioso.

O cheiro das flores se espalhava pelo ar suavemente, e


Lizzie fechou os olhos para sentir com mais intensidade
aquele aroma delicado. Ali dentro era quentinho, e como
estava sozinha não viu necessidade de continuar enrolada
na capa, então ela a tirou e colocou em um banco ali perto
e continuou a observar a estufa.

O Conde tinha visto Lizzie caminhar até a estufa através de


sua janela e tentou ignorar a vontade de segui-la. Falhou
miseravelmente em fazer isso, e quando viu a porta da
estufa fechar atrás dela percebeu que ficaria presa ali.

A fechadura foi feita para só abrir por fora, todos da casa


sabiam disso, inclusive a Condessa que tinha sido a
responsável por aquilo, segundo ela qualquer desentendido
que tentasse roubar suas flores fecharia a estufa para não
parecer que tinha alguém e não se lembraria de colocar o
pequeno pedaço de madeira ao lado para apenas encostar a
porta impedindo que ela fechasse, trancando-o ali dentro.
Então ficaria preso não podendo fugir com suas flores. O
Conde tinha dito que era inútil e que ninguém iria tentar
roubar nada ali, mas ela insistiu tanto que ele no fim cedeu
aos seus caprichos.

Essa era a única época do ano que a Condessa visitava


Londres de boa vontade. Ela ia apenas por suas flores e
mais nada, não aparecia nos eventos da sociedade e por
isso preferia que sua presença passasse despercebida pelos
demais londrinos, assim não precisaria ser rude em recusar
convites para chás ou atender visitas indesejadas.

― O que está fazendo aqui uma hora dessas? — O Conde a


assustou quando entrou na estufa em total silêncio.
Lizzie deu um pulo com o susto e levou a mão à boca para
abafar o grito que saiu de sua boca.

― Não é legal assustar uma dama dessa forma, Milorde —


ela respondeu irritada com a carranca que ele fazia, e mais
irritada ainda por ele não ter falado com ela no jantar.

― Se não estivesse aqui eu não teria lhe assustado — ele


retrucou cruzando os braços e ela percebeu como os
músculos dele se apertavam na camisa com aquele
movimento.

― Não pedi que viesse — ela disse desviando o olhar dos


braços dele e olhando para as rosas do outro lado.

Uma rajada de vento entrou pela porta aberta e lhe causou


arrepios na pele, eriçando seus pelos e retesando os
mamilos, o que ficou evidente pela camisola de algodão e
chamou completamente a atenção do Conde que ao ver
aquilo não conseguiu desviar os olhos.

Ela estava corada por causa do vento frio e ele estava


começando a se excitar com a

cena. Mas se forçou a olhar para outro lugar e viu a capa


dela no banco.

Ele pegou a capa e se aproximou de Lizzie, que agradeceu a


gentileza. A proximidade dos dois tinha novamente criado
um clima de intimidade e eles se olhavam em silêncio,
Lizzie ruborizada e o Conde com pensamentos indecentes a
respeito da jovem dama.

― Por que estava me evitando? — a jovem perguntou em


um sussurro, abaixando a cabeça envergonhada por fazer
uma pergunta tão direta.
O Conde pensou no que dizer. Mas não conseguia ignorar o
calor que o corpo dela emanava e nem o desejo que só
aumentava o desconforto em suas calças.

― Porque, se eu continuar perto de você, eu não vou


conseguir resistir à tentação de tê-la para mim — ele disse
enquanto erguia o rosto dela. Ela entreabriu os lábios,
surpresa com a resposta e ele desejou poder beijá-la
naquele momento.

― Não precisa resistir — ela pensou, e se deu conta que


tinha dado voz a seu pensamento quando viu os olhos dele
escurecerem e o ouviu grunhir perdendo o controle.

Então Daniel cedeu ao desejo de seu corpo e a beijou com


paixão e fúria por ela estar fazendo-o perder o controle. Sua
língua invadiu a boca da jovem e Lizzie gemeu quando o
Conde aprofundou o beijo. Ela passou a mão pelo pescoço
dele, encostando completamente os corpos dos dois, o que
só aumentou o desejo de Lorde Dorset ao sentir os seios
femininos pressionados contra seu próprio peito.

Ele estava com uma mão nas costas dela e a outra desceu
pelo seu quadril, envolvendo as nádegas dela na mão e
apertando-a em direção a sua pelve. Quanto mais a beijava,
mais queria se afundar nela e torná-la sua. Passeava as
mãos pelo corpo dela, decorando cada curva perfeita.

Quando chegou aos seios, percebeu que eles se


encaixavam perfeitamente em suas mãos e os apertou
gentilmente, fazendo-a gemer novamente.

― Você é tão linda ― ele disse entre um beijo e outro. ―


Não consigo resistir a você.

Ele então a tomou no colo e a levou até uma das mesas


mais afastadas e a colocou na parte da mesa que estava
sem jarros, depois se acomodou entre as pernas dela e
voltou a beijá-la com fervor.

Ele desceu os beijos para seu pescoço e ela inclinou a


cabeça lhe dando total acesso. Ela estava tão perdida nas
sensações que a boca dele lhe causava que nem percebeu
que ele lhe abaixava a camisola, expondo seus seios, que se
retesaram assim que o frio os envolveu. Ele então desceu
seus lábios para os seios de Lizzie e ela quase gritou com a
intensidade do prazer que ele lhe proporcionou ao brincar
com a língua, enlouquecendo-a.

― Daniel… — ela sussurrou o nome do Conde enquanto


seus dedos se enfiavam no cabelo dele puxando-o mais
para si instintivamente.

― Tão doce… — ele sussurrou em seu seio. — Tão linda…tão


minha.

Lizzie se perdeu naquelas sensações maravilhosas, queria


mais, queria tudo que ele pudesse lhe oferecer, ela o queria
para si.

Mas um barulho fora da estufa fez com que eles parassem o


que estavam fazendo. Alguém se aproximava da estufa.

― Maldição! Alguém deve ter acordado e visto a porta


entreaberta. — o Conde praguejou e desceu Lizzie da mesa
rapidamente. — Se abaixe e só levante quando eu mandar,
e pelo amor de Deus, mulher, faça silêncio.

Os passos ficaram ainda mais próximos e a porta foi aberta.

― Tem alguém ai? — uma voz masculina perguntou.

― Sou eu, John. — O Conde elevou a voz para que o outro


homem, já idoso, pudesse
ouvir.

― Meu senhor? — o homem perguntou elevando a


lamparina que tinha nas mãos até que a luz iluminou o rosto
do Conde. ― Eu sinto muito lhe incomodar, milorde, é que
pensei que fosse alguém invadindo a estufa da Condessa,
por isso, vim averiguar.

― Está tudo bem, sou apenas eu, estava sem sono e decidi
andar um pouco ― o Conde disse acalmando seu criado.

― Então tudo bem, vou voltar ao meu dormitório, com


licença, milorde.

O Conde acenou e quando o homem sumiu na direção da


casa ele decidiu encerrar a aventura noturna. Não devia ter
perdido o controle, não devia estar tocando-a dessa forma,
se ele a desvirtuasse, teria que casar com ela, e não iria se
casar, nunca.

Mas seria tão ruim assim tê-la para si?

Sua mente lhe questionou. E ele praguejou internamente,


estava até cogitando a ideia de casar com ela. Tinha que se
afastar dela para seu próprio bem.

― Vamos, antes que mais alguém venha e acabe nos


encontrando aqui. — O Conde a direcionou para fora da
estufa. Ela estava constrangida por quase ter sido pega, e
mais ainda por ele estar irritado com a situação.

Ele a escoltou até a porta do quarto dela, e deu graças aos


céus por não ter encontrado ninguém no caminho, ao se
despedir dela viu que ela estava triste e sentiu que ele fosse
o motivo já que não tinha falado nada com ela no caminho e
ainda estava com cara de poucos amigos.
― Eu não posso, Lizzie. Não posso me deixar levar pelo
desejo, isso vai trazer consequências para nós dois, não
vale a pena. — Ele lhe confidenciou antes que ela entrasse.

Aquelas palavras a magoaram, ela não valia a pena para


ele? Era isso que ele queria dizer? Que não valia a pena o
que eles tinham? Ele se arrependia de ter feito aquelas
coisas com ela? Sim, devia ser isso.

― Você se arrepende, não é? — ela perguntou com a voz


embargada. — Acho que eu até entendo, estar aqui comigo
quando poderia estar com qualquer mulher de Londres, eu
realmente não devo valer a pena comparada a essas
mulheres.

― Nunca mais diga isso de si mesma, ou se compare dessa


forma — ele reclamou com ela, olhando-a nos olhos. Não
podia deixar que pensasse que era ela que não valia a
pena. ―

Você é uma mulher formidável, forte, linda e inteligente. E


não é interesseira, fútil ou mentirosa.

Elas nem chegam a seus pés.

Aquelas palavras a fizeram pensar na lista, e ela percebeu


que ele confiava nela e ela o estava enganando, e sua
consciência começou a pesar. Ela não podia fazer isso com
ele, ele não merecia ser enganado dessa forma.

― Ei, eu não me arrependo de nenhum momento que


tivemos. — Ele a tirou dos pensamentos aflitivos.

― Então por que não quer mais momentos assim? — ela


perguntou triste, só em pensar que ele se afastaria dela já
sentia um vazio, não queria que ele se afastasse.
― Porque, se não tivéssemos sido interrompidos, eu
provavelmente não teria parado, e é isso que não posso
deixar acontecer, não posso te comprometer dessa forma.
Preciso me afastar porque está sendo cada dia mais difícil
não te tocar.

― Eu não quero que se afaste de mim — ela sussurrou as


palavras como um apelo.

― Mas eu não posso comprometê-la ― ele disse passando


as mãos pelo cabelo em um conflito interno.

― Então não comprometa, ninguém precisa saber, mas não


se afaste — ela pediu

docemente tocando o rosto dele com a mão.

Ele olhou para o teto rendido e quando voltou a olhar para


ela seus olhos estavam resolutos.

― Tudo bem. ― Ele sorriu derrotado. — Eu não consigo


resistir mesmo.

Aquelas palavras a fizeram sorrir e ele a beijou, dessa vez


apenas um beijo rápido, um beijo de boa noite, e em
seguida abriu a porta para que ela entrasse.

― Boa noite Lizzie — ele se despediu. — Durma bem e


tenha bons sonhos.

E ela sonhou com ele.


Em seu dormitório, o Conde pensava nas palavras que tinha
dito a ela: Você é uma mulher formidável, forte, linda e
inteligente. E não é interesseira, fútil ou mentirosa. Elas
nem chegam a seus pés.

Tinha dito tudo aquilo e reconhecido que ela realmente era


diferente. Não pretendia fazê-lo, mas não conseguiu evitar
ao vê-la se depreciando daquela forma, tão infeliz. Mas
aquelas palavras, tão verdadeiras não lhe abandonavam a
mente.

Não queria amar de novo, tinha medo de ser machucado e


enganado, mas sabia que Lizzie não faria aquilo com ele,
pois era diferente. Então o que o impedia de tomá-la por
inteiro para si?

Não, não podia pensar nessa possibilidade, se o fizesse iria


comprometê-la para sempre e arruinaria a vida dela.

Ela não poderia se casar e nem ter uma família se ele a


arruinasse, mas ele não gostava nem de imaginar que outro
homem a tocasse e muito menos que tivesse uma família
com ela.

Diabos, ele estava sendo possessivo com a garota e ela


nem era sua para justificar o sentimento.

E com os sentimentos ainda mais confusos em relação à


Elizabeth, ele adormeceu.

Lizzie tinha dormido maravilhosamente bem, e ainda tinha


sonhado com o Conde, o que a fez acordar sorrindo com as
lembranças de tudo que fizeram no sonho.

No sonho ele dizia que a amava e que não se importava


com o que ela tinha feito, ele a perdoava e depois faziam
amor e era nesse momento que ele dizia que se casaria
com ela, pois não podia viver sem ela.

Era tudo que ela mais queria, mas então a realidade a


tomou, ele jamais faria algo assim, não depois de saber que
ela tentou enganá-lo. Ele nunca a perdoaria, e eles nunca
teriam o seu final feliz.

Ao se lembrar da lista, seu momento de felicidade foi


embora. Tinha arruinado todas as chances de ficar com o
Conde ao criar o maldito plano. Ela não conseguiria mais
continuar com aquilo, ele não merecia ser enganado, mas
também não poderia contar a ele, se contasse ele nunca a
perdoaria, nunca confiaria nela, e a odiaria para sempre, e
ela não podia suportar isso.

Mas a preocupação com seus irmãos lhe deixava um


sentimento ruim no peito, não poderia se esquecer deles,
era por eles que estava ali. Seu coração estava em conflito,
mas ela

não via outra escolha que lhe salvasse. Pedir ao Conde que
a emprestasse o valor estava fora de cogitação, ele iria
querer saber para que era o dinheiro, e ela precisaria contar
tudo, inclusive que estava ali por interesse. E além dele, não
conhecia nenhum outro nobre rico o suficiente para pedir
dinheiro emprestado.

Seus pensamentos foram interrompidos pela criada que


entrara em seu quarto para ajudá-la a se vestir. Lizzie
guardou a lista dentro de uma gaveta, a criada não
representava perigo a seu plano, mesmo que não soubesse
dele, então não precisou escondê-lo às pressas.
― O que vai querer vestir hoje, Milady? — a criada
perguntou enquanto escolhia um vestido para ela.

― O preto de passeio, serve — ela disse e em seguida


começou a se vestir. — Nós vamos dar uma volta por
Londres hoje.

Tinha dito ao Conde no dia anterior que iria procurar um


suposto tutor naquele dia, apesar de não precisar, já que os
meninos já tinham um. E fez exatamente isso, saiu com sua
criada depois do café da manhã e voltaram por volta da
hora do almoço. Depois do almoço decidiu ir para a
biblioteca e para a sua surpresa o Conde decidiu lhe fazer
companhia.

― Conseguiu encontrar um tutor para os meninos? — ele


perguntou após se sentar ao lado dela.

― Consegui sim. ― Ela sorriu ao perceber que ele não se


afastou dela, como prometera, em vez disso estavam mais
próximos. Ela não tinha ido procurar nenhum tutor, sua
saída era apenas para parecer que sim. Pois os seus irmãos
já tinham um tutor que se chamava Jones. — O

Sr. Jones será perfeito para os meninos — ela disse alegre e


ele fechou a cara diante da animação dela.

― Sr. Jones? Não conheço — ele disse cruzando os braços e


se sentando no sofá.

― É um jovem cavalheiro que se formou há alguns anos e


pretende seguir a carreira de professor. Ele também é
sobrinho do Flinn, o responsável pelas finanças do Baronato.
Acredito que ele vai se adaptar bem aos meninos, ele foi
gentil e pareceu muito divertido — Lizzie continuou
descrevendo o tutor dos meninos e sorriu ao ver a cara
emburrada do Conde se fechar cada vez mais, aquilo seria
ciúme?

― Está com ciúmes, Milorde? — Ela não conseguiu evitar a


pergunta e ele bufou revirando os olhos.

― Claro que não — o Conde respondeu ríspido. — Apenas


acho que deveria procurar tutores de renome que já têm
muita experiência na área.

― De preferência, uns vinte anos ou mais de experiência,


não? — ela complementou para provoca-lo.

― Exatamente — ele disse com um sorriso travesso, não


percebendo que ela estava provocando.

― O senhor está realmente com ciúmes — ela o acusou


rindo e ele ficou na defensiva.

― Claro que não, apenas acredito que a experiência traz


sabedoria. É preferível um homem sábio a um inteligente. —
O Conde se defendeu.

― Então o senhor não está com ciúme? — ela perguntou


ainda sorrindo.

― É obvio que não — ele disse e saiu da biblioteca antes


que ela o deixasse louco.

Lizzie estava entretida com seu livro quando começou a


ouvir baixinho alguém tocar piano, a música era outro de
seus vícios e ela logo se interessou em saber quem tocava
tão divinamente aquela música. Sempre quisera aprender a
tocar piano, e mesmo que fosse um dever para as jovens
damas da época saber tocar, ela não era muito boa em
conseguir tocar uma sinfonia sem se atrapalhar, perder o
ritmo ou se enrolar toda na hora de passar de uma nota
para outra.

Sabia poucas músicas no piano e, as poucas que sabia,


nunca tinha conseguido executar com perfeição. Diferente
de sua mãe que era uma excelente musicista e sempre os
encantava quando tocava para eles.

Lizzie se lembrou das inúmeras vezes que ficava vendo a


mãe tocar e ela sempre sorria para ela convidando-a a
tentar tocar com ela, mesmo que ela acabasse estragando o
desempenho da mãe no piano.

Ela saiu da biblioteca e seguiu a melodia procurando o lugar


de onde estava vindo o som tão harmonioso. Passou por
muitas salas e chegou a uma área da casa que não
conhecia, nunca tinha tido necessidade de ir ali, e quando
havia andado pela casa aquela porta tinha estado fechada.
Mas agora ela estava aberta e Lizzie pôde se encantar ao
ver o Conde sentado no piano enquanto seus dedos
experientes corriam pelas teclas transformando notas em
melodias.

Lizzie entrou silenciosa, parecia hipnotizada com a música.


E o Conde estava tão concentrado que não percebeu a
invasão da jovem no recinto e continuava tocando imerso
na melodia.

― Que lindo — ela sussurrou se referindo a canção que ele


tocava.

Ele parou de tocar ao perceber que tinha alguém presente


na sala com ele. Nunca tinha tocado para ninguém, só para
sua ex-noiva que não tinha dado valor ao que ele fazia.
Desde o rompimento do noivado ele nunca mais tinha
tocado, mas ao passar pela sala sentiu um desejo súbito de
tocar e não resistiu à tentação de exercitar os dedos que
estavam enferrujados.

Prometera a si mesmo que seria apenas uma sinfonia, mas


já estava na terceira e não sentia a menor vontade de parar.

― Por favor, não pare, adoro essa música — Lizzie disse ao


ver que ele continuava parado.

O Conde diante daquele apelo continuou a tocar, Lizzie ficou


em silêncio maravilhada, ouvindo a música preferida de sua
mãe ser tocada com maestria e perfeição. Era tão lindo. Ela
se encantava com cada faceta que conhecia daquele
homem. Fechou os olhos para aproveitar melhor as
sensações que a música lhe oferecia e só voltou a abrir
quando a música chegou ao fim.

O Conde terminou de tocar e quando se virou para Lizzie,


ela o olhava tão lindamente que ele se esqueceu de como
respirar. Ela tinha os olhos marejados e um sorriso tão
grande no rosto que ele não pôde deixar de sorrir também.
Ela ficava tão linda quando o olhava daquele jeito.

― Isso foi magnífico, obrigada por ter tocado — ela disse se


aproximando dele e passou a mão no piano como se o
acariciasse e dissesse: bom trabalho.

― Você toca? — ele perguntou após uns instantes de


silêncio.

― Não muito bem, até tentei aprender, mas preferia ouvir


minha mãe tocar. ― Lizzie sorria com a lembrança. — Faz
tempo que não toco então não me arrisco a tentar.

― Ah, não diga isso, tenho certeza que não é tão ruim
quanto diz. Sente-se eu insisto que toque. — O Conde se
afastou para que ela sentasse ao lado dele no banco.

Ela se sentou, mas ficou olhando para ele.

― Tem certeza que quer que eu toque? — ela perguntou


envergonhada.

― Faço questão — ele respondeu incentivando-a a tocar.

― Serão seus ouvidos que pagarão o preço… — ela brincou


dando-lhe a chance de desistir da ideia.

― Vou arriscar minha audição — ele respondeu seguro de si.

― Então tá, depois não diga que não avisei — ela informou
uma última vez e em seguida ergueu as mãos e começou a
tocar a 12° sinfonia de Beethoven, era uma das poucas que
tinha conseguido aprender e ainda não conseguia tocá-la
muito bem.

A música preencheu o ar, e o Conde se viu sorrindo quando


chegou à parte animada da sinfonia e Lizzie parou
exasperada por mais uma vez não conseguir executar como
gostaria. Seu rosto ficou vermelho e ela parou de tocar
depois da cacofonia que causou.

O Conde, ao ver sua vergonha, continuou a tocar de onde


ela tinha parado até que chegasse novamente à parte
melodiosa e calma da música onde ele parou de tocar e ela
voltou a assumir o piano.

Quando ele via que a próxima sequência de notas mudava o


tempo e as notas se tornavam mais complicadas de
executar, ele tocava para ela e ela retirava as mãos do
piano, e quando ela sabia a sequência seguinte, ela o
cortava tomando de volta o piano.
E, nesse dueto em partes, os dois tocaram a canção toda
até o fim. E de uma sinfonia ele puxou outra. Ela conhecia
aquela também e continuaram a repetir o mesmo que
fizeram na sinfonia anterior, ele ficava com as partes
rápidas e ela com as lentas.

Os dois sorriam se divertindo com a canção, pareciam


conversar através das notas que tocavam e riam quando o
ritmo passava de dramático para suave ou de romântico
para alegre.

― Não vale, essa eu não sei — ela acusou quando ele


iniciou uma música que ela não conhecia.

― Então permita que eu lhe apresente — ele disse e


começou a tocar. E ela sentiu na alma a história que aquela
melodia contava.

A música começava alegre, contando a história de um


jovem que era feliz. Alguns acordes sustenidos deram um
tom melancólico o que tornou a melodia sentimental. Era
como se o jovem tivesse encontrado o amor, um amor que
o fizera feliz, mas que não podiam ficar juntos. O

casal se encontrava escondido, e sempre fazia de tudo para


que os momentos juntos fossem felizes. Um dia, porém, a
família da jovem os descobre e as coisas ficam críticas para
o amor dos dois, e eles decidem fugir juntos, então marcam
tudo e se encontram para finalmente terem seu final feliz.
Entretanto a família dela continua a tentar separá-los e
manda alguém para impedir que ela fuja. Mas no fim eles
fogem e vivem felizes para sempre.

Quando ele parou de tocar ela sorria divertida com a canção


animada e estava emocionada com a história do casal.

― Eu adorei, você toca tão bem… — ela elogiou sincera.


― Você também não toca tão mal quanto disse. Me senti
enganado — o Conde brincou fazendo Lizzie rir.

― Acho que devia agradecer por ainda manter a sua


audição funcionando — ela respondeu sorrindo.

― O que disse? Eu não escuto — ele caçoou e ela lhe fez


uma careta.

― Sem graça. — Ela revirou os olhos e ele gargalhou


quando ela cruzou os braços, irritada.

― Eu estou brincando, sua tolinha. — Ele a puxou para um


abraço na intensão de fazê-la tirar a cara de ofendida do
rosto.

― Assim não consigo ficar com raiva de você, está apelando


para meus sentimentos —

ela disse sorrindo ao estar nos braços do Conde.

― Essa é a ideia — ele explicou rindo da tentativa dela de


sair de seu abraço. ― Não vou te soltar nunca, vai ficar
comigo para sempre agora. — Ele brincou e se retesou
quando percebeu o que dissera.

Os dois ficaram imóveis diante daquelas palavras que


pareciam falar sobre mais que um simples abraço. E então
ele a soltou devagar, um pouco constrangido pelo que tinha
dito, e tentando diminuir o clima que tinha surgido.

― Só vou soltar porque vou ter que sair agora — ele disse
enquanto a soltava. ― Bom, sinta-se à vontade para tocar
quando quiser, eu vou sair. Foi uma honra tocar com a
senhorita.
O Conde saiu sem mais delongas, fugindo de tudo que Lizzie
poderia significar na vida dele.

Capítulo 13 — Consciência

Cinco dias tinham se passado, Lizzie estava cada vez mais


decidida a não seguir com o plano, talvez não fosse sequer
necessário, ela estava cada dia mais apaixonada pelo
Conde, e ele parecia demonstrar interesse nela. Talvez não
precisasse enganá-lo para ele se casar com ela, se ele por
acaso a deflorasse, com certeza se casaria com ela por
causa de sua honra.

Eles tinham passado o dia na companhia um do outro no


Hyde Park, o piquenique tinha sido uma ideia maravilhosa, e
depois de voltarem, Lizzie se recolheu ao seu quarto uma
vez que o Conde tinha saído para resolver novamente seus
negócios e a Condessa se sentia indisposta depois de um
dia inteiro fora de casa.

O jantar foi servido em seus aposentos, e logo em seguida


ela se arrumou para dormir.

Ela esperou o sono chegar e a arrebatar para o mundo dos


sonhos, mas ele parecia que tinha se perdido em algum
lugar. Ela virou para um lado, virou para o outro, e nada de
dormir. Estava cansada, mas a insônia persistia.
Não era a primeira vez que não conseguia dormir, as noites
de insônia tinham se tornado frequentes desde a visita
daquele maldito Barão. E quando conseguia finalmente
dormir, tinha pesadelos com ela e seus irmãos sendo
despejados de sua própria casa.

Quando estava em casa, ela costumava ir para a biblioteca


e quase sempre isso era suficiente para ela ficar com sono.
Talvez se fizesse isso aqui, também, ela conseguisse
encontrar seu sono.

Então Lizzie levantou da cama e colocou uma capa para


cobrir a transparência de sua camisola. Seguiu na ponta dos
pés para não fazer barulho e acordar alguém.

Abriu a porta da biblioteca que rangeu um pouco e entrou


rapidamente, encostando a porta atrás de si. Procurou
algum livro na estante e pegou o primeiro que chamou sua
atenção. Era uma aventura, levemente infantil, mas muito
interessante.

Ela se sentou em uma poltrona que havia ali, e no meio da


leitura, sem que ela percebesse, o sono a tomou.

O Conde estava acordado, com um desconforto evidente em


sua pelve, o lençol não escondia seu membro duro. Tentou
dormir, mas sua mente e seu corpo insistiam em recordar o
beijo que tinha dado em Lizzie mais cedo naquele dia.

Nunca tinha conhecido uma mulher que se entregasse tanto


durante o beijo ou que fosse tão divertida, bondosa e
sensível. Era uma mistura inebriante de inocência e desejo.
E ele queria prova-la de novo e queria mais do que ela
oferecia. Tomaria tudo o que pudesse enquanto ela
estivesse ali, e depois a esqueceria, voltaria a viver sua vida
e ela voltaria para sua casa em Fernoy.
Para diminuir o desejo que não permitia que ele tivesse o
tão merecido sono, ele pensou em algo que sabia que
imediatamente iria acabar com aquela sensação. Imaginou
sua ex na cama

com o amante dela. Como já era costume a ereção diminuiu


rapidamente, mas dessa vez tinha algo diferente, a dor que
acompanhava a lembrança da traição não veio dessa vez
com a mesma intensidade. Era apenas uma dorzinha
incomoda que estava lá, mas já não era algo que o
sufocava.

Quando foi que a ferida havia começado a cicatrizar? Ele se


perguntou. Algo o fazia crer que isso tinha a ver com a
garota no quarto ao lado. E pensando em Lizzie, ele
adormeceu.

O Conde acordou antes mesmo que o Sol começasse a


brilhar no céu, se vestiu e desceu para seu escritório. A
biblioteca ficava no caminho e sempre ficava fechada, por
isso ao passar por ela e ver a porta entreaberta ele
estranhou, e decidiu entrar.

Ele esperava encontrar qualquer coisa menos Lizzie de


camisola dormindo ali. Ela estava parcialmente enrolada em
uma capa que mal a esquentava, suas pernas estavam
cobertas, mas o resto do corpo estava exposto.

Ele observou a camisola transparente dela que deixava


visível seu mamilo retesado por causa do frio. Uma brisa
passou pela janela aberta e ela estremeceu. Procurando se
enrolar mais com o pouco tecido.

Ela poderia pegar um resfriado. Esse pensamento fez ele se


mover. Pegou a garota adormecida em seus braços e ela se
aninhou ainda mais nele ao sentir seu calor.

Aquele gesto mexeu com ele, e o fez sentir vontade de


protegê-la, ainda que fosse apenas do frio. Dessa vez ele
não jogou a ideia para longe, apenas a ignorou. Não seria de
todo ruim cuidar dela.

Ele se surpreendeu com a leveza dela. Quase não precisava


colocar força, ela estava tão linda dormindo em seus braços
que ele ficou um tempo observando-a dormir.

O Sol começou a entrar pela janela e isso o trouxe de volta


a realidade. Logo os seus criados andariam por aquela parte
da casa arrumando tudo e se ele fosse pego com ela de
forma tão íntima um escândalo seria o mínimo que
aconteceria.

Ele subiu as escadas evitando fazer barulho, agradecido por


estarem todos ocupados na cozinha. E a levou para o quarto
dela, colocando Lizzie gentilmente na cama. Ela se mexeu
se arrumando na cama em meio ao sono, e o movimento
fez sua camisola subir mostrando suas pernas.

Imediatamente, imagens daquelas pernas em volta de seu


corpo encheram a mente do Conde. E ele a cobriu com um
lençol para evitar fazer exatamente o que estava pensando.

Lizzie acordou dolorida e não se sentia muito bem, a


poltrona que havia na biblioteca não tinha sido um bom
lugar para dormir. Ela se lembrava de pegar no sono e
depois de ter sonhado com o Conde, no sonho ele a
colocava nos braços e a levava para o quarto.
Quando reparou onde estava, a realidade a chocou. Não
tinha sido apenas um sonho. Ele

realmente tinha levado ela para o quarto.

Ela olhou a hora no relógio que tinha em cima da cômoda


ao lado de sua cama e percebeu que já estava atrasada
para o café da manhã.

Pediu que chamassem a criada dela, mas não esperou por


ela, começou logo a se vestir sozinha.

Entre uma peça e outra de roupa ela deu o primeiro espirro,


e depois o segundo e o terceiro. Seu nariz coçava e
começou a ficar vermelho.

Ela ignorou isso e continuou se vestindo. Quando a sua


criada chegou faltava apenas fechar algumas partes que
Lizzie não tinha alcançado. E quando ela tocou Lizzie para
ajudar reparou que sua pele estava quente.

― Minha menina, você está se sentindo bem? Está um


pouco febril ― a criada disse preocupada.

― Estou bem sim, não se preocupe ― Lizzie respondeu não


podendo dizer o que havia acontecido.

Ela desceu para tomar o café da manhã. Mas os espirros


voltaram, seu nariz ficou vermelho de novo e começou a
escorrer. E a Condessa ao ver seu estado se levantou indo
até Lizzie para checar sua temperatura.

― Minha nossa, você está queimando ― ela disse


assustada.

Lizzie ficou envergonhada, ficar doente ali não estava em


seus planos, muito pelo contrário, estragaria tudo.
― Você está doente? ― O Conde parou de comer e olhou
para ela preocupado. ― Quer voltar para casa?

― Não seja tolo, não vou deixar que ela vá embora nesse
estado. ― A Condessa interveio antes que Lizzie abrisse a
boca para concordar. ― Venha querida, eu vou cuidar de
você, esse resfriado vai embora logo.

Capítulo 14 — Descobertas

Nos dias seguintes o estado de Lizzie piorou. Ela ficou de


cama o tempo todo. A Condessa logo se prontificou para
cuidar dela, e sempre que a Condessa saía do seu lado o
Conde ocupava o lugar dela. Ele ia visitar Lizzie em seu
quarto sempre que tinha alguém presente, é claro. Não
podia correr o risco de ter um novo escândalo em sua
reputação, pois como sempre, fugia de casamento, ainda
mais se fosse forçado.

A Condessa tinha se prontificado para cuidar de Lizzie e


todo dia de manhã levava seu chá ― receita da família com
poder de curar todas as doenças ― e o deixava para Lizzie
tomar.

O que a Condessa não sabia, é que o Conde tinha estado ali


duas noites atrás quando Lizzie tinha delirado por causa da
febre e no dia seguinte tinha avisado a Lizzie sobre o chá.

Ele tinha ido olhar se ela estava bem antes de dormir no


mesmo dia que caiu doente. Ela estava tendo um pesadelo,
e quando ele tentou acordá-la, viu que ela estava ardendo
em febre. Ele notou uma bacia com água e um pano na
escrivaninha ao lado da cama e imediatamente colocou a
flanela na testa de Lizzie para diminuir a febre.

Ela dizia palavras desconexas, e três sempre se repetiam:


pai, irmãos e desculpa. Ele imaginou que fosse algo
relacionado a família dela e não prestou atenção no que ela
dizia, tentou apenas diminuir a febre.

Depois de algumas horas a febre baixou e Lizzie acordou. Ao


ver que ela acordava o Conde sorriu, tinha ficado
preocupado ao vê-la naquele estado.

― O que aconteceu? ― Lizzie perguntou com a voz grogue.


Pigarreou tentando limpar a garganta.

― Você estava com muita febre e delirando. Eu tentei baixar


um pouco a sua temperatura

― o Conde respondeu mais aliviado por ela ter acordado.

Ficaram alguns minutos sem saber o que dizer, e do nada o


Conde começou a rir, ele tinha se lembrado de que a
Condessa tinha dado uma lista com certos ingredientes a
um criado e pedido que ele comprasse no mercado.

― O que foi? ― Lizzie perguntou um pouco confusa, mas


sorrindo para o Conde.

― Nada, apenas lembrei que a Condessa já tomou as rédeas


da situação, ela vai cuidar de você pessoalmente. Logo vai
ficar bem, a Condessa vai preparar um chá delicioso e logo
estará em pé novinha em folha.

O Conde a olhava com uma expressão que ela ainda não


tinha visto, ele sorria travesso e com um brilho de diversão
no olhar.
― E por que o senhor está com essa cara de quem vai
aprontar? ― Lizzie perguntou desconfiada.

― Que cara? Apenas estou feliz que a febre tenha baixado.


― Ele desconversou se levantando ― Agora que está
melhor, eu vou para o meu dormitório, daqui a pouco o sol
nasce e você precisa descansar mais, assim como eu.

Ele então saiu deixando ela curiosa, mas a curiosidade não


durou muito, na manhã daquele dia a Condessa apareceu
com o tão famoso chá, e o Conde fez questão de estar junto
nessa hora. No primeiro gole, Lizzie entendeu o riso
travesso do Conde. Ela sorriu para a

Condessa e segurou a vontade de vomitar quando sentiu o


cheiro do chá, prendeu a respiração e deu um pequeno
gole, segurou uma careta e se forçou a engolir o pouco do
líquido amarelado que tinha colocado na boca, e assim que
a Condessa tirou os olhos de cima dela ela cuspiu tudo no
chão. O que causou uma crise de riso no Conde.

― Beba tudo, querida, Daniel sempre bebia tudo sem


reclamar e logo ficava bom, não é mesmo Daniel? ― a
Condessa disse para Lizzie, depois de ver que esta tinha
colocado a xícara ainda cheia de volta na escrivaninha.
Quando Lizzie foi pegar, acabou derrubando a xícara e
assim derramou todo o conteúdo em cima da escrivaninha

Lizzie pediu mil desculpas e a Condessa saiu para pegar


mais chá, não percebendo que Lizzie tinha feito de
propósito.

― Ah, desculpe, foi sem querer. ― Assim que a Condessa


saiu, o Conde imitou toscamente o pedido de desculpas que
Lizzie fez para a Condessa depois de derramar o chá.
― Eu não falei com essa falsidade toda e nem com essa voz
horrível — Lizzie resmungou cruzando os braços e olhando
feio para o Conde que riu ainda mais.

― Falou sim, mas minha tia vai lhe perdoar, ela tem um
coração mole — o Conde disse sentando na cama ao lado
de Lizzie.

― Não sei como conseguia tomar isso! ― Lizzie disse


fazendo uma careta ao sentir ainda o gosto do chá.

― Te trouxe um biscoito, sei como essa bebida deixa um


gosto ruim na boca ― ele disse lhe entregando o biscoito.

Ela imediatamente o colocou na boca para amenizar o gosto


do chá. E gemeu com o sabor delicioso do biscoito.

― Sempre soube que tinha algo bom aí dentro. ― Ela sorriu


para o Conde brincando e ele sorriu de volta. ― Mas sério,
como conseguia tomar aquela coisa?

― Eu não tomava. ― Ele sorriu travesso. ― Esperava ela


sair para derramar. Mas devo dizer que você até disfarçou
bem. Ela sempre acreditou que eu bebia aquela bebida
deliciosa ―

ironizou.

― Eu retiro o que disse, você não tem nada de bom! ―


Lizzie riu da forma que ele enganava a Condessa para que
ela pensasse que ele tomava o chá. ― Podia ter me dito que
era horrível! Assim, pelo menos, eu estaria preparada.

― Mas aí eu perderia a chance de te ver fazer careta para


engolir aquele troço. ― Ele riu mais uma vez.
― Fico feliz que esteja se divertindo às minhas custas,
Milorde ― ela ironizou fazendo uma careta para ele.

― Bom, agora que já me deleitei com sua reação, eu vou


terminar as coisas no escritório.

Mais tarde venho ver como está. E se for boazinha e beber


tudo te trago mais biscoitos.

Ele saiu sem esperar resposta, mas ainda a viu lhe dando
língua e isso o fez sorrir ainda mais. Fazia tempo que não
sorria tanto.

Apesar de Lizzie não tomar o chá milagroso da Condessa,


ela estava melhorando aos poucos, tinha ficado apenas sete
dias doente, mas agora a febre já tinha ido embora e os
espirros tinham diminuído, mas seu nariz ainda escorria, e
ela estava sempre com um lenço para limpar o nariz, sem
contar que seu corpo ainda estava todo dolorido. Mas logo
ela estaria bem de novo, ainda tinha seis dias antes de
precisar voltar a Fernoy e pagar a dívida de seu pai.

No dia seguinte, era um domingo, o Duque de Norfall


decidiu aparecer por lá, estava passando ali por perto e
achou que uma visita ao Conde não faria mal, mas o Conde
havia saído para resolver alguns negócios referentes a um
novo carregamento de seda, apesar de dizer que logo
retornaria.

A Condessa recebeu o Duque e contou que Lizzie estava ali


doente, e insistiu que ele a visse, o Duque recusou
educadamente na primeira vez, disse que ela poderia estar
descansando e não queria incomodar. Mas depois que a
Condessa insistiu dizendo que conversar com um amigo
seria muito bom e que ela ficaria feliz em vê-lo, ele
concordou em ver Lizzie.

Lady Margaery tinha planos na cabeça. E acreditava que o


Duque podia ser um bom aliado. Agora que o pai de Lizzie
tinha falecido ela tinha tomado sobre si a responsabilidade
de casar Lizzie, e se seu sobrinho não quisesse ela iria
encontrar quem se interessasse pela garota. E

ela sempre conseguia o que queria.

Lizzie tinha passado a manhã distraída com um livro que o


Conde tinha lhe trazido da biblioteca na noite anterior a
pedido dela, mas fazia alguns minutos que o livro estava em
seu colo totalmente abandonado, e ela estava olhando sua
lista e pensando em seus planos.

Já sabia não ser certo fazer aquilo com o Conde, não depois
de ter passado a semana doente e ele ter se mostrado tão
disposto a fazê-la melhorar. Ele sempre passava um pouco
mais de tempo ali com ela conversando para que ela não se
sentisse só, e sempre que tinha pesadelo, como teve duas
vezes, ele estava lá segurando sua mão mesmo estando
adormecido na cadeira ao lado dela.

Ela não conseguiria enganá-lo daquela forma. Não mais.


Não quando aquilo podia machucar aquele homem. E
percebeu que talvez tivesse se apaixonando por ele de
novo. Antes ela tinha se sentido atraída pela beleza e
masculinidade dele, como toda adolescente apaixonada,
mas agora era o jeito dele que a encantava. Mas sabia que
ele fugia de casamento, odiava ser enganado, e tinha
cicatrizes grandes a respeito de sua ex-noiva. E ela não se
perdoaria se o forçasse a entrar justamente naquilo que ele
mais temia.
Era uma escolha difícil, mas ela estava decidida a pedir
ajuda ao Conde, em vez de enganá-lo, iria se humilhar e
implorar se fosse preciso, mas não iria enganá-lo.

Ela olhava a lista e se sentia uma tola, era uma tola por se
apaixonar, mas não mudaria nada que sentia, ela se
preparava para rasgar a lista de uma vez por todas quando
a porta foi aberta e ela se assustou.

A Condessa entrou com alguns biscoitos nas mãos e um


sorriso enorme no rosto e atrás dela seguia o Duque um
pouco tímido. A presença deles ali fez com que ela
colocasse a lista dentro do livro que tinha em seu colo,
fechando-o em seguida e colocando-o na escrivaninha.

― Eu lhe trouxe uns biscoitos. E veja quem veio lhe visitar!


Se lembra do Duque de Norfall? — a Condessa disse alegre
enquanto colocava os biscoitos no colo de Lizzie obrigando-
a a colocar o livro na escrivaninha ao seu lado.

― Claro que lembro! Milorde. ― Lizzie fez uma mesura de


onde estava. ― Como está, Vossa Graça?

― Eu estou bem, só espero não estar incomodando ― ele


disse fazendo uma leve inclinação em resposta à mesura
feita por ela.

― Jamais! ― Lizzie disse sorrindo, feliz com a presença dele


ali. Gostava do Duque, nunca se esqueceria de quando ele a
tirou da situação constrangedora do baile. ― Já estou até
melhor, o chá da Condessa é realmente milagroso.

O Duque ergueu uma sobrancelha e abriu um sorriso


cúmplice para Lizzie, ele uma vez tinha ficado doente e a
Condessa havia mandado o chá por intermédio do Conde.
Claro que o Conde não avisou sobre o gosto horrível do chá
e ele acabou provando um gole generoso do líquido amarelo
e amargo. Depois do primeiro e horrível gole o chá tinha ido
parar num vaso de planta que por coincidência estava
secando, mas depois do chá tinha até florido.

Diante dessas palavras a Condessa lembrou que estava na


hora do chá.

― Está na hora de tomar o chá, eu vou buscar e já volto. ―


A Condessa saiu pouco se importando em deixar o Duque
sozinho com Lizzie. ― Deixe alguns biscoitos para
acompanhar o chá.

Ao ficar sozinho com Lizzie o Duque ficou desconfortável,


sabia que isso poderia causar um escândalo.

― Não se preocupe, Milorde, acredito que a Condessa não


iria tão baixo para tentar te prender comigo em um
escândalo que acabasse em casamento ― ela disse com um
sorriso complacente e ele procurou relaxar. ― Já provou do
famoso chá da Condessa, não foi?

― Já tive essa terrível experiência ― ele confessou


passando as mãos nos cabelos.

― Não conte para ela, mas eu estou jogando todinho pela


janela. ― Lizzie segredou ao Duque.

― Garota esperta. ― Ele elogiou e se aproximou dela. ―


Então, qual foi a doença que lhe causou essa tortura de
tomar o chá?

― Acho que foi só um resfriado. Mas já estou quase curada


― ela disse tranquilizando o Duque.

― Eu gostaria de expressar meus sentimentos pelo seu pai


― o Duque disse educadamente ao se lembrar da recente
perda da jovem.
― Obrigada, Vossa Graça ― Lizzie agradeceu com os olhos
marejados. ― Ele faz muita falta.

O clima ficou um pouco pesado, Lizzie respirou fundo para


evitar que as lágrimas caíssem. A doença a deixou um
pouco emotiva e todas as noites sonhava com seu pai. Fora
que sempre ficava mais sentimental nos períodos próximos
a sua regra. E esta estava perto de vir, talvez uma semana.

Ele se aproximou da escrivaninha e o livro chamou sua


atenção. E na tentativa de animá-la ele decidiu mudar de
assunto falando do livro.

― Eu já li esta história ― ele disse pegando o livro nas mãos


e antes que ela pudesse dizer algo para impedir que ele
abrisse o livro, o Duque abriu justamente na página onde a
lista estava. As letras escritas ali eram fáceis de ler e o
Duque não demorou muito para entender o que estava
escrito ali. ― O que isso significa? ― ele perguntou cheio de
acusações no olhar.

O estrago já estava feito e Lizzie não conseguia encontrar


palavras para explicar a situação, e até temia piorar. O
Duque a olhava com ódio e repugnância. Ele estava furioso
que ela estivesse tentando enganar seu amigo, e se
dependesse dele aquilo nunca mais iria acontecer. O

Conde já tinha sido enganado uma vez, e ele não tinha


podido fazer nada, pois também fora enganado pelo rosto
angelical da ex do Conde, mas agora não ia permitir que o
amigo caísse em uma cilada.

— Então, senhorita Fernoy, o que essa lista significa? Foi


isso que veio fazer aqui?

Seduzir o Conde? ― ele acusou ao ver que ela permanecia


calada. — O que pretendia depois de dormir com ele?
― Não é isso que está pensando! ― ela respondeu rápido
tentando evitar que ele pensasse ainda mais coisas ruins
dela.

― Não é isso que parece! Essa lista está bem clara! O que
me faz pensar que a senhorita não é tão pura, não para
saber coisas desse tipo. Está carregando o filho de outro
homem também?

― Ele continuou acusando sem se importar com as lágrimas


que começaram a cair dos olhos de Lizzie e molhavam o
lençol.

― Não, não é nada disso, eu não estou grávida ― ela disse


entre soluços.

― Então o quê? Acho bom que comece a se explicar, ou


então eu vou colocar você para fora daqui e se é um
escândalo que quer um escândalo terá, mas lhe asseguro
nem eu nem o Conde sairemos manchados por ele. ― O
Duque a fuzilava com os olhos. ― Dessa vez não vai
enganar ninguém.

― Eu não pretendo enganar ele! ― Lizzie se defendeu.

― E o que pretendia com essa lista escandalosa, além de


levar ele para a cama e talvez até ser pega em uma
situação comprometedora? Ele já sofreu demais com
alguém tentando enganar ele. ― O Duque se referia à ex-
noiva do Conde, para ele Lizzie estava sendo igual a mesma
pérfida mulher que quase tinha enganado seu amigo.

― Eu não queria um escândalo! ― Ela novamente corrigiu o


Duque.

― E o que pretendia então? Levá-lo para a cama e fazê-lo


achar que lhe corrompeu, só para depois lhe propor
casamento? ― O Duque continuava a desafiá-la a lhe contar
seu plano.

Lizzie corou com a verdade daquelas palavras, era


exatamente isso que estava fazendo ali. Iria seduzi-lo e
esperava que quando ele a comprometesse ele a pedisse
em casamento.

― Era isso, não era? ― O Duque percebeu que tinha


acertado em cheio. ― Eu até pensei que você fosse
diferente, mas vejo que é igualzinha a todas as outras. Que
não podem ver um título e dinheiro e já criam seus planos
para tentar caçar um nobre ― o Duque desdenhou.

― Eu seria uma boa esposa para ele, cuidaria de todas as


necessidades dele, faria o possível para que ele fosse feliz…
era o mínimo que eu poderia fazer por ele ― ela disse
baixinho para si mesma.

― Como se isso justificasse o seu maldito plano! O que


deveria mesmo fazer é ir embora, e deixar Daniel ser feliz.
Você não estava aqui quando ele descobriu a traição de
Letícia, não foi você que teve que trazê-lo muitas vezes
bêbado dos bares para que ele não fosse morto, você não
viu como ele passou anos para se recuperar e a dificuldade
que foi. Acha mesmo que ele superaria fácil ter sido feito de
tolo uma segunda vez?

A essa altura Lizzie chorava com as acusações, ele estava


certo, nunca devia ter tentado enganar o Conde.

― Eu não pretendia machucar ele — Lizzie confessou entre


soluços.

― Mas era exatamente isso que aconteceria quando ele


descobrisse. Ele ficaria arrasado e odiaria você para o resto
da vida. Não é assim que um casamento deve funcionar.
Deve ter no mínimo respeito e confiança — O Duque a
olhava com tanta decepção no olhar que Lizzie não
conseguia encará-lo.

― Eu não o deixaria saber nunca ― ela disse. ― Ou, pelo


menos, era o que estava no plano.

― E pensar que todos nós confiamos em você. Você não


passa de uma mulher egoísta e interesseira e só pensa no
próprio umbigo ― ele continuou falando e cada frase que
ele dizia era

um golpe na consciência de Lizzie. ― Como consegue


dormir à noite sabendo de tudo que planeja fazer de mal?

Aquelas palavras foram a gota d’água para Lizzie, ela podia


ter tentado enganar, mas não era egoísta. E sobre não
dormir à noite ela entendia bem. Lizzie se sentiu
entorpecer, e seu choro parou, aquela acusação lhe deu
forças para rebater.

― Eu não sou isso de que me acusa, Milorde. Sei como é


não dormir à noite, não sou tão má a ponto de fazer isso
apenas para alcançar um status social maior. O senhor tem
razão de me acusar de muitas coisas, mas não de egoísta.

— Não planejei fazer isso por mim. E se fosse meu futuro


que estivesse em jogo eu, com certeza, não estaria aqui,
pois aceitaria de bom grado tudo o que me foi reservado —
ela disse encarando o Duque com resolução no olhar, já
tinha decidido não enganar o Conde, então não tinha
porque não dizer a verdade. ― Se quer tanto saber o motivo
de tudo isso, eu digo, apesar de acreditar que jamais vá
entender o que é isso.

— Eu faria qualquer coisa para salvar meus irmãos da


miséria. O senhor não deve ter irmãos, então não deve
saber como é tê-los dependendo de você, saber que o que
fizer, ou deixar de fazer, vai afetar a vida deles. — O Duque
a escutava com o rosto impassível e ela continuou sua
defesa. ― E eu não tinha que me preocupar com isso, mas
não temos mais ninguém, então não tinha a quem recorrer.

— Tudo caiu nas minhas costas quando eu menos esperei.


Em um dia eu fui dormir sem precisar me preocupar com
nada além do que vestir no baile, e no outro eu tive que
enterrar meu pai, sem ao menos poder viver meu luto.

— E estou encurralada em uma dívida que nem sabia


existir, e que não tenho como pagar, e se não pagar,
perderei boa parte do baronato que pertence ao meu irmão,
então fiz o que estava ao meu alcance.

— Por isso, não venha me falar de egoísmo, ou de


consciência, ou de dormir à noite. Mas acredite eu preferiria
continuar sem dormir o resto da minha vida, se isso
significasse que meus irmãos continuariam a dormir
tranquilos com seus futuros intactos.

Aquela confissão pegou o Duque de surpresa e, apesar de


não ter demonstrado, ele se compadeceu dela, apenas um
pouco. Pois, ainda não acreditava que aquilo justificasse o
que ela queria fazer.

Lizzie estava vermelha, dessa vez por raiva e vergonha.


Raiva por ele ter descoberto seu plano, por ter sido tola em
escrever a lista em um papel, raiva do Duque que a acusava
e vergonha de ter feito tudo aquilo.

― E você por acaso pensou em pedir ajuda a ele, em vez de


enganá-lo? ― o Duque perguntou um pouco mais calmo.

― Eu pensei sim, mas o orgulho falou mais alto, Milorde, se


eu pedisse, ficaria devendo a ele, mas se eu me casasse
com ele, não precisaria pedir, pois sei que ele iria me ajudar
a cuidar de meus irmãos. ― Ela disse cansada, aquela
conversa tinha lhe tirado o resto das forças que tinha
recuperado.

― Nada justifica isso, Elizabeth. Você não devia ter feito isso
com ele.

― Eu sei, Milorde, e eu já havia desistido de continuar com o


plano antes mesmo que o encontrasse. Não podia mais
fazer nada disso. Não suportaria mais enganá-lo ― ela disse
recomeçando a chorar. ― Mas agora ele vai me odiar, e com
razão, e eu vou voltar para casa com um escândalo nas
costas por causa da minha estupidez e meus irmãos vão
pagar por meu erro.

O Duque ficou observando ela chorar, mesmo que ela


tivesse tentado enganar o seu

amigo, ela não era tão ruim assim. Enquanto Lizzie fazia
isso por seus irmãos, Letícia tinha feito apenas para
benefício próprio, e era essa a diferença entre elas. E de
alguma forma aquilo mexeu com ele.

― Eu tenho uma proposta para você ― o Duque anunciou a


surpreendendo. ― Eu lhe darei a quantia que precisa, se
prometer sair da cidade e nunca mais voltar. Vai deixar o
Conde em paz e nunca mais vai voltar a vê-lo. Eu não falarei
nada sobre essa sua lista e você vai sair da vida dele para
sempre.

― E por que você faria isso? ― Lizzie perguntou sem


entender o porquê de o Duque fazer aquilo.

― Eu tenho uma irmã, Milady, assim como você sou o mais


velho, e eu entendo sim o que é ter que cuidar de alguém.
Eu faria o possível e o impossível para não vê-la sofrer, e é
apenas por eles que eu a ajudarei. Faça as malas e vá
embora hoje mesmo, não fale nada com o Conde. Se
possível, saia antes mesmo que ele volte. ― Lizzie olhava
para ele sem entender como tudo tinha mudado de uma
hora para outra. Ele virou as costas e antes de sair disse ―
Providenciarei a carruagem. De quanto precisa para pagar a
conta?

― Quarenta e oito mil, oitocentos e vinte oito libras ― Lizzie


disse envergonhada pela quantia exorbitante.

― Maldição, mulher, como conseguiu fazer uma dívida tão


alta? Quer saber? Não importa. Se apresse, enviarei o
dinheiro até o final da semana. Espero não vê-la nunca
mais. ― O

Duque saiu pela porta sem olhar para trás.

Capítulo 15 — O Conde

O Conde tinha saído para fechar uma venda de sedas em


um dos melhores ateliês de Londres, o mesmo onde a
Condessa tinha comprado os vestidos de Lizzie. E que
vestido! Ele ainda se lembrava do quanto desejou Lizzie
naquele vestido, era uma mistura de pecado e inocência
que ele nunca tinha visto.

Madame Charlotte era um de seus alvos no comércio de


sedas, ela estava crescendo em seus negócios e ele sabia
que logo ela seria uma das maiores costureiras da
Inglaterra. Seu talento estava sendo cada vez mais
requisitado em Londres, e ele aproveitaria essa chance
conseguida por sua tia, a seu pedido, para expandir ainda
mais a venda de suas sedas.

No início, tinha relutado em vender para uma mulher, mas


depois do primeiro contato com ela percebeu que ela não
era uma mulher qualquer, era espirituosa e sabia muito
bem o que queria. Imediatamente se lembrou de Lizzie, que
também tinha um temperamento parecido, e sorriu.

― O senhor está prestando atenção? — Charlotte perguntou


levemente irritada com a falta de atenção do Conde nos
negócios.

― Perdão! Acabei me lembrando de alguém.

― Uma mulher, eu suponho — ela disse com um sorrisinho.

― Ela é bem teimosa, como você. — O Conde acabou


confessando sem querer.

― Vou tomar isso como um elogio, visto que está com um


sorriso apaixonado do rosto —

ela disse se recostando na cadeira enquanto observada


divertida o Conde se enrolar nas palavras ao tentar negar
que estava apaixonado. ― Não se esforce, Milorde, está na
cara que está apaixonado. E então, fechamos negócio? —
ela perguntou aproveitando o desconforto do Conde para
que ele fechasse pelo valor que ela disse.

― Só vou fechar porque quero vender as sedas para você,


estou praticamente dando de graça, mas, quando trabalhar
com as minhas sedas, vai perceber que não há melhor em
toda Londres.

― Vamos ver, se ela for tão boa quanto o senhor diz, eu me


tornarei sua cliente...
― Pode considerar entregue, Madame, foi um prazer fazer
negócios com a senhora. — O

Conde se levantou, e com um sorriso satisfeito, saiu do


ateliê da Madame Charlotte. — Só mais um pedido, gostaria
que fizesse um vestido com uma seda que reservei para
mim mesmo, é uma seda vermelha e quando vi não pude
vendê-la. Gostaria que a senhora confeccionasse para mim,
não importa o valor, é para a senhorita Fernoy. A senhora
ainda tem as medidas dela, certo? Ela veio aqui com minha
tia, acredito que se lembre dela.

― Sim, eu me recordo, e ainda tenho as medidas. Coloque o


tecido separado junto com os outros para que eu saiba qual
é, e eu farei, no fim da semana estará pronto.

O Conde saiu animado, mal podia esperar para ver Lizzie no


vestido.

Quando chegou em casa, qual não foi sua surpresa ao


descobrir que Lizzie tinha ido embora! Sua tia não sabia lhe
dizer o porquê. Apenas disse que ela tinha dito que
precisava ir embora, e que não podia esperar o Conde
voltar.

Segundo sua tia, ela foi embora imediatamente após a visita


do Duque. O Conde

rapidamente subiu em seu cavalo e seguiu para a casa do


amigo. Phillip teria que lhe dar algumas respostas.

O Duque estava em sua sala organizando as coisas do


acordo com Lizzie, tinha lhe dito que daria o dinheiro para
pagar as dívidas dela, e organizava tudo para poder cumprir
sua palavra. Daria as malditas quarenta e oito mil
oitocentos e vinte e oito libras. Salvar seu amigo ia lhe
custar caro.

― O que disse a ela? — O Conde irrompeu em sua sala,


furioso, pegando-o de surpresa.

― Mantenha a calma, Daniel. Não me faça expulsá-lo daqui.


— O Duque se manteve sério.

― Responda! Ela estava bem até que você apareceu lá. E


agora ela foi embora. O que disse a ela?

― Eu não disse nada — o Duque respondeu.

― A Condessa disse que ela tinha chorado, me diga


exatamente o que disse ou eu juro que quebro essa sua
cara. — O Conde o olhava furioso, e ele soube que ele iria
realmente cumprir a promessa.

― Você vai ficar melhor sem ela. — A resposta do Duque


não agradou o Conde.

― O que quer dizer com isso? — o Conde perguntou com os


olhos semicerrados, algo estava errado e ele sentiu um
calafrio passar por suas costas.

― Nada, apenas que foi melhor ela ter ido embora mesmo.
— O Duque desconversou.

― Eu não estou brincando, Howland! Acho bom você


começar a se explicar. Sabe que temos anos de amizade,
mas se quer continuar sendo meu amigo, acho melhor me
dar uma explicação melhor do que apenas isso! — o Conde
falou baixo, suas palavras carregadas de uma ira mal
contida.
― Eu não posso, prometi a ela que não contaria, mas, se eu
fosse você, não iria querer descobrir. É bem melhor não
saber.

― Seu desgraçado, se eu souber que a magoou de alguma


forma eu acabo com você.

O Duque ignorou a ameaça apenas com um levantar de


ombros.

― Eu vou dizer de novo, não queira saber, você só sairá


magoado. Ela não te merece —

o Duque avisou uma última vez.

― Por que você está agindo como um idiota? — O Conde


perguntou com as sobrancelhas franzidas e observando o
amigo minuciosamente tentando obter alguma informação.

― Às vezes, não saber das coisas é uma benção — o Duque


disse voltando a sentar em sua cadeira e ignorando o amigo
que saiu pisando duro e com mais perguntas que respostas.

Depois que o Conde saiu, o Duque não conseguiu parar de


pensar na situação. Sabia que tinha feito o que fez
pensando no bem de seu amigo, mas não estava em paz
com sua decisão.

Sentia como se tivesse feito algo errado, mas não conseguia


saber o que era.

― O que você disse para Lorde Dorset sair daqui com ódio?
— Uma voz suave e feminina o fez levantar a cabeça. Sua
irmã estava na porta acariciando seu gato de estimação.

― Nada de importante, ele apenas escutou o que não


queria. Mas me diga como estão os preparativos para o seu
debute? — ele perguntou mudando de assunto.

― Tedioso! Mamãe ainda não escolheu a costureira, e está


me enchendo com os detalhes que eu preferia não ouvir.
Tem certeza que esse debute é necessário? É muita
exposição para nada.

― Sabe que é mais fácil o mundo acabar do que mamãe


desistir de seu debute. É algo que todas as mulheres
passam, vai poder dançar com quem quiser e vai usar
vestidos bonitos. Vai ser divertido, você vai ver. — O Duque
tentou soar animador, mas sabia que a irmã odiava estar
em público.

― Grande coisa! Danças...vestidos…festa... Isso não passa


de um leilão de casamentos para quem der o maior lance.
No final, vou me casar com o homem mais nobre do salão,
provavelmente um Duque também. Fui criada para isso,
não? Casar e acabou! — ela disse revirando os olhos e
saindo da sala com o gato.

Aquelas palavras fizeram o Duque perceber algo que não


tinha visto antes. O que Lizzie tinha tentado fazer, não era
nada mais do que toda mulher fazia para arranjar marido, a
única diferença é que o motivo dela tinha sido os irmãos, e
não um título.

Todas as mulheres daquela sociedade tentavam seduzir


seus pretendentes, e ela não era diferente, era isso que a
sociedade ensinava a elas, as preparavam para o
casamento e só, e aquelas que não conseguiam isso, eram
tidas como fracassadas e colocadas à margem da
sociedade.

Para não serem desprezadas pela sociedade, as mulheres


faziam de tudo para obter um marido, e aquelas que eram
ambiciosas, dobravam ainda mais os esforços para
conseguir um título. E eles não se importavam com isso,
nunca tinham visto como algo anormal. Muito pelo
contrário, casamento por conveniência era algo tão comum
que era quase impossível encontrar um casamento por
amor em Londres, e quando acontecia, muitas vezes era
precedido por um escândalo. O casamento havia se tornado
um comércio bem lucrativo, e somente agora era que ele se
dava conta da veracidade disso.

O motivo de Lizzie era ainda mais nobre do que apenas uma


ascensão social, ou um casamento por conveniência, ela iria
se casar apenas para salvar os irmãos, era quase um
sacrifício que faria pela família. E só agora que ele via que
tinha sido injusto com ela. Mas, talvez, ainda desse tempo
de consertar seu erro.

Capítulo 16 — Fernoy

Naquele mesmo dia Lizzie voltou para casa, ela se sentia


humilhada por ter tido seu plano descoberto, e mais
envergonhada ainda por tê-lo feito. Durante todo o caminho
de volta ela havia pensado sobre os acontecimentos depois
da conversa com o Duque.

A Condessa tinha ficado surpresa com o súbito desejo de


Lizzie de retornar a Fernoy.
Uma volta inesperada. Mas ela foi irredutível e mesmo
contra a vontade da Condessa voltou para casa.

O Conde não presenciou sua partida e para ela tinha sido


melhor assim. A carruagem tinha chegado antes que ele
voltasse e ela partiu sem olhar para trás.

Seu coração doía um pouco mais a cada metro percorrido


pela carruagem, as lágrimas voltaram com força, mas dessa
vez o choro era por um motivo diferente, sentia seu coração
dilacerado: nunca mais veria o Conde, nunca mais sentiria
seu toque, nunca mais ouviria sua voz.

E foi nesse momento que ela se deu conta de que estava


completamente apaixonada por ele.

Quando chegou à noite, naquele dia, a primeira coisa que


fez foi se trancar em seu quarto e chorar, não aceitou ver
ninguém, não podia encarar ninguém ainda. Se sentia
envergonhada e tola. Mas sabia que não poderia ficar ali por
muito tempo, precisava erguer a cabeça e cuidar dos seus
irmãos que estavam preocupados com ela.

E foi pensando neles que no dia seguinte ela levantou cedo


da cama e decidiu organizar toda a papelada do pai. Não
podia apenas depender da doação do Duque chegar, e nem
iria ficar pensando apenas nisso. Chamou seu tesoureiro e
lhe explicou que tinha conseguido ajuda para quitar as
dívidas, e que não iria precisar se casar para isso.

O seu tesoureiro ficou muito feliz em saber que ela tinha


conseguido salvá-los da miséria, mas ela não havia lhe
contado toda a verdade, e se dependesse dela ninguém
mais iria saber.

― Flinn, precisamos aumentar nossos ganhos, sem


aumentar os impostos, precisamos de algo que nos garanta
uma estabilidade financeira — ela disse enquanto
conversavam sobre o baronato.

― Senhorita, o baronato recebe uma quantia fixa por mês


da coroa, estamos apertados por causa dos gastos recentes,
mas isso logo se arrumaria se não fosse pela outra dívida
por causa do Barão de Winsmore — Flinn falou
envergonhado.

― Já consegui o valor dessa conta, o Duque me prometeu


que mandaria o dinheiro até o final da semana. Mas quero
aumentar as rendas para poder devolver a quantia ao
Duque, mesmo que eu passe uma década juntando, mas eu
quero devolver.

― Claro Milady, a senhora está certa, não podemos ficar em


dívida com o Duque, pensarei em algo que possa nos trazer
uma renda a mais, verei o que posso fazer e lhe direi.

― Obrigada, Flinn — Lizzie agradeceu.

― Às ordens, Milady. Ah, seus irmãos devem estar


acordando a essa hora. Eles ficarão feliz em vê-la, já que
ainda não sabem que retornou.

― Claro, irei vê-los imediatamente — Lizzie disse e em


seguida saiu do escritório indo ao encontro de seus irmãos.

Ela chegou ao quarto e eles ainda dormiam como anjos,


Robert com seus doze já estava começando a engrossar a
voz e a agir como um homenzinho e Jeremy de nove anos
imitava seu irmão e o seguia para qualquer lugar. Ela abriu
a janela para o sol entrar como a mãe dela fazia quando ia
acordá-los. Eles coçaram os olhos sonolentos, mas assim
que a reconheceram eles a abraçaram derrubando-a na
cama, sorrindo como não faziam há dias.

Depois do café, Lizzie decidiu andar pela propriedade,


precisava pensar em algo que pudesse render lucros. O
baronato era relativamente grande e tinha boas terras,
talvez se investisse em cultivo pudesse ter um retorno
agradável. Tinha alguns acres que não eram utilizados para
nada, outra ideia poderia ser a pecuária, ovelhas talvez?
Precisaria conversar com Flinn sobre isso quando
retornasse. Continuou andando pelo terreno, observando as
árvores frutíferas plantadas pela mãe ao redor da
propriedade, ali era o pomar dela. Várias árvores estavam
começando a florir, e logo teriam muitas frutas.

Sentia falta do tempo que não precisava se preocupar com


nada, além de não cair de uma dessas árvores, sentia falta
de seus pais, sentia falta de um pouco de paz. Será que era
pedir demais, um pouco de paz e felicidade?

― Lizzie! — Ela ouviu seu irmão mais novo gritar ao longe.


— Lizzie, você tem visita!

Espero que não seja aquele maldito Barão, o Duque não me


mandou o dinheiro ainda.

Ela rezou para que realmente não fosse.

― Eu já vou, diga que me espere no escritório de papai e eu


já o encontro — ela respondeu de volta enquanto retornava
à sua casa.

O Barão tinha ouvido dizer que ela tinha retornado a Fernoy,


e por isso resolveu ir lá conferir se ela tinha conseguido o
dinheiro. Ele esperava que não.

Lizzie se preparou psicologicamente e entrou no escritório.


― Então, minha jovem, conseguiu o meu dinheiro? — ele
perguntou com um sorriso perverso já imaginando que ela
responderia não.

― Consegui sim, devo estar com ele em mãos até o fim da


semana, como foi o acordo —

Lizzie disse se alegrando com a aparente surpresa do


homem.

― Acho bom mesmo estar com ele em mãos até o fim da


semana ou eu vou ficar com as terras — ele ameaçou
irritado.

― Não se preocupe, terá seu maldito dinheiro — Lizzie


respondeu irritada e enojada com aquele homem. ― Espero
nunca mais vê-lo andando nas nossas terras depois disso.

― Não me provoque garota, não vai me querer ter como


inimigo. Posso acabar com você sem nem pensar duas
vezes. — Ele ficou furioso e se virou para sair.

― Quero vê-lo tentar, velho miserável — Lizzie respondeu


para as paredes, pois o Barão já tinha ido embora. — Que
homem desprezível.

Lizzie se recostou na cadeira e fechou os olhos, esperava


que o Duque não demorasse a

mandar sua parte do acordo. Pensar no acordo lhe lembrou


do Conde. Como ele estaria? Será que tinha ficado chateado
com sua partida? O que será que ele deve estar pensando
agora?

Por ela estar de olhos fechados não o viu entrar, e por estar
absorta em pensamentos não percebeu sua presença.
― Por que você foi embora? — ele falou e ela abriu os olhos
assustada ao encarar o Conde. Quando não obteve resposta
ele repetiu a pergunta. ― Elizabeth, por que você foi
embora?

Ela viu mágoa no olhar dele, e algo que parecia medo. Ele
estava com o semblante cansado, não dormia desde que ela
tinha ido embora. Havia ido para casa quando saiu da casa
do Duque e, ao conversar com a Condessa, ela insistiu que
ele fosse a Fernoy saber o que aconteceu.

Na manhã seguinte ele tinha pegado uma carruagem. Não


tinha dormido em nenhum momento desde que ela foi
embora, até tentou, antes de viajar a Fernoy, mas não
conseguiu. E agora estava ali com a roupa amassada da
viagem, porque a maldita carruagem tinha quebrado já no
fim da viagem e ele teve que alugar um cavalo para chegar
ali.

― Não era para você estar aqui — ela falou simplesmente.

― Não me importo! Responda à pergunta — ele ordenou


ficando irritado.

― Não importa porque eu vim — ela disse triste, não podia


deixá-lo saber de nada, tinha prometido ao Duque e não
podia descumprir a promessa, não enquanto não
devolvesse cada centavo e então ela contaria tudo, mas não
agora, não podia. — O senhor deveria voltar para Londres.

― Eu só saio daqui quando me contar o que aconteceu


entre você e Phillip! O que ele disse para você ir embora
daquele jeito? — o Conde perguntou furioso.

― Não foi culpa dele, foi minha, eu nunca deveria ter ido
para Londres para começar —
Lizzie respondeu desviando os olhos do Conde, não
conseguia encará-lo.

― O que você está me escondendo, Lizzie? Por que não me


conta a verdade?

― A verdade, às vezes, pode doer mais do que a mentira,


Milorde. Não quero magoá-lo

― Lizzie disse com os olhos enchendo de lágrimas.

― Então tudo que vivemos não significou nada para você?


— ele perguntou com o coração partido tocando o rosto dela
e apelando para o sentimento que havia entre os dois. ―
Vai jogar tudo fora por não querer me contar a verdade?

― É exatamente por tudo que passamos que eu não posso


contar, não posso suportar te machucar tanto — ela disse
fugindo do toque dele.

― Acredite, mentir para mim é muito mais doloroso. Mas, se


não quer me contar a verdade e prefere continuar mentindo
para mim, você não é diferente das outras mulheres que
conheci — o Conde disse se virando para ir embora.

― Sinto muito. Não queria lhe magoar.

― Não queria? Tenho minhas dúvidas! — O Conde se virou


bruscamente usando de ironia e desprezo em seu tom. —
Se não quisesse me magoar, não esconderia nada de mim.
Mas acho que eu me enganei, não foi? Ou, talvez, eu
estivesse certo o tempo todo, você é igual a todas as
mulheres fúteis e manipuladoras. Sempre escondendo
segredos e usando as pessoas. E eu, tolo como sempre, me
apaixonei por você.
Assim que ele virou as costas e saiu do escritório, Lizzie
irrompeu em lágrimas. Ele tinha dito que tinha se
apaixonado por ela. E ela também tinha se apaixonado por
ele. Mas agora eles não poderiam ficar juntos, ela o tinha
magoado de qualquer forma. Ele nunca confiaria nela, saber
daquilo aumentou ainda mais a dor que já sentia.

Não poderia fazer nada. Contar a ele que tentou enganá-lo


apenas confirmaria o que ele achava dela. Mas continuar
escondendo não mudaria nada. E se fosse o contrário, ela
iria gostar de saber a verdade, mesmo que doesse como o
inferno.

Diante desse pensamento ela correu ao encontro do Conde.


Dane-se a promessa feita ao D

uque, não poderia continuar mentindo para Daniel.

― Daniel, espere! — ela gritou quando o viu ir embora. Ele


não pareceu ouvi-la e seu cavalo continuou o galope se
distanciando ainda mais.

E algumas lágrimas silenciosas caíram de seu rosto quando


ela não pôde contar a verdade a ele.

O Conde seguiu a galope, a fúria o instigando a ir cada vez


mais rápido. Onde estava com a cabeça para ter ido atrás
dela. Se ela gostasse pelo menos um pouco dele não teria
ido embora daquele jeito.

Seu tolo! Quantas vezes ainda vai acreditar nas mulheres?


Ele se recriminou.
― Daniel! Pare! Vai se matar desse jeito. — O Conde ouviu
uma voz familiar lhe chamar.

Era o Duque.

― Era só o que me faltava. Vai pro inferno, Phillip, me deixa


em paz. — O Conde amaldiçoou e continuou o galope.

― Maldição, homem, eu vim lhe contar algo importante! —


As palavras do Duque o fizeram parar bruscamente e por
pouco não foi jogado do cavalo por causa do movimento
súbito.

― O que você quer? — ele perguntou ao parar


completamente o animal e ficar de frente para o Duque.

― Quero lhe contar a verdade sobre Lizzie — Phillip disse.

― Seja o que for, não quero saber. — O Conde se irritou e


voltou a incitar o animal que recomeçou a andar.

― Não quer saber o motivo dela ter partido? — o Duque


instigou. Sabia que o Conde iria querer saber a verdade.

― Por que quer me contar agora e não contou antes? — o


Conde respondeu com uma pergunta.

― Porque só agora percebi meu erro — o Duque confessou


envergonhado.

― O que você fez? — O Conde deu a volta com o cavalo,


ficando de frente para ele, furioso.

― Eu julguei mal e a fiz ir embora, pensando que estava


protegendo você.

― Continue — o Conde disse entredentes, precisava saber


de tudo.
― Quando a visitei ontem, encontrei uma lista que tinha um
passo a passo para seduzir você.

― Me seduzir? — O Conde riu cortando o amigo — O que


dizia essa lista?

― Beijar o Conde apaixonadamente, dar algumas


liberdades, levar o Conde para a cama…essas coisas — o
Duque explicou. — Ela queria fazer você gostar dela para
que se casasse com ela.

― Lizzie disse que não queria se casar. — O Conde franziu


as sobrancelhas ao ouvir aquilo.

― Eu lembro que tinha me dito isso quando falou da aposta


que perdeu com sua tia. E ela também tinha dito isso no
baile. Ou, pelo menos, algo do tipo — o Duque explicou.

― Onde quer chegar? — o Conde perguntou.

― Lizzie não queria se casar, até que ela se viu obrigada a


tal coisa. Ela, então, decidiu procurar um marido porque não
tinha outra opção. E ela escolheu você porque acho que ela
gosta de você, caso contrário, não se preocuparia em fazer
você feliz caso se casasse com ela.

― Ela disse isso? — o Conde perguntou desconfiado.

― Sim. Ela disse que não queria te magoar e que faria de


tudo para ser uma boa esposa, e que cuidaria de você.
Passei o caminho todo me lembrando da nossa conversa, e
lembrei que ela disse que havia desistido de seguir a lista,
pois não suportaria enganar você.

― Em que ela me enganaria, homem? Diga logo de uma


vez! — o Conde exigiu.
― Lizzie está endividada, e eu não sei o motivo das dívidas,
apenas que ela encontrou no casamento a solução para
salvar a si e a seus irmãos da miséria ― o Duque explicou e
ao ver o choque no rosto do amigo ser substituído pela
mágoa, ele tentou logo fazer o amigo entender. —

Mas ela havia desistido do plano, disse que não poderia


mais engana-lo.

― Acho que ela não desistiu de me seduzir. E eu quase a


levei para cama. — O Conde riu reprovando a si mesmo.

― Foi esse o meu primeiro pensamento, Daniel. Achei que


ela estaria te enganando. Mas aí, a Phillipa me fez abrir os
olhos.

― Sua irmã sabe também? — o Conde perguntou furioso.

― Não, homem, ninguém sabe. Mas ela falou algo sobre as


mulheres serem criadas apenas para arrumar casamento.

― E o que isso tem a ver? — o Conde perguntou ácido.

― Se fosse você que estivesse endividado, e não soubesse


nada de como cuidar de um condado, se não soubesse nada
sobre investimentos…pense, homem! Se você fosse uma
mulher e a única coisa que aprendeu fosse como conseguir
um marido, o que faria se tivesse que salvar sua família?

― Está dizendo que isso justifica o que ela tentou fazer? —


o Conde perguntou.

― Não, maldição, nada justifica enganar. Só estou dizendo


que ela não queria fazer isso, mas a necessidade a obrigou.

― Você faria o mesmo para proteger Phillipa? — o Conde


perguntou.
― Eu faria o mesmo, e talvez ainda mais para proteger
Phillipa, mesmo que isso significasse casar com uma viúva
rica e feia. Mas, o que quero dizer, é que ela não teria
desistido se não gostasse de você, e acredito que gosta dela
também.

― Isso não importa, eu dei a chance a ela de falar a verdade


e ela preferiu continuar me enganando.

― Eu fiz um acordo com ela para que ela não contasse


nada. — o Duque confessou.

― Mesmo assim, ela podia ter contado a verdade. — O


Conde continuava irritado e ferido.

― Você contou a ela sobre sua aposta com a Condessa? — o


Duque perguntou apelando para a consciência do Conde.

― Não tem nada a ver. — o Conde se defendeu.

― Mas se ela por acaso descobrisse? Ela iria achar que


também foi usada, que você

tentou seduzir ela também. Ou está se esquecendo disso?


Você tentou provar a sua tia que ela queria se casar e, para
isso, tentou seduzir ela também. Então acho que não pode
culpá-la por escolher você como alvo.

― Uma coisa nada tem a ver com a outra.

― Será mesmo? — o Duque insistiu. — Se ela precisava de


dinheiro, ela poderia ter escolhido qualquer um, inclusive
eu, já que dancei com ela no baile, e até insinuei que me
casaria com ela se estivesse procurando uma noiva.

― Você disse o que? — O Conde ficou furioso ao imaginar o


Duque se casando com Lizzie.
― Eu disse que me casaria com ela, e pensando nisso
agora, até que não é uma má ideia.

— O Duque sorriu ao ver a reação do Conde e teve a ideia


perfeita. — Eu fui injusto com ela, e estava tentando
consertar meu erro, mas já que você não vai deixar de ser
cabeça dura, acho que vou propor casamento para ela e
salvar ela da maldita dívida.

― Sua mãe teria um troço ao saber que ela é apenas a filha


de um Barão.

― Quando ela se casar comigo, será uma Duquesa e a


mamãe vai se calar quando receber o primeiro par de netos
para cuidar. — O Duque falou como quem já fazia os planos
para o casamento. — E, como ela tinha uma lista de passo a
passo do que fazer, acho que não teremos dificuldades de
produzir as crianças. E ela é muito bonita também, ainda
me lembro dela dançando comigo no baile…acho que
teríamos filhos lindos.

Aquelas palavras deixaram o Conde furioso. Ele deu um


soco no rosto do amigo que acabou se desequilibrando e
caindo do cavalo, por pouco não se machucando
seriamente.

― Nunca mais pense nela como sua. Nem por cima do meu
cadáver vai se casar com ela!

Ela é minha! — o Conde ameaçou pulando do cavalo e indo


para cima do amigo que estava no chão rindo. — Eu vou
tirar esse sorriso do seu rosto junto com os dentes, seu
imbecil.

― Eu sou o imbecil e é você que está indo embora deixando


para trás a mulher que diz ser sua. Daniel, ela não é a
Letícia, e eu percebi isso ontem mesmo enquanto a
mandava embora.

Enquanto Letícia queria lhe enganar apenas para proteger a


si mesma, Lizzie fazia isso pela família dela, para ela família
é algo importante e ela é capaz de se sacrificar pela dela.
Eu teria o maior prazer em fazer parte da família dela. Acho
que você deveria dar mais uma chance a garota.

Converse com ela, exponham todos os segredos. Acredito


que você a ama, e ela sente o mesmo por você.

O Conde se jogou sentando-se ao lado do Duque. De


alguma forma, ele tinha razão.

Queria pelo menos ouvir da boca dela tudo isso. E se depois


de tudo a raiva dele fosse maior que o amor por ela, ele iria
embora para sempre e nunca mais pensaria nela.

― Você é um tolo — Daniel xingou o amigo.

― É algo que temos em comum — o Duque devolveu.

― Isso e nosso azar com mulheres. — O Conde riu.

― Mas sua sorte está mudando, amigo, a minha continua a


mesma.

― Eu vou para casa, mais tarde parece que vai chover e eu


quero estar pelo menos abrigado quando a chuva cair — o
Duque disse olhando para o horizonte que estava
escurecendo por causa das nuvens pesadas. E olhando de
volta para o Conde brincou. — Acredito que, mesmo que
você seja um idiota, ela não iria querer se casar comigo
mesmo. Mas me faça o favor e entregue isso para ela.

― O que é isso? — o Conde perguntou desconfiado


― Esse é o motivo dela não ter lhe contado e saído antes
que chegasse. — o Duque

explicou. ― Faz parte do nosso acordo. Eu prometi ajudar


ela com as contas se ela prometesse não te contar nada e
te deixar em paz.

― Que acordo idiota, você merecia um murro por causa


dele, mas fico feliz em saber que ela não me contou a
verdade por causa do acordo e não porque queria continuar
me enganando.

― Não demore muito, ou ela pode desistir de receber você.

O Duque desejou boa sorte ao amigo, se despediu, subiu no


cavalo e voltou para sua casa em Londres. Sua consciência
estava leve, pois tinha feito o melhor para consertar seu
erro.

Capítulo 17 — Erros e acertos

Lizzie tinha ficado no mesmo lugar vendo o Conde partir.


Sentia seu coração doer e só queria sumir e fazer a dor
passar. Sentou-se ali mesmo e deixou as lágrimas correrem
soltas, se permitindo chorar apenas uma última vez.

Não podia se arrepender de ter tentado proteger a família


dela, se pudesse voltar no tempo faria diferente, mas não se
arrependia de ter tentado do jeito dela.
Então quando as lágrimas cessaram ela ergueu a cabeça
disposta a recomeçar sua vida.

Cuidaria de seus irmãos, tomaria conta do baronato de seu


pai e faria o que estivesse ao seu alcance para proteger sua
família. E com esse pensamento ela voltou para casa.

O Conde olhava o papel em suas mãos, ali estava o motivo


de Lizzie ter voltado para lá e também de não ter lhe
contado o motivo de sua partida. Agora ele entendia tudo.
Mas não seria fácil conversar com ela. O que ele deveria
dizer? Que a perdoava? Que não se importava? Que ela
tinha tido seus motivos? Era um começo, mas ainda não era
suficiente.

Ele se levantou e montou em seu cavalo, podia ainda não


saber o que dizer, mas não poderia ficar ali para sempre,
mesmo que quisesse adiar ao máximo o encontro com
Lizzie. A noite já escurecia o céu, e o tempo esfriava
consideravelmente, parecia que o tempo estava dando um
empurrão para ele tomar logo coragem e voltar para a
mulher que amava. Algumas gotas começaram a molhar
sua pele e ele esporeou sua montaria para tentar não se
molhar tanto, mas não teve sorte, e quando bateu à porta
da Mansão Fernoy, estava completamente encharcado.

O mordomo abriu a porta e ao ver o estado do Conde,


imediatamente mandou chamar Lizzie, que se surpreendeu
ao vê-lo ali e ainda mais naquele estado.

O que ele estava fazendo ali? Por que tinha voltado? Ele a
olhava com um sorriso de lado, mas seu olhar parecia pedir
desculpas.

Ao perceber a confusão no rosto dela, o Conde deu um


passo à frente e começou a falar.
― Eu vim lhe dizer que a…tchim. ― Um espirro o
interrompeu antes que pudesse completar a frase.

O espirro do Conde despertou Lizzie para a realidade, se o


Conde continuasse ali, molhado e gelado, iria adoecer e ela
não podia permitir que ele ficasse doente.

― Seu tolo! O que deu em você para andar nessa chuva?


Quer ficar doente é? — ela brigou com ele. — Eu juro por
Deus que se ficar doente eu vou mandar chamar a sua tia e
vou obrigar você a tomar o chá dela.

Diante daquelas palavras o Conde começou a rir, mas parou


assim que uma rajada de vento passou por seu corpo
fazendo-o tremer dos pés à cabeça por causa do frio.

― Eu precisava te falar uma coisa — ele disse com o nariz


começando a entupir, e sua voz saiu fanhosa por causa
disso.

― Seja o que for vai ter que esperar, venha, não pode ficar
assim. ― Lizzie estava preocupada com o estado do Conde
não se importando com a conversa que tiveram mais cedo e
muito menos com o que ele tinha para lhe dizer, apesar de
curiosa, ela estava mais preocupada que ele ficasse doente.

― Eu…atchim! ― Outra vez o Conde espirrou sem conseguir


formular a frase inteira.

— Walter, por favor, peça a Mary para trazer um balde de


água quente, e ao Peter para colocar mais lenha na sala de
visitas, aproveite e mande uma das meninas me trazer um
cobertor quente. Ele precisa se secar rápido ou vai ficar
doente.

Assim que Lizzie terminou de falar, o mordomo desapareceu


casa adentro para cumprir o que ela tinha pedido.
— Obrigado — ele agradeceu enquanto tentava evitar outro
espirro. E ela percebeu que ele tremia, o que a fez se
apressar para chegar à sala e cuidar dele.

Os dois seguiram em um silêncio que era quebrado apenas


por um espirro ou outro.

Vendo que o Conde parecia preocupado Lizzie decidiu


brincar.

— Você está parecendo um pinto molhado — Lizzie disse


repetindo o apelido que sua mãe tinha dito nas inúmeras
vezes que seu pai havia chegado naquele estado.

― Pinto molhado? — o Conde disse fingindo ter tido o


orgulho ferido. ― Sou, no mínimo, um galo!

― Tá bom, senhor galo. Venha, sente-se aqui. — Lizzie sorriu


com a brincadeira enquanto puxava uma cadeira para perto
da lareira. ― Você vai ter que tirar a roupa — Lizzie disse
com um sorrisinho ao ver o Conde olhar para ela e levantar
uma sobrancelha. — Se ficar com as roupas molhadas não
vai conseguir se esquentar rápido — ela explicou corando.

― Não era assim que eu planejava ficar sem as minhas


roupas. — o Conde disse enquanto tirava o casaco e Lizzie
não conseguia desviar a vista dos movimentos que seu
corpo fazia para remover a peça de roupa.

Ele suspirou aliviado quando sentiu a primeira onda de calor


vinda da lareira, aquecer seu corpo, realmente estava com
muito frio e seu corpo todo estava congelando.

Alguns minutos depois, chegou a água quente e o cobertor


e Lizzie finalmente conseguiu desviar o olhar do corpo do
Conde.
― Minha senhora, com todo respeito, deixe que eu e
Margareth cuidemos disso, não é bom que a senhora fique
na sala com um homem seminu, ele pode fazer algo com a
senhora. —

Uma das criadas a chamou de lado e pediu baixinho


preocupada com a reputação da sua senhora.

― Não se preocupe, Meg, o Conde é honrado, e ele pode


ficar doente. Peça aos criados que guardem segredo de sua
presença aqui, eu confio no Conde, ele não irá me fazer mal
— ela tranquilizou a criada, que sempre trabalhou ali e era
de inteira confiança. — Por favor, prepare um quarto para o
nosso convidado, acredito que essa chuva não vai passar
até amanhã e, mesmo que passe, não é seguro que ele
viaje sozinho à noite. Ah, antes de ir arrumar o quarto, peça
que a cozinheira esquente e traga um pouco da sopa que
sobrou da janta.

― Tudo bem, senhorita ― A criada disse, mas ainda estava


preocupada. — Se precisar de qualquer coisa, é só chamar.

Enquanto ela conversava com a criada o Conde a olhava


admirado, ela era incrível, bondosa e prestativa. Ele não
tinha como não ter se apaixonado por ela. Estando ali ao
lado dela e recebendo os cuidados que ela lhe dava, o
Conde percebeu que não podia deixa-la longe de sua vida.

Quando ela retornou para junto do Conde ele estava


sorrindo para ela, e era um sorriso

encantador. O sorriso dele fez seu coração se aquecer, mas


ela se lembrou de tudo que havia escondido dele. E tudo
que tinha feito.

― Obrigado! — ele disse quando ela se abaixou ajudando-o


a tirar as botas e lhe deu um cobertor quente. ― Obrigado
por cuidar de mim tão bem.

― Bom, o senhor cuidou de mim também quando adoeci,


me acolheu em sua casa, então acho que é o mínimo que
posso oferecer — ela respondeu corando ajoelhada ao seu
lado.

O Conde sentiu a necessidade de tocar nas bochechas


vermelhas dela, e não conseguiu se controlar. Fez
exatamente o que tinha tido vontade.

O encaixe do rosto de Lizzie na sua mão era perfeito e ela


instintivamente fechou os olhos e se recostou em sua mão.

― Gostaria de me desculpar pela forma que agi mais cedo,


eu não estou acostumado a não saber das coisas. Sinto
muito por lhe ofender — ele disse enquanto a olhava com
intensidade.

Lizzie abriu os olhos surpresa com o pedido de desculpas.


Ele a tinha ofendido, mas ela tinha mentido para ele e
tentado enganá-lo. Então ele não tinha toda a culpa pelo
que disse.

― Sinto muito por não poder lhe contar. Eu prometi que não
contaria ― Lizzie explicou.

― Eu sei, Phillip me contou tudo.

― Conversou com o Duque? — Lizzie perguntou surpresa. —


Quando?

― Eu o encontrei mais cedo quando estava indo embora, ele


tinha vindo se desculpar com você ― o Conde explicou ―
Ah, ele mandou te entregar isso, mas infelizmente molhou.
Lizzie pegou a carta molhada e sentiu seus olhos arderem
quando viu o que tinha dentro.

Era a promissória com exatamente a quantia que ela tinha


dito que precisaria para pagar a dívida, mas ela não poderia
usar, pois a assinatura do Duque estava completamente
manchada de tinta que tinha escorrido por causa da chuva.

Lizzie olhou para a carta e sentiu o desespero possuí-la.

― Algum problema? ― o Conde perguntou ao ver o olhar de


sofrimento dela, mas ele já sabia a resposta. Tinha deixado
a carta molhar de propósito. Não queria que Lizzie
precisasse do Duque. Não quando ele poderia ajudar.

― Está toda molhada. Ele não vai aceitar ― Lizzie falou em


um fio de voz. ― Como eu vou pagar a dívida agora?

― Ele? Quem é ele? — o Conde perguntou com raiva na voz.


Seja quem for, ele já não tinha gostado.

― Não é ninguém. — Lizzie disse, não precisava que o


Conde soubesse de seus problemas.

Daniel viu a intensão de Lizzie, e decidiu que não podia


deixa-la passar por isso sozinha.

― Lizzie, por favor, conta para mim — o Conde pediu


prestativo. ― Eu posso ajudar.

Confia em mim. Seja o que for, eu vou te ajudar.

Lizzie então se permitiu deixar o orgulho de lado.

― Meu pai pediu dinheiro emprestado para o Barão de


Winsmore, era um valor pequeno, mas que tinha juros
altíssimos por ano. Não sei como, mas o Barão disse que
meu pai não pagou essa dívida e agora, cinco anos de juros
fizeram a dívida chegar a quarenta e oito mil oitocentos e
vinte oito libras. Por isso, eu precisei ir a Londres, o Barão
tinha me dado três semanas para conseguir o dinheiro, e
quando finalmente consegui com o Duque o valor
necessário, acontece isso. Não tenho nada e no fim da
semana ele vai estar aqui cobrando mais uma vez a dívida.

― Ele lhe ameaçou? — o Conde perguntou furioso.

― Não me ameaçou diretamente, mas a dívida diz


claramente que se não for paga, eu

terei que entregar parte das terras como pagamento. E eu


não posso permitir que ele fique com as terras que
pertencem à minha família.

― Não se preocupe, ele não vai ficar com as terras. — o


Conde disse.

― Mas eu não tenho com o que pagar a dívida — Lizzie


informou triste.

― Mas eu tenho — o Conde respondeu decidido. ― E se


depender de mim, esse homem nunca terá nada que lhe
pertence.

Lizzie olhou para ele e ele viu um fio de esperança em seus


olhos e sentiu seu coração aquecer ao saber que era ele a
esperança dela.

― Eu nem sei o que dizer — Lizzie confessou agradecida. ―


Sinto muito por ter tentado te enganar, e por ter tentado te
fazer casar comigo.

― Não se preocupe, eu também não fui exatamente um


santo. ― O Conde ficou envergonhado pelo que diria a
seguir, mas era necessário, para o que ele queria fazer
precisaria não ter segredos com Lizzie — Eu apostei com
minha tia que você era interesseira — ele confessou.

― Quando? — Lizzie perguntou surpresa e um pouco


ofendida.

― Na primeira vez que esteve em minha casa. E para


ganhar a aposta eu tentei mostrar a ela que você não se
importaria em casar comigo já que eu tinha muito dinheiro.
Por isso, tentei te mimar com presentes, e te beijei.

De tudo que ele tinha dito, nada ofendeu mais Lizzie do que
saber que o beijo que ele tinha lhe dado não passava de
uma aposta estúpida.

― Você me beijou para ganhar a aposta? —ela perguntou na


esperança de ter ouvido errado.

O Conde percebeu aonde ela queria chegar.

― Sim, eu a beijei para tentar seduzi-la e mostrar que


qualquer mulher se interessaria por um Conde, mesmo as
que diziam não querer casar, mas não esperava que aquele
beijo acabasse me seduzindo. Você era diferente de todas
as mulheres que eu conhecia, não dizia apenas o que eu
queria ouvir, tinha personalidade, e era teimosa, e isso me
deixava louco e eu amava isso em você.

― Você amava isso em mim? — Lizzie perguntou sem


acreditar no que ouvia. Ele dizer que amava algo nela,
parecia tão surreal.

― Isso e muito mais ― ele respondeu. — E depois você


tentou me seduzir e, acredite, conseguiu. Cada momento
que passávamos juntos eu te desejava, e quando você ficou
doente eu nunca me senti tão preocupado e ao mesmo
tempo tão feliz por cuidar de alguém. Você era uma
péssima doente, mas eu adorava passar no seu quarto
escondido e conversar com você. Você me viciou em você
Elizabeth, me viciou em suas conversas petulantes, em seus
lábios doces e em sua personalidade forte. E quando você
foi embora sem me dizer nada, eu senti um pedaço de mim
se quebrar.

Lizzie o olhava sem palavras, não sabia o que dizer diante


daquilo, ela sempre tinha sido apaixonada por ele, primeiro
pelo que idealizava do Conde, mas depois foi conhecendo-o
e se apaixonou pelo que ele realmente era, mesmo ele
sendo cabeça dura e insuportável às vezes, ela tinha se
apaixonado por ele.

― Eu gostaria que você se levantasse — o Conde pediu e


Lizzie se levantou do seu lado sem entender o motivo até
que ele a puxou bruscamente e ela caiu sentada de lado em
seu colo.

― O que está fazendo? — ela perguntou envergonhada pela


posição em que estava e também por ele estar sem blusa.

― Estou apenas me esquentando em você — o Conde


respondeu brincalhão, mas em seguida ficou sério. — Eu
preciso que me diga que me perdoa, por ter te ofendido.

― Acho que nós dois erramos, então podemos dizer que


estamos quites — ela disse corando.

― Acho que é injusto — o Conde replicou sorrindo de lado, o


que fez o coração de Lizzie acelerar.

― Por que é injusto? — Lizzie perguntou quando ele não


falou nada.
― Porque eu não só tentei ganhar a aposta, eu fiz o que
tinha planejado fazer…já você não fez tudo o que tinha na
tal lista, então acho que para ficarmos quites terá que
cumprir o que tem lá…a propósito o que era mesmo?

Lizzie corou ao se lembrar da lista, ela sabia de cor cada


palavra escrita nela.

― Escolher o pretendente — ela começou a dizer a


sequência do que tinha na lista.

― Essa aí já está feita — o Conde disse se divertindo. —


Acredito que o pretendente seja eu. Próxima.

― Chamar a atenção dele — ela continuou.

― Essa também…próxima — ele pediu a abraçando pela


cintura. ― Você tem toda minha atenção.

― Mostrar que o deseja — ela disse corando novamente.

Dessa vez ele tocou seu rosto e a puxou para si, mas em
vez de sua boca ele foi direto ao seu pescoço causando um
arrepio em Lizzie.

― Seu corpo eu sei que me deseja, mas e você? — ele


perguntou com os olhos escurecidos de desejo. ― Você me
deseja, Lizzie?

― Sim — ela sussurrou diante do olhar que ele lhe dava e


mordeu o lábio em antecipação ao que viria.

― Próxima da lista — ele pediu sorrindo com a resposta e o


gesto dela.

― O beijar com paixão — ela disse e ele lhe deu seu melhor
sorriso cafajeste e em seguida a beijou.
Ele fez exatamente o que a lista pedia, a beijou com paixão,
segurando sua nuca enquanto invadia sua boca com a
língua e a explorava. Ela era doce e curiosa, e retribuiu na
mesma intensidade o beijo que se tornava cada vez mais
intenso para os dois. As mãos dele percorreram o corpo
dela, enquanto que as dela se afundaram nos cabelos dele,
puxando-o em direção a ela o impedindo de interromper o
beijo, algo que ele não cogitava fazer, não quando beijá-la
era tudo que ele queria continuar fazendo.

Ele estava cada vez mais duro com a intensidade do beijo e


ela, percebendo a dureza embaixo de si, levou a mão até
seu membro entendendo o que ele queria. Quando ela o
tocou por cima da calça, ele gemeu e imediatamente
interrompeu o beijo antes que a tomasse ali mesmo e não
conseguisse chegar ao final da lista, apesar de acreditar que
o final da lista seria exatamente isso e estava ansioso para
chegar nesse item.

Ele interrompeu o beijo gentilmente. Ela estava com os


lábios avermelhados e ele com um sorriso enorme nos
lábios.

― Próxima da lista? — ele perguntou e ela sorriu.

― Bancar a difícil — ela disse depois de repassar a lista do


começo, pois tinha se perdido depois do beijo.

― Mas isso você já é, sua teimosa — ele disse brincando


enquanto dava um selinho na boca dela. — Próxima.

Ela riu com a brincadeira dele ficando completamente à


mercê dele.

― Beijar de novo e deixá-lo provar um pouco do que oferece


— ela disse e ele sorriu ainda mais. — E incentivar os seus
avanços.
― Estou gostando muito dessa lista. Mas o que é provar um
pouco do que oferece? —

ele perguntou e dessa vez foi ela quem sorriu.

― Segundo o livro, é deixar que me toque aqui — ela disse


levando a mão aos seios.

Ele ia perguntar a ela que livro era esse, mas ela baixou
uma manga de seu vestido, expondo o topo de seu seio, e
ele esqueceu o que ia dizer ficando hipnotizado com o
movimento.

Era uma tentação aquele gesto, o instigava a abaixar o


resto do vestido dela, e quando ela repetiu o movimento na
outra manga, ele não resistiu e puxou o vestido dela para
baixo deixando os seios pequenos e redondos livres para
que ele usufruísse o que ela oferecia.

Ele caiu de boca em um de seus seios enquanto que, com a


mão, ele torturava o outro, apertando seu mamilo entre os
dedos. Lizzie gemia com aquela tortura e isso só o deixava
mais excitado. Ele mordia de leve o mamilo que estava em
sua boca e brincava com a língua ao redor do mesmo,
depois chupava com força o mamilo e então quando esse
estava bem retesado tirava de sua boca e partia para o
outro seio. Quando viu que estava perto de perder o
controle de novo ele parou.

Lizzie ficava mais e mais molhada e apertava suas pernas


na tentativa de diminuir a tortura que sentia em seu ventre.
Ela gemia com as sensações que o Conde causava em seus
seios.

E então subitamente ele parou.


― Qual a próxima? — Dessa vez ele perguntou sem tirar os
olhos dos seios dela e parecia faminto.

― Excitar o pretendente — ela disse e ele ergueu a cabeça


dando um sorriso enorme e safado para ela. Em seguida ele
pegou a mão dela e a levou para a calça dele mostrando a
ela a evidencia de sua excitação.

― Tarefa cumprida, meu amor. Já estou


desconfortavelmente e completamente excitado

— ele disse tornando a beijá-la enquanto se movia embaixo


da mão dela.

― Está desconfortável? — ela perguntou

― Um pouco, mas apenas porque está meio apertado aqui.

― Oh, claro — ela disse e se levantou do colo dele, arrumou


seu vestido, pensando que era ela que estava deixando-o
desconfortável por estar no colo dele.

Ele tinha afastado a água morna com os pés, já estava bem


quente, o cobertor de suas costas tinha caído enquanto ele
a beijava e agora ele estava só com as calças diante dela.

Antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, a porta foi


aberta e a criada entrou trazendo consigo a sopa que ela
havia pedido.

― Aqui está a sopa, Milady. ― A criada era uma que


trabalhava na cozinha e quando Lizzie viu que ela não tirava
os olhos do corpo do Conde ficou com ciúmes.

― Obrigada, Bia, agora pode voltar para a cozinha — ela


pediu ríspida e a criada percebendo o olhar irritado dela
voltou para a cozinha com um sorriso compreensivo no
rosto.

Ao ver a cena o Conde soltou uma risada alta.

― Do que está rindo? — ela perguntou irritada com a


situação.

Ele se levantou e a abraçou por trás encostando todo seu


corpo no dela.

― Do seu ciúme da criada — ele sussurrou na orelha dela.

― Eu não estava com ciúmes! — ela negou

― Admita logo, sua teimosa. — Ele brincou beijando sua


orelha.

― Venha, vou arrumar uma blusa para você antes que todas
as minhas criadas percam seus olhos em seu corpo e eu
tenha que mandar todas embora.

― Aha! Eu não disse que estava com ciúmes? — ele acusou


rindo ainda mais. ― Aonde vamos? — o Conde perguntou
enquanto subia as escadas atrás dela.

― Mandei que lhe preparassem um quarto. Lá tem algumas


mudas de roupa que eram do meu pai, acho que algumas
devem dar em você. Se não se importar em vestir roupas
dele.

― Acho que não vou precisar de roupas — ele disse olhando


faminto para ela.

― Tudo bem então, suas roupas devem estar secas pela


manhã, então poderá vesti-las —
ela explicou não entendendo o que ele quis dizer. ―
Chegamos, espero que o quarto esteja do seu gosto.

― Falta só uma coisa para ele estar do meu gosto — ele


disse quando ela abriu a porta.

― O quê? — ela perguntou franzindo a testa.

― Você nele comigo — ele disse se aproximando dela e não


lhe dando outra opção além de entrar com ele.

Ele fechou a porta atrás de si.

― Então tem mais alguma coisa na lista? — o Conde


perguntou andando na direção dela, que dava um passo
para trás a cada passo que ele dava a seu encontro. E sem
ela perceber ele a fez andar até a beira da cama e quando
ela chegou lá ele deu o último passo fazendo-a cair de
costas na cama.

Lizzie corou profundamente. Faltava apenas o último item


da lista e ela nunca achou que chegaria nele. Se o fizesse,
não teria mais volta, entregaria sua virgindade a ele. Ele
tinha dito que a ajudaria nas contas, mas não falou nada em
amor, apenas paixão, e disse que amava algumas coisas
nela, mas não disse que a amava. E se ele não a amasse? E
se depois que ele a tivesse, toda a paixão que sentisse por
ela fosse embora?

― Você está bem, meu amor? — ele perguntou ao ver que


ela parecia pensativa.

― Dar a ele a melhor noite de sua vida — ela disse


fechando os olhos e tomando sua decisão.

― O quê? — ele perguntou sem entender, mas antes que


ela pudesse explicar os olhos dele escurecerem assim que o
significado daquela frase ficou claro. ― Você quer me dar
isso? —

ele perguntou, pois sabia o que aquilo implicava.

Ela já tinha tomado sua decisão, não faria isso como


agradecimento por ele ter se disposto a pagar a dívida dela,
e muito menos porque ele a desejava, faria isso porque ela
queria, porque ela o desejava.

― Sim. Eu quero lhe dar isso — ela disse decidida.

O Conde então a beijou pressionando seu corpo sobre o


dela. O beijo dessa vez foi lento, ele a degustava aos
poucos enquanto as mãos dele percorriam o corpo dela por
sobre o vestido.

Lizzie gemia embaixo dele e suas mãos se afundavam nos


cabelos do Conde. Ela queria aquilo, queria tudo que ele
pudesse lhe oferecer e não se arrependeria.

― Segure-se em meu pescoço — ele ordenou e ela fez


exatamente o que ele pediu.

Ele a puxou erguendo o corpo com ela junto e se sentou na


cama a colocando em seu colo. Voltou a beijá-la e dessa vez
fazendo com que ela sentisse todo desejo que ele possuía.

As mãos do Conde dessa vez tinham um alvo, os botões do


vestido de Lizzie. E ele trabalhou habilmente para abrir o
vestido dela. Deu graças por ela estar usando um vestido
simples, e não um daqueles cheios de camadas e mais
camadas. Então em poucos instantes ela estava com o
vestido completamente aberto.
Ele desceu as mangas do vestido dela lentamente e a cada
centímetro de pele exposta ele depositava um beijo onde
antes estava coberto. Ele beijava seus ombros e vez ou
outra voltava para seu pescoço. Quando desnudou seus
seios novamente, caiu de boca neles. Tinha adorado o sabor
e a textura deles em sua boca. Ele podia facilmente se
perder ali.

Lizzie gemia com as sensações que a boca do Conde lhe


causava e sentia cada uma dessas sensações se acumular
no meio de suas pernas. Ele a deitou novamente depois de
baixar o seu vestido até a cintura.

― Levante o quadril — ele pediu e ela obedeceu permitindo


que ele tirasse o vestido por completo deixando-a nua.

Lizzie tentou se cobrir envergonhada, mas ele segurou suas


mãos.

― Não, não tenha vergonha. É tão linda. — Ele a olhava com


devoção.

Ele voltou a beijá-la e aos poucos ela foi ficando à vontade


com seu corpo nu. Ele passeava os dedos pelo corpo dela,
deixando seus pelos arrepiados e causando pequenas ondas
de prazer, que a preparavam para o que estava por vir.

Ele desceu a boca pelo corpo dela, brincando com os seios,


mas não se demorando ali, passou a língua em seu umbigo,
fazendo-a rir. E ela se lembrou de ter visto uma posição
parecida com essa no livro, a única diferença é que o
homem estava mais embaixo, no meio das pernas da
mulher.

Então ela viu a cena do livro acontecer com ela. O Conde


segurou as pernas dela se ajoelhando no chão na beirada na
cama, e olhando para ela a puxou para ele levando o quadril
dela em direção a sua boca.

Quando sentiu a boca dele em seu centro, ela gritou de


prazer, e imediatamente levou a mão à boca para abafar o
som. Ele sorriu ao vê-la se contorcendo e voltou a saboreá-
la com gosto.

Ela era deliciosa e estava molhada como ele previra. Ele


caiu de boca usando as mãos para abrir ainda mais as
pernas dela e assim expor mais seu centro rosado e
completamente molhado.

Ele a lambeu de cima a baixo, e a penetrou com sua língua,


o que a fez se contorcer completamente e gemer alto. Os
sons que ela fazia o deixavam cada vez mais duro e louco
para se enterrar nela. E ele só pararia depois de fazê-la sua.

Ele colocou os pés dela apoiados no ombro dele e com as


mãos livre separou os lábios dela a expondo completamente
a ele.

― Você é linda! — ele exclamou admirado com a visão


excitante do sexo dela que estava avermelhado e molhado.

Antes que ela pudesse protestar ele voltou a provocá-la,


dessa vez procurando seu ponto inchado onde ele sabia que
a faria gritar de prazer.

Não foi difícil achar, assim que ele o tocou ela se contorceu
com a intensidade do prazer.

Ele ficou fazendo movimentos circulares ali com a língua,


enquanto com um dedo a penetrou testando sua barreira e
deixando-a ainda mais à beira do abismo.
Ele intensificou os movimentos, queria que ela gozasse
antes que a possuísse. E quando

acelerou ainda mais os movimentos ela explodiu, tendo a


liberação do seu prazer.

Enquanto ela se recuperava, ele se levantou e tirou suas


calças, seu membro pulou duro e grosso e Lizzie o olhou
mordendo os lábios se admirando com a visão de sua
masculinidade. Ela então se lembrou da imagem onde a
mulher colocava aquilo na boca e sentiu desejo de fazer o
mesmo.

Quando ele se aproximou da cama ela se sentou na beirada


e pediu que ele ficasse ali sem se mover. Ele a olhou
confuso, sem entender o que ela iria fazer e se surpreendeu
quando ela se abaixou na altura de seu quadril e tomou o
membro dele em suas mãos, o tocou com curiosidade e
começou a fazer movimentos suaves em sua extensão. Ele
se segurou para não gozar ali mesmo, ela o tocava com
inocência, ele via em seu toque certa insegurança, mas,
mesmo assim, ela sabia o que fazer. E então ela o colocou
na boca e chupou.

― Maldição! — ele exclamou. Havia tentado tirar seu


membro da boca de Lizzie antes de gozar, mas não tinha
tirado todo a tempo e acabou gozando nos seios e no rosto
dela.

― O que foi? Fiz algo errado? — ela perguntou assustada


olhando para ele, e em seguida observou em seu próprio
corpo, curiosa, o líquido branco que molhava sua pele.

― Diabos, mulher, não fez nada de errado, mas onde


aprendeu isso? — ele perguntou surpreso.
― Em um livro — ela respondeu envergonhada achando que
fez algo errado e mantendo seus olhos no líquido branco e
pegajoso. — Isso não é xixi. — Ela pensou alto.

Ao ouvir aquelas palavras, ele começou a rir.

― Não, não é xixi ― ele explicou enquanto pegava um pano


para limpá-la. Mas parou na metade do caminho quando a
viu passar um dedo onde ele tinha gozado e o levar ao
nariz, depois que cheirou ela o levou à boca e ele se sentiu
começar a endurecer de novo diante da cena.

Ele ficou hipnotizado olhando ela lamber o próprio dedo.

― Diabos, mulher, você tem noção do quanto isso me deixa


louco por você? — ele disse quando voltou a si e a limpou.

― É gostoso, um pouco amargo, mas eu gostei — ela disse


e ele gemeu com aquilo voltando a beijá-la.

O beijo e o atrito dos corpos nus, o endureceu novamente, e


ele a desejou ainda mais. Ela era incrível.

― Você é um misto de inocência e pecado, sabia? — ele


disse entre um beijo e outro. ―

Eu sinto muito, mas vai doer um pouco, mas prometo que


vai doer só essa vez — ele avisou preocupado com ela.

Ele então direcionou seu membro para a entrada dela, e se


posicionou para penetrá-la.

Ela estava apreensiva e ele percebeu, então a beijou


apaixonadamente, e quando viu que ela tinha relaxado ele a
penetrou de uma vez.
Lizzie se sentiu rasgar e gritou com a dor. Tentou empurrá-
lo, mas ele permaneceu firme dentro dela até ela se
acostumar com seu tamanho.

― Calma, amor, a dor já vai passar — ele a acalmou e ela


sentiu realmente a dor diminuir um pouco, mas ainda não
tinha passado.

― Doeu — ela disse um pouco chorosa.

― Eu sei. E sinto muito por ter te machucado, mas não tinha


outro jeito, eu tinha que romper a barreira — ele explicou. ―
Você está bem agora? —perguntou para saber se podia
fazer o que seu corpo pedia, que era se afundar várias e
várias vezes nela.

― Eu não sei, acho que sim — ela disse insegura.

― Não vai mais doer, eu prometo — ele assegurou e


começou a se mover para provar o que dizia.

E realmente não doeu mais daquele jeito, a dor aos poucos


ia embora dando lugar a um prazer ainda mais forte e
pleno.

Lizzie começou a gemer de prazer, que só aumentava cada


vez mais. E quando ela alcançou o clímax ele a acompanhou
se derramando dentro dela e a fazendo sua, e somente sua.

Capítulo 18 — Reputação
O Conde puxou Lizzie para seus braços. Nunca tinha sentido
a felicidade que sentia agora. Ela era sua e se dependesse
dele seria sua para sempre. Ele beijou os cabelos dela e ela
se aconchegou mais nele.

― Você está bem? — ele perguntou.

― Sim, um pouco dolorida, mas estou bem. — Ela sorriu.

― Você é incrível. Mas estou curioso, que diabos de livro é


esse que andou lendo? —

ele perguntou e ela corou lindamente.

― É um diário que encontrei num baú de livros que papai


tinha, mas ele nem sabia que era um diário, ele estava com
uma capa falsa — Lizzie explicou.

― O diário de quem? — ele perguntou curioso.

― Era de uma cortesã — ela disse corando ainda mais.

― O que tinha nesse diário? — o Conde continuou seu


interrogatório.

― Tinha como seduzir um homem, o que fazer com ele na


cama, como provocar, como deixar ele… — Ela se
interrompeu procurando a palavra correta. — …pronto. Mas
eu não iria conseguir fazer nada daquilo, eu ficava
envergonhada só de imaginar.

― Graças a Deus por isso! — Ele ficou enciumado. — Não


quero nem imaginar você fazendo essas coisas com outras
pessoas.

― Lá também dizia o porquê dos homens procurem


amantes — ela disse em um sussurro.
― Você vai ter amantes?

― Não, eu tenho tudo que preciso aqui nos meus braços —


ele declarou beijando o topo da cabeça dela.

― Ainda bem, porque eu não quero que você tenha


amantes — ela respondeu sorrindo e sonolenta — Você é só
meu. — Ela piscou uma vez demoradamente e ele pensou
que ela havia adormecido, mas então escutou a voz dela
quase em um sussurro — Sabe de uma coisa, acho que você
ganhou a aposta com sua tia afinal — ela disse fechando os
olhos e se aninhando no braço do Conde, fazendo ele rir
com a mudança de assunto e a verdade disso.

Lizzie adormeceu ali nos braços do Conde, e nem viu


quando o seu tesoureiro abriu a porta do quarto com uma
arma na mão.

Flinn tinha chegado há pouco, depois que a chuva


diminuíra. Morava em uma casinha não muito longe na
propriedade e Mary tinha mandado alguém chamá-lo, pois
temia exatamente que aquilo acontecesse. Quando chegou
na sala onde os dois deveriam estar e a encontrou vazia,
com apenas a blusa molhada do Conde indicando que
estiveram ali, imaginou logo o que havia acontecido. Pegou
a blusa molhada e olhou de quarto em quarto a procura dos
dois. E os encontrou ali.

O tesoureiro conhecia a maldade dos homens, e sabia que


nem sempre tirar a virgindade de uma mulher era motivo
suficiente para casamento. E ele não iria permitir que a filha
de seu senhor — e agora sua senhora — sofresse as
consequências da sedução.

― Seu bastardo, você vem à casa da minha senhora, utiliza


da sua bondade e ainda a desonra dessa forma? Não é
porque ela não tem mais os pais que poderá fazer o que
bem entender

com ela. — Ele disse abrindo a porta bruscamente e


defendendo a honra de Lizzie.

― Fale baixo, homem, ou vai acordá-la — o Conde


respondeu com uma calma enorme ao ver o velho olhando-
o furioso. — Vamos conversar sobre isso em um instante,
me espere lá fora para que eu possa me vestir.

Flinn o fitou desconfiado, mas deu as costas e saiu do


quarto, entretanto ficou esperando na porta para que ele
não fugisse. Não poderia deixar que sua senhora fosse
maculada desse jeito.

Não sem pelo menos a garantia de um casamento.

Quinze minutos depois, o Conde abriu a porta, tinha vestido


as calças que ainda estavam úmidas, e a sua camisa que o
contador tinha lhe jogado antes de sair do quarto.

― O que pretende com nossa menina? — Flinn perguntou


logo que o Conde apareceu. —

Se estiver pensando em desonrá-la e deixar por isso


mesmo, acredite, nós moveremos céus e terra contra você.
Não pense que só porque somos meros criados que não
poderíamos fazer nada. Ela é nossa menina, nossa família e
se a machucar estará machucando todos nós.

― Calma, homem, eu pretendo me casar com ela — o


Conde disse e o velho o analisou bem. — Eu a amo.

Apenas quando se convenceu que ele falava a verdade é


que Flinn relaxou.
― O quarto dela é o último do corredor, por favor, leve-a
para lá, não é bom que as criadas ou os irmãos dela
também saibam o que aconteceu aqui, apenas eu e Mary
suspeitamos disso, ninguém mais além dela viu vocês dois
escapulindo para o quarto — Flinn pediu sério.

― Tudo bem, farei isso. — O Conde concordou e ia entrar de


volta no quarto quando o tesoureiro falou.

― Milorde, creio que já esteja sabendo dos problemas do


baronato, se pretende se casar com ela fique por aqui até o
fim da semana. O Barão de Winsmore precisa entender que
ela não está sozinha, e ela vai precisar do seu apoio.

― Tudo bem, não tenho planos para voltar tão cedo mesmo
— o Conde respondeu e em seguida voltou a entrar no
quarto. Precisava levá-la para o quarto dela, mas não
planejava deixá-la dormir sozinha.

Capítulo 19 — Acerto de contas

Lizzie acordou e sentiu o braço do Conde sobre ela. Ainda


estava escuro indicando que o sol não havia nascido ainda.
Ela se remexeu embaixo do braço do Conde e esse acordou
com o movimento.

― Bom dia ― ele saudou com a voz embargada pelo sono,


seus olhos estavam pesados e os cabelos bagunçados.

― Bom dia ― ela respondeu se deleitando com aquela


imagem despojada do Conde.
Lizzie se sentou na cama e apenas quando o lençol caiu de
seu colo deixando seus seios expostos é que ela percebeu
que estava nua por baixo do lençol. Imediatamente se
cobriu, tanto pela vergonha quanto pelo frio que fazia
naquela madrugada.

O Conde a puxou para ele e beijou seus cabelos.

― Eu vou ter que voltar para o meu dormitório agora, antes


que os criados acordem e me vejam aqui contigo. Não
precisamos de um escândalo, não é? ― o Conde disse
pensando na reputação dela.

Ao ouvir aquilo Lizzie entendeu que ele tinha medo de ser


pego em um escândalo e, assim, acabar sendo obrigado a
se casar com ela. E esse pensamento a entristeceu.

― O que foi? ― o Conde perguntou ao ver a tristeza no


semblante dela.

― Não foi nada ― ela mentiu colocando um sorriso no rosto.


Não ia deixar que aquilo estragasse a noite maravilhosa que
tinha tido.

O Conde acreditou nela e lhe deu um beijo leve na boca


indo para seu próprio dormitório.

Lizzie não se arrependeria da noite que haviam


compartilhado, mas saber que ainda assim o Conde tinha
medo de ser envolvido em um escândalo a magoou
profundamente. Não tinha dormido com ele para que ele a
pedisse em casamento, mas havia pensado que havia uma
confiança entre eles que agora ela duvidava haver. Ele
ainda temia um escândalo e ela se ofendeu por ele pensar
que ela seria capaz de armar um.
O Conde, por causa da chuva, pegou um resfriado leve, não
teve febre, mas seu nariz tinha ficado entupido e ele tossia
e, de vez em quando espirrava também. Mas já tinha
tomado sua decisão e precisaria buscar algo em Dorset o
mais rápido possível, mas como o Barão podia aparecer a
qualquer momento, ele decidiu mandar um criado ir buscar.
Precisaria fazer alguns ajustes nele, já que os dedos de
Lizzie eram pequenos ― bem menores que o da mãe dele
―, e depois disso, ficaria perfeito nela.

Nos dias que se seguiram, Lizzie tinha estado distante dele,


e ele não entendia o motivo, mas achava que se devia ao
fato de ainda estar dolorida por causa da noite que haviam
compartilhado. Por isso, também lhe deu o espaço que ela
precisava e acabou entretido com seu plano.

Lizzie entendeu todo esse espaço como desinteresse, e


ficou triste ao pensar que ele já tinha se cansado dela. Tinha
sido tão tola em ter dito que ele seria só dela, claro que ele
iria preferir ter várias a apenas uma, ela não seria suficiente
para ele. Mas algo a intrigava. Por que ele ainda estava ali?
Bastava deixar o dinheiro com ela e voltar para Londres,
com certeza lá ele

encontraria outras mulheres mais interessantes.

Na casa do Barão Winsmore, uma criada sentia ao peso de


sua mão e era apenas uma criança. A pequena tinha
derramado o chá que levava para o homem, e ele tinha lhe
batido tão forte que o anel em sua mão tinha aberto uma
fenda no rosto da pobre garota. Ela engoliu o choro, sabia
que se chorasse apanharia de novo e voltou para a cozinha
onde estava sua mãe.

Ao ver o rosto da filha inchado e sangrando, a mulher veio


ao seu encontro, preocupada e furiosa. Não se importava
que o Barão batesse nela, mas não ia permitir que ele
fizesse isso com sua filhinha, que para sua infelicidade era
filha desse homem odioso.

Ela cuidou de sua filha, lhe acalentando como só uma mãe


pode fazer e quando a pequena estava melhor, pediu que
ela ficasse no celeiro o resto do dia para que o Barão não a
maltratasse de novo.

Ela seguiu para a sala do Barão, não sabia o que ia fazer e


já sabia que poderia acabar morta, caso fosse pega, mas
não ia deixar que o Barão batesse em sua filha novamente,
nem que para isso precisasse matá-lo.

Antes de entrar, porém, ouviu vozes lá dentro. O Barão


estava com visitas, era o senhor Challeron, um homem tão
vil quando o seu senhor. Eles conversavam animadamente e
o homem ria de algo que o Barão dizia.

― Sim, eu fingi que tinha perdoado a dívida daquele tolo —


o Barão se gabava —, e queimei a promissória na frente
dele. Mas eu tinha uma cópia da mesma com os juros
alterados, pois não sou tolo. E agora que o homem morreu,
eu vou pegar parte da propriedade para mim, porque eu
duvido que aquela garota tenha conseguido quarenta e oito
mil libras para pagar a conta. E pensar que eu só precisei
emprestar uma ninharia para aquele verme.

Os homens riam da maldade que faziam e a criada viu ali a


chance de dar uma vida melhor para sua filha. Ela se
lembrava muito bem desse dia em que ele tinha queimado
a promissória, tinha entrado na sala para colocar lenha na
lareira na mesma noite que o Barão de Fernoy tinha estado
ali, e havia encontrado um papel parcialmente queimado
que ela salvou do fogo pensando ser importante. Ela tinha a
mania de guardar papéis por achar que um dia os usaria, e
pela primeira vez, acertou em cheio.

Correu para o seu quarto e começou a procurar em suas


quinquilharias o papel que tinha guardado cinco anos atrás.
Passou uns bons minutos procurando-o, e quando
finalmente achou, sentiu uma esperança que nunca havia
se permitido ter na vida.

Sua filha e ela poderiam ter uma vida melhor.

Era sexta-feira, o dia combinado para pagar a dívida ao


Barão. Lizzie estava preocupada, pois o Conde disse que
pagaria a conta, mas tinha saído desde cedo e ainda não
havia retornado.

Quando o Barão chegou, Lizzie ficou nervosa porque o


Conde ainda não tinha chegado, mas recebeu o Barão a
contragosto, como sempre, no escritório de seu pai.

― Então, garota, onde está meu dinheiro? ― o Barão


perguntou presunçoso com um sorriso de escarnio nos
lábios.

― O Conde já chegará com ele ― Lizzie disse um pouco


nervosa, rezava para que o Conde não demorasse e ela
pudesse se livrar logo daquele homem asqueroso.

― E o que você fez para conseguir tanto dinheiro? ― O


Barão a olhou com cara de poucos amigos. ― Ou vai dizer
que o Conde agora decidiu fazer caridade?
— Lizzie corou ao se lembrar do plano para conseguir o
dinheiro, mas nada disse, porém seu desconforto foi
percebido pelo Barão que aproveitou a reação dela para
humilhá-la. ― Acho que não foi caridade. Acho que talvez
tenha favores por trás desse dinheiro. Se eu soubesse que
estava se vendendo por dinheiro a gente teria feito um
acordo mais prazeroso e podíamos ter diminuído a dívida
consideravelmente.

Ouvir aquelas palavras deixou Lizzie furiosa.

― Eu jamais me venderia, Barão, e mesmo que o fizesse,


jamais seria para alguém como você ― ela respondeu
irritada.

― Só por que eu não sou um Conde? Isso é muito


interesseiro da sua parte. Não devia julgar as pessoas pelo
título, até porque você é apenas a filha de um Barão
miserável e endividado.

Ouvir o Barão falar do pai dela tirou todo o controle que ela
ainda tinha.

― Não ouse falar do meu pai, seu homem asqueroso! Você


usou o desespero e o amor de um homem para tentar
conseguir o que era dele.

― Mas eu emprestei o dinheiro, não foi? Eu não me neguei a


ajudá-lo. ― O Barão se defendeu.

― Você emprestou sim, mas foi uma armadilha para meu


pai. Os juros exorbitantes que cobrou foram apenas para
que ele não conseguisse pagar a dívida. Sempre quis as
terras e tem tentado obtê-las através da dívida de meu pai.
Mas não vai conseguir!
― Ele sabia muito bem dos juros quando aceitou minha
ajuda, nunca escondi nada e ele aceitou meu dinheiro
porque quis ― o Barão desdenhou.

― Ele estava desesperado, vendo minha mãe definhar cada


dia mais. Ele não teve outra opção! ― Lizzie quase gritava,
tudo o que sentia por aquele homem era nojo, e rezava para
que o Conde aparecesse logo para que ela pudesse expulsar
aquele homem de suas terras.

― Claro que tinha, ele podia não ter pedido emprestado um


dinheiro que não era dele. ―

O Barão deu de ombros. ― Mas ele me deve, você me deve,


e eu quero o que é meu. Onde está o seu cliente?

― Cliente? ― Lizzie não entendeu a referência.

― Cliente é o termo usado para quem compra algum


produto ― o Barão explicou se divertindo à custa dela.

― Isso eu sei ― ela disse semicerrando os olhos e então os


abrindo quando entendeu o que ele quis dizer. ― Não ouse
me insultar, Barão.

― Ou o quê? Vai abrir as pernas para o Conde de novo e


pedir para ele acabar comigo?

― O Barão riu debochado. ― Acho que não garota, você


nunca conseguiria me atingir. Não passa de uma filha órfã
de um barão endividado e eu sou um barão rico e com
influências, você não é nada, apenas uma vadia que acha
que é alguma coisa porque abriu as pernas para um nobre.

O soco veio sem avisar e pegou o Barão em cheio. Ele caiu


da cadeira com a força do golpe, e o Conde avançou em
cima dele levantando-o do chão pela gola do casaco. O
Barão tentou se soltar, mas o Conde era mais forte.

― Seu porco miserável, eu vou acabar com você! ― o


Conde gritou furioso e foi segurado por Flinn antes que
matasse o homem com os próprios punhos.

O Barão ao reconhecer seu agressor como o Conde de


Dorset ficou todo serviçal. Ele tinha negócios com a Família
Dorset há anos e sempre tinha conseguido aumentar sua
fortuna às custas deles.

― Milorde, não sabia que era o senhor o benfeitor desta


jovem, peço perdão pelo meu comportamento ― ele disse
para o Conde.

― Não é a mim que deve pedir desculpas, e sim à dama que


ofendeu ― o Conde disse enojado com as atitudes daquele
homem. Tinha descoberto as falcatruas dele e queria vê-lo
pagar por isso.

― Me perdoe, senhorita ― ele disse, mas ela via que não


tinha nada de arrependido nele.

― Não, eu não o perdoo ― ela respondeu firme. ― Porque


não está nem um pouco arrependido e porque não merece
meu perdão. — Quero que vá embora e nunca mais pise nas
nossas terras.

O Barão a olhou com ódio. E ela se manteve firme, o Conde


estar ali lhe dava sensação de segurança e ela não sentia
mais medo.

― Irei assim que pagar o que me deve — ele respondeu


carrancudo, tirando a máscara de homem humilde que não
tinha enganado ninguém.
O Conde tinha acompanhado apenas parte da conversa e
tinha sido o suficiente para tirá-lo do sério. Sua vontade era
de matar o homem à sua frente, mas se conteve apenas por
causa de Lizzie. Tinha saído de manhã para resolver uma
coisa importantíssima e quando voltou a cerca de meia hora
atrás tinha encontrado uma mulher e uma criança na porta
o esperando e então ela lhe mostrou o papel e lhe disse o
que sabia e ele rapidamente procurou Flinn para ver se era
verdade aquilo tudo, por isso não tinha vindo antes.

― Mas ela não deve nada, não é mesmo? — o Conde disse


com um sorriso no rosto. ―

Se não me engano, você perdoou a dívida do pai dela no dia


que ele lhe procurou para pagá-la.

O Barão ficou pálido diante daquelas palavras verdadeiras,


mas rapidamente se recompôs.

― Não sei do que está falando, ele nunca foi pagar a conta
— o Barão mentiu tentando parecer que dizia a verdade,
afinal não tinha como eles provarem nada.

― Não? Então talvez possa me explicar isso. — O Conde


mostrou um pedaço de papel parcialmente queimado, mas
não o suficiente para impedir a leitura do que tinha escrito
ali.

― Onde conseguiu isso? — o Barão perguntou arregalando


os olhos. — É mentira, uma fraude. Esse papel é uma farsa,
estão querendo me enganar.

― Deixe-me ver o papel que o senhor tem, Barão. — Flinn


pediu falando pela primeira vez desde que entrara ali com o
Conde.
O Conde tinha lhe procurado mais cedo com uma mulher e
lhe pedido para ver a veracidade daquele papel, e quando
percebeu que se tratava da mesma promissória que o Barão
tinha só que com os juros bem menores e sem ter a parte
da propriedade como garantia ele percebeu a vileza do
Barão de Winsmore.

O Barão lhe entregou a contragosto a promissória que tinha


em mãos e, quando comparou as duas, percebeu um mísero
detalhe na assinatura da que o Barão tinha lhe entregado
que provava sua falsidade.

― Eu sabia, o senhor falsificou a assinatura do Barão ao


fazer essa nova promissória,

mas não sabia de um detalhe, o Barão sempre colocava


quatro pontos após sua assinatura, representando os três
filhos e a esposa. Nessa que o senhor falsificou só tem três
pontos. Quando vi pela primeira vez, não me ative a esse
detalhe por causa do susto ao ver o valor da conta, mas
agora posso ver.

Então Flinn mostrou a todos a assinatura das duas


promissórias e também outras assinaturas que o pai de
Lizzie tinha feito nos últimos anos, todas tinham os quatro
pontos que ele falou menos a promissória falsa do Barão de
Winsmore.

Ao ver que sua fraude tinha sido reconhecida o Barão ficou


furioso olhou para a porta procurando uma rota de fuga e
viu ali sua criada espreitando pela porta.

― Eu vou te matar, sua vadia, matarei você e aquela


bastarda! — ele vociferou ao perceber que tinha sido traído
pela criada enquanto caminhava em sua direção para
agarrá-la.
― Não tocará em um fio do cabelo de Agatha. — O Conde a
defendeu impedindo o Barão de chegar até a porta e assim
machucar Agatha. — Ela irá comigo para Londres.

― Ela é minha criada e eu faço o que quiser com ela. — O


Barão respondeu com ira. —

Posso acusá-la de roubo.

― Pode, mas não vai — o Conde disse calmamente. ― Se


fizer algo contra ela eu vou levá-lo a júri por seus crimes.
Por isso você vai me dar sua criada e a filha dela.

― Mas ela é minha filha, se eu assumi-la, ela ficará comigo


como é meu direito — o Barão disse já planejando a vida de
sofrimento que daria à garota.

― Mas você não vai assumir a garota, você é mesquinho


demais para isso, não vai querer ser rejeitado pela
sociedade por ter uma bastarda e muito menos vai querer
gastar com a criação dela.

― Eu não ligo para essa maldita sociedade. — O Barão riu


sarcástico sem se intimidar.

O Conde perdeu a paciência, não adiantava conversar com


aquele homem louco.

― Você vai deixar a mulher e a filha irem comigo a Londres,


nunca vai procurá-las e muito menos vai acusá-la de nada,
ou eu juro por Deus que acabo com você, com seus
negócios e lhe deixo sem um tostão no bolso. — Cada
palavra que o Conde dizia fazia o homem empalidecer.

O Barão concordou com a cabeça, se tinha algo que


importava mais para ele do que a vingança era seu
dinheiro.
― E quanto à senhorita Fernoy, nunca mais ouse pisar nas
terras da família dela, e se eu souber que a está difamando
ou a família dela, pode se considerar um homem morto.

O Barão vendo que não tinha mais nenhuma chance ali


decidiu se dar por vencido. Virou as costas e se preparou
para ir embora.

― Espere — Lizzie lhe chamou e pegou um saco de moedas


que tinha na gaveta de sua mesa. Tirou uma quantia exata
de libras, colocou em um saco menor e em seguida
entregou ao homem — Aqui está o valor que meu pai pediu
emprestado, nem um tostão a mais nem um a menos. Não
quero nada que tenha vindo de você.

Lizzie o olhava com repulsa e ele devolvia o olhar furioso,


era tudo culpa dela. Se ele não fosse se prejudicar tanto,
faria essa garota aprender uma lição.

O Barão pegou o dinheiro que lhe cabia e saiu pisando duro


com o ódio lhe manchando ainda mais a alma.

Mal ele sabia que, por causa de tanto ódio, teria um ataque
fulminante naquela mesma noite e nenhum dinheiro do
mundo seria capaz de salvar sua vida.

Capítulo 20 — E tudo se encaixa

Assim que o Barão saiu de sua casa, Lizzie se permitiu


respirar aliviada. Finalmente estava livre daquele homem
pavoroso.
― Que homem desprezível — Flinn disse para quebrar o
silêncio que tinha ficado com a saída do Barão. ― Graças a
Deus que terminou.

― Verdade, como descobriu a promissória verdadeira? E


quem é Agatha? — Lizzie perguntou, de onde ela estava não
dava para ver a mulher atrás da porta.

A mulher, ao ouvir o seu nome, entrou na sala junto com


sua filhinha. Agatha era uma mulher morena, tinha cabelos
crespos presos embaixo de uma touca, e era mais alta que
Lizzie, mas estava muito magra por causa da má nutrição,
vestia roupas simples e desgastadas. Ao seu lado uma
criança se agarrava a sua perna, tímida. Sua filha era uma
criança linda com cabelos cacheados, e era a cópia fiel da
mãe, exceto pelos olhos que eram idênticos ao do Barão,
mas enquanto os daquele homem eram cheios de ódio os
da garotinha eram doces e curiosos.

― Sou eu, senhora. ― Agatha se apresentou com um sorriso


tímido, fazendo uma reverência para Lizzie e depois olhou
para o Conde. — Muito obrigada por manter sua palavra.

― Eu disse que ia cuidar de você, não se preocupe mais


com ele, não vai mais incomodar vocês — o Conde disse
sorrindo para a mulher.

― O senhor vai mesmo nos levar com o senhor para


Londres? — ela perguntou com esperança nos olhos.

― Para Londres não, eu vou reabrir a casa em Dorset e vou


precisar de novos criados por lá, então acredito que vou
levar você e a pequena para lá.

Agatha sorriu ao saber que tomou a decisão certa e que


finalmente poderia se ver livre daquele homem asqueroso,
que a havia maltratado por anos.
― Claro. Obrigada, Milorde, muito obrigada. — A criada
começou a chorar de alegria.

― Venha, você parece cansada, deve ter andado muito para


nos contar isso — Flinn disse direcionando a criada para um
dos quartos dos criados onde ela poderia descansar.

Na verdade, Flinn fazia aquilo para deixar Lizzie e o Conde


sozinhos.

Assim que Flinn fechou a porta, o Conde abraçou Lizzie e


beijou o topo de sua cabeça.

Ficaram ali um tempo abraçados sentindo o conforto dos


braços um do outro.

― Obrigada! ― ela disse no ouvido do Conde. E lhe deu um


beijo na bochecha.

― Um beijo na bochecha? ― O Conde brincou. ― Acho que


pode ser mais grata que isso.

― Como eu posso ser mais agradecida? ― ela perguntou


sem entender.

― Um beijo de verdade pode ser um bom começo ― ele


disse.

― Ah ― ela disse surpresa. Não imaginava que ele ainda a


quisesse.

― Ah? ― ele repetiu o que ela disse em forma de pergunta.

― Pensei que não me quisesse mais ― ela disse corando ao


expor seus pensamentos.

― Claro que eu quero, sempre vou querer, quem disse isso?


― ele perguntou cerrando os olhos.
― Ninguém, é que no dia seguinte ao que nós passamos
juntos, você tinha dito que queria

evitar um escândalo e então eu achei que ainda estava


preocupado que eu lhe prendesse em um casamento. Então
como não me tocou mais achei que não me desejava.

― Meu Deus, é totalmente o contrário. Eu queria evitar o


escândalo por causa da sua reputação. — Ele deu enfoque
na palavra sua. ― Não porque não queria me ver casado
com você caso ele acontecesse. E eu não a toquei porque
achei que ainda estava dolorida.

― Ah! ― ela disse entendendo tudo. ― Eu tinha ficado


chateada pensando que não confiava em mim.

― É claro que eu confio ― ele disse e ela sorriu. ― Mas


então vai me dar um beijo ou não?

Ela se aproximou dele com um sorriso tímido e ele não


aguentou esperar que ela chegasse até onde ele estava, e a
interceptou no meio do caminho beijando-a de forma
arrebatadora.

Nesse momento os criados entraram na sala, todos eles


tinham encostado suas orelhas na porta lateral para
escutarem a conversa com o Barão. E agora que ele tinha
saído alguém tinha se encostado à maçaneta e feito a porta
se abrir desequilibrando todos de uma vez que olhavam a
cena, envergonhados.

Lizzie se afastou do Conde, mas esse não soltou sua cintura.


E então ele decidiu aproveitar a cena. Se ajoelhou e olhou
sorridente para a mulher à sua frente.

― Elizabeth Alexander Fernoy, diante dessa cena


escandalosa, não tem como fugir de mim, e não aceito não
como resposta. Eu não me importo com um escândalo se
ele fizer você se unir a mim ainda mais depressa, e na
verdade um escândalo nunca foi tão lindo para mim. Eu
encontrei em você a mulher com a qual eu quero dividir o
resto da minha vida. E apenas você me importa nesse
mundo. Então lhe peço esperançoso que aceite. Casa
comigo?

O Conde tirou uma aliança de seu casaco, tinha saído essa


manhã para pegá-la com o criado que ele tinha instruído a ir
buscá-la em Dorset. Tinha saído apenas para mandar
diminuir a aliança, uma vez que sua mãe era bem maior
que Lizzie, e por isso estava fora desde cedo. Tinha tido a
ajuda de Mary para conseguir um anel de Lizzie para servir
de referência para o tamanho da aliança. E agora estava ali
com tudo pronto e esperava poder colocar no dedo de Lizzie
a aliança de sua família, passada de geração em geração a
tornando a nova Condessa de Dorset.

Ela olhava para ele surpresa e emocionada. Claro que diria


sim. Ela tinha encontrado nele o homem de sua vida, então
sim, diria sim. Era ele quem ela escolhia para passar a sua
vida.

― Sim, mil vezes sim. ― Então ela o beijou para selar a


união na frente de todos os criados que suspiraram diante
da cena antes de serem enxotados por Mary para voltarem
aos seus afazeres e dar privacidade ao casal.

Epílogo
Londres, Inglaterra

Duas semanas depois…

― Fiquei tão feliz ao saber sobre seu casamento com o


Conde! — Madame Charlotte dizia enquanto tirava as
medidas para o vestido de noiva de Lizzie.

― Obrigada, ainda nem acredito que vou me casar! — Lizzie


dizia empolgada.

― Você tem tanta sorte! — a modista lhe disse com um


sorriso.

― Eu sei, o Daniel é incrível. — Lizzie suspirou apaixonada e


Charlotte riu.

― Não falo do Conde e sim do sentimento que há entre


vocês. Não é todo mundo que pode se dar ao luxo de se
casar por amor. Vocês têm sorte em ter encontrado um ao
outro. Serão muito felizes!

― Eu concordo com a Charlotte, não são todos que têm a


felicidade de vocês ao se casar

— a Condessa complementou. — Seus pais tiveram essa


sorte, e agora você está tendo a mesma oportunidade que
eles tiveram de ser feliz. É a benção que eles deixaram para
você, minha querida.

Lizzie sorriu emocionada ao ouvir aquelas palavras. Nunca


imaginou que um dia se casaria com o homem que amava,
apesar de sonhar com isso todos os dias. E agora que isso
se realizava ela não podia estar mais feliz. Só queria que
seus pais estivessem com ela, mas eles estariam olhando
para ela lá de cima, tinha essa certeza em seu coração.
― Quando será o casamento, Milady? — Charlotte
perguntou para saber quanto tempo teria para o vestido.

― Será no início do verão — a Condessa respondeu. ―


Daqui a exatos dois meses.

― Perfeito, assim terei tempo de trabalhar bastante no


vestido, ele será um dos mais belos que já fiz — Charlotte
disse animada.

― Você irá para o casamento, não é? — Lizzie perguntou.

― Mas é claro que ela vai! — a Condessa respondeu


revirando os olhos. ― Eu não aceitarei um não, já está na
lista de convidadas.

― Eu não sei, Margaery, tenho muito trabalho para fazer,


não posso passar tanto tempo fora. — Charlotte se
desculpou.

― Tolice, claro que pode, você sempre recusa todas as


festas, mas eu já lhe disse que não aceito um não — a
Condessa insistiu.

― Por favor, gostaria muito que fosse, graças a você eu


dancei todos os bailes, lembra?

— Lizzie disse e Charlotte riu se lembrando da última vez


que ela esteve ali.

― Tudo bem, eu irei. ― A modista suspirou em sinal de


derrota. ― Nesse caso, eu vou uma semana antes e levo eu
mesma o vestido, assim não precisam mandar buscar. E,
caso necessite, eu faço um ajuste depois da última prova.

― Perfeito — a Condessa disse sorrindo e Lizzie bateu


palmas, empolgada.
Assim que saíram do atelier de Madame Charlotte, elas
seguiram direto para a casa do Conde em Londres. Depois
da janta, Lizzie seguiu para o quarto que o Conde tinha
reservado para ela. Estava penteando o cabelo, tinha
dispensando a sua criada e se preparava para ir dormir,

quando alguém entrou em seu quarto sorrateiramente.

― Milorde, não deveria estar aqui — ela disse sorrindo e


largando a escova em cima da penteadeira.

― Não resisto a você, sabe disso — ele disse enquanto se


aproximava e a tomava nos braços. ― E sei que também
não resiste a mim.

Não era a primeira vez que ele a visitava durante a noite e


nem a última, e Lizzie só pôde se entregar mais uma vez ao
homem que amava.

O casamento aconteceria em Fernoy a pedido de Lizzie, e


depois eles partiriam em lua de mel. Quando retornassem,
eles morariam em Dorset House, a sede do condado que
estava há muito abandonada, e seus irmãos passariam a
morar com ela e o Conde, pelo menos até Jeremy ter idade
suficiente para assumir o baronato e assim voltar para casa.
Até lá, o baronato teria Flinn como responsável, tomando
conta de tudo, e Lizzie já tinha conversado com o Conde a
respeito das terras de seu dote. Ela gostaria de dar essas
terras para Flinn quando o irmão assumisse o título, e o
Conde concordou com o pedido dela.

A morte do Barão de Winsmore tinha deixado todos mais


aliviados, as pessoas que sentiriam falta dele podiam
facilmente ser contadas nos dedos. Um sobrinho-neto dele
herdou o baronato e, pelo que tinham ouvido falar, era um
rapaz gentil e inteligente, bem diferente do tio.
Agatha e sua filhinha acabaram sendo requisitadas pela
Condessa, que se afeiçoou à pequena garotinha curiosa na
primeira vez que a viu. Agora a mulher corajosa que tinha
avisado sobre a fraude do Barão, servia diretamente à
própria Condessa.

Baronato dos Fernoy, Inglaterra

Dois meses depois…

Lizzie estava nervosa, todos já estavam esperando a noiva,


e ela ainda estava na carruagem a caminho da capela onde
se casaria. Tinha passado a semana toda vomitando, e
achava até que estava doente, mas escondeu da Condessa
e do Conde para evitar preocupá-los.

Não ia permitir que um mal-estar estragasse o casamento.

Ela até tentou esconder seu mal-estar, mas o balançado da


carruagem acabou fazendo-a vomitar. Por sorte ela estava
na janela e vomitou para fora da carruagem não sujando
seu vestido imaculadamente branco.

― Minha nossa, o que você tem, meu bem? — a Condessa


perguntou preocupada ao ver a palidez de Lizzie e pediu
para a carruagem parar um pouco.

― Eu estou bem, foi só um mal-estar, Condessa — ela


respondeu um pouco envergonhada por ter vomitado, e
aceitou o lenço que a Condessa lhe oferecia.

― Há quanto tempo está com esse mal-estar? Começou


agora? — a Condessa perguntou começando a suspeitar do
que se tratava.

― Tem pouco mais de uma semana, mas não deve ser nada,
apenas o nervosismo com a
proximidade do casamento. — Lizzie se justificou.

― Minha querida, quando veio sua regra? — a Condessa


perguntou direta.

― No começo do mês passado, Milady — Lizzie respondeu


tentando entender onde a Condessa queria chegar.

― Então elas já deviam ter vindo esse mês, não? — A


Condessa sorriu com a possibilidade.

― Sim, mas sempre que eu fico nervosa elas atrasam. —


Lizzie explicou.

― Por mais de quinze dias? — a Condessa indagou


levantando uma sobrancelha.

― Bom, nunca demoraram tanto, mas eu também nunca


tinha casado antes, e estou ansiosa desde o início do mês,
então deve ser isso. — Lizzie tentou argumentar.

― Tivemos que fazer um ajuste no seu vestido porque seus


seios quase não cabiam nele, ficou bem apertado, lembra?
— A Condessa começou a juntar os pontos. Semana
passada no último teste, a Madame Charlotte teve que
aumentar alguns centímetros no corpete porque ficou
apertado demais nos seios de Lizzie. — Diga-me, querida,
você tem se alimentado direito?

― Tenho sim, estou me alimentando direito, ontem mesmo


pela tarde comi uma fornada inteira de biscoitos, até
estranhei a fome que eu estava, mas eu estava com muita
vontade de comer biscoitos! — Lizzie comentou animada.
― Minha querida, estou tão feliz por você! — a Condessa
disse segurando as lágrimas, emocionada. — O Daniel vai
ficar tão feliz quando souber! Que belo presente de
casamento você vai dar para ele! — A Condessa estava
eufórica e Lizzie olhava para ela sem entender nada.

Apenas quando a Condessa colocou a mão na barriga dela


foi que ela entendeu tudo. Estava grávida, era isso que a
Condessa lhe dizia. Estava carregando um filho do Conde. ―
Mal posso esperar para ver a carinha linda dele ou dela ― a
Condessa disse completamente absorta na barriga ainda
reta de Lizzie. ― Já pensaram no nome? Ah meu Deus, é
claro que não, nem sequer sabia que estava grávida! Mas
pode deixar eu vou cuidar de... Querida está tudo bem?

Lizzie olhava espantada para a Condessa, e em seguida


olhou para a própria barriga.

Automaticamente, levou a mão para lá e começou a sorrir e


a chorar.

― Ah meu Deus. Eu vou ser mamãe? — Lizzie perguntou


para a Condessa que a olhava com um sorriso enorme.

― Sim, meu bem, é quase certeza que ai dentro bate um


coraçãozinho. Mas depois do casamento vamos chamar um
médico para confirmar.

Lizzie olhava com carinho para a barriga. Ali tinha um


pedacinho de Daniel e dela. Ela não podia estar mais feliz.

― Vamos para o casamento, seu noivo deve estar ficando


louco pensando que fugiu ou desistiu de casar.

Na igreja, o Conde andava de um lado para o outro,


nervoso, onde estava Lizzie? Será que ela desistiu do
casamento? — ele se perguntava silenciosamente.
― Mantenha a calma, homem! Ela logo vai chegar aqui. — O
Duque tentava lhe acalmar.

Ele era seu padrinho, junto com seu outro amigo, o Marquês
de Winchester. E ambos estavam olhando com um sorriso
debochado para ele.

― Olha ele todo nervosinho — debochou o Marquês. — A


garota é esperta, deve ter percebido que não valia a pena
casar com um canalha como você.

― Ao inferno com você! Não sei nem porque eu lhe chamei


para ser meu padrinho —

Daniel respondeu com raiva parando em frente ao amigo.

― Porque você me ama. Assuma logo, é feio ficar mentindo.


— O Marquês provocou. —

Mas para você ver como eu sou uma boa pessoa, você não
está mais andando. Ainda bem que eu nunca vou passar por
isso!

― Cuidado, Gabriel — o Duque disse se envolvendo na


conversa deles. ― Pode ser que você seja o próximo. Se não
me engano, tem um boato na corte de que o Rei quer que
você se case. Então acho bom arrumar uma mulher antes
que ele arrume uma para você. E digamos que o Rei não é
de olhar aparência feminina.

― Ah, não diz uma coisa dessas nem de brincadeira. — O


Marquês ficou pálido. Se tinha uma coisa que o Marquês
odiava em sua vida, era o casamento.
― Ela chegou, Milorde ― informou um de seus criados
interrompendo a conversa.

― Graças a Deus — o Conde disse com um sorriso enorme


no rosto e seguiu para seu lugar no altar.

O casamento seguiu sem nenhuma surpresa, além do choro


por parte da Condessa, que não conseguiu segurar as
lágrimas enquanto Lizzie se aproximava do altar
caminhando sorridente em direção a seu sobrinho.

Ela sentia como se tivesse realizado sua tarefa, e sorria


satisfeita consigo mesma. Ela tinha retirado a aposta com
seu sobrinho uma vez que ele tinha lhe dado as sedas para
não reconhecer que Lizzie fora interesseira, mas ela tinha
ficado tão tocada com a história da dívida que deu a eles de
presente de casamento o navio que ela tinha apostado.

Quando o casamento finalmente terminou os recém-


casados partiram para Dorset, onde passariam a morar. A
Condessa agora seria a Condessa Viúva, uma vez que Lizzie
assumiria o novo posto de Condessa de Dorset. E estava
mais que feliz com isso.

O Conde não parava de sorrir, assim como Lizzie, e depois


de se despedirem de todos entraram na carruagem para
terem a lua de mel.

Eles teriam uma semana de lua de mel, depois disso os


irmãos de Lizzie iriam para lá passar o resto das férias de
verão com eles, até que os estudos deles recomeçassem.
Até que fossem para Dorset ficariam aos cuidados da
Condessa Viúva, que se prontificou a cuidar deles durante a
lua de mel.

Eles seguiram metade do caminho sorrindo e apreciando a


companhia um do outro enquanto falavam sobre o
casamento.

― Você viu a forma como o Duque olhava para Charlotte? —


Lizzie perguntou ao se lembrar da forma que sua costureira
corou ao ser convidada para dançar pelo Duque.

― Eu vi sim, e não só eu como a mãe do Duque que quase


enfartou quando viu Phillip dançando com ela — o Conde
respondeu rindo, mas em seguida ficou preocupado ao ver
Lizzie ficar pálida. ― Você está bem?

― Estou sim — Lizzie disse sorrindo, tinha planejado contar


sua gravidez apenas quando estivessem em casa. — Acho
que nunca estive melhor.

Ironicamente, após dizer isso, Lizzie não conseguiu segurar


a ânsia de vômito por causa do movimento da carruagem e
se jogou na janela para não sujar o Conde.

― Maldição, mulher, o que você tem? — o Conde perguntou


preocupado, entregando-lhe um lenço.

― Não dava para aguentar só mais um pouco? ― Lizzie


ralhou com sua barriga. — Não foi isso que combinamos.

― O que combinamos? — o Conde perguntou confuso e se


aproximou tocando sua testa para ver se ela estava com
febre.

― Ah, não é com você — Lizzie disse sorrindo.

― E com quem é então? — o Conde perguntou ainda mais


preocupado.

Lizzie olhou para ele em dúvida, contava agora ou contava


depois?
― Lizzie? — o Conde perguntou novamente instigando ela a
contar e ela decidiu falar.

― Eu estava planejando te contar apenas quando


chegássemos a Dorset. — Ela começou e ele ficou
apreensivo. — Eu descobri pouco antes de chegar à igreja,
não tinha reconhecido os sinais, mas a sua tia percebeu e
então eu entendi o que se passava.

― Pelo amor de Deus, mulher, conta logo — ele implorou


quando ela fez silêncio e baixou a cabeça colocando a mão
na barriga. Estaria passando mal de novo?

Lizzie nada disse além de sorrir e alisar a barriga que ainda


estava plana.

― Está doendo a barriga? — ele perguntou ainda sem


entender e ela riu.

― Não, mas é tudo culpa dele. Os enjoos, a fome, o


inchaço…

― O quê? Está doente? — o Conde perguntou e Lizzie


perdeu a paciência.

― Você era mais inteligente. — Ela acusou com um sorriso


debochado. — Pensa, homem! Isso é resultado das suas
fugidas para o meu quarto de noite. — Ela deu mais uma
dica e então viu a compreensão substituir a confusão no
olhar dele.

― Meu Deus, você…você…está? — ele perguntou colocando


as mãos na barriga dela, completamente maravilhado. — Eu
vou ser...

― Sim, você vai ser pai, meu amor — ela disse com tanto
amor no olhar que ele a tomou nos braços a colocando no
colo e lhe dando beijos espalhados pela face.

― Porra mulher! Eu te amo! Você é incrível.

Era a primeira vez que ele dizia que a amava, e isso somado
a gravidez, fez com que ela começasse a chorar.

― Diga de novo, por favor — ela pediu entre lágrimas.

― O quê? — ele perguntou sem entender o pedido e o


choro.

― Diga que me ama, é a primeira vez que me diz isso ― ela


pediu com um sorriso, tocando o rosto do Conde.

― Eu te amo, Elizabeth, te amo como nunca amei ninguém,


e você é a mulher da minha vida, você me fez o homem
mais feliz do mundo hoje ao dizer sim naquele altar, e agora
duplicou minha felicidade quando eu soube que carrega um
filho meu. Você é tudo que eu preciso na minha vida para
ser feliz e eu vou te amar até a última batida do meu
coração — ele se declarou beijando-a com todo o amor que
sentia por ela.

― Eu também te amo, meu amor — Lizzie respondeu entre


um beijo e outro, completamente apaixonada por seu
marido.

Tinha tudo que precisava ali naqueles braços, e mesmo que


no começo não tivesse

planejado se casar por amor, ela amava aquele homem e


ele a amava também, e isso era mais do que suficiente para
ser feliz.

FIM
Agradecimentos.

Esse livro não teria surgido sem o incentivo e o auxílio de


pessoas que tornaram essa história tão importante para
mim, então deixo aqui meu agradecimento a elas.

Obrigada Matheus por me aturar enquanto eu falava


incansavelmente sobre a história, nos momentos mais
inusitados. Sem sua paciência e carinho, essa história não
seria a metade do que é, e nunca estaria finalizada.

Por fim, obrigada a você, leitor, por me dar a oportunidade


de lhe contar essa história, espero do fundo de meu coração
que goste dela tanto quanto eu.
Document Outline
Notas da autora
Prólogo
Capitulo 1 — Lizzie
Capítulo 2 — Proposta
Capítulo 3 — Londres
Capítulo 4 — Insultos
Capítulo 5 — Compras
Capítulo 6 — O Duque de Norfall
Capítulo 7 — O Baile!
Capítulo 8 — Más Notícias
Capítulo 9 — Dívidas
Capítulo 10 — De volta a Londres
Capítulo 11 — Desejos e prazeres
Capítulo 12 — Convivência
Capítulo 13 — Consciência
Capítulo 14 — Descobertas*
Capítulo 15 — O Conde
Capítulo 16 — Fernoy
Capítulo 17 — Erros e acertos
Capítulo 18 — Reputação
Capítulo 19 — Acerto de contas
Capítulo 20 — E tudo se encaixa
Epílogo
Agradecimentos.

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