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06 CENÁRIO
ÍNDICE
BEHIND
16
18
24
PORTAL RC
BLIND GUARDIAN
PLAYLIST
Alex Kafer (The Troops of Doom)
THE STAGE
Os relançamentos de materiais clássicos, raros ou obscuros
EDIÇÃO: 271
NOV-DEZ/2022
26 SINNER são um prato cheio para os colecionadores. Muitos, claro, ANO 25
organizam suas contas para poder adquirir tantas novidades
28 HIDDEN TRACKS
Zona Morta
que são colocadas à disposição. O fato é que o mercado fica EDITOR
aquecido, pois temos os lançamentos regulares, que são Claudio Vicentin - claudio.vicentin@roadiecrew.com
30 KRISIUN muitos, e estas obras saindo em boxes luxuosos, em pacotes EDITOR ONLINE
34 JOURNEY em vinil (inclusive os coloridos) ou em CDs. Luiz Tosi - luiz.tosi@roadiecrew.com
38 COLLECTION Neste campo, destaco a celebração dos quarenta anos de
The Number of the Beast, com o pacote em vinil triplo que o REDATOR-CHEFE
Joe Satriani Ricardo Batalha - rbatalha@roadiecrew.com
Iron Maiden irá disponibilizar aos fãs no dia 18 de novembro.
40 LACUNA COIL A edição comemorativa apresenta o ao vivo Beast Over CONSELHO
44 SEVENTH STORM Hammersmith e o álbum que marcou a estreia de Bruce Airton Diniz - airton@roadiecrew.com
46 RELEASES Dickinson com um repertório que traz Total Eclipse, uma de EDITOR DE ARTE
49 FRONT COVER (MARCELO VASCO) minhas favoritas, no lugar de Gangland. Steve Harris sempre Leandro de Oliveira - leandro@roadiecrew.com
Behemoth - Opvs Contra Natvram reconheceu o “erro” cometido, mas agora o fã poderá ter a
versão que poderia ter sido a original. Até que enfim... REDAÇÃO
51 ROCK AVERAGE Antonio Carlos Monteiro - tony@roadiecrew.com
Celtic Frost - Into the Pandemonium Outro clássico que terá um “pacotaço” especial é Creatures Daniel Dutra - daniel.dutra@roadiecrew.com
of the Night, do Kiss, que teve um grande impacto no Brasil. Guilherme Spiazzi - guilherme@roadiecrew.com
54 TANKARD O lançamento, com cinco CDs + Blu-ray, três LPs de 180g Valtemir Amler - valtemir.amler@roadiecrew.com
56 DESTRUCTION remasterizados, também está marcado para 18 de novembro. COLABORADORES
60 BLIND EAR Já que falei da Total Eclipse, no caso do Kiss o material trará Alessandro Bonassoli, Écio Souza Diniz,
Guilherme de Alvarenga (Paradise In Flames, D.A.M) a versão demo da ótima Not for the Innocent, com os vocais Heverton Souza, Ivanei Salgado,
divididos por Gene Simmons e Paul Stanley. João Messias Jr., Leandro Nogueira Coppi,
62 DROWNED Leonardo M. Brauna, Luiz Cesar Pimentel,
No campo do Brasil, diversas gravadoras e selos estão Maicon Leite , Marcelo Vasco, Matheus Vieira,
64 BAEST Acesse nosso Canal no Telegram:
soltando materiais raros, mast.me/BRASILREVISTAS
altamente “turbinados”, caso Paulo César Teixeira Júnior e Thiago Prata
66 AT THE MOVIES da Classic Metal Records em seu pacote especial “Memórias
68 ETERNAL IDOLS Metálicas”. Alguns, tive o prazer de escrever as biografias para Fotógrafos: Roberto Sant’Anna, Marta Ayora
Steve Grimmett (Grim Reaper) o encarte, casos do Karisma, Mammoth e o Zona Morta, este COLABORADORES NO EXTERIOR
70 BACKGROUND último que figura na seção “Hidden Tracks” desta edição. EUA: Chris Alo, Ken Sharp, Mitch Lafon
Dorsal Atlântica (Parte 1) A ed. #271 traz o Blind Guardian na matéria de capa, com
ASSINATURAS E EDIÇÕES
Marcus Siepen, André Olbrich e Hansi Kürsch falando sobre o ANTERIORES
74 CLASSICREW mais recente álbum, The God Machine. Voltando 25 anos no Maria Diniz - assinaturas@roadiecrew.com
Humble Pie, Siouxsie and The Banshees, Social Distortion e Tank Tel.: (0xx11) 96380-2917
tempo, lembro quando era roadie do Angra e conheci Kürsch,
76 SOULFLY que tinha ido ver um show da banda em Offenbach (ALE). Na PUBLICIDADE
80 BLACK PANTERA ocasião, parabenizei-o pelo sucesso de Imaginations from the Depto. Comercial - anuncios@roadiecrew.com
82 PROFILE Other Side (1995) e, agora, é muito bom ver a banda alemã
novamente em alta, tanto em estúdio quanto nos palcos. DISTRIBUIÇÃO PARA TODO O BRASIL
Marco Mendoza (Iconic) Roadie Crew
Falando em Alemanha, a ed. #271 também traz entrevistas www.roadiecrew.com/roadie-shop
com Sinner, Tankard e Destruction. A revista ainda conta com
Krisiun, Soulfly, Drowned, Black Pantera, Journey, Lacuna Coil, DISTRIBUIÇÃO NAS BANCAS
Seventh Storm e At the Movies. E, claro, as tradicionais seções, RAC Mídia
com destaques para o Dorsal Atlântica no “Background” e o IMPRESSÃO E ACABAMENTO
“Eternal Idols” do saudoso vocalista inglês Steve Grimmett, Grafilar
que também figura no pôster. Boa leitura.
ROADIE CREW é uma publicação
Ricardo Batalha da Roadie Crew Editora Ltda.
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São Paulo/SP - BRASIL
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ISSN 1415-322X
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Todos os artigos aqui publicados são de
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necessariamente a opinião da revista
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Blind Guardian: Dirk Behlau • Krisiun: Maya Melchers SOMOS FILIADOS ABEMÚSICA

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#ENTREVISTAS #NOVIDADES #ACONTECIMENTOS

SIMETRIA ZERO
UNINDO O MELHOR DE CADA MUNDO
Swami Machado e Ralph Murdock (vocais), Wesley Santos, Vinicius Azevedo, Ralph
Daniel Gaia (guitarra e vocal), Vinicius Murdock, Cássio Felipe, Daniel Gaya e Swami
Machado (à frente), metalcore 100% nacional
Azevedo (guitarra), Wesley Santos (baixo) e
Cássio Felipe (bateria) sabiam que começar a
trilhar seu caminho autoral sob os auspícios
do metalcore em nosso país seria complicado.
Só que, além de não fugir do desafio, o grupo
carioca Simetria Zero estava ciente da questão
e até tranquilo com isso. “O metalcore é algo
relativamente novo se comparado a outros
estilos que já têm suas raízes bem mais firmes
e com um público mais fiel por aqui”, afirmou
Daniel Gaia. “Tudo o que é novo enfrenta
resistências, algumas pessoas ainda torcem o
nariz para o metalcore, mas creio que isso já
esteja diminuindo.” Observando o crescente
número de atrações do estilo que se apresen-
tam por aqui e o sucesso que eles mesmos
vêm obtendo, é fácil entender a razão dessas
Fotos: Divulgação

palavras. Confira mais a seguir nas palavras de


Daniel Gaia e Swami Machado.

A banda surgiu em 2016 e passa-


ram-se alguns anos até o lançamento iniciamos as gravações no meu homestudio. Representando outra faceta, nossas músicas. Contatamos um saxofonista
do primeiro registro, Universo Foi um processo um pouco demorado por Devaneios é mais rápida e direta, com italiano chamado Cam Rossi, que fez um
Paralelo (2019). Como foi o período estarmos nos conhecendo ainda como elementos típicos do hardcore melódico. trabalho extraordinário.
que antecedeu o debut? banda... Como seriam os vocais de cada um, Daniel: Essa foi uma das primeiras
Daniel Gaia: Cássio e eu já tínhamos uma os timbres, quem iria mixar e masterizar por a ficar pronta também por ser uma das Por favor, comentem também
Acesse
banda antes, de rock alternativo. Fazíamos nosso Canal
um preço dentro do nossono Telegram:
orçamento. Com o t.me/BRASILREVISTAS
primeiras que criei, lá por volta de 2019. sobre Titereio, com seu belo trabalho
shows pelo Rio de Janeiro, mas tivemos que tempo, fomos sanando esses contratempos e Lembro que fiz instrumental e letra em de guitarras.
parar nossas atividades por alguns problemas conseguimos mixar com um produtor italiano algumas horas por estar com alguns Daniel: Titereiro é uma das minhas
de saúde que tive que tratar. Assim que fui chamado Simone Pietroforte, que nos fez soar problemas familiares. A composição sempre preferidas do álbum! Ela faz parte dos raros
melhorando, não pude retornar ao nosso pri- do jeito que a gente queria. me fez desabafar coisas que sinto, mas não insights de inspiração que fez com que ela
meiro projeto e resolvemos tocar músicas de sei como ou pra quem dizer para aliviar. fosse totalmente feita em algumas horas.
bandas de metalcore de que sempre gostamos Gostaria que falassem sobre Não lembro de muitos detalhes, mas ela
apenas por diversão. Nessa época, eu já tinha algumas composições de Universo Seguindo adiante na jornada, em saiu muito naturalmente, creio que o mais
alguns instrumentais prontos, como Asas de Paralelo. A primeira que destaco é 2020 vocês lançaram o EP Através do difícil foram os breakdowns, que tinham que
Plástico, Via e Devaneios. Foi então que o Asas de Plástico. O que podem nos Espelho, que abriu uma série de portas conversar 100% com os riffs da música.
Cássio me apresentou ao Swami, que tinha contar sobre ela? para a banda. Como foi essa época
algumas letras. Por conseguinte, resolvemos Daniel: Asas de Plástico foi um dos para vocês? Para finalizar, falem sobre Swan-
começar um projeto autoral e depois chama- primeiros instrumentais que fiz, em 2009, Daniel: Apenas um ano antes, nós song, que fecha o repertório do mais
mos o Wesley, que chegou animando ainda se não me engano. Estava me descobrindo lançamos o nosso primeiro CD, só que a gente recente álbum.
mais a gente. De início demoramos um pouco ainda como compositor no estilo, mas não para, tanto eu compondo instrumentais Swami: Swansong fala sobre desistir
para fechar com um guitarrista solo, passamos apesar de ela soar bem crua, gosto muito das como Swami escrevendo. Nós tínhamos muitas de desistir e encarar tudo de frente.
por algumas formações e hoje somos a transições dos versos para os refrãos. outras ideias que não entraram em Universo Também é um trocadilho com meu nome,
Simetria Zero. Swami Machado: Escrevi a letra de Paralelo e que víamos que havia potencial ne- dizendo pra mim que todos os dias eu
Asas de Plástico quando tinha 15 anos, las. Resolvemos lançar esse EP para reaquecer preciso ser minha melhor versão e que está
Falando nisso, como começaram a estava apaixonado na época, por isso ela soa nossos corações e dos que já nos seguiam, que tudo bem em não ser o melhor, mas o que
surgir suas próprias canções? Ainda tão jovial e empolgante. sempre estão ávidos por novidades. importa é que dei meu melhor.
lembram como foi esse processo, lá Valtemir Amler
no início? Outra que se destaca já na primeira Do mais novo álbum, Pecados,
Daniel: Mesmo na época em que eu audição é Makoto, com suas linhas também gostaria de destacar
tocava rock alternativo, sempre fui ouvinte acústicas no início e o riff principal algumas canções. Para começar,
de metalcore. Sempre gostei muito de repleto de peso e groove. Sem Ar, que traz até saxofone na sua
compor instrumentais de todos os estilos de Daniel: Essa é a que podemos chamar trama musical.
que gosto. Desde 2009 tinha várias músicas de ‘música Frankenstein’: um punhado de Daniel: Essa música foi a única que
prontas que fui lapidando com o tempo. O riffs combinados que se transformou numa não foi feita junto com as outras em um
encontro com um letrista e vocalista como o ideia só. E, é claro, o refrão melódico que curto espaço de tempo. Ela já estava
Swami foi a peça que faltava para completar não pode faltar. pronta desde antes do nosso EP, mas
as composições e iniciar de vez a banda. Swami: O nome Makoto vem direto guardamos para este momento especial,
de uma citação de Confúcio, sobre sermos que é o nosso segundo CD. A ideia do
Como foi o trabalho em estúdio para sinceros com os outros e com a gente solo de sax foi de Swami. Nós gostamos
Universo Paralelo? mesmo. Há também outra citação dele no muito do instrumento e sempre foi nosso
Daniel: Depois de finalizarmos as músicas, final da música. sonho incluir um solo de sax em uma de
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JOÃO MÜZEL
SHREDDER, SIM, MAS COM MUITO GROOVE!
Não é todo dia que você conhece a Após iniciar com um instrumento de sopro, João Müzel vivendo exatamente aquilo na época. Joe
história de um guitarrista virtuoso que encontrou nas seis cordas a expressão ideal do seu talento Satriani passou por algo parecido no começo
nasceu para o mundo da música como da carreira, gravando tudo sozinho e de
clarinetista. Apenas por isso já valeria forma independente.
conhecer a história de João Müzel, que
migrou para as seis cordas após conhecer Já que falamos da sua carreira solo,
o trabalho de Steve Morse no Deep Purple. você recentemente lançou o single
“Perto dos meus 10 anos, prestei bastante Animal, que evidencia justamente
atenção na música Sometimes I Feel Like esses elementos todos que menciona-
Screaming, em que Steve Morse faz um mos acima.
trabalho excepcional de guitarra, com João: Escrevi Animal logo depois que
solos e melodias extremamente marcantes. assinei contrato com a MS Metal Agency.
Aquilo mexeu comigo de uma forma Eu já tinha o riff principal há um tempo
bizarra, dali em diante eu só quis saber e resolvi usar, achava ele bem thrash. Os
de música e guitarra”, conta ele, para em versos são bem groovados e ela possui um
seguida complementar: “É doido pensar breakdown com total influência de Gojira.
que eu já tinha uma guitarra desde os 4 Acho que um diferencial bem grande em
anos, ganhei do meu pai uma Stratocaster uma música instrumental é o refrão, algo que
e nunca liguei para ela, mas depois de prezo bastante nas minhas composições. Ali
Steve Morse, ela virou a minha companhia pode-se deixar o shred um pouco de lado e
de todas as horas”. Confira mais da jornada trabalhar as melodias.
do guitarrista na entrevista a seguir.
Sabemos também que você já está
O seu primeiro contato com um trabalhando no EP de estreia de seu
instrumento musical aconteceu ainda projeto solo. O que mais pode nos
na sua infância, com o clarinete. De contar sobre ele?
cara isso me chamou a atenção, pois João: O EP vai seguir a mesma linha
não é o começo mais típico para um thrash/groove/shred. Trabalhei bastante
Acesse
guitarrista. Você ainda lembra a razão nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS na pré-produção dele e gostei muito do
de ter escolhido um instrumento de resultado. Compor nesses estilos é algo que
sopro primeiro? faço com facilidade, nem sempre consegui
João Müzel: Venho de uma família de fugir da veracidade de um riff de thrash
músicos por parte do meu pai e todos são Você chegou a mergulhar mais fundo e bandas. Dimebad Darell foi um dos metal. Todas as músicas já estão produzidas
envolvidos com música de alguma forma, da discografia do Deep Purple, Dixie principais, juntamente com Kiko Loureiro, e agora vou começar com a gravação das
alguns até mesmo profissionalmente. Dregs e Rainbow, por acaso? Como avalia Joe Satriani e Silas Fernandes, entre outros. guitarras e depois o contrabaixo.
Lembro de ter ido à igreja com meus pais a abordagem de Morse e Blackmore?
e ter visto minhas primas tocando cla- João: Com 15 anos eu cheguei a escutar Percebi que você gosta de ir de so- Quais são os próximos passos na
rinete em uma banda sinfônica. Não me toda a discografia do Deep Purple, sempre los rápidos a riffs repletos de groove. sua carreira?
recordo bem o motivo de o instrumento achei tudo sensacional. Confesso que nunca Como conseguiu o equilíbrio perfeito João: Levar essas músicas para os palcos
ter me chamado a atenção, mas a música fui de ouvir os trabalhos do Rainbow, apesar entre a técnica imprescindível a um está nos meus planos para 2023, logo após
sempre mexeu comigo de alguma forma. de achar muito bom! Lembro de tentar shredder e a simplicidade visceral do o lançamento do EP. Já estou pensando e
Logo comecei aulas de música e iniciei os escutar Dixie Dregs quando era mais novo e groove/thrash? selecionando alguns músicos para integrar
estudos com o clarinete. não consegui, meu ouvido ainda não sabia João: Essa mistura foi natural quando co- comigo o Müzel Trio, vai ser um desafio tocar
ouvir jazz/fusion. Morse e Blackmore pos- mecei a compor. Acho que ouvir muito desses essas músicas somente com uma guitarra,
Algo do conhecimento de adquiriu suem abordagens bem diferentes. Na minha dois lados me ajudou bastante. Ao mesmo baixo e bateria no line-up, mas é algo que
naqueles anos dedicados ao clarinete opinião, Morse é um guitarrista mais técnico tempo em que estava ouvindo Sepultura, estou gostando bastante de ensaiar. Estou
acabou migrando para a guitarra, e versátil, já o Blackmore encaro mais como também ouvia um disco do Plini ou do Satriani. planejando um show de lançamento do EP
como campo harmônico, alcance de um compositor, além de ótimo guitarrista, Nunca quis que minhas músicas fossem com alguns convidados, mas ainda não
notas e criação de melodias? mas esse é um dos seus pontos fortes! escutadas somente por músicos, então resolvi posso falar muito a respeito.
João: Eu era muito pequeno, não me apostar nessa pegada mais thrash/groove. Valtemir Amler
dediquei bastante ao clarinete como me Bem, sabemos que Morse é um dos
dediquei à guitarra tempos depois, mas seus favoritos, mas quando você tra- Dito isso, o que o fez optar por
com certeza a percepção e a facilidade com balha na sua própria música, o que te seguir adiante em carreira solo?
melodias veio dessa época. Lembro que eu influencia mais, a pegada mais precisa João: Venho de uma cidade do interior
reproduzia algumas melodias vocais com e elegante de Morse ou a veia mais de São Paulo e aqui poucas bandas
facilidade na guitarra, mesmo sem estar ‘rocker’ de Blackmore? E que outros levaram uma carreira a sério ou deram
tocando de fato o instrumento, era algo bem guitarristas foram referência na hora certo, até hoje normalmente são bandas
natural e que gosto de fazer até hoje, criar de moldar o seu estilo próprio? covers que tocam na noite. Decidi aos 15
um refrão ou algo do tipo que tenha uma João: Sempre tentei soar parecido com anos que queria fazer música instrumental
boa melodia. Nunca tive muito interesse em o Morse quando comecei na guitarra, mas e seguir carreira solo depois de ver uma
jazz, apesar de admirar muito quem toca o é algo muito particular dele e bem difícil entrevista do Silas Fernandes comentando
estilo, mas a junção do heavy metal com uma para mim. Esse lado ‘rocker’ do Blackmore que nunca tinha dado certo em uma banda
banda sinfônica em um concerto ao vivo acabou sendo mais minha cara, vindo e optou por fazer seu próprio som. Isso
sempre me agradou muito. também de outras influências de guitarristas me inspirou a fazer o mesmo, pois estava
ROADIECREW.COM • 7
RAMPAGE
GLÓRIA AOS GUERREIROS DO NORTE
Como aconteceu com tantas outras

Divulgação
bandas ao longo dos anos, a Rampage nasceu
originalmente como uma banda cover, testando
seus limites e ganhando experiência noite após
noite nas mais variadas situações e ocasiões
que só quem já trilhou esse caminho pode
contar. Mas, como convém aos talentosos, eles
logo perceberam que seu caminho seguia para
o autoral, e foi assim que chegamos aqui, no
momento em que eles se preparam para lançar
o disco de estreia. Junior Hachid nos falou mais
sobre a vida da Rampage até aqui.

Como foi a época como banda cover?


Júnior Hachid: A princípio era tentar con-
ciliar o gosto e inspirações de cada integrante
da banda, para assim futuramente chegarmos
a uma conclusão de como seriam nossas
composições. Foram tempos maravilhosos,
pois tocávamos praticamente todo final de se-
mana covers de Malmsteen, Manowar, Primal
Fear, Savatage, Saxon, Judas Priest, Accept, Samuel Carvalho, Adriano Oliveira, André Zorieuq, Junior Hachid e
Gamma Ray e Grim Reaper. Depois chegamos Gleydson Campos, metal tradicional e temas viking em perfeito equilíbrio
a fazer tributos a Judas Priest e Accept. Era
uma energia ótima e algo novo para o público as lendas dos grandes guerreiros.
Adriano Oliveira (guitarra e voz), Gleydson Com essas demos apresentadas ao
que estava carente desses covers e tributos. Como surgiu esse interesse e como
Campos (baixo), André Rocha (bateria) e eu na público, vocês já trabalham na criação
trabalham nas letras?
voz. A reformulação sempre vem a acrescen- de um álbum ou EP?
Qual foi a principal lição que tar, pois traz novas ideias e energia. Júnior: O interesse surgiu através do vasto Júnior: Estamos com as músicas do
aprenderam como bandaAcesse cover e que nosso Canal no Telegram: conteúdot.me/BRASILREVISTAS
envolvendo essa temática, tanto álbum quase prontas. Como tivemos troca de
ficou até hoje? E como foi o trabalho para estabilizar musicalmente como cultural e historicamente. integrantes, aproveitamos para fazer algumas
Júnior: Nós aprendemos que os aplausos, a formação justamente numa época em Nosso foco sempre foi sair da mesmice que alterações. O lançamento do CD creio que
os gritos do público, os comentários sobre que as bandas estavam forçadamente as demais bandas apresentam e que às vezes será no primeiro trimestre de 2023.
as nossas músicas autorias são muito mais mais distantes do público? até dividia o público. Algumas das músicas
satisfatórios e nos dão muito mais força do que Júnior: A formação se manteve estável foram baseadas em filmes como 13° Guerreiro, O que há no horizonte da Rampage?
quando éramos apenas uma banda cover. E porque estávamos criando nossas músicas Homem do Norte, na série Viking e em livros de Júnior: O principal objetivo é lançar o CD.
não é qualquer cover que o público conhece, e elas estavam ficando boas pelo nosso mitologia. Só uma música que sai da temática Estamos em parceria com a MS Metal Agency
na verdade a maioria não conhece muitas julgamento, o que nos trouxe uma grande nórdica que é Prince of Persia, que foi baseada Brasil para realizar esse trabalho e também
bandas aqui no nosso estado (risos). Chegou satisfação, uma ótima recompensa. E como na história de um jogo e do filme. estamos ansiosos para executar nosso álbum
a ser cômico certa vez em que tocamos em um todos nós tínhamos empregos, não havia a ao vivo tanto aqui no Espírito Santo quanto
evento e a última música da apresentação foi necessidade financeira de estar nos palcos. Sobre o seu repertório próprio, em outros estados e quem sabe no exterior.
Princess of Night, do Saxon. Algumas pessoas gostaria que comentassem a já citada Temos alguns shows marcados, algumas
bateram cabeça e tal. Na saída do palco, fomos Como tem funcionado o processo Prayer for Tyr, que tem todo um apelo ideias sobre novos singles já estão em mente,
abordados por uns jovens que perguntaram de composição de vocês? ‘cinematográfico’ em sua trama. inclusive será um álbum mais brutal, com
qual era o nome daquela última música e Júnior: Sabíamos o nível dos músicos, Júnior: Na verdade, todas as nossas mú- a mesma pegada ‘cinematográfica’ usando
elogiaram falando ‘essa música autoral de vocês então dava para trabalhar bem as músicas. sicas têm um apelo cinematográfico e sem- efeitos sonoros e aquela pancada nos ouvidos.
é foda!’ Imediatamente demos umas risadas e Foi quase um teste pra todos nós. A primeira pre usamos efeitos sonoros característicos Nosso grande sonho é poder mostrar nosso
explicamos que não era nossa e apresentamos o música com a nova formação foi Sigurd, ela da história ou saga ali contada, isso dá mais som para o público europeu e tocar em um
Saxon para aqueles jovens. é bem agressiva, pesada, técnica e a banda vida à música. Algumas delas têm narrativas grande evento. Temos certeza que o futuro da
gostou dela. Na sequência, veio Prayer for e vocais diferentes sempre diferenciando Rampage é promissor e próspero.
Consta que em 2017 a banda Tyr, ela é focada mais no metal progressivo, os personagens. Prayer for Tyr foi baseada Valtemir Amler
parou, só retornando em fins de 2019, na harmonia e na melodia, e também foi em uma oração ao deus Tyr durante uma
pouco antes de a pandemia fechar as bem aceita por nós. Então tínhamos quatro preparação ao combate.
portas das casas de shows. Como foi a músicas autorais, cada uma em um estilo, o
reformulação da banda, em termos de que nos deu uma boa margem para novas Outra que chama a atenção ime-
novos e antigos integrantes? criações. Já tínhamos decidido a temática da diatamente é Asgard, com ótimas
Júnior: Aproveitamos aquela situação da banda que seria sobre sagas vikings, mitologia passagens nas guitarras. O que nos
pandemia para poder focar na estrutura da nórdica, fantasia e batalhas e misturamos contam sobre essa canção?
banda nos quesitos composição e gravação. tudo isso com power metal, prog metal, heavy Júnior: Asgard foi criada para ter
Contávamos com três ex-integrantes nessa metal e até pitadas de viking metal. aquele refrão matador, apelativo e empol-
volta que ajudaram na finalização de algumas gante. A letra se encaixou perfeitamente
músicas e hoje só fiquei eu da primeira for- Pelas demos, que encontramos no com o instrumental e ficamos muito feli-
mação. Agora contamos com um integrante seu canal no YouTube, percebemos que zes com o resultado desse tema. Inclusive
novo, o baterista André Zorieuq, e em breve a banda tem uma conexão temática ela foi escolhida para ser a música que dá
seremos só quatro integrantes na banda: forte com o passado, abordando nome ao álbum.
8 • ROADIECREW.COM
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CARAVELLUS
TALENTO E OUSADIA
Uma mudança de Pernambuco para Glauber Oliveira, Daniel Felix, Leandro Caçoilo, Rafael Ferreira e Emerson
Brasília e a entrada no Dark Avenger Dácio: mesclando a cultura do nordeste do Brasil com a música pesada
fizeram com que o guitarrista Glauber
Oliveira suspendesse temporariamente
as atividades do Caravellus. Porém,
totalmente reformulada com Glauber,
Leandro Caçoilo (vocal), Daniel Felix
(teclados), Emerson Dácio (baixo) e Rafael
Ferreira (bateria), a banda está voltando
à ativa com Inter Mundos, trabalho cuja
composição durou mais de cinco anos. O
álbum conceitual inova ao fundir heavy
metal com ritmos regionais nunca antes
utilizados juntamente com rock pesado,
como frevo, caboclinho e coco de roda.
Glauber e Leandro falaram sobre essa nova
fase do Caravellus.

O último disco do Caravellus foi


Knowledge Machine, que saiu em
2010. Depois de mais de dez anos,
Fotos: Divulgação

vocês voltam com um trabalho


grandioso, pra dizer o mínimo. A ideia
era voltar em altíssimo estilo?
Glauber Oliveira: Eu queria que fosse
um disco para sacramentar a missão que Qual a relação do escritor Ariano cipalmente a originalidade ao apostar num Caravellus possa levar para as pessoas algo
a banda sempre teve, a de mesclar nossa Suassuna com o álbum? som totalmente autoral envolvendo música que transcende a questão musical, algo
cultura, sobretudo do lugar em que a ban- Glauber: Ariano tem uma influência brasileira, só que uma música brasileira dentro desse universo do espetáculo dos
da surgiu, que é Pernambuco,Acesse
no nordeste nosso Canal
fortíssima na nono Telegram:
nossa obra tanto quesito diferentet.me/BRASILREVISTAS
do que a gente está acostumado, musicais do teatro. Então, o show de Inter
do Brasil, com a música pesada, com heavy musical como uma questão estilística da uma música brasileira que já está no DNA da Mundos com certeza será um muito especial
metal, principalmente dentro dessa área do escrita, porque ele, além de escritor, foi banda. O Glauber e o Daniel já tocaram com porque será embebido nesse sentimento de
metal progressivo que sempre foi o estilo também propagador da cultura brasileira, vários artistas de forró e isso está incorporado algo que transcende o aspecto musical.
da banda. Então, a gente queria que essa sobretudo do nordeste do Brasil. Ele foi o cara na música da banda. Além disso, tem vários
mistura se desse de uma forma ainda mais que criou o Movimento Armorial, que surgiu gêneros ali que que você vê na música pesada Leandro, na foto promocional você
aprofundada, o intuito era esse. Foram na tentativa de se instituir no Brasil uma pela primeira vez, como o caboclinho, que é aparece com uma pintura nos olhos. O
cinco anos de muito trabalho desde o arte e uma cultura propriamente nossas. A um estilo bem popular e foi incorporado na que significa essa pintura?
início da produção, porque não é só a parte influência de Ariano na gente está na questão música do Caravellus. Leandro: Na verdade, a ideia da
musical, tem toda uma riqueza poética por estética musical e também no texto, que a pintura foi muito legal porque tem a ver
trás desse disco que vem agregar ainda partir de Inter Mundos se dá de forma muito As letras são em inglês, mas há com as raízes indígenas do Brasil. É algo
mais valor ao trabalho forte, porque isso já faz parte da nossa base, vários trechos em português. Por que muito importante e a gente tem que ter
da relação do Caravellus com o Movimento você lançou mão desse recurso? orgulho disso. Assim, resolvi fazer uma
De forma resumida, qual a história Armorial. E tudo que é presente na cultura Glauber: Isso se deu porque Inter pintura de guerra. Como a gente é uma
por trás de Inter Mundos? pernambucana e do nordeste vai estar sempre Mundos tem, além da parte musical, essa banda que representa o Brasil, a gente quer
Glauber: Inter Mundos traz uma muito conectado com a música da banda. parte textual muito forte. Então, como é ser lembrado assim. Então, minha ideia foi
história própria escrita por mim. Nela, uma história que se passa no nordeste e tem criar como se fosse um personagem nas
os personagens principais centrais são Leandro, como você passou a fazer essa atmosfera, a língua portuguesa surge apresentações do Caravellus com essa
Arteiro e Aurora. É um romance e junto parte do Caravellus? de uma maneira mais contundente por esse pintura de guerra, com a ideia de um show
com esse romance a gente aborda uma Leandro Caçoilo: Eu entrei na banda motivo. Em alguns momentos, é por uma mais teatral. É dessa forma que eu vou
série de questões universais, como dis- por indicação do meu amigo e assessor questão mesmo de estilística, de passar uma encarar quando a gente entrar no palco.
criminação, disputa de classes, religião, de imprensa Thiago Rahal Mauro. O carga dramática mais fiel ao local onde a Antonio Carlos Monteiro
e é um disco que traz uma mensagem Glauber estava perguntando para ele sobre história se passa. Também tem um outro
de redenção que muitas vezes a gente cantores, já que ele estava querendo voltar fator, que é a questão de se criar uma
esquece, em que tudo que a gente en- com o grupo, e eu fui indicado pelo Thiago. dinâmica linguística sobretudo para que
trega para o universo volta para a gente O Glauber me mandou algumas demos os fãs de fora do Brasil, que não falam a
de alguma forma. A saga da redenção do que seria Inter Mundos e eu curti de língua portuguesa, tenham a curiosidade
de Arteiro eu diria que é o cerne, vamos cara! Encarei o desafio, já que eu nunca de saber o que aquele trecho está contan-
dizer assim, para transformar a ação do tinha cantado em uma banda de prog do – quase como um easter egg.
personagem de algo que ele era para metal, principalmente com essa vertente
algo melhor. E é uma história que traz brasileira muito enraizada, o que faz total A história e as músicas de
muito da fantasia nordestina, do folclore diferença na música da banda. Inter Mundos passam um clima bem
nordestino e dessa questão metafísica teatral. Você pensa em fazer uma
que é muito presente na cultura nordes- Foi isso que te atraiu no projeto? montagem ao vivo do disco como
tina sertaneja, essa coisa do sacro e do Leandro: Primeiro de tudo, foi a proposta uma ópera-rock?
profano unidos no mesmo lugar. da banda, que achei muito interessante, prin- Glauber: A ideia é que realmente o
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GRAVEYARD OF SHADOWS
DEATH/DOOM ABISSAL
O guitarrista e vocalista Vinicius Lima é baterista Luis e eu a criamos nos ensaios
a força motriz por trás da Graveyard of Sha- e apresentamos essa música uma única
dows, mais nova aposta do crescente cenário vez ao vivo em 2004. As pessoas pediram
death/doom nacional. Influenciado desde bis, mas já estávamos detonados e resol-
o clássico Black Sabbath até o épico Can- vemos não tocar novamente. Depois que
dlemass e os viscerais Saturnus e My Dying a banda acabou, ela ficou engavetada.
Bride, esta ‘one-man-band’ ganha expressão Quando Abyssal estava quase pronto e
própria por conta das letras, que versam compus War, falei com o Luis e ele me
sobre o cotidiano e as observações do músico, respondeu: ‘Da hora, se você quiser fazer
carregando assim peso e emoções muito é isso mesmo!’. Então agreguei como se
pessoais e únicas. Após lançar o primeiro fosse uma faixa bônus no álbum tocando
álbum, Abyssal, Vinicius já contempla o futuro as influências do passado com uma
e planeja para o ano que vem o lançamento de roupagem mais atual. Se o tempo que eu
novas músicas, como nos conta a seguir. tenho me permitir, ainda vou melhorar
alguns detalhes dela futuramente.
Era sua intenção desde o início a
criação de uma ‘one-man-band’? Quais Com o debut lançado e já encon-
são as vantagens e possíveis desvanta- trando o seu público, já existe um
gens que vê nesse formato? planejamento para os próximos passos?
Vinicius Lima: Foi por causa das Quando devemos ter novas composi-
pessoas que conheço que acabei migrando ções da Graveyard of Shadows?
para esse estilo. Dentro da minha vida de Vinicius: Eu quero lançar algo no pró-
músico e compositor, as obras passaram por ximo ano, melhor planejado e mais técnico
uma ‘triagem’. Eu sempre me considerei um se conseguir. Ainda existem composições a
guitarrista de heavy metal até que me fizeram serem gravadas e já iniciei um novo arqui-
entender que eu criava algo mais sombrio e vamento de instrumentais e pensamentos
pesado. Não era o que eu queria a princípio, escritos para transformar em algo.
porém, depois que a seleção de músicas foi
feita e resolvi gravar com meuAcesse
vocal gutural, nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
E quanto aos palcos? Você preten-
as coisas ganharam forma. Eu parti para a de reunir uma formação para colocar
gravação sozinho porque sou um estudante de a banda na estrada, ou pretende
música e gravações por canais, queria provar Vinicius Lima mergulha no death/doom manter a Graveyard of Shadows como
que era possível fazer isso. A vantagem é que na estreia de seu novo projeto musical projeto de estúdio?
nosso pensamento pode chegar a resultados Vinicius: Cara esse álbum deve estar
sem que outro produtor mude a proposta sozinho e não fazer parte de grupos é porque Outra que gostaria que comen- bom mesmo! Desde o lançamento estou
para se tonar mais convencional ou clichê. naturalmente as pessoas me isolam (mesmo tasse é The Prisoner of Tower, que sendo pressionado para voltar aos palcos.
A desvantagem é que agora estou sozinho sem eu entender o porquê). Enfim, minha parece mesclar os elementos das duas Eu gostaria de retornar não só para atender
e a banda que for me acompanhar será tristeza está expressa não só no vocal grave canções citadas anteriormente. ao público, mas por uma questão pessoal
inteiramente de ‘sidemans’. e depressivo como também nas notas do Vinicius: Essa faixa é legal porque como músico que sempre fará parte de mim.
violão que toco desde 2003 nos ensaios desde a criação do instrumental de Porém, o problema é que sozinho como
Você acaba de lançar seu debut, da banda Morbid Hate, quando nasceu a guitarra em cima do primeiro metrônomo estou terei mais problemas para reunir uma
Abyssal. Há quanto tempo vem composição. E reparando que eu toco isso ela se manteve quase que inalterada até equipe para aceitar minha proposta. Às
trabalhando nessas canções e como há tanto tempo e regravando várias vezes os dias de hoje. Isto me deu um norte vezes me assusto com os orçamentos para
funcionou a gravação? para melhorar e alterar detalhes que eu per- do que eu teria que me aprimorar para realizar meus planos, pois terei que ensaiar
Vinicius: O trabalho foi realizado inteira- cebo agora como algumas coisas funcionam gravar não só as faixas de Abyssal, mas durante um tempo até que consiga o que es-
mente por mim mesmo, sem equipe. Desde a melhor do que eram antes. De um violão que também de várias outras de outros pro- tou querendo e, por outro lado, a economia
composição musical até gravação, mixagem era batido, transformar-se em dedilhados jetos que eu tenho e já lancei até agora. não está para brincadeira, tudo anda cada
e masterização. A arte e tudo mais também únicos foi um grande feito! Gostaria de ter feito um lançamento mais vez mais difícil e não estou enxergando que
fui eu que fiz, pode se dizer que o álbum elaborado para essa faixa. Ela conta a isso vai acontecer assim tão rápido.
inteiro é um conceito meu. Quando me vi so- Do outro lado da moeda, temos história de um homem que foi condenado Valtemir Amler
zinho e decidi que iria partir para a gravação, Agony Of Souls, mais pesada e extrema, por seus iguais a permanecer em prisão
fiz tudo para provar meu potencial e o fato movida a riffs densos, vocais rasgados perpetua em uma torre, sem água e
de que isso tudo era possível. O estudo levou e linhas de teclado que garantem um sem comida. Sobreviveu por muito
a todas as coisas, enquanto passei a vida clima único para a canção. tempo pelo acaso, porém ao morrer
aprendendo o instrumento, efeitos, canais, Vinicius: Eu quis passar o efeito de um assombrou o lugar para sempre.
chegou um dia em que estudei um pouco de turbilhão de agonia de almas presas em agonia.
cinema e animação, então consegui fazer É uma composição criada nos sintetizadores Finalizando essa parte, o álbum
minha arte ter forma. da minha pedaleira Roland GR55, toda essa encerra com Systematic Method of
tensão em forma de sinfonia sinistra demonstra Destruction, uma faixa que traz ele-
Gostaria que comentasse algumas a prisão de almas que não descansaram e mentos que vão do heavy tradicional
faixas e a primeira é New Rose, lúgu- assombram em desespero. Eu gostaria de ao black metal.
bre, densa, mas muito bem arranjada. tocar essa música um dia com mais músicos e Vinicius: Essa faixa bônus é a
Vinicius: New Rose descreve minha instrumentos, acho que ainda não alcancei o canção mais rápida que tocávamos
depressão pessoal. O fato de estar sempre potencial que essa faixa pode atingir. nos ensaios do antigo Morbid Hate. O
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PDAT84
DARK AMBIENT, BLACKGAZE E MUITO MAIS
Mesclar diferentes ambientes musicais de Gostaria que falasse um pouco

Divulgação
forma integrada e simples tem sido um dos sobre duas canções do álbum, sendo a
objetivos do músico Paulo Dat, força motora primeira Nebula Horizon, que arranha
do PDAT84. Influenciado desde o pop rock no blackgaze. O que pode nos contar
de Oasis, passando pelo progressivo do Pink sobre ela?
Floyd e o metal de Therion e Helloween até Paulo: Essa música é a minha preferida
chegar ao blackgaze de Alcest e Sylvaine, a do álbum por várias razões. A primeira, é
música de Paulo é ideal para embalar o pen- por ela ter dado bastante trabalho (risos),
samento, guiando o ouvinte por diferentes mas também por ela mesclar as minhas
emoções e ambientes ao longo da audição. principais influências hoje em dia, que
Conversamos com o músico, que nos ajudou são o blackgaze e o neoclássico/sinfônico.
a compreender melhor a sua viagem musical. Muitas pessoas também me falaram que
foi a melhor música do álbum, mas tem
Você ainda lembra quando começou outras que gostaram mais de Station
a pensar em criar as suas próprias Zero, por exemplo. Nebula Horizon é uma
composições? faixa que consegue traduzir muito bem
Paulo Dat: Lembro, sim. Desde que essa experiência da imersão musical que
aprendi a tocar meu primeiro instrumento, busquei despertar no ouvinte. Ela resume
que foi o teclado, já queria criar minhas bem a essência do álbum.
composições. Eu gravava algumas melodias
no computador, de forma bem primária. Para finalizar, fale-nos sobre o mais
Tenho essas primeiras composições salvas recente single, Fim do Fanatismo, e
até hoje. Inclusive, quatro delas estão no quando podemos esperar por novas
meu primeiro álbum, de forma repaginada. composições.
São as faixas Sation Zero, Rescue, Cycles of Paulo: Esta música é muito especial para
Time e Ghost Garden. mim, por ser a minha primeira faixa cantada.
Eu não me considero um bom vocalista, mas
Você chegou a integrar bandas an- gostei do resultado. Ela traz uma mensagem
tes de partir para seu próprioAcesse
projeto? nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS de conscientização não apenas sobre o atual
Paulo: Tive duas bandas que ficaram cenário político que estamos vivendo no
marcadas na minha trajetória. A primeira Brasil, mas também sobre todas as demais
foi por volta de 2005. Fui o tecladista formas de fanatismo existentes (como o re-
do grupo, que tocava rock nacional com ligioso, por exemplo). Vejo que muitas pesso-
algumas músicas autorais mescladas com Com influências que vão do pop rock ao metal extremo,
as ainda não tratam este assunto como algo
covers no repertório. Chegamos até a Paulo Dat forjou a sonoridade únida do PDAT84 realmente grave, mas considero este um dos
fazer alguns shows importantes na minha principais problemas da nossa sociedade.
cidade, Macaé/RJ. A outra banda foi em reinventados. Quando você cria algo muito Olhando os títulos das canções, e Esta faixa fará parte de uma história, que
2010, que tinha uma pegada mais grunge, fora da caixinha, precisa estar disposto a percebendo a variação das dinâmicas conta lembranças de um futuro distante em
com músicas 100% autorais, também em pagar por um preço. Esse preço pode ser o ao longo do disco, ele parece seguir um que os problemas atuais foram superados
português. Nesta banda, fui o guitarrista e fato de não se ‘encaixar’ em estilo nenhum roteiro do princípio ao fim, apesar de se- por momentos ainda não vividos. Talvez seja
não chegamos a fazer nenhum show, mas e pela dificuldade de alguém se lembrar do guir o caminho instrumental. Você pode um pouco confuso, mas é outra história que
exploramos muito o nosso potencial criativo nome do projeto quando buscam ouvir uma nos falar um pouco sobre a história que pretendo contar. No mais, agradeço pela
e gravamos um álbum bem caseiro com sete música minha, por exemplo. Por outro lado, está por trás dessas músicas? oportunidade de estar aqui. A você, Valtemir,
músicas. Apesar de guardar recordações eu preciso causar esse estranhamento para Paulo: Achei muito legal você ter obrigado pela sua entrevista com excelentes
positivas, também tenho muitas negativas. A que as pessoas entendam que o projeto é percebido isso. Realmente, construí uma perguntas. Agradeço ao Edu Macedo da MS
nostalgia é um sentimento que nos engana, algo fora do convencional. Desta forma, história neste álbum. É difícil falar sobre Metal Agency também, que vem apostando
sabe? Às vezes só lembramos de coisas boas o que este nome representa para minha isso com poucas palavras, mas ela diz muito no meu trabalho e possibilitou a realização
do passado, mas faço questão de não me persona musical é de uma pessoa que busca sobre como lidamos com o tempo e também desta entrevista. Foi uma grande honra
deixar enganar. Quem já teve banda, sabe trazer algo realmente diferente. sobre esse desprendimento citado na estar aqui. Abraços!
que existem muitos problemas comuns. pergunta acima, para conquistarmos as Valtemir Amler
Gosto do fato de The Outside não se nossas liberdades. Essas liberdades podem
Bem, confesso que, quando ouvi a prender a um gênero específico, mas ser interpretadas de várias formas, que
respeito do projeto pela primeira vez, há muitas referências ao dark ambient. podem ser apenas uma maneira diferente
não conectei ao seu nome. Na verdade, Pelo que li, foi sua intenção criar um de se compor heavy metal, até algo mais
pensei que fosse referência a alguma álbum que gerasse essa sensação de profundo, como o nosso poder de questio-
linguagem de programação (risos). desprendimento, de estar ‘solto no nar se alguns padrões da nossa sociedade
Paulo: Muita gente me pergunta o espaço’, por assim dizer. poderiam ser diferentes. Talvez um dia eu
porquê de ter criado esse nome esquisito ao Paulo: Exatamente! Aquilo foi uma possa desenvolver um material que traduza
invés de algo mais fácil de ser identificado. grande experimentação musical, e pretendo um pouco melhor esta história, de forma que
Uma das intenções deste projeto, que prosseguir dessa forma, inclusive. Acho ela pareça menos abstrata. Por outro lado,
tem uma boa dose de experimentação, é que você colocou muito bem a palavra posso manter como está, para que o ouvinte
justamente essa: causar um estranhamento. ‘desprendimento’, pois isso retrata o objetivo tenha a oportunidade de interpretar da sua
Meu objetivo com isso é mostrar que o deste álbum e também do meu projeto de própria maneira, olhando para dentro de si
rock e o heavy metal ainda podem ser uma forma geral. enquanto curte essa imersão musical.
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TWILIGHT AURA
30 ANOS POR UM MUNDO MELHOR
Três décadas de história resumidas Leo Loebenberg, Claudio Reis, Daísa Munhoz, Andre Bastos, Filipe
em 12 músicas. Este é o sentimento em Guerra e Rodolfo Elsas: olhando o mundo sob outra perspectiva
relação ao Twilight Aura, que lança seu
primeiro álbum, For a Better World, 30
anos depois que Andre Bastos formou a
banda ao sair do Angra. Ao lado de Daísa
Munhoz (vocal), Rodolfo Elsas (guitarra),
Filipe Guerra (baixo), Leo Loebenberg
(teclados) e Claudio Reis (bateria), ele
ainda contou com uma série de convida-
dos especiais – Rafael Bittencourt, Luis e
Hugo Mariutti, Andre “Zaza” Hernandes
e Jeff Scott Soto, entre outros – para dar
vida a um material criado ao longo desse
tempo. Um pouco dessa história você
confere agora, e o restante da entrevista
está no site da ROADIE CREW.

Podemos começar falando sobre


a trajetória do Twilight Aura, afinal,
foram 30 anos da formação da banda
até For a Better World. Por que
tanto tempo?
Thiago Kiss

Andre Bastos: Em 1993, recebi um


convite para montar uma banda e tocar
numa festa no saudoso Black Jack Bar.
Chamei o Claudio, o Filipe e mais dois rar por um álbum de metal melódico sobre a Daísa, já que ele havia trabalhado desenhos da Terra. A ideia é a seguinte: em
convencional, mas não é necessaria-
amigos do Skyscraper. Depois desse show, já com ela no Soulspell, então o Tito fez a algum momento, foi-se decidido arbitraria-
sem os membros do Skyscraper,Acesse nosso
decidimos Canal
mente o caso. no Telegram:
Primeiramente, como t.me/BRASILREVISTAS
ponte. Apresentei a história da banda e qual mente o desenho atual dos mapas, onde o
continuar com a banda e completamos a se deu o processo de composição e era a nossa intenção com essa gravação, e Norte ficava em cima, e a Europa, no meio
primeira formação com Luigi Pilosio na lapidação das músicas? ela gostou disso e, também, das músicas do mundo. Lógico que esse desenho foi feito
guitarra, Tomas Kenedi no vocal e Sandra Andre: Concordo que essa talvez fosse e das letras. Nós nos entendemos muito pelos europeus, que se colocaram na parte
a expectativa, um power metal melódico
Reis nos teclados. Passamos o ano de 1994 bem, compartilhamos pontos de vista de cima do globo e ao centro. Isso não é algo
compondo, ensaiando na casa do Claudio convencional, como você bem colocou, mas muito parecidos em relação à vida, e que venha da natureza. No espaço, onde a
e fazendo em alguns shows. Gravamos muitos dos nossos arranjos foram feitos em assim a parceria aconteceu. Sou eterna gravidade terrena deixa de influenciar os
grupo, e todos trouxeram influências que se
nossas primeiras e únicas demos em 1995, e infinitamente grato por ter a Daísa corpos, a noção do que está em cima ou
somaram e acrescentaram às composições,
sendo que o Rodolfo Elsas (guitarra) e o cantando nossas músicas, mas em especial embaixo muda completamente, já que
Leo Loebenberg entraram nessa época. que foram compostas basicamente entre justamente a One Day, que significa muito a referência inicial deixa de existir. Do
1991 e 1995. Temos a Freedom, que é power
Porém, não conseguimos atrair o interesse para mim. O que ela fez nessa música é de espaço, não podemos identificar fronteiras
metal, e a Shouting in the Dark, que é metal
de gravadoras, o que desanimou bastante. trazer lágrimas a cada nova audição. entre países, cores das peles das pessoas,
tradicional, mas também misturamos o
Naquela época, era praticamente impossível religiões ou qualquer outro diferenciador
uma banda de metal conseguir fazer tudohard rock e o progressivo que ouvíamos na Vamos falar sobre o titulo do “artificial”. Então, para podermos melhorar
época nas demais músicas. Tudo isso acabou
sozinha, sem o apoio de um selo ou empre- álbum e a ligação com a capa, que não o mundo, talvez tenhamos que deixar de
sários. Continuamos compondo e fazendo entrando nas composições. destaca ou reforça nenhum país ou lado a noção pré-concebida das coisas que
shows, mas em 1997 tivemos que fazer uma continente na imagem do Planeta Ter- nos foram impostas, com anos de enten-
pausa que acabou durando muito mais do Gostaria de falar sobre a Daísa, ra, que, devo acrescentar, é felizmente dimento limitado sobre certos assuntos, e
especialmente porque a considero a
que imaginávamos. Comecei a viajar muito representado em seu formato real. olhar o mundo de uma outra perspectiva.
a trabalho, e não encontrávamos mais grande vocalista do metal nacional Não creio que a ideia fosse igual há 30 Nem que para isso tenhamos que virá-lo de
tempo para seguir com a banda. Em 2003,atualmente, e a balada One Day anos, então o que o levou agora a uma cabeça para baixo!
me mudei para os EUA, e pouco depois o reforça isso. Como se deu a entrada mensagem de um mundo melhor? Daniel Dutra
dela na banda?
Claudio foi para a Austrália, mas em 2020 Andre: O título do álbum vem de uma
passamos a brincar de fazer “collabs” a Andre: Isso é uma grande verdade. A frase que está na letra da música Prayer,
distância, e aí começamos a receber várias
Daísa Munhoz é uma das melhores vozes do que uma petição ou mesmo uma “oração”
mensagens de amigos sugerindo que mundo, dona de uma técnica e sensibilidade por um mundo melhor, com mais pontes e
tentássemos regravar aquelas músicas, únicas. Conheci o trabalho dela através dos menos muros, com mais compaixão e me-
já que hoje em dia seria possível fazervídeos da Soulspell e, depois, nos CDs, então nos ódio, com menos armas e mais amor.
isso sem estarmos todos no mesmo lugar.fui atrás dos discos da banda Vandroya. Virei Não é uma oração de uma religião espe-
Entramos em contato uns com os outros efã depois de ouvir The Last Free Land e Why cífica, mas uma por uma paz duradoura
decidimos gravar nosso primeiro álbum de
Should We Say Goodbye. A interpretação para a humanidade. Na capa, um trabalho
forma totalmente independente. dela é de chorar. Aí saiu o DVD XX Years of lindo do renomado artista Gustavo Sazes,
Soul, do Soulspell, ao qual assisti inúmeras temos o nosso globo, sim. Porém, tem uma
É interessante notar que, por causa vezes. Quando tivemos a ideia de gravar particularidade sutil, que poucos reparam:
dos integrantes da banda e, também, nossas músicas e entramos em contato com ele está de cabeça para baixo em relação ao
dos convidados, o público pode espe- o Tito Falaschi, nosso produtor, eu perguntei que estamos acostumados a ver em fotos e
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DESTAQUES
PORTAL ONLINE

ENTREVISTA ENTREVISTA
MISTREATED
THE GATHERING Ferrugem nova em folha
Lançamentos e shows

Fotos: Divulgação
O cerne é heavy metal clássico. Só que o
invólucro é formado por hard, thrash, new
O The Gathering, formado atualmente por Silje Wergeland (vocal), René Rutten (gui- metal e prog. Isso sem contar a versatili-
tarra), Hugo Prinsen Geerligs (baixo), Hans Rutten (bateria) e Frank Boeijen (teclados), dade dos guitarristas Emanuel Murialdo
passou pelo Brasil em setembro, tocando em São Paulo e no Rio de Janeiro. Além disso, e Diego Corral, do baixista Davi Isac e do
a banda holandesa lançou este ano dois novos trabalhos de inéditas: o álbum Beautiful baterista Rodrigo Reinhardt, além do tons
Distortion e o EP Interference. “Fazemos música atmosférica: às vezes ela é mais metal, mais graves e únicos do vocalista Henrique
outras é mais rock. E é só isso, de verdade. Alguns dizem que viramos uma banda pop, Radünz. Misture tantas nuances e você terá
mas não concordo. Pop tem a ver com música comercial e, convenhamos, o quanto o mosaico sonoro dos gaúchos do Mistre-
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Beautiful Distortion é um disco comercial? Ele nunca seria um disco bem sucedido nas ated. E é sobre o debut, Brand New Rust
paradas pop, simplesmente não tem os elementos para isso”, comentou Hans Rutten em (2021), e dos próximos passos que Thiago
entrevista para Valtemir Amler. Prata falou com Murialdo.

MEMÓRIA YOUTUBE ASSINATURAS


BATE-CABEÇA E números
RC #191
Rodada de metal extremo atrasados

“No Queen todos éramos ambiciosos e o O podcast Bate-Cabeça, comandado por Para números atrasados ou fazer a
sucesso era um objetivo claro para nós. Ricardo Batalha e Luiz Tosi, apresentou uma assinatura para receber a ROADIE CREW
(...) Por mais estranho que possa parecer, rodada de metal extremoem papos com em casa, acesse:
eu sempre acreditei que essa banda daria Alex Camargo (Krisiun), Edu Lane (Nervo- www.roadiecrew.com/assinaturas ou entre
certo”, Roger Taylor, baterista do Queen. chaos) e Jairo Guedz (The Troops of Doom). em contato pelo whatsapp: (11) 96380-2917.

LEITOR: envie um e-mail para roadiemail@roadiecrew.com,


OS PREFERIDOS DO MÊS colocando seus dados (nome completo, cidade/estado).
Publicaremos alguns preferidos dos leitores a cada edição!

Claudio Vicentin (Editor Chefe) Valtemir Amler (Colaborador) Luís Antônio Amoedo (Leitor)
Machine Head - Of Kingdom and Crown Anti Cimex - Scandinavian Jawbreaker Exodus - Persona Non Grata
Parkway Drive - Darker Still The Sisters of Mercy - First and Last and Always Trivium - In the Court of the Dragon
Blind Guardian - The God Machine Public Image Limited - Album Monster Magnet - God Says No

Ricardo Batalha (Redator Chefe) Paula Maria Cassula (Leitor) Fabrício Matos (Leitor)
Caught In Action - Devil’s Tango Blind Guardian - The God Machine Alice Cooper - Detroit Stories
Trauma - Awakening Stratovarius - Survive Armored Saint - Punching the Sky
Memphis May Fire - Broken Smith/Kotzen - Better Days...And Nights The Hu - Rumble of Thunder

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ARQUITETOS DA PERDIÇÃO

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Após o sonhado disco orquestral, quarteto alemão mergulha


Dirk Behlau

fundo no heavy metal no novo The God Machine

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Por Valtemir Amler música, ainda amamos tocar juntos, ama- André: Os álbuns que lançamos
mos sair em turnê, temos aproveitado naquela época, Battalions of Fear e
Desde 1987, ano em que resolveram dei- muito cada segundo que passamos juntos Follow The Blind (1989), são únicos na
xar de lado o nome Lucifer’s Heritage para nessas últimas três décadas. nossa jornada e são fruto daquela época.
se tornarem eternamente o Blind Guar- Hansi Kürsch: Acho que nós reali- São tão pesados e agressivos, tão crus,
dian, Marcus Siepen (guitarra base), André zamos aquele que é o sonho de muitas e eu ainda amo aqueles discos (risos). Tem
Olbrich (guitarra solo) e Hansi Kürsch muitas pessoas em todo o mundo. Nós vários riffs ali que compusemos inspira-
(vocal e então também baixo) começaram a amávamos heavy metal e sonhávamos dos no thrash metal que ouvíamos em
escrever um dos capítulos mais importan- em sair por aí e tocar para as pessoas. todos os lugares naquela época. Claro
tes não apenas da música germânica, mas Nossa paixão se tornou nosso trabalho e que podemos dizer que ainda éramos
também da música pesada como um todo. conseguimos viver dele. De muitas ma- apenas garotos e imaturos, e tudo isso
Para alcançar esse status, especialmente neiras essa, é a coisa mais incrível que eu é verdade, apenas estávamos tentando
nos anos iniciais, eles não precisaram apos- poderia estar vivendo e sou grato a esses nos aproximar dos nossos heróis. Mas a
tar em elementos incomuns ou inovadores: caras e aos nossos fãs por isso, por ainda nossa cara já estava naquelas músicas,
foram justamente o amor e a fidelidade podermos fazer isso. já mostrávamos a banda que seríamos
aos moldes típicos do heavy metal que alguns anos depois.
transformaram o quarteto (na época com- Comecei falando nisso porque ao longo Hansi: Foi naquela época que você
pletado pelo baterista Thomen Stauch, que das décadas vocês passaram por muitas conheceu a nossa música?
abandonou o barco em 2005) em heróis da coisas juntos, vivendo várias transforma-
cena local e depois do mundo. A diferença, ções no mundo da música. Para começar, Foi com Battalions of Fear, só que
portanto, não estava nos elementos que foram parte importante na consolidação anos mais tarde, nos anos 90. Vocês já
a música do Blind Guardian englobava, de uma cena metal na Alemanha. eram gigantes e eu comprei o álbum pelo
mas sim na maneira como esses elementos Marcus: Bem, eu acho que sim. Ao título de By the Gates of Moria. Para mim
eram abordados. A música ríspida, repleta menos isso é o que as pessoas nos têm dito estava claro que tinha uma ligação com
de referências ao power e ao thrash metal ao longo dos anos, então espero que não O Senhor dos Anéis, de Tolkien. Imagine
apresentada no debut Battalions of minha decepção ao descobrir que
Fear (1988) foi ganhando contornos
cada vez mais lapidados em discos “Todos estamos a faixa era instrumental, achei que
fosse odiá-los para sempre...
como Tales from the Twilight World Hansi: Ah, cara, desculpe (risos
sorrindo de satisfação
(1990) e Somewhere Far Beyond (1992), gerais). Mas que legal essa história,
alcançando o ápice em Imaginations por isso sempre gosto de conhecê-las,
com The God Machine,
from the Other Side (1995) e Nightfall é sempre legal. Agora estou imaginan-
in Middle-Earth (1998). Essa evolução
Acesse nosso Canal do como você ficou ao perceber que
poisno
constante era resultado não apenas de
Telegram:
somos uma t.me/BRASILREVISTAS
banda Gandalf’s Rebirth (N.R.: faixa-bônus
uma abordagem mais meticulosa dos da versão em CD) era instrumental
de metal, e não um
seus compositores, mas de um crescen- também (risos gerais). Mas acho que
te interesse pela música orquestrada. acabamos dando algumas razões para
grupo de compositores
Enquanto o grupo alimentava o sonho ficar feliz ao longo dos anos (risos).
de um álbum orquestral, o uso des-
ses elementos aumentava gradual- clássicos” Sim, e acabaram se tornando uma
mente, chegando às vezes em resul- das minhas favoritas por conta disso.
tados criticados por parte dos fãs. Marcus Siepen Sempre curti Iron Maiden com tantas
Pois bem, Twilight Orchestra: Legacy of estejam sendo apenas educados (risos). músicas com nomes tirados de livros que
the Dark Lands (2019) realizou o sonho E é engraçado, pois quando começamos amo, mas em geral aquelas canções não
orquestral, deixando a banda livre para éramos fãs das bandas que vieram antes tinham conexão com os livros. Com o
novamente apostar naquilo que faz de nós: Accept, Grave Digger, todas aque- Blind Guardian, a conexão era real e acho
melhor: metal. Conversamos com o trio las bandas. Tudo o que queríamos era ser que não fui o único atraído com isso.
de fundadores para entender o funcio- como eles, mas não imaginávamos que Hansi: Também acredito que essa nossa
namento de cada pequena engrenagem um dia realmente chegaríamos lá (risos). É conexão com o mundo dos livros tenha nos
no complexo mecanismo que move essa curioso, nós não sentíamos que estávamos trazido muitos fãs, gente que talvez jamais
enorme máquina divina. fazendo parte de algo especial, que seria ouviria falar de nós, ou que provavelmente
a ‘segunda onda do metal alemão’ ou algo demoraria muito mais tempo para saber
São mais de três décadas juntos, divi- assim. Estávamos apenas fazendo o que que existia na Alemanha uma banda
dindo ideias, trabalhando e excursionando amávamos, sem perceber a importância chamada Blind Guardian. E isso começou de
juntos. Imagino que seja uma ótima sensa- que aquilo teria depois de alguns anos. forma tão simples, não foi algo que pensa-
ção saber que ainda são capazes de compor Hansi: Naquela época, já nos sentía- mos de antemão, do tipo ‘vamos fazer músi-
um álbum como The God Machine. mos parte da cena, mas não de uma for- cas sobre livros de fantasia e ficção-científi-
Marcus Siepen: Sinceramente, é uma ma diferente de ninguém mais. Éramos ca e todos vão nos amar’. Foi simplesmente
sensação maravilhosa. Se você parar garotos que amavam heavy metal com como unir duas coisas que amávamos
para pensar, nós três estamos juntos todas as nossas forças, que iam a shows muito e acabou que deu muito certo. Ah, e
como Blind Guardian pela maior parte e economizavam até o último centavo eu também sempre adorei quando o Iron
das nossas vidas, uma banda que come- para comprar os discos das bandas que Maiden vinha com aqueles títulos tirados
çamos quando ainda éramos adolescen- amávamos. Éramos exatamente iguais de livros sci-fi. Stranger in a Strange Land
tes e, o melhor, ainda amamos muito aos nossos fãs, mas acontece que começa- (Um Estranho Numa Terra Estranha,
o que fazemos, nada mudou ao longo mos a tocar juntos e lançamos um disco Robert A. Heinlein, 1961), Brave New World
dessas mais de três décadas. chamado Battalions of Fear. As pessoas (Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley,
André Olbrich: São décadas de começaram a nos conhecer, mas nunca 1932), Childhood’s End (O Fim da Infância,
trabalho em comum e nós ainda amamos mudamos como pessoas e fãs de metal. Arthur C. Clarke, 1953), cara, são tantas

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referências ótimas, isso sem contar quando den. Então eles criaram uma letra que se história diferente, você ainda sente a cone-
vão para revistas em quadrinhos, filmes, encaixava nessa visão do Iron Maiden. xão com o livro, pois a música tem aquela
séries... E o curioso é que quando realmente atmosfera obscura, aquele sentimento de
mergulharam em uma obra de ficção-cien- E às vezes a história original basica- solidão e desolação que desempenha um
tífica, o título da canção não entregava de mente te leva a uma outra ideia, o que é papel tão importante na obra de Gaiman.
cara, com To Tame a Land. sempre sensacional. Então você precisa em alguns casos estar
Hansi: Exatamente! Às vezes você mais ligado nas emoções despertadas
Baseado em no livro Duna, de Frank lê um bom livro e paralelamente àquela pela história do que na história propria-
Herbert (1965). história fantástica que os seus olhos leem, mente dita. A mesma história, contada
Hansi: Isso mesmo. Incrível! Mas, existe uma outra, tecida dentro da sua com uma emoção diferente, ganha um
eu entendo o que o Iron Maiden fez, em cabeça. Eu mesmo às vezes estou muito sentido totalmente novo.
ambos os casos, quando baseia e não ba- distante da história original do livro que
seia nos livros. Veja, essa conexão entre está me influenciando, como em Secrets of Sim, e essa abordagem mais emotiva
a música e o livro é algo muito difícil de the American Gods, por exemplo. Ali estou do que narrativa que trouxeram na nova
se fazer. É basicamente por isso que não basicamente rascunhando uma ideia que Secrets of the American Gods é algo bem
estou inclinado a fazer músicas conecta- veio do livro (N.R.: refere-se a Deuses Ame- diferente do que fizeram, por exemplo,
das aos livros de Tolkien nesse momento, ricanos, publicado por Neil Gaiman em em Tommyknockers (Tales from the Twi-
pois não estou sentindo que fazemos 2001). Mas mesmo que caminhe por uma light World, 1990), certo?
músicas naquele estilo ultimamente. Hansi: Sim, totalmente. Tommyk-
Se a música não encaixar com a letra, “Do final dos anos 70 nockers (N.R.: Os Estranhos, no
a coisa simplesmente não fará sentido Brasil) é um livro menos lembrado de
para mim. Quando o Iron Maiden ao início dos 80, eu Stephen King, mas ainda assim é bri-
fez To Tame a Land, eles não ape- lhante e me impressionou muito. Na-
nas escreveram uma letra olhando cresci como um fã de quele caso, e em Altair 4, que também
para a história de Frank Herbert, é relacionada a esse mesmo livro, a
eles também fizeram uma música punk rock. Era o que eu forma da narrativa estava diretamen-
que fala a linguagem de Duna. Nos te ajustada à música que tínhamos. Se
outros casos, como em Stranger in mais amava e sempre você perceber a parte instrumental e
a Strange Land, eles apenas usaram então focar na maneira como ajustei
um nome muito bom e a letra não sonhei com a chance de os vocais, perceberá que Os Estranhos
está conectada à obra de Heinlein era o tema certo para encaixar ali,
porque a música não fala a língua de cantar algo nesse estilo” havia uma ligação intrínseca. E, claro,
Um Estranho Numa Terra Estranha,
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS era o livro que eu estava lendo naque-
ela fala a língua própria do Iron Mai- Hansi Kürsch la época também (risos gerais).
Dirk Behlau

André Olbrich, Hansi Kürsch, Frederik


Ehmke e Marcus Siepen, mais focados e
próximos do speed metal do que nunca

20 • ROADIECREW.COM
Ele é geralmente colocado entre os Evil é talvez a música mais tipicamente Marcus: Concordo totalmente!
piores de King, mas está no meu top 5 de Blind Guardian desse novo álbum: tem Isso tem tudo a ver com o fato de que
melhores. Tem tudo que amo lá: aliens, guitarras rápidas, pesadas e melódicas, finalmente conseguimos lançar o nosso
discos voadores, mutações, terror... linhas vocais cativantes, corais, tudo álbum orquestral em 2019. Aquele era
Hansi: Ah, eu também amo esse livro. que esperam de nós, então ela parecia a um sonho antigo, algo que surgiu para
Adoro esse aspecto sci-fi, abordado nessa faixa certa para apresentar o álbum, era nós por volta de 1994 e que obviamente
forma mais ‘pulp fiction’ típica de Stephen a mais representativa. Do outro lado, perseguiu nosso imaginário e nossa
King, e ninguém desenvolve personagens Secrets of the American Gods é a mais criatividade desde então. Foi um alívio
como ele. Esse livro tem todo aquele representativa da parte mais épica e quando finalmente pudemos tirar toda
ambiente dos filmes de ficção-científica orquestral da banda, então ela também aquela música do nosso peito e lançar
dos anos 50, tem tantos elementos dentro precisava de alguns holofotes. No fundo, para o mundo, e ficamos muito orgu-
dele, toda aquela coisa dos computadores, é uma questão de equilíbrio. Procura- lhosos do resultado. Além disso, ter
o Altair 4, é uma história formidável, nun- mos fazer um álbum mais intenso, mas conseguido lançar Twilight Orchestra
ca entendi porque King fica tão embara- não esquecemos tudo o que temos feito também nos ajudou a conceber The God
çado por tê-lo escrito. Talvez tenha sido o nas últimas três décadas, então, embora Machine, pois uma vez que terminamos
momento estranho de vida pelo qual ele de maneira mais contida, temos algo o álbum orquestral, quisemos focar em
passava. Para mim, ele inspira mais medo de orquestral neste álbum. Não é uma nós como uma banda de novo, quería-
do que muitos outros livros, existe uma orquestra real, são recursos programa- mos ser novamente o centro das ações, e
fobia real ali. Tenho medo de criaturas de dos, mas estão ali. E Secrets... tem uma qualquer coisa que acontecesse ao nosso
outros planetas, formas de redor teria que ficar em segun-
vida que não compreendo, e do plano. Claro que isso não
assistir aos poucos sua pró- poderia acontecer quando você
tem uma orquestra, pois ela
THE GOD MACHINE precisa de muito espaço para
Nuclear Blast/Shinigami - Nac. se desenvolver, então aí está
pria transformação em outra parte da diferença. Desta vez,
forma de vida é algo absolu- este espaço deveria ser nosso,
tamente terrificante. foi isso que decidimos!

Lembrando que não temos E, com dois guitarristas que


nenhum spoiler do livro aqui. cresceram ouvindo thrash metal...
Hansi: Não, nada mesmo. Marcus: O disco sairia mais
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
Essa é apenas a trama prin-
cipal, o livro é uma experi-
pesado de qualquer maneira
(risos). Mas não tenho nenhum
ência muito maior, podem ir problema com música orquestral,
sem medo (risos). a questão é que sabíamos desde o
começo que não poderíamos sair
Ao mencionar Secrets of em turnê com uma orquestra de
the American Gods, você me noventa pessoas, então tínha-
dá o gancho perfeito para mos que voltar rapidamente ao
começarmos a falar espe- formato ‘banda de metal’, que
cificamente sobre The God é o que somos. Isso também
Machine, já que essa canção acaba estava na conta. Todos estamos
sendo o grande épico desse novo sorrindo de satisfação com
registro, certo? The God Machine, pois somos
Hansi: Com certeza. uma banda de metal e não um
Marcus: Ela é bem diferente do melodia tão viciante. Desde que come- grupo de compositores clássicos. Como
restante do disco, com certeza. Talvez seja çamos a trabalhar nela, sua melodia superaríamos um álbum orquestral? Só
a que mais mantém resquícios de algo simplesmente não saía mais da minha fazendo um disco com duas orquestras
sinfônico, e provavelmente é por isso que cabeça. Eu estava trabalhando no arran- tocando juntas! (risos gerais) Teria que
ela soa mais épica do que as demais. jo de outra música e lá vinha a melodia ser algo totalmente diferente e aqui está
André: Essa música é uma das que de Secrets... de novo (risos). Era o último o que conseguimos. Discordo quando as
oferece um balanço especial para este som que eu ouvia antes de dormir e o pessoas dizem que adotamos uma abor-
disco. Só para explicar, veja por exemplo primeiro que tocava na minha mente ao dagem old school no novo álbum, estou
a abertura, com Deliver Us from Evil. acordar, foi aterrorizante (risos). Estou com você nessa, compusemos exatamen-
Neste álbum, criamos uma experiência feliz que finalmente tenhamos liberado te da mesma maneira, apenas limamos
musical mais pesada, mais conectada a essa maldição sobre o mundo, agora as partes sinfônicas, daí o peso extra.
faixas rápidas e intensas, então querí- todos poderão ficar com essa melodia Em qualquer dos nossos álbuns tem
amos uma música que representasse nos ouvidos (risos gerais). material speed/thrash, veja The Holy
essa orientação logo de cara. A verdade Grail (Beyond the Red Mirror, 2015) ou
é que não sabemos quanto tempo as Tocamos em um ponto bem impor- Tanelorn – Into the Void (At the Edge of
pessoas vão dedicar a um álbum, não tante agora, já que esse é de fato um Time, 2010), são speed metal. Claro que
sabemos se as pessoas hoje farão como álbum mais pesado que seus anteces- soa um pouco diferente, pois não é como
nós fazíamos, que é sentar e ouvir o sores, o mais pesado do Blind Guardian as versões cruas que temos no novo
álbum do começo ao fim, absorvendo a em muitos anos. Mas, da forma que vejo, álbum. Nós não retornamos ao speed
experiência por completo. Muita gente esse peso extra veio mais da ‘economia’ metal, pois nunca o abandonamos.
ouve apenas um single, às vezes duas de arranjos orquestrais do que de uma Apenas deixamos de lado um monte de
ou três músicas. Bem, Deliver Us from nova visão musical, certo? elementos que estavam em volta dele.

ROADIECREW.COM • 21
E falando em thrash e speed metal, Hansi: Para a letra dessa música eu a ver com o coronavírus, mas encarna
acho que precisamos falar sobre Blood fui muito influenciado por Battlestar perfeitamente a atmosfera de angústia e
of the Elves. Se me dissessem que ela foi Galactica, especialmente a série da HBO, ira que vivemos desde 2020.
composta originalmente para Follow the não a original, antiga. Existe muito
Blind, eu acreditaria. de filosofia envolvida na concepção E preciso concordar com o André,
Hansi: Ela é uma música antiga, que da história, uma série de eventos que seus vocais são um destaque aqui. O
vínhamos trabalhando há um longo transforma o modo como as personagens thrash sempre esteve nas guitarras
tempo e que acabava sendo colocada de pensam, mas chega o momento em que do Blind Guardian, mas ouvir esse
lado pois sempre faltava alguma coisa, você entende que todo aquele ciclo de elemento nos seus vocais foi uma
sempre pensávamos em desenvolvê-la violência perpetrado pelas máquinas ótima surpresa.
um pouco mais e acabávamos esquecen- foi estabelecido pelos próprios seres Hansi: Poxa, muito obrigado! Mas
do totalmente dela. É engraçado quando humanos. No fundo, a origem de ambas é deixe eu te dizer, a coisa seria ainda mais
isso acontece, você sabe que tem uma basicamente a mesma. ao seu gosto se não fosse por André, pois
música boa em mãos, que ela só precisa André: Sim, essa música foi composta minha ideia original era ir para o death
de algo pequeno para ficar muito boa, como um bom thrash metal, então já pos- metal nessa música (risos gerais). Infeliz-
mas simplesmente não acha esse algo so dizer que a adoro! E uma coisa que me mente a ideia não ganhou muitos adep-
até muito depois. E concordo com você, faz gostar ainda mais dela é a maneira tos na banda, então tive que buscar uma
quando ouvi aquele riff de abertura do como Hansi trabalhou os vocais. Ele não abordagem mais contida, mas acho que
André pensei imediatamente em Banish soa como alguém tentando ser um vo- foi a decisão acertada. Claro que eu não
from Sanctuary, o que é engraçado, pois calista thrash, ele continua sendo muito iria para o lado totalmente gutural, seria
nunca senti uma conexão tão forte com o único, mas cantando thrash metal. É uma mais como uma banda antiga de thrash/
passado antes. E quem achou o que falta- abordagem totalmente nova para nós e death, mas me diverti muito gravando
va na música foi o próprio André, que fi- colocou muita energia extra na canção. esses vocais, foi muito bom, libertador!
cou muito tempo trabalhando no refrão, Hansi: Musicalmente, ela é uma besta Você sabe, do punk para o thrash metal
refinando, alterando. Eu queria simplifi- em forma de canção. Eu diria que é a não é um salto tão grande, e do final dos
car tudo e trazer algo mais cru, mas ele nossa canção do coronavírus (risos). Você anos 70 ao início dos 80, eu cresci como
vinha com essa coisa mais complexa de pode ter muitas emoções negativas nessa um fã de punk rock. Era o que eu mais
corais sobrepostos, o que acabou sendo ‘a época que vivemos e levar tudo por um amava e sempre sonhei com a chance
cereja do bolo’ para a canção. caminho muito negativo. Essa música, de cantar algo nesse estilo. Então, aqui
embora tenha sido composta muito tem- estamos, e estou pessoalmente muito
Insistindo nas canções mais pesadas po antes da pandemia, tem essa atmos- feliz em saber que vocês estão gostando
do álbum, temos ainda Architects of fera carregada, densa. Ela não tem nada dessa abordagem.
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Doom, que tem uma pegada das mais
fortes do álbum.
“Uma vez que terminamos
o álbum orquestral,
quisemos focar
em nós como
uma banda de
novo, queríamos ser
novamente o centro das
ações, e qualquer coisa
que acontecesse ao nosso
redor, teria que ficar em
segundo plano”
Marcus Siepen
Dirk Behlau

Ehmke (à esquerda), ao lado dos fundadores


Olbrich, Kürsch e Siepen desde 2005

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Fechando essa parte, gostaria que fa-
lassem sobre a minha favorita no álbum,
noe ficou
estúdio, Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
ótima. Especialmente
vocais (risos gerais).
os mas a gente ainda gosta mais daquela
que vimos no seu site.’ (risos) Por fim, ele
Violent Shadows. nos disse que aquela não era inédita, mas
Hansi: Também adoro essa e foi ou- Para encerrar, ainda existem dois que poderíamos usar se quiséssemos.
tra que me diverti demais enquanto tra- aspectos que gostaria que abordassem. E é essa que está na capa do álbum, ela
balhava nela. Para começar, ela nasceu Primeiro, a arte da capa, diferente de combina bem demais com o título.
basicamente como uma competição de tudo que fizeram até hoje.
quem soava mais cru e direto na banda. André: Vou falar sobre a arte, que foi Incrível, e é justamente sobre o
Quer dizer, eu estava reclamando que bem interessante. Bem, nós trabalhamos título a próxima pergunta, já que ele
André estava vindo sempre com muitas nesse álbum de uma maneira diferente apresenta uma dualidade de sentidos
camadas de guitarra, e ele reclamando do que vínhamos fazendo. Começamos muito legal.
que eu estava enchendo tudo com mui- com o desejo de ter um álbum que soasse Hansi: E foi algo intencional, como
tas camadas de vozes. Eu disse para ele: diferente. Vimos que alcançamos isso você já percebeu (risos gerais). Você
‘Eu vou te trazer uma linha vocal mais quando ouvimos a mixagem e então pode entender em algumas canções que
pura desde que você me traga um bom pensamos: ‘Precisamos de uma capa deus é uma máquina, e em outras que
riff.’ (risos gerais) diferente’, queríamos algo que mostrasse são máquinas de deus, pois foi com essa
André: Mas que cuzão (risos gerais). como que o início de uma nova fase da dualidade que trabalhei as letras. Mas
Hansi: Mas funcionou, né? No impro- banda. Quando procurávamos por artis- existe ainda um terceiro sentido, que é a
viso, ele começou a mandar um riff incrí- tas, vimos a página de Peter Mohrbacher, inspiração. Quando começamos a vida,
vel, e me provocava, ficava dizendo ‘Esse e aquilo era fabuloso. Ele tem muita somos uma página em branco, não somos
serve? Ou talvez esse?’ E eu pensava: influência de um antigo anime, Neon ninguém. Podemos ser ninguém para
‘Mas que babaca arrogante e pretensioso Genesis Evangelion, conhece? sempre ou podemos ser muito bons em
de merda’, e comecei a mandar a linha algo, desde que tenhamos aquela fagulha
de voz mais crua que passou pela minha Sim, é ótimo. Na história, não apenas criativa que nos distingue dos demais.
cabeça naquela hora (risos gerais). a aparência dos anjos, mas a razão de Sua inspiração é uma ‘máquina de deus’
André: Ele gravou uma única linha de eles estarem aqui e continuarem tentan- também e esse é um detalhe que permeia
voz e me mandou, só uma. Achei ótimo, do nos eliminar é de explodir a mente. todo o álbum, do início ao fim.
pelo menos uma vez não teria toda ladai- André: Pois é, e pelo que nos falou,
nha do mundo cobrindo minhas linhas foi isso que o impressionou também. Ele Obrigado pela ótima conversa.
de guitarra (risos gerais) criou toda uma série inspirada no anime, Hansi: Obrigado, foi ótimo falar sobre
Hansi: Pois é, a gente ainda se diverte acho que chamada Angelarium. Bom, tantas coisas que amamos. E obrigado
muito fazendo isso. Cara, foi a nossa eu e Hansi escolhemos as nossas cinco à ROADIE CREW pela oportunidade de
canção mais crua em mais de trinta anos, favoritas e entramos em contato com ele, falar com nossos fãs brasileiros depois de
não demos nenhum retoque! Simples- que fez algo exclusivo para nossa capa. tanto tempo. Acreditem, queremos muito
mente a música nasceu como tinha que Porém, quando ele nos mostrou, eu e voltar e tocar para vocês, tão logo seja pos-
ser, sem maquiagem, sem disfarces de Hansi dissemos: ‘Cara, essa arte é ótima, sível pegar um avião sem medo (risos).

ROADIECREW.COM • 23
PLAYLIST
Por Daniel Dutra • Fotos: Ângelo Avila

►Contaminated World (Ge-


netic Deformation): “O Genetic
Deformation foi a primeira banda
com a qual tive a oportunidade
de lançar um material físico.
Eu tocava bateria e, mesmo
não gostando do resultado da
produção, tenho muito carinho e
respeito por esse trabalho.”
EP: Gates of Eternal Suffering (1994)

►Sobre o Desespero Cristão


(Outro) (Mysteriis): “Um tema
lançado pelo Mysteriis no seu
primeiro CD que, na realidade, é
uma dissertação em português
que abrange totalmente as ideias
líricas desta obra.”
Álbum: About the Christian
Despair (1999)

►Granada (Darkest Hate


Warfront): “Sempre gostei de
Acesse
metal nosso Canal
cantado em português. no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
Então, sempre que surgia uma
oportunidade em qualquer uma
das minhas bandas, eu procurava
inserir uma música com a nossa
língua no trabalho. Granada é
a prova disso, e uma música que tem grande influência de
Ratos de Porão e Dorsal Atlântica, dois dos meus grupos
favoritos.”
Álbum: The Aftermath (2007)

►Reign ov Opposites
(Vinterthorn): “Uma música que
traz muitas influências do black
metal mais cru e direto. Entre
outras bandas do gênero, nomes
como Dark Funeral e Lord Belial, ALEX KAFER
que eu escutava muito na época
do lançamento deste disco.” THE TROOPS OF DOOM
Álbum: Reign ov Opposites (2008)

►NOME COMPLETO: Alexandre Kafer Nazareth


►I Don’t Need Your Sacrifice
(Enterro): “O Enterro, na realida- ►NASCIMENTO: 7 de fevereiro de 1970, no Rio de Janeiro/RJ
de, sempre foi mais um projeto do
que uma banda de verdade. Isso
►BANDAS QUE INTEGROU:
porque ela contava com músicos The Troops of Doom, Anschluss, Coldblood, Darkest Hate Warfront,
do Matanza, que encontraram
aqui uma forma de expressar os Enterro, Explicit Hate, Genetic Deformation, Impacto Profano, Mysteriis,
seus gostos mais extremos. Esta
música tem uma forte influência do black metal escandinavo Necromancer, Songe d’Enfer e Vinterthron
dos anos 1990.”
Álbum: Nunc Scio Tenebris Lux (2008)
24 • ROADIECREW.COM
►Argument for Ignorants ►Whispering Dead Words
(Enterro): “Música presente no (The Troops of Doom): “Primeiro
segundo trabalho do Enterro, um videoclipe que lançamos com
álbum que, mesmo ainda sendo o The Troops of Doom, e faço
black metal, já se apresentou mais uma autocrítica: não gosto do ►Dethroned Messiah (The
rebuscado, não tão cru. Porém, meu vocal nesta música. Como Troops of Doom): “Música que abre
mantendo a agressividade.” estava tudo no começo, não o nosso primeiro álbum. Na minha
Álbum: The Bell of Leprous (2011) acho que atingi o timbre certo e a opinião, traz tudo o que o público
agressividade ideal para a música. Porém, sei da importância pode esperar do disco: velocidade,
dela para a banda e, também, que muitas pessoas curtiram, o agressividade e peso!”
que me deixa muito orgulhoso!” Álbum: Antichrist Reborn (2022)
EP: The Rise of Heresy (2020)

►The Other Gods (Coldblood):


“O Coldblood é uma banda
clássica do metal carioca, e tive
a felicidade de fazer parte dela ►Between the Devil and the ►Altar of Delusion (The
por um breve tempo, no início Deep Blue Sea (The Troops of Troops of Doom): “A minha
dos anos 2010. Naquele período, Doom): “A primeira composição favorita do álbum! Acredito que
gravamos este EP e fizemos para o The Troops of Doom e, foi o meu melhor desempenho
alguns shows bem legais pelo também, o nosso primeiro single. vocal no disco. Além disso, é uma
Brasil. É death metal puro dos anos 1990, mas com aquele Fiquei completamente satisfeito música que abre um pouco o nos-
toque brasileiro.” com a minha performance nos so leque de influências, trazendo
EP: The Other Gods (2012) vocais. Amo essa música, que foi umas passagens um pouco mais
o cartão de visitas perfeito para começar a nossa história.” melódicas para o som.”
EP: The Rise of Heresy (2020) Álbum: Antichrist Reborn (2022)

►Torment on the Tomb of


Christ (Mysteriis): “Esta músi- ►Act II: The Monarch (The ►A Queda (The Troops of
ca faz parte do Hellsurrection, Troops of Doom): “Nela, tive a Doom): “Posso dizer que, talvez,
o terceiro álbum do Mysteriis. grande honra de dividir os vocais A Queda seja a minha segunda
Nele, tentamos resgatar a com Jeff Becerra, do Possessed! favorita. Letra em português,
sonoridade dos primórdios do Uma música com todas as carac- com os vocais divididos com João
Mysteriis, ou seja, um black terísticas do death metal dos anos Gordo, meu amigo de décadas! E
Acesse nosso Canal no Telegram:
metal rápido, ríspido e cru.” 1980 e que, comt.me/BRASILREVISTAS
certeza, sempre o resultado não poderia ter sido
Álbum: Hellsurrection (2012) estará no nosso setlist!” melhor: nota 10!”
EP: The Absence of Light (2021) Álbum: Antichrist Reborn (2022)

The Troops of Doom

►Necromancer (Necroman-
cer): “O Necromancer foi a minha
primeira banda. Tudo começou
com ela, e tenho um apreço
enorme pelo grupo até hoje.
Batizei a banda numa época
em que ainda havia letras em
português, e Necromancer foi a
primeira canção que compusemos em inglês. Thrash e death
metal old school, divididos em quase oito minutos de música!
Para mim, um clássico!”
Álbum: Forbidden Art (2014)

►Dark Church (Necroman-


cer): “Com certeza, a música
mais importante composta
pelo Necromancer até hoje,
tanto que já ganhou duas re-
gravações. Lembro-me que, na
época em que a compusemos,
escutávamos Kreator e Dark
Angel o dia inteiro. Dark Church é uma mistura exata
dessas influências.”
Álbum: Forbidden Art (2014)

ROADIECREW.COM • 25
Heiko Roith
Tom Naumann, Mat Sinner, Markus Kullmann
e Alex Scholpp, seguindo sempre em frente,
mas com os ouvidos colados nos anos 90

Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS A IRMANDADE DO


ROCK’N’ROLL
Atitude positiva e criatividade levam a banda alemã a superar
os problemas e criar ótima música em Brotherhood
Por Valtemir Amler É um grande prazer falar com você. quem eu tenho conversado todos os dias,
Porém, acho que falo por todos quando compartilhado sonhos, celebrado a vida
Quando fundou o Sinner em 1980, em digo que estamos preocupados com Mat e viajado o mundo inteiro ao longo das
Stuttgart (ALE), o ex-jogador de futebol Sinner, que pela primeira vez em quatro últimas quatro décadas, então é compli-
(que chegou a atuar na base da seleção décadas de carreira não pôde participar cado para mim. Mas estou feliz em poder
alemã), baixista e vocalista Matthias da divulgação de um novo álbum. Como dizer, com toda sinceridade do mundo,
Lasch (ou simplesmente Mat Sinner) não está a situação dele no momento? que ele está se sentindo melhor. No
tinha como saber que estava formando Tom Naumann: Olá, Valtemir, é muito momento ainda não pode cumprir com-
uma das grandes usinas do reverencia- bom falar com você e com os leitores da promissos, mas eu o conheço muito bem
do rock pesado germânico. Tampouco ROADIE CREW, que sempre nos apoiou e uma coisa eu posso garantir para todos
ele poderia saber que, quase vinte anos tanto. Pois é, entendo perfeitamente o que vocês: tão logo se sinta bem o suficiente,
mais tarde, estaria envolvido no nasci- você está querendo dizer e compartilho da ele estará na estrada para ver todos vocês
mento de outra banda clássica, o Primal sua sensação, queria que estivéssemos con- novamente, então, sigam ao nosso lado,
Fear, além de toda uma série de outros versando em uma situação melhor. O que sigam nos apoiando, pois isso é muito
projetos ao longo dos anos. Pois é, Mat posso dizer é que Mat está melhor agora. importante para todos nós.
Sinner dedicou uma paixão profunda e Ainda não totalmente bem, mas melho-
trabalho incessante ao rock’n’roll, mas rando, e isso é muito importante. Porém, É ótimo saber que ele está se recupe-
uma doença recente fez com que ele não não posso dizer o que ele tem, e isso não rando bem. E também é muito bom per-
pudesse ser o nosso convidado na con- tem a ver com discrição ou nada do tipo, a ceber que, apesar dos problemas, vocês
versa que você lê a seguir. Nosso convi- verdade é que simplesmente não sabemos encontraram uma maneira de trabalhar
dado, Tom Naumann, guitarrista, amigo o que está acontecendo com ele. Até o mo- em um novo álbum.
pessoal e parceiro musical de Sinner em mento ele já passou por vários hospitais, Tom: Ah, sim, isso foi muito bom, pois
vários projetos desde 1990, evitou abor- falou com vários médicos diferentes e cada não podíamos fazer nada além disso. Por
dar detalhes sobre o que acontece com pessoa diz uma coisa, então não sabemos o conta das restrições, por um bom tempo
Mat, mas não poupou minúcias sobre o que está acontecendo. Claro que isso é bem não pudemos nem nos encontrar para en-
assunto mais importante, a música que impactante para mim, pois não estamos saiar; não foram apenas as turnês que pa-
o grupo vem desenvolvendo mais e mais falando apenas de um parceiro de banda, raram, os ensaios haviam parado também.
em cada um de seus álbuns. mas de um amigo pessoal, uma pessoa com Eu e Mat nos encontramos algumas vezes,

26 • ROADIECREW.COM
falamos sobre a possibilidade de um novo gravações. Foi uma questão de agenda, não E, no fim das contas, Brotherhood é
álbum do Sinner e começamos a com- conseguimos conciliar, basicamente foi um disco bem equilibrado. Existe uma
por. Pouco depois disso, a situação toda isso que aconteceu. gama interessante de elementos aqui,
mudou novamente, pois ele ficou doente. como a referência quase gótica em The
Mas, conhecendo bem o Mat, sabia que Voltemos agora a falar sobre o seu pa- Last Generation...
ele não iria simplesmente baixar a guarda pel de ‘manda-chuva’ em Brotherhood... Tom: Ah, que legal que você vai
e parar todo o trabalho. Pelo contrário, Tom: Bem, também não é pra tanto começar com essa, estou especialmente
ele me chamou e disse que tinha total (rindo muito). Mas, sim, foi uma bela dife- orgulhoso dela.
confiança em mim para seguir em frente rença na forma como as coisas aconte-
e terminar o que havíamos começado e foi cem, sob o meu ponto de vista... Veja, cos- Por quê?
exatamente isso que fiz dessa vez. tumeiramente eu sou o cara que escreve Tom: Porque é uma música muito boa
algumas músicas, vai até o estúdio, grava e também porque foi um pesadelo dei-
Sim, você acabou desempenhando algumas músicas e cai fora deixando o xá-la pronta, como você ouve no álbum
um papel muito mais amplo do que cos- resto do trabalho para Mat (risos gerais). (risos). Quando começamos a trabalhar
tumava até aqui. E desta vez foi bem diferente. Mas come- nela, eu não imaginava quanto trabalho
Tom: É verdade. Bem, seja com o çou igual: lá pelo final de 2020, me reuni teríamos para concretizar aquelas ideias
Sinner ou com o Primal Fear, Mat e eu es- com Mat na casa dele e decidimos que no que íamos tendo. Tem aquela parte or-
tamos sempre criando músicas, estamos próximo álbum buscaríamos algo mais questral, mas também tem muitas linhas
sempre escrevendo e compondo, então orgânico, ou melhor, algo mais próximo de guitarra, e são doze faixas acústicas,
essa é a parte realmente habitual. Eu àquilo que fazíamos nos anos 90, nos uma loucura (risos). Mas soou muito
pego minha guitarra e começo a escre- meus primeiros discos com a banda. bem e isso é o que importa. E ainda
ver alguns riffs, organizo eles, coloco tem aquela parte de teclados, que
na ordem correta para uma canção, consegui convencer Oliver Palotai a
e assim vou até termos um álbum. gravar conosco (N.R.: tecladista do
Esse é o trabalho do dia-a-dia para Kamelot e ex-Doro). Gosto muito
mim, sempre foi assim nos últimos dessa canção, é a maior do disco e
quarenta anos (risos). Dessa vez, a a que deu mais trabalho. Foi um
circunstância forçou uma mudança pesadelo colocar tudo junto, mas
e acabei assumindo funções impor- foi divertido demais (risos).
tantes na gravação e na produção
do álbum. Um cavalo velho às vezes Achei que The Man They Couldn’t
aprende novos truques (risos). Hang tivesse sido a mais complexa.
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS Tom: Acho que sei a razão de ter
Isso é muito bom e logo vamos ficado com essa impressão. Mas a
falar um pouco mais sobre essa verdade é que não foi tão complicado
mudança. Mas, antes, quem também assim, a coisa fluiu muito bem tão
parece que teve atribuições dife- logo decidimos o que queríamos fazer.
rentes no novo Brotherhood foi Bom, ela é uma faixa rápida, com boas
a vocalista Giorgia Colleluori. partes de guitarra, bumbo duplo,
Afinal, ela cantou praticamente bem pesada. Acho que foi muito
metade das partes em Santa legal dar aquela quebrada com a or-
Muerte (2019), ao passo que teve questração no meio, acho que tornou
BROTHERHOOD
uma participação bem menor agora. ela em uma canção única.
Atomic Fire/Shinigami - Nac.
Tom: Pois é, isso é verdade, mas não
é como se tivéssemos algum problema Concordo. Algo que chama a atenção
com ela ou que algo tenha acontecido nos Você sabe, aquela pegada rock’n’roll mais também são a quantidade e a qualidade
bastidores, na verdade foi muito mais na- direta, o que significa dizer que procu- dos músicos convidados que aparecem
tural. Veja, quando estávamos trabalhando rávamos um álbum mais pesado do que neste disco. Seria por essa razão que ele
nas canções de Santa Morte, decidimos os anteriores. Pois bem, tínhamos uma foi intitulado assim, por conta dessa ‘ir-
que queríamos tentar algumas coisas visão, começamos a trabalhar e no come- mandade’ no mundo da música pesada?
diferentes, fazer algumas experiências que ço de 2021 já tínhamos umas dez canções. Tom: Todos vivemos nessa irmanda-
pudessem levar nossa música por novos Foi aí que as coisas começaram a mudar. de. Somos fãs e músicos de heavy metal
caminhos, mas sem perder a essência do Mat adoeceu e não pudemos manter e, se formos bem sinceros, a única razão
Sinner. Uma das ideias que tivemos foi o organograma de gravação, que seria de estarmos aqui é que somos unidos por
adicionar vocais femininos e foi então que em maio do ano passado. Atrasamos as esse mesmo amor, então somos muito
Gio entrou no jogo. Ela tem uma voz bonita coisas, mas como ele não tinha certeza de mais do que uma grande comunidade,
e marcante, e se encaixou como uma luva quando ficaria recuperado, pediu que eu somos de fato uma irmandade. Por isso
em Santa Morte. A verdade é que ela teve tomasse as rédeas e seguisse em frente. gostamos de ter convidados de outras
uma das performances mais marcantes O álbum tinha que ser finalizado! Assim, bandas na nossa música. Gente como
daquele álbum, o que nos encheu de orgu- assumi as gravações de bateria e guitarra, Dave Ingram (N.R.: vocal do Benediction),
lho. Não tenho nenhuma dúvida que a voz foi um desafio interessante. O baixo e a isso não é exatamente o esperado, e nos
dela cairia extremamente bem em muitos voz de Mat já estavam nas demos e não honra muito. E ‘irmandade’ também
outros momentos em Brotherhood, mas é foi com total surpresa que percebemos representa como somos no Sinner, não
como disse antes, circunstâncias forçam que ambos estavam ótimos, não precisa- somos unidos apenas pela música, muito
mudanças. Não houve um rompimento riam ser refeitos, então usamos na mixa- nas nossas vidas é comum e comparti-
nem nada do tipo, foi apenas o fato de gem final, que ficou com Jacob Hansen. lhado. Eu e Mat até torcemos pelo mesmo
que ela tem sua própria banda e estava O desafio foi maior, mas ficamos muito time, o Schalke 04. E isso é coisa séria
muito ocupada com ela durante as nossas satisfeitos com o resultado. entre alemães (risos gerais).

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ORIGEM:
Brasil

ZONA MORTA
Por Ricardo Batalha Belo Horizonte, em 1985, Eugênio se
ÉPOCA:
Anos 80

casou com Carminha, sua fiel compa- ESTILO:


Em 1989, o terreno fértil das Minas nheira até hoje. Assim, no quartinho Heavy/thrash/Death metal
Gerais seguia revelando bandas que dos fundos do casal, surgiu, em 28 de se-
evoluíam e soltavam novos traba- tembro de 1985, o Zona Morta, que teve FORMAÇÃO CLÁSSICA:
lhos, casos de Sepultura (Beneath the o nome tirado de um livro de Stephen Eugênio de Sá (vocal, guitarra e teclado),
Remains), Overdose (You’re Really Big!), King. Após seis meses de ensaio, ocorreu Fabrício Duarte (baixo) e Lu (bateria)
Sarcófago (Rotting), Sextrash (XXX) e o primeiro show no DCE da Federal. “No
The Mist (Phantasmagoria). Porém, o entanto, após o segundo show no DCE, DISCOGRAFIA:
Estado ainda tinha outras cartas na Helbert resolveu sair para tocar um som
Nômades (EP, 1989)
manga. É aí que entra o Zona Morta, mais hardcore. Montou o R.I.V. e passou
formado em Belo Horizonte pelo voca- a tocar guitarra, o instrumento de que
lista e multi-instrumentista Eugênio gostava”, lembra Eugênio. compacto. “Como não tínhamos acesso
de Sá, o baixista Fabrício Duarte e o Fabrício Duarte, substituto de Hel- à gravadora Cogumelo, resolvemos
baterista Lu. bert e irmão de Eugênio, veio por indi- bancar o disco. O projeto inicial era
Eugênio e Lu se conheceram em 1978, cação de Gerald Incubus, do Sarcófago. gravar um compacto, com as faixas
no segundo ano do ensino médio na Assim, em novembro de 1986, o Zona Catedrais e Unidos pelo Aço. Não
chegamos a fazer isso, pois acabamos
gravando o EP. Acredito que devido à
Divulgação

minha influência do rock progressivo,


as músicas do Zona Morta eram rela-
tivamente longas, algumas chegavam
a dez minutos de duração. Tínhamos
escolhido as menores e acrescentamos
mais três que, de certa forma, eram as
próximas mais curtas do repertório:
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS Prelúdio para Zona Morta, Nômades e
Faraós”, avalia Eugênio.
A gravação de Nômades, que teve
capa ilustrada por Kelson Frost, ocorreu
no Estúdio JG, onde foram gravados
os primeiros discos clássicos do metal
mineiro. “No nosso período de gravação
‘teste’, acabamos conhecendo Marcos
Gauguim, que foi muito importante
para o resultado final. Como eu já me
interessava por gravação, fui apren-
dendo sobre o que ele falava”, descreve
Eugênio. “Tudo que ele nos explicou foi
levado para as duas semanas de ensaio
que teríamos antes da gravação oficial.
Conhecemos também João Guimarães
Escola Técnica, onde faziam curso para Morta voltou com força total, realizou (JG), dono do estúdio e que era baterista
Técnico de Estradas. Dois anos depois, diversos shows, gravou demo tapes e do Kamikaze”, completa.
Eugênio firmou grande amizade com criou um repertório de mais de quinze Curiosamente, em dezembro de
Antônio Augusto e passaram a tocar músicas. Entre elas, Catedrais, Unidos 1990, no dia do show de lançamento
juntos uma fusão de regional mineiro pelo Aço, Nômades, Faraós 2000 D.C., do EP, que saiu em mil cópias, a banda
com rock. Com a entrada do baterista Mercenários Cães de Guerra, Rituais encerrou suas atividades. “Nômades
Helio Eduardo, estava criado o grupo de Sacrifício, Zona Morta, A Sagrada ficou como um disco que representa-
de rock progressivo Quinta-Essência. “A Magia de Abramelim e Mulheres da va uma banda que buscava perfeição
partir de 1983, quando Helinho passou a Guerra Santa. e criatividade. O Zona Morta talvez
também tocar com o Overdo- As letras versavam sobre tenha ficado mais conhecido pelas
se, seu tempo começou a ficar temas que Eugênio lia, como o minhas participações nas gravações
menor. Entretanto, chegou próprio livro de Stephen King do Sarcófago do que por as próprias
a ocorrer um evento em que que gerou o nome do grupo. A composições”, conclui Eugênio.
tocaram Quinta-Essência e faixa Nômades foi inspirada Agora, através dos esforços da gra-
Overdose. O fim do Quinta- em uma matéria de capa da re- vadora Classic Metal Records, Nômades
-Essência aconteceu quando vista Planeta, que falava sobre fará parte da série “Memórias Metálicas”,
tive que me mudar para Ouro um povo nômade que viveu na que tem o propósito de resgatar clássicos
Preto por causa de trabalho”, Europa na Idade Média. do metal brasileiro, apresentando um
recorda Eugênio. Nômades O planejamento inicial material caprichado e sempre recheado
Quando retornou para (EP, 1989) do trio era a gravação de um de bônus, como no caso do Zona Morta.

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Maya Melchers

Moyses Kolesne, Alex Camargo e


Max Kolesne, reinado renovado sobre
o death metal com Mortem Solis

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O FIM DE TODA A LUZ!


Trio revigora sua relação com o lado mais brutal e cru
do death metal no novo álbum, Mortem Solis
Por Valtemir Amler uma máquina de guerra, eles estão de porrada de entrevistas com gente do
volta com seu mais novo álbum, Mortem mundo inteiro e semana que vem parti-
Relevância, qualidade e extremismo Solis. Concebido com o intento de ser mos para a Europa para começar a turnê
são adjetivos comuns para qualificar o mais direto e visceral do que aquilo que de promoção de Mortem Solis. Demorou,
trabalho dos irmãos Alex Camargo (vocal comumente ouvimos hoje no technical mas as coisas estão realmente voltando
e baixo), Moyses Kolesne (guitarra) e Max death metal moderno, o novo registro a acontecer. Vamos para a Europa, temos
Kolesne (bateria), trio que há mais de do Krisiun cumpre muito bem aquilo sete festivais de verão para tocar por lá.
três décadas vem subindo o nível daquilo que promete, soando inclusive mais sujo, Depois voltamos para a América, temos
que conhecemos como death metal. bruto e agressivo do que seus anteces- dois meses de promoção nos EUA, setem-
Eternamente reverenciados por conta de sores, promovendo o fim da luz e uma bro e outubro, e então voltamos outra
sua tríade inicial – Black Force Domain nova era de trevas no metal extremo, que vez para a Europa, onde estaremos em
(1995), Apocalyptic Revelation (1998) e sempre soube trilhar seu caminho longe turnê com o Nile. Depois iremos para o
Conquerors of Armageddon (2000) –, dos holofotes. Conversamos com Moyses México, quer dizer, só voltaremos para o
com a qual proclamaram a força e a fúria Kolesne, que nos guiou pelos sombrios Brasil em 25 de dezembro, ficaremos por
de um extremismo musical irrefreado, caminhos desse mundo onde o sol está volta de meio ano fora. E isso é apenas
eles foram moldando sua música em morto. a primeira perna da turnê, que seguirá
uma fórmula cada vez mais madura e adiante por mais um bom tempo.
abrangente, como ouvimos em sua tríade Olá, Moyses! É bom falar com você
mais recente – The Great Execution (2011), novamente e que bom que podemos Quer dizer, os shows voltaram com
Forged in Fury (2015) e Scourge of the En- constatar que as coisas estão de fato força total.
throned (2018), discos maduros, mas que voltando a acontecer. Moyses: É isso aí, o disco está lançado
não fogem da proposta brutal perpetrada Moyses Kolesne: Prazer falar com e agora a gente tem que correr. Voltamos
pelos gaúchos em sua sólida e crescente você também, mano! É isso, estamos aí, aos nossos corres de sempre, a ideia é
discografia. Mantendo o ritmo atroz de disco novo sendo lançado, fazendo uma tocar pelo mundo todo, levar a banda até

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quem quiser vê-la. A mesma coisa com de alguma maneira, sempre estamos lá. 2018 na Alemanha para gravar o novo
entrevistas, estamos procurando atender Temos muita convicção do que fazemos, álbum e já mandamos ver no show de
todo mundo que nos procura, gente do vamos pra cima sem medo e nossos fãs lançamento em Essen. Foi sold out, um
mundo inteiro. Com a Century Media a são muito fieis, a gravadora acredita no evento incrível, massa pra caralho, sem
coisa flui bastante bem nesse sentido, nosso trabalho. Claro que isso não vai exagero, foi foda! Dali já começamos a
muita gente da Europa nos procura, seja mudar nada na nossa música, até porque loucura das turnês: Ásia, Austrália, três
da parte Ocidental ou Oriental. Nas Amé- chegamos nesse ponto justamente por turnês pelas Américas, Europa, fizemos
ricas também, muita gente da América não mudar. E, se for para mudar, vai ser um monte de festivais, isso tudo ao longo
do Norte e da América Latina tem falado para algo ainda mais brutal e cru, pois é de 2018 e 2019. Daí foi quando daríamos
com a gente, galera da Austrália, Japão. nisso que acreditamos! o grande pulo: em 2020 teríamos nossa
Cara, tá sendo um começo bem interes- turnê como headliner, festivais gigantes
sante, bem forte para esse álbum. e tal, mas aí veio a pandemia. Foi um
baque, a gente estava prestes a fazer
É, vi alguns dados de a coisa decolar de vez e parou tudo.
plataformas de streaming bem Para você ter ideia, foi apenas
impressionantes no lançamento do quatro dias antes de viajarmos
álbum (N.R.: o disco foi lançado em para nossa turnê como headliners
29 de julho e a entrevista aconteceu pela Europa que tivemos que
em 3 de agosto). cancelar tudo, até então ainda
Moyses: É, eu vi cara! Nosso som tínhamos esperança de que pudesse
ficou na frente de Ozzy Osbourne, salvar alguma coisa. Resumindo,
Slipknot e tal. Coisa impressionante, já tínhamos desembolsado muita
de verdade! grana, tínhamos ajeitado a equipe,
comprado passagem de avião,
Sim, e isso é algo que vocês já ti- alugado ônibus de turnê, estava tudo
nham conseguido com o álbum ante- alinhado, as pré-vendas de ingresso
rior, Scourge of the Enthroned. E eram ótimas, tudo estava fluindo
acho importante ressaltar isso, extremamente bem. Depois de anos
principalmente por ser uma semeando, finalmente colheríamos
banda de metal extremo: pouca os frutos do nosso esforço,
gente tem a real dimensão da for- conseguiríamos repor os gastos da
ça desse tipo de música. E a coisa MORTEM SOLIS turnê e até levantar uma grana, só
é ainda mais legal considerando que
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Century Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
City - Nac. que caiu tudo. Então a primeira coisa
se trata de uma banda do Brasil e que foi aprender a lidar com isso.
optou por sempre estar por aqui.
Moyses: Pô, cara, valeu! Isso é bem Muito justo. Bom, como dissemos, Sim, a mudança foi extrema e repen-
massa mesmo! E por mais que essas Scourge of the Enthroned guiou o tina.
coisas não ditem a direção da música Krisiun até um novo patamar. A banda Moyses: É isso mesmo. E o foda é que
ou algo do tipo, é legal sim de perceber, vinha excursionando intensamente ao no mundo da música tem muitas fases,
e claro que temos orgulho desse tipo de redor do globo, mas, como aconteceu o metal vive de fases, né cara? Uma hora
marca. Como poderíamos deixar de ter? com todos, precisou interromper os o lance é o thrash, outra hora a galera
Quer dizer, temos tudo contra a gente, planos por conta da pandemia. Tem tá noutro som e assim vai. A verdade é
somos brasileiros, fazemos um som sido comum ouvir das bandas que esse que muita coisa mudou com a pandemia,
muito extremo, a gente não é adepto de ‘tempo extra’ forçado refletiu positiva- existe toda uma nova geração de fãs de
trabalhar muita coisa no computador, mente nas composições. Isso aconteceu metal que nasceu durante a pandemia,
fazer essas músicas muito ‘bonitinhas’, uma geração de fãs que é mais nerd,
como todo mundo tá fazendo. A gente
é old school, somos três irmãos latinos
“A gente é old school, somos que é mais ligada no computador,
coisa e tal, pois era só assim que você
fazendo música feia e brutal, temos
muita coisa que não se encaixa no
três irmãos latinos fazendo podia ter contato com as bandas nos
piores dias da pandemia. A questão
padrão do sucesso e levamos isso tudo música feia e brutal, temos é que o Krisiun nunca foi uma banda
no peito! O metal tem um certo padrão
para os holofotes, aquela coisa meio muita coisa que não se que lidou muito bem com isso, nós
temos as nossas mídias sociais e tal,
europeia, aquelas músicas trabalhadas
no computador, tudo muito limpo, encaixa no padrão do onde divulgamos nossos shows e
nossa música, mas nunca fomos uma
tudo muito bonitinho, sinfônico, os
bateristas tudo editando suas partes
sucesso e levamos isso dessas bandas que fica o dia inteiro na
internet ‘blogueando’, falando uma pá
pra caralho... O Krisiun tem um som
cru, duro, nossa escola é tipo Raining
tudo no peito!” de abobrinha, mostrando foto com a
roupa da hora que a gente tá usando.
Blood (Slayer, 1986), Altars Of Madness também com vocês? Essa não é a nossa ‘vibe’. Tem gente que
(Morbid Angel, 1989), aquela sonoridade Moyses: Dá pra dizer que sim, mano. acaba seguindo um monte de artista
bem antiga, como nos velhos discos do Quer dizer, vamos voltar um pouco, simplesmente porque se sente carente e
Black Sabbath. Até tem certa moderni- até 2018, na época de Scourge of the quer ter algum tipo de contato com ele,
dade porque não temos que lutar contra Enthroned: quando lançamos ele, ainda nem que seja por trás de uma tela, sem
a época que vivemos, mas a verdade é estávamos em plena turnê do Forged in nenhum envolvimento real com nada,
que é complicado um som como o nosso Fury, a gente simplesmente ligou uma saca? A gente não é assim, e não temos
entrar nas paradas, não fechamos com turnê na outra. Estávamos em uma turnê nenhum atrativo para quem é. Quem
nada daquilo que está nos holofotes, mas, gigante que vinha desde 2015, ficamos gosta do Krisiun é por causa da música

ROADIECREW.COM • 31
que a gente faz, não temos mais nada para oferecer.
Somos uma banda antiga e pra nossa sorte temos
muitos fãs que também são das antigas, que não
ligam muito para essa coisa de ‘presença na internet’,
senão sei lá como teria sido.

E como vocês reestruturaram as coisas?


Maya Melchers

Moyses: Aí é que tá! A verdade é que tudo durou


muito mais tempo do que a gente pensava. No co-
meço as pessoas achavam que seriam alguns meses
de pausa, mas foram mais de dois anos, cara, isso foi
tenso pra caramba! Sendo bem sincero, eu não estava
pensando em algo como ‘vamos fazer um novo álbum,
vamos começar a escrever, tô inspirado’. Não, mano,
eu tava preocupado com a minha família, com meus
amigos, com as pessoas. Eu realmente esqueci da ban-
da por um tempo. Aqui no meu bairro tem famílias
passando necessidade, muita gente perdeu o empre-
go, então aquela foi uma hora em que pensamos em
ajudar as pessoas, lutar pelo mais importante. A gui-
tarra ficou de lado, eu tocava mais violão de bobeira
mesmo, estava focando em outras coisas. E foi como
eu disse antes, a gente tinha perdido nosso momen-
to por conta da pandemia. Existem muitas bandas
no mundo, milhares, e no mundo da música tudo é
decidido com antecedência. Nosso momento ideal
foi engolido pela época, e para essa volta dos shows
já existia uma fila gigante de bandas esperando, as
agências, gravadoras e casas de shows foram montan-
do um cronograma para conseguir gerenciar a volta
dos shows e aí as coisas ficam difíceis. Veja o Hellfest,
por exemplo, tinham quase quatrocentas bandas lá
tocando e ninguém conseguindo tocar direito, pois
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não tinha tempo pra tudo isso. A Europa estava uma
bagunça, por isso que resolvemos esperar até agora,
com o disco lançado. Não queríamos que acontecesse
com a gente o que aconteceu com várias bandas, que
tocaram em um monte de festivais e ninguém nem
ficou sabendo, passaram totalmente despercebidos
no meio de tanta confusão.

Esperar tanto tempo e investir tanto esforço em


um novo álbum para apenas ser parte da turba não é
nada atrativo.
Moyses: Sim, e é exatamente isso que ia aconte-
cer. Não vamos fingir, existe também muita mo-
nopolização no mundo do heavy metal. As bandas
realmente grandes, as realmente estabelecidas, elas é
que sempre tem que ganhar dinheiro antes, então as
primeiras turnês e shows já estavam decididos para
elas. Existe um lobby muito grande de grandes em-
presários, grandes gravadoras, gente muito importan-
te que dá um impulso muito forte para que sempre
as mesmas bandas apareçam em destaque. Cara, a
gente está vendo isso acontecer agora! Estão deixan-
do um monte de banda foda de lado para priorizar os
gigantes. É até natural que isso aconteça, pois é assim
que o mercado se movimenta, mas sabíamos que seria
assim, então nos negamos a participar desse jogo.
“Eu não estava pensando em Esperamos a poeira baixar e então colocamos o nosso
carro na estrada.
algo como ‘vamos fazer um novo
álbum, vamos começar a escrever, E foi com tudo isso em mente que começaram a
trabalhar em Mortem Solis.
tô inspirado’. Não, mano, eu tava Moyses: Sim, a gente sentia vontade de levar as
coisas de volta para um patamar mais metal mesmo,
preocupado com a minha família” menos mercado e menos mídia social, saca? O pessoal
perdeu um pouco o foco durante a pandemia, foi

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muito Deezer e Spotify, muita banda fa- clipe, era música e atitude. O Metallica é na abordagem mesmo. Na época de
zendo playback em casa e se mostrando só foi fazer um clipe na época do ... And The Great Execution a gente tava numa
na internet, e pouca música de verdade Justice for All (1988), o Slayer no Seasons vibe diferente, estávamos criando umas
rolando. Mano, a gente é velho, metal pra in the Abyss (1990). Hoje em dia, a banda músicas mais longas, tínhamos solos de
nós é algo meio doido, fã de metal é meio nem disco tem ainda e já tem clipe. O guitarra mais longos e elaborados, algo
louco. A gente vai em show suado, volta povo grava tudo em casa, aquela grava- que naquela época também era uma
fedendo (risos). A gente vai no show, fica ção super comprimida, tudo computado- rebelião contra a tendência que tava ro-
bêbado, enche o saco dos amigos, tem rizado, a gente tá vivendo em uma outra lando, todo mundo fazendo musiquinha
que ficar na rua de madrugada porque cena, definitivamente. Eu entendo quem curtinha e simples pra ser um bom single,
não tem mais ônibus depois do show, daí quer fazer isso, são outros tempos e cada essas paradas. Então, na época a gente foi
briga com careca na rua que tá caçando um faz aquilo que consegue fazer, mas pelo outro caminho, algo longo, obscuro,
treta, é assim, a coisa é louca, a coisa é com o Krisiun nós vamos lutar contra épico e complexo, gostamos de fugir da
física e real, não é ‘live streaming’, que isso e fazer do nosso jeito, à moda antiga! convenção. A diferença é que desta vez
porra é essa? Não, com o Krisiun é dife- buscamos um caminho mais cru, mais
rente, queríamos algo ainda mais cru e É como você disse antes, vocês sujo. De certa forma, as coisas são mais
direto nesse novo registro. fazem a música em que acreditam. simples, têm menos solos, as canções são
Moyses: É isso mesmo e sempre mais curtas, daí essa atitude punk que
Como as coisas funcionaram para vamos ser assim. Infelizmente, parece você cita. É um álbum mais direto, mas
vocês desta vez? que temos tudo andando ao contrário, tem muita dinâmica, as faixas mudam
Moyses: Bom, como eu disse, a gente o brasileiro é muito ligado nessa coisa o tempo todo, mas sem apelar para uma
não estava pensando em fazer um disco da internet. Hoje o Brasil é o primeiro complexidade técnica que tá ali só pra
quando a pandemia começou. Mas, de- país no TikTok, Instagram, Facebook, se mostrar, saca? Gravamos tudo direto
pois de um tempo, a gravadora falou pra essa coisa toda, e a venda de material nesse álbum, quase ao vivo. Não ficamos
gente: ‘Caras, já se passaram quatro anos físico ainda é muito baixa comparada a gravando tudo cagado e depois editando
desde o último disco, vocês precisam fa- outros lugares. As pessoas preferem ficar no computador como a galera faz hoje em
zer um novo.’ Perguntamos se esses dois vendo coisas aleatórias na internet do dia. O que você ouve no disco é a pedrada
anos de pandemia contavam contratual- que de fato se dedicar a algo, ajudar uma que vai rolar no show, nem mais nem me-
mente, já que a banda tava parada, e eles banda em que acredita, é complicado. nos. Eu sou das antigas, gosto de metal,
disseram que sim, que ainda estáva- punk e hardcore antigo, eu adorava
mos movimentando, vendendo coisas
e tal, apresentaram a situação do
“Gravamos tudo direto como aqueles caras faziam as músicas
todas tortas, com a voz quebrando no
nesse álbum, quase ao vivo.
ponto de vista deles, e na verdade as
pessoas realmente compraram muito
meio da linha, uma caixa estourando
fora do lugar. Não quis nada muito bo-
Não ficamos
Acesse nosso Canal
o nosso material nessa época, sobrevi- gravando
no Telegram: tudo
t.me/BRASILREVISTAS nitinho em Mortem Solis, eu simples-

cagado e depois editando no


vemos bem na pandemia justamente
por causa dos fãs fieis que compraram
mente neguei. Não fiz nenhum solo
com arpejo, sweep ou licks bonitinhos
computador como a galera
nossos discos, camisetas e tal, então
entendemos a situação e começamos a
porque isso já deu no saco, não aguen-
to nem mais ouvir isso aí.
pensar. Começamos a compor no fim
de 2021, por volta de outubro ou no-
faz hoje em dia” Além dessa atitude brutal na
vembro, quando nos juntamos de novo, O cara não compra o disco, mas sai a música, o título Mortem Solis também
pois estávamos separados durante o pior propaganda de um festival com um parece indicar uma interessante abor-
da pandemia. Bom, quando começou a monte de banda de merda, ele vai lá e dagem temática. O que pode nos dizer
amenizar a situação, quando o número paga quinhentos contos no ingresso pra sobre isso?
de casos começou a cair e nos vacinamos, poder tirar fotinho e colocar no Insta- Moyses: Cara, esse título tem tudo
a vontade de tocar veio forte de novo e gram, é muito tendencioso. Claro que não a ver com o momento que a gente vive.
de uma forma totalmente brutal. Cara, é todo mundo, nós temos fãs muito fieis, Bom, se a gente pegar a história da hu-
passei muito tempo vendo um monte de mas essa atitude já ferrou muita banda manidade, o Sol foi a primeira divindade
bandas de death metal soando ‘certinhas’ boa que nunca teve uma chance. Muito a ser adorada, sumérios adoravam, a
demais, só se preocupando em fazer foto do que se ouve no novo álbum vem da própria figura de Jesus é uma alegoria ao
bonitinha, videoclipe super produzido, nossa revolta com isso, com esse mundo Sol, com os doze apóstolos representando
comercializando demais algo que em cada vez mais virtual em que vivemos. os signos do zodíaco, então a escuridão é
essência é brutal e underground, então meio que a ausência da divindade, saca?
eu queria expor todo meu ódio por isso Sim, e isso garantiu uma atitude Mas também usamos como uma alegoria
tudo numa música ainda mais brutal. É o mais punk na música que ouvimos em ao poder. Os grandes imperadores eram
mesmo que Metallica e Slayer faziam no Mortem Solis. Considero um dos discos referidos como o sol, os grandes impérios
começo, eles procuravam fazer a música mais viscerais da sua carreira. eram do sol, Egito, Japão, Macedônia,
mais brutal possível e lutar contra as Moyses: Eu penso o mesmo. Cara, Roma, França, Alemanha, Inglaterra,
tendências mais comerciais do metal acho que tranquilamente esse é o nosso todos faziam essa alegoria com o sol e
nos anos 80, o Metallica só foi ter seu disco mais brutal, pelo menos na aborda- todos caíram. Tudo um dia vai chegar ao
primeiro clipe muito depois, o lance era a gem da música é isso que sinto. fim, não importa o tamanho, não importa
música, saca? o poder. A ‘morte do sol’ vem dessa ideia
Por outro lado, ele mantém esse lado de finitude, de que o eterno não existe. É
Sim, eles tinham uma atitude bastan- bastante dinâmico que vocês têm apro- algo bem interpretativo, mas a ideia cen-
te punk, que é influência para as duas fundado desde os tempos de The Great tral é essa, ninguém e nem nada deixará
bandas, inclusive. Execution (2011). de cair, esse é o preço do mundo.
Moyses: Sim, era brutalidade pura, Moyses: Ah, sim, isso é verdade. A
correria, foto feiona mesmo. Foda-se o grande diferença entre esses álbuns

ROADIECREW.COM • 33
Por Daniel Dutra

Os anos recentes foram um carrossel de emoções para o


Divulgação

Journey, que se separou litigiosamente de dois integrantes -


Ross Valory (baixo) e Steve Smith (bateria); gravou um novo
álbum de estúdio, Freedom, depois de um hiato que já durava
11 anos - e com a cozinha formada por Randy Jackson e Narada
Michael Walden; e voltou à estrada com uma nova formação: ao
lado de Neal Schon (guitarra), Jonathan Cain (teclados) e Arnel
Pineda (vocal) agora estão Todd Jensen e Deen Castronovo, que
esteve na banda entre 1998 e 2015 e mostrou que o bom filho a
casa torna. E foi o simpático Schon quem contou essa história
num papo de 15 minutos que viraram 25, porque o guitarrista
gosta de falar da parte boa do seu passado. Felizmente.

Como você está e como você tem estado durante esse perío-
do de pandemia?
Neal Schon: Nós temos tocado durante todo este ano, então
estamos miraculosamente em turnê! (risos) Mas sem muita
gente mesmo na nossa equipe. Precisamos trocar pessoas por
causa da Covid, e em um ano tivemos de cancelar quatro shows,
mas conseguimos manter o restante do ano. Inclusive, tocamos
em Nova York na noite passada, terminando a segunda perna
da turnê, e teremos um mês de pausa até seguirmos para a parte
final da turnê deste ano (N.R.: a entrevista foi realizada no dia
10 de agosto). Já temos 2023 e 2024 planejados, com planos de
vê-los no Brasil. Eu quero tocar no Lollapalooza, porque é onde
precisamos estar! Ou no Rock in Rio!

E como The Way it Used to Be acabou sendo um hino


positivo da pandemia, porque pelo menos para mim a música
é, gostaria de perguntar como toda a situação afetou a banda.
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
Houve um lado positivo nisso?
Neal: Quando algo como uma pandemia acontece, você tem
que buscar seus recursos internos para que se sinta bem. Fazendo
isso, você também faz com que outras pessoas se sintam bem.
Para mim, a música é uma das melhores curas que existem, é uma
língua universal que todo mundo entende, então escolhi mergu-
lhar nela e compor bastante. Eu estava determinado a criar esse
disco, sendo que alguns estavam animados em fazê-lo, outros não,
mas eu disse: ‘Vou fazer!’. The Way it Used to Be foi a primeira que
compus, com o Jonathan, e foi ela que fez a bola começar a rolar.
Acabei escrevendo 30 ideias, das quais finalizamos 16. As outras
ainda estão lá no estúdio, esperando o momento certo. Precisamos
concluir as letras e os vocais, mas temos bastante material. Quando
os motores esquentaram, entrei no estúdio com o Narada Michael
Walden, e foi um prazer trabalhar com ele. Deu liga entre nós dois,
e acabamos fazendo boa parte do disco com guitarra e bateria ao
vivo! Coloquei um baixo grosseiramente, que eu mesmo toquei,
e também um teclado cru só para marcar; cantei as melodias que
ouvi e algumas letras, como a de You Got the Best of Me, para a
qual criei o refrão; e mandei para o Jonathan, que finalizou as
letras e algumas melodias com o Narada. Em seguida, mandamos
para o restante da banda para que todos gravassem as suas partes
por cima. Randy Jackson tocou a minha linha de baixo e fez um

LIBERDADE INFINITA E SEM FRONTEIRAS


Neal Schon explica a decisão de lançar um novo álbum do Journey depois de 11 anos;
fala do passado com Hardline e Paul Rodgers; e conta sua experiência no Hear n’ Aid
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trabalho incrível, afinal, ele é fantástico e Steve Smith, prefiro abordar o quanto no Journey. Tem Motown, tem rock e tem
e toca muito melhor do que eu, só que eu o Journey significa para o Deen, porque soul, então ele se encaixa ainda melhor
tenho boas ideias! (risos) Mesma coisa com ele mesmo me disse isso. E ele se refere do que até mesmo Marco Mendoza, que é
o Jonathan nos teclados, e mandamos a você como um irmão mais velho, então fenomenal em seu próprio merecimento,
para o Arnel, que começou a trabalhar como é tê-lo de volta? como um tipo diferente de baixista, mais
com o Narada, também. Ele estava em Neal: Eu conheci o Deeno há muitos para o fusion e o jazz. É complicado quan-
Manila, nas Filipinas, cantando no alto da anos, e ele esteve em quase todos os pro- do se trata de montar um grupo, afinal,
sua casa com um pequeno computador e jetos comigo desde então. Ele se envolveu você pode juntar os melhores músicos do
um bom microfone plugado, e Jonathan e em alguns problemas, como muitos de mundo e ter um grande nada nas mãos!
Narada ficavam controlando e fazendo a nós ao longo da vida, e passou por altos (risos) Eu já vi isso acontecer: ter o melhor
engenharia de áudio para ele dos Estados e baixos. Eu acompanhei como Deeno baterista, o melhor guitarrista e o melhor
Unidos mesmo, no estúdio do Narada. Foi trabalhou para melhorar, e ele estava baixista, mas o resultado ser um enorme
fantástico assistir a tudo isso acontecer lá quando precisamos dele. Era o único caos! Aprendi com a minha experiência
em tempo real, sem atrasos, porque foi a cara que eu sabia que poderia fazer esse tocando com Carlos Santana, com as dife-
primeira vez que vi algo assim. A tecnolo- trabalho, porque Narada estava tendo al- rentes pessoas que passaram pela banda
gia está aí para todos nós há muito tempo, guns problemas. Para mim, Deeno é uma dele, que a mágica não necessariamente
mas não tínhamos um motivo para usá-la, aberração da natureza! E no bom sentido, vem do fato de todos serem reconhecida-
então essa foi a oportunidade ideal para porque ninguém consegue tocar bateria mente os melhores do mundo. Alguém
testarmos todas as novas ferramentas e cantar como ele, que tem um talento tem que manter os pés no chão, e isso não
que existem para que pudéssemos estar incrível. Deeno é mesmo como se fosse significa que aqueles que fazem isso sejam
juntos de alguma forma, já que fisicamen- meu irmão caçula, ainda que ele tenha menos valiosos musicalmente do que os
te não era possível. quase 1,90m (risos)! Amo tê-lo de volta à que se sentem superiores. Existem muitos
caras do jazz que são assim, esnobes, e
O título do álbum, Freedom, pode eu respeito demais nomes como John
ser interpretado exatamente como McLaughlin, Herbie Hancock e Miles
um retorno ao jeito que costumava Davis, todos esses grandes nomes do
ser, mas também como uma sensa- jazz, mas também tem os caras que
ção de liberdade após as mudanças acham que estão acima de todos
na formação? os outros, e não é isso que faz uma
Neal: Esse nome tem estado comigo grande banda.
e com a banda por muitos anos. Nosso
empresário original, Walter “Herbie” A propósito, 2022 marca o 30º
Herbert, que faleceu recentemente,
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aniversário de Double Eclipse, o
era a pessoa responsável por criar os álbum de estreia do Hardline. Quais
títulos de palavra única para os nossos são suas lembranças do tempo em que
discos. Infinity (1978), Escape (1981), trabalhou com Johnny e Joey Gioeli?
Frontiers (183)... Absolutamente todos. Neal: Eu estava procurando algo
Ele apareceu com a palavra ‘Free- para fazer naquela época, porque tinha
dom’ na época em que estávamos um tempo de sobra e estava tentando
entrando em estúdio para gravar entender o que realmente queria
Raised on Radio (1986), porque fazer. O Bad English havia acabado
queria batizar o disco com aquele de se separar no meio da mixagem do
nome. Steve Perry e Walter conver- FREEDOM segundo disco, Backlash (1991), e eu tive
saram e pensaram a respeito, porque BMG - Nac. a oportunidade de produzir o primeiro
Steve queria se distanciar desse estilo disco do Hardline, além de coescrever as
de título de uma palavra só. Acabamos músicas. Achei que seria divertido tentar
mudando, mas ‘Freedom’ ficou lá, guarda- banda, e devo acrescentar que Todd tem algo diferente, mas eu não pretendia fazer
do. Quando chegou a hora de pensar num sido uma ótima adição à banda, também, parte da banda, porque me parecia que eles
título para o novo álbum, pensei: ‘Bem, a porque juntar nós três remete aos tem- eram muito mais novos do que a minha
hora é essa’. Com tudo que estava acon- pos de Hardline e Paul Rodgers... cabeça, musicalmente falando. Produzi a
tecendo com todo mundo, no planeta e, demo que fez com que a banda conseguis-
também, pessoalmente, em nossas vidas, Olha, o disco The Hendrix Set (1993) se um contrato assinado, toquei guitarra
era a hora de virar a página e começar um é incrível! nela, compus com eles e me diverti muito
capítulo novo para o Journey, então falei: Neal: Cara, nós adorávamos aquela fazendo tudo isso! No entanto, quando saí-
‘Será Freedom’. Demiti o empresário, demiti banda com o Paul, e sei que arrebatamos mos em turnê, eu realmente senti que não
todo mundo que estava trabalhando com a plateias tocando juntos, porque tenho pertencia à banda, e o mesmo aconteceu
banda, e começamos do zero. noção de nossas capacidades. Até Steve com Deeno e Todd, porque Johnny e Joey
Perry concorda! Quando ele foi nos ver eram muito mais novos que nós três. Logo
Foi mesmo um sentido de liberdade, com Paul Rodgers no Hollywood Bowl, foi depois da turnê que fizemos com o Extre-
então. falar comigo depois da passagem do som me pela Europa, sendo que alguns shows
Neal: Sim! Foi para mim, e acredito, e disse: ‘Uau! Vocês estão melhores do que foram ótimos, e outros, uma catástrofe!
também, que foi para todos nós. nunca!’. Pouco tempo depois disso, Steve (risos), eu pensei: ‘Não estou acostumado
montou sua própria banda solo e levou o com isso. Estou acostumado a saber o
A propósito, Deen Castrovono vol- Todd para tocar com ele (risos). Todd canta que vai acontecer toda noite’, e assim nós
tou à família primeiramente com o Jour- muito bem, tem uma excelente personali- três escolhemos sair da banda. Foi aí que
ney Through Time, em 2018, e depois dade e toca baixo incrivelmente, mas toca recebi uma ligação do Paul Rodgers, que
definitivamente no ano passado. Em vez baixo de verdade, porque curte as músicas tanto perguntou se eu gostaria de fazer a
de focar nos problemas com Ross Valory que nos inspiraram a compor as nossas turnê Muddy Waters Blues com ele quanto

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convidou para tocar em seu disco. Paul já Neal: (rindo) Olha, serei honesto com que eu não deveria fazer parte do projeto,
tinha uma banda e, quando eu não pude você: isso aconteceu numa época em porque eu não tinha nada a ver com os
sair em turnê durante um fim de semana, que eu curtia a noite toda. Era época de guitarristas de heavy metal. Só que aí me
ficou frustrado com o fato de que os mú- festas todas as noites, e eu fazia tudo que bateu o orgulho, e pensei: ‘Eu posso tocar
sicos que escolheu não conseguiam pegar não prestava (risos). Eu provavelmente essa merda, sim!’, porque por mais que não
todo o material, não conseguiam lembrar devia estar dormido por apenas uma hora tivesse a oportunidade de tocar aquilo com
tudo. Aí eu disse a ele: ‘Tenho dois caras quando o despertador tocou, e eu tinha frequência, eu certamente poderia tocar,
que posso levar e que sei que farão o de- de entrar no carro e ir a Los Angeles para assim eu também iria me divertir! Fui falar
ver de casa. Passe a lista das músicas que aquela sessão de gravação. Então, liguei com o Ronnie sobre o que havia conversa-
você quer que aprendam, e eu prometo para Ronnie James Dio e falei: ‘Ronnie, do com o Yngwie Malmsteen, que estava
que eles vão subir no palco e, mesmo sem acho que não estou em condições de tocar bem na minha frente: ‘Sabe, Ronnie, eu
ensaio algum, soar mais como uma banda hoje’. Ele respondeu: ‘Não, senhor! Você vai, estava ouvindo algumas guitarristas antes
unida do que isso que você tem’. Ele sim! Vou colocá-lo num voo mais tarde, e de nós, e tudo que eles estavam fazendo
escolheu confiar em mim, eu levei Deeno um carro vai buscá-lo no aeroporto’, e eu era espancar a guitarra. Foi soco atrás de
e Todd, e tudo se encaixou. apenas disse: ‘Ok, mas você vai ter que me soco por uma hora, e eu não suporto isso.
carregar, porque eu não posso ficar acor- Vou entrar e tocar a música do começo ao
Para terminar, tem algo que sempre dado direto. Eu preciso dormir!’ (risos). Eu fim, de uma só vez, e é isso!’, porque tudo
quis perguntar a você: eu era adoles- estava sonâmbulo! (risos) A verdade é que se resumia a como eu me sentiria depois
cente quando o Hear n ‘Aid foi lançado, eu não ouvi a música, apenas levei minha daquilo. Quando você começa a pensar
em 1986, e assisti ao home video várias guitarra com um pequeno pedal laranja de muito sobre fazer tudo perfeito, toda a
vezes à época. Há uma filmagem de você distorção da Boss, liguei tudo num velho energia que vem se perde, e nisso você
gravando seu solo de guitarra e fazendo amplificador Marshall e toquei! Provavel- perde também a emoção e o sentimento,
uma expressão como se não estivesse mente, aquela expressão que você viu na que é mais do que só tocar as notas. No fim,
gostando do que acabara de fazer. Lem- minha cara era tipo ‘Não sei se isso está gravei um único take e achei que estava
bro-me de pensar: ‘Como ele pode não bom ou não, mas é porque estou dormindo bom. Eu gostei, mas Ronnie James disse:
ter gostado? Esse solo de guitarra ficou enquanto toco, então espero que dê certo’ ‘Vamos fazer mais um’, e é claro que fiz o
incrível!’ (risos). Você se lembra disso? (risos). Além disso, cada guitarrista que que ele pediu. E adivinhe? Ronnie acabou
Quais são suas memórias do projeto? estava lá ficava me pressionando, dizendo gostando mais do primeiro (risos).

Deen Castronovo, Jonathain Cain, Neal Schon e


Arnel Pineda: o Journey em sua era de liberdade
Robert Knight

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“(...) era a hora de virar a página e começar um capítulo novo


para o Journey. (...) Demiti o empresário, demiti todo mundo
que estava trabalhando com a banda, e começamos do zero.”
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COLLECTION
Por Daniel Dutra

Divulgação
Kirk Hammett (Metallica), Larry LaLonde (Primus, ex-Pos-
sessed), Rick Hunolt (ex-Exodus), Andy Timmons (ex-Danger
Danger), Alex Skolnick (Testament) e Steve Vai. Todos esses
nomes têm um denominador comum: foram alunos de Joe
Satriani. Pronto. Está feita a apresentação de um dos maiores
nomes da história da guitarra, afinal, o que mais é necessário
dizer sobre o músico americano? Bom, Joseph Satriani,
66 anos, é responsável pelo mais emblemático dos discos
instrumentais de guitarrista – Surfing with the Alien, que
ajudou a popularizar o estilo nos EUA e, consequentemente,
mundo afora – e criou o hino instrumental máximo das
seis cordas – Always with Me, Always with You, presente
no mesmo álbum. Entre o fim de 1993 e parte de 1994,
substitui temporariamente o genioso Ritchie Blackmore no
Deep Purple; e alguns anos antes disso, em 1988, integrou
a banda solo do Rolling Stone Mick Jagger. São apenas
dois dos exemplos de Satriani fora da zona de conforto
do artista solo, uma vez que ele começou sua trajetória
tocando em bandas – com destaque para o Squares – e
desde 2008 faz parte do supergrupo Chickenfoot, ao lado
de Sammy Hagar, Michael Anthony e Chad Smith. E o seu
trabalho solo? Imprescindível. Confira.

IMPERDÍVEIS
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SURFING WITH THE ALIEN (1987)


Se você passou batido pela introdução deste especial, por de bateria, a cargo de Bongo Bob Smith, em nove das dez
favor, volte algumas linhas antes de continuar aqui. Feito? faixas: a exceção é a maravilhosa Satch Boogie, com Jeff
Sim, é isso mesmo. Lançado no dia 15 de outubro, portanto Campitelli nas baquetas – o batera ainda fez alguns overdubs,
comemorando 35 anos em 2022, Surfing with the Alien é o e Satriani cuidou de todo o restante. E Surfing with the
verbete definitivo de “disco instrumental de guitarra”. Não Alien é uma rara combinação de técnica, grandes melodias,
somente porque é uma obra-prima em 38 minutos de música, feeling e musicalidade, elementos que transbordam em Ice 9,
mas também porque catapultou o gênero ao mainstream. O Crushing Day, Circles, Lords of Karma e na faixa-título; que
álbum ficou nada menos que 18 meses e três semanas no Top transforma Echo numa joia de alto quilate pouco lembrada,
200 da Billboard, tendo alcançado a 29ª posição, e ganhou infelizmente; e fazem até mesmo ateu acreditar em Deus
Disco de Platina por um milhão de cópias vendidas. Números depois de escutar Always with Me, Always with You, uma das
absolutamente expressivos, ainda mais para um álbum cujo mais belas obras criadas pelo ser humano. Neste caso, um ser
baixo orçamento obrigou o guitarrista a usar programação humano com inspiração divina chamado Joe Satriani.

THE EXTREMIST (1992)


Provavelmente, o segundo álbum mais aclamado pelos destacando o grande hit do álbum, Summer Song, usado e
fãs, e é o trabalho de Joe Satriani que mais alto chegou no abusado pela Sony num comercial de seu então popularíssi-
Top 200 da Billboard, cravando o 22º lugar e permanecendo mo walkman para CDs e, anos depois, em dois jogos de seus
no ranking por sete meses. Curiosamente, porém, vendeu videogames: “Formula 1” (1996) e “Gran Turismo 4” (2004)
metade de Surfing with the Alien – 500 mil cópias, o que para PlayStation e PlayStation 2, respectivamente. Você, no
assegurou Disco de Ouro. Dos números para a música, The entanto, deve lembrar de Summer Song como trilha de uma
Extremist conta com nomes estelares – os bateristas Gregg vinheta do “Vídeo Show”, extinto programa da TV Globo. A
Bissonette (ex-David Lee Roth) e Simon Phillips (ex-Toto, canção é uma das maravilhas do álbum ao lado de Friends,
Asia, MSG e vários outros); e os baixistas Matt Bissonette da faixa-título e da belíssima Cryin’, mas vamos sair do lugar-
(ex-David Lee Roth) e Doug Wimbish (Living Colour) – e reto- -comum e dar a merecida atenção a New Blues, War e Why,
ma o caminho 100% instrumental com uma sonoridade mais as duas últimas com um groove que somente guitarristas do
orgânica que os trabalhos anteriores. E é preciso começar calibre de Satriani conseguem imprimir à guitarra.

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EXCELENTES
FLYING IN A BLUE DREAM (1989) CRYSTAL PLANET (1998) THE ELEPHANTS OF MARS (2022)
Terceiro álbum de Joe Satriani, Flying in a Blue Dream Então com mais de dez anos de carreira solo, Joe Satriani Décadas depois do primeiro disco, quão louvável é para
nasceu com a responsabilidade de ser o sucessor de Surfing já havia encontrado um estilo próprio de composição – com um artista lançar um trabalho que figure entre os melhores
with the Alien. E se saiu bem, se considerarmos a hercúlea músicas guiadas por temas de guitarra, resumindo de forma de sua carreira? Foi o que Joe Satriani fez 36 anos depois de
tarefa: 23ª colocação no Top 200 da Billboard, ranking onde rasteira –, que muitos confundem com falta de imaginação Not of This Earth, porque The Elephants of Mars é um álbum
ficou nove meses e três semanas, e Disco de Ouro pelas 500 ou criatividade. A resposta do músico, talvez até involuntá- de um artista veterano que rejuvenesce a sua música e ainda
mil unidades vendidas. Só que o mais interessante é notar que ria, é com obras surpreendentes, presentes nestas mesmas surpreende o ouvinte com ela. O 18º álbum do guitarrista
o músico aproveitou para dar um passo à frente em vez de páginas, ou se reinventando dentro do seu próprio mundo. acabou sendo fruto de processos de composição e gravação
lançar uma segunda parte de seu trabalho comercialmente É o caso de Crystal Planet, o sétimo disco solo. Um bom diferentes por causa da pandemia – saiba mais na entrevista
mais bem-sucedido. A começar por jogar fora qualquer exemplo do som peculiar de Satriani pode ser encontrado com Satriani na ed. #267 da ROADIE CREW –, e isso ajudou
programação no resultado final – Jeff Campitelli, Bongo Bob na excelente Love Thing, até porque ele tem a manha de com o que resultado final fosse o álbum mais diverso e am-
Smith e Simon Phillips gravaram as baterias, e Stuart Hamm e o transformar beleza em baladas, mas há canções com o algo bicioso do guitarrista. E isso não é pouca coisa. Com Bryan
próprio Satriani, o baixo –, mas especialmente por soltar a voz a mais que o guitarrista costuma entregar em diferentes Beller (baixo), Eric Caudieux e Rai Thistlethwayte (teclados)
em seis músicas, com destaque para Big Bad Moon e a bonita I proporções. A progressão harmônica de Up in the Sky abre o e Kenny Aronoff (bateria), Satriani criou experimentos so-
Believe, dois dos três singles; a funkeada Strange, com um forte CD escancarando a criatividade de Satriani na hora de compor noros incríveis como a faixa-título; Dance of the Spores, que
acento do saudoso Prince; e Can’t Slow Down, que resume melodias, assim como também faz Raspberry Jam Delta-v. tem um tema circense genial; e a espetacular Sailing the Seas
muito bem o caminho trilhado: canções, não somente música Por outro lado, há House Full of Bullets, que mostra força num of Ganymede, que poderia muito bem ser uma obra de Robert
para guitarristas. Ideia pesado e suingado riff, Fripp para um dos grandes
presente até mesmo no e a faixa-título, uma vez discos do King Crimson.
country blues instrumental que Crystal Planet é uma Além disso, a beleza da
Headless, mas Satriani das melhores músicas da música do guitarrista
obviamente não se carreira do guitarrista, e passeia por momentos
esqueceria das raízes, e uma canção agraciada mais tradicionais, como
The Mystical Potato Head igualmente com a per- Faceless, e melancólicos,
Groove Thing, One Big formance irretocável da como Desolation. Cinco
Rush, Back to Shalla-Bal cozinha formada por Jeff dos 14 exemplos de um
e a faixa-título são um Campitelli e Stu Hamm. grande disco.
bálsamo.

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DREAMING #11 (1988) JOE SATRIANI (1995) ENGINES OF CREATION (2000)
Joe Satriani tem quatro álbuns ao vivo, e qualquer um Joe Satriani vinha de três discos aclamados – Surfing with Vamos contextualizar: no dia 16 de março de 1999,
poderia estar em algum quesito de “Bons” para cima, não the Alien, Flying in a Blue Dream e The Extremist – e havia Jeff Beck lançou Who Else!, no qual abraçou com força a
fosse o critério particular de privilegiar discos de estúdio. se tornado mundialmente conhecido e reconhecido. Por que techno music. No dia 27 de setembro do mesmo ano, Gary
Então, o que diabos Dreaming #11, um EP com um faixa mudar, então? O guitarrista fez a fama, só que não deitou na Moore fez o mesmo num álbum cujo título é autoexplicati-
inédita de estúdio e três faixas ao vivo, faz aqui? Bom, para cama. Levando apenas o seu nome, o sexto álbum de estúdio vo: A Different Beat. No ano seguinte, no dia 14 de março,
começar, porque seria o álbum ao vivo definitivo do guitar- trouxe uma nova e extraordinária cozinha para a grande Joe Satriani não se fez de rogado e também incorporou
rista caso não fosse um EP. Registros da turnê de Surfing maioria das canções, e a escolha por Manu Katché (bateria, a música eletrônica ao seu oitavo trabalho de estúdio.
with the Alien, com Jonathan Mover (bateria) e Stu Hamm Peter Gabriel e Sting) e Nathan East (baixo, Phil Collins, Resumindo: Jeff Beck iniciou um movimento experimental
(baixo), Ice Nine, Memories e Hordes of Locusts aparecem Stevie Wonder, Eric Clapton) já mostrava que a mudança que acabou sendo seguido por muitos de seus súditos, e
em versões de tirar o fôlego, especialmente as duas últi- também seria no campo musical. Assim, Joe Satriani isso fez com Engines of Creation se tornasse o álbum para
mas, originais de Not of This Earth (1986) – uma vez que o entregou uma sonoridade voltada para o improviso do jazz, o qual nove em dez fãs de Satriani torcem o nariz. Entre
trabalho de estreia de Satriani é, graças à produção, ainda do soul, do funk e do blues, mas sem perder a identidade exceções como Champagne?, Clouds Race Across the Sky
menos orgânico que o seu sucessor. Depois, porque a faixa construída nos anos anteriores. Cool #9, If e (You’re) My World e a bela balada e único single, Until We Say Goodbye – que
de estúdio é resultado direto do tsunami de criatividade são o melhor exemplo da fusão entre o velho e o então novo trazem Anton Fig (bateria, Ace Frehley, Joe Bonamassa) e Pat
responsável por Surfing with the Alien. Ou seja, The Crush mundo do guitarrista, mas há menos concessões em outras Thrall (baixo) –, o grosso do material é um apanhado de lo-
of Love, com Jeff Campitelli na bateria, é o sinônimo de faixas. Na maioria, a bem da verdade. S.M.F. (sigla para “Sick ops, batidas eletrônicas, programações e sons artificiais que
perfeição instrumental, Mother Fucker”), Moroccan fazem cama para a guitarra
e com um bônus: há um Sunset, a genial Killer Bee Bop, de Satriani, cujo DNA seguiu
elemento cinematográfico Slow Down Blues e Down, intacto, felizmente. Há uma
que a deixa com cara de Down, Down representam boa leva de temas melódicos
trilha sonora de grandes muito bem o conceito do e solos debulhadores em
filmes dos anos 1980, em disco como um todo. E Joe canções como Borg Sex, a
qualquer cena introspectiva Satriani é uma obra para ser pesadíssima Devil’s Slide e a
do/da protagonista. ouvida com atenção. industrial Attack.

OUTROS: O resultado da discografia de Joe Satriani é quatro álbuns ao vivo: Live in San Francisco (2001), çado em 2019, Squares traz o material gravado pela banda
definitivamente positivo, acima da média, e entre os seus cujas músicas de Engines of Creation ganham roupagem homônima no início dos anos 1980. Vale pela curiosidade,
18 trabalhos de estúdio ainda dá para destacar What orgânica de banda; Satriani Live! (2006); Live in Paris: I porque obrigação mesmo é conhecer os CDs Chickenfoot
Happens Next (2018), com Glenn Hughes (baixo) e Chad Just Wanna Rock (2010); e Satchurated: Live in Montreal (2009), Chickenfoot III (2011) e LV (2012) e o DVD Get
Smith (baixo, Red Hot Chili Peppers). E vale conferir os (2012), todos lançados também em DVD ou Blu-ray. Lan- Your Buzz on Live (2010), do Chickenfoot.
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Cunene

Marco Coti Zelati, Diego Cavallotti,


Cristina Scabbia, Andrea Ferro
e Richard Meiz, revisitando um
clássico e mirando no futuro

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QUANDO A LUZ SUCUMBE ÀS SOMBRAS
Vinte anos depois de alcançarem o sucesso mundial com
Comalies, italianos revisitam seu clássico em Comalies XX
Por Valtemir Amler rio de seu maior clássico, eles apresentam Sim, e vocês finalmente conseguiram
o novo Comalies XX, uma “atualização” do fazer aquela turnê prometida pelos EUA...
Não são muitas as bandas da mesma disco original de 2002. Falamos sobre isso Cristina: Não tinha mais como ficar
geração que podem se orgulhar de todas e muito mais com a vocalista Cristina adiando, né? (risos). Bom, você sabe,
as conquistas alcançadas pelo Lacuna Scabbia, que já adiantou os próximos é sempre uma experiência muito boa
Coil. Além da alta vendagem de seus dis- passos da banda italiana. tocar nos EUA, nossa carreira mudou
cos e de turnês repletas de datas sold out, muito desde que passamos por lá a
eles se tornaram figuras certas na cultura Olá, Cristina, é muito bom falar com primeira vez. Sempre temos bons shows,
pop, aparecendo até em capas da revista você novamente. E também é ótimo ver o o público sempre se mostrou muito
em quadrinhos do Batman. Porém, o su- Lacuna Coil de volta aos palcos. Como tem animado e isso não mudou. Mas foram
cesso não foi instantâneo, bem longe dis- sido esse retorno dos shows para vocês? shows diferentes dessa vez, claro. Para
so. Cerca de uma década se passou sem Cristina Scabbia: É sempre bom começar, existia toda essa ansiedade
que eles conseguissem fazer um nome falar com você, Valtemir. Pois é, demo- extra, pois estávamos há anos sem ver
fora do seu circuito local, coisa que ape- rou muito mais do que imaginávamos, nossos fãs diante do palco. Estávamos
nas começou a mudar com o lançamento mas enfim estamos conseguindo tocar ansiosos para fazer alguns shows de ver-
de In a Reverie, em 1999. Com o passo diante dos fãs novamente, foi uma agonia dade de novo, com público, quero dizer.
seguinte, Unleashed Memories (2001), eles esperar por isso (risos). Falo isso porque, E, embora os shows pelos EUA já tenham
conseguiram sua primeira turnê pelos desde que retornamos do Brasil em 2020, voltado há certo tempo, as pessoas tam-
EUA e foi o conflito de emoções naque- ficamos trancados em casa esperando bém pareciam bem ansiosas por nos ver,
la turnê que motivou o nascimento de pela chance de continuar a turnê, que então havia uma energia extra no ar.
Comalies, que duas décadas atrás inseriu continuava sendo adiada mês a mês. Foi
definitivamente o nome do Lacuna Coil uma loucura! Simplesmente não dava Houve uma diferença real entre
entre os gigantes do metal. Desde então para planejar nada e isso estava me dei- americanos e italianos nos shows após
muita coisa aconteceu: a banda passou xando maluca, então é ótimo estar final- a pandemia?
por transformações musicais e de forma- mente de volta aos trilhos, embora ainda Cristina: Nós sentimos muita dife-
ção, mas nunca deixou de crescer, mesmo estejamos longe do nosso ritmo normal rença. Definitivamente, o vírus tem sido
nos momentos mais difíceis, como foi de turnê. Acho que ainda vai levar um tratado de uma maneira muito diferente
durante os piores dias da pandemia. De tempo até voltarmos ao ritmo anterior, nos EUA. Eu sei que mais de dois anos já
volta aos palcos e celebrando o aniversá- mas as coisas estão melhorando. se passaram, mas aqui na Europa ainda

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convivemos com muitas restrições. Assim Cristina: Ah, obrigada. Essa parte Também vimos você jogando muito
que pousamos nos Estados Unidos, não da minha vida, esse contato com a no seu canal no Twitch. Quais jogos mais
vimos ninguém usando máscara, seu uso cultura pop é fundamental para que eu têm prendido sua atenção ultimamente?
simplesmente não era requerido em lugar consiga manter a sanidade (risos), en- Cristina: Videogames são uma das
algum! Nós tivemos cerca de uma semana tão é claro que isso tomou uma propor- maiores paixões da minha vida, eu
de pré-produção na Georgia, que é onde ção gigantesca durante os lockdowns simplesmente amo passar algumas horas
nosso engenheiro de som mora. Você sabe, aqui em Milão. Acho que nunca joguei por dia diante de uma tela jogando, nunca
ficamos por lá checando todo o equipa- tanto videogame na minha vida, e so- perco uma oportunidade. Eu cresci com
mento que usaríamos e ensaiando, e logo mando as horas de filmes e séries que consoles diferentes, Playstation, Xbox,
no primeiro dia que passamos lá, quando assisti, acho que podemos dizer que foi Nintendo, o que você imaginar, além de
fomos até o Waffle House para almoçar, um tempo considerável (risos). muitos jogos de computador e smartpho-
entramos todos usando máscaras no res- nes também, simplesmente não consigo
taurante e simplesmente todas as pessoas Apesar disso, você ainda não assis- evitar. Então, quando veio o primeiro lock-
se voltaram para nós com aquele olhar de tiu O Mandaloriano. down eu simplesmente tinha todo o tem-
‘mas que porra vocês estão fazendo?’ (risos Cristina: É, eu sei, me desculpe po do mundo para jogar, mas sentia falta
gerais) Muito rapidamente percebemos (risos). Estou terrivelmente atrasada em de interagir com as pessoas. A solução foi
que para eles foi como se nada tivesse termos de Star Wars, apesar de ser fã des- criar o meu canal no Twitch, pois lá eu
acontecido, eles haviam ‘superado’ isso. Até se universo. Mas o tempo não tem jogado conseguia fazer as duas coisas, jogar mui-
nos shows foi assim, embora tivéssemos ao meu favor ultimamente (risos). to e conversar com as pessoas que amam
estipulado com muita antecedência que as mesmas coisas que eu, e tem sido ótimo
durante o meet-and-greet todos deveriam Eu diria para você esquecer por um desde então, tenho mantido o canal tão
estar usando máscaras para terem contato momento de todo o restante que não viu ativo quanto consigo. Jogos favoritos, são
conosco, pois tínhamos que tomar certas muitos. Todos da série Uncharted, os
atitudes para garantir o prosseguimen- dois The Last of Us. Deixa eu ver, tem
to da turnê – não poderíamos seguir esse novo The Quarry, que tenho
adiante se um de nós pegasse covid e jogado muito, e esse novo com o
precisasse ficar em isolamento. Fica- gatinho, como chama mesmo?
mos um pouco chocados com aquilo,
sendo sincera. Não havia qualquer tipo Stray.
de controle, qualquer tipo de restrição, Cristina: Isso, esse mesmo.
ninguém parecia ligar. Foi uma sensa- E é um jogo incrível, pois a pessoa
ção estranha, os primeiros shows foram começa pensando em algo meio bobo,
esquisitos, principalmente o primeiro
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deles. As coisas foram melhorando controla um gatinho, mas então
muito com o passar dos dias, fomos nos você é arremessado em um mundo
ambientando mais, fomos ganhando pós-apocalíptico cheio de cenários ste-
força a cada show. Depois de tanto ampunk (risos). E claro, sempre jogarei
tempo, poder ver seus fãs vibrando os clássicos. Tenho jogado muito o
e agitando de verdade diante do remake de Final Fantasy 7.
palco, é revigorante, é uma energia
verdadeiramente libertadora! Também não consigo deixar os
clássicos de lado. Sou simplesmente
Essa pequena perna da turnê COMALIES XX obcecado por The Elder Scrools 5:
durou quanto tempo? Century Media - Imp. Skyrim. Você sabe, ‘I used to be an
Cristina: Passamos quarenta dias adventurer like you...’
lá. Tivemos uma semana de pré-pro- Cristina: ‘Then I took an arrow in
dução e quatro dias de folga, Fora isso, foi de Star Wars, mas que assista O Manda- the knee’ (N.R.: referência a uma frase
show após show, uma maratona mesmo. loriano, é ouro puro. repetida milhares de vezes no jogo pelos
Cristina: Certo, me convenceu. Mas personagens não jogáveis). É, eu sei (risos
Conseguiram voltar para casa sa- está na sua conta, vou assistir e prova- gerais). Meu namorado é viciado nesse
dios, imagino. velmente farei uma pauta sobre ele no também, então jogamos muito. É um
Cristina: Sim, e essa foi uma grande meu programa (N.R.: Cristina apresenta jogo lindíssimo, com uma história muito
surpresa para nós (risos). Quer dizer, um programa sobre cultura pop na boa e uma trilha sonora incrível. Foi um
passamos mais de um mês em contato Itália). Sendo sincera, estava muito sucesso em todas as plataformas, é um
com plateias gigantes e pessoas que não curiosa para assistir essa série, mas aca- dos melhores jogos já feitos.
usavam máscaras, mas de alguma forma bei ficando muito focada em algumas
nenhum de nós contraiu o vírus! Mas outras. Fiquei apaixonada por Round Com certeza. Bom, e para fechar
não recomendo a experiência para nin- 6, é impressionante. Tem muitas outras um ciclo e iniciar uma nova fase, vocês
guém. Tomem cuidado, usem máscaras que são incríveis, mas minha favorita estão lançando Comalies XX, com relei-
e se mantenham vacinados, pois, é claro, atualmente é The Boys. Eu já adorava os turas para todos os clássicos do álbum
nós estávamos todos com as vacinas em quadrinhos, mas a forma como as coisas original de 2002.
dia e isso ajuda muito! transparecem na tela dá ainda mais im- Cristina: É isso aí. E eu sei que algu-
portância ao tema que está sendo abor- mas pessoas vão ficar meio divididas em
Antes do retorno dos shows, vocês dado. Quer dizer, os heróis deveriam ser relação a um disco como esse, afinal, são
fizeram alguns movimentos interes- os mocinhos numa história como essa, releituras e para canções que estão entre
santes. Eu adorei o fato de você ter certo? É divertido, cativante, dá espaço as favoritas dos fãs. Mas, é justamente
encontrado mais tempo para mostrar ao para um bocado de reflexão e eu adoro a por isso que vale a pena revisitar todo
mundo a enorme nerd que você é... soma desses elementos. esse material. Não acho que faria sentido

ROADIECREW.COM • 41
revisitar músicas que ninguém quer ou- canções. Quisemos honrar aquelas can- favoritos, mas adorei as novas vocaliza-
vir nunca mais, então acho que tomamos ções com versões totalmente novas, que ções, especialmente de Andrea. Con-
a decisão certa (risos gerais). carregassem o DNA do Lacuna Coil atual. fesso que eu tinha um problema com os
vocais dele em Swamped, ele soava tão
Sim, e basicamente o que fizeram foi E isso trouxe uma aura mais negra ao excitado (N.R.: imito os vocais dele na
trazer aquelas canções para o universo álbum, até com elementos de doom. canção). Agora não, ele soa totalmente
musical atual do Lacuna Coil. Cristina: Sim, definitivamente esse ‘pistola’ na nova versão.
Cristina: Sim, é exatamente isso que álbum carrega elementos de doom. E Cristina: Ai, meu Deus! (rindo mui-
penso. Algumas pessoas têm perguntado esse foi o nosso verdadeiro desafio em to) Eu nunca tinha prestado atenção
se não foi arriscado fazer isso, mas eu não Comalies XX. Quando você pega canções nisso, mas agora que você comentou,
acho que tenha sido. É como você disse, já conhecidas e vinte anos depois as realmente, ele parece meio ‘excitadão’
apenas atualizamos as canções. Costu- descontrói para criar algo novo, com um naquela música (risos gerais). Nossa, te-
mo dar um exemplo bem tosco: imagine ponto de vista totalmente diferente sobre nho que ligar pra ele agora, nunca mais
que há vinte anos fizemos um bolo de a vida, com toda uma nova experiência vou esquecer disso (risos). Você acabou
que você gostou muito. Com o passar do na música, é algo difícil de equilibrar. Sob de me dar a razão definitiva para refa-
tempo, refinamos essa receita, encontra- certo aspecto, teria sido mais fácil se sim- zermos Comalies, tínhamos que mudar
mos novos ingredientes que amplificam plesmente tivéssemos lançado um álbum aqueles vocais (risos). Ele fica muito
o sabor e fizemos um novo bolo, que novo, pois não haveria tanta expectativa melhor urrando (risos).
esperamos que você aprecie tanto quanto sobre ‘como as coisas vão ser agora’,
antes. Mas, no fim das contas, se você não sabe? Elas não saberiam o que iam ouvir. Além disso, em breve teremos um
gostar, ainda pode usar a antiga receita. Hoje somos uma banda mais pesada e novo álbum, certo?
É por isso que o álbum original continua sombria, e isso precisava transparecer Cristina: Sim, já estamos trabalhan-
ali, no disco que acompanha Comalies nas novas versões de Comalies. Pegamos do nisso, temos algum material pronto
XX. Essa foi nossa maneira de celebrar aquelas canções e diminuímos o ritmo, e logo vocês vão ter a chance de ouvir.
o aniversário de um disco que marcou deixamos o instrumental mais pesado e Talvez em 2023 já esteja tudo pronto e
nossa carreira, um disco que amamos e ‘arrastado’. Criamos um clima mais denso lançado, essa é a ideia. Até lá, obrigada,
mudou nossas vidas. Não quisemos ape- no geral e os vocais desempenharam um Valtemir, pela conversa, é sempre tão
nas sair em turnê ou relançar o disco com papel muito importante nisso. bom! E não se esqueça, “Skyrim belongs
algumas faixas bônus, que não passariam to the nords” (N.R.: outra frase repetida à
de demos, versões descartadas daquelas É verdade. Comalies é um dos meus exaustão em Skyrim).

Cunene
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“Não acho que faria sentido revisitar músicas


que ninguém quer ouvir nunca mais”
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Ben Stockwell, Josh Riot, Rez, Mike Storm e Butch Cid,
escrevendo um novo capítulo na história do metal português

Diogo Branco
Por mares
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nunca dantes
navegados
Mike Gaspar, ex-Moonspell, amplia os horizontes do metal
português com o álbum de estreia de sua nova banda
Por Valtemir Amler numa proporção como nunca antes ha- banda já trilhávamos caminhos separa-
via sido feito. Porém, a jornada de Mike dos desde janeiro de 2020, antes do início
Quando o saudoso multi-instru- com o Moonspell acabou e antes que da pandemia. Então, para o meu lado,
mentista, compositor e vocalista sueco pudéssemos lamentar seu sumiço da como posso dizer... Foi quase algo bíblico
Thomas Börje Forsberg (Quorthon) cena musical, eis que ele já nos apresen- (risos). Quer dizer, no momento em que
visitou as terras lusitanas pela primeira ta o primeiro álbum de sua nova banda. não sabia para onde seguir com minha
vez, promoveu uma verdadeira revolu- Maledictus, álbum de estreia da Seventh vida, veio a pandemia e travou tudo.
ção no cenário metal português com seu Storm, é muito mais do que uma mera Então, mesmo que eu tivesse continuado
Bathory, fomentando o nascimento de continuação da jornada do baterista, é com a banda, não poderíamos tocar, pois
várias bandas lendárias, além da trans- um caminho novo, diferente, mas que ficamos meses e meses fechados em casa.
formação de várias outras. Sobre isso mantém viva a alma poética lusitana. Esse momento foi a chave para o que
ninguém tem dúvida, já que o assunto Confira mais sobre esse impressionante viria em seguida. Como todos, eu tinha
foi várias vezes abordado em entrevistas reinício nas palavras do próprio Gaspar. muito mais tempo livre nas mãos, então
de diferentes músicos daquele cenário. comecei a fazer o que podia no momento.
Porém, nesta história existe mais do que Durante quase três décadas você Tenho uma filha de 6 anos, então foquei
apenas um único grande herói: desde os foi baterista do Moonspell, sendo em fazer com que os dias dela fossem
anos 90, o baterista Mike Gaspar vem parte fundamental na confecção dos mais agradáveis, para as crianças e os
sendo uma das grandes forças impul- maiores clássicos do metal português. idosos foi um período talvez ainda mais
sionadoras do metal português. Foram Sua saída ocorreu em 2020, no auge terrível, enfim. A verdade é que tinha
quase trinta anos como baterista do da pandemia. Ela foi de certa forma muito mais tempo, então pensei muito
Moonspell, um período em que discos motivada pelo momento? em toda a minha vida, em toda a minha
clássicos foram forjados, levando ao Mike Gaspar: Na verdade, não. A carreira, os lugares para onde viajei e to-
mundo uma mistura poderosa de música verdade é que a notícia da minha saída quei, as pessoas que conheci por conta da
pesada com o sentimentalismo, a poesia foi dada apenas na metade de 2020, acho música. Confesso que naquele primeiro
e a cultura tipicamente portuguesas, que em julho, mas a verdade é que eu e a momento, quando já estava desligado

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do Moonspell mas ainda não havíamos álbum, festivais, turnês, álbum, ensaios, estamos todos na mesma vibração, com
comunicado, me senti um pouco sem turnê, álbum. Agora que olho para trás, a mesma paixão, não importa de onde
jeito, porque não podia dizer para os vejo que não tínhamos um momento somos ou quem somos. Veja um festival
fãs o que estava de fato acontecendo, as para celebrar o lançamento de um disco como o Wacken, por exemplo. Ele recebe
pessoas me mandavam mensagens, fala- desde a época de Wolfheart (N.R.: pri- pessoas do mundo inteiro e às vezes nem
vam sobre o quando nossa música havia meiro álbum completo do Moonspell, de falamos a mesma língua, mas basta come-
ajudado, essas coisas, e eu não podia 1995), depois dele tudo foi muito rápido. çar a citar bandas e discos e pronto, todos
falar nada, isso foi frustrante. Quando se entendem. É como se tivéssemos a
finalmente saiu o comunicado, me senti Gosto da maneira como vê as coisas. nossa própria língua, dos fãs de metal. Eu
muito aliviado, foi como se tivesse me li- Mike: Sim, obrigado. É importante dar queria unir essas duas coisas nessa banda,
vrado de um grande peso, pois para mim tempo para as coisas funcionarem direito, essa cultura universal do metal com a
foi como se naquele período estivesse muita gente se esforça demais para fazer nossa cultura de Portugal. Isso é funda-
vivendo uma grande mentira. um trabalho, mas não dá tempo para que mental para mim, eu quero uma imagem
as pessoas o assimilem e então ficam que assim que as pessoas nos virem já
Como assim? frustradas porque não alcançaram o que identifiquem que somos de Portugal, eu
Mike: É difícil dizer, mas não poder queriam (risos). Veja, de que me adianta quero que as pessoas conheçam este país.
falar com clareza com as pessoas foi apressar as coisas para subir num palco e Tenho feito isso ao longo de toda minha
doloroso para mim. Pois foi como você tocar um bocado de músicas que ninguém carreira e quero continuar levando a ban-
disse, eu fiquei quase trinta anos com o ainda conhece direito? Não há necessida- deira do metal português a todo o mundo,
Moonspell. Entrei para a banda com 16 de, isso seria frustrante. Quando já tiver- dar às pessoas a chance de conhecer as
anos e minha vida foi basicamente cons- mos uma identidade reconhecida, quando nossas raízes, as nossas influências, a
truída em torno dela, muito do que fiz nossa cultura. Trabalhar com a Atomic
na vida foi feito com ou por causa Fire nos dá uma oportunidade enorme
daquela banda. Então, foi um mo- de fazer isso.
mento estranho, as pessoas ainda
se dirigindo a mim como ‘baterista Você alcançou essa plura-
do Moonspell’, muitas pessoas ainda lidade cultural em um álbum
fazem isso, e depois se desculpam, ricamente diverso e dinâmico.
‘desculpe, ex-baterista do Moonspell, De cara, gostaria de destacar
atual Seventh Storm’. Sim, eu sou o Infernal Rising.
fundador do Seventh Storm, essa é Mike: Essa música é muito inte-
a minha banda hoje, mas ninguém ressante e também uma das canções
precisa se desculpar por me tratar
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS mais complexas que fizemos. Logo
como baterista do Moonspell, apesar na entrada já temos um ritmo em sete
de eu não ser mais parte da banda. Eu por quatro, a música mostrava essa
não estou lá hoje, mas quando você necessidade de ter algo um pouco mais
olha os discos é o meu nome que complexo, que nos conectasse mais a
está lá, então sou eu. Quer dizer, esse universo, e foi isso que acabou por
acho que estou passando por transparecer na música, que soa um
algo como uma crise de identida- tanto perdida no prog, mas com algo
de hoje (risos gerais). meio saudoso e ‘dark’. Foi uma música
MALEDICTUS terrível de se fazer, quando começamos
Bem, com o tempo tudo vai fican- Atomic Fire/Shinigami - Nac. ela tinha uns dezoito minutos (risos).
do mais claro. Toda vez que tentávamos cortar uma
Mike: Sim, é o que penso. Vivi parte, acabávamos criando outra, e ela
muitas coisas, tive uma ótima experi- as pessoas já tiverem uma conexão com ficava mais longa (risos). Por fim, resolve-
ência em todos esses anos com minha a nossa música, aí sim vai valer a pena mos esquecer isso e simplesmente deixar
ex-banda, tenho tantas memórias boas tocá-la ao vivo. Vamos ver, até agora as a criatividade rolar, sem nos preocupar-
para recordar e acho que muitas pessoas coisas têm rumado por caminhos certos, mos se a música teria oito minutos, quatro
também têm essas memórias, os fãs eu veremos o que vem em seguida. minutos ou quinze minutos. Assim, final-
digo. Acho que as pessoas ainda precisam mente conseguimos deixa-la com quase
se acostumar a me ver nesta nova banda, É legal perceber que já nesse primei- oito minutos (risos gerais).
e por isso tenho feito tudo com bastante ro álbum vocês estão ao lado da Atomic
calma, tenho feito tudo no tempo certo Fire, uma das gigantes do cenário metal. No fim das contas, quem ama música
para analisar o melhor para nossa carrei- Mike: Sim, isso é quase inacreditável. vai ouvir a canção, não importa o tempo.
ra. Digo isso porque muitas pessoas vêm Eu costumo dizer que esse foi o nosso ‘Mi- Mike: É verdade, e isso é uma das
me perguntar quando vamos tocar, onde lagre de Fátima’ (risos), pois é algo muito coisas mais importantes que eu aprendi
vamos tocar, e a verdade é que vamos maior do que poderíamos esperar. Digo com Quorthon. Numa entrevista, ele
fazer isso quando for o tempo certo, sem isso não por uma conexão religiosa muito dizia que costumava se preocupar com
apressar as coisas. Temos esse álbum forte da minha parte, mas por conta da a duração das músicas, até o dia em que
pronto e agora é o momento de agir na ligação dessa história com a cultura por- percebeu que a canção deveria durar
promoção, preciso me doar ao máximo tuguesa como um todo, é uma parte muito exatamente o tempo que ela precisava
para fazer com que o maior número de grande da nossa cultura essa fé, essa durar, nem mais nem menos. Ler aquilo
pessoas possível conheça essas músicas e esperança de que as coisas aconteçam foi uma explosão de ideias na minha
essa banda. É importante viver este mo- da melhor maneira. Eu sinto um pouco cabeça, todo um novo universo se abriu.
mento, viver este disco. Com a carreira dessa força que nos impulsiona em frente Definir a duração de uma música antes
que tinha entes, era sempre aquele ritmo no metal, pois quando assistimos um de trabalhar nela talvez seja até arro-
da indústria, a cada dois anos um novo show de uma banda como Iron Maiden, gância demais da parte do artista.

ROADIECREW.COM • 45
QUEENSRŸCHE mo, exatamente o cara que, em 2010, lidade do material. A ser dito, apenas que a

DIGITAL NOISE ALLIANCE


CENTURY MEDIA - IMP.
9,5 havia cedido o microfone ao vencedor
da versão sueca do reality ‘Idol’. Com o
retorno de seu vocalista original, o H.E.A.T
emoção extra garantida pela performance
ao vivo destacou ainda mais o panteão
de emoções tão bem trabalhado nessas
viajou de volta ao tempo sem precisar sair canções, transformando a audição de peças
te processo. Assim como nos três discos do lugar, uma vez que Force Majeure soa como All Or Nothing (com suas linhas de
anteriores, o primeiro single não faz jus naturalmente como uma continuação de guitarra coladas no ambient jazz e clima
ao todo, mas In Extremis apresenta uma Freedom Rock (2010), com a diferença post-punk) em uma experiência única. Além
diferença: a dinâmica imposta por Grillo, é que a sequência do trabalho se dará de destacar faixas óbvias, como Solitarian e
que ainda assim mantém elementos com Leckremo ao lado de Dave Dalone Apophthegmata, você ainda encontra aqui
singulares de Scott Rockenfield, como o (guitarra), Jona Tee (teclados), Jimmy Jay The Great Leap Forward, antes presente
uso proeminente dos pratos ‘china type’ (baixo) e Don Crash (bateria) nos palcos. apenas na versão deluxe de Hermitage, ou
e os licks com hi-hat e condução. Vide E não faltam ótimas novas músicas para no EP Before The Light Go Out.
as excelentes Lost in Sorrow, com um apresentar ao vivo, como Hollywood, One Valtemir Amler
trabalho de guitarras cheio de detalhes, e of Us e Paramount, que nasceram para ser
Behind the Walls, que resgata um pouco hinos deste H.E.A.T 3.0 - os refrãos ficam
da sonoridade de Rage for Order (1986). se repetindo em looping na sua cabeça
Assim como Nocturnal Light tem muito depois uma única audição! E o sétimo
É interessante no Queensrÿche é notar do experimentalismo da banda nos anos disco da banda, que não é de hoje ocupa
como as mudanças de formação não mais 1980, especialmente da passagem de lugar de destaque no hard rock melódico
afetam a sonoridade. Parker Lundgren The Warning (1984) para o segundo europeu, ainda tem seus momentos arrasa-
saiu, Mike Stone voltou; Casey Grillo faz álbum. Em um trabalho cujo instrumen- -quarteirão, Nationwide e Demon Eyes, e
a sua estreia na bateria; e Digital Noise tal complexo e executado com primazia de groove, Hold Your Fire, ao lado daquela
Alliance, 16º álbum de estúdio, quarto da consegue ser palatável (Sicdeth, vibe anos 1980 que só os mais ranzinzas
era Todd La Torre, segue a escalada com Chapter, Out of the Black e Realms) e não curtem, porque Back to the Rhythm,
a qual o precursor do prog metal havia se bonito e sensível (Forest), há, também, Tainted Love, Harder to Breathe, Not for
acostumado: sem se repetir, surpreender duas das melhores músicas da história Sale (ô refrão pegajoso!) e Wings of an
positivamente a cada disco lançado – e é do Queensrÿche: Hold on e Tormentum, Aeroplane (ô refrão grudento!) são irresis-
necessário ressaltar tanto o protagonis- esta com mais de sete minutos de tíveis. E tudo embalado num instrumental
mo de Michael Wilton nas composições incrível musicalidade. e em performances irretocáveis.
quanto o alto nível de Eddie Jackson nes- Daniel Dutra Daniel Dutra

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parceria eterna. no Telegram:
Mas, lembre-se: este é t.me/BRASILREVISTAS
apenas o segundo álbum do Destruction
com Damir, e o primeiro com Furia, então
vale e muito enaltecer o trabalho dos
‘novatos’. Mergulhe fundo e deixe os riffs
de State of Apathy, Servant of The Beast,
No Faith in Humanity, Hope Dies Last e
Tormented Soul o convencerem do óbvio:
o Destruction ainda é incrível!
PARKWAY DRIVE
DARKER STILL
Valtemir Amler
EPITAPH - IMP.

8,5
DESTRUCTION MOONSPELL Formado em 2003 na Austrália, o Parkway
DIABOLICAL FROM DOWN BELOW
Drive integrou aquela geração que tentou
HELLION - NAC. LIVE 80 METERS DEEP
revitalizar o metal no início do novo milênio, e
NAPALM - IMP.
foi uma das tantas bandas classificadas como
9,0 metalcore. Olhando para os dois primeiros
Ainda que se tenha Schmier no baixo 9,0 registros, Killing With A Smile (2005) e
e vocal, algo que conecta diretamente ao Os dois álbuns mais recentes de estúdio, Horizons (2007), a música era basicamente
thrash metal, um título forte e uma capa 1755 (2017) e Hermitage (2021), serviram hardcore com metal, com guitarras melódicas
impactante, somos fãs ‘old school’. Assim, para confirmar aquilo que todos os fãs de demais para ser considerada uma banda
a perspectiva de um disco de estúdio do longa data já estão cansados de saber: crossover. Ou seja, o rótulo cabia na medida
Destruction não conter, pela primeira vez
em cerca de quatro décadas, a guitarra
H.E.A.T o Moonspell parece viver em constante
compromisso de superar expectativas e
pelo som praticado. Porém, já com o excelente
Deep Blue (2010) e o muito bom Atlas (2012),
FORCE MAJEURE
de Mike Sifringer parecia preocupante. A elevar a qualidade das suas composições. mostraram uma enorme evolução, e o que
EARMUSIC/SHINIGAMI/SOUND
verdade é que bastou a introdução Under Depois de lançar dois novos EPs no ano hoje ouvimos em Darker Still é uma banda
CITY - NAC.
The Spell para dissipar minhas dúvidas, e passado (Before The Lights Go Out e Full que tem cada vez menos elementos ‘core’
quando Schmier começou a se esgoelar na Moon Madness), eles já estão de volta, no seu som, apostando mais e mais fichas
faixa-título, já estava pronto para declarar 8,5 mas desta vez com material ao vivo. From no metal. Moderno, porém, metal. Claro que
que este é o melhor álbum da instituição No fim das contas, foi bom para todo Down Below – Live 80 Meters Deep é bem algumas coisas sempre poderiam ser mais
thrash alemã em mais de três décadas. mundo. Apesar de a saída de Erik Grönwall, diferente do antecessor, Lisboa Under The bem trabalhadas em nome de uma qualidade
E Diabolical tem muito para causar em 2020, ter sido uma surpresa, hoje ele Spell (2018), no qual os portugueses davam mais homogênea. A faixa-título, por exemplo,
essa impressão positiva, pois a dupla de está curado de um câncer, felizmente, e uma geral na carreira. Mas este novo álbum começa com linhas que vão fazer recordar fil-
guitarristas Martín Furia e Damir Eskić dando vida nova ao Skid Row. E o vocalista se concentra totalmente no repertório de mes de faroeste dos anos 60 e 70, mas o fato
soa tão coesa e integrada que parece uma que entrou no seu lugar foi Kenny Leckre- Hermitage, o que em si já denuncia a qua- de nunca embalar e realmente decolar, apenas
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o faz pensar o que diabos ela faz entre dois para Andar na Pedra (Raimundos), que ficou é Sloth, mas não pelas belas passagens no
petardos como The Greatest Fear (aprecie muito próxima da original, apenas mais saxofone: são as notas soltas recheadas de
os riffs repletos de groove sem moderação) e densa. O Nādha surpreende por mostrar ‘delay’ nas guitarras que trazem aquela vibe
Imperial Heretic, com talvez as melhores me- que músicos experientes não tiveram medo Pink Floyd e roubam a cena.
lodias de todo o repertório. Os vocais que de deixar a zona de conforto e acabaram Valtemir Amler
abrem o álbum em Ground Zero, embora apresentando um material fabuloso e que
apenas nas primeiras linhas, também não tem tudo para se destacar em 2022.
convencem. Ademais, o material parece João Messias Jr.
ter sido composto com a interação com os
fãs em mente. Assim, confira momentos
incríveis e sugestivos em Glitch, Land of
the Lost, Like Napalm, Soul Bleach e até
mesmo no clima levemente industrial de If
A God Can Bleed. Gosta de melodia, peso e
MUNICIPAL WASTE
ELECTRIFIED BRAIN
groove? Confira esse disco!
NUCLEAR BLAST/SHINIGAMI - NAC.
Valtemir Amler
9,0
SIMETRIA ZERO Sim, o tempo passa! E para algumas
bandas, ele caminha junto à vontade
PECADOS
(por vezes camuflada de necessidade)
MS METAL – NAC
LONG DISTANCE CALLING de incrementar novos elementos à sua
proposta ou transitar por outro gênero
ERASER 8,0 musical. Outras, no entanto, se mantêm
EAR MUSIC/SHINIGAMI/
A fórmula básica do metalcore é bem calcadas em sua proposta inicial, alteran-
SOUND CITY - NAC.
conhecida de todos: um punhado do peso do pouco (ou sequer alterando) seu som
típico do metal, com um bocado daqueles ao longo dos anos. O Municipal Waste é
9,0 vocais e melodias mais assimiláveis do me- um digno representante dessa segunda
Se você é fã de post-rock e shoegaze, lodic hardcore. Embora varie de banda para “categoria”. Quase duas décadas depois
certamente já sabe que sonoridade esperar banda, essa é a fórmula básica, e o Simetria de seu debute, Waste ‘Em All (2003), o
NADHA das suas bandas favoritas: longos ambientes Zero não foge à regra. Mas convenhamos, grupo de Richmond (EUA), chega a seu
NĀDHA instrumentais repletos de diferentes elemen- eles agregam um bocado de personalidade sétimo full com a mesma aura, ou seja,
INDEPENDENTE - NAC. Acesse tos atmosféricos,
nosso Canal músicanosimplesTelegram:
e muito em suast.me/BRASILREVISTAS
canções. Advinda principalmente destilando um crossover nervoso de
bem trabalhada, e um clima etéreo que das letras, sempre focadas mais em expe- thrash e hardcore. É exatamente isso
9,0 propicia o pensamento. Pois bem, a alemã riências pessoais do que no senso comum, que você vai encontrar nas 14 faixas
Long Distance Calling tem tudo isso, e ainda as canções ganham diferentes emoções no de Electrified Brain. A faixa-título
Para quem não está tão atualizado no ce-
um algo mais: ótimos riffs! Se essa última transcorrer do álbum, e mesmo dentro de abre o play com “sangue nos olhos”.
nário, o Nādha é a nova banda do vocalista
característica os torna mais acessíveis cada canção existem variações, como você Mas juntamente com a crueza que
e guitarrista Felipe Eregion (ex-Unearthly)
aos fãs de metal (especialmente àqueles ouve em Sem Ar, onde os vocais guturais acompanha o grupo desde sempre, é
que, após alguns problemas sérios de saúde,
que seguem bandas mais melancólicas e/ entram na contramão de um instrumental necessário lembrar que o Municipal
está de volta nessa nova empreitada. Nela, é
ou progressivas), não deixe de esperar as melancólico e contido, mesmos nas partes tem vinte anos de existência e adquiriu
acompanhado dos igualmente experientes
tradicionais ambientações atmosféricas, levemente mais aceleradas. Interessante uma maturidade para dosar bem seus
e talentosos Juan Carlos Britto (guitarra),
como você ouvirá na ótima Kamilah, um dos perceber o bom uso do saxofone nessa elementos em prol da música, vide as
Bruno Rodrigues (baixo) e Jean Falcão
singles desse novo registro. Da parte dos mesma canção, confira sem medo. Destaque inserções de melodias à la Maiden em
Secca (bateria), que já contribuíram com
‘ótimos riffs’, Blades é referência imediata ainda para as boas linhas de guitarra em meio ao arsenal thrash de Demoralizer
Innocence Lost, Dark Tower e Hatefulmur-
com suas guitarras pesadas e progressivas, Natureza do Nada e o encerramento com e High Speed Steel, a cadência do novo
der. Passadas as apresentações, vamos
mas a longa 500 Years também apresenta Swansong (que ganha principalmente com o hino Grave Dive (bater cabeça é quase
falar do som, que foge um pouco do DNA
ótimas passagens das seis cordas, aqui com ótimo uso dos vocais limpos), que nos fazem uma ordem) e a energizada Ten Cent
dos envolvidos, visto que temos referências
as distorções dividindo os holofotes com pensar em algo bem diferente de um ‘canto Beer Night. Mais um trabalho digno de
como Gojira e Alice In Chains, além, é claro,
o inteligente uso do slide de vidro, que ga- do cisne’ para o metalcore nacional. Tony Foresta (vocais) e companhia.
de death/thrash, como não deveria deixar
rante uma sonoridade única. Única também Valtemir Amler Thiago Prata
de ser. Essa “nova cara” aparece logo em
Skeches of Fragments, dona de um clima
bem setentista, e O Canto Vil, em português,
PARA MAIS
dona de uma pegada densa e viajante, que
ganhou mais brilho com a participação do
CINCO MELHORES ÁLBUNS SEGUNDO: RESENHAS,
experiente Gus Monsanto (Angel Heart,
Adagio e Revolution Renaissance). Claro ACESSE O PORTAL
Fotos: Divulgação

que temos momentos mais agressivos,


como Ephemeral Being, dona de passagens DA ROADIE CREW
thrash, mas a grande sacada do disco é
apostar em momentos mais cadenciados MICHAEL ROMEO MARK OSEGUEDA
(SYMPHONY X) (DEATH ANGEL)
e até instrospectivos, como Summons to
Contest, dona de um ritmo sensacional e que Ozzy Osbourne - Blizzard of Ozz Black Sabbath - Sabotage
também se destaca pelo jogo de vozes. Já Ozzy Osbourne - Diary of a Madman Rainbow - Long Live Rock ‘n’ Roll
Umbra-Penumbra possui andamentos acús- Black Sabbath - Heaven and Hell Queen - Sheer Heart Attack
ticos, pesados, quebrados e que também Rush - Moving Pictures Led Zeppelin - Led Zeppelin II
John Williams - Star Wars: A New Hope Slayer - Hell Awaits
conta com a participação de Monsanto. O
repertório ainda apresenta uma boa versão
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AVANTASIA solo, produção de Felipe Andreoli e contando

A PARANORMAL EVENING WITH THE MOONFLOWER SOCIETY


NUCLEAR BLAST/SHINIGAMI - NAC.
8,5 com Felipe e Leandro Caçoilo (vocais) em
todas as faixas (a bateria ficou a cargo de
Alexandre Aposan), o disco mostra forte
influência do rock e do metal dos anos 80 e 70
Scheepers e Floor Jansen, ele assegurou – não à toa, Daniel cita entre suas influências
mais uma vitória para o Avantasia. O con- Zakk Wylde, Yngwie Malmsteen, Marty
traste das vozes de Sammet e Scheepers Friedman e Allan Holdsworth. Contribui muito
(Gamma Ray), que canta de maneira mais para o resultado final a produção de Andreoli,
agressiva, é o destaque The Wicked Rule que deixou tudo no seu exato lugar. Além
the Night, mas é a vocalista do Nightwish disso, merecem destaque os timbres certeiros
quem faz o gol de ouro. Ela brilha intensa- de que Daniel se vale ao longo do álbum. A
mente na empolgante Kill the Pain Away,
que tem enorme potencial radiofônico, e
faixa-título e Fade Away são os temas que
mais chamam a atenção em um trabalho em
TUTO HALLGRIM
NOTHING IS LARGER THAN MY BELIEFS
dá aula no dueto com Sammet na belíssima que o destaque é o surgimento de um artista
INDEPENDENTE - NAC.
Misplaced Among the Angels – registre-se: que, se continuar sua evolução e mantiver os
a interpretação mais sentimental do pés no chão, vai se certamente tornar um dos
capitão do time também é destaque. E destaques da guitarra em escala mundial. 9,0
Em time que está ganhando se mexe tem mais: Welcome to the Shadows, com Antonio Carlos Monteiro Apesar de ser apenas o segundo
quando é para trazer novas estrelas. É elementos musicais mais sombrios, como disco do guitarrista, o músico soube “virar a
o caso do Avantasia. Na verdade, o que se fossem de um filme de terror, e The chave” como muitos colegas veteranos do
Tobias Sammet criou em 1999 foi uma Moonflower Society, também com veia instrumento: fazer algo diferente sem abrir
equipe de power metal melódico que cinematográfica, são ótimas; muito bonita, mão dos ingredientes do passado. Traduzindo
rapidamente se transformou numa seleção Paper Plane emociona com Ronnie Atkins em miúdos, Tuto Hallgrim fez algo mais
de grandes nomes do hard rock e do heavy (Pretty Maids); Rhyme and Reason acaba pesado sem esquecer as melodias presentes
metal mundial, e aí que reside a graça do acertando ao inserir a voz de Eric Martin na estreia, com Do it Yourself. Essa receita
projeto que virou a prioridade do vocalista (Mr. Big) no metal melódico; e Scars parece vitoriosa faz de Nothing is Larger than My
e compositor. Ao reforçar o elenco em A ter sido feita sob medida para Geoff Tate Beliefs algo agradável aos ouvidos. A impres-
Paranormal Evening with the Moonflower (ex-Queensrÿche), que está muito bem. são é transmitida logo de cara em Keeping
Society, o nono disco de estúdio, com Ralf Daniel Dutra Track e Without Fear, em especial a segunda,
que possui passagens bem trabalhadas,
trazendo à mente formações como Heathen,
ganchos pegajosos fica a sensação de “por
Acesse nosso Forbidden e Testament. O pique continua alto
que fizeramCanal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
isso?”. O repertório
mais uma homenagem da banda para os
ainda traz
ACACIA CROWN em Rebuild, dona de um ótimo videoclipe. Já
THE LAST ACACIA Soul Power e Listen to Yourself flertam com
EUA com California, já que o maior sonho
HEAVY METAL ROCK - NAC. o hard rock, nos conectando com os tempos
deles era ter vivido na Sunset Strip de Los
do debut, mostrando que junto à técnica e
Angeles na década de 80. A música em si
é simples, mas agradável. O EP é um belo 9,0 habilidade, o repertório apresenta variedade e
muito feeling. Outros momentos de destaque
aperitivo pelo que está por vir. Fruto do trabalho do vocalista Hever-
são Face Your Ghosts (que lembra o grupo
Ricardo Batalha ton “Áscaris” Souza e do multi-instrumen-
cristão Deliverance) e Beliefs, cujas linhas
tista Fabricio Sawaya, o Acacia Crown
de guitarra se aproximam do baião e coroam
mostra duas coisas tão logo a faixa-título
este belíssimo trabalho, que tem tudo para
começa a rodar: primeiro, vai ser muito
alavancar a carreira do músico mundo afora.
THE 69 EYES difícil rotular a música produzida pela
dupla e, segundo, o talento é fundamental
João Messias Jr.
DRIVE
ao lado da criatividade. Boas ideias não
ATOMIC FIRE - IMP.
bastam, é preciso saber como trabalhá-las
para chegar ao resultado almejado. Assim,
8,0 The Last Acacia, a canção, entrega uma
Após o ótimo West End (2019), os interessante mistura daquela musicalidade
vampiros de Helsinque apresentam o EP típica do Oriente Médio com algo de metal
Drive, que traz quatro faixas, sendo três extremo, especialmente explorado pela
inéditas e uma versão ao vivo de Two voz de Áscaris. Já Behind The Silence
Horns Up. Das inéditas, destaque imediato
para a faixa-título, que tem aquela mescla
DANIEL FONSECA promove uma catarse de gêneros, indo do
black metal ao melodic death metal sem
ALIENIZE
de goth’n’roll, pós-punk e hard rock, com deixar de lado uma forte referência gótica.
INDEPENDENTE - NAC.
todas as características da banda finlan- Perceba isso no equilíbrio entre vocais
desa intactas. Sim, são aqueles riffs e licks limpos, rasgados e guturais, e na maneira
8,5
simples e marcantes de Bazie e Timo-Timo
e as interpretações na voz grave de Jyrki Guitarristas talentosos e virtuosos não de-
como esse equilíbrio reflete nas partes
instrumentais. The Wait tem algo que fez
LAMB OF GOD
OMENS
69, com aquele toque Billy Idol, Iggy Pop e veriam mais nos surpreender, mas sempre tem lembrar o Opeth dos anos 90, mas foi Blast
NUCLEAR BLAST/SHINIGAMI - NAC.
Andrew Eldritch. Já a faixa Call Me Snake alguém que surge como aquela excreção que Vaccum que me fez voltar diversas vezes
apresenta um riff totalmente xerocado de justifica a regra. Daniel Fonseca é um deles. O para ouvir novamente, tão bem integradas
Vision Thing, clássico do The Sisters of rapaz tem apenas 16 anos, pouco mais de três são as partes melancólicas e ambientes 9,0
Mercy. Sim, a não ser que a banda declare anos de estudos de guitarra e mostra enorme com as ríspidas e extremas. Nada como um Daquela banda que começou nos anos
que foi proposital, neste caso não se trata maturidade quando coloca uma guitarra no álbum cheio de boas ideias e com músicos 90, fazendo shows em galpões agrícolas da
de uma referência ou inspiração, é cópia ombro. Ele prova isso neste seu EP de estreia. capazes de dar forma a elas. Virgínia diante de rednecks chapados em
na cara dura. Uma pena, porque apesar de Com participação de Kiko Loureiro em um Valtemir Amler moonshine para esta que há cerca de duas
48 • ROADIECREW.COM
décadas se apresenta em arenas lotadas Sei Quem Sou tem riffs pesadíssimos/vozes
de metalheads ao redor de todo o mundo, groovadas, que ficaram sensacionais – e
muita coisa mudou. Mas, para a felicidade que refrão, meu amigo! Já a faixa Bastardos
dos fãs de groove/thrash, também muita do Brasil mostra mais uma vez o lado mais
coisa permaneceu intacta, e é sobre as extremo do quarteto, enquanto Mil Fitas soa
ótimas ‘continuidades’ que se trata Omens, como um mix de rap/soul e conta com a parti-
nono álbum da instituição norte-americana. cipação de Nego Max e Karina Menascé (Allen
Apresentando apenas pela segunda vez a Key e Mercy Shot). Só que o melhor fica para
bateria do californiano Arturo “Art” Cruz o fim do repertório, pois Só Mais Um Gole,
(ex-Prong, que em 2019 substituiu Chris com seu ritmo apoteótico e belas levadas de
Adler, atual Firstborne), o Lamb Of God tem bateria, e a brutal Fechei Com Meus Irmãos,
no quarteto fundador Randy Blythe (vocal), dão números finais a este ótimo trabalho.
John Campbell (baixo), Willie Adler (guitarra) Vale destacar não apenas som, mas também
e Mark Morton (guitarra) suas principais o conteúdo lírico interessante, falando de
forças, algo até esperado em uma banda onde superação, dos verdadeiros amigos e de
o groove cumpre papel fundamental. Porém, não abaixar a cabeça com as armadilhas da
dizer isso não significa que o velho fã sentirá vida. Que evolução!
saudades de Adler, pois Art não dá espaço João Messias Jr.
para dúvidas – confira as performances
absurdas em Vanishing e To The Grave, dois
dos destaques imediatos. Blythe, por sua vez,
continua sendo um dos melhores vocalistas
de sua geração. É da sua energia que vem a
força pulsante de canções como Grayscale,
Nevermore (onde varia a abordagem, dando
diferentes ambientes à canção) e Omens,
que merece as honras de ser a faixa-título.
Quanto ao trabalho de guitarras em uma
banda groove/thrash? Nada a dizer, apenas
ouça Gomorrah, Ditch e a longa e variada
September Song, tomando fôlego para repetir
outras mil vezes a ótima Grayscale.
Acesse
Valtemir Amler CARAVELLUS
nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
INTER MUNDOS
METAL RELICS - NAC.
BEHEMOTH
OPVS CONTRA NATVRAM
10 A capa do novo álbum do Behemoth çar um resultado bonito e significativo com
Terceiro álbum do Caravellus, o ambi- me chamou atenção por sua simplicidade e um conceito já batido ou “clássico”, como
cioso Inter Mundos tem capacidade para elegância. Ela é de autoria do artista polonês também acho que pode ser chamado. É
ser a obra-prima do grupo pernambucano Bartek Rogalewicz (Black.Lodge). Confesso uma grande cruz invertida formada por
liderado pelo guitarrista e produtor Glau- que ainda não o conhecia e, mesmo nas pes- quatro crucifixos, com uma serpente negra
ber Oliveira. O vocalista Leandro Caçoilo quisas que fiz na internet, infelizmente não entrelaçada neles, à espreita. Os supostos
(Viper), Daniel Feliz (teclado) e Emerson achei muitas informações sobre a história cristos que estão nos crucifixos sofrem al-
Dácio (baixo) completam o time. O batera dele ou um portfólio mais detalhado. Porém, gumas intervenções estéticas, com partes
Rafael Ferreira, parceiro de Glauber no o importante é que com esse trabalho primo- do corpo quebradas, abdômen aberto e
Dark Avenger, entrou quando o convidado roso sua arte vai alcançar novos horizontes e rosto mais cadavérico, com tinta dourada
LABORATORI John Macaluso (Ark, Yngwie Malmsteen,
TNT e outros) havia registrado maior parte
um maior reconhecimento.
Este não foi o primeiro executado por
simulando sangue sobre eles.
Por não ter encontrado tantas informa-
DÍVIDAS, TRETAS, MUITA
das músicas. Impossível não citar as parti- Rogalewicz para a banda. Inclusive, ele tra- ções sobre o artista, não sei exatamente
PERSEVERANÇA E POUCO DOM
cipações de Elba Ramalho, Daísa Munhoz balhou no projeto do vocalista e guitarrista como ele chegou nesse resultado, se foi a
INDEPENDENTE - NAC.
(Twilight Aura, Vandroya), Derek Sherinian Nergal, Me and That Man, como também foto de uma escultura feita 100% a mão ou
(Sons of Apollo), Felipe Andreoli (Angra), alguns projetos gráficos aparentemente se é uma mistura de técnicas, como fotogra-
9,0 Hugo Mariutti (Shaman) e Daniela Serafim menores para o Darkthrone, entre outros. fia, pintura e manipulação digital. Indepen-
É legal quando acompanhamos a carreira (Invisible Control). Inspirada na obra genial O Behemoth tem ido nessa direção dentemente disso, ela tem uma abordagem
de um grupo e se nota a evolução com o pas- de Ariano Suassuna, a trama conceitual artística mais refinada e, ao meu ver, acertou muito realista, com uma boa profundidade,
sar dos anos. Mais legal ainda é quando os mescla ritmos nordestinos como maracatu em cheio nessa capa. Ao mesmo tempo que como se fosse de fato uma fotografia, e esse
caras evoluem monstruosamente sem abrir e frevo com música pesada. Na teoria o ela tem essa estética de sofisticação dentro seria o meu principal palpite.
mão da proposta musical. É o caso do quar- som é prog, mas na prática é algo maior: da simplicidade, traz automaticamente um O fundo branco totalmente plano, sem
teto paulistano Laboratori, que apresenta metal tradicional e vertentes agressivas, contexto icônico interessante. Existem texturas, em contraste com o preto e o dourado,
seu novo álbum. Apostando numa fusão de jazz e rock progressivo com instrumentos duas versões para a capa, a preta e a branca. funciona bem como paleta de cores e o layout
metal, hardcore, rap, new metal, crossover como rabeca e pífanos de Caruaru. Além Acredito que a oficial seja a branca, pois foi a escolhido, o posicionamento do logo, o título
e o que vier na cabeça, Chilli (vocal), Wecko do encarte com as letras há outro com mais difundida na promoção do álbum pela do álbum e o novo símbolo adotado pela banda,
(guitarra, ex-Threat), Mounir (baixo e vocal) detalhes da história contada/cantada mídia, mas ambas são fantásticas e têm suas tudo de extremo bom gosto. Isso sem contar
e Jean Forrer (bateria) estão mais afiados e sobre corrupção, luta de classes, vida e peculiaridades estéticas. o acabamento nos produtos físicos com alto
pesados. A fusão de estilos flui com muita morte. Memento Mori, Incantation, While A arte em si não traz nada de muito relevo e a tinta especial dourada em partes das
naturalidade, como em Sangue de Luta e I´m Still Here (ah, Daísa!) e Insurrection novo, mas é legal quando é possível alcan- gravuras. Sutil, equilibrado e classudo.
Fé no Corre em Tempos Ruins, que mescla já estão entre as melhores do ano no Brasil. (*) ARTISTA GRÁFICO BRASILEIRO QUE JÁ FEZ TRABALHOS PARA BANDAS COMO SLAYER,
hardcore com Anthrax (fase John Bush). Já Alessandro Bonassoli KREATOR, MACHINE HEAD, HATEBREED, SOULFLY E DARK FUNERAL, ENTRE OUTRAS.

ROADIECREW.COM • 49
BEHEMOTH Limeira. E, ao ouvir com atenção esse mais

OPVS CONTRA NATVRAM


NUCLEAR BLAST/SHINIGAMI - NAC.
9,5 novo álbum, é fácil entender a razão deles
estarem conseguindo certo destaque entre
seus pares, pois existem muitos elementos
agregados em cada composição, transfor-
ataques que sofre de entidades religiosas na mando o álbum em uma espécie de viagem
Polônia, país predominantemente católico pelos vários gêneros da música pesada.
e com um governo de extrema-direita. Apenas como exemplo, você tem em Who
Musicalmente, Opvs Contra Natvram é uma I Am uma canção que entraria facilmente
sequência natural dos últimos trabalhos, no em um álbum de hard rock do final dos
caminho blackened death metal trilhado já anos 80, ao passo que Lives Matter (uma
há algum tempo. A qualidade fica lá no alto das melhores do álbum, com um belo solo
mesmo nas músicas que (ainda) não foram
escolhidas para single ou videoclipe, casos
de guitarra e vocais femininos convida-
dos) tem aquele clima épico de balada
LUZIFER
IRON SHACKLES
da bem trabalhada Neo-Spartacvs, na qual heavy, e Root Of Evil é sólida e melódica
HIGH ROLLER - IMP.
o baixo de Orion tem seu momento de pro- como tantos clássicos que amamos ouvir.
tagonista, e das agressivas Malaria Vvlgata Vale a pena conferir, especialmente se
e Disinheritance. Mas a verdade é que não você é fã das sonoridades mais tradicionais 8,0
Foram quatro anos de espera, mas a há, sequer, um segundo desperdiçado do rock pesado. Da segunda metade da década de 2000
fome por material inédito do Behemoth está nos 44 minutos de duração. Off to War! Valtemir Amler até agora há uma contínua e crescente
saciada: Opvs Contra Natvram é muito bem mostra toda a riqueza instrumental e um invasão de bandas dedicadas a praticar Heavy
servido. “Ó libertino! Tua vontade seja feita. baita trabalho de Nergal nas seis cordas, Metal na sua forma mais pura e empolgante,
(...) Adoramos o Diabo, saudamos a Besta!”, enquanto The Deathless Sun, Ov My geralmente inseridas dentro da não tão nova
narra Nergal na climática e tribal Post-God Herculean Exile, Thy Becoming Eternal, NWOTHM (New Wave of Traditional Heavy
Nirvana, com trejeitos vocais à la Fernando Versvs Christvs e Once Upon a Pale Horse, Metal). Este power trio alemão formado em
Ribeiro (Moonspell) que se repetem ao com uma das grandes performances do 2009 tem nas mãos de G. Deceiver (bateria),
longo do trabalho. A temática lírica e visual batera Inferno, já estão entre as melhores L. Steeler (baixo e vocal) e S. Castevet (vocal,
surpreende apenas quem desconhecem até músicas do Behemoth. Sim, temos aqui um guitarra e bateria) a fórmula perfeita de como
a cruzada do vocalista e guitarrista, através dos melhores álbuns de 2022. criar músicas instigantes dentro deste nicho
da campanha “Ordo Blasfemia”, contra os Daniel Dutra e, ainda assim, soar diferente de seus pares. E
há outra questão importante a ser destacada:
o Luzifer é o irmão contido do Vulture,
em Advent, Instinct, Achilles Heel e Power
Acesse nosso Canal noWhiteTelegram: t.me/BRASILREVISTAS conhecido pelo seu speed metal frenético.
Of Now. Mas é na ótima The que a fór-
Este projeto paralelo dos caras soa muitíssimo
mula chega ao ápice, com um riff daqueles
que gruda na memória. Na 35ª audição de
DEATHGEIST diferente de sua banda principal e há muitas
PROCESSION OF SOULS variáveis aqui que atestam a qualidade
Final Advent, não consigo parar de imaginar
MUTILATION/THRASH OR DEATH - NAC. do play: ótimas linhas de guitarra, vocais
este grupo em um grande festival no Brasil.
marcantes, climas épicos, produção orgânica,
Alguém se habilita?
Alessandro Bonassoli 9,5 interessantes arranjos de teclado, ritmos
cavalgados e uma aura oitentista palpável.
Se em seus primeiros dias, o
São 32 minutos de pura diversão metálica,
Deathgeist era naturalmente visto como
destacando a longa Hexer (In Dreiteufelsna-
a sequência do extinto Bywar, agora o
men) e Wrath of the Sorcerers, esta última um
grupo paulistano chega ao terceiro álbum
verdadeiro achado. Há influências diversas,
DYNAZTY e dispensa apresentações. Em Procession
of Souls, Adriano Perfetto, Victor Regep
que vão desde Scorpions à Heavy Load,
FINAL ADVENT garantindo inúmeras audições.
e Maurício “Cliff” Bertoni dão as boas
SHINIGAMI - NAC. Maicon Leite
vindas ao também experiente Fernando
Oster (bateria, Woslom), que somou
9,0 na manutenção do speed/thrash metal
Os suecos do Dynazty mudaram de estilo vigoroso e de aura alemã do grupo. Só
em 2014. Migraram do hard rock dos três que dessa vez o Deathgeist se permitiu
primeiros álbuns para uma pegada mais aproximar do heavy metal tradicional e
power metal melódico. O rótulo é estranhís-
simo, mas creio ser a maneira mais fácil para
DEATH SLAVE soar menos direto quanto em Deathgeist
(2017) e em 666 (2019). Em meio a riffs
THE UNKNOWN
explicar como o som deles passou a ser a cortantes e levadas aceleradas, em que a
INDEPENDENTE – NAC
partir de Renatus. A troca ficou consolidada produção crua ressaltou o baixo de Cliff,
no ótimo Titanic Mass (2016) e, de lá para o quarteto investiu em partes climáticas e
cá, impressiona como Nils Molin (vocal), 8,5 cativantes em músicas como Living Dead
Love Magnusson e Mikael Lavér (guitarras), Abraçar o heavy metal tradicional, Memory (que refrão!) – essa com um quê
Jonathan Olsson (baixo) e Georg Härnsten cerca de quatro décadas depois do seu da banda mineira The Mist já considero
Egg (bateria) acertam a cada novo trabalho.
Oitavo registro do quinteto, Final Advent
estabelecimento por nomes que se torna-
ram lendas no cenário pode ser um desafio
minha favorita do Deathgeist –, a ótima
Nightmare’s Chamber, a cadenciada Fear
CAUGHT IN ACTION
DEVIL’S TANGO
passou a ser meu favorito. Ainda estou titânico, mas felizmente não são poucas e a própria Procession of Souls. Cabe ob-
STEELHEART - IMP.
tentando entender como eles conseguiram as bandas topando pagar o preço. A Death servar que as guitarras da dupla Perfetto e
adotar uma levada mais acessível (mérito Slave vêm fazendo isso à longos anos, e Regep parecem nascidas uma para a outra.
das precisas vocalizações de Molin), mas esse The Unknown já é seu terceiro álbum Não resta dúvida: até o momento, esse é 8,5
sem perder o peso. Power Of Will abre o play completo, prova de que as coisas têm melhor álbum do Deathgeist. O guitarrista Richard Jönsson e o
mostrando isso muito bem. O fato continua tomado bons rumos para os paulistas de Leandro Nogueira Coppi tecladista Ronnie Svärd são os mentores
50 • ROADIECREW.COM
do Caught in Action, que estreia com desde o EP My Unconditional Faith (2015),
Devil’s Tango. Porém, para os brasileiros, está ainda mais afinada, com a notável
vale destacar a presença do vocalista Mar- capacidade de não soar como uma mera
cello Vieira, que brilhou no underground evocação de bandas antigas. Produzido por
paulistano no começo dos anos 1990,
seja com o Trama (covers de hard rock),
Mauro Caldart, que gravou as guitarras base
e ainda registrou os solos em cinco faixas, o
QUE NOTA VOCÊ DARIA PARA?...
o Mötley Crüver ou o Smoking Guns, de álbum é uma coleção de ótimos momentos.
Silas Fernandes. Depois, ele se mudou Wait, Perfect Crime, Breakin The Chains,
CELTIC FROST
para Portugal, onde reside e mantém sua Gotta Be Strong, Wherever You Go, Hold Me e INTO THE PANDEMONIUM
carreira ativa, tendo gravado com o Hot So Close, uma versão que melhorou o clássico
Stuff e o The Fuzz Drivers. E foi ele quem pop gravado por Hall & Oates em 1990,
trouxe o baixista e produtor Ricardo Dikk mostram que a música pesada nacional não
– completam o time os irmãos portugueses é ótima só em linhas extremas e melódicas.
Mauro Ramos (bateria) e Mènito Ramos Ouça o álbum e, se souber que Marenna, Luks
(teclados). Ok, mas e a música? Bem, esta Diesel (teclado), Edu Lersch (guitarra), Bife
união Suécia-Portugal-Brasil, e Itália pela (baixo) e Arthur Schavinski (bateria) estarão
Steelheart Records, brinda o ouvinte com na sua cidade, vá ao show.
um misto de hard rock, AOR e melodic rock Alessandro Bonassoli
de primeira. Sério, o repertório parece até o
de uma coletânea ‘best of’. Dinâmico, alterna
momentos altamente energéticos, como
na acelerada faixa-título, com a melodia de
Simple Man. Ou na abertura, com New York
City, escolhida como primeiro single/vídeo,
com Miracle. Se você conhece o vocalista
BJ (Spektra, Soto, Tempestt e outros), saiba
que o timbre e o estilo de Marcello Vieira são
bem similares. Destaques ainda para First
Time, If Only, It Is What It Is, I Will Wait e
Closer To My Dreams. Confira!
Ricardo Batalha

Acesse nossoTHESKID ROW


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GANG’S ALL HERE
EARMUSIC/SHINIGAMI/ Após ter chocado o mundo com o que chamavam naquela época nomes
SOUND CITY - NAC. Hellhammer e os primeiros trabalhos já como Joy Division, Bauhaus, Sisters of
como Celtic Frost, Thomas Gabriel Fischer Mercy, Christian Death e Siouxsie And The
9,0 (vocal e guitarra), Martin Eric Ain (baixo) e Banshees. Ouvíamos muito estas bandas
Reed St. Mark (bateria) resolveram ousar e isto refletiu também nas vocalizações de
Finalmente, o Skid Row se reencontrou
novamente. Assim, a sonoridade obscura Tom”, declarou o saudoso Martin Ain.
musicalmente e trouxe a peça que faltava
e extrema estava sendo modificada para A crítica classificou-o como um
para reconquistar os fãs que o abandonaram
algo mais vanguardista. Se inovar era a trabalho de vanguarda, enaltecendo o lado
após a saída de Sebastian Bach. Johnny
palavra de ordem, Into The Pandemonium criativo das composições, em especial
Solinger (falecido em 2021) tinha uma voz
cumpriu o objetivo. Mexican Radio (cover do Wall Of Voodoo),
legal, porém as músicas de sua fase não
Porém, o resultado final dividiu a opi- Inner Sanctum, Babylon Fell, Caress Into
ajudavam; Tony Harnell e ZP Theart não
nião dos fãs, pois o grupo suíço apresentou Oblivion, I Won’t Dance, Sorrows of the
agradaram e nem discos gravaram. Mas ago-
um trabalho experimental, incluindo mais Moon e Rex Irae (Requiem). A mais fora
ra o Skid Row traz para a “gangue” o jovem
orquestrações, corais e vocais femininos, dos padrões foi a eletrônica (EBM) One In
Erik Grönwall (ex-H.E.A.T.) e volta a empol-
percussão e samplers. “Utilizamos Their Pride, mostrando o que Tom tentaria
gar. Recuperado de leucemia e após passar
elementos do gothic, new wave ou o fazer no Apollyon Sun.
por transplante de medula óssea, o vocalista
sueco fez bonito em seu disco de estreia com Alessandro Bonassoli (colaborador): 10
Antonio Carlos Monteiro (redator): 7,0
MARENNA sua banda favorita. Os ótimos singles The
Gang’s All Here, Tear it Down e Time Bomb Claudio Vicentin (editor): 8,0
VOYAGER Daniel Dutra (redator): 9,0
já haviam agradado os fãs, que receberam
CLASSIC METAL/ Écio Souza Diniz (colaborador): 9,0
Erik muito bem. O Skid Row acertou a mão
HEAVY METAL ROCK - NAC. Guilherme Spiazzi (redator): 9,0
nas composições e o resultado é um disco
de brilhar os olhos. Além dos três singles, Heverton Souza (colaborador): 7,0
9,0 Hell or High Water, Not Dead Yet, The Lights Ivanei Salgado (colaborador): 9,5
João Messias Jr. (colaborador): 9,0
Voyager, quarto trabalho do grupo gaúcho Come On e Resurrected, por exemplo, têm Leandro de Oliveira (diretor de arte): 7,0
Marenna, foi criado durante os tenebrosos a energia e a pegada que fariam desse uma Leandro Nogueira Coppi (colaborador): 9,0
tempos pandêmicos. O resultado, como a ótima sequência para os dois primeiros Leonardo M. Brauna (colaborador): 10
maior parte dos demais álbuns deste período,
é altamente positivo. Rod Marenna provou
novamente que está mais do que pronto
para uma carreira além fronteiras, algo que
a parceria com a gravadora dinamarquesa
Lions Pride Music indica ser uma realidade.
álbuns da banda, Skid Row (1989) e Slave
to the Grind (1991). Já a extensa balada
October’s Song tem a sonoridade de
Subhuman Race (1995). Como fã, já não
sinto mais a falta de Sebastian e dou as
boas-vindas a Grönwall no Skid Row!
Luiz Cesar Pimentel (colunista): 8,5
Luiz Tosi (editor online): 9,0
Maicon Leite (colaborador): 8,0
Matheus Vieira (colaborador): 8,0
Ricardo Batalha (redator-chefe): 9,5
Thiago Prata (colaborador): 9,5
8,7
A mistura entre hard rock e AOR, presentes Leandro Nogueira Coppi Valtemir Amler (redator): 8,0
ROADIECREW.COM • 51
espiral descendente que resultou no ruim que a fazem se tornar um hino. Glory Forbidden e Exodus. O repertório é ener-
Katharsis (2019), no qual Arttu “Archie Days é excelente e traz coros de apoio gético e dinâmico, mas, individualmente,
Cruz” Kuosmanen (vocal e guitarra) e o que combinam habilmente guitarras pe- destaque para a performance versátil de
produtor Kane Churko tomaram conta de sadas e seções orquestrais atmosféricas. Brian Allen, alternando vocais agressivos
tudo. The Return of the Kings, porém, é Voice of Thunder encerra a obra de forma com momentos mais melódicos, algo que
um sopro de esperança. Cruz se livrou de épica, já que são mais de 11 minutos de conecta ao estilo do Flotsam And Jetsam
Churko, felizmente, e, depois de um entra andamentos cativantes e muita técnica e o timbre vocal de Tim “Ripper” Owens e
e sai de músicos, recrutou os californianos e bom gosto. Survive apresenta a banda Mike Tirelli (Holy Mother, Messiah’s Kiss,
Jerry Jade (guitarra), Tommy Bradley finlandesa em sua melhor forma, com ex-Jack Starr’s Burning Starr), por exemplo.
(baixo) e Randy McDemian (bateria) uma formação que já perdura por mais de Além disso, os riffs são bem sacados e há
para resumir a própria obra. O peso e a 10 anos. E Timo Kotipelto continua can- aquele groove típico thrash americano,
sonoridade moderna iniciados em Bad tando muito bem! É aquilo, o Stratovarius além de pitadas de metal tradicional
APNEA Blood Rising (2017) ainda dá as caras em
faixas como Here Comes the Revolution
é uma banda construída para progredir,
não apenas sobreviver. E é isso que está
e speed. Confira as faixas Walk Away,
Voodoo, Death of the Angel, Burn e Blind.
SEA SOUND
(qualquer semelhança com Pantera não é embalado nesse pacote, um álbum que os Ricardo Batalha
PECULIO DISCOS/
mera coincidência), Take Me to America leva de novo ao topo do estilo.
MONSTRO DISCOS - NAC.
e Standing My Ground, mas o heavy rock Claudio Vicentin
está muito mais aflorado em Under the
8,0 Gun (com remissões aos riffs de I Don’t
Fundado em 2019 em Santos (SP), o Know e Suicide Solution numa clara
Apnea é formado por uma constelação homenagem a Randy Rhoads), Gunshot e
de talentos, ávidos em mesclar metal, 10 Shots (cujo solo de incorpora na cara
stoner e grunge. Com uma proposta bem dura um bom trecho da obra de arte que
definida, o vocalista e guitarrista Marcus Marty Friedman fez em Tornado of Souls,
Vinicius (ex- Bayside Kings), o guitarrista do Megadeth). Mais do que isso, as ótimas
Nando Zambeli (ex-Garage Fuzz), o baixista Disarm Me, 1000 Cigarettes, Would You
Gabriel Imakawa (Jerseys) e o baterista Believe it e Stay são aquele hard rock delicio-
Mauricio Boka (Ratos de Porão) chegam so que não tem a menor vergonha de flertar
ao primeiro full-length do Apnea com nove com o pop, e que a banda finlandesa - agora,
faixas (incluindo a intro Apnea Rock Radio) um projeto de Cruz - tão bem fez no início da TANKARD
que trafegam pelos estilos anteriormente carreira. Que seja mesmo um recomeço. PAVLOV’S DAWGS
citados de uma forma simples e honesta. Daniel Dutra REAPER - IMP.
Música mais longa do disco, Acesse
com seis nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS 9,5
minutos de duração, What Future Holds traz
uma veia stoner com uma dose de psicodelia
A fórmula thrash do Tankard é muito
e uma letra bem interessante, com uma
simples: riffs, riffs, riffs e mais riffs, e
“manifestação” no fim. Peacefully vem a
quanto você achar que não cabe mais ne-
seguir cheia de estilo, conseguindo unir a
nhum riff na música, escreva outro ainda
aura dos anos 90 com uma acidez hard rock
mais pungente e acrescente tempo na
(destaque para a performance de Boka). Já
música, pois é disso que thrash precisa.
Deepness evoca um lado mais “sentimental”,
Conterrâneos, contemporâneos e amigos
novamente aliando bem os componentes
dos outros três gigantes do thrash teu-
do grunge e do stoner, enquanto Outside é
guiada por bons riffs. Bus Ride encerra bem TRAUMA tônico, o Tankard sempre se diferenciou
por uma abordagem menos extrema e
um álbum interessante e variado. AWAKENING
mais aberta, onde um bocado de bom
Thiago Prata MASSACRE - IMP.
STRATOVARIUS humor e diversão também eram parte
da receita. Isso é um fato ainda hoje, e
SURVIVE 8,5 basta começar a rolar, a faixa-título já dá
EARMUSIC/SHINIGAMI/
Assim como Enforcer, Massacre, a deixa: estamos de volta diante de um
SOUND CITY - NAC.
Tyrant, Avenger e tantos outros, o nome ótimo álbum dos beberrões germânicos.
Trauma é um dos mais usados para Pavlov’s Dawgs empilha riffs em profusão
9,0 nomear grupos de metal espalhados após uma pequena intro acústica, e cativa
Não temos como negar que o Strato- pelo mundo – até no Brasil tivemos um o suficiente para que até os não iniciados
varius, mesmo com todos os problemas na década de 80. Porém, esta banda desfrutem de Ex-Fluencer (fique atento à
que atravessaram em um passado já americana está cravada na história do letra), Beerbarians e Diary of a Nihilist,
distante, continua a produzir música de metal por ter revelado o saudoso Cliff que também se destacam neste 2022 tão
qualidade. Algo normal em toda a sua Burton. Contando agora com o baterista rico para as bandas germânicas. Veins
carreira, e que aqui está mais uma vez evi- Kris Gustofson como único remanescente of Terra representa o lado mais sério da
dente, é que a banda sabe escrever mú- da formação original, o grupo americano banda, e seu ritmo cadenciado também
SANTA CRUZ sicas cativantes. O álbum está repleto de
arranjos memoráveis e refrãos pegajoos,
é completado por Brian Allen (vocal,
ex-Vicious Rumors), Steve Robello e Joe
exige destaque, mesmo em um álbum tão
bom. Mas, se tudo o que você quer é con-
THE RETURN OF THE KINGS
solos de guitarra e teclados de enorme Fraulob (guitarras) – o baixista Greg tinuar a diversão, não deixe de ouvir mil
M-THEORY AUDIO - IMP.
bom gosto. A faixa-título, Survive, tem Christian (ex-Testament), que estava vezes Metal Cash Machine e Lockdown
uma energia ótima, enquanto Demand é desde 2017, saiu recentemente. Awake- Forever. Lembre-se, às vezes você precisa
7,5 mais uma candidata a single, bem como ning, terceiro registro desde a retomada sorrir, mesmo diante de tempos escuros.
Um resumo rápido: depois de brilhar Firefly. E tem as faixas mais cinematográ- das atividades em 2013, traz 11 faixas E cada riff aqui é motivo de alegria para
com seus três primeiros álbuns, o Santa ficas, como Frozen in Time, com melodias muito bem trabalhadas e calcadas no um headbanger que se preze!
Cruz sofreu uma baita racha e entrou numa fáceis de cativar e passagens sinfônicas thrash metal, com uma pegada Heathen, Valtemir Amler
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THE DEAD DAISIES MANDRAZ MERCY SHOT SATYRICON
RADIANCE MANDRAZ BRACE FOR IMPACT! SATYRICON & MUNCH
SPV/SHINIGAMI/SOUND CITY - NAC. INDEPENDENTE - NAC. CANIL - NAC. NAPALM - IMP.

8,5 8,5 8,5 2,0


Se você continua torcendo o nariz para O primeiro trabalho do duo paulista Quando a capa de um álbum faz você A ideia até que era nobre: após visitar
a principal das inúmeras mudanças de Mandraz faz por merecer ser ouvido por pensar numa mistura de Bomber (Motörhe- uma exposição com as obras do lendário
formação no Dead Daisies - a troca de John alguns motivos. Primeiro, por apostar numa ad, 1979) com Troops of Tomorrow (The artista norueguês Edvard Munch, o
Corabi, especialmente, e Marco Mendoza linha de som que foge do “extremismo Exploited, 1982) com aquele estilo típico guitarrista e vocalista Sigurd “Satyr”
por Glenn Hughes -, não será Radiance que progressivo” que assola o nosso cenário e de Ed Repka, sabe que vem coisa boa por aí. Wongraven resolveu transformar em mú-
vai mudar o cenário. No entanto, é preciso também por mostrar em suas canções uma Sem se prender em nenhum dos extremos, sica as emoções que aquelas obras des-
reconhecer que, musicalmente, se trata estética lírica positiva que foca na conscien- é mesmo nesta seara que se desenvolve a pertavam em seu ser. Se você imaginar a
mesmo de uma nova banda. O sexto álbum tização. Isso sem falar no nome da banda – música dos paulistas do Mercy Shot, um quantidade de possibilidades que o black
reforça isso desde o logo, que novamente joga no google pra sacar. Só por isso, Daniel poderoso híbrido de gêneros que pode ser metal e a dark ambient oferecem, ele
traz uma tipologia diferente, e a parte que Berrettini (bateria) e G. Cross (baixista), ora mais heavy metal, como nas guitarras tinha o mundo todo para explorar. Mas,
importa apresenta um material mais pesado aqui acompanhados por Alexandre Fabbri em Capital Sins, com o suporte da bateria a longa e única faixa de quase uma hora
e direto. Claro, com a presença de Hughes, (guitarra) e João Luiz (vocal, Golpe de amplificam essa sensação; e noutras mais que forma esse álbum exige tal estado
o groove segue presente, como em Face Estado, ex-King Bird e Casa das Máquinas) hard rock, como em Enemy and Ally, na de espírito para ser digerida, que poucos
Your Fear, que traz um bem-vindo solo mais merecem uma oportunidade nesse oceano qual o trabalho das seis cordas divide o além do compositor se aventurarão a
bluesy de Doug Aldrich, e KissAcesse
the Sun, mas chamado rock’n’roll.
nosso Canal Executando
no um hard
Telegram: protagonismo com as ótimas linhas vocais
t.me/BRASILREVISTAS apreciar. Sendo claro, é difícil demais
nesta mais pelo trabalho do batera Brian rock com foco na escola setentista, os caras de Karina Menascé. Parece óbvio que ‘passar o pano’ para Satyricon & Munch.
Tichy, de volta ao grupo depois de quase mostram nesse EP homônimo que sabem existe certa referência do speed/thrash no Entendemos que este não seria um disco
anos fora. Cascade, Shine on e a faixa-título das coisas, encaixando melodias, licks, peso trabalho da dupla de guitarristas, Fabrizzio de black metal, e não é esse o problema,
mostram esse lado mais pesado em canções e vocalizações, que embora não apresente Hanoi e Flavio Pintinha, e na maneira como pois dark ambient é algo apreciado
basicamente mais arrastadas, enquanto novidades, soa fresco em nossos ouvidos. a cozinha de Andrews Einech (baixo) e por aqui. Temos muita emoção, muito
Hypnotize Yourself e Not Human, mais E a reação que é contagiante pega logo Roger Katt (bateria) conduz as canções por ambiente e atmosfera, e nenhuma música
animadas, servem como preparativo para os de cara em faixas como Eu Não Ligo, Ser caminhos sempre dinâmicos e variados. neste disco. Em outras palavras, você
dois momentos mais comerciais do disco: Alguém e Vida Moderna, essa última que Confira o single/clipe Arise, que arranha que estudou Física na escola consegue
as ótimas Courageous, com mais nuances conta ainda com a participação do guitar- em elementos extremos, por exemplo. Isto extrair mais energia de uma batata do
instrumentais, e Born to Fly, que carrega rista Marcello Schevanno (Golpe de Estado, tudo resulta em um álbum que tem cor, que deste Satyricon & Munch, e digo
um mais que bem-vindo acento hard rock. E Carro Bomba). O repertório ainda conta com cheiro e sabor de anos 80, época em que isso sem felicidade alguma. Para um
tudo isso desemboca em Roll on, um desfe- Por Novos Tempos, que é a mais diferente forjamos nomes para separar os estilos, projeto dungeon synth, que cria seus
cho mais calmo, semiacústico e diferente do do trabalho, por ser um pouco mais pesada mas criamos o crossover para reunir tudo álbuns no sótão de uma casa escura e
restante do trabalho. Este é o Dead Daisies e introspectiva, mesmo que totalmente novamente no mesmo caldeirão. Como úmida, com o auxílio de um computador
de hoje, porque o de manhã só quem sabe é influenciada pelo hard rock. Mais um belo eles fizeram ao colar o metalcore de Sink e uma batedeira de duas velocidades,
David Lowy, o guitarrista-empresário dono fruto que o universo do rock’n’roll brasileiro And Thrive com o ‘hard rádio FM’ de For esse seria um álbum aceitável. Para o
do negócio todo. apresenta aos nossos ouvidos e corações. Nothing In This World, por exemplo. Satyricon, de jeito nenhum.
Daniel Dutra João Messias Jr. Valtemir Amler Valtemir Amler

1 2 3 4 5

BLIND GUARDIAN AMON AMARTH STRATOVARIUS GRAVE DIGGER MACHINE HEAD


THE GOD MACHINE THE GREAT SURVIVE SYMBOLS OF ETERNITY OF KINGDOM
HEATHEN ARMY AND CROWN
*CLASSIFICAÇÃO OBTIDA POR MEIO DE PESQUISA REALIZADA NAS LOJAS DIE HARD (LOJA E SITE - SÃO PAULO/SP),
PARANOID (SÃO PAULO/SP), HEAVY METAL ROCK (AMERICANA/SP) E BLACKOUT DISCOS (RECIFE/PE).

ROADIECREW.COM • 53
Frank Thorwarth, Andy Gutjahr, Gerre e

Axel Jusseit
Olaf Zissel, parceria constante desde 1998

DIÁR
DI ÁR IO DE U M NIILISTA
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS

Aliando temas sérios com bom humor e muito thrash metal,


gigantes alemães apresentam o novo Pavlov’s Dawgs
Por Valtemir Amler e ri durante toda a entrevista, mas tam- Você ainda costuma assistir as parti-
bém fala sério quando o assunto toma das no estádio?
Desde que começaram a atuar sob esse rumo. Prestes a embarcar em uma Gerre: Ah, sim, sempre que possível.
o nome Tankard em 1983, o vocalista viagem repleta de cerveja e futebol, ele Na verdade, amanhã estou viajando para
Andreas “Gerre” Geremia e o baixista falou com a ROADIE CREW: a Finlândia, para assistir à partida entre o
Frank Thorwarth têm formado uma das Frankfurt e o Real Madrid. O jogo é depois
duplas mais atuantes do metal germâ- Olá, Gerre, bom falar com você. de amanhã, mas viajaremos um dia antes,
nico. Mais do que isso, eles são dois dos Em 2006 vocês lançaram o EP Schwar- você sabe, para conhecer as redondezas.
grandes responsáveis pela sonoridade z-weiß wie Schnee que, entre outras E aqui vai um conselho meu: nunca viaje
típica do thrash teutônico, com sua canções, veio com o hino do Eintracht para outro país para ver futebol sem antes
banda sempre citada lado a lado com os Frankfurt, time da sua cidade natal em ter tempo para encontrar um bom bar.
compatriotas do Sodom, Destruction e uma versão rearranjada e tocada pelo Você sempre precisa saber onde comemo-
Kreator. Apesar das similaridades, a ban- Tankard. A faixa Schwarz-weiß wie rar ou onde afogar as mágoas (risos).
da de Frankfurt sempre foi encarada de Schnee está sendo relançada agora,
forma diferente, já que sua sonoridade em um split com outras bandas, então É um bom conselho. Mas e quanto a
nunca soou tão ríspida e violenta quan- gostaria que comentasse um pouco a Schwarz-weiß wie Schnee?
to a de seus pares, mesmo a sua temática sua relação com o futebol. Gerre: Bom, para dar uma resposta
lírica mostrava uma dose maior de bom Andreas “Gerre” Geremia: Fala, completa a essa questão, precisamos voltar
humor do que seus compatriotas. Pois Valtemir, tudo certo? Cara, eu tenho até o ano de 1999. Naquele ano, o nosso
bem, tudo isso é verdade, mas mesmo uma ótima relação com o futebol, ele é time favorito estava celebrando o seu 100º.
que nunca tenha “arranhado” no death que às vezes não tem uma relação muito aniversário e eles pediram que as bandas
e no black e que tenha ousado causar boa comigo (risos). É difícil viver na enviassem canções para uma espécie de
algumas boas risadas entre seus fãs, o Alemanha e não torcer para o Bayern evento, a canção escolhida seria tocada an-
Tankard sempre apresentou um thrash de Munique, que coisa mais chata eles tes de uma partida do Eintracht Frankfurt.
metal de primeira qualidade e nunca ganhando todo ano (risos gerais). Mas, Claro que enviamos uma música! No fim
fugiu da raia quando via a necessidade ainda assim eu amo futebol, é uma das das contas, outra música foi a escolhida
de abordar temas mais sérios, que já coisas de que mais gosto na minha vida. e a nossa canção ficou perdida no tempo,
estavam lá, desde os álbuns clássicos de Nada é melhor do que assistir a uma boa até que em 2006 a nossa foi tocada pela
seu início de jornada. Com Gerre a coisa partida do Eintracht Frankfurt, em casa primeira vez no estádio. E foi justamente
funciona da mesma maneira, ele brinca ou no estádio, é ótimo. em 2006 que o time chegou à final da Copa
54 • ROADIECREW.COM
da Alemanha, em Berlim. Bem, e foi aí que Gerre: Ah, isso é mesmo (risos bares fechados (risos gerais). Claro que
a coisa ficou realmente especial para nós: gerais). Aliás, isso me dá ideia para uma é tudo em nome da saúde das pessoas,
fomos convidados para tocar ao vivo a música (risos). mas precisávamos brincar com isso para
nossa música na final, diante de todos os não enlouquecer. Lockdown Forever é
torcedores, aquilo foi uma honra incrível, Além do comentado EP, temos tam- sim uma música muito divertida, em
algo realmente muito especial na nossa bém o novo álbum do Tankard, Pavlov’s que imaginamos um cenário baseado
carreira. Decidimos que Schwarz-weiß wie Dawgs. Pelo que ouvi, o plano original é no nosso, mas com uma diferença
Schnee era especial demais para nós para que ele tivesse sido lançado já há algum central: vivemos sob o impacto de um
ficar meio que esquecida, meio que deixada tempo, certo? vírus extremamente agressivo, que nos
de lado, então resolvemos lançá-la em um Gerre: Sim, pois é. Você sabe, nosso força a um lockdown eterno e tudo o
EP. Para isso, fizemos uma nova gravação álbum anterior, One Foot in the Grave, saiu que podemos fazer é ficar em casa para
e o EP foi um sucesso. Em 2017 chegamos em 2017, então tivemos um bom tempo sempre, pedir pizza pelo aplicativo e ficar
à final novamente e refizemos a música para divulgá-lo com turnês e tal. A ideia ouvindo nossa coleção de discos de heavy
mais uma vez porque o antigo EP estava é que o novo álbum tivesse saído há dois metal o dia inteiro (risos gerais).
esgotado, e em 2018 outra vez estávamos anos, mantendo o ritmo que mantemos
na final e novamente fomos convidados com o Tankard, mas todos sabemos o que Representando o lado mais sério do
a tocar antes do jogo, no Estádio Olímpi- aconteceu. Sejamos sinceros, o atraso não Tankard, temos no novo álbum Veins
co de Berlim. Claro que foi uma grande teve tanto a ver com a pandemia, a questão of Terra. Confesso que, assim que ouvi
honra novamente, mas em 2018 batemos o é que em 2019 já tínhamos percebido que essa música pela primeira vez, minha
Bayern de Munique por 3 a 1, então foi uma não tínhamos material suficiente em mãos mente viajou de volta até 1987, com
experiência tão totalmente satisfatória para um álbum e estávamos decidimos a Chemical Invasion.
que você nem faz ideia, eu nem precisava Gerre: Ah, obrigado por isso,
de cerveja para estar feliz, mas bebi cara. Sabe, Veins of Terra é sobre
mesmo assim (risos gerais). Para deixar o que vemos hoje, nós, os sábios
esta narrativa empolgante de vez, este e evoluídos seres humanos, a
ano, 2022, chegamos à final da UEFA espécie dominante desse planeta,
Europa League. A partida aconteceu tão inteligentes e evoluídos que
em 18 de maio, no estádio Ramón Sán- estamos destruindo o próprio
chez Pizjuán, em Sevilha, na Espanha. espaço em que vivemos, o único
Coloque tudo isso certinho na revista lugar em todo o cosmos em que
(risos), pois, após 42 anos de espera, podemos viver! Estamos destruindo
nos sagramos campeões da Europa em todos os nossos recursos naturais,
um jogo duríssimo contra o Rangers,
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS poluindo os mares, apodrecendo
da Escócia. E esses detalhes todos o ar que respiramos, o mundo não
são bem importantes, pois foi para é só diversão. É legal você ter feito
celebrar essa ocasião tão especial que essa conexão, pois as pessoas tem me
estamos mais uma vez lançando perguntado: ‘Ué, o Tankard tem letras
Schwarz-weiß wie Schnee, em sérias agora?’ Sempre tivemos e Chemi-
uma versão que musicalmente cal Invasion prova isso. Em 1987 vivía-
não difere, mas que tem a letra mos sob tanta pressão, pouco antes
levemente alterada para acompa- houve o acidente nuclear em Chernobyl,
nhar o momento especial que nosso PAVLOV’S DAWGS a AIDS explodiu como uma ameaça real,
amado clube está vivendo após mais Rock Brigade/Voice Music - Nac. existia o risco constante de uma guerra
de um século de história. Fico tão nuclear que exterminaria toda a vida na
feliz com isso que você nem faz ideia, Terra, e conhecendo a estupidez huma-
é um orgulho tremendo, uma das coisas atrasá-lo desde então. A pandemia apenas na, a chance era bem real. A mesma coisa
mais especiais que alcancei na minha fez com que esse atraso fosse maior, pois acontece hoje com a covid-19 e essa guerra
vida, e te agradeço muito pela chance de com o fechamento tivemos que ficar vários estúpida acontecendo aqui, com a invasão
falar sobre isso. Hoje, toda vez que o time meses com a banda parada, sem ensaios da Ucrânia pela Rússia. As pessoas não têm
entra em campo é a nossa música que e reuniões, o que confesso ter sido muito noção real do quanto essa situação é peri-
acompanha os atletas, é a nossa música bom, acho que todos precisávamos de um gosa, do quanto esse conflito pode escalar
que toca no estádio! descanso. Que pena que tenha sido sob para uma guerra global. Parece que sempre
essas circunstâncias. Apenas voltamos a estamos tentando nos exterminar e não
Acho que é o mesmo orgulho trabalhar com composição no ano passado, temos como fechar os olhos para isso.
que sentimos, então obrigado por então é por isso que temos um intervalo
colocar uma lenda do thrash nessa tão grande dessa vez. É verdade. Mas, para fechar a
posição de destaque. entrevista com algo positivo, fale-nos
Gerre: Cara, isso é realmente muito A despeito do tempo que passou, o um pouco sobre Beerbarians.
legal! Quer dizer, é o Tankard, uma banda álbum entrega muito do que é o Tankard. Gerre: Ah, essas são a música e a letra
thrash, tocando uma canção todas as ve- Musicalmente ele traz aquele thrash que todos esperam do Tankard. Quer
zes em que o Eintracht Frankfurt entra rápido e baseado em riffs, enquanto lirica- dizer, a música é thrash e a letra basi-
em campo, um time que tem visibilidade mente ele caminha do bom humor ao sério camente fala que todas as invenções do
mundial, com transmissão global via TV. com naturalidade. Para começar, adorei a homem, desde os primeiros dias da civi-
Claro que a música não é exatamente boa dose de humor em Lockdown Forever, lização, o domínio do fogo, a agricultura,
thrash metal, mas ainda assim... acho que precisávamos de algo assim. absolutamente tudo foi feito apenas para
Gerre: Pois é, esses três últimos que chegássemos na fórmula da cerveja
Tudo que você faz é thrash metal, anos têm sido um pé no saco! Tanto (risos gerais). E, se quer saber, acho que
você arrotando é thrash metal... tempo sem shows, jogos sem público, foi assim mesmo que aconteceu (risos).

ROADIECREW.COM • 55
Divulgação
Lenda thrash mantém intacta sua fórmula
no primeiro registro com Martín Furia,
Schmier, Damir Eskić e Randy Black

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, COMO SEMPRE!
Em seu primeiro álbum de estúdio sem a guitarra de Mike
Sifringer, alemães mantêm a essência do thrash metal
Por Valtemir Amler lenda germânica está ainda mais thrash então fizemos alguns shows antes, para-
do que nunca. Mike sempre fará falta, mos na pior fase da pandemia e quando
Não foi uma notícia fácil de digerir, mas a verdade é que a dupla de guitarris- as restrições começaram a diminuir aqui
muitas pessoas ficaram até preocupadas tas Damir Eskić e Martín Furia fez muito na Europa, começamos a tocar alguns
(ou seria assustadas?), mas em 2021 foi mais que segurar as pontas, revelando pequenos shows locais, com público
anunciado que o lendário guitarrista um dos álbuns mais brutais e viscerais de reduzido. Tocamos em alguns festivais
Mike Sifringer, responsável por alguns toda a discografia dos teutônicos. Com o na Alemanha e na República Tcheca, e
dos riffs mais icônicos da história do orgulho do dever cumprido, encontramos também fizemos alguns concertos do
thrash metal, não era mais integrante Schmier mais uma vez muito bem dispos- tipo ‘live streaming’. O que realmente
do Destruction. O choque foi inevitável, to e pronto para outra ótima conversa. importava para nós era manter o entro-
já que ele vinha sendo a única presença samento, pois isso é fundamental para
constante em todos os registros do grupo, Como fizeram para manter o Des- um bom show de thrash metal.
o único integrante original que jamais truction afiado nos palcos durante esses
deixara a banda em nome de outras últimos dois anos? Pessoalmente, como você se sen-
aventuras no mundo da música. Porém, Marcel “Schmier” Schirmer: Basi- tiu com esses shows em streaming,
o também fundador, baixista e vocalista camente, agarramos todas as chances sem plateia?
Schmier (que esteve fora da banda entre que apareceram para tocar. Especial- Schmier: É um sentimento meio
1990 e 1998) foi rápido em anunciar que o mente quando você está com uma nova ambíguo, pois você quer tocar com os
Destruction seguiria adiante e um novo formação, é importante tocar o máximo seus colegas de banda, você precisa disso.
álbum estava prestes a ser lançado, o que possível juntos, pois é assim que você Quer dizer, plugar os instrumentos e
diminuía, mas não dissipava, as dúvidas consegue soar cada vez mais coeso e tocar música muito alto é parte do que
dos velhos fãs. Pois bem, Diabolical foi firme. Começamos a atuar como um é uma banda de rock, então acho que
lançado em abril deste ano e, pasmem, a quarteto pouco antes de tudo fechar, precisávamos dessas live streamings para

56 • ROADIECREW.COM
termos aquele sentimento de ‘somos uma Então vocês não tiveram um período sua decisão, já estávamos trabalhando
banda ativa’. Durante aqueles dias mais para acostumar com a ideia, um aviso de em algumas ideias, então fomos ao
duros, seria perigoso acostumar com a que ele deixaria o Destruction? estúdio sem ele, fizemos algumas demos
ideia de a banda estar parada. Por outro Schmier: Não, a notícia veio do e elas soaram muito bem. Tínhamos o
lado, é um sentimento muito estranho. nada, mas soubemos um tempo antes de desejo de seguir em frente e o resulta-
Você está lá, detonando todos aqueles comunicarmos aos fãs. Ele nos falou em do parecia corroborar nossa decisão, a
sons ao vivo, canções que você está fevereiro do ano passado e a verdade é que banda estava soando muito bem, muito
tocando há décadas diante de fãs apai- oferecemos um tempo para ele pensar me- pesada naquelas demos. Eu tinha que
xonados, mas de repente eles não estão lhor, sei lá, resolver o que fosse necessário seguir em frente, essa é a verdade. Essa
lá. Cara, isso faz muita falta. O show fica e então retomar as coisas. Não queríamos banda já me salvou de tantas coisas, já
bom, as imagens e a gravação são legais, que ele tomasse uma decisão de que resolveu tantos dos meus problemas, eu
mas sem o público nada daquilo faz sen- pudesse se arrepender depois, então absor- não podia parar agora. Ele decidiu parar
tido. Foi legal e necessário, mas não sei vemos a notícia e a mantivemos conosco e espero que tenha sido o melhor para
se sinto vontade de fazer de novo (risos). para ver se ele mudava de ideia. Acho que ele, nem todos conseguem fazer isso para
Definitivamente, não é algo que eu faria esperamos até agosto do ano passado, mas sempre. Mas enquanto eu conseguir, vou
sempre. A verdade é que era nossa única ele nunca entrou em contato para dizer manter o Destruction ativo.
chance de ter contato com nossos fãs, que que tinha se arrependido, que queria
também precisavam de algum alívio de seguir com a banda. Aí já não tinha mais Cara, você não faz ideia o quanto é
tudo o que estavam vendo acontecer no nada que pudéssemos fazer. Estávamos bom ouvi-lo dizer isso...
mundo, mas no fim das contas era traba- mantendo segredo para poupar os fãs de Schmier: Obrigado, obrigado mesmo,
lho demais para uma experiência que não uma notícia que talvez não se confirmas- meu amigo. Sabe, eu nunca pensei em
era totalmente satisfatória nem para os se, mas daquele ponto em diante manter parar o Destruction, mas cheguei a ques-
fãs, nem para a banda. Não sei como é tionar: ‘Será que os fãs vão querer que
para artistas mais pop, mas para uma eu siga em frente sem o Mike?’ Houve
banda de metal, cujo show é basica- um momento em que eu não sabia
mente interagir com o público, é uma como as pessoas reagiriam a isso.
sensação muito incompleta. Os fãs Fiquei muito feliz quanto percebi
fazem o show, a gente apenas toca a que a maioria esmagadora das
música que embala a apresentação. pessoas apoiava nossa continui-
dade, pois você não tem como
Para começarmos a falar sobre fazer isso sem os seus fãs.
Diabolical, é inevitável falar sobre a
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
saída de Mike Sifringer, já que este é
o primeiro registro do Destruction
Foi importante que todos sou-
beram muito cedo que não houve
sem ele. O que você pode nos contar brigas entre vocês, não foi mágoa ou
sobre a saída dele da banda? ressentimento que os afastou.
Schmier: A verdade é que eu real- Schmier: Não, não tivemos e nem
mente não tenho muito a contar temos nenhum problema, somos
para vocês sobre esse assunto. amigos há mais de quarenta anos e
A saída dele foi para mim uma continuamos assim, apenas não to-
surpresa tão grande quanto foi camos mais juntos. Acho que mesmo
para vocês. Não houve aviso ou que tentássemos não conseguiríamos
sinais, não houve um período de DIABOLICAL ficar brigados (risos).
estranheza, nada do tipo. Em um Hellion - Nac.
momento ele estava na banda, no Outra coisa muito boa é que Dia-
seguinte não estava mais. Foi assim, do bolical é um álbum esmagador, puro
nada! Tudo que sei é que foi uma decisão segredo seria mentir para os fãs, pois es- thrash germânico, visceral e brutal.
totalmente pessoal dele, mas não sabe- tava claro que ele não voltaria atrás. Você Quer dizer, se havia dúvidas sobre como
mos, pois ele nunca nos explicou, nunca sabe, Mike é um guitarrista sensacional a banda soaria sem Mike, este disco
procurou nenhum de nós para conversar e uma pessoa muito boa, mas também é dissipa todas as nuvens negras.
sobre essa decisão. Claro, toda banda tem muito teimoso, não daria o braço a torcer. Schmier: É verdade, e também temos
suas dificuldades, mas não tínhamos Junte a isso o fato de que ele é meio ermi- essa noção de que este é um dos álbuns
nenhum problema sério. Não sei, talvez tão, gosta de ficar isolado do mundo, e a mais pesados da nossa carreira. Depois
a pandemia tenha trazido para ele uma receita está pronta (risos). as pessoas nos dirão se é um dos me-
nova perspectiva sobre as coisas, um lhores também, mas que é mais pesado,
novo ponto de vista, não sei. O que sei é Você chegou a questionar a possibili- não há dúvida (risos gerais). Mas veja, eu
que ele não gostava mais de fazer longas dade de parar a banda por algum tempo? entendo que algumas pessoas tenham fi-
turnês, ele não curtia muito dessa coisa Schmier: Sinceramente, não pensei cado com dúvidas sobre como soaríamos,
de aeroportos, vans, a vida na estrada... em parar o Destruction nem por um afinal Mike sempre esteve ali. Porém,
Isso não era mais uma grande paixão minuto. Quer dizer, tão logo entendemos quem observar a história do Destruction
dele. Então, estou apenas imaginando, que ele não estaria na banda, começamos vai perceber que eu sempre estive no
talvez ter ficado em casa por quase três a pensar em como seguir em frente, foi comando quando a banda soou thrash.
anos tenha oferecido o conforto que ele quase automático. Essa banda é a minha Quando eu saí, nos anos 90, foi aí que o
precisava nesse momento da vida, e ele vida, não tem como parar, especialmente Destruction mudou e começou a incor-
tenha simplesmente decidido continuar em um momento tão bom para o Des- porar novas influências em sua música,
assim. Isso não é errado se tiver sido truction como esse que estamos vivendo, lançando alguns álbuns meio diferentes.
da vontade dele, mas nós precisávamos com todo um interesse renovado na nos- O Destruction sempre foi a minha visão
seguir em frente. sa música etc. Quando ele nos comunicou musical. Foi ótimo trabalhar com Mike,

ROADIECREW.COM • 57
mas ele sempre pensou diferente, sempre E mostra logo de cara. Quer dizer, E temos duas canções que mudam
quis algo mais progressivo ou classic Under the Spell é uma bela intro, com bastante o panorama do álbum em Tor-
rock, com o que nunca concordei. linhas instrumentais reais e é seguida mented Soul e The Lonely Wolf, certo?
pela faixa-título, que já inicia com você Schmier: Sim, essas duas estão ali
E aqui eu gostaria de acrescentar cuspindo os pulmões pela boca. para garantir a dinâmica do álbum, que
algo, pois nessa época a que você se re- Schmier: Adorei isso (rindo muito). é basicamente estruturado em canções
fere, você estava com o Headhunter, que Esse é o começo clássico de um disco do rápidas e brutais. Tormented Soul tem
era uma usina thrash absurda de boa. Destruction, até temos uma introdução uma vibração ótima para tocar ao vivo,
Schmier: Bem lembrado e obrigado épica, mas em seguida é um thrash furioso pois é cheia de groove nas guitarras.
pelo elogio. Mas foi isso mesmo, eu até e rápido, com riffs destruidores e, claro, Curiosamente, ela é a favorita do Andy
convidaria aqueles que não conhecem se eu não der aquele grito no começo, Black, que é o baterista, ele vivia falando
o Headhunter a ouvirem nossos álbuns, ninguém saberá que sou eu cantando (risos em tocá-la ao vivo (risos). Já The Lonely
tem muito thrash germânico ali, nós gerais). É Destruction clássico, quando ouvi Wolf tem uma vibração única que vem da
colocamos muito trabalho naqueles dis- pela primeira vez essa música gravada, letra, que fala sobre esses momentos da
cos. E foi isso, sem mim o Destruction pensei na hora: ‘Uau, é assim que essa ban- vida em que você está sozinho, não tem a
havia saído do thrash e eu permaneci da tem que soar, é de música assim que eu quem recorrer, mas consegue se erguer e
no estilo com o Headhunter. Quando gosto!’ Música feiona e porrada, sabe? lutar pelo que acredita. As harmonias de
voltei ao Destruction, voltamos a tocar guitarra são bem na veia NWOBHM, mas
thrash metal! Quer dizer, por mais que Sim, gosto da mesma coisa. com uma ambientação totalmente thrash.
eu entenda, não havia porque terem Schmier: Disso não tenho dúvida
dúvidas, enquanto eu estiver aqui esta (risos gerais). Bom, assim que decidimos Para encerrar, sabemos que este
banda vai soar thrash! Eu simplesmente que ela seria a abertura, começamos a não é um álbum temático, mas alguns
jamais conceberia o Destruction como trabalhar na intro. Aquilo que você ouve títulos de canções, como No Faith in
uma banda de qualquer outro gênero, em Under the Spell nada mais é do que Humanity e a sequência Hope Dies
ou somos thrash ou não somos nada! melodias do refrão traduzidas para um Last, The Last of a Dying Breed e State
Que bom que Diabolical tenha vindo violão, algo bem simples, mas que funcio- of Apathy, parecem lidar com o estado
para mostrar isso. nou muito bem! de ânimo que temos hoje.
Schmier: É, você está certo. Eu não
Divulgação

queria escrever nada diretamente rela-


cionado à pandemia, já que isso já está
o tempo todo na nossa cara de qualquer
maneira, mas não tinha como fugir. Então,
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS em vez de falar sobre a pandemia, escrevi
sobre as coisas que ela trouxe até nós, as
sensações que ela despertou:
medo, ansiedade e depressão,
mas também esperança, luta,
solidariedade. Isso era
muito mais importante
pra mim do que a merda
que estava acontecendo.
Todas essas letras têm um viés
positivo. É importante manter a es-
perança em uma época tão dura, pois
todos temos que seguir em frente.

Obrigado pelo cover de City Baby


Attacked by Rats (GBH).
Schmier: Disponha (risos gerais). Es-
tava demorando pra você falar dela. Você
sabe, City Baby Attacked By Rats foi um
dos álbuns de punk rock mais importan-
tes da história e um dos meus favoritos.
O GBH sempre foi uma das maiores in-
fluências do Destruction, e já fazia tempo
que queríamos gravar essa música, mas
da última vez que faríamos, o Arch Enemy
fez antes (risos gerais). Agora é a nossa
vez, então finalmente está aí!

“O Destruction sempre foi a minha visão


musical. Foi ótimo trabalhar com Mike,
mas ele sempre pensou diferente, sempre
quis algo mais progressivo ou classic rock,
com o que nunca concordei”
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BLiNd
Ear Por Thiago Prata •Fotos: Divulgação

GUILHERME DE ALVARENGA
(PAR AD ISE IN FLAMES/D.A.M)
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Dimmu Borgir Uriah Heep Children Of Bodom Rick Wakeman Tuatha De Danann
PROGENIES OF THE GREAT LADY IN BLACK HEXED CATHERINE OF ARAGON CONJURA
APOCALYPSE SALISBURY HEXED THE SIX WIVES OF HENRY VIII THE TRIBES OF
DEATH CULT ARMAGEDDON “Não faço a menor ideia do que seja “Isso é coisa daquele death metal “(RC: Isso também é anos 70). WITCHING SOULS
“(Em um segundo) Isso é Dimmu isso, parece um country, sei lá. (RC: sueco, At the Gates, In Flames... (RC: Agora é um progressivo. Que foda! “Isso é Tuatha de Danann. É
Borgir, Progenies of the Great Isso é anos 70). Anos 70? (N.R.: Não é). Mas é influenciado por eles, Parece Keith Emerson. Ou Rick o violãozinho celta do Bruno
Apocalypse. Isso é um clássico, Guilherme continua ouvindo). Cara, não? Esse riff... Que mistura é essa? Wakeman. O que eu chuto? (risos) É (risos). Dá para reconhecer
cara! Tem o Mustis (nos teclados), vou usar minha ‘racionalidade’. É A voz é do Alexi Laiho. Mas não é Rick Wakeman, né? Acertei! (risos). na hora, as frases dele são
tem aquele clipe polêmico – hoje uma banda progressiva dos anos 70, uma música que eu me lembre do Essa música está mais puxada inconfundíveis. Após o show no
em dia não se pode nem falar desse deve ser Yes ou Gentle Giant (risos). Children of Bodom. Tem teclados. para o Keith Emerson. Porque Mister Rock (casa de show em
clipe (risos). Curto para caralho esse (RC: Não). Minha formação de rock Ah, é Children of Bodom, do Hexed geralmente ele coloca uma coisa BH), deu para falar com ele: ‘Você
estilo, Dimmu Borgir e Cradle of Filth clássico é uma merda (risos). Não (2019). Esse ouvi pouco. Cara, que mais neoclássica, e essa está mais é foda, obrigado pela inspiração!’
são escolas de teclado. Todo mundo conheço mesmo. (RC: Isso é Uriah doido isso aí, acho que eles puxaram com compassos quebrados. (RC: É E Tuatha, para qualquer pessoa
que manda um black sinfônico Heep, a música é Lady in Black). Ah, um pouco o death sueco no começo do primeiro álbum solo dele). The que é do interior de Minas, não é
bebeu dessa fonte, não tem como Uriah Heep. Sei que é famosão, mas da música. Só que quando entraram Six Wives... (1973), né? Imaginei somente uma referência musical,
negar. Admiro muito o lugar que o nunca havia escutado. Eu gostei, a voz e os ‘cravinhos’ ficou com a que fosse dele. Ouvi bastante a é uma esperança. Muitas bandas
Mustis alcançou. Musicalmente, tem uma pegada meio country. Eles cara do Children of Bodom. Sem eles discografia dele no Spotify, mas hoje fazem essa mistura, mas
Stian Aarstad me influenciou mais, possuem mais baladas assim? (RC: não teria o D.A.M. Quando ele (Alexi) foi bem recente. Na pandemia eu você lançar algo no fim dos anos
o cara da cartolinha (risos). Mustis é Têm muitas. É uma banda de hard morreu em 2020 foi tipo: ‘Mais um buscava ‘antigas novas’ referências. 90 e soltar uma ‘braba’ daquelas,
pianista clássico, então muitas das rock). Meu conhecimento dessas que não vou conhecer pessoalmente.’ Progressivo para mim é faca de dois algo meio medieval com metal,
referências dele foram referências bandas dos anos 60 e 70 é ‘quase Assim como foi com o Andre Matos. gumes. Quando era mais novo, eu era genial. O Tuatha no começo
para mim também. Admiro a técnica nada’. Só para você ter ideia, eu só fui Pelo menos duas semanas atrás não conseguia escutar dois minutos. era uma mistureba, doom, meio
e a criatividade dele. E o lugar que ele ouvir os quatro primeiros discos do conheci o Bruno Maia, do Tuatha Hoje em dia eu já acho mais doido power metal, aí entrava algo
alcançou no black metal é admirável. Led Zeppelin no início deste ano. Vou de Danann (N.R.: este Blind Ear foi porque pego para estudar, com meio celta. Eu gostava bastante
Na época só se falava dele.” ouvir o Uriah Heep.” realizado no fim de agosto).” pensamento de instrumentista.” daquele estilo também.”
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After Forever The Mist Megadeth Angra Death
MY PLEDGE OF ALLEGIANCE MY INNER MONSTER NIGHT STALKERS LATE REDEMPTION PAINKILLER
#1 (THE SEALED FATE) THE CIRCLE OF THE CROW THE SICK, THE DYING... TEMPLE OF SHADOWS THE SOUND OF PERSEVERANCE
DECIPHER “(RC: Essa você não pode errar). AND THE DEAD! “Por esse violãozinho e essa grava- “Isso é Painkiller, mas tem que
“Já ouvi isso, tenho certeza. Esse Vixi! Ah, caramba. Já escutei “A voz parece Mustaine. É Mega- ção deve ser Angra. Reconheci pela ver qual versão. Angra ou Death?
toquezinho árabe. (N.R.: Guilherme isso. Caralho, já escutei com toda deth! A voz dele é inconfundível. gravação. Essa música é fantástica. É do Death. Não me lembrava
cantarola o riff). É After Forever. Sa- certeza. (RC: Isso é banda mineira). Para o bem ou para o mal. A voz Esse disco tem um ‘quê’ conceitual. desses agudos, mas está mais
bia, já ouvi esse álbum pra caralho. É mesmo? Isso é The Mist. Ah, de caras como Ozzy, Kai Hansen e Eu gostava menos dele quando saiu rasgado. Não é o Andre, não,
Quando eu era mais novo, só conhe- sabia que já tinha ouvido isso! Mustaine são tão icônicas para mim, do que gosto hoje em dia. Estava tinha que chutar Death que era
cia a segunda música (Monolith (risos) É música do Megale (risos). sobretudo a do Kai Hansen, escutei esperando um ‘Rebirth 2’ na época. mais seguro (risos). Não conhecia
of Doubt). Esse disco é fantástico, (RC: Se você errasse essa, acabava muito Gamma Ray na minha vida... Achei foda a primeira música, a Judas Priest até o ano passado,
Floor Jansen está destruindo no o D.A.M). Ia dar briga em casa Tem uns solos do Kiko (Loureiro) segunda também. Mas quando pirei demais, tem coisa ali que é
vocal. Os arranjos de teclado são (gargalhadas). (N.R.: Edu Megale ‘fritando’ nessa música. É do disco chegou na terceira já começou melhor que Maiden. Screaming
muito massa. E ainda tem o Mark é guitarrista do D.A.M e do The novo? (RC: Sim.). Mas na verdade eu aquela coisa prog. E eu que era ‘true for Vengeance (1982) é sensa-
Jansen na guitarra. (RC: O que Mist). Ouvi essa música antes de não conheço muito de Megadeth, power metal’ achei estranho. Só que cional. A Painkiller do Angra é
você acha da Floor no Nightwish?). lançarem, e Megale me perguntava uns três ou quatro álbuns. O Rust in depois que fiquei mais maduro passei como você ouvir uma Painkiller
Cara, eu acompanhei pouco. É o que eu achava dela. Eu acho massa Peace (1990) é o que todo mundo a apreciar mais. Igual com o Holy ‘limpinha’ (risos), muito técnica.
uma cantora fantástica, está indo demais. O Edu somou demais ao The escuta. Escutei muito também Land (1996), que só depois que eu É nostalgia pura. Sobre o Dea-
até para um lado mais youtuber Mist, é um guitarrista mágico. Nós Cryptic Writings (1997). Gosto da vi mesmo o que os caras fizeram. th... Eu tenho até a camisa de
agora. Do que conhecemos no dois entramos em bandas de BH, música Trust e também da She-Wolf. É foda demais. (RC: O que acha do futebol do Death, gosto ‘pouco’
metal, em nível técnico ela é uma mudando essas bandas, ele no The Mas minha escola musical era mais Milton Nascimento nessa música?). da banda (risos). Ouvia uns
das mais absurdas. Uma dedicação Mist, e eu no Paradise in Flames. Está voltada para power metal, metal Cara, era uma mistura inesperada, cinco discos deles direto, como
muito grande que dá para ver. É rolando o solo agora, é do caralho. O finlandês e uns ‘gatos pingados’ de mas que ficou ótima. E o Milton Symbolic (1995). Muita coisa de
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uma grande cantora – literalmente, nosso
Edu e eu temos muitasCanal
referências de noblack,
Telegram:
thrash... Escola de cadat.me/BRASILREVISTAS
um é Nascimento é tão grande lá fora que guitarra do D.A.M eu tirava da
inclusive (risos).” guitarra parecidas.” uma coisa doida.” não conseguimos nem mensurar.” influência do Death.”
Thiago Albuquerque
Fernando, Rodrigo, Rafael, Marcos e Beto:
“quebrando” ossos há mais de duas décadas

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RECEITA DE (MAIS)
ÓDIO
Banda mineira conecta passado e presente com o explosivo Recipe of Hate
Por Thiago Prata grinder e By the Grace of Evil. E os fãs vamos o disco para tocar, e a galera dizia
parecem ter um sentimento especial por que era algo bem diferente do que estava
Acompanhe a cronologia: após 7TH esses dois álbuns. Para a banda, o quão acostumada a ouvir.
(2018), o Drowned partiu para uma turnê, fundamental são esses dois discos?
com grande parte do repertório calcado Marcos Amorim: Bonegrinder é uma E vocês conseguem fazer uma
nos icônicos Bonegrinder (2001) e By the boa estreia de uma banda. É candidato conexão de Recipe of Hate com esses
Grace of Evil (2004) e que rendeu o ao a clássico mais facilmente. E em By the discos clássicos?
vivo Damned Alive (2020), soltou um ál- Grace baixou o ‘espirito do mal’, é meu Marcos: Vejo demais nossa cara nas
bum de covers, Background Soundtracks disco preferido até hoje. músicas de Recipe of Hate! Há uma cone-
Vol. 1 (2020), e lançou o EP Confinement Fernando Lima: By the Grace é como xão histórica com os primeiros álbuns,
by Sickness (2020), registros que resga- se fosse um Bonegrinder arranjado de tem uma espinha dorsal que remete aos
taram a química emanada nos primeiros forma diferente. Tem alguns cuidados primeiros discos. Mas com certeza agora
trabalhos da banda. Recipe of Hate, em determinados pontos que não víamos a gente toca melhor e entende melhor as
oitavo disco de estúdio desta instituição no início da banda. Aprendemos com o dinâmicas da música. Não caímos mais
mineira, é a consequência natural de tempo. É um dos nossos melhores discos. em ‘alguns buracos’, não desperdiçamos
uma nova era de brutalidade do grupo Rafael Porto: Para mim, Bonegrinder mais energia para chegar a uma música.
de death/thrash. E com um ingrediente representa o começo, uma época em que É disparadamente nosso álbum mais bem
adicional: a maturidade adquirida em a gente queria fazer algo diferente. Já By tocado e um dos mais maduros.
mais de duas décadas de trajetória. the Grace traz algo mais avançado, de Fernando: Quando se tem uma ideia
Fatores que ajudam a explicar o porquê uma maneira mais técnica. e vontade de fazer acontecer, mesmo com
de Fernando Lima (vocais), Marcos Amo- Rodrigo Nunes: A gente não se preo- a adversidade que for, pode-se fazer um
rim e Rafael Porto (guitarras), Rodrigo cupava em se deixar guiar para um lado disco bom, direto e agressivo, com temá-
Nunes (baixo) e Beto Loureiro (bateria) ou outro da música. Bonegrinder surpre- tica muito massa. É um disco explosivo,
terem criado um álbum que remete ao endeu de certa forma porque não tinha só que mais bem composto, mais bem
passado da banda, sem deixar de soar outras bandas fazendo aquilo. Quando tocado e com arranjos melhores.
atual. Aliás, bota atual nisso! se falava em death metal dos anos 90,
se pensava em coisas como Obituary. A Fiz essa pergunta também pelo
O ao vivo Damned Alive é resultado gente foi para outro lado... Quando fomos fato de ser o mesmo time que gravou
de shows com muitas músicas de Bone- à Galeria do Rock de São Paulo, colocá- Bonegrinder, Butchery Age (2003) e By

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the Grace of Evil. É possível relacionar a Marcos: O mundo é mais caótico muito fã adora, inclusive eu (risos).
química entre vocês com o passado? agora. Existe um ‘patrulhamento’ em que Mas Death Rounds the Fools também
Rodrigo: Senti o mesmo clima de não se pode falar o que pensa. Só que a conta com aqueles arranjos e melodias
antigamente neste disco. Nossa conexão gente não liga para isso, estamos cagando tradicionais do grupo.
não mudou. O que vejo de diferente é a para esse ‘patrulhamento’. Marcos: Eu senti que o disco
produção. Nem acho que estamos tocan- precisava ter muito riff. 7TH não tinha
do melhor. Vejo o Drowned de sempre, e Algumas músicas, como Hail, Cap- tanto quanto eu gostaria. E queria que
as composições estão muito boas. Recipe tain Genocide! e Doctor Horror Medical caprichássemos nisso. Acho que a gente
é um grande candidato a ganhar de By Group, foram apresentadas antes de conseguiu, e esse era o objetivo com
the Grace. o álbum sair. Como foi a repercussão Death Rounds, que abrisse o disco como
Fernando: A impressão que deu é que junto ao público? um ‘soco na cara’.
cada um fez o melhor que podia de sua Fernando: Quem já acompanhava
própria casa, com muita garra, em meio o Drowned curtiu bastante ouvir a Depois, temos a faixa-título, com
à pandemia. Eu fazia um vocal e não formação clássica. E, pelo teor das letras, aquele início death metal que remete
parava de cantar até atingir o máximo tem uma turma que curtiu mais ainda. ao passado, mas sem deixar de ser atu-
de raiva possível. Cada um fazia com o Teve quem falou mal, teve também quem al, tanto pela pegada quanto pela letra.
máximo de garra, de forma bem enérgica. não curte metal e já fez questão de fazer Marcos: Recipe começa até com
Isso tudo mostra o espírito da banda. ‘patrulhamento’, oposição ao Drowned. O metranca! Percebemos nela uma cara
Rodrigo: Além da música, passamos que me espantou bastante foi que muita de faixa-título. Não que seja a melhor
por muita coisa em nossa história, e isso gente do metal disse que não há lugar por ser a faixa-título, mas é meio que
nos uniu demais. Foram muitas viagens, no metal para temas políticos, religiosos uma síntese do álbum. Uma música que
foi necessário dormir no chão, fazer de escolhemos até para fazer um vídeo.
tudo para tocar. Essa formação pegou A gente veio perceber uma transfor-
aquele início bem precário... mação social do Brasil por meio
Marcos: A gente pensa muito da religiosidade comercial. Foi
parecido. E não somos uma banda uma das primeiras músicas que
que briga. A gente discorda, mas não fizemos para o disco.
briga. Não tem um veto. Até acho que
se tivesse um veto dentro da banda, Sobre a maturidade adqui-
não teríamos entrado em muita lama rida pela banda, como é para você,
(risos). Um veto poderia ter nos ajuda- Fernando, saber dosar bem os
do em algumas situações. vocais para atingir um resultado
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS como o apresentado em The Red
Que tipo de situações seriam essas? Needle? Qual o maior segredo para
Marcos: Algum show horroroso atingir esse nível?
(N.R.: referindo-se a condições técni- Fernando: Acho que um dos
cas e aparelhagem de uma casa pontos importantes para isso foi o
de shows), uma viagem que não aprendizado que tive gravando os
deveria ter sido feita, um trans- vocais sozinho em casa. Consigo fa-
porte arriscado... zer o melhor take. Se não sai como
Fernando: Mas a gente está eu queria, paro, penso melhor no
aprendendo agora (risos). RECIPE OF HATE arranjo, trabalho uma ideia melhor e
Rafael: São mais de vinte anos Cogumelo/Greyhaze - Nac. volto a tentar. O vocal vai mudando
tentando aprender... (mais risos) naturalmente com o tempo, vai fican-
Marcos: Agora que somos mais do mais velho e menos agudo. Consigo
velhos, com mais noção, a possibilidade de e sociais. Não pode por quê? Até o Iron trabalhar em casa a meu favor, fazendo
não cair em armadilhas é mais alta. É igual Maiden fazia isso, quem não se lembra tudo sob outro prisma.
jogador velho, que não vai atrás da bola, a da capa do Eddie matando a Margaret
bola é que tem que correr um pouquinho. Thatcher? Agora, falando um pouco de Ba-
Rodrigo: Tem gente que diz que não ckground Soundtracks Vol. 1., quais
Embora o Drowned tenha cunhado pode misturar. Então, se não pode, o daqueles covers foram os mais inusita-
várias músicas com críticas políticas, Drowned vai e mistura. Parece que nunca dos, tanto na visão de vocês quanto na
sociais e religiosas em sua carreira, ouviram Napalm Death ou Kreator. Não percepção do público? E quando sairá
Recipe of Hate me soa como o mais forte damos ouvido a esse tipo de gente. o volume 2?
e direto neste sentido. Marcos: A gente critica quem precisa Marcos: Temos mais covers gravados,
Marcos: Você está certo, a gente ser criticado. Se você acha que alguma mas não a ponto de já fazer um disco
sempre foi assim, sempre abordou esses coisa está errada, é livre para falar. So- novo. Temos um bom começo para um
temas em nossos álbuns. Mas agora mos um país livre, dentro dos limites da volume 2. Não sei se sairá em um ou dois
precisávamos falar de forma mais clara. lei, e cada um tem, sim, o direito de falar anos, mas o projeto vai sair. Com relação
E tem gente que não sacou até hoje que o que acha das coisas. Tem ‘homenagem’ aos que fizemos no volume 1, talvez os
falamos das mesmas coisas. para a religião também. Aliás, o Brasil dois covers mais inusitados sejam os do
Fernando: Estamos num ponto da conseguiu essa tragédia de unir o pior Titãs (Lugar Nenhum) e do Metallica (Un-
vida, diante de acontecimentos atuais, da política com o lado mais sinistro da til it Sleeps). Quando alguém faz cover de
em que é preciso um entendimento, algo religião, que manipula e coordena ações uma música do Metallica, geralmente é
que ‘bata’ na orelha e faça o cara pensar para atingir seus interesses. dos três primeiros ou do ‘Black Album’. A
em tudo que está acontecendo. A reali- gente foi no Load... (risos) Ficamos na dú-
dade está uma merda mesmo, não tem o O álbum abre com um riff brutal. vida do que viria, mas quando ouvimos a
que esconder ou mascarar. E abrir com um riff assim é algo que bateria, vimos que ficaria legal.

ROADIECREW.COM • 63
Sebastian Abildsten, Mattias Melchiorsen, Svend Karlsson, Lasse
Revsbech e Simon Olsen, sangue novo no metal dinamarquês

Divulgação
“HÁ ALGO PODRE NO
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REINO DA
DINAMARCA”
Quinteto mostra toda a força do death metal escandinavo
em uma discografia poderosa e crescente
Por Valtemir Amler saber mais sobre os segredos dessa nova sou algo como ‘esse cara deve ser legal,
geração, conversamos com Simon Olsen, vou tentar falar com ele’ (risos). Depois
Quando Hamlet, em crescente deses- ex-vocalista do Livløs e que desde 2015 de algumas cervejas e muita conver-
pero, clamou que havia “algo de podre tem encarnado com perfeição a voz tu- sa, ambos decidiram que, já que eram
no reino da Dinamarca”, ele certamente mular que leva adiante uma das melhores guitarristas e tinham o mesmo gosto
não tinha como saber que algo ainda máquinas de death metal da atualidade. musical, deveriam se encontrar e escre-
muito mais vil viria daquelas terras ver juntos alguns riffs para ver no que
escandinavas. Representado antes – nos O Baest tem sido uma das grandes dava. De cara eles perceberam que tinha
anos 90 – por pioneiros como Illdisposed, responsáveis pelos holofotes que hoje muita química ali e então decidiram for-
Konkhra, Dominus e outros (você conferiu estão sobre a cena dinamarquesa de mar uma banda. Svend trouxe Sebastian
parte dessa história na entrevista com o death metal. Por isso, acho importante Abildsten (bateria), que ele já conhecia
baixista Kaspar Boye Larsen, do Volbeat, revermos alguns detalhes da sua histó- há algum tempo. Lasse havia estudado
na edição 266 da ROADIE CREW), o hoje ria, pode ser? com Mattias Melchiorsen, que assumiu
famigerado death metal dinamarquês ga- Simon Olsen: Claro, é um prazer. A o baixo. E eu frequentava aquele mesmo
nhou novos líderes na atual geração, que Baest nasceu em 2015, originalmente bar do início da história. Quando eles
revelou ao mundo bandas como Livløs, como Bæst. Não é uma grande diferen- estavam procurando por um vocalista,
Phrenelith, Sulphurous, Chaotian, Taphos, ça, a pronúncia ainda é a mesma, mas me viram naquele bar me esgoelando
Hyperdontia, Undergang e Baest, banda percebemos que a grafia dinamarquesa em alguma música do Pantera (risos) e
nascida em 2015 em Midtjylland e que de confundia muito os fãs de outros países, deve ter sido bom, pois me convidaram
certa maneira tem liderado essa nova ge- então simplificamos para a forma atual. naquela mesma noite (risos). Nosso
ração com a força dos seus já três álbuns Bom, a história é a seguinte: os dois primeiro ensaio foi em outubro de 2015,
completos e mais três EPs, todos repletos guitarristas, Svend Karlsson e Lasse e apenas uns dois meses depois já está-
do mais puro, abjeto e podre death metal Revsbech, se conheceram em um bar. vamos tocando em um festival aqui em
old school, tão podre quanto Hamlet Svend viu que Lasse estava usando uma Aarhus. As coisas aconteceram muito
jamais teria sido capaz de sonhar. Para antiga camiseta do Death e na hora pen- rápido para nós desde o princípio.

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Você recorda qual banda o motivou comum na sua abordagem gutural e Claro, era a sonoridade sueca, mas
a mergulhar de vez no universo do Mikael soa como um completo lunático com a brutalidade americana.
death metal? naquelas canções (risos). Então, o que Simon: Exato, a fórmula básica da
Simon: Ah, claro... Foi o Bloodbath! eu posso dizer? Mas, cara, o Mikael tem música do Baest. Marie Magdalene é o
Desde a primeira vez que ouvi a música tanto controle sobre o que está fazendo, nome de uma grande igreja na cidade
deles, me apaixonei por aqueles riffs ele sabe exatamente onde quer levar a natal de Lasse (N.R.: refere-se à cidade
típicos do HM-2 (N.R.: o pedal Boss HM-2 voz e como chegar lá, então adiciona uma de Ryomgård; na lenda local, a igreja
tornou-se lendário por seu uso em discos dimensão totalmente nova às canções. teria sido construída por duas irmãs,
clássicos de death metal, especialmente Nick também faz isso, adicionando aque- Maria e Madalena, como agradeci-
na cena sueca dos anos 90). Claro que, la coisa meio pessimista, niilista, soturna mento por terem sido curadas de uma
ao me apaixonar por aquela sonoridade, e depressiva dele (risos). Mas, caramba, doença grave bebendo água de uma
acabei descobrindo todas aquelas bandas digamos que é Mikael Åkerfeldt, senão fonte sagrada naquelas redondezas).
que influenciaram a existência do Bloo- vou ficar mudando de ideia pelas próxi- As pinturas que existem naquela igreja
dbath – você sabe, Dismember, Entom- mas duas horas e meia (risos gerais). foram uma grande inspiração, como A
bed, Carnage, Nihilist, Grave, todas aque- Dança da Morte (N.R.: de Simone II Bas-
las bandas incríveis. Mergulhei também Mas fiquei realmente satisfeito com chenis, pintor italiano do século XVI).
nos clássicos dos EUA, tinha tanta coisa a sua resposta, pois mostrou o quanto Trouxemos uma visão mais mórbida e
para ser descoberta, tanta música ótima cada um influenciou na sua abordagem. blasfema para as coisas e aquele EP nos
que eu nunca tinha ouvido antes! Era Simon: É, acho que perguntas valeu os primeiros grandes concertos
inacreditável, Cannibal Corpse, Deicide, disfarçadas arrancam as melhores que fizemos. De fato, foi grande para
Massacre, Obituary, Death, Morbid Angel, respostas (risos gerais). nós, embora tenhamos nos desenvolvido
a lista simplesmente não acabava muito desde então.
nunca, ela crescia no mesmo ritmo
em que eu mergulhava no estilo. Foi Necro Sapiens, que tem um
uma época incrível de descobertas conceito muito legal, já é o
e também de aprendizado, pois não terceiro álbum da parceria com
basta apenas se esgoelar no microfo- a Century Media. Como foi
ne, como eu acreditava que fosse. criada a temática?
Simon: Quebramos um pouco
Conectar e mesclar as diferentes a cabeça para escrever esse conceito.
influências que vinham dos dois Antes de mais nada, o Necro Sapiens
lados do Atlântico foi difícil? é uma espécie escrava nesse universo
Simon: No começo foi um pouco
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS criado para o álbum, um universo
complicado, sim. Ainda estávamos pós-apocalíptico, que foi inspirado
moldando nosso som, então era difícil por 1984, de George Orwell. Os Necro
encontrar o equilíbrio, o ponto certo Sapiens habitam a terra, que agora é
de cada coisa. Não tanto para governada pelos Czar, que aparecem
mim, como vocalista, mas para no título de uma das músicas do
os guitarristas a coisa ficava álbum. As faixas todas se conec-
um pouco mais complicada. Você tam aos momentos dessa história.
sabe, a escola de Estocolmo tem Por exemplo, em Abbatoir – que na
muito mais melodia, eles tinham JUSTITIA história é o nome do parlamento –, os
essas referências do heavy metal Century Media - Imp. Necro Sapiens têm sua identidade,
clássico e tal. Já na escola de Tampa a seu direito de pensar livremente e sua
coisa é mais brutal, a influência vinha iniciativa própria tolhidas pela elite
do punk e do thrash. Nós amávamos am- Em 2016 vocês lançaram seu EP de política dominante, os Czar. Esses domi-
bos, não queríamos deixar nada de lado, estreia, Marie Magdalene, mas aquelas nantes criam toda uma história e uma
então foi um desafio encontrar um meio não foram suas primeiras composições religião mentirosas para justificar seu
termo – acho que nunca achamos, na como banda, certo? domínio sobre os Necro Sapiens, como
real... Mas creio que essa mistura entre Simon: É verdade. Por volta do contamos em Genesis, e assim por diante.
o lado melódico do death sueco com a Natal de 2015, nós gravamos três É, também gosto dessa história e foi um
brutalidade do americano são o segredo canções, que foram registradas apenas desafio interessante para nós.
do nosso som, é a principal característi- no formato de demo. Aquelas foram as
ca da nossa música. nossas verdadeiras primeiras composi- Para finalizar, por que você acredita
ções, e são legais, embora ainda imatu- que o metal dinamarquês voltou aos holo-
Você citou o Bloodbath como sua ras, pois foram parte daquele processo fotes, e justamente com seu death metal?
favorita, então fiquei curioso: qual de encontrar o nosso som de que falei Simon: Bem, acho que a Dinamarca
vocalista você prefere na banda, antes. A demo foi uma experiência sempre teve muitas pessoas criativas e
Mikael Åkerfeldt (Opeth), Peter e pouco depois dela começamos a músicos talentosos. Veja King Diamond,
Tägtgren (Hypocrisy) ou Nick Holmes trabalhar em novas canções, essas com Mercyful Fate, Artillery... Ficamos em
(Paradise Lost)? uma cara mais óbvia do tipo de death silêncio durante tempo demais, sem que
Simon: Nossa, essa é difícil, especial- metal que queríamos praticar nos ninguém olhasse para nós. Talvez a culpa
mente do ponto de vista de um vocalista. próximos registros. Marie Magdalene seja mesmo nossa, pela nossa natureza
Cada um deles adicionou uma perso- foi importantíssimo para o Baest, pois mais retraída. Mas acho que a melhor
nalidade única à banda, Peter acres- foi ali que começamos a experimentar ferramenta para romper esses anos de si-
centou brilhantismo único às canções de verdade com o som do HM-2, só que lêncio seja a brutalidade do death metal,
de Nightmares Made Flesh (2004), Nick usando-o no contexto do death metal e estamos fazendo isso, o que me deixa
tem uma classe absolutamente fora do de Tampa, entende? muito satisfeito e feliz.

ROADIECREW.COM • 65
AUMENTE O SOM E
PEGUE A PIPOCA
Das telas do cinema para o aparelho de som:
Chris Laney passeia com o At the Movies pelos anos 1980 e
pelo que a década de ouro fez também nos anos 1990
Por Daniel Dutra fosse legal termos guitarristas, Devo dizer que o primeiro álbum foi
vocalistas e baixistas diferentes, uma das melhores coisas que ouvi em
Não importa se você mas depois do primeiro ensaio, 2020, porque trouxe ótimas lembran-
tem mais de 40 anos e pensamos: ‘De jeito nenhum! ças. Além de ter crescido com aquelas
viveu a década de 1980 ou Essa é a nossa banda!’, e músicas e filmes, eu realmente precisa-
se é da geração seguinte assim fomos de três para va daquelas memórias num momento
e respirou os anos 1990. O 22 músicas! tão difícil. Enfim, como foi a década de
At the Movies coloca um 1980 para você?
sorriso no rosto ao trazer Entrevistei Björn Strid Chris: Tragam os anos 1980 de volta!
de volta boas lembranças, meses atrás para falar sobre (risos) Eu tive os melhores momentos da
e é isso que proporcionam o Night Flight Orchestra, mas minha vida naquele período! Eu tinha 8
Chris Laney
os discos Soundtrack of Your perguntei sobre At the Movies, e anos em 1980, mas também tinha 18 em
Life – Vol. 1 (2020) e Soundtrack ele disse que você é o cérebro por 1989, então imagine só! (risos) A melhor
of Your Life – Vol. 2 (2021), trás de tudo. Então, me pergunto música, todo videoclipe tinha mulher
recém-lançados no Brasil. se era algo que você já queria bonita, todas as músicas tocavam nas
Resumindo, você precisa fazer antes da pandemia... rádios, podíamos usar cabelos com-
conhecer o projeto de Chris Chris: Não! Fui puramente pridos e esmalte, porque nós éramos
Laney (guitarra, Pretty acidental! Acontece que o Allan, mais bonitos do que as garotas naquela
Maids), Allan Sørensen (ba- que também tocava no Pretty
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS época! (risos) Neon e alegria, e essa é a
teria, Pretty Maids), Morten Maids, havia acabado de com- parte que eu mais sinto falta: a alegria.
Sandager (teclados, ex-Pret- prar microfones para a bateria A vida era boa. Basta ver os filmes e,
ty Maids), Björn “Speed” Strid dele e me mandou um arquivo to- também, as séries, como ‘Dallas’, que
(vocal, Soilwork e The Night cando qualquer coisa para testá-los, tinha intrigas, mas muita vodka, as pes-
Flight Orchestra), Linnéa Viks- e eu disse que estava tudo er- soas dirigiam os melhores carros, e todo
Allan Sørensen
tröm Egg (vocal, Therion), Pontus rado, porque ele não entende mundo tinha o cabelo bonito (risos). Eu
Norgren (guitarra, Hammerfall) e Pontus absolutamente nada de microfones (risos). mataria para ter os anos 1980 de volta!
Egberg (baixo, King Diamond). E Laney Tive de ensiná-lo a microfonar a bateria, Há muita gente tentando fazer isso, mas
também explica por quê. então ele curtiu quando mandei a Pop que não era nascida naquela época,
Goes My Heart, mas disse que então não sabe como. Mas nós
O At the Movies é resultado direto deveríamos fazer algo a mais, sabemos! (risos)
da pandemia, mas como foi dar forma e foi aí que surgiu a ideia: ‘Se
ao projeto? vamos fazer algo, deveríamos Eu sou só um pouquinho
Chris Laney: Foi muito fácil, porque fazer músicas de filmes’, porque mais novo que você, mas
era por diversão, e rápido, porque eu esta- tínhamos acabado de assistir entendo bem o que você
va entediado demais a ponto de estar um a “Rocky – Um Lutador” (1977). falou. Há uma conexão senti-
dia assistindo a um filme com a minha Enquanto conversávamos sobre mental que é difícil explicar.
esposa, começar a batucar nas pernas isso, ele perguntou: ‘E quem vai Por exemplo, esta semana
e ela me mandar para o estúdio (risos). tocar?’, e eu mencionei o Morten, eu assisti novamente a “De
Trabalhei na primeira música, Pop Goes que tocava teclado no Pretty Volta Para o Futuro” (1985), na
My Heart, uma canção pop bem brega do Maids antes de mim, afinal, eu Netflix, só pelo prazer de reviver
filme “Letra e Música” (2007), com o Hugh roubei o emprego do cara! (risos) a experiência. E revisitar
Morten Sandager
Grant. É muito brega, mesmo, mas sem- Somos todos como irmãos, e é tão filmes dos anos 1980 é algo
pre gostei dela e tinha curiosidade de sa- bom tocar com pessoas que você que faço com frequência, Isso
ber como seria se o Def Leppard a tivesse ama! Até mesmo o nome da ban- acontece com você?
gravado, sabe? Mandei para o Allan e o da foi acidental, e foi por causa Chris: Cara, eu nem
Björn e disse que deveríamos fazer algo daquela primeira música. Eu sei quantas vezes já vi “De
divertido. Em seguida, liguei para outros estava na internet pesqui- Volta Para o Futuro”! Sempre
amigos, como os dois Pontus, porque os sando sites gratuitos onde assisto a esses filmes, porque
conheço desde os anos 1990, tivemos até poderíamos fazer artes como também são bastante repri-
uma banda juntos chamada Zan Clan, um pôster de filme, e quase to- sados nas TV. A minha esposa
com o Zinny Zan, do Shotgun Messiah, dos eles tinham escrito “at the trabalha na indústria cinema-
e sabia que não eles estariam em turnê. movies”, aí pensei: ‘Esse nome tográfica, e ela sempre chega
Todos toparam gravar uma música, sen- é perfeito!’. Acredito que tudo em casa falando ‘Tenho um
do que eu e Allan pensamos que talvez acontece por uma razão. filme novo!’, e eu só respondo:
Björn “Speed” Strid

66 • ROADIECREW.COM
‘Fique quieta, por favor. Está anos 1990, não músicas dos E como foi para você, pessoal e pro-
passando “Rocky II”!’ (risos). anos 1990 (risos). fissionalmente, crescer nos anos 1980,
viver e testemunhar a era de ouro, e
Eu nem preciso Interessante, porque depois ver o que foram os anos 1990?
perguntar, mas apenas devo dizer que não me Chris: Eu comecei numa banda em
dizer que agora entendo lembrava de algumas 1985, então pude viver um pouquinho na-
por que seus dois discos músicas muito boas quela onda, mas foi difícil quando vieram
solo (N.R.: Pure, de de filmes que gosto os anos 1990. Eu me mudei para Estocol-
2009, e Only Come Out muito, como “Uma mo somente por causa da música, porque
at Night, 2010) são uma Linda Mulher” e “Um a cena musical nos Estados Unidos era
viagem de volta aos Lugar Chamado Notting algo que eu não queria fazer. Todo mun-
anos 1980. E isso, claro, é Hill”, que você citou, e “Dr. do usava camiseta larga e era depressivo,
um elogio... Hollywood - Uma e eu não queria nada disso! Eu odiava
Linnéa Vikström Egg
Chris: Eles foram a minha Receita de Amor” aquilo e não sabia o que fazer, então
forma de homenagear a música (1991). Esse é um impacto que o novo ál- parei com a música por alguns anos.
que eu amo. É o mesmo que o Ronnie bum pode ter em algumas pessoas, certo? Trabalhei como chef durante dois anos e
Atkins está fazendo agora, porque não Chris: E isso é meio que um pro- depois comecei a fazer música pop com o
é o heavy metal com o qual as pessoas blema, porque, quando tocamos uma Pontus Norgren, do Hammerfall, porque
estão acostumadas. É mais pop. Se você música desses filmes dos anos 1990, também estava ruim para ele. Ficávamos
gosta do rock dos anos 1980, aquilo é pop algumas pessoas não sabem de que no estúdio fazendo música para outros
com cabelo comprido e spikes! (risos) filme se trata, enquanto nos filmes dos artistas quando, de repente, tudo mudou
Falando sério, olhe até mesmo o Judas de novo. Em 2004, começamos aquela
Priest, cara! Pense em United e Living banda chamada Zan Clan com Johan
After Midnight, que são pop, mas isso Koleberg, Zinny Zan e o Egberg, e foi
não importa desde que sejam boas o renascimento do que eu queria
músicas. Nos meus discos solos, fazer, por isso surgiram tantos tra-
quis fazer algo que fosse fora do balhos de produção, como os que
estilo, mas sou eu. Por isso, usei essa fiz com Crashdïet e Crazy Lixx,
belezinha aqui (N.R.: Laney mostra porque eles queriam soar como
o Rockman by Tom Scholz, pequeno nós soávamos no passado. Foi fácil
e famoso amplificador criado pelo para mim porque eu sabia exatamen-
guitarrista do Boston), que estava te o que estava fazendo.
em todos os discos dos anos 1980. Foi
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usado no Eliminator (1983), do ZZ Top, Ainda assim, um pouco antes da
no Hysteria (1987), do Def Leppard, ascensão do grunge, ainda tivemos
todo mundo usou isso aqui! Por isso, grandes discos de bandas como Que-
eu digo: você pode imitar o som ensrÿche, Kiss e Pantera.
dos anos 1980, mas sem esse Chris: Sim, e 1991 e 1992 foram os
equipamento... Boa sorte! melhores anos dos anos 1980! (ri-
sos)! Depois disso, no entanto, veio
E temos a década de 1990, o grunge com sua depressão e seu
período difícil para bandas de SOUNDTRACK OF YOUR LIFE - VOL. 2 som de merda, sem nenhuma grande
hard rock e heavy metal, mas acho Atomic Fire/Shinigami - Nac. produção, e eu digo: ‘Fodam-se vocês
que não para filmes de trilha sonora. e sua tristeza e som de merda!’. Eles
Quando você decidiu pular dos anos faziam questão de soar como bandas
1980 para os anos 1990 na hora de fazer o anos 1980 todo mundo conhece de garagem, então podiam me dar
segundo disco do At the Movies? o filme e a música. Teve uma o dinheiro que ganharam para
Chris: Ah, nós apenas achamos que canção que foi um proble- que a minha banda pudesse
era uma ideia legal, e eu estava pensan- ma. Eu estava trabalhando soar melhor! (risos) (N.R.:
do nos filmes daquela época. Tivemos em duas ao mesmo tempo, neste momento, começamos
“Uma Linda Mulher” (1990), “Um Lugar mas agora não lembro a falar especificamente
Chamado Notting Hill” (1999), e há quais eram, e quando de- sobre a paixão de entrevis-
músicas muito legais neles, mas a única veríamos ter tudo pronto, tado e entrevistador pelo
coisa que senti falta foi que eles para- eles me perguntaram de Kiss, até acabar o tempo
ram de fazer trilhas sonoras. A qual filme seria, por- da conversa). Espera um
última foi em “Uma Linda Mu- que eu sempre fa- pouco que eu preciso
lher”, porque de resto havia lava uma frase dele. pegar algo para mostrar a
Pontus Egberg
somente canções dos anos Só que eu me você antes de encerrarmos.
1950 e 1960, como em “Pulp dei conta de que era a única (N.R.: Laney sai e retorna pouco tempo
Fiction” (1995), ou músicas canção que não estava no depois). Essa é a primeira prensagem do
grunge, então pensei: ‘Ca- filme! (risos) (N.R.: Laney se primeiro disco do Kiss gravado no Bell
cete, por que escolhemos refere a I’ve Been Thinking Sound Studios. É a prensagem de teste, e
os anos 1990?’ (risos). About You, do Londonbeat) só existe essa cópia.
Encontrei filmes dos Lançamos assim mesmo, e eu
anos 1990 com muitas me desculpei com o público: Quer trocar comigo? Pela minha
músicas dos anos 1980 ‘Foi mal. Fizemos merda, mas coleção inteira? (gargalhadas)
neles, então dissemos Pontus Norgren vocês terão 11 músicas em vez de Chris: (rindo muito) É claro que
que são filmes dos dez!’ (risos). não! (risos)

ROADIECREW.COM • 67
Por Antonio Carlos Monteiro sinou com a RCA e lançou Rock You
to Hell (1987). Só que os problemas
Do heavy metal para o thrash, daí com a Ebony e o desinteresse da RCA

Ricardo Ferreira
para o hard rock, voltando para o he- para promover a banda acabaram
avy. Essa é uma trajetória que poucos gerando o fim do Grim Reaper.
músicos podem se orgulhar de trilhar Foi quando Steve Grimmett
com sucesso, haja vista as caracterís- recebeu um convite para participar do
ticas de cada um desses estilos. Mais grupo de thrash metal Onslaught. A
complicado ainda é para o vocalista, participação rendeu apenas um disco,
que não tem uma série de recursos In Search of Sanitiy (1989). Em seguida,
que os demais músicos dispõem para mais uma mudança radical de estilo
timbrar seus instrumentos. E essa foi, aconteceu quando criou a banda de
de forma bem resumida, a trajetória hard rock Lionsheart. Foram quatro
de Steve Grimmett. discos entre 1992 e 2004, com destaque
Nascido Stephen Grimmett em para o de estreia, autointitulado.
Buckinghamshire (ING) no dia 19 de Em 2006, Grimmett colocou o
agosto de 1959, sempre citou grande in- Grim Reaper de volta na estrada. “Em
fluência de David Coverdale Dio e Rob todo lugar que eu me apresentava, as
Halford, mas nunca negou que “quem pessoas pediam para eu tocar músi-
me levou a ser cantor foi Elton John; eu cas da banda, então decidi voltar.” Ele
adorava o trabalho dele e ainda adoro”, convidou o guitarrista Nick Bowcott,
como confessou em entrevista ao site parceiro de Steve nas composições,
VWMusic em janeiro deste ano. mas ele não quis voltar. “Melhor dei-
O início de sua carreira foi no final xar isso quieto”, teria dito ele. Então, o
dos anos 70 com o Medusa, em plena vocalista acrescentou seu nome ao da
era da NWOBHM, mas o grupo não banda para as pessoas não concluí-
passou das demos – esse material e al- rem que Nick estava de volta com ele.
guns ensaios foram lançados em 2005 “Os promotores colocavam apenas
sob o nome Clash of Titans. Em 1983, ‘Grim Reaper’ no material de divul-
já fazia parte do Grim Reaper, mas sua gação e isso acabou causando algum
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primeira gravação foi Chained and Despe- mal estar com Nick, mas não foi culpa
rate (1983), com a banda Chateaux. “Só que
eu nunca fiz parte oficialmente da banda”,
STEVE GRIMMETT minha.” Como Steve Grimmett’s Grim
Reaper saíram dois discos, Walking in the
contou ele. “Eles estavam sem vocalista,
então fui lá, gravei e aproveitei para ver
✴19/08/1959 ✝15/08/2022 Shadows (2016) e At the Gates (2019).
Em 2017, Grimmett estava no Equador
como era gravar num estúdio de 24 canais, durante uma turnê pela América do Sul
o que eu nunca tinha feito antes.” obviamente sentimos que ele era especial. para promover Walking in the Shadows
Não demorou e o Grim Reaper conse- Demorou alguns bons anos para sentir que quando contraiu uma forte infecção que
guiu o almejado contrato, com a Ebony Re- aquilo havia sido algo realmente válido.” levou à amputação de sua perna direita
cords. Foram dois discos com o selo, come- Fear no Evil saiu em 1985 e também do joelho para baixo. Recuperado, ele
çando com o seminal See You in Hell (1984), caiu nas graças dos fãs, mas aí começou voltou a se apresentar com uma perna
que até hoje é lembrando pelos fãs. “Não o problema com a gravadora. “Descobri- mecânica e amparado por uma bengala.
sei dizer o motivo que o fez tão especial e mos que estávamos dando lucro, mas Sua carreira seguia normalmente até
como ele conseguiu uma aceitação tão boa nunca vimos a cor desse dinheiro”, disse que em 15 de agosto foi anunciado seu fa-
nos EUA, único lugar onde fizemos uma ele à ROADIE CREW. Na entrevista ao lecimento. Sua esposa Amelia Grimmett,
turnê naquela época”, lembrou Grimmett VWMusic, Steve afirmou que “muita conhecida como Millie, divulgou uma
em entrevista para Ricardo Batalha na RO- gente pensa que sou milionário, mas a emocionada nota de despedida na qual
ADIE CREW 141. “Chegamos a pensar que verdade é que não vi um centavo sequer afirmava que ele não se encontrava doen-
o resto do mundo não tinha se interessado por aqueles discos.” Depois de uma bata- te. A causa da morte de Steve Grimmett
pelo nosso trabalho, mas tempos depois lha para se livrar da Ebony, a banda as- não foi divulgada.

Grim Reaper Grim Reaper Grim Reaper Onslaught Lionsheart


See You in Hell (1983) Fear No Evil (1985) Rock You to Hell (1987) In Search of Sanity (1989) Lionsheart (1992)

68 • ROADIECREW.COM
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Dorsal Atlântica: um dos principais
nomes do metal mundial tória e a Glória também tiveram papel
importante na sua formação. E no meio
do caminho ainda houve outro episódio
marcante: “Tinha nossa madrinha, Regi-
ninha MacCartney, que a gente pratica-
mente obrigou com uma faca no pescoço
Fotos: Divulgação

a dar pra gente os discos dos Beatles que


ela tinha. Nós sequestramos quatro LPs.”
E conclui: “Foi a primeira vez que a gente
se esforçou pra ter algo...” (risos)
Era metade dos anos 70 quando
começaram a acontecer shows de rock no
Rio. “Eram sessões à meia noite, a Sessão
Maldita. Eu e meu irmão começamos a ir.
Víamos Made in Brazil com Percy nos vo-
cais, Joelho de Porco, que tinha lançado um
disco pela Som Livre.” E foi mais ou menos
nessa mesma época, mais precisamente em
1977, que outro acontecimento se mostrou
determinante para que Carlos resolvesse
ser músico: o lançamento da coletânea A
Revista Pop Apresenta o Punk Rock, que
reunia oito bandas do gênero (na verdade,
algumas nem tanto, como The Runaways),
entre elas Ramones, Sex Pistols e Eddie and
the Hot Rods, entre outras. “Os timbres de
PARTE 1 guitarra do punk eram diferentões, tinham
uma sofreguidão, uma urgência” define.

O INÍCIO DE UMA SAGAt.me/BRASILREVISTAS


Foi quando ele ganhou o primeiro apelido,
Acesse nosso Canal no Telegram: Carlos Punk. “Eu era cabeludo e usava uma
pulseira cheia de tachas. As pessoas come-
çaram a falar que eu devia quebrar tudo,
Em plena época da ditadura, dois irmãos montam botar fogo em igreja...” (risos)
aquela que sempre foi mais do que uma banda de O conselho
heavy metal, mas um instrumento político Já determinado a criar uma banda,
mas sem saber por onde começar, Carlos
Por Antonio Carlos Monteiro -Magnon. Mas muita água rolou embaixo teve um encontro casual com Oswaldo
da ponte antes de chegarmos até aí. Vecchione, do Made in Brazil, num daque-
Era 28 de agosto de 1962 quando “A música entra na sua vida de forma les shows que costumava frequentar. “Eu
nasceu Carlos Lopes da Silva Antonio. enviesada”, conta Carlos, que se define estava na fila do teatro Tereza Raquel es-
Morava no Rio de Janeiro, no bairro do como “a marca registrada da Dorsal perando para entrar e chegaram Oswaldo
Leblon, que se tornaria o metro quadrado Atlântica”, numa entrevista longa, esclare- e Kim (N.R.: o guitarrista Celso Vecchio-
mais caro do país. Menos de dois anos cedora e divertida para este Background. ne, irmão de Oswaldo). Eu disse que o
depois, veio ao mundo seu irmão Cláudio “Meus pais gostavam muito de samba e conhecia “das revistas e do jornal O Globo.
Lopes da Silva Antonio, que nasceu em 31 eu lembro dos discos que eles tinham, E falei: ‘Me dá um conselho: eu quero
de março de 1964 – caso você não esteja até porque depois eu roubei esses discos montar uma banda de rock e não sei o que
ligando “o nome à pessoa”, foi exatamente pra trocar no sebo por discos de rock. faço.’ Ele olhou pra mim com uma cara
nesse dia que aconteceu o golpe de esta- Clementina de Jesus, Wilson Simonal, Elis meio debochada e disse: ‘Comece.’ Aí eu
do que deu início a mais de vinte anos de Regina, Miltinho, Jorge Ben e até discos de pensei: ‘É isso mesmo!’” Porém, era preciso
ditadura no Brasil. Anos depois, Carlos escolas de samba. Aquilo tudo foi entran-
passaria a ser conhecido como Carlos do na minha cabeça.” E ele lembra de um
Vândalo e seu irmão, como Claudio Cro- episódio marcante da história da MPB:
Logo a banda começou “Mas a música me chamou a atenção pela
a trabalhar o visual televisão, vendo os festivais da canção da
TV Record. Eu lembro do Sergio Ricardo,
em 67, quebrando o violão e jogando na
plateia (N.R.: o cantor e compositor se ir-
ritou com as vaias incessantes do público
enquanto interpretava Beto Bom de Bola
e tomou a atitude radical). Eu tinha 5 anos
de idade. Então, minha entrada na música
se deu com um violão quebrado (risos). E
antes do Jimi Hendrix! (mais risos)”
Revistas como Pop e Rock, a His- Marcos Animal e sua calcinha

70 • ROADIECREW.COM
Dorsal em ação explicar as escalas. Mas ele não ensinava a Carlos Vândalo
fazer riffs, a dar bendings. A partir daí eu
tive que dar meu jeito, arranhando todos
os meus vinis, voltando os discos e tirando
as músicas nota por nota.” Também era
preciso ter instrumentos. Carlos foi atrás.
Conseguiu uma guitarra, descolou um
baixo pro seu irmão (“o bicho nem afinava
direito”) e um amplificador Bag 01 da
Giannini de 15 watts no qual eram ligados
os instrumentos e a voz. Depois de muito
procurar (“não tinha uma alma que tocas-
se rock!”), apareceu um baterista, Roberto está lá até hoje.” A gravação aconteceu
Moura, conhecido como Tatá, que sabia no Tok Studios, de Chico Batera, o mes-
tocar mas não tinha bateria: “Eu com- mo estúdio em que Lobão gravou seu
quebrar a resistência que havia em casa: prei uma bateria toda cacarecada e dei primeiro disco, Cena de Cinema (1982).
“Minha mãe tinha proibido a gente de pra ele.” Estava formada a banda Ness. A mistura de tudo em que Carlos havia
ser artista. E meu pai dizia que a gente ia Conseguiram autorização para ensaiar caído de cabeça em termos de influência,
fumar cocaína e cheirar maconha (risos).” aos sábados no Colégio Acadêmico, onde turbinado por Bomber, do Motörhead
Por volta de 1988, o Made in Brazil fez estudavam, e passaram a montar o reper- (“quando eu ouvi esse disco comecei a pas-
um show no Rio e a Dorsal foi uma das tório. E uma característica marcante de sar mal. Falei pro meu irmão: ‘Claudio, é
bandas convidadas a abrir. “O Anjo Caído, Carlos surgiu logo aí: “A gente só tocava isso!’”), já se aproximava do som que se tor-
de Brasília, que depois virou Fallen Angel, cover, mas eu mudava todas as letras e naria marca registrada da banda. Na demo
também ia abrir”, lembra Carlos. “E na transformava em hinos contra a ditadu- foram gravadas duas músicas: Guerra,
passagem de som o vocalista da banda fez ra. Eu era muito sem noção...” (risos) em que Carlos admite forte inspiração de
um comentário maldoso sobre o Made. Na festa de fim de ano da escola, em Evil Woman (Don’t Play Your Games with
O Oswaldo, sangue italiano, ficou puto 1981, o Ness estreou. Carlos entrou em Me), que está no primeiro disco do Black
e tirou os caras do show.” Conciliador, cena pintado como Gene Simmons e Sabbath, e Ela Não Acaba Assim. Essa
Carlos foi para o camarim interceder junto teve que ouvir quinhentas pessoas gri- última teve uma inspiração bem especial:
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a Oswaldo. “E quando ele deu uma brecha
eu contei o episódio do Tereza Raquel. Ele
tando: “Veado! Veado!” Ele lembra: “To-
camos Kiss, Cheap Trick, Black Sabbath
“Eu fiz para uma amiga do cursinho pré-
-vestibular que todo mundo queria pegar,
ficou me olhando em silêncio e quando e Ted Nugent sem saber tocar! A gente mas ela dizia que não ia dar pra ninguém
eu terminei de falar caiu uma lágrima fazia o que era possível.” Mas o estrago porque ela era virgem” – preste atenção na
do olho dele. Ele deu uma emocionada. estava feito: “Foi aí que vi que eu queria sonoridade do título e entenda...
Porque eu estava supermaduro na época tocar mesmo. Passei no vestibular para A fita foi enviada para a rádio – a fita
e tinha seguido um caminho próprio. Ou Jornalismo e eu tranquei a matrícula master, ou seja, a matriz da gravação –, foi
seja, segui o conselho dele.” E completa: para me dedicar à banda.”
“Eu só acho que ele devia ter dito algo a O Ness fez ainda outro show, junto Dorsal fase Ultimatum
mais: comece e seja você mesmo. Só que com o Barão Vermelho, em que tinham
você paga um preço alto por isso e nem “quinze crianças na plateia. Então eu per-
todo mundo está a fim de pagar.” cebi que a gente precisava de uma plateia,
Para começar a tocar era preciso... de um público.” Nesse momento, Carlos
saber tocar! O que era um problema. “Não resolveu mudar o nome da banda. Usou
tinha professor de guitarra no Rio em um recurso do dadaísmo para escolher o
78”, lembra ele. A solução era aprender novo nome: abriu uma enciclopédia alea-
sozinho. “Eu consegui um professor que toriamente e colocou o dedo num verbete
me ensinou os acordes e começou a me qualquer: estava escrito “dorsal atlântica”.
Claudio Cro-Magnon
O repórter provoca, perguntando o que ele
faria se o dedo tivesse caído em algo como
“ingá amarelo”, por exemplo. Carlos nem
pensa pra responder: “Ia ficar esse nome.” aprovada e ambas as músicas entraram
na programação. Só que Carlos não con-
Cercado seguia marcar um dia para resgatar a fita
A essa altura, já existia a Rádio original na rádio. “Até que, depois de uns
Fluminense, emissora de Niterói que dez telefonemas, confessaram: tinham
em 1982 passou a ter uma programação apagado nossa fita para usar na rádio.”
integralmente dedicada ao rock – era Ele não se mostra revoltado: “Isso acon-
conhecida como “Maldita”. A rádio abria tece, não tem mídia que dura pra sempre.
espaço para bandas novas e as incenti- Normal...” Por sorte, o estúdio havia feito
vava a mandarem fitas demo. “Eu e meu uma cópia em fita cassete, o que evitou
irmão juntamos uma grana, gravamos que o material se perdesse.
e mandamos pra lá.” Nessa época, o A partir de então, a Dorsal Atlântica
baterista era um colega de faculdade de começou a arregimentar um público. E
Carlos, Marcelo: “Depois, ele foi tocar isso acabou ensejando algumas mudanças
com o Robertinho de Recife no Yahoo e na banda no sentido de uma maior profis-

ROADIECREW.COM • 71
sionalismo. Carlos desenhou roupas para fim de gravar um disco. Três lançamentos A gravação aconteceu no estúdio do
todos os músicos (inspiradas no filme Mad foram determinantes para isso: o terceiro guitarrista Marcelo Sussekind (A Bolha,
Max, de 1979) e inventou nomes de guerra disco da Patrulha do Espaço, Patrulha Herva Doce) e Carlos confirma que foi
para cada integrante: ele passou a ser (1982), e as coletâneas punks Sub e O ao vivo: “Depois de gravar a demo, a
Vândalo, seu irmão, Cro-Magnon: “A gente Começo do Fim do Mundo, ambas de 1983. gente começou a gravar até os ensaios.
pensou em usar a pronúncia correta (N.R.: A primeira ideia era fazer uma coletânea. Então, a gente ouvia os ensaios e já tinha
algo como “cromanhom”), mas ia ficar um Como a cena do metal no Rio de Janei- uma ideia do que dava pra fazer. Foi um
negócio muito afetado. Então, resolvemos ro era bem reduzida, Carlos entrou em processo razoavelmente rápido e a gente
pronunciar como se escreve.” O baterista contato por carta com algumas bandas ficou muito satisfeito com o resultado.”
havia mudado de novo: o atual era Marcos, de São Paulo. “Todas desconversaram”, Só que nem por isso isento de proble-
que já carregava o apelido de Animal por diz ele. “Eu não sabia que o (Luiz) Calanca mas: “A gente estava ouvindo o disco no
ter as sobrancelhas muito grossas, como (dono da Baratos Afins) já estava arqui- estúdio e não tinha a intro da música
o personagem Animal, do Muppet Show. tetando o SP Metal I, que só rolou porque Catástrofe.” Era a época da fita de rolo,
Ficou Marcos Animal, mesmo. Ele também ele foi atrás, se depen- em que as emendas eram
tinha uma característica muito própria: desse das bandas não ia feitas cortando e colando
tocava com uma calcinha na cabeça. “Ele rolar.” Ele prossegue: “Mas, as fitas. “Os caras cor-
colocando em perspectiva, taram errado e a gente
imagina que você está achou a fita no lixo. Desa-
em 84 e recebe uma carta massamos e colamos de
de um cara que você não volta. Se você ouvir com
sabe quem é, que vem com atenção o início da música,
muitas ideias. É difícil vai perceber nitidamente
confiar nas pessoas, eu sei que está cheia de falhas.”
disso porque eu já confiei Além disso, o disco tem
Paulo Gouvea Vieira

em muitas pessoas e me Rascunho da capa de Ultimatum outro problema: “Não sei


estrepei, até na época da o que aconteceu, mas o
internet. Então, não dá pra disco sempre pula no mes-
culpar ninguém.” No fim, o mo lugar. Todos os vinis
disco foi um split dividido originais têm esse defeito.”
Claudio gravando Antes do Fim com o Metalmorphose. Ultimatum saiu no mesmo
“Alguém me recomendou dia do início do primeiro
era um cara que só pensava em mulher e a banda, a gente foi na Rock in Rio, 11 de janeiro
achava a Dorsal uma banda muito séria casa deles, ouvimos o som
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS de 1985. E apresentava
e que eu era muito politizado, então ele deles e eles toparam fazer. também o logo da Dorsal
queria dar um senso de humor pra coisa.” Mas era uma banda muito desenhado por Carlos:
Essa postura política de Carlos, a pro- nova e inexperiente.” “O primeiro logo foi feito
pósito, nunca lhe causou problemas, segun- Como bem cantou o vo- por um amigo meu, mas
Capa de Antes do Fim censurada
do ele, “porque a gente sempre foi pequeno. calista da banda, Tavinho eu achei que ficou muito
Se eu tivesse tido alguma exposição, tivesse Godoy, “a verdade é que hoje se faz o bonito (risos). Tinha que ser escroto!”
uma gravadora, tocasse em rádio, era amanhã” e era isso que efetivamente o (mais risos) Para alguns, Heavy Metal,
100% de chance de dar problema.” Mas ele Metalmorphose vinha fazendo. “Quando Catástrofe e Império De Satã era um
garante que “o problema me cercava. Eu fui Ultimatum (nome do split) foi gravado, “Motörhead em português” e outros clas-
vizinho da Zuzu Angel, que foi morta pela o Metalmorphose tinha apenas um ano. sificavam como “punk metal” por causa
ditadura, fui vizinho do político Rubens Nós tínhamos entre 15 e 18 anos. Desde o de Armagedom e Princesa Do Prazer.
Paiva, que foi sequestrado e morto pela início, investimos em músicas próprias e “Império De Satã foi uma das músicas
ditadura em 71, fui vizinho do Raul Seixas, foi emocionante ouvi-las no vinil”, contou mais impactantes de todos os tempos
que se autoexilou. E no meu prédio morava o baixista André Bighinzoli à ROADIE pra mim”, comenta Bighinzoli.
o Raul Ryff, que foi Secretário de Imprensa CREW. “Como a banda estava ensaiada, A Dorsal Atlântica conseguiu fazer
de João Goulart e que era muito amigo do foi ‘1, 2, 3, gravando...’ Porém, a mixagem um show de lançamento em São Paulo,
Rubens Paiva. Eu era menino, não entendia foi praticamente um ajuste de volumes. no extinto Lira Paulistana, enquanto
nada, mas o problema me cercava.” Confesso que houve certa decepção com que no Rio o movimento crescia rápido.
a falta de peso da gravação se comparado “A Dorsal já estava saindo em primeira
Ultimatum ao som da banda ao vivo. O que consola- página de Jornal de Brasil e O Globo. A
Entre 1983 e 1984, com uma cena va era que o Judas Priest em estúdio era gente saiu na capa de cadernos culturais
começando a acontecer, Carlos ficou a ‘mais limpo’, também”, acrescenta. de 84 a 95. Mas eu trabalhava de doze
a quinze horas por dia para a banda,
ficava muito tempo escrevendo cartas
para o Brasil e o exterior.” Só que ainda
havia certa ingenuidade no ar: “A gente
era inocente, a gente era garoto. Não per-
cebemos que a mídia estava dando uma
chance pra gente. E aí veio a realidade:
Ultimatum podia ser um disco desbra-
vador, mas faltava a politicagem pra
gente ser escalado pra um festival, por
exemplo.” E conclui: “Não dá pra compa-
rar 1984 com 2022, mas o gênero humano
Ultimatum (Split, 1985) Antes do Fim (1986) peca pelos mesmos defeitos.”

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Toninho Hardcore que gravar de madrugada. Também não a Lunário Perpétuo, a banda resolveu en-
tinha equipamento, o pessoal do Azul Li- cerrar o contrato. Foi assinado um docu-
mão que ajudou emprestando baixo, am- mento oficializando isso e ficou acordado
plificador de guitarra” conta ele, lembran- que qualquer relançamento de Antes do
do que “havia esse senso de comunidade.” Fim necessitaria da autorização expressa
No fim das contas, o disco saiu porque a de Carlos. “Só que a fita foi vendida para a
banda estava muito bem ensaiada: “Até Devil Discos. Eu só soube que foi relança-

Fotos: Divulgação
porque pra gravar um disco em seis horas do quando vi um anúncio numa revista.
você tem que estar ensaiado, senão você E quando entrei em contato, mandaram
está fodido.” Também não havia produtor procurar o advogado eles.” Carlos diz que
e banda teve que se virar contando com a situação se estendeu por anos: “Quando
o auxílio do técnico de som, Leco: “Ele fui prensar Dividir e Conquistar, entrei em
foi muito gentil. Sabia da nossa situação contato com a fábrica e o cara disse: ‘Está
desconfortável e fez tudo muito direito. prensando seu disco aqui, sim, o Antes
Um clássico Mas a gente pensou que teria mais horas do Fim.’ Eu estranhei e aí ele disse: ‘Ih, dei
O passo seguinte da Dorsal seria gravar de estúdio pra fazer o negócio direito.” mole...’ (risos) Por alto, o cara da fábrica me
um disco que se tornou um clássico até Além disso, a gravadora rejeitou a ideia falou em dez mil cópias. Então, se você so-
hoje aclamado do metal nacional: Antes do da capa levada pela banda, que teria fotos mar tudo, eu te diria que nós vendemos no
Fim (1986). Carlos diz que não era possível de cadáveres. “Então eu dei uma camiseta mínimo entre quinze e vinte mil discos.”
enxergar, na época, que algo marcante es- que eu tinha feito pra eles fotografarem Do seu jeito bem direto, Carlos explica
tava sendo feito: “Eu só seguia meu instinto e usarem como capa. Só que eles não ali- sua visão do negócio: “Eu entendo que o
natural.” Antes de entrar em estúdio, a ban- nharam, então, se você prestar atenção, empresário entra nesse negócio pra ga-
da estava enfrentando mais um problema: vai ver que a foto ficou torta.” nhar uma grana, não é por causa de cena.
“O Marcos tinha personalidade forte e eu Seja como for, o fato é que o disco foi Então, em vez de ele colocar em corrida de
tinha que saber negociar porque ele queria um sucesso. Menos em São Paulo. “As cavalo, tráfico de drogas ou prostituição,
impor a visão dele.” Segundo Carlos, “ele pessoas não entendiam o disco, só foram ele bota em disco” (risos).
começou a encrencar com minha posição aceitá-lo depois que lançamos Dividir e Só que o mais interessante de tudo
política, achava que eu ia destruir a banda Conquistar (1988).” No Rio de Janeiro, no talvez seja o fato de Antes do Fim ter se
fazendo-a politicamente ativa. E cismava tornado popular também no exterior,
que a música Morte aos Falsos era contra Os manos Carlos e Claudio mesmo cantado em português: “Eu tenho
ele. Ele botou isso na cabeça. Então, no en- uma teoria psicanalítica a respeito. O
saio então ele puxava a música bem deva- português não fez a mínima diferença por
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gar, a gente reclamava e ele dizia: ‘Não vou
tocar essa merda.’” Aí aconteceu o episódio
causa da gravação, que deixou tudo pra
dentro. Se a gravação fosse linda, seria um
que determinou a saída dele da banda. caminho difícil a trilhar pelo estrangeiro.”
A Dorsal ia tocar em Lambari/MG num O disco circulou muito bem na América do
festival. Marcos optou por ir na véspera, Sul, tanto que a banda recebeu cartas de
no ônibus que levaria seus amigos do Azul fãs do Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia
Limão. Como perdeu o horário para pegar e México. “Uma das primeiras bandas de
o ônibus, em vez de esperar para viajar com thrash metal do Chile, o Pentagram, en-
a Dorsal no dia seguinte, tomou a decisão entanto “ele virou uma febre que logo se trou em contato conosco. E isso alastrava
de pegar um táxi para levá-lo até lá. Uma que se espalhou pelo Brasil. No Rio, virou para a Europa, mas não ia para os EUA. Aí
vez no local, falou para os organizadores do objeto de culto, a plateia reagia de forma eu fui entendendo que o público nor-
evento pagarem o táxi com o dinheiro do agressiva nos shows.” te-americano era diferente do europeu.
cachê da banda. Obviamente, foi o último O sucesso do disco fez com que a Mas pra muita gente nós éramos a maior
show dele com a Dorsal. banda começasse a receber cartas do banda do mundo!” Mesmo assim, esses
Seu substituto foi Toninho Hardcore, exterior, graças a um fenômeno que fun- contatos ainda não renderam a primeira
também conhecido como Rabicó. Carlos cionava muito na época, o ‘tape traders’, turnê pelo exterior para Dorsal. “A grava-
diz que “a primeira coisa que eu pedi pra ou seja, pessoas que gravavam discos e dora SPV entrou em contato consideran-
ele foi pra não fazer viradas. Eu queria trocavam as fitas por gravações que não do a possibilidade de lançar um disco, mas
gravar um disco escroto, uma coisa total- possuíam. Carlos confessa que “a coisa isso nunca se efetivou.”
mente fora de sentido. Se o Animal virava não chegou no que eu esperava, que era Ao mesmo tempo, segundo Carlos,
muito, ele simbolizava o passado e eu uma gravadora que financiasse os discos a Dorsal Atlântica foi a banda mais convi-
queria alguma coisa nova. A gente chegou direito, botasse dinheiro numa turnê... dada para abrir shows internacionais
num ponto muito cru.” Carlos concorda Mas, dentro da estrutura amadora que entre 86 e o começo da década de 90. E
que esse é dos fatores que faz Antes do havia, a gente conseguiu fazer um monte um deles se tornou histórico.
Fim ter uma sonoridade muito hardcore. de coisas.” Ele lembra que “a banda ficou Continua...
O disco saiu pelo selo Lunário Perpé- tão popular que a revista Som Três
tuo, de São Paulo, e a relação entre grava- promoveu uma eleição entre os leitores
dora e banda não foi das melhores: “Um e nós fomos o 12º artista mais votado pra
dos donos ouviu a gente, nos ofereceu um tocar no Rock in Rio II, abaixo do Gilberto
contrato e prometeu um monte de coisas Gil e antes do Lobão. E eu não sei como
que não aconteceram. Meu padrão de isso aconteceu, porque a gente não tinha
gravação hoje é das 10h da manhã às 10h assessor de imprensa, nem pedia pra fã
da noite. Se eu quiser ficar duas horas responder essas enquetes. Mas eu sem-
parado e meditando eu vou ficar, porque pre ia atrás das pessoas, e isso foi algo
faz bem pro psicológico. Mas a gente só que eu aprendi com o punk.”
podia pegar a xepa do estúdio, tínhamos Por conta de todos os imbróglios com Dorsal conquistando seu espaço

ROADIECREW.COM • 73
CLASSICREW
Formado em 1969 em Essex (ING), consolidar como único líder do grupo. Smokin’. Suas nove faixas eram calcadas
o Humble Pie já se encaminhava para Chegou a pensar em seguir adiante no blues rock, mas dando abertura para
seu quinto disco de estúdio (sim, como trio, mas acabou escolhendo a que gêneros como boogie, funk e até gos-
eram outros tempos, como eu sempre dedo o guitarrista Dave “Clem” Clemp- pel surgissem aqui e ali. Como era habitu-
lembro aqui) quando seu guitarrista son para substituir Frampton. Como al em se tratando do Humble Pie, três das
Peter Frampton resolveu partir para lembraria o bateria Jerry Shirley em faixas eram versões, incluindo um tema
uma carreira solo. Seria uma perda entrevista concedida em março último de Eddie Cochran, C’Mon Everybody e
significativa, já que seu talento e sua para o site uDiscoverMusic, “Clem não outro do bluesman Cecil Gant, I Wonder.
imagem eram pontos de destaque na cantava, nem era especialista em violão, Como diria Shirley na mesma entrevista,
banda. Porém, o vocalista e guitarrista mas seus solos eram todos baseados “para nós pouco importava se a música
Steve Marriott viu ali a chance de se no blues”, o que fazia grande diferença era nossa ou se tinha sido escrita pelo
em relação à sonoridade buscada então leiteiro, se fosse boa, a gente gravava.”
pela banda e que se mostra evidente Smokin’ contou ainda com algumas
nos quase nove minutos de I Wonder, participações estreladas, como Alexis
um dos destaques do disco que a banda Korner e Stephen Stills, que colaboraram
se preparava para gravar. “Essa música com vocais em uma faixa cada um. Já a
foi feita com a intenção de dar essa produção acabou ficando com Marriott
abertura para Clem solar”, lembrou (apesar de ser oficialmente creditada
Jerry. “Todo mundo fazia isso na época, a toda a banda), o que lhe causou uma
você ia num show e lá pelas tantas o estafa no final do processo.
guitarrista mandava um solo totalmen- No fim das contas, o álbum chegou
te blues – e ele era muito bom nisso.” ao 6º posto na parada americana Bill-
Steve, Clem, Jerry e o baixista Greg board e ao 20º lugar na Grã-Bretanha,
Ridley entraram no Olympic Studios, além de ter conquistado Disco de Ouro,
em Londres, em fevereiro de 1972 para tornando-se assim o mais bem sucedido
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de lá saírem apenas um mês depois (já da carreira da banda.
falei que os tempos eram outros?) com Antonio Carlos Monteiro

1972 HUMBLE PIE


SMOKIN’

Embora nunca tivesse de fato abra-


SIOUXSIE AND THE BANSHEES
A KISS IN THE DREAMHOUSE

completo, eles buscavam uma direção


1982
çado o termo, em 1982 a banda britânica mais ousada, indicada pelo single Fi-
liderada pela vocalista Siouxsie Sioux e reworks, lançado naquele mesmo 1982.
pelo baixista Steven Severin já era con- Essa “direção mais ousada” consistia
siderada uma das grandes lideranças do basicamente em mergulhar toda a
cenário gothic rock. Afinal, eles tinham aura gótica típica dos ingleses no som
superado os problemas gerados pelas psicodélico da Califórnia dos anos 60,
saídas abruptas do baterista Kenny uma mistura única e perigosa, mas
Morris e do guitarrista John McKay em também memorável e cativante se feita
meio à turnê de 1979 (ocasião em que da maneira correta. E é justamente
Robert Smith, do The Cure, se uniu aos aqui que residia o grande trunfo dos
Banshees pela primeira vez), e tanto o Banshees: guiados pela apurada visão
“single natalino” Israel (1980) quanto artística de Severin e pela voz marcan-
o álbum Juju (1981, com os hits Spell- te de Siouxsie Sioux, eles ainda tinham
bound e Arabian Nights, se tornaram no talentoso baterista Peter “Budgie”
históricos e fortaleceram a posição da Clarke (repleto de referências percussi-
banda entre os góticos. Ou seja, em 1982 vas africanas e latino-americanas) um foram apenas esses singles que renderam
eles eram tão bem sucedidos e tão in- porto-seguro, alguém que seguraria ao álbum a melhor recepção crítica até
fluentes quando era possível para uma qualquer possível seção rítmica. Mas, então. Ouça Cascade, Green Fingers, She’s
banda post-punk na era do post-punk. os anos provariam que seria a guitarra a Carnival e Painted Bird: todas elas de-
Como a própria vocalista relembraria de John McGeosh o grande destaque monstram o brilhantismo de uma banda
anos depois, “nada poderia nos parar deste A Kiss in the Dreamhouse. acima da média vivendo o seu auge. No
naquela época. Exceto nós mesmos.” Melt! e Slowdive foram escolhidas ano seguinte, coroando o bom momento,
Porém, parar não era uma alter- como singles do álbum e especialmen- eles ainda lançaram o ótimo ao vivo Noc-
nativa e se acomodar também nem te nessa última você percebe a grande turne, com sua versão icônica para Israel
passava pela cabeça deles. Para o influência que a sessão de cordas (cello abrindo os trabalhos.
seu então mais novo e quinto álbum e violino) teve no álbum. Porém, não Valtemir Amler
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#CLÁSSICOS #PÉROLAS #ATEMPORAIS

Do ponto de vista da popularidade quela geração, emplacando logo de cara mas com ricos elementos que vinham
local, o punk californiano vivia o seu um sucesso mundial com Another State do rock dos anos 50, além das tantas
auge no início dos anos 80. Vários clu- of Mind, faixa do álbum de estreia, referências ao bluegrass e ao ‘outlaw
bes viviam lotados e com shows cons- Mommy’s Little Monster, lançado de for- country’, subgênero favorito de Ness e
tantes, mostrando a força de nomes ma independente em 1983. Tudo parecia encarnado à perfeição pelo eterno “Ho-
como Fear, Circle Jerks, Dead Kennedys, no caminho certo para a banda decolar, mem de Preto” Johnny Cash. Todas as
TSOL, Descendents e Black Flag. Ativo mas eis que os problemas de Ness com faixas neste registro são indispensáveis,
desde 1978 e contando sempre com a li- as drogas e a lei (e o tempo que perdeu como você sente de cara na vibração
derança do vocalista, compositor e gui- entre prisões e centros de reabilitação) de Cold Feelings, mas é inegável que o
tarrista Mike Ness, o Social Distortion forçaram um longo hiato até o segundo álbum ganha seu status de lenda por
também era um nome fundamental da- álbum, Prison Bound, de 1988. conta dos hits Bad Luck, Born to Loose
Impulsionado principalmente pelo e o cover para Making Believe, do cantor
sucesso da faixa-título, eles consegui- country Jimmy Work.
ram um contrato de três álbuns com a Com tudo isso, o disco alcançou
gigante Epic Records, e foi então que a primeira posição da parada Hea-
as coisas de fato deslancharam. Após o tseekers, da Billboard, e se tornou
sucesso comercial de Social Distortion referência inevitável, seja para a lenda
(1990, que conta com os hits Story of My punk alemã Die Toten Hosen (que re-
Life e Ball and Chain), eles tinham que gravou Cold Feelings) ou para o Volbeat,
reafirmar sua força na nova década, e cujo líder Michael Poulsen tem o nome
é neste cenário que nasce Somewhere “Social Distortion” tatuado no braço,
Between Heaven and Hell. além de ter regravado Making Believe
Musicalmente, não havia grandes no terceiro álbum de sua banda, Guitar
transformações despontando Gangsters & Cadillac Blood, de 2008.
nesse quarto disco completo dos Ou seja, um clássico de uma banda que
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californianos. A música ainda era mudou o cenário punk de Los Angeles.
erigida sobre uma sólida base punk, Valtemir Amler

1992 SOCIAL DISTORTION


SOMEWHERE BETWEEN HEAVEN AND HELL

Além de ser o último álbum do Tank uma volta ao básico. O material vinha
TANK
STILL AT WAR 2002
a contar com o vocalista e baixista Algy sendo composto desde 1988, então foi
Ward, até então o único remanescente uma longa gestação”, destacou Ward,
da formação original, Still at War foi o que trouxe um paralelo entre a letra de
primeiro de estúdio desde Tank, lançado The War Drags Ever On e Still at War,
em 1987. A formação também contava relacionando aos temas de conflitos
com Mick Tucker e Cliff Evans (guitarras) e guerras. “ The War Drags Ever On
e Bruce Bisland (bateria) no posto de fala sobre o conflito entre Irã e Iraque
Steve Hopgood, que havia registrado o ao durante os anos 80, enquanto Still at
vivo Return of the Filth Hounds, gravado War trata dos problemas da atualida-
na Alemanha em 1997 e que marcou o de, mesmo tendo sido escrita antes do
retorno da banda inglesa. ataque terrorista de 11 de setembro de
Por falar em Return of the Filth 2001”, contou à ROADIE CREW.
Hounds, o título também foi dado a A tradição de usar as iniciais em
uma das músicas de destaque do reper- títulos também voltou com T.G.N.I.D.,
tório de Still at War. Rápida, ela traz que significa “That Girl’s Name Is Death”.
a velha pegada do Motörhead e, além Outra curiosidade é que foram regra- Todo mundo achava que o velho
disso, é a que tem mais a veia do velho vadas duas faixas que constavam como Tank ainda estava em posição de ataque
Tank do começo de carreira. Já o lado bônus do ao vivo Return of the Filth Hou- e pronto para mais batalhas, mas não foi
metal tradicional aparece em Conspi- nds: And Then We Heard the Thunder, o que aconteceu. “Não houve promoção
racy of Hate, enquanto a faixa-título se que vem no velho estilo do clássico Filth deste álbum por parte da gravadora e
mostra um hard’n’heavy com a pegada Hounds of Hades, e In The Last Hours Algy não queria tocar ao vivo”, recordou o
mais suja do rock’n’roll que a banda Before Dawn, mais cadenciada e até certo guitarrista Mick Tucker.
sempre demonstrou – The Fear Inside ponto melódica para os padrões do Tank. O resultado todos sabem: Tucker e
é outro exemplo. “Foi uma experiência “Nós regravamos porque os bônus eram Evans foram para um lado e Ward para
barulhenta. Nenhuma música român- apenas as versões demo inacabadas, sem outro, ambos utilizando a marca Tank.
tica, sem introdução de teclado, apenas muita produção”, explicou Ward. Ricardo Batalha
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Jim Louvau
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ESPÍRITO E NATUREZA DE FAMÍLIA


Max explica a história por trás do novo álbum do Soulfly, detalhando a relação
musical com o filho Zyon numa volta ao passado dos irmãos Cavalera
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Por Daniel Dutra canções foram criadas, por isso eu falei: Zyon: ‘Ideia boa, moleque!’ (risos). Achei
‘É mais fácil eu mostrar do que tentar legal, diferente. Não estou acostumado a
Dá para fazer uma matéria somente fazer você entender em palavras. Vamos fazer coisas desse tipo, mas curti.
com obras musicais que foram fruto dire- ensaiar, e eu mostro com a guitarra como
to e específico da pandemia da Covid-19, é que essa porra é feita!’ (risos). E fizemos Diferente, também, do processo com
mas quantas estreitaram o laço familiar a realmente assim! Peguei a guitarra e fa- o Iggor há mais de 30 anos...
ponto de pai e filho resgatarem o passado lei: ‘Olha aqui, primeiro é o riff! Está sen- Max: Foi legal o nosso trabalho, e
de dois irmãos? A resposta é Totem, o 12º tindo o riff? Agora, põe uma batera em eu prestei bastante atenção no Zyon
álbum de estúdio do Soulfly, porque boa cima. Beleza, a bateria ficou boa, então enquanto baterista, porque ele não é
parte da entrevista com Max Cavalera foi vamos para outro riff!’. Houve momentos ortodoxo, é bem mais do punk e hardcore
um agradável papo sobre a afinidade tipo Bad Brains. É só energia, não é
musical entre o compositor, guitarrista “(...) a ideia inicial para o Totem muita técnica, é muito selvagem, e eu
adoro isso, cara! É muito legal quando
e vocalista e o seu filho Zyon, baterista
da banda – completada pelo baixista era examinar todas as eras de Max vejo um baterista que toca de maneira
Mike Leon e, atualmente, guitarristas
convidados. Melhor ainda, Max contou
Cavalera, do black metal do Bestial selvagem, como o meu irmão, que bate
tão forte que parece que vai destruir a
como os dois trabalharam da mesma
forma que ele e o irmão, Iggor, faziam
Devastation ao death/thrash do bateria. Nós até brincávamos, porque
eu falava ‘Se você continuar batendo
no início do Sepultura, há quase 40 Arise, com o groove do Chaos A.D. e do assim, ela vai confessar!’ (risos). E o
anos. Tem isso e mais. Confira!
Primitive e o tribal do Roots” Zyon tem esse lance bem selvagem,
porque aprendeu a tocar assistindo
A minha primeira pergunta é simples, em que ele deu as ideias, falando ‘Não sei. aos bateristas do Soulfly, ao Iggor e até
mas que espero não continuar fazendo: Esse aqui já está muito parecido com coi- ao Bill Ward, porque ele sentou atrás do
como tem sido a pandemia para você? sa antiga, então vamos mudar um pouco, Bill quando tocamos com o Black Sabba-
Max Cavalera: Eu fiquei bastante dar uma quebrada nisso’, e aí inseria algo th, então o Zyon teve essas aulas de vida,
ocupado, tentando trabalhar o máximo diferente. E teve uma coisa que também que são fundamentais. Ele aprendeu
possível. Inclusive, foi no período da pan- foi muito interessante: quando ele me com a história, e isso é legal demais. Foi
demia que criei o disco do Soulfly, então perguntava coisas sobre música, e eu não como eu falei para o produtor, o Arthur
foi uma mistura de um pouquinho do Go sou músico formado, tudo o que aprendi (Rizk): ‘Temos de pegar esse sentimento
Ahead and Die, disco que fiz com o meu foi tocando covers de outras bandas, selvagem, com o qual ele está tocando,
filho Igor, e a criação do Totem, que foi aprendi guitarra comigo mesmo, então às sem colocar nenhum aditivo, nenhum
com o Zyon. E foi bem old school, mesmo. vezes ele perguntava: ‘Tem coisa que dá click track’. Nada disso, porque acabaria
Íamos ensaiar somente nós dois, na ga-
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS com tudo. Tem que deixar o lance ani-
ragem, e ficávamos fazendo barulho mal, mesmo, e esse disco precisa ser
por quatro ou cinco horas, três vezes parecido com o Squizophrenia (1987)
por semana. Algo bem parecido e com o Beneath the Remains, que
com o que eu fazia com o meu não tinham click track. Era tudo
irmão na época do Morbid Visions analógico: aperta o ‘play’ e o ‘rec’,
(1986), porque chegávamos antes da e vamos nessa! Muita coisa foi
galera no ensaio e ficávamos apenas feita assim, mas outras bem legais
eu e o Iggor tocando, criando os riffs, foram criadas antes do disco, naque-
fazendo barulheira. Tem um lance les ensaios que eu e Zyon fizemos, e
bem interessante que é o de tocar acabaram ficando até o álbum. Essas
com o sangue, com a família, porque ideias continuaram as mesmas mes-
quando você faz música com um filho mo depois de tanto tempo, aquelas
ou um irmão é um pouco diferente que surgiram durante a pandemia, ao
de outro membro da banda, que vem passo que tivemos outras que rolaram
de fora, que vem de uma história no estúdio. Uma das mais legais está
diferente. Tem aquela coisa na música Totem, porque disse ao
do sangue mesmo, e é até mais Zyon para fazer um solo de bateria,
forte e mais confortável, então e ele não entendeu (risos). Falei: ‘Um
achei bem legal essa jornada que solo, como se você estivesse no fim de
tive com o Zyon. Foram dois anos TOTEM um show’, porque a Gloria grava os
fazendo o disco com ele, e depois Nuclear Blast/Shinigami - Nac. momentos finais das apresentações e
levamos tudo para o estúdio. sempre mostra os vídeos para mim, e
em alguns a mão dele é tão rápida que
E Totem tem muito da vibração do para fazer que não seja no 4/4? De repen- não dá para ver! Então, falei que ficaria
Morbid Visions, do Bestial Devastation te, no 4/7?’, e eu respondia: ‘Ih, rapaz, aí legal para caralho se ele fizesse isso no
(1985) e até do Beneath the Remains ferrou, hein? Mas vamos tentar!’ (risos). meio da música, porque ninguém faz
(1989), especialmente nos seus vocais. Isso porque ele gosta muito de Gojira e isso hoje em dia. As bandas não lembram
Como foi o Zyon vendo você explicar fala que ‘no Gojira tem uns bagulhos que mais disso, porque é coisa dos anos 1990!
como era esse processo e, também, con- não são muito 4/4’, ou algo assim, falando Fizemos, e sabe por que colocamos?
seguir fazer isso tanto tempo depois? numa linguagem que eu não entendo Porque não sabíamos o que fazer com a
Max: A curiosidade é muito legal, né? (risos), mas eu dizia para tentarmos fazer. canção, uma vez que chegamos ao meio
É uma coisa interessante vindo do seu fi- Assim, há umas partes do disco assim, e dela e não sabíamos para onde ir, então
lho, perguntando ‘Como é que você criou uma dessas partes é a música Damage falei: ‘Foda-se! Põe um solo aí. Vai que
essas coisas 30 anos atrás?’. Acho que é Done, em que se conta 1, 2, 3, 4... 1, 2, 3, 4, vai!’ (risos). Essas ideias old school são
difícil para ele entender como aquelas 5, ficando 4/5, e isso foi legal. Falei para o coisas que só lembra quem viveu aquele

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Max Cavalera, Mike Leon e Zyon:
a natureza presente do Soulfly
Jim Louvau

“(O produtor Arthur Rizk) brincava comigo ao dizer: ‘Vamos acordar


aquele desgraçadinho do pequeno Max que está dormindo dentro de
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você!nosso Canal
Bota esse no Telegram:
moleque raivoso det.me/BRASILREVISTAS
volta no mundo!’ (risos)”
momento da década de 1990, e o Arthur acho um trabalho legal, com músicas tipo 1990 que o meu irmão tinha. No estúdio, o
também foi especial. O tratamento que ele Sodomites e Bethlehem’s Blood que são Iggor sempre nos pegava de surpresa com
deu ao disco, principalmente nos vocais, meio black metal, mas ele não gosta de to- umas coisas que não entendíamos o que
com os delays que fazem com que pareça car material deste e do Savages. Creio que eram ou como ele fazia, mas que funcio-
que estou cantando numa caverna, ficou o Ritual (2018) foi o primeiro álbum que ele navam nas músicas. Para um álbum como
muito legal! O álbum todo tem um senti- ficou mais confortável gravando, no qual o Totem, mais enérgico e mais porrada,
mento antigo numa gravação nova, e ele é estava seguro do que fazer, mas o Totem esse espírito era o ideal. Não precisava de
um mago para esse tipo de coisa. foi o primeiro com ideias dele. Sentei com sofisticação, então a bateria do Zyon está
o Zyon para ouvir seu trabalho como ba- boa como deve estar, e a evolução dele
Como estamos abordando bem essa terista e músico, trocamos ideia de músico tem sido notada principalmente ao vivo.
parceria musical com o Zyon, dá para no- para músico. Ele não sabe muito de metal, Alguém sempre comenta comigo depois
tar nitidamente que, do Savages (2013) então às vezes me pede dicas do que ouvir, de uma apresentação que ‘o moleque da
para cá, ele evoluiu muito tecnicamente, e eu faço uma lista de bandas para ouvir bateria é bem legal!’, porque tem gente que
mas que toca para a música. Como você e conhecer. Inclusive, listo bateristas nem sabe que ele é meu filho! (risos)
acompanha isso, porque a ideia não era para ele conhecer e estudar, e o Zyon tem
que o Zyon virasse o batera do Soulfly. adquirido técnica sem ficar chato, sem Mudando de instrumento, o Dino
Era algo temporário, mas aí está ele na perder a alma da música. Aquela forma Cazares tem tocado com você, mas como
banda há dez anos... selvagem e crua, com a qual ele toca ao está a busca pelo substituto definitivo
Max: O lance do Zyon é a evolução, vivo, tem que permanecer, por isso falei ao do Marc Rizzo?
realmente, porque ele tem melhorado a Arthur que o Zyon precisa se sentir con- Max: Pô, cara... Para falar a verdade,
cada disco. Mas, para falar a verdade, se fortável no estúdio como se sente ao vivo. no momento eu não estou procurando
ele não estivesse tocando bem, mesmo Tem uma coisa que ele faz em turnê que uma pessoa fixa. Acredito que devemos
sendo meu filho, eu iria falar ‘Ó, velho, é muito louco: na maioria das vezes, não continuar por um tempo ainda com essa
não está dando certo’, porque eu tenho toca uma parte de determinada música do ideia de trazer algumas pessoas que
de olhar para o bem da banda, para o que mesmo jeito. Cada noite é de um jeito no conhecemos e que consideramos legais.
faz bem ao Soulfly. No entanto, por causa mesmo riff e na mesma parte, porque ele Foi o caso do Dino. Quando o chama-
dessa evolução e da garra que ele tem, es- faz alguma coisa diferente e sempre me mos, o show do Soulfly ficou totalmente
pecialmente no novo álbum, o melhor que surpreende. Tocar com um baterista assim diferente, e quem viu pirou na mistura do
já fizemos, ele foi ficando (risos). Aliás, tem é legal, e esse sentimento de improvisa- Fear Factory com o Soulfly. Ficou pesado
uns discos que o Zyon não gosta de tocar, ção fica mais autêntico ao vivo, então e destruidor! Fizemos a Return Beneath
como o Archangel (2015), e nós temos pedi para o Arthur pegar essa ferocidade Arise Tour com o Danny (N.R.: Daniel
umas discussões por causa disso, porque e colocá-la no disco, o espírito dos anos Gonzalez), do Possessed, e o moleque

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detonou! Matou a pau, destruiu tudo! Por Pantera, Soundgarden e Metal Church, ao falar ‘Olha, Max, eu não vou apenas
isso, ficou essa ideia de trazer mais pesso- e em seguido chamei o Matt Hyde, que fazer o serviço de produzir um disco
as, de repente trazer músicos que a galera produziu Deftones e Behemoth. Teve o do Soulfy. Eu vou fazer o melhor disco
gosta e conhece para, talvez, no futuro Josh Wilbur, que é muito bom produtor do Soulfly!’, e eu respondi: ‘Está bem.
fechar com alguém fixo. O Soulfly não e trabalhou com Lamb of God e Gojira, Vamos fazer! Se você está falando, então
tem essa característica de ter formação e agora estamos com o Arthur, que é vamos fazer!’. Para mim, na parte dos
fixa, porque desde o começo sempre mu- muito especial! Ele é old school e um dos solos, o que achei interessante foi a mis-
dou: a banda começou com o Lucio Maia produtores mais diferentes, porque che- tura do próprio Arthur, que é guitarrista
na guitarra, depois veio o Logan (Mader), ga a ser até meio antiprofissional (risos). solo, com o John Powers, que toca no
o Mikey (Doling), e o Marc Rizzo ficou É uma zoeira, uma confusão, você não Eternal Champion, e o Chris, do Power
bastante tempo (N.R.: de 2003 a 2021), mas sabe onde está nada, fica tudo mistura- Trip. Gosto muito do Eternal Champion
acho mesmo que vamos ficar nessa por do, tem som para tudo quanto é lado, e porque eles fazem heavy metal tradicio-
um tempo, chamando guitarristas de eu olhava para ele já com dor de cabeça, nal, tipo Angel Witch, Diamond Head,
outras bandas para fazer jams conosco. perguntando: ‘Cara, como você vai Tygers of Pan Tang, Manowar antigo...
De repente, vamos colocar em nosso Ins- organizar isso?! Está uma zona!’ (risos), As bandas da NWOBHM, outras que eu
tagram um ‘Quem vocês gostariam de ver e ele olhava para mim e dizia: ‘Confia em ouvia quando era moleque, então pensei
tocando com o Max Cavalera?’ (risos). mim! Vai dar certo!’ (risos). Eu confiei, que os solos de heavy metal do Eter-
e o primeiro resultado foi o Cavalera nal Champion ficariam bem legais no
E já pensou que isso pode dar às pes- Conspiracy com o Psychosis (2017), que Soulfly, que é mais groove, tribal, death e
soas a oportunidade de realizar o desejo eu adoro e é um dos discos mais legais thrash. Essa mistura me deixou empol-
de tocar com você? que já fiz. O Arthur tem esse lance meio gado porque seria algo diferente, porque
Max: Cara, isso é legal! É uma situa- de magia, exatamente como ele fez com antes seria mais um disco com o Marc
ção onde um ajuda o outro, né? O lance o Power Trip, porque o Nightmare Logic Rizzo se eu tivesse feito com ele, pois já
do Dino foi assim. Foi perfeito porque (2017) é uma obra-prima, cara! Ele fez um estávamos acostumados. É o que aconte-
sou fã de Fear Factory, e o Dino é meu fã, disco de thrash metal em 2017 no qual o ceria, por isso foi muito interessante ter
então juntar nós dois foi maravilhoso. espírito e o som são, em minha opinião, essa mistura dos solos do heavy metal
Sendo que nós ainda vamos para o Japão. iguais ou até melhores do que Bonded tradicional num trabalho mais porrada.
Ele vai fazer um pouco mais de turnês By Blood (N.R.: álbum de estreia do Exo- E ficaram perfeitos! Alguns são cheios
com o Soulfly. de feeling, bem metal mesmo, e outros
são só destruição, com aquela alavan-
Você mencionou a importância “(...) se ele (Zyon) não estivesse ca que é do thrash.
de Arthur Rizk algumas vezes, e isso
tocando bem, mesmo sendo meu
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é interessante por duas razões: você Totem está muito ligado às letras
mesmo vinha produzindo os álbuns filho, eu iria falar ‘Ó, velho, não que
do Soulfly até o Enslaved (2012), mas
você escreveu sobre natureza,
floresta e povos originários. As mú-
está dando certo’, porque eu tenho sicas não estão interligadas, mas dá
a partir daí passou a usar produtores.
de olhar para o bem da banda, para para
Chris “Zeuss” Harris, Terry Date, Matt
Hyde, Josh Wilbur e agora o Arthur.
dizer que se trata de um conceito
definitivamente importante para
Qual é a ideia por trás dessa mudança?
Max: O problema de produzir
o que faz bem ao Soulfly” o momento que estamos vivendo,
incluindo o Brasil?
você mesmo é que isso lhe deixa confor- dus, lançado em 1985). Isso é algo muito Max: Tem mesmo muita coisa desse
tável, e estar confortável às vezes não se difícil de fazer, ou seja, pegar o espírito tipo em relação ao Totem, e muitas
converte em coisas legais. Estar confor- de algo antigo e colocá-lo em alto atual, músicas falam sobre isso, como Damage
tável nessa posição faz com que não se mas fazendo isso tão bem feito, porque Done, escrita praticamente para isso, para
criem coisas impressionantes, faz com na maioria das vezes não dá muito certo. mostrar o que nós, seres humanos, esta-
que tudo fique mais ou menos, não dei- mos fazendo com a natureza. O álbum
xa você com sangue nos olhos. A ideia de Deu muito certo com o Cavalera foi feito tendo a natureza como um deus,
usar produtores externos veio da época Conspiracy, sem dúvida, mas houve um totem, então falamos do ser humano
dos trabalhos antigos que fiz, porque os alguma dúvida na hora de trabalhar com destruindo o seu próprio deus. Parece
produtores foram muito importantes ele no Soulfly? que destruímos tudo o que amamos,
em álbuns como Beneath the Remains Max: Eu fiquei com o Arthur na com essa mentalidade de destruir o que
e, principalmente, Chaos A.D. (1993), cabeça exatamente porque, se ele fizesse devemos proteger. Falamos mito disso no
porque Andy Wallace foi um mestre! É um disco do Soulfly, poderia inserir to- disco, mas a ideia geral foi uma mistu-
por isso que considero o Chaos A.D. uma das aquelas coisas. Inclusive, a ideia ini- ra de espíritos da floresta, algo que eu
obra-prima do metal, porque ele conse- cial para o Totem era examinar todas as captei nas viagens que fiz à Noruega e à
guiu extrair de mim coisas que eu não eras de Max Cavalera, do black metal do Islândia, com suas florestas muito loucas,
conseguiria sozinho. No Roots (1996), Bestial Devastation ao death/thrash do e também à Austrália e à África. Há essa
tivemos o Ross Robinson produzindo e Arise, com o groove do Chaos A.D. e do questão da destruição geral, inclusive
o Andy mixando, e isso foi a escolha per- Primitive e o tribal do Roots. Ou seja, bo- da Floresta Amazônica, mas realmente
feita tanto para o Roots quanto, depois, tar tudo isso num disco, e acabou puxan- não pensei em contar uma história linear
para o Soulfly (1998). Depois, trabalhei do mais para a porrada porque o Arthur através das letras. Aliás, quando estava
com o Toby Wright, que era mais Alice gosta mais da fase death e thrash. Ficou no estúdio, eu não tinha um nome para o
in Chains e Metallica, um produtor bem feito e muito forte, e ele brincava álbum. Foi meio como com o Chaos A.D.,
mais estelar, mas o som do disco (N.R.: comigo ao dizer: ‘Vamos acordar aquele que iria se chamar “Propaganda”, mas no
Primitive, de 2000) ficou maravilhoso. desgraçadinho do pequeno Max que último minuto eu mudei o título. Totem
Eu comecei a trabalhar com o Terry está dormindo dentro de você! Bota esse não tem um tema central, mas algumas
Date, alguém de quem eu era fã porque moleque raivoso de volta no mundo!’ músicas se identificam com um único
ele produziu os álbuns mais fodas do (risos), e Arthur ainda botou uma bronca assunto, que é a natureza.

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Charles Gama, Rodrigo "Pancho" Augusto e Chaene da Gama despejando um
som cru e forte com letras que tocam fundo nas feridas da nossa sociedade
Divulgação

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É HORA DE ASCENSÃO!
Mesclando elementos de rock, metal e muito punk rock,
banda mineira sobe o tom do seu discurso com Ascensão
Por Valtemir Amler e Rodrigo “Pancho” Augusto (bateria) Lepper Messiah, queria tocar todo o disco,
desafiam a elite dominante, dando voz achava o baixo do Cliff Burton a coisa
Na história da música pesada, parece aos esquecidos e marginalizados. Punks, mais foda do mundo. Depois foi aquele
que sempre foi assim: algumas bandas párias e indesejados, é hora da Ascensão! caminho normal, Guns N’Roses, Nirvana,
simplesmente aparecem no momento Living Colour, as bandas que a galera ia
certo e praticando a música necessária e Já que é a primeira vez que converso sugerindo, tipo: ‘Ah, você gosta de rock?
adequada ao momento que as pessoas es- com o Black Pantera, quando a música Então tem que ouvir essa, aquela e tal.”
tão vivendo. Sempre existe um movimen- pesada entrou na sua vida? Mas minha primeira lembrança realmente
to acontecendo e aquele nome que parece Chaene da Gama: Cara, eu nem sei forte é de tentar tocar Master of Puppets
preconizá-lo, aquela banda que encarna o te dizer direito, porque faz muito tempo. e conseguindo, depois de muito tempo
espírito da época tão plenamente na sua Meu pai sempre teve muitos discos em (risos). E me deixe incluir o Rage Against
música e nas suas letras que simplesmen- casa, ele trabalhava com algumas bandas the Machine na minha lista, pois foi muito
te é impossível citar o movimento sem como roadie, então sempre fui muito importantes para toda a nossa geração –
mencioná-la. Respeitando-se as propor- exposto à música, tínhamos muitos discos, todo mundo ouvia aquelas músicas e foi
ções e a maluquice absoluta da época em meu avô também tinha uma grande co- influenciado pela postura deles.
que vivemos, em que a intolerância tem leção. Tinha muita coisa, lembro daquele
falado pelas bocas mais proeminentes do Jesus Não Tem Dentes no País dos Ban- Você citou ótimos nomes, mas além
país, a mineira Black Pantera é o nome guelas (Titãs, 1987), tinha até o Master of dessa coisa do rock e do metal, notamos
certo para esse momento. Com um som Puppets (Metallica, 1986), que de algum jei- também uma forte influência da música
cru e forte e letras que tocam fundo nas to estava lá também. Até hoje vejo a galera punk e hardcore no Black Pantera.
feridas da nossa sociedade tão dividida ouvindo Master of Puppets e lembro que Chaene: Sempre gostei muito do
quanto maltratada, Charles Gama (vocal na época que ouvi eu estava aprendendo Dead Fish e o Rodrigo sempre foi viciado
e guitarra), Chaene da Gama (baixo) a tocar baixo, então fiquei tentando tirar a em Devotos, D.F.C., Garotos Podres e tal.

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Com o tempo a gente foi conhecendo chegou a fazer um show sem mim, o Chaene: A gente toca em todos os
NOFX, Bad Brains é incrível, e então Charles tinha me convidado assim que shows, a galera adora, tem uma vibe bem
tudo isso foi agregando no som. Como terminou as músicas e ia gravar, inclusi- punk mesmo, mas com um groove forte,
baixista, eu sempre gostei de bandas que ve foi o Chaene que me ligou. Na época é muito louca. A linha de baixo é bem lou-
traziam o baixo mais ‘carregadão’ mesmo. eu dispensei, gostava da fase dos covers, ca, tanto que o PJ, que é baixista do Jota
Hoje curto muito ouvir o Fishbone. Porra, mas o Charles já teve uns projetos antes Quest, chegou até a banda pela linha de
é muita coisa legal, o Sepultura também que não eram muito legais. baixo, e disse: ‘Cara, que é isso, vocês tão
foi foda pra mim. Na época do Roots eu Chaene: É que na época dos covers era gringos nessa música!” Cara, ser reconhe-
tinha uns 12 anos, aquilo foi um absurdo, Metallica e tal, dava certo com a voz dele. cido e elogiado por ele é algo grande pra
eles eram monstros, e a banda rachou no Depois ele fez umas paradas meio funk, gente, inesperado. E ainda tem a mensa-
meio do rolê, foi foda. meio soul, na pegada do James Brown, e gem da música, que é para tacar o foda-se
aquilo não rolava com a voz dele. no preconceito, nas coisas que tentam te
Você citou Fishbone e lembro que Rodrigo: Então, quando o Chaene parar. E ao vivo funciona bem demais!
a conheci pela trilha de um filme do me fez o convite eu lembrei disso, aí eu
Schwarzenegger, “O Último Grande pensei: ‘Caralho, velho, eu tô aqui em Embora ainda fresco no mercado,
Herói” (Last Action Hero, 1993), que Uberlândia, tô em outra vibe, tô estudan- o novo álbum, Ascensão, tem também
tinha AC/DC, Megadeth, Alice in Chains, do.’ Neguei, não quis entrar. Aí, poucos alguns novos clássicos. Fogo Nos
Anthrax, Def Leppard, Aerosmith, Tes- dias depois, ouvi as duas primeiras músi- Racistas é destaque imediato, até pelo
la, Queensrÿche e Fishbone. cas gravadas, fiquei maluco. Liguei para rebuliço que esta frase tem causado
Chaene: Preciso ouvir essa (risos). o Chaene: ‘Cara, cê lembra que eu topei entre algumas pessoas.
Ah, cara, eu amo Fishbone, a música é né? Quando vamos ensaiar, gravar e tal?’ Charles: Isso está sendo legal demais
ótima, o baixo é incrível. Eles tinham (risos). Está causando e espero que
aquela mesma pegada do Red Hot cause muito mais, a hashtag ‘fogo nos
Chilli Peppers, na mesma época, mas racistas’ tem sido uma das mais usa-
o RHCP decolou, o Fishbone não. das e ela obviamente tem sentido
É uma banda que ouço todo dia. metafórico, algo que a mente de
Só vou dizer uma coisa: o Norwood alguns seres é incapaz de compre-
(John Norwood Fisher) é um bai- ender, então é confusão na certa
xista incrível e quem toca baixo tem (risos). Você tinha que ver, quando
que conhecer (risos). a gente lançou esse som, os ‘reaça’
comentavam marcando a Polícia
A banda começou como Project Federal: ‘PF corre aqui, olha o crime,
Black Pantera ou aquele foi apenas o
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS estão usando a frase.’ (risos gerais)
nome do primeiro disco? Loucura, cara marcando polícia, STJ,
Chaene: A banda começou com o diabo a quatro, tenha dó (risos). É só
meu irmão, Charles. A gente tinha an- uma metáfora, mas incomoda aqueles
tes uma banda cover que tocava de que têm um preconceito fodido, e só
System of a Down a Iron Maiden, por isso já vale o rolê (risos gerais).
mas o lance principal era o thrash
da fase áurea do Metallica, os três Hoje, muito mais pessoas pres-
primeiros discos. A gente tava indo tam atenção em vocês, então, para fi-
bem, tocamos em festivais, claro. ASCENSÃO nalizar, gostaria de perguntar: para
Tocando coisa clássica do Metallica Deckdisc - Nac. uma banda hardcore, que tem essa
você vai agradar a galera, mas um dia orientação de fazer letras sociais e
ele cansou, queria fazer as músicas de protesto, é uma sensação maravi-
dele. Quando ele foi passar as ideias pra (risos gerais) Foda-se, eu queria ser parte lhosa ser a banda que mais incomoda
galera, a banda rachou. Na época ele era daquela banda (risos). no Brasil hoje, certo?
só vocalista, então comprou uma guitarra, Chaene: Cara, pode botar fé que
foi aprendendo a tocar com uma afina- O entrosamento foi imediato e já em ninguém nunca me fez uma pergunta tão
ção diferente e tal. O primeiro disco é 2019 vocês lançaram o segundo álbum, direta assim (risos gerais). A sensação é
basicamente as ideias dele, tenho apenas Agressão. Ele contém a primeira música de dever cumprido, pode crer!
uma contribuição naquele disco. A banda de vocês que ouvi, Baculejo. Rodrigo: Pode crer, é a melhor sensa-
era de fato Project Black Pantera, era um Charles Gama: Cara, Baculejo nasceu ção do mundo (risos).
projeto, totalmente despretensioso. Era de uma situação real que rolou com a Charles: Sim, mano, é ótimo. Se a gen-
um sonho dele, um projeto dele. gente aqui em Uberaba. Teve um show te não estivesse incomodando, estaríamos
Rodrigo “Pancho” Augusto: Cara, do Detonator aqui e a gente era uma fazendo algo errado. A gente tá tacando o
eu vim de um outro universo (risos). Eu das bandas que ia tocar no evento. Teve dedo na ferida de gente preconceituosa,
comecei como percussionista, tocava uma banda de abertura, daí o Detonator gente que só de olhar já fica: ‘Quem são
outros gêneros. Comecei a tocar bateria e a gente tocava depois. O caso é que do esses pretos aí, o que tão fazendo aqui?’
tarde, acho que com 17 anos, e foi por nada a polícia entrou na casa de show Estamos ocupando espaços que geral-
causa da bateria que comecei a ouvir e foi aquele baculejo, ‘homens pra cá, mente não são ocupados por gente como
rock, primeiro com as bandas nacionais, mulheres pra lá, mão na cabeça’, e pronto, nós, e tem aqueles que se incomodam
Barão Vermelho, Legião Urbana... Um acabou com o nosso rolê, não tocamos com isso por descobrirem que não são
ano depois, já tinha ido de Legião para nada. Daí a letra saiu fácil, foi só lembrar tão especiais quanto a mamãe disse que
Ratos de Porão, a coisa foi totalmente daquela situação e pronto, tava feito! eram. Que bom que é assim, quanto mais
para os lados do hardcore e do crosso- os preconceituosos nos odeiam, mais
ver. Na época do Project Black Pante- Outra daquele álbum, e que se tor- aqueles que precisam da nossa música
ra, nós já estávamos juntos. A banda nou clássica, é Taca o Foda-se. têm a chance de nos conhecer!

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(ICONIC, EX-THE DEAD DAISIES,
MARCO MENDOZA WHITESNAKE, TED NUGENT, THIN LIZZY)
Por Leandro Nogueira Coppi • Fotos: Divulgação

Primeiro disco que comprou: Disco dos anos 2000 que recomenda: Além de seus projetos atuais, em qual banda você
“Foi um presente de natal: Abbey Road - The Beatles”. “Qualquer um do Kings of Leon e Are You Listening - gostaria de tocar um dia?
Dolores O’Riordan”. “Aerosmith”.
Melhor disco de heavy metal:
“Paranoid - Black Sabbath”. Três hinos do rock/metal para você: Para qual música de outro artista você adoraria
“We’re An American Band (Grand Funk Railroad), Highway gravar uma nova versão?
Último disco que comprou: Star ou Burn (Deep Purple) e Rock and Roll All Nite (Kiss)”. “Let it Be - The Beatles”.
“Todos do Journey e do Kings of Leon”.
Uma música que você adora, mas não sabe por que... Uma banda que você é tão fã que o faria comprar o
Disco que mudou sua vida: Afinal, ela é horrível e você sabe disso: tributo dela a Kenny G.:
“Abbey Road - The Beatles”. “Não quero dizer”. “Jimi Hendrix”.

Qual outro instrumento você gostaria de saber tocar?


“Piano”.

Quando você acorda, qual música prefere ouvir?


“Ah, são tantas...”.

Além de rock e metal, quais são os seus estilos


musicais prediletos?
“Fusion”.

Se você não fosse músico, o que gostaria de ser?


“Um piloto”.
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Como foi seu encontro mais bizarro com um fã?
“Foi em um banheiro”.

Complete a frase: Eu sou um sucesso quando...:


“Eu acordo e toco música para viver”.

Disco que mais ouviu na vida: Quatro bandas que chamaria para um festival:
“Songs in the Key of Life - Stevie Wonder”. “Aerosmith, Paul McCartney, Thin Lizzy e Ted Nugent”.

Melhor capa de disco: Música que mais gosta de tocar:


“Blind Faith - Blind Faith”. “Neste momento estou curtindo tocar Viva La Rock”.

Disco que daria a seu pior inimigo: Música que melhor define sua carreira:
“Eu não daria nenhum”. “Todas elas!”.

Disco que gostaria de ter gravado: Qual banda gostaria de ouvir fazendo uma versão de
“Qualquer um do Cream”. alguma música de seu grupo?
”Aerosmith, Kiss e Deep Purple.”
Música que gostaria de ter composto:
“Let it Be - The Beatles”. Um músico que definitivamente não o agrada:
“Prefiro não comentar”.
Disco dos anos 70 que recomenda:
“Are You Experienced - Jimi Hendrix”.

Disco dos anos 80 que recomenda:


“Songs in the Key of Life - Stevie Wonder”. Site:
www.marcomendoza.com
Disco dos anos 90 que recomenda:
“Qualquer um do Nirvana”.
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Ricardo Ferreira
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