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Tr a d u ç ã o :
Débora Brighente Bertholdo
Médica radiologisla do Hospital de Clinicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e do Diagnóstico Avançado por Imagem (DAPl).
Especialista em Neurorradiologia pelo Hospital Moinhos de Vento e pela University of North Carolina, Chapel Hill, NC.
Membro titular do Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR).
Guilherme Hohgracfe Neto
Médico radiologista do Hospital Moinhos de Vento.
Especialista em Radiologia e Diagnóstico por Imagem pela
Pontincia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Membro titular do CBR.
Liana Franciscatto
Médica radiologista do Hospital Moinhos de Vento e do Grupo Hospitalar Conceição (GHC).
Especialista em Radiologia e Diagnóstico por Imagem pela PUCRS.
Membro titular do CBR.
ISBN 978-85-8271-080-7
C D U 6 11 . 8 1
E N C E FA L O
IMAGEM, PATOLOGIA
E A N ATO M I A
Obra originalinenle publicada em língua inglesa sob o título Oshorns brain: imaging, paíbology, and anatomy. 1st Edition
I S B N 9 7 8 1 9 3 1 8 8 4 2 11
Preparação de originais: Heloísa Stefan, Lisiane Andrioíli Danieli e Lnana Janini Peixoto Neumann
Leitura final: Débora Benke de Bittencourt e Mirela Favarello
Editoração: Techbooks
Nota
A medicina é uma ciência em constante evolução. A medida que novas pesquisas e a própria experiência clínica ampliam o nosso
conhecimento, são necessárias modificações na terapêutica, onde também se insere o uso de medicamentos. A autora desta obra
consultou as fontes consideradas confiáveis, num esforço para oferecer informações completas e, geralmente, de acordo com os
padrões aceitos à época da publicação. Entretanto, tendo em vista a possibilidade de falha humana ou de alterações nas ciências
médicas, os leitores devem confirmar estas informações com outras fontes. Por exemplo, e em particular, os leitores são aconse
lhados a conferir a bula completa de qualquer medicamento que pretendam administrar, para se certificar de que a informação
contida neste livro está correta e de que não houve alteração na dose recomendada nem nas precauções e contraindicações para
o seu uso. Essa recomendação é particularmente importante em relação a medicamentos introduzidos recentemente no mercado
farmacêutico ou raramente utilizados.
F o n e : ( I I ) 3 6 6 5 - 11 0 0 F a x : ( 11 ) 3 6 6 7 - 1 3 3 3
IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
Para Run
Amado e eterno companheiro, você não viveu até a conclusão deste livro.
Mesmo assim, seu amor incondicional e seu espirito solidário
me mantiveram firme durante todo o pivcesso - do principio até o final.
Espero cpie vocêficfue orgtilho.so! Até nos encontrarmos novamente.
retribuo-lhe com todo meu amor e devoção.
1
Agradecimentos
Ninguém realmente produz um livro desta magnitude sozinho. Por mais que eu seja a única autora, muitas pessoas con
tribuíram com imagens, sugestões, opiniões e idéias. Meus profundos agradecimentos. Vocês sabem quem são.
Diversas pessoas e grupos merecem uma menção especial. Antes de tudo, agradeço o apoio de nossos colegas
neurorradiologistas da University of Utah. Um grande agradecimento a Brian Chin, meu pesquisador-assistente em
neurorradiologia clínica no período 2011-2012, que incansavelmente buscou casos e referências para o livro. Não teria
conseguido sem você!
Desde minha licença do cargo de Distinguished Scientist no famoso Armed Forces Institute of Pathology in
Washington, D.C. (que a propósito não existe mais, vítima de cortes governamentais), a patologia definiu como eu vejo
e ensino neurorradiologia, e constitui grande parte deste livro. Meu agradecimento especial a Richard H. Hewlett e a seu
colega, Stuart Rutherfoord^, autores das fotografias macroscópicas que aprimoram este livro. Agradeço também a Peter
Burger, Bemd Scheithauer^ e a seus maravilhosos colegas da neuropatologia. Algumas das imagens reproduzidas aqui
vêm de seu excelente livro Diagnostic pathology: neuropathology (Amirsys Publishing, 2012).
Agradeço a toda a equipe da Amirsys, com menção especial e profundo agradecimento à inigualável, inabalável e
querida colega Paula Woodward, MD. Ela participou do processo de revisão e produção sempre que necessário. No final,
Paula mergulhou nas inúmeras revisões de textos médicos e nos manteve em dia com o cronograma apertado. Ashley
Renlund, nossa editora-chefe, fez valiosas sugestões para aperfeiçoar o texto e o projeto gráfico. Ela trabalhou incansa
velmente para encaixar quase todas as imagens na mesma página onde o respectivo texto aparece.
Agradeço às equipes internacionais da Amirsys nas áreas de encéfalo, coluna, cabeça e pescoço: ao longo dos anos,
vocês contribuíram com materiais incríveis para o banco de dados da Amirsys, que agora beneficia dezenas de milhares
de radiologistas e residentes. Vocês aperfeiçoaram o ensino e melhoraram a atenção ao paciente ao redor do mundo.
Agradeço este fantástico trabalho... e as prontas respostas quando algum de nós fez "pedidos de casos" urgentes para
nossos projetos. Não importando se o diagnóstico era comum ou obscuro, alguém, de algum lugar, sempre enviou um
caso perfeito.
Agradeço também os diversos colegas que, com generosidade, forneceram casos fascinantes ao longo dos anos.
Tentei manter um registro de quem enviou cada caso, para depois poder agradecer apropriadamente nas legendas. Um
agradecimento especial a todos que contribuíram com imagens.
Yalecido.
Prefácio
Com a publicação deste livro, estou quebrando uma promessa de longa data que fiz a mim mesma; jurei que nunca,
NUNCA, escreveria outro livro em formato de prosa. E mesmo assim, aqui está ele. Mas deixe-me esclarecer, este não
é apenas "mais um livro em prosa". Longe disso! Quando meus colegas e eu publicamos a I" edição de Diagnóstico por
imagem: cérebro, o Dr. Michael Huckman disse no prefácio: "Anne Osbom decidiu abandonar as convenções típicas de
livros médicos". O formato clássico de pontos-chave realmente possibilita mais informações em menos espaço do que
a prosa tradicional. E eu adoro este tipo de eficiência! No entanto, quero oferecer mais do que "apenas os fatos". Quero
mostrar o pensamento por trás dos fatos. O raciocínio. A estrutura que facilita a compreensão de um assunto difícil e
complexo.
Foi por isso que estruturei o livro em uma seqüência de aprendizado. Iniciamos com os tópicos mais essenciais,
começando por trauma. A seguir, discutimos hemorragias não traumáticas, AVC e lesões vasculares. Em outras palavras,
vamos direto aos assuntos emergentes em diagnóstico por imagem, antes de entrar em infecçao, inflamação e doenças
desmielinizantes, neoplasias, distúrbios tóxicos, metabólicos e degenerativos, e malformações cerebrais congênitas.
Se você está recém iniciando a residência em radiologia, neurocirurgia ou neurologia, sugiro que comece pelo
começo. Leia e assimile os três primeiros capítulos. Depois vá parte a parte, capítulo a capítulo, até o final do livro. Se
você é um residente mais avançado ou um médico em treinamento, esta é uma ótima maneira de rever aquilo que você
pensa que já sabe. Eu garanto que há conteúdos neste livro que lhe serão novos. Se você é um médico radiologista geral,
neurorradiologista ou ncurocirurgiào, considere este livro como um curso de revisão em imagem neurológica. E se você
já é um neurorradiologista estabelecido, inclui diversas dicas interessantes em cada capítulo - espero que elas instiguem
seu pensamento.
Muitos de vocês me perguntaram, enviaram um email ou até escreveram (sim, escreveram à moda antiga) pedindo
um novo "Osbom". Aqui está ele. Eu mesma escrevi cada palavra deste livro, então o estilo é único e a abordagem é coe
rente entre os capítulos. Combinei anatomia essencial com patologia macroscópica e imagem para demonstrar o porquê
das doenças aparecerem da forma como aparecem. O livro é amplamente ilustrado, com múltiplas imagens coloridas de
excelente qualidade e em alta definição. Meus famosos quadros de resumo estão distribuídos ao longo do texto, permi
tindo a rápida revisão de informações essenciais.
Com base na carreira de conhecimentos acumulados que construí, com forte interesse em neuropatologia, neuroci
rurgia e neurociências clínicas, selecionei apenas as infonriações mais relevantes. Tive prazer fazendo isso, foi a culmi-
nação de décadas de aprendizado continuado na nossa querida especialidade.
C . Y. H o , M D K. Morton, MD P. Lasjaunias, MD T. M e n t z e l , M D
Parte I Trauma
40 Facomatoses vasculares 11 8 1
A B R E V I AT U R A S 1219
ÍNDICE 1233
euun^j
I aiavH
/
Trauma: considerações gerais
Imagem do traumatismo craniencefálico agudo 4 tratamento hospitalar. Pelo menos 10 milhões de pessoas
Como realizar o exame? 4 no mundo sofrem TCE anualmente.
Em quem e quando realizar o exame? 5 De todos os pacientes com lesão craniencefálica, cer
Imagem do trauma: pontos-chave para a interpretação.. 6 ca de 10% apresentam dano cerebral fatal, e um adicional
Imagem do topograma 7 de 5 a 10% terão défícits neurológicos permanentes im
janelas para parênquima cerebral 7 portantes. Uma porcentagem ainda maior terá déficits le
Janelas subdurals 8 ves ("traumatismo cerebral menor"), enquanto 20 a 40%
To m o g r a f i a c o m p u t a d o r i z a d a ó s s e a 8 dos sobreviventes de TCE apresentarão incapacitação
A n g i o t o m o g r a fi a 9
moderada.
O trauma é uma das indicações mais freqüentes para exa Etiologia e mecanismos de lesão
mes de imagem neurológicos de emergência. Como os
o trauma pode ser causado por lesões relacionadas a
exames de imagem desempenham um papel fundamental
na triagem e conduta, começaremos este livro discutindo projéteis ou não. O primeiro grupo resulta da penetração
no crânio, meninges, e/ou cérebro de um objeto externo,
o traumatismo craniencefálico (TCE).
como uma bala.
Iniciaremos com uma breve consideração sobre a
As lesões por traumatismo craniano fechado (TCF)
epidemiologia. O TCE é um problema de saúde pública são muito mais comuns do que as lesões relacionadas a
mundial que tem grande impacto para o indivíduo e para a
sociedade. Os custos diretos com o tratamento médico dos projéteis. Acidentes automobilísticos em alta velocidade
exercem importantes forças de aceleração/desaceleração,
pacientes com traumatismo agudo são enormes. Os custos levando o cérebro a se mover subitamente dentro da ca
indiretos relacionados à perda de produtividade e ao trata
lota craniana. A impactação forçada do cérebro contra a
mento crônico dos sobreviventes são ainda maiores.
calvária inflexível e contra a dura-máter rígida leva à con
Discutiremos brevemente a etiologia e os mecanis
tusão girai. Rotação e mudanças súbitas no momento an
mos do TCE. A compreensão das diferentes formas em
gular podem deformar, alongar e danificar axônios longos
que crânio e cérebro podem ser danificados fornece subsí
dios para o entendimento do espectro de achados de ima vulneráveis, lesionando-os.
A etiologia do TCE também varia de acordo com a
gem que podem ser identificados. faixa etária do paciente. De maneira geral, quase 30% dos
TCEs são causados por quedas, as quais são a principal
causa em crianças menores de 4 anos e em idosos maiores
de 75 anos. Ferimentos por arma de fogo são mais comuns
Introdução
em adolescentes e adultos jovens do sexo masculino, mas
Epidemiologia do traumatismo craniencefálico relativamente raros em outros grupos. Acidentes de auto
O trauma - às vezes chamado de "epidemia silenciosa" - móvel e atropelamentos ocorrem em todas as idades, sem
é a causa mundial mais comum de morte e incapacitação predileção por gênero.
4 Trauma
Classificação do traumatismo craniencefólico (p. ex., RM). Técnicas que são relativamente novas in
cluem perfusão por TC e RM, imagem do tensor da di
A classificação clínica mais utilizada em traumatismo ce
fusão (DTl) e ressonância magnética funcional (RMf).
rebral. a Escala de Coma de Glasgow (GCS), depende da
avaliação de três fatores: melhores respostas ocular, ver
bal e motora. Por meio da GCS, o TCE pode ser classifi
Radiografia craniana
Durante décadas, a radiografia craniana (antes chamada
cado como leve, moderado ou grave.
O TCE também pode ser dividido cronologicamente de "radiografia simples" ou, mais recentemente, "radio
e patoetiologicamenie em lesão primária ou secundária - grafia digital") foi a única técnica de imagem não invasiva
sistemática que foi utilizada neste texto. A lesão primária disponível para avaliação do TCE.
As radiografias cranianas são razoavelmente efetivas
ocorre no momento do trauma inicial. Fraturas cranianas,
hematomas epi e subdurals, contusões, dano axonal e la- para identificar fraturas de calvária, mas não conseguem
demonstrar a presença de hemorragias extra-axiais e de
ceraçòes cerebrais são exemplos de lesões primárias. lesões parenquimatosas, de longe mais importantes.
A lesão secundária ocorre em um momento poste
Entre um quarto e um terço das autópsias dos pa
rior e inclui edema cerebral, alterações de perfusão, her-
cientes com lesões craniencefálicas fatais não têm fratura
niações cerebrais e perda de líquido cerebrospinal (LCS).
Embora as lesões vasculares possam ser imediatas ("ate identificável! Então, radiografias cranianas obtidas apenas
com o propósito de identificar a presença de fraturas cra
nuação" do impacto) ou secundárias (laceraçâo de vasos nianas não têm fundamento no manejo atual do paciente
por fraturas, oclusão secundária a hemiações cerebrais), com TCE. Com raras exceções, é o cérebro que importa
para fins de discussão foram incluídas no capítulo de le -não o crânio!
sões secundárias.
TC sem contraste
Com freqüência a angiotomogratla (ATC) faz parte Na tentativa de reduzir a utilização desenfreada da
do protocolo de trauma do corpo todo. A ATC craniocer- TC nas emergências, algumas organizações desenvolve
vical deve ser especificamente considerada (I) no trau ram critérios clínicos que ajudam a separar os pacientes
ma penetrante de pescoço, (2) se uma fratura de forame de "alto risco" dos de "baixo risco". (Alguns desses cri
transverso ou subluxaçào facetária é identificada na TC térios estão especificados nos quadros a seguir.) Contudo,
de coluna cervical, ou (3) se uma fratura de base de crânio o impacto no comportamento dos médicos emergencistas
compromete o canal carotídeo ou um seio venoso durai. ao solicitar exames tem sido inconsistente. Em locais com
Laceração ou dissecção arterial, pseudoaneurisma trau altas taxas de má prática, muitos médicos emergencistas
mático, fistula carótido-cavernosa ou lesão de seio venoso solicitam TC sem contraste de rotina em todos os pacien
durai são bem demonstrados na ATC de alta resolução. tes com TCE, a despeito do escore da GCS ou dos acha
dos clínicos.
RM A decisão de realizar ou não - e quando realizar -
Há um consenso de que a TC sem contraste é o exame de es exames de imagem de controle em pacientes com trauma
colha para a avaliação inicial do TCE. Com uma importante tismo também é controversa. Em um grande estudo que
exceção - suspeita de maus-tratos o uso da RM como avaliou crianças com escore na GCS de 14 ou 15 e com
exame de rotina para rastreamento no âmbito do trauma uma TC inicial normal, apenas 2% prosseguiram com TC
agudo é incomum. A RM convencional associada a novas ou RM de controle. Destas, apenas 0,05% apresentaram
técnicas tais como a DTl é mais útil nos estágios subagudo resultados anormais no exame de controle, e em nenhu
e crônico do TCE. Outras modalidades, a exemplo da RMf, ma delas foi necessária intervenção cirúrgica. O valor
estão desempenhando um papel cada vez mais importante preditivo negativo para intervenção neurocirúrgica para
na detecção de alterações sutis, especialmente em pacientes uma criança com GCS inicial de 14 ou 15 e TC normal
com déficits cognitivos leves após um TCE leve. foi 100%. A partir desses dados, os autores concluíram
que crianças com um escore na GCS de 14 ou 15 e uma
Em quem e quando realizar o exame? TC inicial normal têm risco muito baixo para posteriores
achados de neuroimagem relacionados ao traumatismo e
A resposta para essa pergunta é paradoxalmente ao mes
baixo risco extremo para intervenção cirúrgica. A hospi-
mo tempo bem estabelecida e controversa. Pacientes com
um escore na GCS que indica prejuízo neurológico mode talizaçào de crianças com trauma craniano leve para ob-
rado (GCS = 9 a 12) ou grave (GCS < 8) invariavelmente ser\'açào, após um resultado normal na TC, é considerada
desnecessária.
realizam exames de imagem. As divergências ocorrem em
qual seria o melhor manejo para pacientes com escore na Diretrizes
GCS de 13 a 15.
Foram publicadas três maiores e mais largamente utiliza
das Diretrizes para a Imagem no Traumatismo Cranience-
ESCALA DE COMA DE GLASGOW fálico Agudo: as Diretrizes do American College of Ra
Melhor resposta ocular (máximo = 4) diology (ACR), os Critérios de Nova Orleans (NOC) e a
1 = ausente Regra Canadense de TC do Crânio (CHCR).
2 = abertura ocular a estímulos dolorosos Critérios do ACR. ATC sem contraste de urgência em TCP
3 = abertura ocular ao comando verbal leve com a presença de um déficit neurológico focai e/ou
4 = espontânea
outros fatores de risco é considerada muito recomendada,
Melhor resposta verbal (máximo = 5) assim como o exame de imagem em toda criança trau
1 = ausente
matizada com menos de 2 anos de idade. Embora a TC
2 = sons incompreensíveis sem contraste em paciente com TCP leve (GCS > 13) sem
3 = palavras inapropriadas
fatores de risco ou déficit neurológico focai tenha poucos
4 = confuso
5 = orientado beneficios, o ACR ainda o classifica como 7 de 9 na indi
cação do método.
Melhor resposta motora (máximo = 6)
1 = ausente N O C E C H C R . Ta n t o o s C r i t é r i o s d e N o v a O r l e a n s c o m o
2 = extensão à dor a Regra Canadense de TC do Crânio tentam triar pa
3 = flexão à dor cientes com lesões craniencefálicas mínimas/leves em
4 = retirada à dor uma maneira custo-efetiva. Um escore na GCS de 15
5 = localiza a dor
(i.e., normal) na ausência de quaisquer indicadores do
6 = obedece a comandos
NOC é um preditor negativo altamente sensível para le
Soma = "escore do coma" e classificação clinica são cerebral importante ou necessidade de intervenção
13 a 15 = lesão cerebral leve
9 a 12 = lesão cerebral moderada
cirúrgica.
s 8 = lesão cerebral grave
6 Trauma
1-1A Corte axial de TC sem contraste de um preso, realizada por trau- 1-lB Topograma do mesmo caso mostrando um corpo estranho B
ma, não demonstrando alterações grosseiras. (a chave das algemas) na boca do preso. Ele tingiu o trauma e estava
planejando escapar, mas o radiologista alertou os guardas, que impedi
ram a fuga. (Cortesia de J. A. Junker, MD.)
1-2A TC sem conlraste em janelas-padfão para parênquima cerebral 1-2B Janela intermediária (175 UH) demonstrando a presença de um
(80 UH) não mostrando nenhuma anormalidade definida. pequeno hematoma subdural BI. Hematomas subdurals de pequena
espessura podem ser visíveis apenas com janelas mais abertas.
Sugestões de como analisar as imagens de TC sem onde o sangue se deposita quando o paciente está em de-
contraste em pacientes com lesão traumática craniencefá- cúbito dorsal.
lica aguda estão demonstradas a seguir. Qualquer liipodensidade no interior de uma coleção
extra-axial deve considerar a possibilidade de sangramen
to ativo com acúmulo de sangue não coagulado (espe
Imagem do topograma
cialmente em alcoolistas ou em pacientes idosos) ou uma
Antes de iniciar a análise dos cortes tomográncos, exami
ne a imagem do topograma! Procure por anormalidades coagulopatia subjacente. Este é um achado que indica ur
da coluna cervical tais como fraturas ou luxações, trauma gência e notificação imediata do clínico responsável.
Procure por ar intracraniano ("pneumoencéfalo")-
de mandibula e/ou facial e a presença de corpo estranho
Esse achado sempre é anormal e indica a presença de
(Fig. I-l). Caso exista uma suspeita de fratura ou desali- uma fratura que trespassa ou urna cavidade paranasal ou
nhamento da coluna cervical, uma TCMD da coluna cer
a mastoide.
vical deve ser realizada antes que o paciente seja retirado
do aparelho. Agora siga com o parênquima cerebral. Cuidadosa
mente examine o córtex, em especial as áreas de maior
risco para contusões corticais (aspecto anteroinferior dos
Janelas para parênquima cerebral lobos frontais e temporais). Se houver um hematoma no
Direcione a interpretação do exterior para o interior com escalpo devido ao impacto (lesão de "golpe"), procure por
atenção e metodologia. Primeiro avalie as partes moles, uma clássica lesão de "contragolpe" a 180 graus na direção
começando pelo escalpo. Procure por aumentos de vo oposta. Áreas hipodensas na periferia de focos hiperdensos
lume, os quais freqüentemente indicam o ponto de im hemorrágicos indicam edema precoce e contusão grave.
pacto do trauma. Com cuidado, examine as partes moles Siga um pouco mais para o interior, do córtex para a
periorbitals. substância branca subcortical e substância cinzenta pro
A seguir, procure por sangramento extra-axial, cuja funda. As hemorragias petequiais freqüentemente acom
forma mais comum é a hemorragia subaracnóidea trau panham dano axonal difuso. As hemorragias subcorticais
mática (HSAt), seguida de hematomas sub e epidurals. vistas na TC sem contraste inicial são a "ponta do ice-
A prevalência de HSAt no TCE moderado a grave é pró beig" Em geral, há muito mais dano do que aparenta o
xima de 100%. Ela é comumente encontrada nos sulcos primeiro exame. Uma regra diz: quanto mais profunda é a
adjacentes às contusões cerebrais, ao longo das fissuras lesão, mais grave é o dano.
silvianas, circundando os lobos temporais e as porções Finalmente, procure no interior dos veníriculos por
anteroinferiores dos lobos frontais. O melhor local para níveis LCS-hemáticos e por hemorragia em decorrência
procurar por HSAt sutil é a cisterna interpeduncular. de lesão por cisalhamento do plexo coroide.
8 Trauma
fibras firmes do periósteo, raras vezes atingem tamanhos tumam ser bilaterais e se espalham difusamente em torno
grandes. da calvária. A TC sem contraste mostra uma massa hete
Com freqüência, os céfalo-hematomas são diagnosti rogênea no escalpo que ultrapassa uma ou mais linhas de
cados clinicamente, mas raras vezes são realizados exames sutura (Fig. 2-4).
de imagem. A TC sem contraste mostra uma massa com A maioria dos hematomas subgaleais se resolve sem
densidade de partes moles e formato lentiforme sobre um necessidade de tratamento. Entretanto, ao contrário de um
dos ossos da calvária (freqüentemente osso parietal ou oc céfalo-hematoma benigno e autolimitado, um hematoma
cipital) (Fig. 2-2). Se mais de um osso for afetado, as duas subgaleal expansivo em lactentes e em crianças pequenas
coleções são separadas por linhas de sutura interpostas. pode acarretar perda sangüínea significativa.
Complicações relacionadas ao céfalo-hematoma são
raras e a maioria se resolve espontaneamente dentro de pou Lesões faciais
cos dias ou semanas. O periósteo elevado na periferia de As fraturas faciais com freqüência são negligenciadas no
um céfalo-hematoma crônico pode vir a desenvolver calci- exame de imagem inicial (normalmente uma TC crania
ficações distróílcas, originando uma massa palpável firme. na). Podem ser identificadas algumas alterações de partes
Os hematomas subgalcais são coleções subaponeu- moles que se correlacionam com fraturas de face e que
róficas comuns em pacientes traumatizados de todas as talvez mereçam uma avaliação específica dos ossos da
idades. O sangue se coleta abaixo da aponeurose (a "gá- face. Estas incluem contusões periorbitals e hemorragia
lea") dos músculos occipitofrontais (Fig. 2-3). Como o SLibconjuntival, bem como lacerações dos lábios, da boca
hematoma subgaleal se localiza externamente ao periós e do nariz.
teo. não é anatoinicamente limitado por linhas de sutura. Holmgren e colaboradores propuseram a mnemônica
O sangramenlo para o interior do espaço subgaleal LIPS-N (laceraçâo de lábios, laceração intraoral, contusão
pode ser muito expressivo. Os hematomas subgaleais cos periorbital, hemorragia subconjuntival e laceração nasal)
para ser usada em conjunto com o exame ílsico. Se qual ra, a fratura em "crescimento" do crânio, é uma complica
quer uma destas estiver presente, o paciente traumatizado ção rara, porém importante, do trauma.
merece um estudo tomográfico específico da face, além
da TC convencional de crânio. Fraturas cranianas lineares
Uma fratura craniana linear é um defeito linear com
Fraturas cranianas margens bem definidas que normalmente envolve tanto a
As fraturas da calvária raramente ocorrem - se é que tábua óssea interna quanto a externa da calvária (Fig. 2-5).
ocorrem - na ausência de um aumento de partes moles so- A maioria das fraturas cranianas lineares é causada
brejacente ou iaceraçâo no escalpo. As fraturas cranianas por um trauma contuso de baixa energia aplicado sobre
estão presentes na TC iniciai em cerca de dois terços dos uma superfície de área relativamente grande. As fraturas
pacientes com lesão craniana moderada, embora 25 a 35% lineares que se estendem para uma linha de sutura e a alar
dos casos de lesão grave não tenham fratura identificável, gam tornam-se fraturas diastáticas (Fig. 2-6).
mesmo com reconstruções para osso com cortes finos.
As fraturas cranianas podem ser simples ou cominu- Fraturas com afundamento
tivas, fechadas ou abertas. Se abertas, a laceração da pele Uma fratura com afundamento é uma fratura na qual
resulta em comunicação do meio externo com a cavidade os fragmentos são deslocados internamente (Fig. 2-7). A
intracraniana. O risco de infecçâo é alto nesse tipo de fra cominuiçào dos fragmentos de fratura inicia-se no pon
tura, assim como em fraturas que atravessam as mastoides to máximo de impacto e se espalha centrifugamente. As
e os seios paranasals. fraturas com afundamento são mais freqüentemente cau
Vários tipos de fratura craniana aguda podem ser sadas por traumas diretos de alta energia em uma superf-
identificados nos exames de imagem. Lineares, com afun cie pequena, com objeto contuso (p. ex., martelo, taco de
damento, com elevação e diastáticas. Outro tipo de fratu beisebol ou canos).
As fraturas com afundamento em geral laceram a dura portantes. Como a sincondrose esfenoccipital costuma
e a aracnoide subjacentes e estão associadas a contusões não se ossificar completamente até a metade da adoles
corticais e potencial extravasamento de líquido cerebros cência, ela é o local mais comum.
pinal (LCS) para o espaço subdural. As fraturas que se
estendem para um seio durai ou para o buibo jugular estão Fraturas em "crescimento" do crânio
associadas a trombose venosa em 40% dos casos. Uma fratura em "crescimento" do crânio (FCC), tam
bém conhecida como "cisto leptomeníngeo pós-traumá-
Fraturas com elevação tico" ou "erosão craniocerebral", é um tipo de lesão rara
As fraturas com elevação são incomuns e costumam que ocorre em apenas 0,3 a 0,5% de todas as fraturas cra
estar associadas a afundamento de fragmentos. Elas são nianas. A maioria dos pacientes com FCC tem menos de
mais freqüentemente causadas por objetos pontiagudos e 3 anos de idade.
compridos (como uma faca ou uma hélice) que fraturam a As FCCs se desenvolvem em estágios e aumentam
calvária causando, ao mesmo tempo, levantamento e rota vagarosamente ao longo do tempo. Inicialmente, na "pré-
ção dos fragmentos (FIg. 2-8). -fase", uma fratura craniana (em geral uma fratura linear
ou cominutiva) lacera a dura e, então, o parênquima ce
Fraturas diastáticas rebral ou a membrana aracnoide hemiam através da dura
Uma fratura díastátíca é uma fratura que alarga uma sutu- rota. O estágio I vai desde o trauma inicial até logo antes
ra ou sincondrose (Fig. 2-9). Elas comumente se associam da fratura aumentar de volume. O diagnóstico precoce e o
a fraturas lineares adjacentes ou com extensão às suturas. reparo durai no estágio I levam aos melhores resultados.
A diástase traumática das sincondroses esfenocci- O estágio II é a fase precoce da FCC. Ele dura cerca
pital, petroccipital e/ou occipitomastóidea é comum em de dois meses após o aumento inicial do volume da fratu
crianças com fraturas de base de crânio cominutivas im ra. Nesse estágio, o defeito ósseo é pequeno, a deformida-
1
I
B
Efeitos primários do trauma no 5NC 15
de craniana é relativamenie limitada e o déficit neuroló TCE. Algoritmos de reconstrução para osso e para partes
gico é leve. Mas o tecido que ficou preso no defeito durai moles devem ser utilizados. Reconstruções para partes
impede a consolidação da fratura. moles devem ser visualizadas tanto com janela "fechada"
O estágio 11! representa a fase tardia da FCC e come (partes moles) quanto intennediária ("subdural").
ça dois meses após o início do aumento de volume. Du As novas gerações de TC muliisiice oferecem exce
rante esse estágio, o defeito ósseo se torna significativa lente resolução espacial. Reconstruções 3D e reformata-
mente maior. O tecido cerebral e o LCS se estendem além ções com técnica de MIP melhoram a sensibilidade para
dos limites ósseos da fratura através das lesões na dura e a detecção de fraturas se comparadas ao uso apenas dos
na aracnoide. cortes axiais.
Os pacientes no estágio tardio da FCC freqüentemente
Achados na TC. Mesmo que as fraturas possam acometer
procuram atendimento meses a anos após o trauma craniano.
Nessa fase, podem causar pronunciadas deformidades cra qualquer parte da calvária ou base do crânio, a fossa cra
niana média é mais suscetível por causa de seus finos os
nianas e déficits neurológicos progressivos se não tratadas.
sos "escamosos" e múltiplos forames e fissuras.
Na TC sem contraste, as fraturas lineares são identi
Imagem ficadas como linhas lucenles de margens bem definidas
Características gerais. Radiografias cranianas simples não (Fig. 2-6). As fraturas com afundamento em geral são
têm função na avaliação atual do traumatismo cranience- cominutivas e mostram uma implosão interna dos frag
fálico (TCE). Um quarto dos pacientes com lesões cere mentos (FIg. 2-7). Nas fraturas com elevação, identifica-
brais fatais não apresenta fratura craniana na necropsia. A -se um segmento craniano elevado e rotado. As fraturas
TC é rápida, largamente disponível, sensível para lesões diastáticas aparecem como um alargamento das suturas ou
tanto de estruturas ósseas quanto parenquimatosas e aceita sincondroses (Fig. 2-9) e freqüentemente são associadas a
mundialmente como o exame-padrão para pacientes com fraturas lineares (Fig. 2-2).
2-1 IA Ponderação em T2 no
plano axial do mesmo paciente
mostrando coleção liquóríca lo-
bulada E3 que se estende pela
abóbada craniana.
2-11B Ponderação em T2 no
plano coronal mostrando a cole
ção de LCS no interior da díploe
B com parènquima cerebral,
que demonstra alterações com
patíveis com encefalomalacia,
alongado e preso no interior da
lesão í^. Clássica fratura em
"crescimento" (cisto leptome-
níngeo).
A
16 Trauma
As fraturas em "'cre.scimento" no estágio I são difíceis Em alguns casos, a RM pode ser indicada para a de
de detectar na TC sem contraste inicial, já que o escalpo e tecção precoce de complicações tratáveis. Uma criança
o parênquima cerebral contuso têm densidades semelhan pequena com déficits neurológicos ou convulsões, uma
tes. Embora identificar a lesão durai com o tecido cerebral fratura maior que 4 mm ou uma massa de partes moles
hemiado seja igualmente difícil ao exame por ultrassono- que se estende através da fratura para o espaço subgale-
grafia, ele pode ser mais útil. al está em risco para o desenvolvimento de FCC. A RM
O estágio tardio das FCCs demonstra o alargamento pode demonstrar a ruptura durai e diferenciar o cérebro
progressivo da fratura não consolidada. Uma lesão cra herniado de uma contusão edematosa no escalpo.
niana lucente ovalada, com endentação de suas margens e
Angiografia. Se uma fratura atravessa a topografia de uma
bordos chanfrados é típica (Fig. 2-10). LCS e partes moles
estrutura vascular importante, tal como o canal carotideo
ficam presos na fratura em expansão (Fig. 2-11). A maio ou um seio venoso durai (Fig. 2-12), (Fig. 2-13), a an-
ria das FCCs estão localizadas imediatamente adjacentes à
encefalomalacia pós-traumática, de modo que o parênqui giotomografla é recomendada. Cortes sagitais, coronais
e reconstruções em MIP ajudam a identificar o local e a
ma cerebral adjacente costuma aparecer hipodenso.
extensão das lesões vasculares.
Achados na RM. A RM raramente é utilizada no cenário do As fraturas do divo estão fortemente associadas a trau
TCE agudo devido ao alto custo, disponibilidade limitada ma neurovascular, e a ATC deve sempre ser realizada nes
e tempo de duração do exame. Comparada à TC, o deta ses casos (Flg. 2-14). Fraturas-luxaçâo cervicais, lesões por
lhamento ósseo é pobre, embora as lesões parenquimato- distração e traumas penetrantes da região cervical também
sas sejam mais bem demonstradas. A adição de seqüên merecem uma investigação mais detalhada. As lesões as-
cias em T2*, em particular SWI, é de especial ajuda para sintomáticas e não complicadas de partes moles cervicais
identificar lesões hemorrágicas. raras vezes são associadas a dano vascular significativo.
/ ^ - B
Efeitos primários do trauma no SNC 17
Diagnóstico diferencial
o diagnóstico diferencial mais importante das fraturas
cranianas são estruturas normais como os canais vascula
res e as suturas. Os canais vasculares têm margens bem
corticalizadas e em gerai não estão tão definidos e lucen-
tes como as fraturas lineares. Não há aumento de partes
moles sobrejacentes. As suturas ocorrem em locais co
nhecidos (p. ex., coronal, sagital e mastóidea), são densa
mente corticalizadas e menos aparentes do que as fraturas.
As suturas com largura maior que 2 mm. na presença de
uma fratura linear, provavelmente são diasláticas.
Lagos venosos e granulaçôes da aracnolde pos
suem margens corticalizadas lisas e ocorrem em locais
previsíveis (p. ex.. em situação parassagital e adjacente ou
no interior dos seios venosos durais).
2-15 HE SI com fratura com afundamento B
lacerando a artéria meníngea média ES. Oetalfie da
LESÕES 00 ESCALPO E DO CRÂNIO ilustração mostrando sangramento ativo, sinal do "re
demoinho" B.
Lesões do escalpo
• Céfalo-hematoma
o Freqüente em lactentes
o Subperiosteal, limitado pelas suturas
o Em geral pequeno, unilateral; resolução espontânea
• Hematoma subgaleal
o Entre a gálea, periósteo da caivária
o Não se limita às suturas
o Bilateral, pode ter grandes dimensões
Fraturas crartianas
• Linear
o Linha lucente bem demarcada
• Com afundamento
o Fragmentos deslocados internamente
o Com freqüência há laceração da dura-aracnoide
• Com elevação
c Raras; fragmentos rotados externamente
• Diastáticas
o Alargamento de suturas ou sincondroses 2-16A Visão endocraniana mostrando fratura do osso
Hemorragias extra-axlais
Os hematomas e as hemorragias extra-axiais são ma
nifestações comuns do trauma craniencefálico. Podem
ocorrer em qualquer compartimento intracraniano, no
interior de qualquer espaço (existente ou em potencial)
e entre quaisquer camadas das meninges cranianas. Ape
nas o espaço subaracnóideo existe nomialmente; todos
2-16B Visão dorsal do cérebro recoberto pela dura
os outros são espaços em potencial e ocorrem apenas sob mostrando HE biconvexo ES na parte superior da dura.
condições patológicas, (Cortesia de E. T. Hediey-Whyte, MD.)
18 Trauma
duração variável antes da instalação do coma e/ou défi Ocasionalmente, um pequeno HE hiperdenso que não
cit neurológico, ocorre em apenas 50% dos pacientes. Os apresenta o sinal do "redemoinho", com pouco ou ne
sintomas comuns sào cefaleia, náuseas, vômitos, sintomas nhum efeito de massa, pode ser manejado clinicamente
relacionados a efeito de massa intracraniano (p. ex.. pa com observação clínica rigorosa e exames de imagem de
ralisia do terceiro par craniano envolvendo as pupilas), controle (Fig. 2-20).
seguido de sonolência e coma.
Imagem
História natural. O prognóstico depende do tamanho e da Características gerais, os HEs, sobretudo em adultos, em
localização do hematoma, se o HE é arterial ou venoso e se geral não cruzam as linhas de sutura a menos que haja
Diagnóstico diferencial
Com história clinica compatível, os achados de imagem
2-21C Corte coronal mostrando hematomas epidu do HE são patognomônicos.
rals no vértex B atravessando a linha média e deslo O principal diagnóstico diferencial é o hematoma
cando o seio sagital superior SI afastando-o do crânio. subdural, que comumente tem formato crescente e, com
Efeitos primários do trauma no SNC 21
Terminologia Imagem
• HE = sangue entre o crânio, dura • Coágulo hiperdenso lentiforme
• Hipodensidade (sinal do "redemoinho") =
Etiologla
• Fratura craniana associada em 90 a 95% sangramento ativo
o Laceração de vasos pela fratura craniana • HE no "vértex" é em geral venoso, pode cruzar a linha
• Arterial (90%), venosa (10%) média
Terminologia
Um hematoma subdural agudo (HSAg) é uma coleção de
produtos hemáticos agudos que se situa na ou entre a ca
mada celular interna da dura e a aracnoide (Fig. 2-23).
Patologia
Patologia macroscópica. O aspecto macroscópico de um
HSAg é o de um coágulo macio, arroxeado, em "geléia de
groselha" abaixo de uma dura tensa e abaulada (Fig. 2-24).
Mais de 95% são supratentoriais. A maioria dos HSAgs se
espalha difusamente sobre o hemisfério afetado e, como
conseqüência, possui morfologia típica em crescente.
2-2S HS agudo se espalhando pelo hemisfério es
Aspectos clínicos
querdo ES ao longo do tentório BSI para dentro da
fissura inter-hemisférica ES, mas sem cruzar a linha Epidemiologia. o HSAg é o segundo hematoma extra-axial
média. mais comum, perdendo apenas para a hemorragia suba-
Efeitos primários do trauma no SNC 23
racnóidea traumática (HSAt). O HSAg é encontrado em na com piores desfechos (35 a 90% de mortalidade). Um
10 a 20% dos pacientes com trauma craniencefálico e é HSAg que ocupa mais que 10% do volume intracraniano
observado em 30% dos pacientes submetidos à necropsia total disponível é freqüentemente letal.
por lesões fatais.
Opções de tratamento. A presença de um HSAg em um
Aspectos demográficos. Um HSAg pode ocorrer em qualquer paciente com trauma costuma ser considerada uma emer
idade, de crianças a idosos. Nao há predileção por sexo. gência neurocirúrgica.
A drenagem de um HSAg que provoca significativo
Apresentação. Mesmo traumas leves, sobretudo em idosos
efeito de massa é o procedimento-padrão. Pequenas cole
que são freqüentemente anticoagulados, podem resultar
em HSAg. Em tais pacientes, uma história definida de ções são ocasionalmente manejadas com observação clí
nica rigorosa e seguimento por exame de imagem. Qual
trauma pode não ser encontrada.
Os achados clínicos variam de nenhum a perda da quer deterioração súbita das condições do paciente deve
ser avaliada com a repetição do estudo de TC.
consciência e coma. A maioria dos pacientes com HSAg
têm um escore baixo na Escala de Coma de Glasgow na
Imagem
admissão. Deterioração tardia, especialmente em pacien
Características gerais. O achado clássico de HSAg é uma co
tes idosos anticoagulados, é comum.
leção extra-axial em forma de crescente, supratentorial, que
História natural. Um HSAg pode permanecer estável, au desloca medialmente a interface entre as substâncias branca
mentar vagarosa ou rapidamente, causando efeito de mas e cinzenta. Os HSs em geral são mais extensos do que os
sa e herniação cerebral secundária. O prognóstico varia HEs, facilmente se espalhando ao longo da foice, do tentó-
com a espessura do hematoma, grau de desvio da linha rio e em tomo do soalho das fossas anterior e média (FIg.
média e a presença de lesões parenquimatosas associadas. 2-25). Os HSs podem atravessar as linhas de sutura, mas
Um HSAg com espessura maior que 2 cm se correlacio em geral não atravessam as reflexões durais. HSs bilaterais
Isodenso
J L alterações relacionadas à hiperemia, com valores de fluxo
sangüíneo cerebral relativo (rCBF) elevados. A persistên
cia da hiperemia tem sido associada a maus desfechos.
Achados na RM. Exames por RM raramente são obtidos nos
•lÇ5l
pacientes com lesão cerebral aguda. Em tais casos, o HSAg
aparece isointenso nas ponderações em TI e hipointenso
em T2. A intensidade de sinal nas aquisições em FLAIR é
Hipodenso
em geral iso a hiperintensa em comparação ao LCS, mas
1 2 3 - 1 5 6 7 8 9 10 11 12 13
hipointensa se comparada ao cérebro adjacente (Fig. 2-29).
Tempo (em di.is) Os HSAgs são hipointensos nas aquisições em T2*.
A ponderação em diflisão mostra intensidade de sinal
2-32 O HS decai cerca de l,S UH/dia. £m torno de 7 heterogênea no interior do hematoma, mas pode também
a 10 dias, o sangue do hematoma está isodenso ao cor mostrar focos esparsos de restrição no córtex subjacente
tex. Em cerca de 10 dias, torna-se hipodenso. ao HSAg.
Efeitos primários do trauma no SNC 25
ponde a uma mistura de coágulo em estágio finai e LCS, do ao espaço subdural. Hemorragias recorrentes em um
enquanto as áreas de alta intensidade de sinal se correla HSDc preexistente são comuns e produzem um HS misto
cionam com o coágulo sólido. (HSDm).
As seqüências em TI pós-contraste demonstram
membranas envoltórias com realce e espessamento (Fig. Etiologia
2-37D). A membrana que envolve o HSS geralmente é Com a contínua degradação dos produtos da hemoglo
mais espessa no lado durai da coleção. As imagens mais bina, um hematoma subdural toma-se progressivamente
tardias demonstram "enchimento" gradual e aumento da mais liqüefeito até tornar-se um fluido seroso tinto com
hiperintensidade do HSS. produtos hemáticos (Fig. 2-38). O ressangramento, tan
to por membranas vascularizadas circundantes como por
Diagnóstico diferenciai ruptura de veias corticais alongadas que cmzam o espaço
O principal diagnóstico diferencial de um HSS é um HS iso- subdural alargado, ocorre em 5 a 10% dos HSDcs.
denso agudo. Estes são, em geral, encontrados apenas em
pacientes extremamente anêmicos ou anticoagulados. Uma Patologia
efusão subdural após procedimento cirúrgico ou meningite, Patologia macroscópica. O sangue no interior do espaço
ou que ocorra como componente de hipotensão intracraniana, subdural provoca reação tissular em suas margens. A or
também pode simular um HSS. Um higroma subdural é iso-
ganização e a reabsorção do hematoma contido entre as
denso/isointenso ao LCS e não demonstra realce ou cápsula. "membranas" do tecido de granulaçào continuam. Essas
neomembranas são frágeis, com capilares que podem
Hematoma subdural misto/crônico
ser facilmente rotos, causando ressangramento e for
Terminologia mando um HSDm. Múltiplas hemorragias de diferentes
Um hematoma subdural crônico (HSDc) é uma coleção tempos de evolução são comuns no HSDm (Fig. 2-39),
sanguinolenta ou serossanguinolenta de liquido confina (Fig. 2-40).
2-37A Ponderação em Ti de
um homem de 59 anos com con
vulsões demonstrando coleções
subdurals bilaterais B que são
levemente hiperintensas em
relação ao LCS.
2-37B Ponderação em T2
mostrando que ambas as cole
ções BeS são ísointensas ao LCS
nas cisternas subaracnóideas
subjacentes.
I
28 Trauma
Aspectos clínicos
Epidemiologia. HSSs não operados e nào complicados invaria
velmente tomam-se HSDcs. Cerca de 5 a 10% irão sangrar
novamente, causando HSs multiloculados com idade mista.
Imagem
Características gerais. Os HSDcs têm um espectro de acha
dos de imagem. Os não complicados mostram densidade/
2-39 HSDcs complicados contendo boisões locuíados
intensidade de sinal relativamente homogênea com leve
de sangue novo e antigo, vistos como níveis liquido-
-liquido B no interior de cavidades separadas. grau de gradaçao gravitacional-dependente de seus com
ponentes ("efeito hematócrito").
HSDs mistos com hemorragia aguda em um HSDc
preexistente demonstram nível de hematócrito com estra-
tificação das camadas de hemorragia, sendo a antiga no
topo e a nova no fundo. As vezes, bolsões septados que
contêm hemorragia de diferentes idades se formam. Ca
madas de sangue gravitacional dependentes no interior de
coleções loculadas podem ter aspecto bastante bizarro.
HSDcs de longa data, extremamente velhos, com re
absorção quase completa de todo o conteúdo líquido, são
percebidos como paquimeningopatias com espessamento
difuso da dura-aracnoide.
Achados na TC.
Diagnóstico diferencial
É difícil confundir um HS de idade mista com outro diag
nóstico. Em pacientes idosos, um pequeno HSDc não com
plicado pode ser difícil de distinguir de uma simples atrofia
cerebral com aumento dos espaços liquóricos bifrontais.
Contudo, os HSDcs demonstram efeito de massa, com con
seqüente achatamento dos giros, com freqüência se esten
dendo ao redor de lodo um hemisfério e para a fissura inter-
-hemisférica. Os espaços extra-axiais aumentados na atrofia
cerebral são predominantemente frontais e temporais.
Um hlgronia subdural traumático é um acúmulo
de LCS no interior do espaço subdural após um trauma
craniano, provavelmente secundário a uma laceração da
aracnoide. Higromas subdurais são, às vezes, detectados
dentro das primeiras 24 horas após o trauma; entretanto,
o tempo médio para seu surgimento é de nove dias após
2-43 A TC sem contraste mostra HSDc misto E3
a lesão.
que se caracteriza por múltiplos bolsões loculados de
Um higroma subdural clássico não complicado é uma sangue, com o sangue antigo disposto em camadas su
coleção em formato de crescente, hipodensa. que consiste periores às camadas da hemorragia recente.
30 Trauma
puramente em LCS, com densidade semelhante a LCS, ruptura de contusões no espaço subaracnóideo contíguo e
sem produtos hemáticos, membranas capsulares ou real sangramentos do plexo coroide com hemorragia intraven
ce após a administração de contraste. O extravasamento tricular podem resultar em sangue coletado nas cisternas
de LCS para o espaço subdural também está presente na subaracnóideas. Menos comumente, a HSAt se origina de
maioria dos pacientes com HSDc. Portanto, muitos - mas laceração de vasos mais calibrosos ou dissecções, com ou
não a maioria - dos HSDcs contêm um misto tanto de sem fraturas da base do crânio.
LCS quanto de produtos hemáticos. Embora a HSAt possa ocorrer isoladamente, ela cos
Uma efusão subdural é um acúmulo de liquido claro tuma ser acompanhada de outras manifestações relaciona
sobre as convexidades cerebrais ou na fissura inter-hemis- das à lesão cerebral. HSAts sutis podem ser a única pista,
férica. São. em geral, complicações de meningite; uma no exame de imagem inicial, de que lesões mais preocu
história de infecção prévia, e não trauma, é típica. pantes possam estar se escondendo abaixo da superfície.
Um cmplema subdural (ES) é uma coleção de lí
quido extra-axial hipodensa que contém pus. A maioria Patologia
dos ESs são secundários à sinusite ou à mastoidite, têm Localização. As HSAts são predominantemente encontra
marcado realce de membranas e freqüentemente coexis das nas regiões perissilvianas, nos sulcos anteroinferiores
tem com achados de meningite. Um ES típico restringe dos lobos frontais e temporais e sobre as convexidades
de maneira forte e uniforme nas ponderações em difusão. cerebrais (Fig. 2-49). Em casos muito graves, a HSAt se
espalha sobre a maior parte do cérebro. Em casos mais le
Hemorragia subaracnóidea traumática ves, o sangue acumula em um único sulco ou em porções
A hemorragia subaracnóidea traumática (HSAt) é encon gravitacionais dependentes da fossa interpeduncular.
trada praticamente em todos os casos de trauma cranien- Patologia macroscópica. Com exceção da localização e das
cefálico moderado a grave. Na verdade, trauma - e nâo a lesões cerebrais associadas, a HSAt é similar à HSA por
ruptura de um aneurisma sacular - é a causa mais comum ruptura aneurismática (HSAn). Focos curvilíneos de san
de hemorragia subaracnóidea intracraniana. gue brilhante acumulam nas cisternas e na interface dos
sulcos (Fig. 2-50).
Etlologla A HSAt, em geral, ocorre adjacente a contusões cor
A HSAt pode ocorrer tanto em trauma craniencefálico di ticais. Ela também, com freqüência, é identificada abaixo
reto como fechado. Laceração de artérias e veias corticais, de hematomas epi e subdurais.
2-49 Figura demonstrando hemorragia subaracnóidea traumática. A 2-50 Fotomicrografia de baixa magnificação mostrando autópsia cere
HSAt é mais comum em torno das fissuras silvianas e nos sulcos adjacen bral de um lutador de boxe que morreu após ser nocauteado. HSAt típica
tes aos giros confusos. cobrindo os giros e se estendendo no interior dos sulcos. (Cortesia dej.
Paitan, MD.)
32 Trauma
Aspectos clínicos
Epidemiologia. a HSAt é encontrada na maioria dos casos
de trauma moderado e em praticarnente 100% das lesões
fatais cerebrais nas autópsias.
Aspectos demográficos. A prevalência de HSAt é semelhan
te a de outras lesões traumáticas craniencefálicas, isto é, é
bimodal e ocorre com maior freqüência em adultos jovens
(sobretudo do sexo masculino) e em idosos.
Apresentação. Os sintomas clínicos estão primariamente
relacionados a outras lesões traumáticas, tais como he-
matorna extra-axial. contusões e dano axonal. Em alguns
casos, a HSAt pode causar vasospasmo tardio e sintomas
isquêmicos secundários.
História natural. A quebra e a reabsorção da HSAt ocorre
2-51 A TC sem contraste mostra um HS pequeno a
direita múltiplos focos de HSAt dispersos B nos
gradualmente. Os desfechos em geral são definidos por
outras lesões e relacionados ao escore inicial na Escala
sulcos sobre as convexidades.
de Coma de Glasgow, bem como com a quantidade de
sangue nas cisternas subaracnóideas no exame de imagem
inicial.
Imagem
Características gerais. Com exceção da localização, os
aspectos de imagem em geral são similares àqueles da
HSAn. isto é, hiperdensidade/hiperintensidade nos sulcos
e nas cisternas. A HSAt é mais focai ou segmentar do que
a hemorragia subaracnóidea difusa, indicativa de hemor
ragia aneurismática (Fig. 2-51).
2-52 Corte de TC sem contraste de outro caso de
monstrando HSAt mais expressiva, vista como hiper- Achados na TC. A HSAt aguda aparece como hiperdensi-
densidades difusas preencftendo a maioria dos sulcos dades lineares em sulcos adjacentes às contusões corticais
na convexidade cerebral ES. ou abaixo de hematomas epi ou subdurais (Fig. 2-52).
Ocasionalmente, HSAt isolada é identificada no interior
da fossa interpeduncular (Fig. 2-53). Hemorragia pós-
-Iraumálica nas cisternas interpeduncular ou ambiens é
um bom marcador para possíveis lesões de tronco ence-
fálico em pacientes com coma inexplicado e pode exigir o
prosseguimento da investigação.
Alguns casos de HSAt leve podem apresentar he
morragia em um único sulco. Em casos graves, a HSAt
se espalha difusamente nas cisternas subaracnóideas e nas
camadas sobre o tentório. A HSAt crônica pode se ma
nifestar como líquido hipodenso que causa expansão dos
sulcos afetados.
As ponderações em difusão podem mostrar focos de ca, vista como hiperdensidades nos sulcos adjacentes
às lesões B.
restrição em áreas de isquemia franca ou de edema citotó-
xico induzido pelo trauma.
Angiografia. a ATC é normal nos primeiros dias após a V-/ *«•'•
HSAt. Pode ocorrer vasospasmo de 2 a 3 dias até semanas i i» V '
após o trauma, sendo identificado como áreas multifocais
de estreitamento dos vasos. /ç*.-. ií ■ .A-
Diagnóstico diferencial
o principal diagnóstico diferencial da HSAt é a HSA
não traumática (HSAnt). A ruptura de aneurismas cau
sa 80 a 90% de todas as HSAnts. Em contraste à HSAt,
a HSAn se concentra nas cisternas da base. A ATC pode
i d e n t i fi c a r u m a n e u r i s m a s a c u l a r n a m a i o r i a d o s c a s o s
de HSAn.
Malformações arteriovenosas correspondem a 10 a
15% das HSAnts e são facilmente identificadas tanto na
2-55 Aquisição em FLAIR no plano axial com hipe-
TC quanto na RM. Dissecções e aneurismas dissecantes,
rintensidades sulcais artefatuais causadas por su
sobretudo do sistema vertebrobasilar, são menos comuns,
pressão incompleta da água. A repetição da aquisição
porém importantes causas de HSAnt. (não mostrada) estava normal.
A hiperintensidade em sulcos e cisternas visibili-
zada em FLAIR não é específica e pode ser causada por
meningite, neoplasia, artefatos (supressão incomple
ta do LCS), extravasamento de contraste para o espaço
subaracnóideo (p. ex., na insuficiência renal) e inalação
de oxigênio em alta concentração, geralmente durante a
anestesia (Fig. 2-55).
O termo pseudo-hemorragia subaracnóidea tem
sido usado para descrever o aspecto do cérebro com ede
ma cerebral grave na TC. O cérebro hipodenso faz com
que o sangue circulante nas artérias e nas veias pareça hi-
perdenso em relação ao parênquima. Essa hiperdensidade
é de limites lisos e de conformação esperada para a forma
dos vasos e não para o espaço subaracnóideo, não deven
do ser confundida com HSAt ou HSAnt (Fig. 2-56).
Lesões parenquimatosas
As lesões traumáticas intra-axiais incluem contusões e la-
cerações, dano axonal difuso (DAD), lesões subcorticais
e hemorragias intraventriculares. Nesta seção, mais uma
2-59 Autópsia demonstrando grande contusão fron
vez começaremos estudando as alterações mais periféri
tal B com HSA traumática focai alargando sulco adja cas e posteriormente seguiremos nosso trabalho em dire
cente (Cortesia dej. Townsend, MD.) ção às estruturas mais internas, finalizando com as lesões
Efeitos primários do trauma no SNC 35
Terminologia
As contusões cerebrais são basicamente "batidas no cére
bro". Elas se desenvolvem com o tempo e, com freqüên
cia, são mais visíveis em exames de controle do que no
exame de imagem inicial. As contusões cerebrais também
são chamadas de lesões das "cristas" girais (Fig. 2-57).
O termo contusão em "delta" é, algumas vezes, utilizado
2-60 Figura demonstrando os locais mais comuns
para descrever as contusões parassagitais. de contusão cerebral em vermelho. Os lugares menos
comuns estão mostrados em verde.
Etloiogia
A maioria das contusões cerebrais resulta de traumas fe
chados ou contusos. As lesões por trauma fechado levam
a alterações súbitas no momento angular e à desacelera
ção. O cérebro sofre subitamente uma impactação forçada
contra as margens ósseas ou contra os limites rígidos da
foice cerebral ou do tentório do cerebelo. Menos comu-
mente, uma fratura craniana com afundamento danifica o
parênquima cerebral subjacente.
Patologia
Localização. Contusões são lesões da superfície cerebral
que envolvem a substância cinzenta e a substância branca
subcortical contígua (Fig. 2-57), (Fig. 2-58), (Fig. 2-59).
Elas ocorrem em locais muito característicos e altamente
previsíveis. Quase metade envolve os lobos temporais. Os
ápices temporais, bem como as superfícies lateral e infe 2-61 Cérebro submetido à autópsia mostrando as
rior dos giros perissilvianos, são os locais mais afetados
localizações típicas das contusões, isto é, o aspecto
(Fig. 2-60). As superfícies inferiores dos lobos frontais anteroinferior dos lobos frontais e dos lobos temporais.
(orbital) também são freqüentemente afetadas (Fig. 2-61). (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
A convexidade girai, o dorso do corpo caloso, o
mesencéfalo dorsolateral e o cerebelo são locais menos
comuns. Os polos occipitais raras vezes são envolvidos,
mesmo no trauma fechado grave.
Número e tamanho. As contusões cerebrais variam em ta
manho desde diminutas lesões até grandes e confluentes
hematomas (Fig. 2-59). Elas são quase sempre múltiplas
e freqüentemente bilaterais (Fig. 2-62). As contusões que
ocorrem a 180" do local do impacto direto ("golpe") são
comuns e são chamadas de lesão de "contragolpe".
Patologia macroscópica. O aspecto das contusões varia de
pequenas petéquias a grandes hemorragias confluentes.
As lesões corticais costumam estar associadas à hemorra
Aspectos clínicos
Epioemiologia e aspectos demográficos. Contusões cerebrais
correspondem a aproximadamente metade das lesões pa-
renquimatosas traumáticas. Elas ocorrem em todas as ida
des, de lactentes a idosos. O pico etário está em 15 a 24
anos e a relação M:F é de 3:1.
Apresentação. Os sintomas iniciais variam de ausência de
características clínicas à confusão, convulsões e obnubi-
lação. Com danos axonais difusos (ver adiante), as contu
sões cerebrais estão menos freqüentemente associadas à
perda imediata da consciência, a menos que sejam exten
sas OLi ocorram com outra lesão traumática em associação
(p. ex.. trauma de tronco ou dano axonal).
História natural. O declínio neurológico é mais comum
em pacientes idosos. Os pacientes com contusões exten
sas, escore inicial baixo na Escala de Coma de Glasgow
(GCS), coagulopatias e presença de hematoma subdural
coexistente têm maior risco para deterioração clínica. Em
pacientes com contusões pequenas, boa pontuação na
GCS c ausência de piora clínica nas primeiras 48 horas,
é pouco provável a necessidade de intervenção cirúrgica.
A expansão do hematoma com necessidade de inter
venção cirúrgica ocorre em cerca de 20% dos pacientes
manejados clinicamente. Pacientes com piora clínica
incxpiicada devem ter o exame de imagem repetido.
Opções de tratamento. As opções de tratamento variam de
tratamento conservador (observação com exame de ima
2-64A Ponderação em T2 obtida imediatamente gem de controle de deterioração clínica) e evacuação ci
após a TC acima mostrando contusões ES com edema rúrgica de grandes hematomas focais. A craniectomia é
perilestonal ES e hígromas subdurais bilaterais realizada em pacientes com importante edema cerebral
para impedir hemiação cerebral fatal.
Imagem
Características gerais. Com o passar do tempo, as contu
sões corticais se tornam mais visíveis nos exames de ima
gem. A progressão dos achados radiológicos é a regra, não
a exceção. Quase metade de todos os pacientes apresenta
aumento do tamanho e do número das lesões nas primei
ras 24 a 48 horas. Na ausência de piora clínica, a relevân
cia da documentação por imagem é discutível.
Achados na TC. As imagens iniciais obtidas logo após um
trauma craniano fechado podem ser normais. A alteração
mais freqüente é a presença de hemorragias petequiais
ao longo da superfície girai, imediatamente adjacente à
calvária (Fig. 2-63). É comum um misto de hemorragias
petequiais rodeadas por áreas mal definidas de edema.
2-64B Aquisição em 12* GRE mostrando o artefato de
Com o passar do tempo, tomam-se freqüentes as le
susceptibiiidade magnética das contusões frontotempo-
rais a direita B. À esquerda, é vista contusão temporal sões com artefato de susceptibiiidade magnética, que são
^3 que não estava evidente nas ponderações em T2. vistas com o aumento progressivo da hemorragia, edema
Efeitos primários do trauma no 5NC 37
•M.
2-65 Autópsia mostrando um lobo "explodido" com iaceraçâo de 2-66 TC sem contraste mostrando um lobo "explodido" com hemorra
"espessura total" se estendendo a partir da superifcíe piai ES para o gia parenquimatosa em atividade se estendendo proíundamente para o
ventrkulo [t:^. (Cortesia de R. Hewlett, MD.) interior do cérebro, O paciente morreu logo após a realização do exame.
e efeito de massa. Pequenas lesões podem coalescer, for rebrais quanto os DADs são freqüentes em pacientes que
mando grandes hematomas focais. O desenvolvimento de sofreram trauma craniencefálico moderado a grave. As
novas lesões, que não estavam presentes no estudo inicial, contusões tendem a ser superficiais, localizadas ao longo
também é conuim. das cristas girais. O DAD é mais comumente encontrada
na corona radiaia e ao longo da substância branca com
Achados na RM. A RM é muito mais sensível para detec
ção de contusões cerebrais do que a TC, mas raramente é pacta. tal como a cápsula interna e o corpo caloso.
.As contusões corticais graves com formação de hema
realizada no momento do trauma agudo. Aquisições pon
deradas em TI podem mostrar apenas isointensidades não tomas confluentes podem ser difíceis de distinguir de lacera-
ções cerebrais nos estudos de imagem. A laccração cerebral
homogcMieas leves e efeito de massa. Ponderações em T2
ocorre quando trauma grave causa ruptura da pia e literal
demonstram áreas hiperintensas (edema) em torno de fo
mente "rasga" o parênquima cerebral que está logo abaixo.
cos hipointensos (hemorragia) (Fig, 2-64A).
O lobo "explodido" é a manifestação mais grave da
As aquisições em FLAIR são as mais sensíveis para
detectar o edema subcortical e se associam à hemorragia su- Iaceraçâo cerebral franca (Fig. 2-65), (Fig. 2-66). Nessa
baracnóidea traumática, ambas representadas por focos hi- situação, o lobo afetado sofre rupturas grosseiras, com
perintensos em FLAIR. As seqüências em T2* (GRE, SWI) formação de volumoso hematoma e hemorragia subarac-
nóidea traumática adjacente. Em alguns casos, sobretudo
são as mais sensíveis para detecção de hemorragias paren-
quimatosas. A presença de artefato de susceptibilidade mag naqueles com fratura com afundamento, a aracnoide tam
bém é lacerada e a hemorragia oriunda do lobo se estende
nética significativo é típica das lesões agudas (Fig. 2-64B).
As contusões hemorrágicas seguem a evolução mais e se comunica diretamente com o espaço subdural, for
mando um hematoma subdural coexistente.
comum dos hematomas parenquimatosos, com diminuição
do efeito TI ao longo do tempo. Atrofia, desmielinizaçào e
Dano axonal difuso
cicatrizes microglials são vistas em FLAIR e nas pondera
ções em T2. A perda de volume parenquimatoso com alar o dano axonal difuso (DAD) é a segunda lesão parenqui
gamento ventricular e proeminência de sulcos é comum. matosa mais vista no trauma craniencefálico, atrás apenas
As ponderações em difusão mostram restrição em da contusão cortical. Os pacientes com DAD costumam
áreas de morte celular. A imagem do tensor de difusão apresentar discrepância entre o s/a/iis clínico (moderada a
(DTI) pode revelar dano coexistente na substância branca gravemente debilitados) e os achados de imagem iniciais
mesmo quando as sequências-padrão da RM são normais. (muitas vezes com exame normal ou com alterações leves).
2-67 Figura no plano sagital demonstrando os locais comuns de dano 2-68 Figura demonstrando os locais mais comuns de dano axonal em
axonal no corpo caloso e mesencéfalo. Hemorragia subaracnóídea e in vermelho, localizações Irequentes, porém relativamente menos comuns,
traventricular traumática estão presentes. estão demonstradas em verde. A lesão do mesencéfalo/ponle superior
(roxo) é incomum, mas em geral é letal.
realmente por cstiramento - e não por cisalhamento franco sobretudo seu joelho e csplênio, fómice e cápsula interna,
o termo "lesão por cisalhamento" deve ser evitado. O são comuns. O mesencéfalo e a ponte são lugares menos
cisalhamento verdadeiro com desconexão axonal real é in- comuns de DAD (Fig. 2-67), (Fig. 2-68).
comum e costuma ocorrer apenas no trauma muito grave. Patologia macroscópica. A grande maioria dos DADs é
microscópica e não hemorrágica. Lacerações nos vasos
Etiologia penetrantes podem causar pequenas hemorragias ovoides
Não é necessário impacto direto para produzir DAD. A ou lineares que, às vezes, são a tinica indicação de dano
maioria dos DADs não está associada a fraturas cranianas. axonal difuso subjacente (Fig. 2-69). Essas lesões visíveis
A maioria dos DADs é causada por acidentes automo são realmente apenas a "ponta do iceberg".
bilísticos em alta velocidade e são lesões não relacionadas
Características microscópicas. Edema axonal e "bolas de re
ao impacto, resultando de forças de inércia com rotação
tração" se formam, deixando intervalos microscópicos na
gerada por mudanças siábitas na aceleração/desacelera
substância branca (Fig. 2-70). Apoptose neuronal e reação
ção. O córtex se movimenta em diferentes velocidades
em relação às estruturas cerebrais profundas (substância microglial se desenvolvem a seguir. A estimulação crô
nica da micróglia ativada imunorreativa para galectina-3/
branca, nijcleos cinzentos profundos). Isso resulta em es-
Mac-2 e fatores de crescimento nervoso tem sido demons
tiramento axonal, especialmente onde os tecidos cerebrais
de diferentes densidades se interseccionam, isto é. na in
trada após DAD.
terface entre as substâncias branca e cinzenta. Estadiamento, graduação e classificação, a classificação de
O estiramento axonal traumático prejudica o trans Adams e Gennarelli define os graus leve, moderado e gra
porte axoplásmico, causa despolarização, fluxo de íons, ve dos TCEs.
depressão alastrante e liberação de aminoácidos excitató- No TCE leve, as lesões são vistas na interface entre
rios. Há aumento de volume celular com desenvolvimento as substâncias branca e cinzenta frontotemporal. A lesão
de edema citotóxico, alterando a anisotropia do cérebro. é dita moderada quando a substância branca lobar e o
Alterações significativas e vastas dos metabólitos cere corpo caloso são afetados. No TCE grave, as lesões es
brais ocorrem como resultado do TCE. tão presentes nos aspectos dorsolateral do mesencéfalo e
superior da ponte. Mais da metade dos casos de TCE com
Patologia DAD são classificados como moderados a graves.
Localização. O DAD ocorre em locais muito previsíveis. O
córtex costuma ser poupado e as substâncias branca sub Aspectos clínicos
cortical e profunda são mais comumente afetadas. As le Epidemiologia e aspectos DEMOGRÁFICOS. O DAD está presen
sões na substância branca compacta como o corpo caloso. te em praticamente todos os TCEs fatais e em quase três
Efeitos primários do trauma no SNC 39
Achados na RM. Como a maioria dos DADs não é hemor em geral, superllciais, com freqüência localizadas nas
rágica, as seqüências em TI são freqüentemente normais, cristas girais.
em especial nas fases precoces do TCE. Ponderações em Hemorragias multifocais com o artefato de suscepti-
T2 e aquisições em FLAIR podem mostrar focos hiperin- bilidade magnética nas aquisições em T2* (GRE, SWl)
tensos na substância branca subcortical e no corpo caloso. podem ser vistas em numerosas patologias, incluindo
As lesões múltiplas são a regra, e a combinação de DAD DAD. O dano vascular difuso (ver a seguir) aparece como
com contusões ou hematomas é comum. "pontos pretos" parenquimatosos multifocais. Pneumoen-
céfalo pode causar o artefato de susceptibilidade magné
Aquisições em T2* são muito sensíveis para micros-
sangramenios por DAD e normalmente mostram hipoin- tica multifocal no espaço subaracnóideo. As lesões paren-
tensidadcs multifocals ovais ou lineares (Fig. 2-72B). Se quimatosas são raras.
qüências SWl. em geral, demonstram mais lesões que o Algumas lesões não traumáticas também se apresen
GRE. Resquícios do DAD podem persistir por anos após tam como hipointensidades parenquimatosas multifocais
o evento traumático. em T2*. Angiopatía amíloídc cerebral e encefalopatia
A difusão pode mostrar restrição, particularmente no crônica hipertensiva são comuns em pacientes idosos. A
corpo caloso (Fig. 2-73). A tractografia pode ser útil, de malformação cavernosa Zabramski tipo 4 também é vista
monstrando descontinuidade da substância branca. A es- como "pontos pretos" nas imagens de RM em T2*.
pectroscopia de prótrons mostra áreas difusas de redução Dano vascular difuso
do NAA com aumento de colina.
Terminologia
Diagnóstico diferenciai o dano vascular difuso (DVD) provavelmente repre
As contusões corticais freqüentemente coexistem com s e n t a o e x t r e m o fi m d e u m c o n i i n u i i n i d o d a n o a x o n a l
DAD no TCE moderado a grave. Contusões corticais são, difuso.
r
Efeitos primários do trauma no SNC 41
2-76 Espécime de autópsia de um paciente que morreu em um 2-77 TC sem contraste de um paciente com dano subcortical pós-
acidente automobilístico em alta velocidade mostrando uma grande -traumático mostrando um grande hematoma expansivo nos núcleos da
hemorragia FS nos núcleos cinzentos profundos, característica de dano base ES.
subcortical grave. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
Achados na TC. A TC sem contraste pode demonstrar ape rágicas, a grande maioria não é. O DVD é caracterizado
nas edema cerebral difuso com apagamento de sulcos pela presença de inúmeras hemorragias petequiais nas
superficiais e ventrículos reduzidos de tamanho (Fig. imagens em T2*. O número, a gravidade e a extensão das
2-75A). Alguns poucos pequenos focos de hemorragia na hemorragias é que distinguem o DVD do DAD.
substância branca e mícleos da base podem ocasionalmen
te ser identificados. A TC óssea pode demonstrar miílti- Dano subcortical (cérebro profundo)
plas fraturas cranianas em passageiros que não fazem uso
do cinto de segurança. Porém, as fraturas estão ausentes Terminologia
em um terço dos indivíduos que o utilizam. Os danos subcorticais (DSs) são lesões traumáticas das
estruturas cerebrais profundas, tais como tronco encefáli-
Achados na RM. As ponderações em TI mostram apenas co, núcleos da base, tálamos e ventrículos. A maioria re
edema cerebral leve. Aquisições em T2/FLAIR podem de presenta lesões por cisalhamento-estiramento que causam
monstrar alguns poucos focos de hiperintensidade de sinal ruptura dos axônios, lacerações nos vasos penetrantes e
na substância branca (Fig. 2-75B). Ocasionalmente, hipoin- dano ao plexo coroide dos ventrículos laterais.
tensidades esparsas podem ser identificadas de permeio às
hiperintensidades, sugerindo a presença de hemorragia. Etiologia
Seqüências em T2*, em especial as ponderações com Os DSs são causados por forças de aceleração/desacelera
susceptibilidade magnética, são surpreendentes. Hipoin- ção e rotação cerebral oriunda de acidentes automobilís
tensidades com artefatos de susceptibilidade magnética ticos graves, freqüentemente fatais. Deslocamento súbito
puntiformes ou lineares são vistas com orientação per craniocaudal e impactação lateral do mesencéfalo contra a
pendicular aos ventrículos, predominando nas substâncias incisura do tentório é comum neste tipo de lesão.
branca subcortical e profunda, sobretudo no corpo caloso
(Fig. 2-75C). Patologia
Ponderações em difusão demonstram alguns poucos Patologia macroscópica. As manifestações do DS incluem
focos de restrição, compatíveis com isquemia causada pe contusões hemorrágicas profundas, lacerações não he
las lesões vasculares. morrágicas, sangramentos intraventriculares e hemorra
gia subaracnóidea traumática (HSAt) (Fig. 2-76). O DS,
Diagnóstico diferencial em geral, ocorre concomitante a outras lesões traumáti
o principal diagnóstico diferencial é o dano axonal difu cas, tais como contusões corticais e dano axonal difuso
so (DAD), Embora algumas lesões no DAD sejam hemor (DAD).
Efeitos primários do trauma no SNC 43
maneira espontânea dentro de poucos dias após o trauma interpretados com precisão e, os achados, descritos com
ou evento cirúrgico. Ocasionalmente, as coleções gasosas acurácia.
aumentam e pode ser necessária drenagem e píastia da dura.
Terminologia
Imagem O termo "trauma não acidental" (TNA), também conheci
Características gerais. Ar intracraniano pode existir em do como lesão não acidental (LNA) ou síndrome do bebê
qualquer compartimento, adaptando-se à sua forma, ou sacudido (SBS) se refere a lesões intencionalmente provo
em coinpartimentos em potencial. O ar epidural é. com cadas. O traumatismo craniano abusivo (TCA) e o trauma
freqüência, unilateral, solitário, de configuração biconve- craniencefálico provocado são termos mais específicos
xa e não se altera com as mudanças de posição. aplicados às lesões cerebrais.
O ar subdural é confluente, em formato de crescen
te, move-se com as mudanças de posição, circunda as Etiologia
veias corticais que cruzam o espaço subdural, sendo com As lesões por TNA podem ser divididas em dois grandes
freqüência bilateral e com nível ar-liquido. grupos: lesões por impacto direto e indireto (lesões pelo
O ar subaracnóídco é em geral visto como pequenos ato de sacudir).
"pontos" ou "gotas" multifocals de ar no interior ou em As lesões diretas são causadas por golpes na cabeça
torno dos sulcos cerebrais (Fig. 2-80). O ar intraventri ou por impacto direto do crânio em um objeto, tal como
cular forma níveis ar-líquido, mais freqüentemente nos uma parede, geralmente resultando em fraturas cranianas,
cornos frontais dos ventrículos laterais. O ar intravas hematomas subdurals, contusões no parênquima cerebral
cular toma a conformação das estruturas vasculares nas subjacente e lesões de "conlra-golpe".
quais se encontra (Fig. 2-81). A etiopatologia exata das lesões indiretas não é clara,
assim como a mínima força necessária para produzi-las. O
Achados na TC. O ar é extremamente hipodenso na TC.
ato de sacudir pode resultar em violentos movimentos de
medindo cerca de -1.000 UH, O sinal de "Monte Fuji"
ida e vinda da cabeça. A cabeça de um lactente ou criança
no pneumoencéfalo hipertensivo é visto como coleções
subdurals aéreas bilaterais que separam e comprimem os pequena é relativamente grande se comparada a seu cor
lobos frontais (Fig. 2-78). Os lobos frontais se deslocam po, e a musculatura cervical é comparativamente fraca. As
sacudidas causam rotação rápida da cabeça em relação ao
posteriormente devido ao ar sob pressão e ficam, com fre
pescoço, resultando em uma forma de lesão por chicote-
qüência, "pontudos" onde estão presos à dura-aracnoide amento. O resultado mais comum são hematomas subdu
pelas veias corticais, lembrando a silhueta do Monte Fuji. rals difusamente distribuídos.
Distinguir ar de gordura na TC é extremamente im
portante. Na janela fechada para partes moles, ambos
Patologia
aparecem hipodensos da mesma forma. Abrir a janela ou
Hematomas subdurals de diferentes estágios são a marca
simplesmente visibilizar as imagens com janela para osso
da lesão cerebral provocada (Fig. 2-82).
(onde o ar é claramente distinto da gordura, a qual é me
nos hipodensa) ajuda na diferenciação.
Aspectos clínicos
Achados na RM. O ar é visto como áreas de completa au Epidemiologia. a incidência anual de abuso infantil é esti
sência de sinal em todas as seqüências. Em T2* GRE, o ar mada em 15 a 25 por 100.000. Entre três e quatro milhões
intracraniano "floresce" e aparece como "pontos pretos" de casos de suspeita de abuso são relatados anualmente
multifocais. nos EUA.
que o iactente ou a criança estào sob alto risco para nova Embora alguns especialistas prefiram o uso da RM
lesào ou morte. A mortalidade no TNA varia de 15 a 60%, para documentação médico-legal, deve-se ter atenção ao
e a morbidade é alta. O dano cerebral pós-traumático com tentar datar os sangramentos intracranianos. Muitos espe
convulsões e retardo é comum. cialistas enfatizam que, mesmo que seja imprecisa a ten
tativa de datar as lesões cerebrais e do esqueleto, o ponto
Opções de tratamento. O tratamento imperativo é proteger
a criança. Os radiologistas devem comunicar claramente mais importante é detemiinar se o padrão é de lesões em
tempos diferentes, a despeito da localização.
qualquer suspeita de maus-tratos. Notificar os serviços de
proteção à criança em casos suspeitos é obrigatório por lei Achados na TC. A TC sem contraste utilizando algoritmos
em muitos países. Todos os 50 estados dos EUA têm es tanto para osso quanto para tecidos moles com reconstru
tatutos que exigem o relato de casos de suspeita de abuso ções multiplanares é a ferramenta primária na avaliação
infantil ou negligência. inicial do trauma craniencefálico provocado. As fraturas
2-84A Ponderação em Ti em
um Iactente com TNA mostrando
HSS a direita, estendendo-se à
fissura Inler-hemisférica B e
uma coleção extra-axial à es
querda com aspecto mais crônico
2-84B Ponderação em 12
do mesmo paciente mostran
do hipointensidade na porção
gravitacional dependente do
HS à direita B, sugerindo um
componente mais agudo do he
matoma.
Efeitos primários do trauma no SNC 47
cranianas estão presentes em quase metade dos casos, e contusões corticais petequiais sutis e danos axonais he
hematomas do escalpo podem ser facilmente detectados. morrágicos. As ponderações em difusão são essenciais
A identificação e caracterização das hemorragias in para a avaliação de focos isquêmicos.
tracranianas, especialmente hematomas subdurals (HSs) As lesões de coluna e da medula espinal são comuns
em diferentes fases, é crítica (Fig. 2-83). Os hematomas em lactentes e crianças com lesões por chacoalhamento.
epidurals são raros no TNA, mas HSs são vistos em mais A RM é o exame de escolha já que lesões significativas
da metade dos casos e são a característica dominante do podem ocorrer na ausência de fraturas ou subluxações.
TNA por síndrome do bebê sacudido (SBS).
Achados na PET. A PET, em conjunto com a pesquisa alta
Hematomas subdurals bifrontais, inter-hemisféricos
mente detalhada do esqueleto, ajuda na avaliação do trau
e peritentoriais de diferentes idades sugerem fortemente
ma esquelético, mas é de utilidade limitada na avaliação
que as lesões sejam provocadas. Hemorragia subarac- das lesões cerebrais.
nóidea traumática, contusões corticais e, por vezes, dano
axonal difuso são comuns. Insulto isquèmico também Diagnóstico diferencial
pode estar presente e varia de infartos territoriais a insulto Raramente um erro inato do metabolismo (tal como
hipóxico isquèmico cerebral global. aciduria glutárica ou síndrome de Menkes) pode causar
O edema cerebral hemisférico ou difuso ocorre em al
hemorragias de retina e HSs, simulando TNA. Discrasias
guns lactentes com hematomas subdurals agudos. Isso foi
sangüíneas podem causar hematomas subdurals recorren
chamado de "o grande cérebro escuro" devido à marcada tes. O neuroblastoma metastático com "olhos de guaxi-
hipodensidade na TC sem contraste. A mortalidade é alta nim" também pode simular TNA.
nesses casos. Quando HSs de diferentes idades ocorrem
na presença de edema cerebral hemisférico grave, um tipo Lesões relacionados a projéteis e penetrantes
de síndrome por "segundo impacto" (ver Capítulo 3) do
A extensão de tecido danificado por um projétil depende
TNA deve ser considerado (Fig. 2-83).
do tipo de bala, sua velocidade e massa, bem como das
AsPEaos DEMOGRÁFICOS. HSs que diferem em idade, aparecen características do tecido afetado. As lesões cerebrais oca
do, nas ponderações em T1, com um misto de componentes sionadas por projéteis são qualitativamente diferentes de
hiper e isointensos são altamente sugestivos de TNA (Fig. outras lesões traumáticas cerebrais e também das lesões
2-84). A seqüência FLAIR é útil para detectar pequenas co em partes moles não confinadas expostas a mesma carga
leções extra-axiais e lesões de substância branca. de impacto.
As aquisições em T2* (GRE, SWl) são muito sen Embora uma discussão detalhada sobre projéteis e
síveis para produtos hemáticos crônicos, particularmente sua balística esteja além do escopo deste texto, considera-
2-85 Espécime de autópsia de um paciente com ferimento por arma 2-86 TC sem contraste mostrando uma lesão de baixa velocidade com
de fogo de uma bala 9 mm mostrando os típicos adiados de um projétil fragmento de bala BI, hemorragia linear ao longo do trajeto relativa
de velocidade relativamente alta, a saber: hemorragia e parênquima mente estreito do projétil B e fragmento remanescente BS onde o
cerebral roto e macerado ao longo do trajeto da bala Si. projétil reduziu a velocidade, parando.
48 Trauma
remos brevemente a balística da lesão por projéteis e suas trar no osso, empurrando-o para dentro através da dura em
conseqüências craniocerebrais. direção ao cérebro.
Aos leitores interessados em mais detalhes, recomen A gravidade do dano tissular é proporcional à energia
damos o artigo definitivo escrito por Jandial e colaborado cinética depositada no tecido pelo projétil penetrante mais
res, Ballistics for the neurosurgeon, Neuroswgeiy 62(2); uma "taxa de efeito" que depende do tamanho do projétil.
472-80. 2008. Muito da informação sintetizada a seguir A pressão é muito alta na ponta de um projétil em mo
foi adquirida dessa excelente fonte. vimento. Quando o projétil penetra o cérebro, ele deixa
uma cavidade temporária na sua passagem. Isso também
Terminologia causa um estiramento dos tecidos adjacentes para fora,
As lesões cerebrais por projéteis em alta velocidade depositando energia em taxas muito altas de tensão.
vistas na população não combatente são predominan Enquanto a bala penetra o crânio, o seu movimento
temente devidas a ferimentos por tiros. As lesões por não segue uma direção constante, fazendo desvios e mo
apunhalamento provocadas por objetos pontiagudos tais vimentos de lado a lado (não simplesmente caindo). Isso
como facas, chaves de fenda ou picadores de gelo tam explica por que o ferimento de entrada é, em geral, pe
bém podem penetrar na calvária e danificar o cérebro queno e o dano tissular se expande à medida que a bala
subjacente. perde velocidade. O ferimento de saída pode ser bastante
grande.
Etiologia Projéteis com alta energia cinética podem transferir
Os principais fatores que determinarão se um projétil pe energia suficiente para o crânio, transformando os frag
netrará o crânio são (1) sua energia de impacto no osso. mentos ósseos em diminutos projéteis secundários. A
(2) a área de contato e (3) a espessura do osso no ponto de combinação disso é que esses fragmentos podem ser tão
impacto. Um projétil balístico cria uma cratera ao pene letais quanto a penetração completa do projétil.
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3-1 A foice do cérebro B3 divide o compartimento supratentoríal em 3-2 A metade direita do tentório do cerebelo foi removida para mos-
duas metades. O tentório do cerebelo S] separa o compartimento su- trar a fossa posterior. A metade esquerda é mostrada formando a mar-
pratentorial do infratentorial. As bordas medíais do tentório do cerebelo gem da incisura do tentório [S.
formam uma abertura em formato de "U" a incisura do tentório.
3-3 Cérebro necropsíado mostrando herniação subíakial. O ventrículo 3-4 TC demonstrando herniaçâo subíalcial do giro do cíngulo BI. O
lateral esquerdo é comprimido ^ e deslocado através da linha média, ventrículo lateral esquerdo está comprimido, deslocado através da linha
assim como o giro do cíngulo SI. O ventrículo lateral direito ÍS está média E3.0 ventrículo direito está aumentado. O "halo" periventricular
aumentado secundariamente à obstrução do forame de Monro. Bi é causado pelo acúmulo de fluido extracelular.
As hemiações cerebrais, por sua vez, podem causar cerebral interna (VCl) são deslocados por baixo da foice
cascatas de efeitos secundários, com compressão do pa- do cérebro de um lado para o outro. O ventrículo ipsilate-
rênquima cerebral, nervos cranianos e vasos sangüíneos ral encontra-se comprimido e deslocado através da linha
contra estruturas ósseas e durais com desenvolvimento média (Fig. 3-4).
de alterações isquêmicas secundárias, infartos cerebrais,
neuropalias cranianas e déficits neurológicos focais. Complicações
Se não houver tratamento disponível ou se ele não for
As complicações precoces da HSub incluem hidrocefalia
bem-sucedido, dano neurológico grave ou mesmo morte é
unilateral, identificada nas imagens axiais de TC como
o resultado do que se toma, em essência, uma "síndrome aumento do ventrículo contralateral. Conforme o efeito
compartimental" cerebral. expansivo aumenta, o ventrículo lateral toma-se progres
sivamente mais deslocado através da linha média. Inicial
Herniaçõo subfalcial mente, esse deslocamento apenas deforma, e posterior
mente ocluí o forame de Monro.
Terminologia e etiologia O plexo coroide no ventrículo contralateral continua a
A herniaçào subfalcial (HSub) é a herniaçao cerebral
secretar LCS. Pela obstrução do forame de Monro, o LCS
mais comum e de mais fácil compreensão. Em uma
não tem saída, causando aumento do ventrículo lateral. A
HSub simples não complicada, uma lesão com efeito ex
hidrocefalia obstrutiva unilateral grave reduz a drenagem
pansivo em um hemicrânio determina deslocamento do do fluido extracelular nas veias profundas subependimá-
cérebro para o lado oposto. A hemiação ocorre quando o
rias com conseqüente acúmulo de fluido na substância
hemisfério afetado cruza a linha média em direção ao he branca periventricular, visto na TC como hipodensidade
micrânio contralateral através da margem livre da foice
periventricular com indefinição das margens do ventrícu
do cérebro (Fig. 3-3). lo lateral.
Se a HSub tornar-se grave, a ACA herniada pode ser
Imagem ocluída pela compressão contra a margem livre da foice
As imagens nos planos axial e coronal mostram que o do cérebro, causando infarto secundário do giro do cín
giro do cíngulo, a artéria cerebral anterior (ACA) e a veia gulo.
56 Trauma
HERNIAÇÃO SUBFALCIAL
Etíología e patologia
• Efeito expansivo hemisférico unilateral
• Cérebro cruza a linha média por baixo da foice do cérebro
Epidemiologla
• Herniaçào cerebral mais comum
• Imagem
• Deslocamento do giro do cingulo, ACA e VCI através
da linha média
• Forame de Monro deformado, obstruído
• Ventrícuío ipsilateral comprimido, contralateral
aumentado
Complicações
• Hidrocefalia obstrutiva
• Infarlo secundário da ACA (casos graves) 3-10 HTD completa. O mesencéfalo está excessiva
mente angulado inferiormente B0, e o hipolálamo
comprimido inferiormente sobre o dorso da sela í^.
(Cortesia de R. Hewlett, MD.)
Herniaçõo transtentorial descendente
As herniações transtentoriais sào deslocamentos do cérebro
que ocorrem através da incisara do tentório. Embora esses
deslocamentos possam ocorrer em ambas as direções (de
cima para baixo ou de baixo para cima), herniações descen
dentes de lesões com efeito expansivo supratentoriais sào
muito mais comuns do que herniações ascendentes.
Terminologia e etíología
A hemiaçào transtentorial descendente (HTD) é a segunda
síndrome de hemiaçào intracraniana mais comum. Ela é
causada por uma lesào expansiva hemisférica que inicial
mente produz deslocamento cerebral através da linha mé
dia (p. ex., hemiaçào subfalcial). À medida que o efeito
expansivo aumenta, o uncus do lobo temporal é deslocado
medialmente e começa a invadir a cisterna suprasselar. O
hipocampo acompanha o deslocamento e logo começa a 3-11 Achados vasculares na HTD. A AGP proximal SI
obliterar a cisterna quadrigeminal ipsilateral. está deslocada inferiormente através da incisura do ten
Com progressivo aumento do efeito expansivo, tanto tório e apresenta excessiva angulaçâo no ponto em
o uncus quanto o hipocampo sofrem hemiaçào inferior que passa sobre a margem superior da incisura.
mente através da incisura do tentório (Fig. 3-5).
A HTD pode ser unilateral ou bilateral. A HTD unila
teral ocorre quando uma lesào com efeito expansivo em
purra o uncus e o hipocampo do lobo temporal ipsilateral
além do limite da incisura do tentório.
A segunda. HTD bilateral, algumas vezes chamada
de hemiaçào descendente "completa" ou "central", ocorre
quando o efeito expansivo supratentorial se torna tão gra
ve que ambos os lobos temporais sofrem hemiaçào atra
vés da incisura do tentório.
Imagem
Na hemiaçào transtentorial descendente unilateral,
imagens iniciais axiais por TC mostram que o úncus en
contra-se deslocado medialmente e o aspecto ipsilateral
da cisterna suprasselar é indefinido (Fig. 3-6). Conforme
3-12 TC em um sobrevivente demonstrando seque-
a HTD aumenta, o hipocampo também hemia medialmen la de HTD bilateral grave com infartos da ACP direita
te através da margem do tentório, comprimindo a cistema SI e múltiplos Infartos das artérias perfurantes [S.
58 Trauma
Epidemiologia
• Segunda herniação cerebral mais comum
Imagem
• HID unilateral
o Cisterna suprasseiar comprimida, posteriormente
obliterada
o Lobo temporal herniado empurra mesencéfalo para
3-16 HTA com o verme e cerebelo [3 deslocados cra-
o lado oposto nialmente através da incisura do tentório, comprimindo o
• HID bilateral
mesencéfalo/lecto lS. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
o Cisternas da base completamente apagadas
o Mesencéfalo empurrado para baixo, comprimido
nos dois lados
Complicações
• Compressão do NC III ^ paralisia do terceiro nervo
com envolvimento pupilar
• Infartos secundários do lobo occipital (ACP) ±
hipotálamo, infartos dos núcleos da base
• Compressão do pedúnculo cerebral contralateral
(Kernohan's notch)
• Hemorragia mesencefálica ("Ouret")
Herniação tonsllar
Dois tipos de hemiaçào ocorrem com massas da fossa poste
rior: herniação tonsilar e hemiaçào transtentorial ascenden
te, sendo a hemiaçào tonsilar a mais comum (Fig. 3-13).
3-17 TC demonstrando HTA com obliteraçâo da cis
Terminologia e etíologia terna quadrigeminal, compressão do tecto mesencéfali-
Na hemiaçào tonsilar, as tonsilas cerebelares são desloca co Si. Observe a hidrocefalia obstrutiva grave
das inferiormente e impactam no forame magno. Ela pode
ser congênita (p. ex., malformação de Chiari tipo 1) ou
adquirida.
A hemiaçào tonsilar adquirida ocorre em duas cir
cunstâncias distintas. A causa mais comum é uma lesão
com efeito expansivo na fossa posterior deslocando as
tonsilas para o interior do forame magno.
O deslocamento tonsilar inferior também ocorre na
hipotensào intracraniana. Aqui as tonsilas sào tracionadas
inferiormente pela pressão anormalmente baixa do LCS
intraespinal (ver Capitulo 34).
Imagem
o diagnóstico de herniação tonsilar na TC pode ser pro
blemático. O forame magno em geral contém LCS que
circunda a medula e as tonsilas cerebelares. A herniação
de uma ou de ambas as tonsilas para o interior do forame 3-18 HTA grave com deformidade do mesencéfalo
magno oblitera a maior parte ou todo o LCS da cisterna B causada por herniação cranial do cerebelo através
magna (Fig. 3-14). da incisura do tentório.
60 Trauma
3-23 Espécime de necropsia demonslrando edema hemisférico unila 3-24 TC no plano axial demonstrando sulcos normais no hemisfério di
teral B que expande os giros, comprime e obiitera os sulcos corticais. reito e hemisfério esquerdo inchado com apagamento dos sulcos corticais.
Isquemia e infarto cerebral a foice do cérebro e causa infarto do giro do cíngulo (Fig.
pós-troumóticos 3-30), (Fig. 3-31).
Com HTD bilateral completa ("central"), as artérias
Infarto e isquemia cerebral pós-traumáticos são complica
penetrantes oriundas do polígono de Willis são compri
ções incomuns, mas importantes, do TCE. São causados midas contra a base do crânio, resultando em múltiplos
por múltiplas alterações, incluindo compressão vascular infartos esparsos dos núcleos da base e do hipotálamo. A
direta, hipoperfusâo sistêmica, dano vascular, vasospas- necrose por pressão do úncus e hipocampo pode ocorrer
mo e congestão venosa. A causa mais comum de isquemia
na medida em que o lobo temporal hemiado impacta na
cerebral pós-traumática é a compressão vascular secundá
margem livre da incisura do tentório.
ria às síndromes de hemiação cerebral.
Isquemia cerebral traumática
Infartos pós-traumáticos Alterações de perfusão focais, regionais e generalizadas
A hemiação cerebral mais comum que causa infarto cere também ocorrem no TCE. Hematomas extra-axiais que
bral secundário é a hemiação transtentorial descendente exercem efeito expansivo significativo sobre a superfí
(HTD). A HTD unilateral grave desloca o lobo temporal cie cerebral podem causar redução da perfusão arterial e
e a artéria cerebral posterior (ACP) inferiormente contra isquemia cortical. As veias corticais também podem ser
a incisura do tentório. Como a ACP herniada passa poste comprimidas, causando isquemia venosa (Fig. 3-32).
riormente ao mesencéfalo, ela cursa em direção cranial, Isquemia cerebral global ou generalizada pode ser
sendo forçada contra a margem inflexível e aguda da inci resultante de hipoperfusâo, hipoxia, despolarização de
sura do tentório. O segmento P3 da ACP oclui, resultando membranas ou perda da integridade das membranas ce
em infarto do lobo occipital (Fig. 3-28). (Fig. 3-29). lulares e homeostase iônica. A falha no mecanismo ener
Menos comumente, a hemiação subfalcial pressiona gético celular pode induzir lesão cerebral excitotóxica
o ramo calosomarginal da artéria cerebral anterior contra aguda mediada por glutamato.
Morte cerebral
Terminologia
A morte cerebral (MC) é definida fisiopatoíogicamente
como cessação completa e irreversível da função cerebral
(Fig. 3-34). Alguns pesquisadores fazem distinção entre
"morte cerebral completa" (todas as estruturas intracra
nianas acima do forame magno), "morte cerebral" (todas
as estruturas supratentoriais) e "morte cerebral alta" (es
truturas corticais).
A definição legal de morte cerebral varia entre os paí
ses (p. ex., EUA e Reino Unido) e entre os estados. Desde
a adoção do Ato de Determinação Uniforme de Morte, to
das as decisões judiciais nos Estados Unidos têm se apoia
do na prática médica de determinar morte usando critérios
3-34 Morte cerebral demonstrando inchaço difuso, neurológicos de acordo com as leis estaduais.
diferenciação ruim entre a substância branca e cinzen
ta, ventrículos pequenos, sulcos apagados. (Cortesia de Aspectos clínicos
R. Hewlett, MD.). A morte cerebral é um diagnóstico clínico. Três achados
clínicos são necessários para confirmar cessação irrever
sível de todas as funções cerebrais, incluindo o iixmco: (1)
coma (com causa conhecida), (2) ausência de reflexos de
tronco e (3) apneia.
Movimentos espontâneos motores complexos e refle
xo ventilatório falso-positivo podem ocorrer em pacien
tes em morte cerebral, e por esse motivo a avaliação por
um especialista é crucial. Excluídas as causas reversíveis
de coma (p. ex., overdose de drogas, status epilepticus),
o diagnóstico clínico de MC é altamente confiável se a
determinação for feita por especialista utilizando critérios
aceitos e estabelecidos.
Não existem relatos de recuperação da função neu
rológica em adultos após o diagnóstico de morte cerebral
usando os parâmetros práticos da American Academy of
3-35 TC no plano axial de criança com evidência clí
Neurology atualizados em 1995.
nica de morte cerebral demonstrando edema cerebral
difuso e ausência de diferenciação entre substância Imagem
branca e cinzenta. Estudos de imagem podem ser úteis para confirmar a MC,
mas não substituem nem dispensam o diagnóstico clínico.
Achados na TC. A TC na MC demonstra edema cerebral
difuso e grave (Fig. 3-35). Os sulcos superficiais, a fissura
de Sylvius e as cisternas da base de ambos os hemisférios
encontram-se completamente apagados. A relação normal
de atenuação entre a substância branca e cinzenta é inver
tida, com a substância cinzenta tornando-se iso ou mesmo
hipodensa relativamente à substância branca adjacente
(sinal do "reverso").
Em surpreendente contraste com os hemisférios cere
brais, a densidade do cerebeio aparece relativamente nor
mal (sinal do "cerebeio branco") (Fig. 3-36). A densidade
dos núcleos cinzentos profundos e do tronco pode inicial
mente ser mantida; entretanto, todas as estruturas supraten
toriais por fim tomam-se uniformemente hipodensas.
3-36 TC demonstrando o "cerebeio branco" B, hi-
Achados na RM. imagens sagitais ponderadas em TI de
podensidade difusa do parénquíma cerebral ("cérebro
preto") e obiiteração total dos espaços liquóricos. monstram hemiação cerebral central descendente completa
Efeitos secundários e seqüelas do trauma ao SNC 67
\
minúsculos B.
3-38 ASD mostrando fase
tardia da injeção após cateteri-
zaçâo seletiva da artéria carótida
interna identifica ausência de
t .
<J
Â- M- M- ã .
68 Trauma
com o quiasma óptico e o hipotálamo comprimidos contra A morte cerebral também pode mimetizar outras
a base do crânio e o mesencéfalo deformado inferiormente doenças. Edema cerebral em estágio tardio secundário
através da incisura do tentório (Fig. 3-37A), (Fig. 3-37B). a trauma grave ou encefalopatia hipóxica profunda (p. ex.,
Os hemisférios aparecem inchados e hipointensos, com após parada cardiopulmonar) fazem as artérias cranianas,
perda dos limites entre a substância branca e cinzenta. dura e seios venosos durais parecerem relativamente hi-
Imagens ponderadas em T2 mostram giros edemacia- perdensos comparados com o cérebro edematoso difusa
dos com córtex hiperintenso (Fig. 3-37C). O estudo da mente hipodenso.
difusão em pacientes com morte cerebral em geral mostra Com o cérebro muito hipodenso, áreas de relativa
restrição à difusão com baixos valores de ADC tanto no alta densidade são vistas ao longo das cisternas basais,
córtex cerebral quando na substância branca. fissuras de Sylvius, tentório do cerebelo e algumas vezes
Angiografia. Estudos complementares são muitas vezes no interior dos sulcos corticais. Esse aspecto costuma ser
necessários para fazer o diagnóstico de MC quando o exa chamado de pseudo-hemorragia subaracnóidca (pseu-
me clínico não pode ser completado ou há presença de do-HSA) e não deve ser confundido com hemorragia su-
fatores de confusão. A ausência de circulação cerebral é baracnóidea "real". A densidade da pseudo-HSA é signifi
um importante teste confírmatório em tais casos. Quando cativamente menor (entre 30 e 40 UH) do que a atenuação
a pressão intracraniana excede a pressão de perfusão arte da "verdadeira" HSA (entre 50 e 60 UH).
rial, o fluxo sangüíneo cerebral cessa.
A angiografia com subtração digital (ASD) conven
cional mostra estase grave e prolongada com enchimento
Efeitos crônicos do trauma ao SNC
da artéria carótida externa. Embora a maioria dos pacien
tes com MC não apresente fluxo intracraniano (Fig. 3-38), Os pacientes sobreviventes de trauma craniencefálico
quase 30% têm alguma opacificaçào proximal das artérias (TCE) podem apresentar seqüelas de longo prazo, desde
intracranianas. A drenagem venosa profunda permanece distúrbios cognitivos e efeitos neuropsiquiátricos leves
não opacificada ao longo do exame. até seqüelas neurológicas devastadoras. Visto que uma
A angiotomografia (ATC) vem se estabelecendo discussão abrangente de todos os efeitos pós-TCE encon
como uma aceitável alternativa não invasiva à ASD em tra-se além do escopo deste texto, serão consideradas al
muitas jurisdições. A caracterização da ausência de opaci- gumas das seqüelas mais importantes de trauma cerebral
fícação dos segmentos corticais da ACM e veias internas nesta seção.
é um método eficiente e confiável de confirmar MC por
AT C . Encefalomalacio pós-traumàtica
Ultrassom. o Doppier transcraniano pode mostrar sinal Patologia
"alternante em vaivém". O Doppier orbitário mostra au O resultado patológico do TCE varia desde alterações
sência ou reversão do fluxo diastólico final na artéria cen
microscópicas (p. ex., tufos de retração neuronal e con
tral da retina associado a um marcado aumento dos índi
glomerados microglials) até extensas áreas confluentes
ces de resistência arterial.
de perda parenquimatosa e encefalomalacia. Áreas focais
Medicina nuclear. A cintilografía por Tc-99m demonstra cap de encefalomalacia são mais comumente encontradas
tação pelo escalpo e ausência de atividade cerebral (sinal da em áreas com alta incidência de contusões corticais, por
"lâmpada"). Junto com atividade extracraniana aumentada exemplo, na porção anteroinferior dos lobos frontais e nas
(sinal do "nariz quente"), esses achados são altamente sen porções anteriores dos lobos temporais (Fig. 3-40).
síveis e específicos para morte cerebral (Fig. 3-39).
Imagem
Diagnóstico diferencial Áreas de encefalomalacia em geral aparecem como focos
Causas potencialmente reversíveis para morte cerebral, de baixa densidade na TC. Áreas hipointensas em imagens
por exemplo, coma profundo por overdose de drogas ou de RM ponderadas em TI que aparecem hiperintensas em
status epUepticus, devem ser clinicamente excluídas. T2/FLAIR são típicas. Imagens ponderadas em T2* GRE
Dlflciildades técnicas com estudos de imagem que podem demonstrar resíduos hemorrágicos adjacentes aos
podem mimetizar MC incluem a "perda" do tempo de focos de encefalomalacia. Em pacientes com hemorragia
contraste tanto na ATC quanto nos estudos de medicina subaracnóidea traumática de volume significativo, a side-
nuclear. As lesões vasculares como dissecção arterial ou rose superficial pode ser identificada como focos curvilí-
vasospasmo podem também atrasar ou mesmo impedir a neos de hipointensidade de sinal acompanhando a superfí
opacificaçào de vasos intracranianos. cie piai do cérebro (Fig. 3-41), (Fig. 3-42).
Infarto cerebral maciço (especialmente infarto "ma O TCE freqüentemente resulta em variável quantida
ligno" da ACM) com edema grave pode mimetizar MC, de de atrofia generalizada. Embora perda difusa de vo
mas é, em geral, territorial e não envolve todo o cérebro. lume do parênquima com aumento ventricular e proemi-
Efeitos secundários e seqüelas do trauma ao SNC 69
^ \!/ '
3-40 Espécime de necíopsia demonstrando efeitos do trauma remoto 3-41 Espécime de necropsia de um paciente com^rauma antigo mos
com encefalomalacia bifrontal B. trando contusões B e siderose superficial extensa ES.
nência dos sulcos cerebrais possa ser vista em estudos de ca entre os achados da ETC com a doença de Alzhei
imagem convencionais, casos leves de atrofia regional ou mer (DA). Além disso, existe associação entre a ETC
global podem necessitar de RM quantitativa. e a formação de agregados neuroflbrilares, sugerindo
A redução do volume cerebelar pode ser vista em uma patologia mista promovida por cascatas patogêni
alguns pacientes após TCE, possivelmente refletindo a cas que podem resultar em ambas as doenças. Tanto a
alta vulnerabilidade do cerebelo e das áreas relacionadas ETC quanto a DA têm maior representação dos alelos
de projeção cerebelar à degeneração de fibras. áaAPOE*ES.
Estudos de imagem avançados podem ser aliados
úteis na quantificação das seqüelas do TCE. A espectros- Patologia
copia por RM pode demonstrar redução de neurometa- Os achados macroscópicos de cérebros necropsiados
bólitos após o TCE. Os níveis de NAA podem estar re de ex-atletas afetados pela ETC foram associados aos
duzidos mesmo em cérebros aparentemente normais.|A de um "paciente oclagenário portador da doença de Al
FDG-PET pode demonstrar áreas focais ou mais amplas zheimer". Lacerações do septo pelúcido com perda de
de liipometaboiismo regional da glicose. volume frontotemporal, gliose talâmica, degeneração da
A imagem do tensor da difusão (DTl) demonstra bai substância negra e cicatrizes cerebelares são caracterís
xa FA e alto ADC no corpo caloso de alguns pacientes ticas comuns.
com déflcits cognitivos após TCE leve. Estudos microscópicos da ETC mostram fenótipos
histológicos variáveis baseados na presença ou ausência
de agregados neuroflbrilares, filamentos neutrofllicos,
Encefalopatia traumática crônica
placas amiloides e perda neuronal difusa. Em contraste
Terminologia com a DA. o hipocampo é freqüentemente poupado na
Inicialmente descrita em boxeadores e chamada de "de ETC.
mência pugilística", o termo encefalopatia traumática
crônica (ETC) tem sido recentemente utilizado para des Aspectos clínicos
crever um amplo espectro de anormalidades neurocom- Aspectos demográficos. Entre 15 e40% dos ex-boxeadores
portamentais crônicas que resultam de múltiplos impactos profissionais têm sintomas de lesão cerebral crônica. En
cranianos. quanto a maior parte dos casos de ETC foi descrita em
homens, há casos relatados em mulheres agredidas e em
Etiologia crianças submetidas a traumas cranianos repetidos. Pa
A ETC representa um processo cumulativo de repetidos cientes idosos que sofrem quedas repetidas também se
impactos cranianos. Existe alguma sobreposição clíni encontram em risco para ETC.
70 Trauma
3-42A TC em um paciente
idoso com trauma moderado a
grave demonstrando contusões
frontotemporais B.
3-42B Corte tomográfico mais
cranial mostrando inchaço difuso
do hemisfério esquerdo com
hematomas subdurais inter-he-
í
misféricos B e na convexidade
Vários focos de hemorragia
subaracnóidea traumática B
estão presentes dentro dos sul
cos comprimidos.
3-43A FLAIR axial em um ex-allela profissional de meia-idade com 3-43B Imagem ponderada em T2* SWI do mesmo paciente de
demência de início precoce mostrando redução volumétrica bi-hemisíéri- monstrando numerosas áreas de microssangramentos 1^. Os aspec
ca e extensas hiperintensidades confluentes e puntiformes na substância tos clínicos e de imagem são sugestivos de encefalopatia traumática
branca. crônica.
3-44A TC de uma criança com suspeita de trauma não acidental 3-44B Novo exame algumas semanas após demonstrando outro H5
demonstrando HSs em três diferentes estágios B. Efeito expansivo e misto com incfiaço maciço, edema difuso do fiemisfério direito. Provável
herniação subfalcial são desproporcionais ao tamanho dos HSs. síndrome do impacto secundário após múltiplas concussões.
tal e lesão ccfebral repetitiva compartilham características indefinidos e o paciente evolui com herniação descenden
fisiopatológicas comuns com atletas que sofrem de SIS. te central completa com compressão do tronco.
A RM mostra um cérebro inchado hiperintenso em
Apresentação. Na SIS, o atleta encontra-se frequentetnente T2/FLAIR abaixo de um pequeno HS. As imagens pon
com cefaleia ou outros sintomas da concussão inicial, mas
deradas em T2* (GRE. SWI) em geral são negativas para
retoma à competição e sofre um segundo trauma craniano -
hemorragia intraparenquimatosa. O cérebro inchado apre
em geral de menor intensidade. Ele inicialmente permanece
senta forte restrição ao estudo da difusão. A espectrosco-
consciente, porém atordoado e confuso ("go/ his bell nmg"),
pia por RM demonstra queda do NAA.
antes de sofrer um colapso e tomar-se semicomatoso.
A recuperação de um evento concussivo não é linear e
não coincide com a resolução dos sintomas clínicos. Disfunçõo hipofisárío pós-traumotica
Entre 25 e 40% dos sobreviventes de TCE desenvolvem
História natural. O cenário clínico da SIS é freqüente deficiências hormonais em 6 a 12 meses após a lesão. Cer
mente catastrófico com rápido início de coma associado ca de 20% são suficientemente graves para exigir reposi
a midríase fixa. Pode ocorrer deterioração neurológica
ção hormonal.
dentro de minutos. A mortalidade e a morbidade são ex A disfunçào endócrina em pacientes com outras condi
tremamente altas. Os sobreviventes, mesmo submetidos
ções médicas complexas ou psicossociais freqüentemente
a craniectomia descompressiva de urgência, costumam não é percebida. A disfunção hipotalámico-hipofísária pode
apresentar infartos isquêmicos multifocals com deficits contribuir para uma pior qualidade de vida, exacerbar défi-
cognitivos e neurológicos graves residuais. cils neurológicos e tornar-se inclusive uma ameaça à vida.
A deficiência de hormônio do crescimento pode ser a causa
Imagem de atraso do crescimento e baixa estatura em crianças.
A TC em pacientes com SIS mostra uma pequena O diagnóstico de hipopituitarismo pós-traumático é
(<0,5 cm) coleção subdural, em forma de crescente, hi- baseado na avaliação clínica, exames laboratoriais e neu-
perdensa ou com densidade mista, recobrindo um hemis roimagem. Um espectro de achados na RM foi relatado e
fério cerebral hipodenso e inchado. A extensão do efeito inclui hemorragia hipotalâmica e/ou na hipófise posterior,
expansivo e do desvio de linha média é desproporcional infarto do lobo anterior da hipófise e transecção da haste
ao relativamente pequeno hematoma subdural (Fig. 3-44). hipofisária. A interrupção traumática da haste hipofisária
Inicialmente, a interface entre a substância branca e apresenta-se como sela parcialmente vazia acompanhada
cinzenta é preservada, mas à medida que o edema cerebral por haste hipofisária muito fina ou seccionada. Vasculari-
progride, o hemisfério inteiro toma-çe hipodenso. As cis zaçâo reduzida em estudos dinâmicos pós-contraste (Fig.
ternas da base e os sulcos cerebrais lomam-se totalmente 3-45) pode ser evidenciada.
Efeitos secundários e seqüelas do trauma ao SNC 73
3-45A Imagem ponderada em II no plano coronal em uma criança 3-45B Imagem ponderada em 12 do mesmo paciente demons
com hipopiluitarismo pós-traumático demonstrando ausência da hasle trando sela parcialmente vazia B9 e ausência da haste hipofisária.
infundibular (provavelmente secundária à transecçáo traumática) Si e Área de encefalomalacia E3 junto a "growing fracture" é úafamente
uma "growing fracture" no vertex E3. demonstrada.
Morte cerebral
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74 Trauma
Esta seção é direcionada a hemorragias espontâneas (i.e., Em quem e por que realizar exames
não traumáticas) e a lesões vasculares, começando com de imagem?
uma discussão geral sobre os sangramentos cerebrais. Em razão de sua disponibilidade e rapidez, uma TC sem
Os capítulos subsequentes delineiam um largo espectro contraste de emergência costuma ser o exame de imagem
de patologias vasculares, que variam desde aneurismas/ de primeira escolha nos pacientes com início súbito de
hemorragia subaracnóidea e malformações vasculares a um déficit neurológico inexplicado. A TC sem contraste
vasculopatias cerebrais e acidentes vasculares cerebrais também é comumente obtida para avaliar a suspeita de he
(AVCs). Quando apropriado, considerações anatômicas e morragia subaracnóidea, hidrocefalia ou massa intracra
a fisiopatologia de distúrbios específicos serão incluídas. niana em paciente com cefaleia grave, mas sem alteração
A hemorragia intracraniana (Hl) espontânea (i.e., focai ao exame neurológico.
não traumática) e as doenças vasculares cerebrais são a Se o estudo inicial por TC sem contraste for negativo
segunda maior causa neurológica de incapacitação. atrás e nenhum déficit neurológico estiver aparente, prosseguir
apenas do trauma. O AVC ou "infarto cerebral" - definido com a investigação por imagem é desnecessário. Contudo,
como início súbito de um evento neurológico - é a tercei se os achados de imagem e a história do paciente sugeri
ra maior causag/o/jo/ de morte nos países industrializados rem um AVC tromboembólico, exames de imagem adicio
e é causa neurológica mais comum de incapacitação em nais estão indicados.
adultos.
4-9A TC sem contraste mostrando hematoma combinado epi e subdu 4-9B Ponderações em 12 do mesmo paciente mostrando que o he
ral subagudo espontâneo não traumático B associado à lesão focai na matoma está associado à lesão hiperintensa bem demarcada na
calvária [S. calvária B. Um hemangioma foi encontrado na cirurgia.
conhecida como doença de Weston-Hurst). A HSA é hiperdensa nos exames de TC sem contraste.
A idade do coágulo pode, provavelmente, ser útil para O LCS com hemorragia sulco-cisternal aparece "sujo" nas
sugerir a etiologia da hemorragia intracraniana. Uma ca ponderações emTl, hiperintenso em FLAIR e com artefa
vidade de encefalomalacia nos núcleos ou tálamos preen to de susceptibilidade magnética no T2*.
chida por hemossiderina em um paciente idoso se deve Diagnóstico diferencial. Assim como no sangramento pa
à hemorragia hipertensiva antiga. A causa mais comum
renquimatoso. a localização específica da HSAnt ajuda
de coágulo parenquimatoso hiperagudo em uma criança é a estabelecer o diagnóstico diferencial apropriado. De
uma malfomiação arteriovenosa subjacente.
longe, a causa mais comum de HSAnt é a hemorragia
subaracnóidea aneurismática (HSAn). Já que a maioria
Hemorragia extra-axial dos aneurismas intracranianos se origina do polígono de
As hemorragias extra-axiais espontâneas podem ocorrer Willis e da bifurcação da artéria cerebral média, a HSAn
em qualquer um dos três grandes compartimentos ana tende a se espalhar através das cisternas da base e se es
tômicos, como o espaço epidural, o espaço subdural e o tender às fissuras de Sylvius (Fig. 4-6).
Abordagem às hemorragias não traumáticas e às lesões vasculares 81
Hemorragia epidural
A patogênese dos hematomas extradurals é quase sempre Hemorragia subaracnóidea e aneurismas
traumática e provém da laceração de artérias meníngeas, O trauma é - de longe - a causa mais comum de hemor
fraturas ou ruptura de seios venosos durais. ragia subaracnóidea. A HSA é encontrada em 100% dos
A maioria é encontrada no espaço epidural espinal - e pacientes com traumatismo craniencefálico grave fatal e é
não craniano - e é uma condição de emergência que pode comum naqueles com traumatismo craniencefálico fecha
resultar em paraplegia, quadriplegia e até mesmo morte. do não fatal moderado a grave.
Os pacientes idosos anticoagulados estão em maior risco. O Capitulo 6 concentra-se na HSA "espontânea" não
As hemorragias epidurals espontâneas intracranianas traumática, que causa entre três e cinco por cento de todos
são bastante raras. A maioria dos casos relatados está as os insultos agudos. Destes, quase 80% são causados pela
sociada a alterações na coagulação, infecção craniofacial, ruptura de um aneurisma sacular. A HSA geralmente pode
freqüentemente mastoidite ou sinusite do seio esfenoidal, ser distinguida de uma HSA não aneurismática pela sua dis
trombose de seio durai, infarto ósseo (p. ex., em pacientes tribuição no exame de TC sem contraste (ver anteriormente).
com anemia falciforme) ou lesões vasculares da calvária Os aneurismas saculares clássicos {berry) assim
(p. ex., hemangioma, metástase ou cisto epidermoide in- como os menos comuns aneurismas dissecantes, pseudoa
tradiploico) (Fíg. 4-9). neurismas, aneurismas fusiformes e aneurismas em ampo-
la {blister-like) são discutidos neste capítulo.
Hemorragia subdural
O trauma também é a causa da grande maioria dos he Malformações vasculares
matomas subdurals (HSs). Os HSs representam menos de As malformações cerebrovasculares (MCV) são um gru
5% de todos os casos. Muitos ocorrem com depleção do po de alterações fascinantes e notadamente heterogêneas
volume do LCS e com hipotensão intracraniana, que pode com características fisiopatológicas e de imagem únicas.
ameaçar a vida quando suficientemente grave. A maioria O Capitulo 7 discute os quatro maiores tipos de malfor
dos casos de hipotensão intracraniana espontânea é se mações vasculares, agrupando-os conforme se comporta
cundária à ruptura durai após punção lombar, mielografia, o shunt, se diretamente da circulação arterial para venosa,
anestesia espinal ou cirurgia craniana. sem passar pelo leito capilar.
Os HSs não traumáticos têm sido relatados em as As MCVs que demonstram shunt AV incluem as mal
sociação a diversas outras condições, incluindo desidra formações arteriovenosas (MAVs) (Fíg. 4-10) e as fistulas
tação hiponatrêmica, alterações de coagulação inatas ou arteriovenosas (FAVs). A entidade chamada angiopatia
adquiridas, trombose de seio venoso durai e meningite. cerebral proliferativa, recentemente descrita, está incluída
Alguns poucos casos de HS espontâneo ocorrem di nesta seção. A angiopatia cerebral proliferativa pode si
retamente adjacentes a uma hemorragia periférica lo mular uma MAV nos estudos de imagem, mas possui ca
bar e estão associados a uma vasculopatia subjacente racterísticas únicas, que podem influenciar nas decisões
(tal como doença amiloide cerebral com formação de de tratamento.
82 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
4-10 Caso de autópsia de uma malformação arteriovenosa causando 4-11 Fotomlcfografia de baixa magnificação de uma leiangiectasia ca
hemorragia intracraniana massiva. Observe a drenagem venosa proemi pilar encontrada iticidentaimente em uma autópsia. Observe numerosos
nente B sobre a superfície do hemisfério. (Cortesia de R. Hewlett, MD.) "buracos" E3 causados pelos inúmeros capilares dilatados e a ausência
de eleito de massa ou de hemorragia. (Cortesia de P. Burger, MD.)
imagem da isquemia/ínfarto cerebral. tante do corpo. As veias sistêmicas, em geral, têm trajeto
O principal foco do capítulo é o infarto tromboem- paralelo às artérias e espelham os seus territórios vascula
bólico nos territórios arteriais cerebrais, já que eles são, res. Não é assim no cérebro. As veias sistêmicas têm vál
de longe, a causa mais comum de isquemia aguda (Fig. vulas e o fluxo costuma ser unidirecional.
4-12). Infartos subagudos e crônicos serão brevemente As veias cerebrais e os seios durais carecem de válvu
discutidos. Embora não sejam, por costume, receptivos las e podem, consequentemente, exibir fluxo bidirecional.
ao tratamento intravascular, eles são, todavia, vistos nos As veias sistêmicas possuem numerosos trajetos colate
estudos de imagem e devem ser reconhecidos como se rais que podem se desenvolver em caso de oclusão. Pou
qüelas de eventos isquêmicos prévios (Fig. 4-13). cos ramos colaterais existem dentro da calvária.
Abordagem às hemorragias não traumáticas e às lesões vasculares 83
Infarto cerebral
isquêmico
80%
HI"espontânea"
priméria 14%
Ociusão venosa 1%
Miscelânea 1%
4-12 Diagrama mostrando que o infarto isquêmico cerebral represen 4-13 Autópsia de infarto cerebral subagudo com transformação
ta a grande maioria dos AVCs. A segunda causa mais comum é a hemor hemorrágica no cortex occipital HI e tálamo contralateral [S. A distri
ragia intracraniana primária, seguida de hemorragia subaracnóidea não buição anatômica é a de um infarto territorial posterior (vertebrobasilar).
traumática. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
O Capítialo 9 começa com uma breve discussão so AVC e para as bases das decisões relacionadas ao trata
bre a anatomia venosa normal e os padrões de drenagem mento, identificar uma placa prona à ruptura é ao menos
antes de considerar as diversas manifestações da ociusão tão importante quanto identificar a estenose.
venosa. A trombose venosa causa apenas 1% de todos os O bastante negligenciado, mas importante tópico de
infartos, e sua apresentação clínica é muito menos distinta aterosclerose intracraniana também é discutido. Embora
do que a da maioria das oclusões arteriais. Talvez seja por êmbolos trombóticos cardíacos e de grandes vasos causem
isso que esse seja o tipo de infarto mais freqüentemente a maioria dos AVCs arteriais, entre cinco e 10% podem
negligenciado nos exames de imagem. O infarto venoso ser atribuídos à doença esteno-oclusiva intracraniana (Fig.
também pode simular outras doenças (p. ex., neoplasias), 4-15). O tópico de arteriosclerose (p. ex., doença vascular
e, em contrapartida, diversas alterações podem simular de pequenos vasos) também é considerado aqui e nova
trombose venosa. mente na seção subsequente sobre doenças metabólicas.
As doenças não ateromatosas da vasculatura cerebral
Vasculopatios são muito menos comuns do que a aterosclerose e suas
o Capitulo 10, o capítulo final desta seção, é dedicado à seqüelas. Contudo, diversas vasculopatias podem ter
vasculopatia cerebral. Esse capítulo começa com uma re conseqüências graves e devem ser reconhecidas nos es
visão sobre a anatomia arterial extracraniana iiomial com tudos de imagem. Esse grupo heterogêneo de alterações
atenção especial às artérias carótidas e suas variantes. inclui displasia fibromuscular, dissecção, vasospasmo e
A maior parte do capitulo trata da vasculopatia cere a incomum, porém importante síndrome da vasoconstri-
bral e está organizada em duas partes: doença ateroscleró- ção cerebral, bem como o freqüentemente confuso tópi
tica (Flg. 4-14) e não aterosclerótica. O conceito de placa co das vasculites.
aterosclerótica "vulnerável" ou "em risco" é enfatizado. O capitulo das vasculopatias finaliza com o tópico
Na verdade, embora a mensuração do percentual de este- das doenças microvasculares não ateromatosas, tais como
nose da artéria carótida interna tenha sido destacada desde lúpus eritematoso sistêmico, síndrome antifosfolipideo e
os anos de 1990 como o principal preditor para risco de angiopatia amiloide.
84 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
4-14 Caso de autópsia mostrando trombose de uma carótida interna 4-15 A descoloração amarelada e ectasia per DVA está mais proemi
em sua porção cavernosa supraclinóidea B e aterosclerose na ou nente na circulação posterior B, mas as ACis S e as ACMs B tam
tra ACl. (Cortesia de R. Hewlett, MD.) bém estão afetadas. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
5-1 (A) A hemorragia hiperaguda é um coágulo rico em água que é composto por 95 a 98% de oxi-Hgb. (B) A he
morragia aguda contém principalmente oxi-Hgb. Algumas Hems no centro muito hipóxico do coágulo podem conter
desoxi-Hgb. (C) Coágulos subagudos precoces contêm desoxi-Hgb no centro e met-Hgb intracelular na periferia. (0)
Coágulos subagudos tardios contêm principalmente met-Hgb extracelular. (E) Coágulos crônicos contêm uma quan
tidade de met-Hgb extracelular amarelada circundada por um halo de hemossiderina. (F) Apenas uma cicatriz em
formato de fenda permanece posteriormente.
cuia heme com um átomo de ferro circundado por um anel os efeitos diagmagnéticos da oxi-Hgb são predominantes
de porfirina. no hematoma.
A Hgb do interior das células vermelhas (Hem) do Nos hematomas recentes, eritrócitos intactos mistu
sangue que estão extravasando no interior de uma HIP ram-se ao parênquima cerebral adjacente na interface en
rapidamente dessaturam. A Hgb totalmente oxigenada tre o parênquima e o hematoma. Um edema forma-se ao
(oxi-Hgb) contém íon ferroso não paramagnético. Em redor do hematoma após poucas horas do início do evento
um hematoma, a oxi-Hgb é inicialmente convertida para e está associado a efeito expansivo, aumento da pressão
desoxi-hemoglobina (desoxi-Hgb). intracraniana e dano cerebral secundário.
Com o tempo, a desoxi-Hgb é metabolizada em meta-
Hemorragia aguda. Entre um e três dias de evolução. A
-hcmoglobina (met-Hgb). que contém íon férrico. Confor
me as células vermelhas sofrem lise, a met-Hgb é liberada hipoxia grave no interior do coágulo induz transforma
e posteriormente degradada e reabsorvida. A conversão ção da oxi-Hgb em desoxi-Hgb. O ferro na desoxi-Hgb
do íon férrico em hemossiderina e ferritina é feita pelos apresenta quatro elétrons desemparelhados e conseqüente
efeito paramagnético.
macrófagos. Embora a desoxi-Hgb seja paramagnética, enquanto
A maior fonte de depósito de ferro não heme no cé
rebro humano é a ferritina. Embora o ferro seja essencial permanece no interior das hemácias intactas, ela é prote
gida das interações diretas dipolo-dipolo com prótons de
para o funcionamento da função cerebral humana, a so
água do plasma extracelular. Nesse estágio, os efeitos de
brecarga de ferro tem efeitos devastadores. A peroxidação
susceptibilidade magnética são determinados pelas diferen
lipídica e a formação de radicais livres promovem lesão
ças entre os "microambientes" dentro e fora dos eritrócitos.
cerebral oxidativa após Hl que pode continuar por sema
nas ou meses. Hemorragia subaguda precoce. Definida quando o coágulo
tem entre três dias e uma semana de evolução. A hemo
Estágios da hemorragia intraparenquimatosa globina persiste no interior dos eritrócitos e a contida no
Cinco estágios na evolução temporal dos hematomas são centro hipóxico do coágulo permanece como desoxi-Hgb.
descritos: hiperagudo, agudo, subagudo precoce, subagudo A periferia do coágulo degenera-se mais rapidamente e
tardio e crônico. Cada um deles tem suas próprias caraterís- contém met-Hgb intracelular, que é altamente paramagné
ticas que dependem de três fatores-chave: (1) estrutura do tica, porém as membranas intactas dos eritrócitos evitam
coágulo, (2) integridade das células vermelhas e (3) estado as interações diretas dipolo-dipolo.
da oxigenaçào da hemoglobina. Os aspectos de imagem Nessa fase, há desenvolvimento de resposta infla-
dependem do estágio do hematoma (Fig. 5-1), (Tab. 5-1). matória celular perl-hematoma. A medida que as células
O hematoma é composto por duas regiões distintas: imunológicas infiltram o parênquima adjacente ao coágu
central e periférica. Em geral, a degradação da hemoglo lo, ocorre ativação das células microglials.
bina inicia-se na periferia e progride em direção ao centro.
Hemorragia subaguda tardia. Dura de uma a várias sema
Hemorragia hiperaguda. Entre minutos até 24 horas de evo nas. A medida que as hemácias sofrem lise, a met-Hgb
lução. A maioria das hemorragias hiperagudas é avaliada toma-se extracelular. e agora se encontra diretamente
por imagem entre 4 e 6 horas e em geral antes de 24 horas. exposta à água plasmática, com conseqüente redução do
Inicialmente, o coágulo de tibrina é frouxo, contém plas tempo de relaxamento TI e prologamento do tempo de
ma, plaquetas e células vermelhas intactas. Nesse estágio. relaxamento T2.
Tempo
Estágio (intervalo) Produtos do sangue TC TI T2 W Difusão
Subagudo >3 dias a Met-Hgb intracelular Isodenso Hiperintenso Hipointenso Muito hipointenso +
precoce 1 semana
n
lesão com efeito expansivo e si
nal misto hipo/iso/hiperintenso
S com níveis líquidos BSI, su
gerindo sangramento rápido.
5-3D O paciente apresentou
descerebração minutos após o
término da RM. Nova TC mos
trando hemorragia massiva
bifrontal com densidade mista e
edema cerebral difuso. Achados
de hemorragia hiperaguda asso
ciada a sangramento rápido e ã
coagulopatia de base.
à
Hemorragia parenquimatosa espontânea 89
descritos a seguir e na Tabela 5-1 são calculados em apa ragudo apresenta halo hipointenso e centro iso a levemente
relhos de 1.5 T. Em aparelhos de 3.0 T, todas as partes hiperintenso (onde predomina oxi-Hgb) em T2 (Fig. 5-3C).
do coágulo agudo e subagudo precoce têm hipodensidade A falta de homogeneidade macroscópica de um co
mais evidente tanto em FLAIR quanto em T2. águlo e conseqüente defasagem dos spins resulta em hi-
pointensidade heterogênea (artefato de susceptibilidade
Hemorragia hiperaguda magnética) nas seqüências T2*.
TC. Se for realizada imagem de um coágulo alguns minutos
após o ictus, ele será frouxo, pobremente organizado e pre Hemorragia aguda
dominantemente não retraído (Fig. 5-2). O conteúdo de água TC. O hemaiócrito do coágulo retraído chega a 90%. Portan
é alto, fazendo com o que hematoma hiperagudo apareça iso to, o hematoma agudo costuma ser hiperdenso na TC sem
ou até mesmo hipodenso em relação ao parênquima cerebral contraste, apresentando densidade entre 60 e 80 UH (Fig.
adjacente (Fig. 5-3A). Se sangramento ativo for evidencia 5-4A). Exceções para essa regra são encontradas nas he
do. a presença de sangue coagulado e não coagulado resulta morragias de pacientes extremamente anêmicos com hema-
em um hematoma com densidade mista, com áreas hipoden- tócritos muito baixos ou em pacientes com coagulopatias.
sas e moderadamente hiperdensas (Fig. 5-3D). Sangramento
RM. Hematomas parenquimatosos agudos apresentam sinal
rápido e coagulopatia podem resultar em níveis líquidos. baixo a intermediário em TI (Fig. 5-4B). Edema vasogêni-
RM. A oxi-Hgb não possui elétrons desemparelliados e é dia- co sígnillcalivo desenvolve-se ao redor do coágulo e tem
magnctica. Portanto, o sinal do coágulo hiperagudo depende baixo sinal cm TI e alto sinal em T2/FLAIR (Fig. 5-4C). À
sobretudo do conteúdo de água. Coágulos hiperagudos são medida que o coágulo retrai, o conteúdo de água diminui e
iso ou levemente hipointensos em TI (FIg. 5-3B). Após al o hematoma torna-se progressivamente menos hiperintenso
guns minutos do início da hemorragia, tem início a forma em T2. O "envelhecimento" do coágulo acontece da peri
ção de desoxi-Hgb na periferia do coágulo. O coágulo hipe feria para o centro, de modo que a hipointensidade de sinal
RM. Ferritina intracelular e heniossiderina sào hipoin- tumoral e hemorragia não neoplásica ("pura"). A TC de
tensas tanto em imagens ponderadas em TI quanto em dupla energia também pode ajudar a diferenciar Hl de hi-
T2. Uma cavidade hiperintensa com artefato de suscep- perdensidade pelo extravasamento do meio de contraste.
tibilidade magnética periférico em T2* pode persistir por Imagens por RM com sequêcias-padrào, contraste e
meses ou até anos (Fig. 5-9). Finalmente, apenas uma hi- saturação de gordura podem ser extremamente iiteis. A se
pointensidade cicatricial em fenda persiste como evidên qüência T2* (SWI, GRE) sempre deve ser incluída, pois
cia da hemorragia parenquimatosa prévia. a identificação de outros sítios "silenciosos" de micros-
sangramentos afeta tanto o diagnóstico quanto as decisões
Etiologia das hemorragias parenquimatosas terapêuticas.
não traumáticas Recém-nascidos e lactentes com MIE
Existem muitas causas para hemorragias intracranianas A Hl em recém-nascidos a termo é mais comumente as
não traumáticas ("espontâneas") ou não explicadas. O ob sociada a trabalho de parto prolongado ou precipitado,
jetivo da imagem em tais casos é localizar o hematoma, instrumentação (p. ex., fórceps ou vácuo-extrator) e pri-
estimar sua idade pelas características de imagem e tentar
mogestaçào. A causa mais comum de hemorragia intracra
identificar possíveis causas subjacentes. niana espontânea em recém-nascidos com menos de 34 se
O efeito da idade na eliopatogenia da HIE é funda manas de gestação é hemorragia de matriz germinativa.
mental. O conhecimento da idade do paciente é extrema A matriz germinativa é uma estrutura dinâmica rela
mente importante para estabelecer um diagnóstico dife cionada ao desenvolvimento, altamente vascular, locali
rencial apropriado e preciso. zada na zona subventricular cerebral. A matriz germinati
Pacientes com HIE atípica ou não explicada na TC va contém múltiplos tipos celulares, incluindo neurônios
sem contraste podem ser beneficiados com TC de dupla migratórios/pré-migratórios, glia e células-tronco neuro
energia, a qual pode ajudar a distinguir entre sangramento nals. A ruptura dos frágeis capilares da matriz genninativa
J
96 Hemorragias nao traumáticas e lesões vasculares
Recém-nascidos e lactentes
• Comum
o Hemorragia da matriz germinativa (<34 semanas
5-19 TC sem coniraste em uma paciente de 23 anos de idade gestacional)
com cefaleia demonstrando hemorragia temporopa o Trombose venosa nos seios durais (234 semanas de
rietal esquerda B. A VTC demonstrou ociusao do seio
idade gestacional)
transverso e veia de Labbé.
• Rara
o Doença protrombótica congênita
o Trombocitopenia
o Hemofilia
o Sangramento por deficiência de vitamina K
Crianças
• Comum
o Malformação vascular (~S0%)
• Menos comum
o Doença hematológica
o Vasculopatia
o infarto venoso
• Rara
o Neoplasia primária
Adultos jovens
• Comum
o Malformação vascular
5-20 Uma mulher de 22 anos com eclampsia tem le o Abuso de drogas
sões occipitais B com edema e hemorragia, Sindrome • Menos comum
da encefalopatia posterior reversível (PRES). o Oclusão venosa
o PRES (eclampsia, pré-eclâmpsia)
• Rara
o Neoplasias (primária e metastática)
o Vasculhes
Adultos de meia-idade e idosos com HIE cumulativo de sangramento anual de 2 a 4%, um primei
ro sangramento de MAV nessa idade é pouco provável,
As duas causas mais comuns de HIE em adultos de meia-
embora possa ocorrer. O mesmo ocorre com hemorragias
-idade e em idosos são hipertensão e angiopatia amiloi-
de malformações cavernomatosas. Entretanto, fistulas
de, ambas discutidas em detalhes posteriormente. Cerca
arteriovenosas durais (FAVds) ocorrem em pacientes
de 10% das hemorragias parenquimatosas espontâneas
são causadas por sangramento no interior de uma neo idosos. Enquanto as FAVds raramente sangram a menos
que tenham drenagem venosa cortical (e não drenagem
plasia cerebral, geralmente tanto um tumor primário de
alto grau, como um glioblastoma multiforme (Fig. 5-17), em seio venoso), a trombose espontânea de uma veia de
saída pode resultar em HI repentina.
quanto uma metástase hemorrágica de um tumor primário
Causas raras, porém importantes de HIE nessa faixa
extracraniano, como um carcinoma de células renais.
etária incluem vasculíte (mais comum em pacientes jo
Uma causa menos comum, porém importante, de HIE
nesse grupo etário é o ínfurto venoso. Infartos venosos são vens) e leucocncefalopatia hemorrágica aguda.
causados por trombose de veia cortical, com ou sem ociusào
de seio durai (Fíg. 5-18). A coagulopatia iatrogênica tam Múltiplas HIES
bém é comum em pacientes idosos, visto que muitos utili Hemorragias parenquimatosas solitárias são muito mais
zam doses de manutenção de varfarina por fibrilação atrial. comuns do que sangramentos multifocais. A etiologia va
ria conforme a idade do paciente.
Eventualmente, um ancurísma sacular se apresenta
como hemorragia lobar focal em vez de hemorragia su- Sangramentos cerebrais multifocais que ocorrem em
baracnóidea. A topografia mais comum é na artéria co- todas as idades incluem trombose venosa (Fíg. 5-19),
municanle anterior, projetando-se superolateralmente e PRES (Fíg. 5-20), vasculite (especialmente fúngica), em
bolia séptica, microangiopatia trombótica e leucocncefa
rompendo para o interior do lobo frontal.
Malformação vascular é uma causa relativamen lopatia hemorrágica aguda.
te rara de MIE em pacientes mais velhos. Com um risco
HI hipertensiva
Terminologia
Hemorragia intracraniana hipertensiva (HIH) é a manifes
tação aguda da HI não traumática secundária à hiperten
são (HTN) arterial sistêmica. A encefalopatia hipertensiva
crônica refere-se aos efeitos de HTN de longa data no pa-
5-25 Necropsia demonstrando HIH aguda 3] e
crônica Si associada a múltiplas pequenas micro- rénquima cerebral e é mais comumente vista como doença
-hemorragias gangliõnicas antigas (Cortesia de R.
de substância branca subcortical e/ou microssangramen
Hewlett, MD.) tos multifocais.
Hemorragia parenquimatosa espontânea 101
Ti
5-26A TC axial sem conlrasle em uma paciente de 57 anos hipertensa 5-26B ATC coronal com técnica de MIP mostrando que as artérias len
demonstrando uma hemorragia estriatocapsular clássica ã esquerda B. ticuloestriadas E3 à esquerda são deslocadas pelo hematoma mas
não existe evidência de extravasamento de contraste ou pseudoaneuris
mas que sugiram risco aumentado de expansão do hematoma.
Etiologla
A hipertensão acelera a aterosclerose com lipo-hialinose que medem vários centímetros em diâmetro (Fig. 5-25).
e necrose fibrinoide. Ramos penetrantes proximais das Quando seqüências T2* são utilizadas, a maioria dos pa
artérias cerebrais média e anterior, sobretudo as artérias cientes com HIH apresenta miáltiplas lesões.
lenticuloestriadas (ALEs), são mais gravemente afetados,
Patologia macroscópica. O achado mais comum em HIH
possivelmente pelo ângulo de ramificação com o vaso de é um grande hematoma gangliônico que costuma se es
onde se originam.
tender medialmente para o interior dos ventrículos (Fig.
O enfraquecimento progressivo e a degeneração
acelerada da parede da ALE permitem a formação de pe 5-24). Hidrocefalia e efeito expansivo com herniação
subfalcial são complicações comuns.
quenos pseudoaneurismas ("aneurismas de Charcot-Bou-
chard"). Acredita-se que a ruptura de um pseudoaneu- Características microscópicas. Arteriosclerose generalizada
risma de ALE seja a gênese da maioria das hemorragias com lipo-hialinose e necrose fibrinoide são achados co
hipertensivas estriatocapsulares. muns em pacientes com HIH. Em alguns casos, pequenos
pseudoaneurismas flbrosados nos núcleos da base podem
Patologia s e r i d e n t i fi c a d o s .
Localização. A cápsula extema/putame é o local mais co
mum (Fig. 5-23), (Fig. 5-24). Essas hemorragias, também Aspectos clínicos
chamadas de estriatocapsulares, respondem por aproxi Epioemiologia. Embora a prevalência da HIH tenha reduzi
madamente dois terços de todas as HIHs. O tálamo é o do significativamente, a hipertensão ainda responde por
próximo local mais freqüente, respondendo por 15 a 25% 40 a 50% das hemorragias intraparenquimatosas espon
dos casos. Ponte e cerebelo são o terceiro local mais co tâneas "primárias" em pacientes idosos e em adultos de
mum, com 10% de todas as HIHs. Hemorragias lobares meia-idade. A HIH é 5 a 10 vezes menos comum do que
respondem por mais 5 a 10%. o infarto e a isquemia cerebral, respondendo por cerca de
Mijltiplos microssangramentos são comuns em pa 1 0 a 1 5 % d o s AV C s .
cientes com hipertensão crônica. Microssangramentos re
Aspectos demográficos. O risco geral de doença cardiovas
lacionados à hipertensão tendem a agrupar-se nos núcleos
cular - incluindo HIH - aumenta de forma significativa
da base e do cerebelo, com poucas lesões no córtex e na
com hipertensão sistólica e diastólica, hipertensão diastó-
substância branca subcortical.
lica isolada e hipertensão sistólica isolada. A hipertensão
Número e tamanho. O tamanho varia de diminutos sangra- arterial aumenta o risco de HI quatro vezes em compara
mentos submilimétricos a grandes lesões macroscópicas ção com os pacientes normotensos.
102 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
f
sofre restrição; entretanto, a área
de hiperintensidade de sinal El
entre o hematoma e o quarto
ventrículo sugere edema citotó-
xico associado.
5-27F ADC no mesmo pacien
te demonstrando que a área de
hiperintensidade vista na difusão
agora encontra-se hipointensa
ES, indicando verdadeira restri
ção a difusão.
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E 2
104 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
ou interface da substância cinzenta com a substância bran loide cerebral é discutido em mais detalhes no capítulo
ca e menos freqüentes nos núcleos da base e no cerebelo. sobre vasculopalias (Capítulo 10).
Com exceção das FAVds, a hemorragia de uma mal A A A C c a u s a c e r c a d e l % d e t o d o s o s AV C s e 1 5 a
formação vascular é pouco freqüente em pacientes ido 20% dos sangramentos intracranianos primários em pa
sos e em adultos de meia-idade, o grupo mais suscetível cientes com mais de 60 anos. A idade média de apresenta
à HIH. Coagulopatia pode causar ou exacerbar uma HI ção é de 73 anos. Os pacientes com AAC são normotensos
espontânea. A maioria das hemorragias relacionadas à e moderadamente demenciados.
coagulação são lobares e não estriatocapsulares. Imagens por TC sem contraste demonstram um ou mais
Em pacientes jovens, o abuso de drogas (p. ex., uso hematomas lobares, em geral com diferentes idades de evo
de cocaína) com hipertensão extrema pode causar hemor lução (FIg. 5-29B). O lobo parietal é o local mais comumen-
ragias putaminais e na cápsula externa. Hemorragias nos te afetado. Alguns poucos pacientes com AAC - em especial
núcleos da base induzidas por drogas podem se apresentar aqueles com cefaleia de início súbito e intenso - podem de
idênticas às HIHs vistas em pacientes idosos. monstrar hemorragia subaracnóidea Junto ao vórtex cerebral.
A trombose venosa cerebral interna pode ocorrer A RM é o estudo mais sensível para detectar AAC.
em todas as faixas etárias. Essas hemorragias tendem a A maioria dos pacientes apresenta áreas multifocais e
ser bilaterais, lalâmicas e localizadas mais medialmente confluenles de hiperintensidade da substância branca em
do que os sangramentos estriatocapsulares da HIH. T2/FLAIR. Cerca de um terço tem evidência de micro-
-hemorragias lobares ou petequiais antigas, vistas como
múltiplos pontos pretos com artefato de susceptibilida-
HEMORRAGIA INTRACRANIANA de magnética em seqüências ponderadas em T2* (GRE,
HIPERTENSIVA (HIH) SWI) (Fig. 5-29C). (Fig. 5-29D).
Etiologia
• OVA acelerada Hemorragia cerebelar remota
o Especialmente nas artérias lenticuloestriadas
• Necrose fibrinoide ^ pequenos pseudoaneurismas
Terminologia e etiologia
• Ruptura ^ pseudoaneurisma -> hemorragia A hemorragia cerebelar remota (HCR) é uma causa pouco re
conhecida e muitas vezes diagnosticada erroneamente como
estriatocapsular
hemorragia parenquimatosa espontânea da fossa posterior
Localização em pacientes em pós-operatório. A maioria dos casos rela
• Putame/núcleos da base (60 a 65%)
tados ocorre algumas horas após uma craniotomia supraten-
• Télamo (15 a 25%)
• Ponte/cerebelo (10%) torial. A HCR também ocorre como uma complicação rara
• Hemisférios (5 a 10%) de cimrgia descompressiva do forame magno ou da coluna.
• Múltiplos microssangramentos são comuns A etiologia mais provável para a HCR é hipovolemia
do LCS, com deslocamento inferior ou rebaixamento dos
Aspectos clínicos hemisférios cerebelares. A ruptura ou oclusão das veias
• l O a 1 5 % d o s AV C s
• 40 a 50% das hemorragias espontâneas em pacientes que drenam em direção ao tentório do cerebelo resulta
em hemorragia cerebelar superficial, com ou sem necrose
idosos
hemorrágica.
Imagem
• Clássico = coágulo hiperdenso no putame/cápsula Aspectos clínicos
externa A HCR é relativamente rara, ocorrendo em 0,1 a 0,6% dos
• Procurar por "cicatrix antiga" de hemossiderina e
pacientes com craniotomias supratentoriais, mais freqüen
microssangramentos em T2'' temente para clipagem de aneurismas, epilepsia do lobo
Diagnóstico diferencial temporal ou ressecção tumoral. Existe uma leve predomi
• Angiopatia amiloide cerebral nância no sexo masculino. A idade média é de 51 anos.
• Neoplasia hemorrágica Muitos - senão a maioria - dos casos de HCR são as-
• Trombose de veia cerebral interna
sintomáticos e descobertos incidentalmente nas imagens
• Abuso de drogas (p. ex., uso de cocaína)
pós-operatórias. Os sintomas mais comuns relacionam-se
com demora para recuperar a consciência após anestesia,
rebaixamento da consciência e convulsões.
Angiopatia amiloide cerebral O prognóstico costuma ser excelente e o tratamento
A angiopatia amiloide cerebral (AAC) é uma das três va em geral é conservador, com a remoção do hematoma ra
riações morfológicas da doença de depósito de amiloide ramente indicada.
cerebral (Fig. 5-29A). Visto que a AAC - também conhe
cida como "angiopatia congofílica" - é uma causa comum Imagem
de hemorragia lobar espontânea, ela será brevemente dis A TC sem contraste demonstra linhas de sangue em ca
cutida neste capitulo. O espectro completo da doença ami madas hiperdensas sobre as folias cerebelares (sinal da
Hemorragia parenquimatosa espontânea 105
"zebra"). A hemorragia pode ser uni ou bilateral, ipsi ou desde trauma e infecção até vasculopatia e metástases. To
contralateral ao sítio cirúrgico (Fig. 5-30). das essas etiologias são discutidas em detalhes nos respec
Os achados por RM são variáveis e dependem da ida tivos capítulos que lidam com cada grupo de patologias.
de/estágio da evolução do hematoma. Linhas de baixo si Nesta seção, serão sintetizadas duas causas distintas
nal com artefato de susceptibilidade magnética podem ser porém com diagnóstico diferencial relacionado: (1) enti
identificadas em T2* (GRE, SWI) (Fig. 5-31). dades que causam microssangramentos cerebrais difusos
e (2) diagnóstico diferencial dos pontos pretos ou pontos
pretos com artefato de susceptibilidade magnética nas
imagens T2* de RM que em geral aparentam semelhança,
Micro-hemorragias mas nâo são causadas por micro-hemorragias.
Por muitos anos, os patologistas têm notado a presença de
micro-hemorragias nos cérebros necropsiados. Enquanto Microssangramentos cerebrais multifocais
wacra-hemorragias são facilmente detectadas tanto na TC Um número variado de entidades pode causar micro-he
quanto na RM, até recentemente w/crossangramentos ce morragias cerebrais difusas (Fig. 5-32), (Fig. 5-33), e a
rebrais eram invisíveis. Com o advento das imagens T2* etiologia dos MSCs varia conforme a idade do paciente.
(ORE, SWI), alterações de microssusceptibilidade no cé Trauma com dano axonal hemorrágico é a causa mais co
rebro podem ser agora facilmente detectadas. mum de MSCs em crianças e em adultos jovens. Hiper
Microssangramentos cerebrais (MSCs) representam tensão crônica com lipo-hialinose arteriolar e angiopatia
coleções perivasculares de macrófagos com hemossideri- amiloide são as duas patologias mais comuns responsá
na. Eles indicam sangramentos prévios de uma microan- veis por MSCs em adultos mais velhos.
giopatia com tendência a micro-hemorragias. MSCs são Além da idade, a história do paciente (p. ex., trauma,
freqüentemente mútiplos e apresentam várias etiologias. hipertensão, infecção, tratamentos como cirurgia e radio-
5-30 TC sem contraste após craniotomia supratentorial S demons 5-31 Hemorragia cerebeiar remota bilaterai após ressecção de neopia-
trando linhas alternadas de hiperdensidade (sangue) e baixa densidade sia supratentorial. (Superior) Imagem T2* GRE demonstrando artefato de
(edema) El no hemisíério cerebelar direito (sinal da "zebra"), consis susceptibiiidade magnética bilateral S3, (inferior) Imagem ponderada em
tente com hemorragia cerebelar remota. difusão demonstrando alguma restrição na hemorragia aguda ã direita.
terapia) é muito importante para estreitar o diagnóstico di Causas nõo hemorrágicas de pontos pretos
ferencial dos MSCs. O quadro a seguir agrupa as entidades com artefato de susceptibiiidade magnética
comuns, as menos comuns e as raras, porém importantes.
Além dos MSCs, uma quantidade de entidades não he
morrágicas determina o aparecimento de "pontos pretos"
MICROSSANGRAMENTOS CEREBRAIS: ETIOLOGIA multifocals nas imagens T2*. Elas estão sintetizadas no
quadro a seguir, novamente agrupadas em causas comuns,
Comuns
em menos comuns e em raras, porém importantes.
• Dano axonal/vascular difuso
• Angiopatia amiloide cerebral
o Polimorfismo da apolipoproteína E4 CAUSAS NÃO HEMORRÁGICAS DE PONTOS
• Encefalopatia hipertensiva crônica
PRETOS COM ARTEFATO DE SÜSCEPTIBILIDADE
• Metastases hemorrágicas
MAGNÉTICA EM T2*
Menos comuns
• Malformações cavernomatosas múltiplas Comuns
• Pneumoencéfalo
• Septicemia
• Embolia gordurosa Menos comuns
• Vasculite • Múltiplas calcificações parenquimatosas
o Fúngica o Neurocisticercose
o Anemia falciforme o Tuberculomas
• Coagulopatia
Raras mas Importante
Raras mas importantes • Circulação extracorpórea
• Leucoencefalopatia hemorrágica aguda • Complicações de dispositivos
• Linfoma intravascular o Válvulas cardíacas metálicas
• Leucemia
• Radioterapia/quimioterapia
o Telangiectasias induzidas por radioterapia
o Microangiopatía mineralizante
• Microangiopatía trombótica
o Hipertensão maligna
o Coagulopatia intravascular disseminada
o 5HU/Pn
• Edema cerebral relacionado a grandes altitudes
Hemorragia parenqulmatosa espontânea 107
5-32 Necíopsia em um paciente imunocomprometido demonstrando 5-33 Necropsla demonstrando múltiplas micro-hemorragias mesen-
múltiplas micro-hemorragias corlicais (3. (Cortesia de R. Hewlett, MD.) céfalicas relacionadas a malformações cavernomatosas, (Cortesia dos
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Patologia
Localização. Como a maioria dos aneurismas saculares
Hemorragia subaracnóidea origina-se no círculo de Willis (CW) ou na bifurcação da
A HSA não traumática (USAnt) pode ter origem aneuris artéria cerebral média (ACM), as localizações mais co
mática ou não aneurismática e ser aguda ou crônica na muns da HSA aneurismática são a cisterna suprasselar e
as fissuras silvianas (Figs. 6-2 e 6-3).
apresentação. Inicia-se esta discussão com a HSA aneuris
As vezes, o aneurisma se rompe diretamente no inte
mática e suas complicações mais devastadoras, vasospas-
mo e isquemia cerebral secundária. rior do parênquima cerebral em vez de no espaço subarac-
noide. Isso ocorre com mais freqüência quando o ápice de
Em seguida, serão revisados dois tipos especiais de
HSA não traumática e não aneurismática: a HSA peri- um aneurisma da artéria comunicante anterior (AComA)
mesencefálica e o padrão reconhecido recentemente de aponta superiormente e se rompe para o interior do lobo
frontal.
HSA, chamado de hemorragia subaracnóidea da con-
vexidade. Por fim, serão discutidas a HSA crônica de Patologia macroscópica. O aspecto macroscópico da HSAn
repetição e sua rara, porém importante, manifestação, a é em geral caracterizado pelas cisternas basais repletas de
siderose superficial. sangue. A HSA pode se estender aos sulcos superficiais e
Hemorragia subaracnóidea e aneurismas 111
Cefaieia moderada/intensa + rigidez da GCS = 13-15, sem déficit GCS = 12-14 HSA s 1 mm + NI
nuca e/ou paralisia de nervo craniano neurológico
Sonolento, confuso; déficits neurológicos GCS = 13-15, déficit neu GCS = 9-11 HSA > 1 mm, sem HI
leves rológico focai
Estupor, hemiparesia moderada/grave, GCS = 7-12 GCS = 6-8 HSA > 1 mm + HI ou hemorragia
descerebração precoce parenquímatosa
GCS, escala de coma de Glasgow; HI, hemorragia intravenlricular; N/A, não aplicável; HSA, hemorragia subaracnóidea; TC, tomografia computadorizada; WFNS,
World Federation of Neurological Societies
ventrículos. Graus variados de estreitamento arterial cau Graduação clínica da HSA. Embora várias escalas já tenham
sado por vasospasmo podem estar presentes (ver a seguir). sido propostas para graduar a HSA, nenhuma recebeu
aceitação universal. As duas mais utilizadas são as esca
Aspectos clínicos las de Hunt e Hess e da World Federation of Neurological
Epidemiologia. a prevalência geral da HSAn é de aproxi Societies (WFNS). Ambas baseiam-se em achados clínicos.
madamente 10-12 por 100.000 ao ano. A escala de Hunt e Hess gradua os HSAns em O a 5.
Um aneurisma íntegro e assintomático é designado grau
Demografía. a incidência geral de HSAn aumenta com a
0. Pacientes que estão assintomáticos ou apresentam ce
idade e apresenta pico entre 40 e 60 anos. A razào H:M é
faieia mínima são de grau 1. O grau 2 representa cefaieia
de 1:2.
moderada a intensa com rigidez na nuca e/ou paralisia dos
A HSA aneurismática é rara em crianças. Indepen
nervos cranianos. Os graus 3 a 5 designam HSAns mais
dentemente da sua relativa raridade, entretanto, aneuris-
sérias. Pacientes sonolentos ou confusos com déficits neu
mas cerebrais causam a maioria das HSAs espontâneas
rológicos leves são de grau 3. O grau 4 indica estupor,
(não traumáticas) em crianças e representam cerca de
10% de todos os acidentes vasculares hemorrágicos da hemiparesia moderada a acentuada e descerebração pre
coce. Os pacientes de grau 5 estão descerebrados, profun
infência.
damente comatosos e em estado terminal.
Apresentação. Cefaieia inespecifica é uma queixa comum A escala da WFNS reconhece seis graus de HSAn,
de apresentação nos pronto-atendimentos, representando porém é baseada na escala de coma de Glasgow (GCS).
cerca de 2% das consultas. A hemorragia subaracnóidea Zero representa um aneurisma íntegro. Pacientes de grau 1
responde por apenas 1-3% desses casos. possuem GCS de 15. Pacientes de grau 2 não possuem dé
Ao menos 75% dos pacientes com HSAn apresentam ficits neurológicos e apresentam GCS de 13 ou 14. Pacien
início súbito da "pior dor de cabeça da vida". A forma tes com GCS de 13-14 cow um déficit focai são de grau 3;
mais grave é a cefaieia "em trovoada", uma cefaieia in GCS de 7 a 12 é grau 4; GCS de 3 a 6 designa-se grau 5.
tensa que vem como o "estouro de um trovão" e em geral Estudos recentes têm indicado que o melhor preditor
atinge o pico em minutos ou mesmo segundos. Embora do prognóstico clínico é baseado simplesmente na esca
existam muitas causas de cefaieia "em trovoada", a mais la de coma de Glasgow. Assim como nas outras escalas
grave e potencialmente letal é a HSAn. mencionadas, um aneurisma íntegro é designado grau 0.
Um terço dos pacientes com HSAn queixa-se de cer- Os graus 1 a 5 diferem discretamente da escala da WFNS.
vicalgia. Outro terço refere vômitos. O grau 1 é uma GCS de 15; grau 2 é 12-14; grau 3 é 9-11;
Entre 10 e 25% dos pacientes apresentam sintomas grau 4 é 6-8; e o grau 5 é uma GCS de 3-5. Sua simpli
dias ou semanas antes da instalação da HSA. Esses va cidade, confiabilidade, poder preditivo e amplo conheci
zamentos "sentinelas" ou "de alerta" podem prenunciar a mento entre os profissionais de saúde fazem a GCS ser o
ruptura de um aneurisma e não devem ser ignorados. sistema mais lógico para a graduação das HSAns e orien
tação do tratamento.
112 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
6-3 Necropsts mostra HSA basilar difusa B devido à ruptura de um 6-4 Série de cortes axiais de TC sem contraste mostra o típico aspecto
aneurisma de AComA. Um coágulo mais focai está presente na fissura da HSA aneurismática. Hiperdensidade nas cisternas da base e nas fissu
inter-hemisférica ES. (Cortesia de R. Hewlett, MO.) ras siivianas é típica.
Uin quailo esquema, a escala modifícada de Fisher, estimados em 2% ao ano. Eles também carregam um risco
é baseado no aspecto da tomografia computadorizada aumentado para outras doenças vasculares.
(TC) (nào em achados clínicos), mas está incluída nesta
tabela de resumo para comparação (Tab. 6-1). Opções oe tratamento. Os objetivos do tratamento da HSAn
em pacientes que sobrevivem ao sangraniento inicial são
História natural. Embora a HSAn cause apenas 3-5% de (1) obliterar o aneurisma (prevenindo um ressangramento
todos os "acidentes vasculares", quase um terço de todos potencialmente catastrófico) e (2) prevenir ou tratar o va
os anos de vida perdidos relacionados a acidentes vascu sospasm© (ver a seguir).
lares cerebrais antes dos 65 anos são atribuíveis à HSAn.
A idade média de óbito dos pacientes com HSAn é mais Imagem
baixa do que em pacientes com outros tipos de acidentes Características gerais. A TC sem contraste é um excelente
vasculares. exame de rastreamento para o diagnóstico de uma HSAn
A HSA aneurismática é fatal ou incapacitante em
suspeita. Estudos recentes mostraram que nos primeiros
mais de um terço dos pacientes. HSA massiva pode cau três dias após o icliis, uma TC negativa é suficiente para a
sar coma e óbito em minutos. Aproximadamente um terço exclusão de HSA. A punção lombar é desnecessária se a
dos pacientes com HSAn evoluem a óbito dentro de 72 TC sem contraste é negativa.
horas; outro terço sobrevive, porém com déficits neuroló A melhor pista diagnóstica para HSAn é a hiperdensi
gicos incapacitantes. dade nas cisternas e nos sulcos na TC sem contraste. Em
Apesar dos avanços no diagnóstico e no tratamento, a alguns casos, o sangue subaracnoide circunda e delimita o
mortalidade intra-hospitalar continua a exceder 25%. Sem saco aneurismático comparativamente hipodenso.
tratamento, aneurismas saculares rotos possuem uma taxa
de ressangramento de 20% dentro das primeiras duas se Achados de TC. As cisternas basais, em especial a suprasse-
manas após a hemorragia inicial. lar, geralmente estão preenchidas com sangue (Fig. 6-4).
Desfecho desfavorável está associado com vários Embora a distribuição da HSA dependa da localização
fatores, incluindo idade avançada, piora neurológica, ta do aneurisma "culpado", ela é de certa forma variável
manho do aneurisma, grandes quantidades de HSA nos e não absolutamente preditiva quanto à localização do
exames tomográtlcos iniciais, hematoma intraparenqui- aneurisma.
matoso, hemorragia intraventricular e fatores de risco Aneurismas de AComA tendem a romper superior
vasculares, como hipertensão e infarto miocárdico. mente para o interior da fissura inter-hemisférica. Aneu
Pacientes que sobrevivem à HSAn também possuem rismas da bifurcação da ACM de forma usual rompem
um risco aumentado de desenvolverem novos aneurismas para o interior da fissura silviana. Aneurismas da carótida
intracranianos e novos episódios de HSA durante a vida. intema-artéria comunicante posterior (ACI-AComP) cos-
Hemorragia subaracnóidea e aneurismas 113
6-5A Imagem de TC sem contraste mostra HSA basilar difusa B com 6-56 Imagem de reconstrução 30 na angiografla da AGI direita
coágulo focai no lobo temporal anteromedial B e ao longo do aspecto do mesmo paciente mostra um grande aneurisma trilobado na ACl-
direito da cisterna suprasselar BS. -AComP ES.
lumain romper no interior da cisterna suprasselar. Aneu padrão-ouro para a detecção e delimitação da angioarqui-
rismas vertebrobasilares com freqüência preenchem o tetura do aneurisma, muitos pacientes com HSAn e ATC
quarto ventrícuío, a cisterna pré-pontina e o forame mag positiva são submetidos a clipagem cirúrgica sem a reali
no com sangue. zação desse exame.
Hemorragia intraventricular (HI) está presente em A ASD padrão às vezes não demonstra o aneurisma
cerca de metade dos pacientes com HSAn e está associada "culpado". A HSA com angiografia negativa é encontra
com uma maior probabilidade de complicações durante da em aproximadamente 15% dos casos. Com a adição
a internação e um pior prognóstico em três meses após a da angiografia rotacional tridimensional, a taxa de HSAs
HSA. com angiografia negativa decaiu para 4-5% dos casos.
Hemorragia parenquimatosa focai é incomum, mas, A HSA espontânea com "angiografia negativa" não é
se presente, prediz o local de ruptura do aneurisma uma entidade benigna, uma vez que possui um pequeno,
(Fig. 6-5). porém real, risco de ressangramento e prognóstico ruim.
A ATC é recomendada em pacientes com HSA difusa se a
Achados de RM. a HSA aguda é isointensa ao cérebro na ASD inicial for negativa. Um aneurisma responsável pelo
ponderação TI (Figs. 6-6A e 6-6B). As cisternas de LCS sangramento é encontrado em 9% desses casos.
podem encontrar-se borradas ou "sujas". Como a HSA é
hiperintensa ao cérebro na ponderação T2, ela pode ser de Graduação da HSA baseada em imagem. Uma escala sim
difícil identificação nessa seqüência (Fig. 6-6C). ples baseada nos achados de TC sem contraste, a esca
A seqüência FLAIR é a melhor para a demonstração la modiricada de Fisher, foi proposta para graduar a
da HSAn (Fig. 6-6D). LCS hiperintenso nos sulcos e nas HSAn. O grau O eqüivale à ausência de hemorragia su
cisternas está presente, porém é inespecíflco. Outras cau baracnóidea ou intraventricular visível. Uma fina (menor
sas de LCS "brilhante" em FLAIR incluem hiperoxigena- do que um milímetro) camada focai ou difusa de sangue
subaracnoide sem Hl é designada grau 1. Se H1 está pre
ção, meningite, neoplasia e artefatos.
A ressonância magnética (RM) também pode ser útil sente, é um Fisher grau 2. HSA espessa (maior do que
um milímetro) focai ou difusa sem Hl é designada grau
na investigação quando nenhuma causa estrutural para
3. A presença de sangue intraventricular, juntamente com
HSA não traumática é encontrada na TC sem contraste
HSA espessa, é designada grau 4. O aumento gradual na
inicial ou na angiotomografla (ATC).
escala de Fisher modificada possui uma relação linear
Angiografia. a ATC é positiva em 95% dos casos de HSAn com o risco de vasospasm©, infarto tardio e prognóstico
se o aneurisma "culpado" possuir um tamanho igual a ou clinico pobre.
maior do que 2 mm (Fig. 6-5B). Embora a angiografia A determinação quantitativa computadorizada do
com subtração digital (ASD) ainda seja considerada o volume da hemorragia subaracnóidea é também um bom
114 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
preditor de isquemia cerebral tardia e êxito funcionai na A pseudo-HSA é causada pelo intenso edema cere
HSAn. porém nào está rotineiramente disponível. bral. A hipodensidade do cérebro faz o sangue nas artérias
e veias cerebrais parecer denso, simulando o aspecto da
Diagnóstico diferencial HSA.
o principal diagnóstico diferencial da HSAn é a HSA Hípcrintcnsidade nos sulcos c cisternas em FLAIR
traumática. A HSA aneurismática costuma ser muito é um achado de imagem inespecífico e nem sempre de
mais disseminada, com freqüência preenchendo as cister nota hemorragia subaracnóidea. Além da HSAn, a hipe-
nas basais. Em geral a HSAt ocorre nas adjacências das rinlensidade do LCS em FLAIR costuma ocorrer com
contusões ou lacerações corticais e é, portanto, mais co distúrbios de fiuxo e artefatos técnicos, como anulação
mum nos sulcos superficiais. incompleta do LCS.
A HSA pcrímesencefáiica não aneurismática Meningite piogênica, carcinomatose meníngea e
(HSAp) é muito mais limitada do que a HSAn e está loca inspiração de oxigênio em altas concentrações podem
lizada nas cisternas interpeduncular, ambiente e pré-pon- causar hiperintensidade do LCS em FLAIR. A admi
tina. Às vezes, a HSAp se espalha para o aspecto posterior nistração prévia de quelatos de gadolínio (com ou sem
da cisterna suprasselar. Ela raramente se estende para as perda da função renal) pode resultar em realce difuso
fissuras silvianas. do LCS.
A HSA de convexidade, como o nome sugere, está Outras etiologias para a hiperintensidade em sulcos
localizada nos sulcos superficiais sobre as convexidades e cisternas em FLAIR incluem vasos hiperintensos com
cerebrais. Freqüentemente apenas um único sulco está fluxo lentificado (p. ex., acidentes vasculares cerebrais
afetado. As causas de HSA de convexidade são várias e agudos, colaterais piais em desenvolvimento após infarto/
incluem oclusão venosa, angiopatia amiloide, vasculite e isquemia cerebral, síndrome de Sturge-Weber, moyamoya
síndrome da vasoconstriçào cerebral reversível. e síndrome da vasoconstriçào cerebral reversível).
Etiologla
• Ruptura de aneurisma sacular ou em aspecto de
bolha de sangue
• Menos comum = dissecçào intracraniana
Patologia
• Sangue entre a aracnoide e a pia
• Preenche as cisternas basais ± sangue intraventricular
Aspectos clínicos
• Causa 3-5% dos "acidentes vasculares"
• Cefaleia "em trovoada"
• Pico de idade = 40 a 60 anos; H:M = 1:2
• Fatal ou Incapacitante em 2/3
Imagem
• TC sem contraste: cisternas da base e sulcos hiperdensos 6-7 Necropsia de ruptura de um aneurisma da bifur-
o Punção lombar (PL) desnecessária se a TC é cação da ACM mostra intenso vasospasmo com marca
do estreitamento da ACM e da artéria basilar distai tB.
negativa nos primeiros três dias
o Hidrocefalia comum, início geralmente precoce
• RM
o LCS "sujo" em Ti
o Cisternas e sulcos hiperinlensos em FLAIR
• Angiografia
o ATC positiva em 95% se aneurisma 2 2 mm
o ASO reservada para aneurismas complexos e ATC
negativa
o H5A com "angiografia negativa" (15%)
o ASD rotacional 3D negativa (somente 5%)
o ASD repetida {second look) positiva em 5%
Diagnóstico diferencial
• HSA traumática
o Em geral, a causa mais comum de HSA
• HSA perimesencefálica não aneurismática
• HSA de convexidade
• Pseudo-HSA
Diagnóstico diferencial
o diagnóstico diferencial do vasospasmo dentro do con
texto de uma HSA existente é limitado. Se o paciente
possui um aneurisma conhecido com HSA recente, os
achados dc estreitamento vascular multissegmcntar indi
cam VEC. Entretanto, se a HSA é de convexidadc (ver
abaixo), o diagnóstico diferencial inclui síndrome da va-
soconstrição cerebral reversível e vasculite.
Etiologia
A etiologia exata da HSAp é desconhecida, e a fonte de
sangramento na HSAp costuma ser indeterminada. A
maior parte dos pesquisadores implica ruptura venosa - e
não arterial - como causa mais provável.
Aspectos clínicos
6-1 IA Corte axial de TC sem contraste em um ho
A HSAp é a causa mais comum de HSA não traumática
mem de 62 anos com cefaleia intensa súbita mostra
e não aneurismática. A apresentação típica é de cefaleia hemorragia subaracnóidea 131 anteriormente ao buibo.
leve a moderada com grau 1 a 2 da escala de Hunt e Hess.
Ocasionalmente, pacientes podem apresentar cefaleia "em
trovoada" com meningismo.
O pico de apresentação dos pacientes com HSAp
ocorre entre 40 e 60 anos - idêntico ao pico de apresen
tação da HSA aneurismática. Não há predileção por sexo.
A maioria dos casos de HSAp segue um curso clinica
mente benigno e sem intercorrências. Ressangramento é
incomum (< 1%). Em contrapartida à HSAn, vasospasmo
e isquemia cerebral tardia são raros.
Imagem
A HSAp possui características de imagem bem definidas.
Os exames de TC sem contraste mostram acúmulo focai
de sangue subaracnoide ao redor do mesencéfalo (nas
cisternas interpeduncular e perimesencefálica) e anterior
mente à ponte (Flg. 6-10).
6-11B Corte em plano mais superior mostra HSA nas
Embora mais de 95% dos pacientes com HSAp pos cisternas perimesencefálica e interpeduncular ES com
suam ASDs negativas, a ruptura de um aneurisma da mínima quantidade de sangue na fissura silviana S.
bifurcação basilar ou da dissecção vertebrobasilar às
vezes pode causar um padrão de HSA capaz de simu
lar HSAp. Portanto, o estudo por imagem da circulação
craniana é geralmente recomendado (Fig. 6-11). A ATC
de alta resolução é uma alternativa à angiografia não
invasiva e confiável para descartar aneurismas ou dis-
secçòes subjacentes nesses casos. Se a ATC inicial for
negativa, não há informação adicional significativa na
ASD ou na RM.
Diagnóstico diferencial
o principal diagnóstico diferencial da HSAp é a HSA
aneurismática. A HSA aneurismática é significativamen
te mais extensa, espalhando-se através das cisternas ba
sais e com freqüência se estendendo para as fissuras inter-
-hemisféricas e silvianas.
A HSA traumática (HSAt) seria sugestiva tanto pela 6-11C ASO mostra dissecção na artéria vertebral
história quanto pelo aspecto de imagem. A HSAt ocorre esquerda S). Dissecções intracranianas são uma causa
adjacente ao cérebro contundido. Ela costuma ser periféri- incomum, porém importante, de HSAp.
118 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
6-14 Ilustração axial mostra coloração marrom escura da hemosside- 6-15 Caso de necropsia demonstra siderose superficial. O tronco en-
rina em todas as superfícies do cérebro, meninges e nervos cranianos. ceíálico e o cerebelo estão cobertos com depósitos de hemossiderina de
Note que os nervos cranianos Vil e Vil! no ângulo pontocerebelar e no coloração marrom. (Cortesia de E. T. Hediey-Whyte, MD.)
canal auditivo interno El estão particularmente afetados.
são mulheres de meia-idade. A HSAc causada por trom a vasculite, oclusão de seios durais e/ou veias corticais, e
bose venosa ou vasculite pode apresentar sintomas mais SVCR(Fig. 6-13C).
brandos com instalação mais insidiosa. A idade média de
TVCo acompanhada de HSAc é de 33 anos. Siderose superficial
A angiopatia amiloide cerebral (AAC) é a principal
causa de HSAc em pacientes idosos. Demência progressi Terminologia
va e cefaleia são apresentações comuns. A deposição de hemossiderina ao longo das superfícies do
O prognóstico da HSAc propriamente dita costuma cérebro, nervos cranianos e/ou medula define a condição
ser bom, e depende primariamente da etiologia subjacen conhecida como siderose superficial (SS) (Fig. 6-14).
te. Vasospasm© e isquemia cerebral tardia são raros.
Etiologia
Imagem A SS é uma conseqüência da hemorragia crônica ou
Achados de TC. A maioria dos casos de HSAc são unila intermitente no espaço subaracnoide. De modo geral,
terais, envolvendo um ou vários sulcos da convexidade trauma e cirurgia são as causas mais comuns. Outras
dorsolateral (Fig. 6-13A). As cisternas basais são tipica etiologias descritas incluem neoplasias hemorrágicas,
mente poupadas. malformações vasculares, obstrução venosa e vasculopa-
tias hemorrágicas, como a angiopatia amiloide. A SS em
Achados de RM. Hiperintensidade focai em sulcos na se decorrência de HSA aneurismática de repetição é relati
qüência FLAIR é típica na HSAc. A seqüência T2* (GRE, vamente incomum.
SWI) mostra artefatos de susceptibilidade magnética nos A acelerada síntese cerebelar de ferritina e o sangra-
sulcos afetados (Fig. 6-13B). Se a etiologia da HSAc é a mento intratecal crônico sobrecarregam a habilidade da
oclusão de seio durai ou veia cortical, um sinal do "cor
micròglia de biossintetizar ferritina, resultando em exces
dão" hipointenso pode estar presente. Pacientes com AAC so de ferro subpial. Isso facilita o dano por radicais livres,
possuem microssangramentos corticais e piais multifocals peroxidação lipídica e degeneração neuronal.
{'"blooming black dois") em T2*. Eles podem também
apresentar evidências de siderose e hemorragias lobares Patologia
prévias em diferentes idades.
Localização. Embora possa ocorrer em qualquer local do
Angiografia. a ATC, ARM e ASD podem ser úteis na ava SNC, a SS tem uma predileção pela fossa posterior (folias
liação de pacientes com HSA de convexidade secundária e verme cerebelar, NC VIII) e tronco encefálico.
120 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
6-16 Série de imagens de RM mostra os achados típicos da siderose superficial em um paciente com hipoacusia
neurossensorial e ataxia progressiva. A ponderação T2 FSE mostra hipointensidade linear ao redor das superfícies da
ponte e do cerebelo B. Imagens na ponderação 72" 6RE mostram marcados artefatos de susceptibilidade magnética
cobrindo a ponte e os hemisférios cerebelares, estendendo-se para o interior e ao longo das folias
Etíologia
Conceitos gerais. O desenvolvimento e a subsequente rup
tura dos ASs intracranianos refletem várias interações
Aneurismas
complexas. Os ASs são lesões adquiridas que se desen
Visão geral volvem a partir da hemodinâmica vascular anormal e do
Os aneurismas intracranianos são classificados pelo seu estresse de cisalhamento parietal. Estresses hemodinâmi-
cos são maiores nas bifurcações arteriais ou ao longo das
aspecto fenotípico macroscópico. Os aneurismas intra
curvas externas das principais artérias intracranianas. O
cranianos mais comuns são chamados de aneurismas sa-
culares devido à sua marcante configuração em saco ou estresse de cisalhamento anormal na parede das artérias
danifica a lâmina elástica interna, resultando em "fadiga
em baga. Os aneurismas saculares são lesões adquiridas
de bioengenharia" e remodelamento da parede arterial que
que surgem em pontos de ramificação das artérias cere
brais principais, onde o estresse hemodinâinico é máximo. precede a franca formação do aneurisma.
Aneurismas saculares não possuem algumas das camadas Genética. Poucos ASs são congênitos (i.e., apresentam-se
arteriais (a lâmina elástica interna e a média) encontradas no nascimento). Entretanto, muitos estudos demonstraram
em vasos normais. Mais de 90% dos aneurismas saculares um componente genético para o desenvolvimento e ruptu
ocorrem na circulação "anterior" (carotídea). ra dos aneurismas.
122 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
6-17 Espécime de necropsia mostra um aneurisma sacular íntegro 6-18 Necropsia demonstra um aneurisma roto da bífurcaçao da basilar
e incidental B na junção da AC! com a AComP. (Cortesia de B. B, com extensa hemorragia subaracnóidea que se estende pelas cis
Hoíten, MD.) ternas da base. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
Várias alterações genéticas têm sido associadas Vasculopatias herdadas e aneurismas sindròmicos. Alguns
com ASs, embora nenhuma variação genética especifi distúrbios herdados do tecido conectivo (como as sín-
ca causadora de doença tenha sido identificada. Até o dromes de Marfan e Ehlers-Danlos, ou displasia fibro-
momento, a maior parte dos genes identificados é com muscular) estão associados com um risco aumentado de
posta de moderadores do ciclo de progressão celular. aneurismas intracranianos. Arteriopatia é comum em
Eles afetam a proliferação e a senescência das popu pacientes com neurofibromatose tipo 1 (NFl). Embora
lações celulares que são responsáveis pela formação e as alterações vasculares na NFl afetem as artérias aorta,
pelo reparo vascular. renais, coronárias e gastrintestinais, foi descrito algum
Vasculopatia herdada, vasos sangüíneos anômalos, aumento no risco de desenvolvimento de aneurismas
sangüíneos e algumas anomalias vasculares congênitas e são denominados aneurismas intracranianos fami
predispõem ao desenvolvimento de ASs intracranianos. liais (AlF). AlFs tendem a ocorrer em pacientes mais
Valvas aórticas bicúspides, coarctação de aorta, arté jovens e romper em menores dimensões do que os ASs
ria trigeminal (AT) persistente e anomalias congênitas da esporádicos.
artéria cerebral anterior (i.e., assimetrias do segmento Al Pacientes com um familiar de primeiro grau com
ou seu trajeto infraóptico) carregam um risco aumentado HSAn possuem risco 4 a 10 vezes maior de desenvolve
de AS. A associação de fenestrações arteriais (i.e., divisão rem um AS. O rastreio por ATC ou ARM para ASs as-
e reunião de um vaso como a artéria comunicante anterior sintomáticos e íntegros em indivíduos com dois ou mais
ou a artéria basilar) com uma prevalência aumentada de familiares de primeiro grau afetados é custo-efetivo e tem
AS é controversa. sido recomendado por alguns autores.
Hemorragia subaracnóldea e aneurismas 123
6-19 Os locais mais comuns para a ocorrência de aneurismas saculares 6-20 Necropsia mostra um aneurisma gigante O da artéria comuni-
são 3 AComA B e a junção entre a ACI e a AComP S. Outras localiza cante anterior. (Cortesia de R. Hewlett, MO.)
ções incluem a biíurcação da ACM B e o topo da artéria basilar
(Fig. 6-18). Aneurismas além do CW sào incomuns, vis dinâmicas, não estáticas. Insultos hemodinâmicos podem
to que o estresse hemodinâmico distai é muito menor. incitar uma resposta patológica vascular que leva ao re-
Muitos aneurismas periféricos são, na verdade, pseu- modelamento autossustentado do aneurisma. A persistên
doaneurismas secundários a trauma, infecção ou tumor cia dos fatores hemodinâmicos originais não é necessária
(ver adiante). para a continuação da progressão patológica.
124 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
A configuração macroscópica de um AS se altera com variadas de trombo (Fig. 6-23), inflamação e alterações
o tempo, conforme a parede arterial é remodelada em res aieroscleróticas também podem estar presentes.
posta ao estresse hemodinâmico. Conforme ela se torna ASs gigantes freqüentemente apresentam calcifica-
progressivamente enfraquecida, a parede começa a se ções murais, coágulos laminados em diferentes idades, e
abaular externamente, formando um AS (Fig. 6-21). trombose variável.
A abertura (óstio) de AS pode ser estreita ou larga.
A hemodinâmica intra-aneurismática complexa resulta Aspectos clínicos
em impacto do fluxo em diferentes partes do aneurisma. Epídemiologia. a incidência de ASs intracranianos na popu
Algumas forças impactam no óstio e outras são mais proe lação geral é de 2 a 6%. ASs íntegros assintomáticos são
minentes no domo. Um ou mais lóbulos ou um "inamilo" pelo menos 10 vezes mais prevalentes do que aneurísmas
apical podem se desenvolver como resultado. Essas sacu- rompidos.
lações são a parte da parede aneurismática mais vulnerá
Demografia. o pico de apresentação é entre 40 e 60 anos.
vel à ruptura, resultando em HSA aneurismática (HSAn).
Há predominância feminina, especialmente com múlti
Características microscópicas. ASs demonstram uma lâmina plos ASs.
elástica interna (LEI) rompida ou ausente. A camada de ASs são raros em crianças, representando menos de
células musculares lisas (média) está geralmente ausen 2% de todos os casos, embora sejam a maior causa de
te (Fig. 6-22). O delicado equilíbrio entre a síntese e a HSA espontânea (não traumática) nessa faixa etária.
degradação de matriz extracelular (MEC) - uma rede di Em comparação com os aneurismas de adultos, os
nâmica de proteínas e proteoglicanos - está abalado. Por aneurismas pediátricos possuem uma predileção pela
tanto. a parede de um AS é muito frágil, consistindo em circulação posterior. Eles também adquirem dimensões
íntima e adventícia em uma MEC degradada. Quantidades maiores e com freqüência desenvolvem um formato mais
complexo. Aneurismas da infância exibem relativa au mento é variável e imprevisível. Aneurismas em cresci
sência de predominância feminina, e são mais associados mento são mais propensos à ruptura, porém 10% das rup
com trauma e infecção. Maiores índices de recorrências e turas ocorrem na ausência de crescimento detectável.
de crescimento ou formação de novo também são comuns. A taxa geral de ruptura anual dos ASs é de 1-2%. En
tretanto. o curso natural dos aneurismas cerebrais íntegros
Apresentação. Entre 80 e 90% de todas as HSAs não trau
varia de acordo com o tamanho, a localização e a forma
máticas são causadas por ruptura de ASs. A apresentação
do aneurisma. Maior dimensão, localização nas artérias
mais comum é o início súbito de cefaleia intensa e excru-
ciante ("em trovoada" ou "a pior dor de cabeça da vida"). comunicantes (em vez de na ACM) e a presença de um
saco "filho" (protrusão irregular da parede) aumentam o
Neuropatias cranianas são apresentações relativa
mente incomuns de AS. Dessas, a paralisia do NC III en risco de ruptura. O "ambiente perianeurismático" também
volvendo a pupila devido a um aneurisma de AComP é a pode influenciar na geometria e no risco de ruptura do
mais comum, As vezes, pacientes com aneurismas par aneurisma, especialmente em localizações com contato
cial ou completamente trombosados apresentam-se com restrito ao osso ou à dura.
6-25A TC sem contraste mostra um aneurisma sacular incidentalmen- 6-25B MIP coronal da ATC do mesmo paciente mostra um aneurisma
te descoberto, observado aqui como uma hiperdensidade arredondada sacular patente ES na biíurcação terminal da ACl esquerda.
bem delimitada ES com algum calcifícação periférica
tica mais comum. Achados de TC. ASs íntegros muito pequenos podem ser
Entretanto, metanálises mais recentes demonstraram invisíveis nos exames-padrão de TC sem contraste. Le
que 13% dos ASs intracranianos rotos possuem menos do sões maiores apresentam-se como massas bem lineadas
que 5 milímetros de diâmetro. Quase metade de todos os que são levemente hiperdensas em relação ao cérebro
aneurismas com diâmetro abaixo de 5 milímetros rompem (FIg. 6-24). Calcifícação periférica ou mural pode estar
dentro de 5 a 10 anos. sugerindo que new há diâmetro mí presente (Fig. 6-25).
nimo geral aceito como "seguro "para ruptura. ASs agudamente rompidos apresentam-se com HSA
Clipagem cirúigica. A clipagem cirúrgica resulta em aneurismática, a qual é a característica de imagem domi
taxas de recorrência mais baixas em comparação com o nante e obscurece o aneurisma "culpado". Ocasionalmente,
tratamento endovascular. porém está associada com índi um AS aparece como um defeito de enchimento relativa
ces de complicações mais altos, maior mortalidade duran mente hipodenso no interior de uma coleção hemorrágica
te a internação e maior morbidade em longo prazo. hiperdensa no espaço subaracnoide (Fig. 6-24B).
Hemorragia subaracnóidea e aneurismas 127
6-26A TC sem contraste em um paciente com hemiparesia direita de 6-26B ATC mostra término abrupto da AMC esquerda ES, sem a opa-
inicio súbito mostra uma grande hiperdensidade ovoide bem delimitada cificação do aneurisma trombosado E3. A redução dos vasos normais no
ao longo da ACM esciuerda B, sugestiva de trombose aguda de um lobo temporal esquerdo B é secundária à ociusão embólica dos ramos
aneurisma sacuiar. distais da ACM.
Um AS parcial ou completamente trombosado costu Angiografia. a ATC com múltiplos deteciores e alta reso
ma ser hiperdenso em relaçào ao cérebro adjacente na TC lução é um procedimento de rastreio comum em pacientes
sem contraste (FIg. 6-26). com HSAn suspeita. A sensibilidade da ATC é maior que
ASs patentes apresentam realce intenso e uniforme 95% para aneurismas maiores do que 2 milímetros de diâ
do lúmen ancurismático (Fig. 6-24). Um AS parcialmente metro. A sensibilidade geral da ARM é 90% para aneuris
trombosado mostra impregnação do liimen residual. ASs mas com mais de 2 milímetros de diâmetro.
completamente trombosados não realçam, apesar de le Embora muitos pacientes com HSAn e um AS que for
sões de longa evolução poderem demonstrar realce perifé demonstrado na ATC ou na ARM costumem ir diretamen
rico secundário a alterações intlamatórias reativas. te para cirurgia, a ASD convencional ainda é considerada
Achados de RM. Os achados de RM variam com a seqüên o padrào-ouro para a detecção de ASs intracranianos - es
cia de pulso, a dinâmica de pulso e a presença, bem como pecialmente se o tratamento endovascular é considerado.
a idade, da hemorragia associada (tanto nas cisternas su- Todos os quatro vasos intracranianos, bem como todo
baracnoides quanto no interior do próprio aneurisma). o círculo de Willis, precisam ser demonstrados em múlti
Cerca de metade de todos os ASs patentes demons plas projeções. A ASD rotacional com exibição de super
tram "//ovv voids" nas ponderações TI e T2 (Fig. 6-27). A fície sombreada 3D é útil no delineamento da relação pre
outra metade exibe intensidade de sinal heterogênea se cisa entre o aneurisma e vasos e ramos que o originaram.
cundária a Huxo lento ou turbulento, efeitos de saturação Múltiplos aneurismas intracranianos são demonstra
e dispersão de fase. A propagação dos artefatos de pulso dos em 15 a 20% dos casos. Quando mais de um aneu
na direção da codificação da fase é comum. As aquisições risma é identificado em pacientes com HSAn, a determi
em FLAIR podem mostrar hiperintensidade nas cisternas nação de qual aneurisma está rompido é essencial para o
subaracnóideas secundária à HSAn. planejamento cirúrgico. O extravasamento de contraste é
Se o aneurisma está parcial ou completamente trom patognomônico para ruptura, porém raramente observado.
bosado, coágulo laminado com diferentes inlensidades de Outras características angiográfícas sugestivas de ruptura
sinal costuma estar presente (Fig. 6-28). Artefatos de sus- incluem lobulação ou a presença de um "mamilo" apical,
cepiibilidade magnética nas seqüências GRE e SWI são co tamanho (o maior aneurisma costuma ser, mas não sem
muns. As aquisições com contraste podem mostrar encur- pre, o que sofreu ruptura) e a presença de coágulo peria-
tamento TI nas áreas de fluxo lento intra-aneurismáticas. neurismático focai na TC ou na RM.
As seqüências em difusão podem demonstrar áreas Análises computadorizadas de aneurismas intracra
isquêmicas secundárias a vasospasmo ou trombo embo- nianos mostram que os aneurismas rotos possuem maior
lizado. probabilidade de apresentarem padrões de fluxo comple-
128 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
Diagnóstico diferencial
o principal diagnóstico diferencial dos ASs intracrania
nos são as alças vasculares. As artérias intracranianas se
curvam e ramificam ostensivamente. Em imagens bidi
mensionais (p. ex.. incidências AP e lateral de angiogra-
flas com subtração digital), a sobreposição ou alça vascu
lar pode simular o saco arredondado de um pequeno AS
periférico. Mijltiplas projeções e exibição de superfície
sombreada 3D são úteis na diferenciação de vasos sobre
postos, alças vasculares e ASs.
6-27A Imagem axial na pondefação T2 moslra um O segundo diagnóstico diferencial mais comum é um
flow void lobuiado e bem delimitado BS, consistente infundíbulo arterial. Um infundíbulo é uma dilatação
com aneurisma sacular patente. cônica, focai e simétrica na origem de um vaso que pode
ser confundida com um pequeno aneurisma sacular. Os
infundíbulos são pequenos, em geral com menos de 3 mi
límetros de diâmetro. Os vasos distais costumam se origi
nar do ápice - e não da lateral - do infundíbulo. A AComP
é a localização mais comum de infundíbulos.
Embora a maior parte dos infundíbulos seja de varian
tes anatômicas incidentals sem significado patológico, oca
sionalmente um infundíbulo arterial pode romper ou, com
o tempo, até mesmo evoluir para um aneurisma franco.
Quando esses raros "infundíbulos com aspecto de aneuris
ma" rompem e causam hemorragia subaracnóidea, eles são
indistinguíveis dos aneurismas saculares clássicos.
Um pseudoaneurisma pode ser difícil de ser distin-
guido de um AS. Pseudoaneurismas são mais comuns em
vasos distais ao círculo de Willis e são, com freqüência,
fusiformes ou de formato irregular. Hematomas parenqui-
6-27B Corte de ATC do mesmo paciente moslra o matosos focais freqüentemente circundam pseudoaneuris
mas intracranianos.
aspecto clássico de uma artéria trigeminal persistente
ES. Os aneurismas fusiformes (AF) são de fácil distinção
entre os ASs pelo seu formato. AFs são lesões em formato
de salsicha, de segmentos longos que envolvem toda a cir
.4 ' ' » cunferência do vaso, ao passo que os ASs são lesões arre
dondadas ou lobuladas. A localização também é uma carac
terística útil na diferenciação entre AFs e ASs. AFs são mais
comuns na circulação vertebrobasilar ("posterior"); ASs
geralmente se originam em bifurcações terminais de vasos
e são mais comuns na circulação carotídea ("anterior").
Um aneurisma em aspecto de bolha de sangue (ABS)
também pode ser de difícil distinção entre um AS pequeno
e de colo largo. Embora eles possam ser encontrados em
praticamente qualquer local da circulação intracraniana,
ABSs em geral surgem ao longo da grande curvatura da
artéria carótida interna supraclinóidea, não na sua bifurca-
ção terminal ou origem da AComP.
Uma área de perda de sinal que simula o Jlow void de
6-27C Incidência lateral da ASO mostra o aneurisma um aneurisma na RM pode ser causada por um processo
1^ juntamente com o clássico aspecto do "tridente do clinoide anterior aerado ou um seio aberrante supraorbitá-
Netuno" da artéria trigeminal persistente S). rio etmoide ou frontal.
Hemorragia subaracnóidea e aneurismas 129
3^
te caíciíicado B circundando
um coágulo central isodenso.
6-28B Imagem na ponde
ração TI do mesmo paciente
mostra anéis concéntrícos de co
águlo organizado em diferentes
estágios de evolução. A camada
periférica é hiperintensa e mais
antiga B, enquanto o coágulo
irregular isointenso central é
mais recente. Um pequeno flow
void^S representa o lúmen pa
tente residual do aneurisma.
^.1
^ '/ C
V
130 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
Pseudoaneurísma
ANEURISMA SACULAR
Pseudoaneurisma é uma rara, porém importante causa
Localização subdiagnosticada de hemorragia intracraniana.
• Circulação anterior (90%), posterior (10%)
• Círculo de Willis, bi/trlfurcação da ACM
• Múltiplos (15-30%)
Terminologia
Os pseudoaneurismas - também chamados de aneurismas
Aspectos clínicos "falsos" para distingui-los dos aneurismas saculares "ver
• Prevalência geral = 2-6% dadeiros" - sào dilatações arteriais com completa inter
• Assintomático até a ruptura
rupção da parede arterial.
• O risco geralmente se correlaciona com o tamanho,
porém lesões pequenas também podem sangrar. Etiologia
• Hemorragia subaracnóidea cefaleia "em trovoada"
• Pico de apresentação = 40-60 anos (raro em crianças) Pseudoaneurismas sào causados por um evento especifi
co, como trauma, infecção, abuso de drogas, neoplasia ou
Imagem cirurgia, que inicialmente enfraquece e, em seguida, des-
• Saculações arteriais arredondadas/lobuladas
trói a parede arterial normal.
• Sensibilidade da ATC de 95% se aneurisma > 2 mm
• ASD com reconstrução 3D melhor delimita a arquitetura A parede arterial enfraquecida se expande e final
mente se rompe, formando um hematoma paravascular
Diagnóstico diferencial (Fig. 6-29). Se o hematoma cavita e passa a se comunicar
• Alça vascular diretamente com o lúmen residual do vaso, um pseudoa
• Infundibulo arterial (cônico, s 2 mm) neurisma é criado.
• Aneurisma em aspecto de bolha de sangue
Os pseudoaneurismas são contidos apenas por coágu Características microscópicas. Destruição ou necrose da
lo relativamente frágil e cavitado, e variáveis quantidades parede é típica. Pseudoaneurismas micóticos e oncòticos
de tecido fibroso. Como eles não possuem os componen demonstram extensa infiltração da parede do vaso por
tes normais da parede vascular, pseudoaneurismas são células inflamatórias ou neoplásicas, respectivamente. O
propensos a sofrer hemorragias repetidas. liimen do vaso de origem com freqüência está ociuído por
trombo, tumor, debris ou exsudatos purulentos.
Patologia
Aspectos clínicos
Localização. Pseudoaneurismas traumáticos em geral en
Pacientes com pseudoaneurismas intracranianos traumáti
volvem a AGI intracraniana proximal (cavernosa ou para-
cos freqüentemente apresentam fraturas da base do crânio.
clinóidea). Cirurgia e radioterapia (para tumores de cabe O intervalo entre a lesão inicial e a deterioração neurológi
ça e pescoço) costumam afetar a artéria carótida externa ca varia de alguns dias a vários meses. As principais apre
(síndrome da explosão carotídca - carotid hlow-otií syn
sentações clínicas incluem cefaleia, perda da consciência,
drome).
epistaxe recorrente e paralisias de nervos cranianos.
Pseudoaneurismas infecciosos (micóticos), neoplá-
sicos (oncòticos) e relacionados a drogas costumam ser
Imagem
localizados distalmente ao círculo de Willis.
Características gerais. Achados sugestivos de pseudoaneu
Patologia macroscópica. Pseudoaneurismas são massas risma cerebral incluem alargamento inexplicado de um
purpuras contidas apenas por uma adventícia afílada des hematoma intraparenquimatoso existente. No contexto
contínua e um hematoma organizado. Hematomas asso clínico apropriado, a evolução inusitada ou tardia de um
ciados com pseudoaneurismas com freqüência são gran hematoma também sugere a possibilidade de um pseudo
des e podem conter coágulos de idades variáveis. aneurisma subjacente.
6-32 Ilustração demonstra o aneurisma em aspecto de bolha de san 6-33 Fotografia Intraoperatória mostra um aneurisma em aspecto de
gue, visto aqui como um abaulamenlo hemisférico de base larga coberto bolha de sangue BEl com turbilhonamenlo sangüíneo sob a fina e quase
por uma fina camada de adventícia transparente parede aneurismática.
Achados de TC. Os exames de TC sem contraste geralmente bém mais comuns na circulação posterior e envolvem a
sào normais ou inespecíflcos. Hematomas intraparenqui- artéria basilar.
matosos são comuns (Fig. 6-30). A ATC pode demonstrar
um sinal da "mancha" (foco de realce pelo contraste) den
PSEUDOANEURISMA
tro de um hematoma de rápida expansão.
Terminologia
Achados de RM. O sinal do hematoma varia com a idade • Também chamado de aneurisma "falso"
do coágulo e a seqüência de pulso. Um //ovv void repre • Parede arterial completamente interrompida
sentando o lúmen residual pode estar presente no interior
do hematoma. O realce intravascular representa o preen Patologia
• Freqüentemente contido por apenas um coágulo
chimento e esvaziamento lentos e tardios freqüentemente cavitado
observados nos pseudoaneurismas. • Causado por trauma, infecção, drogas ou tumor
• Hematoma tardio, expansão sijbita comum
Angiografia. a angiografia com subtração digital mostra
aneurisma globular, fusiforme ou de forma irregular e Localização
"sem colo" com opacificaçào e lavagem tardias do meio • AC! cavernosa/paraclinóidea (trauma)
• Ramos corticais distais (infecção, drogas)
de contraste (Fig. 6-31). Estagnação posicionai do con
traste é comum. Imagem
A oclusão endovascular com molas, líquidos em- • Saculação fusiforme e irregular
bólicos ou stent recoberto é o método de escolha para o • "Colo" geralmente ausente
• ± efeito de massa avascular circunjacente (hematoma)
tratamento de pseudoaneurismas intracranianos. Opções
• Pode demonstrar sinal da "mancha" na ATC
cirúrgicas incluem aprisionamento ou sacrifício da artéria
de origem com ou sem bypass por enxerto. Diagnóstico diferencial
• Aneurisma sacular
Diagnóstico diferencial • Aneurisma dissecante
• Aneurisma fusiforme
o principal diagnóstico diferencial de um pseudoaneuris-
ma é um aneurisma sacular ou "verdadeiro". A localiza
ABSs são abaulamentos pequenos, hemisféricos e de Como os ABSs são lesões muito frágeis que não de
base larga que costumam surgir em locais sem ramifica monstram um colo definido, o tratamento é difícil. ABSs
ção das artérias intracranianas (Fig. 6-32). ABSs possuem facilmente se rompem durante a clipagem cirúrgica, a
características clínicas diferentes e apresentam desafios qual pode resultar em hemorragia fatal. A ruptura durante
diagnósticos e terapêuticos especiais em comparação procedimentos é comum, ocorrendo em quase 50% dos
àqueles apresentados pelos aneurismas saculares típicos. c a s o s .
6-35A Caso de necropsia mostra dolicoectasia generalizada do sistema 6-35B Visão aproximada da secção axial através da fossa posterior
vertebrobasilar B e de ambas as artérias carótidas internas BS. Um mostra o aneurisma fusiforme (Cortesia de R. Hewlett, MO.)
aneurisma fusiíorme envolvendo a artéria basilar distai B está presente.
6-36 Cofte de TC sem conlrasle mostra típico aneurisma fusiforme 6-37 Série de imagens de RM mostra o aspecto bizarro de um clássico
hiperdenso ateroscierótico S com calcificações murais ES. Observe as aneurisma fusifome ateroscierótico ES. (Cortesia de M. Hartel, MD.)
ostensivas caiciíicações nas artérias carótida interna e cerebral média à
direita EB
6-38 Dissecçào do polígono de Willis em uma criança hemofílica com 6-39 Imagem axial na ponderação T2 em uma criança HIV-positiva
HIV demonstra vasculopatia fusiíorme não aterosclerõtica. (Cortesia de L. mostra os flow voids fusiformes ES da vasculopatia relacionada
Rourke, MD.) a o H I V.
6-40 {Superiof à esquerda) Imagem com ponderação T2 em um homem de 19 anos com doença vascular do colá-
geno moslra um flow void dilatado na artéria basilar B. (Superior à direita) imagem de ARM pós-contraste mostra
a artéria basilar dilatada B. (Inferior à esquerda) Imagem com técnica MIP da ARM mostra um aneurisma fusiforme
B que envolve a artéria basilar em quase toda a sua extensão, (inferior à direita) ASD mostra o aneurisma fusifor
me não aterosclerótico
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7
Malformações vasculares
Malformações arteriove- Congênitas (angiogênese Nidus + artérias nutrido- Solitária (< 2% Parênquima (85%); su-
n o s a s
desregulada) ras, veias de drenagem; múltipla) pratentoriais (15%); fossa
sem leito capilar posterior
Fistula durai AV Adquiridas (trauma; trombo Rede de múltiplas micro- Solitária Base do crânio; parede de
se de seio durai) fístulas AV seio durai
Malformação da veia de Congênita (fistula arterial fe Grande lago venoso Solitária Posterior ao terceiro ven-
Galeno tal para precursor primitivo trículo
da veia de Galeno).
Anomalia do desenvolvi Congênita (falha no desen Veias dilatadas na SB; cé Solitária (a SB profunda, normalmente
mento venoso volvimento fetal da veia rebro normal de permeio menos que na próxima aos ventriculos
medular) BRBNS)
Malformação cavernosa Congênita {CCM, KRIT1, mu Grupamento de 2/3 solitárias Todo o cérebro
tações genéticas na síndro- "cavernas"preenchid3s (esporádicas);
me autossõmica dominante por sangue; halo comple 1/3 múltiplas
familial; novas lesões conti to de hemossiderina (familiais
nuam a se formar
Congênita Capilares dilatados; cére Solitária »> Qualquer lugar, mas ponte
Telangiectasia capilar
bro normal de permeio múltipla e medula são mais comuns
AV, arteríovenoso; BRBNS, sindrome do nevo em bolha de borracha azul; MCV, malformação cerebrovascular; fACC, malformação cavernosa cerebral; SB,
substância branca.
0,04-0,5% da população; Pico = 20-40 anos (25% Muito alta (2-4 ' por ano, "Saco de minhocas" {bog of woms),
85-90% das MCVs com por volta dos 15 anos) cumulativo) flow voids na RM
s h u n t AV
10-15% das MCVs com Pico = 40-60 anos Varia com a drenagem venosa Artérias meníngeas alargadas com rede de
shunt AV (aumenta se há envolvimento minúsculos vasos na parede de um seio ve-
de veias corticais) noso durai trombosado
< 1% das MCVs com shunt Recém nascidos»íac- Baixo (mas o dano cerebral Grande variz venosa na linha média em
A V tentes, crianças por hidrocefalia é comum) neonato com insuficiência cardíaca de alto
débido
MCV mais comum (60% Qualquer idade Extremamente baixo a menos "Cabeça de medusa" de veias dilatadas na SB
de todas), entre 2-9% da que seja mista com malforma convergindo para uma veia coletora calibrosa
população ção cavernosa
Raro Qualquer idade (normal Extremamente baixo a menos Massa vascular no escaípo conectada à circu
mente infância) que haja trauma direto lação intracraniana venosa por meio de um
defeito craniano
Qualquer idade (pico = Alto (0,25-0,75% por ano;1% Variável; mais comum em "pipoca" solitária
40-60 anos); mais jovens por lesão por ano na forma (lóculos com níveis liquido-sangue, borda de
em síndrome MCC familiar familiar) hemossiderína);" pontos pretos" muliifocais
na forma familiar
15-20% de todas as MCVs Qualquer idade (pico = Extremamente baixo a menos Discreto realce "escovado", torna-se hipoin-
30-40 anos) que seja mista com malforma tenso em T2*
ção cavernosa
MAVs viscerais. Duas formas de THH sào conhecidas; a Patologia macroscópica. A maioria das MAVs são lesões
THH1 e a THH2. As MAVC sào significativamente mais compactas ovoides ou piramidais (Fig. 7-2). Sua superfí
freqüentes na THHl. Um gene endoglin (ENG) mutado cie mais ampla está no córtex ou próxima a ele e seu ápice
foi encontrado na THHl. Alguns pesquisadores também se direciona para os ventrículos.
associaram o ACVRLl (o gene da THH2) à formação de O cérebro em torno da MAV freqüentemente se apre
variantes clínicas esporádicas das MAVs e a FAVs durais senta alterado. Um leito capilar "perinidal" foi relatado
em pacientes com THH. A THH será discutida com mais em alguns casos. Hemorragia residual no parênquima ce
detalhes juntamente com as síndromes neurocutâneas rebral adjacente é comum, bem como gliose e modifica
(Cap. 39). ções isquêmicas secundárias.
Características microscópicas. Os vasos que compreendem
Patologia
o nidus da MAV sào de espessura parietal e de calibre va
Localização. Cerca de 85% das MAVs são supratentoriais, riáveis. Alguns apresentam-se displásicos e com paredes
localizadas nos hemisférios cerebrais. Apenas 15% são
finas, sem o suporte subendotelial normal. Outros exibem
encontradas na fossa posterior.
hiperpiasia intimai e fibrose/hialinizaçào.
Número e tamanho. Menos de 2% de todas as MAVs cere Nào há capilares ou parênquima cerebral normal in
brais são múltiplas. Quase todas as MAVs múltiplas estão terposto ao nidus de uma MAV. Em vez disso, quantidades
associadas a síndromes vasculares neurocutâneas (ante variáveis de trombos laminados, calciflcações distróflcas
riormente). e hemorragia residual estão presentes. Pequenas quantida
As MAVs variam em tamanho desde pequenas ("mi des de parênquima cerebral no interior do nidus são oca
cro" MAVs) a lesões gigantescas, que podem ocupar a sionalmente identificadas, mas são, em geral, gliòticas e
maior parte do hemisfério cerebral. A maioria tem tamanho não funcionantes.
intenuediário. variando de 2 a 6 centímetros de diâmetro.
142 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
7-1 A figura demonslra o nidus de uma MAV SI com um aneurisma 7-2 Caso de autópsia demonstra uma MAV clássica. O nidus B não
intranida! 1^ aneurisma na artéria nutridora ("pedkuto") SI e veias contém parênquima cerebral normal. Um aneurisma B intranida! está
de drenagem aumentadas EJ. presente. (Cortesia de R. Hewlett, MO.)
- !
i #
7-3 (Esquerda) TC sem contraste demonstra hiperdensidades serpen- 7-4 Exame de TC sem contraste (superior à esquerda) e imagens
tiformes ES. (Direita) TC com contraste demonstra importante realce ATC de um paciente com hemorragia cerebelar espontânea S de
uniforme B. Morfologia em cunha é típica das MAVs. Cerca de das monstram MAV subjacente B. Aproximadamente 15% das MAVs são
MAVs sào supratentoriais. iníratentoriais.
Opções de tratamento. Embolização, cirurgia, radiocirurgia Em razão de a maioria das MAVs serem lesões de alto
eslercotáxica ou uma combinação destes são todas opções fluxo, os spins passam rapidamente pela lesão e não rece
de tratamento para MAV atualmente. A melhor opção va bem um segundo pulso {refocusing pulse). Isso produz o
ria de caso para caso. aspecto de uma massa fortemente agrupada ou a aparência
em "favo de mel" dos flow voids nas ponderações tanto
Imagem em TI como em T2 (Fig. 7-5).
O diagnóstico por imagem das MAVs não complicadas é Qualquer parênquima cerebral interposto à MAV, em
relativamente óbvio. Contudo, a presença de hemorragia geral, é gliótico e hiperintenso nas ponderações em T2 e
ou trombose pode complicar o seu aspecto de imagem. A em FLAIR. O realce das MAVs é variável, dependendo do
hemorragia aguda pode obscurecer achados típicos de uma fluxo e da sua direção. As veias de drenagem em geral se
MAV Resíduos de episódios hemorrágicos prévios como realçam forte e uniformemente (Fig. 7-6).
calciflcações distróficas, gliose e sangue em diferentes fases Resíduos hemorrágicos são comuns. As seqüências
de degradação também podem alterar suas características. em T2* com freqüência mostram focos de susceptibilida-
de magnética no interior e ao redor das MAVs.
Características gerais. As MAVs são redes complexas de
canais vasculares anormais consistindo em três diferentes Angiografia. As artérias nutridoras que suprem uma
componentes: (1) artérias nutridoras, (2) um nidus central MAV são aumentadas de calibre e tortuosas (Fig. 7-5E).
e (3) veias de drenagem (Fig. 7-1). Angiopatia relacionada ao fluxo pode estar presente, va
riando de simples dilataçâo a espessamento endotelial, es-
Achados na TC. As MAVs em geral parecem um "saco de
tenose ou, às vezes, até mesmo trombose e oclusão. Aneu-
minhocas" {hags of worms) formado por um enovelado de
rismas de "pediculo" são vistos em 10 a 15% dos casos.
vasos fortemente agrupados com pouco ou nenhum efeito de
O n i d u s , o c e n t r o d e u m a M AV. é u m e m a r a n h a d o
massa sobre o cérebro adjacente. O exame TC sem contraste
de artérias e veias anormais compactadas sem um leito
poderá mostrar vários vasos serpentiformes. bem delineados,
levemente hiperdensos (Fig. 7-3). A presença de calcificaçào capilar interposto. Até 50% contêm pelo menos um vaso
dilatado aneurismático ("aneiirisma Intranidal"). O
é comum. O realce dos três componentes da MAV (artéria
nidus contém pouco ou nenhum parênquima cerebral e,
nulrídora, nidus, veias de drenagem) são, em geral, intensos
e unifonnes nos exames de TC com contraste (Fig. 7-4). consequentemente, não causa efeito de massa nas estrutu
ras cerebrais adjacentes. O deslocamento dos marcadores
Achados na RM. Os achados variam com a hemodinâmica angiográficos da linha média (p. ex., artérias cerebrais an
vascular, a presença (e idade) da hemorragia associada e teriores e veias cerebrais internas) está, portanto, ausente,
com as modificações secundárias no cérebro adjacente. a menos que haja um hematoma agudo.
144 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
7-5A Pondeíação em Tl no
plano axial de um homem de
32 anos com cefaleia mostra, na
regièo parietal esquerda, uma
clássica MAV em forma de cunha,
com múltiplos flow voids ser-
pentiformes B. Alguns poucos
focos lineares de encurtamento
do tempo T1 BI representam
os vasos trombosados no interior
do nidus.
7-5B Ponderação em T2 do
mesmo paciente demonstra
bem os flow voids de morfologia
triangular S3. A base larga
voltada para o cortex com ápice
em direção ao ventrícuío lateral
é uma configuração típica das
MAVs cerebrais.
Como não há leito capilar interposto entre as artérias os três componentes da MAV e podem ser muito úteis no
nutridoras e as veias de drenagem de uma MAV, shiinl ar- planejamento cirúrgico ou no tratamento endovascular.
teriovenoso direto ocorre no interior do nichis (FIg. 7-5F).
As veias de drenagem, com freqüência, opacificam-se do Diagnóstico diferenciai
meio para o fim da fase arterial (veias de "drenagem pre Os achados de imagem da maioria das MAVs não compli
coce"). As veias de drenagem das MAVs são, em geral, cadas são bem típicos. Contudo, às vezes uma neoplasia
calibrosas. tortuosas e podem se tornar tão proeminentes altamente vascularizada, como um glioblastoma multi
que podem vir a formar varizes e exercer efeito de massa forme (GBM), exibe uma neoangiogênese tão expressiva
local sobre o córtex adjacente (FIg. 7-6). A estenose de que pode simular uma MAV. A maioria dos GBMs, mesmo
uma ou mais veias de drenagem de "saída" pode elevar a lesões extremamente vascularizadas. realça intensamente
pressão intranidal e contribuir para a hemorragia da MAV. e contém significativas quantias de neoplasia interpostas
A ATC. especialmente com reconstruções em 3D entre os vasos aumentados. Ocasionalmente, neoplasias
{surface rendering), pode ajudar a delinear as artérias nu- densamente calcíficadas. como oligodendrogliomas, po
tridores e as veias de drenagem de uma MAV (FIg. 7-4). A dem simular os flow voids de uma MAV.
angiografia por ressonância magnética (ARM) 4D ajuda Se uma MAV sangra espontaneamente, o coágulo
a demonstrar os padrões de fluxo intranidal, mas a angio pode ser obscurecido na sua angioarquitetura subjacen
grafia com subtração digital (ASD) ainda é requerida para te (Fig. 7-7). Uma MAV (trombosada "obliterada" ou
demonstrar pequenos vasos nutridores. "críptica") pode não demonstrar artérias aumentadas ou
A angioarquitetura interna de uma MAV é muito bem nidus. A angiografia pode ser negativa ou demonstrar ape
demonstrada pela ASD de alta resolução. A injeção super- nas efeito de massa com "vasos estagnados" e drenagem
seletiva de todas as artérias nutridoras delinea o nidus e venosa precoce sutil. Estas lesões podem ser indistinguí-
ajuda a definir a presença de um aneurisma intranidal. Re veis de outras malformações vasculares (como malfor
construções tridimensionais {shadedsurface) demonstram mação cavernosa) ou neoplasias hemorrágicas.
Patologia
As APCs são lesões grandes que podem ocupar a maioria Imagem
A APC é vista na RM como uma grande rede (freqüen
de um lobo ou até mesmo um hemisfério cerebral inteiro.
Suas características histopatológicas e angioarquitetura temente mais de 6 centímetros), difusamente dispersa de
inúmeras estruturas vasculares dilatadas interpostas ao
são distintas das clássicas MAVCs: as APCs tem parên
quima cerebral normal interposto entre os canais vascula parênquima cerebral normal. Realce marcado após a ad
res proiiferativos. ministração de contraste é típico.
presente.
7-7D Visão anteroposterior
mostra a massa predominante
mente avascular o emara
nhado de vasos SI em torno das
margens do coágulo e o contraste
estagnado em veia em sua maior
parte trombosada SI. Uma MAV
em sua maior parte "obliterada"
foi encontrada na cirurgia quando
o coágulo foi removido.
Malformações vasculares 147
7-8A ASD com angiograma seletivo da carótida interna em um pa 7-8B Angiograma seletivo vertebral do mesmo paciente mostra
ciente com angiopatia proliferativa cerebral mostra inúmeros espaços pequenos vasos nutridores adicionais suprindo a lesão 31. Apesar do
vasculares dilatados 31 sem artérias nutridoras dominantes. tamanho, há espaços não opacificados no interior da tesão. (Cortesia de
P. Lasjaunias, MD.)
7-9 Figura demonstra FAVd com seio transverso trombosado SI com 7-10 Espécime cirúrgica de uma FAVd com aparência de massa resse
múltiplas pequenas artérias e veias na parede dura! í^- A lesão é su cada da parede do seio transverso demonstra inúmeros vasos de aspecto
prida principalmente por nutridoras transósseas SI oriundas da artéria tendido (Cortesia R. Hewlett, MO).
carótida externa.
7-12A ASO da afléíia carótida externa em um paciente com zumbido 7-12B Angiograma seletivo da artéria carótida interna do mesmo
demonstra FAVd em seio transverso ociuído suprida pela artéria paciente mostra o tronco meningo-hipofisário aumentado 3 que tam
meníngea média e pelos ramos transósseos [3 oriundo da ACE. bém supre parte da FAVd
Em pacientes sintomáticos, o tratamento endovas- procurados em todos os pacientes com zumbido pulsátil
cular com embolização das artérias nutridoras, usando (Figs. 7-nAe7-nB).
agentes em partículas ou líquidos com ou sem emboliza O exame contrastado pode demonstrar as artérias
ção por molas do recesso/seio venoso recipiente pode ser nutridoras e as veias de drenagem. O seio venoso durai
realizado. Ressecção cirúrgica da parede do seio durai en envolvido está freqüentemente trombosado ou estenótico.
volvida ou radiocirurgia estereotáxica são outras opções.
Achados na RM. Como na TC, o exame de RM nas se-
7-13A Ponderação em T2 de
exame de um homem de 48
anos com neuralgia do trigêmeo
ò direita mostra emaranhado de
vasos no cavo de Meckel
e na cisterna do ângulo ponto-
-cerebelar associada a grande
fl o w v o i d S .
7-138 ASO da ACI direita mos
tra que o emaranhado de vasos
E^i é suprido por ramos durais
aumentados de calibre oriundos
da ACI, com fistulização direta
para uma veia de "drenagem
precoce" alargada ÍS.
Em ambas as classificações, a presença cie veias cor- terior dos seios cavernosos (Figs. 7-14 e 7-15). As FCCs
íicais de drenagem (VCD) coloca a FAVd em uma cate são divididas em dois subgrupos: as fistulas diretas e as
goria de maior risco. A subdivisão das lesões com VCD indiretas.
em sintomáticas e assintomáticas pode ajudar a melhorar As FCCs "diretas'* são típicas lesões de alto flu
a estratificação de risco. As FAVds são lesões dinâmicas xo que resultam da ruptura da artéria carótida interna
e podem regredir ou progredir espontaneamente. O risco cavernosa (ACl) diretamente para o seio cavernoso
de uma lesão de baixo grau converter-se em uma lesão (SC) relacionado ou não a um aneurisma preexistente
de alto grau é baixo, mas mudanças nos sintomas devem da ACl. As FCC "indiretas" são lesões de baixo fluxo
promovera reavaliação por imagem imediata. e baixa pressão que representam uma fistula arteriove-
nosa entre os ramos durais da ACl cavernosa e o seio
Diagnóstico diferencial c a v e r n o s o .
7-14 Ilustração no plano coronal demonstra fistula carótido-cavernosa 7-15 Peça de autópsia de uma FCC direta com dissecçâo do seio cavernoso
(FCC). O seio cavernoso direito está aumentado devido à presença (SC) e das estruturas adjacentes mostra que o SC direito está aumentado S
de numerosos canais arteriais e venosos dilatados. devido a inúmeros canais vasculares dilatados (Cortesia de B. Horten, MD.)
Malformações vasculares 153
subtipo de FAVd. Uma classificação específica para as Aspectos demográficos. Como as FCCs diretas podem ocor
FCCs, a classificação de Barrow, é baseada no suprimento
rer com trauma elas são encontradas em ambos os sexos e
arterial.
em todas as idades. As FCCs indiretas são mais freqüentes
em mulheres de 40 a 60 anos.
7-18 Ponderação em T2
demonstra os achados típicos
na RM da FCC com o seio caver
noso direito aumentado B e
contendo numerosos flow voids
anormais ES
7-19 ASO lateral em um caso
de FCC direta em uma paciente
feminina de 21 anos de idade
com múltiplas fraturas de base
de crânio demonstra que a ACI
se estreita SI logo antes de de
sembocar em um grande recesso
venoso [^. Refiuxo venoso
em alta pressão para o interior
das veias oftáimicas superior e
inferior [3 e para o seio esfeno-
parietai está presente.
154 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
7-20 FAV pia! com ramos levemenle aumentados da ACA ES 7-21 Aquisição no plano coronal em Ti pós-contraste demonstra uma
conectando a uma variz venosa ÍS e vela cortical de drenagem FAV piai na fossa posterior. Uma pequena artéria cerebelar CS conecta
dilatada diretamente a um recesso venoso BI o qual por sua vez drena para
uma veia subependimáría B próxima ao quarto ventrículo.
As FCCs indiretas podem causar proplose indolor com uma veia oftálmica superior (VOS) calibrosa e mús
com alterações variáveis de visão. culos extraoculares aumentados. Gordura com aspecto
"sujo" secundário ao edema e ao ingurgitamcnto venoso
História natural. Os casos graves, com shunt torrcncial
pode estar presente. Ocasionalmente, hemorragia suba
ACI-SC, podem resultar em isquemia hemisférica. Se racnòidea secundária a trauma ou a ruptura de veias corti
drenagem venosa intracraniana retrógrada estiver presen cais pode ser identificada.
te, pode ocorrer hemorragia subaracnòidea catastrófica O exame de TC com contraste com freqüência de
originada da ruptura de veias corticais ectásicas. monstra bem o aumento da VOS e do SC (Fig. 7-17). Dre
Opções de tratamento. O objetivo primário no tratamento nagem inferior para o plexo venoso pterigoide proeminen
da FCC direta é o fechamento da fistula, que ocorre por te e drenagem posterior para o plexo venoso clival estão,
meio de embolização por baião transarterial-transfistula. às vezes, presentes.
A embolização transvenosa via veia Jugular interna e via Achados na RM. As ponderações em TI podem demonstrar
seio petroso inferior é outra opção. Se a ACI estiver rota, um proeminente "abaulamento" do SC e da VOS, bem
a colocação de stent recoberto pode ser efetiva. De forma como a gordura orbital com aspecto "sujo". As imagens
menos comum, pode ser considerada a oclusão da fistu
ponderadas em T2 podem revelar assimetria na perda de
la com sacrificio da ACI genitora com emprego de molas sinal relacionada ao fluxo nas veias afetadas. A visualiza
ou balões. Essa é uma opção apenas se o paciente obtiver ção de numerosos flow voids no SC é um achado comum
sucesso no "teste" de oclusão por baião ou se possuir cir nas FCCs (Fig. 7-18).
culação colateral suficiente para compensar a ausência de Realce forte e uniforme do SC e da VOS é típico.
fluxo anterógrado pela ACI. Veias cranianas tortuosas e calibrosas podem ocorrer em
As FCCs indiretas podem ser tratadas conservadora- shunts de alta pressão e de alto fluxo.
mente ou com embolização superseletiva. Foram relatados casos raros de FCCs diretas agressivas
de alto fluxo, com drenagem venosa proeminente pontome-
Imagem sencefálica e perimedular, causando mielopatia progressiva.
Características gerais. As características gerais de imagem
Angíografia. a ASD é necessária para o diagnóstico defi
da FCC refletem a presença de shunt AV no interior do
nitivo e para o tratamento. O delineamento completo do
seio cavemoso. Dependendo do grau do shunt, os achados
suprimento arterial e do padrão de drenagem venosa é o
podem variar de sutis a expressivos.
objetivo. As FCCs diretas podem demonstrar fluxo rápido
Achados na TC. O exame de TC sem contraste pode de com opacificação muito precoce do SC (Fig. 7-19). Inje
monstrar proplose leve ou importante ou SC proeminente ção seletiva da ACI com rápidas aquisições de imagem
Malformações vasculares 155
* ^
7-22 Figura ilustra a malformação da veia de Galeno. Artérias corói- 7-23 Exame de TC com contraste de um recém nascido demonstra
deas aumentadas E9 drenam diretamente para veia prosenecefáiica uma grande MAV6 B drenando para um seio falcino aumentado E
mediana (VPM) dilatada seio falcino A tórcuto herophili {con causando hidrocefalia obstrutiva.
fluência dos seios venosos) está massívamente aumentada.
Etiologia
Conceitos gerais. No desenvolvimento fetal normal, o su
primento arterial para o plexo coroide drena por meio de
uma única veia transitória localizada na linha média, a
veia prosencefálica mediana (VPM) de Markowski. Nor
malmente, o desenvolvimento das veias cerebrais internas
passa a compreender a drenagem do plexo coroide fetal e
a VPM regride. Na MAVG, uma Hstula de alto fluxo im
pede a formação da veia de Galeno definitiva.
Genética. As MAVGs são lesões esporádicas, sem pré-dis-
posição genética conhecida.
Patologia
Patologia macroscópica. Artérias aumentadas de calibre dre
nam diretamente para a VPM dilatada. Dilalaçào "aneu-
7-24A Ponderação em T2 no plano sagital mostra
artérias proeminentes S] suprindo a veia prosencefá- rismática" da VPM persistente forma uma grande bolsa
lica mediana alargada IS. Observe o aumento do seio venosa logo atrás do terceiro ventrículo que drena para um
falcino BI. seio sagital superior marcadamente aumentado, por meio
de um seio falcino embrionário (Fig. 7-22). Os ventrículos
costumam estar muito dilatados. O cérebro é usualmente
atrófico. Modificações isquêmicas são comuns.
Características microscópicas. As paredes do recesso venoso
podem se tomar significativamente espessadas e displásicas.
Aspectos clínicos
Epidemiologia. As MAVGs são raras, representando menos
de 1% de todas as malformações vasculares cerebrais.
Contudo, elas representam 30% das malformações vascu
lares sintomáticas em crianças.
Aspectos demográficos. As MAVGs neonatais são mais co
muns do que aquelas que se apresentam na lactância e
infância. A apresentação na idade adulta é rara. Há uma
z: □ definitiva predominância masculina (H:M = 2:1).
7-24B ASD do mesmo paciente mostra que a MAVG
[S é suprida por múltiplas fistulas arteriais diretas [B. Apresentação. Os sinais e os sintomas variam com a ida
de da apresentação. Em neonatos, insuficiência cardíaca
congestiva de alto débito e sopro craniano alto são típicos.
Em lactentes mais velhos pode apresentar com macrocra-
nia e hidrocefalia, com ou sem insuficiência cardíaca.
As MAVGs em crianças não tão pequenas estão as
sociadas com atraso no desenvolvimento c convulsões.
As MAVGs em adultos jovens podem apresentar cefaleia,
com ou sem hemorragia e hidrocefalia.
História natural. O prognóstico está relacionado ao ta
m a n h o d o s h u n t a r t e r i o v e n o s o . G r a n d e s M AV G s c a u s a m
isquemia cerebral e modificações distróficas no cérebro
fêtal. Se deixados sem tratamento, os neonatos com MA
VGs podem falecer devido a dano cerebral progressivo e
insuficiência cardíaca intratável.
preferencial. A abordagem transvenosa acarreta morbidade e pode se parecer clinicamente com a MAVG. O envol
e mortabiiidade significativas, e é contraindicada. vimento de seios venosos durais mais do que da veia de
Galeno ou da VPM é típico.
Imagem
Características gerais. Um grande recesso venoso arredon
dado que drena para um seio falcino persistente ou seio
reto proeminente. A confluência venosa dos seios está Malformações cerebrovasculares sem
com freqüência aumentada. 5/ju/Jf arteriovenoso
Achados na TC. Exames de TC sem contraste mostram uma Anomalia do desenvolvimento venoso
grande massa bem delimitada, levemente hiperdensa, no Com o advento da RM contrastada, as anomalias do de
ápice do tentório, com freqüência comprimindo o tercei senvolvimento venoso tornaram-se as malformações
ro ventrículo e causando hidrocefalia obstrutiva grave. vasculares intracranianas mais diagnosticadas. Uma vez
Graus variáveis de encefalomalacia, hemorragia e/ou cal- pensadas como lesões raras e com risco substancial de
cificações distróficas no parênquima cerebral estão pre hemorragia, a maioria dos "angiomas" venosos agora são
sentes. A TC com contraste mostra importante realce forte reconhecidos como assintomáticos e como achados inci-
e uniforme (Fig. 7-23). dentais de imagem. As complicações neurológicas destas
lesões comuns são raras.
Achados na RM. O fluxo rápido, porém turbulento no in
terior da MAVG causa perda de sinal não homogênea e
artefatos de fase (mau registro do sinal na direção da co Terminologia
A anomalia do desenvolvimento venoso (ADV), tam
dificação de fase). As artérias nutridoras aumentadas são
bém chamada de "angioma" venoso ou "malformação
vistas como /7oh' voids serpentiformes adjacentes à lesão
venosa". é uma malformação vascular cerebral congênita
(Fig. 7-24A). Trombos de idades variáveis podem estar
com formato de guarda-chuva composta por elementos
presentes delineando a MAVG.
venosossangio genicamente maduros. Canais venosos di
A n g i o g r a f í a . D u a s f o r m a s d e M AV G s ã o c o n h e c i d a s b a latados de paredes finas são encontrados no (e separados
seadas na sua angioarquitetura especifica. A forma mais por) parênquima cerebral normal.
comum é a "coroidar. Nela, múltiplos ramos de arté Raramente, um recesso venoso dilatado ou tortuoso,
rias pericalosas, coróideas e tálamo-perfurantes drenam sem artérias discemíveis ou tributárias venosas pode ocorrer.
diretamente para o saco venoso aneurismático dilatado Nesses casos incomuns o termo variz venosa é apropriado.
localizado na linha média (Fig. 7-24B). Na forma rara
"mural", uma única artéria ou poucos ramos aumentados Etiologia
oriundos de artérias coliculares ou coróideas posteriores Conceitos gerais. A etiologia precisa das ADVs é desconhe
drenam para a parede do seio. cida. Alguns pesquisadores afirmam que as veias medula-
Em mais de 50% de todas as MAVGs o seio reto é res presas desenvolvem-se entre Sell semanas de idade
hipoplásico ou ausente e a drenagem venosa se dá pelo gestacional; outros acreditam que as ADVs representem
persistente embrionário do "seio falcino". O seio falcino uma extrema variante da drenagem venosa normal. Ao
é facilmente identificado quando se angula posterossupe- contrário de muitas outras malformações cerebrovascula
riormente em direção ao seio sagital superior. res, as ADVs não expressam fatores de crescimento.
Ultrassonografia. Hoje, muitas MAVGs têm o seu diag Genética.
nóstico pré-natal. Uma massa hipoecogênica a levemente DVA solitária. Embora os estudos de linkage genéti
ecogênica localizada na linha média, posteriormente ao ca tenham implicado uma região no cromossomo 9p nas
terceiro ventrículo é típica. O estudo com Doppier a cores malformações venosas cutaneomucosas hereditárias, ne
mostra fluxo turbulento bidirecional no interior da M AVG nhuma pré-disposição genética para a formação de ADVs
(Fig. 7-25). cerebrais esporádicas isoladas foi identificada.
Uma associação da ADV e malfonnações cavernosas
Olagnóstlco diferencial cerebrais (MCCs) solitárias (mas não familiares) foi recen
Achados de imagem típicos em um neonato com insufi temente relatada, sugerindo que essas malformações vas
ciência cardíaca congestiva de alto débito são praticamen culares provavelmente tenham um mecanismo de desen
te patognomônicos de MAVG. Uma malformação arterio- volvimento diferente. As ADVs solitárias não possuem o
venosa (MAV) talâmica com drenagem venosa profunda gene KRITI. que está associado com as MCCs familiares.
pode causar aumento secundário da veia de Galeno. Uma ADVs múltiplas. Múltiplas malformações venosas ce
dilataçâo aneurismática da veia de Galeno associada rebrais foram relatadas na síndrome do nevo em bolha
a uma MAV raramente se apresenta no período neonatal. de borracha azul (BRBNS, blue rubber bled nevus syn
Uma fistula arteriovenosa durai gigante da infância drome)., sendo proposta uma ligação ao cromossomo 9,
de alto fluxo pode se apresentar no período de lactância ainda não comprovada.
158 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
■: W ;
A
7-26 Ilustração demonstra uma AOV com veias medulares aumenta 7-27 Caso de autópsia mostra uma ADV frontal à esquerda, caracte
das IS drenando para uma veia coletora transmanto única í^. rizada por veias medulares dilatadas entrepostas ao parénquima
cerebral normal (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
me toquem!"). Se uma ADV é histologicamente mista, o xigenado deinonstra hipointensidades lineares marcantes
tratamento é determinado pela lesão coexistente. A identi nas aquisições em T2* (GRE, SWl). (Fig. 7-3ÜB).
ficação pré-operatória dessa malformação mista é impor Se a ADV estiver associada com malformação caver
tante, já que a ligação da veia coletora ou a remoção de nosa, produtos sangüíneos em vários estágios de degrada
suas tributárias pode resultar em infarto venoso. ção podem estar presentes e, consequentemente, artefatos
de susceptibilidade magnética nas seqüências em T2*.
Imagem (Fig. 7-32).
Características gerais. As ADVs são compostas por um
Angiografia. a fase arterial é normal. A fase venosa de
agrupamento radial de veias medulares que convergem monstra o típico agrupamento com aspecto de "fios de
para uma grande veia coletora transcortical ou subepen- cabelo" ("cabeça de medusa") de veias medulares dila
dimária. O aspecto clássico é o de "cabeça de medusa" ou
tadas no interior da substância branca (Fig. 7-33). Um
de "guarda-chuva invertido".
discreto e prolongado "'blitsW" ou "mancha" capilar pode
Achados na TC. Os exames de TC sem contraste costumam estar presente em alguns casos. Pode ocorrer uma forma
ser normais, a menos que a ADV seja muito grande e uma transitória de malformação arteriovenosa com nutridoras
veia de drenagem proeminente esteja presente. O exame calibrosas e shunt AV (veia de "drenagem precoce"), mas
de TC com contraste demonstra vários focos de realce li é incomum. Raramente uma variz venosa verdadeira pode
near e/ou puntiformes que convergem para uma veia cole estar presente com a ADV.
tora tubular bem definida (Fig. 7-28). Nas ADVs atípicas,
o estudo de perfusão por TC pode mostrar um padrão de Diagnóstico diferencial
congestão venosa com aumento do CBV, CBF, MTT no Uma malformação vascular mista na qual a ADV forne
parênquima cerebral adjacente. ce uma drenagem venosa proeminente é comum. Grandes
Achados na RM. Se a ADV for pequena, ela pode não ser telangiectasias capilares ("gigante") com freqüência têm
detectada, a menos que um estudo contrastado seja rea uma veia central coletora dominante c podem, consequen
lizado. As seqüências em TI pós-contraste demonstram temente, lembrar uma ADV.
um agrupamento de estruturas lineares que sofre realce de As neoplasias altamente vascularizadas. como o glio
configuração estrelada, convergindo para uma veia cole blastoma multiforme podem ler shunts arteriovenosos
tora subependimária ou transparenquimatosa (Figs. 7-29, na substância branca e veias corticais aumentadas. Uma
7-30A e 7-31). A veia coletora pode demonstrar perda va drenagem venosa colateral com veias medulares au
riável de sinal devido à alta velocidade. Em razão do fluxo mentadas na síndrome de Sturge-Weber e na oclusão de
nas radículas venosas da ADV ser lento, o sangue deso- seio venoso durai pode, às vezes, simular uma ADV.
7-28 TC com contraste, ATC demonstra uma ADV clássica no hemisfé 7-29 Exame de RM em TI pós-contraste demonstra os achados clássi
rio cerebelar esquerdo ES. cos da ADV com veias aumentadas de calibre na SB B drenando para
uma veia coletora proeminente ES. Este foi um achado incidental em
um paciente assintomático.
160 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
7-32A RM em Ti pós-conlras-
te com saturação de gordura de
um homem com 55 anos com
paralisia súbita do VI e Vil nervos
cranianos demonstra uma AOV
clássica B adjacente ao quarto
ventrículo.
7-32B Aquisição T2* SWI mos
tra a hipointensa ADV [S. Além
disso, um pequeno hematoma
focai SI devido a uma malfor
mação cavernosa do soalho do
quarto ventrículo é identificado;
provavelmente, o hematoma é
o responsável pelos sintomas do
paciente.
Malformações vasculares 161
7-33A ESS 3D demonstra uma ADV clássica com veias medulares au 7-33B ESS 3D de outro caso mostra uma ADV extensa com "cabeça
mentadas de calibre BI drenando para uma veia coletora B. O aspec de medusa" B3 drenando para veia cerebral interna. (Cortesia de P.
to lembra uma "cabeça de medusa", "salgueiro invertido" ou "guarda- Lasjaunias, MD.)
-chuva" (Cortesia de P. Lasjaunias, MD.)
Sinus perícranil
A N O M A L I A 0 0 D E S E N V O LV I M E N TO V E N O S O
Terminologia
Terminologia o sinuspencnmii (SP) é uma grande comunicação trans-
• ADV, também conhecida como "angioma" venoso
calvariana entre os sistemas de drenagem venoso intra
Etiologla e extracraniano. Alguns pesquisadores consideram o SP
• Variante extrema da drenagem venosa normal?
uma manifestação cutânea de uma anomalia do desen
• Desenvolvimento de veia medular detido?
• Mutação do cromossomo 9? volvimento venoso (ADV), já que estas duas lesões estão
com freqüência, mas não invariavelmente, associadas.
Patologia
• Solitário » mtjltiplo; pequeno > grande
Eíiologia
• SB adjacente aos ventrículos (lateral > quarto)
• Veias na SB aumentadas de calibre interpostas ao Conceitos gerais. Os SPs podem ser congênitos ou adqui
ridos, pós-traumáticos ou espontâneos. E provável uma
parenquima cerebral normal
origem congênita na maioria dos SPs, dada a sua fre
Aspectos clínicos qüente associação com ADVs e malformações mucocu-
• Epidemiologia e aspectos demográficos
tâneas congênitas, como a síndrome do nevo cm bolha
o Malformação cerebrovascular mais comum (60%)
o Prevalência na RM em TI pós-contraste = 2 a 9% de borracha azul (BRBNS). Outras etiologias possíveis
o Todas as idades, sem predileção por gênero incluem fusão incompleta de suturas sobre veias diploicas
• História natural. ou emissárias abundantes.
o Usualmente benigna, não progressiva Lacerações de escalpo e fraturas cranianas com ruptu
ra de veias emissárias na tábua externa da calvária podem
Imagem
• Veias dilatadas em "cabeça de medusa". resultar no desenvolvimento de um SP adquirido.
• Convergem para uma grande veia coletora.
Patologia
Diagnóstico diferencial Uma formação sacular azulada abaixo ou logo acima do
• Malformação histologicamente mista (usualmente
venosa + cavernosa) periósteo da calvária é típica. Essa formação sacular dila
• Telangiectasia capilar gigante tada. preenchida por sangue, conecta-se por meio de uma
• Drenagem venosa colateral veia emissária aumentada com a circulação intracraniana
o Síndrome de Sturge-Weber (Fig. 7-34). O lobo frontal é o local mais comum, seguido
o Ociusão de seio durai com shunt para veias profundas pelos lobos parietal e occipital. Os SPs nas fossas crania
nas média e posterior são raros.
162 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
Os SPs podem estar associados com ADVs únicas ou Opções de tratamento. Os pacientes com SP podem ser en
múltiplas. caminhados ao dermatologista em razão da descoloração
do escalpo ou testa. A remoção cirúrgica do componente
Aspectos clínicos extracraniano com cranioplastia é ocasionalmente reali
Epidemíologia. Os SPs são lesões raras, encontradas em me zada para fins estéticos. A cirurgia realizada sem exames de
nos de 10% dos pacientes que se apresentam para o trata imagem adequados pode resultar em complicações poten
mento de inalfomiações craniofaciais vasculares e em 4% cialmente letais, incluindo hemorragia, infarto venoso (se
dos pacientes com lesões palpáveis na abóbada craniana. o SP estiver associado com uma ADV) e embolia gasosa.
Aspectos demográficos. Embora os SPs possam ocorrer em
qualquer idade, a maioria é encontrada em crianças ou em Imagem
adultos jovens. Não há predileção por gênero. Características gerais. Uma massa de escalpo subperiosteal
ou vascular sobrejacente a um defeito ósseo bem definido.
Apresentação. Uma massa no escalpo compressive!, não A massa comunica-se diretamente com o sistema venoso
dolorosa, não pulsátil, azulada, que aumenta de tamanho intracraniano por meio do defeito ósseo.
à manobra de Valsalva e se reduz na posição de ortostatis-
mo é típica. Uma história de "trauma esquecido" não é in- Achados na TC. Um SP é iso ou hiperdenso na TC sem con
comum. Excetuando-se a repercussão estética, a maioria traste e demonstra forte realce uniforme após a administra
dos SPs é assintomática. O SP com múltiplas ADVs está ção do mesmo (Fig. 7-35). O defeito na calvária subjacen
associado à síndrome do nevo em bolha de borracha azul. te varia em tamanho, mas é bem definido. Ocasionalmente
um SP pode conter calciflcações (flebólitos) ou trombos.
História natural. Se deixadas sem intervenção, a maioria dos
SPs tem comportamento benigno e permanece estável em Achados na RM. A maioria dos SPs são isointensos nas
tamanho. Há um risco muito pequeno de embolia gasosa ou ponderações em TI e hiperintensos ao cérebro na ponde
hemorragia devido a trauma direto no SP ao longo da vida. ração em T2. O acúmulo de contraste no interior do SP
uma larga variação de comportamentos dinâmicos. Elas nais vasculares fortemente agrupados, revestidos por epi-
são uma causa relativamente comum de hemorragia in télio ("cavernas") no interior de um estroma colagenoso.
tracraniana não traumática em adultos jovens e de meia- As cavernas não possuem tecido elástico e apresentam
-idade, embora possam ocorrer em qualquer fase da vida. paredes finas, mas que podem se tomar espessadas e hia-
linizadas. Alguns canais estão parcial ou completamente
Terminologia irombosados e contêm hemorragia em diferentes estágios
As MCCS também são conhecidas como "angiomas" ca- de evolução. Uma borda gliótica, com componente de he
vemosos ou "cavemomas". Elas são malformações benig mossiderina, envolve a lesão.
nas vasculares hamartomatosas. As MCCs são, por vezes, As MCCs não contêm parénquima cerebral, mas o cé
erroneamente referidas como "hemangiomas caverno- rebro de seu entorno freqüentemente demonstra modifica
sos". Os hemangiomas são neoplasias vasculares benig ções reativas e depósitos de hemossiderina. Calcificações
nas e não malformações. distróficas são comuns no interior das MCCs.
164 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
Aspectos clínicos
Epidemiologia. As MCCs são a terceira malformação cere
bral vascular mais comum (após a ADV e a telangiectasia
capilar) e são encontradas em aproximadamente 0,5 % da
população. Dois terços ocorrem como lesões solitárias,
esporádicas; um terço são miíltiplas.
Aspectos demográficos. As MCCs podem ocorrer em qual
quer idade; elas causam 10% das hemorragias cerebrais
espontâneas em crianças. A prevalência das MCCs nos
exames de imagem aumenta com o aumento da idade. O
7-38 Aspectos subagudos SI e o clássico em "pi pico de apresentação está em 40 a 60 anos (mais jovens
poca" [S das MCCs. As micro-hemorragias são vistas com síndrome da malformação cavernosa múltipla fami
como "pontos pretos com artefatos de susceptibilidade
magnética muilifocais O. liar). Não há predileção por gênero.
A síndrome da MCC múltipla é mais comum em his
pano-americanos de descendência mexicana. Mais de 90%
dos indivíduos com uma história familiar positiva têm uma
mutação KRJTI e irão desenvolver uma ou mais MCCs.
Apresentação. Metade de todos os pacientes com MCCs
apresentam-se com convulsões. Cefaleia e déflcits neuro
lógicos focais também são comuns. As lesões pequenas, es
pecialmente micro-hemorragias podem ser assintomáticas.
História natural. As MCCs têm um largo espectro de com
portamento dinâmico e o curso clínico das lesões indivi
dualmente é variável e imprevisível. Hemorragias intrale-
sionais espontâneas de repetição são típicas. Há propensão
distinta para o crescimento lesional em cada paciente. Em
geral, os pacientes com síndrome da MCC múltipla conti
nuam a desenvolver novas lesões ao longo de suas vidas.
O risco de hemorragia em lesões solitárias é estimado
7-39A Espécime cirúrgica de uma ressecção de uma em 0,25 a 0,75% cumulativo, ao ano, sendo maior para
MCC demonstra características lipicas, notando-se lesão
mulheres. Na forma da MCC múltipla familiar, o risco de
circunscrita, lobulada, com aspecto em framboesa.
hemorragia é muito mais alto, aproximando-se de 1,5%
cumulativo ao ano.
Imagem
Características gerais. As MCCs podem ocorrer em todo o
SNC. O parênquima cerebral é o local mais comum. Uma
massa circunscrita com intensidade de sinal/densidade
Se a malformação vascular histologicamente "mista" for depois, quando o paciente desenvolveu hemiparesia
direita aguda, demonstra que a lesão ES aumentou
ressecada, a drenagem venosa deve ser preservada para
significativamente.
evitar infarto venoso pós-operatório.
Angiografia. As MCCs não têm artéria nutridora ou veias 7-40C Ponderação em T2 demonstra o clássico
de drenagem identificáveis. A ASD, ATC e ARM são, em aspecto em "pipoca" com lóculos de sangue em di
ferentes estágios de evolução rodeados por halo de
geral, negativas a menos que a MCC seja mista, associa- hemossiderina ES.
166 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
7-42A Ponderação em T2
de um paciente com múltiplas
malformações cavernosas cere
brais mostra uma grande lesão
frontal à esquerda com nivel
líquido-líquido B Múltiplas
outras lesões hipointensas estão
presentes E3.
7-428 SWl 12' demonstra
inúmeros pontos pretos com
artefatos de susceptibilidade
magnética característicos da MCC
Zabramski tipo 4 (micro-hemor-
ragias puntiformes). Aquisições
em T2' são muito mais sensíveis
do que as ponderações em 12
FSE para detectar inomogeneida-
des do campo magnético.
AAaIformações vasculares 167
7-43C Ponderação em T2
mostra proeminente hipointen-
sidade por presença de hemos
r '«t.v \ siderina B cercando cavidades
hiperintensas contendo líquido
^ D
168 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
sões com até 2.0 cm podem ocorrer. Elas podem ser vistas Apresentação. A maioria das TCCs é assintomática e des
como áreas mal definidas de descoloração rosa ou em tons coberta incidentalmente. Alguns poucos casos com cefa-
de marrom no parênquima (Fig. 7-45). leia, vertigem e zumbido foram relatados.
Características microscópicas. Um grupo de capilares dila História natural. As TCCs são lesões quiescentes que não
tados, com algum grau de ectasia, mas, a exceção disso, sangram. Casos muito raros de comportamento agressivo
de aspecto normal, interpostos ao parênquima cerebral é foram relatados.
característico (Fig. 7-46). A menos que mistas a outras
Opções de tratamento. As TCCs isoladas não necessitam de
malformações (como angioma cavemoso), as TCCs não tratamento. O tratamento das lesões mistas é determinado
sangram e não calcificam. Gíiose e depósitos de hemossi-
derina estão ausentes. pela lesão associada.
Imagem
Aspectos clínicos Características gerais. Já que o parênquima cerebral normal
Epidemiologia. As telangiectasias capilares são o segundo
está interposto entre os capilares dilatados da TCC, não há
tipo mais comum de malformação vascular cerebral, re efeito de massa presente. A menos que elas sejam histolo-
presentando entre 10 a 20 % de todas as malformações
gicamente mistas a outras MCVs (como malformação ca
vasculares cerebrais. Telangiectasias capilares de mucosa
vernosa), as TCCs carecem de edema, não incitam gliose
e de pele são ainda mais comuns do que as telangiectasias
adjacente e não apresentam hemorragias ou calcificações.
cerebrais.
Achados na TC. TC com e sem contraste são normais.
Aspectos demográficos. As TCCs podem ocorrer em qual
Achados na RM. As TCCs são imperceptíveis nas ima
quer idade, mas o pico de apresentação está entre 30 a 40
anos. Não há predileção por gênero. gens de RM convencionais pré-contraste. As aquisições
em TI são, em geral, normais (Fig. 7-47A). As grandes
7-48 Série de aquisições em T2" 6RE demonstra uma hipointensidade 7-49 Aquisições em TI pós-contraste axiais (acima) e coronals (abaixo)
focai subcortical em formato de cunha ES no lobo parietal esquerdo. mostram que a lesão B realça de uma maneira "escovada". Uma veia de
drenagem centrai proeminente está presente B3. Os achados de imagem
são característicos da telangiectasia capilar (compare com a Fig. 7-46).
TCCs podem demonstrar uma discreta hiperintensidade geral, encontrados na dura e nos seios venosos, e não no
pontiihada nas ponderações em T2/FLA1R (Figs. 7-47B e parênquima cerebral.
7-47C), mas as lesões pequenas costumam ser invisíveis. As malformações vasculares induzidas pela radio-
As aquisições em T2* GRE, SWI são as melhores terapia podem ocorrer e são vistas como "pontos pretos
para demonstrar a TCC. Como o fluxo sangüíneo no inte com artefatos de susceptibilidade magnética" multifocals
rior dos capilares dilatados é bastante lento, a oxi-hemo- nas seqüências T2* (ORE, SWI) (Fig. 7-50). A maioria
globina é convertida em desoxi-hemoblobina e é visível se trata de malformações cavernosas com micro-hemorra-
como uma hipointensidade acinzentada pouco definida gias e não de telangiectasias capilares.
(Figs. 7-47D e 7-48).
As TCCs demonstram discreto realce pontilhado
TELANGIECTASIAS CAPILARES
ou "escovado" e indefinido nas aquisições em TI pós-
-contraste (Figs. 7-47E e 7-49). Lesões maiores podem Patologia
demonstrar um foco linear de forte realce em seu interior, • Grupo de capilares dilatados de paredes finas
o Cérebro normal interposto entre os canais vasculares
representando a veia de drenagem coletora. • Podem ser encontradas em todo o SNC
Como as TCCs estão entremeadas a tratos de substân
o Ponte, cerebelo e medula espinal são os locais mais
cia branca normais, a DTl não demonstra deslocamento
c o m u n s
ou interrupção e não são identificadas alterações de aniso-
tropia fracionada (Fig. 7-47F). Aspectos clínicos
• 10 a 20% de todas as malformações cerebrovasculares
Diagnóstico diferencial • Todas as idades; pico = 30 a 40 anos
• Raramente sintomático
Devido ao seu leve realce nas aquisições em TI pós-con o A maioria é descoberta incidentalmente em
traste as TCCs são freqüentemente confundidas com neo exames de imagem
plasias; contudo, elas não exibem efeito de massa ou edema
Imagem
circunjacente. A combinação da perda da intensidade de si • TC sem contraste e TC com contraste são usualmente
nal em T2* e realce com padrão "escovado" em uma lesão
normais
que não é digna de nota nas sequências-padrào, facilmente • RM
distingue a TCC da neoplasia metastática ou primária. o T1/T2 usualmente normais
As anomalias do desenvolvimento e malformações o T2''' é a sequência-chave (hipointensidade
cavernosas podem ser histologicamente mistas às TCCs. cinza-escuro)
Os hemangiomas capilares são neoplasias verdadeiras o Realce de aspecto "escovado" no Tl pós-contraste
fonnadoras de vasos, causam efeito de massa e são, em
Malformações vasculares 171
7-50A Um paciente com história de irradiação cerebral total cinco 7-50B Aquisição em T2* SWI do mesmo paciente demonstra inúmeras
anos antes devido a um astrocitoma anaplásico grau 11! da classificação micro-hemorragias puntiformes. Os achados são consistentes com telan
da OMS desenvolveu convulsões. Aquisição em T2°6RE demonstra múlti giectasias capilares induzidas pela radiação.
plas hipointensidades com artefatos de susceptibilidade magnética ES.
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8
Anatomia arterial e acidentes
vasculares cerebrais
Anatomia arterial normal e distribuições vasculares.... 173 das, voltaremos então nossa atenção para etiologia, pato
Artéria carótida interna intracraniana 173 logia e aspectos de imagem dos AVCs arteriais.
O círculo de Willis 178
Artéria cerebral anterior 180
Artéria cerebral média 181
Artéria cerebral posterior 181 Anatomia arterial normal e
Sistema vertebrobasilar 183
distribuições vasculares
Infartos arteriais 184
Infarto-isquemia cerebral aguda 184 Os clínicos freqüentemente discutem a vascularização in
Infartos cerebrais subagudos 196 tracraniana em duas partes, a "circulação anterior" e a "cir
infartos cerebrais crônicos 198 culação posterior". A circulação anterior consiste na arté
infartos embólicos múltiplos 198 ria carótida interna (ACl) intradural e seus ramos somados
infartos lacunares 202 às suas duas tenninações, a artéria cerebral anterior (ACA)
infartos de zonas de transição ("zonas de fronteira") 205
e a artéria cerebral média (ACM). As artérias comunicante
Dano hipóxico-isquêmico 207
anterior (AComA) e comunicante posterior (AComP) tam
AV C s diversos 213 bém são consideradas partes da circulação anterior.
Sindrome da hiperperfusão cerebral 213
A circulação posterior é composta pelo tronco verte
AV C s e m d i s t r i b u i ç õ e s v a s c u l a r e s i n c o m u n s 2 1 3
brobasilar e seus ramos, incluindo suas bifurcaçôes termi
nais nas duas artérias cerebrais posteriores (ACPs).
Acidente vascular cerebral (AVC) é um termo ge Começaremos nossa discussão com a circulação an
t e r i o r. C o n s i d e r a r e m o s b r e v e m e n t e a a r t é r i a c a r ó t i d a i n
nérico que descreve um evento clínico, caracterizado
terna e seus segmentos, ramos, variações importantes e
por início súbito de um déficit neurológico. Contudo,
os A VCs não são Iodos iguais! As síndromes dos AVCs anomalias e, então, delinearemos a anatomia do círculo de
têm heterogeneidades em seu significado clínico e fisio- Willis. As três artérias cerebrais principais (i.e., anterior,
média, posterior) serão discutidas a seguir juntamente
patológico, que se refletem em sua patologia macroscó
com seus ramos, variações e distribuição vascular. Con
pica e nos aspectos de imagem. Isquemia-infarto arterial
- o foco principal deste capítulo - é de longe a causa cluiremos esta seção com a anatomia normal do sistema
v e r t e b r o b a s i l a r.
mais comum de AVC, correspondendo a 80% de todos
os casos,
Os 20% restantes são, em sua maioria, hemorrági Artéria carótida interna intracraniana
cos, sendo divididos em hemorragia intracraniana "es As ACls intracranianas seguem um curso complexo com
pontânea" (HIE), hemorragia subaracnóidea (HSA) não seis segmentos retos verticais ou horizontais que são co
traumática e oclusões venosas. Tanto HIE quanto HSA nectados por três curvas ("joelhos"). As ACIs são dividi
foram discutidas extensivamente nos capítulos anterio das em diversos segmentos. Por convenção, a ACl exlra-
res, e as oclusões venosas serão discutidas no capítulo craniana - que não possui ramos nomeados no pescoço
- é designada como segmento Cl (cervical). A ACl cer
seguinte.
Começaremos com uma breve revisão das artérias vical será discutida em detalhes juntamente com outras
intracranianas normais, Com essas bases anatômicas sóli artérias craniocervicais extracranianas (Capítulo 10).
174 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
Segmento C6 (oftálmico) da ACI. O segmento C6 (oftálmico) A artéria coróidca anterior (ACorA) se origina 1
é o primeiro segmento da ACI que se localiza inteiramente ou 2 mm acima da AComP com curso inicialmente pos
no espaço subaracnóideo. Esse segmento se estende a par teromedial, mudando o seu rumo então lateralmente na
tir do anel durai distai, logo abaixo da origem da AComP. cisterna suprasselar para entrar na fissura coróidea do
O segmento C6 possui dois importantes ramos. A ar corno temporal. O território da AcorA é recíproco com o
téria oftálmica (AO) se origina do aspecto anterossupe- das artérias coróideas posteromedial e posterolateral (am
rior da ACI, dirigindo-se, após, anteriormente através do bas ramos da ACP), mas em geral inclui o lobo temporal
canal óptico, junto com o NC II. A AO possui extensas mediai, núcleos da base e braço infralenticular da cápsula
anastomoses com ramos da ACE no interior e em tomo da interna.
órbita e na glândula lacrimal. A artéria hipofisária supe
rior nasce do aspecto posterior do segmento C6 da ACI e Anomalias e variantes
supre o lobo anterior da hipófise (adeno-hipóflse), a haste Três importantes anomalias vasculares da ACI devem ser
infundibular, bem como o quiasma óptico. reconhecidas nos estudos de imagem: uma ACI aberrante
Segmento C7 (comunicante) da ACI. O segmento Cl {comu- (ACIA). uma artéria estapedial persistente e uma anasto
mose carótido-basilar embrionária.
nicante) é o último segmento da ACI e se estende desde
logo abaixo da origem da AComP até a bifurcaçao termi ACI aberrante. Uma ACIA é uma anomalia vascular con
nal da ACI em ACA e ACM. Como possui curso posteros- gênita que adentra o aspecto posterior da cavidade da ore
superior, a ACI passa entre os nervos óptico e oculomotor. lha média, a partir de sua porção mais inferior, envolven
O segmento mais distai da ACI tem dois importantes do o promontório coclear. enquanto ele cruza a cavidade
ramos. A AComP une a circulação anterior à posterior. da orelha média (Fig. 8-3). A ACI finalmente retoma seu
Diversas artérias perfurantes se originam da AComP para curso normal esperado quando se une à margem posterior
suprir estruturas basais cerebrais, incluindo o hipotálamo. e lateral da ACI petrosa horizontal.
8-7A Achados caractehslicos da persistência da artéria estapediai 8-7B TC óssea do mesmo paciente demonstrando lorame oval esquer
(PAE) estão ilustrados. TC óssea em corte axial do osso temporal de do normal BI e ausência do lorame espinhoso (FE) esquerdo B. O lo
monstrando o segmento timpânico anterior alargado do canal do nervo rame oval IS e o FE O à direita estão normais. Ausência do FE e alar
facial B. gamento do segmento anterior do NC VII são patognomônicos de PAE.
Os pacientes com uma ACIA podem apresentar zum manho do segmento anterior (timpânico) do nervo facial
bido pulsátil. Uma ACIA é identificada no exame otoscó- (Fig. 8-7A). Na porção intracraniana, a PAE se toma a
pico como uma massa retrotimpânica com aspecto vascu artéria meníngea média (AMMed).
lar. que se localiza no mesotímpano anteroinferior. Uma Os achados de imagem patognomônicos são (1) a au
ACIA simula os aspectos clínicos do paraganglioma (glo- sência do forame espinhoso (porque a AMMed se origina
mo timpânico, glomo jugular). A biópsia pode resultar em da PAE, e não da ACE) (Fig. 8-7B) e (2) um segmento tim
AVC ou hemorragia fatal, motivo pelo qual essa anomalia pânico alargado do nervo facial. A PAE está freqüentemen
deve ser reconhecida pelo radiologista e comunicada ao te - mas não invariavelmente - associada a uma ACIA.
clínico de referência.
Anastomose carótido-basilar embrionária. No início do de
As características de uma ACIA na TC são patogno-
senvolvimento embrionário, conexões se formam entre a
mônicas. A TC óssea em cortes axiais demonstra uma le
carótida primitiva e as duas artérias neurais longitudinais
são tubular que cruza a cavidade da orelha média, com
(precursoras fetais da artéria basilar). Com exceção da
direção de posterior para anterior (Fig. 8-4). As imagens
artéria comunicante posterior, todas essas conexões ar
coronais mostram uma estrutura ovalada de margens bem
teriais primitivas regridem e então desaparecem quando
definidas, com densidade de tecidos moles disposta sobre
a circulação cerebral definitiva é formada. Se houver fa
o promontório coclear (Fig. 8-5).
lha nessa regressão, ocorre persistência da anastomose
A angiografia (ASD, ATC, ARM) mostra que a ACIA
carótido-basilar (PACB) ("primitiva" ou "embrionária")
tem um curso mais posterolateral que o normal. Uma dis
tinta angulaçào que lembra um "7" está freqüentemente pós-natal.
Há quatro tipos de PACB. Cada um é reconhecido e
presente, junto com a modificação em seu contorno e cali nomeado de acordo com suas relações anatômicas com
bre (aspecto "comprimido") antes de o segmento retomar
nervos cranianos ou espinais específicos. De superior
seu curso normal (Fig. 8-6).
para inferior, são eles: artérias trigeminal persistente (NC
Persistência da artéria estapediai. A persistência da artéria V), artéria ótica persistente (NC VIII), artéria hipoglossal
estapediai (PAE) é uma anomalia vascular congênita rara persistente (NC XII) e artéria intersegmentar pró-atlantal
na qual a artéria estapediai embrionária persiste no período (Cl-3)(Fig.8-8).
p6s-natal. A maioria dos casos de PAE é descoberta inci- Artéria trigeminal persistente. A artéria trigeminal
dentalmente em exames de imagem ou durante cirurgia. persistente (ATP) é a mais comum das persistências da
A PAE se origina do segmento C2 (petroso) da ACI anastomose carótido-basilar e é identificada em O, I a 0,2%
no seu joelho, entre os segmentos vertical e horizontal. dos casos. Dois tipos de ATP são conhecidos. No Saltzman
A PAE passa através ási footplate do estribo e dobra o ta- tipo 1, a ATP supre a artéria basilar (AB) distai, as AComPs
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 177
8-10 RM ponderada em TI no
plano sagital demonstrando o
clássico aspecto de «tridente de
Netuno» da ATP. O «tridente» é
(ormato pelos segmentos ascen
dente ES e horizontal E9 da
ACI cavernosa e pela ATP B.
8-11 ARM no plano sagital
demonstrando o "tridente de Ne
tuno" completo com a ATP B
conectando a ACI B a AB B.
8-13 Ilustração demonstrando o círculo de Willis com AComA ES e 8-14 ARM normal com visão submentovértice demonstrando AComA
as AComPs Bi conectando a circulação anterior (carotídea) à posterior B, pequenas AComPs ES e a bifurcação basilar com grandes segmen-
(vertebrobasilar) tos PI da ACP formando um polígono de Willis "equilibrado".
estão ausentes e a AB proximal é hipoplásica. No Saltzman mum de PACB, com uma prevalência estimada de 0,03 a
tipo 2, a ATP supre as artérias cerebelares superiores, en 0,09%. A PAH se origina do aspecto posterior da ACI cer
quanto as ACPs são supridas por AComPs patentes. vical, em geral ao nível de C1 -C2 e cursa juntamente com
Quando se dirigem posteriormente, as ATPs podem o NC XII, através do canal do hipoglosso para se anasto
cursar tanto lateral quanto medialmente à sela ttircica. Em mosar com a artéria basilar (Fig. 8-8). As artérias verte
tíltima instância, a ATP cursa posteromedialmente, com bral e comunicante posterior ipsilaterais são hipoplásicas.
primindo a glândula hipofisária e penetrando no dorso Uma PAH tem a mais alta incidência de associação
de sela, antes de se anastomosar com a AB. E importante com aneurismas de todas as PACBs.
identificar essa variante antes da cirurgia transesfenoidal Os exames de imagem demonstram um vaso calibro
para adenomas hipofisârios. so que se origina posteriormente à ACI cervical distal e
Os achados de imagem da ATP demonstram um se curva posteromedialmente por meio de um canal do
vaso calibroso que conecta a AGI cavernosa com a AB. hipoglosso alargado para se unir à AB intracraniana logo
Em 60% dos casos, a ATP cursa posteromedialmente, acima do forame magno (Fíg. 8-12).
correndo através do dorso da sela para se unir com a AB Artéria pró-atlantal (intersegmentar). Uma artéria
(FIg. 8-9). Em 40% dos casos, a ATP cursa posterolate- pró-atlantal, também chamada de artéria intersegmentar
ralmente junto com o nervo trigeminal descrevendo uma pró-atlantal (AIP), é a mais caudal de todas as PACBs
curva em tomo e não através do dorso da sela. (Fig. 8-8). Dois tipos são conhecidos: a AIP do tipo 1
se origina da ACI cervical ao nível de C2-C3 (ou mais
Imagens de RM no plano sagital e de ARM demons
tram a configuração em "tridente de Netuno" (Fig. 8-10), baixo), cursando então posterossuperiormente para se
(Fig. 8-U). Quase um quarto de todas as ATPs têm anorma unir à artéria vertebral suboccipital antes de se dirigir
lidades vasculares associadas, tais como aneurismas sacula- para cima por meio do forame magno. A AIP do tipo II
res, moya-moya, coarctação de aorta e lenestrações arteriais. segue um curso similar, mas se origina da artéria caró
Persisfência da artéria ótica. A incidência pós-natal tida externa.
d e PA C B e s t á i n v e r s a m e n t e r e l a c i o n a d a c o m s u a o r d e m
de desaparecimento. A artéria ótica primitiva é a primei O círculo de Willis
ra das anastomoses carótido-basilares fetais a regredir e, O círculo de Willis (CW) é um grande anel anastomóti-
consequentemente, é a mais rara dessas anomalias inco- co arterial que contorna as estruturas cerebrais basais e
muns. Apenas alguns poucos casos de persistência da ar conecta as circulações anterior e posterior. Caso ocorra
téria ótica (PAO) foram convincentemente demonstrados. uma oclusão arterial, o CW é a fonte mais importante
Persistência da artéria hipoglossal. A persistência de fluxo sangüíneo potencial colateral para o território
da artéria hipoglossal (PAH) é o segundo tipo mais co ocluído.
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 179
Os ramos penetrantes da ACA (sobretudo as artérias mificam sobre a superfície lateral do hemisfério cerebral
lenticuloestriadas inediais) suprem os núcleos da base me- (Fig. 8-22). Há variações consideráveis no padrão de ra
diais, joelho do corpo caloso e braço anterior da cápsula mificação da ACM cortical.
interna.
Território vascular
Variantes e anomalias A ACM possui o mais vasto território vascular das artérias
Uma variante rara é a persistência da artéria oftálmica cerebrais principais. A ACM supre a maioria da superfície
primitiva (PACP). que, mais do que uma persistência da lateral do hemisfério cerebral com exceção de uma fina
anastomose carótido-basilar (PACB), é uma anomalia ver faixa no vértice (suprida pela ACA) e do lobo occipital e
dadeira da ACA. Na PACP. uma ACA proximal e hipopiá- do aspecto posteroinferior do lobo parietal (supridos pela
sica toma um longo curso anterior e inferomedial ao longo ACP) (Fig. 8-22). Seus ramos penetrantes suprem a maio
do trato olfatório ipsilateral, logo acima da lâmina cribrifor- ria das estruturas cerebrais basais laterais.
me. Então ela descreve uma curva acentuada mudando sua
direção posterossuperiormente para continuar como a ACA Variantes e Anomalias
normal distai. Em geral, as PAOPs estão associadas a aneu- Há uma larga variabilidade no padrão de ramificação dos
risma sacular, com freqüência na região da curva acentuada. vasos corticais da ACM, mas poucas anomalias verdadei
Duas anomalias da ACA importantes, porém inco- ras, Em contraste ao complexo ACA-AcomA, a hipopla-
muns, são um segmento Al infraóptico e a ACA ázigos. sia e a aplasia da ACM são raras.
Uma Al ínfraóptíca ocorre quando o segmento horizontal A duplicação da origem da ACM é rara. Nela, dois
passa abaixo (e não acima) do nervo óptico. A A1 infraóp- ramos da ACM se originam separadamente do segmento
tica está associada a uma alta prevalência (40%) de aneu- terminal da ACl e então se fundem para formar um anel
rismas. Uma única ACA na linha média ou ACA ázigos é arterial. ACMs fenestradas e acessórias foram descritas.
vista juntamente com o espectro das holoproscncefalias.
Artéria cerebral posterior
Artéria cerebral média As duas artérias cerebrais posteriores (ACPs) são os ra
A artéria cerebral media (ACM) é o maior c mais lateral mos terminais principais da artéria basilar distai. Cada
ramo terminal da ACl supraclinóidea. A ACM tem quatro ACP tem quatro segmentos definidos (Fig. 8-23).
segmentos definidos.
Anatomia normal
Anatomia normal Segmento PI (pré-comunicante). O segmento PI da ACP
Segmento Ml (horizontal). O segmento M1 da ACM se es se estende lateralmente da bifurcação da AB para se unir
tende lateralmente desde a bifurcação da ACl em direção com a artéria comunicante posterior (AComP). O seg
à fissura silviana (cerebral lateral). A ACM se bi ou trifiir- mento P1 se localiza acima do nervo oculomotor (NC 111)
ca logo antes de entrar na fissura silviana (Fig. 8-19). e possui ramos perfurantes (as artérias talamoperfuran-
Os ramos mais importantes que se originam do seg tes posteriores) que cursam posterossuperiormente na
mento Ml são o grupo das artérias lenticuloestriadas la fossa interpeduncular para entrar na superfície inferior do
terais e a artéria temporal anterior. As artérias lenticu mesencéfalo.
loestriadas laterais suprem o putame lateral, o núcleo
Segmento P2 (ambiens). O segmento P2 se estende da jun
caudado e a cápsula externa (Fig. 8-20). A artéria tempo
ral anterior supre a "ponta" do lobo temporal. ção Pl-AComP, passando pela cisterna ambiens (perime-
sencefálica), enquanto corre posterolateralmente circun
Segmento M2 (insular). O tronco da ACM após a bifur dando o mesencéfalo. O segmento P2 se localiza sobre
cação gira posterossuperiormente na fissura silviana, se o tentório e sobre o segmento cisternal do nervo troclear
guindo suas suaves curvas (o "joelho" da ACM). Diversos (NC IV). Os dois principais ramos corticais - as artérias
ramos - segmentos M2 ou insulares da ACM - originam- temporais anterior e posterior - originam-se do seg
-se do tronco pós-bifurcação e se estendem sobre a super- mento P2 da ACP e passam lateralmente em direção à su
ficie da insula (Fig. 8-20). perfície inferior do lobo temporal (Fig. 8-23).
Diversos ramos menores, porém importantes, tam
Segmento M3 (opercular). Os ramos da ACM descrevem
bém têm origem no segmento P2 da ACP. As artérias ta-
uma volta no ou próximo ao topo da fissura silviana, cur
lamogeniculadas e as artérias perfurantes peduncula-
sando. então, lateral e abaixo da área em que os lobos res nascem do aspecto proximal do segmento P2 e passam
frontal, parietal e temporal se encontram ("opérculo"), en direta e superionnente ao mesencéfalo (Fig. 8-24).
cerrando assim a fissura silviana. Estes são os segmentos
A artéria coróidea posterior mediai (ACorP) e a
M3 ou operculares (Fig. 8-21).
ACorP lateral também se originam do segmento P2. A
Segmentos M4 (cortical). Os ramos da ACM se tornam os ACorP mediai se curva em tomo do tronco encefálico e
segmentos M4 quando deixam a fissura silviana e se ra cursa superomedialmente para entrar na tela coróidea e
182 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
no teto do terceiro ventriculo. A ACorP lateral entra no o terço posterior do hemisfério mediai e o corpo caloso e
ventriculo lateral e cursa junto com o plexo coroide, cur- a maior parte do plexo coroide (Fig. 8-26). Os ramos pe
vando-se em tomo do pulvinar do tálamo. A ACorP lateral netrantes da ACP são o principal suprimento vascular do
mantém uma relação recíproca com a artéria coróidea an mesencéfalo e do tálamo posterior.
terior (ACorA). um ramo da ACl.
Variantes e anomalias
Segmento P3 (quaorigeminal). O segmento P3 da ACP é um
Uma variação da normalidade comum é a origem "fetal"
pequeno segmento que se localiza inteiramente no interior da ACP. Nela, a ACP proximal se origina da artéria ca
da cistema quadrigeminal. Ele se inicia posteriormente ao
mesencéfalo e termina quando a ACP entra na tlssura cal- rótida interna, ao invés da bifurcação basilar. A origem
"fetal" da ACP é vista em 10 a 30%. Essa variante é facil
carina do lobo occipital (Fig. 8-25).
mente identificada na ATC, ARM e ASD.
Segmento P4 (calcarino). O segmento P4 termina no inte O tempo de trânsito vascular no território da ACP di
rior da fissura calcarina, onde se divide em dois troncos minui com o aumento da contribuição da circulação ante
terminais (Fig. 8-25). O tronco mediai dá origem à arté rior em relação á da circulação posterior. Sc uma grande
ria occipital medial, artéria parieto-occipitaU artéria AComP ou ACP "fetal" estiver presente de um lado, pode
calcarina e artérias espicnícas posteriores, enquanto o produzir uma substancial assimetria esquerda-direita nas
tronco lateral origina à artéria occipital lateral. imagens em perfusão. O conhecimento dessa variante
da normalidade comum é essencial, já que tal assimetria
Te r r i t ó r i o v a s c u l a r
pode simular uma patologia cerebrovascular.
A ACP supre a maior parte da superfície inferior dos he Uma rara, porém importante variante da ACP é a ar
misférios cerebrais, com exceção do ápice do lobo tempo téria de Percheron (APer). Nela. uma única artéria tala-
ral e do lobo frontal. Ela também supre o lobo occipital. moperfurante dominante se origina do segmento PI e supre
o mesencéfalo rostral e os tálamos mediais bilateraímente até alcançar C2, onde ele inicialmente muda de direção
(Fig. 8-74). superolateralmente através do "L invertido" do forame
Com exceção da persistência da anastomose carótido- transverso e, então, vira para cima para passar através do
-basilar (ver anteriormente), anomalias verdadeiras da ACP forame transverso de Cl (Fig. 8-27). A artéria meníngea
são incomuns. Bifurcação precoce, duplicação e fenestração anterior e os ramos segmentares adicionais inominados
do segmento da ACP pré-comunicante (PI) foram descritas. emergem de V2.
Segmento V3 (extraespinal). O segmento V3 se inicia quan
Sistema vertebrobasilar
do a AV deixa o forame transverso de Cl. Ele se localiza
O sistema vertebrobasilar consiste em duas artérias ver no topo do anel de Cl se curvando posteromedialmente
tebrais (AVs), a artéria basilar (AB) e seus ramos. Quatro em torno da junção atlanto-occipital, antes de mudar de
segmentos da AV são identificados. Apenas um - o seg direção de maneira aguda anterossuperiormente para per
mento V4 - é intracraniano. furar a dura no forame magno. O único grande ramo de
V3 é a artéria meníngea posterior.
Anatomia normal
Segmento V4 (intradural). Uma vez que a AV se torna in
Segmento VI (extraósseq). Cada AV se origina da artéria
tradural, ela cursa superomedialmente posteriormente ao
subclávia ipsilateral e cursa posterossuperiormente para
divo e em frente à medula. Ela origina pequenas artérias
entrar no forame transverso de C6. Ramos segmentares
inominados se originam de VI para suprir a musculatura espínais anteriores e posteriores e ramos perfurantes
medulares. A artéria cerebelar posterolnferior (ACPI)
cervical e a medula espinal cervical baixa.
se origina da AV distai, e se curva em tomo/sobre a tonsila
Segmento V2 (foraminal). O segmento V2 cursa supe e dá origem aos ramos perfurantes medulares, corióideos,
riormente através dos forames transversos de C6-C3 tonsilares e cerebelares inferiores (Fig. 8-27), (Fig. 8-28).
8-27 ilustração em AP de
monstrando o sistema vertebro
basilar, ACPIs SI se originam
das AVs antes da junção basilar
e se curvam posteriormente ao
redor da medula. As artérias
cerebelares anteroinferiores
(AlCAs) ÍS cursam lateralmente
aos APCs. Duas ou mais ACSs Hl
se originam da AB logo abaixo
do tentório. Ramos perfurantes
da AB St suprem a maior parte
da ponte.
8-28 ASD em AP demonstran
do as ACPIS Sj, AlCAs [^, ACSs
OI. Tanto as ACSs quanto as
ACPIs se curvam posterolateral-
mente em torno do mesencéfalo.
que divide os AVCs em quatro subtipos: ateroscleróti- cente de susceptibilidade) pelos astrócitos, oligodendro-
co, doença de pequenos vasos, cardioembólico e outros gliócitos, micróglia e células endoteliais.
AVCs. Embora todos os sistemas de classificação etio- Também há uma "hierarquia de sensibilidade" geo
lógica (incluindo o Tried of Org 10172 in Acute Stroke gráfica ao dano isquêmico entre os neurônios. Neurônios
Treatment ([TOAST]) forneçam uma distribuição similar, da área CAI do hipocampo, as camadas do neocórtex III,
o aumento do risco de AVC em pacientes com AIT com V e VI, e o neoestriado são mais vulneráveis do que as
etiologia determinada versus indeterminada é mais evi outras regiões (p. ex., o tronco encefálico).
dente usando a classificação ASCO.
Fatores predisponentes e genéticos. O AVC isquêmico é uma
Os AVCs relacionados à doença vascular ateroscle-
rótíca (DVA) são o tipo mais comum de infarto/isquemia doença multifatorial. Hipertensão, diabetes, tabagismo,
síndromes metabólicas e triglicerideos elevados são fa
arterial, representando cerca de 40 a 45% dos casos. A
tores predisponentes conhecidos significativos. Contudo,
maioria dos grandes infarlos arteriais macroscópicos são
todos esses fatores somados correspondem a apenas uma
embólicos, originando-se de trombos que se desenvolvem
no local de uma placa por DVA em "risco". O local mais parle dos fatores de risco para AVC.
comum de DVA na vascularização craniocervical é a bi- Cerca de 30% do risco de AVC global é geralmente atri
buído a diversos fatores genéticos. Excetuando-se algumas
ílircaçào carotídea (ver Capítulo 10). seguida do segmen
to cavernoso da ACl. O vaso intracraniano mais freqüen doenças relacionadas a um único gene, tais como CADASIL
temente ocluido é a artéria cerebral média (ACM). ou doença de Fabry, não há um único lócus com uma asso
A doença de pequenos vasos representa 15 a 30% de ciação consistente e forte com AVC isquêmico identificado.
todos os AVCs. Oclusões de pequenas artérias, também
chamadas de infartos lacunares, são definidas como lesões Patologia
medindo menos de 15 mm de diâmetro. Muitos são clini Localização. A ACM é o local mais freqüente de oclusão
camente silenciosos, embora uma lesão estrategicamente tromboembólica em grande vaso (FIg. 8-31), seguida pela
localizada (p. ex., na cápsula interna) possa causar prejuízo ACP e circulação vertebrobasilar. Dentre os principais va
sos intracranianos, a ACA é o menos atingido.
neurológico significativo. Os infartos lacunares podem ser
embólicos, ateromatosos ou trombóticos. A maioria envol Tamanho e número. Os infartos agudos podem ser solitários
ve artérias penetrantes nos núcleos da base, tálamos, cápsu ou múltiplos e variar em tamanho desde diminutas lesões
la interna, ponte e na substância branca cerebral profunda. lacunares a grandes lesões territoriais que podem envolver
A doença cardioembólíca responde por outros 15 a
grande parte do hemisfério cerebral.
25% dos principais AVCs. Fatores de risco comuns in
cluem infarto miocárdico, arritmias (mais freqüentemente Patologia macroscópica. Uma artéria com um trombo agu
do é preenchida com um coágulo "macio" arroxeado que
fibrilaçâo atrial) e doença valvular cardíaca.
Os outros AVCs são um grupo heterogêneo que com pode envolver a totalidade ou apenas um curto segmento
bina AVCs com diversas etiologias conhecidas a outros de do vaso (Fig. 8-32A). A extensão para ramos secundários
etiologia indeterminada. com ou sem êmbolos distais para vasos mais periféricos e
menores é comum.
Fisiopatologia. Estima-se que 2 milhões de neurônios se As modificações macroscópicas são mínimas ou au
jam perdidos a cada minuto quando um vaso principal, tal sentes nas primeiras 6 a 8 horas, após as quais o edema
como a ACM, é subitamente ocluido. O fluxo sangüíneo no território vascular afetado deixa o cérebro com aspecto
cerebral (CBF) decai de modo súbito. O centro do parên-
empalidecido e túrgido. A interface entre as substâncias
quima cerebral afetado - o denso core isquêmico - tem branca e cinzenta (SB-SC) fica menos definida e com as
um CBF inferior a 6 a 8 cmVlOO g/min. O oxigênio é ra
pecto "borrado". Como os giros se expandem, os sulcos
pidamente depletado, há queda na produção da energia adjacentes são comprimidos e o espaço sulco-cisternal
celular e a homeostasc iônica é perdida.
A morte neuronal com perda de função irreversível preenchido por LCS se torna apagado (Fig. 8-32B).
ocorre no centro de um AVC agudo. Uma área relativa Características microscópicas. O infarto cerebral maciço é
mente menos afetada de penumbra isquêmíca em torno caracterizado por dano irreversível a todas as células pre
do centro está presente em cerca da metade dos pacientes. sentes no interior da zona infartada. Microscopicamente,
O CBF na área de penumbra é significativamente redu os neurônios aparecem histologicamente normais nas pri
zido, caindo do normal de 60 cm' /lOO g/min para 10 a meiras 8 a 12 horas. Dentro das primeiras 12 a 24 horas,
20 cm-VlOO g/min. Esse tecido isquêmico, mas ainda não os neurônios com isquemia aguda classicamente se apre
condenado ao infarto. representa físiologicamente uma sentam "vermelhos e mortos" com cistoplasma hipereosi-
área "em risco" porém potencialmente salvável. nofilico, cariólise precoce e núcleos picnocíticos. Os in
Há uma "hierarquia de sensibilidade" bem definida fartos agudos são pálidos e com freqüência vacuolizados,
histológica ao dano isquêmico entre os diferentes tipos em especial próximos às junções com o parênquima ce
celulares que constituem o neurópilo. Os neurônios são rebral intacto. Aumento de volume astrocítico sem morte
os mais vulneráveis. Eles são seguidos (em ordem decres celular predomina na zona de penumbra.
186 Hemorragias nao traumáticas e lesões vasculares
Aspectos clínicos
Epíoemiologia e aspectos demográficos. AVC é a terceira
maior causa cie morte em muitos países industrializados
e é a principal causa global de incapacitação neurológica
em adultos. A taxa de incidência ajustada para a idade é de
180 por 100.000 por ano.
O AVC afeta pacientes de todas as idades - incluin
do recém-nascidos e neonatos - embora a maioria ocorra
em adultos de meia-idade ou mais velhos. Crianças com
AVCs freqüentemente têm uma doença subjacente, tais
como shunt cardíaco direita-esquerda. anemia falciforme
ou síndromes de hipercoagulabilidade hereditárias. AVCs
em adultos jovens costumam ser causados por dissecção
(espontânea ou traumática) ou abuso de drogas.
Apresentação. Os sintomas do AVC variam largamente,
8-31 Ilustração demonstrando ociusão proximal no
dependendo do território vascular afetado, bem como da
segmento M1 [S. A isquemia aguda é vista como
perda sutil da interface entre as substâncias branca e
presença de fluxo colateral adequado. Inicio súbito de dé
cinzenta K>! e núcleos da base "apagados" SI. ficit neurológico focai, tal como desvio facial, fala arras
tada, paresia ou diminuição da consciência são as apre
sentações mais comuns.
Conhecimento público. Houve numerosos e significativos
esforços para educar o público em geral sobre novas inter
venções terapêuticas para AVCs e a urgência de um "der
rame cerebral".
Tempo (Time)
• Se você observar QUALQUER UM desses sinais, chame
a emergência imediatamente!!
após o AVC, 20 a 30% de todos os pacientes estarão mortos sucesso é a seleção do paciente com as duas principais
e um niimero similar estará gravemente incapacitado. considerações sendo (1) tempo do início do sintoma e (2)
O prognóstico individual do paciente depende de uma achados de imagem na TC sem contraste de rastreamento.
série de fatores contribuintes, isto é, qual vaso está ocluí- A janela terapêutica clinicamente aceita de ativador re-
do, presença ou ausência de circulação colateral suficiente combinante do plasmínogênio tecidual (rTPA) endovenoso é
e presença de área de penumbra isquêmica significativa. de menos de 3 horas do íctus (as "horas de ouro")*. Trombó-
Quase metade de todos os AVCs têm circulação colateral lise intra-arlerial é geralmente restrita a menos de 6 horas.
inadequada e penumbra pouco expressiva. A maioria dos Exceções a essa regra incluem trombose da artéria basilar e
pacientes com oclusão de vaso principal - mesmo aqueles pacientes fora da janela de 6 horas que possuem incongruên
com área de penumbra isquêmica significativa - terão mau cia {mismatch) perfusão-difusão persistente e significativa.
prognóstico pobre, a menos que o fluxo sangüíneo possa Os critérios de imagem comiimente aceitos para trom-
ser restituído e o parênquima cerebral, reperfundido. bólise intra-arterial incluem o envolvimento de menos de
Aumento de volume cerebral descontrolado com her- um terço do território da ACM e ausência de hemorragia
niação e morte pode resultar do chamado infarto de ACM parenquimatosa (ver adiante).
maligno. Em tais casos, uma craniectomia de emergência O rTPA intra-arterial e outros fámiacos que "dissol
pode ser a única opção de tratamento. vem" o coágulo, tais como a desmoteplase, têm melhorado
o prognóstico em casos selecionados. A trombectomia me
Opções de tratamento. Velocidade é essencial, com o objeti cânica endovascular oferece uma alternativa, sendo um mé
vo de tempo "porta agulha" {i.e., da chegada à emergência
todo potencialmente sinérgico à trombóiise. Suas vantagens
ao departamento de intervenção) abaixo de 60 minutos.
As opções de tratamento do AVC e os critérios de in
clusão/exclusão estão se desenvolvendo continuamente. * N. de R.T.: Recentemente, a janela terapêutica foi extendida
O fator isolado mais importante para uma intervenção de para 4h30min.
incluem terapia de liberação local-específica e dosagem do pal cerebral está ocluído. A angiotomografia (ATC) pode
trombolítico controlada. Estudos recentes têm mostrado ser obtida imediatamente após a TC sem contraste e é o
melhora nas taxas de recanalizaçào e no prognóstico em 90 procedimento não invasivo de escolha para demonstrar
dias. A trombectomia mecânica pode servir também em pa oclusões de vasos principais potencialmente tratáveis. A
cientes que estão além dajanela terapêutica ou naqueles em angiografia por RM (ARM) é mais suscetível a artefatos
que a terapia com trombolítico está contraindicada. de movimento, os quais são acentuados em pacientes não
cooperativos. A ASD é reservada para pacientes que serão
Imagem submetidos à trombólise intra-arterial ou à trombectomia
Protocolos oo "derrame cerebral". Os objetivos primários mecânica.
no exame de imagem de emergência do AVC são (1) dis A terceira e cfuarta questões podem ser respondidas por
tinguir AVC isquémico ou "brando" de hemorragia in estudos perfusionais, tanto por TC quanto RM (pTC. pRM).
tracraniana e (2) selecionar/triar paciente para possíveis Ambos podem demonstrar qual parte cerebral está danifica
terapias de reperfusão. da irreversivelmente (i.e.. o core do infarto sem resgate) e
A maioria dos protocolos começa com uma TC sem determinar se há uma área de penumbra isquêmica clinica
contraste para responder as primeiras questões essenciais mente relevante (cérebro potencialmente recuperável).
no exame de imagem de um AVC: Há hemorragia intracra
niana ou "simulação" de AVC (tal como hematoma subdu Achados na TC. Um protocolo por TC para AVC agudo
ral ou neoplasia)? Se uma hemorragia hipertensiva típica completo e multimodal inclui TC sem contraste, ATC e
for identificada na TC sem contraste de raslreamento em perfusão por TC. Com a TC multidetectores, o protocolo
um paciente com hipertensão sistêmica sabida, em geral pode ser completo dentro de 15 minutos em um único exa
não é necessário prosseguir com outros exames de imagem. me com injeção de material de contraste separadamente.
Uma vez que a hemorragia intracraniana for excluída, TC SEM CONTRASTE. Os exames de TC sem con
o segundo aspecto crítico é determinar se um vaso princi traste inicia! - mesmo aqueles obtidos nas primeiras seis
8 - 3 8 E Tr o m b o l i t i c o i n t r a -
-arteriai foi administrado devido
a uma grande área de penumbra
isquémica. A RM obtida 24 horas
mais tarde demonstra importan
te hiperintensidade nos núcleos
da base B com giros hiperín-
tensos levemente edemaciados
em território de distribuição da
ACM B. Observe vaso hiperin-
tenso B indicando fluxo lento.
8-38F Ponderação em difusão
do mesmo paciente demonstran
do restrição aguda nos núcleos
da base a direita B com focos
esparsos de isquemia cortical
B
190 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
horas - sào anomiais em 50 a 60% dos AVCs isquêmicos Hipodensidades parenquimatosas em forma de
agudos se visibilizados com janela fechada. cunha com limites indistintos entre as SB-SC e apaga
O sinal mais específico porém menos sensível é um mento de sulcos corticaís se desenvolvem em oclusões
vaso hiperatenuante preenchido com um trombo agudo de grandes territórios (Fig. 8-37B). Se mais de um terço
(Fig. 8-33). O sinal da "ACM densa" é visto em 30% do território da ACM estiver inicialmente envolvido, a
dos vasos com oclusão de M1 documentada (Fig. 8-37A). probabilidade de um infarto de ACM "maligno" com gra
Locais menos comuns para o sinal do vaso hiperdenso ve edema cerebral se eleva, bem como o risco de transfor-
sào as artérias carótidas internas intracranianas (Fig. maçào hemorrágica na tentativa de revascularização.
8-34). artéria basilar (Fig. 8-35) e ramos da ACM na fis TC COM CONTRASTE. Exames convencionais de
sura de Sylvius (sinal do "ponto") (Fig. 8-37B). Achados TC com contraste raramente sào realizados como parte
incomuns, porém importantes na TC sem contraste que dos protocolos de "derrame cerebral". A TC com contras
indicam oclusào vascular incluem um embolo calcifica- te pode demonstrar realce de vasos se fluxo anterógrado
do, mais provavelmente originado de um placa ateroscle- baixo ou enchimento retrógrado via colaterais nas zonas
rótica ulcerada "em risco" na ACI cervical ou cavernosa vasculares de fronteira estiver presente. Realce cortical
(Fig. 8-36). giriforme é raro na oclusào arterial precoce.
Apagamento e indefinição da interface entre as subs ATC. A angiografia por TC multidetectores das cir
tâncias branca e cinzenta (SB-SC) podem ser vistos em 50 culações intra e extracranianas é utilizada para visualizar
a 70% dos casos dentro das primeiras três horas que se se a vascularizaçào craniocervical do arco aórtico ao córtex.
guem à oclusào (Fig. 8-37B). A "perda" do córtex insular Como a maioria dos AVCs são embólicos - por doença
(sinal da "faixa insular") e a redução de densidade dos vascular aterosclerótica (DVA) ou uma fonte cardíaca
núcleos da base (sinal do "desaparecimento dos núcleos alguns pesquisadores sugerem a inclusão cardíaca (a "ex
da base") sào os achados mais comuns (Fig. 8-38A). clusão tripla do AVC isquêmico agudo").
A ATC responde rapidamente a segunda questão es te tanto no CBV quanto no CBF. O core do infarto é visto
sencial do AVC (Fig. 8-37C), isto é, há ociusão de grande como um azul escuro/roxo ou preto que contrasta com o
vaso? A ATC também localiza e define a extensão do trom parénquima cerebral normalmente perfundido vermelho/
bo intravascular, avalia o fluxo sangüíneo da circulação co amarelo (Figs. 8-38B, 8-38C). O MTT prolongado é visto
lateral e caracteriza a doença aterosclerótica. As imagens como uma área vermelha, em contraste ao parénquima ce
fonte de ATC têm sido utilizadas para estimar a zona cen rebral azul. que aparece quando o tempo médio de trânsito
tral de infarto, mas as superestimam em 25% dos casos. é normal (Fig. 8-38D).
pTC. A íeiveira e quarta questões podem ser respondi Uma penumbra isquêmica com tecido potencial
das com a perfusào por TC. A pTC demonstra o efeito da mente reversível é vista como uma incongruência (^"mis
oclusào vascular no próprio parénquima cerebral. A pTC match ") entre a zona infartada com CBV marcadamente
também pode ser utilizada para predizer o benefício potencial reduzido (Fig. 8-38B) e a área adjacente (penumbra) ca
após a trombólise. Os achados na pTC se correlacionam bem racterizada pela redução do CBF com um CBV normal
com aqueles da difusão e da pRM (Fig. 8-38). (Fíg. 8-39). (Fig. 8-38C). Como conseqüência, o tecido cerebral ain
A perfusào por TC é obtida monilorando-se a pri da potencialmente viável é equivalente ao CBF menos o
meira passagem da injeção de contraste iodado através CBV. O prolongamento do MTT em mais de 145% que se
da circulação cerebral. Quando o contraste passa através estende além da zona do centro infartado (assim chamado
do cérebro, ele causa uma hiperatenuaçào transitória que de CBV/MTT mismatch) também caracteriza a penumbra
é diretamente proporcional à quantidade de contraste nos isquêmica (Fig. 8-38D).
vasos e ao volume sangüíneo cerebral. Um importante achado auxiliar em pacientes com
A pTC tem três parâmetros principais: o volume san grandes infartos de ACM é a perfusão reduzida no he
güíneo cerebral (CBV). o fluxo sangüíneo cerebral (CBF) misfério cerebelar contralateral. Entre 15 e 20% dos
e o tempo médio de trânsito (MTT). O CBV é definido grandes infartos de ACM causam hipoperfusão com re
como o volume de fluxo sangüíneo em dado volume de dução do CBF no cerebelo contralateral, um fenômeno
parénquima cerebral. O CBF é o volume de fluxo san chamado "diásquise cerebelar cruzada" (ver adiante)
güíneo que se movimenta através de um dado volume de (Fig. 8-39C), (Fig. 8-39D).
parénquima cerebral em um tempo específico. O MTT é
a média de tempo que o sangue leva para transitar através Achados na RM. Embora a TC/ATC/pTC sejam freqüen
de um dado volume de parénquima cerebral. temente preferidas devido à acessibilidade e velocidade,
Todos os trés parâmetros da pTC podem ser retra protocolos "rápidos" de AVC apenas com FLAIR, T2* e
tados tanto visualmente - em uma escala de cores - ou difusão podem ser utilizados. A RM é superior àTC para de
numericamente, utilizando-se regiões específicas de inte tectar isquemia em pequenos vasos e no tronco encefálico.
resse. Mapas de perfusão codificados por cores podem ser PONDERAÇÃO EM TI. A ponderação em TI cos
avaliados visualmente de modo rápido e preciso. tuma ser normal dentro das primeiras 3 a 6 horas. Edema
A escala de cores padrão é graduada desde tons de ver girai sutil e hipointensidade começam a se desenvolver
melho e amarelo a azul e violeta. No CBV e CBF. a perfu dentro de 12 a 24 horas e são vistos como apagamento
sào é demonstrada em vermelho/amarelo/verde (mais alta) da interface entre a SB-SC. Na ociusão de grandes vasos,
a azul/roxo/preto (mais baixa). No cérebro normal, há uma a perda do esperado //ove void na artéria afetada pode, às
perfusão simétrica bilateral nos hemisférios cerebrais, com vezes, ser identificada.
valores mais altos de CBF e CBV na substância cinzenta T2/FLA1R. Apenas 30 a 50% dos AVCs agudos de
(córtex, núcleos da base) se comparado à substância bran monstram edema cortical e hiperintensidade em FLAIR
ca. A substância cinzenta bem perfundida aparece verme nas primeiras 4 horas. Quase todos os AVCs são positi
lha/amarela, enquanto a substância branca aparece azul. O vos em FLAIR dentro das primeiras 7 horas após o início
parénquima cerebral isquêmico aparece azul/roxo. Áreas dos sintomas. As ponderações em T2 se tomam positivas
que são completamente não perfundidas (p. ex., os ven- pouco depois, em geral dentro de 12 a 24 horas. A hipe
trículos e a área central densamente isquêmica do infarto rintensidade intra-arterial em FLAIR é um sinal precoce
principal) aparecem pretas (Fig. 8-39A). (Fig. 8-39B). de AVC e indica fluxo lento (e não trombose), tanto por
De todos os três parâmetros-padrão. o MTT demonstra atraso no fluxo anterógrado ou - mais comumente - en
as anormalidades regionais mais proeminentes. Nele, as es chimento colateral retrógrado através de vasos corticais
calas de cor são invertidas para enfatizar o tempo médio de nas zonas de transição (Figs. 8-40A, 8-40B, 8-41 A). Uma
trânsito prolongado no parénquima cerebral isquemiado. incongruência (""mismatch"") FLAlR-difusão (FLAIR ne
No MTT, quanto mais vagaroso o tempo de trânsito, mais gativa, difusão positiva) tem sido sugerida como um indi
próximo do vermelho ao fim da escala. O cérebro com tem cador rápido da zona de penumbra isquêmica viável e de
po de trânsito normal aparece azul. Parâmetros similares ao elegibilidade para trombólise.
MTT freqüentemente utilizados na pTC incluem o tempo 77* GRE. O trombo intra-arterial pode. às vezes,
até o pico (TTP) e o tempo de drenagem (TTD). ser detectado como hipointensidade com artefatos de
O centro do infarto densamente isquêmico - o cére susceptibilidade magnética no T2* (GRE, SWl) (Fíg.
bro com lesão irreversível - demonstra redução congruen- 8-4IB). Procure cuidadosamente também pela presença
192 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
V , v
das, e a circulação colateral pode ser delineada. o "Desaparecimento" dos núcleos da base
A ociusão de vasos principais é identificada na ASD • Hipodensidade em forma de cunha
o Envolve tanto o córtex quanto a SB
como uma interrupção da coluna dc contraste intra-arte
rial. Achados freqüentes incluem um término abrupto do TC COM CONTRASTE
vaso (Figs. 8-37D. 8-42A), sinal do "menisco", estreita • ± realce vascular (fluxo lento, colaterais)
mento progressivo ou em "rabo de rato" (Fig. 8-4ÜD), ou AT C
• Lugar, extensão do trombo
aspecto em "trilho de trem" com um fllete de contraste
circundando o trombo intraluminal. • O VA
Outros achados angiográficos comuns incluem uma o Extracraniana: aorta, bifurcação carotídea
o Intracraniana: ACI cavernosa, CO + ramos
"área nua" ou "descoberta" de parênquima cerebral não
perfundido (Figs. 8-42B, 8-42C), enchimento lento anteró- pTC
• Centro do infarto (cérebro com dano irreversível)
grado com atraso na lavagem de ramos distais (visto como
contraste intra-arterial persistente nas fases venosa ou capi
o Perfusão congruente (CBV, CBF, ambos i)
o MTT
lar) e colaterais piais com enchimento retrógrado através de • Penumbra isquêmica
zonas de transição corticais (Figs. 8-42D. 8-42E, 8-42F). o Perfusão incongruente (i CBF mas com CBV normal)
Sinais menos comuns são hiperemia com "blush"\as-
cular circundando a zona infartada (a chamada perfusão de PONDERAÇÃO EM TI
• Em geral normal nas primeiras 4 a 6 horas
luxúria) (Fig. 8-42F) e veias de "drenagem precoce" (shiinl • ± perda do esperado flow void
arteriovenoso com o aparecimento de contraste em veias de
drenagem da zona infartada, enquanto o restante da circu PONDERAÇÃO EM T2
• Em geral normal nas primeiras 4 a 6 horas
lação ainda está na fase arterial tardia ou capilar precoce).
O efeito de massa é raro no AVC hiperagudo, mas FLAIR (utilize uma janela fechada)
• 50% positivo nas primeiras 4 a 6 horas
muito comum nos estágios agudo/agudo tardio.
o Edema cortical, hiperintensidade girai
Ultrassonografia. o espessamento médio-intimal da arté o Hiperintensidade intra-arterial (geralmente baixo
ria carótida, medido pela US com Doppier, foi identifica fluxo e não trombo)
do como um marcador para doença de grandes artérias, T2* (GRE, SWI)
que por sua vez se correlaciona com o aumento do risco • Trombo pode causar artefato de susceptibilidade
d e AV C . magnética
• Micro-hemorragias (hipertensão crônica, amiloide):
Diagnóstico diferencial risco de hemorragia com anticoagulação
o diagnóstico diferencial clínico do AVC agudo é vasto. DIFUSÃO E DTI
Em contrapartida, o diagnóstico diferencial dos aspectos de • >95% de restrição dentro de minutos
o Hiperintenso na difusão
imagem é relativamente limitado. A circulação sangüínea o Hipointenso no mapa de ADC
normal é sempre levemente hiperdensa se comparada ao • "Difusão negativa" nos AVCs agudos
parênquima cerebral na TC sem contraste. O sinal do "vaso ® Infartos pequenos (lacunares)
hiperdenso" pode ser simulado pela elevação do hemató- o Lesões de tronco
crito (todos os vasos aparecem densos, não apenas as arté o Rápida lise/recanalizaçâo do coágulo
rias). mícrocalcífícações da parede arterial e parênquima o Hipoperfusão transitória/flutuante
cerebral hipodenso (p. ex., edema cerebral difuso).
pRM
O diagnóstico diferencial da redução da perfusão na • "Mismatch" difusão-IP estima a penumbra
pTC inclui infarto crônico, isqucmia microvascular ASO
grave e estenose extra ou intracraniana com redução • Término abrupto do vaso, sinal do "menisco",
ou atraso na perfusão. Estenoses vasculares podem simu
estreitamento progressivo/"rabo de rato"
lar ou superestimar áreas de penumbra isquêmica, motivo • "Area nua» de cérebro não perfundido
pelo qual a pTC deve sempre ser interpretada juntamente • Enchimento anterógrado vagaroso ou retrógrado
c o m T C s e m c o n t r a s t e e AT C . • Atraso na lavagem do contraste intra-arterial
• Perfusão de luxúria
Situações que simulam AVC com restrição à difusão
incluem infecção (não segue territórios arteriais defini o "a/í/sh" em torno da "área nua"
o Veias de "drenagem precoce"
dos) e status epiiepticus (afeta o córtex, poupa a SB sub
jacente).
196 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
Patologia
o edema e o efeito de massa crescente causados pelo
edema citotóxico atingem o seu apogeu dentro de 3 a 4
8-43 AVC subagudo com efeito de massa e trans dias após o início do AVC. Necrose tissular franca com
formação fiemorrágica giriforme S. (Cortesia de R. influxo progressivo da microglia e de macrófagos ao re
Hewlett, MD).
dor dos vasos se segue com astrocitose reativa em torno
do perímetro do infarto. A redução da densidade cerebral
com posterior cavitação se desenvolve nas próximas duas
semanas.
M u i t o s d o s AV C s t r o m b o e m b ó l i c o s s ã o i n i c i a l m e n
te "amenos", isto é, não hemorrágicos. A transformação
hemorrágica (THemor) de um infarto isquêmico prévio
ocorre em 20 a 25% dos vasos entre dois dias e uma se
mana após o íctus. O dano isquêmico ao endotélio vascu
lar propicia "vazamentos" e aumenta a permeabilidade da
barreira hemaloencefálica. Quando a perfusão é restabe
lecida - tanto espontaneamente quanto após o tratamento
com ativador do plasminogênio tecidual -, a exsudaçào de
glóbulos vermelhos através das paredes danificadas dos
vasos sanguineos causa hemorragias parenquimatosas. As
hemorragias petequiais são mais comuns do que os san-
8-44A (Acima e à esquerda) TC sem contraste com 2 gramentos lobares e são mais freqüentes nos núcleos da
horas de evolução mostrando apagamento sulca! leve, base e no córtex.
Com 48 horas, hipodensidade em forma de cunha B
envolve a SB e a SC. (Abaixo) Transformação hemorrá
Aspectos clínicos
gica com uma semana de evolução.
A THemor por si só não costuma causar declínio clínico.
Ela. na verdade, se relaciona com prognóstico favorável,
provavelmente refletindo uma recanalização vascular pre
coce e uma melhor reperfusão tissular.
Imagem
Características gerais. Não há variações significativas den
tro do período subagudo. Os infartos subagudos precoces
possuem significativo efeito de massa e freqüentemente
exibem THemor, enquanto no período subagudo tardio a
maior parte do edema e do efeito de massa retrocederam.
Achados na TC. Na TC sem contraste, a área em forma de
cunha com redução da atenuação vista nos estudos ini
ciais se torna mais conspícua. O efeito de massa aumenta
inicialmente e então começa a reduzir nos próximos 7 a
10 dias que se seguem ao início do quadro. A THemor se
8-448 Aquisição em FLAIR (à esquerda) e em GRE (à
desenvolve em 15 a 20% dos casos e é vista como uma
direita) do mesmo caso demonstrando transformação
hemorrágica S] neste exemplo de AVC subagudo.
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 197
Diagnóstico diferencial
O principal diagnóstico diferencial do infarto cerebral su
bagudo é a neoplasia. A maioria dos tumores não restrin
ge à difusão e não regride com o tempo. A evolução dos
achados de imagem do AVC ocorre muito mais rapida
mente. As infecções (p. ex., encefalite e cerebrite) podem
ter aspecto similar ao AVC subagudo, mas não seguem 8-46 T2 "fogging effect" ES (esquerda) indicando
o infarto em território da ACP direita quase isointenso,
distribuições vasculares definidas. mas que realça fortemente na aquisição em TI pós-
-contraste (direita). AVC subagudo.
198 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
Terminologia
Os infartos cerebrais crônicos são o resultado final dos
AVCs isquêmicos territoriais e também são chamados de
encefalomaiacia pós-infarto.
Patologia
A marca patológica dos infartos cerebrais crônicos é a
perda de volume com gliose em um local anatômico de
distribuição vascular. Um cérebro cavitado, com encefa
lomaiacia, com faixas de tecido glial residual e passagem
de vasos sangüíneos é o aspecto macroscópico habitual de
um infarto antigo (Fig. 8-47).
Imagem
8-47 Espécime de autópsia demonstrando encefa-
Os exames de imagem de TC sem contraste demonstram
lomalacia por um ínfarto antigo em território da ACM
B. (Cortesia de R. Hewlett, MO.)
uma área hipodensa com morfologia em cunha bem de
marcada que envolve tanto a substância branca (SB)
quanto a substância cinzenta (SC) e que segue o território
vascular de uma artéria cerebral. Os sulcos adjacentes e o
ventrículo ipsilateral se alargam em conseqüência à perda
de volume do hemisfério afetado (Fig. 8-48A).
Degeneração walleriana com um pedúnculo cere
bral ipsilateral reduzido com freqüência está presente em
grandes infartos da ACM. Procure por atrofia no cerebe-
lo contralateral secundária à diásquise cerebclar cruzada.
CalcificaçÕes distróficas são incomuns, mesmo em AVCs
hemorrágicos antigos.
Infartos crônicos com mais de 2 a 3 meses não real
çam na TC com contraste.
Os exames de RM demonstram encefalomaiacia cisti-
ca com intensidade de sinal equivalente ao LCS em todas
as seqüências. Gliose marginal ou espongiose na periferia
8-48A TC sem contraste em um paciente com AVC
do infarto cavitado antigo aparece hiperintensa em FLAIR
antigo demonstrando encefalomaiacia na distribuição da (Fig. 8-48B). As ponderações em difusão demonstram au
ACM esquerda B. Os núcleos da base foram poupados. mento dela (hiperintensa no mapa de ADC).
Diagnóstico diferencial
o principal diagnóstico diferencial do infarto cerebral
crônico é o cisto porencefálico. O cisto porencefálico
envolve toda a espessura cerebral, estendendo-se do ven
trículo à superfície subpial do córtex. A encefalomaiacia
pós-traumática demonstra outras áreas de dano associa
das e não está restrita a um território vascular. Modifica
ções pós-cirúrgicas também demonstram outros achados
relacionados ao pós-operatório, tais como modificações
cranianas/do escalpo.
como hemorragias lineares (de Splinter), às vezes estào Pequenos focos periféricos com restrição à difusão em
presentes. A ecocardiografia pode demonstrar vegetações diversas e diferentes distribuições vasculares são típicos de
valvares, defeitos de enchimento intracardiacos ou defei múltiplos infartos embólicos (Fig. 8-51B). As imagens em
tos septais ventriculares ou atriais. TI pós-contraste demonstram múltiplos focos puntiformes
Embolos hemisféricos ipsilaterais são mais comuns de realce. Os êmbolos sépticos freqüentemente demons
em razão de placas ateromatosas na artéria carótida inter tram realce anelar, lembrando numerosos microabscessos.
na (Fig. 8-52). Muitas são clinicamente silenciosas, mas
Diagnóstico diferencial. O principal diagnóstico diferencial
carregam um alto risco para um AVC subsequente. de infartos embólicos múltiplos é o infarto cerebral hi-
Imagem. Em contraste aos infartos territoriais arteriais, os potensivo (ver adiante). Os infartos hipotensivos são, em
infartos embólicos tendem a envolver ramos corticais termi geral, causados por comprometimento hemodinámico e
nais. A interface entre a SB-SC é a mais comumente afetada. tendem a envolver as zonas internas profundas de tran
Exames de TC sem contraste demonstram focos de sição. As metastases parenquimatosas têm predileção
baixa atenuação freqüentemente em uma distribuição com pela interface entre a SB-SC, assim como os infartos em
morfologia em cunha. Os êmbolos ateroscleróticos às ve bólicos, mas em geral não restringem à difusão.
zes demonstram calcifícações. Os êmbolos sépticos costu
mam ser hemorrágicos (Fíg. 8-51 A). Exames de TC com Êmbolos gordurosos
contraste podem demonstrar múltiplas lesões puntiformes A síndrome da embolia gordurosa (SEG) é uma enfermi
ou com realce anelar. dade incomum que se apresenta com hipoxia, sintomas
Os exames de RM demonstram hiperintensidades neurológicos e/ou rash petequial no contexto de fraturas
multifocals periféricas em T2/FLA1R. Os êmbolos hemor de ossos longos das extremidades inferiores com deslo
rágicos causam artefatos de susceptibilidade magnética camento grave. O termo "embolia gordurosa cerebral"
nas seqüências T2*. A seqüência mais sensível é a difusão. (EGC) se refere às manifestações neurológicas da SEG.
hemorrágicos adicionais B.
Esses achados sugerem êmbolos
sépticos múltiplos.
8-51B A ponderação em di
fusão demonstra múltiplos focos
de restrição ES nas junções en
Etiopatologia. Dois mecanismos foram propostos para ex A RM demonstra numerosas (média = 50) hiperinten-
plicar os efeitos de SEG: (1) oclusão de pequenos vasos sidades puntiformes ou contluentes nos núcleos da base,
por particuías gordurosas e (2) modificações inflamatórias SB periventricular e na junção SB-SC em T2/FLAIR
nos tecidos adjacentes iniciadas pela quebra da gordura em (Fig. 8-53A). A ponderação em difusão demonstra inú
ácidos graxos livres e em outros produtos metabólicos. meros e minúsculos focos puntiformes de restrição em
A marca patológica da EGC sào os êmbolos gorduro múltiplas distribuições vasculares, o padrão "estrelado"
sos arteriolares com micro-hemorragias vasculares. (Fig. 8-53B). Pequenos focos solitários ou múltiplos de
hipointensidades com artefatos de susceptibilidade mag
Epidemiologia e aspectos clínicos, a incidência global de nética podem ser identificados em até um terço de todos
SEG em pacientes com fraturas de ossos longos - mais os casos de SEG no T2* GRE (Fig. 8-53C). A seqüência
comumente a cabeça femoral - é de 0,17%. A SEG SWl revela inúmeros (>200) minúsculos "pontos pretos"
também ocorre em procedimentos ortopédicos eletivos na maioria dos pacientes (Fig. 8-53D).
(p. ex., artroplastia total de quadril), anestesia e enfermi
dades isquêmicas {p. ex.. pancreatite). Diagnóstico diferencial. O principal diagnóstico diferen
A EGC ocorre em até 80% dos pacientes com SEG. cial da síndrome da embolia cerebral gordurosa são os
Os sinais e sintomas variam em gravidade e incluem ce- infartos cmbólícos múltiplos. Múltiplos infartos embó-
licos cardíacos ou aleromalosos raramente produzem as
faleia, convulsões, alteração do estado mental, paralisia e
dezenas ou mesmo centenas de lesões vistas na EGC. As
coma. O início dos sintomas se dá de 2 lioras até dois dias
lesões tendem a envolver os núcleos da base e as junções
após o trauma ou cirurgia, com uma média de 29 horas. corticomedulares mais do que a substância branca.
Imagem. Os achados de imagem refletem o efeito do êmbo- Hipointensidades multifocais com artefatos de sus-
lo gorduroso (i.e., minúsculos AVCs multifocais e micro- cetibilidade magnética em T2* podem ser vistas no dano
-hemorragias) no tecido cerebral. Os exames de TC sem axonal difuso (DAD) grave ou no dano vascular difuso
contraste são. como conseqüência, normais. (DVD). Como os pacientes com EGC freqüentemente têm
iV í -V ■
minúsculos focos de restrição na
substância branca profunda ce
rebral ES, o padrão "estrelado"
característico da síndrome de
* .4 •
embolia gordurosa cerebral.
% 4 • / , '
8-53C A aquisição em IT
GRE no mesmo paciente não de
monstra alterações.
8-53D A aquisição SWl do
mesmo paciente demonstra cen
tenas de hipointensidades com
c ' . Vi artefatos de susceptibilidade
magnética S! esparsos por toda
a substância branca ceretiral. No
contexto de artroplastia total de
quadril, elas representam micro-
-hemorragias causadas por em
bolia gordurosa cerebral.
.-*y,
202 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
Infartos lacunares
Terminologia
Os termos "lacuna", "infarto lacunar" e "AVC lacunar"
costumam ser utilizados indistintamente. As lacunas são
cavidades (ou «buracos») de 3 a 15 mm preenchidas por
LCS que ocorrem com mais freqüência nos núcleos da
base ou na substância branca cerebral (Fig. 8-54). Elas são
muitas vezes observadas coincidentemente nos estudos de
Epidemiologia e etiologia
Cerca de 25% de todos os AVCs isquèmicos são infartos
do tipo lacunar. As lacunas são consideradas marcadores
macroscópicos de doença cerebral de pequenos vasos
("microvascular"). Elas são causadas por lipo-hialinose
ou ociusão aterosclerótica de ramos perfurantes que se
originam do polígono de Willis e de artérias periféricas
corticais. Essas perfurantes são artérias muito pequenas
terminais com poucas colaterais. Os infartos lacunares
embólicos são relativamente incomuns.
A . Patologia
8-55 Autópsia demonstrando infartos lacunares anti
gos no caudado SI, putame tálamo e rarefa- Localização. Os infartos lacunares são mais comuns nos
ção periatrial da S6 B. (Cortesia de R. Hewlett, MO.) núcleos da base (putame, globo pálido, núcleo caudado),
tálamos, cápsula interna, substância branca cerebral pro
funda e ponte (Fig. 8-55).
Tamanho e número. As lacunas são, por definição, lesões
de 15 mm ou menos de diâmetro. Múltiplas lesões são co
muns. Entre 13 e 15% dos pacientes possuem múltiplos
infartos lacunares agudos simultâneos.
Aspecto micro e macroscópico. Macroscopicamente, uma la
cuna aparece como uma cavidade cística, empalidecida,
com contornos irregulares, mas relativamente bem defi
nidos. Descoloração siderótica corada de marrom pode
ser vista em lacunas hemorrágicas antigas. Microscopica-
mente, os infartos lacunares isquèmicos demonstram teci
do de rarefação com perda neuronal, infiltração periférica
por macrófagos e gliose.
Aspectos clínicos
8-56 Ponderação axial em T2 demonstrando múlti Os fatores de risco independentes para infartos incluem
plas lacunas ES nos núcleos da base e talamos. envelhecimento, hipertensão e diabetes.
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 203
O prognóstico do AVC lacunar é altamente variável. Cavitaçào e redução de tamanho da lesão são vistas
Embora a maioria das lacunas seja assintomática, os "pe em mais de 95% dos infartos lacunares profundos sinto
quenos AVCs" podem significar um "grande problema". máticos nos exames de imagem de seguimento. Os infar
Um único AVC subclínico - em geral uma lacuna - está tos lacunares antigos são hipointensos em TI e hiperinten-
associado ao aumento da probabilidade de ter "pequenos sos em T2 (Fig. 8-56). O líquido no interior da cavitação
AVCs" adicionais, bem como desenvolver AVC clinico suprime em FLAIR, enquanto a periferia gliótica perma
evidente e/ou demência. Quase 20% dos pacientes acima nece hiperintensa (FIg. 8-57). Doença de substância bran
de 65 anos com hiperintensidades da substância branca ca multifocal, vista como HSBs, também é comum nos
(HSBs) em T2/FLA1R na RM irào desenvolver uma lacu pacientes com infartos lacunares francos.
na dentro de três anos. A maioria das lacunas são não hemorrágicas. Contu
Entre 20 e 30% dos pacientes com AVC lacunar so do, microssangramentos parenquimatosos - "pontos pre
frem declínio neurológico em horas ou mesmo dias após o tos" com artefatos de susceptibilidade magnética multifo
evento inicial. A fisiopatologia do "AVC lacunar progres cals em T2* (GRE, SWl) - são comorbidades comuns em
sivo" nào é completamente entendida e ainda não existe pacientes com infartos lacunares e hipertensão crônica.
tratamento que comprovadamente impeça ou previna a Os infartos lacunares agudos restringem nas pondera
sua progressão. ções em difusão, mas a ponderação em difusão realizada
no momento agudo superestima significativamente o ta
Imagem manho final do ínfarto. Infartos lacunares agudos/subagu-
Os achados de imagem variam dependendo da lacuna ser dos precoces podem realçar em Ti pós-contraste.
aguda ou crônica. As lacunas agudas podem ser invisíveis
nos exames de TC sem contraste; as lacunas antigas apa Diagnóstico diferenciai
recem como "buracos" bem definidos com densidade se o principal diagnóstico diferencial de um infarto lacunar
melhante ao LCS no parénquima cerebral. são os espaços perivasculares (EPVs) proeminentes.
r ' .
^ X 8
8-58 Imagens ponderadas em TI demonstrando duas zonas de transição (ZTs) vasculares, sendo que as ZTs externas (corticais) estão demonstradas
em turquesa. As áreas com morfologia em cunha entre as ACAs, ACMs, ACPs representam as "zonas de fronteira" entre as três principais distribuições
vasculares terminais. As linhas curvas em azul (abaixo e à direita) representam a ZT subcortical. A "zona de fronteira" tripla B representa a confluên
cia dos três principais vasos. As linhas em amarelo indicam a ZT interna (ZT profunda) entre as artérias perfurantes dos principais vasos territoriais.
Também conhecidos como espaços de Virchow-Robin, os cunares nos estudos de imagem. Contudo, os infartos de
EPVs proeminentes são espaços intersticiais preenchidos "zonas de fronteira" ocorrem em localizações específicas
- ao longo das zonas limítrofes corticais e da substância
por liquido envoltos pela pia. Os EPVs proeminentes po
dem ser encontrados praticamente em qualquer localiza branca subcortical enquanto as lacunas são lesões es
ção e em pacientes de todas as idades, embora eles tendam parsas e mais randômicas que afetam primariamente os
a aumentar em nijmero e em freqüência com o passar da núcleos da base, tálamos e substância branca profunda
idade. Os locais mais comuns dos EPVs são o terço infe periventricular.
rior dos núcleos da base (agrupados em tomo da comissu- As HSBs associadas à doença microvascular (lipo-
ra anterior), a substância branca subcortical (incluindo a -hialinose primária e arteriolosclerose) são menos bem
cápsula externa) e o mesencéfalo (ver Capítulo 28). definidas e mais esparsas ou confluentes do que as peque
Os EPVs são de morfologia ovoide, linear ou redon nas lesões (<15 mm) que representam infartos lacunares
da, com margens bem definidas; as lacunas tendem a ter verdadeiros. As HSBs tendem a se agrupar em torno dos
morfologia mais irregular. Os EPVs seguem fielmente a cornos occipitais e da substância branca periventricular e
intensidade de sinal do LCS em todas as seqüências da não nos núcleos da base e tâlamos.
RM e suprimem completamente em FLAIR. O parênqui- Algumas poucas hiperintensidades esparsas em
ma cerebral adjacente é normal, embora uma fina borda T2/FLA1R são comuns no envelhecimento normal
de hiperintensidade em FLAIR em tomo dos EPVs esteja do cérebro. Um guia é "um pequeno ponto branco por
presente em 25% dos casos. década" até os 50 anos; após o que o número e o tama
Os infartos de "zonas de fronteira" ou infartos de nho das HSBs aumentam e sua taxa de aparecimento
zonas de transição lembram, grosso modo, os infartos la- acelera.
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 205
8-59A Híperíntensídades
da substância branca profunda
punliformes e coniluentes quase
simétricas E2 sâo vistas acima
e posteriormente aos ventrículos
laterais nesta mulher de meia-
-idade com AITs.
8-59B Aquisição em FLAIR
logo acima da imagem prévia
demonstrando hiperintensídades
da substância branca distintas,
semelhantes a um rosário bilate-
ralmente B.
8-59C Ponderação em T2
demonstrando íiow vo/d ausente
na ACI cavernosa direita A
ACl esquerda aparece normal
B, mas este é o lado sinto
mático.
8-590 A imagem de ARM TCP
2D demonstra achados que expli
cam os sintomas do paciente. (E)
A ACI esquerda demonstra um
intervalo de fluxo B caracte
rístico de estenose carotidea de
alto grau. (D) A ACI direita está
ocluída com um estreitamento
"rabo de rato" B. isquemia por
hipoperfusão em ZT interna pro
funda clássica bilateral.
206 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
Patologia
Localização. A distribuição dos territórios da ACA, ACM
e AGP varia consideravelmente de indivíduo para indiví
duo. Os infartos de ZT, ao contrário, demonstram modera
da variabilidade de localização.
Os infartos de ZT externos (corticais) demonstram
8-60 Caso de autópsia demonstrando clássicos infar-
uma distribuição espacial bimodal. Anteriormente, eles
tos em zonas de transição externas (cortical) E^.
estão centrados no lobo frontal posterior, próximo à jun
ção dos sulcos frontal com o sulco pré-central. Os infartos
de ZT posteriores estão centrados no lóbulo parietal supe
rior posterolateral ao sulco pós-central. A prevalência dos
infartos de ZT decai entre essas duas áreas. Os infartos de
ZT poupam o córtex mediai (Fig. 8-60).
Os infartos de ZT internos tendem a se "alinhar" com
a substância branca, sendo paralelos e levemente acima
dos ventrículos laterais (Fig. 8-59). Os infartos de ZT ce-
rebelares ocorrem nos limites entre as artérias cerebelares
8-61B Ponderação em difusão demonstrando ipsilateral ou da ACM comuns nas lesões unilaterais
múltiplos focos de restrição puntiíormes corticals e (Fig. S-59C), (Fig. 8-59D). A presença e o grau de pre
giriíormes B. Hipoperfusão global transitória com juízo hemodinâmico podem ser determinados utilizando-
hipotensão. -se diversos métodos, incluindo pTC, pRM, SPECT e PET.
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 207
8-62 Espécime de autópsia com corte coronal de neonato prematuro 8-63 Ultrassom no plano sagital de um lactente prematuro demons
demonstrando hemorragia da matriz germinativa grau III S] com ex trando hemorragia da substância cinzenta, vista como um loco ecogênico
tensão para o ventrículo lateral adjacente Sj. no recesso caudotalâmico B.
8-64A Ultrassonografia transfontanelar oblíqua de um lactente pre- 8-64B Ponderação em T2 do mesmo paciente demonstrando IHPeri
maluío de 26 semanas demonslrando infarto hemorrágico periventricu S] e uma discreta linha escura de neurônios BI migrando para o exte
lar (IHPeri) B com extensão para os ventrículos laterais ES. rior a partir da matriz germinativa.
As alterações isquêmicas focais foram discutidas pre O tipo de lesão que pode resultar em DHI grave se
viamente neste capítulo. Aciui. delinearemos brevemente modifica conforme o cérebro se desenvolve. O aumento
as manifestações do DHI global cerebral. Os achados do da demanda metabólica, em conjunto com a maturidade
DHI sào altamente variáveis. O eleito do Dili no cérebro dos receptores de glutamato, modifica o padrão de vulne
maduro de crianças mais velhas e de adultos difere sig rabilidade ao dano hipóxico-isquêmico. O DHI grave em
nificativamente do seu impacto no cérebro em desenvol neonatos pré-termo preferencialmente afeta os tálamos e
vimento. Outros fatores, tais como a duração do insulto o tronco encefálico, que são precocemente mielinizados
e a gravidade, bem como o tempo em que o estudo foi e metabolicamente ativos, com relativa preservação dos
realizado em relação ao início do quadro, também afetam núcleos da base e do córtex.
os aspectos de imagem do DHI cerebral global. Os achados de imagem de DHI grave em lactentes
pré-termo causado por hipotensão profunda ou parada
Dano hipóxico-isquêmico perinatal cardíaca são variáveis. O aumento da ecogenicidade nos
tálamos em 48 a 72 horas é comum na ultrassonografia
Os achados de imagem do DHI perinatal variam com a
transcraniana. A RM demonstra que tálamos, verme, tron
gravidade e a duração do insulto, bem como com a idade co encefálico dorsal, núcleos lentiformes e giros perir-
gestacional. O cérebro pré-natal tem seu desenvolvimen
rolândicos estão freqüentemente envolvidos. As anormali
to imaturo, de modo que os achados de imagem nesses
dades à difusão podem ser detectadas dentro de 24 horas,
lactentes prematuros diferem daqueles vistos nos recém-
embora o prolongamento do tempo T2 e o encurtamento
-nascidos a termo.
do tempo TI só ocorram dentro de alguns poucos dias.
O espectro de dano cerebral nos lactentes pré-termo é
O DHI menos profundo causa hemorragia de matriz
surpreendentemente vasto e inclui não apenas o DHI, mas
lesão de substância branca da prematuridade. hemorragia germinativa (HMG) e hemorragia intraventricular (HI)
e/ou dano periventricular profundo da SB (Fig. 8-62). A
de matriz germinativa, infarto hemorrágico periventricu
lar. hemorragia intraventricular e dano cerebelar. prevalência da HI nos neonatos pré-termo está inversa
mente relacionada à idade gestacional e ao peso no nas
DHI NOS LACTENTES PRÉ-TERMO. Por definição, os lactentes pré- cimento. A prevalência nos neonatos pré-termo com peso
-tenno são aqueles nascidos antes de 37 semanas de idade abaixo de 2.000 gramas é de cerca de 25%.
gestacional. O DHI é mais comum nos neonatos pré-termo A matriz germinativa é uma estrutura altamente vas-
do que naqueles nascidos a termo. O DHI nos neonatos pré- cularizada que se localiza no feto ao longo das paredes
-tenno causa cerca de 50% de todos os casos de paralisia dos ventrículos laterais e na camada granular externa do
cerebral (PC). Aproximadamente, 5% dos lactentes com me cerebelo. A matriz germinativa é mais proeminente na se
nos de 32 semanas de idade gestacional e 15 a 30% dos lac gunda metade do primeiro trimestre e no segundo trimes
tentes nascidos com menos de 28 semanas desenvolvem PC. tre. Ela regride gradualmente durante o terceiro trimestre
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 2 0 9
Grau 111
• HMG + HI + ventriculomegalia
Grau IV
• Infarto hemorrágico parenquimatoso periventricular
• Provavelmente secundário a infarto venoso
• Não é HMG verdadeira!
dos. Em algumas áreas, o córtex quase toca os ventrículos o 15 a 20% < 28 semanas desenvolvem PC
íerença entre os hemisférios extremamente hipoatenuados No DHI crônico, a ponderação em TI pode demonstrar
e o cerebelo e o tronco encefálico em geral perfundidos encurtamento do tempo TI giriforme {causado por necrose
{sinal do "cerebelo branco"). laminar cortical, e não por hemorragia ou calcificação).
A RM demonstra restrição à difusão nas áreas afetadas.
esquerdoB.
8-73B A ATC com CBF parece
relativamente normal, mas o
fluxo sangüíneo à esquerda (ROls
2a, 2b) está aumentado se com
parado ao lado direito.
distai.
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 217
fn fa r to s a r te r i a i s
8-79B Ponderação em T2 do mesmo caso demons
trando ausência de flow void na artéria basíiar ES e Infarto-isquemia cerebral aguda
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9
Anatomia e ociusões venosas
com freqüência são negligenciadas nos exames de ima seguida, volta-se a atenção para as veias cerebrais. Por
fím, conclui-se delineando os territórios de drenagem dos
gem, uma vez que a atenção é voltada para o lado arterial
da circulação cerebral. principais seios durais e veias cerebrais.
O risco de "infartos" venosos eleva-se por uma gran
de quantidade de condições predisponentes. Desidratação, Seios venosos durais
gestação, trauma, infecção, doenças do colágeno, coagu- Os seios venosos durais são subdivididos em um grupo
lopatias e um espectro de distúrbios hereditários aumen anteroinferior e um grupo posterossuperior. O grupo pos-
tam a probabilidade de oclusão sinovenosa. terossuperior é mais proeminente e constituído pelos seio
O conhecimento da anatomia e dos padrões de dre sagital superior (SSS), seio sagital inferior (SSI), seio
nagem venosos é essencial para entender o aspecto de reto (SR), a confluência dos seios (tórcula de Herófílo),
imagem da doença oclusiva sinovenosa. Portanto, neste os seios transversos (ST), os seios sigmoides e os bulbos
capítulo será discutida brevemente a anatomia geral e jugulares.
radiológica do sistema venoso cerebral. Como cerca de O grupo anteroinferior é constituído pelo seio caverno
metade de todas as ociusões venosas resultam em infartos so (SC), os seios petrosos superior e inferior (SPS e SPI),
parenquimatosos, serão discutidos também os territórios o plexo venoso clival (PVC) e o seio esfenoparietal (SEP).
de drenagem venosos.
Uma vez estabelecidos os fundamentos anatômicos Considerações gerais
para o entendimento do sistema venoso craniano, volta- Os seios durais e os plexos venosos são canais revestidos
-se a atenção para o tópico da doença oclusiva sinove por endotélio contidos entre as camadas durais externa
nosa - os "infartos" venosos - e das condições que a (periosteal) e interna (meníngea). Os seios durais e os ple
simulam. xos venosos - especialmente o seio cavernoso e o plexo
220 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
9-1 Ilustração coronal demonstra o SSS [S entre os folhetos durais 9-2 Ilustração demonstra uma granulaçào aracnoide (GAr) se proje
externo ES e interno ÍS). Projeções contendo LCS (granulações arac- tando para o interior de um seio venoso. LCS B se estende do ES para
noides) B estendem-se do espaço subaracnoide para o interior do SSS. o interior da GAr e é coberto por uma capa de células aracnoides
As veias corticais B também adentram o SSS. Canais no revestimento B drenam LCS para o interior do seio.
clival - são freqüentemente fenestrados e multicanaiiza- da foice cerebral. Nas imagens sagitais de ASD/ATC/
dos. Em 30% dos casos de necropsia, ao menos uma sep- ARM, o SSS é visto como uma estrutura falciforme em
tação ou banda fibrosa está presente no interior dos seios. continuidade com a tábua interna do crânio. Defeitos de
Os seios durais freqüentemente contêm granulações enchimento - GArs e septos fibroses - no interior do SSS
aracnóideas (GAr), também conhecidas como granula são achados comuns nos exames de imagem.
ções pacchionianas. As GArs são projeções contendo lí As variantes normais do SSS incluem ausência do seu
quido cerebrospinal (LCS) que se estendem dos espaços segmento anterior e posição fora da linha média. Quan
subaracnoides (ES) para o interior dos seios venosos (Flg. do o segmento anterior é hipoplásico ou ausente, o SSS
9-1). Um mícleo central de LCS estende-se do ES para o começa mais posteriormente, próximo à sutura coronal,
interior da granulaçào, a qual, por sua vez, está encober onde recebe veias frontais proeminentes. O SSS em geral
ta por uma capa apical de células aracnóideas. Múltiplos permanece na linha média através de seu curso. Conforme
pequenos canais estendem-se por toda a espessura da capa ele desce em direção ao seu término na confluência dos
para o endotélio sinusal, drenando LCS para a circulação seios, entretanto, ele pode cursar gradualmente para fora
venosa (Fig. 9-2). da linha média.
Embora as GArs possam ocorrem em todos os seios
venosos durais, as localizações mais comuns são os seios Seio sagital inferior
transversos e o sagital superior; o seio cavernoso é um Em comparação com o SSS, o SSl é um canal muito menor
local incomum. e mais inconstante, que se localiza no fundo da foice ce
rebral. O SSl encontra-se acima do corpo caloso e do giro
Seio sagital superior do cíngulo, coletando pequenas tributárias enquanto cursa
o SSS é um seio grande e curvilíneo que se estende pa posteriormente ao longo da margem "livre" da foice. O SSl
ralelamente à abóbada craniana interna. Ele se origina de termina na junção lentoriofalcina, onde se une à veia cere
veias frontais ascendentes anteriormente e con'e na linha bral magna de Galeno (VG) para formar o seio reto.
média na junção da foice cerebral com a calota craniana O SSl costuma ser pequeno ou inaparente. e é visuali
(Fig. 9-3). O SSS aumenta em diâmetro conforme cursa zado de forma inconstante nos exames de imagem.
posteriormente, coletando pequenas veias corticais super
ficiais e a veia anastomótica de Trolard, mais calibrosa. Seio reto
Vários lagos venosos no espaço diploico da calota crania o SR é formado pela junção do SSl e da VG. Ele cursa
na também drenam para o SSS. posteriormente a partir da sua origem no ápice tentorio-
Nas imagens coronais, o SSS apresenta-se como um falcino. Ao longo do seu curso, o SR recebe várias peque
canal vascular triangular contido entre os folhetos durais nas tributárias da foice cerebral, do tentório do cerebelo e
Anatomia e ociusões venosas 221
9-3 A foice cerebral se estende posteriormente da cristo golli à junção 9-4 Ilustração demonstra as numerosas interconexões entre os seios
tentoriofalcina e contém o 5SS B e o SSI 3i. A veia de Galeno o cavernosos o plexo venoso clival S, os seios esfenoparielais E3
seio reto í^1, a confluência dos seios E3 e os STs S também estão e os seios petrosos superiores ÍS e inferiores B.
ilustrados.
do cérebro adjacente. O SR termina juntando-se aos seios origem às veias jugulares internas. Assimetria entre os la
transversos e sagital superior para formar a confluência dos dos seios sigmoides é comum e normal.
dos seios venosos (tórcula de Herófllo). A confluência dos Os buibos jugulares são dilatações venosas focais na
seios venosos é freqüentemente assimétrica, com septa- base do crânio entre os seios sigmoides e as veias jugula
ções e canais intersinusais conectando os seios transversos. res internas (VJl) extracranianas. As VJls e os seios trans-
Variantes do SR são incomuns. O seio falcino per versos/sigmoides são freqüentemente assimétricos, e há
sistente é uma variante inusitada, identificada em 2% das concomitante variação no tamanho dos buibos jugulares
ATCs normais. Aqui, uma estrutura venosa da linha média e seus forames ósseos. Pseudolesões dos buibos jugulares
- o seio falcino persistente - conecta o SSl ou a veia de com assimetria de fluxo são comuns e não devem ser con
Galeno diretamente com o SSS. Dois terços dos pacientes fundidas com massas "verdadeiras" (p. ex., schwannoma
com seio falcino persistente possuem seios retos ausentes ou paraganglioma). A janela óssea da tomografia compu
ou rudimentares. tadorizada (TC) mostra que a espinha jugular e o córtex
circunjacente ao forame jugular estão intactos, e não ero-
Selos transversos didos ou remodelados.
Os STs, também conhecidos como seios laterais, estão
contidos entre as fixações do tentório do cerebelo à tábua Seios cavernosas
interna do crânio. Os STs curvam-se lateralmente a partir Os SCs são seios venosos de formato irregular e muito
da tórcula para a borda posterior da parte petrosa do osso trabeculados/compartimentalizados que se localizam ao
temporal, onde se direcionam inferiormente e tornam-se longo das laterais da sela turcica, estendendo-se das fis
os seios sigmoides. suras orbitárias superiores anteriormente para o clívus e
Variações anatômicas nos STs são quase a regra, em posteriormente para o ápice petroso (Fig. 9-4).
vez da exceção. Os dois STs costumam ser assimétricos, Formados por uma parede durai lateral proeminente e
com o do lado direito maior do que o esquerdo. Segmen mediai muito menos espessa, em geral quase imperceptí
tos hipoplásicos e até mesmo atréticos são comuns, assim vel, os SCs contêm as duas artérias carótidas internas ca
como defeitos de enchimento causados por granulações vernosas (ACI) e os nervos abducentes (NC VI). Os NCs
aracnoides e septos fibrosos. III, IV, V, e V, estão, na verdade, no interior da parede
durai lateral, e não no interior do SC (Fig. 9-5).
Seios sigmoides e buibos jugulares As principais tributárias que drenam para os SCs
Os seios sigmoides são a continuação inferior dos dois são as veias oftálmicas superior/inferior e os seios esfe-
STs. Eles seguem uma suave curva em S, descendo atrás noparietais (Fig. 9-4). Os dois SCs comunicam-se osten
da porção petrosa do osso temporal para terminar dando sivamente via plexos venosos inlercavemosos. Os SCs
222 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
9-5 Ilustração coronal demonstra os seios cavernosos (SCs) e seus con 9-6 Ilustração coronal demonstra as veias corticais superficiais. As três
teúdos. Os SCs são fenestrados, septados e multicanalizados. As ACIs B veias anastomóticas nomeadas - veias de Trolard Labbé [31 e a
e os NCs VI B estão no interior dos SCs. Os NCs III S], IV (S, V, ES e veia cerebral média superficial 31 - são ilustradas. Uma ou duas das
v,B encontram-se na parede durai lateral. veias corticais superficiais são geralmente dominantes.
curvando-se medialmente para unirem-se às veias septais Grupo superior (qalénico). Como o nome sugere, essas
próximas ao forame de Monro e formar as duas veias ce veias drenam superiormente na veia de Galeno. As prin
rebrais internas (FIg. 9-8). cipais veias nomeadas nesse grupo são a veia cerebelar
Veias profundas paramedianas. As veias cerebrais internas pré-central, a veia vermiana superior e a veia pontome-
sencefálica superior (Fig. 9-11).
(VCI) e a veia de Galeno (VG) promove a drenagem da
A veia cerebelar pré-central (VCP) é uma veia úni
maior parte das estruturas profundas do cérebro. As VCls
ca na linha média localizada entre a língula e o lóbulo
sào veias paramedianas pareadas que cursam posterior
mente no cavum velum inierpositumy a delgada invagi- central do verme. Ela termina posteriormente aos colicu-
los inferiores drenando na VG. A veia vermiana superior
naçào do espaço subaracnoide localizada entre o terceiro
venlrículo e os fómices. As VCIs terminam na cisterna
cursa sobre o topo do verme, unindo-se à VCP e drenando
na VG (Fig. 9-II).
quadrigeminal rostral unindo-se com seu par e com as
A veia pontomesencefállca anterior (VPMA) é,
VBRs para fomiar a VG (Fig. 9-8).
na verdade, um plexo venoso interconeetado, e não uma
A veia de Galeno (veia cerebral magna) se curva
veia dominante única. A VPMA cobre os pedúnculos ce-
posterossuperiormente sob o esplênio do corpo caloso, rebelares e se estende sobre a superfície anterior da ponte
unindo-se com o seio sagital inferior para formar o seio
reto.
(Figs. 9-12 e 9-13).
Grupo anterior (petroso). A veia petrosa (VP) é um gran
Veias do tronco encefáiico e da fossa posterior de tronco venoso que se localiza na cisterna do ângulo
As veias que drenam o mesencéfalo e as estruturas da fos pontocerebeiar, coletando numerosas tributárias do cere-
sa posterior também sâo divididas em três grupos: (1) um belo. da ponte e do bulbo. A VP e suas tributárias formam
grupo superior ("galênico*"); (2) um grupo anterior (petro- uma proeminente coleção vascular em formato de estrela
so); e (3) um grupo posterior. observada na ASD na incidência em AP e nas imagens co-
ronais de ATC (Fig. 9-14).
9-15 As regiões superficiais do cérebro (córtex e substância branca subcortical) são drenadas por veias corticaís
e o seio sagital superior {mostrado em verde). As estruturas profundas centrais do cérebro (núcleos da base, a
maior parte da substância branca e ventrículos) são drenadas pelo sistema venoso profundo (VCis, veia de Galeno,
seio reto) (vermelho). As veias de Labbé e os seios transversos drenam lobos temporais posteriores e parielais
inferiores (amarelo). Os seios esfenoparietais e cavernosos drenam a área ao redor da fissuras silvianas (roxo).
Grupo posterior (tentorial). As veias mais proeminentes superior dos hemisférios cerebrais, juntamente com a
nesse grupo são as veias vermianas Inferiores, estruturas substância branca subjacente, drena centrifugamente (para
pareadas paramedianas que se curvam sob o vemie e dre fora) através das veias corticais para o interior do SSS.
nam a superfície inferior do cerebelo.
Drenagem venosa cerebral profunda (central)
Territórios de drenagem venosa Os núcleos da base, os tálamos e a maior parte da subs
Os territórios de drenagem venosa cerebral são menos fa tância branca hemisférica drenam centripetamente (para
miliares e mais variáveis em comparação com as principais dentro) em direção ás veias cerebrais profundas. As veias
distribuições arteriais. Esses territórios de drenagem se cerebrais internas, a veia de Galeno e o seio reto drenam
guem quatro padrões básicos: um padrão periférico (super praticamente toda a porção central do cérebro.
fície cerebral), um padrão profundo (central), um padrão Os aspectos mais mediais dos lobos temporais, como
inferolateral (perissilviano) e um padrão posterolateral o uncus e os hipocampos anteromediais, também drenam
(temporoparietal) (Fig. 9-15). O diagnóstico e a delineação para o sistema galênico pelas veias cerebrais médias pro
acurados das ociusões venosas dependem da compreensão fundas e das veias basais de Rosenthal.
desses territórios de drenagem venosa específicos.
Drenagem venosa inferolateral (perissílviana)
Drenagem venosa cerebral periférica (superficial) o parênquima que circunda a fissura silviana (cerebral la
A drenagem venosa da superfície cerebral em geral segue teral) consiste nos opérculos frontal, parietal e temporal,
um padrão radial. A maior parte das superfícies média e além da insula. A região perissílviana do cérebro drena
226 Hemorragias nao traumáticas e lesões vasculares
Etiologia
Uma ampla variedade de condições herdadas e adquiridas
está associada com aumento no risco de todas as TVCs.
9-17B Espécime de anatomia macroscópica do
mesmo caso mostra coágulo em "geleia de groseiha"
Uma comorbidade predisponente pode ser identificada na
no SSS B e nas veias corticais 51. (Cortesia de E. T. maioria dos casos, e muitos pacientes afetados possuem
Hediey-Whyte, MD.) mais de um fator predisponente.
Anatomia e oclusões venosas 227
9-18 Mulhef de 23 anos com "cefaleia migranosa". A primeira TC sem 9-19 TC sem contraste em outro paciente mostra trombo hiperdenso
contraste (esquerda) foi considerada normal. Observe o trombo hiper- no SR B e SSS B com edema bilateral hematomas e HSA na
denso no ST esquerdo B. A lomografia do dia seguinte (direita) mostra convexidade B0.
trombose da veia de Labbé E3 e um grande infarto hemorrágico
Aspectos clínicos Após uma trombose de veia cerebral e/ou seio durai
Epidemiologia. As oclusoes venosas cerebrals representam há um aumento pequeno, porém mensurável, no risco de
entre 0.5 e 1% de todos os acidentes vasculares agudos. novos eventos tromboembólicos, especialmente em pa
Embora a TVC possa ocorrer em qualquer idade (de neo- cientes do sexo masculino e portadores de policitemia/
natos a idosos), ela é mais vista em jovens. Quase 80% trombocitemia.
dos pacientes possuem menos de 50 anos. A incidência
anual estimada é de cinco casos por milhão de adultos. Opções de tratamento. O pronto reconhecimento de uma
TSD possui um grande impacto no desfecho clínico. Pa
Oemografia. a trombose de seio durai afeta predominante cientes com sintomas leves ou mínimos podem não preci
mente mulheres (H:M = 1:3). Um fator de risco especifico sar de intervenção. Em casos graves, trombectomia me
para o gênero (contraceptives orais, gestação, puerpério cânica com ou sem infusão de heparina pode demonstrar
e terapia de reposição hormonal) está presente em quase sucesso na abertura de um seio ocluído.
dois terços das mulheres com TVC. Devido a esses fato
res de riscos específicos para o sexo feminino, a idade de
TROMBOSE DE SEIO DURAL: PATOLOGIA E
apresentação em mulheres é cerca de uma década menor
do que em homens (34 anos vs. 42 anos). ASPECTOS CLÍNICOS
ração dos seios durais e (3) conhecimento dos padrões de invasivos para delinear defeitos de enchimento nos seios
drenagem venosa normais. durais. A ATC demonstra o clássico sinal do "delta vazio"
da trombose sinovenosa (Fig. 9-23).
Achados de TC. A TC sem contraste precoce pode ser nor
mal. portanto, um exame de TC sem contraste não exclui Achados de RM. O aspecto de imagem da TSD varia signi
o diagnóstico de TVC. Sinais precoces na TC sem con ficativamente com a idade do trombo, assim como com os
traste costumam ser sutis. Leve hiperdensidade em com hematomas intraparenquimatosos. Ociusões agudas, su-
paração com as artérias carótidas é observada em 50-60% bagudas e crônicas apresentam diferentes achados na RM.
dos casos e pode ser a única pista de oclusao venosa ou TSD aguda. O seio agudamente trombosado com
sinusal (Fig. 9-18). Quando presente, uma veia (sinal da freqüência encontra-se moderadamente aumentado e de
"corda") ou um seio venoso (sinal do "triângulo denso") monstra margens anormalmente convexas, e não retas ou
hiperatenuantes é sinal sensível e específico de doença côncavas. O Jlow void do sangue em rápido movimento
venosa oclusiva cerebral. Edema do parênquima com ou mais observado nos seios venosos maiores desaparece,
sem hemorragias petequiais no território drenado pelo sendo substituído por coágulo sangüíneo sólido. A TSD
seio trombosado é um sinal útil. porém indireto de TSD aguda apresenta-se isointensa ao córtex subjacente na
(Fig. 9-19). ponderação TI (Fig. 9-22).
Em 70% dos casos, os exames de TC com contraste Como a hemoglobina nos coágulos sangüíneos rapi
mostram o sinal do "delta vazio", causado pelo realce damente dessatura à desoxi-hemoglobina, eles se tomam
durai circundando o trombo sem impregnação (Figs. 9-20 muito hipointensos em relação ao cérebro na pondera
e 9-21). Veias alargadas ou irregulares sugerem drenagem ção T2 (Fig. 9-22D). Portanto, a trombose venosa aguda
venosa colateral. "escura" em T2 simula o& flow voids sinusais normais.
A ATC e sua fase venosa possuem menos artefatos Se congestão venosa e edema desenvolvem-se secunda
do que a ARM e, portanto, são os melhores métodos não riamente ao fluxo obstruído, causam edema dos giros e
imagem
• TC
o TC sem contraste: pode ser normal ou com sutil
hiperdensidade no seio durai/veia
o TC com contraste: sinal do "delta vazio" (dura
realçando ao redor do trombo sem impregnação)
• Sinal na RM varia com a evolução do trombo
o Agudo: iso em TI, hipointenso em T2, susceptibilidade
em T2'', "delta vazio" no TI pós-contraste
o Agudo tardio: levemente hiper em TI, isointenso
em T2/FLAIR, susceptibilidade em T2*
o Sübagudo: hiper em TI, hiperintenso em T2/FLAIR,
9-31A TC sem contraste mostra trombo óbvio no S5S
susceptibilidade em T2* E3. com sinal do "cordão" hiperdenso
o Crônico: iso em TI, moderadamente hiperintenso
em T2/FLAIR, flow voids parenquimatosos
"ondulados" em T2*, dura espessa e com realce em
TI pós-contraste
o Longa data: iso em Tl, dura bastante espessada
hipointensa em T2
Diagnóstico diferencial
• Pseudo-oclüsão
o Segmento do ST hipoplásico/ausente
o Granulações aracnóideas gigantes
• Outros
o Sangue sobre o tentório (hematoma subdural agudo)
o Hematócrito elevado (todos os vasos anormalmente
densos)
J
9-34 Caso de necropsia com
trombose de ST SI que ociuiu
uma veia de labbé dominante
mostra extenso infarto venoso
hemorrágico nos lobos temporal,
parietal e occipital ^3. (Cortesia
de R. Hewlett, MD.)
9-35 Imagem sagital na
ponderação TI três dias após o
paciente apresentar intensa ce-
faleia mostra um trombo agudo
tardio no ST esquerdo E3.0
coágulo também ociuiu a veia
de Labbé dominante, causando
hemorragia massiva no lobo
temporal inferolateral BI.
Anatomia e ociusões venosas 235
9-36 lluslíação axial demonslra ociusão venosa profunda com trom 9-37A TC sem contraste em um homem afásico de 79 anos em inves
bose de ambas as VCls ESI, VG B3 e SR Ei, com hemorragia nos tála- tigação de acidente vascular cerebral mostra hiperdensidade em ambas
mos [S. Observe a congestão venosa com edema e dilatação das veias as VCls E3, VG IB e SR Observe a hipodensidade em ambos os
medulares na S8 3i. talamos anteriores [S com indefinição das interfaces entre as substân
cias branca e cinzenta.
Trombose de veia superficial com TSD O diagnóstico radiológico da TCVS isolada pode ser
Dois tipos gerais de TVCS com TSD são reconhecidos: a problemático. A TC sem contraste costuma ser negati
TSD que envolve uma ou mais pequenas veias corticais va, embora alguns casos possam demonstrar hemorragia
e a TSD que afeta uma das grandes veias anastomóticas subaracnóidea focai na convexidade ou um sinal do "cor
dão" solitário, que representa uma veia trombosada hiper-
(Trolard ou Labbé).
Os achados de imagem da TVCS associada a TSD densa. A ATC é normal. A ASD pode demonstrar trombo
são similares àqueles encontrados na trombose de seio intraluminal e diminuição na drenagem venosa.
durai isolada. Além do coágulo no seio, o trombo estende- O diagnóstico por RM é de difícil estabelecimento
-se para uma ou mais veias corticais (Figs. 9-30, 9-31 e usando-se apenas as sequências-padrão ponderadas em
9-32). A ociusào do SSS com TVCS afeta as superfícies TI e T2. A fase venosa da ARM mostra que os principais
superolaterais dos hemisférios, com variáveis quantidades seios durais estão patentes. Trombos agudos são isointen-
de edema e hemorragia petequial envolvendo o córtex e sos ao cérebro em TI e hipointensos em T2, tornando-os
a substância branca subcortical. Se a veia anastomótica difíceis de serem distinguidos dos /low voids normais. Hi-
de Trolard for dominante, sua ociusào pode resultar em perintensidade focal em T2 na região corticossubcortical
hemorragia lobar (Fig. 9-33). do parênquima costuma estar presente, porém é um acha
A ociusào dos seios transversos que se estende para uma do inespecífico.
veia de Labbé dominante costuma causar ostensiva hemorra A seqüência FLAIR pode demonstrar hemorragia
gia temporal posterior e parietal anterior (Figs. 9-34 e 9-35). subaracnóidea focai na convexidade, vista como oblite-
ração do LCS hipointenso normal nos sulcos. Hiperinten-
Trombose de veia superficial sem TSD sidades corticossubcorticais são consistentes com edema
A TVCS na ausência de trombose de seio durai é rara, re vasogênico e são achados associados.
presentando apenas 5% de todas as ociusões sinovenosas. O trombo intraluminal pode ser visto como uma hi-
O desfecho clínico da TVCS isolada costuma ser bom. perintensidade linear na difusão. A isquemia venosa pode
A TVCS isolada geralmente se apresenta com cefa- resultar em restrição à difusão transitória.
leia inespecífica. Cerca de 10% dos pacientes referem As seqüências com ponderação T2* (GRE, SWl) são
uma cefaleia "em trovoada", que simula clinicamente he chave para o diagnóstico não invasivo da TVCS isolada.
morragia subaracnóidea por ruptura de aneurisma. Sinto Com uma sensibilidade de mais de 95%, elas são as melho
mas como déficits neurológicos focais, crises convulsivas res seqüências para detecção de veias corticais trombosa-
e alteração no nível de consciência são menos comuns do das solitárias. Uma hipointensidade tubular bem delimitada
que na trombose de seio durai ou de veias profundas. com artefatos de susceptibilidade dos produtos de degra-
236 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
magnética indistintos. Congestão venosa nas veias medu- O envenenamento por monóxido de carbono em
lares e subependimárias também apresenta-se hipointensa geral afeta os globos pálidos, enquanto poupa os tálamos.
devido ao fluxo lentiflcado e à desoxigenação.
A ATC e a ASD podem mostrar ausência de opaci-
TROMBOSE VENOSA SUPERFiCiAL E PROFUNDA
ficação no sistema profundo de drenagem venosa (Figs.
9-37B e 9-37C). A fase venosa da ARM mostra ausência Trombose superficial com TSD
de fluxo no sistema profundo de drenagem venosa. • TSD com extensão para as veias adjacentes
• Edema e hemorragia no cortex e na SB adjacente
• Pode ser extensa se houver oclusão das velas de
Diagnóstico diferencial Trolard ou Labbé
o diagnóstico diferencial da TVCP inclui oclusão arterial,
Trombose superficial sem TSD
neoplasia, e distúrbios toxicometabóiicos. • Rara (5% de todas as TVCs)
A artéria de Percheron (APer) é uma artéria talamo- • Pode causar hemorragia subaracnóidea na
perfurante dominante única que se origina na bifurcação convexidade
basilar ou porção proximal da artéria cerebral posterior • Pode haver o sinal do "cordão"
para suprir os lálamos mediais e o mesencéfalo. Infartos • 12* (GRE, SWI) é chave para o diagnóstico
arteriais causados por trombose da APer ou oclusào do • Artefatos de susceptibilidade magnética nos trombos
"topo da basilar" freqüentemente afetam ambos os tála- no interior da(s) veia(s)
mos. porém as lesões arteriais em geral não são tão exten Trombose venosa profunda
sas quanto as observadas na TVCP. • Incomum (15% de todas as TVCs)
Gliomas bitalâmícos costumam se originar na ponte • Costuma ter envolvimento de ambas as VCIs ± VG e SR
Terminologia
A trombose/trombofiebite do seio cavernoso (TSC) é um
coágulo sangüíneo no seio cavernoso (SC), associado ou
não a infecçào (tromboflebite ou trombose, respectiva
mente) (Fig. 9-39).
Etloiogia e patologia
O SC é composto de vários espaços venosos densamente
trabeculados que possuem inúmeras comunicações sem
válvulas com veias da órbita, face e pescoço. A infecção
9-41A Venografia por RM em uma mulher de 22
pode, portanto, espalhar-se com relativa facilidade por es
ses condutos venosos para o interior dos seios cavernosos. anos mostra um ST direito dominante. O ST esquerdo
possui um segmento "ausente" S e possível defeito
A TSC ocorre como complicação de sinusite ou outra de enchimento B.
infecção de face. O S. aureus é o patógeno mais freqüente.
Outros agentes menos comuns incluem anaeróbios e in-
fecções fúngicas angioinvasivas.
Olomastoidite, doença odontológica, trauma e neo
plasia são causas menos freqüentes de TSC.
Aspectos clínicos
Epioemiologia. a trombose de SC sem trauma, infecçào ou
múltiplas outras ociusões de seios venosos é extremamen
te rara.
Imagem
Achados de TC. A TC sem contraste com trombose de SC
não complicada pode ser normal. A tromboflebite do SC
causa proptose, gordura orbitária "suja", edema periorbi-
tário, sinusite e abaulamento lateral das paredes do SC. A
TC com contraste demonstra múltiplos defeitos de enchi
mento irregulares no SC e nas veias oftálmicas superiores
(Fig. 9-40A). As margens laterais dos SCs estão convexas
(e não planas ou côncavas).
Achados de RM. Os exames de RM demonstram SCs alar
Angiografia. o aspecto angiográfíco dos SCs normais matose de Wegener) e pseudotumor inflamatório idiopáti-
varia de proeminente e marcante a mínima ou nenhuma co realçam de forma bastante intensa e uniforme.
opacificaçào. De fato. todos os seios durais da base do
crânio (seios petrosos superior e inferior, seio cavemoso.
seios esfenoparietais e piexo venoso clival) são variáveis
e inconstantemente visualizados na fase venosa da ASD. Condições que simulam ociusão venosa
A não visualização dos SCs na ASD pode ser um achado Este capítulo sobre anatomia e ociusões venosas será con
normal e não indica a presença de trombose do SC. cluído com uma breve discussão das condições que po
Em casos raros de TSC, a inflamação da artéria caró dem simular - ou obscurecer - as tromboses venosas.
tida interna intracavernosa pode levar a estenose. trombo
se ou formação de pseudoaneurisma. Va r i a n t e s d o s s e i o s
Os principais diagnósticos diferenciais da TVC são as va
Diagnóstico diferencial riações anatômicas congênitas. O seio transverso direito
O diagnóstico diferencial da TSC inclui neoplasia do SC. costuma ser o seio venoso dominante e com freqüência é
fístula carótido-cavernosa e distúrbios inllamatórios. As significativamente mais calibroso do que o esquerdo. Um
neoplasias do SC, como linfoma. meningioma e metásta- segmento hipoplásíco do seio transverso está presente
ses realçam de forma uniforme e causam efeito de massa em um quarto a um terço de todos os casos examinados e
significativamente maior do que a TSC. A fístula caroti- é especialmente comum no seio não dominante (em geral
docavernosa causa flow voids e reversão do fluxo do SC o ST esquerdo). Nesses casos, o bulbo jugular ipsilateral
para veias orbitárias dilatadas e com intensa impregnação. é pequeno (FIg. 9-41). A correlação com a janela óssea da
Doenças intiamatórias, como sarcoidose. granulomatose TC também pode ser útil para demonstrar ibrame jugular
com poliangeíte (anteriormente conhecida como granulo ou sulco do seio sigmoide pequenos. Um seio sigmoide
ou transverso hipoplásico também costuma ser - porém de saturação inferiores com TOF 2D axial na venografia
não invariavelmente - associado a vias de fluxo venoso por RM pode saturar o fluxo em porções da curvatura do
alternativas como seio occipital persistente ou veias emis SSS, porém isso pode ser evitado pela aquisição de ima
sárias mastóideas proeminentes. gens no plano coronal.
Variações na tórcula de Herófilo (confluência dos
seios) também são comuns. Uma confluência dos seios Granuiações e septações aracnóideas
com divisão elevada, segmentada ou multicanalizada Outro importante diagnóstico diferencial da trombose de
pode apresentar uma área centrai não opacificada que si seio durai é a granulação arncnóídea (GAr) gigante.
mula TSD(FÍg. 9-42). GArs são defeitos de enchimento redondos ou ovoides
A ausência de veias ocluídas. canais venosos colate de curto segmento que exibem atenuação similar à do
rais dilatados, ou realce durai anormalmente espessado LCS na TC sem contraste e não impregnam na TC com
apoia o diagnóstico de hipoplasia do ST ou variante ana contraste.
tômica em vez de TVC verdadeira. O aspecto de imagem das GArs na RM é mais pro
blemática do que os achados associados de TC. GArs
Artefatos de fluxo
freqüentemente não seguem a intensidade de sinal do
Um f>ap de fluxo na venografia por RM com técnica TOF LCS em todas as seqüências. Intensidade de sinal dife
2D pode resultar de vários fatores, incluindo fluxo lento rente da observada no LCS é observada em ao menos
intravascular, fluxo "em plano" ou padrões complexos de uma seqüência (mais em FLAIR) em 80% dos exames
fluxo venoso. O fluxo paralelo ao plano de aquisição (flu de RM. GArs não preenchem todo o seio como acontece
xo "cm plano") pode causar perda de sinal na venografia com a maioria dos trombos e. diferentemente dos coá
por RM e é mais proeminente nas estruturas verticalmente gulos. com freqüência apresentam realce central linear
orientadas, como o seio sigmoide distai. O uso de pulsos (Fio. 9-43).
igualmente hiperdensas.
9-44B Corte axial de TC sem
contraste em plano mais superior
mostra seio reto e tórcula de
Herófilo incomumente densos
ES. Observe a hiperdensidade
em todos os vasos intracranianos
visualizados - tanto veias quanto
artérias.
9-45 Imagens de TC sem contraste em um recém-nascido normal. 9-46 Imagem axial de TC sem contraste mostra fiemorragia subdural
A combinação do cérebro hipodenso não mielinizado e o hematócrilo localizada ao longo do seio reto e do tentório B, simulando o aspecto
íislologlcamente elevado faz as velas profundas e os selos durais E3 do sinal do "delta vazio" B (o qual é observado na TC com contraste, e
parecerem hiperdensos, simulando trombose. não na TC sem contraste).
Menos comum
• Sangue de alta densidade (hematócrito elevado)
o Fisiológico (lactentes, elevada altitude)
o Policitemia vera
o Shunts cardíacos direita-esquerda de longa data
• Cérebro de baixa densidade
o Fisiológico (cérebro não mielinizado)
o Patológico (edema cerebral difuso)
• Hematoma subdural
o Camadas ao longo da dura e dos seios
o Lembra o sinal do "delta vazio" (TC sem contraste,
não na TC com contraste)
244 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
pica e por imagem do arco aórtico e dos grandes vasos. traqueia, o nervo laríngeo recorrente esquerdo, o esô-
Então, direcionaremos para o tópico da aterosderose, co fago, o dueto torácico e a coluna vertebral. Os grandes
meçando com uma discussão geral sobre a aterogénese. A vasos estão acima do AA, assim como a veia braquioce-
ASD extracraniana e estenose carotídea são seguidas de fálica esquerda. A bifurcação pulmonar, o ligamento ar-
uma breve revisão da DVA de artérias intracranianas de terioso e o nervo laríngeo recorrente esquerdo situam-se
médio e grosso calibre. abaixo do arco.
246 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
10-1 Figura em AP demonstra o arco aórtico normal e sua relação com 10-2 ASO demonslía os ramos normais do arco aórlico. A AV esquerda
as estruturas adjacentes. A ACC direita se origina do tronco braquiocefá- ^ origina-se da AS esquerda proximal e é dominante. A AV direita
lico, enquanto a ACC esquerda se origina do arco. As bifurcações B das nasce da AS distai à origem do tronco braquiocefálico.
ACCs estão ao nível de C3-C4 com as ACIs inicialmente laterais às ACEs.
10-3 As quatro variantes do arco estão demonstradas. Tronco bra- 10-4 Imagem fonte de ATC axial demonstra AS direita aberrante B
quiocefãlico (TBcef) e a ACl D se originando de uma origem comum em emergindo como o último vaso do arco aórlico.
V ES. a ACl E se originando do TBcef BI, a AV E se originando direta
mente do arco ES e AS D aberrante, emergindo do arco como quatro
"grandes vasos" [S.
10-5 Figura demonstra que os dois ramos terminais da ACE são as ar 10-6 Figura demonstra numerosas anastomoses entre a ACE e a ICA
térias temporal superficial S e maxilar EES. A artéria maxilar divide-se cavernosa, incluindo via artéria do forame redondo E3, artéria principal
em ramos distais no interior da fossa pterigopaíatina BI. lateral B e artéria oftálmica E].
superiormente entre a ACE e a AGI para suprir a naso e a das ACls ou ramos musculoespinais das AVs (Fig. 10-6).
orofaringe, a orelha média, a dura e IX-Xl NCs. Estas anastomoses (resumidas abaixo) fornecem uma im
A artéria lingual é o terceiro ramo da ACE. Ele portante rota de circulação colateral ao fluxo sangüíneo e
descreve uma curva anteroinferiormenle, e, então, cursa determinam um risco potencial para a embolização intra
superiormente para suprir a língua, a cavidade oral e a craniana durante procedimentos de neurointervenção.
glândula submandibular. A artéria facial origina-se logo
acima da artéria lingual, curvando-se em torno da mandí-
bula antes de passar anterossuperiormente para suprir a A N A S TO M O S E S A C E - A C I - AV
10-1 IA Imagem fonte de ATC demonstra uma placa ateroscierótka 10-1 IB (Esquerda) Reconstrução obliqua e (direita) visualização coro-
irregular, uicerada B3 ao longo do arco aórtico, na aorta torácica des- na! do mesmo caso demonstra a placa B ao longo da curvatura menor
cendenle proximal. do arco aórtico. (Cortesia de G. Oliveira, MD.)
pode contribuir para a alta prevalência de aleromas nesta bris celulares e colesterol sobre a cobertura fibrosa eleva
localização etn particular. da, este revestimento começa a alllar e a se tomar predis
Número e tamanho. As placas de DVA variam em tama posto à ruptura (placa "vulnerável") (Fig. 10-9).
Pequenos vasos sangüíneos proliferativos também se
nho, de pequenas, quase que microscópicos depósitos li- desenvolvem em torno da periferia do centro necrótico. A
pidicos, a grandes lesões, espessas e ulceradas que podem
neovascularizução pode levará hemorragia subintimal
estender-se por vários centímetros e estreitar drasticamen
com expansão rápida, que aumenta a pressão no interior
te a luz do vaso. A maioria das placas possui entre 0,3 e
da placa, promove o aumento dos depósitos de lipídeos e
1,5 cm de diâmetro. Na DVA, mijítiplas lesões em miáíti-
alarga o centro necrótico, com maior enfraquecimento da
plos locais são a regra. cobertura fibrosa sobrejacente.
Patologia macroscópica. As placas de DVA desenvolvem- Placas ulceradas. A iilceraçâo da placa ocorre quan
-se em estágios (Fig. 10-8). A primeira lesão detectável do a capa fibrosa enfraquece c rompe através da íntima,
é o depósito de lipídeos na íntima, visto como "estrias liberando debris necróticos (Fig. 10-10). O sangue lenta
gordurosas" de coloração amarelada. Além disso, pode mente turbilhona no interior do endotélio ulcerado e des
haver um espessamento intimai levemente excêntrico, nudo. permitindo a agregação de plaquetas e de fibrina.
mas liso. As modificações visíveis nesse estágio precoce Um efeito de Bernoulli intermitente puxa o agregado para
são mínimas. a corrente principal de fluxo rápido, causando emboliza-
Características microscópicas. As placas de DVA são classi ção arterioarterial para vasos intracranianos distais.
ficadas histopatologicamente como "estáveis", "vulnerá Aspectos clínicos
veis" ou "ulceradas".
Epidemiologia e aspectos demográficos. Embora a aterogêne-
Placas estáveis. As placas estáveis não complicadas se inicie por volta do meio da adolescência, a maioria dos
- a lesão básica da aterosclerose - consistem em material
celular (células musculares lisas, monócitos e macrófa- pacientes com lesões sintomáticas é idoso ou de meia-ida
de. Entretanto, a aterosclerose está cada vez mais comum
gos), lipídeos (depósitos tanto intra como extracelular) e em pacientes mais jovens, contribuindo para o aumento
uma cobertura fibrosa (composta de colágeno, fibras elás
da prevalência de AVCs em pacientes abaixo de 45 anos.
ticas e proteoglicanos). A íntima que cobre a placa estável
Há uma moderada predominância masculina. Embora
está espessada, mas sua superfície externa permanece in
todas as etnias sejam afetadas, afro-americanos estão em
tacta, sem interrupções ou ulcerações. Não há hemorragia maior risco para DVA.
no interior da placa (Flg. 10-9).
Placas vulneráveis. Como gradualmente se acumula Apresentação. A apresentação clínica da DVA craniocer-
um centro necrótico de lipídeos, células espumosas, de v i c a l é a l t a m e n t e v a r i á v e l . A s D VA s c o s t u m a m s e r u m
2 5 2 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
10-12 Quatro perspectivas de ASD demonstram a importância de 10-13 (Esquerda) ASD demonstra estenose crítica da AC! E2. (Direi-
projeções múltiplas para delinear o grau de estenose máxima da AC! pro- ta) ARM do mesmo caso demonstra um "intervalo de fluxo" B caracle-
xlmal B, placa calclficada rístico de lesão de alto grau, limitando o fluxo.
distúrbio lentamente progressivo. Muitas lesões permane isquêmicos mínimos, seguido de ATC para aqueles com
cem assintomáticas até que causem estenose liemodina- resultados positivos.
mieamente significativa ou doença tromboembólica. Um Uma análise profunda e comparações entre as muitas
sopro carotideo pode ser o primeiro sinal clínico detectá- modalidades de imagem vascular disponíveis está além
vel de estenose da ACI. Acidentes isquêmicos transitórios do escopo deste livro. Focaremos nos principais locais
(AITs) e "iníartos silenciosos" sào precursores comuns de anatômicos da DVA, utilizando exemplos de cada técnica,
infartos territoriais extensos. quando apropriado, para demonstrar a patologia relevante.
História natural. A história natural da DVA também é alta-
Arco aórtlco e grandes vasos
triente variável. A oclusão da ACI faz surgir um alto risco
em especial para um AVC posterior, com mais de 70% O arco aórtico é uma fonte subdiagnosticada de AVCs is
destes pacientes vindo, por fim, a apresentar um infarto quêmicos intracranianos. A avaliação completa por ima
isquêmico cerebral. gem dos pacientes com infartos tromboembólicos cere
brais deve incluir o arco aórtico.
Opções de tratamento. As opções de tratamento incluem
Etiologia. a DVA aórtica é mais comum na aorta descen
prevenção, medicamentos (drogas para redução de lipí-
deos). e cirurgia ou terapia endovascular (a seguir). dente que na ascendente ou no arco (Fig. 10-11). Contudo,
fluxo retrógrado diastólico tardio por placas complexas
Aterosclerose extracraniano na aorta descendente proximal, distal à origem da artéria
subclávia esquerda, pode alcançar todas as artérias supra-
A DVA extracraniana é o principal fator de risco isolado
-aórticas. O fluxo retrógrado estende-se para o orifício da
para AVC. Este risco começa com o arco aórlico. AS esquerda em cerca de 60% dos casos, para a ACC em
Corno a ASD possui um pequeno, mas bem estabe
25% e para o tronco braquiocefálico em 10 a 15%.
lecido, risco, as modalidades por imagem não invasivas Os êmbolos aórticos envolvem o cérebro à esquerda
são os procedimentos de rastreamento preferidos para
em 80% dos casos e demonstram uma evidente predileção
avaliar pacientes para aterosclerose extracraniana e suas
pela circulação vertebrobasilar. Essa distribuição geográ
complicações. As principais opções não invasivas são fica marcante é consistente com êmbolos trombóticos ori
ATC. angiorressonância magnética (ARM) de alta reso
ginados de placas ulceradas na aorta descendente que sào
lução e a ultrassonografia (US). Cada técnica tem seus levados pelo fluxo retrógrado para os vasos supra-aórticos
defensores, suas vantagens, desvantagens, considerações
sobre custos e cenários especiais de uso. Muitos pesqui esquerdos.
sadores recomendam a US com Doppler como teste de Epidemiologia. a aterosclerose do arco aórtico é um fator
rastreamento em pacientes com AlTs recentes ou AVCs de risco independente documentado para AVC, encontra-
Vasculopatia 253
10-14 TC com contraste de um homem de 60 anos demonstra um tê 10-15 (Esquerda) ASD demonstra placa ulcerada BI causando es
nue ponto de realce ESI na AG proximal direita. A estenose de alto grau tenose de alto grau, quase total B com o sinal do "barbante" ÍS.
é causada por uma placa "mole" por OVA com lipídeos hipodensos E<9. (Direita) Fase tardia demonstra a AC! cervical distal [S. Os defeitos de
A ACI esquerda ES é irregular e estenótica. enchimento são causados por trombos.
do nos exames de imagem em 10 a 20% dos pacientes mente, determinar o grau de estenose carotídea nos estu
com infailos isquêmicos agudos e em 25% das autópsias dos de imagem é algo que se tomou rotina e obrigatório.
por AVCs fatais. Placas aórticas ulceradas estão presentes Três estudos mostraram os benefícios da endarterecto-
na necropsia em 60% dos pacientes que faleceram de in- mia em pacientes com estenose carotídea definida: o North
farto cerebral de etiologia desconhecida. A DVA aórtica American Symptomatic Carotid Endarterectomy Trial
constitui a cínica fonte provável para êmbolos de retina (NASCET), o European Carotid Surgery Trial (ECST) e
ou infartos cerebrais em cerca de 25% dos pacientes com 0 Asymptomatic Carotid Atherosclerosis Group (ACAS).
"infarto criptogênico", por exemplo, sem possíveis fontes Embora esses estudos utilizem a ASD como padrão-
cardíaca ou carotídea identificadas. -ouro para determinar a porcentagem de estenose, estudos
Imagem. O arco aórtico e a aorta descente proximal devem recentes demonstraram uma relação linear entre as medi
ser visualizados em conjunto com a vasciilarização extra das milimétricas da estenose carotídea na ATC e a porcen
e intracraniana. Alguns pesquisadores defendem uma "ex tagem de estenose definida pelo NASCET. Esses estudos
clusão tripla" ampla por ATC para AVC agudo isquêmico demonstraram a eficácia da endartcrcctomia carotídea,
que também inclui o coração e as artérias coronárias. O angioplastia ou colocação de slenl.s em pacientes sintomá
uso endovenoso de contraste é necessário para definir a ticos com estenose de ACI de 70% ou mais.
A estenose carotídea é classificada como moderada
presença de trombo mural, determinar a extensão da placa
e avaliar complicações da parede aórtica, como ulcera- (50 a 69%), grave (70 a 93%) e "pré-oclusiva" ou críti
ções, aneurismas e dissecção. ca (94 a 99%) (Figs. 10-13 e 10-15). Os pacientes com
O achado de imagem mais comum na DVA aórtica é estenose crítica estão com maior risco de AVC embólico
um espessamento mural irregular com calcitlcações. As desde que o lúmen da ACI esteja patente.
características de imagem da DVA aórtica que se correla Além do grau de estenose, vários estudos recentes
c i o n a m f o r t e m e n t e c o m AV C i n c l u e m a t e r o m a s l o c a l i z a demonstraram a importância de também avaliar as carac
dos proximalmente ao óstio da artéria subclávia esquer terísticas morfológicas das placas. A ruptura de uma placa
da. placas de no mínimo 4 milímetros de diâmetro que "em risco" com um grande centro necrótico sob uma fina
protruem para o lúmen aórtico e a presença de trombos cobertura fibrosa é responsável pela maioria dos trombos
móveis/oscilantes. agudos. Já que a embolizaçào distai de um coágulo pro
x i m a l r e l a c i o n a d o à D VA é u m a c a u s a c o m u m d e i n f a r -
Artérias carótidas internas/bifurcação carotídea to/isquemia cerebral, identificar um placa "vulnerável",
Entre 20 a 30% de todos os infartos isquêmicos são cau propicia à ruptura é ao menos tão importante cjuanto de
sados por estenose carotídea (FIg. 10-12). Consequente terminar o grau de estenose.
254 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
10-18A US longitudinal com co/oc Doppler demonstra uma estenose 10-18B Análise por Doppler espectral do mesmo caso demonstra
na ACl de alto grau. O lúmen arterial está significativamente estreitado actiados de estenose. Ambas VPS e VOF estão marcadamente aumenta
com artefatos de fluxo do tipo "aliasing" tB causados pelo aumento da das, compatível com estenose superior a 70%. (Cortesia de S. S. M. Ho,
velocidade do fluxo. MBBs.)
geral são hiperintensas nas ponderações em T2, enquanto "Lesões escalonadas" são estenoses distais a uma
placas estáveis são isointensas nas ponderações TI e T2. lesão mais proximal e são vistas em cerca de 2% dos pa
Aquisições em TI pós-contraste com saturação de gor cientes com estenose da ACI cervical hemodinamicamen-
dura demonstram realce nas margens da placa, consistente te signfícativa. O local mais comum de uma "lesão esca
com neovascularização em uma placa vulnerável "em risco". lonada" é a ACI cavernosa.
A ARM 2D TOP contrastada ou não possui 80 a 85% A trombose carotídea é vista como um defeito de
de sensibilidade e 95% de especificidade para a detecção enchimento intraluminal da coluna de contraste (Fig. 10-
de estenoses da ACI superior a 70%. A perda do sinal com 15). A oclusão carotídea é vista como a coluna de contras
um "intervalo de fluxo" ocorre se a estenose for superior te com finalização de maneira abrupta em fundo cego na
a 95%. Se comparada a ATC e a ASO, a ARM tende a ACI proximal.
superestimar o grau de estenose. As estenoses de alto grau causam um fluxo antero
ASD. Embora a ASD seja considerada o padrão-ouro para a grade muito lento com atraso na lavagem do contraste.
O sinal do "barbante" está presente quando apenas um
imagem vascular - especialmente para a documentação de
"fio" ("barbante") de fluxo anterograde é detectado na
oclusão/estenose carotídea antes de intervenção endovas-
ASD ou no Doppler colorido (Fig. 10-15). O sinal do bar
cular ou cirúrgica ela não é mais utilizada como o pro
bante-também chamado de pseudo-oclusão carotídea ou
cedimento inicial de rastreamento. As vezes, a ASD é rea
lizada para a avaliação do padrão da circulação colateral. pré-oclusão - representa mais de 95% de estenose. Esses
A ulceração da piaea é vista na ASD como irre pacientes estão em risco especial para AVC em curto pra
zo. Examinar a fase venosa tardia da ASD é crucial para
gularidade da superfície do lúmen do vaso opacificado documentar patência arterial sutil, já que isso determinará
(Fig. 10-15). A sensibilidade relatada para detecção da se endarterectomia de emergência ou colocação de stent
ulceração da placa na ASD varia entre 50 a 85%. Irregu são opções para o tratamento.
laridades de superfície na ASD estão associadas com um
risco aumentado de AVC e de todos os graus de estenose. Ultrassonografia. a imagem por US inclui US em escala
A estenose carotídea pode ser identificada e calculada de cinzas, co/or Doppler com imagens de velocidade, po
na ASD. Pelo menos duas ou mais incidências são necessá wer Doppler e análise do Doppler espectral (Fig. 10-18).
rias para definir a estenose máxima (Fig. 10-12). O cálculo Ultrassonografia em escala de cinzas. Na US em es
do NASCET para o percentual de estenose é o diâmetro do cala de cinzas, uma placa gordurosa ou "mole" aparece
lúmen normal menos o mínimo diâmetro do lúmen residu como uma hipoecogenicidade, enquanto uma placa fibrosa
al, dividido pelo diâmetro do lúmen normal multiplicado é levemente ecogênica. Uma placa calcificada é altamente
por 100 (Fig. 10-8). Um lúmen residual de 2 mm com um ecogênica, com sombra posterior. Uma placa ulcerada apa
diâmetro de 10 mm representa 80% de estenose. rece como uma cripta focai com bordos agudos ou penden-
256 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
PA R Â M E T R O S D E V E L O C I D A D E
repouso.
• VPS 125 a 229 cm/s; VDF 40 a 99 cm/s; RVS 2,0 a 3,9
Na estenose de 70% ou mais
• VPS superior a 230 cm/s; VDF superior a 100 cm/s;
RVS de 4,0 ou mais
Artérias vertebrais
A DVA nas artérias vertebrais extracranianas correspon
de a até 20% de todos os AVCs isquêmicos da circulação
posterior. Já que o risco da cateterizaçào seletiva da AV
na presença de vasculopatia é de 0,5 a 4%, o uso de exa
mes de imagem não invasivos como a ATC e a ARM é
preferido. Contudo, o curso tortuoso das AVs, a grande
variabilidade do calibre normal, a cobertura óssea espessa
e a presença de veias adjacentes criam desafios especiais
ao radiologista. A AV direita é visualizada adequadamente
I . . , . . . r B desde sua origem até a confluência basilar em apenas cer
-4 -<3 -2
orifício de origem daAV(Fig. 10-19). Estenose e calcitl- Exames não invasivos para roubo da artéria subclávia
cações sào os achados mais comuns. Tanto a ATC como a podem ser problemáticos. Como as bandas de saturação
ARM. ultrassonografia com color Doppler ou a ASD po são aplicadas no TOF 2D da ARM, a direção do fiuxo
dem dar o diagnóstico por imagem. reverso na artéria vertebral pode simular uma oclusão. A
Um tipo especial de patologia da AV é o chamado ARM com técnica de TOF padrão pode não ser adequa
roubo da subclávia. Nele, a AS ou o tronco braquioce- da para diferenciar fluxo reverso de cuiseníe, então, con
fálico estão estenóticos ou ocluídos proximalmente a ori firmação e quantificação com imagens adicionais, tanto
gem da artéria vertebral. O fluxo reverso na AV afetada ARM com técnicas de bohis-timeci on phase-contrast com
ocorre porque sangue é recrutado (i.e., "roubado") da ar codificação de direção quanto US com color Doppler ou
téria vertebral contralateral, cruzando a junção da artéria ASD são necessários (Fig. 10-20).
basilar (AB) e seguindo de maneira retrógrada e caudal A ASD demonstra uma AV eslenótica ou ociuída com
pela AV em direção à artéria subclávia para suprir o om enchimento colateral pela AV contralateral por meio da
bro e braço distais à eslenose/oclusão. junção da AB e/ou múltiplos ramos inomidados aumenta
O roubo da artéria subclávia pode ser completo ou dos de calibre (Fig. 10-21).
parcial, sintomático ou oculto e freqüentemente é um Com base nas modificações heinodinâmicas na AV, três
achado incidental. Os pacientes sintomáticos apresentam- graus de roubo subclávio são conhecidos na US. No roubo
-se com sintomas de circulação posterior secundários à in oculto, os sintomas estão ausentes, as modificações hemo-
suficiência vertebrobasilar e à isquemia de tronco encefá- dinâmicas são mínimas e o único achado pode ser a desace
lico. Atordoamento episódico, diplopia, disartria. náuseas leração sistólica. No roubo parcial ou moderado, o espectro
e alterações visuais são tipicas e se agravam com o exerci- do power Doppler mostra fluxo alternante ou parcialmente
cio do braço e ombro afetados. Significativa diferença de reverso. No roubo completo, o fluxo na AV está completa
pressão sangüínea (superior a 20 nimHg) entre os braços mente reverso. Os testes dinâmicos com exercícios são reco
costuma ser associada com roubo subclávio sintomático. mendados para confirmação e considerações de tratamento.
J
de com DVA sistêmica e história
de bypass cardíaco vivenciou um
episódio de atordoamento. inci
dência anterior esquerda oblíqua
do arco aórtico em ASO demons
tra uma grande calcificação na
origem da AS direita [S com
mínima quantidade de contraste
na AS distai [^. A artéria verte
bral direita não está opacificada.
A AV esquerda está aumentada e
tortuosa
10-21B Angiograma seletivo
da AS esquerda demonstra a AV
proeminente ramos muscu
lares aumentados de calibre
e colaterais para a distribuição
vascular da AS direita.
Diagnóstico diferencial
Os principais diagnósticos diferenciais da DVA incluem
dissecção, aneurisma dissecante, vasospasmo e displasia
ílbromuscular. Todos poupam o bulbo carotídeo.
A dissecção (tanto traumática quanto espontânea)
é mais comum em pacientes jovens ou de meia-idade e
ocorre no terço médio dos vasos extracranianos. A dissec
ção extracraniana em geral termina na abertura exocrania-
na do canal carotídeo. A maioria é lisa ou exibe mínimas
irregularidades, enquanto calciflcaçôes ou ulcerações -
comuns nas placas carolídeas - estão ausentes.
Estreitamento do segmento médio do vaso com uma
pequena "bolsa" semelhante a uma massa, que se soma
exteriormente ao lúmen, é típico de um aneurisma disse
cante. O vasospasmo é mais comum nos vasos intracra
nianos. Quando envolve a carótida cervical ou as artérias
vertebrais, costuma poupar os segmentos proximais. grau da ACI cervical IE? ACI pequena distai IS (por
A displasia fibromuscuiar (DFM) poupa o bulbo caro liuxo reduzido), estenose concomitante ES.
tídeo e afeta o aspecto médio e distai da carótida extracra
niana e artérias vertebrais. O aspecto de "colar de contas
de rosário" é típico. Um longo segmento de estreitamento
tubular é menos comum e pode refletir a coexistência de
dissecção.
Outras afecções que se assemelham menos à DVA
incluem a hipoplasia congênita e vasos de pequeno cali
bre secundários ao fluxo distai reduzido. A hipoplasia da
carótida interna congênita, demonstrando um pequeno
canal carotídeo ósseo ipsilateral, é rara. Nela, a AV fre
qüentemente finaliza na artéria cerebelar posteroinferior
(ACPI) e a AV contralateral costuma ser grande. Se as
ACPs apresentarem a origem fetal das ACIs e os segmen
tos PI das ACPs estiverem ausentes, todo o sistema verte
brobasilar pode parecer relativamente hipoplásico.
O fluxo distai diminuído ocorre quando a pressão in
tracraniana toma-se marcadamente elevada ou se houver
10-27B Imagem intracraniana demonstra estenose
vasospasmo grave nos vasos intracranianos. O lúmen do de alto grau da ACI cavernosa Si juntamente com
vaso cervical afetado diminui em proporção ao escoamen ociusão quase completa da ACI supraciinóidea iS.
to reduzido.
Aterosclerose intracraniana
Uma das manifestações mais sérias e debilitantes da DVA
é o AVC. A maioria dos AVCs agudos isquêmicos são
tromboembóiicos, mais freqüentemente secundários a
fontes cardíacas ou a placas na ACI cervical.
Muitos clínicos focam na doença arterial carotídea
extracraniana, considerando a DVA intracraniana (DVAI)
uma causa infrequente de AVC. Contudo, estudos recentes
demonstraram que a DVA intracraniana corresponde a 5
a 10% de todos os AVCs isquêmicos. Quase metade dos
pacientes com infarto cerebral fatal tem pelo menos uma
placa intracraniana associada com estenose luminal na ne-
cropsia (Fig. 10-22).
Com a expansão de uma variedade de opções de trata
mento disponíveis, o delineamento preciso da DVA intra
10-28 (Esquerda) ASD AP, (direita) e lateral revelam
craniana é imperativo para o tratamento individualizado extensas modificações por DVA na artéria vertebrobasi
de cada paciente. Nesta seção, revisaremos brevemente as lar ES ACP proximal direita e ACPI ES.
260 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
Os aneurismas fusiformes (AFs) ateroscleróticos são Aspectos clínicos. De maneira global, os pacientes sintomá
alargamentos focais que são superimpostos a uma artéria ticos com estenose moderada a grave (i.e., 70 a 99%) na
Vasculopatia 261
circulação intracraniana têm 25% de risco para recorrên Diagnóstico diferencial. Os principais diagnósticos dife
cia do AVC em dois anos. renciais da DVA intracraniana são vasculite, vasospas-
O curso clinico varia significativamente com a sublo- mo e dissecção. A vasculite ocorre em todas as idades,
calizaçào da estenose. A média global vaso-específíca de mas é mais comum em pacientes de meia-idade. A vas
mortalidade anual é 6,8% para estenose da artéria cerebral culite e a DVA têm aspecto praticamente idêntico na an
média, 11,6% para estenose vertebrobasilar e 12,4% para giografia. Lembre-se: a causa mais comum de padrão do
estenose intracraniana daACI. tipo vasculite em um paciente idoso não é vasculite, e,
A DVAÍ sintomática geralmente tem um prognóstico sim, DVA.
pobre, já que o tratamento conservador (medicamentoso) O vasospasmo poupa a ACl cavernosa e costuma
costuma falhar. As taxas de recorrência do AVC em pacien ser mais difuso que a DVA. Uma história de trauma, he
tes com DVAÍ tratados com varfarina ou ácido acetilsali- morragia subaracnóidea ou abuso de drogas (simpalico-
cílico são altas. Entre os pacientes com DVAÍ sintomática miméticos) é comum. A dissecção intracraniana - es
que não obtiveram sucesso com a terapia antitrombótica, pecialmente na circulação anterior - é rara e ocorre em
as taxas de AVC subsequentes ou de morte por causa vas pacientes mais Jovens.
cular são ainda mais altas, acima de 45% ao ano.
A disponibilidade de técnicas endovasculares como Arteríoloesderose
angioplastia intracraniana abriram novas portas para o tra
tamento da DVAÍ. Uma variedade de balões expansíveis, Terminologia
sfenis recobertos e autoexpansíveis também são opções de A arteríoloesderose também é conhecida como doença
tratamento atualmente. de pequenos vasos ou doença cerebral microvascular. A
arteríoloesderose é uma microangiopatia que em geral
Imagem. Os achados de imagem geralmente lembram afeta artérias pequenas (i.e., arteríolas), especialmente na
aqueles da DVA extracraniana. CalciflcaçÕes murais são substância branca (SB) cerebral profunda e subcortical.
c o m u n s e i d e n t i fi c a d a s n o e x a m e s d e T C s e m c o n t r a s O termo leucoaraiose é, por vezes, utilizado por neu
te. CalciflcaçÕes nos sifoes carotideos (ACl cavernosa
rologistas para designar as lesões de SB confluentes as
e supraclinóidea) estão relacionadas à carga global da sociadas à arteríoloesderose, ou seja, doença vascular de
DVA. Os padrões variam de focos puntiformes espar
pequenos vasos. Esse é um dos marcadores visíveis mais
sos a depósitos lineares grosseiros e contínuos ("trilho grosseiros do que a idade, e os fatores de risco vasculares
de trem"). O grau de calcificações nos sifoes carotideos afetam o cérebro.
se correlaciona com a prevalência de infartos lacunares,
mas não está associado com grandes AVCs tromboembó- Etiologia e patologia
licos territoriais.
Idade, hipertensão (HTN) crônica, hipercolesterolemia e
A angiografia demonstra melhor a DVAI (Figs.
diabetes melito (DM) são os fatores de risco mais comuns
10-27 e 10-28). Embora a ATC demonstre acuradamente
que predispõem à doença microvascular cerebral. Fatores
mais de 50% das estenoses dos grandes segmentos ar
de risco genéticos incluem o genótipo AP0E*4.
teriais intracranianos (ACl cavernosa e supraclinóidea e As características da patologia macroscópica da ar
ACM proximal), graus menores de estenose e DVA em
teríoloesderose cerebral incluem perda de volume ge
ramos menores secundários ou terciários são melhor de
neralizada, múltiplos infartos lacunares e espongiose da
monstrados com a ASD. Comparando à ATC e à ASD, a
substância branca profunda. A estenose ou oclusão de pe
ARM tem menor acurácia para demonstrar a aterosclero-
quenos vasos por arterioloesclerose e lipo-hialinose pro
se intracraniana - especialmente em ramos de segunda
vavelmente resulta em microinfartos da SB.
ou terceira ordem ou quando o lúmen residual do vaso for A correlação microscópica das lesões da substância
menor que 1 milímetro.
branca periventricular identiUcadas nos estudos de ima
Estenoses solitárias ou mullilbcais alternadas a áreas
de dilatação pós-estenótica são típicas da DVAÍ (Fig. 10-
gem tem uma gama de achados. Degcneração da mielina
(mielina "empalidecida"). perda axonal com aumento do
29). Quando a aterosclerose afeta ramos distais dos vasos
líquido extracelular, lipotlbro-hialinose com oclusão de
intracranianos principais, sua aparência pode simular a
pequenos vasos, gliose, espongiose e alargamento dos
das vasculites (Fig. 10-30).
espaços perivasculares podem estar presentes em graus
A imagem da circulação intracraniana em pacien variáveis.
tes com estenose extracraniana hemodinamicamente
significativa é essencial. Uma estenose concominante Aspectos clínicos
(tandem) - definida como uma lesão com estenose in- As manifestações clínicas da doença vascular cerebral de
íracraniana mais de 50% na mesma distribuição vascular
distai à estenose extracraniana primária - está presente pequenos vasos variam largamente, observando-se desde
pacientes assintomáticos ou com déficit cognitivo leve
em 20% dos pacientes (Fig. 10-27). As taxas de AVCs
(DCL) até demência grave. Embora a correlação entre o
cumulativos e/ou mortes são mais altas do que se a este
grau das modificações da SB nos estudos de imagem e o
nose fosse única.
262 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
10-31A Aquisição axial FLAIR em um paciente com demência, hiper 10-31B Aquisição em T2* GRE do mesmo paciente mostra hipointen-
tensão crônica e doença vascular de pequenos vasos demonstra redução sidades multifocais características de microssangramenlos e hemor
voiumétrica, hiperinlensidades contiuentes na SB B e infartos lacuna- ragia hipertensiva antiga nos núcleos da base [^.
res múltiplos'S.
desempenho cognitivo seja pobre, a gravidade da doença envelhecimento arterial e podem servir como marcadores
de pequenos vasos na necropsia correlaciona-se de forma substitutos para o déficit vascular cognitivo.
significativa com o grau de prejuízo cognitivo.
Diagnóstico diferencial
Imagem O diagnóstico diferencial mais importante é o de hipcrin-
Os estudos de imagem refletem a rarefaçao da substân tensidades relacionadas ao envelhecimento normal. Há
cia branca e espongiose associada com graus variáveis de uma significativa sobreposição entre os achados de ima
perda voiumétrica generalizada. gem de indivíduos cognitivamente normais e com DCL.
TC. Hipodensidades esparsas e/ou confluentes na SB que Lesões esparsas na SB periventricular são quase univer
sais após os 65 anos. Entre 2 a 6% dos pacientes idosos
poupam o córtex sào achados típicos na TC sem contras
te. As lesões periventriculares possuem uma ampla base apresentam lesões de SB extensas/confluentes. Infartos
confluente adjacente à superfície ventricular e sào proe lacunares "silenciosos" são vistos em um terço dos pa
minentes em torno do átrio dos ventrículos laterais. As cientes idosos assintomáticos e saudáveis.
lesões sào quase sempre desprovidas de realce na TC com Outra consideração significativa no diagnóstico di
contraste. ferencial inclui os espaços perivasculares (EPVs) alar
gados (Virchow-Robin). EPVs proeminentes podem ser
RM. Hipointensidades da substância branca periven vistos em pacientes de todas as idades, em praticamente
tricular e subcortical esparsas ou confluentes são vistas
todas as localizações, embora eles aumentem com o pas
nas ponderações em TI. As lesões são hiperintensas nas
sar da idade. O local mais comum é o terço inferior dos
ponderações em T2 e são especialmente proeminentes no núcleos da base, em tomo da comissura anterior. Os EPVs
FLAIR (Fig. 10-31 A). As seqüências em T2* (GRE, SWl)
contêm fluido intersticial, mas se comportam como o lí
com freqüência demonstram hipointensidades multifocais
com artefatos de susceptibilidade magnética, em especial quido cerebrospinal (LCS), ou seja, o sinal suprime com
na presença de hipertensão crônica (Fig. 10-31B). pletamente no FLAIR. Hiperintensidades perilesionais
são vistas em 25% dos casos.
A arterioloesclerose crônica não realça nas aquisições
A doença desmielinizante causa lesões ovoides ou
em TI pós-contraste e não demonstra restrição à difusão.
triangulares periventriculares que costumam envolver a
Ultrassonografia. Espessamento carotídeo médio-intimal interface calososseptal. a qual raramente está envolvida
e rigidez arterial estão despontando como marcadores do pela arterioloesclerose.
Vasculopatia 263
lU
10-32 Ilustração da bííurcação carotídea demonstra os principais 10-33 ASD em AP mostra DFM do tipo 1 em ambas as ACIs, poupan
subtipos da DFM. O tipo 1 aparece como áreas que alternam constrição e do os buibos ÍZS\, "colar de contas" nos segmentos cervicais médios
dilatação B o tipo 2 como uma estenose tubular B e o tipo 3 como pequeno aneurisma sacular não roto [S na ACI supraclinóidea
rugosidades focais ± diverticulo B3. direita.
\ Imagem
\
10-36 (E) ASO da carótida interna (0) e das artérias
Considerações técnicas. No passado, a ASD foi considera
da o padrão-ouro para o diagnóstico de DFM. Contudo,
a AT C d e f i n e a c u r a d a m e n t e a D F M n a s a r t é r i a s c e r v i -
vertebrais com o tipo 3 da DFM demonstra recessos
semelhantes a divertículos SI e aneurismas seculares cocefálicas e também permite a visualização dos vasos
intracranianos para detectar a presença de aneurismas
Vasculopatia 265
associados. A ARM com TOF é problemática devido a das") (Fig. 10-37). Um aneurisma dissecante é uma dis
artefatos causados pela movimentação do paciente, bem secção caracterizada por uma invaginação que se estende
como artefatos no plano de fluxo e susceptibilidades dos além da parede do vaso. A maioria ocorre com dissecções
gradientes, que podem simular os aspectos da DFM. Ul- de subadventicia e é mais acuradamente nomeada como
trassonografla duplex e o color Doppler podem demons pseudoaneurismas (i.e., eles não possuem todos os com
trar a DFM apenas quando a lesão estiver localizada pro- ponentes parietais do vaso normal).
ximalmente.
Como a doença de múltiplos sistemas é comum, pa Etlologia
cientes com diagnóstico recente de DFM carotídea e/ou A DAC pode ser extra ou intracraniana.
vertebral também devem ter as suas artérias renais exa Quase 60% das dissecções extracranianas são "es
minadas. pontâneas", ou seja, não traumáticas. O restante resulta
de lesão penetrante ou contusa. As dissecções não trau
Imagem. Os achados de imagem variam com o siibtipo da
máticas ocorrem depois de uma vasculopatia subjacente,
DFM. Entre 80 a 90% dos pacientes demonstram achados
como a DFM, síndrome de Marfan ou outras doenças do
típicos para fibrodisplasia da média {DFM tipo 1). Um tecido conectivo (p. ex., Ehlers-Danlos tipo 4). Condições
aspecto irregular "rugoso" ou em "colar de contas" com
áreas allernantes de constrição e dilataçào que possuem predisponentes menos comuns incluem hipertensão, enxa
diâmetro luminal maior que o original é a apresentação queca, atividade fisica vigorosa, hiper-homocisteinemia e
infecçào faríngea recente.
típica (Figs. 10-33, 10-34 e 10-35). No tipo 2 (fibrodis As dissecções inlracranianas costumam ser traumá
plasia intimai), um longo segmento de estreitamento Hso ticas. As dissecções iatrogênicas (secundárias a proce
e tubular está presente. No tipo 3 (adventício), recessos
dimento endovascular) estão se tomando cada vez mais
assimétricos, semelhantes a divertículos em um dos lados c o m u n s .
da artéria estão presentes (Fig. 10-36).
Todos os três subtipos de DFM poupam a bifurca-
Patologia
ção carotídea e a origem dos grandes vasos, envolvendo
os segmentos médios, sendo mais comuns no nível de Localização. As dissecções ocorrem no segmento mais mó
C1-C2, Complicações da DFM incluem dissecção, aneu-
vel de um vaso, com freqüência iniciando ou terminando
onde o vaso sofre uma transição de uma posição relati
rismas intracranianos com ou sem hemorragia subarac-
nóidea (Fig. 10-33 e 10-36) e fistulas arteriovenosas. vamente livre para uma posição fixa, devido a um canal
ósseo que o envolve. A ACl extracraniana é o local mais
comum na cabeça e no pescoço. A dissecção extracrania
Diagnóstico diferencial na da ACI poupa o bulbo carotídeo e costuma estender-
o principal diagnóstico diferencial da DFM é a atcros-
-se até a base do crânio; apenas às vezes além dela (Fig.
clerose. A DFM é mais comum em mulheres jovens, um
10-38). As dissecções vertebrais são mais comuns entre a
grupo que geralmente é de baixo risco para DVA. A DFM base do crânio e C1 e entre C1 e C2.
envolve as porções média e distai das artérias afetadas,
Dissecções intracranianas são muito raras, correspon
não suas origens.
dendo a apenas 1 a 2% de todas as dissecções cervico-
O estreitamento "tubular" liso, que vai reduzindo
cefálicas. O local mais comum é a artéria vertebral. Dis
gradualmente da DFM intimai pode ser difícil de distin secções na circulação anterior são ainda menos comuns.
guir da dissecção espontânea, também ocorre como uma Elas quase sempre envolvem a ACI supraclinóidea, com
complicação da DFM. Outras vasculopatias não ateros- 01! sem extensão para a ACM proximal.
cleróticas. como arterite de Takayasu e arterite de células
gigantes podem simulara DFM tubular (i.e., intimai). Tamanho e número. As dissecções podem ser limitadas
a uma ruptura intimai focai e a um pequeno hematoma
Dissecção subintimal. A maioria é solitária, acometendo um longo
A dissecção arterial craniocervical (DAC) é uma causa segmento que se estende por vários centímetros. Aproxi
madamente 20% envolvem dois ou mais vasos. Dissec
incomum, mas importante, de AVC isquêmico em adul
tos jovens e de meia-idade. A terapia instituída no tempo ções múltiplas são bem mais comuns se uma vasculopatia
subjacente, como Marfan, Ehlers-Danlos tipo 4 ou DFM
adequado pode reduzir o risco imediato de AVC e atenuar estiver presente.
as seqüelas em longo prazo das dissecções craniocerviais,
portanto, o diagnóstico por imagem é crucial no manejo Patologia macroscópica. Uma ruptura intimai permite dis
do paciente. secção de sangue para o interior da parede do vaso, re
sultando em um hematoma da média ou subendotelial. O
Terminologia hematoma estreita a luz do vaso, podendo ocluí-la (Fig.
Uma dissecção é uma laceraçâo na parede do vaso que 10-39). Às vezes dissecções - especialmente na artéria
permite a entrada do sangue em seu interior, com poste vertebral - estendem-se pela adventícia e apresentam-se
rior delaminação das suas camadas parietais ("disseca com hemorragia subaracnóidea.
266 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
Aspectos clínicos
-e: (S^ Epidemiologia e ASPECTOS DEMOGRÁFICOS. A incidência anual de
dissecção da ACl é de 2,5 a 3 casos por 100.000. A in
cidência de dissecção da AV é aproximadamente metade
daquela da ACl.
Embora dissecções ocorram em todas as idades, a
maioria é encontrada em adultos jovens ou de meia-idade.
A idade de pico é 40 anos. As dissecções carotídeas são
Jr
mais comuns em homens, enquanto as vertebrais são mais
comuns em mulheres.
A DAC corresponde a aproximadamente 2% de to
dos os AV Cs isquêmicos. Em pacientes jovens e de meia-
-idade sem ou com poucos fatores de risco para DVA, as
dissecções podem ser as responsáveis por 10 a 25% de
todos os AVCs isquêmicos.
10-37 Oissecção extracraniana da ACl revela ruplura
intimai ES e trombo subintimal BI comprimindo o Apresentação. Cervicalgia e cefaleia são os sintomas
iúmen residual ES. O bulbo está poupado. mais comuns. Paralisia de um ou mais nervos cranianos,
incluindo síndrome de Horner pós-gangliônica, pode
ocorrer. Zumbido pulsátil é uma apresentação menos
c o m u m .
10-38 Dissecção extracraniana da ACl com extenso Opções de tratamento. A anticoagulação é o tratamento re
trombo intramural B. A dissecção se inicia ES distal- comendado para a dissecção arterial extracraniana. Seis
mente ao bulbo. (Cortesia de R. Hewlett, MD.) meses de terapia antiplaquetária em pacientes assintomá-
ticos com achados de imagem estáveis é o comum. Hepa-
rina endovenosa com varfarina oral é uma opção, assim
como o stent endovascuiar. O tratamento da DAC intra
craniana é controverso.
Imagem
Procedimentos que opacitlcam ambos os lúmens (p, ex.,
ATC, ASD convencional, ARM) e técnicas seccionais
que visualizem a própria parede do vaso (p. ex., TC, RM)
devem ser utilizados para delinear a total extensão da
doença.
Características gerais. As dissecções podem se apresentar
como estenose, oclusão ou dilatação aneurismática.
Achados na TC. A TC sem contraste pode revelar um espes-
samento em formato de crescente causado por hematoma
10-39 Oois cortes axiais demonstrando dissecção de parede. Aproximadamente 20% das dissecções de arté
carotídea com hematoma subintimal ^3 e compressão ria vertebral causam hemorragia subaracnóidea na fossa
do Iúmen residual ES. (Cortesia de R. Hewlett, MD.) posterior.
Vasculopatia 267
10-40 Ponderação em Ti no plano axial demonslra os achados clás 10-41 ASO em dois casos de dissecçâo da ACI cervical. (Esquerda)
sicos de dissecçâo carotídea extracraniana com hematoma subinlimal Clássico estreitamento em "rabo de rato" da carótida média com
subagudo. Observe a hiperintensidade em forma de crescente E3 em preservação do bulbo. (Direita) Dissecçâo da ACI superior que se
torno do flow void estreitado B da ACI média cervical. finaliza na abertura exocraniana do canal ósseo carotídeo [r¥\.
A TC cotii contraste pode dctnonstrar estreitamento de chama, "rabo de rato" (Fig. 10-41). Ocasionalmente,
do vaso dissecado com ou sem dilataçao aneurismática. uma sutil laceraçâo ou flap intimai, um lúmen duplo, es
treitamento ou oclusão do lúmen verdadeiro ou um pseu-
Achados na RM. A ponderação em TI com saturação de doaneurisma podem ser identificados. Se a dissecçâo for
gordura é uma das melhores seqüências para demonstrar a subadventícia e não estreitar a luz do vaso, a ASD pode
DAC. Um crescente hiperintenso de sangue subagudo ad
parecer normal; o hematoma paravascular deve ser detec
jacente a um Jlow vo/'í/estreitado em um ii!imen patente é tado nos exames de imagem seccionais.
típico (Fig. 10-40). A ponderação em T2 pode demonstrar As dissecções intracranianas são mais difíceis de
a delaminação das camadas do trombo com artefatos de
diagnosticar que seus correspondentes extracranianos
susceptibilidade magnética no T2* (Fig. 10-42).
(Figs. 10-43 e 10-44). Elas são significativamente meno
Pelo menos metade de todos os pacientes com dis res e seus achados de imagem são sutis.
secçâo craniocervicaí possui infartos cerebrais ou cere-
belares, melhor demonstrados na ponderação em difusão. Diagnóstico diferencial
Mijltiplos focos ipsilaterais de restrição à difusão são o principal diagnóstico diferencial da dissecçâo arterial
achados típicos.
extracraniana é a displasia fibromuscular tipo 2 (inti
Angíografía. As dissecções da ACI extracraniana costu mai). Uma complicação comum da DFM é a dissecçâo,
mam poupar o bulbo carotídeo, iniciando 2 a 3 centíme portanto as duas condições estão interligadas e podem ser
tros distai à bifurcação e terminando na abertura exocra indistinguíveis com base apenas nos estudos de imagem.
niana do canal carotídeo (Fig. 10-41). As dissecções da Embora múltiplas dissecções possam ocorrer, elas são
artéria vertebral são mais comuns em torno da base do muito menos comuns que as DFMs multifocais: a avalia
crânio e no segmento superior da coluna cervical. ção cuidadosa dos outros vasos cervicocefálicos buscando
A AT C d e m o n s t r a u m l ú m e n e s t r e i t a d o e x c e n t r i c a - por modificações típicas da DFM pode ser útil.
mente rodeado por um espessamento mural com formato A aterosclerose é mais comum que a dissecçâo em pa
em crescente. Um flap pode, às vezes, ser identificado. cientes mais velhos. A DVA envolve a origem dos grandes
Pseudoaneurismas são comuns. Um duplo lúmen opacifi- vasos e o bulbo carotídeo, lugares que quase sempre são
cado (lúmen "verdadeiro" mais "falso") ocorre em menos poupados na dissecçâo. Corno a DVA é uma doença sistê
de 10% dos casos. mica, múltiplos vasos em múltiplas distribuições vasculares
O achado mais comum na ASD é um estreitamento são afetados. A dissecçâo, por outro lado, é solitária, a me
progressivo liso ou levemente irregular cervical médio. A nos que uma vasculopatia subjacente como a síndrome de
DAC com oclusão demonstra uma finalização em formato Marfan ou a de Ehlers-Danlos esteja presente (Fig. 10-42).
268 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
10-42A Ponderação em TI
de uma mulher de 28 anos com
síndrome de Marfan e com histó
ria de quatro dias de cervicalgia
demonstra dissecçao de ambas
as artérias carótidas internas
B e de ambas as vertebrais
Bi. Trombos murais rodeiam o
minúsculo flow void residura! em
todos os quatro vasos.
10-42B Aquisição 12'GRE
do mesmo paciente demonstra
que os trombos murais em torno
das ACIs cervicais distais causam
artefatos de susceptibiiidade
magnética B.
10-42C Ponderação em TI
em corte mais cranial através
da base do crânio mostra que as
dissecções de ambas as ACIs se
estedem para os canais carotíde-
os petrosos BS.
10-42D (E) ARM coronal de
monstra as dissecções de todos
os quatro vasos cervicocefálicos
B, incluindo os segmentos
petrosos intracranianos das
ACIs IS. (0) Incidência oblfqua
mostra que a dissecção da ACI
esquerda B poupa o bulbo
carotídeo S. Observe o pseu-
doaneurísma da carótida cervi
cal B.
A trombose arterial sem uma dissecçào subjacente detalhes no Capítulo 6. O vasospasmo e as constricções
pode causar um estreitamento progressivo em "rabo de arteriais similares ao vasospasmo podem ocorrer na au
rato" ou oclusão. Os achados de imagem de trombose iso sência de HSAn, trauma ou infecçào. Duas condições -
lada sào difíceis de distinguir daqueles da dissecçào com síndrome da vasoconstriçao cerebral reversível e angiopa-
plicada por uma trombose secundária superimposta. tia pós-parto - são síndromes de vasoconstriçao cerebral
O vusospasmo ou fluxo distai reduzido podem causar menos conhecidas que podem produzir achados de ima
estreitamento difuso dos vasos extracranianos. O vasos- gem idênticos.
pasmo induzido por cateter durante a angiografía costuma A síndrome da vasoconstriçao cerebral reversível
resolver-se rapidamente. (SVCR, também conhecida como síndrome de Call-Fle-
O vasospasmo e a aterosclerose sao as principais ming) está associada com hemorragia subaracnóidea não
considerações no diagnóstico diferencial das dissecções aneurismática, gravidez e exposição a certas drogas.
intracranianas. Ambas afetam múltiplos vasos em di O paciente típico é uma mulher de meia-idade com
versas distribuições vasculares, enquanto a DAC qua cefaleias recorrentes, súbitas e graves ("em trovoada"). A
se sempre está limitada á ACI supraclinóidea e à ACM SVCR freqüentemente causa hemorragia subaracnóidea
proximal. de convexidade e pode ser complicada por AVC isquêmi-
co. O diagnóstico requer a demonstração de constricções
Síndromes de vasoconstriçõo arteriais multifocais segmentates que se resolvem e, en
O vasospasmo com focos intracranianos multifocais de tão, recorrem (Flg. 10-45). O principal diagnóstico dife
constricção e dilataçào arterial é uma complicação comum rencial da SVCR é o vasospasmo relacionado á HSAn e à
e bem conhecida da hemorragia subaracnóidea aneuris- vasculite do sistema nervoso central (SNC).
mática (HSAn) e é a causa mais comum de vasoconstriçao A angíopatia cerebral pós-parto (ACPP) é uma rara,
grave. O vasospasmo induzido por HSAn é discutido em porém importante, complicação neurológica da gravidez.
Etiologia
A vasculite pode ser causada por infecçào, doenças colá-
geno-vasculares, depósitos de complexos imunes, abuso
de drogas e até mesmo neoplasias (p. ex., granuiomato-
se linfomatoide). As características patológicas gerais
de muitas vasculites são bastante similares (Fig. 10-47).
Como resultado, o diagnóstico definitivo depende pri
10-47 Ilustração mostra vasculite SI com múltiplos
mariamente das caracteristicas hematológicas e imuno- iníartos multifocais e hemorragias esparsas nos
-histoquímicas. Outros marcadores clínicos, como glome- núcleos da base e na junção das substâncias branca e
rulonefrites e inflamação granulomatosa das vias aéreas, cinzenta.
Patologia
Embora as vasculites sejam um grupo heterogêneo de
alterações do SNC, elas são caracterizadas histopatolo-
gicamente por duas características cardinais: inflamação
e necrose na parede dos vasos sangüíneos (Fig. 10-48).
Infartos em múltiplas distribuições vasculares são comuns
(Fig. 10-49).
Imagem
Como a imagem da maioria das vasculites é similar, a des
peito da etiologia, esta discussão focará nas características
gerais da vasculite quando afeta o cérebro.
Achados na TC. Os exames de TC sem contraste são rela 10-48 Fotomicrograíia demonstra espessamenlo da
tivamente insensíveis e normais. Em poucos casos, a pri parede do vaso com inflamação e necrose, as caracterís
meira manifestação de imagem da vasculite é a hemorra ticas cardinais da vasculite. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
Angiografia. AASD é mais sensível quea ATC ou a ARM. a angíopatía pós-parto podem ser indistinguíveis da
Os achados incluem estenoses, irregularidades e oclu- vasculite.
sões vasculares multifocals (Fig. 10-50C). A formação
de pseudoaneurismas e oclusões de ramos podem ocorrer, Outras macro e mkrovasculopatias
mas são menos comuns. Embora o circulo de Willis e os Um largo espectro de doenças não ateroscleróticas e não
segmentos horizontais da ACA, ACM e ACP possam ser inflamatórias tanto herdadas quanto adquiridas pode en
afetados, os ramos distais destes vasos estão mais envol volver a vascularizaçào intracraniana. Nesta seção, revi
vidos (Fig. 10-50D). saremos brevemente algumas outras vasculopatias diver
sas que afetam os vasos cerebrais de grande e pequeno
Diagnóstico diferencial calibre.
O principal diagnóstico diferencial da vasculite é a
doença vascular aterosclerótica (DVA). A DVA costuma Anemia falciforme
ocorrer em pacientes com mais idade e envolve as grandes A anemia falciforme (AF) é uma das alterações monoge-
artérias intracranianas (p. ex., sifoes carotídeos, artérias néticas humanas melhor caracterizadas e é a causa mais
vertebrais e basilares). Contudo, a DVA pode afetar ra comum mundial de AVC na infância. Crianças afro-ame-
mos secundários e terciários, simulando vasculite como
ricanas e afro-brasileiras estão entre as mais afetadas fora
conseqüência. do continente africano.
O vasospasmo também pode simular vasculite.
Entretanto, o vasospasmo afeta mais os vasos cerebrais Etiologia e patologia, a AF é uma anemia hemolitica crôni
principais. Uma história de trauma ou de hemorragia su- ca, herdada autossòmica recessiva, causada por uma mu
baracnóidea é comum, mas nem sempre está presente. tação pontual no grupo do gene da P-globina. A formação
A síndrome da vasoconstríção cerebral reversível e da Hgb S induz uma mudança na morfologia ("foice") e
rigidez dos glóbulos vermelhos, que se estagnam e dani Perda volumétrica generalizada com alargamento de
ficam o endotélio dos pequenos vasos. Como resultado, sulcos e ventrículos associado a múltiplas hipodensidades
ocorre fibrose progressiva, estreitamento e finalmente no córtex e na substância branca cerebral são comuns nos
oclusão. A microvasculatura cerebral assume um estado exames de TC sem contraste. A TC com contraste pode
pró-coagulante inflamatório, que provavelmente contri mostrar focos puntiformes de realce nos núcleos da base e
bui para a alta incidência de AVC isquêmico nos pacientes na substância branca profunda por colaterais aumentadas
c o m A F. do tipo "moya-moya".
Os estudos por RM freqüentemente demonstram hi-
Aspectos clínicos. A complicação mais comum no SNC da
AF é o AVC. Outras manifestações neurológicas da AF pcrintensidades em T2/FLAIR subcorticais e na substân
cia branca ao longo das zonas de transição profundas (Fig.
incluem declínio da função cognitiva ("infartos silencio
10-51B), Um padrão do tipo moya-moya com estenose
sos") e ccfaleia. A maioria dos pacientes sofre eventos da ACI supraclinóidea pode se desenvolver na AF grave
isquêmicos de repetição com piora motora e déficits in
telectuais.
(Fig. 10-52). Nesses casos, o sinal da "hera" com hiperin-
tensidades serpenti formes nos sulcos cerebrais devido a
Aproximadamente 75% dos AVCs relacionados à AF colaterais leptomeníngeas. pode ser visto no FLAIR.
são isquêmicos, e 25% são hemorrágicos. O risco de AVC
é mais alto entre os 2 e 5 anos.
Doença de moya-moya
Imagem. Uma calvária difusamente espessada com ex Terminologia. A doença de moya-moya (DMM) é uma ar-
pansão do espaço diploico, secundário ao aumento da teriopatia progressiva idiopática caracterizada por esteno
hematopoiese, é um achado freqüente, assim como a re se das ACls distais (supraclinóideas) e formação de uma
conversão da medula "amarela" em "vermelha" (hemato- rede vascular anormal na base do cérebro (Fig. 10-53).
poiética) (Fig. I0-5IA). Múltiplas artérias aumentadas de calibre "telangiectá-
10-51A Ponderação em TI no
plano sagital de uma mulher de
29 anos com anemia falciforme
10-52A Ponderação em T2
no plano axiai de uma criança de
11 anos com anemia falciforme
mostra marcado espessamento
da calvária com medula hipoin
tensa B, atrofia com múltiplos
infartos corticais e infartos da SB
profunda.
10-52B MIP submentovértice
de ARM do mesmo paciente
mostra oclusão de ambas as ACls
supraclinóideas B. A circulação
vertebrobasilar S tem aparèn-
274 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
DOENÇA DE MOYA-MOYA
Terminologia
• Moya-moya = "fumaça"
Etiologia, epidemiologla
• Arteriopatia progressiva -> estenose das ACis
supradinóídeas
• Idiopática oü associada com NF1, anemia falciforme, etc.
Patologia
• Espessamento Intimai fibrocelular
• Sem inflamação, hemorragia ou depósitos lipídícos
CADASIL
CADASIL é o acrônimo para arteriopatia cerebral autos-
sômica dominante com infartos subcorticais e leucoen-
cefalopatia, do inglês aiuossomal dominant arteriopathy
with subcortical infarcts and leukoencephaiopathy. CA
DASIL é uma doença autossômica dominante da micro-
vascuiatura cerebral que afeta as células musculares lisas
nas artérias penetrantes cerebrais e leptomeníngeas.
Etiologia e patologia. CADASIL é causada por mutações
do tipo missense pontuais altamente estereotipadas no
gene NOTCH3. Foram identificadas 14 formas familiares
distintas de CADASIL com mutações em diferentes éxons
NOTCHS.Todas essas mutações causam um ntímero exce
dente de resíduos de cisteína dentro da repetição do fator
10-S6C Aquisição axial em FLAIR do mesmo paciente
mostra hiperintensidades na SB do aspecto anterior dos Io de crescimento epidérmico (EGF) no domínio extracelu-
bos temporais B. Mutação N0TCH3 confirmou CADASIL. lar do N0TCH3.
Vasculopatia 277
O marco patológico da CADASIL é o acúmulo de tissular ultraestrutural com redução da anisotropia fracio-
material granular osmiofílico na base das membranas das nada mesmo em SB com "aparência normal".
Infartos lacunares na SB subcortical, núcleos da base,
pequenas artérias e arteríolas que causa espessamento
fibrótico grave e estenose. Artérias cerebrais penetran tálamos, cápsula interna e tronco são encontrados em
tes longas e seus ramos são mais afetados. Na necropsia, 75% dos pacientes entre 30 a 40 anos, tornando-se mais
o b s e r v a - s e a t r o fi a c e r e b r a l d i f u s a l e v e a m o d e r a d a c o m proeminentes e aumentando em número com o passar
da idade. Atrofia cerebral leve a moderada é um achado
múltiplos infartos lacunares na substância branca periven
tricular, núcleos da base, tálamos e ponte. relativamente tardio e está associado com a extensão do
declínio cognitivo.
Aspectos clínicos. Embora os sintomas estejam restritos
Microssangramentos cerebrais (MSCs) são encontra
ao SNC, as modificações arteriais da CADASIL são dos nas aquisições T2* em 25% dos pacientes entre 40 a
sistêmicas. Apesar de sua prevalência exala ser desco 50 anos e são vistos em quase 50% dos pacientes acima de
nhecida, CADASIL foi identificada como a causa mais 50 anos. Os MSCs podem ser a manifestação neurológica
comum herdada monogenética de AVC e demência vas inicial ou ser desenvolvidos pelo uso de agentes antipla-
cular em adultos. Na apresentação iniciai, apenas 35%
quetários.
dos pacientes possuem um familiar de primeiro grau com
C A D A S I L . Diagnóstico diferencial. O diagnóstico clínico de CADA
A apresentação clinica clássica é a de uma mulher SIL é freqüentemente ardiloso, com pelo menos um terço
de todos os pacientes com diagnóstico inicial errôneo de
jovem ou de meia-idade sem fatores de risco vasculares
identificáveis. As manifestações clinicas principais são esclerose múltipla (EM), demência ou vasculite do SNC.
AVCs isquêmicos recorrentes (60 a 85%), cefaleia enxa- O uso da microscopia eletrônica para detectar depósitos
osmiofílicos granulares em amostras de biópsia cutânea é
quecosa (que ocorre em 25 a 75% dos casos e é a mani
confiável e a imunocoloração para NOTCH3 ECS aumen
festação mais precoce da doença), distúrbios psiquiátricos
ta a sensibilidade e a especificidade para mais de 90%.
(20 a 40%) e déficit cognitivo progressivo (20 a 40%).
Embora o início dos sintomas costume ser aos 30 anos, O diagnóstico diferencial de CADASIL inclui encefalo
CADASIL pode aparecer em crianças. patia arterioesclerótica subcortical esporádica, encefalopa
Entre 5 a 10% dos pacientes com CADASIL desen tia mitocondrial com acidose lática e episódios semelhantes
volvem convulsões epilépticas, geralmente tardias no a AVC (MELAS). vasculite e síndromes antifosfolipídeo. A
curso da doença. Um pequeno número de pacientes apre encefalopatia arterioesclerótica subcortical (EAS) é uma
senta-se com uma síndrome de encefalopatia reversível doença associada à hipertensão que causa doença de SB e
infartos lacunares. Ao contrário de CADASIL, as lesões ge
aguda com febre, confusão, coma e convulsões que per
siste por alguns dias. ralmente não envolvem a SB temporal anterior.
MELAS demonstra lesões corticais e subcorticais e
A CADASIL segue um curso progressivo, causando
pode apresentar-se agudamente como edema girai hipe-
incapacidade e demência em 75% dos casos. Os pacientes
rintenso em T2/FLA1R que se resolve, com recuperação
com CADASIL que possuem uma alta carga lesional no
estudo de RM de base estão em maior risco para a pro clínica. As síndromes antifosfolipídeo e defíciência de
proteína S podem se apresentar em adultos jovens e de
gressão rápida da doença.
meia-idade. Infartos lacunares e corticais, achados seme
Imagem. A imagem é muito importante ao se levantar a lhantes aos da vasculite na ASD, trombose de seio durai e
possibilidade do diagnóstico de CADASIL, já que pa hiperintensidades no T2/FLA1R na SB são comuns.
drões característicos podem preceder a manifestação dos Outras doenças hereditárias de pequenos vasos ce
sintomas em mais de 10 anos. Os achados típicos são múl rebrais podem simular CADASIL. Uma segunda doença
tiplos infartos lacunares nos núcleos da base e lesões com relacionada a gene único conhecida, que afeta diretamen
alta intensidade de sinal na substância branca (SB) sub te os pequenos vasos cerebrais, é chamada de CARASIL
cortical e periventricular. (arteriopatia cerebral autossômica recessiva com infartos
Exames de TC sem contraste podem ser normais no subcorticais e leucoencefalopatia, do inglês cerebral au-
curso inicial da doença ou mostrar focos hipodensos nas tos.somal recessive arieriopathy with subcortical infarcts
regiões afetadas. and leukoencephalopalhy). A maioria dos casos de CA
Hiperintensidades em T2/FLA1R multifocals bila- RASIL foi relatada em pacientes japoneses.
teralmente na SB subcortical e periventricular começam A angiopatia sistêmica hereditária (ASH) é uma
a aparecer por volta dos 20 anos. Embora esses achados microvasculopatia sistêmica associada a calcificações ce
sejam inespecíficos. o envolvimento do aspecto anterior rebrais, retinopatia, nefropatia progressiva e hepatopatia,
dos lobos temporais e das cápsulas externas possui alta Outras doenças de pequenos vasos - endoteliopatia here
sensibilidade e especificidade para diferenciar a CADA ditária, retinopatia, nefropatia e AVC (HERNS), retinopa
SIL de doenças cerebrais de pequenos vasos esporádicas tia vascular hereditária (RVH) e vasculopatia cerebrorreti-
muito mais comuns (arterioloesclerose primária e lipo- niana (VCR) - podem representar diferentes fenótipos da
-hialinose) (Fig. 10-56). A DTl pode demonstrar dano mesma doença oculocerebral.
278 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
10-57A Fotografia clínica clássica de um paciente com doença de 10-57B Fotografia do mesmo paciente mostra úlceras genitals alto-
Behçet com as típicas úlceras orais ^3 envolvendo a língua e a muco sas. (Cortesia de E. T. Tali, MD.)
sa oral.
goclonais estão ausentes no LCS e a proteína básica de -Sweet é transitório, simulando uma encefalite recorrente-
mielina está normal, ajudando a distinguir a DB de EM. -remitente, enquanto a DNB segue um curso muito mais
As lesões cutâneas estão ausentes na sarcoidose, embora crônico, lentamente progressivo.
os níveis séricos da enzima conversora de angiotensina
(ECA) costumem estar, embora não sempre, elevados. Lúpus erltematoso sistêmico
O envolvimento difuso do tronco encefálico, que se Terminologia. O lúpus eritematoso sistêmico (LES ou "lú
estende para os pedúnculos cerebrais, tálamos, núcleos da pus") é uma doença multissistêmica do complexo autoi-
base e SB periventricular foi relatado e pode simular g/Zo- mune que afeta os sistemas respiratório, cardiovascular,
matose cerebri ou linfoma. A biópsia pode ser necessária
gastrintestinal, genitourinário e musculoesquelético, bem
para distinguir DB de neoplasia. como o SNC. A maioria dos diagnósticos de lúpus é esta
Doenças inflamatórias sistêmicas, como lupus erite- belecida com base nos achados sistêmicos e nas anorma
matoso sistêmico, síndrome antifosfolipídco e doença lidades laboratoriais, com a imagem desempenhando um
de Sjogren podem parecer DB quando envolvem o SNC.
papel importante, mais auxiliar no diagnóstico e conduta.
Lesões de pele são comuns nessas doenças, mas úlceras
Quando sintomas manifestos do SNC estão presentes,
aftosas orais e genitais, vistas na DB, estão ausentes. o distúrbio é chamado de lúpus eritematoso sistêmico ce
A síndrome de Sweet, também conhecida como der- rebral (LES SNC) ou lúpus eritematoso neuropsiquiátrico
matose neutrofllica febril aguda, é uma doença inflama-
(LESNP).
tória multissistêmica aguda que freqüentemente se ma
nifesta como uma vasculite que se apresenta com placas Etiologia. o LES é uma doença autoimune caracterizada
cutâneas eritematosas dolorosas, febre e leucocitose e que por deposição de imunocomplexos, vasculite e vasculo
pode se parecer idêntica a DNB nos exames de RM, com patia. Múltiplos componentes do sistema imune são afe
hiperintensidades em T2/FLAIR no tronco encefálico e tados. incluindo o sistema do complemento, células T
nos núcleos da base. O envolvimento do SNC na neuro- supressoras e produtos de citocinas. Autoanticorpos cir-
culantes podem ser produzidos por muitos anos antes do Atrofia focai, infartos cerebrais e hemorragias também
aparecimento dos sintomas clínicos do LES. são comuns.
A ativação do sistema do complemento, juntamente A vasculite/angeíte lúpica é caracterizada histopato-
com a formação e deposição de complexos imunes nos logicamente por marcada hiperplasia endotelial e fibro
tecidos, recruta linfócitos B, resultando em formação de se intimai obliteraliva nas pequenas artérias e arteríolas.
autoanticorpos. A supressão imune normal falha, resul Trombos oclusivos de fibrina sem evidência histológica
tando em uma resposta autoimune não inspecionada. A de vasculite também podem ocorrer.
disfunção do sistema imune também resulta em infecções Aspectos clínicos. O LES afeta uma em cada 700 mulheres
freqüentes e aumento da prevalência de malignidades lin- brancas e uma em cada 245 mulheres negras. O LES SNC
forreticulares.
ocorre em todas as idades, com pico de início entre 20 e
O LES SNC costuma ser considerado uma doença an-
40 anos. Em adultos, mais de 90% dos pacientes são mu
giopática, embora o dano neural autoimune, desmieliniza- lheres. Em crianças a proporção M:H é 2 a 3:1.
ção e tromboembolismo possam ser fatores contribuintes. O início do lúpus pode ser insidioso e o diagnósti
A isquemia/infarto cerebral relacionado ao lúpus pode re
co precoce pode ser enganoso. Os critérios diagnósticos
sultar de coagulopatia (secundária à síndrome antifosfoli-
para LES foram estabelecidos pelo American College
pídeo), aterosclerose acelerada (em geral associada ao tra of Rheumatology e incluem ra.sh malar ou discoide, úl-
tamento com corticoides), tromboembolismo (secundário
ceras orais e/ou nasais, artrite, serosite, doença renal e
à endocardite de Libman-Sacks) ou uma vasculite lúpica
vasculite.
verdadeira primária.
O LES SNC ocorre em 30 a 40% dos casos e pode
Patologia. Os achados macroscópicos mais freqüentes nos ser uma manifestação grave e ameaçadora. Na verdade, o
pacientes com LESNP são perda volumétrica generali LES SNC corresponde a 15 a 20% das mortes relaciona
zada com atrofia cortical e alargamento dos ventrículos. das ao lúpus.
Os exames de TC sem contraste iniciais costumam Trombose venosa profunda/cortical e de seio venoso
ser normais ou demonstram hipodensidades esparsas cor- durai ocorre em 20 a 30% dos casos de LESNP. Hiper
ticais/subcorticais. Grandes infartos territoriais e oclusões tensão sistêmica é comum nos pacientes com LES. A sín-
de seios durais podem ocorrer, mas são menos comuns. drome da encefalopatia posterior reversível (PRES) é uma
Hemorragias intracranianas espontâneas podem ocorrer manifestação rara, mas tratável, do LES SNC.
nos pacientes com LES com uremia, trombocitopenia e Diagnóstico diferencial. O diagnóstico diferencial da
hipertensão. imagem do LESNP é vasto e inclui arterioloesclerose
O exame de RM varia de normal a achados expressi ("doença dos pequenos vasos"), esclerose múltipla, sín-
vos. O achado mais comum, visto em 25 a 50% dos novos drome dc Susac, síndrome antifosfolipídíca não lúpica,
diagnósticos de LESNP, é o de múltiplas pequenas hipe- doença de Lyme e outras vasculites, como angeíte pri
rintensidades em T2/FLAIR subcorticais e na SB profun mária do SNC.
da (Fig. 10-59). Grandes lesões confluentes que lembram Há uma significativa sobreposição entre o lúpus e a
encefalomielite disseminada aguda (ADEM) ocorrem, síndrome antifosfolipídíca (SAF). Entre 25 a 40% dos pa
mas são vistas apenas em pacientes com sintomas no SNC cientes com LES têm SAF (a seguir). Embora não haja
(Fig. 10-60). Lesões difusas corticais, nos núcleos da base critérios de imagem universalmente aceitos para LESNP,
e do tronco encefálico - sugestivas de vasculopatia ou a presença de infartos multifocais e áreas edematosas "mi
vasculite - também são comuns. gratórias" são sugestivas da doença.
Síndrome antiíosfolipídica
Terminologia e etiologia. SAF é uma doença muítissistêmi-
ca caracterizada por trombose arterial ou venosa, AVCs
precoces, disfunçào cognitiva e abortos espontâneos. A
SAF com livedo reticular difuso e episódios cerebrovas-
culares isquêmicos é chamada de síndrome de Sneddon.
Aspectos clínicos. O espectro das síndromes mediadas
por fosfolipídeos reflete o dano final ao órgão devido à
doença microangiopática e à disfunçào endolelial. As
manifestações clínicas são variáveis e incluem doença de
pele (livedo reticular, hemorragias de aspecto fragmenta
do); envolvimento cardíaco, pulmonar e renal, distúrbios
hematológicos e sintomas neuropsiquiátricos.
O diagnóstico de SAF requer a presença de pelo me
nos um critério clínico (p. ex., trombose vascular ou mor-
10-61A Ponderação em T2 no plano axial de um
homem de 36 anos com SAF documentada e múltiplos
bidade na gravidez) e um achado laboratorial, ou seja, an-
AVCs revela edema gira! agudo 69 e encefalomalacia ticoagulante lúpico persistentemente positivo, anticorpos
parietal BI. antifosfolipídeo (p. ex., anticorpos anticardiolipina) ou
anticorpo anti p2-glicoproteína.
A idade média de início da doença é 50 anos. Há um
predomínio feminino na ordem de 2:1 (mulheres com
SAF costumam ser diagnosticadas inicialmente em razão
de abortos espontâneos). Uma rara complicação da SAF
é a síndrome de HELLP (hemólise, elevação de enzimas
hepáticas e plaquetopenia, do inglês hemolysis, elevated
liver enzymes, low platelets).
O envolvimento do SNC na SAF é comum. Manifes
Etiologia. a AAC é causada pelo acúmulo de agregados 10-62 Hematoma agudo B com um nível líquido
Hl: microssangramentos B3 e hemorragias lobares
Ap em pequenos vasos cerebrais. O Ap é derivado da
antigas Hl também são achados típicos na doença
clivagem proteolítica de proteína do precursor amiloide. amiloide cerebral.
Dois tipos de aminoácidos, um com extensão de 42aa
(Ap42) e outro mais curto com 40aa de extensão (Ap40),
estão associados à doença cerebral relacionada ao amiloi
de. O AP42 é encontrado principalmente em placas neu-
riticas associadas à DA enquanto o Ap40, mais curto e
relativamente mais solúvel, é a principal forma encontra
da na AAC.
Um desequilíbrio entre a produção de Ap e sua eli
minação é considerado elemento-chave na formação dos
depósitos amiloides no SNC. Esses depósitos se acumu
lam na porção abluminal na camada muscular e adventí-
cia das arteríolas e capilares cerebrais, causando ruptura
progressiva da unidade neurovascular. A distribuição
geográfica dos depósitos Ap corresponde anatomica-
mente às rotas de drenagem perivascular pelas quais o
líquido intersticial (LI) e os solutos são eliminados do
cérebro. 10-63 H&E com alta-magnificaçâo mostra espessa-
O transporte do Ap entre o neurópilo e a circulação mento de arteríola SI com hemorragia perivascular
cerebral está bloqueado na AAC. O insucesso em retirar Bã achados característicos da AAC.
o Ap do cérebro tem duas conseqüências principais: (I)
hemorragia intracraniana associada à ruptura de vasos
carregados de Ap na AAC e (2) função neuronal alterada
causada por acúmulo patológico de Ap e outros metabó-
litos solúveis na DA. A anormalidade vascular mais vista
na DA é a AAC.
10-65 Aquisições de um paciente com cefaieia e AAC mostram HSA 10-66 Exame de RM demonstra múltiplas hemorragias lobares em dife
de convexidade ES, lesões de SB confluentes siderose superficial rentes estágios de evolução B e "pontos pretos" periféricos multifocais
tó) e microssangramentos S). (Cortesia de M. Castillo, MD.) com artefatos de susceptibilidade magnética ^ que são clássicos da AAC.
Patologia. A AAC é caracterizada por depósitos progressivos A idade avançada é o fator de risco conhecido com
de fibriias AP nas paredes das artérias de pequeno a médio maior associação para o desenvolvimento de AAC. A
calibre e arteríoias penetrantes com envolvimento preferen AAC esporádica costuma ocorrer em pacientes com mais
cial do córte.x supratenlorial e leptomeninges. O cerebelo, o de 55 anos, enquanto as formas hereditárias se apresentam
tronco encefálico e os núcleos da base são poupados. 10 a 20 anos mais cedo. Os pacientes com angeíte asso
Os achados na patologia macroscópica incluem ciada ao p amiloide também tendem a ser mais jovens que
hemorragia lobar importante (mais frontal ou frontopa aqueles com AAC não inflamatória, esporádica.
rietal), hemorragias petequiais corticais, infartos cere Estudos de necropsia mostram uma prevalência de
brais pequenos e lesões isquêmicas da substância branca AAC de 20 a 40% e de 50 a 60% na população de idosos
(Fig. 10-62). sem e com demência, respectivamente. A AAC está presente
As características microscópicas incluem um espessa- em mais de 90% dos pacientes com DA ao exame póstumo.
mcnto eosinofílico "sujo" dos vasos corticais e leptome- As manifestações clínicas mais comuns da AAC são
ningeos (Fig. 10-63). Os casos graves podem demonstrar déflcits neurológicos focais (com hemorragias lobares re
uma "partição" do vaso (um aspecto de "lúmen dentro do correntes) e prejuízo cognitivo (com microssangramentos
lúmen"), necrose flbrinoide, formação de pseudoaneurisma crônicos múltiplos).
e trombose. A angeíte associada ao P amiloide demonstra A apresentação clínica dos pacientes com inflamação
modificações inflamatórias murais e perivasculares com relacionada à AAC (p. ex., ABA) é diferente, lembrando
necrose, números variáveis de células gigantes multinu- uma vasculite autoimune ou uma meningoencefalite suba-
cleadas, histiócitos epitelioides, eosinófilos e linfócitos. guda. Cefaieia e declínio cognitivo são comuns. Às vezes,
No corante vermelho do Congo, os vasos da AAC têm os pacientes com ABA apresentam um curso mais fulmi
uma aparência "congofílica" corada de salmão. Uma cor nante caracterizado por demência rapidamente progressiva
característica amarelo-esverdeada ("birrefringência") apa e déflcits neurológicos focais. Três quartos dos pacientes
rece quando o vaso afetado é visibilizado com o uso de luz com ABA comprovada por biópsia respondem à cortico-
polarizada (Fig. 10-64). Imuno-histoquímica com o uso de terapia, portanto, o estabelecimento do diagnóstico histo-
anticorpos contra o Ap é positiva. Vasos sangüíneos car patológico correto é crucial para o manejo dos pacientes.
regados de proteína amiloide também são imunorreativos Imagem. Os achados de imagem variam conforme o tipo da
para a metaloproteinase de matriz extracelular (MMP-19).
doença amiloide cerebral. A AAC é de longe a forma mais
Aspectos clínicos. A AAC causa 5 a 20% de todas as hemor comum; amiloidomas e ABA são raros.
ragias cerebrais não traumáticas e é reconhecida atual TC. Os exames de TC sem contraste em pacientes
mente como a principal causa de hemorragia intracraniana com manifestações agudas da AAC demonstram um he
espontânea e prejuízo cognitivo em idosos. matoma lobar hiperdenso com edema periférico variável.
Vasculopatia 285
V
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bem como a siderose superficial
B característica da angiopatia
amiloide cerebral.
10-67E Aquisição em T2' SWI
através da coroa radiada mostra
áreas adicionais de siderose B
A i e micro-hemorragias B. Em
razão dos achados clínicos soma
dos a edema cerebral e efeito
de massa, este caso representa
inflamação relacionada à AAC
(ABA).
286 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares
10-71A Aquisição em FLAIR de um paciente com doença amiloide 10-718 Aquisição em TI pós-contrasle do mesmo paciente demons
cerebral inflamatória demonstra hiperintensidades sulcais bilaterais ES tra marcado realce sulcal B. Angeíte associada ao beta-amiloide (ABA)
com hiperintensidade confluente no lobo occipital direito comprovada por biópsia (Cortesia de O.Jacobs, MD.)
As principais MTs são a coagulopatía intravascular Patologia. A biópsia raramente é realizada na MT.
disseminada (CIVD), hipertensão maligna (HM) e pur A patologia macroscópica demonstra múltiplos focos
pura trombocitopênica trombótica (PTT), com ou sem difusos de necrose e hemorragia. Espessamento parietal
síndrome hemolítico-urêmica (SHU). A PTT e a SHU capilar e arteriolar, edema endotelial e fragmentação, acú
possuem a anemia hemolítica e a trombocitopenia como mulo subendotelial de proteína, debris celulares e múlti
caracterísicas em comum e consequentemente são agrupa plos trombos oclusivos de plaquetas-fibrina são os acha
das em conjunto, como PTT/SHU (ou SHU/PTT). dos histopatológicos característicos (Fig. 10-72).
Etiologia. a lesão às células endoteliais é o denominador Aspectos clínicos. As MTs são raras. A incidência geral é
comum na seqüência de eventos que leva ao desenvolvi estimada em menos de 1:1,000.000 por ano. Embora as
mento da MT. A cascata microangiopática começa com MTs dividam uma fisiopatologia comum, os achados clí
a perda da tromborresistência fisiológica e adesão leuco- nicos variam dependendo da doença de base.
citária ao endotélio danificado. Segue-se o consumo do A CIVD é a MT mais comum, causando 80% de to
complemento, liberação anormal de fatores de von Wille- dos os casos. A CIVD está associada com um espectro
brand, com redução da fragmentação pelas metaíoprotei- de comorbidades que incluem infecção. tumor, anorma
nases ADAMTS13 e aumento da tensão de cisalhamento lidades vasculares, complicações obstétricas e neonatais.
vascular com lesão mecânica aos eritrócitos. necrose tissular maciça e reações a drogas. Ela é carac
Múltiplos gatilhos, como infecção com septicemia e ne terizada clinicamente por trombose e/ou hemorragia em
crose microvascular segmentar, drogas, toxinas, câncer, qui múltiplos locais.
mioterapia. transplante de medula óssea e gravidez foram A hipertensão maligna (HM) é a segunda causa mais
associados com MTs. Uma MT induzida por toxinas clás comum de MT. Os pacientes costumam apresentar-se com
sica é a SHU após infecção por Escherichia coli O104:H4 elevação da pressão sangüínea e papiledema, freqüente
enlero-hemorrágica. Nessa situação, toxinas extremamente mente acompanhado de hemorragia retiniana e exudatos. As
potentes conhecidas como verotoxinas ou toxinas Shiga gestantes com HM possuem eclampsia ou pré-eclâmpsia.
causam dano endotelial vascular disseminado que, por sua A PTT é a causa menos comum de MT. Ela é uma
vez, leva a infartos em múltiplos órgãos e hemorragias. doença de crianças, mas pode afetar também jovens adul
As microangiopatias trombóticas (MTs) são carac tos. Aproximadamente, metade dos pacientes desenvolve
terizadas hematologicamente por agregação plaquetária. sintomas relacionados ao SNC, convulsões e/ou déficits
trombocitopenia profunda, oclusòes da microcirculação neurológicos flutuantes. Febre, insuficiência renal e rash
com isquemia e infartos. anemia hemolítica microangio purpúrico no tronco e nos membros são comuns. A tríade
pática e micro-hemorragias em múltiplos órgãos. laboratorial clássica consiste em trombocitopenia, eleva-
Vasculopatia 289
ção da lactato desidrogenase e esquistocitose. A maioria densidades relativamente bem delineadas rodeadas por
dos pacientes com PTT tem deficiência de ADAMTS13. edema. Padrões mistos com lesões hipo e hiperdensas
Embora os sintomas das MTs freqüentemente se sobre também são comuns (Fig. 10-74A).
ponham, a doença no SNC é mais comum na PTT, enquanto A intensidade de sinal na RM varia com a idade do co
o envolvimento renal predomina na SHU. A SHU é definida águlo. Hiperintensidades multifocals corticais/subcorticais
pela tríade anemia hemolítica mecânica, trombocitopenia e em T2/FLAIR são comuns na MT aguda. A seqüência mais
prejuízo da função renal. Alteração no complemento - e não sensível é o T2* (GRE, SWl). Hipointensidades puntifor-
deficiência de ADAMTS13 - é característico de SHU. mes girais com artefatos de susceptibilidade magnética são
Falência renal e AVC por coagulopatia intravascular típicas (Figs. 10-74B e I0-74C). A ponderação em difusão
ou microangiopatia trombótica estão entre as complica revela múltiplos focos de restrição (Figs. I0-74D e 10-75).
ções mais sérias da MT. O tratamento principal é de su A SHU/PTT e a HM podem causar um padrão de
porte e inclui plasmaférese, corticoides e/ou rituximab. imagem semelhante ao PRES com hiperintensidades cor
Os antibióticos são evitados na enterocolite hemorrágica ticais/subcorticais posteriores ou no tronco encefálico. A
induzida por E. coli devido ao potencial aumento da libe difusão nestes casos é tipicamente, mas não invariavel
ração de verotoxinas pela morte e por bactérias mortas. A mente, normal.
esplenectomia e a ciclofosfamida foram propostas como Diagnóstico diferencial. O principal diagnóstico diferen
terapias de resgate em casos graves de PTT. cial das MTs, especialmente SHU/PTT é a encefalopatia
Imagem. Infartos hemorrágicos e isquêmicos corticais hipertensiva aguda (p. ex., PRES). A SHU/PTT pode
e subcorticais são típicos (Fig. 10-73). Os exames de causar síndromes semelhantes ao PRES com achados de
TC sem contraste podem ser normais na fase inicial da imagem idênticos. A história clínica (pacientes não ges
doença. Achados positivos incluem focos hipoatenuantes tantes) e os achados laboratoriais devem distinguir entre
irregulares e pouco definidos ou hemorragias com hiper- estas duas entidades.
10-76A Autópsia de um homem de 70 anos com septicemia por 10-76B Corte mais cranial através da coroa radiada mostra extensas
gram-negalivo mostra hemorragias pelequiais multifocals na SB subcor- lesões subcorlicais e na SB profunda, poupando quase que completa
tical e nos núcleos da base. A maioria se trata de lesões ovoides ou li mente a SC cortical. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
neares, mas algumas hemorragias confluenles esparsas estão presentes.
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Parte III
Infeccão, inflamação e
doenças desmielinizantes
/
11
Introdução à infeccão, inflamação
^ J / -3»
e desmielinizacão
de tuberculose multirresistente (TMR) a fármacos. ATMR
In í e c ç o e s d o s i s t e m a n e r v o s o c e n t r a l 2 9 7 e o recente aparecimento da tuberculose extensivamente
HlV/Alds 298 resistente (TXR) a fármacos põe em risco o principal be
Doenças inflamatórias e desmielinizantes 299 nefício alcançado ao longo de muitas décadas: o controle
da tuberculose. O significativo progresso adquirido pela
A praga {no sentido literal e figurativo) das doenças in redução de mortes relacionadas à tuberculose (TB) em pa
fecciosas foi uma ameaça à humanidade durante milênios. cientes imunocomprometidos também está ameaçado.
Embora qualquer parte do corpo humano seja suscetí
Infestações parasitárias foram identificadas nas múmias
vel à inflamação ou à infecçào, o cérebro foi considerado
egípcias do Império Antigo e ainda afetam pessoas atual
mente. Nossos inimigos - tuberculose e malária - pare por muito tempo um local "imunologicamente protegido"
em razão da barreira hematoencefálica. Embora as infec-
ciam estar sob controle, mas estão mesmo? Com certeza
não. Uma em cada três pessoas no mundo foi infectada ções do sistema nervoso central (SNC) sejam considera
velmente menos comuns que seus equivalentes sistêmi
por M. tuberculosis.
Na era dos antibióticos, infecçòes antes temidas pa cos, o cérebro não é, de forma alguma, impenetrável aos
recem ser uma memória distante. Será que elas estão real ataques dos organismos patogênicos.
mente relegadas ao acervo histórico médico? Dificilmente. O papel da imagem na avaliação de urgência das in-
Uma vez ouvi o Dr. Joshua Lederberg, que foi, em fecções intracranianas deve ser de suporte, e não primário,
mas. em muitas unidades de saúde em todo o mundo, fre
1958, um dos ganhadores do prêmio Nobel em Fisiologia
ou Medicina pela sua descoberta a respeito da recombina- qüentemente se utiliza exames de imagem como "proce
dimento de rastreamento" para a triagem da doença aguda
ção e organização dos genes bacterianos, fazer um comen
tário muito revelador. Ele disse: "Estamos em uma corrida
do SNC, Consequentemente, o radiologista pode ser o pri
meiro - e não o último - a identificar a presença de uma
evolutiva, com nossos adversários mais próximos sendo
os vírus e as bactérias." Adivinhe quem está ganhando? possível infecção do SNC.
Não é necessário ser um gênio para supor quem está ga Nesta parte, dedicaremos os Capítulos 12 e 13 para as
nhando... e não são os humanos! infecções do SNC. O HIV/Aids será discutido no Capítulo
O uso disseminado de antibióticos tem um resultado
14. O Capítulo 15 faz considerações sobre as doenças in
inevitável. A evolução adaptativa tomou alguns organis flamatórias idiopáticas não infecciosas e desmielinizantes
mos resistentes até mesmo a "antibióticos de última ins que afetam o SNC.
tância". Surtos de diversos organismos resistentes a múl
tiplas drogas, uma vez raros, têm sido relatados com cada
vez mais freqüência. O Staphylococcus aureus meticilina-
-resistente (MRSA) e o Enterococcus resistente a vanco- Infecções do sistema nervoso central
micina (ERV) alcançaram taxas significativas de coloni As infecções intracranianas são causadas por vários agen
zação e de infecçào na maioria das unidades de tratamento tes patogênicos; mais de 200 organismos diferentes foram
intensivo. Até o momento, as intervenções com o objetivo descritos como causadores de infecções do SNC. Os acha
de reduzir a transmissão de bactérias resistentes em cená dos de imagem costumam ser inespecíficos, portanto, a
rios de alto risco como este não tem sido efetivas. história clínica minuciosa e a investigação clínico-labo-
O uso inadequado ou o manejo inapropriado das dro ratorial apropriada são necessárias para um diagnóstico
gas de primeira linha também resultou no desenvolvimento acurado e um tratamento apropriado.
298 Infecçào, inflamação e doenças desmielinizantes
11-1 Nole um pequeno abscesso bem encapsulado no lobo Ifontai 11-2 Espécime de necropsia mostra a dura ES. refletida para cima
irS e uma lesão maior e menos definida no hemisfério contralalerai. revelando uma coleção de aspecto purulento no espaço subdural sub
Houve ruptura do abscesso maior para o interior do ventrícuio 1^, cau jacente [^. Os achados são típicos de empiema subdural piogènico.
sando piocéfaio e morte. (Cortesia de R. Hewlett, MO.) (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
11-3 Coloração por Uàí/Luxol fast blue enfatiza a marcada interlace 11-4 Peça macroscópica de necropsia com imagem focada de
entre a lesão (tecido fracamente corado Bi) e o parénqulma normal doença desmielinizante "tumefativa" S mostra necrose periférica
(tecido corado de azul IS), típica da maioria das placas desmieiinizan- com efeito de massa nos giros adjacentes B. (Cortesia de B. K.
tes. (Cortesia de B. K. DeMaslers, MO.) DeMasters, MO.)
Etiologia
Além das clássicas infecções TORCH reconhecidas, uma
série de novos organismos foi identificada como causa
dora de infecções congênitas e perinatais. Esses incluem
HiV, hepatite B. varicela e tuberculose.
Imagem
Toxoplasmose, rubéola, CMV e HIV causam caicificações
parenquimatosas. O CMV causa cistos periventriculares,
feiidas, esquizencefalia e defeitos migracionais. A rubéola
e o vírus herpes simples (HSV) causam destruição lobar e
encefalomalacia. A sífilis congênita é relativamente rara,
porém, quando ocorre, causa meningite basilar.
Infecções TORCH devem ser consideradas em recém-
-nascidos e em lactentes com microcefalia, caicificações
12-1 CMV congênita é mostrada com caicificações parenquimatosas, coriorretinite e restrição do crescimento
parenquimatosas periventriculares Bi, lesão na subs intrauterino,
tância branca e cortex displásico ES.
Citomegalovirose congênita
CMV é a maior causa de surdez não hereditária em crian
ças e a causa mais comum de infecçào congênita nos paí
ses desenvolvidos.
Terminologia e etiologia
A infecção congênita por citomegalovírus é também
chamada de encefalite por CMV. O CMV é um vírus
de DNA ubíquo que pertence à família do iierpes-vírus
hurnano.
Patologia
o momento da infecçào gestacional determina a lesão ce
rebral. Infecção por CMV precoce na gestação causa ne
crose da zona germinativa com caicificações distróficas
12-2A TC sem contraste em um recém-nascido com subependimárias. Perda volumétrica da substância branca
CMV mostra microceíalia, ventrículos aumentados, ocorre em toda a gestação e pode ser difusa ou multifocal.
fissuras siivianas rasas B e marcantes Ca>+ periven Malformações do desenvolvimento cortical são comuns
triculares B3.
(Fig. 12-1).
O exame microscópico mostra citomegalia com
inclusões virais nos núcleos e no citoplasma. Necrose
celular irregular e focai, em particular das células da
matriz germinativa, é típica da infecção no primeiro
trimestre. Inllamação vascular e trombose também são
c o m u n s .
Aspectos clínicos
Epidemiologia. a CMV é a mais comum de todas as infec
Imagem
Características gerais. As características de imagem da
CMV congênita incluem microcefalia com ventriculome
galia, calcificações intracranianas, lesões de substância
branca e distúrbios da migração neuronal. Como regra
geral, quanto mais precoce a infecção, mais graves são
os achados.
Ultrassonografia. a ultrassonografla mostra aumentos mite necrosante e obstrução aquedutal com hidrocefalia e
dos ventrículos. Focos hiperecogênicos periventriculares macrocefalia. e não microcefalia.
longo dos sulcos caudotalâmicos. Vasculopatia minerali- cos recessivos de desmielinização e degeneração. Calcifl-
zante lenticuloestriada ocorre em 25 a 30% dos casos e é cações nos núcleos da base e tronco encefálico são mais
vista como estrias ecogênicas curviiíneas uni ou bilaterais comuns do que o padrão subependimário característico da
no interior dos núcleos da base e dos tálamos. C M V.
tricô dos ventrículos e espaços subaracnoides. Múltiplos (EHS) em indivíduos além do primeiro mês pós-natal; a
focos de microglia, macrófagos e células gigantes multi- EHS é discutida abaixo, junto com as outras infecções vi
nucleadas contendo partículas virais são típicos. Palidez e rais adquiridas.
vacuolização irregulares da mielina são comuns. Micro-
angiopatia mineralizante com calcificações nos núcleos Etiologia
da base e hipertrofia endotelial com vasculopatia cerebral Aproximadamente, 75 a 80% das encefalites herpéticas
ostensiva são observadas em alguns casos. neonatais são causadas pelo HSV tipo 2. O restante é cau
sado pelo HSVl. A morbidade e a mortalidade na ence
Aspectos clínicos falite neonatal pelo HSV2 são piores em comparação à
Epidemiologia. a infecção congênita por HIV está reduzin encefalite por HSVl.
do. uma vez que a terapia antirretrovira! altamente ati
va (HAART) está se tornando cada vez mais acessível. Patologia
Crianças representam apenas 2% de todos os pacientes A encefalite neonatal por HSV é uma doença difusa, sem
com HIV/Aids nos EUA e Europa, porém ainda represen a predileção pelos lobos temporais e sistema límbico ob
tam 5 a 25% dos casos no restante do mundo. Infecções servada em crianças mais velhas e em adultos.
congênitas e adquiridas por CMV relacionam-se forte Alterações precoces incluem meningoencefalite com
mente com a transmissão vertical do HIV. necrose, hemorragia e proliferação microglial. Atrofia
com encefalomalacia ostensiva e calcificações parenqui
Apresentação e história natural. Os sintomas em geral co
matosas são típicas do HSV em estágio final. A perda qua
meçam por volta das 12 semanas pós-natais. Retardo no
se total da substância cerebral com hidranencefalia é vista
desenvolvimento, disfunçào motora progressiva e res
em casos graves.
trição do crescimento são os sintomas mais comuns do
SNC. Hepatoesplenomegalia e linfadenopatia são mani
festações sistêmicas comuns do HIV congênito.
Aspectos clínicos
Epidemiologia. O HSV2 é um dos agentes infecciosos se
Aproximadamente. 20% dos lactentes infectados
morrem. Apesar de infecções oportunistas serem me xualmente transmitidos mais prevalentes em todo o mun
nos comuns em crianças infectadas pelo HIV do que do. Aproximadamente, 2% das mulheres são infectadas
em adultos, acidentes vasculares cerebrais são mais co pelo HSV2 durante a gestação. A maioria é assintomática,
m u n s .
e muitos indivíduos acometidos não têm conhecimento da
nianas são encontrados em 3 a 5% dos casos (Fig. 12-6). é aumentado com a infecção materna primária durante
Infartos com focos de restrição à difusão podem ocorrer o terceiro semestre e pode ser reduzida pelo parto por
como complicações da vasculopatia subjacente. cesariana.
simples (HSV) é chamada HSV congênita ou neonatal cerca de 50% dos neonatos não tratados com doença evi
quando envolve neonatos e encefalite por herpes simples dente do SNC, e em 85% dos neonatos com infecção dis-
infecçõGs congênitas e infecçoes piogénlcas e virais adquiridas 307
12-7 Imagem de difusão sem contraste em um neonato com encefa- 12-8 imagem de difusão em um lactente de duas semanas com crises
lite por HSV2 mostra hipodensidade confluenle disseminada nas subs- convulsivas e fontaneias abauladas demonstra extensos focos de restri-
tâncias branca e cinzenta Os núcleos da base estão relativamente çâo à difusão em ambos os fiemisférios ES. Encefalite por HSV2.
poupados.
seiTiinada. Metade dos sobreviventes apresentam surdez estágios precoces, mas podem se desenvolver depois e são
permanente, perda visual, paralisia cerebral e/ou epilepsia. melhor observados nas seqüências T2* (GRE, SWI).
Focos de realce irregular, com ou sem realce meníngeo,
Opções de tratamento. A terapia antiviral com altas doses são comuns nas imagens em TI pós-conlraste. Nos estágios
de aciclovir reduz significativamente a morbidade, em es
tardios, encurtamento TI e hipointensidade T2 com artefa
pecial em lactentes com doença disseminada, e deve ser tos de susceptibilidade magnética em T2* ORE secundários
iniciada assim que ocorrer suspeita de encefalite perinatal a focos hemorrágicos podem se desenvolver (Fíg. 12-9).
por HSV. A seqüência de difusão é a chave para o diagnóstico
da encefalite herpética congênita. Em metade dos pacien
Imagem
tes, a difusão demonstra doença bilateral ou significativa
Diferentemente da encefalite herpética da infância ou mente mais extensa do que o observado na RM conven
adulta, a infecção neonatal do SNC por HSV é muito mais cional (Fig. 12-8). Áreas de restrição à difusão podem ser
difusa. Tanto a substância branca quanto a cinzenta são os únicos achados positivos em casos precoces. A doença
afetadas. em estágio tardio mostra grande perda volumétrica com
Achados de TC. A TC sem contraste pode ser normal no venlrículos dilatados e encefalomalacia mullicística (Figs.
período precoce da doença, porém áreas disseminadas de 12-10 e 12-11).
hipoatenuação envolvendo o córtex e a substância branca UiTRASSONOGRAFlA. A ultrassonografia demonstra ecos li
subcortical logo se tornam evidentes (Fig. 12-7). Hemor neares nos núcleos da base, similares aos da CMV.
ragias podem se desenvolver e são vistas como hiperden-
sidades multifocals puntiformes e curvilíneas nos núcleos Diagnóstico diferencial
da base e no córtex.
o principal diagnóstico diferencial do HSV neonatal são
Achados de RM. A RM é a modalidade de escolha nos ca as outras infecçoes TORCH. Neonates com HSV são
sos suspeitos para HSV neonatal, embora o cérebro neo normais nos primeiros dias de vida. Imagens cerebrais são
natal pouco mielinizado tome difícil a diferenciação entre normais ou minimamente anormais nas fases precoces do
a infecção e o cérebro não afetado. curso da doença. CalcificaçÕes e anomalias migracionais
Nos estágios precoces, as imagens em TI podem ser estão ausentes.
normais ou demonstrar leve hipointensidade nas áreas Em alguns casos, o HSV causa insulto isquêmico
afetadas. T2/FLAIR são mais sensíveis. Hiperintensidade com distribuição nas áreas de fronteira vascular e longe
no córtex, na substância branca subcortical e nos núcleos das lesões herpéticas primárias, dificultando a distinção
da base é típica. Focos hemorrágicos são incomuns nos com dano hipóxico-isquêmico (DHl). Entretanto, lacten-
308 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes
12-9C Imagem em T2 do
mesmo lactente obtida um mês
depois mostra alterações dramá
ticas de encefalomalacia multi-
cistica com níveis sangue-líquido
B. Note as extensas áreas em
forma de fita de encurtamento
T2 no córtex BI, secundárias à
hemorragia.
12-9D Imagem em plano
mais superior do mesmo pacien
te ilustra a extensa encefalo
malacia cistica subjacente mais
focos de encurtamento T2 nos
giros S. Esse caso ilustra tanto
as alterações precoces quanto as
tardias do HSV congênito.
Sífills congênita
A sifilis congênita (SCong) é causada pela passagem
Iransplacentária da espiroquela Treponema pallidum em
mães com sífilis não tratada. A prevalência de SCong é
baixa na maior parte dos países desenvolvidos, embora te 12-12B imagem ponderada em T2 no mesmo pa
ciente mostra atraso marcante na mielinização e hipe-
nha havido uma leve ressurgência da doença descrita em
rintensidades periventricuíares simétricas B.
vários países europeus.
Até 60% dos lactentes infectados com SCong são as-
sintomáticos ao nascimento. Os sintomas se desenvolvem
mais tarde na infância, são sutis e inespecíficos e incluem
crises convulsivas, acidentes vasculares cerebrais e sinais
de aumento da pressão intracraniana.
Os achados de imagem mais comuns na SCong são
hidrocefalia e meningite com realce leplomeningeo.
: í>; V
Corlomenlngite linfocítica
A coriomeningile linfocítica (CL) congênita é uma rara
infecção congênita causada por um arenavirus hospedado
por hamsters selvagens e camundongos domésticos. Sua
incidência durante a gestação é desconhecida.
A CL causa uma ependimile necrosante com obstru
ção aquedutal e hidrocefalia. O aspecto da imagem da CL
é quase idêntico ao da CMV e toxo, com calcificações es 12-13 TC sem contraste em um lactente com corio
parsas nos núcleos da base ao exame de TC sem contraste meningile linfocítica congênita mostra calcificações es
(Fig. 12-13). parsas no parênquima E3 e nos núcleos da base Ei9.
310 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes
12-14A Cérebro submetido à necropsia mostra alterações típicas de 12-14B O exsudato reveste o bulbo B e preenche completamente
meningite grave com denso exsudato puruiento cobrindo a ponte , re- a cisterna magna (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
vestindo os nervos cranianos 3 e preenchendo as cisternas basais ^
/ *
l /> ' ^ ■
•V' " À
12-15 Ilustração de meningite mostra o exsudato purulento difuso 12-16 Corte axial da necropsia mostra meningite com exsudato pre
que envolve as leptomeninges e preenche as cisternas basais e os sal enchendo completamente a cisterna suprasselar Í!^ e as fissuras silvia-
vos. O cérebro subjacente está levemente hiperêmico. nasíS. (Cortesia de R. Hewlett, MO.)
gite bacteriana na infância atualmente é a Neisseria rnenin- classes sociais. A prevalência global de meningite é esti
gUidis. A meningite em adultos é causada por Streptococcus mada em 3:100.000 em países industrializados. Nos Es
pneumoniae ou N. meningitidis. Listeria monocytogenes., tados Unidos, meningite é diagnosticada em 62:100.000
S. pneumoniae e N. meningitidis afetam pacientes idosos. consultas de pronto atendimento.
A meningite tuberculosa é comum em países em desen
volvimento e em pacientes imunocomprometidos (p. ex.. Apresentação. A apresentação depende da idade do pacien
te. Em adultos, cefaleia, febre, rigidez nuca! e alteração do
HIV/Aids e receptores de órgãos sólidos transplantados).
estado mental são sintomas comuns. Febre, letargia e irri-
Patologia tabilidade são comuns em lactentes. Crianças com infecção
Localização. As cisternas basais e os espaços subaracnoi- por M meningitidis podem desenvolver um exantema pur-
des são os espaços liquóricos mais envolvidos pela me púrico. Crises convulsivas ocorrem em 30% dos pacientes.
O LCS mostra leucocitose (majoritariamente células
ningite (Figs. 12-14, 12-15 e 12-16), seguidos pelos sul
cos da convexidade cerebral. polimorfonucleares), proteína elevada e baixa glicose.
Patologia macroscópica. LCS turvo preenche os espaços História natural. Apesar da identificação rápida e de tera
subaracnoides, seguido pelo desenvolvimento de um ex pia efetiva, a meningite ainda apresenta taxas significati
sudato purulento variavelmente denso que recobre as su vas de morbidade e mortalidade. índices de óbito de 15
a 25% têm sido relatados em crianças prejudicadas com
perfícies piais. Vasos dentro do exsudato podem demons
trar alterações inflamatórias e necrose. pobres condições de vida.
As complicações são comuns c numerosas. A hidro-
Características microscópicas. O exsudato rneningeo contém ccfalia obstrutiva extraventrlcular é uma das complica
os organismos responsáveis, células inflamatórias, fibrina
ções mais precoces e comuns. O plexo coroide pode ser
e debris celulares. O parênquima cerebral subjacente com infectado, causando plexitecoroide e. em seguida, ven-
freqüência se encontra edematoso, com proliferação as- triculitc. A infecção também pode estender-se da pia ao
trocitica e microglial subpial.
longo dos espaços perivasculares para o interior do parên
A meningoencefalite mostra alterações inflamatórias
quima, causando cerebríte e abscesso.
na pia, e os espaços perivasculares podem agir como um
Emplemas sub e epidurais ou efusôes estéreis podem
conduto para a extensão da pia para o interior do parên
se desenvolver. Complicações cerebrovasculares da me
quima cerebral subjacente. ningite incluem vasculitc, trombose e oclusão tanto de ar
térias quanto de veias.
Aspectos clínicos
Epidemiologia e demografia. Meningite piogênica é a causa Opções de tratamento. Terapia específica com antibióticos
mais comum de encefalopatia febril aguda e afeta todas as deve ser baseada na cultura e na sensibilidade.
312 Infecçào, inflamação e doenças desmielinizantes
' fe • 2- m.
gênica mostra hiperintensidade
i/T ' t ^ f > cobrindo as superfícies piais de
todos os giros da convexidade
E 2
rr
B .
B
314 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes
giotomografla computadorizada (ATC) e angiografia com Complicações menos comuns incluem pioencéfalo
subtração digital (ASD). (ventriculite), empiema (Fig. 12-23), cerebrite e/ou absces-
so, e isquemia. Todas são discutidas separadamente a seguir.
Complicações oa meningite. Com exceção da hidrocefalia,
complicações da meningite são relativamente incomuns.
Efusões reativas pós-meningite - bolsas estéreis de líqui Diagnóstico diferencial
do semelhante à LCS - desenvolvem-se em 5 a 10% das O principal diagnóstico diferencial da meningite infeccio
sa é a meningite "carcinomatosa", a qual pode ter aspec
crianças tratadas para meningite bacteriana aguda. Efu
sões em geral são lesões benignas que regridem esponta to idêntico nos exames de imagem, portanto a informação
neamente em alguns dias e não requerem tratamento. clínica é essencial. Lembre-se: hiperintensidade nos sulcos/
Efusões podem ocorrer tanto no espaço subdural cistemas em FLAIR é um achado inespecífico e pode ser ob
servado em um número de diferentes entidades (ver quadro).
(mais comum) quanto no espaço subaracnoide. As conve-
xidades frontais, parietais e temporais são os locais mais
comuns. A TC sem contraste mostra coleções bilaterais
CAUSAS DE LCS HIPERINTENSO EM FLAIR
extra-axiais em forma de crescente que são iso a levemen
te hiperdensas em comparação ao LCS nonnal. Comuns
Efusões são iso a levemente hiperintensas ao LCS em TI • Sangue
e isointensas em T2. Elas são com freqüência discretamente o Hemorragia subaracnóidea
• Infecção
hiperintensas ao LCS em FLAIR (Fig. 12-22A). Efusões
não realçam na seqüência em TI pós-contraste, porém de o Meningite
• Artefato
monstram realce ao longo da superfície mediai (cerebral) das
o Susceptibilidade
lesões. As efusões não restringem na seqüência de difusão,
o Fluxo
diferenciando-as dos empiemas subdurals (Fig. 12-22B).
12-24 Ilustração axial mostra cerebrite precoce (a fase inicial da for 12-25 Espécime de necropsia de um paciente com sepse e crises con
mação do abscesso) no lobo frontal direito. Há uma massa focai não en- vulsivas mostra dois pequenos focos de cerebrite precoce com edema não
capsulada de fiemorragia petequial, células inflamatórias e edema (S. encapsulado e fiemorragias petequials 31. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
12-26 Caso de necropsia demonstra os achados patológicos tipicos da 12-27 Outro caso de necropsia mostra os achados típicos de abscesso
cerebrile tardia, com significativos efeito de massa e edema. A lesão co- cerebral no estágio de encapsulação precoce. O núcleo necrótico liqüe
alescente mostra alguma necrose central [S e uma borda mal definida feito da lesão é circundado por uma cápsula bem desenvolvida í—»].
de hemorragias petequiais SI. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
Encapsulação tardia. Com o tratamento, a cavidade central que a TC, e considerada a modalidade de escolha.
gradualmente involui e reduz de tamanho, a deposição de Cerebrite precoce. A cerebrite muito precoce pode ser in
colágeno espessa ainda mais a parede, e o edema vaso visível na TC. Uma massa hipodensa mal delimitada cor-
gênico circundante desaparece. Esse estágio de encapsu tical/subcortical é o achado mais comum (Fig. 12-28A).
lação precoce tem início várias semanas após a infecção A cerebrite precoce freqüentemente apresenta pouco ou
e pode durar muitos meses. Finalmente, somente um pe nenhum realce na TC com contraste.
queno nódulo gliótico de colágeno e llbroblastos, que não A cerebrite precoce é hipo a isointensa na ponderação
apresenta realce, permanece. TI e hiperintensa em T2/FLA1R. A seqüência T2* GRE
pode mostrar focos hemorrágicos puntiformes com arte
Aspectos clínicos fatos de susceptibilidade. Realce irregular pode ou não
Epídemiologia. Abscessos cerebrais são raros. Somente estar presente. A seqüência de difusão mostra restrição à
2.500 casos são relatados anualmente nos EUA. difusão (Fig. 12-28).
Iníecções congênitas e infecções piogênicas e virais adquiridas 317
v j r. k - M
12-29E A seqüência de di
fusão mostra que o centro da
lesão apresenta forte restrição à
difusão B.
12-29F Êspectroscopia de pró-
tons da cavidade com TR=2.000
e TE=35. Aminoácidos (valina,
ieucina e isoleucina) em 0,9 ppm
B, acetato em 1,9 ppm B
iactato em 1,3 ppm B e suc
cinate em 2,4 ppm (seta dupla).
Achados de imagem são compa
tíveis com abscesso nas fases de
U
cerebrite tardia/encapsulação
precoce.
Infecções congênitas e infecções piogênicas e virais adquiridas 319
Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial dos abscessos varia com seus
estágios de desenvolvimento. A cerebrite precoce é tão
pobremente delimitada que pode ser difícil caracterizá-
-la, e seu aspecto pode simular muitas lesões, incluindo
isquemia cerebral e neoplasia.
Uma vez que um anel se desenvolve ao redor de um
centro necrótico, o diagnóstico diferencial é aquele de
uma massa genérica com realce anelar. Apesar de existi
rem muitas lesões com realce anelar no SNC, o diagnós
tico diferencial mais comum é infecção versus neoplasia
(glioblastoma ou metástase). Tumores apresentam ele
vado rCBV nas suas "crostas", não restringem à difusão
(ou, se o fazem, não é tanto quanto os abscessos) e não
B demonstram aminoácidos citosólicos na espectroscopia
12-328 Imagem em difusão do mesmo paciente
de prótons.
mostra que o abscesso B3 e a ventriculíte B apre Entidades menos comuns que podem se apresentar
sentam restrição à difusão. como massas com realce anelar incluem doenças des-
Infecçoes congênitas e infecções picgênicas e virais adquiridas 321
niíelinizantes, nas quais o anel costuma ser incompleto e 1 milímetro entre o ventrículo e o abscesso cerebral au
"aberto" na direção do córtex. Hematomas em resolução menta a chance de ruptura em 10%.
podem exibir um padrão de realce vascular e em anel. A ventriculite também pode ocorrer como complica
ção da meningite, em geral via a disseminação da infecçào
Ve n t r i c u l i t e por meio do plexo coroide (plexite coroide) para o interior
Abscessos intraventriculares primários são raros. Uma co do LCS.
leção de material purulento no ventrículo mais provavel Os pacientes que necessitam de derivação ventricular
mente decorre da ruptura intraventricular de um abscesso externa (DVE) também estão em risco para o desenvol
cerebral (RIVAC), uma condição catastrófica. O reconhe vimento de infecções ependimárias relacionadas a cate-
cimento e a pronta intervenção são necessários para tratar teres. A taxa de infecçào de cateteres de ventriculostomia
essa condição altamente letal. externa é alta, com incidências descritas que variam de 5
a 20%. Os patógenos mais comuns são o Síaphilococciis,
Terminologia Streptococcus e Enierobacter. Ventriculite nosocomial e
A ventriculite é também chamada de ependimite. pioen- ventrículo meningite são complicações potencialmente
ccfalo e (menos comumente) empiema ventricular. fatais da DVE.
Etiologia Patologia
A infecçào do epêndima ventricular ocorre mais quando o exame de necropsia mostra que o epêndima, a região
um abscesso piogênico rompe através de sua fina cápsula subependimária e o plexo coroide estão congestionados
mediai para o interior do ventrículo adjacente. O risco de e cobertos por pus (Fig. 12-31). Ependimite hemorrágica
RIVAC aumenta se um abscesso é profundo, mullilocula- pode estar presente. A hidrocefalia com pus obstruindo o
do e/ou próximo da parede ventricular. Uma redução de aqueduto é comum.
Aspectos clínicos
Epidemiologia e demografia. a incidência de RIVAC é variá
vel. Estudos recentes estimam que a ruptura intraventricu
lar ocorre em até 35% dos abscessos cerebrais. Homens
sào mais afetados do que mulheres.
Imagem
Ventriculomegalia com nível de debris nas porções pen
dentes dos cornos occipitais em conjunto com hipoden-
sidade periventricular é o achado clássico nos exames de
TC sem contraste (Fig. 12-33A). As paredes ventriculares
realçam na TC com contraste.
A RM deve ser a modalidade de primeira linha em
casos suspeitos para RIVAC. Debris irregulares nos ven-
trículos que são hiperintensos ao LCS em TI e hipointen-
sos em T2 com formação de nível nos cornos occipitais
sào típicos.
12-35A Imagem sagital em T2 em uma criança com O realce varia de nenhum a marcante (Figs. 12-32A
sinusite frontal ES causando celulite ES e empiema e 12-33C). Algum grau de realce ependimário pode ser
epidural S. identificado em 60% dos casos.
As seqüências mais sensíveis são FLAIR e difusão.
Um "halo" de hiperintensidade periventricular está pre
sente tanto cm T2 quanto em FLAIR (Fig. 12-33B). A
seqüência mostra restrição à difusão da água no nível de
debris (Figs. 12-32B e 12-33D).
Diagnóstico diferencial
o diagnóstico diferencial da RIVAC é limitado. Súbita
deterioração de um paciente com um abscesso cerebral
conhecido associado a debris e a pus no interior dos ven-
trículos é quase certo para RIVAC.
Realce ependimário sem debris e pus intraventricu-
lares é um achado inespecífico nos exames de imagem.
Realce tênue, fino e linear das veias periventriculares e
ependimárias é normal, especialmente ao redor dos cornos
frontais, septos pelúcidos e átrios dos ventrículos laterais.
12-35B Imagem em TI pós-contrasie do mesmo
As neoplasias malignas primárias do SNC, como o
caso mostra sinusite frontal ES, celulite ES e a
dura espessada e com realce B atrás do empiema glioblastoma multiforme e o linfoma primário de SNC,
epidural. podem se espalhar ao longo do epêndima ventricular, dan-
Infecções congênitas e infecções piogénlcas e virais adquiridas 323
do a ele um aspecto espessado ou nodular "granuioso". diretamente pela fina parede posterior do seio frontal, a
Germinomas e metastases de uma neoplasia primária qual possui metade da espessura da parede anterior (Fig.
extracraniana podem ter tanto espessamento irregular 12-34). A infecção também pode se espalhar indiretamen
quanto realce do epêndima. te e de forma retrógrada por meio de veias emissárias sem
válvulas.
Y
coleção liquida lentiforme hipe-
rintensa frontal esquerda B. A
dura deslocada internamente é
vista como uma fina linha escura
J confirmando que a coleção
está mesmo no espaço epidural.
3 Á / B
12-39A Um homem de 51
anos com sinusite aguda de
senvolveu cefaleia Intensa e
alteração do estado mental. A
TC sem contraste mostra uma
estendem para a fissura inter-hemisférica (Figs. 12-37 e afetados do que mulheres. Um adolescente do sexo mas
12-38). Coleções loculadas e/ou múltiplas unilaterais são culino com cefaleia significativa e febre deve suscitar um
mais comuns do que empiemas bilaterais separados. alto índice de suspeita para complicações de sinusite e
Características macro e microscópicas. O aspecto macroscó pronta avaliação radiológica.
pico mais comum de um empiema é o de uma coleção Apresentação. A maioria dos pacientes apresenta febre e
encapsulada, espessa, amarelada e purulenta localizada cefaleia precedidas por sintomas de sinusite ou otomastoi-
entre a dura e a aracnoide. Empiemas precoces podem ser dite. Meningismo é comum. O Pottpuffy tumor - aumen
coleções não encapsuladas de líquido turvo e mais fluido to localizado de volume na fronte - é considerado um si
12-41 Ilustração coronai mostra as características clássicas da encefa- 12-42 Cérebro de um paciente com EHS submetido à anecrosia mos
lite herpéllca com acometimento bilateral, porém assimétrico do sistema tra lesões hemorrágicas características nos lobos temporais anierome-
límbico. Há inflamação envolvendo os lobos temporais, os giros do cín- diais e regiões subfronlais E3. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
guio e os cortices insulares.
Dicnageni cirúrgica e rápida instituição de tratanienlo (Fig. 12-39B). Hiperintensidade no parênquima subjacen
empírico com antibioticotcrapia endovenosa (inicialmen te pode ser causada por cerebrite ou isquemia (tanto vcno-
te vancomicina e uma cefalosporina de terceira geração) sa quanto arterial).
têm mostrado uma redução na mortalidade. A mortalidade ESs demonstram marcante restrição à difusão da água
dos empiemas tratados ainda é significativa, variando de na seqüência de difusão (Figs. 12-39D e 12-401)). EPs são
10 a 15%. variáveis, mas possuem pelo menos um componente com
restrição (Fig. 12-36D).
Imagem Empiemas mostram variável realce, dependendo da
Os exames de imagem são essenciais para o diagnóstico quantidade de tecido de granulação e da inflamação pre
precoce dos empiemas. A TC sem contraste pode ser nor sentes. A membranas encapsulantes, especialmente na
ma! ou mostrar uma coleção extra-axial hipodensa (Figs. margem externa, impregnam com moderada a forte inten
12-39A e 12-40A) que apresenta realce periférico na TC sidade (Figs. 12-35B, 12-36C, 12-39C e 12-40C).
com contraste (Fig. 12-36A). A janela óssea da TC deve
ser avaliada para sinais de sinusite e otomastoidite. Diagnóstico diferencial
A RM é a modalidade de escolha para a avaliação de O principal diagnóstico diferencial do empiema extra-
potenciais empiemas. Imagens com ponderação TI mos -axial são as coleções extra-axiais não purulentas, espe
tram uma coleção extra-axial que é levemente hiperintensa cialmente as efusões e os hidromassubdurais.
em relação ao LCS. ESs têm formato crescente e locali- Um hematoma subdural crônico (HSDc) é freqüen
zam-sc sobre o hemisfério cerebral. O espaço extracerebral temente hipodenso na TC sem contraste e hiperintenso em
está alargado c os sulcos subjacentes encontram-se com T2/FLAIR. Sangue residual na coleção extra-axial apre
primidos pela coleção. ESs estendem-se para o interior da senta artefatos de susceptibilidade em T2* (GRE, SWI).
fissura inler-hemislcrica. porém não cruzam a linha média. As membranas que formam a cápsula do í-ISDc realçam.
EPs são biconvexos e mais focais do que os ESs. A Diferentemente dos empiemas subdurals, HSDcs não
dura deslocada internamente pode ser identificada como apresentam restrição à difusão.
uma fina linha hipointensa entre a coleção epidural e o Um higroma subdural é uma coleção de LCS esté
cérebro subjacente. Em contraste aos ESs. EPs frontais ril sem realce ou restrição à difusão que ocorre com urna
podem cruzar a linha média, confirmando sua localização ruptura na subaracnoide que permite o escape de LCS
epidural (Figs. 12-35A, 12-36B e 12-40C). para o interior do espaço subdural. A efusão subdural é
Empiemas são iso a hiperintensos em comparação ao pós-meningite, geralmente bilateral e não restringe nas
LCS em T2 (Fig. 12-40B) e são hiperintensos em FLAIR imagens de difusão da água.
Infecçoes congênitas e iníecções piogênicas e virais adquiridas 327
EMPIEMAS
Etiología
• Lactentes e crianças pequenas
o Meningite
• Crianças mais velhas e adultos
o Sinusite, otomastoidite
Patologia
• ESs» EPs
• EP focai
o Geralmente adjacente ao seio paranasal ou mastoide
• ESs podem se espalhar difusamente
o Sobre os hemisférios
o Ao longo do tentório ou foice
Aspectos clínicos
• M:F = 2:1
12-43 Corte axial de necropsia em um caso de EHS
• Caso típico: criança com cefaleia e febre
mostra hemorragias petequiais no córtex insular de am
• Pottpuffy fumor comum com ES frontal bos os lobos temporais 1^. (Cortesia de R. Hewlett, MO.)
• ESs podem se espalhar rapidamente e são
emergências cirúrgicas!
Imagem
• Janela óssea da TC: procurar por infecção nos seios e
mastoides
• EPs são focais, biconvexos e podem cruzar a linha média
• ESs são de formato crescente, cobrem o hemisfério,
podem se estender para a fissura inter-hemisférica
• ESs restringem fortemente na difusão; EPs apresentam
restrição variável
Diagnóstico diferencial
• Hematoma subdural crônico
• Higromasubdural
• Efusão subdural
12-46A Um homem de 68
anos compareceu ao setor de
emergência com pródromo viral
e con(usào. A TC sem contraste
inicial (não mostrada) loi negati
va. Foi obtida RM de emergência.
Artefatos de movimentação
estão presentes, porém a ima
gem em FLAIR mostra hiperin-
tensidade em ambos os córtices
insulares B3.
12-468 A seqüência de di
fusão mostra intensa restrição
em ambos os córtices insulares
B. Hiperíntensidade um pouco
menos marcante é observada
em ambos os lobos temporais
anteriores
B
ou neonatal quando acomete neonatos, porém é designada romediais, o córtex insular, a área subfrontal e o giro do
encefalite pelo herpes simples (EHS) em todos os indiví cíngulo são os locais mais afetados (Fig. 12-42). Acome-
duos após o primeiro mês de nascimento. A EHS pode ser timento bilateral, porém simétrico, é típico (Fig. 12-43).
chamada de encefalite pelo vírus herpes simples. Envolvimento extratemporal e extralímbico acontece,
mas, em comparação, é mais comum em crianças do que
Etlologia em adultos. Quando ocorre, a EHS extralímbica acomete
Mais de 95% dos casos de EHS são causados pelo HSV1, mais o córtex parietal. Infecção predominante no tronco
um patógeno intracelular obrigatório. O vírus inicialmen encefálico é incomum. Os núcleos da base costumam es
te ganha acesso às células da mucosa da nasofaringe, in tar poupados.
vade os ramos sensitivos linguais do nervo trigêmeo, c
Patologia macroscópica. A EHS é uma encefalite fulminante,
então faz o percurso retrógrado para o interior do gânglio
hemorrágica e necrosante. Uma necrose tecidual massiva
trigeminal. O vírus estabelece uma infecção latente dentro
dos neurônios sensitivos do gânglio trigeminal, onde ele acompanhada por várias hemorragias petequiais e intenso
edema é típica. Inflamação e destruição tecidual são pre
pode permanecer dormente por tempo indeterminado, dominantemente corticais, porém podem estender-se para
A expressão de genes virais é silenciosa até que a re
a substância branca subcortical. Casos avançados demons
ativação viral aconteça. A reativação da infecção latente tram rarefaçâo e cavitaçâo ostensivas no lobo temporal.
pelo herpes-vírus pode ocorrer de forma espontânea ou
ser ativada por trauma, estresse, imunossupressão ou flu Características microscópicas. Uma infiltração linfocítica
tuações hormonais. perivascular com infiltração neutrofilica difusa no pa-
rênquima necrótico é típica. Grandes inclusões virais em
Patologia "olho de coruja" nos neurônios, astrócitos e oligodendró-
Localização. A EHS possui uma marcante afinidade pelo citos são observadas na fase aguda e subaguda. Destrui
sistema límbico (Fig. 12-41). Os lobos temporais ante- ção tecidual com neuronofagia e apoptose é marcante.
1
FLAIR de um homem de 37 anos
com EHS confirmada por PCR
mostra grande hiperintensidade
e edema cortical no lobo tempo
ral direito B. O lado esquerdo
parece normal.
12-47B Imagem em difusão
do mesmo paciente mostra mar
cante restrição à difusão no cór
tex do lobo temporal direito B.
Uma tênue área de restrição à
difusão é notada no lobo tempo
ral mediai à esquerda S.
y
12-47C Imagem de difusão
em plano mais superior no mes
mo paciente mostra restrição à
difusão no córtex insular direito
B, região subfrontal direita e
giro do cingulo bem como
um sutil envolvimento do giro do
cíngulo esquerdo B.
12-47D Imagem em TI pós-
-contraste mostra realce irregular
no córtex do lobo temporal
direito B. Nesse caso, o aco-
metimento do sistema límbico
esquerdo é sutil e pode ser iden
tificado somente na seqüência
de difusão.
330 infecçao, inflamação e doenças desmielinizantes
n
ponderação Ti em um homem
de 37 anos com confusão e
alteração do estado mental três
semanas após um transplante de
células-tronco hematopoiéticas
aparenta estar normal.
12-486 Imagem em 12 do
mesmo paciente mostra tênue
hiperlntensldade na amígdala e
no hipocampo do lobo temporal
esquerdo B.
12-48C A hiperlntensldade do
lobo temporal mesial esquerdo é
bem melhor observada na aqui
sição em FLAIR E3.
12-480 Imagem em 12* GRE
não mostra evidência de hemor
ragia.
12-49 Imagem com pondefação T2 em uma menina de 9 anos com 12-50 Vascufite por VZV com infarto de núcleo da base em uma
uma história de infecção de ouvido com duas semanas de evolução, menina de quatro anos. Imagens de TC sem contraste e FLAIR mos
cefaleia, confusão e ataxia mostra cerebeiile aguda. Note o edema e o tram infarto putaminai 63 que restringe a difusão B e no mapa
efeito de massa, visto como hiperintensidade em ambos os hemisférios AOC
cerebeíares E3. A PCR foi positiva para VZV.
12-51 Imagem axial em FLAIR em uma menina de 13 anos com febre 12-52 Encefalite pelo EBV em um homem de 29 anos com cefaleia,
e cetaleia mostra hiperintesidades bilaterais nos núcleos da base E9. A febre, diplopia e sonolência. Imagem em FLAIR mostra hiperintensidades
PCR foi positiva para EBV. nos sulcos, lesões focais no esplênio do CC B e bulbo As lesões na
SB não realçam, mas a lesão do esplênio restringe na difusão E3.
Encefolopatio pelo HHV-6 morrágica são comuns na EHS. porém raros na encefalo-
patia pelo HHV-6. Diferentemente da EHS, as anormali
Etiologia dades observadas na RM tendem à resolução com o tempo
Mais de 90% da população geral é HHV-6-positiva aos 2 na encefalopatia pelo HHV-6.
anos de idade. A maioria das infecções primárias é assin- A hiperemia hipocampal pós-ictal é transitória e
tomática, após as quais o vírus mantém-se latente. não há envolvimento extra-hipocampal.
Infecções congênitas e infecções piogênicas e virais adquiridas 333
12-53 Achados típicos da encefalite pelo WNV incluem lesões não 12-54 Imagens sagitais em TI (esquerda) e 12 (direita) mostram acha
realçantes bilaterais, porém assimétricas nos núcleos da base e mesen- dos de encefalomíeiite rábica. Note o acomentimento do bulbo B e da
céfalo E3. A seqüência de difusão pode mostrar restrição B. medula espinal cervicolorécica (Cortesia de R. Ramakantan, MD.)
12-55 Série de fotografias de necropsias demonstrando os achados 12-56 ENA em uma menina de quatro anos obnubilada e com in
característicos da encefaiopatia necrosante aguda, com necrose hemor fluenza A mostra lesões bitalãmicas hiperintensas em T2 E3 com he
rágica bilateral e simétrica nos talamos mesencéfaio S' e ponte morragia em T2* SI. Note a restrição à difusão B. (Cortesia de C. D.
E9. (Cortesia de R. Hewlett, MD.) Phillips, MD.)
A encefalite viral não epidêmica mais comum, a ence- xia cerebelar aguda. Encefalomielite disseminada aguda
falite herpética, foi discutida anteriormente. Nesta seção, (ADEM) é rara (8%).
consideraremos exemplos adicionais de infecções virais Cerebeiite com edema e hiperintensidade difusa em
do SNC. Começaremos com dois outros membros da fa imagens com ponderação T2/FLA1R é comum (Fig. 12-
mília herpes-vírus; os vírus varicela-zóster e Epstein-Barr. 49). Crianças podem desenvolver leucoencefalopatia
Atentaremos, então, para encefalites esporádicas e epidê multifocal com focos irregulares de hiperintensidade em
micas selecionadas. T2/FLAIR. A vasculopatia pelo VZV com infartos causa
hiperintensidades multifocals no córtex, núcleos da base
Encefalite pelo varicela-zóster e substância branca profunda (Fig. 12-50). O realce nas
A incidência de infecção pelo vírus varicela-zóster (VZV) imagens em TI pós-contraste é variável na encefalite pelo
tem decaído desde a introdução da vacina de vírus vivo, VZV e, quando ocorre, é leve e irregular. Restrição na se
em 1995. Apesar dos índices elevados de vacinação em qüência de difusão é comum.
todo o mundo, o VZV continua a causar doença no SNC.
O VZV, que causa catapora (varicela) e herpes-zóster, Encefalite pelo Epstein-Barr
também causa paralisia de Bell, síndrome de Ramsay- O vírus Epstein-Barr (EBV) causa mononucleose infec
-Hunt, meningite, encefalite, mielite, síndrome de Reye e ciosa. A proliferação descontrolada de línfócitos B in
neuralgia pós-herpética. fectados pelo EBV resulta em doença linfoproliferativa
A encefalite pelo VZV possui uma ampla variação pós-transplante (DLPT). O EBV é encontrado em mais de
etária, com uma idade média ao diagnóstico de 46 anos. 90% dos casos de DLPT que ocorrem dentro do primeiro
Entre 25 e 30% dos pacientes possuem idade inferior a ano pós-transplante.
18 anos. A mononucleose geralmente é uma doença benigna e
Os sintomas geralmente começam 10 dias após o autolimitada. Complicações neurológicas ocorrem cm me
exantema da varicela ou vacinação. Note, entretanto, que nos de 7% dos casos, porém, às vezes, a doença no SNC
muitos pacientes com doença neurológica pelo VZV não pode ser a única manifestação da infecção pelo EBV. Crises
apresentam o exantema característico da varicela. convulsivas, polirradiculomielite, mielite transversa, encefa
Meninginte é a manifestação mais freqüente (50% lite. cerebeiite, meningite e paralisias de nervos cranianos já
dos casos) e a apresentação clínica mais comum em pa foram relatadas como complicações da infecção pelo EBV.
cientes imunocompetentes (90%). Encefalite é a segun O EBV possui predileção pelos núcleos da base. Hi
da apresentação mais comum no SNC (42%), porém é perintensidades bilaterais e difusas em T2/FLA1R nos
a maior apresentação em pacientes imunodeficientes núcleos da baseetálamos são comuns (Fig. 12-51). Hipe
(67%). A apresentação mais comum em crianças é a ata rintensidades irregulares na substância branca são obser-
Infecções congênitas e iníecções piogénicas e virais adquiridas 335
vadas em alguns casos. O EBV também pode causar uma são clinicamente silenciosas. Menos de 1% dos pacientes
lesão transitória e reversível do esplênio do corpo caíoso, desenvolvem doença neuroinvasiva. Pacientes imunossu-
que demonstra restrição na difusão (Fig. 12-52). primidos e idosos possuem maior risco.
O diagnóstico diferencial da infecção pelo EBV in A infecção do SNC pelo WNV pode resultar em me
clui ADEM e outras infecções virais, especialmente pelo ningite, encefalite e paralisia aguda flácida/poliomielite.
Wesi Nile Virus (vírus do oeste do Nilo). O diagnóstico definitivo é feito por meio de POR.
Hiperintensidades bilaterais em T2/FLA1R nos nú
Encefalite do Nilo ocidental cleos da base, tálamos e tronco encefálico são típicas
O IVest Nile Vints (WNV) é um flavivírus transmitido por (Fig. 12-53). O WNV pode causar uma lesão transitória
insetos que causa epidemias periódicas de doença febril e no esplênio do corpo caloso. As lesões restringem na se
encefalite esporádica na África, na bacia do Mediterrâneo, qüência de difusão, porém raramente realçam.
Europa e sudoeste da Ásia. O primeiro surto no hemisfé
rio ocidental ocorreu em Nova Iorque, no ano de 1999. Encefalite rábica
Desde então, o WNV se espalhou pela América do Norte A encefalite rábica é causada por um vírus de RNA neuro-
e para regiões das Américas Central e do Sul. Atualmente, trópico da família Rhabdoviridae e é um significativo pro
o WNV é a causa mais comum de meningoencefalite epi blema de saúde pública nos países em desenvolvimento.
dêmica na América do Norte. Quase 55 mil mortes devido à encefalite rábica ocorrem
O ciclo do WNV ocorre entre os mosquitos vetores e anualmente, 99% na Ásia e África. O cachorro é o princi
os pássaros hospedeiros; humanos são hospedeiros inci- pal vetor e reservatório viral, embora outros mamíferos (p.
dentais. A transmissão aumenta nos meses mais quentes; ex., morcegos, lobos, guaxinins, gambás e fuinhas) possam
no hemisfério norte, o pico de atividade ocorre de julho a atuar como hospedeiros. O vírus é abundante na saliva do
outubro. Quase 80% das infecções humanas pelo WNV animal infectado e é depositado nas lesões por mordida.
\.£i.
substância branca é tâo íina que
os ventrículos quase contatam a
substancia cinzenta cortical.
12-58 Imagem axial com
ponderação TI em um rapaz de
16 anos com redução do desem
penho escolar e alterações com-
portamentais mostra ostensiva
atrofia com hipointensidades
nos lobos frontais e occipitais
B. A análise do LCS foi positiva
para anticorpos contra o vírus do
sarampo.
12-60A Imagem axial em FIAIR de um paciente de 23 anos com epi 12-60B Imagem coronal em T2 do mesmo paciente confirma a atrofia
lepsia refratària secundária à ER mostra perda volumétrica na região fron- frontolemporai e mostra bem a perda volumétrica na insula BI. Encefa-
totemporaí esquerda com aumento do venlrículo lateral esquerdo e dos iile de Rasmussen.
sulcos. Note a hiperintensidade na SB, núcleos da base, Insula e córtex E3.
O vírus se replica nos tecidos musculares na região da cerebral e lesões reversíveis no esplênio do corpo calo-
ferida, infectando, então, os neurônios motores e acessan so c da substância branca são comuns. Achados similares
do o SNC por fluxo axoplásmico retrógrado. à sindrome de encefalopatia posterior reversível (PRES)
A encefalitc rábica humana é uma doença rapidamen também foram descritos.
te fulminante e fatal, uma vez que os sintomas clínicos
tornam-se evidentes. A história e a apresentação clínica Encefalopatia necrosante aguda
são altamente sugestivas, porém o diagnóstico definitivo A encefalopatia necrosante aguda (ENA) é uma forma
requer confirmação laboratorial do antígeno ou anticor mais grave e letal de EAl, caracterizada por febre alta,
pos rábicos, ou o isolamento do vírus a partir de amostras crises convulsivas e rápida deterioração clínica dentro de
biológicas. 2 a 3 dias após o início dos sintomas. A maioria dos casos
O vírus da raiva possui uma predileção pelo tronco ocorre em crianças ou em adultos jovens.
encefálico, tálamos e hipocampos. A RM mostra hiperin- A ENA causa necrose cerebral simétrica e hemorrá
tensidades mal delimitadas no bulbo dorsal e na medula gica. Os tálamos, tegmento do mesencéfalo e ponte são
cervical superior (FIg. 12-54), tegmento da ponte, subs os locais mais afetados (Fig. 12-55). O acometimento da
tância cinzenta periaquedutal, mesencéfalo, tálamos me- substância branca periventricular, cerebelo e medula foi
diais/hipotálamo e hipocampos. Hemorragia e realce cos relatado em alguns casos.
tumam estar ausentes, ajudando a diferenciar a encefalite A TC pode ser normal na fase precoce da doença.
rábica da encefalite japonesa e de outras encefalites virais. Hiperintensidade bilateral e simétrica nos tálamos é ob
servada em T2/FLA1R (Fig. 12-56). O mesencéfalo, pon
Encefalopatla associada ao influenza te. cerebelo e substância branca profunda costumam ser
A encefalite ou encefalopatia associada ao influenza acometidos. As seqüências em T2* (GRE, SWl) mostram
(EAl) é caracterizada por febre alta, convulsões, edema artefatos de susceptibilidade magnética nas hemorragias
cerebral e alta mortalidade. Ela geralmente afeta crian petequiais, mais comumente nos tálamos. Restrição à di
ças com idade inferior a 5 anos. O início da deterioração fusão foi descrita em alguns casos.
neurológica ocorre de poucos dias a uma semana após os
Outras encefalites virais
primeiros sinais de infecção por influenza. Muitos vírus já
foram relatados como causadores da EAl, mais recente Uma série de outras encefalites virais já foi identificada.
mente o H3N2 e o influenza A (H1N1, também conhecido Enquanto algumas (como as encefalites pelo rotavirus)
como gripe suína). são disseminadas, outras (p. ex., encefalite japonesa, en
Os exames de imagem são anormais na maioria dos cefalite de La Crosse, encefalite pelo vírus Nipah) pos
casos. Lesões talâmicas bilaterais e simétricas, edema suem uma distribuição geográfica mais restrita.
Infecções congênitas e infecções piogènicas e virais adquiridas 337
Encefalíte pelo rotavirus gios precoces da doença, portanto RM normal não exclui
• Patógeno Gi comum em crianças PES. Infiltrados inflamatórios na substância cinzenta cor
• Cerebelite, lesão no esplênio do corpo caloso tical são os principais achados patológicos na PES pre
coce; redução da substância cinzenta no córtex fronto-
Encefalíte japonesa
• Encefalíte humana endêmica mais comum
temporal pode ocorrer antes que outras lesões tornem-se
evidentes (Fíg. 12-58). Outros achados anormais descn-
o Coréia, Japão, índia e sudeste da Ásia
• Lesões bilaterais nos tálamos, núcleos da base, volvem-se posteriormente, com hiperintensidade bilate
substância negra, hipocampo ral, porém assimétrica, nos núcleos da base, córtex, subs
• Alta morbidade e mortalidade tância branca subcortical e periventricular nas seqüências
com ponderação T2/FLA1R (Fíg. 12-59).
Encefalíte de La Crosse Atrofia difusa com aumento dos sulcos e dos ventrí-
• Crianças em idade escolar (centro-oeste dos EUA)
culos ocorre conforme a doença progride (Fig. 12-57).
• Simula EHS, porém é mais benigna
A espectroscopia de protons mostra baixos níveis de
n-acetil-aspartato e colina, com elevados mioinositol e
Encefalites crônicas glutamina/glutamato.
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340 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes
capitulo, serão feitas considerações sobre as infecções A neurotuberculose é secundária à disseminação he-
do SNC emergentes e outras infecções com o objetivo de matogênica de infecção exlracraniana, mais freqüentemen
alertar que os agentes etiológicos encontram-se dispersos te pulmonar. O trato gastrintestinal, geniturinário, sistema
em todos os ambientes. musculoesquelético e linfonodos são fontes menos comuns.
342 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes
anibiens e a fossa interpeduncular são os locais mais co- -ácidorresistentes podem eventualmente ser identificados
mumente envolvidos (Fig. 13-3). nos esfregaços de LCS, mas o diagnóstico definitivo de
Os tuberculomas apresentam um centro mole e ne- pende de teste PCR positivo ou crescimento e identifica
crótico. com densidade semelhante a um queijo, circun ção de M mberculosis em culturas.
dado por um halo granulomatoso acinzentado (Fig. 13-4).
História natural e tratamento. O prognóstico é variado e
Características microscópicas. Edema, infiltração perivascu depende das condições imunológicas do paciente e do tra
lar e reação microglial são achados característicos do teci tamento. A TB não tratada pode ser fatal em 4 a 8 sema
do cerebral imediatamente abaixo do exsudato tuberculoso. nas. Mesmo com tratamento, um terço dos pacientes piora
O exsudato inflaniatório envolve os grandes vasos e dentro de seis semanas. A mortalidade geral é de 25 a 30%
os ramos arteriais perfuranles, invadindo as paredes vas e aumenta na TB com resistência a fármacos.
culares e causando uma pan-arlerite verdadeira (algumas A TB inultirresistentc (TMR) é resistente a pelo me
vezes chamada de "endarterite obliterante"). Uma oclusão nos duas drogas antituberculosas de primeira linha, isoniazi-
vascular com infartos secundários é identificada em 40% da e rifampicina. A tuberculose extensivamente resistente
dos casos necropsiados com MTB, mais comumente nos a fármacos (TXR) é definida como tuberculose que é resis
núcleos da base e na cápsula interna. Infartos territoriais tente à isoniazida, à rifampicina, a qualquer fluoroquinolona
extensos são menos comuns. e pelo menos a um dos três fármacos injetáveis de segunda
Os tuberculomas demonstram necrose caseosa central linha (p. ex., amicacina, canamicina ou capreomicina).
circundada por células gigantes multinucleadas (em geral As complicações comuns da TB do SNC incluem hi-
células de Langerhans), histiócitos epitehoides, plasmó- drocefalia (70%) e acidente vascular cerebral (acima de
citos e linfócitos. Bacilos álcool-ácidorresistentes podem 40%). A maioria dos sobreviventes apresenta seqüelas
ser de difícil identificação. duradouras relacionadas à epilepsia, a retardo mental, a
O pseudoabscesso tuberculoso consiste em tecido de déficits neurológicos ou mesmo a paralisias.
granulação vascular com bacilos álcool-ácidorresistentes,
debris necróticos liqüefeitos e macrófagos.
TB DO SNC: ETIOLOGIA, PATOLOGIA
idades, mas 60 a 70% dos casos ocorrem durante as duas • Todas as faixas etárias, porém 60 a 70% em
primeiras décadas de vida. Não existe predileção por sexo. pacientes com < 20 anos
• TB do SNC em 2 a 5% dos casos
Apresentação. A manifestação mais comum da TB do SNC • 10 a 30% das lesões expansivas cerebrais em áreas
ativa é a meningite. A apresentação varia de febre e cefa- endêmicas
leia com pouco meningismo até confusão, letargia, con
vulsões e coma. Sintomas de hipertensão intracraniana Apresentação e diagnóstico
• Febre, cefaleia, meningismo, sinais de T da PIC
são comuns. • Diagnóstico definitivo é melhor e mais rápido por PCR
As neuropatias cranianas, especialmente envolvendo
os NCs 11.111, IV, VI e VII são comuns. Prognóstico
• Mortalidade geral (25 a 30%)
Diagnóstico. A análise do LCS demonstra baixa glicose, • Piora com TMR ou TXR
Diagnostico diferencial
Por apresentarem características de imagem semelhantes, 13-9A Imagem ponderada em T2 demonstrando
os principais diagnósticos diferenciais da MTB são me múltiplos tuberculomas como focos hipointensos com
ningite carcinomatosa e meningite piogênica. A me edema periférico B.
ningite carcinomatosa é normalmente encontrada em
pacientes mais velhos com história de neoplasia do SNC
primária ou sistêmica.
A neurossarcoidose também pode simular MTB. A
infiltração da hipófise, do infundíbulo hipofisário e do hi-
potálamo é comum.
O principal diagnóstico diferencial para múltiplos
tuberculomas no parênquima cerebral é a neurocisticer-
cose (NCC). Na NCC, em geral são encontradas lesões
em múltiplos estágios de evolução. Os tuberculomas tam
bém podem lembrar abscesses piogênicos ou neoplasias.
Os abscessos apresentam restrição à difusão da água. Os
tuberculomas apresentam um grande pico de lipídeo na
espectroscopia por RM e não apresentam o pico de Cho
característico das neoplasias.
O pseudoabscesso por TB pode ser idêntico ao abs
cesso piogênico nos estudos de imagem-padrão. Ambos 13-9B Imagem ponderada em Ti pós-contraste do
apresentam difusão restrita. A espectroscopia por RM do mesmo paciente demonstrando lesões adicionais com
pseudoabscesso por TB não demonstra aminoácidos do realce puntiforme B e anelar B3. (Cortesia de R.
Ramakanta, MD.)
citosol, achado característico das lesões piogênicas.
346 Iníecção, inflamação e doenças desmielinizantes
Aspectos gerais
• Melhor método = RM com contraste
• Achados variam conforme a patologia
o Meningite por TB
o Tuberculoma
o Abscesso
• Combinação de achados (habitualmente MTB,
tuberculoma)
Achados na TC
• Meningite por TB
o Pode ser normal nas fases iniciais!
o Hidrocefaíia não específica é comum
o Margens ventriculares indefinidas
o Sulcos e cisternas da base apagados
13-1 OA Imagem ponderada em T2 demonstrando o Exsudatos iso/moderadamente hiperdensos
tuberculomas caseosos hipointensos SI, edema (S. o Realce do espaço pial-subaracnóideo grosseiro,
A liquefaçao central apresenta sinal híperintenso E3. intenso
o Pode causar paquimeningopatia com realce difuso
dural-aracnóideo
o Procurar por infartos parenquimatosos secundários
• Tu b e r c u l o m a
o Massas parenquimatosas iso/hiperdensas
o Arredondado, lobulado > margens irregulares
o Edema variável
o Realce puntlforme, sólido ou anelar
o Pode se apresentar com massa durai focai com realce
o Crônico e curado, pode calcificar
• Abscesso
o Massa hipodensa
o Marcado edema perilesíonal (geralmente)
o Realce anelar
Achados na RM
• Meningite por TB
o Pode ser normal
13-106 Imagem ponderada em Ti pós-contraste o LCS "sujo" em TI
com saturação de gordura demonstrando realce sólido o Hiperintenso no FLAIR
E3 e anelar S. o Realce do espaço pial-subaracnóideo grosseiro,
Intenso
o Pode se estender pelos espaços perivasculares ao
cérebro
o Vasculile, infartos secundários
o Artérias penetrantes > infartos territoriais grandes
• Tuberculoma
o Hipo/isointenso ao cérebro em TI
o Maioria hipointenso em T2
o Realce anelar
o Raro = lesão expansiva com realce e base durai
o Grande pico de lipideo na espectroscopia por RM
• Abscesso
o Hiperintenso em T2/FLAIR
o Edema perilesíonal marcado
o Realce periférico, multilobulado
Diagnóstico diferenciai
• MTB
13-10C Espectroscopia por RM com TE = 35 ms de o Meningite piogênica e carcinomatosa
monstrando redução do pico de NAA e pico de lipídeo- o Neurossarcoidose
-lactato proeminente B.
Tuberculose, infecções fúngicas, parasitárias e outras iníecções 347
Patologia
São quatro as manifestações patológicas das micoses do
SNC: doença meningea difusa (mais comum), lesões pa-
renquimatosas focais ou múltiplas (comum), doença dis
seminada não focai do parênquima (rara) e massa focai
com base durai (raríssima).
Localização. As meninges são o sítio mais comum, segui
das pelo parênquima cerebral e pela medula espinal.
Tamanho e número. Micetomas parenquimatosos variam
em tamanho desde muito pequenos (poucos milímetros)
até lesões com 1 ou 2 cm. Lesões maiores são infrequen-
tes, embora múltiplas lesões sejam comuns.
Os abscesses fúngicos são lesões encapsuladas com sados. Granulomas fúngicos são menos comuns, sendo
centro apresentando aspecto mucoide espesso ou marrom caracterizados pela presença de células gigantes muiti-
claro, margem irregular avermelhada e edema periférico. nucleadas.
Doença disseminada é menos comum e causa cerebrite As infecções fúngicas extra-axiais são caracteriza
fúngica com cérebro difusamente inchado. das predominantemente por proliferação de células fu-
Os infartos hemorrágicos, em gerai nos núcleos da siformes.
base ou na junção entre a substância branca e cinzenta,
são comuns com fungos angioinvasivos (Fig. 13-16). Ra Aspectos clínicos
ramente as infecções fúngicas podem produzir massas Epioemiologia. a epidemiologia varia conforme a espécie
com base durai com aspecto semelhante ao meningioma. do fungo. Muitas infecções são comuns e assintomáticas
Características microscópicas. As características microscópi (p. ex., cerca de 25% da população do Canadá está infec
tada por Histoplasnía).
cas das infecções fúngicas do SNC variam com a espécie do
A candidíase é a infecção fúngica nosocomial mais
agente (Fig. 13-17). Blasiomyces. íiistoplasma, Cryptococ- comum do mundo. A aspergilose responde por 20 a 30%
eus e Candida são leveduras. Aspei-gillus tem hifas septa-
dos abscessos cerebrais fúngicos e é a complicação cere
das e ramificadas. Candidatem pseudo-hifas. Coccidioides
bral mais comum após o transplante de medula óssea. Mit-
apresenta esporângios que contêm endósporos. cor são amplamente distribuídos, mas em geral infectam
O abscesso fúngico exibe necrose centrai de coagulaçào
com moderadas quantidades de células inflamatórias agudas apenas pacientes imunocomprometidos.
(ieucócitos poiimorfonucieares) e crônicas (linfo-histióci- Aspectos demográficos. Os pacientes imunocompetentes
tos) junto com um número variável de organismos fiíngicos. apresentam distribuição bimodal de idade com infecções
Eie também é circundado por um halo de tecido de fúngicas predominando em crianças e em indivíduos ido
granulação, hemorragia perivascular e vasos trombo- sos. Existe uma discreta predominância no sexo masculi-
13-19A TC demonstrando
13-23 Abscessos múltiplos por Nocordio em uma mulher de 35 anos. 13-24 Abscessos pot Aspergillus em um paciente imunocomprome-
Note os halos hiperintensos em Ti SB, hipontensidade em T2/FLAlfi tido. Imagem ponderada em TI no plano axial demonstrando focos de
SI e realce sólido e periférico hiperintensidade puntiformes e anelares com artefato de susceptibi-
lidade magnética na ponderação em T2 ' SI. Realce nodular e periférico
é identificado em Ti pós-contraste com saturação de gordura S. A
maioria das lesões não apresenta restrição à difusão SB.
13-25A TC da aspergilose
angioinvasiva demonstrando
infartos hípodensos no cerebelo,
mesencéfalo e lobos frontais e
temporais.
13-25B TC axial do mesmo
paciente demonstrando que os
infartos nos núcleos da base
apresentam sinais de transfor
mação hemorrágica
A RM mostra que o cisto é isointenso ao LCS em TI e A parede do cisto encontra-se espessada e retraída, e
T2/FLAIR. O escólex é nodular e discretamente hiperintenso. o edema perilesional diminui significativamente, até, por
A ausência de realce é típica. A NCC disseminada ou "miliar" fim, desaparecer. Um realce nodular ou periférico anelar
dá um aspecto de "sal e pimenta" ao cérebro (Figs. 13-33 e discreto é característico nessa fase (Fig. 13-36D).
13-34) com impressionante ausência de edema perilesional. Fase nodular calcificada. Na TC, identifica-se um
Fase vesicular coloidal. O fluido do cisto é hiperdenso pequeno nódulo calcificado sem edema periférico ou re
em relação ao LCS na TC e demonstra realce anelar peri alce (FIg. 13-36A). As lesões calcificadas cicatriciais são
férico na TC pós-contraste. Uma pequena a grande quanti vistas como pontos de baixo sinal em imagens ponderadas
dade de edema circunda a larva em processo degenerativo. em TI e T2. O edema perilesional não é identificado. Nas
A RM demonstra que o fluido do cisto é moderada imagens T2* GRE, pode ser identificado artefato de sus-
mente hiperintenso ao LCS em TI e o escólex* hiperinten ceptibilidade magnética, inclusive multifocal, denotando
so em FLAIR (Fig. 13-35). Uma pequena a grande quan múltiplos nódulos calciíicados (Fig. 13-36C). As lesões
tidade de edema periférico pode ser vista (Fig. 13-36B). cicatriciais não sofrem realce nas imagens ponderadas em
Não há restrição à difusão da água. O realce da parede TI após infusão de contraste.
do cisto é intenso e freqüentemente tem aspecto "felpu-
Características especiais. A NCC racemosa se apresenta
do" (Figs. 13-36D e 13-37). A espectroscopia por RM de
como múltiplos cistos, de tamanho variável, lobulados,
monstra pico de succinate ressonando em 2,4 ppm, assim
com aspecto de "cacho de uva", nas cisternas basais. A
como um pico de lactato e um pequeno pico de acetato.
maioria dos cistos não possui escólex identificável. A
Fase granular nodular A TC demonstra edema resi
aracnoidite com alterações fibrosas/cicatriciais determi
dual discreto. Na TC pós-contraste, identifica-se um nó-
na realce periférico dos cistos e ao longo das superfícies
dulo em involução, com realce leve a moderado.
cerebrais (Fig. 13-38). Hidrocefalia obstrutiva é comum.
A vasculíte associada a NCC com infarto é uma
* Estudos recentes têm demonstrado que o escólex pode ter si complicação rara, mas importante da forma racemosa da
nal alto na difusão (Santos GT et. al. AJNR 2013-34:310) NCC e pode simular tuberculose. A maioria dos infartos
13-36A TC em um paciente
com NCC demonstra múltiplas
lesões nodulares calcilicadas
E3. Poucas demonstram edema
adjacente BI.
13-36B FLAIR demonstrando
vários tocos hipointensos B
causados por NCC quiescente na
fase nodular calcificada. Vários
focos de edema perilesional
estão aparentes ao redor das
lesões na fase vesicular coloidal
BI enquanto um edema míni
mo residual circunda as lesões na
fase granular nodular ES.
13-37 Cisto da NCC em degeneração na fase vesicular coioidal El 13-38 NCC racemosa. Múltiplos pequenos cistos sem escóiex visíveis
com escóiex B demonstrando edema perilesionai SI e realce com preenchem a cisterna suprasselar El. Observe hidrocefalia, reação me-
limites pouco definidos níngea com moderado realce periférico ao redor dos cistos em "cacho de
uva" (Cortesia de P. Rodriguez, MO.)
13-41 TC pós-contraste de
monstrando um cisto hidático
multllocuiadoque contém múlti
plos cistos filhos. (Cortesia de S.
NagI, MD.)
13-42 Série de imagens axiais
de RM com Ti, FLAIR, ADC e difu
são (sentido horário iniciando no
canto esquerdo) demonstrando
cisto hidático E3 com a mem
brana germinativa destacada
Bi e "areia hidática" na porção
dependente do cisto ES. Edema
e efeito expansivo periférico são
mínimos.
Tuberculose, infecções fúngicas, parasitárias e outras infecções 363
13-43A Imagem ponderada em Ti pós-conlraste de um homem 13-43B Imagem ponderada em Ti pós-contraste em plano mais cra
de 20 anos com equinococose alveolar demonstrando múltiplos agru nial demonstrando mais coleções de cistos com realce ES e edema ^3.
pamentos de cistos, em aspecto de couve-flor, irregulares, com realce FLAIR {não mostrado) demonstrava edema ao redor dos agrupamentos
anelar E3. de cistos. (Cortesia de M. Thurnher, MO.)
Imagem
Um amplo espectro de achados de imagem na meningoen
cefaiite amebiana é descrito, incluindo exsudatos menínge
os, lesões hemorrágicas parenquimatosas multifocais {Fig.
13-46) e lesões pseudotumorais com necrose (Fig. 13-47).
A MAP demonstra achados de leptomeningite com
obliteraçâo dos sulcos cerebrais e realce especialmente ao
longo das cisternas perimesencefálicas. As lesões paren
quimatosas multifocais com envolvimento das estruturas
da fossa posterior, diencéfalo e lálamo são típicas. Angiite
necrotizante com hemorragias e infarto franco pode ser
vistas em alguns casos.
A EGA demonstra um padrão multifocal com lesões
13-44A Patologia macroscópica de um paciente com
meningoencefaiite amebiana demonstrando múltiplos
descontínuas na junção corticomedular e/ou padrão pseu-
exsudatos basilares hemorrágicos S!. dotumoral com uma lesão solitária expansiva (Fig. 13-48).
Os abscessos amebianos normalmente são localiza
dos nos núcleos da base ou na interface entre a substân
cia branca e cinzenta. Lesões múltiplas ou solitárias com
margens irregulares e com realce anelar são os achados de
imagem típicos (Fig. 13-47).
Diagnóstico diferencial
As características de imagem da amebíase são inespecí-
ficas. Abscessos amebianos e meningoencefaiite podem
simular doenças causadas por outros agentes piogênicos,
parasitários e granulomatosos. As lesões multifocais paren
quimatosas ou pseudotumorais podem simular neoplasias.
Malária
Terminologia e etiologia
13-44B Corte coronal no mesmo caso demonstrando A malária cerebral (MC) é causada pela infecção pelo
numerosos focos de hemorragia parenquimatosa l~>l- protozoário Plasmodium e é transmitida pelos mosquitos
Anopheles infectados. Quatro espécies causam doença
humana: R falciparum, P. vivax, P. ovale e P. malariae.
Destas, P. falciparum tem a morbimortalidade mais im
portante e causa 95% dos casos de MC.
O ciclo de vida do parasita da malária envolve a fê
mea do mosquito Anopheles e um hospedeiro humano. Os
esporozoítos são inoculados nos humanos durante a pica
da do mosquito. O esporozoíto invade as células hepáticas
e se replica assexuadamente, sofrendo maturação para a
forma de esquízontes, que rompem e liberam merozoítos.
Os merozoítos infectam as hemácias (Hem), e podem se
transformar em trofozoítos, que se reproduzem assexua
damente no sangue, ou em gametócitos, que se reprodu
zem sexuadamente em capilares. Os gametócitos são en
tão ingeridos por mosquitos, fechando o ciclo de vida do
parasita (Fig. 13-49).
13-44C Corte histológico demonstrando meningite
S], células hemorrágicas/inflamatórias nos espaços Patologia
de Virchow-Robin [S. (Cortesia de B. K. DeMasters,
MD.) Macroscopicamente, o cérebro se apresenta inchado, com a
superfície externa freqüentemente de cor vermelho-escuro.
Tuberculose, infecções fúngicas, parasitárias e outras infecções 365
FA S E H E PAT I C A H U M A N A
lübhepáiiw
Mosquitos inoculatn
espoiozoílos
<»o
Esquizonie
ESTÁGIOS NO SANGUE .
'fe HUMANO /
V
Trofozollo
<?
madufo
^ Trofozolto
i m a t u r o
(fase anelai)
Camoldcitos
13-49 Os esporozoitos inocuiados no sangue infectam os hepatócitos. 13-50 Córtex edematoso cinza-escuro da maiáfia (esquerda) compa
Quando maturados, as células rompem, liberando merozoítos que infec rado ao cérebro normal (direita). (Cortesia de R. Hewlett, MO.)
tam eritrócitos. Os merozoítos se transformam em trofozoítos ou game-
tócitos, que são então Ingeridos por mosquitos não Infectados.
croscópica, mas é rara. Um edema cerebral difuso pode O diagnóstico diferencial varia com a idade do pacien
ser o achado dos casos graves. te. O principal diagnóstico diferencial da MC em adultos
A RM demonstra hiperintensidades focais nos núcle são múltiplas cmbolias/infartos cerebrais, que mais co-
os da base, talamos e substância branca em T2/FLAIR mumente envolvem a interface entre a substância branca e
(Fig. 13-52). Hiperintensidades confluentes podem ocor cinzenta ou o córtex. As hemorragias petequiais múltiplas
rer em casos graves, embora infartos de grandes territó em T2* são inespecíficas e podem ser vistas na síndrome
rios sejam raros. da embolia gordurosa, Icucoencefalite aguda hemorrá
Imagens ponderadas em T2* demonstram hemor gica, dano axonal difuso e microangiopatias trombóti-
ragias petequiais multifocals com artefato de suscepti- cas, como na coagulopatia intravascular disseminada.
bilidade magnética nos núcleos da base e na substância Em crianças, o principal diagnóstico é a encefalopa-
branca cerebral. Essas hipointensidades lineares e punti- tia necrotizante aguda e necrose infantil bilateral dos
formes são muito bem evidenciadas nas imagens ponde núcleos estriados. Estas são doenças geralmente relacio
radas em susceptibilidade magnética (SWI) (Fig. 13-53), nadas à influenza, a infecções gripais ou à gastrenterite
(Fig. 13-54). Em geral, não há realce nas imagens ponde por rotavirus.
radas em TI após infusão de contraste.
Outras infecções parasitárias
Diagnóstico diferencial
Esquistossomíase, paragonimíase, esparganose, triqui-
A MC é um diagnóstico que deve ser considerado em nose e tripanossomíase podem eventualmente envolver
qualquer paciente com doença febril e rebaixamento do o SNC. Embora essas infestações parasitárias possam
sensório que viva - ou tenha viajado recentemente - para ocorrer em qualquer idade, elas mais comumente afetam
uma área endêmica de malária!
crianças e adultos Jovens.
13-53 MC demonstrando
múltiplas hemorragias petequiais
na 58 S) subcortical e profunda.
(Cortesia de L. Chimelli: A mor
phological approach to the diag
nosis of protozoal infections of
the CMS. Patholog Res Int. 2011,
July 14. Open source.)
13-54 Imagem ponderada
em T2'' SWI em um paciente com
malária cerebral demonstrando
inúmeras micro-hemorragias
puntiformes com artefato de
susceptibilidade magnética na
substância branca. (Cortesia de K.
Tong, MD).
368 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes
O envolvimento cerebral é relativamente incomum. fígado ou aos pulmões, onde matura. Os vermes adultos
Quando ocorrem, essas parasitoses estão associadas a signi migram para os plexos venosos dos intestinos (ó". manso
ficativa morbimortalidade. Visto que os aspectos de imagem ni. S. japonicum) ou da bexiga {S. hematobium).
costumam lembrar neoplasia, uma história de viagem - ou A forma madura dos vermes libera ovos, que podem
residência em área endêmica é a chave para o diagnóstico. ser excretados nas fezes e na urina. Os ovos também po
dem se disseminar por sítios ectópicos, incluindo o cé
Esquistossomíase rebro. A meningite focai ou as massas parenquimatosas
A esquistossomíase, também conhecida como bilharziose. firmes são características macroscópicas típicas. Na ava
é uma infecção causada por trematódeos que afeta mais de liação microscópica, ovos de esquistossoma podem não
200 milhões de pessoas no mundo. apresentar espicula {S. Japonicum) ou espícula terminal
Várias espécies de Schi.sio.soma causam doença hu (S. haematobium) ou lateral (5. mansoni).
mana. Schistosoma haematobium é endêmico na África, Os achados típicos de imagem da neuroesquistosso-
especialmente nas planícies do Nilo. S. mansoni também é míase incluem múltiplas lesões heterogêneas conglome
endêmico na África (centro do continente e regiões com la radas ou lesões únicas com edema e efeito expansivo. Um
gos). América do Sul e Caribe (Fig. 13-56). S. japonicum é realce linear central circundado por múltiplos nódulos
endêmico na China e S. mekongi é endêmico no sul da Ásia. puntiformes (aspecto arborescente) nas imagens pondera
As espécies de Schistosoma apresentam um ciclo de das em TI pós-contraste (Fíg. 13-55) foi descrito como
vida complexo. Ovos nos excrementos humanos eclodem característico da doença.
na água doce e infectam caramujos como hospedeiros in
termediários. Os caramujos liberam larvas móveis (cercá- Paragonimíase
rias) que infectam os seres humanos que entram em conta A paragonimíase é outra infecção causada por tremató
to com a água infestada. .A larva penetra a pele e migra ao deos associada a caramujos. Os seres humanos tomam-se
infectados após ingestão de caranguejos ou lagostins de um túnel criado pelo verme e circundado por tecido granu-
água doce contaminados por Paragonimus westermanL lomatoso inflamatório reacional. O segundo aspecto mais
um verme endêmico na Ásia e na América Central e do comum da doença é um conglomerado de lesões anelares
Sul. Os vermes penetram os forames da base do crânio e ou em contas de rosário que sofrem realce (Fig. 13-58).
meninges e invadem diretamente o cérebro, onde recru A esparganose é caracterizada pela presença simultâ
tam uma reação inflamatória granulomatosa. Os adoles nea de lesões novas e antigas. As lesões em diferentes es
centes do sexo masculino são os mais afetados. tágios de evolução, de infecções agudas a atrofia cortical
A imagem demonstra lesão expansiva heterogênea com perda de volume da substância branca e calcifícações
com múltiplas lesões com realce anelar agrupadas circun ao redor de vermes degenerados/mortos, são característi
dadas por edema (Flg. 13-57). A hemorragia intralesional cas típicas dessa infecção parasitária.
é um achado comum.
Diagnóstico diferencial
Esparganose A maioria das infecções parasitárias compartilha mui
A esparganose é uma infecção parasitária rara causada tas características comuns. Elas costumam se apresentar
pela larva do cestódeo Spirometra man.soni. Metade dos como lesões de características expansivas com edema e
casos relatados está relacionada à ingestão de cobras e de múltiplos focos de realce anelar conglomerados. Metás-
sapos crus ou pouco cozidos. A doença é endêmica no su tase e gHoblastoma multiforme são as duas neoplasias
doeste asiático, China, Japão e Coréia. que podem apresentar características semelhantes às le
Estudos de imagem mostram uma lesão de aspecto ex sões parasitárias. Os granulomas parasitários (p. ex.,
pansivo com margens irregulares, em geral na substância granulomas por TB) também podem simular granulomas
branca cerebral, circundada por edema. O achado de ima parasitários e freqüentemente são endêmicos nas mesmas
gem mais comum é o "sinal do túnel", que literalmente é áreas geográficas.
■» K " '
meningite.
X.- B
13-59C Imagem ponderada
em difusão demonstrando múlti l . v
plos focos de restrição B. V
13-590 Imagem mais cranial
-li.
mostrando focos adicionais de
difusão restrita, incluindo um no
esplênio do corpo caloso BÊ3.
7 1 V >
y i
i )
N. , '
Tuberculose, infecções fúngicas, parasitárias e outras infecções 371
13-60 Duas imagens axiais em um paciente com doença de Lyme e 13-61 Imagem ponderada em Ti pós-contrasle com saturação de gor
paralisia de Bell à esquerda demonstrando realce dos segmentos geni- dura um paciente com doença de Lyme e múltiplas neuropatias crania
culado e horizontal S do nervo facial. (Cortesia de P. Hildenbrand, nas demonstrando realce do quinto E2 e sexto E3 NCs à direita além
MD.) de ambos os nervos oculomotores B3. (Cortesia de P. Hildenbrand, MO.)
Apresentação. Casos de DLy na América do Norte crônicos após DLy tratada. Múltiplos estudos clínicos
ocorrem em estágios. O estágio I ocorre entre 2 e 30 dias prospectivos têm demonstrado que cursos prolongados
após a picada inicial pelo carrapato e é caracterizado por de antibióticos não previnem nem aliviam sindromes pós-
eritema migratório - um rash característico, arredondado, -Lyme e podem resultar em eventos adversos graves.
centrífugo, em alvo ("olho de boi") - e sintomas de "gripe Patologia. Predominam os achados de meningite e radicu
de verão", como febre, cefaleia e cansaço. Mialgias mi
lite. As caracteristicas microscópicas incluem infiltrados
gratórias e dor nas grandes articulações podem ser identi
ficadas ("artrite de Lyme"). perivasculares de linfócitos T e plasmócitos com dege-
neraçào axonal. Os linfócitos e os plasmócitos são acu
O estágio 2 ocorre de 1 a 4 meses após a infecçào e
mulados nos gânglios autonômicos do sistema nervoso
caracteriza-se por sintomas neurológicos e cardíacos. Os
periférico. As espiroquetas podem ser identificadas nas
sintomas neurológicos ocorrem em cerca de 10 a 15% dos
leptomeninges, nas raízes nervosas e nos gânglios das raí
casos, enquanto envolvimento cardíaco ocorre em 8%. O zes dorsais, mas não no parênquima do SNC.
estágio 3 pode ocorrer vários anos após a infecção inicial
e se manifesta como artrite e sintomas neurológicos. Imagem. Exames de TC com e sem contraste são freqüen
A tríade clássica da NBLy norte-americana consiste temente normais.
em meningite asséptica, neurite craniana e radiculoneu- O achado mais comum na RM é a presença de múlti
rite. Paralisia facial uni ou bilateral é comum e ajuda a plas pequenas hiperintensidades (2 a 8 mm) subcorticais
diferenciar NBLy de outras doenças. Eritema migratório, e na substância branca periventricular (Fig. 13-59). Esse
artrite de Lyme e cardite também são achados comuns. achado é visto em aproximadamente metade de todos os
O sintoma mais comum em crianças é a cefaleia, se pacientes com NBLy. Lesões grandes "tumefativas" são
guido por paralisia do nervo facial e meningismo. incomuns.
A apresentação mais comum da NBLy europeia é a O envolvimento de nervos cranianos é comum na
tríade de Bannwarth: meningite linfocitica, neuropatia NBLy americana. O nervo mais envolvido é o NO Vlll
craniana e radiculite dolorosa. Eritema migratório, artrite (Fíg. 13-60), seguido pelos NCs V e 111. A doença unilateral
de Lyme e cardite são manifestações incomuns da doença é mais comum do que a bilateral, embora múltiplos nervos
de Lyme europeia. possam ser afetados (Fig. 13-61). O realce uniforme em TI
História natural. O diagnóstico e tratamento da pós-contraste com saturação de gordura é um achado típico.
doença de Lyme crônica é controverso. Até a presente O envolvimento da medula espinal pela B. bwgdorferi
data, não existe evidência sistemática de que B. burg é muito raro e mais comum na DLy europeia. As hiperin
dorferi possa ser identificada em pacientes com sintomas tensidades difusas ou focais em T2 com realce irregular
372 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes
13-62 Visão aproximada de um cérebro necropsiado demonstrando 13-63 TC em um paciente com sífilis meningovascular demonstrando
achados típicos de sífilis meningovascular. Exsudatos cobrem a ponte iníartos no lobo occipital esquerdo B e no tálamo B. A ASO (não
B Uma goma sifilítica também é evidenciada (Cortesia de R. mostrada) identificou achados semelhantes à vasculile. (Cortesia de P.
Hewlett, MD.) Hildebrand, MD.)
medular e das raízes nervosas são comuns na radiculomie- Epidemiologia e aspectos demográficos. Antes considerada
lite por B. garinii. doença em erradicação pelo uso da penicilina, a sífilis
O realce das lesões de substância branca da NBLy tornou-se dramaticamente mais prevalente desde 2000,
varia de moderado a ausente. Ocasionalmente, pode ocor sobretudo por causa do HIV/Aids. A sífilis e o HIV têm
rer realce anelar incompleto (em "ferradura"), que simula emergido como copatógenos importantes com aumento
doença desmielinizante. recíproco tanto em transmissão quanto em progressão da
Na NBLy europeia, o realce da cauda equina e das doença. Os pacientes HlV-positivos tendem a apresentar
raízes espinais inferiores é mais comum do que o realce sintomatologia mais agressiva e apresentam maior risco
de nervos cranianos. de desenvolver doença neurológica.
A razão M:F é de 2:1. A maioria dos pacientes está
Diagnóstico diferenciai. O principal diagnóstico diferen
entre 18 e 64 anos de idade com média de idade de um
cial de NBLy sao as doenças desmielinizantes. A escle-
rose mijltipla (EM) freqüentemente envolve a substância pouco mais do que 50 anos. As lesões gomatosas da sífilis
branca periventricular. O envolvimento calososseptal é congênita são excepcionalmente raras.
mais comum na EM do que na NBLy. O realce de nervos Aspectos clInicos. Entre 5 e 10% dos pacientes com sífilis
cranianos - em especial o NC VII - é menos comum na não tratada desenvolvem neurossífilis. O T. pallidum se
EM do que na NBLy. dissemina pelo SNC dentro de dias após a exposição, em
A síndromc de Susac envolve a região central do cor bora sintomas possam ocorrer até 25 anos após o cancro
po caloso e freqüentemente é acompanhada de redução da inicial. O pico de incidência ocorre após 15 anos de infec
acuidade auditiva (rara na NBLy) e dos sintomas visuais. ção primária.
A vasculhe envolve os ntícleos da base mais do que a A NSif é dividida em cinco categorias clínico-palo-
NBLy e raramente afeta os nervos cranianos. lógicas que se sobrepõem parcialmente, isto é, assinto-
mática, meníngea, meningovascular, parenquimatosa e
Neurossífilis
gomatosa. A apresentação mais comum são os distúrbios
Terminologia e etiologia. A sífilis é uma infecção sistêmica neuropsiquiátricos. As manifestações clínicas podem
crônica causada pela espiroqueta Treponema pallidum. Ela ocorrer durante qualquer estágio da infecção.
é transmitida por via sexual na maioria dos casos, embora A NSif precoce em geral se apresenta como doença
alguns casos de transmissão vertical tenham sido relata meningovascular. A NSif tardia é associada a sífilis crôni
dos. A neurossífilis (NSif) também é conhecida como neu- ca cerebral e medular, porém raras vezes se apresenta com
rolues. Um granuloma sifilítico focai é chamado de goma. o clássico tahe.^i dorsalis ou paresia generalizada. Distúr-
Tuberculose, infecçoes fúngicas, parasitárias e outras infecções 373
bios neuropsiquiátricos, principalmente comprometimen entrada (Fig. 13-62). O espessamento durai e a inflama
to cognitivo e alteração de personalidade, são comuns. ção adjacente às gomas cerebrais são comuns.
O VDRL no LCS é específico mas não completamen
Imagem. A sííllis meningovascular pode causar vasculopa-
te sensível para NSif. O teste é positivo em cerca de 60%
tia com infartos lacunares ou territoriais que são seme
dos casos. O ensaio de hemaglutinação para T. pallidum é
lhantes a infartos tromboembólicos (Fig. 13-63).
positivo em 80 a 85% dos casos.
As gomas sifilíticas tem densidade baixa ou mista na
Patologia. A sífllis gomatosa cerebral é uma doença com TC e apresentam realce intenso na TC pós-contraste. Um
pletamente curável, logo o diagnóstico correto é essencial padrão anelar ou difuso de realce é típico.
para o tratamento do paciente. A doença consiste em um A RM demonstra as gomas como lesões hipointensas
infiltrado inflamatório denso com grande número de lin- em TI e heterogeneamente hiperintensas em T2.0 realce
fócitos e plasmócitos circundando um centro de necrose é marcado nas imagens ponderadas em TI pós-contraste,
caseosa. Proliferação vascular, endarterite com espessa- e o sinal da cauda durai pode ser visto em um terço dos
mento intimai e inflamação perivascular são achados ca casos (Fig. 13-64).
racterísticos. O diagnóstico histológico definitivo é obtido
usando anticorpos monoclonais fluorescentes marcados Diagnóstico diferencial. As gomas sifilíticas são muitas ve
com isotiocianato ou por PCR. zes diagnosticadas erroneamente como neoplasias pri
As gomas provavelmente são secundárias à resposta márias ou metastáticas. Os pacientes com HIV/Aids que
celular imunológica. Cerca de dois terços são localizados apresentam teste sangüíneo positivo/títulos positivos para
nas superfícies cerebrais, especialmente sobre a convexi- sífllis no SNC e que tenham uma lesão cerebral de aspecto
dade cerebral. A extensão direta ao parênquima cerebral expansivo com características de imagem sugestivas de
pelos espaços perivasculares das áreas adjacentes de infla sífllis podem se beneficiar de um curso de penicilina G
mação meningovascular piais é o provável mecanismo de endovenosa e controle por imagem.
13-65 Agrupamentos de bacilos intracitopiasméticos são intensamen 13-66 Imagem ponderada em TI pós-conirasle no piano coronal
te PAS-positivos E^. Individualmente, os organismos são difíceis de demonstrando realce hipotalâmico B em um paciente com doença de
serem evidenciados. (Cortesia de 8. K, DeMasters, MD.) Whipple do SNC documentada. (Cortesia de B. K. DeMasters, MD.)
Infecções emergentes do SNC e outras infecções intestino delgado, linfonodos ou cérebro. Entre 70 e 80%
Nesta seçào, serão discutidas várias infecções incomuns. dos casos têm PCR positiva no LCS.
As características histológicas incluem agregados
Algumas delas são potencialmente curáveis se reconhe
de histiócitos, linfócitos e plasmócitos com pouca ou
cidas cedo. Outras são infecções emergentes - a maioria
virais - sobre as quais muito pouco se sabe e para as quais nenhuma inflamação granulomatosa. Macrófagos espu
não há cura.
mosos levemente basofílicos na coloração H&E contêm
As infecções emergentes são doenças que estão li grâiiulos intracitoplasmáticos com formato arciforme
teralmente emergindo para infectar os seres humanos. PAS-positivos que representam agrupamentos de bacilos
Algumas são zoonoses (p. ex., doenças transmitidas de (Fig. 13-65).
animais para humanos), enquanto outras são veiculadas Aspectos clínicos. A doença de Whipple ocorre em qual
por insetos. Muitas nunca afetam o SNC, mas, quando o quer idade, porém é mais comum em homens brancos de
fazem, o resultado pode ser desastroso. Exemplos incluem meia-idade. A idade média de apresentação é de 50 anos.
as febres virais hemorrágicas como febre hemorrágica co Os sintomas clínicos variam. Os sintomas sistêmicos
reana, febre do Vale do Rift, hantavirus, dengue e Ebola. incluem diarréia, síndrome mal absortiva, perda de peso,
poliartralgias migratórias, febre e sudorese noturna. Lin-
Doença de Whipple do SNC fadenopatia é comum.
Terminologia e etiologia. A doença de Whipple é uma Cerca de 5% dos pacientes com doença de Whipple
doença sistêmica crônica causada pela bactéria Tropheiy- inicialmente se apresentam com sintomas de envolvimen
ma whippelü. to cerebral; outros pacientes desenvolverão sintomas rela
c i o n a d o s a o e n v o l v i m e n t o d o S N C t a r d i a m e n te n o c u r s o
Epidemiologia e aspectos demográficos, a doença de
da doença.
Whipple do SNC é um subtipo de uma rara doença com
A encefalopatia com sintomas cognitivos inespecífi-
prevalência de um caso para cada 10.000 portadores da
bactéria. cos, incluindo demência, alteração do nível de consciência
Não existe associação conhecida com HIV/Aids ou
e distúrbios psiquiátricos, é a apresentação mais freqüente.
outras síndromes de imunodefíciência. Oftalmoplegia e paralisia supranuclear são sintomas
comuns. Disfunção hipotalâmica ocorre em cerca de um
Patologia. O diagnóstico de doença de Whipple é estabe terço dos pacientes, enquanto paralisias de nervos crania
lecido por imuno-histoquímica (anticorpos positivos con nos são encontradas em 25% dos pacientes.
tra T. whippelü) ou PCR. A PCR é altamente sensível e Sem tratamento, a doença de Whipple é invariavel
específica e pode ser realizada em espécies de biópsia de mente fatal. Alguns pacientes melhoram dramaticamen-
Tuberculose, infecções fúngicas, parasitárias e outras infecções 375
13-67 Achado clássico de abscesso mesencéfalico da listeriose 13-68 TC em um paciente com dengue demonstrando hipointen-
Imagens ponderadas em T2 (esquerda) e em Ti pós-conUasle (direita) sidades nos núcleos da base e talamos ES com hemorragias focais
alguns dias antes da morte do paciente demonstrando lesão expansiva petequiais
hiperintensa no pedúnculo cerebral esquerdo com halo hipointenso ES,
edema perilesional e realce periférico (Si.
Listeriose
te ou estabilizam a doença com tratamento antibiótico A listeriose é uma zoonose alimentar causada pela Listeria
apropriado. Entretanto, mesmo com antibióticos, muitos monocytogenes, bactéria gram-positiva de vida facultati
va intracelular que habita o solo, vegetação e viveiros de
pacientes têm recidiva da doença. O prognóstico em pa
cientes com doença de Whipple do SNC é incerto. Cerca animais. Existem seis espécies de Listeria, das quais ape
de um quarto morre em quatro anos, e outros 25% sobrevi nas uma - L. monocytogenes - é patogênica para os seres
vem com défícits neurológicos maiores. humanos.
A listeria causa gastrenterite, infecção matemo-fetal,
Imagem. Os achados de imagem na doença de Whipple
septicemia e infecções do SNC em pacientes imunocom-
do SNC são inespecíficos. As lesões tendem a se agrupar
prometidos, em mulheres grávidas e em recém-nascidos.
nos talamos, hipotálamos, lâmina quadrigeminal. subs Casos em pacientes imunocompetentes são raros.
tância cinzenta periaquedutal e lobos temporais mediais A listeriose do SNC tem tropismo pelas meninges e
(Fig. 13-66). As lesões multifocais são muito mais co tronco encefálico. Os sintomas incluem febre, cefaleia,
muns do que as lesões solitárias.
paralisia de nervos cranianos, vertigem e sonolência. Uma
Lesões hiperintensas bilaterais simétricas ou na linha vez que os sintomas tenham se desenvolvido, a taxa de
média em T2/FLA1R que demonstram leve realce nas mortalidade é de 25 a 30%.
imagens TI pós-conlraste são achados típicos. Hiperin- Os aspectos de imagem são geralmente inespecíficos.
tensidade de sinal do trato corticospinal ocorre em alguns A listeriose do SNC pode se apresentar como meningite,
pacientes e se parece com os achados da esclerose lateral encefalite, cerebrite ou abscesso. No cenário clínico apro
amiotróflca. A doença de Whipple não costuma apresentar
priado. uma lesão focai no mesencéfalo. na ponte ou na
restrição à difusão da água. medula, com alto sinal em T2/FLA1R e realce periférico
Diagnóstico diferencial. O diagnóstico diferencial de com edema perilesional significativo deve levantar a sus
doença de Whipple do SNC inclui vários processos gra- peita de abscesso por L. monocytogenes (Fig. 13-67).
nulomatosos como neurossarcoidose e tuberculose. As
lesões temporais mesiais podem simular encefallte her- Febres hemorrágicas virais
pétíca ou encefallte línibica/autoimune. A maioria das o Centers for Disease Control and Prevention (CDC)
lesões da doença de Whipple do SNC não apresenta ou identificou seis agentes biológicos "categoria A" (facil
apresenta pouco efeito expansivo, de modo que neopla mente disseminados ou transmitidos de pessoa a pessoa,
sias como lliifoma ou astrocitoma difusamente ínflltra- resultando em alta taxa de mortalidade e um potencial
tivo são diagnósticos diferenciais pouco prováveis. para grande risco à saúde pública): antraz, varíola, botu-
376 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes
lismo, tularemia, febre hemorrágica vira! c peste bubô agentes com envolvimento do SNC. Em áreas endêmicas,
nica. Destas, as febres hemorrágicas virais são as que a doença tomou-se a causa mais freqüente de encefalite,
mais provavelmente podem envolver o SNC. ultrapassando mesmo o vírus herpes simples. O flavivíms
O filovirus como Ebola e Marburg são vírus de cadeia da dengue é o mais importante em relação à incidência
de RNA negativa, linear e não segmentada que causam global de doença e potencial de disseminação para áreas
febres hemorrágicas agudas com altas taxas de mortalida não endêmicas (Fig. 13-68).
de. A maior parte desses pacientes não sobrevive tempo O envolvimento sintomático do SNC ocorre em
suficiente para desenvolver sintomas do SNC, e nunca 5 a 20% dos pacientes com infecção aguda pelo vírus da
sequer foi submetida a exames de imagem. Atualmente, dengue ou dengue hemorrágica. Estudos de imagem de
não existem vacinas licenciadas ou terapia para combater monstram múltiplos focos hemorrágicos. Infartos francos
infecções humanas pelos filovirus. Casos confirmados de e apoplexia hipofisária foram relatados em alguns casos.
febre hemorrágica por Ebola foram descritos na África. Muitos pacientes com síndromes renais relacionadas
Nenhum caso confirmado foi descrito nos Estados Unidos à hantavirose ou à febre hemorrágica coreana desen
e na Europa. volvem sintomas do SNC como distúrbios psiquiátricos
As febres hemorrágicas com complicações conheci agudos, epilepsia e meningismo. Estudos de necropsia
das do SNC incluem dengue hemorrágica/síndrome do demonstram hemorragia hipofisária em 37%, necrose hi
choque hemorrágico associado à dengue e à hantavirose pofisária em 5% e hemorragias no tronco em aproximada
com síndrome renal. mente 70% dos casos. Nos poucos casos relatados, a RM
A dengue é causada por um flavivírus com quatro demonstrou hemorragia hipofisária e lesão reversível no
sorotipos, dois dos quais (tipos 2 e 3) são os principais esplênio do corpo caloso.
Tuberculose, infecções fúngicas, parasitárias e outras infecçoes 377
Neuroclsticercose
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14
HIV/Aids
14-1 Necropsia da EHIV demonstra perda volumétrica generalizada 14-2 TC axial em um homem de 38 anos com HIV/Aids há bastante
com aumento dos ventrículos laterais e fissuras de Sylvius. Anormali tempo demonstra atrofia cerebral macroscópica com hipodensidades
dades pouco definidas da SB estão presentes e poupam as fibras U multifocals B3 na substância branca subcortical.
subcorticais. (B. K. DeMasters, MO.)
1,8 milhão de pessoas infectadas morrem anualmente de Os dados mais recentes disponíveis indicam que ho
HIV/Aids ou das complicações relacionadas. mens homossexuais e bissexuais continuam sendo a popu
A maioria dos pacientes com HIV/Aids atualmente lação mais infectada pelo HIV nos Estados Unidos. As ta
tnora em regiões de baixa e média renda, enquanto a xas de novas infecções permanecem estáveis desde 2006,
maioria dos pacientes com acesso à HAART vivem em mas são maiores em homens negros quando comparadas
países de renda elevada. O acesso à terapia antirretroviral com mulheres negras, e maiores em homens brancos do
em países de baixa renda aumentou pouco e hoje atinge que em mulheres brancas.
apenas 35% dos pacientes que necessitariam de tratamen Os indivíduos com doenças sexualmente transmissí
to nesses países. Embora o ntámero de novas infecções veis (incluindo clamídia, gonorreia, sífilis, herpes e pa-
tenha reduzido desde o pico em 1999, ele continua a ul pilomavírus humano) tem risco aumentado de infecção
trapassar o número de pacientes colocados em HAART. pelo HIV em relação a pessoas sem doenças sexualmente
Essa disparidade significa que os determinantes transmissíveis. Aproximadamente, 10% dos pacientes
socioeconòmicos de saúde afetam tanto a prevalência com hepatite C estão coinfectados com HIV.
quanto as manifestações do HIV/Aids. A mesma doença
pode ter conseqüências diferentes - e diferenças de ima
gem - em cada parte do mundo. Coinfecção e comorbili-
dade com outras doenças complica mais o diagnóstico por Infecção pelo HIV
imagem e o manejo dos pacientes. o HIV é uma infecção viral com tropismo pelo SNC e
efeitos diretos e indiretos. Complicações neurológicas po
Demografia dem advir da própria infecção pelo HIV, de infecções ou
A transmissão do HIV é sexual (anal ou vaginal), por neoplasias oportunistas e de distúrbios metabólicos rela
transfusão de sangue contaminado, compartilhamento de cionados ao tratamento.
agulhas contaminadas, e vertical durante a gravidez, parto Nesta seção, serão discutidos os efeitos direitos do ví
e amamentação. rus HIV sobre o cérebro. As manifestações extracranianas
A prevalência do HIV varia com a geografia, etnia e do HIV/Aids às vezes podem ser identificadas nas ima
sexo. A África subsaariana responde por cerca de 70% da gens cerebrais, sendo também discutidas.
prevalência global de HIV, afetando de maneira despro
porcional mulheres e jovens. Como resultado da melhora Encefdite pelo HIV
no tratamento e acompanhamento, infecções pelo HIV Entre 75 a 90% dos pacientes com HIV/Aids demonstram
nos idosos começam a tomar-se uma preocupação. lesão cerebral induzida pelo HIV na necropsia (Fig. 14-1).
HIV/Aids 381
Enquanto a maior parte dos pacientes permanece assin- dominante em heterossexuais, encontrada principalmente
tomática por períodos variáveis, a infecção cerebral é a no oeste da África. A menos que dito o contrário, "HIV" ou
manifestação inicial em 5 a 10% dos pacientes. Cerca de "infecção pelo HIV", neste texto, refere-se ao vírus HlV-1.
25% dos pacientes com HlV/Aids tratados pioram cogni- O vírus HIV inicialmente infecta as células de Lan-
tivamente, apesar de boas respostas laboratoriais à terapia. gerhans (células dendríticas) na pele e nas membranas mu
cosas. A proteína gpl20 do envelope viral liga-se aos recep
Terminologia tores CD4 nessas células dendríticas, que, então, migram
A encefalite pelo HIV (EHIV) e a leucoencefalopatia pelo aos tecidos linfoides e infectam as células T CD4-positivas.
HIV (LHIV) são o resultado direto da infecção cerebral O vírus prolifera-se no interior dessas células e as destrói.
pelo vírus. Infecções oportunistas não são encontradas no Viremia desenvolve-se em alguns dias e leva à dissemina
inicio da doença, embora coinfecções e múltiplas infec ção da infecção pelos demais tecidos.
ções sejam comuns no curso da doença. Os dois principais alvos da infecção viral são o tecido
Os distúrbios neurocognitivos associados ao HIV linfoide - especialmente células T - e o SNC. Os monóci-
(DNAHlVs) são a manifestação neurológica mais fre tos e os linfócitos infectados pelo vírus HIV migram atra
qüente da EHIV e da LHIV. O termo "complexo demên vés da barreira hematoencefálica intacta, penetrando o cé
cia! da imunodeficiência adquirida" refere-se especifica rebro dentro de 24 a 48 horas depois da exposição inicial.
mente à demência associada ao HIV. E m b o r a o H I V- 1 n ã o i n f e c t e d i r e t a m e n t e o s n e u r ô
nios, ele persiste no cérebro no interior dos macrófagos
Etioiogla perivasculares e microglia. Alguns reservatórios virais
O HIV é um retrovirus patogênico com neurotropismo ao periféricos fora do SNC também persistem e podem ter
RNA humano. O HIV-I é responsável pela maioria dos ca papel ativo no desenvolvimento de lesão cerebral, mesmo
sos de HlV/Aids. A infecção pelo HIV-2 é uma doença pre com tratamento adequado.
Excesso de tau hiperfosforilada, amiloide e a-sinucleina O período de latência da infecção pelo HlV-2 é mais
foram identificadas e podem contribuir para o desenvol longa e a carga viral menor que o HlV-1. A imunodefi-
vimento de síndromes neurodegenerativas e complexo ciência evolui mais lentamente também. Os pacientes
dcmcncial da Aids. com infecção pelo HlV-2 desenvolvem o mesmo espectro
de infecções oportunistas encontradas no HIV-1.
Apresentação. Alguns pacientes desenvolvem sintomas de
uma síndrome retroviral aguda (SRA) durante a viremia Opções de tratamento. A HAART reduziu a morbimortali-
inicial. A SRA acontece 2 a 4 semanas da infecção e con dade do HlV/Aids. Todavia, ela não previne o desenvolvi
siste em dor de garganta, febre, linfadenopatia, náuseas, mento de EHIV, embora reduza a gravidade global.
rash cutâneo e alterações neurológicas variáveis.
DNAHVls desenvolvem-se como complicações de
médio e longo prazo. Infecção cerebral inicial pelo HIV ENCEFALITE PELO HIV
costuma ser assintomática e as performances cognitivas Terminologia
e funcionais são normais. Demência associada ao HIV • Encefalite pelo HIV (EHIV)
totalmente desenvolvida causa distúrbio cognitivo impor o Resultado direto da infecção cerebral pelo HIV
tante com marcado impacto na função cotidiana. o Distúrbio neurocognitivo associado ao HIV (DNAHIV)
o A forma mais séria é o complexa demenciai da Aids
História natural. Cerca de metade dos pacientes infecta
dos pelo HIV nos Estados Unidos demonstra desempenho Etiologia
• O HIV é um vírus neurotrópico
subótimo nos testes neuropsicològicos. Redução lenta e o A maioria das infecções fiumanas é causada pelo
progressiva na motricidade fina, fluência verbal e memó H I V- 1
ria de curto prazo são características. Deterioração grave e o HIV-2 é mais prevalente no oeste da África
demência subcortical com estado quase vegetative podem
(continua)
ser evidenciados nos estágios finais da doença.
Ji.
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díaco, causando um espectro de doenças que vai de mio- nea pelo zóster. O diagnóstico pode ser confirmado pelo
cardiopatia e miocardite até doença vascular periférica. A achado de anticorpos anti-VZV no LCS.
vasculopatia associada ao HIV é uma entidade clínica em Os pacientes com HIV/Aids e vasculopatia pelo VZV
crescimento, causando alta morbimortalidade. costumam se apresentar em uma faixa etária mais baixa
Uma causa crescente de morbidade e mortalidade en que os pacientes com VHIV, os infartos causados pelo
tre pacientes com HIV/Aids é o acidente vascular cerebral VZV são menores, profundos ou subcorticais. Grandes
(AVC). Séries de necropsias encontraram prevalência de 4 infartos hemisféricos são relativamente raros.
a 29% de infartos cerebrais em pacientes com HIV/Aids.
Muitos desses AVCs são relacionados a coinfecções do Alterações da medula óssea relacionadas
S N C n à o a s s o c i a d a s a o H I V, l i n f o m a , f o n t e s c a r d i o e m - ao HlV/Aids
bólicas ou vasculites primárias. Cerca de 5 a 6% são ver A calvária e a base do crânio, bem como parte dos os
dadeiramente associados à vasculopatia do HIV com es- sos faciais e porção superior da medula cervical são vi
pessamento intimai de pequenos vasos, mineralização e síveis nas imagens ponderadas em TI no plano sagital
infiltrados inflamatórios perivasculares.
(Fig. 14-8). O crânio e a mandíbula sozinhos respondem
A vasculopatia associada ao HIV (VHIV) e a vasculi-
por aproximadamente 13% da medula óssea ativa (ver
te associada ao vírus varicela-zóster (VZV) são incomuns,
melha) em pacientes adultos. Adicionando os ossos cer-
porém constituem causas dc AVC de crescente importân vicais e faciais, essas estruturas respondem por cerca de
cia na população com HlV/Aids. 15 a 20% da medula óssea ativa; portanto, exame cuida
Vasculopatia pelo HIV. Ectasias fusiformes nào ateroescle- doso de todos os ossos vistos nas RM encefálicas pode
róticas das principais artérias intracranianas geralmente trazer informações sobre o estado da hematopoiese.
ocorrem em crianças com HlV/Aids congênita (Fig. 14-6 Anormalidades da medula óssea em pacientes com
e 14-7). A VHIV costuma estar associada a grandes AVCs HIV/Aids são comuns e têm sido associadas a alterações
hemisféricos. cerebrais relacionadas com deterioração cognitiva e de
mência. Anemia antes do início da Aids é um forte predi-
Vasculopatia pelo VZV. Vasculopatia do SNC associada ao
tor de demência associada ao HIV (DAHIV). Aumento do
VZV afeta artérias cerebrais de grande e pequeno cali
bre. A doença de grandes vasos acomete mais indivíduos tráfego monocitário da medula óssea para o cérebro nas
fases tardias da infecção pode representar um determinan
imunocompetentes, enquanto a doença de pequenos vasos te crítico para a gênese da DAHIV.
desenvolve-se em pacientes imunodeprimidos. Doença
neurológica com freqüência acontece meses após o zóster Patologia. A patologia altera a composição da medula
e algumas vezes ocorre mesmo sem história de lesão cutâ óssea, causando um aumento relativo na hematopoiese
386 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes
celular e conseqüente substituição do tecido adiposo. He- A hiperceluiaridade medular nos pacientes com
mossiderina extraceiular, hiperceluiaridade e aumento do HIV/Aids pode apresentar baixa difusibilidade nas ima
número de monócitos e macrófagos podem contribuir sig gens quantitativas antes que qualquer alteração grosseira
nificativamente para as alterações medulares. possa ser evidenciada visualmente.
A anormalidade óssea mais comum no HIV/Aids é a
mielodisplasia (69% dos casos biopsiados), seguida por evi Lesões linfoepitelias benignas
dências de bloqueio do ferro no sistema reticuloendotelial A doença das glândulas salivares é uma manifestação im
(65%), hiperceluiaridade (53%), hematopoiese megalo- portante da infecção pelo HIV. A maioria é representada
blástica (38%), agregados linfocíticos (36%), plasmocitose tanto por cistos linfoepiteliais não neoplásicos quanto por
(25%), fibrose (20%) e granulomas (13%). A maioria das hiperplasia reativa do tecido linfoide.
anormalidades medulares associada à infecção do HIV é di As lesões linfoepiteliais benignas das glândulas sali
retamente relacionada ao processo infeccioso primário ou ás vares incluem um espectro de doenças englobando siala-
suas complicações, e não com as intervenções terapêuticas. denite linfoepitelial (SL) da síndrome de Sjogren, cistos
Imagem. Alterações sutis na medula óssea podem ser difíceis linfoepiteliais (CLE) e hiperplasia cística linfoide (HLC)
de detectar nas imagens convencionais por RM. e alguns relacionada ou não relacionada ao HIV. A SL, CLE e HLC
achados de imagem que sugerem anormalidades medulares compartilham um aspecto histológico semelhante caracte
são inespecíficos. Prolongamento do tempo de relaxamen rizado por ilhas epimioepiteliais e/ou cistos revestidos por
to TI altera a intensidade de sinal da medula hematopoié- epitélio com esiroma linfoide. Todavia, eles diferem no
tica. O sinal alto em TI da gordura é substituído por tecido que diz respeito à etiologia, apresentação clínica e manejo.
com baixo sinal em TI (Fig. 14-9). O divo e a calvária As lesões linfoepiteliais benignas do HIV (LLBHIV)
podem aparecer moteados ou "acinzentados". Corpos ver são massas císticas não neoplásicas que aumentam as
tebrais afetados se apresentam com baixo sinal em relação glândulas salivares. Lesões bilaterais são comuns. As
aos discos intervertebrais (sinal do "disco brilhante"). glândulas parótidas são as mais afetadas (Fig. 14-10).
A TC demonstra múltiplos cistos bilaterais circunscri Tonsilas faringeas e palatinas aumentadas de maneira não
tos associados ao aumento volumétrico das parótidas. Um habitual em um paciente com 25 a 30 anos deve levantar
fino halo de realce periférico é visto na TC pós-contraste suspeitas para infecção por HIV.
(Fig. 14-11). Os cistos são homogeneamente hiperinten- O diagnóstico diferencial de hiperplasia linfoide be
sos em imagens ponderadas em T2 e demonstram halo de nigna reativa em pacientes com HlV/Aids é o linfoma.
impregnação em imagens ponderadas em TI pós-contras
te (Figs. 14-9 e 14-12).
14-13 Patologia macroscópica em corte axial de um paciente com HIV 14-14 Fotomicrograíia corada com H&E demonstra múltiplos organis-
demonstra abscessos pouco definidos relacionados à toxoplasmose nos mos encislados S! da toxoplasmose. (Cortesia de B. K. OeMasters, MD.)
núcleos da base SI. Observe que há hemorragia ÍS circundando a ne
crose central da lesão à direita. (Cortesia de R. Hewlett, MD).
com HlV/Aids geralmente representa reativação de uma disponível, a prevalência diminuiu quatro vezes na últi
infecção latente. ma década, caindo de 25% para 3 a 10%. A prevalência
O T. gondii é um parasita intracelular obrigatório. Em geral da toxoplasmose em regiões com recursos escassos
bora qualquer mamífero possa ser vetor e agir como hospe é muito maior. Na África, 35 a 50% de todos pacientes
deiro intermediário, os gatos são os hospedeiros definitivos. com HIV/AIDS desenvolvem toxoplasmose do sistema
Os seres humanos se infectam quando o organismo é aciden nervoso central. Os pacientes imunocomprometidos têm
talmente ingerido. Os parasitas rapidamente multiplicam-se maior pré-disposição a desenvolver toxoplasmose quando
em taquizoitos. Quando os taquizoítos invadem o SNC, tor a contagem de CD4 encontra-se abaixo de 200.
nam-se bradizoítos e forniam cistos parenquimatosos.
APRESENTAÇÃO. A maioria dos pacientes com HIV/AIDS e
Patologia com toxoplasmose se apresenta com défícits neurológi
cos focais associados a sintomas de encefalopatia global
Localização, tamanho e número. A toxoplasmose do SNC
mais freqüentemente envolve os núcleos da base, o tála- como cefaleia, confusão mental e letargia. A hemiparesia
leve é a anormalidade focai mais comum. Coréia é relati
mo, a junção corticomedular e o cerebelo (Fig. 14-13).
Lesões multifocals são mais comuns que lesões solitárias. vamente raro.
Apenas 15 a 20% das lesões da toxoplasmose são solitá História natural e prognóstico. A toxoplasmose do SNC é fa
rias. A maioria das lesões são pequenas, medindo de 2 a 3 tal se não for tratada e o tratamento precoce é curativo. Os
centímetros de diâmetro.
pacientes tratados em geral melhoram significativamente
Características microscópicas e macroscópicas. O aspecto em 2 a 4 semanas. Em ambientes de recursos socioeconô-
macroscópico da toxoplasmose do SNC em pacientes micos precários, a sobrevida média é de apenas 28 meses.
com HIV/Aids é de um abscesso necrotizante pobremen
te circunscrito, com borda hiperêmica e conteúdo amare Imagem
lado mole. Achados na TC. O achado mais comum na TC são múl
As características microscópicas incluem necrose de tiplas lesões hipodensas de limites pouco definidos nos
coagulação, organismos encistados, numerosos taquizoí núcleos da base e do tálamo com edema periférico de mo
tos livres e mínima resposta inflamatória do hospedeiro derada a grande quantidade.
(Fig. 14-14). O realce na TC pós-contraste é associado à contagem
de CD4. Em pacientes com contagem abaixo de 50, o realce
Aspectos clínicos pode ser ausente ou fraco. Conforme a contagem linfocitá-
DEMOGRAFIA. A prevalência da toxoplasmose varia grande ria aumenta, aumenta o realce. Múltiplas lesões com realce
mente. Em países nos quais a HAART está amplamente puntiforme ou anelar são o achado mais freqüente.
HIV/Aids 389
Achados na RM. Imagens ponderadas em TI demonstram rintensidades multifocals em T2 nos núcleos da base e da
uma lesão expansiva hipointensa que às vezes apresenta substância branca subcortical. Um realce pode estar ausen
moderada hiperintensidade de sinal na periferia relaciona te ou ser discreto, apesar do curso fulminante da doença.
da com necrose de coagulação ou hemorragia. Os achados da espectroscopia por RM são inespecífi-
Zonas com alternância de alto e baixo sinal com ede cos e com freqüência demonstram um pico de lipídeo-lac-
ma perilesional marcado são achados das imagens pon tato. A toxoplasmose apresenta baixo volume sangüíneo
deradas em T2 (Fig. 14-15A). A hiperintensidade central cerebral (rCBV) relativo no SPECT e na perfusão por RM
corresponde histologicamente ao abscesso necrotizante. A (pRM) (Fig. 14-16)
medida que o abscesso da toxoplasmose se organiza, a in
tensidade do sinal reduz até que a lesão tome-se isointen- Diagnóstico diferencial
sa ao parênquima cerebral adjacente. A hiperintensidade O principal diagnóstico diferencial é o linfoma primário
perilesional representa edema com desmielinização. do SNC (LPSNC). A toxoplasmose do SNC relacionada
Nas imagens ponderadas em TI pós-contraste, uma à Aids tem achados positivos de sorologia em 80% dos
ou mais lesões expansivas com realce nodular e periféri casos, e a PCR no LCS é diagnóstica. As lesões solitárias
co são o achado típico (Figs. 14-I5B, 14-I5C e 14-15D). são incomuns. Cerca de 70% das lesões expansivas únicas
A lesão com realce periférico e com um pequeno nódulo do SNC em pacientes com HIV/Aids são LPSNC.
mural excêntrico representa o sinal do "halo excêntrico".
O nódulo com realce é uma coleção de vasos espessados, Críptococose
enquanto o realce periférico é causado por uma zona vas Infecções fúngicas podem ameaçar a vida de pacientes imu-
cular que circunda a cavidade necrótica. nocomprometidos, especialmente nos portadores de HIV/
A encefalite disseminada por toxoplasmose, também Aids. Embora muitos fungos possam causar infecções do
chamada de encefalite nodular microglial, produz hipe- SNC, os fungos mais comuns em pacientes com HIV/Aids
390 Infecção, infiamaçao e doenças desmielinizantes
são Candida albicans, espécies de AspefgiUus e Cnpto- lesões expansivas focais, chamadas de criptococomas.
coccus neoformam (crypto). A criptococose em pacientes Meningite e criptococomas são as formas mais comuns
imunocompetentes foi brevemente discutida no Capítulo 13. em pacientes imunocompetentes, enquanto meningite e
Agora serão revisados os aspectos dos pacientes imunocom- pseudocistos gelatinosos são as fonnas mais comuns nos
prometidos. pacientes com HIV/Aids.
Na meningite ou meningoencefalite criptocócica, as
Etlologia e epidemiologia meninges tornam-se espessadas e opacificadas. Polissa-
o C)yptococcns neoformans é excretado em fezes animais carídeos gelatinosos capsulares do fungo e esporos com
e de pássaros e é encontrado no solo e na poeira, tendo brolamentos acumulam-se nos espaços perivasculares alar
ampla distribuição e sendo encontrado em todo o mundo. gados (Fig. 14-18). Múltiplos pseudocistos gelatinosos são
Os pulmões são o sítio de infecção primário. As infecções observados nos núcleos da base. no mesencéfalo. no núcleo
do SNC ocorrem quando os organismos circulantes no denteado e na substância branca subcortical (Fig. 14-19).
sangue são depositados nas cisternas subaracnoides e nos
espaços perivasculares. A criptococose é a terceira infec Aspectos clínicos
ção do SNC mais comum em pacientes com HIV. atrás do Criptococose em pacientes com HlV/Aids se apresenta
HIV e do 7Í gondii. Antes da HAART, infecções do SNC como meningite ou meningoencefalite. Os sintomas co
por criptococos ocorriam em 10% dos pacientes com HIV, muns incluem cefaleia, convulsões e visão borrada. Defi
todavia, isso se tornou relativamente raro em países de cits neurológicos focais são incomuns.
senvolvidos. A criptococose ocorre quando as contagens
de CD4 caem abaixo de 50 a 100 células por microlitro. Imagem
A TC freqüentemente demonstra hipodensidade nos nú
Patologia cleos da base (Fig. 14-20). O realce varia conforme o es
A infecção criptocócica do SNC se apresenta de três for tado imunológico. A TC pós-contraste em pacientes imu-
mas: meningite, pseudocistos gelatinosos (Fig. 14-17) e nocomprometidos costuma não mostrar realce.
Os pseudocistos gelatinosos crlptocócicos são hipoin- ma primário do SNC em pacientes com HlV/Aids apre
tensos ao cérebro em imagens ponderadas em Ti e muito senta hemorragia, necrose e realce periférico. Lesões so
biperintensos em imagens ponderadas em T2 (Fig. 14- litárias são mais comuns que o envolvimento multifocal.
21). As lesões em geral seguem a intensidade de sinal do
LCS e têm sinal suprimido no FLAIR (Fig. 14-22). Ede Leucoencefalopatia multifocal progressiva
ma perilesional está ausente. Falta de realce nas imagens Terminologia
ponderadas em Ti pós-contraste é típico, embora algum A leucoencefalopatia multifocal progressiva (LEMP) é
realce piai moderado possa ser evidenciado. uma infecção oportunista causada pelo vírus JC (JCV),
membro da família Papovaviridae. O vírus foi batizado de
Diagnóstico diferenciai "JC" após ter sido isolado do cérebro necropsiado de um
Os espaços perivasculares (EPVs) alargados são um paciente chamado John Cunningham.
achado comum em praticamente qualquer paciente e são Durante os últimos 20 anos, o espectro da infecção do
vistos em todas idades. Eles podem ser vistos em agru SNC pelo vírus JC foi expandido além da LEMP "clássica".
pamentos e seguem a intensidade de sinal do LCS. EPVs Alguns investigadores sugerem uma distinção entre LEMP
alargados não sofrem realce. Em pacientes com HIV/Aids clássica (LEMP) e LEMP inflamatória (LEMPi). Outras
com contagens de CD4 abaixo de 20, espaços perivascu formas neurotrópicas da infecção pelo vírus JC incluem en-
lares alargados simétricos devem ser considerados infec- cefalopatia associada ao JCV (EJCV), meningite pelo JCV
ção por Ciyptococcu.s e tratados como tal. (MJCV) e infecção da camada granular cerebelar pelo vírus
A toxoplasmose em geral se apresenta com múltiplas JC (neuronopatia de células granulares pelo JVC).
lesões com realce anelar ou "em alvo" acompanhadas de
edema periférico. A tuberculose costuma apresentar-se Etíologia
com forte realce nas meninges basais. Os tuberculomas O JCV é um organismo que circula no ambiente, princi
são hipointensos em imagens ponderadas em T2. O linfo- palmente nas águas contaminadas com esgoto. Mais de
14-23 Visão aproximada corona! de uma peça de necropsia de um 14-24 Oligodendíócitos escuros infectados SI estão concentrados
paciente com lEMP avançada grave mostra focos de desmielinização nas margens do foco rosado de desmielinização 1^ nesta imagem clás
espongiformes coaíescenles ao longo da junção entre a substância bran sica de microscopia da LEMP. (Cortesia de B. K. OeMaslers, MD.)
ca e cinzenta sa se estendendo para a substância branca subcortical e
profunda (S.
14-25 LEMP clássica em um paciente HlV-positivo masculino de 32 14-26 RM em um paciente de 46 anos HlV-positivo com piora cog
anos. Hiperintensidade coniluente frontal escjuerda B poupa o cortex nitiva e CD4 inferior a 10 mostra uma lesão coniluente sem realce no
e não tem realce TC após seis semanas mostra que a lesão no lobo lobo occipital esquerdo ES que cruza o corpo caloso B3I. PCR no LCS
frontal esquerdo aumentou de tamanfro EES e uma nova hipodensidade foi positivo para jCV.
frontal direita está presente
uso crescente e amplo da HAART reduziu a prevalência suspensão da droga e plasmaferese tem sido usada com al
de LEMP nos pacientes com HlV/Aids. A incidência caiu gum sucesso para aumentar a sobrevida desses pacientes.
de 0,7 para 0,07 para 100 pessoas/ano na década desde a O diagnóstico de LEMP é sugerido por achados de
instituição da HAART. imagem em pacientes com HIV/Aids e teste PCR positivo
A incidência de LEMP associada a natalizumab está para o vírus JC no LCS.
estimada em 1; 1.000. O risco aumenta com a duração da
exposição. Imagem
Apresentação e história natural. Até recentemente, a LEMP
Características gerais. A imagem tem papel-chave no diag
era a única manifestação conhecida da infecção peio vírus nóstico e seguimento dos pacientes com infecção pelo ví
rus JC. A LEMP clássica pode se manifestar como lesão
JC. Novas apresentações conhecidas incluem a síndrome
da reconstituição intlamatória associada à LEMP (IRIS- solitária ou com distribuição multifocal. Qualquer área do
cérebro pode ser afetada, embora a substância branca su-
-LEMP, ver a seguir). Apresentações raras incluem EJCV,
MJCV e uma síndrome cerebelar com preservação dos pratentorial seja o sitio mais afetado. A substância branca
da fossa posterior - especialmente os pedúnculos cerebe-
oligodendrócitos associada à infecção isolada dos neurô
nios da camada granular cerebelar (neuronopatia de célu lares médios - é a segunda localização mais comum. Em
casos excepcionais, a lesão solitária nas fibras em U sub-
las granulares do vírus JC).
Os sintomas mais comuns da LEMP são alteração do corticais pode ser o achado de imagem.
A extensão varia de pequenos focos subcorticais es
estado mental, ccfaleia, letargia, déllcils motores, afasia
e distúrbios de marcha. Em cerca de 25% dos pacientes. parsos até grandes lesões bilaterais confiuentes e assi
LEMP é a manifestação inicial da Aids e pode aparecer métricas da substância branca. Nos estágios iniciais da
doença, algum efeito expansivo com expansão girai pode
precocemente no curso da doença mesmo quando as con ser identificado. Em estágios tardios, alterações encefalo-
tagens estão acima de 200 células por microlitro.
clásticas com atrofia e perda de volume são achados pre
A LEMPem pacientes com HlV/Aids sem tratamento
dominantes.
costuma ser fatal, com morte em 6 a 8 meses. A HAART
pode estabilizar a doença e melhorar a sobrevida, porém a Achados por TC. Mais de 90% dos casos de LEMP clás
LEMP continua sendo a segunda causa da morte relacio sica demonstram áreas hipodensas na substância branca
nada à Aids, atrás apenas do linfoma. subcortical e periventricular profunda na TC (Fig. 14-25):
A LEMP em pacientes com esclerose múltipla (EM) 70% dos casos são multifocals. Geralmente não há realce
tratados com natalizumab tem alta morbimortalidade. A na TC pós-contraste.
HIV/Aids 395
th
não apresentam restrição.
14-27F Mapa de ADC mostra
restrição nas margens de infla
servação da arquitetura cortical mesmo em casos avança apresentam difusão aumentada devido à arquitetura celu
dos de doença (Fig. 14-27). Pequenos focos hiperintensos, lar desorganizada (Fig. 14-28).
quase de aspecto microcístico, dentro e ao redor das áreas A DTI demonstra anisotropia fracional reduzida con
menos hiperintensas da substância branca representam as sistente com estrutura desorganizada da substância bran
lesões espongiformes características dos casos mais avan ca. Visto que as lesões da LEMP clássica são avasculares,
çados de LEMP. pRM demonstra rCBV relativo reduzido comparado com
A LEMP não costuma apresentar impregnação nas a substância branca não afetada.
imagens ponderadas em TI pós-contraste, embora realce Achados na espectroscopia por RM são inespecífícos,
periférico frustro ocorra em 5% dos casos (Fig. 14-28). A com queda do NAA refletindo perda neuronal. Aumento
exceção é a LEMP hiperaguda no contexto da ÍRIS (ver a da colina, consistente com destruição da mielina e pico de
seguir) e em pacientes com EM tratados com natalizumab. lipideo-lactato relacionados à necrose são freqüentemente
Nesses casos, focos com realce periférico irregular com identificados. Mioinositol é variável, mas pode estar ele
freqüência estão presentes, mas não sempre. Corticoste- vado, achado compatível com alterações inflamatórias.
roides reduzem significativamente a prevalência e a inten LEMP injlamatória (LEMPi). Achados de imagem na
sidade do realce. LEMPi são idênticos aos da LEMP clássica, exceto que as
14-29A Um paciente de 27 anos HlV-positivo desenvolveu confusão 14-29B Imagem mais cranial demonstra a heterogeneidade da lesão
aguda e fraqueza à direita. Imagem ponderada em T2 axial mostra fii- hiperintensa E3. Pequenos microcistos hiperinlensos estão presentes
perintensidade fieterogênea confluente na SB cerebral à esquerda e nú- na substância branca frontal direita LEMP inflamatõria aguda,
cleos da base B que cruza o corpo caloso B e envolve o lobo frontal
direito E3.
14-30 Meningoencefalite por CMV em um paciente masculino de 32 14-31 Imagem ponderada em Ti pós-contraste em um paciente
anos HlV-positivo. FLAIR demonstra hiperintensidade em ambos os lobos com encefallte pelo HIV demonstra perda volumétrica generalizada.
parietais com restrição à difusão da água ES. imagem ponderada em Observe o Importante realce ependimário ^3 atípico para EHIV. Ventrl-
TI pós-contraste demonstra realce na fossa posterior e nos sulcos da cullte por CMV.
convexidade B.
%
14-33A Um paciente HlV-positivo com CD4 inferior a 40 e fraqueza 14-33B Imagem ponderada em TI pós-contraste demonstra múltiplas
à esquerda rapidamente progressiva e queda do estado mental. FLAIR lesões com realce periférico. Este paciente gravemente imunocompro-
axial mostra várias fiipointensidades e uma lesão hiperintensa E metido apresenta tanto granulomas BI quanto pseudoabscessos E3
com marcado efeito expansivo e edema significativo £9. no contexto de uma TB reativada fulminante. (Cortesia de S. Candy, MD.)
Cítomegalovírus (CMV)
• Vírus da família dos fierpes-vírus. Etloiogla
• Se desenvolve em 2% cíos pacientes com HIV/Aids A maioria dos pesquisadores considera a neuro-lRlS
• Contagem de CD4 < 50 como uma resposta imunológica desregulada e direcio
• Imagem
nada a um patógeno cuja expressão clínica da doença
o Meningite
o Ventriculite/ependimite causada depende da susceptibilidade do hospedeiro, da
intensidade e qualidade da resposta imunológica e de ca
Tu b e r c u l o s e racterísticas específicas do próprio "patógeno causador".
• 1/3 dos pacientes coinfectados com HIV/Aids A IRIS ocorre quando a imunidade restaurada causa
• HIV é o fator mais poderoso conhecido para reativação
uma resposta imunológica exagerada contra antígenos in
da TB
fecciosos e não infecciosos. A síndrome se desenvolve em
o 100 vezes maior o risco que em pacientes sem Aids
• TB aumenta a replicação do HIV, acelera a doença dois cenários distintos, IRIS "revelada" e IRIS "parado
o Pode se apresentar como infecção aguda fatal xal". Elas diferem na expressão clínica, manejo da doença
fulminante e prognóstico, embora os aspectos de imagem sejam se
o TB "sem controle" melhantes.
IRIS "revelada" ocorre quando a terapia antirretro-
Malária
• Coinfecção com HIV piora o desfecho viral revela uma infecção oportunista prévia, subclínica,
• "Combinação tripla" de HlV-TB-malária mais mortal não diagnosticada. A restauração imunológica leva a uma
que HlV-malária. resposta imunológica contra o patógeno. Nessa situação o
parênquima cerebral é lesionado tanto pelo patógeno em
replicação quanto pela resposta imunológica incitada.
Síndrome inflamatóría da reconstituiçõo IRIS "paradoxal" ocorre quando um paciente que
foi tratado com sucesso para uma infecção oportunista
imunológica
piora após o início da terapia retroviral. Nesse cenário não
Terminologia existe nenhuma infecção nova ou reativada. A resposta
A síndrome inflamatóría da reconstituição imunológica imunológica em recuperação relaciona-se a antígenos pa
(ÍRIS) do SNC é uma encefalite recentemente reconheci togênicos persistentes ou mesmo autoantígenos, causando
da mediada por células T que ocorre no contexto de HIV lesão tecidual.
HIV/Aids 401
Imagem
As manifestações de imagem da neuro-IRIS variam de
pendendo do "patógeno de base", mas refletem aspectos
genéricos de imagem das doenças inflamatórias. As lesões
com características expansivas de aspecto bizarro com
aumento e realce progressivo (Fig. 14-34) são típicas da
IRIS-LEMP, mas ocorrem em menos da metade de todos
os casos (Fig. 14-35).
A IRIS associada à tuberculose pode se apresentar com
pseudoabscessos tuberculosos (TB "fora de controle") e/ou
aumento rápido do realce das meninges da base (Fig. 14-37).
Tipos menos comuns de IRIS associam-se a fungos e para
14-35C Após lAP, a doença estabilizou. sitas (Fig. 14-36).
HIV/Aids 403
■X
Chagas cardíaca apresentou piora
progressiva após duas semanas
wT •• da instituição de HAART. Imagem
ponderada em Tl pós-contraste
demonstra múltiplas lesões com
- . "4-. realce anelar BI e nodular E3
além de ventricuiite B.
. ^ ; 14-36B Imagem mais cranial
, X- ir ij demonstra lesões adicionais.
:'J> r\ vi;
v
404 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes
14-37A Imagem ponderada em TI pós-contaste em um paciente 14-37B O paciente iniciou HAART e posteriormente apresentou piora
HlV-positivo com meningite tuberculosa demonstra realce meníngeo na dos sintomas. O realce meníngeo B aumentou e agora tem aspecto no
fissura de Sylvius esquerda B. dular e expansivo. Observe o edema significativo IRIS associada ã TB.
14-38 Caso de necropsia de um LPSNC relacionado à Aids demonstra 14-39 TC axial pós-contraste em um outro paciente HlV-positivo de-
uma lesão solitária nos núcleos da base com necrose central e hemorra- monstra uma lesão solitária nos núcleos da base à esquerda com necrose
gla periférica [S. (Cortesia de R. Hewlett, MO.) central B e realce periférico moderado ES. Edema perilesional evi
dente. A biópsia revelou LPSNC.
relação ao linfoma primário do SNC (LPSNC), o risco ciado ao HIV (FIg. 14-38), o que se reflete nos achados de
de desenvolvimento de neoplasia está relacionado ao es imagem (Figs. 14-39 e 14-40).
tado imunológico do paciente e aumenta com contagens O principal diagnóstico diferencial é a toxoplasmo-
de CD4 menores do que 50 a 100 células por microlitro. se. A doença é mais múltipla, e as lesões costumam apre
Em alguns casos, como a neoplasia intraepitelial cervical sentar o sinal do "alvo excêntrico", ou seja, um nódulo
(NIC), a HAART é associada com regressão da doença. excentricamente localizado no interior de uma lesão com
Nesta seção, serão discutidas brevemente as neopla realce anelar. pRM é útil para distinção entre LPSNC e
sias definidoras de Aids que podem afetar o escalpo, o toxoplasmose, visto que o linfoma apresenta aumento do
crânio e o cérebro: LPSNC e SK. rCBV relativo, enquanto a toxoplasmose não apresenta.
Tomografia por emissão de pósitrons (PET) e SPECT
Linfomas associados ao HíV também podem ser úteis, visto que o linfoma é "quente" e
a toxoplasmose não.
Os linfomas associados ao HIV são caracteristicamente
do tipo não Hodgkin difuso de grandes células B. A infec-
Sarcoma de Kaposi
ção pelo vírus Epstein-Barr (EBV) é mais associada com
mononucleose infecciosa. Estima-se que 1% de todas as O sarcoma de Kaposi (SK) é o sarcoma mais comum em
neoplasias linfoproliferativas, epiteliais e mesenquimato- pacientes imunocomprometidos. O próximo sarcoma
sas sejam conectadas à infecção pelo EBV. O vírus tem mais freqüente é o leiomiossarcoma, seguido por angios-
papel importante no desenvolvimento de linfoma em pa sarcoma e tumores fibro-histiocíticos.
cientes com HIV e imunossupressão relacionada à trans O sarcoma de Kaposi resulta da combinação de dois
plante de órgãos. fatores: infecção pelo HHV-8 (também conhecido como
LPSNCs são o segundo tipo mais freqüente de lesão herpes-vírus associado ao linfoma de Kaposi), imunida
expansiva na Aids (em primeiro lugar está a toxoplasmo- de alterada e um ambiente de inflamação e angiogênese.
se) e desenvolve-se em 2 a 6% dos pacientes. LPSNC Infecção pelo EBV é comum em pacientes com leiomios-
causam cerca de 70% de todas as lesões parenquimatosas sarcomas associados ao HIV.
cerebrais nos pacientes com HlV/Aids. Tem havido um declínio na incidência da SK associa
A doença se apresenta com uma ou (menos comu- do à Aids desde o advento da terapia antirretroviral. O SK
mente) múltiplas massas. Mais de 90% delas são supra- em pacientes transplantados é curado com a redução da
tentoriais, com preferência pelos núcleos da base e subs imunossupressão, evidenciando o papel da resposta imu-
tância branca junto aos ventrículos laterais. LPSNCs com nológica celular no controle dos pacientes com HHV-8.
freqüência atravessam o corpo caloso. Necrose central e O SK é a neoplasia mais comum em pacientes com
hemorragia são comuns em pacientes com linfoma asso Aids não tratada. De todos os sítios, o mais comum é o
406 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes
14-43 TC pós-contraste de
monstra sarcoma de Kaposi no
escalpo de um paciente com
Aids. Observe a infiltração da
pele e do tecido subcutãneo B
14-44 Sarcoma de Kaposi
da pele da face e do pescoço
em um paciente com Aids visto
como nódulos superficiais envol
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15
Doenças inflamatórias e desmielinizantes
pinai crônica" (IVCC). Alguns conceitos relacionados à Nenhuma interação entre EM e IVCC foi demonstrada
etiopatogenia da EM serão resumidos abaixo. para qualquer parâmetro hemodinámico avaliado por ul-
DesmielinizaçÕo autoimune. Acredita-se que eventos trassonografla com Doppler colorido.
mediados imunologicamente - inatos ou desencadeados
Genética. O fator de risco genético mais identificado para
pelo ambiente - causem perda da mielina e morte de oli-
a EM é o gene do antígeno leucocitário humano (HLA-A)
godendrócitos levando à degeneração axonal. Quebra da
homeostase das células T e das cascatas de citocinas são
no complexo principal de histocompatibilidade (CPH).
considerados promotores da lesão inflamatória. Estudos de associação genômica apontaram cerca de 50
Fatores ambientais. Exposição ao vírus Epstein-Barr loci de risco adicional que têm papel na susceptibilidade
à doença. Apesar de progressos recentes, todos os fatores
(EBV) e variabilidade geográfica claramente contribuem
de risco identificados juntos respondem por apenas 50%
para o risco de EM. Por exemplo, infecçâo pelo EBV foi
associada à EM quando comparada aos controles de mes do risco genético de desenvolver EM. Muito da estrutura
ma idade. O risco relativo de EM em pacientes não expos genética por trás da susceptibilidade à EM ainda necessita
tos ao EBV é muito bai.xo. ser determinada.
O risco de EM também varia conforme a etnia e a
a 90% de todas as lesões supratentoriais ocorrem na in placas progridem de uma etapa a outra conforme a passa
terface caiososseptal ou próxima dela. Extensão perive- gem do tempo. As placas agudas da EM são amareladas
nuiar centrípeta é comum, formando os chamados "dedos e têm margens pouco definidas com textura granular. As
de Dawson", os quais se irradiam dos ventrículos laterais placas crônicas silenciosas apresentam bordas mais defi
(Figs. 15-2 e 15-3). nidas e são de cor acinzentada com centros escavados ou
Outras áreas afetadas incluem as tlbras U subcorti-
deprimidos (Fig. 15-5).
cais, braços da ponte, tronco e medula espinal, A substân
cia cinzenta (córtex e núcleos da base) são afetadas em Características microscópicas. Imagens com baixa amplia
10% dos casos (Fig. 15-4). ção com corantes para mielina demonstram contraste bem
definido entre as áreas coradas para mielina na substân
Tamanho e número. As placas da EM variam em tamanho. cia branca e as áreas pouco coradas de perda de mielina
Embora a maioria das lesões seja pequena - entre 5 a 10 (Fig. 15-6).
milímetros lesões maiores podem atingir vários centí Existe variabilidade significativa nas características
metros de diâmetro. As placas da EM em geral são múl
histològicas principais da EM, como inflamação, desmie-
tiplas, embora 30% das placas gigantes "tumefacientes" linização, remielinização e dano axonal. Cada caracterís
inicialmente se apresentem como lesões solitárias. As pla tica é encontrada em graus variados conforme o paciente e
cas "tumefacientes" são mais comuns em crianças e em os diferentes estágios de evolução da doença.
adultos jovens em relação aos pacientes de meia-idade e As placas agudas da EM são caracterizadas por ro
idosos.
busto infiltrado inflamatório combinado com destruição
Patologia macroscópica. A classificação da placa da EM da mielina. As lesões agudas costumam ser hipercelula-
é baseada na progressão temporal. Três tipos podem ser res, com grande número de macrófagos esponjosos e pro
identificados: aguda, crônica ativa e crônica silenciosa. As eminente infiltrado perivascular linfocítico de células T.
IN i ■ il
cionais B. A forma ovoide, a
extensão perivenular e a orienta
do perpendicular são altamente
sugestivas de EM.
i -.Tvu r
"S;- . • r r
k -i;
H'
parietal esquerda com realce
anelar periférico incompleto
("em ferradura") demonstra
.•I
periférico BS.
15-15A FLAIR em uma pacienle neurologicamente normal com 15-15B FLAIR sagital demonstra lesão triangular clássica su
58 anos com ceíaleia demonstra pelo menos três hiperintensidades defi gestiva de EM. Síndrome radiograficamente isolada. LCS foi positivo
nidas E3 e uma provável BI hiperintensidade da SB. para EM.
Imagem ponderada em TJ. A maioiia das placas da Hipointensidade nos núcleos da base é vista em 10 a
EM é hipo ou isointensa em imagens ponderadas em TI. 20% dos casos de EM moderada a grave e é secundária a
A hipointensidade ("black holes^') relaciona-se com des alterações degenerativas com deposição de metais pesa
truição neuronal. Hiperintensidade em TI é um preditor dos (Fig. 15-14).
independente de atrofia, sequela e doença avançada. Um Imagem ponderada em TI pós-contraste. As placas
halo periférico pobremente delineado, de leve hiperinten da EM demonstram realce transitório durante a fase ativa
sidade de sinal secundário à peroxidação lipídica e infil de desmielinização. Realce puntiforme, nodular ou perifé
tração por macrófagos freqüentemente circunda ""'black rico podem ser identificados (Fig. 15-10). Halo incomple
holes" com margens bem marcadas. Isso dá a algumas le to de realce ("em ferradura") com um segmento sem real
sões agudas ou crônicas o aspecto característico de "lesão ce voltado para o córtex pode estar presente (Fig. 15-11),
dentro da lesão" (Fig. 15-8). especialmente nas lesões grandes "tumefaciantes" (Figs.
Casos crônicos e graves em geral demonstram per 15-12 e 15-13).
da volumétrica moderada e atrofia generalizada. O corpo O realce desaparece após seis meses em mais de 90%
caloso torna-se progressivamente reduzido e é mais bem das lesões. A administração de esteroides reduz o realce e
avaliado nas imagens ponderadas em TI sagitais. pode fazer com que algumas lesões tomem-se invisíveis
Imagem ponderada em T2/FLAIR. Essas Imagens (Fig. 15-10).
mostram múltiplas lesões lineares, arredondadas, ovaladas Difusão. A maioria das placas agudas demonstra difu
circundando as veias medulares que se irradiam de forma são normal ou aumentada. Embora algumas placas de EM
centrípeta dos ventrículos laterais. As lesões maiores com agudas possam demonstrar restrição à difusão da água,
freqüência demonstram um centro muito hiperintenso cir esse aspecto é atípico e não deve ser considerado como um
cundado por uma área periférica de sinal menos intenso e biomarcador confiável de atividade da placa (Fig. 15-9).
graus variados dc edema perilesional (Fig. 15-9). E.spectroscopia. Espectroscopia por RM (ERM) pode
As placas da EM assumem um aspecto triangular permitir distinção precoce entre EM RR e EM SP. EM SP
característico, com base no ventrículo lateral adjacente, demonstra redução do n-acetil-aspartato (NAA) na subs
nas imagens FLAIR ou T2 sagitais (Fig. 15-9C). Um dos tância cinzenta de aspecto normal consistente com disfun-
sinais mais precoces são áreas altemantes de hiperintensi ção ou perda axonal/neuronal. Os níveis de mioinositol
dade de sinal linear ao longo do epêndima no FLAIR sa estão elevados nas lesões agudas e também na substância
gital, conhecido como sinal do "ponto-traço ependimário" branca de aspecto normal. A EM "tumefaciente" não apre
(Fig. 15-10). senta achados específicos (colina elevada, queda do NAA
As lesões desmielinizantes corticais são comuns desde e lactato elevado).
a fase inicial da EM e podem preceder o aparecimento de Técnicas de imagem avançadas. Alguns estudos usan
placas clássicas na SB em alguns pacientes (Fig. 15-11). do DTl descrevem difusão longitudinal reduzida em áreas
420 Infecção, infiamaçao e doenças desmielinizantes
de lesão neuronal. Outros têm usado imagem com transfe minada, vasculite autoimune e doença de Lyme. ADEM
rência de magnetização (ITM) para detectar perdas sutis de normalmente é acompanhada de pródromos virais ou va
mielina em tecidos sem lesão (p. ex., substância branca de cinação recente. Vasculite costuma envolver os núcleos
aspecto normal). Embora essas técnicas possam ser úteis da base e poupa a interface calososseptal. Doença de
para medir alterações relacionadas ao tratamento em deter Lyme (DLy) pode ser idêntica à EM. Envolvimento de
minadas populações e para caracterizar a fisiopatologia da nervos cranianos é mais comum na DLy do que na EM.
doença, raramente são úteis para refinar o diagnóstico em Síndrome de Susac (ver abaixo) com freqüência é
um determinado paciente. Quando o diagnóstico de EM é confundida com EM em estudos de imagem, pois ambas
duvidoso nos achados de imagem cerebral, provavelmente apresentam hiperintensidades de substância branca em
é mais útil estudar a medula espinal. T2/FLAIR e afetam mulheres jovens. As lesões na sín
drome de Susac envolvem mais a porção central do corpo
Diagnóstico diferencial caloso, e não a interface calososseptal.
"Pontos brancos" multifocals em T2/FLAIR são achados A EM "tumefaciente" pode mimetizar abscesso ou
de imagem não específicos e possuem uma grande lista de neoplasia (glioblastoma multiforme [GBM] ou metásta-
diagnósticos diferenciais. Hiperintensidades na localiza se). A desmielinização "tumefaciente" freqüentemente
ção correta (interface calososseptal, periventricular) ou da apresenta um padrão de realce anelar incompleto em
forma correta (triangular) podem representar a EM preco "ferradura A leucocncefalopatia multifocal progres
ce "radiologicamente isolada" (Fig. 15-15). É útil infor siva (LEMP) e a síndrome ínflamatóría da reconstí-
mar quando essas lesões preenchem ou não os critérios de tuiçào imunológíca (IRIS-LEMP) ocorrem em alguns
McDonnald. pacientes com EM tratados com natalizumab. Realce ir
As lesões multifocals com realce na substância bran regular e descontrolado nesses casos pode ser de dificil
ca podem ser causadas por encefalomielite aguda disse distinção da EM aguda "tumefaciente".
15-16A Um paciente de 26
anos de idade se apresentou
com história recente de alteração
visual e fraqueza do membro
superior esquerdo seguido por
rápida progressão de alteração
sensitiva e quadriplegia. FLAIR
axial demonstra uma grande le
são hlperintensa heterogênea na
substância branca parietal direita
ea com uma lesão menor à
esquerda
15-16B Imagem TI pós-
■contraste axial com saturação
de gordura no mesmo caso
demonstra múltiplas lesões com
realce periférico incompleto B
na substância branca profunda e
periventricular.
As três características gerais das lesões inflamatórias • A imagem demonstra doença difusamente disseminada
desmielinizantes idiopáticas (LIDIs) são: (1) LIDIs ful o Grandes lesões cavitárias
minantes ou agudas (p. ex., doença de Marburg, doença o Realce periférico anelar incompleto
o Múltiplos outros focos confluentes de realce
de Schilder, esclerose concêntrica de Balo), (2) LlDís
monossintomáticas (p. ex., neurite óptica), e (3) LIDIs
restritas a uma distribuição geográfica particular (p. ex., Doença de Schilder
neuromielite óptica ou mielite transversa isolada). Algu Terminologia e aspectos clínicos. A doença de Schilder (DS),
mas dessas LIDIs, como a doença de Marburg e a es
também conhecida como esclerose difusa mieloclástica,
clerose concêntrica de Balo provavelmente são variantes é uma doença rara caracterizada por uma ou mais placas
da EM e serão discutidas como se fossem. Outras, como
inflamatórias desmielinizantes na substância branca. A
neuromielite óptica, são consideradas entidades comple
DS é uma doença da infância e de adultos jovens. A idade
tamente diferentes.
média de apresentação é 18 anos, com pequena predomi
nância no sexo feminino.
Variantes da esclerose múltipla Os aspectos clínicos são atípicos para EM e incluem
Nesta seção, serão delineadas três importantes e pouco sinais de hipertensão intracraniana, afasia e alterações
comuns DLIDIs que afetam o cérebro e apresentam-se comportamentais. A análise do LCS é anormal e não
como uma doença desmielinizante aguda fulminante: existe história sugestiva de encefalomielite disseminada
doença de Marburg, doença de Schilder e esclerose con aguda (p. ex., ausência de febre, infecção ou vacinação
cêntrica de Balo. precedente). Cerca de 15% dos casos progridem para EM.
422 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes
Patologia. Massas solitárias unilaterais estão presentes em Abscesso piogênico geralmente demonstra importante
dois terços dos casos. A maior parte das lesões é grande, restrição à difusão da água na porção central. Perfusão por
medindo vários centímetros de diâmetro. RM pode ser útil para diferenciar DS de metástase e glio-
As características histopatológicas da DS consistem blastoma multiforme.
em desmielinização da SB, infiltrados perivasculares lin-
focitários e proliferação microglial. Esclerose concêntrica de Balo
Terminologia e aspectos clínicos. A esclerose concêntrica de
Imagem. A imagem demonstra lesões hipodensas subcor-
ticais na TC. A RM demonstra lesões hipointensas nas Balo (ECB) é uma variante rara agressiva da EM, em ge
ral caracterizada por deterioração clínica de início agudo
imagens ponderadas em Ti que são hiperintensas em
T2/FLA1R. Realce periférico - com freqüência em padrão e rápido. O pico de apresentação é entre 20 e 50 anos. A
anelar incompleto - é visto durante o estágio agudo infla- maioria dos casos relatados ocorre em pacientes jovens do
sexo masculino.
malório (FIg. 15-17).
O halo da lesão em geral restringe no estudo da di Nem todos os casos de ECB são rapidamente progres
fusão da água durante a fase aguda. Os achados da ERM sivos e fatais. A ECB às vezes segue um curso benigno
são inespecíficos e incluem queda do pico de NAA com sem episódios aparentes de recorrência.
aumento da relação de Cho:Cr. Complexos de lactato e Patologia. A ECB é uma doença desmielinizante inflamató-
lipídeo-lactato são comuns. ria relacionada à EM. O marco patológico da ECB é um pa
Diagnóstico diferencial. O diagnóstico diferencial da DS drão peculiar de anéis que lembram o tronco de uma árvore
pode ser dificil. EM "tumefaciente" pode apresentar-se ou um bulbo de cebola. Grandes placas de desmielinização
de forma semelhante nos estudos de imagem. DS tam com halos altemantes de mielina destruída e preservada são
bém mimeiiza neoplasia intracraniana ou abscesso tanto os responsáveis por esta aparência (Fig. 15-18). ECB pode
na apresentação clínica quanto nos estudos de imagem. ocorrer como uma massa solitária ou em lesões múltiplas.
Imagem. Estudos de imagem refletem a patologia macros tivo do diagnóstico. Uma configuração semelhante com
cópica distinta da ECB e variam conforme o estágio da aspecto de "olho de boi" pode ser visto eventualmente na
doença. As lesões agudas apresentam edema periférico EM recorrente, mas não o aspecto clássico de múltiplas
marcado. Duas ou mais bandas de sinal alternante ou inten- camadas. ADEM também não apresenta o aspecto carac
sidades de sinal diferentes são vistas nas imagens pondera terístico de múltiplas camadas.
das em T2 e lembram um redemoinho com anéis concêntri-
cos. As camadas de desmielinização ativa sofrem realce nas
imagens ponderadas em TI pós-contraste (FIg. I5-19A). OUTRAS VARIANTES OA EM
Outras placas típicas da EM podem estar presentes.
Doença de Schilder
Restrição à difusão leve a moderada pode ser vista • Esclerose difusa mieloclástica
nos anéis mais externos. Os achados da ERM são inespe- o Doença desmielinizante rara aguda/subaguda
cíficos e lembram os da EM (p. ex., colina elevada com o Lesões podem curar, 15% progridem para EM
queda do NAA). • Adultos jovens
ECB subaguda ou crônica demonstra duas ou mais o Média de idade no início = 18 anos
bandas de hipointensidade ou isointensidade nas imagens • Aspectos clínicos atípicos para EM e ADEM
o LCS normal
ponderadas em TI. As camadas concêntricas aparecem
o Sem história de febre, resfriado ou vacinação
iso ou hiperintensas em imagens ponderadas em T2 (Fig.
• Lesão solitária > multifocal
15-198). Efeito expansivo e edema são mínimos, e as le • Lesões podem parecer EM "tumefaciente"
sões não sofrem realce nas imagens ponderadas em TI • Diagnóstico diferencial: neoplasia, abscesso
pós-contraste.
Diagnóstico diferencial. O padrão de anéis concêntricos
(aspecto de "bulbo de cebola" ou "redemoinho") é suges (continuo)
^ Z, f
tensidade nas imagens pondera
das em T2 Nenhum realce
é visto nas imagens ponderadas
em TI pós-contraste SI. (Corte
sia de P. Rodriguez. MD.)
424 Iníecção, inflamaçao e doenças desmielinizantes
15-20A Secçâo através do quiasma óptico corado com luxol azul de 15-20B Medula espinal em corte axial do mesmo caso demonstra le
monstra os focos desmielinizantes clássicos da neuromielite óptica ES. sões caviladas no centro medular [S. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
15-22 Exame fundoscópíco demonstra múltiplas irregularidades e 15-23 Achados clássicos da síndrome de Susac com lesões na porção
ociusôes segmentares Si na artéria da retina. média do corpo caloso nas Imagens ponderadas em TI S, hiperintensi-
dades da S6 B multifocals ovoides no corpo caloso ES no FLAIR, além
de restrição à difusão (Cortesia de P. Rodriguez, MO).
I -J "S. V
15-24C Imagem ponderada
em TI pós-contrasle focada na
cisterna suprasselar mostra duas
lesões adicionais com realce B
no lobo temporal esquerdo.
15-24D Imagem ponderada
em TI pós-contraste no plano co
ronal mostra que a lesão talâmi-
ca à esquerda B sofre realce.
Outra pequena lesão com realce
encontra-se presente na metade
da ponte Os achados de
imagem associados ã história
são praticamente diagnósticos da
sfndrome de Susac.
428 infecção, inflamação e doenças desmielinizantes
Patologia
SÍNOROME DE SUSAC Localização. Como o nome sugere, a ADEM pode envolver
tanto o cérebro quanto a medula espinal. Lesões da subs
Terminologia
• Vascülopatia retinococleocerebral tância branca sào predominantes, mas o envolvimento dos
núcleos da base é visto em cerca de metade dos casos. As
Etlologia e patologia lesões da medula espinal são encontradas em 10 a 30%
• Imunologicamente mediada dos pacientes.
o Provavelmente não é uma verdadeira doença
Uma variante rara do ADEM, necrose estriatal bila
desmielinizante
• Microendoteliopatia odusiva teral infantil, ocorre uma ou duas semanas após uma in
o inflamação perivascular com microinfartos fecção respiratória. As infecções virais ou estreptocócicas
foram associadas ao quadro. A imagem mostra os núcleos
Aspectos clínicos da base, núcleo caudado e cápsulas interna/externa au
• M » H mentados e com sinal hiperintenso.
• Tríade clínica
o Cefaleia, encefalopatia Tamanho e número. O tamanho das lesões varia de poucos
o Déficit auditivo neurossensorial milímetros a vários centímetros (ADEM "tumefaciente")
o Anormalidades visuais e apresentam um formato de puntiforme a "floculado".
Lesões múltiplas sào mais comuns que lesões solitárias.
430 Infecçao, inflamação e doenças desmielinizantes
Aspectos clínicos
Epidemiologia e demografia. adem é a segunda doença
inflamatória desmielinizante idiopática mais adquirida,
atrás apenas da EM. Diferentemente da EM, não existe
predileção pelo sexo feminino. A doença ocorre mais na
15-26 Imagem de necropsia mostrando desmieiini- primavera e no outono.
A ADEM pode ocorrer em qualquer faixa etária, po
zaçâo necrotizanle SI característica das doenças pós-
-infecciosas e pós-vacinais. (Cortesia de R. Hewlett, MD.) rém - talvez pela freqüência das imunizações e exposição
a antígenos - é mais comum na infância, com pico de in
cidência entre 5 e 8 anos. A incidência geral estimada é
de 0,8 por 100.000 pessoas anualmente. A incidência do
ADEM na infância é estimada em 2 a 10 casos por mi
lhão de crianças por ano. Entre 10 a 25% das crianças com
ADEM eventualmente serão diagnosticadas com EM.
Apresentação. Os sintomas ocorrem alguns dias ou sema
nas após estímulo imunológico (p. ex., infecçâo ou vaci
nação). A maioria das crianças com ADEM apresenta pró-
dromos febris inespecificos. Exantema viral em geral não
é observado. Diferentemente da EM, neurite óptica é rara.
História natural. O curso e o desfecho da doença variam.
ADEM monofásíca é o tipo mais comum. Entretanto, al
gumas vezes a doença segue um curso atípico, flutuando
em um período de vários meses.
ADEM recorrente caracteriza-se por um segundo
15-27A TC pós-contraste em paciente com ADEM
demonstra múltiplas lesões com realce na fossa poste episódio ocorrendo mais de três meses após o quadro ini
rior E3. cial, envolvendo a mesma região anatômica deste quadro.
ADEM multífásíca caracteriza-se por um ou mais even
tos subsequentes que envolvem uma área anatômica dife
rente, demonstrada como uma nova lesão na RM ou como
um novo déficit neurológico focai.
Mais da metade de todos os pacientes recupera-se
completamente dentro de um ou dois meses do início, en
quanto cerca de 20% permanecem com alguma lesão resi
dual. A mortalidade geral é relativamente alta (10a 25%).
E N C E FA L O PAT I A D I S S E M I N A D A A G U D A
Etiologia e patologia
• Pós-infecciosa, pós-vacinal
• Desmielinização perivenular imunologicamente mediada
Aspectos clínicos
• Doença desmielinizante adquirida menos comum
15-27B TC pós-contraste no plano axial no mesmo apenas que EM
paciente também mostra lesões com realce supralen- • Sem preferência pelo sexo feminino
torais E2.
Doenças inflamatórias e desmielinizantes 431
/%
d e fi n i d a s B .
15-28B Imagem ponderada
em T2 axial do mesmo paciente
demonstra as clássicas hipe-
/ s 4
rintensidades subcorticais com
margens pouco definidas do
ADEM. O córtex abaixo das lesões
- <y encontra-se intacto. Observe a
I
s
/ - itk • lesão frontal à direita com um
centro bastante hiperintenso
e periferia levemente me
-éft "-..v 'yfl'^ nos hiperintensa
432 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes
Diagnóstico diferenciai
ADEM: IMAGEM
o principal diagnóstico diferencial do ADEM é a esclc-
rose múltipla. Pode ser difícil de distinguir ADEM da TC
• TC sem contraste: normal
EM baseado apenas nos achados de imagem. As lesões
• TC com contraste: realce puntiforme ou anelar parcial
"lumefacientes", incluindo aquelas com realce anelar in
completo. ocorrem em ambas as doenças. ADEM é mais RM
comum em crianças e costuma estar associado à história • Hlperlntensldades focais em T2/FLAIR
de infecção viral ou à vacinação anterior ao desenvolvi o Lesões de SB bilaterais assimétricas
mento da doença. A EM envolve a região calososseptal, o Subcortlcals, periventriculares
o Pequenas e ovais/arredondadas a lesões em "bola
porém lesões periventriculares também são comuns no
ADEM. A EM tem um curso surto-remissão, enquanto a de algodão"
o Núcleos da base, fossa posterior e nervos cranianos
maioria, embora não todos, os casos de ADEM são mo-
nofásicos (Fig. 15-31). freqüentemente envolvidos
• O realce varia de ausente à importante
Outras considerações diagnósticas incluem encefali- o Puntiforme multifocal, linear ou anelar parcial
tes virais, vasculites imunomediadas e doenças coláge- o Pode ser perivenular
no-vasculares. Ocasionalmente, neurossarcoidose com o Lesões grandes ("tumefacientes") são raras
envolvimento parenquimatoso e doença de Whipple do
SNC podem mimetizar a ADEM. Oiagnóstico diferencial
• EM
• Encefalite, vasculite, doença colágeno-vascular
• ADEM "tumefaciente" mimetiza a neoplasia
1.
Biópsia revelou doença desmieli-
nizante aguda sem evidência de
neoplasia ou infecção.
15-32A Imagem de necropsia de LHAg demonstra inumeráveis he 1S-32B Fotomicrografia corada com H&E do mesmo caso demonstra
morragias petequiais simétricas da SB S) se estendendo para as fibras um anel de hemorragia perivascular SI circundando um vaso irombo-
U subcorticais. Observe a presença de lesões no corpo caloso [^. O cór- sado [S. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
tex é poupado, diferentemente dos núcleos da base [S.
Opções oe tratamento. Tratamento agressivo com altas do (Figs. 15-34 e 15-35), imagens T2* são a chave para o
ses de corticoide endovenoso, imunoglobulina, ciclofos- diagnóstico. As seqüências SWT são mais sensíveis que
famida e plasmaferese tem sido usado com algum sucesso GRE, em especial quando apenas microssangramentos es
em alguns casos. tão presentes (Figs. 15-33,15-36 e 15-37).
Hipointensidades com artefato de susceptibilidade
Imagem magnética multifocals puntiformes ou lineares no corpo
Avaliação por imagem tem papel-chave nos pacientes caloso que se estendem por toda espessura da substância
com história clínica que sugira a possibilidade de LHAg. branca hemisférica até as fibras U subcorticais são acha
dos típicos no T2*. Ausência de comprometimento do
Achados na TC. A TC sem contraste pode ser normal, a me
córtex adjacente é comum. Lesões adicionais são encon
nos que hemorragias macroscópicas confluentes estejam
tradas nos núcleos da base, mesencéfalo, ponte e cerebelo.
presentes. Micro-hemorragias petequiais em geral são in Realce nas imagens ponderadas em TI pós-contraste
visíveis, mas o edema de substância branca com hipoden- ocorre em 50% dos casos e vai desde realce linear do es
sidade difusa relativamente assimétrica de um ou ambos
hemisférios pode ser evidenciado. paço perivascular até grandes áreas confluentes de realce.
J:
. y
/
15-34A Corie axial de peça de necropsia de um caso de LHAg de 15-34B O mesmo caso com duas áreas adicionais de necrose hemor
monstra grande área confluente de necrose hemorrágica macroscópica rágica macroscópica SI. Os achados de imagem associados com história
SI. Observe que a lesão cruza o joelho do corpo caloso e envolve o clínica de doença viral de vias aéreas superiores e piora clínica rapidamen
lobo frontal oposto SI. te progressiva são característicos da LHAg. (Cortesia de R. Hewlett, MO.)
15-38 Ilustração das localizações comuns da neurossarcoidose; (1) 15-39 Fotomicrografia em corte coronal com baixa ampliação mostra
íniundíbulo com extensão hipofisária E3, (2) espessamento em placa a expansão do soalho do terceiro ventrículo e espessamento do Íniundí
da dura-aracnoide (3) lesões sincrônicas no verme superior S2 e bulo proximal 31 causado pela sarcoidose. (Cortesia de B. K. DeMasters,
plexo coroide do quarto ventrículo S. MD.)
ócitos epitelioides com células gigantes multinucleadas, a 75% dos pacientes. O envolvimento de praticamente
juntamente com um número variável de linfócitos e plas- qualquer nervo craniano Já foi relatado. O achado mais
mócitos de aspecto benigno (Fig. 15-39). Não existe evi freqüente é de paralisia do nervo facial. O nervo óptico é o
dência histológica ou imuno-histoquímica de infecçào ou segundo nervo mais afetado, causando defeitos no campo
neoplasia. visual, visão borrada e edema da papila do nervo óptico.
Sintomas não específicos da NSar incluem cefaieia,
Aspectos clínicos fadiga, convulsões, encefalopatia, déflcits cognitivos e
Epioemioldgia e demografia. NSar tem uma distribuição etá distúrbios psiquiátricos. Sintomas de disfunção hipotalâ-
ria bimodal. O maior pico ocorre durante 30 a 40 anos, mica/hipofisária como diabetes insípido ou pan-hipopitui-
com um segundo pico menor - especialmente mulheres tarismo são vistos em 10 a 15% dos casos.
- acima dos 50 anos. Existe pequena predominância no
História natural. O curso da NSar é variável. A doença
sexo feminino.
pode ser relativamente assintomática e clinicamente indo-
A sarcoidose é uma doença de distribuição mundial, lor. Cerca de dois terços dos pacientes apresentam doença
embora a prevalência varie com a geografia e a etnia. Ne monofásica autolimitada. Um terço segue curso crônico
gros e brancos com origem norte-europeia apresentam a de surto-remissão com novos sintomas, sugerindo desen
maior incidência de doença. Nos EUA, o risco de um ne volvimento de granulomas adicionais.
gro desenvolver a doença ao longo da vida é o triplo de
Opções de tratamento. Como não existe cura conhecida
um branco.
para a NSar, o tratamento é sintomático. A maioria dos
Apresentação. Os sintomas variam conforme a localização. pacientes com NSar responde ao tratamento com corticos-
A apresentação mais comum da NSar é de déficit isola teoides. Alguns são refratários ao tratamento com corti-
do ou múltiplos déflcits de nervos cranianos, visto em 50 costeroides e aos agentes imunossupressores.
15-44 Série de imagens ponderadas em Ti pós-contrasle mostra 15-45 NSar com espessamento hipoinlenso da dura-aracnoide na
envolvimento do infundíbuio ES, piexo coroide ES, epêndima B e imagem ponderada em T2 SI e realce forte e uniforme ES. Exten
meninges S] pela NS. são parenquimatosa pelos espaços perivascuiares causa edema BI e
realce Si.
com base durai são menos comuns (Figs. 15-44 e 15-45). Diagnóstico diferencial
Em casos raros, granulomas coalescentes formam uma le o diagnóstico diferencial da NSar depende da localização
são focai expansiva (NSar"tumefaciente") (Fig. 15-46). da lesão. A meningite - especialmente a tuberculosa -
Outra manifestação da NSar é o espessamento soli
pode parecer muito com o comprometimento das cisternas
tário ou multifocal com realce de nervos cranianos (Figs. da base pela NSar. A meningite carcinomatosa também
15-47 e 15-48), além de lesões com realce nos ventrículos
pode lembrar a NSar.
e plexos coroides (Fig. 15-44). O diagnóstico diferencial de NSar com base durai in
clui meningioma, linfoma e pseudotumor infiamatório
idíopático, enquanto NSar com envolvimento hipotalâmi-
NEUROSSARCOIDOSE: IMAGEM co/infundibular/hipofisário pode lembrar hístíocitose ou
Mais comum hipofisite linfocitica.
• Realce leptomeníngeo linear/nodular NSar com lesões parenquimatosas coalescentes pode
o Predileção pelas cisternas da base simular linfoma primário do SNC ou metastases, en
• Lesões parenquimatosas com realce quanto lesões com realce multifocal podem lembrar es-
o Espessamento com realce do hipotálamo, hipófise e clerose múltipla, metastases e linfoma intravascular.
haste hipofisária O diagnóstico diferencial de envolvimento solitário ou
o Lesões inflltrativas perivascuiares multifocal de nervos cranianos é amplo e inclui infecção,
• Espessamento/realce de nervos cranianos
o Qualquernervo pode ser envolvido doença desmielinizante e neoplasia.
o Mais comum no nervo facial e nos nervos ópticos
Pseudotumores inflomatórios idiopáticos
Menos comum
• Massas solitárias ou mijltiplas com base durai Os pseudotumores inflamatórios idiopáticos (Pll) são le
o Podem ser difusas, em placa sões incomuns que podem ser quase iguais de neoplasias
o Lesões focais, pequenas "reais". Os Plls são agregados celulares não neoplásicos
• Hiperintensidades em T2/FLAIR focais/difusas benignos, também conhecidos como paquimeningite hi-
• Hidrocefalia pertrófica idiopática, granuloma de plasmócitos e tumor
miofibroblástico infiamatório.
Raro, mas importante
• Lesões parenquimatosas "tumefacientes" Os Plls foram descritos em praticamente todos siste
• Lesões de aspecto expansivo nos plexos coroides mas do corpo. Eles podem afetar qualquer parte do SNC,
porém, em geral, são lesões com base meníngea isoladas
442 Infecção, inflamação e doenças desmielinlzantes
\
Doenças inflamatórias e desmielinizantes 443
ou invasivas. Espessamento focai ou de aspecto expansi crônica (PDCI), é caracterizada por episódios repetidos
vo da dura-aracnoide é o achado de imagem típico. de desmielinização e remielinização com hipertrofia em
O diagnóstico diferencial da PII não invasiva inclui "bulbo de cebola" dos nervos afetados.
meningioma em placa e causas benignas não neoplásicas A PDCI é caracterizada por envolvimento crônico
de espessamento da dura-aracnoide. Neurossarcoidosc. progressivo ou recorrente simétrico sensitivo e motor.
hípotensão intracraniana, cirurgia previa, trombose Clinicamente, no início, a doença é diagnosticada como
de seio durai, hematoma subdural crônico e resíduos síndrome de Guiliain-Barré, encefalite de Bickerstaff ou
de meningite crônica estão entre as principais entidades esclerose múltipla.
que causam esse aspecto não específico nos estudos de Espessamento difuso com importante hiperintensida-
imagem. de em T2/ST1R e realce leve a moderado de um ou mais
Os PIls invasivos comportam-se agressivamente e nervos cranianos é a manifestação típica de imagem da
podem simular neoplasia maligna ou infecção fúngíca. PDCI (Fig. 15-49). Focos de desmielinização parenqui-
O diagnóstico definitivo requer biópsia, visto que não matosa consistente com EM são comuns, mas nem sem
existem características de imagem patognomônicas. Os
pre presentes.
PIls são discutidos com detalhe e extensivamente ilustra
O diagnóstico diferencial de imagem da PDCI inclui
dos no Capítulo 26. neurossarcoidosc e infiltração de nervos cranianos se
cundário a linfoma ou metastases. Esclerose múltipla,
Polineuropatia desmielinizante doença de Lyme e encefalomiclite disseminada aguda
inflomatória crônica podem causar realce de nervo craniano, mas não causam
Um tipo raro de doença desmielinizante autoimune lo importante aumento simétrico do nervo, característico da
calizada, polineuropatia desmielinizante ínflamatória PDCI.
> f'
r .
■-ri
mo paciente mostra aumento
fusiforme de ambos os nervos
mandibulares desde o cavo de
Meckel até a face B.
15-49D STIR coronal através
das órbitas mostra aumento ma
ciço e assimétrico com alto sinal
dos nervos oftálmicos B.
: •
• Zetll UK et al: Immune-mediated CNS diseases: a review on • Terushkin V et al: Neurosarcoidosis: presentations and
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e lesões pseudotumorais
tumorais e quatro novas variantes. Todas estão incluídas
Classificação e graduação das neoplasias neste texto. Além disso, incluímos e discutimos breve
do sistema nervoso central 449
mente as neoplasias descritas desde 2007 (p. ex., blastoma
Considerações gerais 450
Tumores do tecido neuroepitelial 451 de hipófise e o tumor embrionário com neurópilo abun
Tumores menfngeos 454 dante e rosetas verdadeiras [TENARV]).
Tumores dos nervos cranianos (e espinais) 454
Línfomas e tumores hematopoiéticos 455
Tumores de células germinativas 456
Tumores da região selar 456
Tumores metastáticos 457
Classificação e graduação das neoplasias
do sistema nervoso central
Cistos intracranianos 457
Cistos extra-axiais 457 Os tumores cerebrais podem ser classificados e gradua
Cistos inlra-axiais (parenquimatosos) 457 dos. As classificações tradicionalmente tentam alocar as
Cistos intraventriculares 457
neoplasias do sistema nervoso central (SNC) em catego
rias distintas com base nas similaridades hislológicas en
A classificação mais aceita das neoplasias cerebrais é pa tre as células tumorais e os constituintes normais ou em-
trocinada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). briológicos do sistema nervoso. A primeira classificação
Desde 1986. um grupo de neuropatoiogistas reconhecidos amplamente aceita de tumores cerebrais foi formulada por
mundialmente tem sido convocado a cada sete anos para Bailey e Gushing, em 1926. A maioria dos sistemas sub
uma conferência de atualização editorial e de consenso sequentes - incluindo o sistema da OMS - são modifica
sobre a classificação e graduação dos tumores cerebrais. ções dessa classificação.
Os resultados são publicados como a Classificação de Tu As classificações formam a base lógica para a abor
mores do Sistema Nen'oso Central da OMS. dagem das neoplasias do SNC, apesar de suas deficiências
A edição mais recente - a quarta - foi publicada em e inconsistências. As classificações baseadas estritamente
2007 e é a versão utilizada neste texto (a quinta edição em critérios histológicos estão evoluindo de forma gra
não está programada para publicação até 2014). Entre as dual para uma combinação de características genéticas e
edições, atualizações são publicadas na Brain Pathology, moleculares. Se a "assinatura" de um tumor já foi identifi
a revista oficial da Sociedade Internacional de Neuropa cada. é referenciada neste texto.
Neoplasia Neoplasia
A S T R O C I TA R I O S OUTROS NEUROEPITELIAIS
Xantoastrocitoma pleomórfico
Gliossarcoma GDI/AID
Neurocitoma central
EPENOIMÁRIOS
Ependimoma TPPDI
TPRP
PLEXO COROIDE
AT/RT
A T/Rl, tumof teratoide/fabdoide aiipico; GlO/AiD, gonglioglioma ou astrocUomo infantil desmoplósico; DNET, tumor neuroepUeiial disembrioplásico; N/A, tumor
do sistema nervoso central com classificação não atribuída pela Orgonizaçõo Mundial da Saúde; PNET, tumor neuroectodérmico primitivo; TPPOl, tumor do parén-
quima pineal com diferenciação intermediário; TPRP, tumor papilar da região da pineal. (Adaptada de Louis ON el al: World Health Organization Classification of
Tumours of the Central Nervous System, 'llh ed. Lyon, France; lARC Press, 2007.)
Considerações gerais res dos nervos cranianos e espinais, bem como os linfo-
As neoplasias do SNC são divididas em tumores primá mas e as neoplasias hematopoiéticas, são grupos menos
rios e metastáticos, cada um representando cerca de meta comuns, porém importantes.
de de todos os tumores cerebrais. As neoplasias primárias Neste texto, agruparemos duas categorias de neopla
são divididas em seis categorias principais. De longe, a sias primárias do SNC pela localização. Assim, os tumores
maior delas é a dos "tumores do tecido neuroepitelial" da região da pineal e os tumores de células germinativas
(Tab. 16-1), seguida pelos tumores meníngeos. Os tumo (os quais são principalmente, porém não exclusivamen-
Introdução a neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais 451
16-1 Os constituintes celulares do neurópilo incluem os astrócitos, oli- 16-2 Os astrocitomas formam o maior grupo de tumores primários do
godendrócitos, neurônios, microglia, plexo coroide e células ependimá- cérebro. Mais da metade são astrocitoma anaplásicos (AA) (grau li! da
rtas. Acreditava-se que cada tipo celular sofria transformação maligna, Organização Mundial da Saúde [OMS]) e glioblastoma multiforme (GBM)
originando uma neoplasia correspondente. (grau IV da OMS). Os astrocitomas (grau II) e os astrocitomas pilocíticos
(AP) representam cerca de um terço de todos os casos.
te, encontrados na região da pineal), são considerados em Origem dos tumores neuroepiteliais
conjunto. Os tumores da região selar são, da mesma for o neurópilo contém vários subtipos de células gliais; as
ma, discutidos como um grupo. trócitos, oligodendrócitos, células ependimárias e células
A classificação atual da OMS também inclui síndro-
ependimárias modificadas que formam o plexo coroide.
mes tumorals familiais como a neurofíbromatose tipos 1 e No passado, acreditava-se que cada subtipo dava origem a
2, complexo da esclerose tuberosa, doença de von Hippel- um tipo específico de "glioma". Nessa visão bastante sim
-Lindau e Li-Fraumeni. Abordaremos cada um na liltima
plista, os astrócitos anormais eram considerados a origem
parte deste texto, juntamente com as malformações con dos astrocitomas, os oligodendrogliomas se originavam
gênitas, dos oligodendrócitos, e etc. (Fig. 16-1).
Uma mudança de paradigma no nosso entendimen
Tumores do tecido neuroepitelial to das origens dos cânceres ocorreu nos últimos anos.
Os tumores do tecido neuroepitelial são uma enorme cate Acredita-se que muitas - se não a maioria - das neopla
goria e, portanto, são divididos em vários subtipos distin sias primárias do parênquima cerebral originam-se de cé-
tos de tumores, cada um correspondente a um componente lulas-tronco neurais (CTN) pluripotenciais. Essas CTNs
específico do neurópilo. Os constituintes do neurópilo são persistem em duas áreas do cérebro pós-natal: a zona
os neurônios e as células gliais, com as últimas estando subventricular - região localizada sob o epêndima dos
em número muito maior do que os primeiros. ventrículos cerebrais — e o giro denteado do hipocampo
As neoplasias gliais constituem um dos grupos mais (Fig. 16-3).
heterogêneos de tumores cerebrais. Tumores com ori A neurogênese e a gliogênese normais continuam ao
gem de células gliais foram originalmente chamados de longo da vida. As CTNs do cérebro possuem alta taxa de
"gliomas" (devido à suposta derivação a partir das célu proliferação e, portanto, são propensas ao surgimento de
las gliais glue-like). O termo atual mais acurado é tumor erros genéticos. Quando essas células-tronco cerebrais so
"neuroepitelial" ou "neuroectodérmico", refletindo a ori frem mutação, elas se tomam células progenitoras tumo
gem a partir das células precursoras do sistema nervoso. rals (células-tronco tumorals) que podem gerar neoplasias
Começaremos nossa discussão sobre os tumores fenotipicamente diversas.
neuroepiteliais com uma revisão geral da gênese tumo As células-tronco tumorals possuem a capacidade
ral, fazendo em seguida breves considerações a respeito de proliferação contínua e autorrenovação. Elas são ine
de cada subgrupo principal de tumor, começando com os rentemente resistentes a drogas e a toxinas, o que pode
astrocitomas. explicar a baixa resposta que muitos tumores cerebrais
452 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
16-3A Ilustração sagital retrata as células-tronco neurais em amarelo. 16-3B ilustração coronal demonstra as células-tronco neurais nas zo-
demonstradas originando-se da zona subventricular sob o epêndima dos nas subventriculares de ambos os ventrícuios laterais,
veniriculos laterais.
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Metástases Neoplasias Meníngeos Astrocitomas LJ)"utros primários
primárias
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16-4 Gráfico demonstrando a prevalência relativa dos tumores cere 16-5 Gráfico demonstrando a prevalência relativa de tumores cere
brais em adultos. Praticamente metade são metástases de neoplasias brais em crianças. Metástases, astrocitoma anaplásico (AA) e glioblasto
sistêmicas; a outra metade são neoplasias primárias. ma multiforme (GBM) são raros. Astrocitoma pilocítico e tumor neuroec-
todérmico primitivo (PNET) são mais comuns em comparação a adultos.
cerebelo e nas circunjacências do terceiro vcnlriculo. po 11 da OMS que pode se originar em qualquer local do siste
rém raramente ocorrem nos hemisférios. ma ventricular e no canal central da medula. Ependimomas
infratentoriais, em geral, surgindo no interior do quarto ven
Neoplasias glials nâo astrocíticas trículo, ocorrem de forma mais predominante em crianças.
Oligodendrogliomas, ependimomas, neoplasias gliais his- Ependimomas supratentoriais são mais comuns nos hemis
férios cerebrais do que nos ventrículos laterais, e costumam
tologicamente mistas (mais comumente oligodendroglio
ma misturado à astrocitoma) e tumores de plexo coroide ser tumores de crianças jovens. Ependimomas anaplásicos
sào todos considerados neoplasias gliais não astrocíticas. sào biologicamente mais agressivos, possuem pior prognós
tico e são designados neoplasias grau III da OMS.
Tumores oligooendrogiiais. Os tumores oligodendrogliais Cada um desses ependimomas. embora histologica-
variam de neoplasias de grau 1! da OMS difusamente in- mente similares, é diferente em seu desenvolvimento e em
nitrativas, porém relativamente bem diferenciadas (oligo suas alterações moleculares, possuindo mutações genéti
dendrogliomas), a oligodendrogliomas anaplásicos (grau cas específicas identificáveis.
III). Oligodendrogliomas podem estar misturados com
Tumores de plexo coroide. Os tumores de plexo coroide são
elementos astrocíticos ou de outra natureza. Os gliomas
mistos são graduados de acordo com o elemento mais neoplasias papilares intraventriculares derivadas das célu
las epiteliais dos plexos coroides. Quase 80% dos tumores
anaplásico. o qual é geralmente o componente astrocítico.
de plexo coroide são encontrados em crianças e são um
Para determinação do tratamento, entretanto, o perfil
dos tumores cerebrais mais comuns na faixa etária inferior
molecular (deleção do Ip, I9q) é mais importante do que
a 3 anos.
as características histológicas do oligodendroglioma.
Os tumores de plexo coroide foram divididos em
Tumores epenoimários. Os tumores variam entre os graus papilomas de plexo coroide (PPC), os quais são tumores
I a 111 da OMS. O subependimoma, uma neoplasia de grau 1. e carcinomas de plexo coroide (CaPC), designados
comportamento benigno de adultos de meia-idade e mais grau II da OMS. Os PPCs são 5 a 10 vezes mais comuns
velhos que ocorre nos cornos frontais dos ventrículos late do que os CaPCs. Ambos podem disseminar difusamen
rais e no quarto ventrículo, é um tumor de grau 1 da OMS. te através do líquido cerebrospinal (LCS), portanto todo
O ependimoma mixopapilar, um tumor de adultos jovens o neuroeixo deve ser investigado antes da intervenção
e de meia-idade que é quase exclusivamente encontrado cirúrgica.
no cone medular, na cauda equina e no filum terminal da A classificação de 2007 da OM S reconheceu um novo
medula, também é grau I. grau intermediário de tumor de plexo coroide. Esses tu
O ependimoma, em geral um tumor de crescimento len mores foram designados "papilomas atípicos de plexo
to de crianças e de adultos Jovens, é uma neoplasia de grau coroide" (PAPC), e são considerados neoplasias grau II.
454 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
Outros tumores neuroepiteliais. Neoplasias neuroepiteliais teliais (i.e., tumores que não são meningiomas). Heman-
raras incluem astroblastoma, glioma coroide do terceiro giopericitomas, hemangioblastomas e lesões melanocíti-
ventrículo e o glioma angiocêntrico. cas também são considerados parte do grupo de tumores
meníngeos (Tab. 16-2).
Tumores neuronals e giioneuronais mistos
Os tumores neuroepiteliais com células gangliônicas. neu- Meningiomas
rócitos diferenciados ou células neuroblásticas pouco di Os meningiomas surgem das células meningoteliais (arac-
ferenciadas são característicos desse grupo heterogêneo. noides). A maioria está na dura, porém podem ocorrer em
As neoplasias de células gangliônicas (gangliocito- outras localizações (p. ex., plexo coroide dos ventrículos
ma, ganglioglioma), ganglioglioma ou astrocitoma infantil laterais).
desmoplásico (GID/AID). neurocitoma (central e a varian Embora os meningiomas possuam muitos subtipos
te extravcntricular recentemente descrita), tumor neurocpi- histològicos (p. ex., meningotelial, fíbroso, psamomato-
telial disembrioplásico, tumor glioneuronal papilar. tumor so), cada um com um código CID-0 diferente, o esquema
glioneuronal formador de rosetas (do quarto ventrículo) e atual da OMS classifica-os de modo bastante simples. A
o liponeuroblastoma cerebelar estão incluídos. maioria dos subtipos de meningioma é benigna, possui
uin baixo índice de recorrência e/ou crescimento agressi
Tumores da região da pineal vo, e são agrupados em conjunto como neoplasias grau I.
As neoplasias da região da pineal representam menos de Os meningiomas atípicos, bem como as variantes cor-
1% de todas as neoplasias intracranianas e podem ser tu doide e de células claras, são tumores de grau II da OMS.
mores de células germinativas ou do parênquima da pi Os meningiomas anaplásicos (malignos), incluindo os ti
neal. Os tumores parenquimatosos da pineal são menos pos papilar e rabdoide, correspondem a grau III.
comuns do que os tumores de células germinativas. As Tanto os meningiomas de grau II quanto os de grau
neoplasias de células germinativas ocorrem em outros lo 111 possuem maior probabilidade de recorrência e/ou com
cais intracranianos, porém são abordadas juntamente com portamento agressivo. A classificação da OMS também
as neoplasias parenquimatosas da pineal. nota que meningiomas de qualquer subtipo com um alto
O pineocitoma é um tumor parenquimatoso da pineal, índice proliferative e/ou invasão cerebral possuem uma
bem delimitado e de crescimento muito lento, geralmente maior probabilidade de comportamento agressivo.
encontrado em adultos. Os pineocitomas são neoplasias
grau I da OMS. O pineoblastoma é um tumor embrionário
Tumores mesenquimais não meningoteliais
primitivo altamente maligno mais encontrado em crianças. Tumores mesenquimais não meningoteliais tanto be
Muito agressivos e associados à disseminação liquórica pre nignos quanto malignos podem se originar no SNC. A
coce, os pineoblastomas são neoplasias grau IV da OMS. maioria corresponde a tumores de partes moles ou osso.
Um tumor recentemente descrito, o tumor do parên Geralmente, podem ocorrer tanto tipos benignos quanto
quima pineal com diferenciação intermediária (TPPDl). malignos (sarcomatosos). Lipomas e lipossarcomas, con-
é intermediário em malignidade e foi adicionado à clas dromas e condrossarcomas, osteomas e osteossarcomas
sificação da OMS. Os TPPDIs são neoplasias de grau II são exemplos.
ou III da OMS. Muitos pineocitomas "agressivos" prova O hemangiopericitoma (HPC) é um tumor altamente
velmente seriam os reclassificados como TPPDIs de acor celular e muito vascular que quase sempre está junto à
do com os novos critérios. Outra neoplasia recentemente dura. ITPCs são neoplasias grau II ou III da OMS.
descrita, o tumor papilar da região da pineal (TPRP), é um O hcmangioblastoma (HB) é uma neoplasia grau 1,
raro tumor neuroepitelial de adultos. Nenhuma graduação constituída de células estromais e inúmeros vasos sangüí
formal da OMS foi ainda designada, porém os TPRPs são neos pequenos. Ele ocorre esporadicamente e como parte
classificados de forma provisória como neoplasias grau II da síndrome de Von Hippel-Lindau (SvHL).
ou III da OMS. As neoplasias melanocíticas primárias do SNC são
raras. Elas surgem de melanócitos leptomeníngeos e po
Tu m o r e s e m b r i o n á r i o s dem ser difusas ou circunscritas, benignas ou malignas.
O grupo de tumores embrionários inclui o meduloblasto-
ma, os tumores neuroectodérmicos primitivos (PNET) e Tumores dos nervos cranianos (e espinais)
os tumores teratoides/rabdoides atípicos (AT/RTs). Todos Schwannoma
são tumores altamente malignos e invasivos, de grau IV Os schwannomas são tumores benignos e encapsulados da
da OMS e mais comuns em crianças jovens. bainha nervosa constituídos de células de Schwann bem
diferenciadas. Eles podem ser solitários ou múltiplos.
Tumores meníngeos
Múltiplos schwannomas estão associados com neurofi-
Os tumores meníngeos são a segunda maior categoria bromatose tipo 2 (NF2) e schwannomatose, uma síndro
de neoplasias primárias do SNC. Eles são divididos cm me caracterizada por múltiplos schwannomas, porém sem
meningiomas e em tumores mesenquimais não meningo- as outras características da NF2.
Introdução a neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais 455
Neoplasia Neoplasia
MENINGOTELIAIS
ME5ENQUIMAIS NÃO MENINGOTELIAIS
Meningioma Lipoma
Condfossarcoma N/A
Osteocondroma N/A
MELANOCÍTICOS PRIMÁRIOS Hemangioma
Melanocitoma N/A
N/A, tumor do sistema nervoso central com classificaçõo nâo atribuída pela Organização Mundial do Saúde. (Adaptada de Louis DN et al: World Health Organiza
tion Classification of Tumours of the Central Nervous System, -tth ed. lyon, France: (ARC Press, 2007.)
Schwannoma 1 Craniofaringioma 1
N e u r o fi b r o m a 1 Adamantinomatoso
Te r a t o m a i m a t u r o
TMBNP, tumor maligno de bainha nervosa periférica; N/A, tumor do sistema nervoso central com classificação não atribufda pela Organização Mundial da Saú
de. (Adaptada de Louis ON et al: World Heallh Organization Classification of Tumours of tfie Central Nervous System. 4lh ed. Lyon, France; lARC Press, 2007.)
Algurrs possuem componamento relativamente benigno, A região selar contém muitas estruturas além do dueto
outros são potencialmente fatais. craniofaríngeo e a haste hipofísária que podem originar as
massas observadas nos exames de imagem. A mais comum
Tumores de células germinativas dessas massas - o adenoma de hipófise - não faz parte da
Os tumores de células germinativas (TCG) intracranianos classificação da OMS, porém é incluído aqui, assim como
são homólogos, morfológicos e imunofenotípicos de neo as variantes (como a hiperplasia da hipófise) e as massas
pseudotumorais não neoplásicas (p. ex., hipofisite e ha
plasias germinais que se originam nas gônadas e nos sítios
martoma hipotalâmico) que podem simular neoplasias.
extragonadais. Cerca de 80 a 90% ocorrem em adolescen
tes. A maioria se encontra na linha média (região da pineal Adenoma de hipófise
e circunjacente ao terceiro ventrículo).
Os adenomas de hipófise representam a maioria das mas
Os germinomas são os TCGs intracranianos mais
sas seiares/suprasselares em adultos. Eles são classifica
comuns. Os teratomas diferenciam-se nas linhagens ec-
dos pelo tamanho em microadenomas (< 10 mm) e macro-
todérmica. endodémiica e mesodérmica. Eles podem ser
adenomas (> 11 mm).
maduros, imaturos ou ocorrer como teratomas com trans
formação maligna. Outros TCGs incluem os tumores alta Craniofaringioma
mente agressivos de saco viielínico, carcinomas embrio
o craniofaringioma é uma neoplasia benigna (grau 1 da
nários e coriocarcinomas.
OMS) e com freqüência parcialmente cística, que é a neo
Os tumores de células germinativas são discutidos em
detalhes juntamente com os tumores da região da pineal. plasia intracraniana não neuroepitelial mais comum em
crianças. Ele apresenta uma distinta distribuição etária bi-
modal, sendo que o tipo adamantinomatoso cístico é mais
Tumores da região selar observado em crianças e com um pico menor em adultos
A região selar é uma das áreas anatomicamente mais de meia-idade. O tipo papilar, menos comum é em geral
complexas do cérebro. A classificação oficial da OMS so sólido e encontrado quase exclusivamente em adultos.
bre os tumores da região selar inclui o craniofaringioma
e tumores raros, como o tumor de células granulares da Outros tumores da região selar
neuro-hipófíse, pituicitoma e oncocitoma de células fusi- O tumor de células granulares da neuro-hipófise, tam
formes da adeno-hipófíse. bém chamado de coristoma, é um raro tumor de adul-
Introdução a neoplasias, cistos e lesões pseudotumoraís 457
tos que se origina no infundíbulo. Os pituicltomas sào ou infratentorial? (3) ele está na linha média ou fora da
neoplasias gliais de adultos que freqüentemente surgem linha média? (4) se o cisto é intra-axial, ele está no parên-
no interior do infundíbulo. O oncocitoma de células fu- quima cerebral ou no interior dos ventrículos?
siformes da adeno-hipófise é uma neoplasia oncocítica Enquanto muitos cistos podem ser encontrados em
não endócrina. Todos esses tumores raros são de grau I múltiplas localizações, cada tipo tem o seu local "pre
da OMS. O diagnóstico é, em geral, histológico, uma vez ferido" (i.e.. mais comum). As três principais localiza
que que a distinção entre cada um desses tumores e entre ções anatômicas são os espaços extra-axiais (incluindo
outros tumores de adultos, como o macroadenoma, pode o couro cabeludo e o crânio), o parênquima cerebral e os
ser problemática. ventrículos.
17-1 Astrocilomas da infância estão ilustrados. Aslrocitoma pilocítico 17-2 Ilustração coronal mostra os astrocitomas clássicos do adulto.
é comum no cerebelo, hipotálamo/nervos ópticosOs tumores pon- Astrocitoma de baixo grau (tronco do encéfalo), AA (lobo temporal),
tinos í^l são tumores difusamente infiltratives graus li a IV da OMS. Os GBM (corpo caloso) e XAP com cisto e reação meníngea 3! são mos
astrocitomas liemisféricos [r^\ são incomuns. trados.
A maioria dos astrocitomas cresce com mais rapidez tica são tumores grau 111 (astrocitoma anaplásico). Se pro
e inllllra dilusamenie os tecidos adjacentes. Eles demons liferação endotelial microvascular ("neovascularização")
tram progressão inexorável e apresentam uma propensão e necrose também estão presentes, a neoplasia é designa
a sofrer degeneraçào maligna. As variedades mais ma da um astrocitoma grau IV (glioblastoma multiforme).
lignas - o glioblastoma multiforme e o astrocitoma ana- A distinção entre astrocitomas do grau II e grau 111
plásico - representam bem mais da metade de todos os com base apenas nas características liistológicas pode ser
astrocitomas. difícil. Neuropatologistas freqüentemente adicionam uma
medida de proliferação celular denominada índice proli
Graduação. Neste texto, seguiremos o sistema de gradua ferativo MlB-1 como uma estimativa suplementar para o
ção de astrocitomas da Organização Mundial da Saiíde
(OMS), designando-os de grau 1 a grau IV. Lesões grau I subsequente comportamento biológico do tumor.
possuem baixo potencial proliferativo e os pacientes apre Idade e localização dos astrocitomas
sentam sobrevida relativamente longa. Ressecçào cirúrgi
ca isolada pode ser curativa, portanto, astrocitomas grau Há um efeito marcante da idade em subtipos dos astroci
1 raramente necessitam terapia adjuvante. Dois subtipos tomas e sua localização preferencial. Alguns astrocitomas
(astrocitoma pilocítico) ocorrem quase exclusivamente
histológicos de astrocitomas - o pilocitico e o astrocitoma
em crianças, enquanto outros (glioblastoma multiforme)
subependimário de células gigantes - são designados neo
são mais comuns em adultos.
plasias grau I da OMS.
O maior grupo de astrocitomas é composto por tu Há também uma forte preferência anatômica com cer
m o r e s d i f u s a m e n t e i n fl l t r a t i v o s . To d o s o s a s t r o c i t o m a s
tos astrocitomas ocorrendo mais em algumas localizações
difusamente inflltrativos são pelo menos grau II da OMS. e menos em outras. Com algumas exceções, a maioria
e a maioria é de grau 111 ou IV. No sistema da OMS. não dos astrocitomas em crianças é um tumor localizado que
existe astrocitoma difuso grau I. Devido a sua intrínse ocorre primariamente na fossa posterior (Fig. 17-1). A
maioria dos astrocitomas do adulto é difusamente inflltra-
ca tendência a sofrer progressivas alterações genéticas e
tiva. supratentorial e localizada nos hemisférios cerebrais
transformação maligna, a sobrevida média dos pacientes
com astrocitomas grau II é inferior a 10 anos. (Fig. 17-2).
A graduação dos tumores astrociticos difusamente Astrocitomas da infância. Embora tumores cerebrais repre
inflltrativos deve basear-se nas áreas com anaplasia mais sentem apenas I a 2% de todas as neoplasias, eles causam
marcante. Tumores com atipia citológica isolada são de 20 a 25% dos cánceres em crianças entre I e 15 anos de
signados grau II (i.e., astrocitoma difuso de baixo grau). idade. Astrocitomas representam quase metade de todas
Astrocitomas que apresentam anaplasia e atividade mitó- as neoplasias intracranianas nessa faixa etária.
Astrocitomas 461
Recém-nascidos e lactentes. Astrocitomas são muito idade maior do que 30 anos são supratentoriais e ocor
raros em recém-nascidos e lactentes. Quando eles ocor rem primariamente nos hemisférios cerebrais. Astro
rem nessa faixa etária, tendem a ser supratentoriais, em citomas difusamente infiltrativos são o tipo de tumor
vez da localização infratentorial observada em crianças. mais comum.
Astrocitomas congênitos são neoplasias volumosas e ma Em geral, quanto mais velho for o paciente, maior é o
lignas. O glioblastoma multiforme (GBM) é o astrocito- grau do tumor. Por exemplo, astrocitomas pilocíticos são
ma congênito mais comum. raros em adultos. Astrocitomas anaplásicos (AA) e glio
Uma rara variante do astrocitoma pilocítico, chama blastomas multiformes são muito mais comuns em adul
da üstrocitoma pilomixoide, também pode estar presente tos de meia-idade ou mais velhos do que os astrocitomas
em lactentes, em geral como uma grande massa hipotalâ- difusamente infiltrativos de baixo grau (grau II).
mica em forma de H que se estende lateralmente para um
ou ambos os lobos temporais.
IDADE E ASTROCITOMAS
Crianças. A maioria dos astrocitomas da infância é
um tumor localizado, como o astrocitoma pilocítico Recém-nascido/lactente
(OMS grau 1) ou o astrocitoma difusamente infiltrativo • Raros
de baixo grau (OMS grau II). Menos de 10% dos astroci • Supratentofia!»infratentorial
tomas em crianças são malignos (graus 111 a iV). • Massas hemlsféricas volumosas e malignas (GBM)
O único outro astrocitoma grau I que costuma ocorrer • Menos comum = astrocitoma pilomixoide
em crianças é o astrocitoma subependimário de célu Crianças/adultos jovens
las gigantes (ASCG). ASCGs quase sempre ocorrem no • Comuns
contexto de esclerose tuberosa (ET). Os ASCGs são quase • Infratentorial > supratentorial
exclusivamente encontrados nos ventrículos laterais pró • Pilocítico > astrocitoma difusamente infiltrative >
ximos ao forame de Monro, anexados ao septo pelúcido. astrocitoma subependimário de células gigantes
Além dos tipos específicos de tumor, astrocitomas (ASCG)
• Astrocitoma pilocítico
da infância possuem uma predileção particular por cer o Cerebelo, quarto ventrículo > ponte, bulbo
tas localizações anatômicas. Depois de 1 ou 2 anos, o Quiasma óptico/hipotáiamo > tecto
mais da metade é infratentorial; o cerebelo e o tronco o AP hemifério raro
encefálico são os locais mais comuns. Astrocitomas de • Astrocitoma difusamente infiltrativo
cerebelo e placa tectal são astrocitomas pilocíticos, en o Baixo grau > alto grau
quanto a maioria dos "gliomas" do tronco encefálico são o Tronco, hemisférios cerebrais > cerebelo
• ASCG
astrocitomas fíbrilares difusamente infiltrativos (em ge
ral graus II a III). o Procure por sinais de esclerose tuberosa
O segundo local mais comum para surgimento de as o A maioria no/perto do forame de Monro
trocitomas em crianças é circunjacente ao terceiro ventrí- Adultos de meia-idade e mais velhos
culo, hipotálamo e quiasma óptico. A maioria dos astroci • Quanto mais velho o paciente, mais maligno o
tomas nessa localização é do tipo pilocítico, incluindo a astrocitoma
rara variante, pilomixoide. • GBM > anaplásico » astrocitoma de baixo grau
• Em geral envolve a SB hemisférica
Os hemisférios cerebrais são o local menos comum
• Muito raros na fossa posterior
para acometimento por astrocitomas em crianças. O astro
citoma mais observado nessa localização é o difusamente
infiltrativo de baixo grau, o qual em geral é um tumor de
crianças mais velhas e de adultos jovens. Astrocitomas pi
locíticos hemisféricos ocorrem, porém são bastante raros. Tumores astrocíticos localizados
Astrocitomas em adultos jovens. O astrocitoma difusamen Nesta seção, discutiremos os astrocitomas relativamente
te infiltrativo (OMS grau II) é a mais comum de todas "localizados" ou circunscritos. Os astrocitomas localiza
as neoplasias primárias do SNC em pacientes com idade dos são menos comuns do que os astrocitomas difusamen
entre 18 e 30 anos. A maioria ocorre na substância branca t e i n fi l t r a t i v o s .
(SB) hemisférica. Lembre-se que apenas dois astrocitomas localizados,
O xantoastrocitoma pleomórfico (XAP) é uma neo o astrocitoma pilocítico (AP) e o astrocitoma subepen
plasia grau II a III da OMS. XAPs são, em geral, tumores dimário de células gigantes, são designados como neo
hemisféricos com base na cortical que se apresentam com
plasias OMS grau l. Os tumores do grau 1 da OMS não
epilepsia. XAPs são mais comuns em adultos jovens do apresentam uma tendência inerente à progressão maligna.
que em crianças. Metástases remotas são raras e, quando ocorrem, geral
Astrocitomas em adultos. Diferentemente dos astroci mente mantêm suas características histológicas primárias
tomas em crianças, os astrocitomas em pacientes com (i.e., grau 1).
462 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
Aspectos clínicos
Epidemiologia. o AP representa 5 a 10 % de todos os glio 17-7 TC sem contraste de AP de vias ópticas/hipo-
mas e é o tumor cerebral primário mais comum em crian talàmico mostra uma massa suprasseiar hipodensa com
bordas de certa forma indefinidas B.
ças. Os APs respondem por quase 25% de todas as neo
plasias do SNC e 85% dos astrocitomas nessa faixa etária.
Oemografia. Mais de 80% dos APs ocorrem em pacientes
com menos de 20 anos. O pico de incidência acontece nas
crianças de "meia-idade" entre 5 e 15 anos. Não há predi
leção por gênero.
Apresentação. Os sintomas variam conforme a localização.
APs cerebelares freqüentemente se apresentam com ce-
faleia, náuseas matinais e vômitos, uma vez que hidroce-
falia obstrutiva intraventricular é comum. Ataxia, perda
visual e paralisias de nervos cranianos também ocorrem.
Os APs das vias ópticas apresentam-se com perda
visual. Uma apresentação incomum do AP envolvendo o
hipotálamo é a sindrome diencefálica, uma rara, porém
potencialmente letal, causa de restrição do crescimento,
apesar do consumo calórico adequado. 17-8 Imagem ponderada em TI pós-contraste mos
APs bulbares e pontinos são incomuns, mas em ge
tra um AP clássico no cerebelo, com um nódulo mural
ral se apresentam com múltiplas paralisias de nervos com realce B, parece do cisto sem realce B e pou
cranianos. co edema peritumoral.
464 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
História natural. Os APs crescem lentamente. A sobrevida Os APs no tecto expandem a placa colicular e podem
em 10 anos excede 90%, mesmo com tumores parcial causar obstrução aquedutal. Os raros APs hemisféricos se
mente ressecados. Quase metade dos tumores residuais apresentam como lesões baseadas no córtex, em geral cis
mostra regressão ou crescimento em longo prazo inibido. tos com nódulo mural.
Raros casos de APs grau 1 disseminados foram rela
Achados de TC. A tomografia computadorizada (TC) sem
tados. Entretanto, alguns casos que foram inicialmente
contraste mostra uma massa mista sólido-cística (FIg. 17-6)
diagnosticados como APs "agressivos" ou "atípicos" po ou sólida com efeito de massa focai (Fig. 17-7) e pouco ou
dem se tratar de astrocilomas pilomixoides. O APilo cos
nenhum edema adjacente. CalcificaçÕes ocorrem em 10 a
tuma possuir uma idade de apresentação mais baixa, curso
20% dos casos. Hemorragia é incomum; se presente, o tu
clínico mais agressivo e pior prognóstico do que os APs.
mor pode ser um astrocitoma pilomoxoide em vez de AP.
.A maioria dos APs realça nos exames de TC e resso
Imagem
nância magnética (RM). O padrão mais comum, observa
De forma similar à apresentação clínica, os achados de
do em cerca de metade dos casos, é de um cisto sem realce
imagem variam conforme a localização do AP. O aspecto com um nódulo mural que realça fortemente (Fig. 17-8).
mais comum de AP de fossa posterior é o de um cisto ce-
Uma massa sólida com realce e necrose central é observa
rebelar bem delimitado com um nòdulo mural.
da em 40% dos casos, e 10% apresentam impregnação só
APs dentro e ao redor do nervo óptico, quiasma, ter
lida e homogênea. Se aquisições tardias são adquiridas, um
ceiro ventrículo e tecto tendem a ser sólidos, infiltrativos
nível contraste-líquido pode acumular no interior do cisto.
e com margens menos definidas. Quando ocorrem nes
sas localizações, os APs tendem a expandir as estruturas Achados de RM. Os APs cisticos costumam ser bem delimi
afetadas, que mantêm sua configuração anatômica fun tados e levemente hiperintensos ao liquido cerebrospinal
damental. (LCS) tanto na ponderação TI quanto na T2 (Fig. 17-9).
Diagnóstico diferencial
.táf ^'
O diagnóstico diferencia! do AP depende da localização.
17-15 Frouxas formações perivascuiares em uma
APs de fossa posterior podem se assemelhar a medulo-
matriz mixoide basofílica são características histoiógicas
clássicas do APilo. (Cortesia de P. Burger, MD.) blastomas, especialmente quando são tumores mais só
lidos e de linha média. Os meduloblaslomas apresentam
it /■ restrição à difusão, enquanto os APs não.
Os ependimomas são tumores de aspecto plástico
que extruem para fora no forame de Magendie e nos reces
sos laterais. O aspecto de imagem do hemangioblastoma
(HB) pode lembrar o do AP, porém HBs são tumores de
.l adultos de meia-idade em vez de crianças. HBs possuem
edema peritumoral significativo e um marcado rCBV.
O principal diagnóstico diferencial dos APs hipo-
talâmicos é o astrocítoma pilomixoide. O APilo tende a
ocorrer em crianças mais jovens e em lactentes. Hemorra
gia é rara no AP, mas comum no APilo. Doença desmíe-
>
linlzante e inflamação pós-viral podem mimetizar APs
de vias ópticas. A neurite óptica pode causar aumento e
realce dos nervos e quiasma ópticos.
O diagnóstico diferencial do AP hemisférico com um
17-16 Imagem coronal ponderada em T2 mostra um aspecto de "nódulo mais cisto" é o ganglíoglioma. Os
grande e lobulado APilo B que envolve o hípotálamo gangliogliomas geralmente possuem base na cortical e
e ambos os lobos temporais mediais. c a l c i fi c a m .
Astrocitomas 467
Astrocitoma pilomixoide
O astrocitoma pilomixoide (APilo) é uma neoplasia re
centemente descrita antes considerada uma variante "ju
venil" do astrocitoma pilocítico. Hoje reconhecida como
uma entidade distinta, o APilo possui aparência histològi-
ca única e difere-se do AP na sua apresentação, bem como
no seu curso clínico.
Patologia
Localização. Apesar da possibilidade do APilo ocorrer em
17-17A Paciente diagnosticado com AP aos 2 anos
qualquer local do neuroeixo, eles possuem uma forte pre de idade. TC sem contraste com 10 anos mostra uma
dileção pela região suprasselar. Quase 60% têm centro no grande massa suprasselar de densidade mista B com
hipotálamo/quiasma óptico, estendendo-se para os lobos possível hemorragia ^3.
temporais (Fig. 17-14).
Cerca de 40% dos APilos ocorrem em localizações
atípicas, a maioria nos hemisférios cerebrais. Em contras
te ao AP. APilo no cerebelo ou no quarto ventrículo é raro.
Patologia macroscópica. APilo é uma massa volumosa, po
rém bem circunscrita. Uma aparência reluzente causada
pelo componente mixoide é comum. Hemorragia e necro
se são mais comuns do que no AP.
Aspectos clínicos
Epidemiologia. a incidência exata do APilo é desconhecida,
porém estimada em 0,5 a 1% de todos os astrocitomas,
menos comum do que o AP. Entre 5 e 10% dos casos diag
nosticados histologicamente como APs "agressivos" antes
de 2007 podem, na verdade, representar APilos.
Demografia. Embora o APilo possua uma apresentação em
faixa etária relativamente ampla, sua incidência é maior
em uma idade média mais precoce do que o AP. APilo su-
prasselares costumam ser tumores de lactentes e crianças
com menos de 4 anos. O APilo em localizações atípicas é
mais comum em adolescentes e em adultos jovens. 17-17C Imagem em Ti põs-contraste do mesmo
paciente mostra realce inlenso, porém heterogêneo
Apresentação. A apresentação clínica é insidiosa. Lactentes B. a revisão do exame anatomopatológico original
podem apresentar sinais de elevação da pressão inlracra- revelou APilo.
468 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
17-18 Ilustração coronal mostra um ASCG B em um paciente com 17-19 Visão aproximada de um espécime de necropsia de um
escíerose tuberosa. Observe os nódulos subependimários e os lú- paciente com CET mostra uma massa lobulada bem circunscrita SI
beres corlicais S! com "borramento" da interface entre as substâncias próxima ao forame de Monro. Astrocitoma subependimério de células
branca e cinzenta. Feixes glials radiais proeminentes também estão gigantes.
presentes na SB medular.
niana, restrição do crescimento e síndrome diencefálica. O astrocitoma difuso de baixo grau ocorre em pa
Disfunção hipotaiâmica e distúrbios visuais são comuns. cientes mais velhos (idade de pico entre 20 e 45 anos), ra
História natural. Os pacientes com APilo geralmente pos ramente sangra, não realça e acomete mais os hemisférios
suem um prognóstico pior do que aqueles com AP. O ín cerebrais em vez do hipotálamo/quiasma óptico. O glio
dice de recorrência pós-tratamento é mais alto, o intervalo blastoma multiforme sangra, porém raramente envolve o
livre de progressão é mais curto, e a sobrevida é menor. diencéfalo e ein geral afeta pacientes mais velhos.
Diagnóstico diferencial
o principal diagnóstico diferencial do APilo é outro astro Astrocitoma subependimório de
citoma. O astrocitoma pílocítico tende a ocorrer na fossa células gigantes
posterior em crianças mais velhas (5 a 15 anos), e a fossa o astrocitoma subependimário de células gigantes
posterior é o local mais comum. Hemorragia intratumoral (ASCG) é um tumor astrocitico localizado, circunscrito e
é rara. APs são tumores indolores que podem se espalhar grau 1 da OMS que ocorre em pacientes com o complexo
localmente, porém poucos se disseminam. da escíerose tuberosa (GET).
Astrocitomas 469
Estadiamento, graduação e classificação. ASCGs sào neo terais indica grave hidrocefalia obstrutiva com migração
plasias grau il da OMS. transependimária de LCS.
ASCGs demonstram realce intenso, porém heterogê
Aspectos clínicos neo (Fig. 17-20B). Uma lesão com realce no forame de
Epidemiologia. Os ASCGs surgem em uma proporção re Monro na TC com contraste deve ser considerada ASCG
lativamente pequena (10 a 20%) dos pacientes com GET. até provar-se o contrário.
porém podem causar até 25% da morbidade associada a Achados de RM. ASCGs são hipo a isointensos se compa
essa condição.
rados ao córtex na ponderação TI e heterogeneamente iso
Oemografia. ASCGs ocorrem no contexto do complexo da a hiperintensos em T2. Focos calcificados são hiperinten-
esclerose tuberosa e se desenvolvem durante as duas pri sos em TI. hipointensos em T2 e promovem artefatos de
meiras décadas de vida. A idade média no diagnóstico é susceptibilidade magnética em T2*. A inspeção cuidadosa
de 11 anos. ASCGs esporádicos sem os estigmas óbvios dos ventrículos laterais pode revelar NS.
de ET ocorrem, porém são raros. O FLAIR é especialmente útil na detecção de carac
terísticas sutis do CET no SNC, como os túberes corticais
Apresentação. A epilepsia nos pacientes com ET está re e linhas radiais de migração na substância branca. Hipe-
lacionada aos túberes corticais, e não aos ASCGs. Os
rintensidades lineares entremeadas que se estendem pela
ASCGs são assintomáticos até causarem hidrocefalia
substância branca ao ventriculo subjacente ou hiperinten-
obstrutiva. Cefaleia, vômitos e perda da consciência são
sidades em cunha subjacentes a giros expandidos sào típi
sintomas típicos.
cos (Fig. 17-20C).
História natural. O prognóstico é bom, uma vez que o O realce do NS é muito mais visível na RM do que na
ASCG cresce de forma lenta e raramente invade o cérebro TC. Entre 30 e 80% dos NSs realçam após a administra
adjacente. Muitos pacientes com ASCG possuem pequenas ção de contraste, então apenas o realce é insuficiente para
lesões que podem permanecer relativamente estáveis. A distinguir um NS de um ASCG. Apesar de uma massa no
taxa mediana de crescimento varia de 2,5 a 5.6 mm por ano. forame de Monro maior de que 10 a 12 mm em diâmetro
O curso clínico do ASCG, entretanto, não é tão benig ser um ASCG (Fig. 17-20D), somente o aumento progres
no. A principal preocupação é a hidrocefalia obstrutiva, a sivo é suficiente para diferenciar um ASCG de um NS.
qual pode se desenvolver subitamente e resultar em rápido
aumento da pressão intracraniana. Diagnóstico diferencial
o principal diagnóstico diferencial do ASCG em um pa
Opções de tratamento. Quando os achados de imagem são
ciente com CET é o benigno e não neoplásico nódulo su-
indeterminados e uma lesão próxima ao forame de Mon
ro não pode ser identificada como um NS ou ASCG, se- bependimário. A distinção é importante, uma vez que as
lesões evoluem de maneiras diferentes. O NS permanece
guimento em intervalos próximos (primeiro a cada seis estável e não precisa de tratamento, enquanto os ASCGs
meses, depois uma vez por ano, se não houver evidência
aumentam de fonna gradual e podem necessitar tratamento
de crescimento) é recomendado. Uma lesão nessa locali
cirúrgico. Tanto os ASCGs quanto os NSs calcifícam. Os
zação deve ser tratada logo que apresentar evidencia de ASCGs se originam apenas perto do forame de Monro, en
crescimento.
A ressecção cirúrgica tem sido o tratamento de esco quanto os NSs podem estar localizados em qualquer local
lha. uma vez que taxas de recidiva após a remoção com circiinjacente à parede ventricular, em especial ao longo do
sulco caudotalâmico. Embora os NSs sejam mais comuns
pleta do tumor são muito baixas. No entanto, nem todos do que os ASCGs, uma lesão com realce parcialmente cal-
os ASCGs podem ser ressecados completamente. Outras
cificada no forame de Monro com tamanho maior do que 5
opções atuais de tratamento incluem radiocirurgia estere- milímetros é mais provável de ser um ASCG do que um NS.
otáxica e terapia inibidora do ARM com everolimus.
Outras neoplasias intraventriculares além do ASCG
Imagem podem originar-se no ventriculo lateral próximo ao forame
Os achados auxiliares mais importantes para a identifica de Monro. O subependimoma é um tumor de pacientes de
meia-idade e idosos, enquanto o ASCG é um tumor de crian
ção são aqueles de CET (ver Capítulo 39). Na ausência de
uma história familiar conhecida, retardo mental, epilepsia ças e adultos jovens. O papiloma de plexo coroide (PPC)
ou estigmas cutâneos, os achados de imagem podem for surge no interior do terceiro ventriculo e pode se estender
necer as primeiras pistas para o diagnóstico de CET. superiormente através do forame de Monro. PPCs são mais
encontrados em crianças menores de 5 anos de idade.
Achados de TC. ASCGs são lesões hipo a isointensas. va- O neurocitoma central é um tumor "bolhoso" que
riavelmente calcificadas e próximas ao forame de Monro surge no corpo do ventriculo lateral, e não se estende para
(Fig. 17-20A). NS calcificados podem ser vistos ao longo o forame de Monro. O glioma cordolde é um tumor do
das margens dos ventrículos laterais, em especial nos sul terceiro ventriculo que é mais comum em adultos.
cos caudotalâmicos. A hidrocefalia está presente em 15% O astrocitoma difusamente infíltrativo de baixo grau
dos casos. "Borramento" das margens dos ventrículos la pode se originar no septo pelúcido ou nos fómices, mas es-
Astrocitomas 471
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17-21 Ilustração coronal mostra o xantoastrocitoma pieomórfico com 17-22 Características histológicas clássicas do CAP incluem arquitetura
cisto nódulo tocando a superfície piai ES e espessamento reativo de alguma forma fascicular e células que parecem pleomórficas, porém
da dura-aracnoide adjacente S. não "monstruosas". A massa da lesão é compacta e não infiltrativa. (Cor
tesia de P. Burger, MO.)
ses tumores nào calcificam nem realçam. Estigmas de ima reticulina, estrutura compacta e lipidização das células
gem de CET (como NSs e túberes corticais) estão ausentes. tumorals. Astrócitos llbrilares e gigantes, multinucleados
e neoplásicos estão misturados com grandes células que
Xantoastrocitoma pieomórfico contêm lipídeos e são positivas para GFAP (Fig. 17-22).
Quase todos os XAPs são positivos para GFAP e apresen
Terminologia tam imunorreatividade para SI00. Marcadores neuronals,
o xantoastrocitoma plemórfíco (XAP) é um tumor rela como sinaptofisina e proteína do neurofílamento, estão
tivamente focai, superficial e associado a crises convul
presentes. Figuras mitóticas são raras ou ausentes.
sivas. Apesar do seu marcante pleomorfismo celular, ele
possui um prognóstico favorável quando excisado. Estaoiamento, graduação e classificação. XAPs são neopla
sias grau II da OMS. Entre 10 e 15% demonstram carac
Patologia terísticas anaplásicas, incluindo celularidade e mitoses au
Localização. Mais de 95% dos XAPs são massas supraten- mentadas, bem como alguma proliferação vascular e focos
toriais hemisféricas. A maioria são neoplasias superficiais de necrose ocasionais. O grau da OMS para um "XAP com
com base na cortical que envolvem os lobos temporal (40 características anaplásicas" ainda nào foi definido.
a 50%). frontal (33%) ou parietal (20%). XAPs cerebela-
res da medula espinal já foram relatados, porém são muito Aspectos clínicos
raros. Epidemiologia. o XAP é um tumor raro. representando pou
co menos de 1 % de todos os astrocitomas.
Tamanho e número. XAPs são comumente lesões solitárias,
embora algumas lesões multicêntricas já tenham sido des Demggrafia. XAPs são geralmente tumores de crianças e
critas. adultos jovens; quase dois terços dos pacientes possuem
menos de 18 anos na apresentação inicial.
Patologia macroscópica. A aparência macroscópica mais
comum é a de uma massa relativamente distinta sólida ou Apresentação. Devido a sua característica localização su
parcialmente cística com um nódulo mural que toca ou se perficial com base na cortical, a apresentação mais co
encontra anexado à leptomeninge (Fig. 17-21). Invasão mum é epilepsia de longa duração.
durai é rara. As margens profundas do tumor podem ser
História natural. A recorrência após a ressecção completa
indistintas, com infiltração parenquimaíosa focai no inte
é incomum. A atividade mitótica e a extensão da ressec
rior da substância branca subcortical adjacente.
ção são os únicos preditores do comportamento biológico
Característica microscópica. As características mais mar subsequente. A sobrevida média em cinco anos é de 80%,
cantes do XAP são o seu pleomorfismo, densa rede de e a sobrevida em 10 anos é de 70%.
472 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
Transformação maligna ocorre, mas é incomum. O porções císticas do XAP são hiperintensas relativamente ao
XAP anaplásico é um íumor maligno, de crescimento LCS nas seqüências T2/FLAIR (Figs. 17-23B e 17-23C).
agressivo, e que pode se disseminar pelo SNC. Realce moderado do nódulo tumoral é típico após a
administração de meio de contraste (Fig. 17-23D). Mais
Imagem de 90% dos XAPs tocam a pia e podem incitar espes-
Achados de TC. Exames de TC sem contraste mostram uma samento reativo da dura adjacente. Um sinal da "cauda
massa bem delimitada, com base na cortical, que faz con durai" foi observado em 15 a 50% dos casos nas séries
tato com as leptomeninges. Dois padrões de imagem são publicadas.
comuns. Uma configuração de "cisto + nódulo" está pre
sente em 70% dos casos, e uma massa predominantemen
Diagnóstico diferencial
te sólida com cistos intratumorais é observada em 30%. O O principal diagnóstico diferencial do XAP é o ganglio-
crânio sobrejacente pode estar atilado ou remodelado na glioma, outro tumor de base cortical que causa epilepsia.
Outros tumores menos comuns com uma aparência de "cis
janela óssea. CalcificaçÕes estão presentes em 40% dos
to + nódulo" podem simular XAP, incluindo o astrocitoma
casos, porém hemorragia intratumoral ostensiva é rara.
O nódulo mural do XAP mostra realce moderado a pilocítico hemisférico. O tumor díscmbrioplásico neuro-
intenso na TC com contraste. epitelial (DNET) possui apresentação e faixa etária simi
lares, porém possui uma aparência multicística "bolhosa".
Achados de RM. O componente sólido do XAP é heterogene- O astrocitoma flbrilar difuso (baixo grau) envolve
amente hipo ou isointenso ao córtex na ponderação T1 (Fig. a substância branca e não acomete as meninges. O oli
17-23A). Mais de 90% dos nódulos tumorals apresentam godendroglioma pode se apresentar como uma lesão na
hiperintensidade heterogênea em T2 e em FLAIR. Se cal- transição entre as substâncias branca e cinzenta com cres
cificações ou hemorragia estão presentes, artefatos de sus- cimento lento e que remodela a calota craniana adjacente,
ceptibilidade magnética em T2* podem ser observados. As porém o padrão "cisto + nódulo" costuma estar ausente.
Menos comum
• Astrocitoma pilocítico
• Xantoastrocitoma pleomórfico
• Glioblastoma multiforme
Raro
• Hemangioblastoma
• Astrocítoma/gangliogiloma infantil desmoplásico
• Schwannoma
Etloiogla
Conceitos gerais. Antes acreditava-se que os astrocitomas
originavam-se de uma transformação neoplásica de astró
citos diferenciados. Evidências recentes indicam que as
células-tronco neiirais destinadas à diferenciação astrocí 17-25A Espécime cirúrgico de um astrocitoma difu
tica, provavelmente, são as células precursoras de origem. samente infiltrativo ressecado mostra a expansão do
cortex E3 e o efeito de massa nos giros subjacentes.
Genética. Mutações no !DH] estão presentes em 85% dos
ABGs de adolescentes e adultos. Mutações no P53 estão
presentes em 25% dos casos. Em geral, gliomas difusos
de baixo grau com aberrações cromossòmicas complexas
possuem uma maior tendência a apresentar comportamen
to agressivo (menor sobrevida livre de progressão) do que
tumores que demonstram somente aberrações simples.
Patologia
Localização. Quase dois terços dos ABGs são supratento-
riais. Os hemisférios cerebrais são o local mais comum,
com distribuição quase igual de tumores entre os lobos
frontais e temporais. Quase 20% envolvem os núcleos da
base, em especial os tálamos (Fig. 17-24).
Aproximadamente um terço dos ABGs são infraten-
toriais. Os ABGs representam cerca de 50% dos tumores
de tronco encefálico em crianças, e em geral acometem a 17-25B Corte seccional mostra o tumor infiltrando o
ponte. O bulbo é um local menos freqüente. O cerebelo é cortex e a SB subcortical. Não há borda discernível entre
uma localização incomum para o ABG. o cérebro normal e o anormal. (R. Hewlett, MO.)
474 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
I
ce MlB-1 é baixo.
\
Estadiamento, graduação e ciASSiFiCAÇÃo. Por definição, as-
trocitomas difusos de baixo grau são neoplasias de grau
/ I II da OMS.
Aspectos clínicos
Epidemiologia, o ABG é menos comum do que o AA e o
GBM, representando cerca de 10 a 15% dos astrocitomas
em adultos. ABGs são o segundo astrocitoma mais co
mum da infância, depois do astrocitoma pilocitico.
Demografia. Embora os ABGs possam ocorrem em qual
quer idade, a maior parte dos tumores supratentoriais é
encontrada em pacientes com 20 a 45 anos. Os ABGs de
17-268 Imagem ponderada em T2 do mesmo pa tronco encefálico são mais comuns em crianças. Há dis
ciente mostra que a massa E3 é heterogeneamente creta predominância masculina.
hiperintensa.
Apresentação. A apresentação depende da localização.
Crises convulsivas são a apresentação mais comum nas
lesões hemisféricas.
Imagem
Achados de TC. A TC sem contraste mostra uma massa
A S T R O C I TO M A D I F U S A M E N T E I N F I LT R AT I V O
Terminologia
• Também conhecido como astrocitoma de baixo grau
ou astrocitoma difuso
Etiologia
• Céíüías-tronco neurais destinadas à diferenciação
astrocítica 17-27C Espectroscopia de prótons mostra eleva
• Mutações no IDHI (85%), mutações no P53 (25%) da colina baixo NAA B3 e ausência de pico de
lactato. Astrocitoma grau II da OMS. (Cortesia de M.
(continua)
Thurnher, MD.)
476 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
(conlinuoçõo)
Patologia
• Supratentorial > infratentoriai
• Infiltrativo, bordas pouco definidas
• OMS grau II
• Tendência inerente a sofrer degeneração maligna
Aspectos clínicos
• 10-15% dos astrocitomas em adultos
• Segundo astrocitoma mais comum em crianças
• Pico de idade = 20-45 anos
• Sobrevida média = 6-10 anos
Imagem
• Hipodenso na TC sem contraste; sem realce
• Hipointenso em TI, hiperintenso em T2/FLAIR
• Sem realce ou hemorragia
17-28 Glioma pontino difusamente infiltrativo • Espectroscopia inespecífica (Tcolina, 4-NAA, sem lactato)
expande a ponte, envolvendo a artéria basilar B. A • Baixo rCBV
maioria é composta de aslrocitomas fibriiares de graus
o Foco de T no rCBV suspeito para degeneração maligna
II a IV da OMS.
Diagnóstico diferencial
• Astrocitoma anaplásico
• Astrocitoma pilocítico
• Oligodendroglioma
• Encefalite
Imagem
Características de imagem variam com o tipo e com a lo
calização do tumor.
Os GTCs pediálricos expandem e infiltram difusamente
a ponte, são hiperintensos em T2 e comprimem, mas não
invadem, o quarto ventrículo. Com freqüência, são exofiti-
cos e podem engolfar quase completamente a artéria basilar
(Fig. 17-30). Astrocitomas fibrilares grau 11 não realçam,
porém a degeneraçào para tumor de grau mais alto pode
produzir necrose, realce focai e até hemorragia intratumoral.
Gliomas tectais, tegmentais e dorsalmente exofiticos
são menos comuns do que os GTCs pediátricos. 17-30A Imagem sagital ponderada em T2 em uma
Gliomas tectais aumentam focalmente os coliculos, criança com glioma pontino difuso mostra uma massa
obstruem o aqueduto cerebral e raramente invadem as es hiperintensa B expandindo a ponte e deslocando o
truturas adjacentes. Os gliomas tectais são hiperintensos em quarto ventrículo posteriormente
T2/FLA1R. mostram pouco ou nenhum realce, e são está
veis em tamanho no decorrer de muitos anos (Fig. 17-13).
Gliomas focais tegmentais mcsencefálicos lembram
gliomas tectais, exceto pelo fato de que eles ocorrem no
mesencéfalo central em vez de nos coliculos.
Gliomas dorsalmente exofiticos são lesões hiperin-
tensas cm T2/FLA1R, sem realce e com bordas bem defini
das, Edema peritumoral está em geral ausente (Fig. 17-31).
Diagnóstico diferenciai
Os diagnósticos diferenciais gerais do GTC são encefali-
te do tronco encefálico. doenças desmíelinízantcs (EM,
ADEM), neurotlbromatose tipo 1 (NFl) e desmieliniza-
çâo osmótica. Todas podem causar hiperintensidade pou
co definida solitária ou multifocal em T2/FLA1R.
Uma ponte "gorda" pode ser mimetizada por hipo-
17-30B Imagem ponderada em T2 mostra que a
tensão intracraniana. O deslocamento inferior do me massa é hiperintensa com margens pouco definidas E3.
sencéfalo e da ponte (cérebro "flácido") pode fazer essas Astrocitoma difusamente infiltrativo grau II da OMS.
estruturas parecerem anormalmente grandes. A intensida
de de sinal é normal em T2/FLA1R, e sinais auxiliares de
hipotensão intracraniana, como ingurgitamento venoso
durai, obliteração da cisterna suprasselar, hematoina(s)
subdural(is) e hemiaçào lonsilar adquirida, ajudam a dis
tinguir essa condição do glioma pontino.
Epídemiologia
• Raros em adultas
• 10-15% dos tumores cerebrais da infância
Patologia
• Adultos: baixo grau > alto grau
• Crianças
o Ponte: difusamente infiltrativo (OMS grau ll-IV)
o Tecto, tegmento: astrocitoma pilocítico 17-31 Imagem sagital ponderada em T2 mostra uma
massa dorsalmente exofitica no bulbo. Ela representa
(continuo) um astrocitoma librilar, também um tumor grau II da
OMS, porém com prognóstico geralmente melhor.
478 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
(continuação)
Prognóstico
• Adultos: geralmente melhor prognóstico
• Crianças
o Pontino difusamente infiltrativo = prognóstico ruim
o Tecto, mesencefálico dorsalmenle exofítico =
melhor prognóstico
Imagem
• Ponte, tecto ou bulbo "gordos"
o Hiperintensidade em T2/FLAIR
o Qualquer realce suspeito para anaplasia
Oiagnóstico diferenciai
• Encefallte de tronco encefálico
• Doença desmielinizante
• Hipotensão intracraniana
o "Placidez" do tronco encefálico ^ ponte "gorda"
Astrocitoma anaplásico
Terminologia
Os astrocitomas anaplásicos (AA) são astrocilomas mito-
ticamente ativos e difusamente infiitrativos de grau III da
OMS, que possuem uma propensão intrínseca para sofrer
transformação maligna adicional para glioblastoma mul
tiforme (GBM).
Etiologia
Conceitos gerais. AAs podem tanto se desenvolver de novo
quanto surgir da degeneraçào maligna de lesões de grau
II. Cerca de 75% dos AAs evoluem de um astrocitoma
de baixo grau (ABG) que desenvolve múltiplas alterações
genéticas. AAs de novo provavelmente surgem de células-
17-33A Caso de necropsia de aslrocitoma anaplási-
-tronco e células progenitoras comprometidas à diferen
co mostra a grande expansão de todo o lobo temporal ciação astrocílica.
B .
Genética. AAs demonstram uma alta freqüência de muta
ções no P53 e perda da heterozigose do I7p.
Patologia
Localização. Os locais mais comuns do AA são os hemis
férios cerebrais (Fig. 17-32). Os tálamos são envolvidos,
seja por extensão de uma lesão hemisférica ou como cen
tro primário. A ponte é o local mais comum em crianças.
Tamanho e número. AAs variam bastante em tamanho e são
solitários, porém possuem lesões amplamente infiltrati-
vas. AAs multifocais ocorrem, mas são raros.
Características microscópicas. AAs sào caracterizados pela Apresentação. AAs podem ocorrer em qualquer idade, po
celularidade moderada a marcadamente aumentada, ativi rém o pico de apresentação acontece entre 40 e 50 anos.
dades mitóticas raras a abundantes e graus variados de ati- Há uma leve predominância em homens.
pia nuclear. Características nucleares podem ser brandas História natural. O prognóstico é ruim, com uma sobre-
e sobrepor-se às do astrocitoma grau II, ou ser marcada
vida média de dois ou três anos. Progressão para GBM é
mente atípica, lembrando GBM. Necrose e proliferação
muito comum e costuma ocorrer dentro de dois anos após
microvascular estão ausentes.
o diagnóstico inicial. Os pacientes com AA negativos para
Ki-67 (MIB-I) está elevado, geralmente na faixa de
IDH-I possuem um prognóstico sombrio, equivalente ao
5 a 15%.
do GBM.
A imuno-histoquímica em geral mostra positividade
para GFAP e 01ig2. A maioria dos casos também expressa Opções de tratamento. O tratamento consiste em ressecção
IDH-1. Uma positividade difusa para p53 está presente na com radioterapia e quimioterapia (p. ex., temozolomida)
minoria dos casos. adjuvantes.
Estadiamento, graduação e classificação. Astrocitomas ana-
Imagem
piásicos são tumores grau 11 da classificação da OMS, in
termediários em malignidade entre o ABG (OMS grau 11) Características gerais. Uma massa expansiva e infiltrativa
e o GBM (OMS grau IV). que envolve predominantemente a substância branca he-
misférica é típica.
Aspectos clínicos Achados de TC. AAs são lesões de baixa densidade e mal
Epidemiologia. AAs representam um terço de todos os as delimitadas na TC sem contraste. Se a lesão começou em
trocitomas. perdendo em freqüência apenas do GBM. um ABG, calciflcações podem estar presentes.
17-34A Um homem de 72
anos com fraqueza súbita no
lado direito foi trazido ao pronto
atendimento por acidente vascu
lar cerebral, A TC sem contraste
(não mostrada) demonstrou uma
massa na região posterior do
lobo frontal esquerdo. A perfusao
por TC obtida como parte do
protocolo de acidente vascular
mostrou um elevado rCBV na
massa GS.
17-34B Imagem em pondera
ção TI mostra uma massa expan
siva majoritariamente isoinlensa
E3 que apaga a interface entre
as substâncias branca e cinzenta.
A maioria dos AAs não realça na TC com contraste. lina e reduzido NAA. A relação mI:Cr está mais baixa
Quando presente, a impregnação é focai, irregular, mal do que a encontrada em ABGs. A imagem do tensor da
delimitada e heterogênea. difusão (DTI) pode ser útil na determinação precoce de
invasão de tratos de substância branca.
Achados de RM. A maior parte dos AAs é hipointensa na
A perfusão por RM mostra aumento do rCBV nas por
ponderaçàoTl e hiperintensaemT2/FLA1R (FIg. 17-34).
As margens podem parecer muito definidas, porém célu ções mais malignas no tumor. Mapas coloridos de colina
las tumorais infiltram o cérebro adjacente. Hemorragia e são úteis para guiar biópsias estereotáxicas, melhorando
a acurácia diagnóstica e reduzindo erros de amostragem
calcificaçào são incomuns. portanto, artefatos de suscepti-
bilidade magnética em T2* costumam estar ausentes. (Fig. 17-35).
O realce pelo contraste varia de nenhum a moderado.
Entre 50 c 70% dos AAs mostram algum grau de impreg Diagnóstico diferencial
o principal diagnóstico diferencial do AA são outros us-
nação. Padrões focais, nodularcs, homogêneos, irregula
res ou mesmo anelares podem ser observados. t r o c i t o m a s d i f u s a m e n t e i n fi l t r a t i v o s . A c h a d o s d e i m a
A presença de realce é clinicamente significativa. gem no AA com freqüência são indistinguíveis daqueles
AAs que não realçam possuem comportamento mais pró encontrados no ABG. GBMs possuem uma borda com
ximo aos tumores de baixo grau. Em contraste, realce em realce irregular circundando um centro necrótico sem re
imagens pré-operatórias está associado a um risco de re alce. E comum ocorrer hemorragia com perda de fase dos
corrência aumentado e a menor sobrevida. O realce pode spins e artefatos de susceptibilidade magnética em T2*.
indicar um astrocitoma mais maligno, com focos tenden Oligodendroglioma e oligoastrocitoma misto tam
do a glioblastoma (grau IV). bém podem ser indistinguíveis do AA. Oligodendroglio
Os AAs geralmente não restringem na seqüência em mas são tumores com base na cortical, enquanto AAs in
difusão. A espectroscopia de pròlons mostra elevada co filtram mais difusamente a substância branca.
17-35C A espectroscopia de
protons mostra elevada colina
E2 e baixo NAA S.
17-350 O mapa da relação
coiina:NAA mostra que a colina é
mais alta na área de realce ane
iar, sugerindo neoplasia maligna
de alto grau. O diagnóstico histo-
lógico foi o astrocitoma anaplási-
CO (OMS grau ill). (Cortesia de M.
Thurnher, MD.)
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1.8^ SBLUOIPOJISV
482 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
17-38A TC sem conlrasle mostra achados típicos de GBM, com uma 17-38B TC com contraste do mesmo paciente mostra a "crosta" irre
grande massa iso/hipodensa EEl que comprime e desloca os ventriculos gular com impregnação B circundando o centro necrótico e sem realce
laterais. do tumor.
Genética. A alta freqüência de mutações de IDHl e IDH2 O tronco encefálico - especialmente a ponte - é um
em astrocitomas, glioblastomas secundários e oligoden local comum em crianças. GBMs do cerebelo e da medula
drogliomas sugere que esses tumores compartilham uma espinal são muito raros.
população de células progenitoras comum. A ausência Tamanho e número. GBMs variam em tamanho. GBMs pri
desse marcador molecular em glioblastomas primários mários costumam ser lesões maiores e mais necróticas,
sugere uma célula de origem diferente. Ambos os subti- enquanto GBMs secundários inicialmente se desenvol
pos de glioblastoma adquirem um fenótipo histológico vem como pequenos focos dentro de um grande "mar" de
similar como resultado de alterações genéticas comuns, astrocitoma de baixo grau.
incluindo a perda dos genes supressores tumorais no Devido ao fato de que GBMs disseminam-se rapida
cromossomo I Oq. e amplamente ao longo dos tratos compactos de substân
Várias mutações foram identificadas em GBMs; cia branca, até 20% aparecem como lesões multifocals no
somente algumas das mais importantes são discutidas momento do diagnóstico inicial. Entre 2 e 5% dos GBMs
aqui. A ampliflcação de EGFR ocorre em 40 a 50% multifocals são tumores sincrônicos e de desenvolvimen
dos GBMs primários (raramente em tumores secundá to independente.
rios), enquanto mutações no TP5S são mais comuns em
GBMs secundários, porém também ocorrem em lesões Patologia macroscópica. A aparência mais freqüente é a de
uma "crosta" de tumor cinza-avermelhado circundando
primárias. Mutação no !DH} ocorre somente no GBM
secundário.
um centro necrótico (Fig. 17-37). Efeito de massa e ede
Tr ê s s í n d r o m e s h e r e d i t á r i a s d e c â n c e r - a n e u r o f í -
ma peritumoral são marcados. Vascularização aumentada
bromatose tipo 1 (NFl), Li-Fraunieni e síndrome de e hemorragia intratumoral são comuns. Envolvimento si
Turcot - demonstram uma propensão aumentada para o métrico do corpo caloso também é comum, o padrão em
"asa de borboleta".
desenvolvimento de GBM.
Características microscópicas. Necrose e proliferação mi
Patologia crovascular são as assinaturas histológicas dos GBMs,
Localização. Os hemisférios cerebrais são o local mais distinguindo-os dos astrocitomas anaplásicos.
comum em adultos. GBMs preferencialmente acome Variadas células tumorais abrangem GBMs; por isso,
tem a substância branca subcortical e perventricular pro a parte "multiforme" do GBM. Astrócitos fibrilares ple-
funda, disseminando-se para os tratos compactos, como omórficos. gemistocitos, pequenas células bipolares de
o corpo caloso e o trato corticoespinal (Fig. 17-36). Os aparência inocente, porém mitoticamente ativas (incluin
núcleos da base e tálamos também são outras localiza do "microglia") e grandes células gigantes multinucleadas
ções comuns. bizarras são características comuns.
Astrocitomas 483
GBMs geralmente possuem alto índice proliferativo freqüência discretamente maior em homens, e tumores
(MlB-1), que excede 10%. secundários, em mulheres.
A imuno-histoquímica demonstra positividade para
GFAP e 01ig2. IDH-1 é muito útil na diferenciação entre Apresentação. A apresentação varia conforme a localiza
ção, porém crise convulsiva, déficits neurológicos focais
glioblastomas secundários (positivo) e primários (negativo). e alterações do estado mental são os sintomas mais co
Estadíamento, graduação e classificação. GBMs são neopla muns. Cefaleia devido à elevação da pressão intracraniana
sias grau IV da OMS. também é comum. Cerca de 2% dos GBMs se apresentam
com sintomas agudos semelhantes a acidente vascular
Aspectos clínicos cerebral, causados por hemorragia intratumoral aguda.
Epidemiologia. o GBM é o tumor cerebral primário mais Um GBM subjacente sempre deve ser uma consideração
comum, representando entre 12 e 15% de todas as neopla diagnóstica em pacientes normotensos de mais idade com
sias intracranianas e 60 a 75% dos astrocitomas. Tumores
hemorragia intracraniana espontânea e inexplicada.
primários representam 95% de todos os GBMs. Somente
5% dos GBMs são tumores secundários, surgindo de um História natural. O GBM é uma doença de progressão
astrocitoma de grau mais baixo preexistente. inexorável. A sobrevida média em pacientes com GBM
primário é menor do que um ano. Os pacientes mais jo
Demografia. GBMs podem ocorrer em qualquer idade vens com GBMs secundários podem sobreviver por um
(incluindo recém-nascidos e lactentes), porém a idade de
período um pouco maior.
pico é de 45 a 75 anos. Os GBMs primários tendem a
ocorrer em adultos mais velhos (com pico de apresen Opções de tratamento. A ressecção cirúrgica ostensiva,
tação entre 60 e 75 anos), enquanto os GBMs secundá seguida de radioterapia e quimioterapia concomitantes,
rios ocorrem IO ou 20 anos mais cedo. A relação H:M é pode prolongar a sobrevida com uma qualidade de vida
quase igual, embora GBMs primários ocorram com uma variável. Cirurgias "redutoras" em geral são ineficazes.
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488 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
17-49A Imagem em pondefação TI pós-conlraste obtida após a res- 17-498 O paciente recebeu radioterapia e lemozolomida concomitan-
secção de um GBM de lobo temporal direito. Tumor resídua! com realce le. Cinco semanas depois, realce espesso circunda o leito da ressecção. A
reveste a cavidade da ressecção B. biópsia revelou tumor necrólíco. O realce representava pseudoprogressão.
fracionada e interrupção dos tratos de SB devido à in Disseminação pelo LCS. O GBM freqüentemente se
vasão tumoral. A espectroscopia de protons comumente meia o LCS, preenchendo os sulcos e as cisternas. Reves
mostra elevada colina. NAA e mioinositol (ml) reduzidos, timento difuso dos nervos cranianos e da superfície piai
e um pico de lipídeo/lactato ressonando em 1,33 ppm. A do cérebro também é comum. Esse aspecto de "meningite
perfusão por RM mostra elevado rCBV na "parede" tu carcinomatosa" pode ser indistinguível, nos exames de
moral e aumento da permeabilidade vascular (Fig. 17-41). imagem, da meningite piogênica (Fig. 17-48).
Angiografia. a angiografia mostra uma "impregnação" Drop metastases podem se estender inferiormente
tumoral proeminente na fase capilar, vasos de aspecto para o interior do canal vertebral, revestindo a medula
dilatado/irregular, e "represamento" de contraste. Shunts espinal, espessando nervos e causando depósitos focais
semelhantes a massas dentro do saco tecal.
arteriovenosos são comuns, vistos como veias de "drena
Disseminação ependimária e subependimária. A dis
gem precoce".
seminação do GBM ao longo do epêndima ventricular
Padrões de disseminação do GBM. O GBM é a neoplasia também ocorre, mas é menos comum do que a dissemi
primária do SNC que mais causa metástases do "cére nação difusa pelo LCS. O interior dos ventrículos - mais
bro para o cérebro". Enquanto alguns tumores primários,
freqüentemente os ventrículos laterais - é revestida com
como o meduloblastoma, ependimoma e germinoma. ten tumor realçante e se assemelha à ventriculite piogênica
dem a se disseminar quase exclusivamente por meio de nos exames de imagem (Fig. 17-48).
vias de LCS, os GBMs são notáveis pela sua habilidade de
Disseminação tumoral subependimária também ocor
se disseminarem por múltiplas rotas (Figs. 17-42, 17-43,
re, produzindo um espesso "realce" neoplásico conforme
17-44, 17-45 e 17-46). Devido ao fato de o GBM disse o tumor "dissemina" ao redor das margens ventriculares.
minar-se tão rapidamente e das células tumorals viáveis Invasão da dura e do crânio. Invasão direta do GBM
estarem presentes em muitas regiões de aspecto normal do
através da pia e para a dura-aracnoide é rara. Em casos ex
cérebro, muitos neuropatologistas e oncologistas conside
cepcionais, o tumor erode para o interior e algumas vezes
ram o GBM uma doença "de todo o cérebro".
por meio da calota craniana, estendendo-se para dentro
Metástases para a substância branca. A rota mais co
das partes moles subgaleais.
mum de disseminação do GBM é por meio da substância
Metástases extras SNC. Disseminação hematogênica
branca (Fig. 17-47). O tumor se espalha diretamente para
do GBM para locais sistêmicos ocorre, porém é rara. Podem
o interior (e além) do edema peritumoral. A disseminação
ocorrer metástases para a medula óssea (especialmente os
ao longo de tratos de substância branca, como o corpo ca-
corpos vertebrais), fígado, pulmão e até mesmo linfonodos.
loso, fómices, comissura anterior e trato corticoespinal,
podem resultar em implante tumoral em áreas remotas Pseudoprogressão do GBM. RM com uso de meio de con
como a ponte, o bulbo e a medula espinal. traste é atualmente o pilar para a monitoração da resposta
Astrocitomas 489
17-50 Caso de necropsia de gliossafcoma demonstra um nódulo 17-51 Imagens em T2 (esquerda) e TI pós-contraste (direita) mos
tumoral com base durai que possui aspecto muito similar a um me tram uma massa com realce no lobo frontal esquerdo B que acomete
ningioma. (Corteria da Rubinstein Coiiection, arquivos da AFiP.) o parênquima cerebral e invade a dura B. Gliossarcoma. (Cortesia de L,
Ginsberg, MD.)
17-52A Caso de necropsia de gliomalose cerebral mostra expansão 17-52B imagem ponderada em T2 antemortem do mesmo caso mos-
difusa e tênue descoloração da SB cerebral e Infiltração dos núcleos da tra o envolvimento da substância branca, substância cinzenta profunda e
base. córtex. GCs Infiltram e expandem, porém mantêm a arquitetura cerebral
fundamental. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
Genética. Há poucos relatos definindo as alterações genéti Características microscópicas. Uma ampla variedade de célu
cas da GC. Mutações no gene IDHl similares àquelas do las similares a astrócitos ou oligodendrócitos está presen
astrocitoma difuso foram identificadas em alguns casos. tes. Células glials alongadas com núcleos hipercromáticos
Em GCs oligodendrogliais, codeleçào dos cromossomos e grandes células tumorals com núcleos irregulares e ple-
Ip e 19q são comuns. omórficos estão freqüentemente entremeadas por axônios
mielinizados. A celularidade costuma ser baixa. Atividade
Patologia mitótica é variável, porém em geral ausente ou mínima.
Localização. GCs já foram descritas em quase todas as Estadiamento, graduação e classificação. A GC é uma neo
partes do cérebro. Mais de 75% dos casos envolvem os plasia biologicamente agressiva, com graus tumorals que
hemisférios cerebrais, e um ntímero igual é bilateral. Os variam de II a IV. A maioria corresponde ao grau III da
tálamos e núcleos da base costumam ser afetados. O tu OMS. Devido ao fato das GCs serem tão infiltrativas, a
mor se estende para o mesencéfalo em 50% dos casos.
graduação e a subtipagem histológica podem ser baseadas
GCs de fossa posterior em geral acometem a ponte, em uma amostra tecidual não representativa. Graduações
cerebelo e/ou bulbo. Extensão superior para o mesenéfaio mais baixas devido a espécimes pequenos de biópsia são
e o diencéfalo é comum. incomuns.
17-54B Imagem em T2 do
mesmo paciente mostra hipe-
rintensidade em ambos os lobos
temporais, talamos e córtex
de ambos os hemisférios B3.
Somente o córtex parietal direito
S parece poupado.
17-54C Imagem através da
coroa radiada superior mostra
córtex hiperintenso expandido e
hiperintensidade "nebulosa" na
SB subjacente. Novamente, ape
nas o lobo parietal direito B
parece relativamente poupado.
Embora anormal, a arquitetura
básica do cérebro encontra-se
preservada.
17-55A TC com contraste em um homem de 45 anos com ceíaleia e 17-55B Imagem em FLAIR do mesmo paciente mostra hiperinlensl-
nenhuma alteração neurológica focai. Hipodensidade disseminada na SB dade difusa confluente que espessa o corpo caloso e se estende para a
de ambos os hemisférios cerebrais com leve efeito de massa presente. SB subcortical. Gliomatose cerebral encontrada na biópsia. (Cortesia de
C. Sutton, MD.)
História natural. A GC é uma neoplasia inexoravelmente volume discretamente aumentado com apagamento de
progressiva, e o prognóstico é ruim. A sobrevida média sulcos e indefinição da interface entre as substâncias bran
livre de progressão é de 14 meses. A mortalidade geral é ca e cinzenta. GCs de fossa posterior mostram expansão
de 50% em um ano, e 75% em três anos. Fatores prognós difiisa do tronco encefálico (Figs. 17-56 e 17-57).
ticos favoráveis incluem mutação no gene IDHl e doença As seqüências T2/FLA1R demonstram difuso efeito
unilateral e sem realce na RM. de massa infíltrativo e hiperintenso, com ventriculos redu
zidos e sulcos apagados. As imagens em TI pós-contraste
Opções oe tratamento. Devido às GCs serem tumores dis
em geral não apresentam realce. Focos irregulares, mal
seminados, a ressecção não é uma opção viável. A radio-
delimitados e com leve realce geralmente representam
terapia cerebral total e a quimioterapia-padrão em geral áreas de neoplasia de grau maior.
não modificam a sobrevida dos pacientes. A terapia com
A seqüência em difusão costuma ser normal. Em ca
procarbazina e lomustina pode ser uma opção promissora sos raros, áreas de alta celularidade podem mostrar leve a
como terapia primária para a GC.
moderada restrição à difusão (Fig. 17-58).
A espectroscopia pode parecer quase normal, com
Imagem
discreta elevação da colina e redução do NAA. O ml pode
A RM é a modalidade de escolha, uma vez que a TC pode
estar elevado. Pico de lipídeo-lactato é incomum. Como a
estar normal ou apenas um pouco alterada.
GC infiltra, porém preserva a estrutura normal da substân
Achados de TC. Efeito de massa pequeno ou ausente relati cia branca, a DTI costuma ser normal.
vo ao tamanho da lesão é típico. Cérebro levemente ede- A perfusão por RM é útil na escolha de áreas para
maciado e hipodenso, com perda da diferenciação entre biópsia estereotáxica. O rCBV elevado sugere foco de de-
as substâncias branca e cinzenta pode ser observado em
generação maligna (Fig. 17-58F).
alguns casos. Hipodensidades multifocals ou confluentes
na substância branca podem simular alterações microan- Olagnóstico diferencial
giopáticas ou doença metabólica adquirida (Fig. 17-55). A A diferença entre os astrocitomas difusos de baixo grau
TC com contraste geralmente não mostra realce. e anaplásícos amplamente inflltrativos e a GC é basica
Achados de RM. As imagens em TI podem parecer nor mente a extensão da doença. Uma vez que um astrocito-
mais ou pouco alteradas. A estrutura cerebral fundamen ma difuso se dissemina pelo corpo caloso e acomete três
tal está distorcida, porém bem preservada (Fig. 17-54). A lobos cerebrais ou ambos os tálamos e núcleos da base, a
substância branca hemisférica e os giros podem mostrar distinção se toma acadêmica.
494 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
17-57D Imagem em 12 em
plano mais superior mostra que
o mesencéfaio possui quase o
dobro do seu tamanho normal,
apesar do aqueduto permanecer
patente e não haver evidência
de hidrocefalía obstrutiva.
17-57E Imagem coronal
ponderada em Ti pós-contraste
não mostra evidência de realce,
mas leve hipointensidade pode
ser observada no bulbo, ponte
e mesencéfaio expandidos B.
Devido ao tumor acometer o
mesencéfaio, rombencéfalo e
medula espinal, ele foi diagnos
ticado como provável gliomatose
cerebral de baixo grau (OMS grau
II). Não foram realizadas biópsias.
Astrocitomas 495
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Oligodendroglioma
Terminologia
Os oligodendrogliomas (OGs) são tumores hemisféricos
difusamente infiltrativos, bem diferenciados, de cresci
mento lento, que provavelmente se originam de oligoden
drócitos ou de células-tronco gliais imaturas.
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502 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
Diagnóstico diferencial
18-7A Ponderação em Ti demonstra uma neoplasia O principal diagnóstico diferencial do OG é o astroci-
bifrontal de aspecto agressivo, com intensidade de sinal
toma difuso de baixo grau. Astrocitomas fibrilares di
heterogênea devido à hemorragia subaguda B.
fusamente infiltratives costumam envolver a substância
branca, não o córtex, e não sofrem realce. A diferencia
ção de um OG grau 11 pela OMS para um oligoastrocito-
ma misto ou um oligodendroglioma anaplásico (OAn)
pode ser difícil com base apenas nos aspectos de ima
gem. Hemorragia e necrose são comuns tanto no OAn
quanto no OG.
Outros tumores de crescimento lento e com base cor
tical que apresentam convulsões incluem o ganglioglío-
ma e o tumor neuroepitelial disembrioplásico (DNET).
Ambos são mais comuns em crianças e em adultos jovens.
Os gangliogliomas são mais comuns no lobo temporal
,v: K ^ d. com um aspecto de "cisto -h nódulo". Os DNETs em geral
são "bolhosos" e podem ter displasia cortical associada.
O neurocitoma central é indistinguível do OG à mi-
croscopia óptica e requer colorações por imuno-histoquí-
mica (p. ex., sinaptofisina) para o diagnóstico. Antes da
18-78 Ponderação em T2 revela hemorragia suba
guda E3 e intensidade de sinal heterogênea. O diag identificação do neurocitoma central como uma entidade
nóstico pré-operatório foi de GBM. A cirurgia revelou distinta, essas neoplasias eram chamadas de "oligoden
oligodendroglioma. drogliomas intraventriculares".
Neoplasias glials não astrocíticas 503
OLIGODENDROGLIOMA
Patologia
• Características gerais
o Originam-se da junção entre as substâncias branca
e cinzenta
o Hemisféricos (85-90%)
o Lobo frontal (50-65%)
o Cortex difusamente infiltrado
o Pouco circunscritos
• Características microscópicas
o Células em "ovo frito" 18-8 Necropsía de um oligodendroglioma anaplásico
o Grau II da OMS difusamente infiltrativo demonstra necrose e hemorra
gia SI. {Cortesia de R. Hewlett, MD.)
Aspectos clínicos
• Epidemiologia
o Terceiro tumor cerebral primário mais comum (2-5%)
o Mais comum em adultos de meia-idade
o Raro em crianças
• Apresentação
o Convulsões
• Prognóstico do tratamento
o Quimiossensibilidade se codeleçâo 1p e 19q
Imagem
• Massa cortical redonda/ovoide
• Relativamente bem delifinidos
• Ca++ (70-90%)
• Hemorragia e edema peritumorais são incomuns
• 50% realçam
Etiologia
Os OAns podem surgir como lesões novas ou originar-se
da progressão de um oligodendroglioma grau II preexis
tente. CodeleçÕes Ip e 19q estão presentes em 30 a 40%
dos casos. Entre 20 e 25% exibem uma amplificação do
gene EGFR.
Patologia
Localização. Os OAns demonstram a mesma preferência
que os OGs pelo lobo frontal. O lobo temporal é o segun
do local mais comum.
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III. y
p- ^
18-10 TC sem contraste e série de imagens de RM de um homem 18-11 Mulher de 24 anos se apresentou â emergência com convul
de 37 anos com início súbito de convulsões demonstra massa parietal sões. TC sem contraste e série de imagens de RM demonstram massa pa
esquerda relativamente bem definida B. Oligodendroligoma grau II da rietal esquerda B, que parece com o oligodendroglioma da Fig. 18-10.
OMS comprovado hislologicamente. Oligodendroglioma anaplásico (OMS grau III).
Características microscópicas. Características focais ou di a sobrevida, portanto, a ressecçuo total permanece sendo o
fusas de malignidade estão presentes. Os OAns têm maior principal tratamento. A quimioterapia com procarbazina.
densidade celular, com maior pleomorflsmo nuclear e hi- lomustina e vincristina (regime PCV) ou temozolomida
pcrcromatismo que os OGs. Degeneraçào cística e necro (TMZ) pode ser efetiva nos OAns que possuem codeleção
se com ou sem pseudopaliçadas são comuns. Hipertrofia Ip e 19q. A radioterapia é uma opção para pacientes com
microvascular e proliferação são comuns. tumor residual ou recorrente.
Atividade mitótica mais alta caracteriza os OAns. Os
índices de proliferação MIB-1 estão elevados. Embora não Imagem
haja valor de ponto de corte aceitável para a distinção en As características de imagem gerais do OAn são muito si
tre OAn e OG, índices de 7 a 10% ou maiores são típicos. milares àquelas do OG e não são confiáveis para predizer
Estadiamento, graduação e classificação. Os OAns são tu ograu do tumor (Figs. 18-lüe 18-11). Edema peritumo-
mores grau III pela OMS. ral, hemorragia e focos de degeneração cística são mais
comuns. O realce é variável, indo de ausente a marcante
Aspectos clínicos (Fig. 18-9).
Epidemiologia. Entre 25 a 35% dos oligodendrogliomas são Como os OGs são. com freqüência, bastante vascu-
anaplásicos. Os OAns correspondem a 1 a 2% de todos os larizados. o CBV relativo pode ser enganoso. A espec-
tumores cerebrais primários. troscopia de prótons é de maior utilidade, com relação
Apresentação. Os pacientes com OAns são cerca de sete ou
Co:Cr maior que 2,33 sugestiva de oligodendroglioma
oito anos mais velhos que os pacientes com OGs. A média anaplásico.
de idade na apresentação é de 45 a 50 anos. Os sintomas
clínicos são indistinguíveis daqueles do OG, com convul Diagnóstico diferencial
sões e cefaleia sendo as apresentações mais comuns. o principal diagnóstico diferencial do OAn é o oligoden
droglioma. O padrão de realce do tumor não é útil para
História natural. O tempo de sobrevida varia de poucos
distinguir o OAn de oligodendroglioma de baixo grau. A
meses a poucos anos. A média de sobrevida é de quatro
confirmação histológica é necessária mesmo em tumores
anos, com uma taxa de expectativa global em cinco anos
de 20 a 40%. Os pacientes com codeleções Ip e 19q e tu desprovidos de realce.
O ollgoastrocitoma e o astrocitoma anaplásico
mores quimiossensíveis têm um melhor prognóstico.
ou mesmo o glioblastoma também podem ser difíceis
Opções de tratamento. Até o momento, não há tratamentos de diferenciar do OAn com base apenas nos achados de
padronizados para OAns. A citorredução máxima melhora imasem.
Neoplasias glials não astrocíticas 505
18-12 Caso de necropsia de oligoasUocitoma mislo mostra uma mas 18-13 Série de imagens de um paciente com oligoaslrociloma do
sa parietal com margens aparentemente bem definidas, com hemorragia cumentado. O tumor ES parece bem demarcado, não sofre realce e é
e necrose. (Cortesia de R. Hewlett, MO.) indistinguível, com base na imagem, de um oligodendroglioma ou oligo
dendroglioma anaplásico.
e a presença de codeleções Ip e 19q. O tempo médio de Achados na RM. Os OAs são hipointensos se comparados à
sobrevida para o OA é de 2,8 anos. substância cinzenta nas ponderações em TI. Hiperintensi-
dade heterogênea é característica nas ponderações em T2
Opções de tratamento. Os OAs respondem de forma menos
favorável à quimioterapia do que os tumores oügoden- e nas aquisições em FLAIR.
drogliais puros, provavelmente devido ao componente as-
trocítico ser quimiorresistente. Entretanto, o prognóstico Diagnóstico diferencial
para os pacientes com OA anaplásico ainda assim é me O diagnóstico diferencial do OA inclui o oligodendro
lhor que para os pacientes com glioblastoma multiforme. glioma e o astroeitoma inflltrativo difuso.
Imagem
Características gerais. Distinguir os tumores oligodendro- Tumores ependimários
gliais puros dos gliomas histologicamente mistos não é
possível com base apenas nos aspectos de imagem (Fig. Os tumores ependimários originam-se do revestimento
18-13). Em geral, as características de imagem dos oligo- ependimário dos ventrículos cerebrais e do canal central
astrocitomas mistos espelham as duas graduações dos oli na medula espinal. As células-tronco/progenitoras cance
godendrogliomas. Os OAs de baixo grau parecem muito si rígenas também foram postuladas como possíveis origens.
milares aos oligodendrogliomas grau li da OMS, e os OAs A OMS classifica os tumores que exibem diferencia
anaplásicos se parecem com os OAns grau III da OMS. ção ependimária em quatro grupos distintos. São estes,
em ordem ascendente de malignidade: subependimoma,
Achados na TC. Os OAs são heterogeneamente hipodensos
ependimoma mixopapilar, ependimoma e ependimoma
na TC sem contraste e demonstram realce variável ao es
tudo com contraste.
anaplásico.
ft
18-16 Corle axial mostra um ependimoma preenchendo o quarto 18-17A TC sem contraste de um menino de 3 anos com ependimoma
ventrículo IS e se estendendo anterolateralmenle pelos recessos late demonstra uma massa na linha média preenchendo o quarto ventrículo
rais em direção aos forames de Luschka SI. com densidade mista ES e calciticada S.
São conhecidos três graus pela classificação da OMS mação até que se diferenciem em tipos celulares progeni-
dentro do espectro dos tumores ependimários. O subepen- tores mais restritos.
dimoma e o ependimoma mixopapilar são neoplasias grau Cada célula de origem é suscetível a algumas mutações
1 pela OMS; o ependimoma é considerado neoplasia grau genéticas. Várias alterações em receptores Notch e BMP,
II; e o ependimoma anaplásico é designado como tumor bem como na via hedgehog foram associadas à tumorogê-
grau 111. nese do ependimoma. Monossomia do eromossomo 22 e
Discutiremos esses tumores nesta seção, começando mutações homeohox-containing (HOX) ocorrem, em sua
com o subtipo mais comum, o ependimoma. Seguire maioria, nos ependimomas exlracranianos (espinais).
mos com considerações sobre o ependimoma anaplási
co (EA). Embora o EA seja incomum, seus aspectos de Patologia
imagem são muito similares aos do ependimoma "clás Localização. Cerca de 60 a 70% dos ependimomas são
sico". O ijltimo subtipo dos ependimomas que ocorre no infratentoriais. Destes, 95% são encontrados no quarto
cérebro é o subependimoma, que tem aspecto muito ventrículo. O restante das lesões ocorre no ângulo pon-
diverso do ependimoma e do ependimoma anaplásico. t o c e r e b e l a r.
Embora seja um tumor quase sempre intraespinal, Entre 30 a 40% dos ependimomas são supratenfcriais.
também faremos considerações, de forma breve, sobre o A maioria, entre 80 e 85%, são neoplasias parenquimato-
ependimoma mixopapilar. O ependimoblastoma, um tu sas hemisféricas. A localização intraventricular é rara.
mor grau IV da OMS, é classificado como uma neoplasia
embrionária juntamente com outros tumores neuroecto- Número e localização. Os ependimomas são neoplasias so
dérmicos primitivos e será discutido no Capítulo 21. litárias. O tamanho varia, mas a maioria dos ependimo
mas supratentoriais são neoplasias volumosas com mais
de 4 centímetros no momento da apresentação.
Ependimoma
Patologia macroscópica. Os ependimomas de fossa poste
Etiologia rior são de coloração bronze-avermelhada ou acinzentada
Genética. As alterações moleculares que levam à oncogê-
e formam massas lobuladas com margens relativamente
nese do ependimoma ainda não foram completamente elu bem definidas, que protruem pelos recessos laterais do
cidadas. Evidências recentes sugerem que os ependimo
mas têm localização, bem como assinaturas de expressão quarto ventrículo (Figs. 18-14,18-15,18-16).
grau específico, relacionadas às diferentes células-tronco Características microscópicas. Os neuropatologistas admi
da glia radial em todos os três compartimentos cranioespi- tem quatro subtipos histológicos principais de ependimo
nais. Células-tronco mutantes podem não sofrer transfor ma. Do mais para o menos comum, eles são os subtipos
508 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorals
celulares de células claras, papilar e tanicítico. Variantes Aspectos demogrãficos. Os ependimomas possuem uma
raras incluem os ependimomas de células gigantes. lipi- distribuição bimodal. Embora eles sejam encontrados em
dizados e melanocítico. Em poucos casos, pode ocorrer todas as idades, a maioria ocorre em crianças entre 1 e 5
metaplasia mesenquimal maligna ("ependimossarcoma"). anos. A média de idade na apresentação está entre 4 e 6
O aspecto da microarquiletura mais característico do anos. Um segundo pico menor é visto em adultos Jovens
ependimoma é a presença de pseudorrosetas perivascula- entre 20 e 30 anos. Estudos observacionais tem mostrado
res, nas quais as células tumorals estão dispostas radial- um aumento significativo na prevalência de ependimomas
mente ao redor dos vasos sangüíneos. em adultos nos últimos 30 anos.
A vascularização típica do ependimoma é relativa Há uma predominância masculina moderada (57% de
mente madura e demonstra pouca atividade angiogénica todos os ependimomas).
se comparada a gliomas malignos ou a variantes anaplási-
cas do ependimoma. Apresentação. Os sintomas dependem da localização. Os
ependimomas do quarto ventrículo comumente causam
Estadiamento, graduação e classificação. Os ependimomas hidrocefalia intraventricular obstrutiva e se apresentam
são neoplasias grau 11 da OMS. com cefaleía, vômitos e papiiedema. A ataxia é comum. Os
Aspectos clínicos ependimomas parenquimatosos supratentoriais se apresen
tam com convulsões e déficits neurológicos focais.
Epidemiologia. Os ependimomas representam 3 a 9% de to
dos os tumores neuroepiteliais. Eles correspondem a cerca História natural. Os pacientes com ependimoma exibem
de 10% das neoplasias do SNC e a 30% de todos os tumo uma variação de eventos clínicos. Os ependimomas em
res cerebrais em crianças abaixo dos 3 anos de idade. O geral são tumores de crescimento lento. Entretanto, o
ependimoma é o terceiro tumor mais comum de fossa pos prognóstico geral é relativamente pobre, com uma taxa
terior na infôncia (após o meduloblastoma e o astrocitoma). de sobrevida de 50 a 60% em cinco anos. A extensão da
18-17D Aquisição em TI
pós-contraste com saturação de ■/ l
gordura no plano axial do mes
mo paciente demonstra tumor
misto sólido cístico com áreas de
marcado realce confluente B e
moderado realce periférico B.
18-17E Aquisição em TI
pós-contraste no plano coronal
mostra o tumor se estendendo
inferiormente do quarto ventrí
culo para a cisterna magna E2.
lateralmente pelos forames de
Luschka B. Observe a hidro
cefalia obstrutiva EB. A histo-
patologia revelou ependimoma
anaplãsico (grau ill da OMS).
Neoplasias glials não astrodticas 509
ressecção lumoral é o fator determinante mais importante; As imagens sagitais revelam uma massa que preenche
a demonstração de ausência de lesão residual nos exames a maior parte do quarto ventriculo, com extrusão inferior
de imagem do pós-operatório prolonga a taxa de sobrevi- para a cisterna magna. As imagens axiais demonstram a
da em cinco anos para quase 75%. extensão lateral em direção ou nas cisternas dos ângulos
A correlação entre o grau do tumor e o prognóstico pontocerebelares (Fíg. 18-17).
é controversa, mas a sobrevida global nos pacientes com Hidrocefalia obstrutiva é uma característica associada
ependimomas grau II é melhor do que a dos pacientes do ependimoma infratentorial. O líquido extracelular com
com ependimoma anaplásico. freqüência se acumula em tomo dos ventrículos, dando o
Opções de tratamento. Citorredução cirúrgica máxima se aspecto de margens indistintas.
A disseminação do LCS é o fator-chave no estadia-
guida de radioterapia coníbnnacional - c não irradiação
mento, prognóstico e tratamento do ependimoma. O úni
cranioespinal - é o tratamento-padrào. A terapia adjuvan-
te costuma ser reservada para a recorrência tumoral. co preditor de imagem pré-operatório significativo para
o prognóstico do paciente é a evidência de disseminação
Imagem do tumor. Por isso, estudos de imagem pré-openitóríos
Características gerais. Os ependimomas infrateníoriais são de todo o neuroeixo devem ser realizados em qualquer
tumores plásticos, relativamente bem definidos, que em criança com neoplasia da fossa posterior, em especial se
houver suspeita de meduloblastoma ou ependimoma.
geral se originam do soalho do quarto ventrículo e que
protruem exteriormente pelos forames. Eles se estendem Os ependimomas supratentoriais geralmente são
lateralmente pelos forames de Luschka em direção à cis tumores hemisféricos grandes e volumosos, de aspecto
terna dos ângulos pontocerebelares (APCs) e posteroinfe- agressivo. Formação cística grosseira, calcificaçào e he
riomiente pelo forame de Magendie para a cisterna magna morragia são mais comuns se comparado ao seu corres
(Fig. 18-15). pondente infratentorial (Fig. 18-18).
18-198 Ponderação em T2
mostra a intensidade de sinal
marcadamente heterogênea do
componente sólido da mas
sa tumoral.
18-19C Ponderação em Ti
pós-contraste com saturação de
gordura mostra realce sólido e
heterogêneo nas bordas da le
são. A maioria dos ependimomas
supratentoriais está localizada no
parênquima cerebral, e não nos
ventrículos.
510 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
Achados na TC. Os ependimomas apresentam densidade crianças muito pequenas, o PNET e o tumor rabdoide/
mista na TC sem contraste com cistos intratumorais hi- teratolde atípico podem causar massas hemisféricas que
podensos interpostos a porções de partes moles iso e hi- lembram o ependimoma parenquimatoso.
perdensas. Calciflcações grosseiras ocorrem em cerca de
metade dos ependimomas (Fig. 18-17A). Hemorragia ma
EPENDIMOMA
croscópica pode ser identificada em 10% dos casos.
A maioria dos ependimomas demonstra realce hetero Localização
gêneo leve a moderado. • Infratentoriais (60-70%)
o Quarto ventrículo (95%)
Achados na RM. Os ependimomas em geral sào heteroge- • Süpratentoriais (30-40%)
neamente hipointensos em relação ao parênquima cere o Hemisférios» ventrículos
bral nas ponderações em TI e hiperintensos em T2/FLAÍR
(Fig. 18-17). Após a administração de contraste, a maio Patologia
• Patologia macroscópica
ria dos ependimomas sofre realce. Áreas de realce forte o Protrui a partir do quarto ventrículo para o APC,
e relativamente homogêneo estão interpostas a focos de
cisterna magna
mínimo ou nenhum realce. • Subtipos histológicos
As imagens em T2* (GRE, SWI) costumam demons o Celular (mais comum)
trar focos de artefatos de susceptibilidade magnética que o Células claras
podem ser causados por calciflcações e/ou hemorragia. o Papilar
Um ependimoma pode sangrar, causando hemorragia su- o Tanicítico (menos comum)
baracnóidea não aneurismática e siderose em tomo do tu • Características microscópicas
mor e ao longo das superficies piais do cerebelo. o Pseudorrosetas perivasculares são características
A maioria dos ependimomas não sofre restrição à di o Grau II da OMS
Ependimoma anoplasico
O ependimoma anapiásico (EA) é um glioma maligno que
demonstra algum grau de diferenciação ependimária. mas
exibe diferentes perfis genéticos. Os EAs possuem a via
Wnt/p desregulada.
O EA é caracterizado por crescimento mais rápido,
proliferação vascular, aumento da celularidade, atividade
mitótica alta e prognóstico pouco favorável se comparado
ao ependimoma celular típico. Os EAs são classificados
como neoplasias grau III da OMS.
O EA é um diagnóstico neuropatológico, já que os
achados de imagem são indistinguíveis daqueles do epen
dimoma celular.
Subependimomo
Terminologia
Os subependimomas (SEs) são tumores não invasivos
raros, benignos e de crescimento lento, que são mais en
contrados incidentalmente nos exames de imagem ou em
autópsias.
Etiologia
A origem dos SEs não é clara. Eles podem se originar de
células precursoras gliais-ependimárias pluripotenciais,
de astrócitos da lâmina subependimária ou de lesões iia-
martomatosas preexistentes.
Patologia
Localização. Os subependimomas são localizados no inte
rior ou adjacente a um espaço revestido por epêndima. Eles
são mais encontrados no aspecto inferior do quarto ven-
trículo (50 a 60%) (Figs. 18-20, 18-21 e 18-23), seguidos
dos cornos frontais dos ventrículos laterais, com freqüência
aderidos ao septo pelúcido (30 a 40%) (Fig. 18-25). Os SEs 18-21 Coíte de necropsia no plano sagital mostra
achado incidental de um pequeno subependimoma do
parenquimatosos podem ocorrer, mas são incomuns.
quarto ventrícuio HI. (Cortesia de P. Burger, MD.)
Tamanho e número. OS SEs são tumores solitários. A maio
ria tem menos de dois centímetros, embora alguns tu
mores possam chegar a vários centímetros de diâmetro.
Foram relatados poucos casos de enormes SEs biventri-
culares que preenchem ambos os ventrículos laterais.
Como a fossa posterior é anatomicamente mais contida,
os tumores infratentoriais costumam ser menores que seus
análogos supratentoriais.
Patologia macroscópica. Os SEs são massas sólidas, redon
das a lobuladas, bem definidas, de coloração bronze-acin-
zentado. Calcificações, cistos e hemorragia são comuns
em lesões grandes.
18-23 Caso de necropsia moslra um grande subependimoma do quar 18-24 Série de estudos de RM mostra um grande subependimoma
to ventíículo Hi. (Cortesia de R. Hewlett, MD). B do quarto venlrículo com intensidade de sinal mista iso/hipointensa
em TI e hiperintensidade em T2/FLAIR. A massa realça forte e uniforme
mente
18-25 Ilustração no plano coronal demonstra subependimoma no cor 18-26 Aquisição em TI pós-conlrasle no plano coronal demons-
no frontal do ventrkulo lateral HI, aderido ao septo pelúcido. Ira uma massa desprovida de realce no corno frontal esquerdo B.
Presume-se um subependimoma, um achado incidenlal neste paciente
masculino de meia-idade.
18-27 Visão magnificada do plexo coroide mostra inúmeras excres- 18-28 Aspecto microscópico típico do papiloma de plexo coroide é
céncias de aspecto frondoso com LCS preenchendo as lendas entre as mostrado com formações frondosas redundantes e papilas aplainadas.
projeções papiiares. (Cortesia dos arquivos AFIP.) Não há atipia celular ou figuras mitólicas. (Cortesia de P. Burger, MD.)
síndrome de Aicardi é definida pela tríade de espasmos in adultos. Os ventrículos laterais são locais raros de PPC
fantis, agenesia do corpo caíoso e anormalidades patogno- em pacientes mais velhos.
mônicas coriorretinianas (lacunas). Desde que foi descrita
Tamanho e número. Os PPCs costumam ser tumores solitá
pela primeira vez, em 1965, novas características, como
rios, variando em tamanho de pequenos a enormes massas.
malformações corticais, heterotopias de substância cin
Ocasionalmente, múltiplas lesões não contíguas são vis
zenta, PPCs e cistos de plexo coroide foram identificados
tas, mas a maioria representa disseminação no LCS prove
e adicionados ao espectro de Aicardi. A prevalência dos
niente do local do tumor primário. Múltiplos PPCs origi-
PPCs na síndrome de Aicardi é estimada em 3 a 5%. PPCs
nando-se como tumores sincrônicos raramente são vistos.
bilaterais e triventriculares ocorrem em 1% dos casos.
Patologia macroscópica. Os PPCs são massas bem cir
Patologia cunscritas de aparência papilar ou em couve-flor que po
Localização. OS PPCs se originam onde houver plexo co dem aderir à parede ventricular, mas sem invadi-la (Fig.
roide, ocorrendo proporcionalmente à quantia de plexo 18-27). Cistos e hemorragia são comuns.
coroide presente em cada localização. Por isso, a maioria
Características microscópicas. Histologicamente, a estrutura
tem origem nos ventrículos laterais (50%) e no quarto ven-
dos PPCs lembra muito àquela do plexo coroide normal não
trículo (40%). O trígono é o local mais comum. Alguns
neoplásico (Fig. 18-28). Um centro de tecido conectivo fibro-
grandes PPCs envolvem localizações múltiplas. O PPC vascular coberto por uma camada de células epiteliais unifor
triventricular é visto em 5% dos casos e se origina no ter
mes de aspecto benigno é típico. Citoqueratinas, vimentina e
ceiro ventrículo, estendendo-se cranialmente pelo forame
de Monro para o interior de ambos os ventrículos laterais. podoplanina são expressas por quase todos os PPCs.
A atividade mitótica é muito baixa, com MIB-I infe
Apenas 5 a 10% dos PPCs ocorrem em outras locali rior a I %. Os PPCs são geralmente confinados ao ventrí
zações que não no quarto ventrículo e nos ventrículos late culo de origem e poucos exibem um padrão de crescimen
rais. Os PPCs são ocasionalmente encontrados como tumo
to infíltrativo.
res primários do ângulo pontocerebelar (APC), situação na
qual tufos de plexo coroide são extrusos pelos forames de Estadíamento, graduação e classificação. Os PPCs são neo
Luschka para as cisternas dos APCs adjacentes. Os PPCs plasias grau I da classificação da OMS.
extraventrículares são raros. Eles foram relatados no tronco
encefálico, cerebelo, fossa hipofísária e septo pelúcido. Aspectos clínicos
Há um forte efeito da idade sobre a localização do Epidemiologia. Os PPCs são lesões raras, correspondendo
PPC. Mais de 80% de todos os PPCs em lactentes ori a menos de 1% de todas as neoplasias intracranianas pri
ginam-se dos ventrículos laterais. O quarto ventrículo e márias. Contudo, os PPCs representam 13% dos tumores
as cisternas dos APCs são localizações mais típicas em cerebrais que ocorrem no primeiro ano de vida.
Neoplasias glials não astrodticas 515
18-29 Exame de TC sem contraste e série de imagens de RM de 18-30 Ponderações em Ti e em T2 mostram massa no interior do
monstram o aspecto típico do PPC. A massa lobulada intraventricular terceiro ventriculo SI. Aquisição em Tl pós-contraste no piano sagital
realça fortemente ES. Observe a hidrocefalia causada pela superpro e coronal mostram a natureza papilar da massa a qual se estende
dução de LCS. superiormente pelo forame de Monro para o interior de ambos os ventrí-
cülos laterais e causa hidrocefalia obstrutiva.
Aspectos demográficos. A média de idade na apresentação Achados na TC. A maioria dos PPCs são iso a hiperdensos
é de 1,5 anos para os PPCs dos ventrículos laterais e ter se comparados ao parênquima cerebral nos exames de TC
ceiro ventriculo, 22,5 anos para os PPCs do quarto ventri sem contraste (Figs. 18-29 e 18-3Í A). Calcificações são
culo, e 35,5 anos para os PPCs do APC. Há uma discreta vistas em 25% dos casos. Hidrocefalia - tanto obstrutiva
predominância masculina. como causada por superprodução liquórica - é comum.
Os exames de TC com contraste mostram realce intenso e
Apresentação. Os PPCs tendem a obstruir a rota normal
do LCS. Os lactentes se apresentam com aumento do homogêneo (Fig. 18-31B).
perímetro cefálico e elevação da pressão intracraniana. Achados na RM. Uma massa de contornos lobulados
Crianças e adultos podem apresentar cefaleia, náuseas e e bem definidos que é iso a levemente hipointensa em
vômitos.
relação ao parênquima cerebral é vista nas ponderações
O PPC também pode se apresentar como um tumor em Tl (Fig. 18-30). Os PPCs são iso a hiperintensos nas
cerebral fetal e é a quinta neoplasia cerebral congênita
ponderações em T2 e em FLAIR (Fig. 18-31C). Flow
mais comum, após o teratoma, astrocitoma, craniofarin- voids internos lineares e ramificados refletem o aumento
gioma e tumor neuroectodérmico primitivo. Macrocefalia da vascularização, que é comum nos PPCs. As aquisi
com grande massa intracraniana e hidrocefalia é a apre
ções em T2* (GRE, SWl) podem mostrar focos hipoin-
sentação mais comum. tensos secundários a calcificações ou à hemorragia in-
História natural. A ressecção cirúrgica é com freqüência tratumoral.
curativa. A taxa de recorrência após a ressecção total é Realce intenso e homogêneo é visto após a adminis
baixa, de apenas cerca de 5 a 6%. A progressão maligna tração de contraste (Figs. 18-30 e 18-31D). Os PPCs ge
do PPC para carcinoma de plexo coroide foi relatada, mas ralmente não restringem à difusão. A espectroscopia de
é rara. prótons pode mostrar elevação do mioinositol (ml).
Variantes raras do PPC incluem PPC puramente císti-
Imagem co e melástases extra-axiais císticas de um PPC intraven
Características gerais. Uma massa intraventricular lobula tricular. No PPC puramente cístico, um grande cisto, mó
da e bem definida, com excrescências papilares frondosas vel, com nódulos murais que apresentam intenso realce,
é típica. Disseminação leptomeningea difusa é incomum, está aderido ao plexo coroide. Ele pode causar hidroce
mas pode ocorrer em PPCs benignos, portanto, exames falia obstrutiva súbita. Metástases extra-axiais puramen
pré-operatórios de imagem de todo o neuroeixo são re te císticas de PPC são vistas como cistos cisternais com
comendados. intensidade de sinal semelhante ao LCS, que não sofrem
516 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumoraís
realce e que lembram múltiplos cistos parasitários, mais LCS superior a 3 litros por dia. Ao contrário do PPC, a
comumente neurocisticercose. maioria dos casos de hiperplasia de plexo coroide é bilate
ral e aumenta difusamente o plexo coroide em toda a sua
UiTRASSONOGRAFiA. Os PPCs aparecem como massas intra-
extensão.
ventriculares hiperecolcas lobuladas bem definidas na ul-
Os xantogranulomas de plexo coroide são lesões
trassonogralla transcraniaiia. incidentals benignas que ocorrem no plexo coroide dos
ventrículos laterais. Eles consistem em células epiteliais
Diagnóstico diferencial
descamadas com acúmulo de lípideos, juntamente com
Os principais diagnósticos diferenciais do PPC sâo papi-
loma atípico de plexo coroidc e carcinoma dc plexo co- macrófagos e células gigantes de corpos estranhos mul-
tinucleadas. Ao contrário da maioria dos PPCs, eles são
roide (CaPC). O PPC atípico (neoplasia grau 11 da OMS)
e PPC típico (grau I da OMS) dividem características de mais encontrados em pacientes de meia-idade ou mais
velhos. Nos exames de imagem, aparecem como cistos
imagem similares e devem ser diferenciados histologica-
multiloculados bilaterais no interior do glomo do plexo
mente. O CaPC é mais propenso a invadir o parênquima
cerebral que o PPC. A disseminação no LCS ocorre em coroide, o qual sofre realce.
Metástases no plexo coroide ocorrem em pacientes
ambos. PPC e CaPC, e, portanto, não é uma característica
de meia-idade ou em adultos mais velhos e não se encai
útil para a diferenciação ou um prediíor confiável de ma-
xam no diagnóstico diferencial do PPC pediátrico.
lignidade.
A hiperplasia do plexo corolde, também chamada
de hiperplasia vilosa do plexo coroide. é uma causa rara Papiloma atípico do plexo coroide
de superprodução de LCS e hidrocefalia .v/ií/nZ-resistente. O papiloma atípico de plexo coroide (PAPC) é uma neo
A hiperplasia vilosa difusa pode resultar em produção de plasia recentemente descrita que possui malignidade in-
\
V y c
Neoplasias gliais não astrocíticas 517
termediária entre o PPC (neoplasia grau 1 da OMS) e o tico negativo. A taxa de sobrevida em cinco anos relatada
carcinoma de plexo coroide (neoplasia grau III da OMS). para pacientes com tumores TP53 imunopositivos é de 0%.
Os PAPCs representam cerca de 15% de todos os tumores
de plexo coroide. Patologia
A principal característica histopatológica que distin Patologia macroscópica. Os CaPCs quase sempre se origi
gue o PAPC é o aumento da atividade mitótica com índice nam dos ventrículos laterais. Este volumoso e heterogêneo
do marcador MIB-1 elevado (Fig. 18-33). Até o momen tumor intraventricular freqüentemente exibe hemorragia
to, os exames de imagem nào conseguem diferenciar entre franca e focos necróticos. A invasão para o parênquima
PAPC e PPC, portanto, o diagnóstico definitivo depende cerebral adjacente é comum (Fig. 18-34).
da histopatologia.
Características microscópicas. Características citológicas
evidentes de malignidade são vistas, incluindo mitoses
Carcinoma de plexo coroide
freqüentes (geralmente pelo menos 5 a 10 por campo de
Terminologia grande aumento), densidade celular aumentada, pleomor-
O carcinoma de plexo coroide (CaPC) é um tumor maligno fismo nuclear, perda da estrutura papilar e necrose. O
raro que ocorre quase sempre em crianças de pouca idade. MIB-i está elevado, variando de 15 a 20% (Fig. 18-35).
Características genéticas e imuno-histoquímicas mos
Etiologia tram algum grau de sobreposição entre o CaPC e o tumor
teratoide/rabdoide atípico.
Genética. Quase metade de todos os CaPCs porta mutações
TP53. O tumor com genoma com mutação TP53 está asso Estadiamento, graduação e classificação, o CaPC é uma ne
ciado a um significativo risco de progressão e a um prognós oplasia grau III da classificação da OMS.
18-32A Ponderação em Ti
mostra uma massa lobulada no
interior do corpo do ventrículo
lateral esquerdo 1^.
18-32B Ponderação em T2
mostra que a massa B é Isoin-
tensa à substância cinzenta.
Aspectos clínicos casos. Alguns tumores TP53 imunonegativos têm sido tra
Epidemiologia. Embora o CaPC seja incomum, representan tados com sucesso sem radioterapia.
do menos de 1% de todos os tumores cerebrais pediátri-
cos, ele corresponde a 5% das neoplasias supratentoriais.
Imagem
O CaPC corresponde a 20 a 40% de todas as neoplasias o CaPC freqüentemente invade o parênquima cerebral
primárias do plexo coroide. adjacente através do epêndima ventricular. Edema, ne
crose, cistos intratumorais e hemorragia são comuns
Aspectos demográficos. Entre 70 e 80% dos CaPCs se origi (Fig. 18-36). O realce é forte, embora heterogêneo
nam em crianças menores de 3 anos. A média de idade no
(Fig. 18-37). A disseminação no LCS é comum.
momento do diagnóstico é de 18 meses.
Apresentação. Os sintomas mais comuns - náuseas, vômi Diagnóstico diferencial
tos, cefaleia e obnubilaçào - são causados por hidrocefa- Os principais diagnósticos diferenciais são papiloma dc
lia obstruiiva. plexo coroide e papiloma atípico do plexo coroidc. As
características de imagem desses três tumores primários
História natural. O prognóstico em pacientes com esses
do plexo coroide superpõem-se. A disseminação no LCS
tumores agressivos é desanimador, especialmente naque
ocorre tanto nas variedades benignas quanto nas malig
les com ressecção incompleta de um tumor com genótipo
nas. O papiloma de plexo coroide raramente invade o
com mutação TP53.
parênquima cerebral, portanto, a presença de invasão pa-
Opções de tratamento. Ressecção total é o tratamento pri renquimatosa evidente e a associação de edema, sugerem
mário. O tratamento multimodal com radioterapia cranio- CaPC.
espinal e quimioterapia neoadjuvante ICE (ifosfamida, A maioria das outras neoplasias supratentoriais em
carboplatina, etoposide) melhora a sobrevida em alguns crianças muito novas é mais parenquimatosa do que in-
18-36A Ponderação em T2 no
plano axial mostra achados de
um carcinoma de plexo coroide
típicos. A intensidade de sinal ex
tremamente heterogênea, bem
como a ausência de definição
de limite ependimário entre o
tumor e o parênquima cerebral
adjacente são achados típicos.
18-36B A maioria dos car
cinomas de plexo coroide de
monstra hemorragia intratumoral
significativa, tal como esta vista
nesta aquisição em T2* GRE como
hipointensidades com artefatos de
susceptibilidade magnética SI.
Observe siderose por hemorragia
prévia cobrindo a superfície do
cerebelo e da medula ÍS.
Neoplasias glials não astrocíticas 519
18-37C Ponderação em T2
mostra a natureza extrema
mente heterogênea da massa.
Invasão tumoral franca do parên
quima cerebral com edema adja
cente E3 estão presentes.
18-370 Aquisição em FLAIR
demonstra a massa ES, o ede
ma periférico E2 e hemorragia
e/ou formação cística
18-39B Ponderação em T2
mostra que, em relação ao tama
nho da massa, ha pouco edema
perilumoral B.
18-39C Aquisição em 11 pós-
-contraste mostra que as porções
sólidas sofrem realce enquanto
as císticas não o fazem.
522 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
glial. A maioria é positiva para um antígeno de membra hipotálamo e ao soalho do terceiro ventrículo, a ressecção
na epitelial e CD34, mas negativo para proteína de neu- é subtotal. A complicação pós-operatória mais comum é a
roftlamento. disflinção hipotaiâmica com diabetes insípido e obesidade.
As mitoses são raras e o índice do marcador MlB-1
é baixo. Imagem
Características gerais. As características radiológicas dos
Estadiamento, graduação e classificação. Os GCs são neo
GCs relatados são consistentes. A maioria dos GCs é mas
plasias grau II da classificação da OMS.
sa ovoide, de limites bem definidos, que está confinada
ao terceiro ventrículo e claramente separada da hipófise
Aspectos clínicos
e do infundíbulo. Embora causem abaulamento e possam
Epidemiologia. o GC é raro, representando menos de 1% de
aderir superficialmente ao hipotálamo, a invasão do pa-
todos os gliomas.
rênquima cerebral franca é rara. O realce é forte e relati
Aspectos demográficos. O GC é um tumor de adultos de meia- vamente uniforme.
-idade (35 a 60 anos). Há uma razão na ordem de 2:1 M:H.
Achados na TC. Os GCs são moderadamente hiperdensos
Apresentação. A apresentação clínica do GC varia. Cefa- se comparados ao parênquima cerebral na TC sem con
leia, náuseas e prejuízo de memória são comuns. No exa traste. Realce forte e homogêneo é típico. Foram relatados
me neurológico, déficit em campo visual é a anormalida casos ocasionais com calcificações. Hidrocefalia está pre
de mais comum. Distiirbios endócrinos são vistos em 10 a sente em 10 a 15% dos casos.
15% dos pacientes.
Achados na RM. A RM no plano sagital demonstra que o
História natural e tratamento. Os GCs são tumores de cres tumor está claramente separado da hipófise e da haste in
cimento lento. Como freqüentemente estão aderidos ao fundibular (Fig. 18-41). Os GCs são isointensos ao parên-
a até 8% dos tumores descobertos nas cirurgias para sólido de base cortical. Necrose, hemorragia, cistos intra-
epilepsia. tumorais ou calcificações estão ausentes.
Aexcisão cirúrgica em geral é curativa. A RM mostra uma massa cortical expansiva, difusa
mente infiltrativa, sem margens bem definidas. A maioria
Patologia dos GAs é hiperintenso em T2/FLAIR. Uma borda sutil de
Os GAs são tumores superficiais de base cortical. A lo encurtamento do tempo TI e extensão similar a um pedí-
calização mais comum relatada é o lobo frontal, seguido culo em direção aos ventrículos foi descrita. O realce cos
pelo lobo temporal. Os GAs são caracterizados por cé tuma estar ausente. Displasia cortical focal com freqüência
lulas em fuso bipolares alongadas, com uma marcante pode ser identificada adjacente ao tumor (Fíg. 18-42).
orientação angiocêntrica radial ou longitudinal. Displasia
cortical focal adjacente é comum. Diagnóstico diferencial
O MIB-1 do GA é geralmente inferior a 1 %. Os GAs O GA tem aparência muito similar a outras neoplasias de
são classificados como neoplasias grau I pela OMS baixo grau corticais em crianças/adultos jovens que se
apresentam com epilepsia de longa data. Os principais
Imagem diagnósticos diferenciais incluem o tumor neuroepitelíal
Os achados de imagem foram relatados em apenas alguns dísembrioplásico, o ganglíoglíoma e o ongodendroglio-
poucos casos. O achado mais comum na TC é um tumor ma. Todos eles são mais comuns que o GA.
Neoplasias glials não astrocíticas 525
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526 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
19-1 Ilustração coronal mostrando típico ganglioglioma do lobo tem 19-2 Espécime de lobeclomia temporal parcial com ganglioglioma
poral com cisto SI e nódulo mural parcialmente caicificado ÍS. mostrando nódulo tumoral ÍS e cistos parcialmente colapsados SI.
A hemorragia é primariamente cirúrgica. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
19-3 Imagens coronals de RMem um garoto de 16 anos com crises con- 19-4 Massa cortical/subcortical frontal majoritariamente sólida hipoin-
vulsivas de longa data mostrando uma massa parcialmente sólida e cística tensa em T1 e híperintensa em T2 B mostrando realce intenso B.
no lobo temporal esquerdo B3 com hiperintensidade em FLAIR nódu- Ganglioglioma.
Io S e realce anelar ao redor do cisto B. (Cortesia de P. Rodriguez, MO.)
Figuras mitóticas sào raras. MIB-1 reflete o compo Apresentação. Epilepsia de lobo temporal (ELT) crônica
nente proliferativo glial e varia de 1 a 3%. e farmacologicamente resistente ocorre em 90% dos ca
A coloração imuno-histoquímica demonstra caracte sos. As crises convulsivas costumam ser do tipo parcial
rísticas neuronais (i.e., expressão de sinaptoflsina) e gliais complexa.
(células GFAP-positivas). Aproximadamente 75% dos História natural. GGs são neoplasias de crescimento mui
GGs exibem imunorreatividade para o epítopo de células-
to lento. A degeneração maligna é incomum, ocorrendo
-tronco CD34.
em I a 5% dos casos.
Características malignas nos GGs são incomuns, po
rém, quando presentes, quase invariavelmente envolvem Opções de tratamento. A ressecção cirúrgica completa ge
o componente glial. A transformação sarcomatosa ocorre, ralmente é curativa, com 80% dos pacientes ficando livres
porém é rara. de convulsões após a remoção do tumor. A vasta maioria
dos pacientes apresenta sobrevida em cinco anos livre de
Estadiamento, graduação e classificação. Gangliogliomas recorrência.
em geral são benignos, e a maioria é designada como neo
plasia grau I da OMS. Não há critérios estabelecidos para Imagem
diferenciar GGs grau I da OMS de GGs grau II da OMS. Características gerais. Os GGs sào lesões parenquimatosas
A transformação maligna é rara. Muito raramente
superficiais com base cortical que possuem dois padrões
foram relatados GGs com características anaplásicas que
gerais de imagem: (1) massa parcialmente cística com nó-
correspondem ao grau III da OMS. dulo mural (Fig. 19-3) ou (2) tumor sólido relativamente
bem delimitado (Fig. 19-4). GGs difusamente infiltrativos
Aspectos clínicos e pobremente delimitados ocorrem, porém são incomuns.
Epidemíologia. o ganglioglioma é o tumor glioneuronal
Achados na TC. Os GGs demonstram atenuação variável
misto mais comum, porém causa apenas 1 a 1,5% de to
na TC sem contraste. Um componente cístico é observado
dos os tumores cerebrais primários. GGs são mais comuns
em quase 60% dos casos. Cerca de 30% apresentam um
em crianças e representam entre 5 e 10% das neoplasias
cisto hipodenso circunscrito com nódulo mural isodenso,
de SNC pediátricas.
enquanto 40% são primariamente hipodensos. Entre 30 e
Aspectos demográficos. O GG é predominantemente um tu 50% dos GGs calcificam. Hemorragia é rara.
mor de crianças e de adultos jovens; 80% dos pacientes Somente 50% dos GGs realçam apos a administração
têm menos de 30 anos de idade. O pico de apresentação é de contraste. Os padrões variam de sólido, periférico ou
15 a 20 anos. Não há predileção por gênero. nodular até cístico com impregnação nodular.
530 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
Achados na RM. Comparados ao córtex, GGs sào hipo a estarem em geral presentes em uma única lesão, a OMS
isointensos em TI e hiperintensos em T2/FLA1R. Edema considera AID/GID uma entidade neoplásica única.
circunjacente geralmente está ausente. Displasia cortical
focal adjacente ao tumor ocorre em alguns casos. Patologia
O realce varia de nenhum ou mínimo a moderado po AlDs/GlDs sào massas grandes, boceladas, hemisféricas
rém heterogêneo. O padrão clássico é uma massa cística supratentoriais com um diâmetro mediano que se aproxima
com um nódulo mural que realça. Impregnação sólida ho de 8 cm. São tumores sólido-cisticos nitidamente demar
mogênea também ocorre. cados que envolvem o córtex superficial e as leptomenin-
ges adjacentes, com freqüência parecendo aderidos à dura
Diagnóstico diferenciai (Fig. 19-5). Os lobos frontal e parietal são os mais comuns.
A maior consideração no diagnóstico diferencial é o as- Microscopicamente, AlDs/GIDs possuem três com
trocitoma fíbrilar de baixo grau. Note que astrocitomas ponentes distintos: células fusiformes em um estroma
difusamente infiltrativos de baixo grau não realçam. Um "desmoplásico", astrócitos com citoplasma vítreo e um
astrocitoma pílocítíco hemisférico supratentorial pode se componente neuronal variável, em geral grupos de células
apresentar como um cisto com um nódulo em realce. A neuronals ou gangliônicas indiferenciadas. Tumores sem
calcificação em astrocitomas pilocíticos é rara comparada um componente de células ganglionares sào denominados
à do GG. "astrocitomas infantis desmoplásicos".
O xantoastrocitoma pleomórrico (XAP) habitual Atividade mitótica é rara. AID/GID é designado
mente possui "cisto + nódulo mural" e assemelha-se ao como tumor grau 1 da OMS.
GG. O XAP com freqüência possui "cauda" durai, auxi
liando a distingui-lo de outras neoplasias corticais induto- Aspectos clínicos
ras de epilepsia. AlDs/GIDs ocorrem em crianças com menos de 5 anos de
O tumor neuroepitelial disembrloplásico (DNET)
idade, com a maioria apresentando-se dentro do primeiro
é uma neoplasia cortical superficial que possui uma apa ano de vida. Entre 20 e 25% ocorrem em crianças com
rência multicistica "bolhosa". Um anel hiperintenso cir mais de 24 meses.
cundando a massa na seqüência FLAIR é comum. Em O crescimento do perímetro cefálico com abaulamen-
contraste ao GG, realce é raro. to das fontanelas em um lactente letárgico com "olhar em
O oligodendrogiioma é mais difuso e menos bem sol poente" é a apresentação típica.
delimitado do que o GG. Oligodendrogliomas com uma A maioria das neoplasias intracranianas que se apre
configuração de "cisto + nódulo mural" são incomuns. sentam em crianças e neonatos estão associadas a um
Quando eles ocorrem, são de difícil diferenciação com os prognóstico sombrio. Em contrapartida, AID/GID possui
GGs em exames de imagem. um prognóstico benigno e muito raramente metastatiza.
A ressecção completa em geral resulta em longo tempo
CAUSAS DE EPILEPSIA DO LOBO TEMPORAL
de sobrevida. Alguns AlDs/GIDs até mesmo regridem es
pontaneamente após exérese parcial.
Mais comum = esclerose temporal mesial Aproximadamente 15% das crianças com AID/GID
Epilepsia do lobo temporal associada a tumor desenvolvem disseminação leptomeníngea e evoluem
• Ganglioglioma (40%) para óbito.
• DNET (20%)
• Astrocitoma difuso de baixo grau (20%) Imagem
• Outros (20%)
Os exames de imagem revelam uma volumosa massa só-
o Astrocitoma pilocítico
o Xantoastrocitoma pleomórfico lido-cística heterogênea supratentorial. A porção cística é
o Oligodendroglioma comumente localizada em posição profunda na substância
branca hemisférica, enquanto a porção sólida é, em geral,
periférica, com freqüência abaulando a dura.
A TC mostra uma porção cística hipoatenuante com
Astrodtoma/gangliogliomo infantil
um componente sólido de densidade mista. Calcificação
desmoplásico tem sido relatada em alguns casos, porém é incomum. He
Terminologia morragia, necrose e edema peritumoral são raros.
Tumores infantis desmoplásicos são lesões raras, em geral A RM mostra uma grande massa, com freqüência
benignas, majoritariamente císticas de crianças jovens e multilobulada ou cística septada, com um componente só
que com freqüência possuem uma aparência radiológica lido semelhante à placa com base durai. A massa sólida re
agressiva. Duas formas histológicas de tumores infantis alça fortemente, porém com freqüência heterogeneamente
desmoplásicos foram descritas: astrocitoma infantil des (Fig. 19-6). Espessamento durai adjacente (sinal da "cau
moplásico (AID) e ganglioglioma infantil desmoplásico da durai") é comum. Cerca de 25% dos casos mostram ao
(GID). Devido ao fato de elementos de ambos os tipos menos algum realce do componente cístico.
Tumores neuronais e glioneuronais 531
Diagnóstico diferencial
A causa mais comum de massa volumosa, lobuíada, he
terogênea e hemisférica em um lactente é o teratoma. O
teratoma tem aparência muito mais heterogênea do que
o AID/GID e freqüentemente possui extensão extracra-
niana. O tumor neuroectodérmico primitivo (PNET) é
outra neoplasia cerebral congênita comum. Cistos terato-
matosos e relacionados a PNET raramente são tão grandes
quanto aqueles do AID/GID, e suas porções sólidas em
geral não abaulam a dura.
O cpcndimoma supratentorial freqüentemente cal-
cifica, sangra, e pode ocorrer em crianças mais velhas e
em adultos.
DNET
Terminologia
o DNET é uma lesão benigna, em geral cortical, caracteriza
da por arquitetura multinodular (Fig. 19-7). Devido ao fato
de que o DNET é freqüentemente associado à displasia cor
tical, alguns neuropatologistas creem que ele possa ser uma
malformação congênita em vez de uma neoplasia verdadeira.
Etiologia
A etiologia precisa do DNET é desconhecida. Até o mo
mento, nenhuma mutação ou deleção genética foi detec
tada. DNETs com freqüência expressam marcadores de
19-6A Imagem ponderada em T2 em um lactente de
células-tronco como CD34. sugerindo uma possível ori 10 meses mostrando hidroceíalia obstrutiva e uma enor
gem no desenvolvimento. me massa sólldo-cística no hemisfério cerebral direito.
Patologia
Localização. Entre 45 e 50% dos DNETs se localizam no
lobo temporal; um terço ocorre no lobo frontal. Enquanto
a maior parte é encontrada no córtex, a substância bran
ca também pode ser afetada. Raros casos foram relatados
em outros lugares, como o ventrículo lateral, e uma forma
"difusa" incomum foi descrita.
Imagem
Características gerais. O DNET possui uma aparência dis
tinta nos estudos de neuroimagem. Uma massa cortical/
subcortical bem delimitada, triangular e "pseudocística"
ou "bolhosa" em um paciente jovem com longo históri
co de epilepsia parcial complexa é altamente sugestiva do
diagnóstico (Fíg. 19-8).
Achados na TC. Exames de TC sem contaste revelam uma
massa cortical/subcortical hipodensa. Calcificação é vista
em 20% dos casos. A hemorragia intratumoral grosseira é
rara. Depressão óssea focai ou remodelamento da calota
craniana são comuns com tumores adjacentes à tábua in
terna do crânio.
19-15A Imagem em FLAIR em um homem de 55 anos com crises 19-156 Espectfoscopia de protons demonstrando curva normal de
convulsivas de longa data mostrando uma lesão hiperintensa bem de metabólilos. Gangliocitoma íoi diagnosticado na histopatologia.
limitada cortical/subcorticai no lobo parietal direito BS. A lesão não
apresentou realce pelo contraste paramagnético (não mostrado).
Características macro e microscópicas. Os GGCits podem mente indutores de epilepsia, corticais, com componentes
ser lesões sólidas ou mistas sólido-císticas. Microscopi- cístico e sólido com impregnação. Os gangliogliomas po
camente, os GGCits consistem em células ganglionares dem ser indistinguíveis de GGCits nos exames dc imagem.
maduras de aparência estranha. Mitoses são poucas ou A displasia cortical, outra causa comum de epilepsia re-
ausentes, imunorreatividade ao CD34, um marcador de fratária em pacientes Jovens, segue a intensidade de sinal
célula-tronco, é positiva na maioria dos gangliocitomas. da substância cinzenta em todas as seqüências e não realça.
Os GGCits são neoplasias grau 1 da OMS.
Gangliocitoma cerebelar displàsico
Aspectos clínicos Terminologia
Os GGCits ocorrem com mais freqüência em crianças e O gangliocitoma cerebelar displàsico é uma massa ce
em adultos jovens com menos de 30 anos. A maior parte
rebelar rara e benigna composta por células gangliona
dos pacientes se apresenta com epilepsia farmacologica- res displásicas. O gangliocitoma cerebelar displàsico é
menle resistente.
também conhecido como doença de Lhermittc-Duclos
Os GGCits possuem crescimento lento, se houver. A
(DLD). Outros termos para DLD incluem hipertrofia de
ressecção ciriárgica costuma ser curativa e resulta em so- células granulares, hipertrofia granulomolecular do cere-
brevida a longo prazo livre de recorrência.
belo, hamartoma cerebelar, ganglioneuroma difuso e gan-
gliomatose do cerebelo.
Imagem A DLD pode ocorrer como parte da síndrome de
Os GGCits têm densidade mista à TC sem contraste, fre miíltiplos hamartomas chamada síndrome dc Cowden
qüentemente contendo componentes sólidos e císticos (SCow). Quando a DLD e a SCow ocorrem Juntas, são
(Fig. 19-14). Calciflcação é comum, ocorrendo em cerca de ocasionalmente chamadas de síndrome de Cowden-Lher-
um terço dos casos. Hemorragia e necrose estão ausentes. mitte-Duclos (síndrome COLD). A SCow é também
Os GGCits são hipo a isointensos relativamente ao conhecida como síndrome de múltiplos hamartomas-
córtex em imagens ponderadas em TI e hiperintensos em -neoplasias ou síndrome do tumor hamartoma PTEN.
T2/FLA1R (Fig. 19-15). O realce varia de nenhum a in A SCow é uma facomatose autossômica dominante.
tenso e homogêneo nas porções sólidas do tumor. A maioria dos pacientes possui neoplasias hamartomato-
sas da pele combinadas com neoplasias e hamartomas de
Diagnóstico diferencial vários outros órgãos. Tumores de mama, tireoide, endo-
o principal diagnóstico diferencial do gangliocitoma é o métrio e trato gastrintestinal são as outras neoplasias mais
ganglíoglioma. Os gangliogliomas são tumores frequente- prevalentes em pacientes com SCow.
Tumores neuronais e glioneuronais 537
19-16A Espécime de necropsia mostrando gangliocitoma cerebeiar 19-16B Corte seccional através da massa demonstrando folias cere-
displásico expandindo o hemisfério cerebeiar. belares grosseiramente espessadas BSI. (Cortesia dos arquivos da AFIP.)
19-17 Ilustração demonstrando o gangliocitoma cerebeiar displásico 19-18 A expansão de folias na DLD é mais bem visualizada com baixa
(doença de Lhermitte-Duclos). magnificação, na qual o espessamento do cóítex cerebeiar afetado 131
e a perda da coloração escura das células granulares internas são pronta
mente evidentes. (Cortesia de F. J. Rodriguez, MD.)
drocefalia. Tendo em vista que a DLD não é encapsulada e da características da DLD. O estudo de perfusão mostra
mistura-se gradualmente aos tecidos cerebelares normais, elevado rCBV, refletindo a proeminência de veias dilata
a ressecção completa é difícil e os índices de complicação das interfoliais, e não malignidade.
são elevados. A espectroscopia por RM mostra pico de NAA nor
mal ou levemente reduzido, e relação colina:creatina nor
Imagem mal. Um duplo pico de lactato pode estar presente.
Características gerais. Uma massa cerebeiar unilateral sem
impregnação em um paciente de meia-idade que demons Diagnóstico diferencial
tra um padrão proeminente de "listras de tigre" na RM é Os achados de imagem da DLD são tão característicos
típica de DLD. que o diagnóstico pode ser estabelecido sem confirmação
Achados na TC. A maioria dos casos de DLD é hipodensa por biópsia. Apesar de o diagnóstico diferencial sugerido
na TC sem contraste. Efeito de massa com compressão do algumas vezes incluir meduloblastoma e infarto cerebeiar
subagudo, essas condições em geral não devem ser con
quarto ventrículo, obliteração das cisternas dos ângulos
fundidas com DLD.
pontocerebelares e hidrocefalia obstrutiva são comuns.
O meduloblastoma, em especial sua variante desmo-
Calei ficação é rara. Necrose e hemorragia estão ausentes.
A TC com contraste não mostra realce apreciável. plástica, pode se apresentar como uma massa cerebeiar la
A DLD é moderadamente hipcrmetabólica no estudo teral, porém ocorre em pacientes mais jovens e raramente
demonstra o padrão de "listras de tigre" tão característico
de PET/TC com FDG.
de DLD. O infarto cerebeiar está confinado a um ter
Achados na RM. Uma massa cerebeiar expansiva com ban ritório vascular específico, e os sintomas são agudos ou
das lineares hipointensas em TI é típica. Imagens ponde subagudos ao invés de crônicos.
radas em T2 mostram o padrão patognomônico de "listras Ocasionalmente, os gangllogliomas ocorrem na fossa
de tigre", com alternação de camadas internas hiperinten- posterior e podem mimetizar DLD. Gangliogliomas real
sas e externas hipointensas em folias cerebelares espessa çam e, embora às vezes possuam aparência estranha, rara
das (Fig. 19-19). mente demonstram "listras de tigre" proeminentes.
O T2* (GRE, SWI) demonstra canais venosos proe Algumas raras displasias corticals cerebelares po
minentes circundando as folias grosseiramente espessa dem simular DLD. Entretanto, essas malformações não
das. A seqüência TI pós-contraste mostra marcado realce demonstram crescimento progressivo e raramente promo
linear nessas veias anormais. vem efeito de massa com hidrocefalia.
A seqüência mostra difusão restrita, provavelmente Foram relatados alguns poucos casos de complexo da
refletindo a hipercelularidade e a densidade axonal eleva- esclerose tuberosa (CET) na fossa posterior simulando
Tumores neuronais e glioneuronais 539
19-19A Série de imagens de RM em um paciente com DLO mos 19-19B Imagens adicionais mostram numerosos flow voids SI
trando os achados típicos de espessamento das folias cerebeiares e causados pelas veias dilatadas que impregnam na imagem em Tl pós-
efeito de massa B. A DLD é celular, podendo apresentar difusão -contraste B. A OTi mostra a orientação anteroposterior das folias
restrita S. cerebeiares
19-20 Ilustração coronal mostrando neurocitoma central como uma 19-21 Imagem coronal ponderada em 72 mostrando o aspecto clás
massa multicístlca, relativamente vascular e ocasionalmente hemorrági sico de um neurocitoma central, com múltiplos cistos hiperintensos cau
ca no corpo do ventrículo lateral. sando uma aparência de "bolhas de sabão".
Patologia macroscópica. A aparência macroscópica do NC apresentam entre 20 e 40 anos. A idade média no diagnós
é similar à do oligodendroglioma. Uma massa intraventri tico é de 30 anos. Não há predileção por gênero.
cular bem delimitada, lobulada e moderadamente vascular
Apresentação. Os sintomas são relacionados ao aumento
é característica (Flg. 19-22).
da pressão intracraniana. Cefaleia, alteração do estado
Características microscópicas. A assinatura hisiológica do mental e anormalidades visuais são comuns. Déficits neu
NC é sua notável uniformidade nuclear com células re rológicos focais são raros. Alguns NCs são encontrados
dondas uniformes dispostas em folhas ou lóbulos. Zonas incidentalmente nos exames de imagem.
proeminentes de finos neurópilos podem estar presentes História natural. NCs são tumores de crescimento lento
entre os lóbulos tumorals.
que raramente invadem o parênquima cerebral adjacente.
O índice proliferativo MIB-1 é geralmente menor do Uma obstrução ventricular siábita ou hemorragia intratu-
que 2%. Um índice maior do que 2% ou o aumento nas moral aguda podem causar deterioração clínica aguda e
mitoses com proliferação microvascular têm sido associa até mesmo morte. A disseminação através do LCS foi des
dos a um elevado risco de recorrência tumoral.
crita, porém é muito rara.
A imuno-histoquímica é positiva para sinaptofisina.
Olig2 é negativo, o que ajuda a distinguir NC de oligo Opções de tratamento. A ressecção cirúrgica completa é o
tratamento de escolha. A extensão da ressecção é o fator
dendroglioma.
prognóstico mais importante. E raro haver recorrência. A
Estadiamento, graduação e classificação, o neurocitoma sobrevida em cinco anos é de 90%.
central é uma neoplasia grau 11 da OMS.
Imagem
Aspectos clínicos Características gerais. Uma massa "bolhosa" no corpo ou
Epioemiologia. o NC é a neoplasia intraventricular primária no como frontal do ventrículo lateral é clássica para NC
mais comum de adultos jovens e de meia-idade, represen (Fig. 19-21).
tando cerca de metade dos casos. Em geral, elas são neo
Achados na TC. A TC sem contraste mostra uma lesão in
plasias raras que representam entre 0,25 e 0,5% de todas
traventricular sólido-cística de densidade mista que está
as neoplasias intracranianas e 10% de todos os tumores
anexada ao septo pelúcido. Hidrocefalia obstrutiva é co
intraventriculares.
mum. A calcificação está presente em 50 a 70% dos casos.
Aspectos demográficos. Os NCs em geral são tumores de Hemorragia inlratumoral franca ocorre, porém é rara. NCs
adultos jovens, raramente diagnosticados em crianças ou mostram realce moderado, mas heterogêneo na TC com
em idosos. Quase três quartos de todos os pacientes se contraste.
Tumores neuronais e glioneuronais 541
Achados na RM. NCs são massas heterogêneas majorita- O ependimoma celular supratentorial ocorre em
riamente isodensas à substância cinzenta em TI. Cistos crianças e é majoritariamente uma massa intraparenqui-
intratumorais q flow voids vasculares proeminentes são matosa, e não intraventricular.
comuns. Uma aparência "bolhosa" em T2 é típica. NCs O astrocitoma subependimárlo de células gigantes
são heterogeneamente hiperintensos em FLAIR e de também ocorre em localização similar, adjacente ao fora
monstram impregnação moderada a intensa após adminis me de Monro. Estigmas clínicos e outros estigmas de ima
tração do meio de contraste (FIg. 19-23). gem de esclerose tuberosa (i.e., nódulos subependimários
A redução de NA A e uma modesta elevação da colina e túberes corticais) em geral estão presentes.
estão presentes na espectroscopia de prótons. A presença Metastases intraventriculares geralmente ocorrem
de NAA e glicina com um pico invertido de alanina em em pacientes mais velhos. O plexo coroide é uma locali
1,5 ppm com um tempo de eco de 135 ms é altamente zação mais comum do que o corpo do ventriculo lateral.
sugestiva de neurocitoma. Meningiomas também são mais comuns no trígono ven
tricular (glomo do plexo coroide) do que no como frontal
Diagnóstico diferencial ou corpo.
O principal diagnóstico diferencial do NC é o subependi- O oligodendroglioma intraventricular verdadeiro é
moma. O subependimoma é mais comum inferiormente raro. Como a aparência nos exames de imagem é indis-
no quarto ventriculo, porém subependimomas supraten- tinguível da do NC, o diagnóstico de oligodendroglioma
toriais são localizados adjacentes ao forame de Monro e intraventricular é estabelecido com base em estudos imu-
podem parecer muito semelhantes. Os NCs são tumores no-histoquímicos e genéticos. Os oligodendrogliomas são
dc adultos jovens, enquanto os subependimomas são mais negativos para sinaptofisina e freqüentemente apresentam
comuns em adultos mais velhos. mutações do01Íg2e lp,19q.
Patologia Imagem
Os NEs são histologicamente idênticos aos NCs. Como a Os NEs variam amplamente em sua aparência nos exame
única característica que os diferencia dos NCs é a locali de imagem. Eles se localizam nos hemisférios cerebrais
zação, ambos receberam a mesma classificação patológi ou na região parasselar. Alguns tumores se assemelham
ca (grau II da OMS). a NCs ou a tumores neuroepiteliais disembrioplásicos
Alguns autores têm relatado uma variabilidade mais (DNETs) com uma aparência "bolhosa" hiperintensa em
T2 (Fig. 19-24). Outros possuem uma configuração "cisto
ampla nas características morfológicas, celularidade, ín
dice de proliferação e prognóstico em comparação com + nódulo" similar à do ganglioglioma.
os NCs. Quando características histológicas atípicas estão Alguns neurocitomas extraventriculares se apresen
presentes, como necrose, proliferação vascular e mitoses tam como grandes tumores heterogêneos e com realce
(mais de três em 10 campos de alta potência), essas va pelo meio de contraste, sendo difícil sua distinção com
riantes são freqüentemente denominadas NEs "atípicos". astrocitomas de alto grau, tumores neuroectodérmicos pri
Uma classificação da OMS ainda não foi estabelecida mitivos (PNETs) ou ependimomas supralentoriais. Estes
para NEs atípicos. provavelmente representam NEs "atípicos" (Fig. 19-25).
■#
cistica relativamente distinta na % ,
f
porção media! do lobo temporal , 9
direito B. O diagnóstico pré-
■operalório foi DNET, Neurocito
ma extraventricular foi diagnos
ticado na análise fiistopatológica.
(Cortesia de A. Rossi, MD.)
f
19-25A Imagem em FLAIR
de uma mulher de 61 anos com
cefaleia e redução de força à
direita mostrando uma massa
hiperintensa B adjacente ao
ventrículo lateral esquerdo. O
liquido proteináceo no Interior
necrótico IS não é suprimido.
19-25B A imagem em TI
pós-contraste demonstra realce
espesso, nodular e periférico.
A histopatologia evidenciou
mitoses freqüentes e prolife
ração endotelial. Neurocitoma
extraventricular anaplásico
sinaptofisina-positivo. (Cortesia
dej. Boxerman, MD.)
Tumores neuronals e glioneuronais 543
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20
Tumores da pineal e de
células germinativas
tases, tumores neuronals, tumores endoteliais e linfomas
Anatomia da região pineal 545
são todos encontrados nessa topografia, assim como le
Anatomia macroscópica 546
Imagem normal 548 sões congênitas, como cistos epidermoide, dermoide e
Tumores do parênquima pineal 549 lipomas.
Plneocltoma 549 De maneira geral, os tumores da região pineal são
Tumor do parênquima pineal com diferenciação raros, respondendo por 1 a 3% de todas as neoplasias in
intermediária 551 tracranianas. Apesar da complexidade histológica, as ne
Pineoblastoma 553 oplasias nessa região podem ser agrupadas em três cate
Tumor papilar da região pineal 556
gorias simples. Os dois grupos mais comuns têm origem
Tumores de células germinativas 556 na glândula pineal: (1) tumores das células do parênquima
Visão geral dos tumores de células germinativas 556
Germinoma 559
pineal e (2) tumores de células germinativas (TCGs).
O terceiro grupo de lesões da região pineal é compos
Te r a t o m a 561
Outras neoplasias de células germinativas 563 to por tumores com origem em "outras células". São tu
mores e lesões não tumorals que têm origem em estruturas
adjacentes à glândula pineal. Incluem entidades como o
A região pineal está localizada no meio do cérebro. De meningioma do ápice do tentório, dilatação aneurismática
vido à presença de muitas estruturas críticas circundando da veia de Galeno e cistos não neoplásicos. Essas lesões
essa pequena glândula, cirurgias nessa região impõem um são detalhadas em outros capítulos do livro, mas são resu
desafio aos neurocirurgiões. O aspecto posterior do ter midas no quadro ao final do capítulo, que inclui os diag
ceiro ventrículo, mesencéfalo, tálamos, veia de Galeno, nósticos diferenciais de uma lesão na região pineal.
veias cerebrais internas e lâmina quadrigêmea estão todos A discussão será iniciada por uma breve revisão da
localizados ao redor. anatomia macroscópica e dos aspectos de imagem da re
A glândula pineal por si própria consiste em células gião pineal. O entendimento da anatomia da região pineal
do parênquima pineal, astrócitos e neurônios do sistema é fundamental para o diagnóstico diferencial correto. Os
simpático. Remanescentes das células primitivas costu diagnósticos diferenciais para uma lesão expansiva no
mam ser retidos nas estruturas da linha média (inclusive interior da glândula pineal são muito diferentes de uma
na glândula pineal), permitindo que tumores germinativos lesão na mesma topografia mas fora da glândula.
se desenvolvam nesta topografia. Posteriormente, será dada atenção para os dois maio
Há muitas outras células que podem ser identificadas res grupos de neoplasias, as neoplasias parenquimatosas
adjacentes à glândula pineal. Estas incluem células epen- e os tumores de células germinativas. Os TCGs ocupam
dimárias (revestindo o terceiro ventrículo), células do ple- uma categoria separada na classificação da Organização
xo coroide, células da aracnoide que formam o velum in- Mundial da Saúde (OMS); entretanto, como a região pine
al é o local mais comum dos TCGs e por eles entrarem no
terposUum, e astrócitos no tronco, no tálamo e no esplênio
do corpo calosD. diagnóstico diferencial de uma lesão intrínseca da pineal,
As lesões da região pineal incluem um amplo espec serão considerados neste capítulo.
tro de entidades neoplásicas e não neoplásicas. Essa di
versidade histológica reflete a grande quantidade de tipos
celulares que reside dentro da glândula pineal e nas estru
turas adjacentes.
Anatomia da região pineal
A região pineal também pode ser sítio de neoplasias A região pineal é localizada abaixo da foice do cérebro,
que são mais encontradas em outras topografias. Metas próxima ao ponto em que ela encontra a tenda do cerebe-
546 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
20-1 Secção sagítal mediana demonstra a complexidade anatômica da região pineal. A glândula pineal B encontra-se adjacente ao ápice do ten-
tório e à veia de Galeno SJ, ficando atrás do terceiro ventrículo e abaixo do velum interpositum (VI) [S. O VI fica abaixo do fórnice contém as
veias cerebrais internas e ajuda a formar o teto do terceiro ventrículo. (Cortesia de M. Nielsen, MD.)
Io. Essa complexa região anatômica abriga a glândula pi tem conexões com as comissuras habenular e posterior,
neal, os espaços liquóricos adjacentes (terceiro ventrículo hipotálamo, hipocampo, amígdala e tronco encefálico.
e cisternas subaracnoides), o parênquima cerebral (esplê- O principal suprimento vascular da glândula pineal é
nio do corpo caloso, lâmina quadrigeminal e porção su derivado de ramos da artéria coróidea mediai posterior. A
perior do verme cerebelar), as artérias (coróidea posterior glândula não têm barreira hematoencefálica.
lateral e mediai), as veias (veias cerebrais internas, veia de Do ponto de vista microscópico, 95% da glândula
Galeno), os seios durais (seio sagital inferior, seio reto) e pineal consiste em neurônios especializados, os pinealó-
as meninges (dura e aracnoide) (Fig. 20-1). citos, que se arranjam em cordões ou lóbulos separados
por estroma fibrovascular. Os pinealócitos têm funções
Anatomia macroscópica fotossensitivas e neuroendócrinas. Entre os pinealócitos
A discussão será iniciada pela glândula pineal e depois existem astrócitos e vasos sangüíneos. Finas catcificações
sua relação com as estruturas nonnais que a circundam. são encontradas no interior do parênquima pineal.
O principal hormônio produzido pela glândula pine
Glândula pineal al é a melatonina. A melatonína tem papel importante
A glândula pineal é um pequeno órgão endócrino arredon na sincronização dos ritmos temporais de reprodução e
dado ou triangular que repousa entre os colículos superio nos ciclos circadianos. Os receptores MTl e MT2 me-
res. E conectada ao diencéfalo e à parede posterior do ter tabotrópicos de melatonina associados a proteínas são
ceiro ventrículo pela haste da pineal. A glândula também influenciados pelos ciclos de luz/escuridão e são os prin-
Tumores da pineal e de células germinativas 547
20-2 Ilustração no piano sagitai demonstra a anatomia normal da re 20-3 Ilustração no plano axial demonstra o velum interpositum VB
gião pineal. A glândula pineal B fica abaixo do fórnice [31, do velum aberto no teto do terceiro ventrículo, as veias cerebrais internas (31 e a
interpositum ÍS e da veia cerebral interna B. veia de Galeno S.
cipais mediadores da atividade fisiológica da glândula Os corpos mamilares conectam-se com as porções finais
pineal. dos fórnices.
A comissura e os corpos dos fómices situam-se acima
Terceiro ventrículo e comissuras do velum interpositum,, das veias cerebrais intemas e da
A glândula pineal encontra-se na porção posterior do ter glândula pineal (Fig. 20-2).
ceiro ventrículo, onde podem ser identificados dois reces
sos que se relacionam com a glândula pineal. O recesso Velum interpositum
suprapineal, mais proeminente, encontra-se acima da A tela coróidea é uma membrana translúcida bilami-
glândula pineal e abaixo do esplênio do corpo caloso. O nar que forma o velum interpositum (VI) (Fig. 20-1).
recesso pineal, menor, aponta posteriormente em direção O VI se estende (por isso "interposto") entre os corpos
à glândula. dos fórnices, forma o teto do terceiro ventrículo e fecha-
Dois tratos de fibras comissurais também se rela -se anteriormente no forame de Monro. Se ele for aberto
cionam com a glândula pineal. A comissura habelunar posteriormente, forma um espaço preenchido por líquido
encontra-se acima da glândula, imediatamente abaixo do cerebrospinal (LCS) que se comunica diretamente com a
recesso suprapineal. A comissura posterior encontra-se cisterna quadrigeminal. Essa variante da normalidade é
abaixo da glândula. chamada de cavum velum interpositum ou cisterna do
veíum interpositum.
Fórnice O VI se estende lateralmente sobre o tálamo até a
Os fómices compõem o sistema límbico. Os dois fórnices, fissura coróidea onde é contíguo com o plexo coroide do
juntos com as flmbrias, são os menores e mais internos ventrículo lateral. O VI ainda cobre a glândula pineal e a
dos três arcos em formato de C que circundam o dien- comissura habelunar, porém não é afixado a essas estru
céfalo e os núcleos da base. Os fómices fornecem vias turas.
Meninges
Dobras da camada interna (meníngea) da dura formam a
foice do cérebro e o tentório do cerebelo. Esses dois fo
lhetos durais unem-se logo abaixo do esplênio do corpo
caloso para fonnar a junção falcotentorial.
Uma lâmina fina, pouco aderente e quase transparen
te da aracnoide segue junto com a dura e forma o limite
externo dos espaços subaracnoides. A aracnoide não se
invagina para o interior dos sulcos cerebrais e cisternas
do LCS.
Artérias
As artérias coróideas mediais posteriores originam-se
do segmento P2 das artérias cerebrais posteriores. Elas se
curvam lateralmente ao redor do tronco, entram na tela
coróidea e vão em direção anteromedial ao longo do teto
♦ /i do terceiro ventrículo. Os ramos das artérias coróideas
B mediais posteriores fornecem suprimento arterial para a
20-48 Imagem ponderada em T2 no plano axial glândula pineal.
demonstra a glândula pineal B3 atrás do terceiro ven-
trículo B. A cisterna quadrigeminal B e a veia de Parênqulma
Galeno Si também são mostradas. o esplênio do corpo caloso encontra-se acima e poste
riormente à glândula pineal. A placa tectal (quadrigemi
nal) encontra-se abaixo da glândula. Os talamos encon
tram-se em situação inferolateral à glândula pineal.
Imagem normal
Calcificações pineais na tomografia
computadorizada (TC)
Calcificações pineais fisiológicas ("concreções") são co
muns. A mineralização primária ocorre em uma matriz or
gânica formada por pinealócitos. As calcificações pineais
aumentam com a idade, tendo prevalência descrita de 1%
em crianças abaixo de 6 anos, 8% em pacientes abaixo de
10 anos, e 40% em pacientes acima de 30 anos. Mais da
metade de todos adultos apresenta calcificações na glân
dula pineal.
20-4C Imagem ponderada em T2 no plano coronal
mostra a glândula pineal ES abaixo das veias cerebrais
internas ES. velum inlerposilum B e fórnices SI.
Tumores da pineal e de células germinativas 549
ma da glândula pineal (TPGPs) respondem por menos de do terceiro ventriculo IS. (Cortesia de B. Morten, MD.)
Pineodtoma
Terminologia
Pineocitoma é um tumor do parênquima da pineal bem
diferenciado, composto por células maduras que lembram
pinealócitos normais. 20-7 Rosetas pineocitomatosas são típicas i
Diferentemente das pseudorosetas perivasculares, não
existe vaso central. (Cortesia de B. K. DeMasters, MO.)
550 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
E
Tumores da pineal e de células germinativas 551
Opções de tratamento. O tratamento dos TTPDIs é contro tensas à substância cinzenta e hiperinlensas no FLAIR,
verso. Biópsia estereotáxica seguida por ressecçao cirúr Imagens T2* (GRE, SWI) podem demonstrar focos hi-
gica é o tratamento mais comum. O papel da quimiotera pointensos de artefato de susceptibilidade magnética. O
pia adjuvante ou radioterapia é indeterminado. realce costuma ser intenso e heterogêneo nas imagens
ponderadas em Tl pós-contraste.
Imagem A espectroscopia por ressonância magnética (ERM)
Características gerais. TTPDIs possuem um aspecto de mostra Cho elevada e NA A reduzido. Pico de lactato pode
imagem mais "agressivo" que o pineocitoma (FIg. 20-9). estar presente.
Extensão sobre estruturas adjacentes (p. ex., os ventricu-
ios e o tálamo) é comum. O tamanho varia de menos de 1 Diagnóstico diferencial
centímetro até grandes massas que possuem 4 a 6 centíme o principal diagnóstico diferencial do TTPDl é o pineo
tros de diâmetro. Disseminação no LCS é incomum, mas citoma. Uma massa de aspecto mais agressivo na região
ocorre, o que sugere que avaliação por imagem de todo pineal em um paciente de meia-idade ou adulto mais ve
neuroeixo seja realizada antes do tratamento cirúrgico. lho é mais consistente com TTPDl. Pacientes com his
tória de "pineocitoma atípico" ou um pineocitoma que
Achados da TC. A TC mostra uma lesão hiperdensa que "en
cresce com o passar do tempo podem ser portadores de
globa" as calcificações da glândula pineal (Fig. 20-10). As um TTPDl. Pineoblastoma é um tumor normal de pa
lesões costumam apresentar realce forte e uniforme.
cientes mais jovens.
Achados na RM. TTPDIs são lesões com intensidade de Germinoma é mais comum em adolescentes do sexo
sinal mista, iso e hipointensas nas imagens ponderadas em masculino. O tumor papilar da região pineal pode se
Tl. Nas imagens ponderadas em T2, as lesões são isoin- apresentar de forma idêntica, mas é muito raro.
Pineoblastoma
TUMOR DO PARÊNQUIMA PiNEAL COM
DIFERENCIAÇÃO INTERMEDIÁRIA Terminologia
O pineoblastoma (PB) é um tumor altamente maligno
Patologia neuroectodérmico primitivo (PNET) da glândula pineal.
• TTPDI: entre o pineodtoma e o pineoblastoma
• 20% dos tumores pineals
• Grau II e III da OMS Etiologia
o Varia conforme mitoses e positividade para Acredita-se que os PBs originem-se de células precurso
n e u r o fi l a m e n t o ras primitivas embrionárias que expressam algumas ca
racterísticas das células parenquimatosas da pineal ("pi-
Aspectos clínicos
• Adultos de meia-idade nealócitos").
• Prognóstico variável
Patologia
Imagem Patologia macroscópica. Um tumor mole, friável, difusa
• Mais "agressivo" que o pineocitoma
• Normalmente maior e mais heterogêneo mente infiltrativo que invade o cérebro adjacente e obstrui
• Pode se disseminar pelo LCS o aqueduto cerebral é o achado típico (Fig. 20-11). Ne
crose e hemorragia intratumoral são comuns, assim como
Diagnóstico diferencial disseminação no LCS com lesões que recobrem o cérebro
• Pineocitoma > > pineoblastoma
e a medula espinal (FIg. 20-12).
• Germinoma
• Tumor papilar da região pineal Características microscópicas. PBs são neoplasias embrio
nárias altamente celulares que lembram os PNETs. Peque-
Aspectos clínicos
Epidemiologia. Os pineoblastomas respondem por 0,5 a 1%
dos tumores cerebrais primários, 15% das neoplasias da
região pineal e 30 a 45% dos tumores parenquimatosos
da pineal.
20-11 Ilustração no plano sagilal demonstra o pine- Demografia. Embora ocorram em qualquer idade, os PBs
oblastoma S com disseminação liquórica no Interior são mais prevalentes em crianças. A maioria se apresenta
dos venirículos B e espaços subaracnoides B. nas duas primeiras décadas de vida.
Imagem
20-12 Necropsia de um caso de pineoblastoma Características gerais. PBs são grandes massas da região
demonstra disseminação tumoral com metastases no- pineal de aspecto agressivo que invadem as estruturas ad
dulares recobrindo os ventrículos laterais e o terceiro
jacentes e em geral causam hidrocefalia obstrutiva. Disse
ventrículo. (Cortesia de B. Horten, MD.)
minação no LCS também é comum, logo todo neuroeixo
deve ser estudado antes da cirurgia.
Achados na TC. Uma grande massa hiperdensa, heterogê
nea com hidrocefalia obstrutiva é típica. Se houver calci-
ficações na pineal, elas parecem "empurradas" em direção
à periferia do tumor (Fig. 20-14A).
Achados na RM. PBs são tumores heterogêneos que fre
qüentemente demonstram necrose e hemorragia intratu-
moral. As lesões apresentam sinal misto iso e hipointenso
ao parênquima cerebral em imagens ponderadas em TI e
também sinal misto iso a hiperintenso nas imagens ponde
radas em T2 (Fig. 20-15). Há realce forte e heterogêneo.
Por serem tumores de alta celularidade, restrição no es
tudo da difusão da água é achado comum (Fig. 20-143).
20-14A TC de um pineoblas-
toma mostra uma lesão pouco
definida na região pineal, leve
mente hiperdensa El causando
hidrocefalia obstrutiva. Algumas
calcificações são vistas na
periferia da lesão.
20-14B Imagem em difusão
do mesmo paciente mostra res
trição moderada ES, consisten
te com alta celularidade.
A
556 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
20-16A Peça de necropsia de uma lesão expansiva na porção pos 20-16B imagem ponderada em Ti pós-contraste no plano sagitai
terior do terceiro ventrícuio que invade o tegmento mesencefáiico mostra uma massa pineai com realce S causando hidrocefaiia obstrutí-
demonstra cistos B3 e hemorragia A microscopia demonstrou va. Os achados de imagem são inespecílicos. (Cortesia de P. Burger, MD.)
diferenciação ependimária, permitindo que o tumor fosse classificado
c o m o T P R P.
Etiologia vitelínico).
Os TCGs originam-se de células-tronco totipotenciais
ou da migração errática de células de um dos três folhe Aspectos clínicos
tos primitivos (ectoderma, mesoderma e endoderma). Como grupo, os TCGs respondem por 0,5 a 3,5% de to
Estudos recentes avaliando perfis de RNAm mostram dos os tumores cerebrais, embora causem entre 3 e 8% de
que os TCGs malignos em geral parecem células-tronco todas as neoplasias primárias do sistema nervoso central
embrionárias. (SNC) em crianças. A prevalência varia com a localização
geográfica. Na Ásia, os TCGs causam 9 a 15% dos tumo
Patologia res cerebrais pediátricos.
Embora os TCGs possam originar-se em muitas loca Os TCGs costumam ser tumores de crianças ou adul
lizações intracranianas, eles apresentam uma afinidade tos jovens; 80 a 90% dos pacientes são jovens com 20
particular pela linha média (p. ex., região pineal, junto anos. A maioria dos TCGs secreta oncoproteínas como
ao terceiro ventrículo e infundíbulo hipofisário) ou por alfa-fetoproteína e beta-gonadotrofina coriônica humana,
2 0 - 1 8 B Vi s ã o d a c i s t e r n a s
da base no mesmo caso mostra
disseminação iiquórica tumoral
("meningite carcinomatosa")
preenchendo a cisterna supras-
selar SI e cobrindo o cérebro.
(Cortesia de R. Hewiett, MD.)
20-19 O germinoma clássico
i
consiste em grandes células
redondas com nucléolos proe
minentes misturadas com pe
quenos linlócitos. (Cortesia de T.
Tihan, MD.)
Ti t f t ê. ^
558 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
Aspectos clínicos
• 3-8% dos tumores primários do SNC em crianças
o Mais comum na Ásia (9-15% dos tumores cerebrais
pediátricos)
• Geralmente afeta crianças e adultos jovens
o 80-90% < 20 anos de idade
• A maior parte secreta oncoproteínas (alfa-
fetoproteína, beta-gonadotrofina coriônica humana)
• Tratamento e prognóstico variam com o tipo de tumor
20-20A TC pós-ventriculos-
tomia mostra uma lesão pirteal
hiperdensa E3 "englobando" as
cakificações da glândula pineal
r W e ao longo do soalho do
quarto ventriculo
20-20F Imagem ponderada
em TI pós-contraste com satura
ção de gordura mostra lesão ex
7 1 ^ pansiva com realce ES e realce
de sulcos e cisternas B suge
rindo disseminação liquórica.
Estadiamento, graduação e classificação. Germinomas pu Achados na TC. Por conterem grande quantidade de lin
ros são neoplasias grau II da OMS. fócitos, muitos germinomas podem ser hiperdensos se
comparados ao parênquima cerebral. O tumor parece "re
Aspectos clínicos cobrir" a porção posterior do terceiro ventrículo. Hidro-
Epidemiologia. o germinoma é o TCG intracraniano mais cefalia obstrutiva é variável. As calcificações pineais são
comum, respondendo por I a 2% dos tumores cerebrais "englobadas" e circundadas pelo tumor (Fíg. 20-20A).
primários. Realce uniforme importante é típico. Procure por uma se
Demografia. Mais de 90% dos pacientes possuem menos gunda lesão na região suprasselar.
de 20 anos no momento do diagnóstico. O pico de apre Achados na RM. Nas imagens ponderadas em TI e T2, os
sentação é entre 10 e 12 anos. A proporção H:M para o germinomas são iso a levemente hiperintensos em rela
germinoma da pineal é de 10:1. Germinomas suprassela- ção ao córtex. Cistos intratumorais de tamanho variável
res não têm predileção por sexo. são comuns, em especial em lesões grandes. Hemorra
Apresentação. A apresentação varia conforme a localiza gia é incomum, exceto nos germinomas dos núcleos da
base. Imagens T2* (GRE, SWI) podem demonstrar arte
ção. Germinomas da pineal em geral se apresentam com
cefaleia e síndrome de Parinaud. A apresentação mais co fato de susceptibilidade magnética devido a calcificações
mum para o germinoma suprasselar é o diabetes insípido intratumorais. O realce é forte e geralmente homogêneo
central. Perda visual e puberdade precoce também são ou (Figs. 20-20B, 20-20C, 20-20D, 20-20E e 20-20F).
tras apresentações possíveis. Pela alta celularidade, os germinomas podem mostrar
restrição à difusão (Figs. 20-20G e 20-20H).
Historia natural. Disseminação no LCS e invasão são co
muns, porém germinomas puros apresentam uma respos Diagnóstico diferencial
ta muito favorável à radioterapia. A sobrevida em 5 anos Os principais diagnósticos diferenciais do germinoma de
para pacientes com germinomas puros tratados é > 90%. pineal são um tumor de células germinativas misto ou
Germinomas que contêm células gigantes sinciciotro- um tumor de células germinativas não germinomato-
foblásticas possuem maior recorrência e menor sobrevida so. Alguns pineoblastomas podem apresentar-se seme
a longo prazo. lhantes ao germinoma, mas "empurram" e não "englo
Opções de tratamento. Documentação histológica seguida bam" as calcificações pineais. Tumor do parênquima
por radioterapia é o tratamento-padrão. Quimioterapia pineal de diferenciação intermediária em geral ocorre
adjuvante é reservada apenas para tumores disseminados. em pacientes adultos de meia-idade ou mais velhos.
O principal diagnóstico diferencial do germinoma su
prasselar é a histíocitose de células de Langerhans (HCL).
GERMINOMA: CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E Ambos são comuns em crianças, freqüentemente causando
PATOLÓGICAS diabetes insípido, e podem ser indistinguíveis apenas por
estudos de imagem. Entretanto, HCL não produz oncopro-
Patologia
• Envolve estruturas da linha média (80-90%) teínas. Neurossarcoidose em um adulto pode apresentar-se
• Pineal > > suprasselar > núcleos da base como massa suprasselar que lembra o gemiinoma.
• Múltiplos (20%, geralmente pineal + suprasselar)
• Células do germinoma + numerosos linfócitos
GERMINOMA: IMAGEM
Aspectos clínicos
• 1-2% de todas neoplasias (mais comum na Ásia) TC
• TCG intracraniano mais comum • TC: hlperdenso, "engloba" as calcificações da pineal
• > 90% dos pacientes abaixo de 20 anos • TC pós-contraste: realce forte, uniforme.
• Germinoma da pineal, H:M = 3-10:1; suprasselar, H = M.
R M
• Podem causar diabetes insípido antes de a lesão • TI Iso/hlpo, T2 iso/hiperintenso
infundibular ser vista na imagem • GRE mostra calcificações e hemorragia
• Freqüentemente com restrição à difusão
• Realce intenso, heterogêneo
Imagem • Disseminação liquórica comum (procurar outras
Características gerais. Disseminação no LCS é comum, lesões)
portanto todo neuroeixo deve ser avaliado em pacientes • Imagem de todo neuroeixo antes da cirurgia!
com suspeita de germinoma. A RM é o método de escolha
Diagnósticos diferenciais
para delinear a extensão do comprometimento pelo ger • TCG não germinomatosos
minoma. Alerta: alguns germinomas suprasselares podem • TPGP (pineoblastoma, TPPDI)
apresentar-se com diabetes insípido bem antes das lesões • Hisíiocitose (lesão na haste em criança)
se tornarem visíveis na RM. Nesses casos, estudos de • Neurossarcoidose (lesão na haste em adulto)
imagem seriados devem ser realizados.
Tumores da pineal e de células germinatlvas 5 6 1
Te r a t o m a
Teratoma maduro
Os teratomas maduros são tumores lobulados bem demar 20-22 Caso de necropsia demonstra um teratoma de
cados que contêm elementos maduros bem diferenciados pineal típico com componentes bastante heterogêneos.
(Cortesia de B. Alvord, MO.)
de todas as três camadas embrionárias. Elementos ecto-
dérmicos como pele, cabelo e apêndices dérmicos (p. ex.,
glândulas sebáceas) são comuns (Fig. 20-21). Tecidos
mesodérmicos como cartilagem, osso, gordura e músculo
podem ser características evidentes. Epitélio respiratório
ou entérico com freqüência recobrem cistos intratumorais
(Flg. 20-22).
A atividade mitótica é baixa ou ausente. Um teratoma
maduro é uma lesão grau 1 da OMS.
O tamanho do termatoma maduro varia de lesões
pineais relativamente pequenas a grandes lesões holo-
cranianas, com grandes extensões extracranianas para a
órbita, face, orelhas e cavidade oral. O componente in
tracraniano desses teratomas craniofaciais pode tornar-se
tão grande que há perda da arquitetura normal intracra
niana. Nesses casos, as estruturas normais do cérebro são
irreconhecíveis.
20-23 Imagem ponderada em 11 de um teratoma
A imagem demonstra uma lesão multiloculada com de pineal maduro mostra Intensidade de sinal hetero
plexa contendo gordura, caicificações, cistos e outros teci gênea. Não existe componente francamente lipomalo-
dos (Fig. 20-23). Hemorragia é comum. Realce é variável. so com tempo TI curto.
562 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
(continuação)
Imagem
• Grande lesão holocraniana/extracraniana em um
recém-nascido?
o Mais provavelmente teratoma
o Distorce o crânio/cérebro, separa suturas
o Estruturas intracranianas podem estar
irreconhecíveis
o Pode se estender pela base do crânio para a
cavidade oral
o Intensidade de sinal/densidade mistas
o Cistos e hemorragia são comuns
• Teratoma pineal
o Densidade e intensidade de sinal mistas
o Gordura, calcificações, osso e cistos são comuns
o Com freqüência causa hidrocefalia obstrutiva
20-28A Imagem ponderada em Ti no plano sagital
de um menino de 8 anos com cefaleia mostra uma le
são pineal com intensidade de sinal mista B.
Outras neoplasias de células germinativas
Germinomas são as mais comuns das neoplasias de cé
lulas germinativas. Tumores malignos de células germi
nativas não germinomatosas (TMCGNGs) são neoplasias
raras que contêm células epiteliais não diferenciadas e
estão com freqüência misturados com outros elementos
de células germinativas (mais comumente germinoma).
Incluem os tumores do saco vítelínico (seio endodérmi-
co). carcinoma embrionário, coriocarcinoma e tumor
misto de células germinativas.
Os TMCGNGs ocorrem em adolescentes, com pico
de incidência entre 10 e 15 anos. O prognóstico costuma
ser ruim com sobrevida média menor que dois anos.
Diferenciar as neoplasia de células germinativas in
tracranianas apenas com base em imagens é problemáti
co. Todos TCGs intracranianos - benignos ou malignos
- tendem a "tocar" a linha média. Muitos expressam on-
20-28B Imagem ponderada em T2 após derivação
coproteínas. portanto o perfil imuno-histoquímico é parte ventricular mostra que a lesão B mantém as caracte
essencial do diagnóstico. rísticas de sinal misto.
Carcinoma embrionário
Carcinoma embrionário é outro tumor que contém gran
des células epitelioides anaplásicas organizadas em cor
dões, filas ou agrupamentos.
Os aspectos de imagem são inespecificos. Uma gran
de massa com densidade e intensidade de sinal heterogê
nea, apresentando realce heterogêneo, costuma ser o as
20-28C Imagem ponderada em TI pós-contraste
pecto de imagem encontrado (Fig. 20-28). mostra focos de realce sólido, anelar e áreas sem real
ce. Diagnóstico pré-operatório de teratoma. Patologia
diagnosticou carcinoma embrionário.
564 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
Coriocarcinoma
A maioria dos coriocarcinomas se desenvolve dentro ou
fora do útero após um evento gestacional (coriocarcinoma
"gestacional"). Coriocarcinomas não gestacionais podem
iniciar de células germinativas gonadals ou extragonadais,
com localização na linha média.
O coriocarcinoma do SNC pode ser primário ou me-
tastático, vindo de um sítio extracraniano como o retro-
peritônio ou mediastino. Coriocarcinoma intracraniano
primário (CCIP) é o mais raro e mais maligno de todos os
TCGs intracranianos.
Os CCIPs são tumores dimórficos caracterizados por
diferenciação extraembrionária em linhas citotrofoblásti-
cas e sinciciotrofoblásticas. Eles são compostos por célu
las trofoblásticas mononucleadas misturadas com grandes
20-29A Imagem ponderada em Ti no piano sagilai células multinucleadas sinciciotrofioblásticas. Hemorra
em um menino de 13 anos com sindrome de Parinaud gia, necrose, fibrose e neovascularizaçâo são comuns.
mostra uma lesão pineal hipointensa B. Os CCIPs apresentam-se mais em pacientes entre 3 e
20 anos. Existe uma predominância masculina aproxima
da de 4:1. Puberdade precoce é a apresentação mais co
mum em pacientes do sexo masculino. Níveis séricos de
hCG/beta-hCG muito elevados são sugestivos de CCIP.
Os locais mais comuns do CCIP são as regiões pi
neal e supasselar. A RM é útil para localizar, caracterizar
e realizar avaliação pré-operatória, porém os achados de
imagem são inespecíflcos. Hemorragia intratumoral com
hipointensidades em linha ou confluentes em imagens
ponderadas em T2 são comuns. Realce heterogêneo peri
férico ou nodular é visto na maioria dos casos. Metastases
extraneurais e no LCS são comuns.
of the pineal region: radiologic-pathologic correlation. comprehensive review of fetal tumors with pathologic
correlation. Radiographics. 25(1):215-42, 2005
Radiographics. 30(7):2001-20, 2010
566 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
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21
Tumores embrionários
e neuroblásticos
identificado subtipo dos PNETs do SNC, conhecido como
Meduloblastoma 567
tumor embrionário com neurópilo abundante e rosetas
Visão geral sobre o meduloblastoma 567
Meduloblastoma clássico 569
verdadeiras (TENARV).
Va r i a n t e s do meduloblastoma 572
ocorrendo em lactentes (menores que 4 anos) e em adultos o Todos os tipos histológicos, mas MND, MGC e MAn
são mais comuns
(maiores de 16 anos). Não há predileção por gênero. • Meduloblastomas via Wnt
Os MBs Shh estão com freqüência localizados late
o Menor subgrupo (10%)
ralmente nos hemisférios cerebelares. Embora possam dar o Originam-se do/infiltram-se no tronco encefálico
origem tanto ao MB clássico quanto a suas variantes, eles dorsal e quarto ventrículo
exibem com maior freqüência histologia de grandes cé o Raros em lactentes, mais comuns em crianças e
lulas, anaplásica ou desmoplásica. Os pacientes com MB adultos
Shh têm um prognóstico relativamente ruim. o > 97% CMB
21-1 Figura ilustra o MB clássico como um "pequeno tumor arre 21-2 Espécime de necropsia demonstra um grande meduloblastoma
dondado de células azuis", densamente celular no interior do quarto BI no quarto ventriculo com algum grau de preservação do aspecto
ventriculo SI. Disseminação no LC5 (S com "poiviiho de açúcar" diluso mais superior ventricular (cS. A ponte está comprimida anteriormente
cobrindo as superlícies cerebrais com freqüência está presente no mo 1^. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
mento do diagnóstico iniciai.
21-3A Exame de TC sem contraste mostra um meduloblastoma clás 21-3B TC com contraste mostra forte realce B. Observe o leve alar
sico. Uma massa B predominantemente hiperdensa na linha média, gamento dos cornos temporais EB. Hidrocefalia obstrutiva é um achado
na (ossa posterior, é típica. Cistos intratumorais estão presentes em 40% comum nos meduloblastomas.
dos casos.
i
blastoma clássico. Ponderação
em TI no plano sagital mostra
uma grande massa hipointensa
B, expandindo e preenchendo
a maior parte do quarto ventrí-
culo, mas poupando seu aspecto
mais superior B. A ponte está
comprimida e deslocada ante
riormente. Hldrocefalia obstrutl-
va moderada está presente.
21-46 Ponderação em 11 no
plano axial mostra que a massa
hipointensa na linha média
expande e preenche o quarto
ventrículo.
21-4C Ponderação em T2
no plano sagital mostra que a
massa B é levemente hiperin-
tensa e contém diversos cistos
hiperlntensos B. Observe a
preservação do aspecto superior
do quarto ventrículo B.
21-4D Ponderação em T2 no
plano axial mostra o cisto
a hiperintensidade heterogênea
da massa B e os cornos tem
porais dilatados pela hídrocefalla
obstrutiva.
21-5 Espécime de necropsia de um adulto mostra meduloblastoma 21-6 Aquisição em TI pós-contraste com saturação de gordura em um
desmoplásico como uma massa B de aspecto fibroso, localizada late- adulto com um meduloblastoma desmoplásico mostra massa E3 com
ralmente no hemisfério cerebelar. (Cortesia de R. Hewlett, MO.) forte realce, de localização cerebelar lateral.
21 -TA Ponderação em T2 no plano axial de uma criança de 4 anos 21-7B Aquisição em TI pós-contraste no plano coronal mostra que o
com medulobiasloma desmopiásico mostra múltiplos cistos pequenos e tumor realça de maneira forte, mas heterogênea. O verme é o local pre
periféricos B e áreas de hipoinlensas focais ferenciai dos MNDs em crianças. (Cortesia de S. Biaser, MD.)
hemisférios cerebelares (Fig. 21-5). Os MNDs possuem pados em conjunto como meduloblastoma anaplásico/
um prognóstico melhor que os MBs clássico, anaplásico grandes células (MA). Os MAs são geralmente dos subti-
ou de grandes células. pos moleculares Shh, grupo 3 ou grupo 4. Tanto os MGCs
Os achados de imagem que sugerem um MND in quanto os MAns possuem um prognóstico sombrio.
cluem localização fora da linha média (adultos) (Fig. Células monomórficas com grandes núcleos redon
21-6), múltiplos pequenos cistos periféricos (Fig. 21-7) e dos, nucléolos proeminentes e quantidades variáveis de
áreas focais iso ou hipointensas em T2/FLA1R que apre citoplasma eosinofílico sugerem o diagnóstico de MGC.
sentam realce no T1 pós-contraste. Não há relato de características que distingam o MGC do
MAn (Fig. 21-9).
Meduloblastoma com nodularidade extensa
Os meduloblastomas com nodularidade extensa (MNEs)
VA R I A N T E S D E M E D U L O B L A S TO M A
ocorrem quase exclusivamente em lactentes e a maioria é
meduloblastoma da via Shh. A arquitetura expandida lo Meduloblastoma desmopiásico
bular ("nodular") dos MNEs é a principal característica • Origem de células precursoras neuronals da camada
histológica que os diferencia dos CMBs e dos MNDs. granulosa
• Ativação da via Shh
Os estudos por imagem demonstram marcada nodula
• Neuropllintranodular, densa rede de fibras de reticuiina
ridade. Localização fora da linha média ou paramediana é • Crianças pequenas, segundo pico em adultos jovens
comum. Aquisições de RM em TI pós-contraste mostram • Localização fora da linha média em adultos, verme
massas tumorals multifocais em "cachos de uva" que real em crianças
çam forte e uniformemente (Fig. 21-8). • Melhor prognóstico
21-8A Ponderação em T2 no
piano axial de um laclente com
MNE mostra o padrão extensa
mente nodular, quase giriforme,
desta enorme massa holocere-
belar.
21-8B Aquisição em TI pós-
-contraste no plano coronal mos
tra o realce nodular em cachos - â
de uva do tumor E3. (Cortesia
de B. Jones, MD.)
21-9A Ponderação em T2
no plano axial de uma menina
f à
de 5 anos com marcha Instável
mostra uma massa E3 com
Intensidade de sinal mista, de
localização lateral, com hipoin-
lensldade central sugestiva
de hemorragia.
21-9B TI pós-contraste
mostra que a massa possui
realce forte e heterogêneo.
A histopalología revelou um
meduloblastoma anaplásico de
sjia
grandes células. (Cortesia de S.
Blaser, MD.)
21-10A Ponderação em T2
if
no plano axial de paciente de 2
anos mostra uma massa ESI de
aspecto nodular com intensidade
de sinal mista, no verme, esten
dendo-se lateralmente para am
bos os hemisférios cerebelares.
21-10B Os componentes V ^
nodulares B realçam de for
ma forte, mas heterogênea. À
exceção da localização na linha
média, os aspectos de imagem
sugerem MNE. A histopatologia
demonstrou meduloblastoma
desmoplásico. Este caso ilustra a
dificuldade de predizer a histolo-
V í
gia do MB com base apenas nos
achados de imagem.
Tumores embrionários 575
Em resumo, quando se analisam os exames das va possuem características genéticas diferentes e são mais
riantes de meduíoblastoma, não há achados de imagem agressivos. O prognóstico costuma ser ruim.
que possam distinguir uma variante da outra de forma Os PNETs do SNC possuem três principais grupos
confiável. Mesmo o padrão nodular dos MNEs pode ser reconhecidos: (1) PNET supratentoríal: (2) meduloepi-
encontrado em outros subtipos, que podem simular este telíoma; e (3) ependimoma. Há também uma nova enti
padrão de imagem (Fig. 21-10). dade tumoral - tumor embrionário com neurópilo abun
dante e rosetas verdadeiras - que ainda não é reconhecida
oficialmente pela OMS como um subtipo de PNET. Ele
está incluído aqui em razão de sua aceitação geral pelos
Tumores neuroectodérmicos primitivos neuropatologistas, mas sua relação com o ependimoma é
doSNC controversa.
21-128 Ponderação em T2
do mesmo paciente mostra que
a massa é relativamente bem
definida ES e predominante
mente hiperintensa com focos
heterogeneamente hipointensos
de hemorragia B3.
21-12C A lesão restringe à
difusão E9. PNET supratentorial.
(Cortesia de G. Hedlund, DO.)
576 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
belar no SNC. Os PNETs cerebelares são designados como Diversas alterações genéticas foram identificadas nos
meduloblastomas. O PNET supratentorial possui caracte PNETs do SNC. Algumas das anormalidades citogenéti-
rísticas predominantemente gliais, enquanto o meduloblas- cas mais comuns são ganhos 19q, 2p e Iq. Também exis
toma em geral segue um padrão de diferenciação neuronal. tem diferenças genéticas no raro PNET do SNC de inicio
adulto. Os PNETs adultos demonstram uma alta incidên
Terminologia cia de mutações TP53.
o PNET supratentorial é um tumor embrionário compos Amplificações de genes c-myc e n-niyc são comuns
to de células neuroepiteliais indiferenciadas ou pouco di em crianças com PNETs, mas raras em adultos. Amplifi-
ferenciadas. Algum grau de diferenciação nas linhagens caçào no cromossomo 19q ocorre em uma subdivisão dos
neuronal, astrocítica, muscular ou melanocítica pode PNETs, incluindo o TENARV.
ocorrer. Se um PNET supratentorial exibe diferenciação
neuronal exclusiva, ele é chamado de neuroblastoma ce Patologia
rebral. Se células imaturas gangliônicas estiverem pre
Localização. Os hemisférios cerebrais são o local mais co
sentes, o tumor é chamado de ganglioneuroblastoma. mum dos PNETs supratentoriais. As regiões suprasselar
c da pineal são localizações menos comuns. Raramente
Etlologla os PNETs originam-se como neoplasias leptomeníngeas
Assim como nos tumores embrionários sólidos de outras
primárias difusas sem uma lesão focai identificável.
localizações, acredita-se que os PNETs do SNC surjam
de células de iniciação tumoral semelhantes às células- Patologia macroscópica. Os PNETs supratentoriais variam
-tronco. Poucos casos de PNET "secundário" foram re em tamanho, mas a maioria possui mais de 5 centímetros
latados em pacientes com um tumor cerebral irradiado de diâmetro. Alguns são lesões maciças que ocupam a
previamente. maior parte de um hemisfério cerebral. Apesar do tama-
21-13C Ponderação em T2
mostra que a massa é heteroge-
neamente hiperintensa. A lesão
parece relativamente bem defi
nida em relação ao parênquima
cerebral de seu entorno e não h;
edema peritumorai.
21-13D Aquisição em TI pós-
■contrasle mostra um padrão
heterogêneo com realce perifé
rico circundando áreas císticas
nho, os PNETs com freqüência apresentam-se relativa e papiloma de plexo coroide), mas correspondem a apenas
mente bem definidos e causam pouco edema para o seu 5% de todas as neoplasias pediátricas do SNC.
tamanho. Nos cortes seccionais, os PNETs sào massas Lactentes com PNET supratentorial apresentam um
rosa-avermeihadas a arroxeadas que freqüentemente con aumento do perímetro cefálico e sinais de elevação da
têm cistos e hemorragia (Fig. 21-11). pressão intracraniana.
o prognóstico é sombrio, com uma taxa de sobrevida
Características microscópicas. Os PNETs do SNC são tu
em 5 anos pior que a do meduloblastoma, sendo especial
mores altamente celulares, compostos por células pou mente ruins em crianças menores que 2 anos. Dissemina
co diferenciadas, com elevada relação entre o núcleo e
ção precoce no LCS ocorre em 25% dos PNETs supraten-
o citoplasma ("pequenas células redondas e azuis"). Os toriais e é um fator prognóstico muito ruim.
PNETs devem expressar pelo menos um marcador imuno-
-histoquímico (p. ex., sinaptofisina) refletindo a diferen Imagem
ciação neuronal. O marcador nuclear INll está presente. Características gerais. Os PNETs do SNC apresentam di
A expressão da GFAP é variável. A atividade mitótica é versas características de imagem em comum. Os tumo
elevada. res crescem rapidamente e são, com freqüência, massas
muito grandes, de aspecto heterogêneo, que causam dis
Estaoiamento, graduação e classificação. Todos os PNETs do
SNC são neoplasias grau IV pela OMS. torção e apagamenlo da arquitetura cerebral subjacente
(Fig. 21-12).
Aspectos clínicos Achados na TC. Todos os PNETs do SNC são lesões com
os PNETs do SNC ocorrem predominantemente em plexas heterogeneamente iso a hiperdensas, com com
crianças abaixo dos 5 anos. Eles são o quarto tumor fe ponentes mistos sólidos e císticos (Fig. 21-13). Necrose
tal cerebral mais comum (atrás do teratoma, astrocitoma e hemorragia intratumoral são comuns. Pelo menos 70%
21 -14A Ponderação em 12
em um recém-nascido com ma-
crocrania, nistagmo, respiração
periódica e abaulamento da
fonlanela mostra uma massa
hemisférica B3 necrótica e
parcialmente hemorrágica com
hemossiderina S circundando
a massa e o cérebro.
21 -14B Esta ponderação em
TI pós-contraste mostra que as
bordas do tumor realçam E3.
Note o realce na pia S e em
torno do epéndima ventricular
B a .
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Tumores embrionários 579
21-16A Ponderação em TI no
plano axial de um menino de 4
anos mostra uma massa parietal
esquerda com margens bem de
finidas, com componentes com
intensidade de sinal mista-hiper,
hipo e isointensa E3.
21-16B Ponderação em T2
confirma a natureza bem defi
nida da massa BeS. Observe a
marcante heterogeneidade da
intensidade de sinal e, ainda, a
completa ausência de edema
peritumoral.
21-16C Aquisição em 11
pós-contraste com saturação
de gordura mostra que a maior
parte da massa não sofre realce,
entretanto, há focos sólidos e
lineares de realce esparsos no
centro do tumor.
21 -160 A lesão restringe à
difusão B. O diagnóstico histo-
lógico foi de ependimoblastoma.
(Cortesia de M, Warmuthe-Metz,
MD.)
D
580 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
Neuroblastoma do SNC
o neuroblastoma craniocerebral pode ser tanto secundário
como primário. A doença secundária é mais comum que
a primária e, portanto, será discutida primeiro. O neuro
blastoma é notório por suas diversas manifestações (um
dos "grandes simuladores") e pode se disfarçar como uma
doença neurológica primária em uma criança com um dis
túrbio neurológico inexplicado.
Neuroblastoma secundário (metastático). O neuroblastoma
(NB) é um tumor neuroendócrino que se origina de ele
mentos da crista neural, em geral no interior da glândula
suprarrenal ou no sistema nervoso simpático. É o câncer
sólido extracraniano mais comum da infância e é o câncer
21-20B Aquisição mais cranial em TI pós-contraste mais comum em lactentes. O NB corresponde a 10-15%
com saturação de gordura mostra o realce da calvária de todas as malignidades da infância, seguindo a leucemia
[§>], associado com dissemiriação tumoral E3 tanto e os tumores cerebrais primários em prevalência.
intra quanto extracraniana.
Aspectos clinicas. As metástases estão presentes
em quase 70% dos pacientes com NB no momento do
diagnóstico. As metástases para o esqueleto são a mani
festação mais comum. Cerca de 25% ocorrem na órbita,
calvária e base do crânio. A manifestação clínica clássica
do NB metastático orbital é uma criança com proptose e
"olhos de guaxinim".
O envolvimento do SNC pelo NB metastático é inco-
mum e em geral ocorre como uma complicação tardia da
doença no estágio IV (risco em 3 anos = 8%). As metás
tases de NB no SNC são detectadas geralmente mais na
recorrência da doença do que no diagnóstico inicial.
Imagem. A TC sem contraste mostra uma ou mais
massas de partes moles hiperdensas na órbita, crânio, es-
calpo e/ou componentes extradurals. A TC óssea mostra
finas espículas do tipo "cabelo em pé" de osso periosteal
21-20C Aquisição em TI pós-conlrasle com saturação que se projetam a partir do crânio ou das asas maiores
de gordura no plano coronal mostra a extensão das me- do esfenoide (Fig. 21-18). Múltiplas lesões bilaterais en
tástases Be a marcante periostite neoplásica com pa
volvendo as tábuas ósseas interna e externa do crânio são
drão de "cabelo em pé" [S. {Cortesia de C. Y. Ho, MD.)
Tumores embrionários 583
Estesloneuroblastoma
Terminologia. O estesloneuroblastoma (ENB) é um tumor
neuroectodérmico raro que se origina na cavidade nasal
superior (Fig. 21-21). Ele também é conhecido como neu
roblastoma olfatório.
com graus que variam de 1 a 4 com base no pleomorfismo na anterior e a porção inferior na cavidade nasal, com o
nuclear, mitoses, necrose, etc. A classificação de Kadishé aspecto mais estreito na lâmina crivosa - é visto em gran
utilizada para o estadiamento compreende três estágios: des massas (Fig. 21-22).
estágio A, tumores localizados na cavidade nasal; estágio Achados na TC. A TC óssea mostra remodelamento
B, cavidade nasal e seios paranasals; e estágio C, extensão ósseo misto à destruição óssea, especialmente na lâmina
além das cavidades nasosinusais, incluindo envolvimento crivosa. Calcificaçôes intratumorais salpicadas são inco-
intracraniano. muns. Na TC com contraste, uma massa com realce ho
át '
mas muito heterogêneo.
21-23D O mapa de AOC mos
tra importante restrição ES difu
sa devido à alta celuiaridade do
tumor. A especlroscopia de pró-
tons (não mostrada) demonstra
, V
elevação da colina e do lactato. O
diagnóstico histológico foi de AT/
RT. (Cortesia de B. Jones, MD.) •
*
Tumores embrionários 585
minantemente sólidos e demonstram ávida captação do costuma ser hiperdenso na TC sem contraste e raramente
meio de contraste. apresenta extensão direta cranial para a base do crânio e a
PET/TC. A PET/TC com 18F-FDG é útil com os exa fossa anterior.
mes de imagem convencionais no estadiamento inicial ou
reestadiamento subsequente do ENB. Pode revelar doença
metastática linfonodal e a distância, bem como recorrên
cia local obscurecida nos exames padrão por modifica Tumores rabdoides malignos
ções relacionadas ao tratamento. A PET/TC modifica o Os tumores rabdoides malignos (TRMs) são tumores
estadiamento previamente determinado da doença e altera
agressivos que foram inicialmente descritos nos rins e em
o manejo do paciente em cerca de 40% dos casos, com tecidos moles de lactentes e crianças pequenas. Os tumo
mais de um terço dos tumores reclassificados para um res rabdoides cranianos foram depois reconhecidos como
grau superior. uma entidade patológica distinta e denominados tumor
Diagnóstico diferencial. Os principais diagnósticos diferen teratoide rabdoide atípico (AT/RT). Os AT/RTs podem
ciais do ENB com extensão intracraniana são carcinoma ser separados dos PNETs e dos TRMs por característi
de células escamosas (CCE) e adenocarcinoma sino- cas imuno-histoquímicas. histopatológicas e moleculares
nasal. O CCE sinonasal é mais comum no antro maxilar distintas.
21-24C Ponderação em T2
mostra que a porção sólida B é
muito hipointensa, enquanto os
múltiplos cistos de tamanhos va
riados são hiperintensos Ob
serve os níveis líquido-hemáticos
BI em alguns dos cistos.
21-240 Ponderação em Ti
pós-conlraste mostra realce
heterogêneo leve a moderado. A
espectroscopia de prótons (não
mostrada) demonstra colina
marcadamente elevada. O diag
nóstico histológico foi de AT/RT.
(Cortesia de G. Hediund, DO.)
586 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
supressor tumoral foi identificada. DeleçÕes no gene A disseminação no LCS é comum, portanto todo o
INIl/hSNF5/BAF47 ocorrem em quase todos os casos e neuroeixo deve passar por um estudo por imagem antes da
são consideradas diagnosticas de AT/RT, diferenciando intervenção cirúrgica.
este tumor do PNET e de outras neoplasias do SNC com
Achados na TC. O exame de TC sem contraste mostra uma
características rabdoides.
massa leve a moderadamente hiperdensa, com cistos e
focos hemorrágicos (Fig. 21-23). Calciflcações e hidro-
Patologia
cefalia obstrutiva - especialmente com AT/RT na fossa
Localização. Os AT/RTs ocorrem tanto no compartimento
posterior - são comuns. O realce costuma ser forte, mas
supra como no infratentorial. Aproximadamente metade
dos AT/RTs é supratentorial, em geral ocorrendo nos he heterogêneo.
misférios cerebrais. Os AT/RTs de fossa posterior ocorrem Achados na RM. Os AT/RTs são heterogeneamente hipo
mais nos hemisférios cerebelares. a isointensos ao parênquima cerebral nas poderações em
TI, e iso a hiperintensos nas ponderações em T2 (Fig. 21-
Patologia macroscópica. O aspecto macroscópico - uma
24). Focos com artefatos de susceptibilidade magnética
grande massa macia, camosa, hemorrágica e necrótica - é no T2* (ORE, SWI) são comuns. Restrição leve a mode
similar ao de outros PNETs do SNC.
rada está presente à difusão. A espectroscopia de prótons
Características microscópicas. Os AT/RTs são compostos mostra elevação da colina e NAA reduzido ou ausente.
de elementos pouco diferenciados neurais, epiteliais e O realce nas aquisições em TI pós-contraste é forte,
mesenquimais juntamente com células rabdoides proemi mas heterogêneo. A disseminação leptomeníngea está pre
nentes. sente em 15-20% dos casos no momento do diagnóstico
inicial.
Aspectos clínicos
Epidemiologia. os AT/RTs correspondem a 1-2% de todos Diagnóstico diferencial
os tumores cerebrais pediátricos. A maioria ocorre em o diagnóstico diferencial do AT/RT varia com a locali
crianças abaixo dos 5 anos. O pico de incidência está en zação.
tre o nascimento e os 2 anos, período no qual o AT/RT se Os principais diagnósticos diferenciais do AT/RT su
aproxima do PNET e do meduloblastoma. O AT/RT pode pratentorial incluem PNET do SNC. ependímoma su
ocorrer em adultos, mas é raro. Há uma moderada predo pratentorial, teratoma e astrocitoma maligno. Todos
minância masculina. podem ser tumores volumosos e maciços com aspectos
A síndrome de predisposição para o tumor rabdoi- de imagem muito heterogêneos, sendo que o diagnóstico
de (SPTR) é uma síndrome cancerígena familiar caracte diferencial requer a biópsia e coloração INI 1.
rizada por um notável aumento do risco de desenvolver O principal diagnóstico diferencial para AT/RT da
TRMs - incluindo AT/RT - causada pela perda ou ina- fossa posterior é o meduloblastoma. Embora esses tumo
tivação do gene INIl. A análise genealógica sustenta um res possam parecer praticamente idênticos, o meduloblas
padrão de herança autossômica dominante com penetrân- toma em geral ocorre na linha média, ao passo que os AT/
cia variável. RTs com freqüência se situam fora desta linha, próximo
Os pacientes com SPTR podem desenvolver um AT/ ao ângulo cerebelopontino.
RT c o m u m T R M s i n c r ô n i c o r e n a l o u e x t r a r r e n a l . C r i a n
ças com SPTR e AT/RT apresentam uma doença mais ex
tensa e com progressão mais rápida. Outros tumores do TUMOR TERATOlOE RABOOIDE ATÍPICO
SNC associados com SPTR incluem carcinoma de plexo
coroide e meningiomarabdoide. Etiologia
• Perda do gene supressor tumoral lNn/hSNF5/BAF47
História natural. O AT/RT é um tumor altamente maligno, no cromossomo 22.
• Nobusawa S et al: Analysis of chromosome 19ql3.42 • Harris TJ et al: Case 168: rhabdoid predisposition
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22
Tumores das meninges
Dura-máter
As meninges cranianas são responsáveis por um grande A dura-máter - também chamada de paquimeninge - é
espectro de neoplasias que em geral se manifestam como uma lâmina de tecido fibroso que reveste a calvária e a
massas extra-axiais (fora do parênquiina cerebral, mas medula. Como está implícito no nome (latim para "mãe
dentro do crânio). Os tumores das meninges cranianas dura"), a dura-máter é um envoltório espesso que provê
são divididos em quatro subgrupos patológicos básicos: importante proteção contra lesões e infecções. Também
(1) neoplasias meningoteliais (meningiomas); (2) tumores é a estrutura mais importante para a circulação no liquido
mesenquimais não meningoteliais; (3) lesões melanocíti cerebrospinal (LCS).
cas primárias; e (4) na terminologia da Organização Mun Os neurocirurgiões tradicionalmente veem a dura-má
dial da Saúde (OMS), "outras neoplasias relacionadas ter craniana com uma estrutura bilaminar simples com uma
com as meninges". camada externa ("periosteal") e outra interna ("me
O meningioma é a neoplasia intracraniana mais co ningea"). A camada externa é fixada na calota craniana,
mum. Meningiomas (benigno, atípico e anaplásico) são de especialmente nas suturas. A camada interna (meningea)
longe o maior grupo de neoplasias meningoteliais. Embora dobra-se para formar a foice do cérebro, o tentório do cere-
os meningiomas estejam fisicamente afixados à dura-má- belo e o diafragma da sela. As duas camadas se separam e
ter, eles, na realidade, têm origem nas células da aracnoide. contêm os seios venosos da dura-máter (ver Cap. 9).
Tanto tumores mesenquimais benignos quanto malig Os anatomistas identificaram três diferentes camadas
nos podem se originar no sistema nervoso central (SNC). da dura-máter na microscopia. A camada da margem ex
Esses tumores mesenquimais não meningoteliais raros terna durai, que tem apenas 2 micrômetros de espessura,
correspondem histologicamente aos tumores de tecidos é a camada mais fina, formada por fibroblastos, colágeno
moles ou ósseos encontrados em qualquer local do corpo. e fibras elásticas. A camada média, chamada de dura-
O hemangioma e o hemangiopericitoma estão incluídos -máter fibrosa, é bem vascularizada. A espessura varia
neste subgrupo. de acordo com a localização e a idade do paciente (mais
590 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
22-1 Visão aproximada da dura-máler Bi aberta para mostrar o seio 22-2 Ilustração demonstra a pia-máter a aracnoide E2 e a gra-
sagital superior com numerosas granulações da aracnoide protruíndo nulação da aracnoide se projetando para o seio venoso B. LCS do espa
para o interior do seio B. Observe o pequeno lago venoso parassagital ço subaracnoide é recoberto por um "capuz" de células da aracnoide.
com uma granulação aracnoide ES. (Cortesia de E. Ross, MO.)
proeminente em crianças que adultos). A camada mais in coladas, formando um espaço (espaço subdural ou inter-
terna é chamada de camada de células da borda durai. dural) entre essas duas camadas de meninges.
Essa camada mais interna tem 8 micrômetros de espessura Projeções vilosas especializadas da aracnoide pro-
e é composta por células que se aderem às trabéculas da truem para o interior dos seios venosos (Fig. 22-1) e são
aracnoide. chamadas de granulações da aracnoide (GAs). As OAs
Imagens de microscopia eletrônica revelam que a são recobertas por uma camada de células especializadas
dura-máter na realidade é composta por cinco camadas, que permitem a reabsorção do LCS pelo sistema venoso
cada uma com diferentes constituintes e padrões de orga (Fig. 22-2).
nização. A camada mais externa (camada da superfície As maiores OAs encontram-se ao longo do seio sa
óssea) toca a face interna da calota craniana. Os próximos gital superior, porém também estão presentes nos demais
três componentes (camada externa média, camada vas seios venosos. As OAs também são comuns no ossos
cular e camada interna mediana) compõem a camada temporal. Cerca de 10-15% penetram completamente na
média, reconhecida pelos anatomistas como dura-máter dura-máter para fazer contato direto com a superfície cor
fibrosa. Fibras de colágeno altamente organizadas na ca tical interna.
mada mediana estão dispostas em três direções para for
mar as três camadas diferentes. Pia-máter
A camada mais interna, também chamada de camada
A pia-máter é a camada mais interna das meninges cra
aracnóidea, encontra a própria membrana aracnoide. Essa nianas. Ela cobre a superfície do cérebro e adere ao córtex
camada consiste em feixes de colágeno tortuosos que não
com relativa força, seguindo o contorno dos giros cere
são orientados em uma direção comum. brais. A pia-máter invagina ao redor dos vasos penetrantes
para formar os espaços (Virchow-Robin) perivasculares
Aracnoide e granulações da aracnoide (EPVs).
A aracnoide é uma membrana translúcida que é frouxa Estudos recentes demonstram que os EPVs formam
mente conectada à camada durai mais interna e segue to uma rede intraparenquimatosa complicada, distribuída em
dos os contornos durais que se projetam para o interior todo cérebro, conectando as convexidades cerebrais, cis
do crânio. A camada mais externa da aracnoide contém ternas basais e sistema ventricular. Os EPVs têm papel im
células que se entrelaçam com as células da camada mais portante ao prover rotas para drenagem de metabólitos ce
interna da dura-máter, mas que podem ser facilmente des- rebrais e na manutenção da pressão intracraniana normal.
Tumores das meninges 591
meningiomas são supratentoriais e são mais comuns em Os meningiomas podem ser acompanhados de espes-
situação parassagital e na convexidade, respondendo por samento reaciona! não neoplásico da dura-máter adjacente
quase metade de todos meningiomas. (sinal da "cauda durai" na imagem) (Figs. 22-7 e 22-8).
Entre 15 e 20% estão localizados na divisão entre a Os tumores com freqüência invadem seios venosos durais
fossa anterior e média junto ao esfenoide. Outras localiza e podem se estender através da dura-máter para o crânio,
ções comuns incluem a base do crânio na goteira olfatória produzindo hiperostose da calvária.
e regiões selar/parasselar (incluindo o seio cavernoso). Embora pequenos "microcistos" não sejam incomuns
Locais supratentoriais menos comuns incluem os ventrí- nos Mts, alterações císticas macroscópicas são raras. He
culos (geralmente no glomo do plexo coroide) e a região morragia franca é incomum. ocorrendo em apenas 1-2%
pineal (ápice do tentório). dos casos.
Entre 1 e 2% dos meningiomas são extradurais. As lo Raramente um tumor primário extracraniano pode
calizações incluem o nervo óptico (bainha do nervo ópti metastatizar para o interior de um meningioma. Essa
592 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
22-3 Os locais mais comuns de meningioma são a convexidade, a re 22-4 Espécime de necropsla mostra um meningioma globoso clássico
gião parafalcina, seguida pelo osso esfenoide na transição entre a fossa SI como uma massa arredondada, bocelada, com superfície achatada
média e a anterior, a goteira olfatória e a região selar/parasselar. Apro em direção à dura-máter. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
ximadamente 8-10% são infralentoriais. Sitios extracranianos incluem a
bainha do nervo óptico, o nariz e os seios paranasais.
"colisão tumoral" pode ocorrer com metástases de neo A maioria dos Mts é pequena e descoberta inciden-
plasia pulmonar ou mamária para o interior do meningio talmente por imagem ou na necropsia. A prevalência de
ma de histologia típica. lesões subclínicas é de 1-3%.
22-7 Secçâo transversal de um meningioma demonstra base durai, 22-8 Imagem ponderada em TI pós-contraste mostra que o menin
espessamenlo durai reacional E3 (sinal da cauda durai). (Cortesia de R. gioma típico sofre realce forte e praticamente uniforme B. Espes-
Hewlett, MD.) samento durai adjacente B (sinal da cauda durai) é comum e tem
origem reacional, nao neoplásica.
meningiomas são leve a moderadamente hiperdensos se Imagem ponderada em T2. A maioria dos Mts é iso
comparados ao córtex (Fig. 22-9A). Cerca de um quarto é a moderadamente hiperintensa se comparada ao córtex
isodenso. Meningiomas hipodensos são incomuns. Necro (Figs. 22-1 OB, 22-13B e 22-15). Tumores com essas ca
se franca ou hemorragia é rara. racterísticas são associados a uma consistência "macia"
Edema vasogênico peritumoral, visto como hipoden- durante a cirurgia, ao passo que tumores com hipointen
sidade confluente no parênquima cerebral adjacente, está sidade em T2/FLA1R tendem a ser "duros" na cirurgia.
presente em cerca de 60% dos casos. Meningiomas densamente fibróticos e calcificados podem
Aproximadamente 25% dos Mts demonstram calcifl- ser hipointensos.
cações, que podem ser de aspecto focai globular ou difuso A fenda com LCS e vasos é melhor visualizada em
micronodular ("psamomatosas"). imagens ponderadas em T2, como um halo hiperintenso
A TC com filtro ósseo pode identificar hiperostose interposto entre o tumor e o cérebro. Uma quantidade de
que varia de grau leve a muito importante. Esse achado é flow voids representando vasos deslocados é vista com
com freqüência, porém não sempre, associado com inva
freqüência no interior da fenda.
são tumoral (Fig. 22-12). Lise óssea ou destruição óssea Algumas vezes o padrão de "raios de sol", que re
franca pode ocorrer. O envolvimento ósseo ocorre com presenta o suprimento vascular durai do tumor, pode ser
meningiomas benignos e malignos e não é achado prediti- identificado se irradiando do centro em direção à periferia
vo de grau tumoral. da lesão expansiva (Fig. 22-14).
TCpós-contrasle. A maioria dos meningiomas realça FLAIR. A intensidade de sinal do meningioma
forte e uniformemente (Fig. 22-9B). varia de iso a hiperintenso (Figs. 22-lOC e 22-13). O
Achados na RM. FLAIR é muito útil para demonstrar o edema peritu
Características gerais. A maioria dos meningiomas é he- moral, encontrado em aproximadamente metade dos
terogeneamente isointensa ao córtex em todas as seqüên Mts. O edema peritumoral é relacionado com a presen
cias. Entre 10 e 25% dos casos demonstram alterações ça de suprimento sangüíneo piai e expressão de fator
sugestivas de formações císticas ou necrose. Hemorragia de crescimento do endotélio vascular (VEGF), e não ao
franca é incomum. tamanho e grau tumorals. Alguns pequenos meningio
Imagem ponderada em TI. Os meningiomas são, em mas incitam grande edema peritumoral, ao passo que
geral, iso a levemente hipointensos comparados ao córtex outras grandes lesões expansivas exibem praticamente
(Figs. 22-lOA e 22-13A). Hipointensidade predominante nenhum edema.
Tumores das meninges 595
22-9A TC mostra os achados típicos de um meningioma. Uma massa 22-9B TC pós-contraste mostra que o tumor El solte íorte realce.
leve a moderadamente hiperdensa Be2 associada com edema peritumo
ral hipodenso
Quantidades de LCS encarceradas na fenda entre o Espectivscopia por RM. A alanina (Ala. pico em 1.48
tumor e o cérebro ("cistos peritumorais") podem ser mais ppm) encontra-se elevada no meningioma, embora gluia-
proteináceas e nâo ter o sinal suprimido no FLAIR. mato-glutamina (Glx, pico em 2,1-2,6 ppm) e gluiationa
T2* (GRE, SWI). Seqüências T2* são úteis para de (GSH, pico em 2.95 ppm) possam ser potenciais marcado
monstrar calcificação intratumoral (Fig. 22-1OD). Artefa res mais específicos.
to de susceptibilidade magnética secundário à hemorragia
A n g i o g r a fi a
intratumoral é raro.
TI pós-contraste. Quase todos os meningiomas, in Angiotomografia computadorizada, angiorressonáncia
cluindo aqueles densamente calciflcados e intraósseos, magnética artéria! e venosa. A angiotomografia computa
dorizada (ATC) é útil para detectar invasão ou oclusão de
demonstram pelo menos algum realce após a infusão do
seios venosos durais. Embora possa ser útil para demons
contraste. Acima de 95% realçam forte e homogeneamen-
trar o aspecto geral do suprimento vascular do meningio
te (Figs. 22-lOE, 22-lOF e 22-Í3D).
Uma cauda durai é vista na maioria dos meningiomas ma, angiografia com subtração digital (ASD) é o melhor
método para delinear a vascularização do tumor antes da
e varia de uma área relativamente focai adjacente ao tu
mor (Fig. 22-8) até um extenso espessamento durai com embolização ou cirurgia. Invasão tumoral dos maiores
seios venosos durais é bem demonstrada na angiorresso
realce que se estende além do sitio tumoral. A "cauda"
náncia magnética (ARM) venosa.
durai com freqüência realça mais intensa e uniformemen
ASD. O aspecto clássico angiográfico de um menin
te que o próprio tumor. O sinal da "cauda durai" nâo é
gioma é de um agrupamento de vasos radial estendendo-
patognomônico de meningioma.
-se da base do tumor em direção à periferia. Vasos durais
A maior parte da "cauda durai" representa espessa
mento durai reacional benigno. A extensão tumoral além chegam ao centro da lesão e se irradiam perifericamente
de 1 centímetro da base durai é rara.
do pedículo vascular do tumor (Fig. 22-16A). Vasos piais
de ramos da artéria carótida interna podem ser "parasita
Cistos intratumorais sem realce são vistos em 5% dos
casos. Os cistos peritumorais não neoplásicos não real
dos" e fornecer suprimento sangüíneo para a periferia da
lesão (Fig. 22-16C).
çam. A presença de um cisto periférico que sofre realce
Um blu.sh vascular prolongado que persiste na fase
sugere a presença de tumor na parede do cisto. venosa também é um achado típico. Em alguns casos, fis
Difusão. A maioria dos meningiomas não apresenta
tulas arteriovenosas com veias apresentando "drenagem
restrição à difusão da água.
precoce" podem ser vistas (Fig. 22-16B). Exame cuidado
Perfusãopor RM. A perfusào por RM pode ser útil para
so da fase venosa deve ser realizado para detectar invasão
distinguir o Mt de meningiomas atípicos/malignos. Alto
ou oclusão dos seios venosos durais.
volume sangüíneo cerebral (CBV) relativo na lesão ou no
edema periférico sugere um grau tumoral mais agressivo.
596 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
22-13C O meningioma é
hiperintenso no FIAIR B e não
é acompanhado de edema no
córtex adjacente.
22-130 imagem ponderada
em TI pós-contraste mostra que
o pequeno meningioma ES so
fre realce intenso e uniforme. A
lesão foi seguida por 2 anos sem
alteração na imagem.
598 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
MENINGIOMA: IMAGEM
Geral
• Arredondado ou achatado ("em placa"), base durai
• Massa extra-axial com fenda entre tumor e cérebro
TC
• Hiperdenso (70-75%)
• Calcificado (20-25%)
• Cistos (peri ou intratumoral) (10-15%)
• Hemorragia é rara
• > 90% sofre realce
R M
• Habitualmente isoíntenso à substância cinzenta
• Fenda com LCS e vasos
• ± flow voids vasculares
• Freqüentemente realce heterogêneo intenso (> 98%)
• Cauda durai (60%)
Angíografía
• Vascularização em "raios de sol"
• Artérias durais do centro para a periferia, artérias
piais da periferia para o centro
• ''Blush" prolongado, densamente vascular.
Diagnóstico diferencial
o principal diagnóstico diferencial do meningioma típico
é o meningioma atípico ou meningioma maligno. Em
bora não existam características de imagem típicas que
22-15A Imagem ponderada em T2 mostra um me possam distinguir o Mt dessas variantes agressivas, Mts
ningioma da convexidade isoíntenso. Hiperintensidade são estatisticamente muito mais comuns. Os meningiomas
central B está presente onde os vasos durais pene
malignos costumam invadir o cérebro e exibem uma con
tram o tumor (compare com a Fig. 22-14).
figuração de "cogumelo" (ver a seguir).
Metástases durais, geralmente de câncer de mama
ou pulmão, podem ser praticamente indistinguíveis dos
meningiomas nos estudos de imagem.
Outras diagnósticos diferenciais incluem granuloma
(tuberculose, sarcoidose) e paquimeningiíe hípertrófica
idiopática. Granulomas durais solitários são raros. Paqui
meningiíe hipertróflca idiopática é incomum. A maioria dos
casos é encontrada na base do crânio ou adjacente a ela, em
particular na órbita, no seio cavemoso e na fossa posterior
(clivo/ângulo pontocerebelar), podendo invadir osso e se
comportar praticamente igual ao meningioma "em placa".
Entidades raras que podem mimetizar o meningioma
incluem o hemangioma e o tumor fibroso solitário. Um
hemangioma da dura-máter ou de um seio venoso é
uma neoplasia angiogênica verdadeira que pode lembrar
um meningioma. A maioria dos hemangiomas é muito hi-
22-1 SB Imagem ponderada em TI pós-contraste
mostra que a massa sofre realce intenso. Observe os perintensa em imagens ponderadas em T2, ao passo que
flow voids no centro vascular da lesão SI. os meningiomas são iso ou levemente hiperintensos. Ima-
Tumores das meninges 599
Comum
22-16A ASD em AP da ACE mostra artéria meníngea
• Metastases durais
média aumentada de calibre SI com vasos em padrão
Menos comum de "raios de sol" nutrindo o meningioma.
• Granuloma
Meningioma atípico
Terminologia
A histopatologia do meningioma atípico foi definida neste
capítulo (ver anteriormente).
Etiologia
Existe uma correlação significativa entre o número de
mutações inativadoras NF2 e o grau tumoral. Aproxima
damente 60% dos meningiomas atípicos demonstram ga 22-168 Fase tardia da OSA da ACE mostra blush vas
Patologia
Localização. A maior parte dos meningiomas atípicos e ma
lignos origina-se na calvária. A base do crânio é uma lo
calização relativamente incomum para essas lesões mais
agressivas.
Patologia macroscópica. Embora os meningiomas atípicos
com freqüência invadam o cérebro adjacente, a invasão
cerebral é insuficiente para estabelecer o diagnóstico de
meningioma atípico. Cordões irregulares de células tu
morals mais atípicas infiltram o parênquima cerebral sem
uma camada interposta de leptomeninges.
Características microscópicas. Um meningioma atípico exibe
atividade mitótica aumentada (> 4 mitoses por 10 campos de
grande aumento) ou três ou mais das seguintes característi
cas histológicas: celularidade aumentada, pequenas células
22-16C ASO da AC! demonstra efeito expansivo
com relação núcleo:citoplasma aumentada, nucléolos proe
sobre a ACA que se encontra deslocada SI. Presença
minentes, crescimento sem padrão ou em camadas e focos de pequeno fluxo arterial para a periferia do tumor 1^
de necrose. Um índice MIB-1 > 4 é típico. vindo dos ramos piais da ACM.
600 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
Alguns subtipos de meningiomas são classificados com base em estudos de imagem. Entretanto, uma vez
como grau II da OMS porque apresentam grande probabi que a invasão cerebral é uma característica freqüente
lidade de recorrência e/ou comportamento mais agressivo. (mas não invariável) dos meningiomas atípicos, a "fen-
Esses incluem os subtipos de células claras e cordoide. da" de LCS e vasos vista nos Mts com freqüência está
ausente.
Aspectos clínicos
Achados na TC. Os meningiomas atípicos são geralmente
Epidemiologia. Os meningiomas atípicos representam 4-8%
dos meningiomas. hiperdensos, com margens irregulares. Ausência de calci-
ficações ou pequenas calcificações podem ser vistas, e in
Demografia. Os meningiomas atípicos tendem a ocorrer em
vasão óssea franca com osteólise é comum. O tumor pode
pacientes mais jovens que os pacientes com Mts. Meningio
mas pediátricos tendem a ser mais agressivos. Em contra atingir o escalpo através do crânio.
partida aos Mts, os meningiomas atípicos apresentam leve Achados de RM. As margens do tumor geralmente não são
predominância no sexo masculino. evidentes em relação ao córtex adjacente. Uma fenda de
História natural. Meningiomas atípicos são associados com LCS e vasos está ausente ou é parcialmente evidente.
alta taxa de recorrência (25-30%) e curto período livre de Edema peritumoral é comum, mas é um achado pouco
doença em relação aos Mts. A tendência dos meningiomas específico. O realce após infusão de contraste é forte e
intrínsecos da base do crânio de recorrer depende mais das levemente heterogêneo.
limitações cirúrgicas do que de fatores biológicos. O coeficiente de difusão aparente (ADC) é baixo nos
meningiomas atípicos e malignos comparado aos Mts.
Imagem Perfusão por RM pode mostrar CBV relativo elevado, em
Características gerais. Uma regra geral é de que é difícil especial no edema peritumoral (Fig. 22-17). Espectrosco-
- se não impossível - predizer o grau do meningioma pia por RM demonstra elevação da alanina.
de "cogumelo" está presente na maioria - mas não todos - ocorrem no SNC. Tumores puramente fibroses, como a fí-
dos casos de MM (Figs. 22-19 e 22-20). bromatose e o tumor flbroso solitário, são raros, tão raros
quanto tumores flbro-histiocíticos mistos, como histiocito-
Diagnóstico diferencial ma flbroso benigno (também chamado de xantoma fibrose).
o principal diagnóstico diferencial do MM é metástase.
O ineníngioma atípico e os sarcomas podem ser confun Etiologia
didos com o MM. Os TMBs intracranianos originam-se das meninges (dura-
-máter), do plexo coroide e da base do crânio. As menin
ges cranianas contêm células mesenquimatosas pluripo-
tenciais primitivas que podem gerar um amplo espectro
Tumores mesenquimais não de tumores mesenquimais não meningoteliais. A maioria
meningoteliais é supratentorial. e a foice é o local mais comum.
A base do crânio e o divo se desenvolvem por ossi-
As neoplasias mesenquimais não meningoteliais corres
ficaçâo endocondrai. Condromas e encondromas geral
pondem aos tumores de tecidos moles ou ósseos encon mente se originam nas sincondroses cartilaginosas na base
trados em qualquer local do corpo. Podem ser tumores
do crânio (Fig. 22-21). A porção central da base do crâ
de tecido adiposo, flbroso, histiocítico, cartilagionoso ou
vascular, e também podem originar-se de músculos e os nio, em especial a região selar/parasselar, é o local mais
comum dessas neoplasias. Menos comum, os condromas
sos. Essas neoplasias podem ser tanto benignas (grau 1 da
OMS) quanto altamente malignas (grau IV da OMS). podem se iniciar na dura-máter ou na foice do cérebro.
Osteocondromas em geral crescem na base do crânio ou
Os tumores mesenquimais meningoteliais raramente
envolvem o SNC. Quando eles o fazem, costumam ser le próximos a ela.
sões extra-axiais. Essas neoplasias serão discutidas neste Contrastando com a base do crânio, a convexida-
de craniana se desenvolve por ossificaçào membranosa.
capítulo.
Osteomas são tumores benignos que se iniciam no osso
membranoso. Na cabeça, os seios paranasals (Fig. 22-22)
Tumores mesenquimais benignos
e a calvária (Fig. 22-23) são os locais mais comuns.
Terminologia
Os tumores mesenquimais benignos (TMBs) correspondem Patologia
em nome e histologia aos seus correspondentes extracra- o aspecto micro e macroscópico dos TMBs depende do
nianos. Tumores osteocartilaginosos, como condroma, os- tipo celular e é semelhante ao de seus equivalentes extra-
teocondroma e osteoma, são os TMBs mais comuns que cranianos. Por exemplo, condromas são lesões boceladas
22-21A Imagem ponderada em T2 mostra uma massa suprasselar 22-21B Imagem ponderada em TI pós-contraste no plano coronal
bem delineada B com arcos hipoíntensos circundando áreas hiperin- mostra que a massa envolve o seio cavernoso e sofre realce importante e
tensas lobuladas. heterogêneo ES. Pequeno componente suprasselar pode ser visto BI.
Encondroma foi o diagnóstico histológico. (Cortesia de P. Sundgren, MD.)
Tumores das meninges 603
bem demarcadas que em geral possuem uma ampla base niano crônico. Grandes TMBs, em especial aqueles que
e macroscopicamente lembram cartilagem. Os osteomas se originam na base do crânio ou próximo a ela, podem
lembram osso lamelar denso. causar paralisias de nervos cranianos.
Os TMBs são todos grau 1 da OMS.
História natural. A maioria dos TMBs pode ser completa
mente ressecada com prognóstico favorável. Degeneração
Aspectos clínicos
maligna é rara. Osteocondromas múltiplos ("osteocondro-
Epioemiologia. Com exceção dos hemangiomas e lipomas,
matose") têm grande propensão para transformação ma
os tumores mesenquimais não meningoteliais são raros.
ligna. O risco aumenta conforme aumenta o número e o
Juntos, esses TM Bs respondem por menos de I % de todas tamanho das lesões.
as neoplasias intracranianas. De forma geral, o condro-
ma é o tumor osteocartilaginoso benigno mais comum da Opções de tratamento. A menos que seja esteticamente
base do crânio. Osteoma é o tumor ósseo benigno mais deformante, TMBs pequenos como os osteomas em ge
comum da calvária.
ral apresentam pouca ou nenhuma manifestação clínica e
são tratados conservadoramente. O tratamento para lesões
A maioria dos TMBs ocorre como lesões solitárias
não associadas a sindromes genéticas. TMBs múltiplos sintomáticas é a ressecção cirúrgica completa.
ocorrem como parte de sindromes tumorals hereditárias.
Osteomas múltiplos ocorrem como parte da síndrome de Imagem
Gardner (junto com tumores cutâneos e pòlipos colôni- Características gerais. Os achados de imagem variam com
o tipo de tumor. A maioria dos TMBs consiste em massas
cos). Encondromas múltiplos ou "encondromatose" são
de aspecto benigno no escalpo, no crânio ou na dura-má-
parte da doença de Oilier. Encondromas associados com ter que lembram seus equivalentes extracranianos.
hemangiomas de tecidos moles são encontrados na sín
drome de Maffucci. Achados na tc. Condromas são massas sésseis, levemente
Demografia. TMBs ocorrem em qualquer idade. O pico de lobuladas, expansivas, que contêm calcificações curvi-
lineares condrais. Discreto realce na TC com contraste
idade do condroma é entre 20 e 40 anos. Os osteomas são
mais comuns em pacientes de meia-idade. Geralmente pode ser evidenciado.
Osteocondromas são massas ósseas pedunculadas ou
não há predileção por sexo.
sésseis que são contínuas e projetadas de um osso adja
Apresentação. A maioria dos TMBs é assintomática e cente. Osteocondromas podem exibir um capuz de matriz
descoberta ocasionalmente. Outras lesões, como os os cartilaginosa com calcificações espiculadas que realçam
teomas, podem apresentar-se como um abaulamento cra- levemente após infusão de contraste.
22-22 TC com filtro ósseo mostra um osteoma típico no seio frontal 22-23 TC sem contraste mostra uma massa hiperdensa se originando
esquerdo O. do osso occipital direito E3, bem identificada na TC com filtro ósseo B
com aspecto de osso cortical denso. A iesâo é muito fiipointensa na ima
gem ponderada em T2 BI.
604 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
Aspectos clínicos
Demografia. Os hemangiomas representam apenas cerca
22-27 Grande hemangioma de tecidos moles infantil
de 1 % de todos os tumores ósseos. A maioria é encontrada isointenso em TI e hiperintenso em T2 com realce
na coluna; o espaço diploico da calvária é o sitio intra Intenso Observe os numerosos flow voids B.
craniano mais comum. Hemangiomas durais e dos seios
venosos são raros.
Os hemangiomas podem ocorrer em qualquer idade,
embora o pico de apresentação seja entre os 40 e 50 anos.
A relação H:M é de 1:2-4.
Imagem
Achados na TC. Um hemangioma da calvária é visto como
uma lesão expansiva de margens definidas na TC. Algu
mas lesões isoladas ao escalpo podem não envolver os
ossos adjacentes.
A tomografia óssea mostra que a camada interna e a
externa estão afiladas, porém intactas. Uma margem es-
clerótica fína pode circundar a lesão. Hiperdensidadcs
radiadas ou reticiiladas causadas por algumas poucas tra-
béculas espessadas estão presentes dentro do hemangio
ma, formando um aspecto de "favo de mel" ou "grades
de cadeia".
Na TC com contraste, focos de realce intenso mistu
22-29 Grande lesão na base do crânio S] invadindo
o cérebro. Observe componentes de aspecto cartilagi- rados com hipodensidades focais causadas por trabéculas
noso Condrossarcoma. (Arquivos da AFíP.) residuais espessadas são típicos.
Achados na RM. O padrão dominante nas imagens pon
deradas em TI é um misto de hipo e isointensidade, ge
ralmente causados por gordura, e não hemorragia, dentro
da lesão. A maioria dos hemangiomas é hiperintensa em
imagens ponderadas em T2 (Fig. 22-28A).
Imagens pós-contraste mostram realce intenso difuso
(Fig. 22-28B). Imagens dinâmicas mostram enchimento
centrípeto da lesão.
Angiografia. Hemangiomas dos seios venosos e da dura-
-máter lembram bastante os meningiomas, com acúmulo
de contraste lentiflcado e persistente nas fases venosa e
capilar do angiograma.
Diagnóstico diferencial
o diagnóstico diferencial do hemangioma da calvária
22-30 ilustração demonstra condrossarcoma da base inclui "cavidades" causadas por lagos venosos e granu-
do crânio SI centrada na fissura petro-occipital es lações da aracnoide, trepanações, dermoides, granuloma
querda (compare com lado direito normal B9). eosinofllico e metástase. O principal diagnóstico diferen
cial dos hemangionas dos seios venosos e da dura-máter
é o meningioma. Meningiomas não apresentam marcada
hiperintensidade na ponderação T2 vista na maioria dos
hemangiomas.
Terminologia
Tumores mesenquimais malignos (TMMs) compreendem
a maioria dos sarcomas (de vários tipos histológicos) e
outras neoplasias como histiocitoma fibroso maligno
22-31 Imagem ponderada em T2 mostra um con (HFM).
drossarcoma típico da base do crânio como uma lesão
hiperintensa E3 centrada na fissura petro-occipital
erodindo o ápice petroso.
Tumores das meninges 607
Etiologia
A maioria dos investigadores acredita que as células me-
senqiiimais meníngeas píuripotenciais sejam as responsá
veis pela origem dos TMMs. Essas células são capazes
de dar origem a um grande espectro de tipos hislológicos
vistos nas neoplasias meningoteliais.
Radioterapia prévia é uma causa conhecida dos
TMMs, mais comumente fibrossarcomas. O vírus Eps-
tein-Barr pode apresentar papel no desenvolvimento de
tumores de músculo liso, o que às vezes ocorre em pa
cientes imunocomprometidos.
Patologia
Localização. A maioria dos TMMs intracranianos origi
na-se na dura-máter ou na base do crânio (Fig. 22-29).
Alguns originam-se no escalpo ou na calvária. Os con- 22-32A Imagem ponderada em T2 no plano coronal
drossarcomas originam-se na fissura petro-occipital de uma criança com um abauíamento na cabeça mostra
uma lesão invasiva infiltrativa transcraniana transdural
(Fig. 22-30). com intensidade de sinal misto.
Patologia macroscópica. A maioria dos sarcomas intracra
nianos invade o cérebro. Necrose e hemorragia macros
cópica é comum.
Características microscópicas. A maioria dos TMMs é com
Aspectos clínicos
Epidemiología. Os TMMs são raros. Agrupados, respondem
por 0,5-2% das neoplasias intracranianas.
Demografía. TMMs podem ocorrer em qualquer idade.
Alguns (como o rabdomiossarcoma e o sarcoma de
Ewing) são mais comuns em crianças do que em adul
tos. Os condrossarcomas são tumores de adultos jovens, 22-32B A massa sofre realce intenso e bastante
com média de idade na apresentação de 37 anos. Fi heterogêneo nas imagens ponderadas em Ti pós-
brossarcomas são mais comuns em pacientes de meia- -contraste.
22-33 Tumores fibrosos solitários são lesões firmes, bem circunscritas 22-34 Uma massa isointensa em T1 e hípointensa em T2 S que so
que podem ser idênticas aos meningiomas. fre realce importante e uniforme B vista no átrio do ventrículo lateral
esquerdo. Diagnóstico pré-operatório de meningioma intraventricular.
Diagnóstico pós-operatório de tumor fibroso solitário.
os capilares - o HPC, hoje, é considerado um sarcoma drão. Quantidades variáveis de filamentos colágenos e
fibroblástico. reticulina estão presentes. Vasos tumorals podem ser bas
tante proeminentes. Mitoses são raras, com Ki-67 entre
Patologia 1-4%. Anaplasia é incomum. A maioria dos TFSs é lesão
Localização. A maioria dos TFSs apresenta base durai, ge de baixo grau.
ralmente se originando da foice do cérebro e tentório. Le Características histológicas do HPC podem se sobre
sões intraparenquimatosas ocorrem no cérebro e na medu por com as do TFS, e em determinados momentos podem
la espinal. com freqüência sem fixação durai perceptível. não ser observados pontos de corte entre elas. De maneira
Os ventriculos cerebrais são outra localização comum. geral, os HPCs são tumores altamente celulares que con
O local mais comum para os HPCs é a região occipi têm densas massas de células enoveladas, vasos em fenda
tal, onde eles envolvem o seio transverso. colabados e uma rede abundante de fibras de reticulina.
Tamanho e número. TFSs são quase sempre lesões solitárias. Necrose é comum. Atipia nuclear e atividade mitótica
São tumores relativamente grandes, atingindo até 10 cm de variam, sendo que mais de 5 mitoses por 10 campos de
diâmetro. Lesões com mais de 4-5 cm não são incomuns. grande aumento são freqüentes. Expressão do K.i-67 ge
ralmente é maior ou igual a 10%. Podem existir HPCs tí
Patologia macroscópica. TFSs são neoplasias sólidas, lobu-
picos (grau II da OMS) e anaplásicos (grau 111 da OMS).
ladas e relativamente bem demarcadas (Fig. 22-33). HPCs
contêm espaços vasculares abundantes (Fig. 22-36). He Aspectos clínicos
morragia intratumoral é comum, Epioemiologia. HPCs são tumores raros, respondendo por
Características macroscópicas. TFSs demonstram celulari- menos de 1% de todas as neoplasias intracranianas primá
dade variável com uma arquitetura fasciculada sem pa rias e 2-4% de todos tumores meníngeos.
22-35A TC pós-conlraste
mostra uma lesão expansiva
Iranscalvãria que destrói os teci
dos ósseos S] e invade tanto o
cérebro quanto o escalpo. Áreas
sem realce B) provavelmente
representam necrose.
22-35B Imagem ponderada
em T2 mostra que a massa des
loca a dura-máter em direção
interna SI, erode o crânio em
direção aos tecidos moles subga-
leais S). a lesão é heterogéne-
amenle hiperintensa com focos
hipointensos que podem
representar necrose.
Demografia. HPCs meningeos em geral ocorrem em idade giomas. As lesões são isointensas à substância cinzenta
um pouco mais precoce que os meningiomas. A média de (SC) nas imagens ponderadas em TI e apresentam inten
idade no diagnóstico é 43 anos. Existe uma leve predomi sidade de sinal variada nas imagens ponderadas em T2.
nância em homens. Padrão misto hiper e hipointenso é comum. Áreas ricas
em colágeno podem ser muito hipointensas. Realce ávi
História natural. Mesmo com ressecçào completa, recor
do após infusão de contraste endovenoso é característico
rência local é a regra. A maioria dos HPCs meníngeos
acaba metastatizando para ossos extracranianos, pulmão (Fig. 22-34).
A maioria dos HPCs demonstra intensidade de sinal
e cérebro. Não existe diferença significativa na sobrevida
mista em todas as seqüências de pulso. Eles tendem a ser
entre os graus 11 e III.
predominantemente isointensos à substância cinzenta em
Opções de tratamento. Ressecçào cirúrgica com radiotera- TI e apresentarem sinal iso a hiperintenso em T2 (Fig. 22-
pia ou radiocirurgia é o melhor tratamento. 35). Flow voids marcados estão quase sempre presentes.
O realce após infusão de contraste é marcado e hete
Imagem rogêneo. Focos sem realce são comuns.
Achados na TC. HPCs são massas exlra-axiais hiperdensas
Angiografia. HPCs podem invadir e ocluir seios durais,
que invadem e destroem o osso. Lesões fora da calvária
abaixo do escalpo são comuns. Calcificações e hiperosto- portanto, a angiotomografia computadorizada venoso ou a
se reaciona! estão ausentes.
angiorressonância magnética venosa podem ser úteis para
delinear a patência vascular.
Realce forte e heterogêneo é característico.
A ASD mostra os HPCs, como massas hipervascula-
Achados na RM. TFSs intracranianos de baixo grau são res com vascularização proeminente, veias com drenagem
lesões circunscritas de base durai que lembram menin precoce e persistência prolongada do contraste (Figs. 22-
35E e 22-35F). As lesões geralmente recrutam suprimen Massas focais possuem um espectro morfológico que
to sangüíneo de vasos tanto durais quando piais. vai desde um melanocitoma de baixo grau ao melanoma
maligno. Infiltrados melanocíticos leptomeníngeos difu
Diagnóstico diferencial sos ocorrem na melanocitose/melanomatose meníngea
o principal diagnóstico diferencial do TFS de baixo grau (melanose neurocutânea) (Fig. 22-37).
é o meningioma típico (grau I da OMS). O principal diag A maioria das lesões melanocíticas do SNC são me
nóstico diferencial do HPC é um meningioma vascular e tástases de melanomas malignos extracranianos. Tumores
agressivo, em particular o meningioma atípico ou ma melanocíticos primários do SNC são muito raros e pos
ligno. HPCs raramente calcificam ou causam hiperostose. suem uma incidência estimada de 0,9 por 10 milhões.
Metástases durais com invasão craniana podem ser Neoplasias melanocíticas primárias variam desde mela
indistinguíveis dos HPCs. Neoplasias raras que podem nocitoma begnino a tumor melanocítico de diferenciação
lembrar os HPCs incluem o gliossarcoma e o tumor fi- intermediária e melanoma maligno.
broso maligno.
Melanocitoma
Melanocitomas respondem por menos de 0,1% de to
das as neoplasias do SNC. São tumores de baixo grau
Lesões melanocíticas primárias solitários, escuros, pigmentados, que não invadem o cé
Lesões melanocíticas primárias do SNC são neoplasias ra rebro adjacente. Os locais preferidos são a fossa poste
ras da crista neural derivadas de melanócitos leptomenín- rior (base do crânio e ângulo pontocerebelar), cavo de
geos. Elas se apresentam como massas nodulares focais Meckel (acompanhado do nevo de Cia) e medula/raízes
ou infiltrados leptomeníngeos difusos. espinais.
Melanocitose/melanomatose meníngea
22-39 Ilustração demonstra o HB com cisto parietal difusa
junto ao cerebelo. O nódulo vascular tumoral toca Melanocitose e melanomatose leptomeningea difusa são
B a superfície piai.
características da melanose neurocutânea (MNC), uma sín-
drome rara da infância. A maioria dos pacientes apresenta-se
com numerosos nevos melanocíticos congênitos na pele.
Lesões melanocíticas difusas apresentam-se como
agregados confluentes densos, espessos e escuros que pre
enchem os espaços subaracnoides e cobrem a pia-máter.
Focos de hiperintensidade em TI bilaterais na amíg-
dala são um sinal precoce de MNC (Fig. 22-38A). Realce
leptomeníngeo difuso e extensão para o interior do pa-
rênquima cerebral via espaços perivasculares podem ser
evidenciados e indicam transformação maligna com pior
prognóstico (Fig. 22-38B).
Etiologia
A etiologia precisa dos HBs permanece desconhecida.
Mutações do gene VHL (perdas e inativações) estão pre
sentes em 20-50% dos HBs esporádicos.
V
resultado da perda de líquido pelos vasos tumorals e não
liquefaçâo tumoral ou secreção ativa do tumor.
As mitoses nos HBs são raras ou ausentes, assim
como as taxas de proliferação (geralmente MIB-1 < 1). O
HB é uma neoplasia grau I da OMS. Não existe variante 22-42B T1C+FS RM no mesmo paciente demonstra
atípica ou anaplásica conhecida. que o nódulo tumoral B realça Intensamente, ao con
trário da parte do cisto B.
HEMANGIOBLASTOMA:
PATOLOGIA E ASPECTOS CLÍNICOS
Patologia
• Localização
o Fossa posterior (90-95%)
o Cerebelo é o local mais comum
• Patologia macroscópica
o "Cisto + nódulo" (60%), sólido (40%)
Aspectos clínicos
• Epidemiologia
o Incomum (1-2,5% dos tumores cerebrais primários)
o 7% dos tumores de fossa posterior de adultos
• Demografia
o Pico de Idade = 30-65 anos (mais jovens na SvHL)
o Raro abaixo de 15 anos
• História natural
o Crescimento lento 22-43 ASO do HB típico mostra o blush tumoral pro
o Metástases são raras longado característico vindo de ramos aumentados da
PICASICAICASI.
614 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
Á
22-46 Imagem ponderada em TI pós-conlraste no plano coronal 22-47 Imagem ponderada em TI pós-contraste no plano coronal de
demonstra massa suprasselar com realce ES. Hemangioblastoma com monstra lesão expansiva no lobo temporal com cisto ES e nódulo B so
provado por biópsia. (Cortesia de R. Bert, MO.) frendo realce. Hemangioblastoma comprovado. (Cortesia de C. Sulton, MO.)
Achados na TC. A aparência mais comum na tomografla é HBs supratentoriais são raros. A maior parte ocorre ao
de um nódulo bem definido iso a levemente hiperdenso, redor dos nervos e do quiasma óptico (Fig. 22-46). Esses
associado com cisto hipodenso. Caícificações e hemorra HBs podem se apresentar como uma lesão expansiva he-
gia macroscópica estão ausentes. O nódulo sofre realce misférica com o aspecto de "cisto + nódulo" (Fig. 22-47).
importante e uniforme após administração de contraste. Angiografia. o aspecto mais comum é de um tumor in
Achados na RM. Um nódulo isointenso com /7ovv voids tensamente vascular que demonstra um blush prolongado
proeminentes é visto nas imagens ponderadas em TI. Se (Fig. 22-43). Veias de drenagem precoce são comuns. Se
houver um cisto peritumoraK ele é hipointenso ao parên- houver um cisto associado ao tumor, os vasos podem estar
quima nas imagens ponderadas em Ti. mas hiperintenso deslocados e esticados sobre a massa avascular.
comparado ao LCS.
Em comparação ao parênquima cerebral, o nódulo Diagnóstico diferencial
tumoral de um HB é moderadamente hiperintenso nas O diagnóstico diferencial do HB varia conforme a
imagens ponderadas em T2/FLAIR. Cistos intratumorais idade do paciente. Em pacientes de meia-idade e adultos
e fJow voids proeminentes são comuns. O fluido do cisto é mais velhos, a causa mais comum de uma massa intra-
muito hiperintenso, tanto nas imagens ponderadas em T2 -axial parenquimatosa com realce na fossa posterior é
quanto no FLAIR (Fig. 22-42A). uma metástasc, e não o HB.
As vezes um HE sangra. Se houver produtos de san- Uma massa cerebelar com o aspecto "cisto + nódulo"
gramento, pode ser evidenciado artefato de susceptibilida- em uma criança ou adulto jovem é mais provavelmente
de magnética em T2*. um astrocítoma pilocítico e não um HB ou metástase.
Realce intenso do nódulo - mas não do cisto - é o Eventualmente uma malformação cavernomatosa pode
achado característico (Fig. 22-42B). O realce da parede mimetizar um HB com hemorragia.
do cisto deve levantar a possibilidade de envolvimento tu Se houver mais de um HB presente, o paciente por
moral, visto que o cérebro comprimido e não neoplásico definição tem SvHL. História familiar positiva ou presen
não sofre realce. ça de outros marcadores da SvHL (como cistos viscerais,
HBs não císticos sofrem importante realce, freqüente angiomas de retina e carcinoma de células renais) devem
mente heterogêneo (Fig. 22-44). HBs múltiplos são vistos ser avaliados do ponto de vista genético.
na SvHL e variam de diminutas lesões puntiformes até
grandes tumores sólidos (Fig. 22-45).
616 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
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23
Tumores dos nervos cranianos
e das bainhas nervosas
Schwannomas 632
Visão geral dos schwannomas 632
Schwannoma vestibular 635
Anatomia dos nervos cranianos
Schwannoma trigeminal 637 Nesta seção será discutida a anatomia dos nervos crania
Schwannoma do forame jugular 638
nos (NC), iniciando com a discussão dos nervos cranianos
Schwannoma do nervo facial 639
Schwannomas de outros nervos intracranianos 639
altos (NCs I-VI). Após serão discutidos os nervos cra
Schwannomas do parênquima cerebral 643 nianos baixos (NCs VII-XII). A função, a anatomia e os
N e u r o fi b r o m a s 644 aspectos-chave de imagem/clínicos serão delineados para
Neurofibroma solitário 644
cada um dos nervos cranianos.
N e u r o fi b r o m a plexiforme 644 A anatomia intracraniana de cada nervo é discutida
Neoplasias malignas das bainhas nervosas 647 por segmentos, desde a localização intra-axial e saída do
Tumor maligno de bainha nervosa periférica 647 cérebro, passagem pelas cisternas do líquido cerebrospi
Outros tumores de bainha nervosa 648 nal (LCS), entrada e/ou saída da base do crânio e curso
extracraniano. Lembre-se: os nervos cranianos não pa
ram na base do crânio. Quando neuropatias cranianas são
A classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) examinadas, é importante estudar com cuidado cada seg
para tumores do sistema nervoso central (SNC) primários mento do nervo, seguindo-o em todo seu trajeto, desde a
designa uma categoria separada de tumores das bainhas origem até a extremidade "funcional".
nervosas como "tumores dos nervos cranianos e paraespi-
nais". Com exceção do schwannoma vestibular, todos os Nervos cranianos altos
tumores de bainha nervosa intracranianos são raros. Eles
Nervo olfatório (NC I)
podem ocorrer esporadicamente ou como parte de duas
síndromes neurocutâneas associadas ao desenvolvimento Função. O nervo olfatório é o aferente visceral especial en
volvido com o sentido do olfato.
de tumores, a neurofibromatose tipos I e 2.
A maioria das neoplasias de bainhas nervosas é be Anatomia. Fibras não mielinizadas de células receptoras
nigna. Os dois principais tipos encontrados no interior do bipolares no teto da cavidade nasal se unem em fascícu-
crânio ou próximos da base do crânio são o schwannoma los, perfuram a lâmina crivosa do osso etmoide e fazem
e o neurofibroma. Ambos serão discutidos com detalhes
sinapse no bulbo olfatório. O bulbo olfatório passa pos
neste capítulo, junto com a rara neoplasia maligna da bai teriormente para o trígono olfatório. A estria olfatória do
nha de nervos periféricos (TMBNP). trígono passa para o interior do cérebro com o maior tra
Um terceiro tipo, o perineurioma, é basicamente um to, a estria olfatória lateral, terminando no lobo temporal
tumor dos nervos periféricos e tecidos moles, embora ra (Fig. 23-1).
ros casos envolvendo nervos cranianos tenham sido rela Os nervos olfatórios não apresentam uma camada de
tados. O perineurioma será discutido ao final do capitulo. células de Schwann. Células especiais chamadas de "glia
Mais de 99% dos tumores de bainha nervosa intracra embainhante olfatória" (GEO) localizam-se na mucosa
nianos são associados ao nervo craniano. Devido aos as e no bulbo olfatórios e circundam os axônios dos nervos
pectos de imagem característicos desses tumores se rela olfatórios. A GEO lembra células de Schwann na micros-
cionarem com a localização do nervo que acometem, este copia óptica, porém corantes imuno-histoquimicos dife-
620 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
K
ção ao seio cavemoso, passando entre as artérias cerebral
posterior e cerebelar superior.
O segmento intracavcrnoso se localiza na parede su
perolateral do seio cavemoso, circundado por uma bainha
fina de LCS (a cisterna oculomotora) (Figs. 23-7, 23-8
e 23-9). O nervo oculomotor emerge do seio cavemoso
pela fissura orbitária superior (Fíg. 23-4). O segmento ex-
Iracraniano passa pelo ânulo tendinoso e, então, divide-se
em ramos superior e inferior (Fig. 23-10). As fibras paras
simpáticas pré-ganglionares seguem o ramo inferior em
direção ao gânglio ciliar.
CoNCEiTOS-CHAVÉ. As flbras constritoras pupilares do NC III
estão localizadas na periferia do ner\'0, predominante
mente ao longo do aspecto superolateral. O segmento
cisternal do nervo oculomotor está localizado próximo 23-5 A TC óssea demonstra o forame jugular com a
à artéria comunicante posterior (AComP). Aneurismas pars nervosa B9 e a pars vascularis O canal caro-
da AComP com freqüência comprimem o terceiro nervo, tídeo petroso EB também é visualizado.
causando paralisia do terceiro nervo com envolvimen
to pupilar. A paralisia do terceiro nervo sem envolvi
mento pupilar geralmente é causada por infarto micro
vascular do núcleo do nervo com preservação relativa
das fibras periféricas.
temporal.
O ramo mais distai do nervo facial intratemporal
é o corda do timpano, que é comprometido primeira
mente. Como resultado, há perda do paladar na porção
anterior da língua. Na medida em que o tumor cresce
mais cranialmente, o próximo ramo afetado é o nervo
estapedial, resultando em hiperacusia. Quando o tumor
chega ao gânglio geniculado, o nervo petroso maior su
perficial será comprometido, resultando em alterações
lacrimals.
CONCEITOS-CHAVE. Pelo menos 90 a 95% de todas lesões que 23-22 Imagem ponderada em T2 no plano axial
causam hipoacusia neurossensorial (HNS) - e são detecta demonstra o NC VIIo nervo vestibulococlear (NC
das em imagem - são schwannomas vestibulares. Disfun- VIII) o nervo vestibular superior E3. Flóculo do
cerebelo S.
ção do nervo vestibular isolada (tontura, vertigem e alte
rações do equilíbrio) normalmente não apresenta achados
na RM. Hipoacusia condutiva (intracoclear) é mais bem
avaliada por tomografía de alta resolução do osso tempo
ral com filtro ósseo.
Nervo acessório espinal (NC XI) 23-28 NCs IX S], X [S, XI Ba. Fibras bulbares do
NC XI B cruzam em direção ao NC X e se juntam com
Função. O nervo acessório espinal é puramente motor e
as raízes espinais do núcleo acessório do NC XI ES no
inerva os músculos estemocleidomastóideo e trapézio. forame jugular.
Anatomia. O NC XI apresenta dois segmentos íntra-axiaís
que se originam de dois grupos de núcleos diferentes, um
no bulbo e outro na medula cervical proximal. As fibras
bulbares originam-se no núcleo ambíguo (Fig. 23-28). As
fibras espinais têm origem no núcleo espinal, uma coluna
de células ao longo do como anterior da medula que se
estende deCl-C5 (Fig. 23-29).
No início, os dois segmentos cisternais do NC XI
seguem dois cursos distintos. As fibras bulbares emergem
do bulbo no sulco pós-olivar (Fig. 22-30) e direcionam-
-se anterolateralmente pelas cisternas da base junto aos
os NCs IX e X. As fibras espinais emergem do aspecto
lateral da medula espinal e direcionam-se superiormente
(Fig. 23-31). Ambos feixes de fibras unem-se nas cister
nas da base. O segmento da base do crânio do NC XI
passa pela porção posterior (pars vascularis) do forame
jugular, juntamente com nervo vago e o bulbo da jugular 23-29 0 núcleo espinal do NC XI SI envia radículas
(Fig. 23-34). para formar a raiz espinal do nervo acessório ÍS.
O segmento extracraniano inicia assim que o nervo
glossofaríngeo emerge do forame jugular para o interior
do espaço carotídeo.
CONCElTOS-CHAVE. O NC XI com freqüência é lesionado du
rante esvaziamento cervical radical. Procure por atrofia
do músculo trapézio e hipertrofia compensatória do mús
culo elevador da escápula ipsilateral.
(continuação)
• Saída do crânio
o Forame jugular {pars nervoso)
• Conceitos-chave
o Neuropatia isolada do NC IX é rara
o Geralmente ocorre com neuropatia do X e XI
o Olhar na cisterna bulbar e lesão na base do crânio
23-31 NC XII B emerge do bulbo no sulco pré- o Forame jugular (pars vasculoris)
■olivaí. 0 NC IX está na pars nervosa do FJ E^. Os NCs • Conceitos-chave
X S e XI ES estão na pars vascularis. o Neuropatia proximal: imagem do bulbo ao hioide
o Neuropatia distai: imagem até a artéria subclávia
(direita) e janela aortopulmonar (esquerda)
Nervo acessório espinal (NC Xi)
• Função
o Motor para os mijsculos esternocleidomastóideo e
trapézio
• Saída/entrada do crânio
o O componente espinal entra pelo forame magno e
se une com a porção bulbar
o Ambos saem pelo forame jugular {pars vascularis)
Conceitos-chave
o Pode ser lesionado durante esvaziamento cervical
radical
o Olhar para atrofia do músculo trapézio ipsilateral
23-34 Nervo olfatório (I), quiasma óptico (II), nervo oculomotot (ill), nervo troclear (IV) cursando anteriormente na cisterna ambiens, nervo trigé-
meo (V) com seus ramos oftálmico (V,), maxilar (Vj) e mandibular (V,). Os nervos abducenle (VI) e hipoglosso (XII) nâo são visualizados. Segmentos do
APC dos nervos facial (VII) e vestibulococlear (VIII) são mostrados. Os nervos glossofaríngeo (IX), vago (X) e acessório espinal (XI) seguem em direção
ao forame jugular. (Cortesia de M. Nielsen, MD.)
XII passa por meio do canal do hipoglosso, localizado estão localizados entre a "cabeça" e o "bico" (Figs. 23-27
no osso occipital abaixo do tubérculo jugular e do forame e 23-33).
Lesões do nervo hipoglosso causam atrofia dos mús
jugular.
O segmento extracraniano do nervo hipoglosso des culos da língua ipsilaterais. Procure por infiltração gordu
ce no aspecto posterior do canal carotídeo. Ele emerge rosa e perda volumétrica.
do espaço carotídeo entre a artéria carótida e a veia ju
gular interna, correndo anteroinferiormente em direção NERVO HIPOGLOSSO (NC Xil)
ao osso hioide levando inervaçào motora aos músculos
• Função
da língua.
o Motor para os músculos da língua
CONCEITOS-CHAVE CLÍNICOS E OE IMAGEM. O NC XII é mais fa • Saída do crânio = canal hipoglosso
cilmente identificado nas imagens axiais. O cortex do di o Na base do osso occipital
o Abaixo do tubérculo jugular e forame jugular
vo faz um ângulo reto abrupto e direciona-se em sentido
• Conceitos-chave
anterolateral para formar a parede mediai do curto e de o Procurar por atrofia por denervação ipsilateral da
orientação oblíqua canal do hipoglosso (Fig. 23-32).
língua
No plano coronal, o tubérculo jugular e o côndilo oc o Redução volumétrica, infiltração gordurosa (dos
cipital formam uma imagem que lembra a cabeça, bico músculos da língua)
e corpo de uma águia. O canal do hipoglosso e o nervo
632 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
de Schwann, que são derivadas da crista neural. Por não Aproximadamente, 90% dos schwannomas plexifor-
conterem células de Schwann, os nervos olfatório (NC 1) mes são esporádicos com 5% associados com NF2 e 5%
e óptico {NC II) não desenvolvem schwannomas. Exis com schwannomatose. Diferentemente dos pacientes com
tem raros casos reportados de "schwannomas da goteira neurofibromatose tipo 1 e neurofibromas plexiformes, não
olfatória". que provavelmente se relacionam com tumores existe tendência à degeneração maligna dos schwanno
mas plexiformes.
originados de células embainhantes olfatórias.
As células de Schwann também não são componen
tes normais do parênquima cerebral. O raro schwanno Patologia
ma intraparenquimatoso provavelmente tem origem em Localização. Os schwannomas têm origem na junção entre a
remanescentes de células da crista neural que depois ex glia e as células de Schwann dos NCs 111-XlI. A distância do
pressam de modo errado a diferenciação para células de cérebro para a interface onde a cobertura glial termina e as
Schwann aberrantes. Schwannomas intramedulares (me células de Schwann embainhantes começam varia conforme
dula espinal) são mais comuns que schwannomas no inte cada nervo craniano. Em alguns, como o nervo oculomotor
rior do parênquima cerebral. (NC 111), a junção está bastante próxima ao cérebro. Nes
te caso, os schwannomas originam-se próximos da emer
Genética. O supressor tumoral da neurofibromatose tipo
2 (NF2) Merlin é uma proteína cuja ausência resulta em gência do nervo. Em outros, como no schwannoma vesti-
bulococlear (NC VIII), a junção está a alguma distância da
morfogênese defeituosa e gênese tumoral em vários teci
dos. Estudos genéticos têm associado schwannomas espo emergência ou entrada do nervo no tronco encefálico.
Os nervos sensitivos são muito mais afetados pelos
rádicos c relacionados à NF2 (especialmente os schwan
schwannomas quando comparados aos nervos cranianos
nomas vestibulares [SV]) ao gene supressor tumoral NF2
localizado no cromossomo 22. Cerca de metade dos casos
puramente motores. O nervo vestibulococlear é de longe o
local intracraniano mais comum (95%). O segundo local
de NF2 representam novas mutações, sugerindo que exis
mais comum é o nervo trigêmeo (NC V) (2 a 4%).
ta uma alta taxa de mutação deste gene.
Os schwannomas de outros nervos que não sejam o
Inativação bialélica (o clássico "mecanismo dos dois NC VIII e V são muito raros, respondendo por apenas
eventos") do gene NF2 é detectada em todos casos de I a 2%. Como grupo, os schwannomas do forame jugular
schwannomas vestibulares e em aproximadamente 50 a
70% dos meningiomas. (i.e.. schwannomas com origem nos nervos glossofarín-
geo, vago e acessório espinal) são o terceiro tipo mais co
SÍNDROMES TUMORAis HERDADAS. A síndrome mais comum de mum, seguidos pelos schwannomas faciais (NC VIII) e do
predisposição tumoral que causa múltiplos schwannomas hipoglosso (NC XII). Na ausência de NF2, os schwanno-
Tumores dos nervos cranianos e das bainhas nervosas 633
23-35 Ilustrações no plano axial (esquerda) e sagital (direita) de 23-36 Justaposição dos clássicos padrões "Antoni A" celular SI e
monstra um schwannoma se originando dentro de um nervo unifascicu- "Anion! B" pouco celular do schwannoma convencional. (Corlesia de
lar. O tumor desloca outras fibras nervosas perifericamenle E3. A. Ersen, MD, B. Scheithauer, MD.)
mas dos NCs III, IV e VI são todos muito raros. Schwan dem demonstrar hipercelularidade e pouca atipia nuclear. Fi
nomas intraparenquimatosos existem, mas são raros. guras mitóticas freqüentes e índices proliferativos aumenta
dos podem ser vistos em crianças jovens. Os schwannomas
Tamanho e número. A maioria dos schwannomas intracra
celulares não sofrem transformação maligna.
nianos é pequena, especialmente aqueles que se originam
O schwannoma plexiforme pode ser tanto do tipo
de nervos motores. Alguns, os schwannomas trigeminais,
convencional quanto celular. Schwannoma mclanocítico
podem atingir grandes dimensões e envolver tanto os
pode ser benigno ou maligno (10%) com mitoses freqüen
compartimentos intra quando extracranianos. tes. macronucléolos e metástases distantes.
A maioria dos schwannomas é solitária em pacientes
previamente hígidos, sendo denominados "esporádicos" Estadiamento, GRADUAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO. Os schwannomas
ou "solitários". A presença de schwannomas múltiplos no convencionais são tumores grau I da OMS.
mesmo indivíduo sugere uma síndrome de predisposição
tumoral.
S C H WA N N O M A S I N T R A C R A N I A N O S
Patologia macroscópica. Os schwannomas originam-se ex-
cenlricamenie nos nervos e são lesões bem encapsuladas Sinônimos
• Neurliemoma, neurinoma
de margens definidas (Figs. 23-35 e 23-37). Alterações
císticas são comuns, assim como tonalidade amarelada de
Epidemiologia
vido ao acúmulo de lipídeos (Fig. 23-38). Pode haver he • Vestibular (NC VIII) é o mais comum (95%)
morragia, porem sangramentos macroscópicos são raros. o Todos os outros locais combinados (1 a 5%)
• O nervo trigêmeo (NC V) é a segunda localização mais
Características microscópicas. Um padrão bifásico é típico
c o m u m
do schwannoma convencional. O padrão "Antoni A" • Forame jugular (NCs IX, X e XI) é a terceira localização
consiste em fascículos compactos de células fusiformes mais comum
alongadas que demonstram colunas alongadas de núcleos • Hipoglosso (NC XII) é o quarto local mais comum
fusiformes (corpos de Verocay). Um padrão menos celu • Todas as outras localizações são raras, exceto na NF2
lar. com textura menos densa e arranjo aleatório, contendo • Schwannomas intraparenquimatosos são muito raros
agrupamentos de células preenchidas por lipídeos. é cha
mado de padrão "Antoni B" (Fig. 23-36). Figuras mitóti- Patologia
• Tem origem na junção entre as células gliais e as
cas são raras. A imuno-histoquímica é caracterizada por células de Schwann
forte positividade para a proteína SI00. o A distância do cérebro varia de acordo com o NC
O schwannoma celular consiste de tecido "Antoni A",
(continua)
porém não apresenta corpos de Verocay. Esses tumores po-
634 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorals
23-37 iluslraçâo de um grande schwannoma vestibular demonstra 23-38 Espécime de necropsia demonstra um schwannoma vestibu-
o aspecto clássico de "sorvete na casquinha". Observe a fenda de iocociear Cor amarelada e hemorragias petequiais são comuns.
vasos e LCS entre o pedúncuío cerebelar médio ES e o hemisfério Observe a fenda de LCS e vasos S) entre o tumor e o cérebro. (Cortesia
cerebeiar [í>i. de 8, Horten, MD.)
Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferenciai de um nervo craniano solitá
rio aumentado e com realce inclui schwannoma, escle-
rose múltipla, neurite viral e pós-viral, doença de Lyme, 23-39A Séries de imagens demonstra um SV clássi
sarcoidose, isquemia e neoplasias malignas (metástases, co. Imagem ponderada em Ti demonstra que a lesão
E3 é isoinlensa à SC e parece um "sorvete na casqui
linfoma, leucemia).
nha".
A causa mais comum de múltiplos nervos cranianos
com realce é a metástase. NF2. neurite (especialmente
doença de Lyme), linfoma e leucemia são causas menos
importantes de metástases. Causas raras, porém impor
tantes, incluem esclerose múltipla e polineuropatia crô
nica desmielinizante inflamatória, doença que costuma
afetar os nervos espinais, mas que pode envolver nervos
cranianos.
Schwannoma vestibular
Terminologia
o schwanomma vestibular (SV) é o termo preferido para o
schwannoma do NC VIII. Os SVs também são conhecidos
como schwannomas acústicos e neuromas acústicos.
Os schwannomas intralabirínticos focais, conhecidos
como schwannomas da orelha interna, formam um sub
grupo especial de schwannomas do NC VIII (Fig. 23-40). 23-39B CIS5 com cortes finos demonstra a lesão B
Os schwannomas intralabirínticos são denominados con e a íenda de LCS e dos vasos E3.
forme sua localização. Aqueles que se localizam no inte
rior da cóciea são chamados de intracocleares. As lesões
dentro do vestíbulo são chamadas de intravestibularcs
Etiologia
Conceitos gerais. Os SVs originam-se da porção vestibular
do NC VIII na junção entre as células gliais e as células
de Schwann, no interior do conduto auditivo interno, pró 23-39C Realce forte e relativamente uniforme B
ximo ao poro acústico. Esses schwannomas raramente se é visto nas imagens ponderadas em TI pós-infusão de
contraste. O tumor se estende ao fundo do CAI
originam da porção coclear do NC VIII.
636 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorals
Genética. A patogênese que envolve tanto os SVs familia do ângulo pontocercbelar, respondendo por 85 a 90% das
res quanto a maioria dos esporádicos tem sido relacionada lesões nesta topografia.
com a mutação de um único gene, o gene NF2 localizado
Demografia. o pico de apresentação está entre os 40 a 60
no cromossomo 22. Quase 60% dos SVs apresentam mu
anos. Não existe predileção por sexo.
tações com inalivação do gene NF2.
Apresentação. A apresentação mais comum é de hipoa-
Patologia cusia neurossensorial (HNS) lentamente progressiva cm
Localização. SVs podem ocorrer em qualquer localização um paciente adulto. Pequenos SVs podem se apresentar
no trajeto do nervo. Pequenos SVs com freqüência são no início com zumbido. Grandes lesões com freqüência
intracanaliculares. Lesões grandes protruem medialmente se apresentam com neuropatia trigeminal e/ou facial as
sociadas.
por meio do poro acústico para o interior do ângulo pon-
tocerebelar (APC). História natural. A taxa de crescimento do SVs varia. Na
Tamanho e número. A maioria dos SVs é arredondada ou média, eles tendem a aumentar entre 1 ou 2 milímetros
ovalada, e em geral mede entre 2 a 10 mm de comprimen por ano. Cerca de 60% crescem muito lentamente (me
to. Os SVs que se estendem para o APC podem se tomar nos de 1 milímetro por ano), enquanto 10% dos pacientes
grandes, acima de 5 centímetros de diâmetro. SVs bilate apresentam crescimento rápido das lesões (mais de 3 mi
rais são patognomônicos de NF2. límetros por ano).
A taxa de crescimento dos SVs associados com NF2
Opções de tratamento. As opções de tratamento variam. graíla por RM com modelagem do tumor pode demons
Uma observação cuidadosa de lesões pequenas com ima trar a localização precisa dos NCs que circundam um
gens seriadas é freqüente, em especial em pacientes mais grande SV.
idosos. A remoção cirúrgica ou a radioterapia estereotáxica
são outras possibilidades terapêuticas. A abordagem cirúr Diagnóstico diferencial
gica varia conforme o tamanho e a localização tumorais, o principal diagnóstico diferencial do SV é o meningio
bem como com a possibilidade de preservação auditiva. ma do APC. A maioria dos meningiomas "cobre" o CAI
e não se estende para o interior do poro acústico. Entre
Imagem tanto, a presença de uma cauda durai "reacional" no CAI
Características gerais. A aparência clássica de imagem pode dificultar a distinção entre um SV e um meningioma,
é de uma lesão expansiva com ávido realce, que parece a menos que outras caudas durais ao longo da margem
um "sorvete na casquinha" (Fig. 23-37). Muitos dos SVs petrosa estejam presentes.
estendem-se medialmente a partir da origem no interior U m s c h w a n n o m a d o n e r v o f a c i a l c o n fi n a d o a o C A I
do CAI. A porção intracanalicular representa a "casqui pode ser de difícil distinção de um SV. Os schwannomas
nha". Se um SV passa pelo poro acústico, ele em geral do nervo facial são menos comuns e em geral apresentam
se expande quando entra no APC, formando o "sorvete" uma "cauda" para o segmento labiríntico do nervo facial.
sobre o cone. Cuidado: extensão ao longo do segmento labiríntico do
Definir o tamanho e a extensão do SV é um dos obje nervo facial significa que o schwannoma tem origem no
NC VII e não é um SV.
tivos mais importantes da imagem. Alguns SVs permane
cem como lesões pequenas de crescimento lento que são Metástases podem cobrir o nervo facial e vestibulo-
coclear dentro do CAI. As metástases normalmente são
inteiramente iníracanaliculares. Muitos SVs intracanali-
CLilares apresentam um "capuz" de LCS interposto entre bilaterais e acompanhadas de outras lesões.
a lesão e o modíolo. Outros crescem lateralmente, esten
Outras massas no APC como cistos epidermoides,
dendo-se profundamente para o interior do CAI, passando cistos aracnoides e aneurismas podem em geral ser di
ferenciadas facilmente dos SVs. Os SVs às vezes apre
pela abertura coclear para o modíolo. sentam cistos intramurais proeminentes, mas um schwan
Achados na TC. A TC geralmente é negativa, a menos que noma completamente cístico sem tumor periférico com
as lesões sejam grandes o suficiente para expandir o CAI realce é muito raro.
ou protruir para o interior da cisterna do APC. Os SVs
não apresentam calcificações, são moderadamente hiper- Schwannoma trigeminal
densos na TC e sofrem importante realce uniforme na TC Embora sejam o segundo tipo de schwannoma intracra
pós-contraste. TC com filtro ósseo pode demonstrar alar niano mais comum, os schwannomas trigeminais são
gamento do CAI no lado sintomático. tumores raros. Esses tumores podem envolver qualquer
Achados na RM. FLAIR de todo cérebro associado a ima parte do NC V, incluindo as divisões extracranianas peri
gens ponderadas em TI pós-contraste no plano axial e féricas do nervo. Cerca de dois terços de todos tumores do
coronal do APC e do CAI são o padrão de imagem. Um cavo de Meckel são schwannomas.
estudo de rastreamento para adultos com HNS unilateral O principal sintoma de apresentação envolve disfun-
é uma opção comum e costuma ser limitada a imagens ção sensitiva em uma ou mais das três divisões. Neuralgia
ponderadas em T2 de alta resolução, CISS ou FIESTA. do trigêmeo é incomum, embora possa ocorrer.
Análise detalhada do APC/CAl pode ser realizada com
essas seqüências, reservando estudos contrastados para Imagem
pacientes com rastreamento duvidoso. Os schwannomas trigeminais ocorrem da junção do gân
Os SVs em geral são isointensos ao cérebro nas glio de Gasser com a raiz do nervo trigêmeo (Fig. 23-44).
imagens ponderadas em TI (Fig. 23-39A). Um SV in Pequenas lesões podem ser confinadas ao cavo de Meckel.
tracanalicular se apresenta como um defeito de enchi As lesões podem apresentar um aspecto característico nas
mento hipointenso no interior do LCS brilhante no CISS imagens ponderadas em T2, o sinal do "cavo de Meckel
(Fig. 23-39B). Grandes SVs são iso a heterogeneamente piscando". Por 90% do cavo de Meckel ser normalmente
hiperintensos nas imagens ponderadas em T2. Micro-he- preenchido por LCS, qualquer lesão que preencha o cavo
morragias em T2* são comuns, embora hemorragia ma com tecidos moles contrasta com o sinal brilhante do lado
croscópica seja rara. oposto normal (Fig. 23-45).
Quase todos os SVs sofrem forte realce após admi Tumores bicompartimentais são comuns. Os schwan
nistração de contraste (Fig. 23-39C). Uma "cauda durai" nomas que se originam no cavo de Meckel podem se es
associada ao schwannoma pode estar presente, porém é tender para a fossa posterior (através do poro trigeminal).
rara se comparada a dos meningiomas. Esses tumores têm o formato característico de "halteres"
Seqüências especiais de imagem podem ser úteis no (FIg. 23-46). Menos comumente, tumores bicomparti
planejamento pré-operatório para cirurgia do SV. Tracto- mentais pode estender-se para a fossa média anteroin-
638 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
ferionnente pelo forame oval para o espaço mastigador. nas 42 casos relatados entre 1908 e 2008. A maioria (85%)
Os tumores que envolvem todas as três localizações são apresenta-se com sintomas vestibulococleares secundá
incomuns e denominados de schwannomas trigeminals rios à compressão e ao deslocamento e não sintomas ao do
tricompartimentais (Fig. 23-47). NC IX. Os schwannomas glossofaríngeos podem ocorrer
Schwannomas que envolvem a divisão mandibular em qualquer lugar no curso do NC IX, mas a maioria dos
(NC V3) podem causar atrofia por denervaçào dos múscu casos sintomáticos é inlracraniano/intraósseo.
los da mastigação.
Comparados com seus equivalentes extracranianos,
os schwannomas vagais intracranianos são raros. Os
Diagnóstico diferencial puramente intracisternais são ainda mais raros. A maio
A aparência do schwannoma tricompartimental do NC V ria dos schwannomas vagais é lesão em '"halteres" que se
é característica. Os principais diagnósticos diferenciais de estende das cisternas da base pelo forame jugular para o
um schwannoma do cavo de Meckel são meningioma e espaço carotídeo profundo (Figs. 23-48 e 23-49). Quan
mctástases. do grandes, elas podem comprimir o bulbo ventrolateral e
causar hipertensão neurogênica refratária.
Schwannoma do forame jugular Schwannomas do nervo acessório espinal não as
Embora os schwannomas respondam por aproximada sociados com neurofibromatose são muito raros. Eles po
mente 40% de todas as neoplasias do forame jugular (FJ), dem ser tanto intrajugulares quanto intracisternais.
os schwannomas do FJ constituem apenas 2 a 4% de todos Os principais diagnósticos diferenciais do schwanno
os schwannomas intracranianos. ma do FJ incluem meningioma, tumor do glome jugular
Schwannomas glossofaríngeos são os schwannomas e metástase. Apenas um schwannoma do FJ remodela e
do FJ mais comuns, embora ainda sejam raros, com ape alarga a fossa jugular lentamente.
Os "outros" schwannomas cranianos têm característi Estesioneuroblastoma, também conhecido como neu
cas semelhantes aos subtipos mais comuns nos estudos de roblastoma olfatório, é um tumor maligno raro que se ori
imagem. A maioria dos schwannomas dos nervos motores gina na cavidade nasal superior da mucosa olfatória. Este
é pequeno, arredondado ou ovalado, bem delineado, com tumor é discutido com os tumores embrionários e neuro-
forte realce após infusão de contraste endovenoso. blásticos (ver Capítulo 21).
A
pós-coniraste demonstra um
schwannoma do nervo facial no
APC BI, estendendo-se para
o interior do CAi e gânglio
geniculado ES.
2 3 - 5 3 Va r i a n t e d o s c h w a n n o
ma do nervo facial se originou A/
de um ramo do nervo petroso
superficial maior El e se es
tende posteriormente para o
interior do segmento timpânico
El e labirintico/CAI
Tumores dos nervos cranianos e das bainhas nervosas 641
' ■-'Wi ■
23-57B Imagem ponderada
em T1 pós-contraste no plano co
ronal com saturação de gordura
no mesmo paciente demonstra
que o tumor E3 localiza-se
ao longo do curso esperado do
NCIV, Provável schwannoma
troclear.
t " A
í:
23-61A Imagem ponderada em Ti pós-conlraste demonstra uma
lesão parenquimatosa bem demarcada com intenso realce ES sem
.cr:
23-61B Imagem ponderada em TI pós-contraste no plano sagilai
do mesmo paciente demonstra que a lesão é claramente intra-axial.
edema. Schwannoma intraparenquimatoso foi diagnosticado na histopatología.
-%
Y f N
\
t
Nos estudos de imagem, a maioria dos schwannomas tos por células de Schwann. Os neurofibromas consistem
intraparenquimatosos mostra-se com limites bem demar tanto de células de Schwann quanto de flbroblastos. NFs
cados. O aspecto de imagem mais comum é de um cisto também contêm outros tipos celulares, incluindo célu
com um nódulo mural e realce periférico. Um terço dos las perineurais, mastócitos, perícitos, células endoteliais
tumores sào sólidos com realce intenso homogêneo ou he e células de músculo listo. Os NFs também apresentam
terogêneo (Fig. 23-61). O edema peritumoral varia desde grandes quantidades de matriz extracelular com colágeno.
moderado a ausente. Nesta seção serão discutidos os neurofibromas soli
tário e plexiforme. A neuroflbromatose tipos 1 e 2 será
discutida no Capítulo 39.
N e u r o fi b r o m a s Neurofibroma solitário
Os neurofibromas intracranianos (NFs) sào menos co Um neurofibroma solitário na cabeça e no pescoço rara
muns que os schwannomas. Os NFs podem afetar o es mente - se não nunca - envolve um nervo craniano. Os
calpo, crânio e alguns nervos cranianos (especialmente o neurofibromas solitários afetam pacientes de todas idades
NC V,), ou raramente o cérebro. Eles são encontrados em e em geral são esporádicos (não sindrômicos). A maioria
todas as idades. Ambos os sexos são afetados igualmente. ocorre na ausência de NFl e apresenta-se como uma mas
Os NFs podem ser solitários ou múltiplos. Múltiplos sa indoior no escalpo ou na pele.
NFs e NFs plexifoimes ocorrem apenas associados com Os neurofibromas solitários são arredondados ou ova
neuroftbromatose tipo 1 (NFl). lados, sem cápsula, compostos por células de Schwann e
O aspecto macroscópico dos NFs é diferente dos flbroblastos em uma matriz mixoide ou colágena. Os neu
schwannomas. Os schwannomas são lesões encapsuladas rofibromas solitários são neoplasias grau 1 da OMS.
bem delimitadas que crescem do nervo, em geral deslo Os neurofibromas solitários do escalpo são vistos
cando os elementos normais do nervo de origem para o em estudos de imagem como massas com realce, focais,
lado. Em contraste, o neurofibroma geralmente se apre bem delimitadas, que tocam e não invadem a calvária
senta como expansão mais difusa do nervo. Ele mostra
(Fig. 23-62).
fascículos únicos ou múltiplos que entram e saem do ner
vo afetado. Os axônios do nervo acometido passam pelos
Neurofibroma plexiforme
neurofibromas e misturam-se com as células tumorals, o
que também os distingue dos schwannomas. Terminologia e etiologia
O aspecto microscópico dos NFs também difere dos Os neurofibromas plexifonmes (NPs) são neoplasias infil-
schwannomas. Os schwannomas são puramente compos trativas intra ou extraneurais que ocorrem quase exclusi-
Tumores dos nervos cranianos e das bainhas nervosas 645
vãmente em pacientes com NFl (Fig. 23-63). Raramente, Características microscópicas e macroscópicas. Macroscopi-
esses tumores ocorrem sem outros sinais de NF1. Inativa- camente os NPs apresentam-se como um "saco de ver
ção biaiélica do gene NFl tem sido identificada em casos mes" (FIg. 23-65). Os NPs demonstram padrão de cres
esporádicos de NPs. cimento intrafascicular predominante, com segmentos
redundantes de fascículos nervosos expandidos mistura
dos com fibras colágenas e material mucoide (Flg. 23-66).
Patologia
Localização. Aproximadamente um terço de todos NPs são Estadiamento, graduação e classificação. Os NPs são neopla
encontrados na cabeça e no pescoço. Os NPs cranianos sias grau I da OMS.
envolvem os NCs V. IX e X. A localização mais típica é
no escalpo, órbita, fossa pterigopalatina e glândula paró- Aspectos clínicos
tida. Os NPs da órbita ou do escalpo com mais freqüência Os NPs são a maior causa de morbidade em pacientes com
envolvem os ramos oftálmicos do nervo trigêmeo. Os NPs NFl. Cerca dc 5% dos NPs acabam degenerando para tu
parotideos envolvem ramos periféricos do nervo facial. mores malignos periféricos de bainha nervosa.
Os NPs extracranianos são vistos comprometendo
múltiplos conipartimentos sem respeitar limites fascials. Imagem
Os NPs orbitários podem expandir a fissura orbitária su Características gerais. Os NPs são massas de tecidos moles
perior e estender-se para o interior de um seio ou para tão vermiformes, pobremente delineadas que infiltram difusa
longe quanto o cavo de Meckel (Fig. 23-64). mente o escalpo, a órbita e a glândula parótida.
Tamanho e número. Os NPs costumam ser extensos e difu Achados na TC. Os NPs infiltram e espessam os tecidos
samente inflltrativos. Lesões de múltiplos tamanhos são moles, do escalpo e da periórbita. Eles costumam ser Íso-
típicas. densos aos músculos. Calcificação e hemorragia são raras.
23-67 TC pós-contraste demonstra NP como uma massa infiltrativa 23-68 Imagem ponderada em 12 de uma paciente com NF1 demons
com mínimo realce E3 que envolve os tecidos subcutâneos e a glândula tra os achados característicos do NP. Massas hiperintensas multílobuladas
parótida. Outro NP é visto no músculo pré-vertebral esquerdo ^3. (Cor B com hipointensidade puntilormes centrais E3 são típicas. (Cortesia
tesia de C. Glastonbury, MD.) de C. Glastonbury, MD.)
' ■ ^
^ í j
23-69A Um paciente com NF1 e NP de longa data apresentou cresci 23-69B Imagem ponderada em Ti pós-conlrasle mostra que a massa
mento rápido da massa, a qual se tornou dolorosa. Imagem ponderada sofre realce intenso e muito heterogêneo. O tamanho, a extensão e a
em TI demonstra uma massa de tecidos moles invadindo a base do crâ natureza agressiva da lesão são diferentes dos exames prévios. TMBNP
nio e a medula cervical alta. foi diagnosticado na cirurgia.
Quando ocorre no interior do crânio, um TMBNP é Características microscópicas. O TMBNP é uma lesão alta
chamado, algumas vezes, de tumor maligno intracerebral mente infiltrativa, hipercelular, que mostra feixes de cé
da bainha nervosa ou tumor maligno intracraniano primá lulas malignas em proliferação com numerosas mitoses.
rio da bainha nervosa. A imuno-histoquímica diferencia os tumores da bainha
nervosa dos sarcomas de partes moles. A maioria dos
Etloiogia casos demonstra imunorreatividade forte e difusa para a
Cerca de metade de todos TMBNPs ocorre esporadi proteína p53 associada com positividade para SIOO e co-
camente, a maioria de células pluripotenciais da crista lágeno IV-laminina.
648 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
da OMS, variando de benigno (grau I) a maligno (graus series with long-term follow-up. J Neurosurg. 114(3):756-62,
2 0 11
lie III).
Os perineuromas intraneurais respondem por apenas
1% dos tumores de bainhas nervosas. Os perineuromas Schwannoma vestibular
• Kohno M el al: Is an acoustic neuroma an epiarachnoid
envolvendo nervos cranianos são muito raros. São rela
tados casos que envolvem primariamente ramos extracra- or subarachnoid tumor? Neurosurgery. 68(4): 1006-16;
discussion 1016-7.20! 1
nianos dos nervos facial e trigêmeo.
A subpopulação dos tumores fibroses solitários • Sughrue ME et al: Molecular biology of familial and
(TFSs) tem origem diretamente dos nervos e não das me sporadic vestibular schwannomas: implications for novel
therapeutics. J Neurosurg. 114(2):359-66,2011
ninges, embora simulem lesões com base durai como um
meningioma. Os TFSs que se originam de NCs intracra Schwannoma trigeminal
nianos são indistinguíveis dos schwannomas nos estudos • Muto J et al: Meckel's cave tumors: relation to the meninges
de imagem, portanto, o diagnóstico definitivo pode ser
and minimally invasive approaches for surgery: anatomic and
feito somente por histologia. clinical studies. Neurosurgery. 67(3 Suppl Operative):291-8;
Os neurofibrossarcomas são considerados tumores
discussion 298-9, 2010
malignos da bainha nervosa (tanto periféricos quanto in • Sharma BS et ai: Trigeminal schwannomas: experience with
tracranianos). Extensão intracraniana de um neofibroma 68 cases. J Clin Neurosci. 15(7):738-43, 2008
piexiforme do escalpo com degeneraçâo maligna é uma • Moffat D et al: Surgical management of trigeminal
fonte comum para essa lesão. neuromas: a report of eight cases. J Laryngol Otol.
120(8):631-7, 2006
Linfomas 651
apenas os linfomas malignos e os tumores histiocíticos no
Linfoma primário do SNC 652 grupo das neoplasias hematopoiéticas, incluiremos leuce
Linfoma intravascular (angiocêntrico) 658 mia neste capítulo, mesmo que o acometimento do SNC
Linfomatose cerebral 661 pela doença deva-se quase exclusivamente de forma se
Linfoma M A LT 661 cundária à doença sistêmica. O acometimento do crânio e
Granulomatose linfomatoide 661 do cérebro pelo plasmocitoma e pelo míeloma múltiplo
Doença linfoproliferativa pós-transplante 662 é também secundário à doença extracraniana, porém essas
Linfoma metastático intracraniano 664
condições também são incluídas aqui, em vez de no Capí
Tumores histiocíticos 667
tulo 27, sobre metástases.
Histiocitose de células de Langerhans 667
Histiociloses de células não Langerhans 670
Histiociloses malignas 674
Tumores hematopoiéticos e lesões pseudotumorais....675 Linfomas
Leucemia 675
Tumores de células plasmocitárias 678 o SNC pode ser acometido por várias lesões linfoides
Hematopoiese extramedular 681 que ocorrem como tumores primários ou como depósitos
metastáticos de doença extracraniana. Em conjunto, as
O espectro das neoplasias hematopoiéticas e das lesões neoplasias linfoides representam o sexto maior grupo de
pseudotumorais varia de lesões não neoplásicas como he malignidades do SNC.
Todas as neoplasias linfoides, incluindo o linfoma, o
matopoiese extramedular e histiocitoses a neoplasias fran
camente malignas, como o linfoma. mieloma e a leucemia linfoide, originam-se da transfor
Começaremos nossa discussão com a lesão mais fre mação maligna de células linfoides normais. O SNC não
qüente: o linfoma do SNC. Focaremos primeiro no lin possui vasos linfáticos e tecido linfoide, como e por que
foma primário do sistema nervoso central (SNC). A os linfomas podem se originar como neoplasias primárias
seguir, discutiremos os outros subtipos de linfoma pri do SNC ainda é desconhecido. E evidente que as células
mário do SNC, incluindo o linfoma intravascular (an do linfoma - independentemente se elas se originaram
giocêntrico), um linfoma de SNC muito especial que se dentro ou fora do cérebro - exibem um neurotropismo
dissemina pelos vasos sangüíneos e ao longo dos espaços distinto e altamente seletivo para o microambiente e vas-
perivasculares. cularizaçâo do SNC.
As condições linfomatoides não malignas e pré-malig- Mais de 95% dos linfomas primários do SNC (LPSNC)
nas. incluindo a granulomatose linfomatoide e a doença são linfomas difusos de grandes células B (LDGCB). Ou
linfoproliferativa pós-transplante, às vezes podem afe tros subtipos de LPSNC representam menos de 5% dos ca
tar o SNC. Ambas são discutidas na seção de linfomas. sos. Os linfomas de Hodgkin (LH) do SNC são incomuns.
Os tumores histiocíticos podem acometer o SNC. A maioria é observada no contexto de doença sistêmica
Essas neoplasias e massas pseudotumorais não neoplási avançada, porém poucas lesões primárias do SNC foram
cas são compostas de histiócitos, que são microscopica- descritas. Os linfomas extranodais de células T natural kil
mente idênticos às suas contraparles extracranianas. Tanto ler (NK.) costumam acometer a cavidade nasal e afetam o
a histiocitose de células de Langerhans quanto as histio SNC apenas quando elas se estendem para a fossa craniana
citoses de células não Langerhans são discutidas. anterior por meio da lâmina cribriforme.
Em seguida, voltaremos nossa atenção à leucemia. Começaremos nossa discussão sobre o linfoma primá
Apesar da classificação da Organização Mundial da Saú rio do SNC enfocando o LDGCB. Em seguida, abordaremos
de (OMS) mais recente para as neoplasias do SNC incluir alguns linfomas não LDGCB, incluindo o linfoma intravas-
652 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
24-1 Múltiplas lesões periventricuíares com acometimento dos nú 24-2 Espécime de necropsia mostra LPSNC com massas bilaterais nos
cleos da base, tálamos e corpo caloso, típicas do LPSNC. Observe a ex núcleos da base e dos tálamos e disseminação tumoral circunja-
tensa disseminação subependimária da doença LPSNCs em geral se cente ao epêndima dos ventrículos laterais [S. (Cortesia de R. Hewlett,
estendem ao longo das superfícies ependimárias. MD.)
branca periventricular, em especial o corpo caloso. Os nú Tamanho e número. As lesões dos LPSNCs variam em ta
cleos da base e os tálamos são as outras localizações mais manho, de implantes microscópicos a volumosas massas.
comuns. Disseminação tumoral ao longo do epêndima Estima-se que 40 a 60% dos LPSNCs são lesões soli
ventricular e para o plexo coroide é observada em alguns tárias. Dos LPSNCs com múltiplas lesões, metade é bila
casos (Fig. 24-2). teral. As lesões amplamente disseminadas - uma condição
O hipotálamo, o infundibulo e a hipóílse são os locais denominada "linfomatose cerebral" - são incomuns, ocor
menos comuns para o LPSNC. As lesões da fossa poste rendo em 5% dos casos (ver a seguir).
rior são raras (15% dos casos).
Patologia macroscópica. Massas hemisféricas únicas ou
O LPSNC pode desenvolver-se na dura, nas lepto-
múltiplas são típicas. Diferentemente dos astrocitomas,
meninges, na abóbada craniana e na porção central da linfomas tendem a ser lesões bem delimitadas em vez de
base do crânio, embora essas áreas sejam mais envolvi
difusamente infiltrativas. A maioria é lesão sólida e pá
das por acometimento metastático de tumores primários
lida. com pequenos focos hemorrágicos ocasionais. Ne
extracranianos.
crose franca e hemorragia intratumoral ostensiva são mais
Os linfomas primários com base durai são muito ra
comuns em LPSNCs relacionados à Aids (Fig. 24-6).
ros. A maioria consiste em linfomas de células T e linfo
mas de células B de baixo grau, freqüentemente dos tipos Características microscópicas. Os LPSNCs exibem uma pre
linfoplasmocítico ou MALT. dileção pelos vasos sangüíneos, resultando em um carac
Os linfomas oculares são quase sempre de células B terístico agrupamento linfomaloide ao redor de pequenos
de alto grau. Em contraste, linfomas dos anexos orbitários vasos cerebrais. As células tumorals estendem-se desses
são mais freqüentemente tumores do tipo MALT (ver a agrupamentos perivasculares para o interior do parênqui-
seguir). ma adjacente.
hiperdensa em "borboleta" B
cruzando o corpo caloso.
Etíologia
• Origem precisa desconhecida
• O SNC não possui vasos linfáticos e linfócitos
• Risco aumentado com
o Vírus (EBV, HIV/Aids)
o Síndromes congênitas de imunodeficiência
24-6 Espécime de necropsia de um pacienle com o Imunossupressão grave (quimioterapia, uso crônico
HlV/Alds e LPSNC mostra uma massa hemorrágica nos de corticosteroides)
núcleos da base à esquerda SI. (Cortesia de R. Hew
lett, MD.) Patologia
• 6% de todas as neoplasias primárias do SNC, porém
aumentando
• Predileção pelas porções profundas do cérebro
o SB periventricular, nijcleos da base
o Agrupamentos linfoides perivasculares comuns
• Solitário (2/3), mijltiplo (1/3)
o Mijltipios compartimentos podem estar
envolvidos
• Lesões focais > difusamente infiitrativas
• Hemorragia e necrose raras em imunocompetentes
• Maioria são linfomas não Hodgkin
• Linfomas difusos de grandes células (90 a 95%)
o Células blásticas imaturas
o MIB-1 > 50
• Linfomas de baixo grau, Burkitt, células T (5 a 10%)
• Linfomas de Hodgkin primários do SNC raros
Imagem
Características gerais. Os achados de imagem no LPSNC
24-98 Imagem em TI pós-contraste do mesmo pa
variam com o estado imunológico.
ciente mostra que a massa C3 realça intensamente e
A ressonância magnética (RM) craniencefálica com
quase uniformemente.
contraste endovenoso é a modalidade de escolha para a
avaliação de pacientes com suspeita de LPSNC. Como o
acometimento isolado da medula é raro (3 a 4% dos casos),
o estudo da coluna é indicado apenas em pacientes com
mielopatia ou suspeita de disseminação meníngea difusa.
Achados de TC. Os LPSNCs são tumores altamente celu
lares. As lesões de substância branca ou nos núcleos da
base em contato com uma superfície de LCS são típicas.
A maioria das lesões é hiperdensa em comparação com o
cérebro normal na tomografia computadorizada (TC) sem
contraste (Figs. 24-3, 24-4). Intenso edema peritumoral
é comum, porém necrose, hemorragia e calcificaçào são
raras (2 a 5%), a não ser que o paciente seja imunocom-
prometido (Fig. 24-7).
Os linfomas de SNC em pacientes imunocompetentes
mostram realce leve a moderado e relativamente homogê
neo (Fig. 24-5). Realce anelar irregular é raro, a não ser 24-9C A seqüência mostra restrição à difusão I
característica de massa densamente celular.
que o paciente seja imunocomprometido.
656 Neoplasias, cistos e lesões
Diagnóstico diferencial
o principal diagnóstico diferencial do LPSNC é o glio
blastoma multiforme (GBM). Embora ambos os tumores
cruzem o corpo caloso, hemorragia e necrose são raras no
LPSNC. O realce em pacientes imunocompetentes com
LPSNC é intenso e relativamente homogêneo, enquanto
um padrão anelar periférico é mais típico de GBM. 24-116 A massa hipercelular E3 mostra restrição à
O segundo diagnóstico diferencial mais comum do difusão. Observe o pequeno nódulo tumoral secundário
LPSNC é a metástasc. Os LPSNCs com base durai po periventricular S.
dem se assemelhar a meningiomas ou, devido à hiperden-
sidade, simular hematoma epi ou subdural agudo.
Se o paciente é imunocomprometido, o principal
diagnóstico diferencial do LPSNC é a toxopiasmose.
Uma lesão solitária com realce anelar em um paciente
com HIV/Aids é mais freqüentemente linfoma, enquanto
lesões múltiplas são mais características de toxopiasmose.
O sinal do "alvo excêntrico" é sugestivo de toxopiasmose,
embora linfomas necróticos às vezes mostrem um realce
com padrão de "anel com nódulo". A toxopiasmose é hi-
permetabólica no PET e na perfusão por RM.
A leucoencefalopatia multifocal progressiva (LEMP)
geralmente não realça. Entretanto, lesões agudas de
LEMP e a síndrome inflamatória da reconstítuíção
Imunológica (IRlS) associada ao vírus JC podem de
monstrar realce anelar. A impregnação com freqüência
possui aspecto bizarro, com anéis parciais mal delimita 24-11C Imagem em TI pós-contraste mostra que a
dos com realce circundando focos de desmielinização. massa realça intensa e uniformemente.
658 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
LPSNC: IMAGEM
Características gerais
• Achados variam com o estado imunológico
• Corticosteroides podem mascarar/i os achados de
imagem
• 5B periventricular e nijcleos da base são locais comuns
TC
• Hiperdenso na TC sem contraste (imunocompetentes)
• Hemorragia e necrose são raras, a não ser em
24-12 Ilustração demonstrando LI. As células malig
nas entopem os vasos, causando infiltrados perivascula- imunocomprometidos
res e hemorragias petequials. RM
• Geralmente isointensos à SC em TI e T2
• Hemorragias petequiais em imunocompetentes
• Hemorragia e necrose ostensivas em
imunocomprometidos
• Realce intenso e uniforme (anelar em
imunocomprometidos)
• Freqüentemente restringe a difusão
Diagnóstico diferencial
• Glioblastoma multiforme e metástases em
imunocompetentes
• Toxoplasmose em imunocomprometidos
• Granulomatose linfomatoíde e DIPT em receptores de
transplantes
v WM ' Patologia
24-14 Linfoma intravascular preenchendo comple A aparência macroscópica varia de normal a pequenos infar-
tamente uma arteriola cerebral com "pequenas células tos multifocals em diferentes etapas de evolução esparsos no
redondas azuis". (Cortesia de T. Tihan, MD.) córtex e na substância branca subcortical (Fig. 24-12).
Linfomas, tumores hematopoiéticos e histiocíticos 659
Aspectos clínicos
Epioemiologia. o li é raro. Envolvimento do SNC ocorre
em 75 a 85% dos pacientes.
Demografia. o li em geral é um tumor de pacientes de
meia-idade ou mais velhos. A idade média de apresenta 24-15A Imagem em FLAIR em uma mulher de 78
anos com confusão e declínio do estado mental mostra
ção é 60 a 65 anos.
múltiplas hiperintensidades bilaterais subcorticais e na
Apresentação. Déficits sensitivos e motores, neuropatias e SB profunda B.
múltiplos episódios semelhantes a acidente vascular cere
bral (AVC) são sintomas comuns. Alguns pacientes apre
sentam deterioração neurológica progressiva e declínio
cognitivo caracterizado por confusão e perda de memória.
Alterações de pele, com placas ou nódulos elevados, estão
presentes em metade dos casos.
História natural. O desfecho costuma ser ruim. No mo
mento da apresentação inicial, a maior parte dos pacien
tes já possui doença avançada e disseminada. O LI é uma
doença rapidamente progressiva, com alto índice de mor
talidade. A sobrevida média é de 7 a 12 meses.
Diagnóstico diferencial
o LI é um "grande imitador", tanto clinica quanto radio-
logicamente. Uma biópsia estereotáxica é, portanto, ne
cessária para estabelecer o diagnóstico definitivo. Vascu- 24-15C Imagem em Ti pós-contraste pelos ventrí-
lite com focos de realce lineares e puntiformes pode ser culos laterais mostra numerosas lesões adicionais com
quase indistinguível do LI apenas nos exames de imagem. realce B. A biópsia revelou um linfoma intravascular.
660 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
24-16A Imagem em T2 em
um paciente de 60 anos com
história de confusão progressiva
e declínio do estado mental com
vários meses de evolução mostra
hiperintensidades mal definidas
na SB hemisférica B3.
24-16B Imagem em FLAIR do
mesmo paciente mostra várias
outras lesões adicionais. Não há
evidência de hiperintensidades
no córtex ou nos núcleos da
base.
Si*'
24-29B Imagem coronal em
TI pós-contraste mostra extenso
realce ependimário e subepen-
dímário ao longo das paredes
de ambos os ventrículos laterais
ES. Espessamento durai difuso
e uma massa focai no plexo
coroide do quarto ventrículo E3
também são observados.
Linfomas, tumores hematopoiéticos e histiocíticos 667
24-30 Ilustração demonstrando as lesões líticas cranianas bem defi- 24-31 Imagem de TC em janela óssea mostra o aspecto clássico da
nidas características da HCL. As lesões não possuem esclerose marginal e HCL como uma lesão lítica bem definida na calota craniana Observe
apresentam limites "chanfrados" B. a massa de partes moles associadas B.
r -
multifocal (geralmente poliostótica) e disseminada.
Aspectos clínicos
Epidemiologia. a HCL é rara. A prevalência em crianças é
estimada em 0,5 por 100.000 por ano.
Demografia. a maioria dos casos com lesões isoladas se
8
apresenta em crianças com menos de 2 anos, com uma
24-328 Imagem em Ti pós-contraste no mesmo pa
predominância masculina de 2:1. O início da doença mul
ciente mostra que as lesões impregnam intensamente
tifocal costuma ser entre 2 e 5 anos.
e de maneira levemente heterogênea.
Apresentação. O sinal neurológico mais comum da HCL
é diabetes insípido, o qual está presente em 12% dos pa
cientes com HCL multifocal. Outros achados relacionados
ao SNC incluem sintomas de elevação da pressão intra
craniana, paralisia de nervos cranianos, crises convulsi
vas, alterações visuais e ataxia.
História natural. A história natural e o prognóstico variam
de acordo com a idade de início e se a doença é isolada,
multifocal ou disseminada. Em geral, há uma relação in
versa entre a gravidade dos envolvimentos e a idade de
aparecimento. A sobrevida geral é boa, embora a morta
lidade em crianças mais novas com doença multissistê-
mica seja próxima a 15 a 20%. As lesões ósseas solitárias
possuem o melhor prognóstico, uma vez que a remissão
espontânea é relativamente comum.
24-32C Imagem sagilai em 11 pós-contraste mostra Opções de tratamento. As opções de tratamento dependem
a massa suprasseiar envolvendo o hipotáíamo, a haste dos sintomas, localização e extensão da doença, variando de
infundibular e infiltrando a hipófise B. ressecção cirúrgica simples a radioterapia e quimioterapia.
Linfomas, tumores hematopoiéticos e histiocíticos 669
24-34A Imagem em TI
mostra obliteração de sulcos e
da interface S6-SC em ambos os
lobos frontais B e ao longo das
fissuras inter-hemisféricas B.
24-34B Imagem em T2 mos
tra massas parafaicínas lobuladas
B iso a discretamente hiperin-
lensas em relação ao córtex.
24-35 (Superior à esquerda) Imagem com ponderação T2 mostra hiperintensidades irregulares nos núcleos denteados e pedúnculos cerebelares de
ambos os hemisférios E2. (Superior à direita) Realce irregular E3 é observado em T1 pós-contraste. (Inferior). Lesões adicionais estão presentes nos
seios cavernosos BI, cerebelo superior B, lobos temporais ES e órbitas E3. Doença de Erdheim-Chester comprovada por biópsia. (Cortesia de M.
Warmuth-Metz, MD.)
e a adenopatia por TB sào comuns cm crianças e podem Patologia. A DEC é caracterizada por infiltrados de ma-
simular DRD. Biópsia com histopatologia é necessária crófagos espumosos, células gigantes e histiócitos.
para o diagnóstico definitivo. Embora possa afetar múltiplos órgãos, a DEC é mais
O principal diagnóstico diferencial da DRD intracra uma doença de ossos longos. Manifestações extraesque-
niana é o meningioma. A perfusão por RM é iJtil na dife léticas ocorrem em 50% dos casos. Lesões intracranianas
renciação com a DRD, a qual costurna ser hipometabóli- estão presentes em 10% dos pacientes. Cérebro, meninges,
ca. A neurossarcoidose com envolvimento durai e selar/ órbitas e região selar/suprasselar são locais de acometimen-
suprasselar pode mimetizar DRD. to pela DEC. Quase todos os pacientes com DEC intracra
niana possuem espessamenlo facial e/ou da calota craniana.
Doença de Erdheifn-Chester Imagem. O eixo hipotálamo-hipofisário está envolvido em
Terminologia e etiologia. A doença de Erdheim-Chester 50 a 55% dos casos de DEC intracraniana. A ponte e o
(DEC) é uma rara histiocitose não HCL caracterizada por cerebelo - em especial os núcleos denteados - são a se
infiltrados xantomatosos de histiócitos espumosos. Sua
gunda localização intra-axial mais comum. Massas durais
etiologia é desconhecida. solitárias ou múltiplas com ou sem espessamento menín-
Aspectos clínicos. A DEC em geral ocone em adultos com geo difuso irregular ocorrem em quase 25% dos casos. A
mais de 55 anos. O prognóstico na DEC costuma ser ruim, esclerose dos ossos da face, da calota craniana e da coluna
embora o tratamento com interferon-a tenha aumentado a vertebral pode ser uma característica específica que suge
sobrevida de alguns pacientes. re o diagnóstico.
672 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
24-36 (Superior) Imagens ponderadas em T2 em uma criança de 2 anos com febre alta e crises convulsivas mostra múltiplas hiperintensidades
irregulares E9 expandindo a ponte e ambos os pedünculos cerebelares médios, estendendo-se para os núcleos denteados e hemisférios cerebelares.
(Inferior) Imagens em TI pós-contraste SPGR para localização estereotáxica previamente à biópsia mostra realce difuso confluente e irregular 0
diagnóstico histopatológico foi de linfo-hisliocitose fiemofagocftica.
Exames de imagem em pacientes com acometimen- podem ocorrer. Essas lesões são muito hipointensas em
to do eixo hipotálamo-hipofisário apresentam ausência T2 e impregnam intensamente.
do "ponto brilhante" posterior na hipófise em TI. Uma
massa focai suprasselar ou espessamento nodular da haste Diagnóstico diferencial. O diagnóstico diferencial da DEC
inclui meningioma e HCL. A HCL é em geral uma
hipofisária é comum.
Massas durais semelhantes meningiomas são isoin- doença de crianças, enquanto a DEC afeta mais adultos
de meia-idade e mais velhos. Esclerose dos ossos da face
tensas na ponderação TI e Íso a hipointensas em T2. Real
ce intenso e homogêneo é típico. e/ou calota craniana pode ser uma característica ímpar da
Entre 15 a 20% dos casos de DEC apresentam lesões DEC, embora a análise histológica desempenhe o papel
definitivo na diferenciação da DEC das outras histiocito-
parenquimatosas. Áreas multifocais de hiperintensidade
em T2/FLA1R que demonstram leve realce nodular em ses. A granulomatose de Wegener (GW) pode simular
TI pós-contraste são achados típicos (Fig. 24-35). Realce DEC pelas lesões de seios paranasais, órbitas e meninges,
ependimário com extensão linear profunda para o interior porém a GW geralmente causa osieólise, e não esclerose.
dos núcleos lentiformes foi descrito como achado suges
tivo de DEC. Llnfo-histiocltose hefnofagocítica
Um achado único na DEC é doença perivascular. Fi Terminologia e etiologia. A linfo-histiocitose hemofagocíti-
brose periaórlica e infiltrado perivascular ao longo das ca (LHH) é uma rara doença sistêmica caracterizada pela
artérias carótidas estendendo-se para os seios cavernosos agressiva proliferação de macrófagos ativados e histióci-
Linfomas, tumores hematopciéticos e histiocíticos 673
24-37E A condição do pa
ciente piorou. Exame de controle
com ponderação em FLAIR vários
meses depois mostra que as
lesões no cerebelo e no tronco
encefálico agora são confluentes.
24-37F Corte em plano mais
superior mostra o desenvolvi
mento de extensas lesões na SB
supratentorial. Xantogranuloma
juvenil comprovado por biópsia.
674 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
24-38 Ilustração coronal mostra a típica descoioração esverdeada do 24-39 Espécime de necíopsia mostra espessamento durai, infiltração
sarcoma granulocítico. Doença extradural e nos seios paranasals é mais e massas focais E3 em um paciente que faleceu por LMA. (Cortesia de
comum. Lesões parenquimatosas nos núcleos da base, hipotálamo e has R. Hewlett, MO.)
te hipofisaria também são ilustradas.
tos que apresentam hemofagocitose. Ela é constituída por A encefalomielite disseminada aguda (ADEM)
duas formas distintas: (1) LHH primária ou familial, que pode simular LHH secundária clinicamente, porém com
em geral ocorre na infância como um distiírbio autossô- freqüência envolve os tálamos e o tronco encefálico, e não
mico recessivo, e a (2) LHH secundária, a qual é um pro demonstra as lesões perivasculares simétricas.
cesso reativo associado à infecçao causada por vírus como
EBV. HlNl e o Bunyavirus. Xantogranuloma juvenil
o xantogranuloma juvenil (XGJ) é uma doença histioci-
Aspectos clínicos. A LHH é primariamente uma doença de
tária incomum que geralmente afeta crianças pequenas
lactentes e crianças jovens. Febre, hepatoespienomegalia
e está limitada à pele. O XGJ pode surgir no cérebro ou
e citopenias caracterizam a doença. A apresentação clínica
nas meninges, com ou sem manifestações cutâneas asso
típica inclui irritabilidade, abaulamento fontanelar, crises ciadas. As lesões cerebrais foram associadas com formas
convulsivas, paralisias de nervos cranianos, ataxia e he
multifocais ou sistêmicas da doença, com um curso clíni
miplegia. co ocasionalmente fulminante ou progressivo.
A LHH primária é letal sem transplante alogênico de
Os achados de imagem no XGJ são variáveis. As le
células-tronco. A LHH secundária é autolimitada.
sões disseminadas na substância branca lembram as en
Imagem. O acometimento do SNC está presente em pelo contradas na LHH (Fig. 24-37). As lesões também podem
menos 75% dos pacientes com LHH no momento do diag afetar a região selar, o plexo coroide, as órbitas e os seios
nóstico inicial. Os exames de imagem mostram extensos paranasais. Uma rara forma disseminada de xantoma, cha
infiltrados confluentes hiperintensos em T2/FLA1R no ce- mada xantoma disseminatum, afeta mais adultos jovens.
rebelo e na substância branca cerebral (Fig. 24-36). O eixo hipotálamo-hipofísário e a dura são os locais mais
As lesões perivasculares simétricas sem envolvimen afetados por essa variante.
to dos tálamos e do tronco encefálico são comuns na LHH
primária. Histiocitoses malignas
O realce linear e nodular das lesões parenquimatosas A histiocitose maligna é uma rara neoplasia do sistema re-
e superfícies piais do cérebro é típico. ticuloendotelial caracterizada pela proliferação ncoplásica
Diagnóstico diferencial. Os principais diagnósticos dife de histiócitos teciduais. O histiocitoma fibroso maligno é
renciais da LHH são a histiocitose de células de Lan- atualmente considerado um sarcoma pleomófíco indife-
gerhans e o xantogranuloma juvenil, uma histiocitose renciado de alto grau, e não é mais visto como uma le
não HCL incomum. A biópsia é necessária para estabe são histiocítica verdadeira. Somente casos isolados foram
lecer o diagnóstico definitivo e orientar o tratamento descritos com acometimento cerebral. Sarcomas e tumores
24-40A TC sem contraste em um paciente com sarcoma granuiocitico 24-40B Corte em plano mais superior no mesmo paciente mostra
mostra uma massa extra-axial hiperdensa EEI que se assemelha a um múltiplas massas hiperdensas adicionais B.
hematoma subdural.
Terminologia Patologia
Massas leucêmicas contendo mieloblastos primitivos ou Localização. A LE pode afetar qualquer parte do corpo,
mielócitos foram no início denominadas cloromas (pela incluindo a pele, os linfonodos, o estômago e o cólon.
descoloração esverdeada causada pelos altos níveis de Múltiplas lesões são comuns. As lesões nas vértebras, nas
676 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
órbitas e na calota craniana são mais comuns do que de Características microscópicas. Os sarcomas granulocíticos
pósitos intracranianos, os quais são relativamente raros. são tumores altamente celulares, constituídos de mielo-
Entre 5 e 7% dos pacientes com LMA possuem blastos leucêmicos e precursores mieloides embebidos em
envolvimento assintomático do SNC evidenciado por uma rica rede de fibras de reticulina. Monótonas células
análise citológica positiva do LCS. A leucemia eviden tumorais com grandes núcleos, nucléolos proeminentes
te apresenta-se em três formas: (1) doença meníngea e escasso citoplasma eosinofílico são típicos. Os núcleos
("meningite carcinomatosa"); (2) agregados tumorals são pleomórficos. Mitoses múltiplas são típicas, com o ín
intravasculares com doença cerebral difusa ("encefalite dice MIB-1 excedendo 50%.
carcinomatosa"); e (3) massas tumorais focais (sarcomas
granulocíticos). Aspectos clínicos
A maioria das lesões intracranianas está localizada Epidemiologia e demografia. Os sarcomas granulocíticos
nas adjacências de depósitos malignos nas órbitas, nos ocorrem em 3 a 10% dos pacientes com LMA e 1 a 2%
seios paranasals, na base do crânio ou na calota craniana. dos pacientes com LMC. As lesões intracranianas e na
Sarcomas granulocíticos intra-axiais ocorrem, porém são coluna na ausência de doença sistêmica são muito raras.
menos comuns (Fig. 24-38). Embora o sarcoma granulocítico possa afetar pacientes de
Tamanho e número. Envolvimento multifocal é típico. qualquer idade, 60% possuem menos de 15 anos no mo
mento do diagnóstico inicial.
As lesões extra-axiais costumam ser grandes e vistas
como extensos infiltrados ósseos e massas de base durai Apresentação. O contexto clínico típico é o de uma criança
(Fig. 24-39). As lesões parenquimatosas são menores, va com LMA que desenvolve cefaleia ou déficits neurológi
riando de poucos milímetros a 1 ou 2 centímetros. cos focais. A doença meníngea pode ocorrer em adultos
24-42A Imagem de TC sem contraste em uma criança com LMA mos- 24-42B A lesão é hipointensa na ponderação 12. "Cloroma" (sarcoma
tra uma massa arredondada e muito hiperdensa B na coroa radiada granulocitico) foi encontrado na biópsia.
esquerda.
com leucemia mieloide aguda ou crônica. Paralisias de T2/FLAÍR (Figs. 24-41,24-42). A seqüência FLAIR é útil
nervos cranianos são sintomas típicos. na detecção de disseminação piai. perivascular e no LCS.
A hemorragia é comum e facilmente detectável nas ima
História natural. Embora a sobrevida geral da LMA trata
da seja de 40 a 50%, o surgimento de sarcomas granulo- gens com ponderação T2* (GRE, SWl).
O realce costuma ser intenso e relativamente homo
cíticos implica transformação blástica e pior prognóstico.
A transformação da leucemia Hnfocítica crônica (LLC) gêneo. Imagens ponderadas em TI pós-contraste com
em linfoma nao Hodgkin difuso de grandes células ("sín- saturação da gordura são úteis na detecção de acometi
mento ósseo e na delineaçào de sua extensão. Devido à
drome de Richter") é uma rara, mas séria complicação. A
sua celularidade, o sarcoma granulocitico com freqüência
sobrevida mediana na transformação da LLC é de cinco
demonstra restrição à difusão.
ou seis meses, apesar da terapia com múltiplos agentes.
Achados de medicina nuclear. Exames com Tc-99, MDP
Opções de tratamento. Os pacientes com LMA apresentan
do sarcoma granulocitico podem se beneficiar de regimes são comumente usados para detectar doença óssea. O
individualizados com quimioterapia adaptada ao risco, PET-FDG ou PET-TC do corpo inteiro mostram ávida
intensificação da terapia pós-induçào, transplante de célu- captação e são úteis no estadiamento inicial, bem como na
las-tronco hematopoiéticas e manutenção prolongada do avaliação da resposta ao tratamento.
tratamento.
Diagnóstico diferencial
Imagem o diagnóstico diferencial depende da localização. Sarco
Os exames de imagem são a chave para o diagnóstico do mas granuiocíticos de base durai podem assemelhar-se a
acometimento do SNC, uma vez que os estudos do LCS hematomas extra-axiais. linfomas ou meningcomas.
na cavidade oral de pacientes infectados pelo vírus HIV. ioma múltiplo são incomuns (4 a 5% dos casos), e rara
Raramente a hiperplasla plasmocltárla monoclonal atí mente acometem o SNC.
pica ocorre como um pseudotumor inflamatório intracra Características macro é microscópicas. Um tecido gelatinoso
niano (discutido no Cap. 28, "Cistos não neoplásicos").
vermelho-amarronado substitui a medula óssea amarela.
A perda do osso trabecular é evidente. O exame microscó
Etiologia
pico revela monótonas folhas de plasmócitos neoplásicos
Apesar da etiologia dos tumores plasmocitários perma unifomes e bem diferenciados com núcleos excêntricos e
necer desconhecida, existem boas evidências de que seja
citoplasma basofílico. Em geral, pelo menos 10% das cé
um processo de transformação com múltiplos passos que
lulas no espécime de biópsia da medula óssea necessitam
corresponde aos estágios discemíveis da doença. ser plasmócitos para o diagnóstico definitivo de MM.
A gamopatia monoclonal é uma lesão precursora as-
Os tumores de células plasmocitárias expressam ca
sintomática comum que carrega um risco anual de 1%
deias leves e pesadas de imunoglobulinas. Aproximada
para a progressão para franca neoplasia plasmocitária. Os mente 60% dos MMs produzem IgG, 20 a 25% produzem
estágios terminais nas neoplasias plasmocitárias são ca
racterizados por crescente complexidade genética e inde IgA e 15 a 20% produzem cadeias leves de imunoglobu
linas livres.
pendência das células estromais da medula óssea.
Estadiamento, graduação e classificação. Os dois estadia-
Patologia mentos para mieioma mais utilizados são a classificação
Localização. Os POS quase sempre ocorrem na medula de Durie-Salmon PLUS e o Internacional Staging System
vermelha, mais freqüentemente na coluna. O crânio é a (ISS). A classificação de Durie-Salmon PLUS integra
segunda localização mais comum na cabeça e pescoço. parâmetros clínicos, laboratoriais e histopatológicos aos
Plasmocitomas extramedulares e PEs na presença de mie- achados de imagem (ver quadro a seguir).
IT • r'.. , -
CMC MM e múltiplas paralisias
de pares cranianos mostra uma
massa isointensa B infiltrada
e destruindo a base do crânio e
se estendendo lateralmente para
ambos os seios cavernosos.
If ; 24-46B Imagem coronal em
TI pós-contraste mostra que a
lesão da base do crânio realça
intensamente, estendendo-se
para o interior da nasofaringe su
perior B e do cavo de Meckel à
- ví esquerda S. Lesões adicionais
são observadas na abóbada cra
niana e demonstram "caudas"
durais B.
680 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
Aspectos clínicos
Epidemiologia. o mm é a neoplasia óssea primária mais co
mum, representando cerca de 10% de todas as malignida-
des hematológicas. Quase metade de todos os plasmocito-
mas ósseos solitários eventualmente evoluem para MM.
MM intracraniano é incomum e em geral secundá
rio. ocorrendo na maioria dos casos como extensão para
a dura e leptomeninges a partir de lesões ósseas na calota
craniana, base do crânio, nariz ou seios paranasais.
O píasmocitoma primário do SNC é muito raro. A
macroglobulinemia de Waldestrõm {também conhecida
como síndrome de Bing-Neel) pode formar lesões durais
e, em seguida, invadir o parênquima cerebral.
Oemografia. a prevalência varia com o tipo de prolifera
ção plasmocitária, porém geralmente se eleva nas idades
24-47A Imagem com ponderação FLAIR em um pa
ciente com macroglobulinemia de Waldeslrõm mostra
avançadas. A idade média dos pacientes com POS ou PE
sulcos hiperintensos e edema no hemisfério cerebral
é 55 anos. A maioria dos pacientes com MM possuem
esquerdo B. mais de 40 anos, com o pico de idade de apresentação aos
70 anos. Há uma discreta predominância feminina para
o POS e uma moderada predominância masculina no PE
e M M .
Imagem
Embora a radiografia possa detectar apenas a perda óssea
24-47C Imagem coronal ponderada em 11 pós-con- trabecular de mais de 30 a 50%, radiografias do esquele
traste mostra espessamento difuso da dura-aracnoide to ainda são utilizadas para estadiamento e vigilância dos
Infiltrado íinfoplasmocitário nas meninges. (Corte tumores plasmocitários. A TC é o melhor método para o
sia de P. Hlldenbrand, MO.)
Linfomas, tumores hematopoiéticos e histiocíticos 681
sas de partes moles intramedulares que produzem lesões Estadiamento Durie-Salmon PLUS (mieloma
líticas centradas na medula óssea. A TC sem contraste
múltiplo)
mostra lesões em "saca-bocado" sem margens escleró- • Gamopatia monoclonal
ticas ou matriz interna identificável. Ruptura da cortical o <10% de plasmócitos na medula óssea
com formação de massa adjacente de partes moles à lesão o Medula óssea normal na RM e PET-TC
lítica pode estar presente. • Mieloma múltiplo latente
O mieloma múltiplo apresenta numerosas lesões líti o 2 10% de plasmócitos na medula óssea
o Doença medular limitada na RM e PET-TC
cas, em geral centradas na coluna, na base do crânio, na • Mieloma múltiplo
abóbada craniana e nos ossos faciais. Um padrão de "sal e
o > 10% de plasmócitos e/ou plasmocitoma + lesão
pimenta" é típico (Fig. 24-44). de órgão-alvo
Osteopenia difusa sem lesões focais é observada em o Lesões focais ou difusas na RM
10% dos casos de MM. o T da captação do FDG na medula (multifocal ou
Achados de RM. No estadiamento do mieloma múltiplo, difuso)
a extensão do acometimento da medula óssea é avaliada
Aspectos clínicos
na ponderação TI. A RM de corpo inteiro tem sido vista • Gamopatia monoclonal é uma lesão precursora
como a modalidade de imagem mais sensível para a de c o m u m
• 1% de risco anual para o desenvolvimento de
tecção de lesões ósseas focais e difusas.
As lesões ósseas substituem a medula amarela hipe- neoplasia plasmocitária
• Geralmente adultos mais velhos
rintensa normal e em geral são hipointensas na pondera • Aproximadamente 50% dos POS evoluem para MM
ção TI (Fig. 24-46). Seqüências com saturação da gordu • Sobrevida em cinco anos no MM = 20%
ra, como STIR com ponderação T2, também evidenciam
a extensão da infiltração da medula óssea. Tanto o POS Imagem
• TC sem contraste
quanto o MM realçam intensamente após a administração
o Lesões líticas em "saca-bocado" solitárias ou
de meio de contraste (Fig. 24-45). Envolvimento lepto-
meníngeo e parenquimatoso ocorre, porém é incomum mútiplas
o ± massa de partes moles
(Fig. 24-47). • RM
Medicina nuclear. A cintilografía óssea não é útil na avalia o Lesões substituem a medula normal
ção do MM, uma vez que as lesões são "frias" nas aqui o Hipointensas em T1 e T2
o Realçam em TI pós-contraste
sições com Tc-99m. O PET-TC é útil na identificação e
localização de lesões extramedulares. A sensibilidade é de Diagnóstico diferencial
96%, com uma especificidade de quase 80%. • Metástases líticas (tumor primário extracraniano)
• Leucemia, linfoma
Diagnóstico diferencial • Macroadenoma invasivo da hipófise (centro da base
Múltiplas lesões destrutivas em "saca-bocado" podem pa do crânio)
recer idênticas a metástases líticas.
MM na coluna e base do crânio pode assemelhar-se
à leucemia ou ao linfoma não Hodgkin. Tanto a leuce
Hematopoiese extramedulor
mia quanto o linfoma geralmente apresentam atividade A hematopoiese extramedular (HE) é a formação com
aumentada na cintilografía. pensatória de elementos sangüíneos devido à redução da
O cordoma esfenoclival pode simular MM, porém é hematopoiese medular. Anemias variadas (talassemias,
muito hiperintenso em T2 e contém sequestros ósseos cal- anemia falciforme, esferocitose hereditária, etc.) são a
cifícados intralumorais. etiologia mais comum, representando 45% dos casos.
O macroadenoma invasive de hipófise pode ser Mielofibrose e síndromes mielodisplásicas (35%) são
de difícil distinção com o MM, uma vez que ambos são as próximas causas subjacentes mais comuns associadas
isointensos à substância cinzenta. Níveis elevados de pro- à H E .
lactina costumam estar presentes. Não é possível separar Múltiplas massas bem delimitadas, justaósseas,
a hipófise da massa. circunscritas e hipercelulares são típicas (Figs. 24-48
682 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
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25
Neoplasias selares e lesões
semelhantes a tumores
Apesar da enorme variedade de lesões que podem ocor
Anatomia da região selar 689
rer nesta região, pelo menos 75 a 80% de todas as massas se-
Anatomia macroscópica 689
Técnicas de imagem e anatomia 691 lares/justasselares são em razão de uma das "cinco grandes"
lesões: macroadenoma, meningioma, aneurisma, craniofa
Variantes da normalidade ao estudo de imagem 694
"Kissing" carótidas 694 ringioma e asírocítoma. A soma de todas as outras lesões
Hiperplasia hipofisária 694 corresponde a menos de um quarto das massas da região se
Sela vazia 696 lar. Entidades como germinoma, cisto da bolsa de Rathke e
Lesões congênitas 699 hipofisite são responsáveis por 1 a 2% ou menos cada.
Anomalias hipofisárias 699 Alguns autores recomendam o uso de uma mnemôni-
Hamartoma hipotalâmico 700 ca (como SATCHMO para sarcoidose, aneurisma ou ade
Cisto da bolsa de Rathke 703
noma, teratoma ou tuberculose, craniofaringioma ou cis
Neoplasias 705 to, hipofisite ou hamartoma ou histiocitose, meningioma
Adenomas hipofisários 705 ou meíástase e glioma óptico) para lembrar do espectro
Carcinoma hipoflsário 712 de lesões que podem ocorrer na/em tomo da sela turcica.
Blastoma hipofisárlo 712
Contudo, esta lista mescla lesões raras e comuns, e é pou
Craniofaringioma 713
Tu m o r e s h i p o f i s á r i o s n ã o a d e n o m a t o s o s 7 1 8 co útil para estabelecer diagnósticos diferenciais clínica e
Lesões diversas 719 radiologicamente apropriados.
Os capítulos anteriores a esta seção focam em neo
H i p o fi s i t e 719
Apoplexia hipofisária 722 plasias específicas definidas histopatologicamente. Este
Pré e pós-operatório da sela 725 capítulo é diferente. É definido pela geografia e localiza
Diagnóstico diferencial de uma massa na região selar. 727 ção. O objetivo desta discussão é apresentar a anatomia
Lesões intrasselares 728 da região selar e discutir as diversas lesões que se situam
Massas suprasselares comuns 729 nesta "vizinhança" anatomicamente variada.
Massas suprasselares menos comuns 729
Começaremos este capítulo com uma visão geral que
Massas suprasselares importantes, mas raras 730
incluí chaves para o diagnóstico, considerações clínicas e
Massas da haste infundibuiar 730
Massas císticas intra/suprasselares 730
achados auxiliares nos estudos de imagem. Considerare
mos, então, a anatomia normal macroscópica e nos exa
mes de imagem da região selar.
Visão geral Após, discutiremos variantes da normalidade, como
A região selar é uma das áreas cerebrais anatomicamen- a hipertrofia fisiológica, que pode simular uma patologia
te mais complexas. Ela engloba o componente ósseo da hipofisária. As lesões congênitas (como hamartoma do
sela turcica e a glândula hipofisária, somados às estruturas tuber cinereum), que podem ser confundidas com patolo
normais de seu entorno. Praticamente qualquer um destes gias mais ameaçadoras, também serão caracterizadas. As
componentes pode originar patologias que variam de inó neoplasias da glândula hipofisária e da haste infundibular
cuas a graves, potencialmente fatais. serão discutidas. Segue-se uma breve consideração sobre
Pelo menos 30 lesões diferentes ocorrem na ou nos outras lesões diversas, como hipofisite linfocítica, apople
arredores da glândula hipofisária, originando-se da pró xia hipofisária e o pós-operatório da sela.
pria glândula ou de estruturas adjacentes, que incluem O objetivo dos estudos por imagem é determinar pre
seios cavernosos e seu conteúdo, artérias (o círculo de cisamente a localização e as características da massa selar,
Willis), nervos cranianos, meninges, espaços do líquido delinear sua relação - e envolvimento - com as estrutu
cerebrospinal (LCS) (a cisterna suprasselar e o terceiro ras de seu entorno e construir um diagnóstico diferencial
ventrículo) e parênquima cerebral (o hipotálamo). sensato e restrito para ajudar a direcionar a conduta do
688 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
25-1 Corte de peça anatômica na linha média demonstra a sela 25-2 Fotomicrografia de uma glândula hipofisária normal sec-
turcica e as estruturas que a rodeiam. Adeno-hipófise SI e neuro- cionada mostra a bolsa de Rathke e seu remanescente como uma
■hipófise [S são mostradas, bem como o quiasma óptico B e os "fenda" IS entre os lobos anterior (ã esquerda B) e posterior
recessos óptico E3 e infundibular ^3 do terceiro ventrículo. (Cortesia (â direita ES) da glândula hipofisária. (Cortesia de A. Ersen, MD, B.
de M. Nielsen, MS.) Scheithauer, MD.)
paciente. Concluiremos o capítulo com uma síntese e in da região selar é a idade do paciente. As lesões que são
trodução aos diagnósticos diferenciais das massas selares. comuns em adultos (macroadenoma, meningioma e aneu-
Quando finalizarmos esta discussão, você deve estar rísma) costumam ser raras em crianças. Uma lesão em
apto a olhar para uma massa selar desconhecida e ofere uma criança pré-pubere - especialmente em um menino
cer diagnósticos diferenciais cabíveis, e não apenas falar - que se parece com um macroadenoma, quase nunca é
todas as possíveis lesões que podem ser encontradas nesta uma neoplasia. Aumento não neoplásico da glândula hi
região anatomicamente complexa. pofisária em crianças é muito mais comum do que tumo
res. Consequentemente, uma hipófise "graúda" em uma
Considerações diagnósticas criança é quase sempre uma hipertrofia fisiológica normal
A sublocalização anatômica é a característica isolada mais ou secundária à insuficiência de órgào-alvo (mais comu-
importante e a chave para estabelecer o diagnóstico dife mente hipotireoidismo).
rencial apropriado das massas da região selar. O primeiro Algumas lesões que são comuns em crianças (p. ex.,
passo é atribuir a lesão a um dos três compartimentos ana astrocitoma pilocítico opticoquiasmático/hipotalâmico e
tômicos, ídentifícando-a como (1) intrasselar, (2) supras- craniofaringioma) são incomuns em adultos.
selar ou (3) da haste infundibular. O gênero também é importante. Os estudos de ima
A chave para determinar a sublocalização anatômica é gem em mulheres jovens com ciclos menstruais e em mu
esta pergunta: "A glândula hipofisária é identificada separa lheres pós-parto com freqüência demonstram a glândula
damente da lesão?". Se a resposta é não e a glândula é a pró hipofisária dc aspecto "cheio", devido à hiperplasia fisio
pria massa, o diagnóstico mais provável é de macroadenoma. lógica temporária.
Se a massa está claramente separada da glândula hipofi
sária, ela é extra-hipofisária e consequentemente não se trata Considerações de imagem
de um macroadenoma. Outras patologias, como meningioma Os aspectos de imagem são muito úteis para a avaliação
ou craniofaringioma devem ser consideradas nestes casos. das lesões da região selar. Após estabelecer a sublocaliza
ção anatômica da lesão, procure por pistas na imagem. Há
Considerações clínicas outras lesões? A lesão é calcificada? A aparência é cística?
A característica clínica mais importante para se estabele Contém produtos hemáticos? É focai ou infiltrativa? Sofre
cer o diagnóstico diferencial apropriado para as massas realce?
Neoplasias selares e lesões semelhantes a tumores 689
25-3 Aspectos macroscópicos em corte coronal, revelando as impor 25-4 Os nervos cranianos na parede lateral durai dos seios cavernosos
tantes estruturas adjacentes à glândula hipofisária E3. ACIs cavernosas incluem o III IV SI, V,-Se NCs. Apenas o VI B NC está
B e supraclinóideas são mostradas, assim como o diafragma da sela no interior do próprio seio cavernoso.
[^1 e os nervos ópticos SI. (Cortesia de M. Nielsen, MS.)
25-5 Ilustração no plano axial demonstra a glândula hlpofisãria Í3\ e 25-6 Ilustração no plano sagital representa os nervos cranianos do
a haste S], vistas pela abertura do diafragma da sela [=3. seio cavernoso laterais à glândula hlpoíisárla e à haste S. O cavo
de Meckel é preenchido com LCS, contém fascículos do V NC e o gânglio
de gasser (semilunar) H.
NH. com uma configuração cm U. A AH é subdividida em cimento, a AH inicia uma drástica fase de crescimento,
três partes: pars distalis (pars anterior), pars intermedia que aumenta o tamanho da glândula.
(PI) e a pars tuberalis. A glândula hipofisária dos adultos pode adaptar sua
Ela se desenvolve como uma projeção, chamada de composição celular em resposta a modificações das con
bolsa de Rathke, da ectoderme embrionária que reveste dições fisiológicas.
o teto da cavidade bucal (Fig. 25-2). Este prolongamento
Hipófise posterior (neuro-hipófise). A hipófise posterior ou
subseqüentemente desprende-se da cavidade bucal e sua pa
rede anterior se espessa para tomar-se a maior parte da AH, neuro-hipófise se desenvolve do diencéfalo embrionário
chamada de pars distalis. A parede posterior se diferencia (prosencéfalo) como uma extensão inferior do hipotálamo.
em pars intermedia, enquanto as porções dorsolaterais se A hipófise posterior é subdividida na grande pars nervosa
estendem em tomo do infundíbuio como a pars tuberalis. e em uma parte menor, o infundíbuio (haste hipofisária).
As três partes da AH produzem hormônios. Em sua A NH compreende 20 a 25% do volume total da glân
maioria são hormônios tróficos que regulam a função de dula hipofisária. ANH permanece unida ao cérebro por
outras células endócrinas, como células secretoras das gô- meio do infundíbuio, que se insere na eminência media
nodas. tireoide e cortex suprarrenal. Todos os hormônios na do hipotálamo.
da hipófise anterior são regulados por hormônios de libe A maior parle do parênquima da pars nervosa con
ração hipotalâmicos, com exceção da prolactina, que está siste em terminações axonais de neurônios, cujos corpos
sob controle do circuito dopaminérgico. celulares estão localizados no hipotálamo. Os neurônios
As células da pars distalis da AH produzem cinco constituem cerca de 75% do lobo posterior. Os 25% res
hormônios diferentes: somatotrofina (também conheci tantes do lobo posterior consistem em células glials cha
da como hormônio do crescimento ou GH), prolactina, madas de pltuícitos.
hormônio tireoestimulante (TSH), hormônio foliculo- Não há células produtoras de hormônio na pars ner
-estimulante/luteinizante (FSH/LH) e o hormônio adreno- vosa ou na haste infundibular. Em vez disso, a pars nervo
corticotrófico (ACTH). Além disso, a AH também possui sa secreta dois hormônios que são formados no hipotála
uma substancial proporção de células que não expressam mo: o hormônio antidiurético (ADH. também chamado
marcadores hormonais. Estas células não secretoras de de vasopressina) e a ocitocina. Ambos são sintetizados
hormônios são chamadas de cromófobas. como um pré-pró-hormônio maior, que também contêm
A glândula hipofisária dos recém-nascidos Já apresen a proteína de transporte, a neurofísina. O pró-hormônio é
ta um conjunto completo de células produtoras hormonais transportado pelo trato hipotálamo-hipofisário no infundí
completamente diferenciadas. Entretanto, a glândula pós- buio, clivado em sua forma ativa na NH e armazenado nos
-natal sofre um grande remodelamento. Logo após o nas- grânulos secretórios nos axônios terminais.
Neoplasias selares e iesoes semelhantes a tumores 691
que se localizam junto às laterais da sela turcica. Os SCs A hipertrofia fisiológica em meninas pré-púberes e
estào contidos no interior de uma proeminente parede em jovens mulheres em idade fértil é comum, com a altu
durai lateral e de uma fina (freqüentemente inaparente) ra normal da glândula podendo chegar a até 10 mm. Em
parede durai mediai. Os conteúdos importantes do SC gestantes e em mulheres no período de amamentação, a
incluem os segmentos cavernosos das ACls e diversos glândula pode ser ainda maior, adquirindo uma convexi-
nervos cranianos. dade superior e podendo medir até 14 a 15 mm em altura.
692 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
25-7A Ponderação em T2
no plano sagital em RM 3.0T
demonstra a glândula hípofisária
e suas estruturas adjacentes: O
quiasma óptico BS e os recessos
óptico E3 e infundibular
25-7B Aquisição em TI pós-
m
-contraste mostra o intenso
realce venoso durai dos seios
cavernosos ES e o realce leve
mente menos intenso da glându
la hípofisária 0 III NC é visto
como uma estrutura linear des
provida de realce S. cursando
anteriormente na parede lateral
durai. Os flow voids da ACI caver
nosa normalmente se situam nos
sulcos carotídeos, lateralmente à
glândula hípofisária.
25-7C Ponderação em 12 no
plano coronal mostra a hiperin-
tensidade do ICS nas cisternas
oculomotoras ESI e nos cavos
de Meckel Os "pontos" no
interior dos cavos de Meckel são
fascicules dos nervos trigêmeos,
O diafragma da sela ES cobre
a mesma.
25-7E Ponderação em Ti no
plano sagital com saturação de
gordura mostra que a neuro-hi-
pófíse B permanece brilhante,
indicando que a sua hiperin-
tensidade não é por conteúdo
gorduroso, mas sim por grânulos
neurossecretórios.
25-7F Aquisição em Ti pós-
-contraste com saturação de
gordura no plano sagital mostra
que a haste infundibular ES e
o tuber clnereum B do hipo-
tálamo carecem de barreira he-
matoencefálica e sofrem realce.
Observe o afunilamento normal
do infundibulo enquanto cursa
inferiormente do hipotálamo
para a glândula hípofisária.
Neoplasias selares e lesões semelhantes a tumores 693
25-8 Dissecção de peça de necfopsia da base craniana central mostra 2S-9 Ponderação em TI no plano axial mostra "kissing" carótidas ES
as artérias carótidas cavernosas posicionadas medialmenle B, limitan com a glândula hipofisária comprimida entre elas. O sinal hiperintenso
do e comprimindo levemente a glândula hipofisária (Cortesia de A. da glândula hipofisária posterior S é visto deslocado para cima, entre
Ersen, MO, B. Scheittiauer, MD.) as artérias carótidas.
A haste infundibular mede aproximadamente 3,3 mm A haste infundibular e o tuber cinereum também ca
de diâmetro ao nível do quiasma óptico e reduz de calibre recem de barreira hematoencefálica e sofrem realce nas
gradualmente para cerca de 2 mm enquanto descreve uma ponderações em TI pós-contraste (Fig. 25-7F).
trajetória descendente para se inserir na glândula hipofisá
ria (Fig. 25-7F). "Incidentalomas" hipofisários
Áreas focais de hipoiníensidade ou de ausência de realce
Intensidade de sinal da glândula hipofisária são comuns nas aquisições pós-contraste da glândula hipo
A intensidade de sinal da glândula hipofisária é variá fisária. Essas alterações são vistas em 15 a 20% dos pacien
vel. Com exceção dos neonates (nos quais a AH pode tes assintomáticos e foram apelidadas de "incidentalomas"
ser grande e muito hiperintensa). a AH costuma ser hipofisários. A maioria possui menos de 1 centímetro de
isointensa se comparada ao córtex em ambas as ponde diâmetro ("microincidentalomas"). Eles podem ser causa
rações TI e T2. ANH possui um curto tempo TI (o cha dos por cistos intra-hipoflsários, bem como por microade
mado sinal hiperintenso da neuro-hipófise ou SHNH), nomas não funcionantes. Ambos são comuns em autópsias.
causado pela presença de grânulos neurossecretores. O Embora a maioria dos "incidentalomas" hipofisários
SHNH não contém lipídeos e não suprime às técnicas não seja suspeito nos achados de imagem e geralmente
de saturação de gordura (Fig. 25-7E). Até 20% dos pa não apresente significado clínico, diretrizes endocrino-
cientes endocrinologicamente normais não possuem o lógicas recentes recomendam que os pacientes com mi
SHNH. croincidentalomas sejam submetidos a exame físico,
A haste infundibular é isointensa à hipófise, exceto história clinica e avaliação laboratorial básica (i.e., men-
por uma hiperintensidade central nas ponderações em T2. suraçâo dos níveis de prolactina e lGF-1). Os pacientes
O recesso infundibular do terceiro ventrículo se estende com "macroincidentalomas" (mais que 1 centímetro) de
inferiormente na haste em uma distância variável. vem ser avaliados para hipopituitarismo e submetidos a
avaliação por campimetria convencional se a lesão estiver
Padrões de realce contígua aos nervos ou ao quiasma óptico.
A glândula hipofisária não possui barreira hematoence- Se o paciente não preencher critérios cirúrgicos es
fálica, portanto, ela realça rápida e intensamente após pecíficos para a ressecção, o seguimento por RM é reco
a administração do contraste. A glândula hipofisária mendado em seis meses para um "macroincidentaloma" e
apresenta realce levemente menor que o sangue veno- em um ano para um "microincidentaloma" e, subseqüen
so que está no interior dos seios cavernosos adjacen temente, com freqüência progressivamente menor se o
tes (Fig. 25-7D). "incidentaloma" permanecer estável em tamanho.
694 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorals
25-12 Ponderação em TI no
plano sagital em uma paciente
de 16 anos mostra o abaulamen-
to superior normal da glândula
hipofisária B. O soalho da sela
está intacto. Observe o sinal
hiperintenso da neuro-hipófise
25-14A Aquisição em T1 pós-contraste no piano coronal de um pa 25-148 A avaliação endócrina revelou hipotireoidismo. O exame foi
ciente masculino pré-púbere mostra hiperplasla hlpofisaria E9 com repetido algumas semanas após o início do tratamento, apresentando
abaulamento superior da glândula que simula um macroadenoma. resultado normal ES.
perplasia de células produtoras de TSH pode ser induzida Aspectos demográficos. Os pacientes costumam ser crianças
por hipotireoidismo primário de longa data (Fig. 25-14). ou adultos jovens. A hiperplasia das células de PRL é a
A hiperplasia de células produtoras de ACTH ocorre com
etiologia mais comum.
hipocortisoiismo na doença de Addison. A hiperpiasia go-
nadotrófica ocorre em resposta ao hipogonadismo primá Apresentação. Os sintomas variam com o hormônio envol
rio (síndromes de Klinefelter ou Turner). vido. A hiperplasia das células produtoras de PRL causa
A hiperplasia patológica também pode ser induzida hiperprolactinemia, enquanto a das células relacionadas
ao GH causa gigantismo ou acromegalia e a das células
pelo excesso ectópico de hormônios de liberação. A hiper
relacionadas ao ACTH causa doença de Gushing.
plasia de células produtoras de GH ocorre com o aumento
do GHRH secretado por tumor de células de ilhotas pan- História natural. A hipertrofia fisiológica normal não re
creáticas, feocromocitoma, carcinoma brônquico e tumor quer tratamento. A hiperplasia patológica é tratada com
carcinoide tímico. medicamentos e o prognóstico é excelente. Não há au
A hiperplasia das células produtoras de ACTH pode mento na prevalência de adenomas.
ser secundária à secreção de CRH por um hamartoma hi-
potalámico (adiante), tumor neuroendócrino ou doença de Imagem
Gushing ACTH-dependente. Hiperplasia mamotrófica e Aumento simétrico do tamanho da glândula hipofisária e
somatotrófica ocorre na síndrome de McCune-Albright e de seu volume global, sem efeito de massa focai ou erosão
no gigantismo. óssea são os achados clássicos.
Os exames de TC sem contraste mostram que a glân
Patologia dula mede cerca de 10 a 15 mm de altura e apresenta uma
Patologia macroscópica. A forma mais comum fisiológica convexidade em sua margem superior. Não há evidência
da hiperplasia hipofísária é a hiperplasia difusa das célu de erosão óssea da sela turcica. O realce é forte e geral
las produtoras de prolactina (PRL) durante a gravidez e o mente uniforme na TC com contraste.
período de amamentação. A adeno-hipófise toma-se sime- A RM demonstra um aumento da glândula, com ar-
tricamente aumentada, algumas vezes quase 2 a 3 vezes queamento superior, que pode até mesmo demonstrar
o seu tamanho normal, mas, com exceção disso, possui contato com o quiasma óptico. O aumento hipofisário é
aparência macroscópica normal. isointenso ao córtex em ambas as ponderações TI e T2.
696 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
nologicamente normal.
Neoplasias selares e lesões semelhantes a tumores 697
25-19A Ponderação em TI no
.-•J
nea, apresentam uma SV em associação, demonstrada nos na SV primária, mas, na SV secundária, apresenta defeitos
exames por RM pré-operatórios (Fig. 25-20). cirúrgicos causados por hipofisectomia transesfenoidal. A
Ocasionalmente, os pacientes se apresentam com haste infundibular e o remanescente hipofisário realçam
distúrbios visuais causados por deslocamento inferior do nos exames de TC com contraste. A haste pode estar des
quiasma óptico para o interior da sela vazia. A maioria locada da linha media, com aspecto um pouco "inclinado".
destes casos é de SVs secundárias após hipofisectomia
Achados na RM. O líquido intrasselar comporta-se como
transesfenoidal para ressecção de adenomas hipofísários.
o LCS nas ponderações em TI e em T2 e suprime com
Opções de tratamento. A SV primária ou secundária ge pletamente no FLAIR. A ponderação em difusão não de
ralmente não requer tratamento definitivo. A reposição monstra restrição. Em casos graves, o quiasma óptico e/ou
hormonal pode ser necessária em alguns casos. Rinorreia/ o aspecto anterior do terceiro ventrículo podem parecer
otorreia liquórica ou deslocamento do quiasma óptico herniados para - ou retraídos em direção - a sela. Se a
com comprometimento visual importante podem necessi SV for secundária à cirurgia, tamponamento com o uso
tar de intervenção cirúrgica. de enxerto de gordura e cicatrizes com aderências podem
distorcer os achados de imagem.
Imagem
Características gerais. Os estudos de imagem mostram Diagnóstico diferencial
LCS intrasselar com uma glândula hipofisária afilada e O principal diagnóstico diferencial da SV é a hiperten
são intracraniana idiopática (Hll), também chamada de
aplainada contra o soaiho da sela.
"pseudotumor cerehri". Ambas têm prevalência aumenta
Achados na TC. Líquido com densidade como LCS preen da em mulheres obesas. Os achados de imagem também
che a sela que pode apresentar tamanho normal ou mode apresentam algum grau de sobreposição, já que estas con
radamente alargado. O soalho ósseo da sela está intacto dições freqüentemente apresentam uma sela túrcica vazia.
25-23A Ponderação em Ti no
plano sagital de uma menina de
4 anos com pan-hipopituitarismo
mostra anormalidades mais gra
ves com quase nenhum tecido
Y )
no interior da sela SI, haste
ausente e hipófise posterior
ectópica no hipotálamo B.
25-23B Ponderação em T2
no plano coronal da mesma
paciente mostra uma glândula
hipofisária B quase imper
ceptível e haste ausente, com
deslocamento da neuro-hipólise
nohipotálamo ÍS.
r ^
' ■ B
Neoplasias seiares e lesões semelhantes a tumores 699
Hipoplasia hipofisária
Uma glândula hipofisária hipoplásica é a anormalidade
mais freqüente em crianças com deficiência isolada de
hormônio do crescimento (DIHC), enquanto anormali 25-24B Ponderação em Ti no piano coronal do
dades na haste são mais comuns em crianças com de mesmo paciente mostra duas glândulas hipotisárias
ficiências hormonais múltiplas. Quase 75% das crianças hiperintensas BS.
com hipopituitarismo são do sexo masculino.
As anormalidades na imagem incluem sela e lobo
hipofisário anterior pequenos, hipoplasia ou ausência da
haste e lobo hipofisário posterior ectópico, visto como
deslocamento da hiperintensidade em TI do lobo poste
rior para o infundíbulo ou para eminência mediana do hi-
potálamo (Figs. 25-22 e 25-23).
Em geral, a extensão das anormalidades na RM se
correlaciona com o grau de gravidade da deficiência hor
monal. Os pacientes com deficiência isolada de GH são
mais propensos a ter adeno-hipófise e infundíbulo de ta
manho normal do que aqueles com deficiências endócri-
nas múltiplas.
A síndrome de Kallman, também conhecida como
hipogonadismo hipogonadotrófico, é um distúrbio da mi
gração neuronal que resulta em nervos e em sulcos olfa- 25-24C Ponderação em T2 no plano coronal do
tórios hipoplásicos ou ausentes. Diversas anormalidades mesmo paciente mostra duplicação da haste [^. A
visuais e septais, bem como hipoplasia da glândula hipofi presença de glândula e haste hipofisária duplicada é
sária, são comuns nesta síndrome. uma anomalia congênita rara.
700 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
25-27A Ponderação em T2
no plano sagital de uma criança
de 12 anos com puberdade pre
coce central mostra um clássico
hamartoma hipotalâmico em
"botão de colarinho" l~>l entre a
haste infundibular B] e os cor
pos mamilares [S. Essa massa é
isointensa à substância cinzenta.
25-27B Aquisição em TI pós-
-contraste no plano sagital do
mesmo paciente mostra que o
hamartoma hipotalâmico B9
não sofre realce.
Neoplasias selares e lesões semelhantes a tumores 701
25-28 Ponderação em T2 no
TFT
I
piano sagilal mosUa um clássico
HH séssil ES abaulando o soaiho
do terceiro ventriculo [S.
25-29 Ponderação em 12 no
piano sagitai mostra um minús
culo HH séssil B logo atrás do
infundíbulo ES e em frente aos
i f corpos mamilares B.
25-30A Aquisição em TI
pós-contrasle do exame de um
adolescente com hipogonadismo
hipogonadotrófico mostra uma
grande massa ES lobulada des
provida de realce na cisternas su-
prasselar e pré-pontina. A haste
infundibular B está deslocada
anteriormente.
25-30B Espectroscopia de
protons muitivoxe! da lesão
mostra redução do NAA B
com mioinositol elevado B no
voxel colocado sobre a lesão. Os
achados e a história clínica são
compatíveis com um grande ha
martoma hipotalâmico.
25-31A Ponderação em 11 no
25-32 liusiíação coronal mostra um típico cisto da bolsa de Rathke 25-33 Ponderação em TI no plano sagital em um paciente assin-
interposto entre a glândula hipofisária S] e o quiasma óptico B3. tomálico mostra minúscula massa hiperintensa suprasselar ES, que
parece separada da glândula hipofisária e da hiperintensidade da neuro-
-hipófise Presumivelmente um cisto da bolsa de Rathke.
Características micro e macroscópicas. Os HHs são massas Anomalias associadas ao HH incluem a holoprosen-
de partes moles redondas ou ovoides bem definidas que cefalia. Os pacientes com SPH possuem malformações
lembram o parênquima cerebral normal. Histoíogicamen- digitais e outras anomalias da linha média (epiglote, larin-
te, os HHs consistem em pequenos e grandes neurônios ge), bem como anomalias cardíacas, renais e anais, além
bem diferenciados interpostos a quantidades variáveis de do hamartoma hipotalâmico.
células gliais. Calcificaçâo, hemorragia e necrose são ra
História natural. Os HHs geralmente permanecem está
ras, embora lesões muito grandes com freqüência conte veis em tamanho. Terapia de supressão hormonal, ou seja,
nham cistos de margens bem definidas.
agonistas do LHRH, são úteis em alguns casos. A cirurgia
Estadiamento, graduação e classificação, a classificação mais pode ser necessária na falha da terapia medicamentosa ou
comum dos HHs é a morfológica. Os HHs podem ser pe- no rápido crescimento lesional.
dunculados ou sésseis. Os HHs pedunculados estão aderi
dos ao tuber cinereum e projetam-se para a cisterna supras Imagem
selar. Os HHs sésseis estão aderidos ao soalho do terceiro
Características gerais. Uma massa hipotalámica entre a
ventrículo e com freqüência incorporam os corpos mamila- haste infundibular e os corpos mamilares é o aspecto clás
res. A projeção para a cisterna suprasselar é variável. sico de imagem do HH (FIg. 25-27).
Aspectos clínicos Achados na TC. O exame de TC sem contraste mostra uma
Aspectos demográficos. Os HHs são lesões raras, embora massa suprasselar homogênea que é iso a levemente hi-
até um terço dos pacientes com puberdade precoce central podensa se comparada ao parênquima cerebral. Cistos in-
apresentem estas lesões. Há uma moderada predominân tralesionais podem estar presentes nos HHs maiores. Os
cia masculina. HHs não se impregnam à TC com contraste.
Apresentação. A maioria dos HHs se apresenta entre 1 e 3 Achados na RM. Os HHs pedunculados possuem a mor-
anos de idade. Três quartos dos pacientes com HHs histo- fologia de um "botão de colarinho" nas ponderações em
logicamente comprovados possuem puberdade precoce e TI no plano sagital, estendendo-se inferiormente para a
50% têm convulsões. cisterna suprasselar. A intensidade de sinal é isointensa
Os HHs associados a convulsões são variáveis, depen à substância cinzenta normal nas ponderações em TI e
dentes da idade e com freqüência refratários ao tratamento. iso a levemente hiperintensa em T2/FLAIR. O grau de
Crises gelásticas (paroxismos ictais de riso) são o tipo mais hiperintensidade em T2 está diretamente relacionado à
comum e variam de um sorriso a contrações intensas do proporção de tecido glial versus neuronal no interior da
diafragma acompanhadas de estremecimentos corporais. lesão.
Neoplasias selares e lesões semelhantes a tumores 703
■5
a m m M
25-34C Ponderação em 12 do
mesmo paciente mostra que o
cisto E3 é hipointenso e contém
um nódulo ^3 ainda mais hi
pointenso intracístico.
25-340 Uma borda ("garra")
de glândula hipofisária com real
ce B é vista em torno do cisto.
■
Cisto da bolsa de Rathke com
nódulo intracístico foi encontrado
na cirurgia.
704 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
cionados entre o lobo anterior e a pars intermedia, en Apresentação. A maioria dos CBRs é assintomático e des
quanto 60% são suprasselares (Figs. 25-32 e 25-33). coberto incidentalmenle nos estudos de imagem ou na
Tamanho e número. A maioria dos CBRs sintomáticos mede necropsia. Os CBRs sintomáticos causam disfunção hipo-
fisária. alterações visuais e cefaleia.
entre 5 e 15 mm de diâmetro. Ocasionalmente, um CBR
As vezes, mas não sempre, os CBRs apresentam-se
toma-se muito grande e pode comprimir o parênquima ce
com "apoplexia do cisto" causada por hemorragia súbita
rebral adjacente e erodir a base do crânio.
no interior do cisto. Os sintomas geralmente são indistin-
Patologia macroscópica. Os CBRs são cistos de margens guíveis daqueles da apoplexia hipofísária.
bem definidas, levemente lobuladas. O conteúdo do cisto
História natural. A maioria dos CBRs é estável e não sofre
varia de claro, semelhante ao LCS. a material mucoide
amarelado, denso e espessado. modificação em seu tamanho ou em suas características.
Os CBRs não apresentam degeneraçao maligna.
Características microscópicas. Os CBRs são cistos endodér-
micos (e não ectodérmicos). Eles são revestidos por uma Imagem
única camada de epitélio ciliar cuboide ou colunar, junta Achados na TC. Os exames de TC sem contraste mostram
mente com quantidades variáveis de células caliciformes. u m a m a s s a r e d o n d a o u o v o i d e d e l i m i t e s b e m d e fi n i d o s
Nos estudos de imuno-liistoquímica, os CBRs expressam no interior ou logo acima da sela turcica. Três quartos dos
citoqueratinas 8 e 20. CBRs são hipodensos na TC sem contraste, enquanto 20%
são mistos hipo e isodensos. Entre 5 e 10% são hiperden-
Aspectos clínicos sos (Fig. 25-34A). Calcificações são incomuns se compa
Aspectos demográficos. Embora os CBRs possam ocorrer radas ao craniofaringioma.
em qualquer idade, a média de idade de apresentação está
em 45 anos.
25-35A Ponderação em TI
no piano sagitai de um paciente
com alterações visuais mostra
que o quiasma óptico ES está
elevado em razão de uma massa
E3 supra e intrasselar, que é
isointensa à substância cinzenta.
25-35B A massa B é muito
hiperintensa nas ponderações
em T2. Observe o quiasma óptico
B elevado, abraçando a lesão.
TSH
5%
GH
GH ACTH
50% 15-20% 50%
PRL , PRL
15-20% 15-20%
FSH/LH 10%
25-37 Secção sagitai pela glândula hlpoíisária demonstra os lobos 25-38 Gráfico demonstra a localização das células do lobo hipofisário
hipofisárlos anterior e posterior ES, bem como a haste infundibular anterior. As asas laterais contêm principalmente células produtoras de
[S conectando o hipotálamo à neuro-hipófise. (Cortesia de A, Ersen, GH e PRL. Os corticotróllcos e tireotróficos se localizam na érea mucoide
MO, B. Schelthauer, MO.) mediana com moríologia semelhante a uma cunha (verde). As células
responsáveis pelo FHS/LH estáo distribuídas difusamente.
Achados na RM. A intensidade de sinal varia com o con- são comuns) e epidermoide (raramente na linha média, com
teiido do cisto. Metade dos CBRs são hipointensos nas porta-se de modo semelhante ao LCS), cistos de aracnoide
ponderações em TI e a outra metade é hiperintensa (maiores, semelhantes ao LCS, desprovidos de nódulo in
(Fig. 25-35). A maioria dos CBRs é hiperintenso em T2 tracístico) e cistos inflamatórios (p. ex., neurocisticercose,
(Fig. 25-35), enquanto 25 a 30% são iso a hipointensos. A cistos múltiplos são muito mais prevalentes que solitários).
inspeção cuidadosa revela um nódulo intracístico em 40 a
75% dos casos (Figs. 25-34C e 25-34D).
CISTO DA BOLSA DE RATHKE
Os CBRs são quase sempre hiperintensos no FLAIR
(Fig. 25-36A). Uma borda de realce (sinal da "garra") Etiologla e patologia
devido à glândula hipofisária comprimida pode ser vis • Remanescente embrionário da fenda de Rathke
• Intrasselar (40%), suprasselar (60%)
ta, com freqüência, rodeando a lesão cistica sem realce • O conteúdo varia (de semelhante ao LCS a mucoide e
(Fig. 25-36B).
espesso)
• Revestimento endodérmico + células callciformes
Diagnóstico diferencial
o principal diagnóstico diferencial é o craniofaringioma. Imagem
• Hipointensos (50%), hiperintensos (50%) no TI
Calcifícações floculares, periféricas ou nodulares são co • Hiperintensos em T2/FLAIR
muns no craniofaringioma, enquanto os CBRs raramente • Procure por
calcificam. O realce periférico ou nodular do craniofarin • Nódulo intracístico (40 a 75%)
gioma é geralmente mais espesso e irregular que o realce • Realce em "garra"
da glandula hipofisária em "garra" que rodeia o CBR não
realçante.
Um adenoma hipofisário cístico - especialmente um
microadenoma cístico não funcionante - pode ser difí
cil de distinguir de um pequeno CBR intrasselar. Ambos Neoplasias
raramente calcificam e são etiologias comuns de inciden- Adenomas hipofisórios
talomas nos exames de RM. Nenhum deles requer trata
mento, portanto esta distinção é acadêmica. Terminologia
Outros cistos não neoplásicos que podem ocorrer na Os adenomas hipofísários são tumores da adeno-hipófise
região selar são os cistos dermoide (gordura e calcifícações compostos por células secretoras que produzem hormô-
706 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
nios hipofísários (Figs. 25-37 e 25-38). Os microadeno Mutações na proteína interatuante-receptora do aril-
mas são definidos como tumores de 10 mm ou menos de -hidrocarboneto (AIP) foram identificadas em alguns
diâmetro, enquanto os adenomas maiores são denomina pacientes com síndrome do adenoma hipofisário familiar
dos macroadenomas (Figs. 25-39,25-40,25-41 e 25-42). isolado (abaixo), mas são raras em pacientes com adeno
mas hipofísários esporádicos.
Etiologia SíNDROMES TUMORAIS HIPOFISÁRIAS FAMILIARES. A maioria dos ade
Conceitos gerais. Células com propriedades progenito-
nomas hipofísários é esporádico e ocorre em adultos. Apro
ras multipotenciais, semelhantes a células-tronco, foram
ximadamente 5% dos adenomas hipofísários são familiares.
identificadas na glândula hipofisária de adultos e podem
São conhecidas quatro síndromes tumorais familiares
desempenhar um papel na tumorogênese. Alterações no herdadas com defeitos genéticos identificados associadas
microambiente normal das células-tronco hipofisárias po a adenomas hipofísários: neoplasia endócrina múltipla
dem servir de gatilho para a proliferação desordenada e
tipo 1, complexo de Carney, síndrome de McCune-Albright
subsequente formação dos adenomas hipofísários. e síndrome do adenoma hipofisário familiar isolado.
Genética. A gênese dos adenomas é um processo que en Neoplasia endócrina múltipla do tipo 1 (NEMl)
volve múltiplas causas e múltiplas fases, que incluem é uma doença autossômica dominante com mutações de
fases tanto de iniciação como de progressão. A ativação linhagem germinativa altamente penetrantes que pre
de diversos oncogeneses e a perda das funções de genes dispõem os pacientes a desenvolver tumores em células
supressores tumorais estão envolvidas. Além disso, al secretoras hormonais. A NEM I é caracterizada por uma
guns fatores endócrinos tanto a nível hipotalâmico quanto combinação de mais de 20 tumores endócrinos e não en
sistêmico podem induzir a proliferação celular adeno- dócrinos. Os tumores hipofísários ocorrem em 15 a 40%
-hipofisária, dos pacientes com NEMl. Os adenomas associados a
Adenoma de células de PRL esparsa- 27,0 1:2,5 PRL Mulheres: síndrome de amenorreia-galactor-
mente granulado reia; homens: massa selar, hipogonadismo
Adenoma de células de GH densa- 7,1 1:0,7 GH, subunidade a (PRL, TSH, Acromegalia (adultos) ou gigantismo (crian
mente granulado LH,FSH) ças)
Adenoma de células de GH esparsa- 6,2 1:1,1 GH, PRL (subunidade a Acromegalia (adultos) ou gigantismo (crian
mente granulado ças)
Adenoma misto de células de 6H-PRL 3,5 1:1,1 GH, PRL (subunidade a, TSH) Acromegalia + hiperprolactinemia
Adenoma mamosomatolrófico 1,2 1:1,1 GH, PRL (subunidade a, TSH) Acromegalia + hiperprolactinemia
Adenoma corticolrófico densamente 9,6 1:5,4 ACTH (LH, subunidade a) Síndrome de Gushing, síndrome de Nelson
granulado
Adenoma corticotrófico esparsamen- Raro N/D ACTH Síndrome de Gushing, síndrome de Nelson
te granulado
Adenoma gonadotrófico 9,8 1:0,8 FSH, LH, subunidade a(AGTH) Massa selar não funcionante
Adenoma "corticotrófico" silencioso 1,5 1:1,7 AGTH Massa selar não funcionante, hipofisária
subtipo 1
Adenoma "corticotrófico" silencioso 2,0 1:0,2 p Endorfina, ACTH Massa selar não funcionante
subtipo 2
Adenoma silencioso subtipo 3 1,4 1:1,1 Qualquer combinação dos Mulheres: Simula adenoma secretor de PRL;
hormônios da hipófise an- homens: Massa selar não funcionante
terior
Adenoma de células nulas 12,4 1:0,7 Imunorreativo (FSH, LH, TSH, Massa selar não funcionante
subunidade a)
Oncocitomas 13,4 1:0,5 Imunonegativo (FSH, LH, TSH, Massa selar não funcionante
subunidade a)
N/D, não disponível; PRL,prolactina; TSH, hormônio tireoestimulante, LH, hormônio luteinizante; FSH, hormônio foíículo-estimulante; ACTH, hormônio adrenocorti-
cotróíico; GH, tiormõnio do crescimento.
NEM! freqüentemente sào neoplasias pluri-hormonais glândulas endócrinas levam a síndromes de hipersecre-
(mais comumente secretoras de prolactina e de hoimônio çào como acromegalia, hiperprolactinemia e síndrome
do crescimento), maiores e mais invasivas. de Cushing. A SMAlb é causada por uma mutação pòs-
O complexo de Carney está associado com pigmen- -2igótica no gene G/VAS.
tação irregular da pele, mixomas, tumores endócrinos e A síndrome do adenoma hípofisárío familiar isola
schwannomas. O envolvimento suprarrenal causando do (SAHFI) é um distúrbio que foi recentemente descrito,
síndrome de Cushing ACTH-independente é visto em um no qual os membros afetados de uma família desenvol
terço a metade dos pacientes com complexo de Camey. vem apenas tumores hipofisários. Ela inclui tumores hipo
Tumores hipofisários produtores de hormônio do cresci fisários que nâo estão associados a NEM 1 e ao complexo
mento são vistos em 10%. de Camey.
A síndrome de McCune Albright (SMAlb) é de Os prolactinomas são encontrados em 40% dos pa
finida pela tríade de precocidade sexual gonadotrofina cientes com SAHFI, somatotropinomas em 30% e adeno
independente, manchas de pele café com leite e displa- mas não secretores em 13%. Em geral, os tumores hipo
sia fibrosa. Tumores ou hiperplasia nodular de diversas fisários na SAHFI apresentam-se mais cedo que os AHs
708 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
25-43 Série de exames moslra um pequeno macroadenoma que 25-44 Ponderações em TI no plano sagilai (superior à esquerda) e T2
mede 12 mm em altura. A massa é isointensa à SC E3 nas ponderações (superior à direita), FLAIR (inferior á esquerda) e Ti pós-contraste (infe
em T1 e em T2 B e realça forte e uniformemente tB. rior à direita), mostram uma grande massa B em "boneco de neve"
ou em "oito" intra-/suprasselar. A glândula fiipofisária não pode ser
identificada separadamente da massa (macroadenoma).
esporádicos, são maiores e mais freqüentemente apresen mas "duplos" ou mesmo "triplos" são encontrados em 1 %
tam invasão dos seios cavemosos. das autópsias, mas raramente diagnosticados nos exames
Dois subgrupos de SAHFI foram identificados com de RM pré-operatórios.
base em características genéticas e fenotípicas. Em 15 a
Patologia macroscópica. Os macroadenomas são massas lobu-
25% dos casos, as famílias afetadas possuem mutações do
ladas marrom-avermelhadas que com freqüência protruem
gene AIP e herança autossômica dominante. O segundo
e maior grupo possui início da doença na idade adulta e superiormente por meio da abertura do diafragma da sela
(FIg. 25-40), ou menos comumente, estendem-se lateral
tipos mais variados de adenoma. Até o momento, não fo mente em direção aos seios cavemosos. Cerca de metade
ram identificados genes causais.
dos macroadenomas contêm cistos e/ou focos hemorrágicos.
gigantes, com mais de 5 centímetros, que invadem a base mação maligna. A maioria dos adenomas é uma lesão
do crânio e se estendem para múltiplas fossas cranianas. "típica" com ambos MIB-1 e p53 abaixo de 3%. índices
Os adenomas hipofisários são lesões solitárias. Múltiplos elevados se correlacionam com recidiva precoce e cresci
adenomas hipofisários sincrônicos são incomuns. Adeno- mento mais rápido na recorrência.
Neoplasias seiares e lesões semelhantes a tumores 709
25-45 Massa lobulada ínvasiva selar/suprasselar E3 mostra múl 25-46 TC óssea (superior à esquerda) e TC com contraste (superior a di
tiplos pequenos e médios cistos híperintensos O macroadenoma reita) mostram um enorme macroadenoma hipofisário invasive ES. A TC
também invade o seio cavernoso direito com contraste, ponderação em TI no piano sagitai e aquisição coronal Ti
pós-contraste com saturação de gordura mostram lagos de tCS adjacentes
ao tumor correspondentes a cistos não neopiásicos peritumorais.
gêneo. é típico nos macroadenomas na TC com contraste, RM. A altura da glândula é de IO mm ou menos exceto se
mas os microadenomas pequenos podem ser invisíveis. a paciente for gestante ou estiver no período de amamen
Achados na rm.
tação. Menos comumente, insuficiência de órgão-alvo
Macroadenomas. Os macroadenomas são isointensos ao
(como hipotireoidismo) resulta em aumento compensató
rio da hipófise. Como os adenomas são muito raros em
córtex (Fig. 25-43 e 25-44). O sinal hiperintenso da hipó-
fise posterior está ausente (20%) ou deslocado para a cis crianças, se uma menina pré-púbere ou um homem jovem
terna supradiafragmática (80%) nas ponderações em Ti no possuir uma glândula hipofisária sugestiva de adenoma,
a avaliação endocrinológica é obrigatória.
plano sagital. Pequenos cistos e focos hemorrágicos são Tumores que lembram um adenoma hipofisário in
comuns. Níveis líquido-líquido podem estar presentes, mas
cluem o meningioma, metástasc e craniofaringioma. Me
são mais comuns em pacientes com apoplexia hipofisária.
Os adenomas hipofisários geralmente são isointensos ningioma e metástases são muito raros em crianças. O me
à substância cinzenta nas ponderações em T2, mas tam ningioma do diafragma da sela pode ser identificado em
bém podem demonstrar intensidade de sinal heterogênea separado da glândula hipofisária, que se situa abaixo. Me-
nigiomas intrasselares isolados verdadeiros são muito raros.
(Fig. 25-45). Hiperintensidade ao longo das vias ópticas Metástasc na haste e/ou na glândula hipofisária de
em T2/FLAIR ocorre em 15 a 20% dos casos em que o
uma neoplasia primária extracraniana é incomum. Pulmão
macroadenoma comprime o quiasma óptico. Os adeno
e mama são as fontes mais comuns. A maioria das metás
mas com hemorragia apresentam artefatos de susceptibili-
tases hipofisárias são secundárias à disseminação oriun
dade magnética no T2*.
da de ossos adjacentes ou dos seios cavernosos, em geral
A maioria dos macroadenomas realça fortemente,
ocorrendo como uma manifestação tardia de um tumor
mas de maneira heterogênea nas aquisições em TI pós-
sistêmico conhecido. Metástases hematogênicas para a
-contraste (Fig. 25-46). Espessamento durai sutil ("cau
da" durai) está presente em 5 a 10% dos casos. glândula hipofisária podem ocorrer, mas são raras. Metás
tases no SNC para outros locais no cérebro são comuns,
Microadenomas. A menos que sofram hemorragia,
mas não invariavelmente presentes.
os pequenos microadenomas podem ser imperceptíveis
O craniofaringioma é o tumor suprasselar mais comum
nas sequências-padrão sem a injeção de contraste. Mui
da infância, enquanto os adenomas hipofisários são raros. Os
tos microadenomas aparecem levemente hipointensos nas
craniofaringiomas em adultos de meia-idade são tumores
aquisições em TI pós-contraste. Outros realçam mais for
temente e tomam-se isointensos ao restante de glândula sólido-papilares que não calciflcam como os adamantinoma-
tosos. Independentemente disso, a glândula hipofisária pode
hipofisária, tomando-os praticamente invisíveis. ser identificada anatomicamente separada da massa.
Os microadenomas realçam de maneira mais lenta que
O carcinoma liipoÍl.sário é extremamente raro
o tecido hipofisário normal. Pode-se tirar proveito desta dis
(adiante). Em razão de sua raridade, até os tumores hipo
crepância no tempo de realce utilizando aquisições dinâmi fisários com aspecto muito agressivo são estatisticamente
cas durante a injeção de contraste, em cortes finos, no plano
muito mais prováveis de estarem relacionados a macroa
coronal. As aquisições rápidas durante a injeção de contraste
denomas do que a carcinomas.
com freqüência conseguem discernir o microadenoma, com
Entidades não neoplásicas que podem simular um ma
realce lento, da glândula normal, com realce precoce. Entre
croadenoma incluem aneurisma e hipofisite. Um aneuris-
10 a 30% dos microadenomas são vistos apenas nas seqüên
ma nasce excentricamente a partir do círculo de Willis e
cias dinâmicas em TI pós-contraste (Fig. 25-49).
não está na linha média diretamente acima da sela. Aneu-
Angiografia. a ATC em pacientes com macroadenoma rismas saculares paramedianos são hiperdensos na TC sem
com extensão suprasselar pode mostrar deslocamento contraste e podem demonstrar calcificações periféricas
lateral da carótida interna supraclinóidea e das artérias enquanto os adenomas hipofisários raramente calciflcam.
coróideas anteriores. A ASD pode demonstrar um tronco Um "/7ovv voicC com ou sem um coágulo laminado junto à
meningo-hipoflsário aumentado com "Ww.v/t" vascular parede do aneurisma é comum na RM.
prolongado no tumor. A liípofísite é muito menos comum que o macroade
Amostras de sangue venoso dos seios petroso infe- noma, mas pode parecer idêntica ao adenoma hipofisário
rior/cavemoso podem ser úteis na avaliação dos pacientes nos exames de imagem. A hipofisite linfocítica - o tipo
com síndrome de Cushing ACTH-dependente. mais comum -ocorre em pacientes femininas periparto ou
pós-parto ou na hipofisite autoimune nas pacientes trata
Diagnóstico diferencial das com terapias imunomoduladoras (p. ex., ipilimumab
o diagnóstico diferencial do adenoma hipofisário varia com para melanoma maligno metastálico).
o tamanho e com os aspectos demográficos dos pacientes.
Microadenoma hipofisário. O microadenoma hipofisário pode
Macroadenoma hipofisário. O principal diagnóstico diferen ser difícil de distinguir de um cisto não neoplásico inciden
cial do macroadenoma hipofisário é a hiperpiasia hipofi tal intra-hipofisário como um cisto da bolsa de Rathke ou
sária. Entre 25 e 30% das mulheres endocrinologicamen- um cisto da pars intermedia. Os microadenomas realçam;
te normais entre 18 a 35 anos possuem uma convexidade os cistos são vistos como focos desprovidos de realce no
superior da glândula hipofisária nos exames de TC ou de interior da glândula hipofisária intensamente realçante.
Neoplasias selares e lesões semelhantes a tumores 711
y .
25-49A Ponderação em TI no
plano coronal de paciente com
cefaleia, amenorreia e prolactina
elevada demonstra uma massa
hipoinlensa Si no aspecto late
ral direito da glândula hipofisária.
25-498 Aquisição-padrão em
TI pós-contraste com saturação
de gordura não demonstra anor
malidades.
25-50 Espécime de necropsia de carcinoma hipofisário com dissemi 25-51 Aquisição em TI pós-contraste mostra carcinoma hipofisário
nação do LCS mostra "drop metástase" ES adjacente à medula. Disse como uma massa com realce heterogêneo invadindo o divo e englo
minação sistêmica ou do LCS é necessária para o diagnóstico. (Cortesia bando o segmento cavernoso da artéria carótida 13). Os achados de
de A. Ersen, MO, B. Scheithauer, MO.) imagem são indistinguiveís do macroadenoma invasivo. (Cortesia de A.
Ersen, MD, 6. Scheithauer, MD.)
25-52 lluslraçSo no plano sagital moslra uma massa suprasseiar 25-53 Espécime de necropsía de um craniofaringioma adamantino-
predominantemenle cística e sólida com calcificações periféricas focais. matoso mostra um pequeno componente sólido intrasselar B e um
Observe o pequeno componente intrasselar ES da massa e o nível grande componente cístico suprasseiar que adere ao parênquima cere
líquido-líquido, O líquido, rico em colesterol, é escuro e viscoso. bral adjacente B. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
uma massa selar/suprasselar com realce heterogêneo, fre ca de 90% dos CFs são adamantinomatosos; 10% são
25-55B Ponderação em 11 no
plano sagital mostra uma massa
lobulada E3 intra e suprasselar
que é quase isointensa à subs
tância cinzenta do corpo caloso.
25-55C A massa ea é muito
hiperintensa na ponderação em
12. Alguns debris hipointensos
estão presentes no fundo
da massa predominantemente
cística.
25-55D Aquisição em TI
0
pós-contrasle no plano sagital
mostra fino realce periférico em
torno da massa B.
25-55E Aquisição em TI
pós-contraste no plano coronal
mostra o lino realce periférico
com um pequeno nódulo
tumoral Cranioíaringioma
adamantinomatoso foi encontra
do na cirurgia.
i
Neoplasias selafes e lesões semelhantes a tumores 715
25-56A Ponderação em TI
no plano axial em um paciente
masculino de 14 anos mostra
uma grande massa suprasselar
ES que é predominantemente
Isointensa ao córtex, exceto por
uma pequena excrescência no
dular posterior que apresenta um
minúsculo foco híperintenso
25-56B A ponderação em di
fusão não evidencia restrição.
25-57C Aquisição em TI
pós-contraste no plano sagital
demonstra fino realce periférico
ES em torno dos componentes
da massa.
25-570 Aquisição em TI pós-
-contraste no piano axiai confir
ma que a fina periferia de realce
está presente B. Quando uma
massa muiticística de aspecto bi
zarro em uma criança estende-se
para diversas fossas, o craniofa-
ringioma deve ser considerado.
25-60A Um homem de 44 anos com cefaleia e sintomas psiquiátricos. 25-60B Aquisição em FLAIR demonstra que a massa não sofre supres
TC sem contraste mostra uma massa ES hipodensa, bem definida, não são. Observe a hiperintensidade no hipotálamo e nos tratos ópticos B.
caicificada na cisterna suprasseiar. Craniofaringioma papilar foi encontrado durante a cirurgia. Não havia
invasão parenquimatosa por parte do tumor.
primida e deslocada pode, por vezes, ser identitleada em muito mais heterogêneo e não apresentam realce nodular.
separado da massa. O coeficiente de difusão aparente (ADC) do CBR está au
mentado se comparado ao dos CFs císticos. A imuno-his-
Achados na TC. Os CFs adamantinomatosos seguem a "re
toquímica é útil. Já que os CBR expressam citoqueratinas
gra dos nove", ou seja, 90% são mistos sólido-císticos,
90% são calciflcados e 90% sofrem realce (Fig. 25-55). específicas e os CFs não.
Um astrocitoma quiasmático/hipotalâmico é uma
Os CFs papilares raramente calcifícam. Eles são com
massa sólida suprasseiar que é claramente inlraparenqui-
freqüência sólidos ou predominantemente sólidos. Quan matosa. Calcificações e cistos são incomuns.
do contêm cistos intratumorais, os cistos são menores e
O adenoma hipofísárío é raro em crianças pré-pú-
com aspecto menos complexo que aqueles vistos nos CFs
beres (período que é o pico dos CFs). Um cisto dermoi-
adamantinomatosos.
de pode ser hiperintenso nas ponderações em TI e pode
Achados na RM. A intensidade de sinal varia com o con apresentar calcificações. Um cisto epidermoidc (CE) está
teúdo dos cistos (Fig. 25-56). Múltiplos cistos são comuns fora da linha média; CEs suprasselares são incomuns. Os
e o líquido intracístico no interior de cada cisto varia de cistos dermoide e epidermoide não realçam.
liipo a hiperintenso se comparado ao parênquima cerebral
nas ponderações em TI (Fig. 25-55).
Os cistos do CF são variavelmente hiperintensos nas C R A N I O FA R I N G I O M A
ponderações em T2 e no FLAIR, O nódulo sólido é com fre
Etiologia
qüência calcificado e moderadamente hipointenso. Hiperin- • Remanescentes epiteliais da bolsa de Rathke
lensidade que se estende ao longo dos tratos ópticos é comum
e representa edema, e não invasão tumoral (Fig. 25-60). Patologia
As paredes dos cistos e os nódulos sólidos realçam após • Dois tipos
a administração do meio de contraste (Figs. 25-55 e 25-59). o Adamantínomatoso (90%)
A espectroscopia de protons mostra um grande pico li- o Papilar (10%)
o Ambos são grau 1 da OMS
pídeo-lactato, característico do colesterol e dos constituin • Adamantinomatoso
tes lipídicos de um CF. A perfusão por RM mostra baixo o Mtjltiplos cistos
volume sangüíneo cerebral (CBV) relativo (Fig. 25-56). o Epitélios escamosos, "rede" de queratina
o Rico em colesterol, líquido em "óleo de
Diagnóstico diferencial
maquinaria"
o principal diagnóstico diferencial do CF é um cisto da
(continua)
bolsa de Rathke. Os CBRs não calcifícam, têm aspecto
718 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
(continuação)
• Papliares
o Sólido » cístico (líquido claro)
o Quase sempre em adultos
Aspectos clínicos
• > 50% das neoplasias pedlátricas suprasselares
• Ocorre igualmente em crianças e em adultos
o Pico em crianças = 5 a 10 anos
o Pico em adultos = 40 a 44 anos
• Crescimento lento
o Recidiva é comum
o Transformação maligna é rara
Imagem
• TC
o Podem ser gigantes (>5cm), envolvem múltiplas
25-61A Ponderação em T1 no piano sagital de um
fossas
homem de 64 anos com tonturas mostra uma massa o Adamantinomatosos 90% císticos, 90% calcificam,
no aspecto anterior do terceiro ventriculo, clara
mente separada da glândula hipoíisária normal
90% realçam
o Papilares: Sólido > cístico
• RM
o Sinal variável em TI
o Usualmente fiiperintenso em T2/FLAIR
o Espectroscopia de prótons: grandes picos de
lipideo-lactato
Diagnóstico diferencial
• Cisto da bolsa de Ratfike
Pituicitoma
Previamente conhecido como "coristoma" e "infundibu-
loma", o pituicitoma origina-se de células glials modifi
cadas ("pituícitos") que habitam a haste infundibular e a
neuro-hipófise (Fig. 25-62).
Alterações visuais com ou sem cefaleia é o sintoma
mais comum na apresentação. Os pacientes com pituici
toma quase nunca apresentam diabetes insípido, galactor-
reia ou prolactinemia.
O pituicitoma pode aparecer tanto como massa intra
ou suprasselar. A maioria dos pituicitomas são isointensos
ao parcnquima cerebral nas ponderações em TI e hipe-
rintensos em T2. Eles realçam homogeneamente após a
25-61C Aquisição em TI pós-contraste no plano
administração do contraste (Fig. 25-63).
coronal mostra que a massa realça de maneira intensa
O pituicitoma é o único dos tumores não adenomato-
e homogênea. Craniofaringioma adamantinomatoso foi sos que pode se apresentar como uma massa puramente
encontrado à cirurgia. intrasselar. Uma massa intrasselar que está claramente se-
Neoplasias seiares e lesões semelhantes a tumores 719
parada da glândula hipofisária anterior e que realça de ma tomando-se sintomáticos em adultos de meia-idade ou em
neira homogênea é mais provavelmente um pituicitoma. idosos. Alterações visuais, cefaleia e amenorreia são co
muns. De maneira semelhante ao pituicitoma e ao SCO,
Oncocltoma de células fusiformes os tumores de células granulares raramente se apresentam
o SCO. também conhecido como tumor de células fo- com diabetes insípido, prolactinemia ou galactorreia.
lículoestreladas, origina-se da adeno-hipófíse. Os SCO Os tumores de células granulares são massas suprasse
consistem em oncócitos fusiformes contendo citoplasma lares. Eles são hiperdensos na TC sem contraste e isointen-
sos ao parênquima cerebral em ambas as ponderações TI e
granular rico em mitocôndrias.
T2. Os tumores de células granulares realçam fortemente e
Alterações visuais, pan-hipopituitarismo e cefaleia
sào os sintomas mais comuns à apresentação. Os SCOs homogeneamente após a administração do contraste.
não parecem causar diabetes insípido.
Até o momento, todos os casos patologicamente com
provados apresentaram-se como lesões hipofisárias infll- Lesões diversas
trativas mistas intra e suprasselares. Os achados de imagem
são similares aos - e não podem ser distinguidos - do ade Hipofisite
noma hipofisário ou da hipofisite linfocítica (Fig. 25-64). A hipofisite é uma inflamação da glândula hipofisária que
compreende um grupo cada vez mais complexo de doen
Tumor de células granulares
ças. Há duas formas histológicas principais de hipofisite:
Como o pituicitoma, o tumor de células granulares é um hipofisite linfocítica e não linfocítica. Relatos recentes de
tumor da neuro-hipófise. Muitos tumores de células gra outras variantes aumentaram ainda mais o espectro das hi-
nulares são assintomáticos e descobertos incidentalmente poflsites. Nesta seção, focaremos na hipofisite linfocítica,
na necropsia. Alguns aumentam de tamanho com o tempo. a forma mais comum. Então, discutiremos brevemente a
25-64A Ponderação em 11
no plano sagital de uma mulher
de 69 anos com cefaleia e he
mianopsia bitemporal mostra
uma massa selar e suprasselar
B que é bem definida e isoin-
tensa ao parênquima cerebral.
A glândula hipofisária não pode
ser distinguida separadamente
da massa.
25-64B Aquisição em TI
pós-contraste no plano coronal
mostra que a lesão realça forte
e uniformemente. O diagnóstico
pré-operatório foi de macroade-
noma hipofisário. Oncocitoma de
células fusiformes foi o diagnós
tico ao exame histológico.
720 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
25-65 Ilustração no piano sagital mostra hipofisite iiniocitica. Observe 25-66 Adeno-hipofisite liníocílica está exemplificada por numerosos
0 espessamento do infundibuio B3 e a infiltração no lobo anterior da linfócitos infiltratives citologicamente benignos invadindo a glândula.
glândula hipofisária B. (Cortesia de B. K. DeMaslers, MD.)
hipotlsite não linfocítica, incluindo a hipofisite granulo- A INHL envolve a neuro e a adeno-hipófise.
matosa e algumas das entidades recentemente descritas
Aspectos clínicos. Entre 80 e 90% dos pacientes com HL
que são com freqüência caracterizadas por infiltrados de são mulheres; 30 a 60% dos casos ocorrem no período
células plasmáticas.
periparto. Não há efeito adverso sobre o feto.
Os sintomas mais comuns na apresentação são cefa-
Hipofisite linfocítica leia e múltiplas deficiências endócrinas com hipopitui-
Terminologia. A hipofisite linfocítica (HL) também é cha tarismo parcial ou total. Diabetes insípido é comum. A
mada de adeno-hipofisite linfocítica, hipofisite primária e deficiência de ACTH com freqüência aparece primeiro.
inflamação da haste. Uma variante da HL é chamada de A hiperprolactinemia ocorre em um terço dos pacientes,
infundibuio neuro-hipofísite linfocítica (INHL).
provavelmente secundária à compressão da haste.
Etiologia. a HL é uma alteração inflamatória autoimune Homens, mulheres após a idade fértil e crianças são
incomum da glândula hipofisária que ocorre com mais afetados em 10 a 20% dos casos. Homens de meia-idade
freqüência em mulheres em idade fértil, no finai da gra apresentam-se com diabetes insípido.
videz ou logo após o nascimento. A capacidade imune é O tratamento consiste em reposição hormonal com ou
sem o uso de corticosteroides.
reestabelecida na fase final da gravidez/período periparto.
Anticorpos anti-liipófise apresentam uma correação com Imagem. A HL é intra ou suprasselar. Espessamento da dura
a glândula hipofisária e com a placenta. ou da mucosa do seio esfenoidal adjacente é comum.
A HL também está associada com outras doenças au- A imagem mostra uma haste infundibular difusa
toimunes. Aproximadamente 25% dos pacientes possuem mente espessada, com perda de seu afilamento gradual
uma doença autoimune/inflamatòria sistêmica coexisten- usual. Uma glândula hipofisária redonda, simetricamentc
te. Tireoidite, polimiosite, diabetes tipo 1 e psoríase foram aumentada, é comum (Fig. 25-67). O soalho da sela está
associadas com HL. intacto, sem expansão ou erosão. O sinal hiperintenso da
Patologia. Na HL. a glândula hipofisária e a haste pare hipófise posterior está ausente em 75% dos casos. A HL
cem difusamente aumentadas e firmes, embora as modi realça intensa e uniformemente.
ficações inflamatórias sejam predominante ou exclusi Diagnóstico diferencial. O principal diagnóstico diferencial
vamente no lobo anterior (Fig. 25-65). As características para a HL é o macroadenoma hipofisário não secretor.
microscópicas incluem um infiltrado denso, composto por Esta distinção é importante, já que o tratamento difere sig
linfócitos T (Fig. 25-66). Graus variáveis de destruição nificativamente. A HL é tratada com medicação, enquanto a
glandular e fibrose podem estar presentes. Granulomas e ressecção cirúrgica é o tratamento primário para o macroa
células gigantes estão ausentes. denoma hipofisário. Os macroadenomas podem ser gigan-
Neoplasias selares e lesões semelhantes a tumores 721
m
k .
sa superiormente.
V . - ■ JrSíi
A i
■A
idêntica à vista no macroade-
noma hipofisário. Contudo, as
"caudas" durais vistas na aquisi
ção sagital são achados atípicos
nos macroadenomas. Hipofisite
linfocítica.
722 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
Hipofisite granuiomatosa
A hipofisite granuiomatosa (HG) possui características
epidemiológicas diversas da HL. A HG é igualmente co
mum em ambos os sexos e não apresenta associação com
gravidez.
A HG pode ser primária (idiopática) ou secundária
(Fig. 25-68). A HG secundária é muito mais comum que
a primária e em gerai resulta de inflamação granuiomato
sa necrotizante. As HGs inflamatórias/infecciosas também
Apoplexia hipofisária
A apoplexia hipofisária é uma síndrome clínica aguda
bem descrita com cefaleia, deficiências visuais e endócri-
nas variáveis. Em alguns casos, desenvolve-se insuficiên
cia hipofisária profunda com risco de vida.
Etiologla
A apoplexia hipofisária é causada por hemorragia na - ou
necrose isquêmica da - glândula hipofisária. Um macro-
25-70 Paciente em uso de ipilimumab para mela
noma melaslálico desenvolveu hipofisite induzida pela
adenoma preexistente está presente em 65 a 90% dos ca
droga com infiltração da haste e da glândula hipofisária sos, mas a apoplexia hipofisária também pode ocorrer em
B . microadenomas ou em glândulas hipofisárias histologica-
Neoplasias selares e lesões semelhantes a tumores 723
25-71 Ilustração no piano cofonai mostra um macroadenoma com 25-72 Espécime de necropsia de apoplexia hipofisária mostra um
hemorragia aguda S] causando apoplexia hipofisaria. macroadenoma hemorrágico E3 estendendo-se para ambos os seios
cavemosos (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
mente normais. O fator que precipita a hemorragia ou a Raramente desenvolve-se apoplexia hipofisária com
necrose é desconhecido. pan-hipopituitarismo e diabetes insipido em pacientes
Em casos raros, os pacientes que se submetem a trata com hemólise, elevação das enzimas hepáticas e plaque-
mento com bromocriptina ou cabergolina para adenomas topenia (síndrome de HELLP).
hipofísários podem desenvolver apoplexia hipofisária História natural. A apoplexia hipofisária varia de um
com risco de vida.
evento clinicamente benigno a catastrófico com déficits
neurológicos permanentes. Coma ou morte podem acon
Patologia tecer em casos graves.
A aparência macroscópica mais comum da apoplexia hipo Os pacientes que sobrevivem em longo prazo com
fisária é a de uma grande massa intrasselar ou combinada
freqüência apresentam insuficiência hipofisária perma
intra e suprasselar (Flg. 25-71). Entre 85 e 90% dos casos nente. necessitando de reposição hormonal (mais comu-
demonstram infartos hemorrágicos macroscópicos (Fíg. mente esteroides e hormônio tireoidiano). Quase metade
25-72). Infartos hipofísários não hemorrágicos ("brandos") dos pacientes masculinos com apoplexia hipofisária ne
causam um aspecto aumentado e edemaciado da glândula. cessitam de reposição de testosterona.
Os pacientes com adenomas hipofísários e apoplexia
Aspectos clínicos hipofisária podem demonstrar recorrência do crescimento
Epidemiologia e aspectos demográficos, a apoplexia hipofisá do tumor hipofisário e, consequentemente, merecem su
ria é rara, ocorrendo em cerca de 1% de todos os pacientes pervisão pós-operatória continuada.
com macroadenomas hipofísários. A idade de pico está Uma rara variante da apoplexia hipofisária c a .sín
em 55 a 60 anos. A apoplexia hipofisária é rara em pacien drome de Sheehan (SS). A síndrome de Sheehan trata-se
tes abaixo dos 15 anos. A relação H;M é 2:1. da necrose isquêmica aguda pós-parto da glândula hipofi
sária anterior, causada por perda sangüínea e choque hipo-
Apresentação. Cefaleia é quase universal nos pacientes
volémico durante ou após o nascimento.
com apoplexia hipofisária e é o sintoma inicial mais co
A SS pode resultar em perda da função hormonal em
mum, seguido de náuseas (80%) e alterações de campo vi
longo prazo.
sual (70%). Tumores hemorrágicos que se estendem para
os seios cavemosos podem comprimir o 111. IV, V e VI Sequela de SS é uma rara causa de sela parcialmente
vazia nos estudos de imagem.
nervos cranianos.
Quase 80% de todos os pacientes com apoplexia hi Opções tratamento. A descompressão cirúrgica é necessária
pofisária possuem pan-hipopituitarismo. Uma crise su- em pacientes com comprometimento da acuidade visual.
prarrenal aguda com hipovolemia, choque e coagulação Terapia de suporte com esteroides e reposição líquida/elc-
intravascular disseminada pode ocorrer. trolítica/hormonal costuma ser necessária.
724 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
Imagem
Características gerais. Uma glândula hipofisária aumentada
com realce periférico é típico (Fig. 25-73). Hemorragia
intraglandular macroscópica é comum, mas não está sem
pre presente.
Diagnóstico diferenciai
25-73B Ponderação em T2 no plano coronal mostra o principal diagnóstico diferencial da apoplexia hipofi
que a massa possui intensidade de sinal multo hetero sária é o macroadenoma hemorrágico. Hemorragias fo
gênea com múltiplos focos hemorrágicos íB. cais em adenomas são comuns, mas ao contrário da apo
plexia hipofisária, o curso clínico é subagudo ou crônico.
A maioria dos adenomas realça de maneira forte, mas
heterogênea, enquanto a apoplexia hipofisária demonstra
realce periférico em torno de uma glândula hipofisária ex
pandida c predominantemente desprovida de realce.
A hípofísitc linfocítica pode causar início relativa
mente súbito dos sintomas e, portanto, simular apoplexia
hipofisária. A HL causa apenas um modesto aumento da
glândula. A hipófise realça intensa e uniformemente.
O cisto da bolsa dc Rathke pode conter líquido es
pesso proteináceo que aparece hiperintenso nas pondera
ções em TI e simula hemorragia hipofisária. A maioria
dos CBRs é assintomático e encontrado incidentalmente.
Com algumas exceções, CBRs que se tomam sintomáticos
seguem um curso subagudo/crônico. A apoplexia é uma
25-73C Aquisição em TI pós-contraste com satura apresentação rara, mas distinta, causada por hemorragia
ção de gordura no plano coronal mostra uma fina borda súbita para o interior do cisto. O CBR com apoplexia pode
de realce periférico ES. Apoplexia hipofisária. Adeno simular os sintomas da apoplexia hipofisária, mas o cisto
ma predominantemente necrótico e hemorrágico foi
encontrado à cirurgia. pode ser identificado em separado da glândula hipofisária.
Neoplasias selares e lesões semelhantes a tumores 725
25-74 Apoplexia hipofisária em uma mulher de SO anos com quatro 25-75 (Superior à esquerda) ponderação em TI mostra uma glândula
dias de alterações visuais mostra hemorragia subaguda na glândula hi hipofisária aumentada B e espessamento hipotaiâmico (Superior
pofisária B com nível sangue-líquído à direita) Hiperintensidade em FLAIR ao longo dos tratos ópticos B.
(Inferior) Realce periférico l-^l. Apoplexia hipofisária não hemorrágica.
25-76A Ponderação em Ti no plano sagital de uma paciente com 25-76B Ponderação em T2 no plano coronal mostra a calota craniana
acromegalia de longa data mostra o seio esfenoidal bem aerado S, B excepcionalmente espessa deste paciente. A distância intercarotidea
estendendo-se posteriormente para o divo B. A pneumatlzação é clas B mede 24 mm. A cirurgia transesfenoidal obteve sucesso em razão
sificada como posterior. Observe a convexidade B selar bem definida da anatomia favorável.
em direção ao seio esfenoidal.
Avaliação pré-operatória dos podem tomar a cirurgia tecnicamente mais fácil, mas
A maioria das abordagens cirúrgicas (transetmoidal, também distorcem a configuração anatômica, afilando o
transnasal ou transseptal) passam pelos seios esfenoidais osso e tomando potencialmente descobertas as artérias ca
rótidas e os nervos ópticos.
para alcançar a sela. A despeito da técnica operatória - mi
croscópica ou endoscópica - que será utilizada, delinear a
Um dorso da sela pneumatizado pode ser penetrado
anatomia dos seios esfenoidais e identificar as variantes
durante a cimrgia, resultando em vazamento de LCS.
anatômicas que podem repercutir na cirurgia é importante Configuração selar. A presença (bem definida) ou ausência
para o sucesso no desfecho do paciente. (mal-definida) de convexidade selar em relação ao soalho
A TC e a RM possuem contribuições únicas para a da sela e ao grau de pneumatização esfenoidal devem ser
avaliação pré-operatória completa das lesões selares. A relatados. Pneumatização do planum esfenoidale e do dor
RM multiplanar é o exame de escolha para caracterizar so da sela também deve ser notada. Elas são determinadas
a lesão e definir sua extensão. Em conjunto com a RM, pelas imagens de RM no plano sagital.
a TC pré-operatória ajuda a definir a anatomia óssea re Uma convexidade selar proeminente para o interior
levante. de um seio esfenoidal pneumatizado é vista em 75% dos
Quatro características-chave da anatomia dos seios pacientes (Fig. 25-76A). Os outros 25% possuem um ar-
esfenoidais devem ser identificadas: a localização e ex queamento ausente ou mal-det1nido. Seios esfenoidais
tensão da pneumatização, a configuração selar, quaisquer bem pneumatizados com convexidade selar proeminente
septações e a distância intercarotidea. são fatores que facilitam a cirurgia, que é ainda mais fácil
se o soalho da sela estiver atilado ou roto pelo tumor. A
Pneumatização. A localização e a extensão da pneumati
zação dos seios esfenoidais é a principal preocupação. A pneumatização do dorso da sela está presente na maioria
dos casos.
pneumatização é classificada como selar (57%), pós-selar
(22%), pré-selar (21%) ou conchal (2%). O tipo específi SeptaçÃo. a presença ou ausência de um septo interes-
co de pneumatização geralmente é determinado nas ima fenoide deve ser determinada. Se presente, observe se
gens de RM no plano sagital (Fig. 25-76). há um único septo intersinus ou mais de um septo. A
E importante que o raro esfenoide conchal não pneu- posição da inserção septal (no soalho da sela, no canal
matizado seja reconhecido no pré-operaíório, já que toma carotídeo ou no canal óptico) deve ser identificada. Essa
a cirurgia transesfenoidal mais difícil. No extremo oposto alteração é mais bem avaliada na TC óssea axial e co
desse espectro, seios esfenoidais altamente pneumatiza- ronal.
Neoplasias selares e lesões semelhantes a tumores 727
Avaliação pós-operatória
Para avaliar a sela pós-operatória, imagens nos planos sa-
gital e coronal em cortes finos e com FOV pequeno são
obrigatórias. Aquisições em TI pré-contraste e imagens
ponderadas em T2, além de aquisições pós-contraste com
saturação de gordura são as sequências-padrão.
O aspecto dos exames de RM no pós-operatório é
complicado por hemorragia, pelo uso de agentes hemostá-
ticos, por materiais de tamponamento (músculo, gordura,
fáscia lata) e por tumor residual. Os achados típicos in
cluem defeito ósseo na parede anterior do seio esfenoidal,
líquido e espessamento da mucosa do seio, material adi-
poso colocado na sela turcica, hemorragia e graus variá
veis de efeito de massa residual (FIg. 25-77).
O primeiro exame pós-operatório fornece uma base 25-77B Aquisição em TI pós-contraste pré-opera-
tória após redução tumoral mostra material adiposo
para comparação dos exames de imagem subsequentes.
Com o tempo, a hemorragia se resolve e é reabsorvida, utilizado para tamponamento B, tumor residual B
e nível hidroaéreo ES esfenoidal.
o material adiposo sofre fibrose e se retrai e o efeito de
massa diminui. Uma sela parcialmente vazia com ou sem
tração da haste infundibular e do quiasma óptico é típica
nos meses ou anos após a cirurgia inicial.
Complicações como diabetes insípido, transecção da
haste e distúrbio eletrolítico são temporárias. Complica
ções em longo prazo incluem perda de LCS e neuropatia
craniana.
25-82 Espécime de necropsia demonstra um aneurisma suprasselar 25-83 TC sem contraste de um homem de 55 anos com cefaleia mos
S] não roto. tra massa hiperdensa não calcifícada B na cisterna suprasselar. As pos
sibilidades a serem consideradas em um adulto incluem macroadenoma,
meningioma e aneurisma. Grande aneurisma de topo da basilar.
hipóflse "graúda" também pode ocorrer na hipotensào in ras em crianças (Figs. 25-82 e 25-83). O craniofaringioma
tracraniana. (2) "Incidentalomas" hipofisários são comuns e o astrocitoma pilocítico hipotalâmico/quiasmático são
(identificados em 15 a 20% dos exames de RM normais). os "dois grandes" em crianças.
Comum Adultos
• Hiperplasia hipofisária (fisiológica, não fisiológica) • Adenoma hipofisário (massa = glândula)
• Microadenoma hipofisário • Meningioma (massa separada da glândula)
• Sela vazia • Aneurisma {flow void, artefato de pulsação)
Menos comum
Crianças
• Macroadenoma hipofisário • Craniofaringioma (90% císticos, 90% calcificam, 90%
• Cisto da bolsa de Rathke (ou outros)
realçam)
• Craniofaringioma • Astrocitoma pilocítico hipotalâmico/quiasmático
• Neurossarcoidose
(sólido, sem calcificações)
Rara, mas importante
• Hipofisite linfocítica
• Hipotensão intracraniana (congestão venosa) A105505 suprasselares menos comuns
• Vascular {"kissing" carótidas, aneurisma)
• Meningioma
A presença de algumas lesões menos comuns pode ser in
• Metástases
ferida nos estudos por imagem.
• Linfoma
fAossas suprasselares importantes, mas raras massa cística que se originou na sela versus extensão
Mantenha estas lesões em mente - elas podem simular intrasselar de uma lesão suprasselar. Além do cisto da
lesões mais comuns ou o tratamento apropriado difere bolsa de Rathke, as lesões completamente intrasselares
drasticamente.
não neoplásicas císticas são raras, assim como o cranio-
faringioma totalmente intrasselar desprovido de extensão
suprasselar.
MASSAS SUPRASSELARES RARAS,
M A S I M P O R TA N T E S
MASSAS CÍSTICAS INTRASSILARÍS
Hipofisite (pode se parecer com um adenoma)
Comuns
Hamatoma hipotalâmico ("botão de colarinho" entre a • Sela vazia
haste e os corpos mamilares) • Hipertensão intracraniana idiopática
Metastases (câncer sistêmico, procure por outras lesões)
Menos comuns
Linfoma (com freqüência infiltra as estruturas • Cisto da bolsa de Rathke
adjacentes) • Neurocisticercose cística
Adultos
MASSAS CÍSTICAS 5UPRASSÍLARIS
• Neurossarcoidose (lesão isolada da haste é rara) Comuns
• Hipofisite (inflamação da haste) • Terceiro ventrículo alargado
• Metástase o Hidrocefalia obstrutiva (genérica)
• Linfoma o Estenose de aqueduto
• Pituicitoma • Cisto de aracnoide
• Transecção da haste (pode fazer a haste parecer • Craniofaringioma
encurtada e grossa) • Neurocisticercose cística
Anatomia macroscópica
Neoplasias
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26
Outros tumores e patologias com
características tumorais
especial pseudotumor inílamatório idiopático - podem mum, seguido pelo osso temporal, esfenoide e osso parietal.
envolver múltiplos compartimentos e ter localização in Envolvimento do divo é raro. A órbita, zigoma, maxila e
tracraniana, extra-axial ou combinação de ambas. mandibula são os sítios mais freqüentes na face (Fig. 26-1).
734 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
Aspectos clínicos
26-2 DF em uma costela é um tumor sólldo-amare- Epidemiologia. a DF é rara, representando cerca de 1% de
lado que expande o osso e apresenta aspecto de "vidro todas as neoplasias ósseas primárias biopsiadas. É a se
fosco", (Cortesia de A. Rosenberg, MD, G. P. Nielsen, MD.)
gunda lesão craniana mais comum na população pediá-
trica (depois do cisto dermoide).
Demografia. Embora a DF ocorra praticamente em qual
quer faixa etária, a maioria dos pacientes apresenta me
nos de 30 anos no momento do diagnóstico inicial. A DF
poliostótica se apresenta mais precocemente, com média
de idade de 8 anos. Com exceção da DF como parte da
SMAlb, que afeta mais mulheres do que homens, não
existe predileção por sexo.
Patologia
• Localização, niímero
o Qualquer osso
o Craniofacial (10 a 25%)
o Solitária (80 a 85%) ou poliostótica
• Patologia macroscópica: osso não trabecular
• Patologia microscópica
o Mistura variável de componentes ósseos e fibrosos
o Menos comum: gordura, tecido mixoide,
calcificação, cistos
Aspectos clínicos
• Raro (menos de 1% dos tumores ósseos biopsiados)
o Uma das lesões fibro-ósseas mais comuns
• Pacientes monostóticas com menos de 30 anos
• DF poliostótica
o Pacientes mais jovens (média de idade = 8 anos)
o McCune-Albright (3 a 5%) 26-5A Imagem ponderada em TI no plano sagitai do
o Envolvimento craniofacial comum mesmo paciente demonstra que o osso frontal expan
dido é preencfiido com tecido hipodenso fiomogêneo
B .
Imagem
Características gerais. A maioria das tesões craniofaciais
é monostótica. Entretanto, estudo do esqueleto, ou resso
nância magnética (RM) de todo o corpo, são recomenda
dos para detectar lesões assintomáticas em outros ossos
que poderiam indicar doença poliostótica ou síndrome de
McCune Albright.
Os achados de imagem dependem do estágio da
doença. Em geral, lesões precoces são radiotransparentes
com progressiva calcificação, resultando em aspecto de
"vidro-fosco". Padrões mistos são comuns.
26-6 Ilustração no piano coronal demonstra doença de Paget difusa 26-7 Espécime de necropsia demonstra alterações pagetoides na cal-
do crânio com espessamento diploico grave B e invagínacão basilar vária com espessamento difuso ósseo, substituição da medula gordurosa
B reduzindo o espaço para as estruturas da fossa posterior. com tecido fibrovascular B3. (Cortesia de E. T. Hediey-Whyte, MD.)
cística ou mista (algumas vezes "pageloide"). O padrão Doença de Paget ocorre em pacientes idosos e cos
de áreas mistas de radiopacidade e radiotransparência é tuma envolver a calvária e o osso temporal. Aspecto de
encontrado em metade dos casos. O aspecto clássico re "bola de algodão" é típico nas radiografias do crânio e na
lativamente homogêneo em "vidro-fosco" ocorre em 25% TC óssea.
dos casos (Fig. 26-4). As lesões densamente escleróticas O fibroma ossificante (FO) pode mimetizar a forma
são comuns na base do crânio. Cerca de um quarto de to monostótica cística da DF. O FO apresenta margem óssea
dos os casos de DF apresenta alguma alteração cística, espessa, com centro de baixa densidade na TC óssea, em
vista como áreas centrais radiotransparentes com margens geral com aspecto de lesão expansiva localizada. Osteomie-
finais e escleróticas. lite esclcrosante difusa da mandíbula também lembra a DF.
O meningioma intraósseo é outro diagnóstico di
Achados na RM. A DF em geral é homogeneamente hi-
ferencial. Os meningiomas intraósseos são mais comuns
pointensa nas imagens ponderadas em TI (Fig. 26-5A). A na calvária do que na base do crânio e nos ossos faciais.
intensidade de sinal nas imagens ponderadas em T2 é va
Uma massa de tecidos "em placa" com forte realce geral
riável. Hipointensidade moderada é característica das por
mente está associada a lesões ósseas. A metástase mista
ções ossificadas e/ou fibrosas da lesão (Fig. 26-5B). As esclerótica-destrutiva na base do crânio pode mimetizar a
lesões ativas podem ser heterogêneas e apresentar áreas
DF. Na maioria dos casos, o sítio primário extracraniano
de alto sinal no FLAIR. Os cistos apresentam-se como fo
é conhecido.
cos arredondados de alto sinal.
O diagnóstico diferencial da DF inclui doenças fibro-
A intensidade do sinal após a infusão de contraste va
-ósseas raras que podem afetar os ossos craniofaciais. São
ria conforme o estágio da lesão desde nenhum realce até
incluídos nesse grupo a osteite deformante, a dísplasia
realce difuso e ávido nos casos com doença ativa.
óssea exuberante, a dísplasia eemento-óssea focai e a
Medicina nuclear. O FDG-PET demonstra atividade meta- dísplasia periapical cementária.
bólica aumentada em um ou mais sítios afetados. Alterações ósseas faciais associadas com hiperpara-
tireoidismo e osteodistrofía renal podem apresentar-se
Diagnóstico diferencial com aspecto de "vidro-fosco" tanto nas radiografias con
Os principais diagnósticos diferenciais para a DF cranio vencionais quanto na TC. Entretanto, em contraste com a
facial são doença de Paget e fibroma ossificante. DF, essas alterações são generalizadas e difusas.
Outros tumores e patologias com características tumorals 737
Doença de Paget
DISPLASIA FIBROSA: IMAGEM
Terminologia
Imagem A doença de Paget (DPag) óssea, também chamada de
• TC
o Osso remodelado, expandido osteite deformante, é o exemplo mais exagerado de re-
o Aspecto clássico de "vidro-fosco" modelamento ósseo anormal. A DPag é caracterizada por
o Alterações escleróticas, císticas, mistas rápido remodelamento ósseo no interior de uma ou mais
{"pagetoide") lesões sutis no esqueleto.
• RM
o Hipointenso em n, intensidade de sinal em T2 Etlologia
variável (geralmente hipointenso) As alterações genéticas ocorrem nos casos clássicos da
o Realce varia de nenhum a intenso
doença de Paget do idoso e nas displasias ósseas pagetoi-
Diagnóstico diferencial des familiares incomuns que se iniciam na infância. Todas
• Doença de Paget (pacientes mais velhos) as doenças envolvem função defeituosa das rotas molecu
• Fibroma ossificante, outras lesões fibro-ósseas lares que regulam a osteoclastogênese (rotas da osteopro-
benignas tegerina/TNFRSFllAou daB/RANKL/RANK).
• Meningioma intraósseo
• Osteodistrofia renal
Mutações no gene que codifica o sequestosomo 1
{SQSTMl) foram identificados em um terço dos pacientes
com a forma familial da DF e em uma pequena proporção
de pacientes com DPag esporádica. Mutações no SQSTMl
afetam o funcionamento do fenótipo p62, que aumenta a
(t da doença de Paget.
26-88 Imagem ponderada
em TI demonstra misto de hiper
B e hipointensidade E2 das
lesões diploicas em uma calvária
maciçamente expandida em um
paciente idoso com doença de
Paget.
'4,
Patologia
Localização, tamanho e número. O crânio (tanto a calvária
quanto a base do crânio) é afetado em 25 a 65% dos pa
cientes (Fig. 26-6). Em contraste com a DF, a DPag tem
apresentação poliostótica mais freqüente (65 a 90% dos
casos).
26-9A Radiografia do crânio em perfil demonstra a Patologia macroscópica. O crânio pagetoide demonstra es
fase íitica da DPag B, a "osleoporose circunscrita",
pessamento difuso. Placas de tecido fibrovascular substi
junto com área de espessamento do crânio tB.
tuem a medula gordurosa (Fig. 26-7).
Características microscópicas. Na fase lítica inicial, a DPag é
caracterizada por lesões flbro-ósseas celulares com trabé-
culas osteoides minimamente calcificadas. Vascularização
aumentada é comum. Revestimento osteoblástico está pre
sente, acompanhado de lacunas de reabsorção osteoclásti-
ca. Osteoclastos são numerosos e têm tamanho maior que
o normal, apresentando maior número de núcleos.
Na fase inativa, a renovação óssea e a vascularização
reduzem excessivamente, e as trabéculas ósseas tornam-
-se mais coesas.
Aspectos clínicos
Epidemiologia. a DPag é comum e afeta mais de 10% dos
indivíduos com mais de 80 anos. A doença é prevalente
nos Estados Unidos e nas Ilhas Britânicas, no Canadá, na
26-96 Cintilografia óssea do mesmo paciente de Austrália e em algumas partes do Norte Europeu. A DPag
monstra uma área de captação anormal occipital 1^, é rara na Ásia e na África.
localização típica da DPag na calvária.
Demografia. a DPag clássica é uma doença do idoso. A
maioria dos pacientes apresenta entre 55 e 85 anos, com
menos de 5% dos casos ocorrendo em pacientes com
menos de 40 anos. Existe uma moderada predominância
masculina.
A doença de Paget juvenil, também conhecida como
hiperfosfatasia juvenil, é uma doença óssea autossômica
recessiva. Ela começa na infância e caracteriza-se por
alargamento de ossos longos, protrusão acetabular, fratu
ras patológicas e espessamento do crânio.
Apresentação. A apresentação varia com a localização, e
todos os ossos do complexo craniofacial podem ser afeta
dos. Os pacientes com DPag da calvária podem apresentar
aumento do tamanho do crânio. As neuropatias cranianas
são comuns com lesões da base do crânio, mais comu-
mente o NC VIII. Os pacientes podem apresentar-se tanto
26-10 TC do osso temporal demonstra esclerose da
base do crânio quiescente B com expansão óssea,
com perda auditiva condutiva (envolvimento ossicular)
espessamento cortical e estreitamento de ambos os quanto neurossensorial (envolvimento coclear ou com
CAIS B. pressão óssea).
Outros tumores e patologias com características tumorals 739
Imagem
Características gerais. Os achados de imagem na DPAg va
riam com o estágio da doença. Na face inicial ativa, lesões
radiotransparentes se desenvolvem na calvária, condição
denominada de "osteoporose circunscrita" (Fig. 26-9A).
Segue expansão óssea com lesões mistas líticas com focos
de esclerose e calcificações nodulares confluentes (as
26-12 TC óssea demonstra focos líticos BB mistu
pecto de "bola de algodão") no estágio misto ativo (Fig. rados com espessamento ósseo B e esclerose com
26-11). O estágio final inativo ou quiescente é visto como margens pouco definidas B (estágio da DPag com
esclerose óssea densa (Fig. 26-10). "bolas de algodão").
Diagnóstico diferenciai
(continuação)
A displasía fíbrosa pode se apresentar de maneira muito
o Sarcoma > tumor de células gigantes
semelhante à DPag craniofacial. Entretanto, a DPag ocor
re nos pacientes idosos e não tem o aspecto típico em "vi Imagem
dro fosco" que caracteriza a DF. • Precoce: lítica ("osteoporose circunscrita")
As metastases escleróticas podem lembrar a DPag, • Intermediária: mista lítica e esclerótica ("bola de
porém não há coalescência de trabéculas ósseas ou au algodão")
• Tardia: esclerose óssea densa
mento ósseo associado. A fase lítica precoce da DPag
pode lembrar as metástases líticas ou o mieloma múltiplo; Diagnóstico diferencial
ambas não causam expansão do osso afetado. • Oisplasia fibrosa (pacientes jovens)
• Metástases, mieloma
DOENÇA DE PAGET
Cisto ósseo aneurísmático
Patologia
• Monostótica (65 a 90%)
Terminologia
• Calvária e base do crânio afetadas (25 a 60%)
• Tecido fibro-ósseo substitui a medula gordurosa o cisto ósseo aneurismático (COA) são lesões multicis-
ticas expansivas benignas que costumam se desenvolver
Aspectos clínicos na infância ou na vida adulta inicial. Pelo menos 70% dos
• Afeta até 10% dos pacientes com mais de 80 anos COA são lesões primárias; o restante se origina secunda
• Aumento craniano, neuropatia do NC VIM comum riamente dentro de um tumor benigno preexistente como
• Transformação maligna (0,5 a 1%)
um tumor de células gigantes ou osteoblastoma.
(continuo)
26-15A TC pós-conlraste no
plano axial de um cisto ósseo
aneurismático demonstra múl
tiplos cistos com niveis líquidos
B e realce periférico B.
26-158 TC pós-contraste no
piano coronal mostra que a mas
sa E3 é tanto intra quando ex-
tracraniana. Os níveis de sangue
e líquido são melhor avaliados
nesta imagem axial.
% d u r a - m á t e r.
26-150 Imagem ponderada
em TI pós-contraste com satu
ração de gordura demonstra o
realce característico das paredes
do cisto e septações no interior
do tumor.
742 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
26-19A Imagem ponderada em T2 no plano axial demonstra uma 26-198 A massa El sofre realce intenso nas imagens ponderadas
lesão híperintensa EEI no seio cavernoso esquerdo invadindo o osso em TI pós-contrasle. Cordomas laterais ao divo são menos comuns que
esfenoide. os da linha média. (Cortesia dej. Curé, MD.)
26-20 Espécime de necíopsia demonstra um nódulo gelatinoso e 26-21 Imagem ponderada em T2 no piano axial demonstra uma lesão
brilhante ES na frente da ponte. Achado incidental de Ecchordosis phy- de linha média hiperintensa lobulada e bem delineada ES que indenta
saliphora. (Cortesia de R. Hewlett, MD.) a ponle. Ecchordosis physaliphora.
Aspectos clínicos
Textilomas são incomuns. A prevalência mais alta relatada
ocorre em cirurgias abdominais e ortopédicas. Textilomas
intracranianos são raros com menos de 75 casos relatados.
Eles podem ser assintomáticos ou causar sintomas
que simulem recorrência tumoral.
Imagem
Os textilomas intracranianos quase sempre se apresentam
iso ou hipoinlensos nas imagens ponderadas em TI. Cer
ca de 45% são iso e 40% são hipointensos em T2/FLA1R
(Fig. 26-22A). Algum artefato de susceptibilidade mag
nética nas imagens T2* pode estar presente. Realce anelar
26-22A FLAIR axial demonstra uma massa hípoin-
ou sólido heterogêneo ocorre em freqüência semelhante tensa SI adjacente à cavidade de ressecão tumoral
(Fig. 26-22B).
Diagnóstico diferencial
O principal diagnóstico diferencial é a neoplasia recor
rente e a necrose por radiotcrapia. Tumor residual ou
recorrente pode coexistir com o textiloma. Se presente, hi-
pointensidade em T2 ajuda a distinguir o textiloma de neo
plasia ou abscesso. Diagnóstico definitivo requer biópsia e
exame histológico com corantes de rotina e luz polarizada.
Terminologia
o pseudotumor inflamatório idiopático (PIl) intracrania
no é um processo inflamatório benigno não neoplásico
que também é conhecido como tumor miofibroblástico
innainatório, granuloma plasmocitário, xantogranuloma,
paquimeningite hipertróflca craniana idiopático e síndro-
me de Tolosa-Hunt.
Etiologia
O PIls costumam ocorrer sem causas locais ou sistêmicas
identificáveis, e suas origens permanecem desconhecidas.
Muitos investigadores propõem um processo imunológi-
co exagerado mediado por ünfócitos T e B como possível
26-23B FLAIR demonstra ausência de sinal na lesão etiologia para essas lesões pouco comuns. Outros sugeri
e a ram que infecções virais (p. ex., Epstein-Baar) podem ter
um pape! significativo na patogênese dos pseudotumores
inflamatórios.
Patologia
Localização. Pseudotumores intracranianos são divididos
em tipos pela localização: parenquimatosa, meníngea,
mista meníngea e parenquimatosa, intraventricular e no
seio cavernoso (freqüente, porém não invariavelmente,
extensão de doença orbitária). Cerca de 60% dos Plls ori-
ginam-se das meninges. Invasão do parênquima cerebral
adjacente ocorre em aproximadamente 10% dos casos.
Tamanho e número. Lesões intracranianas variam de peque
nas lesões focais infiltrativas a grandes massas com base
durai multifocals com envolvimento parenquimatoso ex
tenso (Figs. 26-24C, 26-24D).
Patologia macroscópica. A PII clássica é uma massa firme,
26-23C Imagem ponderada em TI pós-contraste amarelada, algo lobulada, que espessa a dura-aracnoide
demonstra realce frustro nas septações dentro da lesão. (Flg. 26-24D). Alguns casos demonstram infiltração focai
CAPNON. (Cortesia de S. Blaser, MD.) do cérebro adjacente (Flg. 26-24C).
Outros tumores e patologias com características tumorals 747
Características microscópicas. O aspecto comum da PII Com algumas exceções, a maioria dos PIIs - em es
nas lâminas-padrão coradas com hematoxilina e eosina pecial aqueles com esclerose fíbrótica densa - costuma
é de células fíbroblásticas em proliferação, porém de as responder pouco aos corticosteroides. O tratamento de
pecto benigno, misturadas com infiltrados inflamatórios escolha é a ressecção cirúrgica. Radioterapia e quimiote
(Fig. 26-25C). Quantidades variáveis de linfócitos poli- rapia foram usados com pouco sucesso.
clonais, macrófagos, células polimorfonucleares, plasmó-
citos, eosinófílos e histiócitos estão presentes dentro de Imagem
um estroma fibroso. Características gerais. PIIs em geral causam um espessa-
A quantidade de fibrose no interior de um PIl em ge mento tumoral da dura-máter. Os PIIs da base do crânio
ral aumenta com a cronicidade. Nenhuma célula neoplá- comumente se estendem para e pela órbita, seio cavemo-
sica está presente, e corantes para agentes infecciosos são so, cavo de Meckel e dura-máter adjacente. As lesões da
negativos. MIB-1 é baixo, geralmente menor que 1%. fossa posterior podem invadir o divo e o osso temporal.
A imuno-histoquímica demonstra expressão de actina Espessamento e realce de um ou mais nervos cranianos
de músculo liso, porém corantes para a quinase do linfo- foi relatado.
ma anaplásico (QLA) geralmente são negativos.
Achados na TC. A TC mostra uma ou mais massas extra-
-axiais hiperdensas (Fig. 26-24A). Remodelamento
Aspectos clínicos ósseo focai, erosão ou franca destruição pode existir,
Os pseudotumores orbitários podem se apresentar em
embora sejam manifestações pouco comuns. Realce uni
qualquer faixa etária e causar proptose dolorosa. Os pseu forme forte após a administração de contraste é típico
dotumores inflamatórios da base do crânio e intracrania
(Fig. 26-24B).
nos costumam apresentar-se em adultos. Cefaleia, sinto
mas visuais e neuropatia craniana são sintomas comuns.
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27
Metástases e síndromes
paraneoplásicas
40% dos pacientes com câncer eventualmente desenvol
Lesões metastáticas 751
vem metástases cerebrais.
visão geral 751
Metástases parenquimatosas 756
Metástases cranianas e durais 762 Visão geral
Metástases ieptomeníngeas 765
Outras metástases 767 Terminologia
Disseminação geográfica direta de neoplasias de cabeça e As metástases são tumores secundários que se originam
pescoço 770 de neoplasias primárias de outro local.
Metástases perineurais 771
Síndromes paraneoplásicas 773 Etlologla
Encefalite limbica paraneoplásica 774
Rotas de disseminação. As metástases do SNC podem se
Outras síndromes paraneoplásicas 774
originar de tumores primários extra ou intracranianos.
As metástases de neoplasias primárias cxtracranianas
A doença metastática do sistema nervoso central (SNC) ("metástases do corpo para o cérebro") surgem mais via
pode se originar de várias fontes e possuir muitas "faces" disseminação hematogcnica.
nos exames de imagem. Começaremos com uma visão Uma variante rara das metástases hematogênicas do
geral, com foco nas principais características, incluindo corpo para o cérebro são as metástases de tumor para
como e de onde surgem as metástases, o efeito da idade no tumor (MTT). As MTTs em geral ocorrem quando uma
tipo primário do tumor e a localização do SNC, sintoma neoplasia epitelial extracraniana agressiva "doadora"
tologia, opções de tratamento e prognóstico. (mais freqüentemente carcinoma de mama ou pulmão)
Seguiremos com uma discussão a respeito das metás metastatiza para um tumor intracraniano "receptor" be
tases cranianas de acordo com a localização anatômica, nigno ou de baixo grau (um meningioma). As MTTs às
começando pelo parênquima, o local mais comum. Con vezes são chamadas de tumores de colisão, ou seja, dois
cluiremos com uma discussão a respeito dos efeitos re tipos diferentes de tumor justapostos em uma massa úni
motos do câncer sobre o SNC e o grupo das chamadas ca, porém esse termo, de forma mais correta, refere-se a
síndromes paraneoplásicas, que vem adquirindo crescente duas neoplasias adjacentes que invadem uma a outra.
importância. A extensão geográfica direta de uma lesão em urna
estrutura adjacente (como um carcinoma de células es-
camosas na nasofaringe) também ocorre, mas é muito
menos comum do que a disseminação hematogênica. A
Lesões metastáticas
invasão em geral acontece ao longo das vias de menor re
As metástases cerebrais não são apenas a maior causa de sistência, pelos forames e pelas fissuras naturais onde o
mortalidade por câncer, visto que, como grupo, tomaram- osso é afllado ou ausente. As disseminações perineural e
-se as neoplasias mais comuns de SNC em adultos. Desde perivascular são menos comuns, porém importantes rotas
1960, tem havido um aumento de cinco vezes na prevalên de extensão geográfica direta pelas quais os tumores de
cia geral de metástases cerebrais; a razão entre os tumores cabeça e pescoço podem acessar o SNC.
cerebrais metastáticos e os primários é quase de 50:50. O As neoplasias intracranianas primárias às vezes
aumento da sobrevida geral da população, a melhoria no se disseminam de um local do SNC para outro, causan
diagnóstico e os novos regimes de tratamento, que permi do metástases do cérebro para o cérebro ou do cérebro
tem que os pacientes com cânceres sistêmicos sobrevivam para a medula. Um exemplo típico é a disseminação de
por períodos prolongados, contribuem para esse aumento um astrocitoma maligno (p. ex., glioblastoma multifor
marcante na prevalência. Nos Estados Unidos, mais de me) para outros locais do SNC. A disseminação ocorre
752 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
27-1 Ilustração demonstra metastases parenquimatosas E^J com 27-2 Metástases de carcinoma broncogênico mostram variada localiza
edema circunjacente S>1. A junção entre as substâncias branca e cinzen ção e aspectos diversos. As lesões na junção S8-SC apresentam hemorragia
ta é a localização mais comum. A maioria das metastases é arredondada, as lesões no mesencéfalo são cinza-amarronzadas SI e outra metás-
e não ínfllirativa. tase parenquimatosa apresenta necrose ES. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
mais ao longo dos tratos compactos de substância branca, Se as células metastáticas conseguem colonizar o
como o corpo caloso e a cápsula interna, mas também inóspito hábitat cerebral, proteínas de matiz, citocinas c
pode acometer o epéndima ventricular, a pia c os espaços diversos fatores de crescimento criam um microambien
27-3 Ilustração axial demonstra uma metáslase craniana destrutiva 27-4 Metástases cranianas são vistas como lesões permeativas, líticas
B expandindo o espaço diploico e invadindo/espessando a dura subja e destrutivas Si.
cente (estrutura linear em azul claro) [S.
Patologia
METÁSTASES 00 SNC: Localização. O parênquima cerebral é o local mais comum
EPIDEMIOLDGIA E ETIOLOGIA
(80%), seguido pelo crânio e pela dura (15%). A infiltração
Epídemíología difusa das leptomeninges (pia) e do espaço subaracnoide é
• Adultos > > crianças incomum, representando apenas 5% de todos os casos.
o Metástases = neoplasias do SNC mais comuns em A maioria das metástases parenquimatosas está lo
adultos calizada nos hemisférios cerebrais. As metástases he-
° Aumento de 5x nos últimos 50 anos
o Metástases cerebrais em mais de 40% dos matogênicas possuem predileção pelas zonas de fron
teira arterial e a junção entre o córtex e a substância
pacientes com câncer
branca subcortical (Fig. 27-1). Entre 3 e 5% são en
Rotas de disseminação contrados nos nijcleos da base. Raramente, as células
• Mais comum = primário extracraniano para o SNC via
o Disseminação hematogênica neoplásicas infiltram de forma difusa no cérebro e nos
o Extensão geográfica direta (nasofaringe, selos espaços perivasculares, um processo chamado encefali-
te carcinomatosa.
paranasais)
o Disseminação perineural e perivascular Somente 15% das metástases são encontradas nos ce-
• Menos comum rebelo. Mesencéfalo, ponte e bulbo são locais incomuns
o Primário do SNC com metástase do cérebro para o (especialmente para lesões solitárias) e representam me
cérebro nos de 1% das metástases.
o Primário do SNC com metástase do cérebro para o LCS Outros locais raros incluem o plexo coroidc, o epên-
• Pouco comum
dima ventricular, a hipófise/haste hipofisária e a coroide
o Metástases de tumor para tumor
retiniana.
o Justaposição de dois tumores de tipos diferentes
em uma massa única Tamanho é número. Embora as metástases parenquimatosas
o Às vezes cfiamados de "tumor de colisão" variem em tamanho, de implantes microscópicos a alguns
o Tumores "doadores" mais comuns: mama, pulmão centímetros de diâmetro, a maioria possui entre poucos
o Tumor "receptor" mais comum: meningioma
milímetros e 1,5 centímetros. Grandes metástases hemis-
Origem féricas são raras. Em contraste, as metástases do crânio e
• 10% com primário desconhecido no momento do da dura podem se tomar bastante volumosas.
diagnóstico Aproximadamente metade de todas as metástases são
o Crianças: leucemia, linfoma, sarcoma
lesões solitárias, e outra metade é múltipla, Cerca de 20%
o Adultos: pulmão, mama; melanoma, carcinoma
dos pacientes possuem duas lesões, 30% possuem três ou
renal e de còlon
mais, e somente 5% possuem mais do que cinco lesões.
754 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorals
27-5A Tumor metastático E] penetra a dura e invade o seio sa- 27-5B Fotomicrografia de baixa magniíicação moslra que o aspecto
gilal superior. 0 crânio sobrejacente (não mostrado) estava acometido. endocraniano do tumor envolve tanto a dura quanto a aracnoide subja
cente SI. (Cortesia de P. Burger, MD.)
Patologia macroscópica. O aspecto das metástases na pato As metástases durais costumam ocorrer em combi
logia macroscópica varia de acordo com o local do tumor. nação com lesões cranianas adjacentes, apresentando-se
Metástases parenquimatosas. As metástases paren- como nódulos focais ou folhas de tumor mais difusas e em
quimatosas são lesões arredondadas e relativamente dis placas (Figs. 27-5, 27-6, 27-7 e 27-8). Metástases durais
tintas (Fig. 27-2). Edema peritumoral. necrose e efeito ex sem o envolvimento do crânio são menos comuns.
pansivo variam de nenhum a acentuados. Com a exceção Metástases leptomeníngeas. O termo "metástase lep-
do melanoma melanocítico, que é preto, a maioria é amar- tomeníngea", na verdade, descreve as metástases para os
ronzada ou branco-acinzentada. Alguns adenocarcinomas espaços subaracnoides e a pia. A opacifícação difusa das
produtores de mucina possuem um aspecto gelatinoso. leptomeninges com revestimento em aspecto de açúcar é
A distribuição espacial das metástases parenquimatosas típica (Fig. 27-9). A infiltração dos espaços perivasculares
não é uniforme, sugerindo que a vulnerabilidade para as me (de Virchow-Robin) com extensão para o córtex adjacente
tástases pode diferir entre as regiões do cérebro. Por exem é comum (Fig. 27-10).
plo, os lobos parietais e occipitais são os locais mais comuns Características microscópicas. Embora as metástases pos
para câncer de pulmão de não pequenas células. A hemorra sam demonstrar mitoses mais acentuadas e elevados ín
gia também varia com o tipo de tumor. Melanomas, carcino dices de proliferação em comparação com a sua fonte pri
mas de células renais e coriocarcinomas são mais propensos mária. elas preservam as mesmas características celulares.
a desenvolverem hemorragias intratumorais. Por exemplo, Algumas metástases são mais difíceis do que outras
em comparação com o câncer de pulmão, o melanoma pos para se caracterizar nos estudos histopatológicos-padrao.
sui uma probabilidade cinco vezes maior de sangrar. A caracterização imuno-histoquímica e novos testes ba
Metástases parenquimatosas difusamente infiltra- seados em microRNA podem identificar o tecido tumoral
tivas são raras. Quando ocorrem, elas podem ser indis- de origem na maioria desses casos.
tinguíveis de astrocitomas anaplásicos ou glioblastomas
multiformes. O carcinoma pulmonar de pequenas células
é o tumor mais comum a causar infiltração pseudoglio- METÁSTASES DO SNC: PATOLOGIA
matosa.
Localização
Metástases cranianas/durais. Metástases na calota e • Adultos
na base do crânio podem ser lesões bem delimitadas ou di o cérebro (80%, hemisférios cerebrais»cerebelo)
fusamente destrutivas e de margens indefinidas (Figs. 27-3 o Crânio/dura (15%)
e 27-4). Tumores de cabeça e pescoço que se estendem o Pia ("leptomeníngea"), LCS (5%)
o Outros (1%)
para o interior do crânio por invasão geográfica direta ge
ralmente causam significativa destruição óssea local. (continua)
Metástases e síndromes paraneoplásicas 755
(continuoçõo)
• Crianças
o Crânio/dura » parenquima cerebral
Ta m a n h o
• Metástases parenquimatosas
o Microscópicas a poucos centímetros (a maioria 0,5
a 1,5 cm)
• Metástases para crânio/dura
o Variável; podem se tornar muito grandes
Número
• Solitária (50%)
• Duas lesões (20%)
• Três lesões ou mais (30%)
o Somente 5% possuem mais de cinco lesões
Características microscópicas
• Preservam as características gerais do tumor primário
• Podem ter mais mitoses e índices proliferativos mais
elevados
Aspectos clínicos
Oemografia. Conforme os tratamentos para os cânceres sis
têmicos melhoram, os pacientes vivem por mais tempo e
a incidência de metástases cerebrais continua a crescer.
Hoje, até 40% dos pacientes com cânceres sistêmi
cos tratados eventualmente desenvolvem metástases ce
rebrais. A incidência possui forte relação com a idade,
variando de menos de 1:100.000 em pacientes com menos
de 25 anos a mais de 30:! 00.000 aos 60 anos.
O pico de prevalência acontece em pacientes com mais 27-7 Múltiplas metástases durais de carcinoma de
de 68 anos. Somente 6 a 10% das crianças com malignida- mama S!. (Cortesia de B. Horten, MD.)
des extracranianas desenvolvem metástases cerebrais.
As metástases para o crânio e a dura possuem uma
distribuição bimodal. Existe um pico menor em crianças
e um pico muito maior em adultos de meia-idade e mais
velhos. A idade média é de 50 anos, com viés devido aos
casos pediátricos e mulheres jovens com neoplasias agres
sivas de mama.
27-9 Metástases pia-aracnoides ("leptomeningeas") revestindo o 27-10 Metástases preenchendo o espaço subaracnoide entre a aracnoide
cérebro e preenchendo as cisternas subaracnoides da base ES. (Cortesia ES e a superfície piai do cérebro [^, estendendo-se ao longo dos espaços
de R. Hewlett, MD.) perivasculares para o interior do córtex (Cortesia de P. Burger, MO.)
27-13A Um homem de 80
anos compareceu ao Pronto
/ Atendimento com queixa de
"derrame". A TC sem contraste
mostra um volumoso hematoma
heterogeneamente hiperdenso-
parieto-occipital à esquerda.
27-138 Um estudo de perfusão
por TC (não mostrado) e uma ATC
as metástases de melanoma, as quais possuem um encur- ponderadas em difusão da água é imprevisível. As metás
tamenio TI intrínseco e, portanto, apresentam-se mode tases de adenocarcinomas bem diferenciados tendem a ser
radamente hiperintensas (Fig. 27-15). As metástases he hipointensas (sem restrição), enquanto carcinomas neuro-
morrágicas subagudas demonstram intensidade de sinal endócrinos mais agressivos de pequenas e grandes células
heterogênea e desordenada, freqüentemente com focos são hiperiniensos na difusão (Fig. 27-17A). Os valores de
misturados de hiper e hipointensidade em TI de aspecto coeficiente de difusão aparente (ADC) refletem a celula
bizarro (Fig. 27-16). ridade do tumor de modo inverso, ou seja. baixo ADC in
T2/FLAIR. A intensidade de sinal em T2 varia depen dica alta celularidade.
dendo do tipo de tumor, celularidade da lesão, presença de A seqüência DTl com a combinação de anisotropia
resíduos hemorrágicos e quantidade de edema peritumoral. fracionada (FA) e cálculos de ADC pode ser útil na distin
Muitas metástases são neoplasias muito celulares com ele ção entre metástases e glioblastoma.
vadas razões núcleo/citoplasma e, portanto, possuem as Perfusão. A diferenciação entre tumores primários e
pecto hipointenso em T2/FLAIR (Figs. 27-14B e 27-14C). metástases cerebrais solitárias usando a perfusão por RM
Exceções incluem tumores mucinoses, metástases císticas (pRM) é controversa. Alguns estudos sugerem que a acu-
e tumores com grandes quantidades de necrose central, os rácia diagnóstica da RM - incluindo o cálculo do rCBV
- é melhor para a graduação das neoplasias gliais do que
quais podem apresentar moderada hiperintensidade.
Algumas metástases hiperintensas demonstram pou na diferenciação entre gliomas de alto grau e metástases
co ou nenhum edema circunjacenle. Múltiplas pequenas parenquimalosas.
metástases hiperintensas ("metástases miliares") podem Espectro.<!copia de prolans. Sinal proeminente de
ser confundidas com doença de pequenos vasos, a não ser lipídeos é o pico dominante na espectroscopia da maio
que seja administrado meio de contraste. ria das metástases cerebrais. Entretanto, o sinal dos lipí
T2*. Os produtos sangüíneos e a melanina contêm deos também é comum em muitos processos celulares,
ions metálicos, incluindo ferro, cobre, manganês e zinco. incluindo inflamação e necrose. A colina costuma estar
Tanto a hemorragia subaguda quanto a melanina causam elevada, e a Cr está reduzida ou ausente na maior parte
acentuada queda de sinal (artefato de susceptibilidade das metástases.
magnética) nas imagens ponderadas em T2* (GRE, SWI) RM molecular. Alguns meios de contraste de RM têm
como alvos específicos marcadores como a molécula de
(Figs. 27-16 e 27-19). Quase 75% das metástases de me
lanoma apresentam hiperintensidade em TI ou efeitos de adesão de células vasculares endoteliais-1 (VICAM-l),
susceptibilidade; 25% apresentam os dois. Metástases não que possuem expressão aumentada nos vasos associados
melanóticas não hemorrágicas não se tomam hipointensas às metástases cerebrais. O uso dessas substâncias pode
em T2* (Fig. 27-15). permitir a detecção precoce de micrometástases antes que
TI pós-conlrasle. Quase todas as metástases não as lesões se tomem evidentes nas sequências-padrão com
realce pelo gadolínio.
hemorrágicas realçam após a administração de meio de
contraste (Fig. 27-14D). Os padrões variam de impregna Achados de medicina nuclear. Embora possua eficiência
ção sólida e uniforme a nodular, "cisto + nódulo" e anelar para a determinação da doença sistêmica, a tomografía
(Figs. 27-17 e 27-18). Múltiplas metástases no mesmo pa por emissão de pósitrons (PET-TC) padrão subestima pa
ciente podem exibir diferentes padrões (Fig. 27-16). cientes com metástases cerebrais e deixa de demonstrar
Estudos longitudinais demonstraram que, em pacien várias lesões facilmente detectadas na RM padrão. Resul
tes mais velhos, hiperintensidades multifocais identifica tados preliminares com o uso de novos agentes, como o
das nas ponderações T2/FLAIR que não realçam após a FI8-D0PA, são promissores na detecção de recidiva da
administração de meio de contraste quase nunca se reve doença após o tratamento cirúrgico e/ou radioterapia.
lam metástases.
A conspicuidade das metástases pode ser aumenta Diagnóstico diferencial
da nas imagens em TI pós-conlraste com supressão de o diagnóstico diferencial das metástases parenquimalo
gordura e seqüências com transferência de magnetiza- sas varia com os achados de imagem. O principal diag
çào. Descreveu-se um aumento da sensibilidade com o nóstico diferencial para as metástases com realce punti-
uso de dose dupla ou mesmo tripla de contraste, porém forme e anelar é o abseesso. Os abscessos e os êmbolos
não é uma prática rotineira. A seqüência T2/FLAIR pós- scptícos em geral têm restrição à difusão da água e de
-contraste é uma nova técnica que aumenta a sensibilidade monstram aminoácidos e lactato elevados na espectros
em comparação às seqüências de inversão da recuperação copia de prótons.
(IR) pós-contraste e gradiente-espoliada (FSPOR) prepa Às vezes, o glioblastoma multiforme (GBM) pode
rada com inversão da recuperação. simular metástases parenquimalosas. especialmente um
Difusão. Com exceção das neoplasias altamente ce GBM multifocal com lesões metacrônicas ou dissemina
lulares, como o meduloblastoma e o linfoma. a maioria ção tumoral do cérebro para o cérebro. O GBM solitário
dos tumores ctrehrú^ primários não apresenta restrição à tende a ser infiltrativo, enquanto as metástases são quase
difusão. O comportamento das metástases nas seqüências sempre arredondadas e relativamente bem delimitadas.
Metastases e síndromes paraneoplásicas 759
■' . • :■ ■
27-18 Um homem de 63 apresentou intensa cefaieia e papiledema. 27-19 Ocasionalmente, as metástases se apresentam como en-
A TC sem contraste mostra uma massa solitária com hemorragia na fossa cefalopatia inespecífica. As imagens em T2/FLAiR mostram algumas
posterior As imagens de RM mostram um padrão de "cisto nódu- hiperintensidades esparsas na SB SJ. Não há realce definido em T1 pós-
lo". Adenocarcinoma de sitio primário desconhecido. -contraste, múltiplos focos de susceptibilidade magnética em 12" S].
Metástases de câncer de mama.
27-20A Corte de TC sem contraste com reconstrução com filtro para 27-20B A reconstrução com filtro ósseo demonstra inúmeras lesões
partes moles em janela para partes moles (80 UH) não mostra anormali lilicas bem definidas na calota craniana. Mieloma múltiplo.
dades nesse homem de 53 anos com cefaleia.
diploico. Um fomiato biconvexo com extensão tanto sub- tástases na calota craniana. As estruturas normais costumam
galeai quanto dura! é típico (Fig. 27-21). A maioria das ser bem delimitadas e a dura subjacente está nomial.
metástases durais realça intensamente. O mieloma pode ser indistinguível de múltiplas metás
tases líticas no crânio. A osteomielite da base do crânio é
Achados de RM.
uma rara, porém letal, infecção que pode se assemelhar a
Ponderação TI. A gordura hiperintensa no espaço di metástases difusas da base do crânio. Os valores de ADC são
ploico fornece uma excelente demarcação natural para as mais elevados na infecção do que nas neoplasias malignas.
metástases cranianas. As metástases substituem a medula O principal diagnóstico diferencial para metástases
amarela hiperintensa e aparecem nas imagens como focos solitárias ou multifocais da dura-aracnoide é o meningio
infiltrativos hipointensos (Fig. 27-22). As metástases du ma. Metástases, especialmente de câncer de mama. po
rais espessam a dura-aracnoide e são tipicamente iso ou dem ser quase indistinguíveis de meningiomas solitários
hipointesas ao córtex subjacente (Fig. 27-23, 27-24). ou múltiplos apenas do ponto de vista de imagem.
T2/FLA1R. A maior parte das metástases cranianas O diagnóstico diferencial para o espessamento difuso
são hiperintensas à medula em T2, porém a intensidade da dura-aracnoide é muito mais amplo. Paquimeningopa-
de sinal das metástases durais é variável. Hiperintensidade tias não neoplásicas. como meningite, hematoma subdural
em FLAIR nos sulcos subjacentes sugere disseminação tu crônico e hipotensão intracraniana podem causar espes
moral para a pia-aracnoide (Fig. 27-25). Hiperintensidade samento difuso da dura-aracnoide. O espessamento durai
no cérebro subjacente está presente em metade de todos metastático é geralmente, porém não sempre, mais "rugo-
os casos e sugere invasão tumoral ao longo dos espaços so e esburacado" (Figs. 27-23 e 27-24).
perivasculares ou comprometimento da drenagem venosa.
T! pós-conírasíe. Quase 70% das metástases durais
estão acompanhadas de metástases no crânio sobrejacente METÁSTASES NO CRÂNIO E NA DURA-ARACNOIDE
(Fig. 27-26). O envolvimento do couro cabeludo adjacente Características gerais
também é comum. A seqüência ponderada em TI pós-con- • Segundo local mais comum de metástases no SNC
traste deve ser realizada com saturação do sinal da gordura • Crânio Isolado ou crânio + dura > > metástase durai
(TI C+ PS) para uma delineação otimizada, uma vez que isolada
• Metástases "durais" geralmente são na dura e na
algumas lesões na calota craniana podem realçar apenas o
suficiente para tomarem-se isointensas à gordura. aracnoide
o termo anatômico "lepiomeninges" refere-se à aracnoide micos primitivos (PNETs), meduloblastomas, ependimo-
e à pia. O termo usado, "metástases leptomeníngeas", é mas e germinomas.
tecnicamente incorreto, uma vez que é empregado para
Imagem
designar o padrão de imagem observado quando o tumor Características gerais. Diferentemente das metástases da du-
acomete a pia e os espaços subaracnoides (Fig. 27-27). As
ra-aracnoide, que "abraçam" a tábua interna da calota cra
metástases aracnóideas são quase sempre secundárias ao
niana, as metástases leptomeníngeas seguem as superficies
envolvimento durai e apresentam aspecto bastante dife
rente (Fig. 27-28). corticais, curvando-se ao longo dos giros e mergulhando
nos sulcos. O aspecto geral das aquisições com contraste é
Para fins desta discussão, as metástases para pia/espaço
como se o LCS "se tornasse branco" (Fig. 27-29).
subaracnoide são referidas como metástases leptomenínge
as (ML). Outros sinônimos incluem carcinomatose menín- Achados de TC. As imagens de TC sem contraste podem ser
gea, meningite neoplásica e meningite carcinomatosa. nonnaís ou mostrar apenas discreta hidrocefalia. Uma su-
Diagnóstico diferencial
O principal diagnóstico diferencial das metastases lep-
tomeníngeas é a meningite infecciosa. Pode ser difícil
ou mesmo impossível fazer a distinção entre meningite
carcinomatosa e infecciosa com base apenas nos achados
27-32A Imagem axial na seqüência Ti pós-contraste de imagem. Outras considerações diagnósticas incluem
mostra que os segmentos císternais e do cavo de Me
ncurossarcoidose. A história clínica e os dados laborato-
ckel de ambos os nervos trigémeos estão espessados e
com realce E3.
METÁSTASES LEPTOMENÍNGEAS
Características gerais
• Metastases para a pia/espaço subaracnoide
• Incomum
o 5% dos cânceres sistêmicos
o Mais comum com tumores cerebrais primários
(p. ex., GBM, PNET, germinoma)
TC
• TC sem contraste: pode ser normal hidrocefalia
• TC com contraste: realce de sulcos e cisternas
27-37A Imagem sagital na ponderação TI mostra uma massa infiltra- 27-376 Imagem ponderada em Ti pós-contraste mostra que a massa
tiva no hípotálamo e na haste infundibular B. realça intensa e uniformemente. Câncer de mama metastático.
res. seguido pelo terceiro ventrículo. Somente 0.5% das nistração de meio de contraste é típico. Metástases para o
metástases ventriculares ocorrem no quarto ventrículo. PCo demonstram uma opacificaçào vascular prolongada
Metástases solitárias para o PCo sào mais comuns do que na ASD.
mijítiplas lesões. As metástases para o PCo em geral ocor
rem na presença de múltiplas metástases em outros locais Diagnóstico diferencial. Em um paciente de mais idade (es
do cérebro. As vezes, um depósito metastático pode se pecialmente alguém com neoplasia sistêmica conhecida,
como carcinoma de células renais), o diagnóstico diferen
alojar no plexo coroide antes que lesões parenquimatosas
tornem-se aparentes.
cial de uma massa no plexo coroide deve sempre incluir
metástase. Outras lesões comuns no plexo coroide em
Aspectos clínicos. Metástases intraventriculares de tumores pacientes mais velhos são meningioma e xantogranulo-
malignos extracranianos sào raras, representando apenas ma de plexo coroide. Os meningiomas de plexo coroide
1 a 5% das metástases cerebrais e 6% de todos os tumo
realçam intensamente e em geral de forma uniforme. Os
res intraventriculares. A maioria envolve o plexo coroide cistos de plexo coroide (xantogranulomas) sào bilaterais e
(Fig. 27-35); o epêndima ventricular é afetado com menos de aspecto multicístico.
freqüência (Fig. 27-36). Embora metástases solitárias para o terceiro ventrí
As fontes primárias mais comuns em adultos sào o culo sejam raras, depósitos metastáticos para o plexo co
carcinoma de células renais e o câncer de pulmão. Mela roide no forame de Monro podem simular cisto coloídc.
noma. cánceres de estomago e colon, e linfoma são causas
Apesar da parede do cisto às vezes demonstrar realce pe
menos comuns de metástases para o PCo. Neuroblastoma,
riférico, o realce sólido quase nunca ocorre.
tumor de Wilms e retinoblastoma sào as fontes primárias
mais comuns em crianças. O prognóstico tende a ser ruim, Metastases para a hipófise/haste infundibular
com a maior parte dos pacientes sucumbindo à progressão
Aspectos clínicos. As metástases causam cerca de 1% de
da doença sistêmica ou à doença multifocal no SNC.
todos os tumores de hipófise ressecados e são encontradas
Imagem. As metástases para o PCo o alargam e são iso a em 1 a 2% das necropsias. Tumores primários de mama
hiperdensas em relação ao plexo coroide normal nas ima e pulmão representam dois terços dos casos, seguidos
gens de TC sem contraste. Elas realçam de forma intensa, por adenocarcinomas de trato gastrintestinal. A maioria
porém heterogênea. das metástases para a hipófise acomete o lobo posterior,
As metástases para o plexo coroide costumam ser hi- provavelmente ao seu suprimento arterial direto por meio
pervasculares. portanto hemorragias são bastante freqüen das artérias hipoflsárias (a hipófise anterior é predominan
tes. A maior parte das metástases não hemorrágicas para temente suprida pelo sistema venoso portal da hipófise).
o PCo são hipointensas em relação ao cérebro em TI e Metástases cerebrais coexistentes são comuns, porém le
hiperintensas em T2/FLAIR. Realce intenso após a admi sões solitárias também ocorrem.
Melástases e síndromes paraneoplásicas 769
27-38A Espécime de necropsia mostra carcinoma de células esca- 27-38B O tumor se estende do selo cavernoso ao longo do NC III para
mosas da nasoíaringe estendendo-se superiormente, erodindo a porção o interior das cisternas suprasselar e pré-pontina bèl. (Cortesia de R.
central da base do crânio para o interior do seio cavernoso [—>] e soalho Hewlett, MD.)
da sela [í>L
Sinais e sintomas como ccfaleia e alterações visuais lesões solitárias sem evidência de depósitos metastáticos
podem simular os encontrados no macroadenoma dc hi- em outros locais, e são indistinguíveis das neoplasias pri
pótlse, embora com freqüência eles progridam de forma márias da glândula pineal nos exames de imagem.
mais rápida nos pacientes com metástases. Diabetes insí-
Metastases ocuiares
pido é comum na clínica.
Aspectos clínicos. Metástases para os globos ocuiares são
Imagem. Uma massa selar com ou sem erosão óssea, espes- raras. O trato uveal altamente vascularizado é a localiza
samento da haste, perda do hipersinal da hipóflse posterior
ção mais comum se metástases estão presentes. Na uvea,
e invasão dos seios cavemosos são típicos, porém inespe- a coroide é o local mais afetado, representando cerca de
cificos, assim como uma massa infiltrativa na hipóflse e/ou 90% de todas as metástases ocuiares. A íris (8 a 9%) e o
haste com cistos, hemorragia e realce heterogêneo (Fig.
corpo ciliar (2%) são outras localizações possíveis.
27-37). Os achados de RM são inespecíflcos e bastante se O câncer de mama é a causa mais comum de metásta
melhantes aos encontrados no macroadenoma de hipóllse. ses ocuiares, seguido pelo câncer de pulmão. O diagnósti
Diagnóstico diferencial. O principal diagnóstico diferencial co das metástases ocuiares é baseado em achados clínicos
das metástases para a hipóllse é o macroadenoma. Os complementados por exames de imagem.
macroadenomas raramente se apresentam com diabetes
Imagem. Os achados de TC e RM são inespecíflcos, demons
insípido. No contexto de neoplasia sistêmica conhecida, trando uma massa no segmento posterior que com freqüên
o crescimento rápido de uma massa hipoflsária com iní cia realça intensamente após a administração do meio de
cio de diabetes insípido é altamente sugestivo, porém não contraste (Fig. 27-34). A avaliação de todo o cérebro é re
diagnóstico de metástase. A hipofisite linfocítica também comendada, uma vez que 20 a 25% dos pacientes com me
pode se assemelhar à metástase hipofisária nos exames de tástases coróideas possuem lesões concomitantes no SNC.
imagem.
Diagnóstico diferencial. O diagnóstico diferencial das me
Metástases para a glândula pineal tástases coróideas inclui outras massas hiperdensas do
Embora a glândula pineal seja uma fonte relativamente segmento posterior. O melanoma primário de coroide e
comum de tumores primários do SNC que se disseminam o hemangioma podem apresentar aspecto similar na TC
para o LCS, é um dos locais que mais raramente abrigam e na RM. Tanto metástases quanto o melanoma podem
metástases. Somente 0,3% das metástases intracranianas penetrar a membrana de Bruch. A ultrassonografia ocular
acometem a glândula pineal. O pulmão, a mama. a pele pode ser útil no diagnóstico de hemangioma. O melanoma
(melanoma) e o rim são as origens mais freqüentes. Quan e as metástases podem incitar hemorragia coróidea ou
do as metástases para a pineal ocorrem, costumam ser descolamento de retina.
770 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
Os CCEs sinonasais que acometem o cérebro sào clas nervo facial (NC VII) (Fig. 27-42). O CCE ou melanoma
sificados de acordo com os critérios do American Joint da face podem infiltrar a divisão infraorbital do NC V,. A
Committee on Cancer (AJCC) em vez de receberem uma disseminação posterior para o interior da FPP permite o
graduação da Organização Mundial da Saúde (OMS). O acesso ao seio cavernoso e o cavo de Meckel via forame
CCE nasoetmoidal que invade a placa cribriforme é consi redondo.
derado um tumor T3. Se a fossa craniana anterior está en O nervo mandibular (NC V3) pode ser invadido por
volvida, o tumor é uma lesão T4a. Os tumores T4b acome qualquer lesão maligna do espaço mastigador. A dissemi
tem a dura, o cérebro, a fossa craniana média, o clívus ou nação retrógrada pelo nervo a partir de um CCE da muco
os nervos cranianos exceto o nervo mandibular (NC V3). sa da cavidade oral é um exemplo clássico (Fig. 27-43).
Os tumores malignos da glândula parótida, como o
Imagem. As imagens de TC mostram uma massa sólida
carcinoma adenoide cístico, podem "rastejar" ao longo
com margens irregulares e destruição óssea. O CCE si-
do nervo facial por todo o trajeto até o conduto auditivo
nonasal é isointenso à mucosa na ponderação TI e leve a
interno.
moderadamente hipointenso em T2.
Os CCEs apresentam leve a moderado realce após Características microscópicas. O tumor se estende ao longo
a administração do meio de contraste, porém empregam do nervo pelo epineuro, expressando moléculas de adesão
cm grau menor do que os adenocarcinomas, estesioneu- celular neural (MACN), e eventualmente invadindo o ner
roblastomas e melanomas. As imagens ponderadas em TI vo propriamente dito.
pós-contraste com saturação de gordura nos planos axial
e sagital são recomendadas para a detecção de dissemina Aspectos clínicos
ção perineural do tumor (ver a seguir). As imagens coro- A disseminação TPeri precoce é freqüentemente assinto-
nais em TI pós-contraste são recomendadas para delinear mática. Dor e parestesias trigeminais, incluindo atrofia
a extensão por meio da placa cribriforme para o interior por denervação dos músculos da mastigação, são comuns
da fossa craniana anterior (Fig. 27-39). em lesões do NC V. As lesões do NC VII apresentam-se
com fraqueza ou paralisia dos músculos da face. As fun
Diagnóstico diferencial. O diagnóstico diferencial do CCE
sinonasal com extensão intracraniana inclui outros tumo
ções especiais do NC VII são perdidas conforme o tumor
res malignos, como o adenocarcinoma sinonasal, carci gradualmente se dissemina superiormente pelo canal do
nervo facial.
noma indiferenciado e linfoma não Hodgkin. Condições
não malignas que mimetizam o CCE sinonasal e que po
Imagem
dem se estender para o interior do crânio incluem sinusite
Características gerais. O alargamento tubular dos nervos
fúngica invasiva e granulomatose de Wegener.
afetados, juntamente com o alargamento do respectivo ca
nal ou forame ósseo, é típico. Se o nervo passa por uma
Metastases períneurais estrutura como a FPP, que é normalmente preenchida por
Terminologia gordura, a gordura se toma "suja" ou obliterada. Procure
A disseminação perineural de tumor (TPeri) é definida por atrofia por denervação - comum com lesões do NC
como uma extensão de um tumor maligno ao longo das V3 - notada pelos músculos da mastigação lipossubstituí-
bainhas nervosas. dos e com volume reduzido (FIg. 27-40).
Achados de TC. A TC óssea mostra alargamento delimitado
Etiologia - não permeativo ou destrutivo - dos forames ou canais
Muitos cânceres de cabeça e pescoço possuem propen
afetados. A TC sem contraste pode demonstrar densidade
são para a disseminação ao longo das bainhas nervosas.
anormal nos tecidos moles substituindo a gordura normal.
Tumores cutâneos ou de mucosas, como o CCE, e ma-
A TC com contraste pode revelar discreto realce nos teci
lignidades das glândulas salivares, como o carcinoma dos moles.
adenoide cístico, são propensos para a disseminação pe
Se o tumor estende-se para o interior do seio caverno
rineural. Outros tumores, como o melanoma e o linfoma
so, as paredes podem estar abauladas e o cavo de Meckel
não Hodgking, também se disseminam com freqüência ao
pode estar preenchido por tecidos moles em vez de LCS.
longo das principais bainhas nervosas. A invasão perineu
ral acontece em 2 a 6% dos carcinomas cutâneos basais e Achados de RM. O contraste natural provido pela gordura
de células escamosas da cabeça e do pescoço. na ponderação TI é útil na detecção de possível TPeri.
A disseminação TPeri pode ser anterógrada, retrógra Obliteração da gordura - especialmente na FPP - é um
da ou ambas. Lesões "salteadas" ("skip " lesions) e lesões achado-chave. O TPeri com freqüência é isointenso ao
que cruzam de um nervo para outro são comuns. nervo e de difícil visualização na ponderação T2. A disse
minação tumoral para o cavo de Meckel substitui o LCS
Patologia hiperintenso normal por tecidos moles isointensos.
Localização. Os nervos mais afetados por TPeri são a divi As imagens em TI pós-contraste devem ser obtidas
são maxilar do nervo trigémeo (NC V,) (Fig. 27-41) e o com saturação do sinal da gordura para aumentar a cons-
772 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorals
■ i ' ^
picuidade dos nervos alargados e com impregnação inten do que o envolvimento solitário na PDIC. Outras causas de
sa e unifonne. realce multifocal de nervos cranianos incluem esclerose
múltipla, neurite viral/pós-viral e doença de Lyme.
Diagnóstico diferencial
Os principais diagnósticos diferenciais para um nervo so
litário alargado e com realce em um adulto de meia-idade
ou mais velho são metástase perineural e schwannoma.
Síndromes paraneoplásicas
Os schwannomas são alargamentos tubulares ou fusifor- Terminaremos este capítulo com uma breve discussão dos
mes que sofrem impregnação intensa, porém heterogênea. efeitos neurológicos remotos induzidos pelo câncer, deno
A maioria dos schwannomas ocorre nos nervos vestibuio- minados síndromes paraneoplásicas ou distúrbios neuro
cocleares. enquanto os nervos trigêmeos e faciais são os lógicos paraneoplásicos (DNP). Por definição, DNPs não
locais mais comuns para metástases perineurais. O linfo- são relacionados à invasão tumoral direta (local ou metas-
nia pode envolver um único nervo craniano, mas é mais tálica), efeitos da quimioterapia, desnutrição ou infecção.
freqüentemente multifocal. Em uma síndrome paraneoplásica, os tumores externos ao
Os neurofibromas plc.viformcs podem infiltrar a di SNC exercem sua influência adversa no cérebro, não por
visão orbital do NC V, porém quase sempre ocorrem na metástases, mas indiretamente, de forma predominante,
neuroFibromaiose tipo I. por meio de mecanismos imunológicos ou mediados por
A neurossarcoidosc e a sinusite fúngica invasiva po células T. Os DNPs podem acometer o SNC (cérebro e
dem infiltrar um ou mais nervos cranianos. A polincuro- medula) ou o sistema nervoso periférico.
patia desmielinízantc inflamatória crônica (PDIC) em Síndromes paraneoplásicas são raras, afetando me
geral acomete os nervos espinais, mas pode afetar os ner nos de I % de todos os pacientes com cánceres sistêmicos.
vos cranianos. Múltiplos NCs com realce são mais comuns Nesses casos, as síndromes paraneoplásicas são diagnos-
ticadas apenas após de outras etiologias - principalmen inflamatório linfoplasmocitário com graus variáveis de
te doença metastática - terem sido excluídas. Em 70% perda neuronal é típico.
dos pacientes com DNP os sintomas neurológicos são a
primeira manifestação do tumor. Ao menos 60% dos pa Imagem
cientes com DNP possuem anticorpos antineuronais que A RM é a modalidade de escolha para o diagnóstico de
podem ser detectados no sangue ou no LCS, porém os ELP. As seqüências T2/FLAIR demonstram hiperin-
exames de imagem podem oferecer as primeiras pistas lensidade em um ou ambos os lobos temporais mediais
para a presença de um possível DNP. (Fig. 27-44).
Vários tipos de DNPjá foram reconhecidos. Esses in
cluem a encefalite límbica paraneoplásica, encefalomieli- Diagnóstico diferencial
te paraneoplásica, degeneração cerebelar paraneoplásica, o principal diagnóstico diferencial da ELP é a encefalite
opsoclonus-mioclonus-alaxia paraneoplásica, neuropatia hcrpctica. Outras causas de encefalite límbica que podem
sensorial paraneoplásica e a síndrome miastênica de Ea simular ELP incluem a síndrome de encefalite límbica
ton-Lambert.
aguda pós-transplante (ELPT) e a encefalite pelo her-
Abordaremos a síndrome paraneoplásica mais co pes-vírus humano 6 (HHV-6). A encefalite pelo HHV-6
mum, a encefalite límbica paraneoplásica, e, em seguida, está associada a malignidades hematoiógicas como leu
discutiremos alguns outros DNPs. Concluiremos com cemia e os linfomas de Hodgkin e angioimunoblástico de
uma breve menção sobre os distúrbios paraneoplásicos células T. A glíomatose cerebral ocasionalmente cruza
extralímbicos e as síndromes autoimunes soronegativas a comissura anterior e infiltra ambos os lobos temporais,
que podem simular encefalite límbica paraneoplásica. s i m u l a n d o E L P.
Os anticorpos contra o complexo CPDV também são lhar a gliomas, com uma lesão focai pseudotumoral que
encontrados em muitos pacientes com encefaiite límbica apresentam realce.
não paraneoplásica. Somente 30% dos pacientes com an
ticorpos contra o complexo CPVD possuem tumores sis Osteomalácea oncogênica
têmicos, primariamente carcinoma pulmonar de pequenas A osteomalácea oncogênica, também chamada de osteo
células e timoma. Os achados de imagem são inespecifi- malácea induzida por tumor (OIT), é uma síndrome pa
cos e incluem hiperintensidade em T2/FLAIR no sistema raneoplásica incomum adquirida. Ela geralmente afeta os
límbico e/ou nos núcleos da base (Fig. 27-45). membros ou o esqueleto axial, porém às vezes acomete a
base do crânio. A OIT é difícil de ser diagnosticada devido
Encefalopatias paraneoplásicas lobar extralímbica ao início insidioso dos sintomas - na maior parte, dor ós
e autoimune soronegativa sea generalizada e fraqueza muscular.
As encefalopatias lobares extra limbicas paraneoplási Os tumores que causam OIT são tumores mesen-
cas (EPLEL) e a encefaiite límbica autoimune sorone quimals fosfatúricos com tecido conectivo misto que
gativa (ELAS) têm recebido menos atenção do que as secretam fator de crescimento fibroblástico 23 (FGF-23).
mais clássicas ELP e DCPN. Nessas síndromes, as ex O FGF-23 inativa os cotransportadores de sódio e fosfa
tensas buscas por agentes infecciosos e autoanticorpos to nos túbulos renais proximais. O hemangiopericitoma
são negativas. causa aproximadamente 70 a 80% dos casos de OIT.
Os achados de imagem são similares aos encontrados A hlpolbsfatemia resulta em grave osteopenia com
na encefaiite herpética e na encefaiite límbica paraneoplá múltiplas fraturas de consolidação prejudicada na coluna
sica, com hiperintensidade em T2/FLA1R no uncus e no e extremidades. A base do crânio e as regiões oral e maxi-
hipocampo (Fig. 27-46). Alguns casos podem se asseme lofacial são afetadas.
Outras metastases
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temporal lobe hyperintensity: a retrospective review. Br J report of 2 cases. Neurosurgery. 69( I ):E239-44; discussion
Radiol. 85(10i7):e782-92. 2012 E244.201I
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28
Cistos não neoplásicos
Extra-axíal Intra-axial
Supratentorial Supratentorial
Infratentorial infratentorial
ARC, ângulo pontocerebelaf; EPV, espaço perivascular. Cisto Ieptomeníngeo, cisto da tenda de Rathke e quarto ventrículo cístico/encarcerado sâo discutidos nos
Capítulos 2, 25 e 34, respectivamente. Todas as outras entidades da tabela serão consideradas aqui.
é facilmente acessível na inspeção visual e manual. Entre cabeludo e neurofibromas. Menos comuns, porém impor
tanto, massas do couro cabeludo não são tão incomuns de tantes lesões de couro cabeludo em crianças incluem a ce-
identificar nos estudos de imagem realizados para visua falocele e o sinus pericranii.
lizar estruturas intracranianas. A imagem também torna- Os três cistos de couro cabeludo mais comuns estatis
-se importante quando a lesão do couro cabeludo pode ser ticamente são o cisto epidennoide (50%), o cisto triquile
maligna no aspecto clínico, tem um componente vascular mal (25 a 30%), e o cisto dermoide (20 a 25%). Os cistos
ou pode estar anatomicamente em contiguidade com o epidermoide e dermoide serão discutidos depois, neste ca
contetjdo intracraniano.
pitulo. Discutiremos aqui os cistos triquilemais (pilar ou
A idade é um dado importante para o diagnóstico di "sebáceos") do couro cabeludo.
ferencial de massas de couro cabeludo não traumáticas.
Em adultos, o diagnóstico diferencial inclui carcinomas Cisto triquilemal C^sebáceo")
de pele (células escamosas e basais), cistos dermoides e
epidermoides, hemangiomas e metastases. Cistos triqui- Terminologia
lemais (CTs) ("sebáceos") são massas comuns no couro Embora o termo "cisto sebáceo" seja mais usado pelos
cabeludo em pacientes de meia-idade e idosos. radiologistas. esse tipo de cisto não contém material se
A massa mais comum no couro cabeludo em crian báceo. Esses cistos são mais chamados de cistos triqui
ças é a histiocitose da célula de Langerhans. seguido pelos lemais. Raramente CTs aumentam e proliferam. CTs que
cistos epidermoides e dermoides. hemangiomas de couro proliferam são conhecidos como tumores pilares ("em
Cistos não neoplásicos 781
28-1 TC sem contraste axial em uma mulher de 79 anos com massa 28-2 Dois cistos triquilemais E3 são vistos nessa imagem coronal T1
no couro cabeludo não endurecida presente ha anos. A massa B é hi- C+. Os cistos são heterogêneos, isoinlensos ao parênquima cerebral e
perdensa, parcialmente calciticada. Cisto triquilemal. cercados incompletamente por gordura. Eles não realçam.
28-7A TC sem contraste mostra cisto aracnoide na convexidade I 28-76 Seis meses depois, o paciente teve uma cefaleía súbita. O cisto
que expande e remodela a calota craniana S. IS é agora hiperdenso comparado ao LCS, e mostra o nível sangue-
-iíquido Apoplexia cística com hemorragia súbita.
Localização. A maioria dos CArs é supratentorial. Eles membrana fibrosa delineada por uma camada única de
geralmente são fora da linha média e são os cistos extra- células aracnoidais maduras e histologicamente normais
-axiais supratentoriais fora da linha média mais comuns (Fig. 28-5). Pequenos infiltrados infiamatórios podem
(Fig. 28-3). ocorrer, mas são raros.
784 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
28-8 O CAr suprasselar é ísointenso ao ICS em T2 B. A pulsação do 28-9 CAr no ângulo pontocerebelar esquerdo é isointenso ao LC5 em
LCS dentro do cisto não é suprimida completamente no FLAIR [S. Cis- TI e T2 ES e suprime complemente no FLAIR Nenhuma restrição
ternograma por TC demonstra o contraste diluído nos ventriculos laterais da difusão é identificada B.
^3, enquanto o cisto não comunicante ^3 não se opacifica.
Nos casos de CArs grandes, a TC pode demonstrar tensidade de sinal heterogêneo e propagação dos artefatos
remodelamento da calota craniana adjacente. CArs nào de fase nas imagens. Os CArs não apresentam restrição da
causam invasão óssea. difusão e não impregnam pelo contraste. Os estudos de flu
CArs nào impregnam pelo contraste. A realização de xo do LCS, como o 2D cinePC, podem demonstrar comu
contraste intratecal ("cisternografia por TC") pode ser iitil nicação entre os cistos e o espaço subaracnoide adjacente.
para demonstrar comunicação com o espaço subaracnoi-
de (ES) (Fig. 28-8). A maioria dos CArs sintomáticos nào Diagnóstico diferencial
demonstra comunicação direta com o ES e pode requerer o maior diagnóstico diferencial dos CArs são os cistos
descompressão microciriirgica. Os pacientes CArs comu- epidcrmoldes (CE). Cistos epidermoides apresentam in
nicantes podem nào precisar de intervenção cirúrgica. tensidade de sinal quase sempre - porém não exatamente -
Achados na RM. CArs são lesões bem delimitadas, que se igual a do LCS. Eles têm aspecto em couve-flor, com uma
guem a intensidade de sinal do LCS em todas as seqüên configuração lobulada em vez de bordas bem delimitadas
cias (Fig. 28-6). Eles são. portanto, isointensos ao LCS como nos CArs. Os CEs envolvem os vasos e os nervos
nas imagens ponderadas em TI e T2 (Fig. 28-9). Os CArs cranianos, insinuando-os ao longo das cisternas. Os CEs
causam moderado efeito expansivo local, deslocando, nào suprimem completamente no FLAIR e costumam mos
mas não envolvendo o parênquima enceialico, vasos e trar uma hiperintensidade moderada a intensa na difusão.
nervos cranianos adjacentes. Espaços subaracnoides dilatados causados por per
A aparência interna dos CArs não demonstra nenhum da volumétrica do encéfalo são coleções de LCS difusas
achado, não contendo septações ou vasos. e não causam efeito de massa nas estruturas adjacentes.
Os CArs suprimem completamente no FLAIR (Fig. Higroma subdural ou hematoma subdural crônico
28-10). Às vezes a pulsação do LCS dentro de grandes le (HSDc) não apresentam intensidade de sinal igual ao LCS
sões pode causar o defasamento de spins, produzindo in e geralmente são crescentes, nào arredondados. HSDc
28-11 T2 axial mostra um cisto de fissura coróidea clássico E2 como 28-12 O cisto de fissura coróidea é isodenso ao LCS na TC sem contraste
um cisto bem delimitado, com sinal semelhante ao LCS, mediai ao corno B. 11 sagital mostra um clássico cisto alongado "cilíndrico" A lesão
temporal do ventrículo lateral. suprime completamente no FLAIR ES e é isointensa ao LCS em T2 í^.
28-13 Gráfico sagital ilustra um cisto epidermoide multilobulado, na 28-14 Espécime de necropsia mostra um cisto epidermoide na fossa
cisterna pré-pontina. Um efeito de massa significativo desloca a ponte, posterior como um tumor branco, "perolado" nas cisternas cerebeiopon-
junção cervicomedular, medula espinal cervical superior. tina, pré-pontina ES. Observe o encarceramento da artéria basilar [S,
nervos ocuiomotores K).
doenças adquiridas, os cistos epidermoides intracranianos por 10 a 15% dos CEs. As localizações menos comuns são
têm origem sempre congênita. os ventrículos cerebrais, em geral o quatro ventrículo. CEs
puramente extradurals e intradiploicos contam por 5 a 10%
Terminologia dos casos. CEs parenquimatosos ocorrem, mas são raros.
Um cisto epidermoide (CE) intracraniano é um cisto de Patologia macroscópica. A superficie externa de um CE
inclusão que deriva de elementos ectodérinicos embriôni-
é geralmente brilhosa, lembrando uma madrepérola
cos. Cistos epidermoides têm sido incorretamente chama
(Fig. 28-14). Múltiplas excrescências "em couve flor"
dos de "tumores", mas eles não são neoplásicos. O termo são típicas (Fig. 28-15). O cisto é preenchido por material
"colesteatoma" pode ser reservado para lesões adquiridas
mole, seroso, cremoso ou em flocos.
que surgem como complicações de otite média crônica.
Achados microscópicos. A parede do cisto consiste em uma
Etiología cápsula fibrosa externa delineada por um epitélio escamoso
Conceitos gerais. CEs surgem durante a terceira e a quarta estratificado. O cisto contém lamelas concêntricas de debris
semanas gestacionais. Remanescentes celulares ectodér- queratinosos e colesterol cristalino sólido. Apêndices der-
micos causados pela clivagem incompleta do ectoderma mais (uma característica dos cistos dermoides) são ausentes.
neural cutâneo resultam na inclusão de epiblastos no tubo
neural. Epidermoides congênitos do APC são derivados Aspectos clínicos
das células do primeiro sulco branquial. Epidemiologia. CEs representam 0,2 a 1,8% de todos os tu
mores intracranianos primários e lesões pseudo-tumorais.
Patologia Eles são os cistos de desenvolvimento intracraniano mais
Localização. CEs extracranianos costumam envolver o comuns e são 4 a 9 vezes mais comuns que os cistos der
couro cabeludo, a face e o pescoço. Mais de 90% dos CEs moides. De maneira geral, o CE é a terceira massa mais
intracranianos são intradurais e são quase sempre extra- comum do APC (após o schwannoma vestibular e o me
-axiais (Fig. 28-13). CEs são mais comuns fora da linha ningioma) e a massa cística mais comum nessa localização.
média ou paramedianos, e têm uma predileção pelas cis Demografia. o pico de idade de apresentação é de 20 a 60
ternas basais, onde eles se insinuam ao redor dos nervos
anos. CEs sintomáticos são raros em crianças. Não existe
cranianos e dos vasos.
um predomínio por sexo.
A cisterna do APC é o sítio mais comum, com quase
metade de todos os CEs intracranianos. A fossa craniana Apresentação. CEs podem ser clinicamente silenciosos por
média (fissura Silviana) e a região parasselar juntas contam muitos anos. Os sintomas dependem da localização da lesão.
788 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
28-15 Espécie cirúrgica visla de perto mostra a aparência clássica "em 28-16 Cisto epidermoide lembra o ICS em TI e 12 B, mas náo su
couve-llor" da superfície externa de um cisto epidermoide. prime no FLAIR demonstra moderada restrição da difusão B.
28-17 Cisto epidermoide da calota ctaniana expande o espaço diploi- 28-18 Caso variante mostra um raro cisto epidermoide de parênqui-
CO, mostra focos mosqueados de iso/hipoinlensidade em Tl ES, hiperin- ma cerebral. A intensidade de sinal do cisto é muito semelhante ao LCS
tensidade heterogênea em T2/FLAIR E], discreto realce periférico BI. em T2/FLAÍR ES, mas o cisto mostra um tênue realce periférico ES e
uma importante restrição da difusão
i
28-21 TC sem contraste de um dermoide roto mostra uma massa hi-
podensa suprasselar E2 e focos de gordura nos sulcos ÍS. 0 conteúdo
do cisto E3 e a gordura subaracnóidea B são hiperintensos em T1.
Cisto neuroentéríco
bora a rotura dos CDs possa causar uma meningite química Cistos neuroentéricos são lesões raras do SNC derivadas
significativa com reação leptomeníngea extensa e realce. do desenvolvimento endodérmico. São mais comuns na
A espectroscopia pode mostrar um pico elevado de coluna que no cérebro.
lipídeo em 0,9 a 1,3 ppm.
Terminologia
Diagnóstico diferencial Cisto neuroentéríco (NE) é também chamado de cisto
o maior diagnóstico diferencial dos CDs é o cisto epider-
enterógeno, cisto enlérico e cisto endodérmico. Outros
moidc. CEs comportam-se como o LCS enquanto os CDs termos menos comuns, usados para os cistos NE intraes-
lembram gordura. Lipomas podem lembrar CDs, mas ge
pinais, são gastrogênicos e cistos arquentéricos.
ralmente são muito mais homogêneos nos exames de ima
gem e são associados com outras malformações congêni Etiologia
tas, como disgenesia do corpo caloso. Craniofaringioma Os cistos neuroentéricos, assim como os cistos da fenda
é multicistico, estende-se para a sela turcica, calcifica e
de Rathke e cistos coloides, são lesões do desenvolvimen
realça pelo contraste. Teratomas podem lembrar CD. mas to do SNC derivadas da endoderme. Eles provavelmente
em geral ocorrem na glândula pineal e são muito mais he se originam da persistência do canal neuroentéríco embri-
terogêneos nos exames de imagem do que o CD típico. ônico, uma conexão temporária entre os sacos amniótico
e vitelinico durante a terceira semana de cmbriogêncsc.
CISTO DERMOIDE VS. EPIDERMOIDE Células endodérmicas primitivas podem ser incorporadas
na notocorda. Esses tecidos acumulados fora da localiza
Patologia
• Epitélio escamoso + debris de queratina (ambos ção comum podem formar um cisto NE.
dermoide, epidermoide) O aspecto mais cefálico da notocorda forma o divo,
• Mais gordura, apêndices (somente dermoide) e por isso a maioria dos NEs intracranianos é encontrada
na linha média da fossa posterior. Não existem boas teo
Aspectos clínicos rias para explicar o desenvolvimento de raros cistos NEs
• Pelo menos quatro vezes menos comum que o cisto
epidermoide supratentoriais.
• Mais comum em crianças, adultos jovens
• Comumente rompem Patologia
Localização. A localização mais comum dos NEs é na colu
Imagem na. Cistos NEs intracranianos são raros, contando por me
• CD se comporta como gordura e EC como LCS
nos de 25% de todos os casos. Quase 75% deles ocorrem
792 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
28-23 Gfáfico sagitai mostra cisto neuroenlérico clássico f^- Cistos 28-24 Cistos neuroentéricos (endodérmicos) são em sua maior parte
neuroenléricos intracranianos são mais encontrados próximos da linha delineados por um epitélio ciliado pseudoeslratificado e contém nú
média, anterior ao tronco encefálico. meros variados de células caliciformes [^. (Cortesia de P. Burger, MD.)
na fossa posterior, e quase todos são extra-axiais. A posi pico aos 30 a 40 anos, e um pico menor aos 10 anos. A
ção típica é na linha média ou paramediana, anteriormente média de idade na apresentação é de 34 anos. Existe uma
à junção pontomedular (Fig. 28-23). A cisterna do APC pequena predominância masculina.
inferior também é uma localização comum.
Entre 25 a 30% dos cistos NE intracranianos são su- Apresentação. Cistos NE da fossa posterior apresentam-se
com dor cervical ou cefaleia occipital. Cefaleias, altera
pratentoriais. Quase todos os casos relatados são fora da
linha média, localizados adjacentes aos lobos frontais. ções de comportamento e convulsões têm sido relatadas
nos casos de lesões supratentoriais.
Ta m a n h o e n l i m e r o . C i s t o s N E s v a r i a m e m t a m a n h o . A
maioria é pequeno, 1 a 3 centímetros de diâmetro. Às ve História natural. Cistos NEs crescem muito devagar e ge
ralmente são estáveis por anos.
zes, cistos NEs podem se tomar muito grandes (acima de
9 centímetros), especialmente quando ocorrem no com- Opções de tratamento. Cistos NEs pequenos são muitas ve
parlimento supratentorial. zes monitorados com exames de imagem periódicos. Cis
Cistos NEs são quase sempre solitários. A dissemina tos sintomáticos são ressecados. A remoção cirúrgica total
ção de cistos, até mesmo disseminação de múltiplos cistos é o objetivo do tratamento, mas pode ser difícil devido a
pelo canal espinal já foi relatada, porém esse fenômeno é adesões da membrana cistica a estruturas neurovasculares
raro.
importantes.
Patologia macroscópica. Cistos NEs são bem delineados,
com margens lisas. A parede é fina e translúcida. O con
CISTO NEUROENTÉRICO:
teúdo cístico varia de um líquido incolor claro, que lem
bra o LCS, a uma secreçao mucoide viscosa. PATOLOGIA E ASPECTOS CLÍNICOS
28-26 Espécime de necropsia mostra uma massa arredondada gelati 28-27 Ecordose fisaliforme vista aqui como uma massa lobulada pré-
nosa na frente da ponte S. Achado acidental de ecordose fisaliforme. -pontina que é discretamente hiperintensa ao LCS em T2 ES, não supri
(Cortesia de R. Hewlett, MD.) me em FLAIR Bi, conecta-se na linha média com o divo B3.
Diagnóstico diferencial
CISTO NEUROENTÉRICO: IMAGEM
Outros cistos derivados do endoderma como o cisto da
fenda de Rathke (sela tijrcica) e cisto coloide (forame de TC
• TC sem contraste: iso/discretamente hiperintenso
Monro) são facilmente diferenciados dos NEs. Eles apre
ao LCS
sentam uma localização específica e suas localizações
• TC com contraste: não impregna
anatômicas não se interpõem àquelas dos NEs.
O maior diagnóstico diferencial dos NEs é o cisto R M
epíderinoíde. Os cistos epidermoides são lesões insinu- • TI: quase sempre iso/discretamente hiperintenso
antes que apresentam superficies lobuladas e frondosas. ao LCS
A maioria dos CEs apresenta grande restrição da difusão. • DP, T2: hiperintenso ao CSF (> 90%)
CEs de fossa posterior geralmente são mais laterais que • FLAIR: não suprime
• Difusão: discreto/sem restrição
os cistos NEs, ocorrendo mais na cisterna do APC que na
junção pontomedular. Alguns casos relatados de epider Diagnóstico diferencial
moides "brancos" podem ter sido cistos NEs. • Mais comum = epidermoide, cisto aracnoide
O cisto aracnoide segue o sinal do LCS em todas as • Menos comum = schwannoma (cístico)
• Raro = ecordose fisaliforme
seqüências (p. ex., suprime completamente no FLAIR) e
não restringe na difusão.
Schwannoma é a massa extra-axial mais comum na
fossa posterior em adultos. Em geral, apresenta um inten C/sto pineal
so realce e raramente ocorre na linha média. As imagens atuais têm levado a uma melhor visualização
Uma variante anatômica rara que pode ser confundida das "estruturas" da glândula pineal encontradas na TC e
com um cisto NE de fossa posterior é a ecordose fisalifor especialmente na RM. Essas lesões, geralmente vistas em
me. Uma ecordose fisaliforme (EF) é um remanescente da pacientes com queixas vagas e sem sintomas referidos à
notocorda com aparência gelatinosa que pode aparecer em região da pineal, podem ser problemáticas tanto para o ra-
qualquer lugar do dorso da sela à região sacrococcigea. EFs diologista quanto para o médico assistente.
são encontradas em cerca de 2% das autópsias. EFs intracra
nianas são lesões da linha média bem delimitadas que ocor Terminologia
rem na cisterna pré-pontina (Fig. 28-26). Elas são aderidas Um cisto pineal (CP) é um cisto benigno delineado por
a um defeito visível no dorso do divo por um fino pediculo células gliais, com conteúdo líquido no parênquima da
(Fig. 28-27). Cordoma é a variante maligna da ecordose. glândula pineal.
Cistos nao neoplásicos 795
28-28 Gráfico sagítal mostra uma pequena lesão cística na glândula 28-29 Imagens axial (esquerda), sagítal (direita) de necropsia de cis
pineal SI. Pequenos cistos benignos na pineal são muitas vezes inci- to da pineal 3] mostra a localização típica atrás do teto mesencefálico.
dentalmente encontrados na autópsia ou imagem. (Cortesia de E. T. Hediey-Whyte, MO.)
Tamanho e nlimero. CPs são lesões expansivas arredondadas Apresentação. A maioria dos CPs é clinicamente benigno e
ou ovuladas bem delimitadas dentro de uma glândula pine assintomático, descobertos incidentalmente na imagem ou
al com aparência normal (Fig. 28-28). A maioria dos CPs na necropsia. Grandes cistos da pineal podem obstruir o
é menor que 10 mm em diâmetro. O maior CP já relatado aqueduto cerebral, resultando em hidrocefalia e cefaleia.
é de 4.5 cm. Cistos da pineal geralmente são uniloculados, Síndrome de Parinaud (compressão tectal) é menos co
mas lesões contendo múltiplos pequenos cistos ocorrem. m u m .
Patologia macroscópica. A aparência geral é de uma glândula "Apoplexia" da pineal ocorre com hemorragia intra-
císiica súbita. Cefaleias agudas progressivas combinadas
pineal lisa, macia e amarelada que contém cisto uni ou mul- com sintomas visuais podem ocorrer. Uma cefaleia "em
tilocular (Fig. 28-29). O liquido cístico é claro a amarelado.
trovoada" pode mimetizar sintomas de hemorragia su-
Aspectos microscópicos. Cistos da pineal são cavidades de baracnóidea por ruptura de aneurisma. A "apoplexia" da
diversos tamanhos, circundados por uma camada externa pineal pode resultar em hidrocefalia obstrutiva intraven
de parênquima pineal atenuado. A camada interna é uma tricular aguda. Raros casos ocorrem com morte súbita.
796 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
28-30 TC sem contraste mostra calcificaçòes periféricas na parede da 28-31 Grande cisto da pineal discretamente hiperintenso ao LCS na
glândula pineal aumentada E3, característico para cisto da pineal e pi- TC sem contraste B e hiperintenso em T2/FIAIR B mostra um fino
neocltoma. Cisto pineal não neoplásico foi provado cirurgicamente. realce anelar B em Ti C+.
História NATtJRAL. Segmentos seriados de lesões císticas in com hemorragia intracistica aguda - podem causar hidro
determinadas na região da pineal mostram, na maioria dos cefalia obstrutiva. Nesses casos, DPe T2/FLAIR mostram
casos, nenhum aumento significativo no tamanho ou em hiperintensidades estendendo-se para a substância branca
suas características ao longo do tempo tendo como inter periventricular devido ao acúmulo de liquido intersticial
valo meses a anos. A maioria dos investigadores recomen subependimário. Esses são bem demonstrados nas ima
da que cistos de pineal identificados sejam seguidos cli gens sagitais.
nicamente. e não requerem exames de imagem seriados. Entre 50 e 60% dos CPs são discretamente hiperin-
tensos em relação ao LCS em TI. Cerca de 40% são isoin-
Opções de tratamento. A maioria dos cistos da pineal é be tensos ao LCS. Cerca de I ou 2% são muito hiperinten-
nigna. Cistos sintomáticos podem requerer aspiração este- sos. o que pode indicar hemorragia intracistica. Um nivel
reotáxica ou ressecção/biópsia.
sangue-liquido pode estar presente (Fig. 28-32).
A maioria dos CPs é hiperintenso ao LCS nas seqüên
Imagem
cias intermediárias (DP) e iso a discretamente hiperinten
Achados de TC. Pelo menos 20% dos CPs mostram calcifl-
so em T2. Septações internas são visíveis em 20 a 25%
cação dentro da parede do cisto (Fig. 28-30). O conteijdo
dos casos. Se hemorragia aguda tiver ocorrido, o sangue
cístico é iso a discretamente hiperdenso sem relação ao
intracístico pode aparecer muito hipointenso.
LCS (Fig. 28-31). Um CP muito hiperdenso em um pa
CPs não suprimem completamente no FLAIR, e são
ciente com cefaleia grave deve levantar a suspeita de he
moderadamente hiperintensos em relação ao parênqui-
morragia com "apoplexia" cística. ma cerebral. Se tiver ocorrido hemorragia intracistica, o
Os ventrículos geralmente são normais. Ventrículos
conteúdo do cisto aparece na seqüência T2* (GRE, SWI).
grandes com margens "borradas" indicam hidrocefalia
(FIg. 28-33). Classificações periféricas podem demons
aguda obstrutiva. trar discreto artefato de susceptibilidade magnética.
A impregnação é típica. Padrões anelar. em crescente
ou nodular já foram descritos em CPs. Mais de 90% dos CPs realçam. O padrão mais comum
é de um realce anelar circunferencial e fino (Fig. 28-31).
Achados na RM. Imagens sagitais c axiais ponderadas em Padrões menos comuns incluem nodular, em crescente ou
T2 com cortes finos de alta resolução são muito úteis para irregular.
detecção e caracterização de lesões nessa região anatomi- CPs não restringem na difusão. Marcadores neuronais
camente complexa. estão ausentes na espectroscopia.
Assim como outros cistos, a intensidade de sinal em
CP varia com a seqüência de imagem e conteúdo cístico. Diagnóstico diferenciai
A maioria dos cistos da pineal é pequeno e causa mí o diagnóstico diferencial mais comum é a glândula pine
nimo ou nenhum efeito de massa. Grandes cistos - ou CPs al normal. Glândulas pineais normais contêm um ou mais
Cistos não neoplásicos 797
v \
28-32 Sagital T2 em uma mulher de 17 anos com importante cefaieia 28-33 Pequeno cisto da glândula pineal com hemorragia ES, artefa
de início súbito e alterações visuais, mostra um grande cisto da pineal to de susceptibilidade magnética em TZ"" FS, realce anelar e nodular na
ES com nível sangue-líquido S indicando hemorragia ("apoplexia" imagem TI C+ com saturação de gordura
cística).
de parênquima pineal grau I da Organização Mundial da o 23% das RMs normais, 25 a 40% das autópsias
Saúde (OMS) que costuma ser sólido ou pelo menos par • Ocorrem em qualquer idade; mais comuns em adultos
• Geralmente assintomáticos, incidentaímente
cialmente sólido/cístico. Pineocitomas císticos são menos
encontrados
comuns e podem ser indistinguíveis dos CPs na imagem.
Como essas neoplasias são de crescimento muito baixo, pi Imagem
neocitomas podem ser estáveis por muitos anos, sem alte • Ca ++ (25%)
• Realce periférico, nodular ou em crescente
ração significativa nos exames de imagem seriados.
Achados de imagem atípicos, invasão focai, ou au • Diagnóstico diferencial
• Glândula pineal normal
mento significativo em um intervalo de tempo em um
• Pineocitoma
cisto de pineal presumido ou pineocitoma devem levantar
a suspeita de um tumor mais agressivo ou tumor do pa
rênquima da pineal com diferenciação intermediária
{TPPDI). Cistos não neoplásicos associados a tumores
Cistos não neoplásicos que ocorrem próximos à glân
Terminologia
dula pineal incluem cisto epidermoide e cisto aracnoide
Cistos associados a tumores (CAT) são cistos benignos
(da placa quadrigeminal e do véu interpósito). Essas le
sões extrapineais não devem ser confundidas com CPs. adjacentes a uma neoplasia, mas não contidos nela.
CATs também são conhecidos como cistos peritu-
morais. Os cirurgiões algumas vezes os chamam de cis
tos "mensageiros", uma vez que eles são adjacentes a (e,
CISTO PINEAL
portanto, "anunciam" a presença de) uma massa tumoral.
Patologia
• Abaixo do fórnice, veias cerebrais internas Etiologia
• Geralmente < 1 cm, unilocular
É discutível se os CATs são cistos aracnoides verdadeiros
• A parede contém parênquima pineal atenuado
• Fluido claro a amarelado
ou coleções líquidas em sua maior parte delineados por
tecido cerebral gliótico comprimido. A formação do cisto
(continua)
pode também estar relacionada à deficiência da barreira
798 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
hematoencefálica com extravasamento peritumoral de lí mas às vezes múltiplas coleções líquidas e loculadas são
quido, eietrólitos, e proteínas plasmáticas de uma micro- encarceradas na interface tumor-cérebro.
vasculatura alterada.
CATs são geralmente associados a tumores extra- Aspectos clínicos
-axiais benignos, como meningioma, schwannoma, ma- A menos que um CAT tome-se grande, os sintomas são
croadenoma hipofisário e craniofarigioma. CATs são geralmente relacionados à própria neoplasia, não ao
encontrados em ambos os compartimentos, supra e infra- C AT.
tentoriai.
Imagem
Patologia Aspectos gerais. A aparência comum é de um ou mais "la
A maioria dos CATs representa "lagos" de LCS encarcera gos" de líquido encarcerado envolvendo uma massa tu
dos, encistados, adjacentes a uma grande neoplasia extra- moral extra-axial (Fig. 28-35).
-axial (Fig. 28-34). Os conteúdos dessas coleções peritu-
Achados na TC. CATs são hipodensos ao cérebro e ge
morais variam de um líquido límpido semelhante ao LCS
ralmente iso a hiperdensos em relação ao LCS. Calcifi-
a um líquido proteináceo turvo. A parede cística consiste
em tecido cerebral gliótico com astrocitócitos e linfócitos cações, hemorragias ou impregnação pelo contraste são
ausentes.
reativos. Nenhuma célula tumoral está presente.
Achados na RM. Assim como em outros cistos, a intensida
Localização. CATs geralmente são localizados na interface
de de sinal varia com o conteúdo proteico. A maioria dos
tumor-cérebro entre a massa e o córtex adjacente.
CATs é hipointensa ao cérebro em TI e muito hiperintensa
Tamanho e numero. CATs variam de pequenas coleções in em DPeT2 (Figs. 28-36 e 28-37). A supressão no FLAIR
significantes a cistos muito grandes. A maioria é solitária. é variável. A impregnação é mínima ou ausente e geral-
t ' > I
»
■I
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28-38 Gráfico coronal mostra EPVs normais acompanhando as artérias 28-39 Axial T2 mostra espaços perivascuíares típicos B agíomera-
perfurantes nos núcleos da base e substancia branca subcortical. EPVs dos ao redor da comissura anterior B.
normais aglomeram-se ao redor da comissura anterior, mas também
ocorrem em todas as áreas.
mente relacionada às alterações inflamatórias reativas na costumam ser assimétricos, podem causar efeito de massa
parede cística, não a tumor. e têm sido freqüentemente confundidos com tumores mul-
ticísticos cerebrais.
Olagnóstlco diferencial
Cistos associados a tumores devem ser diferenciados de Terminologia
neoplasias císticas. Outras considerações incluem cisto Espaços perivascuíares (EPVs) são também conhecidos
aracnoide (não associado a tumor) e espaços perivascu como espaços de Virchow-Robin. EPVs são espaços de
íares dilatados (Virchow-Robin). Esses líltimos são con lineados por pia-máter que acompanham as artérias e ar-
glomerados de cistos intraparenquimatosos de tamanhos teríolas perfurantes no parênquima cerebral. Os EPVs não
variados que contêm líquido intersticial, mas se compor se comunicam diretamente com o espaço subaracnoide.
tam como o LCS nos estudos de imagem.
Etiologia
Conceitos gerais. Os EPVs cerebrais formam uma com
28-40 Gráfico coronal moslra alargamento dos espaços perivasculares 28-41 TC sem contraste e RM demonstram um aglomerado de cistos de
dilatados no mesencéfalo e talamos que causam efeito de massa no ter tamanhos variados com sinal semelhante ao LCS BEI expandindo grossei
ceiro ventrículo e no aqueduto causando a hidrocefalia. ramente o mesencéfalo. Espaços perivasculares gigantes "tumefativos".
melhantes ao LCS. Eles causam efeito de massa focai. Por EPVs não sangram, impregnam ou demonstram res
exemplo, se ocorrem na substância branca subcortical, os trição da difusão.
giros adjacentes são dilatados com compressão concomi
tante do sulco adjacente.
ESPAÇOS PERIVASCULARES DILATADOS
Achados na TC. EPVs dilatados são grupos de lesões ar-
redondadas/ovoidcs/lineares/puntiformes semelhantes ao Terminologia
• Também conhecidos como espaços de Virchow-Robin
LCS que não demonstram calcificações ou hemorragias • Achados ao redor dos vasos sangüíneos perfurantes
(Fig. 28-41). EPVs não realçam após a injeção endoveno- • Delineados por pia, preenchidos por líquido
sa de contraste.
intersticial
• Não se comunicam diretamente com ES
Achados na RM. Embora eles sejam preenchidos com lí
quido intersticial, a intensidade de sinal dos EPVs é seme Patologia
lhante à do LCS em todas as seqüências (Fig. 28-41). Efei • EPVs normais comuns, menores que 2 cm
to de massa focai é comum. EPVs dilatados na substância • EPVs gigantes "tumefativos" acima de 9 cm já foram
branca subcortical expandem o giro adjacente (Figs. 28-42 relatados
e 28-43). EPVs dilatados no mesencéfalo podem compri • Núcleos da base, SB subcortical mais comum
mir o aqueduto e o terceiro ventriculo, resultando em hi-
Imagem
drocefalia obstrutiva intraventricular (Fig. 28-41). • Geralmente aparência bizarra
EPVs são isointensos ao LCS em TI. PD e T2. Eles • Ocorre em aglomerados
suprimem completamente no FLAIR. Edema do parên- • Cistos variam em tamanho
• Seguem o LCS
quima cerebral adjacente é ausente, embora 25% dos
EPVs "tumefativos" apresentam mínimo aumento da in
tensidade de sinal ao redor dos cistos.
2 8 - 4 2 G r a fi c o d e m o n s t r a
inúmeros EPVs dilatados hemis-
féricos l-rS na S8 subcortical
profunda. Observe que os giros
adjacentes estão expandi
dos, mas normais.
28-43A T2 sagilai mostra
EPVs dilatados envolvendo a
maior parte da substância branca
subcortical e profunda dos tie-
misférios cerebrais B. Os giros
estão expandidos mas o
cortex está intacto.
28-44 Gráfico de lobo temporal normal mostra cistos alinhados na 28-45 FLAíR axial mostra remanescentes do sulco hipocampal como
região lateral do hipocampo, ao longo da cavidade residual do sulco hi- pequeninos cistos alinhados EEI mediai aos lobos temporais. Eles con
pocampal primitivo Cistos remanescentes do sulco hipocampal são tém LCS e, portanto, suprimem completamente no FlAlR.
um achado incidental normal.
Cisto neuroglial
Terminologia
Os cistos neurogliais (CNG) são algumas vezes chamados
de cistos giíoepcndimários ou cistos neuroepitelíais.
Eles são cavidades benignas com conteúdo fluido locali
zados na substância branca cerebral.
Patologia
Localização. Embora CNGs ocorram em todo o neuroei-
xo, eles são geralmente supratentoriais. Os lobos frontais
28-46 Os cistos neurogliais são delineados por uma
são a localização mais comum. Eles estão localizados ad camada simples de epitélio cuboide/colunar. Cilios são
jacentes aos ventrículos laterais, mas não se comunicam raros. (Cortesia de P. Burger, MD.)
diretamente com eles.
Aspectos clínicos
Epidemiologia. Cistos neurogliais parenquimatosos são in-
comuns, representando menos de 1% de todos os cistos 28-47 Cisto neuroglial lobo frontal direito ES em
intracranianos.
um homem de 69 anos segue a intensidade de sinal do
LCS em todas as seqüências, não realça.
Demografia. CNGs ocorrem em todos os grupos etários,
mas são mais comuns em adultos. Não há predileção por
gênero.
Apresentação. CNGs costumam ser assintomáticos e en
contrados incidentalmente nos exames de imagem ou ne-
cropsia. O sintoma mais comum, se presente, é a celáleia.
História natural. Muitos dos CNGs, se não a maioria, são
estáveis por muitos anos.
Imagem
Achados gerais. CNGs são cistos lisos, arredondados ou
ovoides, com conteúdo líquido.
28-48 Cisto neuroglial confirmado no lobo occipital
Achados na TC. CNGs apresentam densidade de líquido, direito não apresenta realce na TC sem contraste B,
que lembra o LCS, não apresentam calcificações e não segue a intensidade de sinal do LCS em T2/FLAIR B
sangram.
não apresenta restrição da difusão
804 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
28-49 Espécime de necropsia mostra um cisto porencefálico tipico 28-50 TC sem contraste e RM mostram um cisto porencefálico pós-
como uma cavidade preenchida por LCS que se estende da superficie cere -traumatico estendendo da superficie do lobo temporal para o corno
bral até o epêndima ventricular B3. (Cortesia de J. Townsend, MD.) temporal do ventrículo lateral. O cisto contém LCS.
Achados na RM. A intensidade dc sinal no cisto varia bcpendimários, cistos germinolíticos e leucomalacia pe
com seu conteúdo. A maioria dos CNGs é iso ou discreta riventricular (LPV) cística. Cistos subependimários são
mente hiperintenso ao LCS (FIg. 28-47). Eles geralmen áreas cisticas delineadas por epêndima adjacentes às mar
te suprimem no FLAIR, não restringem e nao realçam gens superolaterais do corpo e corno frontal dos ventrícu
(Fig. 28-48). O parênquima adjacente ao CNG é normal los laterais. Eles são comuns e geralmente lesões inócuas
ou pode demonstrar mínima gliose. causadas por coarctação ou coaptação das paredes dos
cornos frontais.
Diagnóstico diferencial Cistos germinolíticos são cistos delineados por cé
o diagnóstico de CNG é na maioria das vezes um diag lulas glials que se situam ao longo do sulco caudotalâ-
nóstico de exclusão, eliminando outras possibilidades mico. Eles são associados com distúrbios metabólicos
mais graves. hereditários (p. ex., Zellweger) e infecções congênitas
O maior diagnóstico diferencial do CNG é o espa (p. ex., CMV), geralmente contêm septações ou hemos-
ço perivascular dilatado. A maioria dos EPVs dilatados siderina. e não realçam. LPV cística ocorre com mais fre
é múltiplo (não solitário) e ocorre como aglomerados de qüência cm recém-nascidos prematuros e são localizadas
cistos de tamanhos variados. Um cisto porencefálico é dorsolateralmente ao corpo dos ventrículos laterais.
o resultado de um dano no parênquima cerebral. Cistos
porencefálicos comunicam-se com os ventrículos laterais Cisto porencefálico
e são delineados por tecido gliótico ou substância branca
espongiótica. Terminologia
Cistos aracnoidaís são extra-axiais, não intra-axiais, "Porencefalia" literalmente significa um buraco no cére
e são delineados por células aracnoidais achatadas. Cistos bro. Cistos porencefálicos são cavidades parenquimatosas
epidermoídcs são quase sempre extra-axiais, não supri congênitas ou adquiridas preenchidas por LCS que podem
mem no FLAIR, e restringem na difusão. Cistos cpendí- comunicar-se com o sistema ventricular. Esses cistos ou
mários são intraventriculares. cavidades também comunicam-se por meio de um "poro"
Cistos neoplásicos intlamatórios geralmente não com o espaço subaracnóideo.
seguem o LCS, demonstram impregnação pelo contraste
ou calcificações em suas paredes, e freqüentemente são Etiologia
circundados por edema. Cistos porencefálicos são lesões encefaloclásticas, o re
Uma variedade de diferentes cistos periventricula- sultado final de um processo destrutivo (p. ex., trauma,
res ocorrem em recém-nascidos ou em crianças. Alguns infecção. dano vascular, cirurgia) que compromete o pa
podem persistir na vida adulta. Esses incluem cistos su- rênquima cerebral.
Cistos não neoplásicos 805
A maioria dos cistos porencefálicos é esporádico. Al tologicamente benignos se proliferam dentro e ao redor
gumas poucas síndromes hereditárias (p. ex., porencefalia do parênquima cerebral lesionado. Cistos porencefáli
familiar autossômica dominante) foram relatadas. cos com gliose reativa adjacente devem ser diferencia
dos da espongiose, um processo que representa perda
Patologia de tecido (não proliferação astrocística) com formação
Os cistos porencefálicos variam em tamanho, de alguns de áreas vazias (espongiformes) no cérebro ("buracos").
centímetros a cistos que envolvem quase todo um hemis Gliose é uma lesão de baixa a média celularidade que
fério cerebral. é hiperintensa em T2 e não apresenta supressão no
Cistos porencefálicos são cavidades ou escavações FLAIR. A espongiose é hiperintensa em 72, mas supri
me no FLAIR.
profundas, uni ou bilaterais, com paredes lisas dentro do
parênquima encefálico. Eles geralmente são lesões de Um cisto aracnoíde é extra-axial e não se comuni
"espessura completa" estendendo-se do ventrículo lateral ca com o ventrículo. Esquizcncefalia (literalmente "se
para a glia cortical limitante (Fig. 28-49). As vezes, uma paração no cérebro") é uma lesão congênita que pode
pequena camada de epêndima ou de substância branca su- ser de "lábio aberto" ou "fechado". Uma fenda esqui-
bependimária pode separar o cisto dos ventrículos. zencefálica de "lábio aberto" pode ser muito parecida
com um cisto porencefálico, mas é delineada por subs
Aspectos clínicos tância cinzenta displásica, não uma substância branca
Epidemiologia. Cistos porencefálicos são comuns, especial gliótica.
mente em crianças, onde eles representam 2,5% das le Hidrancncefalia ("água no cérebro") é uma lesão
sões cerebrais congênitas. congênita na qual a maior parte do encéfalo supra tento
rial desenvolvido foi destruído por uma oclusão arterial.
Apresentação. Hemiplegia espástica, epilepsia refraiária a Nesse caso, o cérebro assemelha-se a um saco de água
medicamentos, e atraso psicoinotor são os sintomas mais com pouco ou nenhum córtex remanescente. Hidranen-
c o m u n s .
cefalia é bilateral e simétrica, enquanto a maioria dos
História natural. A maioria dos cistos porencefálicos per cistos porencefálicos é unilateral ou bilateral, porém as
manece estável por muitos anos. Às vezes um cisto poren- simétricos.
cefálico pode continuar a seqüestrar líquido e expandir,
causando efeito de massa.
Cistos intraventriculares
Imagem
Achados na TC. Cistos porencefálicos são cavidades preen Cistos intraventriculares incluem cistos de plexo coroide,
chidas por LCS bem delimitadas, com paredes lisas, que cistos coloides e cistos ependimários.
cm geral se comunicam diretamente com o ventrículo ad
jacente (FIg. 28-50). O ventrículo ipsilateral costuma ser Cistos de plexo cofolde
alargado secundariamente à perda de volume do parênqui Cistos de plexo coroide são um dos tipos mais comuns de
ma adjacente. cistos intracranianos. A maioria é pequeno e sem signi-
Calcifícações são raras. TC com janela óssea pode mostrar ficância. Ocasionalmente, grandes cistos podem ter uma
a fi l a m e n t o e r e m o d e l a m e n t o d a c a l o t a c r a n i a n a c a u s a d o aparência atípica e causar dúvidas diagnósticas.
pela pulsação crônica do LCS.
Um cisto porencefálico não realça pelo contraste en- Terminologia
dovenoso. O cisto de plexo coroide (CiPC) pode também ser deno
minado xantogranuloma do plexo coroide (XPC). CiPCs
Achados na RM. Cistos porencefálicos seguem o sinal do
são cistos não neoplásicos não inflamatórios do plexo co
LCS em todas as seqüências (Fig. 28-50). Grandes cistos
roide.
podem mostrar heterogeneidades internas secundárias à
defasagem dos spins. Estes cistos suprimem completa Etiologia
mente no FLAIR, embora exista um anel hiperintenso de
Conceitos gerais. CiPCs podem ser congênitos ou adqui
substância branca gliótica ou espongiotica ao redor do cis
ridos. Lesões adquiridas são muito mais comuns; os li-
to. Restrição da difusão não está presente.
pídeos que se acumulam da descamação e degeneração
do epitélio do plexo coroide coalescem em macrocistos e
Diagnóstico diferencial
provocam uma resposta xantomatosa.
o maior diagnóstico diferencial é a encefalomalacia cís-
tica. Uma cavidade encefalomalásica é mais irregular e Genética. CiPCs congênitos, grandes (superior a 10 mm),
não se comunica com o ventrículo adjacente. podem estar associados a aneuploidias, principalmente
Cistos porencefálicos são delineados por gliose re trissomia do 18. CiPCs, juntamente com papilomas do
ativa ("cicatriz" glial) que ocorre quando astrócitos his- plexo coroide, também ocorrem na síndrome de Aicardi.
806 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais
Patologia
Localização. A maioria dos CiPCs são encontrados no álrio
dos ventrículos laterais, dentro do glomo do plexo coroide
(Fig. 28-51).
Tamanho e níjmero. CiPCs costumam ser pequenos, varian
do de poucos milímetros até 1 centímetro, embora às ve
zes grandes cistos excedam 2 centímetros em diâmetro.
Mijltiplas lesões bilaterais são mais comuns do que CiPCs
solitários unilaterais.
Imagem
Achados na TC. CiPCs são iso a discretamente hiperden-
28*52 Espécime de necropsia mostra múltiplos cistos
sos em relação ao LCS intraventricular. Aglomerados ir
no glome do plexo coroide nos ventrículos laterais
(Cortesia de N. Nakase, MD.) regulares de calcitlcações ao redor de suas margens é um
achado comum. O realce varia de nenhum a realce anelar
completo ao redor de cada cisto.
Achados na RM. CiPCs não seguem a intensidade de sinal
do LCS. Eles são iso a discretamente hiperintensos com
parados ao LCS nas seqüências TI e são hiperintensos em
DP e T2. O sinal no FLAIR é variável (Fig. 28-53).
O realce após a administração endovenosa de contras
te varia de nenhum a intenso. Padrões de realce sólido,
anelar e nodular podem ocorrer.
Entre 60 a 80% dos CiPCs aparecem hiperintensos
na difusão, mas permanecem isointensos ao parênquima
no ADC. Estes podem, portanto, representar uma pseu-
dorrestrição e não uma restrição verdadeira da difusão da
água.
Ultrassonografia. Ultrassonografia fetal pode mostrar
múltiplos cistos de tamanhos variados.
28-53 Cistos de plexo coroide são geralmente bilate
rais, biperintensos em relação ao LCS B e geralmente
brilham muito na difusão
Cistos não neoplásicos 807
Patologia
CISTOS DE PLEXO COROIDE
Localização. Mais de 99% dos CC estão localizados no
Etiologia forame de Monro, fixos ao teto anterossuperior do ven
• Congênita
trículo lateral. As paredes posteriores dos cornos frontais
o Síndrcme de Aicardi
dos ventrículos laterais são separadas lateralmente ao re
o Trissomia do 18
• Adquirida dor dos cistos, e os pilares da coluna do fómice "abrem"
o Epitélio descamado e degenerado no CC.
o Resposta xantomatosa Tamanho e número. CCs são lesões quase sempre solitá
Patologia rias. O tamanho varia de pequenos (alguns milímetros) até
• Bilateral, geralmente multilocuíado 3 centímetros. O tamanho médio é de 1.5 centímetros.
• Mais comum no glomo do plexo coroide
Patologia macroscópica. CCs são cistos com paredes lisas,
• Conteúdo proteico e gelatinoso
bem delimitados, esféricos ou ovais que apresentam um
Aspectos clínicos centro gelatinoso de viscosidade variável (FIg, 28-55).
• Cisto intracraniano mais comum
Hemorragia grosseira é muito rara.
• A maioria encontrada incldentalmente
• Mais comum em fetos/crianças jovens e adultos mais Aspectos microscópicos. A parede de um CC consiste em
velhos uma fina cápsula fibrosa delineada por epitélio colunar
simples ou pseudoestratificado. Algumas células calici-
Imagem formes ciliadas e secretoras de mucina são intercaladas
• TC
o iso/discretamente hiperdenso com o revestimento do cisto. Assim como outros cistos
o CA ++ comum endodérmicos, CCs são positivos para citoqueratinas e
o Realce variável (realce anelar mais comum) EMA na imuno-histoquimica.
• RM
o Iso a discretamente hiperintenso ao LCS em 11 Aspectos clínicos
o Hiperintenso em DP/T2, FLAIR variável Epidemiologia. Cistos coloides correspondem a apro
o Realce variável
ximadamente 1% de todos os tumores intracranianos,
o Brilha na difusão, mas isointenso no ADC
mas causam 10 a 15% de todos os tumores intraventri
28-54 Grafico axial mostra um cisto coloide clássico no forame de Mon 28-55 Espécime de necropsia mostra hidrocefaiia obstrutiva um
ro causando discreta/moderada hidrocefaiia obslrutiva. Observe que os grande cisto coloide B com aparência gelatinosa no forame de Monro.
fórnices e o plexo coroide estão elevados e esticados sobre o cisto [S. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
Imagem
Aspectos gerais. CCs são massas bem delimitadas, arredon
dadas ou ovoides. O aspecto de imagem depende de sua
viscosidade e/ou conteúdo de colesterol. A quantidade re
lativa de material mucoso, colesterol, proteína e água afe-
Cistos nao neoplásicos 809
28-56 TC sem contraste mostra um cisto coloide clássico como uma 28-57 TC sem contraste mostra cisto coloide hiperdenso B que é
massa hiperdensa bem circunscrita B no íorame de Monro. hiperintenso em Ti B. hipointenso em T2 31 intensidade de sinal
misto no FLAIR S.
ta a densidade/intensidade de sinal. Cistos desidratados, CCs geralmente não realçam. Um ílno realce perifé
espessos têm aparência muito diferente das lesões ricas rico pelo contraste endovenoso pode ser visto em alguns
em água. casos (FIg. 28-58).
10.
Cistos não neopiásicos 811
Aspectos clínicos
Cistos ependimários são assintomáticos e descobertos
incidentalmente nas imagens ou durante necropsia. A
maioria dos pacientes é adulto jovem (abaixo de 40 anos).
Sintomas não específicos, como cefaleia e disfunções
cognitivas são comuns. Cistos ependimários grandes oca
sionalmente causam hidrocefalia obstrutiva e aumentam a
pressão intracraniana.
Imagem
Cisto ependimário segue a densidade/intensidade de sinal
do LCS. Ele suprime completamente no FLAIR, não realça
e não demonstra restrição da difusão (Figs. 28-62 e 28-63).
Diagnóstico diferencial
28-63A TC sem contraste em um paciente de 22 Exceto pela localização, cistos ependimários podem ser
anos com cefaleia mostra uma massa intraventricular indistinguíveis na imagem de outros cistos intracranianos
semelhante ao LCS que desloca o cavum do septo pelú- benignos como os cistos neurogliais.
cido B e o plexo coroide BI. A mais importante massa intraventricular que pode se
assemelhar ao cisto ependimário é o cisto do plexo coroi
de. Cistos do plexo coroide são bilaterais, multiloculares
e localizados dentro do glomo do plexo coroide. Cistos
ependimários surgem fora do plexo coroide e em geral o
deslocam superolateralmente.
Cistos epidermoides são raros no ventriculo lateral.
Eles não suprimem completamente no FLAIR e demons
tram restrição à difusão. Cistos aracnoides são idênticos
aos cistos ependimários na densidade e intensidade de
sinal, mas são raramente intraventriculares. Metastases
císticas para o plexo coroide são raras; realce nodular ou
periférico e irregular é típico.
CISTO EPENDIMÁRIO
Terminologia
28-636 FLAIR do mesmo paciente mostra que o • Também chamados de cistos glloependimárlos ou
líquido suprime completamente. Uma fina parede do neuroepitelidis
cisto B3 é visível.
Patologia
• 1% dos cistos intracranianos
• Solitários, geralmente uniloculares
• Delineados por epitélio colunar
• Contém LCS
Aspectos clínicos
• A maioria assintomático, descobertos incidentalmente
• Todas as idades, mais em < 40 anos
Imagem
• Densidade, Intensidade de sinal = LCS
• Sem realce, sem restrição
Diagnóstico diferenciai
• Mais comum
o Cisto de plexo coroide
• Incomum/raro
o Cisto epidermoide
28-63C TI C* com saturação de gordura mostra que o Cisto dermoide
o cisto não realça e desloca o plexo coroide B3 lateral o Metástase cística
mente. Cisto ependimário.
Cistos não neoplásicos 813
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\
29
Abordagem dos distúrbios tóxicos,
metabólicos, degenerativos e do LCS
médicos atualmente. Incluiremos também nesta parte do
Anatomia e fisiologla dos núcleos da base e tálamos ...817
texto hidrocefalia e distúrbios relacionados.
Considerações fisiológicas 817
Anatomia macroscópica normal 818 Como as doenças tóxicas, metabólicas e degenerati
Anatomia normal por imagem 820 vas, adquiridas e herdadas, em geral acometem os núcleos
Distúrbios tóxicos e metabólicos 820 profundos de substância cinzenta, bilateralmenle e de ma
Diagnóstico diferencial das lesões bilaterais nos neira simétrica, começaremos este capítulo descrevendo
núcleos da base 821 a fisiologia, a anatomia e os aspectos normais de imagem
Lesões putaminais 823 dos núcleos da base (NBs) e do sistema dopaminérgico
Lesões nos globos pálidos 824
estriatonigral.
Lesões lalâmicas 827
Depois, apresentaremos uma abordagem - baseada
Distúrbios degenerativos e do LCS 828 na anatomia - dos diagnósticos diferenciais das doenças
Alterações relacionadas à idade 828 tóxicas, metabólicas e degenerativas. Quadros e casos re
Demência e degeneração cerebral 828
Hidrocefalia e distúrbios do LCS 829
presentativos ilustram essa abordagem - e algumas consi
derações suplementares - para o diagnóstico por imagem.
Por último, discutiremos brevemente as alterações
Esta parte, dedicada aos distúrbios tóxicos, metabólicos, normais do SNC relacionadas à idade, o que estabelece os
degenerativos e do LCS, trata de alguns dos assuntos fundamentos para a abordagem por imagem das demên-
mais desafiadores na neurorradiologia. Ao contrário das cias, da degeneração cerebral e dos distúrbios do líquido
demais doenças encefálicas, os efeitos no sistema nervo cerebrospinal (LCS).
so central (SNC) são geralmente secundários a distúrbios
sistêmicos. Pacientes que apresentam encefaiopatia agu
da podem ter distúrbios metabólicos desconhecidos ou
não diagnosticados. Anatomia e fisiologla dos núcleos da
Os distúrbios metabólicos são relativamente inco- base e tálamos
muns, porém são afecções importantes nas quais a ima
gem pode ter um papel fundamental para o diagnóstico
Considerações fisiológicas
precoce e manejo apropriado do paciente. O abuso de Metabolismo dos núcleos da base
drogas e álcool tem aumentado em todo o mundo, e a lis Considerando-se tamanho e volume, o cérebro é uma es
ta dc toxinas no meio ambiente que podem afetar o SNC trutura pequena. No entanto, em relação ao seu tamanho,
continua crescendo. As duas etiologias costumam estar o cérebro é um dos órgãos mais metabolicamenle ativos.
relacionadas, pois muitas toxinas induzem distúrbios me Ele normalmente recebe cerca de 15% do total do débito
tabólicos e algumas doenças sistêmicas metabólicas têm cardíaco, consome em tomo de 20% do oxigênio sangüí
efeito tóxico direto no cérebro. neo e metaboliza acima de 20% da glicose no sangue.
Com o aumento rápido do número de idosos, a preva Devido à sua alta demanda metabólica intrínseca, o
lência de demência e degeneração cerebral também tem cérebro é muito sensível a processos que reduzem a dis
se tomado uma preocupação mundial. Exames de imagem tribuição e utilização do sangue, oxigênio e glicose. Uma
do encéfalo nos idosos com alterações do estado mental grande variedade de substâncias tóxicas faz exatamente
são algumas das requisições mais freqüentes nos pedidos isso.
818 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do ICS
Núcleo caudado
O NCa é uma estrutura em forma de C com uma cabeça
grande, corpo afilado e cauda curvilínea. O NCa cursa pa-
29-3 Em T2, os globos pálidos B são mais hipoin-
tensos do que o putame, caudado. O putame fica com
a mesma intensidade durante as sete ou oito décadas
de vida.
Abordagem dos distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS 819
Putame
29-4 Imagem coronal no nível dos cornos frontais
o putame é a parte mais externa dos NBs. Medialmente, mostrando núcleo caudado ES, putame globo pá-
o putame é separado do GP por uma fina camada de fibras
de SB, a lâmina medular lateral (externa).
Globo pálido
O GP consiste em dois segmentos. O segmento lateral
(externo) é separado do segmento mediai por uma fina ca
mada de axônios mielinizados, a lâmina medular interna.
Tálamo
Os talamos são massas de substância cinzenta simétricas
e ovaladas, orientadas obliquamente, que se situam poste-
romedialmcnte aos núcleos lentiformes. Os dois tálamos
formam a parede lateral do terceiro ventrículo (Fig. 29-7).
O aspecto anterior de cada tálamo abaula o forame de
Monro. O tálamo posterior protrui-se para o átrio dos ven-
triculos laterais, enquanto a superfície dorsal forma parte
do soalho do ventrículo lateral. A síria íerminalis demar
ca a divisão entre o tálamo e o corpo do NCa. O fórnice 29-5 Na imagem coronal em TI, os globos pálidos
são levemente hiperintensos em relação ao puta
curva-se abaixo do tálamo, do qual é separado pela fissura
me, exceto por hipoinlensidades puntiíormes causadas
coróidea.
por Ca-<"^ B.
Lateralmente, os tálamos são separados do GP pelo
segmento posterior das cápsulas internas. Os tálamos
agem como estações de transmissão sensorial e motora
para o córtex.
Cada tálamo é subdividido em grupos de núcleos
(talâmicos anterior, mediai e lateral). Os núcleos genicu-
lados laterais (parte do sistema visual) e os núcleos geni-
cülados mediais (parte do sistema auditivo) são também
considerados parte do tálamo. O pulvinar é o aspecto mais
posterior do tálamo e está localizado dentro da curva do
ventrículo lateral, logo anteriormente ao átrio.
Substância negra
A substância negra (SN) está localizada no mesencéfalo.
A SN apresenta cor preta nas peças anatômicas devido
aos altos níveis de melanina nos neurônios dopaminérgi-
29-6 T2 coronal demonstrando que GPs mediais B
são os mais hipointensos dos núcleos da base. Os puta-
mes B são isointensos ao córtex.
820 Distúrbios tóxicos, metabóiicos, degenerativos e do LCS
< ?-V-
♦ ^
>
.g'e.
29-7 Gráfico coronal demonslrando os subnúcieos talâmicos maiores
SI e suas relações com o terceiro venlrículo [§>] e cápsulas infernas
29-8 T2 coronal no nível do lerceiro ventrículo posterior mostrando
que os tálamos B são em sua maior parte isointensos ao córtex.
sistêmicos difusos ou metabólicos. Lesões descontínuas, Diagnóstico diferencial das lesões bilaterais
focais e assimétricas são mais comumente de origem in nos núcleos da base
fecciosa, pós-infecciosa, traumáticas ou neoplásicas. As lesões bilaterais mais comuns dos núcleos da base são
As lesões bilaterais de núcleos da base podem ter dife
variantes normais, como calcificações fisiológicas e es
rentes causas. Doenças que afetam especificamente o pu-
paços perivasculares proeminentes. Doenças vasculares,
tame ou globo pálido em um padrão simétrico e bilateral lesões hipóxico-isquêmicas e distúrbios metabólicos co
têm, de certa maneira, espectro eiiopatológico diferente. muns, como insuficiência hepática crônica, são as causas
Tanto a idade do paciente quanto as características de ima mais freqüentes de anormalidades.
gem podem ajudar a estabelecer diagnósticos diferenciais. InfecçÕes, abusos de toxinas ou drogas, ou distúrbios
Nos próximos capítulos, consideraremos distúrbios metabólicos, como desmieíinização osmótica e encefalo
tóxicos e metabólicos por diagnóstico (p. ex., doença he- patia de Wernicke, são causas menos comuns de lesões
pática crônica, encefalopatia hepática aguda, encefalopa- bilaterais nos núcleos da base.
tia hipóxico-isquêmica). Uma avaliação cuidadosa dos achados de imagem fora
Aqui direcionaremos os diagnósticos diferenciais das dos núcleos da base, como, por exemplo, o envolvimento
lesões nos NBs primeiramente por localização (i.e., lesões cortical ou de substância branca - Juntamente com corre
em NBs bilaterais) e depois por subíocalização. As enti lação clínica e laboratorial - é essencial para diferenciar
dades dentro de cada diagnóstico diferencial serão cate entre as muitas doenças que causam anormalidades bilate
gorizadas como comuns, menos comuns e raras, porém rais nos núcleos da base (Figs. 29-9. 29-10, 29-11, 29-12,
importantes. 29-13, 29-14, 29-15, 29-16,29-17, 29-18).
29-11 RM ponderada em
12, axiai, em um paciente com
anóxia e necrose dos núcleos da
base, mostrando hiperintensidade
bilateral nos núcleos caudados
B, putame e globos pálidos
B e córtex B. Os tálamos es
tão relativamente poupados.
29-12 T2 axial demonstrando
inúmeros cistos com sinal se
melhante ao LCS de tamanhos
variados nos núcleos caudados,
putames e globos pálidos BS
poupando relativamente os tala
mos. Essas alterações são infre-
quentes espaços perivasculares
proeminentes (também cha
mados "état cribié", ou "status
cribriforme").
822 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do
Lesões putominais
Em geral, os putames são menos afetados do que os globos
pálidos e os tálamos. A lesão que mais comumente afeta o
putame é a hemorragia hipertensiva. Sangramentos hiper-
tensivos agudos em geral são unilaterais, embora algumas
hemorragias prévias possam ser vistas nas seqüências T2*.
Lesões putaminais simétricas e bilaterais costumam 29-18 GRE12* em um paciente com aceruloplasmi-
ocorrer com envolvimento de todos os NBs. Entretanto, nemia demonstrando hipointensidades simétricas tipo
existem algumas lesões que envolvem predominantemen artefato de susceptibilidade magnética nos NBs GS,
tálamos córtex Ea.
te, ou quase exclusivamente, os putames.
824 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
Encefalopatia hípóxico-isquêmica
• Anóxia, hipoxia (quase-afogamento, hipoperfusão
cerebral)
• EHI neonatal (aguda e grave)
Distúrbios tóxicos/metabólicos
• Doença hepática crônica
o Hiper em TI, hipointensidade em T2*
• Monóxido de carbono
o Hiperintensidade em 12 no GP mediai
C? . V /
o Encurtamento de TI
• Envenenamento por cianeto
o Hemorragias em GP, necrose laminar cortical 29-23 12 mostrando hiperintensidades bilaterais
Distúrbios hereditários medíais nos GPs B, assim como hiperintensidades
• Doença de Fahr confluentes difusas na SB Envenenamento por
o Calcificações confluentes, simétricas e densas monóxido de carbono.
• Doença de Wilson
o Hiperintensidades em T2 nos GPs, putames
o Sinal da "face do panda gigante" no mesencéfalo
• PKAN
o "Olho do tigre" (hipersinal em T2 central e
hipointensidade periférica)
o Nem sempre presente!
• Neurodegeneração com acúmulo cerebral de ferro (NBIA)
o Hipointensidade no GP, SN ± putame
• Doença do xarope de bordo (DXB)
o Edema (GP, tronco encefálico, tálamos, SB cerebelar) ^ :
• Acidemia metilmalônica (AMM)
o Hiperintensidades em T2 simétricas nos GPs ± SB
Doenças degenerativas
• Degeneração hepatocerebral
o 1% dos pacientes com cirrose, derivação
portossistêmica
o Encurtamento de TI
\ v\ ' - y i V /
• Paralisia supranuclear progressiva 29-24 T2 mostrando o sinal clássico do "olho do tigre"
o Também afeta NST, SN com hiperintensidades mediais nos GPs B associadas à
hipointensidade ao redor bem definida PKAN.
826 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
Lesões talâmicas
Como os infartos lacunares e os sangramentos hiperinten-
sos são comuns, lesões talâmicas unilaterais são mais co
muns do que anormalidades simétricas bilaterais.
Por outro lado, como as lesões talâmicas simétricas
bilaterais são relativamente incomuns, apresentam um
diagnóstico diferencial limitado. Assim como as lesões
simétricas nos NBs discutidas antes, as lesões talâmicas
bilaterais tendem a ser tóxicas, metabólicas, vasculares,
infecciosas ou hipóxico-isquêmicas (Figs. 29-25, 29-26,
29-27, 29-28, 29-29, 29-30).
Comuns
• Infarto lacunar
• Hemorragia intracraniana hipertensiva 29-28 FLAIR em um paciente com encefalopatía
de Wernicke mostrando lesões simétricas nos talamos
Menos comuns mediais E3.
• NF1
• Astrocitoma difuso (fibrilar de baixo grau)
• Glioblastoma multiforme
• Astrocitoma neopiásico
• ADEM
Distúrbios hereditários
• Doenças mitocondriais
• Doença de Krabbe
Distúrbios degenerativos e do LCS
o Hiperdenso na TC, hipointenso em 12
Alterações relacionadas à idade
• Doença de Wilson
o Putames, NCa > talamos Alterações normais no cérebro relacionadas à idade ocor
• Doença de Fahr rem ao longo da vida. Entender os estágios diferentes da
o 6P > tálamo formação cerebral e a progressão normal da mielinização
• Doença de Fabry é importante para diagnosticar doenças metabólicas here
o Hiperintensidade em 11 no tálamo posterior ditárias.
("pulvinar") Do outro lado do espectro de idade, o volume é nor
o M » F
malmente perdido em algumas partes do cérebro, enquan
o AVCs (territorial, lacunar) to outras permanecem relativamente intactas. A deposição
o Doença cardíaca, renal anormal de minerais nos MBs pode ser uma pista para
Neoplasias distúrbios degenerativos e metabólicos. Entender o que
• Glioblastoma multiforme é uma deposição normal de metal pesado em diferentes
• Astrocitoma anaplásico décadas é um pré-requisito para diagnosticar essas anor
malidades nos estudos de imagem.
Síndromes paraneoplásicas
• Podem mimetizar doenças priónicas
Demência e degeneração cerebral
Uma vez estabelecido o entendimento do envelhecimento
Lesões bitalâmicas por idade cerebral normal, discutiremos a patologia e as manifesta
Assim como as lesões nos GPs, algumas lesões simétri ções por imagem da demência. Apesar de, em muitos ca
cas bitalâmicas - como aquelas causadas por distúrbios sos, identificarmos uma ''predominância lobar" de perda
metabólicos hereditários - são mais comuns em crianças. de volume na TC e RM convencional, esses achados são
Outras são vistas primariamente em adultos. Algumas (p. geralmente manifestações tardias. O diagnóstico precoce
ex., distúrbios metabólicos adquiridos, oclusão venosa de distúrbios demenciais aumenta com estudos funcionais
profunda, ADEM) ocorrem em todas as idades. por RM e PET.
As causas mais comuns e raras, porém importantes, Degenerações do SNC, desde doença de Parkinson
de lesões bitalâmicas em crianças e em adultos são de até degeneração walleriana e olivar hipertrófica, serão
monstradas no quadro a seguir. consideradas. A anatomia e a fisiologia do sistema do-
Abordagem dos distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS 829
paminérgico cerebral serão revisadas, assim como a ana Primeiramente, descreveremos a anatomia normal dos
tomia essencial para a avaliação pré e pós-operatória de ventrículos e dos espaços do LCS, assim como as variantes
estimiilador cerebral profundo. de imagem que podem ser confundidas com doenças.
Hidrocefalia, distúrbios da produção/circulação/ab
Hidrocefalia e distúrbios do LC5 sorção do LCS e a recentemente descrita sindrome de hi
Como as anormalidades dos espaços liquóricos cerebrais drocefalia aguda de baixa pressão inapropriada serão então
são manifestações comuns de degeneração cerebral em discutidas. Por último, consideraremos fistula liquórica e
pacientes idosos, assim como uma causa potencialmente suas seqüelas incluindo hipotensão intracraniana - con
tratável de encefalopatia, dedicaremos o último capítulo dições nas quais a imagem representa um papel essencial
desta parte para hidrocefalia e distúrbios do LCS. tanto para o diagnóstico quanto para o manejo do paciente.
830 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
Lesões putaminais
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30
Encefalooatia tóxica
30-1 Necfopsia de irnoxicação alcoólica aguda mostrando edema ce 30-2 Imagem ponderada em T2 em um paciente comatoso, o qual
rebral com necrose na SB subcortical/profunda especialmente acen havia bebido quase quatro litros de vodca ou uísque diariamente durante
tuada no corpo caloso 175). Os núcleos da base e tálamos se encontram uma semana, mostrando edema cerebral difuso, hiperintensidade na S8
edemaciados, pálidos e iníartados [-51. (Cortesia de R. Hewlett, MD.) B e lesões talâmicas ES. Intoxicação alcoólica aguda.
seçào com duas formas menos comuns de abuso rela corticais induzidas por crises convulsivas, como hiperin
cionado. isto é, intoxicação por metanol e ingestão de tensidade girai e restrição à difusão, também podem estar
etilenoglicol (aniicongelante). associadas. As imagens de DTl podem detectar alterações
após consumo agudo de álcool que não são visíveis nas
Intoxicação alcoólica aguda imagens de RM convencionais.
Etiologia
A intoxicação alcoólica aguda é uma complicação do Bncefalopatia alcoólica crônica
consumo excessivo e é mais comum em adolescentes, os Os efeitos adversos a longo prazo do etanol no cérebro são
quais são especialmente vulneráveis à neurotoxicidade do muito mais comuns do que aqueles da intoxicação aguda.
etanol. O cérebro adolescente passa por uma maturação A lesão cerebral crônica relacionada ao álcool pode
estrutural e possui uma vulnerabilidade tánica ao álcool. ser dividida em primária e secundária. Começaremos nos
O consumo excessivo pelo adolescente reduz a expressão sa discussão com os efeitos diretos do EtOH no cérebro
30-3 Ilustração sagítai mostrando atrofia generalizada e vermiana 30-4 Imagem sagilai ponderada em Ti em um paciente com encefa
superiormente, e necrose do corpo caloso BÊS relacionadas à toxicidade lopatia alcoólica e doença de MarchIafava-BIgnaml mostrando hlpolnten-
alcoólica. Necrose de corpos mamilares B e substância cinzenta peria- sidade na porção média do corpo caloso B. Os corpos mamilares S e
quedutal é observada na encelalopatia de Wernicke. o verme superior B estão airóficos. (Cortesia de a. oatir, MD.)
ativação e expressão de fatores inflamatórios. A lesão de lopatia alcoólica crônica. Inicialmente, o verme superior
membrana, a perda neuronal e a redução de volume da atrofia e as fissuras cerebelares se tomam proeminentes
substância branca resultantes refletem os efeitos indiretos (Figs. 30-4, 30-5). Nos estágios mais avançados, a subs
(Ia toxicidade pelo álcool. tância branca frontal é envolvida, e os reflexos desse aco-
O abuso crônico de EtOH desregula a conectivida melimento são o alargamento dos sulcos e o aumento dos
de sináptica, aumenta as apoptoses e reduz a expressão ventrículos laterais. Nos estágios finais, é observada perda
de genes que codificam a produção de mielina no córtex de volume global (Fig. 30-6).
frontal, hipocampo e cerebelo.
Achados na TC. A TC sem contraste mostra alargamento
Patologia ventricular e sulcal generalizados. A substância branca ce
Patologia Macroscópica. O cérebro reflete os efeitos cumu rebral com freqüência é anormalmente hipodensa e com
volume reduzido. A fissura horizontal e as folias do venne
lativos do consumo crônico de álcool (Fig. 30-3). A
atrofia cerebral é evidenciada pelos ventrículos e sulcos superior são excepcionalmente proeminentes em relação
aumentados, sobretudo nos lobos frontais, e se deve pre à idade do paciente.
dominantemente à perda de substância branca. Achados na RM. A insuficiência hepática crônica secun
A degeneração cerebelar induzida pelo álcool tam dária à cirrose pode causar hiperintensidade nos ntjcleos
bém é comum. As folias do verme rostral e dos aspectos da base cm TI, provavelmente secundária ao acúmulo
anterossuperiores dos hemisférios cerebrais estão atrófi- de manganês. Hiperintcnsidades focais e confluentes na
cas, separadas por sulcos interfoliais alargados. substância branca em T2/FLAIR são comuns.
30-5 Imagem coronal ponderada em T2 em um etilista crônico de 41 30-6 Imagem ponderada em T2 em um etilista crônico de 30 anos
anos mostrando marcada atrofia do cerebelo superior com acentuado com deterioração aguda mostrando redução voiumétríca generalizada.
alargamento das fissuras fiorizontais E3. O parênquima supratentorial Observe a lesão no espiénio do corpo caloso BI, que apresentava difu
encontra-se relativamente preservado. são restrita (não mostrada). Atrofia induzida por álcool com desmielini-
zaçâo tóxica aguda.
Etioiogia
ENCEFALOPATIA ALCOÓLICA
Aspectos gerais. A tiamina (vitamina BI) é necessária para
AGUDA/CRÔNICA a manutenção da integridade estrutural e dos gradientes
Intoxicação alcoólica aguda osmóticos por meio das membranas celulares. A insufi
• Rara
ciência de tiamina resulta em acidose láctica com edema
• Causada pelo consumo social excessivo intra e extracelular.
• imagem
A EW é causada pela deficiência de tiamina. A des
o Edema cerebral difuso
o Desmielinização aguda nutrição com consumo inadequado de tiamina, a absorção
gastrintestinal reduzida e a utilização intracelular defi
Encefalopatia alcoólica crônica ciente de tiamina podem contribuir para a instalação da
• Comum
EW relacionada ao álcool.
• Efeitos tóxicos primários nos neurônios A flsiopatologia subjacente da EW não relacionada
o Neurotransmissores, receptores
ao álcool é idêntica à da EW alcoólica, porém sua etio
• Efeitos secundários relacionados à doença hepática ou
iogia é diferente. A desnutrição secundária a transtornos
gastrintestinal alimentares ou cirurgia de bypass gástrico com consumo
o Encefalopatia hepática
o Desnutrição, má absorção drasticamente reduzido de tiamina é típica. Hiperêmese
o Homeostase hldreletrolítica (p. ex., gestação, quimioterapia) e hiperalimentação pro
• Imagem longada são outras causas comuns de EW não alcoólica.
o Perda volumétrica (verme superior, cerebelo e
lobos frontais, em seguida generalizada) Patologia
o Mielinólise da substância branca
Localização. Os locais mais afetados são os corpos mamila-
res, hipotálamo, núcleos talâmicos mediais (adjacentes ao
terceiro ventriculo), placa tectal e a substância cinzenta pe-
Encefalopatia de Wernicke riaquedutal (FIg. 30-7). Áreas menos envolvidas incluem
o cerebelo (especialmente os núcleos denteados), núcleos
Terminologia
A encefalopatia de Wernicke (EW) também é conhecida rubros, esplênio do corpo caloso e o córtex cerebral.
como síndrome de Wernicke-Korsakoff. A EW pode ocor Patologia macroscópica. Se a EW ocorre no contexto de
rer estando relacionada ou não ao álcool. alcoolismo crônico, uma atrofia cerebral generalizada
Encefalopatia tóxica 835
30-7 Espécimes de necropsia de um paciente com encefalopatia de Wernicke mostrando necrose hemorrágica dos corpos mamilares E3 (a imagem
na inserção mostra o aspecto normal para comparação), necrose bitalâmica circundando as paredes do terceiro ventrfculo necrose na substancia
cinzenta periaquedutal El e na porção inferior do teclo E. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
(sobrelucio do verme cerebelar e dos lobos frontais) está História natural. A mortalidade na EW não tratada é ele
presente. Desmielinizaçào e hemorragias petequiais são vada. A rápida reposição endovenosa de tiamina é impres
comuns no estágio agudo da EW. Necrose do corpo ca- cindível para a prevenção das seqüelas mais graves da EW.
loso, rarefação da substância branca e atrofia dos corpos Alguns sobreviventes desenvolvem psicose de Korsakotf,
mamilares podem também ser observadas na EW crônica. com profunda amnésia, perda de memória e confabulações.
V- P' ■
em nível cranial novamente
mostrando hiperintensidade na
substancia cinzenta periaque-
dutal Os corpos mamilares
também se encontram hiperin-
tensos E3.
V'^ >7
30-8C Imagem em FLAIR
mostrando hiperintensidade nos
talamos mediais adjacentes às
paredes do terceiro ventrículo
E3. O hipotálamo S também
está acometido.
30-8D Imagem em FLAIR ao
nível da convexidade cerebral
mostrando hiperintensidades
corticais bilaterais e relativamen
te simétricas B3
30-9 Espécime de necropsia de um paciente com doença de Mar- 30-10 Imagem de TC com contraste em um paciente etilista com
chiafava-BIgnami mostrando necrose nas camadas médias do corpo doença de Marchiafava-Bignami mostrando atrofia cerebral generaliza
caloso f-y, o clássico achado patológico nessa condição. (Cortesia de R. da, acentuada hipodensidade no joelho do corpo caloso EI e na subs
Hewlett, MO.) tância branca adjacente BI. (Cortesia de A. Datir, MO.)
suspeita cie EW. As imagens em TI podem demonstrar entanto, infartos da APer não afetam os corpos mamilares
iiipointensidade ao redor do terceiro ventrículo e do aque- e costumam poupar a placa tectal.
duto cerebral. Em casos graves, hemorragias petequiais
estão presentes e podem causar hiperintensidades em TI
nos tálamos mediais e corpos mamilares. ENCEFALOPATIA DE WERNICKE
embora alguns casos com desfecho favorável tenham A DMB crônica com necrose franca do corpo ca
sido relatados. loso é vista como um adelgaçamento do corpo caloso e
hiperintensidades nas suas camadas médias na seqüência
Opções de tratamento. Se instituída com rapidez, a adminis
TI no plano sagital (Fig. 30-4). Em paciente com DMB
tração endovenosa de complexo vitamínico B e terapia com
crônica, imagens ponderadas em T2* podem demonstrar
metüprednisolona podem reverter o curso crônico da DMB.
múltiplas áreas hipointensas nas regiões corticossubcor-
ticais e no corpo caloso. Outras alterações associadas a
Imagem
etilismo crônico, como atrofia dos corpos mamilares, são
Características gerais. O envolvimento seletivo das cama
c o m u n s .
das médias do corpo caloso é típico. Assim como outros
distúrbios relacionados ao álcool, a DMB também pode
Diagnóstico diferencial
ser acompanhada por outras doenças determinadas pelo
No contexto de abuso de álcool, lesões do corpo caloso
etilismo. Encefalopatia alcoólica crônica com redução vo-
são altamente sugestivas de DMB. Outras doenças que
lumétrica generalizada do encéfalo é comum. Distúrbios
podem alterar o corpo caloso incluem esclerose múltipla,
hidreletrolíticos podem causar desmielinização osmótica.
dano axonal difuso e infarto lacunar. Todas essas doen
Achados na TC. A TC pode ser normal no estágio agudo da ças possuem lesões descontínuas esparsas que raras vezes
DMB. Nos estágios crônicos, é possível observar hipo- envolvem a totalidade da extensão do corpo caloso.
densidade linear no joelho do corpo caloso que, no con
texto de etilismo crônico, é altamente sugestiva do diag Intoxicação por metanol
nóstico (Fig. 30-10). O metanol é um potente depressor do SNC. Os pacientes
Achados na RM. As alterações iniciais da DMB aguda são freqüentemente estão comatosos, e uma história acurada
mais bem observadas em FLAIR. Hiperintensidades no pode ser impossível de se obter. Além disso, poucos hos
Joelho do corpo caloso e no córtex frontoparietal apare pitais incluem o metanol em seus testes toxicológicos de
cem primeiro, seguidas por lesões no esplênio. A imagem rotina. Portanto, o diagnóstico é comumente tardio, e a
em difusão é inicialmente negativa, sugerindo que as alte morbidade e mortalidade permanecem elevadas. Os exa
mes de imagem podem fornecer importantes pistas para
rações em FLAIR provavelmente refletem edema vasogê-
nico (e não citotóxico) intramielínico. Restrição à difusão o diagnóstico de uma possível intoxicação por metanol.
é posteriormente observada no esplênio do corpo caloso.
Durante a fase aguda, as lesões da substância branca Terminologia
A intoxicação ou envenenamento por metanol (MtOH) é
podem realçar (Fíg. 30-11). Tanto padrões de realce peri
féricos quanto sólidos e confluentes foram relatados. também conhecida como encefalopatia por metanol.
x :
30-12 Espécime de necropsia de um paciente com intoxicação fatal 30-13 TC sem contíaste em um paciente com envenenamento agudo
por metanol mostrando necrose hemorrágica em ambos os putames ES por metanol mostrando necrose putaminal coníluente BS e irregular
e na substância branca subinsuiar S. (Cortesia de R. Hewlett, MO.) Bi. (Cortesia de R. Ramakantan, MD.)
840 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
30-14A TC sem conUasle em um paciente que sobreviveu à intoxica 30-14B Corte de TC sem contraste mais cranial, através da coroa
ção aguda por metanoi mostrando putames hipodensos e reduzidos ES radiada, mostrando marcada hipodensidade em toda a SB de ambos os
e hipodensidades biiaterais e simétricas na SB subcortícai Bi. hemisférios
30-15A TC com contraste em um paciente que ingeriu etilenoglicoi 30-15B Imagem sagital ponderada em Ti mostrando hipointensidade
mostrando hipodensidade simétrica no mesencéfaío com extensão cra na ponte e no mesencéfaío a qual é mais bem vista como hiperin-
nial para os talamos ES. tensidade no FLAIR coronal Realce irregular é observado na seqüên
cia TI pós-conlraste B.
dos pacientes que sobrevivem por mais de 24 horas de Envenenamento por etilenogiicol
monstra lesões hipodensas nos putames e ocasionalmente o etilenogiicol é uma forma tóxica de álcool incolor, ino
na substância branca profunda. Necrose hemorrágica pu- dora e de sabor adocicado, sendo um componente comum
taminal é observada em 15 a 25% dos casos (Fig. 30-13). em fluidos para degelo. Ele pode ser ingerido por etilistas
O realce é variável, variando de nenhum a realce periféri ou, devido ao seu sabor adocicado e fácil acesso, aciden
co das lesões putaminais. talmente ingerido por crianças e animais.
Caso o paciente sobreviva, formam-se cavidades cis-
Quando ingerido, o etilenogiicol causa acidose meta-
ticas no interior dos putames, representando as seqüelas bòlica e pode promover lesões no cérebro, fígado, rins e
crônicas do envenenamento por MiOH (Fig. 30-14).
pulmões. O etilenogiicol é convertido em glicolato, o qual
Achados na RM. Necrose putaminal bilateral com envol é o principal metabólilo responsável pela acidose metabóli-
vimento variável da substância branca está presente. Hi- ca. O glicolato é então metabolizado para oxalato. que pre
perintensidade em TI e hipointensidades esparsas em T2 cipita com cálcio na forma de oxalato de cálcio e se depo
estão presentes na fase aguda tardia/subaguda precoce da sita em vários tecidos. A acidose metabólica com elevado
necrose hemorrágica. Artefatos de susceplibilidade mag anion gap e gap osmolar tem resolução em 24 a 72 horas.
nética estão presentes em T2*. A seqüência ponderada em O tratamento precoce com o inibidor da álcool desi-
difusão mostra difusão restrita nas áreas afetadas. drogenase 4-metilpirazol (4MP, fomepizol) é muito efeti
Os pacientes que sobrevivem possuem lesões hiperin- vo. Outros regimes de tratamento incluem o uso de álcalis
tensas simétricas em T2/FLAIR nos putames, com variá para combater a acidose, etanol como um antimetabólito
vel envolvimento da substância branca subcortical. e diálise.
Os achados de imagem da toxicidade aguda por etile
Diagnóstico diferencial noglicoi incluem edema nos núcleos da base, tálamos, me
As lesões putaminais bilaterais e simétricas não são espe sencéfaío e porção superior da ponte (Fig. 30-15). Necrose
cíficas para intoxicação por MtOH e podem ser observadas putaminal, similar àquela observada na intoxicação por me
na doença de Wilson e nas eneefalopatías mitocondriais tanol, pode ser observada em casos subagudos e crônicos.
(p. ex., Keams-Sayre, Leigh). A encelalopatia hipóxico-
-isquêmica acomete os núcleos caudados e outros núcle
os da base além dos putames. A intoxicação aguda por
Anfetaminas e derivados
cianeto é rara porém pode assemelhar-se à encefalopatia
por MtOH. O envenenamento por monóxido de carbono As propriedades "hedônicas" e viciantes das drogas de
geralmente afeta os globos pálidos em vez do putames. abuso - particularmente anfetaminas e cocaína - estão re-
842 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LC5
lacionadas aos elevados níveis de dopamina nas sinapses Os exames de RM em adultos usuários crônicos de
dos neurônios monoaminérgicos. A maioria das drogas de MA demonstram volumes menores de substância cinzenta
abuso é excitotóxica e causa dois principais tipos de pato na seqüência ponderada em TI. sobretudo nos lobos fron
logia: eventos vasculares (p. ex., isquemia, hemorragia) e tais. e mais hiperintensidades na substância branca em
leucoencefalopatia. T2/FLAIR do que seria esperado para a idade do paciente.
Estudos funcionais de neuroimagem também têm de A espectroscopia de prótons mostra redução nos níveis de
monstrado que drogas de abuso estão associadas a disfun- colina e mioinositol nos lobos frontais. A seqüência DTI
ções em diversas regiões cerebrais. As regiões responsá mostra uma PA mais baixa nos lobos frontais, e valores
veis pela memória de trabalho, controle inibitório, atenção mais elevados de ADC nos núcleos da base.
e tomada de decisões encontram-se prejudicadas cm grau
que se correlaciona com a intensidade e cronicidade do MDMA {""ecstasy")
abuso. Além disso, a mitose, a migração e a sobrevida ce A 3-.4-inetilenodioximetanfetamina é também conhecida
lular no SNC do feto de uma gestante usuária de drogas como MDMA ou ecstasy. Popular como droga recrea-
estão negativamente afetadas. cional. a MDMA induz euforia e alterações sensorials
secundárias à rápida liberação de potentes vasoconstrito-
Metanfetamina res nas sinapses serotoninérgicas. A MDMA pode causar
As metanfetaminas (MA ou meth) são drogas psicoesti- constrição arterial, vasculite ou vasospamo prolongado
mulantes altamente aditivas. O abuso da metanfetamina com infartos isquêmicos agudos. A isquemia induzida por
"cristal" tem crescido continuamente na última década. MDMA é mais pronunciada em regiões cerebrais ricas em
Até mesmo uma única exposição crônica à MA pode re serotonina, como os globos pálidos e o córtex occipital, os
sultar em alterações profundas no fluxo sangüíneo cere quais são especialmente vulneráveis (Fig. 30-17).
bral. Tanto infartos hemorrágicos quanto isquêmicos po Necrose hipocampal aguda com subsequente atrofia
dem ocorrer (Fig. 30-16). foi relatada em usuários crônicos de ecslasy.
30-22A TC sem contraste em um paciente com abuso de cocaína 30-22B ASD lateral do mesmo paciente mostrando múltiplas áreas de
mostrando hipodensidade grande e confluente E3 no lobo frontal direi constrição e dilatação 31, características de vasculite induzida por drogas.
to, com hemorragia aguda tardia
30-23 TC sem contraste após inalação de heroína {chasing the dragon) 30-24 Um homem de 57 anos desenvolveu leucoenceíalopatia aguda
mostrando hipodensidade simétrica na SB cerebelar FLAIR demons após chasing de dragon. A RM mostra hiperintensidade B na SB peri
trando hiperintensidade no corpo caioso e cápsulas internas B. As lesões ventricular profunda em T2/FLAIR, com correspondente restrição à difu
restringem na seqüência em difusão S. (Cortesia de K. Nelson, MD.) são nas seqüências em difusão e ADC. (Cortesia de M. Michel, MD.)
30-25 Imagens de RM em uma mulher de 33 anos com overdose de 30-26 Envenenamento acidental por metadona em uma criança
metadona mostrando hiperintensidade simétrica confluente em FLAIR mostrando hipodensidade cerebelar bilateral na TC sem contraste B,
E3 e restrição à difusão na difusão hiperintensidade em T2/FIAIR BI e restrição à difusão BS.
Hiperintensidade confluente na substância branca Foi relatado que a ingestão acidental de metadona
cerebral, incluindo o corpo caloso, é comum em casos pode causar grave edema cerebelar com hidrocefalia obs-
graves de encefalopatia induzida pelo vapor de heroína trutiva aguda em crianças (Fig. 30-26).
(30-24). As imagens em difusão mostram restrição aguda
à difusão da água nas áreas afetadas; a espectroscopia de Oxicodona
protons demonstra um pico de lactato na substância bran Os achados de imagem dos poucos casos relatados de
ca cerebral.
overdose de oxicodona e Oxycontin mostram difusão res
O abuso crônico de heroína pode causar doença mi trita nos hemisférios cerebelares e globos pálidos.
crovascular. Hiperintensidades multifocals esparsas na
substância branca subcortical ou periventricular são co
muns. porém não são tão prevalentes ou marcadas como OPIOlOES
na vasculopatia por cocaína.
Heroína
• Injetada
Metadona o Mais comum = infartos isquêmicos
As assim chamadas drogas substitutivas, como o opioide o Globos pálidos, SB (assemelha-se à intoxicação
sintético metadona, são usadas no tratamento para por CO)
• Inalada
abuso/dependência, bem como no manejo da dor intra o Chasing the drogon
tável. Com crescente uso e disponibilidade da metadona, o Mais comum = leucoencefalopatia
sua overdose também tem se tornado mais freqüente. o Cerebelo, SB cerebral
A encefalopatia tóxica pós-opioide similar àquela
Metadona
causada pela heroína inalada tem sido descrita com a • Adultos
metadona. Hiperintensidade difusa, simétrica e con o Encefalopatia tóxica
fluente na substância branca cerebral em T2/FLAIR é • Crianças
observada (Fig. 30-25). As fibras subcorticais em U são o Geralmente Ingestão acidental
poupadas. Diferentemente da toxicidade da heroína, al o Edema cerebelar
terações no cerebelo e no tronco encefálico são sutis ou
Oxicodona
ausentes em adultos. A espectroscopia de protons mos • Isquemia no cerebelo e globos pálidos
tra elevação da colina, redução do NAA e aumento do • Menos comum = leucoencefalopatia tóxica
lactato.
Encefalopatia tóxica 847
Etioiogla
Toxinas e gases inalados Os efeitos tóxicos do CO resultam, em sua maior parte,
Algumas drogas de abuso, como a heroina, possuem múl do comprometimento do transporte de oxigênio. O CO se
tiplas formas de administração. Outras são gases e, por combina reversivelmente com a hemoglobina (Hgb) com
tanto, exclusivamente inaladas. Exemplos incluem toxi afinidade 200 vezes maior do que a do oxigênio. Se os
nas como o monóxido de carbono e drogas de abuso como níveis de carboxi-hemoglobina (CO-Hgb) se elevarem
o óxido nitroso. Algumas toxinas, como o cianeto, podem para valores acima de 20%, danos cerebrais e cardíacos
ser inaladas, ingeridas ou absorvidas por via transdérmica. são freqüentes.
Cianetos podem causar - ou contribuir para - óbitos por A CO-Hgb prejudica o transporte de oxigênio pelos eri-
inalação de fumaça. trócitos, reduzindo o oxigênio celular e causando hipoxia.
Vapores inalados de agentes liquidos voláteis incluem Além disso, a peroxidação de lipídeos causa dano oxida-
o amil-nitrito {"'poppers''') e solventes industriais (p. ex., tivo. Peroxinitritos promovem lesão no endotélio vascular.
tolueno).
Patologia
Envenenamento por monóxido de carbono Localização. Devido ao fato de os globos pálidos serem ex
traordinariamente sensíveis à hipoxia, a alteração caracte
Terminologia rística da intoxicação aguda por CO é a necrose simétri
o monóxido de carbono (CO) é um gás incolor, inodoro e ca dos globos pálidos (Figs. 30-27, 30-28). A substância
insipido produzido pela combustão incompleta de vários branca cerebral é a segunda área mais comumente afetada
combustíveis. O envenenamento por CO é causado por e costuma mostrar desmielinização e necrose tardias, que
inalação proposital ou acidental. podem aparecer várias semanas após o episódio inicial.
30-30A Imagem axial ponderada em T2 em um pacienie com en 30-308 Imagem axial em T2 mais superior mostrando que a hiperin
venenamento por CO há duas semanas mostrando hiperintensidades tensidade afeta a maior parte da coroa radiada B e poupa predomi
características nos globos pálidos E3. Hiperintensidade confluente nantemente a SB subcortical. Envenenamento por CO em sua forma de
envolve praticamente toda a SB cerebral BI, com exceção das fibras "intervalo" (subaguda) com desmielinização tóxica.
subcorticais em U.
Aspectos clínicos sidade sutil nos globos pálidos. Um leve halo de hiperin
tensidade causada por hemorragia ou necrose coagulativa
Apresentação e história natural. O envenenamento agudo
pode estar presente (Fig. 30-29A).
por CO inicialmente causa náusea, vômitos, cefaleia e As imagens de T2/FLAIR mostram hiperintensidades
rebaixamento do nível de consciência. O prognóstico de
bilaterais nos globos pálidos mediais (Fig. 30-29B), com
pende da duração e da intensidade da exposição. Crises os putames e núcleos caudados menos comumente afeta
convulsivas, coma e óbito podem suceder.
dos. Um fino halo hipointenso circunjacente à lesão pode
Os pacientes que sobrevivem ao envenenamento por
estar presente.
CO freqüentemente desenvolvem encefalopatia tardia.
Além das áreas hiperintensas observadas em T2, as
Sintomas de parkinsonismo, deficits de memória e altera
imagens em FLAIR podem revelar envolvimento discreto
ções cognitivas são comuns. dos núcleos caudados, tálamos, hipocampos, corpo calo-
Opções de tratamento. A terapia com oxigênio hiperbárico so, fórnice e córtex cerebral.
é o tratamento de escolha para o envenenamento agudo A seqüência em difusão mostra hiperintensidades bi
por CO. A administração precoce de oxigênio a 100% laterais nos globos pálidos, bem como focos de difusão
restrita na substância branca subcortical. O mapa ADC na
pode auxiliar a atenuar as seqüelas neuropsiquiátricas a
substância branca cerebral se eleva de modo significativo,
longo prazo.
refletindo extensa lesão tecidual microestrutural. A seqüên
Imagem cia DTI mostra redução da FA nas áreas corticais associadas.
Até um terço dos pacientes com envenenamento por
Achados na TC. Os exames iniciais de TC sem contraste
CO desenvolvem leucoencefalopatia tardia com progres
podem ser normais. Hipodensidade simétrica em ambos
siva desmielinização da substância branca, a forma de
os globos pálidos se desenvolve dentro de poucas horas.
"intervalo" (subaguda) da intoxicação. Extensas áreas si
Hemorragia volumosa é rara. Hipodensidade difusa variá métricas e confluentes de hiperintensidade em T2/FLAIR
vel na substância branca hemisférica pode ser observada
são achados característicos (Fig. 30-30).
em casos graves.
30-31 Imagem axial ponderada em T2 em um paciente com abuso de 30-32 Imagem sagital ponderada em Ti mostrando afiiamento do
oxido nitroso mostrando desmielinização seletiva e simétrica das colunas corpo caloso B9, e imagens em T2/FLAIR demonstrando hiperintensida-
posteriores BI, característica da degeneração combinada subaguda. de coniluente na SB B. Toxicidade do tolueno devido ao uso crônico de
(Cortesia de C. Glastonbury, MBBS.) cola de sapateiro. (Cortesia de S. Lincofí, MD.)
patologia, os achados de imagem de EHI e envenenamen O excesso de N,0 oxida irreversivelmente o íon co-
to por CO se sobrepõem. A EHI em geral afeta todos os balto da vitamina BI2, o qual é necessário para a meti-
núcleos da base e os hipocampos, com menos freqüência lação dos fosfolipídeos da bainha de mielina. O abuso
a substância branca ou os globos pálidos isoladamente. O crônico de óxido nitroso causa mielopatia e neuropatia
envenenamento por organofosforados (exposição aci periférica progressivas. O resultado final é a degeneração
dental ou proposital) pode causar necrose hemorrágica combinada subaguda da medula espinal. As colunas
bilateral dos globos pálidos. dorsais e os tratos corticospinais são preferencialmente
A doença de Wilson acomete os núcleos da base, me- afetados (Fig. 30-31). As lesões cerebrais são raras.
sencéfalo, ponte e núcleos denteados.
Encefalopatias mitocondriais, especialmente a Abuso de tolueno
doença de Leigh, costumam afetar pacientes mais jovens. o componente mais importante dos solventes industriais
As lesões do tronco encefálico e putames são mais co é o tolueno. motivo pelo qual concentraremos nossa dis
muns do que o envolvimento dos globos pálidos. cussão nessa substância em particular. O tolueno, um
Algumas encefalites virais, como a encefalite Japo líquido incolor em colas, diluentes, tintas e outros pro
nesa, afetam preferencialmente os núcleos da base e os dutos industriais, é lipossolúvel e rapidamente absorvido
tálamos. A doença de Creutzfeldt-Jacob (DCJ) é rapi pelo SNC. A exposição prolongada ocupacional e o uso
damente progressiva e afeta o núcleos caudados, a porção
proposital causam lesões neurológicas multifocals e neu
anterior dos núcleos da base e o córtex. O envolvimento
ropatia óptica.
da região posteromedial dos tálamos é comum na DCJ e
raro no envenenamento por CO. Terminologia
o tolueno, também chamado de metilbenzeno, é um hi-
Óxido nitroso drocarboneto aromático. O envenenamento por tolueno
O óxido nitroso (N,0), comumente conhecido como "gás resulta em cnccfaloputia crônica por solvente.
hilariante", é um suplemento anestésico inalado usado
com freqüência em procedimentos dentários e cirurgias Etioiogla
orais. O N,0 é extremamente solúvel em compostos lipídi- Os métodos comuns de abuso de solventes são a inalação
cos e usado como propelente em sprays de aerossol (p. ex., direta no recipiente, a inalação em um tecido embebido
sprays de chaníHly e outros produtos culinários). O N^O é com o produto sobre a boca e o nariz, e a inalação em uma
ocasionalmente inalado pela suposta euforia. sacola plástica.
850 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
/
A
/
30-33A Espécime de necropsia de um pacienle com inalação de 30-338 Secção coronal através dos lobos occipitais mostrando necro
fumaça, possivelmenfe cinzas de lixo com vapor de cianeto. Observe a se cortical laminar ÍS. (Cortesia de R. Hewlett, MO.)
necrose talâmica bilateral 1^.
30-34A Imagem em FIAIR em um caso de inalação de fumaça com 30-34B Imagem em plano mais superior no mesmo paciente mos
envenenamento por cianeto por queima de plástico mostrando hiperin- trando as hiperinlensídades B, as quais são especialmente proeminen
tensidade simétrica nos núcleos caudados e nos putames Si, lesões tes nos lobos occipitals B.
mais sutis no tálamo posteromedial B e fiiperintensidades curvilíneas
cortícais B.
30-35 TC sem contraste mostrando redução volumétrica nos lobos 30-36 Caso de necropsia de envenenamento crônico por mercúrio
frontais e temporais devido a envenenamento por chumbo. (Cortesia de mostrando perda volumétrica difusa cortical e cerebelar. A medula, a
R, Ramakantan, MD.) ponte e o mesencéfalo também se encontram reduzidos. (Cortesia de R.
Hewlett, MD.)
anormalidades típicas. Nesse estágio, alterações pelo DIR Seqüelas em longo prazo do dano por radiação
costumam ser leves e reversíveis, com freqüência regre
Além da encefalopatia necrosante, complicações em
dindo de forma espontânea.
longo prazo da RxT incluem vasculopatia, microangiopa-
Dano tardio pela radioterapia tia mineralizante, proliferação glomeruloide microvascu
lar com telangiectasias (malformações vasculares induzi
O DIR tardio não é observado até pelo menos seis me
das pela RxT) e desenvolvimento de neoplasias induzidas
ses após a irradiação. Essas lesões tardias são vistas como
progressivas e, em grande parte, irreversíveis, resultando pela radioterapia.
da perda de células glials e do endotélio vascular. A vasculopatia induzida por radiação com hiper-
Patologicamente, a necrose coagulativa em um padrão plasia endotelial resulta em estreitamento difuso de ar
de "mosaico" com focos coalescentes produz leucoencefa- térias de médio e grande calibre. Infartos isquêmicos e
lopatia necrosante na SB profunda cerebral. As fibras sub- doença semelhante à Moyamoya podem ocorrer como
corticais em U e o corpo caloso são poupados (Fig. 30-37). resultado (Fig. 30-38).
Alterações vasculares incluem necrose fibrinoide, hialini- A microangiopatia mineralizante é freqüentemente
zação e esclerose associada à trombose. A necrose tardia
observada em pacientes tratados com combinação de RxT
pela radiação é inicialmente expansiva e com efeito de e quimioterapia. A microangiopatia mineralizante em ge
massa, com necrose em grande parte confinada à SB. ral se toma aparente até pelo menos dois anos após o tra
No início, o DIR tardio mostra efeito de massa e tamento; é então observada como calcifícações nos núcle
realce variável nos exames de imagem. Na seqüência, os da base e da substância branca subcortical (Fig. 30-39).
perda volumétrica, espongiose da SB com hiperinten- Malformações vasculares induzidas pela radiote
sidade confluente e calcifícações podem ser observadas rapia (MACIRs) são primariamente telangiectasias capi
(Fig. 30-37). lares ou malformações cavemomatosas, mais comumente
30-37A Um homem de 47
anos submetido a RXT cerebral
total por leucemia desenvolveu
declínio cognitivo progressivo e
prejuízo funcional três anos após
o tratamento. A imagem em
FLAIR mostra perda volumétrica
com venlriculos aumentados,
sulcos proeminentes e hipe-
rintensidade confluente da SB
profunda e periventricular B.
As fibras subcorticais em U estão
poupadas.
30-37B Imagem em FLAIR em
plano mais superior mostrando
hiperintensidade confluente na
SB característica de leuco-
encefalopatía necrosante.
\A/ I
anos devido à medulobiastoma.
As calcifica^ões nos núcleos da
base S3 e na SB subcortical B
A são características de microan-
giopatia mineraiizante. (Cortesia
de P. Chapman, MD.)
d
tratamento. Imagem ponderada
em TI pós-contraste mostrando
múltiplos focos de realce na SB
do hemisfério esquerdo B.
Necrose tardia por radioterapia
versus recorrência tumoral.
30-40B pRM mostrando ele
vado rCBV nas áreas de realce
B, que sugere que os focos
de realce representam tumor
recorrente em vez de ieucoence-
falopatia necrosante.
•4*
observadas em crianças que receberam radioterapia cere Diferentemente do dano pela radioterapia, a lesão tó
bral total para leucemia iinfoblástica aguda. As seqüên xica aguda induzida pela quimioterapia é comum. As duas
cias ponderadas em T2* (GRE, SWI) demonstram micro- anormalidades mais freqüentes são a síndrome da encefa-
-hemorragias com artefatos de susceptibilidade magnética lopatia posterior reversível e a leucoencefalopatia induzi
na maior parte dos pacientes (Fig. 30-40). O desenvolvi da pelo tratamento.
mento de MACiRs em menos de três anos após a RxT é A síndrome da encefalopatia posterior reversível
incomum. Crianças com menos de 10 anos de idade no (PRES) é discutida em detalhes no Capitulo 32. Na PRES
momento da irradiação apresentam maior risco. relacionada à quimioterapia, os achados de imagem cos
Neoplasias induzidas pela radioterapia são raras, tumam ser atípicos. Os lobos occipitais são comumente
porém freqüentemente devastadoras. A RxT é o fator de poupados, enquanto o cerebelo, o tronco encefálico e os
risco mais importante para o desenvolvimento de uma núcleos da base em geral são afetados. Hemorragia, realce
nova neoplasia primária do SNC. Em torno de 70% são pelo meio de contraste e restrição à difusão - todos relati
meningiomas. 20% são astrocitomas malignos e 10% são vamente raros na PRES "típica" - são comuns.
sarcomas. Os meningiomas ocorrem em média 17 a 20 A leucoencefalopatia induzida pelo tratamento é
anos após o tratamento, enquanto os gliomas ocorrem em especialmente comum em pacientes tratados com me
uma média de nove anos. Os sarcomas possuem uma la- totrexato. Neurotoxicidade aguda ocorre em 5 a 18%
tência média de 7 a 8 anos após a RxT. das crianças tratadas para leucemia Iinfoblástica aguda.
Áreas de hiperintensidade em T2/FLAIR confluentes,
Efeitos da quimioterapia bilaterais e relativamente simétricas na SB periventri
Atualmente, os agentes quimiotcrápicos mais comuns en cular são típicas (Fig. 30-41). As anormalidades nos
volvidos com toxicidade no SNC são metotrexato. citara- exames de imagem costumam desaparecer após o tra
bina, vincristina, asparaginase e corticosteroides. tamento.
30-42 (Esquerda) Imagem coronal ponderada em T2 após ressecçâo 30-43 Síndrome do flap cutâneo rebaixado seis dias após craniec-
de meningioma mostrando uma massa mista hiper E3 e hipointensa tomia descompressiva. O flap cutâneo ES obliterou os sulcos frontais,
ES. (Direita) A lesão B realça fortemente e de maneira relativamente causando uma leve herníação subfaicial contralateral,
uniforme. A cirurgia revelou textiloma sem tumor residual ou recorrente.
posicionados (p. ex., hemostatos de algodão, tecido de flap cutâneo. O desvio das estruturas da linha média ou da
musseline, politetrafluoretileno [Teflon]) não apresenta fissura inter-hemisférica e/ou septo pelúcido contralate-
anormalidades de sinal na RM. Eles são identificados ape ralmente dsaflap cutâneo rebaixado é observado em 75%
nas quando uma reação de corpo estranho se desenvolve, dos casos (Fig. 30-43).
formando um textiloma.
858 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
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31
Doenças metabólicas hereditárias
3 a 4 meses
Segmento anterior da Cl
Esplênio do CC
6 meses
SB occipital
12 meses
SB subcortical posterior
18 meses
Toda a SB, exceto fibras em U temporais, frontais Toda a SB, exceto fibras em U temporais, frontais, radiações occipitais
24 meses
3 1 -1 A TI a xi a l e m u m re cém-
-nascido a lermo normal ao nas
cimento mostrando que o bulbo
dorsal os pedúnculos cere-
belares inferiores e o verme S
são hiperintensos e densamente
mielinizados, em comparação
com o tronco encefálico mais
anterior B. A SB cerebelar não
está mielinízada e hipoíntensa.
31-18 T2 mostrando que o
bulbo e os pedúnculos cerebela-
res inferiores EEl, assim como o
núcleo denteado B e o verme
estão mielinizados. A SB
não mielinizada no hemisfério
cerebelar permanece hiperin-
tensa.
3 1 - 4 C 11 m o s t r a n d o u m a
míelinízação semelhante à
do adulto. A hiperintensidade
estende-se até as fibras subcor-
ticais nos lobos occipitais ES e
parietais. Na porção mais ante
rior dos lobos frontais, as fibras
subcorticais em U permanecem
não mielinizadas BI.
31-4D 12 mostrando hipoin-
tensidade subcortical das fibras
em U nos lobos occipital ES,
parietal, mas não nos lobos tem
poral, frontal BI. Alguma hiipe-
rintensídade lateral aos cornos
occipitais trígonos El é normal.
alguns casos, biópsia do encéfalo, de pele ou de músculo é mente formados que apresentam uma única enzima com
necessária para estabelecer um diagnóstico preciso. função anormal ou deficiente.
Uma discussão exaustiva das DMHs está além do ob As deficiências da formação do peroxissomo resultam
jetivo deste livro. O leitor interessado deve consultar os em condições como a síndrome de Zelhveger, a adreno-
textos de A. James Barkovicb. Neste capitulo, serão con ieucüdístrofía neonatal e a doença de Refsum infantil.
sideradas as doenças neurometabólicas hereditárias po Os distúrbios nos quais os peroxissomos são formados,
rém comuns, bem como algumas menos comuns, porém mas não funcionam corretamente, incluem a adrenoleu-
importantes, resumindo sua etiopalologia, demografla e codistrofía ligada ao X e a doença de Refsum clássica.
apresentação clínica, além dos achados de imagem mais
importantes de cada uma delas. Doenças mitocondriais
Inicia-se considerando as diversas abordagens para As doenças mitocondriais, também chamadas de doenças
classificar essas doenças incomuns, porém interessantes. da cadeia respiratória, são caracterizadas por uma fun
Um dos sistemas mais comuns de classificação das DMHs ção mitocondrial anormal. O resultado é a produção não
divide essas doenças de acordo com a organela celular pareada de tri fosfato de adenosina (ATP, de adenosine iri-
(p. ex.. mitocôndria, lisossomos) predominantemente afe phosphate) (energia) nas células afetadas.
tada. Outra classificação caracteriza as DMHs por seu de Algumas doenças mitocondriais predominante ou
feito em uma via metabólica específica (p. ex., distúrbios exclusivamente afetam a musculatura eslriada e, por
do metabolismo do carboidrato). tanto. não serão discutidas neste texto. Encefalopatias
Será discutida rapidamente cada uma delas, sendo então mitocondriais importantes incluem doença de Leigh,
delineada - e subseqüentemente usada - uma abordagem encefalopatia mitocondrial com acidose láctica e episó
desenvolvida por A. James Barkovich que tem como base a dios semelhantes a acidente vascular cerebral (MELAS,
localização anatômica e os achados de imagem específicos. de mitochondria! encephalopathy with lactic acidosis and
stroke-like episodes), epilepsia mioclônica com fibras ver
Abordagem com base em organelas melhas rasgadas (MERRF, de myoclonic epilepsy with
Três organelas celulares são primariamente afetadas nas ragged red fibers), síndrome de Kearns-Sayre (SKS) e
acidúria glulárica tipos I e 11.
DMHs (p. ex., lisossomos, peroxissomos e mitocôndrias).
Classificar as DMHs de acordo com a organela afetada tem
o benefício da simplicidade conceituai. Entretanto, muitas
CLASSIFICAÇÃO DAS DOENÇAS METABÓLICAS
das DMHs não ocorrem por um distúrbio na função da orga HEREDITÁRIAS COM BASE EM ORGANELAS
nela. tomando esse esquema de classificação menos amplo.
Doenças lisossomaís
• MucopolissacaridosGS
Doenças lisossomaís
• Gangllosidoses
As doenças lisossomais são caracterizadas por lisossomos • Leucodistrofia metacromática
anormais e distúrbios do metabolismo do carboidrato. A fre • Doença de Krabbe
qüência dos distúrbios lisossomais varia muito conforme a • Doença de Fabry
distribuição geográfica. Alguns são muito mais freqüentes
em certas localizações devido à alta prevalência de mutações. Doenças peroxissomais
• Formação peroxissomal anormal
As mucopolissacaridoses são os distúrbios clássicos o Síndrome de Zellweger
de depósito lisossomal. Elas resultam de deficiência de o Adrenoleucodistrofia neonatal
enzimas que envolvem a degradação de mucopolissaca- o Doença de Refsum infantil
rídeos (glicosaminoglicanos). Os mucopolissacarídeos • Função peroxissomal anormal
que não se degradam completamente se acumulam nos o Adrenoleucodistrofia ligada aoX
lisossomos, os quais geralmente se tornam grandes e va- o Doença de Refsum clássica
cuolados. As mucopolissacaridoses prototípicas incluem
Doença mitocondrial
as síndromes de Hurler. Hunter. Sanniippo e Morquio. • Doença de Leigh
As gangliosidoses são doenças raras de depósito li • MELAS
sossomal caracterizadas pela deficiência de p-galactosi- • MERRF
dase. Oligossacarídeos anormais acumulam-se no encéfa • Síndrome de Kearns-Sayre
lo e nas vísceras. Os distúrbios típicos são GMl e GM2 • Acidúria glutárica tipos I e II
(doenças de Tay-Sachs e Sandhoff, respectivamente).
Leucodistrofia metacromática
Terminologia. A leucodistrofia metacromática (LDM),
também conhecida como sulfatidose, é uma doença de
acúmulo lisossomal devastadora caracterizada por acú
mulo intraiisossomal de sulfatídeos esfingolipideos em
múltiplos tecidos.
Etiologia. a LDM é causada pela redução da enzima arilsul-
fatase A com falha da quebra e da reutilização da mielina.
Patologia. Macroscopicamente. o cérebro afetado pela LDM
pode ser normal ou demonstrar discreta redução volumétri-
ca. A SB periventricular mostra uma coloração acinzentada.
com as fibras subcorticais em U relativamente normais.
Desmielinização é o principal fator histopatoiògico e
afeta tanto o sistema nervoso central (SNC) quanto o pe
31-7A Tomograíia compuladoíizada (TC) sem riférico. Uma metacromasia marrom característica (pela
contraste em um menino de 6 anos com adrenoleuco- qual a doença é denominada) é vista com a coloração vio
distrofia mostrando hipodensidade simétrica na SB peri leta cresil ácida e representa depósitos intracelulares de
ventricular B3 preservando as fibras subcorlicais em U.
colesterol, fosfolipídeos e sulfatides. Os testes tissulares
para a arilsulfatase A são positivos.
Aspectos clínicos. A LDM é uma das mais comuns de todas
as doenças da SB hereditárias, com uma prevalência de
I; 100.000 nascidos vivos. A LDM é mais comum cm ju
deus Habbani e índios Navajo.
Os sintomas iniciais da LDM podem aparecer em
qualquer idade. Três formas clínicas são conhecidas atual
mente: infantil tardia (início antes dos três anos), juvenil
(início antes dos 16 anos) e LDM adulta. A forma infantil
é a mais comum e costuma se apresentar no segundo ano
de vida com comprometimento visuomotor. distúrbios da
marcha e dor abdominal. Declínio progressivo e morte
dentro de quatro anos costumam ocorrer. A forma juvenil
inicia entre 5 e 10 anos, em geral com deterioração do
desempenho escolar. Sobrevida além de 20 anos é rara.
31-78 T2 mostrando o clássico padrão em "borbole A forma adulta pode apresentar-se como uma demência
ta" de hiperintensidades simétricas ao redor dos cornos de início precoce, com sintomas semelhantes à esclerose
frontais e dos átrios dos ventrícuios laterais
múltipla e sinais cerebelares progressivos.
As opções de tratamento estabelecidas incluem trans
plantes de células-tronco hematopoiéticas. Terapias de
reposição enzimática e gênica com células progenitoras
oligodendrogliais ou neurais ainda são experimentais.
Imagem. O exame de imagem típico da LMC é uma leu
codistrofia rapidamente progressiva. A TC seriada mostra
hipodensidade confluente com disseminação centrífuga
no esplênio do CG e SB periventricular parieto-occipital
inicialmente comprometida. A doença gradualmente es
tende-se para os lobos frontais e posteriormente para a SB
temporal.
A aparência típica na RM é de hiperintensidade em
T2/FLAIR confluente. simétrica, com aspecto em "borbo
leta" na SB periventricular (Fig. 31-7). As fibras subcorti
cais em U e o cerebelo costumam ser preservados até um
31-7C FLAIR mostrando o padrão em "borboleta" da estágio tardio da doença.
leucemia mielocítica crônica. As cápsulas internas e a Ilhas de mielina normal ao redor das veias mediila-
SB subcortical estão normais. res na SB podem produzir um padrão "tigroide" ou "em
Doenças metabólicas hereditárias 873
L E U C O D I S T R O F I A M E TA C R O M AT I C A
Etiologia e patologia
Distúrbio de acúmulo lisossomal
Redução da arllsulfatase A acúmulo de
esfingolipídeo
Desmielinização periventricular
Aspectos clínicos
Leucodistrofia hereditária mais comum
Três formas
Infantil tardia (mais comum)
Juvenil
Adulta (início tardio) 31-86 FLAIR mostrando desmielinização hiperintensa
confluente e mielina preservada [S (padrão "tigroide").
magem
observe as fibras subcorticais em U poupadas BSI.
Disseminação centrífuga da desmielinização
Início no esplênio do CC, na SB profunda parieto
occipital
SB frontal, temporal afetada tardiamente
Preservação das fibras subcorticais em U, do
cerebelo
Clássica = padrão em "borboleta"
Hiperintensidades simétricas ao redor dos cornos
frontais, átrios
Padrão "tigroide"
"Fitas" de mielina perivenular preservadas na SB
Diagnóstico diferencial
Outras doenças que predominantemente acometem a
SB periventricular
Leucodistrofia com células gioboides (doença de
Krabbe)
Doença de Pelizaeus-Merzbacher
Doença da substância branca evanescente 31-8C FLAIR mostrando pontos (padrão de "leopar-
Doenças destrutivas do") da mielina preservada B dentro da desmielini
Leucomalacla periventricular zação confluente da Se profunda que poupa as fibras
subcorticais em U.
874 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
31-12 ALD clássica moslrando hipodensidade na SB peíiatfiai E3. 31-13 FLAIR (acima à esquerda) de um menino de 5 anos com AID pre
caIcKicações B e restrição da difusão S nas regiões inflamatórias coce mostra um pequeno foco fiiperintenso no esplênio H. Seis messes
com desmíelinização aguda. depois, TI (acima à direita), FLAIR (abaixo à esquerda) mostram aumento
do tamanho da lesão B. T1 C+ (abaixo à direita) mostra realce B.
cència ou idade adulta e doença com sintomas discretos comissurais e as vias da visão e da audição podem ser to
em mulheres carreadoras. dos eventualmente envolvidos.
A ALD-X não tratada tem um prognóstico ruim. Os limites externos da desmielinizaçao aparecem
Uma progressão persistente com quadriparesia espástica, hiperintensos em TI, mas não realçam. A zona interme
cegueira, surdez e estado vegetative é típica. Uma dieta diária de desmielinização inflamatória ativa geralmente
com base no óleo de Lorenzo (uma mistura de trioleína e realça em TI C-i-.
trierucina) tem ajudado a reduzir os sintomas em alguns Restrição de difusão na zona intermediária da des
pacientes. O transplante de medula óssea precoce ou a mielinização inflamatória pode estar presente em imagem
terapia genética com células-tronco hematopoiéticas têm ponderada em difusão. A ERM mostra a redução do NAA
melhorado o prognóstico clínico para outros pacientes. até mesmo na SB aparentemente normal. A elevação da
colina, do mioinositol e do lactato é comum.
Imagem. O diagnóstico definitivo da ALD-X é estabeleci Um sistema de escore visual com base na RM (es
do pela análise do aumento na quantidade de VLCFA na cala de Loes) divide o cérebro em nove regiões com 23
pele. Quando típico, os achados de imagem podem sugerir sub-regiões. Cada região é pontuada pela presença (1) ou
fortemente o diagnóstico. Embora as TCs algumas vezes ausência (0) de atrofia, e toda sub-região é avaliada como
sejam obtidas como um estudo de avaliação inicial em normal (0), anormalidade unilateral (0,5), ou anormalida
crianças com encefalopatias de origem desconhecida, a des bilaterais (1) na intensidade de sinal.
RM é o método de escolha.
Variações dos padrões de imagem da ALD-X são co
Achados na TC. Uma TC sem contraste demonstra muns. Cerca de lOa 15% de todos os pacientes com ALD-X
hipodensidade no esplênio do CC e na SB ao redor dos clássica têm uma desmielinização com predomínio ante
átrios e dos cornos occipitais dos ventriculos laterais. rior, a hiperintensidade inicialmente aparece no joelho do
Calcificação na SB comprometida é comum (Fig. 31-12). CC (não no esplênio) e segue para a SB dos lobos frontais
Uma TC sem contraste pode mostrar realce ao redor da (Fig. 31-14). Padrões incomuns já descritos incluem doença
SB hipodensa central. unilateral, doença com lesões bioccipitais e bifrontais, além
Achados na RM. O padrão com predomínio posterior da variante que envolve somente as cápsulas internas.
é visto em 80% dos pacientes com ALD-X (Fig. 31-11). O Os achados de imagens em pacientes com AMN va
achado mais precoce é a hiperintensidade em T2/FLA1R riam dos achados naqueles pacientes com ALD-X clássi
na região mediana do esplênio do CC (Fig. 31-13). Com ca. Os hemisférios cerebrais são relativamente poupados,
a progressão da doença, a hiperintensidade estende-se de com envolvimento predominante do cerebelo, dos tratos
posterior para anterior e do centro para a periferia. A SB corticospinais e da medula espinal (Fíg. 31-15). O realce
peritrigonal, os tratos corticospinais, o fórnice, as fibras costuma estar ausente.
876 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
31-14 Imagem de um paciente com ALD variante mostrando lesões 31-15 Lesões simétricas na 56 cerebeiar, na ponte lateral, em ambos
confluentes simétricas e frontais ES poupando a SB parieto-occipital. os nervos cranianos (NC) V, nos pedúnculos cerebelares superiores, nas
Observe o envolvimento das cápsulas internas, dos pedúnculos cere cápsulas internas El são vistos em uma mulher de 33 anos com AMN.
brais BI. Observe o realce periférico das lesões cerebelares ÍS.
31-18 OSBE em um menino de 5 anos, originalmente diagnosticado 31-19 Leucoencefalopatia de Cree (agora conhecida como uma va
com LDM. Observe as lesões simétricas periventriculares, poupando as riante grave da DSBE) em uma criança com 8 meses mostrando falta
fibras em U, com formações de cistos precocemente B9. (Cortesia de S. quase completa de mielinização.
Harder, MD.)
31-20 Uma menina de 13 anos com íenilcetonúria, dislúrbio cognitivo 31-21 TC sem contraste em um menino de 13 anos com doença do
discreto. A hiperintensidade na SB periventricular B não mostra realce, xarope de bordo mostrando edema B em mesencéfalo dorsal e SB ce-
mas mostra restrição na difusão. rebelar, pedúncuios cerebrais, cápsulas internas, hemisférios.
Etiologia. a DSBE é um distúrbio autossômico recessivo Cerca de 15% dos casos de DSBE ocorrem em ado
causado por uma mutação no gene elF2B, o qual tem im lescentes e em adultos. A idade média da DSBE de início
portante papel na iniciação da translação do RNA mensa tardio é de 30 anos. Ela costuma se apresentar com distúr
geiro para proteína, principalmente após sua exposição a bios de aprendizado, com um déficit cognitivo insidioso e
um estresse fisiológico (p. ex., calor, trauma, infecção). prolongado. Uma deterioração neurológica rápida induzi
Isto resulta em uma reciclagem deficiente da proteína e da por estresse com morte é comum.
em um acúmulo intracelular de proteínas desnaturadas.
Imagem. Hipointensidades em TI extensas e confluentes
Patologia. A SB frontoparietal profunda é a mais gra na SB com hiperintensidade em T2/FLA1R são típicas. A
vemente afetada, com um envolvimento relativamente doença inicialmente é periventricular, mas depois se es
menor dos lobos temporais. Os núcleos da base, o CC, a palha, envolvendo as fibras arqueadas subcorticais. Com
comissura anterior e as cápsulas internas são caracteristi- o tempo, a SB afetada fica rarefeita. Focos de cavitação
camente poupados. A aparência macroscópica da SB com com intensidade de sinal semelhante ao líquido cerebros
prometida varia de uma coloração acinzentada gelatinosa pinal (LCS) podem se desenvolver (Fig. 31-18). A perda
a áreas de degeneração cística com cavitações francas. difusa do volume com o aumento dos ventrículos de dois
A DSBE afeta predominantemente oligodendrócitos sulcos é vista em estudos seriados. A DSBE não apresenta
e astrócitos, com relativa preservação dos neurônios. Os impregnação pelo contraste.
achados microscópicos incluem palidez da mielina, afí- Redução da difusidade na SB de aparência normal
lamcnto da bainha de mielina, vacuolização e alterações pode ser um marcador inicial de degeneração cerebral na
císticas. O aumento paradoxal dos oligodendrócitos DSBE. Redução de NAA, Cho e Cr com mioinositol nor
pode ser visto em algumas áreas, com marcada perda mal é vista na ERM e reflete a degeneração inicial da SB
em outras. sem gliose reativa.
Aspectos clínicos. A DSBE clássica apresenta-se em crian Diagnóstico diferencial. A DSBE não é a única leucoence-
ças de 2 a 5 anos. O desenvolvimento inicialmente é nor falopatia que causa "desaparecimento" ou (evanescência)
mal, mas em seguida há comprometimento motor pro da SB cerebral. A doença de Alexander e as encefalopatias
gressivo e cognitivo com sinais cerebelares e piramidais. mitocondriais podem estar associadas com a rarefaçâo da
A morte durante a adolescência é típica. SB e a degeneração cística. A doença de Alexander apre
A leucoencefalopatía de Cree é uma forma grave e senta-se com macrocefalia. Cistos frontais na SB podem
rapidamente progressiva de DSBE que afeta crianças en ocorrer no estágio final da doença. Cerca de 10% das en
tre as idades de 3 e 9 meses, sendo invariavelmente fatal cefalopatias mitocondriais afetam predominantemente a
aos 21 meses (Fig. 31-19). SB e podem formar cavitações.
880 Distúrbios tóxicos, metabòlicos, degenerativos e do LCS
.
Doenças metabólicas hereditárias 881
A LCG (ou doença de Krabbe) pode lembrar uma regiões frontais e peritrigonais (Fig. 31-20). As fibras ar-
DSBE grave clinicamente, mas os achados de imagem queadas subcorticais periféricas costumam ser poupadas.
com calcificações nos núcleos da base/tálamos e os "ha A PKU não apresenta impregnação pelo contraste endo-
los" cerebelares ajudam a diferenciar a LCG da DSBE. venoso. Uma discreta restrição na difusão pode estar pre
sente na difusão. A ERM em geral mostra um pico de Phe
Fenilcetonúria que ressoa a 7,37 ppm.
A fenilcetonúria (PKU, de phenylketonuria) é o erro do
metabolismo do aminoácido mais comum, sendo causada Doença do xarope de bordo
pela mutação no gene da fenilalanina-hidroxilase (PAH, A doença do xarope de bordo (DXB), também conhecida
de phenylalanine hydroxylase), o qual é mapeado no cro como encefalopatia da leucina, é uma doença autossômica
mossomo 12q24.1. Os níveis elevados de fenilalanina recessiva do metabolismo dos aminoácidos de cadeia ra
(Phe) são tóxicos para o cérebro em desenvolvimento. mificada. A redução da atividade do complexo desidroge-
No passado, a PKU era diagnosticada pela presença da nase a-cetoácido de cadeia ramificada resulta no aumento
hiperfenilalaninemia e pela "urina fétida". A maior parte dos dos níveis cerebrais de leucina e de outros melabólitos
casos de PKU agora é diagnosticada por programas de ras- leucotóxicos. Consequentemente, esses metabólitos indu
treamento nos recém-nascidos. A PKU não tratada causa um zem um edema ciiotóxico ou intramielínico.
grave retardo mental e atraso no desenvolvimento global. O Os recém-nascidos com DXB clássica inicialmente
monitoramento da dieta controla a progressão da doença, e são normais. Os sintomas costumam se desenvolver den
pacientes que são tratados precocemente podem desenvol tro de alguns dias após o nascimento e incluem dificulda
ver apenas um comprometimento cognitivo mínimo. de de amamentação, letargia, vômitos e convulsões. Em
Os estudos de imagem mostram hiperintensidades alguns casos graves, o cheiro da urina assemelha-se ao do
em T2/FLAIR na SB periventricular, particularmente nas xarope de bordo ou ao de açúcar queimado.
31-23A T2 axial em um
menino de 4 anos com HHci e
uma história de ociusão de seio
venoso quando recém-nascido
mostrando uma atrofia cerebeiar
generalizada.
31-23B Uma T2 coronal no
mesmo paciente mostrando atro
fia, hiperintensidades esparsas
na SB dos lobos temporais B
e um foco de desmielinizaçâo
perivascular B3.
31-24A T2 axial em um me
nino de 10 anos com distrofia
muscular congênita e com defi
ciência de merosina mostrando
uma hiperintensidade confluente
na 56 periventricular ES. As
fibras arqueadas subcorticais
estão poupadas S, assim como
A- - ; -. H
occEa.
31-24B Corte coronal em T2
no mesmo paciente mostrando
i a hiperintensidade confluente na
56 profunda ES. O CC ES e a
58 subcortical BI estão preser
vados. Nenhuma malformação
H t ^ / cortical é vista.
882 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
31-28A T2 axial em uma menina de 3 anos com síndrome do4H 31-288 T2 coronal na mesma paciente mostrando que a ausência da
mostrando que a maior parte da SB hemisférica é hiperintensa. A hipoín- mielinização também envolve as fibras subcorticais em U B. A acentu
tensidade em T2 nos tratos ópticos B e no segmento posterior das ada atrofia cerebelar precoce B é característica da síndrome do 4H,
cápsulas internas tS é característica.
interna e as fibras subcorticais em U costumam ser poupa Patologia. Patologia macroscópica mostra um cérebro
dos (FIg. 31-24). edemaciado com múltiplos cistos subcorticais de tama
nhos variados (Fig. 31-25). Os núcleos da base são pou
Predomínio da substância branca subcortical pados. Nos poucos casos de LMCS com hisiopaíologia
As DMHs que inicial ou predominantemente afetam a SB relatados, uma extensa vacuolização é vista nas camadas
subcortical são muito menos comuns do que aquelas com externas da bainha de mielina, resultando na aparência
envolvimento da SB profunda periventricular. A DMH edemaciada característica da SB na RM.
mais importante com envolvimento predominantemen Aspectos clínicos. A LMCS é clinicamente diferente das ou
te da SB subcortical é a leucodistrofía megaloencefálica tras leucoencefalopatias por sua típica deterioração neuro
com cistos subcorticais.
lógica de curso lento. A macrocefalia de início infantil é
característica, mas a deterioração neurológica em geral é
Leucodistrofía megaloencefálica com cistos tardia. A idade do início dos sintomas varia muito, desde o
subcorticais nascimento até os 25 anos, com uma idade média de seis
Terminologia. A leucodistrofía megaloencefálica com cis meses.
tos subcorticais (LMCS), também conhecida como íeu- Os sinais piramidais e cerebelares são comuns. Cri
coencefalopatia megaloencefálica vacuolizante, é um ses convulsivas são variáveis. Enquanto a distribuição da
distúrbio autossômico recessivo raro com achados carac LMCS é global, muitos pacientes relatados apresentam
terísticos na RM e um curso clínico variável, porém leve. etnia indiana.
Etiologia. a LMCS é um distúrbio geneticamente heterogê Imagem. O diagnóstico da LMCS costuma ser estabelecido
neo. Cerca de 75% dos casos são causados pela mutação pela RM. A macrocefalia com hiperintensidade difusa e
no gene MLCI. MLCl é uma proteína de membrana oligo- confluente na SB subcortical é típica. Os giros afetados
mérica localizada na junção astrócito-astrócito. Uma nova aparecem "aguados" e edemaciados (Fig. 31-27). Os nú
mutação descrita no gene HEPACAM ç{\xq codifica a pro cleos da base são poupados; o CC e a cápsula interna ge
teína GlialCAM, uma molécula de adesão celular hepática ralmente são normais. A SB cerebelar costuma ser normal
e glial semelhante à IgG, pode corresponder ao restante dos ou estar discretamente comprometida.
casos. Ambos os defeitos levam a uma troca anormal das Os cistos subcorticais característicos com sinal seme
células de junção. Os pacientes com mutação HEPACAM lhante ao LCS se desenvolvem nos lobos temporais ante
desenvolvem um espectro de anormalidades que variam de riores e depois aparecem nos lobos frontoparietals. Dife
uma macrocefalia benigna familiar a uma LMCS que é in- rentemente nas lesões na SB, os cistos são suprimidos por
distinguível daquela causada pela mutação no MLCL completo na FLAIR (Fig. 31-26). O número e o tamanho
Doenças metabólicas hereditárias 885
31-29A T2 axial em um menino de 6 meses com atraso do desen 31-29B O exame de controle no mesmo paciente aos 3 anos não
volvimento motor e uma circunlerência cefálica normal mostrando uma mostra mielinízação no intervalo. A análise genética mostrou uma muta
ausência quase completa da mielinízação, incluindo as libras subcorticais ção no PLP1, diagnóstico de doença de Pelizaeus-Merzbacher.
em u. Nesta idade, as cápsulas internas deveriam estar mielinizadas.
dos cistos podem aumentar com o tempo. A SB anormal e nização deficiente em dois exames de RM sucessivos obti
os cistos não apresentam impregnação em TI C+. dos com pelo menos seis meses de diferença (Fíg. 31-29).
A ERM mostra aumento discreto a moderado do O achado mais comum é uma discreta hiperintensidade
NAA e redução da relação NAA:Cr. em T2 na maior parte da SB cerebral hemisférica. Em alguns
Diagnóstico diferencial. A LMCS pode ser diferenciada das casos, a intensidade de sinal em TI pode ser quase normal.
outras DMHs com macrocrania. Os dois principais diag Seguindo a hipomielinização de etiologia desconhe
nósticos diferenciais são a doença de Canavan e a doença cida, a segunda doença hipomielinizante herdada mais co
mum é a síndrome do 4H. A síndrome hipomielinizante
de Alexander, ambas caracterizadas por um comprometi
m a i s c o n h e c i d a é a s í n d r o m e d e P e l i z a e u s - M e r z b a c h e r.
mento clínico muito maior. A doença de Canavan quase
Ambas são causadas pela mutação de um gene que co
sempre envolve os núcleos da base, não apresenta cistos difica a proteína 1 proteolipidica (PLPI, de proteolipid
subcorticais e demonstra um grande pico de NAA na ERM.
A doença de Alexander também envolve os núcleos pmtein /) mielínica.
da base, é predominantemente frontal, e em geral realça
após a administração endovenosa do contraste.
DOENÇAS HIPOMIELINIZANTES
Doenças hipomielinizantes Mais comuns
• Hipomielinização de causa desconhecida
Um tipo recentemente reconhecido de DMH rara é carac
• Síndrome do AH
terizado por atraso ou redução da mielinização da SB. Co
• Doença de Pelizaeus-Merzbacher
nhecidas como leucoencefalopatias hipomielinizantes. essas • Doença semelhante à Pelizaeus-Merzbacher
doenças heterogêneas exibem redução ou ausência da mie
Menos comuns
linização. As doenças /t/^omielinizantes se diferenciam das
outras doenças da SB que são caracterizadas por produção • Hipomielinização com catarata congênita
• Gangliosídose GM2
anormal de mielina (doenças í:/«mielinizantes) ou destruição
• Doença de Salla (siaíúrla)
da mielina (doenças c/evmieiinizantes). Em sua maioria, as
• Fucosidose
leucoencefalopatias hipomielinizantes são doenças de acú • Síndrome de Cockayne
mulo lisossomal. Embora algumas tenham sido identifica • Gangilosidose GM1
das e caracterizadas, aquelas de origem desconhecida cons • Hipomielinização com atrofia dos núcleos da base e
tituem a maior categoria dessas leucoencefalopatias. do cerebelo
O critério de imagem genericamente aceito para o diag
(continuo)
nóstico de hipomielinização é o padrão inalterado da mieli-
886 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
31-30 T2 (acima), GRE (gradienle-eco) (abaixo) em um pacienle com 31-31 Uma mulher de 19 anos com PKAN confirmada. Observe a in-
PKAN mostrando o sinal clássico (do olho do tigre) com focos hiperinten- tensa hipointensidade de GP BS). SN B e núcleo rubro ES e a falta do
SOS bilaterais B nos GPs mediais envoltos por uma intensa hipointen- sinal do "olho do tigre". A imagem em difusão é normal,
sidade
(SN). Ela é causada pela mutação do gene da pantotenato- Imagem. Os achados de imagem refletem a distribui
-quinase {PANK2) localizado no cromossomo 20p 12.2-13. ção anatômica do acúmulo excessivo de ferro. A T2 mos
Patologia. Macroscopicamente, a PKAN é caracteri tra uma intensa hipointensidade de sinal nos GPs e na SN.
zada por atrofia e uma coloração amarronzada do GP me Um pequeno foco de hiperintensidade central no aspecto
diai, da zona reticular da SN (Fig. 31-33) e, algumas ve mediai do GP muito hipointenso (ocorre o clássico sinal
zes, dos núcleos denteados. Os núcleos rubros geralmente do "olho do tigre") é causado por uma gliose tissular e
são poupados. Pigmentos granulates que contêm ferro, 11- vacuolização (Fig. 31-30).
pofuscina e neuromelanina acumulam-se em "esferoides" É importante notar que nem todos os casos de PKAN
axonais (axônios distendidos e edemaciados), neurônios. demonstram o sinal do "olho do tigre Um encurtamento
888 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
de T2 no GP com artefato de susceptibilidade magnética tias mitocondriais mostram hiperintensidade estriatal (não
em T2* (ORE, SWl [imagem ponderada em susceptibili hipointensidade). Elas também envolvem predominante
dade, de susceptibility weighted imaging^) em uma criança mente o núcleo caudado e o putame, não o GP mediai.
ou adulto jovem deve sugerir o diagnóstico de uma NBIA
- tanto PKAN como distrofia axonal infantil - mesmo na Neüroferritinopatia. Mutação na porção carboxiterminal
ausência do sinal do "olho do tigre" (Flg. 31-30). do gene da ferritina de cadeia leve {FTL) interfere na
As lesões na PKAN não apresentam realce em TI com habilidade de transporte do ferro. Uma redução ativa do
ferro é depositada nos neurônios, causando estresse oxi-
gadolínio, tampouco demonstram restrição da difusão, em
bora a DTI demonstre um significativo aumento da aniso- dativo com perda neuronal e gliose. O resultado é a neü
tropia fracionada tanto no GP quanto na SN. A ERM mos roferritinopatia. uma doença autossòmica dominante do
tra uma redução do pico de NAA e uma redução da relação adulto com uma idade média de início de 39 anos.
NAA:Cr compatível com perda neuroaxonal. O aumento O fenótipo clínico predominante da neüroferritino
do pico do mioinositol e da relação mI:Cr com o TE curto patia é um distúrbio extrapiramidal com movimentos
está presente, sugerindo proliferação glial reativa. coreiformes e distonia focai. Distúrbios cognitivos e psi
Diagnóstico diferencial. O depósito anormal de ferro quiátricos precoces estão ausentes, diferenciando a neüro
nos núcleos da base ocorre com PKAN, assim como com ferritinopatia da doença de Huntington.
outras NBIAs. Aceruloplasminemia e neuroferritino- Os achados de imagem mais precocemente deteclá-
patia são doenças de início adulto, ambas envolvendo o veis na neüroferritinopatia são a hipointensidade em T2*
córtex, que é preservado na PKAN. no GP e na SN. A hipointensidade em T2 no GP e na SN,
As alterações de sina! nos núcleos da base ocorrem em no núcleo rubro, no caudado, no putame, no tálamo, e no
inúmeras outras DMHs. Doença de Wilson, doença de córtex cerebral costuma ocorrer depois. Em estágios tar
Leigh, necrose estriatal bilateral infantil e encefalopa- dios, a gliose e a degeneração cística do GP mediai podem
31-33 Caso de necropsia de PKAN mostrando uma coloração amarron- 31-34 T2 axial, coronal em uma criança de 11 meses com deficiência
zada característica !ES causada por depósito de (erro na SN. (Cortesia de de creatine mostrando fiiperíntensidades simétricas nos CPs ES. A El^M
E. T. Hediey-Whyte, MD.) com TE longo mostra ausência do pico de Cr. Com suplementaçâo dietéti-
ca, uma ERM realizada três anos depois é completamente normal.
produzir um foco de hiperintensidade em T2 que apre A RM é muito útil no diagnóstico das NBlAs. Todas
senta uma aparência similar ao "olho do tigre" visto na as NBIAs demonstram uma deposição do ferro nos GPs,
PKAN (ver anteriormente). mas diferem nos outros achados associados. A distribui
ção da hipointensidade em T2 ou T2* pode ajudar a dife
Distrofia neuroaxonal infantil. Mutação na fosfolipase A2 renciar entre os subtipos de NBIAs (ver quadro a seguir).
{PLA2G6) causa dístrofía neuroaxonal infantil (DNl),
uma doença psicomotora grave caracterizada por hipoto-
nia progressiva, hiper-reflexia e tetraparesia. A idade mé HIPOINTENSIDADE EM 12'' NAS NBIAS
dia de apresentação é de 14 meses. A progressão da doença
PKAN
geralmente é rápida, com morte na idade média de 9 anos. • GP, SN, núcleos denteados
Os estudos de imagem nas crianças com DNI mos • Sinai do "olho do tigre" variável
t r a m u m a a t r o fi a c e r e b e l a r a c e n t u a d a e m c e r c a d e 9 5 % • Preservação do córtex
dos casos. A hiperintensidade em T2/FLA1R no cerebelo
DNl
secundária à gliose também é comum. Quase 50% dos ca • Atrofia cerebelar (75%)
sos demonstram deposição anormal de ferro com hipoin- • Hipointensidade em T2" em GP, SN (50%)
tensidade em T2 nos GPs e na SN. • Preservação do córtex
Aceruloplasminemia. Mutações homozigóticas do gene ce-
Neuroferritinopatía
ruloplasmina causam aceruloplasminemia, também co • Hipointensidade em 12" em GP, SN
nhecida como deficiência hereditária de ceruloplasmina. • Depois núcleos denteados/caudados, tálamos
A ceruloplasmina carreia mais de 95% de todo o cobre • Acometimento do córtex
no plasma e age como uma ferroxidase. tendo assim um
Aceruloplasminemia
importante papel na mobilização do ferro tissular. • GP, núcleo caudado, putame, tálamos
A aceruloplasminemia é uma doença de adultos de • Núcleo rubro, SN, núcleos denteados
meia-idade caracterizada pela tríade clínica de diabetes, • Acometimento do córtex cerebral, cerebelar
retinopatia e sintomas neurológicos (demência primá
ria, discinesia craniofacial e ataxia cerebelar). TI e T2*
Síndrome da deficiência de creatina
(GRE, SWI) demonstram uma intensa hipointensidade no
córtex cerebral e cerebelar. no GP, nos núcleos caudados, As slndromes da deficiência de creatina são doenças au-
no putame, nos tálamos, no núcleo rubro, na SN e nos nú tossòmicas recessivas. A creatina e a fosfatocreatina são
cleos denteados (Fig. 31-32). essenciais para o armazenamento e a transmissão da ener-
890 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LC5
gia ligada ao fosfato tanto no músculo quanto no cérebro. va hereditária crônica autossômica dominante com uma
Uma depleçâo grave de creatina causa hipotonia e atraso penetráncia completa. O defeito genético responsável
no desenvolvimento. Uma suplementação dietética pode ocorre no braço curto do cromossomo 4, que codifica a
reverter os sintomas parcial ou completamente; desse proteína huntingtina. O gene da huntingtina inclui um
modo, o diagnóstico é crucial para o manejo dos pacientes. segmento repetitivo de CAG trinucleotídeo de compri
A RM mostra hiperintensidades em T2/FLA1R simé mento variável.
tricas e bilaterais nos GPs. A ERM é a chave para o diag A presença de mais de 38 repetições confirma o diag
nóstico e mostra uma redução ou ausência do pico de Cr nóstico de DH. Em geral, existe um aumento progressivo
nos estudos com TE longo (FIg. 31-34). do tamanho da seqüência repetida de CAG com gerações
sucessivas.
Doença de Huntington
Patologia. Agregados da proteína huntingtina acumulam-
Até recentemente, acreditava-se que a doença de Hunting
-se nos terminais axônicos, o que eventualmente causa
ton (DH) era regionalmente seletiva, afetando somente a
a morte de neurônios espinhosos médios. A necropsia
SC (mais especificamente os núcleos caudado e putame).
mostra atrofia cerebral generalizada com uma média de
Embora as técnicas de imagem avançadas, como a DTl,
30% de redução do peso cerebral. Tanto o córtex quanto
demonstrem que a SB também é afetada, os aspectos de
a SB hemisférica são afetados. A anormalidade macros
imagem dominantes sao alterações nos núcleos cinzentos
cópica mais característica é a perda volumétrica com ra-
profundos. Portanto, a DH foi incluída nesta seção com
outras DMHs que preferencialmente envolvem o estriado. refação de núcleos caudados, putame e GP (Figs. 31-35
e 31-36).
Terminologia e etiologia. A DH, também conhecida como Microscopicamente, a DH mostra uma perda neuro
coréia de Huntington, é uma doença neurodegenerati- nal com inclusões nucleares da huntingtina, gliose astrocí-
31-43A T2 axtal em uma menina de 7 anos com SR mostrando a dl- 31 -436 T2 coronal na mesma paciente mostrando afilamento cortical
latação dos cornos frontais e uma importante redução volumétrica com na região frontal posterior E3 e nos lobos temporais Uma maior
predominio frontotemporal. A SB hemisférica parece normal. perda volumétrica com alargamento da cisterna suprasselar e das fissu
ras silvianas está presente.
em geral é afetada na doença de Leigh, enquanto o caudado ou principalmente a SC cortical são raras. Duas DMHs
e o tálamo são comumente menos envolvidos. A ERM de clássicas que envolvem o córtex serão rapidamente discu
monstra elevação dos níveis de lactato nos núcleos da base. tidas aqui: a lipofuscinosc ceroide neuronal e a síndro
De maneira semelhante, a PKAN pode se parecer à me de Rett.
DW. A DW predominantemente afeta os putames e os nú
cleos caudados em vez dos GPs mediais e não demonstra Lipofusclnose ceroide neuronal
o sinal do "olho do tigre" geralmente visto na PICAN. As lipofuscinoses ceroides neuronais (LCNs) são uma
família heterogênea de doenças neurodegenerativas her
Doença de Menkes. A doença de Menkes - também conhe
cida como kinky hair syndrome - é uma doença ligada ao dadas caracterizadas pelo acúmulo de inclusões ceroides
- lipopigmentos nos neurônios. Vários tipos diferentes já
X. multissistêmica e letal do metabolismo do cobre cau
foram descritos. Anteriormente, as LCNs eram classifica
sada pela mutação do gene ATP7A. A doença de Menkes
clássica grave é caracterizada por neurodegeneração pro das, de acordo com a idade de início, em infantil, infantil
tardia, juvenil (i.e., doença de Batten) e forma adulta (p.
gressiva, anormalidades do tecido conectivo, pili torti (ca
belo "encarapinhado") e morte no inicio da infância. Ela ex., doença de Kufs). A mutação genética específica que
causa a maioria dessas formas foi identificada, e as LCNs
corresponde a 90 a 95% dos casos.
A imagem na doença de Menkes mostra atrofia ce agora são classificadas de acordo com os oito genes afe
tados {CLNl-8).
rebral grave com coleções líquidas subdurais e uma
A LCN é predominantemente uma doença da infân
tortiiosidade excessiva das artérias intracranianas (lem
brar: "cabelos encarapinhados, vasos encarapinhados") cia, com uma incidência estimada de 1:12.500. O diag
nóstico é estabelecido por achados clinicopatológicos,
(Rg. 31-42).
análises enzimáticas e testes genéticos moleculares. Estu
Um fenótipo mais discreto, a síndrome do corno oc
dos ultraestruturais - geralmente de espécimes de biópsia
cipital (SCO), também chamada de Ehlers-Danlos tipo
de pele - são usados para confirmar a presença e a nature
9, é caracterizada por manifestações do tecido conecti
za do material de acúmulo lisossomal (i.e., lipopigmentos
vo (a maioria anormalidades esqueléticas) e uma grande
sobrevida. específicos).
O achado patológico macroscópico nas LCNs infan
tis é uma atrofia acentuada global sem predomínio lobar
Doenças metabólicos hereditárias que afetam específico. Todas as LCNs demonstram achados histopa-
principalmente o córtex tológicos semelhantes, ou seja, acúmulo anormal de inclu
Em comparação com as DMHs que comprometem os nú sões PAS-positivas e Sudan black-positivas nos neurônios
cleos profundos de SC, as doenças que afetam exclusiva balonados. As camadas corticais III, V e VI são as mais
Doenças metabólicas hereditárias 895
Síndrome de Rett
A síndrome de Rett (SR) é uma doença progressiva neuro-
degenerativa que quase sempre acomete meninas. A maio
ria dos casos é esporádica, e nenhum fator de risco foi
identificado. A mutação no gene da proteína 2 de ligação
metil-CpG {MECP2) é identificada em 80% dos casos.
A SR ocorre em 1:20.000 meninas. Os indivíduos
31-44 MPS com múltiplos EPVs S! radialmente
afetados costumam ser normais ao nascimento, não apre orientados na SB. Observe o predomínio posterior, o
sentando qualquer anormalidade. O crescimento cefálico envolvimento do CC ÍS.
Mucopolissacarídoses
Terminologia e etiologia
As mucopolissacarídoses (MPSs) são doenças de acúmu
31-46 MPS 1HS (Hurler-Scheie) com coloração na
lo lisossomal caracterizadas por degradação incompleta e mielina mostrando alargamento dos EPVs ^3 envoltos
acúmulo progressivo de glicosaminoglicanas (GAGs) tó por mucopolissacarídeos não degradados. (Cortesia de
xicas em vários órgãos. As MPSs já foram agrupadas em P. Shannon, MD.)
896 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
31-47 TC sem contraste em doença de Hunter mostrando hipo- 31-48 12 sagilai, coronal e axial em um menino de 2 anos com
densidade na SB B com lesões focais nos núcleos da base S. 12 doença de Hunter mostrando múltiplos EPVs alargados B. Observe o
mostrando alargamento dos EPVs no CC B e doença confluente na SB predomínio posterior e o envolvimento do CC. As lesões são suprimidas
IS. O alargamento dos EPVs é suprimido na FIAIR SI; a doença da SB na FIjMR
permanece hiperintensa.
uma entidade única e denominadas "gargolismo" por sua lia e disostoses esqueléticas a espessamento da dura, face
face característica. grosseira e macrocrania. A idade de apresentação varia,
As MPSs são agora designadas como MPSs 1 a 9. assim como a apresentação por sexo e o prognóstico.
Cada uma apresenta uma deficiência enzimática especí A doença de Hurler (MPS IH) e a doença de Hun
fica que causa a inabilidade de degradar a GAG. A MPS ter (MPS 2) são as duas formas mais comuns de MPS.
IH (doença de Hurler) e a MPS IHS (doença de Hurler- Os pacientes com Hurler são normais ao nascimento, mas
-Scheie) apresentam deficiência de a-L-iduronidase. A desenvolvem precocemente sintomas do SNC, incluindo
MPS 2 (doença de Hunter) é caracterizada pela deficiên atraso do desenvolvimento e retardo mental. A doença de
cia de iduronato-2-sulfatase. As outras MPSs incluem a Hurler não tratada costuma resultar em morte aos 10 anos.
MPS 3A (doença de Sanfilippo), a MPS 4A (doença de A MPS 2 (doença de Hunter) é um distúrbio ligado ao X
Morquio) e a MPS 6 (doença de Maroteaux-Lamy). e é vista somente em meninos. Essa doença é caracterizada
por um envolvimento multissistêmico progressivo de SNC,
Patologia articulações, ossos, coração, pele. fígado, olhos e outros ór
A autofagia é um processo totalmente regulado na via li- gãos. Os pacientes geralmente sobrevivem até o meio de sua
sossomal que degrada proteínas e lesiona organelas celu adolescência, mas morrem devido a doenças cardíacas.
lares. A autofagia anormal combinada com a degradação
incompleta e o acúmulo progressivo das GAGs é a patolo Imagem
gia que leva à MPS. Os achados de imagem típicos da MPS são ilustrados nas
Dois aspectos macroscópicos das MPSs são o espes- doenças de Hurler (MPS 1H) e Hunter (MPS 2). Os acha
samento das meninges e a dilatação dos espaços perivas- dos mais importantes dessas doenças são macrocefalia.
culares (EPVs). Os EPVs alargados dão uma aparência EPVs alargados e paquimeningopatia.
cribriforme ao cérebro tanto na patologia quanto na ima
Macrocefalia. A TC sem contraste mostra um aumento
gem (Figs. 31-44 e 31-45).
encefálico, geralmente com sutura nietópica em "bico" e
Microscopicamente, as MPSs são caracterizadas pela uma configuração escafocefálica.
dilatação dos EPVs envoltos por GAG não degradada Hidrocefalia progressiva e atrofia podem estar pre
(Flg. 31-46). sentes. A RM sagital também demonstra macrocefalia
Aspectos clínicos com desproporção craniofacial.
Todas as MPSs têm fenótipos clínicos diferentes. Essas EPVs ALARGADOS. Uma aparência cribrifonne na SB cere
anormalidades sistêmicas variam de hepatoesplenomega- bral posterior e no CC é característica e é causada por
Doenças melabólicas hereditárias 897
31-49 T2 sagital em um paciente com a MPS 1H mostrando estreita 31 -50 Caso de autópsia de MPS 1H mostrando espessamento durai
mento do forame magno, com compressão medular. A estenose da JCV evidente SI que causa estreitamento acentuado do forame magno
é causada pela combinação de um arco posterior de Cl EE, displasia do (S. (Cortesia dos arquivos da AFIP.)
deltoide e ligamento espessado
inúmeros EPVs dilatados (Fig. 31-45). Embora algumas qualquer idade. Embora possam ser vistos em crianças e
vezes chamados de "buracos de Hurler", esses EPVs alar até mesmo em bebês, os EPVs proeminentes são mais co
gados são típicos tanto da doença de Hurler quanto da de muns em pacientes de meia-idade e em idosos. Macroce-
Hunter, sendo muito menos comuns nas outras MPSs. falia não está presente nessa variante normal.
A TC sem contraste pode mostrar hipodensidades EPVs dilatados com um predomínio frontal são os
multifocais semelhantes ao LCS na SB e nos núcleos da achados da sindrome velocardiofacial. As artérias ca
base (Fig. 31-47). rótidas deslocadas na faringe estão presentes, um achado
A T2 mostra hiperintensidades semelhantes ao LCS não associado com a MPS.
nos EPVs alargados. A SB ao redor pode mostrar hi
perintensidades confluentes ou esparsas. Os EPVs são Doença de Canavan
completamente suprimidos na FLAIR (Fig. 31-48). Um A doença de Canavan (DC) é neurodegenerativa autossô-
discreto "halo" de hiperintensidade costuma envolver as mica recessiva fatal e atualmente não apresenta um tra
lesões.
tamento efetivo. Ela é a única doença identificada gene
Os EPVs alargados não apresentam artefato de sus- ticamente causada pela deficiência de um metabólito - o
ceptibilidade magnética em T2* e não realçam após inje NAA - que é produzida exclusivamente no cérebro.
ção endovenosa do contraste.
Paquimeninggpatia. As meninges, em especial aquelas ao Terminologia
redor da junção craniovertebral (JCV), costumam ser es A DC também é conhecida como leucodistrofía espon-
pessadas e aparecem muito hipointensas nas imagens pon giforme, degeneração espongiótica do SNC, deficiência
deradas em T2 (Fig. 31-49). Em vários casos, as meninges de aspartoaciclase e doença de Canavan-van Bogaert-
espessadas podem comprimir o bulbo ou a medula espinal -Bertrand.
cervical superior (Fig. 31-50). Displasia do odontoide e
um arco posterior de Cl curto - comum nas MPSs - po Etiologia
dem exacerbar a estenose da JCV, causando uma mielopa- O NAA é o segundo aminoácido mais abundante no cére
tia progressiva. Uma giba lombar com o corpo vertebral bro de um mamífero. Os níveis de NAA no cérebro nor
LI em "bico" é comum na doença de Hurler. malmente são mantidos dentro de uma variação altamente
regulada. A aspartoaciclase - a enzima responsável pela
Diagnóstico diferencial metabolização do NAA - é um marcador da maturação
o diagnóstico diferencial da MPS é limitado. EPVs proe dos oligodendrócitos. A mutação do gene aspA causa acú
minentes podem ser um achado normal em pacientes de mulo anormal de NAA no cérebro e resulta em DC.
898 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
31-S1A 11 sagital em um me
nino de 2 anos com DC mostran
do macroenceíalia com uma evi
dente desproporção craniofacial.
Perda voiumétrica generalizada
moderada está presente em
Iodos os hemisférios cerebrais e
no cerebeio.
31 -51B T2 axial mostrando
uma hiperintensidade difusa na
SB por todo o encéfalo, o que
indica ausência completa da mie
linização. Os GPs B são hipe-
rintensos e estão tão reduzidos e
atróficos que quase desaparecem
por completo.
Alexander causam macrocefalia, mas a elevação do pico A DALjuvenil ocorre entre 2 e 12 anos e é caracteriza
de NAA na ERM diferencia as duas entidades. Além dis da por sinais bulbares e cerebelares. Os pacientes com mais
so, a doença de Alexander apresenta impregnação pelo de 12 anos apresentam uma variedade de sinais e sintomas,
contraste, enquanto a DC não. incluindo ataxia, sinais bulbares e declínio cognitivo. Mio-
A Icucodistrofia megaloenccfálíca com cistos subcor- clono palatino ocorre em 40% dos casos de DAL adulta.
tlcais envolve as fibras arqueadas subconicais, assim como A progressão da doença é variável. Os pacientes com
na DC, mas os núcleos da base não são comprometidos. A DAL de início adulto têm um curso mais lento, mais pro
DPM demonstra uma falta quase total de mielinização, mas longado. Embora os achados de imagem possam sugerir a
não causa macrocefalia e não afeta os núcleos da base. doença, o diagnóstico de DAL é confirmado pelo aumento
dos níveis da GFAP no LCS ou pela análise do gene GFAP.
Doença de Alexander
Imagem
Terminologia A TC sem contraste nas crianças com DAL mostra um
A doença de Alexander (DAL) é também conhecida como
aumento da cabeça com hipodensidades simétricas na SB
leucodistrofía fibrinoide, um termo inapropriado, uma vez
nos lobos frontais que se estendem posteriormente para
que a doença envolve tanto a SB quanto a SC. os núcleos caudados e as cápsulas interna e externa (Fig.
31-52). A DAL é uma das poucas DMHs que demonstram
Etloiogla realce após a injeção endovenosa do contraste. Um realce
Os pacientes com DAL apresentam uma mutação de novo
periventricular bifrontal intenso pode ser visto nas TCs
heterozigota dominante do gene GFAP, que codifica a com contraste no início da doença.
proteína glial fíbrilar ácida, uma proteína de filamento in A RM mostra hipointensidade em TI e hiperintensi-
termediário expressa apenas nos astrócitos. Os pais dos dade em T2/FLAIR na SB frontal, nos núcleos caudados
pacientes com DAL de início no recém-nascido ou infan e no putame anterior. Embora a DAL infantil envolva pre-
til são neurologicamente normais. cocemente as fibras subcorticais em U, a SB periventri
As mutações no causam precipitação e acúmu cular é mais gravemente afetada na maioria das formas
lo dos agregados mutantes do GFAP, que começam duran
juvenil e adulta. O achado clássico é um anel hipointenso
te o desenvolvimento fetal. em TI e hiperintenso em T2 ao redor dos cornos fron
tais. A FLAIR pode mostrar encefalomalacia cística na SB
Patologia frontal nos casos mais graves e prolongados.
o cérebro dos recém-nascidos com DAL apresenta um Um achado único na DAL é um aumento na cabeça
aumento acentuado da densidade astrocítica e é macros- dos núcleos caudados e fómices, que aparecem edemacia-
copicamente aumentado. dos e hiperintensos. Os tálamos, os GPs e o cerebelo são
Uma importante perda da mielina nos hemisférios, no menos comumente afetados.
tronco encefálico, no cerebelo e na medula espinal faz a Ao contrário da maioria das DMHs, a DAL pode de
SB - em especial nos lobos frontais - parecer muito páli monstrar um realce moderado a intenso na TI C+. Anéis
da. Em vários casos, a SB aparece parcialmente ou quase de realce intenso podem ser vistos ao redor das superfícies
inteiramente cística. As fibras arqueadas subcorticais são dos núcleos caudados edemaciados e da SB comprometi
relativamente preservadas. Um afilamenlo cortical com da. Nas formas juvenil e adulta, o envolvimento cerebelar
atrofia dos núcleos da base e dos tálamos é comum. pode ser evidente e pode mimetizar neoplasias.
O achado histopatológico típico da DAL é a presença A ERM mostra redução do NAA, elevação do mioi-
de um grande número de fibras de Rosenthal (FRos) nos nositol e aumento variável da colina e do lactato. A ima
astrócitos. As FRos são corpos de inclusão citoplásmicos gem em difusão mostra uma difusidade normal a aumen
e eosinofílicos ovoides ou em forma de haste. A intensa tada na SB afetada.
falta de quase toda a mielina na DAL é considerada um
fenômeno secundário que resulta de uma interrupção da Diagnóstico diferencial
mielinização derivada do astrócito. O diagnóstico diferencial mais importante na DAL são as
outras leucodislrofías hereditárias com macrocefalia, in
Aspectos clínicos cluindo principalmente a DC e as MPSs. Enquanto ambas
A DAL é rara, correspondendo a apenas 1 a 2% das leuco- as condições, DAL e DC, mostram uma falta completa
distrofias herdadas na criança. da mielinização com hiperintensidade em T2/FLAIR na
Três formas clínicas são reconhecidas: infantil, ju SB, a predileção da DAL pelos lobos frontais, pela cabeça
venil e adulta. Na forma infantil, que é a mais comum, dos núcleos caudados e pelo realce por contraste ajuda a
pacientes com menos de dois anos se apresentam com diferenciá-la da DC.
megalencefalia, retardo psicomotor progressivo e crises As MPSs, em especial as doenças de Hurler e de Hun
convulsivas. Espasticidade e tetraplegia eventualmente ter, apresentam uma aparência "cribriforme" da SB e do
podem se desenvolver. CC causada pelo alargamento dos EPVs. O envolvimen-
900 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
Comum
DIAGNOSTICO DIFERENCIAL:
• Variante do normal
• Macrocrania familiar normal
NiV
• Macrocrania benigna da infância
Menos comum
• Trauma não acidental com hematomas subcorticais
31-53 Autópsia coronal do ESZ mostrando giros anor
mais com paquigiria, polimicrogiria B e redução da
Raro, mas importante
• Doenças metabóíicas hereditárias sulcação. (Cortesia dos arquivos da AFIP.)
o Doença de Canavan
o Doença de Alexander
o Mucopolissacaridoses
o leucodistrofia megaloencefálica com cistos
subcorticais
o Acidúria glutárica tipo 1
ÉS
Doenças da biogênese peroxissomal
w -
Os peroxissomos são pequenas organelas com uma mem
brana única que contêm mais de 50 enzimas necessárias
para o crescimento, o desenvolvimento e o metabolismo
celular normais. A biossíntese dos plasmalógenos e a 3-
-oxidação dos ácidos graxos de cadeia longa são algu
mas das funções especiais dos peroxissomos. Os defeitos
genéticos que afetam tanto a deformação peroxissomal
quanto sua função enzimática causam um grupo de doen 31-54A T2 coronal em um recém-nascido com ESZ
ças chamadas de doenças peroxissomais. mostrando cistos germinoliticos pequenos B no sulco
caudotalâmico e áreas de polimicrogiria B.
Terminologia
Existem dois tipos principais de doenças peroxissomais.
O tipo mais comum é causado pela deficiência de uma
única pivteína em um peroxissomo intacto (morfologica-
mente normal). Este grupo inclui, entre outras condições,
a ALD-X, a AMN e a doença de Refsum clássica (adulto).
A ALD e a AMN afetam a SB periventricular e foram dis
cutidas neste capítulo com outras doenças que apresentam
esse padrão de imagem.
O segundo grupo mais comum das doenças pero
xissomais, aquelas causadas por uma formação anormal
dos peroxissomos, será discutido a seguir. As doenças nas
quais as organelas peroxissomais não se formam normal
mente são chamadas de doenças da biogênese peroxisso
mal (DBPs). As DBPs costumam ser caracterizadas por
múltiplos (não únicos) defeitos enzimáticos.
Quatro grandes DBPs são conhecidas: síndrome de 31 -548 12 axiai no mesmo paciente mostrando mi-
Zellweger (SZ, também chamada de doença hepatorre- crogiria difusa SI e focos de hiperintensidade anormal
nal), ALD neonatal, síndrome de Refsum infantil e acon- S na SB.
902 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
dropiasia punctata rizomélica clássica. As três primeiras ronal isolados (p. ex., polimicrogiria perisilviana bilateral)
doenças são agrupadas e referidas como espectro da sín- ocorrem sem outros estigmas clínicos ou de imagem do ESZ.
dromc de Zellweger (ESZ).
Doenças mitocondriais (doenças da cadeia
Etiologia respiratória)
As DBPs são doenças autossômicas recessivas causadas As mitocôndrias são organelas celulares que são as "usi
pela mutação de um dos 13 grupos de genes peroxisso- nas" responsáveis pela produção de energia. Cinco com
mais {PEX). A forma mais grave é o ESZ, responsável por plexos são embutidos na membrana mitocondrial interna
cerca de 80% de todos os casos e caracterizado por uma e são responsáveis pela fosforilação oxidativa (OXPHOS,
ausência quase completa de peroxissomos. de oxidative phosphorylation)', defeitos em qualquer um
desses complexos resultam em uma OXPHOS defeituosa
Patologia e em uma produção deficiente de ATP.
As DBPs são caracterizadas patologicamente por dano à As doenças mitocondriais são causadas pela mutação
matriz germinativa, cistos germinolíticos subependimá- do DNA mitocondrial (mtDNA) e estão entre as causas
rios, migração neuronal desordenada e hipomielinização. mais comuns de DMHs. Embora quase todos os órgãos e
Os achados macroscópicos mais comuns são anorma tecidos do corpo possam ser afetados, o SNC e o músculo
lidades cerebrais neocorticais e cerebelares. Atrofia cere esquelético são especialmente vulneráveis, pois deman
bral e giros anormais - mais freqüentemente paquigiria ou dam maior energia.
polimicrogiria - são comuns em pacientes com ESZ grave Quatro grandes síndromes encefalomiopáticas têm
{Fig. 31-53). Um defeito nos peroxissomos das células sido descritas e serão consideradas aqui: doença de Leigh.
oligodendrogliais também causa formação e manutenção SKS, MELAS e MERRF. Serão consideradas ainda as aci
anormal da SB. durias glutáricas tipos 1 e 2, também causadas por anorma
lidades na enzima mediada por mtDNA. Outras doenças
Aspectos clínicos mitocondriais - síndrome de Alpers. miopatia mitocondrial
As DBPs são menos comuns que muitas outras DMHs. A infantil e neuropatia óptica hereditária de Leber (NOHL) -
incidência estimada é de 1:20.000 a 100.000 nascidos vivos. são raras e não serão discutidas neste texto.
Em contraste com a ALD, não há predileção por gênero. As doenças mitocondriais apresentam uma sobreposi
AS DBPs são clinicamente diferentes, mas achados ção significante e nem sempre são facilmente diferencia
freqüentes incluem face dismórfica, com grande fontanela das umas das outras.
e suturas, testa alta e base do nariz alargada. Disfunção
hepatointestinal, hipotonia ("bebê mole"), convulsões, re- Doença de Leigh
tinite pigmentosa e retardo psicomotor são comuns. A doença de Leigh (DL), também conhecida como ence-
O curso da doença de diferentes DBPs varia conside falopatia necrosante aguda, é causada pela mutação que
ravelmente. Os neonates afetados pela forma mais grave c o d i fi c a a e n z i m a O X P H O S .
da SZ em geral morrem com 6 meses de idade, enquanto Patologia. A patologia macroscópica da DL demonstra
aqueles afetados pelas formas mais discretas da doença focos marrom-acinzentados gelatinosos ou cavidades nos
podem sobreviver por mais de 20 anos. núcleos da base, no tronco da base, nos núcleos dentea-
dos, nos tálamos e na medula espinal, com variada dege-
Imagem neração espongiforme da SB e desmieíinizaçào.
Os achados de imagem nas DBPs são variáveis, mas os as
Aspectos clínicos. As manifestações clínicas da DL são
pectos mais comuns são distúrbios da migração neuronal e
muito variáveis. A maioria dos pacientes com DL apre
mielinização anormal. O ESZ é caracterizado por microgiria
e paquigiria, geralmente com lesões perisilvianas simétricas senta-se na infancia com déficit de crescimento, hipoto
bilaterais. A SB hipomielinizadaé vista como hiperintensida- nia central, regressão do desenvolvimento, ataxia, dis
des confluentes em T2/FLAIR na SB. Cistos germinolíticos função bulbar e oftalmoplegia. Os níveis de lactato no
sangue e no LCS são altos.
subependimais (caudotalâmicos) são achados comuns (FIg.
31-54). Hiperbilirrubinemia pode causar aumento da intensi Imagem. A RM mostra áreas hiperintensas em T2/FLA1R
dade de sinal em TI nos GPs em pacientes mais velhos. bilaterais e simétricas nos núcleos da base (Fig. 31-55). Os
putames (em especial o segmento posterior) são consisten-
Diagnóstico diferencial temente comprometidos, assim como a cabeça dos núcleos
o maior diagnóstico diferencial de ESZ é a infecção congê caudados. O tálamo dorsomedial também pode estar en
nita por citomcgalovírus (CMV). Ambas as condições, ESZ volvido, enquanto os GPs são menos comumente afetados.
e CMV congênito, exibem hipomielinização e malformações As lesões no tronco encefálico médio e inferior (pon-
corticais. As calcificações são achados mais proeminentes de te/bulbo) são típicas na DL e em alguns casos podem ser o
CMV, e os cistos periventriculares em geral não são localiza único achado. As lesões simétricas nos pedúnculos cerebrais
dos no sulco caudotalâmico. Distúrbios de migração neu são comuns, e a SC periaquedutal é freqüentemente afetada.
Doenças metabólicas hereditárias 903
Lesões agudas podem existir na difusão, mas não re Aspectos clínicos. A tríade clínica de acidose láctica, cri
alçam. A ERM no LCS costuma mostrar um pico de lacta- ses convulsivas e episódios semelhantes a AVC é a apre
to proeminente em 1,3 ppm. sentação clássica, mas outros sintomas comuns incluem
Diagnóstico diferencial. Uma vez que os achados de imagem enxaquecas, vômitos episódicos e hemiplegia alternada.
dessas doenças se sobrepõem, o diagnóstico diferencial da Anormalidades cardíacas, disfunçâo renal, distúrbios da
DL inclui as outras encefalomielopatias mitocondriais. motilidade gastrintestinal e fraqueza muscular generaliza
da também são comuns.
A MELAS tipicamente mostra alterações semelhantes a
AVC na SC cortical em uma distribuição não territorial. A MELAS é uma causa incomum, mas importante de
AVC na iníáncia. A média do início dos sintomas é de 15
Doenças metabólicas hipóxico-isquêmicas podem
mimetizar alguns achados da DL. A DW mostra hiperin- anos, embora alguns pacientes possam não se tornar sinto
tensidades em T2/FLA1R nos putames, no mesencéfalo máticos até os 40 a 50 anos.
e nos táiamos. Os GPs na DW geralmente mostram um Imagem. Os achados de imagem variam com a manifesta
único encurtamento em TI secundário à insuficiência he-
ção da doença (FIg. 31-56). A MELAS aguda geralmente
pática. Asfixia perinatal muito grave pode afetar os nú mostra giros hiperintensos em T2/FLAIR expandidos. A
cleos da base e mimetizar DL, mas o córtex perirrolândico SB adjacente é normal, e as anormalidades corticais cru
costuma estar comprometido. zam territórios vasculares, diferenciando a MELAS de um
infarto cerebral agudo (Fig. 31-57). Os lobos parietal e
Encefalopatia mitocondrial com acidose láctica occipital são os mais comumente afetados. Um realce gi
(MELAS) e episódios semelhantes a acidente rai em T1 C+ é típico. A angiografia por ressonância mag
vascular cerebral nética (ARM) não mostra evidência de oclusão de gran
Terminologia e etiologia. A MELAS é causada por várias des artérias. A MELAS crônica mostra infartos lacunares
■
Doenças metabólicas hereditárias 905
Imagem. A TC mostra calciflcações simétricas variáveis é uma doença multissistêmica caracterizada por mioclono
nos núcleos da base. Uma discreta perda volumétrica cor (geralmente como primeiro sintoma) seguido por epilep
tical e cerebelar é comum. sia, ataxia, fraqueza, miocardiopatia e demência. O início
A A R M m o s tr a a u m e n to d a i n te n s i d a d e d e s i n a l e m na infância é típico.
T2/FLAIR nos núcleos da base, na SB e no cerebelo. As A MERRF é patologicamente caracterizada por uma
libras arqueadas subcorticais, os tratos corticospinais, o degeneração sistêmica envolvendo os GPs, a SB, os nú
cerebelo e o tronco encefálico posterior são precocemente cleos rubros, os núcleos denieados, os núcleos olivares
envolvidos na doença, enquanto a SB periventricular per inferiores, o córtex e os tratos espinocerebelares.
manece relativamente poupada (Fig. 31-58). Estudos de imagem mostram infartos nas zonas fron
A difusão mostra redução da difusão no tronco ence teiriças e nos núcleos da base. O maior diagnóstico dife
fálico e na SB subcortical. A ERM demonstra aumento do rencial por imagem de MERRF é a MELAS; em geral,
lactato. as duas doenças se sobrepõem. Patologicamente, o maior
Diagnóstico diferencial. Existe uma sobreposição signifi diagnóstico diferencial é SKS, uma vez que ambas as con
cativa entre os achados de imagem da SKS e de outras dições podem demonstrar a presença de fibras vermelhas
rasgadas na biópsia muscular.
doenças mitocondriais. como a MELAS. O envolvimento
precoce do córtex em distribuições não vasculares - parti Acidúria glutárica tipo 1
cularmente nos lobos parietal e occipital - é característico
Terminologia. A acidúria glutárica tipo 1 (AGI) também é
de MELAS, mas é raro em SKS.
chamada de acidemia glutárica tipo 1.
Epilepsia mioclônica com fibras vermelhas rasgadas Etiologia. a AG 1 é uma DMH autossômica recessiva cau
A MERRF é outra síndrome com mutação no mtDNA que sada pela deficiência da enzima mitocondrial glutaril-co-
resulta em OXPHOS mitocondrial defeituosa. A MERRF enzima A-desidrogenase (GCDH). A GCDH é necessária
para o metabolismo da Usina, da hidroxilisina e do tripto- Imagem. Os três achados de imagem "típicos" da AGI clás
fano. A deficiência de GCDH leva ao acúmulo de ácido sica são (1) macrocrania, (2) alargamento bilateral das fis
giutárico, que impede a opercularizaçào durante o terceiro suras silvianas ("abertas") e (3) lesões nos núcleos da base
trimestre do desenvolvimento fetal. simétricos e bilaterais (Fig. 31-59). A AGI grave também
pode causar alterações difusas na SB hemisférica.
Patologia. O excesso de ácido giutárico é neurotóxico. As
Crianças com AGI em crise metabòlica em geral
células dos núcleos da base e da SB são especialmente
apresentam-se com necrose estriatal aguda. Os núcleos
vulneráveis. Alterações espongiformes com perda neuro da base difusamente edemaciados que são hiperintensos
nal, vacuolização da mielina e acúmulo de líquido intra- em T2/FLA1R e que se restringem na difusão são típicos
mielínico são achados microscópicos típicos da AGI.
(Fig. 31-60).
A AGI crônica causa aumento dos espaços do LCS
Aspectos clínicos. A maioria das crianças com AGI ini
e atrofia (Fig. 31-61). A perda volumétrica pode romper
cialmente é normal. A maior parte apresenta-se durante
o primeiro ano de vida com necrose estriatal aguda, ge veias que cruzam da superfície cerebral para a dura, resul
ralmente desencadeada por febre ou imunização. Crises tando em hematomas subdurals recorrentes (Fig. 31-62).
A AGI não realça em TI C+. A ERM é inespecífica,
convulsivas, retardo mental e movimentos distônicos-dis-
com redução de NAA, aumento da relação Cho:Cr e (du
cinéticos também são comuns.
rante as crises) elevação dos níveis de laclalo.
Os pacientes podem desenvolver uma encefalopatia
aguda semelhante a Reye com cetoacidoses e vômitos. Diagnóstico diferencial. O maior diagnóstico diferencial
Hipoglicemia acompanhada de elevação de ácidos orgâ de AG 1 é o de lesões não acidentais. No entanto, a AG 1
nicos na urina é comum. Os metabólitos no sangue e na nãc('está associada a fraturas, e os hematomas subdurais
urina podem estar completamente normais entre as crises associados com a AGI não ocorrem na ausência de alar
metabólicas. gamento dos espaços de LCS.
■ T 1
31-62D T2 mostrando as
fissuras silvianas "abertas" B,
as coleções líquidas subdurais
Be o atraso significativo da
1 71 mielinização em uma criança de
7 meses.
V u /
F
Doenças metabólicas hereditárias 909
31-64 TC sem conlraste em uma criança de 1 ano com atraso de 31 -65 12 coronal em um menino de 15 anos com 6M2 de início ju
desenvolvimento e com GM1 (doença de Tay-Sachs) mostrando redução venil (doença de Sandhoff) mostrando hemisférios cerebrais normais e
volumétrica dos núcleos da base S e tálamos hiperdensos B. atrofia cerebelar proeminente B.
Outras causas de macrocefalia em crianças devem ser A RM mostra edema nos núcleos da base e no córtex,
consideradas no diagnóstico diferencial, incluindo hidro- com hiperintensidade em T2/FLA1R. O córtex peri-insular
cefalia, coleções benignas da infância (espaço subaracnói- geralmente é afetado primeiro, com o envolvimento então
deo alargado) no primeiro ano de vida, macrocefalia fa estendendo-se para os lobos frontal, parietal, temporal e
miliar benigna (variante da normalidade) e outras DMHs (finalmente) occipital (Fig. 31-63). Os GPs, os putames e
como MPSs, DC e DAL. os tálamos são afetados pela hiperamonemia prolongada e
podem apresentar restrição da difusão.
Acidijria glutárica tipo 2 O maior diagnóstico diferencial da hiperamonemia
A aciduria glutárica tipo 2 (AG2) resulta do defeito da ca aguda causada por doenças do ciclo da uréia é a ence-
deia de transporte do elétron mitocondrial na coenzima Q. falopatía hipóxíco-ísquêmíca (EHI). Crianças com EHl
Estudos de imagem mostram hiperintensidades simétricas costumam apresentar mais anormalidades talâmicas e no
em T2/FLAIR nos núcleos da base e na SB hemisférica, córtex perirroiândico.
mas a "abertura" das fissuras silvianas característica da
AGI está ausente. Acidemias metilmalônico e propiônica
A acidemia metilmalônica (AMM) e a acidemia pro
Doenças do ciclo da ureia/amônia piônica (AP) são doenças autossômicas recessivas que
A amônia é uma importante fonte de nitrogênio e é neces clinicamente se apresentam com cetoacidose episódica,
sária para a síntese de aminoácidos, assim como para o náuseas e vômitos, hipotonia progressiva e crises con
vulsivas.
balanço ácido-básico normal. Quando presente em altas
concentrações, a amônia é tóxica. Os achados de imagem em ambas as doenças são
O ciclo da amônia normalmente evita o acúmulo ex inespecíficos. Dilaiação ventricular, atrofia cortical, perda
cessivo de produtos tóxicos do nitrogênio por incorporar volumétrica cerebelar e hiperintensidade em T2/FLA1R
na SB periventricular são as anormalidades mais comuns
nitrogênio em uréia, que é secretada na urina. A interrup
na AMM. Calciflcações bilaterais nos núcleos da base es
ção do ciclo da uréia resulta na elevação da amônia sérica,
que rapidamente cruza a barreira hematoencefálica e cau tão presentes em 5 a 10% dos casos. As APs geralmente
sa edema difuso. envolvem os putames e os núcleos caudados e causam
Inúmeras doenças diferentes do ciclo da uréia já fo mielinização reduzida na SB hemisférica.
ram identificadas. Duas doenças clássicas são a deficiên
cia de ornitina-transcarbamilase e a citrulinemia. Am Gangliosidose
bas são caracterizadas por um edema cerebral difuso nas Duas formas de gangliosidose são conhecidas: a GMl
TCs sem contraste. (doença de Tay-Sachs) e a GM2 (doença de Sandhoff).
910 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
31-66A TC axial sem contraste em um paciente com doença de Fabry 31-66B TI no mesmo paciente mostrando o sinal do "pulvinar" hi-
mostrando caiciíicações bilaterais no caudado direito, em ambos os GPs perintenso B9, considerado essencialmente patognomônico da doença
e nos tálamos posteriores. de Fabry.
Elas são bioquimicamente diferentes, mas clinicamente CC (que costuma ser poupado), a SB aparece hiperintensa
indistinguíveis. em T2/FLAIR.
A GMI é uma doença de actimuio lisossomal rara.
A deficiência da enzima lisossomal p-galactosidase re Doença de Fabry
sulta no acúmulo de gangliosídeos GMl no cérebro (em A doença de Fabry causa 1,5 a 5% dos AVCs inexplicados
especial nos núcleos da base) e de oligossacarídeos nas em pacientes jovens e está presente em 4 a 5% dos ho
vísceras abdominais. A GM2 é uma doença autossômica mens com hipertrofia ventricular esquerda inexplicada ou
recessiva de acúmulo de esfíngolipídeos. AVCs criptogênicos. Como existe a terapia de reposição
Ambas, GM1 e GM2, existem nas formas infantil, ju enzimática, é importante diagnosticar a doença de Fabry
venil e adulta. Os pacientes com a forma infantil de GMl antes de as lesões irreversíveis acontecerem.
se apresentam entre o nascimento e os seis meses com
características faciais grosseiras, disostose esquelética e Etlologia e patologia
hepatoesplenomegalia. A GM 1 de início juvenil apresen A doença de Fabry é uma doença de acúmulo lisossomal
ta-se com atraso motor, seguido por deterioração mental e ligado ao X do metabolismo dos glicoesfingolipídeos. A
sinais extrapiramidais. A doença de início na fase adulta é mutação na a-galactosidase leva a um acúmulo de glico
caracterizada por distonia e ataxia lentamente progressi esfingolipídeos em vários tecidos, em especial no endoté-
va, assim como sinais extrapiramidais. lio vascular e nas células musculares lisas.
Os achados de imagem em ambas as condições são As funções endoteliais deficientes resultam em uma
muito semelhantes. Os pacientes com gangliosidosc de vasculopatia multissistêmica progressiva. Os vasos re
início infantil mostram preferencialmente envolvimento nais, cardíacos e cerebrais são gravemente afetados. Em
dos tálamos, que costumam aparecer pequenos e hiper- bolia cardíaca, arteriopatia de grandes vasos e doenças
densos na TC sem contraste (Fig. 31-64). Os núcleos da microvasculares ocorrem.
base e, algumas vezes, a SB cerebral e cerebelar são re
lativamente hipodensos. Os pacientes com a doença de Aspectos clínicos
inicio juvenil e adulto podem mostrar apenas atrofia ce Crianças com essa condição costumam apresentar-se com
rebelar (Fíg. 31-65). angioceratomas, mas a doença de Fabry de início tardio
A RM na gangliosidose de início infantil pode de é muito mais difícil de diagnosticar. AVCs induzidos por
monstrar alguma hiperintensidade em TI nos tálamos. Os doença de Fabry em geral ocorrem antes do estabeleci
GPs e os tálamos ventrais em geral aparecem profunda mento do diagnóstico definitivo. Enquanto a idade média
mente reduzidos e hipointensos em T2. Com exceção do do primeiro AVC é de 39 anos em homens e 45 anos em
Doenças metabólicas hereditárias 911
mulheres, cerca de 22% dos pacientes sào mais jovens mento do diagnóstico, as lesões aumentam em número e
que 30 anos no início da apresentação. podem tomar-se coalescentes (Flg. 31-67).
Mais de 85% dos AVCs na doença de Fabry são is- Dez por cento dos pacientes demonstram hipoin-
quêmicos. Infartos hemorrágicos são menos comuns e em tensidades tipo artefato de susceptibilidade magnética
geral ocorrem devido à hipertensão renovascular. em T2* (GRE, SWI) devido a microssangramentos. Os
achados de imagem menos comuns incluem dolicoec-
Imagem tasias.
A TC sem contraste mostra calcificaçòes bilaterais e ge
ralmente simétricas nos núcleos da base e nos tálamos Diagnóstico diferencial
(Fig. 31-66A). Hipodensidades mullifocais na SB profun O diagnóstico diferencial da doença de Fabry inclui ou
da compatíveis com infartos lacunares podem ser iden tras doenças caracterizadas por calcificaçòes nos núcleos
tificadas em alguns casos. Os pacientes com doença de da base. Doença de Fahr causa calcificaçòes bilaterais e
Fabry de longa data demonstram perda volumétrica com densas nos núcleos da base e nos tálamos. O cerebelo e a
diiataçào dos ventrículos e sulcos. transição SB-SC freqüentemente são afetados na doença
A ARM pode mostrar um encurtamento em TI nos de Fahr, mas em geral não são comprometidos na doença
núcleos da base e nos tálamos. O sinal "pulvinar" (hipe- de Fabry.
rintensidade em TI no tálamo posterior) é altamente su Distúrbios endocrinológicos como hiperparatireoi-
gestivo da doença de Fabry (Fig. 31-66B). Entre 45 e 50% dismo, hipoparatireoidismo, pseudo-hipoparatireoidismo
dos pacientes adultos com doença de Fabry apresentam e hipotireoidismo podem ter calcificaçòes similares, mas
hiperintensidades multifocais e esparsas em T2/FLAIR não demonstram os infartos multifocais típicos da doença
nos núcleos da base/tálamos e na SB cerebral. No mo de Fabry.
31-67A T2 axial em um ho
mem de A2 anos com doença
de Fabry e história de múltiplos
infartos mostrando hiperintensi
dades em ambos os hemisférios
cerebelares compatíveis com
infartos multifocais ES.
31-67B T2 axial no mesmo
paciente mostrando infartos la
cunares multifocais nos tálamos,
nos núcleos da base e na SB peri
ventricular profunda B.
•. "W . •
912 Distúrbios tóxicos, metabóllcos, degenerativos e do LCS
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da etiologia) parece ser um fator comum. Falha da autor- sepse. várias drogas e agentes quimioterápicos, e síndro-
regulação cerebral, hiperperfusão, quebra da barreira he- mes da lise tumoral.
matoencefálica e edema vasogênico [não citotóxico) sâo Etiologias menos comuns para a PRES incluem a in
a explicação mais comumente postulada. Nesse cenário, gestão de produtos alimentares (como alcaçuz) contendo
a PRES resulta em um vazamento hidrostático com ex- substâncias que causam excesso de mineralocorticoide.
travasamento ou transudaçao de líquido e macromolécu- A tríade de HTN, hipocalemia e alcalose metabólica é
las através das paredes arteriolares com dado endotelial típica. Os pacientes com excesso de mineralocorticoides
(Fig. 32-1). também apresentam uma reatividade vascular endotélio-
Uma teoria alternativa para o desenvolvimento da -dependente comprometida, que pode contribuir para o
PRES evoca vasospasmos ou vasculopatia com disfunçào desenvolvimento da PRES.
endotelial vascular e redução da perfusào cerebral. Raramente, a PRES é associada com a chamada sín
drome de ataque migranoso semelhante a AVC após tera
Condições associadas. Inicialmente descrita em associação pia radioterápica (SMART, de stroke-like migraine atta
com eclâmpsia, drogas imunossupressivas e crise hiper- cks after radiation therapy).
tensiva aguda, a PRES é reconhecida agora como um
distúrbio que pode ser induzido por um grande número Patologia
de doenças e agentes. Outras condições associadas com a A patologia é indefinida, uma vez que a PRES raramen
PRES incÍLiem microangiopatia trombótica (como síndro- te é fatal e somente passa por biópsia em circunstâncias
me hemolitico-urêmica [SHU], púrpura trombocitopênica excepcionais. Cérebros submetidos à necropsia de pacien
trombótica [PTT] e coagulopatia intravascular dissemina tes com PRES complicada mostram edema cerebral difu
da [CIVD]), encefalopatias urêmicas (p. ex., nefropatia so com micro-hemorragias petequiais bilaterais múltiplas
lúpica e glomcrulonefrite aguda), síndrome do choque/ nos lobos occipilais (Fig. 32-2).
Os achados microscópicos na PRES lembram aqueles A progressão de pré-eclâmpsia para eclampsia ocor
relatados na encefalopatia hipertensiva maligna. O córtex re em 0,5% das pacientes com pré-eclâmpsia leve e em
occipital, a SB subcortical e o cerebelo demonstram uma 2 a 3% das pacientes com pré-eclâmpsia grave. A pré-
gama de patologias microvasculares, incluindo necrose -eclâmpsia é caracterizada por um pico de pressão sis-
arteriolar fibrinoide com hemorragias petequiais, exsu- tólica de 160 mmHg ou maior, ou pressão diastólica
dato proteináceo e infiltração de macrófagos nos espaços sangüínea de 100 mmHg ou maior, função renal com
perivasculares. A SB adjacente costuma ser edematosa. prometida, trombocitopenia, e/ou evidências de anemia
hemolítica microangiopática, dano hepatocelular, edema
Aspectos clínicos pulmonar e distúrbios neurológicos (principalmente cri
Epidemiologia e edemografia. Embora o pico de idade seja ses convulsivas).
de 20 a 40 anos, a PRES pode afetar desde crianças na Apresentação. Embora 92% dos pacientes com PRES
infancia até idosos. Existe uma predominância moderada apresentem pressão arterial agudamente elevada (mé
no sexo feminino, muito por causa da forte associação da dia = 200/110 mmHg), a PRES também pode ocorrer
PRES com a pré-eclâmpsia. na ausência de HTN ou na presença de uma HTN leve.
A pré-eclâmpsia é a causa mais comum de PRES. Crise convulsiva é o sintoma clínico mais comumente
Essa doença específica da gravidez é caracterizada por presente na PRES, sendo vista em 67 a 91% dos casos.
HTN (pressão arterial acima de 140/90 mmHg) e protei As crises convulsivas associadas à PRES costumam ser
nuria ocorrendo após 20 semanas de gestação em uma únicas, curtas, não complicadas tipo grande mal, que
paciente previamente normotensa. A pré-eclâmpsia e suas terminam espontaneamente dentro das primeiras 24
variantes afetam cerca de 5% das gestações e continuam horas. Crises convulsivas seriadas ou recorrentes são
liderando a causa de morbidade materna e fetal. c o m u n s .
a
anos com doença renal em
estágio íinai apresentou uma
crise convulsiva e caiu. A pressão
arterial na emergência era de
. ' W c 220/140 mmHg. a TC sem con
traste, realizada para avaliação
de hemorragias intracranianas,
eslava normal.
32-4B A ressonância mag
nética (RM) foi obtida devido à
suspeita de PRES. O FLAIR obtido
1 hora após a TC sem contraste
mostra hiperintensidades multi-
focais no mesencéfalo, nos lobos
temporais posteroinferiores e no
córtex parieto-occipilai EJ.
■^
tra restrição da difusão; compare
com o edema mais extenso visto
n a T 2 a n t e r i o r.
g ' ^
■
^-5-♦
completamente.
^ -VV-A
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 919
Outros sintomas freqüentes incluem cefaleia (80%), Os lobos parieto-occipitais raramente são as únicas
distúrbios visuais (60%) e alteração do nível de consciên áreas afetadas na PRES. Os lobos frontais estão envolvi
cia (30%). dos em 75 a 90% dos casos, e os lobos temporais (65%) e
Comorbidades comuns relatadas em séries recentes o cerebelo também costumam ser afetados. A doença ce-
incluem esteroides ou imunossupressores (40%), lúpus rebelar é mais comum em pacientes com história de doen
eritematoso sistêmico (30%), doença renal (20 a 30%), ças autoimunes, enquanto pacientes com sepse em geral
eclâmpsia (20%) e outras doenças, como as vasculites. demonstram envolvimento cortical.
Como muitos pacientes com PRES se apresentam
História natural e opções de tratamento. A PRES grave
com cefaleia grave, a TC sem contraste costuma ser obtida
pode representar um risco à vida. Se as substâncias inci- como um procedimento de rastreamento. Desse modo, é
tantes ou as condições precipitantes forem eliminadas e a extremamente importante identificar até mesmo anorma
HTN for rapidamente tratada, a PRES costuma resolver lidades sutis que sejam sugestivas de PRES. Se a TC sem
sem anormalidades residuais ou com anormalidades mí
contraste de rastreamento é normal e a PRES é suspeitada
nimas. Em casos raros, a PRES causa danos permanentes,
clinicamente, uma RM com difusão e T2*adicionalmenie
em geral infartos hemorrágicos corticais/subcorticais ou
às seqüências de rotina (TI e T2/FLA1R) deve ser obtida.
nos núcleos da base.
Achados na TC. Hipodensidades sutis esparsas corticais/
subcorticais - geralmente nos lobos parieto-occipitais, em
SÍNDROME DA ENCEFALOPATIA POSTERIOR zonas fronteiriças e/ou no cerebelo - podem ser as anor
REVERSÍVEL: TERMINOLOGIA, ETIOLOGIA, malidades iniciais na TC sem contraste (Fig. 32-3).
ASPECTOS CLÍNICOS Hemorragia intracraniana associada à PRES é inco-
Terminologia mum, sendo vista em apenas 5 a 6% dos casos. Três dife
• Síndrome da encefalopatia posterior reversível (PRES) rentes padrões de hemorragias intracranianas associadas
• Observar: As lesões gerolmente não são apenas à PRES ocorrem em proporções quase iguais: hematoma
posteriores parenquimatoso focai, micro-hemorragias multifocals
(menores que 5 mm) e hemorragias subaracnoides na con-
Etiologla
• Disautorregulação induzida por HTN vs. vasospasmos, vexidade.
A TC com contraste costuma ser negativa, embora ca
iperfusão
• TTpa -> falha da autorregulação ^ edema sos graves possam mostrar focos de realce esparsos, não
vasogênico (não citotóxico) confluentes. subcorticais/corticais.
o Dano endotelial "quebra" da barreira
hematoencefálica
Achados na RM. A PRES apresenta achados tanto clássicos
o Extravasamento de líquido, macromoléculas quanto atípicos na RM. Deve-se ter em mente que a PRES
• Causas (HTN é o fator comum possível) raramente é apenas posterior e nem sempre é reversível.
o Pré-eclâmpsia/eclâmpsia A PRES clássica demonstra alterações de sinal bilate
o Quimioterapia, drogas imunossupressoras rais parieto-occipitais corticais/subcorticais que são hipoin-
o Microangiopatias trombóticas (p. ex., 5HU/PTT) tensas em TI e hiperintensas em T2/FLA1R (Flg. 32-4).
o Insuficiência renal
"Vazamento" pelas arteríolas com perda de integridade da
o Choque/sepse
barreira hematoencefálica pode causar alguns focos de re
o Síndrome da lise tumoral
o Alimento/drogas indutoras de excesso de alce nas seqüências TI C+.
mineralocorticoide
Infarto franco é muito raro na PRES. Como a maioria
dos casos de PRES é causada por edema vasogênico (não
Aspectos clínicos citotóxico), a difusão costuma ser negativa. Entretanto,
• Todas as idades (pico = 20 a 40 anos) causas atípicas (especialmente em crianças) com restrição
• F > > M
• PA geralmente TT, mas pode ocorrer com PA normal já foram relatadas. Os estudos da perfusão por RM têm
demonstrado redução cortical do rCBV na PRES.
ou discretamente elevada
• Costuma resolver completamente com a normalização A PRES atípica é quase tão comum quanto a PRES
da PA clássica. Os achados de imagem na PRES atípica incluem
envolvimento de lobos frontais, zonas fronteiriças corticais.
núcleos da base, tronco encefálico e cerebelo (Fig. 32-5).
Imagem Nos casos incomuns, lesões no tronco encefálico e/ou no
Aspectos gerais. A PRES é conhecida por seu envolvimento cerebelo podem ser a única anormalidade presente. A me
preferencial dos lobos occipitais, visto em 85 a 95% dos dula espinal já foi relatada como um local raro de envolvi
casos ÇFig. 32-3). Os lobos occipitais são particularmente mento da PRES.
vulneráveis devido à inervação simpática relativamente A maioria dos casos de PRES resolve-se completa
esparsa da circulação anterior, que resulta em uma menor mente sem anormalidades residuais detectáveis, seguido
proteção contra os efeitos da HTN sistêmica grave. da normalização da pressão arterial. Lesões irreversíveis
920 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do ICS
Diagnóstico diferencial
Os maiores diagnósticos diferenciais da PRES incluem
32-6 T2 em uma HTN induzida por cocaína, com uma PA infarto-isquemia cerebral, vasculiie, hipoglicemia, estado
= 220/140 mmHg. Observar a hiperintensidade simétrica
do bulbo ao mesencéfalo, poupando o parieto-occipital.
epiléptico, trombose venosa, síndrome da vasoconstrição
cerebral reversível e microangiopatias trombóticas.
A PRES raramente envolve apenas a circulação poste
rior, portanto infarto-isquemia cerebral aguda costuma
r
ser fácil de diferenciar. Infartos na distribuição da artéria
cerebral posterior bilateral são raros na ausência da trom
bose "do topo da basilar", que costuma afetar outras áreas,
como os tálamos, o mesencéfalo e o cerebelo superior.
A vasculite pode lembrar a vasculopatia induzida por
PRES na angiografia. A distribuição das lesões na vasculi
te é muito mais randômica e menos simétrica, geralmente
não demonstrando uma predominância parieto-occipital,
vista na PRES, e em geral realçando após administração
do contraste.
A hipoglicemia costuma afetar o córtex parieto-occi
m
32-7A TC sem contraste em um menino de 4 anos
com SHU e HTN grave. O declínio neurológico agudo
pital e a SB subcortical, portanto os achados clínicos vis
tos em laboratório (p. ex., baixa glicose sérica, ausência de
HTN sistêmica) são achados diferenciais importantes. O
estado epiléptico pode causar edema girai transitório, mas
mostra hiperdensidades bilaterais simétricas nos nú raramente é bilateral e pode afetar qualquer parte do córtex.
cleos da base e nos tálamos E3. Entidades menos comuns que podem se assemelhar à
PRES incluem trombose venosa e síndrome da vasocons
trição reversível. A trombose do aspecto posterior (des
cendente) do seio sagital superior pode causar edema bi
lateral parieto-occipital cortical/subcorlical. A hemorragia
é comum (rara na PRES), c a venografia por TC (VTC)
facilmente demonstra o seio ocluído. A síndrome da va
soconstrição cerebral reversível tem alguns achados co
muns (p. ex., hemorragia subaracnóidca da conexidade)
com a PRES, mas cm geral é limitada a um sulco solitário
ou somente a alguns sulcos adjacentes.
Microangiopatias trombóticas - SHU/PTT, CIVD,
hipertensão maligna (HM) - podem ser difíceis de diferen
ciar de PRES somente com base nos achados de imagem.
SHU/PTT e CIVD são diagnósticos clínico-laboratoriais.
A PRES é uma manifestação típica de todas as mi
croangiopatias trombóticas, embora a diferenciação entre
32-7B Imagem cefálica mostrando edema dos PRES e HM possa ser acadêmica. A presença de edema
hemisférios cerebrais com apagamento dos sulcos. O
cerebral difuso e micro-hemorragias multifjcais é mais
paciente morreu 2 horas depois por HTN extrema e he
morragias do trato gastrintestinal.
comum na HM. Localizações atípicas (tronco encefálico.
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 921
32-9A TC axial sem contraste em um paciente com HTN crônica cie 32-9B TC sem contraste na coroa radiada mostrando hipodensidades
longa data demonstrando hipodensidades nas SBs frontal e periatrial nas SBs subcortical e profunda. Essas lesões algumas vezes são cha
confluentes ES. madas de "encefalopatia subcortical aterosclerólica" e são comuns em
pacientes com HM e hiperlipidemia.
nio no tronco encefálico (Fig. 32-6), assim como lesões Encefolopatia hipertensiva crônica
nos núcleos da base e nas zonas fronteiriças (Fig. 32-7).
Enquanto as manifestações clínicas e de imagem da PRES
Edema cerebral difuso pode estar presente, especialmente e da HM podem ser traumáticas e apresentar risco de mor
em casos graves.
te, os efeitos da HTN de longa data não tratada ou pouco
Micro-hemorragias lobares e/ou parenquimatosas mul tratada nas funções orgânicas também podem ser devas
tifocals no cortex, nos núcleos da base, nas pontes e no cere- tadores.
belo sào comuns na HM e são mais bem visualizadas como
focos em artefatos de susceptibilidade magnética na T2*
Patologia
(GRE, SWI). Hemorragias subaracnóideas nas convexida- o achado histopalológico mais compatível com encefa-
des com múltiplos focos de cstcnose de pequenos segmentos
arteriais lembrando síndrome da vasoconstrição cerebral re lopatia hipertensiva crônica (EHtC) é a microvasculopa-
versível (SVCR) têm sido relatadas em alguns casos de HM.
tia caracterizada por arterioloesclerose e lipo-hialinose
A HM pode causar quebra difusa da barreira hemato- (ver Capítulo 10). Estcnose e oclusao de pequenas ar
térias e arteríolas devido ao depósito de camadas de
encefálica com intensos realces multifocais após a admi
nistração endovcnosa do contraste (Fig. 32-8). Restrição colágeno hialínico causam redução da densidade de oli-
da difusão não é incomum. godendrócitos, palidez de mielina, gliose e perda de vo
lume da SB cspongiforme. Infartos lacunares múltiplos
são comuns.
Diagnóstico diferencial
o maior diagnóstico diferencial da HM é a PRES. A PTT
com isquemia cerebral e micro-hemorragias pode parecer Aspectos clínicos
idêntica em exames de imagem, e sua distinção é estabele A EHtC é mais comum em pacientes de meia-idade e
cida por achados clinico-laboratoriais em vez de achados idosos. Essa condição afeta homens mais freqüentemen
de imagem. te que mulheres e é muito prevalente em afrodescenden-
c
pretos").
924 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
Imagem
Os dois achados de imagem principais da EHtC são (1)
lesões difusas e/ou confluentes na SB e (2) microssangra-
32-11 Necropsia de uma hipoglicemia grave mos mentos multifocais. As lesões na SB são concentradas na
trando necrose cortical bilateral e simétrica parieto- coroa radiada e na SB periventricular profunda - em espe
-occipital, frontal H], (Cortesia de R. Hewlett, MD.) cial ao redor dos átrios e dos ventrículos laterais. O dano
na SB aparece hipodenso na TC sem contraste (Fig. 32-9)
e hiperintenso em T2/FLAIR.
Sangramentos petequiais múltiplos ("micro-hemorra-
gias") são a segunda manifestação mais comum da EHtC.
Em geral, essas alterações não são identificadas na TC
sem contraste e podem ser invisíveis nas seqüências co
muns da RM (T2FSE e FLAIR). A T2* (GRE, SWI) pode
mostrar múltiplas hipointensidades tipo artefato de sus-
ceptibilidade magnética ("pontos pretos") que tendem a se
concentrar nos núcleos da base e no cerebelo (Flg. 32-10).
Os achados de imagem na EHtC podem também re
fletir doença "aguda na crônica". A T2* na maioria dos
pacientes com hemorragias hipertensivas clássicas nos
núcleos da base ou lobares demonstra hemorragias pe
tequiais. Ocasionalmente, pacientes com HTN crônica
de longa data desenvolvem uma crise hipertensiva agu
32-12A TC sem contraste mostrando atrações típi da e podem demonstrar achados de PRES sobreposta na
cas da hipoglicemia com edema girai parieto-occipital
doença da SB crônica de longa data.
ES, hipodensidade putaminal ^3 e talamos poupa
dos ^3.
Diagnóstico diferencial
o maior diagnóstico diferencial da EHtC é a angioputia
amíloíde cerebral (AAC). As lesões da SB em ambas as
doenças costumam parecer semelhantes, e as duas condi
ções podem causar microangiopatia hemorrágica. Os mi-
crossangramentos da AAC em geral são mais periféricos
i v:
(p. ex., córtex, leptomeninge) e raramente afetam o tronco
encefálico ou o cerebelo. As micro-hemorragias hiperten
sivas são mais comuns nos núcleos da base e freqüente
mente podem ser identificadas na ponte e nos hemisférios
cerebelares.
A arteriopatia cerebral autossômica dominante com
Infartos subcorticaís e leucoencefalopatia (CADASIL,
de cerebral autosomal dominam arteriopathy with sub
cortical infarcts and leukoencephalopathy) também pode
mimetizar a EHtC. A CADASIL costuma se apresentar em
32-12B Difusão no mesmo caso de uma encefalopa- pacientes jovens e causa múltiplos infartos lacunares sub-
tia hepática aguda mostrando restrição no cortex parie corticais. Lesões no lobo temporal anterior e nas cápsulas
to-occipital e no putame, poupando os talamos e a SB. internas são achados de imagem clássicos da CADASIL.
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 925
Patologia
GLICOSE E O CÉREBRO A hipoglicemia tem efeitos diretos e indiretos no cérebro,
que são muito sensíveis à insuficiência da glicose. Essa
Físíologla normal
• O cérebro é um grande consumidor de glicose insuficiência resulta na redução da utilização do oxigê
o Utiliza 10 a 150 g/dia nio e compromete a produção de energia intracelular. Os
• A glicose deve ser transportada ativamente através efeitos indiretos ocorrem secundariamente ao acúmulo
da barreira hematoencefálica e à liberação de neurotransmissores excitatórios, que
o Proteína de transporte da glicose (GLUT-I, de algumas vezes acentuam o grau de lesão hipoglicèmica
glucose transport protein I) cerebral.
• Metabolismo da glicose
Necrose cortical é o achado macroscópico mais co
o Oxidação aeróbica (20% do 0^ total corporal
mum na encefalopatia hipoglicèmica. Enquanto todo o
consumido) córtex pode ser afetado, as regiões parieto-occipitais em
o Glicose intracelular convertida a piruvato
o Então metabolizado em trifosfato de adenosine geral são mais gravemente envolvidas (Fig. 32-11). Ou
tras áreas especialmente vulneráveis incluem os núcleos
(ATP, de adenosine triphosphate), fosfocreatina
• Utilização da glicose diretamente relacionada ao CBF da base, os hipocampos e as amígdalas. Os talamos, a SB,
o GM - Sx S8 o tronco encefálico e o cerebelo costumam ser poupados.
o Na maioria das vezes, usada para transporte ativo
de íons, manutenção dos potenciais de membrana Achados clínicos
• Homeostase da glicose
o paciente hipoglicêmico típico é um idoso com diabete
o Concentração da glicose sangüínea dinâmica,
em terapia de reposição de insulina e com alteração da
rigorosamente regulada
o Monitores cerebrais, "conduz" o eixo intestino-SNC- ingestão de glicose. Uma overdose intencional ou aciden
-endócrino
tal é mais comum em crianças e em adultos jovens e de
o Interações complexas mantêm a giicemia normal meia-idade.
Crises convulsivas, alterações do estado mental e
Ftsíologia anormal coma são sintomas comuns da encefalopatia hipoglicèmi
• Muita ou pouca glicose pode lesionar o cérebro
• Distúrbios hipergiicémicos » hipoglicêmicos ca. O prognóstico varia com a extensão da lesão cerebral.
Se os núcleos da base são envolvidos, o resultado geral-
926 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LC5
Imagem
Achados na TC. A TC sem contraste costuma mostrar os
lobos parietal e occipital hipodensos simetricamente. Os
putames com freqüência aparecem hipodensos, enquanto
os tálamos são poupados (Fig. 32-12). Em casos mais gra
ves, edema cerebral difuso com apagamento dos sulcos
quase total e transição córtex-SB borrada pode ser visto.
32-13A T2 de um pacienie com diabetes de 21 anos
de idade encontrado "caído" mostra hiperintensida- Achados na RM. A TI em paciente com encefalopalia hi-
des corticais parieto-occipitais E3 e nos núcleos da poglicêmica aguda pode ser normal ou demonstrar apenas
base B. edema girai e apagamento dos sulcos. Nos estágios su-
bagudo e crônico, as hiperintensidades girais curvilíneas
secundárias à necrose laminar podem estar presentes.
A hiperintensidade em T2/FLAIR no córtex parieto-
-occipital e nos núcleos da base é típica da encefalopatia
hipoglicêmica aguda (Fig. 32-13). Os tálamos, a SB sub
cortical/profunda e o cerebelo em geral são poupados. A
T2* costuma mostrar mínimo ou nenhum artefato de sus-
Diagnóstico diferencial
o diagnóstico diferencial mais importante da encefalopa
32-13B Difusão do mesmo paciente mostra restrição tia hipoglicêmica é a encefalopatia hipóxico-isquêmica
do cortex B, núcleos da base Os talamos e SB (EHI). A EHI costuma ocorrer seguida de uma parada
estão poupados. cardíaca ou de hipoperfusão global. Em contraste com a
encefalopatia hipoglicêmica, os tálamos e o cerebelo em
geral são afetados na EHI. Isquemia-infarto cerebral
agudo tem um formato em cunha, envolvendo tanto o
córtex quanto a SB subjacente.
A encefalopatia hipertensiva aguda (PRES) costu
ma afetar o córtex parieto-occipital, mas poupa a maioria
da SB subjacente e raramente restringe a difusão. Os pa
cientes com PRES se apresentam com HTN não controla
da, não com hipoglicemia.
Hipoglicemia neonatal/infantil
o cérebro imaturo é relativamente resistente à hipogli
cemia. Diferentemente de crianças de mais idade e de
adultos, os neonatos têm uma demanda menor de glicose
absoluta e podem utilizar outros substratos como lactado
para a produção de energia. No entanto, uma hipoglicemia
32-13C Mapa ADC confirma a restrição da difusão no prolongada e/ou grave pode resultar em um dano cerebral
cortex devastador em neonatos.
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 927
Terminologia
A definição clínica/laboratorial precisa da hipoglicemia
neonatal/infantil é controversa. Entre 5 e 15% das crian
ças a termo normais têm um valor de glicose plasmática
tão baixo quanto 40 a 45 mg/dL. Definições atualmente
aceitas de hipoglicemia significativa no recém-nascido
são os níveis de glicose abaixo de 30 a 35 mg/dL nas
primeiras 24 horas após o nascimento e 40 a 45 mg/dL
depois.
Etiologia
A encefalopalia hipoglicêinica neonatal/infantil é secun
dária à hiperinsulinemia, sendo mais freqüentemente cau
sada pelo diabetes materno com um mau controle glicêmi-
co. Diabetes materno não controlado leva à hiperglicemia
crônica fetal inlraútero, Isso resulta em uma hiperinsuli 32-14A TC sem contraste em uma criança cJe 3 dias
nemia neonatal transitória e em hipoglicemia de gravida com hipoglicemia intensa mostrando hipodensidades
simétricas posteriores bilaterais E2 e núcleos da base
de variada.
mai-delinidos.
Raramente, a hipoglicemia hiperinsulinémica infantil
é hereditária. Os tipos mais comuns de hiperinsiilinismo
congênito ou hipoglicemia hiperinsulinémica persisten
te em crianças resultam de mutações nos genes que co
dificam o canal de potássio sensível a ATP das células
p-pancreáticas.
Hipoglicemia neonatal também pode ocorrer na sín-
drome de Beckwith-Wledemann (SBW), uma doença
hereditária com macrossomia, macroglossia, viscero-
megalia, onfalocele, tumores embrionários, citomegalia
adrenocortical e anormalidades renais. A maioria dos ca
sos de hipoglicemia associados à SBW é discreta e tran •A
sitória, mas pode persistir e - se não detectada e não tra
tada - representa um significativo risco para seqüelas de
desenvolvimento.
parieto-occipital e na SB subjacente.
Aspectos clínicos
A encefalopatia hipoglicêmica neonatal/infantil cos
tuma se apresentar nos primeiros três dias de vida, em
geral dentro das primeiras 24 horas. Bebês grandes para
a idade gestacional têm um risco aumentado de hipogli
cemia, mesmo quando não são produto dc uma gravidez
diabética.
O nível exato de hipoglicemia que requer tratamen
to é controverso. Alguns especialistas recomendam tratar
apenas os neonatos sintomáticos com concentração de
glicose abaixo de 45 a 50 mg/dL. A resposta à terapia de
glicose costuma ser imediata se o grau e a duração da hi
poglicemia forem discretos a moderados.
32-14C ERM com TE longo no mesmo caso mos
trando redução no NAA E3 e lactato moderadamente
elevado Bi.
928 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
32-15C TI no mesmo pa
ciente de 7 dias mostrando SB
edemaciada e intensamente
hipointensa nos lobos parietal,
occipital B, córtex fiiperinten-
so, afilado ES e pulvinar dos
táiamos fiipointensos ES.
32-150 12 no mesmo mo
mento mostrando córtex afilado
edemaciado com focos de au
mento ES e redução da
intensidade de sinal, pulvinares
hiperintensos ES e cápsulas
internas anormalmente fiiperin-
tensas B.
Imagem
(continuação)
Alguns achados de imagem na hipoglicemia neonatal/in- o Fatores exacerbantes (p. ex., hipoxia)
fantil lembram aqueles de crianças de mais idade e adultos, o Reconhecimento, tratamento imediato/apropriado
ou seja, envolvimento predominante do córtex parieto-oc-
cipital e dos núcleos da base. Entretanto, o envolvimento Hipoglicemia pediátríca/adulta
da SB. dos tálamos e do cerebelo é relativamente mais co • Etíologia
o Geralmente associada com diabetes
mum em neonates se comparado com encefalopatia hipo-
o Excesso absoluto/relativo de insulina ou
glicêmica em crianças de mais idade e em adultos.
insuficiência de glicose
A TC sem contraste em neonates com encefalopa o Produção de energia/utilização de Oj i,
tia hipoglicêmica aguda mostra hipodensidades cere
neurotransmissores e citotóxicos T
brais posteriores com apagamento da interface SC/SB • Patologia
(Fig. 32-14). Em especial nos casos graves, o cérebro apa o Necrose cortical
rece difusamente inchado e hipodenso. • Imagem
A RM nos estágios agudos da encefalopatia hipogli o Hipodensidade/hiperintensidade no córtex parieto-
cêmica neonatal mostra hiperintensidades em T2/FLA1R -occipital, núcleos da base
e restrição da difusão no córtex parieto-occipital. na SB o Restrição da difusão
subcortical e no esplênio do corpo caloso (Figs. 32-15A o SB, talamos e cerebelo geralmente poupados
e32-15B). Hipoglicemia neonatai/infantíl
Nas fases aguda tardia/subaguda precoce, as áreas • Etiologia
afetadas estão edemaciadas e expandidas (Figs. 32-15C o Mais comum: diabetes materno
e32-15D). o Hipergiicemia fetal hiperinsulinemia ^
Encefalomalacia cística pode ocorrer. Na encefalo hipoglicemia
o Menos comum: hiperinsulinemia congênita
patia hipoglicêmica crônica, os córtices parieto-occipi-
hereditária
tais tornain-se atrófícos, reduzidos e encefalomalásicos
• Aspectos clínicos
(Figs.32-15Ee32-l5F). o Geralmente presente nos primeiros três dias pós-
-natal
Diagnóstico diferencial o o nível de glicose é variável
Assim como em crianças de mais idade e em adultos, o • Imagem
maior diagnóstico diferencial da encefalopatia hipogli o Geralmente semelhante a do adulto
cêmica neonatal é o dano hipóxico-isquêmíco (DHI) a (predominância posterior)
termo. A encefalopatia hipoglicêmica e o DHI em geral o Diferente: SB subcortical, tálamos em geral
coexistem, potencializando a extensão das lesões cere envolvidos
brais. Os achados de imagem nos dois distúrbios podem • Diagnóstico diferencial
o Encefalopatia hipóxico-isquêmica a termo
ser indistinguiveis.
o Encefalopatia mitocondrial (MELAS)
As doenças mitocondriais hereditárias como a ence
falopatia mitocondrial com acidose láctica e episódios
semelhantes a acidente vascular cerebral (MELAS. de
mitochondrial encephalopathy with lactic acidosis and
Distúrbios associados à biperglicemia
stroke-like episodes) podem apresentar-se com edema Enquanto a hiperglicemia pode ser espontânea, ela é mais
cortical que poupa a SB adjacente. A MELAS raramente freqüentemente associada ao diabetes melito (DM). Nes
é bilateral e simétrica e demonstra lactato marcadamente ta seção, será discutido brevemente o DM. antes de dar-
aumentado na ERM. -se atenção especificamente aos danos cerebrais induzidos
pela hiperglicemia. Primeiramente serão discutidos os efei
tos da hiperglicemia crônica do cérebro, vista como doença
HIPOGLICEMIA de pequenos vasos acelerada (microvascular). Então, serão
consideradas duas condições menos comuns associadas
Conceitos gerais com as alterações da hiperglicemia aguda no SNC: cetoaci-
• Desequilíbrio entre o suporte e a utilização da glicose
dose diabética e estado hiperosmolar hiperglicêmico (raro).
hipoglicemia
• Pode ser discreta, transitória, assintomática
• A extensão das lesões cerebrais depende de Diabetes
o Grau, duração da hipoglicemia No diabetes melito tipo I (DM1), previamente chamado
o CBF, utilização da glicose de "diabetes juvenil", uma falta de insulina resulta da des
o Disponibilidade/utilização de fontes de energia truição das células p produtoras de insulina no páncreas,
alternativas (p. ex., lactato) presumivelmente secundária a um processo autoimune
mediado. O DM1 corresponde a apenas 5 a 10% de todos
(continua)
os pacientes com DM.
930 Distúrbios tóxicos, metabóilcos, degenerativos e do LCS
32-16A FLAIR axial de um paciente com DM2 e EHH mostrando giros hi- 32-168 Mapa ADC do mesmo paciente mostrando restrição da difu-
perintensos BH e SB hipointensa BI no lobo parieto-occipitai esquerdo. são B3. (Cortesia de K. K. Oguz, MO.)
A maioria dos pacientes com diabetes tem diabetes osmolaridade normal a EHH com mínima ou nenhuma
nieüto tipo 11 (DM2), previamente chamado de "diabetes cetose e coma.
de início adulto". O DM2 também é conhecido como dia CD e EHH são causados pela redução da ação efeti
betes não insulino-dependente e é causado pela deficiên va da insulina circulante. A "fome" intracelular estimula
cia relativa da insulina ou por resistência insulínica celu a liberação dos hormônios contrarreguladores glucagon,
lar. O DM2 ocorre tanto em crianças quanto em adultos. catecolaminas, Cortisol e honnônio do crescimento. Isso
Fatores de risco incluem baixo nível de atividade, dieta leva a uma produção de glicose hepática e renal acelerada
pobre e excesso de peso. e à redução da utilização da glicose nos tecidos periféricos
dependentes de insulina (p. ex., músculo, fígado, tecido
Dano cerebral hiperglicémico crônico adiposo). O resultado é hiperglicemia, lipólise (com libe
o dano cerebral induzido pela hiperglicemia pode ser ração de ácidos graxos livres na circulação) e oxidaçâo
crônico ou agudo. Com o aumento mundial da obesida ácida gordurosa hepática (em corpos cetônicos).
de e com a crescente prevalência de DM2, os efeitos da CD c EHH também estão associados com glicosúria,
hiperglicemia crônica no cérebro são muito conhecidos. que pode causar disúria osinótica com conseqüente perda de
Os pacientes com DM2 têm arterioloesclerose acelerada e água, sódio, potássio e outros eletrólitos. Em casos graves,
hipo-hialinose com infarto silencioso, perda volumétrica alterações secundárias da desmielinização osmótica aguda
cerebral e redução da função cognitiva. podem complicar os achados de imagem dessas doenças.
A RM mostra aumento dos números de hiperintensi- Cetoacídose diabética. Embora a CD possa ocorrer em pa
dades subcorticais e periventriculares em T2/FLAIR, em cientes com DM 1 e DM2, é muito incomum no DM2. Ela
especial na SB frontal, na ponte e no cerebelo. A imagem é definida como acidose com pH venoso menor que 7,3 ou
do tensor da difusão (DTl, de diffusion tensor imaging) de
concentração de bicarbonato sérico menor que 15 mmol/L
monstra perda da integridade microestrutural com redução na presença de concentração de glicose sérica maior que
da anisotropia fracionada (FA, úq fractional anisotropy). 11 mmol/L. A CD é caracterizada por glicosúria, cetonú-
ria e cetonemia.
Dano cerebral hiperglicémico agudo A CD em geral é uma doença recorrente. A mortali
Embora o dano cerebral agudo na hiperglicemia seja me dade para cada episódio é relativamente pequena (0,15 a
nos comum que na hipoglicemia, a hiperglicemia também 0.3%). O edema cerebral idiopático corresponde a pelo
pode causar uma morbidade maior e uma mortalidade sig menos dois terços dos casos fatais.
nificativa. Duas condições agudas são associadas com a A imagem em pacientes com CD aguda é não especí
hiperglicemia: a cetoacídose diabética (CD) e o estado fica, com edema cerebral vasogênico sendo a anormalida
hipcrosmolar hiperglicémico (EHH). Essas duas doen de mais comum, idade jovem, acidose grave, hipocapnia
ças podem ser consideradas o ponto final de um contí e desidratação já foram citadas como fatores de risco para
nuo clinico-laboratorial de CD com sintomas mínimos e edema cerebral.
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 931
HIPERGIICEMIA
Conceitos gerais
• Espontânea (rara) ou associada ao diabetes (comum)
• Aguda (rara) ou crônica (comum)
Hipergiicemia
• Dano cerebral associado ao diabetes crônico
o Arterioloesclerose acelerada, diminuição cognitiva
o RM: i volume cerebral, t hiperintensidades na SB
• Dano cerebral hipoglicêmico agudo
o cetoacidose diabética (CD)
o Estado hiperosmolar hiperglicêmico (EHH)
o Hemibalismo-hemicoreia induzido pela
hipergiicemia (HHH)
• Imagem
o CD: edema cerebral vasogénico +-desmielinização
osmótica
o EHH: hipointensidade na SB subcortical 32-17C 12* GRE mostrando mínima hipointensidade
o HHH: encurtamento de TI unilateral nos núcleos da
no globo páiido E5] e artefato ou susceptibilidade
base
magnética não significativo, que seria sugestivo de he
morragia. (K. K. Oguz, MD.)
932 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
Distúrbios da tireoide
Os distiírbios da tireoide são doenças metabólicas relati
vamente comuns que muitas vezes são leves e raramente
afetam a função cerebral. Entretanto, muitos achados de
imagem - alguns deles evidentes - são associados com
doença tireoidiana. Alguns podem ser confundidos com
doenças mais sérias {p. ex.. hiperplasia hipofisária induzi
da pelo hipotireoidismo mimetizando adenoma hipofisá-
rio), e alguns (p. ex., encefalopatia de Hashimoto) podem
ocasionar risco à vida.
O hipotireoidismo pode ser congênito ou adquirido.
A discussão sobre doenças da tireoide será iniciada com
o hipotireoidismo congênito, dando-se então atenção às
doenças hipotireoidianas adquiridas e suas manifestações
32-18 A tireolde embfionáfia migra inferiormente da de imagem. A seção terminará com uma rápida conside
lingua para o pescoço. A tireoide ectópica pode ocorrer ração sobre as doenças hipertireoidianas e seus efeitos no
em qualquer lugar ao longo do dueto lireoglosso B.
SNC.
Hipotireoidismo congênito
O hipotireoidismo congênito (HC) ocorre em 1:2.000 a
4.000 recém-nascidos e é uma das causas previniveis mais
comuns de retardo mental. Se o diagnóstico e o tratamen
to inicial forem feitos dentro de algumas semanas após o
nascimento, o neurodesenvolvimento costuma ser normal.
Recém-nascidos com HC normalmente têm algum re
síduo inicial de função tireoidiana devido ao T4 materno
que cruza a placenta do feto. Com uma meia-vida de seis
dias, no entanto, o T4 materno será metabolizado e excre
tado quase por completo com 3 a 4 semanas de idade.
Nos países desenvolvidos, com os programas de
rastreamento dos recém-nascidos, a maioria das crian
ças com HC é diagnosticada logo após o nascimento. O
32-19 Gráfico sagital mostrando localizações possí
hormônio tireoestimulante (TSH, de thyroid-siimidatmg
veis da tireoide ectópica. A maioria ocorre ao longo do hormone) sérico é elevado (em geral mais de 20 a 30
dueto tireoglosso, mas pode ocorrer em qualquer lugar mu/L). Em países menos desenvolvidos, o HC costuma
(p. ex., subesternal). ser diagnosticado tardiamente na infância quando achados
clínicos suspeitos levam a um teste de função da tireoide
ou a exames de imagem. O achado clinico mais visível é a
face sugestiva de "cretinismo", um termo não mais usado
devido a suas implicações pejorativas.
Etiologla e apresentação
o HC pode ser causado por disgenesia tireoidiana, dis-
-hormonogenesia ou hipotireoidismo central. A deficiên
cia de iodo e a doença tireoidiana materna também podem
causar hipotireoidismo nos recém-nascidos.
Fatores maternos. O HC transitório pode ocorrer em re
cém-nascidos pré-termo em áreas com deficiências endê
micas de iodo ou em famílias com história de bócio.
Na tireoidite autoimune materna, anticorpos IgG
atravessam a placenta e podem bloquear a produção da
32-20 Gráfico mostrando eixo hipolalãmico-hipo-
tireoide fetal. Medicação ou terapia com 1-131 para o hi
fisário e tireoide. Observar que T3 e T4 B inibem a potireoidismo materno ou câncer também pode agir ad
estimulação hipotalãmíca e hipofisária da tireoide. versamente no feto.
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 933
32-21 Visão anterior de Tc-99m em uma criança com HC não mos 32-22 Imagem de um menino de 13 anos com piora do hipotireoidis-
trando captação em qualquer das localizações possíveis para o tecido mo, provavelmente secundário a um defeito de organificaçâo, mostran
tireoidiano, incluindo a orofaringe/base da língua 0b], o pescoço SI e do uma tireoide bilobada com uma captação muito baixa SI. (Cortesia
o mediastino [^. (Cortesia de J. P. 0'Maley, MD.) de J. P. 0'Maley, MD.)
OlSGENESiA DA TIREOIDE. A dlsgenesia da tireoide é a causa Hipotireoidismo central (secundário). Disfunções hipofi-
mais comum de HC, correspondendo a 70 a 75% dos ca sárias ou hipolalâmicas causam 10 a 15% dos casos de
sos. A falha do desenvolvimento normal da glândula ti HC. A glândula é formada normalmente, mas o eixo hi-
reoide inclui uma formação anormal da glândula e uma potálamo-hipófise-tireoide é interrompido (Fig. 32-20). A
descida aberrante da tireoide. maioria dos casos de hipotireoidismo secundário é causa
O tecido da tireoide ectópica corresponde a 25 a da pela redução do TSH hipofisário e costuma ocorrer em
50% dos casos com disgenesia da tireoide. A ectopia pode combinação com a deficiência de hormônio hipofisário.
ocorrer em qualquer lugar ao longo do dueto tireoglosso O denominado hipotireoidismo terciário devido à redução
embrionário (Fig. 32-18), a via que segue a tireoide em do TSH liipotalâinico é raro em crianças.
desenvolvimento enquanto ela desce da base da língua ao
pescoço (Fig. 32-19). A produção de hormônio na tireoide Imagem
Estudos de imagem na face e no pescoço demonstram
ectópica é baixa (apesar da presença de tecido funcionan-
uma tireoide ectópica em mais da metade de todos os ca
te), mas não completamente ausente. Em alguns casos, a
sos de HC. Cerca de 90% ocorrem na base na língua, onde
produção hormonal pode ser suficiente para atrasar os sin
tomas clínicos até a adolescência. são vistos como uma massa bem delimitada, arredondada
A agenesia da tireoide ou hipoplasía corresponde a ou ovoide, hiperdensa na linha média na TC sem contras
20 a 50% dos casos de HC e costuma causar hipotireoidis- te, e uma massa iso em TI e hiperintensa em T2 na RM.
mo grave com marcada redução do T4, elevação do TSH e Realce uniforme e intenso após injeção endovenosa de
níveis indetectáveis de tireoglobulina. contraste é típico.
A ausência completa da tireoide e a hipoplasia tireoi-
Ois-HORMONOGENESIA. Erros inatos da biossíntese dos hor diana representam a maioria dos casos remanescentes.
mônios tireoidianos (dis-hormonogenesia) correspondem Estudos nucleares (pertecnetato Tc-99m ou 1-123) não
a 5 a 15% dos casos de HC. Os defeitos ocorrem na bios costumam ser usados para o diagnóstico de disgenesia tí-
síntese. na secreção ou na utilização dos hormônios tireoi reoidiana e demonstram a ausência da captação (nenhuma
dianos, incluindo anormalidades enzimáticas, deficiência atividade em qualquer dos locais esperados) (Fig. 32-21).
de transporte do sódio/íodeto, resistência de TSH com Erros inatos do metabolismo dos hormônios tireoidianos
receptores de TSH anormais nas membranas das células em geral aparecem como tireoides pequenas bilobadas na
foliculares, e resistência do hormônio tireoidiano perifé localização esperada (Fig.32-22).
rico com defeito do receptor de T3 nos núcleos celulares Imagens de RM cerebral em crianças com HC podem
periféricos. mostrar uma discreta atrofia generalizada com redução do
934 Distúrbios tóxicos, metabóíicos, degenerativos e do LCS
m
1.-.V
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 935
32-26A T2 axial em uma mulher de 51 anos com encefalopatia de 32-26B FLAIR na mesma paciente mostrando o envolvimento da SB
Hashimoto aguda mostrando hiperinlensidades confluentes e simétricas subcortical frontal poupando os lobos occipitais.
na S6 subcortical e profunda.
sária induzida pelo hipotireoidismo reverte com a terapia podem ser inicialmente diagnosticados de modo errôneo
de reposição de hormônio da tireoide. Cuidado: qualquer como tendo uma demência "pré-senil".
homem na pré-puberdade que apresente um "macroade- Imagem. Cerca da metade de todos os pacientes com ence
noma hipofisário" nos estudos de imagem deve ter uma
falopatia de Hashimoto demonstra anormalidades na ima
avaliação endocrinológica detalhada, uma vez que macro-
adenomas são excepcionalmente raros nesse grupo etário. gem. Os achados mais típicos na RM são as hiperintensi-
dades difusas confluentes ou focais em T2/FLA1R na SB
subcortical e profunda periventricular. Os lobos occipitais
Encefalopatia de Hashimoto são relativamente poupados (Fig. 32-26). A encefalopatia
Terminologia e etiologia. A encefalopatia de Hashimoto é de Hashimoto em geral não realça após administração ve-
uma condição rara, mas tratável, geralmente associada nosa de contraste.
com a tireoidite de Hashimoto (TH) e caracterizada por
altos níveis de anticorpos antitireoide. A encefalite de Hipertireoidismo
Hashimoto também é chamada de "encefalopatia respon- A manifestação mais comum do hipertireoidismo na ca
siva a esteroide associada à tireoidite autoimune". Ela é
uma complicação neurológica bem reconhecida da doença beça e no pescoço é a oftalmopatia tireoidiana (doença
de Graves). O envolvimento cerebral no hipertireoidismo
autoimune da tireoide e é a causa mais comum de hipoti
ocorre, mas é muito raro.
reoidismo adquirido.
Os macroadenomas hipofisários secreíores de tirotro-
Ocasionalmente, a encefalopatia de Hashimoto ocorre
pinas causam hipertireoidismo devido à síndrome de se-
com um hipotireoidismo "iatrogênico" grave, geralmente
creção inapropriada de TSH. Os estados hipocortisolêmi-
com reposição hormonal inadequada seguida de tireoidec-
cos (p. ex., síndrome de Sheehan com necrose hipofisária
tomia ou tratamento com I-131 radioativo.
peri ou pós-parto) também podem precipitar hiperimuni-
Aspectos clínicos. A encefalopatia de Hashimoto ocorre dade e hipertireoidismo autoimune.
tanto em crianças quanto em adultos, e existe uma preva Existe um aumento da prevalência de distúrbios psi
lência moderada no sexo feminino. quiátricos e de comportamento em pacientes com hiper
A maioria dos pacientes apresenta-se com encefalo tireoidismo, incluindo o hipertireoidismo apatético e a
patia aguda ou distúrbios neuropsiquiátricos graves (algu demência hipertireóidea. A tireotoxicose também pode
mas vezes chamados de "loucura mixedematosa"). Outros causar distúrbios de consciência. Crises convulsivas, nor
sintomas comuns incluem crises convulsivas (66%), mio- malmente do tipo generalizada tônico-clônica, ocorrem
clonos (38%) e infarto cerebral (27%). Ocasionalmente, em menos de 1% dos casos.
os pacientes apresentam-se com mais declínio cognitivo Exames de imagem do encéfalo no hipertireoidismo
gradual e alterações da personalidade. Esses pacientes são incomuns. Alguns poucos casos de hipertensão in-
936 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
DISTÚRBIOS DA TIREOIDE
Hipertireoidismo
• Oftalmopatia tireoidiana (doença de Graves)
f' >.t t" '
• Raramente é realizado exame de imagem do
cérebro
Distúrbios da paratireolde
V-
As glândulas da paratireoide estão localizadas no espa
32-28A TC sem contraste em hiperparatireoidismo ço visceral do pescoço. Elas normalmente apresentam o
mostrando Ca+» bilateral e simétrico nas cabeças dos tamanho e a morfologia de um grão de feijão e são mui
núcleos caudados, no putame, no globo pálido e no to aderentes à superfície posterior dos lobos da tireoide.
tálamo. Alguns Ca++ estão na junção SB-SC.
As glândulas paratireoides ectópicas são encontradas em
2% dos casos, geralmente logo abaixo do polo tireoidia-
no inferior, mas também podem ser encontradas da região
cervical superior até o mediastino. A maioria dos pacien
tes tem quatro glândulas paratireoides, 10% têm cinco ou
mais. e 3% têm três ou menos.
As anormalidades metabòlicas relacionadas à dis-
função hormonal da paratireoide incluem o hiperpara
tireoidismo primário e secundário, assim como o hi-
poparatireoidismo, o pseudo-hipoparatireoidismo e o
pseudo-pseudo-hipoparatireoidismo.
Hiperparatireoidismo
As glândulas paratireoides controlam o metabolismo do
cálcio produzindo o hormônio da paratireoide (PTH, de
parathyroid hormone). O hiperparatireoidismo (HPT) é a
32-286 TI coronal do mesmo paciente mostrando doença clássica de reabsorção óssea; portanto, anormali
encurtamento de Ti com hiperintensidades simétricas dades na imagem podem ser vistas tanto na calota crania
nos núcleos caudados S3 e nos núcleos da base na quanto no cérebro.
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 937
O HPT pode ser um distúrbio adquirido (comum) ou caracterizada por carcinoma medular da tireoide (99%), fe-
herdado (raro). Ambas as condições são brevemente dis ocromocitoma (50%) e tumores da paratireoide (20 a 30%).
cutidas neste capítulo. O HPT também pode ser primário,
Aspectos clínicos. O HPT primário é mais comum em adul
secundário ou até mesmo terciário. Devido ao aumento
tos de meia-idade e idosos, sendo relativamente raro em
do número de pacientes em diáüse, o tipo mais comum
crianças. Existe uma grande predominância no sexo femi
atualmente é o HPT secundário.
nino. O HPT primário é caracterizado por hipercalcemia e
r \
cleróticos S!.
32-29B TC óssea coronal no
mesmo paciente mostrando um
intenso espessamento da calota
craniana.
32-31A TI sagital em um ho
mem de 34 anos com uma his
tória de 25 anos de insuficiência
renal em diálise, HPT secundário
conhecido e macrocefalia. Ele
desenvolveu redução da visão
e espessamento dos discos óp
ticos. Observar o espessamento
marcado da calota craniana B,
com múltiplos 'tumores mar
rons" e pannus espessado e
caicificado ao redor do odontoide
B a
32-31B TI sagital no mesmo
paciente mostrando espessa
mento da parede da órbita E3
e da calota craniana. Observar os
"tumores marrons" proeminen
tes bem delimitados de intensi
dade de sinal variável
Os achados mais comuns no cérebro são calcificação A DRC de longa data também pode resultar em calcifíca-
dos núcleos da base na TC sem contraste. Depósitos si ções extensas nas carótidas internas e externas.
métricos bilaterais nos globos pálidos, no putame e nos
núcleos caudados são típicos. Os tálamos, a SB subcorti Hlperparatireoldismo terciário
cal e os núcleos denteados também podem estar afetados o HPT terciário resulta de um HPT secundário de longa
(Fig. 32-28A). data e raramente é visto. A glândula paratireóidea toma-se
A RM mostra encurtamenlo simétrico em TI e hi-
hiperplásica e não responde de modo apropriado aos níveis
pointensidade em T2 nos núcleos da base (Fig. 32-28B). de cálcio sérico (i.e., funciona "autonomicamente"). Os
Artefato de susceptibilidade magnética discreto a mode achados de imagem são similares aos do HPT secundário.
rado em T2* (GRE, SWI) é típico. "Tumores marrons"
- lesões não neoplásicas solitárias ou múltiplas da calota
Distúrbios da hipoparatireoide
craniana - são comuns (ver a seguir).
Três tipos de hipoparatireoidismo são conhecidos: hipo-
paratireoidismo, pseudo-hipoparatireoidismo e o pseudo-
HIperparatirGoidlsmo secundário
-pseudo-hipoparatireoidismo. Todas as três doenças com
Etiologia. o HPT secundário é caracterizado por hiperse-
partilham achados comuns nos exames de imagem do
creção de PTH e hiperplasia da glândula paratireoide. cérebro, embora tenham apresentação clínica e achados
A causa mais comum do HPT secundário é a doença laboratoriais variáveis.
renal crônica (DRC). A maioria dos pacientes em diálise
eventualmente desenvolve o HPT secundário. Outras etio-
Hipoparatireoidismo
logias do HPT secundário incluem deficiência da dieta de o hipoparatireoidismo (HP) é uma doença da infância,
cálcio, distúrbios da vitamina D, redução do metabolismo
em geral apresentando-se por volta dos 5 anos de idade. E
de fosfato e hipomagnesemia.
provável que essa condição seja uma doença autoimune-
Aspectos clínicos. A maioria dos pacientes com HPT secun -mediada com redução da produção do PTH. O HP é ca
dário tem mais de 40 anos no momento do diagnóstico racterizado por hipocalcemia e hipofosfatemia. Espasmo
inicial. Não existe predileção por gênero. O cálcio sérico carpopedal, tetania, crises convulsivas e hiper-reflexia são
é normal ou baixo, o fósforo sérico é aumentado, e o pro apresentações comuns.
duto cálcio-fosfato é elevado. A vitamina D é reduzida, o Calcificações intracranianas são achados típicos na
que quase sempre é secundário à doença renal em vez de TC sem contraste (Fig. 32-32). Os núcleos da base são
deficiência dietética. os locais mais comuns, seguidos pelo cérebro e pelo cere-
A manifestação comum da DRC é a osteodistrofia belo. Calcificações no tecido subcutâneo são comuns nas
renal. O espessamento maciço da calota craniana e da extremidades, mas raras na cabeça e no pescoço.
base do crânio reduz as dimensões dos canais neurais e Os achados extracranianos mais evidentes são rela
vasculares. O envolvimento progressivo dos nervos cra cionados à osteosclerose. Calcificação no ligamento es-
nianos - mais comumente a neuropatia óptica compres- pinal/ossifícação, formação de osteófitos e entesopatia
siva - e a estenose carotídea com sintomas de isquemia (especialmente ao redor da pelve) são típicas. O HP no
são típicos. adulto é raro e quase sempre é iatrogênico, ocorrendo
Imagem. O HPT secundário afeta primeiro a calota crania inadvertidamente após tireoidectomia. Em contraste com
na e a dura; o parênquima cerebral geralmente é normal. o HP infantil, o HP adulto tem poucos achados nos exa
A TC sem contraste mostra um espessamento acentuado mes de imagem.
da calota craniana e dos ossos da face, uma condição al
gumas vezes descrita como "leontíase urêmica óssea" ou
Pseudo-hipoparatireoidismo
macrocefalia (Fig. 32-29). O pseudo-hipoparatireoidismo (PHP) é causado pela
"Tumores marrons" podem ser vistos tanto no HPT insensibilidade do órgão-alvo e é caracterizado por ele
primário quanto no secundário. Esses tumores represen vação dos níveis de PTH. Obesidade, face arredondada
tam um processo reativo - não neoplásico - causado por e retardo mental são achados clínicos essenciais. A oste
reabsorção óssea osteoclástica. Reposição fibrosa, hemor odistrofia hereditária de Albright (OHA) é um fenótipo
ragia e necrose levam à formação de cistos com aparência específico visto no PHP autossômico dominante e é ca
amarronzada. "Tumores marrons" solitários ou múltiplos racterizada pelos quarto e quinto metacarpos curtos e pela
são vistos na TC óssea como lesões líticas expansivas fo baixa estatura.
cais com margem não esclerótica. A intensidade de sinal
na RM é muito variável, refletindo a idade e a quantidade Pseudo-pseudo-hipoparatireoidismo
de hemorragia, assim como a presença de tecido fibroso e o pseudo-pseudo-hipoparatireoidismo (PPHP) é causa
formação cística (Fig. 32-31). do pela expressão incompleta do PHP (por isso o termo
O achado intracraniano clássico no HPT secundário é "pseudo-pseudo..."). Os níveis de cálcio e fosfato são
um espessamento durai cm placa extenso (Fig. 32-30). normais.
940 Distúrbios tóxicos, metabóíicos, degenerativos e do LCS
32-32A TC sem contraste axial em um paciente de 7 anos com novas 32-32B Imagem um pouco mais cefálica mostrando calcificações
crises convulsivas e HP documentado mostrando calcificações simétricas adicionais.
nos núcleos da base B, com pequenos focos calcificados na Interface
SB-SCBI.
Anatomia macroscópica
Lobo temporal. O lobo temporal situa-se inferiormente à
fissura silviana. Sua superfície lateral apresenta três gi
Crises convulsivas e distúrbios relacionados
ros: o giro temporal superior (contém o córtex auditivo
As crises convulsivas podem ser precipitadas por muitas primário), o giro temporal médio (conecta-se com as vias
condições infecciosas, metabólicas, tóxicas, de desenvol- auditivas, somatossensoriais e de associação visual) e o
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 941
giro temporal inferior {contém a mais alta área de asso Nos cortes coronais através do corpo, ele é composto
ciação visual). por duas camadas de SC em formato de U: o como de
O lobo temporal também contém as subdivisões do Ammon e o giro denteado. O corno de Ammon - o hi
sistema límbico (Fig. 32-33). O giro para-hipocampal si pocampo propriamente dito - forma o "U" mais supero
tua-se na superfície mediai do lobo temporal e une-se com lateral, invertido, enquanto o giro denteado forma o "U"
o uncus (Fig. 32-34). inferomedial (Fig. 32-35).
Hipocampo. O hipocampo humano é uma parte do cérebro O corno de Ammon (CA) é subdividido em quatro zo
nas com base na largura, no tamanho celular e na densida
fílogeneticamente antiga que tem um papcl-chave na me
mória. Ele pode ser afetado por muitas doenças neurológi de celular. Essas zonas süo chamadas de CA 1, CA2, CA3
cas comuns, incluindo infarto isquêmico agudo, amnésia e CA4. O CAI (também chamado de setor Sommer) é a
zona lateral mais externa e consiste em pequenas células
global transitória, epilepsia e encefaíite.
O hipocampo é parte do sistema límbico, três áreas em piramidais que são especialmente vulneráveis à anoxia. O
formato de C que circundam o diencéfalo e os núcleos da CA2 curva-se superomedialmente a partir do CAI e con
base (Fig. 32-33). O hipocampo propriamente dito é parte do siste em uma banda estreita de células que são relativa
arco médio, que se estende do lobo temporal ao lobo frontal. mente resistentes à anoxia. O CA3 é uma banda frouxa
Ele está situado no aspecto mediai do corno temporal que se une ao CA4, a zona mais interna. O CA4 é envolto
e salienta-se em seu soalho. O hipocampo tem três seg pelo giro denteado.
mentos anatômicos: a cabeça {pes hippocampus^ a parte
anterior com digitações), o corpo (cilíndrico) e uma cauda Anatomia da imagem
posterior que se estreita e se curva ao redor do esplênio do Os giros temporais superior, médio e inferior são mais
corpo caloso (Fig. 32-33). bem identificados na RM no plano sagital.
32-37 Gráfico coronal de uma EMT típica. O hipocampo direito ÍS 32-38 T2 coronal em um homem de 27 anos com história de epilepsia
é atrofiado e escierótico, com perda de sua arquitetura interna normal. intratável e trauma craniano fechado antigo mostrando uma encefalo-
O como temporal direito SI é alargado, e o fórnice ipsilateral B é maíácia no lobo temporal B. O hipocampo direito reduzido e hiperin-
pequeno. tenso ES é compatível com EMT.
O hipocampo é mais bem retratado no plano coro a fisiopatologia exata de como e por que a EMT se de
nal perpendicular ao eixo longo do hipocampo. Cortes senvolve seja desconhecida, processos inflamatórios ou
finos de inversão-recuperação (IR, de inversion-reco crises convulsivas prolongadas com dano hipocampal
very) (ou 3D TI SPGR [seqüência de pulso gradiente- hipóxico-isquêmico são considerados os candidatos mais
-eco espoliada, de spoiled gradient recalled]), T2 de prováveis.
alta resolução e FLAIR coronal de todo o cérebro são
recomendados. Patologia
Imagens coronais mostram o hipocampo como uma A EMT é caracterizada macroscopicamente por atrofia
estrutura em formato de "cavalo-marinho" imediatamente do hipocampo e das estruturas adjacentes (Fig. 32-37). O
abaixo da fissura coróidea e do como temporal dos ven-
corpo hipocampal (85 a 90%) é o local mais comumente
triculos laterais (FIg. 32-36). O giro para-hipocampal é afetado, seguido pela cauda (60%) e pela cabeça (50%).
separado do giro denteado pelo sulco hipocampal. O sulco Cerca de 15 a 20% dos casos são bilaterais, mas geral
colateral é uma divisão importante que se situa inferolate- mente são assimétricos.
ralmente ao giro hipocampal. As áreas CAI e CA4 são mais suscetíveis ao DHI,
mas todas as regiões do hipocampo podem ser afetadas.
Esclerose mesial temporal Perda neuronal com astrogliose crônica é o achado histo-
A epilepsia do lobo temporal (ELT) é a forma mais co lògico típico.
mum de epilepsia parcial complexa e pode ocorrer com ou
sem esclerose mesial temporal. Aspectos clínicos
Epioemioldgia. Cerca de 10% de todos os indivíduos apre
Terminologia sentam uma crise convulsiva ao longo da vida. Dois ter
A esclerose mesial temporal (EMT) é a fonna mais fre ços dessas crises são convulsivas não recorrentes febris/
qüente de epilepsia relacionada a uma localização. Sua não febris. O pico de prevalência é bimodal (inferior a 1
manifestação mais comum é a crise convulsiva parcial ano e superior a 55 anos). Um terço dos pacientes desen
complexa. volve crises convulsivas repetidas ("epilepsia").
Cerca de 20% dos pacientes com epilepsia têm crises
Etiologia parciais complexas. Dessas crises, 35 a 50% são refratá-
Uma variedade de eventos como trauma ou infecção rias à terapia anticonvulsivante.
pode precipitar crises convulsivas parciais complexas A EMT é um dos tipos mais comuns de epilepsia re
intratáveis (Fig. 32-38). O resultado é a EMT. Embora lacionada a uma localização e representa a maioria dos
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 943
pacientes que são submetidos à lobectomia temporal para anormal com obscurecimento da arquitetura interna do
crises convulsivas. hipocampo é típica. A EMT em geral não realça após a
Demografia. a EMT é uma doença de crianças de mais ida administração endovenosa do contraste.
A difusão mostra hiperintensidade e aumento da difu-
de e de adultos jovens. Não há predileção por gênero.
sidade no ADC (T2 "shine-lhrough"). A espectroscopia na
Apresentação. A maioria dos pacientes com EMT se apre ELT mostra uma redução do NAA no foco epileptogênico,
senta com crises parciais complexas com duração de 1 a presumivelmente secundária à perda neural. Cho e Cr cos
2 minutos. "Auras" precedentes com medo, ansiedade e tumam estar inalterados. Na EMT. o NAA é reduzido - e
sintomas autonômicos associados são comuns. não apenas no hipocampo. Alterações extra-hipocampais
e até mesmo para regiões extratemporais podem ser de
Opções de tratamento. A lobectomia temporal anteromedial
monstradas.
é o tratamento mais comum para a EMT com ELT resis
tente à medicação e é bem-sucedida em reduzir ou elimi Achados na medicina nuclear. Tomografia por emissão de
nar as crises convulsivas em 70 a 90% dos casos. positrons (PET, de positron emission tomography) com
fluordesoxiglicose (FDG) é o procedimento de imagem
Imagem mais sensível para o diagnóstico de EMT. O hipometabo-
Achados na RM. Os marcadores de imagem da EMT são lismo do lobo temporal é o achado típico. A tomografia
encontrados em 60 a 70% dos pacientes com ELT. A IR computadorizada por emissão de fóton único (SPECT,
coronal verdadeira ou a seqüência 3D SPGR mostra um de single photon emission computed tomography) mos
hipocampo reduzido com atrofia do fórnice ipsilateral e tra hiperperfusão na zona epileptogênica durante ativi
alargamento do corno temporal adjacente e/ou da fissura dade epiléptica. Hipoperfusão no período interictal é
coróidea (Fig. 32-39). A hiperintensidade em T2-FLAIR c o m u m .
32-40A T2 axial em um homem de 30 anos com estado epiléptico mos 32-408 Difusão no mesmo paciente mostrando restrição aguda em
trando que ambos os hipocampos estão edemaciados e híperintensos ES. ambos os hipocampos B.
Angiografia. No passado, a maioria dos pacientes com portam-se como o líquido cerebrospinal (LCS) e supri
ELT intratável que eratn candidatos para ressecçào do mem na FLAIR.
32-41C A hiperintensidade
giriforme poupando a coroa ra
diada é ilustrada.
32-41D Difusão do mesmo
Achados na TC. A TC axial sem contraste pode ser normal Diagnóstico diferencial
ou mostrar um edema girai com apagamento dos sulcos e O maior diagnóstico diferencial do edema cerebral peri-ictal
hipodensidade no parcnquima. A TC com contraste pode é Isquemla-infarto cerebral agudo. A isquemia cerebral
demonstrar um realce girai em uma distribuição não vas aguda ocorre em uma distribuição territorial vascular típi
c u l a r. ca. apresenta formato de cunha (envolvendo a SC e a SB)
Achados na RM. A RM peri-ictal mostra hiperintensidade e é positiva na difusão anles que a hiperintensidade em T2/
em T2/FLAIR com edema girai (Fig. 32-40). A SB sub FLAIR se desenvolva. No EE contínuo, as alterações de si
cortical e profunda é relativamente poupada. Diásquise nal na difusão e em T2 costumam ocorrer simultaneamente.
cerebelar cruzada, envolvimento talâmico ipsilateral e le Cerebrite pode causar massa hiperintensa em
sões nos núcleos da base são vistos em alguns casos. T2/FLAIR que se restringe na difusão. A cerebrite costu
O realce giriforme em TI C+ varia de nenhum a in ma envolver a SB subcortical, assim como o córtex. A en-
tenso. A restrição da difusão com lesões hipocampais uni cefalite herpética em geral é precedida por um pródromo
ou bilaterais, talâmicas e corticais é comum (Fíg. 32-41). viral, afeta o sistema límbico, freqüentemente é bilateral,
Estudos pRM e pTC ictais demonstram hiperperfusão. mas assimétrica, costuma demonstrar hemorragias pele-
quiais e apresenta realce.
L
A V- K *
f' fèi
r
32-43A FLAIR axial em um homem de 54 anos com AGT não demons 32-43B DTl com b = 3.000 mostrando um único pequeno foco de
trando anormalidades. restrição da difusão no hipocampo lateral direito B, mediaimente ao
corno temporal.
Cerca de 80% dos pacientes com AGT desenvolvem sões da AGT em geral são múltiplas, mas sua localização
anormalidades hipocampais focais na difusão (FIg. 32-43). exclusiva no hipocampo atenua contra infartos cmbólicos.
Cortes finos (três milímetros) obtidos com altos valores de As crises convulsivas podem causar restrição da di
b (pelo menos 2.000) e magnetos com alto campo aumen fusão transitória, mas costumam envolver áreas grandes a
tam a sensibilidade. moderadas do córtex. As lesões puntiformes da AGT são
Os achados típicos da AGT são um ou mais focos distintamente diferentes das restrições da difusão girifor-
puntiformes milimétricos com restrição da difusão na mes corticais vistas no EE e das lesões predominantemente
área CA 1 do hipocampo. Eles aparecem como hiperinten- posteriores vistas nas crises convulsivas hipoglícêmicas.
sidades ao longo do aspecto lateral do hipocampo, me A deficiência de tiamina com encefalopatía de
diaimente ao como temporal. As lesões podem ser ijnicas Wernicke aguda pode se apresentar como um distúrbio
(55%) ou miáltiplas (45%), unilaterais (50 a 55%) ou bi fulminante com preservação relativa do nível de consciên
laterais (45 a 50%). O corno do hipocampo é o local mais cia. As lesões são encontradas no tálamo mediai, nos cor
comumente envolvido, seguido pela cabeça. As anormali
pos mamilares, na região periaquedutal e na placa tectal.
dades na difusão na AGT aumentam de modo significati Os hipocampos são poupados.
vo com o tempo seguindo o início dos sintomas. Entre O e
6 horas, 34% dos pacientes mostram focos de restrição da
difusão. Isso aumenta para 62% em pacientes com exame
de imagem entre 6 e 12 horas e para 67% em pacientes Outros distúrbios
entre 12 e 24 horas. Pelo terceiro dia, 75% dos pacientes
demonstram anormalidades. Imagens de controle costu Doença de Fahr
mam mostrar uma resolução completa ao décimo dia. A doença de Fahr é uma doença hereditária e resulta em
Alguns poucos casos relatados demonstraram tanto calcificações intensas nos núcleos da base. Embora seja
hipoperfusão quanto hipometabolismo no hipocampo na idiopática, será incluída neste capítulo (e não no Capítu
P E T o u n a S P E C T. lo 31 com os distúrbios metabólicos hereditários), pois os
achados de imagem lembram aqueles das doenças meta-
Diagnóstico diferencial bólicas adquiridas.
Os dois maiores diagnósticos diferenciais da AGT são o
acidente vascular cerebral (AVC) e as crises convulsivas. Terminologia
O AVC embólico estratégico isolado na área temporal me A doença de Fahr também é conhecida como calcificação
sial. no tálamo ou no fómice pode produzir uma síndrome dos núcleos da base idiopática familiar, ferrocalcinose cere
amnésica isolada e mimetizar a AGT clinicamente. As le brovascular e calcinose estriopalidodental. Essa condição é
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 949
32-44A TC axial em um ho
mem de SI anos com doença
de Fahr mostrando calcificaçâo
simétrica bilateral na SB cerebe-
íar ^9.
32-44B TC sem contraste
mostrando calcificaçòes muito
densas nos núcleos caudados e
nos globos pálidos ES, assim
como calcificações mais discretas
na SB frontal
caracterizada por caicificações nos núcleos da base e extra- O metabolismo do cálcio-fósforo e os níveis de PTH são
Achados na RM. As imagens por RM na doença de Fahr nos núcleos da base. Esse achado pode refletira hiper-rea-
podem ser confusas. A intensidade de sinal varia de acor tivaçào com quebra do circuito neural cortical-subcortical
do com o estágio da doença e a quantidade de calcificação responsável pelos episódios psicóticos geralmente asso
c deposição de metal pesado. A calciflcaçao costuma ser ciados à doença de Fahr.
hiperinlensa em TI. mas pode ser muito variável em 12
(Figs. 32-44G, 32-44H e 32-45). T2/FLA1R pode aparecer Diagnóstico diferencial
normal ou discretamente anormal, podendo também mos Calcificações nos núcleos da base são não específicas e
trar extensos focos de prolongamento em T2 nos núcleos podem ser fisiológicas ou resultar de uma variedade de
da base e na SB cerebral que podem ser tão intensos a pon danos tóxicos, metabólicos, inflamatórios e infecciosos. A
to de mimetizarem desmielinizaçào tóxica/metabólica. sublocalização específica da calcificação pode ser muito
A T2* (GRE, SWI) mostra alterações de suscetibili- útil à etiologia.
dade intensas com hipointensidade tipo artefato de sus- O maior diagnóstico diferencial da doença de Fahr é
ceptibilidade magnética secundárias à deposição de ferro a calciticação físiológica nos núcleos da base normal.
(FIgs. 32-441 e 32-44J). A doença de Fahr não realça na Calcificações relacionadas à idade ("senescentes") são co
seqüência TI C+. muns, costumam estar localizadas no G? mediai, são rela
tivamente mínimas e não apresentam significado clínico.
Ultrassonografia. a ultrassonografla transcraniana reali
A doença de Fahr tem calcificações mais pesadas, muito
zada através da janela acústica do osso temporal demons
mais extensas. Essa doença também demonstra calcifica-
tra aumento da ecogenicidade nos núcleos da base, nos
talamos e na substância negra. ção em outras localizações, como os tálamos, os núcleos
denteados e as SBs cerebral e cerebelar.
Medicina nuclear. A SPECT tem demonstrado aumento da Distúrbios da paratircoide (i.e., hiperparatireoidis-
captação nos lobos temporais com redução da captação mo. HP. PHP. PPHP) podem ter calcificações em uma
32-45A TI axial em um pa
ciente com doença de Fahr mos
trando extenso encurtamenlo de
11 nos núcleos da base ES e no
tálamo ES, com envolvimento
relativamente menor dos GPs
mediais B.
32-45B T1 mais ceíálica do
mesmo paciente mostrando en-
curtamentodeTi globular, assim
como puntiforme e linear S
na SB cerebral periventricular
profunda.
. 4'
ovoídes na SB cerebral profunda
ES, orientada perpendicular
mente aos venlrículos laterais,
Esses achados de doença de Fahr
não devem ser confundidos com
infartos ou placas de esclerose
múltipla. (Cortesia de M. Ayadi,
MD.)
952 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
32-46A TI axial em um paciente de 31 anos com insuficiência hepáti- 32-46B TI axial C+ mostrando hiperintensidades nos núcleos da base
ca crônica mostrando encurtamento de Ti simétrico nos GPs B. simétricas ES, assim como hiperintensidades nos pedúnculos cerebrais
e na substância negra BI. Esses achados são clássicos de encefalopatia
hepática crônica.
|y
e hepatite geral fulminante.
Anormalidades hereditárias do ciclo da uréia ou
acidemias orgânicas como citrulinemia e deficiência de
ornitina-transcarbamilase são outras causas potenciais de
encefalopatia hiperamonêmica aguda (ver Capitulo 31).
Muitos pacientes com EHA têm múltiplas anorma
lidades sistêmicas e metabólicas. Dano hipóxico, crises
convulsivas e hipoglicemia exacerbam os efeitos tóxicos
agudos da amônia no cérebro.
32-47B T2 mostrando o córtex, os núcleos da base
Patologia. A EHA é caracterizada macroscopicamente por e os talamos mediais difusamente edemaciados e hi-
necrose laminar do córtex cerebral. Edema citotóxico gra períntensos.
ve nos astrócitos com dano neuronal anóxico é o achado
hislológico típico da EHA.
Aspectos clínicos. As manifestações clínicas precoces da
hiperamonemia podem ser vistas com os níveis de amônia
plasmáticos de 55 a 60 mmoI/L. Irritabilidade, letargia,
vômito e sonolência são típicos. Redução progressiva da
consciência, crises convulsivas e coma são as principais
manifestações da EHA grave e geralmente são vistos
quando os níveis de amônia são pelo menos quatro vezes
«LVyrl£ .1
o valor normal.
A EHA é um distúrbio com morbidade e mortalida
de altas. O reconhecimento e o tratamento agressivo são
críticos para o prognóstico do paciente. A estratégia de
manejo tradicional tem focado na redução da geração de
amônia no intestino, embora 15% da amônia se originem
no colo. Estudos recentes têm demonstrado que a admi i r
nistração de L-omitina L-aspartato (LOLA) melhora o es 32-47C Difusão mostrando a restrição nas mesmas
tado mental e reduz os níveis de amônia no LCS. estruturas. Observar a SB subcortical profunda poupada.
954 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
32-49A TI axiai de uma menina de 5 anos com en- Encefalopatía hepática crônica
• Mais comum
cefalopatía bilirrubiníca mostrando hiperintensidade nos • Etiologia
núcleos subtalâmicos E9 e na substância negra B.
o Doença hepática crônica grave (cirrose)
• Imagem
o Hiperintensidade em TI no globo pálido e na
substância negra
o Provavelmente deposição de manganês
/
4 • Imagem = achados da hiperamonemia
o Giros edemaciados bilateralmente e hiperintensos
em T2-FLAIR
o Mais grave: córtex insular, giro do cíngulo
o +- Núcleos da base, tálamos
32-496 TI sagital da mesma paciente mostrando a o Difusão 4+
hiperintensidade nos núcleos subtalâmicos ESI, no me- o A ERM pode mostrar um pico de glutamina-glutamato
sencéfalo B e nos núcleos denteados ES.
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 955
Encefahpatia bHirrubínica
Terminologia
A encefalopatia biiirrubínica (EB), também conhecia
como kernicterus, é causada pela hiperbllirrubinemia.
Uma forma mais leve da EB crônica é denominada dis-
função neurológica induzida pela bilirrubina (DNIB).
Etiologia
No kernicterus. o fígado é basicamente incapaz de conju
gar a bilirrubina insolúvel em diglicuronídeo de bilirrubi
na solúvel em água.
É incerto como a bilirrubina chega ao cérebro. A hi-
perbilirrubinemia neonatal resulta na bilirrubina não con
jugada passando através da barreira hematoencefálica
imatura ou comprometida.
32-50A T1 dxídl mostrando hiperintensídades no
A hiperbilirrubinemia está associada com inúme mesencétalo B e nos hipocampos E9.
ras condições predisponentes, incluindo prematuridade,
distúrbios hemoliticos (em especial o grupo de incom
patibilidade sangüínea), amamentação, perda de peso
significativa ao nascimento, policitemia e desidratação.
Defeitos herdados ou adquiridos da conjugação da bi
lirrubina, metabolismo da glicose, distúrbios do trânsito
gastrintestina! e drogas que competem com a bilirrubina
por albumina ligante são outros fatores que aumentam o
risco de EB.
Patologia
o principal fator macroscópico patológico é a coloração
amarelada do GP, dos corpos mamilares, da substância
negra, dos núcleos subtalâmicos, do hipocampo, dos nú
cleos denteados e da medula espinal (Fig. 32-48). O maior
achado histológico da EB aguda é a necrose neuronal com
pequena ou nenhuma reação inflamatória. A demonstra
ção de pigmento de bilirrubina dentro dos neurônios é in- 32-50B TI mostrando hiperintensídades intensas
c o m u m .
nos GPs E3 e hiperintensidades menores na cauda dos
hipocampos S.
Aspectos clínicos
Embora a icterícia neonatal seja comum, o kernicterus é
raro em países desenvolvidos. A incidência estimada nos
Estados Unidos é de cerca de cinco casos por ano.
Nem todos os recém-nascidos com kernicterus exi
bem sintomas. Os neonatos com hiperbilirrubinemia evi
dente apresentam sintomas nos primeiros dias de vida.
Icterícia, estupor, hipotonia e dificuldade de sucção são
seguidos por epistótonos e hiper-reflexia.
Os achados em crianças com kernicterus crônico clás
sico variam em gravidade. A maioria mostra algum tipo de
distúrbio de movimento, mais comumente atetose. Outras
anormalidades incluem distúrbios auditivos, comprometi
mento oculomotor (particularmente do olhar para cima) e
dentes com esmaltes displásicos. Retardo mental franco é
relativamente incomum.
Os pacientes com DNIB podem mostrar anormalida 32-50C T2 axial no mesmo nivel não mostrando evi
des discretas do neurodesenvolvimento sem achados clí dência de anormalidades de sinal nos GPs, um achado
nicos clássicos de kernicterus. típico de EB aguda.
956 Distúrbios tóxicos, metabóiicos, degenerativos e do LCS
32-51 Gráfico axial mostrando desmielinização osmólica aguda SI 32-52 T2 axial mostrando desmielinizaçâo osmótica clássica. A ponte
afetando a ponte central. Observar a SB periférica poupada e a posição periférica é poupada, assim como os tratos corticospinais e as fibras
dos tratos corticospinais [S. transversas da ponte.
glials seletivamente incham após um estresse hipotôni- Patologia macroscópica. Do ponto de vista macroscópico, a
00, enquanto os neurônios não. Disfunções dos canais de ponte central é anormalmente mole e exibe uma área rom-
água específicos da glia - aquaporina-4 e aquaporina-l boide ou em forma de tridente de coloração acinzentada.
- resultam em edema cerebral e aumentam a pressão in A ponte periférica é poupada.
tracraniana. Necrose cortical laminar pode ocorrer na SDO, tan
to primariamente quanto em associação com hipoxia ou
Patologia anoxia. Nesses casos, o córtex afetado aparece mole e
Localização. A SDO é tradicionalmente considerada uma pálido.
lesão pontina (Figs. 32-51 e 32-52). Entretanto, o envol Achados microscópicos. Do ponto de vista microscópico, a
vimento multifocal não é somente comum, mas também SDO é caracterizada por perda de mielina com relativa
característico. Apenas 50% dos casos de SDO têm lesões preservação dos axônios e dos neurônios. A desmielini-
pontinas isoladas. Em 30% dos casos, focos mieiinolíticos zação ativa sem evidencia de inflamação significativa é
ocorrem dentro e fora da ponte. Os núcleos da base e os típica. A presença de astrócitos reativos e macrófagos es
hemisférios cerebrais são sítios comuns. A desmieliniza- pumosos Cfoamy"), carregados de lipídeos abundantes, é
çào da SB é exclusivamente extraponlina em 20 a 25% característica.
dos casos.
Outras partes do SNC que podem estar envolvidas na Aspectos clínicos
SDO incluem o cerebelo (em especial os pedúnculos ce- Demografia e epioemiologia. a SDO é um distúrbio raro e
rebelares médios), os núcleos da base, os tálamos, o corpo sua exata prevalência é desconhecida. Ela pode ocorrer
geniculado lateral e a SB hemisférica. Alguns casos de em qualquer fase da vida, mas é mais comum em pacien
SDO envolvem o córtex. tes de meia-idade (pico = 30 a 60 anos). Existe uma pre-
k,#
do de um lado para o outro.
V I
32-53C T2 mostrando a forma
em "tridente" ou em "asa de
morcego" simétrica da mielinóli-
se pontina ES. A ponte periféri
ca está poupada.
32-53D T2 mais cefálíca na
ponte superior mostrando a
■ ' lesão ES com "linhas" de tratos
transversos da ponte mielíni-
zados e preservados B vistos
cruzando a lesão.
y
958 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
valência moderada em homens. Pacientes pediátricos com te. Alguns pacientes sobrevivem com pouco ou nenhum
SDO costumam apresentar diabetes ou anorexia. déficit residual. Em casos graves, o paciente pode se tor
As causas mais comuns de SDO são correção rápida nar quadriparético e evoluir para a síndrome de locked-in.
da hiponatremia, alcoolismo, transplante hepático e des
Opções de tratamento. O sódio sérico inicial na SDO cos
nutrição. tuma estar abaixo de 115 a 120 mmol/L e a osmolalidade
As comorbidades que predispõem ao desenvolvimen
sérica é menor que 275 mOsm/kg. Embora não exista um
to da SDO incluem doença renal, suprarrenal, hipofisária
consenso em relação às taxas de correção da hiponatre
e paraneoplásica. Vômitos prolongados (p. ex., hiperême-
se gravídica), queimaduras graves, transplante e uso pro mia, uma correção de mais de 12 mmol/L/dia parece au
mentar o risco de SDO.
longado de diurético podem contribuir para o desenvolvi A SDO também pode ocorrer (I) em pacientes nor-
mento da SDO.
monatrèmicos e (2) de modo independente em relação às
Apresentação. Os sintomas mais comuns da SDO são altera alterações do sódio sérico.
ção do estado mental e crises convulsivas. Um curso clínico
bifásico é comum. Quando a normonatremia é restaurada, o Imagem
estado mental melhora, mas pode deteriorar-se rapidamen Aspectos gerais. Os achados de imagem na SDO costu
te depois. Outros achados incluem paralisia pseudobulbar, mam aparecer uma ou duas semanas após os sintomas
disartria e disfagia. Distúrbios do movimento são comuns clínicos.
quando a mielinólise envolve os núcleos da base.
Achados na TC. A TC sem contraste pode ser normal ou
História natural. O prognóstico da SDO varia de modo demonstrar hipodensidade nas áreas afetadas, particular
significativo de uma recuperação completa a coma e mor mente na ponte central (FIg. 32-53A).
32-54A TI sagilai em um ho
mem de 44 anos alcoólatra com
vômitos, crises convulsivas e al
teração aguda do estado mental.
A ponte central é discretamente
aumentada e hipointensa
enquanto a ponte periférica B
é poupada.
32-54B T2 no mesmo pacien
te mostrando hiperintensidades
simétricas centrais B poupan
do a ponte periférica (3 e os
tratos corticospinais f^.
4^-
jf- . B
960 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
'i
na é ilustrada neste caso de um
homem de 46 anos alcoólatra
que iniciou com hiponatremia
grave seguida de cirurgia, ra
pidamente corrigida. T1 sagilai
mostrando uma banda de hipoin-
tensidade na ponte centrai B,
poupando a periferia.
32-57B T2 mostrando uma
hiperinlensidade pontina central
ES com lesões simétricas nos
dois pedúncuios cerebeiares
maiores S.
' * • V*
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 961
Os distúrbios de sobrecarga de ferro envolvem um por trauma, tumor, cirurgia prévia ou hemorragias suba-
grande espectro de etiologias herdadas e adquiridas. As racnóideas repetidas de uma má formação arteriovenosa
doenças hereditárias do metabolismo do ferro são discuti ou de aneurisma. A angiopatia amiloide é uma causa co
das no Capítulo 31. Os distúrbios adquiridos de sobrecar mum de siderose em pacientes idosos.
ga de ferro serão descritos aqui.
Imagem
Terminologia A glândula hipofisárla - em especial o lobo anterior - é
A sobrecarga adquirida de ferro cerebral é chamada de si- muito sensível aos efeitos tóxicos precoces da sobrecarga
derose. Quando o depósito de ferro ocorre ao longo dos de ferro. A deposição progressiva de ferro causa uma hi-
nervos cranianos ou da superfície piai do cérebro, é de pointensidade intensa na hipófise nas seqüências ponde
nominada siderosc superficial. A hcmocromatose é o radas em T2.
acúmulo patológico de ferro intracelular nos tecidos pa- O depósito de ferro nos plexos eoroldes ocorre nos
renquimatosos. casos de discrasia hematológica, como na anemia falcifor
me. As TCs sem contraste costumam ser normais, mas a
Etiologia seqüência T2* (GRE, SWl) da RM mostra hipointensida-
A sobrecarga sistêmica de ferro pode ser causada por des simétricas com artefato de susceptibilidade magnética
discrasias sangüíneas hereditárias ou adquiridas (p. ex., no plexo coroide (Fig. 32-58).
talassemia maior, anemia falciforme, anemia aplásica ou A siderose superficial ao longo das superfícies ce
refratária, doença mielodisplásica) ou por uma absorção rebrais e dos nervos cranianos geralmente é associada
intestinal aumentada de ferro. com hemorragias subaracnóideas repetidas e não dis
Depósitos anormais de ferro podem ocorrer como um tribuídas de modo uniforme. A T2* mostra artefato de
achado de muitas doenças degenerativas. As doenças de susceptibilidade magnética ao longo da pia (superfície
Parkinson e de Alzheimer, assim como a esclerose late girai).
ral amiotrófica e a esclerose múltipla progressiva crônica, O depósito de ferro dentro do córtex e dos núcleos
estão associadas com o aumento do depósito de ferro nos da base é menos comum e está associado com neuro-
núcleos da base. ferritinopatias e síndromes de degeneração cerebral. Hi-
No cérebro, a siderose superficial é mais comum que pointensidades serpiginosas simétricas difusas e núcleos
o acúmulo de ferro dentro do córtex por si só (i.e., he- profundos de SC muito hipointensos são vistos nas se
mocromatose). A siderose superficial costuma ser causada qüências de T2*.
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 963
Hipoglicemia neonatal/infantil
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doenças degenerativas cerebrais. Desse modo, primeira sos, e o grupo dos pacientes "mais idosos" é formado por
mente serão delineadas as alterações normais relacionadas à aqueles com mais de 90 anos.
idade na estrutura e na função do cérebro. Depois será dada
Genética
atenção à demência e às doenças degenerativas cerebrais.
A demência é uma perda da função cerebral que afeta Fatores genéticos claramente afetam o envelhecimen
a memória, o pensamento, a linguagem, o julgamento e o to cerebral e o declínio cognitivo relacionado à idade. A
comportamento. Ela tem muitas causas, mas, na maioria apolipoproteína E (ApoE) e seis novos polimorfismos
das vezes, ocorre secundariamente a um processo degene únicos do nucleotídeo (PUN) associados no cromossomo
rativo do cérebro. A maior parte das doenças demenciais 17q25 são variações genéticas fortemente associadas com
é irreversível. doença cerebral na RM.
968 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
33-1 Gráfico axial mostrando envelhecimento cerebral normal de um 33-2 Tomografta computadorizada (TC) sem contraste em um homem
paciente normal de 80 anos. Observar a proeminêncla dos sulcos e dos de 100 anos, Independente e cognitivamente normal, que teve uma
ventrículos na ausência de anormalidades parenquimatosas. queda, mostrando um discreto alargamento de sulcos e ventriculos sem
evidências de lesões na substância branca.
roanatômicas predominantes ocorrem na substância bran Corpos de Lewy são aglomerados intraneurais das
ca subcortical. proteínas a-sinucleína e ubiquitina. Eles são encontra
dos em 5 a 10 dos indivíduos cognitivamente intactos. A
Achados microscópicos. O envelhecimento cerebral fisioló maioria dos pacientes idosos cognitivamente normais com
gico é acompanhado por degeneração ubíqua dos neurô esses marcadores histológicos da patologia de doença de
nios e dos oligodendrócitos. Disfunção neuronal - em vez
Alzheimer (DA) eventualmente desenvolverá DA sinto
de perda neuronal franca - parece predominar, com redu mática. As diferenças entre indivíduos cognitivamente
ção do tamanho celular (em vez de redução do nijmero), normais, pacientes idosos com declínio cognitivo muito
poda dendrítica e perda das sinapses das áreas seleciona sutil e aqueles com DA pré-clínica ou pré-sintomática são
das (p. ex., hipocampo), mas não globalmente. difíceis de determinar (ver a seguir). O acúmulo de ENs
A substância branca (SB) subcortical demonstra redu
e PSs pode ocorrer por décadas até o desenvolvimento de
ção do niimero de fibras mielinizadas, aumento do espaço alterações cognitivas claras.
extracelular e gliose. O espaço perivascular (Virchow-
-Robin) na SB subcortical e nos núcleos da base aumenta. Aspectos clínicos
Três marcadores histológicos são associados com demên
Epidemiologia e demografia. a maturação cerebral continua
cia: placas senis, emaranhados neurofibrilares e corpos de
até a terceira década de vida; após, o envelhecimento cere
Lewy. Todos podem ser identificados no envelhecimento
bral predomina. Embora a incidência de demências aumen
normal do cérebro; portanto, o limite entre o normal e a
te de modo significativo com o envelhecimento, apenas
demência "pré-clínica" é indefinido.
Placas senis (PSs) são depósitos de amiloide celular
dois terços dos pacientes com mais de 85 anos permane
cem neurologicamente intactos e cognitivamente normais.
que se acumulam na substância cinzenta cerebral. Metade
dos indivíduos idosos cognitivamente intactos demonstra Apresentação. A diferença entre o envelhecimento normal
uma densidade moderada ou freqüente na PS. e a demência inicial ("pré-clínica") é indefinida. O termo
Demências e degenerações cerebrais 969
Uma vez que a patologia cerebral associada à idade inicia dores de arlerioloesclerose.
muito antes do desenvolvimento dos sintomas clínicos, a A TC com contraste não demonstra focos de realce
imagem tem um papel central na avaliação de pacientes no parênquima nos cérebros com envelhecimento normal.
idosos com sinais precoces de demência. Assim como os
achados de imagem refletem as alterações significativas Achados na RM
da morfologia cerebral que ocorrem com o desenvolvi TI. Imagens ponderadas em TI mostram discreto, mas
mento fetal e pós-natal, outros achados refletem altera simétrico, aumento ventricular e proeminência proporcio
ções normais no envelhecimento cerebral. nal dos espaços subaracnóideos (Fig. 33-3). O corpo calo-
X
culos e sulcos com uma SB com
aparência normal.
33-3B T2 no mesmo paciente
mostrando hiperintensidades
arredondadas multifocals e linea
res que provavelmente re
presentam espaços perivascula-
res proeminentes, mas normais.
W. t ^p
33-4 Imagem ponderada em susceptibilidade (SWl, de susceptibility 33-5 SWI 3.0 T em uma mulher normal de 82 anos mostrando um
weighted imaging) axial 3.0 T em um homem normal de 65 anos mos aumento moderado do terceiro ventrículo e dos ventriculos laterais. Os
trando intensas hipointensídades nos globos pálidos mediais SI, com núcleos da base são muito hipointensos. O depósito de ferro do puta-
uma hipointensidade menos proeminente nos putames ÍSl. me [S é igual ao do globo pálido. Observar a ausência de hipointensi
dade nos talamos.
SC pode parecer discretamente afilado na imagem sagital na pars reticulata da substância negra (SN), seguida pelo
ponderada em Ti. Os espaços perivasculares proeminen globo pálido (GP), onde o depósito de ferro progride de
tes são achados normais. Eles são preenchidos por líquido mediai para lateral. O núcleo rubro e o putame são outros
interslicial (não LCS), mas comportam-se como LCS em locais comuns onde a ferritina normalmente se acumula.
todas as seqüências. O depósito de ferro no GP e na SN estabiliza na idade
T2/FLAIR. Hiperintensidades na substância branca adulta, mas continua até os 80 anos no putame.
O depósito de ferro férrico é mais bem demonstra
(HSBs) e infartos lacunares em T2/FLAIR são muito
do nas seqüências T2*. As imagens com susceptibilida
prevalentes em idosos. Eles são associados a fatores de
risco cardiovascular como diabetes e hiperlipidemia. O de magnética (SWI) são mais sensíveis que as imagens
envelhecimento cerebral "bem-sucedido" pode demons gradiente-eco (GRE). A heterogeneidade do campo e os
trar algumas HSBs esparsas não confluentes (um número efeitos de susceptibilidade magnética são proporcionais à
razoável é uma HSB por década). força do campo magnético, e a hipointensidade aumenta
nas imagens em 3.0 T.
Os espaços perivasculares (EPVs) aumentam em pre
valência e tamanho com a idade e são vistos em T2 como Hipointensídades em T2* são normais no GP mediai
coleções semelhantes ao LCS bem delimitadas, arredon (Fig. 33-4). A hipointensidade putaminal costuma ser me
nos proeminente até a oitava década. O núcleo caudado
dadas, ovoides ou lineares nos núcleos da base, na SB
mostra baixa quantidade de depósito de ferro em qualquer
subcortical, no mesencéfalo, entre outros (ver Capítulo
idade. O tálamo normalmente não exibe hipointensidade
28). Os EPVs suprimem completamente na FLAIR. Entre
na seqüência 12* (Fig. 33-5).
25 e 30% podem demonstrar uma fina hiperintensidade ao
redor. Infartos lacunares costumam demonstrar uma hipe Microssangramentos em T2* são comuns no cére
bro em envelhecimento. As seqüências GRE e SWI de
rintensidade irregular ao redor das lesões.
A FLAIR em pacientes idosos normais demonstra monstram microssangramentos cerebrais em 20% dos pa
uma hiperintensidade anelar fina e lisa periventricular ao cientes com mais de 60 anos e em um terço dos pacientes
redor dos ventriculos laterais que provavelmente repre com 80 anos ou mais. Embora comuns e, portanto, estatis
sente aumento do líquido intersticial extracelular na SB ticamente "normais", microssangramentos não são carac
terísticos de um envelhecimento cerebral bem-sucedido.
subependimária. A hiperintensidade tipo cap ao redor dos
cornos frontais é comum em pacientes normais. Os microssangramentos nos núcleos da base do cerebelo
em geral são indicativos de encefalopatias hipertensivas
T2 ' (GRE, SWl). O ferro cerebral não está presente ao nas crônicas. Microssangramentos lobares corticais são típi
cimento, mas se acumula gradualmente como uma parte cos da angiopatia amiloide e são associados com um pior
do desenvolvimento normal. O acúmulo de ferro é maior
desempenho cognitivo.
Oemências e degenerações cerebrais 971
com 0 envelhecimento, em particular nos lobos frontais. À medida que os novos agentes modifícadores de
Os pacientes com baixa perfusão cerebral total nos estu doença entram na prática clínica, o diagnóstico correto
dos de perfusão por RM (pRM) têm mais HSB, mas sua do tipo de demência tem se tomado muito importante. A
relação precisa com o desempenho cognitivo é incerta. avaliação de pacientes com doença demencial potencial
requer uma história clínica detalhada e um exame físico
Diagnóstico diferencial cuidadoso, assim como a avaliação cognitiva, de compor
tamento e capacidade funcional e social.
A correlação entre o desempenho cognitivo e a imagem
Atualmente não existe um único marcador compor-
do encéfalo é complexa e difícil de determinar. Portan
tamental que diferencie de maneira confiável a DA - de
to, o principal diagnóstico diferencial do envelhecimento
normal do cérebro é o comprometimento cognitivo leve longe a doença demencial mais comum - das outras sín
dromes demenciais. Como a imagem desempenha um pa
e a DA precoce "pré-clínica". As HSBs são marcadores de
pel cada vez maior no diagnóstico das demências, serão
doenças microvasculares, existindo assim uma sobreposi discutidos os tipos mais importantes. Quando possível,
ção considerável entre os cérebros normais e aqueles com serão apontados achados e novas modalidades de imagem
encefalopatia arteriolosclerótica subcortical.
que ajudem a diferenciar os possíveis distúrbios não de
menciais potencialmente reversíveis.
PARÂMETROS DE IMAGEM DE
ROTTERDAM (ROTTERDAM STUDY) Doença de Alzheimer
DO ENVELHECIMENTO CEREBRAL
Terminologia
• Volumes do tecido cerebral A doença de Alzheimer (DA) é uma condição neurodege-
0 Córtex nerativa progressiva que leva a declínio cognitivo, com
0 Substância branca
prometimento da habilidade de realizar atividades diárias
o Sublocalizações (p. ex., hipocampos) e variação das condições fisiológicas e de comportamento.
• Volumes das estruturas que contêm LCS
A DA também é conhecida como doença senil do
o Ventrículos
o Sulcos tipo Alzheimer. Existem cada vez mais evidencias de que
• Hiperintensidades na substância branca a DA não seja um distúrbio único e abrangente, mas um
• Infartos contínuo de gravidade. O processo patogênico da DA é
o Lacunar prolongado e pode estender-se por muitas décadas. A
o Cortical doença prodrômica pré-clínica/assintomátíca (i.e., a pa
• Depósito de ferro tologia está presente, mas a cognição permanece intacta)
o Globos pálidos pode existir por anos antes da evidência de desenvolvi
o Núcleos rubros mento de déficit cognitivo leve (DCL).
o Substância negra
• Microssangramentos
• Integridade e conectividade da substância branca Etlologia
• Fluxo sangüíneo cerebral Conceitos gerais. A DA é caracterizada patoflsiologicamen-
• Metabolismo cerebral te por uma "cascata amiloide". Um clearance reduzido de
agregados da proteína p-amiloide (Ap) resulta em seu acú-
972 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
33-6 Espécime de necropsia coronal de um pacienle com DA precoce 33-7 TC axial sem contrasle em uma mulher de 54 anos com DA
hístologicamente provada mostrando aumento dos ventrículos laterais. grave de Início precoce mostrando uma dilatação acentuada dos cornos
Os cornos temporais sâo proporcionalmente aumentados, e os hipocam temporais B e dos sulcos BI.
pos [^] aparecem discretamente atrofiados.
mulo anormal nos neurônios. O resíduo da A(â42 é inso- Aspectos microscópicos. As três marcas histológicas carac
liável e altamente neurotóxico. Aglomerados de Ap42 for terísticas da DA são as PSs, os ENs e a perda neuronal
mam as PSs na substância cinzenta cortical. Os depósitos exagerada. Todas sào típicas, mas nenhuma é específica
de A342 também espessam as paredes das arteriolas corti- para a DA.
cais e das leplomeninges, causando angíopatia amiloídc. A DA também pode coexistir com outras doenças,
Outro aspecto essencial da DA é a tauopatia. A fosfo- como a doença cerebrovascular ou os corpos de Lewy.
rilaçào anormal de uma proteína associada ao microttjbulo Quantidades variáveis de depósitos de amiloide nas arte
conhecida como "tau" eventualmente leva ao desenvolvi riolas corticais e nas leptomeninges (angiopatia amiloide)
mento de ENs e à morte neuronal. Os níveis liquóricos estão presentes em mais de 90% dos casos de DA. Existe
de tau sào quase triplicados em pacientes com DA. evidência de que a patologia vascular e a patologia da DA
Genética. Cerca de 10% dos casos têm uma forte his sejam aditivas e que os pacientes com a combinação de
tória familiar de DA. Quase todas as variações do gene ambas tenham uma demência clinicamente mais grave.
familiar na DA apontam a APP (proteína precursora de
Estadiamento, graduação e classificação. Existem várias es
amiloíde, de amyloid precursor protein), as presenilinas calas de classificação histológica na patologia de Alzhei
(PSENl, PSEN2) e o poíimorfismo do gene APÕE* E4 mer. Uma das mais usadas - o sistema Braak e Braak -
como fortes fatores de risco herdados para DA. tem como base a distribuição topográfica dos ENs e dos
filamentos de neurópilos, com graduações de I a 6. A esca
Patologia la CERAD (Consórcio para Estabelecer um Registro para
Patologia macroscópica. Do ponto de vista macroscópico, o a Doença de Alzheimer, de Consortium to Establish a Re-
cérebro afetado pela DA mostra atrofia generalizada com gistiy for Alzheimer Disease) tem como base a quantidade
redução dos giros, alargamento dos sulcos e aumento dos de placas neuriticas neocorticais em relação à idade.
ventrículos laterais (principalmente dos cornos tempo O terceiro sistema (o Poly Pathology AD Assessment
rais). As alterações são mais marcadas nos lobos temporal 9, ou PPAD9) tem como base não apenas os ENFs e as
mediai e parietal (Fig. 33-6). O lobo frontal costuma ser placas neuriticas, mas também a combinação de outros
envolvido, enquanto o lobo occipital e o córtex motor são fatores, incluindo a extensão da degeneração neuronal, a
relativamente poupados. microvacuolização, o distúrbio citoarquitetural e a gliose.
A DA tem subtipos clínico-patológicos distintos. O Cada achado é calculado para nove regiões diferentes do
hipocampo é muito afetado em 75% dos casos. Uma pre cérebro.
servação hipocampal relativa é vista em 10%, e a predomi Até agora, a correlação entre esses grandes sistemas
nância límbica ocorre em cerca de 15% dos casos de DA. de estadiamento é subótima. A escolha do sistema de esta-
33-8C FLAIR coronal mostran
do uma intensa atrofia do lobo
temporal com alargamento das
fissuras silvianas B3 e relativa
preservação do volume do lobo
frontal
33-8D T2 mostrando que os
cornos temporais dos ventriculos
laterais estão muito alargados
E S
#1 4» 4» ^
^ m ^ ê
* 4» 4» A H
^ ^ T T 7
^ (:J^ Qi
ICMRGIc (normalized to Pons)
33-9 PET com FDG sagitai com projeções eslereotáxicas de superfície em uma mulher de 70 anos com DA possível.
A RM nâo demonstrou anormalidades visíveis. Linha superior = mapa de referência. Segunda linha = metabolismo da
glicose em um grupo de controle idoso normal. Terceira linha = mapa de metabolismo da glicose da paciente. Ob
serva-se a intensa redução nos lobos temporal mediai S e parietal B poupando os lobos frontal, occipital. Linha
inferior = mapa Z-score. (Cortesia de N. Foster, MO.)
diainenlo afeta a avaliação da patologia da DA e, portanto, clínico da DA usando os critérios NINCDS-ADRA (Natio
seu diagnóstico final. nal Institute of Neurological Disorders and Stroke-Alzhei
mer Disease and Related Disorders) define três níveis de
Aspectos cifnicos certeza: DA possível, provável e definida. O diagnóstico de
Epidemiologia e demografia. a da é a causa mais comum DA definida atualmente requer o diagnóstico clínico de DA
de demência, representando cerca de 50 a 60% de todos provável mais confinnaçào neuropatológica.
os casos e afetando mais de 35 milhões de pessoas em A Alzheimer Disease Neuroimaging Initiative
todo o mundo. O World Alzheimer Report prediz que esse (ADNI) é um estudo longitudinal, multicêntrico que está
número será quase o dobro em 2030 e será superior a 100 sendo realizado para identificar biomarcadores clínicos,
milhões em 2050. de imagem, genéticos e biomecânicos para a detecção pre
A idade é o maior fator de risco para o desenvol coce e rastreamento da DA. Os protocolos de pesquisa da
vimento de DA. A prevalência da DA é de I a 2% aos ADNl tem identificado novas modalidades de imagem e
65 anos e aumenta 15 a 25% a cada década. Nos pacientes biomarcadores no LCS que podem eventualmente ajudar
"idosos mais velhos" (mais de 90 anos), patologias mistas a diferenciar o envelhecimento saudável do patológico.
- em geral DA mais doença vascular - predominam.
Apresentação. Um DCL causa um declínio discreto, mas
Diagnóstico. Historicamente, o diagnóstico definitivo da DA notável (e mensurável), das habilidades cognitivas. O
era feito somente por biópsia ou autópsia. O diagnóstico DCL mais discreto é uma forma de domínio cognitivo úni-
Deméndas e degenerações cerebrais 975
Imagem
Aspectos gerais. Um dos objetivos mais importantes dos
exames de imagem por TC e RM é identificar anormalida
des específicas que podem ajudar no diagnóstico clínico
da DA. Outro grande papel é excluir etiologias alterna
tivas que podem mimetizar DA, ou seja. "causas reversí
veis de demência" (ver a seguir).
33-11A PET com FDG 18F em DA mostrando uma
A introdução de radiofármacos para uma quantificação
intensa redução do metabolismo em ambos os lobos
não invasiva in vivo da carga de Ap no cérebro tem revo
temporais B, com os lobos frontais comparativamen
lucionado a abordagem da avaliação por imagem da DA. te normais
sulcos e o alargamento dos ventrículos laterais. O lobo Embora a carga de Ap acessada pela PET não se cor
temporal mediai - em particular o hipocampo e o córtex relacione fortemente com o déficit cognitivo na DA. ela
entorrinal - muitas vezes é desproporcionalmente afeta correlaciona-se com déficit de memória e risco de declí
do (FIg. 33-8). As imagens de alta resolução (seqüências nio cognitivo em pacientes idosos. A correlação com o dé
TI MP-RAGE e/ou a seqüência de pulso gradiente-eco ficit de memória - um dos sintomas mais precoces da DA
- sugere que a deposição de AP não seja parte do proces
espoliada [SPGR, de spoiled gradient recalled]) com re
construções multiplanares são seqüências recomendadas so de envelhecimento normal. A deposição de Ap ocorre
pela Iniciativa de Neuroimagem da Doença de Alzheimer muito antes do início dos sintomas e provavelmente repre
(ADNI, de Alzheimer's Disease Neuroimaging Initiative). sente DA pré-clínica em indivíduos assintomáticos e DA
A análise volumétrica automatizada ou semiautomatiza- prodrômica em pacientes com DCL.
da assistida por computador dos hipocampos e dos giros
para-hipocampais pode ajudar a diferenciar os pacientes Diagnóstico diferencial
com DCL dos idosos normais. A diferenciação entre processos degenerativos normais
As seqüências T2* (GRE, SWI) são muito mais sen relacionados à idade e DA precoce "pré-clínica" é difícil.
síveis que as seqüências spin eco rápido (FSE, ÚQ/ast spin Não existe uma maneira geral disponível para diferenciar
echo) padrão para detectar micro-hemorragias corticais que entre as duas condições, mas a PET com FDG é útil.
possam sugerir angiopatia amiloide. A ERM mostra redu "Demências mistas" são comuns, em especial em pa
ção do NAA e aumento do mioinosilol (ml) em pacientes cientes com mais de 90 anos. Demência vascular (DVasc)
com DA, até mesmo durante os estágios iniciais da doença é a demência mais comum associada à DA. Infartos lacu-
(Fig. 33-10). A relação NAAimI é relativamente sensível nares e corticais são achados típicos na DVasc. Angiopa
e altamente específica para a diferenciação dos pacientes tia amiloide cerebral em geral coexiste com DA. Corpos
com DA daqueles com envelhecimento normal. A relação de Lewy muitas vezes são encontrados em pacientes com
NAA:Cr no giro do cíngulo posterior e no córtex occipital DA ("variantes de corpos de Lewy da DA").
A DLFT mostra atrofia frontal e temporal anterior e
esquerdo prediz a conversão de DCL em provável DA com
sensibilidade relativamente alta e boa especificidade. hipometabolismo; os lobos parietais em geral são poupa
A DTI em pacientes com DA mostra redução da FA dos. Demência com corpos de Lewy costuma demons
em diversas regiões, em especial no fascículo longitudinal trar hipometabolismo generalizado, não focai. Pacientes
com degeneração corticobasal têm sintomas extrapira-
superior e no esplênio do corpo caloso. A FA reduzida re
flete as alterações microestruturais precoces na SB. midais proeminentes.
As causas de demência reversível que podem ser
Neuroimagem funcional. A patologia morfológica do cére identificadas em estudos de imagem incluem lesões ex
bro costuma estar presente anos antes do início clínico e pansivas como hematoma subdural crônico, deficiências
pode ser visualizada somente pelo uso de estudos de ima de vitamina (tiamina, B12), endocrinopatia (p. ex., hipoti-
gem especiais. A RM funcional (RMf) mostra redução na reoidismo) e hidrocefalia de pressão normal.
intensidade e/ou na extensão da ativação nas regiões fron
tal e temporal nas tarefas cognitivas, em especial naquelas
DOENÇA DE ALZHEIMER
que requerem decisões semânticas ou fonológicas.
A pRM pode demonstrar redução sutil do volume Etiopatologia
• "Cascata amiloide" neurotóxica
sangüíneo cerebral relativo (rCBV, de relative cerebral o Acúmulo de Ap42 ^ placas senis, angiopatia amiloide
blood volume) nos lobos temporal e parietal em pacientes • Tauopatias -> emaranhados neurofibrilares, morte
com DCL.
neuronal
Medicina nuclear. A PET com FDG 18F demonstra áreas Aspectos clínicos
de hipometabolismo funcional e ajuda a diferenciar a DA • Demência mais comum (50 a 60% de todos os casos)
de outras demências com predominância lobar (p. ex., de- • A prevalência aumenta 15 a 25% por década após os
65 anos
generação lobar frontotemporal) (Figs. 33-9 e 33-11).
A PET usando radiofármacos ligantes ao amiloide Imagem
como o IIC PiB {Pittsburgh compound B) surgiu como • Atrofia lobar com dominância frontoparietal
uma das melhores técnicas para o diagnóstico precoce da o Hipocampo, córtex entorrinal
DA. A medida que novas terapias entram nos ensaios clí o PET com FDG mostrando hipometabolismo
o Radiofármacos amiloide-ligantes (11C PIB)
nicos, a importância da imagem Ap in vivo está se tornan
• Angiopatia amiloide "pontos pretos tipo artefato
do crucial.
de susceptibilidade magnética em 12 '
A carga de Ap medida pela PET correlaciona-se com
os relatos histopatológicos de distribuição de AP no enve Diagnóstico diferencial
• Exclui demências reversíveis
lhecimento e na demência. Ela aparece mais corada que a
• Envelhecimento normal, demência vascular,
PET com FDG 18F e é uma excelente ferramenta para dife
renciar a DA da degeneração lobar frontotemporal (DLFT). degeneração lobar frontotemporal
Demêndas e degeneraçoes cerebrais 977
33-12 Gráfico axial da OVasc mostrando atrofia cerebral difusa, perda 33-13 Espécime de necropsia mostrando grande infarto territorial
volumétrica focai devido a múltiplos infartos crônicos infarto no B e pequenos infartos corticais ES, assim como lesões na SB
lobo occipital esquerdo agudo B e pequenos infartos lacunares nos no hemisfério cerebral esquerdo. Grandes infartos são a causa menos
núcleos da base/tálamos BI. comum de DVasc que doença difusa de pequenos vasos. (Cortesia de
R. Hewlett, MD.)
qualquer vaso - pequeno ou grande - pode ser afetado, necropsia em quase dois terços dos pacientes com DVasc
em sua maioria os casos são angiopatias microvasculares e em mais da metade de todos os casos com distúrbios
(ver a seguir). demenciais (p. ex., DA, demência com corpos de Lewy).
Raramente a DVasc é causada por um distúrbio he As lesões são encontradas em todas as regiões cerebrais e
reditário como a arteriopatia cerebral autossômica do são especialmente comuns no córtex, na SB subcortical e
minante com infartos subcorticais e leucoencefalopatia nos núcleos da base.
desenvolvidos. A DVasc é um componente comum das subcorticais e nos núcleos da base. Hipodensidades con-
demências "mistas" que é especialmente prevalente em fluentes ou esparsas na SB subcortical e periventricular
pacientes com DA. profunda, em especial ao redor do átrio dos ventrículos
A incidência da DVasc aumenta com a idade. Os fato laterais, são típicas.
res de risco incluem hipertensão, diabetes, dislipidemia e
Achados na RM. A TI geralmente mostra uma perda vo
tabagismo. Existe uma predominância moderada no sexo iumétrica difusa maior do que o esperado. Múltiplas hi-
masculino.
pointensidades nos núcleos da base e na SB profunda são
Apresentação. A história de múltiplos episódios de infarto típicas. Infartos corticais focais e grandes infartos terri
com déficits neurológicos focais é característica de pa toriais com encefalomalacia podem ser identificados em
cientes com DVasc. Alterações do humor e de comporta muitos casos.
mento são mais típicas do que a perda de memória. A T2/FLA1R mostra hiperintensidades multifocais
difusas e confiuentes nos luicleos da base e na SB cere
História natural. Deterioração neurológica progressiva
bral. O córtex e a SB subcortical costumam ser afetados
episódica, intercalada com intervalo de estabilização clí
(Figs. 33-14A, 33-14B e 33-14C). Seqüências da T2* po
nica relativa, é um padrão típico da DVasc.
dem demonstrar múltiplas hipoinlensidades tipo artefato de
Imagem susceptibilidade magnética no córtex e ao longo da super
fície piai nos hemisférios cerebrais (Figs. 33-15 e 33-16).
Achados gerais. Os achados gerais de imagem da DVasc
A DTI mostra redução da FA e aumento dos valores
são infartos multifocais e isquemia na SB.
do coeficiente de difusão aparente (ADC, de apparent cii-
Achados na TC. A TC sem contraste mostra uma redução jfusion coefficient) na SB com aparência normal ou mini
voiumétrica generalizada com múltiplos infartos corticais. mamente anormal. Múltiplas regiões são afetadas, em es-
• o
o exame do paciente (terceira
linha). Observam-se as áreas
corticais multifocais com redução
do metabolismo da glicose ES.
0 mapa Z-score (abaixo) mostra
as áreas gravemente afetadas «J & !*:
em verde. (Cortesia de N, Foster,
MO.)
Demências e degenerações cerebrais 979
pecial o fascículo fronto-occipital inferior, o corpo caloso A DLFT é caracterizada por um início precoce de
e o fascículo longitudinal superior. alteração de comportamento, enquanto as habilidades vi-
M e d i c i n a n u c l e a r. A P E T c o m F D G m o s t r a m u i t a s á r e a s
suoespaciais permanecem relativamente inalteradas. Atro
fia frontotempora! com giros em lâmina de faca é típica.
difusamente distribuídas de hipometabolismo, em geral
A demência com corpos de Lewy (DLB, de demen
sem uma predominância lobar específica (Figs. 33-I4B
tia with Lewy bodies) pode ser difícil de diferenciar da
e33-15D). DVasc sem biópsia. O cérebro inteiro é hipometabólico, e
a atrofia em geral é mínima ou está ausente. A DLB costu
Diagnóstico diferencial ma ocorrer sem infartos.
O maior diagnóstico diferencial da DVasc é a DA. As duas A angiopatia amiloide cerebral comumente coe
doenças sobrepÕem-se e geralmente coexistem. A DA xiste com a DA e a DVasc e pode ser indistinguível sem
costuma mostrar uma perda volumétrica importante e se biópsia.
letiva nos lobos temporais, em especial nos hipocampos. A encefalopatia alcoólica é a terceira causa mais co
Os núcleos da base costumam ser poupados na DA, mas mum de demência em todo o mundo. A perda de volume
ein geral sào afetados na DVasc. generalizada com envolvimento focai do verme superior
A CADASIL é a causa mais comum de DVasc here é típica. Os níveis de vitamina B12 em uma variação
ditária. O início dos sintomas costuma ser mais precoce subclínica baixa a normal (menos de 250 pmol/L) são
que na DVasc esporádica. Grandes infartos territoriais associados com DA, DVasc e doença de Parkinson. Esse
sào menos comuns na CADASIL se comparados com a pequeno subconjunto de demências é reversivel com a te
DVasc; lesões temporais anteriores e na cápsula externa rapia de vitamina B!2, que não apresenta alto custo e é
sào muito sugestivas de CADASIL. segura.
Demências frontotemporais
DEMÊNCIA VASCULAR
Terminologia
Etiopatología As demências frontotemporais são uma família heterogê
• Episódios isquémicos múltiplos
• Pode ser de pequenos, grandes vasos nea de doenças caracterizadas pelo envolvimento seletivo
• Aterosclerose, arteriosclerose, angiopatia amlíoide dos lobos frontal e temporal. Elas eram inicialmente agru
padas e conhecidas coletivamente como doença de Pick.
Aspectos clínicos O termo doença de Pick é agora reservado para causas
• Segunda demência mais comum (10%)
• Comumente mista com outras demências (p. ex., DA) com a presença dos chamados corpos de Pick, inclusões
• Múltiplos infartos; deterioração episódica intraneiironais arredondadas e prateadas que contêm vá
rias proteínas, incluindo a tau (uma proteína complexa
Imagem que regula a dinâmica dos microtubules).
• Múltiplos infartos (lacunar, cortical > grandes territórios) O termo DLFT é uma descrição macroscópica ana
• Isquemia na SB
tômica da atrofia relativamente seletiva nos lobos frontal
• "Pontos pretos tipos artefatos de susceptibilidade
e temporal que caracteriza a maioria das demências fron
magnética em T2" (ou associados à hipertensão)
totemporais - mas não todas. Essa atrofia característica
Diagnóstico diferencial é causada por um processo patológico que varia em seus
• Doença de Alzheimer achados microscópicos e moleculares (ver a seguir).
• CADASIL (DVasc hereditária mais comum)
• Degeneração lobar frontotemporal
• Demência com corpos de Lewy
Etiologia
• Demências relacionadas à nutrição Conceitos gerais. Embora existam inúmeras entidades in
cluídas nas demências frontotemporais, uma das mais fre-
33-17 O grafico demonstra a clássica atrofia desproporcional do lobo 33-18 Espécime de necropsia de DLFT mostrando importante atrofia
frontal de um estágio tardio da demência írontotemporal. Os sulcos são dos giros centrais Hcom uma aparência normal dos lobos parietal, oc-
proeminentes, e os giros são em lâmina de faca. Os lobos parieto-occipi- cipital. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
tais estão poupados. Os giros ao redor do sulco central são normais.
frontais com menor perda volumétrica nos lobos tempo ral e esquerdo versus direito. O subtipo DS mostra uma
rais é o achado mais comum (Fig. 33-19). perda volumétrica temporal bilateral, mas nenhuma
atrofia frontal (Fig. 33-20). A DFT e a ANFP demons
Achados na RM. Embora as imagens obtidas em TI mos
tram perda volumétrica frontal e temporal bilateral, mas
trem perda volumétrica frontotempora! generalizada, a
o hemisfério direito é mais afetado na DFTvc, enquan
morfometria baseada em Voxel pode diferenciar entre
to a perda volumétrica predomina no lado esquerdo na
subtipos patológicos distintos. A doença de Pick (DLFT- A N F P.
-TAU) é associada com atrofia assimétrica acentuada en Dano da SB também ocorre na DLFT, sendo prova
volvendo as regiões temporais e/ou extratemporais (i.e.,
velmente secundário a dano no córtex subjacente. A ima
frontais). A doença DLFT-TDP mostra atrofia assimétrica
relativamente localizada no lobo temporal. gem ponderada em difusão mostra o aumento da difusida-
de média no giro frontal superior, nos giros orbitais e nos
Algumas mutações genéticas na DLFT também exi lobos temporais anteriores.
bem diferentes padrões de perda volumétrica. C90RF72
.A DTI com FA reduzida no fascículo longitudinal su
está associada com atrofia simétrica dos lobos frontais,
perior é comum na DFTvc e correlaciona-se com os dis
com perda volumétrica adicional nos lobos temporais
túrbios de comportamento, enquanto o fascículo longitu
anteriores, nos lobos parietais e occipitais e no cerebelo dinal inferior é mais afetado na variante DS.
(Fig. 33-21). Em contraste, uma atrofia temporal antero- .A ERM mostra redução do NAA e elevação do ml
medial acentuada está associada com mutações da pro
nos lobos frontais.
teína tau, e a atrofia temporoparietal está associada com
mutações da progranulina. Achados na medicina nuclear. A PET com FDG mostra hi-
Subtipos clinicas da DLFT também se correlacio poperfusào e hipometabolismo nos lobos frontal e tem
nam com o predomínio da atrofia frontal versus tempo poral.
33-20C TI C+ coronal do
mesmo paciente mostrando alar
gamento simétrico das fissuras
silvianas e dos cornos tem
porais ES, indicando perda vo
lumétrica temporal. O giro frontal
posterior ES aparece normal.
33-200 Imagem coronal mais
anterior mostrando redução vo
lumétrica dos giros do lobo tem
poral, em lâmina de faca
e giros frontais normais B. A
atrofia com predomínio no lobo
temporal é relativamente simé
trica e compatível com DLFT do
subtipo DS.
984 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
Diagnóstico diferencial
o maior diagnóstico diferencial da DLFT é a DA, na qual
a atrofia é predominantemente frontal e parietal, com per
da volumétrica desproporcional dos hipocampos. A atro
fia do giro do cíngulo anterior, orbitais, e do córtex fron-
toinsular é mais característica da DLFT.
A DVasc é caracterizada por infartos corticais mul-
tifocais ou territoriais, isquemia na SB e lacunas nos nú
cleos da base.
DEGENERAÇÃO LOBAR
frontotÍmporal
Etiopatologla
• Classificada de acordo com as Inclusões celulares
33-21A TI sagital na fossa craniana média mostran o DLFT com inclusões de proteína tau
do perda volumétrica acentuada do lobo frontal B e o DLFT com inclusões de proteína tau (-), TDP (+)
moderada do lobo temporal ^3. o DLFT com proteína tau/TDP (-), fused in
sarcoma (+)
o DLFT com sistema proteossomo-ubiquitina (+)
Aspectos clínicos
• Segunda causa mais comum de demência
"pré-senil"
• Responsável por 20% de todos os casos em menores
de 65 anos
• Subtipos clínicos
o Variante comportamental (DFTvc)
o Afasia não fluente progressiva (ANFP)
^ W o Demência semântica (DS)
Imagem
• Classificação de atrofia (RM volumétrica melhor)
o Predominância frontal vs. extratemporal (frontal)
o Simétrica ou assimétrica (PET com FDG 18F)
B o Hipometabolismo frontotemporal
33-218 T2 axial mostrando perda volumétrica fron Diagnóstico diferencial
tal B e do lobo parietal BI, acentuada e moderada, • Doença de Alzheimer
relativamente simétrica, para o paciente aos 65 anos. o Parietal, temporal > frontotemporal
• Demência vascular
o Infartos multifocals
o Alterações isquémicas na SB
33-22A Caso de necropsia de DLB difusa mostrando discreta perda 33-228 Corte axial mostrando um alargamento discreto dos ventrícu-
volumélrica generalizada sem uma predominância lobar específica. los sem outras anormalidades definidas identificadas. Os lobos occipitais
aparecem normais. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
M e d i c i n a n u c l e a r. O m e t a b o l i s m o n u c l e a r n a P E T c o m
FDG e a redução do fluxo sangüíneo em SPECT-FIMPAO
ou pRM são típicos da DLB (Fig. 33-24). O córtex visual
primário é especialmente afetado.
A neuroimagem do transportador de dopamina pré-
-sináptico com FP-CIT mostra uma quase ausência de
captação no putame e uma redução acentuada da capta
33-23A 12 em um paciente com declínio cognitivo e ção no caudado. Radioligantes colinérgicos podem ajudar
alucinações visuais mostrando discreta atrofia difusa. Os a identificar a importante perda neuronal colinérgica que
lobos occipitais mostram-se relativamente normais.
ocorre na DLB e na DDR
Diagnóstico diferencial
Como as anormalidades de movimento são um acha
do central da DLB, o maior diagnóstico diferencial é a
doença de Parkinson com demência. Entre 20 e 40%
dos pacientes com DP eventualmente desenvolvem um
distúrbio demencial progressivo, sendo assim dificil de
diferenciar as duas doenças puramente com os achados
clinico-patológicos. O segundo diagnóstico diferencial
importante é a DA. Os achados clínicos e patológicos das
duas doenças geralmente se sobrepõem. Pacientes com
33-238 Imagem mais cefálica do mesmo paciente
DLB têm um metabolismo reduzido da glicose e hipoper-
mostrando discreta perda volumétrlca simétrica e difu fusâo nos lobos occipitais com perda volumétrica variável
sa. O diagnóstico clínico era de DIB provável. nos núcleos da base. O hipometabolismo hipocampal e a
perda volumétrica são mais comuns na DA.
R-lateral C-lstsral R-<nedial L-medIal Superior A atrofia cortical posterior (ver a seguir) é uma
^1- T 4^ nova doença descrita que pode mimetizar DLB e normal
mente ocorre em pacientes mais jovens.
^ ^ ^ # Outras demèndas
Degeneração corticobasa!
^ V A Terminologia e etiologia. A degeneração corticobasal (DCB)
é uma doença neurodegenerativa e demencial incomum
V esporádica cuja caracterização continua sendo desenvol
vida. Antes considerada uma entidade clinico-patológica
^ O t -' O distinta, a DCB tem vários fenótipos clínicos e síndromes
associadas. Os termos síndrome corticobasal (SCB) e
ICttaC«c
£ 4 C o r «
rogeneidade clinico-patológica da DCB.
33-24 PET com FDG em outro paciente com OLB A DCB é classificada como uma tauopatia, uma vez
mostrando hipometabolismo occipital E3. (Cortesia de que demonstra acúmulos anormais da proteína tau nos
N. Foster, MD.) neurônios e na glia.
Demências e degenerações cerebrais 987
ííj- ^ ^ ®
^ ^ ^ A
< 11 / ^
#» ^ ^ i
33-25 DCB em uma mulher de 61 anos com o braço esquerdo espás- 33-26 PET com FOG em DCB (terceira linha) mostrando um acentuado
tico. Os lobos temporal e occipital parecem normais. Observam-se atrofia hipometabolísmo nos lobos frontoparietals e nos núcleos da base ES
assimétrica, filamento cortical e SB hiperintensa na região perirroiândica em Comparação com o normal (segunda linha). O hemisfério esquerdo
direita E3. ea é mais gravemente afetado do que o direito ^3. (Cortesia de N.
Foster, MD.)
Patologia. O achado macroscópico mais comum da DCB é clinicamente mais afetado. O córtex pré-frontal dorsal e
atrofia frontoparietal assimétrica, especialmente nas áreas perirrolândico, o estriado e o tegmento mesencefálico são
motoras e sensitivas. Os córtices temporal e occipital são as regiões mais envolvidas (Fig. 33-25). A FLAIR pode
relativamente poupados. A degeneração estriatonigral é mostrar hiperintensidades esparsas ou confluentes na SB
vista como uma acentuada atrofia e descoloração da SN. subcortical rolândica. A SPECT e a PET demonstram hi-
O putame, o GP, o tálamo e o hipotálamo são afetados em pometabolismo assimétrico e frontoparietal e nos núcleos
menor grau. da base/tálamo (Fig. 33-26). Os estudos usando imagem
Microscopicamente, a DCB é caracterizada por acro- com transportador de dopamina estriatal muitas vezes são
masia (neurônios pálidos em fonna de balão) e inclusões úteis em diferenciar DCB de outras doenças neurodegene-
rativas como a DP.
citoplasmáticas positivas para a proteína tau nos astrócitos
no córtex atrófico. O diagnóstico diferencial da DCB inclui as síndromes
parkinsonianas idiopáticas e atípicas (p. ex., paralisia
Aspectos clínicos. A DCB costuma afetar pacientes com 50
supranuclear progressiva e atrofia de múltiplos sistemas).
a 70 anos. O início é insidioso e progressivo. A DCB pode Em pacientes com disfunção cognitiva, os sintomas po
estar associada com uma ampla variedade de distiírbios dem mimetizar a DLB ou uma das síndromes da DLFT.
motores, sensitivos, de comportamento e cognitivos. Pa-
rkinsonisino resistente à levodopa, assimétrico, acinético Doença de Creutzfeldt-Jakob
rígido e distonia de membro (em geral afetando os braços) Encefalopatias espongiformes transmissíveis (EETs),
são achados clássicos. A rigidez é seguida por bradicine-
também conhecidas como doenças priônicas, são um
sia, distúrbio de marcha e tremor. O fenômeno do membro
grupo de doenças neurodegenerativas que incluem
alienígena ocorre em 50% dos casos. doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ), kuru, síndrome
Os achados corticais variáveis da DCB incluem de
de Gerstmann-Strãussler-Schenker e insônia familiar
clínio cognitivo com déficit da produção de linguagem fatal. As EETs em animais incluem a paraplexia enzoó-
(afasia não fluente) e sintomas que mimetizam paralisia tica (scrapie) dos ovinos (de ovelhas e cabras), a doença
supranuclear progressiva ou atrofia cortical posterior. O crônica debilitante (de veados e alces), a encefalopatia
aprendizado e a memória são relativamente poupados. espongiforme ("doença da vaca louca") e a encefalopatia
Imagem e diagnóstico diferencial. Os estudos de imagem felina (de gatos domésticos).
convencionais mostram uma atrofia frontoparietal mo O kuru foi a primeira EET humana reconhecida,
derada. mas assimétrica, contralateral ao lado que está ocorrendo na população de Papua Nova Guiné. Trata-se
988 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
33-27 Necfopsia de uma DCje mostrando uma atrofia acentuada nos 33-28 FLAIR axial mostrando achados clássicos da DCJe com núcleos
núcleos caudados S] e nos núcleos da base anteriores Í3]. 0 córtex caudados B, putame anterior B e tálamos IS hiperintensos.
cerebral é muito fino, em especial nos lobos occipilals í^l, onde quase
não é aparente. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
de uma síndrome atáxica cerebelar uniformemente fatal: Patologia. A patologia macroscópica mostra aumento ven
atualmente o kuru praticamente desapareceu, em função tricular, atrofia do núcleo caudado e perda volumétrica
do abandono do canibalismo, a única fonte de transmissão cortical que varia de mínima a intensa (Fig. 33-27). A SB
entre seres humanos. é relativamente poupada.
A DCJ é a EET humana mais comum e tem uma dis A tríade clássica para achados histopatológicos na
tribuição em todo o mundo. A DCJ é única, uma vez que é DCJ é perda neuronal acentuada, alterações espongifor-
tanto uma doença infecciosa quanto um distúrbio demen- mes e astrogliose intensa. Os córtices cerebral e cerebelar
cial neurogenético. A DCJ é a EET arquetípica e é deta são mais gravemente afetados, embora os núcleos da base
lhada na discussão a seguir. e os tálamos apresentem um envolvimento freqüente. Pla
Etíologia, a DCJ é uma doença neurodegenerativa rapi cas amiloides podem ser identificadas em 10% dos casos.
damente progressiva causada pelas partículas infecciosas Vários depósitos de PrP(Sc) estão presentes, e a imu-
proteináceas {"prions") que são desprovidas de DNA e norreatividade de Prp(Sc) é o padrão-ouro para o diagnós
RNA. A proteína priônica anormal, PrP(Sc), é uma iso- tico neuropatológico da doença priônica humana.
forma desdobrada (uma folha p-pregueada) da proteína
Epidemiologia e demografia. a DCJ agora representa mais
priônica normal do hospedeiro, PrP(C). A forma anormal de 90% das doenças priônicas em seres humanos. Cerca
propaga-se, recrutando a isoforma normal e estabelecen de 85% dos casos de DCJ são esporádicos (DCJe), com
do sua conformação na proteína homóloga do hospedeiro.
uma incidência mundial ao ano de 1 a 2 casos por milhão.
A conversão confonnacional de PrP(C) a PrP(Sc) é nw
O pico de idade de início é de 55 a 75 anos. Não existe
evento fundamental de todas as doenças priônicas.
predileção por gênero. A DCJ genética causa a maioria
Quatro tipos de DCJ são reconhecidos: esporádica dos demais casos (15%). A DCJv e a DCJ iatrogênica re
(DCJe), familiar ou genética, iatrogênica e variante
presentam menos de 1% dos casos.
(DCJv). A DCJe é o tipo mais comum. A DCJ genética A variante DCJ costuma se apresentar em pacientes
é causada por mutações diversas no gene PRNP A DCJ
mais jovens, entre 15 e 40 anos. Sintomas psiquiátricos pre
iatrogênica é causada por materiais contaminados com dominam. Cerca de 220 casos de DCJv já foram relatados,
prions (p. ex.. instrumentos cirúrgicos, enxertos de dura- com a maioria - mas não todos - ocorrendo no Reino Uni
-máter, transplante de córnea cadavérica, hormônio do
do. A incidência de DCJv tem reduzido nos últimos anos,
crescimento humano derivado da hipófise).
A DCJv costuma resultar da transmissão de encefalo-
mas pequenos números de novos casos são identificados.
patia espongiforme bovina do gado para seres humanos, Aspectos clínicos. Cinco subtipos clínico-patológicos da
sendo também conhecida como "nova variante" da DCJ. DCJe foram identificados. Três subtipos afetam predomi-
Demências e degenerações cerebrais 989
nantemente as funções cognitivas, e os outros dois com As TCs costumam ser normais, em especial nos está
prometem as atividades motoras cerebelares. No subtipo gios iniciais da doença. Estudos seriados podem mostrar
mais comum, uma demência rapidamente agravante é se dilatação ventricular progressiva e proeminência dos sulcos.
guida de movimentos mioclônicos e mutismo acinético. RM com difusão é o procedimento de imagem de
Em dois terços dos casos de DCJe, o eletroencefalograma escolha. Imagens ponderadas em TI em geral são nor
(EEG) mostra um padrão periódico característico de on mais. Hiperintensidades em T2/FLAIR nos mlcleos da
das bi ou trifásicas. base, nos tálamos e no córtex cerebelar são a anormalida
Duas apresentações menos comuns, mas importantes, de inicial mais comum na DCJe clássica. O núcleo cau-
da DCJe são a chamada variante de Brownell-Oppenhei- dado anterior e o putame são mais afetados que os GPs
mer (uma síndrome cerebelar pura) e a variante de Heide- (FIg. 33-28). O envolvimento cortical - especialmente
nhain (comprometimento visual puro levando a cegueira envolvendo os lobos frontal, temporal e parietal - é co
cortical).
mum, mas costuma aparecer assimétrico. O envolvimen
A DCJ é uma doença progressiva e fatal. A sobrevida to do lobo occipital domina na variante de Heidenhain
média é de cerca de quatro meses, embora a DCJv progrida (Fig. 33-29), enquanto o cerebelo é afetado na variante
de Brownell-Oppenheimer.
mais lentamente. Enquanto o diagnóstico definitivo da DCJe
Hiperinlensidade em T2/FLAIR no tálamo posterior
requer necropsia ou biópsia cerebral, os estudos de imagem (sinal do "pulvinar") ou no tálamo posteromedial (sinal do
permitem um diagnóstico de DCJe provável. A DCJv algu "taco de hockey") é vista em 90% dos casos de DCJv, mas
mas vezes pode ser diagnosticada com biópsia tonsilar.
pode ocorrer na DCJe (Fig. 33-30).
Imagem. A DCJ envolve principalmente as estruturas da SC A difusão mostra hiperintensidades no estriado e no
do cérebro. A doença da SB é muito menos comum e ge tálamo (Fig. 33-31). Restrição da difusão giriibrme no
ralmente é um achado final. córtex cerebral é comum. A DCJ não realça em TI C+.
. m
anteriores E3 e ambos os
putames B também são en
volvidos.
33-30B Difusão no mesmo
paciente com DCJe mostrando
uma forte restrição correspon
dente nos tálamos posterome
dials E3. nos núcleos caudados
E3 e nos putames S.
33-32A MP-RAGE sagital em um paciente com perda gradual da ha- 33-32B T2 no mesmo paciente mostrando aumento dos cornos occi-
biiidade visuoperceptual e diagnóstico clínico de ACortP mostrando uma pitais e acentuada redução da SB, atrofia cortical grave em ambos os lo-
perda volumétrica occipital acentuada E3 e parietal moderada bos occipitais ES e perda volumétrica temporal superior moderada com
alargamento das fissuras silvianas BI.
põem. a ACortP demonstra maior perda parietal direita Os neurônios dopaminérgicos mesencefálicos aju
com menor atrofia temporal mediai e hipocampal. Outras dam a regular os movimentos voluntários e influenciam
considerações diagnosticas incluem a DLB e a DCB. no comportamento de recompensa.
992 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LC5
-ít ■
V
I V .
9
33-35 Diagrama axial mostrando atrofia do mesencéfalo com estrei 33-36 Cortes de necropsia comparando o mesencéfalo normal (es
tamento e despigmentação da SN [S na DP (acima) em relação à ana querda) com um encéfalo afetado com DP (direita). Observam-se a per
tomia normal (abaixo). Observa-se um estreitamento da pars compacta da volumétrica do mesencéfalo na DP e a palidez da SN ES. (Cortesia
entre os NRs. de R. Hewlett, MO.)
Do ponto de vista clínico, a DP é classificada como em "borboleta" dos pedúnculos cerebrais (Fig. 33-35).
uma doença neurodegenerativa; do ponto de vista histopato- A despigmentação da SN da DP é um achado patológico
lógico, como uma doença com corpos de Lewy, e do ponto comum e está relacionada com a perda de neuromelanina
de vista imunopatológico, como uma sinuclcinopatia. (Fig. 33-36).
Achados microscópicos. Os efeitos mais devastadores da DP
Etiologia são achados no sistema dopaminérgico estriatonigral. As
Conceitos gerais. Embora inúmeros fatores ambientais te
duas marcas histopatológicas da DP são (1) depressão gra
nham sido implicados, o envelhecimento é o fator de risco ve dos neurônios dopaminérgicos na pcSN e (2) presença
mais significativo conhecido para a DP. de LBs nos neurônios sobreviventes. A imunocitoquímica
Na DP. a degeneração de neurônios dopaminérgicos mostra coloração nos LBs positiva para ubiquitina e a-
na pcSN reduz a entrada dopaminérgica no estriado. A -sinucleina.
degeneração neuronal é uma histopatologia relativamen
te avançada antes de se tomar clinicamente aparente. No Estadiamento, graduação e classificação. Braak e colabora
momento em que os sintomas clínicos se desenvolvem, dores dividiram a DP em seis estágios, que correlacionam
mais de 65% dos neurônios dopaminérgicos estão perdi os sintomas clínicos com a distribuição dos LBs. Os LBs
dos e 80% da dopamina estriatal estão depletados. começam a se acumular muito antes do diagnóstico. O
A morte de neurônios dopaminérgicos na DP é regio processo da doença no encéfalo em geral segue um curso
ascendente.
nal e muito seletiva, com perda neuronal muito concentra
da na pcSN. O mecanismo preciso da susceptibilidade dos Os estágios 1 e 2 são pré-clínicos. No estágio 1, os
LBs são confinados ao buibo e ao sistema olfatório. Com
neurônios dopaminérgicos e a tendência regional para a
a progressão da doença, os LBs espalham-se para o tronco
morte celular na pcSN são pouco entendidos.
encefálico superior e o telencéfalo. No estágio 3 de Braak,
Genética. A maioria dos casos de DP é esporádica e idiopá- inúmeros LBs estão presentes na SN, a perda de neurô
tica. Entre 10 e 20% são familiares. Onze locus genéticos, nios dopaminérgicos é evidente, o sistema colinérgico te-
incluindo mutação da glucocerebrosidase {GBA), foram lencefálico é envolvido, e os primeiros sintomas clínicos
identificados recentemente como fatores de risco para a DP. c o m e ç a m a a p a r e c e r.
No estágio 4 de Braak. o sistema límbico torna-se
Patologia comprometido. Na maioria dos estágios avançados (está
Patologia macroscópica. O mesencéfalo pode aparecer dis gios 5 e 6 de Braak), os LBs são envolvidos por todo o
cretamente atrófico com uma configuração chanfrada ou neocórtex.
994 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
33-37 TC axial em um paciente com posicionamento incorreto do DBS 33-38 FLAIR axial (acima) e T2'' 6RE (abaixo) em um homem de 6t
esquerdo (acima) mostrando a ponta situada acima e mediai ao NST. O anos mostrando discreta perda volumétrica do mesencéfalo e estreita
DBS esquerdo reposicionado e um novo DBS direito (abaixo) estão na mento da pcSN, em especial no lado direito B, onde é difícil delinear a
posição anatômica correta no NST. borda entre SN e NR.
Apresentação. O diagnóstico de DP depende de vários sin levodopa. Por sua vez, esse estímulo não fisiológico rom
tomas. Os três sintomas cardinais da DP são tremor ao
pe um estriado já instável, e as flutuações nos sintomas
motores aumentam. As complicações motoras da levo
repouso, rigidez e bradicinesia (lentidão em executar os
movimentos). Uma face não expressiva, algumas vezes dopa, como "esgotamento", discinesia e fenômeno "liga-
chamada de "face em máscara" ou "face em pedra", é uma -desliga", são comuns. Na verdade, elas desenvolvem-se
em quase metade de todos os pacientes que receberam o
manifestação comum da bradicinesia. medicamento por mais de cinco anos, em 80% daqueles
Outros sintomas clássicos são o tremor tipo "contar
tratados por 10 anos, e em quase todos os pacientes com
dinheiro", a rigidez em "roda denteada", ou em "cano de
doença de início precoce.
chumbo", e a instabilidade funcional com marcha com
Terapias modificadoras de doença, como antagonistas
passos curtos. A rigidez ocorre nos músculos agonistas e da adenosina A2A, inibidores da MAO-b e agonistas da
antagonistas, afeta os movimentos em ambas as direções
e pode ocorrer nos movimentos passivos de velocidade dopamina, estão sendo consideradas, assim como a terapia
muito baixa. genética para melhorar a produção de dopamina in vivo.
A demência eventualmente desenvolve-se em 40% Opções cirúrgicas. Aestimulação de alta freqüência
de estruturas profundas do cérebro é agora a preferida à
dos pacientes com DP. Achados menos comuns da DP in
cluem alterações autonômicas, anormalidades de compor terapia ablativa/lesional. O uso de DBS tem se tornado a
técnica preferida para o tratamento de uma gama de sinto
tamento, depressão e distúrbio do sono.
mas relacionados à DP avançada.
História natural. A DP costuma seguir um curso progres O NST é considerado um dos alvos ideais para o
sivo lento, com uma duração média de 13 anos. Quedas DBS. Os eletrodos são inseridos por orifícios de trepana-
e "marcha congelada" tomam-se a maior causa de desa- çào 25 a 30 mm laterais às suturas sagitais, 20 a 30 mm
bilidade. anteriores às suturas coronais e angulados cerca de 60%
Deméncias e degenerações cerebrais 995
33-39 Caso de necropsia de AMSc mostrando atrofia cerebeiar, redu- 33-40 AMSc grave com marcada atrofia da ponte e cerebelo. O IV
ção das dimensões dos pedúnculos cerebelares médios e ponte pequena ventrícuio está alargado. Observar o sinal da "cruz" E^1. Na DTl, os tratos
com o sinal da "cruz" (Cortesia de J. Townsend, M.D.) pontinos são de difícil visualização B.
Etiologia e patologia
ATROFIA DE MÚLTIPLOS SISTEMAS
A etiologia da AMS é desconhecida. A patologia ina-
croscópica mostra dois padrões de atrofia diferentes.
TERMINOLOGIA, PATOLOGIA E ASPECTOS CLÍNICOS
A AMSp mostra despigmentaçao e palidez da SN. O Terminologia
putame pode estar atrofiado e mostrar uma coloração • Síndrome Parkinson-plus
acinzentada secundária ao acúmulo do pigmento lipo- • Três doenças agora consideradas parte da AMS
fuscina. Na AMSc, a perda volumétrica acentuada do o Degeneração estriatonigral
o Atrofia olivopontocerebelar
cerebelo, da ponte, dos pedúnculos cerebelares médios
o Síndrome de Shy-Drager
(PCMs) e do bulbo dá à ponte uma aparência cm "bico"
(Fig. 33-39). A AMSa pode demonstrar a combinação Patologia
desses padrões. • AMSp
Microscopicamente, a AMS é classificada como in o Substância negra despigmentada
clusões citoplasmáticas gliais que são imunopositivas o Putame atrofiado, coloração acinzentada
• AMSc
para cc-sinucíeína e ubiquitina.
o Ponte atrofiada "retificada"
o Aparência em "bico"
Aspectos clínicos o Pedúnculos/hemisfêrios cerebelares atróficos
A idade média de inicio é de 58 anos; a idade média • Achados microscópicos
de duração é de 5,8 anos. Os aspectos semelhantes o Inclusões citoplasmáticas gliais
a Parkinson estão presentes em 75 a 90% de todos os o Imuno-histoquímica (+) para sinucleína, ubiquitina
pacientes com AMS, independentemente do subtipo.
Outros sintomas como disaulonomia, ataxia cerebeiar e Aspectos clínicos
• Divididos em subtipos pelos sintomas dominantes
sinais cerebelares podem ocorrer em qualquer combina
o Parkinsoniano AMSp
ção. Cerca de dois terços dos casos de AMS são classi o Cerebeiar AMSc
ficados como tipo parkinsoniano (AMSp) e 32% como ° AutonômicoAMSa
AMSc. Algum grau de disautonomia sintomática está • Achados parkinsonianos em 85 a 90% de todos os
presente em quase todos os pacientes, mas raramente é pacientes com AMS
o achado dominante. Menos de 5% dos pacientes com • Início médio = 58 anos; duração = 5,8 anos
AMS têm AMSa.
Demências e degenerações cerebrais 997
33-41 TI "acima" e 12 "abaixo" axiais mostrando alterações da 33-42 12" GRE axial em um paciente com AMSp mostrando hipoin
AMSp. Observam-se os venlrículos/sulcos grandes e o putame afilado e tensidade anormal no putame B e hipointensidade proeminente inco-
atrofiado B com um anel lateral irregular de hipointensidade e hipe- mum na SN
rintensidade B.
pode causar uma hiperintensidade transitória e uma restri das inclusões da proteína tau é predominantemente sub
ção da difusão aguda nos PCMs e nos tratos piramidais. cortical, com o GP, o NST, a SN e o tronco encefálico mais
gravemente afetados. O envolvimento cortical é comum.
ATROFIA DE MÚLTIPLOS SISTEMAS: IMAGEM
Aspectos clínicos
imagem Epidemiologia e demografia. a PSP é a segunda forma mais
• AMSp comum de parkinsonismo (depois da PSP idiopática) e é a
o Pütame pequeno com uma hipointensidade lateral mais comum das chamadas Parkinson-plus.
em T2/FLAÍR A prevalência da PSP depende da idade e é estimada
o T depósito de ferro putaminal em 12' em 6 a 10% de todos os casos de DP.
• AMSc
o Atrofia cerebelar Apresentação e história natural. O início dos sintomas da
o Pedúnculos cerebelares médios pequenos, côncavos PSP é insidioso, em geral começando pela sexta e sétima
o Ponte com dimensões reduzidas em "bico", sinal décadas de vida. O pico de início é de 63 anos, e nenhum
da "cruz" caso foi relatado em pacientes com menos de 40 anos.
o FA reduzida nos tratos transversos pontocerebelares
Dois fenótipos de PSP são reconhecidos: síndrome de
e corticospinal
• AMSa Richardson (PSP-RS) e PSP tipo parkinsoniana (PSP-P).
o Sem achados de imagem distintos A PSP-RS é a apresentação clássica mais comum, com
marcha balançante, distonia axial e sintomas oculares pre
Olagnóstico diferenciai coces. A paralisia do olhar conjugado vertical é um diag
• Doença de Parkinson
nóstico definitivo, mas costuma se desenvolver anos após
• Síndromes parkinsonianas atípicas (paralisia
o início da doença.
supranuclear progressiva, degeneração corticobasal) Um terço dos pacientes exibe o fenótipo PSP-P. O pa
• Ataxia espinocerebelar
• Hipoglkemia (hiperintensidade transitória no PCM) rkinsonismo domina o quadro clínico inicial, com bradi-
cinesia, rigidez, movimentos oculares normais e resposta
transitória à levodopa.
Paralisia supranuclear progressiva Embora o curso da doença seja variável, a PSP é um
processo neurodegenerativo progressivo. Os sintomas neu-
Terminologia
ropsiquiátricos desenvolvem-se em mais da metade dos
A paralisia supranuclear progressiva (PSP) - também
pacientes dentro de dois anos do início da doença. Em 15
conhecida como síndrome de Steele-Richardson-01-
a 30% dos casos, declínio cognitivo e alterações de com
szewski - é uma doença neurodegenerativa caracterizada
portamento são as queixas presentes e podem permanecer
por paralisia supranuclear do olhar, instabilidade postural como único achado clínico durante todo o curso da doença.
e demência discreta.
Imagem
Etiologia e patologia Achados na TC. A TC sem contraste mostra uma perda vo
Diferentemente da doença com LBs, da DP e da AMS
lumétrica variável do mesencéfalo com cisternas interpe-
(que são sinucleinopatias), a PSP é uma tauopatia. dunculares e ambientes proeminentes. Aumento ventricu
Quando a proteína tau flbriliza, ela toma-se menos lar discreto é comum.
solúvel, e as propriedades estabilizadoras de microtubules
são reduzidas. A PSP compartilha muitos achados clíni Achados na RM. Imagens ponderadas em TI e T2 sagitais
cos, patológicos e genéticos com outras doenças relacio mostram atrofia do mesencéfalo com a superfície supe
nadas à proteína tau, como a DCB e a DLFT com proteína rior côncava (sinal do "pingüim" ou do "beija-flor")
tau positiva. (Fig. 33-45). Cálculos volumélricos mostram que o me
O maior achado patológico macroscópico é a despig- sencéfalo sagital é menor que 70 mm^ e que a razão me-
mentação da SN e do locus cenileus com atrofia do me- sencéfalo/ponte é menor que 0,15, apenas metade daquela
sencéfalo. A atrofia variada do GP, do tálamo e dos NSTs, dos controles normais. Imagens axiais mostram alarga
juntamente com uma perda volumétrica discreta simétrica mento do ângulo interpeduncular e concavidade normal
frontal, também pode estar presente (Figs. 33-43 e 33-44). do tegmento do mesencéfalo.
A heterogeneidade patológica é comum na PSP. Os Além do mesencéfalo pequeno, do terceiro ventrículo
achados histopatológicos compatíveis com outras doenças alargado e das cisternas perimesencefálicas proeminentes,
neurodegenerativas coexistentes como a DA e a DLBD os pedúnculos cerebelares superiores também aparecem
estão presentes na maioria dos casos. atróflcos e a placa quadrigeminal geralmente é afetada.
A PSP é caracterizada histopatologicamente por per Os índices de DTl (FA, difusidade média e TC) de
da neuronal e gliose astrocítica. Inclusões celulares tau- monstram anormalidades na SB que geralmente são dis
-imunorreativas acumulam-se dentro dos neurônios e da cretas ou não aparentes em T2/FLAIR. As alterações na
glia (em astrócitos "tufados" ou estrelados). A distribuição SB são mais graves na PSP-RS.
Demências e degenerações cerebrais 999
Diagnóstico diferencial
o maior diagnóstico diferencial inclui outras tauopatias
como a DCB e algumas formas de DLFT. Todas compar
tilham mecanismos moleculares comuns e provavelmente
sejam parte de um mesmo espectro de doença. A DA, a
DP e a AMSp geralmente não exibem perda volumétrica
mesencefáiica acentuada ou atrofia dos colículos superio
res, que são vistas na PSP.
Aspectos clínicos
• Segunda causa mais comum de parkinsonismo
• Início insidioso (década de 60, 70)
• Sintomas psiquiátricos desenvolvem-se em 50% dos
casos
Imagem
• Perda de volume do mesencéfalo
o Sinal do "pingüim" ou do "beija-flor" na TI sagital
o Afilamento da placa quadrigeminal (espessamento
dos colículos superiores)
o Cisternas adjacentes T
• Mesencéfalo, hipometabolismo frontal-medial
Terminologia
A esclerose lateral amiotrófica (ELA) também é conhe
cida como doença do neurônio motor (ELA-DNM) ou
doença de Lou Gehrig.
Etiologia
Conceitos gerais. Neurônios motores superiores (NMSs) no
córtex motor primário enviam axônios inferiormente ao
longo do trato corticospinal (TCS) para que passem pelo
33-45 PSP mostrando mesencéfalo pequeno com
mesencéfalo, cruzem na junção cervicobulbar e transitem concavidade superior com sinal do "pingüim" ou do
na medula espinal. Lá, eles se ligam com as células dos "beija-flor" B, atrofia teclai B e mesencéfalo côn-
cornos anteriores (neurônios motores inferiores [NMIs]). cavo
1000 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
33-46 T2 axial de um pacienle com 19 anos com diagnóstico de ELA 33-47 Tractogralia coronal de um paciente com ELA mostra que o TCE
mostra hiperintensidade bilateral do TCE estendendo-se da SB subcortical superior direito S é menor que o esquerdo com aparência relativa-
no córtex motor ES pela coroa radiada ES para a perna posterior das mente normal. (Cortesia de N. Agarwal, MD.)
cápsulas internas B e pedúnculos cerebrais f^.
33-48 Espécime de necropsia de um paciente com DW crônica após 33-49 TC sem contraste (esquerda acima) e uma série de imagens
um grande infarlo na artéria cerebral média (ACM) esquerda SI mos ponderadas em T2 demonstrando alterações crônicas da OW após um
trando perda de volume do pedúnculo cerebral esquerdo e da ponte infarto territorial grande. Observa-se atrofia do pediinculo cerebral es
superior ES. (Cortesia de R. Hewlett, MO.) querdo, da ponte superior e do mesencéíaio B.
Diagnóstico diferencial
Imagem
o maior diagnóstico diferencial da DW é a doença neuro-
Achados na TC. A TC é pouco sensível nos estágios agudo
e subagudo da DW. A atrofia do pedúnculo cerebral ipsila degenerativa primária. A hiperintensidade em T2/FLAIR
teral é o achado mais comum na DW crônica (Fig. 33-49). algumas vezes vista na ELA é bilateral e estende-se da
SB subcortical adjacente ao córtex motor até o tronco en-
Achados na RM. O desenvolvimento de DW visível segui cefálico. Tumores cerebrais primários infiltrativos de alto
do de infarto, trauma e cirurgia não é previsível. Pouco grau (em geral astrocitonia anaplásico ou glioblastoma
menos da metade dos pacientes com déficits motores se multiforme) infiltram ao longo dos tratos da SB compac
guidos de um infarto lacunar agudo demonstra hiperinten- ta, mas causam expansão e, não, atrofia.
Demências e degenerações cerebrais 1003
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33-50 Um paciente com OW aguda três semanas após uma ressecçâo 33-51 OTI em um paciente com DW mostrando a ausência da cor azul
de tumor no hemisfério cerebral esquerdo. A RM mostra hiperintensida- (fibras descendentes) ES no pedúnculo cerebral esquerdo (TCS) compa
de no TCS ES sem perda volumétrica. rado com o TCS direito normal
33-52A T2 axíal em um pa
ciente com DW aguda provada
por biópsia mostrando uma lesão
blperintensa e expansiva na SB
cerebral profunda E2.
33-52B A tiiperintensidade
em continuidade com a lesão da
SB hemisférica é vista no TCS es
querdo S. Pode-se compará-la
com a hiperintensidade discreta
e normal no pedúnculo cerebral
direito ES.
3 3 - 5 2 E D i fu sã o co ro n a l mo s
trando restrição no ICS esquerdo
E S
33-52F DTI colorida mostran
do alguma redução dos tratos
de fibra azul (de superior para
inferior) na cápsula interna es
querda B.
Deméncias e degenerações cerebrais 1005
33-53 Gráfico axial do bulbo superior mostrando as pirâmides buiba- 33-54 Gráfico coronai mostrando o triánguio de Guiilain-Mollaret. O
res El em cada lado da fissura mediana ventrai. As olivas B situam- triângulo é composto peio núcieo oiívar inferior ipsiiateral (verde), peio
-se posteriormente ao sulco pré-olivar E3. núcleo denteado (azul) do cerebelo contralateral e peio NR ipsiiateral
(vermelfio).
33-55A T2 axial em um paciente que desenvolveu mlociono palatal 33-556 T2 axial no bulbo do mesmo paciente mostrando DOH unila
seis meses depois da ressecção de um meduloblastoma mostrando alte teral GS.
rações cirúrgicas no núcleo denteado direito B.
33-56A TI C+ axiai em uma mulher de 46 anos que desenvolveu 33-566 T2 na mesma paciente mostrando OOH bilateral E2.
mioclono palalal 18 meses após uma hemorragia no ironco encefético
secundária a uma malformação mista S cavernosa ea
33-59A TI axial em um
menino de 13 anos com crises
convulsivas de longa data e
hemiparesia esquerda mostran
do hemialrofia do hemisfério
cerebral direito acentuada, com
alargamento do ventriculo lateral
E3, foice e fissura inter-hemis-
férica fora da linha média B3 e
calota craniana espessada BI.
33-596 T2 mais cefálica no
mesmo paciente mostrando que
o LCS preenche espaços acima
do hemisfério cerebral atrofiado.
Pode-se comparar o espessa-
mento da calota craniana
com o normal do lado esquerdo.
SI8,2012
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Demências e degenerações cerebrais 1011
Q
34-1 Embrioiogia do prosencéfalo, dos venUiculos e do plexo coroi- 34-2 Ilustração demonstrando os ventrículos laterais pares B, o
de. A cavidade central do tubo neural g>l desenvolve projeções B3 lorame de Monro [^, o terceiro venirículo S, o aqueduto SI e o
do terceiro ventriculo rostral ES, formando um monoventriculo em quarto ventrículo EB, com seus três forames de drenagem, além do
formato de H. o plexo coroide S desenvolve-se ao longo da fissura óbex na porção inferior.
coroide.
O plexo coroide embrionário forma-se onde o mesênqui- o sistema ventricular é composto por quatro cavidades re
ma meníngeo dobrado - a tela coróidea - faz contato com vestidas por epêndima que se localizam na profundidade
o revestimento ependimário dos ventrículos. A invagina- do cérebro (Figura 34-2). Os ventrículos laterais pares
comunicam-se com o terceiro ventrículo via forame de
ção ocorre ao longo de toda a fissura coróidea. uma fenda
estreita localizada no venirículo lateral mediai entre o fór- Monro, que tem formato de "Y". O terceiro ventrículo co-
nice e o tálamo.
munica-se com o quarto ventrículo via aqueduto cerebral
No início, o plexo coroide fetal é relativamente (de Sylvius). O quarto ventrículo, por sua vez, comunica-
-se com o espaço subaracnoide.
grande em relação ao tamanho dos ventrículos late
rais, ocupando cerca de três quartos da luz ventricular Ventrículos laterais
(Fig. 34-i). À medida que o cérebro e o sistema ventri
Cada ventrículo lateral é uma estrutura em formato de C
cular crescem, o plexo coroide diminui gradualmente
em volume relativo.
com um corpo, átrio e três projeções ("comos"). Será con
siderada individualmente cada parte dos ventrículos late
rais da porção anterior para posterior.
Espaços subaracnoides O corno frontal é o segmento mais anterior do ven
As leptomeninges são derivadas de uma camada gelati trículo lateral. Seu teto é formado pelo joelho do corpo
nosa do mesoderma paraxial - as meninges primitivas caloso (CC), e ele é circundado inferolateralmente pela
ou "menin.x primiíivíf - que envolve o tubo neural. No cabeça do núcleo caudado. O septo pelúcido é uma mem
dia 32, a zona mais interna da meninge primitiva de brana fina de dupla camada que se estende do CC para o
genera sistematicamente, formando espaços irregulares forame de Monro, formando as bordas mediais de ambos
no aspecto ventral do rombencéfalo. Então, esses es os cornos frontais.
paços se estendem caudal e dorsalmente, coalescendo O corpo do ventrículo lateral passa abaixo do CC
assim para formar as leptomeninges preenchidas por posteriormente. Seu soalho é formado pelo tálamo dor
líquido. sal, e sua parede mediai é delimitada pelo fómice. Late-
Hidrocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1015
34-3 Ilustração no piano sagital demonstrando o espaço subaracnoide 34-4 Imagem ponderada em T2 no plano sagital mostrando o ventrí
com ICS (azul) entre a aracnoide (roxo) e a pia-máter (laranja). A pia- culo lateral S, o velum interpositum tB, o recesso do aspecto ante
•méter adere-se firmemente ao cérebro, enquanto a aracnoide se adere rior do terceiro ventrículo de aparência afilada ÍS e o fastígio do quarto
frouxamente ò dura-méter. ventrículo EI.
ralmente, ele curva-se ao redor do corpo e da cauda do infundibular mais agudo. Dois pequenos recessos, su
núcleo caudado. prapineal e pineal, formam-se na parede posterior do ter
O átrio contém o glomo do plexo coroide e é forma ceiro ventrículo. A aderência intertalâmica (massa inter
do pela convergência do corpo com os cornos temporal média) de tamanho variável fica entre as paredes laterais.
e occipital. O corno temporal estende-se anteroinferior-
mente e é circundado inferomediaimente pelo hipocampo. Aqueduto cerebral
O corno occipital é circundado inteiramente por tratos de O aqueduto cerebral é um conduto alongado tubular que
substância branca (SB), principalmente o trato geniculo- se localiza entre o tegmento mesencefálico e a lâmina
calcarino e o forceps maior do CC. quadrigeminal. Ele conecta o terceiro com o quarto ven
trículo.
Forame de Monro
O forame de Monro (forame interventricular) é uma es Quarto ventrículo
trutura em formato de Y, com dois grandes braços que se o quarto ventrículo - algumas vezes chamado de fos
estendem em direção a cada ventrículo lateral e um tronco sa romboide - é uma cavidade em formato de diamante
comum que se conecta com o soalho do terceiro ventrícu que se localiza entre a ponte dorsal e o verme cerebelar
lo. As bordas anteriores do forame de Monro são forma (Figs. 34-3 e 34-4). Ele tem cinco recessos distintos. O
das pelos pilares (corpos) dos fómices. As bordas poste fastígio é uma projeção dorsal triangular na linha média
riores são formadas pelos plexos coroides. que aponta em direção ao verme cerebelar. Os recessos
posterossuperiores são bolsas pares, delgadas, preenchi
Terceiro ventrículo das por LCS, que se curvam sobre as tonsilas cerebelares.
O terceiro ventrículo é uma cavidade única, em formato Os recessos laterais curvam-se anterolateralmente a par
de fenda, localizada na linha média, orientada vertical tir do quarto ventrículo, passando abaixo dos pedúnculos
mente e posicionada entre os tálamos. O teto é formado cerebelares maiores para o interior do aspecto inferior das
pela tela coróidea, uma camada dupla de pia invaginada. cisternas do ângulo pontocerebelar (Fig. 34-5).
A comissura anterior localiza-se na borda anterior do ter O quarto ventrículo estreita-se de modo gradual à me
ceiro ventrículo. O soalho é formado por quiasma óptico, dida que cursa inferionnente, formando o óbex. Próximo
hipotálamo, corpos mamilares e teto do tegmento mesen- da junção cervicobulbar, o óbex torna-se continuo com o
cefálico. canal central da medula espinal. Ajunção entre o óbex e
Existem duas projeções inferiores do ventrículo late o canal central é demarcada por um abaulamento dorsal
ral, o recesso óptico levemente arredondado e o recesso proeminente formado pelo núcleo grácil.
1016 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
s. X . - i!
Plexo coroide e líquido cefebrospinal dal, saindo pelo quarto ventrículo através do forame
mediai (de Magendie) e pelos dois forames laterais (de
0 espaço liquórico é um sistema dinâmico de pressão
com balanço hidrostático entre a produção e a absorção de Luschka) para as cisternas dos ângulos pontocerebela-
res. A única comunicação natural entre os ventrículos
LCS. A pressão do LCS determina a pressão intracrania
cerebrais e o espaço subaracnoide (ES) é via quarto
na, e os valores normais variam entre 3 e 4 mmHg, antes
ventrículo.
de um ano de idade, até 10 e 15 mmHg, em adultos.
Em contraste ao fluxo unidirecional nos ventrículos,
o fluxo de LCS no ES é multidirecional. O LCS circula
Anatomia
rostralmente para as granulações de aracnoide e caudal-
O plexo coroide (PC) é composto por numerosas excres- mente para os ESs espinais.
cências papilares altamente vasculares. Essas papilas con A absorção do LCS ocorre por duas vias. A dre
sistem em tecido conectivo central coberto por epitélio
nagem primária é feita pelas granulações da aracnoide
secretor derivado do epêndima.
para o interior dos seios venosos durais. Evidências ex
A maior massa de PC está no glomo, localizado no
perimentais indicam que quantidades de LCS pequenas,
á tr i o d o s ve n tr íc u l o s l a te ra i s. O PC e ste n d e -se a n te r o s- mas significativas, são drenadas do cérebro via cone
superiormente ao longo do soalho do ventrículo lateral, xões entre os espaços perivasculares, bainhas de nervos
entre os fómices e os tálamos. Ele também se estende an-
espinais e cranianos, além de linfáticos da cabeça e do
teroinferiormente do glomo para o como temporal, onde
pescoço.
preenche a fissura coroide e se localiza superomedialmen- Exatamente como o LCS circula é controverso. Dois
te ao hipocampo. mecanismos foram propostos: fluxo em bloco ou fluxo
pulsátil. No fluxo em bloco, a membrana aracnoide e as
Função granulações são consideradas os agentes primários de dre
O PC possui duas principais funções: produção de LCS nagem do LCS, da manutenção da homeostase liquórica
e manutenção da barreira entre o sangue e o LCS. Em e da regulagem da pressão intracraniana. Um pequeno
adultos, o epitélio do PC forma LCS a uma taxa de cer gradiente hidrostático existe entre os locais onde o LCS
ca de 0,4 mL por minuto ou cerca de 500 mL a cada é produzido (PC) e absorvido (granulações da aracnoi
24 horas. O LCS é substituído aproximadamente quatro de), permitindo o fluxo em bloco. A absorção do LCS pe
vezes ao dia, permitindo a remoção de substâncias des las granulações é adaptada para filtrar de acordo com a
necessárias. pressão do LCS.
O PC não é a única fonte de LCS. O fluido intersti- No fluxo pulsátil, acredita-se que ondas de pressão
cial cerebral é uma forma importante de produção de LCS geradas pelo ciclo cardíaco sejam responsáveis pelo mo
extracoroide. Pequenas fontes potenciais de produção de vimento do LCS. Quando o PC e as artérias cerebrais se
LCS incluem o epêndima ventricular e os capilares cere expandem na sístole, o LCS é passivamente misturado e
brais. movimentado. As ondas de pressão também são transmiti
O volume total de LCS em neonatos é de 10 a 60 mL, das ao parênquima cerebral e necessitam de amortecimen
sendo de cerca de 150 mL em adultos. Os ventrículos to. O cérebro é envolvido pelo crânio rígido, portanto a
contêm apenas 25 mL de LCS, encontrando-se o restante pressão é modulada pela expansão dos seios venosos e do
(125 mL) nos espaços subaracnoides craniospinais. saco tecal elástico espinal.
O PC mantém a barreira sangue-LCS via junções A circulação liquórica pode refletir uma combinação
de ambos os mecanismos.
apertadas entre as células epiteliais. A transferência de
proteínas por essa barreira é altamente regulada. Subpo-
pulações especificas de células epiteliais do PC são res Espaços/cisternas subaracnoides
ponsáveis pela transferência de proteínas plasmáticas do Os espaços subaracnoides (ESs) encontram-se entre
sangue para o LCS por meio da proteína ligante de albu- a pia e a aracnoide (Fig. 34-3). Os sulcos cerebrais são
m i n a S PA R C .
pequenos ESs interpostos entre os giros cerebrais. Expan
Acreditava-se que o LCS era um simples envelope de sões focais dos ESs formam as cisternas de LCS. Nume
proteção ao sistema nervoso central (SNC). Hoje o LCS rosos septos piais cruzam os ESs do cérebro para a arac
tem reconhecida função essencial na manutenção da ho- noide, que é frouxamente fixada à membrana interna da
meostase do fluido intersticial cerebral e na regulação do d u r a - m á t e r.
funcionamento neuronal. As maiores cisternas são encontradas na base do
crânio acima da sela túrcica, ao redor do tronco, no ápi
Circulação do líquido cerebrospinal ce do tentório, adjacentes aos ângulos pontocerebelares
o LCS costuma circular livremente entre os dois reser e acima/abaixo do forame magno. Todos os ESs se co
vatórios intracranianos - os ventrículos e as cisternas municam livremente entre si e com o sistema ventricu
liquóricas - e o espaço subaracnoide. O fluxo do LCS lar, provendo caminhos naturais para a disseminação de
nas cavidades ventriculares é unidirecional e rostrocau- doenças.
1018 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
34-6 TC no plano axial demonslrando assimeiria normal dos ventricu- 34-7 Imagem ponderada em 12 de alta resolução no plano coronal
íos laterais. O septo pelúcído ESI está levemente abaulado e deslocado demonstrando hidrocefalla obstrutiva unilateral. O ventrículo lateral
através da linha média. Não existe fluido íntersticial periventricular ou direito esta aumentado devido a uma aderência E3 que obstrui a dre
evidência de efeito expansivo. nagem em local próximo ao forame de Monro.
pode não ser diagnosticada e é mais bem diferenciada da tornam-se o septo pelúcido.
assimetria ventricular benigna por técnicas especiais de
ressonância magnética (RM) (ver a seguir). Aspectos clínicos
A prevalência do CSP diminui com o aumento da idade.
Cavum do septo pelúcido e cavam vergae Entre 3 e 6 meses de idade, o CSP está fechado em 80 a
85% dos pacientes. A persistência do CSP na vida adulta
Terminologia ocorre em 15 a 20% dos pacientes.
o cavum do septo pelúcído (CSP) é uma cavidade preen A presença do CSP costuma ser assintomática e é uma
chida por LCS que se encontra entre os cornos frontais alteração do tipo "não toque" encontrada acidentalmente
dos ventrículos laterais. O cavum vergae (CV) é uma ex em exames de imagem.
Hidfocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1019
mentado determina efeito expansivo, deslocando os fómi- A ausência do septo pelúcido é traduzida pela au
ces e os folhetos dos septos pelúcidos lateralmente. sência dos folhetos septals, dando aos cornos frontais a
Cltrassonografía. O CSP está presente em 100% dos aparência de uma cavidade quadrangular repleta de LCS.
fetos e sempre é identificado nas ultrassonografias obsté- Um ventrícuio lateral assimétrico pode ter um septo pe
tricas. Ele aumenta de tamanho entre 19 e 27 semanas de lúcido fusionado deslocado através da linha média. Cistos
idade gestacional, tem pico com 28 semanas e então gra ependimários nos cornos frontais são raros, porém, quan
dualmente fecha de trás para frente. Ao termo, a porção do presentes, eles deslocam focalmente o septo pelúcido
posterior em geral está fusionada e, em 85% dos casos, em vez de afastarem os folhetos do septo pelúcido.
Etiologia
A etiologia precisa do aumento benigno dos ESs em crian
ças é desconhecida, mas provavelmente esteja relacionada
com as vias de drenagem de LCS imaturas. As granula-
çôes de Pacchioni não estão totalmente desenvolvidas até
12 a 18 meses do pós-natal. momento no qual o aumento
benigno dos ESs em geral está resolvido.
Não existe predisposição genética, embora 80% das
crianças com aumento benigno dos ESs apresentem histó 34-16A TC pós-contraste em uma criança de 7 meses
ria familiar de macrocefalia. de idade demonstrando ESs proeminentes bifrontais e in-
ter-hemisféricos Be3, além das veias cruzando o ES
Patologia
Do ponto de vista macroscópico, os ESs são amplos e
mais proeminentes que o habitual (Fig. 34-15). Não exis
tem membranas subdurals que possam sugerir hematomas
subdurals crônicos ou efusões.
Aspectos clínicos
Epidemiologia e demografia. a incidência do aumento benig
no do ES é de difícil mensuração. Ela é relatada em 2 a
65% dos estudos de imagem para macrocrania em crian
ças com menos de 1 ano de idade.
O aumento benigno do ES normalmente apresenta-se
entre 3 e 8 meses. Existe predominância no sexo masculi
no na proporção de 4:1.
Imagem
Os ESs frontais em crianças podem ser normalmente mais
proeminentes, atingindo um máximo de tamanho aos sete
34-17A Imagem ponderada em TI no plano sagital
meses. Apenas a presença de ESs proeminentes não cons
em uma criança com desenvolvimenlo normal aos 7
meses de idade e com macrocefaiia demonstrando ma-
titui o diagnóstico de aumento benigno dos ESs; a circun
crocrania e aumento dos ESs frontais fiS. ferência craniana deve estar acima do percentil 95.
Achados na TC. Achados típicos na TC em crianças com
aumento benigno dos ESs incluem ESs bifroniais e inter-
-hemisféricos anteriores aumentados com mais de cinco
milímetros de largura, aumento das cisternas suprasselar/
quiasmática, fissuras silvianas proeminentes e ventrículos
laterais e terceiro ventrículo levemente aumentados. Os
sulcos posteriores e da convexidade são normais.
A TC pós-contraste demonstra veias corticais atraves
sando o ES (Fig. 34-16). Não existe evidência de mem
branas espessadas com realce que possam sugerir hemato
ma subdural ou higroma.
Achados na RM. O fluido no ES frontal aumentado com
Diagnóstico diferencial
Os principais diagnósticos diferenciais do aumento benig
no do ES são atrofia, hidrccefalia obstrutiva exiraventri-
cular e trauma não acidental. Na atrofia, o PDF é normal
ou está reduzido. Na hidrccefalia obstrutiva extraven-
trieular secundária à obstrução ou a trauma, o quarto ven
trículo geralmente está aumentado, e o LCS nos espaços
extra-axiais não segue o LCS em densidade ou intensida
de de sinal.
34-17C imagem ponderada em T2 demonstrando Eventualmente, crianças com aumento benigno dos
ESs frontais e inter-hemisféricos proeminentes SJ. ESs apresentam coleções subdurals hemorrágicas so
além de veias cruzando o ES BI. brepostas, de modo similar ao que ocorre com cistos de
Hidrocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1023
aracnoide. Em tais crianças, trauma não acidental deve ser paciente pode ser involuntária e relacionada com pulsação
considerado até que a avaliação cuidadosa demonstre au arterial ou do LCS.
sência de evidências que sustentem a hipótese de lesões Artefatos de pulsação na direção da codificação de
por maus-tratos. fase causam propagação de artefatos "fantasmas" em
linha reta ao longo de todo o plano de imagem e com fre
Artefatos de fluxo liquórico qüência são vistos como focos altemantes de alto e baixo
O LCS normal apresenta tempos de relaxamento de TI sinal (Fig. 34-21).
e T2 longos, causando o aspecto familiar de sinal baixo
e alto, respectivamente. Artefatos relacionados ao LCS
no cérebro e na medula são comuns nos estudos por RM, Hidrocefalia
principalmente devido ao movimento de vai-e-vem pulsá-
til liquórico. Embora uma discussão completa dos artefa A hidrocefalia é a doença que mais comumente necessita
tos relacionados ao movimento do LCS esteja além do es de tratamento neurocirúrgico em crianças. O tratamento
copo deste texto, serão descritos a seguir os três principais consome uma grande quantidade de recursos do sistema
artefatos que podem mimetizar uma patologia na RM. de saúde, com os custos se aproximando de 1 bilhão de
Os artefatos de fluxo liquórico são causados por efei dólares apenas nos Estados Unidos. Anteriormente con
tos "time offlighi" (TOF), fluxo turbulento e movimento siderada apenas uma doença da infância, a hidrocefalia
do paciente. cada vez mais vem sendo reconhecida como causa pouco
comum, mas de significativa importância, de disfunçào
Efeitos "time of flight" neurológica em adultos.
Os efeitos TOF podem resultar em perda de sinal (sinal Existem muitos aspectos ainda desconhecidos (embo
escuro do LCS) ou realce relacionado ao fluxo, que pro ra devessem ser conhecidos) sobre a hidrocefalia. Neste
duz sinal elevado do LCS. A perda de sinal do efeito TOF capítulo serão consideradas algumas das maiores contro
está diretamente relacionada com a velocidade do LCS, vérsias acerca da hidrocefalia, com foco inicial nas mani
sendo mais proeminente onde o fluxo é acelerado através festações de imagem e complicações.
de estruturas estreitas. Localizações típicas para a perda
de sinal do efeito TOF são ao redor do forame de Monro e Terminologia
no terceiro e quarto ventrículos (FIg. 34-18). Uma definição rigorosa de hidrocefalia é surpreendente
Anulação incompleta do LCS na FLAIR pode fazer mente difícil. A terminologia e a classificação são assunto
o LCS de sulcos e cisternas apresentar o aspecto espúrio de debate contínuo. A abordagem comum seguida neste
de alto sinal, mimetizando hemorragia subaracnóidca, in- capítulo subclassifica a hidrocefalia pelo local presumido
fecção ou doença metastálica (Fig. 34-19). da obstrução do LCS, ou seja, no interior (hidrocefalia
Fenômenos de entrada de corte são mais evidentes obstrutiva intraventricular [HOl]) ou fora dos ventrí
nas imagens ponderadas em TI (Fig. 34-20). O alto sinal culos (hidrocefalia obstrutiva extraventricular [HOE]).
é causado por influxo de spins não saturados que apresen Essa distinção é importante, visto que o tratamento para
tam magnetização longitudinal total. O primeiro corte do HOl (derivação liquórica) é diferente do tratamento para
volume da imagem mostra de modo mais proeminente o HOE (fenestração de membrana).
realce por efeitos relacionados ao fluxo, que são mais pro O termo "hidrocefalia ex-vácuo" usado para des
nunciados na porção inferior da fossa posterior em cortes crever o aumento ventricular e de cisternas causado por
axiais e ao redor do forame de Monro em imagens coro- perda de volume parenquimatoso está desatualizado e não
nais. Esse fenômeno de entrada de corte cria artefatos que deve mais ser utilizado.
podem mimetizar lesões expansivas.
Etlologla
Fluxo turbulento A hidrocefalia é uma condição heterogênea com causas
o fluxo turbulento causa velocidades de fluxo e direções diversas. A presença de ventrículos aumentados associa
diferentes, com perda de sinal secundária à defasagem de dos com aumento da pressão intracraniana é apenas uma
spins no interior do voxel. No cérebro, fluxo turbulento apresentação no espectro que vai desde hipertensão in
com perda de sinal é comum no aqueduto cerebral, no tracraniana idiopática ("pseudotumor cerebral") até uma
quarto ventrículo e ao redor de vasos com pulsação. Esse síndrome recentemente reconhecida e enigmática de hi
efeito é especialmente pronunciado ao redor da artéria ba drocefalia com baixa pressão liquórica.
silar, onde pode simular dilatação aneurismática. Três diferentes teorias têm sido utilizadas para expli
car o desenvolvimento de hidrocefalia.
Artefatos de movimento O pensamento tradicional de longa data sobre a etio-
o artefato mais problemático na RM é a movimentação logia da hidrocefalia (literalmente "água no cérebro") diz
voluntária do paciente, o que pode ser evitado por lem que ela é o resultado de um desequilíbrio entre a produ
bretes verbais ou sedação leve. Alguma movimentação do ção e a absorção de LCS. Como a produção de LCS per-
1024 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
34-22 HOI triventricular com aumenlo marcado dos ventrículos laterais 34-23 Imagem de necropsia de um caso de estenose aquedutal SI.
e do terceiro ventrículo, CC alongado e aquedulo cerebral em formato de Venlfículo lateral maciçamente aumentado KS, terceiro ventrículo
funil S) com obstrução distai. Observam-se o tamanho normal do quarto abaulado ES e quarto ventrículo normal SI. (Cortesia das Coleções
ventrículo e o abaulamento do soalho do terceiro ventrículo ~Si. Rubinstein, Arquivos da AFIP.)
manece relativamente constante e nao se reduz de modo hidrocefalia obstrutiva crônica. Hidrodinâmica alterada -
significativo até que a pressão intracraniana se aproxime e não absorção defeituosa - é considerada a origem de
da pressão sistólica, acredita-se que a hidrocefalia seja o ambos os tipos de hidrocefalia crônica.
resultado de uma absorção deficiente. A superprodução de As aquaporinas (AQPs) - e seu papel no movimen
LCS verdadeira é uma situação rara (ocorrendo apenas no to da água nas interfaces cerebrais - estão envolvidas na
cenário das neoplasias de PC e hiperplasia vilosa). mais nova tentativa de explicar o desenvolvimento da hi
Nesse modelo convencional, a circulação e a absor drocefalia. Estudos em animais mostram que, com o au
ção do LCS ocorrem principalmente por fluxo em bloco, mento da pressão intracraniana e o acúmulo de fluido ven
um mecanismo amplamente passivo que depende de um tricular. ocorre inicialmente inibição de AQPl e posterior
leve gradiente de pressão entre o ES e os seios venosos. ativação de canais iônicos de AQP1.
Quando a absorção do LCS é comprometida, os ventrí
culos aumentam e o resultado é a hidrocefalia. A absor Hidrocefalia obstrutiva intraventricular
ção pode ser bloqueada em qualquer nível no interior do
sistema ventricular, na cisterna magna, nas cisternas da Terminologia
base e nas convexidades cerebrais. As conexões entre os Os termos hidrocefalia obstrutiva intraventricular (HOl)
e hidrocefalia não comunicante são usados para designar
espaços perivasculares, as bainhas dos nervos espinais e
cranianos, e os linfáticos da cabeça e do pescoço foram obstrução física nos forames de saída do quarto ventrículo
postuladas como caminhos alternativos de drenagem do ou proximal a eles.
LCS, ainda que inadequados,
Um modelo alternativo usa a dinâmica alterada do Etioiogla
fluxo do LCS para explicar o desenvolvimento da hidro Conceitos gerais. A HOI pode ser congênita ou adquiri
cefalia. Nesse cenário, complacência alterada do saco da, aguda (HOIA) ou crônica (HOlC). A HOl congênita
durai espinal, amortecimento alterado do leito vascular, ocorre em condições como estenose de aqueduto.
ou ondas de pressão da pulsação das artérias e dos PCs Embora a HOIA possa ocorrer de modo repentino (p.
exercem pressão anonnal sobre o parcnquima cerebral. O ex., obstrução do forame de Monro por um cisto coloide),
balanço delicado entre esse sistema é comprometido, re ela geralmente se desenvolve em um período de semanas
sultando em hidrocefalia. ou mesmo meses. Qualquer lesão expansiva intraventri
Nessa abordagem, a hidrocefalia é dividida em dois cular (como uma neoplasia ou um cisto) pode causar HOI,
grandes grupos, hidrocefalia aguda e crônica. A hidroce assim como qualquer lesão extraventricular de tamanho
falia aguda é causada por uma obstrução intraventricular suficiente para ocluir uma estrutura crítica (p. ex., o aque
e consiste em dois subtipos, hidrocefalia comunicante e duto cerebral).
1026 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
Quando os ventrículos se tomam obstruídos, o eflu- A causa mais comum de HOI (hidrocefalia não co-
xo de LCS cessa. Como a produção de LCS continua, os municante) é a obstrução membranosa pós-hemorrágica
ventrículos tomam-se aumentados. A medida que os ven ou pós-intlainatória. Os locais mais comuns de obstrução
trículos se expandem, aumenta a pressão exercida sobre o são, em ordem, os forames de Luschka, o aqueduto cere
parênquima cerebral adjacente. A pressão intraparenqui- bral e o forame de Magendie. O forame de Monro é uma
matosa aumentada compromete a vascularização cerebral, localização relativamente rara.
reduzindo a perfusão cerebral. A pressão aumentada tam Massas intraventriculares são a próxima causa mais
bém comprime as veias subependimárias, que reduzem a comum de HOI adquirida. A prevalência das patologias
absorção de fluido inlersticial cerebral pelas veias medu- especificas varia conforme a localização, O cisto coloide é
iares profundas e pelos espaços perivasculares. O resul a lesão mais comumente encontrada no forame de Monro,
tado é edema Interstíclal periventricular. A quantidade seguido pela esclerose tuberosa (nódulos subependimá-
do LCS que atravessa o epêndima ventricular ("fluxo de rios e aslrocitomas de células gigantes). Após obstrução
LCS transependlmárlo") é desconhecida.
benigna (membranosa), as lesões que mais comumente
Na HOlC "compensada", os ventrículos expandem-se obstruem o aqueduto de Sylvius são os gliomas da placa
de modo lento o suficiente para permitir que a liomeosta- tectal e as neoplasias da região pineal.
se do LCS seja relativamente mantida. Edema intersticial O quarto ventrículo é um local comum para neopla
periventricular está ausente. sias que podem causar hidrocefalia obstrutiva. Em crian
Etiopatogenia. As causas gerais de hidrocefalia obstrutiva ças, o meduloblastoma é o tumor mais comum que causa
vão desde anormalidades do desenvolvimento/genéticas a HOI, seguido por ependimoma, astrocitoma pilocitico,
trauma, infecção, hemorragia intracraniana, neoplasias e a s t r o c i t o m a d i f u s o i n fi l t r a t i v o e t u m o r t e r a t o i d e r a b d o i d e
cistos. atípico (AT/RT, de atypical teratoid/rhabdoid tumor).
34-26A A utilidade da RM
no plano sagital na hidrocefalia
é demonstrada por esta FLAIR.
Observam-se os recessos anterior
e posterior do terceiro ventrículo
arredondados e aumentados
El, deslocamento cranial e re
dução da espessura do CC O
quarto ventrículo é normal B.
34-26B Visão aproximada da
CISS sagital claramente demons
trando uma fina aderência no
aqueduto como causa da hidro
cefalia triventricular. O aqueduto
distai B e o quarto ventrículo
B são normais.
Hidrocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1027
Em adultos, metástases, hemangioblastoma, cisto epi- O exame microscópico demonstra que o revestimento
dermoide e papiloma de plexo coroide (PPC) sao lesões ependimário se encontra descontínuo ou ausente. Os es
do quarto ventriculo que podem causar hidrocefalia. Cis paços exlracelulares periventriculares estão aumentados,
tos inflamatórios (p. ex., neurocisticercose) ocorrem no e a SB circunjacente está rarefeita e tem aspecto pálido. O
sistema ventricular de pacientes de todas as faixas etárias. córtex encontra-se relativamente bem preservado.
Genética. A hidrocefalia congênita pode ou não ser parte de
Aspectos clínicos
uma síndrome genética. Nos dias de hoje, apenas um gene
- a molécula neural de adesão celular LI {LICAM, de cell Epidemiologia e demografia. a HOl pode afetar pessoas de
qualquer idade, desde o feto (hidrocefalia congênita in-
adhesion molecule LI) - foi reconhecido como causador
de hidrocefalia congênita. A hidrocefalia ligada ao X (es- trauterina) até o idoso. Não há predileção por sexo, exceto
na hidrocefalia congênita primária, na qual a razão H:M
tenose aquedutal hereditária) é causada por mutação no
é de 2,6:1.
gene LICAM.
Apresentação. A apresentação da HOl varia em gravidade
e tempo de evolução. A cefaleia é o sintoma mais comum,
Patologia
enquanto o edema de papila é o sinal mais comum. Náu
Macroscopicamente, os ventrículos localizados próximos
à obstrução têm aspecto balonado (Figs. 34-22 e 34-23). sea, vômitos e paralisia do NG VI também são freqüentes
na HOí.
O epêndima está afilado e pode estar focalmente roto ou
mesmo ausente. O CG apresenta espessura reduzida e está História natural. A história natural da HOl varia. A maio
deslocado superiormente contra a foice rígida do cérebro. ria dos casos costuma progredir se não tratada. A HOIA
Alterações focais de encefalomalacia são comuns no cor grave não tratada pode resultar em coma e mesmo em
po do CG. morte. Alguns pacientes com HOl de desenvolvimento
34-27A TC demonstrando os
achados clássicos de HOl. Au
mento marcado dos ventrículos
laterais com margens "borradas"
e hípodensidade periventricular
Bel Indicam edema interstícial.
Os sulcos da convexidade estão
34-28 HOl de longa data "compensada" causada por estenose aque- 34-29 FLAIR em estenose aquedutal de longa data demonstrando hi-
dutal demonstrando aumento simétrico dos ventriculos laterais e dila- drocefalia obslrutiva "compensada". Os ventriculos estão marcadamente
tação simétrica dos forames de Monro E3. A SB B apresenta grave aumentados, porém não existe "halo" de edema intersticial periventri
redução volumétrica, entretanto o cortex tem aspecto normal. (Cortesia cular.
de R. Hewlett, MD.)
lento podem não buscar atendimento médico até a vida o método de escolha. Imagens de RM multiplanares deli-
adulta (p. ex., a síndrome recentemente descoberta de es neam melhor a hidrocefalia e freqüentemente permitem a
tenose aquedutal de início tardio). identificação da etiologia.
Em imagens axiais, achados gerais de imagem in
Opções de tratamento. Derivação liqiiórica (válvula, ventri-
cluem aumento dos cornos temporais dos ventriculos late
culostomia, fenestraçào endoscópica do soalho do terceiro
rais (fora de proporção em relação aos ESs) (FIg. 34-24).
ventrículo) é um procedimento comum, freqüentemente Os cornos frontais assumem formato "arredondado". O
realizado como primeiro passo antes do tratamento deUni-
terceiro ventrículo - que tem aspecto em fenda nos cortes
tivo da obstrução (p. ex., remoção de um cisto coloide ou
axiais - está expandido e perde o aspecto afilado carac
ressecção de uma neoplasia intraventricular). terístico (Flg. 34-25). As paredes ventriculares primeiro
apresentam-se paralelas e posteriormente expandem-se,
Imagem de modo que o terceiro ventrículo assume um aspecto
Características gerais. Várias medidas foram propostas para
alongado ou ovalado. Conforme os ventriculos continuam
quantificar a hidrocefalia. Entre elas estão índices como o a dilatar, as cisternas subaracnoides e os sulcos da con-
diâmetro dos cornos frontais em relação à tábua interna do vexidade podem ser comprimidos, e os giros aparecem
crânio ("índice ventricular" ou "índice de Evans"), o raio achatados contra a calvária.
do como frontal e o ângulo ventricular. A utilidade de tais
Imagens sagitais mostram o CC de espessura reduzi
medidas bidimensionais comparadas com a análise visual da, alongado, abaulado cranialmente e, em casos graves,
é incerta. Medidas volumétricas geradas por computador
impactado contra a foice do cérebro. O recesso anterior
têm sido propostas como fonte dos melhores padrões nor do terceiro ventrículo aumenta, perdendo o aspecto agudo
mativos, mas demandam tempo de trabalho e são de difí normal (Fig. 34-26A).
cil obtenção. Nos casos de HOlC, o LCS pulsátil no terceiro ventrí
Apesar das limitações de acurácia. a análise radioló- culo choca-se no centro da base do crânio continuamente.
gica subjetiva permanece como o método mais comum A sela turcica óssea aumenta de modo gradual e assume
para avaliar o tamanho ventricular. A hidrocefalia costu uma configuração "aberta". Em casos graves, a porção an
ma ser diagnosticada quando os ventriculos têm aspecto terior do terceiro ventrículo pode prolruir para o interior
desproporcionalmente aumentado com relação aos ESs. da sela.
Embora, com freqüência, imagens de TC sejam usa Se os ventriculos laterais e o terceiro ventrículo estão
das como método de rastreamento em pacientes com ce- aumentados, mas o quarto ventrículo permanece normal (p.
faleia e sinais de hipertensão intracraniana, a RM deve ser ex., como ocorre na estenose de aqueduto), a condição é
Hidrocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1029
Terminologia
A hidrocefalia obstrutiva extraventricular (HOE) também
é chamada de hidrocefalia comunicante para indicar que a
obstrução está localizada fora do sistema ventricular.
Etlologla
A obstrução causadora da HOE pode estar localizada
em qualquer nível desde os forames de saída do quarto
ventrículo até as granulações da aracnoide. Hemorragia
subaracnóidea, tanto traumática quanto por aneurisma in
tracraniano, é a causa mais freqüente. Outras etiologias
comuns incluem meningite purulenta, meningite granulo-
niatosa e metástases disseminadas no LCS.
Aspectos clínicos
Assim como na HOl, a apresentação da HOE varia com
o tempo de evolução e a gravidade do quadro. O sintoma
mais comum é a cefaleia, seguida por sinais de aumento
da pressão intracraniana como edema de papila, náusea,
vômito e diplopia.
Imagem
Achados na TC. O aspecto clássico da HOE na TC é de au
mento simétrico e proporcional dos ventrícuios laterais e
do terceiro e quarto ventrícuios. As cisternas da base são
hiperdensas na hemorragia subaracnóidea aguda e podem
J
34-34B Corte no plano axial através do cerebelo
se apresentar isointensas e apagadas nas meningites piogê- demonstrando que o quarto ventriculo ES está marca-
nicas e neoplásicas. A TC pós-contraste demonstra realce damente aumentado e arredondado ("balonado").
nos casos de HOE secundária à infecção ou à neoplasia.
Achados na RM. As mesmas seqüências de imagem usadas
na HOI aplicam-se para avaliação da HOE. Se a hidroce
falia for causada por hemorragia subaracnóidea ou menin
gite, o LCS tem aspecto "sujo" nas imagens ponderadas
em TI e hiperintenso na FLAIR. As imagens ponderadas
em TI pós-contraste podem demonstrar realce de sulcos e
cisternas (Fig. 34-35).
Em contraste com a HOI, mais da metade dos casos
de HOE não apresenta causa identificável para a obstru
ção nas seqüências de pulso padrão de RM. Em tais casos,
é importante tentar identificar sutis membranas que pos
sam estar causando a obstrução extraventricular.
As cisternas liquóricas, os ventrícuios e os forames de
drenagem são mais bem demonstrados com seqüências de
pulso especiais como a 3D-C1SS ("ÍÍ) constructive inter 34-34C Aumento do terceiro ventriculo SI e de
ference in the steady state"). ambos os ventrícuios laterais i^, Hidrocefalia "co
Usando-se a 3D-CISS de alta resolução, a obstrução municante" extraventricular. (Cortesia de R. Hewlett,
por membranas finas pode ser demonstrada em cerca de MD.)
1032 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
34-36A Imagem ponderada em TI no piano axial em uma criança de 34-36B imagem ponderada em TI pós-conlrasle no mesmo paciente
18 meses de idade com macrocrania demonstrando aumento simétrico demonstrando que a lesão expansiva sofre intenso reaice. Hidrocefaiia
do terceiro ventrícuio e dos ventrícuios laterais. Uma iesâo expansiva de por excesso de produção de LCS causada por um PPC.
aspecto papiiar E3 é vista no átrio do ventrícuio laterai esquerdo.
buam para a degeneraçào parenquimatosa que costuma Apresentação. A natureza e a gravidade dos sintomas, tanto
acompanhara HPN. quanto do curso da doença, variam na HPN. Distúrbios
da marcha com aumento do triângulo de sustentação são
Patologia sintomas iniciais típicos. A tríade clássica de "Hakim" de
Os ventrículos apresentam-se macroscopicamente aumen demência, apraxia da marcha e incontinência urinária está
tados. A SB periventricular com freqüência se apresenta presente na minoria dos pacientes e geralmente representa
anormal, porém sem infartos francos. Agrupamentos neu- doença avançada. Embora distúrbios da marcha possam
rofibrilares e outras alterações microscópicas encontradas ser vistos na maior parte dos casos, nem todos os pacien
na doença de Alzheimer são vistos em 20% dos casos. tes apresentam déficits cognitivos.
História natural. A história natural da HPN não foi bem
Aspectos clínicos
caracterizada e o tempo de progressão não é uniforme. A
Epioemiologia e demografia. a HPN responde por cerca de 5
maioria dos pacientes apresenta declínio cognitivo e mo
a 6% de todas as demências. A incidência de HPN é esti
tor progressivo.
mada em 1 a 5 novos casos por 100.000 pessoas ao ano.
Embora seja mais comum em pacientes acima de 60 anos, Opções de tratamento. Alguns pacientes inicialmente res
a HPN eventualmente pode ocorrer em crianças após he pondem de modo notável à derivação ventricular ("HPN
morragia intraventricular ou meningite. Existe uma pre com resposta à derivação"). A resposta favorável à deriva
dominância moderada no sexo masculino. ção varia de 35 a 40% em pacientes com HPN "possível"
A HPN pode ser classificada como "possível" ou a 65% naqueles diagnosticados com HPN "provável".
"provável" com base na combinação de aspectos clínicos, O desfecho a longo prazo é mais complicado. Embora
estudos de imagem e resposta à punção lombar com dre a melhora da marcha seja comum, apenas um terço dos
nagem de volumes maiores de LCS. pacientes apresenta melhora contínua três anos após a de-
34-38A Neste paciente com HPN, a cisternografia multiplanar de 24 34-38B Visão do topo da cabeça do mesmo paciente também após
horas com ln-111 DTPA mostra o radiofármaco nos ventrkulos laterais 24 horas mostrando claramente atividade nos ventrículos laterais 13,
S] e ausência de atividade sobre a convexidade ÍS. (Cortesia de K. confirmando o diagnóstico de HPNI provável. (Cortesia de K. Morton,
Morton, MD.) MD.)
rivaçào. Cogniçào e disfunçâo urinária são sintomas com ta um moderado "halo" periventricular de alto sinal em
menor resposta. T2/FLAIR(Fig. 34-37B).
A imagem do tensor da difusão (DTl, de diffusion ten
Imagem sor imaging) é um bom marcador para patologia da SB
Características gerais. Os estudos de imagem em pacientes e demonstra anisotropia fracionada aumentada no braço
com suspeita de HPN sào necessários, porém nào forne posterior da cápsula interna.
cem todas as informações essenciais para se estabelecer o Estudos de fluxo com contraste de fase 2D ou 3D po
diagnóstico definitivo de HPN. O objetivo de identificar dem demonstrar fluxo aumentado e volume médio aque-
dutal marcadamente elevado.
pacientes que terão melhor resposta após derivação ven-
triculoperitoneal parece interessante. Medicina nuclear. Atividade ventricular pronunciada na
O aspecto de imagem mais característico da HPN é a
cisternografia de 24 horas com In-111 DTPA é conside
presença de algum grau de ventriculomegalia (índice de rada um bom indicador de HPN (Fig. 34-38). Tomografia
Evans de pelo menos 0,3) que parece desproporcional ao
por emissão de pósitrons (PET, de positron emission to
aumento dos sulcos ("desproporção ventriculossulcal")
mography) com fluordesoxiglicose (FDG) 18F demonstra
(Fig. 34-37). metabolismo cerebral regional diminuído.
Achados na TC. A TC demonstra aumento dos ventrículos
laterais com cornos frontais arredondados. O terceiro ven- Diagnóstico diferencial
trículo está moderadamente aumentado, embora o quarto A principal dificuldade em diagnosticar HPNI é fazer a dis
ventrículo possa parecer normal. tinção com outra doença neurodegenerativa. Mais de 75%
As cisternas da base e as fissuras de Sylvius podem dos pacientes com HPN apresentam outras doenças neuro-
ser algo proeminentes - em comparação com o grau de degenerativas, mais comumente doença de Alzheimer e
ventriculomegalia, o aumento de sulcos é leve. Hipoden- demência vascular. Na atrofía relacionada à idade, os
sidade periventricular é comum e com freqüência repre ventrículos e o ES estão aumentados proporcionalmente.
senta a combinação do aumento de fluido intersticial com
a rarefaçào da SB secundária à doença microvascular. Síndrome de bidrocefalia aguda com
Achados na RM. Imagens ponderadas em TI demonstram inapropríada baixa pressão liquórica
ventrículos aumentados. Um flow void proeminente e A maioria dos pacientes com hidrocefalia obstrutiva agu
exagerado no aqueduto cerebral pode ser evidente. O CC da apresenta ventriculomegalia e aumento da pressão
costuma estar afilado. A maioria dos pacientes apresen intracraniana (PIC). Entretanto, um pequeno grupo de
1036 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
34-39A Imagem ponderada em TI no plano axial em um pacienle com 34-39B O cateter foi reposicionado e o paciente apresentou piora
derivação venlricuioperitonea! e ceíaleía demonstrando o cateter E3 no neurológica aguda após 10 dias. A TC demonstra ventrículos "balonados",
ventrículo lateral esquerdo colapsado, em lenda S. O ventricuio lateral edema periventricular 63 e sulcos reduzidos. A OVE demonstrou pressão
direito está moderadamente aumentado; os sulcos têm aspecto normal. liquórica inapropriadamente baixa, consistente com 5ILPAH.
pacientes com hidrocefalia obslrutiva apresenta vcntricu- O mniHiO. Os pacientes sem derivação costumam apre
lomegalia com PlC inadequadamente baixa. sentar pressões muito abaixo do esperado as quais rapida
mente se tornam ainda mais baixas. Em ambos os cená
Terminologia rios, a PlC é baixa demais para permitira drenagem pelos
A síndrome de hidrocefalia aguda com inapropriada bai m e c a n i s m o s d e D VE n o r ma i s .
xa pressão liquórica (SILPAH) algumas vezes é chamada Tratamentos com bandas tensoras ao redor do pesco
de "hidrocefalia de pressão negativa". Como a pressão de ço e por redução da DVE para níveis negativos em geral
abertura nem sempre é "negativa", os termos SILPAH ou resultam em melhora clínica e resolução da ventriculome
"hidrocefalia de pressão muito baixa" são mais adequados. galia. O reestabelecimento da comunicação entre o siste
ma ventricular e o ES pode ser necessário para corrigir a
Etiologia dinâmica da PIC.
Anteriormente acreditava-se que a SILPAH ocorresse so
mente nos pacientes com derivação ventriculoperitoneal Imagem
prévia. Hoje sabe-se que a SILPAH ocorre também em Os achados de imagem são idênticos aos da hidrocefalia
outros pacientes. O fator comum é o isolamento do siste obstrutiva aguda grave. Aumento quadriventricular, halos
ma ventricular do ES com perda (ou drenagem) de LCS, de edema intersticial periventricular e pequenos - algu
resultando em turgor cerebral e PIC reduzidos. A produ mas vezes não aparentes - ESs estão presentes.
ção de LCS continua expande os ventrículos.
Diagnóstico diferencial
Aspectos clínicos O principal diagnóstico diferencial da SILPAH é a síndro
A SILPAH é incomum e - por sua natureza enigmática e me muito mais comum de hidrocefalia obstrutiva aguda
contraintuitiva - com freqüência não é reconhecida. com aumento da PlC. Os achados de imagem são idênti
Os pacientes com SILPAH se apresentam com dete cos. portanto o diagnóstico definitivo é estabelecido ape
rioração neurológica progressiva, ventriculomegalia agu nas quando a DVE demonstra PlC inesperadamente baixa.
da progressiva e PIC inapropriadamente baixa quando um A SILPAH deve ser diferenciada da hipotensão in
cateter de derivação ventricular externa (DVE) é instalado tracraniana idiopática. uma doença também caracteriza
(Fig. 34-39). A SILPAH afeta pacientes de todas as faixas da por baixa PIC (ver a seguir). A hipotensão intracrania
etárias; 20% deles são crianças. na é caracterizada por deslocamento caudal das estruturas
Os pacientes com derivação ventricular e SILPAH centrais do cérebro e do mesencéfalo, migração caudal
normalmente apresentam pressão de abertura inferior a tonsilar e espessamento/realce durai.
Hidrocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1037
34-40A Imagem ponderada em Ti no plano sagilal em uma mulher 34-40B Imagem ponderada em T2 na mesma paciente demonstrando
obesa de 33 anos demonstrando quantidade excessiva de gordura B e achatamento posterior dos globos oculares com protrusão intraocular das
sela turcica parcialmente vazia B. cabeças dos nervos ópticos S. A pressão de abertura na punção lombar
foi de 440 mmHjO, compatível com Hll moderadamente grave.
(continua)
doença apresenta-se em mulheres acima do peso que estão
entre os 20 a 45 anos.
1038 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
Angiotomografía/angiorressonância venosa. A
angiorressonância magnética venosa demonstra estenose
do seio transverso t jlow gaps. Há controvérsias quanto a
isso ser causa ou conseqüência da PlC aumentada. A an-
giotomografia venosa é útil para diferenciar um segmento
hipoplásico de seio venoso de um segmento trombosado.
Diagnóstico diferencial
o diagnóstico diferencial mais importante em pacientes
34-41C Imagem ponderada em T2 mostrando sela com suspeita de HII é hipertensão intracraniana secun
turcica vazia bainhas dos nervos ópticos dilatadas dária (p. ex., aumento da PlC com causa identificável).
B e protrusão da cabeça dos nervos ópticos f^. Embora a dilatação da bainha dos nervos ópticos ("hi-
Hipertensão Intracraniana.
Hidrocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1039
fi r%
sutil das bainhas dos nervos óp
ticos (ES e relativa redução dos
sulcos corticais sobre a superfície
cortical Os globos oculares
tém aspecto normal.
1
' fi * n 34-420 Imagem ponderada
em 12 mais cranial mostrando
que ambos os ventrículos laterais
têm aspecto reduzido B3.
1 i
}
34-42E Angiorressonância
magnética venosa mostrando
seio transverso direito hipoplá-
sico ES e seio transverso es
querdo dominante com aparente
eslenose de alto grau B.
34-42F Anglografia com sub
tração digital (ASD) anteropos
terior confirmando estenose do
seio transverso esquerdo SI. O
gradiente de pressão através da
estenose é de 10 mmHg, Foi co
locado um stent no ponto de es
tenose com resolução da cefaleia
da paciente. Estenose de seio
venoso ou aderência causando
hipertensão intracraniana é uma
causa rara, mas potencialmente
remediável de Hll.
1040 Distúrbios tóxicos, metabóllcos, degenerativos e do LCS
34-43A TC em um paciente com múltiplas revisões de derivação 34-43B Imagem de uma série de radiografias mostrando o fragmento
ventricular demonstrando um cateter abandonado ES e um segundo do cateter abandonado O segmento cervical do cateter "ativo" está
cateter "ativo" B no ventriculo lateral esquerdo. Ambos os ventriculos fraturado (Cortesia de 5. Blaser, MD.)
estavam moderadamente aumentados em relação aos estudos prévios
(não mostrados).
dropsia") e o achatainento posterior dos globos oculares diretamente ao tratamento para pacientes de todas as ida
indiquem aumento da PIC, eles podem ser vistos tanto na des com hidrocefalia excedem US$ I bilhão por ano ape
HI! quando na hipertensão intracraniana secundária. A nas nos Estados Unidos.
ventriculomegalia é mais comum na hipertensão intracra A imagem tem um papel essencial na avaliação de pa
niana secundária, enquanto os ventriculos costumam ser cientes com derivações liquóricas. A falha da derivação
normais ou pequenos na HIl. pode resultar tanto em aumento quanto em colapso dos
Trombose de seio venoso durai (TSD) é outra consi ventriculos. A manifestação de imagem mais comum da
deração importante. A T2* (GRE, SWl) demonstra trom falha da derivação é o aumento dos ventriculos. A TC em
bo com artefato de susceptibilidade magnética no seio geral é o método de escolha para a avaliação dos pacien
venoso afetado. A angiorressonância magnética ou a an- tes com cateteres intracranianos. Modalidades alternati
giotomografia venosa pode demonstrar o coágulo. vas incluem ultrassonografía transfontanelar e técnicas
novas rápidas de RM, como seqüências fast steady-sraíe
Defivações liquóricas e complicações gradienl-recalled-echo (S S -G R E).
Embora a terceiroventricuiostomia endoscópica esteja ga Nesta seção serão resumidas algumas das causas mais
nhando aceitação, o iratamento-padrão para todos os tipos comuns de falha de funcionamento das derivações ventri
de hidrocefalia permanece a instalação de uma derivação culares.
v e n t r i c u l a r.
A instalação de uma derivação ventricular é um dos pro Falha mecânica
cedimentos neurocirúrgicos mais comuns. Múltiplas cirur Falhas mecânicas representam cerca de 75% dos proble
gias são regra, e não exceção; cerca de 50% das derivações mas relacionados à derivação ventricular. Desconexão ou
ventriculares em crianças falham nos primeiros dois anos, e fratura do sistema respondem pelos outros 15% ou menos
a vasta maioria falha em até 10 anos após a instalação. (Fig. 34-43).
Os custos e a morbidade ao longo da vida associados A maioria das derivações ventriculoperitoneais apre
com a instalação do shunl para tratar hidrocefalia da in senta vários componentes. Os sistemas usados com mais
fância e do adulto são substanciais. Mais da metade de to freqüência consistem em três peças: (I) cateter ventricular
dos os pacientes pediátricos e adultos necessita de revisão conectado a uma (2) válvula e (3) cateter distai peritoneal.
da derivação. Cerca de 55% das crianças são submetidas A descontinuidade da derivação ventricular pode ocorrer
a quatro ou mais revisões, e cerca de 10% apresentam três em qualquer local do trajeto, porém a desconexão é mais
ou mais infecções da derivação. Os custos relacionados comum na junção dos vários componentes.
Hidrocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1041
34-44E Em comparação
com a radiografia do crânio da
série anterior (Fig, 34-44B), no
momento o cateter do sistema
ativo termina abruptamente no
pescoço B.
34-44F A radiografia de tórax
demonstra uma segunda des-
continuidade no cateter B. O
segmento distai está enrolado
no quadrante superior esquerdo
SI, uma posição inadequada.
(Cortesia de K. Moore, MD.)
1042 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do
Outras complicações
Derivação liquórica em hidrocefalia de longa data com
drenagem liquórica excessiva pode aumentar o risco de
hematoma subdural. Alterações cicatriciais intraventricu-
34-45C FLAIR não demonstrando evidências de flui
lares e aderências podem bloquear o fluxo de LCS de um
do intersticial periventricular ao redor do quarto ventri
cuio encarcerado B. (Cortesia de K. Moore, MO.) compartimento para outro, produzindo encarceramen-
Hidrocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1043
34-46A TC óssea em um
paciente com fistula liquófica
espontânea demonstrando um
defeito no osso esfenoide direito
E3 e niveí liquido no seio esfe
noide direito S.
34-46B Imagem ponderada
em T2 com saturação de gordura
no mesmo paciente demons
trando preencfiimento do seio
esfenoide direito por liquido B.
O seio esfenoide esquerdo nor
malmente está aerado. A clster-
nografia com ln-111 OTPA (não
mostrada) apresentou atividade
no nariz e no seio esfenoide,
confirmando fistula liquórica.
(Cortesia de H. R. Harnsberger,
MD.)
34-55A (Esquerda) Imagem ponderada em TI no plano sagital antes 34-55B Imagem ponderada em TI pós-contraste com saturação de
da reoperação para oligodendroglioma demonstrando glândula hlpófise gordura demonstrando a glândula hipófise arredondada, com realce E],
normal B. (Direita) No pós-operatório, o paciente piorou da cefaleia. junto com ingurgitamento durai BI. Um dos achados de imagem mais
Observa-se o aumento da glândula hipófise ES. confiáveis na hipotensão intracraniana pós-operatória é o aumento da
glândula hipófise.
História natural. A maioria dos casos de HIE resolve-se de trículos pequenos com desvio mediai do átrio dos ventrí-
modo espontâneo. Em casos raros, migração caudal do cére culos laterais e aumento volumétrico da ponte.
bro não tratada pode resultar em coma ou mesmo em morte.
Achados na RM
Opções de tratamento. O tratamento tem objetivo de res
taurar o volume de LCS. Reposição de fluidos e repouso Imagens ponderadas em TI. As imagens ponderadas em
TI no plano sagital demonstram migração cerebral caudal
podem ser suficientes na maior parte dos casos. Em ou em aproximadamente metade dos casos. Rebaixamento do
tros, "'patdf epidural de sangue ou reparo cirúrgico pode
ser necessário. Infusão salina de emergência em pacientes mesencéfalo, com localização abaixo do nível que passa
obnubilados, com encefalopatia grave, pode salvar a vida. pelo dorso da sela, ângulo entre os pedúnculos cerebrais e
a ponte menor que 90" e achatamento da ponte contra o di
O ''patch" epidural de sangue costuma ser realizado
vo são achados típicos. O deslocamento caudal das tonsi-
com base apenas nos achados clínicos e de imagem. Se
las cerebelares é comum, porém não está sempre presente.
injeções de pequenos a grandes volumes de sangue não
O quiasma óptico e o hipotálamo com freqüência es
forem bem-sucedidas, mais estudos podem ser necessá
tão comprimidos sobre a sela turcica, apagando a cisterna
rios para localizar o nível preciso da fistula liquórica.
suprasselar. A glândula hipófise mostra-se aumentada em
até 50% de todos os casos (Figs. 34-50A, 34-51 e 34-55).
Imagem
Imagens no plano axial mostram as cisternas da
Embora a TC com freqüência seja obtida como método de
base apagadas. O mesencéfalo e a ponte podem aparecer
rastreamcnto nos pacientes com cefaleia grave ou intratá
alongados (sinal da "ponte gorda"), e os lobos temporais
vel, a RM é o método de escolha para avaliar a hipótese
de HIE. Várias alterações podem ser evidenciadas na HIE; aparecem deslocados medialmente sobre o tentório e a
incisura do tentório. Os ventrículos laterais em geral são
apenas raramente identificam-se todos os sinais de ima
pequenos e distorcidos à medida que são empurrados me
gem em um mesmo paciente. diai e inferiormente pelo cérebro rebaixado (Fig. 34-53).
Achados na TC. O achado mais evidente na TC é o de co Em casos de migração caudal grave do cérebro, ima
leções de fluido subdural; todavia, esse achado está pre gens no plano coronal podem demonstrar que o ângulo
sente em apenas 15% dos casos. Achados sutis na TC para entre o teto dos ventrículos laterais se encontra progressi
a presença de HIE incluem apagamento das cisternas da vamente reduzido (inferior a 120") (Fig. 34-50B).
base (em especial o ES suprasselar). hemiação mediai dos Os seios durais com freqüência se apresentam distor
lobos temporais na incisura do tentório do cerebelo. ven- cidos, com margens convexas em direção anterior e "Jlow
1050 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS
voids" aumentados (Flg. 34-50C). Coleções fluidas sub- Outras causas de espessamento da dura-aracnoide
durais (higromas > hematomas) são variáveis (Figs. 34-53 (infecçâo, metástases, etc.) não apresentam o espectro de
e 34-54). achados associados com HIE. A paquimeningite hiper-
T 2 / F L A I R . Te r c e i r o v e n t r i c u l o e m f e n d a d e s l o c a d o trófica idiopática em geral não é tão difusa quanto o es
caudalmente nas imagens axiais apresenta-se quase so pessamento visto na HIE. A invasão óssea (osso temporal,
breposto ao mesencéfalo (Fig. 34-52). órbitas) não é característica da HIE.
TJ pós-conírasíe. Um dos achados mais consistentes A TSD pode se apresentar com seios venosos engur-
na HIE, o espessamento durai difuso com realce intenso, é gitados secundariamente à drenagem venosa colateral. As
visto em 85% dos casos. Espessamento durai linear pode seqüências T2* (GRE, SWI) demonstram o coágulo com
se estender para o interior dos canais auditivos, inferior artefato de susceptibilidade magnética nos seios venosos
mente ao divo e através do forame magno para o interior afetados e fluxo baixo nas veias medulares (SB) se o coá
do canal cervical superior (Fig. 34-51). gulo se estender para as veias cerebrais internas.
Imagens da coluna. Piexos venosos cervicais engur-
gitados e com realce podem se apresentar com o aspecto
de uma "cortina rasgada", reduzindo a amplitude do ca HIPOTENSÃO INTRACRANIANA
nal. Espessamento durai pode mimetizar sarcoidose ou
doença metastática. Etíologia e patologia
• Hipovolemia liquórica -> cérebro "rebaixado", seios
Imagem por RM de toda a coluna pode ser útil para
detectar LCS fora do ES. Quando a localização precisa da venosos/dura-máter T
• Pode ser espontânea (idiopática) ou adquirida
fistula liquórica se torna importante no manejo da hipo-
volemia liquórica, mielografla dinâmica por TC (MTC) Aspectos clínicos
• Cefaleia ortostática
pode ser útil. Mielografla por RM com gadolíneo intra-
• Hipotensão intracraniana grave pode causar coma ou
tecal (atualmente em uso off-labet) pode detectar fistulas
mesmo a morte
em pacientes selecionados nos quais a MTC não tenha
sido útil. Achados na RM
• Comuns
Medicina nuclear. A cisternografia intratecal com In-111
o Cérebro rebaixado
DTPA pode ser útil para identificar fistulas liquóricas. A
o Ângulo entre o mesencéfalo e a ponte reduzido
salda do radiotraçador para o compartimento extradural, ti
(inferior 90°)
picamente para o espaço paraespinal, pode ser identificada. o Quiasma óptico/hipotálamo comprimidos sobre a
A fusão das imagens de tomografia computadorizada por sela
emissão de fóton único (SPECT, de singiephoton emission o Espessamento difuso com realce da dura-máter
computed tomography) e TC é bastante útil para determinar • Menos comuns
o nível exato onde se encontra a fistula liquórica. o Ponte e mesencéfalo podem parecer "gordos"
o ± Deslocamento caudal das tonsilas cerebelares
Hidrocefalia
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35-1 Gráfico mostrando a formação e o fecfiamento do tubo neural. A 35-2 O tubo neural fecha-se como um zíper bidirecional, começando
placa neural (vermelha) forma-se, dobra-se e lunde-se na linha média. na linha média e progredindo para as duas extremidades.
Então, os ectodermas neural e cutâneo se separam. A notocorda (verde)
e a crista neural (azul) são mostradas.
35-3 O desenvolvimento das vesículas primárias é demonstrado. O pro 35-4 O cérebro desenvolve as fiexuras à medida que o prosencétalo
sencétalo (verde), o mesencéfalo (roxo) e o rombencéfalo (azul-claro). dá origem ao telencéfalo (verde) e ao diencéfalo (vermelho). O mesen-
céfalo (roxo) alonga-se, enquanlo o rombencéfalo dá origem ao meten-
céfaío (amarelo) e ao mielencéfalo (azul-claro).
todo o hemisfério do epêndima ventricular até a pia. As Uma vez que os neurônios "jovens" são gerados na
CGRs também são células-lronco que podem originar tan matriz germinativa e nas zonas ventriculares dorsais, eles
to neurônios quanto glia. Os corpos celulares alongados devem deixar sua "casa" para alcançar seu destino final
das CGRs servem como "uma corda guia" que conduz os (córtex). O córtex cerebral definitivo desenvolve-se por
neurônios migratórios da matriz germinativa até o córtex. um processo altamente ordenado de proliferação, migra
Os astrócitos originam-se de duas fontes: células ção e diferenciação neuronal. O neocortex dos hemisfé
progenitoras gliais da zona ventricular e CGRs da zona rios cerebrais tem seis camadas celulares, cada uma com
intermediária. Os oligodendrócitos originam-se das célu seu padrão distinto próprio de organização e conexão.
las precursoras dos oligodendrócitos das zonas ventricular
e subventricular. Antes da diferenciação em oligodendró Migração neuronal
citos mielinizados, essas células precursoras proliferam, A migração de neurônios recentemente proliferados
migram e depois se espalham pelo SNC. ocorre ao longo da estrutura fornecida pelas CGRs. Os
neurônios viajam através da zona germinativa para o man
Erros na histogênese
to cortical em uma seqüência "de dentro para fora". As
Erros na histogênese e na diferenciação resultam em células inicialmente formam as camadas mais profundas
inúmeras neoplasias embrionárias, incluindo o medulo- do córtex. com cada migração sucessiva ascendendo mais
blastoma e os tumores neuroectodérmicos primitivos. Os
para fora e progressivamente formando as camadas mais
probletnas com a proliferação e a diferenciação das CTNs superficiais. Cada grupo de migração atravessa a camada
também contribui para malformações do desenvolvimen
to cortical (ver a seguir).
já em sua localização formada pelas células que migraram
anteriormente.
O pico de migração neuronal ocorre entre 11 e 15 se
Migração neuroríol manas fetais, embora a migração continue até 35 semanas.
Gênese dos neurônios corticais
Erros na migração neuronal e na
A ncurogcncse ocorre de uma maneira previsível com
geração seqüencial de subtipos ncurais específicos de organização cortical
áreas designadas na matriz germinativa. Por exemplo, o resultado primário dos erros desses estágios são as mal
neurônios corticais cerebrais glutamatérgicos originam- formações do desenvolvimento cortical. Os problemas
-se nas zonas ventriculares dorsais, enquanto neurônios com a proliferação ou a diferenciação das CTNs. a migra
GABAérgicos destinados a originar o corpo estriado se ção e a organização cortical podem resultar em anoma
originam nas zonas mais ventrais. lias de desenvolvimento do neocónex. Exemplos incluem
1058 Malformações congênitas do crânio e do encéfaio
35-5 Cérebro embriônico com 22 semanas, em sua maior parte 35-6 Com o avanço da idade gestacional, múltiplos giros secundários
agírico, com uma fissura silviana rasa BS. 0 prosencéfalo (verde), o e terciários desenvolvem-se, e o número e a complexidade das folias
metencéfalo (amarelo) e o mielencéfaío (azul-claro) são mostrados. As cerebeiares aumentam.
estruturas mesencefáiicas não são visíveis.
35-7A T2 axial de uma criança prematura com 26 semanas e 5 dias 35-7B Imagem da coroa radiada mostrando que o cérebro é quase
de vida. As fissuras silvianas estão começando a se formar. A hipoin- completamente liso, com apenas alguns sulcos rasos. Ondas de neurô
tensidade ao redor dos ventrícuios E9 é, em sua maior parte, a matriz nios migratórios hipointensos ES dão à SB uma aparência em camadas
germinativa. e "borrada".
normal, assim como as anormalidades da formação e da gicamente, o cerebelo é uma extensão da linha média e,
manutenção da mielina, são discutidos em detalhes no portanto, parte da ponte dorsal.
Capítulo 31. Em geral, a mielinização segue de inferior Os lábios rombencefálicos fundem-se, formando as
para superior, de trás para frente, de central para comissuras cerebelares no soalho do IV ventrículo. Cada
periférico. hemisfério subseqüentemente se funde e fissura na dire
ção craniocaudal.
A formação do IV ventrículo é um processo comple
xo. Um cume de plexo coroide em desenvolvimento di
Desenvolvimento do mesencéfalo e do vide o IV ventrículo emergente nas áreas membranosas
rombencéfalo anterior e posterior. Normalmente, a membrana anterior
é incorporada ao plexo coroide em desenvolvimento, en
Agora serão resumidos os maiores eventos embriológicos
envolvendo a formação do mesencéfalo e do rombencéfa quanto a área membranosa posterior persiste e eventual
lo. A descrição das conseqüências dos erros de seu desen mente cavita, formando o forame de Magendie na linha
volvimento é apresentada a seguir. média. Precisamente como e quando os forames laterais
se abrem é desconhecido.
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E
35-11 T2 axial moslrando lisencefalia tipo cobblestone em ambos os 35-12 FLAIR mostrando nódulos subependimários B e tuberes
polos occipitais E3. (Cortesia de M. Warmuth-Metz, MD.) corlicais Bcom as hiperintensidades subcorticais típicas em forma de
chama B do complexo da esclerose tuberosa.
gia dos ventrículos laterais, em especial de seus recessos média, a holoprosencefalia está presente. Se a FIH apa
anteriores. rece irregular e os giros "interdigitam" pela linha média,
Devem-se procurar por outras lesões como lipomas e o paciente quase certamente tem uma malformação de
cistos. Eles em geral localizam-se na linha média ou são Chiari tipo 2.
paramedianos, podendo ser rapidainente identificados. As Devem-se avaliar o tamanho, o formato e a posi
imagens sagitais na linha média também permitem uma ção dos ventrículos. Sc o III ventrículo aparece "alto" e
boa avaliação das estruturas da fossa posterior. O IV ven- os cornos frontais dos ventrículos laterais parecem um
irículo aparece normal? Pode-se encontrar o fastigium "capacete de viking", a disgenesia do corpo caloso está
apontando dorsalmente? Devem-se avaliar a posição das presente (Fig. 35-lOB). Se os cornos frontais aparecem
tonsilas e a junção craniovertebral para anomalias. quadrados, deve-se observar cuidadosamente se há ausên
Se os ventrículos laterais e o III ventrículo são gran cia do cavum do septo pelúcido. Essa ausência é vista na
des e o IV ventrículo aparece normal, deve-se procurar displasia septo-óptica e em geral é vista como displasia
por um aqueduto em forma de funil indicando uma este- calosal ou esquizencefalia.
nose aquedutal. Se for visualizada uma estenose do aque Devem-se avaliar cuidadosamente os cornos tem
duto, deve-se observar cuidadosamente a placa quadrige- porais e o hipocampo para se ter certeza de que eles são
minal para ver se a causa pode ser um glioma tectal de normalmente rodados e orientados horizontalmente (não
baixo grau. verticalmente, como costuma ocorrer na holoprosencefa
Imagens sagitais também são especialmente títeis lia. na lisencefalia, nas anomalias calosais e nas malfor
para avaliar o córtex cerebral. O córtex está muito espes mações no desenvolvimento cortical).
so? Muito fino? Irregular? Anomalias do desenvolvimen
to cortical como a paquigiria e displasias corticais asso Imagens axiais
ciadas com fendas cerebrais ("esquizencefalia") são mais A combinação de uma TI verdadeira com uma T2 TR/TE
facilmente identificadas nas imagens sagitais. longa é necessária na avaliação de todos os casos de atra
so do desenvolvimento para avaliar a maturação da mie-
Imagens coronals lina. O espessamento e a configuração do manto cortical
Em geral, as displasias corticais são bilaterais e mais fre também são vistos (Fig. 35-11). O tamanho, o formato e a
qüentemente são agrupadas ao redor das fissuras silvia- configuração do ventrículo são facilmente avaliados nessa
nas. As imagens coronais fazem uma comparação lado a seqüência.
lado relativamente fácil. Deve-se seguir a fissura inter- Seqüências FLAIR são especialmente úteis na avalia
-hemisférica (FIH) por todo seu trajeto de frente para ção de anormalidades como na displasia cortical focal ou
trás. Se os hemisférios estão em contiguidade na linha de Taylor e das hiperintensidades na SB subcortical em
1064 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo
35-13 T2 axial em um paciente com rombencefalossinapse mostran 35-14 T2 axial mostrando anomalia clássica do "dente molar" com o
do ausência do verme com conliguidade de ambos os hemisférios cere- IV ventriculo superior alongado B3. os pedúnculos cerebeiares superio
belares na linha média 63. (Cortesia de M. Warmuth-Metz, MD.) res espessados B e o verme "dividido" B3.
forma de chama vistas no complexo da esclerose tuberosa • Glenn OA et al: Malformations of cortical development;
36-1 Estruturas ósseas da fossa posterior (FP) vistas de cima. A ponte 36-2 Gráfico sagital da FP normal. Observe a superfície inferior das
apoia-se na curvatura do divo 31. A escama occipital forma a maior tonsilas arredondadas SI. Núcleo grácil 1^, junção entre o obex do
parte do soaiho da FP; sulcos para a torcuíar seios transversos quarto ventrículo e o canal centrai situa-se acima do forame magno. A
são facilmente vistos. (Cortesia de M. Nielsen, MS.) fissura primária do verme situa-se ao longo da superfície tentorial.
tório cerebelar, que separam os compartimentos Intra e sas quanto os grandes tratos descendentes de substância
supratentoriais. Uma grande abertura central em forma de branca que são contínuos com os pedúnculos cerebrais
U, a íncisura tentorial, contém o mesencéfalo. Quanti superiormente e com as pirâmides bulbares inferiormen
dades variadas de hemisfério cerebelar superior e verme te. Sua parte dorsal - o tegmento - é comum em todas
projetam para o hiato tentorial atrás do mesencéfalo. as estruturas do tronco encefálico (mesencéfalo, ponte e
As margens externas convexas da dura separam-se bulbo) e contém a formação reticular e múltiplos núcleos
posteriormente ao longo da escama occipital para conter dos nervos cranianos.
a confluência dos seios {torcuíar herophili) e seios trans O bulbo é a parte mais caudal do tronco encefálico e
versos, aderidos lateralmente aos ossos temporais e poste representa a transição do cérebro para a medula espinal.
riormente ao osso occipital. A foice cerebelar consiste em Seu segmento ventral (anterior) contém as olivas e os tra
uma ou mais pequenas pregas concèntricas de dura que se tos piramidais. Um marco importante de imagem é a proe
projetam para a cisterna magna e aderem superiormente a minente "ondulação" ao longo do bulbo dorsal criado pelo
superfície inferior do tentório. núcleo grácil. Isso demarca a junção entre o quarto ventrí
A dura divide-se em duas camadas distintas quando culo (obex) e o canal central da medula espinal, O núcleo
passa inferiormente através do forame magno para o canal grácil normalmente se situa acima do forame magno.
cervical superior. A camada interna endosteal toma-se o
periósteo do canal vertebral, e a camada meníngea toma- Cerebelo
-se a dura do saco tecal. Na coluna, as duas camadas são o cerebelo é uma estrutura bilobada localizada posterior
separadas por gordura, o plexo venoso epidural e o tecido mente ao tronco encefálico e ao quarto ventrículo. Ela
conectivo frouxo. consiste em dois hemisférios e um verme na linha média.
Cada hemisfério cerebelar tem três superfícies: supe
Tronco encefálico rior (tentorial), inferior (suboccipital) e anterior (petrosa).
o tronco encefálico tem três divisões anatômicas: o me A superfície superior abaula a superfície inferior do ten
sencéfalo, a ponte e o bulbo. O mesencéfalo situa-se par tório; a superfície inferior é em sua maior parte delineada
cialmente acima e parcialmente abaixo do tentório. Ele pela escama occipital; e a superfície anterior situa-se ao
curva através da incisura tentorial, conectando a ponte e o longo da parede posterior do osso temporal petroso.
cerebelo com as estruturas do prosencéfalo basal e hemis As fissuras dividem o cerebelo em lobos e lóbulos.
férios cerebrais. A mais proeminente é a grande fissura horizontal. Essa
A ponte apoia-se na suave curva do divo (Fig. 36.1). fenda profunda envolve o cerebelo e separa suas super
Seu aspecto ventral contém tanto fibras pontinas transver fícies superior e inferior. A fissura primária, orientada
Malformações da fossa posterior 1067
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36-3 T2 sagital mostra FP normal; núcleo grácil com a junção do 36-4 Imagem um pouco mais lateral mostra a folia orientada horizon
quarto ventriculo e o canal central da medula espinal fostigium do talmente B, as superfícies inferiores das tonsilas arredondadas S e a
quarto ventriculo B, a fissura primária do verme B. fi s s u r a h o r i z o n t a l B .
obliquamente, divide o cerebelo em lobos anterior e pos O córtex cerebelar é um contínuo de tecido que é do
terior. Fissuras menores subdividem os lobos em lóbulos. brado em forma de acordeão para formar várias pontas
Alguns marcos divisórios proeminentes superficiais proeminentes. O córtex tem três camadas principais: a ca
dos hemisférios cerebrais incluem as tonsilas cerebela- mada molecular é a mais superficial e é com neurônios
res, que se estendem inferomedialmente dos lóbulos bi- relativamente escassos; a camada das células de Purkin-
ventrais (Fig. 36-2). Uma pequena protuberância de teci je contém as células de Purkinje, que são arranjadas em
do, o flóculo, situa-se abaixo de cada pedúnculo cerebelar uma linha única entre a camada molecular superficial e a
médio e projeta-se anteriormente para a cisterna do ângu camada granular profunda; e a camada granular é a mais
lo ponto-cerebelar. complexa e a mais celular, contendo corpos e axônios de
Três pedúnculos pareados ligam os hemisférios cere- neurônios granulares.
belares ao tronco encefálico. O pedúnculo cerebelar su
perior {brachium conjuncíiviim) conecta o cerebelo aos Quarto ventriculo e cisternas
hemisférios cerebrais pelo mesencéfalo. Os pedijnculos A anatomia do quarto ventriculo é delineada em mais de
cerebelares superiores contém fibras eferentes do nttcleo talhes no Capitulo 34.
rubro ao tálamo. O quarto ventriculo é um espaço complexo em for
Os pedúnculos cerebelares médios (brachium ma de diamante que corre ao longo da ponte dorsal e do
poniis) conectam o cerebelo à ponte e representam a bulbo superior. Importantes reparos anatômicos são o fas-
continuação dos tratos corticopontinos. Os pedúnculos tigium apontado dorsalmente, os recessos laterais que
cerebelares inferiores (também conhecidos como cor desembocam nas cisternas do ângulo pontocerebelar atra
pos restiformes) conectam o cerebelo ao bulbo e contêm vés do forame de Luschka, e o forame de .Vlagendie na
tratos espinocerebelares e tratos para os núcleos vesti linha média (a saida do quarto ventriculo para a cisterna
bulares. magna).
O verme situa-se entre ambos os hemisférios cerebe Os recessos posterossuperiores são evaginações fi
lares, atrás do quarto ventriculo. Seus lóbulos são (em or nas, em fundo cego, em forma de orelha que se curvam
dem horária a partir do teto do quarto ventriculo) lingula, sobre o topo das tonsilas cerebelares. O obex é a extensão
lóbulo central, culmen, declive, folium, tuber, pirâmide, inferior do quarto ventriculo e comunica-se diretamente
úvula e nódulo. A fissura primária proeminente continua com o canal central da medula espinal cervical.
cruzando o verme dos hemisférios cerebelares e separa o As maiores cisternas da FP são as cisternas pré-ponti-
culmen do declive. Com exceção da lingula, cada lóbulo nas, cisterna do ângulo pontocerebelar e a cisterna magna
vermiano está também em contiguidade direta com o ló de tamanho variado. Parte da cisterna magna (a valécula)
bulo adjacente do hemisfério cerebelar. estende-se superiormente entre as duas tonsilas cerebela-
1068 Malformações congênitas do crânio e do encéfaio
res e é conectada com o quarto ventrículo através do fora- de uma linha desenhada entre a ponta do divo anterior
me de Magendie. mente e o forame magno posteriormente ("linha basion-
-opisthioji'').
Artérias, veias e seios durais O fastigium forma um triângulo de LCS, cujo ápice
As artérias da FP são detalhadas no Capítulo 8; as veias aponta para o verme. A fissura primária do verme é uma
e os seios venosos durais foram discutidos no Capitulo 9. fenda bem demarcada virada para o tentório e que divide
o culmen do declive.
Nervos cranianos Um pouco lateralmente à linha média, as lonsilas ce-
Os nervos cranianos - juntamente com as cistemas atra rebelares podem ser identificadas como estruturas ovoides
vés das quais eles cursam e os forames ósseos através dos situadas entre o verme e o quarto ventrículo inferior. As
tonsilas normais apresentam folias orientadas horizontal
quais eles entram e deixam a cavidade craniana - são dis
cutidos em detalhes no Capitulo 23. mente e uma superilcie inferior suavemente arredondada
(Fig. 36-4). Cortes mais laterais através dos hemisférios
mostram o núcleo denteado, o ponüs hracbiiim e a fissura
Anatomia por imagem
primária do cerebelo.
Plano sagital
Plano axial
Imagens na linha média mostram o soalho do quarto
ventrículo estendendo-se do aqueduto cerebral acima As imagens através da FP superior mostram o verme e
ao obex abaixo. A junção do obex e do canal central é a superfície superior dos hemisférios cerebelares situa
marcado por uma protuberância dorsal, o fascículo grácil das atrás da ponte e do mesencéfalo, dentro da incisura
(Fig. 36-6). O núcleo grácil normalmente se situa acima tentorial.
Um pouco abaixo, os pedúnculos cerebelares supe magna que recebe o forame de Magendie na linha mé
riores sào vistos corno Finos feixes de substância bran dia - é o espaço de LCS que se situa entre as tonsilas
ca localizados ao lado do quarto ventrículo superior (Fig. 36-8). O bulbo situa-se logo à frente (e mediai) às
(Fig. 36-5). tonsilas cerebelares. O bulbo anterior é formado por duas
No nível dos pedúnculos cerebelares médios, o cor "protuberâncias": as pirâmides e as olivas.
po do quarto ventrículo lembra um feijão em perfil. As
duas protuberâncias ao longo do aspecto anterior são os Plano coronal
colículos e a proluberância posterior mediana é o nó- Imagem através da "barriga" anterior da ponte mostra os
dulo do verme. Algumas vezes, um fino recesso poste- grandes lóbulos biventrais dos hemisférios cerebelares
rossuperior pode ser visto cobrindo o topo das tonsilas posteriores com as tonsilas cerebelares projetando-se in-
cerebelares (Fig. 36-6). Anterolateralmente, o flóculo feromedialmente (Figs. 36-9 e 36-10). Os flóculos situ
projeta-se de cada hemisfério para a cisterna do ângulo am-se logo a frente da fissura horizontal (Fig. 36-9).
pontocerebelar. Posteriormente, a forma romboide ou em diamante
Mais inferiormente, o recesso lateral do quarto ven do quarto ventrículo pode ser identificada. Finas cober
trículo passa anterolateralmente abaixo dos pedúnculos turas de LCS, os recessos posterossuperiores cobrem o
cerebelares médios (Fig. 36-7). Tufos de plexo coroide topo das tonsilas cerebelares (Fig. 36-11). Inferiormente,
passam através do recesso lateral e dos forames de Lus- o quarto ventrículo abre na cisterna magna via forame de
chka para as cisternas do ângulo pontocerebelar inferior Magendie. Os grandes pedúnculos cerebelares médios
medialmente ao flóculo. são vistos lateralmente ao quarto ventrículo. Mais poste
As tonsilas cerebelares podem ser identificadas logo riormente, o verme pode ser visto entre os dois hemisfé
abaixo do forame magno. A valécula - parte da cisterna rios (Fig. 36-12).
36-13 Malformação de Ctiiari 1 com a linha basion-opisthion mos- 36-14 Visla semiaxial de um caso de necropsia mostra malformação
trada em verde. Observe as tonsilas pontiagudas situadas inferiormente de Chiari l. Observe o deslocamento inferior das tonsilas com orientação
com folias com orientação vertical O núcleo grácil Si está desloca- vertical das folias Si. (Cortesia de E. T. Hediey-Whyte, MD.)
do inferiormente.
Chiari 1
Malformações de Chiari Aspectos gerais
Introdução às malformações de Chiari A malfonnaçào de Chiari 1 (MCI) é definida como uma
As malformações de Chiari foram primeiramente descri ectopia caudal das tonsilas cerebelares. Não existe um
tas no final do século XIX, por um patologista austríaco. consenso sobre a distância precisa das tonsilas abaixo
Hans Chiari. Ele descreveu o que parecia ser um grupo do forame magno para o diagnóstico de MCI. Alguns
relacionado a malformações da fossa posterior associadas investigadores consideram ectopia tonsilar uma medida
com hidrocefalia e as dividiu em três tipos: Chiari 1,2 e 3. de 5 mm ou mais como suficiente para estabelecer o
Chiari I e 2 são doenças patogeneticamente diferen diagnóstico de MCI. No entanto, outros insistem que
tes. Chiari I envolve deslocamento inferior das tonsilas as anormalidades adicionais, como deformidade ton
cerebelares (Fig. 36-13); Chiari 2 é sempre associada silar, obliteraçào dos espaços de LCS retrotonsilares,
com mielodisplasia e envolve herniação do bulbo e ver ou alteração da dinâmica do fluxo de LCS devem estar
me. Chiari 3 é classicamente caracterizada como her presentes.
niação do conteijdo da fossa posterior através do defeito Anormalidades na medula espinal cervical são co
ósseo occipitocervical baixo. muns na MCI. Uma cavidade complexa preenchida por
"Malformação de Chiari 4" foi originalmente usada LCS com múltiplas septações de tecido glial espongió-
para designar o que é agora conhecido como agenesia ce- tico é típico. CavitaçÕes medulares delineadas por glia
rcbelar primária, não herniação da fossa posterior. Então, geralmente süo referidas como siringomlelias. O termo
o termo foi abandonado. hídromielía refere-se a uma expansão do canal central
Alguns autores expandiram o espectro Chiari para delineado por epèndima. Na MC 1. áreas extensas de des
incluir variantes como Chiari O (siringomielia sem her nudamento ependimário e cicatriz astrocitica dificultam
niação tonsilar franca), Chiari 1,5 (protrusào caudal do a diferenciação entre hidro e siringomielia até mesmo na
tronco encefálico além das tonsilas), e Chiari 5 (Chiari examinação histológica. Portanto, essas cavidades não
2 mais mielomeningocele occipital ou cervical alta). Es neoplásicas. septadas, paracentrais, com conteúdo líqui
sas variantes são controversas e serão discutidas de forma do são geralmente descritas como hidrossiringomielia ou
breve no final desta seção. simplesmente siringomielia.
Malformações da fossa posterior 1071
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36-15A T2 sagital de um homem com 23 anos com malformação de 36-15B T2 axial do mesmo paciente mostra forame magno "lotado"
Chiar! 1 clássica mostra as tonsilas em posição baixa, pontiagudas El, com os espaços retrocerebelares de LCS obliterados E3.
fossa posterior com tamanho normal. Hiperintensidade em T2 na medula
B representa estado "pré-siringomielia".
36-16E T2 do mesmo pa
ciente mostra tonsilas B, de
formidade do buibo BI, dando
a aparência de forame magno
"lotado" típico da MCI.
36-16F Estudo do fluxo no LCS
na seqüência em contraste de
fase no plano sagitai na sistole
(esquerdo), diastole (direito)
mostra fluxo normal do LCS B
na frente da junção cervico-
bulbar, sem fluxo posterior no
forame magno S. Impacção
tonsilar, adesões evitam a circu
lação normal do LCS.
Malformações da fossa posterior 1073
36-17 Imagens ponderadas em T2 sagital (esquerda) e axial (direita) 36-18 Estudo do luxo do LCS com cine PC 20 mostra a mudança do
mostram ectopia tonsilar E3 e siringomielia B em um paciente com sinal de preto [=5^ para claro B atrás da medula espinal cervical com
MCI. patível com pulsações tonsilares tipo "pistão".
situadas 6 mm abaixo do forame magno são comuns entre magno e a pulsação anormal das tonsilas são em geral as
leio anos. Quase 15% de todos os pacientes têm tonsilas sociados com a morfologia tonsilar pontiaguda.
que se situam 1 ou 4 mm abaixo do forame magno, e 0,5 Anormalidades associadas. Uma avaliação completa por
a 1% têm tonsilas que se projetam 5 mm dentro do canal
imagem do MCI inclui cérebro, JCV e toda a coluna. Hi-
cervical superior. drocefalia discreta a moderada está presente em 10% dos
Deve ser tomado grande cuidado para estabelecer o
pacientes com MCI. Disgenesia do corpo caloso é vista
diagnóstico de MCI, em especial com base somente na em 3% e ausência do septo pelúcido em 2,4% dos casos.
ectopia tonsilar incerta. Ao menos que: (1) as tonsilas apa Outras anomalias supratentoriais são incomuns.
reçam comprimidas e pontiagudas em vez de arredonda A hidrossiringomielia está presente em 10 a 20%
das (Fig. 36-15A), (2) as folias tonsilares são anguladas dos pacientes assintomáticos e em 40 a 80% dos pa
obliquamente ou inferiormente (em vez de horizontal cientes com MCI sintomáticos. Anomalias esqueléticas
mente), e (3) os espaços de LCS retrocerebelares no nível associadas incluem odonloide retrovertido, anomalia
do forame magno/Cl estão obliterados (Fig. 36-15B), o
Klippel-Feil, invaginação basilar, platibasia, anomalias de
diagnóstico não pode ser garantido. As tonsilas com po fusão da JCV, cifose e/ou escoliose.
sição baixa que mantêm sua forma arredondada e estão
circundadas por espaço de LCS com aparência normal são Diagnóstico diferencial
em geral assintomáticos e sem significância diagnóstica. Descida tonsilar congênita (MCI) deve ser diferenciada
Achados na TC. Tomografia computadorizada (TC) sem de variantes da normalidade (ectopias tonsilares discre
contraste pode revelar um forame magno "lotado" e apa- tas não complicadas). O diagnóstico diferencial patológi
co mais importante é hemiação tonsilar adquirida, cau
gamento do espaço de LCS retrotonsilar. TC óssea ge
ralmente demonstra uma combinação de fossa craniana sada por aumento da pressão intracraniana ou hipotensão
intracraniana.
posterior pequena e rasa, divo curto e anomalias de as
Aumento da pressão intracraniana devido a uma
similação da JCV. Olhe com cuidado para as anomalias
da calota, uma vez que quase 10% dos pacientes com cra- massa supralentorial com transmissão da pressão através
niossinostose não sindrômica de sutura única tem MCI.
da incisura tentorial pode ser facilmente diferenciada de
MCI. Sinais de hemiação transtentorial descendente es
Achados na RM. TI e T2 sagital mostram tonsilas "pontia tão presentes com deslocamento inferior do mesencéfalo.
gudas" com folias orientadas mais verticalmente, oblitera- Hemiação tonsilar nesses casos é um efeito secundário e
ção dos espaços subaracnóideos retrocerebelares e pré-bul- não deve ser denominada "Chiari 1 adquirido".
bar, e um forame magno "lotado". A fossa posterior pode Hipotensão intracraniana mostra um conjunto de
aparecer normal e pequena com um divo curto e seio reto outros achados além do deslocamento inferior das tonsi
abruptamente angulado. Diferentemente do Chiari 2 (ver las. Mesencéfalo "afundado", aumento da glândula hipo-
adiante), o quarto ventrículo apresenta um fastigium nor fisária, queda do quiasma óptico e do hipotálamo no dorso
mal (ponto dorsal), Em alguns casos, o quarto ventrículo da sela, hematoma subdural, ingurgitamento dos seios ve-
inferior é discretamente alongado, e o núcleo grácil - que nosos, e espessamento e realce de paqui e leptomeninges
demarca o final do obex e o início do canal central - pode são anormalidades típicas. Hipotensão intracraniana con
aparecer em posição discretamente baixa (Fig. 36-16). fundida como MCI pode ter conseqüência drástica, uma
A medula espinal cervical proximal deve ser exami vez que descompressão cinugica pode exacerbar a queda
nada com cuidado para a presença de hidrossiringomie- do tronco encefálico.
lia (Fig. 36-17). Hiperintensidades parenquimatosas em Cerca de 20% dos pacientes com hipertensão intra
T2/FLAIR sem formação cística franca pode indicar um craniana idiopática ("pseudotumor cerebral") exibem
estado "pré-siringomielia". ectopia tonsilar cerebelar de 5 mm ou mais. Metade des
O diâmetro do canal central em relação à medula cos ses pacientes exibem uma configuração tonsilar pontia
tuma reduzir significativamente durante os primeiros anos guda, e muitos tem um obex em baixa posição. Olhar os
de vida. Uma cavidade medular central com LCS de 3 mm outros sintomas de hipertensão intracraniana idiopática
ou mais no plano axial é anormal em crianças mais velhas e (p. ex., protrusão da cabeça do nervo óptico para o globo
em adultos, e deve ser considerada uma hidrossiringomie- ocular) é essencial para evitar um diagnóstico errado de
lia. O tamanho médio da hidrossiringomielia em grandes Chiari 1.
séries de pacientes com MCI foi quase de 8 mm de espes Outras condições que reduzem o volume da fossa cra
sura e uma média de 9 corpos vertebrais em comprimento. niana posterior podem também deslocar as tonsilas abaixo
Estudos de fluxo de LCS sagital com a seqüência con do forame. Esses casos de constrição craniana incluem
traste de fase mostra redução ou ausência do sinal alter- craniossinostose, acondroplasia, acromegalia e doença de
nante branco (sistólico) e preto (diastólico) atrás da junção Paget. "Fixação" craniana devido à artrite reumatoide, os-
cérvico-medular. Qualquer alteração na intensidade de si teogênese imperfeita, distúrbios hereditários do tecido co-
nal das tonsilas cerebelares no modo cine sugere pulsação nectivo e instabilidade da articulação occipito atlantoaxial
tonsilar (Fig. 36-18). O fluxo de LCS alterado no forame podem também forçar as tonsilas abaixo do forame magno.
Malformações da fossa posterior 1075
36-19 Gráfico demonstra o feto com malformação de Chiar! 2 BS, 36-20 Gráfico demonstra MC2 com pequena fossa posterior B3,
ancoramento da medula espinal na mielomeníngocele B3. grande massa intermédia teto "em bico" B, disgenesia do corpo
caloso, alongamento do quarto ventriculo (S com nódulo deslocado in
feriormente em "cascata" S! e plexo coroide, esporão medular O.
Chiari 2 Patologia
Terminologia e definição Macroscopicamente, um largo espectro de achados pode
estar presente na MC2. Mielomeníngocele e fossa pos
Malfoimaçào de Chiari 2 (MC2) é uma malformação da
terior pequena com divo e pirâmides petrosas côncavas
fossa posterior complexa que é quase sempre associada à
estão quase sempre presentes (Fig. 36-20). O verme ce-
mielodisplasia (mielomeníngocele) (Fig. 36-19).
rebelar (tipicamente o nódulo) é deslocado inferiormente
Etiologia ao longo do aspecto dorsal da medula espinal cervical.
O quarto ventriculo, a ponte e o bulbo são alongados e
Conceitos gerais. MC2 é um distúrbio do fechamento
do tubo neural, mas também envolve anormalidades parcialmente deslocados para o canal espinal cervical. O
bulbo baixo pode estar deformado.
do mesoderrna paraxial do crânio e da coluna. Inúme
ros passos são necessários para o fechamento adequado Diferentemente do Chiari 1, anomalias supratento-
do tubo neural e da formação das expansões focais que riais é uma regra na MC2, não uma exceção. Hidrocefalia
está presente na maioria dos casos, e estenose aquedu-
subseqüentemente formam as vesículas cerebrais e os
ventriculos. Elementos esqueléticos do crânio e da co tal é comum. Disgenesia do corpo caloso e anomalias da
luna vertebral tornam-se "modelados" ao redor do tubo
substância cinzenta, como polimicrogeria e heterotopias
neural. são freqüentes (Figs. 36-21, 36-22, 36-23, 36-24, 36-25
e 36-26).
Somente se o neuroporo posterior fecha, os ventri
culos em desenvolvimento se expandem suficientemen
te para um tamanho normal da fossa posterior, formada Aspectos clínicos
ao redor do tronco encefálico e do cerebelo. Se isso não Epidemiologia e demografia. a prevalência geral de MC2 é
ocorrer, o cerebelo desenvolve-se em uma pequena fossa de 0,44 em 1.000 nascidos vivos, mas tem reduzido com a
posterior com ligações tentoriais baixas. O cerebelo em terapia profilática materna com folato. A dose de 4 mg por
crescimento é espremido cefalicamente através da incisu- dia reduz pelo menos 70% do risco de MC2.
ra tentorial e esticado inferiormente através do FM.
Apresentação. MC2 é identificada em útero com uitras-
Genética. Quase metade de todas as anomalias de fecha sonografia ou rastreamento fetal com a elevação de
mento do tubo neural têm mutação no gene metileno-te- a-fetoproteína. Ao nascimento, a mielomeníngocele e
tra-hidrofolato redutase (MTHFR). A deficiência de folato hidrocefalia coexistentes são fatores clínicos dominantes
materno e teratógenos como anticonvulsivantes já foram em cerca de 90% dos casos. Détlcits de nervos cranianos
relacionados ao risco aumentado de MC2. baixos, períodos de apneia e sinais bulbares podem estar
1076 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo
presentes. Paralisia das extremidades inferiores, disfun- sado por anormalidades mesenquimais e não é uma conse
ção esfíncteriana e espasticidade costumam desenvolver- qüência do aumento da pressão intracraniana.
-se tardiamente. Afilamento focai da calota e aparência "escavada"
são achados de imagens típicos do crânio lacunar. A cal-
Opções de tratamento. O reparo fetal da mielomeningocele
vária aparece afilada com inúmeros defeitos radioluscen-
é muito comum e pode reduzir sintomas subsequentes. O
tes circulares ou ovais e depressões rasas. As alterações
reparo cirúrgico em 72 horas após o nascimento reduz a
reduzem com a idade e a maioria se resolve com seis me
mortalidade e a morbidade do disrafismo aberto.
ses, embora algumas ondulações da tábua interna possam
Imagem persistir no adulto.
Uma fossa posterior óssea pequena c rasa com um
MC2 afeta muitas regiões do crânio, encéfalo e coluna,
seio transverso em posição baixa é quase sempre presen
portanto, várias anormalidades de imagem podem ser te na MC2. Um forame magno grande, "aberto" é co
vistas.
mum. Ossos petrosos temporais côncavos e divo curto
Crânio e dura. A convexidade da calota craniana é formada côncavo estão geralmente presentes (Fig. 36-28).
por osso membranoso. Com a falha do fechamento do tubo Anormalidades durais são comuns. Uma íncisura
neural e a ausência de distensão do cérebro fetal, induções tentorial em forma de coração grande, aberta e uma foi
normais das placas membranosas da calota não ocorrem. ce fina, hipoplásica ou fenestrada são achados freqüen
Coleções organizadas de fibras de colágeno e crescimento tes. A foice fenestrada permite os giros cruzarem a linha
radial deficiente da cauvária em desenvolvimento ocor média. InlerdigitaçÕes girais e a foice deficiente resultam
rem. O resultado é uma anomalia chamada crânio lacunar na aparência de uma fissura inter-hemisférica irregular
(i.e., lückenschâdel) (Fig. 36-27). O crânio lacunar é cau nos estudos de imagem (Figs. 36-28C e 36-29C).
Mesencéfalo, ponte, bulbo e cerebelo. As anormali Os hemisférios e o verme cerebelar são empurra
dades do tronco encefálico e cerebelo são uma constante dos superiormente através da incisura, dando a aparên
na MC2. O bulbo e o verme cerebelar (não as tonsilas) cia de cerebelo "alto" nas imagens TI e T2 coronais
estão deslocados inferiormente para o canal cervical su (Fig.36-29D).
perior em uma distância variável. O tecido cerebelar in Ventrículos. As anormalidades dos ventrículos estão pre
feriormente é o nódulo, com contribuições variáveis da
sentes em mais de 90% dos pacientes com MC2. O quarto
úvula e pirâmide. Uma "dobra" cervicobuibar com um
ventrículo é deslocado caudalmente, não apresenta o fas-
"esporão bulbar" é comum no canal cervical superior,
tigium (ponto dorsal), e aparece afilado e alongado (quar
mas pode situar-se tão baixo quanto T1 -4 em casos graves.
to ventrículo em "canudo de refrigerante"). O terceiro
Nas imagens TI e T2 sagitais. o deslocamento infe
ventrículo é geralmente grande e tem uma massa inter
rior do verme, bulbo e plexo coroide formam um tecido
média muito proeminente (Fig. 36-29A).
"em cascata" que protrui inferiormente através do fora-
O s v e n t r i c u l o s l a t e r a i s v a r i a m e m t a m a n h o e c o n fi
me magno e situa-se atrás da medula espinal. O cerebelo
hemiado superiormente pode comprimir e deformar a pla guração. A hidrocefalia é quase sempre presente ao nasci
mento. Os cornos atriais e occipitais são desproporcional-
ca quadrigeminal, dando a aparência de teto "em bico"
mente aumentados ("colpocefalia"), sugerindo a presença
(Figs. 36-29A e 36-29B). de disgenesia calosal. Após derivação, os ventrículos la
Além do deslocamento céfalo-caudal dos conteúdos
terais freqüentemente mantêm a aparência serrilhada ou
da fossa posterior, os hemisférios cerebelares geralmente
ondulada. Um grande espaço de LCS entre os lobos occi
curvam-se anteromedialmente ao redor do tronco encefá
lico. Em casos graves, a ponte e o bulbo aparecem quase pitais costuma persistir.
envolvidos pelo cerebelo "comprimido" nos estudos de Hemisférios cerebrais. Malformações do desenvolvimento
imagem axial. cortical como polimícrogiria, giros estreitos contraídos
n \
girai e giros curtos f^, fissura
inter-fiemisférica irregular com
aparência "serrilhada".
36-290 T2 coronal mostra
seio transverso com posição
baixa B e uma fossa posterior
muito pequena, cerebelo "alto"
S] que protrui inferiormente
através da incisura tentorial,
interdigitação girai IS dando a
aparência "serrilhada" da fissura
inter-hemisférica.
Malformações da fossa posterior 1079
C'estenogiria") (Fig. 36-29B), e heterotopia de substân radas por alguns investigadores como Chiari 1,5 (ver a
cia cinzenta são achados associados freqüentes. Disge- seguir).
nesia do corpo caloso é encontrada em quase dois terço Hidrocefalia congênita crônica grave derivada
de todos os pacientes, e anormalidades dos fórnices são pode causar herniação cerebelar superior através da in-
c o m u n s . cisura tentorial, mas não se observa a descida do tronco
encefálico nem mielomeningocele.
Coluna e medula espinal. Disrafismo aberto com mielonie-
Aspectos clínicos
(continuação)
A ceralocele na MC3 em geral aparece como uma grande
o Cefaleia suboccipital induzida por Valsalva, dor
massa coberta de pele, semelhante a um saco que protrui
cervical
posteroinferiormente da JCV. Microcefalia é comum e, • Imagem
em casos extremos, a cefalocele é maior que o tamanho o Ectopia tonsilar caudal (> 5 mm abaixo do FM)
craniano (Fig. 36-30). o Tonsilas pontiagudas com folias anguladas
Alguns casos são diagnosticados com ultrassono- o Forame magnum "lotado" com apagamento dos
graíla pré-natal. Outros pacientes apresentam-se ao nas espaços de LCS
cimento com sinais bulbares e de tratos longos, crises o Redução/ausência do fluxo de LCS no FM posterior
convulsivas e atraso do desenvolvimento. A mortalidade o Hidrossiringomielia em 10 a 20% em
cirúrgica é alta e o prognóstico costuma ser pobre, uma assintomático, 40 a 80% em pacientes sintomáticos
vez que os sobreviventes têm graves déficits neurológicos • Diagnóstico diferencial
residuais.
o Tonsilas normais com "posição baixa"
(arredondadas, sem distúrbios de LCS)
o Herniaçâo adquirida (T da pressão intracraniana,
Imagem
TC sem contraste mostra achados ósseos similares àque hipotensão intracraniana)
les vistos na MC2, ou seja, uma pequena fossa posterior, Chiari 2
divo curto com ondulações, crânio lacunar, defeito na • Terminologia
o Malformação complexa da fossa posterior com
porção ventral-condral do osso supraoccipital e cranium
bifidum baixo que pode estender-se inferiormente para en mielomeningocele
• Etiologia
volver a maior parte da coluna cervical (Fig. 36-31).
o Distúrbio do fechamento no neuroporo posterior
A RM delineia melhor o conteúdo do saco hemiário,
o Vestculas em desenvolvimento falhou em expandir
que geralmente Inclui cerebelo/tronco encefálico com apa o Anormalidades mesodérmicas paraxiais (crânio,
rência displásica, assim como espaços de LOS distorcidos
coluna)
e vasos. Um quarto ventrículo deformado e algumas vezes o Fossa posterior óssea "muito pequena"
do terceiro ventrículo podem ser parcialmente encontrados • Aspectos clínicos
dentro da massa de tecido encefálico e meninges hemia- o Prevalência i com folato materno
das. Veias, seios durais, e até mesmo a artéria basilar são o Mielomeningocele, hidrocefalia dominam o quadro
algumas vezes "empurrados" para dentro do defeito ósseo. clínico ao nascimento
• Imagem
Diagnóstico diferenciai o Mielomeningocele (quase sempre)
o Cranio lacunar
O diagnóstico diferencial da MC3 inclui cefalocele oc o Fossa posterior pequena
cipital isolada, iniencefalia e cefalocele occipital sindrô- o Dura anormal (FM aberto, incisura em forma de
mica. Cefalocele occipital isolada falta os achados intra
coração, foice fenestrada)
cranianos típicos da MC2 e não é associada a disrafismo o Deslocamento inferior do bulbo, verme ^
cervical. "cascata" de tecido
Iniencefalia é uma cefalocele occipital com grande o "Dobra" cervicobuibar, "esporão" bulbar
disrafismo espinal e retroflexão fixa do pescoço. Cefa o Cerebelo "alto"
locele occipital sindrômica ocorre com outros achados o Quarto ventrículo em "canudo de refrigerante"
específicos (p. ex., nas Síndromes Meckel-Gruber e Gol- o Massa intermédia proeminente
o Hidrocefalia, ventrículos derivados aparecem
denhar-Gorlin).
ondulados
o Disgenesia do corpo caloso
o Estenogiria, heterotopia da substância cinzenta
MALFORMAÇÕES CHIARI
Chiari 3
Chiari 1 • Etiologia
• Etiologia (controversa) o Fossa posterior pequena
o Insuficiência mesodérmica paraxial? o Deslocamento caudal do tronco encefálico
o Fossa posterior óssea pequena? o Defeito ósseo occipital baixo ou cervical alto
o Dinâmica do LC5 alterada? o Cefalocele com herniaçâo de meninge, encéfalo
• Aspectos clínicos
o Malformação de Chiari mais comum displásico, ventrículos
• O saco hemiário pode conter
o Encontrado em 3 a 4% das crianças em imagem de o Meninges
encéfalo de rotina o Encéfalo displásico
o Mais de 50% assintomáticos
o Ventrículos deformados
(continuo) o Vasos sangüíneos (seios venosos, artérias)
Malformações da fossa posterior 1081
36-32 T2 sagital mostra malformação de Chiari O com siringomielia 36-33 T2 sagital de uma criança com 6 anos com malformação de
torácica E3. A tonsíla cerebeiai B é arredondada e em posição nor- Chiari 1,5 mostra odontoide retrofietido ES, herniaçao tonsilar B, FM
mal, mas o FM aparece "lotado" posteriormente. lotado e núcleo grácil com baixa posição BI.
Malformações do rombencéfalo
Espectro Dandy-Waiker
O espectro Dandy-Walker (DW) é um assunto contro
verso. Alguns autores incluem distúrbios relacionados
com uma megacisterna magna - a qual outros consideram
como uma variante normal - e a assim chamada varian
te Dandy-Walker como anormalidades discretas dentro
36-35A Espécime de necropsia de MOW mostra do espectro DW. Nessa seção, usaremos uma definição
FP grande com cisto vermes hipoplásico rodado
expandida do espectro DW e incluiremos anormalidades
B, lórcula com alta inserção B. 0 probe está no da megacisterna magna à malformação Dandy-Walker
aqueduto.
clássica.
Terminologia
o espectro Dandy-Walker (EDW) é um distúrbio gene
ralizado do desenvolvimento mesenquimal que afeta tanto
o cerebelo quanto a meninge sobrejacente.
A malformação Daiidy-Walker (MDW) consiste em
uma FP grande com uma conlluência do seio venoso com
inserção alta, grande ci.sto da FP estendendo-se dorsal-
mente do quarto venlriculo, e graus variáveis de hipopla
sia vermiana e dos hemisférios cerebelares (Fig. 36-34).
A variante Dandy-Walker (VDW) é um termo an
tigo usado para designar um verme hipoplásico e roda
do com ou sem aumento do quarto ventrículo associado.
VDW é agora considerada uma forma discreta do espectro
Dandy-Walker.
36-35B Vista posterior com a dura aberta mostra
Um cisto da bolsa de Blake persistente é uma pro-
um grande cisto da FP, tórcuia com inserção !â), seios trusão do quarto ventrículo através do forame de Magen-
transversos angulados 3]. (E. Ross, MD.) die para a cisterna vermiana delineada por epêndima. O
Malformações da fossa posterior 1083
Etlologia
Embriologia. Se a área membranosa anterior do quarto
ventrículo embriônico falha em incorporar de maneira
apropriada o plexo coroide, ou se existe atraso na abertura
do forame do Magendie, o teto do quarto ventrículo infla
posteriormente e forma o cisto na cisterna magna preen
chido por LCS característico da MDW.
Genética. Três genes causadores de MDW já foram iden 36-36A MOW clássico com cisto na FP grande ele
tificados: FOXCI no cromossomo 6p25, e os genes liga vando a tórcula remanescente vermiano rodado
superiormente ponte pequena, corpo caloso dis-
das ZICl e ZIC4 no cromossomo 3q24. Cada membro
genético.
da família do gene ZIC codifica um fator de transcrição
ZINC-FINGER (ZF) relacionado que é amplamente ex
presso durante o desenvolvimento cerebelar. Ambos,
ZICl e ZIC4, têm papéis importantes na regulação do
tamanho cerebelar e da foliação normal do cerebelo. As
proteínas Zic competem ou interagem com a proteína Gli
para regular a sinalização Shh, que é crucial para o desen
volvimento normal do cerebelo.
Ratos com deleção heterozigótica dos genes ligados
ZiCl e ZIC4 formulam MDW humano, embora a base
do desenvolvimento deste fenótipo permaneça desco
nhecida.
Patologia
Patologia macroscópica. Os achados macroscópicos mais
importantes da MDW são (1) uma FP alargada com (2)
deslocamento superior do tentório e dos seios venosos 36-366 T2 axial mostra quarto ventrículo aberto
e (3) dilatação cística do quarto ventrículo (Fig. 36-35). dorsalmente ÍS para um grande cisto na FP. Os hemis
Anormalidades vermianas variam de uma ausência com férios cerebelares são pequenos, deslocados anterior
mente S].
pleta à graus variantes de hipoplasia.
MDW é freqüentemente associada a outras anomalias
do sistema nervoso central (SNC). Quase dois terços dos
pacientes têm anormalidades girais (p. ex., paqui ou poli-
microgiria, substância cinzenta heterotópica). Disgenesia
do corpo caloso é comum. Anomalias craniofaciais, car
díacas e do trato urinário são freqüentes.
Achados microscópicos. O cisto da FP na MDW é tipica
mente delineado por duas camadas: uma camada externa
de pia-aracnoide e uma camada intema de epêndima. Às
vezes, remanescentes microscópicos de tecido cerebelar
estão presentes na parede do cisto.
Aspectos clínicos
Epidemiologia e demografia. MDW é a malformação cerebe
lar congênita mais comum, com uma prevalência estima
da de 1:5.000 nascidos vivos. Existe uma discreta predo 36-36C T2 axial mostra disgenesia do corpo caloso
minância pelo sexo feminino (M:H igual 1,5 a 2:1). com polimicrogiria E3.
1084 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo
Apresentação. A apresentação mais comum da MDW é o muito alargada. O seio reto, a confluência dos seios, e o
aumento da pressão intracraniana secundária à hidrocefa- ápice tentorial são elevados acima da sutura lambidoide
lia. Apesar das extensas anormalidades cerebelares. sinais ("inversão lambidoide-torcular"). Os seios transversos
cerebelares são incomuns. descendem em um ângulo agudo da torcular herophili em
direção aos seios sigmoides (Fig. 36-36).
História natural. Morte precoce é comum na MDW clássi
O osso occipital pode permanecer ondulado, com es-
ca. Se a MDW é relativamente discreta ou não complicada
pessamentos focais, e remodelado em tochs os tipos de
por outras anomalias do SNC, a inteligência pode ser nor
EDW, incluindo a MCM. O seio reto descende em um
mal e os deficits neurológicos mínimos.
ângulo normal na MCM, mas a tórcula é geralmente um
Opções oe tratamento. Desvio do LCS, geralmente deriva pouco elevada. A MCM costuma demonstrar dura-arac-
ção ventrículo peritoneal com ou sem derivação do cisto noide (foice cerebelar) parcialmente desdobrada mas ima
ou marsupialização, é o tratamento-padrào para MDW gens T2 axial.
com hidrocefalia.
Ventrículos e cisternas, o soalho do quarto ventrículo está
Imagem presente e aparece normal na MDW. O véu medular an
terior e o fastigium estão ausentes. O quarto ventrículo
o espectro de anormalidades de imagem na DW é amplo,
abre-se dorsalmcnle em um cisto de tamanho variável que
afetando - em graus variáveis - o crânio e a dura, os ven-
contém LCS. que infla posteriormente atrás e entre o re
trículos e os espaços de LCS. e o encéfalo.
manescente dos hemisférios cerebelares.
Crânio e oura, seios venosos. Diferentemente do MC2, Hidrocefalia obstrutiva generalizada está presente em
no qual a FP é anormalmente pequena, a FP na MDW é mais de 80% dos pacientes com MDW ao nascimento. Se
Diagnóstico diferencial
Como o Dandy-Walker é, na verdade, um espectro,
existem muitos casos "intermediários". De uma pers
pectiva clínica, pode não ter significância o verme hi-
poplásieo rodado da malformação Dandy-Walker leve.
O cisto da bolsa de Blake pode ser indistinguível da
EDW leve.
O cisto aracnoide retrocerebelar é considerado
36-41 Gráfico coronal de rombencefalossinapse mostra que o verme 36-42 T2 coronal mostra uma clássica rombencefalossinapse. Observe
está ausente na linha média do cerebelo. Em seu lugar, as folias, sulcos, a ausência de verme, folias orientadas transversalmente, continuidade
e substância branca cerebelar SI são contínuos através da linha média. da substância branca cerebelar atravessando a linha média B.
Malformação Dandy-Walker
• Fossa posterior grande Rombencefalossinapse
• O cisto estende-se posteriormente do quarto ventrículo Terminologia. A rombencefalossinapse é uma malformação
• Hipoplasia vermiana, cerebelar variável cerebral da linha média caracterizada por (1) "falta" do
• Confluência venosa com alta inserção verme cerebelar e (2) aparente fusão dos hemisférios ce
Verme rodado hipoplásíco rebelares (Fig. 36-41).
• Termo antigo igual variante Dandy-Waiker
Patologia. A gravidade varia de discreta (ausência parcial
• FP de tamanho normal
• Abertura do quarto ventrículo "em fechadura" do nódulo, verme anterior e posterior) a completa (todo o
verme, incluindo o nódulo, está ausente). Uma continui
Cisto da bolsa de Blake dade dorsal da linha média dos hemisférios cerebelares é
• Protrusão delineada por epêndima do quarto característica. As tonsilas, núcleos denteados e pedúncu-
ventrículo los cerebelares superiores geralmente são fusionados.
• Aumento do ângulo tegmento vermiano
• Pode ser difícil de diferenciar da MDW Aspectos clínicos. A rombencefalossinapse pode ser vis
ta em pacientes com VACTERL (anomalias vertebrais,
Megacísterna magna atresia anal, anomalias cardiovasculares, fistulas traqueo-
• FP grande
• Cisterna magna aumentada esofágicas, anomalias renais, e defeitos nos membros su
• Pode remodelar e causar ondulações no occipito periores e inferiores).
• Atravessada por veias, foice cerebelar
• Quarto ventrículo, verme normal Imagem. Imagens por RM sagitais mostram um recesso
• Sem anormalidades supratentoriais fastigial do quarto ventrículo rodado superiormente e
falta do padrão foliar normal da linha média do verme.
Imagens coronais mostram folias transversas e continui
dade da substância branca cerebelar através da linha mé
Outras malformações dia (Fig. 36-42). Imagens axiais confirmam a ausência de
Ocorrem intímeras malformações da FP menos comuns. verme. Imagens através do quarto ventrículo rostral po
Nós discutiremos várias delas, nas quais as anormalidades dem demonstrar uma forma em diamante ou pontiaguda
são definidas por achados de imagem: rombencefalossi (Fig. 36-43).
Malformações da fossa posterior 1087
Estenose do aqueduto e hidrocefalia são comuns. SJ clássico é a síndrome "pura". A forma oculorrenal
Ausência do cavum do septo pelúcido é visto em metade é denominada SCOR (síndrome cerebelo-oculorrenal). SJ
dos casos. Os tálamos, os fórnices e o teto podem ser com polidactilia pré-axial ou mesoaxial e defeitos orofa-
parcial ou completamente fusionados. Outras anomalias ciais é conhecida como síndrome oro-facial-digital tipo
incluem a ausência dos bulbos olfatórios e disgenesia do 6 (OFD-6). Síndrome Coach consiste em hipoplasia do
corpo caloso. verme cerebelar, oligofrenia, ataxia, coloboma ocular e
fibrose hepática.
Síndrome dejoubert e doenças relacionadas
Etiologia. Com exceção dos raros casos recessivos ligados
Terminologia e classificação. Síndrome de Joubert (SJ) e
ao X, SJDR segue uma herança autossômica recessiva.
doenças relacionadas (SJDR) são um grupo de síndromes Pelo menos 10 genes afetados que ajudam a regular o
nas quais a marca obrigatória é o sinal do "dente molar",
crescimento e a decussação normal dos axônios já foram
uma malformação complexa do tronco encefálico que
i d e n t i fi c a d o s n a S J D R .
lembra o dente molar nas imagens axiais.
SJDR é geneticamente heterogênea. Distúrbios do
Anomalias renais, oculares. de extremidades, hepáli-
dente molar são, pelo menos em partes, "ciliopatias" com
cas e dos duetos biliares são comuns no espectro SJDR.
Seis maiores subgrupos fenotípicos de SJDR são reconhe mutações das proteínas ciliares/centrossomais que afetam
a migração celular.
cidos: SJ puro, SJ com defeito ocular, SJ com defeito re
nal. SJ com defeitos oculorrenais, SJ com defeito hepático Patologia. SJDR é caracterizada macroscopicamente por
e SJ com defeito orofaciodigital. um verme dismórfico com fenda sagital, pedúnculos cere-
36-43A TI sagital de um pa
ciente com rombencefalossinap-
se mostra foliação anormal do
que parece ser o verme ES.
36-43B 12 axial do mesmo
paciente mostra ausência de ver
me, continuidade da substância
branca através da linha média
E S
belares superiores grandes sem decussação e um fastigium nha média mostram um verme pequeno e dismórfíco.
do quarto ventrículo arredondado e alongado (Figs. 36-44 O quarto ventrículo aparece deformado com o fino teto
e 36-45). O diâmetro anteroposterior do mesencéfalo é re convexo superiormente e perda do fastigium normal
duzido. Microscopicamente, displasias e heterotopias dos (Fig. 36-46A).
núcleos cerebelares sào comuns. Imagens axiais demonstram uma aparência clássica
do "dente molar" com o mesencéfalo encurtado, istmo es
Aspectos clínicos. A incidência estimada da SJDR é de
I ;80.000 a 100.000 nascidos vivos. Nào existe predileção treito. fossa interpeduncular profunda e espessamenio dos
pelo sexo. pedúnculos cerebelares superiores ao redor de um quar
SJDR costuma apresentar-se na infância. A apresen to ventrículo em formato de diamante. O verme superior
tação clínica clássica é uma criança com atraso do de apresenta fenda, e a cisterna magna pode aparecer aumen
senvolvimento, ataxia e anormalidades oculomotoras e
tada (Fig. 36-46B).
respiratórias. Neonatos podem exibir nistagmo, apneia e O DTl mostra que as fibras dos pedúnculos cerebe
hiperpneia altemantes, além de crises convulsivas. lares superiores não decussam no mesencéfalo e que os
tratos corticospinals não cruzam no buibo inferior.
Imagem. TC axial sem contraste demonstra fenda vermiana
e um quarto ventrículo com formato estranho e uma con- Diagnóstico diferencial. O maior diagnóstico diferencial
Hguraçào em "asa de morcego". da SJDR é a hipoplasia vermiana c pontocercbclar.
A imagem na RM é a peça fundamental para esta na qual o verme é pequeno, mas não tem uma fenda. Na
belecer o diagnóstico de SJDR. Imagens sagitais na li rombencefalossinapsc, os hemisférios cerebelares e os
36-46A T2 sagilai em um pa
ciente comjoubert clássico mos
tra verme pequeno deformado
B3, quarto ventrículo superior
convexo Si, fastigium arredon
dado e aumentado
36-46B Imagem axial do
mesmo paciente mostra o sinal
do "dente molar": mesencéfalo
achado com istmo estreito ES,
pedúnculos cerebelares superio
res espessados B ao redor de
um quarto ventrículo alongado,
e fenda desorganizada no verme
ES.
Malformações da fossa posterior 1089
Megacisterna magna N N N N N
N, normal.
núcleos denteados são fusionados na linha média, e não Displasia cerebeiar não classificada
divididos.
Um grupo de displasias focais ou difusas não classificadas
Várias síndromes exibem a malformação "do dente
que envolve os hemisférios cerebeiares e/ou verme. Não
molar" na fossa posterior. Muitos neurologistas pediátri-
são associadas com outras malformações conhecidas ou
cos consideram, portanto, o sinal "do dente molar" ines-
síndromes, como a malformação do dente molar, espectro
pecífíco, em vez de solicitar evidência de imagem e clíni Dandy-Walker, distrofia muscular congênita ou romben-
ca. Atraso do desenvolvimento e hipotonia podem estar
cefalossinapse.
presentes junto com episódios de respiração anormal ou Essas displasias cerebeiares não classificadas de
movimentos anormais oculares.
monstram assimetrias ou disrruptura focai das folias
Análise genética pode ser necessária para diferenciar cerebeiares e morfologias dos sulcos. Vários achados
os subtipos de SJDR. são vistos nos estudos de imagem. Fissuras ou fendas
alargadas, orientadas verticalmente (Fig. 36-48), folia-
Hipoplasia cerebeiar
ções desordenadas ou primitivas, falta da arborização da
A hipoplasia cerebeiar (denominada anteriormente de substância branca normal, heterotopias de substância cin
malformação de Chiari 4) mostra um espectro de achados. zenta e pequenas cavidades císticas na substância branca
Em casos graves, a fossa posterior aparece praticamente subcortical são algumas das muitas anormalidades vistas
vazia. Os hemisférios cerebeiares estão quase completa nesses casos (Fig. 36-49).
mente ausentes. A ponte é hipoplásica (Fig. 36-47).
1090 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo
> - -
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37
Malformações do desenvolvimento
J
comissural e cortica
suras cerebrais, e então nos concentraremos na disgenesia
Desenvolvimento e anatomia normais das
do corpo caloso, a mais importante anomalia que afeta
comíssuras cerebrais 1093
esses tratos de substância branca (SB).
Desenvolvimento normal 1093
Anatomia macroscópica e radiológica normais 1094 Dedicaremos a segunda metade do capítulo para as
Anomalias comissurais 1095 malformações do desenvolvimento cortical. MDCs são
intrinsecamente epileptogênicas e podem ser responsáveis
Espectro da disgenesia do corpo caloso 1096
Síndromes e anomalias associadas 1098 por 25 a 40% de todas as epilepsias infantis refratárias
ao tratamento clínico. Anteriormente ao desenvolvimen
Visão geral das malformações do desenvolvimento
cortical 11 0 1 to de técnicas de RM de alta resolução, muitas epilepsias
parciais complexas eram consideradas criptogênícas. A
Malformações com números/tipos de células
anormais 11 0 1 detecção, localização e caracterização dessas entidades
MIcrocefalias lioi vêm se tornando cada vez mais importantes no manejo
Displasias corticais focais 11 0 3 do paciente.
Hemimegaloencefalia 11 0 6
Anormalidades da migração neuronal 1108
Heterotopias 11 0 9
Espectro da íisencefalia 11 0 9 Desenvolvimento e anatomia normais
Heterotopias subcorticais e displasias lobares 1114 das comissuras cerebrais
Malformações tipo cobblestone e distrofias musculares
congênitas 111 4 Nesta seção, revisaremos brevemente o desenvolvimento
normal das comissuras e então delinearemos sua anatomia
Malformações secundárias ao desenvolvimento
pós-migracional anormal 111 7 macroscópica e radiológica.
Polimicroglria 111 7
Esquizencefalia 111 9 Desenvolvimento normal
O telencéfalo possui três tratos comissurais principais:
A disgenesia do corpo caloso e as malformações do de o corpo caloso (CC), o qual é o maior e mais proemi
senvolvimento cortica! (MDCs) são duas das mais im nente, a comissura anterior e a comissura hipocampal
portantes anomalias cerebrais congênitas. As anomalias (posterior). A transferência coordenada de informação
das comissuras cerebrais são as mais comuns de todas as entre os hemisférios cerebrais é essencial para a função
malformações congênitas do cérebro, e a disgenesia do normal do cérebro e ocorre por meio dessas três comis
corpo caloso é a malformação específica mais freqüente suras axonais.
Começaremos este capítulo com uma breve conside A comissura anterior é a primeira comissura do pro-
ração do desenvolvimento e anatomia normais das comis sencéfalo a se desenvolver (oitava semana fetal). A comis-
1094 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo
Anatomia macroscópica e
radioiógica normais
Corpo caloso
o CC é a maior e mais importante comissura do prosen-
céfalo. Ele é composto por cinco partes. De anterior para
posterior, estas são o rostro, joelho, corpo, istmo e espiê
nio. O rostro é o menor segmento e conecta as superfí
cies orbitais dos lobos frontais. Um "joelho" proeminente
anterior conecta as porções laterais e mediais dos lobos
frontais (FIg. 37-1). Fibras de substância branca se cur
vam anterolateralmente do joelho para o interior dos lobos
frontais como o fórceps menor.
O maior segmento do CC é o corpo. Suas fibras trafe
37-2 Ilustração demonstrando as fibras da coroa gam lateralmente e cruzam com fibras de projeção da co
radiada no interior e cruzando transversalmente o corpo roa radiada (Fig. 37-2). O corpo conecta extensas regiões
caloso ES. corticais de cada hemisfério e forma um X vermelho nas
Comissura anterior
A comissura anterior (CA) é um feixe de fibras compactas
e altamente mielinizadas orientado transversalmente que
cruza a linha média anteriormente ao fómice. Ela é muito
menor do que o CC, porém é uma referência anatômica
cruciai para a neurocirurgia estereotáxica.
A CA se localiza na parede anterior do terceiro ven-
trículo (Fig. 37-5). A partir da linha média, ela se curva
lateralmente no prosencéfalo basal e se divide em dois
fascículos. O feixe menor e mais anterior cursa em dire
ção ao córtex orbitofrontal e ao trato olfatório. O feixe
37-4 Imagem sagital ponderada em T2 mostrando a
posterior, maior, adentra os lobos temporais. A CA conec CA trS bem como o rostro joeltio S, corpo B,
ta as regiões anteriores dos lobos temporais (Fig. 37-6), e ístmo L=í^ e esplênio B do corpo caloso.
tem localização anterossuperior aos cornos temporais dos
ventrículos laterais.
Nas imagens sagitais ponderadas em TI, a CA é
vista como uma estrutura ovoide hiperintensa à frente
da parede anterior do terceiro ventrículo. Nas imagens
axiais em T2, a CA pode ser identificada como uma faixa
de tecido hipointensa e bem delimitada diretamente an
terior ao terceiro ventrículo. Conforme ela cursa lateral
mente, ambos os lados da CA se curvam levemente em
f' ■ -/
direção anterior, assemelhando-se a um arco nas imagens
axiais de RM.
Comissura hipocampal
A comissura hipocampal (CH) é a menor das três comis-
suras principais. Ela consiste em um feixe de fibras trans
versalmente orientado que cruza a linha média na lâmina
pineal posterior. 37-5 Imagem axíal ponderada em T2 mostrando a
Diferentemente do CC e da CA. a CH é menos facil compacta e hipointensa comissura anterior com seu
mente distinguida nas imagens de RM. No plano sagital formato em arco B passando em frente ao terceiro
ventrículo
mediano, suas fibras mielinizadas se misturam impercep-
tivelmente com aquelas da SE inferomedial no esplênio
do CC. Nas imagens coronais através dos átrios dos ven
trículos laterais, a CH pode ser vista em localização infe
rior ao CC, onde suas fibras se combinam com as fibras
dos fórnices.
Anomalias comissurals
Patologia
Na agenesia completa do CC, todos os cinco segmentos
estão faltando. O giro do cíngulo está ausente nas ima
gens no plano sagital, enquanto os hemisférios demons
37-7 Agenesia do CC moslrando a aparência em "capa
tram um padrão de giros em "roda de carroça" que se
cete viking" com terceiro venirículo "elevado" ven-
Irículos laterais pontiagudos e feixes de Probst 3).
estende perpendicularmente ate o teto do terceiro ventri
culo (Fig. 37-9).
Nos cortes coronals, o terceiro ventriculo "eleva
do" é visto como que se abrisse diretamente na fissura
inter-hemisférica. Na verdade, ele é coberto por um fino
teto membranoso que se abaula para o interior da fissura
inter-hemisférica, deslocando lateralmente os fómices. Os
ventriculos laterais possuem contornos agudos e curvados
superiormente (Fig. 37-8).
Um proeminente trato longitudinal de SB chamado
feixe de Probst está situado diretamente no lado interno
do ápice de cada ventriculo (Fig. 37-7). Esses feixes con
sistem em fibras comissurais mal direcionadas, as quais
deveriam ter cruzado a linha média e, no entanto, toma
ram um curso de sentido anteroposterior, endentando as
paredes mediais dos ventriculos laterais.
O septo pelúcido em geral parece ausente, porém de
37-8 Espécime de necropsia em corte coronal com fato possui folhetos amplamente separados que cursam
agenesia do CC mostrando o teto do terceiro ventri- lateralmente - não verticalmente - dos fómices para os
culo atilado IS e feixes de Probst S]. (Cortesia de
feixes de Probst.
J. Townsend, MD.)
Imagens axiais mostram que os ventriculos laterais
são paralelos e não convergentes. Os cornos occipitais
com freqüência possuem dilatação desproporcional, con
dição que recebe o nome de colpocefalia.
A patologia macroscópica da hipogenesia do CC va
ria de acordo com os segmentos perdidos. O esplênio ge
ralmente é pequeno ou ausente.
Aspectos clínicos
Epidemioldgia e aspectos demográficos. A disgenesia do
CC é a malformação do SNC mais comum, sendo en
contrada em 3 a 5% dos indivíduos com distúrbios do
neurodesenvolvimento. A prevalência é de pelo menos
1:4.000 nascidos vivos. Disgenesias de CC não sindrô-
micas são encontradas em pacientes de todas as faixas
etárias.
37-9 Agenesia do CC mostrando giro do cíngulo
ausente, "irradiação" dos giros convergindo para Apresentação. A hipogenesia/disgenesia menor do CC
um terceiro ventriculo elevado (^. (Cortesia de costuma ser encontrada incidentalmente nos exames de
R. Hewlett, MD.) imagem ou necropsia. Grandes malformações comissu-
Malformações do desenvolvimento comissura! e cortical 1097
hipotalâmico-hipofisário.
Imagem
Achados na TC. A TC sem contraste no plano axial mostra
ventrículos laterais paralelos, não convergentes e ampla
mente separados. Um aumento desproporcional dos cor
nos occipitais é comum.
Achados na RM. As seqüências ponderadas em TI e T2 no
plano sagital melhor demonstram a ausência completa do
CC ou sua disgenesia parcial.
Agenesia completa do corpo caloso. Na agenesia
completa, o terceiro ventrículo parece contínuo com a
fissura inler-hemisférica e é circundado dorsalmente por
giros que se irradiam na direção do terceiro ventrículo 37-10 Os giros em "roda de carroça" E3 convergem
(Fig. 37-10). para o terceiro ventrículo A comissura anterior
é normal BS. A comissura hipocampal esta ausente.
Um cisto inter-hemisférico na linha média pode estar
Agenesia do CC.
presente acima do terceiro ventrículo. Tais cistos podem
ser saculações ventriculares ou estruturas separadas que
não se comunicam com o sistema ventricular.
Uma artéria cerebral anterior (ACA) ázigo pode ser
observada "percorrendo" superiormente a fissura inter-
-hemisférica. Procure por malformações associadas nos
olhos, rombencéfalo e eixo hipotalâmico-hipofisário.
As imagens axiais demonstram bem os ventrícu
los laterais paralelos. Os tratos mielinizados dos fei
xes de Probst podem se apresentar muito proeminentes
(Fig. 37-14).
Imagens no plano coronal mostram aparência de "ca
pacete v/A'/ng" ou "cabeça de alce" causada pelos ventrí
culos laterais curvos e com extremidade apontada supe
riormente e pelo terceiro ventrículo que se expande para
a fissura inter-hemisférica. Os feixes de Probst são vistos
como tratos densamente mielinizados localizados na face
37-11 joelho e remanescente do corpo B
interna do corpo dos ventrículos laterais. Os hipocampos estão presentes. Rostro ES e esplênio estão ausentes.
parecem anormalmente arredondados e orientados verti Hipogenesía do CC.
calmente. Cornos temporais moderadamente dilatados são
comuns. Procure por malformações como substância cin
zenta heterotópica (Fig. 37-13).
A seqüência DTl é especialmente útil em demonstrar
a agenesia do CC. A cor vermelha normal do corpo caloso
(orientação esquerda para a direita) está ausente. No lugar,
os tratos anteroposteriores (verdes) proeminentes dos fei
xes de Probst são identificados (Fig. 37-15).
Hipogenesía do corpo caloso. Na agenesia parcial, o
rostro e o esplênio em geral estão ausentes (Fig. 37-11), e
o joelho e corpo remanescentes com freqüência possuem
uma aparência espessada e "em bloco" (Fig. 37-12). A co
missura hipocampal com freqüência está ausente, porém
a CA costuma estar preservada e possui aparência normal
ou mesmo maior do que a habitual.
Angiografia. Na agenesia completa do CC, a ATC, a ASD
37-12 O CC encontra-se encurtado e "em bloco" com
e a ARM mostram uma ACA ázigo que cursa diretamente rostro ausente B e esplênio atilado com lipoma curvi-
para cima dentro da fissura inter-hemisférica (Fig. 37-17). líneo B. Leve hipogenesía do CC.
1098 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo
Diagnóstico diferencial
o principal diagnóstico diferencial da disgenesia do CC é
a destruição causada por trauma, cirurgia (calosotomia)
ou ísquemía. Ocasionalmente, se a comissura hipocam-
pal se forma, mas o CC está ausente, a CH pode mimeti-
zar uma porção remanescente do CC nas imagens sagitais.
Os cortes coronais mostram que a CH conecta os fórnices,
e não os hemisférios.
é caracterizada por cranioestenose, hipoplasia da face e o qual é crucial para a migração e maturação neuronal. O
sindactilia simétrica das mãos e dos pés. Malformações tamanho do cérebro é reduzido, e algum grau de disgene-
do SNC associadas são freqüentes; as mais comuns são a sia do CC é típico. O CC na SWi é menor ou mais curto do
hipoplasia do CC ou do septo pelúcido. que o normal, e com um formato menos côncavo.
SÍNOROME CRASH. A síndrome CRASH - também conheci SlNDROME 00 X FRÁGIL. A síndrome do X frágil é um distúr
da como hidrocefalia ligada ao X - é um raro distúrbio bio ligado ao X causado pela expansão em uma seqüência
genético caracterizado por hipoplasia do corpo caloso, re genética específica de trinucleotídeos (CGG) no cromos
tardo mental, aduçào dos polegares, paraplegia espástica somo X e a causa mais comum de retardo mental geneti
{spasticparaplegia) e hidrocefalia. A síndrome CRASH é camente herdado em meninos. O CC é em geral afllado.
causada pela mutação no gene LICAM, que regula a mo porém presente.
lécula de adesão celular LI. a qual possui papel essencial
no desenvolvimento normal do SNC. SÍNDROME MORNING GLORY. A Síndrome morning glory é
uma rara anomalia do disco óptico que recebeu o nome
SÍNDROME DA DELEÇÂO 22q11.2. A síndrome da deleção devido à sua aparência característica ao exame de fundo
22ql 1.2 (SD22q) é também conhecida como síndrome de olho. Uma larga escavação em formato de funil no
de DiGeorge. Morfometria facial atípica, transtorno ob-
disco óptico com glíose central esbranquiçada é circun
sessivo-compulsivo e outras alterações psiquiátricas são dada por vasos retínais que emergem da periferia do dis
comuns nos pacientes com SD22q. Muitos pacientes pos co. Achados no SNC incluem coloboma, estafiloma es-
suem um CC anormalmente grande e de formato alterado.
cleral. cisto do nervo óptico e distúrbios da linha média,
Síndrome de williams. A síndrome de Williams (SWi) é como disgenesia do CC, encefalocele basal e displasia
causada pela microdeleçào dos genes no lócus 7qll.23, frontonasal.
Terminologia
• Ausência completa do corpo caloso (CC) = agenesia
o Comissura hipocampaí (CH) ausente
o Comissura anterior (CA) freqüentemente presente
o Se todas as três ausentes = agenesia tricomissural
• CC disgenétlco, fiipodesenvolvido
o Rostro e esplênio freqüentemente ausentes na
agenesia parcial
o Agenesia parcial posterior = CH, esplênio, ± corpo
posterior
Embriologia e patologia
• Falfia dos mecanismos embrionários de
direcionamento
o Axònios podem não ser formados
37-17A Imagem sagitai ponderada em T2 mostran o Falha do direcionamento molecular
do agenesia do CC, cisto inter-hemisférico S e ACA o Sling glial e/ou CH não se desenvolvem
ézigo [S. normalmente
o Falha no direcionamento dos axônios através da
linha média
• Múltiplos genes envolvidos
Aspectos clínicos
• Malformação do SNC mais comum
• Encontrada em 3 a 5% dos distúrbios do
neurodesenvolvimento
Imagem
• Plano sagital
o Agenesia parcial ou completa do CC
o Terceiro ventrículo parece "aberto" para a fissura
Inter-hemlsférica
o Giro do cingulo ausente SI giros "se irradiam"
perifericamente a partir do terceiro ventrículo
• Plano axial
o Ventrículos laterais paralelos, não convergentes e
37-17B imagem axial ponderada em T2 do mesmo amplamente separados
paciente mostrando ventrículos laterais paralelos, gran • Plano coronal
de cisto inter-hemisférico Be3 e ACA ázigo [^. o Aparência de "capacete viking" ou "cabeça de alce"
o Terceiro ventrículo "elevado"
o Ventrículos laterais pontiagudos e curvados
superiormente
o Feixes de Probst
Etiologia e patologia
A proliferação e a apoptose glioneuronal desempenham
papéis-chave na determinação do tamanho do cérebro, de
modo que anormalidades em qualquer uma delas podem
resultar em microcefalia. A microcefalia familial primária
é um distijrbio autossômico recessivo com um fenótipo
clínico ijnico e heterogeneidade genética.
Várias síndromcs cromossômicas são caracterizadas
37-19 Microcefalia com polimicrogiria El, veias
anormais na fissura silviana Ei e grande veia de Tro- por retardo mental e microcefalia. Estas incluem a tris-
lard E]. (Cortesia de R. Hewlett, MO.) somia do 21 (Down), a trissomia do 18 (Edward), cri-dii-
•chal ("choro do gato", síndrome do 5p), e as síndromes
de Cornelia de Lange e Rubinstein-Taybi.
Aspectos clínicos
Epidemidlogia e aspectos demográficos, a incidência de MC
Imagem
Características gerais. O índice craniofacial está reduzido
(freqüentemente menor ou igual a 1.5:1). A fronte costu
37-20 Microcefalia com lisencefalia assemelhando- ma ser inclinada, e as suturas cranianas podem ter aspecto
-se ao cérebro de um feto de 24 semanas de gestação, proeminente.
com superfície lisa e fissura silviana rasa. (Cortesia de R.
Hewlett, MD.)
Malformações do desenvolvimento comissura! e cortical 1103
Achados na TC. A janela óssea mostra uma calota craniana As seqüências com ponderação em T2* (GRE, SWI)
pequena, freqüentemente com suturas próximas e sobre são úteis para determinar lesões secundárias com resíduos
postas. Em crianças mais velhas, o crânio está espessado hemorrágicos.
e os seios paranasais encontram-se acentuadamente pneu-
matizados. Diagnóstico diferencial
A superfície cortical pode ser normal, simplificada, o maior dilema diagnóstico é a diferenciação entre a mi
microlisencefálica ou polimicrogiral. Os ventrículos po crocefalia primária e a secundária. Calcificações, cistos,
dem parecer normais ou moderadamente dilatados. gliose e encefalomalacia são mais comuns na microcefalia
secundária a infecções (TORCH), a trauma ou à encefalo-
Achados na RM. As imagens sagitais ponderadas em TI
patia isquêmica.
demonstram ossos frontais inclinados e uma marcada re
dução nas proporções craniofaciais (Fig. 37-21). O cére
bro pode parecer pequeno, porém relativamente normal, Displasias corticais focais
pequeno com padrão girai simplificado, ou microlisence- As características histológicas distintas da displasia corti
fálico. cal focal (DCF) foram originalmente descritas por Taylor e
Na microcefalia com padrão girai simplificado, os colaboradores. Hoje se reconhece que a DCF é uma causa
giros são menores em número e possuem uma aparência comum de epilepsia refratária em crianças e em adultos. A
simplificada. Os sulcos são rasos (25 a 50% da profun ressecção cirúrgica é uma opção de tratamento de crescen
didade habitual). Um atraso das etapas de mielinizaçào te importância, motivo pelo qual o reconhecimento e a cor
pode estar presente. Anomalias associadas como disgene- reta delineaçào da DCF nos exames de imagem são ponto-
sia do corpo caloso e cefaloceles são comuns. -chave para o tratamento bem-sucedido dos pacientes.
/ T
los mostrando o padrão girai
simplificado com numerosos
sulcos rasos. A espessura cortical
encontra-se normal, porém a
mielinizaçào é tardia.
37-21D Imagem emT2 do
mesmo paciente novamente
mostrando o padrão girai sim
plificado. Compare com a Fig.
37-18.
Ir
1104 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo
37-22 Espécime cirúrgico ressecado de um pacienre com epilepsia 37-23 Imagem em T2 em um menino de 17 anos com crises convulsi
intratável mostrando uma área em forma de (uni! com cortex espessado vas mostrando uma área de córtex malformado de formato em cunha no
e indefinição da interface das substâncias branca e cinzenta SI. Em lobo frontal direito ES. A biópsia revelou displasia cortical focal tipo lib.
contraste, os sulcos e giros normais adjacentes HS. Esta é uma clássica DCF de Taylor, o tipo mais comum.
37-24 Imagens mostrando achados sutis de DCF BE9 . A intensidade 37-25 Imagens em outro paciente mostrando achados sutis de DCF
de sinal é similar à da SC em T2/FLAIR. A seqüência em TI pós-contrasle S, incluindo um diminuto foco de calciíicaçào B3 na TC sem contraste.
mostra realce das veias corticais "primitivas" B sobre a dispiasia focai. DCF comprovada com biópsia. (Cortesia de P. Hildenbrand, MD.)
(Cortesia de P. Hildenbrand, MD.)
tipo Ilb caicifícadas (FIg. 37-25). avançadas que podem aumentar a detecção de lesões epi-
1106 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo
37-26A Hemimegaloencefalia mostrando hemisfério direito aumen 37-26B Imagem em plano mais superior mostrando grande hemisfé-
tado com "crescimento excessivo" da SB. Observe o corno frontal pontia rio/ventrículo com SC heterotópica subependimária E3, polimicrogiria
gudo Si e os cornos occipitais aumentados ÍS. e "crescimento excessivo" da SB com mielinização anormal 31.
(Cortesia de B, Horlen, MD.)
leptogênicas em pacientes com exames de RM tradicio freqüentemente apresenta um realce anelar incompleto,
nais negativos. enquanto que a DCF não sofre realce.
Imagem funcional. A SPECT icial, a PET e a magneioence-
falografia (MEG) podem ser ferramentas benéficas para os
Hemimegaloencefalia
pacientes com exames de RM normais que são suspeitos Terminologia
de portarem DCF. A fusão de imagens tem sido usada de A hemimegaloencefalia (HMEG) - também chamada de
modo intraoperatório para guiar a lesionectomia. As ima
megaloencefalia unilateral - é uma rara malformação ca
gens funcionais também têm sido usadas em conjunto com racterizada por aumento e anormalidades citoarquiteturais
eletrodos subdurais e profundos para localizar a zona ictal. em um hemisfério cerebral.
Características microscópicas. Delaminação cortical grave, mento é grave. As crises convulsivas associadas à HMEG
neurônios hipertróflcos e dismórficos, e heterotopias glio- são freqüentemente refratárias ao tratamento com anticon-
neuronais parenquimatosas e leptomeníngeas são caracte vulsivantes. A hemisferiectomia anatômica ou funcional
rísticas histológicas típicas da HMEG. Células em balão apresenta sucesso variável, uma vez que anormalidades
são encontradas em metade dos casos. no hemisfério "normal" contralateral são comuns.
A substância branca é, com freqüência, extremamente
anormal e pobremente mielinizada. Heterotopias de subs Imagem
tância cinzenta e agrupamentos de astrócitos hipertrofia Características gerais. A HMEG é caracterizada por um he
dos são achados freqüentes. Gliose, vacuolização da SB e misfério aumentado e de aparência displásica, com padrão
alterações císticas são comuns. girai alterado, espessamento cortical e anormalidades na
substância branca. Os ventrículos laterais geralmente
Aspectos clínicos encontram-se dilatados e deformados. Em raros casos, as
Epidemiologia e aspectos demográficos, a HMEG é rara, re alterações displásicas envolvem apenas parte de um he
presentando menos de 5% das MDCs diagnosticadas em misfério (hemimegaloencefalia "focai", "localizada" ou
exames de imagem. "lobar").
Apresentação, história natural e opções de tratamento. A Achados na TC. A TC sem contraste mostra hemisfério e
HMEG comumente se apresenta na infância e é caracteri hemicrânio aumentados. A foice posterior freqüentemente
zada por macrocrania, retardo no desenvolvimento e cri encontra-se deslocada através da linha média (Flg. 37-27).
ses convulsivas. A hemi-hipertrofia extracraniana de parte A mielinização anormal da substância branca pode apre
ou de todo o corpo ipsilateral pode estar presente. sentar aumento na atenuação, fazendo com que a SB do
O prognóstico é ruim, uma vez que as crises convul hemisfério contralateral "normal" pareça hipodensa. Cal-
sivas costumam ser intratáveis e o retardo no desenvolvi cificações distróficas são comuns.
A TC com contraste pode revelar veias superficiais anor difícil distinção. Ambas as condições apresentam caracte
mais, "condensadas" e de aspecto primitivo nas regiões de rísticas histológicas idênticas. A presença de anormalida
córtex marcadamente displásico. des extracerebrais associadas (hemi-hipertrofía) pode ser
uma característica útil na diferenciação.
Achados na RM. O córtex freqüentemente encontra-se es
No complexo da escicrosc tuberosa com displasia
pessado e "granuloso" nas imagens ponderadas em TI. cortical generalizada não há aumento do hemisfério e
A mieíinizaçào é desordenada e acelerada, com encurta-
ocorrem outros estigmas de imagem, como nódulos su-
mento de TI. Heterotopias neuronais são comuns. O ven-
trículo ipsilateral em geral está aumentado e deformado. bependimários.
Casos de grave HMEG com quase nenhum marco
Em casos graves, quase nenhuma arquitetura hemisférica
anatômico normal podem ser confundidos com neopla
normal é encontrada.
As imagens ponderadas em T2 mostram áreas de ir sias, normalmente ganglíocítomas.
37-29 Ilustração axial moslfando extensa heterotopia subependimá- 37-30 Espécime de necropsia mostrando nódulos de substância cin
ria S] bilateral revestindo os ventriculos laterais. A substância cinzenta zenta heterolópica subependimários SI. Os ventriculos estão aumenta
dos giros corticais é alílada, e os sulcos são rasos. dos e o córtex sobrejacente, afilado. (Cortesia de J. Ardyn, MO.)
Algumas formas raras de LIS estão associadas a um Outros 10 a 15% dos pacientes com LISc possuem
cerebelo desproporcionalmente pequeno e são referidas mutações no gene do duplo córtex (DCX).
como tlsencefalia com hipoplasia cerebelar. Genes que regulam proteínas associadas a microtu
A variante da lisencefalia (LISv) consiste em córtex bules são especialmente importantes na migração neuro
espesso e em sulcos reduzidos sem uma zona de células nal. Mutações na tubulina {TUB) foram especificamente
escassas. Exemplos incluem a lisencefalia com disgenesia associadas à lisencefalia. Mutações do TUBA!A são res
de corpo caloso ligada ao X e a lisencefalia e genitália ponsáveis por 1 a 4% das lisencefalias clássicas e 30%
ambígua com mutações na via de sinalização de uma gli- dos casos de lisencefalia com hipoplasia cerebelar. Muta
coproteína denominada reelin. ções sem sentido do TUBA!A em geral resultam em agiria
A heterotopia em banda é também chamada de sin- completa.
drome do "duplo córtcx" e é a forma mais branda da Um terceiro gene, RELN {reelin, também conhecido
lisencefalia clássica (Fig. 37-32). como US2), codifica uma proteína de matriz extracelu-
lar que controla as interações intercelulares críticas para
Etlologia o posicionamento celular apropriado e para a migração
Genética. Genes neuronals possuem identidades de camada neuronal. As mutações na RELN estão associadas à lisen
específicas que são seletivamente expressas pelas células cefalia autossômica recessiva com hipoplasia cerebelar.
progenitoras. Outros genes regulam a migração de neurô
nios pós-mitóticos das zonas ventriculares e subventricu- Patologia
lares para o córtex. Distiirbios neste último resultam em Patologia macroscópica. Na LISc, a superílcie externa do
lisencefalia. cérebro apresenta uma definida carência de giros e sul
A maioria dos pacientes com LlSc possui um defeito cos. Nas formas mais graves, os hemisférios cerebrais são
no gene LIS! do cromossomo 17p. Há deleção do LÍSI em lisos com operculização incompleta e fissuras silvianas
todos os pacientes com síndrome de Miller-Dieker. pouco desenvolvidas. Secções coronais demonstram um
cortex marcadamente espessado com giros largos e volu vas. Microcefalia e face discretamente dismórflca são fre
me reduzido da substância branca subjacente (Fig. 37-33). qüentes. Os pacientes com heterotopia em banda se apre
sentam com retardo no desenvolvimento e um distúrbio
Características microscópicas. Na LISc, o córtex habitual de
seis camadas é substituído por um espesso córtex de qua convulsivo leve.
tro camadas. Da mais externa para a mais interna, essas Os pacientes com LISc e graves deformidades fa
camadas sào (I) uma fina camada molecular subpial, (2) ciais são diagnosticados com síndrome de MIIIer-Dieker
um fino córtex externo composto de grandes e desorga (SMD). Bossa frontal, hipertelorismo, nariz arrebitado,
nizados neurônios piramidais, (3) uma zona de "escassez mandíbula pequena e lábio superior proeminente com fina
celular" que consiste majoritariamente em axônios (mieli- borda avermelhada são características da SMD.
nizados após os dois anos de idade), e (4) uma larga faixa
interna de neurônios desorganizados. A substância branca Imagem
está intensamente reduzida em volume e com freqüência Caraqerísticas gerais. Os exames de imagem nos pacien
contém focos de neurônios heterotópicos. tes com LISc completa (agiria) mostram uma superfície
cerebral lisa e inexpressiva com fissuras silvianas raras e
Aspectos clínicos ventrículos aumentados. O córtex está espessado, e a SB
Epioemiologia e aspectos demográficos, a lisencefalia ocorre encontra-se reduzida em volume. As interdigitações habi
em I a 4:100.000 nascidos vivos. Os pacientes com he tuais entre a SC cortical e a SB subcortical estão ausentes.
terotopia em banda são quase sempre do sexo feminino. Em alguns casos, o cerebelo é hipoplásico.
Apresentação. Os pacientes com LISc exibem retardo mo Achados na TC. Cortes axiais de TC sem contraste na LISc
derado e grave no desenvolvimento, prejuízo nas funções mostram uma aparência em "ampulheta" ou em "oito",
neuromotoras, variável retardo mental e crises convulsi causada pela superfície cerebral plana e fissuras silvianas
largas e rasas. Uma espessa faixa de córtex denso e re cia DTI mostra "poda", rarefação e desorganização mar
lativamente bem delimilado circunda uma delgada e lisa cantes nas fibras de associação subcorticais (fibras em U).
faixa de substância branca (Fig. 37-34A). A PA e a difusibilidade axial estão reduzidas, e a difusi-
Exames de TC com contraste mostram veias proemi bilidade radial está aumentada. Os principais tratos de SB
nentes e de aspecto "primitivo" que cursam as fissuras sil- encontram-se aberrantes e heterotópicos (Fig. 37-34D).
vianas e sobre o córtex espessado. Variante da lisencefalia. Na LlSv, os sulcos estão re
duzidos, e o córtex encontra-se espessado, embora não tan
Achados na RM.
to quanto na LISc. Não há camada de "escassez celular".
Lisencefalia clássica. Na LISc. as imagens em TI mostram
uma superfície cortical lisa, uma banda espessa de subs Heterotopia em banda ou sindrome do "duplo córtex
Na heterotopia em banda, uma faixa de SC lisa está separa
tância cinzenta que é nitidamente delimitada da substância
da de um córtex relativamente mais espesso e giriforme por
branca subjacente, e ventriculos aumentados. As seqüências
uma camada de substância branca com aparência normal.
ponderadas em 72 são as melhores para distinguir as dife
rentes camadas corticais. Uma fina camada celular externa
Os exames de RM mostram um padrão girai mais
habitual com córtex relativamente mais espesso. A ca
que é isointensa à SC recobre uma camada hiperintensa de
"escassez celular". A camada de SB é lisa e reduzida em vo
racterística que distingue a heterotopia em banda é o seu
lume. Uma camada mais profunda e espessa de neurônios "duplo córtex". uma camada homogênea de substância
com migração incompleta é comum e pode mimetizar hete cinzenta separada dos ventriculos e do córtex cerebral por
camadas de SB com aparência normal (Fig. 37-35).
rotopia em banda (Fig. 37-34B), (Fig. 37-34C).
Anomalias no corpo caloso são comuns na LlSc. A
anormalidade predominante é a hipogenesia do corpo Diagnóstico diferencial
caloso. O corpo caloso possui um corpo delgado e plano o cérebro prematuro extremo é liso com 24 a 26 sema
com um esplênio orientado mais verticalmente. A seqüên nas de gestação e em geral possui uma aparência "lisen-
ESPECTRO DA LISENCEFALIA
37-36 Ilustração demonstrando a heterotopia subcortical. A grande 37-37 Imagens ponderadas em TI (E) e 12 (D) mostrando uma massa
coleção focal de substância cinzenta S], com aspecto de massa, e cor focai de substância cinzenta heterotópica B e córtex sobrejacente
tex sobrejacente afilado S, são típicos. afilado Observe a deformidade do ventrículo subjacente E3. A SC
heterotópica pode simular neoplasia tanto nos exames de imagem quan
to na histopatologia (gangliocitoma).
Heterotopias subcortlcals e displasias lobares dobra de córtex displásico com interface SB-SC irregular e
indistinta é característica nos exames de imagem.
Heterotopias subcortlcals
Helerolopias subcorticais são malformações nas quais co Malformações tipo cobblestone e distrofias
leções volumosas focais compostas por neurônios são en musculares congênitas
contradas na substância branca profunda do cérebro, em
A lisencefalia tipo cobblestone é também conhecida como
qualquer localização entre o epêndima e o córtex (37-36).
A porção envolvida do hemisfério afetado é anormalmen lisencefalia tipo 2, sendo distinta da lisencefalia tipo 1
te pequena, e o córtex sobrejacente encontra-se atilado e, ("clássica") dos pontos de vista genético, embriológico e
algumas vezes, displásico. patológico.
Em outras formas de heterotopia, massas focais de SC
ectópica ocorrem em colunas lineares ou em turbilhão que Terminologia
se estendem através da substância branca de aspecto nor A lisencefalia tipo cobblestone é também chamada de
mal, do epêndima até a pia. O córtex sobrejacente é afila complexo cobblestone (CBSC) e é caracterizada por uma
do, e o ventrículo subjacente freqüentemente encontra-se superfície cerebral irregular, nodular e "pedregosa", que
distorcido. As massas seguem a SC em todas as seqüên se assemelha a uma rua de pedras de calçamento. Quase
cias, não demonstram edema e não realçam (Fig. 37-37). todos os casos de lisencefalia tipo cobblestone estão asso
O diagnóstico diferencial da heterotopia subcortical ciados a anomalias oculares e ocorrem como parte de uma
são as neoplasias, sobretudo o gangliocitoma. Coleções distrofia muscular congênita (DMC).
heterotópicas de SC podem ter aspecto de massa e de O CBSC inclui três fenótipos de DMC; síndrome
formar o ventrículo adjacente. Entretanto, elas seguem a de Walker-Warburg (SWW), doença músculo-olho-
substância cinzenta em todas as seqüências de imagem e -cérebro (DMOC) e distrofia muscular congênita de
não realçam após a administração de meio de contraste. Fukuyama(DMCF).
traconical de nódulos aberrantes de substância cinzenta - O tronco encefálico é quase sempre pequeno. O ce-
as "pedras de calçamento" - na superfície cerebral. rebelo é freqüentemente pequeno, e suas folias em geral
Todos os distúrbios associados à iisencefalia tipo 2 estão fundidas e desorganizadas. Cerca de 15 a 20% dos
apresentam herança autossômica recessiva. O mecanismo pacientes com SWW também possuem malformação de
molecular comum que liga os distúrbios no cérebro, olhos Dandy-Walker.
e músculos é um defeito na 0-manosilação do a-distrogli-
Características microscópicas. A histopatologia da Iisence
cano. A maioria dos CBSCs são a-distrogllcanopaflas.
falia tipo 2 compartilha muitas características com a poli-
Múltiplos genes já foram implicados no seu desenvolvi
m e n t o .
microgiria. O córtex não possui camadas e está extrema
mente desorganizado. Ao contrário da Iisencefalia tipo 1
Patologia ("clássica"), não são identificadas delaminações caracte-
rizáveis. Há numerosas áreas que apresentam espaços nos
Patologia macroscópica. Em uma visão geral, o cérebro
limites gliopiais, possivelmente promovendo uma rota
geralmente é pequeno. Giros alargados e perda de sulcos
dão ao cérebro um aspecto lisencefálico. As áreas afeta migratória para neurônios aberrantes.
das exibem uma aparência "granulosa" (Fig. 37-38). Na A histopatologia dos músculos esqueléticos mostra
SWW, todo o cérebro costuma estar acometido, enquanto características clássicas das DMCs, isto é. fibras muscula
res em degeneração e regeneração com acentuada fibrose.
pacientes com DMOC e DMCF apresentam quantidades
variáveis de córtex afetado, com freqüência nos lobos oc-
cipitais e região posterolateral dos parietais. Aspectos clínicos
O volume da SB cerebral está reduzido, e o córtex Epidemiologia e aspectos demográficos. Todas as DMCs são
encontra-se irregularmente espessado. A Junção SB-SC raras. A síndrome de Walker-Warburg é a forma mais gra
pode ter um aspecto irregular e nodular. ve, sendo encontrada em todo o mundo. A doença múscu-
lo-olho-cércbro {muscle-eye-brain disease) lem gravidade ao nascimento, e o retardo motor com freqüência se ma
intermediária e é encontrada primariamente na Finlândia. nifesta antes dos sintomas causados pelo envolvimento
A distrofia muscular congênita de Fukuyama - a forma cerebral.
mais branda - ocorre quase exclusivamente no Japão e em As crianças com DMCF se apresentam com hipoto-
descendentes de japoneses. nia. retardo no desenvolvimento e crises convulsivas. As
anormalidades oculares são menos intensas do que as ob
Apresentação e história natural. A característica marcante
servadas na SWW e na DMOC.
de todas as lisencefaiias tipo 2 é a combinação de distro
fia muscular congênita com o acometimenlo do SNC. A
maior parte dos pacientes apresenta sintomas no primeiro Imagem
ano de vida. porém o grau relativo de redução de força SÍNDROME OE Walker-Warburg. A SWW possui uma apa
muscular é variável. rência distinta na RM. Uma parte ou todo o córtex está
A SWW é caracterizada pela tríade de DMC, anoma extremamente espessado com nódulos de neurônios de
lias cerebrais (primariamente o córtex tipo cobblesione) e sorganizados na superfície (levando à aparência de "pedra
anormalidades oculares. As crianças com SWW possuem de calçamento") e feixes lineares de SC que se projetam
liipotonia profunda ("bebê mole"), anormalidades ocula para o interior da SB subjacente. Hidroccfalia é comum.
res (tais como coloboma e persistência do vítreo primário O tronco encefálico geralmente está hipoplásico e parece
hipoplásico), grave retardo no desenvolvimento e crises "dobrado"; o tecto está alargado e o cerebelo encontra-se
convulsivas. A maior parte dos indivíduos afetados não reduzido, dismórfico e com fotiação anormal.
sobrevive por mais de um ou dois anos. Cistos cerebelares múltiplos e diminutos são típicos
Os pacientes com DMOC são hipotônicos e apre de SWW. Eles são mais bem demonstrados em seqüências
sentam déficits visuais, crises convulsivas e retardo ponderadas em T2 com cortes finos e alta resolução, su
mental. Os achados oculares estão comumente presentes primindo completamente no FLAIR.
Diagnóstico diferencial
Os principais diagnósticos diferenciais da lisencefalia tipo
Polimicrogiria
2 com DMC incluem a lisencefalia tipo 1 ("clássica") e a Terminologia e etiologia
polimicrogiria. A DMC não é uma característica da lisen A característica marcante da polimicrogiria (PMG) é um
cefalia tipo 1. Na polimicrogiria. a ausência de anoma córtex irregular com numerosas pequenas convoluçôes e
lias oculares e de fraqueza muscular são aspectos úteis na sulcos rasos ou obliterados. A aparência é a de diminutos
diferenciação. giros em miniatura empilhados sobre outros giros desor
ganizados (Fig. 37-40).
Há evidência tanto de causas genéticas quanto não único giro ou a maior parte de um hemisfério cerebral. Ela
genéticas de PMG. Muitos casos ocorrem com outras pode ser uni ou bilateral, simétrica ou assimétrica, e focai
malformações (p. ex., síndrome de Zellweger). Um núme ou difusa.
ro de anomalias genéticas associadas, como mutações no Uma parte ou toda a superfície cerebral está coberta
gene homeobox PAX6. foram recentemente identificadas. por inúmeros giros diminutos amontoados e fusionados,
Insultos encefaloclásticos, como infecção (p. ex., dando-lhe uma aparência "granulosa" que foi associada
TORCH), acidente vascular intrauterine (p. ex., oclusão ao aspecto de couro marroquino (Fig. 37-41). Doença bi
da artéria cerebral média), trauma e distúrbios metabó- lateral - sobretudo nas regiões perissilvianas - está pre
licos também foram associados ao desenvolvimento da sente na maioria dos casos.
PMG.
Características microscópicas. Microscopicamente. a fita
c o r t i c a l s e e n c o n t r a a fl l a d a e e x c e s s i v a m e n t e d o b r a
Patologia
da. Existem dois tipos histológicos principais de PMG:
Localização. A PMG perissilviana bilateral é a localização as formas não estraliflcadas e as de quatro camadas. Na
mais comum (61% dos casos). As localizações generali
forma não estratifícada, uma camada molecular contínua
zada (13%), frontal (5%) e parieto-occipital parassagital
está presente sem qualquer organização laminar percep
(3%) são menos comuns. A associação com heterotopias tível. Na forma de quatro camadas, o córtex apresenta
de SC periventriculares é encontrada em 11%, e outras
dobramento, fusão e ramificação complexos. Uma estru
anomalias, como esquizencefalia, são comuns.
tura laminar composta de uma camada molecular, cama
Patologia macroscópica. Os achados macroscópicos da da neuronal externa, camada de fibras nervosas e camada
PMG variam amplamente. A PMG pode acometer um neuronal interna está presente.
deradas etiologias prováveis. A destruição focai de fibras picas envolvendo septo pelúcido. corpo caloso. quiasma
gliais radiais com prejuízo na migração neuronal tem sido óptico e hipocampo.
vista como uma potencial conseqüência desses insultos Microscopicamente, a substância cinzenta que reves
vasculares e infecciosos precoces. te a fenda está desorganizada e não apresenta as camadas
A maioria dos casos de esquizencefalia é esporádica, corticais normais.
37-48A Esquizencefaiia
unilateral de "lábio fechado" é
ilustrada neste caso. Observe a
substância cinzenta se estenden
do do ventrículo B à superfície
piai do cérebro B
37-488 Imagem sagita! em
T2 mostrando que o revesti
mento de SC da fenda possui a
mesma intensidade de sinal do
córtex.
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relacionadas e semelhantes
ausência do prosencéfalo, da calota craniana e do couro
Anencefalia 11 2 5
cabeludo. O encéfalo remanescente - geralmente apenas
Holoprosencefalia 11 2 5 o tronco encefálico - não é coberto por osso ou pele. A
Holoprosencefalia alobar 11 2 7
maioria dos fetos anencefálicos é abortado ou morre logo
Holoprosencefalia semilobar 11 2 8
Holoprosencefalia lobar 11 2 9 após o nascimento (Fig. 38-1).
Duas malformações raras letais - aproscncefalía
Va r i a n t e s d a h o l o p r o s e n c e f a l i a 11 3 1
Sintelencefalia 11 3 1 (AP) e atelenccfalia (AT) - são intermediárias em um
H o l o p r o s e n c e f a l i a s e p t o p r e ó p t i c a 11 3 3 contínuo entre a anencefalia e a holoprosencefalia. AP/AT
agora é considerada o extremo mais grave do espectro
Doenças da linha média relacionadas 1134
da holoprosencefalia. Essas três malformações extremas
Displastas septo-óplicas 11 3 4
Arrinencefalia 11 3 6 são geralmente diagnosticadas com ressonância mag
S e m e l h a n t e s d a h o l o p r o s e n c e f a l i a 11 3 6 nética (RM) fetal, ultrassonografia ou exame pós-morte
Hidranencefalia 11 3 6 (Flg.38-2).
Etiologia
Embriologia. No desenvolvimento embriológico normal, o
prosencéfalo fetal começa como um saco frontal incolor,
preenchido por líquido; evolui através de uma série de
dobraduras, flexuras e divertículos; e torna-se os ventrí-
culos e hemisférios cerebrais definitivos. No estágio mais
inicial, divertículos bilaterais do tubo neural formam uma
cavidade central única preenchida por líquido ("mono-
ventrículo") que eventualmente irão se desenvolver nos
ventrículos laterais e no terceiro ventrículo (ver Capítulo
34). A separação em dois hemisférios é completada pela
quinta semana de gestação.
As holoprosencefalias são caracterizadas pela falha
da indução normal do dorso ventral e pela falta da sepa
ração rostral do prosencéfalo. Nas formas mais graves, as
38-1 Espécime de necropsia mostra uma falha total estruturas derivadas do diencéfalo, como os núcleos da
do fechamento do tubo neural com dlsraflsmo espinal base, também permanecem fusionados na linha média.
completo E3, anencefalia (Cortesia de R. Hew Como a indução ventral é muito relacionada ao desenvol
lett, MD.)
vimento facial, a HPE também é associada com inúmeras
anomalias faciais características.
História natural. Os fetos com HPE alobar grave costu lobo identificável é visto (FIg. 38-3B). Os núcleos da base
mam ser abortados de forma espontânea, e crianças muito são em geral presentes, mas fusionados. A foice e o seio
afetadas com freqüência morrem quando neonates. Indi sagital são ausentes, assim como os bulbos e tratos olfa-
víduos que sobrevivem geralmente exibem um retardo tórios. Os nervos ópticos podem ser normais, fusionados
mental variável e crises convulsivas. A insuUciência hipo- ou ausentes.
fisária e a anosmia congênita com ausência do I nervo cra O cérebro por si só é geralmente menor do que o nor
nial (1 NC) ("arrinencefalia") sâo outros achados clínicos mal. Sua configuração varia de achatado ("em panqueca")
comuns da HPE. a em forma de cálice ou bola. As fissuras silvianas não são
formadas, e a superfície cerebral também aparece com
Imagem pletamente agírica ou com mínimos sulcos rasos e giros
Os achados de imagem variam de um holoesféreo em lisos, desordenados.
formato de panqueca com monoventrículo central (HPE Cortes seccionais demonstram um monoventrícu
alobar) a hemisférios cerebrais quase completamente se lo em forma decrescente que abre dorsalmente para um
parados, bem diferenciados com mínimas anormalidades grande cisto dorsal preenchido de LCS (Fig. 38-4).
(HPE lobar).
Aspectos clínicos
A HPE alobar tem alta letalidade intrauterina e uma taxa
Holoprosencefalia alobar
de nascimento prematuro. Ela é encontrada em 1:250 das
Terminologia e patologia gestações abortadas e cerca de 1:15.000 dos nascidos vi
A holoprosencefalia alobar (HPEa) é a forma mais grave vos. A morte uterina e os partos prematuros são comuns.
da HPE. Nenhuma fissura na linha média divide o cére Com graves deformidades faciais como a ciclopia e a
bro em dois hemisférios cerebrais separados, e nenhum probóscide, a sobrevivência costuma ser de menos de uma
38-5A TC sem contraste mostra holopfosenceíalia. Pequeno anel de 38-5B Imagem mais cefáiica do mesmo paciente mostra um grande
córtex ES ao redor do monoventriculo central em forma de "ferradura" cisto dorsal IS, monoventriculo com uma fina camada de cérebro ao
SI. Talamos fusionados E]. redor B. A foice e a fissura inter-tiemisférica não estão presentes.
38-6 Caso de necropsia coronal de uma HPE semilobar grave mostra 38-7 Axial T2 mostra HPEs grave com fissura inter-fiemisférica rudi
um ventrículo central em forma de H com cornos temporais primitivos mentar posterior EB, cornos ventriculares primitivos EI, fusão da linha
núcleos da base lusionados EI, fissura inter-liemisférica rudimen média anterior.
tar SI. (Cortesia de R. Hewlett, MO.)
HOLOPROSENCEFALIA
Holoprosencefalia alobar
• Mais grave; alta letalidade intrauterina
• Cérebro "em panqueca" com monoventrículo
central
• NB fusionados; sem foice, sem fissura inter-
-hemisférica (FÍH)
38-9A T2 sagital na HPE lobar mostra um cérebro
Holoprosencefalia semilobar bem diferenciado, um terceiro ventrículo de aparência
• Foice rudimentar, IFH posterior
quase normal a CA ázigos B.
• Cornos ventriculares, terceiro ventrículo primitivos
• Tálamos geralmente separados, mas NB fusionado
Holoprosencefalia lobar
• Forma mais bem diferenciada de HPE
• NB separados, foice/FIH presentes exceto
anteroinferiormente
• Lobos frontais ventrais permanecem fusionados na
linha média
Variantes da holoprosencefalia
Muitas variantes da HPE já foram identificadas, incluin
do a sintelencefalia e holoprosencefalias septo preópticas.
A arrinencefalia, a qual alguns autores consideram uma
variante da HPE, será considerada, neste capítulo, junta
38-9B T2 axial mostra cornos occipitais bem desen
mente com a displasia septo-óptica.
volvidos E3, terceiro ventrículo cornos frontais
pouco identificados com mínima fusão da linha média
Sintelencefalia anterior
Imagens axiais mostram partes anterior e posterior ra piriforme nasal (ECAPN). Ambas serão rapidamente
da fissura inter-hemisférica e a ausência da sua seção me discutidas aqui.
diana. A foice também estreita e desaparece em ambas as
regiões frontal posterior e parietal anterior. Em 85% dos Síndrome do incisivo central maxilar
casos, as fissuras silvianas cursam superiormente e encon mediano solitário
tram nos cortes coronais uma fissura delineada por córtex A sín d ro m e d o i n ci si vo ce n tra l ma x i l a r me d i a n o so l i tá ri o
que é contínua através da linha média (Fig. 38-llA, 38- é uma malformação rara que consiste em múltiplos defei
IIB, 38-nCe38-nD). tos (principalmente da linha média). A maioria dos autores
O D Ti d e m o n s t r a t r a t o s d a s u b s t â n c i a b r a n c a h o r i
sugere que SSICMMS é uma variante da holoprosencefa
zontais que cruzam a linha média logo abaixo do córtex lia, embora outros considerem-na uma entidade distinta.
fusionado (Fig. 38-11E). Recém-nascidos com SICMMS geralmente se apre
sentam com dificuldades de respiração secundária à
Holoprosencefalia septo preóptica obstrução nasal, O atraso do neurodesenvolvimento e
Recentemente, muitas fonnas da HPE têm sido descritas, anormalidades endócrinas, como a baixa estatura e a pu-
nas quais a falha de separação hemisférica é restrita às berdade precoce, são achados associados comuns.
porções septais (subcalosal) e/ou regiões preópticas. Pa Achados de imagem na SICMMS variam de anorma
cientes com esses tipos de HPE - denominada holopro lidades dentárias isoladas com um incisivo maxilar único
sencefalia septo preóptica - em geral apresentam-se com e um palato em formato de V a anormalidades mais com
malformações crânio-faciais da linha média discretas. Es plexas que envolvem o cérebro (Fig. 38-12). Anomalias
sas variantes incluem o incisivo central maxilar media do fórnice, septo pelúcido e corpo caloso anterior estão
no solitário (SICMMS) e estenose congênita da abertu geralmente presentes. Uma artéria cerebral ázigos ante-
38-12A TC axial em um
/ f/i<A ~'-
recém-nascido de 3 dias com
dificuldades de respiração mostra
um incisivo maxilar único na
linha média ES.
38-12B TC coronal óssea do
mesmo paciente mostra o inci
sivo central ES e a estenose da
abertura piriforme
$ »
1134 Malformações congênitas do crânio e do encéfaio
VARIANTES OA HOLOPROSENCEFALIA
Síntelencefalía
• Também conhecida como a variante inter-hemisférica
38-13 Gráfico coronal mostra DSO com ausência do
cavum do seplo pelúcido e com cornos anteriores com mediana da HPE
teto achatado e quiasma óptico pequeno B. • Presença do joelho, esplènio do CC; ausência mediana
o Apenas malformações cerebrais com esta
morfologia
• Foice mediana, fissura inter-hemisférica ausentes
• Substância cinzenta e branca frontais posteriores
fusíonadas na linha média
Terminologia e patologia
A dispiasia septo-óptica (DSO) é também conhecida como
síndrome de Morsier. Dois achados patológicos principais
definem DSO: (i) ausência do septo pelúcido; e (2) hipo
plasia do nervo óptico (Figs. 38-13 e 38-14).
38-15 T2 coronal em um recém-nascido mostra a Quando a DSO ocorre com outras anormalidades,
ausência do cavum do septo pelúcido esquizence- como a esquizencefalia e a disgenesia calosal, a síndrome
falia El e polimicrogiria extensa [S. é chamada de DSO plus (Fig. 38-15).
Holoprosencefalia, doenças relacionadas e semelhantes 1135
38-16A T2 sagiial em um me
nino de 13 meses com dispiasia
septo-óptica mostra um ventrícu
lo lateral com aparência vazia e
fórnice de baixa localização SI.
O quiasma óptico ÍS aparece
pequeno.
38-16B T2 axial do mesmo
38-21A Caso de necropsia de hidranencefaiia demonstra macroceflia 38-21B A calota craniana preenchida por água é alargada e os he-
com transiluminação intensa indicando que a maior parte do crânio é mistérios cerebrais estão ausentes. A foice cerebral 3Í e o tentório
preenchida por água. estão presentes, assim como os núcleos da base S! que aparecem
normalmente separados.
de 16 semanas de gestação seguida por uma necrose lique- O prognóstico é ruim. Metade dos recém-nascidos vi
fativa difusa do manto cerebral é o responsável. Trauma vos com hidranencefaiia morre no primeiro mês, e 85%
materno, toxinas, síndrome da transfusão gemelar, hemor morrem no final do primeiro ano. Ocasionais sobreviven
ragia maciça e infecção já foram descritas como possíveis tes Já foram relatados. O maior problema no manejo desses
fatores contribuintes. casos é controlar a macrocefalia que geralmente acompa
Na hidranencefaiia a maior parte dos hemisférios nha a hidranencefaiia. Pacientes com hemi-hidranencefalia
cerebrais foram destruídos e estão total ou parcialmente têm melhor prognóstico e podem ter maior sobrevida.
substituídos por sacos transluscentes de paredes finas com
LCS que preenchem a maior parte do espaço supratento- Imagem
rial (Fig. 38-21). A camada externa consiste em leptome- Aspectos gerais. Uma cabeça normal ou grande com uma
ninge, e a camada interna é tecido glial sem elementos calota craniana preenchida por líquido (cérebro "em saco
ependimários demonstráveis. de água") e pequenos nichos de cérebro remanescente
A foice está intacta. Os lobos temporais mediais, o com uma foice cerebral e foice cerebral normais são acha
tronco encefálico, cerebelo e parte dos tálamos - todos dos típicos (Flg. 38-22).
supridos pela circulação posterior - são relativamente
Achados na TC. TC sem contraste mostra que o LCS preen
preservados. Assim como parte dos plexos coroides é su
che quase todo o espaço supralentorial. A foice cerebral
primido pela circulação posterior, o LCS continua a ser
é geralmente intacta e parece "flutuar" na calota crania
produzido, mas normalmente não é reabsorvido. Isso dis-
tende o saco preenchido por liquido, que é o achado pa na preenchida por água (Flg. 38-23). Os núcleos da base
estão presentes e separados, mas podem aparecer mode
tológico dominante da hidranencefaiia. A hidranencefaiia
ocorre esporadicamente sem outras malformações asso radamente atrofiados. Pequenos remanescentes de lobos
ciadas. A síndrome de Fowler é uma doença autossômica frontais mediai e parieto-occipitais podem estar presentes.
recessiva rara na qual a hidranencefaiia é acompanhada de Achados na RM. A RM demonstra uma grande ausência do
vaseulopatia glomeruloide dos vasos do sistema nervoso manto cerebral. A foice é facilmente identificada. Os espa
central (SNC) e atrofia muscular neurogênica. ços preenchidos por liquido seguem o sinal do LCS em to
das as seqüências, embora alguma heterogeneidade de sinal
Aspectos clínicos esteja presente secundário à pulsação do LCS (Fig. 38-24).
A hidranencefaiia ocorre em 1 a 2 por 10.000 nascidos Na hemi-hidranencefalia, um hemisfério parece estar
vivos e representa 0,6% das malformações do SNS nas ausente e o espaço cheio de LCS costuma deslocar a foice
séries de necropsia perinatal/natal. ao longo da linha média (Flg. 38-25).
1138 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo