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ENCEFALO,de ,

Tr a d u ç ã o :
Débora Brighente Bertholdo
Médica radiologisla do Hospital de Clinicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e do Diagnóstico Avançado por Imagem (DAPl).
Especialista em Neurorradiologia pelo Hospital Moinhos de Vento e pela University of North Carolina, Chapel Hill, NC.
Membro titular do Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR).
Guilherme Hohgracfe Neto
Médico radiologista do Hospital Moinhos de Vento.
Especialista em Radiologia e Diagnóstico por Imagem pela
Pontincia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Membro titular do CBR.

Gustavo Gumz Correia


Médico radiologista responsável pelo Centro de Imagem do Hospital Arquidiocesano Cônsul Carlos Renaux, SC.
Especialista cm Radiologia e Diagnóstico por Imagem pelo Hospital de Clinicas da UFPR.
Fe//owem Ressonância Magnética pelo Hospital Moinhos de Vento.
Membro titular do CBR.

Liana Franciscatto
Médica radiologista do Hospital Moinhos de Vento e do Grupo Hospitalar Conceição (GHC).
Especialista em Radiologia e Diagnóstico por Imagem pela PUCRS.
Membro titular do CBR.

Revisão técnica desta edição:


L e o n a r d o M o d e s t i Ve d o l i n
Médico neurorradiologista do Hospital Moinhos de Vento.
Chefe do Serviço de Radiologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).
Professor de Radiologia do Departamento de Medicina Iniema da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

081 e Osborn, Anne G.


Encéfalo de Osborn : imagem, patologia e anatomia / Anne
O. Osborn ; [tradução; Débora Brighente Bertholdo ... et al.;
revisão técnica; I-eonardo Modesti Vedolin]. - Porto Alegre ;
Artmed, 2014.
xiv, 1282 p.: il. color.; 28 cm.

ISBN 978-85-8271-080-7

1. Sistema nervoso central. 2. Encéfalo. 1. Título.

C D U 6 11 . 8 1

Catalogação na publicação; Sueien Spíndola Bilhar - CRB 10/2269


Anne G. Osborn, MD, facr
University Distinguished Professor
Professor of Radiology
W i l l i a m H . a n d P a t r i c i a W. C h i l d
Presidential Endowed Chair in Radiology
University of Utah School of Medicine
Salt Lake City, Utah

E N C E FA L O
IMAGEM, PATOLOGIA
E A N ATO M I A
Obra originalinenle publicada em língua inglesa sob o título Oshorns brain: imaging, paíbology, and anatomy. 1st Edition
I S B N 9 7 8 1 9 3 1 8 8 4 2 11

Copyright © 2013 Amirsys,lnc.


Published by arrangement with Lippiiicott Williams & Wilkins/Wolters Kluwer Health Inc. USA and Amirsys, Inc.
Neither Lippincott Williams & Wilkins/Wolters Kluwer Health nor Amirsys participated in the translation of this title.
Indicações, reações colaterais, e programação de dosagens estão precisas nesta obra mas poderão sofrer mudanças com o
tempo. Recomenda-se ao leitor sempre consultar a bula da medicação antes de sua administração. Os autores e editoras não se
responsabilizam por erros ou omissões ou quaisquer conseqüências advindas da aplicação de informação contida nesta obra,

Gerente editorial: Leiicia Bispo de Lima

Colaboraram nesta edição;

Editor: Alberto Schwanke

Assistente editorial: Mirela Favarello

Arte sobre capa original: Márcio Monticelii

Preparação de originais: Heloísa Stefan, Lisiane Andrioíli Danieli e Lnana Janini Peixoto Neumann
Leitura final: Débora Benke de Bittencourt e Mirela Favarello

Editoração: Techbooks

Nota

A medicina é uma ciência em constante evolução. A medida que novas pesquisas e a própria experiência clínica ampliam o nosso
conhecimento, são necessárias modificações na terapêutica, onde também se insere o uso de medicamentos. A autora desta obra
consultou as fontes consideradas confiáveis, num esforço para oferecer informações completas e, geralmente, de acordo com os
padrões aceitos à época da publicação. Entretanto, tendo em vista a possibilidade de falha humana ou de alterações nas ciências
médicas, os leitores devem confirmar estas informações com outras fontes. Por exemplo, e em particular, os leitores são aconse
lhados a conferir a bula completa de qualquer medicamento que pretendam administrar, para se certificar de que a informação
contida neste livro está correta e de que não houve alteração na dose recomendada nem nas precauções e contraindicações para
o seu uso. Essa recomendação é particularmente importante em relação a medicamentos introduzidos recentemente no mercado
farmacêutico ou raramente utilizados.

Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à


ARTMED EDITORA LTDA.. uma empresa do GRUPO A EDUCAÇÃO S.A.
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90040-340 - Porto Alegre - RS
Fone:(51) 3027-7000 Fax:(51) 3027-7070

E proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer


formas ou por quaisquer meios {eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web
e outros), sem permissão expressa da Editora.

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IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
Para Run

Amado e eterno companheiro, você não viveu até a conclusão deste livro.
Mesmo assim, seu amor incondicional e seu espirito solidário
me mantiveram firme durante todo o pivcesso - do principio até o final.
Espero cpie vocêficfue orgtilho.so! Até nos encontrarmos novamente.
retribuo-lhe com todo meu amor e devoção.
1
Agradecimentos
Ninguém realmente produz um livro desta magnitude sozinho. Por mais que eu seja a única autora, muitas pessoas con
tribuíram com imagens, sugestões, opiniões e idéias. Meus profundos agradecimentos. Vocês sabem quem são.

Diversas pessoas e grupos merecem uma menção especial. Antes de tudo, agradeço o apoio de nossos colegas
neurorradiologistas da University of Utah. Um grande agradecimento a Brian Chin, meu pesquisador-assistente em
neurorradiologia clínica no período 2011-2012, que incansavelmente buscou casos e referências para o livro. Não teria
conseguido sem você!

Desde minha licença do cargo de Distinguished Scientist no famoso Armed Forces Institute of Pathology in
Washington, D.C. (que a propósito não existe mais, vítima de cortes governamentais), a patologia definiu como eu vejo
e ensino neurorradiologia, e constitui grande parte deste livro. Meu agradecimento especial a Richard H. Hewlett e a seu
colega, Stuart Rutherfoord^, autores das fotografias macroscópicas que aprimoram este livro. Agradeço também a Peter
Burger, Bemd Scheithauer^ e a seus maravilhosos colegas da neuropatologia. Algumas das imagens reproduzidas aqui
vêm de seu excelente livro Diagnostic pathology: neuropathology (Amirsys Publishing, 2012).

Agradeço a toda a equipe da Amirsys, com menção especial e profundo agradecimento à inigualável, inabalável e
querida colega Paula Woodward, MD. Ela participou do processo de revisão e produção sempre que necessário. No final,
Paula mergulhou nas inúmeras revisões de textos médicos e nos manteve em dia com o cronograma apertado. Ashley
Renlund, nossa editora-chefe, fez valiosas sugestões para aperfeiçoar o texto e o projeto gráfico. Ela trabalhou incansa
velmente para encaixar quase todas as imagens na mesma página onde o respectivo texto aparece.

Agradeço às equipes internacionais da Amirsys nas áreas de encéfalo, coluna, cabeça e pescoço: ao longo dos anos,
vocês contribuíram com materiais incríveis para o banco de dados da Amirsys, que agora beneficia dezenas de milhares
de radiologistas e residentes. Vocês aperfeiçoaram o ensino e melhoraram a atenção ao paciente ao redor do mundo.
Agradeço este fantástico trabalho... e as prontas respostas quando algum de nós fez "pedidos de casos" urgentes para
nossos projetos. Não importando se o diagnóstico era comum ou obscuro, alguém, de algum lugar, sempre enviou um
caso perfeito.

Agradeço também os diversos colegas que, com generosidade, forneceram casos fascinantes ao longo dos anos.
Tentei manter um registro de quem enviou cada caso, para depois poder agradecer apropriadamente nas legendas. Um
agradecimento especial a todos que contribuíram com imagens.

Anne G. Osborn, MD, FACR

Yalecido.
Prefácio
Com a publicação deste livro, estou quebrando uma promessa de longa data que fiz a mim mesma; jurei que nunca,
NUNCA, escreveria outro livro em formato de prosa. E mesmo assim, aqui está ele. Mas deixe-me esclarecer, este não
é apenas "mais um livro em prosa". Longe disso! Quando meus colegas e eu publicamos a I" edição de Diagnóstico por
imagem: cérebro, o Dr. Michael Huckman disse no prefácio: "Anne Osbom decidiu abandonar as convenções típicas de
livros médicos". O formato clássico de pontos-chave realmente possibilita mais informações em menos espaço do que
a prosa tradicional. E eu adoro este tipo de eficiência! No entanto, quero oferecer mais do que "apenas os fatos". Quero
mostrar o pensamento por trás dos fatos. O raciocínio. A estrutura que facilita a compreensão de um assunto difícil e
complexo.

Foi por isso que estruturei o livro em uma seqüência de aprendizado. Iniciamos com os tópicos mais essenciais,
começando por trauma. A seguir, discutimos hemorragias não traumáticas, AVC e lesões vasculares. Em outras palavras,
vamos direto aos assuntos emergentes em diagnóstico por imagem, antes de entrar em infecçao, inflamação e doenças
desmielinizantes, neoplasias, distúrbios tóxicos, metabólicos e degenerativos, e malformações cerebrais congênitas.

Se você está recém iniciando a residência em radiologia, neurocirurgia ou neurologia, sugiro que comece pelo
começo. Leia e assimile os três primeiros capítulos. Depois vá parte a parte, capítulo a capítulo, até o final do livro. Se
você é um residente mais avançado ou um médico em treinamento, esta é uma ótima maneira de rever aquilo que você
pensa que já sabe. Eu garanto que há conteúdos neste livro que lhe serão novos. Se você é um médico radiologista geral,
neurorradiologista ou ncurocirurgiào, considere este livro como um curso de revisão em imagem neurológica. E se você
já é um neurorradiologista estabelecido, inclui diversas dicas interessantes em cada capítulo - espero que elas instiguem
seu pensamento.

Muitos de vocês me perguntaram, enviaram um email ou até escreveram (sim, escreveram à moda antiga) pedindo
um novo "Osbom". Aqui está ele. Eu mesma escrevi cada palavra deste livro, então o estilo é único e a abordagem é coe
rente entre os capítulos. Combinei anatomia essencial com patologia macroscópica e imagem para demonstrar o porquê
das doenças aparecerem da forma como aparecem. O livro é amplamente ilustrado, com múltiplas imagens coloridas de
excelente qualidade e em alta definição. Meus famosos quadros de resumo estão distribuídos ao longo do texto, permi
tindo a rápida revisão de informações essenciais.

Com base na carreira de conhecimentos acumulados que construí, com forte interesse em neuropatologia, neuroci
rurgia e neurociências clínicas, selecionei apenas as infonriações mais relevantes. Tive prazer fazendo isso, foi a culmi-
nação de décadas de aprendizado continuado na nossa querida especialidade.

Saudações e boa leitura!

Anne G. Osborn, MD, FACR


magens
A. Dalir, MD E. Rushing, MD L. Rourke. MD R. Hewlett, MD

A. Ersen, MD E.T. Hedley-Whyte, MD M. Ayadi, MD R. Nguyen, MD

A. lllner, MD E. T. Tali, MD M.Castillo, MD R. Ramakantan, MD

A. Maydell, MD F. J. Rodriguez, MD M. Colombo, MD S. Andronikou, MD

A. Rosenberg, MD G. Hediund, MD M. Edwards-Brown, MD S. Aydin, MD

A. Rossi, MD G. Oliveira, MD M. Hartel, MD S. Blaser. MD

A. Sheithauer, MD G. P. Nielsen, MS M. Huckman, MD S. Candy, MD

A. Sillag, MD G. Parker, MD M. Martin, MD S. Chung, MD

AFIP Archives H. EIs,MD M. Michel, MD S. Galetta, MD

B. Alvord, MD H. R. Hamsberger, MD M. Nielsen, MD S. Harder, MD

B. Hart, MD J. A. Junker, MD M. Sage, MD S. Hetal.MD

B. Horten, MD J. Ardyn, MD M. Thurnher, MD S. Lincoff, MD

B. Jones, MD J. Boxerman, MD M. Warmuth-Metz, MD S. Ludwin, MD

B. K. DeMasters, MD J. Comstock, MD N. Agarwal, MD S. McNally, MD

B. Krafchik, MD J. Curé, MD N. Foster, MD S. Nagi, MD

C. Baccin, MD J. P. O'Malley, MD N. Nakase, MD S. S. M.Ho,MBBs

C. D. Phillips, MD J. Paltan, MD P. Burger, MD S. van der Westhuizen, MD

C. Glastonbury, MD J. Townsend, MD P. Chapman, MD S. Yashar, MD

C. Robson, MD K. K. Oguz, MD P. Hildenbrand, MD T. Hutchins, MD

C. Sutton, MD K.. Moore, MD P. J. van Rensburg, MD T. Markel, MD

C . Y. H o , M D K. Morton, MD P. Lasjaunias, MD T. M e n t z e l , M D

D. Jacobs, MD K. Nelson. MD P. Rodriguez, MD T. Tihan, MD

D. Kremens, MD K. long, MD P. Shannon, MD V. Mathews, MD

D. Shatzkes, MD L. Ginsberg, MD P. Sundgren, MD W. Kucharczyk, MD

E. Ross, MD L. Loevner, MD R. Bert, MD W. Omar, MD


Sumário

Parte I Trauma

1 Trauma: considerações gerais 3


2 Efeitos primários do trauma no SNC 11
3 Efeitos secundários e seqüelas do trauma ao SNC 53

Parte II Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares


4 Abordagem às hemorragias não traumáticas e às lesões vasculares 77
5 Hemorragia parenquimatosa espontânea 85
6 Hemorragia subaracnóidea e aneurismas 109
7 Malformações vasculares 139
8 Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 173
9 Anatomia e ociusões venosas 219
10 Va s c u l o p a t i a 245

Parte III Infecção, inflamação e doenças desmlelinizantes


11 introdução à infecção, inflamação e desmielinização 297
12 Infecções congênitas e infecções piogênicas e virais adquiridas 301
13 Tuberculose, infecções fúngicas, parasitárias e outras infecções 341
14 HIV/Aids 379
15 Doenças inflamatórías e desmlelinizantes 409

Parte IV Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais


16 Introdução a neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais 449
17 Astrocitomas 459
18 Neoplasias glials não astrocílicas 499
19 Tumores neuronals e glioneuronais 527
20 Tumores da pineal e de células germinalivas 545
21 Tumores embrionários e neuroblásticos 567

22 Tumores das meninges 589


23 Tumores dos nervos cranianos e das bainhas nervosas 619
24 Linfomas, tumores hematopoiéticos e histiocíticos 651
25 Neoplasias selares e lesões semelhantes a tumores 687
26 Outros tumores e patologias com características tumorals 733
27 Melástases e síndromes paraneoplásicas 751
28 Cistos não neoplásicos 779
xiv Sumário

Parte V Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS


29 Abordagem dos distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS 817
30 Encefalopatia tóxica 831
31 Doenças metabólicas hereditárias 861
32 Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 915
33 Demências e degenerações cerebrais 967
34 Hidrocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1013

Parte VI Malformações congênitas do crânio e do encéfalo


35 Embriologia e abordagem das malformações congênitas 1055
36 Malformações da fossa posterior 1065
37 Malformações do desenvolvimento comissural e cortical 1093
38 Holoprosencefalia, doenças relacionadas e semelhantes 11 2 5
39 Síndromes neurocutâneas 11 4 1

40 Facomatoses vasculares 11 8 1

41 Anormalidades da calota craniana e meninges 11 9 7

A B R E V I AT U R A S 1219

ÍNDICE 1233
euun^j
I aiavH
/
Trauma: considerações gerais

em crianças e adultos jovens. O neurotrauma é o respon


Introdução 3
sável pela grande maioria desses casos. Apenas nos EUA,
Epidemiologia do traumatismo craniencefálíco 3
Etiologia e mecanismos de lesão 3 mais de dois milhões de pessoas por ano sofrem uma le
Classificação do traumatismo craniencefálíco 4 são cerebral traumática. Destas, 500.000 necessitam de

Imagem do traumatismo craniencefálico agudo 4 tratamento hospitalar. Pelo menos 10 milhões de pessoas
Como realizar o exame? 4 no mundo sofrem TCE anualmente.
Em quem e quando realizar o exame? 5 De todos os pacientes com lesão craniencefálica, cer
Imagem do trauma: pontos-chave para a interpretação.. 6 ca de 10% apresentam dano cerebral fatal, e um adicional
Imagem do topograma 7 de 5 a 10% terão défícits neurológicos permanentes im
janelas para parênquima cerebral 7 portantes. Uma porcentagem ainda maior terá déficits le
Janelas subdurals 8 ves ("traumatismo cerebral menor"), enquanto 20 a 40%
To m o g r a f i a c o m p u t a d o r i z a d a ó s s e a 8 dos sobreviventes de TCE apresentarão incapacitação
A n g i o t o m o g r a fi a 9
moderada.

O trauma é uma das indicações mais freqüentes para exa Etiologia e mecanismos de lesão
mes de imagem neurológicos de emergência. Como os
o trauma pode ser causado por lesões relacionadas a
exames de imagem desempenham um papel fundamental
na triagem e conduta, começaremos este livro discutindo projéteis ou não. O primeiro grupo resulta da penetração
no crânio, meninges, e/ou cérebro de um objeto externo,
o traumatismo craniencefálico (TCE).
como uma bala.
Iniciaremos com uma breve consideração sobre a
As lesões por traumatismo craniano fechado (TCF)
epidemiologia. O TCE é um problema de saúde pública são muito mais comuns do que as lesões relacionadas a
mundial que tem grande impacto para o indivíduo e para a
sociedade. Os custos diretos com o tratamento médico dos projéteis. Acidentes automobilísticos em alta velocidade
exercem importantes forças de aceleração/desaceleração,
pacientes com traumatismo agudo são enormes. Os custos levando o cérebro a se mover subitamente dentro da ca
indiretos relacionados à perda de produtividade e ao trata
lota craniana. A impactação forçada do cérebro contra a
mento crônico dos sobreviventes são ainda maiores.
calvária inflexível e contra a dura-máter rígida leva à con
Discutiremos brevemente a etiologia e os mecanis
tusão girai. Rotação e mudanças súbitas no momento an
mos do TCE. A compreensão das diferentes formas em
gular podem deformar, alongar e danificar axônios longos
que crânio e cérebro podem ser danificados fornece subsí
dios para o entendimento do espectro de achados de ima vulneráveis, lesionando-os.
A etiologia do TCE também varia de acordo com a
gem que podem ser identificados. faixa etária do paciente. De maneira geral, quase 30% dos
TCEs são causados por quedas, as quais são a principal
causa em crianças menores de 4 anos e em idosos maiores
de 75 anos. Ferimentos por arma de fogo são mais comuns
Introdução
em adolescentes e adultos jovens do sexo masculino, mas
Epidemiologia do traumatismo craniencefálico relativamente raros em outros grupos. Acidentes de auto
O trauma - às vezes chamado de "epidemia silenciosa" - móvel e atropelamentos ocorrem em todas as idades, sem
é a causa mundial mais comum de morte e incapacitação predileção por gênero.
4 Trauma

Classificação do traumatismo craniencefólico (p. ex., RM). Técnicas que são relativamente novas in
cluem perfusão por TC e RM, imagem do tensor da di
A classificação clínica mais utilizada em traumatismo ce
fusão (DTl) e ressonância magnética funcional (RMf).
rebral. a Escala de Coma de Glasgow (GCS), depende da
avaliação de três fatores: melhores respostas ocular, ver
bal e motora. Por meio da GCS, o TCE pode ser classifi
Radiografia craniana
Durante décadas, a radiografia craniana (antes chamada
cado como leve, moderado ou grave.
O TCE também pode ser dividido cronologicamente de "radiografia simples" ou, mais recentemente, "radio
e patoetiologicamenie em lesão primária ou secundária - grafia digital") foi a única técnica de imagem não invasiva
sistemática que foi utilizada neste texto. A lesão primária disponível para avaliação do TCE.
As radiografias cranianas são razoavelmente efetivas
ocorre no momento do trauma inicial. Fraturas cranianas,
hematomas epi e subdurals, contusões, dano axonal e la- para identificar fraturas de calvária, mas não conseguem
demonstrar a presença de hemorragias extra-axiais e de
ceraçòes cerebrais são exemplos de lesões primárias. lesões parenquimatosas, de longe mais importantes.
A lesão secundária ocorre em um momento poste
Entre um quarto e um terço das autópsias dos pa
rior e inclui edema cerebral, alterações de perfusão, her-
cientes com lesões craniencefálicas fatais não têm fratura
niações cerebrais e perda de líquido cerebrospinal (LCS).
Embora as lesões vasculares possam ser imediatas ("ate identificável! Então, radiografias cranianas obtidas apenas
com o propósito de identificar a presença de fraturas cra
nuação" do impacto) ou secundárias (laceraçâo de vasos nianas não têm fundamento no manejo atual do paciente
por fraturas, oclusão secundária a hemiações cerebrais), com TCE. Com raras exceções, é o cérebro que importa
para fins de discussão foram incluídas no capítulo de le -não o crânio!
sões secundárias.

TC sem contraste

CLASSIFICAÇÃO DO TRAUMATISMO Hoje, a TC é mundialmente aceita como ferramenta de


CRÁNIENCEFÁLICO raslreamcnlo no TCE agudo. Desde sua introdução, há 40
anos, a TC foi aos poucos substituindo a radiografia como
Efeitos primários exame de imagem de escolha. As razões são simples: a TC
• Lesões do escaípo e do crânio
• Hemorragia/hematomas extra-axiais revela lesões tanto ósseas quanto em partes moles. Também
• Lesões parenquimatosas é um método de imagem acessível, rápido, efetivo e de bai
• Miscelânea xo custo quando comparado a outros métodos de imagem.
Devem ser realizados cortes tomográficos (com 4 ou 5
Efeitos secundários mm de espessura), sem a injeção de contraste endovenoso,
• Síndromes de herniação
iniciando logo abaixo do forame magno até o vértex cra
• Edema cerebral
• Isquemia cerebral niano. São obtidas imagens utilizando-se algoritmos de re
• Dano vascular (primário ou secundário) construção para parênquima cerebral e ósseo. A visualiza
ção das imagens com janelas mais abertas (150a 200 LIH,
a chamada janela subdural) deve ser realizada no PACS
(ou filme, se o PACS não for disponível). A imagem do to-
pograma deve sempre fazer parte do estudo (ver adiante).
Imagem do traumatismo craniencefálico Já que o desenvolvimento tardio ou a progressão de
agudo hemorragias extra e intracranianas pode ocorrer nas pri
meiras 24 a 36 horas após o evento traumático inicial, a
Exames de imagem são fundamentais no diagnóstico e TC deve ser repetida se houver declínio súbito e inexpli
manejo do paciente com lesão traumática cerebral aguda. cável das condições clínicas do paciente, a despeito dos
Os objetivos da neuroimagem de urgência se desenvolvem achados de imagem iniciais.
em dois aspectos: (1) identificar lesões potencialmente tra-
táveis, sobretudo as que exigem tratamento de urgência, Angiotomografia e tomografia computadorizada
e (2) detectar e avaliar a presença de lesões secundárias com muitidetectores
como síndromes de herniação e lesões vasculares.
Devem ser realizadas imagens tanto do encéfalo quanto
da região cervical por meio de TC com muitidetectores
Como realizar o exame?
(TCMD). já que quase um terço dos pacientes com TCE
Diversas modalidades de exames de imagem podem ser moderado a grave têm lesões da coluna cervical em asso
utilizadas para avaliar os pacientes com TCE, as quais ciação. Devem ser realizados algoritmos de reconstrução
incluem desde técnicas ultrapassadas (i.e., radiografias para osso e partes moles, bem como reformatações multi-
de crânio) até exames muitos sensíveis, porém caros planares da coluna cervical.
Trauma: considerações gerais 5

Com freqüência a angiotomogratla (ATC) faz parte Na tentativa de reduzir a utilização desenfreada da
do protocolo de trauma do corpo todo. A ATC craniocer- TC nas emergências, algumas organizações desenvolve
vical deve ser especificamente considerada (I) no trau ram critérios clínicos que ajudam a separar os pacientes
ma penetrante de pescoço, (2) se uma fratura de forame de "alto risco" dos de "baixo risco". (Alguns desses cri
transverso ou subluxaçào facetária é identificada na TC térios estão especificados nos quadros a seguir.) Contudo,
de coluna cervical, ou (3) se uma fratura de base de crânio o impacto no comportamento dos médicos emergencistas
compromete o canal carotídeo ou um seio venoso durai. ao solicitar exames tem sido inconsistente. Em locais com

Laceração ou dissecção arterial, pseudoaneurisma trau altas taxas de má prática, muitos médicos emergencistas
mático, fistula carótido-cavernosa ou lesão de seio venoso solicitam TC sem contraste de rotina em todos os pacien
durai são bem demonstrados na ATC de alta resolução. tes com TCE, a despeito do escore da GCS ou dos acha
dos clínicos.
RM A decisão de realizar ou não - e quando realizar -
Há um consenso de que a TC sem contraste é o exame de es exames de imagem de controle em pacientes com trauma
colha para a avaliação inicial do TCE. Com uma importante tismo também é controversa. Em um grande estudo que
exceção - suspeita de maus-tratos o uso da RM como avaliou crianças com escore na GCS de 14 ou 15 e com
exame de rotina para rastreamento no âmbito do trauma uma TC inicial normal, apenas 2% prosseguiram com TC
agudo é incomum. A RM convencional associada a novas ou RM de controle. Destas, apenas 0,05% apresentaram
técnicas tais como a DTl é mais útil nos estágios subagudo resultados anormais no exame de controle, e em nenhu
e crônico do TCE. Outras modalidades, a exemplo da RMf, ma delas foi necessária intervenção cirúrgica. O valor
estão desempenhando um papel cada vez mais importante preditivo negativo para intervenção neurocirúrgica para
na detecção de alterações sutis, especialmente em pacientes uma criança com GCS inicial de 14 ou 15 e TC normal
com déficits cognitivos leves após um TCE leve. foi 100%. A partir desses dados, os autores concluíram
que crianças com um escore na GCS de 14 ou 15 e uma
Em quem e quando realizar o exame? TC inicial normal têm risco muito baixo para posteriores
achados de neuroimagem relacionados ao traumatismo e
A resposta para essa pergunta é paradoxalmente ao mes
baixo risco extremo para intervenção cirúrgica. A hospi-
mo tempo bem estabelecida e controversa. Pacientes com
um escore na GCS que indica prejuízo neurológico mode talizaçào de crianças com trauma craniano leve para ob-
rado (GCS = 9 a 12) ou grave (GCS < 8) invariavelmente ser\'açào, após um resultado normal na TC, é considerada
desnecessária.
realizam exames de imagem. As divergências ocorrem em
qual seria o melhor manejo para pacientes com escore na Diretrizes
GCS de 13 a 15.
Foram publicadas três maiores e mais largamente utiliza
das Diretrizes para a Imagem no Traumatismo Cranience-
ESCALA DE COMA DE GLASGOW fálico Agudo: as Diretrizes do American College of Ra

Melhor resposta ocular (máximo = 4) diology (ACR), os Critérios de Nova Orleans (NOC) e a
1 = ausente Regra Canadense de TC do Crânio (CHCR).
2 = abertura ocular a estímulos dolorosos Critérios do ACR. ATC sem contraste de urgência em TCP
3 = abertura ocular ao comando verbal leve com a presença de um déficit neurológico focai e/ou
4 = espontânea
outros fatores de risco é considerada muito recomendada,
Melhor resposta verbal (máximo = 5) assim como o exame de imagem em toda criança trau
1 = ausente
matizada com menos de 2 anos de idade. Embora a TC
2 = sons incompreensíveis sem contraste em paciente com TCP leve (GCS > 13) sem
3 = palavras inapropriadas
fatores de risco ou déficit neurológico focai tenha poucos
4 = confuso
5 = orientado beneficios, o ACR ainda o classifica como 7 de 9 na indi
cação do método.
Melhor resposta motora (máximo = 6)
1 = ausente N O C E C H C R . Ta n t o o s C r i t é r i o s d e N o v a O r l e a n s c o m o
2 = extensão à dor a Regra Canadense de TC do Crânio tentam triar pa
3 = flexão à dor cientes com lesões craniencefálicas mínimas/leves em
4 = retirada à dor uma maneira custo-efetiva. Um escore na GCS de 15
5 = localiza a dor
(i.e., normal) na ausência de quaisquer indicadores do
6 = obedece a comandos
NOC é um preditor negativo altamente sensível para le
Soma = "escore do coma" e classificação clinica são cerebral importante ou necessidade de intervenção
13 a 15 = lesão cerebral leve
9 a 12 = lesão cerebral moderada
cirúrgica.
s 8 = lesão cerebral grave
6 Trauma

1-1A Corte axial de TC sem contraste de um preso, realizada por trau- 1-lB Topograma do mesmo caso mostrando um corpo estranho B
ma, não demonstrando alterações grosseiras. (a chave das algemas) na boca do preso. Ele tingiu o trauma e estava
planejando escapar, mas o radiologista alertou os guardas, que impedi
ram a fuga. (Cortesia de J. A. Junker, MD.)

CRITÉRIOS DE NOVA ORLEANS EM LESÕES REGRA CANADENSE DE TC DO CRANIO EM LESÕES

CRANIENCEFÁLICAS LEVES CRANIENCEFÁLICAS LEVES


A TC está indicacja se GCS = 15 além de quaisquer dos TC se GCS = 13 a 15 e perda da consciência presenciada,
seguintes achados: amnésia ou confusão
• Cefaleia
Alto risco para intervenção neurocirúrgica
• Vômitos • GCS < 15 em 2 horas
• Paciente > 60 anos • Suspeita de fratura craniana aberta ou com
• Intoxicação (drogas, álcool)
afundamento
• Déficit de memória a curto prazo (amnésia • Sinais clínicos de fratura de base de crânio
anterógrada) • a 2 episódios de vômitos
• Trauma visível acima das clavículas • Idade 2 65 anos
• Convulsões
Risco moderado para lesão cerebral detectada pela TC
Adaptado de Stiell IG et al: Componson of the Canadian CT • Amnésia anterógrada 2 30 minutos
head rule and the New Orleans criteria in patients with minor • Mecanismo de trauma de alto risco (i.e.,
head injury. JAMA 294 (12): 1511-1518, 2005
atropelamento, ejeção do veículo, etc.)
Adaptado de Stieii IG et ai: Comparison of the Canadian CT
De acordo com a CI ICR, pacientes com um escore na head rule and the New Orleans criteria in patients with minor
head injury. JAMA 294(12): 1511-1518, 2005
GCS de 13 a 15 e com perda da consciência presenciada
por terceiros, amnésia ou confusão necessitam de exames
de imagem, assim como aqueles considerados de "alto ris
co" para intervenção neurocirúrgica ou de "médio risco"
para lesão cerebral. Imagem do trauma: pontos-chave
Entre 6 e 7% dos pacientes com TCE leve têm al
terações na TC. A maioria também apresenta cefaleia,
para a interpretação
vômitos, intoxicação por drogas ou álcool, convulsões, Quatro componentes são essenciais para a interpretação
déficits de memória recente ou evidência clínica de acurada dos exames de TC em pacientes com TCE: a ima
trauma acima do nível das clavículas. A TC deve ser gem do topograma, somada às visualizações do parênquima
utilizada sem restrições nesses casos, bem como em pa cerebral, às estruturas ósseas e ao espaço subdural na TC
cientes acima de 60 anos e em crianças menores de 2 sem contraste. Informações de extrema importância podem
anos de idade. estar presentes em qualquer um desses quatro componentes.
Trauma: considerações gerais 7

1-2A TC sem conlraste em janelas-padfão para parênquima cerebral 1-2B Janela intermediária (175 UH) demonstrando a presença de um
(80 UH) não mostrando nenhuma anormalidade definida. pequeno hematoma subdural BI. Hematomas subdurals de pequena
espessura podem ser visíveis apenas com janelas mais abertas.

Sugestões de como analisar as imagens de TC sem onde o sangue se deposita quando o paciente está em de-
contraste em pacientes com lesão traumática craniencefá- cúbito dorsal.
lica aguda estão demonstradas a seguir. Qualquer liipodensidade no interior de uma coleção
extra-axial deve considerar a possibilidade de sangramen
to ativo com acúmulo de sangue não coagulado (espe
Imagem do topograma
cialmente em alcoolistas ou em pacientes idosos) ou uma
Antes de iniciar a análise dos cortes tomográncos, exami
ne a imagem do topograma! Procure por anormalidades coagulopatia subjacente. Este é um achado que indica ur
da coluna cervical tais como fraturas ou luxações, trauma gência e notificação imediata do clínico responsável.
Procure por ar intracraniano ("pneumoencéfalo")-
de mandibula e/ou facial e a presença de corpo estranho
Esse achado sempre é anormal e indica a presença de
(Fig. I-l). Caso exista uma suspeita de fratura ou desali- uma fratura que trespassa ou urna cavidade paranasal ou
nhamento da coluna cervical, uma TCMD da coluna cer
a mastoide.
vical deve ser realizada antes que o paciente seja retirado
do aparelho. Agora siga com o parênquima cerebral. Cuidadosa
mente examine o córtex, em especial as áreas de maior
risco para contusões corticais (aspecto anteroinferior dos
Janelas para parênquima cerebral lobos frontais e temporais). Se houver um hematoma no
Direcione a interpretação do exterior para o interior com escalpo devido ao impacto (lesão de "golpe"), procure por
atenção e metodologia. Primeiro avalie as partes moles, uma clássica lesão de "contragolpe" a 180 graus na direção
começando pelo escalpo. Procure por aumentos de vo oposta. Áreas hipodensas na periferia de focos hiperdensos
lume, os quais freqüentemente indicam o ponto de im hemorrágicos indicam edema precoce e contusão grave.
pacto do trauma. Com cuidado, examine as partes moles Siga um pouco mais para o interior, do córtex para a
periorbitals. substância branca subcortical e substância cinzenta pro
A seguir, procure por sangramento extra-axial, cuja funda. As hemorragias petequiais freqüentemente acom
forma mais comum é a hemorragia subaracnóidea trau panham dano axonal difuso. As hemorragias subcorticais
mática (HSAt), seguida de hematomas sub e epidurals. vistas na TC sem contraste inicial são a "ponta do ice-
A prevalência de HSAt no TCE moderado a grave é pró beig" Em geral, há muito mais dano do que aparenta o
xima de 100%. Ela é comumente encontrada nos sulcos primeiro exame. Uma regra diz: quanto mais profunda é a
adjacentes às contusões cerebrais, ao longo das fissuras lesão, mais grave é o dano.
silvianas, circundando os lobos temporais e as porções Finalmente, procure no interior dos veníriculos por
anteroinferiores dos lobos frontais. O melhor local para níveis LCS-hemáticos e por hemorragia em decorrência
procurar por HSAt sutil é a cisterna interpeduncular. de lesão por cisalhamento do plexo coroide.
8 Trauma

Procure por fraturas na base do crânio envolvendo o es-


Janelas subdurals
fenoide que comprometam o canal carotídeo, fraturas do
Procure nas aquisições com filtro para tecidos moles fa
osso temporal (com ou sem luxação da cadeia ossicular),
zendo uso de janelas fechadas ("parênquima cerebral") e
intermediárias ("subdural") (Fig. 1-2). Hematomas sub luxação mandibular (fossa condilar "vazia") e fraturas da
calvária. E lembre-se: fraturas cranianas sem deslocamen
durals pequenos e sutis podem por vezes passar desperce to que não envolvem estruturas vasculares (tais como um
bidos em janelas-padrào fechadas (75 a 100 UH). Porém,
seio venoso durai ou a artéria meníngea média) são por si
são prontamente identificados quando janelas mais aber só insignificantes. O que importa é o cérebro e os vasos
tas (150 a 200 UH) são utilizadas.
sangüíneos!
O principal dilema é decidir se uma imagem lucente é
Tomografia computadorizada óssea uma fratura ou uma estrutura anatômica normal (p. ex., li
A tomografia computadorizada óssea se refere a um al nhas de sutura e canais vasculares). Lembre-se: praticamen
goritmo de reconstrução para osso visualizada com ja te não se tem descrição de fraturas de calvária na ausência
nelas abertas (janela óssea). Se não for possível realizar de lesão de partes moles associadas. Se não houver aumen
um algoritmo de reconstrução para osso de sua base de to de partes moles, é improvável que a imagem radiolucente
dados, amplie as janelas e use ferramentas de realce de represente uma linha de fratura sem deslocamento.
bordas para melhorar a definição da imagem. A exibição Imagens de TC com janela óssea também são muito
da superfície sombreada em três dimensões (imagem de úteis para distinguir a densidade baixa do ar em relação à
reconstrução em 3D) é especialmente boa para demons gordura. Embora nas imagens de TC com janela óssea a
trar fraturas complexas (Fig. 1-3). gordura se torne imperceptível e o ar permaneça muito hi-
Embora exames tomográficos convencionais sejam podenso, a maioria das estações de PACS possui a função
realizados com 4 ou 5 mm de espessura, com freqüên de região de interesse (ROÍ) que pode prontamente medir
cia é possível a detecção de fraturas com a janela óssea. a atenuação de determinada área.

1-3A TC óssea em um menino


de 3 anos de idade com trauma
grave mostrando múltiplas (fa
turas lineares na base do crânio.
Fratura através do osso occipital
à direita ES penetrando o (ora-
me jugular. Há uma importante
(fatura com diástase através da
sincondrose esfenoccipital
1-3B Corte mais caudal mos
trando fratura transversa do osso
temporal diástase da sutura
lambdoide direita B e extenso
pneumoencéfalo B.

1-3C Imagem de reconstrução


em 3D da calvária mostrando di
ástase da sutura lambdoide S],
fraturas temporal e parietal com
importante diástase ÍS.
1 -3D E5S 3D da base do crânio
demonstrando diástase esfenoc
cipital e da sutura occipito-
mastóidea B.
Trauma: considerações gerais 9

TC NO TRAUMATISMO CRANIENCEFALICO: Janelas subdurals


CHECKLIST • 150 a 200 UH (para HSs finos subcranianos)
TC Óssea
Topograma
• Procurar por • Algoritmo de reconstrução para osso > janela óssea
o Fraturas-lüxações da coluna cervical • Alguma das fraturas atravessa um canal vascular?
o Luxações de mandíbula, fraturas faciais
o Corpo estranho

Janelas para parenquíma cerebral Angiotomografia


• Aumento de partes moles no escalpo (ponto de A angiotomografia (ATC) geralmente é indicada se (1)
impacto) fraturas da base do crânio atravessam o canal carotídeo ou
• Hematomas extra-axiais (hipodensídade focai no um seio venoso durai, (2) se uma fratura-luxação está pre
interior do coágulo sugere sangramento ativo) sente, sobretudo se um forame transverso estiver envolvi
o Hematoma epidural
do ou (3) se o paciente apresentar sintomas de isquemia
o Hematoma subdural (HS)
cerebral ou piora clínica inexplicada. O sistema vascular
o Hemorragia subaracnóidea traumática
• Pneumoencéfalo
tanto cervical quanto intracraniano deve ser estudado.
• Contusão cortical Mesmo que seja importante analisar a circulação ve-
o Porção anteroinferior dos lobos frontais e temporais nosa e arterial, uma ATC em geral é suficiente. Uma ATC
o Laceração do escalpo no lado oposto/fratura craniana convencional normalmente mostra bem as artérias e os
• Dano axonal hemorrágico seios venosos durais, enquanto uma venografia por tomo-
• Hemorragia Intraventricular grafia (VTC) com freqüência não consegue demonstrar a
fase arterial.

1-3E Janela para tecidos moles


do mesmo paciente demons
trando extenso pneumoencéfalo
ES. A fratura occipitomastóidea
BS é vista adjacente ao ar, que
parece delinear o selo sigmolde
deslocado
1-3F Cranialmente, a TC sem
contraste mostra edema cerebral
difuso com obliteração de todas
as cisternas basais. Observe o
pneumoencéfalo S e a fiemor-
ragia subaracnóidea traumática

1 -30 A ATC foi obtida em


razão de múltiplas fraturas na
base do crânio. Uma delas apa
rentemente atravessa o forame
jugular direito. O seio sigmolde
está intacto, porém deslo
cado medialmente. Extenso san
gramento no escalpo é notável,
como se pode perceber pelo rá
pido aumento dos tecidos moles
extracranianos ES comparativa
mente ao exame de ATC obtido
poucos minutos antes.
1-3H Corte mais cranial de
monstrando vasto hematoma
subgaleal B.
10 Trauma

Examine as imagens-fonte, bem como as reconstru


ções multiplanares e as imagens com técnica de projeções Referências selecionadas
de máxima intensidade (MIP). Dissecção traumática, • Holmes JF et aí: Do children with blunt head trauma and
lacerações de vasos, flaps intimais, pseudoaneurismas, nonnal cranial computed tomography scan results require
fistulas carótido-cavemosas e oclusões dos seios durais
hospitalization for neurologic observation? Ann Emerg Med.
geralmente são identificados na ATC. 58(4);3l5-22, 2011
• Gean AD et al; Head trauma. Neuroimaging Clin N Am.
20(4):527.56,2010
• Stiell 10 et al: Comparison of the Canadian CT Head Rule
and the New Orleans Criteria in patients with minor head
injury. JAMA. 294( 12): 1511-8,2005
2
Efeitos primários do trauma no SNC

L e s õ e s d o e s c a l p o e d o c r â n i o 11 Começaremos a discussão com considerações sobre as


Lesões do escaipo 11 lesões do escalpo e do crânio, já que nosso estudo ocorrerá
Lesões faciais 12 em direção centrípeta (de fora para dentro). Após, delinea
Fraturas cranianas 13 remos o espectro do trauma intracraniano, começando pe
las hemorragias extra-axiais. Concluiremos este capítulo
Hemorragias extra-axiais 17
Hematoma epidural agudo 18 com uma discussão detalhada sobre as lesões do parênqui-
Hematoma subdural agudo 22 ma cerebral (p. ex., contusão cortical, dano axonal difuso e
Hematoma subdural subagudo 25 os preocupantes danos subcorticais profundos).
Hematoma subdural misto/crônico 27
Hemorragia subaracnóidea traumática 31
Lesões parenquimatosas 34
Contusões e lacerações cerebrais 35 Lesões do escalpo e do crânio
Dano axonal difuso 37
Dano vascular difuso 40 As lesões do escalpo e do crânio são comuns no trauma
Dano subcortical (cérebro profundo) 42 craniano. Embora em geral a maior e mais imediata preo
Miscelânea 43 cupação no manejo dos pacientes traumatizados seja a le
Pneumoencéfalo 43 são cerebral, o aumento de partes moles e hematomas no
Trauma não acidental (maus-tratos infantis) 45 escalpo podem ser úteis para identificar o local do trauma
Lesões relacionadas a projéteis e penetrantes 47 direto. Ocasionalmente, estes, a princípio, inocentes "ga
ios" podem se tornar ameaçadores. Antes de voltarmos
As lesões craniencefálicas primárias sào definidas como nossa atenção para as lesões intracranianas, revisaremos
brevemente as lesões do escalpo e do crânio, demonstrando
aquelas que ocorrem no momento do trauma inicial, em
bora elas possam não ser aparentes na primeira avaliação. seus achados de imagem típicos e sua importância clínica.
A lesão craniencefálica pode ser causada por trauma
direto ou indireto. O trauma direto envolve um golpe Lesões do escalpo
na cabeça e geralmente é causado por colisões automo As lesões do escalpo incluem lacerações e hematomas. As
bilísticas, quedas ou lesão ocasionada por objetos como, lacerações são vistas como descontinuidades focais da
por exemplo, martelos ou tacos de beisebol. Lacerações, pele. Aumento de partes moles, corpos estranhos e ar no
hematomas e fraturas cranianas são comuns. Os danos in tecido celular subcutâneo são comumente identificados
tracranianos associados variam desde nenhum até graves em lesões mais extensas.

alterações. É importante distinguir entre os dois diferentes tipos de


Forças significativas de aceleração/desaceleração, hematomas no escalpo: céfalo-hematoma e hematoma sub-
translação linear e carga rotacional podem ser aplicadas galeal. O primeiro em geral não tem importância clínica,
ao cérebro sem um golpe direto, configurando trauma enquanto o segundo pode causar hipovolemia e hipotensào.
indireto. Ele é causado pela cinemática angular e normal Os céfalo-hematomas são coleções hemáticas subpe-
mente ocorre em acidentes automobilísticos (Aautos) em nosieais que se situam entre a superfície externa do crâ
alta velocidade. Nesses casos, o cérebro sofre deformação nio e o periósteo elevado (Fig. 2-1). Os céfalo-hematomas
e distorção rápidas. Dependendo do lugar e da força apli ocorrem em 1% dos recém-nascidos e são mais comuns
cada, pode ocorrer lesão significativa do córtex, axônios, após parto instrumentado.
vasos penetrantes e substância cinzenta profunda. Lesão Eles são o equivalente extracraniano do hematoma
cerebral grave pode estar presente na ausência de fraturas epidural. Não cruzam as linhas de sutura e normalmente
cranianas ou lesões visíveis no escalpo. são unilaterais. Por serem anatomicamente contidos por
12 Trauma

fibras firmes do periósteo, raras vezes atingem tamanhos tumam ser bilaterais e se espalham difusamente em torno
grandes. da calvária. A TC sem contraste mostra uma massa hete
Com freqüência, os céfalo-hematomas são diagnosti rogênea no escalpo que ultrapassa uma ou mais linhas de
cados clinicamente, mas raras vezes são realizados exames sutura (Fig. 2-4).
de imagem. A TC sem contraste mostra uma massa com A maioria dos hematomas subgaleais se resolve sem
densidade de partes moles e formato lentiforme sobre um necessidade de tratamento. Entretanto, ao contrário de um
dos ossos da calvária (freqüentemente osso parietal ou oc céfalo-hematoma benigno e autolimitado, um hematoma
cipital) (Fig. 2-2). Se mais de um osso for afetado, as duas subgaleal expansivo em lactentes e em crianças pequenas
coleções são separadas por linhas de sutura interpostas. pode acarretar perda sangüínea significativa.
Complicações relacionadas ao céfalo-hematoma são
raras e a maioria se resolve espontaneamente dentro de pou Lesões faciais
cos dias ou semanas. O periósteo elevado na periferia de As fraturas faciais com freqüência são negligenciadas no
um céfalo-hematoma crônico pode vir a desenvolver calci- exame de imagem inicial (normalmente uma TC crania
ficações distróílcas, originando uma massa palpável firme. na). Podem ser identificadas algumas alterações de partes
Os hematomas subgalcais são coleções subaponeu- moles que se correlacionam com fraturas de face e que
róficas comuns em pacientes traumatizados de todas as talvez mereçam uma avaliação específica dos ossos da
idades. O sangue se coleta abaixo da aponeurose (a "gá- face. Estas incluem contusões periorbitals e hemorragia
lea") dos músculos occipitofrontais (Fig. 2-3). Como o SLibconjuntival, bem como lacerações dos lábios, da boca
hematoma subgaleal se localiza externamente ao periós e do nariz.
teo. não é anatoinicamente limitado por linhas de sutura. Holmgren e colaboradores propuseram a mnemônica
O sangramenlo para o interior do espaço subgaleal LIPS-N (laceraçâo de lábios, laceração intraoral, contusão
pode ser muito expressivo. Os hematomas subgaleais cos periorbital, hemorragia subconjuntival e laceração nasal)

2-1 A figura mostra o crânio


de um recém-nascido, inciuindo
a fontaneia anterior e as suturas
coronai, metópica e sagilai. O
céíaio-hematoma SI iocaiiza-
-se no subperiósteo, limitado por
suturas. O hematoma subgaleal
B está abaixo da aponeurose
do escaipo e não apresenta deli
mitação pelas suturas.
2-2 TC óssea em um recém-
■nascido com história de trauma
durante o parto mostrando
fratura craniana E5] e céfaio-
-hematoma B no osso parietal
subjacente. Observe que o
céfalo-hematoma não atravessa
a sutura sagitai BSl.

2-3 Caso de autópsia de um


iactente com trauma mostrando
um hematoma subgaleal bipa-
rietai GSI maciço. A gálea apo-
neurótica foi parcialmente aberta
para mostrar o grande he
matoma biparietal que atravessa
a sutura sagitai ISl.
2-4 Corte de TC sem contraste
através do vértex de um iactente
com TCE grave, mostrando um
enorme hematoma subgaleal
agudo B com densidade mista
que circunda todo o crânio, ultra
passando a sutura sagitai IS.
Efeitos primários do trauma no SNC 13

para ser usada em conjunto com o exame ílsico. Se qual ra, a fratura em "crescimento" do crânio, é uma complica
quer uma destas estiver presente, o paciente traumatizado ção rara, porém importante, do trauma.
merece um estudo tomográfico específico da face, além
da TC convencional de crânio. Fraturas cranianas lineares
Uma fratura craniana linear é um defeito linear com
Fraturas cranianas margens bem definidas que normalmente envolve tanto a
As fraturas da calvária raramente ocorrem - se é que tábua óssea interna quanto a externa da calvária (Fig. 2-5).
ocorrem - na ausência de um aumento de partes moles so- A maioria das fraturas cranianas lineares é causada
brejacente ou iaceraçâo no escalpo. As fraturas cranianas por um trauma contuso de baixa energia aplicado sobre
estão presentes na TC iniciai em cerca de dois terços dos uma superfície de área relativamente grande. As fraturas
pacientes com lesão craniana moderada, embora 25 a 35% lineares que se estendem para uma linha de sutura e a alar
dos casos de lesão grave não tenham fratura identificável, gam tornam-se fraturas diastáticas (Fig. 2-6).
mesmo com reconstruções para osso com cortes finos.
As fraturas cranianas podem ser simples ou cominu- Fraturas com afundamento
tivas, fechadas ou abertas. Se abertas, a laceração da pele Uma fratura com afundamento é uma fratura na qual
resulta em comunicação do meio externo com a cavidade os fragmentos são deslocados internamente (Fig. 2-7). A
intracraniana. O risco de infecçâo é alto nesse tipo de fra cominuiçào dos fragmentos de fratura inicia-se no pon
tura, assim como em fraturas que atravessam as mastoides to máximo de impacto e se espalha centrifugamente. As
e os seios paranasals. fraturas com afundamento são mais freqüentemente cau
Vários tipos de fratura craniana aguda podem ser sadas por traumas diretos de alta energia em uma superf-
identificados nos exames de imagem. Lineares, com afun cie pequena, com objeto contuso (p. ex., martelo, taco de
damento, com elevação e diastáticas. Outro tipo de fratu beisebol ou canos).

2-5 Peça de autópsia com


visão endocraniana da calvária.
Observe a fratura linear tem
poroparietal, desprovida de
depressão E?^, (Cortesia de E.T.
Hediey-Wtiyte, MO.)
2-6A TC óssea em um pacien
te com trauma grave demons
trando aumento de partes moles
no escalpo e fraturas cranianas
lineares adjacentes B. A sutura
lambdoide direita B demons
tra diástase.

2-6B Reconstrução em ESS 3D


mostrando fratura linear na
calvária à direita Si e fratura
diastática envolvendo a sutura
lambdoide [S.
2-7 (À esquerda) TC sem con
traste com janela para tecidos
moles mostrando fratura com
depressão B com parênquima
cerebral normal adjacente. (Á
direita) Corte com algoritmo de
reconstrução óssea demonstran
do os fragmentos com importan
te cominuição e profundamente
deprimidos E3.
14 Trauma

As fraturas com afundamento em geral laceram a dura portantes. Como a sincondrose esfenoccipital costuma
e a aracnoide subjacentes e estão associadas a contusões não se ossificar completamente até a metade da adoles
corticais e potencial extravasamento de líquido cerebros cência, ela é o local mais comum.
pinal (LCS) para o espaço subdural. As fraturas que se
estendem para um seio durai ou para o buibo jugular estão Fraturas em "crescimento" do crânio
associadas a trombose venosa em 40% dos casos. Uma fratura em "crescimento" do crânio (FCC), tam
bém conhecida como "cisto leptomeníngeo pós-traumá-
Fraturas com elevação tico" ou "erosão craniocerebral", é um tipo de lesão rara
As fraturas com elevação são incomuns e costumam que ocorre em apenas 0,3 a 0,5% de todas as fraturas cra
estar associadas a afundamento de fragmentos. Elas são nianas. A maioria dos pacientes com FCC tem menos de
mais freqüentemente causadas por objetos pontiagudos e 3 anos de idade.
compridos (como uma faca ou uma hélice) que fraturam a As FCCs se desenvolvem em estágios e aumentam
calvária causando, ao mesmo tempo, levantamento e rota vagarosamente ao longo do tempo. Inicialmente, na "pré-
ção dos fragmentos (FIg. 2-8). -fase", uma fratura craniana (em geral uma fratura linear
ou cominutiva) lacera a dura e, então, o parênquima ce
Fraturas diastáticas rebral ou a membrana aracnoide hemiam através da dura
Uma fratura díastátíca é uma fratura que alarga uma sutu- rota. O estágio I vai desde o trauma inicial até logo antes
ra ou sincondrose (Fig. 2-9). Elas comumente se associam da fratura aumentar de volume. O diagnóstico precoce e o
a fraturas lineares adjacentes ou com extensão às suturas. reparo durai no estágio I levam aos melhores resultados.
A diástase traumática das sincondroses esfenocci- O estágio II é a fase precoce da FCC. Ele dura cerca
pital, petroccipital e/ou occipitomastóidea é comum em de dois meses após o aumento inicial do volume da fratu
crianças com fraturas de base de crânio cominutivas im ra. Nesse estágio, o defeito ósseo é pequeno, a deformida-

2-8A Corte axial de TC sem


contraste mostrando grave lace-
ração no escalpo B combinada
com fraturas com elevação E3 e
afundamento EEI.
2-8B TC óssea do mesmo caso
mostrando que a fratura com
elevação está literalmente "pen
dendo" para fora da calvária.

1
I

2-9A Corte de TC sem con


traste que mostra um grande
hematoma subgaleal 5
atravessando a sutura sagital.
Há hematoma hiperdenso no
vertex S também cruzando
a linha média, sugerindo que o
sangue esteja situado no espaço
epidural.
2-9B TC óssea do mesmo caso
mostrando fratura diastática da
sutura sagital SI. O seio sagital
superior foi lacerado; o sangue
intracraniano visto no vértex, na
janela para tecidos moles, é um
hematoma epidural venoso.

B
Efeitos primários do trauma no 5NC 15

de craniana é relativamenie limitada e o déficit neuroló TCE. Algoritmos de reconstrução para osso e para partes
gico é leve. Mas o tecido que ficou preso no defeito durai moles devem ser utilizados. Reconstruções para partes
impede a consolidação da fratura. moles devem ser visualizadas tanto com janela "fechada"
O estágio 11! representa a fase tardia da FCC e come (partes moles) quanto intennediária ("subdural").
ça dois meses após o início do aumento de volume. Du As novas gerações de TC muliisiice oferecem exce
rante esse estágio, o defeito ósseo se torna significativa lente resolução espacial. Reconstruções 3D e reformata-
mente maior. O tecido cerebral e o LCS se estendem além ções com técnica de MIP melhoram a sensibilidade para
dos limites ósseos da fratura através das lesões na dura e a detecção de fraturas se comparadas ao uso apenas dos
na aracnoide. cortes axiais.
Os pacientes no estágio tardio da FCC freqüentemente
Achados na TC. Mesmo que as fraturas possam acometer
procuram atendimento meses a anos após o trauma craniano.
Nessa fase, podem causar pronunciadas deformidades cra qualquer parte da calvária ou base do crânio, a fossa cra
niana média é mais suscetível por causa de seus finos os
nianas e déficits neurológicos progressivos se não tratadas.
sos "escamosos" e múltiplos forames e fissuras.
Na TC sem contraste, as fraturas lineares são identi
Imagem ficadas como linhas lucenles de margens bem definidas
Características gerais. Radiografias cranianas simples não (Fig. 2-6). As fraturas com afundamento em geral são
têm função na avaliação atual do traumatismo cranience- cominutivas e mostram uma implosão interna dos frag
fálico (TCE). Um quarto dos pacientes com lesões cere mentos (FIg. 2-7). Nas fraturas com elevação, identifica-
brais fatais não apresenta fratura craniana na necropsia. A -se um segmento craniano elevado e rotado. As fraturas
TC é rápida, largamente disponível, sensível para lesões diastáticas aparecem como um alargamento das suturas ou
tanto de estruturas ósseas quanto parenquimatosas e aceita sincondroses (Fig. 2-9) e freqüentemente são associadas a
mundialmente como o exame-padrão para pacientes com fraturas lineares (Fig. 2-2).

2-10A Corte axial de TC sem


contraste em um paciente com
hemiparesíd progressiva após
trauma craniano, mostrando en-
cefalomalacia parietal a esquer
da E3. A fratura sobrejacente
tem aspecto afilado e com defor
midade focai BI.
2-10B TC óssea do mesmo
paciente mostrando uma larga
lesão craniana lucente com
margens arredondadas e com
endentações B.

2-1 IA Ponderação em T2 no
plano axial do mesmo paciente
mostrando coleção liquóríca lo-
bulada E3 que se estende pela
abóbada craniana.
2-11B Ponderação em T2 no
plano coronal mostrando a cole
ção de LCS no interior da díploe
B com parènquima cerebral,
que demonstra alterações com
patíveis com encefalomalacia,
alongado e preso no interior da
lesão í^. Clássica fratura em
"crescimento" (cisto leptome-
níngeo).

A
16 Trauma

As fraturas em "'cre.scimento" no estágio I são difíceis Em alguns casos, a RM pode ser indicada para a de
de detectar na TC sem contraste inicial, já que o escalpo e tecção precoce de complicações tratáveis. Uma criança
o parênquima cerebral contuso têm densidades semelhan pequena com déficits neurológicos ou convulsões, uma
tes. Embora identificar a lesão durai com o tecido cerebral fratura maior que 4 mm ou uma massa de partes moles
hemiado seja igualmente difícil ao exame por ultrassono- que se estende através da fratura para o espaço subgale-
grafia, ele pode ser mais útil. al está em risco para o desenvolvimento de FCC. A RM
O estágio tardio das FCCs demonstra o alargamento pode demonstrar a ruptura durai e diferenciar o cérebro
progressivo da fratura não consolidada. Uma lesão cra herniado de uma contusão edematosa no escalpo.
niana lucente ovalada, com endentação de suas margens e
Angiografia. Se uma fratura atravessa a topografia de uma
bordos chanfrados é típica (Fig. 2-10). LCS e partes moles
estrutura vascular importante, tal como o canal carotideo
ficam presos na fratura em expansão (Fig. 2-11). A maio ou um seio venoso durai (Fig. 2-12), (Fig. 2-13), a an-
ria das FCCs estão localizadas imediatamente adjacentes à
encefalomalacia pós-traumática, de modo que o parênqui giotomografla é recomendada. Cortes sagitais, coronais
e reconstruções em MIP ajudam a identificar o local e a
ma cerebral adjacente costuma aparecer hipodenso.
extensão das lesões vasculares.
Achados na RM. A RM raramente é utilizada no cenário do As fraturas do divo estão fortemente associadas a trau
TCE agudo devido ao alto custo, disponibilidade limitada ma neurovascular, e a ATC deve sempre ser realizada nes
e tempo de duração do exame. Comparada à TC, o deta ses casos (Flg. 2-14). Fraturas-luxaçâo cervicais, lesões por
lhamento ósseo é pobre, embora as lesões parenquimato- distração e traumas penetrantes da região cervical também
sas sejam mais bem demonstradas. A adição de seqüên merecem uma investigação mais detalhada. As lesões as-
cias em T2*, em particular SWI, é de especial ajuda para sintomáticas e não complicadas de partes moles cervicais
identificar lesões hemorrágicas. raras vezes são associadas a dano vascular significativo.

2-12 Gráfico em corte axial


demonstrando diferentes fraturas
da base do crânio, atravessando
o ápice petroso e o divo BI,
bem como com extensão para o
forame jugular e canal caro
tideo BI.
2-13 Autópsia mostrando
múltiplas fraturas de base de
crânio que envolvem o divo B,
canais carotídeos B e forames
jugulares BI (Cortesia de E. T.
Hediey-Whyte, MD.)

2-14A Corte axial de TC óssea


mostrando fraturas que envol
vem o divo B. seio sigmoide
esquerdo B e forame jugular
Observe a presença de he-
motímpano [—y.
2-14B Visão anteroposterior
de venograma do mesmo pa
ciente demonstrando a ociusão
Bdo seio transverso distai,
seio sigmoide e bulbo jugular à
esquerda.

/ ^ - B
Efeitos primários do trauma no SNC 17

Diagnóstico diferencial
o diagnóstico diferencial mais importante das fraturas
cranianas são estruturas normais como os canais vascula
res e as suturas. Os canais vasculares têm margens bem
corticalizadas e em gerai não estão tão definidos e lucen-
tes como as fraturas lineares. Não há aumento de partes
moles sobrejacentes. As suturas ocorrem em locais co
nhecidos (p. ex., coronal, sagital e mastóidea), são densa
mente corticalizadas e menos aparentes do que as fraturas.
As suturas com largura maior que 2 mm. na presença de
uma fratura linear, provavelmente são diasláticas.
Lagos venosos e granulaçôes da aracnolde pos
suem margens corticalizadas lisas e ocorrem em locais
previsíveis (p. ex.. em situação parassagital e adjacente ou
no interior dos seios venosos durais).
2-15 HE SI com fratura com afundamento B
lacerando a artéria meníngea média ES. Oetalfie da
LESÕES 00 ESCALPO E DO CRÂNIO ilustração mostrando sangramento ativo, sinal do "re
demoinho" B.
Lesões do escalpo
• Céfalo-hematoma
o Freqüente em lactentes
o Subperiosteal, limitado pelas suturas
o Em geral pequeno, unilateral; resolução espontânea
• Hematoma subgaleal
o Entre a gálea, periósteo da caivária
o Não se limita às suturas
o Bilateral, pode ter grandes dimensões

Fraturas crartianas
• Linear
o Linha lucente bem demarcada
• Com afundamento
o Fragmentos deslocados internamente
o Com freqüência há laceração da dura-aracnoide
• Com elevação
c Raras; fragmentos rotados externamente
• Diastáticas
o Alargamento de suturas ou sincondroses 2-16A Visão endocraniana mostrando fratura do osso

• Em "crescimento" temporal B3 atravessando o sulco da artéria cerebral


média ES. Observe as margens biconvexas do HE S).
o Raras; mais freqüentes em crianças
o Laceração da dura-aracnoide
o Tecido cerebral ou aracnoide herniam através da
dura rota
o Tecido preso impede a consolidação da fratura
o TC mostra margens arredondadas e endentadas
o RM mostra LCS +- parênquima cerebral

Hemorragias extra-axlais
Os hematomas e as hemorragias extra-axiais são ma
nifestações comuns do trauma craniencefálico. Podem
ocorrer em qualquer compartimento intracraniano, no
interior de qualquer espaço (existente ou em potencial)
e entre quaisquer camadas das meninges cranianas. Ape
nas o espaço subaracnóideo existe nomialmente; todos
2-16B Visão dorsal do cérebro recoberto pela dura
os outros são espaços em potencial e ocorrem apenas sob mostrando HE biconvexo ES na parte superior da dura.
condições patológicas, (Cortesia de E. T. Hediey-Whyte, MD.)
18 Trauma

Os hematomas epidurals se dão entre a tábua óssea Etiologia


interna craniana e a camada externa da dura (periosteal). Os A maioria dos HEs se origina de trauma direto no crânio
hematomas subdurals estão localizados entre a camada in
que lacera uma artéria ou os seios venosos durais adjacen
terna da dura (meníngea) e a aracnoide. A hemorragia su- tes. A grande maioria (90%) é causada por dano vascular,
baracnóidca traumática é encontrada entre os sulcos e nas
mais comumente a artéria meníngea média. Cerca de 10%
cisternas subaracnóideas. entre a aracnoide e a pia-máter. dos HEs são venosos, freqüentemente secundários a uma
Para analisar as hemorragias extra-axiais, nosso es fratura que atravessa um seio venoso durai.
tudo se dará do exterior para o interior do crânio. Con
sequentemente. começaremos esta seção com uma dis Patologia
cussão sobre os hematomas epidurals, então iremos um
Localização. Mais de 90% dos HEs são unilaterais e supra-
pouco mais adiante com os hematomas subdurals, que são tentoriais. Entre 90 e 95% são encontrados imediatamente
os mais comuns. Concluiremos com uma consideração
sobre hemorragia subaracnóidea traumática. adjacentes a uma fratura craniana (Fig. 2-15). A porção
escamosa do osso temporal é o local mais comum.
Hematoma epidural agudo Patologia macroscópica. Os HEs têm forma biconvexa (Fig.
Os hematomas epidurals (HEs) são complicações pouco 2-16A). A aderência da dura periosteal à calvária interna
comuns, mas potencialmente letais do trauma. Se um HE explica essa configuração típica. Os HEs sofrem expansão.
for identificado com rapidez e tratado de forma apropria Eles afastam a dura da tábua interna óssea, formando assim
da, a mortalidade e a morbidade podem ser reduzidas. o clássico hematoma em forma de lente (Fig. 2-16B), (Fig.
2-17), (Fig. 2-18), (Fig. 2-19). Como a dura está fortemen
Terminologia te aderida às suturas, os HEs raramente as ultrapassam.
Um hematoma epidural é uma coleção de sangue entre a A aparência macroscópica típica intraoperatória do HE
calvária e a camada externa da dura (periosteal). agudo é de um coágulo violáceo ("geleia de framboesa").

2-17 TC sem contraste mos


trando o clássico aspecto bicon-
vexo hiperdenso do hematoma
epidural agudo ES em situação
temporoparietal.
2-18 Em corte axial de TC sem
contraste em uma criança com
trauma agudo, observa-se que
a interface entre as substancias
branca e cinzenta está deslocada
medialmente SI em razão de
um HE com sangramento ativo,
com presença do sinal do "rede
moinho" 1^- Não se percebe
fratura craniana linear, mas a he
morragia sob o periósteo formou
um céfalo-hemaloma El.

2-19A HE agudo biconvexo


ES heterogeneamente hiper
denso. Uma pequena coleção
subdural hemática está presente
no tentório à esquerda e na foice
inter-hemisférica B. Pequena
quantidade de sangue extra-axial
no hemisfério esquerdo ES.
2-19B (À esquerda) TC óssea
mostrando HE ES e subgaleal
no entanto, nenhuma fra
tura é identificada. (À direita)
Reconstrução coronal com filtro
ósseo de TC facial demonstrando
fratura cominutiva El adjacente
a o H E B .
Efeitos primários do trauma no SNC 19

Aspectos clínicos há sangramento ativo (ver adiante). A taxa de mortalidade


Epidemiologia. Os HEs sào muito menos comuns do que global com identificação e tratamento imediatos é de 5%.
a hemorragia subaracnóidea traumática (HSAt) ou o he Os pacientes com HEs com densidade mista na TC
tendem a apresentar sintomas mais precocemente do que
matoma subdural (HS). Embora os HEs representem até
os pacientes com hematomas hiperdensos, além de escore
10% das lesões fatais em resultados de necropsia, eles sâo
na Escala de Coma de Glasgow (GCS) mais baixos, he
encontrados em apenas 1 a 4% dos pacientes que realizam
matomas com volumes maiores e pior prognóstico.
exame de imagem por trauma craniocerebral.
O desenvolvimento tardio ou aumento de volume de
Aspectos demográficos. Os HEs são incomuns em lactentes e um H E ocorre cm 10a 15% dos casos, normalmente entre
em idosos. A maioria é encontrada em crianças um pouco 24 e 36 horas após o trauma.
maiores e em adultos jovens. A proporção M:F é de 4:1.
Opções de tratamento, a maioria dos HEs são drenados por
Apresentação. O protótipo do "intervalo lúcido", no qual cirurgia. Os HEs com densidade mista aumentam rapida
o paciente traumatizado tem uma breve perda de cons mente em tamanho e exigem um tratamento mais agressi
ciência inicial, seguida por um período assintomático de vo e precoce.

duração variável antes da instalação do coma e/ou défi Ocasionalmente, um pequeno HE hiperdenso que não
cit neurológico, ocorre em apenas 50% dos pacientes. Os apresenta o sinal do "redemoinho", com pouco ou ne
sintomas comuns sào cefaleia, náuseas, vômitos, sintomas nhum efeito de massa, pode ser manejado clinicamente
relacionados a efeito de massa intracraniano (p. ex.. pa com observação clínica rigorosa e exames de imagem de
ralisia do terceiro par craniano envolvendo as pupilas), controle (Fig. 2-20).
seguido de sonolência e coma.
Imagem
História natural. O prognóstico depende do tamanho e da Características gerais, os HEs, sobretudo em adultos, em
localização do hematoma, se o HE é arterial ou venoso e se geral não cruzam as linhas de sutura a menos que haja

2-20A Série de estudos por


imagem demonstrando a evolu
ção de um pequeno HE. TC sem
contraste inicial mostrando um
HE parietal à direita S, hema
toma subgaleal BS e contusões
bifrontais, com algum grau de
hemorragia subaracnóidea trau
mática ea.
2-20B TC óssea do mesmo
paciente mostrando uma fra
tura temporoparietal à direita
levemente deprimida B. Este
paciente foi manejado de forma
conservadora.

2-20C A TC sem contraste


foi repetida 10 dias mais tarde,
demonstrando significativa re
dução da densidade do HE
Pequenos higromas bifrontais
são percebidos agora B.
2-20D O estudo foi repetido
seis meses após o trauma, de
monstrando resolução do HE.
Focos de encefalomalacia B no
hemisfério esquerdo, por lesão
de "contragolpe", agora são
evidentes.
20 Trauma

uma fratura com diástase coexistente. Em crianças, 10%


dos HEs atravessam as linhas de sutura, comumente as
suturas coronal e esfenoescamosa.
Procure por outra lesão coexistente tal como uma le
são de "contragolpe", HSAt e herniações cerebrais secun
dárias, as quais são comuns em pacientes com HEs.
Achados na TC. A TC sem contraste é o estudo de escolha

para a avaliação inicial dos pacientes com lesão cranien-


cefálica. Devem ser realizados algoritmos de reconstrução
tanto para osso quanto para tecidos moles. Reconstruções
multiplanares são especialmente úteis para identificar he
matomas epidurals no vértex, os quais podem ser difíceis
de detectar quando são obtidas apenas imagens axiais.
A imagem clássica dos HEs arteriais é uma cole
ção extra-axial lentiforme hiperdensa (60 a 90 UH) (Fig.
2-21A Corte axial de TC óssea mostrando extetiso 2-17). A presença de um componente hipodenso (sinal do
hematoma subgaleai E3 e fraturas cranianas lineares "redemoinho") é vista em cerca de um terço dos casos e
B atravessando a sutura sagital. indica sangramento rápido e ativo com tempo insuficiente
para retração do coágulo (Fig. 2-18).
Os HEs comprimem o espaço subaracnóideo sub
jacente e deslocam o córtex medialmenle, deformando
a interface entre as substâncias branca e cinzenta para o
i n t e r i o r.

Há presença de ar no interior do HE em cerca de


20% dos casos, e isso muitas vezes - mas não invaria
velmente - está associado a fratura das mastoides ou dos
seios paranasais.
Os muito menos comuns HEs venosos são, com fre
qüência, menores e se desenvolvem mais vagarosamente
do que os arteriais. A maioria é causada por uma fratura
craniana que atravessa um seio venoso durai e, portanto,
ocorrem próximos ao vértex (seio sagital superior) ou à
base do crânio (seios transverso/sigmoide). Em contras
te com o seu homólogo arterial, os HEs venosos podem
2-21B Reformatação multiplanar de ATC mostrando cruzar tanto linhas de sutura quanto reflexões da dura
hematomas biconvexos extrassagitaís B deslocando (Fig. 2-21), (Fig. 2-22).
as velas corticais internamente ES. Os HEs venosos - em especial os hematomas situa
dos no "vértex" - são facilmente negligenciados, imagens
com refomiatações nos planos coronal e sagital ajudam na
sua detecção e avaliação.
Achados na RM. Os HEs agudos são comumente isointen-
sos ao parênquima cerebral adjacente, sobretudo nas pon
derações em TI. A dura deslocada pode ser identificada
como uma "linha escura" entre o hematoma e o cérebro.

Angiografia. Pode mostrar uma artéria meníngea média


lacerada com fistulização do contraste em aspecto de "tri
lho de trem" dessa artéria para as veias meníngeas médias
correspondentes. Um efeito de massa com deslocamento
das artérias e veias corticais é identificado.

Diagnóstico diferencial
Com história clinica compatível, os achados de imagem
2-21C Corte coronal mostrando hematomas epidu do HE são patognomônicos.
rals no vértex B atravessando a linha média e deslo O principal diagnóstico diferencial é o hematoma
cando o seio sagital superior SI afastando-o do crânio. subdural, que comumente tem formato crescente e, com
Efeitos primários do trauma no SNC 21

freqüência, atravessa as linhas de sutura, mas está con


finado pelas reflexões da dura da foice ou do lentório. A Patologia
• Unilateral, supratentorial (>90%)
coexistência de HE e HS é incomum.
• Formato biconvexo (dura deslocada para longe do
Outras coleções hiperdensas extra-axiais na TC sem
contraste incluem neoplasias primárias ou secundárias, crânio)
• Erfi geral não cruza as linhas de sutura
tais como meningiomas, linfoma e metástases. Ocasio • Pode atravessar as reflexões durais
nalmente. infecções (como o tuberculoma durai), massas
inflamatòrias (p. ex., pseudotumores, histiocitose) e he- Aspectos clínicos
• Relativamente raro (1 a 4% dos traumas cranianos)
matopoiesc extramedular se apresentam como massas • Crianças mais velhas, adultos jovens; M:F = 4:1
hiperdensas exlra-axiais. • Clássico "intervalo lúcido" em apenas 50%
• Deterioração tardia é comum
• Identificação e tratamento imediatos = baixa
H E M ATO M A E P I D U R A L A G U D O
mortalidade

Terminologia Imagem
• HE = sangue entre o crânio, dura • Coágulo hiperdenso lentiforme
• Hipodensidade (sinal do "redemoinho") =
Etiologla
• Fratura craniana associada em 90 a 95% sangramento ativo
o Laceração de vasos pela fratura craniana • HE no "vértex" é em geral venoso, pode cruzar a linha
• Arterial (90%), venosa (10%) média

2-22A (Superior) TC óssea


de um homem de 26 anos que
caiu de cabeça de uma altura de
aproximadamente 7,5 metros
mostrando uma fratura diastática
B na sutura lambdoide esquer
da. (Inferior) A fratura continua
superiormente, seguindo a sutu
ra lambdoide, acima da inserção
do tentório.
2-22B TC sem contraste mos
tra um HE de densidade mista
na fossa posterior S. Observe
a contusão de "contra-golpe"
no lobo temporal direito, com
hematoma de atenuação mista,
S3 sugerindo sangramento
ativo.

2-22C Corte mais cranial do


mesmo paciente mostra que
o HE BI se estende acima do
tentório, posteriormente ao lobo
occipital esquerdo.
2-22D ATC foi obtida em ra
zão dos achados da TC sugerirem
HE venoso com laceração do seio
tranverso esquerdo, imagens
com reconstrução coronal (à
esquerda) e sagitai (à direita)
mostram muito bem que o HE
se estende abaixo e acima do
tentório, deslocando as veias
corticais, bem como elevando e
comprimindo o seio transverso
esquerdo.
22 Trauma

Hematoma subdural agudo


Os hematomas subdurals agudos sào uma das principais
causas de morte e incapacidade em pacientes com TCE
grave. Os hematomas subdurals (HSs) sào muito mais co
muns do que os hematomas epidurals (HEs). A maioria
não ocorre como uma lesão isolada e sim associada a he
morragia subaracnóidea traumática, bem como a impor
tantes lesões parenquimaíosas. tais como contusões corti-
cais, lacerações cerebrais e dano axonal difuso.

Terminologia
Um hematoma subdural agudo (HSAg) é uma coleção de
produtos hemáticos agudos que se situa na ou entre a ca
mada celular interna da dura e a aracnoide (Fig. 2-23).

2-23 Figura demonstrando HS agudo lentíforme B Etiologia


com contusão, lesão de "contragolpe" e dano axo- O trauma é a causa mais comum de HSAg. Tanto lesões
nal difuso S. com golpe direto quanto lesões não relacionadas a impac
to podem ocasionar HSAg. A ruptura de veias corticais
que cruzam o espaço subdural para entrar em seios ve-
nosos durais (em geral, o seio sagital superior) é a causa
mais comum. Lacerações de veias corticais podem acon
tecer tanto em fraturas cranianas quanto em mudanças
bruscas de velocidade e rotação cerebral, que ocorrem
durante traumas craniencefálicos fechados.
O sangramento da ruptura de vasos se difunde rapi
damente através do espaço em potencial localizado entre
a dura e a aracnoide. Os HSs grandes podem se espalhar
por todo um hemisfério, com extensão para a fissura inter-
-hemisférica e o tentório.
O rompimento de artérias corticais devido a uma fra
tura craniana também pode originar um HSAg. A aracnoi
de por si só também pode sofrer lacerações, criando uma
rota para o extravasamento do LCS para o espaço sub
2-24 Autópsia mostrando HS agudo B que se es dural, resultando em conteijdo misto, serossanguinolento.
palha sobre o cérebro entre a dura aracnoide fina Uma causa menos comum de HSAg inclui a ruptura
como um véu B. (Cortesia de E. T. Hediey-Whyte, MD.)
de aneurismas, metástases cranianas/durais oriundas de
neoplasias extracranianas vasculares primárias e hemor
ragia espontânea em pacientes com coagulopatia grave.
Raramente, um HSAg espontâneo ocorre em um pa
ciente sem história traumática ou anomalia vascular. Esses
pacientes, com freqüência, demonstram alteração súbita e
importante da consciência e têm mau prognóstico, a me
nos que o HSAg seja identificado e tratado rapidamente.

Patologia
Patologia macroscópica. O aspecto macroscópico de um
HSAg é o de um coágulo macio, arroxeado, em "geléia de
groselha" abaixo de uma dura tensa e abaulada (Fig. 2-24).
Mais de 95% são supratentoriais. A maioria dos HSAgs se
espalha difusamente sobre o hemisfério afetado e, como
conseqüência, possui morfologia típica em crescente.
2-2S HS agudo se espalhando pelo hemisfério es
Aspectos clínicos
querdo ES ao longo do tentório BSI para dentro da
fissura inter-hemisférica ES, mas sem cruzar a linha Epidemiologia. o HSAg é o segundo hematoma extra-axial
média. mais comum, perdendo apenas para a hemorragia suba-
Efeitos primários do trauma no SNC 23

racnóidea traumática (HSAt). O HSAg é encontrado em na com piores desfechos (35 a 90% de mortalidade). Um
10 a 20% dos pacientes com trauma craniencefálico e é HSAg que ocupa mais que 10% do volume intracraniano
observado em 30% dos pacientes submetidos à necropsia total disponível é freqüentemente letal.
por lesões fatais.
Opções de tratamento. A presença de um HSAg em um
Aspectos demográficos. Um HSAg pode ocorrer em qualquer paciente com trauma costuma ser considerada uma emer
idade, de crianças a idosos. Nao há predileção por sexo. gência neurocirúrgica.
A drenagem de um HSAg que provoca significativo
Apresentação. Mesmo traumas leves, sobretudo em idosos
efeito de massa é o procedimento-padrão. Pequenas cole
que são freqüentemente anticoagulados, podem resultar
em HSAg. Em tais pacientes, uma história definida de ções são ocasionalmente manejadas com observação clí
nica rigorosa e seguimento por exame de imagem. Qual
trauma pode não ser encontrada.
Os achados clínicos variam de nenhum a perda da quer deterioração súbita das condições do paciente deve
ser avaliada com a repetição do estudo de TC.
consciência e coma. A maioria dos pacientes com HSAg
têm um escore baixo na Escala de Coma de Glasgow na
Imagem
admissão. Deterioração tardia, especialmente em pacien
Características gerais. O achado clássico de HSAg é uma co
tes idosos anticoagulados, é comum.
leção extra-axial em forma de crescente, supratentorial, que
História natural. Um HSAg pode permanecer estável, au desloca medialmente a interface entre as substâncias branca
mentar vagarosa ou rapidamente, causando efeito de mas e cinzenta. Os HSs em geral são mais extensos do que os
sa e herniação cerebral secundária. O prognóstico varia HEs, facilmente se espalhando ao longo da foice, do tentó-
com a espessura do hematoma, grau de desvio da linha rio e em tomo do soalho das fossas anterior e média (FIg.
média e a presença de lesões parenquimatosas associadas. 2-25). Os HSs podem atravessar as linhas de sutura, mas
Um HSAg com espessura maior que 2 cm se correlacio em geral não atravessam as reflexões durais. HSs bilaterais

2-26 TC sem contraste mos


trando HSAg hiperdenso Inter-
-hemisféríco típico B. O MS cir
cundando o hemisfério esquerdo
menos denso, provavel
mente porque uma laceraçao da
aracnoide deve estar permitindo
a entrada de ICS, que se mistura
ao sangue. O hematócrito do pa
ciente era normal.
2-27 HSAg com densidade
mista, sangramento em ativi
dade e coágulos não retraídos
com compressão do espaço
subaracnóideo preenchido por
LCS subjacente RS. A interface
entre as substâncias branca e
cinzenta está deslocada medial
mente

2-28 TC sem contraste mos


trando HSAg com densidade
mista com uma herniação
subíalciaí desproporcionalmente
grande dos ventrículos laterais.
Todo o hemisfério direito está
hipodenso, indicando edema di
fuso holo-hemisférico. Essa com
plicação do HSAg é uma ameaça
à vida e pode exigir craniectomia
descompressiva de urgência.
2 - 2 9 C o r t e e m fl A l R d o i s
dias após um trauma fechado
revelando um pequeno HS hi-
pointenso BI e múltiplos danos
24 Trauma

ocorrem em 15% dos casos. As lesões por "contragolpe",


como contusão do hemisfério contralateral, são comuns.
Tanto as janeias-padrão para tecidos moles e inter
mediária ("subdural") devem ser utilizadas em todos os
pacientes traumatizados, pois pequenos e sutis HSAgs po
dem ser pouco perceptíveis em decorrência da densidade
da calvária adjacente.
Achados na TC.
TC sem contraste. Cerca de 60% dos HSAgs são hiperate-
nuantes na TC sem contraste (Fig. 2-25). (Fig. 2-26). As
lesões com atenuação mista são encontradas em 40% dos
casos (Fig. 2-27). Lagos hipodensos no interior da cole
ção hiperdensa maior (sinal do "redemoinho") freqüen
temente indicam a presença de sangramento ativo (Fig.
2-28). Pontos focais ou linhas de LCS cercados no interior
2-30 Figura demonstrando um HS BS. Imagem de sulcos comprimidos e deslocados podem com freqüên
ampliada mostra veia em "ponte" [È>: e as membranas cia ser identificados abaixo de um HSAg (Fig. 2-27).
interna (fina) ^ e externa (espessa) ^2. O efeito de massa em um HSAg é comum. Em alguns
pacientes, sobretudo em atletas com trauma craniencefálico
de repetição, pode ocorrer aumento de volume cerebral com
proeminência vascular de um hemisfério cerebral. Nesse
caso, o efeito de massa é desproporcional ao tamanho do
HS. que pode ser relativamente pequeno. Essa entidade,
chamada de "síndrome do segundo impacto", provavelmen
te é causada por autodesregulaçào vascular (ver Capitulo 3).
Ocasionalmente, um HSAg é quase isodenso ao
córtex adjacente (Fig. 2-26). Essa aparência incomum é
encontrada cm pacientes extremamente anêmicos (Hgb
abaixo de 8 a 10 g/dL) e, às vezes, ocorre em pacientes
com coagulopatias. Em raros casos, vazamento liquórico
por meio de uma laceração aracnóidea pode se misturar
ao sangue agudo coletado no espaço subdural, diluindo-o.
TC com contraste. A TC com contraste ajuda a detectar
pequenos HSAgs isodensos. As veias corticais que costu
2-31 Peça de autópsia revelando HSs com hemato mam se realçar após a injeção do contraste ficam desloca
ma organizado B, membrana externa espessa
cérebro deformado (Cortesia de R. Hewlett, MO.)
das internamente, em razão da coleção extra-axial.
Perfusào por TC. A perfusão por TC ou com xenônio
pode demonstrar diminuição do fluxo sangüíneo cerebral
(CBF) e baixa pressão de perfusão, a qual é uma das ra
Hiperdenso zões da alta taxa de mortalidade nos pacientes com HSAg.
O córtex adjacente a um HSAg drenado pode demonstrar

Isodenso
J L alterações relacionadas à hiperemia, com valores de fluxo
sangüíneo cerebral relativo (rCBF) elevados. A persistên
cia da hiperemia tem sido associada a maus desfechos.
Achados na RM. Exames por RM raramente são obtidos nos
•lÇ5l
pacientes com lesão cerebral aguda. Em tais casos, o HSAg
aparece isointenso nas ponderações em TI e hipointenso
em T2. A intensidade de sinal nas aquisições em FLAIR é
Hipodenso
em geral iso a hiperintensa em comparação ao LCS, mas
1 2 3 - 1 5 6 7 8 9 10 11 12 13
hipointensa se comparada ao cérebro adjacente (Fig. 2-29).
Tempo (em di.is) Os HSAgs são hipointensos nas aquisições em T2*.
A ponderação em diflisão mostra intensidade de sinal
2-32 O HS decai cerca de l,S UH/dia. £m torno de 7 heterogênea no interior do hematoma, mas pode também
a 10 dias, o sangue do hematoma está isodenso ao cor mostrar focos esparsos de restrição no córtex subjacente
tex. Em cerca de 10 dias, torna-se hipodenso. ao HSAg.
Efeitos primários do trauma no SNC 25

Angiografia. a ATC pode ser útil na visualização de um Imagem


vaso cortical com sangramento ativo para o espaço sub Características gerais. Os achados de imagem estão rela
dural. cionados à idade do hematoma e à presença de membra
nas envoltórias. A evolução de um HS não complicado e
Diagnóstico diferencial sem tratamento segue um padrão muito previsível na TC.
No cenário do trauma agudo, o principal diagnóstico di A densidade de um hematoma extra-axial diminui cerca
ferencial é o hematoma epidural (HE). O formato é uma de I a 2 UH a cada dia (Fig. 2-32). Consequentemente,
característica que ajuda na diferenciação, Já que a maioria um HS se tomará quase isodenso ao córtex cerebral subja
dos HSAgs têm formato de crescente, enquanto os HEs cente dentro de poucos dias após o trauma.
são biconvexos. Os HEs estão quase sempre associados à
fratura craniana; os HSs freqüentemente ocorrem na au Achados na TC. Os HSSs são coleções normalmente em
formato de crescente, iso a levemente hipodensas se com
sência de fratura craniana. Os HEs podem cruzar as re
flexões da dura; os HSs não cruzam a foice ou o tentório. paradas ao córtex na TC sem contraste (Fig. 2-33). Um
deslocamento mediai da interface entre as substâncias
branca e cinzenta ("distorcida") com freqüência está pre
Hematoma subdural subagudo
sente, com focos puntiformes de LCS, nos sulcos parcial
Com o tempo, os hematomas subdurais (HSs) sofrem or mente apagados situados abaixo do HSS (Fig. 2-34), (Fig.
ganização, lise e formação de membranas. Com dois ou 2-35). As hemorragias com densidade mista são comuns.
três dias, o coágulo, inicialmente pouco coeso, torna-se HSSs bilaterais podem ser difíceis de detectar devido à
organizado. Produtos da degradação da quebra da hemo "compensação" do efeito de massa (Fig. 2-34), O apagamen-
globina e a formação de tecido de granulação modificam to de sulcos com deslocamento da interface entre as substân
os aspectos de imagem do hematoma nas fases subaguda cias branca e cinzenta é o achado mais comum na imagem.
e crônica. ATC com contraste mostra veias corticais contrasta
das deslocadas medialmente. As membranas que envol
Terminologia vem o hematoma, em especial a camada superficial, que é
Um hematoma subdural subagudo (HSS) forma-se entre mais espessa, podem realçar.
alguns dias a algumas semanas. Achados na RM. A RM pode ser muito útil na identifica
ção dos HSSs, sobretudo para lesões pequenas, que são
Patologia
praticamente isodensas ao cérebro adjacente no exame
Há uma coleção formada a partir do coágulo parcialmente
tomográfico.
liqüefeito com produtos de reabsorção hemática. envol A intensidade de sinal varia com a idade do hematoma,
tos em ambos os lados por uma "membrana" de tecido de mas é menos previsível do que na TC, tomando problemá
granulação (Fig. 2-30). A membrana mais externa adere à tica a datação precisa das coleções subdurais. Em geral,
dura e em geral é mais espessa do que a membrana inter HSSs precoces são isointensos ao córtex nas ponderações
na, que está aderida à delicada aracnoide (Fig. 2-31). em TI e hipointensos em T2, mas tomam-se gradualmente
Em alguns casos, hemorragias repetidas de diferentes mais hiperintensos à medida que a meta-hemoglobina
idades, oriundas do tecido de granulação Iriável, podem extracelular aumenta (Fig. 2-36A), (Fig. 2-37A), (Fig.
estar presentes. Em outros casos, a liquefaçào do hema
2-37B). A maioria dos HSSs tardios são extremamente bri
toma ao longo do tempo produz um fluido sero-hemático. lhantes em TI e em T2. As vezes, pode-se perceber uma
hipodensidade linear nas seqüências ponderadas em T2,
Aspectos clínicos representando as membranas que envolvem o hematoma.
Epidemiologia e aspectos demográficos. Os HSs são comuns FLAIR é a sequência-padrâo mais sensível para detec
nos exames de imagem e nas autópsias. Em contraste com ção de HSSs, já que nessa seqüência aparece em geral hipe-
os HSs agudos, os HSs subagudos possuem uma distri rintenso (Fig. 2-37C). HSSs precoces inicialmente podem
buição bimodal, sendo as crianças e os idosos os grupos aparecer hipointensos devido ao seu encurtamento do efeito
mais afetados. T2, porque a intensidade de sinal da seqüência FLAIR varia
dependendo da contribuição relativa dos efeitos TI e T2.
Apresentação. A clínica varia desde pacientes assintomá-
ticos até perda da consciência e hemiparesia causada por Aquisições em T2* também são muito sensíveis, já
súbito ressangramento em um HSS. Cefaleia e convulsões que HSSs apresentam o inconfundível artefato de suscepti-
bilidade magnética (Fig. 2-36B).
são outras apresentações comuns.
A intensidade de sinal nas ponderações em difusão
História natural e opções oe tratamento. Muitos HSSs têm também varia com o tempo do hematoma. A difusão co-
resolução espontânea. Em alguns casos, hemorragias re mumente apresenta uma área em crescente de alta inten
petidas podem causar aumento súbito e efeito de massa. sidade, com uma borda de baixa intensidade próxima à
A drenagem cirúrgica pode ser indicada se um HSS vem superfície parenquimatosa (apresentação em "dupla ca
apresentando crescimento ou toma-se sintomático. mada") (Fig. 2-36C). A área de baixa densidade corres-
26 Trauma

2-33 Corte axial de TC sem


contraste mostrando HSS à
direita B que é isodenso ao
córlex subjacente. A interface
entre SB-SC está distorcida e
deslocada medíalmente BS em
comparação ao lado esquerdo
normal lüS.
2-34 Corte de TC sem contras
te de outro paciente demons
trando HSSs isodensos bilate-
ralmente, "equilibrados" E3.
Observe que ambas as interfaces
58-SC estão deslocadas interna
mente. Um "ponto"de LCS no
interior do espaço subaracnóideo
comprimido pode ser visto abai
xo do HSS esquerdo

2-3S TC sem contraste de um

paciente idoso com HSS e mode


rada atrofia cortical demonstran
do as diferenças entre o MS qua
se isodenso e o LCS no interior de
sulcos do espaço subaracnóideo
comprimido logo abaixo E3.
2-36A Corte axial ponderado
em n de um paciente com HSAg
em estágio tardio mostrando
coleção hiperintensa lentiforme
B que se estende sobre toda a
superfície do fiemisfério esquer
do. Observe a compressão girai
com sulcos quase completamen
te obliterados se comparados ao
tiemisfério direito normal.

2-36B Corte em T2' 6RE mos


trando algum grau de artefato de
susceptibilidade magnética B
no HSS.

2-36C A ponderação em difu


são mostra o clássico aspecto em
"dupla camada" do HSS com coá
gulo apresentando borda interna
hipointensa Si e borda externa
levemente hiperintensa B.
Efeitos primários do trauma no 5NC 27

ponde a uma mistura de coágulo em estágio finai e LCS, do ao espaço subdural. Hemorragias recorrentes em um
enquanto as áreas de alta intensidade de sinal se correla HSDc preexistente são comuns e produzem um HS misto
cionam com o coágulo sólido. (HSDm).
As seqüências em TI pós-contraste demonstram
membranas envoltórias com realce e espessamento (Fig. Etiologia
2-37D). A membrana que envolve o HSS geralmente é Com a contínua degradação dos produtos da hemoglo
mais espessa no lado durai da coleção. As imagens mais bina, um hematoma subdural toma-se progressivamente
tardias demonstram "enchimento" gradual e aumento da mais liqüefeito até tornar-se um fluido seroso tinto com
hiperintensidade do HSS. produtos hemáticos (Fig. 2-38). O ressangramento, tan
to por membranas vascularizadas circundantes como por
Diagnóstico diferenciai ruptura de veias corticais alongadas que cmzam o espaço
O principal diagnóstico diferencial de um HSS é um HS iso- subdural alargado, ocorre em 5 a 10% dos HSDcs.
denso agudo. Estes são, em geral, encontrados apenas em
pacientes extremamente anêmicos ou anticoagulados. Uma Patologia
efusão subdural após procedimento cirúrgico ou meningite, Patologia macroscópica. O sangue no interior do espaço
ou que ocorra como componente de hipotensão intracraniana, subdural provoca reação tissular em suas margens. A or
também pode simular um HSS. Um higroma subdural é iso-
ganização e a reabsorção do hematoma contido entre as
denso/isointenso ao LCS e não demonstra realce ou cápsula. "membranas" do tecido de granulaçào continuam. Essas
neomembranas são frágeis, com capilares que podem
Hematoma subdural misto/crônico
ser facilmente rotos, causando ressangramento e for
Terminologia mando um HSDm. Múltiplas hemorragias de diferentes
Um hematoma subdural crônico (HSDc) é uma coleção tempos de evolução são comuns no HSDm (Fig. 2-39),
sanguinolenta ou serossanguinolenta de liquido confina (Fig. 2-40).

2-37A Ponderação em Ti de
um homem de 59 anos com con
vulsões demonstrando coleções
subdurals bilaterais B que são
levemente hiperintensas em
relação ao LCS.
2-37B Ponderação em T2
mostrando que ambas as cole
ções BeS são ísointensas ao LCS
nas cisternas subaracnóideas
subjacentes.

2-37C As colecões líquidas


não são suprimidas em
FLAIR e são hiperintensas ao LCS
nas cisternas subjacentes.
2-37D TI pós-contraste mos
trando que a membrana externa
do HS sofre realce B. Esses
achados são consistentes com
hematomas em fase subaguda
tardia/crônica precoce.

I
28 Trauma

Finalmente, a maior parte do coágulo liqüefeito no


HSDc é reabsorvida. Apenas uma camada espessada de
dura-aracnoide permanece com algumas poucas bolsas de
sangue antigo aprisionadas entre as membranas interna e
externa.

Aspectos clínicos
Epidemiologia. HSSs não operados e nào complicados invaria
velmente tomam-se HSDcs. Cerca de 5 a 10% irão sangrar
novamente, causando HSs multiloculados com idade mista.

Aspectos demográficos. HSDcs podem ocorrer em qualquer


idade. HSs de idade mista são muito mais comuns em pa
cientes idosos.

Apresentação. A apresentação varia desde nenhum sinto


ma/sintomas leves (p. ex., cefaleia) até declínio neuroló
2-38 HSDc não complicado contendo líquido seros-
sanguinolento com efeito hemalócrito e membranas
gico súbito se um HSDc preexistente tomar a sangrar.
capsuiares interna fina bfi] e externa grossa História natural. Na ausência de hemorragias repetidas, os
HSDcs são gradualmente reabsorvidos, até a resolução,
persistindo apenas um espessamento dural-aracnoide re
sidual que pode se manter por meses ou mesmo anos. Os
pacientes mais idosos, em especial aqueles com atrofia
cerebral, estão sujeitos a hemorragias de repetição.

Opções de tratamento. Se os exames de imagem de contro


le de um HS agudo mostrarem regressão e reabsorção do
HSDc da maneira esperada, a intervenção cirúrgica pode
não ser necessária. Drenagem cirúrgica com evacuação do
HSDc e ressecçào das cápsulas membranosas é realizada
se efeito de massa ou sangramentos de repetição causarem
complicações neurológicas.

Imagem
Características gerais. Os HSDcs têm um espectro de acha
dos de imagem. Os não complicados mostram densidade/
2-39 HSDcs complicados contendo boisões locuíados
intensidade de sinal relativamente homogênea com leve
de sangue novo e antigo, vistos como níveis liquido-
-liquido B no interior de cavidades separadas. grau de gradaçao gravitacional-dependente de seus com
ponentes ("efeito hematócrito").
HSDs mistos com hemorragia aguda em um HSDc
preexistente demonstram nível de hematócrito com estra-
tificação das camadas de hemorragia, sendo a antiga no
topo e a nova no fundo. As vezes, bolsões septados que
contêm hemorragia de diferentes idades se formam. Ca
madas de sangue gravitacional dependentes no interior de
coleções loculadas podem ter aspecto bastante bizarro.
HSDcs de longa data, extremamente velhos, com re
absorção quase completa de todo o conteúdo líquido, são
percebidos como paquimeningopatias com espessamento
difuso da dura-aracnoide.

Achados na TC.

TC sem contraste. Uma coleção hipodensa líquida se esten


dendo sobre a superfície de um ou ambos os hemisférios
cerebrais é o achado clássico no HSDc. Se não compli
2-40 Peça de autópsia mostrando coleções loculadas cados, aproximam-se da densidade liquórica. O efeito
com sangramento novo e antigo, características do HS hematócrito cria uma leve gradaçao das densidades, que
crônico misto. (Cortesia de R. Hewlett, MO.) aumenta do topo para o fundo (Fig. 2-41).
Efeitos primários do trauma no SNC 29

HSDcs com trabéculas ou loculados mostram septações


internas, freqüentemente com evidência de hemorragias de
repetição (Fig. 2-42). (Fig. 2-43). Com o passar do tempo,
as membranas que envolvem o HSDc se tomam espessadas
e podem aparecer moderadamente hiperdensas. No estágio
final, alguns HSDcs demonstram calcificações periféricas
que persistem por muitos anos. Em casos raros, um HSDc
pode ser densamente calcificado ou mesmo ossi ficado, uma
condição nomeada como "cérebro blindado" (Fig. 2-44).
TC com contraste. As membranas que circundam o HSDc
contêm neocapilares frágeis, desprovidos de junções en-
doteliais resistentes. Como conseqüência, as membranas
apresentam forte realce após a administração de contraste
(Fig. 2-45).
Achados na RM. Assim como em todos os hematomas
2-41 A TC sem contraste mostra HSDc com hipo-
intracranianos, a intensidade de sinal de um HSDc ou densidades graduadas ("efeito hematócrito") do mais
HSDm é muito variável e depende da idade dos produ hipodenso (topo) ES para o menos tiipodenso (abaixo)
tos hemáticos. Nas aquisições em TI, HSDcs são, em ge
ral, iso a levemente hiperintensos se comparados ao LCS
(Fig. 2-46A). Dependendo do estágio de evolução, os
HSDcs são iso a hipointensos se comparados ao LCS nas
seqüências ponderadas em T2.
A maioria dos HSDcs são hiperintensos em FLAIR e
podem apresentar artefato de susceptibilidade magnética
no T2* se coágulos subagudos-crônicos ainda estiverem
presentes. Em cerca de um quarto de todos os casos, side-
rose superficial pode ser identificada sobre os giros subja
centes ao HSDc (Flg. 2-47).
A cápsula formada por membranas que envolvem o
HSDc sofre realce após a injeção de contraste. Em geral, a
camada extema é mais espessa do que a interna (Fig. 2-46B).
Os HSs crônicos não complicados não sofrem restrição
à difusão. Nos HSDcs, o feito da "dupla camada" - um cres
cente de hiperintensidade mediai a uma coleção desprovida
de restrição - indica ressangramento agudo (Fig. 2-48). 2-42 A TC sem contraste mostra HSs crônicos bilate-
ralmente com densidade mista.

Diagnóstico diferencial
É difícil confundir um HS de idade mista com outro diag
nóstico. Em pacientes idosos, um pequeno HSDc não com
plicado pode ser difícil de distinguir de uma simples atrofia
cerebral com aumento dos espaços liquóricos bifrontais.
Contudo, os HSDcs demonstram efeito de massa, com con
seqüente achatamento dos giros, com freqüência se esten
dendo ao redor de lodo um hemisfério e para a fissura inter-
-hemisférica. Os espaços extra-axiais aumentados na atrofia
cerebral são predominantemente frontais e temporais.
Um hlgronia subdural traumático é um acúmulo
de LCS no interior do espaço subdural após um trauma
craniano, provavelmente secundário a uma laceração da
aracnoide. Higromas subdurais são, às vezes, detectados
dentro das primeiras 24 horas após o trauma; entretanto,
o tempo médio para seu surgimento é de nove dias após
2-43 A TC sem contraste mostra HSDc misto E3
a lesão.
que se caracteriza por múltiplos bolsões loculados de
Um higroma subdural clássico não complicado é uma sangue, com o sangue antigo disposto em camadas su
coleção em formato de crescente, hipodensa. que consiste periores às camadas da hemorragia recente.
30 Trauma

2-44 Galeria de diferentes


casos demonstrando o largo
espectro dos achados de imagem
no HSDc. Aqui, cortes de TC sem
contraste de um paciente com
história de múltiplos shunts e
drenagens em razão de HSs crô
nicos antigos, mostrando os he
matomas biírontais densamente
catcificados El, a aparência de
"cérebro blindado".
2-45 Corte de TC sem contras
te mostrando HSDc com mem
brana interna que se impregna
intensamente El

2-46A HSs com idades mistas


são comuns. Aquisição ponde
rada em TI no plano axial mos
trando um MS subagudo à direita
e crônico precoce à esquerda. A
coleção crônica B3 é isointensa
ao cérebro, enquanto o HS mais
subagudo IS aparece hiperin-
tenso ao parênquima subjacente.
2-46B Coronal TI pós-con-
traste de um paciente diferente
mostrando reabsorção quase
completa de HSs crônicos bila
terais com espessamento difuso
da dura-aracnoide El. Uma
pequena coleção líquida loculada
residual S é tudo o que restou
dos HSs crônicos prévios.

2-47 Aquisição em T2' de


um paciente com HSDcs mistos
e múltiplos bolsões loculados
de sangramento antigo e agudo
demonstrando o expressivo ar
tefato de susceptibilidade mag
nética com níveis líquido-líquido
diferentes B.
2-48 Ponderações em difusão
de um paciente com HS crônico
à direita mostrando o efeito da
"dupla camada" de um grande
HSDc sem restrição B e a fina
área de ressangramento com
restrição à difusão B.
Efeitos primários do trauma no SNC 31

puramente em LCS, com densidade semelhante a LCS, ruptura de contusões no espaço subaracnóideo contíguo e
sem produtos hemáticos, membranas capsulares ou real sangramentos do plexo coroide com hemorragia intraven
ce após a administração de contraste. O extravasamento tricular podem resultar em sangue coletado nas cisternas
de LCS para o espaço subdural também está presente na subaracnóideas. Menos comumente, a HSAt se origina de
maioria dos pacientes com HSDc. Portanto, muitos - mas laceração de vasos mais calibrosos ou dissecções, com ou
não a maioria - dos HSDcs contêm um misto tanto de sem fraturas da base do crânio.
LCS quanto de produtos hemáticos. Embora a HSAt possa ocorrer isoladamente, ela cos
Uma efusão subdural é um acúmulo de liquido claro tuma ser acompanhada de outras manifestações relaciona
sobre as convexidades cerebrais ou na fissura inter-hemis- das à lesão cerebral. HSAts sutis podem ser a única pista,
férica. São. em geral, complicações de meningite; uma no exame de imagem inicial, de que lesões mais preocu
história de infecção prévia, e não trauma, é típica. pantes possam estar se escondendo abaixo da superfície.
Um cmplema subdural (ES) é uma coleção de lí
quido extra-axial hipodensa que contém pus. A maioria Patologia
dos ESs são secundários à sinusite ou à mastoidite, têm Localização. As HSAts são predominantemente encontra
marcado realce de membranas e freqüentemente coexis das nas regiões perissilvianas, nos sulcos anteroinferiores
tem com achados de meningite. Um ES típico restringe dos lobos frontais e temporais e sobre as convexidades
de maneira forte e uniforme nas ponderações em difusão. cerebrais (Fig. 2-49). Em casos muito graves, a HSAt se
espalha sobre a maior parte do cérebro. Em casos mais le
Hemorragia subaracnóidea traumática ves, o sangue acumula em um único sulco ou em porções
A hemorragia subaracnóidea traumática (HSAt) é encon gravitacionais dependentes da fossa interpeduncular.
trada praticamente em todos os casos de trauma cranien- Patologia macroscópica. Com exceção da localização e das
cefálico moderado a grave. Na verdade, trauma - e nâo a lesões cerebrais associadas, a HSAt é similar à HSA por
ruptura de um aneurisma sacular - é a causa mais comum ruptura aneurismática (HSAn). Focos curvilíneos de san
de hemorragia subaracnóidea intracraniana. gue brilhante acumulam nas cisternas e na interface dos
sulcos (Fig. 2-50).
Etlologla A HSAt, em geral, ocorre adjacente a contusões cor
A HSAt pode ocorrer tanto em trauma craniencefálico di ticais. Ela também, com freqüência, é identificada abaixo
reto como fechado. Laceração de artérias e veias corticais, de hematomas epi e subdurais.

2-49 Figura demonstrando hemorragia subaracnóidea traumática. A 2-50 Fotomicrografia de baixa magnificação mostrando autópsia cere
HSAt é mais comum em torno das fissuras silvianas e nos sulcos adjacen bral de um lutador de boxe que morreu após ser nocauteado. HSAt típica
tes aos giros confusos. cobrindo os giros e se estendendo no interior dos sulcos. (Cortesia dej.
Paitan, MD.)
32 Trauma

Aspectos clínicos
Epidemiologia. a HSAt é encontrada na maioria dos casos
de trauma moderado e em praticarnente 100% das lesões
fatais cerebrais nas autópsias.
Aspectos demográficos. A prevalência de HSAt é semelhan
te a de outras lesões traumáticas craniencefálicas, isto é, é
bimodal e ocorre com maior freqüência em adultos jovens
(sobretudo do sexo masculino) e em idosos.
Apresentação. Os sintomas clínicos estão primariamente
relacionados a outras lesões traumáticas, tais como he-
matorna extra-axial. contusões e dano axonal. Em alguns
casos, a HSAt pode causar vasospasmo tardio e sintomas
isquêmicos secundários.
História natural. A quebra e a reabsorção da HSAt ocorre
2-51 A TC sem contraste mostra um HS pequeno a
direita múltiplos focos de HSAt dispersos B nos
gradualmente. Os desfechos em geral são definidos por
outras lesões e relacionados ao escore inicial na Escala
sulcos sobre as convexidades.
de Coma de Glasgow, bem como com a quantidade de
sangue nas cisternas subaracnóideas no exame de imagem
inicial.

Opções de tratamento. Terapia de suporte é o tratamento


primário. Em alguns casos, a infusão de nimodipina ou
outro bloqueador dos canais de cálcio, tal como verapa
mil, pode impedir o vasospasmo e as complicações asso
ciadas.

Imagem
Características gerais. Com exceção da localização, os
aspectos de imagem em geral são similares àqueles da
HSAn. isto é, hiperdensidade/hiperintensidade nos sulcos
e nas cisternas. A HSAt é mais focai ou segmentar do que
a hemorragia subaracnóidea difusa, indicativa de hemor
ragia aneurismática (Fig. 2-51).
2-52 Corte de TC sem contraste de outro caso de
monstrando HSAt mais expressiva, vista como hiper- Achados na TC. A HSAt aguda aparece como hiperdensi-
densidades difusas preencftendo a maioria dos sulcos dades lineares em sulcos adjacentes às contusões corticais
na convexidade cerebral ES. ou abaixo de hematomas epi ou subdurais (Fig. 2-52).
Ocasionalmente, HSAt isolada é identificada no interior
da fossa interpeduncular (Fig. 2-53). Hemorragia pós-
-Iraumálica nas cisternas interpeduncular ou ambiens é
um bom marcador para possíveis lesões de tronco ence-
fálico em pacientes com coma inexplicado e pode exigir o
prosseguimento da investigação.
Alguns casos de HSAt leve podem apresentar he
morragia em um único sulco. Em casos graves, a HSAt
se espalha difusamente nas cisternas subaracnóideas e nas
camadas sobre o tentório. A HSAt crônica pode se ma
nifestar como líquido hipodenso que causa expansão dos
sulcos afetados.

Achados na RM. Como o sangramento agudo é isointenso


em relação ao cérebro, pode ser difícil detectá-lo nas pon-

2-53 HSAt sutil na fossa interpeduncular em um


paciente com trauma fechado B e na fissura siiviana
esquerda
Efeitos primários do trauma no 5NC 33

derações em TI. Sulcos "sujos" com "manchas" nas cis


ternas perissilvianas são típicos. O sangue subaracnóideo
é hiperintenso ao cérebro nas seqüências ponderadas em
T2 e tem aparência similar à intensidade de sinal do LCS.
As aquisições em FLAIR demonstram hiperintensidade
nos sulcos afetados (Fig. 2-54).
O artefato de susceptibilidade magnética com hipoin-
tensidade pode ser identificado nas aquisições em T2*,
adjacente a áreas de contusão cortical. A HSAt é reconhe
cida nas seqüências GRE e SWI por sinal altamente hi-
poinlenso circundado pelo LCS hiperintenso.
A HSAt também exibe uma morfologia única. Com
parada às veias lineares de paredes lisas, a HSA tem uma
forma "triangular" com limites irregulares e grosseiros e
intensidade de sinal heterogênea. A HSAt crônica causa
siderose superficial que aparece como hipointensidades 2-54 Aquisição em FtAlR no plano axial mostrando
curvilíneas ao longo dos sulcos e da superfície girai. contusões corticais multifocals E3 com HSA traumáti

As ponderações em difusão podem mostrar focos de ca, vista como hiperdensidades nos sulcos adjacentes
às lesões B.
restrição em áreas de isquemia franca ou de edema citotó-
xico induzido pelo trauma.
Angiografia. a ATC é normal nos primeiros dias após a V-/ *«•'•
HSAt. Pode ocorrer vasospasmo de 2 a 3 dias até semanas i i» V '
após o trauma, sendo identificado como áreas multifocais
de estreitamento dos vasos. /ç*.-. ií ■ .A-
Diagnóstico diferencial
o principal diagnóstico diferencial da HSAt é a HSA
não traumática (HSAnt). A ruptura de aneurismas cau
sa 80 a 90% de todas as HSAnts. Em contraste à HSAt,
a HSAn se concentra nas cisternas da base. A ATC pode
i d e n t i fi c a r u m a n e u r i s m a s a c u l a r n a m a i o r i a d o s c a s o s
de HSAn.
Malformações arteriovenosas correspondem a 10 a
15% das HSAnts e são facilmente identificadas tanto na
2-55 Aquisição em FLAIR no plano axial com hipe-
TC quanto na RM. Dissecções e aneurismas dissecantes,
rintensidades sulcais artefatuais causadas por su
sobretudo do sistema vertebrobasilar, são menos comuns,
pressão incompleta da água. A repetição da aquisição
porém importantes causas de HSAnt. (não mostrada) estava normal.
A hiperintensidade em sulcos e cisternas visibili-
zada em FLAIR não é específica e pode ser causada por
meningite, neoplasia, artefatos (supressão incomple
ta do LCS), extravasamento de contraste para o espaço
subaracnóideo (p. ex., na insuficiência renal) e inalação
de oxigênio em alta concentração, geralmente durante a
anestesia (Fig. 2-55).
O termo pseudo-hemorragia subaracnóidea tem
sido usado para descrever o aspecto do cérebro com ede
ma cerebral grave na TC. O cérebro hipodenso faz com
que o sangue circulante nas artérias e nas veias pareça hi-
perdenso em relação ao parênquima. Essa hiperdensidade
é de limites lisos e de conformação esperada para a forma
dos vasos e não para o espaço subaracnóideo, não deven
do ser confundida com HSAt ou HSAnt (Fig. 2-56).

2-56 A TC sem contraste no edema cerebral grave


mostra pseudo-hemorragia subaracnóidea causada
pela densidade baixa do cérebro adjacente aos vasos
sangüíneos normais
34 Trauma

HEMORRAGIA SUBARACNÓIDEA E SUBDURAL


HS agudo (HSAg)
• Segunda hemorragia extra-axial traumática mais
c o m u m
o HS agudo » hematoma epidural
• Coleção hemática em crescente entre a dura e a
aracnoide
o Supratentorlal (95%), bilateral (15%)
o HS atravessa suturas, mas não as reflexões da dura
• TC
o Hiperdensos (60%), mistos (40%)
o HS isodenso é raro (anemia, coagulopatia,
misturado ao LCS)
HS sübagudo(MSS)
• O coágulo se organiza, sofre lise, formando
2-57 As contusões corticais estão localizadas prima "neomembranas"
riamente ao longo das cristas girais ÍS, ao redor de • TC
uma fissura silviana. A HSAt é comum no interior dos o A densidade diminui 1 a 2 UH/dia
sulcos adjacentes S). o Isodenso ao córtex em 7 a 10 dias
o Procure por "pontos" deslocados de LCS abaixo do
HS
o Interface entre as substâncias branca e cinzenta

"empurrada" para dentro,


o Veias corticais deslocadas vistas na TC com contraste
• RM
o O sinal varia com a idade do coágulo
o T2' (GRE, SWI) revela um artefato de susceptibilidade
magnética
o TI pós-contraste mostra o coágulo no interior das
membranas, as quais realçam
HS crônico/misto (HSOc)
• liquido serossanguinolento
o Hipodenso na TC sem contraste
o Ressangramento (5 a 10%)
o Bolsões loculados de sangue com níveis
líquido-líquido são comuns
2-58 Autópsia demonstrando petéquias SI e gran • Diagnóstico diferencial do HSDc não complicado
des contusões corticais confluentes HSAt em sulcos o Higroma subdural (laceração da aracnoide -> LCS
adjacentes BI. (Cortesia de R. Hewlett, MO.) no espaço subdural)
o êfusão subdural (líquido claro se acumula após
meningite)
o Empiemo subdural (pus)
Hemorragia subaracnóidea traumática (HSAt)
• Hemorragia extra-axial traumática mais comum
• HSAt >> HSA aneurismática
• Adjacente às contusões corticais
• Sulcos superficiais > cisternas da base

Lesões parenquimatosas
As lesões traumáticas intra-axiais incluem contusões e la-
cerações, dano axonal difuso (DAD), lesões subcorticais
e hemorragias intraventriculares. Nesta seção, mais uma
2-59 Autópsia demonstrando grande contusão fron
vez começaremos estudando as alterações mais periféri
tal B com HSA traumática focai alargando sulco adja cas e posteriormente seguiremos nosso trabalho em dire
cente (Cortesia dej. Townsend, MD.) ção às estruturas mais internas, finalizando com as lesões
Efeitos primários do trauma no SNC 35

mais profundas (subcorticais). Em geral, quanto mais


profundas as alterações, mais grave é a lesão.

Contusões e laceroções cerebrais


As contusões cerebrais são as lesões intra-axiais mais co
muns. As lacerações cerebrais verdadeiras são raras e cos
tumam ocorrer apenas com lesões craniencefálicas graves
(freqüentemente fatais).

Terminologia
As contusões cerebrais são basicamente "batidas no cére
bro". Elas se desenvolvem com o tempo e, com freqüên
cia, são mais visíveis em exames de controle do que no
exame de imagem inicial. As contusões cerebrais também
são chamadas de lesões das "cristas" girais (Fig. 2-57).
O termo contusão em "delta" é, algumas vezes, utilizado
2-60 Figura demonstrando os locais mais comuns
para descrever as contusões parassagitais. de contusão cerebral em vermelho. Os lugares menos
comuns estão mostrados em verde.
Etloiogia
A maioria das contusões cerebrais resulta de traumas fe
chados ou contusos. As lesões por trauma fechado levam
a alterações súbitas no momento angular e à desacelera
ção. O cérebro sofre subitamente uma impactação forçada
contra as margens ósseas ou contra os limites rígidos da
foice cerebral ou do tentório do cerebelo. Menos comu-
mente, uma fratura craniana com afundamento danifica o
parênquima cerebral subjacente.

Patologia
Localização. Contusões são lesões da superfície cerebral
que envolvem a substância cinzenta e a substância branca
subcortical contígua (Fig. 2-57), (Fig. 2-58), (Fig. 2-59).
Elas ocorrem em locais muito característicos e altamente
previsíveis. Quase metade envolve os lobos temporais. Os
ápices temporais, bem como as superfícies lateral e infe 2-61 Cérebro submetido à autópsia mostrando as
rior dos giros perissilvianos, são os locais mais afetados
localizações típicas das contusões, isto é, o aspecto
(Fig. 2-60). As superfícies inferiores dos lobos frontais anteroinferior dos lobos frontais e dos lobos temporais.
(orbital) também são freqüentemente afetadas (Fig. 2-61). (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
A convexidade girai, o dorso do corpo caloso, o
mesencéfalo dorsolateral e o cerebelo são locais menos
comuns. Os polos occipitais raras vezes são envolvidos,
mesmo no trauma fechado grave.
Número e tamanho. As contusões cerebrais variam em ta
manho desde diminutas lesões até grandes e confluentes
hematomas (Fig. 2-59). Elas são quase sempre múltiplas
e freqüentemente bilaterais (Fig. 2-62). As contusões que
ocorrem a 180" do local do impacto direto ("golpe") são
comuns e são chamadas de lesão de "contragolpe".
Patologia macroscópica. O aspecto das contusões varia de
pequenas petéquias a grandes hemorragias confluentes.
As lesões corticais costumam estar associadas à hemorra

gia subaracnóidea traumática nos sulcos adjacentes.


Características microscópicas. Rapidamente são formadas mi-
2-62 Corte de TC sem contraste mostrando contusões
cro-hemorragias perivasculares que coalescem ao longo do bilaterais frontais inferiores E2, edema perilesional
tempo, formando hematomas confluentes. Desenvolve-se S e HSA traumática S.
36 Trauma

edema circundando as hemorragias. Surge ativação e pro


liferação astrocitária, bem como infiltração por macrófagos.
Necrose com perda neuronal e astrogliose. além de
depósitos de hemossiderina, estão presentes em lesões su-
bagudas e crônicas.

Aspectos clínicos
Epioemiologia e aspectos demográficos. Contusões cerebrais
correspondem a aproximadamente metade das lesões pa-
renquimatosas traumáticas. Elas ocorrem em todas as ida
des, de lactentes a idosos. O pico etário está em 15 a 24
anos e a relação M:F é de 3:1.
Apresentação. Os sintomas iniciais variam de ausência de
características clínicas à confusão, convulsões e obnubi-
lação. Com danos axonais difusos (ver adiante), as contu
sões cerebrais estão menos freqüentemente associadas à
perda imediata da consciência, a menos que sejam exten
sas OLi ocorram com outra lesão traumática em associação
(p. ex.. trauma de tronco ou dano axonal).
História natural. O declínio neurológico é mais comum
em pacientes idosos. Os pacientes com contusões exten
sas, escore inicial baixo na Escala de Coma de Glasgow
(GCS), coagulopatias e presença de hematoma subdural
coexistente têm maior risco para deterioração clínica. Em
pacientes com contusões pequenas, boa pontuação na
GCS c ausência de piora clínica nas primeiras 48 horas,
é pouco provável a necessidade de intervenção cirúrgica.
A expansão do hematoma com necessidade de inter
venção cirúrgica ocorre em cerca de 20% dos pacientes
manejados clinicamente. Pacientes com piora clínica
incxpiicada devem ter o exame de imagem repetido.
Opções de tratamento. As opções de tratamento variam de
tratamento conservador (observação com exame de ima
2-64A Ponderação em T2 obtida imediatamente gem de controle de deterioração clínica) e evacuação ci
após a TC acima mostrando contusões ES com edema rúrgica de grandes hematomas focais. A craniectomia é
perilestonal ES e hígromas subdurais bilaterais realizada em pacientes com importante edema cerebral
para impedir hemiação cerebral fatal.

Imagem
Características gerais. Com o passar do tempo, as contu
sões corticais se tornam mais visíveis nos exames de ima
gem. A progressão dos achados radiológicos é a regra, não
a exceção. Quase metade de todos os pacientes apresenta
aumento do tamanho e do número das lesões nas primei
ras 24 a 48 horas. Na ausência de piora clínica, a relevân
cia da documentação por imagem é discutível.
Achados na TC. As imagens iniciais obtidas logo após um
trauma craniano fechado podem ser normais. A alteração
mais freqüente é a presença de hemorragias petequiais
ao longo da superfície girai, imediatamente adjacente à
calvária (Fig. 2-63). É comum um misto de hemorragias
petequiais rodeadas por áreas mal definidas de edema.
2-64B Aquisição em 12* GRE mostrando o artefato de
Com o passar do tempo, tomam-se freqüentes as le
susceptibiiidade magnética das contusões frontotempo-
rais a direita B. À esquerda, é vista contusão temporal sões com artefato de susceptibiiidade magnética, que são
^3 que não estava evidente nas ponderações em T2. vistas com o aumento progressivo da hemorragia, edema
Efeitos primários do trauma no 5NC 37

•M.

2-65 Autópsia mostrando um lobo "explodido" com iaceraçâo de 2-66 TC sem contraste mostrando um lobo "explodido" com hemorra
"espessura total" se estendendo a partir da superifcíe piai ES para o gia parenquimatosa em atividade se estendendo proíundamente para o
ventrkulo [t:^. (Cortesia de R. Hewlett, MD.) interior do cérebro, O paciente morreu logo após a realização do exame.

e efeito de massa. Pequenas lesões podem coalescer, for rebrais quanto os DADs são freqüentes em pacientes que
mando grandes hematomas focais. O desenvolvimento de sofreram trauma craniencefálico moderado a grave. As
novas lesões, que não estavam presentes no estudo inicial, contusões tendem a ser superficiais, localizadas ao longo
também é conuim. das cristas girais. O DAD é mais comumente encontrada
na corona radiaia e ao longo da substância branca com
Achados na RM. A RM é muito mais sensível para detec
ção de contusões cerebrais do que a TC, mas raramente é pacta. tal como a cápsula interna e o corpo caloso.
.As contusões corticais graves com formação de hema
realizada no momento do trauma agudo. Aquisições pon
deradas em TI podem mostrar apenas isointensidades não tomas confluentes podem ser difíceis de distinguir de lacera-
ções cerebrais nos estudos de imagem. A laccração cerebral
homogcMieas leves e efeito de massa. Ponderações em T2
ocorre quando trauma grave causa ruptura da pia e literal
demonstram áreas hiperintensas (edema) em torno de fo
mente "rasga" o parênquima cerebral que está logo abaixo.
cos hipointensos (hemorragia) (Fig, 2-64A).
O lobo "explodido" é a manifestação mais grave da
As aquisições em FLAIR são as mais sensíveis para
detectar o edema subcortical e se associam à hemorragia su- Iaceraçâo cerebral franca (Fig. 2-65), (Fig. 2-66). Nessa
baracnóidea traumática, ambas representadas por focos hi- situação, o lobo afetado sofre rupturas grosseiras, com
perintensos em FLAIR. As seqüências em T2* (GRE, SWI) formação de volumoso hematoma e hemorragia subarac-
nóidea traumática adjacente. Em alguns casos, sobretudo
são as mais sensíveis para detecção de hemorragias paren-
quimatosas. A presença de artefato de susceptibilidade mag naqueles com fratura com afundamento, a aracnoide tam
bém é lacerada e a hemorragia oriunda do lobo se estende
nética significativo é típica das lesões agudas (Fig. 2-64B).
As contusões hemorrágicas seguem a evolução mais e se comunica diretamente com o espaço subdural, for
mando um hematoma subdural coexistente.
comum dos hematomas parenquimatosos, com diminuição
do efeito TI ao longo do tempo. Atrofia, desmielinizaçào e
Dano axonal difuso
cicatrizes microglials são vistas em FLAIR e nas pondera
ções em T2. A perda de volume parenquimatoso com alar o dano axonal difuso (DAD) é a segunda lesão parenqui
gamento ventricular e proeminência de sulcos é comum. matosa mais vista no trauma craniencefálico, atrás apenas
As ponderações em difusão mostram restrição em da contusão cortical. Os pacientes com DAD costumam
áreas de morte celular. A imagem do tensor de difusão apresentar discrepância entre o s/a/iis clínico (moderada a
(DTI) pode revelar dano coexistente na substância branca gravemente debilitados) e os achados de imagem iniciais
mesmo quando as sequências-padrão da RM são normais. (muitas vezes com exame normal ou com alterações leves).

Diagnóstico diferenciai Terminologia


O principal diagnóstico diferencial da contusão cerebral o dano axonal difuso também é conhecido como dano
é o dano axonal difuso (DAD). Tanto as contusões ce por estiramento axonal traumático. Como a maioria se dá
38 Trauma

2-67 Figura no plano sagital demonstrando os locais comuns de dano 2-68 Figura demonstrando os locais mais comuns de dano axonal em
axonal no corpo caloso e mesencéfalo. Hemorragia subaracnóídea e in vermelho, localizações Irequentes, porém relativamente menos comuns,
traventricular traumática estão presentes. estão demonstradas em verde. A lesão do mesencéfalo/ponle superior
(roxo) é incomum, mas em geral é letal.

realmente por cstiramento - e não por cisalhamento franco sobretudo seu joelho e csplênio, fómice e cápsula interna,
o termo "lesão por cisalhamento" deve ser evitado. O são comuns. O mesencéfalo e a ponte são lugares menos
cisalhamento verdadeiro com desconexão axonal real é in- comuns de DAD (Fig. 2-67), (Fig. 2-68).
comum e costuma ocorrer apenas no trauma muito grave. Patologia macroscópica. A grande maioria dos DADs é
microscópica e não hemorrágica. Lacerações nos vasos
Etiologia penetrantes podem causar pequenas hemorragias ovoides
Não é necessário impacto direto para produzir DAD. A ou lineares que, às vezes, são a tinica indicação de dano
maioria dos DADs não está associada a fraturas cranianas. axonal difuso subjacente (Fig. 2-69). Essas lesões visíveis
A maioria dos DADs é causada por acidentes automo são realmente apenas a "ponta do iceberg".
bilísticos em alta velocidade e são lesões não relacionadas
Características microscópicas. Edema axonal e "bolas de re
ao impacto, resultando de forças de inércia com rotação
tração" se formam, deixando intervalos microscópicos na
gerada por mudanças siábitas na aceleração/desacelera
substância branca (Fig. 2-70). Apoptose neuronal e reação
ção. O córtex se movimenta em diferentes velocidades
em relação às estruturas cerebrais profundas (substância microglial se desenvolvem a seguir. A estimulação crô
nica da micróglia ativada imunorreativa para galectina-3/
branca, nijcleos cinzentos profundos). Isso resulta em es-
Mac-2 e fatores de crescimento nervoso tem sido demons
tiramento axonal, especialmente onde os tecidos cerebrais
de diferentes densidades se interseccionam, isto é. na in
trada após DAD.
terface entre as substâncias branca e cinzenta. Estadiamento, graduação e classificação, a classificação de
O estiramento axonal traumático prejudica o trans Adams e Gennarelli define os graus leve, moderado e gra
porte axoplásmico, causa despolarização, fluxo de íons, ve dos TCEs.

depressão alastrante e liberação de aminoácidos excitató- No TCE leve, as lesões são vistas na interface entre
rios. Há aumento de volume celular com desenvolvimento as substâncias branca e cinzenta frontotemporal. A lesão
de edema citotóxico, alterando a anisotropia do cérebro. é dita moderada quando a substância branca lobar e o
Alterações significativas e vastas dos metabólitos cere corpo caloso são afetados. No TCE grave, as lesões es
brais ocorrem como resultado do TCE. tão presentes nos aspectos dorsolateral do mesencéfalo e
superior da ponte. Mais da metade dos casos de TCE com
Patologia DAD são classificados como moderados a graves.
Localização. O DAD ocorre em locais muito previsíveis. O
córtex costuma ser poupado e as substâncias branca sub Aspectos clínicos
cortical e profunda são mais comumente afetadas. As le Epidemiologia e aspectos DEMOGRÁFICOS. O DAD está presen
sões na substância branca compacta como o corpo caloso. te em praticamente todos os TCEs fatais e em quase três
Efeitos primários do trauma no SNC 39

quartos dos pacientes com lesão moderada a grave que Imagem


sobrevivem ao estágio agudo.
Características gerais. Uma das características mais con
O DAD pode ocorrer em qualquer idade, mas o pico de
tundentes do DAD é a discrepância entre os sintomas
incidência é nos adultos jovens (15 a 24 anos). Os homens
clínicos e os aspectos de imagem. A TC sem contraste
são no mínimo duas vezes mais afetados do que as mulheres. é quase sempre o primeiro exame de imagem obtido no
Apresentação. O DAD causa muito mais dano se compara TCE (FIg. 2-71), embora a RM seja muito mais sensível
do aos hematomas extracerebrais e às contusões corticais. para detectar as alterações do DAD. A TC é muito útil
Freqüentemente causa perda imediata da consciência, que para identificar lesões coexistentes, tais como hemorragia
pode ser transitória (nos casos de TCE leve) ou pode pro extracraniana e hematomas parenquimatosos.
gredir para coma (nas lesões moderadas a graves). O DAD, em geral, evolui com o tempo, de modo que
as lesões normalmente se tornam mais evidentes nos exa
História natural, O TCE leve pode resultar em cefaleia mes de controle. Entre IO e 20% progridem para hemorra
persistente, déficit neurocognitivo leve e perda de memó gia franca com edema e efeito de massa.
ria. O DAD é mais comum em lesões moderadas a graves.
Achados na TC. A TC sem contraste inicial costuma ser nor
Embora o DAD por si só raramente leve à morte, o DAD
mal ou minimamente anormal (Fig. 2-72A). Leve edema
grave pode resultar em estado vegetative permanente. O
cerebral difuso com apagamento de sulcos pode estar pre
prognóstico se relaciona com o número e a gravidade de
sente. Hemorragias extensas são incomuns imediatamen
lesões, bem como com a presença de outras alterações,
te após a lesão. Algumas poucas pequenas hemorragias
tais como contusões corticais e síndromes de hemiação.
subcorticais redondas ou ovoides podem ser visualizadas
Opções de tratamento. O manejo da pressão intracraniana é (Fig. 2-71), mas é comum que o dano que não está evi
o aspecto mais importante. Em alguns casos com hemia dente seja muito mais difuso e muito mais grave do que as
ção iminente, a craniectomia pode ser o último recurso. alterações visíveis, relativamente modestas, indicam.

2-69 Peça de autópsia mos


trando achados típicos do dano
axonal difuso com hemorragias
lineares SI nas substancias
brancas subcortical e profunda
periventricular.
2-70 Microscopia com H&E
mostrando numerosas "falhas"
na substância branca ou áreas
"nuas" causadas pelo dano axo
nal. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)

2-71A TC sem contraste de


um paciente com trauma fe
chado grave mostrando edema
cerebral difuso com ventrículos
reduzidos e apagamento de
sulcos e cisternas. O DAD está
presente, visto como diversos
focos de hemorragia puntiforme
ou linear na SB, no mesencéfalo
e no tálamo esquerdo ESI.
2-71B Corte mais cranial do
mesmo paciente demonstrando
focos adicionais de hemorragia
na corona radiata B e SB sub
cortical
40 Trauma

Achados na RM. Como a maioria dos DADs não é hemor em geral, superllciais, com freqüência localizadas nas
rágica, as seqüências em TI são freqüentemente normais, cristas girais.
em especial nas fases precoces do TCE. Ponderações em Hemorragias multifocais com o artefato de suscepti-
T2 e aquisições em FLAIR podem mostrar focos hiperin- bilidade magnética nas aquisições em T2* (GRE, SWl)
tensos na substância branca subcortical e no corpo caloso. podem ser vistas em numerosas patologias, incluindo
As lesões múltiplas são a regra, e a combinação de DAD DAD. O dano vascular difuso (ver a seguir) aparece como
com contusões ou hematomas é comum. "pontos pretos" parenquimatosos multifocais. Pneumoen-
céfalo pode causar o artefato de susceptibilidade magné
Aquisições em T2* são muito sensíveis para micros-
sangramenios por DAD e normalmente mostram hipoin- tica multifocal no espaço subaracnóideo. As lesões paren-
tensidadcs multifocals ovais ou lineares (Fig. 2-72B). Se quimatosas são raras.
qüências SWl. em geral, demonstram mais lesões que o Algumas lesões não traumáticas também se apresen
GRE. Resquícios do DAD podem persistir por anos após tam como hipointensidades parenquimatosas multifocais
o evento traumático. em T2*. Angiopatía amíloídc cerebral e encefalopatia
A difusão pode mostrar restrição, particularmente no crônica hipertensiva são comuns em pacientes idosos. A
corpo caloso (Fig. 2-73). A tractografia pode ser útil, de malformação cavernosa Zabramski tipo 4 também é vista
monstrando descontinuidade da substância branca. A es- como "pontos pretos" nas imagens de RM em T2*.
pectroscopia de prótrons mostra áreas difusas de redução Dano vascular difuso
do NAA com aumento de colina.
Terminologia
Diagnóstico diferenciai o dano vascular difuso (DVD) provavelmente repre
As contusões corticais freqüentemente coexistem com s e n t a o e x t r e m o fi m d e u m c o n i i n u i i n i d o d a n o a x o n a l
DAD no TCE moderado a grave. Contusões corticais são, difuso.

2-72A A TC sem contraste em


um paciente com trauma fecha
do por um acidente automobilís
tico não demonstra anormalida
des definidas.
2-72B Devido à discrepância
entre os achados de imagem e o
status clínico do paciente (GCS =
8), foi realizada a RM. A aquisi
ção em T2'' GRE mostra múltiplos
focos com artefato de susceptibi
lidade magnética na substância
branca subcortical/profunda e no
corpo caloso característicos
de dano axonal hemorrágico.

2-73A TC sem contraste em


um paciente com traumatismo
craniano com escore baixo na
GCS mostrando edema cerebral
difuso com ventrículos pequenos
e apagamento de sulcos. Focos
"ítÈ
hiperdensos B nos núcleos
cinzentos profundos e fórnix su
gerem dano axonal.
2-73B Ponderação em difusão
do mesmo paciente mostrando \\\ 'M
restrição no fórnix direito B e
no corpo caloso B característi
cos de dano axonal difuso.

r
Efeitos primários do trauma no SNC 41

Etiologia Aspectos clínicos


O DVD é causado por forças de aceleração/rotação extre Epidemiologia. Estudos de autópsias sugerem que o DVD
mas que estão presentes em acidentes automobilísticos de esteja presente em I a 2% das vítimas de Aautos fatais e
alta velocidade. A microvasculatura cerebral sofre ruptu em 15% dos casos de lesão cerebral difusa.
ras devido às altas forças tènseis, resultando em numero
Aspectos demográficos. Embora o DVD possa ocorrer em
sas pequenas hemorragias parenquimatosas.
qualquer idade, a maioria ocorre em adultos.
Patologia Apresentação. Coma imediato desde o momento do im
Patologia macroscópica. Peças cerebrais de pacientes sub pacto é típico. Um escore baixo na GCS, freqüentemente
metidos à necropsia com DVD mostram numerosas pe menor do que 6 a 8, é típico em pacientes que sobrevivem
quenas hemorragias nas substâncias brancas subcortical ao impacto inicial.
e profunda, bem como nos núcleos cinzentos profundos
História natural. Morte dentro de minutos ou poucas horas
(Fig. 2-74). após a lesão é típica, embora alguns casos de sobreviven
Aspectos microscópicos. Muitos outros focos de hemor tes a longo prazo tenham sido relatados.
ragia são detectados no exame microscópico do que
aqueles vistos à macroscopia. Sangue é identificado ao Imagem
longo dos espaços periarleriais, perivenosos e perica- Características gerais. Muitos pacientes com DVD não
pilares, com hemorragias focais no parènquima adja sobrevivem tempo suficiente para realizar exames de
cente.
imagem. Naqueles que o fazem, a característica mais
marcante é a dissociação entre a gravidade da clínica e os
achados de imagem.

2-74 Peça de autópsia mos


trando achados de dano vascular
difuso com múltiplas hemorragias
petequiais e lineares ES
na substancia branca subcoriicai.
Observe a lesão no tálamo (ES
e espiénio do corpo caloso B3.
(Cortesia de R. Hewlett, MD.)
2-75A TC sem contraste de
um paciente masculino envolvi
do em acidente automobilístico
em alta velocidade com impor
tante impacto demonstrando
apenas edema cerebral difuso.
O escore na GCS foi 8 no locai
do acidente; até o momento da
chegada â emergência, o escore
na GCS havia caído para 3.

2-75B A RM foi obtida devido


à grande discrepância entre a
clínica e os achados de imagem.
Ponderação em 12 mostrando
hiperintensidades no tálamo
direito ES e SB de ambos os
lobos frontais BS. A iaceração
da aracnoide é provavelmente
a responsável pelos pequenos
higromas bifrontais
2-75C SWI do mesmo pa
ciente mostrando inúmeras hi-
pointensidades com artefato de
susceptibiiidade magnética linea
res e ovoides na SB subcortical e
profunda S] - consistentes com
dano vascular difuso.
42 Trauma

2-76 Espécime de autópsia de um paciente que morreu em um 2-77 TC sem contraste de um paciente com dano subcortical pós-
acidente automobilístico em alta velocidade mostrando uma grande -traumático mostrando um grande hematoma expansivo nos núcleos da
hemorragia FS nos núcleos cinzentos profundos, característica de dano base ES.
subcortical grave. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)

Achados na TC. A TC sem contraste pode demonstrar ape rágicas, a grande maioria não é. O DVD é caracterizado
nas edema cerebral difuso com apagamento de sulcos pela presença de inúmeras hemorragias petequiais nas
superficiais e ventrículos reduzidos de tamanho (Fig. imagens em T2*. O número, a gravidade e a extensão das
2-75A). Alguns poucos pequenos focos de hemorragia na hemorragias é que distinguem o DVD do DAD.
substância branca e mícleos da base podem ocasionalmen
te ser identificados. A TC óssea pode demonstrar miílti- Dano subcortical (cérebro profundo)
plas fraturas cranianas em passageiros que não fazem uso
do cinto de segurança. Porém, as fraturas estão ausentes Terminologia
em um terço dos indivíduos que o utilizam. Os danos subcorticais (DSs) são lesões traumáticas das
estruturas cerebrais profundas, tais como tronco encefáli-
Achados na RM. As ponderações em TI mostram apenas co, núcleos da base, tálamos e ventrículos. A maioria re
edema cerebral leve. Aquisições em T2/FLAIR podem de presenta lesões por cisalhamento-estiramento que causam
monstrar alguns poucos focos de hiperintensidade de sinal ruptura dos axônios, lacerações nos vasos penetrantes e
na substância branca (Fig. 2-75B). Ocasionalmente, hipoin- dano ao plexo coroide dos ventrículos laterais.
tensidades esparsas podem ser identificadas de permeio às
hiperintensidades, sugerindo a presença de hemorragia. Etiologia
Seqüências em T2*, em especial as ponderações com Os DSs são causados por forças de aceleração/desacelera
susceptibilidade magnética, são surpreendentes. Hipoin- ção e rotação cerebral oriunda de acidentes automobilís
tensidades com artefatos de susceptibilidade magnética ticos graves, freqüentemente fatais. Deslocamento súbito
puntiformes ou lineares são vistas com orientação per craniocaudal e impactação lateral do mesencéfalo contra a
pendicular aos ventrículos, predominando nas substâncias incisura do tentório é comum neste tipo de lesão.
branca subcortical e profunda, sobretudo no corpo caloso
(Fig. 2-75C). Patologia
Ponderações em difusão demonstram alguns poucos Patologia macroscópica. As manifestações do DS incluem
focos de restrição, compatíveis com isquemia causada pe contusões hemorrágicas profundas, lacerações não he
las lesões vasculares. morrágicas, sangramentos intraventriculares e hemorra
gia subaracnóidea traumática (HSAt) (Fig. 2-76). O DS,
Diagnóstico diferencial em geral, ocorre concomitante a outras lesões traumáti
o principal diagnóstico diferencial é o dano axonal difu cas, tais como contusões corticais e dano axonal difuso
so (DAD), Embora algumas lesões no DAD sejam hemor (DAD).
Efeitos primários do trauma no SNC 43

Aspectos clínicos LESÕES CEREBRAIS PARENQUIMATOSAS


Epidemiologia. Entre 5 e 10% dos pacientes com trauma ce
rebral moderado a grave sofrem dano subcortical. O DS é Contusões corticais
• Lesâointra-axial mais comum
a terceira causa mais comum de lesão cerebral parenqui-
o O cérebro sofre impactação no crânio e/ou dura
matosa, atrás das contusões corticais e do DAD.
o Causa "machucados cerebrais" nas cristas girais
Aspectos demográficos. Como na maioria das lesões ce o Em geral múltiplas, freqüentemente bilaterais
rebrais. o DS é mais comum em homens entre 15 e 24 o Aspecto anteroinferior dos lobos frontais e
anos. temporais é o local mais comum
• Imagem
Apresentação. A perda da consciência imediata com déficit o Hemorragia superficial petequial e focai
neurológico profundo é típica. Obnubilaçào é a regra, não o Edema e hemorragia se tornam mais aparentes
a exceção. Como no DAD. é comum a marcada discre com o tempo
pância entre os achados de imagens iniciais (com freqüên c 12"^^ (6RE, SWI) é a seqüência mais sensível
cia mínimos) e o escore na GCS (baixo). Dano axonal difuso
História natural. O prognóstico é ruim nesses pacientes • Segunda causa mais comum de lesão intra-axial
o Poupa o córtex, envolve a SB subcortical/profunda
gravemente lesionados. Muitos vêm a óbito. Aqueles que • Imagem
sobrevivem em geral têm prejuízo neurológico profundo o Escore baixo na GCS; freqüentemente com alterações
com incapacidade a longo prazo.
leves ou mínimas no exame de imagem inicial
Opções de tratamento. O controle da pressão intracrania o Hemorragias profundas petequiais e subcorticais
na é o aspecto mais importante. A craniectomia pode ser ("ponta do iceberg")
o T2" (GRE, SWI) é a seqüência mais sensível
uma opção em casos de edema cerebral excepcionalmente
grave. Dano vascular difuso
• Raro, geralmente fatal
imagem • Aauto de alto impacto, alta velocidade
• Pode representar o extremo fim do espectro da DAD
Características gerais. Anormalidades discretas podem es
• Imagem
tar presentes no primeiro exame de imagem, com um au
o TC mostra edema cerebral difuso
mento dramático nos estudos de controle.
o T2/FLAIR mostram algumas poucas
O DS normalmente ocorre com uma série de outras
hiperintensidades esparsas
comorbidades. É comum que as lesões associadas variem o SWI revela inúmeras hipointensidades lineares
de HSA traumática sutil a hemorragias parenquimatosas
francas (Fig. 2-77). Podem se desenvolver efeito de massa Dano subcortical
• "Quanto mais profunda a lesão, pior ela é"
com herniação cerebral e alterações grosseiras no fluxo
• Núcleos da base, tálamos, mesencéfalo, ponte
sangüíneo regional. o Hemorragias, dano axonal, lacerações cerebrais
Ach a d o s n a TC . Exa me s d e TC se m co n tra ste co m fre o Hemorragia intraventricular franca é comum
qüência mostram edema cerebral difuso com hemor
ragia punctata e/ou expressiva nos núcleos cinzentos
profundos e no mesencéfalo. As hemorragias intraven-
triculares e do plexo coroide são comuns e podem for Miscelânea
mar um "molde" dos ventrículos laterais. Níveis líqui-
do-sangue são comuns. Um largo espectro de diversas outras lesões primárias
ocorrem no trauma craniencefálico. Algumas delas, como
Achados na RM. A RM é muito mais sensível do que a TC o pneumoencéfalo, são relativamente comuns. Outras le
mesmo que a hemorragia aguda seja isointensa ao cérebro sões são raras. Concluiremos este capítulo com uma con
nas ponderações em TI. As seqüências em FLAIR e T2*
sideração sobre essas diversas lesões, assim como com as
são as mais sensíveis. As ponderações em difusão podem
questões dos maus-tratos e ferimentos por arma de fogo.
mostrar focos de restrição. A imagem do tensor de difu
são (DTl) demonstra o padrão de interrupção dos tratos de Pneumoencéfalo
substância branca.
Terminologia
Diagnóstico diferencial Pneumoencéfalo significa simplesmente a presença de
A hemorragia mesencefálíca secundária ("Duret") gás ou ar no interior do crânio; não existe ar intracrania
pode ocorrer na herniação transtentorial descendente gra no em condições normais. No pneumoencéfalo, o ar pode
ve. Essas hemorragias ocorrem, com freqüência, na região ser encontrado em qualquer lugar do crânio, incluindo nos
central do mesencéfalo, enquanto as contusões por DS são vasos sangüíneos e dentro de qualquer compartimento.
de localização dorsolateral. Embora ar intracraniano nunca seja normal, ele pode ser
44 Trauma

esperado como achado de rotina em algumas situações Aspectos clínicos


(p. ex., pós-cirúrgico). O pneumoencéfalo hipertensivo Epidemiologia. Trauma é a causa mais comum de pneumo
é uma coleção intracraniana de ar que está sob pressão
encéfalo. Ele está presente em 3% de todos os pacientes
e que causa efeito de massa sobre o cérebro (FIg. 2-78).
com fratura craniana e em 8% daqueles com fratura dos
Pneumatocele ou "aerocele" intracerebral é um termo me
seios paranasals.
nos usado e se refere especificamente a uma coleção gaso-
Praticamente, todos os pacientes com cirurgia supra-
sa focai no interior do parênquima (Fig. 2-79). tentorial têm algum grau de pneumoencéfalo nos exames
de imagem obtidos dentro das primeiras 24 a 28 horas. O
Etlologia pneumocnccfaio hipertensivo (Fig. 2-78) é uma com
A presença de ar intracraniano está mais associada a trau
plicação pós-cirúrgica relativamente incomum, vista com
ma e à cirurgia. A infecção por organismos formadores de mais freqüência após a drenagem de um hematoma subdu
gás é uma causa rara de pneumoencéfalo. ral. Ocasionalmente, o pneumoencéfalo espontâneo pode
Qualquer violação na integridade da calvária, base do ocorrer em defeitos primários no osso temporal ("pneumo
crânio central, mastoide ou seios paranasals que também encéfalo otogênico"). Raras vezes, falha ou ruptura em um
acarrete rompimento da dura e aracnoide pode permitir a seio paranasal aumentado com conteúdo gasoso resulta em
entrada de ar no crânio. Um mecanismo de "válvula" pode ar intracraniano {'""pneumosimis dilatans").
prender o ar, podendo ser exacerbado por espirros, tosse,
Apresentação. A apresentação mais comum é a cefaleia não
esforço ou manobra de Valsalva.
O ar intravascular em geral é secundário à cateterização específica. Menos freqüentemente, déficit neurológico e
endovenosa, sendo encontrado mais comumente nos seios
alterações da consciência são observados.
cavemosos, sem significado clínico. O ar intra-arterial só é História natural e opções de tratamento. A menos que seja
visto na embolia gasosa (transitória) ou na morte cerebral. hipertensivo, a maioria dos pneumoencéfalos se resolve de

2-78 TC sem conlraste mos


trando ar subdural, com "aguça-
mento" dos lobos frontais. Este é
o sinal de "Monte Fuji", que indi
ca pneumoencéfalo hipertensivo
e é causado pelas veias corticais
B que prendem os lobos fron
tais B.
2-79 TC sem contraste mos
trando uma pneumatocele local
no lobo frontal direito ES. Al
guma quantidade de ar também
está presente no corno frontal do
ventrículo lateral esquerdo

2-80 TC sem contraste mos


trando ar subdural bifronlal O.
Observe que o artefato do ar
dá a aparência de aumento da
atenuação do cérebro adjacente
[S. "Pontos" de ar no espaço
subaracnóideo B
2-81 TC óssea de uma crian
ça com múltiplas fraturas ES
mostrando ar nas artérias que
compreendem o polígono de
Willis
Efeitos primários do trauma no SNC 45

maneira espontânea dentro de poucos dias após o trauma interpretados com precisão e, os achados, descritos com
ou evento cirúrgico. Ocasionalmente, as coleções gasosas acurácia.
aumentam e pode ser necessária drenagem e píastia da dura.
Terminologia
Imagem O termo "trauma não acidental" (TNA), também conheci
Características gerais. Ar intracraniano pode existir em do como lesão não acidental (LNA) ou síndrome do bebê
qualquer compartimento, adaptando-se à sua forma, ou sacudido (SBS) se refere a lesões intencionalmente provo
em coinpartimentos em potencial. O ar epidural é. com cadas. O traumatismo craniano abusivo (TCA) e o trauma
freqüência, unilateral, solitário, de configuração biconve- craniencefálico provocado são termos mais específicos
xa e não se altera com as mudanças de posição. aplicados às lesões cerebrais.
O ar subdural é confluente, em formato de crescen
te, move-se com as mudanças de posição, circunda as Etiologia
veias corticais que cruzam o espaço subdural, sendo com As lesões por TNA podem ser divididas em dois grandes
freqüência bilateral e com nível ar-liquido. grupos: lesões por impacto direto e indireto (lesões pelo
O ar subaracnóídco é em geral visto como pequenos ato de sacudir).
"pontos" ou "gotas" multifocals de ar no interior ou em As lesões diretas são causadas por golpes na cabeça
torno dos sulcos cerebrais (Fig. 2-80). O ar intraventri ou por impacto direto do crânio em um objeto, tal como
cular forma níveis ar-líquido, mais freqüentemente nos uma parede, geralmente resultando em fraturas cranianas,
cornos frontais dos ventrículos laterais. O ar intravas hematomas subdurals, contusões no parênquima cerebral
cular toma a conformação das estruturas vasculares nas subjacente e lesões de "conlra-golpe".
quais se encontra (Fig. 2-81). A etiopatologia exata das lesões indiretas não é clara,
assim como a mínima força necessária para produzi-las. O
Achados na TC. O ar é extremamente hipodenso na TC.
ato de sacudir pode resultar em violentos movimentos de
medindo cerca de -1.000 UH, O sinal de "Monte Fuji"
ida e vinda da cabeça. A cabeça de um lactente ou criança
no pneumoencéfalo hipertensivo é visto como coleções
subdurals aéreas bilaterais que separam e comprimem os pequena é relativamente grande se comparada a seu cor
lobos frontais (Fig. 2-78). Os lobos frontais se deslocam po, e a musculatura cervical é comparativamente fraca. As
sacudidas causam rotação rápida da cabeça em relação ao
posteriormente devido ao ar sob pressão e ficam, com fre
pescoço, resultando em uma forma de lesão por chicote-
qüência, "pontudos" onde estão presos à dura-aracnoide amento. O resultado mais comum são hematomas subdu
pelas veias corticais, lembrando a silhueta do Monte Fuji. rals difusamente distribuídos.
Distinguir ar de gordura na TC é extremamente im
portante. Na janela fechada para partes moles, ambos
Patologia
aparecem hipodensos da mesma forma. Abrir a janela ou
Hematomas subdurals de diferentes estágios são a marca
simplesmente visibilizar as imagens com janela para osso
da lesão cerebral provocada (Fig. 2-82).
(onde o ar é claramente distinto da gordura, a qual é me
nos hipodensa) ajuda na diferenciação.
Aspectos clínicos
Achados na RM. O ar é visto como áreas de completa au Epidemiologia. a incidência anual de abuso infantil é esti
sência de sinal em todas as seqüências. Em T2* GRE, o ar mada em 15 a 25 por 100.000. Entre três e quatro milhões
intracraniano "floresce" e aparece como "pontos pretos" de casos de suspeita de abuso são relatados anualmente
multifocais. nos EUA.

Diagnóstico diferencial Aspeqos demográficos, o TNA é a causa geral mais comum


Ar é ar e não deve ser confundido com nada mais. Se ja de morte traumática em crianças, e o trauma craniencefá
nelas abertas não forem utilizadas, um cisto dermoide roto lico é a causa mais comum de morbidade e mortalidade.
com gotículas de gordura nas cisternas liquòricas pode si A maioria das crianças que sofrem maus-tratos tem menos
mular ar no espaço subaracnóideo. de 2 anos de idade. O pico de idade está entre 2 e 5 meses.
Embora a maioria das vítimas seja do sexo masculino, em
Lembrete! algumas culturas, as meninas são as vítimas mais comuns.
Com exceção do pneumoencéfalo hipertensivo, o ar por Nenhuma nacionalidade ou grupo demográfico está
si só em geral não é o problema; descubra o que o está isento, e o TNA pode ser encontrado em todos os grupos
causando! socioeconômicos. Alguns fatores predisponentes foram
identificados, incluindo pais jovens, conflitos domésticos,
Trauma nõo acidental (maus-tratos infantis) problemas financeiros, estresse emocional e abuso de dro
gas e álcool.
Os radiologistas desempenham um importante papel no
diagnóstico precoce de suspeita de lesão provocada. Os Apresentação. A apresentação clínica é variável. Discor
exames de imagem devem ser realizados com cuidado. dância entre a história relatada e a gravidade das lesões
46 Trauma

é comum. Quedas de alturas menores do que cerca de 1


Imagem
metro (p. ex., "queda do sofá") normalmente não produ
Características gerais. O Departamento de Radiologia da
zem força suficiente para causar o tipo de lesào cerebral
American Academy of Pediatrics atualizou recentemente
encontrada no TNA.
as suas recomendações no diagnóstico por imagem nos
Irritabilidade, episódios de apneia, vômitos e retardo casos de suspeita de maus-tratos em crianças.
no crescimento sao comuns. Contusões atípicas, arranca-
O estudo por imagem inicial, nos casos de suspeita
mento do cabelo, lacerações de lábio e hemorragias de
de maus-tratos, deve incluir uma pesquisa completa do
retina devem levantar suspeita de TNA, e exames apro
esqueleto e TC craniana como procedimentos de rastrea-
priados de imagem devem ser realizados. mento. A RM é recomendada para crianças com 2 anos
História natural. A evidência de violência repetida indica ou menos.

que o iactente ou a criança estào sob alto risco para nova Embora alguns especialistas prefiram o uso da RM
lesào ou morte. A mortalidade no TNA varia de 15 a 60%, para documentação médico-legal, deve-se ter atenção ao
e a morbidade é alta. O dano cerebral pós-traumático com tentar datar os sangramentos intracranianos. Muitos espe
convulsões e retardo é comum. cialistas enfatizam que, mesmo que seja imprecisa a ten
tativa de datar as lesões cerebrais e do esqueleto, o ponto
Opções de tratamento. O tratamento imperativo é proteger
a criança. Os radiologistas devem comunicar claramente mais importante é detemiinar se o padrão é de lesões em
tempos diferentes, a despeito da localização.
qualquer suspeita de maus-tratos. Notificar os serviços de
proteção à criança em casos suspeitos é obrigatório por lei Achados na TC. A TC sem contraste utilizando algoritmos
em muitos países. Todos os 50 estados dos EUA têm es tanto para osso quanto para tecidos moles com reconstru
tatutos que exigem o relato de casos de suspeita de abuso ções multiplanares é a ferramenta primária na avaliação
infantil ou negligência. inicial do trauma craniencefálico provocado. As fraturas

2-82 Figura de TNA mostrando


HS sobre o hemisfério direito S]
e pequeno HSS à esquerda ÍS
com "efeito hematócrito" !3.
Outras lesões (p. ex., HSA trau
mática, contusões corticais) são
ilustradas e são comuns no TNA.
2-83 TC sem contraste em

suspeita de TNA mostrando


achados de MSs em diferentes
idades, sendo crônico à direita
S e agudo bilateralmente B.
Observe o edema difuso envol
vendo quase a totalidade do
hemisfério esquerdo S.

2-84A Ponderação em Ti em
um Iactente com TNA mostrando
HSS a direita, estendendo-se à
fissura Inler-hemisférica B e
uma coleção extra-axial à es
querda com aspecto mais crônico

2-84B Ponderação em 12
do mesmo paciente mostran
do hipointensidade na porção
gravitacional dependente do
HS à direita B, sugerindo um
componente mais agudo do he
matoma.
Efeitos primários do trauma no SNC 47

cranianas estão presentes em quase metade dos casos, e contusões corticais petequiais sutis e danos axonais he
hematomas do escalpo podem ser facilmente detectados. morrágicos. As ponderações em difusão são essenciais
A identificação e caracterização das hemorragias in para a avaliação de focos isquêmicos.
tracranianas, especialmente hematomas subdurals (HSs) As lesões de coluna e da medula espinal são comuns
em diferentes fases, é crítica (Fig. 2-83). Os hematomas em lactentes e crianças com lesões por chacoalhamento.
epidurals são raros no TNA, mas HSs são vistos em mais A RM é o exame de escolha já que lesões significativas
da metade dos casos e são a característica dominante do podem ocorrer na ausência de fraturas ou subluxações.
TNA por síndrome do bebê sacudido (SBS).
Achados na PET. A PET, em conjunto com a pesquisa alta
Hematomas subdurals bifrontais, inter-hemisféricos
mente detalhada do esqueleto, ajuda na avaliação do trau
e peritentoriais de diferentes idades sugerem fortemente
ma esquelético, mas é de utilidade limitada na avaliação
que as lesões sejam provocadas. Hemorragia subarac- das lesões cerebrais.
nóidea traumática, contusões corticais e, por vezes, dano
axonal difuso são comuns. Insulto isquèmico também Diagnóstico diferencial
pode estar presente e varia de infartos territoriais a insulto Raramente um erro inato do metabolismo (tal como
hipóxico isquèmico cerebral global. aciduria glutárica ou síndrome de Menkes) pode causar
O edema cerebral hemisférico ou difuso ocorre em al
hemorragias de retina e HSs, simulando TNA. Discrasias
guns lactentes com hematomas subdurals agudos. Isso foi
sangüíneas podem causar hematomas subdurals recorren
chamado de "o grande cérebro escuro" devido à marcada tes. O neuroblastoma metastático com "olhos de guaxi-
hipodensidade na TC sem contraste. A mortalidade é alta nim" também pode simular TNA.
nesses casos. Quando HSs de diferentes idades ocorrem
na presença de edema cerebral hemisférico grave, um tipo Lesões relacionados a projéteis e penetrantes
de síndrome por "segundo impacto" (ver Capítulo 3) do
A extensão de tecido danificado por um projétil depende
TNA deve ser considerado (Fig. 2-83).
do tipo de bala, sua velocidade e massa, bem como das
AsPEaos DEMOGRÁFICOS. HSs que diferem em idade, aparecen características do tecido afetado. As lesões cerebrais oca
do, nas ponderações em T1, com um misto de componentes sionadas por projéteis são qualitativamente diferentes de
hiper e isointensos são altamente sugestivos de TNA (Fig. outras lesões traumáticas cerebrais e também das lesões
2-84). A seqüência FLAIR é útil para detectar pequenas co em partes moles não confinadas expostas a mesma carga
leções extra-axiais e lesões de substância branca. de impacto.
As aquisições em T2* (GRE, SWl) são muito sen Embora uma discussão detalhada sobre projéteis e
síveis para produtos hemáticos crônicos, particularmente sua balística esteja além do escopo deste texto, considera-

2-85 Espécime de autópsia de um paciente com ferimento por arma 2-86 TC sem contraste mostrando uma lesão de baixa velocidade com
de fogo de uma bala 9 mm mostrando os típicos adiados de um projétil fragmento de bala BI, hemorragia linear ao longo do trajeto relativa
de velocidade relativamente alta, a saber: hemorragia e parênquima mente estreito do projétil B e fragmento remanescente BS onde o
cerebral roto e macerado ao longo do trajeto da bala Si. projétil reduziu a velocidade, parando.
48 Trauma

remos brevemente a balística da lesão por projéteis e suas trar no osso, empurrando-o para dentro através da dura em
conseqüências craniocerebrais. direção ao cérebro.
Aos leitores interessados em mais detalhes, recomen A gravidade do dano tissular é proporcional à energia
damos o artigo definitivo escrito por Jandial e colaborado cinética depositada no tecido pelo projétil penetrante mais
res, Ballistics for the neurosurgeon, Neuroswgeiy 62(2); uma "taxa de efeito" que depende do tamanho do projétil.
472-80. 2008. Muito da informação sintetizada a seguir A pressão é muito alta na ponta de um projétil em mo
foi adquirida dessa excelente fonte. vimento. Quando o projétil penetra o cérebro, ele deixa
uma cavidade temporária na sua passagem. Isso também
Terminologia causa um estiramento dos tecidos adjacentes para fora,
As lesões cerebrais por projéteis em alta velocidade depositando energia em taxas muito altas de tensão.
vistas na população não combatente são predominan Enquanto a bala penetra o crânio, o seu movimento
temente devidas a ferimentos por tiros. As lesões por não segue uma direção constante, fazendo desvios e mo
apunhalamento provocadas por objetos pontiagudos tais vimentos de lado a lado (não simplesmente caindo). Isso
como facas, chaves de fenda ou picadores de gelo tam explica por que o ferimento de entrada é, em geral, pe
bém podem penetrar na calvária e danificar o cérebro queno e o dano tissular se expande à medida que a bala
subjacente. perde velocidade. O ferimento de saída pode ser bastante
grande.
Etiologia Projéteis com alta energia cinética podem transferir
Os principais fatores que determinarão se um projétil pe energia suficiente para o crânio, transformando os frag
netrará o crânio são (1) sua energia de impacto no osso. mentos ósseos em diminutos projéteis secundários. A
(2) a área de contato e (3) a espessura do osso no ponto de combinação disso é que esses fragmentos podem ser tão
impacto. Um projétil balístico cria uma cratera ao pene letais quanto a penetração completa do projétil.

2-87A Série de exames de


TC sem contraste demonstrando
achados de um paciente com
ferimento por arma de fogo de
grande calibre e alta velocidade.
O ferimento de entrada se dá
através da porção escamosa
do osso temporal. Sangue em
massa, osso implodído e alguns
poucos fragmentos de bala B
são vistos abaixo do ferimento
de entrada.
2-87B Corte mais cranial
mostrando o largo trajeto B
formado pelos fragmentos que
peneiraram no cérebro com alta
velocidade e alta energia.

2-87C Corte ao nível dos


cornos frontais mostrando a con
tinuação do trajeto B através
dos ventrículos laterais.
2-87D Imagem ao nível da
porção superior dos ventrículos
laterais mostrando hemorragia
intraventricular. O sangue é visto
ao longo do restante do trajeto
Energia cinética suficiente
estava presente no impacto dos
fragmentos remanescentes sobre
a porção escamosa do osso tem
poral esquerdo S2 causando
fratura e explosão craniana para
o exterior ES.
Efeitos primários do trauma no SNC 49

Patologia das primeiras 24 horas após a lesão. Os ferimentos por


arnia de fogo tangenciais com pequeno calibre e balas de
o comportamento do projétil agindo sobre os tecidos (o
baixa velocidade podem ter um desfecho favorável.
cérebro) que estão anatomicamente contidos dentro de um
espaço fechado (o crânio) é diferente das lesões em teci
dos moles não confinados com impacto similar. Imagem
Balas que passam através do tecido cerebral firme cos A morfologia dos ferimentos por arma de fogo é extrema
tumam tomar um caminho levemente curvo entre o ponto de mente variável. As lesões são mais graves com projéteis
entrada e a localização final. Essa trajetória é marcada pela de maior calibre, deslocando-se em altas velocidades, que
causam fragmentação precoce ao entrar no crânio.
maceração tissular, vasos rotos e ruptura axonal (Fig. 2-85).
Características gerais. A TC com reconstruções óssea e
Aspectos clínicos para tecidos moles é o procedimento diagnóstico de es
Aspectos demográficos. Embora pacientes de praticamente colha. O laudo do radiologista deve identificar o local de
qualquer idade possam ser afetados, em ferimentos por entrada, descrever a trajetória do projétil, incluindo frag
arma de fogo a esmagadora maioria dos pacientes tende a mentação óssea e ricocheteamento e avaliar o ferimento
ser jovens do sexo masculino. de saída. Possíveis danos a vasos sangüíneos importan
tes devem ser notados, bem como efeitos secundários tais
Apresentação. Pacientes com ferimentos por arma de fogo
como isquemia e síndromes de hemiação.
cerebral em geral se apresentam com sinais e sintomas de
Em geral, um projétil de pequeno calibre e baixa ve
edema cerebral e hemiação, incluindo apneia e bradicar-
locidade terá um caminho relativamente pequeno e linear
dia. O aumento súbito da pressão intracraniana causado
através do cérebro (Fig. 2-86). O trajeto toma-se muito
pela cavitaçào e expansão do cérebro pode causar coma maior com balas de maior calibre e alta velocidade.
ou morte, mesmo se estruturas eloqüentes não estiverem
afetadas de forma direta. Achados na TC. Em geral, os ferimentos de entrada são uma
Os pacientes com ferimentos tangenciais por arma de perfuração ovalada direcionada para o interior do osso. O
fogo costumam se apresentar com um escore na GCS rela caminho da bala é hiperdenso e tende a ser levemente cur
tivamente bom e sem perda de consciência. Nesses casos, vo, alargando à medida que a bala se desloca irregular
a bala em geral não viola o crânio, embora os ferimen mente e perde velocidade. Os fragmentos de bala e ósseos
tos tangenciais possam transferir forças consideráveis ao devem ser percebidos. O ferimento de saída costuma ser
cérebro e resultar em hematomas extra-axiais, contusões ou uma fratura em forma de cobertura ou uma perfuração
corticais e/ou hemorragia subaracnóidea traumática. óssea ovalada para além dos limites ósseos (Fig. 2-87). O
História natural. O prognóstico é altamente variável, indo pneumoencéfalo pode estar presente.
da morte à recuperação completa. Os ferimentos por arma Angiografia. a ATC com reconstruções multiplanares e
de fogo que têm uma trajetória central e são transventricu- imagens em MIP é útil na avaliação de lesões vasculares,
lares ou bi-hemisféricos apresentam uma alta morbidade/ tais como pseudoaneurismas, dissecções, fistulas arterio-
mortalidade. A maioria dos desfechos fatais ocorre dentro venosas durais e lesão venosa ou trombose.
50 Trauma

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3
Efeitos secundários e seqüelas
do trauma ao SNC
falta de oxigenação pode ajudar a minimizar tanto os efei
Síndromes de herniação 53
tos imediatos quanto tardios do trauma cerebral.
Herniação subfalcial 55
Herniação transtentorial descendente 57 O Capítulo 2 dedicou-se aos efeitos primários do
Herniação tonsilar 59 TCE. Neste capítulo, será abordado o amplo espectro de
Herniação transtentorial ascendente 60 efeitos secundários que acompanham o trauma cerebral,
Outras herniaçôes 61 iniciando com as síndromes de herniação.
Edema, isquemia e Insulto vascular 62
Edema cerebral pós-traumético 62
Isquemia e infarto cerebral pós-lraumáticos 64
Morte cerebral 66 Síndromes de herniação
Efeitos crônicos do trauma ao SNC 68
Encefalomalacia pós-traumática 68 A herniação cerebral acontece quando uma ou mais es
Encefalopalia traumática crônica 69
truturas são deslocadas do seu compartimcnto normal ou
Síndrome do impacto secundário 71 "nativo" para um espaço adjacente. São as manifestações
Disfunçâo hipofisária pós-traumática 72 secundárias mais comuns de qualquer lesão expansiva in
tracraniana independentemente da etiologia.
Nesta seção, será brevemente discutida a anatomia e
O traumatismo craniencefálico (TCE) não é um even
to isolado, mas um contínuo de reações fisiopatológicas a fisiologia relevante que explicam a patologia por trás
das hemiações cerebrais. Posteriormente, será delinea
que se estendem do momento da lesão por dias. meses ou
mesmo anos. sendo o TCE apenas o gatilho inicial. do o espectro de hemiações cerebrais e seus achados de
Uma verdadeira cascata de eventos fisiopatológicos imagem, iniciando com os tipos mais comuns (hernia
adversos continua a se desenvolver após a lesão inicial. ção subfalcial e transtentorial descendente). Hemiações
da fossa posterior (hemiação transtentorial ascendente e
Alguns - como a lesão hemorrágica progressiva - ocor
rem dentro das primeiras 24 horas após o trauma. Outros tonsilar) serão então consideradas. Por fim, uma breve
(p. ex., edema cerebral e síndromes de herniação) podem consideração sobre os tipos raros porém importantes de
levar um ou dois dias para se desenvolver. Complicações herniação, como as hemiações transdural/transcraniana
tardias como fistulas liquóricas e hipotensão intracraniana e deslocamentos do cérebro que ocorrem além da asa do
esfenoide.
podem se desenvolver após semanas ou meses. Finalmen
te, existe um amplo espectro de síndromes de encefalopa-
tia pós-traumáticas que podem se manifestar após anos ou Anatomia relevante
mesmo décadas da lesão inicial. As proeminências ósseas e as flexuras durais dividem a
Efeitos secundários do trauma ao SNC são definidos cavidade intracraniana em três compartimentos: dois he-
como aqueles que ocorrem após o insulto inicial. Eles são micrânios supratentoriais (as metades direita e esquerda)
freqüentemente mais devastadores do que a própria lesão e a fossa posterior (Fig. 3-1).
inicial e podem ser ameaçadores à vida. Enquanto muitos A dura-máter consiste em duas camadas, uma externa
dos efeitos primários do trauma ao SNC (p. ex., contusão (periosteal) e outra interna (meníngea). A camada perios
cortical e dano axonal) são permanentes, alguns dos efei teal é firmemente aderida à superfície intema da calvária,
tos secundários podem ser prevenidos ou tratados. sobretudo nas linhas de sutura. A camada meníngea apre
Muitos dos efeitos secundários potencialmente noci senta duas reflexões intemas flbrocolagenosas, a foice do
vos podem ser ao menos parcialmente revertidos se reco cérebro e o tentório do cerebelo. A foice do cérebro separa
nhecidos e tratados precocemente. O manejo agressivo da os hemisférios cerebrais, enquanto o tentório do cerebelo
hipertensão intracraniana, das alterações de perfusão e da separa o compartimento supratentorial do infratentorial.
54 Trauma

3-1 A foice do cérebro B3 divide o compartimento supratentoríal em 3-2 A metade direita do tentório do cerebelo foi removida para mos-
duas metades. O tentório do cerebelo S] separa o compartimento su- trar a fossa posterior. A metade esquerda é mostrada formando a mar-
pratentorial do infratentorial. As bordas medíais do tentório do cerebelo gem da incisura do tentório [S.
formam uma abertura em formato de "U" a incisura do tentório.

A foice do cérebro é uma ampla flexura arciforme Flslologia relevante


durai fixada superiormente ao interior do crânio em cada Fusionadas as suturas e fechadas as fontanelas, cérebro,
lado da linha média, onde contém o seio sagital superior
LCS e sangue coexistem em uma rígida e inflexível "cai
(SSS). A foice prolonga-se verticalmente dentro da fissura xa óssea". Volume sangüíneo cerebral (CBV), perfusão
inter-hemisférica, é mais curta na porção anterior, onde se e volume de LCS existem em um balanço delicado no
fixa à crista galli, e gradualmente aumenta de tamanho interior dessa caixa fechada. Em condições normais, as
conforme se estende posteriormente.
pressões dentro do parênquima cerebral e nos espaços li-
A margem livre inferior côncava da foice contém o
quóricos são iguais.
seio sagital inferior. À medida que se estende posterior A hipótese de Monro-Keilie afirma: "a soma do
mente, a margem livre da foice forma um amplo espaço volume do cérebro, LCS e sangue intracraniano é cons
sobre o corpo caloso e giro do cíngulo que permite poten tante no crânio intacto. Um aumento em um deve causar
cial deslocamento do cérebro e dos vasos sangüíneos de
redução em um ou em ambos os remanescentes". Conse
um lado para o outro. Essa abertura é maior anteriormente quentemente, qualquer aumento no volume intracraniano
e torna-se progressivamente menor, terminando no ponto de qualquer origem (sangue, edema, tumor, etc.) requer
em que a foice encontra o tentório do cerebelo. uma redução compensatória semelhante nos demais
O tentório do cerebelo é uma flexura durai que se componentes.
estende inferior e lateralmente desde a confluência com a Quando volume extra (sangue, edema, tumor, etc.) é
foice do cérebro, onde as duas camadas durais contêm o adicionado ao compartimento craniano, o LCS dos sul
seio reto. O seio reto cursa posterior e inferiormente em di cos e cisternas subaracnóideas é inicialmente reduzido. O
reção ao SSS e seios transversos na confluência dos seios. ventrículo ipsilateral é comprimido e diminui de tamanho.
O tentório do cerebelo é fixada lateralmente às mar A medida que o volume intracraniano continua a aumen
gens petrosas, anteroinferiormente ao dorso da sela e pos tar. o efeito expansivo finalmente excede a capacidade
teriormente ao osso occipital. Seus limites mediais cônca- compensatória cerebral e a pressão intracraniana (PlC)
vos contêm uma abertura em formato de "U" denominada começa a aumentar.
incisura do tentório (Fig. 3-2). O deslocamento de estru Se o efeito expansivo tornar-se suficientemente gran
turas cerebrais e de vasos sangüíneos do compartimento de, cérebro, espaços liquóricos e vasos sangüíneos são des
supratentoríal ou da fossa posterior pode ocorrer em am locados de um compartimento intracraniano para outro ad
bas as direções através da incisura do tentório. jacente, resultando em uma ou mais herniações cerebrais.
Efeitos secundários e seqüelas do trauma ao SNC 55

3-3 Cérebro necropsíado mostrando herniação subíakial. O ventrículo 3-4 TC demonstrando herniaçâo subíalcial do giro do cíngulo BI. O
lateral esquerdo é comprimido ^ e deslocado através da linha média, ventrículo lateral esquerdo está comprimido, deslocado através da linha
assim como o giro do cíngulo SI. O ventrículo lateral direito ÍS está média E3.0 ventrículo direito está aumentado. O "halo" periventricular
aumentado secundariamente à obstrução do forame de Monro. Bi é causado pelo acúmulo de fluido extracelular.

As hemiações cerebrais, por sua vez, podem causar cerebral interna (VCl) são deslocados por baixo da foice
cascatas de efeitos secundários, com compressão do pa- do cérebro de um lado para o outro. O ventrículo ipsilate-
rênquima cerebral, nervos cranianos e vasos sangüíneos ral encontra-se comprimido e deslocado através da linha
contra estruturas ósseas e durais com desenvolvimento média (Fig. 3-4).
de alterações isquêmicas secundárias, infartos cerebrais,
neuropalias cranianas e déficits neurológicos focais. Complicações
Se não houver tratamento disponível ou se ele não for
As complicações precoces da HSub incluem hidrocefalia
bem-sucedido, dano neurológico grave ou mesmo morte é
unilateral, identificada nas imagens axiais de TC como
o resultado do que se toma, em essência, uma "síndrome aumento do ventrículo contralateral. Conforme o efeito
compartimental" cerebral. expansivo aumenta, o ventrículo lateral toma-se progres
sivamente mais deslocado através da linha média. Inicial
Herniaçõo subfalcial mente, esse deslocamento apenas deforma, e posterior
mente ocluí o forame de Monro.
Terminologia e etiologia O plexo coroide no ventrículo contralateral continua a
A herniaçào subfalcial (HSub) é a herniaçao cerebral
secretar LCS. Pela obstrução do forame de Monro, o LCS
mais comum e de mais fácil compreensão. Em uma
não tem saída, causando aumento do ventrículo lateral. A
HSub simples não complicada, uma lesão com efeito ex
hidrocefalia obstrutiva unilateral grave reduz a drenagem
pansivo em um hemicrânio determina deslocamento do do fluido extracelular nas veias profundas subependimá-
cérebro para o lado oposto. A hemiação ocorre quando o
rias com conseqüente acúmulo de fluido na substância
hemisfério afetado cruza a linha média em direção ao he branca periventricular, visto na TC como hipodensidade
micrânio contralateral através da margem livre da foice
periventricular com indefinição das margens do ventrícu
do cérebro (Fig. 3-3). lo lateral.
Se a HSub tornar-se grave, a ACA herniada pode ser
Imagem ocluída pela compressão contra a margem livre da foice
As imagens nos planos axial e coronal mostram que o do cérebro, causando infarto secundário do giro do cín
giro do cíngulo, a artéria cerebral anterior (ACA) e a veia gulo.
56 Trauma

3-5A Cérebro necropsiado


mostrando herniaçâo transten
torial descendente. O uncus e o
hipocampo direitos estão deslo
cados medialmenle e demons
tram endentação Si causada
pela impactação contra a incisura
do tenlórío. O NC ill está com
primido dS pelo lobo temporal
herniado.
3-5B Corte axial no mesmo
caso demonstrando herniaçâo
uncal S e hipocampal S
comprimindo o mesencéfalo con
tra o lado oposto do tentório
(Kernohan notch). (Cortesia de R.
Hewlett, MO.)

3-6 TC no trauma agudo mos


trando herniaçâo precoce do ún-
cus ea na cisterna suprasselar.
3-7 TC de MSs mistos de
monstrando sinais de herniaçâo
transtentorial descendente mais
grave. O lobo temporal direito
está deslocado medialmente
ES, obliterando quase comple
tamente a cisterna suprasselar.
O como temporal B está des
locado quase até a linha média.
A ACM está deslocada B acima
da asa do esfenoide pela coleção
fluida na fossa média (herniaçâo
transalar ascendente).

3-8 Necropsia demonstrando


achados macroscópicos da her
niaçâo transtentorial descenden
te completa bilateral ("central").
A cisterna suprasselar está oblite-
rada pelo hipolálamo deslocado
inferiormente 1^]. O uncus l!^l
e o hipocampo SI de ambos os
lobos temporais está herniado
medialmente e inferiormente
no interior da incisura tentorial.

(Cortesia de R. Hewlett, MD.)


Ss i .it
3-9 TC em um paciente com
trauma grave demonstrando
apagamento de todas as cister
nas basais por edema cerebral
difuso.
Efeitos secundários e seqüelas do trauma ao SNC 57

HERNIAÇÃO SUBFALCIAL
Etíología e patologia
• Efeito expansivo hemisférico unilateral
• Cérebro cruza a linha média por baixo da foice do cérebro

Epidemiologla
• Herniaçào cerebral mais comum
• Imagem
• Deslocamento do giro do cingulo, ACA e VCI através
da linha média
• Forame de Monro deformado, obstruído
• Ventrícuío ipsilateral comprimido, contralateral
aumentado

Complicações
• Hidrocefalia obstrutiva
• Infarlo secundário da ACA (casos graves) 3-10 HTD completa. O mesencéfalo está excessiva
mente angulado inferiormente B0, e o hipolálamo
comprimido inferiormente sobre o dorso da sela í^.
(Cortesia de R. Hewlett, MD.)
Herniaçõo transtentorial descendente
As herniações transtentoriais sào deslocamentos do cérebro
que ocorrem através da incisara do tentório. Embora esses
deslocamentos possam ocorrer em ambas as direções (de
cima para baixo ou de baixo para cima), herniações descen
dentes de lesões com efeito expansivo supratentoriais sào
muito mais comuns do que herniações ascendentes.

Terminologia e etíología
A hemiaçào transtentorial descendente (HTD) é a segunda
síndrome de hemiaçào intracraniana mais comum. Ela é
causada por uma lesào expansiva hemisférica que inicial
mente produz deslocamento cerebral através da linha mé
dia (p. ex., hemiaçào subfalcial). À medida que o efeito
expansivo aumenta, o uncus do lobo temporal é deslocado
medialmente e começa a invadir a cisterna suprasselar. O
hipocampo acompanha o deslocamento e logo começa a 3-11 Achados vasculares na HTD. A AGP proximal SI
obliterar a cisterna quadrigeminal ipsilateral. está deslocada inferiormente através da incisura do ten
Com progressivo aumento do efeito expansivo, tanto tório e apresenta excessiva angulaçâo no ponto em

o uncus quanto o hipocampo sofrem hemiaçào inferior que passa sobre a margem superior da incisura.
mente através da incisura do tentório (Fig. 3-5).
A HTD pode ser unilateral ou bilateral. A HTD unila
teral ocorre quando uma lesào com efeito expansivo em
purra o uncus e o hipocampo do lobo temporal ipsilateral
além do limite da incisura do tentório.
A segunda. HTD bilateral, algumas vezes chamada
de hemiaçào descendente "completa" ou "central", ocorre
quando o efeito expansivo supratentorial se torna tão gra
ve que ambos os lobos temporais sofrem hemiaçào atra
vés da incisura do tentório.

Imagem
Na hemiaçào transtentorial descendente unilateral,
imagens iniciais axiais por TC mostram que o úncus en
contra-se deslocado medialmente e o aspecto ipsilateral
da cisterna suprasselar é indefinido (Fig. 3-6). Conforme
3-12 TC em um sobrevivente demonstrando seque-
a HTD aumenta, o hipocampo também hemia medialmen la de HTD bilateral grave com infartos da ACP direita
te através da margem do tentório, comprimindo a cistema SI e múltiplos Infartos das artérias perfurantes [S.
58 Trauma

quadrigeminal e empurrando o mesencéfalo em direção à


incisura do tentório do lado oposto. Em casos graves, as
cisternas suprasselar e quadrigeminal encontram-se com
pletamente indefinidas. O como temporal pode estar des
locado quase até a linha média (Flg. 3-7).
Na HTD bilateral, ambos os hemisférios tomam-se
tão inchados que todo o cérebro é achatado contra a base
do crânio. Todas as cisternas basais são obliteradas, en
quanto o hipotálamo e o quiasma óptico são comprimidos
contra a sela ttjrcica (Fig. 3-8). (Fig. 3-9).
Na HTD bilateral completa, ambos os lobos temporais
sofrem hemiação medialmente no interior do hiato do ten
tório. O mesencéfalo é comprimido medialmente por am
bos os lados e também deslocado inferiormente através da
incisura do tentório, empurrando a ponte caudalmente. O
3-13 Herniaçâo tonsilar. As tonsilas cerebelares es ângulo entre o mesencéfalo e a ponte é progressivamente
tão deslocadas inferiormente e apresentam impressão reduzido de cerca de 90" graus para quase 0° (Fig. 3-10).
ES dos limites ósseos do forame magno. (Cortesia de
R. Hewlett, MD.) Complicações
Mesmo a HTD leve pode comprimir o terceiro nervo cra
niano (oculomotor) no ponto em que ele abandona a fossa
interpeduncular e direciona-se anterolateralmente em di
reção ao seio cavemoso (Fig. 3-5A), produzindo parali
sia do terceiro nervo com envolvimento pupilar.
Outras complicações mais graves podem ocorrer com
HTD. A medida que o lobo temporal é deslocado infe-
romedialmente, ele empurra a artéria cerebral posterior
(ACP) para baixo da incisura do tentório. A ACP pode
ser excessivamente angulada ou mesmo ser comprimida
e ociuída à medida que retoma para a margem superior
do tentório do cerebelo (Fig. 3-11), causando um infarto
secundário da ACP (occipital).
Conforme o lobo temporal hemiado empurra o me
sencéfalo em direção ao lado oposto da incisura do ten
tório, o pedúnculo cerebral é forçado contra a margem
3-14 TC em um paciente com herniação tonsilar inflexível e aguda do tentório, formando o Kenwhan's
mostrando apenas apagamento dos espaços liquóricos
notch (Fig. 3-5B). A isquemia determinada pela pressão
no interior do forame magno.
resulta em hemiparesia ipsilateral (não contralateral), um
sinal "falso-localizador".
A HTD grave, uni ou bilateral, pode causar necrose
por pressão do uncus e hipocampo. O efeito expansivo
craniocaudal desloca o mesencéfalo inferiormente e reduz
o ângulo mesencéfalo-pontino. Artérias perfurantes que
se originam no topo da artéria basilar são comprimidas
e deformadas inferiormente, progressivamente ociuídas,
causando um infarto hemorrágico mesencefálico conheci
do como hemorragia de Duret.
Com HTD completa bilateral, artérias perfurantes que
emergem do polígono de Willis são comprimidas contra a
porção central do crânio e também ociuem, causando in-
fartos hipotalâmicos e nos núcleos da base (Fig. 3-12).
Como em um círculo vicioso, os hemisférios tomam-
-se mais edematosos e a pressão intracraniana aumenta.
3-15 imagem ponderada em T2 do mesmo paciente
Se a pressão intracraniana aumentada superar a pressão
mostrando as tonsilas preenchendo ES o forame mag intra-arterial, a perfusão é drasticamente reduzida e por
no e deslocando o bulbo anteriormente. fim cessa, resultando em morte cerebral.
Efeitos secundários e seqüelas do trauma ao SNC 59

HERNIAÇÃO TRANSTENTORIAL DESCENDENTE


Terminologia e patologia
• Unilateral
o Lobo temporal {uncus, hipocampo) empurrado
contra a Incisura do tentório
• HID bilateral grave = herniação "completa" ou
"central"
o Hipotálamo e quiasma comprimidos contra a sela

Epidemiologia
• Segunda herniação cerebral mais comum

Imagem
• HID unilateral
o Cisterna suprasseiar comprimida, posteriormente
obliterada
o Lobo temporal herniado empurra mesencéfalo para
3-16 HTA com o verme e cerebelo [3 deslocados cra-
o lado oposto nialmente através da incisura do tentório, comprimindo o
• HID bilateral
mesencéfalo/lecto lS. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
o Cisternas da base completamente apagadas
o Mesencéfalo empurrado para baixo, comprimido
nos dois lados

Complicações
• Compressão do NC III ^ paralisia do terceiro nervo
com envolvimento pupilar
• Infartos secundários do lobo occipital (ACP) ±
hipotálamo, infartos dos núcleos da base
• Compressão do pedúnculo cerebral contralateral
(Kernohan's notch)
• Hemorragia mesencefálica ("Ouret")

Herniação tonsllar
Dois tipos de hemiaçào ocorrem com massas da fossa poste
rior: herniação tonsilar e hemiaçào transtentorial ascenden
te, sendo a hemiaçào tonsilar a mais comum (Fig. 3-13).
3-17 TC demonstrando HTA com obliteraçâo da cis
Terminologia e etíologia terna quadrigeminal, compressão do tecto mesencéfali-
Na hemiaçào tonsilar, as tonsilas cerebelares são desloca co Si. Observe a hidrocefalia obstrutiva grave
das inferiormente e impactam no forame magno. Ela pode
ser congênita (p. ex., malformação de Chiari tipo 1) ou
adquirida.
A hemiaçào tonsilar adquirida ocorre em duas cir
cunstâncias distintas. A causa mais comum é uma lesão
com efeito expansivo na fossa posterior deslocando as
tonsilas para o interior do forame magno.
O deslocamento tonsilar inferior também ocorre na
hipotensào intracraniana. Aqui as tonsilas sào tracionadas
inferiormente pela pressão anormalmente baixa do LCS
intraespinal (ver Capitulo 34).

Imagem
o diagnóstico de herniação tonsilar na TC pode ser pro
blemático. O forame magno em geral contém LCS que
circunda a medula e as tonsilas cerebelares. A herniação
de uma ou de ambas as tonsilas para o interior do forame 3-18 HTA grave com deformidade do mesencéfalo
magno oblitera a maior parte ou todo o LCS da cisterna B causada por herniação cranial do cerebelo através
magna (Fig. 3-14). da incisura do tentório.
60 Trauma

A hemiação tonsilar é mais facilmente diagnosticada do compartimento supratentorial. A cisterna quadrigeminal


na RM. No plano sagital, a folia tonsilar nonnalmente é inicialmente achatada e deslocada, sendo posteriormente
horizontal orienta-se verticalmente e o aspecto inferior indefinida pelo cerebelo hemiado superiormente, que tam
das tonsilas torna-se agudo. As tonsilas com mais de 5 bém comprime o mesencéfalo (Fig. 3-16).
mm abaixo do forame magno costumam ser anormais, A hemiação transtentorial ascendente é muito menos
sobretudo se elas apresentam-se alongadas (em vez de comum do que a hemiação transtentorial descendente. A
arredondadas). HTA pode ser causada por qualquer lesão expansiva na
No plano axial, imagens ponderadas em T2 mostram fossa posterior, embora as neoplasias sejam a causa mais
que as tonsilas encontram-se impactadas no forame mag comum do que o trauma.
no, obliterando o LCS na cisterna magna e deslocando a
medula anteriormente (Fig. 3-15). Imagem
A TC axial mostra indefinição da cistema supravermiana e
Complicações dos sulcos cerebelares (Fig. 3-17). A cistema quadrigemi
As complicações da hemiação tonsilar incluem hidrocefa- nal é primeiramente comprimida e posteriormente oblite-
lia obstrutiva e necrose tonsilar. rada pelo cerebelo herniado cranialmente. À medida que a
hemiação progride, a lâmina quadrigeminal toma-se com
Herniaçõo transtentorial ascendente primida e achatada. Em casos graves, o mesencéfalo dorsal
pode tornar-se côncavo ao invés de convexo (Fig. 3-18).
Terminologia e etiologia Por fim. a incisura do tentório encontra-se completa
Na hemiação transtentorial ascendente (HTA), o verme e mente preenchida pelos tecidos moles, não sendo possível
os hemisférios cerebelares são deslocados cranialmente a identificação dos marcos anatômicos característicos das
("ascendem") através da incisura do tentório para o interior estruturas que ali se encontram.

3-19 Necíopsia demonstrando


achados na herniaçào transalar
ascendente. Lesão expansiva no
lobo temporal B empurra a lls-
sura de Sylvius e artéria cerebal
média (ACM) B superiormente
através da asa maior do esfe-
noide Compare com o lado
esquerdo normal.
3-20 Imagem ponderada em
TI no plano sagital demonstran
do uma lesão expansiva holo-
temporal hipoíntensa B ele
vando a fissura de Sylvius e ACM
deslocando o lobo temporal
superiormente através da asa
maior do esfenoide 1^.

3-21 Caso de necropsia


demonstrando hemiação trans-
dural/lranscraniana. A pressão
intracraniana aumentada causou
extrusâo do cérebro através de
um grande defeito ósseo de era-
níotomía
3-22 Imagem ponderada em
T2 no plano axial de uma criança
com "fungus cerebri" mostrando
as margens do defeito durai SI
com cérebro B extruso através
do defeito da dura/aracnoide
com extensão através de fratura
óssea comínutiva S. Cérebro
macerado extracraniano B
pode ser visto abaixo do escalpo.
Efeitos secundários e seqüelas do trauma ao SNC 61

Complicações Sylvius encontram-se elevados e o giro temporal superior


deslocado acima da AME (FIg. 3-20).
A complicação mais comum da HTA é a hidrocefalia
A herniação transalar descendente é causada por
intraventricular obstruliva causada por compressão do
uma grande lesão com efeito expansivo na fossa anterior.
aqueduto cerebral. O giro reto é forçado posteroinferiormente sobre a AME,
deslocando a fissura de Sylvius e a ACM posteriormente.
HERNIAÇÕES DA FOSSA POSTERIOR
Herniação transdural/transcraniana
Herniação transtentorial ascendente Essa forma rara de herniação cerebral, algumas vezes
• Relativamente rara
o Causada por lesão com efeito expansivo na fossa chamada de "fungus cerebrr pelos neurocirurgiòes, pode
posterior ameaçar a vida. Para que ocorra a herniação transdural/
o Neoplasia > trauma transcraniana, a dura deve estar lacerada, deve haver de
o Cerebelo deslocado cranialmente através da feito na calvária (fratura ou craniotomia) e a pressão intra
incisura do tentórlo do cerebelo craniana (PIC) deve estar elevada.
o Comprime e deforma o mesencéfalo A herniação transdural/transcraniana, em geral, ocor
• Achados de imagem re em crianças com fratura cominutiva craniana que apre
o Incisura do tentório preenchida por tecido cerebral,
sentaram afundamento no momento do impacto com la-
espaços liquóricos obliterados
o Cisterna quadrigeminal e lâmina quadrigeminal ceração da dura e da aracnoide. Quando a PIC aumenta, o
cérebro pode hemiar através da ruptura da dura e através
comprimida/achatada
• Complicações da fratura craniana para o espaço subgaleal.
o Hidrocefalia (obstrução aquedutal) A herniação transdural/transcraniana iatrogênica
ocorre quando uma trepanação, craniotomia ou craniecto-
Herniação tonsílar miaé realizada em um paciente com pressão intracraniana
• Herniação mais comum da fossa posterior
o Pode ser congênita (Chiari I) ou adquirida gravemente elevada. Quando a dura é aberta, o cérebro
o Uma ou ambas as tonsilas > 5 mm abaixo do sob pressão sofre extrusào (Fig. 3-21).
forame magno A RM demonstra melhor essas hemiações incomuns.
• Achados de imagem A dura descontínua é vista como uma linha preta em ima
o Forame magno preenchido por tecido cerebral nas gens ponderadas em T2. Tecido cerebral, junto com vasos
imagens axiais de TC e ponderadas em 12 sangüíneos e quantidades variáveis de LCS, é literalmente
o Configuração alongada das tonsilas cerebelares nas extruído através dos defeitos durais e da calvária para o
imagens de RM no plano sagital interior do espaço subgaleal (Fig. 3-22).
• Complicações
o Hidrocefalia obstrutiva
o Necrose das tonsilas
OUTRAS HERNIAÇÕES
Herniação transalar ascendente
• Herniação transalar mais comum
Outras berniações • Causada por lesão com efeito expansivo na fossa média
A herniação subfalcial, transtentorial descendente/ascen • Fissura de Sylvius e ACM deslocadas superiormente,
dente e herniação tonsilar respondem pela maior parte das acima da asa maior do esfenoide
hemiações cerebrais. Outras síndromes menos freqüentes • Mais bem avaliada em imagens ponderadas em TI no
incluem hemiações transalar e transdural/transcraniana. plano sagital paramediano
Herniação transalar descendente
Herniação transalar • Lesão com efeito expansivo na fossa anterior
Ocorre quando o cérebro hernia através da asa maior do • Lobo frontal (giro reto) deslocado posteriormente,
esfenoide (AME), podendo ser tanto ascendente (a mais abaixo da grande asa do esfenoide
• ACM e fissura de Sylvius deslocadas posteriormente
comum) quanto descendente.
A licrníação transalar ascendente é causada por Herniação transcraniana/transdural
uma grande lesão com efeito expansivo na fossa média. • T PIC + defeito na calvária + ruptura da dura-máter
Uma massa intralemporal ou extra-axial desloca parte do • Causada por
lobo temporal junto com a fissura de Sylvius e artéria ce o Fratura cominutiva, freqüentemente com
rebral média (ACM) superiormente através da asa maior afundamento
o Craniectomia
do osso esfenoide (Fig. 3-19).
• Cérebro é extruído através da calota craniana, abaixo
A herniação transalar ascendente é mais bem demons
da aponeurose do escalpo
trada em imagens de ressonância magnética no plano sa • Mais bem avaliada em Imagens ponderadas em T2 no
gital paramediano. A AME é vista na junção óssea entre a plano axial
fossa anterior e média. Os ramos da ACM e a fissura de
6 2 Trauma

3-23 Espécime de necropsia demonslrando edema hemisférico unila 3-24 TC no plano axial demonstrando sulcos normais no hemisfério di
teral B que expande os giros, comprime e obiitera os sulcos corticais. reito e hemisfério esquerdo inchado com apagamento dos sulcos corticais.

ximadamente o dobro de chances que um adulto mais ve


Edema, isquemia e insulto vascular lho. Embora o aumento volumétrico grosseiro de um ou
ambos os hemisférios possa ocorrer relativamente rápido
o traumatismo cranienccfálico (TCE) pode iniciar uma
cascata de respostas fisiológicas que podem afetar nega após o trauma inicial, o início tardio é mais típico. Em
tivamente o cérebro de forma mais importante do que o geral, o edema cerebral grave demora entre 24 e 48 horas
trauma inicial. Essas respostas incluem edema cerebral para se estabelecer.
difuso, respostas excitotóxicas desencadeadas por ativa
Imagem
ção de rotas glutamatérgicas, alterações da perfusão e uma A aparência do edema cerebral pós-traumático evolui ao
variedade de eventos isquêmicos, incluindo infartos em
territórios vasculares. longo do tempo. Inicialmente, um efeito expansivo hemis
férico leve com compressão de sulcos e cisternas pode ser
visto na TC (Fig. 3-24).
Edema cerebral pós-traumático
Durante as fases precoces do edema cerebral, a di
o edema cerebral maciço com hipertensão intracraniana
ferenciação entre substância branca e cinzenta encon
grave está entre as mais sérias de todas as lesões traumáti tra-se relativamente preservada (Fig. 3-25), (Fig. 3-26).
cas secundárias. O reconhecimento precoce e o tratamen
Enquanto o ventrículo ipsilateral está levemente com
to agressivo dessa situação são imperativos, visto que a
primido, a herniação subfalcial é mínima. Entretanto,
mortalidade chega a 50%. se o efeito expansivo for muito maior do que o espera
do para uma coleção extra-axial. como um hematoma
Etloiogia e epidemiologia subdural, deve-se suspeitar de edema do parênquima
Edema cerebral focai, regional ou difuso ocorre em 10 a cerebral.
20% dos pacientes com TCE (Fig. 3-23). A causa, seja por A RM demonstra giros edemaciados hipointensos em
aumento de líquido no tecido cerebral (edema cerebral) imagens ponderadas em TI e hiperintensos em imagens
ou por aumento do volume de sangue cerebral (hiperemia ponderadas em T2. As imagens ponderadas em difusão
cerebral) secundário à perda de autorregulaçào vascular, demonstram restrição à difusão da água com baixos va
ainda é pouco conhecida. Embora ambos estejam prova lores deADC.
velmente envolvidos, o acúmulo de líquido intracelular A medida que o edema cerebral progride, os limites
(edema citotóxico) parece ser o principal contribuinte. entre o córtex e a substância branca tomam-se indistintos
e finalmente desaparecem. Os ventrículos laterais apare
Aspectos clínicos cem menores do que o normal, e os sulcos cerebrais não
As crianças e os adultos jovens são mais propensos a são mais evidenciados (Fig. 3-27).
desenvolver edema cerebral pós-traumático e têm apro
Efeitos secundários e seqüelas do trauma ao SNC 63

3-25 Espécime de necropsia


demonstrando edema leve a
moderado do hemisfério cerebral
direito, hernia^ão subfalcial do
giro do cfngulo ES.
3-26 TC após trauma craniano
fechado demonstrando edema
cerebral difuso leve. Os sulcos
estão quase parcialmente in
definidos, mas os limites entre
a substância branca e cinzenta
permanecem.

3-27A Séries de TC demons


trando edema cerebral pós-
-traumático grave. Os sulcos da
fossa média e anterior estão
oblilerados e o cérebro parece
moderadamente hipodenso.
3-27B Corte mais cranial do
mesmo paciente demonstrando
obliteração completa das cis
ternas suprasselar e basilar. Em
comparação com o cérebro ede-
maciado hipodenso, o sangue
circulando na ACM parece relati
vamente hiperdenso E3.

3-27C Corte ao nível médio


dos ventriculos do mesmo pa
ciente demonstrando que os
ventriculos encontram-se pe
quenos e que a interface entre
a substância branca e cinzenta
encontra-se indefinida.
3-270 Corte ao nível do ver
tex demonstrando ausência dos
sulcos corticais. Ambos os hemis
férios encontram-se difusamente
edemaciados, fazendo a foice do
cérebro B parecer anormal
mente densa.
64 Trauma

Isquemia e infarto cerebral a foice do cérebro e causa infarto do giro do cíngulo (Fig.
pós-troumóticos 3-30), (Fig. 3-31).
Com HTD bilateral completa ("central"), as artérias
Infarto e isquemia cerebral pós-traumáticos são complica
penetrantes oriundas do polígono de Willis são compri
ções incomuns, mas importantes, do TCE. São causados midas contra a base do crânio, resultando em múltiplos
por múltiplas alterações, incluindo compressão vascular infartos esparsos dos núcleos da base e do hipotálamo. A
direta, hipoperfusâo sistêmica, dano vascular, vasospas- necrose por pressão do úncus e hipocampo pode ocorrer
mo e congestão venosa. A causa mais comum de isquemia
na medida em que o lobo temporal hemiado impacta na
cerebral pós-traumática é a compressão vascular secundá
margem livre da incisura do tentório.
ria às síndromes de hemiação cerebral.
Isquemia cerebral traumática
Infartos pós-traumáticos Alterações de perfusão focais, regionais e generalizadas
A hemiação cerebral mais comum que causa infarto cere também ocorrem no TCE. Hematomas extra-axiais que
bral secundário é a hemiação transtentorial descendente exercem efeito expansivo significativo sobre a superfí
(HTD). A HTD unilateral grave desloca o lobo temporal cie cerebral podem causar redução da perfusão arterial e
e a artéria cerebral posterior (ACP) inferiormente contra isquemia cortical. As veias corticais também podem ser
a incisura do tentório. Como a ACP herniada passa poste comprimidas, causando isquemia venosa (Fig. 3-32).
riormente ao mesencéfalo, ela cursa em direção cranial, Isquemia cerebral global ou generalizada pode ser
sendo forçada contra a margem inflexível e aguda da inci resultante de hipoperfusâo, hipoxia, despolarização de
sura do tentório. O segmento P3 da ACP oclui, resultando membranas ou perda da integridade das membranas ce
em infarto do lobo occipital (Fig. 3-28). (Fig. 3-29). lulares e homeostase iônica. A falha no mecanismo ener
Menos comumente, a hemiação subfalcial pressiona gético celular pode induzir lesão cerebral excitotóxica
o ramo calosomarginal da artéria cerebral anterior contra aguda mediada por glutamato.

3-28 A hemiação transtento


rial descendente pode ociuir a
artéria cerebral posterior contra a
incisura do tentório do cerebelo,
causando infarto secundário no
território da ACP ES.
3-29 Paciente gravemente
traumatizado com edema cere
bral difuso e hemiação subfalcial
direita mais hemiação transten
torial descendente. TC mostrando
infartos da ACP EI, ACM S3 e
de múltiplas artérias perfurantes

3-30 Vista de um cérebro


necropsiado através da fissura
inter-hemisférica demonstrando
hemiação subfalcial marcada do
giro do cíngulo e giro calosomar
ginal com endentação causada
pela margem livre da foice do
cérebro EI.
3-31 A herniacão subfalcial
grave pode ociuir as artérias
pericalosa e calosomarginal,
causando infartos secundários no
território da ACA tB.
Efeitos secundários e seqüelas do trauma ao SNC 65

A TC demonstra hipodensidade com perda da di


ferenciação entre a substância branca e cinzenta no pa- EDEMA CEREBRAL E COMPLICAÇÕES VASCULARES
rênquima cerebral afetado. A perfusão por TC pode de Edema cerebral pós-traumático
monstrar CBF reduzido com prolongamento do tempo • Encontrado em 10 a 20% dos pacientes com TCE
de drenagem. Em casos de lesão cerebral excitotóxica. • Focai, regional ou difuso
a RM demonstra giros edemaciados. hiperintensos em • Mais comum em crianças e em adultos jovens
T2/FLAIR, que não correspondem a um território vascu • Precoce: apagamento dos sulcos
lar definido (Fig. 3-33). • Tardio: indefinição dos limites entre substância branca
e cinzenta
• Estágio final: cérebro uniformemente hipodenso
Vasospasmo pós-traumático
o vasospasmo pós-traumático (VPT) é uma causa de po infarto cerebral
tencial importância, embora pouco reconhecida, de dano • Mais comumente infarto secundário da ACP
• Infarto secundário da ACA é o segundo mais comum
isquêmico após lesão cerebral traumática. O estudo por
• Infartos das artérias perfurantes na HTD completa
Doppier transcraniano detecta vasospasmo em mais de
um terço dos pacientes com TCE. Isquemia cerebral
O VPT moderado a grave desenvolve-se em 10% dos • Comum abaixo de hematomas subdurais
pacientes e é um preditor independente de mau prognós
tico. O VPT é especialmente comum em pacientes jovens Vasospasmo
• Moderado/grave se desenvolve em 10% dos
mais gravemente lesionados. Os pacientes com contusão
pacientes
parenquimatosa e febre apresentam risco aumentado de • Preditor independente de mau prognóstico
d e s e n v o l v e r V P T.

3-32A Imagem ponderada


em TI de um paciente com um
hematoma subdural subagudo
demonstrando apagamento dos
sulcos corlicais e inchaço dos
giros no córtex parieto-occipital
adjacente B3.
3-32B Imagem ponderada em
12 do mesmo paciente demons
trando edema cortical B abai
xo do HS. Alterações de perfusão
regionais são comuns abaixo de
hematomas subdurais.

3-33A TC demonstrando HSs


com densidade mista em uma
criança vítima de trauma (não
acidental). Observe a hipoden-
sidde do hemisfério esquerdo
("grande cérebro preto"). O
efeito expansivo e a herniação
subfalcial são muito maiores do
que esperado para os HSs.
3-33B Imagem ponderada
em T2 demonstrando marcado
edema hemisférico, poupando
apenas os núcleos da base.
Hiperintensídade de sinal no
corpo caloso B e lobo frontal
direito podem representar lesão
excitotóxica.
66 Trauma

Morte cerebral

Terminologia
A morte cerebral (MC) é definida fisiopatoíogicamente
como cessação completa e irreversível da função cerebral
(Fig. 3-34). Alguns pesquisadores fazem distinção entre
"morte cerebral completa" (todas as estruturas intracra
nianas acima do forame magno), "morte cerebral" (todas
as estruturas supratentoriais) e "morte cerebral alta" (es
truturas corticais).
A definição legal de morte cerebral varia entre os paí
ses (p. ex., EUA e Reino Unido) e entre os estados. Desde
a adoção do Ato de Determinação Uniforme de Morte, to
das as decisões judiciais nos Estados Unidos têm se apoia
do na prática médica de determinar morte usando critérios
3-34 Morte cerebral demonstrando inchaço difuso, neurológicos de acordo com as leis estaduais.
diferenciação ruim entre a substância branca e cinzen
ta, ventrículos pequenos, sulcos apagados. (Cortesia de Aspectos clínicos
R. Hewlett, MD.). A morte cerebral é um diagnóstico clínico. Três achados
clínicos são necessários para confirmar cessação irrever
sível de todas as funções cerebrais, incluindo o iixmco: (1)
coma (com causa conhecida), (2) ausência de reflexos de
tronco e (3) apneia.
Movimentos espontâneos motores complexos e refle
xo ventilatório falso-positivo podem ocorrer em pacien
tes em morte cerebral, e por esse motivo a avaliação por
um especialista é crucial. Excluídas as causas reversíveis
de coma (p. ex., overdose de drogas, status epilepticus),
o diagnóstico clínico de MC é altamente confiável se a
determinação for feita por especialista utilizando critérios
aceitos e estabelecidos.
Não existem relatos de recuperação da função neu
rológica em adultos após o diagnóstico de morte cerebral
usando os parâmetros práticos da American Academy of
3-35 TC no plano axial de criança com evidência clí
Neurology atualizados em 1995.
nica de morte cerebral demonstrando edema cerebral
difuso e ausência de diferenciação entre substância Imagem
branca e cinzenta. Estudos de imagem podem ser úteis para confirmar a MC,
mas não substituem nem dispensam o diagnóstico clínico.
Achados na TC. A TC na MC demonstra edema cerebral
difuso e grave (Fig. 3-35). Os sulcos superficiais, a fissura
de Sylvius e as cisternas da base de ambos os hemisférios
encontram-se completamente apagados. A relação normal
de atenuação entre a substância branca e cinzenta é inver
tida, com a substância cinzenta tornando-se iso ou mesmo
hipodensa relativamente à substância branca adjacente
(sinal do "reverso").
Em surpreendente contraste com os hemisférios cere
brais, a densidade do cerebeio aparece relativamente nor
mal (sinal do "cerebeio branco") (Fig. 3-36). A densidade
dos núcleos cinzentos profundos e do tronco pode inicial
mente ser mantida; entretanto, todas as estruturas supraten
toriais por fim tomam-se uniformemente hipodensas.
3-36 TC demonstrando o "cerebeio branco" B, hi-
Achados na RM. imagens sagitais ponderadas em TI de
podensidade difusa do parénquíma cerebral ("cérebro
preto") e obiiteração total dos espaços liquóricos. monstram hemiação cerebral central descendente completa
Efeitos secundários e seqüelas do trauma ao SNC 67

3-37A Espécime de necrop-


sia em corte sagital de um
paciente com morte cerebral
demonstrando edema cerebral
difuso, herniação transtentorial
descendente bilateral grave B
com mesencéfalo deslocado
inferiormente e herniação
tonsilar E3.
3-37B Imagem ponderada
em T1 no piano realizada alguns
minutos antes do suporte a vida
deste paciente ser removido.
Observe os achados de edema
cerebral difuso e herniações si
milares aos achados da necropsia
mostrados à esquerda.

3-37C Imagem ponderada em


T2 do mesmo paciente demons
trando edema difuso dos giros
cerebrais, hiperintensidade dos
hipocampos B, HTD bilateral
comprimindo o mesencéfalo
medialmente e inferiormente
Os flow voids em ambas as
artérias carótidas internas são

\
minúsculos B.
3-38 ASD mostrando fase
tardia da injeção após cateteri-
zaçâo seletiva da artéria carótida
interna identifica ausência de
t .

circulação na artéria carótida in

í terna S. Esta é uma evidência


angiográfíca de morte cerebral.

<J

3-39A Imagens de fluxo di


nâmico de HMPAO-SPECT Tc-99m
em um paciente com evidência
clínica de morte cerebral de
monstrando ausência de ativida
de metabólica cerebral.
3-39B Imagem estática do
V ^ y- «á. mesmo paciente demonstrando
.mm. <^ám:. >3«âr. ausência de atividade cerebral
("sinal da lâmpada") com capta
ção aumentada no nariz ("sinal
do nariz quente").
 M  A Á

Â- M- M- ã .
68 Trauma

com o quiasma óptico e o hipotálamo comprimidos contra A morte cerebral também pode mimetizar outras
a base do crânio e o mesencéfalo deformado inferiormente doenças. Edema cerebral em estágio tardio secundário
através da incisura do tentório (Fig. 3-37A), (Fig. 3-37B). a trauma grave ou encefalopatia hipóxica profunda (p. ex.,
Os hemisférios aparecem inchados e hipointensos, com após parada cardiopulmonar) fazem as artérias cranianas,
perda dos limites entre a substância branca e cinzenta. dura e seios venosos durais parecerem relativamente hi-
Imagens ponderadas em T2 mostram giros edemacia- perdensos comparados com o cérebro edematoso difusa
dos com córtex hiperintenso (Fig. 3-37C). O estudo da mente hipodenso.
difusão em pacientes com morte cerebral em geral mostra Com o cérebro muito hipodenso, áreas de relativa
restrição à difusão com baixos valores de ADC tanto no alta densidade são vistas ao longo das cisternas basais,
córtex cerebral quando na substância branca. fissuras de Sylvius, tentório do cerebelo e algumas vezes
Angiografia. Estudos complementares são muitas vezes no interior dos sulcos corticais. Esse aspecto costuma ser
necessários para fazer o diagnóstico de MC quando o exa chamado de pseudo-hemorragia subaracnóidca (pseu-
me clínico não pode ser completado ou há presença de do-HSA) e não deve ser confundido com hemorragia su-
fatores de confusão. A ausência de circulação cerebral é baracnóidea "real". A densidade da pseudo-HSA é signifi
um importante teste confírmatório em tais casos. Quando cativamente menor (entre 30 e 40 UH) do que a atenuação
a pressão intracraniana excede a pressão de perfusão arte da "verdadeira" HSA (entre 50 e 60 UH).
rial, o fluxo sangüíneo cerebral cessa.
A angiografia com subtração digital (ASD) conven
cional mostra estase grave e prolongada com enchimento
Efeitos crônicos do trauma ao SNC
da artéria carótida externa. Embora a maioria dos pacien
tes com MC não apresente fluxo intracraniano (Fig. 3-38), Os pacientes sobreviventes de trauma craniencefálico
quase 30% têm alguma opacificaçào proximal das artérias (TCE) podem apresentar seqüelas de longo prazo, desde
intracranianas. A drenagem venosa profunda permanece distúrbios cognitivos e efeitos neuropsiquiátricos leves
não opacificada ao longo do exame. até seqüelas neurológicas devastadoras. Visto que uma
A angiotomografia (ATC) vem se estabelecendo discussão abrangente de todos os efeitos pós-TCE encon
como uma aceitável alternativa não invasiva à ASD em tra-se além do escopo deste texto, serão consideradas al
muitas jurisdições. A caracterização da ausência de opaci- gumas das seqüelas mais importantes de trauma cerebral
fícação dos segmentos corticais da ACM e veias internas nesta seção.
é um método eficiente e confiável de confirmar MC por
AT C . Encefalomalacio pós-traumàtica
Ultrassom. o Doppier transcraniano pode mostrar sinal Patologia
"alternante em vaivém". O Doppier orbitário mostra au O resultado patológico do TCE varia desde alterações
sência ou reversão do fluxo diastólico final na artéria cen
microscópicas (p. ex., tufos de retração neuronal e con
tral da retina associado a um marcado aumento dos índi
glomerados microglials) até extensas áreas confluentes
ces de resistência arterial.
de perda parenquimatosa e encefalomalacia. Áreas focais
Medicina nuclear. A cintilografía por Tc-99m demonstra cap de encefalomalacia são mais comumente encontradas

tação pelo escalpo e ausência de atividade cerebral (sinal da em áreas com alta incidência de contusões corticais, por
"lâmpada"). Junto com atividade extracraniana aumentada exemplo, na porção anteroinferior dos lobos frontais e nas
(sinal do "nariz quente"), esses achados são altamente sen porções anteriores dos lobos temporais (Fig. 3-40).
síveis e específicos para morte cerebral (Fig. 3-39).
Imagem
Diagnóstico diferencial Áreas de encefalomalacia em geral aparecem como focos
Causas potencialmente reversíveis para morte cerebral, de baixa densidade na TC. Áreas hipointensas em imagens
por exemplo, coma profundo por overdose de drogas ou de RM ponderadas em TI que aparecem hiperintensas em
status epUepticus, devem ser clinicamente excluídas. T2/FLAIR são típicas. Imagens ponderadas em T2* GRE
Dlflciildades técnicas com estudos de imagem que podem demonstrar resíduos hemorrágicos adjacentes aos
podem mimetizar MC incluem a "perda" do tempo de focos de encefalomalacia. Em pacientes com hemorragia
contraste tanto na ATC quanto nos estudos de medicina subaracnóidea traumática de volume significativo, a side-
nuclear. As lesões vasculares como dissecção arterial ou rose superficial pode ser identificada como focos curvilí-
vasospasmo podem também atrasar ou mesmo impedir a neos de hipointensidade de sinal acompanhando a superfí
opacificaçào de vasos intracranianos. cie piai do cérebro (Fig. 3-41), (Fig. 3-42).
Infarto cerebral maciço (especialmente infarto "ma O TCE freqüentemente resulta em variável quantida
ligno" da ACM) com edema grave pode mimetizar MC, de de atrofia generalizada. Embora perda difusa de vo
mas é, em geral, territorial e não envolve todo o cérebro. lume do parênquima com aumento ventricular e proemi-
Efeitos secundários e seqüelas do trauma ao SNC 69

^ \!/ '

3-40 Espécime de necíopsia demonstrando efeitos do trauma remoto 3-41 Espécime de necropsia de um paciente com^rauma antigo mos
com encefalomalacia bifrontal B. trando contusões B e siderose superficial extensa ES.

nência dos sulcos cerebrais possa ser vista em estudos de ca entre os achados da ETC com a doença de Alzhei
imagem convencionais, casos leves de atrofia regional ou mer (DA). Além disso, existe associação entre a ETC
global podem necessitar de RM quantitativa. e a formação de agregados neuroflbrilares, sugerindo
A redução do volume cerebelar pode ser vista em uma patologia mista promovida por cascatas patogêni
alguns pacientes após TCE, possivelmente refletindo a cas que podem resultar em ambas as doenças. Tanto a
alta vulnerabilidade do cerebelo e das áreas relacionadas ETC quanto a DA têm maior representação dos alelos
de projeção cerebelar à degeneração de fibras. áaAPOE*ES.
Estudos de imagem avançados podem ser aliados
úteis na quantificação das seqüelas do TCE. A espectros- Patologia
copia por RM pode demonstrar redução de neurometa- Os achados macroscópicos de cérebros necropsiados
bólitos após o TCE. Os níveis de NAA podem estar re de ex-atletas afetados pela ETC foram associados aos
duzidos mesmo em cérebros aparentemente normais.|A de um "paciente oclagenário portador da doença de Al
FDG-PET pode demonstrar áreas focais ou mais amplas zheimer". Lacerações do septo pelúcido com perda de
de liipometaboiismo regional da glicose. volume frontotemporal, gliose talâmica, degeneração da
A imagem do tensor da difusão (DTl) demonstra bai substância negra e cicatrizes cerebelares são caracterís
xa FA e alto ADC no corpo caloso de alguns pacientes ticas comuns.

com déflcits cognitivos após TCE leve. Estudos microscópicos da ETC mostram fenótipos
histológicos variáveis baseados na presença ou ausência
de agregados neuroflbrilares, filamentos neutrofllicos,
Encefalopatia traumática crônica
placas amiloides e perda neuronal difusa. Em contraste
Terminologia com a DA. o hipocampo é freqüentemente poupado na
Inicialmente descrita em boxeadores e chamada de "de ETC.
mência pugilística", o termo encefalopatia traumática
crônica (ETC) tem sido recentemente utilizado para des Aspectos clínicos
crever um amplo espectro de anormalidades neurocom- Aspectos demográficos. Entre 15 e40% dos ex-boxeadores
portamentais crônicas que resultam de múltiplos impactos profissionais têm sintomas de lesão cerebral crônica. En
cranianos. quanto a maior parte dos casos de ETC foi descrita em
homens, há casos relatados em mulheres agredidas e em
Etiologia crianças submetidas a traumas cranianos repetidos. Pa
A ETC representa um processo cumulativo de repetidos cientes idosos que sofrem quedas repetidas também se
impactos cranianos. Existe alguma sobreposição clíni encontram em risco para ETC.
70 Trauma

3-42A TC em um paciente
idoso com trauma moderado a
grave demonstrando contusões
frontotemporais B.
3-42B Corte tomográfico mais
cranial mostrando inchaço difuso
do hemisfério esquerdo com
hematomas subdurais inter-he-

í
misféricos B e na convexidade
Vários focos de hemorragia
subaracnóidea traumática B
estão presentes dentro dos sul
cos comprimidos.

3-42C Imagem ponderada


em 12 obtida seis meses depois
demonstrando encefalomalacia
frontal esquerda Bi.
3-42D Imagem ponderada
em 12 em corte mais cranial de
monstrando tênues áreas curvili-
neares de baixo sinal Bi sobre
alguns giros estendendo-se para
o interior de alguns sulcos.

3-42E Imagem ponderada


em 12 ' GRE no mesmo paciente
demonstrando efeito de artefato
de susceptibilidade magnética
de resíduos hemorrágicos junto à
área de encefalomalacia no lobo
frontal esquerdo S.
3-42F Aquisição mais cranial
em T2'' GRE demonstrando slde-
rose superficial pós-traumática
extensa Bu.
Efeitos secundários e seqüelas do trauma ao SNC 71

3-43A FLAIR axial em um ex-allela profissional de meia-idade com 3-43B Imagem ponderada em T2* SWI do mesmo paciente de
demência de início precoce mostrando redução volumétrica bi-hemisíéri- monstrando numerosas áreas de microssangramentos 1^. Os aspec
ca e extensas hiperintensidades confluentes e puntiformes na substância tos clínicos e de imagem são sugestivos de encefalopatia traumática
branca. crônica.

Apresentação. Deterioração de memória, linguagem, pro Etiologia


cessamento de informações e funções executivas assim Estudos clínicos mostram que uma simples concussào ce
como sintomas cerebelares. piramidais e extrapiramidais rebral abre uma "janela temporal" de anormalidades me-
são característicos da ETC. Deterioração cognitiva pro tabólicas que pode ser exacerbada por traumas repetidos.
gressiva, perda de memória recente e distiirbios do humor Na SIS, indivíduos (com freqüência - mas não ex
e comportamento como paranoia, ataques de pânico e de clusivamente - atletas) que permanecem sintomáticos de
pressão maior são comuns. um trauma craniano prévio sofrem uma segunda lesão. Na
maioria dos casos, um pequeno hematoma subdural agudo
Imagem (HSAg) é associado a um grande edema cerebral despro
Achados na TC. Nas maiores séries avaliando boxeadores
porcional.
profissionais com ETC, imagens por TC foram normais O edema cerebral na SIS se deve provavelmente
em 93% e mostraram atrofia limítrofe em 6%. Uma pre à perda da autorregulaçào cerebral em vez do simples
valência aumentada do cavum do septo pelúcido (CSP) foi efeito compressive do hematoma subdural (HS) no he
identificada nos boxeadores com atrofia. misfério adjacente. Na SIS, a perda da autorregulaçào
Achados na RM. Sequências-padrão em pacientes com do fiuxo sangüíneo cerebral resulta em ingurgitamento
ETC são freqüentemente normais. Uma redução volumé vascular rápido, aumento da pressão intracraniana e ede
ma cerebral.
trica não apropriada para a faixa etária é identificada em
15% dos casos (Fig. 3-43A). RM de 3.0 T com seqüências A lesão cerebral excitotóxica tanto por aumento da
ponderadas em susceptibilidade (SWI) mostram micro- liberação voluntária e involuntária quanto captação redu
zida de glutamato pode também contribuir para a progres
-hemorragias em cerca de 10% dos pacientes com ETC
são não habitual do edema citotóxico visto nos pacientes
(FIg. 3-43B).
com SIS.

Síndrome do impacto secundário


Aspectos clínicos
Terminologia Aspectos demográficos. A maioria dos casos relatados de
Uma complicação aguda e potencialmente catastrófica do SIS são em atletas jovens do sexo masculino. Outro gru
trauma craniano repetido foi recentemente reconhecida e po de pacientes que pode ser suscetível a SIS são idosos
denominada "síndrome do impacto secundário" (SIS) com HSAg recorrentes e repetidos episódios de trauma
ou "síndrome do segundo impacto/perda da autorre- craniencefálico leve a moderado. Alguns investigadores
gulação". postularam também que crianças com trauma não aciden-
72 Trauma

3-44A TC de uma criança com suspeita de trauma não acidental 3-44B Novo exame algumas semanas após demonstrando outro H5
demonstrando HSs em três diferentes estágios B. Efeito expansivo e misto com incfiaço maciço, edema difuso do fiemisfério direito. Provável
herniação subfalcial são desproporcionais ao tamanho dos HSs. síndrome do impacto secundário após múltiplas concussões.

tal e lesão ccfebral repetitiva compartilham características indefinidos e o paciente evolui com herniação descenden
fisiopatológicas comuns com atletas que sofrem de SIS. te central completa com compressão do tronco.
A RM mostra um cérebro inchado hiperintenso em
Apresentação. Na SIS, o atleta encontra-se frequentetnente T2/FLAIR abaixo de um pequeno HS. As imagens pon
com cefaleia ou outros sintomas da concussão inicial, mas
deradas em T2* (GRE. SWI) em geral são negativas para
retoma à competição e sofre um segundo trauma craniano -
hemorragia intraparenquimatosa. O cérebro inchado apre
em geral de menor intensidade. Ele inicialmente permanece
senta forte restrição ao estudo da difusão. A espectrosco-
consciente, porém atordoado e confuso ("go/ his bell nmg"),
pia por RM demonstra queda do NAA.
antes de sofrer um colapso e tomar-se semicomatoso.
A recuperação de um evento concussivo não é linear e
não coincide com a resolução dos sintomas clínicos. Disfunçõo hipofisárío pós-traumotica
Entre 25 e 40% dos sobreviventes de TCE desenvolvem
História natural. O cenário clínico da SIS é freqüente deficiências hormonais em 6 a 12 meses após a lesão. Cer
mente catastrófico com rápido início de coma associado ca de 20% são suficientemente graves para exigir reposi
a midríase fixa. Pode ocorrer deterioração neurológica
ção hormonal.
dentro de minutos. A mortalidade e a morbidade são ex A disfunçào endócrina em pacientes com outras condi
tremamente altas. Os sobreviventes, mesmo submetidos
ções médicas complexas ou psicossociais freqüentemente
a craniectomia descompressiva de urgência, costumam não é percebida. A disfunção hipotalámico-hipofísária pode
apresentar infartos isquêmicos multifocals com deficits contribuir para uma pior qualidade de vida, exacerbar défi-
cognitivos e neurológicos graves residuais. cils neurológicos e tornar-se inclusive uma ameaça à vida.
A deficiência de hormônio do crescimento pode ser a causa
Imagem de atraso do crescimento e baixa estatura em crianças.
A TC em pacientes com SIS mostra uma pequena O diagnóstico de hipopituitarismo pós-traumático é
(<0,5 cm) coleção subdural, em forma de crescente, hi- baseado na avaliação clínica, exames laboratoriais e neu-
perdensa ou com densidade mista, recobrindo um hemis roimagem. Um espectro de achados na RM foi relatado e
fério cerebral hipodenso e inchado. A extensão do efeito inclui hemorragia hipotalâmica e/ou na hipófise posterior,
expansivo e do desvio de linha média é desproporcional infarto do lobo anterior da hipófise e transecção da haste
ao relativamente pequeno hematoma subdural (Fig. 3-44). hipofisária. A interrupção traumática da haste hipofisária
Inicialmente, a interface entre a substância branca e apresenta-se como sela parcialmente vazia acompanhada
cinzenta é preservada, mas à medida que o edema cerebral por haste hipofisária muito fina ou seccionada. Vasculari-
progride, o hemisfério inteiro toma-çe hipodenso. As cis zaçâo reduzida em estudos dinâmicos pós-contraste (Fig.
ternas da base e os sulcos cerebrais lomam-se totalmente 3-45) pode ser evidenciada.
Efeitos secundários e seqüelas do trauma ao SNC 73

3-45A Imagem ponderada em II no plano coronal em uma criança 3-45B Imagem ponderada em 12 do mesmo paciente demons
com hipopiluitarismo pós-traumático demonstrando ausência da hasle trando sela parcialmente vazia B9 e ausência da haste hipofisária.
infundibular (provavelmente secundária à transecçáo traumática) Si e Área de encefalomalacia E3 junto a "growing fracture" é úafamente
uma "growing fracture" no vertex E3. demonstrada.

Morte cerebral
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74 Trauma

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rvf r V
Parte II

Hemorragias não traumáticas e


esões vasculares
4
Abordagem às hemorragias não
traumáticas e às lesões vasculares
iniciando com uma pequena discussão sobre em quem,
A imagem da hemorragia e das lesões vasculares 77
Em quem e por que realizar exames de imagem? 77 por que, quando e como realizar exames de imagem. De
Quando e como realizar exames de imagem? 77 senvolveremos, então, uma abordagem baseada na anato
mia para avaliar a HI não traumática. Fecharemos a dis
Abordagem às hemorragias não traumáticas 78
Hemorragia intra-axial 79
cussão com uma introdução baseada na patologia do largo
Hemorragia extra-axial 80 espectro de lesões vasculares congênitas e adquiridas que
afetam o cérebro.
Abordagem às alterações vasculares do SNC 81
Hemorragia subaracnóidea e aneurismas 81
Malformações vasculares 81
Anatomia arterial e iníartos 82
Anatomia venosa e ociusões 82 A imagem da hemorragia e das
Va s c u l o p a t i a s 83
lesões vasculares

Esta seção é direcionada a hemorragias espontâneas (i.e., Em quem e por que realizar exames
não traumáticas) e a lesões vasculares, começando com de imagem?
uma discussão geral sobre os sangramentos cerebrais. Em razão de sua disponibilidade e rapidez, uma TC sem
Os capítulos subsequentes delineiam um largo espectro contraste de emergência costuma ser o exame de imagem
de patologias vasculares, que variam desde aneurismas/ de primeira escolha nos pacientes com início súbito de
hemorragia subaracnóidea e malformações vasculares a um déficit neurológico inexplicado. A TC sem contraste
vasculopatias cerebrais e acidentes vasculares cerebrais também é comumente obtida para avaliar a suspeita de he
(AVCs). Quando apropriado, considerações anatômicas e morragia subaracnóidea, hidrocefalia ou massa intracra
a fisiopatologia de distúrbios específicos serão incluídas. niana em paciente com cefaleia grave, mas sem alteração
A hemorragia intracraniana (Hl) espontânea (i.e., focai ao exame neurológico.
não traumática) e as doenças vasculares cerebrais são a Se o estudo inicial por TC sem contraste for negativo
segunda maior causa neurológica de incapacitação. atrás e nenhum déficit neurológico estiver aparente, prosseguir
apenas do trauma. O AVC ou "infarto cerebral" - definido com a investigação por imagem é desnecessário. Contudo,
como início súbito de um evento neurológico - é a tercei se os achados de imagem e a história do paciente sugeri
ra maior causag/o/jo/ de morte nos países industrializados rem um AVC tromboembólico, exames de imagem adicio
e é causa neurológica mais comum de incapacitação em nais estão indicados.
adultos.

Significativas iniciativas de saúde pública com o Quando e como realizar exames


objetivo de reduzir a prevalência de comorbidades, tais
como obesidade, hipertensão e diabetes, causaram apenas
de imagem?
leve redução na incidência de AVCs e de sangramentos Uma das questões mais desafiadoras surge quando uma
cerebrais. Por isso, continua sendo importante entender a TC sem contraste de rastreamento revela hemorragia pa-
etiopatologia das hemorragias intracranianas e os diversos renquimatosa. Quais as potenciais causas? O paciente está
subtipos de AVCs em conjunto cora as suas manifestações em risco para expansão do hematoma? Devem ser realiza
de imagem. dos outros exames de imagem de emergência?
Começaremos este capítulo com uma breve revisão Uma angiotomografia (ATC) está indicada em pa
da Hl não traumática e das doenças vasculares do SNC, cientes com declínio clínico súbito e hematomas de den-
78 Hemorragias nao traumáticas e lesões vasculares

sidade mista (indicando sangramento em atividade ou a possibilidade de neoplasia, malformação arteriovenosa


coagulopatia). Um bleeding globe causado pela ruptura subjacente ou coagulopatia.
de um microaneurisma lenticuloestriado (aneurisma de Se a RM demonstrar múltiplas hemorragias parenqui-
Charcot-Bouchard) pode, às vezes, ser identificado. matosas em diferentes fases, a etiologia subjacente varia
Uma ATC também é apropriada como um segundo conforme a idade do paciente. Múltiplos sangramentos
passo em crianças e em adultos jovens e de meia-idade em pacientes idosos podem estar associados à hipertensão
com HI espontânea (não traumática) detectada em uma crônica e à angiopatia amiloide. Malformações caverno
TC sem contraste de rastreamento. Ao contrário do que sas e alterações hematológicas são as causas mais comuns
ocorre nos pacientes idosos, a malformação vascular é em crianças e em adultos jovens.
uma etiologia subjacente comum nos grupos mais jovens.
A RM de emergência é necessária se a ATC for ne
gativa. Contudo, uma RM de controle com ou sem con
traste pode ser muito útil nos pacientes com Hi inexpli- Abordagem às hemorragias
cada. Além das sequências-padrão (i.e., ponderações em não traumáticas
TI, T2, difusão, FLAIR e Ti pós-contraste), seqüências A localização do hematoma, a idade e o número (solitário
em T2*-GRE ou imagem ponderada em susceptibilidade ou múltiplo) devem ser valorizados.
(SWI) - devem ser obtidas. O diagnóstico diferencial da Hl espontânea não trau
A evidência de hemorragia prévia na RM pode ser mática varia largamente com a localização anatômica,
muito útil para estreitar o diagnóstico diferencial. A HI Já que o parênquima cerebral é o local mais comum, co
benigna, em geral, segue uma evolução previsível e orde meçaremos a discussão com as hemorragias intra-axiais
nada nos exames de RM. A evidência na RM de hemorra e. após, voltaremos nossa atenção para os sangramentos
gia desordenada ou com aparência bizarra deve levantar extra-axiais.

4-1 Espécime de autópsia


de um idoso mostrando um
hematoma parenquimaiosoSl
centrado na região estriatocap-
suiar. A localização na cápsula
externa/putame é clássica para
hemorragia hipertensiva.
4-2 Caso de autópsia de um
paciente de meia-idade com car
cinoma renal metastático mos
trando duas metástases hemor
rágicas SI na interface entre as
substâncias branca e cinzenta,
uma localização tipica.

4-3 Peça de autópsia de uma


paciente jovem com um grande
hematoma H) centrado na
substância branca com extensão
focai E3 através do córtex.
Malformação arteriovenosa sub
jacente foi a causa dessa hemor
ragia intracraniana fatal.
4-4 Peça de autópsia de uma
criança com hemorragias mul
tifocals parenquimatosas SI
causadas por leucemia. (Os casos
são cortesia de R. Hewlett, MD.)
Abordagem às hemorragias não traumáticas e às lesões vasculares 79

Hemorragia intra-axial didos e retificados. O cérebro ao redor pode aparecer


francamente edematoso.
Aspectos clínicos A intensidade de sinal do hematoma nas sequências-
A hemorragia parenquimatosa é o tipo mais devastador de
-padrão da RM varia conforme a idade do coágulo e a se
AVC. Embora os avanços recentes tenham melhorado o qüência de imagem. As aquisições em 12* (GRE, SWI)
tratamento dos AVCs isquêmicos, existem poucos trata são especialmente importantes na avaliação de pacientes
mentos baseados em evidência para a Hl. As estratégias com hemorragia cerebral.
são amplamente de suporte, objetivando limitar a progres
são da lesão, bem como prevenir complicações associadas, Diagnóstico diferencial
tais como expansão do hematoma, elevação da pressão A localização específica de um coágulo intraparenqui-
intracraniana e ruptura intraventricular com hidrocefalia. matoso é muito importante para estabelecer sua suposta
etiologia.
Imagem Se um clássico hematoma estriatoeapsular ou talâ-
Os hematomas parenquimatosos são facilmente reco mico é encontrado em um paciente de meia-idade ou
nhecidos na TC sem contraste por sua hiperdensidade idoso, a hemorragia hipertensiva é de longe a causa mais
ou, em casos de sangramento ativo ou coagulopatia, as comum (Fig. 4-1). Deve-se suspeitar do uso de drogas em
pecto misto iso/hiperdenso. Os hematomas são lesões um paciente adulto jovem como uma lesão de aspecto si
focais que expandem o cérebro, deslocando o córtex milar. A ruptura de aneurismas raramente causa hemorra
externamente e produzindo efeito de massa nas estru gia nos núcleos da base laterais, e neoplasias com necrose
turas subjacentes, tais como os ventrículos. Em geral, hemorrágica são muito menos comuns do que sangramen-
os sulcos são comprimidos, e os giros aparecem expan tos hipertensivos nessa localização.

4-5 Peça de autópsia demons


trando hemorragia subaracnóidea
aguda difusa nas cisternas da
base. O sangue enche as fissuras
de Sylvius B, a cisterna su-
prasseiar i2I e a cisterna magna
ÍS. A hemorragia cobre a su
perfície da ponte e se estende la
teralmente para as cisternas dos
ângulos cerebelopontinos 3).
4-6 TC sem contraste de um
paciente com HSA aneurismática.
Hemorragia difusa preenchendo
a cisterna suprasseíar B e as
fissuras de Sylvius B.

4-7 TC sem contraste mostran


do a clássica HSA perimesencefá-
líca não aneurismática B com
sangue subaracnóideo localizado
ao redor do mesencéfalo, na fos
sa interpeduncular e na cisterna
ambiens. A ATC foi negativa.
4-8 TC sem contraste de
uma jovem com cefaleia grave
mostrando hemorragia subarac
nóidea focai em sulcos da conve-
xídade frontal à direita B. As
cisternas da base (não mostra
das) estavam normais. Síndrome
da vasoconstrição cerebral rever
sível comprovada.
80 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

4-9A TC sem contraste mostrando hematoma combinado epi e subdu 4-9B Ponderações em 12 do mesmo paciente mostrando que o he
ral subagudo espontâneo não traumático B associado à lesão focai na matoma está associado à lesão hiperintensa bem demarcada na
calvária [S. calvária B. Um hemangioma foi encontrado na cirurgia.

As hemorragias lobares se apresentam como um espaço subaracnóideo. A hemorragia subaracnóidea é de


desafio diverso, já que o diagnóstico diferencial é muito longe a mais comum. Em comparação com as hemorra
mais vasto. Em pacientes de mais idade, angiopatia ami- gias traumáticas, o sangramento espontâneo para os espa
loide, hipertensão e neoplasia subjacente (primária ou ços epi e subdural é incomum.
metastática) são as causas mais comuns (Fig. 4-2). Mal
formações vasculares (Fig. 4-3) e malignidades hematoló- Hemorragia subaracnóidea
gicas (Fig. 4-4) são as causas mais freqüentes em pacien Aspectos clínícos. Os pacientes com hemorragia subarac
tes jovens. Trombose de seio durai e/ou veia cortical são nóidea não traumática (HSAnt) freqüentemente se apre
incomuns, mas ocorrem em pacientes de todas as idades. sentam com cefaleia grave de início súbito (descrevem
Hemorragias na interface entre as substâncias bran como "a pior dor de cabeça da minha vida"). Uma cefaleia
ca e cinzenta são típicas de metástases, êmbolos séplicos em "trovão" é muito comum.
e infecção fúngica.
Imagem. A HSAnt é facilmente distinguida de um hematoma
Hemorragias multifocais confinadas à substância
branca são raras. Quando identificadas em pacientes com parenquimatoso pela sua localização e configuração (Fig.
história de doença febril, seguida de declínio neurológi 4-5). Sangue no aspecto subaracnóideo tem um aspecto em
co súbito, é mais provável que sejam secundárias à forma "plumas", curvilíneo ou serpentiforme enquanto preenche
as cisternas e a superfície dos sulcos. Ele segue a superfície
hemorrágica da encefalomielite aguda disseminada, cha
mada de leucoencefaiopatia hemorrágica aguda (também cerebral e raramente causa efeito de massa focai.

conhecida como doença de Weston-Hurst). A HSA é hiperdensa nos exames de TC sem contraste.
A idade do coágulo pode, provavelmente, ser útil para O LCS com hemorragia sulco-cisternal aparece "sujo" nas
sugerir a etiologia da hemorragia intracraniana. Uma ca ponderações emTl, hiperintenso em FLAIR e com artefa
vidade de encefalomalacia nos núcleos ou tálamos preen to de susceptibilidade magnética no T2*.
chida por hemossiderina em um paciente idoso se deve Diagnóstico diferencial. Assim como no sangramento pa
à hemorragia hipertensiva antiga. A causa mais comum
renquimatoso. a localização específica da HSAnt ajuda
de coágulo parenquimatoso hiperagudo em uma criança é a estabelecer o diagnóstico diferencial apropriado. De
uma malfomiação arteriovenosa subjacente.
longe, a causa mais comum de HSAnt é a hemorragia
subaracnóidea aneurismática (HSAn). Já que a maioria
Hemorragia extra-axial dos aneurismas intracranianos se origina do polígono de
As hemorragias extra-axiais espontâneas podem ocorrer Willis e da bifurcação da artéria cerebral média, a HSAn
em qualquer um dos três grandes compartimentos ana tende a se espalhar através das cisternas da base e se es
tômicos, como o espaço epidural, o espaço subdural e o tender às fissuras de Sylvius (Fig. 4-6).
Abordagem às hemorragias não traumáticas e às lesões vasculares 81

Dois subtipos especiais e facilmente reconhecíveis pseudoaneurismas) ou malformação vascular. Outros


de hemorragia subaracnóidea não estão associados a ocorrem sem um antecedente identificável ou condição
rupturas de aneurismas intracranianos. O sangue lo predisponente.
calizado nos espaços subaracnóideos em tomo do me- Ocasionalmente, a ruptura de uma artéria cortical ou
sencéfalo e anterior à ponte é chamado de hemorragia aneurisma sacular pode resultar em HS intracraniano não
subaracnóidea perímesencefálíca não aneurismática traumático. Os hemangiomas durais também têm sido re
(HSAp) (Fig. 4-7). Esse tipo de HSA é autolimitado, latados como causas de HS agudo não traumático. Os pa
raras vezes resulta em vasospasmo e é provavelmente cientes idosos com coagulopatia intrínseca ou iatrogênica
secundário à hemorragia venosa. A ATC é uma técnica podem se apresentar com HS tanto com pouca ou nenhu
confiável para excluir um aneurisma de topo da basilar. ma evidência definida de traumatismo craniencefálico.
A angiografia com subtração digital (ASD) e o segui-
mento por imagem não têm demonstrado aumento no
ganho diagnóstico em tais casos.
A presença de sangue em um ou mais sulcos sobre Abordagem às alterações vasculares
os hemisférios cerebrais superiores é chamada de hemor do SNC
ragia subaracnóidea de convexidade (Fíg. 4-8). Esse
Aqui, abordaremos de maneira geral as alterações vascu
tipo de HSA recentemente reconhecido está associado a
lares do cérebro introduzindo brevemente a maioria dos
diversas etiologias, incluindo trombose venosa cortical e
capítulos desta seção. Detalhes a respeito da etiopatolo-
angiopatia amiloide em pacientes idosos, bem como sin-
drome da vasoconstriçâo cerebral reversível em indiví gia, características clinicas, achados de imagem e diag
nóstico diferencial serão delineados nos capítulos indivi
duos mais jovens.
dualmente.

Hemorragia epidural
A patogênese dos hematomas extradurals é quase sempre Hemorragia subaracnóidea e aneurismas
traumática e provém da laceração de artérias meníngeas, O trauma é - de longe - a causa mais comum de hemor
fraturas ou ruptura de seios venosos durais. ragia subaracnóidea. A HSA é encontrada em 100% dos
A maioria é encontrada no espaço epidural espinal - e pacientes com traumatismo craniencefálico grave fatal e é
não craniano - e é uma condição de emergência que pode comum naqueles com traumatismo craniencefálico fecha
resultar em paraplegia, quadriplegia e até mesmo morte. do não fatal moderado a grave.
Os pacientes idosos anticoagulados estão em maior risco. O Capitulo 6 concentra-se na HSA "espontânea" não
As hemorragias epidurals espontâneas intracranianas traumática, que causa entre três e cinco por cento de todos
são bastante raras. A maioria dos casos relatados está as os insultos agudos. Destes, quase 80% são causados pela
sociada a alterações na coagulação, infecção craniofacial, ruptura de um aneurisma sacular. A HSA geralmente pode
freqüentemente mastoidite ou sinusite do seio esfenoidal, ser distinguida de uma HSA não aneurismática pela sua dis
trombose de seio durai, infarto ósseo (p. ex., em pacientes tribuição no exame de TC sem contraste (ver anteriormente).
com anemia falciforme) ou lesões vasculares da calvária Os aneurismas saculares clássicos {berry) assim
(p. ex., hemangioma, metástase ou cisto epidermoide in- como os menos comuns aneurismas dissecantes, pseudoa
tradiploico) (Fíg. 4-9). neurismas, aneurismas fusiformes e aneurismas em ampo-
la {blister-like) são discutidos neste capítulo.
Hemorragia subdural
O trauma também é a causa da grande maioria dos he Malformações vasculares
matomas subdurals (HSs). Os HSs representam menos de As malformações cerebrovasculares (MCV) são um gru
5% de todos os casos. Muitos ocorrem com depleção do po de alterações fascinantes e notadamente heterogêneas
volume do LCS e com hipotensão intracraniana, que pode com características fisiopatológicas e de imagem únicas.
ameaçar a vida quando suficientemente grave. A maioria O Capitulo 7 discute os quatro maiores tipos de malfor
dos casos de hipotensão intracraniana espontânea é se mações vasculares, agrupando-os conforme se comporta
cundária à ruptura durai após punção lombar, mielografia, o shunt, se diretamente da circulação arterial para venosa,
anestesia espinal ou cirurgia craniana. sem passar pelo leito capilar.
Os HSs não traumáticos têm sido relatados em as As MCVs que demonstram shunt AV incluem as mal
sociação a diversas outras condições, incluindo desidra formações arteriovenosas (MAVs) (Fíg. 4-10) e as fistulas
tação hiponatrêmica, alterações de coagulação inatas ou arteriovenosas (FAVs). A entidade chamada angiopatia
adquiridas, trombose de seio venoso durai e meningite. cerebral proliferativa, recentemente descrita, está incluída
Alguns poucos casos de HS espontâneo ocorrem di nesta seção. A angiopatia cerebral proliferativa pode si
retamente adjacentes a uma hemorragia periférica lo mular uma MAV nos estudos de imagem, mas possui ca
bar e estão associados a uma vasculopatia subjacente racterísticas únicas, que podem influenciar nas decisões
(tal como doença amiloide cerebral com formação de de tratamento.
82 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

4-10 Caso de autópsia de uma malformação arteriovenosa causando 4-11 Fotomlcfografia de baixa magnificação de uma leiangiectasia ca
hemorragia intracraniana massiva. Observe a drenagem venosa proemi pilar encontrada iticidentaimente em uma autópsia. Observe numerosos
nente B sobre a superfície do hemisfério. (Cortesia de R. Hewlett, MD.) "buracos" E3 causados pelos inúmeros capilares dilatados e a ausência
de eleito de massa ou de hemorragia. (Cortesia de P. Burger, MD.)

Com raras exceções, a maioria das MCVs que não


A discussão dos infartos embólicos inclui êmbolos
possuem shunt AV - i.e., anomalias do desenvolvimento
venoso ("angiomas venosos"), bem como malformações cardíacos e ateromatosos, bem como infartos lacunares
cavernosas e telangiectasias capilares (Fig. 4-11) - são e a distinta síndrome dos êmbolos de gordura. A etiopa-
lesões "não me toque" que são identificadas nos exames tologia e a imagem dos infartos em zonas de watershed
de imagens, mas, em geral, não necessitam de tratamento. ("zonas limítrofes"), e a lesão cerebral global hipóxico-
Por fim, observe que o tópico de malformação vas -isquêmica também estão incluídas. Infartos por outras
cular "oculta" não é discutido. Este é um conceito fora causas, tais como síndrome de hipoperfusão cerebral,
de uso, originado em uma época na qual a angiografia era são discutidos.
a única técnica disponível para o diagnóstico de malfor O capítulo é finalizado ilustrando infartos em distri
mações cerebrais vasculares antes de se proceder à ex buições vasculares incomuns, incluindo os relacionados
ploração cirúrgica. Algumas malformações vasculares, à artéria de Percheron e os infartos "de topo da basilar".
tais como hemangiomas cavernosos e telangiectasias ca
pilares, são invisíveis (e consequentemente "ocultas") na Anatomia venosa e ociusões
angiografia, mas são facilmente identificadas nos exames O aspecto venoso da circulação cerebral é - literalmente
deRM. uma "terra desconhecida" para muitos médicos que lidam
com distúrbios cerebrais. Enquanto muitos podem enu
Anatomia arterial e infartos merar os principais territórios arteriais com relativa faci
O capítulo começa com uma discussão sobre a anatomia lidade, poucos podem delinear os territórios de drenagem
intracraniana arterial normal e distribuição vascular, fun venosa intracraniana.
damentos essenciais para a compreensão dos aspectos de Os seios e as veias cerebrais não são como os do res

imagem da isquemia/ínfarto cerebral. tante do corpo. As veias sistêmicas, em geral, têm trajeto
O principal foco do capítulo é o infarto tromboem- paralelo às artérias e espelham os seus territórios vascula
bólico nos territórios arteriais cerebrais, já que eles são, res. Não é assim no cérebro. As veias sistêmicas têm vál
de longe, a causa mais comum de isquemia aguda (Fig. vulas e o fluxo costuma ser unidirecional.

4-12). Infartos subagudos e crônicos serão brevemente As veias cerebrais e os seios durais carecem de válvu
discutidos. Embora não sejam, por costume, receptivos las e podem, consequentemente, exibir fluxo bidirecional.
ao tratamento intravascular, eles são, todavia, vistos nos As veias sistêmicas possuem numerosos trajetos colate
estudos de imagem e devem ser reconhecidos como se rais que podem se desenvolver em caso de oclusão. Pou
qüelas de eventos isquêmicos prévios (Fig. 4-13). cos ramos colaterais existem dentro da calvária.
Abordagem às hemorragias não traumáticas e às lesões vasculares 83

Infarto cerebral
isquêmico
80%

HI"espontânea"
priméria 14%

HSA não traumática 4%

Ociusão venosa 1%

Miscelânea 1%

4-12 Diagrama mostrando que o infarto isquêmico cerebral represen 4-13 Autópsia de infarto cerebral subagudo com transformação
ta a grande maioria dos AVCs. A segunda causa mais comum é a hemor hemorrágica no cortex occipital HI e tálamo contralateral [S. A distri
ragia intracraniana primária, seguida de hemorragia subaracnóidea não buição anatômica é a de um infarto territorial posterior (vertebrobasilar).
traumática. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)

O Capítialo 9 começa com uma breve discussão so AVC e para as bases das decisões relacionadas ao trata
bre a anatomia venosa normal e os padrões de drenagem mento, identificar uma placa prona à ruptura é ao menos
antes de considerar as diversas manifestações da ociusão tão importante quanto identificar a estenose.
venosa. A trombose venosa causa apenas 1% de todos os O bastante negligenciado, mas importante tópico de
infartos, e sua apresentação clínica é muito menos distinta aterosclerose intracraniana também é discutido. Embora
do que a da maioria das oclusões arteriais. Talvez seja por êmbolos trombóticos cardíacos e de grandes vasos causem
isso que esse seja o tipo de infarto mais freqüentemente a maioria dos AVCs arteriais, entre cinco e 10% podem
negligenciado nos exames de imagem. O infarto venoso ser atribuídos à doença esteno-oclusiva intracraniana (Fig.
também pode simular outras doenças (p. ex., neoplasias), 4-15). O tópico de arteriosclerose (p. ex., doença vascular
e, em contrapartida, diversas alterações podem simular de pequenos vasos) também é considerado aqui e nova
trombose venosa. mente na seção subsequente sobre doenças metabólicas.
As doenças não ateromatosas da vasculatura cerebral
Vasculopatios são muito menos comuns do que a aterosclerose e suas
o Capitulo 10, o capítulo final desta seção, é dedicado à seqüelas. Contudo, diversas vasculopatias podem ter
vasculopatia cerebral. Esse capítulo começa com uma re conseqüências graves e devem ser reconhecidas nos es
visão sobre a anatomia arterial extracraniana iiomial com tudos de imagem. Esse grupo heterogêneo de alterações
atenção especial às artérias carótidas e suas variantes. inclui displasia fibromuscular, dissecção, vasospasmo e
A maior parte do capitulo trata da vasculopatia cere a incomum, porém importante síndrome da vasoconstri-
bral e está organizada em duas partes: doença ateroscleró- ção cerebral, bem como o freqüentemente confuso tópi
tica (Flg. 4-14) e não aterosclerótica. O conceito de placa co das vasculites.

aterosclerótica "vulnerável" ou "em risco" é enfatizado. O capitulo das vasculopatias finaliza com o tópico
Na verdade, embora a mensuração do percentual de este- das doenças microvasculares não ateromatosas, tais como
nose da artéria carótida interna tenha sido destacada desde lúpus eritematoso sistêmico, síndrome antifosfolipideo e
os anos de 1990 como o principal preditor para risco de angiopatia amiloide.
84 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

4-14 Caso de autópsia mostrando trombose de uma carótida interna 4-15 A descoloração amarelada e ectasia per DVA está mais proemi
em sua porção cavernosa supraclinóidea B e aterosclerose na ou nente na circulação posterior B, mas as ACis S e as ACMs B tam
tra ACl. (Cortesia de R. Hewlett, MD.) bém estão afetadas. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)

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5
Hemorragia parenquimatosa
espontânea
tanto, é necessário um diagnóstico rápido para orientar o
Evolução da hemorragia intracraniana 86 tratamento.
Fisiopatologla da hemorragia intracraniana 86
Imagem da hemorragia parenquimatosa intracraniana 89 O prognóstico é grave, mesmo com intervenção pre
Etiologia das hemorragias parenquimatosas coce. Entre 20 e 30% dos pacientes morrem dentro das 48
não traumáticas 94 horas do inicio da hemorragia. A mortalidade no primeiro
Macro-hemorragias 100 ano chega a 60%. Apenas 20% dos pacientes que sobrevi
Hi hipertensiva 100 vem retomam à independência funcional e se recuperam
Angiopatia amiloide cerebral 104 sem déflcits neurológicos residuais significativos.
Hemorragia cerebelar remota 104
Micro-hemorragias 105 Recomendações de imagem
Microssangramentos cerebrais multifocais 105 As diretrizes mais recentes da American Heart Associa
Causas não hemorrágicas de pontos pretos com
artefato de susceptibilidade magnética 106
tion/American Stroke Association (AHA/ASA) recomen
dam a TC ou a R.M de urgência como métodos de avalia
ção inicial para distinguir entre acidente vascular cerebral
Na ausência de trauma, o início agudo de sintomas neu isquêmico e hemorrágico.
rológicos tem etiologia vascular até que seja provado o Se um hematoma parenquimatoso for identificado, a
contrário. Uma rápida avaliação por neuroimagem para determinação da etiologia toma-se fundamental na ava
distinguir entre acidente vascular isquêmico e hemorragia liação inicial do paciente. A detecção de extravasamento
intracraniana (HI) é crucial para o manejo do paciente. de contraste dentro do coágulo pode ajudar a identificar
os pacientes com risco para expansão do hematoma e que
Epidemlologia da HI espontânea podem ser candidatos a intervenção cirúrgica. As diretri
o infarto/isquemia cerebral é o responsável por cerca de zes da AHA/ASA recomendam considerar TC com con
80% de todos os acidentes vasculares cerebrais (AVCs). A traste ou angiotomografia (ATC) para identificar o foco de
hemorragia (não traumática) intracraniana primária (HIP) sangramento nesses pacientes.
causa aproximadamente 15% dos AVCs, e é um subtipo O manejo de sangramentos de etiologia indefinida
devastador com alta morbidade e mortalidade. Apenas nos também varia conforme a idade do paciente. Se a idade
Estados Unidos, existem cerca de 70.000 a 80.000 novos for maior do que 45 anos e houver hipertensão arterial sis
casos de i-Il a cada ano. com um custo aproximado ao lon têmica prévia, um episódio de HI putaminal, talâmico ou
go da vida de $ 120.000 a 150.000 por pessoa. na fossa posterior tem etiologia quase sempre hipertensiva
e não exige avaliação adicional por imagem.
História natural da HI primária Entretanto, sangramentos profundos ou lobares em
A piora clínica precoce após HIP é comum. Mais de 20% pacientes jovens ou adultos normotensos - independente
dos pacientes apresentam redução na Escala de Coma de mente da idade - geralmente exigem avaliação adicional.
Glasgow (CCS) de dois ou mais pontos entre a avaliação TC com contraste/RM com angiografía e/ou venografia
inicial pelos paramédicos e a chegada no departamento de podem ser úteis para detectar anormalidades como mal
emergência. formações arteriovenosas. neoplasias e trombose venosa
O sangramento ativo com expansão do hematoma cerebral.
ocorre em 25 a 40% dos pacientes e pode continuar por Em pacientes idosos com HIP, RM ponderada em T2*
várias horas após o inicio dos sintomas. O aumento do (GRE, SWI) é útil para identificar alterações relacionadas
hematoma é um preditor de piora clinica e está associa a doença de pequenos vasos, como microssangramentos,
do a elevação significativa na morbimortalidade. Por hiperintensidades de substância branca e infartos lacunares.
86 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

5-1 (A) A hemorragia hiperaguda é um coágulo rico em água que é composto por 95 a 98% de oxi-Hgb. (B) A he
morragia aguda contém principalmente oxi-Hgb. Algumas Hems no centro muito hipóxico do coágulo podem conter
desoxi-Hgb. (C) Coágulos subagudos precoces contêm desoxi-Hgb no centro e met-Hgb intracelular na periferia. (0)
Coágulos subagudos tardios contêm principalmente met-Hgb extracelular. (E) Coágulos crônicos contêm uma quan
tidade de met-Hgb extracelular amarelada circundada por um halo de hemossiderina. (F) Apenas uma cicatriz em
formato de fenda permanece posteriormente.

Visão geral da HI primária


Este capítulo abordará inicialmente a fisiopatologia da Evolução da hemorragia intracraniana
hemorragia intracraniana. Isso fornecerá as bases para Fisiopatologio da hemorragia intracrar)lana
o entendimento de como a HIP se apresenta nos estu
dos de imagem e por que os aspectos de imagem mu Formação do coágulo
dam com o tempo. Também serão consideradas causas A formação do coágulo é um evento fisiológico comple
maiores de HI, como hipertensão arterial e angiopatia xo que envolve componentes celulares (principalmente
amiloide. plaquetas) e componentes proteicos solúveis. As plaque-
A maioria das HIPs é constituída por lesões solitárias. tas são ativadas e agregam-se no ponto de dano vascular.
A presença de mais de um sangramciito cerebral /micros Proteínas solúveis são ativadas tanto pelas vias intrínseca
cópico simultâneo é Incomum, respondendo por apenas quanto exlrínseca e unem-se em uma rota de coagulaçâo
2 a 3% dos casos de HIP. Sangramcntos /;;/crascópicos comum, resultando no coágulo de fibrina.
multifocais são muito mais comuns. Ao final do capítulo,
serão discutidos etiologia, patologia, aspectos de imagem Degradação da hemoglobina
e diagnósticos diferenciais dos sangramentos microscópi A hemoglobina (Hgb) é composta por quatro subunidades
cos multifocais. proteicas (globinas). Cada subunidade contém uma molé-
Hemorragia parenquimatosa espontânea 87

cuia heme com um átomo de ferro circundado por um anel os efeitos diagmagnéticos da oxi-Hgb são predominantes
de porfirina. no hematoma.
A Hgb do interior das células vermelhas (Hem) do Nos hematomas recentes, eritrócitos intactos mistu
sangue que estão extravasando no interior de uma HIP ram-se ao parênquima cerebral adjacente na interface en
rapidamente dessaturam. A Hgb totalmente oxigenada tre o parênquima e o hematoma. Um edema forma-se ao
(oxi-Hgb) contém íon ferroso não paramagnético. Em redor do hematoma após poucas horas do início do evento
um hematoma, a oxi-Hgb é inicialmente convertida para e está associado a efeito expansivo, aumento da pressão
desoxi-hemoglobina (desoxi-Hgb). intracraniana e dano cerebral secundário.
Com o tempo, a desoxi-Hgb é metabolizada em meta-
Hemorragia aguda. Entre um e três dias de evolução. A
-hcmoglobina (met-Hgb). que contém íon férrico. Confor
me as células vermelhas sofrem lise, a met-Hgb é liberada hipoxia grave no interior do coágulo induz transforma
e posteriormente degradada e reabsorvida. A conversão ção da oxi-Hgb em desoxi-Hgb. O ferro na desoxi-Hgb
do íon férrico em hemossiderina e ferritina é feita pelos apresenta quatro elétrons desemparelhados e conseqüente
efeito paramagnético.
macrófagos. Embora a desoxi-Hgb seja paramagnética, enquanto
A maior fonte de depósito de ferro não heme no cé
rebro humano é a ferritina. Embora o ferro seja essencial permanece no interior das hemácias intactas, ela é prote
gida das interações diretas dipolo-dipolo com prótons de
para o funcionamento da função cerebral humana, a so
água do plasma extracelular. Nesse estágio, os efeitos de
brecarga de ferro tem efeitos devastadores. A peroxidação
susceptibilidade magnética são determinados pelas diferen
lipídica e a formação de radicais livres promovem lesão
ças entre os "microambientes" dentro e fora dos eritrócitos.
cerebral oxidativa após Hl que pode continuar por sema
nas ou meses. Hemorragia subaguda precoce. Definida quando o coágulo
tem entre três dias e uma semana de evolução. A hemo
Estágios da hemorragia intraparenquimatosa globina persiste no interior dos eritrócitos e a contida no
Cinco estágios na evolução temporal dos hematomas são centro hipóxico do coágulo permanece como desoxi-Hgb.
descritos: hiperagudo, agudo, subagudo precoce, subagudo A periferia do coágulo degenera-se mais rapidamente e
tardio e crônico. Cada um deles tem suas próprias caraterís- contém met-Hgb intracelular, que é altamente paramagné
ticas que dependem de três fatores-chave: (1) estrutura do tica, porém as membranas intactas dos eritrócitos evitam
coágulo, (2) integridade das células vermelhas e (3) estado as interações diretas dipolo-dipolo.
da oxigenaçào da hemoglobina. Os aspectos de imagem Nessa fase, há desenvolvimento de resposta infla-
dependem do estágio do hematoma (Fig. 5-1), (Tab. 5-1). matória celular perl-hematoma. A medida que as células
O hematoma é composto por duas regiões distintas: imunológicas infiltram o parênquima adjacente ao coágu
central e periférica. Em geral, a degradação da hemoglo lo, ocorre ativação das células microglials.
bina inicia-se na periferia e progride em direção ao centro.
Hemorragia subaguda tardia. Dura de uma a várias sema
Hemorragia hiperaguda. Entre minutos até 24 horas de evo nas. A medida que as hemácias sofrem lise, a met-Hgb
lução. A maioria das hemorragias hiperagudas é avaliada toma-se extracelular. e agora se encontra diretamente
por imagem entre 4 e 6 horas e em geral antes de 24 horas. exposta à água plasmática, com conseqüente redução do
Inicialmente, o coágulo de tibrina é frouxo, contém plas tempo de relaxamento TI e prologamento do tempo de
ma, plaquetas e células vermelhas intactas. Nesse estágio. relaxamento T2.

Tabela 5-1 Aspectos de imagem dos estágios da hemorragia intraparenquimatosa

Tempo
Estágio (intervalo) Produtos do sangue TC TI T2 W Difusão

Hiperagudo <24 horas Oxi-Hgb Hiperdenso Isointenso Hiperintenso Artefato de suscepti- +


bilidade magnética

Agudo 1 a 3 dias Desoxi-Hgb Hiperdenso Isointenso Hipointenso T Artefato de suscep- +


tibilidade magnética

Subagudo >3 dias a Met-Hgb intracelular Isodenso Hiperintenso Hipointenso Muito hipointenso +
precoce 1 semana

Subagudo 1 semana Met-Hgb extracelular Hipodenso Hiperintenso Hiperintenso Halo hipointenso,


tardio a meses centro variável

Crônico >14 dias Hemossiderina Hipodenso Hipointenso Hipointenso Hipointenso


(â meses)

Desoxi-Hgb = desoxi-hemoglobina; met-Hgb = meta-hemoglobina; oxi-Hgb = oxi-hemoglobina


88 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

5-2A TC sem conUasle em um


paciente hipertenso demonstran
do um grande hematoma hete
rogêneo no hemisfério cerebeiar
esquerdo ES e um coágulo me
nor, muito menos hiperdenso, no
hemisfério cerebeiar direito
Achados consistentes com coá
gulo hiperagudo (frouxo, grande,
pouco retraído).
5-2B O paciente apresentou
piora clínica súbita durante o
exame. Nova TC sem contraste

agora demonstrando hemorragia


adicional El. O paciente morreu
logo após a realização do segun
do exame.

5-3A Um adolescente do sexo


masculino com leucemia mieloi-
de aguda procurou atendimento
com sintomas visuais de início
agudo. A TC sem contraste reali
zada em regime de emergência
não demonstrou anormalidades.
Rapidamente após a realização
do exame o paciente apresentou
piora súbita, que levou a realiza
ção de RM.
5-3B Imagem ponderada em
TI obtida após alguns minutos
demonstrando lesão com efeito
expansivo bifrontal isointen-
sa à substância cinzenta.

5-3C Após 5 minutos, imagem


ponderada em 12 demonstrando

n
lesão com efeito expansivo e si
nal misto hipo/iso/hiperintenso
S com níveis líquidos BSI, su
gerindo sangramento rápido.
5-3D O paciente apresentou
descerebração minutos após o
término da RM. Nova TC mos
trando hemorragia massiva
bifrontal com densidade mista e
edema cerebral difuso. Achados
de hemorragia hiperaguda asso
ciada a sangramento rápido e ã
coagulopatia de base.

à
Hemorragia parenquimatosa espontânea 89

Hemorragia crônica. Resíduos hemorrágicos permanecem Em contraste, o aspecto de imagem da hemorragia in


por meses a anos. As proteínas do heme são fagocitadas e tracraniana na RM é mais complexo e depende de vários
annazenadas como ferritina nos macrófagos. Se a capaci fatores intrínsecos e extrínsecos.
dade de armazenamento é excedida, o excesso de ferro é Os fatores biológicos intrínsecos que influenciam a
armazenado como hemossiderina. Ferritina intracelular e intensidade de sinal do hematoma relacionam-se prima
hemossiderina induzem forte susceptibilidade magnética. riamente com a estrutura macroscópica do coágulo, a in
tegridade eritrocitária e o estado de oxigenaçào da hemo
globina. Concentração de Hem, pH tecidual, fonte venosa
Imagem da hemorragia parenquimatosa versus arterial do sangramento, concentração proteica
intracraniana intracelular e a presença e integridade da barreira hemato-
o objetivo da imagem na Hl espontânea (HIE) é primeira -encefálica também contribuem para o aspecto de imagem
mente identificar a presença e a localização de um coágu de uma hemorragia intracraniana.
lo (a parte fácil), "datar" o coágulo (dificil) e então iden Os fatores extrínsecos incluem a seqüência de pulso,
tificar outras alterações que possam sugerir a etiologia do parâmetros da seqüência, largura de banda de recepção e
sangramento (a parte mais difícil e trabalhosa). intensidade do campo magnético. Destes, seqüência de
A aparência da HIP na TC depende apenas de um fator: pulso e intensidade do campo magnético são os principais
a densidade do elétrons. Por sua vez, a densidade de elétrons determinantes. Imagens ponderadas em TI e T2 são as
de um coágulo depende inteiramente da concentração pro- mais úteis para datar a lesão. T2* (ORE. SWI) é a seqüên
teica do coágulo, sobretudo do estado da globina componen cia mais sensível para detectar hemorragias (especialmen
te das moléculas de hemoglobina. O ferro e outros metais te micro-hemorragias).
contribuem com menos de 0,5% da atenuação total do coá A intensidade do campo magnético também afeta
gulo e não têm efeito na densidade visível de um hematoma. as características de imagem da HI. Os achados de RM

5-4A TC sem contraste em um


paciente masculino de 45 anos
mostrando HIP aguda. Um coá
gulo uniformemente hiperdenso
B é circundado por um halo de
edema hipodenso
5-4B Em íunçáo da idade
do paciente e do estado nor-
motenso, foi realizada RM para
identificação de uma patologia
de base. A imagem ponderada
em TI mostra que o fiematoma
tem intensidade de sinal inter
mediário E3 e é circundado por
um halo de edema vasogênico
hipointenso Note o efeito
expansivo com apagamento dos
sulcos adjacentes ES.

5-4C A imagem ponderada


em T2 mostra que o coágulo é
heterogeneamente hiperintenso
G9 e circundado por edema va
sogênico hiperintenso
5-4D A imagem T2° GRE mos
tra artefato de susceptibilidade
magnética na periferia do coágu
lo [ES. Hipointensidades tubula
res adjacentes às veias corticais
sugerem trombose venosa.
90 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

5-5A Imagem ponderada em


11 obtida quatro dias após ictus
em um paciente jovem com HI
parenquimatosa espontânea. O
coágulo é predominantemente
hiperintenso E3.
5-5B O coágulo EES é ex
tremamente hipointenso na
imagem ponderada em T2. O
aspecto "brilhante-escuro" em
T1-T2 é consistente com hemor
ragia aguda tardia/subaguda
precoce. A ASO (nâo mostrada)
evidenciou uma malformação
r
arteriovenosa quase totalmente
trombosada.

5-6A TC sem contraste no


plano axlal em um paciente com
hemorragia lobar hiperíensiva
aguda demonstrando coágulo
uniformemente hiperdenso no
lobo parietal esquerdo ES.
5-6B TC sem contraste de
controle após uma semana. A
densidade do coágulo reduziu
significativamente, sobretudo na
periferia.

5-6C RM adquirida imediata


mente após a TC de controle. A
imagem ponderada em TT de
monstra que o hematoma é hi
perintenso perifericamente B
e quase totalmente isointenso no
centro [^.
5-6D A imagem ponderada
em T2 demonstra que o coágulo
é quase totalmente hiperintenso
B. Uma pequena área de me
nor hiperintensidade persiste no
centro, e um halo de hipointen-
sidade B começa a aparecer
na periferia do coágulo. Achados
consistentes com hematoma su-
bagudo tardio.
Hemorragia parenquimatosa espontânea 91

5-7A TC sem contraste em um


paciente com hemorragia estria-
tocapsutar hipertensiva seis se
manas antes de nova internação
por cefaleia demonstrando uma
lesão hipodensa bem demarcada
no putame e na cápsula externa
esquerdos B com efeito ex
pansivo e edema
5-7B ATC com imagens refor
matadas no plano coronal de
monstrando realce periférico da
lesão B. Um foco com realce
linear B no interior do hema
toma em resolução sugere uma
estrutura vascular.

5-7C Imagem ponderada em


TI do mesmo paciente demons
trando um hematoma subagudo
tardio hiperintenso B com uma
hipointensidade central []S na
mesma região do vaso que sofria
realce na ATC.
5-7D Imagem ponderada em
T2 demonstrando características
do hematoma subagudo tardio
com fluido uniformemente hipe-
rintenso B circundado por um
halo de hemossiderina S.

y I ri 5-7E Imagem TZ'"" GRE de


monstrando artefato de suscep-
tibilidade magnética na periferia
do hematoma B enquanto
o centro é heterogeneamente
hiperintenso.
5-7F A imagem ponderada em
difusão do mesmo paciente não
demonstra restrição à difusão; a
21 / hiperintensidade na porção Infe
rior do coágulo se deve a efeito
"12 shine-(hrough". Os aspectos
de imagem são característicos
de uma hemorragia hipertensiva
subaguda com um remanescente
pseudoaneurisma de artéria len-
ticuloestriada.
92 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

descritos a seguir e na Tabela 5-1 são calculados em apa ragudo apresenta halo hipointenso e centro iso a levemente
relhos de 1.5 T. Em aparelhos de 3.0 T, todas as partes hiperintenso (onde predomina oxi-Hgb) em T2 (Fig. 5-3C).
do coágulo agudo e subagudo precoce têm hipodensidade A falta de homogeneidade macroscópica de um co
mais evidente tanto em FLAIR quanto em T2. águlo e conseqüente defasagem dos spins resulta em hi-
pointensidade heterogênea (artefato de susceptibilidade
Hemorragia hiperaguda magnética) nas seqüências T2*.
TC. Se for realizada imagem de um coágulo alguns minutos
após o ictus, ele será frouxo, pobremente organizado e pre Hemorragia aguda
dominantemente não retraído (Fig. 5-2). O conteúdo de água TC. O hemaiócrito do coágulo retraído chega a 90%. Portan
é alto, fazendo com o que hematoma hiperagudo apareça iso to, o hematoma agudo costuma ser hiperdenso na TC sem
ou até mesmo hipodenso em relação ao parênquima cerebral contraste, apresentando densidade entre 60 e 80 UH (Fig.
adjacente (Fig. 5-3A). Se sangramento ativo for evidencia 5-4A). Exceções para essa regra são encontradas nas he
do. a presença de sangue coagulado e não coagulado resulta morragias de pacientes extremamente anêmicos com hema-
em um hematoma com densidade mista, com áreas hipoden- tócritos muito baixos ou em pacientes com coagulopatias.
sas e moderadamente hiperdensas (Fig. 5-3D). Sangramento
RM. Hematomas parenquimatosos agudos apresentam sinal
rápido e coagulopatia podem resultar em níveis líquidos. baixo a intermediário em TI (Fig. 5-4B). Edema vasogêni-
RM. A oxi-Hgb não possui elétrons desemparelliados e é dia- co sígnillcalivo desenvolve-se ao redor do coágulo e tem
magnctica. Portanto, o sinal do coágulo hiperagudo depende baixo sinal cm TI e alto sinal em T2/FLAIR (Fig. 5-4C). À
sobretudo do conteúdo de água. Coágulos hiperagudos são medida que o coágulo retrai, o conteúdo de água diminui e
iso ou levemente hipointensos em TI (FIg. 5-3B). Após al o hematoma torna-se progressivamente menos hiperintenso
guns minutos do início da hemorragia, tem início a forma em T2. O "envelhecimento" do coágulo acontece da peri
ção de desoxi-Hgb na periferia do coágulo. O coágulo hipe feria para o centro, de modo que a hipointensidade de sinal

5-8 Peça de necropsia de


monstrando resíduos de uma
hemorragia esiriatocapsular
antiga. Uma cavidade em lenda
com uma pequena quantidade
de fluido amarelado circundada
por pigmento escuro de hemos-
siderina Irí. Note perda de
volume com aumento do corno
frontal do ventriculo lateral v-y,
cérebro gliótico circundando
o hematoma antigo, (Cortesia de
R.Hewlett, MD.)
5-9A Imagem ponderada em
T1 sagital de um paciente dois
anos após hemorragia hiperten-
siva demonstrando uma cavida
de ovoide hiperintensa B.

5-9B Imagem ponderada


em T2 axial padrão (não FSE)
mostrando que a cavidade E3
contém fluido hiperintenso (met-
-Hgb exiracelular diluída) e é
circundada por um halo de he-
mossíderina/ferritina
5-9C Imagem 12" GRE de
monstrando artefato de sus
ceptibilidade magnética B
circundando os limites da cavi
dade residual. Os achados são
sugestivos de hematoma paren-
quimatoso crônico.
Hemorragia parenquimatosa espontânea 93

em T2 começa na periferia e aos poucos aumenta em dire Hemorragia subaguda tardia


ção ao centro. O coágulo agudo toma-se progressivamente TC. Com o envelhecimento progressivo, uma HIP gradual
mais hipointenso em T2 e apresenta artefato de susceptibi- mente toma-se hipodensa em relação ao parênquima cere
lidade magnética em T2* (GRE, SWI) (Fig. 5-4D). bral adjacente na TC sem contraste (Fig. 5-6). Realce pe
riférico anelar pode persistir por semanas até 2 a 3 meses
Hemorragia subaguda precoce (Fig. 5-7A), (Fig. 5-7B).
TC. A densidade do hematoma diminui gradualmente com o
tempo, começando da periferia do coágulo. Há redução da RM. Meta-Hgb extracelular diluída predomina nesse
densidade em cerca de 15 UH por dia. Entre o sétimo e déci estágio. A hemorragia subaguda tardia pode, portanto,
mo dia, a periferia de uma HIP toma-se isodensa ao cérebro apresentar-se hiperintensa em TI e T2 (Fig. 5-7C), (Fig.
adjacente. O centro hiperdenso se reduz de forma gradual, 5-7D). (Fig. 5-7E). (Fig. 5-7F). Com exceção de artefatos
tornando-se progressivamente menos denso até que o coá de susceptibilidade magnética menores, coágulos subagu-
gulo inteiro apresente-se hipodenso. Na TC com contraste, dos tardios têm apresentação semelhante em 1.5 T e 3.0 T.
o hematoma subagudo apresenta impregnação periférica.
RM. Meta-Hgb intracelular predomina na periferia, en Hemorragia crônica
quanto desoxi-Hgb predomina no centro do coágulo. Um TC. Algumas hemorragias cicatrizadas muito pequenas po
halo de redução do tempo TI (hiperintensidade) circun dem lomar-se imperceptíveis na TC sem contraste (Fig.
dando o centro iso a levemente hipointenso é típico em 5-8). Entre 35 e 40% dos hematomas crônicos apresen
TI (Fig. 5-5A). Coágulos nessa fase em geral são hipoin- tam-se como focos hipodensos ovais ou arredondados.
tensos em T2, embora estejam começando a desenvolver Outros 25% dos pacientes podem desenvolver hipodensi-
alguma hiperintensidade de sinal marginal (Flg. 5-5B). dades com aspecto de fenda. Entre 10 e 15% dos hemato
Persiste hipointensidade importante em T2*. m a s c a l c i fi c a m .

5-1 OA Imagem ponderada


em TI no plano axial de um
recém-nascido prematuro de 34
semanas com sepse demons
trando coágulo hiperintenso no
ventrícuio lateral e terceiro ven-

í - trículo ES assim como seio reto


B e confluência dos seios
aumentados e trombosados.
5-1OB Imagem ponderada
em T2 do mesmo paciente mos
trando o sangue agudo bastante
hipointenso dentro dos ventricu-
los assim como o seio reto
'^2 e confluência dos seios
aumentados e trombosados.

5-10C Imagem 12'GRE co


ronal demonstrando artefato de
susceptibilidade magnética pela
presença de coágulos em ambos
os venlrkulos laterais e no quar
to ventrícuio ESi. O seio sagital
superior [S e o seio reto
estão trombosados.
5-100 Imagem ponderada em
TI pós-contraste demonstrando o
clássico sinal do "delta vazio" da
trombose de seio durai no seio
sagital superior B e no seio
reto BS. Em um recém-nascido
a termo ou próximo do termo, a
ociusão de seio venoso durai é a
causa mais comum de hemorra
gia intraventricular.
94 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

RM. Ferritina intracelular e heniossiderina sào hipoin- tumoral e hemorragia não neoplásica ("pura"). A TC de
tensas tanto em imagens ponderadas em TI quanto em dupla energia também pode ajudar a diferenciar Hl de hi-
T2. Uma cavidade hiperintensa com artefato de suscep- perdensidade pelo extravasamento do meio de contraste.
tibilidade magnética periférico em T2* pode persistir por Imagens por RM com sequêcias-padrào, contraste e
meses ou até anos (Fig. 5-9). Finalmente, apenas uma hi- saturação de gordura podem ser extremamente iiteis. A se
pointensidade cicatricial em fenda persiste como evidên qüência T2* (SWI, GRE) sempre deve ser incluída, pois
cia da hemorragia parenquimatosa prévia. a identificação de outros sítios "silenciosos" de micros-
sangramentos afeta tanto o diagnóstico quanto as decisões
Etiologia das hemorragias parenquimatosas terapêuticas.
não traumáticas Recém-nascidos e lactentes com MIE
Existem muitas causas para hemorragias intracranianas A Hl em recém-nascidos a termo é mais comumente as
não traumáticas ("espontâneas") ou não explicadas. O ob sociada a trabalho de parto prolongado ou precipitado,
jetivo da imagem em tais casos é localizar o hematoma, instrumentação (p. ex., fórceps ou vácuo-extrator) e pri-
estimar sua idade pelas características de imagem e tentar
mogestaçào. A causa mais comum de hemorragia intracra
identificar possíveis causas subjacentes. niana espontânea em recém-nascidos com menos de 34 se
O efeito da idade na eliopatogenia da HIE é funda manas de gestação é hemorragia de matriz germinativa.
mental. O conhecimento da idade do paciente é extrema A matriz germinativa é uma estrutura dinâmica rela
mente importante para estabelecer um diagnóstico dife cionada ao desenvolvimento, altamente vascular, locali
rencial apropriado e preciso. zada na zona subventricular cerebral. A matriz germinati
Pacientes com HIE atípica ou não explicada na TC va contém múltiplos tipos celulares, incluindo neurônios
sem contraste podem ser beneficiados com TC de dupla migratórios/pré-migratórios, glia e células-tronco neuro
energia, a qual pode ajudar a distinguir entre sangramento nals. A ruptura dos frágeis capilares da matriz genninativa

5-11A TC sem contraste em


uma criança com história fami
liar de múltiplas malformações
cavernomatosas demonstrando
uma pequena e única lesão cal-
cificada no hemisfério cerebral
direito B.
5-11B Várias semanas mais
tarde, a criança desenvolve
cefaleia súbita e fraqueza no he-
micorpo esquerdo. O ressangra-
mento agudo no interior de uma
malformação cavernomatosa
produziu agora um grande he
matoma parenquimatoso E3.

5-12A TC sem contraste em


um paciente de 11 anos com
inicio súbito de fraqueza no he-
micorpo direito demonstrando
um hematoma irregular no lobo
temporal esquerdo.
5-12B ATC do mesmo pa
ciente demonstrando um vaso
espiraíado realçando B no
interior do hematoma, sugerindo
uma MAV predominantemente
trombosada como etiologia para
a Hl. Uma MAV trombosada foi
identificada na cirurgia para dre
nagem do hematoma.
Hemorragia parenquimatosa espontânea 95

5-13A TC axial sem conlrasle


em uma criança de 10 anos
com náusea e vômitos matinais
demonstrando um grande he
matoma na linha média da fossa
posterior B que envolve o
quarto ventrículo. Edema mode
rado pode ser visto em ambos os
hemisférios cerebelares
5-13B TC axial sem contraste
do mesmo paciente demons
trando herniação ascendente do
cerebelo edemacíado B com
hidrocefalia obstrutiva. Um astro-
citoma piiocítico foi identificado
na cirurgia.

5-14A TC sem contraste em


uma paciente adulta com cefaieia
súbita grave seguida de coma
sem história de hipertensão, abu
so de drogas ou outros fatores
predisponentes. Ambos os ventrí-
culos laterais estão preenchidos
por coágulo agudo E2.
5-14B ASO lateral com calete-
rizaçâo seletiva da artéria caróti
da na mesma paciente demons
tra o emaranhado de vasos SI
no giro do cfngulo com uma veia
de drenagem precoce e um
"menisco" de contraste circun
dando um defeito de enchimento
SI. Diagnóstico de MAV com
hemorragia causada por trombo
se da veia de drenagem.

5-15 TC sem contraste em um

r adulto jovem com história de


abuso de cocaína, fraqueza do
lado esquerdo e alteração do es
tado mental demonstrando uma
hemorragia hípertensiva clássica
no putame e na cápsula externa
direitos B.
5-16 TC sem contraste em
outro paciente jovem com histó
ria de abuso de cocaína e início
súbito de neuropatias cranianas
demonstrando hemorragia hí
pertensiva na porção cranial da
ponte e no mesencéfalo.

J
96 Hemorragias nao traumáticas e lesões vasculares

pode ocorrer em resposta a alterações do fluxo sangüíneo


cerebral, aumento da pressão venosa {p. ex.. com o parto),
coagulopatia ou insulto hipóxico-isquêmico. A hemorra
gia da matriz germinativa é discutida em mais detalhes
posteriormente no Capítulo 8.
A hemorragia isolada do plexo coroide ou a intra
ventricular não envolvem a matriz germinativa. A lesão
da substância branca relacionada à prcmaturídade ge
ralmente não demonstra evidência de hemorragia (artefato
de susceptibilidade magnética) nas imagens ponderadas
em T2*.
A causa mais comum de hemorragia intraventricular
espontânea em neonatos após as 34 semanas cie idade
gesíacional é trombose venosa nos seios durais (TVSD)
(Fig. 5-10). Em contraste com crianças mais velhas e adul
tos, nos quais há maior comprometimento do seio trans
5-17A TC sem contraste em um paciente idoso nor-
verso, o seio reto (85%) e o seio sagital superior (65%)
molenso com inicio súbito de cefaieia e hemiparesia
são as localizações mais freqüentes em crianças menores.
esquerda. Observe a Hl espontânea frontal direita ES.
O envolvimento de múltiplos seios é encontrado em 80%
dos casos. Lesões puntiformes talámicas e da substância
branca são achados comuns em crianças com TVSD.

Crianças com HIE


A causa mais comum de HIE em crianças entre I e 18
anos é malformação vascular, responsável por cerca de
metade das hemorragias parenquimatosas espontâneas
nesse grupo de pacientes (Fig. 5-11).
Pelo menos 25% das malformações arteriovenosas
(MAVs) sangram até os 15 anos de idade (Fig. 5-12).
Malformações cavernomatosas, especialmente malforma
ções cavernomatosas familiares ("cavernomas"), são uma
causa iiicomum. mas importante, de HIE em crianças.
Outras causas menos comuns, porém importantes, de
HIE pediátrica incluem doenças hematológicas e neo
plasias. vasculopatías e ínfarto/oclusão venosa.
5-17B Imagem ponderada em T2 no piano axial de Neoplasias primárias são uma causa relativamente
monstrando que a lesão é predominantemente hipoin- rara de HIE em crianças (Fig. 5-13). Os tumores infraten-
tensa ES, mas tem um evidente nivei liquido 3>j.
toriais são mais comums do que os supratentoriais.
Neoplasias da fossa posterior que freqüentemente
sangram incluem o ependimoma e o tumor glioneural for
mador de rosetas (TGPR). Hemorragias petequiais ou de
pequeno volume são mais comuns do que grandes sangra-
mentos intratumorais.
Tumores supratentoriais com propensão a sangrar in
cluem o ependimoma e o espectro dos tumores neuroecto-
dérmicos primitivos. Astrocitomas malignos com hemorra
gia ocorrem, mas são raros. Em contraste com adultos de
meia-idade ou mais velhos, metástases hemorrágicas de cân-
ceres primários extracranianos são muito raras em crianças.

Adultos jovens com HIE


A causa mais comum de HIE em adultos jovens é uma
malformação vascular (Fig. 5-14). O abuso de drogas é
a segunda causa de hemorragia não explicada. A cocaína
5-17C Imagem ponderada em Ti pós-contraste de pode induzir hipertensão arterial sistêmica extrema, resul
monstrando um halo periférico irregular de realce ES. tando em sangramentos putaminais e na cápsula externa,
O paciente teve diagnóstico cirúrgico de glioblastoma semelhantes aos vistos em pacientes adultos hipertensos
multiforme.
(Fig. 5-15), (Fig. 5-16).
Hemorragia parenquimatosa espontânea 97

5-18A Um homem de 58 anos


apresentou cefaleia grave por dois
meses antes desta tomograíia. A
TC sem contraste de outra Institui
ção foi interpretada como normal,
mas apresentava o seio transverso
direito hiperdenso. O paciente
procurou a emergência com cefa
leia progressivamente pior e inicio
agudo de um déficit no campo
visual esquerdo. A TC sem con
traste demonstrou um hematoma
parenquímatoso occipital direito
E3 com edema leve S.
5-18B TC sem contraste da
fossa posterior do mesmo caso
demonstrando uma hiperdensi-
dade arredondada B adjacente
a um seio transverso direito iso-
denso aumentado Bi.

S-18C O paciente realizou


RM. A imagem ponderada em T2
no plano axial demonstra uma
hipointensidadc ovoide/arre-
dondada S) com o que parece
ser um vaso trombosado [>>J.
Compare com o flow void venoso
normal [^.
5-18D Imagem ponderada em
TI pós-contraste demonstrando
um realce linear, puntiforme,
irregular na maior parte da por
ção posterior do lobo temporal e
parietal direitos ES.

5-18E Imagem ponderada


em TI pós-contraste no piano
coronal evidenciando o seio
transverso direito trombosado
B (sinal do "deita vazio"). O
realce heterogêneo dos vasos ao
longo do tentório El e no lobo
occipital BI representa estase
e drenagem venosa retrógrada.
O plexo coroide S aumentado
e com realce permite drenagem
venosa colateral.
5-18F ASD lateral mostrando
uma FAVd na parede ES do
seio venoso transverso esquerdo
trombosado HIE secundária à
trombose aguda da veia de saída
demonstrada na Figura 5-18C.
98 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

Infarto/oclusâo venosa com ou sem oclusão de seio


durai também é relativamente comum nesse grupo etário,
sobretudo em mulheres jovens utilizando contraceptives
orais. Eclâmpsia/pré-eclâmpsia grave com sindrome da
encefalopatia posterior reversível (PRES) pode se apre
sentar com múltiplas hemorragias corticais e subcorticais
posteriores.
A vasculite ocasionalmente causa HIP em pacientes
jovens. Neoplasias hemorrágicas (tanto primárias quanto
metastáticas) são raras.

HIP ESPONTÂNEA SOLITÁRIA

Recém-nascidos e lactentes
• Comum
o Hemorragia da matriz germinativa (<34 semanas
5-19 TC sem coniraste em uma paciente de 23 anos de idade gestacional)
com cefaleia demonstrando hemorragia temporopa o Trombose venosa nos seios durais (234 semanas de
rietal esquerda B. A VTC demonstrou ociusao do seio
idade gestacional)
transverso e veia de Labbé.
• Rara
o Doença protrombótica congênita
o Trombocitopenia
o Hemofilia
o Sangramento por deficiência de vitamina K

Crianças
• Comum
o Malformação vascular (~S0%)
• Menos comum
o Doença hematológica
o Vasculopatia
o infarto venoso
• Rara
o Neoplasia primária

Adultos jovens
• Comum
o Malformação vascular
5-20 Uma mulher de 22 anos com eclampsia tem le o Abuso de drogas
sões occipitais B com edema e hemorragia, Sindrome • Menos comum
da encefalopatia posterior reversível (PRES). o Oclusão venosa
o PRES (eclampsia, pré-eclâmpsia)
• Rara
o Neoplasias (primária e metastática)
o Vasculhes

Adultos de meia-idade e idosos


• Comum
o Hipertensão
o Angiopatia amiloide
o Neoplasias (primária, metastática)
• Menos comum
o Infarto venoso
o Coagulopatia
• Rara
o Aneurisma (comumente na artéria comunicante
anterior)
o Malformações vasculares (comumente FAVd)
o Vasculite
5-21 TC axial sem contraste em um paciente idoso
demonstrando múltiplas metastases hemorrágicas de
carcinoma de células renais B.
Hemorragia parenquimatosa espontânea 99

Adultos de meia-idade e idosos com HIE cumulativo de sangramento anual de 2 a 4%, um primei
ro sangramento de MAV nessa idade é pouco provável,
As duas causas mais comuns de HIE em adultos de meia-
embora possa ocorrer. O mesmo ocorre com hemorragias
-idade e em idosos são hipertensão e angiopatia amiloi-
de malformações cavernomatosas. Entretanto, fistulas
de, ambas discutidas em detalhes posteriormente. Cerca
arteriovenosas durais (FAVds) ocorrem em pacientes
de 10% das hemorragias parenquimatosas espontâneas
são causadas por sangramento no interior de uma neo idosos. Enquanto as FAVds raramente sangram a menos
que tenham drenagem venosa cortical (e não drenagem
plasia cerebral, geralmente tanto um tumor primário de
alto grau, como um glioblastoma multiforme (Fig. 5-17), em seio venoso), a trombose espontânea de uma veia de
saída pode resultar em HI repentina.
quanto uma metástase hemorrágica de um tumor primário
Causas raras, porém importantes de HIE nessa faixa
extracraniano, como um carcinoma de células renais.
etária incluem vasculíte (mais comum em pacientes jo
Uma causa menos comum, porém importante, de HIE
nesse grupo etário é o ínfurto venoso. Infartos venosos são vens) e leucocncefalopatia hemorrágica aguda.
causados por trombose de veia cortical, com ou sem ociusào
de seio durai (Fíg. 5-18). A coagulopatia iatrogênica tam Múltiplas HIES
bém é comum em pacientes idosos, visto que muitos utili Hemorragias parenquimatosas solitárias são muito mais
zam doses de manutenção de varfarina por fibrilação atrial. comuns do que sangramentos multifocais. A etiologia va
ria conforme a idade do paciente.
Eventualmente, um ancurísma sacular se apresenta
como hemorragia lobar focal em vez de hemorragia su- Sangramentos cerebrais multifocais que ocorrem em
baracnóidea. A topografia mais comum é na artéria co- todas as idades incluem trombose venosa (Fíg. 5-19),
municanle anterior, projetando-se superolateralmente e PRES (Fíg. 5-20), vasculite (especialmente fúngica), em
bolia séptica, microangiopatia trombótica e leucocncefa
rompendo para o interior do lobo frontal.
Malformação vascular é uma causa relativamen lopatia hemorrágica aguda.
te rara de MIE em pacientes mais velhos. Com um risco

5-22A TC sem contraste em


uma paciente feminina com
síndrome HELLP (hemófise, ele
vação de enzimas hepàticas, pla-
quetopenia) e trombocitopenia
demonstrando edema bíoccípital
e mútiplas pequenas hemorra
gias periféricas B.
5-22B Imagem mais cranial
que a anterior demonstrando
uma grande hemorragia BI e
múltiplas pequenas micro he
morragias B.

5-22C A paciente morreu.


Peça macroscópica de necropsia
demonstrando o hematoma [S
e múltiplos microssangramentos
S I .
S-22D Microscopia (H&E) de
monstrando depósitos intravas-
culares de fibrina e necrose fibri-
noide de uma arteriole cerebral.
(Cortesia de R. Hewlett, MD.)
100 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

A maioria dos sangramentos cerebrais nâo traumáticos


miíltiplos em crianças e em adultos jovens são causados
por malformações cavemomatosas e por doenças hemato-
lógicas (p. ex., leucemia, trombocitopenia) (Fig. 5-22).
As causas mais comuns de múltiplas His em adultos
de meia-idade ou em idosos são hipertensão, angiopatia
amiloide. metástases hemorrágicas (Fig. 5-21) e distúrbios
de coagulação (tanto coagulopatia quanto anticoagulação).

MÚLTIPLAS His ESPONTÂNEAS

Crianças e adultos jovens


• Malformações cavemomatosas múltiplas
• Distúrbio/neoplasia hematógica

Adultos de meia-idade e idosos


5-23 Gráfico demonstrando hemorragia estriatocap- • Comum

suiar aguda hipertensiva com edema e disseçâo para o o Hipertensão crônica


interior do terceiro ventrículo e ventrículo lateral. o Angiopatia amiloide
• Menos comum
o Metástases hemorrágicas
o Coagulopatia, anticoagulação
Todas as faixas etárias
• Comum
o Trombose de seio durai
o Ociüsão de veia cortical
• Menos comum
o PRES
o Vascuiite
o Embolia séptica
• Rara, mas Importante
o Microangiopatia trombótica
o Leucoencefalopatia hemorrágica aguda

5-24 Necropsia demonstrando uma hemorragia


hipertensiva nos núcleos da base com hemorragia intra Macro-hemorragias
ventricular. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
As duas principais causas de hemorragia espontânea (não
traumática) intraparenquiinatosa em adultos de meia-
-idade e em idosos são hipertensão arterial e angiopatia
amiloide; elas respondem por 78 a 88% de todas as His
não traumáticas. Enquanto ambas podem causar doença
"microvascular" não hemorrágica extensa, a manifestação
mais comum de tais patologias são sangramentos macros
cópicos lobares e microssangramentos multifocais. Esses
aspectos serão discutidos a seguir.

HI hipertensiva
Terminologia
Hemorragia intracraniana hipertensiva (HIH) é a manifes
tação aguda da HI não traumática secundária à hiperten
são (HTN) arterial sistêmica. A encefalopatia hipertensiva
crônica refere-se aos efeitos de HTN de longa data no pa-
5-25 Necropsia demonstrando HIH aguda 3] e
crônica Si associada a múltiplas pequenas micro- rénquima cerebral e é mais comumente vista como doença
-hemorragias gangliõnicas antigas (Cortesia de R.
de substância branca subcortical e/ou microssangramen
Hewlett, MD.) tos multifocais.
Hemorragia parenquimatosa espontânea 101

Ti
5-26A TC axial sem conlrasle em uma paciente de 57 anos hipertensa 5-26B ATC coronal com técnica de MIP mostrando que as artérias len
demonstrando uma hemorragia estriatocapsular clássica ã esquerda B. ticuloestriadas E3 à esquerda são deslocadas pelo hematoma mas
não existe evidência de extravasamento de contraste ou pseudoaneuris
mas que sugiram risco aumentado de expansão do hematoma.

Etiologla
A hipertensão acelera a aterosclerose com lipo-hialinose que medem vários centímetros em diâmetro (Fig. 5-25).
e necrose fibrinoide. Ramos penetrantes proximais das Quando seqüências T2* são utilizadas, a maioria dos pa
artérias cerebrais média e anterior, sobretudo as artérias cientes com HIH apresenta miáltiplas lesões.
lenticuloestriadas (ALEs), são mais gravemente afetados,
Patologia macroscópica. O achado mais comum em HIH
possivelmente pelo ângulo de ramificação com o vaso de é um grande hematoma gangliônico que costuma se es
onde se originam.
tender medialmente para o interior dos ventrículos (Fig.
O enfraquecimento progressivo e a degeneração
acelerada da parede da ALE permitem a formação de pe 5-24). Hidrocefalia e efeito expansivo com herniação
subfalcial são complicações comuns.
quenos pseudoaneurismas ("aneurismas de Charcot-Bou-
chard"). Acredita-se que a ruptura de um pseudoaneu- Características microscópicas. Arteriosclerose generalizada
risma de ALE seja a gênese da maioria das hemorragias com lipo-hialinose e necrose fibrinoide são achados co
hipertensivas estriatocapsulares. muns em pacientes com HIH. Em alguns casos, pequenos
pseudoaneurismas flbrosados nos núcleos da base podem
Patologia s e r i d e n t i fi c a d o s .
Localização. A cápsula extema/putame é o local mais co
mum (Fig. 5-23), (Fig. 5-24). Essas hemorragias, também Aspectos clínicos
chamadas de estriatocapsulares, respondem por aproxi Epioemiologia. Embora a prevalência da HIH tenha reduzi
madamente dois terços de todas as HIHs. O tálamo é o do significativamente, a hipertensão ainda responde por
próximo local mais freqüente, respondendo por 15 a 25% 40 a 50% das hemorragias intraparenquimatosas espon
dos casos. Ponte e cerebelo são o terceiro local mais co tâneas "primárias" em pacientes idosos e em adultos de
mum, com 10% de todas as HIHs. Hemorragias lobares meia-idade. A HIH é 5 a 10 vezes menos comum do que
respondem por mais 5 a 10%. o infarto e a isquemia cerebral, respondendo por cerca de
Mijltiplos microssangramentos são comuns em pa 1 0 a 1 5 % d o s AV C s .
cientes com hipertensão crônica. Microssangramentos re
Aspectos demográficos. O risco geral de doença cardiovas
lacionados à hipertensão tendem a agrupar-se nos núcleos
cular - incluindo HIH - aumenta de forma significativa
da base e do cerebelo, com poucas lesões no córtex e na
com hipertensão sistólica e diastólica, hipertensão diastó-
substância branca subcortical.
lica isolada e hipertensão sistólica isolada. A hipertensão
Número e tamanho. O tamanho varia de diminutos sangra- arterial aumenta o risco de HI quatro vezes em compara
mentos submilimétricos a grandes lesões macroscópicas ção com os pacientes normotensos.
102 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

S-27A TC sem contraste em


um homem hipertenso de 76
anos demonstrando um hemato
ma agudo na ponte EES.
5-27B Foi realizada RM após
algumas horas. O coágulo El é
algo heterogêneo, mas aparece
predominantemente iso a leve
mente hiperintenso na imagem
ponderada em Ti.

5-27C Imagem ponderada em


T2 mostrando que o coágulo é hi-
pointenso E3. Um leve halo de
edema com alto sinal circunda o
hematoma B.
5-270 Imagem T2'GR£
demonstrando artefato de sus-

ceptibilidade magnética com


importante hipointensidade do
coágulo.

S-27E Imagem ponderada


em difusão demonstrando que a
maior parte do coágulo B não

f
sofre restrição; entretanto, a área
de hiperintensidade de sinal El
entre o hematoma e o quarto
ventrículo sugere edema citotó-
xico associado.
5-27F ADC no mesmo pacien
te demonstrando que a área de
hiperintensidade vista na difusão
agora encontra-se hipointensa
ES, indicando verdadeira restri
ção a difusão.

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E 2
104 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

ou interface da substância cinzenta com a substância bran loide cerebral é discutido em mais detalhes no capítulo
ca e menos freqüentes nos núcleos da base e no cerebelo. sobre vasculopalias (Capítulo 10).
Com exceção das FAVds, a hemorragia de uma mal A A A C c a u s a c e r c a d e l % d e t o d o s o s AV C s e 1 5 a

formação vascular é pouco freqüente em pacientes ido 20% dos sangramentos intracranianos primários em pa
sos e em adultos de meia-idade, o grupo mais suscetível cientes com mais de 60 anos. A idade média de apresenta
à HIH. Coagulopatia pode causar ou exacerbar uma HI ção é de 73 anos. Os pacientes com AAC são normotensos
espontânea. A maioria das hemorragias relacionadas à e moderadamente demenciados.

coagulação são lobares e não estriatocapsulares. Imagens por TC sem contraste demonstram um ou mais
Em pacientes jovens, o abuso de drogas (p. ex., uso hematomas lobares, em geral com diferentes idades de evo
de cocaína) com hipertensão extrema pode causar hemor lução (FIg. 5-29B). O lobo parietal é o local mais comumen-
ragias putaminais e na cápsula externa. Hemorragias nos te afetado. Alguns poucos pacientes com AAC - em especial
núcleos da base induzidas por drogas podem se apresentar aqueles com cefaleia de início súbito e intenso - podem de
idênticas às HIHs vistas em pacientes idosos. monstrar hemorragia subaracnóidea Junto ao vórtex cerebral.
A trombose venosa cerebral interna pode ocorrer A RM é o estudo mais sensível para detectar AAC.
em todas as faixas etárias. Essas hemorragias tendem a A maioria dos pacientes apresenta áreas multifocais e
ser bilaterais, lalâmicas e localizadas mais medialmente confluenles de hiperintensidade da substância branca em
do que os sangramentos estriatocapsulares da HIH. T2/FLAIR. Cerca de um terço tem evidência de micro-
-hemorragias lobares ou petequiais antigas, vistas como
múltiplos pontos pretos com artefato de susceptibilida-
HEMORRAGIA INTRACRANIANA de magnética em seqüências ponderadas em T2* (GRE,
HIPERTENSIVA (HIH) SWI) (Fig. 5-29C). (Fig. 5-29D).
Etiologia
• OVA acelerada Hemorragia cerebelar remota
o Especialmente nas artérias lenticuloestriadas
• Necrose fibrinoide ^ pequenos pseudoaneurismas
Terminologia e etiologia
• Ruptura ^ pseudoaneurisma -> hemorragia A hemorragia cerebelar remota (HCR) é uma causa pouco re
conhecida e muitas vezes diagnosticada erroneamente como
estriatocapsular
hemorragia parenquimatosa espontânea da fossa posterior
Localização em pacientes em pós-operatório. A maioria dos casos rela
• Putame/núcleos da base (60 a 65%)
tados ocorre algumas horas após uma craniotomia supraten-
• Télamo (15 a 25%)
• Ponte/cerebelo (10%) torial. A HCR também ocorre como uma complicação rara
• Hemisférios (5 a 10%) de cimrgia descompressiva do forame magno ou da coluna.
• Múltiplos microssangramentos são comuns A etiologia mais provável para a HCR é hipovolemia
do LCS, com deslocamento inferior ou rebaixamento dos
Aspectos clínicos hemisférios cerebelares. A ruptura ou oclusão das veias
• l O a 1 5 % d o s AV C s
• 40 a 50% das hemorragias espontâneas em pacientes que drenam em direção ao tentório do cerebelo resulta
em hemorragia cerebelar superficial, com ou sem necrose
idosos
hemorrágica.
Imagem
• Clássico = coágulo hiperdenso no putame/cápsula Aspectos clínicos
externa A HCR é relativamente rara, ocorrendo em 0,1 a 0,6% dos
• Procurar por "cicatrix antiga" de hemossiderina e
pacientes com craniotomias supratentoriais, mais freqüen
microssangramentos em T2'' temente para clipagem de aneurismas, epilepsia do lobo
Diagnóstico diferencial temporal ou ressecção tumoral. Existe uma leve predomi
• Angiopatia amiloide cerebral nância no sexo masculino. A idade média é de 51 anos.
• Neoplasia hemorrágica Muitos - senão a maioria - dos casos de HCR são as-
• Trombose de veia cerebral interna
sintomáticos e descobertos incidentalmente nas imagens
• Abuso de drogas (p. ex., uso de cocaína)
pós-operatórias. Os sintomas mais comuns relacionam-se
com demora para recuperar a consciência após anestesia,
rebaixamento da consciência e convulsões.
Angiopatia amiloide cerebral O prognóstico costuma ser excelente e o tratamento
A angiopatia amiloide cerebral (AAC) é uma das três va em geral é conservador, com a remoção do hematoma ra
riações morfológicas da doença de depósito de amiloide ramente indicada.
cerebral (Fig. 5-29A). Visto que a AAC - também conhe
cida como "angiopatia congofílica" - é uma causa comum Imagem
de hemorragia lobar espontânea, ela será brevemente dis A TC sem contraste demonstra linhas de sangue em ca
cutida neste capitulo. O espectro completo da doença ami madas hiperdensas sobre as folias cerebelares (sinal da
Hemorragia parenquimatosa espontânea 105

"zebra"). A hemorragia pode ser uni ou bilateral, ipsi ou desde trauma e infecção até vasculopatia e metástases. To
contralateral ao sítio cirúrgico (Fig. 5-30). das essas etiologias são discutidas em detalhes nos respec
Os achados por RM são variáveis e dependem da ida tivos capítulos que lidam com cada grupo de patologias.
de/estágio da evolução do hematoma. Linhas de baixo si Nesta seção, serão sintetizadas duas causas distintas
nal com artefato de susceptibilidade magnética podem ser porém com diagnóstico diferencial relacionado: (1) enti
identificadas em T2* (GRE, SWI) (Fig. 5-31). dades que causam microssangramentos cerebrais difusos
e (2) diagnóstico diferencial dos pontos pretos ou pontos
pretos com artefato de susceptibilidade magnética nas
imagens T2* de RM que em geral aparentam semelhança,
Micro-hemorragias mas nâo são causadas por micro-hemorragias.
Por muitos anos, os patologistas têm notado a presença de
micro-hemorragias nos cérebros necropsiados. Enquanto Microssangramentos cerebrais multifocais
wacra-hemorragias são facilmente detectadas tanto na TC Um número variado de entidades pode causar micro-he
quanto na RM, até recentemente w/crossangramentos ce morragias cerebrais difusas (Fig. 5-32), (Fig. 5-33), e a
rebrais eram invisíveis. Com o advento das imagens T2* etiologia dos MSCs varia conforme a idade do paciente.
(ORE, SWI), alterações de microssusceptibilidade no cé Trauma com dano axonal hemorrágico é a causa mais co
rebro podem ser agora facilmente detectadas. mum de MSCs em crianças e em adultos jovens. Hiper
Microssangramentos cerebrais (MSCs) representam tensão crônica com lipo-hialinose arteriolar e angiopatia
coleções perivasculares de macrófagos com hemossideri- amiloide são as duas patologias mais comuns responsá
na. Eles indicam sangramentos prévios de uma microan- veis por MSCs em adultos mais velhos.
giopatia com tendência a micro-hemorragias. MSCs são Além da idade, a história do paciente (p. ex., trauma,
freqüentemente mútiplos e apresentam várias etiologias. hipertensão, infecção, tratamentos como cirurgia e radio-

5-29A Gráfico demonstrando


manifestações da angiopatia
amiloide cerebral (AAC). Ob
serve hiemorragias iobares em
diferentes idades ÍS, múltiplos
sangramentos corlicais/subcor-
ticais S.
5-29B TC axial sem contraste
em paciente idoso demenciado
sem hipertensão arterial com
inicio súbito de fraqueza à direita
demonstrando hematoma lobar
focal ES.

5-29C Imagem T2* GRE mos


trando artefato de susceptibilida
de magnética do hematoma agu
do. Observe também os múltiplos
focos hipointensos no córtex B.
5-290 Imagem ponderada em
susceptibilidade magnética (SWi)
em corte mais axial no mesmo
paciente demonstrando inúmeros
focos puntiformes de artefato de
susceptibilidade magnética BS
associada a hipointensidades
serpentiformes sobre a pia B
indicando siderose superficial. Es
ses achados de hemorragia lobar
aguda com múltiplos sangramen

o.» • tos corticais e siderose superfical


são característicos da AAC.
106 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

5-30 TC sem contraste após craniotomia supratentorial S demons 5-31 Hemorragia cerebeiar remota bilaterai após ressecção de neopia-
trando linhas alternadas de hiperdensidade (sangue) e baixa densidade sia supratentorial. (Superior) Imagem T2* GRE demonstrando artefato de
(edema) El no hemisíério cerebelar direito (sinal da "zebra"), consis susceptibiiidade magnética bilateral S3, (inferior) Imagem ponderada em
tente com hemorragia cerebelar remota. difusão demonstrando alguma restrição na hemorragia aguda ã direita.

terapia) é muito importante para estreitar o diagnóstico di Causas nõo hemorrágicas de pontos pretos
ferencial dos MSCs. O quadro a seguir agrupa as entidades com artefato de susceptibiiidade magnética
comuns, as menos comuns e as raras, porém importantes.
Além dos MSCs, uma quantidade de entidades não he
morrágicas determina o aparecimento de "pontos pretos"
MICROSSANGRAMENTOS CEREBRAIS: ETIOLOGIA multifocals nas imagens T2*. Elas estão sintetizadas no
quadro a seguir, novamente agrupadas em causas comuns,
Comuns
em menos comuns e em raras, porém importantes.
• Dano axonal/vascular difuso
• Angiopatia amiloide cerebral
o Polimorfismo da apolipoproteína E4 CAUSAS NÃO HEMORRÁGICAS DE PONTOS
• Encefalopatia hipertensiva crônica
PRETOS COM ARTEFATO DE SÜSCEPTIBILIDADE
• Metastases hemorrágicas
MAGNÉTICA EM T2*
Menos comuns
• Malformações cavernomatosas múltiplas Comuns
• Pneumoencéfalo
• Septicemia
• Embolia gordurosa Menos comuns
• Vasculite • Múltiplas calcificações parenquimatosas
o Fúngica o Neurocisticercose
o Anemia falciforme o Tuberculomas
• Coagulopatia
Raras mas Importante
Raras mas importantes • Circulação extracorpórea
• Leucoencefalopatia hemorrágica aguda • Complicações de dispositivos
• Linfoma intravascular o Válvulas cardíacas metálicas
• Leucemia
• Radioterapia/quimioterapia
o Telangiectasias induzidas por radioterapia
o Microangiopatía mineralizante
• Microangiopatía trombótica
o Hipertensão maligna
o Coagulopatia intravascular disseminada
o 5HU/Pn
• Edema cerebral relacionado a grandes altitudes
Hemorragia parenqulmatosa espontânea 107

5-32 Necíopsia em um paciente imunocomprometido demonstrando 5-33 Necropsla demonstrando múltiplas micro-hemorragias mesen-
múltiplas micro-hemorragias corlicais (3. (Cortesia de R. Hewlett, MD.) céfalicas relacionadas a malformações cavernomatosas, (Cortesia dos
arquivos da AFIP.)

Etiologia das hemorragias parenquimatosas


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6
Hemorragia subaracnóidea
0 aneurismas
lar, cistema quadrigeminal, cisterna do ângulo pontocere-
Hemorragia subaracnóidea 11 0
belar). Algumas são nomeadas pelo seu tamanho (grande
H e m o r r a g i a s u b a r a c n ó i d e a a n e u r i s m á t i c a 11 0
HSA aneurismática e vasospasmo 11 5 cistema ou "cistema magna"), forma ou sublocalização.
O u t r a s c o m p l i c a ç õ e s d a H S A n 11 6 Os ESs são anatomicamente únicos; eles circundam
HSA perimesencefálica não aneurismática 117 todo o cérebro, mergulhando nos sulcos da superfície e
HSA de convexidade 11 8 circundando os nervos cranianos. Em algum ponto, todas
Siderose s u p e r fi c i a l 11 9 as principais artérias e veias intracranianas também pas
Aneurismas 121 sam através dos ESs.
Aneurisma sacular 121
Pseudoaneurisma 130
Hemorragia subaracnóidea não traumática
Aneurisma em aspecto de bolha de sangue 132
Aneurisma fusiforme 134
A HSA não traumática "espontânea" causa 3-5% de todos
Aneurisma fusiforme aterosclerótico 134 os acidentes vasculares agudos. Aproximadamente 80%
Aneurisma fusiforme não aterosclerótico 135 destes são causados pela ruptura de um aneurisma sacular
intracraniano. O restante é causado por várias entidades,
incluindo dissecção, hemorragia ou trombose venosa,
Trauma é a causa mais comum de hemorragia subarac vasculite, angiopatia amiloide e sindrome da vasoconstri-
nóidea (HSA) intracraniana. A HSA traumática (HSAt) ção cerebral reversível.
ocorre quando o sangue do cérebro ou de vasos sangüí A hemorragia no ES pode ser limitada e bastante fo
neos confusos estende-se para os sulcos adjacentes; ela cai. De forma mais freqüente, o sangue é extravasado para
foi discutida juntamente com o trauma craniocerebral o interior do ES, misturando-se facilmente com o LCS,
(Cap. 2). Este capítulo é focado na HSA nào traumática e espalhando-se difusamente pelas cistemas e sulcos. As
e nos aneurismas. vezes, o sangue no ES sofre refluxo para o interior dos
Inicia-se com uma visão geral sobre os espaços suba- ventrículos, produzindo hemorragia intraventricular (HI)
racnoides cerebrais, a qual proporciona o contexto para secundária.
a discussão a respeito da hemorragia subaracnóidea não
traumática e aneurismas. Segue-se, então, com as discus Aneurismas
sões detalhadas de cada tópico. A palavra "aneurisma" vem da combinação de duas pa
lavras gregas, significando "transversalmente" e "largo".
Visão geral do espaço subaracnoide De fato, os aneurismas cerebrais são alargamentos ou di-
Os espaços subaracnoides (ESs) são cavidades preenchi latações das artérias intracranianas.
das por líquido cerebrospinal (LCS) localizadas entre a Aneurismas intracranianos são classificados pelo seu
aracnoide e a pia. Os ESs são atravessados por várias tra- aspecto macroscópico. Aneurismas saculares são o tipo
béculas revestidas por pia que se estendem entre o cérebro mais comum e como característica originam-se em pontos
e a superfície interna da aracnoide. E a pia {nâo a aracnoi de ramificação vascular (Fig. 6-1). Os pseudoaneuris-
de) que segue os vasos sangüíneos penetrantes no interior mas com freqüência lembram aneurismas saculares (AS)
do parênquima cerebral. "verdadeiros" na forma, porém são contidos por um coá
Alargamentos focais proeminentes nos ESs, as cister gulo cavitado, e não componentes da parede arterial.
nas, são encontrados ao redor da base do cérebro, mesen- Aneurismas em aspecto de bolha de sangue (blood-
céfalo e região da pineal, tronco encefálico e cerebelo. A -blister) possuem abaulamentos hemisféricos de paredes
maioria das cisternas subaracnóideas recebe o nome em finas que, como o nome sugere, lembram bolhas de san
relação às estruturas adjacentes (p. ex., cisterna suprasse- gue cutâneas na aparência.
110 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

6-1 Ilustração demonstra um AS na artéria comunicante anterior B


com extravasamenlo ativo a partir de uma bolha orientada superiormen melho estendendo-se pelas cisternas basais. Dada a distribuição difusa
te ("mamilo"). Note o AS adicional na AComP B e a diminuta bolha na da HSA, sem a presença de hematoma focai, estatisticamente a localiza
bifurcaçao da ACM esquerda E2. ção mais provável do aneurisma rompido é a AComA.

Aneurísmas fusiformes são dilatações focais que


Hemorragia subaracnóidea aneurismática
envolvem ioda a circunferência do vaso, estendem-se por
distâncias limitadas e não se originam em pontos de ra Terminologia
A hemorragia subaracnóidea aneurismática (HSAn) é um
mificação. Aneurismas fusiformes são mais secundários a
aterosclerose. porém também podem ocorrer com vascu- extravasamenlo de sangue no espaço entre a aracnoide e
a pia.
lopatias não ateroscleróticas.
Ectasias referem-se à dilataçao arterial generalizada
sem dilataçao focai ("aneurismática"). Embora as ectasias Etiologia
possam afetar qualquer vaso intracraniano, o local mais A HSA aneurismática é causada pela ruptura de um aneu
comum é a circulação posterior. Ectasias não são aneuris risma sacular ou (raramente) um aneurisma em aspecto de
mas verdadeiros, portanto elas são discutidas no Capítulo bolha de sangue. Outras causas menos comuns de HSAn in
10, sobre vasculopatia. cluem dissecções intracranianas e aneurismas dissecantes.

Patologia
Localização. Como a maioria dos aneurismas saculares
Hemorragia subaracnóidea origina-se no círculo de Willis (CW) ou na bifurcação da
A HSA não traumática (USAnt) pode ter origem aneuris artéria cerebral média (ACM), as localizações mais co
mática ou não aneurismática e ser aguda ou crônica na muns da HSA aneurismática são a cisterna suprasselar e
as fissuras silvianas (Figs. 6-2 e 6-3).
apresentação. Inicia-se esta discussão com a HSA aneuris
As vezes, o aneurisma se rompe diretamente no inte
mática e suas complicações mais devastadoras, vasospas-
mo e isquemia cerebral secundária. rior do parênquima cerebral em vez de no espaço subarac-
noide. Isso ocorre com mais freqüência quando o ápice de
Em seguida, serão revisados dois tipos especiais de
HSA não traumática e não aneurismática: a HSA peri- um aneurisma da artéria comunicante anterior (AComA)
mesencefálica e o padrão reconhecido recentemente de aponta superiormente e se rompe para o interior do lobo
frontal.
HSA, chamado de hemorragia subaracnóidea da con-
vexidade. Por fim, serão discutidas a HSA crônica de Patologia macroscópica. O aspecto macroscópico da HSAn
repetição e sua rara, porém importante, manifestação, a é em geral caracterizado pelas cisternas basais repletas de
siderose superficial. sangue. A HSA pode se estender aos sulcos superficiais e
Hemorragia subaracnóidea e aneurismas 111

Tabela 6-1 Graduação da hemorragia subaracnóidea


Hunt e Hess Escala de Fisher Modificada (TC)

Aneurisma íntegro/assintomático Aneurisma íntegro Aneurisma Sem HSA ou Ml visível


íntegro

Assintomático/cefaleia leve GCS = 15 GCS = 15 HSA £ 1 mm, sem NI

Cefaieia moderada/intensa + rigidez da GCS = 13-15, sem déficit GCS = 12-14 HSA s 1 mm + NI
nuca e/ou paralisia de nervo craniano neurológico

Sonolento, confuso; déficits neurológicos GCS = 13-15, déficit neu GCS = 9-11 HSA > 1 mm, sem HI
leves rológico focai

Estupor, hemiparesia moderada/grave, GCS = 7-12 GCS = 6-8 HSA > 1 mm + HI ou hemorragia
descerebração precoce parenquímatosa

Oescerebrado, profundamente comatoso, GCS = 3-6 GCS = 3-5 N/A


moribundo

GCS, escala de coma de Glasgow; HI, hemorragia intravenlricular; N/A, não aplicável; HSA, hemorragia subaracnóidea; TC, tomografia computadorizada; WFNS,
World Federation of Neurological Societies

ventrículos. Graus variados de estreitamento arterial cau Graduação clínica da HSA. Embora várias escalas já tenham
sado por vasospasmo podem estar presentes (ver a seguir). sido propostas para graduar a HSA, nenhuma recebeu
aceitação universal. As duas mais utilizadas são as esca
Aspectos clínicos las de Hunt e Hess e da World Federation of Neurological
Epidemiologia. a prevalência geral da HSAn é de aproxi Societies (WFNS). Ambas baseiam-se em achados clínicos.
madamente 10-12 por 100.000 ao ano. A escala de Hunt e Hess gradua os HSAns em O a 5.
Um aneurisma íntegro e assintomático é designado grau
Demografía. a incidência geral de HSAn aumenta com a
0. Pacientes que estão assintomáticos ou apresentam ce
idade e apresenta pico entre 40 e 60 anos. A razào H:M é
faieia mínima são de grau 1. O grau 2 representa cefaieia
de 1:2.
moderada a intensa com rigidez na nuca e/ou paralisia dos
A HSA aneurismática é rara em crianças. Indepen
nervos cranianos. Os graus 3 a 5 designam HSAns mais
dentemente da sua relativa raridade, entretanto, aneuris-
sérias. Pacientes sonolentos ou confusos com déficits neu
mas cerebrais causam a maioria das HSAs espontâneas
rológicos leves são de grau 3. O grau 4 indica estupor,
(não traumáticas) em crianças e representam cerca de
10% de todos os acidentes vasculares hemorrágicos da hemiparesia moderada a acentuada e descerebração pre
coce. Os pacientes de grau 5 estão descerebrados, profun
infência.
damente comatosos e em estado terminal.
Apresentação. Cefaieia inespecifica é uma queixa comum A escala da WFNS reconhece seis graus de HSAn,
de apresentação nos pronto-atendimentos, representando porém é baseada na escala de coma de Glasgow (GCS).
cerca de 2% das consultas. A hemorragia subaracnóidea Zero representa um aneurisma íntegro. Pacientes de grau 1
responde por apenas 1-3% desses casos. possuem GCS de 15. Pacientes de grau 2 não possuem dé
Ao menos 75% dos pacientes com HSAn apresentam ficits neurológicos e apresentam GCS de 13 ou 14. Pacien
início súbito da "pior dor de cabeça da vida". A forma tes com GCS de 13-14 cow um déficit focai são de grau 3;
mais grave é a cefaieia "em trovoada", uma cefaieia in GCS de 7 a 12 é grau 4; GCS de 3 a 6 designa-se grau 5.
tensa que vem como o "estouro de um trovão" e em geral Estudos recentes têm indicado que o melhor preditor
atinge o pico em minutos ou mesmo segundos. Embora do prognóstico clínico é baseado simplesmente na esca
existam muitas causas de cefaieia "em trovoada", a mais la de coma de Glasgow. Assim como nas outras escalas
grave e potencialmente letal é a HSAn. mencionadas, um aneurisma íntegro é designado grau 0.
Um terço dos pacientes com HSAn queixa-se de cer- Os graus 1 a 5 diferem discretamente da escala da WFNS.
vicalgia. Outro terço refere vômitos. O grau 1 é uma GCS de 15; grau 2 é 12-14; grau 3 é 9-11;
Entre 10 e 25% dos pacientes apresentam sintomas grau 4 é 6-8; e o grau 5 é uma GCS de 3-5. Sua simpli
dias ou semanas antes da instalação da HSA. Esses va cidade, confiabilidade, poder preditivo e amplo conheci
zamentos "sentinelas" ou "de alerta" podem prenunciar a mento entre os profissionais de saúde fazem a GCS ser o
ruptura de um aneurisma e não devem ser ignorados. sistema mais lógico para a graduação das HSAns e orien
tação do tratamento.
112 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

6-3 Necropsts mostra HSA basilar difusa B devido à ruptura de um 6-4 Série de cortes axiais de TC sem contraste mostra o típico aspecto
aneurisma de AComA. Um coágulo mais focai está presente na fissura da HSA aneurismática. Hiperdensidade nas cisternas da base e nas fissu
inter-hemisférica ES. (Cortesia de R. Hewlett, MO.) ras siivianas é típica.

Uin quailo esquema, a escala modifícada de Fisher, estimados em 2% ao ano. Eles também carregam um risco
é baseado no aspecto da tomografia computadorizada aumentado para outras doenças vasculares.
(TC) (nào em achados clínicos), mas está incluída nesta
tabela de resumo para comparação (Tab. 6-1). Opções oe tratamento. Os objetivos do tratamento da HSAn
em pacientes que sobrevivem ao sangraniento inicial são
História natural. Embora a HSAn cause apenas 3-5% de (1) obliterar o aneurisma (prevenindo um ressangramento
todos os "acidentes vasculares", quase um terço de todos potencialmente catastrófico) e (2) prevenir ou tratar o va
os anos de vida perdidos relacionados a acidentes vascu sospasm© (ver a seguir).
lares cerebrais antes dos 65 anos são atribuíveis à HSAn.
A idade média de óbito dos pacientes com HSAn é mais Imagem
baixa do que em pacientes com outros tipos de acidentes Características gerais. A TC sem contraste é um excelente
vasculares. exame de rastreamento para o diagnóstico de uma HSAn
A HSA aneurismática é fatal ou incapacitante em
suspeita. Estudos recentes mostraram que nos primeiros
mais de um terço dos pacientes. HSA massiva pode cau três dias após o icliis, uma TC negativa é suficiente para a
sar coma e óbito em minutos. Aproximadamente um terço exclusão de HSA. A punção lombar é desnecessária se a
dos pacientes com HSAn evoluem a óbito dentro de 72 TC sem contraste é negativa.
horas; outro terço sobrevive, porém com déficits neuroló A melhor pista diagnóstica para HSAn é a hiperdensi
gicos incapacitantes. dade nas cisternas e nos sulcos na TC sem contraste. Em
Apesar dos avanços no diagnóstico e no tratamento, a alguns casos, o sangue subaracnoide circunda e delimita o
mortalidade intra-hospitalar continua a exceder 25%. Sem saco aneurismático comparativamente hipodenso.
tratamento, aneurismas saculares rotos possuem uma taxa
de ressangramento de 20% dentro das primeiras duas se Achados de TC. As cisternas basais, em especial a suprasse-
manas após a hemorragia inicial. lar, geralmente estão preenchidas com sangue (Fig. 6-4).
Desfecho desfavorável está associado com vários Embora a distribuição da HSA dependa da localização
fatores, incluindo idade avançada, piora neurológica, ta do aneurisma "culpado", ela é de certa forma variável
manho do aneurisma, grandes quantidades de HSA nos e não absolutamente preditiva quanto à localização do
exames tomográtlcos iniciais, hematoma intraparenqui- aneurisma.
matoso, hemorragia intraventricular e fatores de risco Aneurismas de AComA tendem a romper superior
vasculares, como hipertensão e infarto miocárdico. mente para o interior da fissura inter-hemisférica. Aneu
Pacientes que sobrevivem à HSAn também possuem rismas da bifurcação da ACM de forma usual rompem
um risco aumentado de desenvolverem novos aneurismas para o interior da fissura silviana. Aneurismas da carótida
intracranianos e novos episódios de HSA durante a vida. intema-artéria comunicante posterior (ACI-AComP) cos-
Hemorragia subaracnóidea e aneurismas 113

6-5A Imagem de TC sem contraste mostra HSA basilar difusa B com 6-56 Imagem de reconstrução 30 na angiografla da AGI direita
coágulo focai no lobo temporal anteromedial B e ao longo do aspecto do mesmo paciente mostra um grande aneurisma trilobado na ACl-
direito da cisterna suprasselar BS. -AComP ES.

lumain romper no interior da cisterna suprasselar. Aneu padrão-ouro para a detecção e delimitação da angioarqui-
rismas vertebrobasilares com freqüência preenchem o tetura do aneurisma, muitos pacientes com HSAn e ATC
quarto ventrícuío, a cisterna pré-pontina e o forame mag positiva são submetidos a clipagem cirúrgica sem a reali
no com sangue. zação desse exame.
Hemorragia intraventricular (HI) está presente em A ASD padrão às vezes não demonstra o aneurisma
cerca de metade dos pacientes com HSAn e está associada "culpado". A HSA com angiografia negativa é encontra
com uma maior probabilidade de complicações durante da em aproximadamente 15% dos casos. Com a adição
a internação e um pior prognóstico em três meses após a da angiografia rotacional tridimensional, a taxa de HSAs
HSA. com angiografia negativa decaiu para 4-5% dos casos.
Hemorragia parenquimatosa focai é incomum, mas, A HSA espontânea com "angiografia negativa" não é
se presente, prediz o local de ruptura do aneurisma uma entidade benigna, uma vez que possui um pequeno,
(Fig. 6-5). porém real, risco de ressangramento e prognóstico ruim.
A ATC é recomendada em pacientes com HSA difusa se a
Achados de RM. a HSA aguda é isointensa ao cérebro na ASD inicial for negativa. Um aneurisma responsável pelo
ponderação TI (Figs. 6-6A e 6-6B). As cisternas de LCS sangramento é encontrado em 9% desses casos.
podem encontrar-se borradas ou "sujas". Como a HSA é
hiperintensa ao cérebro na ponderação T2, ela pode ser de Graduação da HSA baseada em imagem. Uma escala sim
difícil identificação nessa seqüência (Fig. 6-6C). ples baseada nos achados de TC sem contraste, a esca
A seqüência FLAIR é a melhor para a demonstração la modiricada de Fisher, foi proposta para graduar a
da HSAn (Fig. 6-6D). LCS hiperintenso nos sulcos e nas HSAn. O grau O eqüivale à ausência de hemorragia su
cisternas está presente, porém é inespecíflco. Outras cau baracnóidea ou intraventricular visível. Uma fina (menor
sas de LCS "brilhante" em FLAIR incluem hiperoxigena- do que um milímetro) camada focai ou difusa de sangue
subaracnoide sem Hl é designada grau 1. Se H1 está pre
ção, meningite, neoplasia e artefatos.
A ressonância magnética (RM) também pode ser útil sente, é um Fisher grau 2. HSA espessa (maior do que
um milímetro) focai ou difusa sem Hl é designada grau
na investigação quando nenhuma causa estrutural para
3. A presença de sangue intraventricular, juntamente com
HSA não traumática é encontrada na TC sem contraste
HSA espessa, é designada grau 4. O aumento gradual na
inicial ou na angiotomografla (ATC).
escala de Fisher modificada possui uma relação linear
Angiografia. a ATC é positiva em 95% dos casos de HSAn com o risco de vasospasm©, infarto tardio e prognóstico
se o aneurisma "culpado" possuir um tamanho igual a ou clinico pobre.
maior do que 2 mm (Fig. 6-5B). Embora a angiografia A determinação quantitativa computadorizada do
com subtração digital (ASD) ainda seja considerada o volume da hemorragia subaracnóidea é também um bom
114 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

preditor de isquemia cerebral tardia e êxito funcionai na A pseudo-HSA é causada pelo intenso edema cere
HSAn. porém nào está rotineiramente disponível. bral. A hipodensidade do cérebro faz o sangue nas artérias
e veias cerebrais parecer denso, simulando o aspecto da
Diagnóstico diferencial HSA.
o principal diagnóstico diferencial da HSAn é a HSA Hípcrintcnsidade nos sulcos c cisternas em FLAIR
traumática. A HSA aneurismática costuma ser muito é um achado de imagem inespecífico e nem sempre de
mais disseminada, com freqüência preenchendo as cister nota hemorragia subaracnóidea. Além da HSAn, a hipe-
nas basais. Em geral a HSAt ocorre nas adjacências das rinlensidade do LCS em FLAIR costuma ocorrer com
contusões ou lacerações corticais e é, portanto, mais co distúrbios de fiuxo e artefatos técnicos, como anulação
mum nos sulcos superficiais. incompleta do LCS.
A HSA pcrímesencefáiica não aneurismática Meningite piogênica, carcinomatose meníngea e
(HSAp) é muito mais limitada do que a HSAn e está loca inspiração de oxigênio em altas concentrações podem
lizada nas cisternas interpeduncular, ambiente e pré-pon- causar hiperintensidade do LCS em FLAIR. A admi
tina. Às vezes, a HSAp se espalha para o aspecto posterior nistração prévia de quelatos de gadolínio (com ou sem
da cisterna suprasselar. Ela raramente se estende para as perda da função renal) pode resultar em realce difuso
fissuras silvianas. do LCS.

A HSA de convexidade, como o nome sugere, está Outras etiologias para a hiperintensidade em sulcos
localizada nos sulcos superficiais sobre as convexidades e cisternas em FLAIR incluem vasos hiperintensos com
cerebrais. Freqüentemente apenas um único sulco está fluxo lentificado (p. ex., acidentes vasculares cerebrais
afetado. As causas de HSA de convexidade são várias e agudos, colaterais piais em desenvolvimento após infarto/
incluem oclusão venosa, angiopatia amiloide, vasculite e isquemia cerebral, síndrome de Sturge-Weber, moyamoya
síndrome da vasoconstriçào cerebral reversível. e síndrome da vasoconstriçào cerebral reversível).

6-6A Série de imagens de


RM mostra os achados típicos
da HSA aneurismática aguda.
Imagem sagital em TI demons
tra o aspecto "sujo" do LCS
que se encontra isointenso ao
parênquima cerebral. O flow void
da artéria basilar está circundado
pela HSA El.
6-6B Imagem axial em Ti
do mesmo paciente mostra um
belo contraste entre o LCS "sujo"
isointenso Se o LCS hipointen-
so de aspecto mais normal B.

6-6C Imagem ponderada em


T2 do mesmo paciente mostra
que a HSA hiperintensa é difícil
de ser distinguida do LCS normal.
6-6D Imagem em FLAIR mos
tra LCS fiiperintenso nas cisternas
da base S. Hiperintensidade
de sulcos e cisternas também é
evidente nas cisternas perime-
sencefálica esquerda e cerebelar
superior, bem como nos espaços
subaracnoides paríeto-occipitais
E l
Hemorragia subaracnóidea e aneurismas 115

HEMORRAGIA SUBARACNÓIDEA ANEURISMÁTICA

Etiologla
• Ruptura de aneurisma sacular ou em aspecto de
bolha de sangue
• Menos comum = dissecçào intracraniana

Patologia
• Sangue entre a aracnoide e a pia
• Preenche as cisternas basais ± sangue intraventricular

Aspectos clínicos
• Causa 3-5% dos "acidentes vasculares"
• Cefaleia "em trovoada"
• Pico de idade = 40 a 60 anos; H:M = 1:2
• Fatal ou Incapacitante em 2/3

Imagem
• TC sem contraste: cisternas da base e sulcos hiperdensos 6-7 Necropsia de ruptura de um aneurisma da bifur-
o Punção lombar (PL) desnecessária se a TC é cação da ACM mostra intenso vasospasmo com marca
do estreitamento da ACM e da artéria basilar distai tB.
negativa nos primeiros três dias
o Hidrocefalia comum, início geralmente precoce
• RM
o LCS "sujo" em Ti
o Cisternas e sulcos hiperinlensos em FLAIR
• Angiografia
o ATC positiva em 95% se aneurisma 2 2 mm
o ASO reservada para aneurismas complexos e ATC
negativa
o H5A com "angiografia negativa" (15%)
o ASD rotacional 3D negativa (somente 5%)
o ASD repetida {second look) positiva em 5%

Diagnóstico diferencial
• HSA traumática
o Em geral, a causa mais comum de HSA
• HSA perimesencefálica não aneurismática
• HSA de convexidade
• Pseudo-HSA

vasospasmo (S devido à ruptura de um aneurisma da


H5A aneurismática e vasospasmo circulação anterior. Os vasos distais são escassamente
opacificados Bj.
O vasospasmo cerebral (VEC) é uma complicação co
mum, porém pouco compreendida da HSAn (Fig. 6-7).
O VEC com isquemia cerebral tardia (ICT) é a principal
causa de morbidade e mortalidade em pacientes que so
brevivem à hemorragia inicial. Disfunçao microcirculató-
ria relacionada à lesão endotelial, trombose microvascular
e perda da autorregulaçào têm sido implicadas na patogê-
nese da ICT pós-HSA.
A HSA aneurismática é complicada por vasospasmo
em dois terços dos pacientes. Aproximadamente 30% tor
nam-se sintomáticos. Mais da metade desses pacientes de
senvolve infartos tardios subsequentes. Pacientes com HSA
de grande volume estão em risco elevado para o desenvol
vimento de vasospasmo sintomático e suas complicações.
Métodos não invasivos para a detecção precoce do
VEC incluem a ultrassonografia com doppier colorido,
ultrassonografla transcraniana com Doppier, ATC, perfu- 6-8B 15 mg de verapamil foram infundidos. A repe
são por TC (pTC) e RM. A ATC com pTC é útil na ava tição da ASO após cinco minutos mostrou significativa
liação de pacientes criticamente enfermos. A perfusào por melhora na circulação vertebrobasilar.
116 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

RM e as seqüências com ponderação em difusão podem


ser iiteis na determinação pré-angiográfica de segmentos
vasculares específicos que estariam "em risco" para o de
senvolvimento de infarto cerebral subsequente.
A ASD ainda é considerada o padrão-ouro para o
diagnóstico de VEC (FIg. 6-8A). O vasospasmo angio-
gráfico está relacionado com infarto cerebral. Múltiplos
segmentos de constrição vascular e vasos irregularmente
estreitados são achados típicos. A ASD é freqüentemente
combinada com tratamento endovascular, em geral an-
gioplastia transluminal com balão e nimodipina intra-
-arterial.
A terapia do "triplo H" (hipervolemia, hipertensão e
hemodiluição) tem sido usada em combinação com an-
tagonistas do cálcio como tentativa de aumentar a perfu-
são cerebral e melhorar o prognóstico clínico seguinte à
HSAn. Entretanto, estudos controlados recentes não mos
interpedunculaí e à cisterna ambiente (perlmesence-
fálica) S.
traram evidência de efeito positivo na terapia do "triplo
H", ou de seus componentes isolados, no fluxo sangüíneo
cerebral após HSA.

Diagnóstico diferencial
o diagnóstico diferencial do vasospasmo dentro do con
texto de uma HSA existente é limitado. Se o paciente
possui um aneurisma conhecido com HSA recente, os
achados dc estreitamento vascular multissegmcntar indi
cam VEC. Entretanto, se a HSA é de convexidadc (ver
abaixo), o diagnóstico diferencial inclui síndrome da va-
soconstrição cerebral reversível e vasculite.

Outras complicações da HSAn


A isquemia cerebral tardia (ICT) em geral ocorre 4 a 14
dias após a HSAn e freqüentemente é causada por vasos
pasmo (ver anteriormente). Outros fatores, como o estres
6-1 OA TC sem contraste em um caso de HSAp mostra se oxidativo (incluindo peroxidação lipídica), a ativação
sangue nas cisternas pré-pontina e perimesenceíálica de respostas inflamatórias e a produção de citocinas
porém não na cisterna suprasselar ou fissuras
silvianas.
inflamatórias provavelmente contribuem para a elevada
mortalidade após a HSA.
Hidrocefalia obstrutiva com freqüência se desen
volve em pacientes com HSAn, algumas vezes dentro de
horas após o ictus, e pode ser exacerbada pela presença de
Hl. Os exames de imagem mostram aumento do líquido
extracelular periventricular, com "borramento" das mar
gens dos ventrículos laterais.
Marcadores de neurodegeneração (p. ex., fragmen
tos proteolíticos derivados da calpaína, neuroí!lamento H
hipofosforilado, ligase da ubiquitina, e a enolase neurô-
nio-específica) aumentam após HSAns graves e podem
ser preditores precoces de complicações físiopatológicas
e disfunção cerebral persistente.
A síndrome de Terson (ST) é uma hemorragia intrao
cular encontrada em 12-13% dos pacientes com HSAn. A
ST está associada com graduações mais graves de HSA e
provavelmente é causada pela rápida elevação da pressão
é normal, sem evidência de aneurisma da bifurcação intracraniana (PlC). A hemorragia pode ser sub-hialoide
basilar ou dissecção. (mais comum), retiniana ou vítrea.
Hemorragia subaracnóidea e aneurlsmas 117

HSA perimesencefálica não aneurísmática


Terminologia
A HSA perimesencefálica não aneurismárica (HSAp)
também é conhecida como HSA perimesencefálica benig
na. A HSAp é uma hemorragia subaracnóidea clinicamen
te benigna que está confinada às cisternas perimesencefá
lica e pré-pontina (Fig. 6-9).

Etiologia
A etiologia exata da HSAp é desconhecida, e a fonte de
sangramento na HSAp costuma ser indeterminada. A
maior parte dos pesquisadores implica ruptura venosa - e
não arterial - como causa mais provável.

Aspectos clínicos
6-1 IA Corte axial de TC sem contraste em um ho
A HSAp é a causa mais comum de HSA não traumática
mem de 62 anos com cefaleia intensa súbita mostra
e não aneurismática. A apresentação típica é de cefaleia hemorragia subaracnóidea 131 anteriormente ao buibo.
leve a moderada com grau 1 a 2 da escala de Hunt e Hess.
Ocasionalmente, pacientes podem apresentar cefaleia "em
trovoada" com meningismo.
O pico de apresentação dos pacientes com HSAp
ocorre entre 40 e 60 anos - idêntico ao pico de apresen
tação da HSA aneurismática. Não há predileção por sexo.
A maioria dos casos de HSAp segue um curso clinica
mente benigno e sem intercorrências. Ressangramento é
incomum (< 1%). Em contrapartida à HSAn, vasospasmo
e isquemia cerebral tardia são raros.

Imagem
A HSAp possui características de imagem bem definidas.
Os exames de TC sem contraste mostram acúmulo focai
de sangue subaracnoide ao redor do mesencéfalo (nas
cisternas interpeduncular e perimesencefálica) e anterior
mente à ponte (Flg. 6-10).
6-11B Corte em plano mais superior mostra HSA nas
Embora mais de 95% dos pacientes com HSAp pos cisternas perimesencefálica e interpeduncular ES com
suam ASDs negativas, a ruptura de um aneurisma da mínima quantidade de sangue na fissura silviana S.
bifurcação basilar ou da dissecção vertebrobasilar às
vezes pode causar um padrão de HSA capaz de simu
lar HSAp. Portanto, o estudo por imagem da circulação
craniana é geralmente recomendado (Fig. 6-11). A ATC
de alta resolução é uma alternativa à angiografia não
invasiva e confiável para descartar aneurismas ou dis-
secçòes subjacentes nesses casos. Se a ATC inicial for
negativa, não há informação adicional significativa na
ASD ou na RM.

Diagnóstico diferencial
o principal diagnóstico diferencial da HSAp é a HSA
aneurismática. A HSA aneurismática é significativamen
te mais extensa, espalhando-se através das cisternas ba
sais e com freqüência se estendendo para as fissuras inter-
-hemisféricas e silvianas.
A HSA traumática (HSAt) seria sugestiva tanto pela 6-11C ASO mostra dissecção na artéria vertebral
história quanto pelo aspecto de imagem. A HSAt ocorre esquerda S). Dissecções intracranianas são uma causa
adjacente ao cérebro contundido. Ela costuma ser periféri- incomum, porém importante, de HSAp.
118 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

ca, localizada primariamente no interior da fissura siívia- Eíloiogia


na e sobre as convexidades cerebrais. Durante o trauma
Um amplo espectro de patologias vasculares e não vascu
craniano fechado, o mesencéfalo pode ser repentina e for-
lares pode causar HSAc, incluindo trombose de seio durai
çadamente impactado contra a incisura do tentório. Nes e das veias corticais (TVCo), malformações arterioveno-
ses casos, a presença de sangue perimesencefálico pode
sas, fistulas da artéria vertebral (AV) durais, dissecção/es-
simular HSAp. Diferentemente da HSAp, as hemorragias
tenose/oclusão arterial, aneurismas micóticos, vasculites,
interpeduncular e pré-pontina em geral estão ausentes.
A HSA de convexidade é encontrada sobre as conve
angiopatia amiloide, coagulopatias, síndrome da vasocon-
trição cerebral reversível (SVCR) e síndrome da encefalo-
xidades cerebrais, não nas cisternas perimesencefálicas.
patia posterior reversível (PRES).
Sangue no interior de um único sulco ou sulcos imediata
mente adjacentes é comum.
Aspectos clínicos
Embora a HSAc possa ocorrer em qualquer idade, a maior
H5A de convexidade
parte dos pacientes tem entre 40 e 80 anos, sendo o pico
Terminologia de idade aos 70 anos.
A HSA isolada espontânea não traumática que envolve os A apresentação clínica da HSAc varia com a etiolo-
sulcos sobre o vértice cerebral é chamada de hemorragia gia, porém é bastante diferente da encontrada na HSAn.
subaracnóidea de convexidade ou convexa (HSAc). A A maioria dos pacientes com HSAc apresenta cefaleia
HSAc é um tipo específico de hemorragia subaracnóidea inespecífica sem rigidez da nuca. Alguns apresentam
com um aspecto de imagem muito diferente do observado crises convulsivas focais ou generalizadas, ou déflcits
na HSAn e na HSAp: a HSAc está restrita às convexida neurológicos.
des hemisféricas, poupando as cisternas basais e perime- Pacientes com HSAc secundária a SVCR podem se
sencefálica (Fig. 6-12). apresentar com cefaleia "em trovoada". A grande maioria

6-12 Ilustração demonstra


HSA de convexidade com sangue
focai no interior dos sulcos SI
sobre o vértice do hemisfério
esquerdo.
6-13A TC sem contraste em
um paciente com cefaleia "em
trovoada" mostra HSA de conve
xidade isolada E2.

6-13B imagem com ponde


ração GRE mostra artefato de
susceptibiiidade magnética linear
B causado pela HSA de con
vexidade.
6-13C Incidência lateral de

angiografia da artéria carótida


esquerda, em fase medioarte-
rial, mostra múltiplos focos de
estreitamento irregular e aspecto
em "colar de contas" nos ramos
corticais das artérias cerebrais
média e anterior S], caracterís
ticos de vascuiile ou síndrome da
vasoconstrição cerebral reversí
vel. Ambas as entidades podem
causar esse aspecto angiográfico.
Hemorragia subaracnóidea e aneurismas 119

6-14 Ilustração axial mostra coloração marrom escura da hemosside- 6-15 Caso de necropsia demonstra siderose superficial. O tronco en-
rina em todas as superfícies do cérebro, meninges e nervos cranianos. ceíálico e o cerebelo estão cobertos com depósitos de hemossiderina de
Note que os nervos cranianos Vil e Vil! no ângulo pontocerebelar e no coloração marrom. (Cortesia de E. T. Hediey-Whyte, MD.)
canal auditivo interno El estão particularmente afetados.

são mulheres de meia-idade. A HSAc causada por trom a vasculite, oclusão de seios durais e/ou veias corticais, e
bose venosa ou vasculite pode apresentar sintomas mais SVCR(Fig. 6-13C).
brandos com instalação mais insidiosa. A idade média de
TVCo acompanhada de HSAc é de 33 anos. Siderose superficial
A angiopatia amiloide cerebral (AAC) é a principal
causa de HSAc em pacientes idosos. Demência progressi Terminologia
va e cefaleia são apresentações comuns. A deposição de hemossiderina ao longo das superfícies do
O prognóstico da HSAc propriamente dita costuma cérebro, nervos cranianos e/ou medula define a condição
ser bom, e depende primariamente da etiologia subjacen conhecida como siderose superficial (SS) (Fig. 6-14).
te. Vasospasm© e isquemia cerebral tardia são raros.
Etiologia
Imagem A SS é uma conseqüência da hemorragia crônica ou
Achados de TC. A maioria dos casos de HSAc são unila intermitente no espaço subaracnoide. De modo geral,
terais, envolvendo um ou vários sulcos da convexidade trauma e cirurgia são as causas mais comuns. Outras
dorsolateral (Fig. 6-13A). As cisternas basais são tipica etiologias descritas incluem neoplasias hemorrágicas,
mente poupadas. malformações vasculares, obstrução venosa e vasculopa-
tias hemorrágicas, como a angiopatia amiloide. A SS em
Achados de RM. Hiperintensidade focai em sulcos na se decorrência de HSA aneurismática de repetição é relati
qüência FLAIR é típica na HSAc. A seqüência T2* (GRE, vamente incomum.
SWI) mostra artefatos de susceptibilidade magnética nos A acelerada síntese cerebelar de ferritina e o sangra-
sulcos afetados (Fig. 6-13B). Se a etiologia da HSAc é a mento intratecal crônico sobrecarregam a habilidade da
oclusão de seio durai ou veia cortical, um sinal do "cor
micròglia de biossintetizar ferritina, resultando em exces
dão" hipointenso pode estar presente. Pacientes com AAC so de ferro subpial. Isso facilita o dano por radicais livres,
possuem microssangramentos corticais e piais multifocals peroxidação lipídica e degeneração neuronal.
{'"blooming black dois") em T2*. Eles podem também
apresentar evidências de siderose e hemorragias lobares Patologia
prévias em diferentes idades.
Localização. Embora possa ocorrer em qualquer local do
Angiografia. a ATC, ARM e ASD podem ser úteis na ava SNC, a SS tem uma predileção pela fossa posterior (folias
liação de pacientes com HSA de convexidade secundária e verme cerebelar, NC VIII) e tronco encefálico.
120 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

6-16 Série de imagens de RM mostra os achados típicos da siderose superficial em um paciente com hipoacusia
neurossensorial e ataxia progressiva. A ponderação T2 FSE mostra hipointensidade linear ao redor das superfícies da
ponte e do cerebelo B. Imagens na ponderação 72" 6RE mostram marcados artefatos de susceptibilidade magnética
cobrindo a ponte e os hemisférios cerebelares, estendendo-se para o interior e ao longo das folias

A SS envolvendo as convexidades cerebrais é obser\'a-


Imagem
da em 60% dos pacientes com angiopatia amiloide cerebral, A TC costuma ser normal em pacientes com SS. Oca
porém é rara em outras formas de hemorragia intracraniana.
sionalmente, a deposição de ferro é intensa o suficiente
Patologia macroscópica. Encrustrações amareio-amarrona- para causar hiperdensidade ao longo das superfícies ce
das e preto-acinzentadas cobrem as estruturas afetadas, rebrais.
sedimentando-se ao longo dos sulcos e revestindo os ner A RM é a modalidade de escolha para a avaliação de
vos cranianos (Fig. 6-15).
pacientes com possível SS, tanto para estabelecer o diag
Características microscópicas. A deposição subpiaí de he- nóstico quanto para identificar a causa do sangramento de
mossiderina é a assinatura histológica da SS. repetição. Em cerca de um terço dos casos, a fonte de san
gramento não é identificada, apesar da ostensiva investi
Aspectos clínicos gação de lodo o neuroeixo.
Os pacientes freqüentemente se apresentam com ataxia A SS é melhor Identificada na ponderação T2* (GRE,
de marcha, disartria e hipoacusia neurossensorial bilate SWl) e é observada como uma borda hipointensa (artefa
ral lentamente progressivas. Alguns pacientes apresentam to de susceptibilidade negro) que continua ao longo das
mielopatia progressiva. Com freqüência, muitas décadas superfícies cerebrais e reveste os nervos cranianos (Fig.
se passam entre o evento que causa a SS e o desenvolvi 6-16). Mesmo com extensa investigação de neuroima-
mento de sintomas evidentes. gem, a fonte da SS freqüentemente permanece oculta.
Hemorragia subaracnóidea e aneurismas 121

Diagnóstico diferencial Pseudoaneurismas são dilatações arteriais focais que


o principal diagnóstico diferencial da siderose superficial não são contidas por quaisquer camadas da parede arterial
normal. Eles freqüentemente apresentam formato irregu
é o denominado artefato bounce point, que reflete o de
lar e consistem em um coágulo paravascular não contido
sencontro entre os tempos de repetição (TR) e de inversão
que cavita e se comunica com o lúmen do vaso que o ori
(TI) nas seqüências FLAIR e TI IR.
As vezes, os vasos da superfície, como os plexos ginou. Pseudoaneurismas intracranianos costumam surgir
de artérias de médio calibre distais ao polígono de Willis.
venosos com fluxo sangüíneo lento, podem causar áreas
Trauma, abuso de drogas, infecção e tumor são as etiolo-
hipointensas e lineares focais ao longo das superfícies ce
gias comuns.
rebrais, especialmente na ponderação T2*.
Os aneurismas em aspecto de bolha de sangue
Causas raras de hipointensidade e extenso artefato
de susceptibilidade magnética ao redor das superfícies {blood blister) (ABS) são um tipo especial de aneurisma,
recentemente reconhecidos na literatura neurocirúrgica.
cerebrais incluem duas raras síndromes neurocutâneas:
Os ABSs são saculações artérias hemisféricas excêntri
melanose ncurocutânca (tipicamente hiperintensa na
cas cobertas por uma fina camada de adventícia. Essas
ponderação TI) e meníngíoangiomatose (proliferações
perigosas lesões são difíceis tanto de detectar quanto de
infíltrativas de células meníngeas e vasos sangüíneos es
tratar. Elas possuem tendência à ruptura com um tama
pessadas, com realce e algumas vezes calcificadas). nho muito menor em pessoas mais jovens em comparação
com os aneurismas saculares. Embora os ABSs possam
HSA ANEURISMÁTICA VERSUS NÀO ANEURISMÁTICA ser encontrados em qualquer local, eles possuem uma pro
pensão distinta para ocorrer no trajeto da artéria carótida
HSAaneurlsmátka interna supraclinóidea.
• Disseminada; cisternas basais
Aneurismas fusiformes (AF) são dilatações focais
• Origem arterial
• Complicações (vasospasmo, isquemia) comuns que envolvem toda a circunferência de um vaso e se es
tendem por distâncias relativamente curtas. Os AFs são
HSA perlmesencefáilca não aneurismática mais comuns na circulação vertebrobasilar ("posterior").
• Focai; cisternas perimesencefáíica e pré-pontina AFs podem ser ateroscleróticos (mais comum) ou não ate-
• Origem provavelmente venosa roscleróticos em origem.
• Clinicamente benigna; complicações e recorrência raras

HSA de convexídade Aneurisma secular


• Sulcos superficiais (convexidade)
• Várias causas (ociusão venosa, vasculite, angiopatia Terminologia
amiloide) Os aneurismas saculares (AS) são, algumas vezes, chama
dos de aneurismas "verdadeiros" (para diferenciá-los dos
Siderose superficial
• Fossa posterior»supratentorial pseudoaneurismas). Um aneurisma sacular é uma sacula-
• HSA crônica e repetida (causa freqüentemente ção arterial focai que afeta apenas parte da circunferência
da artéria que o origina. A maioria dos ASs não apresenta
indeterminada)
• Hipoacusia neurossensoriai dois componentes estruturais importantes das artérias in
• Cérebro e nervos cranianos revestidos por tracranianas normais, oú seja, a lâmina elástica interna e a
hemossiderina camada muscular ("média").

Etíologia
Conceitos gerais. O desenvolvimento e a subsequente rup
tura dos ASs intracranianos refletem várias interações
Aneurismas
complexas. Os ASs são lesões adquiridas que se desen
Visão geral volvem a partir da hemodinâmica vascular anormal e do
Os aneurismas intracranianos são classificados pelo seu estresse de cisalhamento parietal. Estresses hemodinâmi-
cos são maiores nas bifurcações arteriais ou ao longo das
aspecto fenotípico macroscópico. Os aneurismas intra
curvas externas das principais artérias intracranianas. O
cranianos mais comuns são chamados de aneurismas sa-
culares devido à sua marcante configuração em saco ou estresse de cisalhamento anormal na parede das artérias
danifica a lâmina elástica interna, resultando em "fadiga
em baga. Os aneurismas saculares são lesões adquiridas
de bioengenharia" e remodelamento da parede arterial que
que surgem em pontos de ramificação das artérias cere
brais principais, onde o estresse hemodinâinico é máximo. precede a franca formação do aneurisma.
Aneurismas saculares não possuem algumas das camadas Genética. Poucos ASs são congênitos (i.e., apresentam-se
arteriais (a lâmina elástica interna e a média) encontradas no nascimento). Entretanto, muitos estudos demonstraram
em vasos normais. Mais de 90% dos aneurismas saculares um componente genético para o desenvolvimento e ruptu
ocorrem na circulação "anterior" (carotídea). ra dos aneurismas.
122 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

6-17 Espécime de necropsia mostra um aneurisma sacular íntegro 6-18 Necropsia demonstra um aneurisma roto da bífurcaçao da basilar
e incidental B na junção da AC! com a AComP. (Cortesia de B. B, com extensa hemorragia subaracnóidea que se estende pelas cis
Hoíten, MD.) ternas da base. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)

Várias alterações genéticas têm sido associadas Vasculopatias herdadas e aneurismas sindròmicos. Alguns
com ASs, embora nenhuma variação genética especifi distúrbios herdados do tecido conectivo (como as sín-
ca causadora de doença tenha sido identificada. Até o dromes de Marfan e Ehlers-Danlos, ou displasia fibro-
momento, a maior parte dos genes identificados é com muscular) estão associados com um risco aumentado de
posta de moderadores do ciclo de progressão celular. aneurismas intracranianos. Arteriopatia é comum em
Eles afetam a proliferação e a senescência das popu pacientes com neurofibromatose tipo 1 (NFl). Embora
lações celulares que são responsáveis pela formação e as alterações vasculares na NFl afetem as artérias aorta,
pelo reparo vascular. renais, coronárias e gastrintestinais, foi descrito algum
Vasculopatia herdada, vasos sangüíneos anômalos, aumento no risco de desenvolvimento de aneurismas

predisposição familial e estados de "alto fluxo" (i.e., va intracranianos.


sos que suprem uma malformação arteriovenosa) aumen A doença renal policística autossômíca dominante
tam o risco de desenvolvimento de ASs. carrega um risco de 8-10% de desenvolvimento de aneu
Estudos demográficos demonstraram que fatores risma sacular ao longo da vida.
ambientais, como hipertensão sistêmica, tabagismo e ele
Aneurismas intracranianos familiais. Até 20% dos pacien
vado consumo de álcool contribuem significativamente
tes com ASs possuem uma história familiar de aneuris
ao risco de desenvolvimento de ASs e podem aumentar
mas intracranianos. Esses ASs intracranianos ocorrem
quaisquer propensões genéticas subjacentes. em "agrupamentos" de indivíduos relacionados sem ne
Vasos sangüíneos anômalos. Várias assimetrias de vasos nhum distúrbio herdado conhecido do tecido conectivo

sangüíneos e algumas anomalias vasculares congênitas e são denominados aneurismas intracranianos fami
predispõem ao desenvolvimento de ASs intracranianos. liais (AlF). AlFs tendem a ocorrer em pacientes mais
Valvas aórticas bicúspides, coarctação de aorta, arté jovens e romper em menores dimensões do que os ASs
ria trigeminal (AT) persistente e anomalias congênitas da esporádicos.
artéria cerebral anterior (i.e., assimetrias do segmento Al Pacientes com um familiar de primeiro grau com
ou seu trajeto infraóptico) carregam um risco aumentado HSAn possuem risco 4 a 10 vezes maior de desenvolve
de AS. A associação de fenestrações arteriais (i.e., divisão rem um AS. O rastreio por ATC ou ARM para ASs as-
e reunião de um vaso como a artéria comunicante anterior sintomáticos e íntegros em indivíduos com dois ou mais
ou a artéria basilar) com uma prevalência aumentada de familiares de primeiro grau afetados é custo-efetivo e tem
AS é controversa. sido recomendado por alguns autores.
Hemorragia subaracnóldea e aneurismas 123

6-19 Os locais mais comuns para a ocorrência de aneurismas saculares 6-20 Necropsia mostra um aneurisma gigante O da artéria comuni-
são 3 AComA B e a junção entre a ACI e a AComP S. Outras localiza cante anterior. (Cortesia de R. Hewlett, MO.)
ções incluem a biíurcação da ACM B e o topo da artéria basilar

Aneurismas da circulação anterior. Cerca de 90%


ANEURISMAS SACULARES: ETIOLOGIA dos ASs ocorrem na circulação "anterior" (Fig. 6-19). A
Conceitos gerais circulação anterior consiste nas artérias carótida interna
• Adquiridos, não congênitos! (ACI) e seus ramos terminais, cerebral anterior (ACA) e
• Hemodinâmica anormal, estresse de cisalhamento ^ cerebral média (ACM). As artérias oftálmica, comunican-
enfraquecimento da parede arterial tes anterior (AComA) e posterior (AComP), coróidea an
• Alterações genéticas subjacentes comuns terior (ACorA) e hipofisária sào todas consideradas parte
da circulação anterior.
Risco aumentado de AS
• Vasos anômalos Aproximadamente um terço dos ASs ocorrem na
o Artéria trigeminal persistente AComA, com outro terço surgindo na junção da ACI com
o AComA fenestrada a AComP. Cerca de 20% dos ASs ocorrem na bifurcação
• Vasculopatias, síndromes ou trifurcaçào da ACM.
o Coíágeno anormal (Marfan, Ehiers-Danios) Aneurismas da circulação posterior. Dos ASs, 10%
o Displasia fibromuscular estão localizados na circulação vertebrobasilar ("poste
o Doença renal policística autossòmica dominante
rior"). A bifurcação da artéria basilar é o local mais co
• Aneurisma intracraniano familial
mum, representando cerca de 5% de todas as ASs (Fig.
o Aumento de 4-10x no risco se familiar de primeiro
6-18). A artéria cerebelar posteroinferior (ACPI) é a se
grau com HSAn
gunda localização mais comum.
Tamanho e número. Os ASs variam em tamanho, de 2 a 3
milímetros a enormes. ASs que possuem 2,5 cm ou mais
são chamados de aneurismas "gigantes" (Fig. 6-20).
Patologia
Entre 15 e 20% dos aneurismas são múltiplos. Cerca
Localização. A maioria dos AS intracranianos ocorre em
de 75% dos pacientes com múltiplos aneurismas possuem
pontos de máximo estresse hemodinâmico. Grande par dois ASs, 15% possuem três e 10% possuem mais de três
te surge nas bifurcações ou ramos dos principais vasos
ASs. Múltiplos ASs são mais comuns em mulheres.
sangüíneos (Fig. 6-17). O círculo de Willis (CW) e a ar
téria cerebral média (ACM) sào os locais mais comuns Patologia macroscópica. Os ASs intracranianos são lesões

(Fig. 6-18). Aneurismas além do CW sào incomuns, vis dinâmicas, não estáticas. Insultos hemodinâmicos podem
to que o estresse hemodinâmico distai é muito menor. incitar uma resposta patológica vascular que leva ao re-
Muitos aneurismas periféricos são, na verdade, pseu- modelamento autossustentado do aneurisma. A persistên
doaneurismas secundários a trauma, infecção ou tumor cia dos fatores hemodinâmicos originais não é necessária
(ver adiante). para a continuação da progressão patológica.
124 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

A configuração macroscópica de um AS se altera com variadas de trombo (Fig. 6-23), inflamação e alterações
o tempo, conforme a parede arterial é remodelada em res aieroscleróticas também podem estar presentes.
posta ao estresse hemodinâmico. Conforme ela se torna ASs gigantes freqüentemente apresentam calcifica-
progressivamente enfraquecida, a parede começa a se ções murais, coágulos laminados em diferentes idades, e
abaular externamente, formando um AS (Fig. 6-21). trombose variável.
A abertura (óstio) de AS pode ser estreita ou larga.
A hemodinâmica intra-aneurismática complexa resulta Aspectos clínicos
em impacto do fluxo em diferentes partes do aneurisma. Epídemiologia. a incidência de ASs intracranianos na popu
Algumas forças impactam no óstio e outras são mais proe lação geral é de 2 a 6%. ASs íntegros assintomáticos são
minentes no domo. Um ou mais lóbulos ou um "inamilo" pelo menos 10 vezes mais prevalentes do que aneurísmas
apical podem se desenvolver como resultado. Essas sacu- rompidos.
lações são a parte da parede aneurismática mais vulnerá
Demografia. o pico de apresentação é entre 40 e 60 anos.
vel à ruptura, resultando em HSA aneurismática (HSAn).
Há predominância feminina, especialmente com múlti
Características microscópicas. ASs demonstram uma lâmina plos ASs.
elástica interna (LEI) rompida ou ausente. A camada de ASs são raros em crianças, representando menos de
células musculares lisas (média) está geralmente ausen 2% de todos os casos, embora sejam a maior causa de
te (Fig. 6-22). O delicado equilíbrio entre a síntese e a HSA espontânea (não traumática) nessa faixa etária.
degradação de matriz extracelular (MEC) - uma rede di Em comparação com os aneurismas de adultos, os
nâmica de proteínas e proteoglicanos - está abalado. Por aneurismas pediátricos possuem uma predileção pela
tanto. a parede de um AS é muito frágil, consistindo em circulação posterior. Eles também adquirem dimensões
íntima e adventícia em uma MEC degradada. Quantidades maiores e com freqüência desenvolvem um formato mais

6-21A Necropsia mostra um


aneurisma da AComA B3 pro
jetando-se superiormente entre
os segmentos A2 de ambas as
artérias cerebrais anteriores.
6-21B O aneurisma loi disse
cado e cortado em plano coronal.
Alterações reativas espessam
a base do aneurisma, porém o
domo E9 é relativamente atila
do. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)

6-22 Corte seccional de um


aneurisma mostra a lâmina elás
tica interna e a camada muscular
normais na parede da artéria de
origem Si. O saco aneurismáti-
CO !=>[ não apresenta essas ca
madas, sendo composto apenas
por íntima e adventícia.
6-23 Visão aproximada de
um aneurisma majorítariamente
trombosado B demonstrando
os coágulos em diferentes está
gios de organização. (Cortesia de
R. Hewlett, MD.)
Hemorragia subaracnóidea e aneurismas 125

complexo. Aneurismas da infância exibem relativa au mento é variável e imprevisível. Aneurismas em cresci
sência de predominância feminina, e são mais associados mento são mais propensos à ruptura, porém 10% das rup
com trauma e infecção. Maiores índices de recorrências e turas ocorrem na ausência de crescimento detectável.
de crescimento ou formação de novo também são comuns. A taxa geral de ruptura anual dos ASs é de 1-2%. En
tretanto. o curso natural dos aneurismas cerebrais íntegros
Apresentação. Entre 80 e 90% de todas as HSAs não trau
varia de acordo com o tamanho, a localização e a forma
máticas são causadas por ruptura de ASs. A apresentação
do aneurisma. Maior dimensão, localização nas artérias
mais comum é o início súbito de cefaleia intensa e excru-
ciante ("em trovoada" ou "a pior dor de cabeça da vida"). comunicantes (em vez de na ACM) e a presença de um
saco "filho" (protrusão irregular da parede) aumentam o
Neuropatias cranianas são apresentações relativa
mente incomuns de AS. Dessas, a paralisia do NC III en risco de ruptura. O "ambiente perianeurismático" também
volvendo a pupila devido a um aneurisma de AComP é a pode influenciar na geometria e no risco de ruptura do
mais comum, As vezes, pacientes com aneurismas par aneurisma, especialmente em localizações com contato
cial ou completamente trombosados apresentam-se com restrito ao osso ou à dura.

um ataque isquêmico transitório ou acidente vascular ce


Opções de tratamento. Há três opções básicas de tratamen
rebral.
to dos ASs: (I) observação, (2) clipagem cirúrgica e (3)
História natural. Há três estágios na história natural dos ociusão endovascular. O manejo dos ASs íntegros é con
ASs: (1) formação/início; (2) crescimento/alargamento; e troverso devido à sua história natural imprevisível. Em
(3) ruptura. contrapartida, praticamente todos os ASs rompidos são
Não há consenso se o crescimento do aneurisma afe tratados. O manejo deve ser ajustado individualmente
ta o seu comportamento (i.e., risco de ruptura). ASs não para cada paciente, com todas as opções consideradas
crescem em uma taxa constante no tempo; o seu cresci para o melhor desfecho.

6-24A TC sem contraste obti


da em um paciente após trauma
craniano foi considerada normal.
Retrospectivamente, uma peque
na hiperdensidade arredondada
na bifurcação da artéria cerebral
média direita B pode ser iden
tificada.
6-248 Sete anos depois, o
paciente apresentou cefaleia
súbita seguida de sincope. A TC
sem contraste mostra HSA basilar
difusa B e um hematoma tem
poral direito B com uma área
focai hipodensa na sua borda
inferomedial B.

6-24C ATC mostra um aneuris


ma sacular com intensa impreg
nação B na bi/tri(urcação da
ACM imediatamente anterior ao
hematoma do lobo temporal.
6-24D Reconstrução coronal
em técnica MIP demonstra cla
ramente o aneurisma B. O
segmento M1 da ACM B está
elevado pelo efeito de massa do
hematoma.
126 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

6-25A TC sem contraste mostra um aneurisma sacular incidentalmen- 6-25B MIP coronal da ATC do mesmo paciente mostra um aneurisma
te descoberto, observado aqui como uma hiperdensidade arredondada sacular patente ES na biíurcação terminal da ACl esquerda.
bem delimitada ES com algum calcifícação periférica

A HSA aneurisníática é um evento catastrófico com Tratamento endovascular. O tratamento endovascular


alta mortalidade e significativa morbidade. Cerca de um resulta em uma redução relativa de 22,6% e absoluta de
terço dos pacientes vào a óbito, e um terço sobrevive com 6,9% no risco de complicações em comparação com a cli
deficits neurológicos residuais significativos. Somente pagem cirúrgica. A recuperação é mais rápida, e a morta
um quarto a um terço dos pacientes com um episódio de lidade c morbidade durante a internação são mais baixas.
HSAn se recuperam com bom resultado funcional. A reabertura ocorre em aproximadamente 20% dos
Pacientes que sobrevivem à HSA inicial sào tratados aneurismas embolizados. Embora grandes dimensões do
assim que possível. O risco de ressangramento é maior aneurisma e baixa adesão das molas sejam fatores de risco
nas primeiras 24 a 48 horas após a hemorragia inicial. estabelecidos, aneurismas menores do que 10 mm ocluí-
Aproximadamente 20% dos aneurismas rompidos, porém dos de forma adequada raramente recorrem dentro dos
não tratados, ressangram dentro de duas semanas. Metade primeiros 5 a IO anos após a embolização.
apresenta ressangramento em seis meses.
Obsen'ação. Em 2000, o International Study of Un Imagem
ruptured Intracranial Aneurysms sugeriu que os aneuris Características gerais. ASs são saculações arteriais arre
mas assintoináticos da circulação posterior com diâmetro dondadas ou lobuladas, mais encontradas ao longo do
CW e na bifurcação da ACM. As características de ima
igual ou menor a 7 milímetros raramente rompem. Como
conseqüência, a observação ("aguardo vigilante") com gem dependem se o aneurisma está íntegro ou roto (com
imagens seriais de aneurismas pequenos, íntegros e des HSAn) e se o saco aneurismático está patente ou comple
cobertos incidentalmente se tomou a abordagem terapêu tamente trombosado.

tica mais comum. Achados de TC. ASs íntegros muito pequenos podem ser
Entretanto, metanálises mais recentes demonstraram invisíveis nos exames-padrão de TC sem contraste. Le
que 13% dos ASs intracranianos rotos possuem menos do sões maiores apresentam-se como massas bem lineadas
que 5 milímetros de diâmetro. Quase metade de todos os que são levemente hiperdensas em relação ao cérebro
aneurismas com diâmetro abaixo de 5 milímetros rompem (FIg. 6-24). Calcifícação periférica ou mural pode estar
dentro de 5 a 10 anos. sugerindo que new há diâmetro mí presente (Fig. 6-25).
nimo geral aceito como "seguro "para ruptura. ASs agudamente rompidos apresentam-se com HSA
Clipagem cirúigica. A clipagem cirúrgica resulta em aneurismática, a qual é a característica de imagem domi
taxas de recorrência mais baixas em comparação com o nante e obscurece o aneurisma "culpado". Ocasionalmente,
tratamento endovascular. porém está associada com índi um AS aparece como um defeito de enchimento relativa
ces de complicações mais altos, maior mortalidade duran mente hipodenso no interior de uma coleção hemorrágica
te a internação e maior morbidade em longo prazo. hiperdensa no espaço subaracnoide (Fig. 6-24B).
Hemorragia subaracnóidea e aneurismas 127

6-26A TC sem contraste em um paciente com hemiparesia direita de 6-26B ATC mostra término abrupto da AMC esquerda ES, sem a opa-
inicio súbito mostra uma grande hiperdensidade ovoide bem delimitada cificação do aneurisma trombosado E3. A redução dos vasos normais no
ao longo da ACM esciuerda B, sugestiva de trombose aguda de um lobo temporal esquerdo B é secundária à ociusão embólica dos ramos
aneurisma sacuiar. distais da ACM.

Um AS parcial ou completamente trombosado costu Angiografia. a ATC com múltiplos deteciores e alta reso
ma ser hiperdenso em relaçào ao cérebro adjacente na TC lução é um procedimento de rastreio comum em pacientes
sem contraste (FIg. 6-26). com HSAn suspeita. A sensibilidade da ATC é maior que
ASs patentes apresentam realce intenso e uniforme 95% para aneurismas maiores do que 2 milímetros de diâ
do lúmen ancurismático (Fig. 6-24). Um AS parcialmente metro. A sensibilidade geral da ARM é 90% para aneuris
trombosado mostra impregnação do liimen residual. ASs mas com mais de 2 milímetros de diâmetro.
completamente trombosados não realçam, apesar de le Embora muitos pacientes com HSAn e um AS que for
sões de longa evolução poderem demonstrar realce perifé demonstrado na ATC ou na ARM costumem ir diretamen
rico secundário a alterações intlamatórias reativas. te para cirurgia, a ASD convencional ainda é considerada
Achados de RM. Os achados de RM variam com a seqüên o padrào-ouro para a detecção de ASs intracranianos - es
cia de pulso, a dinâmica de pulso e a presença, bem como pecialmente se o tratamento endovascular é considerado.
a idade, da hemorragia associada (tanto nas cisternas su- Todos os quatro vasos intracranianos, bem como todo
baracnoides quanto no interior do próprio aneurisma). o círculo de Willis, precisam ser demonstrados em múlti
Cerca de metade de todos os ASs patentes demons plas projeções. A ASD rotacional com exibição de super
tram "//ovv voids" nas ponderações TI e T2 (Fig. 6-27). A fície sombreada 3D é útil no delineamento da relação pre
outra metade exibe intensidade de sinal heterogênea se cisa entre o aneurisma e vasos e ramos que o originaram.
cundária a Huxo lento ou turbulento, efeitos de saturação Múltiplos aneurismas intracranianos são demonstra
e dispersão de fase. A propagação dos artefatos de pulso dos em 15 a 20% dos casos. Quando mais de um aneu
na direção da codificação da fase é comum. As aquisições risma é identificado em pacientes com HSAn, a determi
em FLAIR podem mostrar hiperintensidade nas cisternas nação de qual aneurisma está rompido é essencial para o
subaracnóideas secundária à HSAn. planejamento cirúrgico. O extravasamento de contraste é
Se o aneurisma está parcial ou completamente trom patognomônico para ruptura, porém raramente observado.
bosado, coágulo laminado com diferentes inlensidades de Outras características angiográfícas sugestivas de ruptura
sinal costuma estar presente (Fig. 6-28). Artefatos de sus- incluem lobulação ou a presença de um "mamilo" apical,
cepiibilidade magnética nas seqüências GRE e SWI são co tamanho (o maior aneurisma costuma ser, mas não sem
muns. As aquisições com contraste podem mostrar encur- pre, o que sofreu ruptura) e a presença de coágulo peria-
tamento TI nas áreas de fluxo lento intra-aneurismáticas. neurismático focai na TC ou na RM.
As seqüências em difusão podem demonstrar áreas Análises computadorizadas de aneurismas intracra
isquêmicas secundárias a vasospasmo ou trombo embo- nianos mostram que os aneurismas rotos possuem maior
lizado. probabilidade de apresentarem padrões de fluxo comple-
128 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

xos e/ou instáveis, fluxo interno concentrado e pequenas


regiões de impacto do "jato" sangüíneo adentrando a le
são. Variações de volume com o ciclo cardíaco também
podem influenciar o risco de ruptura.

Diagnóstico diferencial
o principal diagnóstico diferencial dos ASs intracrania
nos são as alças vasculares. As artérias intracranianas se
curvam e ramificam ostensivamente. Em imagens bidi
mensionais (p. ex.. incidências AP e lateral de angiogra-
flas com subtração digital), a sobreposição ou alça vascu
lar pode simular o saco arredondado de um pequeno AS
periférico. Mijltiplas projeções e exibição de superfície
sombreada 3D são úteis na diferenciação de vasos sobre
postos, alças vasculares e ASs.
6-27A Imagem axial na pondefação T2 moslra um O segundo diagnóstico diferencial mais comum é um
flow void lobuiado e bem delimitado BS, consistente infundíbulo arterial. Um infundíbulo é uma dilatação
com aneurisma sacular patente. cônica, focai e simétrica na origem de um vaso que pode
ser confundida com um pequeno aneurisma sacular. Os
infundíbulos são pequenos, em geral com menos de 3 mi
límetros de diâmetro. Os vasos distais costumam se origi
nar do ápice - e não da lateral - do infundíbulo. A AComP
é a localização mais comum de infundíbulos.
Embora a maior parte dos infundíbulos seja de varian
tes anatômicas incidentals sem significado patológico, oca
sionalmente um infundíbulo arterial pode romper ou, com
o tempo, até mesmo evoluir para um aneurisma franco.
Quando esses raros "infundíbulos com aspecto de aneuris
ma" rompem e causam hemorragia subaracnóidea, eles são
indistinguíveis dos aneurismas saculares clássicos.
Um pseudoaneurisma pode ser difícil de ser distin-
guido de um AS. Pseudoaneurismas são mais comuns em
vasos distais ao círculo de Willis e são, com freqüência,
fusiformes ou de formato irregular. Hematomas parenqui-
6-27B Corte de ATC do mesmo paciente moslra o matosos focais freqüentemente circundam pseudoaneuris
mas intracranianos.
aspecto clássico de uma artéria trigeminal persistente
ES. Os aneurismas fusiformes (AF) são de fácil distinção
entre os ASs pelo seu formato. AFs são lesões em formato
de salsicha, de segmentos longos que envolvem toda a cir
.4 ' ' » cunferência do vaso, ao passo que os ASs são lesões arre
dondadas ou lobuladas. A localização também é uma carac
terística útil na diferenciação entre AFs e ASs. AFs são mais
comuns na circulação vertebrobasilar ("posterior"); ASs
geralmente se originam em bifurcações terminais de vasos
e são mais comuns na circulação carotídea ("anterior").
Um aneurisma em aspecto de bolha de sangue (ABS)
também pode ser de difícil distinção entre um AS pequeno
e de colo largo. Embora eles possam ser encontrados em
praticamente qualquer local da circulação intracraniana,
ABSs em geral surgem ao longo da grande curvatura da
artéria carótida interna supraclinóidea, não na sua bifurca-
ção terminal ou origem da AComP.
Uma área de perda de sinal que simula o Jlow void de
6-27C Incidência lateral da ASO mostra o aneurisma um aneurisma na RM pode ser causada por um processo
1^ juntamente com o clássico aspecto do "tridente do clinoide anterior aerado ou um seio aberrante supraorbitá-
Netuno" da artéria trigeminal persistente S). rio etmoide ou frontal.
Hemorragia subaracnóidea e aneurismas 129

6-28A TC sem contraste mos


tra as características típicas de
um aneurisma sacular gigante
com trombo mural extensamen

3^
te caíciíicado B circundando
um coágulo central isodenso.
6-28B Imagem na ponde
ração TI do mesmo paciente
mostra anéis concéntrícos de co
águlo organizado em diferentes
estágios de evolução. A camada
periférica é hiperintensa e mais
antiga B, enquanto o coágulo
irregular isointenso central é
mais recente. Um pequeno flow
void^S representa o lúmen pa
tente residual do aneurisma.

6-28C imagem na ponderação


T2 do mesmo paciente demons
tra múltiplos anéis concêntricos
de coágulo organizado que lem
bram as camadas de uma cebola.
6-28D A ponderação T2* GRE
demonstra deposição de hemos-
siderina S) ao redor da parede
externa do aneurisma gigante
majoritariamente trombosado.

^.1
^ '/ C

6-28E Imagem em TI pós-


-contraste mostra que o pequeno
lúmen patente residual do aneu
risma sobre realce B.
6-28F Imagem coronal em TI
pós-contraste mostra que o pe
queno lúmen residual B está
quase completamente contido
por camadas espessas de trombo
organizado e em organização.

V
130 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

Pseudoaneurísma
ANEURISMA SACULAR
Pseudoaneurisma é uma rara, porém importante causa
Localização subdiagnosticada de hemorragia intracraniana.
• Circulação anterior (90%), posterior (10%)
• Círculo de Willis, bi/trlfurcação da ACM
• Múltiplos (15-30%)
Terminologia
Os pseudoaneurismas - também chamados de aneurismas
Aspectos clínicos "falsos" para distingui-los dos aneurismas saculares "ver
• Prevalência geral = 2-6% dadeiros" - sào dilatações arteriais com completa inter
• Assintomático até a ruptura
rupção da parede arterial.
• O risco geralmente se correlaciona com o tamanho,
porém lesões pequenas também podem sangrar. Etiologia
• Hemorragia subaracnóidea cefaleia "em trovoada"
• Pico de apresentação = 40-60 anos (raro em crianças) Pseudoaneurismas sào causados por um evento especifi
co, como trauma, infecção, abuso de drogas, neoplasia ou
Imagem cirurgia, que inicialmente enfraquece e, em seguida, des-
• Saculações arteriais arredondadas/lobuladas
trói a parede arterial normal.
• Sensibilidade da ATC de 95% se aneurisma > 2 mm
• ASD com reconstrução 3D melhor delimita a arquitetura A parede arterial enfraquecida se expande e final
mente se rompe, formando um hematoma paravascular
Diagnóstico diferencial (Fig. 6-29). Se o hematoma cavita e passa a se comunicar
• Alça vascular diretamente com o lúmen residual do vaso, um pseudoa
• Infundibulo arterial (cônico, s 2 mm) neurisma é criado.
• Aneurisma em aspecto de bolha de sangue

6-29A Corte axiai em peça de


necropsia de um paciente com
endocardite bacteriana mostra
um grande hematoma no lobo
temporal direito E?J causado
pela ruptura de um pseudoaneu
risma micõtico na artéria cerebral
média.
6-29B Corte seccional do co
ração do mesmo paciente mostra
ostensivas vegetações hemorrá
gicas 3 cobrindo boa parte da
valva mitral.

6-30A TC sem contraste


mostra hemorragia intracraniana
espontânea ES em um paciente
com uma história de endocardite
bacteriana. A história levantou a
suspeita de um aneurisma micó-
tico como etiologia subjacente.
6-30B incidência lateral da
ASD do mesmo paciente mostra
diiatação fustforme irregular
de um ramo do segmento M2
da ACM Pseudoaneurisma
micótico foi confirmado durante
a evacuação cirúrgica do hema
toma.
Hemorragia subaracnóidea e aneurismas 131

Os pseudoaneurismas são contidos apenas por coágu Características microscópicas. Destruição ou necrose da
lo relativamente frágil e cavitado, e variáveis quantidades parede é típica. Pseudoaneurismas micóticos e oncòticos
de tecido fibroso. Como eles não possuem os componen demonstram extensa infiltração da parede do vaso por
tes normais da parede vascular, pseudoaneurismas são células inflamatórias ou neoplásicas, respectivamente. O
propensos a sofrer hemorragias repetidas. liimen do vaso de origem com freqüência está ociuído por
trombo, tumor, debris ou exsudatos purulentos.
Patologia
Aspectos clínicos
Localização. Pseudoaneurismas traumáticos em geral en
Pacientes com pseudoaneurismas intracranianos traumáti
volvem a AGI intracraniana proximal (cavernosa ou para-
cos freqüentemente apresentam fraturas da base do crânio.
clinóidea). Cirurgia e radioterapia (para tumores de cabe O intervalo entre a lesão inicial e a deterioração neurológi
ça e pescoço) costumam afetar a artéria carótida externa ca varia de alguns dias a vários meses. As principais apre
(síndrome da explosão carotídca - carotid hlow-otií syn
sentações clínicas incluem cefaleia, perda da consciência,
drome).
epistaxe recorrente e paralisias de nervos cranianos.
Pseudoaneurismas infecciosos (micóticos), neoplá-
sicos (oncòticos) e relacionados a drogas costumam ser
Imagem
localizados distalmente ao círculo de Willis.
Características gerais. Achados sugestivos de pseudoaneu
Patologia macroscópica. Pseudoaneurismas são massas risma cerebral incluem alargamento inexplicado de um
purpuras contidas apenas por uma adventícia afílada des hematoma intraparenquimatoso existente. No contexto
contínua e um hematoma organizado. Hematomas asso clínico apropriado, a evolução inusitada ou tardia de um
ciados com pseudoaneurismas com freqüência são gran hematoma também sugere a possibilidade de um pseudo
des e podem conter coágulos de idades variáveis. aneurisma subjacente.

6-31A Corte axial de TC sem


contraste em uma mulher de 29
anos com trauma grave de cabe
ça e pescoço mostra típica HSA
aneurismática B preenchendo
as cisternas da base.
6-31B O corte de TC sem con
traste ao nível da junção cranio-
vertebral mostra sangue subarac-
noide denso circundando a
medula cervical superior.

6-31C Foi obtida uma ASO de


emergência. A incidência lateral
oblíqua da angiografia seletiva
da artéria vertebral direita mos
tra uma Irregularidade da artéria
vertebral entre Cl e C2 SI.
6-310 Reconstrução 3D mos
tra um pseudoaneurisma na arté
ria vertebral extracraniana distai
B3 Um segundo e menor pseu
doaneurisma da artéria vertebral
intracraniana é observado B3
distalmente à origem da artéria
cerebelar posleroiníerior.
132 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

6-32 Ilustração demonstra o aneurisma em aspecto de bolha de san 6-33 Fotografia Intraoperatória mostra um aneurisma em aspecto de
gue, visto aqui como um abaulamenlo hemisférico de base larga coberto bolha de sangue BEl com turbilhonamenlo sangüíneo sob a fina e quase
por uma fina camada de adventícia transparente parede aneurismática.

Achados de TC. Os exames de TC sem contraste geralmente bém mais comuns na circulação posterior e envolvem a
sào normais ou inespecíflcos. Hematomas intraparenqui- artéria basilar.
matosos são comuns (Fig. 6-30). A ATC pode demonstrar
um sinal da "mancha" (foco de realce pelo contraste) den
PSEUDOANEURISMA
tro de um hematoma de rápida expansão.
Terminologia
Achados de RM. O sinal do hematoma varia com a idade • Também chamado de aneurisma "falso"
do coágulo e a seqüência de pulso. Um //ovv void repre • Parede arterial completamente interrompida
sentando o lúmen residual pode estar presente no interior
do hematoma. O realce intravascular representa o preen Patologia
• Freqüentemente contido por apenas um coágulo
chimento e esvaziamento lentos e tardios freqüentemente cavitado
observados nos pseudoaneurismas. • Causado por trauma, infecção, drogas ou tumor
• Hematoma tardio, expansão sijbita comum
Angiografia. a angiografia com subtração digital mostra
aneurisma globular, fusiforme ou de forma irregular e Localização
"sem colo" com opacificaçào e lavagem tardias do meio • AC! cavernosa/paraclinóidea (trauma)
• Ramos corticais distais (infecção, drogas)
de contraste (Fig. 6-31). Estagnação posicionai do con
traste é comum. Imagem
A oclusão endovascular com molas, líquidos em- • Saculação fusiforme e irregular
bólicos ou stent recoberto é o método de escolha para o • "Colo" geralmente ausente
• ± efeito de massa avascular circunjacente (hematoma)
tratamento de pseudoaneurismas intracranianos. Opções
• Pode demonstrar sinal da "mancha" na ATC
cirúrgicas incluem aprisionamento ou sacrifício da artéria
de origem com ou sem bypass por enxerto. Diagnóstico diferencial
• Aneurisma sacular
Diagnóstico diferencial • Aneurisma dissecante
• Aneurisma fusiforme
o principal diagnóstico diferencial de um pseudoaneuris-
ma é um aneurisma sacular ou "verdadeiro". A localiza

ção é uma característica útil, uma vez que os aneurismas


saculares ocorrem ao longo do círculo de Willis e na bi- Aneurisma em aspecto de bolha de sangue
furcação da ACM. Os aneurismas em aspecto de bolha de sangue (ABS),
Aneurismas dissecantes ocorrem com mais freqüên também conhecidos como aneurismas em bolha, sào um
cia na circulação posterior, na qual a artéria vertebral é o subtipo incomum, porém potencialmente letal, de pseudo-
local mais comum. Os aneurismas fusiformes são tam- aneurisma intracraniano.
Hemorragia subaracnóidea e aneurismas 133

ABSs são abaulamentos pequenos, hemisféricos e de Como os ABSs são lesões muito frágeis que não de
base larga que costumam surgir em locais sem ramifica monstram um colo definido, o tratamento é difícil. ABSs
ção das artérias intracranianas (Fig. 6-32). ABSs possuem facilmente se rompem durante a clipagem cirúrgica, a
características clínicas diferentes e apresentam desafios qual pode resultar em hemorragia fatal. A ruptura durante
diagnósticos e terapêuticos especiais em comparação procedimentos é comum, ocorrendo em quase 50% dos
àqueles apresentados pelos aneurismas saculares típicos. c a s o s .

O reconhecimento pré-operatório de um ABS é essencial A embolização de ABSs raramente é bem-sucedida


para o manejo apropriado. devido aos seus colos largos e paredes frágeis. Stents
diversores de fluxo foram experimentados com algum
Etlologla e patologia sucesso limitado. Se há circulação colateral suficiente,
Estresse hemodinâmico e aterosclerose parecem ser os fa o aprisionamento e a ociusão do vaso de origem podem
tores mais importantes na formação dos ABS. ABSs são ser uma opção. Se o tratamento endovascular for mal-
freqüentemente cobertos por apenas uma tina camada de -sucedido, embrulhamento e revascularizaçâo são opções
tecido fibroso, com ou sem uma frágil camada de adventí- cirúrgicas potenciais.
cia (Fig. 6-33). Embora os ABS possam surgir em qualquer
local da circulação intracraniana, a parede anterossuperior Imagem
(dorsal) da ACI supraclinóidea é o local mais comum. ABSs são lesões pequenas e sutis, sendo facilmente ne
gligenciadas. Uma leve irregularidade ou um pequeno
Aspectos clínicos abaulamento hemisférico focai da parede arterial pode ser
Os ABSs tendem a romper com menos idade e com um o único achado. A ASD com exibição de superfície som-
tamanho menor em comparação aos aneurismas saculares breada 3D tem sido útil na identificação dessas lesões ar
típicos. dilosas e perigosas (Fig. 6-34).

6-34A TC sem conlraste em


um adulto jovem com intensa
cefaleia "em trovoada" mostra
hemorragia subaracnóidea difusa
EI, hídrocefaiía obstrutiva e he
morragia intraventricular
6-34B Reformatarão lateral
da ATC do mesmo paciente mos
tra um pequeno abaulamento
hemisférico de base larga preen
chido pelo contraste EI ao lon
go da grande curvatura da ACI.

6-34C Incidência lateral da


ASD do mesmo paciente mostra
o aspecto clássico de um aneu-
risma em aspecto de bolha de
sangue e confirma o achado de
um abaulamento hemisférico
focai de base larga ^ ao longo
da grande curvatura da ACI su
praclinóidea.
6-34D ATC com reconstrução
3D demonstra com clareza o
aneurisma em aspecto de bolha
de sangue SI. (Cortesia de C, D.
Phillips, MD.)
134 Hemorragias não traumáticas e lesões vascuiares

6-35A Caso de necropsia mostra dolicoectasia generalizada do sistema 6-35B Visão aproximada da secção axial através da fossa posterior
vertebrobasilar B e de ambas as artérias carótidas internas BS. Um mostra o aneurisma fusiforme (Cortesia de R. Hewlett, MO.)
aneurisma fusiíorme envolvendo a artéria basilar distai B está presente.

Aneurísma fusiforme apresentações mais comuns. Neuropatia craniana é relati


vamente incomum.
Os aneurismas fusiformes (AF) podem ser ateroscleróticos
(comuns) ou nào ateroscleróticos (raros). Diferentemente
dos aneurismas saculares, os AFs acometem segmentos vas Imagem
culares longos e sem ramificações, e são vistos como sacula- Características gerais. Os AFAs são dilatações fusiformes
ou ovoides freqüentemente grandes (mais de 2,5 cm de
ções circunferenciais focais em um vaso ectásico e alongado.
diâmetro) sobrepostas em dolicoectasias vasculares gene
ralizadas.
Aneurísma fusiforme aterosclerótico
Terminologia Achados de TC. AFAs com freqüência estão parcialmen
Os aneurismas fusiformes ateroscleróticos (AFAs) tam te trombosados e demonstram calcifícações murais (Fig.
bém sào chamados de dolicoectasias aneurismáticas, 6-36). Coágulos heterogeneamente hiperdensos costu
mam estar presentes. O liámen residual tem realce intenso
distinguindo-se dos alongamentos vasculares mais gene
ralizados observados como manifestação comum da ate- após a administração de meio de contraste.
rosclerose intracraniana. Achados de RM. Assim como com os aneurismas saculares,
a intensidade de sinal dos AFs também varia com a se
Patologia
qüência de pulso, o grau e a direção do fluxo, e a presença
Arteriectasia é comum na aterosclerose avançada das ar e evolução dos trombos no interior do AF. Fluxo turbulen
térias cerebrais. A dilatação fusiforme é uma complicação to e lentificado no lúmen residual causa sinal complexo e,
freqüente. A DVA generalizada com um alargamento dila algumas vezes, bizarro (Fig. 6-37).
tado fusiforme focai é a típica manifestação macroscópica Os AFs freqüentemente são muito heterogêneos na
de um AF aterosclerótico (Fig. 6-35).
ponderação TI e hipointensos em T2. O lúmen residual
Os AFAs são mais comuns na circulação vertebroba
pode ser visto como um Jlow void arredondado, circunda
silar (posterior) e afetam a artéria basilar. Placas de célu do por trombo que varia de hipo a hiperintenso. Impreg
las espumosas com camada íntima espessada, porém irre
nação intensa do lúmen residual com artefatos de fase
gular, e extensa perda das camadas elástica e média estão proeminentes é comum após a administração de contraste.
presentes. Camadas de trombos organizados circundando
um lúmen residual patente são comuns. Angiografia. a ASD mostra alargamento e ectasia genera
lizados do vaso de origem, com um contorno arredondado
Aspectos clínicos ou flisiforme e de algum modo irregular que representa o
A idade de pico de apresentação é entre os 70 e 80 anos. lúmen residual no interior de uma grande massa causada
AITs e acidentes vasculares de circulação posterior são as pelo trombo mural.
Hemorragia subaracnóidea e aneurismas 135

6-36 Cofte de TC sem conlrasle mostra típico aneurisma fusiforme 6-37 Série de imagens de RM mostra o aspecto bizarro de um clássico
hiperdenso ateroscierótico S com calcificações murais ES. Observe as aneurisma fusifome ateroscierótico ES. (Cortesia de M. Hartel, MD.)
ostensivas caiciíicações nas artérias carótida interna e cerebral média à
direita EB

Diagnóstico diferencial basilar são igualmente afetadas. Degeneração da lâmina


o principal diagnóstico diferencial de um AF ateros elástica interna com alterações mixoides e atenuação da
cierótico é dolicoectasía. Dolicoectasias são alonga média são achados descritos na necropsia.
mentos fusiformes dos vasos - com freqüência da cir
culação posterior - sem dilatação focai fusiforme ou
Aspectos clínicos
s a c u l a r. O s a n e u r i s m a s f u s i f o r m e s n ã o a t e r o s c l e r ó t i c o s Os pacientes são mais jovens do que aqueles com AFs
são observados em pacientes mais jovens que possuem relacionados à DVA. AFs não ateroscleróticos são co
uma vasculopatia herdada ou deficiência imune. Assim muns em crianças e adultos jovens. Muitos são assin-
como os AFs, os aneurismas dissecantes intracranianos t o m á t i c o s . A I Ts e a c i d e n t e s v a s c u l a r e s s ã o c o m u n s e m
são mais comuns na circulação vertebrobasilar (poste pacientes com vasculopatia associada ao HIV. AFs não
rior). Achados de DVA generalizada geralmente estão ateroscleróticos também podem causar hemorragia su
ausentes. baracnóidea.

Aneurisma fusiforme nõo ateroscierótico Imagem


Longos segmentos de dilatação arterial tubular, fusiforme
Terminologia ou ovoide são observados na ausência de DVA generaliza
Os aneurismas fusiformes não ateroscleróticos (AFNAs) da (Figs. 6-39 e 6-40). Quantidades variáveis de trombo
são alongamentos fusiformes que ocorrem na ausência de laminado podem estar presentes.
DVA intracraniana generalizada.
Diagnóstico diferencial
Etiologia Dilatações fusiformes intracranianas em pacientes rela
Os AFNAs ocorrem nas doenças vasculares do colágeno tivamente jovens devem sugerir a possibilidade de vas
(p. ex., Iijpus), infecções virais (varicela, HIV) e vascu- culopatia e AFNA. A dolicoectasía vertebrobasilar é
lopatias herdadas (p. ex., Marfan, Ehlers-Danlos, NFl). observada em pacientes de mais idade com alterações ge
neralizadas por DVA.
Patologia Pseudoancurísmas são comuns em pacientes com
Os AFNAs são ectasias arteriais fusiformes focalmente história de trauma, infecção, uso de drogas ou neoplasias.
dilatadas que envolvem segmentos não ramificados das A porção cavernosa da ACI, os vasos distais ao polígono
artérias intracranianas (Fig. 6-38). Mtiltiplas lesões são de Willis e as artérias vertebrais são os vasos mais afeta
comuns. As circulações carotídea (anterior) e vertebro- dos por pseudoaneurismas.
136 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

6-38 Dissecçào do polígono de Willis em uma criança hemofílica com 6-39 Imagem axial na ponderação T2 em uma criança HIV-positiva
HIV demonstra vasculopatia fusiíorme não aterosclerõtica. (Cortesia de L. mostra os flow voids fusiformes ES da vasculopatia relacionada
Rourke, MD.) a o H I V.

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Hemorragia subaracnóidea e aneurismas 137

6-40 {Superiof à esquerda) Imagem com ponderação T2 em um homem de 19 anos com doença vascular do colá-
geno moslra um flow void dilatado na artéria basilar B. (Superior à direita) imagem de ARM pós-contraste mostra
a artéria basilar dilatada B. (Inferior à esquerda) Imagem com técnica MIP da ARM mostra um aneurisma fusiforme
B que envolve a artéria basilar em quase toda a sua extensão, (inferior à direita) ASD mostra o aneurisma fusifor
me não aterosclerótico

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Malformações vasculares

no Capítulo 22, juntamente com os meningiomas e outras


Malíormações cerebrovasculares com shunt
arteriovenoso 140
neoplasias mesenquimais.
Malformações arteriovenosas 140
Anglopatia proliferativa cerebral 146 Etiologia
Físlula AV durai 148 As MCVs são, na maioria, lesões congênitas e represen
Fistula carótido-cavernosa 152 tam erros morfogenéticos que afetam as artérias, os capi
Fistula AV píal 155
lares, as veias ou a combinação destes.
Malformação aneurismática da veia de Galeno 155 O desenvolvimento vascular fetal humano ocorre por
Malformações cerebrovasculares sem shunt meio de dois processos relacionados: vasculogênese e an-
arteriovenoso 157
Anomalia do desenvolvimento venoso 157
giogênese. Na vasculogênese, capilares tubulares desenvol
vem-se inicialmente e constituem o plexo vascular primário.
Sinus pehcranii 161
Malformação cavernosa cerebral 163 Depois, esta rede capilar primária é remodelada em vasos
Te l a n g i e c t a s i a capilar 167
de maior calibre (artérias, veias) e em capilares menores.
A angiogênese é regulada por diversas sinalizações
intercelulares e fatores de crescimento. Mutações em vá
As malformações vasculares cerebrais, também conheci rios componentes do sistema angiogenético têm sido im
das como malformações cerebrovasculares (MCVs) são plicadas no desenvolvimento das várias MCVs.
um grupo heterogêneo de alterações que exibem um largo
espectro de comportamentos biológicos. Algumas MCVs Classificação
(p. ex.. malformações capilares) são quase sempre clini As MCVs foram classificadas histopatologicamente em
camente silenciosas e encontradas de forma incidental
quatro principais tipos: (1) malformações arteriovenosas
nos estudos de imagem. Outras, como as malformações (MAVs); (2) angiomas venosos (anomalias do desenvol
arteriovenosas (MAVs) e os angiomas cavemosos, podem vimento venoso); (3) telangiectasias capilares (algumas
sangrar inesperadamente. vezes simplesmente denomidadas "telangiectasia" ou "te
Este capítulo inicia-se com uma revisão sobre as langiectasias"); e (4) malformações cavernosas.
MCVs, primeiramente com uma discussão sobre a ter Muitos neurorradiologistas intervencionistas e neu-
minologia, etiologia e classificação. As MCVs serão rocirurgiões agrupam as MCVs pela função e não pela
agrupadas dependendo da presença ou não de sfníní ar histopatologia. Nessa classificação funcional, as MCVs
teriovenoso e, então, cada subtipo será discutido indivi são divididas em duas categorias básicas: (I) MCVs que
dualmente. demonstram shunt arteriovenoso (AV) e (2) MCVs sem
shunt AV (Tab. 7-1). As primeiras são ameaças potenciais
Terminologia à intervenção endovascular; as últimas podem ser tratadas
Os dois maiores grupos de anomalias vasculares são: mal cirurgicamente ou deixadas sem tratamento.
formações e hemangiomas vasculares.Todas as malforma Neste livro, será utilizada uma combinação das clas
ções cerebrovasculares - as entidades consideradas neste sificações histopatológica e funcional. Inicia-se com uma
capítulo - são lesões relacionadas à má formação e, são. discussão sobre MCVs que apresentam shunt arteriovenoso,
consequentemente, designadas como "malformações" ou como MAVs e fistulas arteriovenosas (FAVs). Então, abor-
"angiomas". Em contrapartida, os "hemangiomas" vascu dam-se as MCVs, que geralmente não apresentam shunt da
lares são verdadeiras neoplasias proliferativas formadoras circulação arterial para a venosa. As MCVs não relaciona
de vasos. Os hemangiomas são classificados como tumo das a shunt incluem as anomalias do desenvolvimento ve
res mesenquimais não meningoteliais e serão discutidos noso, telangiectasias capilares e malformações cavernosas.
140 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

Tabela 7-1 Malformações cerebrovasculares

Etiología Patologia Número Localização

MCVs com shunt arteríovenoso

Malformações arteriove- Congênitas (angiogênese Nidus + artérias nutrido- Solitária (< 2% Parênquima (85%); su-
n o s a s
desregulada) ras, veias de drenagem; múltipla) pratentoriais (15%); fossa
sem leito capilar posterior

Fistula durai AV Adquiridas (trauma; trombo Rede de múltiplas micro- Solitária Base do crânio; parede de
se de seio durai) fístulas AV seio durai

Malformação da veia de Congênita (fistula arterial fe Grande lago venoso Solitária Posterior ao terceiro ven-
Galeno tal para precursor primitivo trículo
da veia de Galeno).

MCVs sem shunt arteríovenoso

Anomalia do desenvolvi Congênita (falha no desen Veias dilatadas na SB; cé Solitária (a SB profunda, normalmente
mento venoso volvimento fetal da veia rebro normal de permeio menos que na próxima aos ventriculos
medular) BRBNS)

Sinus pericranii Congênito Massa azulada no subcu- Solitária Escalpo


tâneo do escalpo preen
chida por sangue

Malformação cavernosa Congênita {CCM, KRIT1, mu Grupamento de 2/3 solitárias Todo o cérebro
tações genéticas na síndro- "cavernas"preenchid3s (esporádicas);
me autossõmica dominante por sangue; halo comple 1/3 múltiplas
familial; novas lesões conti to de hemossiderina (familiais
nuam a se formar

Congênita Capilares dilatados; cére Solitária »> Qualquer lugar, mas ponte
Telangiectasia capilar
bro normal de permeio múltipla e medula são mais comuns

AV, arteríovenoso; BRBNS, sindrome do nevo em bolha de borracha azul; MCV, malformação cerebrovascular; fACC, malformação cavernosa cerebral; SB,
substância branca.

resulta em desarranjos com queda da função e da integri


Malformações cerebrovasculares com dade vascular.

s/íunf arteríovenoso Genética. Estudos recentes sugerem que os fatores genéticos


afetam tanto a progressão da doença quanto a suscetibilida-
Malformações arteriovenosas de. O fator de crescimento transformador [3 (TFG-P) e os
Terminologia polimorflsmos funcionalmente ativos do complexo da IL-I
Uma malformação arteriovenosa (MAV) é um emaranha têm sido associados ao aumento do risco de desenvolvimen
do de vasos de paredes finas fortemente agrupados com to de uma MAVC. bem como à freqüência de hemorragia.
shunt direto do sistema arterial para o sistema venoso. A maioria das MAVs é solitária. As MAVs múltiplas
Não há leito capilar interposto. A maioria das MAVs ce são quase sempre sindrômicas. Associações comuns in
rebrais (MAVC) são lesões parenquimatosas e também cluem telangiectasia hemorrágica hetereditária (THH,
são chamadas de "MAVs piais", embora também ocorram também conhecida como doença de Osler-Weber-Rendu)
malformações mistas piais-durais. e síndromes neurovasculares segmentares chamadas
de síndrome cerebrofacial arteriovenosa metaméri-
Etiologia ca (CAMS). Nela, mutações somáticas da crista neural
Conceitos gerais. As MAVs são defeitos congênitos do de ocorrem ao longo de trajetos pré-defmidos de migração,
senvolvimento vascular caracterizadas por angiogênese resultando em combinações específicas de malforma
desregulada. As células endoteliais das MAVs cerebrais ções vasculares intracranianas e faciais. A síndrome de
expressam a GLUTl (uma proteína da microvascuiatura Wyburn-Mason. na qual as MAVs são encontradas tanto
embrionária), metaloproteinases de matriz extracelular na retina quanto no cérebro, é um exemplo de CAMS.
(MMPs) e fatores de crescimento pró-angiogênicos, como A THH é um distúrbio genético hereditário carac
o fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF). Isso terizado por epistaxe, telangiectasias mucocutâneas e
Malformações vasculares 141

Prevalência Risco de hemorragia Pistas na imagem

0,04-0,5% da população; Pico = 20-40 anos (25% Muito alta (2-4 ' por ano, "Saco de minhocas" {bog of woms),
85-90% das MCVs com por volta dos 15 anos) cumulativo) flow voids na RM
s h u n t AV

10-15% das MCVs com Pico = 40-60 anos Varia com a drenagem venosa Artérias meníngeas alargadas com rede de
shunt AV (aumenta se há envolvimento minúsculos vasos na parede de um seio ve-
de veias corticais) noso durai trombosado

< 1% das MCVs com shunt Recém nascidos»íac- Baixo (mas o dano cerebral Grande variz venosa na linha média em
A V tentes, crianças por hidrocefalia é comum) neonato com insuficiência cardíaca de alto
débido

MCV mais comum (60% Qualquer idade Extremamente baixo a menos "Cabeça de medusa" de veias dilatadas na SB
de todas), entre 2-9% da que seja mista com malforma convergindo para uma veia coletora calibrosa
população ção cavernosa

Raro Qualquer idade (normal Extremamente baixo a menos Massa vascular no escaípo conectada à circu
mente infância) que haja trauma direto lação intracraniana venosa por meio de um
defeito craniano

Qualquer idade (pico = Alto (0,25-0,75% por ano;1% Variável; mais comum em "pipoca" solitária
40-60 anos); mais jovens por lesão por ano na forma (lóculos com níveis liquido-sangue, borda de
em síndrome MCC familiar familiar) hemossiderína);" pontos pretos" muliifocais
na forma familiar

15-20% de todas as MCVs Qualquer idade (pico = Extremamente baixo a menos Discreto realce "escovado", torna-se hipoin-
30-40 anos) que seja mista com malforma tenso em T2*
ção cavernosa

MAVs viscerais. Duas formas de THH sào conhecidas; a Patologia macroscópica. A maioria das MAVs são lesões
THH1 e a THH2. As MAVC sào significativamente mais compactas ovoides ou piramidais (Fig. 7-2). Sua superfí
freqüentes na THHl. Um gene endoglin (ENG) mutado cie mais ampla está no córtex ou próxima a ele e seu ápice
foi encontrado na THHl. Alguns pesquisadores também se direciona para os ventrículos.
associaram o ACVRLl (o gene da THH2) à formação de O cérebro em torno da MAV freqüentemente se apre
variantes clínicas esporádicas das MAVs e a FAVs durais senta alterado. Um leito capilar "perinidal" foi relatado
em pacientes com THH. A THH será discutida com mais em alguns casos. Hemorragia residual no parênquima ce
detalhes juntamente com as síndromes neurocutâneas rebral adjacente é comum, bem como gliose e modifica
(Cap. 39). ções isquêmicas secundárias.
Características microscópicas. Os vasos que compreendem
Patologia
o nidus da MAV sào de espessura parietal e de calibre va
Localização. Cerca de 85% das MAVs são supratentoriais, riáveis. Alguns apresentam-se displásicos e com paredes
localizadas nos hemisférios cerebrais. Apenas 15% são
finas, sem o suporte subendotelial normal. Outros exibem
encontradas na fossa posterior.
hiperpiasia intimai e fibrose/hialinizaçào.
Número e tamanho. Menos de 2% de todas as MAVs cere Nào há capilares ou parênquima cerebral normal in
brais são múltiplas. Quase todas as MAVs múltiplas estão terposto ao nidus de uma MAV. Em vez disso, quantidades
associadas a síndromes vasculares neurocutâneas (ante variáveis de trombos laminados, calciflcações distróflcas
riormente). e hemorragia residual estão presentes. Pequenas quantida
As MAVs variam em tamanho desde pequenas ("mi des de parênquima cerebral no interior do nidus são oca
cro" MAVs) a lesões gigantescas, que podem ocupar a sionalmente identificadas, mas são, em geral, gliòticas e
maior parte do hemisfério cerebral. A maioria tem tamanho não funcionantes.
intenuediário. variando de 2 a 6 centímetros de diâmetro.
142 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

7-1 A figura demonslra o nidus de uma MAV SI com um aneurisma 7-2 Caso de autópsia demonstra uma MAV clássica. O nidus B não
intranida! 1^ aneurisma na artéria nutridora ("pedkuto") SI e veias contém parênquima cerebral normal. Um aneurisma B intranida! está
de drenagem aumentadas EJ. presente. (Cortesia de R. Hewlett, MO.)

Aspectos clínicos A, designa as MAVs grau 3 como classe B e combina os


Epidemiologia. Quase todas as MAVs são esporádicas e so graus 4 e 5 na classe C.
litárias. Com poucas exceções (MAVs "novas"), a maioria Outros achados de imagem, além do tamanho, locali
é considerada como lesão congênita. As MAVs esporádi zação e do padrão da drenagem venosa estão associados
ao risco de uma hemorragia futura de uma MAV. Estes
cas (não sindrômicas) são encontradas em 0,02 a 0,14%
da população. incluem evidência de hemorragia prévia, incluindo mi-
crossangramentos intralesionais clinicamente silenciosos,
Aspectos demográficos. O pico da apresentação ocorre entre presença de um aneurisma intranidal e estenose da veia de
20 a 40 anos, embora 25% dos pacientes portadores de drenagem.
MAV se tomem sintomáticos por volta dos 15 anos. Não A regressão espontânea de MAVs cerebrais esporádi
há predileção por gênero. cas é rara e imprevisível, ocorrendo em cerca de 1% dos
casos. A maioria das MAVs "obliteradas" segue a um epi
Apresentação. Cefaleia com hemorragia parenquimatosa é
a apresentação mais comum, ocorrendo em cerca de me sódio de hemorragia, freqüentemente com estase venosa,
tade dos pacientes. Convulsões e déficits neurológicos fo trombose e elevação da pressão intracraniana. Casos raros
cais são os sintomas iniciais em 25% dos casos.
não hemorrágicos de regressão espontânea de uma MAV
foram relatados.
História natural. O risco de hemorragia é estimado em 2
a 4% ao ano (cumulativo). O risco anual de hemorragia
aumenta com a idade, localização cerebral profunda e dre
ESCALA DE GRADUAÇÃO DE MAV
nagem venosa profunda. As taxas de risco variam de 1% DE SPETZLER-MARTIN
ao ano (nos pacientes em que a apresentação inicial foi
não hemorrágica) para quase 35% ao ano em pacientes Ta m a n h o
• Pequeno (< 3,0 cm) = 1
portadores dos três fatores de risco.
Vários sistemas de graduação foram concebidos para • Médio (3,0-6,0 cm) = 2
• Grande (> 6,0 cm) = 3
caracterizar as MAVs e estimar o risco de cirurgia. O
mais utilizado é a escala de Spetzler-Martin. Nela, as Eloqüência da área cerebral adjacente
MAVs são graduadas em uma escala de 1 a 5 baseada no • Não eloqüente = O
somatório dos "pontos" calculados a partir do tamanho, • Eloqüente = 1
localização (área eloqüente ví. não eloqüente) e padrão de
Drenagem venosa
drenagem venosa (superficial vs. profunda). • Apenas superficial = O
Uma modificação simplificada em três níveis da es • Componente profundo = 1
cala de Spetzler-Martin combina os graus 1 e 2 na classe
Malformações vasculares 143

- !

i #
7-3 (Esquerda) TC sem contraste demonstra hiperdensidades serpen- 7-4 Exame de TC sem contraste (superior à esquerda) e imagens
tiformes ES. (Direita) TC com contraste demonstra importante realce ATC de um paciente com hemorragia cerebelar espontânea S de
uniforme B. Morfologia em cunha é típica das MAVs. Cerca de das monstram MAV subjacente B. Aproximadamente 15% das MAVs são
MAVs sào supratentoriais. iníratentoriais.

Opções de tratamento. Embolização, cirurgia, radiocirurgia Em razão de a maioria das MAVs serem lesões de alto
eslercotáxica ou uma combinação destes são todas opções fluxo, os spins passam rapidamente pela lesão e não rece
de tratamento para MAV atualmente. A melhor opção va bem um segundo pulso {refocusing pulse). Isso produz o
ria de caso para caso. aspecto de uma massa fortemente agrupada ou a aparência
em "favo de mel" dos flow voids nas ponderações tanto
Imagem em TI como em T2 (Fig. 7-5).
O diagnóstico por imagem das MAVs não complicadas é Qualquer parênquima cerebral interposto à MAV, em
relativamente óbvio. Contudo, a presença de hemorragia geral, é gliótico e hiperintenso nas ponderações em T2 e
ou trombose pode complicar o seu aspecto de imagem. A em FLAIR. O realce das MAVs é variável, dependendo do
hemorragia aguda pode obscurecer achados típicos de uma fluxo e da sua direção. As veias de drenagem em geral se
MAV Resíduos de episódios hemorrágicos prévios como realçam forte e uniformemente (Fig. 7-6).
calciflcações distróficas, gliose e sangue em diferentes fases Resíduos hemorrágicos são comuns. As seqüências
de degradação também podem alterar suas características. em T2* com freqüência mostram focos de susceptibilida-
de magnética no interior e ao redor das MAVs.
Características gerais. As MAVs são redes complexas de
canais vasculares anormais consistindo em três diferentes Angiografia. As artérias nutridoras que suprem uma
componentes: (1) artérias nutridoras, (2) um nidus central MAV são aumentadas de calibre e tortuosas (Fig. 7-5E).
e (3) veias de drenagem (Fig. 7-1). Angiopatia relacionada ao fluxo pode estar presente, va
riando de simples dilataçâo a espessamento endotelial, es-
Achados na TC. As MAVs em geral parecem um "saco de
tenose ou, às vezes, até mesmo trombose e oclusão. Aneu-
minhocas" {hags of worms) formado por um enovelado de
rismas de "pediculo" são vistos em 10 a 15% dos casos.
vasos fortemente agrupados com pouco ou nenhum efeito de
O n i d u s , o c e n t r o d e u m a M AV. é u m e m a r a n h a d o
massa sobre o cérebro adjacente. O exame TC sem contraste
de artérias e veias anormais compactadas sem um leito
poderá mostrar vários vasos serpentiformes. bem delineados,
levemente hiperdensos (Fig. 7-3). A presença de calcificaçào capilar interposto. Até 50% contêm pelo menos um vaso
dilatado aneurismático ("aneiirisma Intranidal"). O
é comum. O realce dos três componentes da MAV (artéria
nidus contém pouco ou nenhum parênquima cerebral e,
nulrídora, nidus, veias de drenagem) são, em geral, intensos
e unifonnes nos exames de TC com contraste (Fig. 7-4). consequentemente, não causa efeito de massa nas estrutu
ras cerebrais adjacentes. O deslocamento dos marcadores
Achados na RM. Os achados variam com a hemodinâmica angiográficos da linha média (p. ex., artérias cerebrais an
vascular, a presença (e idade) da hemorragia associada e teriores e veias cerebrais internas) está, portanto, ausente,
com as modificações secundárias no cérebro adjacente. a menos que haja um hematoma agudo.
144 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

7-5A Pondeíação em Tl no
plano axial de um homem de
32 anos com cefaleia mostra, na
regièo parietal esquerda, uma
clássica MAV em forma de cunha,
com múltiplos flow voids ser-
pentiformes B. Alguns poucos
focos lineares de encurtamento
do tempo T1 BI representam
os vasos trombosados no interior
do nidus.
7-5B Ponderação em T2 do
mesmo paciente demonstra
bem os flow voids de morfologia
triangular S3. A base larga
voltada para o cortex com ápice
em direção ao ventrícuío lateral
é uma configuração típica das
MAVs cerebrais.

7-5C Aquisição em FIAIR


demonstra mínimas hiperinten-
sidades no interior e ao redor da
MAV S3, sugerindo pequenos
focos de parénquima cerebral
gliótico.
7-50 Aquisição em TI pós-
-contraste mostra algumas áreas
lineares e serpentiformes de re
alce E3 que são, em sua maio
ria, veias de drenagem.

7-5E ASD lateral mostra ACM


aumentada, vasos nutridores
da ACA ©ü com emaranhados
de pequenos vasos no nidus em
formato de cunha IS. Tênue

opacificação do seio sagital su


perior Efl representa shunt de
contraste arteriovenoso.
7-5F Fase arterial tardia da
ASO mostra um nidus [S e
veias de "drenagem precoce"
ES que drenam para o seio
sagital superior !S. Não foi
identificada drenagem venosa
profunda. MAV grau 3 de Spetz-
ler-Martin.
Malformações vasculares 145

Como não há leito capilar interposto entre as artérias os três componentes da MAV e podem ser muito úteis no
nutridoras e as veias de drenagem de uma MAV, shiinl ar- planejamento cirúrgico ou no tratamento endovascular.
teriovenoso direto ocorre no interior do nichis (FIg. 7-5F).
As veias de drenagem, com freqüência, opacificam-se do Diagnóstico diferenciai
meio para o fim da fase arterial (veias de "drenagem pre Os achados de imagem da maioria das MAVs não compli
coce"). As veias de drenagem das MAVs são, em geral, cadas são bem típicos. Contudo, às vezes uma neoplasia
calibrosas. tortuosas e podem se tornar tão proeminentes altamente vascularizada, como um glioblastoma multi
que podem vir a formar varizes e exercer efeito de massa forme (GBM), exibe uma neoangiogênese tão expressiva
local sobre o córtex adjacente (FIg. 7-6). A estenose de que pode simular uma MAV. A maioria dos GBMs, mesmo
uma ou mais veias de drenagem de "saída" pode elevar a lesões extremamente vascularizadas. realça intensamente
pressão intranidal e contribuir para a hemorragia da MAV. e contém significativas quantias de neoplasia interpostas
A ATC. especialmente com reconstruções em 3D entre os vasos aumentados. Ocasionalmente, neoplasias
{surface rendering), pode ajudar a delinear as artérias nu- densamente calcíficadas. como oligodendrogliomas, po
tridores e as veias de drenagem de uma MAV (FIg. 7-4). A dem simular os flow voids de uma MAV.
angiografia por ressonância magnética (ARM) 4D ajuda Se uma MAV sangra espontaneamente, o coágulo
a demonstrar os padrões de fluxo intranidal, mas a angio pode ser obscurecido na sua angioarquitetura subjacen
grafia com subtração digital (ASD) ainda é requerida para te (Fig. 7-7). Uma MAV (trombosada "obliterada" ou
demonstrar pequenos vasos nutridores. "críptica") pode não demonstrar artérias aumentadas ou
A angioarquitetura interna de uma MAV é muito bem nidus. A angiografia pode ser negativa ou demonstrar ape
demonstrada pela ASD de alta resolução. A injeção super- nas efeito de massa com "vasos estagnados" e drenagem
seletiva de todas as artérias nutridoras delinea o nidus e venosa precoce sutil. Estas lesões podem ser indistinguí-
ajuda a definir a presença de um aneurisma intranidal. Re veis de outras malformações vasculares (como malfor
construções tridimensionais {shadedsurface) demonstram mação cavernosa) ou neoplasias hemorrágicas.

7-6A Ponderação TI demons


tra extensos flow voids ser-
pentiformes B com múltiplas
varizes venosas BI.
7-68 Ponderação em 12 mos
tra que a maioria dos grandes
flow voids são veias de drena
gem alargadas e varizes venosas.
í T"

7-6C Aquisição em T2' GRE


não demonstra evidência de he'
morragia ostensiva.
7-60 Aquisição em Ti pós
contraste com saturação de gor
dura mostra que os flow voids
146 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

A angiopatia proliferativa cerebral é uma malfor Aspectos clínicos


mação grande e difusa que possui inúmeros pequenos va O perfil clínico e a história natural da APC diferem das
sos nutridores sem nidus definido e parênquima cerebral clássicas MAVs cerebrais. A APC geralmente se compor
normal interposto entre os canais vasculares proiiferativos
ta de maneira menos agressiva. A maioria dos pacientes
(a seguir). apresenta convulsões (45%), cefaleia grave (40%) ou dé
ficit neurológico progressivo. Apenas 12% apresentam um
Angiopatia proliferativa cerebral evento hemorrágico. A média de idade do início dos sinto
Terminologia mas é de 22 anos. Há uma predominância feminina de 2:1.
A angiopatia proliferativa cerebral (APC) é uma entidade Os pacientes podem ter evidência laboratorial de an
rara caracterizada por angiogênese difusa e shunt hiper- giogênese em atividade com níveis elevados de VEGF e
de bFGF no líquido cerebrospinal (LCS). O bevacizumab,
vascular progressivo. Não está claro se APC é uma alte
um anticorpo monoclonal antiangiogênico que se liga ao
ração completamente diferente ou um subtipo incomum
d e M AV.
VEGF, foi utilizado em alguns pacientes, obtendo resulta
dos inconclusivos.

Patologia
As APCs são lesões grandes que podem ocupar a maioria Imagem
A APC é vista na RM como uma grande rede (freqüen
de um lobo ou até mesmo um hemisfério cerebral inteiro.
Suas características histopatológicas e angioarquitetura temente mais de 6 centímetros), difusamente dispersa de
inúmeras estruturas vasculares dilatadas interpostas ao
são distintas das clássicas MAVCs: as APCs tem parên
quima cerebral normal interposto entre os canais vascula parênquima cerebral normal. Realce marcado após a ad
res proiiferativos. ministração de contraste é típico.

7-7A Um homem de 55 anos


apresentou início súbito de im
portante cefaleia e alterações
visuais. O exame de TC sem con
traste mostra uma hemorragia
occipital focal à esquerda
Sangramento subdural agudo
esta presente ao longo da foice
e sobre o hemisfério esquerdo

7-7B ATC coronal do mesmo


paciente mostra o coágulo B
e o realce de um vaso ES de
aspecto incomum na periferia do
hematoma. Todos os seios durais
principais estão patentes.

7-7C Visão lateral da vertebral


esquerda em uma ASO do mes
mo paciente mostra a massa,
predominantemente avascular,
no lobo occipital [S. Um pe /
queno emaranhado de vasos
í3j nos limites do coágulo está »r ^ , •

presente.
7-7D Visão anteroposterior
mostra a massa predominante
mente avascular o emara
nhado de vasos SI em torno das
margens do coágulo e o contraste
estagnado em veia em sua maior
parte trombosada SI. Uma MAV
em sua maior parte "obliterada"
foi encontrada na cirurgia quando
o coágulo foi removido.
Malformações vasculares 147

7-8A ASD com angiograma seletivo da carótida interna em um pa 7-8B Angiograma seletivo vertebral do mesmo paciente mostra
ciente com angiopatia proliferativa cerebral mostra inúmeros espaços pequenos vasos nutridores adicionais suprindo a lesão 31. Apesar do
vasculares dilatados 31 sem artérias nutridoras dominantes. tamanho, há espaços não opacificados no interior da tesão. (Cortesia de
P. Lasjaunias, MD.)

A pTC e a pRM mostram um tempo médio de trân


sito (MTT) prolongado e anormalidades de hipoperfusão o THH, síndromes metamérlcas arteriovenosas

(fenômeno do "roubo") que se estendem muito além das segmentates


• 85% supratentoriais, 15% fossa posterior
alterações morfológicas.
A ASD demonstra a ausência de um uidus bem defi
Aspectos clínicos
nido (Fig. 7-8). Em vez disso, está presente uma multidão • Mais comum MCV sintomálica
de artérias nutridoras não dominantes de pequeno calibre. • Prevalência = 0,02 a 0,14% da população
O recrutamento de várias nutridoras transdurais '"enpas- • Risco hemorrágico = 2 a 4% por ano, cumulativo
• Pico de idade na apresentação = 20 a 40 anos.
sagé" é comum. As veias de drenagem estão apenas mo o 25% sintomáticos por volta de 15 anos
deradamente aumentadas em comparação à surpreendente
o Quase sempre sintomáticos por volta de 50 anos
extensão das anormalidades vasculares. Apesar de seu
grande tamanho, aneurismas relacionados ao fluxo não Imagem
são uma característica da APC. • Características gerais.
o shunting arteriovenoso
Diagnóstico diferencial o Sem capilares interpostos
o Três componentes: artérias nutridoras, nidus, veias
o principal diagnóstico diferencial da APC é a clássica
de drenagem
M AV c e r e b r a l . A a u s ê n c i a d e u m n i d u s c i r c u n s c r i t o d o • TC sem contraste
minante e a presença de parênquima cerebral interposto o "Saco de minhocas" levemente hiperdenso.
entre os canais vasculares anormais são características o Firmemente compactuados,
distintas da APC. o Pequeno/ nenhum efeito de massa.
• TC com contraste
o Forte realce serpentiforme.
• RM

MALFORMAÇÃO ARTERIOVENOSA o "Favo de mel" ou flow voids.


CEREBRAL o Sem parênquima cerebral no interior.

Etiologia e patologia Diagnóstico diferencial


• Lesão congênita com angiogênese desregulada • Neoplasia altamente vascular (p. ex., glioblastoma
• Solitária » mijltipla (2%). multiforme).
o Multiplicidade quase sempre sindrômica • Angiopatia proliferativa cerebral.
148 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

7-9 Figura demonstra FAVd com seio transverso trombosado SI com 7-10 Espécime cirúrgica de uma FAVd com aparência de massa resse
múltiplas pequenas artérias e veias na parede dura! í^- A lesão é su cada da parede do seio transverso demonstra inúmeros vasos de aspecto
prida principalmente por nutridoras transósseas SI oriundas da artéria tendido (Cortesia R. Hewlett, MO).
carótida externa.

Fistula AV durai Patologia


A fistula aileriovenosa dura) (FAVd) é o segundo princi Localização. Embora as FAVds possam envolver qualquer
pal tipo de malformação cerebrovascular que exibe shunt seio venoso durai, os locais mais afetados nos adultos são
arteriovenoso. Muito menos comuns que as MAVs, elas os seios transverso, sigmoide e cavemoso. O seio sagital
demonstram um espectro de comportamento biológico que superior é o local mais comum em crianças.
varia do relativamente benigno à hemorragia intracraniana
Tamanho e número. Lesões múltiplas em seios durais ana-
catastrófica. Nesta seção, consideraremos as FAVds típicas.
tomicamente separados são incomuns, representando
Um tipo especial de FAVd, a fistula carótido-ca-
vemosa (FCC), tem uma classificação própria, achados pouco menos de 8% das FAVds. As FAVds múltiplas
clínicos distintos e características de imagem únicas que podem ser sincrônicas (multiplicidade simultânea) ou
metacrônicas (multiplicidade do desenvolvimento se
a difere das FAVds. As FCC serão discutidas separada
mente adiante. qüencial).
O tamanho varia desde shunt de minúsculo vaso úni
co a lesões maciças complexas, com múltiplos vasos nu-
Terminologia
tridores e shunts arteriovenosos na parede do seio.
A FAVd, também conhecida como shunt arteriovenoso du
rai, é uma rede de diminutos vasos de aspecto fendido que Patologia macroscópica. Múltiplos vasos durais nutridores
comunicam o sangue entre artérias meníngeas e pequenas aumentados de tamanho convergem para a parede do seio
vênulas no interior da parede de seios venosos durais. venoso durai trombosado (Fig. 7-9). Uma rede de inúme
ras microfístulas conecta esses vasos diretamente a veias
Etiologia de drenagem arterializadas. Estes vasos com aparência
Ao contrário das MAVs parenquimatosas, as FAVds em fendida podem formar uma massa focai no interior do seio
adultos costumam ser adquiridas e não congênitas. Embo ocluído (Fig. 7-10).
ra a etiologia precisa seja controversa, hipoperfusào local
Características microscópicas. Os vasos no interior da
em um seio venoso durai trombosado, resultando em ele
FAVd freqüentemente exibem espessamento intimai
vação da pressão no interior do seio, é o mecanismo mais
citado. Após a trombose, ocorre aumento da angiogênese, irregular com grau variável de perda dalâmina elástica
interna.
sendo considerada a etiologia mais provável. A formação
de novos pequenos ramos/proliferação da rede microvas Estadiamento, graduação e classificação, a classificação das
cular se conecta a um plexo de canais venosos de paredes FAVds mais comum é baseada em padrões angiográficos
finas, criando microfístulas. de drenagem venosa.
Malformações vasculares 149

Aspectos clínicos História natural. A história natural de uma FAVds perma


Epidemioiogia. As FAVds correspondem a 10 a 15% de todas nece pouco compreendida. Algumas demonstram progres
as malfonnações vasculares intracranianas com shunt arterio- são angiográfica, enquanto outras permanecem relativa
venoso. As MAVs são IO vezes mais comuns que as FAVds. mente estáveis. A progressão de uma FAVd de baixo para
alto grau pode ocorrer, mas é incomum.
Aspectos demográficos. A maioria das FAVds é encontrada O prognóstico depende da localização e do padrão de
em adultos. O pico de idade está entre 40 a 60 anos. sendo drenagem venosa. Quase 98% das lesões desprovidas de
20 anos a mais do que o pico de idade das MAVs. Nâo há drenagem cortical venosa seguirão um curso clínico be
predileção por gênero. nigno. A hemorragia é rara nesses casos (cerca de 1,5 %
Apresentação. A apresentação clínica varia com a localiza por ano). Em contrapartida, as FAVds "malignas" tem um
curso clínico agressivo com hemorragia (risco anual de
ção e com o padrão de drenagem venosa. As FAVds não
complicadas na região dos seios transverso/sigmoide que, aproximadamente 7,5 % ao ano) e sintomas neurológicos
como complicações comuns.
em geral, apresentam-se com ruído e/ou zumbido. As FA
Vds nos seios cavemosos causam proptose pulsátil. equi- Múltiplas MAVs estão associadas com progressão an
giográfica e prognóstico clínico pobre, sendo necessário
mose, dor retro-orbital, ruído e oftalmoplegia. As FAVds
tratamento agressivo e estratégias de conduta.
"malignas", lesões com drenagem venosa cortical, podem
causar convulsões e demência progressiva em associação Opções de tratamento. Há uma gama de tratamentos; o ob
a déficits neurológicos focais. jetivo é impedir a ocorrência de hemorragia intracraniana
Os pacientes que se apresentam com hemorragia in ou de déficit neurológico não hemorrágico. A observação
tracraniana ou déficits neurológicos não hemorrágicos clínica pode ser apropriada em alguns pacientes assinto-
também têm um risco mais alto para novos eventos adver máticos ou com sintomas mínimos e em FAVds que não
sos se comparados àqueles com uma fistula assintomática. d e m o n s t r a m r e fl u x o v e n o s o c o r t i c a l .

7-11A Imagem fonte de ATC


em um paciente com zumbido à
direita nâo demonstra alterações
óbvias, embora o seio sigmoide
direito B pareça peculiar.
7-11B Tomografia óssea do
mesmo paciente demonstra múl
tiplos canais vasculares transós-
seos aumentados B na escama
do osso occipital direito.

7-11C Imagem fonte de ARM


contrastada revela trombose
do seio durai B9 e múltiplos
canais vasculares com realce S
característicos da FAVd de fossa
posterior.
7 - 11 0 A A R M d o m e s m o
paciente demonstra minúsculas
artérias nutridoras B suprin
do a FAVd na junção dos seios
sigmoide transverso. O seio está
parcialmente recanalizado E3
e o selo sigmoide distai B e o
bulbo jugular estão parcialmente
opacificados.
150 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

7-12A ASO da afléíia carótida externa em um paciente com zumbido 7-12B Angiograma seletivo da artéria carótida interna do mesmo
demonstra FAVd em seio transverso ociuído suprida pela artéria paciente mostra o tronco meningo-hipofisário aumentado 3 que tam
meníngea média e pelos ramos transósseos [3 oriundo da ACE. bém supre parte da FAVd

Em pacientes sintomáticos, o tratamento endovas- procurados em todos os pacientes com zumbido pulsátil
cular com embolização das artérias nutridoras, usando (Figs. 7-nAe7-nB).
agentes em partículas ou líquidos com ou sem emboliza O exame contrastado pode demonstrar as artérias
ção por molas do recesso/seio venoso recipiente pode ser nutridoras e as veias de drenagem. O seio venoso durai
realizado. Ressecção cirúrgica da parede do seio durai en envolvido está freqüentemente trombosado ou estenótico.
volvida ou radiocirurgia estereotáxica são outras opções.
Achados na RM. Como na TC, o exame de RM nas se-

Imagem quências-padrào varia de um exame normal até achados


marcantes. A presença de veias corticais dilatadas sem um
Características gerais. A maioria das FAVds é encontrada
nichis identificado, adjacente a um parênquima cerebral de
na fossa posterior e na base do crânio. Embora elas pos
sam envolver qualquer seio venoso durai, o local mais co aparência normal, pode sugerir a presença de uma FAVd.
O achado mais comum da FAVd é um seio venoso durai
mum é a junção dos seios transverso/sigmoide. Entre um
trombosado contendo flow voids vasculares (Figs. 7-110
terço e metade de todas as FAVds são encontradas nesta
e 7-lID). O trombo é, com freqüência, isointenso ao cé
localização. Locais menos comuns são o seio cavemoso e
o seio petroso superior. As FAVds envolvendo o seio sagi- rebro nas ponderações em TI e em T2 e causa artefatos
tal superior são relativamente incomuns. de susceptibilidade magnética nas seqüências T2*. Seios
cronicamente trombosados podem realçar.
Apenas os exames de imagem seccionais podem ser
insuficientes para demonstrar a FAVd. Angiotomografia Miperintensidades parenquimatosas nas ponderações
cm T2 c cm FLAIR indicam congestão venosa ou isquc-
computadorizada (ATC), ARM e ASD podem ser neces
sárias para identificar a FAVd e para delinear sua angioar- mia, em geral secundárias à drenagem cortical venosa re
quitctura detalhadamente. trógrada.
Achados na TC. Ao exame tomográfico podemos encon Angiografia. Embora a ATC/VTC com 3D {shaded-surfa-
trar tanto um exame normal quanto achados marcantes. A ce) possa ser útil para demonstrar o suprimento arterial e
hemorragia é incomum na ausência de drenagem venosa os padrões de drenagem venosa, a melhor ferramenta de
cortical ou de dilatação venosa displásica. O seio veno imagem para o delineamento detalhado é a ASD. Na ver
so alargado ou a veia de drenagem podem, por vezes, ser dade, a ASD com cateterização superseletiva durai e de
identificados na TC sem contraste. As fistulas carótido- nutridoras transósseas é freqüentemente necessária para
-cavernosas podem apresentar uma veia oftálmica supe identificar as artérias nutridoras, definir o exato local da
rior aumentada de calibre. Canais transcalvarianos dilata fistula, demonstrar a drenagem venosa e identificar a ar
dos oriundos de artérias nutridoras transósseas. podem, às téria nutridora ou um remoto aneurisma (encontrado em
vezes, ser vistos na TC sem contraste óssea e devem ser 20% dos casos).
Malformações vasculares 151

Como a maioria das FAVs surge adjacente à base


do crânio, múltiplos ramos transósseos e durais aumen CLASSIFICAÇÃO DAS FAVds
tados vindos da artéria carótida externa estào presentes Classificação de Cognard
(FIg. 7-12A). Ramos durais também podem se originar • Grau I: Na parede do seio; drenagem venosa
da artéria carótida interna e das artérias vertebrais (Fig. anterógrada normal (baixo risco; curso clínico benigno)
• Grau 2A: No seio; refluxo para o selo, sem veias corticais
7-13). Um ramo tentorial alargado oriundo do tronco
• Grau 2B: Refluxo (drenagem retrógrada) para veias
meningo-hipofisário costuma contribuir para as FAVds da
corticais (10 a 20% hemorragia
Junção dos seios transverso/sigmoide (FIg. 7-12B). • Grau 3: Drenagem venosa cortical direta; não há
A presença de um seio durai trombosado, de fluxo
ectasia venosa (40% hemorragia)
reverso com drenagem para veias corticais (leptomenín- • Grau 4: Drenagem venosa cortical direta + ectasia
geas) e de veias piais ingurgitadas (um padrão "pseudo- venosa (65% hemorragia)
flebítico") deve ser identificada. A venopatia de alto fluxo • Grau 5: Drenagem venosa perimedular espinal
associada à FAVd pode resultar em estenose progressiva,
Classificação de Borden
oclusào e hemorragia subsequente. Recessos venosos dis- • Tipo I: Suprimento arterial durai com drenagem
plásicos podem causar efeito de massa focai. O risco de anterógrada para seio venoso
hemorragia intracraniana associada aumenta significati o Tipo Ia: FAVd simples com suprimento arterial
vamente com a presença de drenagem leptomeníngea e meníngeo único
o Tipo Ib: FAVd complexa com múltiplas artérias
dilataçào venosa displásica.
A classificação angiográfica das FAVds ajuda a estra- meníngeas
• Tipo II: Suprimento durai + pressão intrassinusal
tificar o risco da ruptura da FAVd e a predizer o curso clí
^ anterógrada no seio, drenagem venosa cortical
nico destas lesões. As classificações de Cognard e Borden
são as mais utilizadas.
retrógrada
• Tipo III: Drenagem de artérias durais para veias corticais

7-13A Ponderação em T2 de
exame de um homem de 48
anos com neuralgia do trigêmeo
ò direita mostra emaranhado de
vasos no cavo de Meckel
e na cisterna do ângulo ponto-
-cerebelar associada a grande
fl o w v o i d S .
7-138 ASO da ACI direita mos
tra que o emaranhado de vasos
E^i é suprido por ramos durais
aumentados de calibre oriundos
da ACI, com fistulização direta
para uma veia de "drenagem
precoce" alargada ÍS.

7-13C Angiograma seletivo da


ACE demonstra que mais vasos
nutridores aumentados se origi
nam da artéria cerebral média
ES com opacificação precoce da
veia de drenagem calibrosa r=>l.
A veia proeminente se esvazia
na veia mesencefálica lateral a
qual se conecta com o sistema
venoso profundo pela vela de
Galeno fS].
7-13D ASD mostra que a
artéria vertebral ipislateral tem
diversos ramos parenquimatosos
aumentados (piais) 13 que
também suprem a malformação,
opacificando a grande veia de
drenagem [^. MAV mista piai-
-durai.
152 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

Em ambas as classificações, a presença cie veias cor- terior dos seios cavernosos (Figs. 7-14 e 7-15). As FCCs
íicais de drenagem (VCD) coloca a FAVd em uma cate são divididas em dois subgrupos: as fistulas diretas e as
goria de maior risco. A subdivisão das lesões com VCD indiretas.
em sintomáticas e assintomáticas pode ajudar a melhorar As FCCs "diretas'* são típicas lesões de alto flu
a estratificação de risco. As FAVds são lesões dinâmicas xo que resultam da ruptura da artéria carótida interna
e podem regredir ou progredir espontaneamente. O risco cavernosa (ACl) diretamente para o seio cavernoso
de uma lesão de baixo grau converter-se em uma lesão (SC) relacionado ou não a um aneurisma preexistente
de alto grau é baixo, mas mudanças nos sintomas devem da ACl. As FCC "indiretas" são lesões de baixo fluxo
promovera reavaliação por imagem imediata. e baixa pressão que representam uma fistula arteriove-
nosa entre os ramos durais da ACl cavernosa e o seio
Diagnóstico diferencial c a v e r n o s o .

A alteração que mais simula uma FAVd é a trombose de


seio venoso durai com drenagem venosa colateral proe Etiologia
minente. Nessa situação, as artérias nutridoras calibrosas As FCCs são quase sempre lesões adquiridas, podendo
não estão presentes e microflstulas na parede do seio durai ter origem traumática ou não. A maioria das FCCs diietas
não são identificadas. são traumáticas, freqüentemente secundárias a fraturas na
Uma pseudolesão do bulbo jugular, causada por flu base do crânio central. Podem ocorrer tanto lesões por es-
xo lento ou assimétrico, pode criar não homogeneidades tiramenlo da ACl ou pequenas perfurações diretas ocasio
de sinal no interior do forame Jugular. Não é identificado nadas pelos fragmentos ósseos da fratura. Uma laceração/
trombo nas seqüências em T2*, nem artérias nutridoras transecção com orifício único da porção cavernosa da ACl
anormais ou colaterais venosas calibrosas. com fistulização direta para SC é o achado típico. Rup
Uma MAY piai ou fistula é rara e representa o shunt tura espontânea (i.e., não traumática) de um aneurisma
direto arteriovenoso entre uma artéria parenquimalosa ce preexistente da porção cavernosa da ACl é uma etiologia
rebral {"piai") e uma veia de drenagem cortical dilatada. menos comum,
Essas alterações ocorrem ao longo da superfície cerebral As FCCs indiretas são lesões não traumáticas que
ou no próprio parênquima cerebral e não no interior de um têm origem degenerativa. Em contraste com as FAVds em
seio durai (a seguir). outros locais, as FCCs indiretas raramente ocorrem como

sequela de trombose em seio durai. A maioria das FCCs é


Fistula carótido-cavernosa encontrada na parede durai do seio cavernoso e são supri
Terminologia das via ramos intracavernosos da ACl e ramos profundos
As fistulas carótido-cavernosas (FCCs) são um tipo es (maxilares) da ACE.
pecial de shunt arteriovemoso que se desenvolvem no in-

7-14 Ilustração no plano coronal demonstra fistula carótido-cavernosa 7-15 Peça de autópsia de uma FCC direta com dissecçâo do seio cavernoso
(FCC). O seio cavernoso direito está aumentado devido à presença (SC) e das estruturas adjacentes mostra que o SC direito está aumentado S
de numerosos canais arteriais e venosos dilatados. devido a inúmeros canais vasculares dilatados (Cortesia de B. Horten, MD.)
Malformações vasculares 153

Patologia Aspectos clínicos


Patologia macroscópica. Na FCC direta o fluxo arteriaiiza- A apresentação clínica, história natural, aspectos demo
do causa dilatação do SC com hipertensão venosa e flu gráficos e epidemiologia variam dependendo da FCC ser
xo retrógrado para as veias oflálmicas superior e inferior. traumática ou espontânea.
As FCCs indiretas demonstram vasos aumentados com
Epidemiologia. Uma FCC indireta é o segundo local mais
aspecto fendido no interior do SC que se parecem com comum de FAVd, depois da junção do seio transverso/sig-
aqueles vistos nas FAVds típicas em outros locais. moide. As FCCs diretas de alto fluxo são muito menos
Estadiamento, graduação e classificação. As FCCs são um c o m u n s .

subtipo de FAVd. Uma classificação específica para as Aspectos demográficos. Como as FCCs diretas podem ocor
FCCs, a classificação de Barrow, é baseada no suprimento
rer com trauma elas são encontradas em ambos os sexos e
arterial.
em todas as idades. As FCCs indiretas são mais freqüentes
em mulheres de 40 a 60 anos.

CLASSIFICAÇÃO DE BARROW DAS Apresentação. As FCCs diretas podem se apresentar dentro


FÍSTULAS CARÓTIDO-CAVERNOSAS de horas, dias ou mesmo semanas após o trauma. Zum
Tipo A: shunt direto ACl-selo cavernoso de alto fluxo bido, exoflalmia pulsátil, edema orbital, diminuição da
Tipo B: shunt durai ramos ACI - seio cavernoso visão, glaucoma e cefaleia são típicos (Fig. 7-16). Em
casos mais graves, a perda da visão pode ser rápida e im
Tipo C: shunt durai ACE - seio cavernoso.
portante. Neuropatia craniana pode ocorrer, mas é menos
Tipo D: shunts de ramos durais de ambas ACI/ACE para comum. Em casos raros, a ruptura de um aneurisma endo-
o SC.
venoso da ACI pode causar epistaxe com ameaça à vida.

7-16 Fotografia do exame


clínico de um paciente com FCC
demonstra numerosos vasos au
mentados na esciera O.
7-17 Exame de TC com con
traste demonstra os achados
clássicos da FCC. 0 seio caverno
so direito está aumentado B e
a veia oftáimica superior ipsiiate-
rai ES está quatro vezes maior
que a veia oftáimica superior
esquerda ES.

7-18 Ponderação em T2
demonstra os achados típicos
na RM da FCC com o seio caver
noso direito aumentado B e
contendo numerosos flow voids
anormais ES
7-19 ASO lateral em um caso
de FCC direta em uma paciente
feminina de 21 anos de idade
com múltiplas fraturas de base
de crânio demonstra que a ACI
se estreita SI logo antes de de
sembocar em um grande recesso
venoso [^. Refiuxo venoso
em alta pressão para o interior
das veias oftáimicas superior e
inferior [3 e para o seio esfeno-
parietai está presente.
154 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

7-20 FAV pia! com ramos levemenle aumentados da ACA ES 7-21 Aquisição no plano coronal em Ti pós-contraste demonstra uma
conectando a uma variz venosa ÍS e vela cortical de drenagem FAV piai na fossa posterior. Uma pequena artéria cerebelar CS conecta
dilatada diretamente a um recesso venoso BI o qual por sua vez drena para
uma veia subependimáría B próxima ao quarto ventrículo.

As FCCs indiretas podem causar proplose indolor com uma veia oftálmica superior (VOS) calibrosa e mús
com alterações variáveis de visão. culos extraoculares aumentados. Gordura com aspecto
"sujo" secundário ao edema e ao ingurgitamcnto venoso
História natural. Os casos graves, com shunt torrcncial
pode estar presente. Ocasionalmente, hemorragia suba
ACI-SC, podem resultar em isquemia hemisférica. Se racnòidea secundária a trauma ou a ruptura de veias corti
drenagem venosa intracraniana retrógrada estiver presen cais pode ser identificada.
te, pode ocorrer hemorragia subaracnòidea catastrófica O exame de TC com contraste com freqüência de
originada da ruptura de veias corticais ectásicas. monstra bem o aumento da VOS e do SC (Fig. 7-17). Dre
Opções de tratamento. O objetivo primário no tratamento nagem inferior para o plexo venoso pterigoide proeminen
da FCC direta é o fechamento da fistula, que ocorre por te e drenagem posterior para o plexo venoso clival estão,
meio de embolização por baião transarterial-transfistula. às vezes, presentes.
A embolização transvenosa via veia Jugular interna e via Achados na RM. As ponderações em TI podem demonstrar
seio petroso inferior é outra opção. Se a ACI estiver rota, um proeminente "abaulamento" do SC e da VOS, bem
a colocação de stent recoberto pode ser efetiva. De forma como a gordura orbital com aspecto "sujo". As imagens
menos comum, pode ser considerada a oclusão da fistu
ponderadas em T2 podem revelar assimetria na perda de
la com sacrificio da ACI genitora com emprego de molas sinal relacionada ao fluxo nas veias afetadas. A visualiza
ou balões. Essa é uma opção apenas se o paciente obtiver ção de numerosos flow voids no SC é um achado comum
sucesso no "teste" de oclusão por baião ou se possuir cir nas FCCs (Fig. 7-18).
culação colateral suficiente para compensar a ausência de Realce forte e uniforme do SC e da VOS é típico.
fluxo anterógrado pela ACI. Veias cranianas tortuosas e calibrosas podem ocorrer em
As FCCs indiretas podem ser tratadas conservadora- shunts de alta pressão e de alto fluxo.
mente ou com embolização superseletiva. Foram relatados casos raros de FCCs diretas agressivas
de alto fluxo, com drenagem venosa proeminente pontome-
Imagem sencefálica e perimedular, causando mielopatia progressiva.
Características gerais. As características gerais de imagem
Angíografia. a ASD é necessária para o diagnóstico defi
da FCC refletem a presença de shunt AV no interior do
nitivo e para o tratamento. O delineamento completo do
seio cavemoso. Dependendo do grau do shunt, os achados
suprimento arterial e do padrão de drenagem venosa é o
podem variar de sutis a expressivos.
objetivo. As FCCs diretas podem demonstrar fluxo rápido
Achados na TC. O exame de TC sem contraste pode de com opacificação muito precoce do SC (Fig. 7-19). Inje
monstrar proplose leve ou importante ou SC proeminente ção seletiva da ACI com rápidas aquisições de imagem
Malformações vasculares 155

* ^

7-22 Figura ilustra a malformação da veia de Galeno. Artérias corói- 7-23 Exame de TC com contraste de um recém nascido demonstra
deas aumentadas E9 drenam diretamente para veia prosenecefáiica uma grande MAV6 B drenando para um seio falcino aumentado E
mediana (VPM) dilatada seio falcino A tórcuto herophili {con causando hidrocefalia obstrutiva.
fluência dos seios venosos) está massívamente aumentada.

costuma ser necessária para localizar o local preciso da Fistula AV piai


fistula. Uma fistula de orifício único está presente, em ge Uma fistula arteriovenosa piai (FAVp) é uma malforma
ral. entre os segmentos C4 e C5 da ACl.
ção vascular rara que pode consistir em uma única artéria
Ocasionalmente, a injeção no sistema vertebrobasilar
piai dilatada conectando diretamente a uma veia de drena
com compressão manual da artéria carótida ipsilateral é
gem cortical aumentada (Fig. 7-20). Não há leito capilar
necessária para determinar o local da fistula. A drenagem
interposto ou nidus.
venosa via veias oftálmicas superior e inferior, SC con Ao contrário das FAVs durais, 80% das FAVps são
tralateral, seios clival, pterigoide e esfenoparietal, e veias
supratentoriais. Elas podem ocorrer sobre ou justapostas à
corticais intracranianas, deve ser delineada.
superfície cerebral ou adjacente ao epêndima ventricular
As FCCs indiretas com freqüência possuem múltiplas
(Fig. 7-21). As FAVps são supridas por ramos das arté
nutridoras durais oriundas de ramos cavernosos da ACI
rias cerebrais anterior, média ou posterior e são associadas
(troncos meningo-hipofisário e ínferolateral), bem como de com varizes venosas.
ramos profundos da ACE (meningea média e ramos maxila
res distais). Anastomoses entre as nutridoras da ACI eACE,
Malformação aneurismàtica da veia de Galer}0
como a artéria do forame redondo são comuns e devem ser
Diferentes tipos de malformações vasculares comparti
completamente demonstradas antes da embolização.
lham da dilatação da veia de Galeno com uma caracte
Ultrassonografia. o fluxo normal da VOS é do extra para rística em comum, mas apenas uma delas corresponde à
o intracraniano (i.e., da órbita para o SC). Fluxo reverso verdadeira malformação aneurismàtica da veia de Gale
(intra para extracraniano) no interior de uma VOS aumen no (MAVG). A MAVG é a causa mais comum extracar-
tada pode ser demonstrado não invasivamente pelo uso da díaca de insuficiência cardíaca de alto débito em recém-
US com Doppler. -nascidos.

Diagnóstico diferencial Terminologia


o principal diagnóstico diferencial das FCCs é a trombo A MAVG é uma fistula arteriovenosa direta entre artérias
se do seio cavernoso (TSC). Ambas FCC e TSC podem coroideas profundas e a persistência do precursor embrio
causar proptose, edema intraorbital, músculos extraocula- nário da veia de Galeno (Fig. 7-22). O shunt arterioveno-
res aumentados e o aspecto de "gordura suja". Na TSC, o so causa dilatação aneurismàtica relacionada ao fluxo des
SC pode parecer aumentado, mas defeitos de enchimento ta veia primitiva, formando uma grande estrutura venosa
proeminentes estão presentes nas aquisições em TI pós- na linha média que se localiza posteriormente ao terceiro
-contraste na RM. ventrículo.
156 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

Etiologia
Conceitos gerais. No desenvolvimento fetal normal, o su
primento arterial para o plexo coroide drena por meio de
uma única veia transitória localizada na linha média, a
veia prosencefálica mediana (VPM) de Markowski. Nor
malmente, o desenvolvimento das veias cerebrais internas
passa a compreender a drenagem do plexo coroide fetal e
a VPM regride. Na MAVG, uma Hstula de alto fluxo im
pede a formação da veia de Galeno definitiva.
Genética. As MAVGs são lesões esporádicas, sem pré-dis-
posição genética conhecida.

Patologia
Patologia macroscópica. Artérias aumentadas de calibre dre
nam diretamente para a VPM dilatada. Dilalaçào "aneu-
7-24A Ponderação em T2 no plano sagital mostra
artérias proeminentes S] suprindo a veia prosencefá- rismática" da VPM persistente forma uma grande bolsa
lica mediana alargada IS. Observe o aumento do seio venosa logo atrás do terceiro ventrículo que drena para um
falcino BI. seio sagital superior marcadamente aumentado, por meio
de um seio falcino embrionário (Fig. 7-22). Os ventrículos
costumam estar muito dilatados. O cérebro é usualmente
atrófico. Modificações isquêmicas são comuns.
Características microscópicas. As paredes do recesso venoso
podem se tomar significativamente espessadas e displásicas.

Aspectos clínicos
Epidemiologia. As MAVGs são raras, representando menos
de 1% de todas as malformações vasculares cerebrais.
Contudo, elas representam 30% das malformações vascu
lares sintomáticas em crianças.
Aspectos demográficos. As MAVGs neonatais são mais co
muns do que aquelas que se apresentam na lactância e
infância. A apresentação na idade adulta é rara. Há uma
z: □ definitiva predominância masculina (H:M = 2:1).
7-24B ASD do mesmo paciente mostra que a MAVG
[S é suprida por múltiplas fistulas arteriais diretas [B. Apresentação. Os sinais e os sintomas variam com a ida
de da apresentação. Em neonatos, insuficiência cardíaca
congestiva de alto débito e sopro craniano alto são típicos.
Em lactentes mais velhos pode apresentar com macrocra-
nia e hidrocefalia, com ou sem insuficiência cardíaca.
As MAVGs em crianças não tão pequenas estão as
sociadas com atraso no desenvolvimento c convulsões.
As MAVGs em adultos jovens podem apresentar cefaleia,
com ou sem hemorragia e hidrocefalia.
História natural. O prognóstico está relacionado ao ta
m a n h o d o s h u n t a r t e r i o v e n o s o . G r a n d e s M AV G s c a u s a m
isquemia cerebral e modificações distróficas no cérebro
fêtal. Se deixados sem tratamento, os neonatos com MA
VGs podem falecer devido a dano cerebral progressivo e
insuficiência cardíaca intratável.

Opções de tratamento, A cura anatômica da MAVG não é o

7-25 US transcraniana de um neonalo demonstra


objetivo principal do tratamento; o objetivo final é o contro
uma grande MAVG ^3 posterior ao terceiro ventrículo. le suficiente da malformação a fim de pennitir a maturação
Vasos proeminentes com fluxo arterial B£l suprem a e o desenvolvimento cerebral normais. Embolização arte
lesão. rial em etapas, idealmente aos 4 ou 5 meses, é o tratamento
Malformações vasculares 157

preferencial. A abordagem transvenosa acarreta morbidade e pode se parecer clinicamente com a MAVG. O envol
e mortabiiidade significativas, e é contraindicada. vimento de seios venosos durais mais do que da veia de
Galeno ou da VPM é típico.
Imagem
Características gerais. Um grande recesso venoso arredon
dado que drena para um seio falcino persistente ou seio
reto proeminente. A confluência venosa dos seios está Malformações cerebrovasculares sem
com freqüência aumentada. 5/ju/Jf arteriovenoso
Achados na TC. Exames de TC sem contraste mostram uma Anomalia do desenvolvimento venoso
grande massa bem delimitada, levemente hiperdensa, no Com o advento da RM contrastada, as anomalias do de
ápice do tentório, com freqüência comprimindo o tercei senvolvimento venoso tornaram-se as malformações
ro ventrículo e causando hidrocefalia obstrutiva grave. vasculares intracranianas mais diagnosticadas. Uma vez
Graus variáveis de encefalomalacia, hemorragia e/ou cal- pensadas como lesões raras e com risco substancial de
cificações distróficas no parênquima cerebral estão pre hemorragia, a maioria dos "angiomas" venosos agora são
sentes. A TC com contraste mostra importante realce forte reconhecidos como assintomáticos e como achados inci-
e uniforme (Fig. 7-23). dentais de imagem. As complicações neurológicas destas
lesões comuns são raras.
Achados na RM. O fluxo rápido, porém turbulento no in
terior da MAVG causa perda de sinal não homogênea e
artefatos de fase (mau registro do sinal na direção da co Terminologia
A anomalia do desenvolvimento venoso (ADV), tam
dificação de fase). As artérias nutridoras aumentadas são
bém chamada de "angioma" venoso ou "malformação
vistas como /7oh' voids serpentiformes adjacentes à lesão
venosa". é uma malformação vascular cerebral congênita
(Fig. 7-24A). Trombos de idades variáveis podem estar
com formato de guarda-chuva composta por elementos
presentes delineando a MAVG.
venosossangio genicamente maduros. Canais venosos di
A n g i o g r a f í a . D u a s f o r m a s d e M AV G s ã o c o n h e c i d a s b a latados de paredes finas são encontrados no (e separados
seadas na sua angioarquitetura especifica. A forma mais por) parênquima cerebral normal.
comum é a "coroidar. Nela, múltiplos ramos de arté Raramente, um recesso venoso dilatado ou tortuoso,
rias pericalosas, coróideas e tálamo-perfurantes drenam sem artérias discemíveis ou tributárias venosas pode ocorrer.
diretamente para o saco venoso aneurismático dilatado Nesses casos incomuns o termo variz venosa é apropriado.
localizado na linha média (Fig. 7-24B). Na forma rara
"mural", uma única artéria ou poucos ramos aumentados Etiologia
oriundos de artérias coliculares ou coróideas posteriores Conceitos gerais. A etiologia precisa das ADVs é desconhe
drenam para a parede do seio. cida. Alguns pesquisadores afirmam que as veias medula-
Em mais de 50% de todas as MAVGs o seio reto é res presas desenvolvem-se entre Sell semanas de idade
hipoplásico ou ausente e a drenagem venosa se dá pelo gestacional; outros acreditam que as ADVs representem
persistente embrionário do "seio falcino". O seio falcino uma extrema variante da drenagem venosa normal. Ao
é facilmente identificado quando se angula posterossupe- contrário de muitas outras malformações cerebrovascula
riormente em direção ao seio sagital superior. res, as ADVs não expressam fatores de crescimento.
Ultrassonografia. Hoje, muitas MAVGs têm o seu diag Genética.
nóstico pré-natal. Uma massa hipoecogênica a levemente DVA solitária. Embora os estudos de linkage genéti
ecogênica localizada na linha média, posteriormente ao ca tenham implicado uma região no cromossomo 9p nas
terceiro ventrículo é típica. O estudo com Doppier a cores malformações venosas cutaneomucosas hereditárias, ne
mostra fluxo turbulento bidirecional no interior da M AVG nhuma pré-disposição genética para a formação de ADVs
(Fig. 7-25). cerebrais esporádicas isoladas foi identificada.
Uma associação da ADV e malfonnações cavernosas
Olagnóstlco diferencial cerebrais (MCCs) solitárias (mas não familiares) foi recen
Achados de imagem típicos em um neonato com insufi temente relatada, sugerindo que essas malformações vas
ciência cardíaca congestiva de alto débito são praticamen culares provavelmente tenham um mecanismo de desen
te patognomônicos de MAVG. Uma malformação arterio- volvimento diferente. As ADVs solitárias não possuem o
venosa (MAV) talâmica com drenagem venosa profunda gene KRITI. que está associado com as MCCs familiares.
pode causar aumento secundário da veia de Galeno. Uma ADVs múltiplas. Múltiplas malformações venosas ce
dilataçâo aneurismática da veia de Galeno associada rebrais foram relatadas na síndrome do nevo em bolha
a uma MAV raramente se apresenta no período neonatal. de borracha azul (BRBNS, blue rubber bled nevus syn
Uma fistula arteriovenosa durai gigante da infância drome)., sendo proposta uma ligação ao cromossomo 9,
de alto fluxo pode se apresentar no período de lactância ainda não comprovada.
158 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

■: W ;
A
7-26 Ilustração demonstra uma AOV com veias medulares aumenta 7-27 Caso de autópsia mostra uma ADV frontal à esquerda, caracte
das IS drenando para uma veia coletora transmanto única í^. rizada por veias medulares dilatadas entrepostas ao parénquima
cerebral normal (Cortesia de R. Hewlett, MD.)

Patologia metanálise recente mostrou que 98% de todas as ADVs


são assintomáticas, sendo que 2% apresentam hemorragia
Localização, tamanho e número. As ADVs são encontradas
ou infarto, provavelmente causados por estenose ou trom
na substância branca (SB) profunda, adjacente aos cornos
bose espontânea da veia coletora de saída.
frontais dos ventrículos laterais (Fig. 7-26). A segunda
As ADVs podem estar associadas com displasia cor
localização mais comum é próxima ao quarto ventrícu-
tical. Nesses casos, a malformação cortical pode causar
lo. O tamanho pode variar de lesões minúsculas, quase
convulsões.
imperceptíveis, a ADVs gigantes, que podem envolver a As ADVs podem coexistir com outras lesões vascu
maioria da SB hemisférica.
lares que causam hemorragia intracraniana sintomática.
As ADVs solitárias são muito mais comuns que as le
A malformação cerebrovascular mais comum "histolo-
sões múltiplas.
gicamente mista" é a malformação cavernosa-venosa.
Patologia macroscópica. Um agrupamento de veias medula As vezes, uma "tríade" de malformação que consiste nos
res (SB) aumentadas, de tamanhos variáveis, com parên- componentes cavemoso, venoso e capilar é identificada.
quima cerebral de permeio, é o achado comum (Fig. 7-27). A maioria das ADVs é solitária, a menos que este
jam associadas com síndromcs neurocutâneas vasculares
Características microscópicas. Canais venosos de paredes fi
como a síndromc dc ncvo em bolha de borracha azul.
nas com algum grau de dilatação estão interpostos á subs
As ADVs podem coexistir com pericranii. O sinus
tância branca de aspecto normal. Ocasionalmente as pare
pericranii é o sinal cutâneo típico de uma anomalia ve-
des dos vasos estão espessadas e hialinizadas. Hemorragia nosa subjacente. As ADVs também estão associadas com
e calcificaçào são incomuns, a menos que a ADV esteja
malformações perlorbítaís liiifátícas/Iínfátíco vcnosas.
associada com MCC.
História natural. A maioria das ADVs permanece assin-
Aspectos clínicos tomática. Estudos longitudinais demonstraram que ADVs
descobertas incidentalmente não tiveram infartos ou he
Epidemiologia. a ADV é a malformação vascular intracra
niana mais comum, correspondendo a 60% de todas as morragias sintomáticas em quase 500 pessoas/ano de se-
guimento.
malformações cerebrovasculares. A prevalência estimada
nos exames de RM com contraste varia de 2,5 a 9%. Aproximadamente 6% das ADVs se apresentam com
hemorragia sintomática. A maioria é mista com uma lesão
Aspectos demográficos. As ADVs são encontradas em pa que possui uma tendência intrínseca à hemorragia (como
cientes de todas as idades, sem predileção por gênero. malformação cavernosa).
Apresentação. A maioria das ADVs são descobertas inci Opções de tratamento. Nenhum tratamento é necessário ou
dentalmente na necropsia ou em exames de imagem. Uma recomendado para ADVs solitárias (elas são "lesões, não
Malformações vasculares 159

me toquem!"). Se uma ADV é histologicamente mista, o xigenado deinonstra hipointensidades lineares marcantes
tratamento é determinado pela lesão coexistente. A identi nas aquisições em T2* (GRE, SWl). (Fig. 7-3ÜB).
ficação pré-operatória dessa malformação mista é impor Se a ADV estiver associada com malformação caver
tante, já que a ligação da veia coletora ou a remoção de nosa, produtos sangüíneos em vários estágios de degrada
suas tributárias pode resultar em infarto venoso. ção podem estar presentes e, consequentemente, artefatos
de susceptibilidade magnética nas seqüências em T2*.
Imagem (Fig. 7-32).
Características gerais. As ADVs são compostas por um
Angiografia. a fase arterial é normal. A fase venosa de
agrupamento radial de veias medulares que convergem monstra o típico agrupamento com aspecto de "fios de
para uma grande veia coletora transcortical ou subepen- cabelo" ("cabeça de medusa") de veias medulares dila
dimária. O aspecto clássico é o de "cabeça de medusa" ou
tadas no interior da substância branca (Fig. 7-33). Um
de "guarda-chuva invertido".
discreto e prolongado "'blitsW" ou "mancha" capilar pode
Achados na TC. Os exames de TC sem contraste costumam estar presente em alguns casos. Pode ocorrer uma forma
ser normais, a menos que a ADV seja muito grande e uma transitória de malformação arteriovenosa com nutridoras
veia de drenagem proeminente esteja presente. O exame calibrosas e shunt AV (veia de "drenagem precoce"), mas
de TC com contraste demonstra vários focos de realce li é incomum. Raramente uma variz venosa verdadeira pode
near e/ou puntiformes que convergem para uma veia cole estar presente com a ADV.
tora tubular bem definida (Fig. 7-28). Nas ADVs atípicas,
o estudo de perfusão por TC pode mostrar um padrão de Diagnóstico diferencial
congestão venosa com aumento do CBV, CBF, MTT no Uma malformação vascular mista na qual a ADV forne
parênquima cerebral adjacente. ce uma drenagem venosa proeminente é comum. Grandes
Achados na RM. Se a ADV for pequena, ela pode não ser telangiectasias capilares ("gigante") com freqüência têm
detectada, a menos que um estudo contrastado seja rea uma veia central coletora dominante c podem, consequen
lizado. As seqüências em TI pós-contraste demonstram temente, lembrar uma ADV.
um agrupamento de estruturas lineares que sofre realce de As neoplasias altamente vascularizadas. como o glio
configuração estrelada, convergindo para uma veia cole blastoma multiforme podem ler shunts arteriovenosos
tora subependimária ou transparenquimatosa (Figs. 7-29, na substância branca e veias corticais aumentadas. Uma
7-30A e 7-31). A veia coletora pode demonstrar perda va drenagem venosa colateral com veias medulares au
riável de sinal devido à alta velocidade. Em razão do fluxo mentadas na síndrome de Sturge-Weber e na oclusão de
nas radículas venosas da ADV ser lento, o sangue deso- seio venoso durai pode, às vezes, simular uma ADV.

7-28 TC com contraste, ATC demonstra uma ADV clássica no hemisfé 7-29 Exame de RM em TI pós-contraste demonstra os achados clássi
rio cerebelar esquerdo ES. cos da ADV com veias aumentadas de calibre na SB B drenando para
uma veia coletora proeminente ES. Este foi um achado incidental em
um paciente assintomático.
160 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

7-30A Aquisição em TI pós-


-contrasie demonstra uma AOV
clássica com veias aumentadas
na SB B e uma veia coletora
B3 drenando para o aspecto an
terior do seio sagítal superior.
7-30B Aquisição em SWI
demonstra a ADV IS e a veia
coletora S] como estruturas
hipointensas com configuração
claramente diferente das veias
corticais normais. Uma hemorra
gia focai Kl adjacente ao corno
frontal esquerdo é secundária a
uma pequena malformação ca
vernosa. As ADVs freqüentemen
te são lesões de histologia mista.

7-31A Aquisição em TI pós-


-contraste no plano coronal
demonstra múltiplas veias me-
dulares aumentadas de calibre
B drenando para a veia cole
tora 63. Parênquima cerebral
normal está interposto entre as
radículas venosas.
7-31B Espécime de autópsia
com corte no plano coronal
demonstra ADV como achado
incidental SI. Observe o parên
quima cerebral normal entre as
veias medulares aumentadas de
calibre e a ausência de hemorra
gia. (Cortesia de P. Burger, MD.)

7-32A RM em Ti pós-conlras-
te com saturação de gordura de
um homem com 55 anos com
paralisia súbita do VI e Vil nervos
cranianos demonstra uma AOV
clássica B adjacente ao quarto
ventrículo.
7-32B Aquisição T2* SWI mos
tra a hipointensa ADV [S. Além
disso, um pequeno hematoma
focai SI devido a uma malfor
mação cavernosa do soalho do
quarto ventrículo é identificado;
provavelmente, o hematoma é
o responsável pelos sintomas do
paciente.
Malformações vasculares 161

7-33A ESS 3D demonstra uma ADV clássica com veias medulares au 7-33B ESS 3D de outro caso mostra uma ADV extensa com "cabeça
mentadas de calibre BI drenando para uma veia coletora B. O aspec de medusa" B3 drenando para veia cerebral interna. (Cortesia de P.
to lembra uma "cabeça de medusa", "salgueiro invertido" ou "guarda- Lasjaunias, MD.)
-chuva" (Cortesia de P. Lasjaunias, MD.)

Sinus perícranil
A N O M A L I A 0 0 D E S E N V O LV I M E N TO V E N O S O
Terminologia
Terminologia o sinuspencnmii (SP) é uma grande comunicação trans-
• ADV, também conhecida como "angioma" venoso
calvariana entre os sistemas de drenagem venoso intra
Etiologla e extracraniano. Alguns pesquisadores consideram o SP
• Variante extrema da drenagem venosa normal?
uma manifestação cutânea de uma anomalia do desen
• Desenvolvimento de veia medular detido?
• Mutação do cromossomo 9? volvimento venoso (ADV), já que estas duas lesões estão
com freqüência, mas não invariavelmente, associadas.
Patologia
• Solitário » mtjltiplo; pequeno > grande
Eíiologia
• SB adjacente aos ventrículos (lateral > quarto)
• Veias na SB aumentadas de calibre interpostas ao Conceitos gerais. Os SPs podem ser congênitos ou adqui
ridos, pós-traumáticos ou espontâneos. E provável uma
parenquima cerebral normal
origem congênita na maioria dos SPs, dada a sua fre
Aspectos clínicos qüente associação com ADVs e malformações mucocu-
• Epidemiologia e aspectos demográficos
tâneas congênitas, como a síndrome do nevo cm bolha
o Malformação cerebrovascular mais comum (60%)
o Prevalência na RM em TI pós-contraste = 2 a 9% de borracha azul (BRBNS). Outras etiologias possíveis
o Todas as idades, sem predileção por gênero incluem fusão incompleta de suturas sobre veias diploicas
• História natural. ou emissárias abundantes.
o Usualmente benigna, não progressiva Lacerações de escalpo e fraturas cranianas com ruptu
ra de veias emissárias na tábua externa da calvária podem
Imagem
• Veias dilatadas em "cabeça de medusa". resultar no desenvolvimento de um SP adquirido.
• Convergem para uma grande veia coletora.
Patologia
Diagnóstico diferencial Uma formação sacular azulada abaixo ou logo acima do
• Malformação histologicamente mista (usualmente
venosa + cavernosa) periósteo da calvária é típica. Essa formação sacular dila
• Telangiectasia capilar gigante tada. preenchida por sangue, conecta-se por meio de uma
• Drenagem venosa colateral veia emissária aumentada com a circulação intracraniana
o Síndrome de Sturge-Weber (Fig. 7-34). O lobo frontal é o local mais comum, seguido
o Ociusão de seio durai com shunt para veias profundas pelos lobos parietal e occipital. Os SPs nas fossas crania
nas média e posterior são raros.
162 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

Os SPs podem estar associados com ADVs únicas ou Opções de tratamento. Os pacientes com SP podem ser en
múltiplas. caminhados ao dermatologista em razão da descoloração
do escalpo ou testa. A remoção cirúrgica do componente
Aspectos clínicos extracraniano com cranioplastia é ocasionalmente reali
Epidemíologia. Os SPs são lesões raras, encontradas em me zada para fins estéticos. A cirurgia realizada sem exames de
nos de 10% dos pacientes que se apresentam para o trata imagem adequados pode resultar em complicações poten
mento de inalfomiações craniofaciais vasculares e em 4% cialmente letais, incluindo hemorragia, infarto venoso (se
dos pacientes com lesões palpáveis na abóbada craniana. o SP estiver associado com uma ADV) e embolia gasosa.
Aspectos demográficos. Embora os SPs possam ocorrer em
qualquer idade, a maioria é encontrada em crianças ou em Imagem
adultos jovens. Não há predileção por gênero. Características gerais. Uma massa de escalpo subperiosteal
ou vascular sobrejacente a um defeito ósseo bem definido.
Apresentação. Uma massa no escalpo compressive!, não A massa comunica-se diretamente com o sistema venoso
dolorosa, não pulsátil, azulada, que aumenta de tamanho intracraniano por meio do defeito ósseo.
à manobra de Valsalva e se reduz na posição de ortostatis-
mo é típica. Uma história de "trauma esquecido" não é in- Achados na TC. Um SP é iso ou hiperdenso na TC sem con
comum. Excetuando-se a repercussão estética, a maioria traste e demonstra forte realce uniforme após a administra
dos SPs é assintomática. O SP com múltiplas ADVs está ção do mesmo (Fig. 7-35). O defeito na calvária subjacen
associado à síndrome do nevo em bolha de borracha azul. te varia em tamanho, mas é bem definido. Ocasionalmente
um SP pode conter calciflcações (flebólitos) ou trombos.
História natural. Se deixadas sem intervenção, a maioria dos
SPs tem comportamento benigno e permanece estável em Achados na RM. A maioria dos SPs são isointensos nas
tamanho. Há um risco muito pequeno de embolia gasosa ou ponderações em TI e hiperintensos ao cérebro na ponde
hemorragia devido a trauma direto no SP ao longo da vida. ração em T2. O acúmulo de contraste no interior do SP

7-34 iluslraçao no plano


coronal demonstra um sinus pe-
ricranii (SP) clássico com recesso
sacular venoso alargado abaixo
do escalpo B que se conecta
ao sistema venoso Intracraniano
HS através de um cana! irans-
calvariano SI. Alguns SPs estão
associados com anomalia do de
senvolvimento venoso [31.
7-35 VTC em corte sagital de
monstra um pequeno sinus pe-
ricranii B conectando ao seio
sagital superior através de um
defeito craniano adjacente IS.

7-36 SPGR contrastada no


plano coronal mostra um clássico
sinus pericranii ES que se comu
nica com o seio sagital superior
B através de um pequeno ca
nal venoso transcalvariano
7-37 A A5D na fase venosa
tardia demonstra achados an-
giográficos de sinus pericranii
com pequenas bolsas venosas
alargadas Sj que se comuni
cam diretamente ao seio sagital
superior l.-^l através de um canal
transcalvariano B.
Malformações vasculares 163

nas seqüências em TI pós-contraste é típico (Fig. 7-36), Etiologia


a menos que a lesão seja anormalmente grande e o fluxo
Conceitos gerais. As MCCs são lesões angiogenicamente
seja rápido. A RM venosa ajuda a delinear ambos os com imaturas com proliferação endotelial e aumento da neo-
ponentes intra e extracranianos.
angiogênese.
Angidgrafia. As fases arterial e capilar são normais. A As MCCs podem ser herdadas ou adquiridas. As
maioria dos SPs é visualizada apenas nas fases venosas MCCs adquiridas são raras e podem estar associadas com
mais tardias (Fig. 7-37). Eles são vistos como lagos ar história de radioterapia prévia (RxT). Aproximadamente,
redondados de contraste que se acumulam vagarosamen 3,5% das crianças que têm o encéfalo irradiado desenvol
te no interior ou adjacente ao defeito craniano, contendo vem múltiplas MCCs com intervalo de latência média de
uma veia transcalvariana. O fluxo é variável e bidirecio- cerca de três anos (3 a 102 meses).
nal. No SP "fechado", o sangue flui a partir do e de volta
Genética. As MCCs podem ser solitárias e esporádicas ou
ao seio venoso durai. O "dreno" dos SPs tem orientação
unidirecional para os recessos venosos e as veias do escal- múltiplas. Pelo menos metade de todos os casos é fami
liar, herdado como uma doença autossômica com pene-
po pericranianas adjacentes.
tráncia variável.
Ultrassonografia. o estudo com Doppler a cores pode de Três genes foram identificados nas MCCs familiares:
linear o componente extracraniano e definir a direção do CCM! (KRITI), CCM2 (OSM) e CCM3 (PDCDIO). Mu
fluxo. A ultrassonografia não define o componente intra
tações nesses genes correspondem a 70 a 80% de todos
craniano de um SP. os casos.

O CCMI é um inibidor essencial do desenvolvimen


Diagnóstico diferencial to da angiogênese e é necessário para manter o endotélio
Os achados de imagem do SP são diagnósticos. Outras vascular quiescente. A perda bialélica de um gene CCM,
massas de escalpo e calvária do período da lactância e in
permitindo o florescimento descontrolado da angiogêne
fância incluem cefalocele, cisto dermoide. hemangioma, se, pode explicar a arquitetura vascular caótica e a pro
histíocítose e metástase (neuroblastoma). Em idades in gressão dinâmica da MCCs.
termediárias e em adultos mais velhos, a massa mais co
mum do escalpo é o cisto sebáceo (triquilemal). Anormalidades assdciaoas. As MCCs são o componente
mais comum nas malformações vasculares mistas. Veno-
so-cavemoso e capilar-cavernoso são as duas combina
Malformação cavernosa cerebral
ções mais freqüentes.
As nialfonnações cavernosas cerebrais (MCCs) são tipos
distintos de malformações vasculares intracranianas carac
terizadas por hemorragias de repetição "intralesionais" no
Patologia
interior de lóculos preenchidos por sangue, de paredes finas, Ldcalização £ TAMANHO. As MCCs podem ocorrer em qual
angiogenicamente imaturos, chamados de "cavernas". As quer lugar no sistema nervoso central (SNC) e variam em
MCCs são lesões discretas, de margens bem definidas, que tamanho desde lesões minúsculas, quase microscópicas, a
não contêm parénquima cerebral normal. A maioria é ro malformações gigantes que podem ocupar todo o lobo ou
deada por um halo completo de hemossiderina (Fig. 7-38). a maioria de um hemisfério cerebral.

Antes do advento da TC e da RM, as malformações Patologia macroscópica. Um discreto grupamento com


cavernosas eram, às vezes, chamadas de malformações
aspecto em "framboesa" de sangue vermelho-arroxeado
vasculares "ocultas" ("ocultas" para a angiografia, já que
preenchendo cavernas é o mais comum (Fig. 7-39). A
são lesões de extremo baixo fluxo, que não exibem shunt maioria das MCCs estão completamente envoltas por um
arteriovenoso). Essas lesões agora são facilmente iden halo de hemossiderina.
tificadas na RM e, portanto, não são mais "ocultas" aos
exames de imagem. As malformações cavernosas exibem Características microscópicas. As MCCs consistem em ca

uma larga variação de comportamentos dinâmicos. Elas nais vasculares fortemente agrupados, revestidos por epi-
são uma causa relativamente comum de hemorragia in télio ("cavernas") no interior de um estroma colagenoso.
tracraniana não traumática em adultos jovens e de meia- As cavernas não possuem tecido elástico e apresentam
-idade, embora possam ocorrer em qualquer fase da vida. paredes finas, mas que podem se tomar espessadas e hia-
linizadas. Alguns canais estão parcial ou completamente
Terminologia irombosados e contêm hemorragia em diferentes estágios
As MCCS também são conhecidas como "angiomas" ca- de evolução. Uma borda gliótica, com componente de he
vemosos ou "cavemomas". Elas são malformações benig mossiderina, envolve a lesão.
nas vasculares hamartomatosas. As MCCs são, por vezes, As MCCs não contêm parénquima cerebral, mas o cé
erroneamente referidas como "hemangiomas caverno- rebro de seu entorno freqüentemente demonstra modifica
sos". Os hemangiomas são neoplasias vasculares benig ções reativas e depósitos de hemossiderina. Calcificações
nas e não malformações. distróficas são comuns no interior das MCCs.
164 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

Estadiamento, graduação e classificação, a classificação


mais usada para as MCCs, a classificação de Zabramski,
é baseada nos aspectos de imagem e não nos achados his-
tológicos (quadro).

Aspectos clínicos
Epidemiologia. As MCCs são a terceira malformação cere
bral vascular mais comum (após a ADV e a telangiectasia
capilar) e são encontradas em aproximadamente 0,5 % da
população. Dois terços ocorrem como lesões solitárias,
esporádicas; um terço são miíltiplas.
Aspectos demográficos. As MCCs podem ocorrer em qual
quer idade; elas causam 10% das hemorragias cerebrais
espontâneas em crianças. A prevalência das MCCs nos
exames de imagem aumenta com o aumento da idade. O
7-38 Aspectos subagudos SI e o clássico em "pi pico de apresentação está em 40 a 60 anos (mais jovens
poca" [S das MCCs. As micro-hemorragias são vistas com síndrome da malformação cavernosa múltipla fami
como "pontos pretos com artefatos de susceptibilidade
magnética muilifocais O. liar). Não há predileção por gênero.
A síndrome da MCC múltipla é mais comum em his
pano-americanos de descendência mexicana. Mais de 90%
dos indivíduos com uma história familiar positiva têm uma
mutação KRJTI e irão desenvolver uma ou mais MCCs.
Apresentação. Metade de todos os pacientes com MCCs
apresentam-se com convulsões. Cefaleia e déflcits neuro
lógicos focais também são comuns. As lesões pequenas, es
pecialmente micro-hemorragias podem ser assintomáticas.
História natural. As MCCs têm um largo espectro de com
portamento dinâmico e o curso clínico das lesões indivi
dualmente é variável e imprevisível. Hemorragias intrale-
sionais espontâneas de repetição são típicas. Há propensão
distinta para o crescimento lesional em cada paciente. Em
geral, os pacientes com síndrome da MCC múltipla conti
nuam a desenvolver novas lesões ao longo de suas vidas.
O risco de hemorragia em lesões solitárias é estimado
7-39A Espécime cirúrgica de uma ressecção de uma em 0,25 a 0,75% cumulativo, ao ano, sendo maior para
MCC demonstra características lipicas, notando-se lesão
mulheres. Na forma da MCC múltipla familiar, o risco de
circunscrita, lobulada, com aspecto em framboesa.
hemorragia é muito mais alto, aproximando-se de 1,5%
cumulativo ao ano.

Opções de tratamento. O manejo das MCCs profundas em


localizações críticas é controverso. No momento, a remo
ção cirúrgica total via ressecção microcirúrgica é o trata
mento de escolha para o tratamento de lesões sintomáticas
com hemorragias recorrentes. As radiocirurgia estereotá-
xica tem sido utilizada com algum sucesso em pacientes
com MCCs de tronco encefálico, que não são receptivas
à microcirurgia.

Imagem
Características gerais. As MCCs podem ocorrer em todo o
SNC. O parênquima cerebral é o local mais comum. Uma
massa circunscrita com intensidade de sinal/densidade

mista circundada por um halo completo de hemossiderina


7-39B Corte da peça cirúrgica demonstra múltiplos ("pipoca") é o achado clássico. As MCCs podem variar de
lóculos de sangue em diversos estágios de evolução. microscópicas a gigantes (com mais de seis centímetros).
Malformações vasculares 165

Em raras circunstâncias, uma MCC (mista com rnaltbr-


mações venosas) pode ocupar todo um lobo cerebral.
Achados na TC. Os exames de TC sem contraste costu
mam ser normais, já que muitas das MCCs são pequenas
demais para serem detectadas. Se a lesão for grande, ela
pode aparecer hiperdensa, com calcificações intralesio-
nais esparsas (Fig. 7-40A). A maioria das MCCs é bem
definida e não exibe efeito de massa, a menos que haja
hemorragia recente (Fig. 7-40B).
Achados na RM. Os achados são variáveis, dependendo do
estágio de evolução e da seqüência de pulso utilizada. As
MCCs foram divididas em quatro tipos com base nos as
pectos de imagem (classificação de Zabramski).
A MCC clássica (Zabramski tipo 2) é uma lesão em
"pipoca" ou discretamente reticulada, causada por pro 7-40A TC sem conlrasle em um paciente com história
dutos sangüíneos contidos em "cavernas" ou "lóculos" familiar cJe MCC demonstra lesão hiperdensa punliforme
de tamanhos variáveis. Níveis líquido-líquido com dife no braço posterior da cápsula interna esquerda E3.
rentes intensidades de sinal são comuns (Fig. 7-40C). O
centro com intensidade de sinal misto é rodeado por um
halo completo de hemossiderina nas ponderações em T2,
que apresenta artefatos de susceptibilidade magnética nas
seqüências em T2*. As MCCs com hemorragia subaguda
(Zabramski tipo 1) são hiperintensas nas ponderações em
TI e exibem um misto de hiper-hipointensidade nas pon
derações em T2 (Fig. 7-41).
Sempre devem ser realizadas aquisições em T2* (GRE,
SWI) para pesquisa de lesões adicionais. Micro-hemorragias
puntiformes são vistas como "pontos pretos" multifocais
com artefatos de susceptibilidade magnética (Zabramski
tipo 4) em muitos casos com MCC familiar (Fig. 7-42).
O realce após a administração de contraste é muito
variável, podendo estar ausente (achado usual), ser leve
ou moderado (Fig. 7-43). Se uma MCC coexistir com
uma ADV, o "angioma" venoso pode exibir forte realce. 7-40B Exame de TC sem contraste obtido seis anos

Se a malformação vascular histologicamente "mista" for depois, quando o paciente desenvolveu hemiparesia
direita aguda, demonstra que a lesão ES aumentou
ressecada, a drenagem venosa deve ser preservada para
significativamente.
evitar infarto venoso pós-operatório.

CLASSIFICAÇÃO DE ZABRAMSKI DAS MCCS


Tipo 1: Hemorragia subaguda
• Hiperintensa em TI, hiper-/hipointensa em T2
Tipo 2: Hemorragias em diferentes idades
• Clássico = em "pipoca"
o Sinai misto hiper/hipo em ambos Ti e 12
• Procure por lóculos preenchidos por sangue com
níveis líquido-líquido
Tipo 3: Hemorragia crônica
Tipo 4: Micro-hemorragias puntiformes
• "Pontos pretos" com artefatos de susceptibilidade
magnética no T2* (GRE, SWl)

Angiografia. As MCCs não têm artéria nutridora ou veias 7-40C Ponderação em T2 demonstra o clássico

de drenagem identificáveis. A ASD, ATC e ARM são, em aspecto em "pipoca" com lóculos de sangue em di
ferentes estágios de evolução rodeados por halo de
geral, negativas a menos que a MCC seja mista, associa- hemossiderina ES.
166 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

da a outra malformação vascular (mais comumentc uma


ADV). Se houver ocorrido hemorragia aguda, um efeito MALFORMAÇÕES CAVERNOSAS CEREBRAIS
de massa avascular pode estar presente. Raramente, lagos Etiologia
venosos com actimulo de contraste em uma ou mais "ca • Mutações CCM1, CCM2 ou CCM3 na MCC familiar
vernas" podem ser identificados. • Perda da inibição negativa do desenvolvimento da
angiogênese
Diagnóstico diferencial
Patologia
O diagnóstico diferencial mais comum é uma malfor • Ocorre em todo o SNC
mação vascular mista na qual a MCC é o componente • Solitário (2/3), múltiplos (1/3, familiar)
dominante. As vezes, uma neoplasia hemorrágica ou • Múltiplos lóculos de paredes finas preenchidos por
densamente calcificada (como glioblastoma ou oligo sangue ("cavernas")
• Ausência de parénquima cerebral normal em seu
dendroglioma, respectivamente) pode simular uma MCC.
"Ponto pretos" multifocals nas aquisições em T2* po interior; borda de hemossiderina
dem ser vistos em diversas lesões, além das MCCs tipo 4. Aspectos clínicos
Encefalopatia hipertensiva crônica, angiopatia aniiioide, • Terceira MCV mais comum
lesão por estiramento axonal e contusões corticais podem • Pode se apresentar em qualquer idade; pico = 40 a
ter aparência similar. 60 anos

Os hemangiomas são neoplasias formadoras de vaso • Curso variável e imprevisível


o Hemorragias intralesionais de repetição são típicas
benignas verdadeiras e não devem ser confundidas com as
o Risco de hemorragia = 0,25 a 0,75% por lesão por
MCCs. A maioria é encontrada na pele e em tecidos moles
a n o
da cabeça e do pescoço. Os hemangiomas no interior do
o Pacientes com MCC familiar desenvolvem novas
SNC são raros e mais encontrados nos seios venosos durais
lesões
e nas meninges cranianas e não no parénquima cerebral.

7-41A MCC Zabramski tipo 1


é ilustrada. (Esquerda) Pondera
ção em TI mostra que a lesão é
hiperintensa e rodeada por borda
hipointensa de hemossiderina
E3 (Direita) aquisição em T2*
GRE demonstra hipointensidades
com artefatos de susceptibilida-
de magnética em tomo O e no
interior da lesão.
7-41B Corte microscópico da
peça ressecada do mesmo caso
mostra uma cavidade preenchida
por sangue iS rodeada por
canais vasculares pavimentados
com fino endotélio S]. (Cortesia
de R. Helwett, MD.)

7-42A Ponderação em T2
de um paciente com múltiplas
malformações cavernosas cere
brais mostra uma grande lesão
frontal à esquerda com nivel
líquido-líquido B Múltiplas
outras lesões hipointensas estão
presentes E3.
7-428 SWl 12' demonstra
inúmeros pontos pretos com
artefatos de susceptibilidade
magnética característicos da MCC
Zabramski tipo 4 (micro-hemor-
ragias puntiformes). Aquisições
em T2' são muito mais sensíveis
do que as ponderações em 12
FSE para detectar inomogeneida-
des do campo magnético.
AAaIformações vasculares 167

das lesões ocorre no escalpo e nas membranas mucosas e


Imagem não no parênquima cerebral.
• TC sem contraste: hiperdensas ± Ca ++ esparsas
• RM: aspectos variáveis A irradiação craniana pode causar dano endotelial
vascular e induzir o desenvolvimento de lesões caverno
o Em "pipoca" com níveis líquido-líquido, halo de
sas múltiplas ou similares à telangiectasia no parênqui
hemossiderina
o "Pontos pretos" multifocals com artefatos de ma cerebral. É típico que pacientes com telangiectasias
süsceptibilidade magnética capilares induzidas por radioterapia se apresentam com
• ASD usualmente negativa convulsões alguns anos após a RxT. A média de idade da
apresentação é de 11 a 12 anos, e a média do período de
latência é próxima dos 9 anos.
Telangiectasia capiiar Genética. Não foram identificadas mutações genéticas.
Terminologia
Uma telangiectasia capilar cerebral (TCC) é um grupa Patologia
mento de vasos aumentados de calibre, de paredes finas, Localização e tamanho. As TCCs podem ocorrer em qual
lembrando capilares. Os vasos sào rodeados e separados quer lugar do SNC. A ponte, o cerebelo e a medula espinal
são os locais mais comuns (Fig. 7-44). As lesões solitárias
por parênquima cerebral normal.
são mais comuns que as múltiplas. Embora a telangiecta
Etiologia sia capilar "gigante" ocorra, a grande maioria das TCCs
Conceitos gerais. Embora sua patogênese exata seja desco são pequenas e menores que 1,0 cm de diâmetro.
nhecida, as telangiectasias capilares são, provavelmente, Patologia macroscópica. A maioria das TCCs são invisíveis
lesões congênitas. As TCCs foram relatadas com a telan à inspeção macroscópica. Apenas 5 a 10% das TCCs são
giectasia hemorrágica hereditária (THH), mas a maioria maiores do que 1,0 cm de diâmetro. Ocasionalmente, le-

7-43A Exame de TC sem con


traste demonstra uma massa de
densidade mista, parcialmente
calcifícada ^3 associada com

modificações atróficas modera


damente graves no fiemisfério
cerebeiar direito.
7-43B Ponderação em TI
mostra que a lesão B é muito
fieterogènea com componente
cístico e sólido, diferentes in-
tensidades de sinal e flow void
proeminente B.

7-43C Ponderação em T2
mostra proeminente hipointen-
sidade por presença de hemos
r '«t.v \ siderina B cercando cavidades
hiperintensas contendo líquido

^> 7-430 Aquisição em Ti pós-


-coniraste com saturação mostra
que parte do componente de
aspecto sólido demonstra realce
lobulado B. Uma veia de dre
nagem proeminente também
sofre realce B. A maioria das
MCCs demonstra realce mínimo
ou ausente; então, este caso foi
considerado uma variante.

^ D
168 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

sões com até 2.0 cm podem ocorrer. Elas podem ser vistas Apresentação. A maioria das TCCs é assintomática e des
como áreas mal definidas de descoloração rosa ou em tons coberta incidentalmente. Alguns poucos casos com cefa-
de marrom no parênquima (Fig. 7-45). leia, vertigem e zumbido foram relatados.
Características microscópicas. Um grupo de capilares dila História natural. As TCCs são lesões quiescentes que não
tados, com algum grau de ectasia, mas, a exceção disso, sangram. Casos muito raros de comportamento agressivo
de aspecto normal, interpostos ao parênquima cerebral é foram relatados.
característico (Fig. 7-46). A menos que mistas a outras
Opções de tratamento. As TCCs isoladas não necessitam de
malformações (como angioma cavemoso), as TCCs não tratamento. O tratamento das lesões mistas é determinado
sangram e não calcificam. Gíiose e depósitos de hemossi-
derina estão ausentes. pela lesão associada.

Imagem
Aspectos clínicos Características gerais. Já que o parênquima cerebral normal
Epidemiologia. As telangiectasias capilares são o segundo
está interposto entre os capilares dilatados da TCC, não há
tipo mais comum de malformação vascular cerebral, re efeito de massa presente. A menos que elas sejam histolo-
presentando entre 10 a 20 % de todas as malformações
gicamente mistas a outras MCVs (como malformação ca
vasculares cerebrais. Telangiectasias capilares de mucosa
vernosa), as TCCs carecem de edema, não incitam gliose
e de pele são ainda mais comuns do que as telangiectasias
adjacente e não apresentam hemorragias ou calcificações.
cerebrais.
Achados na TC. TC com e sem contraste são normais.
Aspectos demográficos. As TCCs podem ocorrer em qual
Achados na RM. As TCCs são imperceptíveis nas ima
quer idade, mas o pico de apresentação está entre 30 a 40
anos. Não há predileção por gênero. gens de RM convencionais pré-contraste. As aquisições
em TI são, em geral, normais (Fig. 7-47A). As grandes

7-44 Ilustração demonslra


uma telangiectasia capilar ponti-
na S] com minúsculos capilares
dilatados interpostos ao tecido
normal.
7-45 Espécime de autópsia de
monstra uma grande telangiecta
sia capilar pontina ES. Observe
que as fibras pontinas transversas
[S passam através da lesão
(Cortesia de B. Horten, MD.)

7-46A Fotografia focada da


macroscopia de uma telangiecta
sia capilar mostra inúmeros focos
róseos na SB subcortical
devido aos capilares aumentados
de calibre.
7-466 Fotomicrografia de alta
magnificação do mesmo caso
demonstra muito bem os capila
res alargados de paredes finas,
preencfiidos por sangue, que são
3 marca da telangiectasia capilar.
Observe a SB normal corada de
azul entre os vasos (corado por
Luxolfast blue). (Cortesia de P.
Burger, MD.)
170 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

7-48 Série de aquisições em T2" 6RE demonstra uma hipointensidade 7-49 Aquisições em TI pós-contraste axiais (acima) e coronals (abaixo)
focai subcortical em formato de cunha ES no lobo parietal esquerdo. mostram que a lesão B realça de uma maneira "escovada". Uma veia de
drenagem centrai proeminente está presente B3. Os achados de imagem
são característicos da telangiectasia capilar (compare com a Fig. 7-46).

TCCs podem demonstrar uma discreta hiperintensidade geral, encontrados na dura e nos seios venosos, e não no
pontiihada nas ponderações em T2/FLA1R (Figs. 7-47B e parênquima cerebral.
7-47C), mas as lesões pequenas costumam ser invisíveis. As malformações vasculares induzidas pela radio-
As aquisições em T2* GRE, SWI são as melhores terapia podem ocorrer e são vistas como "pontos pretos
para demonstrar a TCC. Como o fluxo sangüíneo no inte com artefatos de susceptibilidade magnética" multifocals
rior dos capilares dilatados é bastante lento, a oxi-hemo- nas seqüências T2* (ORE, SWI) (Fig. 7-50). A maioria
globina é convertida em desoxi-hemoblobina e é visível se trata de malformações cavernosas com micro-hemorra-
como uma hipointensidade acinzentada pouco definida gias e não de telangiectasias capilares.
(Figs. 7-47D e 7-48).
As TCCs demonstram discreto realce pontilhado
TELANGIECTASIAS CAPILARES
ou "escovado" e indefinido nas aquisições em TI pós-
-contraste (Figs. 7-47E e 7-49). Lesões maiores podem Patologia
demonstrar um foco linear de forte realce em seu interior, • Grupo de capilares dilatados de paredes finas
o Cérebro normal interposto entre os canais vasculares
representando a veia de drenagem coletora. • Podem ser encontradas em todo o SNC
Como as TCCs estão entremeadas a tratos de substân
o Ponte, cerebelo e medula espinal são os locais mais
cia branca normais, a DTl não demonstra deslocamento
c o m u n s
ou interrupção e não são identificadas alterações de aniso-
tropia fracionada (Fig. 7-47F). Aspectos clínicos
• 10 a 20% de todas as malformações cerebrovasculares
Diagnóstico diferencial • Todas as idades; pico = 30 a 40 anos
• Raramente sintomático
Devido ao seu leve realce nas aquisições em TI pós-con o A maioria é descoberta incidentalmente em
traste as TCCs são freqüentemente confundidas com neo exames de imagem
plasias; contudo, elas não exibem efeito de massa ou edema
Imagem
circunjacente. A combinação da perda da intensidade de si • TC sem contraste e TC com contraste são usualmente
nal em T2* e realce com padrão "escovado" em uma lesão
normais
que não é digna de nota nas sequências-padrào, facilmente • RM
distingue a TCC da neoplasia metastática ou primária. o T1/T2 usualmente normais
As anomalias do desenvolvimento e malformações o T2''' é a sequência-chave (hipointensidade
cavernosas podem ser histologicamente mistas às TCCs. cinza-escuro)
Os hemangiomas capilares são neoplasias verdadeiras o Realce de aspecto "escovado" no Tl pós-contraste
fonnadoras de vasos, causam efeito de massa e são, em
Malformações vasculares 171

7-50A Um paciente com história de irradiação cerebral total cinco 7-50B Aquisição em T2* SWI do mesmo paciente demonstra inúmeras
anos antes devido a um astrocitoma anaplásico grau 11! da classificação micro-hemorragias puntiformes. Os achados são consistentes com telan
da OMS desenvolveu convulsões. Aquisição em T2°6RE demonstra múlti giectasias capilares induzidas pela radiação.
plas hipointensidades com artefatos de susceptibilidade magnética ES.

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8
Anatomia arterial e acidentes
vasculares cerebrais

Anatomia arterial normal e distribuições vasculares.... 173 das, voltaremos então nossa atenção para etiologia, pato
Artéria carótida interna intracraniana 173 logia e aspectos de imagem dos AVCs arteriais.
O círculo de Willis 178
Artéria cerebral anterior 180
Artéria cerebral média 181
Artéria cerebral posterior 181 Anatomia arterial normal e
Sistema vertebrobasilar 183
distribuições vasculares
Infartos arteriais 184
Infarto-isquemia cerebral aguda 184 Os clínicos freqüentemente discutem a vascularização in
Infartos cerebrais subagudos 196 tracraniana em duas partes, a "circulação anterior" e a "cir
infartos cerebrais crônicos 198 culação posterior". A circulação anterior consiste na arté
infartos embólicos múltiplos 198 ria carótida interna (ACl) intradural e seus ramos somados
infartos lacunares 202 às suas duas tenninações, a artéria cerebral anterior (ACA)
infartos de zonas de transição ("zonas de fronteira") 205
e a artéria cerebral média (ACM). As artérias comunicante
Dano hipóxico-isquêmico 207
anterior (AComA) e comunicante posterior (AComP) tam
AV C s diversos 213 bém são consideradas partes da circulação anterior.
Sindrome da hiperperfusão cerebral 213
A circulação posterior é composta pelo tronco verte
AV C s e m d i s t r i b u i ç õ e s v a s c u l a r e s i n c o m u n s 2 1 3
brobasilar e seus ramos, incluindo suas bifurcaçôes termi
nais nas duas artérias cerebrais posteriores (ACPs).
Acidente vascular cerebral (AVC) é um termo ge Começaremos nossa discussão com a circulação an
t e r i o r. C o n s i d e r a r e m o s b r e v e m e n t e a a r t é r i a c a r ó t i d a i n
nérico que descreve um evento clínico, caracterizado
terna e seus segmentos, ramos, variações importantes e
por início súbito de um déficit neurológico. Contudo,
os A VCs não são Iodos iguais! As síndromes dos AVCs anomalias e, então, delinearemos a anatomia do círculo de
têm heterogeneidades em seu significado clínico e fisio- Willis. As três artérias cerebrais principais (i.e., anterior,
média, posterior) serão discutidas a seguir juntamente
patológico, que se refletem em sua patologia macroscó
com seus ramos, variações e distribuição vascular. Con
pica e nos aspectos de imagem. Isquemia-infarto arterial
- o foco principal deste capítulo - é de longe a causa cluiremos esta seção com a anatomia normal do sistema
v e r t e b r o b a s i l a r.
mais comum de AVC, correspondendo a 80% de todos
os casos,

Os 20% restantes são, em sua maioria, hemorrági Artéria carótida interna intracraniana

cos, sendo divididos em hemorragia intracraniana "es As ACls intracranianas seguem um curso complexo com
pontânea" (HIE), hemorragia subaracnóidea (HSA) não seis segmentos retos verticais ou horizontais que são co
traumática e oclusões venosas. Tanto HIE quanto HSA nectados por três curvas ("joelhos"). As ACIs são dividi
foram discutidas extensivamente nos capítulos anterio das em diversos segmentos. Por convenção, a ACl exlra-
res, e as oclusões venosas serão discutidas no capítulo craniana - que não possui ramos nomeados no pescoço
- é designada como segmento Cl (cervical). A ACl cer
seguinte.
Começaremos com uma breve revisão das artérias vical será discutida em detalhes juntamente com outras
intracranianas normais, Com essas bases anatômicas sóli artérias craniocervicais extracranianas (Capítulo 10).
174 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

8-1 Ramos intracranianos da ACI. O segmento C2 (petroso) S] é lon


go e com morfologia em L. O segmento C3 ÍS é curto e está localizado to C4 (cavernoso) SI possui tanto joelho posterior S quanto anterior
entre C2 e a ACI cavernosa {C4) [/&]. CS BS é o último segmento extra ES. Juntos eles formam o "sifão" carolídeo.
dural. Os joelhos posterior B e anterior E2 de C4 estão demonstrados.

subsegmentos conectados por dois "joelhos" (Fig. 8-2).


Anatomia normal Em ordem, estes são (1) um curto segmento posterior
Segmento C2 (petroso) da ACI. O segmento C2 (petroso) ascendente (vertical), (2) o joelho posterior, (3) um seg
está contido no interior do canal carolídeo do osso tem mento horizontal mais longo, (4) um joelho anterior e (5)
um segmento anterior vertical ascendente (subclinóideo).
poral e tem morfologia em L (Fig. 8-1). Quando adentra o
crânio, na abertura exocraniana do canal carotídeo, a ACI Quando a ACI se dirige anteriormente, ela também cursa
se localiza logo à frente da veia jugular interna. Nesse medialmente. Como conseqüência, nas imagens antero-
ponto, a ACI passa de uiti estado relativamente móvel (no posteriores ou coronais, o joelho posterior tem posição
lateral ao Joelho anterior.
pescoço) para um relativamente fixo (no osso), sendo o
local onde está mais vulnerável a forças de cisalliainento O nervo abducente (NC VI) tem posição inferolateral
traumático e a lesões por dissecçào. à ACI e é o único nervo craniano que se localiza no inte
O segmento C2 da ACI tem uma pequena porção ver rior do próprio SC (os outros estão na parede durai lateral).
O segmento C4 da ACI tem dois ramos importantes
tical, seguida de um "joelho", onde, em frente à cóciea,
toma direção anteromedial e, após, segue com uma porção (Fig. 8-1). O tronco meningo-hipofísário se origina do
horizontal mais longa. A ACI emerge do canal carotídeo joelho posterior suprindo a glândula hipóflse, o tentório e
a dura clival. O tronco inferolateral (TIL) se origina do
no ápice petroso.
O segmento C2 possui dois pequenos, mas importan aspecto lateral da ACI intracavemosa e supre nervos cra
tes ramos. A artéria vidiana. também conhecida como
nianos e a dura do SC. Através de ramos que passam por
meio do forame basilar adjacente, o TIL se anastomosa
artéria do canal pterigóideo, anastomosa-se com ramos
da artéria carótida externa (ACE). A artéria caroticotim- livremente com ramos da ACE que se originam da fossa
pterigopalatina. Essa importante conexão entre as circula
pânica é um pequeno ramo da ACI que supre a orelha
média. ções carotídeas interna e externa pode fornecer uma fonte
de fluxo sangüíneo colateral em casos de oclusâo da ACI.
Segmento C3 {lacerum) da ACI. O segmento C3 {lacerum)
Segmento c5 (clinóideo) da ACI. O segmento C5 (clinóideo)
é um segmento pequeno que se localiza logo acima do
é um curto segmento interdural que se localiza entre os
forame lacerado e se estende do ápice petroso para o seio
anéis durais proximal e distai do SC. O segmento C5 ter
cavemoso (SC). O segmento C3 é coberto pelo gânglio
mina quando a ACI deixa o SC e entra na cavidade cra
trigeminal do NC V e não possui ramos. niana adjacente ao processo clinoide anterior. O segmento
Segmento C4 (cavernoso) da ACI. O segmento C4 (caver- C5 não possui ramos importantes, a menos que a artéria
noso) é um dos mais importantes e complexos de todos oftálmica se origine no interior do SC e não no segmento
os segmentos da ACI. O segmento C4 da ACI tem três intracraniano proximal (C6).
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 175

Segmento C6 (oftálmico) da ACI. O segmento C6 (oftálmico) A artéria coróidca anterior (ACorA) se origina 1
é o primeiro segmento da ACI que se localiza inteiramente ou 2 mm acima da AComP com curso inicialmente pos
no espaço subaracnóideo. Esse segmento se estende a par teromedial, mudando o seu rumo então lateralmente na
tir do anel durai distai, logo abaixo da origem da AComP. cisterna suprasselar para entrar na fissura coróidea do
O segmento C6 possui dois importantes ramos. A ar corno temporal. O território da AcorA é recíproco com o
téria oftálmica (AO) se origina do aspecto anterossupe- das artérias coróideas posteromedial e posterolateral (am
rior da ACI, dirigindo-se, após, anteriormente através do bas ramos da ACP), mas em geral inclui o lobo temporal
canal óptico, junto com o NC II. A AO possui extensas mediai, núcleos da base e braço infralenticular da cápsula
anastomoses com ramos da ACE no interior e em tomo da interna.
órbita e na glândula lacrimal. A artéria hipofisária supe
rior nasce do aspecto posterior do segmento C6 da ACI e Anomalias e variantes
supre o lobo anterior da hipófise (adeno-hipóflse), a haste Três importantes anomalias vasculares da ACI devem ser
infundibular, bem como o quiasma óptico. reconhecidas nos estudos de imagem: uma ACI aberrante
Segmento C7 (comunicante) da ACI. O segmento Cl {comu- (ACIA). uma artéria estapedial persistente e uma anasto
mose carótido-basilar embrionária.
nicante) é o último segmento da ACI e se estende desde
logo abaixo da origem da AComP até a bifurcaçao termi ACI aberrante. Uma ACIA é uma anomalia vascular con
nal da ACI em ACA e ACM. Como possui curso posteros- gênita que adentra o aspecto posterior da cavidade da ore
superior, a ACI passa entre os nervos óptico e oculomotor. lha média, a partir de sua porção mais inferior, envolven
O segmento mais distai da ACI tem dois importantes do o promontório coclear. enquanto ele cruza a cavidade
ramos. A AComP une a circulação anterior à posterior. da orelha média (Fig. 8-3). A ACI finalmente retoma seu
Diversas artérias perfurantes se originam da AComP para curso normal esperado quando se une à margem posterior
suprir estruturas basais cerebrais, incluindo o hipotálamo. e lateral da ACI petrosa horizontal.

8-3 Figura em corte axial


iluslrando uma ACI aberrante
clássica B se originando com o
aspecto posterior do promontório
da cóciea e cruzando ao longo da
orelha média para se unir nova
mente à ACI em seu segmento
petroso horizontal. Uma estenose
está freqüentemente pre
sente no ponto de reconexão.
8-4 Corte axial através da
orelha média de imagem fonte
de ATC demonstrando uma ACIA
ES descrevendo um "giro" so
bre o promontório coclear.

8-5 TC com corte coronal do


osso temporal ao nível da janela
oval demonstrando uma ACIA
ea como uma "massa" de
partes moles, de contornos bem
definidos, localizada no promon
tório coclear, simulando um pa
raganglioma, glomo timpanico.
8-6 ARM no piano coronal
demonstrando uma ACI direita
normal. Uma ACI esquerda aber
rante cursa mais lateralmente
com ângulo agudo característico
e com morfologia que lembra
um "7" B.
176 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

8-7A Achados caractehslicos da persistência da artéria estapediai 8-7B TC óssea do mesmo paciente demonstrando lorame oval esquer
(PAE) estão ilustrados. TC óssea em corte axial do osso temporal de do normal BI e ausência do lorame espinhoso (FE) esquerdo B. O lo
monstrando o segmento timpânico anterior alargado do canal do nervo rame oval IS e o FE O à direita estão normais. Ausência do FE e alar
facial B. gamento do segmento anterior do NC VII são patognomônicos de PAE.

Os pacientes com uma ACIA podem apresentar zum manho do segmento anterior (timpânico) do nervo facial
bido pulsátil. Uma ACIA é identificada no exame otoscó- (Fig. 8-7A). Na porção intracraniana, a PAE se toma a
pico como uma massa retrotimpânica com aspecto vascu artéria meníngea média (AMMed).
lar. que se localiza no mesotímpano anteroinferior. Uma Os achados de imagem patognomônicos são (1) a au
ACIA simula os aspectos clínicos do paraganglioma (glo- sência do forame espinhoso (porque a AMMed se origina
mo timpânico, glomo jugular). A biópsia pode resultar em da PAE, e não da ACE) (Fig. 8-7B) e (2) um segmento tim
AVC ou hemorragia fatal, motivo pelo qual essa anomalia pânico alargado do nervo facial. A PAE está freqüentemen
deve ser reconhecida pelo radiologista e comunicada ao te - mas não invariavelmente - associada a uma ACIA.
clínico de referência.
Anastomose carótido-basilar embrionária. No início do de
As características de uma ACIA na TC são patogno-
senvolvimento embrionário, conexões se formam entre a
mônicas. A TC óssea em cortes axiais demonstra uma le
carótida primitiva e as duas artérias neurais longitudinais
são tubular que cruza a cavidade da orelha média, com
(precursoras fetais da artéria basilar). Com exceção da
direção de posterior para anterior (Fig. 8-4). As imagens
artéria comunicante posterior, todas essas conexões ar
coronais mostram uma estrutura ovalada de margens bem
teriais primitivas regridem e então desaparecem quando
definidas, com densidade de tecidos moles disposta sobre
a circulação cerebral definitiva é formada. Se houver fa
o promontório coclear (Fig. 8-5).
lha nessa regressão, ocorre persistência da anastomose
A angiografia (ASD, ATC, ARM) mostra que a ACIA
carótido-basilar (PACB) ("primitiva" ou "embrionária")
tem um curso mais posterolateral que o normal. Uma dis
tinta angulaçào que lembra um "7" está freqüentemente pós-natal.
Há quatro tipos de PACB. Cada um é reconhecido e
presente, junto com a modificação em seu contorno e cali nomeado de acordo com suas relações anatômicas com
bre (aspecto "comprimido") antes de o segmento retomar
nervos cranianos ou espinais específicos. De superior
seu curso normal (Fig. 8-6).
para inferior, são eles: artérias trigeminal persistente (NC
Persistência da artéria estapediai. A persistência da artéria V), artéria ótica persistente (NC VIII), artéria hipoglossal
estapediai (PAE) é uma anomalia vascular congênita rara persistente (NC XII) e artéria intersegmentar pró-atlantal
na qual a artéria estapediai embrionária persiste no período (Cl-3)(Fig.8-8).
p6s-natal. A maioria dos casos de PAE é descoberta inci- Artéria trigeminal persistente. A artéria trigeminal
dentalmente em exames de imagem ou durante cirurgia. persistente (ATP) é a mais comum das persistências da
A PAE se origina do segmento C2 (petroso) da ACI anastomose carótido-basilar e é identificada em O, I a 0,2%
no seu joelho, entre os segmentos vertical e horizontal. dos casos. Dois tipos de ATP são conhecidos. No Saltzman
A PAE passa através ási footplate do estribo e dobra o ta- tipo 1, a ATP supre a artéria basilar (AB) distai, as AComPs
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 177

8-8 Figura mostrando as


a n a s t o m o s e s e n t r e a A C I e a AV,
A AComP [S é uma conexão
normal. A ATP S] conecta a ACI
cavernosa à AB. A PAG ES co
necta a ACI petrosa a AB através
do CAI. A PAH B conecta a ACI
cervical à AV através do canal do
hipoglosso. A artéria pró-atlanlal
conecta a ACI cervical à AV.
8-9 Aquisição ponderada em
T2 no plano axial demonstrando
uma grande ATP B cursando
em torno do aspecto posterolate
ral da sela turcica para conectar a
ACI cavernosa B à AB B3.

8-10 RM ponderada em TI no
plano sagital demonstrando o
clássico aspecto de «tridente de
Netuno» da ATP. O «tridente» é
(ormato pelos segmentos ascen
dente ES e horizontal E9 da
ACI cavernosa e pela ATP B.
8-11 ARM no plano sagital
demonstrando o "tridente de Ne
tuno" completo com a ATP B
conectando a ACI B a AB B.

8-12A TC óssea no plano


axial demonstrando o canal do
hipoglosso direito normal B.
O canal do hipoglosso esquerdo
B é quase duas vezes o seu
tamanho. As margens corticais
do canal do hipoglosso alargado
B estão intactas.
8-12B ARM coronal em 30
com técnica de MIP do mesmo
paciente demonstrando artérias
carótidas direita e esquerda
normais B. Toda a circulação
posterior é suprida pela artéria
hipoglossal persistente B, que
acompanha o NC XII através do
canal do hipoglosso alargado.
178 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

8-13 Ilustração demonstrando o círculo de Willis com AComA ES e 8-14 ARM normal com visão submentovértice demonstrando AComA
as AComPs Bi conectando a circulação anterior (carotídea) à posterior B, pequenas AComPs ES e a bifurcação basilar com grandes segmen-
(vertebrobasilar) tos PI da ACP formando um polígono de Willis "equilibrado".

estão ausentes e a AB proximal é hipoplásica. No Saltzman mum de PACB, com uma prevalência estimada de 0,03 a
tipo 2, a ATP supre as artérias cerebelares superiores, en 0,09%. A PAH se origina do aspecto posterior da ACI cer
quanto as ACPs são supridas por AComPs patentes. vical, em geral ao nível de C1 -C2 e cursa juntamente com
Quando se dirigem posteriormente, as ATPs podem o NC XII, através do canal do hipoglosso para se anasto
cursar tanto lateral quanto medialmente à sela ttircica. Em mosar com a artéria basilar (Fig. 8-8). As artérias verte
tíltima instância, a ATP cursa posteromedialmente, com bral e comunicante posterior ipsilaterais são hipoplásicas.
primindo a glândula hipofisária e penetrando no dorso Uma PAH tem a mais alta incidência de associação
de sela, antes de se anastomosar com a AB. E importante com aneurismas de todas as PACBs.
identificar essa variante antes da cirurgia transesfenoidal Os exames de imagem demonstram um vaso calibro
para adenomas hipofisârios. so que se origina posteriormente à ACI cervical distal e
Os achados de imagem da ATP demonstram um se curva posteromedialmente por meio de um canal do
vaso calibroso que conecta a AGI cavernosa com a AB. hipoglosso alargado para se unir à AB intracraniana logo
Em 60% dos casos, a ATP cursa posteromedialmente, acima do forame magno (Fíg. 8-12).
correndo através do dorso da sela para se unir com a AB Artéria pró-atlantal (intersegmentar). Uma artéria
(FIg. 8-9). Em 40% dos casos, a ATP cursa posterolate- pró-atlantal, também chamada de artéria intersegmentar
ralmente junto com o nervo trigeminal descrevendo uma pró-atlantal (AIP), é a mais caudal de todas as PACBs
curva em tomo e não através do dorso da sela. (Fig. 8-8). Dois tipos são conhecidos: a AIP do tipo 1
se origina da ACI cervical ao nível de C2-C3 (ou mais
Imagens de RM no plano sagital e de ARM demons
tram a configuração em "tridente de Netuno" (Fig. 8-10), baixo), cursando então posterossuperiormente para se
(Fig. 8-U). Quase um quarto de todas as ATPs têm anorma unir à artéria vertebral suboccipital antes de se dirigir
lidades vasculares associadas, tais como aneurismas sacula- para cima por meio do forame magno. A AIP do tipo II
res, moya-moya, coarctação de aorta e lenestrações arteriais. segue um curso similar, mas se origina da artéria caró
Persisfência da artéria ótica. A incidência pós-natal tida externa.

d e PA C B e s t á i n v e r s a m e n t e r e l a c i o n a d a c o m s u a o r d e m
de desaparecimento. A artéria ótica primitiva é a primei O círculo de Willis
ra das anastomoses carótido-basilares fetais a regredir e, O círculo de Willis (CW) é um grande anel anastomóti-
consequentemente, é a mais rara dessas anomalias inco- co arterial que contorna as estruturas cerebrais basais e
muns. Apenas alguns poucos casos de persistência da ar conecta as circulações anterior e posterior. Caso ocorra
téria ótica (PAO) foram convincentemente demonstrados. uma oclusão arterial, o CW é a fonte mais importante
Persistência da artéria hipoglossal. A persistência de fluxo sangüíneo potencial colateral para o território
da artéria hipoglossal (PAH) é o segundo tipo mais co ocluído.
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 179

Anatomia normal mediana do corpo caloso. A AComP origina diversos ra


O CW tem 10 componentes: duas ACIs, dois segmentos mos perfurantes (artérias talamoperfurantes anteriores)
proximais ou horizontais (Al) da artéria cerebral anterior que suprem o tálamo.
(ACA), a artéria comunicante anterior (AComA), duas ar
Variantes e anomalias
térias comunicantes posteriores (AComPs), a artéria basi
lar (AB) e dois segmentos proximais ou horizontais (PI) As variantes do CW são a regra, não a exceção. Um ou
das artérias cerebrais posteriores (ACPs) (Fig. 8-13), (Fig. mais componentes do CW estão hipoplásicos ou ausentes
8-14). A artéria cerebral média (ACM) não faz parte do CW. na maioria dos casos. As variantesAl ePl estão descritas
adiante. Uma AComP hipoplásica ou ausente é a variante
Territórios vasculares do CW mais comum e ocorre em um quarto a um terço de
todos os casos. Uma AComA ausente, duplicada ou com
Importantes ramos perfurantes se originam de todas
as partes do CW e suprem a maioria das estruturas ce múltiplos canais é vista em 10 a 15% dos casos. As va
rebrais basilares. Aqueles que se originam da AComA e riações anatômicas do CW podem causar assimetrias de
da AComP serão discutidos a seguir. Ramos perfurantes fluxo significativas entre as ACIs direita e esquerda ou
oriundos das ACAs, ACMs, ACPs e AB também serão redução do volume na AB nos estudos de ARM e perfu-
descritos, junto com a anatomia de suas artérias genitoras. são por RM (pRM); elas não devem ser mal-interpretadas
A AComA possui artérias perfurantes que passam su como doença vascular.
periormente para suprir o hipotálamo anterior e o quiasma Em contraste às variantes da normalidade, que são co
óptico, joelho do corpo caloso, giro do cíngulo e os pila muns, as anomalias verdadeiras do CW são raras. Quando
res dos fórnices. Ocasionalmente, uma artéria perfurante presentes, elas estão associadas a uma alta prevalência de
dominante se origina da AComA e é chamada de artéria aneurismas saculares.

8-15 Ilustração demonstrando


a relação da ACA com o cérebro
subjacente. O segmento A2 Si
ascende em frente ao terceiro
ventriculo. O segmento A3 se
curva em torno do joelho do corpo
caloso. As artérias pericaiosa \3\
e calosomarginal E3 são os prin
cipais ramos terminais da ACA.
8-16 MIP de ATC na linha mé
dia do plano sagital demonstran
do os segmentos A2 de ambas as
ACAs El ascendendo na fissura
inler-hemisférica em frente ao
terceiro ventriculo, com os seg
mentos A3 B se curvando em
torno do joelho do corpo caloso.

8-17 Visão AP da carótida


interna esquerda normal em ASD
mostrando a ACA "peram-
bulando" gentilmente de lado a
lado através da linha média na
fissura inter-hemisférica.
8-18 O território vascular da
ACA (verde) inclui os dois terços
anteriores da superfície mediai
do hemisfério El com uma fina
faixa de cortex sobre o topo do
vértice dos hemisférios B e
uma pequena área em cunha ao
longo do lobo frontal inferome-
dial S.
180 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

Artéria cerebral anterior Segmento A2 (vertical). O segmento A2 ou vertical da ACA


A artéria cerebral anterior (ACA) é o menor e mais mediai cursa supcriomiente na fissura inter-hemisférica se esten
ramo terminal da ACI supraclinóidea. A ACA corre em dendo desde a junção A1 -AComA ao rostro do corpo caloso
sua maior parte na fissura inter-hemisférica e possui três (Fig. 8-16), (Fig. 8-17). O segmento A2 tem dois ramos cor-
segmentos definidos (Fig. 8-15). ticais, as artérias orbitofrontal e frontopolar, que suprem a
superfície inferior e o aspecto inferomedial do lobo frontal.
Anatomia normal Segmento A3 (caloso). O segmento A3 da ACA se curva
Segmento Al (horizonal da ACA). O primeiro segmento da anteriormente em tomo do joelho do corpo caloso, e então
ACA, também chamado de horizontal ou Al, estende-se se divide nos dois ramos terminais, as artérias pericalosa
medialmente sobre o quiasma óptico e nervos em dire e calosomarginal. A artéria pericalosa é o mais calibroso
ção à linha média, onde se une à ACA contralateral por dos dois ramos, cursando posteriormente entre a superfí
meio da artéria comunicante anterior (AComA). Dois cie dorsal do corpo caloso e o giro do cíngulo. A artéria
importantes grupos de ramos se originam do segmento calosomarginal cursa sobre o giro do cíngulo no interior
Al. As artérias lentículoestríadas mediais passam su do sulco cingulado (Fig. 8-15).
periormente através da substância perfurada anterior para
suprir os núcleos da base mediais. A artéria recorren Território vascular
te de Heubner se origina do segmento Al distai ou A2 Os ramos corticais da ACA suprem os dois terços anterio
proximal da ACA e se curva posteriormente sobre a ACA res dos hemisférios mediais e corpo caloso, a superfície
horizontal, unindo-se, então às artérias lenticuloestriadas inferomedial do lobo frontal e os dois terços anteriores da
mediais para suprir os núcleos da base inferomediais e convexidade cerebral adjacente à fissura inter-hemisférica
braço anterior da cápsula interna. (Flg. 8-18).

8-19 Figura com visão sub-


mentovértice demonslíando
a ACM e a sua relação com as
estruturas adjacentes. Observe o
segmento horizontal (Ml) SI e
o joelho da biíurcaçào nos
ramos M2.
8-20 Ilustração no plano co
ronal demonstrando as artérias
lenticuloestriadas laterais
os segmentos M2 sobre a insula
os segmentos M3 HJ
correndo lateralmente à fissura
silviana e os ramos M'l (corticais)
E2 cursando sobre a superfície
lateral do hemisfério.

8-21 Visão submenlovértice


de estudo de ARM demonstrando
o segmento Ml B, joelho e bí-
furcação B, os segmentos M2
cursando sobre a insula 1^, os
segmentos M3 BI virando la
teralmente para deixar a fissura
silviana e seguir seu curso sobre
a superfície lateral do hemisfério.
8-22 O território vascular da
ACM (vermelho) supre a maior
parte da superfície lateral do
hemisfério El, a porção an
terior do lobo temporal El e
o aspecto inferolateral do lobo
frontal ESI
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 181

Os ramos penetrantes da ACA (sobretudo as artérias mificam sobre a superfície lateral do hemisfério cerebral
lenticuloestriadas inediais) suprem os núcleos da base me- (Fig. 8-22). Há variações consideráveis no padrão de ra
diais, joelho do corpo caloso e braço anterior da cápsula mificação da ACM cortical.
interna.
Território vascular
Variantes e anomalias A ACM possui o mais vasto território vascular das artérias
Uma variante rara é a persistência da artéria oftálmica cerebrais principais. A ACM supre a maioria da superfície
primitiva (PACP). que, mais do que uma persistência da lateral do hemisfério cerebral com exceção de uma fina
anastomose carótido-basilar (PACB), é uma anomalia ver faixa no vértice (suprida pela ACA) e do lobo occipital e
dadeira da ACA. Na PACP. uma ACA proximal e hipopiá- do aspecto posteroinferior do lobo parietal (supridos pela
sica toma um longo curso anterior e inferomedial ao longo ACP) (Fig. 8-22). Seus ramos penetrantes suprem a maio
do trato olfatório ipsilateral, logo acima da lâmina cribrifor- ria das estruturas cerebrais basais laterais.
me. Então ela descreve uma curva acentuada mudando sua
direção posterossuperiormente para continuar como a ACA Variantes e Anomalias
normal distai. Em geral, as PAOPs estão associadas a aneu- Há uma larga variabilidade no padrão de ramificação dos
risma sacular, com freqüência na região da curva acentuada. vasos corticais da ACM, mas poucas anomalias verdadei
Duas anomalias da ACA importantes, porém inco- ras, Em contraste ao complexo ACA-AcomA, a hipopla-
muns, são um segmento Al infraóptico e a ACA ázigos. sia e a aplasia da ACM são raras.
Uma Al ínfraóptíca ocorre quando o segmento horizontal A duplicação da origem da ACM é rara. Nela, dois
passa abaixo (e não acima) do nervo óptico. A A1 infraóp- ramos da ACM se originam separadamente do segmento
tica está associada a uma alta prevalência (40%) de aneu- terminal da ACl e então se fundem para formar um anel
rismas. Uma única ACA na linha média ou ACA ázigos é arterial. ACMs fenestradas e acessórias foram descritas.
vista juntamente com o espectro das holoproscncefalias.
Artéria cerebral posterior
Artéria cerebral média As duas artérias cerebrais posteriores (ACPs) são os ra
A artéria cerebral media (ACM) é o maior c mais lateral mos terminais principais da artéria basilar distai. Cada
ramo terminal da ACl supraclinóidea. A ACM tem quatro ACP tem quatro segmentos definidos (Fig. 8-23).
segmentos definidos.
Anatomia normal
Anatomia normal Segmento PI (pré-comunicante). O segmento PI da ACP
Segmento Ml (horizontal). O segmento M1 da ACM se es se estende lateralmente da bifurcação da AB para se unir
tende lateralmente desde a bifurcação da ACl em direção com a artéria comunicante posterior (AComP). O seg
à fissura silviana (cerebral lateral). A ACM se bi ou trifiir- mento P1 se localiza acima do nervo oculomotor (NC 111)
ca logo antes de entrar na fissura silviana (Fig. 8-19). e possui ramos perfurantes (as artérias talamoperfuran-
Os ramos mais importantes que se originam do seg tes posteriores) que cursam posterossuperiormente na
mento Ml são o grupo das artérias lenticuloestriadas la fossa interpeduncular para entrar na superfície inferior do
terais e a artéria temporal anterior. As artérias lenticu mesencéfalo.
loestriadas laterais suprem o putame lateral, o núcleo
Segmento P2 (ambiens). O segmento P2 se estende da jun
caudado e a cápsula externa (Fig. 8-20). A artéria tempo
ral anterior supre a "ponta" do lobo temporal. ção Pl-AComP, passando pela cisterna ambiens (perime-
sencefálica), enquanto corre posterolateralmente circun
Segmento M2 (insular). O tronco da ACM após a bifur dando o mesencéfalo. O segmento P2 se localiza sobre
cação gira posterossuperiormente na fissura silviana, se o tentório e sobre o segmento cisternal do nervo troclear
guindo suas suaves curvas (o "joelho" da ACM). Diversos (NC IV). Os dois principais ramos corticais - as artérias
ramos - segmentos M2 ou insulares da ACM - originam- temporais anterior e posterior - originam-se do seg
-se do tronco pós-bifurcação e se estendem sobre a super- mento P2 da ACP e passam lateralmente em direção à su
ficie da insula (Fig. 8-20). perfície inferior do lobo temporal (Fig. 8-23).
Diversos ramos menores, porém importantes, tam
Segmento M3 (opercular). Os ramos da ACM descrevem
bém têm origem no segmento P2 da ACP. As artérias ta-
uma volta no ou próximo ao topo da fissura silviana, cur
lamogeniculadas e as artérias perfurantes peduncula-
sando. então, lateral e abaixo da área em que os lobos res nascem do aspecto proximal do segmento P2 e passam
frontal, parietal e temporal se encontram ("opérculo"), en direta e superionnente ao mesencéfalo (Fig. 8-24).
cerrando assim a fissura silviana. Estes são os segmentos
A artéria coróidea posterior mediai (ACorP) e a
M3 ou operculares (Fig. 8-21).
ACorP lateral também se originam do segmento P2. A
Segmentos M4 (cortical). Os ramos da ACM se tornam os ACorP mediai se curva em tomo do tronco encefálico e

segmentos M4 quando deixam a fissura silviana e se ra cursa superomedialmente para entrar na tela coróidea e
182 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

no teto do terceiro ventriculo. A ACorP lateral entra no o terço posterior do hemisfério mediai e o corpo caloso e
ventriculo lateral e cursa junto com o plexo coroide, cur- a maior parte do plexo coroide (Fig. 8-26). Os ramos pe
vando-se em tomo do pulvinar do tálamo. A ACorP lateral netrantes da ACP são o principal suprimento vascular do
mantém uma relação recíproca com a artéria coróidea an mesencéfalo e do tálamo posterior.
terior (ACorA). um ramo da ACl.
Variantes e anomalias
Segmento P3 (quaorigeminal). O segmento P3 da ACP é um
Uma variação da normalidade comum é a origem "fetal"
pequeno segmento que se localiza inteiramente no interior da ACP. Nela, a ACP proximal se origina da artéria ca
da cistema quadrigeminal. Ele se inicia posteriormente ao
mesencéfalo e termina quando a ACP entra na tlssura cal- rótida interna, ao invés da bifurcação basilar. A origem
"fetal" da ACP é vista em 10 a 30%. Essa variante é facil
carina do lobo occipital (Fig. 8-25).
mente identificada na ATC, ARM e ASD.
Segmento P4 (calcarino). O segmento P4 termina no inte O tempo de trânsito vascular no território da ACP di
rior da fissura calcarina, onde se divide em dois troncos minui com o aumento da contribuição da circulação ante
terminais (Fig. 8-25). O tronco mediai dá origem à arté rior em relação á da circulação posterior. Sc uma grande
ria occipital medial, artéria parieto-occipitaU artéria AComP ou ACP "fetal" estiver presente de um lado, pode
calcarina e artérias espicnícas posteriores, enquanto o produzir uma substancial assimetria esquerda-direita nas
tronco lateral origina à artéria occipital lateral. imagens em perfusão. O conhecimento dessa variante
da normalidade comum é essencial, já que tal assimetria
Te r r i t ó r i o v a s c u l a r
pode simular uma patologia cerebrovascular.
A ACP supre a maior parte da superfície inferior dos he Uma rara, porém importante variante da ACP é a ar
misférios cerebrais, com exceção do ápice do lobo tempo téria de Percheron (APer). Nela. uma única artéria tala-
ral e do lobo frontal. Ela também supre o lobo occipital. moperfurante dominante se origina do segmento PI e supre

8-23 Ilustração com visão sub-


mentovérlice demonstrando os

segmentos da ACP e sua relação


com o mesencéfalo. Os segmen
tos PI SI, P2 (S, P3 SI são
mostrados. Os segmentos 9A
(ramos corticais) B se rami
ficam sobre os lobos occipital e
temporal inferior.
8-24 Ilustração lateral de
monstrando a ACP B acima da
artéria cerebelar superior SI e
abaixo do nervo oculomotor
Ramos perfurantes SI, coroi-
dais, B e corticais B da ACP
também estão demonstrados.

8-25 ARM com visão submen-


tovértice demonstrando a "volta"
posterior dos segmentos P2 das
ACPs B e o curso mediai dos
segmentos P3 B passando
posteriormente ao mesencéfalo.
Os ramos calcarinos e corticais P4
B estão mostrados.
8-26 O território da ACP (roxo)
inclui o lobo occipital, o terço
posterior da superfície mediai
do hiemisfério B e a superfície
posterolateral do fiemisfério
bem como quase toda a
superfície inferior do lobo tem
poral B.
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 183

o mesencéfalo rostral e os tálamos mediais bilateraímente até alcançar C2, onde ele inicialmente muda de direção
(Fig. 8-74). superolateralmente através do "L invertido" do forame
Com exceção da persistência da anastomose carótido- transverso e, então, vira para cima para passar através do
-basilar (ver anteriormente), anomalias verdadeiras da ACP forame transverso de Cl (Fig. 8-27). A artéria meníngea
são incomuns. Bifurcação precoce, duplicação e fenestração anterior e os ramos segmentares adicionais inominados
do segmento da ACP pré-comunicante (PI) foram descritas. emergem de V2.
Segmento V3 (extraespinal). O segmento V3 se inicia quan
Sistema vertebrobasilar
do a AV deixa o forame transverso de Cl. Ele se localiza
O sistema vertebrobasilar consiste em duas artérias ver no topo do anel de Cl se curvando posteromedialmente
tebrais (AVs), a artéria basilar (AB) e seus ramos. Quatro em torno da junção atlanto-occipital, antes de mudar de
segmentos da AV são identificados. Apenas um - o seg direção de maneira aguda anterossuperiormente para per
mento V4 - é intracraniano. furar a dura no forame magno. O único grande ramo de
V3 é a artéria meníngea posterior.
Anatomia normal
Segmento V4 (intradural). Uma vez que a AV se torna in
Segmento VI (extraósseq). Cada AV se origina da artéria
tradural, ela cursa superomedialmente posteriormente ao
subclávia ipsilateral e cursa posterossuperiormente para
divo e em frente à medula. Ela origina pequenas artérias
entrar no forame transverso de C6. Ramos segmentares
inominados se originam de VI para suprir a musculatura espínais anteriores e posteriores e ramos perfurantes
medulares. A artéria cerebelar posterolnferior (ACPI)
cervical e a medula espinal cervical baixa.
se origina da AV distai, e se curva em tomo/sobre a tonsila
Segmento V2 (foraminal). O segmento V2 cursa supe e dá origem aos ramos perfurantes medulares, corióideos,
riormente através dos forames transversos de C6-C3 tonsilares e cerebelares inferiores (Fig. 8-27), (Fig. 8-28).

8-27 ilustração em AP de
monstrando o sistema vertebro
basilar, ACPIs SI se originam
das AVs antes da junção basilar
e se curvam posteriormente ao
redor da medula. As artérias
cerebelares anteroinferiores
(AlCAs) ÍS cursam lateralmente
aos APCs. Duas ou mais ACSs Hl
se originam da AB logo abaixo
do tentório. Ramos perfurantes
da AB St suprem a maior parte
da ponte.
8-28 ASD em AP demonstran
do as ACPIS Sj, AlCAs [^, ACSs
OI. Tanto as ACSs quanto as
ACPIs se curvam posterolateral-
mente em torno do mesencéfalo.

8-29 ASD lateral demonstran


do grandes ACPIs O pequenas
AlCAs

8-30 Ilustração demonstrando


os territórios vasculares da circu
lação posterior das ACPIs (laranja
B), AlCAs (azul-verde lÒ),
ACSs (amarelo), ramos perfu
rantes medulares da AV E3 e
ramos perfurantes pontinos da
AB B9. Ramos perfurantes talâ-
micos se originam do topo
da AB, AComPs. O território da
ACP é mostrado em roxo
184 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

Artéria basilar. As duas AVs se unem na ou próximo à Infarto-isquemia cerebral aguda


junção pontomedular para formar AB. A AB cursa supe- Como o diagnóstico clínico de "AVC" agudo é impreciso
riormenie na cisterna pré-ponlina, localizando-se entre o em 15 a 20% dos casos, a imagem se tomou um compo
divo. à sua frente, e a ponte, atrás. Ela termina na fossa nente essencial para a triagem rápida do AVC. Qtiando e
interpeduncular, dividindo-se em duas artérias cerebrais como realizar exames de imagem nos pacientes com sus
posteriores. peita de AVC agudo varia de instituição para instituição.
Numerosas, porém pequenas e cruciais artérias per- Os protocolos são baseados no tempo decorrido desde o
furuntes basilares nascem de toda a superfície dorsal da início dos sintomas, na disponibilidade dos exames de
AB para suprir a ponte e o mesencéfalo.
imagem nas emergências com softwares apropriados para
O primeiro principal ramo nomeado da AB é a ar
reconstrução, preferências do clínico e do radiologista e
téria cerebelar anteroinferior (AlCA) (Fig. 8-29). A
disponibilidade de neurointervenção.
AICA se origina da AB proximal e cursa ventromedial- Como a imagem se tornou crucial para o manejo dos
mente aos NCs VII e VIU. descrevendo com freqüência
pacientes, concentraremo-nos em detalhes nos aspectos de
um giro 110 interior do meato auditivo interno. Ela supre
imagem do AVC hiperagudo/agudo. Há quatro questões
ambos os nervos, bem como uma relativamente ílna faixa na triagem do AVC agudo que precisam ser respondidas
do hemisfério cerebelar, que se localiza diretamente atrás
rápida e precisamente: (I) Há hemorragia intracraniana ou
do osso pctroso temporal. lesão que simula AVC? (2) Há oclusào de grande vaso?
Uma ou mais (ou 2 a 4) artérias cerebclares supe
(3) Há parte do parênquima cerebral com lesão irreversí
riores (ACSs) se originam de cada lado da AB distai, cur vel (i.e. há um centro isquêmico crítico, tecido infartado
sando lateralmente abaixo do NC III. curvando-se, então,
irreversível)? (4) Há uma área isquêmica de "penumbra"
posterolateralmente em torno do mesencéfalo logo abaixo clinicamente relevante, mas potencialmente reversível?.
do tentório (Fig. 8-28). Os ramos da ACS se ramificam
sobre a superfície superior do cerebelo e porção cranial
do verme, curvando-se para o interior da grande fissura AS QUATRO QUESTÕES ESSENCIAIS NO AVC AGUDO
horizontal.
Há hemorragia intracraniana (ou lesão que simula infarto)?
Território vascular Há oclusào de grande vaso?
o sistema vertebrobasilar normalmente supre todas as es Há lesão irreversível?
truturas da fossa posterior, bem como mesencéfalo. tála- Há área isquêmica de "penumbra"?
mos posteriores, lobos occipitais, a maioria das superfí
cies inferior e posterolateral do lobo temporal e a medula
Terminologia
espinal cervical superior (Fig. 8-30).
AVC - um termo genérico que significa início súbito de
Variantes e anomalias um evento neurológico - também é referido como "der
rame".
O sistema vertebrobasilar possui diversas variantes da
normalidade. As duas artérias vertebrais variam em tama
A distinção entre isquemia cerebral e infarto cerebral
é sutil, mas importante. Na isquemia cerebral, o tecido
nho, com a AV esquerda dominante em 50% dos casos,
ambas de mesmo tamanho em 25% e a AV direita domi
afetado permanece viável, embora o fluxo sangüíneo seja
nante em 25%. A AV esquerda se origina diretamente do adequado para manter as funções celulares normais. No
arco aórtico (em vez de se originar da artéria subclávia es infarto cerebral, ocorre morte celular franca ou perda neu
querda) em 5% dos casos. Uma pequena artéria vertebral ronal, glial ou ambas.
O tempo é muito importante na triagem dos pacien
que se termina na ACPI sem se conectar com a AB é outra
tes. Os AVCs hiperagudos são eventos que ocorrem den
variante da normalidade comum.
A AB comumente varia em seu trajeto e padrão de tro das primeiras 6 horas após o início dos sintomas. No
AVC hiperagudo, a morte celular ainda não ocorreu, mas
ramificação. A AB e as AVs podem ser fenestradas ou par
cialmente duplicadas. o termo combinado infarto-isquemia cerebral aguda é fre
qüentemente usado. AVCs agudos são aqueles que ocor
rem em 6 a 48 horas do início dos sintomas.

Infartos arteriais Etlologia


A etiologia varia com o subtipo de AVC. As conseqüên
Inicialmente nos concentraremos na patologia e na ima
cias do AVC tais como morte, incapacidade e risco de re
gem dos principais infartos-isquemias arteriais, começan corrência diferem de acordo com o mecanismo do AVC.
do com as lesões agudas. Infartos subagudos e crônicos
serão então discutidos, seguidos por uma breve considera SüBTiPOS DE AVC. Diversos sistemas foram utilizados para
ção sobre os infartos lacunares. Por fim, discutiremos os classificar os principais subtipos de AVC arterial. Um
infartos por hipotensão e em zonas de transição. dos mais novos e simples é o sistema fenotípico ASCO,
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 185

que divide os AVCs em quatro subtipos: ateroscleróti- cente de susceptibilidade) pelos astrócitos, oligodendro-
co, doença de pequenos vasos, cardioembólico e outros gliócitos, micróglia e células endoteliais.
AVCs. Embora todos os sistemas de classificação etio- Também há uma "hierarquia de sensibilidade" geo
lógica (incluindo o Tried of Org 10172 in Acute Stroke gráfica ao dano isquêmico entre os neurônios. Neurônios
Treatment ([TOAST]) forneçam uma distribuição similar, da área CAI do hipocampo, as camadas do neocórtex III,
o aumento do risco de AVC em pacientes com AIT com V e VI, e o neoestriado são mais vulneráveis do que as
etiologia determinada versus indeterminada é mais evi outras regiões (p. ex., o tronco encefálico).
dente usando a classificação ASCO.
Fatores predisponentes e genéticos. O AVC isquêmico é uma
Os AVCs relacionados à doença vascular ateroscle-
rótíca (DVA) são o tipo mais comum de infarto/isquemia doença multifatorial. Hipertensão, diabetes, tabagismo,
síndromes metabólicas e triglicerideos elevados são fa
arterial, representando cerca de 40 a 45% dos casos. A
tores predisponentes conhecidos significativos. Contudo,
maioria dos grandes infarlos arteriais macroscópicos são
todos esses fatores somados correspondem a apenas uma
embólicos, originando-se de trombos que se desenvolvem
no local de uma placa por DVA em "risco". O local mais parle dos fatores de risco para AVC.
comum de DVA na vascularização craniocervical é a bi- Cerca de 30% do risco de AVC global é geralmente atri
buído a diversos fatores genéticos. Excetuando-se algumas
ílircaçào carotídea (ver Capítulo 10). seguida do segmen
to cavernoso da ACl. O vaso intracraniano mais freqüen doenças relacionadas a um único gene, tais como CADASIL
temente ocluido é a artéria cerebral média (ACM). ou doença de Fabry, não há um único lócus com uma asso
A doença de pequenos vasos representa 15 a 30% de ciação consistente e forte com AVC isquêmico identificado.
todos os AVCs. Oclusões de pequenas artérias, também
chamadas de infartos lacunares, são definidas como lesões Patologia
medindo menos de 15 mm de diâmetro. Muitos são clini Localização. A ACM é o local mais freqüente de oclusão
camente silenciosos, embora uma lesão estrategicamente tromboembólica em grande vaso (FIg. 8-31), seguida pela
localizada (p. ex., na cápsula interna) possa causar prejuízo ACP e circulação vertebrobasilar. Dentre os principais va
sos intracranianos, a ACA é o menos atingido.
neurológico significativo. Os infartos lacunares podem ser
embólicos, ateromatosos ou trombóticos. A maioria envol Tamanho e número. Os infartos agudos podem ser solitários
ve artérias penetrantes nos núcleos da base, tálamos, cápsu ou múltiplos e variar em tamanho desde diminutas lesões
la interna, ponte e na substância branca cerebral profunda. lacunares a grandes lesões territoriais que podem envolver
A doença cardioembólíca responde por outros 15 a
grande parte do hemisfério cerebral.
25% dos principais AVCs. Fatores de risco comuns in
cluem infarto miocárdico, arritmias (mais freqüentemente Patologia macroscópica. Uma artéria com um trombo agu
do é preenchida com um coágulo "macio" arroxeado que
fibrilaçâo atrial) e doença valvular cardíaca.
Os outros AVCs são um grupo heterogêneo que com pode envolver a totalidade ou apenas um curto segmento
bina AVCs com diversas etiologias conhecidas a outros de do vaso (Fig. 8-32A). A extensão para ramos secundários
etiologia indeterminada. com ou sem êmbolos distais para vasos mais periféricos e
menores é comum.
Fisiopatologia. Estima-se que 2 milhões de neurônios se As modificações macroscópicas são mínimas ou au
jam perdidos a cada minuto quando um vaso principal, tal sentes nas primeiras 6 a 8 horas, após as quais o edema
como a ACM, é subitamente ocluido. O fluxo sangüíneo no território vascular afetado deixa o cérebro com aspecto
cerebral (CBF) decai de modo súbito. O centro do parên-
empalidecido e túrgido. A interface entre as substâncias
quima cerebral afetado - o denso core isquêmico - tem branca e cinzenta (SB-SC) fica menos definida e com as
um CBF inferior a 6 a 8 cmVlOO g/min. O oxigênio é ra
pecto "borrado". Como os giros se expandem, os sulcos
pidamente depletado, há queda na produção da energia adjacentes são comprimidos e o espaço sulco-cisternal
celular e a homeostasc iônica é perdida.
A morte neuronal com perda de função irreversível preenchido por LCS se torna apagado (Fig. 8-32B).
ocorre no centro de um AVC agudo. Uma área relativa Características microscópicas. O infarto cerebral maciço é
mente menos afetada de penumbra isquêmíca em torno caracterizado por dano irreversível a todas as células pre
do centro está presente em cerca da metade dos pacientes. sentes no interior da zona infartada. Microscopicamente,
O CBF na área de penumbra é significativamente redu os neurônios aparecem histologicamente normais nas pri
zido, caindo do normal de 60 cm' /lOO g/min para 10 a meiras 8 a 12 horas. Dentro das primeiras 12 a 24 horas,
20 cm-VlOO g/min. Esse tecido isquêmico, mas ainda não os neurônios com isquemia aguda classicamente se apre
condenado ao infarto. representa físiologicamente uma sentam "vermelhos e mortos" com cistoplasma hipereosi-
área "em risco" porém potencialmente salvável. nofilico, cariólise precoce e núcleos picnocíticos. Os in
Há uma "hierarquia de sensibilidade" bem definida fartos agudos são pálidos e com freqüência vacuolizados,
histológica ao dano isquêmico entre os diferentes tipos em especial próximos às junções com o parênquima ce
celulares que constituem o neurópilo. Os neurônios são rebral intacto. Aumento de volume astrocítico sem morte
os mais vulneráveis. Eles são seguidos (em ordem decres celular predomina na zona de penumbra.
186 Hemorragias nao traumáticas e lesões vasculares

Aspectos clínicos
Epíoemiologia e aspectos demográficos. AVC é a terceira
maior causa cie morte em muitos países industrializados
e é a principal causa global de incapacitação neurológica
em adultos. A taxa de incidência ajustada para a idade é de
180 por 100.000 por ano.
O AVC afeta pacientes de todas as idades - incluin
do recém-nascidos e neonatos - embora a maioria ocorra
em adultos de meia-idade ou mais velhos. Crianças com
AVCs freqüentemente têm uma doença subjacente, tais
como shunt cardíaco direita-esquerda. anemia falciforme
ou síndromes de hipercoagulabilidade hereditárias. AVCs
em adultos jovens costumam ser causados por dissecção
(espontânea ou traumática) ou abuso de drogas.
Apresentação. Os sintomas do AVC variam largamente,
8-31 Ilustração demonstrando ociusão proximal no
dependendo do território vascular afetado, bem como da
segmento M1 [S. A isquemia aguda é vista como
perda sutil da interface entre as substâncias branca e
presença de fluxo colateral adequado. Inicio súbito de dé
cinzenta K>! e núcleos da base "apagados" SI. ficit neurológico focai, tal como desvio facial, fala arras
tada, paresia ou diminuição da consciência são as apre
sentações mais comuns.
Conhecimento público. Houve numerosos e significativos
esforços para educar o público em geral sobre novas inter
venções terapêuticas para AVCs e a urgência de um "der
rame cerebral".

Exemplos incluem a campanha da Stroke Association


and the Stroke Awareness Foundation em publicar os mui
tos sinais cie alarme cie A VC*. O programa incita amigos
e familiares a reconhecerem os sintomas do AVC agudo e
a "agir RÁPIDO" (FAST).

SINTOMAS DO AVC E "AÇÃO RÁPIDA" (FAST)


Face (Face)
• Peça que a pessoa sorria
8-32A Espécime de autópsia demonstrando um
• Algum dos lados da face inclina?
trombo agudo na ACM proximal 1^-
Braços (Arm)
• Peça que a pessoa levante ambos os braços
• Algum dos braços pende?
Fala (Speech)
• Peça que a pessoa repita uma frase simples
• A fala está arrastada ou estranha?

Tempo (Time)
• Se você observar QUALQUER UM desses sinais, chame
a emergência imediatamente!!

Apesar de muitas iniciativas educacionais amplas e


intensas, a porcentagem de tratamento de pacientes com
AVC agudo permanece baixa (2 a 4%).
História natural. O prognóstico do AVC varia muito. Entre
20 e 25% dos AVCs são considerados ociusões "principais"
e causam 80% dos desfechos desfavoráveis. Seis meses
8-32B 0 mesmo caso demonstrando o cóítex da in
sula "apagado" e "inchado" se comparado ao lado
contralateral normal SI. (Cortesia de R. Hewlett, MD.) N. de R.T.: Campanhas semelhantes têm sido feitas no Brasil.
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 187

após o AVC, 20 a 30% de todos os pacientes estarão mortos sucesso é a seleção do paciente com as duas principais
e um niimero similar estará gravemente incapacitado. considerações sendo (1) tempo do início do sintoma e (2)
O prognóstico individual do paciente depende de uma achados de imagem na TC sem contraste de rastreamento.
série de fatores contribuintes, isto é, qual vaso está ocluí- A janela terapêutica clinicamente aceita de ativador re-
do, presença ou ausência de circulação colateral suficiente combinante do plasmínogênio tecidual (rTPA) endovenoso é
e presença de área de penumbra isquêmica significativa. de menos de 3 horas do íctus (as "horas de ouro")*. Trombó-
Quase metade de todos os AVCs têm circulação colateral lise intra-arlerial é geralmente restrita a menos de 6 horas.
inadequada e penumbra pouco expressiva. A maioria dos Exceções a essa regra incluem trombose da artéria basilar e
pacientes com oclusão de vaso principal - mesmo aqueles pacientes fora da janela de 6 horas que possuem incongruên
com área de penumbra isquêmica significativa - terão mau cia {mismatch) perfusão-difusão persistente e significativa.
prognóstico pobre, a menos que o fluxo sangüíneo possa Os critérios de imagem comiimente aceitos para trom-
ser restituído e o parênquima cerebral, reperfundido. bólise intra-arterial incluem o envolvimento de menos de
Aumento de volume cerebral descontrolado com her- um terço do território da ACM e ausência de hemorragia
niação e morte pode resultar do chamado infarto de ACM parenquimatosa (ver adiante).
maligno. Em tais casos, uma craniectomia de emergência O rTPA intra-arterial e outros fámiacos que "dissol
pode ser a única opção de tratamento. vem" o coágulo, tais como a desmoteplase, têm melhorado
o prognóstico em casos selecionados. A trombectomia me
Opções de tratamento. Velocidade é essencial, com o objeti cânica endovascular oferece uma alternativa, sendo um mé
vo de tempo "porta agulha" {i.e., da chegada à emergência
todo potencialmente sinérgico à trombóiise. Suas vantagens
ao departamento de intervenção) abaixo de 60 minutos.
As opções de tratamento do AVC e os critérios de in
clusão/exclusão estão se desenvolvendo continuamente. * N. de R.T.: Recentemente, a janela terapêutica foi extendida
O fator isolado mais importante para uma intervenção de para 4h30min.

8-33 TC sem contraste de


monstrando o clássico sinal
da "ACM hiperdensa" com um
trombo agudo na ACM direita
BS. Compare sua notável hi-
perdensidade com a discreta
hiperdensidade da ACM esquerda
normal
8-34 TC sem contraste de
monstrando o sinal da artéria hi-
peratenuante ("densa") indican
do um trombo na artéria carótida
interna esquerda B.

8-35 TC sem contraste de


monstrando o sinal da artéria
"densa" ES na trombose aguda
do tronco de basilar. Observe a
bipodensidade no lobo temporal
inferomedial B e lobo occipital
à direita.
8-36 TC sem contraste de
monstrando um embolo calcifica-
do B no ramo angular da ACM
direita.
188 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

incluem terapia de liberação local-específica e dosagem do pal cerebral está ocluído. A angiotomografia (ATC) pode
trombolítico controlada. Estudos recentes têm mostrado ser obtida imediatamente após a TC sem contraste e é o
melhora nas taxas de recanalizaçào e no prognóstico em 90 procedimento não invasivo de escolha para demonstrar
dias. A trombectomia mecânica pode servir também em pa oclusões de vasos principais potencialmente tratáveis. A
cientes que estão além dajanela terapêutica ou naqueles em angiografia por RM (ARM) é mais suscetível a artefatos
que a terapia com trombolítico está contraindicada. de movimento, os quais são acentuados em pacientes não
cooperativos. A ASD é reservada para pacientes que serão
Imagem submetidos à trombólise intra-arterial ou à trombectomia
Protocolos oo "derrame cerebral". Os objetivos primários mecânica.
no exame de imagem de emergência do AVC são (1) dis A terceira e cfuarta questões podem ser respondidas por
tinguir AVC isquémico ou "brando" de hemorragia in estudos perfusionais, tanto por TC quanto RM (pTC. pRM).
tracraniana e (2) selecionar/triar paciente para possíveis Ambos podem demonstrar qual parte cerebral está danifica
terapias de reperfusão. da irreversivelmente (i.e.. o core do infarto sem resgate) e
A maioria dos protocolos começa com uma TC sem determinar se há uma área de penumbra isquêmica clinica
contraste para responder as primeiras questões essenciais mente relevante (cérebro potencialmente recuperável).
no exame de imagem de um AVC: Há hemorragia intracra
niana ou "simulação" de AVC (tal como hematoma subdu Achados na TC. Um protocolo por TC para AVC agudo
ral ou neoplasia)? Se uma hemorragia hipertensiva típica completo e multimodal inclui TC sem contraste, ATC e
for identificada na TC sem contraste de raslreamento em perfusão por TC. Com a TC multidetectores, o protocolo
um paciente com hipertensão sistêmica sabida, em geral pode ser completo dentro de 15 minutos em um único exa
não é necessário prosseguir com outros exames de imagem. me com injeção de material de contraste separadamente.
Uma vez que a hemorragia intracraniana for excluída, TC SEM CONTRASTE. Os exames de TC sem con
o segundo aspecto crítico é determinar se um vaso princi traste inicia! - mesmo aqueles obtidos nas primeiras seis

8-37A Clássico sinal da ACM


densa.
8-37B Corte mais cranial do
mesmo paciente demonstrando
o sinal do "ponto" hiperdenso
Ba na fissura de Sylvius devido
à extensão do trombo para o
segmento M2 proximal. Observe
o sinal da "faixa insular" BI
com obliteraçâo do ICS na fissura
de Sylvius. A hipodensidade
parenquimatosa B3 se estende
para a superfície cortical.

8-37C ATC do mesmo pacien


te demonstrando término abrup
to com um menisco de contraste
ea na ACM esquerda proximal.
A presença de contraste nos
segmentos M2 distai e M3 BI
é causada pelo fluxo colateral
retrógrado lento, oriundo de
ramos piais da ACA através da
zona de fronteira para ramos M4
(corticais) B3.
8-37D ASD da carótida es
querda com visualização em AP
demonstrando o término abrupto
do segmento Ml da ACM esquer
da ES.
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 189

8-38A TC sem contraste


3 horas após início do AVC de
monstrando hipodensidade nos
núcleos da base à direita B
em comparação com o lado
esquerdo normal B (sinal do
"desaparecimento dos núcleos
da base").
8-38B Estudo de pTC foi reali
zado. O CBV demonstra marcada
redução do volume sangüíneo
nos núcleos da base à direita B
se comparado ao lado esquerdo
normal E9. O CBV do córtex
B sobrejacente ao infarto nos
núcleos da base tem aspecto
relativamente normal.

8-38C CBF do mesmo pacien


te mostrando marcada redução
do fluxo sangüíneo em toda a
distribuição da ACM B com dé
ficit mais profundo nos núcleos
da base à direita A desi
gualdade {"mismatch") entre
CBV/CBF no córtex representa
a grande penumbra isquémica
que circunda os núcleos da base
densamente isquémicos.
8-38D O MTT mostra que o
fluxo sangüíneo para a distribui
ção da ACM é lento com tempo
de trânsito marcadamente pro
longado.

8 - 3 8 E Tr o m b o l i t i c o i n t r a -
-arteriai foi administrado devido
a uma grande área de penumbra
isquémica. A RM obtida 24 horas
mais tarde demonstra importan
te hiperintensidade nos núcleos
da base B com giros hiperín-
tensos levemente edemaciados
em território de distribuição da
ACM B. Observe vaso hiperin-
tenso B indicando fluxo lento.
8-38F Ponderação em difusão
do mesmo paciente demonstran
do restrição aguda nos núcleos
da base a direita B com focos
esparsos de isquemia cortical
B
190 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

horas - sào anomiais em 50 a 60% dos AVCs isquêmicos Hipodensidades parenquimatosas em forma de
agudos se visibilizados com janela fechada. cunha com limites indistintos entre as SB-SC e apaga
O sinal mais específico porém menos sensível é um mento de sulcos corticaís se desenvolvem em oclusões
vaso hiperatenuante preenchido com um trombo agudo de grandes territórios (Fig. 8-37B). Se mais de um terço
(Fig. 8-33). O sinal da "ACM densa" é visto em 30% do território da ACM estiver inicialmente envolvido, a
dos vasos com oclusão de M1 documentada (Fig. 8-37A). probabilidade de um infarto de ACM "maligno" com gra
Locais menos comuns para o sinal do vaso hiperdenso ve edema cerebral se eleva, bem como o risco de transfor-
sào as artérias carótidas internas intracranianas (Fig. maçào hemorrágica na tentativa de revascularização.
8-34). artéria basilar (Fig. 8-35) e ramos da ACM na fis TC COM CONTRASTE. Exames convencionais de
sura de Sylvius (sinal do "ponto") (Fig. 8-37B). Achados TC com contraste raramente sào realizados como parte
incomuns, porém importantes na TC sem contraste que dos protocolos de "derrame cerebral". A TC com contras
indicam oclusào vascular incluem um embolo calcifica- te pode demonstrar realce de vasos se fluxo anterógrado
do, mais provavelmente originado de um placa ateroscle- baixo ou enchimento retrógrado via colaterais nas zonas
rótica ulcerada "em risco" na ACI cervical ou cavernosa vasculares de fronteira estiver presente. Realce cortical
(Fig. 8-36). giriforme é raro na oclusào arterial precoce.
Apagamento e indefinição da interface entre as subs ATC. A angiografia por TC multidetectores das cir
tâncias branca e cinzenta (SB-SC) podem ser vistos em 50 culações intra e extracranianas é utilizada para visualizar
a 70% dos casos dentro das primeiras três horas que se se a vascularizaçào craniocervical do arco aórtico ao córtex.
guem à oclusào (Fig. 8-37B). A "perda" do córtex insular Como a maioria dos AVCs são embólicos - por doença
(sinal da "faixa insular") e a redução de densidade dos vascular aterosclerótica (DVA) ou uma fonte cardíaca
núcleos da base (sinal do "desaparecimento dos núcleos alguns pesquisadores sugerem a inclusão cardíaca (a "ex
da base") sào os achados mais comuns (Fig. 8-38A). clusão tripla do AVC isquêmico agudo").

8-39A TC sem contraste em


corte axíal 5 horas após o início
súbito de hemiparesia à direita
demonstrando o sinal da "faixa
insular" com hipodensidade
afetando o córtex insular B e
o aspecto lateral do pulame B
(sinal do "desaparecimento dos
núcleos da base") â esquerda.
Compare com o córtex insular,
cápsula externa e putame nor
mais à direita ES.
8-39B Perfusão por TC com
imagem do fluxo sangüíneo ce
rebral demonstrando CBF acen-
tuadamenie reduzido na distri
buição da ACM esquerda E3.

8-39C Imagem de TTP do


mesmo paciente demonstrando
tempo até o pico marcadamente
prolongado na mesma área ES.
8-39D Imagem de TTP em
topografia da fossa posterior
demonstrando um tempo ao pico
prolongado no hemisfério cere-
belar ^3, indicando diásquise
cerebelar contralateral.
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 191

A ATC responde rapidamente a segunda questão es te tanto no CBV quanto no CBF. O core do infarto é visto
sencial do AVC (Fig. 8-37C), isto é, há ociusão de grande como um azul escuro/roxo ou preto que contrasta com o
vaso? A ATC também localiza e define a extensão do trom parénquima cerebral normalmente perfundido vermelho/
bo intravascular, avalia o fluxo sangüíneo da circulação co amarelo (Figs. 8-38B, 8-38C). O MTT prolongado é visto
lateral e caracteriza a doença aterosclerótica. As imagens como uma área vermelha, em contraste ao parénquima ce
fonte de ATC têm sido utilizadas para estimar a zona cen rebral azul. que aparece quando o tempo médio de trânsito
tral de infarto, mas as superestimam em 25% dos casos. é normal (Fig. 8-38D).
pTC. A íeiveira e quarta questões podem ser respondi Uma penumbra isquêmica com tecido potencial
das com a perfusào por TC. A pTC demonstra o efeito da mente reversível é vista como uma incongruência (^"mis
oclusào vascular no próprio parénquima cerebral. A pTC match ") entre a zona infartada com CBV marcadamente
também pode ser utilizada para predizer o benefício potencial reduzido (Fig. 8-38B) e a área adjacente (penumbra) ca
após a trombólise. Os achados na pTC se correlacionam bem racterizada pela redução do CBF com um CBV normal
com aqueles da difusão e da pRM (Fig. 8-38). (Fíg. 8-39). (Fig. 8-38C). Como conseqüência, o tecido cerebral ain
A perfusào por TC é obtida monilorando-se a pri da potencialmente viável é equivalente ao CBF menos o
meira passagem da injeção de contraste iodado através CBV. O prolongamento do MTT em mais de 145% que se
da circulação cerebral. Quando o contraste passa através estende além da zona do centro infartado (assim chamado
do cérebro, ele causa uma hiperatenuaçào transitória que de CBV/MTT mismatch) também caracteriza a penumbra
é diretamente proporcional à quantidade de contraste nos isquêmica (Fig. 8-38D).
vasos e ao volume sangüíneo cerebral. Um importante achado auxiliar em pacientes com
A pTC tem três parâmetros principais: o volume san grandes infartos de ACM é a perfusão reduzida no he
güíneo cerebral (CBV). o fluxo sangüíneo cerebral (CBF) misfério cerebelar contralateral. Entre 15 e 20% dos
e o tempo médio de trânsito (MTT). O CBV é definido grandes infartos de ACM causam hipoperfusão com re
como o volume de fluxo sangüíneo em dado volume de dução do CBF no cerebelo contralateral, um fenômeno
parénquima cerebral. O CBF é o volume de fluxo san chamado "diásquise cerebelar cruzada" (ver adiante)
güíneo que se movimenta através de um dado volume de (Fig. 8-39C), (Fig. 8-39D).
parénquima cerebral em um tempo específico. O MTT é
a média de tempo que o sangue leva para transitar através Achados na RM. Embora a TC/ATC/pTC sejam freqüen
de um dado volume de parénquima cerebral. temente preferidas devido à acessibilidade e velocidade,
Todos os trés parâmetros da pTC podem ser retra protocolos "rápidos" de AVC apenas com FLAIR, T2* e
tados tanto visualmente - em uma escala de cores - ou difusão podem ser utilizados. A RM é superior àTC para de
numericamente, utilizando-se regiões específicas de inte tectar isquemia em pequenos vasos e no tronco encefálico.
resse. Mapas de perfusão codificados por cores podem ser PONDERAÇÃO EM TI. A ponderação em TI cos
avaliados visualmente de modo rápido e preciso. tuma ser normal dentro das primeiras 3 a 6 horas. Edema
A escala de cores padrão é graduada desde tons de ver girai sutil e hipointensidade começam a se desenvolver
melho e amarelo a azul e violeta. No CBV e CBF. a perfu dentro de 12 a 24 horas e são vistos como apagamento
sào é demonstrada em vermelho/amarelo/verde (mais alta) da interface entre a SB-SC. Na ociusão de grandes vasos,
a azul/roxo/preto (mais baixa). No cérebro normal, há uma a perda do esperado //ove void na artéria afetada pode, às
perfusão simétrica bilateral nos hemisférios cerebrais, com vezes, ser identificada.
valores mais altos de CBF e CBV na substância cinzenta T2/FLA1R. Apenas 30 a 50% dos AVCs agudos de
(córtex, núcleos da base) se comparado à substância bran monstram edema cortical e hiperintensidade em FLAIR
ca. A substância cinzenta bem perfundida aparece verme nas primeiras 4 horas. Quase todos os AVCs são positi
lha/amarela, enquanto a substância branca aparece azul. O vos em FLAIR dentro das primeiras 7 horas após o início
parénquima cerebral isquêmico aparece azul/roxo. Áreas dos sintomas. As ponderações em T2 se tomam positivas
que são completamente não perfundidas (p. ex., os ven- pouco depois, em geral dentro de 12 a 24 horas. A hipe
trículos e a área central densamente isquêmica do infarto rintensidade intra-arterial em FLAIR é um sinal precoce
principal) aparecem pretas (Fig. 8-39A). (Fig. 8-39B). de AVC e indica fluxo lento (e não trombose), tanto por
De todos os três parâmetros-padrão. o MTT demonstra atraso no fluxo anterógrado ou - mais comumente - en
as anormalidades regionais mais proeminentes. Nele, as es chimento colateral retrógrado através de vasos corticais
calas de cor são invertidas para enfatizar o tempo médio de nas zonas de transição (Figs. 8-40A, 8-40B, 8-41 A). Uma
trânsito prolongado no parénquima cerebral isquemiado. incongruência (""mismatch"") FLAlR-difusão (FLAIR ne
No MTT, quanto mais vagaroso o tempo de trânsito, mais gativa, difusão positiva) tem sido sugerida como um indi
próximo do vermelho ao fim da escala. O cérebro com tem cador rápido da zona de penumbra isquêmica viável e de
po de trânsito normal aparece azul. Parâmetros similares ao elegibilidade para trombólise.
MTT freqüentemente utilizados na pTC incluem o tempo 77* GRE. O trombo intra-arterial pode. às vezes,
até o pico (TTP) e o tempo de drenagem (TTD). ser detectado como hipointensidade com artefatos de
O centro do infarto densamente isquêmico - o cére susceptibilidade magnética no T2* (GRE, SWl) (Fíg.
bro com lesão irreversível - demonstra redução congruen- 8-4IB). Procure cuidadosamente também pela presença
192 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

de microssangramentos parenquimatosos multifocais em Em tomo de 95% dos infartos hiperagudos demons


pacientes mais velhos. Nesse grupo etário, "pontos pre tram restrição da água com hiperintensidade na pondera
tos" com artefatos de susceptibiiidade magnética são co- ção em difusão e correspondente hipointensidade no mapa
mumente causados por hipertensão crônica ou angiopatia de ADC (Figs. 8-38F, 8-41C). A DTI é ainda mais sensí
amiioide. A presença de microssangramentos cerebrais vel do que a ponderação em difusão, especialmente para
pode ser um fator de risco independente para hemorragia lesões pontinas e medulares.
subsequente relacionada à anticoagulação. Uma difusão negativa não exclui o diagnóstico de
Tí PÓS-CONTRASTE. Aquisições em TI pós-con- AVC. Entre 2 e 7% dos pacientes com o diagnóstico final
trasle demonstram realce intravascular. Realce parenqui- de AVC são inicialmente negativos na difusão. Infartos
matoso é incomum na isquemia aguda/hiperaguda (Figs. muito pequenos (lacunares), lesões de tronco encefálico,
8-41E, 8-41F). lise de coágulo com recanalização e hipoperfusão mode
DIFUSÃO E DTÍ. O edema celular começa a se de radamente reduzida ou fltituante que não é grave o sufi
senvolver dentro de minutos após o insulto isquêmico. ciente para causar restrição ao movimento das moléculas
Os valores de ADC decaem, produzindo alta intensidade de água têm sido citadas como razões possíveis para re
de sinal nas imagens em difusão (Figs. 8-40C, 8-41C). sultados negativos na difusão dos AVCs agudos.
Embora a maioria dos pesquisadores coloque o edema ci- pRM. A restrição á difusão em geral reflete o cen
totóxico como base para o declínio do ADC, parte dessa tro densamente isquêmico do infarto, enquanto a pRM
queda se deve à redução da difusão das moléculas de água demonstra a área ao redor de penumbra "em risco". Um
causada pela redução dos níveis de aquaporina-4 astrocíti- "wí/.vwflfc/f' da imagem da ponderação em difusão-
ca (AQP4). As aquaporinas são proteínas transmembrana -Imagem de perfusão "IP" é um dos critérios utiliza
- canais de água - que facilitam o transporte seletivo da dos para determinar a adequação para trombólise in-
água bidirecional para dentro e para fora da célula. tra-arterial.

8-40A RM "rápida" apenas


em FLAIR, GRE e difusão foi obti
da em uma mulher de 54 anos, 2
horas e 45 minutos após o início
dos sintomas. A FLAIR no plano
axial demonstra hiperintensi
dade intravascular ES na ACM

esquerda (compare com o "flow


void" normal à direita) sugerindo
fluxo lento,
8-40B Não foram identifica
das anormalidades parenquima-
(osas na distribuição vascular da
ACM esquerda. A única anormali
dade definida foi hiperintensida
de na divisão de ramos posterio
res da ACM esquerda B.

8-40C Ponderação em difusão


da mesma paciente demonstran
do moderada restrição na maior
parte da distribuição do território
da ACM esquerda ES. O mapa
de ADC (não mostrado) demons
trava hipointensidade correspon
dente confirmando a presença
de edema citotóxico.
8-40D Devido ao "mismatch"
FLAiR-diíusâo, a paciente foi
imediatamente levada para a
trombólise intravascular. Visuali
zação AP na fase arterial precoce
da injeção da ACI esquerda de
monstrando uma estenose de
alto grau no segmento Ml
com um trombo distai SI par
cialmente ociusivo.
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 193

8-41A AVC agudo em um ho


mem de 47 anos demonstrando
hiperinlensidades esparsas no
núcleo caudado, putame lateral
e cortex parietal a esquerda. Ob
serve os múltiplos focos lineares
de hiperintensidade intravascular
ES compatíveis com fluxo lento
em território de distribuição da
ACM.

8-41B Aquisição em T2''


GRE demonstrando diversas
hipointensidades lineares B
nos ramos da ACM afetados,
compatível com hemoglobina
desoxigenada causada pelo fluxo
sangüíneo lento e estagnado.

8-41C Difusão do mesmo pa


ciente demonstrando múltiplos
focos esparsos de restrição ES
compatíveis com íníarto cerebral
agudo.
8-41D Imagem fonte no
plano axial de ARM TOF 2D de
monstrando intensidade de sinal
normal na ACM direita ES e em
ambos os ramos da ACA ES,
mas ausência de fluxo nos vasos
da ACM esquerda B.

V , v

8-41E Aquisição no plano


axial em Ti pós-contraste com
saturação de gordura demons
> ^ v\ trando marcado realce intravas
• ••V cular nos ramos da ACM esquer
da ES. compatível com fluxo

( . - . lento em vasos patentes (não


trombosados).
8-41F Aquisição no plano
coronal em Ti pós-contraste de
monstrando realce intravascular
proeminente na ACM esquerda
E S
194 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

8-42A Série de imagens de


ASD demonstrando achados
angiográíicos clássicos de oclu-
sáo tromboembóllca aguda.
Angiograma da artéria carótida
interna esquerda, na fase arterial
precoce, com visualização em
AP, demonstrando finalização
abrupta da ACM SI.
8-42B Visualização lateral na
fase arterial precoce demons
trando enchimento normal de
ambas as ACAs ÍS e da ACP
ipsilateral Si através de uma
grande AComP. A distribuição
da ACM não está opacificada,
deixando uma grande "área nua"
[S de cérebro desvascularizado.

8-42C Imagem tardia de


monstrando que a grande "área
nua" permanece não opacificada.
Ramos corticais são vistos sobre
o aspecto superior da conve-
xidade parietal esquerda com
enchimento retrógrado precoce
dos ramos distais da ACM [S
via colaterais piais da aca e ACP.
O fluxo colateral também é visto
de ramos temporais posteriores
S! da ACP para o território da
ACM.
8-42D Imagem tardia de
monstrando enchimento retró
grado lento SI de colaterais
da ACA e ACP para o território
da ACM.

8-42E Imagem de fase capilar


demonstrando um "blush" cere
bral difuso nos territórios da
ACA/ACP; contraste com a "área A
nua" que normalmente seria
suprida pela ACM. Alguns ramos
da ACM S) são vagarosamente
preenchidos via fluxo retrógrado
de colaterais piais da ACA/ACP.
8-42F Fase venosa demons
trando contraste persistente S
em alguns ramos da ACM que se
opacificaram de maneira retró
grada via colaterais piais e estão
se esvaziando vagarosamente.
Observe o "blush" na peri
feria da "área nua" causado por
"perfusão de luxúria".
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 195

Angiografia. Já que o diagnóstico de isquemia-infarto ce


rebral agudo com ociusão de grande vaso já está estabele AV C A G U D O : I M A G E M
cido com o uso de ATC ou ARM (Fig. 8-41 D), a ASD cos TC SEM CONTRASTE
tuma ser obtida apenas como uma introdução à trombólise • Vaso hiperdenso ± sinal do "ponto"
intra-arterial ou à trombeclomia mecânica. A localização e • Indefinição, "borramento" da interface entre a SB-SC
a extensão do coágulo podem ser precisamente determina o Sinal da "fita insular"

das, e a circulação colateral pode ser delineada. o "Desaparecimento" dos núcleos da base
A ociusão de vasos principais é identificada na ASD • Hipodensidade em forma de cunha
o Envolve tanto o córtex quanto a SB
como uma interrupção da coluna dc contraste intra-arte
rial. Achados freqüentes incluem um término abrupto do TC COM CONTRASTE

vaso (Figs. 8-37D. 8-42A), sinal do "menisco", estreita • ± realce vascular (fluxo lento, colaterais)
mento progressivo ou em "rabo de rato" (Fig. 8-4ÜD), ou AT C
• Lugar, extensão do trombo
aspecto em "trilho de trem" com um fllete de contraste
circundando o trombo intraluminal. • O VA

Outros achados angiográficos comuns incluem uma o Extracraniana: aorta, bifurcação carotídea
o Intracraniana: ACI cavernosa, CO + ramos
"área nua" ou "descoberta" de parênquima cerebral não
perfundido (Figs. 8-42B, 8-42C), enchimento lento anteró- pTC
• Centro do infarto (cérebro com dano irreversível)
grado com atraso na lavagem de ramos distais (visto como
contraste intra-arterial persistente nas fases venosa ou capi
o Perfusão congruente (CBV, CBF, ambos i)
o MTT
lar) e colaterais piais com enchimento retrógrado através de • Penumbra isquêmica
zonas de transição corticais (Figs. 8-42D. 8-42E, 8-42F). o Perfusão incongruente (i CBF mas com CBV normal)
Sinais menos comuns são hiperemia com "blush"\as-
cular circundando a zona infartada (a chamada perfusão de PONDERAÇÃO EM TI
• Em geral normal nas primeiras 4 a 6 horas
luxúria) (Fig. 8-42F) e veias de "drenagem precoce" (shiinl • ± perda do esperado flow void
arteriovenoso com o aparecimento de contraste em veias de
drenagem da zona infartada, enquanto o restante da circu PONDERAÇÃO EM T2
• Em geral normal nas primeiras 4 a 6 horas
lação ainda está na fase arterial tardia ou capilar precoce).
O efeito de massa é raro no AVC hiperagudo, mas FLAIR (utilize uma janela fechada)
• 50% positivo nas primeiras 4 a 6 horas
muito comum nos estágios agudo/agudo tardio.
o Edema cortical, hiperintensidade girai
Ultrassonografia. o espessamento médio-intimal da arté o Hiperintensidade intra-arterial (geralmente baixo
ria carótida, medido pela US com Doppier, foi identifica fluxo e não trombo)
do como um marcador para doença de grandes artérias, T2* (GRE, SWI)
que por sua vez se correlaciona com o aumento do risco • Trombo pode causar artefato de susceptibilidade
d e AV C . magnética
• Micro-hemorragias (hipertensão crônica, amiloide):
Diagnóstico diferencial risco de hemorragia com anticoagulação
o diagnóstico diferencial clínico do AVC agudo é vasto. DIFUSÃO E DTI
Em contrapartida, o diagnóstico diferencial dos aspectos de • >95% de restrição dentro de minutos
o Hiperintenso na difusão
imagem é relativamente limitado. A circulação sangüínea o Hipointenso no mapa de ADC
normal é sempre levemente hiperdensa se comparada ao • "Difusão negativa" nos AVCs agudos
parênquima cerebral na TC sem contraste. O sinal do "vaso ® Infartos pequenos (lacunares)
hiperdenso" pode ser simulado pela elevação do hemató- o Lesões de tronco
crito (todos os vasos aparecem densos, não apenas as arté o Rápida lise/recanalizaçâo do coágulo
rias). mícrocalcífícações da parede arterial e parênquima o Hipoperfusão transitória/flutuante
cerebral hipodenso (p. ex., edema cerebral difuso).
pRM
O diagnóstico diferencial da redução da perfusão na • "Mismatch" difusão-IP estima a penumbra
pTC inclui infarto crônico, isqucmia microvascular ASO
grave e estenose extra ou intracraniana com redução • Término abrupto do vaso, sinal do "menisco",
ou atraso na perfusão. Estenoses vasculares podem simu
estreitamento progressivo/"rabo de rato"
lar ou superestimar áreas de penumbra isquêmica, motivo • "Area nua» de cérebro não perfundido
pelo qual a pTC deve sempre ser interpretada juntamente • Enchimento anterógrado vagaroso ou retrógrado
c o m T C s e m c o n t r a s t e e AT C . • Atraso na lavagem do contraste intra-arterial
• Perfusão de luxúria
Situações que simulam AVC com restrição à difusão
incluem infecção (não segue territórios arteriais defini o "a/í/sh" em torno da "área nua"
o Veias de "drenagem precoce"
dos) e status epiiepticus (afeta o córtex, poupa a SB sub
jacente).
196 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

Infartos cerebrais subagudos


Terminologia
o AVC se desenvolve fisiopatolcgicamenle com modi
ficações correspondentes que se refletem nos exames de
imagem. Embora não existam modificações precisas que
demarquem os diversos estágios da evolução do AVC, a
maioria dos neurologistas classifica os infartos como agu
do, subagudo e crônico.
Urna isquemia/infarto cerebral "subagudo" geralmen
te se refere a AVCs que estão entre 48 horas a duas sema
nas do evento isquêmico inicial (Fig. 8-43).

Patologia
o edema e o efeito de massa crescente causados pelo
edema citotóxico atingem o seu apogeu dentro de 3 a 4
8-43 AVC subagudo com efeito de massa e trans dias após o início do AVC. Necrose tissular franca com
formação fiemorrágica giriforme S. (Cortesia de R. influxo progressivo da microglia e de macrófagos ao re
Hewlett, MD).
dor dos vasos se segue com astrocitose reativa em torno
do perímetro do infarto. A redução da densidade cerebral
com posterior cavitação se desenvolve nas próximas duas
semanas.

M u i t o s d o s AV C s t r o m b o e m b ó l i c o s s ã o i n i c i a l m e n
te "amenos", isto é, não hemorrágicos. A transformação
hemorrágica (THemor) de um infarto isquêmico prévio
ocorre em 20 a 25% dos vasos entre dois dias e uma se
mana após o íctus. O dano isquêmico ao endotélio vascu
lar propicia "vazamentos" e aumenta a permeabilidade da
barreira hemaloencefálica. Quando a perfusão é restabe
lecida - tanto espontaneamente quanto após o tratamento
com ativador do plasminogênio tecidual -, a exsudaçào de
glóbulos vermelhos através das paredes danificadas dos
vasos sanguineos causa hemorragias parenquimatosas. As
hemorragias petequiais são mais comuns do que os san-
8-44A (Acima e à esquerda) TC sem contraste com 2 gramentos lobares e são mais freqüentes nos núcleos da
horas de evolução mostrando apagamento sulca! leve, base e no córtex.
Com 48 horas, hipodensidade em forma de cunha B
envolve a SB e a SC. (Abaixo) Transformação hemorrá
Aspectos clínicos
gica com uma semana de evolução.
A THemor por si só não costuma causar declínio clínico.
Ela. na verdade, se relaciona com prognóstico favorável,
provavelmente refletindo uma recanalização vascular pre
coce e uma melhor reperfusão tissular.

Imagem
Características gerais. Não há variações significativas den
tro do período subagudo. Os infartos subagudos precoces
possuem significativo efeito de massa e freqüentemente
exibem THemor, enquanto no período subagudo tardio a
maior parte do edema e do efeito de massa retrocederam.
Achados na TC. Na TC sem contraste, a área em forma de
cunha com redução da atenuação vista nos estudos ini
ciais se torna mais conspícua. O efeito de massa aumenta
inicialmente e então começa a reduzir nos próximos 7 a
10 dias que se seguem ao início do quadro. A THemor se
8-448 Aquisição em FLAIR (à esquerda) e em GRE (à
desenvolve em 15 a 20% dos casos e é vista como uma
direita) do mesmo caso demonstrando transformação
hemorrágica S] neste exemplo de AVC subagudo.
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 197

hiperdensidade giriforme cortical ou nos núcleos da base


(Fig. 8-44A).
A TC com contraste segue a regra do "2-2-2". O re
alce esparso ou giriforme aparece tào cedo quanto dois
dias após o início do infarto, atinge o seu pico em duas
semanas e geralmente desaparece por volta de dois meses.
Achados na RM. A intensidade de sinal no AVC subagudo
varia dependendo (1) do tempo desde o ictus e (2) da pre
sença ou ausência de transformação hemorrágica.
PONDERAÇÃO EM TI. Os infartos subagudos não
hemorrágicos são hipointensos nas ponderações em TI e
demonstram efeito de massa moderado com apagamen-
to de sulcos. Os infartos com THemor são inicialmente
isointensos ao córtex e então se tornam hiperintensos
(Fig. 8-45A).
PONDERAÇÃO EM T2. Os infartos subagudos são 8-45A Ponderação em TI no plano axial com duas
inicialmente hiperintensos se comparados ao parênquima semanas após o início do infarto demonstrando trans
cerebral não isquêmico. A intensidade de sinal decai com formação hemorrágica nos núcleos da base B3 e ede
ma girai persistente com apagamento de sulcos B.
o tempo, atingindo a isointensidade em 1 a 2 semanas (o
"efeito T2 fogging"') (Fig. 8-46). A degeneração walleria-
na precoce pode, às vezes, ser identificada como uma ban
da hiperintensa bem definida que se estende inferiormente
a partir do córtex infartado ao longo do trato corticospinal.
FLAIR. Os infartos subagudos são hiperintensos em
FLAIR (Fig. 8-44B). Por volta de uma semana após o /c-
tus, o volume de tecido infartado "final" corresponde à
anormalidade, vista em FLAIR.
T2* (ORE, SWl). Focos de susceptibilidade magné
tica petequiais ou giri formes estão presentes se ocorrer
THemor no córtex infartado (FIg. 8-44B). As hemorragias
nos núcleos da base podem ser confluentes ou petequiais.
TI PÓS-CONTRASTE. O realce intravascular fre
qüentemente visto nas primeiras 48 horas após a oclusào
tromboembólica desaparece dentro de 3 a 4 dias e é suce
dido por realce leptomeníngeo causado por fluxo sangüí
8-45B Aquisição em TI pós-contraste com saturação
neo persistente em colaterais piais. Realce parenquima- de gordura do mesmo paciente demonstrando intenso
toso esparso ou giriforme pode ocorrer tào cedo quanto realce B característico do infarto subagudo.
2 a 3 dias após o infarto c pode persistir por 2 a 3 meses
(Fig. 8-45B).
PONDERAÇÃO EM DIFUSÃO. Restrição com hipe-
rintensidade na ponderação em difusão e hipointensidade
no mapa de ADC persiste nos primeiros dias que se se
guem ao início do derrame, então gradualmente é rever
tida até se tomar hipointensa na ponderação em difusão e
hiperintensa com efeito T2 '"shine through"" no mapa de
ADC.

Diagnóstico diferencial
O principal diagnóstico diferencial do infarto cerebral su
bagudo é a neoplasia. A maioria dos tumores não restrin
ge à difusão e não regride com o tempo. A evolução dos
achados de imagem do AVC ocorre muito mais rapida
mente. As infecções (p. ex., encefalite e cerebrite) podem
ter aspecto similar ao AVC subagudo, mas não seguem 8-46 T2 "fogging effect" ES (esquerda) indicando
o infarto em território da ACP direita quase isointenso,
distribuições vasculares definidas. mas que realça fortemente na aquisição em TI pós-
-contraste (direita). AVC subagudo.
198 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

Infartos cerebrais crônicos

Terminologia
Os infartos cerebrais crônicos são o resultado final dos
AVCs isquêmicos territoriais e também são chamados de
encefalomaiacia pós-infarto.

Patologia
A marca patológica dos infartos cerebrais crônicos é a
perda de volume com gliose em um local anatômico de
distribuição vascular. Um cérebro cavitado, com encefa
lomaiacia, com faixas de tecido glial residual e passagem
de vasos sangüíneos é o aspecto macroscópico habitual de
um infarto antigo (Fig. 8-47).

Imagem
8-47 Espécime de autópsia demonstrando encefa-
Os exames de imagem de TC sem contraste demonstram
lomalacia por um ínfarto antigo em território da ACM
B. (Cortesia de R. Hewlett, MO.)
uma área hipodensa com morfologia em cunha bem de
marcada que envolve tanto a substância branca (SB)
quanto a substância cinzenta (SC) e que segue o território
vascular de uma artéria cerebral. Os sulcos adjacentes e o
ventrículo ipsilateral se alargam em conseqüência à perda
de volume do hemisfério afetado (Fig. 8-48A).
Degeneração walleriana com um pedúnculo cere
bral ipsilateral reduzido com freqüência está presente em
grandes infartos da ACM. Procure por atrofia no cerebe-
lo contralateral secundária à diásquise cerebclar cruzada.
CalcificaçÕes distróficas são incomuns, mesmo em AVCs
hemorrágicos antigos.
Infartos crônicos com mais de 2 a 3 meses não real
çam na TC com contraste.
Os exames de RM demonstram encefalomaiacia cisti-
ca com intensidade de sinal equivalente ao LCS em todas
as seqüências. Gliose marginal ou espongiose na periferia
8-48A TC sem contraste em um paciente com AVC
do infarto cavitado antigo aparece hiperintensa em FLAIR
antigo demonstrando encefalomaiacia na distribuição da (Fig. 8-48B). As ponderações em difusão demonstram au
ACM esquerda B. Os núcleos da base foram poupados. mento dela (hiperintensa no mapa de ADC).

Diagnóstico diferencial
o principal diagnóstico diferencial do infarto cerebral
crônico é o cisto porencefálico. O cisto porencefálico
envolve toda a espessura cerebral, estendendo-se do ven
trículo à superfície subpial do córtex. A encefalomaiacia
pós-traumática demonstra outras áreas de dano associa
das e não está restrita a um território vascular. Modifica
ções pós-cirúrgicas também demonstram outros achados
relacionados ao pós-operatório, tais como modificações
cranianas/do escalpo.

Infartos embóllcos múltiplos


Émbolos cardíacos e ateromatosos
Etiopatologia. Pequenos infartos simultâneos em múltiplas
e diferentes distribuições vasculares são característicos do
8-48B (Ê) Ponderação em T2 demonstrando hiperin-
infarto cerebral embólico (Figs. 8-49, 8-50). O coração
tensidade S na mesma distribuição. (D) Aquisição em
FLAIR demonstrando as diferenças entre a encefaloma é a fonte mais comum; os êmbolos cardíacos podem ser
iacia e a gliose [S. sépticos ou assépticos. Sinais periféricos de embolia, tais
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 199

como hemorragias lineares (de Splinter), às vezes estào Pequenos focos periféricos com restrição à difusão em
presentes. A ecocardiografia pode demonstrar vegetações diversas e diferentes distribuições vasculares são típicos de
valvares, defeitos de enchimento intracardiacos ou defei múltiplos infartos embólicos (Fig. 8-51B). As imagens em
tos septais ventriculares ou atriais. TI pós-contraste demonstram múltiplos focos puntiformes
Embolos hemisféricos ipsilaterais são mais comuns de realce. Os êmbolos sépticos freqüentemente demons
em razão de placas ateromatosas na artéria carótida inter tram realce anelar, lembrando numerosos microabscessos.
na (Fig. 8-52). Muitas são clinicamente silenciosas, mas
Diagnóstico diferencial. O principal diagnóstico diferencial
carregam um alto risco para um AVC subsequente. de infartos embólicos múltiplos é o infarto cerebral hi-
Imagem. Em contraste aos infartos territoriais arteriais, os potensivo (ver adiante). Os infartos hipotensivos são, em
infartos embólicos tendem a envolver ramos corticais termi geral, causados por comprometimento hemodinámico e
nais. A interface entre a SB-SC é a mais comumente afetada. tendem a envolver as zonas internas profundas de tran
Exames de TC sem contraste demonstram focos de sição. As metastases parenquimatosas têm predileção
baixa atenuação freqüentemente em uma distribuição com pela interface entre a SB-SC, assim como os infartos em
morfologia em cunha. Os êmbolos ateroscleróticos às ve bólicos, mas em geral não restringem à difusão.
zes demonstram calcifícações. Os êmbolos sépticos costu
mam ser hemorrágicos (Fíg. 8-51 A). Exames de TC com Êmbolos gordurosos
contraste podem demonstrar múltiplas lesões puntiformes A síndrome da embolia gordurosa (SEG) é uma enfermi
ou com realce anelar. dade incomum que se apresenta com hipoxia, sintomas
Os exames de RM demonstram hiperintensidades neurológicos e/ou rash petequial no contexto de fraturas
multifocals periféricas em T2/FLA1R. Os êmbolos hemor de ossos longos das extremidades inferiores com deslo
rágicos causam artefatos de susceptibilidade magnética camento grave. O termo "embolia gordurosa cerebral"
nas seqüências T2*. A seqüência mais sensível é a difusão. (EGC) se refere às manifestações neurológicas da SEG.

8-49 Espécime de autópsia


demonstrando múltiplos infartos
antigos resolvidos na junção en
tre a SB-SC ES. (Cortesia de R.
Hewlett, MD.)
8-50 Imagem focada de um
espécime de autópsia de uma
paciente com endocardite infec
ciosa e septicemia demonstrando
infartos sépticos hemorrágicos
na junção entre a SB-SC [3.
Hemorragia subaracnóidea
focai está presente nos sulcos
adjacentes [S. (Cortesia de R.
Hewlett, MD.)

8-51A (Esquerda) TC sem


contraste em um paciente com
infecçao da válvula mitral e de
clínio do estado mental demons
trando dois focos hemorrágicos
ES nas junções entre a SB-SC
de ambos os lobos occipitais.
(Direita) Corte ao nível da coroa
radiada demonstrando focos

hemorrágicos adicionais B.
Esses achados sugerem êmbolos
sépticos múltiplos.
8-51B A ponderação em di
fusão demonstra múltiplos focos
de restrição ES nas junções en

■"v tre a SB-SC de ambos os hemis


férios. Múltiplos infartos sépticos
embólicos.
200 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

8-52A A aquisição em FLAIR


no plano axial de um homem
de 82 anos com início súbito de
fraqueza no membro superior
esquerdo e afasia revela diversas
hiperintensidades esparsas no
córtex parietal direito ES.
8-52B Ponderação em difusão
do mesmo paciente demons
trando múltiplos pequenos focos
periféricos de restrição B. O
hemisfério esquerdo tem aspecto
completamente normal.

8-52C Imagem fonte de ATC


do mesmo paciente demons
trando uma placa aterosclerótica
densamente calcificada E3 na
bifurcaçào da carótida direita. Há
uma imagem lucente no interior
da placa B sugerindo que se
trate de uma placa em risco.
8-52D Reconstrução sagital
mostrando que a placa ateroscle
rótica calcificada B e lucente
B causa uma estenose de
alto grau B na artéria caróti
da interna proximal direita. Os
múltiplos infartos corticais vistos
na RM foram, provavelmente,
causados por êmbolos artéria-
•artéria.

8-52E TC sem contraste em


corte axial três dias após de
monstrando hipodensidade focai
bem delimitada cortical/subcor-
tical B, compatível com infarto
embólico.
8-52F Corte axial de TC sem
contraste mais cranial demons
trando hipodensidades adicionais
E3 correspondendo às anorma
lidades que foram identificadas
em FLAIR no exame de RM pré
vio. Infartos embólicos unilate
rais são mais comumente secun

dários à doença aterosclerótica


na artéria carótida ipsilateral.
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 201

Etiopatologia. Dois mecanismos foram propostos para ex A RM demonstra numerosas (média = 50) hiperinten-
plicar os efeitos de SEG: (1) oclusão de pequenos vasos sidades puntiformes ou contluentes nos núcleos da base,
por particuías gordurosas e (2) modificações inflamatórias SB periventricular e na junção SB-SC em T2/FLAIR
nos tecidos adjacentes iniciadas pela quebra da gordura em (Fig. 8-53A). A ponderação em difusão demonstra inú
ácidos graxos livres e em outros produtos metabólicos. meros e minúsculos focos puntiformes de restrição em
A marca patológica da EGC sào os êmbolos gorduro múltiplas distribuições vasculares, o padrão "estrelado"
sos arteriolares com micro-hemorragias vasculares. (Fig. 8-53B). Pequenos focos solitários ou múltiplos de
hipointensidades com artefatos de susceptibilidade mag
Epidemiologia e aspectos clínicos, a incidência global de nética podem ser identificados em até um terço de todos
SEG em pacientes com fraturas de ossos longos - mais os casos de SEG no T2* GRE (Fig. 8-53C). A seqüência
comumente a cabeça femoral - é de 0,17%. A SEG SWl revela inúmeros (>200) minúsculos "pontos pretos"
também ocorre em procedimentos ortopédicos eletivos na maioria dos pacientes (Fig. 8-53D).
(p. ex., artroplastia total de quadril), anestesia e enfermi
dades isquêmicas {p. ex.. pancreatite). Diagnóstico diferencial. O principal diagnóstico diferen
A EGC ocorre em até 80% dos pacientes com SEG. cial da síndrome da embolia cerebral gordurosa são os
Os sinais e sintomas variam em gravidade e incluem ce- infartos cmbólícos múltiplos. Múltiplos infartos embó-
licos cardíacos ou aleromalosos raramente produzem as
faleia, convulsões, alteração do estado mental, paralisia e
dezenas ou mesmo centenas de lesões vistas na EGC. As
coma. O início dos sintomas se dá de 2 lioras até dois dias
lesões tendem a envolver os núcleos da base e as junções
após o trauma ou cirurgia, com uma média de 29 horas. corticomedulares mais do que a substância branca.
Imagem. Os achados de imagem refletem o efeito do êmbo- Hipointensidades multifocais com artefatos de sus-
lo gorduroso (i.e., minúsculos AVCs multifocais e micro- cetibilidade magnética em T2* podem ser vistas no dano
-hemorragias) no tecido cerebral. Os exames de TC sem axonal difuso (DAD) grave ou no dano vascular difuso
contraste são. como conseqüência, normais. (DVD). Como os pacientes com EGC freqüentemente têm

8-53A Aquisição axial em


♦ A < * % • FLAIR de um homem de 68 anos
que se apresentou confuso e en
tão comatoso um dia após cirur

.%1</ gia com prótese total de quadril,


demonstrando hiperintensidades
multifocais E2 na substância
branca subcortical e cerebral
profunda.
8-53B Ponderação em difu
são demonstrando inúmeros e

iV í -V ■
minúsculos focos de restrição na
substância branca profunda ce
rebral ES, o padrão "estrelado"
característico da síndrome de
* .4 •
embolia gordurosa cerebral.
% 4 • / , '

8-53C A aquisição em IT
GRE no mesmo paciente não de
monstra alterações.
8-53D A aquisição SWl do
mesmo paciente demonstra cen
tenas de hipointensidades com
c ' . Vi artefatos de susceptibilidade
magnética S! esparsos por toda
a substância branca ceretiral. No
contexto de artroplastia total de
quadril, elas representam micro-
-hemorragias causadas por em
bolia gordurosa cerebral.

.-*y,
202 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

politrauma, a distinção pode ser difícil com base apenas nos


exames de imagem. O DAD e o DVD tendem a causar mi-
crossangramentos lineares ou puntiformes da mesma forma.

Infartos lacunares

Terminologia
Os termos "lacuna", "infarto lacunar" e "AVC lacunar"
costumam ser utilizados indistintamente. As lacunas são
cavidades (ou «buracos») de 3 a 15 mm preenchidas por
LCS que ocorrem com mais freqüência nos núcleos da
base ou na substância branca cerebral (Fig. 8-54). Elas são
muitas vezes observadas coincidentemente nos estudos de

imagem de pacientes idosos, mas não estão claramente as


sociadas a sintomas neurológicos discretos, ou seja. elas
são AVCs subclínicos. As lacunas são, às vezes, chamadas
8-54 Ilustração demonstrando infartos lacunares nos de AVCs "silenciosos", um nome errôneo já que déficit
talamos e nos núcleos da base Observe ainda espa
neuropsicológico sutil é comum nesses pacientes.
ços perivasculares proeminentes (Virchow-Robin) SJ. O AVC lacunar significa uma síndrome de infarto
clinicamente evidente atribuída a pequenas lesões subcor-
ticais ou de tronco que podem ou não estar evidentes nos
exames encefálicos. O termo "éfaf lacimaire'"' ou estado
lacunar designa múltiplos infartos lacunares.

Epidemiologia e etiologia
Cerca de 25% de todos os AVCs isquèmicos são infartos
do tipo lacunar. As lacunas são consideradas marcadores
macroscópicos de doença cerebral de pequenos vasos
("microvascular"). Elas são causadas por lipo-hialinose
ou ociusão aterosclerótica de ramos perfurantes que se
originam do polígono de Willis e de artérias periféricas
corticais. Essas perfurantes são artérias muito pequenas
terminais com poucas colaterais. Os infartos lacunares
embólicos são relativamente incomuns.

A . Patologia
8-55 Autópsia demonstrando infartos lacunares anti
gos no caudado SI, putame tálamo e rarefa- Localização. Os infartos lacunares são mais comuns nos
ção periatrial da S6 B. (Cortesia de R. Hewlett, MO.) núcleos da base (putame, globo pálido, núcleo caudado),
tálamos, cápsula interna, substância branca cerebral pro
funda e ponte (Fig. 8-55).
Tamanho e número. As lacunas são, por definição, lesões
de 15 mm ou menos de diâmetro. Múltiplas lesões são co
muns. Entre 13 e 15% dos pacientes possuem múltiplos
infartos lacunares agudos simultâneos.
Aspecto micro e macroscópico. Macroscopicamente, uma la
cuna aparece como uma cavidade cística, empalidecida,
com contornos irregulares, mas relativamente bem defi
nidos. Descoloração siderótica corada de marrom pode
ser vista em lacunas hemorrágicas antigas. Microscopica-
mente, os infartos lacunares isquèmicos demonstram teci
do de rarefação com perda neuronal, infiltração periférica
por macrófagos e gliose.

Aspectos clínicos
8-56 Ponderação axial em T2 demonstrando múlti Os fatores de risco independentes para infartos incluem
plas lacunas ES nos núcleos da base e talamos. envelhecimento, hipertensão e diabetes.
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 203

O prognóstico do AVC lacunar é altamente variável. Cavitaçào e redução de tamanho da lesão são vistas
Embora a maioria das lacunas seja assintomática, os "pe em mais de 95% dos infartos lacunares profundos sinto
quenos AVCs" podem significar um "grande problema". máticos nos exames de imagem de seguimento. Os infar
Um único AVC subclínico - em geral uma lacuna - está tos lacunares antigos são hipointensos em TI e hiperinten-
associado ao aumento da probabilidade de ter "pequenos sos em T2 (Fig. 8-56). O líquido no interior da cavitação
AVCs" adicionais, bem como desenvolver AVC clinico suprime em FLAIR, enquanto a periferia gliótica perma
evidente e/ou demência. Quase 20% dos pacientes acima nece hiperintensa (FIg. 8-57). Doença de substância bran
de 65 anos com hiperintensidades da substância branca ca multifocal, vista como HSBs, também é comum nos
(HSBs) em T2/FLA1R na RM irào desenvolver uma lacu pacientes com infartos lacunares francos.
na dentro de três anos. A maioria das lacunas são não hemorrágicas. Contu
Entre 20 e 30% dos pacientes com AVC lacunar so do, microssangramentos parenquimatosos - "pontos pre
frem declínio neurológico em horas ou mesmo dias após o tos" com artefatos de susceptibilidade magnética multifo
evento inicial. A fisiopatologia do "AVC lacunar progres cals em T2* (GRE, SWl) - são comorbidades comuns em
sivo" nào é completamente entendida e ainda não existe pacientes com infartos lacunares e hipertensão crônica.
tratamento que comprovadamente impeça ou previna a Os infartos lacunares agudos restringem nas pondera
sua progressão. ções em difusão, mas a ponderação em difusão realizada
no momento agudo superestima significativamente o ta
Imagem manho final do ínfarto. Infartos lacunares agudos/subagu-
Os achados de imagem variam dependendo da lacuna ser dos precoces podem realçar em Ti pós-contraste.
aguda ou crônica. As lacunas agudas podem ser invisíveis
nos exames de TC sem contraste; as lacunas antigas apa Diagnóstico diferenciai
recem como "buracos" bem definidos com densidade se o principal diagnóstico diferencial de um infarto lacunar
melhante ao LCS no parénquima cerebral. são os espaços perivasculares (EPVs) proeminentes.

8-57A Ponderação axial em


T1 de uma mulher de 43 anos
com uma longa história de abuso
de drogas demonstrando múlti
plas hipointensidades nos núcle
os da base, talamos e substância
branca cerebral profunda SI.
8-578 Ponderação axial
em T2 da mesma paciente
demonstrando a característica
hiperintensidade e a morfologia
irregular de infartos lacunares
típicos ES.

r ' .
^ X 8

8-57C Aquisição em FLAIR da


mesma paciente mostrando que
as lacunas antigas suprimem
completamente ES ao passo
que as lesões mais recentes pos
suem uma borda hiperintensa de
tecido gliòtico circundando um
centro hipointenso B que ain
da nào se parece completamente
com o LCS.

8-57D A aquisição em T2'GRE


não demonstra evidência de
hemorragia.
204 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

8-58 Imagens ponderadas em TI demonstrando duas zonas de transição (ZTs) vasculares, sendo que as ZTs externas (corticais) estão demonstradas
em turquesa. As áreas com morfologia em cunha entre as ACAs, ACMs, ACPs representam as "zonas de fronteira" entre as três principais distribuições
vasculares terminais. As linhas curvas em azul (abaixo e à direita) representam a ZT subcortical. A "zona de fronteira" tripla B representa a confluên
cia dos três principais vasos. As linhas em amarelo indicam a ZT interna (ZT profunda) entre as artérias perfurantes dos principais vasos territoriais.

Também conhecidos como espaços de Virchow-Robin, os cunares nos estudos de imagem. Contudo, os infartos de
EPVs proeminentes são espaços intersticiais preenchidos "zonas de fronteira" ocorrem em localizações específicas
- ao longo das zonas limítrofes corticais e da substância
por liquido envoltos pela pia. Os EPVs proeminentes po
dem ser encontrados praticamente em qualquer localiza branca subcortical enquanto as lacunas são lesões es
ção e em pacientes de todas as idades, embora eles tendam parsas e mais randômicas que afetam primariamente os
a aumentar em nijmero e em freqüência com o passar da núcleos da base, tálamos e substância branca profunda
idade. Os locais mais comuns dos EPVs são o terço infe periventricular.
rior dos núcleos da base (agrupados em tomo da comissu- As HSBs associadas à doença microvascular (lipo-
ra anterior), a substância branca subcortical (incluindo a -hialinose primária e arteriolosclerose) são menos bem
cápsula externa) e o mesencéfalo (ver Capítulo 28). definidas e mais esparsas ou confluentes do que as peque
Os EPVs são de morfologia ovoide, linear ou redon nas lesões (<15 mm) que representam infartos lacunares
da, com margens bem definidas; as lacunas tendem a ter verdadeiros. As HSBs tendem a se agrupar em torno dos
morfologia mais irregular. Os EPVs seguem fielmente a cornos occipitais e da substância branca periventricular e
intensidade de sinal do LCS em todas as seqüências da não nos núcleos da base e tâlamos.
RM e suprimem completamente em FLAIR. O parênqui- Algumas poucas hiperintensidades esparsas em
ma cerebral adjacente é normal, embora uma fina borda T2/FLA1R são comuns no envelhecimento normal
de hiperintensidade em FLAIR em tomo dos EPVs esteja do cérebro. Um guia é "um pequeno ponto branco por
presente em 25% dos casos. década" até os 50 anos; após o que o número e o tama
Os infartos de "zonas de fronteira" ou infartos de nho das HSBs aumentam e sua taxa de aparecimento
zonas de transição lembram, grosso modo, os infartos la- acelera.
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 205

Infartos de zonas de transição As ZTs internas representam as junções entre os


ramos penetrantes (p. ex., artérias lenticuloestriadas, ar
("zonas de fronteira")
térias perfurantes medulares da substância branca e ra
Terminologia e Epidemiologia mos coroidais anteriores) e os vasos principais cerebrais
Os infartos de zona de transição (ZT), também conheci (ACM, ACA e ACP) (Fig. 8-59).
dos como infartos de "zonas de fronteira", são lesões is-
quêmicas que ocorrem na junção entre duas distribuições Etlologla
arteriais distais não anastomóticas. Os infartos de ZT são Duas hipóteses distintas - comprometimento hemodiná-
mais comuns do que geralmente identificados, constituin mico e microembolismos - foram propostas como a etio-
do 10a 12% de todos os infartos cerebrais.
logia dos infartos hemisféricos de ZT. Ambos são prová
veis fatores contribuintes.
Anatomia das "zonas de fronteira" cerebrais A distribuição vascular terminal normal tem pressão
As zonas de transição são definidas como as "fronteiras" de perfusão mais baixa do que os troncos arteriais princi
ou junções onde dois ou mais territórios arteriais princi pais. A vulnerabilidade à hipoperfusão é maior onde dois
pais se encontram. Dois tipos diferentes de zonas de fron campos arteriais se encontram. Hipotensão com ou sem
teira vascular são conhecidos: uma ZT externa (cortical) e estenose arterial grave ou oc/usão pode resultar em com
uma ZT interna (profunda) (Fig. 8-58). prometimento hemodinâmico. O fluxo na ZT afetada pode
As duas principais ZTs externas se localizam no córtex ser criticamente baixo, resultando em isquemia ou infarto
frontal (entre a ACA e a ACM) e no córtex parieto-occipital franco. A "zona de fronteira" mais suscetível é a "ZT tri
(entre a ACM e a ACP). Uma faixa de substância branca pla" onde a ACA, a ACM e a ACP convergem.
subcortical paramediana próxima ao vértice dos hemisférios Os infartos de ZT externa são o tipo mais comum. A
cerebrais também é considerada parte da ZT externa. maioria dos infartos de ZT externa são embólicos. Os in-

8-59A Híperíntensídades
da substância branca profunda
punliformes e coniluentes quase
simétricas E2 sâo vistas acima
e posteriormente aos ventrículos
laterais nesta mulher de meia-
-idade com AITs.
8-59B Aquisição em FLAIR
logo acima da imagem prévia
demonstrando hiperintensídades
da substância branca distintas,
semelhantes a um rosário bilate-
ralmente B.

8-59C Ponderação em T2
demonstrando íiow vo/d ausente
na ACI cavernosa direita A
ACl esquerda aparece normal
B, mas este é o lado sinto
mático.
8-590 A imagem de ARM TCP
2D demonstra achados que expli
cam os sintomas do paciente. (E)
A ACI esquerda demonstra um
intervalo de fluxo B caracte
rístico de estenose carotidea de
alto grau. (D) A ACI direita está
ocluída com um estreitamento
"rabo de rato" B. isquemia por
hipoperfusão em ZT interna pro
funda clássica bilateral.
206 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

fanos embólicos de ZT anteiiores corticais freqüentemente


ocorrem em razão de aterosclerose da carótida interna. Os
infartos de ZT externa acometendo todas as três "zonas de
fronteira" são rnenos comuns e refletem hipopeifiisão global.
Os infartos de ZT interna raras vezes são embóli
cos. Eles representam 35 a 40% de todos os infartos de ZT
e são mais coniumente causados por hipoperfusão regio
nal secundária a comprometimento hemodinâmico (p. ex.,
estenose carotídea ipsilateral).

Patologia
Localização. A distribuição dos territórios da ACA, ACM
e AGP varia consideravelmente de indivíduo para indiví
duo. Os infartos de ZT, ao contrário, demonstram modera
da variabilidade de localização.
Os infartos de ZT externos (corticais) demonstram
8-60 Caso de autópsia demonstrando clássicos infar-
uma distribuição espacial bimodal. Anteriormente, eles
tos em zonas de transição externas (cortical) E^.
estão centrados no lobo frontal posterior, próximo à jun
ção dos sulcos frontal com o sulco pré-central. Os infartos
de ZT posteriores estão centrados no lóbulo parietal supe
rior posterolateral ao sulco pós-central. A prevalência dos
infartos de ZT decai entre essas duas áreas. Os infartos de
ZT poupam o córtex mediai (Fig. 8-60).
Os infartos de ZT internos tendem a se "alinhar" com
a substância branca, sendo paralelos e levemente acima
dos ventrículos laterais (Fig. 8-59). Os infartos de ZT ce-
rebelares ocorrem nos limites entre as artérias cerebelares

posteroinferior, anteroinferior e superior,


Tamanho e número. Os infartos de ZT variam em tama
nho desde lesões minúsculas a grandes áreas isquêmicas
em formato de cunha. As lesões múltiplas são comuns e
podem ser uni ou bilaterais. As lesões bilaterais são fre
qüentemente relacionadas á redução global na pressão de
8-61A Aquisição axial em FLAIR demonstrando os
perfusão por um evento hipotensivo agudo.
achados típicos de iniartos de zona de transição externa Imagem. Os achados de imagem variam com o tipo de in-
(cortical) E3 bilateralmente. farto de ZT. Os principais objetivos na neuroimagem dos
pacientes com infarto de ZT são (1) determinar se há défi
cit hemodinâmico (i.e., estenose vascular) e, se presente,
(2) avaliar a sua gravidade.
Infartos de ZT externos (corticais). Os infartos de ZT corti
cais (externos) possuem morfologia em cunha ou girifor-
me (Fig. 8-61).
Infartos de ZT internos. Os infartos internos de "zonas de
fronteira" podem ser confluentes ou parciais. Os infartos
confluentes são lesões grandes, com morfologia de "ci
garro" que se localizam ao longo ou logo acima dos ven
trículos laterais. Os infartos parciais são lesões mais dis
cretas semelhantes a um rosário. Eles lembram a linha de
um colar de contas que se estende anteroposteriormente
na substância branca profunda (Figs. 8-59A, 8-59B).
A estenose ou oclusão da artéria carótida interna

8-61B Ponderação em difusão demonstrando ipsilateral ou da ACM comuns nas lesões unilaterais
múltiplos focos de restrição puntiíormes corticals e (Fig. S-59C), (Fig. 8-59D). A presença e o grau de pre
giriíormes B. Hipoperfusão global transitória com juízo hemodinâmico podem ser determinados utilizando-
hipotensão. -se diversos métodos, incluindo pTC, pRM, SPECT e PET.
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 207

8-62 Espécime de autópsia com corte coronal de neonato prematuro 8-63 Ultrassom no plano sagital de um lactente prematuro demons
demonstrando hemorragia da matriz germinativa grau III S] com ex trando hemorragia da substância cinzenta, vista como um loco ecogênico
tensão para o ventrículo lateral adjacente Sj. no recesso caudotalâmico B.

Diagnóstico diferencial Dano hipóxico-isquêmico


o principal diagnóstico diferencial dos infartos de ZTsão os O dano cerebral hipóxico-isquêmico é um dos mais de
infartos lacunarcs. Os infartos lacunares podem envolver vastadores de todos os insultos cerebrais. Deficits neuro
os ntícleos da base. talamos e a ponte e aparecem espalha lógicos graves a longo prazo com prejuízo funcional pro
dos randomicamente. Mijltiplos infartos embóllcos tam fundo são comuns.
bém podem se parecer muito com os infartos de ZT. Os êm- A isquemia cerebral é simplesmente a diminuição de
bolos com freqüência sao bilaterais e multiterritoriais, mas fluxo sangüíneo. A isquemia pode ser focai ou global. A
também podem ocorrer nas "zonas de fronteira" vasculares. isquemia focai se refere à redução ou à ausência de perfu-
A síndrome da cnccfalopatla posterior reversível são em um território vascular em particular, com freqüên
(PRES) ocorre no contexto de hipertensão aguda. O cór- cia secundária à estenose ou à oclusão arterial. A isquemia
tex/substância branca subcortical na distribuição da ACP é pode ou não evoluir para infarto franco, isto é, morte tis-
mais comumente afetado, embora a PRES possa também sular. A isquemia global ocorre quando a perfusão cere
envolver as "zonas de fronteira" e os núcleos da base. A bral global cai abaixo do nível requerido para manter a
PRES raramente restringe à difusão (edema vasogênico), função cerebral normal (p. ex.. na parada cardíaca).
enquanto os infartos das "zonas de fronteira" com edema A hipóxia ou hipoxcmia se refere à redução do san
citotóxico demonstram restrição aguda.
gue oxigenado. Ao contrário da isquemia, a hipóxia cere
bral é quase sempre global. Nas fases iniciais da hipóxia.
INFARTOS DE ZONAS DE TRANSIÇÃO o débito cardíaco e o fluxo sangüíneo cerebral (CBF) po
dem estar normalmente mantidos, mas a oxigenação san
("ZONAS DE FRONTEIRA")
güínea é deficiente (p. ex.. envenenamento por monóxido
Anatomia e etiologia de carbono). A hipoxemia sistêmica prolongada resulta
• Dois tipos de "zonas de fronteira" vasculares
em hipóxia cardíaca, a qual. por sua vez, diminui o débi
o Externa (cortical): entre ACA, ACM, ACP
o Interna (SB profunda): entre ramos perfurantes, to cardíaco. Por fim, a redução do débito cardíaco vem a

artérias principais causar hipoperfusão cerebral global e isquemia.


• Etiologia O termo dano hipóxico-isqucmico (DHl) global é uti
o Êmboios (corticais são mais comuns) lizado para descrever os achados de imagem e patológicos
o Hipoperfusão regional (SB profunda é comum) da hipóxia no SNC com ou sem isquemia cerebral global
o Hipoperfusão global (todas as três ZTs corticais) (não focai). Na prática, ambos os fatores freqüentemente
Imagem agem em conjunto. Na asfixia, o dano cerebral é uma conse
• Externa: cunha ou giríforme qüência da isquemia superimposta à hipóxia. A hipóxia pura
• Interna: HSBs lineares, semelhante a um rosário na ausência de isquemia em geral não causa necrose cerebral
franca, a menos que o estado de hipóxia seja prolongado.
208 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

8-64A Ultrassonografia transfontanelar oblíqua de um lactente pre- 8-64B Ponderação em T2 do mesmo paciente demonstrando IHPeri
maluío de 26 semanas demonslrando infarto hemorrágico periventricu S] e uma discreta linha escura de neurônios BI migrando para o exte
lar (IHPeri) B com extensão para os ventrículos laterais ES. rior a partir da matriz germinativa.

As alterações isquêmicas focais foram discutidas pre O tipo de lesão que pode resultar em DHI grave se
viamente neste capítulo. Aciui. delinearemos brevemente modifica conforme o cérebro se desenvolve. O aumento

as manifestações do DHI global cerebral. Os achados do da demanda metabólica, em conjunto com a maturidade
DHI sào altamente variáveis. O eleito do Dili no cérebro dos receptores de glutamato, modifica o padrão de vulne
maduro de crianças mais velhas e de adultos difere sig rabilidade ao dano hipóxico-isquêmico. O DHI grave em
nificativamente do seu impacto no cérebro em desenvol neonatos pré-termo preferencialmente afeta os tálamos e
vimento. Outros fatores, tais como a duração do insulto o tronco encefálico, que são precocemente mielinizados
e a gravidade, bem como o tempo em que o estudo foi e metabolicamente ativos, com relativa preservação dos
realizado em relação ao início do quadro, também afetam núcleos da base e do córtex.

os aspectos de imagem do DHI cerebral global. Os achados de imagem de DHI grave em lactentes
pré-termo causado por hipotensão profunda ou parada
Dano hipóxico-isquêmico perinatal cardíaca são variáveis. O aumento da ecogenicidade nos
tálamos em 48 a 72 horas é comum na ultrassonografia
Os achados de imagem do DHI perinatal variam com a
transcraniana. A RM demonstra que tálamos, verme, tron
gravidade e a duração do insulto, bem como com a idade co encefálico dorsal, núcleos lentiformes e giros perir-
gestacional. O cérebro pré-natal tem seu desenvolvimen
rolândicos estão freqüentemente envolvidos. As anormali
to imaturo, de modo que os achados de imagem nesses
dades à difusão podem ser detectadas dentro de 24 horas,
lactentes prematuros diferem daqueles vistos nos recém-
embora o prolongamento do tempo T2 e o encurtamento
-nascidos a termo.
do tempo TI só ocorram dentro de alguns poucos dias.
O espectro de dano cerebral nos lactentes pré-termo é
O DHI menos profundo causa hemorragia de matriz
surpreendentemente vasto e inclui não apenas o DHI, mas
lesão de substância branca da prematuridade. hemorragia germinativa (HMG) e hemorragia intraventricular (HI)
e/ou dano periventricular profundo da SB (Fig. 8-62). A
de matriz germinativa, infarto hemorrágico periventricu
lar. hemorragia intraventricular e dano cerebelar. prevalência da HI nos neonatos pré-termo está inversa
mente relacionada à idade gestacional e ao peso no nas
DHI NOS LACTENTES PRÉ-TERMO. Por definição, os lactentes pré- cimento. A prevalência nos neonatos pré-termo com peso
-tenno são aqueles nascidos antes de 37 semanas de idade abaixo de 2.000 gramas é de cerca de 25%.
gestacional. O DHI é mais comum nos neonatos pré-termo A matriz germinativa é uma estrutura altamente vas-
do que naqueles nascidos a termo. O DHI nos neonatos pré- cularizada que se localiza no feto ao longo das paredes
-tenno causa cerca de 50% de todos os casos de paralisia dos ventrículos laterais e na camada granular externa do
cerebral (PC). Aproximadamente, 5% dos lactentes com me cerebelo. A matriz germinativa é mais proeminente na se
nos de 32 semanas de idade gestacional e 15 a 30% dos lac gunda metade do primeiro trimestre e no segundo trimes
tentes nascidos com menos de 28 semanas desenvolvem PC. tre. Ela regride gradualmente durante o terceiro trimestre
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 2 0 9

e. por volta de 34 semanas de idade gestaclonal, ela está


quase completamente involuída. A última área a involuir -
a eminência gangliônica - está localizada no aspecto pos
terior do recesso caudotalámico e é o local da maioria das

hemorragias de matriz germinativa.


As hemorragias peri e intravenlriciilares (incluindo as
HMGs) em geral são avaliadas com a US craniana (Figs.
8-63,8-64A) e são divididas em quatro graus que refletem
(1) a localização da hemorragia (p. ex., SC, venlrículos) e
(2) o grau de ventriculomegalia (ver quadro).

GRADUAÇÃO DAS HEMORRAGIAS PER! E


INTRAVENTRICÍILARES EM LACTENTES PREMATUROS
Grau I
• HMG subependimária (em geral no recesso caudotalámico
• Ausência/mínima extensão intraventricular 8-65 US de um lactenle de 34 semanas de idade
gestacional com 17 dias pós-natai demonstrando LSBAP
Grau II com ecogenicidades difusas na SB BEl e com cavitação
• HMG + NI (ausência/mínima ventriculomegalia) precoce

Grau 111
• HMG + HI + ventriculomegalia
Grau IV
• Infarto hemorrágico parenquimatoso periventricular
• Provavelmente secundário a infarto venoso
• Não é HMG verdadeira!

A lesão da substância branca associada ã prema-


turídadc (LSBAP) foi primariamente chamada de leuco-
malacia periventricular (LP), embora ela também afete a
substância cinzenta. A LP representa basicamente o estágio
final da LSBAP. Uma descrição mais acurada, porém me
nos usada da LSBAP é encefalopatia da prematuridade.
O dano de substância branca é comum nos lactentes

prematuros. A prevalência é inversamente proporcional à


idade gestacional de nascimento. A LSBAP está mais prova
velmente relacionada à vulnerabilidade seletiva das células

precursoras dos oligodendrócitos tardios à acidose lácíica,


resultando do comprometimento da autorregulação vascular.
A lesão de substância branca (SB) é mais comum
adjacente ao forame de Monro e aos irigonos dos ventrí-
culos laterais; ela pode ser não cavitada (mais comum)
ou cavitada. A necrose franca da SB pode progredir para
cavitação e cistos porencefálicos. Como resultado, o cisto
acaba sofrendo colapso, deixando uma substância branca
reduzida e gliótica nas regiões ventriculares.
O primeiro achado na US são as lesões (/lares) hipe-
recoicas periventriculares (Fig. 8-65). Os cistos periven-
triculares não se desenvolvem em até 3 a 6 semanas. Por
volta de seis meses o cisto se resolve, os ventrículos se

alargam e o estágio final da LP se segue.


A RM demonstra inicialmente hipointensidades
periventriculares em TI e hiperinlensidades em T2 8-67 Ponderação em T2 demonstrando o estágio
(Fig. 8-66). A hemorragia - presente em quase dois terços finai da LSBAP com LP, ventrículos "endentados" e
do estágio precoce das LPs - é profundamente hipointen- importante perda de SB. O cortex quase toca os ventrí
sa na ponderação em T2 (Fig. 8-64B) e causa artefatos culos laterais BI.
210 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

de susceptibilidade magnética em T2*. Como os lactentes


prematuros em geral apresentam picos mais altos de lac- OHi EM LACTENTES PRÉ-TERMO
tato e mais baixos de NAA do que os lactentes a termo, a Aspectos clínicos
espectroscopia por RM pode ser difícil de interpretar. • <37 semanas de idade gestacional
O estágio final da LP demonstra redução de volume • DHl causa 50% de todos os casos de paralisia cerebral
SB com hiperintensidades peritrigonais nas ponderações (PC)
em T2. O corpo e o esplênio do corpo caloso estão afia o 5% < 32 semanas desenvolvem PC

dos. Em algumas áreas, o córtex quase toca os ventrículos o 15 a 20% < 28 semanas desenvolvem PC

laterais, os quais se apresentam alargados e com margens Imagem


irregulares ("endentadas") (Fig. 8-67). • DHl grave afeta em sua maioria os tálamos
• DHl menos grave causa HMG, HI
DHI EM LACTENTES A TERMO. Os lactentes a termo são aque
• Lesão da substância branca associada à
les com 37 semanas ou mais de idade gestacional. Os
achados de imagem de asfixia em lactentes a termo va prematuridade
o Células precursoras dos oligodendrócitos são
ria conforme a gravidade. Embora a ultrassonografia seja
especialmente vulneráveis - Periventricular,
freqüentemente utilizada como procedimento de imagem sobretudo próximo aos trigones - Dois terços
inicial, a RM com ponderação em difusão é a modalidade possuem hemorragias coexistentes
mais sensível para avaliação do DHl neonatal. o Precoce na US; lesões {flares) periventriculares
O DHI grave com hipotensão perinatal profunda ou hiperecoicas
o Subagudo: ± cistos, quando resolvidos -> gliose
parada cardiocirculatória em lactentes a termo afeta pre
ferencialmente o cérebro em mielinizaçào ativa e áreas o Tardio: SB i, ventrículos alargados com margens
nas quais os receptores de NMDA estão mais altamente endentadas

concentrados. A substância cinzenta profunda (aspectos

8-68 Ilustração demonstrando


DHl grave em um lactente a
termo com envolvimento prefe
rencial do aspecto posterior dos
pulames SI e tálamos ventrola
terals O.
8-69 Ponderação em difusão
de um lactente a termo com DHl
grave demonstrando restrição à
difusão nos núcleos da base B3
e tálamos ventrolaterals B.

8-70 O DHl em forma mais


leve geralmente poupa os núcle
os da base profundos, mas en
volve o córtex e a SB subcortical,
em especial nas zonas de transi
ção entre "zonas de fronteira".
8-71 Ponderação em difusão
de um lactente a termo com DHl
moderado demonstrando relativa
preservação dos núcleos da base
com focos múltiplos de restrição
no córtex e na 56 subcortical.
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 211

posterior dos piitames e ventrolateral dos tálamos), os hi


pocampos e o tronco encefálico dorsal são mais grave
mente atingidos (Fig. 8-68). O DHI grave em lactentes a
termo pode causar também infartos parassagitais nas ZTs,
sobretudo no córtex perirrolândico.
As ponderações-padrão em TI e em T2 no dia inicial
costumam estar normais. Entre dois e três dias após. pode
ser vista hipcrintensidade em TI nos núcleos da base e tála
mos, com intensidade de sinal ausente ou diminuída no bra
ço posterior da cápsula interna, normalmente mielinizada.
A ponderação em difusão é a seqüência mais sensível
nas primeiras 24 horas, mostrando áreas de restrição e cor
respondente redução no mapa de ADC nos núcleos da base
e tálamos (Fig. 8-69). As anormalidades apresentam o seu
pico entre três e cinco dias e então sofrem "pseudonorma-
lização" por volta do final da primeira semana pós-natal.
8-72A Ponderação em TI no plano sagital demons
A espectroscopia por RM demonstra elevação da rela
trando o estágio final da encefalomalacia cística em
ção Lac:NAA e um pico glutamina-glutamato ressonando íactente a termo que realizou o exame cinco semanas
em 2,3 ppm. A espectroscopia por RM deve ser interpreta após profunda asfixia no momento do nascimento.
da com cuidado, já que o lactato está presente no LCS de
lactentes nonnais, o fenobarbital (freqüentemente utilizado
para sedação) ressona em 1,15 ppm (próximo ao lactato que
está em 1,3 ppm) e o NAA varia com maturidade cerebral.
Surge por fim a atrofia das estruturas lesionadas. A
ulcgiria - córtex reduzido com giros aplainados com
morfologia em cogumelo, com freqüência na região pa-
rieto-occipital - e a encefalomalacia são os achados da
fase final (Fig. 8-72).
O DHI menos grave com asfixia parcial em geral
poupa o tronco encefálico. o cerebelo e os núcleos cinzen
tos profundos. A asfixia parcial prolongada causa hipoper-
fusão nas zonas de transição ("fronteiras") (Fig. 8-70). O
córtex parassagital e a SB subcortical são mais gravemen
te afetados. As aquisições em TI e em T2 são inicialmente
normais, mas áreas com morfologia em cunha nas zonas
de transição podem ser vistas apresentando restrição à
8-72B Ponderação em T2 no plano axial demons
difusão (Fig. 8-71). Os achados tardios incluem infartos
trando encefalomalacia cística com córtex atilado.
císticos nas "zonas de fronteira".

OHI EM LACTENTES NO PERlODO PÓS-NATALE EM CRIANÇAS PEQUENAS.


Eventos anóxicos leves a moderados em lactentes mais
velhos e em crianças pequenas costumam causar dano às
zonas de transição, com hipodensidades corn morfologia
em cunha e áreas de restrição à difusão das "zonas de
fronteira" cortical (externa) entre os principais territórios
arteriais cerebrais.
A asfixia grave (por afogamcnto, choque ou trauma
não acidental) em crianças menores de 1 ano de idade da
nifica os núcleos da base, os tálamos laterais, o aspecto
dorsal do mesencéfalo e o córtex.
Em lactentes entre 1 e 2 anos de idade, os núcleos da
base, os hipocampos e o córtex anterior frontal/parieto-
-occipital estão envolvidos, enquanto os tálamos e o cór
tex perirrolândico estão relativamente poupados. Na TC
sem contraste, o córtex aparece hipodenso em relação à
8-72C Ponderação em T2 no plano coronal demons
substância branca (o sinal "reverso"). No DHI grave, o trando encefalomalacia cística difusa. 5B gravemente
edema cerebral difuso toma especialmente marcante a di- danificada e núcleos da base pequenos e reduzidos ES.
212 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

íerença entre os hemisférios extremamente hipoatenuados No DHI crônico, a ponderação em TI pode demonstrar
e o cerebelo e o tronco encefálico em geral perfundidos encurtamento do tempo TI giriforme {causado por necrose
{sinal do "cerebelo branco"). laminar cortical, e não por hemorragia ou calcificação).
A RM demonstra restrição à difusão nas áreas afetadas.

DHI em crianças mais velhas e em adultos DHI EM LACTENTES A TERMO/PÓS-TERMO,


O DHI global leve a moderado resulta de infartos de CRIANÇAS E ADULTOS
zona de transição (ver anteriormente). Lactentes a termo
O DHI grave em crianças mais velhas e em adultos • â36 semanas de idade gestacional-
afeta seletivamente os núcleos cinzentos profundos, o cor • Grave
o Núcleos cinzentos profundos, talamos ventrolaterals
tex, os hipocampos e o cerebelo.
A TC sem contraste demonstra edema cerebral difuso
o Braço posterior da cápsula interna, aspecto dorsal
do tronco encefálico
com perda da diferenciação normal entre as substâncias
o Hipocampos, zonas de transição parassagitais
branca e cinzenta e "desaparecimento" dos núcleos da base. o Crônico pode demonstrar ulegiria
A RM demonstra hiperintensidades nos globos páli • Menos grave
dos e no cerebelo nas aquisições em T2/FLAIR. A ponde o Zonas de transição corticais
ração em difusão demonstra restrição no cerebelo. núcle o Poupa tronco encefálico, cerebelo e núcleos
os da base e no córtex, mas em geral "pseudonormaliza" cinzentos profundos
dentro de uma semana. Em alguns casos de DHI grave Lactentes no período pós-natal e crianças novas
- sobretudo aqueles associados a envenenamento por mo- • Grave
nóxido de carbono há desenvolvimento de lesão tardia o Núcleos da base, tálamos laterais, aspecto dorsal
na SB em 2 a 3 semanas após o insulto inicial. do mesencéfalo, córtex

8-73A Um homem de 56 anos


com mais de 70% de estenose
da ACI cervical esquerda foi
submetido a endarterectomia
carotídea. Algumas poucas horas
após a cirurgia ele se apresentou
agudamente confuso e desen
volveu fraqueza do lado direito.
Imagem fonte de ATC demons
trando vascularização marcada-
mente aumentada no hemisfério

esquerdoB.
8-73B A ATC com CBF parece
relativamente normal, mas o
fluxo sangüíneo à esquerda (ROls
2a, 2b) está aumentado se com
parado ao lado direito.

8-73C O estudo do TIP é ainda


mais revelador. O lado anormal
NÃO é a distribuição da ACM
direita (verde), mas sim o lado
esquerdo (azul) onde o TIP está
marcadamenle encurtado.
8-73D Ponderação em 12 de
monstrando edema girai, perda
da definição dos sulcos e hiperin
tensidades no córtex/subslència
branca subcortical dos lobos
parieto-occipital e temporal es
querdos BEI e niícleos da base
B3. A ponderação em difusão
(não mostrada) estava normal.
Sindrome de hiperperfusâo pós-
-endarterectomia carotídea.
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 213

gestionados e dilatados, com elevação do fluxo sangüíneo


• Leve-moderado = zonas de transição corticais e redução do MTT/TTP (Figs. 8-73A, 8-73B, 8-73C).
Crianças mais velhas e adultos Achados na RM. Aquisições em T2/FLA1R demonstram
• Grave
o Núcleos cinzentos profundos, córtex, hipocampos, edema girai, hiperintensidades e borramento de sulcos na
cerebelo distribuição da carótida interna (Fig. 8-73D). Aquisições
• Leve-moderada = zonas de transição corticais em TI pós-contraste podem estar normais ou demonstrar
o Encurtamenlo do tempo TI giriforme (necrose leve aumento do realce intravascular.
cortical laminar) A ponderação em difusão é geralmente negativa. Já
que o edema é vasogênico em vez de citotóxico. A pRM
demonstra elevação do CBF e CBV com redução (encur-
tamento do MTT).
AVCs diversos
Síndrome da hiperperfusõo cerebral Diagnóstico diferencial
O principal diagnóstico diferencial de SHC pós-EC é a
Terminologia
isqucmia-ínfarto cerebral agudo. Nele, o MTT estará
A síndrome de hiperperfusào cerebral (SHC) é uma alte
prolongado (e não reduzido) e a difusão poderá mostrar
ração rara, mas potencialmente devastadora. A SHC é por áreas de restrição.
vezes chamada de perfusão de luxúria ou de hiperperfusào A síndrome da encefalopatia posterior reversível
pós-endarterectomia carotídea e é definida como um aumen (PRES) é uma alteração da autorregulaçao com predile
to do fluxo cerebral bem acima das demandas metabólicas.
ção pela circulação posterior. As lesões são, em geral, bi
laterais e não unilaterais como na SHC pós-EC.
Etlologia O status epileplicus também pode resultar em hipo-
A SHC ocorre com mais freqüência como uma com
perfusão. O córtex está mais seletivamente envolvido do
plicação dos procedimentos de reperfusao carotídeos que a substância branca. Os episódios similares a AVC na
(i.e., endarterectomia, angiopiastia, colocação de stem ou MELAS estão relacionados ao edema vasogênico, hipo-
trombólise). Causas menos comuns incluem status epilep-
perfusão e a dano neuronal. As hiperintensidades corticais
ticiis, MELAS e hipercapnia. em T2/FLA1R podem lembrar a SHC, mas a espectrosco-
A estenose carotídea crítica com isquemia cerebral
pia por RM nos cérebros de "aspecto normal" demons
crônica causa disfunçào endotelial e prejuízo da autorre- tram um pico elevado de lactato característico.
gulação arterial. A perda da vasoconstrição normal resulta
em dilatação crônica dos vasos de "resistência" cerebrais.
Quando a perfusão normal é restabelecida, isso pode re SÍNDROME DA HIPERPERFUSÃO CEREBRAL
sultar em aumento rápido do CBF no hemisfério previa
mente subperfundido. Terminologia
• CBF TT; acima da demanda metabólica normal
Os fatores de risco clínicos incluem idade, hiperten
são (em especial pós-procedimento), lesões bilaterais, Etlologia
• Comum = procedimento de reperfusao carotídea
doença hemodinamicamente significativa na artéria caró
• Menos comum = status epilépticas, MELAS
tida contralateral, fluxo sangüíneo colateral pobre e reser
va vascular cerebral diminuída.
Aspectos clínicos
• 1 a 3% dos pacientes com EC
Aspectos clínicos • Cefaleia unilateral, dor ocular
Epidemiologia e apresentação, a SHC sintomática ocorre em
1 a 3% dos procedimentos de reperfusao carotídea, embora Imagem
• Edema girai
5 a 10% de todos os pacientes desenvolvam SHC leve, ge • t realce intravascular
ralmente assinlomática. Os pacientes se apresentam dentro • Difusão negativa (edema vasogênico e não citotóxico)
de poucas horas após a endarterectomia carotídea (EC), às • pTC, pRM: fluxo sangüíneo anormalmente rápido
vezes com cefaleia unilateral, dor em face ou ocular, alte o T CBF, i MTT
ração cognitiva e déficits neurológicos variáveis.
Diagnóstico diferencial
Opções oe tratamento. Medidas preventivas incluem isque • ínfarto-isquemia cerebral aguda
mia cerebral intraprocedimento mínima, monitorização e • PRES

controle rigoroso da pressão arterial no pós-operatório e


sedaçào pós-operatória adequada.
AVCs em distribuições vasculares incomur)s
Imagem A grande maioria dos AVCs arteriais é facilmente reco
Achados na TC. A TC sem contraste pode demonstrar ape nhecível. já que correspondem aos territórios vasculares
nas leve edema girai. A ATC/pTC demonstram vasos con esperados das principais artérias cerebrais, tais como
214 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

ACA/ACM/ACP e da aitéria cerebelar posteroinferior.


Duas oclusòes aiteriais importantes, mas incomuns, são
o infarto da artéria de Percheron e a síndrome do topo da
artéria basilar, que serão brevemente discutidas aqui.

Infarto da artéria de Percheron


A artéria de Percheron (APer) é uma variante vascular, na
qual uma única e grande artéria perfurante mesencefálica
se origina do segmento PI da ACP para suprir o mesencé
falo e os tálamos mediais (Fig. 8-74). A oclusào da APer
pode causar obnubilação, défícits pupilares e oculomoto-
res, paralisia do olhar vertical, ptose e retração palpebral.
Os exames de TC sem contraste na ociusão aguda
precoce da APer são normais. Áreas hipodensas em am
bos os tálamos se estendendo para o mesencéfalo central
podem se desenvolver mais tardiamente.
8-74 (E) Artéria basilar normal com artérias perfu- A RM com ponderação em difusão é o procedimento
rantes pequenas suprindo o mesencéfalo talamos
mediais [S. (D) A APer possui um único tronco domi de escolha. As aquisições em T2/FLAIR demonstram hi-
nante SI. perintensidades redondas ou ovoides nos tálamos mediais,
logo lateralmente ao terceiro ventrículo (Fig. 8-75A). Em
pouco mais da metade dos casos, uma hiperintensidade com
morfologia em V envolve a superfície mediai dos pedúncu-
los cerebrais e o mesencéfalo rostral (Fig. 8-75B). A pon
deração em difusão demonstra restrição nas áreas afetadas.
O principal diagnóstico diferencial de ociusão da APer
é o infarto de "topo da basilar". Os infartos de "topo da
basilar" são mais extensos, envolvendo parte ou todo o
mesencéfalo rostral, lobos occipitais, verme e tálamos.
As oclusões vcnosas profundas cerebrais (Galeno)
envolvem os núcleos da base, braço posterior das cápsulas
internas e, em geral, a totalidade dos tálamos. As aqui
sições em T2* (GRE, SWI) demonstram coágulos com
artefatos de susceptibilidade magnética na veia cerebral
interna, na veia de Galeno e no seio reto (ver Capítulo 9).

Infarto de "topo da basilar"


8-75A Aquisição em FLAIR de um paciente com in-
farto da artéria de Percheron demonstrando infartos em o infarto de "topo da basilar" é uma síndrome clinica
ambos os táíamos mediais EEI. mente conhecida caracterizada por anormalidades vi
suais, oculomotoras e de comportamento, causadas por
trombose da artéria basilar distai. O trombo, com freqüên
cia, ociui ambos os segmentos PI da ACP (Fig. 8-76) e
A perfurantes distais que suprem o mesencéfalo rostral e os
tálamos. Dependendo da extensão inferior do coágulo,
perfurantes pontinas e um ou mais territórios das artérias
cerebelares superiores também podem estar afetados.
A TC sem contraste demonstra o sinal da "artéria ba
silar densa" (Fig. 8-76). Os achados na RM variam depen
dendo da extensão do trombo e do suprimento vascular às
V " p, ,
ACPs distais. Se ACPs "fetais" ou grandes AComPs esti
verem presentes, muito ou quase todo o território da ACP
pode estar poupado. As hiperintensidades em T2/FLAIR
no mesencéfalo, tálamos, ponte superior e hemisférios ce
rebelares superiores são comuns, bem como a restrição à
difusão (Figs. 8-77, 8-78, 8-79).
8-758 Aquisição em FLAIR do mesmo paciente de O diagnóstico diferencial de infarto de "topo da basi
monstrando hiperintensidade peduncular em forma de lar" inclui infarto da artéria de Percheron (anteriormen
"V" no mesencéfalo E3.
te) e ociusão venosa cerebral profunda (ver Capítulo 9).
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 215

8-76 Espécime de autópsia de


trombose do "topo da basilar"
demonstrando infartos de ambos
os lobos occipitais S. (Cortesia
de R. Hewlett, MD.)
8-77A TC sem contraste de
um homem de 81 anos com
declínio óo status mental depois
da cateterização cardíaca obtido
após 12 horas do início dos sinto
mas. Observe a AB e o segmento
P1 da ACP hiperdensos B,
hipodensidade no mesencélaio
bem como nos lobos tem
poral e occipital ES.

8-77B imagem fonte de ATC


demonstrando trombo com
ausência de opaciíicação da bi-
furcação basilar e de ambos
os segmentos PI proximais da
ACP El.
8-77C ATC com MIP em corte
coronal demonstrando que a
maior parte da AB proximal esta
normalmente opaciíicada El,
mas a AB distai e bifurcação
basilar. ACPs proximal e ACSs não
estão opacificadas B. Clássica
trombose de «topo de basilar».

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216 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

8-78A A trombose de AB mais


extensa é ilustrada por uma série
de imagens de um homem de 63
anos de idade. TC sem contraste
em corte através do mesencéfaio
demonstrando AB densa B,
mesencéfaio hipodenso B3 e
hipodensidade no lobo occipital
medial direito
8-78B Corte mais cranial
demonstrando hipodensidade
no tálamo esquerdo corpo
caloso ^3 e em ambos os lobos
occipitais S3.

8-78C ATC sagital demons


trando trombo na artéria basilar
S3 com ausência de opacifica-
ção da artéria basilar distai. Múl
tiplas hipodensídades esparsas
estão presentes na ponte B e
no lobo occipital B.
8 - 7 8 0 AT C c o r o n a l d e m o n s
trando extensos trombo na AB
B .

8-78E Ponderação em difusão


do mesmo paciente demons
trando infartos bilaterais na to
pografia das artérias perfurantes
no mesencéfaio BI e occipitais
B .
8-78F Ponderação em difusão
de corte mais cranial do mesmo
paciente demonstrando infartos
no tálamo esquerdo B e esplé-
nio do corpo caloso B. Ambas
as áreas são supridas por ramos
perfurantes da artéria basilar *

distai.
Anatomia arterial e acidentes vasculares cerebrais 217

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9
Anatomia e ociusões venosas

Anatomia venosa e padrões de drenagem normais 219


Selos venosos durais 219
Anatomia venosa e padrões de
Velas cerebrais
Te r r i t ó r i o s d e d r e n a g e m v e n o s a 2 2 5
222
drenagem normais
o sistema venoso intracraniano é diferente de suas contra-
Trombose venosa cerebral 226
Trombose de seio durai 226 partes sistêmicas. As veias e seios venosos cerebrais não
T r o m b o s e d e v e i a c e r e b r a l s u p e r fi c i a l 2 3 3 possuem válvulas e podem apresentar fíuxo bidirecional.
Trombose de veia cerebral profunda 237 No corpo, as veias costumam acompanhar as artérias, e
Trombose/trombofiebite do seio cavernoso 239 seus territórios vasculares são relativamente comparáveis;
Condições que simulam oclusão venosa 240 isso não acontece no cérebro. Os seios durais e as veias
Va r i a n t e s dos seios 240 cerebrais transitam separadamente, então, os territórios de
Artefatos de fl u x o 241
drenagem não espelham a distribuição arterial. Portanto,
Granulações e seplações aracnóideas 241 um "infarto" venoso possui aspecto distinto e se com
Outras condições que simulam ociusâo venosa 242
porta de forma bastante diferente das ociusões arteriais
principais.
Ociusões de seios venosos ou veias cerebrais são relati
O sistema venoso intracraniano possui dois compo
nentes principais: os seios venosos durais e as veias ce
vamente raras, representando somente 1% dos acidentes
vasculares. Elas são difíceis de serem diagnosticadas, e rebrais. Inicia-se a discussão com os seios durais e, em

com freqüência são negligenciadas nos exames de ima seguida, volta-se a atenção para as veias cerebrais. Por
fím, conclui-se delineando os territórios de drenagem dos
gem, uma vez que a atenção é voltada para o lado arterial
da circulação cerebral. principais seios durais e veias cerebrais.
O risco de "infartos" venosos eleva-se por uma gran
de quantidade de condições predisponentes. Desidratação, Seios venosos durais

gestação, trauma, infecção, doenças do colágeno, coagu- Os seios venosos durais são subdivididos em um grupo
lopatias e um espectro de distúrbios hereditários aumen anteroinferior e um grupo posterossuperior. O grupo pos-
tam a probabilidade de oclusão sinovenosa. terossuperior é mais proeminente e constituído pelos seio
O conhecimento da anatomia e dos padrões de dre sagital superior (SSS), seio sagital inferior (SSI), seio
nagem venosos é essencial para entender o aspecto de reto (SR), a confluência dos seios (tórcula de Herófílo),
imagem da doença oclusiva sinovenosa. Portanto, neste os seios transversos (ST), os seios sigmoides e os bulbos
capítulo será discutida brevemente a anatomia geral e jugulares.
radiológica do sistema venoso cerebral. Como cerca de O grupo anteroinferior é constituído pelo seio caverno
metade de todas as ociusões venosas resultam em infartos so (SC), os seios petrosos superior e inferior (SPS e SPI),
parenquimatosos, serão discutidos também os territórios o plexo venoso clival (PVC) e o seio esfenoparietal (SEP).
de drenagem venosos.
Uma vez estabelecidos os fundamentos anatômicos Considerações gerais
para o entendimento do sistema venoso craniano, volta- Os seios durais e os plexos venosos são canais revestidos
-se a atenção para o tópico da doença oclusiva sinove por endotélio contidos entre as camadas durais externa
nosa - os "infartos" venosos - e das condições que a (periosteal) e interna (meníngea). Os seios durais e os ple
simulam. xos venosos - especialmente o seio cavernoso e o plexo
220 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

9-1 Ilustração coronal demonstra o SSS [S entre os folhetos durais 9-2 Ilustração demonstra uma granulaçào aracnoide (GAr) se proje
externo ES e interno ÍS). Projeções contendo LCS (granulações arac- tando para o interior de um seio venoso. LCS B se estende do ES para
noides) B estendem-se do espaço subaracnoide para o interior do SSS. o interior da GAr e é coberto por uma capa de células aracnoides
As veias corticais B também adentram o SSS. Canais no revestimento B drenam LCS para o interior do seio.

clival - são freqüentemente fenestrados e multicanaiiza- da foice cerebral. Nas imagens sagitais de ASD/ATC/
dos. Em 30% dos casos de necropsia, ao menos uma sep- ARM, o SSS é visto como uma estrutura falciforme em
tação ou banda fibrosa está presente no interior dos seios. continuidade com a tábua interna do crânio. Defeitos de
Os seios durais freqüentemente contêm granulações enchimento - GArs e septos fibroses - no interior do SSS
aracnóideas (GAr), também conhecidas como granula são achados comuns nos exames de imagem.
ções pacchionianas. As GArs são projeções contendo lí As variantes normais do SSS incluem ausência do seu
quido cerebrospinal (LCS) que se estendem dos espaços segmento anterior e posição fora da linha média. Quan
subaracnoides (ES) para o interior dos seios venosos (Flg. do o segmento anterior é hipoplásico ou ausente, o SSS
9-1). Um mícleo central de LCS estende-se do ES para o começa mais posteriormente, próximo à sutura coronal,
interior da granulaçào, a qual, por sua vez, está encober onde recebe veias frontais proeminentes. O SSS em geral
ta por uma capa apical de células aracnóideas. Múltiplos permanece na linha média através de seu curso. Conforme
pequenos canais estendem-se por toda a espessura da capa ele desce em direção ao seu término na confluência dos
para o endotélio sinusal, drenando LCS para a circulação seios, entretanto, ele pode cursar gradualmente para fora
venosa (Fig. 9-2). da linha média.
Embora as GArs possam ocorrem em todos os seios
venosos durais, as localizações mais comuns são os seios Seio sagital inferior
transversos e o sagital superior; o seio cavernoso é um Em comparação com o SSS, o SSl é um canal muito menor
local incomum. e mais inconstante, que se localiza no fundo da foice ce
rebral. O SSl encontra-se acima do corpo caloso e do giro
Seio sagital superior do cíngulo, coletando pequenas tributárias enquanto cursa
o SSS é um seio grande e curvilíneo que se estende pa posteriormente ao longo da margem "livre" da foice. O SSl
ralelamente à abóbada craniana interna. Ele se origina de termina na junção lentoriofalcina, onde se une à veia cere
veias frontais ascendentes anteriormente e con'e na linha bral magna de Galeno (VG) para formar o seio reto.
média na junção da foice cerebral com a calota craniana O SSl costuma ser pequeno ou inaparente. e é visuali
(Fig. 9-3). O SSS aumenta em diâmetro conforme cursa zado de forma inconstante nos exames de imagem.
posteriormente, coletando pequenas veias corticais super
ficiais e a veia anastomótica de Trolard, mais calibrosa. Seio reto
Vários lagos venosos no espaço diploico da calota crania o SR é formado pela junção do SSl e da VG. Ele cursa
na também drenam para o SSS. posteriormente a partir da sua origem no ápice tentorio-
Nas imagens coronais, o SSS apresenta-se como um falcino. Ao longo do seu curso, o SR recebe várias peque
canal vascular triangular contido entre os folhetos durais nas tributárias da foice cerebral, do tentório do cerebelo e
Anatomia e ociusões venosas 221

9-3 A foice cerebral se estende posteriormente da cristo golli à junção 9-4 Ilustração demonstra as numerosas interconexões entre os seios
tentoriofalcina e contém o 5SS B e o SSI 3i. A veia de Galeno o cavernosos o plexo venoso clival S, os seios esfenoparielais E3
seio reto í^1, a confluência dos seios E3 e os STs S também estão e os seios petrosos superiores ÍS e inferiores B.
ilustrados.

do cérebro adjacente. O SR termina juntando-se aos seios origem às veias jugulares internas. Assimetria entre os la
transversos e sagital superior para formar a confluência dos dos seios sigmoides é comum e normal.
dos seios venosos (tórcula de Herófllo). A confluência dos Os buibos jugulares são dilatações venosas focais na
seios venosos é freqüentemente assimétrica, com septa- base do crânio entre os seios sigmoides e as veias jugula
ções e canais intersinusais conectando os seios transversos. res internas (VJl) extracranianas. As VJls e os seios trans-
Variantes do SR são incomuns. O seio falcino per versos/sigmoides são freqüentemente assimétricos, e há
sistente é uma variante inusitada, identificada em 2% das concomitante variação no tamanho dos buibos jugulares
ATCs normais. Aqui, uma estrutura venosa da linha média e seus forames ósseos. Pseudolesões dos buibos jugulares
- o seio falcino persistente - conecta o SSl ou a veia de com assimetria de fluxo são comuns e não devem ser con
Galeno diretamente com o SSS. Dois terços dos pacientes fundidas com massas "verdadeiras" (p. ex., schwannoma
com seio falcino persistente possuem seios retos ausentes ou paraganglioma). A janela óssea da tomografia compu
ou rudimentares. tadorizada (TC) mostra que a espinha jugular e o córtex
circunjacente ao forame jugular estão intactos, e não ero-
Selos transversos didos ou remodelados.
Os STs, também conhecidos como seios laterais, estão
contidos entre as fixações do tentório do cerebelo à tábua Seios cavernosas
interna do crânio. Os STs curvam-se lateralmente a partir Os SCs são seios venosos de formato irregular e muito
da tórcula para a borda posterior da parte petrosa do osso trabeculados/compartimentalizados que se localizam ao
temporal, onde se direcionam inferiormente e tornam-se longo das laterais da sela turcica, estendendo-se das fis
os seios sigmoides. suras orbitárias superiores anteriormente para o clívus e
Variações anatômicas nos STs são quase a regra, em posteriormente para o ápice petroso (Fig. 9-4).
vez da exceção. Os dois STs costumam ser assimétricos, Formados por uma parede durai lateral proeminente e
com o do lado direito maior do que o esquerdo. Segmen mediai muito menos espessa, em geral quase imperceptí
tos hipoplásicos e até mesmo atréticos são comuns, assim vel, os SCs contêm as duas artérias carótidas internas ca
como defeitos de enchimento causados por granulações vernosas (ACI) e os nervos abducentes (NC VI). Os NCs
aracnoides e septos fibrosos. III, IV, V, e V, estão, na verdade, no interior da parede
durai lateral, e não no interior do SC (Fig. 9-5).
Seios sigmoides e buibos jugulares As principais tributárias que drenam para os SCs
Os seios sigmoides são a continuação inferior dos dois são as veias oftálmicas superior/inferior e os seios esfe-
STs. Eles seguem uma suave curva em S, descendo atrás noparietais (Fig. 9-4). Os dois SCs comunicam-se osten
da porção petrosa do osso temporal para terminar dando sivamente via plexos venosos inlercavemosos. Os SCs
222 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

9-5 Ilustração coronal demonstra os seios cavernosos (SCs) e seus con 9-6 Ilustração coronal demonstra as veias corticais superficiais. As três
teúdos. Os SCs são fenestrados, septados e multicanalizados. As ACIs B veias anastomóticas nomeadas - veias de Trolard Labbé [31 e a
e os NCs VI B estão no interior dos SCs. Os NCs III S], IV (S, V, ES e veia cerebral média superficial 31 - são ilustradas. Uma ou duas das
v,B encontram-se na parede durai lateral. veias corticais superficiais são geralmente dominantes.

drenam inferiormente através dos forames ovais para os Ve i a s c e r e b r a i s


plexos venosos pterigoídeos e posteriormente para o ple- As veias cerebrais são subdivididas em três grupos: (1)
xo venoso clival, bem como para os seios petrosos supe veias superficiais ("corticais" ou "externas"); (2) veias
rior e inferior.
cerebrais profundas ("internas"); e (3) veias da fossa pos
Embora as septações e os compartimentos intercaver- terior/tronco encefálico.
nosos sejam bastante variáveis, o tamanho e a configura
ção dos SCs são relativamente constantes nos exames de Veias corticais superficiais
imagem. As paredes laterais costumam apresentar-se retas As veias corticais superficiais consistem em um grupo su
ou côncavas (não convexas), e o sangue venoso realça de
perior, um grupo médio e um grupo inferior.
forma bastante uniforme.
Veias corticais superiores. Entre 8 e 12 veias superficiais
Selos petrosos superior e inferior não nomeadas cursam sobre as superfícies superiores dos
O seio petroso superior (SPS) cursa posterolateraimente hemisférios cerebrais, geralmente seguindo os sulcos da
ao longo do topo da porção petrosa do osso temporal, es- convexidade. Elas cruzam o espaço subaracnoide e per
furam a aracnoide e a dura interna antes de drenarem no
lendendo-se do SC ao seio sigmoide. O seio petroso infe
rior cursa diretamente acima da fissura petro-occipital do SSS. Em muitos casos, uma veia cortical superior domi
aspecto inferior do plexo venoso clival ao bulbo jugular nante, a veia de Trolard, cursa superiormente a partir da
fissura silviana para unir-se ao SSS (Fig. 9-6).
(Fig. 9-4).
Na angiotomografia computadorizada (ATC)/angior-
Plexo venoso diva! ressonância magnética (ARM) lateral, ou na fase venosa
O plexo venoso clival (PVC) é uma rede de canais venosos da angiografia com subtração digital (ASD), as veias cor
interconectados que se estende ao longo do clívus a partir ticais superiores estão arranjadas em um aspecto seme
do dorso da sela superiormente ao forame magno (Fig. 9-4). lhante a um raio, cursando centripetamente na direção do
O PVC conecta os seios cavernosos e petrosos mutuamente SSS e adentrando-o perpendicularmente.
e as veias suboccipitais ao redor do forame magno. Veias corticais médias. A veia mais proeminente neste grupo
é a veia cerebral media superficial (VCMS). A VCMS
Seio esfenoparietal origina-se sobre a fissura silviana e coleta várias peque
O seio esfenoparietal (SEP) cursa circunjacente à asa me nas tributárias do opérculo temporal, frontal e parietal que
nor do esfenoide na borda da fossa craniana média. O SEP beiram a fissura cerebral lateral.
recebe veias superficiais do lobo temporal anterior e drena Nas imagens laterais de ATC, ARM ou na fase venosa
para os seios cavemoso ou petroso inferior. da ASD, a VCMS cursa anteroinferiormente, em paralelo
Anatomia e ociusões venosas 223

à fissura silviana, e curva-se ao redor da margem temporal Ve i a s m e d u l a r e s . I n ú m e r a s v e i a s d i m i n u t a s e a n ô n i m a s


para terminar no SC ou no seio esfenoparietal. originam-se entre um e dois centímetros abaixo do cor
tex e cursam diretamente através da substância branca em
Veias corticais inferiores. Essas veias drenam a maior parte
dos lobos frontais inferiores e os polos temporais. A veia direção aos ventrículos, onde tenninam nas veias sube-
cerebral média profunda (VCMP) coleta tributárias da pendimárias (Fig. 9-8). Essas veias geralmente não apare
cem nos exames de imagem na maior parte do percurso,
insula, dos núcleos da base e do giro para-hipocampal.
até a convergência próxima aos ventrículos. A ASD e a
e então se anastomosa com a veia basal de Rosenthal
ressonância magnética (RM) contrastada podem mostrar
(VBR). A VBR cursa posterossuperiormente na cisterna
tênues estrias lineares de contraste paralelas aos ventrícu
ambiente, curvando-se ao redor do mesencéfalo para dre
nar no interior da VG.
los (Fig. 9-9). As imagens com ponderação T2* sensível
à susceptibilidade magnética (SWl) demonstram melhor
Uma veia anastomótica posterior proeminente, a veia
as veias medulares, uma vez que o sangue desoxigenado é
de Labbé, cursa inferolateralmcnte sobre o lobo temporal
paramagnético (Fig. 9-10).
para drenar no interior do seio transverso (Fig. 9-6). Todas
as veias anastomóticas superficiais - veias de Trolard, La Veias subependímárias. As veias subependimárias cursam
bbé e a VCMS - variam em tamanho, mantendo entre elas sob o epêndima ventricular coletando sangue dos núcle
uma relação recíproca. Se uma ou duas são dominantes, a os da base e da substância branca profunda (pelas veias
terceira costuma ser hipoplásica ou ausente. medulares) (Fig. 9-8). As veias subependimárias mais im
portantes são as veias septais e as veias talamoestríadas.
Velas cerebrais profundas As veias septais curvam-se ao redor dos cornos frontais
As veias cerebrais profundas ("internas") são subdivididas dos ventrículos laterais, e em seguida cursam posterior
em três grupos: (1) veias medulares. (2) veias subependi- mente ao longo do septo pelúcido. As veias talamoestría
márias e (3) veias paramedianas profundas (Fig. 9-7). das recebem tributárias do núcleo caudado e dos lálamos.

9-7 A drenagem venosa cere


bral profunda e subependimária
é observada de cima para baixo.
As velas dos núcleos caudado
terminais [SI formam as
veias talamoestríadas ÍIS, as
quais drenam para as veias cere
brais Internas vela de Gale
no Si e o selo reto S3.
9-8 Ilustração coronal por
meio dos ventrículos laterais
demonstra as veias medulares
(da substância branca profunda)
SI convergindo nas margens
ventriculares para drenar nas
veias subependimárias IS e ta
lamoestríadas [S. Desse ponto,
elas drenam nas VCIs,

9-9 Fase venosa de ASD


demonstra diminutas veias me
dulares S] drenando nas veias
subependimárias, vistas como
"pontos" na transversal [S. As
veias septais e talamoestríadas
convergem próximo ao forame
de Monro SI para formar a veia
cerebral interna
9-10 Imagem axial em dose-
■up na ponderação 12" 6RE em
equipamento de 3.0 T mostra
desoxi-hemogiobina em Inúme
ras pequenas veias medulares
E3 que cursam pela substância
branca para convergir perpendi
cularmente com os ventrículos e
drenar nas veias subependimá
rias
224 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

curvando-se medialmente para unirem-se às veias septais Grupo superior (qalénico). Como o nome sugere, essas
próximas ao forame de Monro e formar as duas veias ce veias drenam superiormente na veia de Galeno. As prin
rebrais internas (FIg. 9-8). cipais veias nomeadas nesse grupo são a veia cerebelar
Veias profundas paramedianas. As veias cerebrais internas pré-central, a veia vermiana superior e a veia pontome-
sencefálica superior (Fig. 9-11).
(VCI) e a veia de Galeno (VG) promove a drenagem da
A veia cerebelar pré-central (VCP) é uma veia úni
maior parte das estruturas profundas do cérebro. As VCls
ca na linha média localizada entre a língula e o lóbulo
sào veias paramedianas pareadas que cursam posterior
mente no cavum velum inierpositumy a delgada invagi- central do verme. Ela termina posteriormente aos colicu-
los inferiores drenando na VG. A veia vermiana superior
naçào do espaço subaracnoide localizada entre o terceiro
venlrículo e os fómices. As VCIs terminam na cisterna
cursa sobre o topo do verme, unindo-se à VCP e drenando
na VG (Fig. 9-II).
quadrigeminal rostral unindo-se com seu par e com as
A veia pontomesencefállca anterior (VPMA) é,
VBRs para fomiar a VG (Fig. 9-8).
na verdade, um plexo venoso interconeetado, e não uma
A veia de Galeno (veia cerebral magna) se curva
veia dominante única. A VPMA cobre os pedúnculos ce-
posterossuperiormente sob o esplênio do corpo caloso, rebelares e se estende sobre a superfície anterior da ponte
unindo-se com o seio sagital inferior para formar o seio
reto.
(Figs. 9-12 e 9-13).
Grupo anterior (petroso). A veia petrosa (VP) é um gran
Veias do tronco encefáiico e da fossa posterior de tronco venoso que se localiza na cisterna do ângulo
As veias que drenam o mesencéfalo e as estruturas da fos pontocerebeiar, coletando numerosas tributárias do cere-
sa posterior também sâo divididas em três grupos: (1) um belo. da ponte e do bulbo. A VP e suas tributárias formam
grupo superior ("galênico*"); (2) um grupo anterior (petro- uma proeminente coleção vascular em formato de estrela
so); e (3) um grupo posterior. observada na ASD na incidência em AP e nas imagens co-
ronais de ATC (Fig. 9-14).

9-11 ilustração sagital através


do verme mostra o grupo venoso
superior (galénico) r^, o grupo
anterior com a veia pontomesen-
cefélica [^1 e o grupo posterior
[í^.
9-12 ilustração coronal mostra
a veia pontomesenceíálica ante
rior 1^ e os plexos venosos pe-
trosos S] drenando a ponte, o
cerebeio anterior e a cisterna do
angulo pontocerebeiar. Observe
as anastomoses com os seios pe-
trosos superiores 0:1 e as veias
mesencefailcas E3.

9-13 Fase venosa de ASD


vertebrobasilar mostra o plexo
venoso pontomesencefálico 1^1
e o grupo galénico com a veia
cerebelar pré-central Eâ e a
vela basal de Rosenthal SI.
Observe a configuração em "es
treia" das veias petrosas ES. O
plexo clival IS drena no seio
petroso inferior.
9-14 Incidência em AP mostra
a "estrela" petrosa SI e as
veias vermianas na linha mé
dia [IS. Observe o segmento
hipoplásico do seio transverso
esquerdo S, uma variante nor
mal comum.
Anatomia e ociusões venosas 225

9-15 As regiões superficiais do cérebro (córtex e substância branca subcortical) são drenadas por veias corticaís
e o seio sagital superior {mostrado em verde). As estruturas profundas centrais do cérebro (núcleos da base, a
maior parte da substância branca e ventrículos) são drenadas pelo sistema venoso profundo (VCis, veia de Galeno,
seio reto) (vermelho). As veias de Labbé e os seios transversos drenam lobos temporais posteriores e parielais
inferiores (amarelo). Os seios esfenoparietais e cavernosos drenam a área ao redor da fissuras silvianas (roxo).

Grupo posterior (tentorial). As veias mais proeminentes superior dos hemisférios cerebrais, juntamente com a
nesse grupo são as veias vermianas Inferiores, estruturas substância branca subjacente, drena centrifugamente (para
pareadas paramedianas que se curvam sob o vemie e dre fora) através das veias corticais para o interior do SSS.
nam a superfície inferior do cerebelo.
Drenagem venosa cerebral profunda (central)
Territórios de drenagem venosa Os núcleos da base, os tálamos e a maior parte da subs
Os territórios de drenagem venosa cerebral são menos fa tância branca hemisférica drenam centripetamente (para
miliares e mais variáveis em comparação com as principais dentro) em direção ás veias cerebrais profundas. As veias
distribuições arteriais. Esses territórios de drenagem se cerebrais internas, a veia de Galeno e o seio reto drenam
guem quatro padrões básicos: um padrão periférico (super praticamente toda a porção central do cérebro.
fície cerebral), um padrão profundo (central), um padrão Os aspectos mais mediais dos lobos temporais, como
inferolateral (perissilviano) e um padrão posterolateral o uncus e os hipocampos anteromediais, também drenam
(temporoparietal) (Fig. 9-15). O diagnóstico e a delineação para o sistema galênico pelas veias cerebrais médias pro
acurados das ociusões venosas dependem da compreensão fundas e das veias basais de Rosenthal.
desses territórios de drenagem venosa específicos.
Drenagem venosa inferolateral (perissílviana)
Drenagem venosa cerebral periférica (superficial) o parênquima que circunda a fissura silviana (cerebral la
A drenagem venosa da superfície cerebral em geral segue teral) consiste nos opérculos frontal, parietal e temporal,
um padrão radial. A maior parte das superfícies média e além da insula. A região perissílviana do cérebro drena
226 Hemorragias nao traumáticas e lesões vasculares

através da veia cerebral média superficial para o interior


dos seios esfenoparietal e cavernoso.

Drenagem venosa posterolateral


(temporoparietal)
Os lobos temporais posteriores e os aspectos inferolate-
rais dos lobos parietais drenam via seio petroso superior
e veia anastomótica de Labbé para o interior dos seios
transversos.

Trombose venosa cerebral


As oclusòes dos seios venosos durais, das veias superfi
ciais (corticais) e das veias profundas sào denominadas
trombose venosa cerebral (TVC). TVC é um diagnósti
co ardiloso com diversas causas e apresentações clínicas;
também é facilmente negligenciado nos exames de ima
gem. A dura e o sangue circulante normais são levemente
hiperdensos em comparação com o cérebro nos exames de
TC sem contraste, portanto, a sutil atenuação aumentada
dos trombos venosos pode ser difícil de ser detectada. Os
seios venosos localizam-se diretamente adjacentes ao crâ
nio, assim os coágulos podem ser facilmente obscurecidos
por artefatos de atenuação.
Infartos venosos podem ser relativamente inócuos ou
letais. Eles podem simular neoplasias, encefalite e nume
rosas outras patologias não vasculares.
Nesta seção, serão abordados os diversos tipos de
TVC. Inicia-se com a oclusao venosa intracraniana mais
comum: a trombose de seio durai (TSD). A seguir discute-
-se a trombose de veias superficiais e segue-se com as
oclusões cerebrais profundas.
Conclui-se a discussão com considerações sobre a
9-17A Caso de necropsia de (íombose aguda do SSS trombose/trombofiebile dos seios cavemosos (SC). Devi
B e de veias corticais B com infartos venosos B. do à sua proximidade anatômica com o nariz e os seios
paranasais, os SCs são vulneráveis à infecção retrógrada.
A combinação de infecção e trombose indica que a apre
sentação clínica e os achados de imagem de trombose de
SCs possuem algumas características especiais que não
são compartilhadas com outras oclusões venosas.

Trombose de seio durai


Terminologia
A trombose de seio durai é definida como oclusão trom-
bótica de um ou mais seios venosos intracranianos (Fig.
9-16). TSDs podem ocorrer isoladamente ou em combina
ção com oclusões venosas corticais e/ou profundas.

Etiologia
Uma ampla variedade de condições herdadas e adquiridas
está associada com aumento no risco de todas as TVCs.
9-17B Espécime de anatomia macroscópica do
mesmo caso mostra coágulo em "geleia de groseiha"
Uma comorbidade predisponente pode ser identificada na
no SSS B e nas veias corticais 51. (Cortesia de E. T. maioria dos casos, e muitos pacientes afetados possuem
Hediey-Whyte, MD.) mais de um fator predisponente.
Anatomia e oclusões venosas 227

9-18 Mulhef de 23 anos com "cefaleia migranosa". A primeira TC sem 9-19 TC sem contraste em outro paciente mostra trombo hiperdenso
contraste (esquerda) foi considerada normal. Observe o trombo hiper- no SR B e SSS B com edema bilateral hematomas e HSA na
denso no ST esquerdo B. A lomografia do dia seguinte (direita) mostra convexidade B0.
trombose da veia de Labbé E3 e um grande infarto hemorrágico

As causas de TVC adquiridas mais comuns são o uso


de contraceptivos orais e gestação/puerpério. Outras con o Mutações no gene da protrombina
o Anticorpos antifosfolipídeo e antlcardiolipina
dições incluem - porém não estão limitadas a - trauma, o Hiper-homocisteinemia
infecção, inflamação, estados de hipercoagulabilidade. ní • Puerpério, gestação
veis elevados de hemoglobina, doenças colágeno-vascula- • Metabóiica (desidratação, tireotoxicose, etc.)
res (como a síndrome antifosfolipídeo), vasculites (como
a síndrome de Behçet), fármacos e doença de Crohn. Menos comuns
Entre 20 e 35% de todos os pacientes com TVC pos • Infecção
suem uma condição pró-trombótica herdada ou adquirida. o Mastoidite, sinusite
o Meningite
Fatores genéticos predisponentes são comuns e incluem • Trauma
dellciências de antitrombina 111, proteína C e proteína S, • Trombose relacionada à neoplasia
bem como resistência à proteína C ativada causada pela
mutação no gene do fator V de Leiden. Raras, porém importantes
• Doenças colágeno-vasculares (p. ex., síndrome do
Patologia anticorpo antifosfolipídeo)
• Distúrbios hematológicos (p. ex., policitemia)
Quando um trombo se forma em um seio durai, o fluxo • Doença inflamatória intestinal
venoso é obstruído. Isso resulta em congestão venosa, • Vasculite (p. ex., Behçet)
elevação da pressão venosa e redistribuiçào hidrostática
do líquido dos capilares para os espaços extracelulares do
cérebro. O resultado é a quebra da barreira hematoencefá-
lica com edema vasogênico. Se um infarto venoso franco Localização. O seio transverso é o seio venoso que mais
sofre trombose, seguido pelo SSS.
se desenvolve, edema citotóxico se segue.
Patologia macroscópica. Na TSD aguda, o seio durai afeta
do encontra-se distendido por um coágulo macio e arro-
TROMBOSE VENOSA CEREBRAL: CAUSAS xeado que pode estar isolado ao seio ou estender-se para
Comuns
as veias corticais adjacentes (Fig. 9-17). Na TSD crônica,
• Contraceptivos orais um firme tecido flbroso proliferativo preenche o seio e
• Condições pró-trombóticas espessa a dura aracnoide.
o Deficiência das proteínas C, S ou antitrombina III O espectro de lesão cerebral associada na TSD varia
o Resistência à proteína C ativada (fator V de Leiden) de congestão venosa a isquemia, hemorragias petequiais e
infartos hemorrágicos francos.
228 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

9-20 Imagem axial de TVC


mostra o clássico sinal do "deita
vazio" El formado pela dura re
alçada circundando o trombo sem
realce no seio sagital superior.
9-21 Imagem coronal ponde
rada em n pós-contraste em um
paciente com ociusão no SSS El
e nos STs El demonstra o sinal
do "delta vazio". Observe o real
ce proeminente dos sulcos
causado pela drenagem venosa
colateral. O diagnóstico inicial -
incorreto - foi de meningite.

9-22A Imagem axial de TC


sem contraste em uma gestante
de 29 anos com celaleia e papi-
ledema mostra ST direito hiper-
denso El em comparação com
o seio sigmoide esquerdo El.
9-22B Imagem sagital na
ponderação Ti na mesma pa
ciente mostra um flow void
normal no seio reto ^]. O SSS
apresenta flow void ausente
e, exceto pelas granulações
aracnóideas preenchidas
por LCS, encontra-se preenchido
por coágulos B que são quase
isointensos ao cérebro.

9-22C Imagem axial ponde


rada em TI na mesma paciente
mostra ST direito alargado que se
encontra preenchido por coágulo
isointenso B. Compare com
o flow void normal na veia de
Labbé B e seio transverso i3]
à esquerda.
9-22D Imagem axial ponde
rada em T2 na mesma paciente
mostra que o ST direito trombo-
sado B encontra-se bastante
hipointenso e simula os flow
voids do ST Ir^ e da veia de La
bbé B normais à esquerda.
Anatomia e oclusoes venosas 229

9-23 Fase venosa de ATC no piano coronal moslra o ST drreilo normal


Ea e urn trombo com sinal do "delta vazio" no ST esquerdo Bl e no em uma paciente com ociusêo do ST e do seio sigmoide 131 à es
SSS E3, que se encontram alargados e distendidos. querda. Note o coágulo na veia tentorial adjacente S).

Aspectos clínicos Após uma trombose de veia cerebral e/ou seio durai
Epidemiologia. As oclusoes venosas cerebrals representam há um aumento pequeno, porém mensurável, no risco de
entre 0.5 e 1% de todos os acidentes vasculares agudos. novos eventos tromboembólicos, especialmente em pa
Embora a TVC possa ocorrer em qualquer idade (de neo- cientes do sexo masculino e portadores de policitemia/
natos a idosos), ela é mais vista em jovens. Quase 80% trombocitemia.
dos pacientes possuem menos de 50 anos. A incidência
anual estimada é de cinco casos por milhão de adultos. Opções de tratamento. O pronto reconhecimento de uma
TSD possui um grande impacto no desfecho clínico. Pa
Oemografia. a trombose de seio durai afeta predominante cientes com sintomas leves ou mínimos podem não preci
mente mulheres (H:M = 1:3). Um fator de risco especifico sar de intervenção. Em casos graves, trombectomia me
para o gênero (contraceptives orais, gestação, puerpério cânica com ou sem infusão de heparina pode demonstrar
e terapia de reposição hormonal) está presente em quase sucesso na abertura de um seio ocluído.
dois terços das mulheres com TVC. Devido a esses fato
res de riscos específicos para o sexo feminino, a idade de
TROMBOSE DE SEIO DURAL: PATOLOGIA E
apresentação em mulheres é cerca de uma década menor
do que em homens (34 anos vs. 42 anos). ASPECTOS CLÍNICOS

Apresentação. As manifestações clínicas da TVC são va Patologia


• ST > SSS > SR > SC
riadas, com freqüência inespecíficas e podem ser sutis, • Aspectos clínicos
especialmente em neonates, crianças e idosos. Cefaleia • Epidemiologia e demografia
ocorre em cerca de 70-90% dos casos e em geral é não o 1% de todos os acidentes vasculares cerebrais
focai, aumentando lentamente de intensidade em vários
(AVCs)
dias a semanas. Quase 25% dos pacientes não apresentam o Qualquer idade (neonatos a idosos)
déficits neurológicos focais, tomando o diagnóstico clíni o Geralmente pacientes mais jovens (80% < 50 anos)
co ainda mais difícil. o M»H(H:M = 1:3)
• Apresentação
História natural. A história natural das TVCs varia, assim o Cefaleia (70-90%)
como as conseqüências. Algumas TSDs recanalizam es o Náuseas, vômitos
pontaneamente sem seqüelas, ao passo que outras formam o Alteração na consciência
fistulas arteriovenosas na parede dos seios durais.
O atraso no diagnóstico também afeta o prognóstico.
O intervalo de tempo entre o início dos sintomas e o diag Imagem
nóstico correto é em média sete dias em grandes séries. As chaves para o diagnóstico neurorradiológico precoce
O atraso no diagnóstico está associado com aumento nos de TSD são: (1) um alto índice de suspeição, (2) cuidado
índices de óbito e de seqüelas. sa avaliação da densidade/intensidade de sinal e configu-
230 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

9-25A TSD aguda tardia em


um homem de 25 anos com
vários dias de diarréia e cefaleia
progressiva. A TC sem contraste
não havia demonstrado anorma
lidades significativas. A imagem
axial ponderada em Ti mostra
leve hiperintensidade no ST di
reito IS.
9-25B Imagem axial ponde
rada em T2 mostra que o trombo
no ST direito BS começa a apre
sentar leve hiperintensidade, ao
contrário do trombo bastante
hipointenso observado na TSD
aguda. Observe a pequena
hiperintensidade em T2 no ST
esquerdo B.

9-25C Imagem axial em FLAIR


no mesmo paciente mostra que
o trombo do ST direito B é le
vemente hiperintenso. Note a di
ferença entre esse seio e o flow
void normal no ST esquerdo
9-25D Imagem axial em T2'
GRE no mesmo paciente mostra
trombo com artefato de suscep-
tibilidade magnética HS no ST
direito e nas tributárias venosas
tentoriais í-fl.

9-25E imagem axial pondera


da em TI pós-contraste mostra o
trombo sem realce no ST direito
F»1 circundado por dura com in
tenso realce. O ST esquerdo apre
senta um defeito de enchimento
ovoide com intensidade de sinal
de ICS ^3, contendo uma veia
linear central com realce E3. Os
achados são característicos de
uma granulação aracnóidea.
9-25F MIP axial da fase ve-
nosa de uma ARM com técnica
TOF 3D não demonstra fluxo
nos seios transverso e sigmoide
â direita. Os dois defeitos de
enchimento ovoides B no ST
esquerdo são granulações arac-
nóideas.
Anatomia e ocíusões venosas 231

ração dos seios durais e (3) conhecimento dos padrões de invasivos para delinear defeitos de enchimento nos seios
drenagem venosa normais. durais. A ATC demonstra o clássico sinal do "delta vazio"
da trombose sinovenosa (Fig. 9-23).
Achados de TC. A TC sem contraste precoce pode ser nor
mal. portanto, um exame de TC sem contraste não exclui Achados de RM. O aspecto de imagem da TSD varia signi
o diagnóstico de TVC. Sinais precoces na TC sem con ficativamente com a idade do trombo, assim como com os
traste costumam ser sutis. Leve hiperdensidade em com hematomas intraparenquimatosos. Ociusões agudas, su-
paração com as artérias carótidas é observada em 50-60% bagudas e crônicas apresentam diferentes achados na RM.
dos casos e pode ser a única pista de oclusao venosa ou TSD aguda. O seio agudamente trombosado com
sinusal (Fig. 9-18). Quando presente, uma veia (sinal da freqüência encontra-se moderadamente aumentado e de
"corda") ou um seio venoso (sinal do "triângulo denso") monstra margens anormalmente convexas, e não retas ou
hiperatenuantes é sinal sensível e específico de doença côncavas. O Jlow void do sangue em rápido movimento
venosa oclusiva cerebral. Edema do parênquima com ou mais observado nos seios venosos maiores desaparece,
sem hemorragias petequiais no território drenado pelo sendo substituído por coágulo sangüíneo sólido. A TSD
seio trombosado é um sinal útil. porém indireto de TSD aguda apresenta-se isointensa ao córtex subjacente na
(Fig. 9-19). ponderação TI (Fig. 9-22).
Em 70% dos casos, os exames de TC com contraste Como a hemoglobina nos coágulos sangüíneos rapi
mostram o sinal do "delta vazio", causado pelo realce damente dessatura à desoxi-hemoglobina, eles se tomam
durai circundando o trombo sem impregnação (Figs. 9-20 muito hipointensos em relação ao cérebro na pondera
e 9-21). Veias alargadas ou irregulares sugerem drenagem ção T2 (Fig. 9-22D). Portanto, a trombose venosa aguda
venosa colateral. "escura" em T2 simula o& flow voids sinusais normais.
A ATC e sua fase venosa possuem menos artefatos Se congestão venosa e edema desenvolvem-se secunda
do que a ARM e, portanto, são os melhores métodos não riamente ao fluxo obstruído, causam edema dos giros e

9-26A Imagem sagital pon


derada em T1 foi obtida cinco
dias depois no mesmo paciente.
Ela mostra a típica evolução da
intensidade de sinal do trombo
agudo tardio para subagudo.
Observe a marcante hiperintensi-
dade no SSS ES.
9-26B Imagem axial em TI
mostra a marcante hiperintensi-
dade do coágulo subagudo no ST
direito ES. Compare com a leve
hiperintensidade observada na
fase aguda tardia demonstrada
na figura da página anterior.

9-26C Imagem axial ponde


rada em T2 mostra a clássica
fiiperintensidade do trombo su
bagudo ES no ST direito. Obser
ve o flow void normal na veia de
Labbé patente B e nas veias
tributárias tentoriais B.
9-26D Imagem axial em FLAIR
no mesmo paciente mostra o
trombo subagudo hiperintenso
B. O cerebelo e o lobo tempo
ral posterior adjacentes encon
tram-se normais, sem evidência
de isquemia ou infarto venosos.
232 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

hiperintensidade no parênquima em T2/ inversào-recLipe-


raçào com supressão da água livre (FLAIR).
De modo similar aos hematomas intraparenquima-
losos, os coágulos venosos agudos demonstram artefatos
de susceptibilidade magnética em T2* (GRE, SWI). A
seqüência SWI mostra o coágulo profundamente hipoin-
tenso e as veias corticais dilatadas. No entanto, o aspecto
pode ser confuso, pois o sangue venoso de fluxo normal,
porém desoxigenado, também é hipointenso.
A TSD ostensiva com freqüência resulta em drenagem
venosa colateral por meio das veias medulares (da substân
cia branca) para o interior das veias subependimárias. As
veias medulares ficam com calibre aumentado e contendo
hemoglobina dessaturada; portanto, elas são vistas nas se
qüências T2* como proeminentes hipointensidades linea
res adentrando as veias subependimárias em ângulos retos.
9-27 Trombose subaguda tardia do SSS mostra o si
nal do "delta vaiio" S] e trombo hiperintenso ES. As imagens ponderadas em TI pós-contrastc de
monstram o sinal do "delta vazio similar à TC com con
traste e à ATC. Trombos no interior dos seios em geral
apresentam-se como defeitos de enchimento alongados
em forma de charuto. Se isquemia ou infarto ocorrer se
cundariamente à trombose venosa, a imagem pode mos
trar difusão restrita no território afetado.
A fase venosa da ARM com técnica TOP 2D no plano
coronal pode demonstrar //».yo ausente, especialmente se
o trombo está no SSS. Como os STs costumam possuir
segmentos hipoplásicos, uma "falha" de fluxo deve ser in
terpretada com cuidado (ver a seguir).
TSD aguda tardia. Conforme o trombo sinusal se
organiza, o coágulo começa a exibir encurlamento TI e
se torna progressivamente hiperintenso. Com o prolonga
mento de T2, o seio trombosado progride gradualmente
de um aspecto bastante hipointenso a isointenso ao cére
bro tanto em T2 quanto em FLAIR (Fig. 9-25). O coágulo
9-28 Oclusâo crônica do SSS mostra veias paren- apresenta artefato de susceptibilidade em T2* e continua a
quimatosas proeminentes e "onduladas" no Ti pós- exibir o sinal do "delta vazio" em T1 pós-contraste.
-contraste BSS e flow voids no SWIS.
TSD subaguda. O trombo subagudo é hiperintenso
tanto em TI quanto em T2/FLA1R, com artefatos de sus
ceptibilidade nas seqüências T2* (Figs. 9-26 e 9-27).
TSD crônica. O trombo crônico eventualmente retor
na à isointensidade em relação ao cérebro na ponderação
TI e costuma permanecer moderadamente hiperintenso
em T2. Trombose venosinusal de longa data com freqüên
cia desenvolve drenagem colateral através das veias me
dulares. Isso é observado nas ponderações TI e T2 como
Jlow voids intraparenquimatosos tortuosos e "ondulados"
que realçam nas imagens em TI pós-contraste, às vezes
tornando-se tão proeminentes que simulam uma malfo-
mação arteriovenosa (Fig. 9-28).
O trombo crônico em organização desenvolve signi
ficativa neovascularização e realça intensamente na se
qüência TI pós-contraste.
Espessamento da dura-aracnoide com impregnação
9-29 Trombose crônica do SSS mostra dura espessa
intensa é comum em casos de TSD crônica de longa data.
da hipointensa ES e com realce S. (Cortesia de M. Em alguns casos, o espessamento durai toma-se tão pro
Castillo, MD.) nunciado que ele apresenta aspecto bastante hipointenso
Anatomia e ociusoes venosas 233

em T2 (Fig. 9-29). Qualquer coágulo residual pode estar


reduzido a uma hiperintensidade delgada e quase inapa-
rente no interior da dura-aracnoide espessa e hipointensa.
Angiografia. a ASD tem sido quase completamente subs
tituída pela RM e pela ATC no diagnóstico radiológico da
TSD. embora ainda seja obtida antes da trombólise ou da
trombectomia mecânica.
Achados típicos de TSD na ASD são aqueles cor
respondentes a um seio ocluído (sem opacificação)
(Fig. 9-24). Fluxo lento (ou coágulo) nas veias corticais
adjacentes é comum. Retardo no esvaziamento freqüente
mente faz as veias corticais parecerem "flutuar no espaço".
Fistulas arteriovenosas durais (FAVd) estão fortemente
associadas com TSD. A trombose - especialmente dos seios
transverso e/ou sigmoide - pode ser o fator precipitante no
desenvolvimento de FAVds adquiridas (ver Capítulo 7). 9-30 Caso de necropsia mostra trombos em várias
veias corticais B. a base patológica para o sinal do
Diagnóstico diferencial "cordão". (Cortesia de E. T. Hediey-Whyte, MD.)
Os dois principais diagnósticos diferenciais da TSD são a
pseudo-oclusào. causada por um segmento sinusal hipo-
plásico ou ausente e uma granulação aracnóidea gigan
te (ver Condições que simulam oclusao venosa, adiante).

TROMBOSE DE SEIO VENOSO: IMAGEM

imagem
• TC
o TC sem contraste: pode ser normal ou com sutil
hiperdensidade no seio durai/veia
o TC com contraste: sinal do "delta vazio" (dura
realçando ao redor do trombo sem impregnação)
• Sinal na RM varia com a evolução do trombo
o Agudo: iso em TI, hipointenso em T2, susceptibilidade
em T2'', "delta vazio" no TI pós-contraste
o Agudo tardio: levemente hiper em TI, isointenso
em T2/FLAIR, susceptibilidade em T2*
o Sübagudo: hiper em TI, hiperintenso em T2/FLAIR,
9-31A TC sem contraste mostra trombo óbvio no S5S
susceptibilidade em T2* E3. com sinal do "cordão" hiperdenso
o Crônico: iso em TI, moderadamente hiperintenso
em T2/FLAIR, flow voids parenquimatosos
"ondulados" em T2*, dura espessa e com realce em
TI pós-contraste
o Longa data: iso em Tl, dura bastante espessada
hipointensa em T2
Diagnóstico diferencial
• Pseudo-oclüsão
o Segmento do ST hipoplásico/ausente
o Granulações aracnóideas gigantes
• Outros
o Sangue sobre o tentório (hematoma subdural agudo)
o Hematócrito elevado (todos os vasos anormalmente
densos)

Trombose de veia cerebral superficial


A trombose de veias cerebrais superficiais (TVCS) pode
ocorrer com ou sem TSD. Quando ocorrem sem acompa
nhar TSD, as TVCSs são denominadas trombose isolada 9-318 TC sem contraste do mesmo paciente mostra o
de veia cortical.
trombo no SS5 E2 e um coágulo nas veias corticais
234 Hemorragias nao traumáticas e lesões vasculares

9-32A Imagem axial na


ponderação T2 mostra um SSS
expandido B3 preenchido por
trombo hipointenso. Coagulo
também está presente na veia
de Labbé BSI; entretanto, o
coágulo não é visível nessa se
qüência, uma vez que ele simula
o flow void normal.
9-32B Imagem axial em TZ''
GRE no mesmo paciente mostra
que o coágulo com artefato
de susceptibilidade magnética
no SSS IS se estende para o
interior da veia de Labbé rom-
bosada E3. Não foi identificada
hemorragia subaracnóidea ou
parenquimatosa.

9-33A Um homem de A6 anos


com uma história familiar de
tumores cerebrais compareceu
ao pronto-atendimento com ce-
íaleia seguida de primeira crise
convulsiva. A TC sem contraste
mostra uma lesão hipodensa B3
envolvendo o cortex e a substân
cia branca subcortical na convexi-
dade parietal direita. Note as he
morragias pelequiais irregulares
no interior da lesão.
9-33B Imagem de RM na se
qüência SWI no mesmo paciente
mostra trombose isolada da veia
de Troiard direita B. O seio sa-
gítal superior ES é normal.

J
9-34 Caso de necropsia com
trombose de ST SI que ociuiu
uma veia de labbé dominante
mostra extenso infarto venoso
hemorrágico nos lobos temporal,
parietal e occipital ^3. (Cortesia
de R. Hewlett, MD.)
9-35 Imagem sagital na
ponderação TI três dias após o
paciente apresentar intensa ce-
faleia mostra um trombo agudo
tardio no ST esquerdo E3.0
coágulo também ociuiu a veia
de Labbé dominante, causando
hemorragia massiva no lobo
temporal inferolateral BI.
Anatomia e ociusões venosas 235

9-36 lluslíação axial demonslra ociusão venosa profunda com trom 9-37A TC sem contraste em um homem afásico de 79 anos em inves
bose de ambas as VCls ESI, VG B3 e SR Ei, com hemorragia nos tála- tigação de acidente vascular cerebral mostra hiperdensidade em ambas
mos [S. Observe a congestão venosa com edema e dilatação das veias as VCls E3, VG IB e SR Observe a hipodensidade em ambos os
medulares na S8 3i. talamos anteriores [S com indefinição das interfaces entre as substân
cias branca e cinzenta.

Trombose de veia superficial com TSD O diagnóstico radiológico da TCVS isolada pode ser
Dois tipos gerais de TVCS com TSD são reconhecidos: a problemático. A TC sem contraste costuma ser negati
TSD que envolve uma ou mais pequenas veias corticais va, embora alguns casos possam demonstrar hemorragia
e a TSD que afeta uma das grandes veias anastomóticas subaracnóidea focai na convexidade ou um sinal do "cor
dão" solitário, que representa uma veia trombosada hiper-
(Trolard ou Labbé).
Os achados de imagem da TVCS associada a TSD densa. A ATC é normal. A ASD pode demonstrar trombo
são similares àqueles encontrados na trombose de seio intraluminal e diminuição na drenagem venosa.
durai isolada. Além do coágulo no seio, o trombo estende- O diagnóstico por RM é de difícil estabelecimento
-se para uma ou mais veias corticais (Figs. 9-30, 9-31 e usando-se apenas as sequências-padrão ponderadas em
9-32). A ociusào do SSS com TVCS afeta as superfícies TI e T2. A fase venosa da ARM mostra que os principais
superolaterais dos hemisférios, com variáveis quantidades seios durais estão patentes. Trombos agudos são isointen-
de edema e hemorragia petequial envolvendo o córtex e sos ao cérebro em TI e hipointensos em T2, tornando-os
a substância branca subcortical. Se a veia anastomótica difíceis de serem distinguidos dos /low voids normais. Hi-
de Trolard for dominante, sua ociusào pode resultar em perintensidade focal em T2 na região corticossubcortical
hemorragia lobar (Fig. 9-33). do parênquima costuma estar presente, porém é um acha
A ociusào dos seios transversos que se estende para uma do inespecífico.
veia de Labbé dominante costuma causar ostensiva hemorra A seqüência FLAIR pode demonstrar hemorragia
gia temporal posterior e parietal anterior (Figs. 9-34 e 9-35). subaracnóidea focai na convexidade, vista como oblite-
ração do LCS hipointenso normal nos sulcos. Hiperinten-
Trombose de veia superficial sem TSD sidades corticossubcorticais são consistentes com edema
A TVCS na ausência de trombose de seio durai é rara, re vasogênico e são achados associados.
presentando apenas 5% de todas as ociusões sinovenosas. O trombo intraluminal pode ser visto como uma hi-
O desfecho clínico da TVCS isolada costuma ser bom. perintensidade linear na difusão. A isquemia venosa pode
A TVCS isolada geralmente se apresenta com cefa- resultar em restrição à difusão transitória.
leia inespecífica. Cerca de 10% dos pacientes referem As seqüências com ponderação T2* (GRE, SWl) são
uma cefaleia "em trovoada", que simula clinicamente he chave para o diagnóstico não invasivo da TVCS isolada.
morragia subaracnóidea por ruptura de aneurisma. Sinto Com uma sensibilidade de mais de 95%, elas são as melho
mas como déficits neurológicos focais, crises convulsivas res seqüências para detecção de veias corticais trombosa-
e alteração no nível de consciência são menos comuns do das solitárias. Uma hipointensidade tubular bem delimitada
que na trombose de seio durai ou de veias profundas. com artefatos de susceptibilidade dos produtos de degra-
236 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

9-37B ATC no mesmo pacien


te mostrado na página anterior
demonstra realce arterial normal
com ausência de opacificação
nas VCIs Ea e VG/SR O SSS
encontra-se normal E3.
9-37C Reconstrução sagllal
confirma a presença de trombo
com ausência de opacificação
nas VCIs VG Ea e SR O
SSS está normal Si.

9-38A Imagem sagital na


ponderação TI do mesmo
paciente mostra ausência dos
flow voids normais com coágulo
isointenso nas VCIs Sa, VG B
e S R S .
9-38B Imagem axial em
T2'' GRE mostra coágulo com
fiipointensidade arteíatual nas
VCIS VG Ea e SR Note
a hipointensidade causada pela
congestão venosa com fluxo len
to nas veias talâmicas mediais
IS e medulares da SB profunda

9-38C Imagem em T2 GRE


mostra hipointensidade por fluxo
lento com desoxi-hemoglobina
nas veias subependimárias dila
tadas e nas veias medulares
da SB profunda B3.
9-38D TC sem contraste dois
dias depois demonstra extensa
hipodensidade confluente ES
em todo o parênquima central
com um foco hemorrágico
no tálamo esquerdo EI. A hipo
densidade representa infarto no
território de drenagem venosa
profunda (compare com a Fig.
9-15). O paciente evoluiu para
óbito pouco tempo depois.
Anatomia e ociusões venosas 237

daçâo da hemoglobina no interior do coágulo é observada Aspectos clínicos


em todos os estágios da evolução, persistindo por semanas
Os sintomas iniciais da TVCP são variáveis e inespecífi-
a meses. Hemorragias irregulares ou petequiais no córtex
cos, tornando o diagnóstico clínico difícil. A maioria dos
subjacente e substância branca subcortical são comuns, as
pacientes apresenta cefaleia (80%), seguida de rápida de
sim como a hemorragia subaracnóidea associada.
terioração neurológica e alteração na consciência (70%).
Achados neurológicos focais costumam estar ausentes.
Trombose de veia cerebral profunda
A trombose de veia cerebral profunda (TVCP) é um dis Imagem
túrbio potencialmente letal com um índice de mortalidade Os achados de imagem precoces na TC sem contraste
e morbidade associadas de 25%. podem ser sutis. VCIs e SR hiperdensos fazem o estudo
parecer contrastado (Fig. 9-37A). Hipodensidade focai ou
Etiologia e patologia difusa dos tálamos com obliteração da borda entre os nú
o sistema venoso profundo cerebral (as VCIs e a veia basal cleos cinzentos profundos e a cápsula interna são achados
de Rosenthal, junto com as suas tributárias, a veia de Gale importantes para TVCP, porém inespecífícos.
no e o seio reto) está envolvido em aproximadamente 15% A RM é a modalidade de escolha (Fig. 9-38). O trom
de todos os pacientes com doença veno-oclusiva cerebral. bo agudo é isointenso em TI e hipointenso em T2 {pseu
A TVCP pode ocorrer isoladamente ou em combi do flow void). A congestão venosa causa hiperintensidade
nação com outras ociusões sinovenosas. A TVCP isolada com edema nos tálamos e núcleos da base em T2/FLA1R
está presente em 25-30% dos casos. A TVCP é quase sem em 70% dos casos.
pre bilateral e resulta em congestão/infarto venoso dos A seqüência mais sensível é a T2* ORE, na qual
núcleos da base e tálamos (Fig. 9-36). trombos agudos mostram artefatos de susceptibilidade

9-39A TC com contraste em


um paciente de 29 anos, vitima
de poiitrauma, mostra defeitos
de enctiimento no seio caverno-
so esquerdo B. O SC afetado
possui uma margem lateral
discretamente convexa B em
relação ao SC direito normal ES.
9-39B ATC coronal do mesmo

paciente mostra ociusão da ACI


intracavernosa à esquerda C3.
O SC esquerdo permanece sem
opacificaçao porque esta preen
chido por trombo 53. Compare-
-0 com o SC normal à direita B.

9-39C Imagem axial ponde


rada em 12 no mesmo paciente
mostra ociusão da ACI esquerda,
observada aqui como um flow
vo/d ausente B. O SC esquerdo
está preenchido por coágulo 53
que se apresenta majoritária-
mente isointenso ao parênquima
adjacente.
9-390 Fase venosa da angio-
grafia da ACI direita demonstra
dificuldade em diagnosticar TSC
na ASO. O seio cavernoso direito
iS está opacificado, drenando
inferiormente no plexo venosa
plerigoídeo. O SC esquerdo não
é visualizado, e um trombo sutil
está presente observado aqui
como um defeito de enchimento.
238 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

magnética indistintos. Congestão venosa nas veias medu- O envenenamento por monóxido de carbono em
lares e subependimárias também apresenta-se hipointensa geral afeta os globos pálidos, enquanto poupa os tálamos.
devido ao fluxo lentiflcado e à desoxigenação.
A ATC e a ASD podem mostrar ausência de opaci-
TROMBOSE VENOSA SUPERFiCiAL E PROFUNDA
ficação no sistema profundo de drenagem venosa (Figs.
9-37B e 9-37C). A fase venosa da ARM mostra ausência Trombose superficial com TSD
de fluxo no sistema profundo de drenagem venosa. • TSD com extensão para as veias adjacentes
• Edema e hemorragia no cortex e na SB adjacente
• Pode ser extensa se houver oclusão das velas de
Diagnóstico diferencial Trolard ou Labbé
o diagnóstico diferencial da TVCP inclui oclusão arterial,
Trombose superficial sem TSD
neoplasia, e distúrbios toxicometabóiicos. • Rara (5% de todas as TVCs)
A artéria de Percheron (APer) é uma artéria talamo- • Pode causar hemorragia subaracnóidea na
perfurante dominante única que se origina na bifurcação convexidade
basilar ou porção proximal da artéria cerebral posterior • Pode haver o sinal do "cordão"
para suprir os lálamos mediais e o mesencéfalo. Infartos • 12* (GRE, SWI) é chave para o diagnóstico
arteriais causados por trombose da APer ou oclusào do • Artefatos de susceptibilidade magnética nos trombos
"topo da basilar" freqüentemente afetam ambos os tála- no interior da(s) veia(s)
mos. porém as lesões arteriais em geral não são tão exten Trombose venosa profunda
sas quanto as observadas na TVCP. • Incomum (15% de todas as TVCs)
Gliomas bitalâmícos costumam se originar na ponte • Costuma ter envolvimento de ambas as VCIs ± VG e SR

e/ou mesencéfalo com extensão superior para os tálamos e • VCIs hiperdensas


• Edema ± hemorragia bitalâmica
cápsulas internas. As VCIs podem apresentar-se desloca • Pode simular neoplasia (glioma bitalâmico)
das superiormente, porém permaneces patentes.

9-40A Um menino de 5 anos


com sinusopatia, febre, cefaleia
e edema periorbitário compa
receu à emergência. A TC com
contraste mostra proptose com
edema periorbitário e sinusite
etmoidai com nívei hidroaéreo
no seio esfenoidai. Os seios ca-
vernosos B e ambas as veias
oftáimicas superiores B estão
preenchidos por trombo sem
impregnação.
9-40B Imagem axiai em T2 no
mesmo paciente mostra sinusite
etmoidai B3 e múltiplas veias
intraorbitárias dilatadas E9.

9-40C Imagem axial em 11-


-pós-contraste com supressão
de gordura no mesmo paciente
mostra sinusite com realce "sujo"
da gordura orbitária e dos tecidos
moles periorbitários. Observe
os defeitos de enchimento nas
veias orbitárias trombosadas B
e seios cavernosos A artéria

carótida direita S] encontra-se


aíilada e irregular.
9-40D Imagem axial em TI
pós-contraste através dos globos
ocuiares mostra múltiplos trom
í. T
bos sem impregnação nas veias
orbitárias B.
Anatomia e ociusões venosas 239

Trombose/trombofiebite do seio cavernoso


A tromboflebite do seio cavernoso é uma condição rara,
porém potencialmente fatal, com significativa morbidade
e alta mortalidade.

Terminologia
A trombose/trombofiebite do seio cavernoso (TSC) é um
coágulo sangüíneo no seio cavernoso (SC), associado ou
não a infecçào (tromboflebite ou trombose, respectiva
mente) (Fig. 9-39).

Etloiogia e patologia
O SC é composto de vários espaços venosos densamente
trabeculados que possuem inúmeras comunicações sem
válvulas com veias da órbita, face e pescoço. A infecção
9-41A Venografia por RM em uma mulher de 22
pode, portanto, espalhar-se com relativa facilidade por es
ses condutos venosos para o interior dos seios cavernosos. anos mostra um ST direito dominante. O ST esquerdo
possui um segmento "ausente" S e possível defeito
A TSC ocorre como complicação de sinusite ou outra de enchimento B.
infecção de face. O S. aureus é o patógeno mais freqüente.
Outros agentes menos comuns incluem anaeróbios e in-
fecções fúngicas angioinvasivas.
Olomastoidite, doença odontológica, trauma e neo
plasia são causas menos freqüentes de TSC.

Aspectos clínicos
Epioemiologia. a trombose de SC sem trauma, infecçào ou
múltiplas outras ociusões de seios venosos é extremamen
te rara.

Apresentação. Cefaleia - especialmente na distribuição do


NC V, e V, - e febre são os sintomas mais precoces. Sinais
oflalmológicos, como dor orbitária, edema, quemose, prop-
tose, oflalmoplegia e perda visual também são comuns.
História natural. Disseminação bilateral e bidirecional
para o interior e para fora dos SCs é típica. A TSC não 9-41B MP-RAGE axial mostra ST esquerdo hipoplásko,
tratada pode ser fatal. Mesmo com antibióticos, o índice porém patente e um pequeno seio sigmoide B.
de mortalidade da tromboflebite do SC é de 25-30%.

Imagem
Achados de TC. A TC sem contraste com trombose de SC
não complicada pode ser normal. A tromboflebite do SC
causa proptose, gordura orbitária "suja", edema periorbi-
tário, sinusite e abaulamento lateral das paredes do SC. A
TC com contraste demonstra múltiplos defeitos de enchi
mento irregulares no SC e nas veias oftálmicas superiores
(Fig. 9-40A). As margens laterais dos SCs estão convexas
(e não planas ou côncavas).
Achados de RM. Os exames de RM demonstram SCs alar

gados e com margens laterais convexas. O trombo agudo


é isointenso ao cérebro em TI e demonstra intensidade
de sinal variável em T2. Defeitos de enchimento sem im
pregnação no interior das paredes durais do SC com re 9-41C Imagem em Tl pós-contraste mostra que o
alce e veias orbitárias trombosadas na seqüência TI pós- seio sigmoide B e o bulbo jugular esquerdos B são
-contraste são os achados de imagem definitivos na TSC hipoplásicos. ST esquerdo "ausente" é uma variante
(Figs. 9-40B, 9-40C e 9-40D). normal (hipoplasia).
240 Hemorragias não Iraumáticas e lesões vasculares

Angiografia. o aspecto angiográfíco dos SCs normais matose de Wegener) e pseudotumor inflamatório idiopáti-
varia de proeminente e marcante a mínima ou nenhuma co realçam de forma bastante intensa e uniforme.
opacificaçào. De fato. todos os seios durais da base do
crânio (seios petrosos superior e inferior, seio cavemoso.
seios esfenoparietais e piexo venoso clival) são variáveis
e inconstantemente visualizados na fase venosa da ASD. Condições que simulam ociusão venosa
A não visualização dos SCs na ASD pode ser um achado Este capítulo sobre anatomia e ociusões venosas será con
normal e não indica a presença de trombose do SC. cluído com uma breve discussão das condições que po
Em casos raros de TSC, a inflamação da artéria caró dem simular - ou obscurecer - as tromboses venosas.
tida interna intracavernosa pode levar a estenose. trombo
se ou formação de pseudoaneurisma. Va r i a n t e s d o s s e i o s
Os principais diagnósticos diferenciais da TVC são as va
Diagnóstico diferencial riações anatômicas congênitas. O seio transverso direito
O diagnóstico diferencial da TSC inclui neoplasia do SC. costuma ser o seio venoso dominante e com freqüência é
fístula carótido-cavernosa e distúrbios inllamatórios. As significativamente mais calibroso do que o esquerdo. Um
neoplasias do SC, como linfoma. meningioma e metásta- segmento hipoplásíco do seio transverso está presente
ses realçam de forma uniforme e causam efeito de massa em um quarto a um terço de todos os casos examinados e
significativamente maior do que a TSC. A fístula caroti- é especialmente comum no seio não dominante (em geral
docavernosa causa flow voids e reversão do fluxo do SC o ST esquerdo). Nesses casos, o bulbo jugular ipsilateral
para veias orbitárias dilatadas e com intensa impregnação. é pequeno (FIg. 9-41). A correlação com a janela óssea da
Doenças intiamatórias, como sarcoidose. granulomatose TC também pode ser útil para demonstrar ibrame jugular
com poliangeíte (anteriormente conhecida como granulo ou sulco do seio sigmoide pequenos. Um seio sigmoide

9-42A Imagem axial de TC


sem contfaste em uma mulher
de 28 anos com cefaleia intensa
mostra seio reto levemente
hiperdenso ES com defeito de
enchimento similar a um
"delta vazio" na confluência dos
seios (tórcula de Herófilo).
9-42B Imagem de TC sem
contraste em plano mais superior
mostra que a confluência dos
seios encontra-se normal.

9-42C Devido à suspeita de


TSD, uma ATC foi obtida. Varias
estruturas não comumente

proeminentes e com intensa im


pregnação E2 circundando uma
área central sem realce ÍS que
poderia representar um trombo.
9-420 Reconstrução coronal
da ATC mostra um canal venoso
Intersinusal orientado horizontal
mente que conecta o ST es
querdo hipoplásíco ao ST direito
dominante. A variante anatômica
da tórcula simula TSO.
Anatomia e oclusões venosas 241

ou transverso hipoplásico também costuma ser - porém de saturação inferiores com TOF 2D axial na venografia
não invariavelmente - associado a vias de fluxo venoso por RM pode saturar o fluxo em porções da curvatura do
alternativas como seio occipital persistente ou veias emis SSS, porém isso pode ser evitado pela aquisição de ima
sárias mastóideas proeminentes. gens no plano coronal.
Variações na tórcula de Herófilo (confluência dos
seios) também são comuns. Uma confluência dos seios Granuiações e septações aracnóideas
com divisão elevada, segmentada ou multicanalizada Outro importante diagnóstico diferencial da trombose de
pode apresentar uma área centrai não opacificada que si seio durai é a granulação arncnóídea (GAr) gigante.
mula TSD(FÍg. 9-42). GArs são defeitos de enchimento redondos ou ovoides
A ausência de veias ocluídas. canais venosos colate de curto segmento que exibem atenuação similar à do
rais dilatados, ou realce durai anormalmente espessado LCS na TC sem contraste e não impregnam na TC com
apoia o diagnóstico de hipoplasia do ST ou variante ana contraste.
tômica em vez de TVC verdadeira. O aspecto de imagem das GArs na RM é mais pro
blemática do que os achados associados de TC. GArs
Artefatos de fluxo
freqüentemente não seguem a intensidade de sinal do
Um f>ap de fluxo na venografia por RM com técnica TOF LCS em todas as seqüências. Intensidade de sinal dife
2D pode resultar de vários fatores, incluindo fluxo lento rente da observada no LCS é observada em ao menos
intravascular, fluxo "em plano" ou padrões complexos de uma seqüência (mais em FLAIR) em 80% dos exames
fluxo venoso. O fluxo paralelo ao plano de aquisição (flu de RM. GArs não preenchem todo o seio como acontece
xo "cm plano") pode causar perda de sinal na venografia com a maioria dos trombos e. diferentemente dos coá
por RM e é mais proeminente nas estruturas verticalmente gulos. com freqüência apresentam realce central linear
orientadas, como o seio sigmoide distai. O uso de pulsos (Fio. 9-43).

9-43A Imagem axial na pon


deração TI em um paciente com
cefaieia mostra uma massa E3
na junção entre os seios trans
verso e sigmoide à direita, que é
hiperintensa ao LCS e levemente
hipointensa em relação ao pa-
rênquima cerebral.
9-43B Imagem axiai em T2
mostra que a massa ovoide B
é um pouco menos hiperintensa
em comparação com o LCS. Vá
rias septações estão presen
tes no interior da lesão.

9-43C Partes da lesão supri


mem em FLAIR [^, enquanto
outras partes permanecem
isointensas ao cérebro.
9-43D Imagem axial na pon
deração TI pós-contraste mostra
o defeito de enchimento ovoide
E3 dentro do seio transverso
dominante ã direita. Note o real
ce das septações internas. A área
linear sem impregnação
que parece entrar na massa, é
uma pequena veia. A maioria das
granuiações aracnóideas gigan
tes não seguem precisamente a
intensidade de sinal do LCS em
Iodas as seqüências.
242 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

Septações ou trabeculações são bandas tlbróticas que Cérebro não mielinizado


aparecem como defeitos de enchimento lineares nos seios. Lactentes e crianças jovens com freqüência possuem he-
Um a cinco septos são encontrados em 30% dos seios matócritos mais elevados em comparação aos adultos, en
transversos, mais comumente no direito.
quanto a densidade do seu parênquima cerebral não mie
linizado é relativamente menor. A combinação de vasos
Outras condições que simulam ociusõo venosa sangüíneos com alta atenuação e parênquima cerebral com
Várias entidades menos comuns podem simular ociusào baixa atenuação faz todas as estruturas vasculares (incluin
de seio durai ou veia cerebral, incluindo iiematócrito ele do os seios durais e as veias corticais) parecerem relativa
vado. cérebro não mielinizado, edema cerebral difuso e mente hiperdensas em relação ao seio durai (Fig. 9-45).
hematoma subdural.
Edema cerebral difuso
Hematócrito elevado o edema cerebral difuso com redução da atenuação dos
A causa mais comum de diagnóstico falso-positivo de hemisférios cerebrais faz a dura e todos os vasos intracra
TSD na TC sem contraste é hematócrito elevado (i.e., pa nianos - tanto as veias quanto as artérias - apresentarem
cientes com policitemia vera ou s/uints cardíacos direita- relativa hiperdensidadc em comparação com o parênqui
-esquerda de longa data) (Fig. 9-44). Isso causa um aspec ma cerebral hipodenso.
to hiperdenso do seio em relação ao parênquima cerebral.
Entretanto, as artérias intracranianas nos pacientes com Hematoma subdural
elevado hematócrito também encontram-se similarmente Um hematoma subdural agudo (HSDa) que se localiza
hiperdensas. ao longo do seio reto e do tentório mediai pode causar

9-44A Corte axial de TC sem


contraste em um paciente com
shunt cardíaco direita-esquerda
de longa data mostra hiperden-
sidade nos seios transversos e
na confluência dos seios E3.
Observe também que as artérias
cranianas encontram-se

igualmente hiperdensas.
9-44B Corte axial de TC sem
contraste em plano mais superior
mostra seio reto e tórcula de
Herófilo incomumente densos
ES. Observe a hiperdensidade
em todos os vasos intracranianos
visualizados - tanto veias quanto
artérias.

9-44C TC sem contraste no


mesmo paciente em corte atra
vés dos ventriculos laterais mos
tra VCis e VG muito densas
bem como o seio reto e a tórcula
de Herófilo ES. As ACMs nas
fissuras silvianas possuem um
aspecto semelhante ao encontra
do na TC com contraste.
9-440 TC sem contraste mos
tra um SSS excepcionalmente hi
perdenso B. O hematócrito do
paciente era 68. Policitemia, de
qualquer causa, pode fazer todos
os vasos cerebrais parecerem
anormalmente densos, simulan
do trombose venosa.
Anatomia e ociusões venosas 243

9-45 Imagens de TC sem contraste em um recém-nascido normal. 9-46 Imagem axial de TC sem contraste mostra fiemorragia subdural
A combinação do cérebro hipodenso não mielinizado e o hematócrilo localizada ao longo do seio reto e do tentório B, simulando o aspecto
íislologlcamente elevado faz as velas profundas e os selos durais E3 do sinal do "delta vazio" B (o qual é observado na TC com contraste, e
parecerem hiperdensos, simulando trombose. não na TC sem contraste).

hiperdensidade que poderia simular TSD em exames de


TC sem contraste. O trombo denso circunda o sangue
relativamente menos denso circulante no SSS e na con
fluência dos seios, simulando o sinal do "delta vazio"
(Fig. 9-46). Lembre-se: o sinal do "delta vazio" é obser
vado nos exames contrastados, e não nos exames sem
contraste.

CONDIÇÕES QUE SIMULAM OCLUSÃO VENOSA


Comum
• Variante anatômica
o Segmento hipoplásico do seio (mais comum no ST)
o Seio segmentado, multicanalizado (confluência dos
seios)
• Artefato de fluxo
• Granulações aracnóideas, seplações

Menos comum
• Sangue de alta densidade (hematócrito elevado)
o Fisiológico (lactentes, elevada altitude)
o Policitemia vera
o Shunts cardíacos direita-esquerda de longa data
• Cérebro de baixa densidade
o Fisiológico (cérebro não mielinizado)
o Patológico (edema cerebral difuso)
• Hematoma subdural
o Camadas ao longo da dura e dos seios
o Lembra o sinal do "delta vazio" (TC sem contraste,
não na TC com contraste)
244 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

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10
Vasculooatia

A DVA microvascular provavelmente é mais comum


Anatomia normal das artérias extracranianas 245
Arco aórtico e grandes vasos 245 que a doença de grandes vasos, e seu impacto clínico é
Artérias carótidas cervicais 247 muito subestimado. A seção sobre aterosderose é con
cluída com uma consideração sobre arterioioesclerose.
Aterosderose 249
Então, direcionaremos para o largo espectro de vascu
Aterogénese e aterosderose 249
Aterosderose exlracraniana 252 lopatia não ateromatosa. Finalmente, a última parte deste
Aterosderose intracraniana 259 capítulo será sobre as doenças não ateroscleróticas da ma
Arterioioesclerose 261 cro e microvascularização cerebral. Embora a arterioio
Doenças vasculares não ateromatosas 263 esclerose seja a causa mais comum de doença vascular
Displasia fi b r o m u s c u l a r 263 de pequenos vasos, microvasculopatias não aterogênicas,
Dissecçâo 265 como angiopatia amiloide, podem ter conseqüências clí
Síndromes de vasoconstriçào 269 nicas devastadoras.
Va s c u l i t e e vasculites 270
Outras macro e microvasculopatlas 272

O termo genérico "vasculopatia" significa patologia de Anatomia normal das artérias


vasos sangüíneos, de qualquer tipo, em qualquer vaso (ar extracranianas
téria, capilar ou veia).
Já que doenças como a aterosderose são muito preva- Arco aórtico e grandes vasos
lentes, a avaliação dos vasos craniocervicais para vascu A aorta tem quatro segmentos principais: ascendente,
lopatia é uma das principais indicações de neuroimagem. transverso (a maioria deste formando o arco aórtico), íst-
A doença vascular aterosclerótica (DVA) de grande vaso mico e descendente.
é a vasculopatia mais freqüente na cabeça e no pescoço,
Arco aórtico
enquanto estenose carotídea e emboíização de placas de
DVA são a causa mais comum de acidentes vasculares ce o arco aórtico (AA) localiza-se no mediastino superior,
rebrais (AVCs) isquêmicos. iniciando no nível da segunda articulação estercostal
Com o advento e a ampla disponibilidade da angio- direita. Ele, então, curva-se para trás e para a esquerda,
tomografla computadorizada (ATC) multidetectora, a sobre o hilo pulmonar. O AA possui duas curvaturas,
imagem não invasiva de alta resolução da vascularizaçao uma que é convexa na sua porção superior e outra que
cervical e intracraniana tornou-se comum. Hoje, a angio- é convexa na sua porção anterior e que se curva para a
grafia com subtração digital (ASD) é pouco utilizada para esquerda.
diagnósticos e geralmente é realizada apenas como parte O AA está anatomicamente relacionado a diversas
do plano de intervenção endovascular. estruturas importantes (Fíg. 10-1). Ramos simpáticos
Neste capitulo, discutiremos doenças de artérias cra cervicais e o X NC esquerdo (nervo vago) estão dispos
niocervicais. dispondo uma base da anatomia macroscó tos em frente ao AA. Posteriormente, encontram-se a

pica e por imagem do arco aórtico e dos grandes vasos. traqueia, o nervo laríngeo recorrente esquerdo, o esô-
Então, direcionaremos para o tópico da aterosderose, co fago, o dueto torácico e a coluna vertebral. Os grandes
meçando com uma discussão geral sobre a aterogénese. A vasos estão acima do AA, assim como a veia braquioce-
ASD extracraniana e estenose carotídea são seguidas de fálica esquerda. A bifurcação pulmonar, o ligamento ar-
uma breve revisão da DVA de artérias intracranianas de terioso e o nervo laríngeo recorrente esquerdo situam-se
médio e grosso calibre. abaixo do arco.
246 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

10-1 Figura em AP demonstra o arco aórtico normal e sua relação com 10-2 ASO demonslía os ramos normais do arco aórlico. A AV esquerda
as estruturas adjacentes. A ACC direita se origina do tronco braquiocefá- ^ origina-se da AS esquerda proximal e é dominante. A AV direita
lico, enquanto a ACC esquerda se origina do arco. As bifurcações B das nasce da AS distai à origem do tronco braquiocefálico.
ACCs estão ao nível de C3-C4 com as ACIs inicialmente laterais às ACEs.

Grandes vasos Os ramos principais da AS esquerda são a artéria to-


rácica interna esquerda (mamária), artéria vertebral
Os principais vasos originam-se do AA. Da direita para
esquerda (AV esquerda), tronco tireocervical esquerdo
a esquerda, eles são o tronco braquiocefálico, a artéria
e tronco costocervical esquerdo.
carótida coniiim esquerda e a artéria subclávia esquerda
(FIg. 10-2). Em conjunto, são conhecidos como "grandes Território vascular
vasos".
O AA e os grandes vasos suprem o pescoço, crânio, escal-
Tronco braquiocefálico. O tronco braquiocefálico (TBcef). po e lodo o cérebro.
também chamado de artéria inominada, é o primeiro gran
de ramo do AA. Ele ascende anteriormente à traqueia. Variantes da normalidade
Próximo à junção esternoclavicular, o TBcef bifurca-se o "clássico" AA com três "grandes vasos" originando-se
em artéria subclávia direita (AS) e artéria carótida co separadamente do arco é visto em 80% dos casos. Em 10
mum direita (ACC). a 25% dos casos, a ACC esquerda divide uma origem co
Os principais ramos da AS direita são a artéria to- mum em forma de V com o TBcef (referida como "arco
rácica interna direita (mamária). artéria vertebral bovino", um nome errôneo, já que essa configuração não
direita (AV direita), tronco tireocervical direito e tron se parece com o padrão de ramificação do AA dos rumi
co costücervical direito. A ACC direita bifurca-se em nantes). A ACC esquerda origina-se do TBcef proximal
dois ramos terminais, a artéria carótida interna direita em 5 a 7% dos casos. A ACC esquerda e a AS esquerda
(ACI) e a artéria carótida externa direita (ACE). dividem uma origem comum em ! a 2% (uiti "tronco bra
Artéria carótida comum esquerda. A ACC esquerda origi- quiocefálico esquerdo"). A AV esquerda origina-se direta
mente do A A - e não da AS esquerda - em 0,5 a 1 % dos
na-se do topo do AA, logo depois da origem do TBcef.
casos (Fig. 10-3).
A ACC esquerda ascende à esquerda da traqueia, bifur-
As três "saliências" da aorta torácica são variantes da
cando-se, então, nas artérias ACE e ACI esquerdas, pró
normalidade que não devem ser confundidas com patolo
ximo à borda superior da cartilagem tireoide. A ACC
gias. O istmo aórtico é um segmento estreito distai à AS e
esquerda localiza-se anteromedialmente à veia jugular
interna. proximal ao local do dueto arterioso fetal.
Um fuso aórtico é uma protruberáncia circunferen-
Artéria subclávia esquerda. A AS esquerda nasce do AA cial da aorta logo abaixo do dueto. Ambos, istmo e fuso
poucos miiimetros distais à origem da ACC esquerda. aórtico, costumam desaparecer dois meses após o nasci
A AS esquerda ascende no pescoço, passando lateral mento, mas podem persistir na idade adulta. Um diver-
mente à borda mediai do escaleno anterior. tículo do dueto é uma proeminência focai ao longo do
Vasculopalia 247

10-3 As quatro variantes do arco estão demonstradas. Tronco bra- 10-4 Imagem fonte de ATC axial demonstra AS direita aberrante B
quiocefãlico (TBcef) e a ACl D se originando de uma origem comum em emergindo como o último vaso do arco aórlico.
V ES. a ACl E se originando do TBcef BI, a AV E se originando direta
mente do arco ES e AS D aberrante, emergindo do arco como quatro
"grandes vasos" [S.

aspecto anteromediai do istmo aórlico e é visto em 10% Artéria carótida interna


dos adultos.
A artéria carótida interna cervical é totalmente extracra-

Anomalias niana e é designada como segmento CI. Em 90% dos ca


sos, a ACl cervical origina-se da ACC posterolateralmen-
Apenas as quatro anomalias mais comuns do AA serào te à artéria carótida externa.
brevemente discutidas aqui. A anomalia congênita mais
O segmento Cl da ACl possui duas partes, o bulbo
comum do arco - vista em 0,5 a I % dos casos - é o AA es
carotídeo e o segmento ascendente. O bulbo carotídeo é
querdo com AS direita aberrante. Nessa situação a AS o aspecto mais proximal da ACl cervical e é visto como
direita é o láltimo - e não o primeiro - ramo a se originar
uma dilatação focai proeminente com uma área seccional
do AA (Fig. 10-4). Ocasionalmente, a AS direita aberran
te origina-se de uma estrutura dilatada semelhante a um quase duas vezes maior que a ACl distai.
O fluxo vindo da ACC ao atingir a bifurcação carotí-
divertículo (diverticulo de Kommerell). Uma AS direita
dea se divide, com aproximadamente 30% passando para
aberrante não está associada à doença cardíaca congênita.
a ACE. A maior parte do fluxo se dirige para a porção an
Outras anomalias importantes incluem um AA para
terior da ACl proximal e segue cranialmente. Na verdade,
a direita com ramificação com imagem em espelho, o
uma pequena corrente de fluxo reverso ocorre no bulbo.
que está fortemente associado à doença cardíaca congê causando lentidão temporária antes de reestabelecer o flu
nita cianótica (98% de prevalência). Duas anomalias que
xo laminar anterógrado da corrente central.
estão raramente associadas à doença cardíaca congênita
O segmento ascendente da ACl cursa cranialmente
incluem um arco aórtico para a direita com AS esquer
no espaço carotídeo, uma bainha tubular definida por fás-
da aberrante e o duplo arco aórtico (DAA). No DAA,
cias que contêm todas as três camadas da fáscia profunda
cada arco origina uma carótida ventral e uma artéria sub-
cervical. A ACl cervical não possui ramos no pescoço.
clávia dorsal (sinal dos quatro vasos).
Artéria carótida externa
Artérias carótidas cervicais
Cada ACE possui oito ramos principais (Fig. 10-5).
As artérias carótidas comuns (ACCs) são a principal fonte O primeiro ramo da ACE é a artéria tireóidea supe
de suprimento sangüíneo para a face e para os hemisférios rior. que também pode se originar da bifurcação carotí-
cerebrais. As ACCs cursam superiormente, anteromediais dea. A artéria tireóidea superior nasce do aspecto anterior
às veias jugulares internas. Elas terminam ao nível de da ACE e cursa inferiormente para suprir a tireoide supe
C3-C4 ou C4-C5, dividindo-se em artérias carótida inter rior e a laringe. A artéria faríngea ascendente origina-se
na e externa (ACIs. ACEs) (Fig. 10-1). posteriormente da ACE (ou bifurcação da ACC) e cursa
248 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

10-5 Figura demonstra que os dois ramos terminais da ACE são as ar 10-6 Figura demonstra numerosas anastomoses entre a ACE e a ICA
térias temporal superficial S e maxilar EES. A artéria maxilar divide-se cavernosa, incluindo via artéria do forame redondo E3, artéria principal
em ramos distais no interior da fossa pterigopaíatina BI. lateral B e artéria oftálmica E].

superiormente entre a ACE e a AGI para suprir a naso e a das ACls ou ramos musculoespinais das AVs (Fig. 10-6).
orofaringe, a orelha média, a dura e IX-Xl NCs. Estas anastomoses (resumidas abaixo) fornecem uma im
A artéria lingual é o terceiro ramo da ACE. Ele portante rota de circulação colateral ao fluxo sangüíneo e
descreve uma curva anteroinferiormenle, e, então, cursa determinam um risco potencial para a embolização intra
superiormente para suprir a língua, a cavidade oral e a craniana durante procedimentos de neurointervenção.
glândula submandibular. A artéria facial origina-se logo
acima da artéria lingual, curvando-se em torno da mandí-
bula antes de passar anterossuperiormente para suprir a A N A S TO M O S E S A C E - A C I - AV

face, o palato, os lábios e as bochechas. Artéria faríngea ascendente


Os próximos dois ramos são oriundos da superfície • Ramo timpânicoACI petrosa
posterior da ACE. A artéria occipital cursa posterior e • Diversos ramos ACl cavernosa

superiormente entre a base do crânio e o segmento Cl • Arco odontoide/ramos musculoespinais AV


para suprir o escalpo. a musculatura cervical superior e Artéria facial
as meninges da fossa posterior. A artéria auricular pos • AO ACl intracraniana
terior é o menor ramo dos que se originam do aspecto
posterior da ACE, acima da artéria occipital. Ela cursa su Artéria occipital
• Perfurantes transósseas para a AV
periormente para suprir a orelha e o escalpo. • Para ramos musculares das AVs
A artéria temporal superficial e a artéria maxilar são
os dois ramos terminais da ACE. A artéria temporal su Artéria auricular posterior
perficial corre superiormente atrás do côndilo da mandí- • Ramo estilomastóideo para a ACl petrosa
bula e se curva sobre o zigoma para suprir o escalpo.
Artéria temporal superficial
A artéria maxilar é o mais calibroso dos dois ramos • Perfurantes transósseas artéria da foice anterior
terminais da ACE. Seu primeiro grande ramo é a artéria ^ AO
menmgea média (AMMed), a qual corre superiormente
e entra na calvária pelo forame espinhoso para suprir as Artéria maxilar
• Artéria Vidiana -> ACl petrosa
meninges cranianas. A artéria maxilar cursa anteromedial- • AMMed -> tronco inferolateral ES ACl cavernosa
mente no espaço mastigador e. então, curva-se na fossa • Artéria do forame redondo ^ tronco inferolateral
pterigopaíatina, onde se divide em diversos ramos termi AClcavernosa
nais que suprem a face profunda e o nariz. • Artérias meníngeas recorrente/média -> AO E3 ACl
Existem vários canais anastomòlicos entre todos os intracraniana
ramos extracranianos das ACEs (a exceção das artérias • Temporal profunda -> AO -> ACl intracraniana
tireóidea superior e lingual) e os ramos intracranianos
Vasculopatia 249

paredes do vaso. O termo "placa" é utilizado para des


Aterosclerose crever um ateroma focai juntamente com fenômenos em
sua superfície, como ulceraçào, agregação plaquetária e
Mais de 90% dos infartos cerebrais sac causados por êm-
bolos trombóiicos secundários à aterosclerose e a suas hemorragia.
A aterogênese é o processo degenerativo que resulta
complicações. A DVA é a causa mais comum de morta em aterosclerose. A aterosclerose é o processo patoló
lidade e incapacitaçào grave em longo prazo nos países
industrializados.
gico mais comum que afeta as grandes artérias elásticas
(p. ex., a aorta) e as artérias musculares de médio calibre
Começaremos nossa discussão com uma revisão da
(p. ex., artérias carótidas e vertebrais). A artcrioíoescie-
etiologia, biologia e patologia da aterogênese. Então, fo rose descreve os efeitos da aterogênese nas artérias de
caremos na DVAextracraniana antes de concluir com uma
breve discussão das manHeslaçòes clinicas e de imagem pequeno calibre (e será tratada separadamente no final
desta seção), A doença vascular aterosclerótica (DVA)
da DVA intracraniana, incluindo manifestações microvas-
culares.
é o termo genérico para descrever arterosclerose em
qualquer artéria, de qualquer tamanho, em qualquer local
do corpo.
Aterogênese e aterosclerose
Terminologia Etiologia
o termo "aterosclerose" foi originalmente designado Conceitos gerais. A aterosclerose é um processo complexo,
para descrever "endurecimento" ou "esclerose" progres de desenvolvimento lento, que inicia nos primeiros anos
siva dos vasos sangüíneos. O termo "ateroma" (no gre da adolescência e progride ao longo das décadas. Sua
go mingau) define o material depositado no interior das causa é multifatorial, mas parece ser uma combinação de

10-7A Espécime de autópsia


demonstra caicificação extensa
e DVA no arco aórlico ÍS e nos
grandes vasos proximais B.
10-7B Corte através do ce-
rebeio e ponte do mesmo caso
demonstra infarlos hemorrágico
antigo e embólicos subagu-
dos S) no hemisfério cerebeiar
esquerdo.

10-7C Corte através do me-


sencéfalo do mesmo caso de
monstra iníarto antigo da artéria
penetrante da linha média
f possivelmente secundário a uma
ociusâo na artéria de Percheron.
10-70 Corte mais cranial
através do terceiro ventriculo
inferior demonstra infarto taíá-
mico inferomedial subagudo
compatível com ociusâo da arté
ria de Percheron. (Cortesia de R.
Hewlett, MD.)
250 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

retenção lipídica, oxidação e modificações, que, por sua


vez, incitam inflamação crônica. Lipídeos plasmáticos,
fibras de tecido conectivo e células inflamatórias se acu
mulam nas paredes arteriais em lugares suscetíveis, for
mando placas ateroscleróticas focais.
Inflamação ativa, imunidade inata e mecanismos
imunes adaplativos desempenham um papel-chave no
desenvolvimento da DVA. Exposição crônica a lipopro-
teínas de baixa densidade (LDLs) modificadas pela oxi
dação ativam células endoteliais, induzindo expressão de
moléculas de adesão, metaloproteinases de matriz e genes
inflamatórios. Como parle do processo inflamatório, o
actímulo de monócitos e a diferenciação de macrófagos
também são induzidos.
A neoangiogênese está fortemente associada à pro
gressão das placas e é provável que seja a fonte primá
10-8 (A) OVA leve com "esUlas gordurosas." (B) OVA
ria de hemorragia no interior delas. Fatores angiogênicos
grave; % estenose = (b-a)/b x 100; b= lúmen normal,
a = diâmetro do lúmen residual.
causam proliferação da vasa vasorum, formação de vasos
imaturos e perda das membranas capilares basais. O va
zamento de glóbulos vermelhos para o interior da placa
induz a mais inflamação e aumenta o risco de ulceração
e ruptura.

Genética. O processo da DVA no desenvolvimento da pla


ca é o mesmo a despeito de etnia, gênero ou localização
geográfica. Contudo, a proporção em que a placa desen
volve-se é mais rápida em pacientes com prediposiçào
genética e fatores de risco adquiridos, como hipertensão,
tabagismo, diabetes tipo 2 e obesidade.
Mutações isoladas para DVA ainda não foram iden
tificadas. Até hoje, a maioria dos pesquisadores concluiu
que a DVA provavelmente reflita a interação de múltiplos
fatores intrínsecos (genéticos) e extrínsecos (ambientais).
Um estudo de associação genômica ampla identificou
múltiplos focos que influenciam o risco de DVA sistêmi
10-9 (Esquerda) OVA estável com placa gordurosa ca, especialmente no âmbito da doença cardíaca corona-
e íntima intacta (Direita) Placa inicialmente riana incidental.
"em risco" demonstra agora ulceraçâo e ruptura da
intima B
Patologia
Localização. Toda a vasculatura é exposta a influências
genéticas e ambientais similares. Na teoria, as lesões por
DVA deveriam ocorrer randomicamente, com cada artéria
- de grandes artérias elásticas a arteríolas - expostas ao
mesmo risco de desenvolvimento de DVA. Em vez disso,
a DVA ocorre em locais previsíveis. Nos vasos extracra-
nianos, os locais mais comuns são as ACls proximais e
as bifurcações carotidcas, seguidas do arco aórtico e da
origem dos grandes vasos (Fig. 10-7).
A ACl proximal exibe uma característica anatômica
diferente da encontrada em qualquer outro vaso. como
o buibo carotídeo. Esse aumento focai pós-bifurcação
- em conjunto com o ângulo da ramificação da ACC -
promove uma divisão do fluxo sangüíneo e recirculação/
estase no bulbo. Os padrões de fluxo incomuns, gerados
nesta geometria única, resultam em aumento do tempo de
10-10 Espécime de endarterectomia carotídea de
monstra ulceração da íntima BI calcificações BI e he permanência das partículas e tensão de cisalhamento bai
morragia intraplaca ÍS. (Cortesia de J. Townsend, MD.) xa e oscilante na parede externa do bulbo carotídeo. Isso
Vasculopatia 251

10-1 IA Imagem fonte de ATC demonstra uma placa ateroscierótka 10-1 IB (Esquerda) Reconstrução obliqua e (direita) visualização coro-
irregular, uicerada B3 ao longo do arco aórtico, na aorta torácica des- na! do mesmo caso demonstra a placa B ao longo da curvatura menor
cendenle proximal. do arco aórtico. (Cortesia de G. Oliveira, MD.)

pode contribuir para a alta prevalência de aleromas nesta bris celulares e colesterol sobre a cobertura fibrosa eleva
localização etn particular. da, este revestimento começa a alllar e a se tomar predis
Número e tamanho. As placas de DVA variam em tama posto à ruptura (placa "vulnerável") (Fig. 10-9).
Pequenos vasos sangüíneos proliferativos também se
nho, de pequenas, quase que microscópicos depósitos li- desenvolvem em torno da periferia do centro necrótico. A
pidicos, a grandes lesões, espessas e ulceradas que podem
neovascularizução pode levará hemorragia subintimal
estender-se por vários centímetros e estreitar drasticamen
com expansão rápida, que aumenta a pressão no interior
te a luz do vaso. A maioria das placas possui entre 0,3 e
da placa, promove o aumento dos depósitos de lipídeos e
1,5 cm de diâmetro. Na DVA, mijítiplas lesões em miáíti-
alarga o centro necrótico, com maior enfraquecimento da
plos locais são a regra. cobertura fibrosa sobrejacente.
Patologia macroscópica. As placas de DVA desenvolvem- Placas ulceradas. A iilceraçâo da placa ocorre quan
-se em estágios (Fig. 10-8). A primeira lesão detectável do a capa fibrosa enfraquece c rompe através da íntima,
é o depósito de lipídeos na íntima, visto como "estrias liberando debris necróticos (Fig. 10-10). O sangue lenta
gordurosas" de coloração amarelada. Além disso, pode mente turbilhona no interior do endotélio ulcerado e des
haver um espessamento intimai levemente excêntrico, nudo. permitindo a agregação de plaquetas e de fibrina.
mas liso. As modificações visíveis nesse estágio precoce Um efeito de Bernoulli intermitente puxa o agregado para
são mínimas. a corrente principal de fluxo rápido, causando emboliza-
Características microscópicas. As placas de DVA são classi ção arterioarterial para vasos intracranianos distais.
ficadas histopatologicamente como "estáveis", "vulnerá Aspectos clínicos
veis" ou "ulceradas".
Epidemiologia e aspectos demográficos. Embora a aterogêne-
Placas estáveis. As placas estáveis não complicadas se inicie por volta do meio da adolescência, a maioria dos
- a lesão básica da aterosclerose - consistem em material
celular (células musculares lisas, monócitos e macrófa- pacientes com lesões sintomáticas é idoso ou de meia-ida
de. Entretanto, a aterosclerose está cada vez mais comum
gos), lipídeos (depósitos tanto intra como extracelular) e em pacientes mais jovens, contribuindo para o aumento
uma cobertura fibrosa (composta de colágeno, fibras elás
da prevalência de AVCs em pacientes abaixo de 45 anos.
ticas e proteoglicanos). A íntima que cobre a placa estável
Há uma moderada predominância masculina. Embora
está espessada, mas sua superfície externa permanece in
todas as etnias sejam afetadas, afro-americanos estão em
tacta, sem interrupções ou ulcerações. Não há hemorragia maior risco para DVA.
no interior da placa (Flg. 10-9).
Placas vulneráveis. Como gradualmente se acumula Apresentação. A apresentação clínica da DVA craniocer-
um centro necrótico de lipídeos, células espumosas, de v i c a l é a l t a m e n t e v a r i á v e l . A s D VA s c o s t u m a m s e r u m
2 5 2 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

10-12 Quatro perspectivas de ASD demonstram a importância de 10-13 (Esquerda) ASD demonstra estenose crítica da AC! E2. (Direi-
projeções múltiplas para delinear o grau de estenose máxima da AC! pro- ta) ARM do mesmo caso demonstra um "intervalo de fluxo" B caracle-
xlmal B, placa calclficada rístico de lesão de alto grau, limitando o fluxo.

distúrbio lentamente progressivo. Muitas lesões permane isquêmicos mínimos, seguido de ATC para aqueles com
cem assintomáticas até que causem estenose liemodina- resultados positivos.
mieamente significativa ou doença tromboembólica. Um Uma análise profunda e comparações entre as muitas
sopro carotideo pode ser o primeiro sinal clínico detectá- modalidades de imagem vascular disponíveis está além
vel de estenose da ACI. Acidentes isquêmicos transitórios do escopo deste livro. Focaremos nos principais locais
(AITs) e "iníartos silenciosos" sào precursores comuns de anatômicos da DVA, utilizando exemplos de cada técnica,
infartos territoriais extensos. quando apropriado, para demonstrar a patologia relevante.
História natural. A história natural da DVA também é alta-
Arco aórtlco e grandes vasos
triente variável. A oclusão da ACI faz surgir um alto risco
em especial para um AVC posterior, com mais de 70% O arco aórtico é uma fonte subdiagnosticada de AVCs is
destes pacientes vindo, por fim, a apresentar um infarto quêmicos intracranianos. A avaliação completa por ima
isquêmico cerebral. gem dos pacientes com infartos tromboembólicos cere
brais deve incluir o arco aórtico.
Opções de tratamento. As opções de tratamento incluem
Etiologia. a DVA aórtica é mais comum na aorta descen
prevenção, medicamentos (drogas para redução de lipí-
deos). e cirurgia ou terapia endovascular (a seguir). dente que na ascendente ou no arco (Fig. 10-11). Contudo,
fluxo retrógrado diastólico tardio por placas complexas
Aterosclerose extracraniano na aorta descendente proximal, distal à origem da artéria
subclávia esquerda, pode alcançar todas as artérias supra-
A DVA extracraniana é o principal fator de risco isolado
-aórticas. O fluxo retrógrado estende-se para o orifício da
para AVC. Este risco começa com o arco aórlico. AS esquerda em cerca de 60% dos casos, para a ACC em
Corno a ASD possui um pequeno, mas bem estabe
25% e para o tronco braquiocefálico em 10 a 15%.
lecido, risco, as modalidades por imagem não invasivas Os êmbolos aórticos envolvem o cérebro à esquerda
são os procedimentos de rastreamento preferidos para
em 80% dos casos e demonstram uma evidente predileção
avaliar pacientes para aterosclerose extracraniana e suas
pela circulação vertebrobasilar. Essa distribuição geográ
complicações. As principais opções não invasivas são fica marcante é consistente com êmbolos trombóticos ori
ATC. angiorressonância magnética (ARM) de alta reso
ginados de placas ulceradas na aorta descendente que sào
lução e a ultrassonografia (US). Cada técnica tem seus levados pelo fluxo retrógrado para os vasos supra-aórticos
defensores, suas vantagens, desvantagens, considerações
sobre custos e cenários especiais de uso. Muitos pesqui esquerdos.
sadores recomendam a US com Doppler como teste de Epidemiologia. a aterosclerose do arco aórtico é um fator
rastreamento em pacientes com AlTs recentes ou AVCs de risco independente documentado para AVC, encontra-
Vasculopatia 253

10-14 TC com contraste de um homem de 60 anos demonstra um tê 10-15 (Esquerda) ASD demonstra placa ulcerada BI causando es
nue ponto de realce ESI na AG proximal direita. A estenose de alto grau tenose de alto grau, quase total B com o sinal do "barbante" ÍS.
é causada por uma placa "mole" por OVA com lipídeos hipodensos E<9. (Direita) Fase tardia demonstra a AC! cervical distal [S. Os defeitos de
A ACI esquerda ES é irregular e estenótica. enchimento são causados por trombos.

do nos exames de imagem em 10 a 20% dos pacientes mente, determinar o grau de estenose carotídea nos estu
com infailos isquêmicos agudos e em 25% das autópsias dos de imagem é algo que se tomou rotina e obrigatório.
por AVCs fatais. Placas aórticas ulceradas estão presentes Três estudos mostraram os benefícios da endarterecto-
na necropsia em 60% dos pacientes que faleceram de in- mia em pacientes com estenose carotídea definida: o North
farto cerebral de etiologia desconhecida. A DVA aórtica American Symptomatic Carotid Endarterectomy Trial
constitui a cínica fonte provável para êmbolos de retina (NASCET), o European Carotid Surgery Trial (ECST) e
ou infartos cerebrais em cerca de 25% dos pacientes com 0 Asymptomatic Carotid Atherosclerosis Group (ACAS).
"infarto criptogênico", por exemplo, sem possíveis fontes Embora esses estudos utilizem a ASD como padrão-
cardíaca ou carotídea identificadas. -ouro para determinar a porcentagem de estenose, estudos
Imagem. O arco aórtico e a aorta descente proximal devem recentes demonstraram uma relação linear entre as medi
ser visualizados em conjunto com a vasciilarização extra das milimétricas da estenose carotídea na ATC e a porcen
e intracraniana. Alguns pesquisadores defendem uma "ex tagem de estenose definida pelo NASCET. Esses estudos
clusão tripla" ampla por ATC para AVC agudo isquêmico demonstraram a eficácia da endartcrcctomia carotídea,

que também inclui o coração e as artérias coronárias. O angioplastia ou colocação de slenl.s em pacientes sintomá
uso endovenoso de contraste é necessário para definir a ticos com estenose de ACI de 70% ou mais.
A estenose carotídea é classificada como moderada
presença de trombo mural, determinar a extensão da placa
e avaliar complicações da parede aórtica, como ulcera- (50 a 69%), grave (70 a 93%) e "pré-oclusiva" ou críti
ções, aneurismas e dissecção. ca (94 a 99%) (Figs. 10-13 e 10-15). Os pacientes com
O achado de imagem mais comum na DVA aórtica é estenose crítica estão com maior risco de AVC embólico
um espessamento mural irregular com calcitlcações. As desde que o lúmen da ACI esteja patente.
características de imagem da DVA aórtica que se correla Além do grau de estenose, vários estudos recentes
c i o n a m f o r t e m e n t e c o m AV C i n c l u e m a t e r o m a s l o c a l i z a demonstraram a importância de também avaliar as carac
dos proximalmente ao óstio da artéria subclávia esquer terísticas morfológicas das placas. A ruptura de uma placa
da. placas de no mínimo 4 milímetros de diâmetro que "em risco" com um grande centro necrótico sob uma fina
protruem para o lúmen aórtico e a presença de trombos cobertura fibrosa é responsável pela maioria dos trombos
móveis/oscilantes. agudos. Já que a embolizaçào distai de um coágulo pro
x i m a l r e l a c i o n a d o à D VA é u m a c a u s a c o m u m d e i n f a r -
Artérias carótidas internas/bifurcação carotídea to/isquemia cerebral, identificar um placa "vulnerável",
Entre 20 a 30% de todos os infartos isquêmicos são cau propicia à ruptura é ao menos tão importante cjuanto de
sados por estenose carotídea (FIg. 10-12). Consequente terminar o grau de estenose.
254 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

Achados na TC. Os achados de imagem mais comuns na DVA


extracraniana sào calciftcações murais, irregularidades lu-
minais, graus variáveis de estenose, ociusão e trombose
(Fig. 10-13). Alongamento, ectasia e tortuosidade do vaso
podem ocorrer com ou sem outras modificações da DVA.
Exames de TC sem contraste demonstram com facili
dade as calcificações parietais. Placas lisas e calcifícações
coalescentes extensas estão associadas com menor risco
de ruptura da placa. Grandes placas ateroscleróticas po
dem demonstrar um ou mais focos de baixa densidade su-
bintimais. Eles representam o centro rico em lipídeos ou
uma placa "mole" (Fig. 10-14). Focos subintimais de alta
densidade indicam hemorragia no interior da placa. Esses
achados oferecem aumento ao risco de ruptura da placa e
concomitante emboiização distai.
A TC com contraste e imagens fonte de ATC exibem
10-16A ARM 3.0 T oblíqua demonslra eslenose de
o lúmen carotídeo seccional. Estreitamento luminal liso
dito grau na artéria carótida direita com um "interva
lo" de (luxo causado por uma grande placa por não estenótico é o achado mais comum da DVA. Ulcera-
OVA Ba. ções - vistas como irregularidades em forma de recessos
preenchidos por contraste a partir do lúmen - são detec
tadas com 95% de sensibilidade e 99% de especificidade.
Ociusão e trombos intraluminais também sào prontamen
te demonstrados.
A ATC é tão acurada quanto a ASD para determinar a
estenose da ACI. Embora algumas estenoses carotídeas se
jam de morfologia irregular e não circulares, a medida do
ponto de maior estreitamento é um preditor confiável da
área seccional. A diferenciação de ociusão total de iminente
é essencial, Já que pacientes com ociusão costumam ser tra
tados clinicamente, enquanto pacientes com lesões de alto
grau são elegíveis para cirurgia ou tratamento endovascular.
Além de calcular a porcentagem de estenose
(Fig. 10-8), as características morfológicas da placa de
vem ser descritas em detalhes, pois a tomada de decisões
não será baseada apenas no grau de estenose. A estenose
10-16B MP-RAGE demonstra hemorragia no interior não define o risco completo de AVC em pacientes sinto
da placa ES com um diminuto lúmen residual ^3 na máticos com menos de 70% de estenose ou em todos os
AC! direita e hemorragia subintimal tB na ACI esquerda. níveis de estenose em pacientes assintomáticos.
Achados na RM, Imagens de RM de alta resolução podem
ser utilizadas para caracterizar as placas carotídeas, per
mitindo a identificação dos seus componentes individuais,
incluindo lipídeos, hemorragia, tecido fibroso e calcifíca
ções. A hemorragia no interior da placa foi identificada
como um fator de risco independente para infarto isquè-
mico cm iodos os graus de estenose, incluindo pacientes
sintomáticos com lesões de baixo grau (menos de 50%).
Consequentemente, a caracterização precisa da morfolo
gia da placa é importante para o manejo dos pacientes.
Intensidade de sinal alta nas ponderações em TI com
saturação de gordura, nas imagens fonte da ressonância
magnética (RM) ou nas seqüências MP-RAGE represen
ta hemorragia em placa aterosclerótica "vulnerável" e
complicada, e não um acúmulo de lipídeos (Figs. 10-16 e
10-17 Espécime de endarterectomia da ACi D demons 10-17). Ao contrário dos sangramentos intraparenquima-
lra que a hiperinlesidade da placa é devido à hemorragia tosos cerebrais, a hemorragia nas placas pode permane
aguda e não a fipideos. (Cortesia de S. McNaily, MD.) cer hiperiniensa por até 18 meses. Placas vulneráveis em
Vasculopatia 255

PS= 465.6cm/s ED= 219'.Ocm/s RI= Ó.53 S/0= 2.13

10-18A US longitudinal com co/oc Doppler demonstra uma estenose 10-18B Análise por Doppler espectral do mesmo caso demonstra
na ACl de alto grau. O lúmen arterial está significativamente estreitado actiados de estenose. Ambas VPS e VOF estão marcadamente aumenta
com artefatos de fluxo do tipo "aliasing" tB causados pelo aumento da das, compatível com estenose superior a 70%. (Cortesia de S. S. M. Ho,
velocidade do fluxo. MBBs.)

geral são hiperintensas nas ponderações em T2, enquanto "Lesões escalonadas" são estenoses distais a uma
placas estáveis são isointensas nas ponderações TI e T2. lesão mais proximal e são vistas em cerca de 2% dos pa
Aquisições em TI pós-contraste com saturação de gor cientes com estenose da ACI cervical hemodinamicamen-
dura demonstram realce nas margens da placa, consistente te signfícativa. O local mais comum de uma "lesão esca
com neovascularização em uma placa vulnerável "em risco". lonada" é a ACI cavernosa.
A ARM 2D TOP contrastada ou não possui 80 a 85% A trombose carotídea é vista como um defeito de
de sensibilidade e 95% de especificidade para a detecção enchimento intraluminal da coluna de contraste (Fig. 10-
de estenoses da ACI superior a 70%. A perda do sinal com 15). A oclusão carotídea é vista como a coluna de contras
um "intervalo de fluxo" ocorre se a estenose for superior te com finalização de maneira abrupta em fundo cego na
a 95%. Se comparada a ATC e a ASO, a ARM tende a ACI proximal.
superestimar o grau de estenose. As estenoses de alto grau causam um fluxo antero
ASD. Embora a ASD seja considerada o padrão-ouro para a grade muito lento com atraso na lavagem do contraste.
O sinal do "barbante" está presente quando apenas um
imagem vascular - especialmente para a documentação de
"fio" ("barbante") de fluxo anterograde é detectado na
oclusão/estenose carotídea antes de intervenção endovas-
ASD ou no Doppler colorido (Fig. 10-15). O sinal do bar
cular ou cirúrgica ela não é mais utilizada como o pro
bante-também chamado de pseudo-oclusão carotídea ou
cedimento inicial de rastreamento. As vezes, a ASD é rea
lizada para a avaliação do padrão da circulação colateral. pré-oclusão - representa mais de 95% de estenose. Esses
A ulceração da piaea é vista na ASD como irre pacientes estão em risco especial para AVC em curto pra
zo. Examinar a fase venosa tardia da ASD é crucial para
gularidade da superfície do lúmen do vaso opacificado documentar patência arterial sutil, já que isso determinará
(Fig. 10-15). A sensibilidade relatada para detecção da se endarterectomia de emergência ou colocação de stent
ulceração da placa na ASD varia entre 50 a 85%. Irregu são opções para o tratamento.
laridades de superfície na ASD estão associadas com um
risco aumentado de AVC e de todos os graus de estenose. Ultrassonografia. a imagem por US inclui US em escala
A estenose carotídea pode ser identificada e calculada de cinzas, co/or Doppler com imagens de velocidade, po
na ASD. Pelo menos duas ou mais incidências são necessá wer Doppler e análise do Doppler espectral (Fig. 10-18).
rias para definir a estenose máxima (Fig. 10-12). O cálculo Ultrassonografia em escala de cinzas. Na US em es
do NASCET para o percentual de estenose é o diâmetro do cala de cinzas, uma placa gordurosa ou "mole" aparece
lúmen normal menos o mínimo diâmetro do lúmen residu como uma hipoecogenicidade, enquanto uma placa fibrosa
al, dividido pelo diâmetro do lúmen normal multiplicado é levemente ecogênica. Uma placa calcificada é altamente
por 100 (Fig. 10-8). Um lúmen residual de 2 mm com um ecogênica, com sombra posterior. Uma placa ulcerada apa
diâmetro de 10 mm representa 80% de estenose. rece como uma cripta focai com bordos agudos ou penden-
256 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

tes. Os vasos ocluídos demonstram ausência de fluxo com


material ecogênico preenchendo o lúmen do vaso.
Color Doppler: Estenose inferior a 50% demonstra
tonalidades de cores intraluminais relativamente unifor
mes na estenose e distalmente a ela. Estenoses superiores
a 50% apresentam leve alteração intraluminal nas nuances
de cores na estenose e distalmente a ela.
A estenose superior a 70% demonstra uma mudança na
escala de cores ou "aliasing" causada pela velocidade eleva
da no ponto de estenose, bem como pelo flaxo pós-estenótico
significativamente turbulento. Os vasos ocluidos demontram
ausência de fluxo a cores, enquanto estenoses de alto grau
próximas à oclusao podem demonstrar um fino "fio" de cor.
Power Doppler. O power Doppler é útil para detectar
fluxo de baixa velocidade tanto na estenose pré-oclusiva
10-19 (E) Estenose grave na origem da AV BS e mo quanto distai a ela. Ele é especialmente útil na diferenciação
derada em seu terço médio cervical ES. OVA intracra de estenoses patentes pré-oclusivas (alto grau) da oclusao.
niana H-(D) ATC pós-5ferjf. {Cortesia de C Baccin, MD.) Doppler espectral O Doppler espectral é útil para
estimar o grau de estenose dos parâmetros de velocida
de. A velocidade de pico sistólico (VPS) é a medida mais
comum e recomendada. Outras medidas úteis incluem a
razão de velocidade sistólica (RVS), que é a estenose da
ACI/ACC normal e a velocidade diastólica final (VDF).
A VPS e a VDF elevam-se com a progressão da estenose.
Estenoses de alto grau quase oclusivas demonstram
velocidade variável. A resistência ao alto fluxo pode, na
verdade, reduzir a VPS, portanto, o diagnóstico é baseado
no aspecto do color Doppler e nas curvas do fluxo reduzi
do distai à estenose.

PA R Â M E T R O S D E V E L O C I D A D E

Na estenose inferior a 50%


• VPS inferior a 125 cm/s; VDF inferior a 40 cm/s;
RVS inferior a 2,0
10-20A us longitudinal com color Ooppier demons
tra leve grau de roubo da subclávia com o braço em Na estenose entre 50 a 69%

repouso.
• VPS 125 a 229 cm/s; VDF 40 a 99 cm/s; RVS 2,0 a 3,9
Na estenose de 70% ou mais
• VPS superior a 230 cm/s; VDF superior a 100 cm/s;
RVS de 4,0 ou mais

Artérias vertebrais
A DVA nas artérias vertebrais extracranianas correspon
de a até 20% de todos os AVCs isquêmicos da circulação
posterior. Já que o risco da cateterizaçào seletiva da AV
na presença de vasculopatia é de 0,5 a 4%, o uso de exa
mes de imagem não invasivos como a ATC e a ARM é
preferido. Contudo, o curso tortuoso das AVs, a grande
variabilidade do calibre normal, a cobertura óssea espessa
e a presença de veias adjacentes criam desafios especiais
ao radiologista. A AV direita é visualizada adequadamente
I . . , . . . r B desde sua origem até a confluência basilar em apenas cer
-4 -<3 -2

10-208 O roubo se agrava apôs exercido do braço.


ca de 75% dos pacientes e à esquerda em 70%.
A onda do Doppler se alterna com aumento do fluxo Embora lesões nos segmentos médio e distai possam
retrógrado B. (S. S. M. Ho, MBBs.) ocorrer, a DVA extracraniana é mais comum próxima ao
Vasculopatia 257

orifício de origem daAV(Fig. 10-19). Estenose e calcitl- Exames não invasivos para roubo da artéria subclávia
cações sào os achados mais comuns. Tanto a ATC como a podem ser problemáticos. Como as bandas de saturação
ARM. ultrassonografia com color Doppler ou a ASD po são aplicadas no TOF 2D da ARM, a direção do fiuxo
dem dar o diagnóstico por imagem. reverso na artéria vertebral pode simular uma oclusão. A
Um tipo especial de patologia da AV é o chamado ARM com técnica de TOF padrão pode não ser adequa
roubo da subclávia. Nele, a AS ou o tronco braquioce- da para diferenciar fluxo reverso de cuiseníe, então, con
fálico estão estenóticos ou ocluídos proximalmente a ori firmação e quantificação com imagens adicionais, tanto
gem da artéria vertebral. O fluxo reverso na AV afetada ARM com técnicas de bohis-timeci on phase-contrast com
ocorre porque sangue é recrutado (i.e., "roubado") da ar codificação de direção quanto US com color Doppler ou
téria vertebral contralateral, cruzando a junção da artéria ASD são necessários (Fig. 10-20).
basilar (AB) e seguindo de maneira retrógrada e caudal A ASD demonstra uma AV eslenótica ou ociuída com

pela AV em direção à artéria subclávia para suprir o om enchimento colateral pela AV contralateral por meio da
bro e braço distais à eslenose/oclusão. junção da AB e/ou múltiplos ramos inomidados aumenta
O roubo da artéria subclávia pode ser completo ou dos de calibre (Fig. 10-21).
parcial, sintomático ou oculto e freqüentemente é um Com base nas modificações heinodinâmicas na AV, três
achado incidental. Os pacientes sintomáticos apresentam- graus de roubo subclávio são conhecidos na US. No roubo
-se com sintomas de circulação posterior secundários à in oculto, os sintomas estão ausentes, as modificações hemo-
suficiência vertebrobasilar e à isquemia de tronco encefá- dinâmicas são mínimas e o único achado pode ser a desace
lico. Atordoamento episódico, diplopia, disartria. náuseas leração sistólica. No roubo parcial ou moderado, o espectro
e alterações visuais são tipicas e se agravam com o exerci- do power Doppler mostra fluxo alternante ou parcialmente
cio do braço e ombro afetados. Significativa diferença de reverso. No roubo completo, o fluxo na AV está completa
pressão sangüínea (superior a 20 nimHg) entre os braços mente reverso. Os testes dinâmicos com exercícios são reco
costuma ser associada com roubo subclávio sintomático. mendados para confirmação e considerações de tratamento.

10-21A Homem de meia ida

J
de com DVA sistêmica e história
de bypass cardíaco vivenciou um
episódio de atordoamento. inci
dência anterior esquerda oblíqua
do arco aórtico em ASO demons
tra uma grande calcificação na
origem da AS direita [S com
mínima quantidade de contraste
na AS distai [^. A artéria verte
bral direita não está opacificada.
A AV esquerda está aumentada e
tortuosa
10-21B Angiograma seletivo
da AS esquerda demonstra a AV
proeminente ramos muscu
lares aumentados de calibre
e colaterais para a distribuição
vascular da AS direita.

10-21C Incidência AP da inje


ção da AS esquerda demonstra
que o sangue segue superior
mente pela AV esquerda [^1
atravessa a junção basilar lí>] e
desce pela AV direita l/r>l. Há um
enchimento transitório da artéria
basilar proximal, mas a maior
parte da circulação posterior per
manece não opacificada.
10-210 Imagem tardia da in
jeção do arco aórtico demonstra
enchimento retrógrado da AV di
reita e AS distai à calei-

(icação e à estenose de alto


grau. Clãssico roubo subclávio.
258 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

10-22 Caso de autópsia


demonstra a distribuição intra
craniana da DVA. A doença mais
grave se encontra no sistema
vértebro basilar BS ACis B e
ACMs proximais E3. (Cortesia de
R. Hewlett, MD.)
10-23 Caso de autópsia de
doilcoectasia basilar demonstra
placa ateromatosa amarelada
em uma artéria basilar ex
tremamente tortuosa. Observe a
leve ectasia de ambas as artérias
cerebrais médias E3. (Cortesia
de R. Hewlett, MD.)

10-24A Ponderação sagitai Ti


de um homem idoso sem hiper
tensão ou demência demonstra
u m fl o w v o i d e x t r e m a m e n t e

alongado da artéria basilar BS.


A artéria doiicoectásica indenta e
eleva o terceiro ventriculo
que aparece comprimido, envol
vendo a bifurcação basilar.
10-24B Aquisição TI pós-con-
traste no plano coronal do mes
mo caso demonstra fluxo com
realce na artéria basilar ectásica
B. Observe que o terceiro ven
triculo está elevado, comprimido
S pela doilcoectasia basilar.

10-25 Caso de autópsia


demonstra DVA e ectasias íusi-
formes das ACis B e das ACMs
A circulação posterior (ver
tebrobasilar) está relativamente
poupada B. (Cortesia de R.
Hewlett, MD.)
10-26 Caso de autópsia de
monstra marcada ectasia no seg
mento horizontal da ACM [r^].
(Cortesia de R. Hewlett, MD.)
Vasculopatia 259

Diagnóstico diferencial
Os principais diagnósticos diferenciais da DVA incluem
dissecção, aneurisma dissecante, vasospasmo e displasia
ílbromuscular. Todos poupam o bulbo carotídeo.
A dissecção (tanto traumática quanto espontânea)
é mais comum em pacientes jovens ou de meia-idade e
ocorre no terço médio dos vasos extracranianos. A dissec
ção extracraniana em geral termina na abertura exocrania-
na do canal carotídeo. A maioria é lisa ou exibe mínimas
irregularidades, enquanto calciflcaçôes ou ulcerações -
comuns nas placas carolídeas - estão ausentes.
Estreitamento do segmento médio do vaso com uma
pequena "bolsa" semelhante a uma massa, que se soma
exteriormente ao lúmen, é típico de um aneurisma disse
cante. O vasospasmo é mais comum nos vasos intracra
nianos. Quando envolve a carótida cervical ou as artérias
vertebrais, costuma poupar os segmentos proximais. grau da ACI cervical IE? ACI pequena distai IS (por
A displasia fibromuscuiar (DFM) poupa o bulbo caro liuxo reduzido), estenose concomitante ES.
tídeo e afeta o aspecto médio e distai da carótida extracra
niana e artérias vertebrais. O aspecto de "colar de contas
de rosário" é típico. Um longo segmento de estreitamento
tubular é menos comum e pode refletir a coexistência de
dissecção.
Outras afecções que se assemelham menos à DVA
incluem a hipoplasia congênita e vasos de pequeno cali
bre secundários ao fluxo distai reduzido. A hipoplasia da
carótida interna congênita, demonstrando um pequeno
canal carotídeo ósseo ipsilateral, é rara. Nela, a AV fre
qüentemente finaliza na artéria cerebelar posteroinferior
(ACPI) e a AV contralateral costuma ser grande. Se as
ACPs apresentarem a origem fetal das ACIs e os segmen
tos PI das ACPs estiverem ausentes, todo o sistema verte
brobasilar pode parecer relativamente hipoplásico.
O fluxo distai diminuído ocorre quando a pressão in
tracraniana toma-se marcadamente elevada ou se houver
10-27B Imagem intracraniana demonstra estenose
vasospasmo grave nos vasos intracranianos. O lúmen do de alto grau da ACI cavernosa Si juntamente com
vaso cervical afetado diminui em proporção ao escoamen ociusão quase completa da ACI supraciinóidea iS.
to reduzido.

Aterosclerose intracraniana
Uma das manifestações mais sérias e debilitantes da DVA
é o AVC. A maioria dos AVCs agudos isquêmicos são
tromboembóiicos, mais freqüentemente secundários a
fontes cardíacas ou a placas na ACI cervical.
Muitos clínicos focam na doença arterial carotídea
extracraniana, considerando a DVA intracraniana (DVAI)
uma causa infrequente de AVC. Contudo, estudos recentes
demonstraram que a DVA intracraniana corresponde a 5
a 10% de todos os AVCs isquêmicos. Quase metade dos
pacientes com infarto cerebral fatal tem pelo menos uma
placa intracraniana associada com estenose luminal na ne-
cropsia (Fig. 10-22).
Com a expansão de uma variedade de opções de trata
mento disponíveis, o delineamento preciso da DVA intra
10-28 (Esquerda) ASD AP, (direita) e lateral revelam
craniana é imperativo para o tratamento individualizado extensas modificações por DVA na artéria vertebrobasi
de cada paciente. Nesta seção, revisaremos brevemente as lar ES ACP proximal direita e ACPI ES.
260 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

10-29 Ilustração no plano coronal demonstra placas aterosclerõti-


cas [iS envolvendo as artérias intracranianas principais e seus ramos. craniana representadas por numerosos focos de eslreitamento irregular
Detalhe mostra artérias penetrantes B (lenticuioestriadas) e iníartos e diiatações nos ramos da ACM distai S] simulando vasculite.
iacunares \3\.

manifestações da DVA intracraniana desde ectasias vascu e c t á s i c a . O s A F s n a D VA s ã o m a i s c o m u n s n a c i r c u l a


lares assintomálicas até aneurismas fusiformes e a doença ção vertebrobasilar. Quando eles ocorrem na circulação
esteno-ociusiva, que pode ser uma ameaça à vida, mas é anterior, podem produzir uma manisfestaçào rara, mas
tratável. dramática, chamada de aneurisma "serpentiforme" gi
gante. Os AFs na DVA serão discutidos em detalhes no
Ectasia
Capítulo 6.
Um alongamendo de vaso generalizado, nào focai, é cha
mado de "ectasia", "dolicoectasia". "arterioectasla" ou Doença esteno-ociusiva intracraniana
"arteriopatia dilatada". Vasos alongados e tortuosos sào o advento das técnicas endovasculares para o tratamento
manifestações comuns da aterosclerose avançada pelo da doença esteno-ociusiva tomou a detecção e o delinea-
corpo e também ocorrem em ambas as artérias cervicais e mento da DVA! tão imporante quanto a caracterização da
intracranianas. Quando a ectasia ocorre na circulação pos D VA e x t r a c r a n i a n a .
terior, é denominada dolicoectasia basilar (Fig. 10-23).
Epidemiología. a aterosclerose que causa a doença oclusiva
Muitos - se não a maioria - dos vasos intracranianos
intracraniana de grandes artérias (DOIGA) é um subtipo
ectásicos são assintomáticos e descobertos incidentalmen-
de AVC bem definido hoje em dia, embora relativamente
le na necropsia ou em exames de imagem. Esses alarga
mentos vasculares são mais comuns em pacientes idosos e negligenciado e pouco compreendido. Estudos recentes
mostraram que a prevalência da DVAl em pacientes com
de meia-idade (Fíg. 10-24).
As ectasias podem envolver qualquer parte da cir doença extracraniana concomitante varia entre 20 e 50%,
e 12% dos pacientes apresentam DVA intracraniana difusa
culação intracraniana, mas sào mais comuns nas artérias
vcrtebrobasilares e na ACl supraclinóidea (Fig. 10-25). A (multifocal).
Entre 8 e 10% de todos os AVCs na América do Norte
doença multifocal é comum. As ectasias podem se esten são relacionados a DVAI. A prevalência de DVA intracra
der das artérias basilar e carótidas internas para os seg
niana é especialmente alta em negros, hispânicos e asiá
mentos PI e Ml proximais (Fig. 10-26). Os achados de
ticos, nos quais alguns estudos demonstraram uma pre
imagem das ectasias não complicadas são uma ou mais
artérias alongadas que não demonstram dilataçâo focai ponderância de estenose intracraniana em relação com a
estenose carotídea. A resistência à insulina e a síndromes
aneurismática.
metabólicas são fatores de risco significativos para DVA
Aneurisma fusiforme aterosclerótico in tracranian a versu s extra cran ia na.

Os aneurismas fusiformes (AFs) ateroscleróticos são Aspectos clínicos. De maneira global, os pacientes sintomá
alargamentos focais que são superimpostos a uma artéria ticos com estenose moderada a grave (i.e., 70 a 99%) na
Vasculopatia 261

circulação intracraniana têm 25% de risco para recorrên Diagnóstico diferencial. Os principais diagnósticos dife
cia do AVC em dois anos. renciais da DVA intracraniana são vasculite, vasospas-
O curso clinico varia significativamente com a sublo- mo e dissecção. A vasculite ocorre em todas as idades,
calizaçào da estenose. A média global vaso-específíca de mas é mais comum em pacientes de meia-idade. A vas
mortalidade anual é 6,8% para estenose da artéria cerebral culite e a DVA têm aspecto praticamente idêntico na an
média, 11,6% para estenose vertebrobasilar e 12,4% para giografia. Lembre-se: a causa mais comum de padrão do
estenose intracraniana daACI. tipo vasculite em um paciente idoso não é vasculite, e,
A DVAÍ sintomática geralmente tem um prognóstico sim, DVA.
pobre, já que o tratamento conservador (medicamentoso) O vasospasmo poupa a ACl cavernosa e costuma
costuma falhar. As taxas de recorrência do AVC em pacien ser mais difuso que a DVA. Uma história de trauma, he
tes com DVAÍ tratados com varfarina ou ácido acetilsali- morragia subaracnóidea ou abuso de drogas (simpalico-
cílico são altas. Entre os pacientes com DVAÍ sintomática miméticos) é comum. A dissecção intracraniana - es
que não obtiveram sucesso com a terapia antitrombótica, pecialmente na circulação anterior - é rara e ocorre em
as taxas de AVC subsequentes ou de morte por causa vas pacientes mais Jovens.
cular são ainda mais altas, acima de 45% ao ano.
A disponibilidade de técnicas endovasculares como Arteríoloesderose
angioplastia intracraniana abriram novas portas para o tra
tamento da DVAÍ. Uma variedade de balões expansíveis, Terminologia
sfenis recobertos e autoexpansíveis também são opções de A arteríoloesderose também é conhecida como doença
tratamento atualmente. de pequenos vasos ou doença cerebral microvascular. A
arteríoloesderose é uma microangiopatia que em geral
Imagem. Os achados de imagem geralmente lembram afeta artérias pequenas (i.e., arteríolas), especialmente na
aqueles da DVA extracraniana. CalciflcaçÕes murais são substância branca (SB) cerebral profunda e subcortical.
c o m u n s e i d e n t i fi c a d a s n o e x a m e s d e T C s e m c o n t r a s O termo leucoaraiose é, por vezes, utilizado por neu
te. CalciflcaçÕes nos sifoes carotideos (ACl cavernosa
rologistas para designar as lesões de SB confluentes as
e supraclinóidea) estão relacionadas à carga global da sociadas à arteríoloesderose, ou seja, doença vascular de
DVA. Os padrões variam de focos puntiformes espar
pequenos vasos. Esse é um dos marcadores visíveis mais
sos a depósitos lineares grosseiros e contínuos ("trilho grosseiros do que a idade, e os fatores de risco vasculares
de trem"). O grau de calcificações nos sifoes carotideos afetam o cérebro.
se correlaciona com a prevalência de infartos lacunares,
mas não está associado com grandes AVCs tromboembó- Etiologia e patologia
licos territoriais.
Idade, hipertensão (HTN) crônica, hipercolesterolemia e
A angiografia demonstra melhor a DVAI (Figs.
diabetes melito (DM) são os fatores de risco mais comuns
10-27 e 10-28). Embora a ATC demonstre acuradamente
que predispõem à doença microvascular cerebral. Fatores
mais de 50% das estenoses dos grandes segmentos ar
de risco genéticos incluem o genótipo AP0E*4.
teriais intracranianos (ACl cavernosa e supraclinóidea e As características da patologia macroscópica da ar
ACM proximal), graus menores de estenose e DVA em
teríoloesderose cerebral incluem perda de volume ge
ramos menores secundários ou terciários são melhor de
neralizada, múltiplos infartos lacunares e espongiose da
monstrados com a ASD. Comparando à ATC e à ASD, a
substância branca profunda. A estenose ou oclusão de pe
ARM tem menor acurácia para demonstrar a aterosclero-
quenos vasos por arterioloesclerose e lipo-hialinose pro
se intracraniana - especialmente em ramos de segunda
vavelmente resulta em microinfartos da SB.
ou terceira ordem ou quando o lúmen residual do vaso for A correlação microscópica das lesões da substância
menor que 1 milímetro.
branca periventricular identiUcadas nos estudos de ima
Estenoses solitárias ou mullilbcais alternadas a áreas
de dilatação pós-estenótica são típicas da DVAÍ (Fig. 10-
gem tem uma gama de achados. Degcneração da mielina
(mielina "empalidecida"). perda axonal com aumento do
29). Quando a aterosclerose afeta ramos distais dos vasos
líquido extracelular, lipotlbro-hialinose com oclusão de
intracranianos principais, sua aparência pode simular a
pequenos vasos, gliose, espongiose e alargamento dos
das vasculites (Fig. 10-30).
espaços perivasculares podem estar presentes em graus
A imagem da circulação intracraniana em pacien variáveis.
tes com estenose extracraniana hemodinamicamente
significativa é essencial. Uma estenose concominante Aspectos clínicos
(tandem) - definida como uma lesão com estenose in- As manifestações clínicas da doença vascular cerebral de
íracraniana mais de 50% na mesma distribuição vascular
distai à estenose extracraniana primária - está presente pequenos vasos variam largamente, observando-se desde
pacientes assintomáticos ou com déficit cognitivo leve
em 20% dos pacientes (Fig. 10-27). As taxas de AVCs
(DCL) até demência grave. Embora a correlação entre o
cumulativos e/ou mortes são mais altas do que se a este
grau das modificações da SB nos estudos de imagem e o
nose fosse única.
262 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

10-31A Aquisição axial FLAIR em um paciente com demência, hiper 10-31B Aquisição em T2* GRE do mesmo paciente mostra hipointen-
tensão crônica e doença vascular de pequenos vasos demonstra redução sidades multifocais características de microssangramenlos e hemor
voiumétrica, hiperinlensidades contiuentes na SB B e infartos lacuna- ragia hipertensiva antiga nos núcleos da base [^.
res múltiplos'S.

desempenho cognitivo seja pobre, a gravidade da doença envelhecimento arterial e podem servir como marcadores
de pequenos vasos na necropsia correlaciona-se de forma substitutos para o déficit vascular cognitivo.
significativa com o grau de prejuízo cognitivo.
Diagnóstico diferencial
Imagem O diagnóstico diferencial mais importante é o de hipcrin-
Os estudos de imagem refletem a rarefaçao da substân tensidades relacionadas ao envelhecimento normal. Há
cia branca e espongiose associada com graus variáveis de uma significativa sobreposição entre os achados de ima
perda voiumétrica generalizada. gem de indivíduos cognitivamente normais e com DCL.
TC. Hipodensidades esparsas e/ou confluentes na SB que Lesões esparsas na SB periventricular são quase univer
sais após os 65 anos. Entre 2 a 6% dos pacientes idosos
poupam o córtex sào achados típicos na TC sem contras
te. As lesões periventriculares possuem uma ampla base apresentam lesões de SB extensas/confluentes. Infartos
confluente adjacente à superfície ventricular e sào proe lacunares "silenciosos" são vistos em um terço dos pa
minentes em torno do átrio dos ventrículos laterais. As cientes idosos assintomáticos e saudáveis.
lesões sào quase sempre desprovidas de realce na TC com Outra consideração significativa no diagnóstico di
contraste. ferencial inclui os espaços perivasculares (EPVs) alar
gados (Virchow-Robin). EPVs proeminentes podem ser
RM. Hipointensidades da substância branca periven vistos em pacientes de todas as idades, em praticamente
tricular e subcortical esparsas ou confluentes são vistas
todas as localizações, embora eles aumentem com o pas
nas ponderações em TI. As lesões são hiperintensas nas
sar da idade. O local mais comum é o terço inferior dos
ponderações em T2 e são especialmente proeminentes no núcleos da base, em tomo da comissura anterior. Os EPVs
FLAIR (Fig. 10-31 A). As seqüências em T2* (GRE, SWl)
contêm fluido intersticial, mas se comportam como o lí
com freqüência demonstram hipointensidades multifocais
com artefatos de susceptibilidade magnética, em especial quido cerebrospinal (LCS), ou seja, o sinal suprime com
na presença de hipertensão crônica (Fig. 10-31B). pletamente no FLAIR. Hiperintensidades perilesionais
são vistas em 25% dos casos.
A arterioloesclerose crônica não realça nas aquisições
A doença desmielinizante causa lesões ovoides ou
em TI pós-contraste e não demonstra restrição à difusão.
triangulares periventriculares que costumam envolver a
Ultrassonografia. Espessamento carotídeo médio-intimal interface calososseptal. a qual raramente está envolvida
e rigidez arterial estão despontando como marcadores do pela arterioloesclerose.
Vasculopatia 263

lU

TIPOI TIPO II TIPO III

10-32 Ilustração da bííurcação carotídea demonstra os principais 10-33 ASD em AP mostra DFM do tipo 1 em ambas as ACIs, poupan
subtipos da DFM. O tipo 1 aparece como áreas que alternam constrição e do os buibos ÍZS\, "colar de contas" nos segmentos cervicais médios
dilatação B o tipo 2 como uma estenose tubular B e o tipo 3 como pequeno aneurisma sacular não roto [S na ACI supraclinóidea
rugosidades focais ± diverticulo B3. direita.

A encefalopatia arterioescierótica subcortical (EAS) Patologia


está associada com a demência vascular tipo Binswanger
Localização. Embora praticamente qualquer artéria, em
e é um diagnóstico clínico (e não de imagem).
qualquer localização possa ser afetada, a DFM acomete
preferencialmente algumas artérias. As artérias renais es
tão envolvidas em 75% dos casos; em cerca de 35% des
tes o acometimento é bilateral.
Doenças vasculares não ateromatosas
Os vasos craniocervicais estão envolvidos em até
Embora a DVA seja a doença mais comum que afeta a 70% dos casos. A ACI é o local mais comum: a DFM na
vascularização craniocervical. diversas outras doenças AV é vista em 20% dos casos. Aproximadamente metade
nào ateromatosas podem afetar o cérebro, causando AVCs das DFMs craniocervicais envolve mais de uma artéria
ou sintomas similares a ele. Nesta seção, discutiremos
(geralmente ambas as ACls ou uma ACI e uma AV). A
brevemente algumas das entidades mais importantes, in DFM intracraniana é muito rara.
cluindo a displasia fíbromuscular, vasculites e as vascu-
A DFM está associada ao aumento no risco de desen
lopatias não inílamatórias nào ateroscleróticas, como a volvimento de aneurismas saculares intracranianos. Eles
doença amiloide cerebral. estão presentes em aproximadamente 7 a 10% dos pacien
tes com DFM cervical.
Displasia fibromuscular
Tamanho e número. O tamanho varia de pequenas lesões fo
Terminologia cais com mínimas alterações à doença extensa envolvendo
A displasia fibromuscular (DFM) é uma doença nào in- a maior parte do vaso 1 a 2 centímetros distai a sua origem.
flamatória. não aierosclerótica segmentar incomum, de
Múltiplos sistemas arteriais estão envolvidos em 25 a 30%
etiologia desconhecida, que afeta as artérias de médio e dos casos. Quando doença de múltiplos sistemas está pre
grande calibre em muitas áreas do corpo. sente, as artérias renais estão quase sempre envolvidas.
Etiologia Estaoiamento, graduação e classificação, a DFM é classi
A etiopatologia exata da DFM permanece desconhecida. ficada histologicamente em três categorias, de acordo
É mais comum em pacientes com familiares de primeiro com qual camada arterial está afetada (média, íntima ou
grau afetados pela doença, mas a maioria dos pacientes adventícia) (Fig. 10-32). O tipo mais comum (tipo 1) é
não possui história familiar de DFM. a fibrodisplasia da média, correspondendo a aproxima-
264 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

damente 85% de todos os casos de DFM. Nela, a média


alterna áreas de afilamento e espessamento formadas
por anéis fíbrosos concéntricos de proliferação fibrosa e
hiperplasia de músculo liso. Células infiamatórias estão
ausentes.
A fíbrodísplasia intimai (tipo 2) corresponde a
menos de 10% dos casos de DFM. Alterações focais se
melhantes a bandas e a longos segmentos estreitados
ocorrem. Histoiogicamente, a íntima está espessada por
deposição de colágeno circunferencial ou excêntrico e a
lâmina elástica interna está fragmentada. Componentes
inflamalórios e lipídicos estão ausentes.
A fibroplasia adventícia (periarterial) (tipo 3) é o
tipo menos comum de DFM, contabilizando menos de 5%
dos casos. Colágeno denso substitui o tecido fibroso deli
cado da adventícia e pode infiltrar os tecidos periarteriais
10-34 ATC oblíqua demonstra DFM tipo 1 com aspec
to em "colar de contas" em ambas as artérias carótidas adjacentes.
Hl. Observe os bulbos carotídeos poupados ES.
Aspectos clínicos
Epidemiologia. Uma vez tida como vasculopatia rara, a
DFM é hoje identificada em 0,5% de todos os pacientes
que se submetem a rastreamento por ATC devido a sinto
mas neurológicos isquêmicos.
A DFM afeta indivíduos entre 20 e 60 anos, mas pode
ocorrer também em lactentes, crianças e idosos. A diferen
ça entre os gêneros é marcante na DFM com um predomí
nio feminino na ordem de 9:1.

Apresentação. O ínico súbito de aumento da pressão arte


rial em uma mulher jovem é a apresentação típica da DFM
renal. A DFM carotídea ou vertebral costuma apresentar-
-se em idades mais avançadas, geralmente em tomo dos
50 anos. A DFM cervical pode se apresentar com acidente
isquêmico transitório, sopro. AVC ou dissecção (com fre
10-35 ARM com TOF demonstra DFM B com qüência na síndrome de Homer, isto é, ptose, constriçào
aspecto em "colar de contas" em ambas as carótidas pupilar e anidrose).
cervicais.
História natural e tratamento. A história natural da DFM
não é clara, já que muitos casos são descobertos inciden-
5"^^ Í VX lalmente nos exames de imagem.
Até hoje. nenhum estudo prospectivo randomizado
comparou a eficácia das diferentes opções de tratamen
to. A conduta de "observar e esperar" para pacientes com

f 2 o DFM renal sem hipertensão e com função renal normal


é comum, assim como terapia antiplaquetária para indi
víduos assintomáticos com DFM cervical. Angioplaslia
pcrcutânca com balão é recomendada para pacientes com
hipertensão de início recente ou resistente, AlT ou AVC. A
cirurgia geralmente só é realizada no tratamento de aneu
rismas.

\ Imagem
\
10-36 (E) ASO da carótida interna (0) e das artérias
Considerações técnicas. No passado, a ASD foi considera
da o padrão-ouro para o diagnóstico de DFM. Contudo,
a AT C d e f i n e a c u r a d a m e n t e a D F M n a s a r t é r i a s c e r v i -
vertebrais com o tipo 3 da DFM demonstra recessos
semelhantes a divertículos SI e aneurismas seculares cocefálicas e também permite a visualização dos vasos
intracranianos para detectar a presença de aneurismas
Vasculopatia 265

associados. A ARM com TOF é problemática devido a das") (Fig. 10-37). Um aneurisma dissecante é uma dis
artefatos causados pela movimentação do paciente, bem secção caracterizada por uma invaginação que se estende
como artefatos no plano de fluxo e susceptibilidades dos além da parede do vaso. A maioria ocorre com dissecções
gradientes, que podem simular os aspectos da DFM. Ul- de subadventicia e é mais acuradamente nomeada como

trassonografla duplex e o color Doppler podem demons pseudoaneurismas (i.e., eles não possuem todos os com
trar a DFM apenas quando a lesão estiver localizada pro- ponentes parietais do vaso normal).
ximalmente.
Como a doença de múltiplos sistemas é comum, pa Etlologia
cientes com diagnóstico recente de DFM carotídea e/ou A DAC pode ser extra ou intracraniana.
vertebral também devem ter as suas artérias renais exa Quase 60% das dissecções extracranianas são "es
minadas. pontâneas", ou seja, não traumáticas. O restante resulta
de lesão penetrante ou contusa. As dissecções não trau
Imagem. Os achados de imagem variam com o siibtipo da
máticas ocorrem depois de uma vasculopatia subjacente,
DFM. Entre 80 a 90% dos pacientes demonstram achados
como a DFM, síndrome de Marfan ou outras doenças do
típicos para fibrodisplasia da média {DFM tipo 1). Um tecido conectivo (p. ex., Ehlers-Danlos tipo 4). Condições
aspecto irregular "rugoso" ou em "colar de contas" com
áreas allernantes de constrição e dilataçào que possuem predisponentes menos comuns incluem hipertensão, enxa
diâmetro luminal maior que o original é a apresentação queca, atividade fisica vigorosa, hiper-homocisteinemia e
infecçào faríngea recente.
típica (Figs. 10-33, 10-34 e 10-35). No tipo 2 (fibrodis As dissecções inlracranianas costumam ser traumá
plasia intimai), um longo segmento de estreitamento Hso ticas. As dissecções iatrogênicas (secundárias a proce
e tubular está presente. No tipo 3 (adventício), recessos
dimento endovascular) estão se tomando cada vez mais
assimétricos, semelhantes a divertículos em um dos lados c o m u n s .
da artéria estão presentes (Fig. 10-36).
Todos os três subtipos de DFM poupam a bifurca-
Patologia
ção carotídea e a origem dos grandes vasos, envolvendo
os segmentos médios, sendo mais comuns no nível de Localização. As dissecções ocorrem no segmento mais mó
C1-C2, Complicações da DFM incluem dissecção, aneu-
vel de um vaso, com freqüência iniciando ou terminando
onde o vaso sofre uma transição de uma posição relati
rismas intracranianos com ou sem hemorragia subarac-
nóidea (Fig. 10-33 e 10-36) e fistulas arteriovenosas. vamente livre para uma posição fixa, devido a um canal
ósseo que o envolve. A ACl extracraniana é o local mais
comum na cabeça e no pescoço. A dissecção extracrania
Diagnóstico diferencial na da ACI poupa o bulbo carotídeo e costuma estender-
o principal diagnóstico diferencial da DFM é a atcros-
-se até a base do crânio; apenas às vezes além dela (Fig.
clerose. A DFM é mais comum em mulheres jovens, um
10-38). As dissecções vertebrais são mais comuns entre a
grupo que geralmente é de baixo risco para DVA. A DFM base do crânio e C1 e entre C1 e C2.
envolve as porções média e distai das artérias afetadas,
Dissecções intracranianas são muito raras, correspon
não suas origens.
dendo a apenas 1 a 2% de todas as dissecções cervico-
O estreitamento "tubular" liso, que vai reduzindo
cefálicas. O local mais comum é a artéria vertebral. Dis
gradualmente da DFM intimai pode ser difícil de distin secções na circulação anterior são ainda menos comuns.
guir da dissecção espontânea, também ocorre como uma Elas quase sempre envolvem a ACI supraclinóidea, com
complicação da DFM. Outras vasculopatias não ateros- 01! sem extensão para a ACM proximal.
cleróticas. como arterite de Takayasu e arterite de células
gigantes podem simulara DFM tubular (i.e., intimai). Tamanho e número. As dissecções podem ser limitadas
a uma ruptura intimai focai e a um pequeno hematoma
Dissecção subintimal. A maioria é solitária, acometendo um longo
A dissecção arterial craniocervical (DAC) é uma causa segmento que se estende por vários centímetros. Aproxi
madamente 20% envolvem dois ou mais vasos. Dissec
incomum, mas importante, de AVC isquêmico em adul
tos jovens e de meia-idade. A terapia instituída no tempo ções múltiplas são bem mais comuns se uma vasculopatia
subjacente, como Marfan, Ehlers-Danlos tipo 4 ou DFM
adequado pode reduzir o risco imediato de AVC e atenuar estiver presente.
as seqüelas em longo prazo das dissecções craniocerviais,
portanto, o diagnóstico por imagem é crucial no manejo Patologia macroscópica. Uma ruptura intimai permite dis
do paciente. secção de sangue para o interior da parede do vaso, re
sultando em um hematoma da média ou subendotelial. O
Terminologia hematoma estreita a luz do vaso, podendo ocluí-la (Fig.
Uma dissecção é uma laceraçâo na parede do vaso que 10-39). Às vezes dissecções - especialmente na artéria
permite a entrada do sangue em seu interior, com poste vertebral - estendem-se pela adventícia e apresentam-se
rior delaminação das suas camadas parietais ("disseca com hemorragia subaracnóidea.
266 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

Aspectos clínicos
-e: (S^ Epidemiologia e ASPECTOS DEMOGRÁFICOS. A incidência anual de
dissecção da ACl é de 2,5 a 3 casos por 100.000. A in
cidência de dissecção da AV é aproximadamente metade
daquela da ACl.
Embora dissecções ocorram em todas as idades, a
maioria é encontrada em adultos jovens ou de meia-idade.
A idade de pico é 40 anos. As dissecções carotídeas são

Jr
mais comuns em homens, enquanto as vertebrais são mais
comuns em mulheres.
A DAC corresponde a aproximadamente 2% de to
dos os AV Cs isquêmicos. Em pacientes jovens e de meia-
-idade sem ou com poucos fatores de risco para DVA, as
dissecções podem ser as responsáveis por 10 a 25% de
todos os AVCs isquêmicos.
10-37 Oissecção extracraniana da ACl revela ruplura
intimai ES e trombo subintimal BI comprimindo o Apresentação. Cervicalgia e cefaleia são os sintomas
iúmen residual ES. O bulbo está poupado. mais comuns. Paralisia de um ou mais nervos cranianos,
incluindo síndrome de Horner pós-gangliônica, pode
ocorrer. Zumbido pulsátil é uma apresentação menos
c o m u m .

História natural. A história natural da maioria das DACs


extracranianas é benigna. Aproximadamente 90% das es-
tenoses se resolvem e 60% de todas as oclusões recanali-
zam. O risco de recorrência da dissecção é baixo: 2% no
primeiro mês e 1% por ano subsequente (geralmente em
outro vaso).
Cefaleia persistente, zumbido pulsátil, síndrome de
Horner pós-gangliônica e AVC isquêmico são incomuns,
mas complicações bem conhecidas da DAC.
A DAC intracraniana é muito mais problemática. O
AVC é mais comum e a recanalizaçào espontânea é menos
freqüente.

10-38 Dissecção extracraniana da ACl com extenso Opções de tratamento. A anticoagulação é o tratamento re
trombo intramural B. A dissecção se inicia ES distal- comendado para a dissecção arterial extracraniana. Seis
mente ao bulbo. (Cortesia de R. Hewlett, MD.) meses de terapia antiplaquetária em pacientes assintomá-
ticos com achados de imagem estáveis é o comum. Hepa-
rina endovenosa com varfarina oral é uma opção, assim
como o stent endovascuiar. O tratamento da DAC intra
craniana é controverso.

Imagem
Procedimentos que opacitlcam ambos os lúmens (p, ex.,
ATC, ASD convencional, ARM) e técnicas seccionais
que visualizem a própria parede do vaso (p. ex., TC, RM)
devem ser utilizados para delinear a total extensão da
doença.
Características gerais. As dissecções podem se apresentar
como estenose, oclusão ou dilatação aneurismática.
Achados na TC. A TC sem contraste pode revelar um espes-
samento em formato de crescente causado por hematoma
10-39 Oois cortes axiais demonstrando dissecção de parede. Aproximadamente 20% das dissecções de arté
carotídea com hematoma subintimal ^3 e compressão ria vertebral causam hemorragia subaracnóidea na fossa
do Iúmen residual ES. (Cortesia de R. Hewlett, MD.) posterior.
Vasculopatia 267

10-40 Ponderação em Ti no plano axial demonslra os achados clás 10-41 ASO em dois casos de dissecçâo da ACI cervical. (Esquerda)
sicos de dissecçâo carotídea extracraniana com hematoma subinlimal Clássico estreitamento em "rabo de rato" da carótida média com

subagudo. Observe a hiperintensidade em forma de crescente E3 em preservação do bulbo. (Direita) Dissecçâo da ACI superior que se
torno do flow void estreitado B da ACI média cervical. finaliza na abertura exocraniana do canal ósseo carotídeo [r¥\.

A TC cotii contraste pode dctnonstrar estreitamento de chama, "rabo de rato" (Fig. 10-41). Ocasionalmente,
do vaso dissecado com ou sem dilataçao aneurismática. uma sutil laceraçâo ou flap intimai, um lúmen duplo, es
treitamento ou oclusão do lúmen verdadeiro ou um pseu-
Achados na RM. A ponderação em TI com saturação de doaneurisma podem ser identificados. Se a dissecçâo for
gordura é uma das melhores seqüências para demonstrar a subadventícia e não estreitar a luz do vaso, a ASD pode
DAC. Um crescente hiperintenso de sangue subagudo ad
parecer normal; o hematoma paravascular deve ser detec
jacente a um Jlow vo/'í/estreitado em um ii!imen patente é tado nos exames de imagem seccionais.
típico (Fig. 10-40). A ponderação em T2 pode demonstrar As dissecções intracranianas são mais difíceis de
a delaminação das camadas do trombo com artefatos de
diagnosticar que seus correspondentes extracranianos
susceptibilidade magnética no T2* (Fig. 10-42).
(Figs. 10-43 e 10-44). Elas são significativamente meno
Pelo menos metade de todos os pacientes com dis res e seus achados de imagem são sutis.
secçâo craniocervicaí possui infartos cerebrais ou cere-
belares, melhor demonstrados na ponderação em difusão. Diagnóstico diferencial
Mijltiplos focos ipsilaterais de restrição à difusão são o principal diagnóstico diferencial da dissecçâo arterial
achados típicos.
extracraniana é a displasia fibromuscular tipo 2 (inti
Angíografía. As dissecções da ACI extracraniana costu mai). Uma complicação comum da DFM é a dissecçâo,
mam poupar o bulbo carotídeo, iniciando 2 a 3 centíme portanto as duas condições estão interligadas e podem ser
tros distai à bifurcação e terminando na abertura exocra indistinguíveis com base apenas nos estudos de imagem.
niana do canal carotídeo (Fig. 10-41). As dissecções da Embora múltiplas dissecções possam ocorrer, elas são
artéria vertebral são mais comuns em torno da base do muito menos comuns que as DFMs multifocais: a avalia
crânio e no segmento superior da coluna cervical. ção cuidadosa dos outros vasos cervicocefálicos buscando
A AT C d e m o n s t r a u m l ú m e n e s t r e i t a d o e x c e n t r i c a - por modificações típicas da DFM pode ser útil.
mente rodeado por um espessamento mural com formato A aterosclerose é mais comum que a dissecçâo em pa
em crescente. Um flap pode, às vezes, ser identificado. cientes mais velhos. A DVA envolve a origem dos grandes
Pseudoaneurismas são comuns. Um duplo lúmen opacifi- vasos e o bulbo carotídeo, lugares que quase sempre são
cado (lúmen "verdadeiro" mais "falso") ocorre em menos poupados na dissecçâo. Corno a DVA é uma doença sistê
de 10% dos casos. mica, múltiplos vasos em múltiplas distribuições vasculares
O achado mais comum na ASD é um estreitamento são afetados. A dissecçâo, por outro lado, é solitária, a me
progressivo liso ou levemente irregular cervical médio. A nos que uma vasculopatia subjacente como a síndrome de
DAC com oclusão demonstra uma finalização em formato Marfan ou a de Ehlers-Danlos esteja presente (Fig. 10-42).
268 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

10-42A Ponderação em TI
de uma mulher de 28 anos com
síndrome de Marfan e com histó
ria de quatro dias de cervicalgia
demonstra dissecçao de ambas
as artérias carótidas internas
B e de ambas as vertebrais
Bi. Trombos murais rodeiam o
minúsculo flow void residura! em
todos os quatro vasos.
10-42B Aquisição 12'GRE
do mesmo paciente demonstra
que os trombos murais em torno
das ACIs cervicais distais causam
artefatos de susceptibiiidade
magnética B.

10-42C Ponderação em TI
em corte mais cranial através
da base do crânio mostra que as
dissecções de ambas as ACIs se
estedem para os canais carotíde-
os petrosos BS.
10-42D (E) ARM coronal de
monstra as dissecções de todos
os quatro vasos cervicocefálicos
B, incluindo os segmentos
petrosos intracranianos das
ACIs IS. (0) Incidência oblfqua
mostra que a dissecção da ACI
esquerda B poupa o bulbo
carotídeo S. Observe o pseu-
doaneurísma da carótida cervi
cal B.

10-42E ARMS (E) AP e (D)


lateral das artérias carótida e
vertebral direitas demonstram
longo estreitamento progressivo
da ACI cervical média B, outro
pseudoaneurisma S. Estenose
de alto grau da AV está presente
entre C1 e a base do crânio B.
10-42F ARM TOP com contras
te demonstra estenose do seg
mento ascendente da ACI direita
B, enquanto a ACI esquerda se
apresenta ociuída S. As arté
rias vertebrais intracranianas e a
junção basilar B têm aspecto
normal.
Vdsculopatia 269

A trombose arterial sem uma dissecçào subjacente detalhes no Capítulo 6. O vasospasmo e as constricções
pode causar um estreitamento progressivo em "rabo de arteriais similares ao vasospasmo podem ocorrer na au
rato" ou oclusão. Os achados de imagem de trombose iso sência de HSAn, trauma ou infecçào. Duas condições -
lada sào difíceis de distinguir daqueles da dissecçào com síndrome da vasoconstriçao cerebral reversível e angiopa-
plicada por uma trombose secundária superimposta. tia pós-parto - são síndromes de vasoconstriçao cerebral
O vusospasmo ou fluxo distai reduzido podem causar menos conhecidas que podem produzir achados de ima
estreitamento difuso dos vasos extracranianos. O vasos- gem idênticos.
pasmo induzido por cateter durante a angiografía costuma A síndrome da vasoconstriçao cerebral reversível
resolver-se rapidamente. (SVCR, também conhecida como síndrome de Call-Fle-
O vasospasmo e a aterosclerose sao as principais ming) está associada com hemorragia subaracnóidea não
considerações no diagnóstico diferencial das dissecções aneurismática, gravidez e exposição a certas drogas.
intracranianas. Ambas afetam múltiplos vasos em di O paciente típico é uma mulher de meia-idade com
versas distribuições vasculares, enquanto a DAC qua cefaleias recorrentes, súbitas e graves ("em trovoada"). A
se sempre está limitada á ACI supraclinóidea e à ACM SVCR freqüentemente causa hemorragia subaracnóidea
proximal. de convexidade e pode ser complicada por AVC isquêmi-
co. O diagnóstico requer a demonstração de constricções
Síndromes de vasoconstriçõo arteriais multifocais segmentates que se resolvem e, en
O vasospasmo com focos intracranianos multifocais de tão, recorrem (Flg. 10-45). O principal diagnóstico dife
constricção e dilataçào arterial é uma complicação comum rencial da SVCR é o vasospasmo relacionado á HSAn e à
e bem conhecida da hemorragia subaracnóidea aneuris- vasculite do sistema nervoso central (SNC).
mática (HSAn) e é a causa mais comum de vasoconstriçao A angíopatia cerebral pós-parto (ACPP) é uma rara,
grave. O vasospasmo induzido por HSAn é discutido em porém importante, complicação neurológica da gravidez.

10-43A Caso de autópsia


mostra dissecçào intracraniana
se estendendo da ACI supracli
nóidea B para o segmento
horizontal (M1) da ACM E3.
10-43B Fotomicrografia com
baixa magniíicação da ACM vista
em corte seccional mostra o he
matoma em organização entre a
intima e a lâmina elástica interna
SI e a camada muscular S
da parede do vaso. O lúmen ÍS
está patente, mas gravemen
te estreitado. (Cortesia de R.
Hewlett, MD.)

10-44A ATC de um paciente


com dissecçào da ACI supraclinói
dea mostra coágulo hiperdenso
Ba em torno da ACI distai muito
estreita B.
10-44B Ponderação em
difusão do mesmo paciente de
monstra um infarto agudo focai
no braço posterior da cápsula
interna direita B causado por
embolização vinda da dissecçào
da ACI supraclinóidea.
270 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

Os pacientes com freqüência têm uma história de en Va s c u l i t e e v a s c u l i t e s


xaqueca e apresentam cefaleia grave ("em trovoada") de
início súbito e hipertensão variável. Múltiplos focos de Terminologia
estreitamento segmentar na circulação intracraniana são O teimo genérico "vasculite" e "angeíte" denota inflama
típicos nos estudos de imagem (FIg. 10-46). A vasocons- ção dos vasos sangüíneos afetando artérias, veias ou am
trição costuma resolver-se com o tempo ou nimodipina bas. O plural, vasculites, é um termo mais genérico que é
intra-arterial. Casos atípicos de ACPP podem causar in- utilizado indistintamente. "Arterite" é um termo mais es
farto cerebral franco. pecífico e refere-se somente aos processos inflamatórios
que envolvem as artérias.

SINDROMES OA VASOCONSTRIÇÃO CEREBRAL Classificação


Classificar a vasculite é difícil e controverso. As duas
Vasospasmo
• Maioria é secundária a HSAn classificações mais utilizadas são os critérios de 1990
do American College of Rheumatology (ACR) e os cri
Síndrome da vasoconstrição cerebral reversível térios de 2007 da Chapei Hill Consensus Conference
• Terminologia: SVCR ou Síndrome de Call-Fleming
• Mulheres de meia-idade com cefaleia "em trovoada' (CHCC).
• Estreitamentos segmentares multifocals que se O ACR identificou sele tipos aceitos de vasculite:
resolvem e recorrem arterite de células gigantes, arterite de Takayasu, granu-
lomatose de Wegener, síndrome de Churg-Strauss, poliar-
Angíopatia cerebral pós-parto terite nodosa, púpura de Henoch-Schõlein e vasculite por
• Hipertensão, cefaleia (pode ser "em trovoada")
• [stenoses segmentares multifocals hipersensibilidade. Esse sistema foi desenvolvido antes
do conhecimento dos autoanticorpos ciloplásmicos de

10-45A ASO AP veftebral de


uma mulher de 41 anos com
ceíaleia "em trovoada" mostra
múltiplas áreas de vasoconstri
ção !r^]edilatação.
10-45B A ASO foi repetida
duas semanas após ter demons
trado resolução quase completa.
Síndrome da vasoconstrição ce
rebral reversível.

10-46A Angiograma da caró


tida comum em incidência lateral
de uma mulher de 28 anos no
pós-parto demonstra áreas mul
tifocals em "contas" alternando
estenoses e dilalaçòes 1:^ ca
racterísticas de vasculite.
10-46B Angiograma em inci
dência AP, do mesmo paciente
mostra múltiplos focos em "con
tas" ES também na circulação
posterior. Angiopatia pós-parto.
Vasculopatia 271

neutrófilos (ANCAs), que hoje desempenham um papel


fundamental no diagnóstico diferencial de pacientes com
vasculite de pequenos vasos.
Além disso, a CHCC diferencia as vasculites media
das por complexos imunes e vasculites crioglobulinêmi-
cas, reconhece a vasculite associada ao anticorpo ANCA
(VANCA) e distingue a poliangeíte microscópica da po-
liarterite nodosa (PAN).

Etiologia
A vasculite pode ser causada por infecçào, doenças colá-
geno-vasculares, depósitos de complexos imunes, abuso
de drogas e até mesmo neoplasias (p. ex., granuiomato-
se linfomatoide). As características patológicas gerais
de muitas vasculites são bastante similares (Fig. 10-47).
Como resultado, o diagnóstico definitivo depende pri
10-47 Ilustração mostra vasculite SI com múltiplos
mariamente das caracteristicas hematológicas e imuno- iníartos multifocais e hemorragias esparsas nos
-histoquímicas. Outros marcadores clínicos, como glome- núcleos da base e na junção das substâncias branca e
rulonefrites e inflamação granulomatosa das vias aéreas, cinzenta.

foram recentemente adicionados para ajudar na distinção


entre os diversos tipos de vasculites.

Patologia
Embora as vasculites sejam um grupo heterogêneo de
alterações do SNC, elas são caracterizadas histopatolo-
gicamente por duas características cardinais: inflamação
e necrose na parede dos vasos sangüíneos (Fig. 10-48).
Infartos em múltiplas distribuições vasculares são comuns
(Fig. 10-49).

Imagem
Como a imagem da maioria das vasculites é similar, a des
peito da etiologia, esta discussão focará nas características
gerais da vasculite quando afeta o cérebro.
Achados na TC. Os exames de TC sem contraste são rela 10-48 Fotomicrograíia demonstra espessamenlo da
tivamente insensíveis e normais. Em poucos casos, a pri parede do vaso com inflamação e necrose, as caracterís
meira manifestação de imagem da vasculite é a hemorra ticas cardinais da vasculite. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)

gia subaracnóidea (especialmente HSA de convexidade).


Hipodensidades multifocais nos núcleos da base e na
substância branca subcortical que demonstram realce es
parso na TC com contraste são comuns.
Achados na RM. O envolvimento do córtex/substância
branca subcortical juntamente com os núcleos da base
(NB) é altamente sugestiva de vasculite. Aquisições em
TI podem ser normais ou revelar hipointensidades mul
tifocais corticais/subcorticais nos NBs. As aquisições em
T2/FLAIR demonstram hiperintensidades nas mesmas
áreas (Fig. I0-50A). Imagens em T2* (GRE, SWI) podem
mostrar micro-hemorragias parenquimatosas e/ou HSA
em alguns casos.
Realce esparso com lesões puntiformes ou lineares
é comum nas aquisições em TI pós-contrasie. As lesões
agudas com isquemia cerebral demonstram múltiplos 10-49 Espécime de autópsia demonstra vasculite
focos de restrição à difusão no córtex, substância branca com lesões multifocais corticais e nos núcleos da base
subcortical e nos núcleos da base (Fig. 10-50B). caracterizadas por necrose e hemorragias petequíais.
272 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

Angiografia. AASD é mais sensível quea ATC ou a ARM. a angíopatía pós-parto podem ser indistinguíveis da
Os achados incluem estenoses, irregularidades e oclu- vasculite.
sões vasculares multifocals (Fig. 10-50C). A formação
de pseudoaneurismas e oclusões de ramos podem ocorrer, Outras macro e mkrovasculopatias
mas são menos comuns. Embora o circulo de Willis e os Um largo espectro de doenças não ateroscleróticas e não
segmentos horizontais da ACA, ACM e ACP possam ser inflamatórias tanto herdadas quanto adquiridas pode en
afetados, os ramos distais destes vasos estão mais envol volver a vascularizaçào intracraniana. Nesta seção, revi
vidos (Fig. 10-50D). saremos brevemente algumas outras vasculopatias diver
sas que afetam os vasos cerebrais de grande e pequeno
Diagnóstico diferencial calibre.
O principal diagnóstico diferencial da vasculite é a
doença vascular aterosclerótica (DVA). A DVA costuma Anemia falciforme
ocorrer em pacientes com mais idade e envolve as grandes A anemia falciforme (AF) é uma das alterações monoge-
artérias intracranianas (p. ex., sifoes carotídeos, artérias néticas humanas melhor caracterizadas e é a causa mais
vertebrais e basilares). Contudo, a DVA pode afetar ra comum mundial de AVC na infância. Crianças afro-ame-
mos secundários e terciários, simulando vasculite como
ricanas e afro-brasileiras estão entre as mais afetadas fora
conseqüência. do continente africano.
O vasospasmo também pode simular vasculite.
Entretanto, o vasospasmo afeta mais os vasos cerebrais Etiologia e patologia, a AF é uma anemia hemolitica crôni

principais. Uma história de trauma ou de hemorragia su- ca, herdada autossòmica recessiva, causada por uma mu
baracnóidea é comum, mas nem sempre está presente. tação pontual no grupo do gene da P-globina. A formação
A síndrome da vasoconstríção cerebral reversível e da Hgb S induz uma mudança na morfologia ("foice") e

10-50A Aquisição axial em


FLAIR de um paciente com
história recente de meningite
estreptocócica mostra diversos
focos hiperintensos nos núcleos
da base e tálamos B.
10-50B Ponderação em difu
são do mesmo paciente mostra
múltiplos focos de restrição B
nos núcleos da base. Outras
imagens (não mostradas) de
monstram lesões periféricas no
cortex e na substância branca
subcortical. Os achados sugerem
infartos secundários à vasculite
por meningite.

10-50C Angiograma com


incidência lateral da artéria
carótida interna direita, na fase
arterial, mostra áreas multifocals
segmentates de estreitamento e
dílataçáo achados clássicos
de vasculite.
10-50D Angiograma verte
bral do mesmo paciente mostra ; A y
focos adicionais de constrições VI , .
segmentates alternadas a dilata-
cões SI.
Vascuiopalia 273

rigidez dos glóbulos vermelhos, que se estagnam e dani Perda volumétrica generalizada com alargamento de
ficam o endotélio dos pequenos vasos. Como resultado, sulcos e ventrículos associado a múltiplas hipodensidades
ocorre fibrose progressiva, estreitamento e finalmente no córtex e na substância branca cerebral são comuns nos
oclusão. A microvasculatura cerebral assume um estado exames de TC sem contraste. A TC com contraste pode
pró-coagulante inflamatório, que provavelmente contri mostrar focos puntiformes de realce nos núcleos da base e
bui para a alta incidência de AVC isquêmico nos pacientes na substância branca profunda por colaterais aumentadas
c o m A F. do tipo "moya-moya".
Os estudos por RM freqüentemente demonstram hi-
Aspectos clínicos. A complicação mais comum no SNC da
AF é o AVC. Outras manifestações neurológicas da AF pcrintensidades em T2/FLAIR subcorticais e na substân
cia branca ao longo das zonas de transição profundas (Fig.
incluem declínio da função cognitiva ("infartos silencio
10-51B), Um padrão do tipo moya-moya com estenose
sos") e ccfaleia. A maioria dos pacientes sofre eventos da ACI supraclinóidea pode se desenvolver na AF grave
isquêmicos de repetição com piora motora e déficits in
telectuais.
(Fig. 10-52). Nesses casos, o sinal da "hera" com hiperin-
tensidades serpenti formes nos sulcos cerebrais devido a
Aproximadamente 75% dos AVCs relacionados à AF colaterais leptomeníngeas. pode ser visto no FLAIR.
são isquêmicos, e 25% são hemorrágicos. O risco de AVC
é mais alto entre os 2 e 5 anos.
Doença de moya-moya
Imagem. Uma calvária difusamente espessada com ex Terminologia. A doença de moya-moya (DMM) é uma ar-
pansão do espaço diploico, secundário ao aumento da teriopatia progressiva idiopática caracterizada por esteno
hematopoiese, é um achado freqüente, assim como a re se das ACls distais (supraclinóideas) e formação de uma
conversão da medula "amarela" em "vermelha" (hemato- rede vascular anormal na base do cérebro (Fig. 10-53).
poiética) (Fig. I0-5IA). Múltiplas artérias aumentadas de calibre "telangiectá-

10-51A Ponderação em TI no
plano sagital de uma mulher de
29 anos com anemia falciforme

(AF) demonstra espessamento


da calvária com medula hemalo-
poíética hipointensa B. O divo
sa e os corpos vertebrais BI
também estão hipointensos. Os
discos interverlebrais aparecem
mais "brilhantes" que os corpos
vertebrais.
10-51B Aquisição em FLAIR
do mesmo paciente mostra
hiperinlensidades puntiformes
em ambas as zonas de transição
B, um achado comum na AF.

10-52A Ponderação em T2
no plano axiai de uma criança de
11 anos com anemia falciforme
mostra marcado espessamento
da calvária com medula hipoin
tensa B, atrofia com múltiplos
infartos corticais e infartos da SB
profunda.
10-52B MIP submentovértice
de ARM do mesmo paciente
mostra oclusão de ambas as ACls
supraclinóideas B. A circulação
vertebrobasilar S tem aparèn-
274 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

sicas" ienticuloestriadas. talamoperfurantes, leptome-


ningeas, durais e piais desenvolvem-se como circulação
compensatória. Estas "colaterais moya-moya" podem
tornar-se tão extensas que se parecem com uma "fumaça"
de cigarro, sendo este o significado do termo japonês que
nomeia esta doença (FIg. 10-54).
Etíología. a fisiopatologia da DMM foi extensamente in
vestigada, mas permanece pouco compreendida. Fatores
genéticos, adquiridos e ambientais foram todos considera
dos. A expressão abcrrante de IgG e de proteínas S100A4
nas paredes dos vasos da DMM foi demonstrada, mas seu
signillcado é incerto.
Aproximadamente 5 a 10% dos casos de DMM asiá
ticos são familiares. A doença também está associada com
diversas doenças geneticamente transmitidas, incluindo
ncLiroUbromatose tipo 1. trissomia do cromossomo 21
(sindrome de Down) e o espectro das heinoglobinopatias,
vasta rede de colaterais na SB e núcleos da base ÍS. como anemia falciforme. Doenças vasculares do coláge-
no, incluindo as sindromes de Marfan e de Ehlers-Danios
também foram associadas a DMM.
Vasos colaterais com padrão do tipo moya-moya po
dem se desenvolver em qualquer arteriopatia lentamente
progressiva que afete as artérias intracranianas principais.
Quando esse padrão ocorre com uma doença conhecida
em associação, é, às vezes, referida como "pseudomoya-
-moya" para fazer distinção com a "verdadeira" DMM
(i.e., idiopática).
Patologia. As modificações patológicas da DMM são mui
to diferentes daquelas da DVAe da vasculite. As ACls ter
minais demonstram estenose grave com espessamento in
timai fibrocelular concêntrico e excêntrico sem infiltrado
celular inflamatório significativo. Depósitos de lipideos
subintimais, hemorragia e necrose estão ausentes. A lâmi
na elástica interna é tortuosa e estratificada.
10-54A DMM em criança de 3 anos mostra estenose
quase total da ACl supraclinóidea com inúmeras co Aspectos clínicos. A DMM é mais prevalente no Japão e na
laterais aumentadas de calibre e tortuosas com padrão
de moya-moya L=í>]. Coréia, onde a incidência estimada é de 0,35 a 0,54 para
cada 100.000 pessoas. O diagnóstido de DMM tem aumen
tado no restante do mundo, mas a incidência em europeus
é estimada em um décimo daquela da população japonesa.
A DMM possui dois picos etários de apresentação.
Dois terços dos casos ocorrem em crianças e pelo menos
metade abaixo de 10 anos. Entre um quarto e um terço se
apresentam em adultos com o pico de apresentação aos
50 anos.
As características clínicas da DMM em crianças di
ferem das dos adultos. Quando a DMM se apresenta na
iniáncia, os sintomas iniciais são isquêmicos. Em adultos,
aproximadamente metade dos pacientes desenvolvem he
morragia intracraniana pela ruptura de vasos colaterais frá
geis. Os outros 50% apresentam AlTs ou infartos cerebrais.
A DMM é progressiva, e o prognóstico em longo
prazo costuma ser pobre. Mesmo pacientes relativamente
"assintomáticos" possuem distúrbios cognitivos e infar
10-54B Angiograma vertebral do mesmo paciente
demonstra as colaterais com padrão em moya-moya tos isquêmicos silenciosos. Cirurgia de revascularização
vindas de artérias talamoperfurantes cerebral, encéfalo-duro-artério-sinangiose primária em
Vasculopatia 275

crianças e bypass da artéria temporal superficial-ACM em


adultos, têm sido realizados com algum sucesso.
Imagem. Múltiplos "pontos" de realce puntiforme (TC com
contraste) ou Jlow voids (RM) nos núcleos da base sao os
achados mais notáveis na DMM. Aquisições em TI e em
T2 demonstram marcado estreitamento das ACIs supracli-
nóideas com múltiplos flow voids tortuosos e serpentifor-
mes (Figs. 10-55A e 10-55B). O aspecto de múltiplos di
minutos vasos colaterais nos espaços liquóricos alargados
foi comparado com "minhocas nadando em uma cisterna
vazia".
O sinal da "hera" com hiperintensidades sulcais por
lentidão no fluxo de colaterais leptomeníngeas é, por ve
zes, visto no FLAIR e se correlaciona com a redução da
reserva vascular no hemisfério afetado.
10-55A Angiograma vertebral do mesmo paciente
Múltiplos microssangramenlos podem ser detectados
nas aquisições em T2* GRE em 15 a 40% dos pacientes demonstra as colaterais com padrão em moya-moya
BSI vindas de artérias talamoperfurantes.
e estão associados com aumento do risco de hemorragia
cerebral evidente. Imagem ponderada em susceptibilidade
magnética (SWI) mostra aumento da conspicuidade das
veias profundas medulares {brush sign).
As aquisições em TI pós-contraste mostram fluxo
lento e estagnado nos vasos colaterais tanto no parênqui-
ma quanto na superfície cerebral (Fig. 10-55C),
A imagem do tensor de difusão (DTI) demonstra perda
da integridade microestrutural em uma substância branca
de aparência normal, vista como uma anisotropia fraciona-
da (PA) baixa e ADC elevado. A perfusão por RM (pRM)
pode demonstrar hipoperfusão cerebral crônica no terri
tório da artéria carótida interna, vista como aumento do
rCBV secundário à vasodilataçào compensatória e atraso
no tempo até o pico devido à estenose de vasos proximais.
A ASD. ATC e ARM mostram predominantemente
doença da circulação anterior com marcado estreitamen 10-55B Ponderação em TI do mesmo paciente mostra
to de ambas as ACIs supraclinóideas (sinal do "pescoço
múltiplos flow voids em razão de colaterais moya-moya
de garrafa"). As ACPs estão menos afetadas. Colaterais alargadas nos núcleos da base e dos talamos B.
lenliculoestriadas e talamoperfurantes prominentes e de
localização profunda estão presentes, formando o aspecto
esfumaçado característico da moya-moya. Numerosas co
laterais transósseas c transdurais da circulação extra para
a intracraniana podem se desenvolver.
Diagnóstico diferencial. O diagnóstico diferencial da
doença de moya-moya idiopática ("verdadeira") inclui
outras vasculopatias ociusivas de desenvolvimento lento.
Radioterapia, ncuroflbromatose tipo 1 (NFl), trísso-
mia do 21, anemia íalciforme e até mesmo aterosclero-
se podem desenvolver múltiplos pequenos vasos colate
rais com padrão de moya-moya.
A moya-moya clássica afeta ambas as ACIs supracli
nóideas, poupando a circulação posterior. Um segmento
Ml da ACM "aplásico" ou semelhante a um ramo é uma
anomalia congênita rara, não progressiva que deve ser dife
10-55C Aquisição em TI pós-contraste mostra "fu
renciada da DMM. A doença degenerativa esteno-oclusiva
maça" (vasos com realce puntiforme/serpentiforme
com estenose "segmentar" de alto grau ou oclusão do nos núcleos da base, talamos e SB profunda B). (Cor
segmento Ml da ACM com uma rede de pequenos vasos tesia de H. Eis, MD.)
276 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

formando uma ponte no intervalo entre os segmentos ho


rizontal e distai também deve ser diferenciada da DMM.

DOENÇA DE MOYA-MOYA
Terminologia
• Moya-moya = "fumaça"

Etiologia, epidemiologla
• Arteriopatia progressiva -> estenose das ACis
supradinóídeas
• Idiopática oü associada com NF1, anemia falciforme, etc.

Patologia
• Espessamento Intimai fibrocelular
• Sem inflamação, hemorragia ou depósitos lipídícos

10-56A Aquisição axial em FLAIR de um homem de


Aspectos clínicos
• Distribuição global, mais comum em japoneses
S8 aoos com múltiplos episódios similares a AVC de
• Crianças (70%, usualmente com menos de 10 anos)
monstra hiperintensidades multifocals subcorticais e na
o AITs, AVC
SB profunda B.
• Adultos (30%)
o Hemorragias > AVC
• Curso inexorável
• Revascularização (encéfalo-duro-arterial-sinangiose,
bypass extracraniano-intracraniano)
Imagem
• Estenose/oclusão das ACIs supradinóídeas
• intjmeras colaterais basais
• Atrofia
• AVCs (crônico, agudo)
• Hemorragia
o Parenquimatosa
o Subaracnoide

Colaterais vasculares com padrão de moya-moya


• Doença de moya-moya
• Radioterapia
• Neurofibromatose tipo 1 (NF1)
10-56B Aquisição axial em FLAIR contemplando os • Trissomia do 21
núcleos da base mostra lesões na cápsula externa B • Anemia falciforme
altamente sugestivas de CADASll. • OVA lentamente progressiva

CADASIL
CADASIL é o acrônimo para arteriopatia cerebral autos-
sômica dominante com infartos subcorticais e leucoen-
cefalopatia, do inglês aiuossomal dominant arteriopathy
with subcortical infarcts and leukoencephaiopathy. CA
DASIL é uma doença autossômica dominante da micro-
vascuiatura cerebral que afeta as células musculares lisas
nas artérias penetrantes cerebrais e leptomeníngeas.
Etiologia e patologia. CADASIL é causada por mutações
do tipo missense pontuais altamente estereotipadas no
gene NOTCH3. Foram identificadas 14 formas familiares
distintas de CADASIL com mutações em diferentes éxons
NOTCHS.Todas essas mutações causam um ntímero exce
dente de resíduos de cisteína dentro da repetição do fator
10-S6C Aquisição axial em FLAIR do mesmo paciente
mostra hiperintensidades na SB do aspecto anterior dos Io de crescimento epidérmico (EGF) no domínio extracelu-
bos temporais B. Mutação N0TCH3 confirmou CADASIL. lar do N0TCH3.
Vasculopatia 277

O marco patológico da CADASIL é o acúmulo de tissular ultraestrutural com redução da anisotropia fracio-
material granular osmiofílico na base das membranas das nada mesmo em SB com "aparência normal".
Infartos lacunares na SB subcortical, núcleos da base,
pequenas artérias e arteríolas que causa espessamento
fibrótico grave e estenose. Artérias cerebrais penetran tálamos, cápsula interna e tronco são encontrados em
tes longas e seus ramos são mais afetados. Na necropsia, 75% dos pacientes entre 30 a 40 anos, tornando-se mais
o b s e r v a - s e a t r o fi a c e r e b r a l d i f u s a l e v e a m o d e r a d a c o m proeminentes e aumentando em número com o passar
da idade. Atrofia cerebral leve a moderada é um achado
múltiplos infartos lacunares na substância branca periven
tricular, núcleos da base, tálamos e ponte. relativamente tardio e está associado com a extensão do
declínio cognitivo.
Aspectos clínicos. Embora os sintomas estejam restritos
Microssangramentos cerebrais (MSCs) são encontra
ao SNC, as modificações arteriais da CADASIL são dos nas aquisições T2* em 25% dos pacientes entre 40 a
sistêmicas. Apesar de sua prevalência exala ser desco 50 anos e são vistos em quase 50% dos pacientes acima de
nhecida, CADASIL foi identificada como a causa mais 50 anos. Os MSCs podem ser a manifestação neurológica
comum herdada monogenética de AVC e demência vas inicial ou ser desenvolvidos pelo uso de agentes antipla-
cular em adultos. Na apresentação iniciai, apenas 35%
quetários.
dos pacientes possuem um familiar de primeiro grau com
C A D A S I L . Diagnóstico diferencial. O diagnóstico clínico de CADA
A apresentação clinica clássica é a de uma mulher SIL é freqüentemente ardiloso, com pelo menos um terço
de todos os pacientes com diagnóstico inicial errôneo de
jovem ou de meia-idade sem fatores de risco vasculares
identificáveis. As manifestações clinicas principais são esclerose múltipla (EM), demência ou vasculite do SNC.
AVCs isquêmicos recorrentes (60 a 85%), cefaleia enxa- O uso da microscopia eletrônica para detectar depósitos
osmiofílicos granulares em amostras de biópsia cutânea é
quecosa (que ocorre em 25 a 75% dos casos e é a mani
confiável e a imunocoloração para NOTCH3 ECS aumen
festação mais precoce da doença), distúrbios psiquiátricos
ta a sensibilidade e a especificidade para mais de 90%.
(20 a 40%) e déficit cognitivo progressivo (20 a 40%).
Embora o início dos sintomas costume ser aos 30 anos, O diagnóstico diferencial de CADASIL inclui encefalo
CADASIL pode aparecer em crianças. patia arterioesclerótica subcortical esporádica, encefalopa
Entre 5 a 10% dos pacientes com CADASIL desen tia mitocondrial com acidose lática e episódios semelhantes
volvem convulsões epilépticas, geralmente tardias no a AVC (MELAS). vasculite e síndromes antifosfolipídeo. A
curso da doença. Um pequeno número de pacientes apre encefalopatia arterioesclerótica subcortical (EAS) é uma
senta-se com uma síndrome de encefalopatia reversível doença associada à hipertensão que causa doença de SB e
infartos lacunares. Ao contrário de CADASIL, as lesões ge
aguda com febre, confusão, coma e convulsões que per
siste por alguns dias. ralmente não envolvem a SB temporal anterior.
MELAS demonstra lesões corticais e subcorticais e
A CADASIL segue um curso progressivo, causando
pode apresentar-se agudamente como edema girai hipe-
incapacidade e demência em 75% dos casos. Os pacientes
rintenso em T2/FLA1R que se resolve, com recuperação
com CADASIL que possuem uma alta carga lesional no
estudo de RM de base estão em maior risco para a pro clínica. As síndromes antifosfolipídeo e defíciência de
proteína S podem se apresentar em adultos jovens e de
gressão rápida da doença.
meia-idade. Infartos lacunares e corticais, achados seme
Imagem. A imagem é muito importante ao se levantar a lhantes aos da vasculite na ASD, trombose de seio durai e
possibilidade do diagnóstico de CADASIL, já que pa hiperintensidades no T2/FLA1R na SB são comuns.
drões característicos podem preceder a manifestação dos Outras doenças hereditárias de pequenos vasos ce
sintomas em mais de 10 anos. Os achados típicos são múl rebrais podem simular CADASIL. Uma segunda doença
tiplos infartos lacunares nos núcleos da base e lesões com relacionada a gene único conhecida, que afeta diretamen
alta intensidade de sinal na substância branca (SB) sub te os pequenos vasos cerebrais, é chamada de CARASIL
cortical e periventricular. (arteriopatia cerebral autossômica recessiva com infartos
Exames de TC sem contraste podem ser normais no subcorticais e leucoencefalopatia, do inglês cerebral au-
curso inicial da doença ou mostrar focos hipodensos nas tos.somal recessive arieriopathy with subcortical infarcts
regiões afetadas. and leukoencephalopalhy). A maioria dos casos de CA
Hiperintensidades em T2/FLA1R multifocals bila- RASIL foi relatada em pacientes japoneses.
teralmente na SB subcortical e periventricular começam A angiopatia sistêmica hereditária (ASH) é uma
a aparecer por volta dos 20 anos. Embora esses achados microvasculopatia sistêmica associada a calcificações ce
sejam inespecíficos. o envolvimento do aspecto anterior rebrais, retinopatia, nefropatia progressiva e hepatopatia,
dos lobos temporais e das cápsulas externas possui alta Outras doenças de pequenos vasos - endoteliopatia here
sensibilidade e especificidade para diferenciar a CADA ditária, retinopatia, nefropatia e AVC (HERNS), retinopa
SIL de doenças cerebrais de pequenos vasos esporádicas tia vascular hereditária (RVH) e vasculopatia cerebrorreti-
muito mais comuns (arterioloesclerose primária e lipo- niana (VCR) - podem representar diferentes fenótipos da
-hialinose) (Fig. 10-56). A DTl pode demonstrar dano mesma doença oculocerebral.
278 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

10-57A Fotografia clínica clássica de um paciente com doença de 10-57B Fotografia do mesmo paciente mostra úlceras genitals alto-
Behçet com as típicas úlceras orais ^3 envolvendo a língua e a muco sas. (Cortesia de E. T. Tali, MD.)
sa oral.

Doença de Behçet artralgias tnúltiplas (Fig. 10-57). A DNB parenquimatosa


A doença de Behçet (DB) é uma doença intlaniatória apresenta-se com sintomas piramidais, enquanto a doença
vascular crônica, idiopátlca. multissistèmica, recorrente- não parenquimatosa causa elevação da pressão intracra
niana secundária à ociusào de seio dura).
-remitenic que é caracterizada principalmente por lesões
cutâneas. O SNC está envolvido em 20 a 25% dos pacien O curso clinico da DB é crônico e pode se estender
tes. Quando a DB ocorre no SNC é chamada de doença de em até 10 anos, embora a doença fulminante com rápida
neuro-Behçet (DNB). deterioração clinica tenha sido relatada. O envolvimento
neurológico ocorre dentro de meses a anos após o início
Etiologia e patologia, o envolvimento do SNC na DNB é da doença sistêmica, mas é a apresentação inicial em 5%
dividido em lesões parenquimatosas e não parenquima- dos pacientes. A mortalidade global da DNB é baixa (5%).
tosas. A DNB parenquimatosa é uma meningoencefalite,
com lesões no tronco encefáíico, hemisférios, medula es- Imagem. Embora qualquer parte do SNC possa ser afeta
pinal ou lesões meningoencefálicas. da, o envolvimento do tronco encefáíico - especialmente
Manifestações não parenquimatosas da DNB incluem dos pendúnculos cerebrais - é típico e ocorre em 50% dos
trombose de seio durai, ociusões arteriais e/ou aneuris- casos (Fig. 10-58). O tálamo e os núcleos da base são o
mas. Trombose de seios durais e de veias corticais com segundo local mais comum de acometimento, seguidos
hipertensão intracraniana é encontrada em 10 a 35% dos pela substância branca dos hemisférios cerebrais. Entre
10 a 50% dos casos de DNB demonstram lesões focais na
pacientes. Ociusào e formação de pseudoaneurisma en
volvendo as artérias intra e extracranianas foi relatado na medula espinal.
DNB, mas é rara se comparada à doença venosa. Os achados típicos na RM são pequenos focos circu-
Os achados histológicos típicos de DNB são necrose lares e lineares, com formato crescente ou irregulares de
perivascular com infiltrados inflamatórios leves e degene- hiperintensidade em T2/FLAIR no mesencéfalo. O efei
ração de oligodendrócitos. to de massa é mínimo, mas durante a fase aguda grandes
lesões no tronco encefáíico e/ou núcleos da base podem
Aspectos clínicos. Embora a DB seja mais comum na região
demonstrar efeito de massa significativo, estendendo-se
do Mediterrânio, no Oriente Médio e no Leste da Ásia (es
para o diencéfalo e simulando neoplasia.
pecialmente no Japão), ela possui uma distribuição global. Realce esparso leve a moderado após a administração
A DNB costuma afetar adultos jovens e tem moderado
do contraste é comum; realce forte e uniforme é raro.
predomínio masculino.
As principais características clínicas da DB são úlce Diagnóstico diferencial. Os principais diagnósticos dife
ras mucocutáneas orais e genitais recorrentes, estomatite renciais da DB incluem esclerose múltipla, sarcoidosc,
aftosa, lesões oftalmológicas, como uveíte e iridociclite e neoplasia e doença ínflamatória sistêmica. Bandas oli-
Vasculopatia 279

goclonais estão ausentes no LCS e a proteína básica de -Sweet é transitório, simulando uma encefalite recorrente-
mielina está normal, ajudando a distinguir a DB de EM. -remitente, enquanto a DNB segue um curso muito mais
As lesões cutâneas estão ausentes na sarcoidose, embora crônico, lentamente progressivo.
os níveis séricos da enzima conversora de angiotensina
(ECA) costumem estar, embora não sempre, elevados. Lúpus erltematoso sistêmico
O envolvimento difuso do tronco encefálico, que se Terminologia. O lúpus eritematoso sistêmico (LES ou "lú
estende para os pedúnculos cerebrais, tálamos, núcleos da pus") é uma doença multissistêmica do complexo autoi-
base e SB periventricular foi relatado e pode simular g/Zo- mune que afeta os sistemas respiratório, cardiovascular,
matose cerebri ou linfoma. A biópsia pode ser necessária
gastrintestinal, genitourinário e musculoesquelético, bem
para distinguir DB de neoplasia. como o SNC. A maioria dos diagnósticos de lúpus é esta
Doenças inflamatórias sistêmicas, como lupus erite- belecida com base nos achados sistêmicos e nas anorma
matoso sistêmico, síndrome antifosfolipídco e doença lidades laboratoriais, com a imagem desempenhando um
de Sjogren podem parecer DB quando envolvem o SNC.
papel importante, mais auxiliar no diagnóstico e conduta.
Lesões de pele são comuns nessas doenças, mas úlceras
Quando sintomas manifestos do SNC estão presentes,
aftosas orais e genitais, vistas na DB, estão ausentes. o distúrbio é chamado de lúpus eritematoso sistêmico ce
A síndrome de Sweet, também conhecida como der- rebral (LES SNC) ou lúpus eritematoso neuropsiquiátrico
matose neutrofllica febril aguda, é uma doença inflama-
(LESNP).
tória multissistêmica aguda que freqüentemente se ma
nifesta como uma vasculite que se apresenta com placas Etiologia. o LES é uma doença autoimune caracterizada
cutâneas eritematosas dolorosas, febre e leucocitose e que por deposição de imunocomplexos, vasculite e vasculo
pode se parecer idêntica a DNB nos exames de RM, com patia. Múltiplos componentes do sistema imune são afe
hiperintensidades em T2/FLAIR no tronco encefálico e tados. incluindo o sistema do complemento, células T
nos núcleos da base. O envolvimento do SNC na neuro- supressoras e produtos de citocinas. Autoanticorpos cir-

F > 10-58A Aquisição axial em


FLAIR de um homem de 30
anos com febre, úlceras orais
e fraqueza nas extremidades
/ V superiores bilateralmente mostra
massa hiperirrtensa heterogênea
r na ponte ES.
10-588 As lesões se esten
dem cranialmente para ambos
os pedúnculos cerebrais ES
que também estão aumentados.
Lesões adicionais estavam pre
sentes nos núcleos da base (não
mostradas).

10-58C Aquisição axial em


TI pós-contrasle com saturação
de gordura do mesmo paciente
mostra que a massa pontina
realça moderadamente B mas
de maneira heterogênea.
10-580 Aquisição axial em 71
pós-contraste com saturação de
gordura mostra lesão com realce
anelar no núcleo caudado direi
to e braço anterior da cápsula
^ V interna E3. Doença de Behcet
comprovada por biópsia.
280 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

culantes podem ser produzidos por muitos anos antes do Atrofia focai, infartos cerebrais e hemorragias também
aparecimento dos sintomas clínicos do LES. são comuns.
A ativação do sistema do complemento, juntamente A vasculite/angeíte lúpica é caracterizada histopato-
com a formação e deposição de complexos imunes nos logicamente por marcada hiperplasia endotelial e fibro
tecidos, recruta linfócitos B, resultando em formação de se intimai obliteraliva nas pequenas artérias e arteríolas.
autoanticorpos. A supressão imune normal falha, resul Trombos oclusivos de fibrina sem evidência histológica
tando em uma resposta autoimune não inspecionada. A de vasculite também podem ocorrer.
disfunção do sistema imune também resulta em infecções Aspectos clínicos. O LES afeta uma em cada 700 mulheres
freqüentes e aumento da prevalência de malignidades lin- brancas e uma em cada 245 mulheres negras. O LES SNC
forreticulares.
ocorre em todas as idades, com pico de início entre 20 e
O LES SNC costuma ser considerado uma doença an-
40 anos. Em adultos, mais de 90% dos pacientes são mu
giopática, embora o dano neural autoimune, desmieliniza- lheres. Em crianças a proporção M:H é 2 a 3:1.
ção e tromboembolismo possam ser fatores contribuintes. O início do lúpus pode ser insidioso e o diagnósti
A isquemia/infarto cerebral relacionado ao lúpus pode re
co precoce pode ser enganoso. Os critérios diagnósticos
sultar de coagulopatia (secundária à síndrome antifosfoli-
para LES foram estabelecidos pelo American College
pídeo), aterosclerose acelerada (em geral associada ao tra of Rheumatology e incluem ra.sh malar ou discoide, úl-
tamento com corticoides), tromboembolismo (secundário
ceras orais e/ou nasais, artrite, serosite, doença renal e
à endocardite de Libman-Sacks) ou uma vasculite lúpica
vasculite.
verdadeira primária.
O LES SNC ocorre em 30 a 40% dos casos e pode
Patologia. Os achados macroscópicos mais freqüentes nos ser uma manifestação grave e ameaçadora. Na verdade, o
pacientes com LESNP são perda volumétrica generali LES SNC corresponde a 15 a 20% das mortes relaciona
zada com atrofia cortical e alargamento dos ventrículos. das ao lúpus.

10-59A Aquisição axial em


FLAIR de uma mulher de 33 anos
com exacerbação do seu lúpus
no SNC mostra hiperintensidade
expandindo a medula B.
10-59B Aquisição em FLAIR
através do vértice no mesmo
paciente demonstra hiperin-
tesidades esparsas corticais e
subcorticais nos lobos frontal e
parietal à esquerda E3. Leve
efeito de massa com apagamen-
to de sulcos B está presente.
O hemisfério direito tem aspecto
normal.

10-59C Aquisição em TI pós-


-contraste com saturação de gor
dura do mesmo paciente mostra
leve realce em áreas esparsas
no córtex e na S6 subcortical do
hemisfério esquerdo B.
10-590 Ponderação em difu
são mostra focos de restrição no
córtex frontal esquerdo B.
Vdsculopatia 281

Imagem. As anormalidades de imagem ocorrem em 25 a As lesões agudas demonstram restrição à difusão


75% dos pacientes com LESNP e estão associadas com a e realce transitório nos estudos em TI pós-contraste. A
gravidade/atividade da doença, aumento da idade e even pRM em pacientes com LESNP revela elevação do CBV
tos neurológicos documentados. e do CBF.

Os exames de TC sem contraste iniciais costumam Trombose venosa profunda/cortical e de seio venoso
ser normais ou demonstram hipodensidades esparsas cor- durai ocorre em 20 a 30% dos casos de LESNP. Hiper
ticais/subcorticais. Grandes infartos territoriais e oclusões tensão sistêmica é comum nos pacientes com LES. A sín-
de seios durais podem ocorrer, mas são menos comuns. drome da encefalopatia posterior reversível (PRES) é uma
Hemorragias intracranianas espontâneas podem ocorrer manifestação rara, mas tratável, do LES SNC.
nos pacientes com LES com uremia, trombocitopenia e Diagnóstico diferencial. O diagnóstico diferencial da
hipertensão. imagem do LESNP é vasto e inclui arterioloesclerose
O exame de RM varia de normal a achados expressi ("doença dos pequenos vasos"), esclerose múltipla, sín-
vos. O achado mais comum, visto em 25 a 50% dos novos drome dc Susac, síndrome antifosfolipídíca não lúpica,
diagnósticos de LESNP, é o de múltiplas pequenas hipe- doença de Lyme e outras vasculites, como angeíte pri
rintensidades em T2/FLAIR subcorticais e na SB profun mária do SNC.
da (Fig. 10-59). Grandes lesões confluentes que lembram Há uma significativa sobreposição entre o lúpus e a
encefalomielite disseminada aguda (ADEM) ocorrem, síndrome antifosfolipídíca (SAF). Entre 25 a 40% dos pa
mas são vistas apenas em pacientes com sintomas no SNC cientes com LES têm SAF (a seguir). Embora não haja
(Fig. 10-60). Lesões difusas corticais, nos núcleos da base critérios de imagem universalmente aceitos para LESNP,
e do tronco encefálico - sugestivas de vasculopatia ou a presença de infartos multifocais e áreas edematosas "mi
vasculite - também são comuns. gratórias" são sugestivas da doença.

10-60A Aquisição axial em


FLAIR de uma mulher de 55 anos
com sintomas neuropsiquiátricos
incomuns revela hiperinlensida-
des esparsas e confluentes na SB
subcortical, profunda e periven
tricular B.
10-60B Aquisição axial em
FLAIR da mesma paciente mostra
lesões da SB subcortical em
adição a lesões confluentes que
cruzam o corpo caloso E3 e se
parecem com ADEM.

10-60C Aquisição coronal


em 11 pós-contraste do mesmo
paciente mostra tênues focos de
realce puntiformes e lineares na
SB subcortical e profunda BI.
1D-6DD Aquisição coronal
TI pós-contraste mostra tênues
locos de realce puntiformes e
lineares na SB subcortical
Observe a descontinuidade ^3
em razão da biópsia. O exame
histopatológico revelou vasculite
lúpica no SNC.
282 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

Síndrome antiíosfolipídica
Terminologia e etiologia. SAF é uma doença muítissistêmi-
ca caracterizada por trombose arterial ou venosa, AVCs
precoces, disfunçào cognitiva e abortos espontâneos. A
SAF com livedo reticular difuso e episódios cerebrovas-
culares isquêmicos é chamada de síndrome de Sneddon.
Aspectos clínicos. O espectro das síndromes mediadas
por fosfolipídeos reflete o dano final ao órgão devido à
doença microangiopática e à disfunçào endolelial. As
manifestações clínicas são variáveis e incluem doença de
pele (livedo reticular, hemorragias de aspecto fragmenta
do); envolvimento cardíaco, pulmonar e renal, distúrbios
hematológicos e sintomas neuropsiquiátricos.
O diagnóstico de SAF requer a presença de pelo me
nos um critério clínico (p. ex., trombose vascular ou mor-
10-61A Ponderação em T2 no plano axial de um
homem de 36 anos com SAF documentada e múltiplos
bidade na gravidez) e um achado laboratorial, ou seja, an-
AVCs revela edema gira! agudo 69 e encefalomalacia ticoagulante lúpico persistentemente positivo, anticorpos
parietal BI. antifosfolipídeo (p. ex., anticorpos anticardiolipina) ou
anticorpo anti p2-glicoproteína.
A idade média de início da doença é 50 anos. Há um
predomínio feminino na ordem de 2:1 (mulheres com
SAF costumam ser diagnosticadas inicialmente em razão
de abortos espontâneos). Uma rara complicação da SAF
é a síndrome de HELLP (hemólise, elevação de enzimas
hepáticas e plaquetopenia, do inglês hemolysis, elevated
liver enzymes, low platelets).
O envolvimento do SNC na SAF é comum. Manifes

tações de SAF no SNC incluem doença cerebrovascular


com eventos trombóticos arteriais (início precoce de AIT,
AVC) ou oclusões venosas, síndromes com padrão de
EM, convulsões, cefaleia e disfunçào cognitiva. Uma rara
e "catastrófica" síndrome antifosfolipídica é caracterizada
por oclusão acelerada vascular disseminada em múltiplos
órgãos e possui uma taxa de mortalidade próxima dos
10-61B Imagem em difusão do mesmo paciente 50%. SAF no SNC catastrófica aguda pode causar ence-
mostra restrição aguda na divisão dos territórios da arté falopatia aguda, bem como infartos arteriais e venosos.
ria cerebral anterior com a cerebral média a direita 69.
Imagem. Infartos multifocais corticais/subcorticais de
idade mista, atrofia predominante parietal com relativa
preservação dos lobos frontal e temporal e hiperinten-
sidades na SB profunda em T2/FLAIR em quantidade
acima da esperada para a idade são achados típicos de
SAF (Fig. 10-61). Tromboses tanto arteriais como veno
sas são comuns.

Diagnóstico diferencial. A SAF no SNC pode ser difícil de


ser diferenciada da esclerose múltipla. A ausência de le
sões na interface calososseptal é uma característica que
ajuda nessa diferenciação. A demência multi-infarto
("vascular") não demonstra atrofia dominante parietal
como faz a SAF. O LES comumente ocorre com a SAF e
pode apresentar achados clínicos e de imagem similares.

Doença amiloide cerebral


10-61C ASD lateral do mesmo paciente não mostra Terminologia. A doença amiloide cerebral compreende um
evidência de vasculite. grupo heterogêneo de diversas alterações bioquímicas
Vasculopatia 283

e genéticas do SNC. A doença amiloide cerebral ocorre


ern diversas formas. A mais comum é a microvasculopa-
tia relacionada à idade chamada de angiopatia amiloide
cerebral (AAC), também conhecida como angiopatia
congofiiica. A deposição amiloide em placas neuríticas
também é uma característica proeminente na doença de
Alzheimer (DA).
Manifestações comuns da doença amiloide no SNC
incluem uma lesão focai tumefativa, semelhante a uma
massa, chamada de amíloídonia. Raramente a doença
amiloide cerebral se apresenta como uma angeíte asso
ciada ao (i amiloide (ABA) com modillcações intla-
matórias difusas que afetam primariamente a substância
branca. A ABA também é conhecida como inflamação
relacionada à AAC.

Etiologia. a AAC é causada pelo acúmulo de agregados 10-62 Hematoma agudo B com um nível líquido
Hl: microssangramentos B3 e hemorragias lobares
Ap em pequenos vasos cerebrais. O Ap é derivado da
antigas Hl também são achados típicos na doença
clivagem proteolítica de proteína do precursor amiloide. amiloide cerebral.
Dois tipos de aminoácidos, um com extensão de 42aa
(Ap42) e outro mais curto com 40aa de extensão (Ap40),
estão associados à doença cerebral relacionada ao amiloi
de. O AP42 é encontrado principalmente em placas neu-
riticas associadas à DA enquanto o Ap40, mais curto e
relativamente mais solúvel, é a principal forma encontra
da na AAC.
Um desequilíbrio entre a produção de Ap e sua eli
minação é considerado elemento-chave na formação dos
depósitos amiloides no SNC. Esses depósitos se acumu
lam na porção abluminal na camada muscular e adventí-
cia das arteríolas e capilares cerebrais, causando ruptura
progressiva da unidade neurovascular. A distribuição
geográfica dos depósitos Ap corresponde anatomica-
mente às rotas de drenagem perivascular pelas quais o
líquido intersticial (LI) e os solutos são eliminados do
cérebro. 10-63 H&E com alta-magnificaçâo mostra espessa-
O transporte do Ap entre o neurópilo e a circulação mento de arteríola SI com hemorragia perivascular
cerebral está bloqueado na AAC. O insucesso em retirar Bã achados característicos da AAC.
o Ap do cérebro tem duas conseqüências principais: (I)
hemorragia intracraniana associada à ruptura de vasos
carregados de Ap na AAC e (2) função neuronal alterada
causada por acúmulo patológico de Ap e outros metabó-
litos solúveis na DA. A anormalidade vascular mais vista
na DA é a AAC.

Genética. A proteína do precursor amiloide é codificada


pelo gene APP no cromossomo 21.
A AAC pode ser primária ou secundária, esporádica
ou familiar. A AAC esporádica é muito mais comum que a
familiar e é fortemente associada com a presença do alelo
AP0E*E4.
As formas hereditárias da AAC são geralmente fami
liares e ocorrem como uma doença autossômica dominan
te com diversos subtipos conhecidos, incluindo holandês,
italiano, fiamenco, inglês e islândes. A AAC hereditária é 10-64 Corante vermelho do Congo em luz polarizada
mais grave e com início mais precoce se comparada com mostra espessamento da arteríola com birrefringênda
a forma esporádica da doença. verde-maçã B AAC. (Cortesia de B. K. DeMasters, MD.)
284 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

10-65 Aquisições de um paciente com cefaieia e AAC mostram HSA 10-66 Exame de RM demonstra múltiplas hemorragias lobares em dife
de convexidade ES, lesões de SB confluentes siderose superficial rentes estágios de evolução B e "pontos pretos" periféricos multifocais
tó) e microssangramentos S). (Cortesia de M. Castillo, MD.) com artefatos de susceptibilidade magnética ^ que são clássicos da AAC.

Patologia. A AAC é caracterizada por depósitos progressivos A idade avançada é o fator de risco conhecido com
de fibriias AP nas paredes das artérias de pequeno a médio maior associação para o desenvolvimento de AAC. A
calibre e arteríoias penetrantes com envolvimento preferen AAC esporádica costuma ocorrer em pacientes com mais
cial do córte.x supratenlorial e leptomeninges. O cerebelo, o de 55 anos, enquanto as formas hereditárias se apresentam
tronco encefálico e os núcleos da base são poupados. 10 a 20 anos mais cedo. Os pacientes com angeíte asso
Os achados na patologia macroscópica incluem ciada ao p amiloide também tendem a ser mais jovens que
hemorragia lobar importante (mais frontal ou frontopa aqueles com AAC não inflamatória, esporádica.
rietal), hemorragias petequiais corticais, infartos cere Estudos de necropsia mostram uma prevalência de
brais pequenos e lesões isquêmicas da substância branca AAC de 20 a 40% e de 50 a 60% na população de idosos
(Fig. 10-62). sem e com demência, respectivamente. A AAC está presente
As características microscópicas incluem um espessa- em mais de 90% dos pacientes com DA ao exame póstumo.
mcnto eosinofílico "sujo" dos vasos corticais e leptome- As manifestações clínicas mais comuns da AAC são
ningeos (Fig. 10-63). Os casos graves podem demonstrar déflcits neurológicos focais (com hemorragias lobares re
uma "partição" do vaso (um aspecto de "lúmen dentro do correntes) e prejuízo cognitivo (com microssangramentos
lúmen"), necrose flbrinoide, formação de pseudoaneurisma crônicos múltiplos).
e trombose. A angeíte associada ao P amiloide demonstra A apresentação clínica dos pacientes com inflamação
modificações inflamatórias murais e perivasculares com relacionada à AAC (p. ex., ABA) é diferente, lembrando
necrose, números variáveis de células gigantes multinu- uma vasculite autoimune ou uma meningoencefalite suba-
cleadas, histiócitos epitelioides, eosinófilos e linfócitos. guda. Cefaieia e declínio cognitivo são comuns. Às vezes,
No corante vermelho do Congo, os vasos da AAC têm os pacientes com ABA apresentam um curso mais fulmi
uma aparência "congofílica" corada de salmão. Uma cor nante caracterizado por demência rapidamente progressiva
característica amarelo-esverdeada ("birrefringência") apa e déflcits neurológicos focais. Três quartos dos pacientes
rece quando o vaso afetado é visibilizado com o uso de luz com ABA comprovada por biópsia respondem à cortico-
polarizada (Fig. 10-64). Imuno-histoquímica com o uso de terapia, portanto, o estabelecimento do diagnóstico histo-
anticorpos contra o Ap é positiva. Vasos sangüíneos car patológico correto é crucial para o manejo dos pacientes.
regados de proteína amiloide também são imunorreativos Imagem. Os achados de imagem variam conforme o tipo da
para a metaloproteinase de matriz extracelular (MMP-19).
doença amiloide cerebral. A AAC é de longe a forma mais
Aspectos clínicos. A AAC causa 5 a 20% de todas as hemor comum; amiloidomas e ABA são raros.
ragias cerebrais não traumáticas e é reconhecida atual TC. Os exames de TC sem contraste em pacientes
mente como a principal causa de hemorragia intracraniana com manifestações agudas da AAC demonstram um he
espontânea e prejuízo cognitivo em idosos. matoma lobar hiperdenso com edema periférico variável.
Vasculopatia 285

10-67A TC sem conlraste


em um homem normolenso de
83 anos com demência rapida
mente progressiva e fraqueza
no hemicorpo direito demonstra
hipointensidades confluentes
subcorticais na SB El no lobo
frontal esquerdo e nos lobos
parietaís.
10-67B Ponderação em Ti
do mesmo paciente mostra giros
hipointensos "inchados" B no
hemisfério esquerdo, juntamente
com apagamento dos sulcos
adjacentes.

10-67C Aquisição em FLAIR


demonstra notável hiperintensi-
dade confluente na SB do lobos
frontal e parietal esquerdo B
com hiperinlensidades corticais
e subcorticais S esparsas no
hemisfério direito e ao longo da
superfície mediai de ambos os
hemisférios.
10-67D Aquisição em 12''' GR£
mostra múltiplas hipointensida
des corticais/subcorticais com
artefatos de susceptibilidade
magnética B e hipointensida-
de linear ao longo de sulcos S
do hemisfério esquerdo, sugesti
vas de siderose.

10-67E Aquisição em T2* SWI


em corte acima dos venlrículos
demonstra inúmeros "pontos
pretos" com artefatos de suscep
tibilidade magnética periféricos
em ambos os hemisférios B,

V
i ]"■#€8
bem como a siderose superficial
B característica da angiopatia
amiloide cerebral.
10-67E Aquisição em T2' SWI
através da coroa radiada mostra
áreas adicionais de siderose B
A i e micro-hemorragias B. Em
razão dos achados clínicos soma
dos a edema cerebral e efeito
de massa, este caso representa
inflamação relacionada à AAC
(ABA).
286 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

Múltiplas hipointensidades irregulares confluentes na


substância branca, juntamente com perda volumétrica ge
neralizada, são comuns. O realce na TC com contraste é
raro na doença amiloide cerebral e ocorre apenas se uma
massa focai ("amiloidoma") ou ABA estiver presente.
Às vezes, os pacientes com AAC podem apresen
tar a chamada hemorragia subaracnóidea de convexida-
de (HSAc) (Fig. 10-65). Na HSAc, as cisternas da base
parecem normais, mas um ou mais sulcos adjacentes às
convexidades demonstram hiperdensidades curvilínias
consistentes com sangue.
RM. A intensidade de sinal da AAC associada a he
matoma lobar varia com a idade do coágulo (Fig. 10-66).
Os hematomas agudos são isointensos nas ponderações
em TI e iso a hiperintensos em T2.
A maioria dos pacientes com AAC apresenta hipe-
10-68 AAC demonstra hematoma com nível líquido-
rintensidades na SB focais ou esparsas confluentes em
-líquido na TC sem contraste ES e múltiplos micros-
sangramenlos periféricos no 6RE ES. (Cortesia de P.
T2/FLA1R. Grandes áreas assimétricas de hiperintensida-
Hildenbrand, MD.) des confluentes na SB em T2/FLAIR com ou sem micro-he-

morragias são características de ABA (Fig. 10-67). O efeito


de massa costuma estar ausente, a menos que ABA ou uma
massa amiloide focai ("amiloidoma") estejam presentes.
Além disso, as hemorragias lobares residuais, as se
qüências em T2* (GRE. SWI) demonstram "pontos pretos
com artefatos de susceptibilidade magnética" punliformes
iTiLiltifocais nas leptomeninges, córtex e SB subcortical
(Fig. 10-68). Os núcleos da base e o cerebclo são relativa
mente poupados.
Hemorragias associadas à AAC não realçam nas aquisi
ções em TI pós-contraste. Ambas, ABA e amiloidoma, po
dem apresentar realce tão marcante que podem simular me
ningite, encefalite ou neoplasia (Figs. 10-69,10-70 e 10-71).
Medicina nuclear. Os pacientes com AAC apresen
tam uma significativa redução na perfusão cerebral nos
estudos de SPECT com Tc-ECD 99m.
10-69 Amiloidoma cerebral comprovado por biópsia O uso da tomografia com emissão de positrons (PET)
se apresenta como massa periventricular solitária com com traçadores de imagem que se ligam às placas amiloi-
realce. Não havia microssangramentos no T2*.
des, como o Composto-B de Pittsburg com marcação 11C
(I ICPiB) facilitou a avaliação in vivo da doença amiloide
cerebral, com boa concordância geral entre o llCPiB e
cargas muito baixas ou muito altas de Ap.
A correlação do PET com a aquisição T2* da RM de
monstra aumento significativo da retenção do 1 ICPiB em
locais de microssangramentos, indicando que eles ocorrem
mais em regiões de concentração dos depósitos amiloides.
Diagnóstico diferencial. O principal diagnóstico diferencial
da AAC é a cncefalopatía hípertenslva crônica (EHtC).
Os microssangramentos associados com a EHtC freqüen
temente envolvem os núcleos da base e o cerebelo. Mi
crossangramentos periféricos ocorrem, mas são menos
comuns que a AAC relacionada a micro-hemorragias, as
quais afetam mais o córtex e as leptomeninges.
Os Infartos lacunares hemorrágicos podem de
10-70 Doença amiloide cerebral infiltrativa compro monstrar depósitos de hemossiderina com artefatos de
vada por biópsia com realce multifocal B e hemorra susceptibilidade magnética. Os núcleos da base e a SB
gias petequiais BI. profunda cerebral são os locais mais comuns, ajudando a
Vasculopatia 287

10-71A Aquisição em FLAIR de um paciente com doença amiloide 10-718 Aquisição em TI pós-contrasle do mesmo paciente demons
cerebral inflamatória demonstra hiperintensidades sulcais bilaterais ES tra marcado realce sulcal B. Angeíte associada ao beta-amiloide (ABA)
com hiperintensidade confluente no lobo occipital direito comprovada por biópsia (Cortesia de O.Jacobs, MD.)

distinguir estes infartos dos microssangramentos periféri


cos da AAC. Aspectos clínicos
• Causa 5 a 20% das His em idosos
Os angiomas cavernosos múltiplos (Zabramski tipo
o Normotensos
4) costumam envolver a SB subcortical, os núcleos da o Demência
base e o cerebelo. O cortex é um locai menos comum. • T idade = maior fator de risco
"Lóculos" de sangue com níveis líquido-líquido e hemor
ragias em diferentes estágios de evolução freqüentemente Imagem
estão presentes, junto com "pontos pretos" com artefato • Clássica = hemorragia lobar em diferentes estágios
• Comum = microssangramentos multifocais
de susceptibilidade magnética multifocals no T2*.
o Hipointensidades com artefatos de susceptibilidade
As metastases hemorrágicas na junção entre as
substâncias branca e cinzenta podem lembrar a AAC. Os magnética no T2 "
o Tipicamente cortical, meníngea (piai)
microssangramentos multifocals típicos da AAC não pos o Posterior > anterior
suem efeito de massa, edema periférico ou realce. o Cerebelo, tronco encefálico, núcleos da base
Em razão das características de efeito de massa, ede geralmente poupados
ma e realce, a ABA e o amiloidoma são difíceis de distin • Menos comum = angeíte associada ao beta amiloide
guir de infecção ou neoplasia na ausência da biópsia. o Hiperintensidade parenquimatosa em T2/FLAIR
o Edema, efeito de massa
o ± microssangramentos com artefatos de
DOENÇA AMILDIDE CEREBRAL susceptibilidade magnética no T2*
o ± realce sulco-cisternal
Terminologia e etiologia • Raro = amiloidoma intracerebral
• Forma mais comum o Massa(s) focai, freqüentemente periventricular
o Anglopatia amiloide cerebral (AAC) o Biópsia é necessária para distinguir de neoplasia
o Também conhecida como angiopalia congofílica
• Formas menos comuns
o Amiloidoma
o AAC inflamatória (angeíte associada ao p amiloide, Microanglopatlas trombóticas
ABA) Terminologia. As microangiopatias trombóticas (MTs),
• Depósitos Ap40 nas arteríolas corticais, meníngeas também conhecidas coletivamente como síndromes mi-
croangiopáticas trombóticas, são um grupo heterogêneo
Patologia de doenças oclusivas microvasculares caracterizadas por
• Sangramentos lobares, micro-hemorragias
• "Congofílico", birrefringente trombocitopenia, fragmentação eritrocitária (hemólise in
travascular) e dano isquêmico a órgãos.
2 8 8 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

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10-72 Imagem de CIVD de micropatologia com alia magnificaçào
corada por H&E demonstra arteriola espessada e trombosada fS com
10-73 Imagem de TC sem contraste de um homem de 42 anos
com LMA e CIVD demonstra focos hemorrágicos na SB subcortical ES.
necrose perivascular B] rodeada por um anel de hemorragia HI (Cor Uma lesão hípodensa B envolve o córiex parietal direito e a SB
tesia de R. Hewlett, MD.) subcortical.

As principais MTs são a coagulopatía intravascular Patologia. A biópsia raramente é realizada na MT.
disseminada (CIVD), hipertensão maligna (HM) e pur A patologia macroscópica demonstra múltiplos focos
pura trombocitopênica trombótica (PTT), com ou sem difusos de necrose e hemorragia. Espessamento parietal
síndrome hemolítico-urêmica (SHU). A PTT e a SHU capilar e arteriolar, edema endotelial e fragmentação, acú
possuem a anemia hemolítica e a trombocitopenia como mulo subendotelial de proteína, debris celulares e múlti
caracterísicas em comum e consequentemente são agrupa plos trombos oclusivos de plaquetas-fibrina são os acha
das em conjunto, como PTT/SHU (ou SHU/PTT). dos histopatológicos característicos (Fig. 10-72).
Etiologia. a lesão às células endoteliais é o denominador Aspectos clínicos. As MTs são raras. A incidência geral é
comum na seqüência de eventos que leva ao desenvolvi estimada em menos de 1:1,000.000 por ano. Embora as
mento da MT. A cascata microangiopática começa com MTs dividam uma fisiopatologia comum, os achados clí
a perda da tromborresistência fisiológica e adesão leuco- nicos variam dependendo da doença de base.
citária ao endotélio danificado. Segue-se o consumo do A CIVD é a MT mais comum, causando 80% de to
complemento, liberação anormal de fatores de von Wille- dos os casos. A CIVD está associada com um espectro
brand, com redução da fragmentação pelas metaíoprotei- de comorbidades que incluem infecção. tumor, anorma
nases ADAMTS13 e aumento da tensão de cisalhamento lidades vasculares, complicações obstétricas e neonatais.
vascular com lesão mecânica aos eritrócitos. necrose tissular maciça e reações a drogas. Ela é carac
Múltiplos gatilhos, como infecção com septicemia e ne terizada clinicamente por trombose e/ou hemorragia em
crose microvascular segmentar, drogas, toxinas, câncer, qui múltiplos locais.
mioterapia. transplante de medula óssea e gravidez foram A hipertensão maligna (HM) é a segunda causa mais
associados com MTs. Uma MT induzida por toxinas clás comum de MT. Os pacientes costumam apresentar-se com
sica é a SHU após infecção por Escherichia coli O104:H4 elevação da pressão sangüínea e papiledema, freqüente
enlero-hemorrágica. Nessa situação, toxinas extremamente mente acompanhado de hemorragia retiniana e exudatos. As
potentes conhecidas como verotoxinas ou toxinas Shiga gestantes com HM possuem eclampsia ou pré-eclâmpsia.
causam dano endotelial vascular disseminado que, por sua A PTT é a causa menos comum de MT. Ela é uma
vez, leva a infartos em múltiplos órgãos e hemorragias. doença de crianças, mas pode afetar também jovens adul
As microangiopatias trombóticas (MTs) são carac tos. Aproximadamente, metade dos pacientes desenvolve
terizadas hematologicamente por agregação plaquetária. sintomas relacionados ao SNC, convulsões e/ou déficits
trombocitopenia profunda, oclusòes da microcirculação neurológicos flutuantes. Febre, insuficiência renal e rash
com isquemia e infartos. anemia hemolítica microangio purpúrico no tronco e nos membros são comuns. A tríade
pática e micro-hemorragias em múltiplos órgãos. laboratorial clássica consiste em trombocitopenia, eleva-
Vasculopatia 289

ção da lactato desidrogenase e esquistocitose. A maioria densidades relativamente bem delineadas rodeadas por
dos pacientes com PTT tem deficiência de ADAMTS13. edema. Padrões mistos com lesões hipo e hiperdensas
Embora os sintomas das MTs freqüentemente se sobre também são comuns (Fig. 10-74A).
ponham, a doença no SNC é mais comum na PTT, enquanto A intensidade de sinal na RM varia com a idade do co
o envolvimento renal predomina na SHU. A SHU é definida águlo. Hiperintensidades multifocals corticais/subcorticais
pela tríade anemia hemolítica mecânica, trombocitopenia e em T2/FLAIR são comuns na MT aguda. A seqüência mais
prejuízo da função renal. Alteração no complemento - e não sensível é o T2* (GRE, SWl). Hipointensidades puntifor-
deficiência de ADAMTS13 - é característico de SHU. mes girais com artefatos de susceptibilidade magnética são
Falência renal e AVC por coagulopatia intravascular típicas (Figs. 10-74B e I0-74C). A ponderação em difusão
ou microangiopatia trombótica estão entre as complica revela múltiplos focos de restrição (Figs. I0-74D e 10-75).
ções mais sérias da MT. O tratamento principal é de su A SHU/PTT e a HM podem causar um padrão de
porte e inclui plasmaférese, corticoides e/ou rituximab. imagem semelhante ao PRES com hiperintensidades cor
Os antibióticos são evitados na enterocolite hemorrágica ticais/subcorticais posteriores ou no tronco encefálico. A
induzida por E. coli devido ao potencial aumento da libe difusão nestes casos é tipicamente, mas não invariavel
ração de verotoxinas pela morte e por bactérias mortas. A mente, normal.
esplenectomia e a ciclofosfamida foram propostas como Diagnóstico diferencial. O principal diagnóstico diferen
terapias de resgate em casos graves de PTT. cial das MTs, especialmente SHU/PTT é a encefalopatia
Imagem. Infartos hemorrágicos e isquêmicos corticais hipertensiva aguda (p. ex., PRES). A SHU/PTT pode
e subcorticais são típicos (Fig. 10-73). Os exames de causar síndromes semelhantes ao PRES com achados de
TC sem contraste podem ser normais na fase inicial da imagem idênticos. A história clínica (pacientes não ges
doença. Achados positivos incluem focos hipoatenuantes tantes) e os achados laboratoriais devem distinguir entre
irregulares e pouco definidos ou hemorragias com hiper- estas duas entidades.

10-74A Exame de TC sem


contraste de uma mulher de 45
anos com LMA e alteração do
estado mental demonstra hipo-
densidades corticais esparsas
corticais e subcorticais ES.
10-74B Aquisição em T2'
GRE da mesma paciente revela
microssangramentos multifocals
localizados perifericamente SI.

10-74C Aquisição em T2'* SWl


deiinea melhor os microssan
gramentos corticais/subcorticais
S], Além disso, lesões sutis são
vistas no hemisfério direito IS
assim como lesões adicionais no
hemisfério esquerdo SI.
10-74D Ponderação em difu
são do mesmo paciente mostra
múltiplos focos de restrição no
córtex e no SB subcortical de
ambos os hemisférios. Exames
laboratoriais confirmaram PTT.
290 Hemorragias não traumáticas e lesões vasculares

Infartos cerebrais múltiplos, especialmente êmbo-


• Principais tipos
los sépticos, podem simular as lesões corticais periféri
o Coagulopatia intravascular disseminada
cas da MT. Os êmbolos sépticos hemorrágicos não são
o Hipertensão maligna
tão difusos quanto as lesões associadas a MT. Contudo, o SHU/PTT
septicemia com necrose microvascular segmentar pode
causar uma encefalopatia hemorrágica difusa que pode ser Etiologia
• Dano a células endotelials
exacerbada pela CIVD (Fig. 10-76).
• Múltiplos gatilhos
A síndrome anticorpo antifosfolipídíca complicada
o Infecção (p. ex., septicemia, E.coli entero-
pela síndrome de HELLP pode simulara MT.
A trombose cortical venosa com ou sem oclusào de -hemorrágica)
o Drogas
seio durai pode causar hemorragias periféricas múltiplas. o Câncer ou quimioterapia
As hemorragias e os infartos na MT são mais difusos e o Gravidez
sinal de trombose de seio durai está ausente.
Imagem
• Infartos isquêmicos corticais/subcorticais
• Micro-hemorraglas multifocals
MICROANGIOPATIAS TROMBÓTICAS
Terminologia Diagnóstico Diferencial
• Doença ociusiva microvascular com • PRES

o Trombocitopenia • Émbolos sépticos


o Hemólise intravascular • Síndrome anticorpo antifosfolipídíca
o Dano isquêmico a órgãos

10-75A Aquisição em FLAIR


de uma mulher de 54 anos
com insuficiência renal crônica
demonstra hiperinlensidades
confluentes na 56 periventricular
de ambos os lobos frontais
Focos hiperintensos esparsos dis
persos na SB profunda de ambos
os hemisférios B.
10-75B Aquisição em T2'' GRE
mostra algumas poucas hipoin-
tensidades focais dispersas na SB
profunda cerebral B.

10-75C Aquisição em T2* SWI


da mesma paciente revela múl
tiplos "pontos pretos" com arte
fatos de susceptibilidade magné
tica na SB cerebral profunda de
ambos os hemisférios SI.
10-75D Aquisição SWI mais
cranial da mesma paciente mos
tra mais focos com susceptibili
dade magnética na coroa radiada
S. Os achados são compatíveis
com micro-hemorragias na
SHU/PTT.
Vasculopatia 291

10-76A Autópsia de um homem de 70 anos com septicemia por 10-76B Corte mais cranial através da coroa radiada mostra extensas

gram-negalivo mostra hemorragias pelequiais multifocals na SB subcor- lesões subcorlicais e na SB profunda, poupando quase que completa
tical e nos núcleos da base. A maioria se trata de lesões ovoides ou li mente a SC cortical. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
neares, mas algumas hemorragias confluenles esparsas estão presentes.

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Parte III

Infeccão, inflamação e
doenças desmielinizantes
/
11
Introdução à infeccão, inflamação
^ J / -3»

e desmielinizacão
de tuberculose multirresistente (TMR) a fármacos. ATMR
In í e c ç o e s d o s i s t e m a n e r v o s o c e n t r a l 2 9 7 e o recente aparecimento da tuberculose extensivamente
HlV/Alds 298 resistente (TXR) a fármacos põe em risco o principal be
Doenças inflamatórias e desmielinizantes 299 nefício alcançado ao longo de muitas décadas: o controle
da tuberculose. O significativo progresso adquirido pela
A praga {no sentido literal e figurativo) das doenças in redução de mortes relacionadas à tuberculose (TB) em pa
fecciosas foi uma ameaça à humanidade durante milênios. cientes imunocomprometidos também está ameaçado.
Embora qualquer parte do corpo humano seja suscetí
Infestações parasitárias foram identificadas nas múmias
vel à inflamação ou à infecçào, o cérebro foi considerado
egípcias do Império Antigo e ainda afetam pessoas atual
mente. Nossos inimigos - tuberculose e malária - pare por muito tempo um local "imunologicamente protegido"
em razão da barreira hematoencefálica. Embora as infec-
ciam estar sob controle, mas estão mesmo? Com certeza
não. Uma em cada três pessoas no mundo foi infectada ções do sistema nervoso central (SNC) sejam considera
velmente menos comuns que seus equivalentes sistêmi
por M. tuberculosis.
Na era dos antibióticos, infecçòes antes temidas pa cos, o cérebro não é, de forma alguma, impenetrável aos
recem ser uma memória distante. Será que elas estão real ataques dos organismos patogênicos.
mente relegadas ao acervo histórico médico? Dificilmente. O papel da imagem na avaliação de urgência das in-
Uma vez ouvi o Dr. Joshua Lederberg, que foi, em fecções intracranianas deve ser de suporte, e não primário,
mas. em muitas unidades de saúde em todo o mundo, fre
1958, um dos ganhadores do prêmio Nobel em Fisiologia
ou Medicina pela sua descoberta a respeito da recombina- qüentemente se utiliza exames de imagem como "proce
dimento de rastreamento" para a triagem da doença aguda
ção e organização dos genes bacterianos, fazer um comen
tário muito revelador. Ele disse: "Estamos em uma corrida
do SNC, Consequentemente, o radiologista pode ser o pri
meiro - e não o último - a identificar a presença de uma
evolutiva, com nossos adversários mais próximos sendo
os vírus e as bactérias." Adivinhe quem está ganhando? possível infecção do SNC.
Não é necessário ser um gênio para supor quem está ga Nesta parte, dedicaremos os Capítulos 12 e 13 para as
nhando... e não são os humanos! infecções do SNC. O HIV/Aids será discutido no Capítulo
O uso disseminado de antibióticos tem um resultado
14. O Capítulo 15 faz considerações sobre as doenças in
inevitável. A evolução adaptativa tomou alguns organis flamatórias idiopáticas não infecciosas e desmielinizantes
mos resistentes até mesmo a "antibióticos de última ins que afetam o SNC.
tância". Surtos de diversos organismos resistentes a múl
tiplas drogas, uma vez raros, têm sido relatados com cada
vez mais freqüência. O Staphylococcus aureus meticilina-
-resistente (MRSA) e o Enterococcus resistente a vanco- Infecções do sistema nervoso central
micina (ERV) alcançaram taxas significativas de coloni As infecções intracranianas são causadas por vários agen
zação e de infecçào na maioria das unidades de tratamento tes patogênicos; mais de 200 organismos diferentes foram
intensivo. Até o momento, as intervenções com o objetivo descritos como causadores de infecções do SNC. Os acha
de reduzir a transmissão de bactérias resistentes em cená dos de imagem costumam ser inespecíficos, portanto, a
rios de alto risco como este não tem sido efetivas. história clínica minuciosa e a investigação clínico-labo-
O uso inadequado ou o manejo inapropriado das dro ratorial apropriada são necessárias para um diagnóstico
gas de primeira linha também resultou no desenvolvimento acurado e um tratamento apropriado.
298 Infecçào, inflamação e doenças desmielinizantes

11-1 Nole um pequeno abscesso bem encapsulado no lobo Ifontai 11-2 Espécime de necropsia mostra a dura ES. refletida para cima
irS e uma lesão maior e menos definida no hemisfério contralalerai. revelando uma coleção de aspecto purulento no espaço subdural sub
Houve ruptura do abscesso maior para o interior do ventrícuio 1^, cau jacente [^. Os achados são típicos de empiema subdural piogènico.
sando piocéfaio e morte. (Cortesia de R. Hewlett, MO.) (Cortesia de R. Hewlett, MD.)

As infecções do SNC podem ser classificadas de di


versas formas. O método mais comum é dividi-las em
HIV/Aids
congênitas/neonatais e adquiridas. A classificação das in
Nas mais de três décadas desde que a Aids foi identifi
fecções é puramente de acordo com a categoria da doença,
ou seja, piogênica, vira), granulomatosa, parasitária, etc., cada, a doença tornou-se uma epidemia mundial. Com o
desenvolvimento de terapias antirretrovirais efetivas, o
é muito comum. Como os achados de irnagem se sobre
HIV/Aids evoluiu de praticamente uma sentença de morte
põem consideravelmente, esse sistema é pouco iJtil ao ra-
a uma doença crônica, mas controlável - se o tratamento
diologista.
Neste texto, seguiremos uma combinação dessas clas for (I) disponível e (2) acessível. Como agora os pacien
tes tratados para HIV/Aids sobrevivem por uma década
sificações. Inicialmente, subdividiremos as infecções em
ou mais, o espectro dos achados de imagem nessa doença
congênitas e adquiridas. As infecções congênitas serão
também se desenvolveu.
debatidas no Capítulo 12. Como é uma discussão relati
vamente curta, combinamos com as infecções adquiridas O HIV/Aids tratado como uma doença crônica tem

piogênicas e virais. apresentação muito diferente do HIV/Aids nas regiões


Nossa discussão sobre as infecções piogênicas inicia com alta prevalência de doença. Nesses locais, o HIV em
com as meninges (meningite). Seguiremos com uma consi pacientes com desvantagens socioeconômicas com fre
deração sobre infecçào cerebral focai (cerebrite, abscesso), qüência se comporta como uma infecçào aguda e fulmi
a freqüente letal complicação da ventriculite (piocéfaio) nante. Comorbidades como tuberculose, malária ou sepse
bacteriana maciça são complicações comuns e podem do
(FIg. 11-1) e coleções de pus nos espaços extra-axiais (em-
minar os aspectos de imagem.
piemas subdural/epidural) (Fig. 11-2). Focaremos, então,
nas manifestações no SNC das infecções virais adquiridas. Complicações do tratamento com a terapia antirretro-
viral altamente ativa (HAART) criaram novas alterações,
No Capítulo 13, consideraremos a patogênese e a
recentemente descobertas, como a síndrome inflamatória
imagem da tuberculose, infecções fúngicas e parasitárias
e infestações por protozoários. Concluiremos este segun da reconstituição imunolôgica (IRIS). No Capítulo 14,
do capítulo sobre infecções com uma breve ponderação consideraremos o efeito do próprio HIV sobre o SNC
sobre as espiroquetas e infecções emergentes do SNC (p. (encefalite pelo HIV), bem como infecções oportunistas,
IRIS, manifestações diversas do HIV/Aids e neoplasias
ex., as raras febres hemorrágicas virais).
associadas ao HIV.
Introdução à infecção, inflamação e desmielínizaçao 299

11-3 Coloração por Uàí/Luxol fast blue enfatiza a marcada interlace 11-4 Peça macroscópica de necropsia com imagem focada de
entre a lesão (tecido fracamente corado Bi) e o parénqulma normal doença desmielinizante "tumefativa" S mostra necrose periférica
(tecido corado de azul IS), típica da maioria das placas desmieiinizan- com efeito de massa nos giros adjacentes B. (Cortesia de B. K.
tes. (Cortesia de B. K. DeMaslers, MO.) DeMasters, MO.)

na identificação e no seguimento das alterações neuroin-


Doenças inflamatórias e desmielinizantes tlamatórias.
O Capítulo 15 é dedicado principalmente à esclero-
o líltimo capítulo desta seção é dedicado às doenças des
se múltipla (EM) (FIg. 11-3): também está inclusa uma
mielinizantes e inflamatórias não infecciosas do SNC. discussão sobre as variantes da EM (Fig. 11-4) e o sur
A infecção é causada por microrganismos. Injlama-
preendente espectro das doenças por lesão inflamatória
ção não é sinônimo de infecção. Inflamação (do Latim desmielinizante idiopática (DLlDls) (não infecciosas),
"acender" ou " colocar fogo") é a resposta dos tecidos a como neuromielite óptica. A síndrome de Susac é uma
vários patógenos, que podem ser ou não microrganismos
vasculopatia retinococleocerebral que freqüentemente é
infecciosos. A "cascata" inflamatória é complexa e multi- confundida com EM nos estudos de imagem, portanto,
fatorial. Ela envolve os sistemas vascular e imunològico e também será discutida no contexto das DLIDIs.
a resposta celular, como a ativação microglial, o compo
Doenças desmielinizantes mediadas pelo sistema
nente primário da resposta imune inata cerebral. autoimune pós-infecciosas e pós-vacinação serão consi
O SNC funciona como um microambiente ijnico deradas a seguir. A encefalomielite disseminada aguda
que responde de maneira diferente dos outros sistemas (ADEM) e a sua variante mais fulminante, a leucoence-
corporais às células imunes infillrativas. A substância falite hemorrágica aguda (LHAg), serão delineadas em
branca cerebral é especialmente suscetível à doença in detalhes.
flamatória. A inflamação pode ser aguda ou crônica, bem Terminaremos o capítulo com uma discussão sobre
como controlável ou determinante de risco de vida. Os
neurossarcoidose e pseudotumores inflamatórios.
estudos de imagem desempenham um papel importante
300 Infecção, inflamaçao e doenças desmielinizantes

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12
Infecções congênitas e infecções
piogênicas e virais adquiridas
Infecções congênitas 301
Infecções TORCH 301 Infecções congênitas
Citomegalovirose congênita 302 Com duas exceções (toxoplasmose e sífilis), a maioria
To x o p l a s m o s e congênita 304 das infecções congênitas é vira! e secundária à passagem
HÍV congênito (perinatal) 305
Encefalite herpética congênita 306 transplacentária do agente.
Outras infecções congênitas 309 Seis membros da família herpes-vírus causam
Infecções piogênicas adquiridas 310 doença neurológica em crianças: vírus herpes simples 1
e 2 (HSVl, HSV2), varicela-zóster (VZV), Epstein-Barr
Meningite 310
Abscesso 315 (EBV), citomegalovírus (CMV) e o herpes-vírus humano
Venlricuíite 321 tipo 6 (HHV-6). Hoje, com exceção do CMV, da encefali
Empiemas 323 te herpética e do HIV congênito, as infecções congênitas
Infecções virais adquiridas 327 são relativamente raras devido à imunização infantil e à
Encefalite pelo herpes simples 327 triagem pré-natal.
Encefalopatia pelo HHV-6 332 Infecções do sistema nervoso fetal resultam em um
Outras encefalites agudas 333
Encefalites crônicas 337
espectro de achados que depende tanto do agente especí
fico quanto do momento da infecção. Quando a infecçao
ocorre precocemente no desenvolvimento fetal (p. ex., du
As doenças infecciosas podem ser divididas em infecções rante o primeiro trimestre), ela resulta em aborto ou mal
congênitas/neonatais e adquiridas. Como as infecções no formações, como a lisencefalia.
cérebro em desenvolvimento possuem diferentes manifes Quando as infecções ocorrem mais tarde, as manifes
tações e conseqüências neurológicas em longo prazo em tações encefaloclásticas predominam. Microcefalia com
comparação com aquelas que afetam o cérebro mais ma franca destruição cerebral e encefalomalacia disseminada
duro (completamente desenvolvido), começaremos nossa são comuns.
discussão das infecções do sistema nervoso central (SNC) Começaremos com uma breve revisão das chama
com esse grupo de doenças. das infecções TORCH (toxoplasmose, rubéola, CMV e
Delinearemos, então, a primeira categoria principal herpes). Discutiremos, então, os agentes específicos, co
das infecções adquiridas, ou seja, as infecções piogênicas. meçando com a mais comum das infecções congênitas, a
Começaremos com a meningite, a mais comum das infec citomegalovirose.
ções piogênicas. Abscesso. juntamente com suas manifes
tações precoces (cerebrite) é discutido a seguir, seguido Infecções TORCH
por considerações sobre a ventriculite (uma complicação
rara, porém com potencial fatal dos abscessos cerebrais Terminologia
profundos) e os empiemas intracranianos. Infecções congênitas são agrupadas e simplesmente cha
Terminaremos o capítulo com uma discussão das ma madas de infecções TORCH. Se a sífilis congênita tam
nifestações patológicas e radiológicas das infecções virais bém é incluída, o grupo é chamado de TORCH(S) ou (S)
TO R C H .
adquiridas.
302 Iníecção, inflamação e doenças desmielinizantes

Etiologia
Além das clássicas infecções TORCH reconhecidas, uma
série de novos organismos foi identificada como causa
dora de infecções congênitas e perinatais. Esses incluem
HiV, hepatite B. varicela e tuberculose.

Imagem
Toxoplasmose, rubéola, CMV e HIV causam caicificações
parenquimatosas. O CMV causa cistos periventriculares,
feiidas, esquizencefalia e defeitos migracionais. A rubéola
e o vírus herpes simples (HSV) causam destruição lobar e
encefalomalacia. A sífilis congênita é relativamente rara,
porém, quando ocorre, causa meningite basilar.
Infecções TORCH devem ser consideradas em recém-
-nascidos e em lactentes com microcefalia, caicificações
12-1 CMV congênita é mostrada com caicificações parenquimatosas, coriorretinite e restrição do crescimento
parenquimatosas periventriculares Bi, lesão na subs intrauterino,
tância branca e cortex displásico ES.

Citomegalovirose congênita
CMV é a maior causa de surdez não hereditária em crian
ças e a causa mais comum de infecçào congênita nos paí
ses desenvolvidos.

Terminologia e etiologia
A infecção congênita por citomegalovírus é também
chamada de encefalite por CMV. O CMV é um vírus
de DNA ubíquo que pertence à família do iierpes-vírus
hurnano.

Patologia
o momento da infecçào gestacional determina a lesão ce
rebral. Infecção por CMV precoce na gestação causa ne
crose da zona germinativa com caicificações distróficas
12-2A TC sem contraste em um recém-nascido com subependimárias. Perda volumétrica da substância branca
CMV mostra microceíalia, ventrículos aumentados, ocorre em toda a gestação e pode ser difusa ou multifocal.
fissuras siivianas rasas B e marcantes Ca>+ periven Malformações do desenvolvimento cortical são comuns
triculares B3.
(Fig. 12-1).
O exame microscópico mostra citomegalia com
inclusões virais nos núcleos e no citoplasma. Necrose
celular irregular e focai, em particular das células da
matriz germinativa, é típica da infecção no primeiro
trimestre. Inllamação vascular e trombose também são
c o m u n s .

Aspectos clínicos
Epidemiologia. a CMV é a mais comum de todas as infec

ções congênitas. Entre 0,25 e 1 % dos recém-nascidos pos


suem CMV em sua urina ou, documentada por reação em
cadeia da polimerase (PCR). Desses, apenas 10% desen
volvem sintomas de SNC ou sistêmicos.

Apresentação e história natural. Lactentes com infecções


congênitas assintomáticas por CMV podem apresentar
desenvolvimento nornial. Perda auditiva neurossensorial
12-2B Imagem ponderada em T2 do mesmo pacien
te mostra ventrículos aumentados, caicificações peri e leve retardo no desenvolvimento são os maiores riscos
ventriculares S9 e padrão girai simplificado em longo prazo.
Infecções congênitas e iníecções piogénlcas e virais adquiridas 303

Recém-nascidos com manifestações sistêmicas


(p. ex., hepatoesplenomegalia, petéquias e icterícia) pos
suem um pior prognóstico. Pouco mais da metade de to
dos os lactentes com manifestações sistêmicas também
possuem envolvimento do SNC. A maioria com microce-
falia, ventriculomegalia e calcificações parenquimatosas
possuem seqüelas importantes do neurodesenvolvimento
(p. ex., paralisia cerebral, epilepsia e retardo mental).
Opções oe tratamento. Terapia materna precoce (antes da 1T
semana de gestação) com hiperimunoglobulina melhora o
prognóstico de fetos de mulheres com infecção primária
pelo CMV. O uso de agentes antivirais também está sendo
explorado para o tratamento da CMV congênita sintomáti
ca além do período neonatal. Agentes antivirais que atuam
especificamente contra o CMV são o ganciclovir (GCV).
valganciclovir (VGCV), foscamet (FOS) e cidofovir. O 12-3A Imagem ponderada em T2 em uma menina
VGCV é bem tolerado e pode melhorar ou ajudar a preser de três anos com CMV moslra hiperintensidades con-
var a função auditiva em lactentes infectados. fluentes na SB ES, cisto periventricular B e malfor
mações do desenvolvimento cortical

Imagem
Características gerais. As características de imagem da
CMV congênita incluem microcefalia com ventriculome
galia, calcificações intracranianas, lesões de substância
branca e distúrbios da migração neuronal. Como regra
geral, quanto mais precoce a infecção, mais graves são
os achados.

Achados de TC. Os exames de tomografia computadori


zada (TC) sem contraste mostram calcifícações intra
cranianas e ventriculomegalia na maioria dos lactentes
sintomáticos. As calcifícações são periventriculares. com
uma predileção pelas zonas de matriz geiminativa (Fig.
12-2A). Calcificações variam de numerosas e espessas ^ jt; i
bilaterais a sutis ou tênues focos puntiformes unilaterais.
As vezes, calcifícações podem estar completamente au i v. á/ i
sentes. Sua ausência não deve impedir o diagnóstico de 12-3B Imagem coronal em T2 da mesma paciente
CMV congênita. mostra hiperintensidades na SB periventricular BeS e
cistos nos lobos temporais
Achados de RM. A CMV exibe um amplo espectro de anor
malidades de ressonância magnética (RM), incluindo mi
crocefalia com ventriculomegalia, perda voluméírica da
substância branca, retardo na mielinização e cistos peri
ventriculares. Anormalidades migracionais estão presen
tes em cerca de 10 a 50% dos casos. Anormalidades cor-
ticais variam de pequenas disgenesias com padrão girai
simplificados e fissuras silvianas "abertas" até um padrão
lisencefálico quase agírico (Fig. 12-2B).
Imagens ponderadas em TI mostram focos hiperin-
tensos subependimários causados pelas calcifícações pe
riventriculares. Ventrículos aumentados com cistos germi-
nolíticos na substância branca adjacente são comuns.
Imagem com ponderação T2/FLA1R mostra retar
r "
do ou destruição da mielinização e perda volumétrica da
substância branca com hiperintensidades focais ou con-
fluentes na maior parte dos casos. Cistos periventricula
12-3C Imagem sagital em FLAIR mostra as hiperin
res, em especial no lobo temporal anterior, são comuns tensidades na SB BÉ3 e os cistos nos lobos temporais
(Fig. 12-3).
304 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

Ultrassonografia. a ultrassonografla mostra aumentos mite necrosante e obstrução aquedutal com hidrocefalia e
dos ventrículos. Focos hiperecogênicos periventriculares macrocefalia. e não microcefalia.

que correspondem às calcificações subependimárias são As síndromcs pseudoTORCH, como Baraitser-Re-


comuns. Cistos germinolíticos podem estar presentes ao ardon e Aicardi-Goutires, são raros distúrbios autossômi-

longo dos sulcos caudotalâmicos. Vasculopatia minerali- cos recessivos de desmielinização e degeneração. Calcifl-
zante lenticuloestriada ocorre em 25 a 30% dos casos e é cações nos núcleos da base e tronco encefálico são mais
vista como estrias ecogênicas curviiíneas uni ou bilaterais comuns do que o padrão subependimário característico da
no interior dos núcleos da base e dos tálamos. C M V.

A RM fetal é mais sensível do que a ultrassonografla


na detecção precoce das anonnalidades associadas ao CMV. Toxoplasmose congênita
Etiologia e patologia
Diagnóstico diferencial A toxoplasmose congênita (toxo) é causada por infecção
o diagnóstico diferencial da CMV congênita inclui outras intrauterina pelo Toxoplasma gondii, um parasita intrace
infecções TORCH, especialmente a toxoplasmose. A to- lular obrigatório ubíquo. Gatos domésticos infectados são
xoplasmose é muito menos comum e causa calcifícações a principal fonte da infecção, a qual é adquirida por car
parenquimatosas esparsas, não o padrão predominante ne mal cozida ou de alimentos (frutas e vegetais frescos)
mente subependimário observado na CMV. Microcrania contaminados por fezes de gato.
e displasia cortical também são menos comuns na toxo Macrocefalia com hidrocefalia e ependimite são ca
plasmose congênita. racterísticas macroscópicas proeminentes da toxo congê
A coriomeningite linfocítica (CL) pode simular nita. Diferentemente da infecção por CMV. malformações
CMV na TC sem contraste. A CL costuma causar ependi- do desenvolvimento cortical são raras.

12-4A Imagem axial de TC


sem contraste através dos ven
trículos laterais de uma menina
de 12 anos com retardo mental
e toxoplasmose congênita. Cal-
cificações puntiformes e lineares
envolvem primariamente o
córtex cerebral e a substância
branca subcortical. Somente uma
única calcificação periventricular
está presente ES, diferenciando
esse caso da infecção por CMV.
12-48 Imagem axial de TC
sem contraste no piano ventricu
lar superior da mesma paciente
mostra mais caicificações punti
formes periféricas.

12-4C Imagem axial de TC


sem contraste através das conve-
xidades cerebrais mostra a natu
reza periférica das caicificações
nessa criança com toxoplasmose
congênita. O padrão de calcifi
cação linear em "trilho de trem"
descrito em alguns casos é bem
demonstrado aqui ES.
12-4D Imagem axial em T2 da
mesma criança com toxoplasmo
se congênita mostra um padrão
normal de sulcos e giros, sem
evidência de malformações corti-
cais observadas na CMV.

Xv'» . . •> .4 . ' /


Infecções congênitas e infecções piogênicas e virais adquiridas 305

Aspectos clínicos não microcefalia - é típica. Malformações do desenvolvi


A toxoplasmose é a segunda infecçao congênita mais co mento cortical são comuns na CMV, porém raras na toxo.
mum. Aproximadamente cinco em 1.000 gestantes estão
infectadas com toxo. Estimativas do risco de transmissão HIV congênito (perinatal)
fetal variam de 10 a 100%. A apresentação radiológica do HIV congênito é muito dife
A toxo congênita causa hepatoesplenomegalia, retar rente dos achados da infecção por HIV/Aids adquirida. O
do do crescimento, coriorretinite e dano cerebral. Lacten- HIV congênito lembra as outras infecções virais congêni
tes com infecçao subclínica ao nascimento possuem risco tas e, portanto, é discutido aqui. A infecção por HlV/Aids
para retardo do desenvolvimento cognitivo e motor e de adquirida é abordada separadamente (ver Capítulo 14).
feitos visuais.
Etiologia
Imagem e diagnóstico diferencial O agente causador é o retrovirus da imunodeficiência hu
Com algumas exceções, as características de imagem da mana tipo i (HIV). Pelo menos 90% dos casos de HIV con
toxo congênita lembram às da CMV. A TC sem contraste gênito são transmitidos verticalmente (transmissão da mãe
mostra extensas calcifícações parenquimatosas, que são para o filho). A maioria dos lactentes se toma infectada ao
predominantemente corticais e subcorticais (Fig. 12-4). nascimento ou durante o terceiro trimestre. As vezes, lacten
As imagens de RM mostram múltiplos cistos subcorticais tes mais velhos são contaminados durante a amamentação.
e ventriculomegalia moderada a pronunciada.
O principal diagnóstico diferencial da toxo congênita é a Patologia
CMV. As calcifícações na toxo tendem a ser mais periféricas, o achado macroscópico mais característico é a redução
enquanto as da CMV são periventriculares. Macrocefalia - e volumétrica generalizada do cérebro com aumento simé-

12-5A TC sem contraste no


plano axial em uma criança de
cinco anos com HIV congênito
mostra calcifícações bilaterais e
simétricas nos núcleos da base
e na substância branca sub
cortical SI.
12-5B TC sem contraste do
mesmo paciente mostra calcifí
cações puntiformes e curvilíneas
razoavelmente simétricas nas

junções entre as substâncias


branca e cinzenta B3, causadas
por microangiopatia mineralizan-
te. (Cortesia de V. Mathews, MD.)

12-6A Imagem axial ponde


rada em T2 em um paciente de
11 anos mostra as manifestações
tardias do HIV congênito. Note os
ventrículos e sulcos proeminen
tes, bem como as hiperintensi-
dades multifocals na substância
branca.
12-68 Projeção submento-
-vértice de ARM obtida no mes
mo paciente mostra marcante
arteriopatia fusiforme em ambas
as artérias cerebrais médias ^3.
306 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

tricô dos ventrículos e espaços subaracnoides. Múltiplos (EHS) em indivíduos além do primeiro mês pós-natal; a
focos de microglia, macrófagos e células gigantes multi- EHS é discutida abaixo, junto com as outras infecções vi
nucleadas contendo partículas virais são típicos. Palidez e rais adquiridas.
vacuolização irregulares da mielina são comuns. Micro-
angiopatia mineralizante com calcificações nos núcleos Etiologia
da base e hipertrofia endotelial com vasculopatia cerebral Aproximadamente, 75 a 80% das encefalites herpéticas
ostensiva são observadas em alguns casos. neonatais são causadas pelo HSV tipo 2. O restante é cau
sado pelo HSVl. A morbidade e a mortalidade na ence
Aspectos clínicos falite neonatal pelo HSV2 são piores em comparação à
Epidemiologia. a infecção congênita por HIV está reduzin encefalite por HSVl.
do. uma vez que a terapia antirretrovira! altamente ati
va (HAART) está se tornando cada vez mais acessível. Patologia
Crianças representam apenas 2% de todos os pacientes A encefalite neonatal por HSV é uma doença difusa, sem
com HIV/Aids nos EUA e Europa, porém ainda represen a predileção pelos lobos temporais e sistema límbico ob
tam 5 a 25% dos casos no restante do mundo. Infecções servada em crianças mais velhas e em adultos.
congênitas e adquiridas por CMV relacionam-se forte Alterações precoces incluem meningoencefalite com
mente com a transmissão vertical do HIV. necrose, hemorragia e proliferação microglial. Atrofia
com encefalomalacia ostensiva e calcificações parenqui
Apresentação e história natural. Os sintomas em geral co
matosas são típicas do HSV em estágio final. A perda qua
meçam por volta das 12 semanas pós-natais. Retardo no
se total da substância cerebral com hidranencefalia é vista
desenvolvimento, disfunçào motora progressiva e res
em casos graves.
trição do crescimento são os sintomas mais comuns do
SNC. Hepatoesplenomegalia e linfadenopatia são mani
festações sistêmicas comuns do HIV congênito.
Aspectos clínicos
Epidemiologia. O HSV2 é um dos agentes infecciosos se
Aproximadamente. 20% dos lactentes infectados
morrem. Apesar de infecções oportunistas serem me xualmente transmitidos mais prevalentes em todo o mun
nos comuns em crianças infectadas pelo HIV do que do. Aproximadamente, 2% das mulheres são infectadas
em adultos, acidentes vasculares cerebrais são mais co pelo HSV2 durante a gestação. A maioria é assintomática,
m u n s .
e muitos indivíduos acometidos não têm conhecimento da

doença. A infecção neonatal por HSV é transmitida verti


Imagem calmente, ocorrendo em cerca de um em 3.200 partos nos
o achado mais marcante e consistente é a atrofia, em par Estados Unidos. A prevalência é maior em afrodescenden-
ticular nos lobos frontais. Calcificações bilaterais e simé tes, mães com baixas condições econômicas e mães com
tricas nos núcleos da base são comuns (Fig. 12-5). Calci múltiplos parceiros sexuais.
A maior parte (85%) do HSV neonatal é adquirida
ficações são ocasionalmente identificadas na substância
branca hemisférica e no cerebeio.
no parto, e 10% contraídos de forma pós-natal. Somente
Ectasia e aumento fusiforme das artérias intracra 5% dos decorrem de transmissão intrauterina. O risco

nianas são encontrados em 3 a 5% dos casos (Fig. 12-6). é aumentado com a infecção materna primária durante
Infartos com focos de restrição à difusão podem ocorrer o terceiro semestre e pode ser reduzida pelo parto por
como complicações da vasculopatia subjacente. cesariana.

Apresentação. A infecção neonatal por HSV causa três


Diagnóstico diferencial padrões de doença: (1) doença de pele, olhos e boca, (2)
Os diagnósticos diferenciais do HIV congênitos são as encefalite e (3) doença disseminada com ou sem acome
outras infecções TORCH. A citomegalovirose é caracte timento do SNC. Aproximadamente, 50% de todos os
rizada por calcificações periventriculares, microcefalia e lactentes com HSV neonatal terão envolvimento do SNC,
displasia cortical. Com exceção da redução volumétrica. seja isolado ou como parte de doença disseminada.
o cérebro no HIV congênito possui aspecto normal. A to- Letargia, febre, amamentação prejudicada, crises
xoplasmosc é muito menos comum do que CMV e causa convulsivas e abauiamento das fontanelas são comuns. O
calcificações parenquimatosas esparsas, e não lesões si início típico dos sintomas secundários à infecção peripar-
métricas nos núcleos da base. to por HSV acontece em 2 a 4 semanas após o parto (pico
= 16 dias). O diagnóstico definitivo é baseado no PCR ou
Encefalite herpética congênita isolamento viral de vesiculas ulceradas e/ou lesões muco-
cutâneas escarificantes.
Terminologia
O acometimento do SNC na infecção pelo vírus herpes História natural. O óbito com um ano de vida ocorre em

simples (HSV) é chamada HSV congênita ou neonatal cerca de 50% dos neonatos não tratados com doença evi
quando envolve neonatos e encefalite por herpes simples dente do SNC, e em 85% dos neonatos com infecção dis-
infecçõGs congênitas e infecçoes piogénlcas e virais adquiridas 307

12-7 Imagem de difusão sem contraste em um neonato com encefa- 12-8 imagem de difusão em um lactente de duas semanas com crises
lite por HSV2 mostra hipodensidade confluenle disseminada nas subs- convulsivas e fontaneias abauladas demonstra extensos focos de restri-
tâncias branca e cinzenta Os núcleos da base estão relativamente çâo à difusão em ambos os fiemisférios ES. Encefalite por HSV2.
poupados.

seiTiinada. Metade dos sobreviventes apresentam surdez estágios precoces, mas podem se desenvolver depois e são
permanente, perda visual, paralisia cerebral e/ou epilepsia. melhor observados nas seqüências T2* (GRE, SWI).
Focos de realce irregular, com ou sem realce meníngeo,
Opções de tratamento. A terapia antiviral com altas doses são comuns nas imagens em TI pós-conlraste. Nos estágios
de aciclovir reduz significativamente a morbidade, em es
tardios, encurtamento TI e hipointensidade T2 com artefa
pecial em lactentes com doença disseminada, e deve ser tos de susceptibilidade magnética em T2* ORE secundários
iniciada assim que ocorrer suspeita de encefalite perinatal a focos hemorrágicos podem se desenvolver (Fíg. 12-9).
por HSV. A seqüência de difusão é a chave para o diagnóstico
da encefalite herpética congênita. Em metade dos pacien
Imagem
tes, a difusão demonstra doença bilateral ou significativa
Diferentemente da encefalite herpética da infância ou mente mais extensa do que o observado na RM conven
adulta, a infecção neonatal do SNC por HSV é muito mais cional (Fig. 12-8). Áreas de restrição à difusão podem ser
difusa. Tanto a substância branca quanto a cinzenta são os únicos achados positivos em casos precoces. A doença
afetadas. em estágio tardio mostra grande perda volumétrica com
Achados de TC. A TC sem contraste pode ser normal no venlrículos dilatados e encefalomalacia mullicística (Figs.
período precoce da doença, porém áreas disseminadas de 12-10 e 12-11).
hipoatenuação envolvendo o córtex e a substância branca UiTRASSONOGRAFlA. A ultrassonografia demonstra ecos li
subcortical logo se tornam evidentes (Fig. 12-7). Hemor neares nos núcleos da base, similares aos da CMV.
ragias podem se desenvolver e são vistas como hiperden-
sidades multifocals puntiformes e curvilíneas nos núcleos Diagnóstico diferencial
da base e no córtex.
o principal diagnóstico diferencial do HSV neonatal são
Achados de RM. A RM é a modalidade de escolha nos ca as outras infecçoes TORCH. Neonates com HSV são
sos suspeitos para HSV neonatal, embora o cérebro neo normais nos primeiros dias de vida. Imagens cerebrais são
natal pouco mielinizado tome difícil a diferenciação entre normais ou minimamente anormais nas fases precoces do
a infecção e o cérebro não afetado. curso da doença. CalcificaçÕes e anomalias migracionais
Nos estágios precoces, as imagens em TI podem ser estão ausentes.

normais ou demonstrar leve hipointensidade nas áreas Em alguns casos, o HSV causa insulto isquêmico
afetadas. T2/FLAIR são mais sensíveis. Hiperintensidade com distribuição nas áreas de fronteira vascular e longe
no córtex, na substância branca subcortical e nos núcleos das lesões herpéticas primárias, dificultando a distinção
da base é típica. Focos hemorrágicos são incomuns nos com dano hipóxico-isquêmico (DHl). Entretanto, lacten-
308 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

12-9A Um lactenle de quatro


semanas filho de mãe H5V2-po-
sitiva teve vários dias de febre e
letargia. As imagens em T1 mos
tram múltiplos e bilaterais focos
de encurtamenlo TI no cortex e
nos núcleos da base ES, suges
tivos de hemorragia subaguda.
12-9B Imagem em plano
mais superior do mesmo pacien
te mostra áreas adicionais de en-
curtamento Ti no cortex ES

12-9C Imagem em T2 do
mesmo lactente obtida um mês
depois mostra alterações dramá
ticas de encefalomalacia multi-
cistica com níveis sangue-líquido
B. Note as extensas áreas em
forma de fita de encurtamento
T2 no córtex BI, secundárias à
hemorragia.
12-9D Imagem em plano
mais superior do mesmo pacien
te ilustra a extensa encefalo
malacia cistica subjacente mais
focos de encurtamento T2 nos
giros S. Esse caso ilustra tanto
as alterações precoces quanto as
tardias do HSV congênito.

12-10 Cérebro de um lactente


com HSV em estágio terminal
mostra ventrículos marcadamen-
te aumentados e extensa ence
falomalacia cistica em ambos os
hemisférios 1^1.
12-11 Imagem coronal em
FLAIR em um lactente microce-
fálico com história de infecção
periparto por HSV2 mostra exten
sa encefalomalacia cistica B e
gliose B.
Infecções congênitas e Infecções piogênicas e virais adquiridas 309

tes de termo com DHl seguem um curso clínico diferente,


tornando-se sintomáticos no período intraparto ou pós-
-nataí imediato. O DHI profundo afeta o córtex e os sul
cos perirrolândicos, a substância branca, os hipocampos e
os núcleos profundos, incluindo os tálamos ventrolaterais.
Hemorragia com artefatos de susceptibilidade magnética
em T2* GRE é incomum.

Outras infecções congênitas


Rubéola
Os humanos são os únicos hospedeiros do vírus da rubéo
la. A transmissão é via secreçòes respiratórias contamina
das. Com o advento da vacina tríplice viral, a prevalência
global da síndrome da rubéola congênita (SRC) tem re
duzido drasticamente. Cerca de 100.000 crianças nascem
12-12A Imagem de TC sem contraste em um
com SRC, a maior parte em países com baixos índices na
menino de 18 meses com rubéola congênita mostra
cionais de vacinação. calcificações sutis subcorticais B e nos núcleos da
A infecção precoce intraútero resulta em aborto, em baseB.
óbito fetal ou em malformações congênitas nas crianças
sobreviventes. A infecção tardia causa perda volumétrica
cerebral generalizada, calcificações distróficas e regiões
de desmielinização e/ou gliose.
O espectro clínico da SRC inclui defeitos, oculares,
auditivos cardíacos e craniofaciais. Achados de imagem
são inespecíflcos, variando de calcificações parenqui-
matosas nos exames de TC sem contraste a múltiplos
focos de hiperintensidade em T2/FLA1R e redução vo
lumétrica com sulcos e ventrículos levemente alargados
(Fig. 12-12).

Sífills congênita
A sifilis congênita (SCong) é causada pela passagem
Iransplacentária da espiroquela Treponema pallidum em
mães com sífilis não tratada. A prevalência de SCong é
baixa na maior parte dos países desenvolvidos, embora te 12-12B imagem ponderada em T2 no mesmo pa
ciente mostra atraso marcante na mielinização e hipe-
nha havido uma leve ressurgência da doença descrita em
rintensidades periventricuíares simétricas B.
vários países europeus.
Até 60% dos lactentes infectados com SCong são as-
sintomáticos ao nascimento. Os sintomas se desenvolvem
mais tarde na infância, são sutis e inespecíficos e incluem
crises convulsivas, acidentes vasculares cerebrais e sinais
de aumento da pressão intracraniana.
Os achados de imagem mais comuns na SCong são
hidrocefalia e meningite com realce leplomeningeo.
: í>; V
Corlomenlngite linfocítica
A coriomeningile linfocítica (CL) congênita é uma rara
infecção congênita causada por um arenavirus hospedado
por hamsters selvagens e camundongos domésticos. Sua
incidência durante a gestação é desconhecida.
A CL causa uma ependimile necrosante com obstru
ção aquedutal e hidrocefalia. O aspecto da imagem da CL
é quase idêntico ao da CMV e toxo, com calcificações es 12-13 TC sem contraste em um lactente com corio
parsas nos núcleos da base ao exame de TC sem contraste meningile linfocítica congênita mostra calcificações es
(Fig. 12-13). parsas no parênquima E3 e nos núcleos da base Ei9.
310 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

12-14A Cérebro submetido à necropsia mostra alterações típicas de 12-14B O exsudato reveste o bulbo B e preenche completamente
meningite grave com denso exsudato puruiento cobrindo a ponte , re- a cisterna magna (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
vestindo os nervos cranianos 3 e preenchendo as cisternas basais ^

INFECÇÕES TORCH(S) Infecções piogênicas adquiridas


Terminologia Meningite
• Acrônimo para
o Toxoplasmose Terminologia
o Rubéola Meningite é um infiltrado inflamatório agudo ou crônico
o Citomegalovírus das meninges e do líquido cerebrospinal (LCS). Paqui-
o Herpes
meningite acomete a dura-aracnoide; leptomeningite
o Sífilis
afeta a pia e os espaços subaracnoides.
• Outras
o HIV
o Rubéola
Etlologla
o Coriomeníngite linfocítica A meningite pode ser adquirida de várias maneiras dife
rentes. Disseminação hematogénica a partir de infecção
Patologia sistêmica remota é a rota mais comum. Extensão geográ
• Momento da infecção durante o desenvolvimento
fica direta de sinusile, otite e mastoidile é o segundo mé
fetal determina a patologia do insulto todo mais comum de disseminação. Lesões penetrantes e
• Momento mais importante do que o agente
fraturas de crânio (especialmente da base do crânio) são
específico envolvido
o Insulto precoce malformações cerebrais raras, porém importantes causas de meningite.
o Insulto tardio -> alterações destrutivas e Muitos agentes infecciosos diferentes podem causar
encefaloclásticas meningite. A maior parte dos casos é causada por infecção
piogênica (bacteriana) aguda. A meningite também pode
Achados gerais de Imagem ser linfocítica (viral) aguda ou crônica (tuberculosa ou
• Calcificações
o Periventriculares (especialmente CMV) granulomatosa).
o Parenquimatosas (especialmente toxo) O agente responsável mais comum varia conforme
• Microcefalia, ventriculomegalia a idade, geografia e estado imune. A meningite estrep-
• Defeitos migraclonais tocócica P-hemolítica do grupo B é a principal causa de
o Pollmicrogiria meningite neonatal em países desenvolvidos, enquanto
o Esquizencefalia organismos gram-negativos entéricos (Escherichia coli,
• Redução volumétrica menos comumente Enterobacter ou Citrobacter) causam
• HIperintesidades na substância branca a maioria dos casos nos países em desenvolvimento.
• Cistos germinolíticos A vacinação reduziu a incidência de meningite por Ha
emophilus influenzae, então a causa mais comum de menin-
Infecções congênitas e infecções piogénlcas e virais adquiridas 311

/ *

l /> ' ^ ■
•V' " À

12-15 Ilustração de meningite mostra o exsudato purulento difuso 12-16 Corte axial da necropsia mostra meningite com exsudato pre
que envolve as leptomeninges e preenche as cisternas basais e os sal enchendo completamente a cisterna suprasselar Í!^ e as fissuras silvia-
vos. O cérebro subjacente está levemente hiperêmico. nasíS. (Cortesia de R. Hewlett, MO.)

gite bacteriana na infância atualmente é a Neisseria rnenin- classes sociais. A prevalência global de meningite é esti
gUidis. A meningite em adultos é causada por Streptococcus mada em 3:100.000 em países industrializados. Nos Es
pneumoniae ou N. meningitidis. Listeria monocytogenes., tados Unidos, meningite é diagnosticada em 62:100.000
S. pneumoniae e N. meningitidis afetam pacientes idosos. consultas de pronto atendimento.
A meningite tuberculosa é comum em países em desen
volvimento e em pacientes imunocomprometidos (p. ex.. Apresentação. A apresentação depende da idade do pacien
te. Em adultos, cefaleia, febre, rigidez nuca! e alteração do
HIV/Aids e receptores de órgãos sólidos transplantados).
estado mental são sintomas comuns. Febre, letargia e irri-
Patologia tabilidade são comuns em lactentes. Crianças com infecção
Localização. As cisternas basais e os espaços subaracnoi- por M meningitidis podem desenvolver um exantema pur-
des são os espaços liquóricos mais envolvidos pela me púrico. Crises convulsivas ocorrem em 30% dos pacientes.
O LCS mostra leucocitose (majoritariamente células
ningite (Figs. 12-14, 12-15 e 12-16), seguidos pelos sul
cos da convexidade cerebral. polimorfonucleares), proteína elevada e baixa glicose.

Patologia macroscópica. LCS turvo preenche os espaços História natural. Apesar da identificação rápida e de tera
subaracnoides, seguido pelo desenvolvimento de um ex pia efetiva, a meningite ainda apresenta taxas significati
sudato purulento variavelmente denso que recobre as su vas de morbidade e mortalidade. índices de óbito de 15
a 25% têm sido relatados em crianças prejudicadas com
perfícies piais. Vasos dentro do exsudato podem demons
trar alterações inflamatórias e necrose. pobres condições de vida.
As complicações são comuns c numerosas. A hidro-
Características microscópicas. O exsudato rneningeo contém ccfalia obstrutiva extraventrlcular é uma das complica
os organismos responsáveis, células inflamatórias, fibrina
ções mais precoces e comuns. O plexo coroide pode ser
e debris celulares. O parênquima cerebral subjacente com infectado, causando plexitecoroide e. em seguida, ven-
freqüência se encontra edematoso, com proliferação as- triculitc. A infecção também pode estender-se da pia ao
trocitica e microglial subpial.
longo dos espaços perivasculares para o interior do parên
A meningoencefalite mostra alterações inflamatórias
quima, causando cerebríte e abscesso.
na pia, e os espaços perivasculares podem agir como um
Emplemas sub e epidurais ou efusôes estéreis podem
conduto para a extensão da pia para o interior do parên
se desenvolver. Complicações cerebrovasculares da me
quima cerebral subjacente. ningite incluem vasculitc, trombose e oclusão tanto de ar
térias quanto de veias.
Aspectos clínicos
Epidemiologia e demografia. Meningite piogênica é a causa Opções de tratamento. Terapia específica com antibióticos
mais comum de encefalopatia febril aguda e afeta todas as deve ser baseada na cultura e na sensibilidade.
312 Infecçào, inflamação e doenças desmielinizantes

A TC com contraste mostra realce intenso do exsuda


Imagem
Características gerais. Os exames de imagem devem ser to inflamatório que recobre a superfície cerebral, esten
utilizados em conjunto com - e não como substitutos dendo-se para o interior dos sulcos e os recobrindo (Figs.
12-17B, 12-18Be 12-19).
para - a avaliação clínica e laboratorial apropriada. Os
exames de imagem são melhor aplicados para confir Achados de RM. Os exsudatos purulentos da meningite
mar o diagnóstico e investigar possíveis complicações. aguda são isointensos ao cérebro subjacente na pondera
Enquanto a TC é empregada como um exame de tria ção em TI, dando uma aparência "suja" ao LCS. Os ex
gem em caso de suspeita de meningite, tanto as mani sudatos são isointensos ao LCS em T2 e não suprimem
festações primárias e agudas da meningite, bem como no FLAIR (Fig. 12-20A). Hiperintensidade nas cisternas
suas complicações secundárias, são melhor demonstra subaracnoides e nos sulcos superficiais em FLAIR é um
das na RM. achado típico da meningite, porém inespecífico.
Achados de TC. Os exames iniciais de TC sem contraste
A seqüência de difusão é útil na meningite, uma vez
podem ser normais ou mostrar apenas leve dilataçào ven que o exsudato purulento no espaço subaracnoide mostra
tricular (Fig. 12-17A). Margens ventriculares "borradas" restrição à difusão (Fig. 12-21B). A meningite realça in
indicam hidrocefalia obstrutiva aguda com acúmulo de tensa e uniformemente na seqüência em TI pós-contraste
líquido extracelular na substância branca profunda. A ja (Figs. 12-20B, 12-20C e 12-21 A). Um padrão curvilíneo
nela óssea da TC deve ser cuidadosamente examinada em que segue os sulcos e giros (o padrão "pial-cisternal") é
busca de sinusite e otomastoidite.
mais comum do que realce da dura-aracnoide. Aquisições
Conforme o exsudato celular se desenvolve, ele subs
tardias em FLAIR após a administração de contraste po
titui o normalmente límpido LCS. As cisternas e os sulcos dem ser uma adição útil na detecção de casos sutis.
mostram-se apagados enquanto se tornam quase isoden- Angiografia. Focos irregulares de constríção e dilatação
sos ao cérebro (Fig. I2-I7A). característicos de vasculite podem ser identificados na an-

12-17A TC sem contraste


mostra alterações típicas da
meningite, com ventrículos di
latados, margens discretamente
"borradas" É3 e apagamento
das cisternas suprasselar e inter
peduncular
12-17B Imagem de TC com
contraste do mesmo paciente
mostra exsudato com realce
preenchendo as fissuras silvianas
E3, recobrindo a superfície da
ponte e da cisterna interpedun
cular

12-18A Imagem de TC sem


contraste em uma criança com
meningite mostra sulcos preen
chidos com LCS de aspecto rela
tivamente normal no hemisfério
cerebral direito B. Em con
traste, os sulcos da convexidade
esquerda estão obliterados B
e preenchidos com pus, pare
cendo quase isodensos ao córtex
subjacente.
12-18B Imagem de TC com
contraste do mesmo paciente
mostra realce intenso no exsuda
to do lado esquerdo, que cobre
a superfície cerebral e preenche
completamente os sulcos
Infecções congênitas e infecções piogênicas e virais adquiridas 313

12-19 Visão aproximada de


um cérebro submetido à necrop-
sta mostra exsudato purulento
preenchendo os espaços suba-
racnoides e obiiterando os sulcos
da convexidade Si. (Cortesia de
R. Hewlett, MD.)
12-20A Imagem em FLAIR em
um paciente com meningite pio-

' fe • 2- m.
gênica mostra hiperintensidade
i/T ' t ^ f > cobrindo as superfícies piais de
todos os giros da convexidade
E 2

12-20B Imagem em TI pós-


-contraste do mesmo paciente
mostra realce difuso e intenso
das cisternas basais e dos sulcos
B .
12-20C Imagem através da
coroa radiada do mesmo pacien
te mostra que a impregnação
recobre as superficies piais dos
giros e preenche os sulcos da
convexidade B. Achados clássi'
COS da meningite piogêníca.

12-21A Imagem em TI pós-


-contraste em um caso especial
mente grave de meningite pio-
gênica mostra exsudato difuso e
com realce intenso preenchendo
todos os sulcos da convexidade

rr
B .

j 12-21B Imagem em difusão


do mesmo paciente mostra que
o pus nos sulcos apresenta forte
restrição à difusão E3.

B
314 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

giotomografla computadorizada (ATC) e angiografia com Complicações menos comuns incluem pioencéfalo
subtração digital (ASD). (ventriculite), empiema (Fig. 12-23), cerebrite e/ou absces-
so, e isquemia. Todas são discutidas separadamente a seguir.
Complicações oa meningite. Com exceção da hidrocefalia,
complicações da meningite são relativamente incomuns.
Efusões reativas pós-meningite - bolsas estéreis de líqui Diagnóstico diferencial
do semelhante à LCS - desenvolvem-se em 5 a 10% das O principal diagnóstico diferencial da meningite infeccio
sa é a meningite "carcinomatosa", a qual pode ter aspec
crianças tratadas para meningite bacteriana aguda. Efu
sões em geral são lesões benignas que regridem esponta to idêntico nos exames de imagem, portanto a informação
neamente em alguns dias e não requerem tratamento. clínica é essencial. Lembre-se: hiperintensidade nos sulcos/
Efusões podem ocorrer tanto no espaço subdural cistemas em FLAIR é um achado inespecífico e pode ser ob
servado em um número de diferentes entidades (ver quadro).
(mais comum) quanto no espaço subaracnoide. As conve-
xidades frontais, parietais e temporais são os locais mais
comuns. A TC sem contraste mostra coleções bilaterais
CAUSAS DE LCS HIPERINTENSO EM FLAIR
extra-axiais em forma de crescente que são iso a levemen
te hiperdensas em comparação ao LCS nonnal. Comuns
Efusões são iso a levemente hiperintensas ao LCS em TI • Sangue
e isointensas em T2. Elas são com freqüência discretamente o Hemorragia subaracnóidea
• Infecção
hiperintensas ao LCS em FLAIR (Fig. 12-22A). Efusões
não realçam na seqüência em TI pós-contraste, porém de o Meningite
• Artefato
monstram realce ao longo da superfície mediai (cerebral) das
o Susceptibilidade
lesões. As efusões não restringem na seqüência de difusão,
o Fluxo
diferenciando-as dos empiemas subdurals (Fig. 12-22B).

12-22A Imagem axial em


FLAIR em um homem de 60 anos
com cefaleia e história recente
de meningite estafilocócica mos
tra uma delgada coleção líquida
subdural hiperintensa B3. A
coleção não apresentou realce na
seqüência Ti pós-contraste (não
mostrada).
12-22B Imagem em difusão
do mesmo paciente não mostra
restrição à difusão. Efusão subdu
ral. (Cortesia de P. Hildenbrand,
MD.)

12-23A Imagem axial em TI


pós-contraste em uma criança
com meningite piogênica mostra
realce do espaço pia-subarac-
noide que segue a superfície
do cérebro, estendendo-se para
os sulcos B. Uma pequena
coleção líquida bifrontal B está
presente.
12-23B Imagem coronal em
TI pós-contraste mostra que a
meningite se estende sobre a su
perfície cerebral E3. As coleções
líquidas estão envoltas por uma
espessa membrana B sob a
calota craniana. Empiemas sub-
durais complicando a meningite.
Infecções congênitas e infecções piogênicas e virais adquiridas 315

12-24 Ilustração axial mostra cerebrite precoce (a fase inicial da for 12-25 Espécime de necropsia de um paciente com sepse e crises con
mação do abscesso) no lobo frontal direito. Há uma massa focai não en- vulsivas mostra dois pequenos focos de cerebrite precoce com edema não
capsulada de fiemorragia petequial, células inflamatórias e edema (S. encapsulado e fiemorragias petequials 31. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)

Abscesses são mais bacterianos, porém eles também


• Tumor
podem ser tungicos, parasitários ou (raramente) granulo-
o Metástases no LCS
malosos. Embora uma miríade de organismos possa indu
Menos comuns zir a formação de abscessos, os agentes mais comuns em
• Elevado oxigênio inspirado adultos imunocompetentes são as espécies de Streptococ
o 4-5x o sinal com 100% de O2 cus, Staphilococcus aureus e pneumococos. O Citrobac-
• Vasos proeminentes ter é um agente comum em neonatos. Em 20 a 30% dos
o Acidente vascular cerebral (colaterais piais)
abscessos, as culturas são estéreis e não é identificado um
o /vys/gn (moya-moya)
o Angioma piai (Sturge-Weber) organismo causador específico.
Moléculas pró-inflamatórias, como o fator de necrose
Raros, porém importantes tumoral-a (TNF-a) e a interleucina-l-p (1L1-|3) induzem
• Gordura (dermoide roto) várias moléculas de adesão celular (MAC) que facilitam o
• Gadolínio no LCS extravazamento de células do sistema imune periféricas e
o Insuficiência renal
promovem o desenvolvimento do abscesso.
o Quebra na barreira hematoencefálica
Os abscessos bacterianos são relativamente incomuns
em pacientes imunocomprometidos. Klebsiella é comum
em diabéticos, e infecções fiingicas por AspergillusQ No-
Abscesso cardia são comuns em receptores de transplantes. Em pa
cientes com HlV/Aids, toxoplasmose e tuberculose são as
Terminologia
Uin abscesso cerebral é uma infecçao localizada do parên- infecções oportunistas mais comuns.
quinia cerebral. Patologia
Etiologia Quatro estágios gerais são reconhecidos na evolução de
um abscesso cerebral: (I) cerebrite precoce, (2) cerebrite
A maioria dos abscesses é causada pela disseminação
tardia, (3) encapsulação precoce e (4) encapsulação tardia.
hematogênica de uma localização extracraniana (p. ex., Cada uma possui seu próprio aspecto patológico distinto,
infecção pulmonar ou urinária, endocardite). Abscesses o qual determina os achados de imagem.
também podem resultar de lesão penetrante ou extensão
geográfica direta de infecção, como sinusite ou otomas- Cerebrite precoce. No estágio de cerebrite precoce da for
toidite. Essas começam como infecções extracranianas, mação de abscesso. a infecção é focai, porém ainda não
como empiema (ver a seguir) e, então, espalham-se para o localizada (Fig. 12-24). Uma massa de leucócitos e bac
interior do cérebro propriamente dito. térias não encapsulada, edematosa e hiperémica está en-
316 Infecção, inflamaçao e doenças desmielinizantes

12-26 Caso de necropsia demonstra os achados patológicos tipicos da 12-27 Outro caso de necropsia mostra os achados típicos de abscesso
cerebrile tardia, com significativos efeito de massa e edema. A lesão co- cerebral no estágio de encapsulação precoce. O núcleo necrótico liqüe
alescente mostra alguma necrose central [S e uma borda mal definida feito da lesão é circundado por uma cápsula bem desenvolvida í—»].
de hemorragias petequiais SI. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)

tremeada com focos necróticos esparsos e hemorragias D e m o g r a fi a . A b s c e s s o s c e r e b r a i s o c o r r e m e m t o d a s a s


petequiais (FIg. 12-25). A cerebrite precoce começa três a idades, porém são mais comuns em pacientes com 30 a
cinco dias depois da infecção inicial. 40 anos. Quase 25% ocorrem em crianças com menos
Cerebrite tardia. O próximo estágio na formação do abs de 15 anos. A relação H;M é 2:1 em adultos e 3:1 em
cesso é a cerebrite tardia, a qual começa em 4 a 5 dias crianças.
após a infecção e dura entre 10 dias e duas semanas. Os Apresentação. Cefaleia, crises convulsivas e déficits neu
focos necróticos coalescem, formando um núcleo con- rológicos focais são os sintomas típicos de apresentação.
fluente. O centro necrótico é circundado por uma borda Febre é comum, porém não é universal. As culturas de
pobremente organizada de células inflamatórias, macró- LCS podem ser normais na fase precoce da infecção.
fagos. tecido de granulaçao e fibroblastos. Proliferação
Prognóstico. Abscessos cerebrais são lesões potencial
capilar e edema vasogênico circunjacente tomam-se mais
mente fatais, porém tratáveis. O rápido diagnóstico, ci
proeminentes (Fig. 12-26).
rurgia estereotáxica e tratamento médico apropriado têm
Encapsulação precoce. O estágio de encapsulação precoce reduzido a mortalidade para 2 a 4%.
começa em cerca de duas semanas e pode durar um mês
ou dois. O núcleo necrótico se liqüefaz, e tecido de granu- Imagem
lação proliferative circunjacente à borda forma uma cáp Características gerais. Os achados de imagem evoluem
sula colagenosa bem delimitada (Fig. 12-27). O edema com o tempo e estão relacionados ao estágio do desenvol
vasogênico começa a reduzir. vimento do abscesso cerebral. A RM é mais sensível do

Encapsulação tardia. Com o tratamento, a cavidade central que a TC, e considerada a modalidade de escolha.
gradualmente involui e reduz de tamanho, a deposição de Cerebrite precoce. A cerebrite muito precoce pode ser in
colágeno espessa ainda mais a parede, e o edema vaso visível na TC. Uma massa hipodensa mal delimitada cor-
gênico circundante desaparece. Esse estágio de encapsu tical/subcortical é o achado mais comum (Fig. 12-28A).
lação precoce tem início várias semanas após a infecção A cerebrite precoce freqüentemente apresenta pouco ou
e pode durar muitos meses. Finalmente, somente um pe nenhum realce na TC com contraste.
queno nódulo gliótico de colágeno e llbroblastos, que não A cerebrite precoce é hipo a isointensa na ponderação
apresenta realce, permanece. TI e hiperintensa em T2/FLA1R. A seqüência T2* GRE
pode mostrar focos hemorrágicos puntiformes com arte
Aspectos clínicos fatos de susceptibilidade. Realce irregular pode ou não
Epídemiologia. Abscessos cerebrais são raros. Somente estar presente. A seqüência de difusão mostra restrição à
2.500 casos são relatados anualmente nos EUA. difusão (Fig. 12-28).
Iníecções congênitas e infecções piogênicas e virais adquiridas 317

12-28A Um rapaz de 16 anos


com uma história de cefaleia,
náuseas, vômitos e desorienta
ção com dois dias de evolução
após uma infecção das vias aére
as superiores. A TC sem contraste
mostra uma hipodensidade mal
definida B com leve efeito de
massa no lobo temporal direito
posterossuperior. Como a lesão
envolvia o córtex e a SB subcor
tical, o diagnóstico inicial foi de
acidente vascular.
12-28B RM foi obtida. Ima
gem ponderada em TI mostra
uma massa hipointensa mal
definida B no lobo temporal
posterior.

12-28C Imagem ponderada


em T2 do mesmo paciente mos
tra uma massa mista iso e hipe-
rintensa B
12-28D Imagem em difusão
mostrada teve restrição á difusão
na periferia B e no centro B
da lesão, um aspecto não espe
rado para um infarto cerebral
tardio.

v j r. k - M

12-28E Imagem em Ti pós-


-contraste mostra um diminuto
foco de realce B no centro da
grande massa sem realce. A área
de realce corresponde ao ponto
central de restrição à difusão
notado na seqüência da imagem
em difusão.
12-28F Imagem coronal em
TI pós-contraste discretamente
tardia mostra o foco de realce
bem como uma tênue
borda de realce na periferia da
lesão B. Achados de imagem
típicos de cerebrite precoce.
318 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

12-29A Imagem axial em TI


de um menino de 12 anos com
uma história de sintomas gripais
com cinco dias de evolução e
ceíaleia crescente mostra uma
massa predominantemente
hipointensa S com uma borda
incompleta discretamente hipe-
rintensa B
12-29B Imagem em T2 mos
tra sinal de "dupla borda" com
uma borda externa hipointensa
e outra borda interna hipe-
rintesa Hl.

12-29C A borda LS é hipe-


rintensa em FLAIR. Moderado
edema periférico está presente.
12-29D Imagem em 11 pós-
-contraste mostra realce na
borda B que circunda o centro
da massa.

12-29E A seqüência de di
fusão mostra que o centro da
lesão apresenta forte restrição à
difusão B.
12-29F Êspectroscopia de pró-
tons da cavidade com TR=2.000
e TE=35. Aminoácidos (valina,
ieucina e isoleucina) em 0,9 ppm
B, acetato em 1,9 ppm B
iactato em 1,3 ppm B e suc
cinate em 2,4 ppm (seta dupla).
Achados de imagem são compa
tíveis com abscesso nas fases de
U
cerebrite tardia/encapsulação
precoce.
Infecções congênitas e infecções piogênicas e virais adquiridas 319

12-30A Imagem axial em Ti


pós-contraste em um homem de
65 anos com abscesso dentário
e história de cefaieia por duas
semanas mostra uma massa com

realce aneiar na região posterior


do lobo frontal esquerdo E3.
12-30B Imagem coronal em
TI pós-contraste mostra que a
parede do abscesso é mais
delgada no seu aspecto profundo
19, próximo ao ventricuto late
ral. Note o edema e o efeito de
massa no ventrículo.

12-30C A massa apresenta


forte restrição à difusão da água
S 3 .
12-30D O mapa AOC mostra
que a massa 131 é bastante
hipointensa em comparação com
o parênquima cerebral normal,
confirmando que a hiperinten-
sidade observada na difusão
representa realmente restrição
à difusão. A hiperintensidade
9 circunjacente ã massa é o
edema.

12-30E O paciente foi tratado


com antibióticos endovenosos
por seis semanas. O exame de
controle mostra um pequeno nó-
dulo residual com contraste B,
com resolução quase completa
do edema.
12-30F Exame de controle em
TI pós-contraste um ano depois
mostra apenas um pequeno foco
hipointenso remanescente, sem
realce ES.
320 Infecçao, inflamação e doenças desmielinizantes

Cerebrite tardia. Uma massa central hipodensa melhor de


limitada com edema circunjaceníe é observada na TC sem
contraste. A TC com contraste mostra realce periférico
irregular.
A cerebrite tardia possui um centro hipointenso e uma
borda iso a levemente hiperintensa em Ti. O centro da
cerebrite é hiperintenso em T2, enquanto a borda é rela
tivamente hipointensa. Realce periférico intenso, porém
irregular, está presente nas imagens em TI pós-contraste.
A cerebrite tardia apresenta forte restrição à difusão da
água. A espectorscopia de protons mostra aminoácidos ci-
tosólicos (0,9 ppm), lactato (1,3 ppm) e acetato (1,9 ppm)
no centro necrótico (Fig. 12-29). A parede do abscesso de
monstra baixo rCBV na perfusao por RM (pRM).

Encapsulaçào precoce. Abscessos na fase de encapsula-


12-31 Necropsia de um caso de RIVAC mostra ção precoce são massas arredondadas ou ovoides bem
infecção ependimária 13), plexo coroide [3] e pus delimitadas com centros liqüefeitos hiperintensos em
aderido às paredes ventriculares IS. (Cortesia de R.
T2/FLAIR. A borda do abscesso é geralmente fina e hi
Hewlett, MD.)
pointensa em T2. Um sinal da "dupla borda", demons
trando dois anéis concêntricos, o externo hipointenso e o
intenso hiperintenso em relação ao conteúdo da cavidade,
é observado em 75% dos casos (Fig. I2-29B). As bordas
do abscesso tomam-se mais hipointensas nas imagens em
T2* SWI. O centro necrótico dos abscessos encapsulados
restringe fortemente na difusão (Fig. 12-30).
As seqüências com em TI pós-contraste mostram
uma fina parede com realce. A parede dos abscessos en
capsulados é mais afilada no seu aspecto interno (ventri
cular) (Fig. I2-30B). Abscessos "filhos" (lesões satélites)
estão presentes em 10 a 15%.

Encapsulaçào tardia. Conforme a cavidade é colapsada,


a cápsula se toma mais espessa, a massa reduz de tama
nho e desaparece de forma gradual. O realce pelo meio
de contraste no abscesso em resolução pode persistir por
12-32A Imagem axial em Ti pós-contraste mostra meses muito após os sintomas clínicos terem desapareci
meningite e abscesso ES com ruptura intraventricular do (Fig. I2-30E).

Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial dos abscessos varia com seus
estágios de desenvolvimento. A cerebrite precoce é tão
pobremente delimitada que pode ser difícil caracterizá-
-la, e seu aspecto pode simular muitas lesões, incluindo
isquemia cerebral e neoplasia.
Uma vez que um anel se desenvolve ao redor de um
centro necrótico, o diagnóstico diferencial é aquele de
uma massa genérica com realce anelar. Apesar de existi
rem muitas lesões com realce anelar no SNC, o diagnós
tico diferencial mais comum é infecção versus neoplasia
(glioblastoma ou metástase). Tumores apresentam ele
vado rCBV nas suas "crostas", não restringem à difusão
(ou, se o fazem, não é tanto quanto os abscessos) e não
B demonstram aminoácidos citosólicos na espectroscopia
12-328 Imagem em difusão do mesmo paciente
de prótons.
mostra que o abscesso B3 e a ventriculíte B apre Entidades menos comuns que podem se apresentar
sentam restrição à difusão. como massas com realce anelar incluem doenças des-
Infecçoes congênitas e infecções picgênicas e virais adquiridas 321

niíelinizantes, nas quais o anel costuma ser incompleto e 1 milímetro entre o ventrículo e o abscesso cerebral au
"aberto" na direção do córtex. Hematomas em resolução menta a chance de ruptura em 10%.
podem exibir um padrão de realce vascular e em anel. A ventriculite também pode ocorrer como complica
ção da meningite, em geral via a disseminação da infecçào
Ve n t r i c u l i t e por meio do plexo coroide (plexite coroide) para o interior
Abscessos intraventriculares primários são raros. Uma co do LCS.

leção de material purulento no ventrículo mais provavel Os pacientes que necessitam de derivação ventricular
mente decorre da ruptura intraventricular de um abscesso externa (DVE) também estão em risco para o desenvol
cerebral (RIVAC), uma condição catastrófica. O reconhe vimento de infecções ependimárias relacionadas a cate-
cimento e a pronta intervenção são necessários para tratar teres. A taxa de infecçào de cateteres de ventriculostomia
essa condição altamente letal. externa é alta, com incidências descritas que variam de 5
a 20%. Os patógenos mais comuns são o Síaphilococciis,
Terminologia Streptococcus e Enierobacter. Ventriculite nosocomial e
A ventriculite é também chamada de ependimite. pioen- ventrículo meningite são complicações potencialmente
ccfalo e (menos comumente) empiema ventricular. fatais da DVE.

Etiologia Patologia
A infecçào do epêndima ventricular ocorre mais quando o exame de necropsia mostra que o epêndima, a região
um abscesso piogênico rompe através de sua fina cápsula subependimária e o plexo coroide estão congestionados
mediai para o interior do ventrículo adjacente. O risco de e cobertos por pus (Fig. 12-31). Ependimite hemorrágica
RIVAC aumenta se um abscesso é profundo, mullilocula- pode estar presente. A hidrocefalia com pus obstruindo o
do e/ou próximo da parede ventricular. Uma redução de aqueduto é comum.

12-33A Imagem axial de TC


sem contraste em uma usuária
de drogas de 28 anos com cefa-
leia intensa mostra ventrícuios
aumentados com margens indis
tintas ("borradas") e possíveis
debris-líquido nos cornos occipi-
tais B.
12*33B Imagem em FLAIR
da mesma paciente mostra mi
gração Iransependimária de LCS
E3 e epêndima espesso e hipe-
rintenso B3 com níveis debris-
-líquido distintos B.

12-33C Imagem axial em TI


pós-contraste da mesma pacien
te mostra níveis debris-líquido
B nos ventrícuios laterais e
terceiro ventrículo, porém sem
realce do epêndima ventricular
espessado
12-33D A seqüência de di
fusão mostra intensa restrição
à difusão nos debris intraventri
culares B.Ventriculostomia e
drenagem guiadas por estereo-
taxia foram realizadas. Kiebsieiia
foi encontrada na cultura do LCS
ventricular. A paciente faleceu
apesar dos antibióticos endove-
nosos em altas doses.
322 Infecçao, inflamaçao e doenças desmielinizantes

Aspectos clínicos
Epidemiologia e demografia. a incidência de RIVAC é variá
vel. Estudos recentes estimam que a ruptura intraventricu
lar ocorre em até 35% dos abscessos cerebrais. Homens
sào mais afetados do que mulheres.

Apresentação. As características clínicas da RIVAC podem


ser indistinguíveis das encontradas em abscessos cere
brais sem ruptura. Em geral, cefaleias são mais intensas
e acompanhadas por sinais de irritação meníngea. Uma
rápida deterioração do estado clínico é típica.
História natural e opções de tratamento. Aspiração este-
reotáxica guiada por imagem é o método mais simples e
seguro para obter pus para cultura e descomprimir a ca
vidade do abscesso. A combinação de cefalosporinas de
12-34 Sinusite frontal puruienta B com extensão terceira geração e metronidazol é o pilar do tratamento
para o interior do espaço epidural causa empiema epi antimicrobiano empírico. A escolha dos antibióticos defi
dural ES e cerebrite no lobo frontal E3. nitivos depende dos resultados da cultura.
Apesar dos manejos clínico e cirúrgico agressivos,
muitos pacientes respondem mal e sucumbem à doença.
A mortalidade geral é de 25 a 85%. Somente 40% dos pa
cientes sobrevivem com bons resultados funcionais.

Imagem
Ventriculomegalia com nível de debris nas porções pen
dentes dos cornos occipitais em conjunto com hipoden-
sidade periventricular é o achado clássico nos exames de
TC sem contraste (Fig. 12-33A). As paredes ventriculares
realçam na TC com contraste.
A RM deve ser a modalidade de primeira linha em
casos suspeitos para RIVAC. Debris irregulares nos ven-
trículos que são hiperintensos ao LCS em TI e hipointen-
sos em T2 com formação de nível nos cornos occipitais
sào típicos.
12-35A Imagem sagital em T2 em uma criança com O realce varia de nenhum a marcante (Figs. 12-32A
sinusite frontal ES causando celulite ES e empiema e 12-33C). Algum grau de realce ependimário pode ser
epidural S. identificado em 60% dos casos.
As seqüências mais sensíveis são FLAIR e difusão.
Um "halo" de hiperintensidade periventricular está pre
sente tanto cm T2 quanto em FLAIR (Fig. 12-33B). A
seqüência mostra restrição à difusão da água no nível de
debris (Figs. 12-32B e 12-33D).

Diagnóstico diferencial
o diagnóstico diferencial da RIVAC é limitado. Súbita
deterioração de um paciente com um abscesso cerebral
conhecido associado a debris e a pus no interior dos ven-
trículos é quase certo para RIVAC.
Realce ependimário sem debris e pus intraventricu-
lares é um achado inespecífico nos exames de imagem.
Realce tênue, fino e linear das veias periventriculares e
ependimárias é normal, especialmente ao redor dos cornos
frontais, septos pelúcidos e átrios dos ventrículos laterais.
12-35B Imagem em TI pós-contrasie do mesmo
As neoplasias malignas primárias do SNC, como o
caso mostra sinusite frontal ES, celulite ES e a
dura espessada e com realce B atrás do empiema glioblastoma multiforme e o linfoma primário de SNC,
epidural. podem se espalhar ao longo do epêndima ventricular, dan-
Infecções congênitas e infecções piogénlcas e virais adquiridas 323

do a ele um aspecto espessado ou nodular "granuioso". diretamente pela fina parede posterior do seio frontal, a
Germinomas e metastases de uma neoplasia primária qual possui metade da espessura da parede anterior (Fig.
extracraniana podem ter tanto espessamento irregular 12-34). A infecção também pode se espalhar indiretamen
quanto realce do epêndima. te e de forma retrógrada por meio de veias emissárias sem
válvulas.

Empiemas Aproximadamente. 20% dos empiemas em crianças


mais velhas e em adultos são secundários à otomastoidi-
Infecções extra-axiais do SNC são condições raras, porém
te. Causas raras de empiema incluem trauma penetrante,
potencialmente letais. O diagnóstico precoce e o rápido
tratamento são essenciais para maximizar a recuperação procedimentos neurocirúrgicos e a disseminação hemato-
neurológica. gênica de patógenos de uma fonte extracraniana distante.
Os organismos mais comuns são os estafilococos e os
Terminologia estreptococos.

Empiemas são coleções de pus que podem ocorrer tanto


no espaço subdural quanto no epidural.
Patologia
Localização. Empiemas subdurals (ES) são muito mais co
muns do que empiemas epidurals (EP). Em aproximada
Etiologia
mente 15% dos casos, o pus envolve ambos os espaços
A base fisiopatológica dos empiemas varia conforme a
subdural e epidural.
idade do paciente. Empiemas em lactentes e em crianças
jovens costumam ser secundários à meningite bacteriana. Tamanho e Número. Empiemas variam em tamanho e ex
Em crianças mais velhas e em adultos, mais de dois tensão. Eles vão de pequenas coleções focais epidurals
terços dos empiemas ocorrem como extensão de infec- (Fig. 12-34) a extensas infecções subdurals que se espa
ção a partir dos seios paranasais. A infecção pode erodir lham sobre a maior parte dos hemisférios cerebrais e se

12-36A TC com contraste


foi obtida em um menino de
14 anos com cefaleia frontal
esquerda após duas semanas
de sinusile. Uma coleção líquida
lentiforme biconvexa com realce
periférico E3 foi identificada.
Note a sinusile frontal [S.
12-368 imagem axia! em
T2 do mesmo caso mostra uma

Y
coleção liquida lentiforme hipe-
rintensa frontal esquerda B. A
dura deslocada internamente é
vista como uma fina linha escura
J confirmando que a coleção
está mesmo no espaço epidural.
3 Á / B

12-36C Imagem axial em Ti


pós-contraste do mesmo pacien
te mostra que a dura deslocada
e a aracnoide subjacente B
realçam intensa e uniformemen
te. Note o espessamento durai
reativo se estendendo sobre o
hemisfério esquerdo e pela linha
média BI.
12-360 Imagem axial de
difusão mostra que apenas uma
porção semicircular da coleção
B imediatamente externa à
dura Si apresenta restrição
à difusão. Note a ausência de
cerebrite associada. O empiema
epidural foi drenado por punção
estereotáxica.
324 infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

12-37 Caso de necropsia de-


monslra achados de ES agudo. A
dura ÍS foi refletida, revelando
uma coleção líquida turva 31 no
espaço subdural. (Cortesia de R.
Hewlett, MD.)
12-38 Vista lateral de um
empiema subdural mais crônico
mostra que a coleção amarelada
espessa se estende sobre
os lobos frontal e temporal in
teiros. A dura sobrejacente B3
foi refletida superiormente para
mostrar a coleção. (Cortesia de R.
Hewlett, MD.)

12-39A Um homem de 51
anos com sinusite aguda de
senvolveu cefaleia Intensa e
alteração do estado mental. A
TC sem contraste mostra uma

coleção curvilínea hipodensa B


que cobre o hemisfério direito e
comprime o cérebro subjacente.
A coleção líquida é levemente
hiperdensa em comparação com
o LCS nos sulcos hemisféricos
esquerdos.
12-39B Imagem em FLAIR do
mesmo caso mostra que a cole
ção líquida B não apresenta
supressão. Os sulcos subjacentes
estão hiperintensos, sugerindo
possível meningite.

12-39C Imagem axial de


seqüência SPGR para aspiração
estereotáxica mostra que as
margens externas da coleção
realçam [S. O realce curvilíneo
nos giros superficiais B é con
sistente com meningite.
12-390 Imagem axial em di
fusão mostra que a coleção B
apresenta restrição intensa e
uniforme. Note a extensão inter-
-hemisférica B que não cruza
a linha média. Empiema subdural
foi drenado na craniotomia e
S. pneumoniae cresceu na cultu
ra do líquido obtido.
Infecções congênitas e infecções piogênicas e virais adquiridas 325

estendem para a fissura inter-hemisférica (Figs. 12-37 e afetados do que mulheres. Um adolescente do sexo mas
12-38). Coleções loculadas e/ou múltiplas unilaterais são culino com cefaleia significativa e febre deve suscitar um
mais comuns do que empiemas bilaterais separados. alto índice de suspeita para complicações de sinusite e
Características macro e microscópicas. O aspecto macroscó pronta avaliação radiológica.
pico mais comum de um empiema é o de uma coleção Apresentação. A maioria dos pacientes apresenta febre e
encapsulada, espessa, amarelada e purulenta localizada cefaleia precedidas por sintomas de sinusite ou otomastoi-
entre a dura e a aracnoide. Empiemas precoces podem ser dite. Meningismo é comum. O Pottpuffy tumor - aumen
coleções não encapsuladas de líquido turvo e mais fluido to localizado de volume na fronte - é considerado um si

(Fig. 12-37). nal específico para abscesso subperiosteal do osso frontal.


As características microscópicas são aquelas de infil Esse sinal é observado em até um terço dos pacientes com
trado inflamatório inespecífico com quantidades variadas ES frontal. Celulite orbitária é um sinal menos comum,
de tecido de granulaçào. porém significativo, para empiema.
História natural e opções de tratamento. O intervalo entre
Aspectos clínicos a infecção inicial (sinusite) e a formação do empiema em
Epidemiologia. ESs e EPs são raros nos países desenvolvi
geral é de 1 a 3 semanas. EPs possuem um prognóstico
dos devido ao uso precoce e criterioso de antibióticos. A melhor do que os ESs. Uma vez estabelecidos, empiemas
incidência de infecções extra-axiais do SNC é mais alta
não tratados podem se espalhar muito rapidamente, esten
em pacientes com acesso limitado a atendimento médico. dendo-se dos espaços extra-axiais para o interior do cére
Demografia. Infecções extra-axiais do SNC podem ocorrer bro subjacente. Além de cerebrite e formação de abscesso,
em qualquer idade, porém tendem a acontecer em idades a outra principal complicação dos empiemas é a trombose
menores do que abscessos cerebrais. Homens são mais de veias corticais com isquemia venosa.

12-40A TC de seios parana-


saís em plano axial e janela de
partes moles em uma criança
com cefaleia intensa, aumento
de volume frontal e sinusite
frontal aguda (nâo mostrada)
demonstra uma hipodensidade
lentiforme mal definida EI pos
terior à tábua interna do crânio.
12-40B Imagem em T2 de
monstra tanto um EP B quanto
um ES EI.

12-40C Imagem em TI pós-


-contraste mostra que o EP B
cruza a linfia média, deslocando
posteriormente a dura espessada
EI. O ES é visto posicionado
entre a dura espessada B3 e a
aracnoide IS.
12-400 Imagem em difusão
mostra que tanto o EP B quan
to o ES EI apresentam restrição
intensa e equivalente. Note o
pequeno empiema subdural na
fissura inter-hemIsférica tS. A
combinação de EPs e ESs aconte
ce em cerca de IS^M] dos casos.
326 Infecção, inflamação e doenças desmíGlinizantes

12-41 Ilustração coronai mostra as características clássicas da encefa- 12-42 Cérebro de um paciente com EHS submetido à anecrosia mos
lite herpéllca com acometimento bilateral, porém assimétrico do sistema tra lesões hemorrágicas características nos lobos temporais anierome-
límbico. Há inflamação envolvendo os lobos temporais, os giros do cín- diais e regiões subfronlais E3. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
guio e os cortices insulares.

Dicnageni cirúrgica e rápida instituição de tratanienlo (Fig. 12-39B). Hiperintensidade no parênquima subjacen
empírico com antibioticotcrapia endovenosa (inicialmen te pode ser causada por cerebrite ou isquemia (tanto vcno-
te vancomicina e uma cefalosporina de terceira geração) sa quanto arterial).
têm mostrado uma redução na mortalidade. A mortalidade ESs demonstram marcante restrição à difusão da água
dos empiemas tratados ainda é significativa, variando de na seqüência de difusão (Figs. 12-39D e 12-401)). EPs são
10 a 15%. variáveis, mas possuem pelo menos um componente com
restrição (Fig. 12-36D).
Imagem Empiemas mostram variável realce, dependendo da
Os exames de imagem são essenciais para o diagnóstico quantidade de tecido de granulação e da inflamação pre
precoce dos empiemas. A TC sem contraste pode ser nor sentes. A membranas encapsulantes, especialmente na
ma! ou mostrar uma coleção extra-axial hipodensa (Figs. margem externa, impregnam com moderada a forte inten
12-39A e 12-40A) que apresenta realce periférico na TC sidade (Figs. 12-35B, 12-36C, 12-39C e 12-40C).
com contraste (Fig. 12-36A). A janela óssea da TC deve
ser avaliada para sinais de sinusite e otomastoidite. Diagnóstico diferencial
A RM é a modalidade de escolha para a avaliação de O principal diagnóstico diferencial do empiema extra-
potenciais empiemas. Imagens com ponderação TI mos -axial são as coleções extra-axiais não purulentas, espe
tram uma coleção extra-axial que é levemente hiperintensa cialmente as efusões e os hidromassubdurais.
em relação ao LCS. ESs têm formato crescente e locali- Um hematoma subdural crônico (HSDc) é freqüen
zam-sc sobre o hemisfério cerebral. O espaço extracerebral temente hipodenso na TC sem contraste e hiperintenso em
está alargado c os sulcos subjacentes encontram-se com T2/FLAIR. Sangue residual na coleção extra-axial apre
primidos pela coleção. ESs estendem-se para o interior da senta artefatos de susceptibilidade em T2* (GRE, SWI).
fissura inler-hemislcrica. porém não cruzam a linha média. As membranas que formam a cápsula do í-ISDc realçam.
EPs são biconvexos e mais focais do que os ESs. A Diferentemente dos empiemas subdurals, HSDcs não
dura deslocada internamente pode ser identificada como apresentam restrição à difusão.
uma fina linha hipointensa entre a coleção epidural e o Um higroma subdural é uma coleção de LCS esté
cérebro subjacente. Em contraste aos ESs. EPs frontais ril sem realce ou restrição à difusão que ocorre com urna
podem cruzar a linha média, confirmando sua localização ruptura na subaracnoide que permite o escape de LCS
epidural (Figs. 12-35A, 12-36B e 12-40C). para o interior do espaço subdural. A efusão subdural é
Empiemas são iso a hiperintensos em comparação ao pós-meningite, geralmente bilateral e não restringe nas
LCS em T2 (Fig. 12-40B) e são hiperintensos em FLAIR imagens de difusão da água.
Infecçoes congênitas e iníecções piogênicas e virais adquiridas 327

EMPIEMAS

Etiología
• Lactentes e crianças pequenas
o Meningite
• Crianças mais velhas e adultos
o Sinusite, otomastoidite

Patologia
• ESs» EPs
• EP focai
o Geralmente adjacente ao seio paranasal ou mastoide
• ESs podem se espalhar difusamente
o Sobre os hemisférios
o Ao longo do tentório ou foice

Aspectos clínicos
• M:F = 2:1
12-43 Corte axial de necropsia em um caso de EHS
• Caso típico: criança com cefaleia e febre
mostra hemorragias petequiais no córtex insular de am
• Pottpuffy fumor comum com ES frontal bos os lobos temporais 1^. (Cortesia de R. Hewlett, MO.)
• ESs podem se espalhar rapidamente e são
emergências cirúrgicas!
Imagem
• Janela óssea da TC: procurar por infecção nos seios e
mastoides
• EPs são focais, biconvexos e podem cruzar a linha média
• ESs são de formato crescente, cobrem o hemisfério,
podem se estender para a fissura inter-hemisférica
• ESs restringem fortemente na difusão; EPs apresentam
restrição variável
Diagnóstico diferencial
• Hematoma subdural crônico
• Higromasubdural
• Efusão subdural

12-44 TC sem contraste em um homem de 52 anos


com EHS mostra hipodensidade e leve efeito de massa
Infecções virais adquiridas no lobo temporal direito anteromedial E3.
Encefalite pelo herpes simples
Vários membros da família herpes-vírus são vírus neuro-
trópicos que podem causar lesão neurológica significati
va. O HSVl envolve a pele e a mucosa facial, enquanto
o HSV2 está associado à infecção genital. O HHV-7 é
cada vez mais reconhecido como uma importante causa
de morbidade e de mortalidade em receptores de trans
plante pulmonar, enquanto o vírus Epstein-Barr (EBV) e o
HHV-8 possuem potencial oncogênico comprovado.
O HSV2 e CMV congênitos já foram discutidos an
teriormente, uma vez que suas manifestações em recém-
-nascidos diferem daquelas observadas em infecções ad
quiridas por herpes-vírus. HSVl e HHV-6 são discutidos
aqui. Varicela-zóster e EBV serão discutidos abaixo como
"outras encefalites".

Terminologia 12-45 TC com contraste em um paciente com de


clínio do estado mental mostra edema no lobo tem
Lembre-se de que o envolvimento do SNC na infecção
poral direito e mínimo realce PCR positiva
pelo vírus herpes simples é chamada de HSV congênita para HSVl.
328 Infecçào, inflamação e doenças desmielinizantes

12-46A Um homem de 68
anos compareceu ao setor de
emergência com pródromo viral
e con(usào. A TC sem contraste
inicial (não mostrada) loi negati
va. Foi obtida RM de emergência.
Artefatos de movimentação
estão presentes, porém a ima
gem em FLAIR mostra hiperin-
tensidade em ambos os córtices
insulares B3.
12-468 A seqüência de di
fusão mostra intensa restrição
em ambos os córtices insulares
B. Hiperíntensidade um pouco
menos marcante é observada
em ambos os lobos temporais
anteriores
B

12-46C Imagem de difusão


em plano mais superior no mes
mo paciente mostra restrição
simétrica em ambos os giros do
cíngulo E3. Devido à forte sus
peita de EHS, iniciou-se terapia
com antivirais. PGR foi positiva
para HSVl,
12-460 Apesar do tratamen
to, o paciente não apresentou
boa evolução. A TC sem contraste
obtida duas semanas depois
mostra hemorragias confluentes
em ambos os lobos temporais
anteromediais B.

12-46E Necrose hemorrágica


também é observada no córtex
insular direito B, embora a
Insula esquerda esteja poupada.
Note o nível sangue-líquido no
interior do corno occipital do
ventrículo lateral direito B.
12-46F Um corte em plano
mais superior mostra necrose
hemorrágica no giro do cíngulo
à direita B. Envolvimento bila
teral, porém assimétrico, é típico
da EHS,
Infecções congênitas e infecções piogênicas e virais adquiridas 329

ou neonatal quando acomete neonatos, porém é designada romediais, o córtex insular, a área subfrontal e o giro do
encefalite pelo herpes simples (EHS) em todos os indiví cíngulo são os locais mais afetados (Fig. 12-42). Acome-
duos após o primeiro mês de nascimento. A EHS pode ser timento bilateral, porém simétrico, é típico (Fig. 12-43).
chamada de encefalite pelo vírus herpes simples. Envolvimento extratemporal e extralímbico acontece,
mas, em comparação, é mais comum em crianças do que
Etlologia em adultos. Quando ocorre, a EHS extralímbica acomete
Mais de 95% dos casos de EHS são causados pelo HSV1, mais o córtex parietal. Infecção predominante no tronco
um patógeno intracelular obrigatório. O vírus inicialmen encefálico é incomum. Os núcleos da base costumam es
te ganha acesso às células da mucosa da nasofaringe, in tar poupados.
vade os ramos sensitivos linguais do nervo trigêmeo, c
Patologia macroscópica. A EHS é uma encefalite fulminante,
então faz o percurso retrógrado para o interior do gânglio
hemorrágica e necrosante. Uma necrose tecidual massiva
trigeminal. O vírus estabelece uma infecção latente dentro
dos neurônios sensitivos do gânglio trigeminal, onde ele acompanhada por várias hemorragias petequiais e intenso
edema é típica. Inflamação e destruição tecidual são pre
pode permanecer dormente por tempo indeterminado, dominantemente corticais, porém podem estender-se para
A expressão de genes virais é silenciosa até que a re
a substância branca subcortical. Casos avançados demons
ativação viral aconteça. A reativação da infecção latente tram rarefaçâo e cavitaçâo ostensivas no lobo temporal.
pelo herpes-vírus pode ocorrer de forma espontânea ou
ser ativada por trauma, estresse, imunossupressão ou flu Características microscópicas. Uma infiltração linfocítica
tuações hormonais. perivascular com infiltração neutrofilica difusa no pa-
rênquima necrótico é típica. Grandes inclusões virais em
Patologia "olho de coruja" nos neurônios, astrócitos e oligodendró-
Localização. A EHS possui uma marcante afinidade pelo citos são observadas na fase aguda e subaguda. Destrui
sistema límbico (Fig. 12-41). Os lobos temporais ante- ção tecidual com neuronofagia e apoptose é marcante.

12-47A Imagem axial em

1
FLAIR de um homem de 37 anos
com EHS confirmada por PCR
mostra grande hiperintensidade
e edema cortical no lobo tempo
ral direito B. O lado esquerdo
parece normal.
12-47B Imagem em difusão
do mesmo paciente mostra mar
cante restrição à difusão no cór
tex do lobo temporal direito B.
Uma tênue área de restrição à
difusão é notada no lobo tempo
ral mediai à esquerda S.

y
12-47C Imagem de difusão
em plano mais superior no mes
mo paciente mostra restrição à
difusão no córtex insular direito
B, região subfrontal direita e
giro do cingulo bem como
um sutil envolvimento do giro do
cíngulo esquerdo B.
12-47D Imagem em TI pós-
-contraste mostra realce irregular
no córtex do lobo temporal
direito B. Nesse caso, o aco-
metimento do sistema límbico
esquerdo é sutil e pode ser iden
tificado somente na seqüência
de difusão.
330 infecçao, inflamação e doenças desmielinizantes

12-48A Imagem axíal com

n
ponderação Ti em um homem
de 37 anos com confusão e
alteração do estado mental três
semanas após um transplante de
células-tronco hematopoiéticas
aparenta estar normal.
12-486 Imagem em 12 do
mesmo paciente mostra tênue
hiperlntensldade na amígdala e
no hipocampo do lobo temporal
esquerdo B.

12-48C A hiperlntensldade do
lobo temporal mesial esquerdo é
bem melhor observada na aqui
sição em FLAIR E3.
12-480 Imagem em 12* GRE
não mostra evidência de hemor

ragia.

12-48E A seqüência demons


tra restrição ã difusão no lobo
temporal esquerdo E3. O lobo
temporal direito possui aspecto
normal.
12-48F Imagem em TI pós-
-contraste não mostra evidência
de realce. Encelalopatia por
' V
HHV-6 foi subseqüentemente
documentada. Acometimento
exclusivo do lobo temporal f. • • vW .
mesial sem evidências de anor
malidades fora do hipocampo e
da amigdala ajuda a diferenciar a
encefalopatia pelo HHV-6 da EHS.
Infecções congênitas e infecções piogênicas e virais adquiridas 331

12-49 Imagem com pondefação T2 em uma menina de 9 anos com 12-50 Vascufite por VZV com infarto de núcleo da base em uma
uma história de infecção de ouvido com duas semanas de evolução, menina de quatro anos. Imagens de TC sem contraste e FLAIR mos
cefaleia, confusão e ataxia mostra cerebeiile aguda. Note o edema e o tram infarto putaminai 63 que restringe a difusão B e no mapa
efeito de massa, visto como hiperintensidade em ambos os hemisférios AOC
cerebeíares E3. A PCR foi positiva para VZV.

é negativa, embora realce irregular ou giriforme possa se


Aspectos clínicos
desenvolver após 24 a 48 horas (Fig. 12-45).
Epidemiologia. HSVI é a causa mais comum de encefalite
viral esporádica (i.e., não epidêmica) em todo o inundo. A Achados de RM. A RM é a modalidade de escolha (Fig.
prevalência geral é de 1 a 3:1.000.000. 12-46). As imagens com ponderação TI mostram edema
Oemografia. a EHS pode ocorrer em qualquer idade. Ela girai com interface indistinta entre as substâncias branca
e cinzenta. As imagens em T2 demonstram hiperinten
segue uma distribuição etária bimodal, com um terço de
sidade cortical/subcortical com relativa preservação da
todos os casos ocorrendo entre 6 meses e 3 anos de idade,
substância branca subjacente. FLAIR é a seqüência mais
e metade é observada em pacientes com mais de 50 anos.
sensível e pode ser positiva antes que as alterações de si
Não há predileção por gênero.
nal tomem-se evidentes em TI ou T2. Envolvimento bi
Apresentação. Um pródromo viral seguido de febre, cefa lateral, porém assimétrico dos lobos temporais e insulas
leia, crises convulsivas, alterações comportamentais e do é característico de EHS, mas nem sempre está presente.
estado mental é típico. Seqüências com ponderação T2* (GRE, SWI) podem
demonstrar hemorragias petequiais após 24 a 48 horas.
História natural. A EHS é uma infecção devastadora com
Encurtamento giriforme de TI, redução volumélrica e fo
índices de mortalidade que variam entre 50 e 70%. Rápida
cos confluentes de artefato de susceptibilidade são obser
deterioração clínica com coma e óbito é típica. Quase dois vados nas fases subaguda e crônica da EHS.
terços de todos os sobreviventes apresentam déficits neu A EHS apresenta restrição à difusão precocemente no
rológicos significativos, apesar da terapia antiviral. curso da doença, às vezes precedendo anormalidades ob
Opções de tratamento. A terapia antiviral com aciclovir en- serváveis em FLAIR. O realce varia de nenhum (precoce)
dovenoso deve ser iniciada imediatamente se há suspeita a giriforme intenso vários dias depois (Fig. 12-47).
de EHS. O diagnóstico definitivo requer confirmação por
PCR. A sensibilidade da PCR no LCS é de 96 a 98%. Diagnóstico diferenciai
Os principais diagnósticos diferenciais da EHS são neo
Imagem plasias, isquemia cerebral aguda, estado epiléptico, outras
Achados de TC. A TC sem contraste costuma ser normal encefalites (em especial pelo HHV-6) e encefalite límbica
na fase precoce da doença. Hipodensidade e leve efeito paraneoplásica. Neoplasias infiltrativas, como gllomatose
de massa em um ou ambos os lobos temporais e insulas cerebral e astrocitoma difuso de baixo grau. acometem
podem estar presentes (Fig. 12-44). A TC com contraste mais a substância branca ou a substância branca e o córtex.
332 infecção, infiamação e doenças desmielinizanles

12-51 Imagem axial em FLAIR em uma menina de 13 anos com febre 12-52 Encefalite pelo EBV em um homem de 29 anos com cefaleia,
e cetaleia mostra hiperintesidades bilaterais nos núcleos da base E9. A febre, diplopia e sonolência. Imagem em FLAIR mostra hiperintensidades
PCR foi positiva para EBV. nos sulcos, lesões focais no esplênio do CC B e bulbo As lesões na
SB não realçam, mas a lesão do esplênio restringe na difusão E3.

A isquemia ou ínfarto cerebral agudo ocorre em


Aspectos clínicos
uma distribuição vascular típica, envolvendo tanto o cor
o HHV-6 pode se tornar patogênico em pacientes imuno
tex quanto a substância branca. O aparecimento é súbito
em comparação com a EHS, e uma história de febre ou comprometidos, especialmente naqueles com transplantes
de células hematopoiéticas ou órgãos sólidos. O intervalo
pródromo viral com sintomas gripais não está presente. mediano entre o transplante e o início dos sintomas neu
Especialmente em pacientes imunocomprometidos, a rológicos é de três semanas. Os pacientes apresentam-se
própria EHS aguda tardia/subaguda pode ter um aspecto com alteração do estado mental, perda da memória de cur
"pseudoisquêmico" devido à morte neuronal disseminada. to prazo e crises convulsivas.
Estado epiléptico em geral é unilateral e acomete
apenas o córtex. O edema pós-ictal é transitório, porém Imagem
mais disseminado, com freqüência envolvendo a maior
Os exames de TC sem contraste costumam ser normais.
parte ou todo o córtex hemisférico. A RM mostra acometimento predominante ou exclusivo
A encefalíte por HHV-6 cm geral acomete somente
de um ou ambos os lobos temporais mediais (hipocam
os lobos temporais mediais, porém, se lesões extra-hipo-
campais estiverem presentes, pode ser difícil distingui-la po e amígdala) (Fig. 12-48). Doença extra-hipocampal
é menos comum do que na EHS. Hiperintensidade tran
da EHS somente do ponto de vista da imagem. Outras
encefalites virais não costumam apresentar a distribuição sitória dos lobos temporais mesiais em T2 e em FLAIR
com restrição à difusão é típica. Imagens ponderadas
límbica preferencial observada na EHS.
em T2* (GRE, SWI) não mostram evidência de hemor
A encefalite límbica possui um início mais prolonga
do e subagudo (semanas a meses), porém os achados de ragia.
imagem podem ser quase indistinguíveis dos encontrados
na EHS. A história de um carcinoma primário extracrania- Diagnóstico diferencial
no (freqüentemente no pulmão) e anticorpos neuronais no o principal diagnóstico diferencial é a encefalite pelo
sangue e LCS são características úteis na diferenciação. herpes simples (EHS). O curso clínico da EHS é mais
fulminante. Acomentimento extratemporal e necrose he

Encefolopatio pelo HHV-6 morrágica são comuns na EHS. porém raros na encefalo-
patia pelo HHV-6. Diferentemente da EHS, as anormali
Etiologia dades observadas na RM tendem à resolução com o tempo
Mais de 90% da população geral é HHV-6-positiva aos 2 na encefalopatia pelo HHV-6.
anos de idade. A maioria das infecções primárias é assin- A hiperemia hipocampal pós-ictal é transitória e
tomática, após as quais o vírus mantém-se latente. não há envolvimento extra-hipocampal.
Infecções congênitas e infecções piogênicas e virais adquiridas 333

12-53 Achados típicos da encefalite pelo WNV incluem lesões não 12-54 Imagens sagitais em TI (esquerda) e 12 (direita) mostram acha
realçantes bilaterais, porém assimétricas nos núcleos da base e mesen- dos de encefalomíeiite rábica. Note o acomentimento do bulbo B e da
céfalo E3. A seqüência de difusão pode mostrar restrição B. medula espinal cervicolorécica (Cortesia de R. Ramakantan, MD.)

ENCEFALITE HERPÉTICA ADQUIRIDA • Lobo temporal mediai bilateralmente


o Envolvimento extratemporal menos comum do que
Etiologla da encefalite pelo herpes simples (EHS) na EHS
• > 95% das EHSs são causadas pelo HSVl
• Diagnóstico diferencial
o Reativação do vírus latente no gânglio trigeminal o EHS, encefalite límbica
o Pode ser induzida por trauma, estresse e o Hiperemia pós-ictal
imunossupressão
Patologia
• EHS: marcante afinidade pelo sistema límbico
o Lobos temporais, córtex insular, área subfrontal,
Outras encefalites agudas
giro do cínguio Encefalites virais são emergências médicas. O prognósti
• Encefalite hemorrágica e necrosante co depende tanto do patógeno específico quanto do estado
Aspectos clínicos imunológico do hospedeiro. O rápido e acurado diagnós
• EHS é a causa mais comum de encefalite viral não tico e a instituição da terapia podem aumentar a sobrevida
epidêmica e reduzir a probabilidade de dano cerebral.
• Distribuição etária bimodal (6 meses a 3 anos, > 50 Muitos vírus podem causar encefalite. Mais de 100
anos) vírus diferentes em mais de uma dúzia de famílias já fo
• Alta mortalidade e morbidade
ram relacionados à infecção do SNC. HSV-i, vírus Eps-
Imagem tein-Barr, vírus da caxumba e sarampo, e enterovirus são
• Lesões temporais e insulares bilaterais, porém responsáveis pela maior parle dos casos de encefalite em
assimétricas
pacientes imunocompetentes.
o FLAIR é mais sensível
A infecção viral do SNC quase sempre faz parte de
o Restrição à difusão
uma doença sistêmica generalizada. A maioria dos vírus
Diagnóstico diferencial da EHS contamina o cérebro via disseminação hematogênica. Ou
• Neoplasia {gilomatose cerebral)
tros - como alguns dos herpes-virus e o vírus da raiva
• Acidente vascular (distribuição vascular, acometimento
não neurotrópicos, espalham-se diretamente da mucosa
de SBeSC)
• Hiperemia pós-ictal ou conjuntiva infectadas ao longo das raízes nervosas para
• Outras encefalites (límbica, HHV-6) o interior do SNC.
A análise do sangue ou LCS com identificação do
Encefalite pelo HHV-6
• Pacientes freqüentemente Imunocomprometidos patógeno por meio da amplificaçào por PCR estabelece
o Transplante de células-tronco e órgãos sólidos o diagnóstico definitivo. Todavia, os exames de imagem
são essenciais para o diagnóstico e o tratamento precoces.
334 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

12-55 Série de fotografias de necropsias demonstrando os achados 12-56 ENA em uma menina de quatro anos obnubilada e com in
característicos da encefaiopatia necrosante aguda, com necrose hemor fluenza A mostra lesões bitalãmicas hiperintensas em T2 E3 com he
rágica bilateral e simétrica nos talamos mesencéfaio S' e ponte morragia em T2* SI. Note a restrição à difusão B. (Cortesia de C. D.
E9. (Cortesia de R. Hewlett, MD.) Phillips, MD.)

A encefalite viral não epidêmica mais comum, a ence- xia cerebelar aguda. Encefalomielite disseminada aguda
falite herpética, foi discutida anteriormente. Nesta seção, (ADEM) é rara (8%).
consideraremos exemplos adicionais de infecções virais Cerebeiite com edema e hiperintensidade difusa em
do SNC. Começaremos com dois outros membros da fa imagens com ponderação T2/FLA1R é comum (Fig. 12-
mília herpes-vírus; os vírus varicela-zóster e Epstein-Barr. 49). Crianças podem desenvolver leucoencefalopatia
Atentaremos, então, para encefalites esporádicas e epidê multifocal com focos irregulares de hiperintensidade em
micas selecionadas. T2/FLAIR. A vasculopatia pelo VZV com infartos causa
hiperintensidades multifocals no córtex, núcleos da base
Encefalite pelo varicela-zóster e substância branca profunda (Fig. 12-50). O realce nas
A incidência de infecção pelo vírus varicela-zóster (VZV) imagens em TI pós-contraste é variável na encefalite pelo
tem decaído desde a introdução da vacina de vírus vivo, VZV e, quando ocorre, é leve e irregular. Restrição na se
em 1995. Apesar dos índices elevados de vacinação em qüência de difusão é comum.
todo o mundo, o VZV continua a causar doença no SNC.
O VZV, que causa catapora (varicela) e herpes-zóster, Encefalite pelo Epstein-Barr
também causa paralisia de Bell, síndrome de Ramsay- O vírus Epstein-Barr (EBV) causa mononucleose infec
-Hunt, meningite, encefalite, mielite, síndrome de Reye e ciosa. A proliferação descontrolada de línfócitos B in
neuralgia pós-herpética. fectados pelo EBV resulta em doença linfoproliferativa
A encefalite pelo VZV possui uma ampla variação pós-transplante (DLPT). O EBV é encontrado em mais de
etária, com uma idade média ao diagnóstico de 46 anos. 90% dos casos de DLPT que ocorrem dentro do primeiro
Entre 25 e 30% dos pacientes possuem idade inferior a ano pós-transplante.
18 anos. A mononucleose geralmente é uma doença benigna e
Os sintomas geralmente começam 10 dias após o autolimitada. Complicações neurológicas ocorrem cm me
exantema da varicela ou vacinação. Note, entretanto, que nos de 7% dos casos, porém, às vezes, a doença no SNC
muitos pacientes com doença neurológica pelo VZV não pode ser a única manifestação da infecção pelo EBV. Crises
apresentam o exantema característico da varicela. convulsivas, polirradiculomielite, mielite transversa, encefa
Meninginte é a manifestação mais freqüente (50% lite. cerebeiite, meningite e paralisias de nervos cranianos já
dos casos) e a apresentação clínica mais comum em pa foram relatadas como complicações da infecção pelo EBV.
cientes imunocompetentes (90%). Encefalite é a segun O EBV possui predileção pelos núcleos da base. Hi
da apresentação mais comum no SNC (42%), porém é perintensidades bilaterais e difusas em T2/FLA1R nos
a maior apresentação em pacientes imunodeficientes núcleos da baseetálamos são comuns (Fig. 12-51). Hipe
(67%). A apresentação mais comum em crianças é a ata rintensidades irregulares na substância branca são obser-
Infecções congênitas e iníecções piogénicas e virais adquiridas 335

vadas em alguns casos. O EBV também pode causar uma são clinicamente silenciosas. Menos de 1% dos pacientes
lesão transitória e reversível do esplênio do corpo caíoso, desenvolvem doença neuroinvasiva. Pacientes imunossu-
que demonstra restrição na difusão (Fig. 12-52). primidos e idosos possuem maior risco.
O diagnóstico diferencial da infecção pelo EBV in A infecção do SNC pelo WNV pode resultar em me
clui ADEM e outras infecções virais, especialmente pelo ningite, encefalite e paralisia aguda flácida/poliomielite.
Wesi Nile Virus (vírus do oeste do Nilo). O diagnóstico definitivo é feito por meio de POR.
Hiperintensidades bilaterais em T2/FLA1R nos nú
Encefalite do Nilo ocidental cleos da base, tálamos e tronco encefálico são típicas
O IVest Nile Vints (WNV) é um flavivírus transmitido por (Fig. 12-53). O WNV pode causar uma lesão transitória
insetos que causa epidemias periódicas de doença febril e no esplênio do corpo caloso. As lesões restringem na se
encefalite esporádica na África, na bacia do Mediterrâneo, qüência de difusão, porém raramente realçam.
Europa e sudoeste da Ásia. O primeiro surto no hemisfé
rio ocidental ocorreu em Nova Iorque, no ano de 1999. Encefalite rábica
Desde então, o WNV se espalhou pela América do Norte A encefalite rábica é causada por um vírus de RNA neuro-
e para regiões das Américas Central e do Sul. Atualmente, trópico da família Rhabdoviridae e é um significativo pro
o WNV é a causa mais comum de meningoencefalite epi blema de saúde pública nos países em desenvolvimento.
dêmica na América do Norte. Quase 55 mil mortes devido à encefalite rábica ocorrem
O ciclo do WNV ocorre entre os mosquitos vetores e anualmente, 99% na Ásia e África. O cachorro é o princi
os pássaros hospedeiros; humanos são hospedeiros inci- pal vetor e reservatório viral, embora outros mamíferos (p.
dentais. A transmissão aumenta nos meses mais quentes; ex., morcegos, lobos, guaxinins, gambás e fuinhas) possam
no hemisfério norte, o pico de atividade ocorre de julho a atuar como hospedeiros. O vírus é abundante na saliva do
outubro. Quase 80% das infecções humanas pelo WNV animal infectado e é depositado nas lesões por mordida.

^ 2-57 Necropsia de um caso


de PES mostra ventrículos e sulcos
ostensivamente dilatados, com
importante perda de volume nos
núcleos da base e na substancia
branca. Nos polos occipitals a

\.£i.
substância branca é tâo íina que
os ventrículos quase contatam a
substancia cinzenta cortical.
12-58 Imagem axial com
ponderação TI em um rapaz de
16 anos com redução do desem
penho escolar e alterações com-
portamentais mostra ostensiva
atrofia com hipointensidades
nos lobos frontais e occipitais
B. A análise do LCS foi positiva
para anticorpos contra o vírus do
sarampo.

12-59A Imagem axial com


i
ponderação 12 em um paciente
de 13 anos com declínio cogni
tivo inexplicado e déficit motor
progressivo mostra hiperintensi
dades bilaterais, porém assimé
tricas, na substância branca dos
lobos occipitais B. A substância
branca frontal tem aspecto nor
mal. Os ventrículos estão discre
tamente dilatados para a idade
do paciente.
12-59B Seis meses depois, a
hiperintensidade da substância
branca espalhou-se e acome

teu ambos os lobos frontais e


parietais. O LCS foi positivo para
anticorpos contra o virus do
sarampo.
336 tnfecção, inflamação e doenças desmielinizantes

12-60A Imagem axial em FIAIR de um paciente de 23 anos com epi 12-60B Imagem coronal em T2 do mesmo paciente confirma a atrofia
lepsia refratària secundária à ER mostra perda volumétrica na região fron- frontolemporai e mostra bem a perda volumétrica na insula BI. Encefa-
totemporaí esquerda com aumento do venlrículo lateral esquerdo e dos iile de Rasmussen.
sulcos. Note a hiperintensidade na SB, núcleos da base, Insula e córtex E3.

O vírus se replica nos tecidos musculares na região da cerebral e lesões reversíveis no esplênio do corpo calo-
ferida, infectando, então, os neurônios motores e acessan so c da substância branca são comuns. Achados similares
do o SNC por fluxo axoplásmico retrógrado. à sindrome de encefalopatia posterior reversível (PRES)
A encefalitc rábica humana é uma doença rapidamen também foram descritos.
te fulminante e fatal, uma vez que os sintomas clínicos
tornam-se evidentes. A história e a apresentação clínica Encefalopatia necrosante aguda
são altamente sugestivas, porém o diagnóstico definitivo A encefalopatia necrosante aguda (ENA) é uma forma
requer confirmação laboratorial do antígeno ou anticor mais grave e letal de EAl, caracterizada por febre alta,
pos rábicos, ou o isolamento do vírus a partir de amostras crises convulsivas e rápida deterioração clínica dentro de
biológicas. 2 a 3 dias após o início dos sintomas. A maioria dos casos
O vírus da raiva possui uma predileção pelo tronco ocorre em crianças ou em adultos jovens.
encefálico, tálamos e hipocampos. A RM mostra hiperin- A ENA causa necrose cerebral simétrica e hemorrá
tensidades mal delimitadas no bulbo dorsal e na medula gica. Os tálamos, tegmento do mesencéfalo e ponte são
cervical superior (FIg. 12-54), tegmento da ponte, subs os locais mais afetados (Fig. 12-55). O acometimento da
tância cinzenta periaquedutal, mesencéfalo, tálamos me- substância branca periventricular, cerebelo e medula foi
diais/hipotálamo e hipocampos. Hemorragia e realce cos relatado em alguns casos.
tumam estar ausentes, ajudando a diferenciar a encefalite A TC pode ser normal na fase precoce da doença.
rábica da encefalite japonesa e de outras encefalites virais. Hiperintensidade bilateral e simétrica nos tálamos é ob
servada em T2/FLA1R (Fig. 12-56). O mesencéfalo, pon
Encefalopatla associada ao influenza te. cerebelo e substância branca profunda costumam ser
A encefalite ou encefalopatia associada ao influenza acometidos. As seqüências em T2* (GRE, SWl) mostram
(EAl) é caracterizada por febre alta, convulsões, edema artefatos de susceptibilidade magnética nas hemorragias
cerebral e alta mortalidade. Ela geralmente afeta crian petequiais, mais comumente nos tálamos. Restrição à di
ças com idade inferior a 5 anos. O início da deterioração fusão foi descrita em alguns casos.
neurológica ocorre de poucos dias a uma semana após os
Outras encefalites virais
primeiros sinais de infecção por influenza. Muitos vírus já
foram relatados como causadores da EAl, mais recente Uma série de outras encefalites virais já foi identificada.
mente o H3N2 e o influenza A (H1N1, também conhecido Enquanto algumas (como as encefalites pelo rotavirus)
como gripe suína). são disseminadas, outras (p. ex., encefalite japonesa, en
Os exames de imagem são anormais na maioria dos cefalite de La Crosse, encefalite pelo vírus Nipah) pos
casos. Lesões talâmicas bilaterais e simétricas, edema suem uma distribuição geográfica mais restrita.
Infecções congênitas e infecções piogènicas e virais adquiridas 337

tes imunocomprometidos após a imunização. O vírus do


OUTRAS ENCEFALITES VIRAIS AGUDAS
sarampo infecta os neurônios e permanece latente por
Encefalíte pelo varicela-zóster anos. Por que e como a reativação ocorre não é inteira
• Após catapora ou vacinação mente compreendido.
• Cerebelite, leucoencefalopatia, vasculopatia O vírus do sarampo afeta de forma desproporcio
nal crianças em regiões com baixas taxas de vacinação.
Encefalíte pelo Epstein-Barr
• Complicação rara da mononucleose Quase todos os pacientes são crianças ou adolescentes;
• Lesões bilaterais nos núcleos da base, SB/espiênio ocorre PES de início na idade adulta, porém é rara. Há
uma predominância masculina de 2:1. A PES é rara em
Encefalíte do Nilo ocidental
• Meningoencefalite epidêmica mais comum na países desenvolvidos onde os índices de vacinação são
elevados.
América do Norte
• Lesões bilaterais nos núcleos da base, tálamo e tronco Na média, as manifestações clínicas aparecem seis
encefálico
anos após a infecção pelo vírus do sarampo. O início
dos sintomas costuma ser insidioso, com deterioração
Encefalíte rábica
comportamental e cognitiva, crises convulsivas mioc-
• Países em desenvolvimento » países desenvolvidos
lônicas e déficit motor progressivo. Níveis elevados de
• Tronco encefálico, talamos e medula
anticorpos para o vírus do sarampo no LCS estabelecem
Encefalopatia associada ao influenza (EAI) o diagnóstico.
• HI NI (influenza A ou "gripe suína") A PES mostra progressão inexorável (Fig. 12-57).
• Lesões bilaterais nos tálamos, esplênio do corpo Mais de 95% dos pacientes morrem dentro de cinco anos,
caloso a maior parte em 6 meses a 1 ano após o início dos sinto
mas. Até o momento, não há tratamento efetivo.
Encefalopatia necrosante aguda
• Forma mais fulminante da EAI (freqüentemente fatal) Os exames de imagem podem ser normais nos está

Encefalíte pelo rotavirus gios precoces da doença, portanto RM normal não exclui
• Patógeno Gi comum em crianças PES. Infiltrados inflamatórios na substância cinzenta cor
• Cerebelite, lesão no esplênio do corpo caloso tical são os principais achados patológicos na PES pre
coce; redução da substância cinzenta no córtex fronto-
Encefalíte japonesa
• Encefalíte humana endêmica mais comum
temporal pode ocorrer antes que outras lesões tornem-se
evidentes (Fíg. 12-58). Outros achados anormais descn-
o Coréia, Japão, índia e sudeste da Ásia
• Lesões bilaterais nos tálamos, núcleos da base, volvem-se posteriormente, com hiperintensidade bilate
substância negra, hipocampo ral, porém assimétrica, nos núcleos da base, córtex, subs
• Alta morbidade e mortalidade tância branca subcortical e periventricular nas seqüências
com ponderação T2/FLA1R (Fíg. 12-59).
Encefalíte de La Crosse Atrofia difusa com aumento dos sulcos e dos ventrí-
• Crianças em idade escolar (centro-oeste dos EUA)
culos ocorre conforme a doença progride (Fig. 12-57).
• Simula EHS, porém é mais benigna
A espectroscopia de protons mostra baixos níveis de
n-acetil-aspartato e colina, com elevados mioinositol e
Encefalites crônicas glutamina/glutamato.

Alguns vírus causam infecção aguda e fulminante do Encefalíte de Rasmussen


SNC, outros possuem um início mais insidioso, produ A encefalite de Rasmussen (ER) é também chamada de
zindo uma infecção crônica "lenta". O vírus do sarampo encefalíte crônica focai (localizada). A ER é uma rara en
pode causar ambos os padrões. Nesta seção, discutiremos cefalite crônica progressiva caracterizada por epilepsia
brevemente duas encefalites crônicas: a síndrome de re
refratária, progressiva hemiparesia e prejuízo mental.
ativação do vírus do sarampo, chamada de panencefalite A etiologia exata da ER é desconhecida. Infecção
esclerosante subaguda, e a encefalíte de Rasmussen. viral ou doença autoimune envolvendo os receptores de
Outras encefalites crônicas, como a leucoencefalo
gluíamato com toxicidade pela glutamina têm sido sugeri
patia multifocal progressiva e a variante da doença de das como possíveis etiologias. Os achados de biópsia são
Creizfeldt-Jakob, são consideradas em detalhes em ca
inespecíficos, com infiltrados linfocíticos leptomeníngeos
pítulos subsequentes, porém brevemente sumarizadas no e perivasculares, nódulos microglials, perda neuronal e
quadro adiante. gliose.
Os pacientes são clinicamente normais até que as cri
Panencefalite esclerosante subaguda ses convulsivas tenham início, em geral entre os 14 meses
A panencefalite esclerosante subaguda (PES) é uma rara e 14 anos. O pico de incidência acontece entre 3 e 6 anos.
encefalíte progressiva que ocorre anos após a infecção Os défícits neurológicos são progressivos, e as crises
pelo vírus do sarampo. Alguns casos ocorrem em pacien convulsivas tomam-se refratárias ao tratamento medica-
338 Infecçao, inflamação e doenças desmielinizantes

mentoso. As opções de tratamento incluem terapia com


Encefalite de Rasmussen
imunomoduladores, ressecção cortical focal e hemisfe-
• Etiologia desconhecida (viral, autoimune)
riectomia funcional.
• Epilepsia refratária
Os exames de imagem iniciais são normais. Com o • Unilateral
tempo, hiperintensidade em T2/FLA1R desenvolve-se no • Hiperintensidade e redução volumétrica da SB
cortex e na substância branca subcortical do hemisfério
afetado. (Fig. 12-60). A doença é caracterizada por atro Leucoencefalopatia multifocal progressiva
• Reativação do poliomavirusJC
fia cortical progressiva unilateral. Atrofia dos núcleos da
• Pacientes imunocomprometidos
base é observada na maioria dos casos. Os achados na es-
o HIV/Aids
pectroscopia de protons são inespecíficos, com redução o Quimioterapia
do NAA e elevação da colina. O mioinositol pode estar o Agentes imunomoduladores
discretamente elevado. • Desmielinizaçào progressiva
o Doença de substância branca bilateral, porém
assimétrica
ENCEFALiTES CRÔNICAS • Geralmente sem realce (pode ser periférico na fase
aguda)
Panencefalite esclerosante subaguda (PES) • Diagnóstico confirmado com PCR do LCS
• Reativação do vírus do sarampo
• Ocorre anos após a infecçâo Inicial Variante da doença de Creutzfeldt-Jakob
• Quase sempre fatal • Leucoencefalopatia espongiforme mediada por prions
• Hiperintensidade da substância branca • Núcleos da base e córtex hiperintensos em FLAIR
• Atrofia progressiva • Restrição na difusão
Infecçòes congênitas e infecções piogênicas e virais adquiridas 339

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13
Tuberculose, infecções fúngicas,
oarasitárias e outras infeccões

Infecções micobacterianas 341


Tuberculose 341 Infecções micobacterianas
infecções micobacterianas não tuberculosas 347 As micobactérias são pequenos bacilos ácidorresistentes
Infecções fúngicas 349 com mais de 125 subtipos reconhecidos. Elas são dividi
Infecções parasitárias 357 das em três grupos principais, cada um com uma doença
Neurocisticercose 357 com assinatura diferente: {I) Mycobacterium tubercu
Equinococose 361 losis (tuberculose), (2) micobactérias não tuberculosas
Amebíase 363
(infecções do espectro das micobactérias "atípicas") e
Malária 364
Outras infecções parasitárias 367
(3) M. leprae (hanseníase). Cada grupo apresenta dife
rentes características patológicas, manifestações clínicas
infecções emergentes do SNC e outras infecções 370 e achados de imagem.
infecções do SNC por espiroquetas 370 Dos três grupos, o complexo M. tuberculosis é res
infecções emergentes do SNC e outras infecções 374
ponsável pela vasta maioria das infecções micobacteria
nas nos humanos. Ele causa mais de 98% das infecções
tuberculosas (TB) do SNC c, portanto, é o foco deste
Visão gerai
capítulo. Serão brevemente discutidas as infecções mico
As doenças infecciosas são um fenômeno mundial cres bacterianas não tuberculosas e suas raras manifestações
cente, com o que antes pareciam ser doenças restritas a na cabeça e no pescoço. A hanseníase causa neuropatia
determinadas localidades, hoje se espalhando rapidamen periférica e praticamente nunca afeta o SNC, motivo pelo
te ao redor do mundo. Novos patógenos surgiram, tais qual não será abordada neste capítulo.
como o vírus HIV - praticamente desconhecido 30 anos
atrás e atual preocupação mundial de saúde. O aumento de Tuberculose
patógenos alimentares e na água é inegável. A imigração e
o aumento do número de viagens resultaram em "doenças Etiologia
tropicais" antes exóticas, como neurocisticercose e outras A maioria das TBs são causadas por M. tuberculosis. As
infecções parasitárias atualmente comuns. espécies menos comuns que também são consideradas
Este capítulo é uma continuação das doenças infec parte do complexo M. tuberculosis incluem M. africanum,
ciosas adquiridas cuja discussão iniciou no Capítulo 12 M. microti, M. cauetti e M bovis.
com infecções piogênicas e virais do SNC. Inicialmente, O mecanismo de transmissão típico é entre seres hu
nossa atenção se voltará para infecções micobacterianas, manos. A transmissão entre animal e homem via M. bovis,
concentrando-se primeiro na tuberculose. Depois, serão um patógeno comum no passado, raras vezes ocorre na
discutidas infecções fúngicas e parasitárias. Ao fmal do atualidade.

capitulo, serão feitas considerações sobre as infecções A neurotuberculose é secundária à disseminação he-
do SNC emergentes e outras infecções com o objetivo de matogênica de infecção exlracraniana, mais freqüentemen
alertar que os agentes etiológicos encontram-se dispersos te pulmonar. O trato gastrintestinal, geniturinário, sistema
em todos os ambientes. musculoesquelético e linfonodos são fontes menos comuns.
342 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

Patologia Tuberculomas são lesões com efeito expansivo de


A TB do SNC tem várias manifestações patológicas dis tecido granulomatoso. A maioria ocorre nos hemisférios
tintas. A meningite tuberculosa (MTB) aguda/subaguda cerebrais, sobretudo nos lobos frontais, parietais e nos nú
cleos da base. Ocasionalmente, a TB do SNC se apresenta
constitui 80 a 90% dos casos. Uma reação inflamatória
como uma lesão durai focai (Fig. 13-11), intraventricular
(exsudato) com uma mistura variável de componentes
exsudativos, proliferativos e necrotizantes nas cisternas (plexo coroide) ou na calvária.
da aracnoide é o achado típico (Fig. 13-1). Raramente, a Abscessos tuberculosos podem ser encontrados em
MTB se apresenta como uma paquimeningite isolada com qualquer lugar no cérebro, dos hemisférios ao mesencé-
falo e ao cerebelo.
espessamento focai ou difuso da dura-aracnoide.
A segunda manifestação mais comum da neurotuber- Tamanho e número. Os tuberculomas variam em tamanho.
cuiose é a infecção focai do parênquima com necrose ca- A maioria é pequena (menos que 2,5 cm), enquanto os
seosa central (granuloma tuberculoso ou tuberculoma). nódulos "miliares" freqüentemente apresentam apenas
A manifestação menos comum da TB do SNC é o "abs- alguns milímetros de diâmetro. Tuberculomas "gigantes"
cesso", que contém macrófagos e debris necróticos liqüe podem atingir de 4 a 6 cm.
feitos (como em geral não contém pus com neutrótllos, a Os tuberculomas também variam em número, indo
maioria dos "abscessos" por tuberculose é mais corretamen desde uma lesão solitária até inúmeras pequenas lesões
te chamada de pseudoabscesso). Os pseudoabscessos por "miliares".
TB são raros em pacientes imunocompetentes, mas são en
Patologia macroscópica. A MTB é vista como um exsuda
contrados em 20% dos pacientes coinfectados por TB e HIV.
to denso, difuso, viscoso que se acumula nas cisternas da
Localização. A meningite por TB tem predileção pelas cis base, cobre as superfícies cerebrais e os nervos cranianos
ternas da base. embora exsudatos nos sulcos da convexi-
(FIg. 13-2). A região suprasselar/quiasmática, a cisterna
dade possam ocorrer.

13-1 ilustração no plano co


ronal da meningite basilar por
76 B e dos tuberculomas HI,
freqüentemente associados.
Note a Irregularidade dos vasos
e a isquemia precoce dos
núcleos da base relacionada à
arterite.
13-2 Caso de necropsia de
monstrando achados tipicos de
meningite por TB com exsudatos
densos nas cisternas da base
S]. O aspecto macroscópico é
indislinguível da meningite pio-
génica. (Cortesia de R. Hewlett,
MO.)

13-3 Corte axial através da


cisterna suprasselar em outro
caso de MTB demonstrando
exsudato espesso SI preen
chendo a cisterna suprasselar
e cobrindo a ponte. Observe o
diâmetro reduzido do segmen
to supraclinóideo das artérias
carótidas internas ÍS devido à
vasculite tuberculosa. (Cortesia
de R. Hewlett, MO.)
13-4 Goma tuberculosa cirur-
gicamente ressecada demons
trando o aspecto de queijo sólido
do granuloma caseoso. (Cortesia
de R. Hewlett, MD.)
Tuberculose, infecções fúngicas, parasitárias e outras infecções 343

anibiens e a fossa interpeduncular são os locais mais co- -ácidorresistentes podem eventualmente ser identificados
mumente envolvidos (Fig. 13-3). nos esfregaços de LCS, mas o diagnóstico definitivo de
Os tuberculomas apresentam um centro mole e ne- pende de teste PCR positivo ou crescimento e identifica
crótico. com densidade semelhante a um queijo, circun ção de M mberculosis em culturas.
dado por um halo granulomatoso acinzentado (Fig. 13-4).
História natural e tratamento. O prognóstico é variado e
Características microscópicas. Edema, infiltração perivascu depende das condições imunológicas do paciente e do tra
lar e reação microglial são achados característicos do teci tamento. A TB não tratada pode ser fatal em 4 a 8 sema
do cerebral imediatamente abaixo do exsudato tuberculoso. nas. Mesmo com tratamento, um terço dos pacientes piora
O exsudato inflaniatório envolve os grandes vasos e dentro de seis semanas. A mortalidade geral é de 25 a 30%
os ramos arteriais perfuranles, invadindo as paredes vas e aumenta na TB com resistência a fármacos.
culares e causando uma pan-arlerite verdadeira (algumas A TB inultirresistentc (TMR) é resistente a pelo me
vezes chamada de "endarterite obliterante"). Uma oclusão nos duas drogas antituberculosas de primeira linha, isoniazi-
vascular com infartos secundários é identificada em 40% da e rifampicina. A tuberculose extensivamente resistente
dos casos necropsiados com MTB, mais comumente nos a fármacos (TXR) é definida como tuberculose que é resis
núcleos da base e na cápsula interna. Infartos territoriais tente à isoniazida, à rifampicina, a qualquer fluoroquinolona
extensos são menos comuns. e pelo menos a um dos três fármacos injetáveis de segunda
Os tuberculomas demonstram necrose caseosa central linha (p. ex., amicacina, canamicina ou capreomicina).
circundada por células gigantes multinucleadas (em geral As complicações comuns da TB do SNC incluem hi-
células de Langerhans), histiócitos epitehoides, plasmó- drocefalia (70%) e acidente vascular cerebral (acima de
citos e linfócitos. Bacilos álcool-ácidorresistentes podem 40%). A maioria dos sobreviventes apresenta seqüelas
ser de difícil identificação. duradouras relacionadas à epilepsia, a retardo mental, a
O pseudoabscesso tuberculoso consiste em tecido de déficits neurológicos ou mesmo a paralisias.
granulação vascular com bacilos álcool-ácidorresistentes,
debris necróticos liqüefeitos e macrófagos.
TB DO SNC: ETIOLOGIA, PATOLOGIA

Aspectos clínicos E ASPECTOS CLÍNICOS


Epidemiologia. a TB é endêmica em muitos países em de Etiologia
senvolvimento e emergente em países desenvolvidos por • Complexo Mycobocteríum tuberculosis
causa da ampla imigração e do HlV/Aids. Em todo o o A vasta maioria é causada pelo M. tuberculosis
mundo são computados 8 a 10 milhões de novos casos. A o Outras micobactérias (p. ex., M. bovis) são raras
• Transmissão entre seres humanos
maior prevalência é encontrada na porção sul da Ásia, que • Disseminação hematogênica de sitio extracraniano
responde por um terço de todos os casos. o Pulmão > TGI, TGU
As infecções do SNC respondem por apenas 2 a 5% o Outros: ossos, linfonodos
das infecções por TB, mas estão entre as mais devasta
doras das possíveis apresentações. Um dos "tumores Patologia
cerebrais" mais comuns em países endêmicos é o tuber • Meningite tuberculosa (70 a 80%)
o Reação inflamatória exsudativa, proliferativa,
culoma, que responde por 10 a 30% de todas as lesões
necrotizante
expansivas parenquimatosas. o Cisternas da base > sulcos da convexidade
A TB do SNC ocorre tanto em pacientes imunocompro- • Tuberculoma (granuloma tuberculoso) (20 a 30%)
metidos quanto em imunocompetentes. Entre pacientes com o Necrose caseosa
infecção por TB latente, o HIV é o fator de risco mais im o Hemisférios cerebrais, núcleos da base
portante para progressão para TB ativa. Na coinfecção por • Pseudoabscesso (raro)
TB e HlV/Aids, uma doença amplifica a letalidade da outra.
Epidemiologia e aspectos demográficos
Aspectos demográficos. A TB do SNC ocorre em todas as • Saio milhões de casos novos anuais

idades, mas 60 a 70% dos casos ocorrem durante as duas • Todas as faixas etárias, porém 60 a 70% em
primeiras décadas de vida. Não existe predileção por sexo. pacientes com < 20 anos
• TB do SNC em 2 a 5% dos casos
Apresentação. A manifestação mais comum da TB do SNC • 10 a 30% das lesões expansivas cerebrais em áreas
ativa é a meningite. A apresentação varia de febre e cefa- endêmicas
leia com pouco meningismo até confusão, letargia, con
vulsões e coma. Sintomas de hipertensão intracraniana Apresentação e diagnóstico
• Febre, cefaleia, meningismo, sinais de T da PIC
são comuns. • Diagnóstico definitivo é melhor e mais rápido por PCR
As neuropatias cranianas, especialmente envolvendo
os NCs 11.111, IV, VI e VII são comuns. Prognóstico
• Mortalidade geral (25 a 30%)
Diagnóstico. A análise do LCS demonstra baixa glicose, • Piora com TMR ou TXR

proteína elevada e pleocitose linfocitária. Bacilos álcool-


344 Infecção, inflamaçao e doenças desmielinizantes

Imagem das e com edema perilesional variável. Calei ficações po


dem ser evidenciadas nos granulomas cicatrizados (Fig.
Características gerais. Diagnóstico e tratamento precoces
são necessários para reduzir as altas morbidade e mortali 13-6). A TC com contraste demonstra realce puntiforme,
sólido ou anelar (Fig. 13-7).
dade relacionadas à TB do SNC. Como a TC pode ser nor
Pseudoabscesso. Os pseudoabscessos tuberculosos
mal nas fases mais precoces da TEM, a RM com contraste
são hipodensos na TC sem contraste e apresentam impor
é o método diagnóstico de escolha.
tante efeito expansivo com edema adjacente. Realce ane
Achados na TC. lar é visto na TC com contraste (Fig. 13-58).
Meningite por TB. Hidrocefalia não específica é o Achados na RM.
achado mais (requente na TC sem contraste. A indefini
Meningite por TB. Os exsudatos basilares são isoin-
ção das margens ventriculares indica acúmulo de líqui tensos ao cérebro nas imagens ponderadas em TI, dan
do extracelular na SB subependimária. A medida que a do ao LCS a aparência de "sujo" (Fig. 13-8). FLAIR
doença progride, exsudatos iso ou levemente hiperdensos demonstra alto sinal nos sulcos e nas cisternas. Definido
indefínem e substituem o LCS em geral hipodenso junto realce meníngeo linear ou nodular pode ser identificado
aos sulcos e à base do cérebro (Fig. 13-5A). A TC com nas seqüências TI pós-contraste com saturação de gordu
contraste mostra importante realce das meninges da base ra. Realce focai ou difuso da dura-aracnoide (paquimenin-
e do espaço subaracnóideo (Fig. 13-58). gite) com ou sem envolvimento do espaço subaracnóideo
Os pacientes que pioram durante o tratamento fre adjacente é incomum mas pode ocorrer (Fig. 13-12).
qüentemente desenvolvem hidrocefalia, infartos. exsuda Os exsudatos tuberculosos freqüentemente se esten
tos ou tuberculomas. dem para o interior do cérebro por meio dos espaços peri-
Tuberculoma. A TC sem contraste demonstra uma ou vasculares. causando meningoencefalite.
mais lesões de aspecto expansivo iso ou levemente hiper- As complicações mais comuns da MTB são vasculares.
densas, arredondadas, com margens lobuladas ou serrilha- Os flow voids das artérias maiores podem estar reduzidos.

13-5A TC na MTB demonstran


do apagamento completo das
cisternas da base por exsudato
moderadamente tiiperdenso
E S
13-58 TC pós-contraste no
mesmo paciente demonstrando
que o exsudato realça modera
damente ES. A lesão no lobo
temporal esquerdo com realce
periférico EB com edema ad
jacente pode representar tanto
um tuberculoma quanto um
pseudoabscesso por TB. (Cortesia
de A. T. Maydell, MD, S. Androni-
kou, MO.)

13-6 Duas imagens axiais


diferentes de uma TC em um
paciente com TB do SNC de
monstrando dois granulomas
calcificados B. Não existem
sinais de MTB ativa. (Cortesia de
R. Ramakantan, MD.)
13-7 TC pós-contraste em um
menino de 6 anos imunocompe-
tente demonstrando múltiplos
tuberculomas puntiformes com
realce B.
Tuberculose, infecções fúngicas, parasitárias e outras ínfecçoes 345

Pode haver necrose do parênquima cerebral adjacente às


áreas de inflamação meníngea. Infartos de artérias pene
trantes com realce e difusão restrita são comuns (Fig. 13-8).
Tuberculoma. A maioria dos granulomas por TB
são lesões sólidas caseosas que se apresentam hipo ou
isointensas ao cérebro em TI e hipointensas em T2
(Fig. 13-9A). Áreas liqüefeitas podem se apresentar com
alto sinal em T2 e halo de baixo sinal (Fig. 13-lOA).
O realce é variável, desde mínimos focos puntiformes
até múltiplas lesões com realce anelar. Um realce modera
do periférico anelar ou lobulado circundando a região cen
tral sem impregnação é o padrão mais típico (Fig. 13-98),
(Fig. 13-IOB). A pRM mostra rCBV elevado na região
celular hipervascular periférica de impregnação.
Os tuberculomas sólidos caseosos não apresentam
restrição à difusão da água, embora focos liqüefeitos pos
sam apresentar restrição. 13-8 MTB com LCS "sujo" B, hídroceíalia B3, real
ce meningeo basal difusão restrita. (Cortesia de S.
A espectroscopia por RM pode ser muito útil na ca Andronikou, MD.)
racterização dos tuberculomas e para fazer a distinção
com neoplasia e abscesso piogênico. Uma queda impor
tante na relação NAA:Cr com pequena redução na relação
NAA:Cho é típica. O grande pico de lipídeos com ausên
cia de outros metabólitos como amincácidos e succinato é
visto em 85 a 90% dos casos (Fig. 13-lOC).
Pseiidoabscesso. Diferentemente dos tuberculomas,
os pseudoabscessos por TB são hiperintensos ao cérebro
em T2/FLA1R e apresentam restrição à difusão da água.
Uma lesão com realce periférico multilobulada ou múl
tiplas lesões separadas são o achado típico nas imagens
ponderadas em TI pós-contraste. A espectroscopia por
RM demonstra picos de lipídeo e lactato sem evidência de
aminoácidos do citosol.

Diagnostico diferencial
Por apresentarem características de imagem semelhantes, 13-9A Imagem ponderada em T2 demonstrando
os principais diagnósticos diferenciais da MTB são me múltiplos tuberculomas como focos hipointensos com
ningite carcinomatosa e meningite piogênica. A me edema periférico B.
ningite carcinomatosa é normalmente encontrada em
pacientes mais velhos com história de neoplasia do SNC
primária ou sistêmica.
A neurossarcoidose também pode simular MTB. A
infiltração da hipófise, do infundíbulo hipofisário e do hi-
potálamo é comum.
O principal diagnóstico diferencial para múltiplos
tuberculomas no parênquima cerebral é a neurocisticer-
cose (NCC). Na NCC, em geral são encontradas lesões
em múltiplos estágios de evolução. Os tuberculomas tam
bém podem lembrar abscesses piogênicos ou neoplasias.
Os abscessos apresentam restrição à difusão da água. Os
tuberculomas apresentam um grande pico de lipídeo na
espectroscopia por RM e não apresentam o pico de Cho
característico das neoplasias.
O pseudoabscesso por TB pode ser idêntico ao abs
cesso piogênico nos estudos de imagem-padrão. Ambos 13-9B Imagem ponderada em Ti pós-contraste do
apresentam difusão restrita. A espectroscopia por RM do mesmo paciente demonstrando lesões adicionais com
pseudoabscesso por TB não demonstra aminoácidos do realce puntiforme B e anelar B3. (Cortesia de R.
Ramakanta, MD.)
citosol, achado característico das lesões piogênicas.
346 Iníecção, inflamação e doenças desmielinizantes

TUBERCULOSE DO SNC: IMAGEM

Aspectos gerais
• Melhor método = RM com contraste
• Achados variam conforme a patologia
o Meningite por TB
o Tuberculoma
o Abscesso
• Combinação de achados (habitualmente MTB,
tuberculoma)
Achados na TC
• Meningite por TB
o Pode ser normal nas fases iniciais!
o Hidrocefaíia não específica é comum
o Margens ventriculares indefinidas
o Sulcos e cisternas da base apagados
13-1 OA Imagem ponderada em T2 demonstrando o Exsudatos iso/moderadamente hiperdensos
tuberculomas caseosos hipointensos SI, edema (S. o Realce do espaço pial-subaracnóideo grosseiro,
A liquefaçao central apresenta sinal híperintenso E3. intenso
o Pode causar paquimeningopatia com realce difuso
dural-aracnóideo
o Procurar por infartos parenquimatosos secundários
• Tu b e r c u l o m a
o Massas parenquimatosas iso/hiperdensas
o Arredondado, lobulado > margens irregulares
o Edema variável
o Realce puntlforme, sólido ou anelar
o Pode se apresentar com massa durai focai com realce
o Crônico e curado, pode calcificar
• Abscesso
o Massa hipodensa
o Marcado edema perilesíonal (geralmente)
o Realce anelar

Achados na RM
• Meningite por TB
o Pode ser normal
13-106 Imagem ponderada em Ti pós-contraste o LCS "sujo" em TI
com saturação de gordura demonstrando realce sólido o Hiperintenso no FLAIR
E3 e anelar S. o Realce do espaço pial-subaracnóideo grosseiro,
Intenso
o Pode se estender pelos espaços perivasculares ao
cérebro
o Vasculile, infartos secundários
o Artérias penetrantes > infartos territoriais grandes
• Tuberculoma
o Hipo/isointenso ao cérebro em TI
o Maioria hipointenso em T2
o Realce anelar
o Raro = lesão expansiva com realce e base durai
o Grande pico de lipideo na espectroscopia por RM
• Abscesso
o Hiperintenso em T2/FLAIR
o Edema perilesíonal marcado
o Realce periférico, multilobulado

Diagnóstico diferenciai
• MTB
13-10C Espectroscopia por RM com TE = 35 ms de o Meningite piogênica e carcinomatosa
monstrando redução do pico de NAA e pico de lipídeo- o Neurossarcoidose
-lactato proeminente B.
Tuberculose, infecções fúngicas, parasitárias e outras iníecções 347

sistema imune intacto. Infecções sistêmicas disseminadas


• Tuberculoma
costumam ser vistas em pacientes imunocomprometidos.
o Neurocisticercose
Três padrões de doença são vistos na cabeça e no pes
o Neoplasia primária ou metastática
o Abscesso plogénico coço: (1) linfadenite cervical crônica, (2) síndrome infla-
o Lesão expansiva com base durai pode simular matória da reconstituiçào imunológíca (ÍRIS) e (3) doença
do SNC (Fig. 13-13).
meningioma
Linfadenite cervical não tuberculosa
Aspectos clínicos. A infecção cervical subaguda ou crônica
Infecções micobacterianas nõo tuberculosas
é de longe a manifestação mais comum de MAIC na ca
As micobactérias nào tuberculosas (MNTs) são organis
beça e no pescoço. Crianças menores de 5 anos e pacien
mos onipresentes amplamente distribuídos na água e no
tes imunocomprometidos são afetados com freqüência. A
solo. A doença em humanos em geral é causada por expo
maioria dos pacientes encontra-se afebril e se apresenta
sição ambiental e nào por transmissão homem a homem. com uma massa submandibular ou pré-auriculan indolor,
Comparadas ao M. tuberculosis, as infecções por com crescimento progressivo. A radiografia de tórax não
MNTs são incomuns. A maioria é causada por duas mi
demonstra sinais de tuberculose pulmonar.
cobactérias próximas "atípicas", M. avium e M intra-
cellulare. que são coletivamente denominadas complexo Imagem. A TC sem contraste evidencia um ou mais lin-
M. avium-iníracellulare (MAIC). MNTs menos comuns fonodos aumentados, isodensos, sólidos ou cisticos nos
incluem M abscessus, M. foríuitum e M. kansasii. níveis 1 e II. A doença unilateral é mais comum do que
A manifestação mais comum da infecção por MAIC é a bilateral. Alterações inflamatórias nos tecidos moles cir-
doença pulmonar, que geralmente ocorre em adultos com cunjacentes são mínimas ou ausentes.

13-11 Imagem de necropsia


demonstrando TB como uma
massa focai durai ES. O aspecto
de imagem é indistinguivel de
um meningioma.
13-12A TC pós-contraste
em um caso de pseudotumor
inflamatório com base durai por
TB demonstrando massa fronto-
temporai direita "em placa" com
importante realce. B

13-12B Imagem ponderada


em TI do mesmo paciente de
monstrando que a massa ES é
isointensa ao córtex adjacente.
13-12C Imagem ponderada
em T2 demonstrando que a mas
sa B é moderada hiperintensa
comparada ao cérebro adjacente
e é associada a edema significa
tivo no parênquima cerebral.
348 Iníecção, inflamação e doenças desmielinizantes

13-12D Imagem ponderada


em TI pós-contraste demons
trando que a massa com base
durai B realça intensa e unifor
memente. Observe a estase do
contraste (realce intravascular)
nos ramos da artéria cerebral
média B.
13-12E Imagem ponderada
em TI no plano coronal pós-
-contraste mostrando o pseudo
tumor com base durai realçado
ES causando efeito expansivo
significativo, evidenciado por
hierniação subfalcial do ventrículo
lateral ES. (Cortesia de A. Siliag,
MO.)

13-13 Espécime de biópsia


de um pseudotumor de células
fusiformes micobacterianas do
sistema nervoso central de um
paciente com Aids demonstrando
um grande número de bacilos
élcool-ácidorresistentes ÍS
no interior de fiistiócitos epite-
lioides. Granulomas e células
gigantes multinucleadas não são
identificadas. (Cortesia de 6. K.
DeMasters, MO.)
13-14 TC pós-contraste no
plano axial em uma menina de
2 anos de idade com múltiplos
linfonodos apresentando realce
anelar ES e centro hipodenso.
Adenite por micobactéria não
tuberculosa.

13-15A Imagem ponderada


em T2 com saturação de gordura
em um menino de 2 anos com
fiistória de adenopatia cervical
há cinco meses demonstrando
linfonodos aumentados no nível
II sa e um linfonodo aumenta
do, menos hiperintenso, hete
rogêneo ES lateral à glândula
submandibular direita B.
13-15B Imagem ponderada
em TI pós-contraste com satu
ração de gordura demonstrando
realce periférico e necrose cen
tral em uma massa linfonodal
ES. Os linfonodos aumentados
no nível IIB realçam homoge-
neamente. Adenite micobacte-
riana não tuberculosa.
Tuberculose, infecções fúngicas, parasitárias e outras infecções 349

A TC com contraste em geral demonstra realce peri


férico (Fig. 13-14). Ocasionalmente, pode acontecer fistu- INFECÇÕES MICOBACTERIANAS NÃO
lizaçào com a pele. TUBERCULOSAS
A RM demonstra linfonodos de aspecto cístico, com
Etiologia e aspectos clínicos
alto sinal e mínima inflamação adjacente nas imagens pon • Micobactéfias não tuberculosas (MNT)
deradas em 72 com saturação de gordura (Fig. 13-15A). o Micobactérias "atípicas"
As imagens ponderadas em 71 pós-contraste com satu o Mais comum = M. avium, M. intracellulare
ração de gordura demonstram realce periférico marcado o chamado coletivamente de complexo M. ovium-
circundando o centro hipodenso necrótico (Fig. 13-15B). introcellulore (MAIC)
• Doença pulmonar (imunocompetente)
Diagnóstico diferencial. O principal diagnóstico diferencial • Doença sistêmica disseminada (imunocomprometida)
para linfadenite cervical não tuberculosa é linfadenopa- • Doença de cabeça e pescoço menos comum; raro no
tia supurativa. Esses pacientes se apresentam com febre SNC
e lesão(Ões) dolorosa(s). Celulite com infiltração da gor
Linfadenite cervical não tuberculosa
dura e das estruturas adjacentes é comum. • linfadenopatia subaguda/crônica
A tuberculose causa 95% das linfadenites cervicais em • Criança imunocompetente < 5 anos
adultos e apenas 8% em crianças. Metade de todos os casos • Apresentação típica: massa pré-auricular e
ocorre em pacientes imunocomprometidos. Os estudos de submandibular indolor
imagem demonstram múltiplos linfonodos aumentados no • Imagem mostra linfonodos aumentados e com realce
triângulo posterior e na cadeia jugular interna. As lesões bi periférica
laterais são típicas, e doença pulmonar coexistente é comum.
Síndrome inflamatória da reconstituição
Outros diagnósticos diferenciais menos comuns in
imunológica
cluem doença da arranhadura do gato e cistos de se • Paciente HIV(+) com MAIC disseminado tratado com
gundo arco branquial. A doença da arranhadura do H A A RT
gato se apresenta uma ou duas semanas após o incidente e • Normalmente envolve os pulmões e os linfonodos
é vista como uma adenopatia satélite reacional nos linfo • Doença do SNC é muito rara
nodos drenando a região envolvida. Os cistos de segundo o Lesões parenquimatosas disseminadas que realçam
arco branquial podem simular um linfonodo cístico, mas
Doença do SNC devido a MNT
estão localizados entre a glândula submandibular e o miis- • Aspectos clínicos
culo estemocleidomastóideo. o MAIC no SNC < < < TB no SNC
o Pacientes imunocomprometidos
IRIS associada a MAIC • Patologia
A IRIS micobacteriana atípica fora do SNC é comum, o Lesão com efeito expansivo (pseudotumor
ocorrendo freqüentemente como doença pulmonar e/ou micobacteriano com células fusiformes)
linfadenite. A ÍRIS micobacteriana atípica no SNC é mui o Histiócitos, células inflamatórias, bacilos
to rara. Os achados descritos incluem inflamação granulo- ácidorresistentes Intracitoplasmáticos
matosa perivascular com múltiplas lesões parenquimato- o Linfonodos, pulmões, pele > > nariz e órbita > SNC
• Imagem
sas sofrendo realce em 71 pós-contraste.
o Massa focai com base durai

Doença do SNC o Pode simular meningioma e neurossarcoidose


Em comparação à 7B do SNC, as infecções por MAIC
são incomuns. O MAIC causa uma lesão expansiva infla-
matória localizada chamada de pseudotumor micobacte-
riano com células fusiformes. Os locais mais comuns são Infecções fúngicas
os linfonodos, os pulmões e a pele.
A maioria dos casos relatados na cabeça e no pescoço Fungos são organismos onipresentes com ampla distribui
é encontrada no nariz e na órbita. Lesões intracranianas
ção. Embora as infecções fúngicas do SNC sejam inco
são excepcionalmente raras e a maioria é encontrada em muns, a prevalência tem se ampliado conforme o número
de pacientes imunocomprometidos aumenta.
pacientes com HIV/Aids.
Na biópsia, os pseudoiumores micobacterianos con
têm camadas de histiócitos epitelioides com infiltrado Terminologia
celular inflamatório misto e pouca necrose. Inúmeros As infecções fúngicas do SNC também são chamadas de
bacilos ácidorresistentes intracelulares são identificados, micoscs cerebrais. Urna "bola fúngica" localizada tam
embora granulomas e células gigantes multinucleadas es bém é chamada de micetoma ou de granuloma fúngico.
tejam ausentes (Fig. 13-13).
Os estudos de imagem demonstram uma massa com Etiologia
base durai, que sofre realce e simula meningioma e neu- Patógenos fúngicos. Um número variado de patógenos fún-
rossarcoidose. gicos pode causar infecçào no SNC. Os mais comuns são
350 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

Coccidioides immiíis, Aspergillus fumigatus, Cryptococ-


cus neoformans, Hisloplasma capsulatum, Candida albi
cans e Blastomyces dennatitidis. Os membros da classe
dos zigomicelos (em especial o gênero Mucor) também
podem se tomar patogênicos.
Os agentes específicos variam conforme o estado
imune. Candidíase, mucormicose e criptococose costu
mam ser infecções oportunistas. Elas ocorrem em pacien
tes com fatores predisponentes como diabetes, neoplasias
heinatológicas e imunossupressao. Coccidioidomicose e
aspergilose afetam tanto os pacientes imunocompetentes
quanto os imunocomprometidos.
Exposição ambiental. Com exceção do C. albicans (cons
tituinte normal da flora intestinal humana), a maioria
das infecções fijngicas são inicialmente adquiridas pela
13-16A Espécime de necropsia demonslrando In- inalação de esporos fijngicos na poeira e no solo conta
fartos hemorrágicos múltiplos B típicos de infecção minados.
fúngica. A coccidioidomicose ocorre em áreas com baixa pre
cipitação e altas temperaturas no verão (p. ex., México,
sudoeste dos Estados Unidos, algumas partes da América
do Sul), enquanto a histoplasmose e a blastomicose ocor
rem em áreas sombreadas com ar úmido e madeira podre
(p. ex., África, ao redor dos grandes lagos e vales de rios
na América do Norte).

Infecções sistêmicas e do SNC. Uma grande quantidade de


esporos inalados pode provocar infecção pulmonar. Em
pacientes imunocompetentes, fungos da blastomicose e
histoplasmose são normalmente confinados aos pulmões,
onde causam doenças granulomatosas.
A disseminação hematogênica dos pulmões para o
SNC é a rota mais comum de infecção. As infecções si-
nonasais fúngicas podem invadira base do crânio e o seio
cavemoso diretamente. A doença sinonasal com extensão
13-16B Imagem axial através do hemisfério cerebral intracraniana (doença rinocerebral) é o padrão mais co
no mesmo caso demonstrando infarto subcortical he mum de infecções por Aspergillus e Mucor no SNC.
morrágico SI. (Cortesia de R. Hewlett, MD.) A doença fúngica disseminada em geral ocorre em
pacientes imunocomprometidos.

Patologia
São quatro as manifestações patológicas das micoses do
SNC: doença meningea difusa (mais comum), lesões pa-
renquimatosas focais ou múltiplas (comum), doença dis
seminada não focai do parênquima (rara) e massa focai
com base durai (raríssima).
Localização. As meninges são o sítio mais comum, segui
das pelo parênquima cerebral e pela medula espinal.
Tamanho e número. Micetomas parenquimatosos variam
em tamanho desde muito pequenos (poucos milímetros)
até lesões com 1 ou 2 cm. Lesões maiores são infrequen-
tes, embora múltiplas lesões sejam comuns.

13-17 Agrupamentos em aspecto radial de Asper


Patologia macroscópica. O achado macroscópico mais co
mum é meningite basilar com congestão meningea. As
gillus SI penetrando na parede de um vaso sangüíneo
leptomeníngeo [S. (Cortesia de D. K. DeMasters, MD.) infecções fúngicas parenquimatosas podem ser tanto dis
seminadas quanto focais.
Tuberculose, infecções fúngicas, parasitárias e outras infecções 351

Os abscesses fúngicos são lesões encapsuladas com sados. Granulomas fúngicos são menos comuns, sendo
centro apresentando aspecto mucoide espesso ou marrom caracterizados pela presença de células gigantes muiti-
claro, margem irregular avermelhada e edema periférico. nucleadas.
Doença disseminada é menos comum e causa cerebrite As infecções fúngicas extra-axiais são caracteriza
fúngica com cérebro difusamente inchado. das predominantemente por proliferação de células fu-
Os infartos hemorrágicos, em gerai nos núcleos da siformes.
base ou na junção entre a substância branca e cinzenta,
são comuns com fungos angioinvasivos (Fig. 13-16). Ra Aspectos clínicos
ramente as infecções fúngicas podem produzir massas Epioemiologia. a epidemiologia varia conforme a espécie
com base durai com aspecto semelhante ao meningioma. do fungo. Muitas infecções são comuns e assintomáticas
Características microscópicas. As características microscópi (p. ex., cerca de 25% da população do Canadá está infec
tada por Histoplasnía).
cas das infecções fúngicas do SNC variam com a espécie do
A candidíase é a infecção fúngica nosocomial mais
agente (Fig. 13-17). Blasiomyces. íiistoplasma, Cryptococ- comum do mundo. A aspergilose responde por 20 a 30%
eus e Candida são leveduras. Aspei-gillus tem hifas septa-
dos abscessos cerebrais fúngicos e é a complicação cere
das e ramificadas. Candidatem pseudo-hifas. Coccidioides
bral mais comum após o transplante de medula óssea. Mit-
apresenta esporângios que contêm endósporos. cor são amplamente distribuídos, mas em geral infectam
O abscesso fúngico exibe necrose centrai de coagulaçào
com moderadas quantidades de células inflamatórias agudas apenas pacientes imunocomprometidos.
(ieucócitos poiimorfonucieares) e crônicas (linfo-histióci- Aspectos demográficos. Os pacientes imunocompetentes
tos) junto com um número variável de organismos fiíngicos. apresentam distribuição bimodal de idade com infecções
Eie também é circundado por um halo de tecido de fúngicas predominando em crianças e em indivíduos ido
granulação, hemorragia perivascular e vasos trombo- sos. Existe uma discreta predominância no sexo masculi-

13-18A TC no plano axial em


um paciente imunocompelente
demonstrando lesão de aspecto
expansivo hipodensa com discre
to halo hiperdenso B circunda
da por importante edema E3.
13-18B TC pós-contraste do
mesmo paciente demonstrando
realce periférico serrilhado BI
com edema e ventriculite adja
cente ES. A cirurgia identificou
aspergiloma.

13-19A TC demonstrando

múltiplas hemorragias parenqui-


matosas EI em ambos os lobos
occipitais causadas por Infecção
fúngica angioinvasiva.
13-19B TC em corte mais
cranial no mesmo paciente de
monstrando lesões hemorrágicas
distribuídas em ambos os hemis
férios. Micetomas hemorrágicos
da aspergilose angioinvasiva
foram identificados na cirurgia.
352 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

no. Os pacientes imunocomprometidos de todas as idades


e ambos os sexos estão em risco. INFECÇÕES FÚNGICAS DO SNC
Apresentação. Sintomas não específicos como perda de Etíologla e ambiente
• Características gerais
peso, cansaço e fadiga são comuns. Muitos pacientes ini o A maioria é amplamente encontrada em todos os
cialmente apresentam sintomas relacionados à infecção
locais
pulmonar. O envolvimento do SNC é traduzido por cefa- o A maioria vem de esporos do solo (exceção =
leia. meningismo, alterações no estado mental e/ou con
Condido)
vulsões. • Normal ou normal/imunocomprometido
o Histoplasmose, blastomicose
Diagnóstico. Os achados de imagem e laboratoriais cos
o Aspergilose, coccidioidomicose
tumam ser inespecíficos. Enquanto as características • Normalmente imunocomprometido
microscópicas são úteis para o diagnóstico, culturas são o Candidíase, criptococose, mucormicose
necessárias para documentar as espécies e o tipo de infec-
ções fúngicas. Patologia
O diagnóstico de infecções fúngicas agressivas pode ser • Quatro manifestações básicas
o Doença meníngea difusa
especialmente difícil em pacientes imunocomprometidos. o Lesões focais múltiplas/solitárias parenquimatosas
Não existe teste sorológico ou baseado em PCR para alguns
o Doença disseminada não focai do parênquima
fungos (p. ex., Mucor). A biópsia permanece como o único o Lesão focai durai
método confiável para o diagnóstico dessas infecções. • Fungos angioinvasivos {Mucor, Aspergillus) podem
História natural. O prognóstico depende da doença de causar infartos hemorrágicos
base do paciente tanto quanto do diagnóstico acurado e
rápido para instituição de terapia anlifúngica adequada.

13-20A Imagem ponderada


em T1 sagital pós-contraste de
um homem de 30 anos com
meningile/venlriculile por Coc-
cfd/ofdes demonstrando hidro-
cefaiia obslruliva com aumento
marcado do quarto ventrícuio
B. O exsudato espesso com
realce ES preenche completa
mente as cisternas suprasseiar e
pré-pontina, cisterna magna e se
estende inferiormente ao redor
da medula cervical.
13-20B Imagem ponderada
em TI axial pós-contraste no
mesmo paciente demonstrando
realce importante das cisternas
basais e ambiens ES. Observe
também a ependimite. B

13-21A Imagem ponderada


em TI de um paciente imuno
comprometido com infecção fún-
gíca disseminada demonstrando
atrofia cerebral difusa, hipointen-
sidades multifocals confluentes
no cortex e na substância branca
subcortical ES. Lesão focai de
aspecto cistico é identificada nos
núcleos da base à direita f^-
13-21B Hiperintensidade
difusa em FLAIR através de quase
todo o cortex, substância branca
subcortical e núcleos da base
B. Cerebrite fúngica com mice-
toma nos núcleos da base BI.
Tuberculose, infecções fúngicas, parasitárias e outras Infecções 353

gite por Coccidioides demonstram meninges espessadas,


Aspectos clínicos moderadamente hiperdensas na base do crânio.
• Fatores de risco
o Imunossupressão congênita/adquirida A infecção parenquimatosa difusa causa edema cere
o Diabetes
bral difuso. As hemorragias parenquimatosas multifocais
• Idade são comuns em pacientes com espécies fúngicas angioin-
o Bimodal (crianças, indivíduos idosos), podendo vasivas (Figs. 13-19, 13-25).
afetar qualquer Idade Os micetomas nos seios paranasais costumam ser vis
tos como um seio opaciflcado hiperdenso que contém cal-
cificações lineares/minimamente arredondadas. A sinusite
Imagem fúngica por vezes toma-se invasiva, atravessando a muco
sa e envolvendo vasos sangüíneos, ossos, órbita, seios ca-
Características gerais. Os achados variam conforme o
vernosos e cavidades intracranianas. A erosão óssea focai
estado imunológico do paciente. Os abscessos fúngi-
ou difusa, com infiltração dos tecidos moles adjacentes,
cos bem formados são vistos em pacientes imunocom-
pode simular neoplasia. A TC com janela óssea e recons
petentes. As imagens realizadas no início do curso de
uma infecção rapidamente progressiva de um paciente truções nos três planos-padrão é útil para avaliar envolvi
mento da base do crânio, enquanto imagens de RM pon
imunocomprometido podem demonstrar edema cerebral deradas em TI com contraste e saturação de gordura são a
difuso mais característico de encefalite do que abscesso
melhor modalidade para delinear comprometimento além
fúngico. da cavidade nasal e paranasal (Fig. 13-26).
Achados na TC. Os achados na TC incluem lesões paren- A doença meníngea difusa apresenta realce pial-
quimatosas hipodensas causadas por granulomas focais -subaracnóideo na TC pós-contraste. Múltiplas lesões
ou isquemia (Fig. 13-18). A hidrocefalia é comum em pa puntiformes ou em anel com realce são achados típicos
cientes com meningite fúngica. Os pacientes com menin dos micetomas.

13-22A Imagem pondera


da em 11 no plano sagilai no
mesmo caso da Figura 13-18 de
monstrando edema hípointenso
circundando um halo moderada
mente hiperintenso BEI.
13-22B Imagem ponderada
em T2 no plano axial demons
trando que a lesão é predomi
nantemente hipointensa relati
vamente ao cortex.

13-22C Imagem ponderada


em T2* GRE mostra múltiplos
focos puntiformes de artefato de
susceptibiiidade magnética
dentro da lesão, consistente com
hemorragias petequiais.
13-22D Imagem ponderada
em TI pós-contraste demons
trando lesão de aspecto expansi
vo com realce irregular periférico
que circunda o centro sem
realce. Observe a extensão para
o interior do ventrículo lateral
com realce ependimário difuso
O aspergiloma foi encontra
do na cirurgia e confirmado na
histopatologia.
354 Infecção, inflamação e doenças desmlelinizantes

13-23 Abscessos múltiplos por Nocordio em uma mulher de 35 anos. 13-24 Abscessos pot Aspergillus em um paciente imunocomprome-
Note os halos hiperintensos em Ti SB, hipontensidade em T2/FLAlfi tido. Imagem ponderada em TI no plano axial demonstrando focos de
SI e realce sólido e periférico hiperintensidade puntiformes e anelares com artefato de susceptibi-
lidade magnética na ponderação em T2 ' SI. Realce nodular e periférico
é identificado em Ti pós-contraste com saturação de gordura S. A
maioria das lesões não apresenta restrição à difusão SB.

Achados na RM. A meningite fúngica se apresenta com


LCS de aspecto "sujo" em T1. As lesões parenquimatosas Diagnóstico diferencial
são, com freqüência, hipointensas em TI, porém podem Os achados de imagem da meningite fúngica são inespe-
apresentar encurtamento do tempo TI se houver hemorra cíficos e lembram os achados das meningites piogênica,
gia subaguda associada (Fig. 13-23). As paredes irregula tuberculosa e carcinomatosa.
res com projeções sem realce para o interior da cavidade Os abscessos fúngicos podem algumas vezes ser dife
são achados típicos. renciados dos abscessos piogênicos pelas paredes mais ir
Em pacientes com cerebrite fiingica, hiperintensidades
regulares, projeções internas sem realce e picos de resso
em T2/FLAIR bilaterais assimétricas corticais/subcorticais
nância entre 3,6 e 3,8 ppm na espectroscopia. A TB pode
e nos ntícleos da base podem ser identificadas (Fig. 13-21). ter margens serrilhadas e se apresentar com características
As lesões focais (micetomas) demonstram focos de alto
semelhantes aos abscessos fúngicos nos métodos-padrão
sinal que, com freqüência, têm halo hipointenso periféri de imagem. A hemorragia macroscópica é mais comum
co, circundado por edema vasogênico. As seqüências T2* em abscessos fúngicos do que com abscessos piogênicos
podem demonstrar artefato de susceptibilidade magnética ou tuberculosos.
focai causado por hemorragia e calcificação (Fig. 13-24). Outras doenças que simulam abscessos fúngicos são
Os micetomas nos seios paranasais e no parênquima habi
neoplasias primárias (p. ex., glioblastoma multiforme
tualmente apresentam restrição na difusão (Fig. 13-26D). com necrose central) e metástases.
As imagens T1 pós-contraste com saturação de gordu
ra demonstram realce difuso e espesso das leptomeninges
basais (Fig. 13-20). Fungos angioinvasivos podem erodir
INFECÇOES FUNGICAS: IMAGEM
a base do crânio, causar espessamento durai em placa e
ociuir uma ou ambas as artérias carótidas (Figs. 13-27 e TC

13-28). As lesões parenquimatosas podem apresentar re Meningite


o Meninges íso/hiperdensas
alce puntiforme, anelar ou irregular (Figs. 13-22 e 13-24).
Abscesso
A espectroscopia por RM demonstra Cho moderada o Centro hipodenso
mente aumentada e queda do NAA. O pico de lactato é o Halo hlperdenso
visto em 90% dos casos, enquanto lipídeos e aminoácidos o Graus variados de hemorragia (infecções
são identificados em cerca de 50%. Os múltiplos picos
angioinvasivas)
ressonando entre 3,6 e 3,8 ppm são comuns e provavel
(continuo)
mente representam trealose.
Tuberculose, infecções fúngicas, parasitárias e outras infecções 355

13-25A TC da aspergilose
angioinvasiva demonstrando
infartos hípodensos no cerebelo,
mesencéfalo e lobos frontais e
temporais.
13-25B TC axial do mesmo
paciente demonstrando que os
infartos nos núcleos da base
apresentam sinais de transfor
mação hemorrágica

13-26A Séries de imagens


demonstrando micetomas focais
sinonasais. Imagem ponderada
em TI no plano axial demons
trando massa isointensa expan
siva destrutiva B no nariz e
no seio etmoide. A lesão invade
a órbita esquerda e se estende
posteriormente, obstruindo o
seio esfenoidal.
13-26B A lesão tem sinal
predominantemente fiipointenso
SI em T2, embora apresente
algumas áreas de sinal misto.
Observe alterações destrutivas
no seio esfenoidal

13-26C Imagem ponderada


em TT pós-contraste com satura
ção de gordura mostrando realce
periférico ao redor das margens
da lesão expansiva El.
13-26D A lesão apresenta
restrição à difusão 63.
356 Infecçao, inflamação e doenças desmielinizantes

13-27 Visão aproximada do


seio cavernoso necropsiado com
sinusite túngica invasiva ociuindo
a artéria carótida interna no seg
mento cavenoso à esquerda
(Cortesia de R. Hewlett, MD.)
13-28A TC com filtro ósseo
em um paciente com diabetes
pobremente controlada e mu-
cormicose invasiva. Observe a
destruição óssea, a destruição do
ápice da órbita e do seio esfenol-
dal B.

13-286 Imagem ponderada


em 12 no plano axial com satu
ração de gordura demonstrando
flow void normal da ACI direita
no segmento cavernoso ^3 e
lesão no seio cavernoso esquer
do com ociusâo da ACI E3.
13-28C Imagem ponderada
em 11 pós-contraste com satu
ração de gordura no mesmo pa
ciente demonstrando invasão do
seio cavernoso esquerdo (S e
ociusâo da artéria carótida

13-280 Imagem ponderada


em 11 pós-contraste com satura
ção de gordura através do topo
do seio cavernoso demonstrando
invasão à esquerda com realce
ES e flow void ausente ^3
(compare com o lado direito
normal ES).
13-28E Imagem ponderada
em TI pós-contraste no plano
coronal com saturação de gordura
demonstrando a porção cavernosa
da ACI direita ES, a ACI esquerda
ociuída S e infiltração do seio
cavernoso B. A mucormicose si-
nonasal invasiva em um paciente
diabético é uma doença potencial
mente letal. Este paciente morreu
após um infarto maciço da artéria
cerebral média esquerda logo
após o presente estudo.
Tuberculose, infecções fúngicas, parasitárias e outras infecçoes 357

vas primárias (oncosferas) que se disseminam via corrente


(continuação) sangüínea para praticamente qualquer órgão do corpo.
• Doença sínonasa!
o Hiperdenso {micetoma) Patologia
o Pode demonstrar calcificaçôes
o Destruição óssea presente ou ausente Localização. As larvas de T. solium são mais comuns no
o Extensão intracraniana possível SNC, nos olhos, nos músculos e nos tecidos subcutâneos. O
espaço subaracnóideo intracraniano é o sitio do SNC mais
R M comum, seguido pelo parênquima cerebral e pelos ventrícu-
• Meningite los (quarto > terceiro > ventriculos laterais) (Fig. 13-29). Os
o LCS "sujo" cistos na profundidade dos sulcos cerebrais podem provocar
o Isointenso ao cérebro em 71
uma reação inflamatória intensa, efetivamente "selando" o
o Hiperintenso em T2/FLAIR
• Abscesso
sulco e fazendo o cisto parecer intra-axial.
o Centro hipointenso, halo hiperintenso em 11 Tamanho e número. A maioria dos cistos parenquimatosos
o Centro hiperintenso, halo hipointenso em 72 da NCC são relativamente pequenos, de alguns milímetros
o Focos de hemorragia com artefato de
até cerca de I cm de diâmetro. Ocasionalmente, múltiplos
susceptibilidade magnética em 72* cistos grandes podem se formar no espaço subaracnóideo
o Restrição na difusão
o Forte realce em 71 p6s-contraste (a forma racemosa da NCC, que lembra um cacho de uvas).
o Espectroscopia: pico de lactate em 90%, lipídeos e Em número, as lesões variam de solitárias (20 a 50%
aminoécidos em 50%, múltiplos picos ressonando dos casos) até múltiplos pequenos cistos.
entre 3,6 e 3,8 ppm Patologia macroscópica. Quatro estágios de desenvolvi
Diagnóstico diferenciai mento e regressão da NCC são identificados. Os pacientes
• Meningite granulomatosa, piogênica podem apresentar múltiplas lesões em diferentes estágios
• Abscesso piogênico de evolução.
• Neoplasia (primária, metastática) Na fase vesicular, larvas viáveis (o cisticerco) apre
sentam-se como cistos translúcidos, de paredes finas, com
conteúdo líquido e com o escólex esbranquiçado invagi
nado, excentricamente localizado (Figs. 13-30 e 13-31).
Infecções parasitárias Na fase vesicular coloidal, a larva começa a degene
No passado, as doenças parasitárias eram consideradas en rar. O conteúdo liquido do cisto toma-se espesso e turvo.
dêmicas apenas em países com condições sanitárias precá Uma importante resposta inflamatória é iniciada e carac
rias, o aumento do número de viagens e imigração transfor terizada por uma coleção de células gigantes multinucle-
mou as transformou em um problema de saúde global. adas, macrófagos e neutrófilos. Uma cápsula fibrosa se
Com exceção da neurocisticercose, a doenças parasi desenvolve e o edema perilesional toma-se proeminente.
tárias do SNC são raras. Quando elas infectam o cérebro, A fase granular nodular representa involução progres
causam lesões expansivas com características bizarras siva com colapso e retração do cisto em um nódulo granulo-
que podem simular neoplasias, matoso que eventualmente vai calcifícar. Persiste o edema,
embora a gliose pericistica seja o achado mais comum nessa
Neurocisticercose fase. Na fase nodular calcificada, a lesão inteira se torna
A cisticercose é a infecção parasitária mais comum no um nódulo fibrocalcificado (Fig. 13-32). Nessa última fase,
não se identifica resposta imune do hospedeiro.
mundo, e as lesões no SNC se desenvolvem em 60 a 90%
dos pacientes com cisticercose. Características microscópicas. A parede do cisto apresenta
três camadas distintas - cuticular externa, celular média
Terminologia ("pseudoepitelial") e flbrilar interna ou camada reticular.
Quando a cisticercose infecta o SNC, é chamada de neuro A larva viável apresenta um rostelo com acúleos e vento
cisticercose (NCC). O cisticerco no cérebro é na realidade sas musculares.
a forma larval secundária do parasita. O escólex é a porção
que apresenta acúleos e ventosas. Na forma larval, o escólex Aspectos clínicos
é invaginado em um cisto, que é chamado de "vesícula". Epidemiologia. Em países onde a cisticercose é endêmica,
cisticercos calcificados são encontrados em 10 a 20% de
Etiologia
toda a população. Destes, cerca de 5% (400.000 de 75 mi
A maioria dos casos de NCC é causada pela larva encis-
lhões) serão sintomáticos.
tada do verme suíno Taenia solium e adquirida por meio
de contaminação fecal-oral. Os seres humanos são infec Aspectos demográficos. A NCC ocorre em todas as faixas
tados após a ingestão de ovos de T. solium. Quando os etárias, mas o pico de apresentação dos sintomas é entre
ovos atingem os intestinos, eles rompem e liberam as lar 15 e 40 anos. Não há predileção por gênero.
358 Infecçao, infiamaçao e doenças desmielinizantes

Apresentação. A NCC é uma doença clinicamente pleo-


NEUROCISTiCERCOSE: ETiOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA
mórfica, com apresentações muito variadas. Sinais e sin
tomas dependem do número e da localização das larvas, Etíología
do estágio de desenvolvimento, da duração da infecçào e • Verme do porco (r. solium)
da presença ou ausência de resposta imune do hospedeiro. • Transmissão fecal-oral

Epiíepsia/crises convulsivas são os sintomas mais co • Ovos ingeridos eclodem no intestino


muns (80%), sendo o resultado de inflamação junto ao cis • Liberação, disseminação das oncosferas
• Larvas encistam no cérebro
to em degeneração. Cefaleia (35 a 40%) e déflcits neuro
lógicos focais (15%) também são comuns. Entre IO e 12% Epídemíología
dos pacientes exibem sinais de pressão intracraniana ele • Infecçâo parasitária mais comum do mundo
vada. Outras manifestações como lesões cerebrovascula- • Lesão no SNC em 60 a 90% dos indivíduos infectados
res ocorrem em menos de 10% dos pacientes sintomáticos.
História natural. Muitos pacientes persistem assinlomáti-
imagem
cos por anos. O tempo médio da infestação até o desen
Características gerais. Os aspectos de imagem dependem
volvimento de sintomas é de 2 a 5 anos. O tempo para
de vários fatores: (1) estágio do ciclo de vida da T. solium
progredir entre todos os quatro estágios da doença varia na apresentação, (2) resposta inflamatória do hospedeiro.
de 1 a 9 anos, com uma média de cinco anos.
(3) número e localização dos parasitas e (4) complicações
Opções de tratamento. Albendazol oral com ou sem este- associadas como hidrocefalia e dano vascular.
roides, excisão/drenagem das lesões parenquimatosas e Fase vesicular. A TC demonstra um cisto de margens
ressecção endoscópica das lesões intraventriculares são as finas e definidas isodenso ao LOS. Não há edema ou real
opções de tratamento. ce na TC com contraste.

13-29 NCC. Cistos na conve-


xidade apresentam escóíex fcã
e inflamação periférica. O pro
cesso inflamatório circundando
os cistos maiores "sela" o sulco
cortical 3! e faz a lesão parecer
parenquímatosa. Cistos racemo-
SOS sem escólex podem ser
vistos nas cisternas da base.
13-30 a NCC na fase vesicular
apresenta cistos com conteúdo
fluido transparente ES e um
escólex branco perifericamente
posicionado IS. Observe uma
segunda lesão em fase granular
nodular ES. (Cortesia de R.
Hewlett, MD.)

13-31 Microscopia com baixa


magnificação de um cisticerco
mostrando o escólex invaginado
ES no interior do cisto de pare
des finas também chamado
de vesícula. (Cortesia de B. K.
DeMasters, MD.)
13-32 Vista aproximada
de um cisto calcificado da NCC
nodular SI. Observe a falta de
reação inflamatória e ausência
de efeito expansivo. (Cortesia de
R. Hewlett, MD.)
Tuberculose, infecções fúngicas, parasitárias e outras iníecçòes 359

A RM mostra que o cisto é isointenso ao LCS em TI e A parede do cisto encontra-se espessada e retraída, e
T2/FLAIR. O escólex é nodular e discretamente hiperintenso. o edema perilesional diminui significativamente, até, por
A ausência de realce é típica. A NCC disseminada ou "miliar" fim, desaparecer. Um realce nodular ou periférico anelar
dá um aspecto de "sal e pimenta" ao cérebro (Figs. 13-33 e discreto é característico nessa fase (Fig. 13-36D).
13-34) com impressionante ausência de edema perilesional. Fase nodular calcificada. Na TC, identifica-se um
Fase vesicular coloidal. O fluido do cisto é hiperdenso pequeno nódulo calcificado sem edema periférico ou re
em relação ao LCS na TC e demonstra realce anelar peri alce (FIg. 13-36A). As lesões calcificadas cicatriciais são
férico na TC pós-contraste. Uma pequena a grande quanti vistas como pontos de baixo sinal em imagens ponderadas
dade de edema circunda a larva em processo degenerativo. em TI e T2. O edema perilesional não é identificado. Nas
A RM demonstra que o fluido do cisto é moderada imagens T2* GRE, pode ser identificado artefato de sus-
mente hiperintenso ao LCS em TI e o escólex* hiperinten ceptibilidade magnética, inclusive multifocal, denotando
so em FLAIR (Fig. 13-35). Uma pequena a grande quan múltiplos nódulos calciíicados (Fig. 13-36C). As lesões
tidade de edema periférico pode ser vista (Fig. 13-36B). cicatriciais não sofrem realce nas imagens ponderadas em
Não há restrição à difusão da água. O realce da parede TI após infusão de contraste.
do cisto é intenso e freqüentemente tem aspecto "felpu-
Características especiais. A NCC racemosa se apresenta
do" (Figs. 13-36D e 13-37). A espectroscopia por RM de
como múltiplos cistos, de tamanho variável, lobulados,
monstra pico de succinate ressonando em 2,4 ppm, assim
com aspecto de "cacho de uva", nas cisternas basais. A
como um pico de lactato e um pequeno pico de acetato.
maioria dos cistos não possui escólex identificável. A
Fase granular nodular A TC demonstra edema resi
aracnoidite com alterações fibrosas/cicatriciais determi
dual discreto. Na TC pós-contraste, identifica-se um nó-
na realce periférico dos cistos e ao longo das superfícies
dulo em involução, com realce leve a moderado.
cerebrais (Fig. 13-38). Hidrocefalia obstrutiva é comum.
A vasculíte associada a NCC com infarto é uma
* Estudos recentes têm demonstrado que o escólex pode ter si complicação rara, mas importante da forma racemosa da
nal alto na difusão (Santos GT et. al. AJNR 2013-34:310) NCC e pode simular tuberculose. A maioria dos infartos

13-33 NCC disseminada com


inúmeros cistos, a maioria no
espaço subaracnóideo. Note que
o cisto com escólex no tundo de
um sulco frontal S) é circun
dado por córtex ÍS, dando a
impressão de que é intraparen-
quimatoso.
13-34 Imagem ponderada em
T2 demonstrando NCC vesicular
disseminada com cérebro em
aspecto de "sai e pimenta". Inú
meros pequenos cisticercos com
escólex (vistos como pequenos
pontos pretos ao lado dos cistos)
estão presentes. Edema perile
sional está ausente.

13-35A Imagem ponderada


em 11 sagital demonstrando
hidrocefalia e cisto da NCC no
quarto ventrículo ES.
13-35B FLAIR axial no mesmo

paciente mostrando que o fluido


do cisto [S tem sinal suprimido
enquanto o escólex SI é hipe
rintenso. O fluido exiracelular
acumula nas margens do quarto
ventrículo obstruído ES.
360 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

envolve vasos perfurantes pequenos, embora infartos em


NEUROCISTICERCOSE: PATOLOGIA E IMAGEM
grandes territórios tenham sido relatados.
A NCC intraventricular pode ser difícil de detectar Patologia
na TC. Seqüências FLAIR e CISS são as mais sensíveis • Localização, tamanho e número
o Espaços subaracnóideos > parênquima > ventrículos
para detectar cistos intraventriculares na RM.
o Habitualmente < 1 cm, podendo ser gigante
o Solitário (20 - 50%); se múltiplos, podem ser inúmeros
Diagnóstico diferencial • Quatro estágios de desenvolvimento, cicatrizaçâo e
O diagnóstico diferencial de NCC depende do tipo e da
regressão
localização da lesão. A NCC subaracnóidea/cistemal pode o Vesicular (larva viável): cisto + escólex
simular MTB. Em contraste com a NCC, o e.xsudato basi o Cololdal vesicular (larva morrendo): inflamação
lar purulento espesso da TB é sólido e o aspecto cistico da intensa, edema
NCC racemosa não é encontrado. A meningite carcinoma- o Granular nodular (cicatrizando): involução do cisto,
tosa e a neurossarcoidose também são raramente cisticas. edema diminui
Os abscesses e os emboles sépticos multifecais o Nodular calcificada (cicatrizada): nódulo
fibrocalcificado cicatricial
podem simular cistos da NCC intraparenquimatosa, mas
apresentam halo hipointenso em T2WI e apresentam im Imagem
portante restrição à difusão da água. Pico de succinate na • Varia com o estágio
o Vesicular: cisto com ponto periférico (escólex), sem
espectroscopia por RM ajuda a distinguir o cisto da NCC
em fase de degeneração de abscesso. edema, sem realce
o Vesicular coloidal: realce anelar, edema importante
Um cisto gigante parenquimatoso da NCC coloidal-
o Granular nodular: realce anelar frustro, edema diminui
-vesicular com realce periférico pode simular neoplasia, o Nodular calcificada: TC com calcificaçâo, RM com
tuberculoma ou toxoplasmose.
pontos de hipossinal
O diagnóstico diferencial do cisto da NCC intraven • Comum a presença de lesões em vários estágios
tricular inclui cisto coloidc (sólido), cisto ependimário
(cistico, mas sem o escólex) e cisto de plcxo coroide.

13-36A TC em um paciente
com NCC demonstra múltiplas
lesões nodulares calcilicadas
E3. Poucas demonstram edema
adjacente BI.
13-36B FLAIR demonstrando
vários tocos hipointensos B
causados por NCC quiescente na
fase nodular calcificada. Vários
focos de edema perilesional
estão aparentes ao redor das
lesões na fase vesicular coloidal
BI enquanto um edema míni
mo residual circunda as lesões na
fase granular nodular ES.

13-36C Imagem ponderada em


T2' GRE demonstrando múltiplos
pontos de artefato de susceplibili-
dade magnética característicos da
N C C n o d u l a r c a l c i fi c a d a .

13-360 Imagem ponderada


em TI pós-contrasle com satu
rarão de gordura demonstrando
realce anelar B e nodular B
da NCC granular nodular em fase
de cicatrizarão. Áreas de realce
com limites pouco precisos e
edema adjacente BI são carac
terísticas da larva em degene
rarão na fase coloidal vesicular.
Múltiplas lesões em diferentes
estágios de evolurão são carac
terísticas da NCC.
Tuberculose, Infecções fúngicas, parasitárias e outras infecções 361

13-37 Cisto da NCC em degeneração na fase vesicular coioidal El 13-38 NCC racemosa. Múltiplos pequenos cistos sem escóiex visíveis
com escóiex B demonstrando edema perilesionai SI e realce com preenchem a cisterna suprasselar El. Observe hidrocefalia, reação me-
limites pouco definidos níngea com moderado realce periférico ao redor dos cistos em "cacho de
uva" (Cortesia de P. Rodriguez, MO.)

Equinococose pericisto, uma camada laminar membranosa média, o


A infecção por Echinococcus é chamada de equinococose. ectocisto, e uma camada interna germinativa (o endocis-
Duas espécies de Echinococcus são responsáveis pe to). E a camada germinativa que pode produzir "cistos
fi l h o s " .
las infecções do SNC de humanos, E. granulosis (EG) e E.
nniitilocularis/alveolans (EM/EA). A infestação pelo EG
é conhecida como hídatidose ou cisto hidático (CHid). A Imagem
o aspecto de imagem mais comum do CHid é de um gran
infecção pelo EM/EA também é conhecida como equino
c o c o s e a l v e o l a r.
de cisto unilocular, de paredes finas sem calciflcações,
edema ou realce na TC (Fig. 13-40). Eventualmente, um
Epidemiologia cisto grande e único pode conter múltiplos "cistos filhos"
Depois da NCC, a equinococose é a segunda infecção (Fig. 13-41).
A RM demonstra que o fluido do cisto é isointenso ao
parasitária mais comum a envolver o SNC. Os seres hu
manos - mais freqüentemente as crianças - tornam-se LCS em TI e T2. Algumas vezes, a camada germinativa
destacada e a "areia hidática" podem ser vistas na porção
hospedeiros intermediários acidentais após ingerir ovos
oriundos de solo contaminado com excrementos de um gravitacional dependente do cisto (Fig. 13-42).
hospedeiro definitivo. Cerca de 1 a 2% dos pacientes com A equinococose alveolar consiste em múltiplos cistos
EG e 3 a 5% dos pacientes com EM/EA desenvolvem irregulares que - diferentemente do CHid - não apresen
doença no SNC. tam limites precisos com o parénquima cerebral adjacente
O EG habitualmente infecta crianças, enquanto o e em geral realçam após infusão de contraste. Padrões de
EM/EA é mais comum em adultos. realce periférico irregular, anelar, heterogêneo, nodular e
em "couve-Hor" foram descritos (Fig. 13-43).
Patologia
o aspecto macroscópico da infecção por EG e EM/EA é Diagflóstico diferencial
distinto. O EG costuma produzir um cisto com paredes O diagnóstico diferencial de uma massa cística intra-
bem delineadas (Fig. 13-39). Já o EM/EA apresenta pe -axial é extenso e inclui neoplasias císticas, abscesso,
quenos múltiplos cistos irregulares que se apresentam cistos parasitários e neurogliais. Destes, os mais difíceis
como uma lesão expansiva infiltrativa, com aspecto neo- de diferenciar dos CHids são os cistos neurogliais e po-
plásico, tanto no fígado como no cérebro. rencefálicos. Os cistos neurogliais raras vezes são tão
Os cistos hidáticos podem ser uni ou multilocula- grandes quanto os CHids. Os cistos porencefáiicos são
dos com "cistos filhos". A parede de um cisto hidático literalmente "buracos no cérebro" adjacente a - e também
apresenta três camadas: uma camada fibrosa externa, o conectados a - um ventrículo aumentado.
362 Infecção, inflamação e doenças desmiellnlzantes

13-39A Caso de necíopsia


moslrando o cérebro após remo
ção de um grande cisto hidático
unilocular. Observe a borda bem
demarcada E3 entre a cavidade
do cisto e o cérebro. Não existe
edema adjacente e o efeito ex
pansivo relativamente ao tama
nho do cisto é mínimo.
13-39B Fotografia da parede
externa do cisto B com visua
lização do cisto BI mostrando
a típica parede fina de um cisto
hidático clássico. (Cortesia de R.
Hewlett, MD.)

13-40A Imagem ponderada


em TI no plano axial demons
trando um cisto hidático unilocu
lar EES. O efeito expansivo rela
tivo ao tamanho total do cisto é
apenas moderado.
13-40B Imagem pondera
da em 12 no mesmo paciente
demonstrando claramente o
aspecto típico trilaminar da pare
de do cisto [^. (Cortesia de R.
Hewlett, MD.)

13-41 TC pós-contraste de
monstrando um cisto hidático
multllocuiadoque contém múlti
plos cistos filhos. (Cortesia de S.
NagI, MD.)
13-42 Série de imagens axiais
de RM com Ti, FLAIR, ADC e difu
são (sentido horário iniciando no
canto esquerdo) demonstrando
cisto hidático E3 com a mem
brana germinativa destacada
Bi e "areia hidática" na porção
dependente do cisto ES. Edema
e efeito expansivo periférico são
mínimos.
Tuberculose, infecções fúngicas, parasitárias e outras infecções 363

13-43A Imagem ponderada em Ti pós-conlraste de um homem 13-43B Imagem ponderada em Ti pós-contraste em plano mais cra
de 20 anos com equinococose alveolar demonstrando múltiplos agru nial demonstrando mais coleções de cistos com realce ES e edema ^3.
pamentos de cistos, em aspecto de couve-flor, irregulares, com realce FLAIR {não mostrado) demonstrava edema ao redor dos agrupamentos
anelar E3. de cistos. (Cortesia de M. Thurnher, MO.)

Amebíase A EGA se apresenta com inflamação granulomalosa


com células gigantes multinucleadas, trofozoitos e cistos.
Terminologia e etiologia O abscesso amebiano contém pus e trofozoitos na mar
As amebas sào organismos de vida livre globalmente dis
gem da lesão.
tribuídos. Espécies do gênero Acanthamoeba (Ac) são
encontradas no solo e na poeira, na água doce e salgada Aspectos clínicos
e em vários outros locais, incluindo banheiras e piscinas A meningoencefalite amebiana primária é uma doença
de hidroterapia, aparelhos de ar condicionado, soluções necrotizante hemorrágica aguda, rápida e progressiva cau
de lentes de contato e unidades de irrigação dentária. Ba- sada pela N. fowleri. Crianças saudáveis e adultos jovens
lamiithia mamirillaris é um organismo que habita o solo.
imunocompetentes com história de nado em água doce
Naegleria fowleri é encontrada tanto no solo quanto em morna durante o verão são as vítimas típicas, apresentan
água doce. A Entamoeba histolytica é encontrada em ali do-se com febre, cefaleia e alteração do estado mental. A
mentos e etn água contaminados com fezes. N. fowleri invade a mucosa olfatória e entra no cérebro
Mais de 10% da população mundial é infectada mun
por meio dos nervos olfatórios. A MA? é quase sempre
dialmente pela Entamoeba histolytica, porém o desenvol fatal, com morte entre 48 e 72 horas.
vimento de doença neurológica é raro. A encefalite granulomatosa é uma condição su-
baguda ou crônica caracteristicamente causada por uma
Patologia das seis espécies de Acanthamoeba ou B. mandrillaris.
Dois tipos básicos de infecção amebiana ocorrem no Não há maior incidência em uma estação do ano espe
SNC: meningoencefalite amebiana primária (MA?) e en- cífica e em geral há associação com imunodeficiência
cefalite granulomalosa amebiana (EGA). Ocorre abscesso
(p. ex., HlV/Aids, transplante de órgãos) e condições crô
amebiano, mas é relativamente incomum nos países in nicas debilitantes como malnutrição e diabetes. A apre
dustrializados do oeste. sentação varia desde cefaleia e febre baixa crônica até
Os espécimes macroscópicos de necropsia de pacien infecção fulminante. Sintomas focais podem ser identifi
tes com MAP demonstram uma meningite e angiite ne- cados entre os dois ou três meses prévios.
crotizante hemorrágica com lesões focais nos lobos tem Um abscesso amebiano no SNC é raro mesmo em
porais e nas regiões orbitofrontais, no tronco e na medula áreas endêmicas e habitualmente é causado pela E. his
espinal alta (Figs. 13-44 e 13-45). Numerosos trofozoitos tolytica. A maioria dos pacientes apresenta infecção in
são identificados, mas nenhum cisto é visto pela caracte testinal ou hepática, sem relação com imunodeficiência.
rística crônica da doença.
364 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

Os pacientes desenvolvem cefaieia, alteração do estado


mental e sintomas meníngeos.

Imagem
Um amplo espectro de achados de imagem na meningoen
cefaiite amebiana é descrito, incluindo exsudatos menínge
os, lesões hemorrágicas parenquimatosas multifocais {Fig.
13-46) e lesões pseudotumorais com necrose (Fig. 13-47).
A MAP demonstra achados de leptomeningite com
obliteraçâo dos sulcos cerebrais e realce especialmente ao
longo das cisternas perimesencefálicas. As lesões paren
quimatosas multifocais com envolvimento das estruturas
da fossa posterior, diencéfalo e lálamo são típicas. Angiite
necrotizante com hemorragias e infarto franco pode ser
vistas em alguns casos.
A EGA demonstra um padrão multifocal com lesões
13-44A Patologia macroscópica de um paciente com
meningoencefaiite amebiana demonstrando múltiplos
descontínuas na junção corticomedular e/ou padrão pseu-
exsudatos basilares hemorrágicos S!. dotumoral com uma lesão solitária expansiva (Fig. 13-48).
Os abscessos amebianos normalmente são localiza
dos nos núcleos da base ou na interface entre a substân
cia branca e cinzenta. Lesões múltiplas ou solitárias com
margens irregulares e com realce anelar são os achados de
imagem típicos (Fig. 13-47).

Diagnóstico diferencial
As características de imagem da amebíase são inespecí-
ficas. Abscessos amebianos e meningoencefaiite podem
simular doenças causadas por outros agentes piogênicos,
parasitários e granulomatosos. As lesões multifocais paren
quimatosas ou pseudotumorais podem simular neoplasias.

Malária

Terminologia e etiologia
13-44B Corte coronal no mesmo caso demonstrando A malária cerebral (MC) é causada pela infecção pelo
numerosos focos de hemorragia parenquimatosa l~>l- protozoário Plasmodium e é transmitida pelos mosquitos
Anopheles infectados. Quatro espécies causam doença
humana: R falciparum, P. vivax, P. ovale e P. malariae.
Destas, P. falciparum tem a morbimortalidade mais im
portante e causa 95% dos casos de MC.
O ciclo de vida do parasita da malária envolve a fê
mea do mosquito Anopheles e um hospedeiro humano. Os
esporozoítos são inoculados nos humanos durante a pica
da do mosquito. O esporozoíto invade as células hepáticas
e se replica assexuadamente, sofrendo maturação para a
forma de esquízontes, que rompem e liberam merozoítos.
Os merozoítos infectam as hemácias (Hem), e podem se
transformar em trofozoítos, que se reproduzem assexua
damente no sangue, ou em gametócitos, que se reprodu
zem sexuadamente em capilares. Os gametócitos são en
tão ingeridos por mosquitos, fechando o ciclo de vida do
parasita (Fig. 13-49).
13-44C Corte histológico demonstrando meningite
S], células hemorrágicas/inflamatórias nos espaços Patologia
de Virchow-Robin [S. (Cortesia de B. K. DeMasters,
MD.) Macroscopicamente, o cérebro se apresenta inchado, com a
superfície externa freqüentemente de cor vermelho-escuro.
Tuberculose, infecções fúngicas, parasitárias e outras infecções 365

13-45A Visão lateral de um


cérebro necropsiado de paciente
com encefalite amebiana de
monstrando hemorragias paren-
quimatosas focais BSI.
13-45B Visão inferior no mes
mo caso demonstrando hemor
ragias superficiais cerebelares e
nos lobos temporais ES. (Corte
sia de R, Hewlett, MO.)

13-46A TC sem contraste no

plano axial em um paciente com


epilepsia após viagem recente
3 África central quando banhou-
■se rapidamente em égua doce.
Observe áreas confluentes de he
morragia no lobo frontal direito
posterior E3.
13-468 Imagens ponderadas
em 12 (esquerda) T2 ^ GRE (direi
ta) do mesmo paciente demons
trando múltiplas hemorragias pa-
renquimatosas ES com artefato
de susceptibilidade magnética. A
biópsia definiu o diagnóstico de
granuloma amebiano.

13-47 Imagem ponderada em


TI no plano axial pós-contraste
demonstrando uma lesão com
efeito expansivo e realce hetero
gêneo no tálamo direito B. A
biópsia diagnosticou granuloma
amebiano "tumefativo".
13-48 Séries de imagens por
RM em outro paciente com febre
e convulsões demonstrando le
são em conglomerado heterogê
nea !/-»! com hemorragia central
1^1, edema periíesional ^3 e
realce misto periférico/nodular
B. Encefalite granulomatosa
amebiana. (Ambos os casos cor
tesia de R. Hewlett, MD.)
366 Infecção, inflamação e doenças desmlelinizantes

FA S E H E PAT I C A H U M A N A

lübhepáiiw
Mosquitos inoculatn
espoiozoílos
<»o

Esquizonie

ESTÁGIOS NO SANGUE .
'fe HUMANO /

V
Trofozollo
<?
madufo
^ Trofozolto
i m a t u r o

(fase anelai)

Camoldcitos

13-49 Os esporozoitos inocuiados no sangue infectam os hepatócitos. 13-50 Córtex edematoso cinza-escuro da maiáfia (esquerda) compa
Quando maturados, as células rompem, liberando merozoítos que infec rado ao cérebro normal (direita). (Cortesia de R. Hewlett, MO.)
tam eritrócitos. Os merozoítos se transformam em trofozoítos ou game-
tócitos, que são então Ingeridos por mosquitos não Infectados.

Poucos casos isolados de "malária de aeroporto" foram


relatados. Em tais casos, a malária falcípara ocorreu em
A deposição de pigmento da malária pode dar ao córtcx
indivíduos que nunca viajaram para o exterior, mas foram
cerebral um tom cinza-escuro (Fig. 13-50). As hemorra
contaminados por mosquitos Anopheles importados no
gias petequiais costumam ser vistas na substância branca
aeroporto ou em suas cercanias.
subcortical, corpo caloso, cerebeío e tronco.
As características microscópicas principais incluem Apresentação e história natural. O período de incubação
seqüestro de células infectadas na microvasculatura cere desde a infecção ao desenvolvimento dos sintomas é de 1
bral (Fig. 13-51). Micro-hemorragias puntiformes e pe- a 3 semanas. Calafrios seguidos por ciclos de febre alta e
rivasculares são comuns. Um pigmento escuro ("corpos sudorese profunda são característicos da doença e corres
de hemozoína") malárico no interior de hemácias "fan pondem temporalmente à lise eritrocitária após maturação
tasmas" seqüestradas, depletadas de hemoglobina, é um dos esquizontes. P. falciparum, R ovale e P. vivax caracte-
achado comum. Os parasitas da malária permanecem no rizam-se por febre a cada 48 horas, enquanto o ciclo de P.
interior dos capilares, o que determina a ausência de alte malariae ocorre a cada 72 horas.
rações inflamatórias encefálicas. O prognóstico é variável. Os indivíduos com traço
falcêmico costumam apresentar doença com pouca gra
Aspectos clínicos vidade. Em outros casos, cefaleia, alteração do sensório
Epidemiologia e aspectos DEMOGRÁFICOS. A malária falcípara é e convulsões podem ser seguidas, após 1 ou 2 dias, por
uma causa importante de dano à saúde, comprometimento coma e morte. A mortalidade na malária cerebral é de 15
neurológico e morte em países tropicais. Cerca de 40% da a 20% mesmo com terapia adequada. Enquanto muitos
população mundial encontra-se em risco. Entre 250 e 500 pacientes curados se recuperam completamente, cerca de
milhões de novos casos de malária ocorrem anualmente, 10 a 25% das crianças apresentam déficits neurológicos
a maioria deles na África subsaariana, onde crianças com permanentes.
menos de 5 anos de idade são as mais infectadas. O pico A recorrência de malária por P. falciparum é rara,
de prevalência é entre 1 e 3 anos. enquanto a recorrência por P. vivax e P. ovale é possível
Cerca de 1% das infecções por malária desenvolve a pelos maiores estágios de laíência no fígado, o que per
forma grave da doença. Destas, a malária cerebral é a ma mite que o parasita sobreviva, com novas formas ativas
nifestação mais grave, com incidência de 1.120 casos por aparecendo após meses ou anos.
100.000 pessoas por ano em áreas endêmicas. A doença
causa aproximadamente 1 milhão de mortes todo ano. Imagem
A doença em geral encontra-se restrita a áreas tropi A TC sem contraste varia de normal a muito alterada. O
cais e subtropicais com altitudes abaixo de 1.500 metros achado típico mais comum são infartos focais no córtex,
e a viajantes ou imigrantes vindos de áreas endêmicas. núcleos da base e tálamo. Pode ocorrer hemorragia ma-
Tuberculose, infecções fúngicas, parasitárias e outras infecções 367

croscópica, mas é rara. Um edema cerebral difuso pode O diagnóstico diferencial varia com a idade do pacien
ser o achado dos casos graves. te. O principal diagnóstico diferencial da MC em adultos
A RM demonstra hiperintensidades focais nos núcle são múltiplas cmbolias/infartos cerebrais, que mais co-
os da base, talamos e substância branca em T2/FLAIR mumente envolvem a interface entre a substância branca e
(Fig. 13-52). Hiperintensidades confluentes podem ocor cinzenta ou o córtex. As hemorragias petequiais múltiplas
rer em casos graves, embora infartos de grandes territó em T2* são inespecíficas e podem ser vistas na síndrome
rios sejam raros. da embolia gordurosa, Icucoencefalite aguda hemorrá
Imagens ponderadas em T2* demonstram hemor gica, dano axonal difuso e microangiopatias trombóti-
ragias petequiais multifocals com artefato de suscepti- cas, como na coagulopatia intravascular disseminada.
bilidade magnética nos núcleos da base e na substância Em crianças, o principal diagnóstico é a encefalopa-
branca cerebral. Essas hipointensidades lineares e punti- tia necrotizante aguda e necrose infantil bilateral dos
formes são muito bem evidenciadas nas imagens ponde núcleos estriados. Estas são doenças geralmente relacio
radas em susceptibilidade magnética (SWI) (Fig. 13-53), nadas à influenza, a infecções gripais ou à gastrenterite
(Fig. 13-54). Em geral, não há realce nas imagens ponde por rotavirus.
radas em TI após infusão de contraste.
Outras infecções parasitárias
Diagnóstico diferencial
Esquistossomíase, paragonimíase, esparganose, triqui-
A MC é um diagnóstico que deve ser considerado em nose e tripanossomíase podem eventualmente envolver
qualquer paciente com doença febril e rebaixamento do o SNC. Embora essas infestações parasitárias possam
sensório que viva - ou tenha viajado recentemente - para ocorrer em qualquer idade, elas mais comumente afetam
uma área endêmica de malária!
crianças e adultos Jovens.

13-51 Na malária cerebral, os


parasitas convertem hemoglo
bina em hemozoína ("pigmento
malárico"), visto nesta Imagem
como pequenos pontos negros
nas células vermelhas seqües
tradas SI. (Cortesia de B. K.
OeMasters, MD.)
13-52 Imagens em um
paciente com malária demons
trando hiperintensidades na
ponderação em T2 nos núcleos
da base E3 com artefato de
susceptibilidade magnética na
ponderação em T2''' 6RE S e
restrição à difusão B3. (Cortesia
de R. Ramakantan, MD.)

13-53 MC demonstrando
múltiplas hemorragias petequiais
na 58 S) subcortical e profunda.
(Cortesia de L. Chimelli: A mor
phological approach to the diag
nosis of protozoal infections of
the CMS. Patholog Res Int. 2011,
July 14. Open source.)
13-54 Imagem ponderada
em T2'' SWI em um paciente com
malária cerebral demonstrando
inúmeras micro-hemorragias
puntiformes com artefato de
susceptibilidade magnética na
substância branca. (Cortesia de K.
Tong, MD).
368 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

O envolvimento cerebral é relativamente incomum. fígado ou aos pulmões, onde matura. Os vermes adultos
Quando ocorrem, essas parasitoses estão associadas a signi migram para os plexos venosos dos intestinos (ó". manso
ficativa morbimortalidade. Visto que os aspectos de imagem ni. S. japonicum) ou da bexiga {S. hematobium).
costumam lembrar neoplasia, uma história de viagem - ou A forma madura dos vermes libera ovos, que podem
residência em área endêmica é a chave para o diagnóstico. ser excretados nas fezes e na urina. Os ovos também po
dem se disseminar por sítios ectópicos, incluindo o cé
Esquistossomíase rebro. A meningite focai ou as massas parenquimatosas
A esquistossomíase, também conhecida como bilharziose. firmes são características macroscópicas típicas. Na ava
é uma infecção causada por trematódeos que afeta mais de liação microscópica, ovos de esquistossoma podem não
200 milhões de pessoas no mundo. apresentar espicula {S. Japonicum) ou espícula terminal
Várias espécies de Schi.sio.soma causam doença hu (S. haematobium) ou lateral (5. mansoni).
mana. Schistosoma haematobium é endêmico na África, Os achados típicos de imagem da neuroesquistosso-
especialmente nas planícies do Nilo. S. mansoni também é míase incluem múltiplas lesões heterogêneas conglome
endêmico na África (centro do continente e regiões com la radas ou lesões únicas com edema e efeito expansivo. Um
gos). América do Sul e Caribe (Fig. 13-56). S. japonicum é realce linear central circundado por múltiplos nódulos
endêmico na China e S. mekongi é endêmico no sul da Ásia. puntiformes (aspecto arborescente) nas imagens pondera
As espécies de Schistosoma apresentam um ciclo de das em TI pós-contraste (Fíg. 13-55) foi descrito como
vida complexo. Ovos nos excrementos humanos eclodem característico da doença.
na água doce e infectam caramujos como hospedeiros in
termediários. Os caramujos liberam larvas móveis (cercá- Paragonimíase
rias) que infectam os seres humanos que entram em conta A paragonimíase é outra infecção causada por tremató
to com a água infestada. .A larva penetra a pele e migra ao deos associada a caramujos. Os seres humanos tomam-se

13-55A Imagem ponderada


em T2 no piano axial em um
homem de 34 anos com esquis
tossomíase demonstrando lesões
mistas hipo e hiperintensas B3
envolvendo o verme e ambos os
hemisférios cerebelares.
13-55B Imagem ponderada
em TI pós-contraste no plano
axial demonstrando padrão de
realce "arborescente" E3.

13-55C Imagem ponderada


em TI no plano coronal pós-
-contraste demonstrando realce
coníluente E3 ao redor de um
foco linear central sugerin
do padrão "arborescente".
13-56 Visão de microscopia
da lesão biopsiada demonstran
do o S. mansoni encistado com
a clássica espícula lateral !Z£.
(Cortesia de D. Kremens, MD, 5.
Galetta, MD.)
Tuberculose, infecções fúngicas, parasitárias e outras infecções 369

infectados após ingestão de caranguejos ou lagostins de um túnel criado pelo verme e circundado por tecido granu-
água doce contaminados por Paragonimus westermanL lomatoso inflamatório reacional. O segundo aspecto mais
um verme endêmico na Ásia e na América Central e do comum da doença é um conglomerado de lesões anelares
Sul. Os vermes penetram os forames da base do crânio e ou em contas de rosário que sofrem realce (Fig. 13-58).
meninges e invadem diretamente o cérebro, onde recru A esparganose é caracterizada pela presença simultâ
tam uma reação inflamatória granulomatosa. Os adoles nea de lesões novas e antigas. As lesões em diferentes es
centes do sexo masculino são os mais afetados. tágios de evolução, de infecções agudas a atrofia cortical
A imagem demonstra lesão expansiva heterogênea com perda de volume da substância branca e calcifícações
com múltiplas lesões com realce anelar agrupadas circun ao redor de vermes degenerados/mortos, são característi
dadas por edema (Flg. 13-57). A hemorragia intralesional cas típicas dessa infecção parasitária.
é um achado comum.
Diagnóstico diferencial
Esparganose A maioria das infecções parasitárias compartilha mui
A esparganose é uma infecção parasitária rara causada tas características comuns. Elas costumam se apresentar
pela larva do cestódeo Spirometra man.soni. Metade dos como lesões de características expansivas com edema e
casos relatados está relacionada à ingestão de cobras e de múltiplos focos de realce anelar conglomerados. Metás-
sapos crus ou pouco cozidos. A doença é endêmica no su tase e gHoblastoma multiforme são as duas neoplasias
doeste asiático, China, Japão e Coréia. que podem apresentar características semelhantes às le
Estudos de imagem mostram uma lesão de aspecto ex sões parasitárias. Os granulomas parasitários (p. ex.,
pansivo com margens irregulares, em geral na substância granulomas por TB) também podem simular granulomas
branca cerebral, circundada por edema. O achado de ima parasitários e freqüentemente são endêmicos nas mesmas
gem mais comum é o "sinal do túnel", que literalmente é áreas geográficas.

13-57A Imagem ponderada


em T2 no plano axial em um pa
ciente jovem do sudeste asiático
demonstrando lesão heterogê
nea no lobo frontal direito com
hlpolntensldades intraleslonals
B sugerindo hemorragia. Ede
ma perllesional moderado B
•1^ /'I pode ser evidenciado.
13-57B Imagem ponderada
em TI pós-contraste no plano co
ronal demonstrando conglome
rado de lesões com realce B.
Granuloma por paragonimiase foi
diagnosticado na cirurgia.

13-58A Imagem ponderada


em 12 no plano axíal em um
paciente com espargoniose
diagnosticada demonstrando
múltiplas hiperintensidades ane
lares B com focos centrais de
hipointensidade
13-588 Imagem ponderada
em TI no plano axial pós-
-contraste no mesmo paciente
demonstrando realce anelar
ínespeclfico B. Não foi eviden
ciado o sinal do "túnel". (Cortesia
de M. Castillo, MD.)
370 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

A bordeliose febril recorrente é causada por espi


Infecções emergentes do SNC e outras roquetas que infestam carrapatos do gênero Borrelia. O
agente principal varia pelo mundo, sendo que na América
infecções do Norte é geralmente causada pela B. hermsii e B. tiirica-
Infecções do 5NC por espiroquetas lae. Os roedores são os organismos hospedeiros.
Duas espécies de espiroquetas podem causar doença do Etiologia. o mecanismo preciso de envolvimento do SNC
SNC: Borrelia (p. ex., doença de Lyme, febre recorrente) não é conhecido. Infecçào/invasào cerebral direta, meca
e Treponema (neurossifllis). nismos autoimunes dirigidos por antígenos e processos
inflamatórios vasculares são postulados como causa.
Doença de Lyme
Aspectos clínicos.
Terminologia. A doença de Lyme (DLy) também é conhe
cida como borreliose de Lyme. A DLy com doença neu Epidemioiogia e aspectos demográficos. Atualmente a
rológica é chamada de neuroborreliose de Lyme (NBLy) DLy é a doença mais comum relacionada a vetores nos
ou neuro-Lyme. A borreliose febril recorrente é uma Estados Unidos, com 20.000 novos casos relatados por
ano. A prevalência varia conforme a região geográfica.
doença multissistêmica que infecta uma grande variedade
Entre 90 e 95% dos casos nos Estados Unidos ocorrem
de tecidos, incluindo o cérebro (raramente).
A DLy é uma doença inflamatória sistêmica causa nos estados do meio-oeste, Michigan e Minnesota. Os pi
da pela B. burgdorferi nos Estados Unidos e B. garinii e cos da doença ocorrem durante o início do verão, espe
B. afzelii na Europa. A DLy é uma zoonose mantida em cialmente em maio e junho.
animais como ratos do campo e veado-de-cauda-branca. A doença ocorre em todas as faixas etárias, mas o
transmitida aos humanos depois de 24 a 48 horas de infes pico de apresentação encontra-se entre 16 e 60 anos. Trin
ta por cento dos casos ocorre em crianças.
tação pelos carrapatos Ixodes.

13-59A Imagem ponderada


em 12 de um paciente masculino
de 37 anos com ataxia, oftaimo- J ' / í - -Vv V V \
plegia e meningoencefalite de
Lyme documentada demonstran
do hiperintensidades multifocals
nos núcleos da base e da subs
tancia branca E9.
13-59B Imagens pondera
das em TI pós-contrasle com
saturação de gordura no mesmo
paciente demonstrando realce
piai difuso B compatível com

■» K " '
meningite.

X.- B
13-59C Imagem ponderada
em difusão demonstrando múlti l . v
plos focos de restrição B. V
13-590 Imagem mais cranial

-li.
mostrando focos adicionais de
difusão restrita, incluindo um no
esplênio do corpo caloso BÊ3.
7 1 V >
y i

i )
N. , '
Tuberculose, infecções fúngicas, parasitárias e outras infecções 371

13-60 Duas imagens axiais em um paciente com doença de Lyme e 13-61 Imagem ponderada em Ti pós-contrasle com saturação de gor
paralisia de Bell à esquerda demonstrando realce dos segmentos geni- dura um paciente com doença de Lyme e múltiplas neuropatias crania
culado e horizontal S do nervo facial. (Cortesia de P. Hildenbrand, nas demonstrando realce do quinto E2 e sexto E3 NCs à direita além
MD.) de ambos os nervos oculomotores B3. (Cortesia de P. Hildenbrand, MO.)

Apresentação. Casos de DLy na América do Norte crônicos após DLy tratada. Múltiplos estudos clínicos
ocorrem em estágios. O estágio I ocorre entre 2 e 30 dias prospectivos têm demonstrado que cursos prolongados
após a picada inicial pelo carrapato e é caracterizado por de antibióticos não previnem nem aliviam sindromes pós-
eritema migratório - um rash característico, arredondado, -Lyme e podem resultar em eventos adversos graves.
centrífugo, em alvo ("olho de boi") - e sintomas de "gripe Patologia. Predominam os achados de meningite e radicu
de verão", como febre, cefaleia e cansaço. Mialgias mi
lite. As caracteristicas microscópicas incluem infiltrados
gratórias e dor nas grandes articulações podem ser identi
ficadas ("artrite de Lyme"). perivasculares de linfócitos T e plasmócitos com dege-
neraçào axonal. Os linfócitos e os plasmócitos são acu
O estágio 2 ocorre de 1 a 4 meses após a infecçào e
mulados nos gânglios autonômicos do sistema nervoso
caracteriza-se por sintomas neurológicos e cardíacos. Os
periférico. As espiroquetas podem ser identificadas nas
sintomas neurológicos ocorrem em cerca de 10 a 15% dos
leptomeninges, nas raízes nervosas e nos gânglios das raí
casos, enquanto envolvimento cardíaco ocorre em 8%. O zes dorsais, mas não no parênquima do SNC.
estágio 3 pode ocorrer vários anos após a infecção inicial
e se manifesta como artrite e sintomas neurológicos. Imagem. Exames de TC com e sem contraste são freqüen
A tríade clássica da NBLy norte-americana consiste temente normais.
em meningite asséptica, neurite craniana e radiculoneu- O achado mais comum na RM é a presença de múlti
rite. Paralisia facial uni ou bilateral é comum e ajuda a plas pequenas hiperintensidades (2 a 8 mm) subcorticais
diferenciar NBLy de outras doenças. Eritema migratório, e na substância branca periventricular (Fig. 13-59). Esse
artrite de Lyme e cardite também são achados comuns. achado é visto em aproximadamente metade de todos os
O sintoma mais comum em crianças é a cefaleia, se pacientes com NBLy. Lesões grandes "tumefativas" são
guido por paralisia do nervo facial e meningismo. incomuns.
A apresentação mais comum da NBLy europeia é a O envolvimento de nervos cranianos é comum na
tríade de Bannwarth: meningite linfocitica, neuropatia NBLy americana. O nervo mais envolvido é o NO Vlll
craniana e radiculite dolorosa. Eritema migratório, artrite (Fíg. 13-60), seguido pelos NCs V e 111. A doença unilateral
de Lyme e cardite são manifestações incomuns da doença é mais comum do que a bilateral, embora múltiplos nervos
de Lyme europeia. possam ser afetados (Fig. 13-61). O realce uniforme em TI
História natural. O diagnóstico e tratamento da pós-contraste com saturação de gordura é um achado típico.
doença de Lyme crônica é controverso. Até a presente O envolvimento da medula espinal pela B. bwgdorferi
data, não existe evidência sistemática de que B. burg é muito raro e mais comum na DLy europeia. As hiperin
dorferi possa ser identificada em pacientes com sintomas tensidades difusas ou focais em T2 com realce irregular
372 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

13-62 Visão aproximada de um cérebro necropsiado demonstrando 13-63 TC em um paciente com sífilis meningovascular demonstrando
achados típicos de sífilis meningovascular. Exsudatos cobrem a ponte iníartos no lobo occipital esquerdo B e no tálamo B. A ASO (não
B Uma goma sifilítica também é evidenciada (Cortesia de R. mostrada) identificou achados semelhantes à vasculile. (Cortesia de P.
Hewlett, MD.) Hildebrand, MD.)

medular e das raízes nervosas são comuns na radiculomie- Epidemiologia e aspectos demográficos. Antes considerada
lite por B. garinii. doença em erradicação pelo uso da penicilina, a sífilis
O realce das lesões de substância branca da NBLy tornou-se dramaticamente mais prevalente desde 2000,
varia de moderado a ausente. Ocasionalmente, pode ocor sobretudo por causa do HIV/Aids. A sífilis e o HIV têm
rer realce anelar incompleto (em "ferradura"), que simula emergido como copatógenos importantes com aumento
doença desmielinizante. recíproco tanto em transmissão quanto em progressão da
Na NBLy europeia, o realce da cauda equina e das doença. Os pacientes HlV-positivos tendem a apresentar
raízes espinais inferiores é mais comum do que o realce sintomatologia mais agressiva e apresentam maior risco
de nervos cranianos. de desenvolver doença neurológica.
A razão M:F é de 2:1. A maioria dos pacientes está
Diagnóstico diferenciai. O principal diagnóstico diferen
entre 18 e 64 anos de idade com média de idade de um
cial de NBLy sao as doenças desmielinizantes. A escle-
rose mijltipla (EM) freqüentemente envolve a substância pouco mais do que 50 anos. As lesões gomatosas da sífilis
branca periventricular. O envolvimento calososseptal é congênita são excepcionalmente raras.
mais comum na EM do que na NBLy. O realce de nervos Aspectos clInicos. Entre 5 e 10% dos pacientes com sífilis
cranianos - em especial o NC VII - é menos comum na não tratada desenvolvem neurossífilis. O T. pallidum se
EM do que na NBLy. dissemina pelo SNC dentro de dias após a exposição, em
A síndromc de Susac envolve a região central do cor bora sintomas possam ocorrer até 25 anos após o cancro
po caloso e freqüentemente é acompanhada de redução da inicial. O pico de incidência ocorre após 15 anos de infec
acuidade auditiva (rara na NBLy) e dos sintomas visuais. ção primária.
A vasculhe envolve os ntícleos da base mais do que a A NSif é dividida em cinco categorias clínico-palo-
NBLy e raramente afeta os nervos cranianos. lógicas que se sobrepõem parcialmente, isto é, assinto-
mática, meníngea, meningovascular, parenquimatosa e
Neurossífilis
gomatosa. A apresentação mais comum são os distúrbios
Terminologia e etiologia. A sífilis é uma infecção sistêmica neuropsiquiátricos. As manifestações clínicas podem
crônica causada pela espiroqueta Treponema pallidum. Ela ocorrer durante qualquer estágio da infecção.
é transmitida por via sexual na maioria dos casos, embora A NSif precoce em geral se apresenta como doença
alguns casos de transmissão vertical tenham sido relata meningovascular. A NSif tardia é associada a sífilis crôni
dos. A neurossífilis (NSif) também é conhecida como neu- ca cerebral e medular, porém raras vezes se apresenta com
rolues. Um granuloma sifilítico focai é chamado de goma. o clássico tahe.^i dorsalis ou paresia generalizada. Distúr-
Tuberculose, infecçoes fúngicas, parasitárias e outras infecções 373

bios neuropsiquiátricos, principalmente comprometimen entrada (Fig. 13-62). O espessamento durai e a inflama
to cognitivo e alteração de personalidade, são comuns. ção adjacente às gomas cerebrais são comuns.
O VDRL no LCS é específico mas não completamen
Imagem. A sííllis meningovascular pode causar vasculopa-
te sensível para NSif. O teste é positivo em cerca de 60%
tia com infartos lacunares ou territoriais que são seme
dos casos. O ensaio de hemaglutinação para T. pallidum é
lhantes a infartos tromboembólicos (Fig. 13-63).
positivo em 80 a 85% dos casos.
As gomas sifilíticas tem densidade baixa ou mista na
Patologia. A sífllis gomatosa cerebral é uma doença com TC e apresentam realce intenso na TC pós-contraste. Um
pletamente curável, logo o diagnóstico correto é essencial padrão anelar ou difuso de realce é típico.
para o tratamento do paciente. A doença consiste em um A RM demonstra as gomas como lesões hipointensas
infiltrado inflamatório denso com grande número de lin- em TI e heterogeneamente hiperintensas em T2.0 realce
fócitos e plasmócitos circundando um centro de necrose é marcado nas imagens ponderadas em TI pós-contraste,
caseosa. Proliferação vascular, endarterite com espessa- e o sinal da cauda durai pode ser visto em um terço dos
mento intimai e inflamação perivascular são achados ca casos (Fig. 13-64).
racterísticos. O diagnóstico histológico definitivo é obtido
usando anticorpos monoclonais fluorescentes marcados Diagnóstico diferencial. As gomas sifilíticas são muitas ve
com isotiocianato ou por PCR. zes diagnosticadas erroneamente como neoplasias pri
As gomas provavelmente são secundárias à resposta márias ou metastáticas. Os pacientes com HIV/Aids que
celular imunológica. Cerca de dois terços são localizados apresentam teste sangüíneo positivo/títulos positivos para
nas superfícies cerebrais, especialmente sobre a convexi- sífllis no SNC e que tenham uma lesão cerebral de aspecto
dade cerebral. A extensão direta ao parênquima cerebral expansivo com características de imagem sugestivas de
pelos espaços perivasculares das áreas adjacentes de infla sífllis podem se beneficiar de um curso de penicilina G
mação meningovascular piais é o provável mecanismo de endovenosa e controle por imagem.

13-64A Imagem ponderada


em T2 no plano axíal em um
paciente masculino de 47 anos
HlV-positivo com neuralgia do
trigêmeo demonstrando uma
lesão expansiva íso/hiperintensa
envolvendo a ponte, o cerebelo
e o nervo trigêmeo B9.
13-64B Imagem ponderada
em TI pós-contraste com satu
ração de gordura no plano axial
demonstrando realce piai circun
dando o buibo ES e se esten
dendo ao canal auditivo interno
esquerdo ES.

13-64C Imagem ponderada


em TI pós-contraste com satu
ração de gordura demonstrando
importante realce na ponte e no
cerebelo ES com extensão para
o interior do cavo de Meckel B
e espessamento durai adjacente.
13-640 Imagem ponderada
em TI pós-contraste no plano
coronal demonstrando goma
sifilítica ES, espessamento durai
adjacente B e realce de ambos
os condutos auditivos internos
ES. O CD4 do paciente no mo
mento da imagem era de 200.
Siíilis meningovascular compro
vada por biópsia.
374 Infecçao, inflamaçao e doenças desmielinizantes

13-65 Agrupamentos de bacilos intracitopiasméticos são intensamen 13-66 Imagem ponderada em TI pós-conirasle no piano coronal
te PAS-positivos E^. Individualmente, os organismos são difíceis de demonstrando realce hipotalâmico B em um paciente com doença de
serem evidenciados. (Cortesia de 8. K, DeMasters, MD.) Whipple do SNC documentada. (Cortesia de B. K. DeMasters, MD.)

Infecções emergentes do SNC e outras infecções intestino delgado, linfonodos ou cérebro. Entre 70 e 80%
Nesta seçào, serão discutidas várias infecções incomuns. dos casos têm PCR positiva no LCS.
As características histológicas incluem agregados
Algumas delas são potencialmente curáveis se reconhe
de histiócitos, linfócitos e plasmócitos com pouca ou
cidas cedo. Outras são infecções emergentes - a maioria
virais - sobre as quais muito pouco se sabe e para as quais nenhuma inflamação granulomatosa. Macrófagos espu
não há cura.
mosos levemente basofílicos na coloração H&E contêm
As infecções emergentes são doenças que estão li grâiiulos intracitoplasmáticos com formato arciforme
teralmente emergindo para infectar os seres humanos. PAS-positivos que representam agrupamentos de bacilos
Algumas são zoonoses (p. ex., doenças transmitidas de (Fig. 13-65).
animais para humanos), enquanto outras são veiculadas Aspectos clínicos. A doença de Whipple ocorre em qual
por insetos. Muitas nunca afetam o SNC, mas, quando o quer idade, porém é mais comum em homens brancos de
fazem, o resultado pode ser desastroso. Exemplos incluem meia-idade. A idade média de apresentação é de 50 anos.
as febres virais hemorrágicas como febre hemorrágica co Os sintomas clínicos variam. Os sintomas sistêmicos
reana, febre do Vale do Rift, hantavirus, dengue e Ebola. incluem diarréia, síndrome mal absortiva, perda de peso,
poliartralgias migratórias, febre e sudorese noturna. Lin-
Doença de Whipple do SNC fadenopatia é comum.
Terminologia e etiologia. A doença de Whipple é uma Cerca de 5% dos pacientes com doença de Whipple
doença sistêmica crônica causada pela bactéria Tropheiy- inicialmente se apresentam com sintomas de envolvimen
ma whippelü. to cerebral; outros pacientes desenvolverão sintomas rela
c i o n a d o s a o e n v o l v i m e n t o d o S N C t a r d i a m e n te n o c u r s o
Epidemiologia e aspectos demográficos, a doença de
da doença.
Whipple do SNC é um subtipo de uma rara doença com
A encefalopatia com sintomas cognitivos inespecífi-
prevalência de um caso para cada 10.000 portadores da
bactéria. cos, incluindo demência, alteração do nível de consciência
Não existe associação conhecida com HIV/Aids ou
e distúrbios psiquiátricos, é a apresentação mais freqüente.
outras síndromes de imunodefíciência. Oftalmoplegia e paralisia supranuclear são sintomas
comuns. Disfunção hipotalâmica ocorre em cerca de um
Patologia. O diagnóstico de doença de Whipple é estabe terço dos pacientes, enquanto paralisias de nervos crania
lecido por imuno-histoquímica (anticorpos positivos con nos são encontradas em 25% dos pacientes.
tra T. whippelü) ou PCR. A PCR é altamente sensível e Sem tratamento, a doença de Whipple é invariavel
específica e pode ser realizada em espécies de biópsia de mente fatal. Alguns pacientes melhoram dramaticamen-
Tuberculose, infecções fúngicas, parasitárias e outras infecções 375

13-67 Achado clássico de abscesso mesencéfalico da listeriose 13-68 TC em um paciente com dengue demonstrando hipointen-
Imagens ponderadas em T2 (esquerda) e em Ti pós-conUasle (direita) sidades nos núcleos da base e talamos ES com hemorragias focais
alguns dias antes da morte do paciente demonstrando lesão expansiva petequiais
hiperintensa no pedúnculo cerebral esquerdo com halo hipointenso ES,
edema perilesional e realce periférico (Si.

Listeriose

te ou estabilizam a doença com tratamento antibiótico A listeriose é uma zoonose alimentar causada pela Listeria
apropriado. Entretanto, mesmo com antibióticos, muitos monocytogenes, bactéria gram-positiva de vida facultati
va intracelular que habita o solo, vegetação e viveiros de
pacientes têm recidiva da doença. O prognóstico em pa
cientes com doença de Whipple do SNC é incerto. Cerca animais. Existem seis espécies de Listeria, das quais ape
de um quarto morre em quatro anos, e outros 25% sobrevi nas uma - L. monocytogenes - é patogênica para os seres
vem com défícits neurológicos maiores. humanos.
A listeria causa gastrenterite, infecção matemo-fetal,
Imagem. Os achados de imagem na doença de Whipple
septicemia e infecções do SNC em pacientes imunocom-
do SNC são inespecíficos. As lesões tendem a se agrupar
prometidos, em mulheres grávidas e em recém-nascidos.
nos talamos, hipotálamos, lâmina quadrigeminal. subs Casos em pacientes imunocompetentes são raros.
tância cinzenta periaquedutal e lobos temporais mediais A listeriose do SNC tem tropismo pelas meninges e
(Fig. 13-66). As lesões multifocais são muito mais co tronco encefálico. Os sintomas incluem febre, cefaleia,
muns do que as lesões solitárias.
paralisia de nervos cranianos, vertigem e sonolência. Uma
Lesões hiperintensas bilaterais simétricas ou na linha vez que os sintomas tenham se desenvolvido, a taxa de
média em T2/FLA1R que demonstram leve realce nas mortalidade é de 25 a 30%.
imagens TI pós-conlraste são achados típicos. Hiperin- Os aspectos de imagem são geralmente inespecíficos.
tensidade de sinal do trato corticospinal ocorre em alguns A listeriose do SNC pode se apresentar como meningite,
pacientes e se parece com os achados da esclerose lateral encefalite, cerebrite ou abscesso. No cenário clínico apro
amiotróflca. A doença de Whipple não costuma apresentar
priado. uma lesão focai no mesencéfalo. na ponte ou na
restrição à difusão da água. medula, com alto sinal em T2/FLA1R e realce periférico
Diagnóstico diferencial. O diagnóstico diferencial de com edema perilesional significativo deve levantar a sus
doença de Whipple do SNC inclui vários processos gra- peita de abscesso por L. monocytogenes (Fig. 13-67).
nulomatosos como neurossarcoidose e tuberculose. As
lesões temporais mesiais podem simular encefallte her- Febres hemorrágicas virais
pétíca ou encefallte línibica/autoimune. A maioria das o Centers for Disease Control and Prevention (CDC)
lesões da doença de Whipple do SNC não apresenta ou identificou seis agentes biológicos "categoria A" (facil
apresenta pouco efeito expansivo, de modo que neopla mente disseminados ou transmitidos de pessoa a pessoa,
sias como lliifoma ou astrocitoma difusamente ínflltra- resultando em alta taxa de mortalidade e um potencial
tivo são diagnósticos diferenciais pouco prováveis. para grande risco à saúde pública): antraz, varíola, botu-
376 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

lismo, tularemia, febre hemorrágica vira! c peste bubô agentes com envolvimento do SNC. Em áreas endêmicas,
nica. Destas, as febres hemorrágicas virais são as que a doença tomou-se a causa mais freqüente de encefalite,
mais provavelmente podem envolver o SNC. ultrapassando mesmo o vírus herpes simples. O flavivíms
O filovirus como Ebola e Marburg são vírus de cadeia da dengue é o mais importante em relação à incidência
de RNA negativa, linear e não segmentada que causam global de doença e potencial de disseminação para áreas
febres hemorrágicas agudas com altas taxas de mortalida não endêmicas (Fig. 13-68).
de. A maior parte desses pacientes não sobrevive tempo O envolvimento sintomático do SNC ocorre em
suficiente para desenvolver sintomas do SNC, e nunca 5 a 20% dos pacientes com infecção aguda pelo vírus da
sequer foi submetida a exames de imagem. Atualmente, dengue ou dengue hemorrágica. Estudos de imagem de
não existem vacinas licenciadas ou terapia para combater monstram múltiplos focos hemorrágicos. Infartos francos
infecções humanas pelos filovirus. Casos confirmados de e apoplexia hipofisária foram relatados em alguns casos.
febre hemorrágica por Ebola foram descritos na África. Muitos pacientes com síndromes renais relacionadas
Nenhum caso confirmado foi descrito nos Estados Unidos à hantavirose ou à febre hemorrágica coreana desen
e na Europa. volvem sintomas do SNC como distúrbios psiquiátricos
As febres hemorrágicas com complicações conheci agudos, epilepsia e meningismo. Estudos de necropsia
das do SNC incluem dengue hemorrágica/síndrome do demonstram hemorragia hipofisária em 37%, necrose hi
choque hemorrágico associado à dengue e à hantavirose pofisária em 5% e hemorragias no tronco em aproximada
com síndrome renal. mente 70% dos casos. Nos poucos casos relatados, a RM
A dengue é causada por um flavivírus com quatro demonstrou hemorragia hipofisária e lesão reversível no
sorotipos, dois dos quais (tipos 2 e 3) são os principais esplênio do corpo caloso.
Tuberculose, infecções fúngicas, parasitárias e outras infecçoes 377

Neuroclsticercose
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14
HIV/Aids

Visão geral 379


Visão geral
Introdução 379
Epidemiología 379
D e m o g r a fl a 380
Introdução
Já se passaram mais de 30 anos desde que uma nova sín
Infecção pelo HIV 380
Encefalite pelo HIV 380 drome associada com importante supressão da imunidade
Outras manifestações do HIV/Aids 384 celular foi identificada. O agente causador, um retrovirus,
recebeu o nome apropriado de vírus da imunodeficiência
íníecções oportunistas 387
To x o p l a s m o s e 387
humana (HIV), e a síndrome causada pelo vírus é chama
Criptococose 389 da de síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids).
Leucoencefalopalia multifocal progressiva 392 Foi necessário cerca de 10 anos para o desenvolvi
Outras infecçôes oportunistas 398 mento de regimes de tratamento com múltiplas drogas, de
Síndrome inflamatória da reconstítuição imunológica 400
múltiplas classes para o HIV/Aids. Terapia antirretroviral
Neoplasias no Hiv/Aids 404 altamente ativa (HAART), também conhecida como te
Linfomas associados ao HiV 405
rapia antirretroviral combinada (cART), resultou em um
Sarcoma de Kaposi 405 declínio drástico na mortalidade dos pacientes tratados.
A taxa geral de mortes relacionadas à Aids caiu cerca de
20% nos últimos cinco anos.
Neste capítulo, serão exploradas as "múltiplas faces" do
Em países industrializados, nos quais o acesso à
comprometimento do sistema nervoso central (SNC) pelo
HAART é amplo e facilmente disponível, o HIV/Aids
HIV/Aids. Inicialmente, a doença será contextualizada
com o cenário demográfico e epidemiológico, e depois passou de uma sentença de morte para uma doença crô
nica e manejável. E a sobrevida nesses países aumentou
serão abordados os aspectos patológicos e de imagem da
de uma média de 10,5 anos para 22,5 anos em apenas uma
infecção do SNC pelo HIV/Aids.
década. Essa foi a boa notícia. E a má notícia? O progres
Serão discutidas as manifestações do próprio HIV
so é frágil e distribuído de forma desigual. Em algumas
no SNC, como a encefalite pelo HIV Na seqüência, se
localidades pouco desenvolvidas do mundo, a incidência
rão considerados achados associados, como vasculopa-
do HIV continua a aumentar em números epidêmicos. As
tia pelo HIV, alterações da medula óssea relacionadas
ao HIV e lesões linfoepiteliais benignas das glândulas conseqüências pessoais e sociais da epidemia do HIV/
Aids têm sido devastadoras.
salivares.
Além disso, será discutido o amplo espectro de in
fecçôes oportunistas que complicam o HIV/Aids e o que Epidemiología
acontece quando um paciente HlV-positivo é coinfectado Os balanços sobre a epidemia global de Aids indicam que
com tuberculose, outra doença sexualmente transmissível em 2010 (ano mais recente com dados disponíveis), o nú
ou malária. mero de pessoas vivendo com HIV totalizou 34 milhões.
Novos aspectos sobre Aids tratada e o fenômeno da Dessas, cerca de 70% estavam na África subsaariana, e
síndrome inflamatória da reconstiluição imunológica 3,4 milhões eram crianças com menos de 15 anos. As
(IRIS) serão apresentados. O capítulo será finalizado com mulheres contabilizam quase 52% dos casos em adultos.
a discussão das neoplasias que ocorrem no cenário do Um total de 2,7 milhões de infecçôes ocorrem anualmente
HIV/Aids (neoplasias definidoras da Aids). - 97% em países de baixa e média renda enquanto
380 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

14-1 Necropsia da EHIV demonstra perda volumétrica generalizada 14-2 TC axial em um homem de 38 anos com HIV/Aids há bastante
com aumento dos ventrículos laterais e fissuras de Sylvius. Anormali tempo demonstra atrofia cerebral macroscópica com hipodensidades
dades pouco definidas da SB estão presentes e poupam as fibras U multifocals B3 na substância branca subcortical.
subcorticais. (B. K. DeMasters, MO.)

1,8 milhão de pessoas infectadas morrem anualmente de Os dados mais recentes disponíveis indicam que ho
HIV/Aids ou das complicações relacionadas. mens homossexuais e bissexuais continuam sendo a popu
A maioria dos pacientes com HIV/Aids atualmente lação mais infectada pelo HIV nos Estados Unidos. As ta
tnora em regiões de baixa e média renda, enquanto a xas de novas infecções permanecem estáveis desde 2006,
maioria dos pacientes com acesso à HAART vivem em mas são maiores em homens negros quando comparadas
países de renda elevada. O acesso à terapia antirretroviral com mulheres negras, e maiores em homens brancos do
em países de baixa renda aumentou pouco e hoje atinge que em mulheres brancas.
apenas 35% dos pacientes que necessitariam de tratamen Os indivíduos com doenças sexualmente transmissí
to nesses países. Embora o ntámero de novas infecções veis (incluindo clamídia, gonorreia, sífilis, herpes e pa-
tenha reduzido desde o pico em 1999, ele continua a ul pilomavírus humano) tem risco aumentado de infecção
trapassar o número de pacientes colocados em HAART. pelo HIV em relação a pessoas sem doenças sexualmente
Essa disparidade significa que os determinantes transmissíveis. Aproximadamente, 10% dos pacientes
socioeconòmicos de saúde afetam tanto a prevalência com hepatite C estão coinfectados com HIV.
quanto as manifestações do HIV/Aids. A mesma doença
pode ter conseqüências diferentes - e diferenças de ima
gem - em cada parte do mundo. Coinfecção e comorbili-
dade com outras doenças complica mais o diagnóstico por Infecção pelo HIV
imagem e o manejo dos pacientes. o HIV é uma infecção viral com tropismo pelo SNC e
efeitos diretos e indiretos. Complicações neurológicas po
Demografia dem advir da própria infecção pelo HIV, de infecções ou
A transmissão do HIV é sexual (anal ou vaginal), por neoplasias oportunistas e de distúrbios metabólicos rela
transfusão de sangue contaminado, compartilhamento de cionados ao tratamento.

agulhas contaminadas, e vertical durante a gravidez, parto Nesta seção, serão discutidos os efeitos direitos do ví
e amamentação. rus HIV sobre o cérebro. As manifestações extracranianas
A prevalência do HIV varia com a geografia, etnia e do HIV/Aids às vezes podem ser identificadas nas ima
sexo. A África subsaariana responde por cerca de 70% da gens cerebrais, sendo também discutidas.
prevalência global de HIV, afetando de maneira despro
porcional mulheres e jovens. Como resultado da melhora Encefdite pelo HIV
no tratamento e acompanhamento, infecções pelo HIV Entre 75 a 90% dos pacientes com HIV/Aids demonstram
nos idosos começam a tomar-se uma preocupação. lesão cerebral induzida pelo HIV na necropsia (Fig. 14-1).
HIV/Aids 381

Enquanto a maior parte dos pacientes permanece assin- dominante em heterossexuais, encontrada principalmente
tomática por períodos variáveis, a infecção cerebral é a no oeste da África. A menos que dito o contrário, "HIV" ou
manifestação inicial em 5 a 10% dos pacientes. Cerca de "infecção pelo HIV", neste texto, refere-se ao vírus HlV-1.
25% dos pacientes com HlV/Aids tratados pioram cogni- O vírus HIV inicialmente infecta as células de Lan-
tivamente, apesar de boas respostas laboratoriais à terapia. gerhans (células dendríticas) na pele e nas membranas mu
cosas. A proteína gpl20 do envelope viral liga-se aos recep
Terminologia tores CD4 nessas células dendríticas, que, então, migram
A encefalite pelo HIV (EHIV) e a leucoencefalopatia pelo aos tecidos linfoides e infectam as células T CD4-positivas.
HIV (LHIV) são o resultado direto da infecção cerebral O vírus prolifera-se no interior dessas células e as destrói.
pelo vírus. Infecções oportunistas não são encontradas no Viremia desenvolve-se em alguns dias e leva à dissemina
inicio da doença, embora coinfecções e múltiplas infec ção da infecção pelos demais tecidos.
ções sejam comuns no curso da doença. Os dois principais alvos da infecção viral são o tecido
Os distúrbios neurocognitivos associados ao HIV linfoide - especialmente células T - e o SNC. Os monóci-
(DNAHlVs) são a manifestação neurológica mais fre tos e os linfócitos infectados pelo vírus HIV migram atra
qüente da EHIV e da LHIV. O termo "complexo demên vés da barreira hematoencefálica intacta, penetrando o cé
cia! da imunodeficiência adquirida" refere-se especifica rebro dentro de 24 a 48 horas depois da exposição inicial.
mente à demência associada ao HIV. E m b o r a o H I V- 1 n ã o i n f e c t e d i r e t a m e n t e o s n e u r ô
nios, ele persiste no cérebro no interior dos macrófagos
Etioiogla perivasculares e microglia. Alguns reservatórios virais
O HIV é um retrovirus patogênico com neurotropismo ao periféricos fora do SNC também persistem e podem ter
RNA humano. O HIV-I é responsável pela maioria dos ca papel ativo no desenvolvimento de lesão cerebral, mesmo
sos de HlV/Aids. A infecção pelo HIV-2 é uma doença pre com tratamento adequado.

14-3A Imagens ponderada


em T2 axial de um paciente de
45 anos com demência de início
grave demonstra leve aumento
dos ventrículos laterais e sulcos.
14-3B FLAIR axial não de
monstra hiperintensidade da
substância branca.

14-3C Quatro anos após, o


mesmo paciente desenvolveu
demência grave associada ao
HIV. Imagem ponderada em T2
axial demonstra maior perda
volumétrica caracterizada pelos
ventrículos laterais e sulcos
aumentados. Hiperiniensidades
conliuentes surgiram na substân
cia branca cerebral BS e esplè-
nio do corpo caloso BI.
14-30 FLAIR axial demonstra
o intervalo dramático de altera
ções graves da SB na encefalite
pelo HIV El. Note que as fibras
U são poupadas mesmo nesse
estágio tardio.
382 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

Patologia As lesões são mais proeminentes na substância branca pe


riventricular (SB) e na coroa radiada.
Patologia macroscópica. A patologia cerebral no HIV/Aids
varia com a idade do paciente e o tempo de evolução da
doença. Nas fases iniciais, o cérebro tem aspecto macros
Aspectos clínicos
cópico normal. EHIV avançada resulta em perda de volu Epidemiologia. Cerca de 60% de todos os pacientes com
me cerebral generalizada (atrofia) com alargamento dos Aids acabam desenvolvendo manifestações neurológicas
ventrículos e espaços subaracnoides. e v i d e n t e s . E m b o r a a H A A RT t e n h a m e l h o r a d o a s o b r e -
vida, aproximadamente 15 a 25% dos pacientes tratados
Características microscópicas. A EHIV é caracterizada por
desenvolvem disfunçào cognitiva moderada ou complexo
gliose, agrupamentos microgliais, acúmulo de macró- demencial da Aids franco. Em países com amplo acesso à
fagos perivasculares e células gigantes multinucleadas. HAART. o complexo demencial da Aids tomou-se a com
As células gigantes multinucleadas contêm antígenos
plicação neurológica mais comum da infecção pelo HIV.
virais e são imunorreativas para a proteína do envelope
gpl20. Demografia. Tanto pacientes pediátricos como adultos
Ativação imune (encefalite) é desproporcional à car HlV-positivos podem desenvolver EHIV. De um terço a
ga viral presente no cérebro. Focos disseminados de lesão dois terços dos pacientes adultos com Aids e 30 a 50% dos
de substância branca e cinzenta com alterações da mielina casos pediátricos são afetados. A distribuição por sexo da
e desmielinização difusa são achados típicos. O HIV in EHIV reflete a distribuição do HIV e varia conforme a
fecta diretamente os astrócitos, mas não os neurônios. En região geográfica.
tretanto, os neurônios podem ser lesionados indiretamente A idade é identificada como um fator de risco para de
por proteínas virais ou neurotoxinas. senvolvimento de declínio cognitivo relacionado ao HIV.
A LHIV é caracterizada por alterações difusas da As evidências demonstram que proteínas cerebrais anor
mielina com áreas pouco demarcadas de desmielinização. mais são acumuladas nos cérebros de pacientes com HIV.

14-4A Imagem pondeiada


em T2 axial em um paciente de
43 anos com HIV/Aids e altera
ção cognitiva moderada mostra
/TT>
hiperintensidades bilaterais
simétricas difusas na substância
branca cerebral B. Observe
que as fibras U subcorticais são
poupadas.
14-4B FLAIR axial do mesmo
paciente demonstra o padrão
confluente da hiperintensidade
da substância branca ES carac
terístico da EHIV. Não há atrofia
e, com exceção de uma única
lesão focai parietal esquerda
a substância subcortical
está poupada.

14-4C Imagem ponderada em


TI pós-contraste no mesmo pa
ciente não demonstra realce.
14-40 Imagem ponderada
em difusão axial não demonstra
restrição. O alto sinal da subs
tância branca hemisférica nâo é
restrição, mas efeito "12 shine-
■through".
HIV/Aids 383

Excesso de tau hiperfosforilada, amiloide e a-sinucleina O período de latência da infecção pelo HlV-2 é mais
foram identificadas e podem contribuir para o desenvol longa e a carga viral menor que o HlV-1. A imunodefi-
vimento de síndromes neurodegenerativas e complexo ciência evolui mais lentamente também. Os pacientes
dcmcncial da Aids. com infecção pelo HlV-2 desenvolvem o mesmo espectro
de infecções oportunistas encontradas no HIV-1.
Apresentação. Alguns pacientes desenvolvem sintomas de
uma síndrome retroviral aguda (SRA) durante a viremia Opções de tratamento. A HAART reduziu a morbimortali-
inicial. A SRA acontece 2 a 4 semanas da infecção e con dade do HlV/Aids. Todavia, ela não previne o desenvolvi
siste em dor de garganta, febre, linfadenopatia, náuseas, mento de EHIV, embora reduza a gravidade global.
rash cutâneo e alterações neurológicas variáveis.
DNAHVls desenvolvem-se como complicações de
médio e longo prazo. Infecção cerebral inicial pelo HIV ENCEFALITE PELO HIV
costuma ser assintomática e as performances cognitivas Terminologia
e funcionais são normais. Demência associada ao HIV • Encefalite pelo HIV (EHIV)
totalmente desenvolvida causa distúrbio cognitivo impor o Resultado direto da infecção cerebral pelo HIV
tante com marcado impacto na função cotidiana. o Distúrbio neurocognitivo associado ao HIV (DNAHIV)
o A forma mais séria é o complexa demenciai da Aids
História natural. Cerca de metade dos pacientes infecta
dos pelo HIV nos Estados Unidos demonstra desempenho Etiologia
• O HIV é um vírus neurotrópico
subótimo nos testes neuropsicològicos. Redução lenta e o A maioria das infecções fiumanas é causada pelo
progressiva na motricidade fina, fluência verbal e memó H I V- 1
ria de curto prazo são características. Deterioração grave e o HIV-2 é mais prevalente no oeste da África
demência subcortical com estado quase vegetative podem
(continua)
ser evidenciados nos estágios finais da doença.

14-5A FLAIR em uma mulher


de 33 anos com início súbito da
EHIV demonstra hiperintensi-
dades bilaterais ES através da
substância branca subcortical e
profunda, incluindo o esplênio do
corpo caloso ES e fórníce
14-5B Imagem ponderada em
TI pós-contraste demonstra múl
tiplos focos lineares e puntifor-
mes de realce, presumivelmente
ao redor das artérias BI e veias
profundas da SB B.

14-5C Imagem ponderada


em TI pós-contraste em corte
mais cranial no mesmo paciente
demonstra importante realce
ao redor das veias meduíares
profundas em ambos os hemis
férios 0.
14-5D Imagem ponderada em
TI pós-contraste através da coroa
radiada mostra importante realce
linear e puntiforme B suge
•'í' -í rindo alterações inflamatórias
agudas ao redor das veias medu
íares. Tais achados provavelmen
te representam desmielinização
aguda na EHIV fulminante.
384 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

zenta e branca frontais, na substância branca parietal es


(continuação)
querda e na razão total de Cho:Cr.
• Monócitos e células T infectados pelo HIV atravessam A imagem do tensor da difusão (DTI) demonstra que
a barreira hematoencefálica em 24-48 horas pacientes com demência relacionada à Aids exibem eleva
ção significativa na difusividade média e radial na subs
Aspectos clínicos
• Epidemiologia tância branca do lobo parietal comparado com pacientes
o 60% dos pacientes com Aids desenvolvem doença portadores de EHIV não demenciados.
neurológica
o 15-25% dos pacientes tratados com HAART Diagnóstico diferenciai
desenvolvem complexo demenclal da Aids o principal diagnóstico diferencial da EHIV é a leuco-
• Apresentação
encefalopatía multifocal progressiva (LEMP). A LEMP
o Síndrome retroviral aguda é rara
apresenta lesões segmentares de substância branca que
o Mais comum = piora progressiva lenta
podem ser uni ou bilaterais e apresentam-se como hi-
perintensidades bastante assimétricas em T2/FLAIR. A
substância branca dos hemisférios e da fossa posterior são
afetados. A LEMP freqüentemente envolve as fibras U
Imagem
subcorticais, que são poupadas na EHIV.
Características gerais. EHIV nao causa efeito expansivo.
As coinfecções com outros agentes infecciosos são
Mesmo na era pós-HAART. o achado mais comum continua
comuns nos pacientes com EHIV e podem complicar os
sendo perda progressiva e generalizada de volume cerebral,
padrões de imagem. O citomegalovírus (CMV) pode
desproporcional à idade do paciente. Uma redução da es causar encefalite difusa da substância branca com ependi-
pessura cortical e das lesões de substância branca bilateral- mite. A toxoplasmosc causa lesões puntiformes multifo
mente são as anormalidades parenquimatosas mais comuns.
cals e lesões em alvo ou com realce anelar, que são mais
Achados na TC. Imagens de tomografia computadorizada evidentes nos núcleos da base. A encefalite herpctica e
(TC) podem ser normais nos estágios iniciais da doença. a encefalite pelo herpes-vírus humano tipo 6 (HHV-6)
Atrofia leve a moderada com lesões esparsas ou confluen- envolvem os lobos temporais, particularmente o córtex.
ics da substância branca se desenvoivem na medida em
que a doença progride (Fig. 14-2). A EHIV não sofre real ENCEFALITE PELO HIV: IMAGEM
ce na TC pós-contraste.
TC
Achados na RM. Na ressonância magnética (RM), a perda • Normal ou atrofia com ou sem hipodensidade da
generalizada de volume com ventrículos e sulcos alarga substância branca
dos são mais bem evidenciados em seqüências pondera R M
das em TI e em seqüências de inversão e recuperação com • Perda volumétrica com T do sulcos e ventrículos
cortes finos. Uma redução da substância cinzenta nos giros • Hiperintensidades simétricas da SB em T2/FLAIR
frontais superior e médio têm sido identificada como pos o Poupa fibras U subcorticais
sível marcador de imagem precoce para a EHIV. A intensi • Sem efeito expansivo
• Geralmente sem realce
dade de sinal da substância branca costuma ser normal ou
o Exceção possível = EHIV aguda fulminante
próxima do normal em imagens ponderadas em Ti.
A hiperintensidade da substância branca relativamen Diagnóstico diferenciai
te simétrica, confluente e bilateral é o achado inicial em • Leucoencefalopatia multifocal progressiva (LEMP)
o Coinfecção com a EHVI é comum
T2/FLAIR. Com o tempo, hiperintensidade confluente,
o Normalmente assimétrica
com margens pouco limitadas pode ser evidenciada na o Envolve fibras U subcorticais
substância branca profunda e subcortical, associada com • Infecções oportunistas
redução volumétrica cerebral (Fig. 14-3). A EHIV não o Coinfecção com a EHIV é comum
apresenta realce nas imagens ponderadas em Ti após con o CMV causa encefalite eependimite
traste e também não costuma demonstrar restrição à difu o Toxoplasmose: múltiplas lesões com realce anelar
são da água (Fig. 14-4). Em casos fulminantes, realce pe- o Herpes e HHV-6 normalmente envolvem os lobos
rivenular pode indicar desmielinização aguda (Fig. 14-5). temporais
Os métodos de imagem avançados podem demonstrar
alterações precoces na EHIV não facilmente evidencia Outras manifestações do HlV/Aids
dos na RM padrão. A espectroscopia por RM demons
tra o dano neuronal como aumento do n-acetil-aspartato Vasculopatia
(NAA). O marcador de ativação glial, ml, com freqüência A doença cardiovascular foi reconhecida há muito tempo
encontra-se elevado. Outras alterações precoces foram re como conseqüência da infecção pelo HIV. Embora a etio-
latadas na EHIV, incluindo aumento da razão de colina logia e a patogênese da doença cardiovascular continuem
para creatina (Cho:Cr) bilateralmente na substância cin desconhecidas, o HIV afeta cada aspecto do eixo car-
HIV/Aids 385

Ji.
/' .l:^»'ji '-: \
'd" ,^' i'- \\

14-6 Necropsia de uma criança hemoíílica com Aids e vasculopalia


pelo HIV demonstra importante diiatação fusiforme de ambas as artérias
IW 3 /Í.:V
14-7 ARM TOF 2D com projeção caudocranial em outra criança com
HlV/Aids e vasculopatia pelo HIV mostra alargamento fusiforme de
cerebrais médias B e dos demais componentes do polígono de Willis. ambas as artérias cerebrais médias B e aumento menos dramático da
(Cortesia de L. Rourke, MD.) ACA esquerda B

díaco, causando um espectro de doenças que vai de mio- nea pelo zóster. O diagnóstico pode ser confirmado pelo
cardiopatia e miocardite até doença vascular periférica. A achado de anticorpos anti-VZV no LCS.
vasculopatia associada ao HIV é uma entidade clínica em Os pacientes com HIV/Aids e vasculopatia pelo VZV
crescimento, causando alta morbimortalidade. costumam se apresentar em uma faixa etária mais baixa
Uma causa crescente de morbidade e mortalidade en que os pacientes com VHIV, os infartos causados pelo
tre pacientes com HIV/Aids é o acidente vascular cerebral VZV são menores, profundos ou subcorticais. Grandes
(AVC). Séries de necropsias encontraram prevalência de 4 infartos hemisféricos são relativamente raros.
a 29% de infartos cerebrais em pacientes com HIV/Aids.
Muitos desses AVCs são relacionados a coinfecções do Alterações da medula óssea relacionadas
S N C n à o a s s o c i a d a s a o H I V, l i n f o m a , f o n t e s c a r d i o e m - ao HlV/Aids
bólicas ou vasculites primárias. Cerca de 5 a 6% são ver A calvária e a base do crânio, bem como parte dos os
dadeiramente associados à vasculopatia do HIV com es- sos faciais e porção superior da medula cervical são vi
pessamento intimai de pequenos vasos, mineralização e síveis nas imagens ponderadas em TI no plano sagital
infiltrados inflamatórios perivasculares.
(Fig. 14-8). O crânio e a mandíbula sozinhos respondem
A vasculopatia associada ao HIV (VHIV) e a vasculi-
por aproximadamente 13% da medula óssea ativa (ver
te associada ao vírus varicela-zóster (VZV) são incomuns,
melha) em pacientes adultos. Adicionando os ossos cer-
porém constituem causas dc AVC de crescente importân vicais e faciais, essas estruturas respondem por cerca de
cia na população com HlV/Aids. 15 a 20% da medula óssea ativa; portanto, exame cuida
Vasculopatia pelo HIV. Ectasias fusiformes nào ateroescle- doso de todos os ossos vistos nas RM encefálicas pode
róticas das principais artérias intracranianas geralmente trazer informações sobre o estado da hematopoiese.
ocorrem em crianças com HlV/Aids congênita (Fig. 14-6 Anormalidades da medula óssea em pacientes com
e 14-7). A VHIV costuma estar associada a grandes AVCs HIV/Aids são comuns e têm sido associadas a alterações
hemisféricos. cerebrais relacionadas com deterioração cognitiva e de
mência. Anemia antes do início da Aids é um forte predi-
Vasculopatia pelo VZV. Vasculopatia do SNC associada ao
tor de demência associada ao HIV (DAHIV). Aumento do
VZV afeta artérias cerebrais de grande e pequeno cali
bre. A doença de grandes vasos acomete mais indivíduos tráfego monocitário da medula óssea para o cérebro nas
fases tardias da infecção pode representar um determinan
imunocompetentes, enquanto a doença de pequenos vasos te crítico para a gênese da DAHIV.
desenvolve-se em pacientes imunodeprimidos. Doença
neurológica com freqüência acontece meses após o zóster Patologia. A patologia altera a composição da medula
e algumas vezes ocorre mesmo sem história de lesão cutâ óssea, causando um aumento relativo na hematopoiese
386 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

celular e conseqüente substituição do tecido adiposo. He- A hiperceluiaridade medular nos pacientes com
mossiderina extraceiular, hiperceluiaridade e aumento do HIV/Aids pode apresentar baixa difusibilidade nas ima
número de monócitos e macrófagos podem contribuir sig gens quantitativas antes que qualquer alteração grosseira
nificativamente para as alterações medulares. possa ser evidenciada visualmente.
A anormalidade óssea mais comum no HIV/Aids é a
mielodisplasia (69% dos casos biopsiados), seguida por evi Lesões linfoepitelias benignas
dências de bloqueio do ferro no sistema reticuloendotelial A doença das glândulas salivares é uma manifestação im
(65%), hiperceluiaridade (53%), hematopoiese megalo- portante da infecção pelo HIV. A maioria é representada
blástica (38%), agregados linfocíticos (36%), plasmocitose tanto por cistos linfoepiteliais não neoplásicos quanto por
(25%), fibrose (20%) e granulomas (13%). A maioria das hiperplasia reativa do tecido linfoide.
anormalidades medulares associada à infecção do HIV é di As lesões linfoepiteliais benignas das glândulas sali
retamente relacionada ao processo infeccioso primário ou ás vares incluem um espectro de doenças englobando siala-
suas complicações, e não com as intervenções terapêuticas. denite linfoepitelial (SL) da síndrome de Sjogren, cistos
Imagem. Alterações sutis na medula óssea podem ser difíceis linfoepiteliais (CLE) e hiperplasia cística linfoide (HLC)
de detectar nas imagens convencionais por RM. e alguns relacionada ou não relacionada ao HIV. A SL, CLE e HLC
achados de imagem que sugerem anormalidades medulares compartilham um aspecto histológico semelhante caracte
são inespecíficos. Prolongamento do tempo de relaxamen rizado por ilhas epimioepiteliais e/ou cistos revestidos por
to TI altera a intensidade de sinal da medula hematopoié- epitélio com esiroma linfoide. Todavia, eles diferem no
tica. O sinal alto em TI da gordura é substituído por tecido que diz respeito à etiologia, apresentação clínica e manejo.
com baixo sinal em TI (Fig. 14-9). O divo e a calvária As lesões linfoepiteliais benignas do HIV (LLBHIV)
podem aparecer moteados ou "acinzentados". Corpos ver são massas císticas não neoplásicas que aumentam as
tebrais afetados se apresentam com baixo sinal em relação glândulas salivares. Lesões bilaterais são comuns. As
aos discos intervertebrais (sinal do "disco brilhante"). glândulas parótidas são as mais afetadas (Fig. 14-10).

14-8 Ilustração mostra outras


manifestações do HIV/Aids.
Observe a proeminência dos te
cidos linfoídes (tonsílas faríngea
B, palatinas SI e anel de
Waldeyer IS), reconversão da
medula amarela em vermelha
(hematopoiética) na coluna cer
vical e no crânio B.
14-9A Imagem ponderada em
TI em um paciente de 43 anos
positivo para o HIV por 20 anos
tratado com HAART mostra teci
do linfoide proeminente ES e
corpos vertebrais "escuros" B
indicando reconversão da medu
la amarela em vermelha.

14-9B Imagem ponderada


em T2 axial através do forame
magno demonstra cistos linfoe
piteliais benignos nas glândulas
parótidas B e tonsilas farínge-
as proemientesB.
14-9C FLAIR no mesmo pa
ciente demonstra hiperintensida-
de da SB periventricular caracte
rístico da EHíV. Não se identifica
muita perda volumétrka e o
paciente apresentava declinio
cognitivo leve.
HIV/Aids 387

A TC demonstra múltiplos cistos bilaterais circunscri Tonsilas faringeas e palatinas aumentadas de maneira não
tos associados ao aumento volumétrico das parótidas. Um habitual em um paciente com 25 a 30 anos deve levantar
fino halo de realce periférico é visto na TC pós-contraste suspeitas para infecção por HIV.
(Fig. 14-11). Os cistos são homogeneamente hiperinten- O diagnóstico diferencial de hiperplasia linfoide be
sos em imagens ponderadas em T2 e demonstram halo de nigna reativa em pacientes com HlV/Aids é o linfoma.
impregnação em imagens ponderadas em TI pós-contras
te (Figs. 14-9 e 14-12).

Hiperplasia linfoide Infecções oportunistas


A hiperplasia linfoide é comum em pacientes com Com o advento da HAART, a prevalência de infecções
HIV/Aids. Imuno-histoquímica, hibridização flourescen- oportunistas do SNC reduziu de 5 a 10 vezes. Todavia,
te in situ (FISH) e microscopia de transmissão eletrônica as infecções e coinfecções relacionadas ao HIV, como a
identificaram HIV nos linfonodos, tonsilas e agrupamen tuberculose, continuam a trazer significativa morbidade.
tos de tecidos linfoides. Avaliação histológica das tonsilas
excisadas em pacientes com HlV/Aids demonstra um es Toxoplasmose
pectro de alterações que incluem hiperplasia folicular, lise A toxoplasmose é a infecção oportunista mais comum e
folicular. zona do manto atenuada e presença de múltiplas principal causadora de lesões expansivas cerebrais em pa
células multinucleadas gigantes. cientes com HlV/Aids.
Os pacientes afetados podem ser assintomáticos ou
apresentar uma massa nasofaríngea, obstrução nasal ou Terminologia e etiologia
sangramento. perda auditiva ou linfadenopatia cervical. A toxoplasmose (toxo) é causada pelo parasita intracelu
A hiperplasia linfoide do anel de Waldeyer é o acha lar Toxoplasma gondii. Entre 20 a 70% da população é
do mais comum observado na RM (Figs. 14-10 e 14-11). positiva para T. gondii, portanto, infecção em pacientes

14-10 Ilustração axial mostra


lesões linfoides e línfoeptellais
típicas do HlV/Aids. Observe as
tonsilas palatinas hiperplásicas
SI, múltiplos cistos nos lobos
superficiais e profundos das pa
rótidas [S.
14-11 TC pós-contraste axial
em um paciente de 33 anos com
HlV/Aids demonstra um grande
cisto na parótida direita com
realce anelar ES e aumento do
anel de Waldeyer SI.

14-12A Imagem ponderada

/ > x \ em T2 axial em um homem de


31 anos HiV-positivo demonstra
anel de Waldeyer hiperplásico
BS, linfonodos cervicais profun
-O " > dos proeminentes E3 e múlti
plos cistos de variados tamanhos
a em ambas as glândulas
parótidas.
14-12B Imagem ponderada
em n pós-contraste com sa
turação da gordura no mesmo
paciente demonstra cistos com
- -*» realce periférico em ambas as
m

• t » parótidas B e nos linfonodos


cervicais profundos aumentados
s a
A
388 Infecção, inflamaçao e doenças desmielinizantes

14-13 Patologia macroscópica em corte axial de um paciente com HIV 14-14 Fotomicrograíia corada com H&E demonstra múltiplos organis-
demonstra abscessos pouco definidos relacionados à toxoplasmose nos mos encislados S! da toxoplasmose. (Cortesia de B. K. OeMasters, MD.)
núcleos da base SI. Observe que há hemorragia ÍS circundando a ne
crose central da lesão à direita. (Cortesia de R. Hewlett, MD).

com HlV/Aids geralmente representa reativação de uma disponível, a prevalência diminuiu quatro vezes na últi
infecção latente. ma década, caindo de 25% para 3 a 10%. A prevalência
O T. gondii é um parasita intracelular obrigatório. Em geral da toxoplasmose em regiões com recursos escassos
bora qualquer mamífero possa ser vetor e agir como hospe é muito maior. Na África, 35 a 50% de todos pacientes
deiro intermediário, os gatos são os hospedeiros definitivos. com HIV/AIDS desenvolvem toxoplasmose do sistema
Os seres humanos se infectam quando o organismo é aciden nervoso central. Os pacientes imunocomprometidos têm
talmente ingerido. Os parasitas rapidamente multiplicam-se maior pré-disposição a desenvolver toxoplasmose quando
em taquizoitos. Quando os taquizoítos invadem o SNC, tor a contagem de CD4 encontra-se abaixo de 200.
nam-se bradizoítos e forniam cistos parenquimatosos.
APRESENTAÇÃO. A maioria dos pacientes com HIV/AIDS e
Patologia com toxoplasmose se apresenta com défícits neurológi
cos focais associados a sintomas de encefalopatia global
Localização, tamanho e número. A toxoplasmose do SNC
mais freqüentemente envolve os núcleos da base, o tála- como cefaleia, confusão mental e letargia. A hemiparesia
leve é a anormalidade focai mais comum. Coréia é relati
mo, a junção corticomedular e o cerebelo (Fig. 14-13).
Lesões multifocals são mais comuns que lesões solitárias. vamente raro.

Apenas 15 a 20% das lesões da toxoplasmose são solitá História natural e prognóstico. A toxoplasmose do SNC é fa
rias. A maioria das lesões são pequenas, medindo de 2 a 3 tal se não for tratada e o tratamento precoce é curativo. Os
centímetros de diâmetro.
pacientes tratados em geral melhoram significativamente
Características microscópicas e macroscópicas. O aspecto em 2 a 4 semanas. Em ambientes de recursos socioeconô-

macroscópico da toxoplasmose do SNC em pacientes micos precários, a sobrevida média é de apenas 28 meses.
com HIV/Aids é de um abscesso necrotizante pobremen
te circunscrito, com borda hiperêmica e conteúdo amare Imagem
lado mole. Achados na TC. O achado mais comum na TC são múl
As características microscópicas incluem necrose de tiplas lesões hipodensas de limites pouco definidos nos
coagulação, organismos encistados, numerosos taquizoí núcleos da base e do tálamo com edema periférico de mo
tos livres e mínima resposta inflamatória do hospedeiro derada a grande quantidade.
(Fig. 14-14). O realce na TC pós-contraste é associado à contagem
de CD4. Em pacientes com contagem abaixo de 50, o realce
Aspectos clínicos pode ser ausente ou fraco. Conforme a contagem linfocitá-
DEMOGRAFIA. A prevalência da toxoplasmose varia grande ria aumenta, aumenta o realce. Múltiplas lesões com realce
mente. Em países nos quais a HAART está amplamente puntiforme ou anelar são o achado mais freqüente.
HIV/Aids 389

Achados na RM. Imagens ponderadas em TI demonstram rintensidades multifocals em T2 nos núcleos da base e da
uma lesão expansiva hipointensa que às vezes apresenta substância branca subcortical. Um realce pode estar ausen
moderada hiperintensidade de sinal na periferia relaciona te ou ser discreto, apesar do curso fulminante da doença.
da com necrose de coagulação ou hemorragia. Os achados da espectroscopia por RM são inespecífi-
Zonas com alternância de alto e baixo sinal com ede cos e com freqüência demonstram um pico de lipídeo-lac-
ma perilesional marcado são achados das imagens pon tato. A toxoplasmose apresenta baixo volume sangüíneo
deradas em T2 (Fig. 14-15A). A hiperintensidade central cerebral (rCBV) relativo no SPECT e na perfusão por RM
corresponde histologicamente ao abscesso necrotizante. A (pRM) (Fig. 14-16)
medida que o abscesso da toxoplasmose se organiza, a in
tensidade do sinal reduz até que a lesão tome-se isointen- Diagnóstico diferencial
sa ao parênquima cerebral adjacente. A hiperintensidade O principal diagnóstico diferencial é o linfoma primário
perilesional representa edema com desmielinização. do SNC (LPSNC). A toxoplasmose do SNC relacionada
Nas imagens ponderadas em TI pós-contraste, uma à Aids tem achados positivos de sorologia em 80% dos
ou mais lesões expansivas com realce nodular e periféri casos, e a PCR no LCS é diagnóstica. As lesões solitárias
co são o achado típico (Figs. 14-I5B, 14-I5C e 14-15D). são incomuns. Cerca de 70% das lesões expansivas únicas
A lesão com realce periférico e com um pequeno nódulo do SNC em pacientes com HIV/Aids são LPSNC.
mural excêntrico representa o sinal do "halo excêntrico".
O nódulo com realce é uma coleção de vasos espessados, Críptococose
enquanto o realce periférico é causado por uma zona vas Infecções fúngicas podem ameaçar a vida de pacientes imu-
cular que circunda a cavidade necrótica. nocomprometidos, especialmente nos portadores de HIV/
A encefalite disseminada por toxoplasmose, também Aids. Embora muitos fungos possam causar infecções do
chamada de encefalite nodular microglial, produz hipe- SNC, os fungos mais comuns em pacientes com HIV/Aids
390 Infecção, infiamaçao e doenças desmielinizantes

14-16A Imagem ponderada


em T2 em um paciente HIV-po-
sitivo com loxoplasmose mostra
múltiplas lesões hiperintensas
nos núcleos da base ES e gran
de lesão confluente B ao redor
do corno occipital do ventricuio
lateral direito.
14-16B FLAIR no mesmo
paciente demonstra múltiplas,
pequenas e predominantemente
hiperintensas lesões na 56 B.
Grande lesão tumefaciente ÍSl
com halo hipointenso e centro
hiperintenso acompanhada de
importante edema periférico.

14-16C FLAIR em corte mais


cranial no mesmo paciente mos
tra lesões grandes hiperintensas,
heterogêneas além de pequenos
focos distribuídos no cérebro no
córtex e 58 subcortical ES.
14-160 Imagem ponderada
em TI pós-contraste com satu
ração de gordura mostra que a
lesão tumefaciente tem marcado
realce heterogêneo Várias
outras lesões com realce podem
ser vistas ES

14-16E Imagem ponderada


em TI pós-contraste com satu
ração de gordura em piano mais
cranial demonstra lesões adicio
nais com realce ES incluindo
uma lesão "em alvo" nos núcleos
da base à esquerda B.
14-16F pRM no mesmo pa
ciente demonstra que a lesão
tumefaciente tem rCBV relativo
marcadamente baixo acha
do compatível com toxoplasmose
e não linfoma.
HIV/Aids 391

são Candida albicans, espécies de AspefgiUus e Cnpto- lesões expansivas focais, chamadas de criptococomas.
coccus neoformam (crypto). A criptococose em pacientes Meningite e criptococomas são as formas mais comuns
imunocompetentes foi brevemente discutida no Capítulo 13. em pacientes imunocompetentes, enquanto meningite e
Agora serão revisados os aspectos dos pacientes imunocom- pseudocistos gelatinosos são as fonnas mais comuns nos
prometidos. pacientes com HIV/Aids.
Na meningite ou meningoencefalite criptocócica, as
Etlologia e epidemiologia meninges tornam-se espessadas e opacificadas. Polissa-
o C)yptococcns neoformans é excretado em fezes animais carídeos gelatinosos capsulares do fungo e esporos com
e de pássaros e é encontrado no solo e na poeira, tendo brolamentos acumulam-se nos espaços perivasculares alar
ampla distribuição e sendo encontrado em todo o mundo. gados (Fig. 14-18). Múltiplos pseudocistos gelatinosos são
Os pulmões são o sítio de infecção primário. As infecções observados nos núcleos da base. no mesencéfalo. no núcleo
do SNC ocorrem quando os organismos circulantes no denteado e na substância branca subcortical (Fig. 14-19).
sangue são depositados nas cisternas subaracnoides e nos
espaços perivasculares. A criptococose é a terceira infec Aspectos clínicos
ção do SNC mais comum em pacientes com HIV. atrás do Criptococose em pacientes com HlV/Aids se apresenta
HIV e do 7Í gondii. Antes da HAART, infecções do SNC como meningite ou meningoencefalite. Os sintomas co
por criptococos ocorriam em 10% dos pacientes com HIV, muns incluem cefaleia, convulsões e visão borrada. Defi
todavia, isso se tornou relativamente raro em países de cits neurológicos focais são incomuns.
senvolvidos. A criptococose ocorre quando as contagens
de CD4 caem abaixo de 50 a 100 células por microlitro. Imagem
A TC freqüentemente demonstra hipodensidade nos nú
Patologia cleos da base (Fig. 14-20). O realce varia conforme o es
A infecção criptocócica do SNC se apresenta de três for tado imunológico. A TC pós-contraste em pacientes imu-
mas: meningite, pseudocistos gelatinosos (Fig. 14-17) e nocomprometidos costuma não mostrar realce.

14-17 Ilustração coronal


demonstra múltiplos espaços
perivasculares alargados [-^J
preenchidos com material mu-
coide gelatinoso característico
da infecção por criptococos em
pacientes com HtV/Aids,
14-18 Folomicrografia de
monstra um corte longitudinal
sofre a bifurcaçào de um vaso
1^ circundada por espaço peri
vascular alargado preenchido por
múltiplos pseudocistos gelatino
sos cíiplocódcos S]. (Cortesia
de B. K. DeMasters, MD.)

14-19 Imagem coronal de


monstra múltiplos cistos criptocó-
cicos nos espaços perivasculares
dos núcleos da base E^. (Corte
sia de B. K. DeMasters, MD.)
14-20 TC axial em um pacien
te HlV-positivo mostra hipoden
sidade dos núcleos da base E3.
(Cortesia de N. Ornar, MD.)
392 Infecçao, inflamação e doenças desmielinizanles

Os pseudocistos gelatinosos crlptocócicos são hipoin- ma primário do SNC em pacientes com HlV/Aids apre
tensos ao cérebro em imagens ponderadas em Ti e muito senta hemorragia, necrose e realce periférico. Lesões so
biperintensos em imagens ponderadas em T2 (Fig. 14- litárias são mais comuns que o envolvimento multifocal.
21). As lesões em geral seguem a intensidade de sinal do
LCS e têm sinal suprimido no FLAIR (Fig. 14-22). Ede Leucoencefalopatia multifocal progressiva
ma perilesional está ausente. Falta de realce nas imagens Terminologia
ponderadas em Ti pós-contraste é típico, embora algum A leucoencefalopatia multifocal progressiva (LEMP) é
realce piai moderado possa ser evidenciado. uma infecção oportunista causada pelo vírus JC (JCV),
membro da família Papovaviridae. O vírus foi batizado de
Diagnóstico diferenciai "JC" após ter sido isolado do cérebro necropsiado de um
Os espaços perivasculares (EPVs) alargados são um paciente chamado John Cunningham.
achado comum em praticamente qualquer paciente e são Durante os últimos 20 anos, o espectro da infecção do
vistos em todas idades. Eles podem ser vistos em agru SNC pelo vírus JC foi expandido além da LEMP "clássica".
pamentos e seguem a intensidade de sinal do LCS. EPVs Alguns investigadores sugerem uma distinção entre LEMP
alargados não sofrem realce. Em pacientes com HIV/Aids clássica (LEMP) e LEMP inflamatória (LEMPi). Outras
com contagens de CD4 abaixo de 20, espaços perivascu formas neurotrópicas da infecção pelo vírus JC incluem en-
lares alargados simétricos devem ser considerados infec- cefalopatia associada ao JCV (EJCV), meningite pelo JCV
ção por Ciyptococcu.s e tratados como tal. (MJCV) e infecção da camada granular cerebelar pelo vírus
A toxoplasmose em geral se apresenta com múltiplas JC (neuronopatia de células granulares pelo JVC).
lesões com realce anelar ou "em alvo" acompanhadas de
edema periférico. A tuberculose costuma apresentar-se Etíologia
com forte realce nas meninges basais. Os tuberculomas O JCV é um organismo que circula no ambiente, princi
são hipointensos em imagens ponderadas em T2. O linfo- palmente nas águas contaminadas com esgoto. Mais de

14-21 Imagem ponderada em


T2 do mesmo pacienie da Figura
14-20 demonstra que os núcleos
lentilormes e as cabeças dos
núcleos caudados estão grossei
ramente expandidas por inume
ráveis cistos biperintensos B
característicos dos pseudocistos
gelatinosos da criplococose. (Cor
tesia de N. Omar, MD.)
14-22A Imagem ponderada
em T2 axial em um paciente de
55 anos com HlV/Aids demons
tra espaços perivasculares alar
gados em ambos os pedúnculos
cerebrais B e na substância
perfurada anterior

14-22B Imagem ponderada


em T2 axial no mesmo paciente
demonstra múltiplos pseudocis
tos gelatinosos em ambos os nú
cleos lentiformes B e na cabe
ça do núcleo caudado direito B.
14-22C FLAIR no mesmo
paciente demonstra que os pseu
docistos tem o sinal suprimido.
Observe as hiperintensidades na
substância branca cerebral B
consistente com EHIV. (Cortesia
de T. Markel, MD.)
V/,
HIV/Aids 393

14-23 Visão aproximada corona! de uma peça de necropsia de um 14-24 Oligodendíócitos escuros infectados SI estão concentrados
paciente com lEMP avançada grave mostra focos de desmielinização nas margens do foco rosado de desmielinização 1^ nesta imagem clás
espongiformes coaíescenles ao longo da junção entre a substância bran sica de microscopia da LEMP. (Cortesia de B. K. OeMaslers, MD.)
ca e cinzenta sa se estendendo para a substância branca subcortical e
profunda (S.

85% da população adulta no mundo tem anticorpos contra Patologia


o vírus JC. A infecçào assintomática tem probabilidade de
Localização. O vírus JC ativado afeta quase exclusivamente
ser adquirida na infância ou na adolescência e permanecer
oligodendrócitos, causando desmielinização multifocal as
latente até o vírus ser reativado.
simétrica com predileção pela SB frontal e parieto-occipital.
Em alguns pacientes imunocomprometidos. o vírus
JC reativado toma-se neurotrópico e infecta oligodendró- Número e tamanho. As lesões iniciais da LEMP são peque
citos. causando encefalopatia desmielinizante progressi nas, geralmente medindo poucos milímetros de diâmetro.
va, ou seja, LEMP. À medida que a doença progride, pequenos focos coales-
Foram identificadas três fases no desenvolvimento da cem em lesões confluentes que podem ocupar grandes ex
LEMP. A primeira fase é a infecção primária assintomática. tensões da substância branca.
Na segunda fase, o vírus persiste como uma infecção perifé Patologia macroscópica. As lesões iniciais apresentam-se
rica latente, primariamente nos rins, na medula óssea e nos como pequenos focos amarelados, ovais ou arredondados,
tecidos linfoides. A terceira fase é a reativação e dissemina na junção entre a substância branca e cinzenta. O córtex
ção, com contaminação do SNC por via hemalogênica. permanece normal. Com a coalescência das lesões, de
A imunodeficiência induzida pelo HIV é o fator pre-
pressões espongiformes no cérebro e na substância branca
disponente mais comum para infecção sintomática pelo cerebelar são evidenciadas (Fig. 14-23). Diferentemente
vírus JC e é responsável por 80% de iodos os casos. A dos infartos isquêmicos, é raro as lesões da LEMP serem
LEMP também pode ocorrer no contexto de doenças do cavidades completas.
colágeno, imunossupressâo por transplante de órgão sóli
do ou de medula óssea, quimioterapia com rituximab para Características microscópicas. O processo de desmieliniza
neoplasia hematológica e tratamento com o agente imuno- ção vai desde leves alterações até perda grave da mielina.
modulador natalizumab para esclerose múltipla e doença Focos de desmielinização leve são circundados por gran
de Crohn. des oligodendrócitos infectados com inclusões nucleares
O espectro em expansão da LEMP agora também in violáceas (Fig. 14-24). Com exceção dos neurônios gra-
clui pacientes sem depleção grave da imunidade celular. nulares cerebelares, infecção neuronal é rara.
Ocorre em pacientes com condições com menor imuno
deficiência, como linfocitopenia CD4 idiopática, lúpus Aspectos clínicos
eritematoso sistêmico, cirrose, psoríase e gestação. Os ca Epidemiología. Na era pré-HAART. a LEMP afetava entre
sos de LEMP na ausência de qualquer imunodeficiência 3 a 7% dos pacientes HlV-positivos e causava 18% de to
documentada também foram relatados. das as mortes por lesão do SNC relacionadas à Aids. O
394 Infecção, inflamação e doenças desmlellnizantes

14-25 LEMP clássica em um paciente HlV-positivo masculino de 32 14-26 RM em um paciente de 46 anos HlV-positivo com piora cog
anos. Hiperintensidade coniluente frontal escjuerda B poupa o cortex nitiva e CD4 inferior a 10 mostra uma lesão coniluente sem realce no
e não tem realce TC após seis semanas mostra que a lesão no lobo lobo occipital esquerdo ES que cruza o corpo caloso B3I. PCR no LCS
frontal esquerdo aumentou de tamanfro EES e uma nova hipodensidade foi positivo para jCV.
frontal direita está presente

uso crescente e amplo da HAART reduziu a prevalência suspensão da droga e plasmaferese tem sido usada com al
de LEMP nos pacientes com HlV/Aids. A incidência caiu gum sucesso para aumentar a sobrevida desses pacientes.
de 0,7 para 0,07 para 100 pessoas/ano na década desde a O diagnóstico de LEMP é sugerido por achados de
instituição da HAART. imagem em pacientes com HIV/Aids e teste PCR positivo
A incidência de LEMP associada a natalizumab está para o vírus JC no LCS.
estimada em 1; 1.000. O risco aumenta com a duração da
exposição. Imagem
Apresentação e história natural. Até recentemente, a LEMP
Características gerais. A imagem tem papel-chave no diag
era a única manifestação conhecida da infecção peio vírus nóstico e seguimento dos pacientes com infecção pelo ví
rus JC. A LEMP clássica pode se manifestar como lesão
JC. Novas apresentações conhecidas incluem a síndrome
da reconstituição intlamatória associada à LEMP (IRIS- solitária ou com distribuição multifocal. Qualquer área do
cérebro pode ser afetada, embora a substância branca su-
-LEMP, ver a seguir). Apresentações raras incluem EJCV,
MJCV e uma síndrome cerebelar com preservação dos pratentorial seja o sitio mais afetado. A substância branca
da fossa posterior - especialmente os pedúnculos cerebe-
oligodendrócitos associada à infecção isolada dos neurô
nios da camada granular cerebelar (neuronopatia de célu lares médios - é a segunda localização mais comum. Em
casos excepcionais, a lesão solitária nas fibras em U sub-
las granulares do vírus JC).
Os sintomas mais comuns da LEMP são alteração do corticais pode ser o achado de imagem.
A extensão varia de pequenos focos subcorticais es
estado mental, ccfaleia, letargia, déllcils motores, afasia
e distúrbios de marcha. Em cerca de 25% dos pacientes. parsos até grandes lesões bilaterais confiuentes e assi
LEMP é a manifestação inicial da Aids e pode aparecer métricas da substância branca. Nos estágios iniciais da
doença, algum efeito expansivo com expansão girai pode
precocemente no curso da doença mesmo quando as con ser identificado. Em estágios tardios, alterações encefalo-
tagens estão acima de 200 células por microlitro.
clásticas com atrofia e perda de volume são achados pre
A LEMPem pacientes com HlV/Aids sem tratamento
dominantes.
costuma ser fatal, com morte em 6 a 8 meses. A HAART

pode estabilizar a doença e melhorar a sobrevida, porém a Achados por TC. Mais de 90% dos casos de LEMP clás
LEMP continua sendo a segunda causa da morte relacio sica demonstram áreas hipodensas na substância branca
nada à Aids, atrás apenas do linfoma. subcortical e periventricular profunda na TC (Fig. 14-25):
A LEMP em pacientes com esclerose múltipla (EM) 70% dos casos são multifocals. Geralmente não há realce
tratados com natalizumab tem alta morbimortalidade. A na TC pós-contraste.
HIV/Aids 395

14-27A Mulher de 54 anos


em quimioterapia para LMA de
senvolveu cefaleia e distúrbios
r '
visuais. TC axial demonstra hipo-
densidade extensa que ocupa a
maior parte da substância branca
do hemisfério esquerdo E2.
Observe o edema do córtex B
e o efeito expansivo sobre o ven-
trículo lateral esquerdo.
14-27B FLAIR demonstra
hiperintensidade confluente de
substância branca atravessando o
corpo caloso bem como oblitera-
ção dos sulcos e hiperintensidade
cortical Observe que há
lesão com aspecto anelar ^3 no
lobo frontal esquerdo.

14-27C Imagem ponderada


em TI axial demonstra hipoin-
tensidade da substância branca
com limites pouco definidos B,
apagamento dos sulcos corticais
á esquerda B e lesão frontal
com características expansivas
B
14-270 Imagem ponderada
em TI pós-contraste com satura
ção de gordura demonstra realce
frustro nas margens de várias
das lesões

14-27E Estudo da difusão da


água demonstrando restrição em
muitas novas lesões de substân
cia branca B enquanto o cen
tro de várias lesões antigas B
- incluindo o da lesão de aspecto
anelar no lobo frontal esquerdo -

th
não apresentam restrição.
14-27F Mapa de ADC mostra
restrição nas margens de infla

^ : mação ativa B. O PGR do ICS


do paciente foi positivo para o
vírus JC. Com efeito expansivo e
realce, as imagens representam
a variante LEMP inílamatória
(LEMPi).
396 Infecção, inflamação e doenças desmlelinizantes

Achados por RM. No estudo da difusão da água, a aparência da doença


LEMP clássica. Hipointensidades bilaterais assimé varia conforme o estágio. Em lesões recentes e ativas,
tricas, com margens irregulares, nas imagens ponderadas há restrição importante. As lesões um pouco mais velhas
em TI são típicas. As lesões são heterogeneamenle hipe- demonstram um centro com baixa intensidade de sinal e
rintensas nas imagens ponderadas em T2 (Fig. 14-26) e alta difusibilidade média (DMed) circundadas por halo de
têm extensão para as fibras em U subcorticais, com pre alta intensidade de sinal e baixa DMed. As lesões crônicas

servação da arquitetura cortical mesmo em casos avança apresentam difusão aumentada devido à arquitetura celu
dos de doença (Fig. 14-27). Pequenos focos hiperintensos, lar desorganizada (Fig. 14-28).
quase de aspecto microcístico, dentro e ao redor das áreas A DTI demonstra anisotropia fracional reduzida con
menos hiperintensas da substância branca representam as sistente com estrutura desorganizada da substância bran
lesões espongiformes características dos casos mais avan ca. Visto que as lesões da LEMP clássica são avasculares,
çados de LEMP. pRM demonstra rCBV relativo reduzido comparado com
A LEMP não costuma apresentar impregnação nas a substância branca não afetada.

imagens ponderadas em TI pós-contraste, embora realce Achados na espectroscopia por RM são inespecífícos,
periférico frustro ocorra em 5% dos casos (Fig. 14-28). A com queda do NAA refletindo perda neuronal. Aumento
exceção é a LEMP hiperaguda no contexto da ÍRIS (ver a da colina, consistente com destruição da mielina e pico de
seguir) e em pacientes com EM tratados com natalizumab. lipideo-lactato relacionados à necrose são freqüentemente
Nesses casos, focos com realce periférico irregular com identificados. Mioinositol é variável, mas pode estar ele
freqüência estão presentes, mas não sempre. Corticoste- vado, achado compatível com alterações inflamatórias.
roides reduzem significativamente a prevalência e a inten LEMP injlamatória (LEMPi). Achados de imagem na
sidade do realce. LEMPi são idênticos aos da LEMP clássica, exceto que as

14-28A Imagem ponderada


em TI axial em um paciente de
42 anos HlV-positivo com LEMP
clássica cerebelar e distúrbios
de marcha demonstra múltiplas
lesões hipointensas no cerebelo
E3. Observe hiperintensidade
discreta ao longo das margens
das lesões cerebelares mais an
teriores B.
14-28B Imagem pondera
da em T2 do mesmo paciente
demonstra o envolvimento
característicos dos pedúnculos
cerebelares G9.

14-28C Imagem ponderada


em TI pós-contraste axial de
monstra halo discreto de realce
ao redor das lesões B.
14-280 Estudo da difusão da
água no mesmo paciente de
monstra lesões em três estágios
diferentes. A lesão cerebelar
posterior direita E3 não mostra
restrição. A lesão no pedúnculo
cerebelar médio direito B
apresenta restrição uniforme e
intensa e a lesão cerebelar es
querda demonstra restrição nas
margens da lesão BI.
HIV/Aids 397

14-29A Um paciente de 27 anos HlV-positivo desenvolveu confusão 14-29B Imagem mais cranial demonstra a heterogeneidade da lesão
aguda e fraqueza à direita. Imagem ponderada em T2 axial mostra fii- hiperintensa E3. Pequenos microcistos hiperinlensos estão presentes
perintensidade fieterogênea confluente na SB cerebral à esquerda e nú- na substância branca frontal direita LEMP inflamatõria aguda,
cleos da base B que cruza o corpo caloso B e envolve o lobo frontal
direito E3.

lesões demonstrani realce periférico e/ou efeito expansi


vo (Fig. 14-29). LEMPi aguda pode apresentar vasculari- LEUCOENCEFALOPATIA MULTIFOCAL

zação aumentada e rCBV relativo aumentado devido ao PROGRESSIVA (LEMP)


efeito angiogênico do processo inflamatório. Em alguns Etiologia
pacientes, as lesões podem demonstrar características da • Causada pelo vírus JC
LEMPi no início da doença e progredirem para LEMP o Ubíquo; > 85% dos adultos tem anticorpos contra
clássica nos estágios mais tardios. o vírus
o Adquirido na infância, permanece latente até a
Outras infecçõespelo vírus JC. MJCV não tem carac
terísticas distintas das outras meningites, demonstrando reativação
• Principal fator predisponente = HIV (80%)
hiperintensidades no FLAIR, nos sulcos e nas cisternas da • Menos comum = doenças colágeno-vasculares,
base de aspecto inespecíflco além de realce nas imagens
imunossupressão, EM tratada com natalizumab (20%)
TI pós-contrasle. • Raro = lúpus eritematoso sistêmico, gestação
EJCV afeta inicialmente a substância cinzenta hemis-
Patologia
férica, e, então, estende-se para a substância branca sub • Vírus ativado quase exclusivamente afeta os
cortical. A infecção pelo JCV da camada granular cerebe- oligodendrócitos
lar é vista em exames de imagem como atrofia cerebelar • Desmieiinização multifocal
com alto sinal em 12 das folias afetadas.
Aspectos clínicos
• Epidemiologia
Diagnóstico diferencial o LEMP na era pré-HAART = 3-7% do pacientes HIV+
o principal diagnóstico diferencial da LEMP clássica é a o Prevalência li
encefalite pelo HIV. EHIV se apresenta com lesões da • Principal síndrome do SNC associada ao JCV = LEMP
substância branca de maneira mais simétrica e poupa as clássica
• Outras = LEMP inflamatõria, encefalite/meningite
fibras U subcorticais. A síndrome inflamatóría da re-
constitulção imunológica (IRIS) costuma ser mais agu pelo vírus JC, camada granular cerebelar
da e demonstra realce importante e irregular. Imagem
• Lesões de SB multifocals
Outras infecções oportunistas em pacientes imu-
o Bilateral, mas assimétrico
nocomprometidos, como toxoplasmose e CMV, devem o Envolve as fibras U subcorticais
ser consideradas. A toxoplasmose tem lesões com mais o Poupa o córtex
aspecto expansivo, enquanto CMV causa ependimite/ven- (continuo)
triculite, retinite e polirradiculopatia.
398 infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

14-30 Meningoencefalite por CMV em um paciente masculino de 32 14-31 Imagem ponderada em Ti pós-contraste em um paciente
anos HlV-positivo. FLAIR demonstra hiperintensidade em ambos os lobos com encefallte pelo HIV demonstra perda volumétrica generalizada.
parietais com restrição à difusão da água ES. imagem ponderada em Observe o Importante realce ependimário ^3 atípico para EHIV. Ventrl-
TI pós-contraste demonstra realce na fossa posterior e nos sulcos da cullte por CMV.
convexidade B.

A infecção do SNC pelo CMV é uma doença de iní


(continuação) cio tardio nos pacientes imunocomprometidos. Com o
• Normalmente sem efeito expansivo ou realce (exceto aumento do uso da HAART, menos de 2% dos pacientes
LEMPi) com HIV/Aids desenvolverão sintomas de infecção pelo
CMV. Os pacientes com contagens de CD4 abaixo de 50
Diagnóstico diferencial
• EHIV (não envolve fibras em U subcorticais) células por inicrolitro estão em maior risco.
• IRIS (ÍRIS relacionada à LEMP mais comum) A mortalidade na infecção do SNC pelo CMV é alta
• Outras infecçòes oportunistas (p.ex., CMV) apesar da terapia e combinação de drogas antivirais. O de
senvolvimento de CMV resistente ao ganciclovir tomou a
terapia profilática em pacientes com alto risco difícil.
Outras infecções oportunistas Em comparação com o CMV congênito, no qual o
Diversos processos inflamatórios/infecciosos podem vírus causa calcificações parenquimatosas, o CMV ad
causar ou exacerbar doença do SNC em pacientes com quirido se manifesta mais como meningoencefalite e
HIV/Aids. Esses processos incluem citomegalovírus, ventriculite/ependirnite. Os achados de meningoencefa
doenças sexualmente transmissíveis (especialmente a neu- lite lembram os achados de outras infecções (Fig. 14-30),
rossífllis), tuberculose, infecções fúngicas, malária e abs- embora o realce ao longo do epêndima ventricular em um
cessos bacterianos. Nesta seção, serão revisados a infecçâo paciente imunocomprometido seja altamente sugestivo
adquirida pelo CMV (a doença congênita foi discutida no de CMV (Fig. 14-31).
Capítulo 12), a "intcrsecção mortal" entre HIV/Aids e tu Retinite e mielite com radiculite são as duas apresen
berculose (TB), além da "colisão tripla", que ocorre quan tações extracranianas mais freqüentes.
do as infecções por HIV, TB e malária se sobrepõem.
Tuberculose
Citomegalovírus A TB é uma das coinfecções mais devastadoras nos pa
o citomegalovírus (CMV) é um membro da família dos cientes imunocomprometidos e é a principal causa de
herpes-vírus. A infecção pelo CMV permanece latente até morbimortalidade em pacientes infectados pelo HIV no
a reativação. Vários fatores de risco predispõem os pacien mundo. O surgimento de TB multirresistente (TMR) a fár-
tes ao desenvolvimento da doença do SNC: síndromes de macos e de TB extensivamente resistente (TXR) ocorre
depleçào de células T, globulina antitimócito, transplan quase somente em pacientes coinfectados com HIV.
tes alogénicos de células-tronco e HIV/Aids. Todas essas Mais de um terço de todos os pacientes com HIV/Aids
doenças causam imunodeflciência protraída de células T. do mundo está coinfectado com TB, e essa combinação
HIV/Aids 399

mortal é desproporcional em áreas altamente endêmicas e Os pacientes imunocomprometidos com contagens de


pobres em recursos como a África subsaariana. CD4 abaixo de 200 células por microlitro desenvolvem
O HIV é o fator de risco mais poderoso conhecido para uma resposta imunológica significativamente atenuada.
reativação de TB latente em doença ativa. Os pacientes com Embora a meningite seja a manifestação mais comum da
HIV que são coinfecctados com TB tem 100 vezes mais TB do SNC associada ao HIV, realce da meningite infla
risco de desenvolver TB ativa em comparação a pacientes mada, tuberculomas e pseudoabscessos são pouco evi
HlV-negativos. A resposta imunológica à TB aumenta a re- dentes ou ausentes mesmo quando grande quantidade de
plicação do HIV e acelera a progressão da doença. bacilos estão presentes.
Por sua vez, a coinfecção por TB exacerba a gravi
dade e acelera a progressão do HIV. Nesses pacientes, a Malária
Aids pode se comportar como uma doença aguda fulmi A soroprevalência do HIV-1 é alta em pacientes com ma
nante com meningite, abscessos bacterianos, sepse, coma lária grave. Os pacientes coinfectados com HIV em geral
e morte (Fig. 14-32). A mortalidade se aproxima de 100% apresentam grandes infestações pelo parasita, mais com
e a sobrevida média é medida de dias a poucas semanas. plicações e uma taxa de mortalidade maior. Parasitemia
A TB é tratada primeiro em infecções associadas ao inlra-hospitalar, perda de função renal e deterioração clí
HIV tanto para preservar a efetividade da HAART quanto nica são comuns nesses pacientes coinfectados, portanto,
para prevenir o desenvolvimento da IRIS relacionada à a identificação precoce de ambas as infecções é importan
TB (ver a seguir). te para o manejo clínico.
Os achados de imagem típicos na TB do SNC asso HIV, TB e malária são três pandemias que se sobre
ciada ao HIV podem diferir levemente dos achados em põem em países tropicais com poucos recursos. A condição
pacientes imunocompetentes, com múltiplos granulomas menos mortal é a infecçâo pelo HIV sem as outras duas
parenquimatosos e pseudoabscessos (Fig. 14-33), como comorbidades. As combinações mais mortais são a combi
se o controle sobre TB houvesse sido perdido. nação de HIV e TB e a combinação de HIV, TB e malária.

14-32A Séries de imagens


de necropsia, todas do mesmo
paciente, mostram a "cascata"
de catástrofes causadas pela
coinfecção por TB e HIV. Vários
granulomas antigos cicatrizados
SI de TB do SNC prévia são vis
tos neste corte axial através do
lobo temporal.
14-32B O paciente tornou-se
HlV-positivo, o que reativou a
TB latente, causando meningite
tuberculosa grave vista nas
cisternas da base.

14-32C Com o sistema imu-

nológíco enfraquecido, o pacien


te tornou-se séptico e desenvol
veu vários abscessos piogénícos
agudos. Observe que o abscesso
no lobo temporal é relativa
mente pouco encapsulado,
14-32D Dois outros abscessos
sâo mostrados no cerebelo !^.
A causa final de morte foi sepse
aguda. (Cortesia de R. Hewlett,
MD.)
400 Infecção, inflamação e doenças desmiermlzanles

%
14-33A Um paciente HlV-positivo com CD4 inferior a 40 e fraqueza 14-33B Imagem ponderada em TI pós-contraste demonstra múltiplas
à esquerda rapidamente progressiva e queda do estado mental. FLAIR lesões com realce periférico. Este paciente gravemente imunocompro-
axial mostra várias fiipointensidades e uma lesão hiperintensa E metido apresenta tanto granulomas BI quanto pseudoabscessos E3
com marcado efeito expansivo e edema significativo £9. no contexto de uma TB reativada fulminante. (Cortesia de S. Candy, MD.)

tratada ou doença autoimune (p. ex., esclerose múltipla).


OUTRAS INFECÇÕES OPORTUNISTAS IRlS do SNC também é chamada de neuro-IRIS.

Cítomegalovírus (CMV)
• Vírus da família dos fierpes-vírus. Etloiogla
• Se desenvolve em 2% cíos pacientes com HIV/Aids A maioria dos pesquisadores considera a neuro-lRlS
• Contagem de CD4 < 50 como uma resposta imunológica desregulada e direcio
• Imagem
nada a um patógeno cuja expressão clínica da doença
o Meningite
o Ventriculite/ependimite causada depende da susceptibilidade do hospedeiro, da
intensidade e qualidade da resposta imunológica e de ca
Tu b e r c u l o s e racterísticas específicas do próprio "patógeno causador".
• 1/3 dos pacientes coinfectados com HIV/Aids A IRIS ocorre quando a imunidade restaurada causa
• HIV é o fator mais poderoso conhecido para reativação
uma resposta imunológica exagerada contra antígenos in
da TB
fecciosos e não infecciosos. A síndrome se desenvolve em
o 100 vezes maior o risco que em pacientes sem Aids
• TB aumenta a replicação do HIV, acelera a doença dois cenários distintos, IRIS "revelada" e IRIS "parado
o Pode se apresentar como infecção aguda fatal xal". Elas diferem na expressão clínica, manejo da doença
fulminante e prognóstico, embora os aspectos de imagem sejam se
o TB "sem controle" melhantes.
IRIS "revelada" ocorre quando a terapia antirretro-
Malária
• Coinfecção com HIV piora o desfecho viral revela uma infecção oportunista prévia, subclínica,
• "Combinação tripla" de HlV-TB-malária mais mortal não diagnosticada. A restauração imunológica leva a uma
que HlV-malária. resposta imunológica contra o patógeno. Nessa situação o
parênquima cerebral é lesionado tanto pelo patógeno em
replicação quanto pela resposta imunológica incitada.
Síndrome inflamatóría da reconstituiçõo IRIS "paradoxal" ocorre quando um paciente que
foi tratado com sucesso para uma infecção oportunista
imunológica
piora após o início da terapia retroviral. Nesse cenário não
Terminologia existe nenhuma infecção nova ou reativada. A resposta
A síndrome inflamatóría da reconstituição imunológica imunológica em recuperação relaciona-se a antígenos pa
(ÍRIS) do SNC é uma encefalite recentemente reconheci togênicos persistentes ou mesmo autoantígenos, causando
da mediada por células T que ocorre no contexto de HIV lesão tecidual.
HIV/Aids 401

Vários patógenos foram idenlificados na gênese da


Patologia
IRIS. Os mais comuns são o vírus JC (IRIS-LEMP), tuber
Não existem características histológicas específicas e bio-
culose (IRIS-TB) e infecções fungicas, especialmente Cryp-
marcadores pra neuro-lRlS. O diagnóstico é estabelecido
lococcus neoformam (IRIS-crypto). Algumas infecções pa
com base nas manifestações clínicas, exclusão de outras
rasitárias, como toxoplasmose, são relativamente comuns
no HIV/Aids, mas raramente são associadas a IRIS. doenças e evidência de imagem e histopatológica de rea
ção inflamatória.
Nem todos os vírus neurotrópicos causam ÍRIS. O
próprio HIV raramente causa neuro-IRlS. Vírus da fa
mília herpes (p. ex., herpes-virus simples, VZV e CMV)
Aspectos clínicos
raramente são descritos como causadores de neuro-IRIS.
Epidemiologia. Entre 15 a 35% dos pacientes com Aids ini
Um tipo incomum de IRIS ocorre em pacientes com ciando HAART desenvolvem ÍRIS. Desses, cerca de 1%
E.M tratados com natalizumab que posteriormente desen desenvolvem neuro-lRlS. Os dois fatores mais importan
volvem LEMR A doença é tratada pela interrupção do tes são baixa contagem de CD4 e curto tempo entre o tra
tratamento com a droga e instituição de imunoadsorção tamento da infecção de base e o início da terapia antiviral.
com plasmaférese (lAP). Déficits neurológicos e estudos O maior risco encontra-se em pacientes com contagens de
de imagem em alguns pacientes pioram durante a recons- linfócitos menores que 50 células por microlitro.
tituição imune subsequente, causando IRIS-LEMP asso A epidemiologia varia conforme o patógeno de base.
ciada ao natalizumab. Dois tipos foram reconhecidos: pa A causa mais comum de neuro-IRIS é o vírus JC. Reativa
cientes com IRIS-LEMP precoce (antes da instituição da ção do vírus latente ocorre quando os pacientes tomam-se
lAP) e pacientes com IRIS-LEMP tardia (após instituição imunodeficientes. Os vírus reativados infectam os oligo-
de lAP). Desfechos neurológicos são piores nos pacientes dendrócitos, causando desmielinizaçào característica da
com IRIS-LEMP precoce, com mortalidade de aproxima leucoencefalopatia multifocal progressiva (LEMP). Apro
damente 25%. ximadamente, 17% dos pacientes com LEMP preexistente

14-34A RM com seqüência de


pulso FLAIR em um paciente HIV-
•positivo obtida antes do início
da HAART demonstra hiperin-
tensidades da substância branca
assimétricas e bilaterais B. Ob
serve que as lesões se estendem
para as fibras subcorticais em U
sugerindo LEMP.
14-34B imagem ponderada
em 11 pós-contraste no mesmo
paciente não demonstra realce.

14-34C O paciente piorou


após três semanas da HAART
apesar do aumento do CD4 e re
dução da carga vira!. Novo FLAIR
demonstra aumento significativo
das lesões de substância branca.
14-34D imagem ponderada
em TI pós contraste demonstra
aparecimento de lesões multifo
cals de realce irregular B. PCR
do ICS foi positivo para JCV. IRIS
relacionada à LEMP. (Cortesia de
T. Hutchins, MD.)
402 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

pioram após o início da HAART e podem ser enquadrados


corno portadores de ÍRIS "revelada" associada à LEMP.
IRIS-TB ocorre em 15% dos pacientes coinfeclados
com TB se a terapia antirretroviral for instituída antes de a
TB ser tratada. Envolvimento pulmonar e linfadenite são
as manifestações mais comuns. Cerca de 20% dos pacien
tes com IRIS-TB apresentam envolvimento neurológico
caracterizado por meningite, tuberculomas e radiculomie-
lopatias. IRIS-TB ocorre como IRlS "revelada" e como
IRlS "paradoxal".
IRlS "paradoxal" associada à criptococose afeta 20%
dos pacientes infectados com HIV, nos quais a terapia an
tirretroviral foi iniciada após o tratamento de criptococose
meníngea. A maior manifestação da neuro-IRIS relacio
nada à criptococose é a meningite recorrente asséptica.
Criplococomas parenquimalosos são manifestações raras.
14-35A IRIS relacionada à LEMP associada à nalali-
Apesar da alta prevalência de infestações parasitárias
zumab em paciente com EM. Imagem de base demons em países pobres, apenas poucos casos de neuro-IRIS as
tra lesões da fossa posterior B com foco solitário de
sociada a parasitas foram descritos, todos causados pelo
realce B.
T. gondii.
A IRlS associada ao natalizumab é rara. Até hoje
foram relatados 50 casos; a maior parte relacionada à
I R I S - L E M P.

Apresentação. A ÍRIS do sistema nervoso é uma condição


polimórfica com manifestações clínicas heterogêneas. A
apresentação mais comum é a piora clínica em um pacien
te HlV-positivo no início do tratamento apesar das conta
gens crescentes de CD4 e decrescentes da carga viral.
História natural e opções de tratamento. Dado que a baixa
contagem de células T CD4 é o maior fator de risco para
desenvolvimento de IRlS, iniciar HAART com conta
gens superiores a 350 células por microlitro irá prevenir a
maior parle dos casos.
A IRlS sistêmica costuma ser uma doença leve e au-
tolimitada. O prognóstico em pacientes com neuro-IRIS
é variado. Corticosteroides e terapia de neutralização de
14-35B Três meses após, os sintomas progrediram. cilocinas têm sido usados para o tratamento de neuro-IRIS
As lesões previamente existentes aumentaram e novas com resultados variados e controversos.
lesões surgiram.
Os pacientes com neuro-IRIS podem morrer dentro
de dias a semanas. A mortalidade na IRIS relacionada à
LEMP excede 40%. enquanto a relacionada à criptococo
se encontra-se em 20%. A ÍRIS por TB tem mortalidade
um pouco menor (13%).

Imagem
As manifestações de imagem da neuro-IRIS variam de
pendendo do "patógeno de base", mas refletem aspectos
genéricos de imagem das doenças inflamatórias. As lesões
com características expansivas de aspecto bizarro com
aumento e realce progressivo (Fig. 14-34) são típicas da
IRIS-LEMP, mas ocorrem em menos da metade de todos
os casos (Fig. 14-35).
A IRIS associada à tuberculose pode se apresentar com
pseudoabscessos tuberculosos (TB "fora de controle") e/ou
aumento rápido do realce das meninges da base (Fig. 14-37).
Tipos menos comuns de IRIS associam-se a fungos e para
14-35C Após lAP, a doença estabilizou. sitas (Fig. 14-36).
HIV/Aids 403

14-36A Paciente masculino


de 38 anos HlV-positivo com
história remota de doença de

■X
Chagas cardíaca apresentou piora
progressiva após duas semanas
wT •• da instituição de HAART. Imagem
ponderada em Tl pós-contraste
demonstra múltiplas lesões com
- . "4-. realce anelar BI e nodular E3
além de ventricuiite B.
. ^ ; 14-36B Imagem mais cranial
, X- ir ij demonstra lesões adicionais.

:'J> r\ vi;

14-36C Múltiplas lesões com


realce heterogêneo são vistas
na Interface entre a substância
branca e cinzenta de ambos os
hemisférios.
14-36D Imagem ponderada
em TI pós-contraste através do
vértice demonstra mais lesões.

v
404 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

14-37A Imagem ponderada em TI pós-contaste em um paciente 14-37B O paciente iniciou HAART e posteriormente apresentou piora
HlV-positivo com meningite tuberculosa demonstra realce meníngeo na dos sintomas. O realce meníngeo B aumentou e agora tem aspecto no
fissura de Sylvius esquerda B. dular e expansivo. Observe o edema significativo IRIS associada ã TB.

Diagnóstico diferencial o "IRIS paradoxal" (infecção tratada piora após HAART)


A IRIS pode ler apresentações variadas e diferentes graus • Patógenos associados à neuro-IRIS
de gravidade, tornando o diagnóstico clínico difícil. o O mais comum é o vírus JC (IRIS-LEMP)
Neuro-IRIS deve ser considerada em qualquer paciente o Segundo mais comum é a tuberculose (IRIS-TB)
imunocomprometido com deterioração neurológica ines o Fungo (IRIS-crypto)
perada dentro de algumas semanas ou meses após restau o Drogas (IRIS-LEMP relacionada ao natalizumab)
o Parasitas (raro, exceto para IRIS-toxoplasmose)
ração imunológica. Os pacientes com EM tratados com
natalizumab que desenvolvem piora paradoxal podem ter o Vírus neutrotrópicos (p. ex., HIV, herpes-virus)
L E M P o u I R I S - L E M P. raramente causam IRIS

O maior diagnóstico diferencial por imagem da neu- Epidemiologia


ro-lRlS são as infecçõcs oportunistas não associadas à • 15-35% dos pacientes com Aids ao iniciar HAART
IRIS. Realce após contraste em combinação com efeito desenvolvem IRIS
• Desses, 1% desenvolve neuro-IRIS
expansivo é o mais típico da ÍRIS, mas pode estar ausente
no início do curso da doença. A distinção é importante, • CD4 < 50 células por microlitro = TT risco de IRIS
visto que a ÍRIS necessita de controle da resposta inflama-
Imagem
tória, em vez da reconstituição imunológica necessária às • Varia com o agente de base
outras causas. Uma biópsia cerebral pode ser necessária • Efeito expansivo com rápido aumento
para identificar alterações inflamatórias típicas perivascu- • Realce variável, freqüentemente bizarro e descontrolado
lares e parenquimatosas da ÍRIS.
Diagnóstico diferencial
Neoplasias definidoras de Aids, particularmente lin- • Infecções oportunistas não associadas à IRIS
foma, podem mimetizar IRIS com achados de necrose e • Neoplasias definidoras de Aids
realce periférico irregular. Manifestações dermatológicas o Especialmente linfoma
da ÍRIS podem simular sarcoma de Kaposi.

SÍNDROME INFLAMATÓRIA DA RECONSTITUIÇÃO


IMUNOLÓGICA (ÍRIS)
Neoplasias no HíV/Alds
A neoplasias definidoras de Aids compreendem certos
Terminologia e etiologia linfomas não Hodgkin, sarcoma de Kaposi (SK) e câncer
• Neuro-IRIS
o "IRIS revelada" (HAART "revela" infecção cervical. Com exceção do câncer cervical, as neoplasias
oportunista existente subclínica) relacionadas ao HIV atingiram o pico na metade dos anos
1990 nos Estados Unidos e desde então vêm caindo. Em
HIV/Aids 405

14-38 Caso de necropsia de um LPSNC relacionado à Aids demonstra 14-39 TC axial pós-contraste em um outro paciente HlV-positivo de-
uma lesão solitária nos núcleos da base com necrose central e hemorra- monstra uma lesão solitária nos núcleos da base à esquerda com necrose
gla periférica [S. (Cortesia de R. Hewlett, MO.) central B e realce periférico moderado ES. Edema perilesional evi
dente. A biópsia revelou LPSNC.

relação ao linfoma primário do SNC (LPSNC), o risco ciado ao HIV (FIg. 14-38), o que se reflete nos achados de
de desenvolvimento de neoplasia está relacionado ao es imagem (Figs. 14-39 e 14-40).
tado imunológico do paciente e aumenta com contagens O principal diagnóstico diferencial é a toxoplasmo-
de CD4 menores do que 50 a 100 células por microlitro. se. A doença é mais múltipla, e as lesões costumam apre
Em alguns casos, como a neoplasia intraepitelial cervical sentar o sinal do "alvo excêntrico", ou seja, um nódulo
(NIC), a HAART é associada com regressão da doença. excentricamente localizado no interior de uma lesão com
Nesta seção, serão discutidas brevemente as neopla realce anelar. pRM é útil para distinção entre LPSNC e
sias definidoras de Aids que podem afetar o escalpo, o toxoplasmose, visto que o linfoma apresenta aumento do
crânio e o cérebro: LPSNC e SK. rCBV relativo, enquanto a toxoplasmose não apresenta.
Tomografia por emissão de pósitrons (PET) e SPECT
Linfomas associados ao HíV também podem ser úteis, visto que o linfoma é "quente" e
a toxoplasmose não.
Os linfomas associados ao HIV são caracteristicamente
do tipo não Hodgkin difuso de grandes células B. A infec-
Sarcoma de Kaposi
ção pelo vírus Epstein-Barr (EBV) é mais associada com
mononucleose infecciosa. Estima-se que 1% de todas as O sarcoma de Kaposi (SK) é o sarcoma mais comum em
neoplasias linfoproliferativas, epiteliais e mesenquimato- pacientes imunocomprometidos. O próximo sarcoma
sas sejam conectadas à infecção pelo EBV. O vírus tem mais freqüente é o leiomiossarcoma, seguido por angios-
papel importante no desenvolvimento de linfoma em pa sarcoma e tumores fibro-histiocíticos.
cientes com HIV e imunossupressão relacionada à trans O sarcoma de Kaposi resulta da combinação de dois
plante de órgãos. fatores: infecção pelo HHV-8 (também conhecido como
LPSNCs são o segundo tipo mais freqüente de lesão herpes-vírus associado ao linfoma de Kaposi), imunida
expansiva na Aids (em primeiro lugar está a toxoplasmo- de alterada e um ambiente de inflamação e angiogênese.
se) e desenvolve-se em 2 a 6% dos pacientes. LPSNC Infecção pelo EBV é comum em pacientes com leiomios-
causam cerca de 70% de todas as lesões parenquimatosas sarcomas associados ao HIV.
cerebrais nos pacientes com HlV/Aids. Tem havido um declínio na incidência da SK associa
A doença se apresenta com uma ou (menos comu- do à Aids desde o advento da terapia antirretroviral. O SK
mente) múltiplas massas. Mais de 90% delas são supra- em pacientes transplantados é curado com a redução da
tentoriais, com preferência pelos núcleos da base e subs imunossupressão, evidenciando o papel da resposta imu-
tância branca junto aos ventrículos laterais. LPSNCs com nológica celular no controle dos pacientes com HHV-8.
freqüência atravessam o corpo caloso. Necrose central e O SK é a neoplasia mais comum em pacientes com
hemorragia são comuns em pacientes com linfoma asso Aids não tratada. De todos os sítios, o mais comum é o
406 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

cutâneo (Fig. 14-41), seguido por membranas mucosas,


linfonodos e vísceras. O tumor clássico é indolor, com pla • Aspectos clínicos
o Segundo tipo de lesão expansiva mais comum na
cas ou nódulos de cor purpura ou marrom escuro, geral
Aids
mente nas extremidades. Quando associada à Aids, é uma
o Ocorre em 2-6% dos pacientes com HIV/Aids
doença muito mais agressiva. As lesões tendem a oci o 70% são massas solitárias do SNC em pacientes H1V+
na face, genitália e membranas mucosas (Fig. 14-42). • Imagem
O sarcoma de Kaposi craniano é incomum e muito o Hemorragia e necrose são comuns
menos freqüente que o linfoma do SNC. Quando ocorre, o Supratentorials (90%)
ele é visto como espessamento do escalpo (Fig. 14-43) ou o Núcleos da base, substância branca profunda
uma massa de tecidos moles inflltrativa na pele da face (cruzando o corpo caloso)
e do pescoço (Fig. 14-44). invasão da calvária é pouco o Freqüentemente com realce anelar
comum. A lesão tem sinal isointenso ao músculo em ima o T rCBV

gens ponderadas em TI, hiperintenso em imagens ponde Sarcoma de Kaposi


radas em T2 e em sofre forte realce na TC e em imagens • Etiologia e patologia
o Associado com HHV-8
ponderadas em TI pós-contrasle.
o Sarcoma mais comum na imunossupressão
• Aspectos clínicos
o Antirretrovirais i i prevalência
NEOPLASIAS DEFINIDORAS DE AIDS
o Pele, membranas mucosas, linfonodos e escalpo
Linfoma associado ao HIV • Imagem
• Etiologia e patologia o Espessamento localizado do escalpo
o Freqüentemente associado ao EBV o Massa de tecidos moles infiltrando a face ou o
o A maioria é do tipo não Hodgkin de grandes células B pescoço

14-40A Imagem axial pon


derada em T2 em um paciente
com HIV/Aids que desenvolveu
hemiparesia direita demonstra
uma lesão expansiva solitária
heterogênea B na junção da
substância branca profunda com
os núcleos da base.
14-40B O centro da lesão é
isointenso a ao cérebro no
FLAIR.

14-40C TI axial pós-contaste


mostra um halo de realce BI
circundando o centro necrótico.
Observe o nódulo excêntrico com
realce B dentro da área de
tecido necrótico.
14-40D TI pós-contraste no
plano coronal demonstra a apa
rência de "alvo excêntrico" ES
da lesão. Por causa do sinal do
"alvo" o diagnóstico por imagem
foi de toxoplasmose (mesmo
que uma lesão solitária seja mais
comumente LPSNC). O paciente
não respondeu ao tratamento
antitoxoplasmose. A biópsia
demonstrou linfoma difuso de
grandes células 6.
HIV/Aids 407

14-41 Folograíia demonstra


o clássico Sarcoma de Kaposi
se apresentando com múltiplas
lesões cutâneas nodulares, (Cor
tesia de T. Mentzel. MO.)
14-42 Pacientes com SK rela
cionado a Aids freqüentemente
se apresentam com lesões em
sítios não habituais, como este
paciente jovem com uma pe
quena lesão avermelhada na
pálpebra superior. (Cortesia de T.
MentzeI, MD.)

14-43 TC pós-contraste de
monstra sarcoma de Kaposi no
escalpo de um paciente com
Aids. Observe a infiltração da
pele e do tecido subcutãneo B
14-44 Sarcoma de Kaposi
da pele da face e do pescoço
em um paciente com Aids visto
como nódulos superficiais envol
-

vendo a pele e os tecidos subcu-


(ãneos ÉS.

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15
Doenças inflamatórias e desmielinizantes

rose concêntrica de Balo e a doença de Schilder, podem


Esclerose múltipla 409
ser variantes da EM, enquanto outras são, mais provavel
Outras doenças neuroinflamatórias desmielinizantes ..421 mente, entidades separadas. Também serão discutidas LI
Va r i a n t e s d a e s c l e r o s e m ú l t i p l a 4 2 1
DIs com distribuição lopográflca restrita, como neuromie
Neuromielite óptica 424
Síndrome de Susac 426
lite óptica (NMO), também conhecida como doença de
Devic ou doença do anticorpo aquaporina-4. A síndrome
Desmielinização pós-infecciosa/pós-vacinal 429 de Susac, uma endoteliopatia microvascular imunologica-
Encefalomielite disseminada aguda 429
Leucoencefaiite hemorrágica aguda 434 mente mediada que pode lembrar muito a EM, também
será incluída neste capítulo.
Doenças com características inflamatórias 438
Neurossarcoidose 438
Depois, serão abordadas as síndromes inflamatórias
Pseudotumores inflamatórios idiopáticos 441 pós-infecciosas e pós-vacinais, com foco em duas im
Polineuropalia desmielinízante inflamatória crônica 443 portantes entidades: encefalomielite disseminada aguda
(ADEM) e a doença fulminante e altamente letal, encefa
lomielite hemorrágica aguda (EHAg).
Nos capítulos anteriores foram discutidas doenças in O capítulo termina com a discussão de três condições
fecciosas congênitas e adquiridas. Neste, será discutido com características inflamatórias de etiologia incerta ou
o espectro das doenças idiopáticas inflamatórias nào in desconhecida: neurossarcoidose, pseudotumor idiopático
fecciosas e desmielinizantes que podem afetar o sistema inflamatório e polineuropatia desmielinízante inflamató
nervoso central (SNC). ria crônica (PDIC).
As síndromes inflamatórias do SNC têm sido classifi
cadas de diversas formas: pela apresentação (clinicamente
isolada ou doença polissintomática). pelo padrão (focai ou
multifocal), pela localização (cérebro, medula espinal ou Esclerose múltipla
sistema nervoso periférico), gravidade da doença (de as-
sintomática a grave) e curso da doença (monofásica, mul- Terminologia
tifásica, surto-remissào, progressiva, etc.). A esclerose múltipla é uma doença neurodegenerativa
Neste capítulo, será seguida uma abordagem simpli- progressiva caracterizada histopatologicamente por múl
flcada. dividindo o assunto em esclerose múltipla e em tiplos focos de desmielinização inflamatória, chamados
doenças que a mimetizam, doenças inflamatórias pós- de "placas".
-infecciosas/pós-vacinais e doenças com características
inflamatórias, Etiologia
A discussão iniciará pela esclerose múltipla (EM), de Conceitos gerais. A EM é uma doença complexa multifa-
lineando a etiologia e a patologia, epidemiologia e fenóti- torial cuja patogênese precisa permanece desconhecida. A
pos clínicos, aspectos de imagem e diagnóstico diferencial. maioria dos pesquisadores considera a EM como um pro
Embora a EM seja a doença desmielinízante do SNC cesso mediado imunologicamente, no qual fatores ambien
mais comum, há uma variedade de outras condições tais atuam sobre um indivíduo geneticamente suscetível.
neuroinflamatórias que podem afetar o SNC. Seguindo Alguns investigadores tem proposto explicações al
a discussão detalhada da EM, serão discutidas variantes ternativas, sugerindo que a EM seja causada ou exacerba
especiais, também chamadas de lesões inflamatórias des da por efluxo venoso anormal do SNC. Eles têm chamado
mielinizantes idiopáticas (LIDIs). Algumas, como a escle essa teoria vascular de "insuficiência venosa cerebros-
410 Infecçâo, inflamação e doenças desmlelinizantes

pinai crônica" (IVCC). Alguns conceitos relacionados à Nenhuma interação entre EM e IVCC foi demonstrada
etiopatogenia da EM serão resumidos abaixo. para qualquer parâmetro hemodinámico avaliado por ul-
DesmielinizaçÕo autoimune. Acredita-se que eventos trassonografla com Doppler colorido.
mediados imunologicamente - inatos ou desencadeados
Genética. O fator de risco genético mais identificado para
pelo ambiente - causem perda da mielina e morte de oli-
a EM é o gene do antígeno leucocitário humano (HLA-A)
godendrócitos levando à degeneração axonal. Quebra da
homeostase das células T e das cascatas de citocinas são
no complexo principal de histocompatibilidade (CPH).
considerados promotores da lesão inflamatória. Estudos de associação genômica apontaram cerca de 50
Fatores ambientais. Exposição ao vírus Epstein-Barr loci de risco adicional que têm papel na susceptibilidade
à doença. Apesar de progressos recentes, todos os fatores
(EBV) e variabilidade geográfica claramente contribuem
de risco identificados juntos respondem por apenas 50%
para o risco de EM. Por exemplo, infecçâo pelo EBV foi
associada à EM quando comparada aos controles de mes do risco genético de desenvolver EM. Muito da estrutura
ma idade. O risco relativo de EM em pacientes não expos genética por trás da susceptibilidade à EM ainda necessita
tos ao EBV é muito bai.xo. ser determinada.
O risco de EM também varia conforme a etnia e a

região geográfica. A doença ocorre mais em brancos e Patologia


também tem maior incidência cm locais de maior latitude. Localização. A maioria das placas de EM é supratentorial.
Insuficiência cerebrospinal venosa crônica. Relatos Menos de 10% ocorrem na fossa posterior, porém lesões
iniciais revelaram prevalência de 100% de sensibilidade infratentoriais são comuns em crianças.
e especificidade para IVCC na EM. Entretanto, estudos As placas da EM na substância branca profunda são
independentes de seguimento não têm demonstrado be lineares, arredondadas, ovaladas e orientadas perpendi
neficio para angioplastia ou stent nos pacientes com EM. cularmente aos ventrículos laterais (Fig. 15-1). Entre 50

15-1 Ilustração no plano


sagílai das placas da EM envol
vendo o corpo caloso, a ponte
e a medula espinal. Observe a
orientação perpendicular caracte
rística das lesões 31 na junção
calososseptal junto das veias
penetrantes.
15-2 Imagem de necropsia
com corte axial demonstra placas
ovoides típicas da EM orientadas
perpendicularmente e adjacentes
aos ventrículos laterais no
trajeto das veias medulares (5B
profunda) [^. (Cortesia de R.
Hewlett, MD.)

15-3 Imagem de necropsia


com corte coronal demonstra
placas confluentes periventri-
culares da EM na SB profunda,
corpo caloso e lesões adi
cionais nos núcleos da base ÍS.
(Cortesia R. Hewlett, MD.)
15-4 Vista aproximada em
corte axial de um cérebro huma
no necropsiado demonstra placas
desmlelinizantes periventrlcula-
res confluentes ^3. (Cortesia de
R. Hewlett, MD.)
Doenças inflamatórias e desmielinizantes 411

a 90% de todas as lesões supratentoriais ocorrem na in placas progridem de uma etapa a outra conforme a passa
terface caiososseptal ou próxima dela. Extensão perive- gem do tempo. As placas agudas da EM são amareladas
nuiar centrípeta é comum, formando os chamados "dedos e têm margens pouco definidas com textura granular. As
de Dawson", os quais se irradiam dos ventrículos laterais placas crônicas silenciosas apresentam bordas mais defi
(Figs. 15-2 e 15-3). nidas e são de cor acinzentada com centros escavados ou
Outras áreas afetadas incluem as tlbras U subcorti-
deprimidos (Fig. 15-5).
cais, braços da ponte, tronco e medula espinal, A substân
cia cinzenta (córtex e núcleos da base) são afetadas em Características microscópicas. Imagens com baixa amplia
10% dos casos (Fig. 15-4). ção com corantes para mielina demonstram contraste bem
definido entre as áreas coradas para mielina na substân
Tamanho e número. As placas da EM variam em tamanho. cia branca e as áreas pouco coradas de perda de mielina
Embora a maioria das lesões seja pequena - entre 5 a 10 (Fig. 15-6).
milímetros lesões maiores podem atingir vários centí Existe variabilidade significativa nas características
metros de diâmetro. As placas da EM em geral são múl
histològicas principais da EM, como inflamação, desmie-
tiplas, embora 30% das placas gigantes "tumefacientes" linização, remielinização e dano axonal. Cada caracterís
inicialmente se apresentem como lesões solitárias. As pla tica é encontrada em graus variados conforme o paciente e
cas "tumefacientes" são mais comuns em crianças e em os diferentes estágios de evolução da doença.
adultos jovens em relação aos pacientes de meia-idade e As placas agudas da EM são caracterizadas por ro
idosos.
busto infiltrado inflamatório combinado com destruição
Patologia macroscópica. A classificação da placa da EM da mielina. As lesões agudas costumam ser hipercelula-
é baseada na progressão temporal. Três tipos podem ser res, com grande número de macrófagos esponjosos e pro
identificados: aguda, crônica ativa e crônica silenciosa. As eminente infiltrado perivascular linfocítico de células T.

15-5 visia aproximada da EM


em peça de necropsía demonslra
várias lesões cavidades crônicas,
inalivas, com margens bem de
finidas e centros escavados
além de duas lesões acinzenta-
das crônicas ativas SI. (Cortesia
de R. Hewlett, MO.)
15-6 Corante para mielina
luxol azul demonstra padrão
azul normal á direita e rosado à
esquerda, característico da des-
mieiinização da EM. (Cortesia de
8. K. DeMasters, MD.)

15-7A TC em uma paciente de


47 anos com cefaleia, hipoeste-
sia e formigamento demonslra
duas áreas hipodensas confluen-
tes na SB de ambos os hemisfé
rios cerebrais.
15-7B TC pós-contraste de
mostra realce anelar incompleto
("em ferradura") ES circundado
por edema. A lesão da direita
tem a "abertura" 53 voltada
para o córtex, que parece estar
preservado. Essas lesões foram
inicialmente diagnosticadas
como abscessos ou metástases.
Esclerose múltipla.
412 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

A substância branca de características normais fora das


Ta m a n h o e n ú m e r o
placas também demonstra alterações imunopatológicas
• Múltiplas > solitárias
que incluem ativação microglial, infiltrado de células T e • Maioria pequena (5-10 mm)
infiltrado perivascular linfocítico. • Placas gigantes "tumefacientes" podem atingir vários
As placas crônicas apresentam-se tanto como lesões
centímetros
ativas quanto silenciosas. Lesões crônicas ativas apresen • 30% das lesões da EM "tumefativa" são solitárias
tam inflamação continuada nas margens externas. Lesões
crônicas silenciosas ("finais") são caracterizadas por re Patologia macroscópica
• Aguda: amareladas, margens pouco definidas, com ou
giões hipocelulares, com perda de mielina, ausência de
sem edema
inflamação ativa e gliose cicatricial. • Crônica ativa: acinzentada, achatada
• Crônica silenciosa: cicatrizada, deprimida, escavada
Características microscópicas
• Ativa: hipercelular, com inflamação robusta e
ESCLEROSE MÚLTIPLA: PATOLOGIA
destruição da mielina
Localização • Crônica ativa: inflamação na periferia
• Supra (90%) e infratentorial (10%) (maior em crianças) • Crônica silenciosa: gliose cicatricial, sem inflamação
• SB cerebral profunda/periventricular ativa
• Extensão perivenular (dedos de Dawson)

15-8A Imagem ponderada em


TI sagitai em uma mulher de 19
anos com EM de longa data de
monstra lesões crônicas em está
gio terminal. Perda volumétrica
cerebral com múltiplas lesões
hipointensas ovais e triangulares
na SB periventricular B3 podem
ser evidenciadas.
15-8B Imagem ponderada
em TI no plano axial demonstra
halos hiperintensos pouco defini
dos B circundando placas El.
dando o aspecto característico de
"lesão dentro de lesão".

15-8C Imagem FLAIR demons


tra a configuração triangular
característica das placas da EM
na substância branca vistas no
plano sagitai. A base ampla dos
triângulos orienta-se em direção
à superfície ventricular E3 com
os ápices ES apontando em
direção ao córtex.
15-80 Imagem ponderada
em T2 demonstra placas ovoides
perivenulares ES orientadas
perpendiculares aos ventriculos
laterais como visto nesta ima
gem no plano axial.
Doenças inflamatórias e desmielinizantes 413

15-9A FLAIR axial em uma


' V • i Y. í V ^ paciente de meia-idade com
história de alguns anos de dor-
mência e perda de sensibilidade
demonstra hiperintensidades es
parsas da substância branca E3.
1S-9B FLAIR axial no mesmo
paciente demonstra lesões adi

IN i ■ il
cionais B. A forma ovoide, a
extensão perivenular e a orienta
do perpendicular são altamente
sugestivas de EM.

i -.Tvu r
"S;- . • r r
k -i;

15-9C O paciente se apresen


tou após dois anos com exacer
bação dos sintomas, confusão e
desorientação. Observe novas
lesões com centro E3 bastante
hiperintenso.
15-90 FLAIR sagital demons
tra múltiplas lesões da S8 pro

n - funda. As lesões occipitais com


forma triangular e base larga na
superfície ventricular E3. Várias
lesões ovaladas circundando
as veias medulares podem ser

< "W, C identificadas.

15-9E Imagem ponderada em


TI pós-contraste com saturação
de gordura demonstra realce
puntiforme B e anelar incom
pleto B em algumas dessas
lesões.
15-9F Estudo da difusão da
água demonstra múltiplos focos
de restrição ã difusão. A lesão

H'
parietal esquerda com realce
anelar periférico incompleto
("em ferradura") demonstra

H P ' restrição à difusão na periferia


Ba eno centro hipointenso
sem restrição. Ela foi biopsiada
e mostrou alterações típicas de
w »
EM. Depois, o paciente evoluiu
com doença secundariamente
progressiva.
414 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

15-1 OA FLAIR axial em um


homem de 28 anos com sinto
mas visuals por três semanas
demonstram várias lesões hl-
pointensas na substância branca t
E2. As lesões do hemisfério
esquerdo demonstram um centro
mais hipointenso circundado por
halo menos hipointenso.
1 M
í m
15-10B Imagem ponderada
em T2 demonstra lesões adicio
nais B3. A grande lesão frontal
tem um centro bastante hipe-
rintenso circundado por um fino
halo hipointenso B e edema
VV; 1
periférico. A

.•I

15-1OC FLAIR sagitaí demons


tra uma pequena hlperintensida-
de em formato triangular a inter
face calososseptal E3. Observe
as áreas alternantes de hiper e
Isointensídade ao longo da su
perfície inferior do corpo caíoso
S, o sinai do "ponto-lraço" da
EM em fase Inicial.
15-10D Imagem ponderada
em TI pós-conlrasle demonstra
múltiplas lesões com realce na
fossa posterior B, Incluindo
uma lesão com realce anelar
Incompleto E3 e uma lesão
Inliltratlva na zona de entrada da
raiz esquerda do nervo trigêmeo

15-10E Imagem ponderada


em TI pós-contraste no plano
axial demonstra múltiplos focos
de realce puntlforme e anelar na
substância branca cerebral. Obser
ve o aspecto em "alvo" da lesão
frontal GS. Achados no ICS fo
ram consistentes com o diagnós
tico de EM. D paciente foi tratado
com altas doses de corticoldes.
15-10F Imagem ponderada
em TI pós-conlrasle com satura
ção de gordura obtida após cinco
dias demonstra redução quase
completa das lesões com realce.
Cortlcosteroldes podem reduzir
de maneira bastante Importante
o realce das lesões da EM.
Doenças inflamatórias e desmielinizantes 415

Aspectos clínicos e em africanos. Por exemplo, homens afro-americanos tem


Epidemiologia. a em é a doença desmielinizante primária risco 40% menor de desenvolver EM do que brancos.
mais freqüente do SNC, afetando cerca de 350.000 pes Apresentação. A apresentação clínica varia com as mani
soas nos EUA e 2,5 milhões de pessoas no mundo. É a festações neurológicas heterogêneas, evolução e grau de
doença neurológica crônica não traumática mais comum sequela do paciente. A interação entre os processos infla-
entre pessoas jovens e de meia-idade no mundo desenvol matório e neurogenerativo resulta em disfunções neuroló
vido. Em comparação com a população geral, o risco do gicas intermitentes seguidas por acúmulo progressivo de
desenvolvimento de EM aumenta em 15 a 35 vezes em seqüelas neurológicas.
parentes de primeiro grau de pacientes com EM clinica O primeiro ataque de EM (geralmente neurite óptica,
m e n t e d e fi n i d a . mielite transversa ou alguma síndrome do tronco) é co
nhecido como uma síndrome clínica isolada. Metade dos
Demografia. o início da doença ocorre em pacientes adul
tos jovens ou de meia-idade entre 20 a 40 anos. Embora pacientes com neurite óptica desenvolverão EM.
a idade média do diagnóstico inicial seja 30 anos, mais SuBTiPOS CLÍNICOS DA EM. Quatro principais subtipos da EM
de 10% dos pacientes com EM tornam-se sintomáticos na são identificados: recorrente remitenle, secundariamente
infância. Entre 10 a 25% das crianças inicialmente diag progressiva, primariamente progressiva e progressiva re
nosticadas com encefalomielite disseminada aguda terão corrente. Um quinto tipo, a síndrome radiológica isolada,
diagnóstico fínal de EM. foi descrito recentemente.
A proporção de mulheres para homens é de 1.77:1, sen EM recorrente remitente. A maioria - cerca de 85%
do maior nas crianças (3 a 5:1). Brancos descendentes de - de todos os pacientes com EM apresentam episódios de
norte-europeus morando em zonas temperadas são o grupo recorrência dentro de fases de remissão e são classificados
étnico mais afetado. A EM é menos freqüente em asiáticos nessa categoria (EM RR).

15-1 IA Imagem ponderada


em TI em uma mulher de 32
anos com sintomas psiquiátricos
e primeiro episódio de convul
são demonstra vários focos de
hipointensidade predominante
mente corticais
1 5 - 11 B F L A I R n o m e s m o
paciente demonstra múltiplas
hiperintensidades corticais e sub-
corticais

15-11C Imagem TI pós-con-


Iraste com saturação de gordura
demonstra áreas confluentcs de
realce cortical e subcortical BI.
1S-11D Imagem ponderada
em TI pós-contraste demonstra
realce anelar incompleto na SB
subcortical S. Outras áreas de
realce periférico menos intenso
podem ser vistas B. O diag
nóstico por imagem foi vasculite,
porém uma biópsia subsequente
demonstrou EM.
416 infecção, inflamação e doenças desmielinizanles

15-12A Séries de imagem


que demonstram a EM "tume-
laciente". Imagem ponderada
em TI no plano axial demonstra
lesões helerogeneamenle hi-
poinlensas em ambos os hemis
férios cerebrais 3] com edema
perilesíonal significativo (S.
15-12B Imagem ponderada
em 12 demonstra que as lesões
Ea são muito hiperintensas e
circundadas por um fino halo
hipoíntenso E3 e de edema
perilesíonal S.

15-12C As margens hipoin-


tensas da lesão mostram impor
tante realce periférico incomple
to ES.
15-12D O estudo da difusão
da água demonstra restrição
moderada das áreas de realce

periférico BS.

15-12E As áreas de realce


periférico apresentavam baixo
ADC S3 neste paciente com EM
"tumefaciente" comprovada por
biópsia. (Cortesia de P. Rodri
guez, MD.)
15-13 Espécime de necropsia
em outro caso demonstra os
achados típicos da desmielini-
zaçao "tumefaciente" com uma
lesão expansiva desmielinizante
em formato de ferradura '~>i
com a porção "aberta" ÍS dire
cionada para o córtex. (Cortesia
de R. Hewlett, MD.)
Doenças inflamatórias e desmielinizantes 417

EM secundariamente progressiva. EM SP também é


conhecida como EM reconente progressiva. Quase meta • Brancos» negros e asiáticos
• Zonas temperadas»trópicos
de dos pacientes com EM RR entra em um estágio de EM
SP dentro de 10 anos. Após 25 anos do diagnóstico inicial, Apresentação
90% dos casos de EM RR tomam-se EM SP. • Neurite óptica (50% desenvolve EM clinicamente
EM primariamente progressiva. EM PP é progressi definida)
va desde o início e não apresenta períodos de remissão. • Déficits sensitivos e motores
• Subtipos clínicos da EM
Aproximadamente, 5 a 10% dos pacientes enquadram-se • Recorrente remitente (85%)
nessa categoria.
• Secundariamente progressiva (RR freqüentemente
EM progressiva recorrente. Essa forma rara de EM é
evolui para SP)
caracterizada por doença progressiva com episódios cla • Primariamente progressiva (5-10%)
ros de agudizaçào interpostos entre períodos de recupera • Progressiva recorrente (raro)
ção variável.
Sindrome radiológica isolada. RIS refere-se a acha
dos de RM sugestivos de EM em um paciente com exame
neurológico normal. Metade dos pacientes com RIS faz Imagem
exame por cefaleia; alguns apresentam déficit cognitivo Características gerais. Perda tecidual com atrofia cerebral
subclínico semelhante ao dos pacientes com EM. generalizada é comum. A atrofia inicia precocemente e
História natural. A história natural varia. A maioria dos progride até o final do curso da doença. Ventrículos e sul
cos aumentados com perda de substância branca e corpo
pacientes com EM desenvolve um curso prolongado com
caloso afilado são achados típicos.
deterioração gradual e sequela progressiva. Cerca de um
terço apresenta um episódio inicial seguido por função Achados na TC. A TC costuma ser normal no início da
normal ou próxima do normal. Deterioração neurológica doença, especialmente em casos leves. Hipodensidades
aguda e rápida sem remissão é incomum. da substância branca solitárias ou múltiplas com limites
Aproximadamente, dois terços dos pacientes com RIS pouco precisos podem ser evidenciadas. Lesões agudas
mostram sinais de progressão na imagem; um terço desen ou subagudas podem demonstrar realce puntiforme, con-
volve sintomas neurológicos dentro de cinco anos. Lesões fluente ou anelar na TC pós-contraste (Fig. 15-7). O re
corticais e da medula espinal são preditores importantes alce é mais evidente com imagens tardias ou com dupla
de conversão para EM clinicamente definida. A gravidez dose de contraste.
encurta o tempo de conversão da RIS em alguns pacientes.
Achados na RM. Mais de 95% dos pacientes com EM
Opções de tratamento. As opções de tratamento são várias e clinicamente definida apresentam achados nas imagens
continuam a progredir. Regimes imunossupressores e imu- de RM. Portanto, a RM é o procedimento de escolha
nomoduladores estão entre as opções. Embora o início e o tanto para avaliação inicial quanto para monitoriza-
manejo das drogas imunomoduladoras necessite ser indivi ção da doença. Os mais recentes critérios revisados de
dualizado, estudos têm mostrado significativa redução na McDonald baseiam-se nas imagens por RM para de
taxa de recorrência e redução no número de lesões cerebrais monstrar disseminação tanto no tempo quanto no espaço
acumuladas quando a terapia é iniciada precocemente. (ver a seguir).
O diagnóstico de IVCC na EM e o uso de angioplastia
venosa como tratamento é controversa. Alguns pesquisa
dores acreditam que o tratamento endovascular reduza as
taxas de recorrência e as seqüelas nos pacientes com EM CRITÉRIOS REVISADOS DE McDONALD
RR, porém, estudos controlados randomizados que ava PARA O DIAGNÓSTICO DE EM
liem a eficácia clínica ainda não foram realizados.
Disseminação no espaço
• 21 lesão hiperintensa em T2
• Em pelo menos duas das quatro áreas seguintes:
o Periventricular
ESCLEROSE MÚLTIPLA: ASPECTOS CLÍNICOS
o Justacortical
Epidemiologia o Infratentorial
• Doença do SNC desmielinizante mais comum o Medula espinal
• Doença neurológica crônica mais comum em jovens
Disseminação no tempo
Demografia • Lesão(ões) nova(s) em 12 ou com realce ao gadolínio
• Início = 20-40 anos (10% na Infância) em estudo de controle
• M:H = quase 2:1 • Ou presença simultânea de:
• Risco 115-35 vezes em familiares de primeiro grau o Lesão com realce ao gadolínio assintomática
de pacientes com EM o Lesão sem realce em qualquer momento
418 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

15-14A Imagem ponderada


em TI no piano sagitai em um
paciente masculino de 53 anos
com EM de longa data, grave,
demonstra um corpo caioso com
espessura reduzida B, sulcos e
ventrícuíos laterais aumentados
E&3, além do mesencéfalo de
aspecto atrófico S.
15-14B Imagem ponderada
em TI mostra perda volumétrica
frontal grave, sulcos e ventrícuíos
aumentados e numerosas placas
cavitárias periventriculares B.

15-14C Imagem ponderada


em T2 através dos núcleos da
base mostra perda volumétrica
e desmielinização periventricular
confluente B. Os núcleos da
base B e os talamos B sâo
muito hipoinlensos.
15-140 FLAIR demonstra me
lhor a desmielinização periventri
cular confluente extensa B.

15-14E Imagem FLAIR através


do aspecto superior dos ventrí
cuíos laterais demonstra hiperin-
tensidade da SB extensamente
confluentes B com múltiplos
focos de cavítação Eâl.
15-14F FLAIR sagitai de
monstra desmielinização peri
ventricular extensa não habitual
e atrofia. Perda volumétrica é
especialmente proeminente nos
sulcos frontais ^3 e da convexi-
dade B.
Doenças inflamatórias e desmielinizantes 419

15-15A FLAIR em uma pacienle neurologicamente normal com 15-15B FLAIR sagital demonstra lesão triangular clássica su
58 anos com ceíaleia demonstra pelo menos três hiperintensidades defi gestiva de EM. Síndrome radiograficamente isolada. LCS foi positivo
nidas E3 e uma provável BI hiperintensidade da SB. para EM.

Imagem ponderada em TJ. A maioiia das placas da Hipointensidade nos núcleos da base é vista em 10 a
EM é hipo ou isointensa em imagens ponderadas em TI. 20% dos casos de EM moderada a grave e é secundária a
A hipointensidade ("black holes^') relaciona-se com des alterações degenerativas com deposição de metais pesa
truição neuronal. Hiperintensidade em TI é um preditor dos (Fig. 15-14).
independente de atrofia, sequela e doença avançada. Um Imagem ponderada em TI pós-contraste. As placas
halo periférico pobremente delineado, de leve hiperinten da EM demonstram realce transitório durante a fase ativa
sidade de sinal secundário à peroxidação lipídica e infil de desmielinização. Realce puntiforme, nodular ou perifé
tração por macrófagos freqüentemente circunda ""'black rico podem ser identificados (Fig. 15-10). Halo incomple
holes" com margens bem marcadas. Isso dá a algumas le to de realce ("em ferradura") com um segmento sem real
sões agudas ou crônicas o aspecto característico de "lesão ce voltado para o córtex pode estar presente (Fig. 15-11),
dentro da lesão" (Fig. 15-8). especialmente nas lesões grandes "tumefaciantes" (Figs.
Casos crônicos e graves em geral demonstram per 15-12 e 15-13).
da volumétrica moderada e atrofia generalizada. O corpo O realce desaparece após seis meses em mais de 90%
caloso torna-se progressivamente reduzido e é mais bem das lesões. A administração de esteroides reduz o realce e
avaliado nas imagens ponderadas em TI sagitais. pode fazer com que algumas lesões tomem-se invisíveis
Imagem ponderada em T2/FLAIR. Essas Imagens (Fig. 15-10).
mostram múltiplas lesões lineares, arredondadas, ovaladas Difusão. A maioria das placas agudas demonstra difu
circundando as veias medulares que se irradiam de forma são normal ou aumentada. Embora algumas placas de EM
centrípeta dos ventrículos laterais. As lesões maiores com agudas possam demonstrar restrição à difusão da água,
freqüência demonstram um centro muito hiperintenso cir esse aspecto é atípico e não deve ser considerado como um
cundado por uma área periférica de sinal menos intenso e biomarcador confiável de atividade da placa (Fig. 15-9).
graus variados dc edema perilesional (Fig. 15-9). E.spectroscopia. Espectroscopia por RM (ERM) pode
As placas da EM assumem um aspecto triangular permitir distinção precoce entre EM RR e EM SP. EM SP
característico, com base no ventrículo lateral adjacente, demonstra redução do n-acetil-aspartato (NAA) na subs
nas imagens FLAIR ou T2 sagitais (Fig. 15-9C). Um dos tância cinzenta de aspecto normal consistente com disfun-
sinais mais precoces são áreas altemantes de hiperintensi ção ou perda axonal/neuronal. Os níveis de mioinositol
dade de sinal linear ao longo do epêndima no FLAIR sa estão elevados nas lesões agudas e também na substância
gital, conhecido como sinal do "ponto-traço ependimário" branca de aspecto normal. A EM "tumefaciente" não apre
(Fig. 15-10). senta achados específicos (colina elevada, queda do NAA
As lesões desmielinizantes corticais são comuns desde e lactato elevado).
a fase inicial da EM e podem preceder o aparecimento de Técnicas de imagem avançadas. Alguns estudos usan
placas clássicas na SB em alguns pacientes (Fig. 15-11). do DTl descrevem difusão longitudinal reduzida em áreas
420 Infecção, infiamaçao e doenças desmielinizantes

de lesão neuronal. Outros têm usado imagem com transfe minada, vasculite autoimune e doença de Lyme. ADEM
rência de magnetização (ITM) para detectar perdas sutis de normalmente é acompanhada de pródromos virais ou va
mielina em tecidos sem lesão (p. ex., substância branca de cinação recente. Vasculite costuma envolver os núcleos
aspecto normal). Embora essas técnicas possam ser úteis da base e poupa a interface calososseptal. Doença de
para medir alterações relacionadas ao tratamento em deter Lyme (DLy) pode ser idêntica à EM. Envolvimento de
minadas populações e para caracterizar a fisiopatologia da nervos cranianos é mais comum na DLy do que na EM.
doença, raramente são úteis para refinar o diagnóstico em Síndrome de Susac (ver abaixo) com freqüência é
um determinado paciente. Quando o diagnóstico de EM é confundida com EM em estudos de imagem, pois ambas
duvidoso nos achados de imagem cerebral, provavelmente apresentam hiperintensidades de substância branca em
é mais útil estudar a medula espinal. T2/FLAIR e afetam mulheres jovens. As lesões na sín
drome de Susac envolvem mais a porção central do corpo
Diagnóstico diferencial caloso, e não a interface calososseptal.
"Pontos brancos" multifocals em T2/FLAIR são achados A EM "tumefaciente" pode mimetizar abscesso ou
de imagem não específicos e possuem uma grande lista de neoplasia (glioblastoma multiforme [GBM] ou metásta-
diagnósticos diferenciais. Hiperintensidades na localiza se). A desmielinização "tumefaciente" freqüentemente
ção correta (interface calososseptal, periventricular) ou da apresenta um padrão de realce anelar incompleto em
forma correta (triangular) podem representar a EM preco "ferradura A leucocncefalopatia multifocal progres
ce "radiologicamente isolada" (Fig. 15-15). É útil infor siva (LEMP) e a síndrome ínflamatóría da reconstí-
mar quando essas lesões preenchem ou não os critérios de tuiçào imunológíca (IRIS-LEMP) ocorrem em alguns
McDonnald. pacientes com EM tratados com natalizumab. Realce ir
As lesões multifocals com realce na substância bran regular e descontrolado nesses casos pode ser de dificil
ca podem ser causadas por encefalomielite aguda disse distinção da EM aguda "tumefaciente".

15-16A Um paciente de 26
anos de idade se apresentou
com história recente de alteração
visual e fraqueza do membro
superior esquerdo seguido por
rápida progressão de alteração
sensitiva e quadriplegia. FLAIR
axial demonstra uma grande le
são hlperintensa heterogênea na
substância branca parietal direita
ea com uma lesão menor à
esquerda
15-16B Imagem TI pós-
■contraste axial com saturação
de gordura no mesmo caso
demonstra múltiplas lesões com
realce periférico incompleto B
na substância branca profunda e
periventricular.

15-16C Imagem ponderada


em 11 pós-contraste com satura
ção de gordura através dos ven-
trículos mostra lesão expansiva
parietal direita cavitada, necró-
lica, com realce periférico ^3.
Outros focos de realce podem ser
evidenciados E2.
15-16D Imagem ponderada
em TI pós-contraste demonstra
extensão ao redor do ventrículo
esquerdo S em associação
com outros focos de realce B.
Doença de Marburg (variante
da EM).
Doenças inflamatórias e desmielinizantes 421

E5CLER0SE MÚLTIPLA: IMAGEM


Doença de Marburg
Terminologia e aspectos clínicos. A doença de Marburg
TC (DMar) é uma variante aguda fulminante da EM, caracte
• Hipodensidades em placa/confluentes rizada por progressão rápida e incessante com curso clíni
• Realce anelar ou confluente leve a moderado co grave. Os pacientes em geral são adultos jovens.
O curso da DMar costuma ser monofásico. Deterio
RM
• Hipointenso em imagens ponderadas em Ti ± ração neurológica grave ocorre em dias ou semanas do
início da doença. A morte ocorre dentro de um ano, geral
discreto halo hiperintenso
• Centro muito hiperintenso em T2, halo menos mente secundária ao envolvimento do tronco.

hiperintenso Patologia. As lesões da DMar são muito mais destrutivas


o Interface calososseptal
o Triangular no plano sagital que as placas típicas da EM e são histopatologicamente
caracterizadas por infiltrado maciço de macrófagos, ne
o Ovoide, perivenular no plano axial
o Lesões intracorticais e subpiais são comuns crose e dano axonal grave. Múltiplas lesões cerebrais e
• Placas ativas realçam (anelar incompleto na na medula espinal com freqüência formam grandes placas
coalescentes na substância branca.
"tumefativa")
• Esleroides suprimem o realce
Imagem. A imagem mostra uma doença disseminada mul
Diagnóstico diferenciai tifocal difusa, com hiperintensidades focais e confluentes
• Hiperintensidades em T2/FLAIR multifocals em T2/FLAIR. Marcado realce confluente em imagens
o ADEM, doença de Lyme ponderadas em TI pós-contraste são típicos e lesões gran
o Vasculite, síndrome de Susac des, com cavitaçào e realce periférico anelar incompleto,
• EM solitária "tumefaciente" de aspecto "tumefaciente", são comuns (FIg. 15-16).
o Neoplasias (GBM, metástases)
o LEMP/IRIS-LEMP nos pacientes tratados com
natalizumab DOENÇA DE MARBURG
Aspectos clínicos
• Variante rara fulminante da EM
o Deterioração neurológica rápida
o Monofásica, progressão incessante
Outras doenças neuroinflamatórias o Morte em 1 ano

desmielinizantes • Geralmente adultos jovens

Várias doenças neuroinflamatórias raras sào agrupadas Patologia e imagem


• Multifocal > doença solitária
em uma categoria chamada de doenças por lesão inflama-
o Caracterizada por placas na SB coalescentes
tória desmielinizante idiopática (DLIDIs). As DLIDIs sào o Lesões no cérebro (incluindo fossa posterior) e
classificadas de acordo com os sintomas e sinais clínicos, medula espinal
distribuição das lesões, achados de neuroimagem e carac • As lesões são caracterizadas por inflamação maciça e
terísticas do líquido cerebrospinal (LCS). necrose

As três características gerais das lesões inflamatórias • A imagem demonstra doença difusamente disseminada
desmielinizantes idiopáticas (LIDIs) são: (1) LIDIs ful o Grandes lesões cavitárias
minantes ou agudas (p. ex., doença de Marburg, doença o Realce periférico anelar incompleto
o Múltiplos outros focos confluentes de realce
de Schilder, esclerose concêntrica de Balo), (2) LlDís
monossintomáticas (p. ex., neurite óptica), e (3) LIDIs
restritas a uma distribuição geográfica particular (p. ex., Doença de Schilder
neuromielite óptica ou mielite transversa isolada). Algu Terminologia e aspectos clínicos. A doença de Schilder (DS),
mas dessas LIDIs, como a doença de Marburg e a es
também conhecida como esclerose difusa mieloclástica,
clerose concêntrica de Balo provavelmente são variantes é uma doença rara caracterizada por uma ou mais placas
da EM e serão discutidas como se fossem. Outras, como
inflamatórias desmielinizantes na substância branca. A
neuromielite óptica, são consideradas entidades comple
DS é uma doença da infância e de adultos jovens. A idade
tamente diferentes.
média de apresentação é 18 anos, com pequena predomi
nância no sexo feminino.
Variantes da esclerose múltipla Os aspectos clínicos são atípicos para EM e incluem
Nesta seção, serão delineadas três importantes e pouco sinais de hipertensão intracraniana, afasia e alterações
comuns DLIDIs que afetam o cérebro e apresentam-se comportamentais. A análise do LCS é anormal e não
como uma doença desmielinizante aguda fulminante: existe história sugestiva de encefalomielite disseminada
doença de Marburg, doença de Schilder e esclerose con aguda (p. ex., ausência de febre, infecção ou vacinação
cêntrica de Balo. precedente). Cerca de 15% dos casos progridem para EM.
422 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

Patologia. Massas solitárias unilaterais estão presentes em Abscesso piogênico geralmente demonstra importante
dois terços dos casos. A maior parte das lesões é grande, restrição à difusão da água na porção central. Perfusão por
medindo vários centímetros de diâmetro. RM pode ser útil para diferenciar DS de metástase e glio-
As características histopatológicas da DS consistem blastoma multiforme.
em desmielinização da SB, infiltrados perivasculares lin-
focitários e proliferação microglial. Esclerose concêntrica de Balo
Terminologia e aspectos clínicos. A esclerose concêntrica de
Imagem. A imagem demonstra lesões hipodensas subcor-
ticais na TC. A RM demonstra lesões hipointensas nas Balo (ECB) é uma variante rara agressiva da EM, em ge
ral caracterizada por deterioração clínica de início agudo
imagens ponderadas em Ti que são hiperintensas em
T2/FLA1R. Realce periférico - com freqüência em padrão e rápido. O pico de apresentação é entre 20 e 50 anos. A
anelar incompleto - é visto durante o estágio agudo infla- maioria dos casos relatados ocorre em pacientes jovens do
sexo masculino.
malório (FIg. 15-17).
O halo da lesão em geral restringe no estudo da di Nem todos os casos de ECB são rapidamente progres
fusão da água durante a fase aguda. Os achados da ERM sivos e fatais. A ECB às vezes segue um curso benigno
são inespecíficos e incluem queda do pico de NAA com sem episódios aparentes de recorrência.
aumento da relação de Cho:Cr. Complexos de lactato e Patologia. A ECB é uma doença desmielinizante inflamató-
lipídeo-lactato são comuns. ria relacionada à EM. O marco patológico da ECB é um pa
Diagnóstico diferencial. O diagnóstico diferencial da DS drão peculiar de anéis que lembram o tronco de uma árvore
pode ser dificil. EM "tumefaciente" pode apresentar-se ou um bulbo de cebola. Grandes placas de desmielinização
de forma semelhante nos estudos de imagem. DS tam com halos altemantes de mielina destruída e preservada são
bém mimeiiza neoplasia intracraniana ou abscesso tanto os responsáveis por esta aparência (Fig. 15-18). ECB pode
na apresentação clínica quanto nos estudos de imagem. ocorrer como uma massa solitária ou em lesões múltiplas.

15-17A Imagem ponderada


em T2 no plano axial de uma
menina de 12 anos com lesão
expansiva parietal esquerda
hiperintensa B que envolve
a substância branca subcortical.
Observe o pouco efeito expansi 1

vo para o tamanho da lesão. Não


há edema perílesional.
15-17B Imagem ponderada
em TI pós-contraste no mesmo
\ '
paciente demonstra realce pe
riférico em anel com a margem
sem realce logo abaixo do
córtex.

15-17C Imagem ponderada


em TI pós-contraste no plano sa-
gital demonstra o padrão anelar
incompleto (ou em "ferradura").
Observe ausência de efeito ex
pansivo no ventriculo lateral.
15-17D Imagem ponderada
em TI pós-contraste coronal
demonstra o realce anelar parcial
junto das superfícies lateral e
profunda da lesão. Doença de
Schiller confirmada por biópsia.
Doenças inflamatórias e desmielinizantes 423

Imagem. Estudos de imagem refletem a patologia macros tivo do diagnóstico. Uma configuração semelhante com
cópica distinta da ECB e variam conforme o estágio da aspecto de "olho de boi" pode ser visto eventualmente na
doença. As lesões agudas apresentam edema periférico EM recorrente, mas não o aspecto clássico de múltiplas
marcado. Duas ou mais bandas de sinal alternante ou inten- camadas. ADEM também não apresenta o aspecto carac
sidades de sinal diferentes são vistas nas imagens pondera terístico de múltiplas camadas.
das em T2 e lembram um redemoinho com anéis concêntri-
cos. As camadas de desmielinização ativa sofrem realce nas
imagens ponderadas em TI pós-contraste (FIg. I5-19A). OUTRAS VARIANTES OA EM
Outras placas típicas da EM podem estar presentes.
Doença de Schilder
Restrição à difusão leve a moderada pode ser vista • Esclerose difusa mieloclástica
nos anéis mais externos. Os achados da ERM são inespe- o Doença desmielinizante rara aguda/subaguda
cíficos e lembram os da EM (p. ex., colina elevada com o Lesões podem curar, 15% progridem para EM
queda do NAA). • Adultos jovens
ECB subaguda ou crônica demonstra duas ou mais o Média de idade no início = 18 anos
bandas de hipointensidade ou isointensidade nas imagens • Aspectos clínicos atípicos para EM e ADEM
o LCS normal
ponderadas em TI. As camadas concêntricas aparecem
o Sem história de febre, resfriado ou vacinação
iso ou hiperintensas em imagens ponderadas em T2 (Fig.
• Lesão solitária > multifocal
15-198). Efeito expansivo e edema são mínimos, e as le • Lesões podem parecer EM "tumefaciente"
sões não sofrem realce nas imagens ponderadas em TI • Diagnóstico diferencial: neoplasia, abscesso
pós-contraste.
Diagnóstico diferencial. O padrão de anéis concêntricos
(aspecto de "bulbo de cebola" ou "redemoinho") é suges (continuo)

15-18A Corante de mielina


luxol azul mostra achados da pa
tologia macroscópica da esclero
se concêntrica de Balo. Observe
os anéis concêntricos de áreas

pouco coradas desmielinizadas


alternando com finas áreas azuis
de preservação da mielina.
15-18B H&E em grande
ampliação no mesmo caso de
monstra áreas pálidas desmieli
nizadas alternando com áreas de
vermelho mais escuro de mielina
preservada. (Cortesia de B. K. De-
Masters, MD, e S. Ludwin, MD.)

15-19A Esclerose concêntrica


de Baio caracterizada por lesões
de SB algodonosas confluentes
no FLAIR B. As lesões restrin
gem na difusão B e demons
tram realce laminado concéntrico
("bulbo de cebola")
15-198 Imagem de segui-
mento após melhora dos sinto
mas agudos demonstra anéis
alternantes de iso e hiperinten-
sídade em T1 B e iso/hiperin-

^ Z, f
tensidade nas imagens pondera
das em T2 Nenhum realce
é visto nas imagens ponderadas
em TI pós-contraste SI. (Corte
sia de P. Rodriguez. MD.)
424 Iníecção, inflamaçao e doenças desmielinizantes

15-20A Secçâo através do quiasma óptico corado com luxol azul de 15-20B Medula espinal em corte axial do mesmo caso demonstra le
monstra os focos desmielinizantes clássicos da neuromielite óptica ES. sões caviladas no centro medular [S. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)

SNC e está localizado nos pés vasculares dos astròcitos


(continuação)
que compõem a barreira hematoencefálica.
Escierose concêntrica de Baio Um biomarcador específico da doença, a NMO-lgG,
• Anéis concêntricos de desmielinização/pfeservação tem 90% de especificidade e 70 a 75% de sensibilidade
da mielina
para NMO. O NMO-lgG quase sempre é negativo na EM
o Lembra o tronco de uma árvore ou o buibo de cebola
e em outras doenças imunológicas como síndrome de Sjo
o Solitária > multifocal
• Anéis concêntricos de sinal hiperintenso em 12 com gren ou lijpus erimatoso sistêmico (LES).
aspecto de redemoinho Patologia
o Pouco efeito expansivo ou edema
• Camadas de desmielinização ativa sofrem realce Localização. Um ou ambos os nervos ópticos são envolvi
dos juntamente com a medula espinal. A medula espinal
cervical é mais afetada e as lesões estendem-se por mais
de três segmentos consecutivos (Fig. 15-20).
Neuromielite óptica
Características microscópicas. Perda seletiva de AQP4,
Terminologia produtos da ativação com complemento em topografia
A neuromielite óptica (NMO). também conhecida como centrovascular e depósitos de imunoglobulinas são carac
síndrome de Devic, é classificada como uma das doenças terísticos. Note, entretanto, que a perda de AQP4, inde
inflamatórias desmielinizantes idiopáticas com topografia pendente de anticorpos, também ocorre em outras condi
restrita. Várias outras entidades também são consideradas ções desmielinizantes, em especial na doença de Balo e
parte do espectro de doenças da NMO. em algumas causas de EM.
A NMO é uma forma grave de doença desmielini- O padrão de coloração imuno-histoquímica da
zante aguda que envolve a medula espinal e os nervos NMO-lgG é diagnóstico. A NMO-lgG liga-se na face ex
ópticos. A substância branca cerebral também pode ser terna de microvasos nos sítios de depósito de complexos
afetada. imunológicos nas lesões da NMO. As lesões da NMO
com desmielinização ativa demonstram hialinização vas
Etiologia cular, achado não presente na EM ou no ADEM.
A NMO uma vez foi considerada "uma forma especial" de
EM, porém, hoje é reconhecida como uma entidade dis Aspectos clínicos
tinta. A NMO é uma doença mediada por células B carac Doenças do espectro da NMO. O espectro das doenças da
terizada pela presença de anticorpos contra aquaporina-4 NMO foi recentemente expandido além da doença de
(AQP4). O A0P4 é o canal de água mais abundante no Devic padrão. O espectro da NMO agora inclui formas
Doenças inflamatórias e desmielinizantes 425

limitadas, como mielite extensa recorrente longitudinal e


neurite óptica recorrente ou simultânea bilateral, EM óp- • Neurite óptica ou mielite + lesões cerebrais

tica-espinal asiática, neurite óptica ou mielite associada a específicas


• Neurite óptica ou mielite + doenças sistêmicas
lesões em áreas cerebrais específicas (p. ex., hipotálamo,
autoimunes
niicleos periventriculares, tronco), e mielite/neurite óptica
associada à doença sistêmica autoimune. Etíología e patologia
• Anticorpos contra aquaporina-4
Epidemiología e oemografia. a NMO é muito menos comum • Deposição de IgG centrovascular
que a EM. A doença é mais comum em mulheres brancas,
com uma razão M:H de 3:1. Embora o início da doença
varie desde a infância até a velhice, a média de idade da
Apresentação e história natural. A NMO pode ser idiopáti-
apresentação inicial é de 35 a 40 anos. A incidência anual ca ou relacionada a outras entidades clínicas (p. ex., infec-
em brancos é estimada em 0.4 por milhão de pessoas/ano.
ções virais ou bacterianas, doenças do tecido conectivo ou
doenças endócrinas). Ela é caracterizada por neurite óp
tica grave uni ou bilateral e mielite transversa ocorrendo
DOENÇAS DO ESPECTRO DA NMO simultaneamente no início da doença. Envolvimento de
Neuromielite óptica (NMO) outras regiões do SNC ocorrem de forma tardia no curso
• Também conhecida como doença/síndrome de Devic da doença.
A NMO segue um curso imprevisível e o prognóstico
Outras doenças do espectro da NMO
• Mielite recorrente extensa longitudinal costuma ser pior que o da EM. A maioria dos casos (85 a
• Neurite óptica bilateral simultânea/recorrente 90%) é recorrente, embora a NMO possa ocorrer como
• EM ópticoespinal asiática uma doença monofásica. A NMO recorrente resulta em
sequela grave que piora em cada ataque subsequente.

15-21A Imagem ponderada


em 11 pós-contraste no plano
axial em um paciente com
NMO provada sorologicamente
demonstra realce do quiasma
óptico BEI.
15-21B imagem ponderada
em TI pós-contraste no plano
coronal do mesmo paciente con
firma o realce do quiasma óptico.
Imagens T2/FLAIR não mostra
ram outras lesões.

15-21C Imagem ponderada


em 12 sagital no mesmo pacien
te demonstra hiperiniensidade
confluente central se estendendo
do bulbo inferior B até C5-C6
GS. A medula espinal cervical
tem aspecto moderadamente
inchado e simetricamente au
mentado.
15-21D Imagem ponderada
em TI pós-contraste mostra real
ce heterogêneo confluente des
de acima de C2 até o interespaço
C4-C5 B e uma pequena região
ao nível de C6
426 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

15-22 Exame fundoscópíco demonstra múltiplas irregularidades e 15-23 Achados clássicos da síndrome de Susac com lesões na porção
ociusôes segmentares Si na artéria da retina. média do corpo caloso nas Imagens ponderadas em TI S, hiperintensi-
dades da S6 B multifocals ovoides no corpo caloso ES no FLAIR, além
de restrição à difusão (Cortesia de P. Rodriguez, MO).

Cerca de 30% dos pacientes com NMO são inicial


mente diagnosticados, de forma errada, como portadores CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA NMO REVISADOS
de EM. Soropositividade para o NMO-lgG é detectada
Necessário
em 3 a 5% dos pacientes que apresentam síndrome clínica • Neurite óptica
isolada no momento da apresentação inicial. • Mielite aguda
• Lesões hiperintensas, com realce, comprometendo a
Opções oe tratamento. Estudos recentes sugerem que as três segmentos medulares
opções terapêuticas na NMO devem usar fármacos imunos-
supressores ao invés das imunomoduladores. Rituximab di Dois ou mais critérios auxiliares
minui a freqüência de ataques e ajuda a reduzir as seqüelas. • RM do Início da doença não diagnóstico para EM
• Lesões da medula espinal contínuas na RM a três
Imagem segmentos vertebrais
A RM é o método de escolha na avaliação dos pacientes • Soropositividade para NMO-lgG
com suspeita de NMO. A imagem durante um ataque agu
do demonstra (1) medula hiperintensa, com realce que se
Síndrome de Susac
estende por mais de três segmentos contíguos e (2) hipe-
rintensidade e/ou realce do nervo óptico, consistente com A síndrome de Susac é uma síndrome reconhecida recen
neurite óptica aguda (Fig. 15-21). temente e é confundida com EM nos estudos de imagem.
Entre 30 a 60% dos pacientes com NMO também A síndrome de Susac tem uma apresentação clínica distin
apresentam hiperintensidades em T2/FLAIR na substân ta e os aspectos de imagem são bastante característicos.
cia branca cerebral, portanto, esse achado não exclui o
diagnóstico. Terminologia
O estudo da difusão demonstra alta difusibilidade e bai A síndrome de Susac (SS) também é conhecida como vas-
xa anisotropia fracionada quando comparado com a EM. culopatia retinococlear, RED-M (microangiopatia associa
da à retinopatia, à encefalopatia e à surdez) e SICRET (pe
Diagnóstico diferencial quenos infartos em tecido coclear, retiniano e encefálico).
o principal diagnóstico diferencial da NMO é a EM. O
cérebro e mais envolvido na esclerose múltipla, enquanto Etiologia
a doença da medula espinal contínua com múltiplos seg A maioria dos investigadores consideram que SS é uma
mentos é o achado típico da NMO. A NMO também deve endoteliopatia multissistêmica oclusiva microvascular
ser separada de casos de neurite óptica isolada e mielite imunologicamente mediada, e não uma doença desmieli-
transversa, ambos componentes da NMO. nizante primária.
Doenças inflamatórias e desmielinizantes 427

Patologia caracterizada por cefaleia grave ou de característica enxa-


Os achados são os de uma microangiopatia com microin- quecosa em 50% dos casos. Arteríolas retinianas inflama
das com ociusões de ramos da artéria da retina são identi
fartos. Os infartos podem ser agudos ou subagudos e en
ficadas na angiografla com fluoresceína.
volver o córíex, a substância branca ou ambos. A micro-
vasculatura é anormal. Trombos hialinos intraluminais, Alterações flutuantes no estado mental com dificul
dades de memória, confusão, alterações psiquiátricas e
alterações inflamatórias perivasculares com agregados de
macrófagos e proeminentes células endoteliais ativadas comportamentais são comuns, apresentando-se como
sintomas predominantes. A perda auditiva é seletiva para
são as características histológicas típicas da SS.
baixas e médias freqüências e pode ser uni ou bilateral,
Aspectos clínicos simétrica ou assimétrica. Vertigem associada, ataxia e nis-
Epidemiologia. a SS é uma doença rara. A real prevalência tagmo são achados comuns.
é desconhecida, mas a incidência provavelmente é mais As lesões musculares e de pele ("livedo racemoso")
comum do que se acreditava, já que muitos casos de SS também têm sido descritas nos pacientes com SS.
têm sido diagnosticados como EM. História natural. O curso clínico da SS é imprevisível. É
Dbmografia. a SS afeta mais mulheres adultas Jovens entre freqüentemente, mas não sempre, autolimitado. com reso
20 e 40 anos. A idade média de apresentação é de 35 anos, lução entre dois e quatro anos. Alguns pacientes apresen
tam curso recorrente-remitente, enquanto outros apresen
com taxa M:H de 3 a 5; 1.
tam seqüelas neurológicas permanentes (com freqüência
Apresentação. A tríade clássica clínica na SS consis surdez e redução da acuidade visual).
te em encefalopatia aguda ou subaguda, perda auditiva
neurossensorial e ociusões de ramos arteriais da retina Opções oe tratamento. O objetivo do tratamento é prevenir
déficits neurológicos permanentes. E recomendada, te
(Fig. 15-22), embora no início nem todos os pacientes
apresentem a tríade completa. A encefalopatia da SS é rapia imunossupressora precoce, agressiva e sustentada.

15-24A Mulher de 27 anos se

apresentou com cefaleia, visão


borrada, tontura e zumbidos em
ambos os ouvidos. Imagem pon
derada em T2 no plano sagital
demonstra dois focos hiperinten-
sos, um na metade do joelho do
corpo caloso B e um segundo
no tãlamo
15-24B Imagem ponderada
em TI pós-contraste no plano
axial mostra que a lesão no cor
po caloso B sofre realce.

I -J "S. V
15-24C Imagem ponderada
em TI pós-contrasle focada na
cisterna suprasselar mostra duas
lesões adicionais com realce B
no lobo temporal esquerdo.
15-24D Imagem ponderada
em TI pós-contraste no plano co
ronal mostra que a lesão talâmi-
ca à esquerda B sofre realce.
Outra pequena lesão com realce
encontra-se presente na metade
da ponte Os achados de
imagem associados ã história
são praticamente diagnósticos da
sfndrome de Susac.
428 infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

15-25A Uma série de ima


gens FLAIR demonslram doença
progressiva em paciente com
síndíome de Susac. FIAIR sagitai
iniciai mostra duas lesões hipe-
rintensas na metade do esplênio
do corpo caloso (S.
15-25B Imagem mais lateral
mostra múltiplas hiperintensida-
des ovaladas e puntiformes na
substancia branca subcortical e
profunda Uma lesão tam
bém está presente no tálamo
B

15-25C FLAIR axial demons


tra múltiplas hiperintensidades
ovaladas e puntiformes ES.
Existem lesões de SB profunda
coniluentes de menor hiperin-
tensidade em ambos os lobos
parietais B.
15-25D Os sintomas do
paciente continuaram a piorar.
Aproximadamente 18 meses
depois ele estava praticamente
cego e surdo. Novo FLAIR sagllal
evidencia marcada perda de vo
lume, corpo caloso reduzido de
volume e sulcos amplos.

15-25E FLAIR sagital agora


mostra as lesões de SB confluen-
tes periventriculares E3 que
envolvem a maior parte da coroa
radiada, mas poupam as fibras
de associação subcorticais. Os
ventrículos laterais estão consi
deravelmente maiores compara
dos com a imagem realizada 18
meses antes.
15-25F FLAIR axial agora
mostra alargamento dos sulcos
corticais, aumento dos ventrí
culos laterais e doença de SB
bastante confluente. Progressão Aà. ' -J' ^
grave da síndrome de Susac é
incomum, mas clinicamente de
vastadora.
Doenças inflamatórias e desmieíinizantes 429

Glicocorticoides endovenosos associados à imunoglobu-


lina ou à ciclofosfamida nos casos refratários mostraram Imagem
• Hiperintensidades de SB em T2/FLAIR (> 90%)
bons resultados em muitos pacientes.
o Envolvimento do corpo caloso (CC) (80%)
o Metade do CC > > interface calososseptal
Imagem • Lesões nos núcleos da base (70%)
• Realce variável (geralmente puntiforme)
Achados na TC. TC e TC pós-contraste em geral sào nor
mais. A TC do osso temporal ajuda a excluir outras causas Diagnóstico diferencial
de perda auditiva neurossensorial. • Esclerose múltipla
• ADEM
Achados na RM. Imagens ponderadas em TI no plano • Doença de Lyme
sagital em pacientes com SS crônica podem demonstrar • Vasculhe
lesões hipointensas focais na porção média do corpo ca-
loso (Fig. 15-23). Múltiplas hiperintensidades em T2/
FLAIR periventriculares e na substância branca profunda
são vistas em 90% dos casos (Flg. 15-24). Cerca de 80% Desmielinização pós-infecciosa/
dos pacientes demonstram envolvimento do corpo caloso pós-vacinal
com lesões que envolvem a porção média do corpo caloso
Alguns investigadores consideram a encefalomielite dis
e poupam a superfície inferior (Fig. 15-25). Lesões nos seminada aguda e a leucoencefalopatia hemorrágica agu
núcleos da base ocorrem em 70% dos casos e lesões do da como parle de um espectro de doenças inflamatórias
tronco em cerca de um terço (Fig. 15-24).
idiopáticas desmieíinizantes. Como elas são associadas
As lesões da SS aguda mostram realce puntiforme nas com infecção viral ou imunização precedentes, serão con
imagens ponderadas em TI pós-contraste. Realce lepto- sideradas separadamente neste capítulo.
meníngeo ocorre em 30% dos pacientes. O DTI demons
tra desorganização ampla da substância branca e dano fo Encefalomielite disseminada aguda
cai ao joelho do corpo caloso.
Terminologia
Encefalomielite disseminada aguda é uma doença pós-
Diagnóstico diferencial
-infecciosa ou pós-vacinal também conhecida como ence
o principal diagnóstico diferencial de imagem da SS
falomielite parainfecciosa. Outrora considerada doença
são EM, ADEM e doença de Lyme. Escicrose múltipla
puramente monofásica, formas recorrentes e multifásicas
envolve a porção inferior do corpo caloso, que costuma
da ADEM são reconhecidas atualmente.
ser preservada na SS. Envolvimento auditivo é inco-
mum na EM. Etlologia
ADEM e doença de Lyme raramente envolvem a As características imuno-histopatológicas do ADEM mi-
porção média do corpo caloso. ADEM é monofásica. pre metizam aquelas das encefalites alérgicas experimentais,
cedida por pródromos virais ou história de vacinação. uma doença autoimune precipitada por anticorpos contra
Va s c u l i t e s o u i n f a r t o s t r o m b o e m b ó l i c o s t a m b é m
mielina. Por isso, a maioria dos investigadores conside
são diagnósticos diferenciais a serem considerados. Am ram a ADEM como uma doença desmielinizante do SNC
bos raramente afetam o corpo caloso.
imunologicamente mediada.

Patologia
SÍNOROME DE SUSAC Localização. Como o nome sugere, a ADEM pode envolver
tanto o cérebro quanto a medula espinal. Lesões da subs
Terminologia
• Vascülopatia retinococleocerebral tância branca sào predominantes, mas o envolvimento dos
núcleos da base é visto em cerca de metade dos casos. As
Etlologia e patologia lesões da medula espinal são encontradas em 10 a 30%
• Imunologicamente mediada dos pacientes.
o Provavelmente não é uma verdadeira doença
Uma variante rara do ADEM, necrose estriatal bila
desmielinizante
• Microendoteliopatia odusiva teral infantil, ocorre uma ou duas semanas após uma in
o inflamação perivascular com microinfartos fecção respiratória. As infecções virais ou estreptocócicas
foram associadas ao quadro. A imagem mostra os núcleos
Aspectos clínicos da base, núcleo caudado e cápsulas interna/externa au
• M » H mentados e com sinal hiperintenso.
• Tríade clínica
o Cefaleia, encefalopatia Tamanho e número. O tamanho das lesões varia de poucos
o Déficit auditivo neurossensorial milímetros a vários centímetros (ADEM "tumefaciente")
o Anormalidades visuais e apresentam um formato de puntiforme a "floculado".
Lesões múltiplas sào mais comuns que lesões solitárias.
430 Infecçao, inflamação e doenças desmielinizantes

Patologia macroscópica. Pequenas lesões costumam ser


invisíveis na análise macroscópica. Grandes lesões "tu-
mefacientes" causam descoloração da substância branca,
que assume um tom acinzentado-rosado, estendendo-se
em toda extensão da junção entre o córtex e a substância
branca (Fig. 15-26). O efeito expansivo é mínimo para o
o tamanho da lesão. A hemorragia intralesional é rara e,
quando presente, é mais característica da leucoencefalite
hemorrágica aguda (LHAg) que do ADEM.

Aspectos clínicos
Epidemiologia e demografia. adem é a segunda doença
inflamatória desmielinizante idiopática mais adquirida,
atrás apenas da EM. Diferentemente da EM, não existe
predileção pelo sexo feminino. A doença ocorre mais na
15-26 Imagem de necropsia mostrando desmieiini- primavera e no outono.
A ADEM pode ocorrer em qualquer faixa etária, po
zaçâo necrotizanle SI característica das doenças pós-
-infecciosas e pós-vacinais. (Cortesia de R. Hewlett, MD.) rém - talvez pela freqüência das imunizações e exposição
a antígenos - é mais comum na infância, com pico de in
cidência entre 5 e 8 anos. A incidência geral estimada é
de 0,8 por 100.000 pessoas anualmente. A incidência do
ADEM na infância é estimada em 2 a 10 casos por mi
lhão de crianças por ano. Entre 10 a 25% das crianças com
ADEM eventualmente serão diagnosticadas com EM.
Apresentação. Os sintomas ocorrem alguns dias ou sema
nas após estímulo imunológico (p. ex., infecçâo ou vaci
nação). A maioria das crianças com ADEM apresenta pró-
dromos febris inespecificos. Exantema viral em geral não
é observado. Diferentemente da EM, neurite óptica é rara.
História natural. O curso e o desfecho da doença variam.
ADEM monofásíca é o tipo mais comum. Entretanto, al
gumas vezes a doença segue um curso atípico, flutuando
em um período de vários meses.
ADEM recorrente caracteriza-se por um segundo
15-27A TC pós-contraste em paciente com ADEM
demonstra múltiplas lesões com realce na fossa poste episódio ocorrendo mais de três meses após o quadro ini
rior E3. cial, envolvendo a mesma região anatômica deste quadro.
ADEM multífásíca caracteriza-se por um ou mais even
tos subsequentes que envolvem uma área anatômica dife
rente, demonstrada como uma nova lesão na RM ou como
um novo déficit neurológico focai.
Mais da metade de todos os pacientes recupera-se
completamente dentro de um ou dois meses do início, en
quanto cerca de 20% permanecem com alguma lesão resi
dual. A mortalidade geral é relativamente alta (10a 25%).

E N C E FA L O PAT I A D I S S E M I N A D A A G U D A

Etiologia e patologia
• Pós-infecciosa, pós-vacinal
• Desmielinização perivenular imunologicamente mediada

Aspectos clínicos
• Doença desmielinizante adquirida menos comum
15-27B TC pós-contraste no plano axial no mesmo apenas que EM
paciente também mostra lesões com realce supralen- • Sem preferência pelo sexo feminino
torais E2.
Doenças inflamatórias e desmielinizantes 431

sidades multifocals em T2/FLA1R são os achados mais


• Ocorre em todas idades, porém as crianças entre 5-8
comuns e variam de pequenos focos ovais/arredondados
anos são o grupo mais afetado a lesões com aspecto de "bolas de algodão" com centro
• Curso e desfecho variam
o ADEM monofásica: mais comum
bastante hiperintenso circundado por área de menor hipe-
o ADEM recorrente: segundo episódio no mesmo rintensidade e bordas pouco definidas (Fig. 15-28).
local anatômico
Envolvimento assimétrico bilateral é típico. As lesões
o ADEM multifásica: múltiplos episódios, locais nos núcleos da base e da fossa posterior são comuns.
anatômicos diferentes As imagens ponderadas em TI pós-contraste demons
• Recuperação completa (> 50%) tram realce que varia de mínimo ou ausente até muito
• Mortalidade (10-25%) importante e intenso (Fig. 15-29). Padrões puntiforme,
linear, anelar completo ou incompleto podem ocorrer.
Lesões grandes "tumefacientes" com realce periférico em
"ferradura" lembram a EM "tumefaciente" (Fig. 15-30).
Imagem
Diferentemente da EM, envolvimento de nervos crania
Achados na TC. A menos que existam grandes lesões "tu-
nos é comum no ADEM.
mefacientes", a TC é normal. A TC pós-contraste pode
As lesões agudas podem mostrar restrição ao estu
mostrar lesões puntiformes ou com realce periférico in
do da difusão da água. Os achados da espectroscopia por
completo (Fig. 15-27). RM são inespecíficos e demonstram baixo NAA com ele
Achados na RM. Imagens ponderadas em TI em geral vação do lactato. A razão de transferência de magnetiza-
são normais ou mostram apenas focos acinzentados com ção (RTM) na substância branca com aspecto inalterado
aspecto de "sujeira" na substância branca. Hiperinten- é normal.

15-28A Lesões "floculada" do


ADEM. Imagem ponderada em T2

f i . axial mostra lesões bilaterais nos


braços da ponte com aspecto "al-
godonoso" com margens pouco

/%
d e fi n i d a s B .
15-28B Imagem ponderada
em T2 axial do mesmo paciente
demonstra as clássicas hipe-

/ s 4
rintensidades subcorticais com
margens pouco definidas do
ADEM. O córtex abaixo das lesões
- <y encontra-se intacto. Observe a
I

s
/ - itk • lesão frontal à direita com um
centro bastante hiperintenso
e periferia levemente me
-éft "-..v 'yfl'^ nos hiperintensa
432 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

Diagnóstico diferenciai
ADEM: IMAGEM
o principal diagnóstico diferencial do ADEM é a esclc-
rose múltipla. Pode ser difícil de distinguir ADEM da TC
• TC sem contraste: normal
EM baseado apenas nos achados de imagem. As lesões
• TC com contraste: realce puntiforme ou anelar parcial
"lumefacientes", incluindo aquelas com realce anelar in
completo. ocorrem em ambas as doenças. ADEM é mais RM
comum em crianças e costuma estar associado à história • Hlperlntensldades focais em T2/FLAIR
de infecção viral ou à vacinação anterior ao desenvolvi o Lesões de SB bilaterais assimétricas
mento da doença. A EM envolve a região calososseptal, o Subcortlcals, periventriculares
o Pequenas e ovais/arredondadas a lesões em "bola
porém lesões periventriculares também são comuns no
ADEM. A EM tem um curso surto-remissão, enquanto a de algodão"
o Núcleos da base, fossa posterior e nervos cranianos
maioria, embora não todos, os casos de ADEM são mo-
nofásicos (Fig. 15-31). freqüentemente envolvidos
• O realce varia de ausente à importante
Outras considerações diagnósticas incluem encefali- o Puntiforme multifocal, linear ou anelar parcial
tes virais, vasculites imunomediadas e doenças coláge- o Pode ser perivenular
no-vasculares. Ocasionalmente, neurossarcoidose com o Lesões grandes ("tumefacientes") são raras
envolvimento parenquimatoso e doença de Whipple do
SNC podem mimetizar a ADEM. Oiagnóstico diferencial
• EM
• Encefalite, vasculite, doença colágeno-vascular
• ADEM "tumefaciente" mimetiza a neoplasia

15-29A Mulher de 37 anos


com história de paralisia de Bell
dois anos antes de se apresentar
com febre, mialgia e cansaço.
Duas semanas antes a paciente
havia se queixado de cefaleia e
instabilidade de marcha. A pa
ciente evoluiu com rebaixamento
do sensório e coma. Imagem
ponderada em Ti axiai pós-
-contraste demonstra realce con-
fiuente ES na fossa posterior.
15-298 Imagem ponderada
em TI pós-conlraste no plano
axiai mostra múltiplas lesões
com realce puntiforme E3 e
anelar incompleto B em am
bos os hemisférios.

15-29C Imagem ponderada


em TI pós-contraste com satura
ção de gordura através da conve-
xidade mostra múltiplas lesões
puntiformes com realce E3 na
SB subcortical.
15-29D Imagem ponderada
em TI pós-contraste tardia no
plano coronal mostra realce
confluente na SB cerebelar B.
Focos esparsos puntiformes e
lineares podem ser vistos na
SB subcortical hemisférica ES.
Como os títulos para VZV foram
positivos, o caso ilustra ADEM
pós-lnleccioso relacionado à vari-
cela. O paciente respondeu bem
ao tratamento com plasmaférese
e corticosteroides endovenosos.
Doenças inflamatórias e desmielinizantes 433

15-30A FLAIR em um pacien


te com EM aguda "tumefaciente"
demonstra massa hiperintensa
confluente que exclusivamente
envolve a substancia branca B,
poupando o córtex Nenhu
ma outra lesão é evidenciada.
15-30B Imagem ponderada
em TI pós-contraste com sa
turação de gordura no mesmo
paciente mostra realce parcial
periférico na maior parte da
lesão com efeito expansivo ES.

1.
Biópsia revelou doença desmieli-
nizante aguda sem evidência de
neoplasia ou infecção.

15-31A ADEM multifasico


em uma mulher de 52 anos que
se apresentou com cefaleia à
esquerda, dor retro-orbitária e
perda visual. FLAIR axial mostra
espaços perivenulares alargados
hiperintensos B na substância
branca profunda cerebral.
15-31B Imagem ponderada
em TI pós-contraste axial no
mesmo paciente demonstra
importante realce linear B ao
longo das veias medulares e dos
espaços perivasculares.

15-31C Imagem repetida


após quatro meses por piora
sintomática. Imagem ponderada
em 12 mostra múltiplas lesões
ovaladas e triangulares hiperin-
tensas B orientadas perpen
dicularmente aos ventrículos
laterais. Achados característicos
de desmielinizaçào perivenular.
15-310 imagem ponderada
em TI pós-contraste com satu
ração de gordura no plano axial
mostra que as hiperintensidades
ovaladas apresentam realce ane-
lar, puntiforme e linear. A biópsia
mostrou doença desmielinizante
compatível com ADEM.
434 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

15-32A Imagem de necropsia de LHAg demonstra inumeráveis he 1S-32B Fotomicrografia corada com H&E do mesmo caso demonstra
morragias petequiais simétricas da SB S) se estendendo para as fibras um anel de hemorragia perivascular SI circundando um vaso irombo-
U subcorticais. Observe a presença de lesões no corpo caloso [^. O cór- sado [S. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
tex é poupado, diferentemente dos núcleos da base [S.

Leucoencefalite hemorrágica aguda cópica focai e múltiplos microssangramentos petequiais.


Poucos casos combinam as características de ambos.
Terminologia
A leucoencefalite hemorrágica aguda (LHAg) também é Patologia macroscópica. O aspecto macroscópico típico é
conhecida como leucoencefalopatia hemorrágica aguda, de edema cerebral difuso com necrose hemorrágica focai
encefalomielite aguda hemorrágica (EHAg) e doença de ou confluente da substância branca (Fig. 15-32A).
West Burst.
Características microscópicas. Necrose fibrinoide das pa
Alguns investigadores incluem LHAg como parte do redes vasculares com desmielinização perivascular, he
espectro ADEM - como uma manifestação hiperaguda, morragia e infiltrado mononuclear inflamatório são as ca
grave e fulminante do ADEM. Em razão dos aspectos de racterísticas da LHAg (Fig. 15-32B). Infiltrados difusos,
imagem e histológicos da LHAg diferirem do ADEM, predominantemente neutrofilicos, são típicos, em contras
neste texto as doenças serão consideradas em separado. te com os infiltrados com predominância de macrófagos
típicos do ADEM.
Etiología
A etiologia precisa da LHAg é incerta. História de um Aspectos clínicos
pródromo viral ou doença semelhante à resfriado é co Epidemiologia e demografia. LHAg é menos comum que
mum, mas nem sempre está presente. Reatividade cruzada ADEM. Cerca de 2% de todos os casos de ADEM são do
entre varias proteínas básicas da mielina e antígenos de tipo hiperagudo hemorrágico, podendo ser considerados
agentes infecciosos provavelmente causam desmieliniza- compatíveis com LHAg. Embora LHAg ocorra em todas
ção aguda imunologicamente mediada. idades, a maioria dos pacientes é adulto jovem.

Patologia Apresentação e história natural. A maioria dos casos de


LHAg começa em uma doença viral ou vacinação segui
Localização. A LHAg predominante afeta a substância
das por piora neurológica rápida. Febre e letargia com
branca, mas pode envolver tanto o cérebro quanto a medu
la espinal. Ambos os hemisférios cerebrais e as estruturas progressiva sonolência, piora do estado mental, rebaixa
mento da consciência e sinais focais envolvendo grandes
da fossa posterior podem ser afetados. Apesar do nome, a
tratos são os sintomas neurológicos mais comuns.
LHAg também pode afetar a substância cinzenta. Envol
vimento dos núcleos da base é comum, mas a substância LHAg não tratada traz um prognóstico reservado. De
cinzenta cortical em geral, porém não sempre, é poupada. terioração clínica rápida e morte ocorrem dentro de dias a
semanas desde o início do quadro. A mortalidade é de 60 a
Número e tamanho. LHAg apresenta duas manifestações 80%. O curso clínico é fulminante e quase sempre fatal se
clinicas distintas: hemorragia parenquimatosa macros- não houver tratamento.
Doenças inflamalórias e desmielinizantes 435

Opções oe tratamento. Tratamento agressivo com altas do (Figs. 15-34 e 15-35), imagens T2* são a chave para o
ses de corticoide endovenoso, imunoglobulina, ciclofos- diagnóstico. As seqüências SWT são mais sensíveis que
famida e plasmaferese tem sido usado com algum sucesso GRE, em especial quando apenas microssangramentos es
em alguns casos. tão presentes (Figs. 15-33,15-36 e 15-37).
Hipointensidades com artefato de susceptibilidade
Imagem magnética multifocals puntiformes ou lineares no corpo
Avaliação por imagem tem papel-chave nos pacientes caloso que se estendem por toda espessura da substância
com história clínica que sugira a possibilidade de LHAg. branca hemisférica até as fibras U subcorticais são acha
dos típicos no T2*. Ausência de comprometimento do
Achados na TC. A TC sem contraste pode ser normal, a me
córtex adjacente é comum. Lesões adicionais são encon
nos que hemorragias macroscópicas confluentes estejam
tradas nos núcleos da base, mesencéfalo, ponte e cerebelo.
presentes. Micro-hemorragias petequiais em geral são in Realce nas imagens ponderadas em TI pós-contraste
visíveis, mas o edema de substância branca com hipoden- ocorre em 50% dos casos e vai desde realce linear do es
sidade difusa relativamente assimétrica de um ou ambos
hemisférios pode ser evidenciado. paço perivascular até grandes áreas confluentes de realce.

Achados na RM. Imagens ponderadas em TI com freqüên Diagnóstico diferencial


cia são normais, exceto se houver grandes hemorragias o principal diagnóstico diferencial de LHAg é ADEM.
lobares. Achados em T2/FLA1R variam de sutis a marca Ambas compartilham várias características semelhantes.
dos. Hiperintensidades focais difusas ou confluentes, bem Entretanto, a ADEM nomialmente segue um curso muito
como hiperintensidades bilaterais confluentes da substân menos fulminante e não demonstra as hemorragias loba
cia branca são típicos, mas não específicos (Fig. 15-33). res e perivasculares características da LHAg.
Embora grandes hemorragias lobares confluentes Outras entidades que devem ser consideradas no
sejam facilmente identificáveis nas sequências-padrão diagnóstico diferencial incluem esclerose múltipla ful-

15-33A Mulher de 69 anos


apresentou exantema vira! e
após alguns dias letargia e piora
progressiva do estado mental,
imagem FLAIR axial mostra hi
perintensidades confluentes no
esplênio e no joelho do corpo
caloso B associadas a lesões
focais hemisférícas bifrontals
B e hiperintensidade sutil
confluente na substância branca
subcortical B.
15-33B imagem ponderada
em difusão demonstra restrição
no esplênio do corpo caloso ES.

15-33C imagem ponderada


em TZ" GRE mostra hipointen
sidades no corpo caloso ES
com artefato de susceptibilidade
magnética sutil na substância
branca subcortical
15-330 Houve piora progres
siva do paciente, e nova RM com
imagem ponderada em suscep
tibilidade magnética (SWI) foi
realizada. Inumeráveis hipointen
sidades com artefato de suscep
tibilidade magnética simétricas
puntiformes e lineares são vistas
ao longo de toda SB poupando a
substância cinzenta cortical. LHAg
foi então diagnosticada e confir
mada na biópsia cerebral.
436 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

J:

. y
/

15-34A Corie axial de peça de necropsia de um caso de LHAg de 15-34B O mesmo caso com duas áreas adicionais de necrose hemor
monstra grande área confluente de necrose hemorrágica macroscópica rágica macroscópica SI. Os achados de imagem associados com história
SI. Observe que a lesão cruza o joelho do corpo caloso e envolve o clínica de doença viral de vias aéreas superiores e piora clínica rapidamen
lobo frontal oposto SI. te progressiva são característicos da LHAg. (Cortesia de R. Hewlett, MO.)

ininante, encefalopatia necrosante aguda e síndrome de


ativação macrofágica. A esclerose múltipla aguda fulmi Etiologia e patologia
• Similar ao ADEM (viral/pós-vlral imunologicamente
nante (tipo Marburg) não se caracteriza por febre alta e
leucocitose. Os focos hemorrágicos proemientes na RM mediada)
• Pode representar uma forma fulminante de
vistos na LHAg estão ausentes na EM.
ADEM
Encefalopatia necrosante aguda (ENA) é uma com
plicação rara das infecçôes virais - como influenza A e Aspectos clínicos
B. herpes-vírus 6. variceía-zóster - e infecção por mico- • Raro, 2% dos casos de ADEM
• Todas as idades são afetadas, especialmente
plasma. A imagem é um pouco diferente da LHAg. Quase
todos os casos de ENA demonstram lesões simétricas nos crianças/adultos jovens
• Febre, letargia, rebaixamento do sensório
tálamos, cápsulas internas e teginento mesencefálico. • Rapidamente progressiva, com freqüência em curso
A síndrome de ativação macrofágica (SAM) pode
letal
ter apresentação neurológica e achados na RM que lem
bram a LHAg. Entretanto, a SAM é acompanhada de his Imagem
tória de doença reumatológica, e a hiperferritinemia é um • Aspectos gerais
marcador laboratorial característico da doença que não é o Edema da substância branca
encontrado na LHAg. o Hemorragias macroscópicas focais ou
As micro-hemorragias pelequiais da LHAg podem microssangramentos multifocals
• TC pode ser normal ou demonstrar uma substância
ser encontradas em um grande número de doenças não re
branca hipodensa
lacionadas, incluindo dano vascular difuso, purpura trom- • RM é o método de escolha
bocitopênica trombótica, sepse, vasculite, febres virais o Lesões esparsas ou confluentes em T2/FLAIR
hemorrágicas, malária e doenças causadas por bactérias o Corpo caloso, SB cerebral, ponte, cerebelo, ±
do gênero Rickettsia. núcleos da base (NB)
o Substância cinzenta cortical geralmente poupada
o T2* (GRE, SWI) demonstram os microssangramentos
LEUCOENCEFALITE HEMORRÁGICA o 50% apresenta realce variável
AGUDA (LHAG)
Diagnóstico diferencial
• ADEM
Terminologia
• Também chamada de encefalomielite hemorrágica • EM fulminante (tipo Marburg)
(EHAg), doença de Weston Hurst • Encefalopatia necrosante aguda
Doenças inflamatórias e desmielinizantes 437

15-35A Imagem ponderada


em T2 axial em um paciente com
diagnóstico presuntivo de EM e
progressão rápida de lesões da
SB multifocais associado à massa

*■ hemorrágica frontal esquerda


E a .
15-356 Imagem ponderada
em T2* 6RE mostra outros focos
de artefato de susceptibilidade
magnética SI na SB. Achados
de imagem e história clínica são
mais compatíveis com LHAg.
(Cortesia de R. Ramakantan, MO.)

15-36A Imagem ponderada


em T2 em um paciente com ata
xia demonstra hiperintensidades
cerebeiares confluentes com
áreas hipointensas multifocals
[ ^ .
15-368 Imagem T2* GRE
mostra múltiplas hemorragias
petequiais [^. Achados de
imagem e história clínica compa
tíveis com LHAg. (Cortesia de R.
Ramakantan, MD.)

15-37A Imagem ponderada


em T2 em um homem de 65
' i anos com distúrbio de mar
cha rapidamente progressivo
e fraqueza de extremidades
demonstra o bulbo inchado e
hiperintenso; imagem da medula
cervical alta demonstrou achados
semelhantes.
15-376 Imagem ponderada
em T2* GRE mostra múltiplas
hipoíntensidades focais com
artefato de susceptibilidade
magnética consistentes com
hemorragia focai. LHAg restrita
ao bulbo e medula cervical sem
envolvimento de outras áreas é
incomum.
438 infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

15-38 Ilustração das localizações comuns da neurossarcoidose; (1) 15-39 Fotomicrografia em corte coronal com baixa ampliação mostra
íniundíbulo com extensão hipofisária E3, (2) espessamento em placa a expansão do soalho do terceiro ventrículo e espessamento do Íniundí
da dura-aracnoide (3) lesões sincrônicas no verme superior S2 e bulo proximal 31 causado pela sarcoidose. (Cortesia de B. K. DeMasters,
plexo coroide do quarto ventrículo S. MD.)

leptomeninges, em especial ao redor da base do cérebro.


Doenças com características inflamatórias Espessamento leplomeníngeo difuso com ou sem le
sões nodulares focais é visto em cerca de 40% dos casos
Neurossarcoidose
(Flg. 1508).
Terminologia O hipotálamo e o infundíbulo também são locais
A sarcoidose é uma doença inflamatória multissistêmica comuns de comprometimento intracraniano. NSar pode
caracterizada por pequenos granulomas inflamatórios nào comprometer nervos cranianos, olho e periorbita, óssos,
caseosos. Quando a sarcoidose afeta o SNC ela é chamada ventrículos e plexo coroide, além do próprio parênquima
de neurossarcoidose (NSar). cerebral. Os compartimentos infra e supratentoriais são
afetados. A doença também pode comprometer as lepto
Etiologia meninges espinais, medula espínal e raízes nervosas.
A etiologia da sarcoidose permanece desconhecida. Em Tamanho e número. As lesões da NSar variam em tamanho
bora o evento inicial na patogênese permaneça oculto, a de pequenos granulomas que infiltram a pia e os espaços
visão atual é de que um indivíduo geneticamente susce
perivasculares até massas com base durai que podem lem
tível desenvolve sarcoidose após exposição a algum anti- brar meningiomas. Lesões múltiplas são mais comuns que
geno ainda não identificado. Segue uma cascata inflama lesões solitárias.
tória reativa que parece ser primariamente efetuada por
células T CD4 positivas. Patologia macroscópica. A aparência macroscópica varia
e depende da localização. Espessamento leptomeníngeo
basilar nodular é comum. A extensão dos granulomas para
Patologia
os espaços perivasculares cerebrais é um achado típico,
Localização. A distribuição sistêmica é variável, visto que a
tanto quanto infiltração e aumento do hipotálamo e do in
sarcoidose afeta múltiplas partes do organismo. Os línfo-
nodos hilares são o local mais afetado.
fundíbulo. A presença de granulomas múltiplos ou únicos
O envolvimento do SNC ocorre em cerca de 5% dos
de cor amarelada e consistência firme são achados tipicos.
A presença de tecido fibrocartilaginoso torna-se pro
casos, geralmente em combinação com doença em outra
topografia. Apenas 5 a 10% dos casos de NSar são con gressivamente mais evidente com a evolução da doença
e pode resultar em fibrose meníngea densa, vista como
finados ao SNC e ocorrem sem evidência de sarcoidose
sistêmica. paquímeningite com ou sem massas durais.
A doença pode envolver qualquer parte do sistema Características microscópicas. Granulomas sarcoides são
nervoso e envoltórios. A localização mais comum são as coleções não caseosas com agregados centrais de histi-
Doenças inflamatórias e desmielinizantes 439

ócitos epitelioides com células gigantes multinucleadas, a 75% dos pacientes. O envolvimento de praticamente
juntamente com um número variável de linfócitos e plas- qualquer nervo craniano Já foi relatado. O achado mais
mócitos de aspecto benigno (Fig. 15-39). Não existe evi freqüente é de paralisia do nervo facial. O nervo óptico é o
dência histológica ou imuno-histoquímica de infecçào ou segundo nervo mais afetado, causando defeitos no campo
neoplasia. visual, visão borrada e edema da papila do nervo óptico.
Sintomas não específicos da NSar incluem cefaieia,
Aspectos clínicos fadiga, convulsões, encefalopatia, déflcits cognitivos e
Epioemioldgia e demografia. NSar tem uma distribuição etá distúrbios psiquiátricos. Sintomas de disfunção hipotalâ-
ria bimodal. O maior pico ocorre durante 30 a 40 anos, mica/hipofisária como diabetes insípido ou pan-hipopitui-
com um segundo pico menor - especialmente mulheres tarismo são vistos em 10 a 15% dos casos.
- acima dos 50 anos. Existe pequena predominância no
História natural. O curso da NSar é variável. A doença
sexo feminino.
pode ser relativamente assintomática e clinicamente indo-
A sarcoidose é uma doença de distribuição mundial, lor. Cerca de dois terços dos pacientes apresentam doença
embora a prevalência varie com a geografia e a etnia. Ne monofásica autolimitada. Um terço segue curso crônico
gros e brancos com origem norte-europeia apresentam a de surto-remissão com novos sintomas, sugerindo desen
maior incidência de doença. Nos EUA, o risco de um ne volvimento de granulomas adicionais.
gro desenvolver a doença ao longo da vida é o triplo de
Opções de tratamento. Como não existe cura conhecida
um branco.
para a NSar, o tratamento é sintomático. A maioria dos
Apresentação. Os sintomas variam conforme a localização. pacientes com NSar responde ao tratamento com corticos-
A apresentação mais comum da NSar é de déficit isola teoides. Alguns são refratários ao tratamento com corti-
do ou múltiplos déflcits de nervos cranianos, visto em 50 costeroides e aos agentes imunossupressores.

15-40A Imagem ponderada


em TI pós-contrasie axial em um
paciente com neurossarcoidose
mostra espessamento nodular e
linear na superfície piai do bulbo
ES. no quarto ventrículo B e
nos NCs IX-XI S.
15-40B Imagem ponderada
em TI pós-conlraste axial no
mesmo paciente mostra que
o mesencéfalo é quase todo
coberto com depósitos sarcoi-
des nodulares B. Observe o
# espessamento do infundibulo
hipofisário E3.

15-41A Imagem ponderada


em TI pós-contraste em outro
caso de neurossarcoidose mostra
realce leptomeníngeo mais sutil
na superfície da medula e das
tonsílas E3 cerebelares além de
infiltração dos NCs IX a XI B.
15-41B Imagem ponderada
em TI pós-contraste no mesmo
caso demonstra realce linear
ao longo da superfície da ponte
B bem como realce linear e
nodular mais evidente nos sul
cos do verme cerebelar B. O
achado de imagem mais comum
na neurossarcoidose é o realce
leptomeníngeo.
440 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

Imagem os podem aparecer apagados. Massas com base durai lem


bram meningiomas, e algumas grandes lesões apresentam
Características gerais. A sarcoidose sistêmica apresenta
uma fenda de LCS e vasos com o cérebro. Mais freqüen
manifestações variadas e é um dos grandes mimetizadores
de outras doenças. A NSar nào é diferente e os achados temente, entretanto, o espaço subaracnoide é preenchido e
a margem entre a lesão da sarcoidose e o cérebro toma-se
podem variar. Características especificas de imagem sào
descritas abaixo e resumidas de acordo com a freqüência indistinta.

no quadro, ao final da seção. A intensidade de sinal em T2 depende da quantidade


de material fibrocolagenoso presente. As lesões durais de
Achados de TC. Dependendo da quantidade de fibrose, as
longa data são relativamente hipointensas. Infiltração do
lesões da NSar podem apresentar-se levemente hiperden-
parênquima ao longo dos espaços perivasculares causam
sas em relação ao parênquima cerebral na TC. Doença uma reação semelhante às vasculites com edema, efeito
leptomeníngea pode sofrer realce na TC pós-contraste, expansivo e hiperintensidade em T2/FLAIR.
lembrando tuberculose ou meningite. Massas com base O achado mais comum nas imagens ponderadas em
durai são hiperdensas e apresentam realce forte e unifor TI pós-contraste é o espessamento leptomeníngeo difuso
me na TC pós-contraste. ou nodular, visto entre um terço e metade dos casos (Figs.
Envolvimento da calvária e base do crânio pela sar 15-40 e 15-41).
coidose é incomum. Lesões bem circunscritas em saca-
Metade dos pacientes com NSar desenvolve doença
-bocado com margens sem esclerose podem ser vistas na
parenquimatosa (Figs. 15-42 e 15-43). Espessamento hi-
TC com filtro óssea.
potalâmico e infundibular com intenso realce é visto em
Achados de RM. As lesões da NSar são isointensas ao cé 5 a 10% dos casos. Massas com realce multifocal nodular
rebro e hiperintensas ao LCS nas imagens ponderadas em ou infiltrados perivasculares mais difusos podem se desen
TI. Os sulcos preenchidos com infiltrados leptomenínge- volver (Fig. 15-44). Massas solitárias parenquimalosas ou

15-42A Imagem ponderada


em 12 axial em paciente femi
nina de A4 anos com cefaleia
de intensidade progressiva e
diplopia demonstra extenso ede
ma ES no lobo temporal que
encontra-se aumentado e com
sinais Iniciais de herniaçáo uncal
EB. Espessamento durai hilpoin- T
tenso é evidenciado ao logo da
superfície cerebral na fossa cra
líJ <\./
niana média B.
15-42B imagem ponderada
em TI pós-contraste mostra im
portante espessamento e realce
da dura-aracnoide Observe
o envolvimento dos sulcos ad
jacentes ES com algum realce
parenquimatoso BB.

15-42C Imagem ponderada


em TI pós-contraste evidencia
espessamento piai B. Es
pessamento extenso da dura-
-aracnoide 51 é evidente nesta
imagem, tanto quanto o realce
do parênquima cerebral adjacen
te E2. a biópsia demonstrou
comprometimento cerebral pela
neurossarcoidose.
15-43 Fotomicrografia de
outro caso demonstra infiltração
piai extensa S! por granulomas
sarcoides não caseosos. Observe
a extensão através dos espaços
perivasculares para o interior do
parênquima cerebral ÍS. (Corte
sia de S. Aydin, MD.)
Doenças inflamatórias e desmielinizantes 441

15-44 Série de imagens ponderadas em Ti pós-contrasle mostra 15-45 NSar com espessamento hipoinlenso da dura-aracnoide na
envolvimento do infundíbuio ES, piexo coroide ES, epêndima B e imagem ponderada em T2 SI e realce forte e uniforme ES. Exten
meninges S] pela NS. são parenquimatosa pelos espaços perivascuiares causa edema BI e
realce Si.

com base durai são menos comuns (Figs. 15-44 e 15-45). Diagnóstico diferencial
Em casos raros, granulomas coalescentes formam uma le o diagnóstico diferencial da NSar depende da localização
são focai expansiva (NSar"tumefaciente") (Fig. 15-46). da lesão. A meningite - especialmente a tuberculosa -
Outra manifestação da NSar é o espessamento soli
pode parecer muito com o comprometimento das cisternas
tário ou multifocal com realce de nervos cranianos (Figs. da base pela NSar. A meningite carcinomatosa também
15-47 e 15-48), além de lesões com realce nos ventrículos
pode lembrar a NSar.
e plexos coroides (Fig. 15-44). O diagnóstico diferencial de NSar com base durai in
clui meningioma, linfoma e pseudotumor infiamatório
idíopático, enquanto NSar com envolvimento hipotalâmi-
NEUROSSARCOIDOSE: IMAGEM co/infundibular/hipofisário pode lembrar hístíocitose ou
Mais comum hipofisite linfocitica.
• Realce leptomeníngeo linear/nodular NSar com lesões parenquimatosas coalescentes pode
o Predileção pelas cisternas da base simular linfoma primário do SNC ou metastases, en
• Lesões parenquimatosas com realce quanto lesões com realce multifocal podem lembrar es-
o Espessamento com realce do hipotálamo, hipófise e clerose múltipla, metastases e linfoma intravascular.
haste hipofisária O diagnóstico diferencial de envolvimento solitário ou
o Lesões inflltrativas perivascuiares multifocal de nervos cranianos é amplo e inclui infecção,
• Espessamento/realce de nervos cranianos
o Qualquernervo pode ser envolvido doença desmielinizante e neoplasia.
o Mais comum no nervo facial e nos nervos ópticos
Pseudotumores inflomatórios idiopáticos
Menos comum
• Massas solitárias ou mijltiplas com base durai Os pseudotumores inflamatórios idiopáticos (Pll) são le
o Podem ser difusas, em placa sões incomuns que podem ser quase iguais de neoplasias
o Lesões focais, pequenas "reais". Os Plls são agregados celulares não neoplásicos
• Hiperintensidades em T2/FLAIR focais/difusas benignos, também conhecidos como paquimeningite hi-
• Hidrocefalia pertrófica idiopática, granuloma de plasmócitos e tumor
miofibroblástico infiamatório.
Raro, mas importante
• Lesões parenquimatosas "tumefacientes" Os Plls foram descritos em praticamente todos siste
• Lesões de aspecto expansivo nos plexos coroides mas do corpo. Eles podem afetar qualquer parte do SNC,
porém, em geral, são lesões com base meníngea isoladas
442 Infecção, inflamação e doenças desmielinlzantes

15-46A Séries de imagens


que mostram neurossarcoidose
"lumefaciente" diagnosticada
em estudos de imagem pré-ope-
ralórios como neoplasia. Imagem
ponderada em T1 axial em um
homem de 45 anos com síncope,
tontura, convulsões e dificuldade
de longa data na memória de
curto prazo nâo demonstra anor
malidade significativa.
15-468 Imagem ponderada
em T2 do mesmo paciente de
monstra uma lesão infiltrativa
hiperintensa no lobo temporal
direito E9.

15-46C FLAIR no mesmo


paciente mostra que a lesão ES
envolve a maior parte do uncus
e circunda o corno temporal do
ventrículo lateral.
15-46D Imagem ponderada
em TI pós-contraste demonstra
realce leve a moderado e irregu
lar da lesão B. Observe que a
haste hipoíisária ES tem aspec
to normal e não existe evidência
de realce ou efeito expansivo em
nenhuma outra topografia.

15-46E Imagem ponderada


em TI pós-contraste mostra o as
pecto infíltrativo da lesão ES.
15-46F Fotomicrografia em
baixa ampliação corada com H&E
do espécime ressecado mostra
infiltração parenquimatosa
extensa por granulomas não
caseosos. Diagnóstico histológico
isolado de neurossarcoidose.

\
Doenças inflamatórias e desmielinizantes 443

ou invasivas. Espessamento focai ou de aspecto expansi crônica (PDCI), é caracterizada por episódios repetidos
vo da dura-aracnoide é o achado de imagem típico. de desmielinização e remielinização com hipertrofia em
O diagnóstico diferencial da PII não invasiva inclui "bulbo de cebola" dos nervos afetados.
meningioma em placa e causas benignas não neoplásicas A PDCI é caracterizada por envolvimento crônico
de espessamento da dura-aracnoide. Neurossarcoidosc. progressivo ou recorrente simétrico sensitivo e motor.
hípotensão intracraniana, cirurgia previa, trombose Clinicamente, no início, a doença é diagnosticada como
de seio durai, hematoma subdural crônico e resíduos síndrome de Guiliain-Barré, encefalite de Bickerstaff ou
de meningite crônica estão entre as principais entidades esclerose múltipla.
que causam esse aspecto não específico nos estudos de Espessamento difuso com importante hiperintensida-
imagem. de em T2/ST1R e realce leve a moderado de um ou mais
Os PIls invasivos comportam-se agressivamente e nervos cranianos é a manifestação típica de imagem da
podem simular neoplasia maligna ou infecção fúngíca. PDCI (Fig. 15-49). Focos de desmielinização parenqui-
O diagnóstico definitivo requer biópsia, visto que não matosa consistente com EM são comuns, mas nem sem
existem características de imagem patognomônicas. Os
pre presentes.
PIls são discutidos com detalhe e extensivamente ilustra
O diagnóstico diferencial de imagem da PDCI inclui
dos no Capítulo 26. neurossarcoidosc e infiltração de nervos cranianos se
cundário a linfoma ou metastases. Esclerose múltipla,
Polineuropatia desmielinizante doença de Lyme e encefalomiclite disseminada aguda
inflomatória crônica podem causar realce de nervo craniano, mas não causam
Um tipo raro de doença desmielinizante autoimune lo importante aumento simétrico do nervo, característico da
calizada, polineuropatia desmielinizante ínflamatória PDCI.

15-47A Homem de 50 anos com


hipoestesía no território do NC à
direita, cefaíeia e diplopia. Níveis
sérios da enzima conversora de
angiotensina (ECA) eram elevados.
Imagem ponderada em T2 axial
mostra que o NC V se apresenta
moderadamente espessado ES.
15-47B Imagem ponderada em
TI pós-contraste mostra que o NC V
sofre realce desde a emergência da
raiz B até o cavo de Meckel B.
O NC V esquerdo também apre
senta leve realce B. O paciente
iniciou tratamento com esteroides;
seis meses após, os nervos esta
vam normais. Diagnóstico presun-
tivo de neurossarcoidose. (Cortesia
de P. Hildenbrand, MD.)
444 Infecção, inflamação e doenças desmielinizantes

15-49A Polineufopatia des-


mielinizante inflamaiória crônica
(PDIC) em uma mulher de 23
anos com disfunção do nervo
líigémeo bilateralmente mos
tra espessamento fusiforme e
V ^
importante hiperintensidade de 7T i
sinal de ambos NCs V B nesta
imagem ponderada em T2 com
saturação de gordura.
15-49B Imagem através do
mesencéfalo e órbitas superiores
no mesmo paciente mostra os r
■ .
4
- v,
nervos oítálmicos marcadamente
hiperintensos e espessados B.

> f'
r .

15-49C 5TIR coronal no mes

■-ri
mo paciente mostra aumento
fusiforme de ambos os nervos
mandibulares desde o cavo de
Meckel até a face B.
15-49D STIR coronal através
das órbitas mostra aumento ma
ciço e assimétrico com alto sinal
dos nervos oftálmicos B.

: •

15-49E Imagem ponderada


em 11 pós-contraste com satura
ção de gordura no plano coronal
mostra moderado realce dos ner
vos trigêmeos espessados B. y -
15-49F Imagem pondera
da em 11 pós-contraste com
saturação de gordura no plano
coronal demonstra realce leve
a moderado de ambas as divi
sões oftãlmicas do NC V B. O
paciente foi diagnosticado com
EM, mas nenhuma lesão cerebral
foi identificada. PDIC do SNC foi
confirmada na biópsia.
Doenças inílamatórias e desmielinizantes 445

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Neoplasias, cistos e
esões pseudotumorais
16
Introdução a neoplasias, cistos
-3 n '

e lesões pseudotumorais
tumorais e quatro novas variantes. Todas estão incluídas
Classificação e graduação das neoplasias neste texto. Além disso, incluímos e discutimos breve
do sistema nervoso central 449
mente as neoplasias descritas desde 2007 (p. ex., blastoma
Considerações gerais 450
Tumores do tecido neuroepitelial 451 de hipófise e o tumor embrionário com neurópilo abun
Tumores menfngeos 454 dante e rosetas verdadeiras [TENARV]).
Tumores dos nervos cranianos (e espinais) 454
Línfomas e tumores hematopoiéticos 455
Tumores de células germinativas 456
Tumores da região selar 456
Tumores metastáticos 457
Classificação e graduação das neoplasias
do sistema nervoso central
Cistos intracranianos 457
Cistos extra-axiais 457 Os tumores cerebrais podem ser classificados e gradua
Cistos inlra-axiais (parenquimatosos) 457 dos. As classificações tradicionalmente tentam alocar as
Cistos intraventriculares 457
neoplasias do sistema nervoso central (SNC) em catego
rias distintas com base nas similaridades hislológicas en
A classificação mais aceita das neoplasias cerebrais é pa tre as células tumorais e os constituintes normais ou em-
trocinada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). briológicos do sistema nervoso. A primeira classificação
Desde 1986. um grupo de neuropatoiogistas reconhecidos amplamente aceita de tumores cerebrais foi formulada por
mundialmente tem sido convocado a cada sete anos para Bailey e Gushing, em 1926. A maioria dos sistemas sub
uma conferência de atualização editorial e de consenso sequentes - incluindo o sistema da OMS - são modifica
sobre a classificação e graduação dos tumores cerebrais. ções dessa classificação.
Os resultados são publicados como a Classificação de Tu As classificações formam a base lógica para a abor
mores do Sistema Nen'oso Central da OMS. dagem das neoplasias do SNC, apesar de suas deficiências
A edição mais recente - a quarta - foi publicada em e inconsistências. As classificações baseadas estritamente
2007 e é a versão utilizada neste texto (a quinta edição em critérios histológicos estão evoluindo de forma gra
não está programada para publicação até 2014). Entre as dual para uma combinação de características genéticas e
edições, atualizações são publicadas na Brain Pathology, moleculares. Se a "assinatura" de um tumor já foi identifi
a revista oficial da Sociedade Internacional de Neuropa cada. é referenciada neste texto.

toiogistas. A graduação histológica é um meio de predizer o


Cada edição da classificação da OMS tem adicionado comportamento biológico dos tumores e é um importante
importantes novas entidades e redefinido ou esclarecido guia para as decisões terapêuticas. Embora muitos dife
as já existentes. O conhecido tumor neuroepitelial disem- rentes esquemas de graduação tenham sido propostos, o
brioplásico (DNET) foi codificado na edição de 1993. sistema da OMS é o mais aceito e utilizado. A maioria dos
Dois novos tumores - o glioma coroide do terceiro ventrí- tumores recebeu graduações da OMS e códigos da Classi
culo e o tumor teratoide/rabdoide atípico - foram adicio ficação Internacional das Doenças Oncológicas (CID-0),
nados em 2000. porém um número de outros tumores - em especial aque
A edição atual introduziu as mais extensas modifi les recentemente definidos - permanecem sem graduação
cações até o momento, adicionando oito novas entidades ou receberam apenas códigos provisórios.
450 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Tabela 16-1 Tumores do tecido neuroepitelial

Neoplasia Neoplasia

A S T R O C I TA R I O S OUTROS NEUROEPITELIAIS

Astrocitoma piíocítico Astroblasloma N/A

Astrocitoma pilomixoíde Glioma cordoide do terceiro ventrículo

Astrocitoma subependimário de células gigantes Glioma angiocéntrico (ANET)

Xantoastrocitoma pleomórfico

Astrocitoma difuso NEUR0NA15 E GLIONEURONAIS MISTOS

Astrocitoma anapiásico Gangliocitoma

Glioblastoma multiforme Ganglíoglioma

Gliossarcoma GDI/AID

Gliomatose cerebral DNET

Neurocitoma central

OLIGODENDROGLIAIS Neurociloma extraventricular

Oligodendroglioma Liponeurocitoma cerebelar

Oligodendroglioma anapiásico Paraganglioma (medula)

Olígoastrocitoma Tumor glloneural papilar

Tumor glioneuronal formador de rosetas

EPENOIMÁRIOS

Subependimoma REGIÃO DA PINEAL

Ependimoma mixopapilar Pineociloma

Ependimoma TPPDI

Ependimoma anapiásico Pineoblastoma

TPRP

PLEXO COROIDE

Papíloma de plexo coroide EMBRIONÁRIO

Papiloma de plexo coroide atípico Meduloblastoma

Carcinoma de plexo coroide PNET

AT/RT

A T/Rl, tumof teratoide/fabdoide aiipico; GlO/AiD, gonglioglioma ou astrocUomo infantil desmoplósico; DNET, tumor neuroepUeiial disembrioplásico; N/A, tumor
do sistema nervoso central com classificação não atribuída pela Orgonizaçõo Mundial da Saúde; PNET, tumor neuroectodérmico primitivo; TPPOl, tumor do parén-
quima pineal com diferenciação intermediário; TPRP, tumor papilar da região da pineal. (Adaptada de Louis ON el al: World Health Organization Classification of
Tumours of the Central Nervous System, 'llh ed. Lyon, France; lARC Press, 2007.)

Considerações gerais res dos nervos cranianos e espinais, bem como os linfo-
As neoplasias do SNC são divididas em tumores primá mas e as neoplasias hematopoiéticas, são grupos menos
rios e metastáticos, cada um representando cerca de meta comuns, porém importantes.
de de todos os tumores cerebrais. As neoplasias primárias Neste texto, agruparemos duas categorias de neopla
são divididas em seis categorias principais. De longe, a sias primárias do SNC pela localização. Assim, os tumores
maior delas é a dos "tumores do tecido neuroepitelial" da região da pineal e os tumores de células germinativas
(Tab. 16-1), seguida pelos tumores meníngeos. Os tumo (os quais são principalmente, porém não exclusivamen-
Introdução a neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais 451

16-1 Os constituintes celulares do neurópilo incluem os astrócitos, oli- 16-2 Os astrocitomas formam o maior grupo de tumores primários do
godendrócitos, neurônios, microglia, plexo coroide e células ependimá- cérebro. Mais da metade são astrocitoma anaplásicos (AA) (grau li! da
rtas. Acreditava-se que cada tipo celular sofria transformação maligna, Organização Mundial da Saúde [OMS]) e glioblastoma multiforme (GBM)
originando uma neoplasia correspondente. (grau IV da OMS). Os astrocitomas (grau II) e os astrocitomas pilocíticos
(AP) representam cerca de um terço de todos os casos.

te, encontrados na região da pineal), são considerados em Origem dos tumores neuroepiteliais
conjunto. Os tumores da região selar são, da mesma for o neurópilo contém vários subtipos de células gliais; as
ma, discutidos como um grupo. trócitos, oligodendrócitos, células ependimárias e células
A classificação atual da OMS também inclui síndro-
ependimárias modificadas que formam o plexo coroide.
mes tumorals familiais como a neurofíbromatose tipos 1 e No passado, acreditava-se que cada subtipo dava origem a
2, complexo da esclerose tuberosa, doença de von Hippel- um tipo específico de "glioma". Nessa visão bastante sim
-Lindau e Li-Fraumeni. Abordaremos cada um na liltima
plista, os astrócitos anormais eram considerados a origem
parte deste texto, juntamente com as malformações con dos astrocitomas, os oligodendrogliomas se originavam
gênitas, dos oligodendrócitos, e etc. (Fig. 16-1).
Uma mudança de paradigma no nosso entendimen
Tumores do tecido neuroepitelial to das origens dos cânceres ocorreu nos últimos anos.
Os tumores do tecido neuroepitelial são uma enorme cate Acredita-se que muitas - se não a maioria - das neopla
goria e, portanto, são divididos em vários subtipos distin sias primárias do parênquima cerebral originam-se de cé-
tos de tumores, cada um correspondente a um componente lulas-tronco neurais (CTN) pluripotenciais. Essas CTNs
específico do neurópilo. Os constituintes do neurópilo são persistem em duas áreas do cérebro pós-natal: a zona
os neurônios e as células gliais, com as últimas estando subventricular - região localizada sob o epêndima dos
em número muito maior do que os primeiros. ventrículos cerebrais — e o giro denteado do hipocampo
As neoplasias gliais constituem um dos grupos mais (Fig. 16-3).
heterogêneos de tumores cerebrais. Tumores com ori A neurogênese e a gliogênese normais continuam ao
gem de células gliais foram originalmente chamados de longo da vida. As CTNs do cérebro possuem alta taxa de
"gliomas" (devido à suposta derivação a partir das célu proliferação e, portanto, são propensas ao surgimento de
las gliais glue-like). O termo atual mais acurado é tumor erros genéticos. Quando essas células-tronco cerebrais so
"neuroepitelial" ou "neuroectodérmico", refletindo a ori frem mutação, elas se tomam células progenitoras tumo
gem a partir das células precursoras do sistema nervoso. rals (células-tronco tumorals) que podem gerar neoplasias
Começaremos nossa discussão sobre os tumores fenotipicamente diversas.
neuroepiteliais com uma revisão geral da gênese tumo As células-tronco tumorals possuem a capacidade
ral, fazendo em seguida breves considerações a respeito de proliferação contínua e autorrenovação. Elas são ine
de cada subgrupo principal de tumor, começando com os rentemente resistentes a drogas e a toxinas, o que pode
astrocitomas. explicar a baixa resposta que muitos tumores cerebrais
452 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

16-3A Ilustração sagital retrata as células-tronco neurais em amarelo. 16-3B ilustração coronal demonstra as células-tronco neurais nas zo-
demonstradas originando-se da zona subventricular sob o epêndima dos nas subventriculares de ambos os ventrícuios laterais,
veniriculos laterais.

malignos apresentam às terapias oncológicas convencio Astrocltomas


nais e não específicas (i.e., radiolerapia e quimioterapia).
Há muitos tipos e subtipos histològicos de astrocitomas.
Estudos recentes mostram que outros fatores também
Os astrocitomas podem ser localizados (e em geral se
podem contribuir para o desenvolvimento de tumores
comportarem de modo mais benigno) ou difusamente
neuroepiteliais. O microambiente estronial do cérebro
influencia a formação e o crescimento tumoral por meio infiltrativos, com uma tendência inerente à degeneração
de interações célula-célula e célula-matriz. maligna.
Os tumores astrociticos mais localizados são menos
As vias moleculares responsáveis pela proliferação,
comuns do que os astrocitomas difusamente infiltrativos
invasão, angiogênese e transformação anaplásica dos tu
mores também parecem contribuir. A identificação dessas (Fig. 16-2). Dois dos tumores localizados, o astrocitoma-
vias fornece importantes fatores prognósticos e preditivos pilocítico (AP) e o astrocitoma subependimário de células
para guiar o tratamento. Por exemplo, fatores pró-angio- gigantes (ASCG), são designados neoplasias de grau I da
OMS. Nenhum deles apresenta tendência à progressão
gênicos, como o fator de crescimento do endotélio vascu
lar (VEGF) e o estado de mctilação do gene promotor da maligna, embora uma variante do AP, o astrocitoma pi-
metilguanina-metiltransferase (MGMT), estão se tornan lomixoide, possa se comportar de forma mais agressiva.
do determinantes progressivamente importantes no trata Os astrocitomas mais comuns são neoplasias difusa
mento dos glioblastomas. mente infiltrativas nas quais não há bordas discerniveis
Os mecanismos "epigenéticos" envolvem alterações entre o tumor e o tecido cerebral normal (embora o tumor
hereditárias na expressão gênica que não são acompanha possa parecer delimitado nos exames de imagem). O grau
das de alterações na seqüência do DNA. Por exemplo, mi- mais baixo de astrocitoma infiltrativo difuso é chamado
croRNAs são importantes reguladores do crescimento e de "astrocitoma difuso", c é designado grau II da OMS. O
da diferenciação no desenvolvimento. Assinaturas de ex astrocitoma anaplásico (AA) é grau 111, e o glioblastoma
pressão de microRNA geneticamente distintas, lembrando multiforme (GBM) é uma neoplasia de grau IV. Todos os
as da glia radial, precursores oligoneuronais, precursores astrocitomas difusamente infiltrativos possuem uma ten
neuronals, precursores do neuroepitélio/crista neural e dência inerente à progressão maligna. Note que mio exis
precursores astrocitários, podem desempenhar um papel- tem astrocitomas difusamente infiltrativos de grau /.
-chave na oncogênese quando alterados. A idade do paciente possui um efeito significativo
No futuro, os tumores poderão ser classificados de no tipo e na localização da neoplasia (Figs. 16-4 e 16-5).
acordo com os seus perfis moleculares e assinaturas gené Isso é verdadeiro para os astrocitomas. Os astrocitomas
ticas. Entretanto - ao menos neste momento - os tumores em adultos tendem a ser malignos (p. ex., AA, GBM) e
neuroepiteliais mantêm sua tradicional classificação his- a afetar os hemisférios cerebrais. Por outro lado, APs são
lológica, conforme discutido abaixo. tumores de crianças e adultos jovens. Eles são comuns no
Introdução a neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais 453

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Metástases Neoplasias Meníngeos Astrocitomas LJ)"utros primários
primárias
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16-4 Gráfico demonstrando a prevalência relativa dos tumores cere 16-5 Gráfico demonstrando a prevalência relativa de tumores cere
brais em adultos. Praticamente metade são metástases de neoplasias brais em crianças. Metástases, astrocitoma anaplásico (AA) e glioblasto
sistêmicas; a outra metade são neoplasias primárias. ma multiforme (GBM) são raros. Astrocitoma pilocítico e tumor neuroec-
todérmico primitivo (PNET) são mais comuns em comparação a adultos.

cerebelo e nas circunjacências do terceiro vcnlriculo. po 11 da OMS que pode se originar em qualquer local do siste
rém raramente ocorrem nos hemisférios. ma ventricular e no canal central da medula. Ependimomas
infratentoriais, em geral, surgindo no interior do quarto ven
Neoplasias glials nâo astrocíticas trículo, ocorrem de forma mais predominante em crianças.
Oligodendrogliomas, ependimomas, neoplasias gliais his- Ependimomas supratentoriais são mais comuns nos hemis
férios cerebrais do que nos ventrículos laterais, e costumam
tologicamente mistas (mais comumente oligodendroglio
ma misturado à astrocitoma) e tumores de plexo coroide ser tumores de crianças jovens. Ependimomas anaplásicos
sào todos considerados neoplasias gliais não astrocíticas. sào biologicamente mais agressivos, possuem pior prognós
tico e são designados neoplasias grau III da OMS.
Tumores oligooendrogiiais. Os tumores oligodendrogliais Cada um desses ependimomas. embora histologica-
variam de neoplasias de grau 1! da OMS difusamente in- mente similares, é diferente em seu desenvolvimento e em
nitrativas, porém relativamente bem diferenciadas (oligo suas alterações moleculares, possuindo mutações genéti
dendrogliomas), a oligodendrogliomas anaplásicos (grau cas específicas identificáveis.
III). Oligodendrogliomas podem estar misturados com
Tumores de plexo coroide. Os tumores de plexo coroide são
elementos astrocíticos ou de outra natureza. Os gliomas
mistos são graduados de acordo com o elemento mais neoplasias papilares intraventriculares derivadas das célu
las epiteliais dos plexos coroides. Quase 80% dos tumores
anaplásico. o qual é geralmente o componente astrocítico.
de plexo coroide são encontrados em crianças e são um
Para determinação do tratamento, entretanto, o perfil
dos tumores cerebrais mais comuns na faixa etária inferior
molecular (deleção do Ip, I9q) é mais importante do que
a 3 anos.
as características histológicas do oligodendroglioma.
Os tumores de plexo coroide foram divididos em
Tumores epenoimários. Os tumores variam entre os graus papilomas de plexo coroide (PPC), os quais são tumores
I a 111 da OMS. O subependimoma, uma neoplasia de grau 1. e carcinomas de plexo coroide (CaPC), designados
comportamento benigno de adultos de meia-idade e mais grau II da OMS. Os PPCs são 5 a 10 vezes mais comuns
velhos que ocorre nos cornos frontais dos ventrículos late do que os CaPCs. Ambos podem disseminar difusamen
rais e no quarto ventrículo, é um tumor de grau 1 da OMS. te através do líquido cerebrospinal (LCS), portanto todo
O ependimoma mixopapilar, um tumor de adultos jovens o neuroeixo deve ser investigado antes da intervenção
e de meia-idade que é quase exclusivamente encontrado cirúrgica.
no cone medular, na cauda equina e no filum terminal da A classificação de 2007 da OM S reconheceu um novo
medula, também é grau I. grau intermediário de tumor de plexo coroide. Esses tu
O ependimoma, em geral um tumor de crescimento len mores foram designados "papilomas atípicos de plexo
to de crianças e de adultos Jovens, é uma neoplasia de grau coroide" (PAPC), e são considerados neoplasias grau II.
454 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Outros tumores neuroepiteliais. Neoplasias neuroepiteliais teliais (i.e., tumores que não são meningiomas). Heman-
raras incluem astroblastoma, glioma coroide do terceiro giopericitomas, hemangioblastomas e lesões melanocíti-
ventrículo e o glioma angiocêntrico. cas também são considerados parte do grupo de tumores
meníngeos (Tab. 16-2).
Tumores neuronals e giioneuronais mistos
Os tumores neuroepiteliais com células gangliônicas. neu- Meningiomas
rócitos diferenciados ou células neuroblásticas pouco di Os meningiomas surgem das células meningoteliais (arac-
ferenciadas são característicos desse grupo heterogêneo. noides). A maioria está na dura, porém podem ocorrer em
As neoplasias de células gangliônicas (gangliocito- outras localizações (p. ex., plexo coroide dos ventrículos
ma, ganglioglioma), ganglioglioma ou astrocitoma infantil laterais).
desmoplásico (GID/AID). neurocitoma (central e a varian Embora os meningiomas possuam muitos subtipos
te extravcntricular recentemente descrita), tumor neurocpi- histològicos (p. ex., meningotelial, fíbroso, psamomato-
telial disembrioplásico, tumor glioneuronal papilar. tumor so), cada um com um código CID-0 diferente, o esquema
glioneuronal formador de rosetas (do quarto ventrículo) e atual da OMS classifica-os de modo bastante simples. A
o liponeuroblastoma cerebelar estão incluídos. maioria dos subtipos de meningioma é benigna, possui
uin baixo índice de recorrência e/ou crescimento agressi
Tumores da região da pineal vo, e são agrupados em conjunto como neoplasias grau I.
As neoplasias da região da pineal representam menos de Os meningiomas atípicos, bem como as variantes cor-
1% de todas as neoplasias intracranianas e podem ser tu doide e de células claras, são tumores de grau II da OMS.
mores de células germinativas ou do parênquima da pi Os meningiomas anaplásicos (malignos), incluindo os ti
neal. Os tumores parenquimatosos da pineal são menos pos papilar e rabdoide, correspondem a grau III.
comuns do que os tumores de células germinativas. As Tanto os meningiomas de grau II quanto os de grau
neoplasias de células germinativas ocorrem em outros lo 111 possuem maior probabilidade de recorrência e/ou com
cais intracranianos, porém são abordadas juntamente com portamento agressivo. A classificação da OMS também
as neoplasias parenquimatosas da pineal. nota que meningiomas de qualquer subtipo com um alto
O pineocitoma é um tumor parenquimatoso da pineal, índice proliferative e/ou invasão cerebral possuem uma
bem delimitado e de crescimento muito lento, geralmente maior probabilidade de comportamento agressivo.
encontrado em adultos. Os pineocitomas são neoplasias
grau I da OMS. O pineoblastoma é um tumor embrionário
Tumores mesenquimais não meningoteliais
primitivo altamente maligno mais encontrado em crianças. Tumores mesenquimais não meningoteliais tanto be
Muito agressivos e associados à disseminação liquórica pre nignos quanto malignos podem se originar no SNC. A
coce, os pineoblastomas são neoplasias grau IV da OMS. maioria corresponde a tumores de partes moles ou osso.
Um tumor recentemente descrito, o tumor do parên Geralmente, podem ocorrer tanto tipos benignos quanto
quima pineal com diferenciação intermediária (TPPDl). malignos (sarcomatosos). Lipomas e lipossarcomas, con-
é intermediário em malignidade e foi adicionado à clas dromas e condrossarcomas, osteomas e osteossarcomas
sificação da OMS. Os TPPDIs são neoplasias de grau II são exemplos.
ou III da OMS. Muitos pineocitomas "agressivos" prova O hemangiopericitoma (HPC) é um tumor altamente
velmente seriam os reclassificados como TPPDIs de acor celular e muito vascular que quase sempre está junto à
do com os novos critérios. Outra neoplasia recentemente dura. ITPCs são neoplasias grau II ou III da OMS.
descrita, o tumor papilar da região da pineal (TPRP), é um O hcmangioblastoma (HB) é uma neoplasia grau 1,
raro tumor neuroepitelial de adultos. Nenhuma graduação constituída de células estromais e inúmeros vasos sangüí
formal da OMS foi ainda designada, porém os TPRPs são neos pequenos. Ele ocorre esporadicamente e como parte
classificados de forma provisória como neoplasias grau II da síndrome de Von Hippel-Lindau (SvHL).
ou III da OMS. As neoplasias melanocíticas primárias do SNC são
raras. Elas surgem de melanócitos leptomeníngeos e po
Tu m o r e s e m b r i o n á r i o s dem ser difusas ou circunscritas, benignas ou malignas.
O grupo de tumores embrionários inclui o meduloblasto-
ma, os tumores neuroectodérmicos primitivos (PNET) e Tumores dos nervos cranianos (e espinais)
os tumores teratoides/rabdoides atípicos (AT/RTs). Todos Schwannoma
são tumores altamente malignos e invasivos, de grau IV Os schwannomas são tumores benignos e encapsulados da
da OMS e mais comuns em crianças jovens. bainha nervosa constituídos de células de Schwann bem
diferenciadas. Eles podem ser solitários ou múltiplos.
Tumores meníngeos
Múltiplos schwannomas estão associados com neurofi-
Os tumores meníngeos são a segunda maior categoria bromatose tipo 2 (NF2) e schwannomatose, uma síndro
de neoplasias primárias do SNC. Eles são divididos cm me caracterizada por múltiplos schwannomas, porém sem
meningiomas e em tumores mesenquimais não meningo- as outras características da NF2.
Introdução a neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais 455

Tabela 16-2 Tumores meningeos

Neoplasia Neoplasia
MENINGOTELIAIS
ME5ENQUIMAIS NÃO MENINGOTELIAIS

Meningioma Lipoma

Meningioma atípico Lipossarcoma N/A

Meningioma anaplásico/maíigno Condroma I

Condfossarcoma N/A

OUTROS RELACIONADOS Osteoma N/A

Hemangioblastoma Osteossarcoma N/A

Osteocondroma N/A
MELANOCÍTICOS PRIMÁRIOS Hemangioma

Melanocitose difusa N/A Hemangiopericitoma

Melanocitoma N/A

Melanoma maligno N/A

Melanomalose meníngea N/A

N/A, tumor do sistema nervoso central com classificaçõo nâo atribuída pela Organização Mundial do Saúde. (Adaptada de Louis DN et al: World Health Organiza
tion Classification of Tumours of the Central Nervous System, -tth ed. lyon, France: (ARC Press, 2007.)

Schwannomas intracranianos estão quase sempre Linfoma primário do SNC


associados a nervos cranianos (o NC VIII é o mais co O linfoma primário do SNC (LPSNC) é considerado um
mum), porém às vezes ocorrem como lesões parenqui- linfoma maligno extranodal que se origina no SNC. O
matosas. Schwannomas não sofrem degeneração maligna LPSNC necessita ser distinguído do envolvimento secun
e, portanto, são designadas neoplasias de grau I da OMS dário por linfoma sistêmico extracraniano.
(Tab. 16-3). Embora o LPSNC ocorra tanto em pacientes imuno-
Neurofibroma competentes quanto em imunocomprometidos, o sucesso
da terapia antirretroviral nos pacientes com HIV/Aids e
Os neurofibromas (NF) são tumores extraneurais, difiisa- o aumento da sobrevida dos outros pacientes imunocom
mente infiltrativos, constituídos de células de Schwann e
prometidos aumentou drasticamente a sua prevalência. Os
fibrobiastos. Neurofibromas solitários do couro cabeludo, LPSNC atualmente representam cerca de 4% de todas as
mtáltiplos NFs ou NFs plexiformes ocorrem como parte da neoplasias intracranianas.
neurofibromatose tipo I. Os neurofibromas correspondem O LPSNC pode ocorrer tanto como tumor parenqui-
histologicamente ao grau I da OMS. Os neurofibromas matoso focai quanto intravascular, podendo ser único ou
plexiformes podem degenerar em tumores malignos das múltiplo e é mais observado nos hemisférios cerebrais.
bainhas nervosas periféricas (TMBNP). Os TMBNPs são Mais de 95% dos LPSNCs são linfomas difusos de gran
graduados em 1 a IV pela OMS, o mesmo sistema em três des células B.
níveis usado para os sarcomas de partes moles.
Leucemia
Linfomas e tumores hematopoiéticos A leucemia é a forma mais comum de câncer na infância.
O linfoma primário do SNC e os tumores histiocíticos são Antes incomum, a prevalência de acometimento do SNC
as duas tjnicas entidades da OMS incluídas nessa catego tem sido elevada, uma vez que os tratamentos mais efeti
ria. Para a nossa discussão, incluímos neoplasias como vos aumentaram a sobrevida.
leucemia e tumores de células plasmocitárias que refletem
envolvimento secundário por doença sistêmica. Também Tumores histiocíticos
são incluídos os distiirbios coirto granulomatose linfoma- Os tumores histiocíticos são um grupo heterogêneo de
toide, doença linfoproliferativa pós-transplante (DLPT) e tumores e lesões pseudotumorais pouco compreendidos.
massas histiociticas não neoplásicas pseudotumorais que Uma ampla variedade de proliferações histiociticas neo
podem acometer o SNC. plásicas e não neoplásicas caracteriza esses distúrbios.
456 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Tabela 16-3 Outros tumoíes

Neoplasia Grau Neoplasia Grau

TUMORES DE NERVOS CRANIANOS E ESPINAIS TUMORES DA REGIÃO SELAR

Schwannoma 1 Craniofaringioma 1

N e u r o fi b r o m a 1 Adamantinomatoso

TMBNP ll-IV Papilar

Tumor de células granulares da neuro-hipófise 1

TUMORES DE CÉLULAS GERMINATIVAS Pituicitoma 1

Germlnoma II Oncocitoma de células fusiformes da adeno-hipófise 1

Carcinoma embrionário N/A

Tumor de saco vitelínico N/A LINFOMA/HEMATOPOIÉTICO


Tumor misto de células germinativas N/A Linfoma maligno N/A

Te r a t o m a N/A Plamocitoma N/A

Te r a t o m a m a d u r o Leucemia/sarcoma granulocítico N/A

Te r a t o m a i m a t u r o

Teratoma com degeneraçào maligna

TMBNP, tumor maligno de bainha nervosa periférica; N/A, tumor do sistema nervoso central com classificação não atribufda pela Organização Mundial da Saú
de. (Adaptada de Louis ON et al: World Heallh Organization Classification of Tumours of tfie Central Nervous System. 4lh ed. Lyon, France; lARC Press, 2007.)

Algurrs possuem componamento relativamente benigno, A região selar contém muitas estruturas além do dueto
outros são potencialmente fatais. craniofaríngeo e a haste hipofísária que podem originar as
massas observadas nos exames de imagem. A mais comum
Tumores de células germinativas dessas massas - o adenoma de hipófise - não faz parte da
Os tumores de células germinativas (TCG) intracranianos classificação da OMS, porém é incluído aqui, assim como
são homólogos, morfológicos e imunofenotípicos de neo as variantes (como a hiperplasia da hipófise) e as massas
pseudotumorais não neoplásicas (p. ex., hipofisite e ha
plasias germinais que se originam nas gônadas e nos sítios
martoma hipotalâmico) que podem simular neoplasias.
extragonadais. Cerca de 80 a 90% ocorrem em adolescen
tes. A maioria se encontra na linha média (região da pineal Adenoma de hipófise
e circunjacente ao terceiro ventrículo).
Os adenomas de hipófise representam a maioria das mas
Os germinomas são os TCGs intracranianos mais
sas seiares/suprasselares em adultos. Eles são classifica
comuns. Os teratomas diferenciam-se nas linhagens ec-
dos pelo tamanho em microadenomas (< 10 mm) e macro-
todérmica. endodémiica e mesodérmica. Eles podem ser
adenomas (> 11 mm).
maduros, imaturos ou ocorrer como teratomas com trans
formação maligna. Outros TCGs incluem os tumores alta Craniofaringioma
mente agressivos de saco viielínico, carcinomas embrio
o craniofaringioma é uma neoplasia benigna (grau 1 da
nários e coriocarcinomas.
OMS) e com freqüência parcialmente cística, que é a neo
Os tumores de células germinativas são discutidos em
detalhes juntamente com os tumores da região da pineal. plasia intracraniana não neuroepitelial mais comum em
crianças. Ele apresenta uma distinta distribuição etária bi-
modal, sendo que o tipo adamantinomatoso cístico é mais
Tumores da região selar observado em crianças e com um pico menor em adultos
A região selar é uma das áreas anatomicamente mais de meia-idade. O tipo papilar, menos comum é em geral
complexas do cérebro. A classificação oficial da OMS so sólido e encontrado quase exclusivamente em adultos.
bre os tumores da região selar inclui o craniofaringioma
e tumores raros, como o tumor de células granulares da Outros tumores da região selar
neuro-hipófíse, pituicitoma e oncocitoma de células fusi- O tumor de células granulares da neuro-hipófise, tam
formes da adeno-hipófíse. bém chamado de coristoma, é um raro tumor de adul-
Introdução a neoplasias, cistos e lesões pseudotumoraís 457

tos que se origina no infundíbulo. Os pituicltomas sào ou infratentorial? (3) ele está na linha média ou fora da
neoplasias gliais de adultos que freqüentemente surgem linha média? (4) se o cisto é intra-axial, ele está no parên-
no interior do infundíbulo. O oncocitoma de células fu- quima cerebral ou no interior dos ventrículos?
siformes da adeno-hipófise é uma neoplasia oncocítica Enquanto muitos cistos podem ser encontrados em
não endócrina. Todos esses tumores raros são de grau I múltiplas localizações, cada tipo tem o seu local "pre
da OMS. O diagnóstico é, em geral, histológico, uma vez ferido" (i.e.. mais comum). As três principais localiza
que que a distinção entre cada um desses tumores e entre ções anatômicas são os espaços extra-axiais (incluindo
outros tumores de adultos, como o macroadenoma, pode o couro cabeludo e o crânio), o parênquima cerebral e os
ser problemática. ventrículos.

Tumores metastáticos Cistos extra-axiais


As neoplasias metastáticas representam quase metade de Este é o segundo maior grupo de cistos não neoplásicos.
todos os tumores do SNC. No Capítulo 27, discutiremos O capítulo sobre cistos não neoplásicos aborda-os pri
as "muitas faces" da doença metastática para o SNC, bem meiramente, começando pelo crânio e couro cabeludo,
como o intrigante tópico das síndromes paraneoplásicas. prosseguindo interiormente para a aracnoide. Os impor
As síndromes neurológicas paraneoplásicas (SNP) tantes. porém incomuns, "cistos associados a neoplasias",
são raras disfunções do sistema nervoso em pacientes com que são observados circunjacentes a tumores extra-axiais,
câncer que não são decorrentes de metástases ou efeitos como o macroadenoma, meningioma e schannoma vesti
locais de um tumor. SNPs clássicas com anticorpos "on- bular são. provavelmente, uma forma de cistos aracnoi-
coneurais" e várias encefalites paraneoplásicas recente des. Cistos epidermoides e dermoides também são incluí
mente descritas são incluídas no Capítulo 27. dos nessa discussão.

Cistos intra-axiais (parenquimatosos)


Os cistos parenquimatosos mais comuns são os espaços
Cistos Intracranianos perivasculares alargados e os remanescentes do sulco hi-
Os cistos são achados comuns nos exames de neuroima- pocampal, seguidos pelos cistos porencefálicos (encefalo-
gem e, para Uns de discussão, foram incluídos nesta parte clásticos). Os cistos neurogliais - cistos parenquimatosos
do texto. Embora nosso foco sejam as neoplasias, os cistos revestidos por cérebro gliótico não neoplásico - são rela
não neoplásicos do SNC algumas vezes podem ser con tivamente incomuns.

fundidos com tumores cerebrais "reais" e com freqüência


são considerados nos diagnósticos diferenciais de lesões Cistos intraventriculares
expansivas em localizações anatômicas específicas. Os cistos intraventriculares são menos comuns do que os
Deste modo. faremos uma abordagem aos cistos in cistos parenquimatosos. Os cistos intraventriculares mais
tracranianos baseada em características anatômicas e ra- comuns são os cistos do plexo coroide, os quais são quase
diológicas. Aqui a consideração-chave não é a hisiopato- sempre achados de forma incidental nos exames de ima
logia da parede do cisto (como nas neoplasias cerebrais), gem. Cistos coloides são o segundo tipo mais comum de
e sim a localização anatômica. cisto, porém é o mais importante a ser diagnosticado, uma
As quatro questões-chave anatômicas a serem realiza vez que podem repentina e inexplicavelmente obstruir o
das diante do diagnóstico de imagem de um cisto intracra forame de Monro. Pode ocorrer hidrocefalia obstrutiva
niano são: {1) o cisto é intra ou extra-axial? (2) ele é supra aguda e até óbito.
458 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

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17
Astrocitomas

número do que os neurônios). Anteriormente, assumiu-


Tumores astrocíticos localizados 461
-se que astrócitos poderiam sofrer tanto hiperplasia ("as-
Astrocitoma pilocítico 462
Astrocitoma pilomixoide 467 trocitose reativa" não neoplásica) quanto transformação
Astrocitoma subependimário de células gigantes 468 neoplásica.
Xantoastrocitoma pieomórfico 471 Há crescente evidência de que astrocitomas não se
Astrocitomas difusamente I n fl l t r a t i v o s 473 originam da transformação neoplásica dos astrócitos
Astrocitoma difuso de baixo grau 473 maduros normais. Em vez disso, astrocitomas são pro
Gliomas pontinos intrínsecos difusos 476 vavelmente derivados de células-tronco neurais (CTN)
Astrocitoma anaplésico 478
que foram estimuladas por diferentes oncogenes. Supres
Glioblastoma multiforme 481
são tumoral p53-dependente insuficiente associada à alta
Gliossarcoma 489
Gliomatose cerebral 490 susceptibilidade oncogênica H-Ras tem sido sugerida
como a origem da maior parte dos astrocitomas difusos,
dos quais a maioria carrega mutações TP53.
Cerca de metade de todos os tumores cerebrais se origina Estudos recentes também mostraram que microRNAs
das células gliais, provavelmente via suas células-tronco são importantes reguladores do crescimento e da diferen
progenitoras. Quase 75% desses "gliomas" são astrocito ciação celular. Assinaturas de microRNA geneticamente
mas. Astrocitomas compreendem o maior grupo de todas distintas têm sido identificadas em várias células precur
as neoplasias primárias do sistema nervoso central (SNC). soras, inclunido a glia radial, precursores oligoneuronais,
Os astrocitomas formam um diverso grupo de neo
precursores neuroepiteliais/crista neural e precursores
plasias, com muitos tipos e subtipos histológicos. Esses astrocitários. O microRNA provavelmente possui papel-
tumores fascinantes diferem em localização preferencial, -chave na oncogênese dos astrocitomas, bem como na de
pico de idade, manifestações clínicas, características mor- outras neoplasias malignas primárias do SNC.
fológicas, comportamento biológico e prognóstico.
Neste capítulo, discutiremos todo o espectro patoló Classificação e graduação
gico dos tumores astrocíticos, bem como suas caracterís Enquanto o estadiamento tumoral é utilizado para neopla
ticas clínicas e seus achados nos exames de imagem. Para
sias nas outras partes do corpo, as neoplasias do SNC são
fins de discussão, astrocitomas são subdivididos em duas
classificadas em tipos específicos de tumores e então gra
categorias gerais: um grupo relativamente "localizado" duadas, uma medida da malignidade.
e de comportamento mais benigno, e um grupo "difusa
Até o momento, a classificação tumoral tem sido ba
mente infiltrativo" biologicamente mais agressivo. A dis seada nas características histológicas. Entretanto, o uso de
tinção é de certa forma arbitrária e imperfeita, uma vez
perfil molecular vem se tomando cada vez mais comum e
que alguns astrocitomas "circunscritos" lomam-se mais
pode se tomar a base para a classificação tumoral e mane
agressivos e infiltram as estruturas adjacentes apesar de
sua histologia de baixo grau. jo do paciente.
Outros tumores, como xantoastrocitoma pieomórfico, Classificação. Entre 10 e 15% dos astrocitomas apresentam
ocupam uma posição intermediária. Entretanto, para fins crescimento lento, tendendo a permanecerem localizados e
de discussão, são incluídos no grupo localizado. bem circunscritos. Esses astrocitomas geralmente seguem
um curso clínico indolente. Somente dois subtipos de as
Origem dos astrocitomas trocitoma, o pilocítico e o astrocitoma subependimário de
Os astrocitomas foram denominados por sua suposta ori células gigantes, são considerados benignos. As vezes, até
gem nas células estreladas - "astrócitos" - que formam mesmo essas neoplasias relativamente localizadas podem
o componente dominante do neurópilo (em muito maior se comportar de maneira agressiva (ver a seguir).
460 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

17-1 Astrocilomas da infância estão ilustrados. Aslrocitoma pilocítico 17-2 Ilustração coronal mostra os astrocitomas clássicos do adulto.
é comum no cerebelo, hipotálamo/nervos ópticosOs tumores pon- Astrocitoma de baixo grau (tronco do encéfalo), AA (lobo temporal),
tinos í^l são tumores difusamente infiltratives graus li a IV da OMS. Os GBM (corpo caloso) e XAP com cisto e reação meníngea 3! são mos
astrocitomas liemisféricos [r^\ são incomuns. trados.

A maioria dos astrocitomas cresce com mais rapidez tica são tumores grau 111 (astrocitoma anaplásico). Se pro
e inllllra dilusamenie os tecidos adjacentes. Eles demons liferação endotelial microvascular ("neovascularização")
tram progressão inexorável e apresentam uma propensão e necrose também estão presentes, a neoplasia é designa
a sofrer degeneraçào maligna. As variedades mais ma da um astrocitoma grau IV (glioblastoma multiforme).
lignas - o glioblastoma multiforme e o astrocitoma ana- A distinção entre astrocitomas do grau II e grau 111
plásico - representam bem mais da metade de todos os com base apenas nas características liistológicas pode ser
astrocitomas. difícil. Neuropatologistas freqüentemente adicionam uma
medida de proliferação celular denominada índice proli
Graduação. Neste texto, seguiremos o sistema de gradua ferativo MlB-1 como uma estimativa suplementar para o
ção de astrocitomas da Organização Mundial da Saiíde
(OMS), designando-os de grau 1 a grau IV. Lesões grau I subsequente comportamento biológico do tumor.
possuem baixo potencial proliferativo e os pacientes apre Idade e localização dos astrocitomas
sentam sobrevida relativamente longa. Ressecçào cirúrgi
ca isolada pode ser curativa, portanto, astrocitomas grau Há um efeito marcante da idade em subtipos dos astroci
1 raramente necessitam terapia adjuvante. Dois subtipos tomas e sua localização preferencial. Alguns astrocitomas
(astrocitoma pilocítico) ocorrem quase exclusivamente
histológicos de astrocitomas - o pilocitico e o astrocitoma
em crianças, enquanto outros (glioblastoma multiforme)
subependimário de células gigantes - são designados neo
são mais comuns em adultos.
plasias grau I da OMS.
O maior grupo de astrocitomas é composto por tu Há também uma forte preferência anatômica com cer
m o r e s d i f u s a m e n t e i n fl l t r a t i v o s . To d o s o s a s t r o c i t o m a s
tos astrocitomas ocorrendo mais em algumas localizações
difusamente inflltrativos são pelo menos grau II da OMS. e menos em outras. Com algumas exceções, a maioria
e a maioria é de grau 111 ou IV. No sistema da OMS. não dos astrocitomas em crianças é um tumor localizado que
existe astrocitoma difuso grau I. Devido a sua intrínse ocorre primariamente na fossa posterior (Fig. 17-1). A
maioria dos astrocitomas do adulto é difusamente inflltra-
ca tendência a sofrer progressivas alterações genéticas e
tiva. supratentorial e localizada nos hemisférios cerebrais
transformação maligna, a sobrevida média dos pacientes
com astrocitomas grau II é inferior a 10 anos. (Fig. 17-2).
A graduação dos tumores astrociticos difusamente Astrocitomas da infância. Embora tumores cerebrais repre
inflltrativos deve basear-se nas áreas com anaplasia mais sentem apenas I a 2% de todas as neoplasias, eles causam
marcante. Tumores com atipia citológica isolada são de 20 a 25% dos cánceres em crianças entre I e 15 anos de
signados grau II (i.e., astrocitoma difuso de baixo grau). idade. Astrocitomas representam quase metade de todas
Astrocitomas que apresentam anaplasia e atividade mitó- as neoplasias intracranianas nessa faixa etária.
Astrocitomas 461

Recém-nascidos e lactentes. Astrocitomas são muito idade maior do que 30 anos são supratentoriais e ocor
raros em recém-nascidos e lactentes. Quando eles ocor rem primariamente nos hemisférios cerebrais. Astro
rem nessa faixa etária, tendem a ser supratentoriais, em citomas difusamente infiltrativos são o tipo de tumor
vez da localização infratentorial observada em crianças. mais comum.
Astrocitomas congênitos são neoplasias volumosas e ma Em geral, quanto mais velho for o paciente, maior é o
lignas. O glioblastoma multiforme (GBM) é o astrocito- grau do tumor. Por exemplo, astrocitomas pilocíticos são
ma congênito mais comum. raros em adultos. Astrocitomas anaplásicos (AA) e glio
Uma rara variante do astrocitoma pilocítico, chama blastomas multiformes são muito mais comuns em adul
da üstrocitoma pilomixoide, também pode estar presente tos de meia-idade ou mais velhos do que os astrocitomas
em lactentes, em geral como uma grande massa hipotalâ- difusamente infiltrativos de baixo grau (grau II).
mica em forma de H que se estende lateralmente para um
ou ambos os lobos temporais.
IDADE E ASTROCITOMAS
Crianças. A maioria dos astrocitomas da infância é
um tumor localizado, como o astrocitoma pilocítico Recém-nascido/lactente
(OMS grau 1) ou o astrocitoma difusamente infiltrativo • Raros
de baixo grau (OMS grau II). Menos de 10% dos astroci • Supratentofia!»infratentorial
tomas em crianças são malignos (graus 111 a iV). • Massas hemlsféricas volumosas e malignas (GBM)
O único outro astrocitoma grau I que costuma ocorrer • Menos comum = astrocitoma pilomixoide
em crianças é o astrocitoma subependimário de célu Crianças/adultos jovens
las gigantes (ASCG). ASCGs quase sempre ocorrem no • Comuns

contexto de esclerose tuberosa (ET). Os ASCGs são quase • Infratentorial > supratentorial
exclusivamente encontrados nos ventrículos laterais pró • Pilocítico > astrocitoma difusamente infiltrative >
ximos ao forame de Monro, anexados ao septo pelúcido. astrocitoma subependimário de células gigantes
Além dos tipos específicos de tumor, astrocitomas (ASCG)
• Astrocitoma pilocítico
da infância possuem uma predileção particular por cer o Cerebelo, quarto ventrículo > ponte, bulbo
tas localizações anatômicas. Depois de 1 ou 2 anos, o Quiasma óptico/hipotáiamo > tecto
mais da metade é infratentorial; o cerebelo e o tronco o AP hemifério raro
encefálico são os locais mais comuns. Astrocitomas de • Astrocitoma difusamente infiltrativo
cerebelo e placa tectal são astrocitomas pilocíticos, en o Baixo grau > alto grau
quanto a maioria dos "gliomas" do tronco encefálico são o Tronco, hemisférios cerebrais > cerebelo
• ASCG
astrocitomas fíbrilares difusamente infiltrativos (em ge
ral graus II a III). o Procure por sinais de esclerose tuberosa
O segundo local mais comum para surgimento de as o A maioria no/perto do forame de Monro
trocitomas em crianças é circunjacente ao terceiro ventrí- Adultos de meia-idade e mais velhos
culo, hipotálamo e quiasma óptico. A maioria dos astroci • Quanto mais velho o paciente, mais maligno o
tomas nessa localização é do tipo pilocítico, incluindo a astrocitoma
rara variante, pilomixoide. • GBM > anaplásico » astrocitoma de baixo grau
• Em geral envolve a SB hemisférica
Os hemisférios cerebrais são o local menos comum
• Muito raros na fossa posterior
para acometimento por astrocitomas em crianças. O astro
citoma mais observado nessa localização é o difusamente
infiltrativo de baixo grau, o qual em geral é um tumor de
crianças mais velhas e de adultos jovens. Astrocitomas pi
locíticos hemisféricos ocorrem, porém são bastante raros. Tumores astrocíticos localizados
Astrocitomas em adultos jovens. O astrocitoma difusamen Nesta seção, discutiremos os astrocitomas relativamente
te infiltrativo (OMS grau II) é a mais comum de todas "localizados" ou circunscritos. Os astrocitomas localiza
as neoplasias primárias do SNC em pacientes com idade dos são menos comuns do que os astrocitomas difusamen
entre 18 e 30 anos. A maioria ocorre na substância branca t e i n fi l t r a t i v o s .
(SB) hemisférica. Lembre-se que apenas dois astrocitomas localizados,
O xantoastrocitoma pleomórfico (XAP) é uma neo o astrocitoma pilocítico (AP) e o astrocitoma subepen
plasia grau II a III da OMS. XAPs são, em geral, tumores dimário de células gigantes, são designados como neo
hemisféricos com base na cortical que se apresentam com
plasias OMS grau l. Os tumores do grau 1 da OMS não
epilepsia. XAPs são mais comuns em adultos jovens do apresentam uma tendência inerente à progressão maligna.
que em crianças. Metástases remotas são raras e, quando ocorrem, geral
Astrocitomas em adultos. Diferentemente dos astroci mente mantêm suas características histológicas primárias
tomas em crianças, os astrocitomas em pacientes com (i.e., grau 1).
462 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

O astrocitoma pilomixoide (APiio), considerado por Patologia


alguns neuropatologistas uma variante do AP rara, porém Localização. Os APs podem se originar em qualquer local
mais agressiva, é designado como uma neoplasia grau II
do neuroeixo, porém possuem uma predileção distinta por
da OMS. Devido à grande diferença no comportamento
alguns lugares, O cerebelo é a localização mais comum,
biológico, o APilo é discutido separadamente. representando cerca de 60% de todos os APs.
O segundo local mais comum é no interior e adjacen
Astrocitoma pllocítico te ao nervo/quiasma óptico e hipotálamo/terceiro ventrí-
Terminologia culo, os quais em conjunto representam entre um quarto
O astrocitoma pilocítico, algumas vezes chamado de "as e um terço de todos os APs. O terceiro local mais comum
trocitoma pilocítico juvenil" ou "astrocitoma cerebelar é a ponte e o bulbo. Os APs também podem ocorrer no
cístico", é um glioma de pacientes jovens, bem circunscri teclo, onde podem causar estenose de aqueduto.
to e de crescimento característico lento.
Os hemisférios cerebrais são uma localização des
crita, porém incomum para aparecimento do AP. Quando
eles ocorrem fora da fossa posterior, vias ópticas ou re
Etiologia
A maioria dos pesquisadores acredita que o AP origina-se gião suprasselar, os APs tendem a serem cistos com base
na cortical com nódulo mural que em geral não encontram
de uma célula astrocítica precursora ainda não identifica
na superfície piai.
da, provavelmente uma célula-tronco neural. Há uma as
sociação sindrômica com a neurofibromatose tipo 1 (NF1) Patologia macroscópica. Os APs são tumores bem delimi
(15% dos pacientes com NFl desenvolvem APs). Ao tados e acinzentados que com freqüência foram cistos in-
contrário dos astrociiomas difusamente inflltrativos, APs tratumorais (Flg. 17-3). As paredes da maioria dos cistos
possuem uma prevalência muito baixa de mutações TP53. associados aos APs consistem em parênquima cerebral

17-3 ilustração mostra um


típico astrocitoma pilocítico cere
belar com um nóduio tumoral de
aparência vascular SI e grande
cisto não neoplásico. A parede
do cisto consiste em parênquima
cerebral comprimido, porém his-
toiogicamente normal ÍS.
17-4A Fotografia intraopera-
tória mostra um cisto de hemis
fério cerebelar B que se en
contra aberto por um afastador.
A parede do cisto consiste em
parênquima cerebral comprimi
do. Um nódulo avermelhado E3
é parcialmente observado.

17-4B Patologia macroscópica


do nódulo da parede do cisto no
mesmo caso mostra uma massa

bem delimitada e de aparência


bastante vascular anexada à
parede. (Cortesia de R. Hewlett,
MO.)
17-5 Os APs são caracteriza
dos por células bípolares fibri-
lares ou com aspecto de fio de
cabelo (pilocíticas), com longos e
estritos processos. (Cortesia de P.
Burger, MD.)
Astrocitomas 463

comprimido, porém de outra forma normal, com o ele


mento neoplásico confinado ao nóduío mural (Fig. 17-4).
O conteúdo do cisto costuma ser um líquido xantocrômico
rico em proteínas.
APs macrocísticos são mais localizados no cerebelo e
menos comuns nos hemisférios cerebrais.
APs mais infiltrativos sem formação de cistos são
mais comuns nas vias ópticas (glioma de vias ópticas) e
hipotálamo.
Características microscópicas. O achado clássico do AP é
um padrão bifásico de duas populações distintas de as-
trócitos. O tipo dominante é composto por células bipo-
lares compactas e de aspecto em fio de cabelo ("pilocíti-
cas") com fibras de Rosenthal (inclusões citoplasmáticas
elétron-densas positivas para proteína fibrilar glial ácida
[GFAP]) (Fig. 17-5). Entremeadas estão áreas hipocelula- 17-6 TC sem contraste mostra um AP de fossa pos
res fracamente texturizadas GFAP-negativas que contêm terior com cistos B, nódulo tumoral sólido Ca-^+
B e hidroceíalia obstrutiva associada.
células multipolares com microcistos. A imuno-histoquí-
mica com MIB-1 é menor do que 1%, indicando baixo
potencial proliferativo.
Variantes anaplásicas raras do AP ocorrem em crian
ças, mas são mais comuns em adultos. Celularidade au
mentada e atipias celulares com mais de cinco mitoses por
campo dc alta potência e um alto Ki-67 ou índice prolife
rativo MIB-1 são características que sugerem AP anaplá-
sico. A expressão aumentada de LI CAM se correlaciona
com o índice de Ki-67 e também está associada ao risco
de recorrência.

Estaoiamento, graduação e classificação. AP é um tumor de


grau 1 da classificação da OMS. Disseminação tumoral
ocorre às vezes, porém é rara.

Aspectos clínicos
Epidemiologia. o AP representa 5 a 10 % de todos os glio 17-7 TC sem contraste de AP de vias ópticas/hipo-
mas e é o tumor cerebral primário mais comum em crian talàmico mostra uma massa suprasseiar hipodensa com
bordas de certa forma indefinidas B.
ças. Os APs respondem por quase 25% de todas as neo
plasias do SNC e 85% dos astrocitomas nessa faixa etária.
Oemografia. Mais de 80% dos APs ocorrem em pacientes
com menos de 20 anos. O pico de incidência acontece nas
crianças de "meia-idade" entre 5 e 15 anos. Não há predi
leção por gênero.
Apresentação. Os sintomas variam conforme a localização.
APs cerebelares freqüentemente se apresentam com ce-
faleia, náuseas matinais e vômitos, uma vez que hidroce-
falia obstrutiva intraventricular é comum. Ataxia, perda
visual e paralisias de nervos cranianos também ocorrem.
Os APs das vias ópticas apresentam-se com perda
visual. Uma apresentação incomum do AP envolvendo o
hipotálamo é a sindrome diencefálica, uma rara, porém
potencialmente letal, causa de restrição do crescimento,
apesar do consumo calórico adequado. 17-8 Imagem ponderada em TI pós-contraste mos
APs bulbares e pontinos são incomuns, mas em ge
tra um AP clássico no cerebelo, com um nódulo mural
ral se apresentam com múltiplas paralisias de nervos com realce B, parece do cisto sem realce B e pou
cranianos. co edema peritumoral.
464 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

17-9A Imagem ponderada em


T1 em uma menina de 7 anos
com cefaleias matinais e vômitos
mostra uma massa predominan
temente sólida e discretamente
•^11
"x : 'm
S
hipointensa no quarto ventrícuio
B I
17-9B A massa é helerogene-
amente hiperintensa em 12 B.

17-9C Imagem ponderada em


TI pós-contraste mostra realce
intenso e levemente heterogê
neo na porção sólida da massa
E2 com realce de borda ao re
dor de um pequeno cisto B.
17-9D A massa E2 não
mostra evidência de restrição à
difusão na seqüência de imagem
em difusão.

17-9E A perfusão por RM


mostra que a massa S] possui
baixo rCBV.
17-9F Espectroscopia de
protons do mesmo caso com TE
de 288 ms mostra um espectro
"pseudomaligno" com pico ele
vado de colina E3.
Astrocilomas 465

História natural. Os APs crescem lentamente. A sobrevida Os APs no tecto expandem a placa colicular e podem
em 10 anos excede 90%, mesmo com tumores parcial causar obstrução aquedutal. Os raros APs hemisféricos se
mente ressecados. Quase metade dos tumores residuais apresentam como lesões baseadas no córtex, em geral cis
mostra regressão ou crescimento em longo prazo inibido. tos com nódulo mural.
Raros casos de APs grau 1 disseminados foram rela
Achados de TC. A tomografia computadorizada (TC) sem
tados. Entretanto, alguns casos que foram inicialmente
contraste mostra uma massa mista sólido-cística (FIg. 17-6)
diagnosticados como APs "agressivos" ou "atípicos" po ou sólida com efeito de massa focai (Fig. 17-7) e pouco ou
dem se tratar de astrocilomas pilomixoides. O APilo cos
nenhum edema adjacente. CalcificaçÕes ocorrem em 10 a
tuma possuir uma idade de apresentação mais baixa, curso
20% dos casos. Hemorragia é incomum; se presente, o tu
clínico mais agressivo e pior prognóstico do que os APs.
mor pode ser um astrocitoma pilomoxoide em vez de AP.
.A maioria dos APs realça nos exames de TC e resso
Imagem
nância magnética (RM). O padrão mais comum, observa
De forma similar à apresentação clínica, os achados de
do em cerca de metade dos casos, é de um cisto sem realce
imagem variam conforme a localização do AP. O aspecto com um nódulo mural que realça fortemente (Fig. 17-8).
mais comum de AP de fossa posterior é o de um cisto ce-
Uma massa sólida com realce e necrose central é observa
rebelar bem delimitado com um nòdulo mural.
da em 40% dos casos, e 10% apresentam impregnação só
APs dentro e ao redor do nervo óptico, quiasma, ter
lida e homogênea. Se aquisições tardias são adquiridas, um
ceiro ventrículo e tecto tendem a ser sólidos, infiltrativos
nível contraste-líquido pode acumular no interior do cisto.
e com margens menos definidas. Quando ocorrem nes
sas localizações, os APs tendem a expandir as estruturas Achados de RM. Os APs cisticos costumam ser bem delimi
afetadas, que mantêm sua configuração anatômica fun tados e levemente hiperintensos ao liquido cerebrospinal
damental. (LCS) tanto na ponderação TI quanto na T2 (Fig. 17-9).

17-10 Patologia macroscópica


de uma "glioma" de nervo óp
tico mostra aumento fusiforme
do nervo óptico. A maioria dos
gliomas de nervo óptico são
astrocitomas pilocíticos. Menos
comumenle, são astrocitomas di
fusamente infiltrativos OMS grau
11. (Cortesia de R. Hewlett, MO.)
17-11 Imagem axial pon
derada em TI pós-contraste
mostra típico aumento fusiforme
e realce intenso do "glioma" de
nervo óptico B (astrocitoma
pilocítico).

17-12 imagem em Ti pós-


•contraste mostra uma grande
massa cfstica parietal direita com
realce periférico E3 e nódulo
murai B. Astrocitoma pilocítico
comprovado por bíópsia.
17-13 imagem sagitai pon
derada em T2 em um fromem
de meia-idade com cefaleia de
longa data mostra hiidrocefalia e
obstrução aquedutal causada por
uma massa tectal híperintensa
SI. O aspecto de imagem per
maneceu inalterado por mais de
5 anos. Este é presumivelmente
u m A P.
466 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorals

Eles não suprimem completamente no FLAIR. O nódulo


mural é iso ou hipointenso em TI e iso ou hiperintenso
em T2. APs sólidos aparecem iso ou hipointenso ao parên-
quima em TI e hiperintenso em T2/FLA1R (Fig. 17-13).
Extensão posterior ao longo das radiações ópticas não é in-
comum em um AP suprasselar e não denota malignidade.
Os APs contêm numerosos capilares com fenestra-
ções e junções endoteliais apertadas abertas que permitem
o escape de grandes macromoléculas por meio da barreira
hematoencefálica. Eles podem, portanto, apresentar realce
intenso após a administração de meio de contraste. Realce
intenso, porém heterogêneo, do nódulo em um AP cístico
é típico. O realce da parede do cisto varia de nenhum a
moderado. Um padrão variante é uma massa sólida com
necrose central e uma "crosta" periférica e espessa de tu
mor que apresenta realce.
17-14 APÜo com volumosa massa em forma de H
Os APs no nervo óptico, quiasma óptico e hipotála-
na região hipotaiâmica/quiasmática e extensão para
os lobos temporais. Matriz mixoide brilhante Hl e mo/terceiro ventrículo mostram realce muito variável (de
hemorragia BI. nenhum a intenso) (Figs. 17-10 e 17-11), enquanto os APs
hemisféricos apresentam-se como um cisto com nódulo
mural que realça (Fig. 17-12).
A espectroscopia de prótons nos APs geralmente mostra
elevada colina, baixo n-acetil-aspartato (NAA) e um pico de
lactato - achados paradoxais que são mais característicos de
neoplasias malignas do que deste tumor de comportamen
to benigno (Fig. 17-9F). A perfusão por RM (pRM) mostra
volume sangüíneo cerebral baixo a moderado (Fig. 19-9E).
"^■71 Angiografia. Os APs sólidos costumam ser avasculares,
enquanto os APs cisticos podem apresentar impregnação
moderadamente intensa e prolongada do nódulo mural.
Shunts arteriovenosos com veias de "drenagem precoce"
são incomuns.

Diagnóstico diferencial
.táf ^'
O diagnóstico diferencia! do AP depende da localização.
17-15 Frouxas formações perivascuiares em uma
APs de fossa posterior podem se assemelhar a medulo-
matriz mixoide basofílica são características histoiógicas
clássicas do APilo. (Cortesia de P. Burger, MD.) blastomas, especialmente quando são tumores mais só
lidos e de linha média. Os meduloblaslomas apresentam
it /■ restrição à difusão, enquanto os APs não.
Os ependimomas são tumores de aspecto plástico
que extruem para fora no forame de Magendie e nos reces
sos laterais. O aspecto de imagem do hemangioblastoma
(HB) pode lembrar o do AP, porém HBs são tumores de
.l adultos de meia-idade em vez de crianças. HBs possuem
edema peritumoral significativo e um marcado rCBV.
O principal diagnóstico diferencial dos APs hipo-
talâmicos é o astrocítoma pilomixoide. O APilo tende a
ocorrer em crianças mais jovens e em lactentes. Hemorra
gia é rara no AP, mas comum no APilo. Doença desmíe-
>
linlzante e inflamação pós-viral podem mimetizar APs
de vias ópticas. A neurite óptica pode causar aumento e
realce dos nervos e quiasma ópticos.
O diagnóstico diferencial do AP hemisférico com um
17-16 Imagem coronal ponderada em T2 mostra um aspecto de "nódulo mais cisto" é o ganglíoglioma. Os
grande e lobulado APilo B que envolve o hípotálamo gangliogliomas geralmente possuem base na cortical e
e ambos os lobos temporais mediais. c a l c i fi c a m .
Astrocitomas 467

Xantoastrocítomas pleomórfícos (XAP) podem se


apresentar como "nódulo sólido mais cisto", porém sào
tumores de adultos jovens em vez de crianças. XAPs in
duzem reação meníngea (sinal da "cauda durai").

Astrocitoma pilomixoide
O astrocitoma pilomixoide (APilo) é uma neoplasia re
centemente descrita antes considerada uma variante "ju
venil" do astrocitoma pilocítico. Hoje reconhecida como
uma entidade distinta, o APilo possui aparência histològi-
ca única e difere-se do AP na sua apresentação, bem como
no seu curso clínico.

Patologia
Localização. Apesar da possibilidade do APilo ocorrer em
17-17A Paciente diagnosticado com AP aos 2 anos
qualquer local do neuroeixo, eles possuem uma forte pre de idade. TC sem contraste com 10 anos mostra uma
dileção pela região suprasselar. Quase 60% têm centro no grande massa suprasselar de densidade mista B com
hipotálamo/quiasma óptico, estendendo-se para os lobos possível hemorragia ^3.
temporais (Fig. 17-14).
Cerca de 40% dos APilos ocorrem em localizações
atípicas, a maioria nos hemisférios cerebrais. Em contras
te ao AP. APilo no cerebelo ou no quarto ventrículo é raro.
Patologia macroscópica. APilo é uma massa volumosa, po
rém bem circunscrita. Uma aparência reluzente causada
pelo componente mixoide é comum. Hemorragia e necro
se são mais comuns do que no AP.

Características microscópicas. Fibras de Rosenthal e o pa


drão bifásico característico do AP estão ausentes. Em
vez disso, o APilo é constituído de células tumorals
piloides monomórficas embebidas em uma notável ma
triz mixoide, rica em mucopolissacarideos. As células
neoplásicas apresentam um padrão angiocêntrico que
alguns pesquisadores consideram quase patognomôni-
co para o APilo (Flg. 17-15). APilos são positivos para 17-17B imagem sagital ponderada em TI do mes
mo paciente mostra que a enorme massa B possui
GFAP e vimentina. O índice proliferativo MlB-1 está
sinal iso e hipointenso. A hipóíise ^3 é normal.
entre 1 e 2%.

Estaoiamento, graduação e classificação, o APilo é conside


rado uma neoplasia de grau 11 da OMS.

Aspectos clínicos
Epidemiologia. a incidência exata do APilo é desconhecida,
porém estimada em 0,5 a 1% de todos os astrocitomas,
menos comum do que o AP. Entre 5 e 10% dos casos diag
nosticados histologicamente como APs "agressivos" antes
de 2007 podem, na verdade, representar APilos.
Demografia. Embora o APilo possua uma apresentação em
faixa etária relativamente ampla, sua incidência é maior
em uma idade média mais precoce do que o AP. APilo su-
prasselares costumam ser tumores de lactentes e crianças
com menos de 4 anos. O APilo em localizações atípicas é
mais comum em adolescentes e em adultos jovens. 17-17C Imagem em Ti põs-contraste do mesmo
paciente mostra realce inlenso, porém heterogêneo
Apresentação. A apresentação clínica é insidiosa. Lactentes B. a revisão do exame anatomopatológico original
podem apresentar sinais de elevação da pressão inlracra- revelou APilo.
468 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

17-18 Ilustração coronal mostra um ASCG B em um paciente com 17-19 Visão aproximada de um espécime de necropsia de um
escíerose tuberosa. Observe os nódulos subependimários e os lú- paciente com CET mostra uma massa lobulada bem circunscrita SI
beres corlicais S! com "borramento" da interface entre as substâncias próxima ao forame de Monro. Astrocitoma subependimério de células
branca e cinzenta. Feixes glials radiais proeminentes também estão gigantes.
presentes na SB medular.

niana, restrição do crescimento e síndrome diencefálica. O astrocitoma difuso de baixo grau ocorre em pa
Disfunção hipotaiâmica e distúrbios visuais são comuns. cientes mais velhos (idade de pico entre 20 e 45 anos), ra
História natural. Os pacientes com APilo geralmente pos ramente sangra, não realça e acomete mais os hemisférios

suem um prognóstico pior do que aqueles com AP. O ín cerebrais em vez do hipotálamo/quiasma óptico. O glio
dice de recorrência pós-tratamento é mais alto, o intervalo blastoma multiforme sangra, porém raramente envolve o
livre de progressão é mais curto, e a sobrevida é menor. diencéfalo e ein geral afeta pacientes mais velhos.

Imagem CARACTERÍSTICAS QUE DISTINGUEM


As características de imagem do APilo são similares àque APILO DE AP
las do AP. Ambos os tumores demonstram componentes
sólidos e císticos. A intensidade de sinal em T2 e os valo Patologia
• Células piloides + fundo mixcide
res de coeficiente de difusão aparente (ADC) são maiores
• Crescimento angiocêntrico
no APilo (Fig. 17-16), refletindo a maior proporção de • OMS grau II
matriz mixoide nesses tumores.

Aproximadamente. 20% dos APilo demonstram evi Aspectos clínicos


dências de hemorragia intraiumoral nas seqüências com • Mais comum em lactentes e crianças < 4 anos
• Comportamento mais agressivo
ponderação T2* (GRE, SWI), o que é muito raro nos APs.
Ambos os tumores apresentam realce intenso, porém he Imagem
terogêneo após a administração de contraste (Fig. 17-17). • Hipotálamo/quiasma óptico »cerebelo
A disseminação pelo LCS é comum com o APilo, portan • Tumor volumoso, em forma de H
to, todo o neuroeixo deve ser examinado. • Hemorragia mais comum no APilo

Diagnóstico diferencial
o principal diagnóstico diferencial do APilo é outro astro Astrocitoma subependimório de
citoma. O astrocitoma pílocítico tende a ocorrer na fossa células gigantes
posterior em crianças mais velhas (5 a 15 anos), e a fossa o astrocitoma subependimário de células gigantes
posterior é o local mais comum. Hemorragia intratumoral (ASCG) é um tumor astrocitico localizado, circunscrito e
é rara. APs são tumores indolores que podem se espalhar grau 1 da OMS que ocorre em pacientes com o complexo
localmente, porém poucos se disseminam. da escíerose tuberosa (GET).
Astrocitomas 469

Terminologia (Fig. 17-18). Alguns poucos casos de ASCGs extraventri-


CLilares foram relatados.
o ASCG é um tumor neuroglial composto por células
espinhosas a grandes que ocorrem nas proximidades do Tamanho e número. ASCGs variam em tamanho, de lesões
forame de Monro em pacientes com CET. diminutas a vários centímetros de diâmetro. O tamanho
médio do tumor é IO a 15 mm.
Etiologia A maioria dos ASCGs é solitária. Os chamados ASCGs
A origem dos ASCGs e sua relação com os hamartomas duplos ocorrem em até 20% dos casos.
subependimários, que são uma característica quase cons
Patologia macroscópica. ASCGs são massas intraventricu-
tante da CET, é controversa. Embora existam similarida
des histológicas entre as duas lesões, figuras mitóticas são lares sólidas e bem circunscritas que com pouca freqüên
encontradas apenas nos ASCGs. cia sangram ou sofrem necrose (Fig. 17-19). E comum
ocorrer calcificaçào.
Genética. Os genes TSCI e TSC2 codificam as proteínas
Características microscópicas. As células tumorals dos
supressoras de tumor hamartina e tuberina, respectiva
mente. Mutações impedem que o heterodímero hamatina/ ASCGs demonstram um amplo espectro de fenótipos
tuberina desative o Rheb, levando à ativação da angiogra- astrogliais que pode ser indistínguivel de nódulos su
fia por RM (ARM). A ativação da ARM leva a crescimen bependimários (NS). Grandes células piramidais que se
to celular e a síntese proteica descontrolados. assemelham a astrócitos ou a células gangliônicas são tí
picas. Núcleos são grandes, redondos e excêntricos, com
Patologia cromatina abeiia e nucléolos proeminentes. Mitoses são
Localização. Quase todos os ASCGs localizam-se nos variáveis, mas geralmente são poucas em número, portan
ventrículos laterais e adjacentes ao forame de Monro to o índice proliferative MlB-1 é baixo.

17-20A TC sem contraste em


uma criança com CET mostra
massas levemente hiperdensas
e calcificadas nos cornos frontais
dos ventriculos laterais E3.
17-20B TC com contraste do
mesmo paciente mostra que
as porções nâo calcificadas das
massa realçam Intensamente
B. Observe o túber cortical
hípodenso BI.

17-20C Imagem em FLAIR do


mesmo paciente mostra que as
massas são heterogenea-
mente hiperintensas. Observe os
túberes corticais
17-20D Imagem em Ti pós-
-contraste mostra o realce inten
so das massas. Astrocitoma sube-
pendimário de células gigantes
em um paciente com complexo
da esclerose tuberosa.
470 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Estadiamento, graduação e classificação. ASCGs sào neo terais indica grave hidrocefalia obstrutiva com migração
plasias grau il da OMS. transependimária de LCS.
ASCGs demonstram realce intenso, porém heterogê
Aspectos clínicos neo (Fig. 17-20B). Uma lesão com realce no forame de
Epidemiologia. Os ASCGs surgem em uma proporção re Monro na TC com contraste deve ser considerada ASCG
lativamente pequena (10 a 20%) dos pacientes com GET. até provar-se o contrário.
porém podem causar até 25% da morbidade associada a Achados de RM. ASCGs são hipo a isointensos se compa
essa condição.
rados ao córtex na ponderação TI e heterogeneamente iso
Oemografia. ASCGs ocorrem no contexto do complexo da a hiperintensos em T2. Focos calcificados são hiperinten-
esclerose tuberosa e se desenvolvem durante as duas pri sos em TI. hipointensos em T2 e promovem artefatos de
meiras décadas de vida. A idade média no diagnóstico é susceptibilidade magnética em T2*. A inspeção cuidadosa
de 11 anos. ASCGs esporádicos sem os estigmas óbvios dos ventrículos laterais pode revelar NS.
de ET ocorrem, porém são raros. O FLAIR é especialmente útil na detecção de carac
terísticas sutis do CET no SNC, como os túberes corticais
Apresentação. A epilepsia nos pacientes com ET está re e linhas radiais de migração na substância branca. Hipe-
lacionada aos túberes corticais, e não aos ASCGs. Os
rintensidades lineares entremeadas que se estendem pela
ASCGs são assintomáticos até causarem hidrocefalia
substância branca ao ventriculo subjacente ou hiperinten-
obstrutiva. Cefaleia, vômitos e perda da consciência são
sidades em cunha subjacentes a giros expandidos sào típi
sintomas típicos.
cos (Fig. 17-20C).
História natural. O prognóstico é bom, uma vez que o O realce do NS é muito mais visível na RM do que na
ASCG cresce de forma lenta e raramente invade o cérebro TC. Entre 30 e 80% dos NSs realçam após a administra
adjacente. Muitos pacientes com ASCG possuem pequenas ção de contraste, então apenas o realce é insuficiente para
lesões que podem permanecer relativamente estáveis. A distinguir um NS de um ASCG. Apesar de uma massa no
taxa mediana de crescimento varia de 2,5 a 5.6 mm por ano. forame de Monro maior de que 10 a 12 mm em diâmetro
O curso clínico do ASCG, entretanto, não é tão benig ser um ASCG (Fig. 17-20D), somente o aumento progres
no. A principal preocupação é a hidrocefalia obstrutiva, a sivo é suficiente para diferenciar um ASCG de um NS.
qual pode se desenvolver subitamente e resultar em rápido
aumento da pressão intracraniana. Diagnóstico diferencial
o principal diagnóstico diferencial do ASCG em um pa
Opções de tratamento. Quando os achados de imagem são
ciente com CET é o benigno e não neoplásico nódulo su-
indeterminados e uma lesão próxima ao forame de Mon
ro não pode ser identificada como um NS ou ASCG, se- bependimário. A distinção é importante, uma vez que as
lesões evoluem de maneiras diferentes. O NS permanece
guimento em intervalos próximos (primeiro a cada seis estável e não precisa de tratamento, enquanto os ASCGs
meses, depois uma vez por ano, se não houver evidência
aumentam de fonna gradual e podem necessitar tratamento
de crescimento) é recomendado. Uma lesão nessa locali
cirúrgico. Tanto os ASCGs quanto os NSs calcifícam. Os
zação deve ser tratada logo que apresentar evidencia de ASCGs se originam apenas perto do forame de Monro, en
crescimento.
A ressecção cirúrgica tem sido o tratamento de esco quanto os NSs podem estar localizados em qualquer local
lha. uma vez que taxas de recidiva após a remoção com circiinjacente à parede ventricular, em especial ao longo do
sulco caudotalâmico. Embora os NSs sejam mais comuns
pleta do tumor são muito baixas. No entanto, nem todos do que os ASCGs, uma lesão com realce parcialmente cal-
os ASCGs podem ser ressecados completamente. Outras
cificada no forame de Monro com tamanho maior do que 5
opções atuais de tratamento incluem radiocirurgia estere- milímetros é mais provável de ser um ASCG do que um NS.
otáxica e terapia inibidora do ARM com everolimus.
Outras neoplasias intraventriculares além do ASCG
Imagem podem originar-se no ventriculo lateral próximo ao forame
Os achados auxiliares mais importantes para a identifica de Monro. O subependimoma é um tumor de pacientes de
meia-idade e idosos, enquanto o ASCG é um tumor de crian
ção são aqueles de CET (ver Capítulo 39). Na ausência de
uma história familiar conhecida, retardo mental, epilepsia ças e adultos jovens. O papiloma de plexo coroide (PPC)
ou estigmas cutâneos, os achados de imagem podem for surge no interior do terceiro ventriculo e pode se estender
necer as primeiras pistas para o diagnóstico de CET. superiormente através do forame de Monro. PPCs são mais
encontrados em crianças menores de 5 anos de idade.
Achados de TC. ASCGs são lesões hipo a isointensas. va- O neurocitoma central é um tumor "bolhoso" que
riavelmente calcificadas e próximas ao forame de Monro surge no corpo do ventriculo lateral, e não se estende para
(Fig. 17-20A). NS calcificados podem ser vistos ao longo o forame de Monro. O glioma cordolde é um tumor do
das margens dos ventrículos laterais, em especial nos sul terceiro ventriculo que é mais comum em adultos.
cos caudotalâmicos. A hidrocefalia está presente em 15% O astrocitoma difusamente infíltrativo de baixo grau
dos casos. "Borramento" das margens dos ventrículos la pode se originar no septo pelúcido ou nos fómices, mas es-
Astrocitomas 471

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17-21 Ilustração coronal mostra o xantoastrocitoma pieomórfico com 17-22 Características histológicas clássicas do CAP incluem arquitetura
cisto nódulo tocando a superfície piai ES e espessamento reativo de alguma forma fascicular e células que parecem pleomórficas, porém
da dura-aracnoide adjacente S. não "monstruosas". A massa da lesão é compacta e não infiltrativa. (Cor
tesia de P. Burger, MO.)

ses tumores nào calcificam nem realçam. Estigmas de ima reticulina, estrutura compacta e lipidização das células
gem de CET (como NSs e túberes corticais) estão ausentes. tumorals. Astrócitos llbrilares e gigantes, multinucleados
e neoplásicos estão misturados com grandes células que
Xantoastrocitoma pieomórfico contêm lipídeos e são positivas para GFAP (Fig. 17-22).
Quase todos os XAPs são positivos para GFAP e apresen
Terminologia tam imunorreatividade para SI00. Marcadores neuronals,
o xantoastrocitoma plemórfíco (XAP) é um tumor rela como sinaptofisina e proteína do neurofílamento, estão
tivamente focai, superficial e associado a crises convul
presentes. Figuras mitóticas são raras ou ausentes.
sivas. Apesar do seu marcante pleomorfismo celular, ele
possui um prognóstico favorável quando excisado. Estaoiamento, graduação e classificação. XAPs são neopla
sias grau II da OMS. Entre 10 e 15% demonstram carac
Patologia terísticas anaplásicas, incluindo celularidade e mitoses au
Localização. Mais de 95% dos XAPs são massas supraten- mentadas, bem como alguma proliferação vascular e focos
toriais hemisféricas. A maioria são neoplasias superficiais de necrose ocasionais. O grau da OMS para um "XAP com
com base na cortical que envolvem os lobos temporal (40 características anaplásicas" ainda nào foi definido.
a 50%). frontal (33%) ou parietal (20%). XAPs cerebela-
res da medula espinal já foram relatados, porém são muito Aspectos clínicos
raros. Epidemiologia. o XAP é um tumor raro. representando pou
co menos de 1 % de todos os astrocitomas.
Tamanho e número. XAPs são comumente lesões solitárias,
embora algumas lesões multicêntricas já tenham sido des Demggrafia. XAPs são geralmente tumores de crianças e
critas. adultos jovens; quase dois terços dos pacientes possuem
menos de 18 anos na apresentação inicial.
Patologia macroscópica. A aparência macroscópica mais
comum é a de uma massa relativamente distinta sólida ou Apresentação. Devido a sua característica localização su
parcialmente cística com um nódulo mural que toca ou se perficial com base na cortical, a apresentação mais co
encontra anexado à leptomeninge (Fig. 17-21). Invasão mum é epilepsia de longa duração.
durai é rara. As margens profundas do tumor podem ser
História natural. A recorrência após a ressecção completa
indistintas, com infiltração parenquimaíosa focai no inte
é incomum. A atividade mitótica e a extensão da ressec
rior da substância branca subcortical adjacente.
ção são os únicos preditores do comportamento biológico
Característica microscópica. As características mais mar subsequente. A sobrevida média em cinco anos é de 80%,
cantes do XAP são o seu pleomorfismo, densa rede de e a sobrevida em 10 anos é de 70%.
472 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Transformação maligna ocorre, mas é incomum. O porções císticas do XAP são hiperintensas relativamente ao
XAP anaplásico é um íumor maligno, de crescimento LCS nas seqüências T2/FLAIR (Figs. 17-23B e 17-23C).
agressivo, e que pode se disseminar pelo SNC. Realce moderado do nódulo tumoral é típico após a
administração de meio de contraste (Fig. 17-23D). Mais
Imagem de 90% dos XAPs tocam a pia e podem incitar espes-
Achados de TC. Exames de TC sem contraste mostram uma samento reativo da dura adjacente. Um sinal da "cauda
massa bem delimitada, com base na cortical, que faz con durai" foi observado em 15 a 50% dos casos nas séries
tato com as leptomeninges. Dois padrões de imagem são publicadas.
comuns. Uma configuração de "cisto + nódulo" está pre
sente em 70% dos casos, e uma massa predominantemen
Diagnóstico diferencial
te sólida com cistos intratumorais é observada em 30%. O O principal diagnóstico diferencial do XAP é o ganglio-
crânio sobrejacente pode estar atilado ou remodelado na glioma, outro tumor de base cortical que causa epilepsia.
Outros tumores menos comuns com uma aparência de "cis
janela óssea. CalcificaçÕes estão presentes em 40% dos
to + nódulo" podem simular XAP, incluindo o astrocitoma
casos, porém hemorragia intratumoral ostensiva é rara.
O nódulo mural do XAP mostra realce moderado a pilocítico hemisférico. O tumor díscmbrioplásico neuro-
intenso na TC com contraste. epitelial (DNET) possui apresentação e faixa etária simi
lares, porém possui uma aparência multicística "bolhosa".
Achados de RM. O componente sólido do XAP é heterogene- O astrocitoma flbrilar difuso (baixo grau) envolve
amente hipo ou isointenso ao córtex na ponderação T1 (Fig. a substância branca e não acomete as meninges. O oli
17-23A). Mais de 90% dos nódulos tumorals apresentam godendroglioma pode se apresentar como uma lesão na
hiperintensidade heterogênea em T2 e em FLAIR. Se cal- transição entre as substâncias branca e cinzenta com cres
cificações ou hemorragia estão presentes, artefatos de sus- cimento lento e que remodela a calota craniana adjacente,
ceptibilidade magnética em T2* podem ser observados. As porém o padrão "cisto + nódulo" costuma estar ausente.

17-23A Exame coronal com


inversão da recuperação em um
homem de 19 anos com epilep
sia do lobo temporal de longa
data mostra uma massa parcial
mente císlica no lobo temporal
direito El que remodela a calo
ta craniana adjacente
17-23B Imagem coronal pon
derada em T2 mostra que a lesão
B é predominantemente hipe-
rinlensa. O suave remodelamen-
to da calota craniana adjacente
B pode ser bem observado
nessa imagem.

17-23C imagem coronal em


FLAIR mostra que a lesão é hele-
rogeneamente hiperintensa B.
17-230 A imagem coronal
ponderada em Ti pós-constraste
demonstra um nódulo com
realce B que toca a dura, cau
sando mínimo espessamento e
impregnação S. Xantoastroci-
toma pleomórfico grau II da OMS
foi ressecado na cirurgia.
Astrocitomas 473

TUMORES DE BASE CORTiCAL COM 'CISTO + NÓDULO"


Comum
• Ganglioglioma
• Metástase

Menos comum
• Astrocitoma pilocítico
• Xantoastrocitoma pleomórfico
• Glioblastoma multiforme

Raro
• Hemangioblastoma
• Astrocítoma/gangliogiloma infantil desmoplásico
• Schwannoma

grau II). O tumor expande o lobo temporal, infiltrando o


A s t r o c i t o m a s d i f u s a m e n t e i n fi l t r a t i v o s córtexeaSB subcortical.

Astrocitoma difuso de baixo grau


Terminologia
O glioma difuso inflltrativo de baixo grau com diferen
ciação astrocítica é também conhecido como astrocitoma
grau 11 ou astrocitoma de baixo grau (ABG). A maioria
dos ABGs é composto por astrócitos fibrilares neoplási-
cos. ABGs tendem a crescer lentamente, porém possuem
uma tendência intrínseca à progressão maligna para as
trocitoma anaplásico (AA) e iiilimamente glioblastoma
multiforme (GBM).

Etloiogla
Conceitos gerais. Antes acreditava-se que os astrocitomas
originavam-se de uma transformação neoplásica de astró
citos diferenciados. Evidências recentes indicam que as
células-tronco neiirais destinadas à diferenciação astrocí 17-25A Espécime cirúrgico de um astrocitoma difu
tica, provavelmente, são as células precursoras de origem. samente infiltrativo ressecado mostra a expansão do
cortex E3 e o efeito de massa nos giros subjacentes.
Genética. Mutações no !DH] estão presentes em 85% dos
ABGs de adolescentes e adultos. Mutações no P53 estão
presentes em 25% dos casos. Em geral, gliomas difusos
de baixo grau com aberrações cromossòmicas complexas
possuem uma maior tendência a apresentar comportamen
to agressivo (menor sobrevida livre de progressão) do que
tumores que demonstram somente aberrações simples.

Patologia
Localização. Quase dois terços dos ABGs são supratento-
riais. Os hemisférios cerebrais são o local mais comum,
com distribuição quase igual de tumores entre os lobos
frontais e temporais. Quase 20% envolvem os núcleos da
base, em especial os tálamos (Fig. 17-24).
Aproximadamente um terço dos ABGs são infraten-
toriais. Os ABGs representam cerca de 50% dos tumores
de tronco encefálico em crianças, e em geral acometem a 17-25B Corte seccional mostra o tumor infiltrando o
ponte. O bulbo é um local menos freqüente. O cerebelo é cortex e a SB subcortical. Não há borda discernível entre
uma localização incomum para o ABG. o cérebro normal e o anormal. (R. Hewlett, MO.)
474 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Tamanho e nijmero. ABGs do lobo frontal podem se tornar


grandes antes de produzirem sintomas. O ABG é a neo
plasia subjacente mais comum na gliomatose cerebral, um
tumor extensiva e difusamente infiltrativo que com fre
qüência acomete vários lobos e os núcleos da base. Le
sões do lobo temporal sào menores na apresentação inicial
por serem propensos a causar crises convulsivas parciais
complexas.
Patologia macroscópica. ABGs sào lesões infiltrativas com
bordas pouco definidas. Aumento e distorção das estru
turas invadidas sào típicos. As interfaces entre as subs
tâncias branca e cinzenta encontram-se borradas (Fig.
17-25). Cistos e calcificações ocasionais podem estar pre
sentes. Hemorragia é rara.
Características microscópicas. O ABG mais comum é o as-
17-26A Imagem ponderada em Ti em um homem
de 37 anos com crises convulsivas mostra uma massa
trocítoma fíbrilar. Um tumor "difusamente" hipercelular
homogeneamente hipointensa que acomete o córtex e e infiltrativo com atipias nucleares leves a moderadas é
o SB subcortical do lobo temporal medial esquerdo B. típico. Uma matriz tumoral frouxamente estruturada, em
geral microcística, ou um fundo fíbrilar fino são achados
clássicos. A atividade mitótica é rara ou ausente, e o índi

I
ce MlB-1 é baixo.

\
Estadiamento, graduação e ciASSiFiCAÇÃo. Por definição, as-
trocitomas difusos de baixo grau são neoplasias de grau
/ I II da OMS.

Aspectos clínicos
Epidemiologia, o ABG é menos comum do que o AA e o
GBM, representando cerca de 10 a 15% dos astrocitomas
em adultos. ABGs são o segundo astrocitoma mais co
mum da infância, depois do astrocitoma pilocitico.
Demografia. Embora os ABGs possam ocorrem em qual
quer idade, a maior parte dos tumores supratentoriais é
encontrada em pacientes com 20 a 45 anos. Os ABGs de
17-268 Imagem ponderada em T2 do mesmo pa tronco encefálico são mais comuns em crianças. Há dis
ciente mostra que a massa E3 é heterogeneamente creta predominância masculina.
hiperintensa.
Apresentação. A apresentação depende da localização.
Crises convulsivas são a apresentação mais comum nas
lesões hemisféricas.

História natural. Pacientes com ABG possuem uma sobre-


vida média de 6 a 10 anos. A recorrência após a ressec-
ção cirúrgica é comum, e a maioria dos tumores progride
para astrocitoma de grau mais elevado dentro de 10 anos.
Crianças e pacientes com ressecção total ostensiva, bem
como tumores com mutação do IDHl, possuem melhor
prognóstico.

Imagem
Achados de TC. A TC sem contraste mostra uma massa

homogênea pouco definida que geralmente é hipodensa


em relação à substância branca. Calcificação é obser
17-26C A massa não realça nessa imagem pon
vada em 20% dos casos. Alteração cística importante e
derada em TI pds-contrasle. Aslrocitoma difusamente hemorragias são raras. A TC com contraste não mostra
infiltralivo, OMS grau II, foi encontrado na cirurgia. realce.
Astrocitomas 475

Achados de RM. Moderado efeito de massa com expansão


da cortical adjacente é comum. ABGs são hipointensos
em TI e hiperintensos em T2/FLA1R (Fig. 17-26). O tu
mor pode parecer um tanto circunscrito na RM, porém as
células neoplásicas costumam infiltrar o parênquima cere
bral adjacente de aspecto normal. Exames com pondera
ção T2* podem mostrar focos de artefatos de susceptibili-
dade magnética se calcificações estão presentes. Os ABGs
não realçam após a administração de meio de contraste.
A seqüência em difusão não demonstra restrição. A
espectroscopia de prótons é inespecífica, com elevada
colina, baixo NAA e alta relação ml:CR. A perfusão por
RM mostra um rCBV relativamente baixo (Fig. 17-27).
Se a biópsia estereotáxica for realizada, qualquer foco de
aumento do rCBV deve servir de alvo, uma vez que eles
podem representar áreas de degeneração maligna precoce. 17-27A Imagem ponderada em T2 mostra uma
massa hiperintensa na insula esquerda bastante delimi
Diagnóstico diferencial tada do cérebro normal BSl.
o principal diagnóstico diferencial do ABG em imagem
são outros astrocitomas e oligodendroglioma. O astroci-
toma anaplásico. uma neoplasia grau III da OMS, é in-
distinguivel do ABG com base apenas nos exames de ima
gem. A perfusão por TC (pTC) e pRM podem demonstrar
elevado rCBV no AA, porém o diagnóstico definitivo re
quer confirmação histológica.
O astrocitoma pilocítíco é mais circunscrito e me
lhor demarcado do que o ABG. com freqüência possui
uma configuração de "cisto + nódulo" em vez de um as
pecto infiltrativo, e demonstra realce moderado a intenso
após a administração de contraste.
Encefalite com hiperintensidade em T2/FLA1R mos
tra realce na seqüência ponderada em TI pós-contraste e
restrição na seqüência em difusão.
O principal diagnóstico diferencial patológico do
ABG é o cérebro normal ou gliose inespecífica. No ex
17-27B pRM não mostra focos de aumento do rCBV
tremo oposto do espectro, astrocitoma anaplásico pode
que sugeririam áreas de degeneração maligna.
ser uma consideração, uma vez que características como
atipia nuclear podem sobrepor-se àquelas do ABG. AAs
comumente demonstram maior celularidade e atipia cito-
lógica. bem como maior índice MIB-1 (maior que 5%).
O oligodendroglioma geralmente possui base cortical,
calcifíca com maior freqüência, e possui um foco com real
ce. Tumores hístologicamente mistos, como o oligoastro-
cltoma. possuem aspecto mais heterogêneo do que o ABG.

A S T R O C I TO M A D I F U S A M E N T E I N F I LT R AT I V O

Terminologia
• Também conhecido como astrocitoma de baixo grau
ou astrocitoma difuso

Etiologia
• Céíüías-tronco neurais destinadas à diferenciação
astrocítica 17-27C Espectroscopia de prótons mostra eleva
• Mutações no IDHI (85%), mutações no P53 (25%) da colina baixo NAA B3 e ausência de pico de
lactato. Astrocitoma grau II da OMS. (Cortesia de M.
(continua)
Thurnher, MD.)
476 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

(conlinuoçõo)
Patologia
• Supratentorial > infratentoriai
• Infiltrativo, bordas pouco definidas
• OMS grau II
• Tendência inerente a sofrer degeneração maligna

Aspectos clínicos
• 10-15% dos astrocitomas em adultos
• Segundo astrocitoma mais comum em crianças
• Pico de idade = 20-45 anos
• Sobrevida média = 6-10 anos

Imagem
• Hipodenso na TC sem contraste; sem realce
• Hipointenso em TI, hiperintenso em T2/FLAIR
• Sem realce ou hemorragia
17-28 Glioma pontino difusamente infiltrativo • Espectroscopia inespecífica (Tcolina, 4-NAA, sem lactato)
expande a ponte, envolvendo a artéria basilar B. A • Baixo rCBV
maioria é composta de aslrocitomas fibriiares de graus
o Foco de T no rCBV suspeito para degeneração maligna
II a IV da OMS.

Diagnóstico diferencial
• Astrocitoma anaplásico
• Astrocitoma pilocítico
• Oligodendroglioma
• Encefalite

Gliomas pontinos intrínsecos difusos


Os gliomas de tronco encefálico são tumores incornuns
em adultos. Quando ocorrem, fenólipos de baixo grau
predominam. Em contraste, os chamados gliomas de tron
co encefálico pediátricos (GTC) são mais comuns. Eles
constituem entre 10 e 15% de todos os tumores cerebrais
da infância e são a maior causa de morte nesse grupo.
Os GTCs pediátricos podem acometer o mesencéfa-
lo, a ponte ou o bulbo. Eles são muito mais heterogêneos
17-29A Espécime de necropsia mostra um glioma
que suas contrapartes adultas mais raras. Todos os GTCs
pontlno difuso expandindo a ponte E3 e revestindo
quase completamente a artéria basilar [S.
pediátricos são astrocitomas, porém seus subtipos histoló-
gicos e prognósticos variam substancialmente. Portanto,
nem todos os GTCs pediátricos são iguais - a topografia,
o grau tumoral e o prognóstico do paciente são extrema
mente variáveis.

Patologia e aspectos clínicos


Os GTCs pediátricos são divididos em dois grupos pela
histologia e localização. Os GTCs pediátricos mais co
muns são os astrocitomas pontinos difusos (algumas vezes
denominados "gliomas") (Fig. 17-28). Esses GTCs são as
trocitomas fibrilares infiltrativos que envolvem a ponte. A
maior parte surge como tumores de baixo grau (OMS grau
II), porém focos de anaplasia (OMS grau III ou mesmo IV)
são comuns (Fig. 17-29). O prognóstico é, em geral, ruim.
O segundo grupo de GTCs pediátricos é constituído de
k..' -.1 ^ . Já lesões focais que envolvem o mesencéfalo, tecto ou tronco
encefálico inferior. Esses tumores focais são astrocitomas
17-29B Corte seccional mostra o tumor infiltrativo.
AA (OMS grau ill) com focos necróticos e hemorrágicos pllocíticos (neoplasias grau I da OMS) ou astrocitomas
de GBM ES. (Cortesia de R. Hewlett, MD.) de baixo grau (ABG) e possuem um prognóstico muito
Aslrocitomas 477

melhor. Gliomas focais dorsalmenie exofTticos da junção


bulbomedular também possuem um melhor prognóstico
do que os astrocitomas pontinos difusamente infiltrativos.

Imagem
Características de imagem variam com o tipo e com a lo
calização do tumor.
Os GTCs pediálricos expandem e infiltram difusamente
a ponte, são hiperintensos em T2 e comprimem, mas não
invadem, o quarto ventrículo. Com freqüência, são exofiti-
cos e podem engolfar quase completamente a artéria basilar
(Fig. 17-30). Astrocitomas fibrilares grau 11 não realçam,
porém a degeneraçào para tumor de grau mais alto pode
produzir necrose, realce focai e até hemorragia intratumoral.
Gliomas tectais, tegmentais e dorsalmente exofiticos
são menos comuns do que os GTCs pediátricos. 17-30A Imagem sagital ponderada em T2 em uma
Gliomas tectais aumentam focalmente os coliculos, criança com glioma pontino difuso mostra uma massa
obstruem o aqueduto cerebral e raramente invadem as es hiperintensa B expandindo a ponte e deslocando o
truturas adjacentes. Os gliomas tectais são hiperintensos em quarto ventrículo posteriormente
T2/FLA1R. mostram pouco ou nenhum realce, e são está
veis em tamanho no decorrer de muitos anos (Fig. 17-13).
Gliomas focais tegmentais mcsencefálicos lembram
gliomas tectais, exceto pelo fato de que eles ocorrem no
mesencéfalo central em vez de nos coliculos.
Gliomas dorsalmente exofiticos são lesões hiperin-
tensas cm T2/FLA1R, sem realce e com bordas bem defini
das, Edema peritumoral está em geral ausente (Fig. 17-31).

Diagnóstico diferenciai
Os diagnósticos diferenciais gerais do GTC são encefali-
te do tronco encefálico. doenças desmíelinízantcs (EM,
ADEM), neurotlbromatose tipo 1 (NFl) e desmieliniza-
çâo osmótica. Todas podem causar hiperintensidade pou
co definida solitária ou multifocal em T2/FLA1R.
Uma ponte "gorda" pode ser mimetizada por hipo-
17-30B Imagem ponderada em T2 mostra que a
tensão intracraniana. O deslocamento inferior do me massa é hiperintensa com margens pouco definidas E3.
sencéfalo e da ponte (cérebro "flácido") pode fazer essas Astrocitoma difusamente infiltrativo grau II da OMS.
estruturas parecerem anormalmente grandes. A intensida
de de sinal é normal em T2/FLA1R, e sinais auxiliares de
hipotensão intracraniana, como ingurgitamento venoso
durai, obliteração da cisterna suprasselar, hematoina(s)
subdural(is) e hemiaçào lonsilar adquirida, ajudam a dis
tinguir essa condição do glioma pontino.

GLIOMAS PONTINOS INTRÍNSECOS DIFUSOS

Epídemiologia
• Raros em adultas
• 10-15% dos tumores cerebrais da infância

Patologia
• Adultos: baixo grau > alto grau
• Crianças
o Ponte: difusamente infiltrativo (OMS grau ll-IV)
o Tecto, tegmento: astrocitoma pilocítico 17-31 Imagem sagital ponderada em T2 mostra uma
massa dorsalmente exofitica no bulbo. Ela representa
(continuo) um astrocitoma librilar, também um tumor grau II da
OMS, porém com prognóstico geralmente melhor.
478 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

(continuação)

Prognóstico
• Adultos: geralmente melhor prognóstico
• Crianças
o Pontino difusamente infiltrativo = prognóstico ruim
o Tecto, mesencefálico dorsalmenle exofítico =
melhor prognóstico
Imagem
• Ponte, tecto ou bulbo "gordos"
o Hiperintensidade em T2/FLAIR
o Qualquer realce suspeito para anaplasia

Oiagnóstico diferenciai
• Encefallte de tronco encefálico
• Doença desmielinizante
• Hipotensão intracraniana
o "Placidez" do tronco encefálico ^ ponte "gorda"

Astrocitoma anaplásico
Terminologia
Os astrocitomas anaplásicos (AA) são astrocilomas mito-
ticamente ativos e difusamente infiitrativos de grau III da
OMS, que possuem uma propensão intrínseca para sofrer
transformação maligna adicional para glioblastoma mul
tiforme (GBM).

Etiologia
Conceitos gerais. AAs podem tanto se desenvolver de novo
quanto surgir da degeneraçào maligna de lesões de grau
II. Cerca de 75% dos AAs evoluem de um astrocitoma
de baixo grau (ABG) que desenvolve múltiplas alterações
genéticas. AAs de novo provavelmente surgem de células-
17-33A Caso de necropsia de aslrocitoma anaplási-
-tronco e células progenitoras comprometidas à diferen
co mostra a grande expansão de todo o lobo temporal ciação astrocílica.
B .
Genética. AAs demonstram uma alta freqüência de muta
ções no P53 e perda da heterozigose do I7p.

Patologia
Localização. Os locais mais comuns do AA são os hemis
férios cerebrais (Fig. 17-32). Os tálamos são envolvidos,
seja por extensão de uma lesão hemisférica ou como cen
tro primário. A ponte é o local mais comum em crianças.
Tamanho e número. AAs variam bastante em tamanho e são
solitários, porém possuem lesões amplamente infiltrati-
vas. AAs multifocais ocorrem, mas são raros.

Patologia macroscópica. AAs causam ostensiva expan


são do cérebro afetado sem franca destruição tecidual,
aumentando os giros adjacentes e com freqüência se es
tendendo para os núcleos da base. Os AAs variam em
consistência de infiltrações emborrachadas a tumores
17-33B Secção axial mostra que a massa é po
bremente delimitada e infiltra tanto a substância
camudos altamente celulares com margens pobremente
cinzenta quanto a substância branca. (Cortesia de R. delimitadas (Fig. 17-33). Cistos e hemorragia intratumo-
Hewlett, MD.) ral são raros.
Astrocitomas 479

Características microscópicas. AAs sào caracterizados pela Apresentação. AAs podem ocorrer em qualquer idade, po
celularidade moderada a marcadamente aumentada, ativi rém o pico de apresentação acontece entre 40 e 50 anos.
dades mitóticas raras a abundantes e graus variados de ati- Há uma leve predominância em homens.
pia nuclear. Características nucleares podem ser brandas História natural. O prognóstico é ruim, com uma sobre-
e sobrepor-se às do astrocitoma grau II, ou ser marcada
vida média de dois ou três anos. Progressão para GBM é
mente atípica, lembrando GBM. Necrose e proliferação
muito comum e costuma ocorrer dentro de dois anos após
microvascular estão ausentes.
o diagnóstico inicial. Os pacientes com AA negativos para
Ki-67 (MIB-I) está elevado, geralmente na faixa de
IDH-I possuem um prognóstico sombrio, equivalente ao
5 a 15%.
do GBM.
A imuno-histoquímica em geral mostra positividade
para GFAP e 01ig2. A maioria dos casos também expressa Opções de tratamento. O tratamento consiste em ressecção
IDH-1. Uma positividade difusa para p53 está presente na com radioterapia e quimioterapia (p. ex., temozolomida)
minoria dos casos. adjuvantes.
Estadiamento, graduação e classificação. Astrocitomas ana-
Imagem
piásicos são tumores grau 11 da classificação da OMS, in
termediários em malignidade entre o ABG (OMS grau 11) Características gerais. Uma massa expansiva e infiltrativa
e o GBM (OMS grau IV). que envolve predominantemente a substância branca he-
misférica é típica.
Aspectos clínicos Achados de TC. AAs são lesões de baixa densidade e mal
Epidemiologia. AAs representam um terço de todos os as delimitadas na TC sem contraste. Se a lesão começou em
trocitomas. perdendo em freqüência apenas do GBM. um ABG, calciflcações podem estar presentes.

17-34A Um homem de 72
anos com fraqueza súbita no
lado direito foi trazido ao pronto
atendimento por acidente vascu
lar cerebral, A TC sem contraste
(não mostrada) demonstrou uma
massa na região posterior do
lobo frontal esquerdo. A perfusao
por TC obtida como parte do
protocolo de acidente vascular
mostrou um elevado rCBV na
massa GS.
17-34B Imagem em pondera
ção TI mostra uma massa expan
siva majoritariamente isoinlensa
E3 que apaga a interface entre
as substâncias branca e cinzenta.

17-34C Imagem axial em


T2 com discretos artefatos de
movimento mostra que a massa
BS9 é hiperintensa e com limites
indefinidos. A seqüência TI pós-
-contraste (não mostrada) não
apresentou realce.
17-34D A espectroscopia de
protons mostra marcado aumen
to da colina B3 e NAA reduzido
sugerindo neoplasia. Com
o aumento do rC8V, apesar da
ausência de realce, esse tumor
era mais provavelmente um
astrocitoma anaplásico. A histo-
patologia confirmou astrocitoma
anaplásico de grau III da OMS.
480 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

A maioria dos AAs não realça na TC com contraste. lina e reduzido NAA. A relação mI:Cr está mais baixa
Quando presente, a impregnação é focai, irregular, mal do que a encontrada em ABGs. A imagem do tensor da
delimitada e heterogênea. difusão (DTI) pode ser útil na determinação precoce de
invasão de tratos de substância branca.
Achados de RM. A maior parte dos AAs é hipointensa na
A perfusão por RM mostra aumento do rCBV nas por
ponderaçàoTl e hiperintensaemT2/FLA1R (FIg. 17-34).
As margens podem parecer muito definidas, porém célu ções mais malignas no tumor. Mapas coloridos de colina
las tumorais infiltram o cérebro adjacente. Hemorragia e são úteis para guiar biópsias estereotáxicas, melhorando
a acurácia diagnóstica e reduzindo erros de amostragem
calcificaçào são incomuns. portanto, artefatos de suscepti-
bilidade magnética em T2* costumam estar ausentes. (Fig. 17-35).
O realce pelo contraste varia de nenhum a moderado.
Entre 50 c 70% dos AAs mostram algum grau de impreg Diagnóstico diferencial
o principal diagnóstico diferencial do AA são outros us-
nação. Padrões focais, nodularcs, homogêneos, irregula
res ou mesmo anelares podem ser observados. t r o c i t o m a s d i f u s a m e n t e i n fi l t r a t i v o s . A c h a d o s d e i m a
A presença de realce é clinicamente significativa. gem no AA com freqüência são indistinguíveis daqueles
AAs que não realçam possuem comportamento mais pró encontrados no ABG. GBMs possuem uma borda com
ximo aos tumores de baixo grau. Em contraste, realce em realce irregular circundando um centro necrótico sem re
imagens pré-operatórias está associado a um risco de re alce. E comum ocorrer hemorragia com perda de fase dos
corrência aumentado e a menor sobrevida. O realce pode spins e artefatos de susceptibilidade magnética em T2*.
indicar um astrocitoma mais maligno, com focos tenden Oligodendroglioma e oligoastrocitoma misto tam
do a glioblastoma (grau IV). bém podem ser indistinguíveis do AA. Oligodendroglio
Os AAs geralmente não restringem na seqüência em mas são tumores com base na cortical, enquanto AAs in
difusão. A espectroscopia de pròlons mostra elevada co filtram mais difusamente a substância branca.

17-35A Imagem em FLAIR


em uma mulher de 34 anos
mostra uma massa hiperintensa
amplamente infiilrativa no corpo
caioso e SB periventricular pro
funda ES.
17-35B A imagem em TI pós-
-contraste mostra um pequeno
foco de realce aneiar no meio da
massa B.

17-35C A espectroscopia de
protons mostra elevada colina
E2 e baixo NAA S.
17-350 O mapa da relação
coiina:NAA mostra que a colina é
mais alta na área de realce ane
iar, sugerindo neoplasia maligna
de alto grau. O diagnóstico histo-
lógico foi o astrocitoma anaplási-
CO (OMS grau ill). (Cortesia de M.
Thurnher, MD.)
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1.8^ SBLUOIPOJISV
482 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

17-38A TC sem conlrasle mostra achados típicos de GBM, com uma 17-38B TC com contraste do mesmo paciente mostra a "crosta" irre
grande massa iso/hipodensa EEl que comprime e desloca os ventriculos gular com impregnação B circundando o centro necrótico e sem realce
laterais. do tumor.

Genética. A alta freqüência de mutações de IDHl e IDH2 O tronco encefálico - especialmente a ponte - é um
em astrocitomas, glioblastomas secundários e oligoden local comum em crianças. GBMs do cerebelo e da medula
drogliomas sugere que esses tumores compartilham uma espinal são muito raros.
população de células progenitoras comum. A ausência Tamanho e número. GBMs variam em tamanho. GBMs pri
desse marcador molecular em glioblastomas primários mários costumam ser lesões maiores e mais necróticas,
sugere uma célula de origem diferente. Ambos os subti- enquanto GBMs secundários inicialmente se desenvol
pos de glioblastoma adquirem um fenótipo histológico vem como pequenos focos dentro de um grande "mar" de
similar como resultado de alterações genéticas comuns, astrocitoma de baixo grau.
incluindo a perda dos genes supressores tumorais no Devido ao fato de que GBMs disseminam-se rapida
cromossomo I Oq. e amplamente ao longo dos tratos compactos de substân
Várias mutações foram identificadas em GBMs; cia branca, até 20% aparecem como lesões multifocals no
somente algumas das mais importantes são discutidas momento do diagnóstico inicial. Entre 2 e 5% dos GBMs
aqui. A ampliflcação de EGFR ocorre em 40 a 50% multifocals são tumores sincrônicos e de desenvolvimen
dos GBMs primários (raramente em tumores secundá to independente.
rios), enquanto mutações no TP5S são mais comuns em
GBMs secundários, porém também ocorrem em lesões Patologia macroscópica. A aparência mais freqüente é a de
uma "crosta" de tumor cinza-avermelhado circundando
primárias. Mutação no !DH} ocorre somente no GBM
secundário.
um centro necrótico (Fig. 17-37). Efeito de massa e ede
Tr ê s s í n d r o m e s h e r e d i t á r i a s d e c â n c e r - a n e u r o f í -
ma peritumoral são marcados. Vascularização aumentada
bromatose tipo 1 (NFl), Li-Fraunieni e síndrome de e hemorragia intratumoral são comuns. Envolvimento si
Turcot - demonstram uma propensão aumentada para o métrico do corpo caloso também é comum, o padrão em
"asa de borboleta".
desenvolvimento de GBM.
Características microscópicas. Necrose e proliferação mi
Patologia crovascular são as assinaturas histológicas dos GBMs,
Localização. Os hemisférios cerebrais são o local mais distinguindo-os dos astrocitomas anaplásicos.
comum em adultos. GBMs preferencialmente acome Variadas células tumorais abrangem GBMs; por isso,
tem a substância branca subcortical e perventricular pro a parte "multiforme" do GBM. Astrócitos fibrilares ple-
funda, disseminando-se para os tratos compactos, como omórficos. gemistocitos, pequenas células bipolares de
o corpo caloso e o trato corticoespinal (Fig. 17-36). Os aparência inocente, porém mitoticamente ativas (incluin
núcleos da base e tálamos também são outras localiza do "microglia") e grandes células gigantes multinucleadas
ções comuns. bizarras são características comuns.
Astrocitomas 483

GBMs geralmente possuem alto índice proliferativo freqüência discretamente maior em homens, e tumores
(MlB-1), que excede 10%. secundários, em mulheres.
A imuno-histoquímica demonstra positividade para
GFAP e 01ig2. IDH-1 é muito útil na diferenciação entre Apresentação. A apresentação varia conforme a localiza
ção, porém crise convulsiva, déficits neurológicos focais
glioblastomas secundários (positivo) e primários (negativo). e alterações do estado mental são os sintomas mais co
Estadíamento, graduação e classificação. GBMs são neopla muns. Cefaleia devido à elevação da pressão intracraniana
sias grau IV da OMS. também é comum. Cerca de 2% dos GBMs se apresentam
com sintomas agudos semelhantes a acidente vascular
Aspectos clínicos cerebral, causados por hemorragia intratumoral aguda.
Epidemiologia. o GBM é o tumor cerebral primário mais Um GBM subjacente sempre deve ser uma consideração
comum, representando entre 12 e 15% de todas as neopla diagnóstica em pacientes normotensos de mais idade com
sias intracranianas e 60 a 75% dos astrocitomas. Tumores
hemorragia intracraniana espontânea e inexplicada.
primários representam 95% de todos os GBMs. Somente
5% dos GBMs são tumores secundários, surgindo de um História natural. O GBM é uma doença de progressão
astrocitoma de grau mais baixo preexistente. inexorável. A sobrevida média em pacientes com GBM
primário é menor do que um ano. Os pacientes mais jo
Demografia. GBMs podem ocorrer em qualquer idade vens com GBMs secundários podem sobreviver por um
(incluindo recém-nascidos e lactentes), porém a idade de
período um pouco maior.
pico é de 45 a 75 anos. Os GBMs primários tendem a
ocorrer em adultos mais velhos (com pico de apresen Opções de tratamento. A ressecção cirúrgica ostensiva,
tação entre 60 e 75 anos), enquanto os GBMs secundá seguida de radioterapia e quimioterapia concomitantes,
rios ocorrem IO ou 20 anos mais cedo. A relação H:M é pode prolongar a sobrevida com uma qualidade de vida
quase igual, embora GBMs primários ocorram com uma variável. Cirurgias "redutoras" em geral são ineficazes.

17-39A Exame de TC sem


conifaste em um paciente com
GBM típico mostra uma massa
hipodensa mal definida expan
dindo o joelho do corpo caioso
ea. Focos hipodensos na SB
subcortical são observados em
ambos os lobos frontais
-i, 17-39B Imagem ponderada
em T2 mostra que a massa B é
heterogeneamente hiperintensa
nessa seqüência. Observe o ede
ma se estendendo para a região
anterior de ambos os lobos fron
tais

17-39C T2" GRE mostra he


morragia irregular e confiuenie
B
17-390 Imagem em TI pós-
-contraste mostra uma espessa
"crosta" de tumor com realce
B circundando o centro necró-
484 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Imagem GBMs altamente vasculares são vistos como focos de re


alce lineares adjacentes à massa.
Características gerais. Ao menos 90 a 95% dos GBMs de
monstram uma "parede" espessa e irregular com realce Achados de RM. As imagens ponderadas em TI mostram
circundando um centro necrótico. uma massa mal delimitada com intensidade de sinal mista.
Em casos raros, não há massa dominante presente. Hemorragia subaguda é comum. Em T2/FLA1R observa-
Em vez disso, o tumor se estende difusamente através -se hiperintensidade heterogênea com margens tumorals
da substância branca cerebral. Hiperintensidades con- indistintas e extenso edema vasogênico (Figs. 17-39 e
fluentes e irregulares na substância branca nas seqüências 17-40). Necrose, cistos, hemorragia em vários estágios de
T2/FLAIR podem simular microangiopatia. Uma varian evolução, níveis líquido-debris eflow voids devido à vasta
te ainda mais rara é a "gliomatose leptomeníngea difusa neovascularização podem ser observados. A ponderação
primária". Nela, o tumor se estende difusamente ao redor T2* freqüentemente mostra focos de artefatos de suscep-
da superfície cerebral, majoritariamente entre as delimita tibilidade magnética (Fig. 17-39).
A seqüência T1 pós-coniraste mostra realce periférico
ções piais e gliais do córtex.
intenso, mas irregular, circundando um núcleo central de
Achados de TC. A maioria dos GBMs demonstra uma massa tumor necrótico sem impregnação. Focos de realce nodu-
central hipodensa circundada por uma borda iso a mode lares, puntiformes ou irregulares fora da massa principal
radamente hiperdensa na TC sem contraste (Fig. 17-38A). representam extensão macroscópica do tumor nas estrutu
Hemorragia é comum, porém calcificação é rara. Marcado ras adjacentes. Focos microscópicos de tumor viável estão
efeito de massa e edema perilumoral significativo são típi presentes muito além de qualquer área identificada de re
cos achados auxiliares. alce ou edema nas sequências-padrào.
A TC com contraste mostra impregnação intensa, po A maioria dos GBMs não restringe na seqüência em
rém heterogênea (Fig. I7-38B). Vasos proeminentes em difusão. A DTl pode demonstrar redução na anisotropia

17-40A Imagem em FLAIR


de uma mulher de 68 anos com
confusão e redução de força no
braço direito e história pregressa
de câncer de mama mostra hipe
rintensidade confluente na coroa
radiada de ambos os hemisférios

17-40B Imagem em TI pós-


-conlrasle com saturação de
gordura mostra múltiplos focos
de realce linear e pontuais B
no hemisfério esquerdo.

17-40C Imagem coronal em


TI pós-contraste mostra focos de
realce pontuais e lineares B.
17-40D Imagem coronal em
plano mais posterior mostra um
agrupamento de focos nodutares
de realce B. A biópsia revelou
GBM. Ocasionalmente, o GBM
apresenta-se como uma neo
plasia multifocal difusamente
infiltrativa sem uma massa do
minante, como nesse caso.
Astrocitomas 485

17-41A Imagem ponderada


em T2 mostra uma massa de as
pecto bastarrte heterogêneo ES
no lobo temporal direito, núcleos
da base e tálamo.
17-41B Imagem na seqüência
T2 " SWI mostra extensos focos
de artefato de susceptibilidade
magnética S, consistentes com
hemorragia intratumoral.

17-41C Imagem em difusão


mostra difusão restrita nas áreas
de maior celularidade ES.
17-41D Imagem em TI pós-
-contraste mostra realce irregular
nodular e na borda circundando a
massa B.

17-41E Perfusão por RM mos


tra elevado rCBV circunjacente à
borda e na parte sólida do tumor
ES, e sinal baixo ou ausente no
centro necrótico
17-41F Espectroscopia de
protons mostra elevada colina
B, baixo NAA e grande pico de
lactato Glioblastoma multi
forme. (Cortesia de M. Thurnher,
MD.)
486 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

17-42 Ilustração mostra várias


potenciais rotas de disseminação
do GBM. A disseminação prefe
renciai do tumor é ao longo dos
tratos compactos de SB, porém
pode ser ependimária, subpial ou
difusa através do LC5 ("meningi
te carcinomatosa"). Invasão da
dura e da calota craniana, além
de metástases extracranianas,
podem ocorrer, porém são raras.
17-43 Série de casos de
necropsia ilustra os padrões de
disseminação do GBM. Corte
axial através da ponte e do cere-
belo mostra múltiplos e discretos
focos de tumor no parênquima
(Cortesia de E. T, Hediey-
•Whyle, MD.)

17-44 "Meningite carcinoma


tosa" devido à GBM reveste a su
perfície do tronco encefálico e do
cerebelo, artéria basilar e nervos
cranianos. A aparência macros
cópica é praticamente indistin-
guível da meningite piogênica.
(Cortesia de R. Hewlett, MO.)
17-45 Glioblastoma com

disseminação ao redor de ambos


os ventrkulos laterais em uma
espessa faixa de tumor sube-
pendimário (Cortesia de R.
Hewlett, MO.)

17-46A Cérebro necropsiado


e seccionado no plano coronal
mostra GBM hemorrágico e ne-
crólico no lobo temporal.
17-46B As colunas lombar
(esquerda) e torácica (direita) do
mesmo caso mostram múltiplas
metástases nos corpos vertebrais
BI. Disseminação extracraniana
de GBM é rara, apesar de estar
documentada nesse caso. (Corte
sia de E. T. Hediey-Whyte, MO.)
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488 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

17-49A Imagem em pondefação TI pós-conlraste obtida após a res- 17-498 O paciente recebeu radioterapia e lemozolomida concomitan-
secção de um GBM de lobo temporal direito. Tumor resídua! com realce le. Cinco semanas depois, realce espesso circunda o leito da ressecção. A
reveste a cavidade da ressecção B. biópsia revelou tumor necrólíco. O realce representava pseudoprogressão.

fracionada e interrupção dos tratos de SB devido à in Disseminação pelo LCS. O GBM freqüentemente se
vasão tumoral. A espectroscopia de protons comumente meia o LCS, preenchendo os sulcos e as cisternas. Reves
mostra elevada colina. NAA e mioinositol (ml) reduzidos, timento difuso dos nervos cranianos e da superfície piai
e um pico de lipídeo/lactato ressonando em 1,33 ppm. A do cérebro também é comum. Esse aspecto de "meningite
perfusão por RM mostra elevado rCBV na "parede" tu carcinomatosa" pode ser indistinguível, nos exames de
moral e aumento da permeabilidade vascular (Fig. 17-41). imagem, da meningite piogênica (Fig. 17-48).
Angiografia. a angiografia mostra uma "impregnação" Drop metastases podem se estender inferiormente
tumoral proeminente na fase capilar, vasos de aspecto para o interior do canal vertebral, revestindo a medula
dilatado/irregular, e "represamento" de contraste. Shunts espinal, espessando nervos e causando depósitos focais
semelhantes a massas dentro do saco tecal.
arteriovenosos são comuns, vistos como veias de "drena
Disseminação ependimária e subependimária. A dis
gem precoce".
seminação do GBM ao longo do epêndima ventricular
Padrões de disseminação do GBM. O GBM é a neoplasia também ocorre, mas é menos comum do que a dissemi
primária do SNC que mais causa metástases do "cére nação difusa pelo LCS. O interior dos ventrículos - mais
bro para o cérebro". Enquanto alguns tumores primários,
freqüentemente os ventrículos laterais - é revestida com
como o meduloblastoma, ependimoma e germinoma. ten tumor realçante e se assemelha à ventriculite piogênica
dem a se disseminar quase exclusivamente por meio de nos exames de imagem (Fig. 17-48).
vias de LCS, os GBMs são notáveis pela sua habilidade de
Disseminação tumoral subependimária também ocor
se disseminarem por múltiplas rotas (Figs. 17-42, 17-43,
re, produzindo um espesso "realce" neoplásico conforme
17-44, 17-45 e 17-46). Devido ao fato de o GBM disse o tumor "dissemina" ao redor das margens ventriculares.
minar-se tão rapidamente e das células tumorals viáveis Invasão da dura e do crânio. Invasão direta do GBM
estarem presentes em muitas regiões de aspecto normal do
através da pia e para a dura-aracnoide é rara. Em casos ex
cérebro, muitos neuropatologistas e oncologistas conside
cepcionais, o tumor erode para o interior e algumas vezes
ram o GBM uma doença "de todo o cérebro".
por meio da calota craniana, estendendo-se para dentro
Metástases para a substância branca. A rota mais co
das partes moles subgaleais.
mum de disseminação do GBM é por meio da substância
Metástases extras SNC. Disseminação hematogênica
branca (Fig. 17-47). O tumor se espalha diretamente para
do GBM para locais sistêmicos ocorre, porém é rara. Podem
o interior (e além) do edema peritumoral. A disseminação
ocorrer metástases para a medula óssea (especialmente os
ao longo de tratos de substância branca, como o corpo ca-
corpos vertebrais), fígado, pulmão e até mesmo linfonodos.
loso, fómices, comissura anterior e trato corticoespinal,
podem resultar em implante tumoral em áreas remotas Pseudoprogressão do GBM. RM com uso de meio de con
como a ponte, o bulbo e a medula espinal. traste é atualmente o pilar para a monitoração da resposta
Astrocitomas 489

ao Iratamento em pacientes com GBM. As decisões do Desmielinização "tumescente" na sustância branca


tratamento são guiadas por critérios que equiparam au subcortical pode demonstrar realce periférico. Um padrão
mento da impregnação com carga tumoral, falha no trata em "ferradura", freqüentemente envolto ao redor de um
mento e mau prognóstico. sulco, é comum. Uma borda incompleta com o segmento
Entretanto, as técnicas-padrão de imagem não conse aberto apontando para o sulco e o córtex é típico para de-
guem distinguir o tumor recorrente ou progressivo da le mielinização "tumescente".
são parenquimatosa induzida pelo tratamento, nem identi
ficar áreas de tumor associado a lesões parenquimatosas.
G L I O B L A S T O M A M U LT I F O R M E
A necrose por radíoterapia e a pseudoprogressão são os
dois principais tipos de efeitos relacionados ao tratamento Etiologia
• GBM "primário": de novo, provavelmente de
que podem mimetizar recorrência tumoral. A necrose por
células-tronco neurais
radioterapia é um processo tardio, mas a pseudoprogres o 95% dos GBMs
são em gera! ocorre em três meses. • GBM "secundário": progressão maligna de um
Após a ressecção cirúrgica associada à radioterapia e astrocitoma de grau mais baixo
temozolomida concomitantes, o aumento da lesão é fre o 5% dos GBMs
qüentemente observado na primeira RM de seguimenio
Patologia
(Fig. 17-49). Quase metade de todos os pacientes mostra • Neoplasia primária mais comum do SNC
aumento do efeito de massa e novas áreas de realce em o 60-75% dos astrocitomas
comparação ao estudo pós-operatório imediato. Desses • Hemisférios» ponte »cerebelo, medula espinal
pacientes, cerca de 40% são secundários à pseudoprogres • "Crosta" espessa de tumor circundando área central
são em vez da progressão tumoral "verdadeira". de necrose (95%)
A distinção entre progressão precoce "verdadeira" e o Hemorragia comum, Ca ++ raro
• Assinaturas histológicas: neovascularização, necrose
pseudoprogressão é difícil. A perfusão por RM com contras
te e a ponderação de susceptibilidade dinâmica podem ser Aspectos clínicos
usadas para mapear o rCBV e estimar a microvascularização • Qualquer idade, pico = 45-75 anos
tecidual nas lesões. Estudos pioneiros sugeriram que o rCBV • Progressão inexorável
o Sobrevida < 1 ano
pode quantificar a carga tumoral relativa a componentes de
pseudoprogressão e necrose induzida pela radioterapia. Imagem
O uso de implantes de carmustina (Gliadel) também • Tumor espesso e irregular circundando necrose
complica as imagens pós-operatórias. Realce anelar ocorre central (95%)
dentro de um dia de pós-operatório e alcança o pico em cer • Realce intenso, porém heterogêneo
• Disseminação do "cérebro para o cérebro" comum
ca de um mês. Restrição à difusão pode durar até um ano.
o Substância branca hemisférica, feixes de fibras
o ICS ("meningite carcinomatosa", drop metastases
Diagnóstico diferencial na medula)
As principais neoplasias que devem ser distinguidas do o Disseminação ependimária/subependimária
GBM são as metastases. Metástases costumam ser múlti
Diagnóstico diferencial
plas e tendem a ocorrem perifericamente na junção entre as • Comum: metástase, abscesso
subtáncias branca e cinzenta. Até mesmo grandes metástases • Menos comum: AA, oligoanaplásico, linfoma
são arredondadas ou ovoides, não infíltrativas como o GBM. • Raro: desmielinização "tumescente"
Outras neoplasias que podem simular GBM incluem
astrocitoma anaplásico, oligodendroglioma anaplásico
misto e linfoma primário do SNC. Astrocitomas ana- Gliossarcoma
plásicos geralmente não realçam, apesar de que alguns o
fazem, e pode ser difícil distingui-los do GBM somente Terminologia
pelos exames de imagem. O gliossarcoma (GS) é uma variante do glioblastoma que
O oligodendroglioma anaplásico e o oligoastrocito- contém componentes gliomatosos e sarcomatosos distintos.
ma anaplásico podem infiltrar a substância branca de ma
neira similar ao GBM e podem ser difíceis de diagnosticar Etiologia
sem biópsia. O linfoma primário do SNC freqüentemen Os gliossarcomas podem ser primários ou secundários. A
te envolve o corpo caloso, porém é raro ser necrótico na maioria dos GSs é tumor primário e surge de novo. GSs se
ausência de HlV/Aids. cundários ocorrem em pacientes com GBMs previamente
O principal diagnóstico diferencial não neopiásico do ressecados e irradiados, ou como tumores induzidos pela
GBM é o abscesso. Abscessos geralmente possuem bor radioterapia em pacientes sem história prévia de GBM.
das mais finas e regulares. e restringem na difusão. A es- O perfil genérico do GS é similar ao do GBM primá
peclroscopia de protons mostra succinato e aminoácidos rio, exceto por raras amplificações de EGFR. Metilaçào
citosólicos, os quais são raros no GBM. do MGMT e mutação do IDHl também são raras.
490 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

17-50 Caso de necropsia de gliossafcoma demonstra um nódulo 17-51 Imagens em T2 (esquerda) e TI pós-contraste (direita) mos
tumoral com base durai que possui aspecto muito similar a um me tram uma massa com realce no lobo frontal esquerdo B que acomete
ningioma. (Corteria da Rubinstein Coiiection, arquivos da AFiP.) o parênquima cerebral e invade a dura B. Gliossarcoma. (Cortesia de L,
Ginsberg, MD.)

Patologia Gliossarcomas geralmente tocam as meninges, porém


o gliossarcoma é caracterizado por um padrão tecidual podem não mostrar ligação à dura ou invasão óbvia. Uma
bifásico. Áreas que exibem elementos tanto gliais neoplá- "cauda" durai com realce freqüentemente se estende peri-
sicos quanto mesenquimais metaplásicos estão presentes fericamente a partir da massa tumoral.
no mesmo tumor. O elemento gliomatoso pode estar ge
ograficamente separado do componente mesenquimal ou
Diagnóstico diferencial
entremeado por ele (Fig. 17-50). o principal diagnóstico diferencial do GS é o meningioma
Hislologicamente, o componente glial apresenta os anaplásieo. Outros sarcomas, metástases durais, linfoma.
critérios usuais para GBM (ver acima). O componen piasmocitoma e ncurossarcoidose podem se apresentar
te mesenquimal pode demonstrar uma ampla variedade como lesões de base durai com variável invasão cerebral.
de características morfológicas, com linhagens celula
res fibroblásticas, cartilaginosas, ósseas, musculares ou Gliomatose cerebral
adiposas.
Gliossarcomas são neoplasias grau IV da classifica
Terminologia
A gliomatose cerebral (GC) também é conhecida como
ção da OMS.
gliomatose cerebral difusa. Enquanto outras neoplasias
Aspectos clínicos gliais. como oligodendroglioma, às vezes apresentam um
Gliossarcomas são raros, representando 2% de todos os padrão de crescimento similar à gliomatose, a maioria das
glioblastomas. O pico de idade é de 50 a 70 anos. O prog GCs exibe linhagem astrocítica e é, portanto, discutida
nóstico é sombrio, com sobrevida média de oito meses neste capítulo.
para GSs secundários e 14 meses para GSs primários. Re A GC é caracterizada pela incomum infiltração dis
corrência local é típica. Em contraste ao GBM. metástases seminada do parênquima cerebral. Por definição, a GC
extracranianas são relativamente comuns, ocorrendo em envolve ao menos três lobos do cérebro, freqüentemente
15 a 30% dos casos. se estendendo para os núcleos da base e para a substância
branca profunda.
Imagem
Os exames de imagem mostram uma massa hemisférica Etlologia
periférica de aspecto heterogêneo e base ampla, com mo Conceitos gerais. GCs podem se originar de novo ou da
derado a intenso edema circunjacente. Lesões irregulares extensão de um astrocitoma difusamente infilirativo ou
com paredes espessas que demonstram intenso realce ane- (menos comum) de um oligodendroglioma previamente
lar são observadas em 80% dos casos (Flg. 17-51). diagnosticado.
Astrodtomas 491

17-52A Caso de necropsia de gliomalose cerebral mostra expansão 17-52B imagem ponderada em T2 antemortem do mesmo caso mos-
difusa e tênue descoloração da SB cerebral e Infiltração dos núcleos da tra o envolvimento da substância branca, substância cinzenta profunda e
base. córtex. GCs Infiltram e expandem, porém mantêm a arquitetura cerebral
fundamental. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)

Genética. Há poucos relatos definindo as alterações genéti Características microscópicas. Uma ampla variedade de célu
cas da GC. Mutações no gene IDHl similares àquelas do las similares a astrócitos ou oligodendrócitos está presen
astrocitoma difuso foram identificadas em alguns casos. tes. Células glials alongadas com núcleos hipercromáticos
Em GCs oligodendrogliais, codeleçào dos cromossomos e grandes células tumorals com núcleos irregulares e ple-
Ip e 19q são comuns. omórficos estão freqüentemente entremeadas por axônios
mielinizados. A celularidade costuma ser baixa. Atividade
Patologia mitótica é variável, porém em geral ausente ou mínima.
Localização. GCs já foram descritas em quase todas as Estadiamento, graduação e classificação. A GC é uma neo
partes do cérebro. Mais de 75% dos casos envolvem os plasia biologicamente agressiva, com graus tumorals que
hemisférios cerebrais, e um ntímero igual é bilateral. Os variam de II a IV. A maioria corresponde ao grau III da
tálamos e núcleos da base costumam ser afetados. O tu OMS. Devido ao fato das GCs serem tão infiltrativas, a
mor se estende para o mesencéfalo em 50% dos casos.
graduação e a subtipagem histológica podem ser baseadas
GCs de fossa posterior em geral acometem a ponte, em uma amostra tecidual não representativa. Graduações
cerebelo e/ou bulbo. Extensão superior para o mesenéfaio mais baixas devido a espécimes pequenos de biópsia são
e o diencéfalo é comum. incomuns.

Tamanho e nlimero. GCs costumam ser tão extensas, am


Aspectos clínicos
plamente infiltrativas e mal delimitadas que se torna di
fícil identiUcar suas margens exatas. Portanto, o tumor Epidemiologia. a GC é um tumor infiltrativo raro, porém
ostensivamente visível subestima o tamanho da lesão. provavelmente subdiagnosticado, que representa cerca de
1% de todos os astrocitomas. Antes do advento da RM,
Patologia macroscópica. O diagnóstico patológico da GC a maior paite dos casos era diagnosticada durante a ne
depende não somente das suas características histológi- cropsia.
cas, mas também da sua extensão. Crescimento tumoral
Demografia. a GC pode ocorrer em qualquer idade, in
disseminado com preservação da estrutura cerebral fun
cluindo lactentes e crianças, porém o pico de apresentação
damental está presente. Estruturas normais encontram-se
é entre 40 e 50 anos.
infiltradas e expandidas, mas ainda reconhecíveis. Ajun-
ção entre as substâncias branca e cinzenta está borrada em Apresentação. Sinais e sintomas clínicos variam e são fre
alguns locais, enquanto permanece intacta em outros (Fig. qüentemente inespecífícos. Alterações cognitivas e com-
17-52). Envolvimento bilateral é comum, porém hemor portamentais são comuns. Crises convulsivas, déficits
ragia, necrose e formação de cistos são raras (Fig. 17-53). neurológicos focais, letargia e cefaleia são freqüentes.
492 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

17-53 Caso de necropsia mos


tra gliomatose cerebral infiltran
do a SB S] e o córtex dos lobos
frontais. Compare a interface SB-
-SC ES com o córtex parietal, de
aspecto mais normal. (Cortesia
de R. Hewlett, MD.)
17-54A Imagem axial pon
derada em TI em um paciente
com gliomatose cerebral mostra
assimetria entre o córtex parietal
direito de aspecto normal B e
o córtex espessado do resto dos
hemisférios.

17-54B Imagem em T2 do
mesmo paciente mostra hipe-
rintensidade em ambos os lobos
temporais, talamos e córtex
de ambos os hemisférios B3.
Somente o córtex parietal direito
S parece poupado.
17-54C Imagem através da
coroa radiada superior mostra
córtex hiperintenso expandido e
hiperintensidade "nebulosa" na
SB subjacente. Novamente, ape
nas o lobo parietal direito B
parece relativamente poupado.
Embora anormal, a arquitetura
básica do cérebro encontra-se
preservada.

17-54D Imagem em FLAIR


demonstra que a massa difu
samente infiltrative se estende
pelo córtex e coroa radiada de
ambos os hemisférios. Somente
o lobo parietal direito parece re
lativamente preservado B.
17-54E A espectroscopia de
protons encontra-se quase nor
mal. Devido à GC se infiltrar en
tre e ao redor do tecido normal,
os espectros são freqüentemente
pouco reveladores. Gliomatose
cerebral grau II da OMS foi en
contrada na biópsia.
Astrocitomas 493

17-55A TC com contraste em um homem de 45 anos com ceíaleia e 17-55B Imagem em FLAIR do mesmo paciente mostra hiperinlensl-
nenhuma alteração neurológica focai. Hipodensidade disseminada na SB dade difusa confluente que espessa o corpo caloso e se estende para a
de ambos os hemisférios cerebrais com leve efeito de massa presente. SB subcortical. Gliomatose cerebral encontrada na biópsia. (Cortesia de
C. Sutton, MD.)

História natural. A GC é uma neoplasia inexoravelmente volume discretamente aumentado com apagamento de
progressiva, e o prognóstico é ruim. A sobrevida média sulcos e indefinição da interface entre as substâncias bran
livre de progressão é de 14 meses. A mortalidade geral é ca e cinzenta. GCs de fossa posterior mostram expansão
de 50% em um ano, e 75% em três anos. Fatores prognós difiisa do tronco encefálico (Figs. 17-56 e 17-57).
ticos favoráveis incluem mutação no gene IDHl e doença As seqüências T2/FLA1R demonstram difuso efeito
unilateral e sem realce na RM. de massa infíltrativo e hiperintenso, com ventriculos redu
zidos e sulcos apagados. As imagens em TI pós-contraste
Opções oe tratamento. Devido às GCs serem tumores dis
em geral não apresentam realce. Focos irregulares, mal
seminados, a ressecção não é uma opção viável. A radio-
delimitados e com leve realce geralmente representam
terapia cerebral total e a quimioterapia-padrão em geral áreas de neoplasia de grau maior.
não modificam a sobrevida dos pacientes. A terapia com
A seqüência em difusão costuma ser normal. Em ca
procarbazina e lomustina pode ser uma opção promissora sos raros, áreas de alta celularidade podem mostrar leve a
como terapia primária para a GC.
moderada restrição à difusão (Fig. 17-58).
A espectroscopia pode parecer quase normal, com
Imagem
discreta elevação da colina e redução do NAA. O ml pode
A RM é a modalidade de escolha, uma vez que a TC pode
estar elevado. Pico de lipídeo-lactato é incomum. Como a
estar normal ou apenas um pouco alterada.
GC infiltra, porém preserva a estrutura normal da substân
Achados de TC. Efeito de massa pequeno ou ausente relati cia branca, a DTI costuma ser normal.
vo ao tamanho da lesão é típico. Cérebro levemente ede- A perfusão por RM é útil na escolha de áreas para
maciado e hipodenso, com perda da diferenciação entre biópsia estereotáxica. O rCBV elevado sugere foco de de-
as substâncias branca e cinzenta pode ser observado em
generação maligna (Fig. 17-58F).
alguns casos. Hipodensidades multifocals ou confluentes
na substância branca podem simular alterações microan- Olagnóstico diferencial
giopáticas ou doença metabólica adquirida (Fig. 17-55). A A diferença entre os astrocitomas difusos de baixo grau
TC com contraste geralmente não mostra realce. e anaplásícos amplamente inflltrativos e a GC é basica
Achados de RM. As imagens em TI podem parecer nor mente a extensão da doença. Uma vez que um astrocito-
mais ou pouco alteradas. A estrutura cerebral fundamen ma difuso se dissemina pelo corpo caloso e acomete três
tal está distorcida, porém bem preservada (Fig. 17-54). A lobos cerebrais ou ambos os tálamos e núcleos da base, a
substância branca hemisférica e os giros podem mostrar distinção se toma acadêmica.
494 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

17-56 A gliomatose cerebral


pode, ocasionalmente, começar
na fossa posterior e, então,
estender-se superiormente pelo
mesencéfaio para os tálamos.
Neste espécime de necropsia, o
mesencéfaio encontra-se expan
dido SI e ambos os tálamos
estão infiltrados pelo tumor.
(Cortesia de R. Hewlett, MD.)
17-57A Imagem sagital pon
derada em TI em uma mulher
de 26 anos neurologicamente
normal com celaíeia. Uma exten
sa massa expande difusamente o
mesencéfaio, a ponte, o bulbo e
a medula cervical superior.

17-57B Imagem axial em 12


mostra que o bulbo está ostensi
vamente aumentado, porém sua
intensidade de sinal está apenas
discretamente aumentada.
17-57C Imagem ponderada
em T2 através da porção média
da ponte mostra marcante au
mento sem alteração definida na
intensidade de sinal.

17-57D Imagem em 12 em
plano mais superior mostra que
o mesencéfaio possui quase o
dobro do seu tamanho normal,
apesar do aqueduto permanecer
patente e não haver evidência
de hidrocefalía obstrutiva.
17-57E Imagem coronal
ponderada em Ti pós-contraste
não mostra evidência de realce,
mas leve hipointensidade pode
ser observada no bulbo, ponte
e mesencéfaio expandidos B.
Devido ao tumor acometer o
mesencéfaio, rombencéfalo e
medula espinal, ele foi diagnos
ticado como provável gliomatose
cerebral de baixo grau (OMS grau
II). Não foram realizadas biópsias.
Astrocitomas 495

17-58A Imagem de TC sem


contíasle em um homem de 46
anos com paralisia facial e alte
ração do estado mental mostra
o que parece ser um cérebro
difusamente edemaciado. Entre
tanto, há algumas hiperintensi-
dades mal definidas B na SB
do hemisfério direito.
17-58B Imagem em 12 mos
tra que as hiperintensidades na
S6 do hemisfério direito B
também acometem o cortex em
algumas áreas B. indefinindo
as interfaces entre as substâncias
branca e cinzenta.

17-58C Imagem axial em


TI pós-contraste mostra focos
esparsos de realce leve a mode
rado E3.
17-580 Imagem em plano
mais superior mostra áreas adi
cionais de realce tênue e mal
definido no hemisfério ES.

17-58E Mapa ADC do mesmo


paciente demonstra difusão res
trita B nas áreas hiperintensas
observadas na ponderação T2.
Além disso, uma área de difusão
restrita que não estava
evidente no T2 é observada no
esplènio do corpo caloso.
17-58F Perfusão por RM mos
tra elevado rCBV na maior parte
do hemisfério direito. A biópsia
das áreas "mais quentes" reve
lou focos de neoplasia grau IV da
OMS no interior da gliomatose
cerebral. (Cortesia de P. Hilden-
brand, MD.)
496 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Em adultos de meia-idade e em idosos, o principal


GLIOMATOSE CEREBRAL
diagnóstico diferencial é a arterioloesclerose (doença
de pequenos vasos ou microvascular com rarefaçao da Terminologia
substância branca). As alterações confluentes da subs • Também conhecida como gliomatose cerebral difusa
tância branca na encefalopatia arterioloesclerótica sub
Patologia
cortical ("doença de Binswanger") podem se assemelhar • Patologia macroscópica
bastante à GC, embora o efeito de massa infiltrative es o Massa infiltrativa disseminada envolvendo três ou

teja ausente. mais lobos


As doenças desmielinizantes (p. ex., EM ou ADEM) o Expande, mas não destrói a arquitetura cerebral
são irregulares e assimétricas, e mostram pouco ou ne fundamental
nhum efeito de massa. A leucoencefalopatia multifocal o Hemisférios (75%), bilateral (75%)
o Freqüentemente acomete os núcleos da base e
progressiva (LEMP) pode demonstrar lesão da substân talamos
cia branca bilateral, confluente e assimétrica, e que pode
o A fossa posterior e a medula espinal podem estar
cruzar o corpo caloso e simular GC. A LEMP é mais ob
envolvidas
servada em pacientes imunocomprometidos e raramente • Patologia microscópica
realça. o Difusamente infiltrativa
O linfoma difuso de células B, particularmente o lin- o Geralmente baixa celularidade, poucas mitoses
foma intravascular (angiocêntrico). pode aparecer difu o Astrocitoma > oligodendroglioma
samente infiltrativo, porém costuma ser hipointenso em o Maior parte grau III da OMS
T2 e apresenta realce após a administração de meio de Aspectos clínicos
contraste. • 1% dos astrocitomas
GC em crianças é rara e difícil de diagnosticar, uma • Qualquer idade, pico = 40-50 anos
vez que se assemelha à encefalite viral. Um pródromo
Imagem
semelhante à gripe, cefaleia, febre e alteração do estado • Arquitetura cerebral expandida e distorcida, porém
mental podem sugerir etiologia inflamatória, mas altera preservada
ções cognitivas ocorrem em ambas as doenças. • Hiperintensidade difusa em T2/FLAIR
Achados de TC de cérebro discretamente edemacia- • Interface SB-SC pode estar indefinida
do com apagamento dos sulcos e compressão dos ven- • Qualquer realce no 11 pós-contraste é suspeito para
trículos pode simular hipertensão intracraniana ídío- anaplasia
• Imagem em difusão e espectroscopia normais ou
pátíca ("pseudotumor cerebral") em crianças ou em
adultos. quase normais
Diagnóstico diferencial
• Rarefação arterioloesclerótica da SB
• Doença desmielinizante
• Linfoma
• Encefalite
Astrocitomas 497

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18
Neoplasias gliais não astrocíticas

A importância do diagnóstico correto e específico


Oligodendrogliomas e gliomas "mistos" 499 dos gliomas se relaciona com as decisões de tratamento
Oligodendroglioma 500
e prognóstico. Os gliomas com uma única entidade histo-
Oligodendroglioma anaplásico 503
Oligoastrocitomas 505 lógica podem ser divididos em subconjuntos que apresen
Tumores ependimários 506 tam comportamentos clínicos diferentes. Por exemplo, os
Ependimoma 507 oligodendrogliomas que exibem codeleções Ip e 19q são
Ependimoma anaplásico 5 11 mais sensíveis à quimioterapia. Mesmo os oligodendro
Subependimoma 5 11 gliomas anaplásicos que portam estas deleções costumam
Ependimoma mixopapilar 513 ser tratados com sucesso sem radioterapia.
Tumores de plexo coroide 513 Discutiremos inicialmente os tumores oligodendro-
Papiloma de plexo coroide 513
gliais e incluiremos os gliomas "mistos" nesta seção, já
Papiloma atípico do plexo coroide 516
Carcinoma de plexo coroide 517 que eles contêm elementos similares à oligodendroglia.
Seguiremos com a discussão dos ependimomas e seus
Outros tumores neuroepiteliais 520
Aslroblastoma 520
subtipos. Os tumores do plexo coroide, que são derivados
Glioma cordoide do terceiro venlrículo 521 de células ependimárias modificadas, constituem o tercei
Glioma angiocêntrico 523 ro grupo de neoplasias, incluídas neste capítulo. Por fim,
consideraremos brevemente um grupo de tumores não
astrocíticos incomuns, chamado de "outros tumores neu
Os gliomas não astrocíticos (GNAs) representam um largo
roepiteliais" na classificação atual da Organização Mun
espectro de neoplasias derivadas de células gliais não astro- dial da Saúde (OMS). Até o momento, esse grupo inclui o
citárias ou de suas células-tronco progenitoras. Esse grupo
astroblastoma, glioma cordoide (do terceiro ventrículo) e
de neoplasias é menor que o grupo dos astrocitomas, mas
o recentemente descrito, porém ainda controverso, glioma
compreende uma importante classe de tumores que variam
de neoplasias relativamente bem circunscritas e indolentes, angiocêntrico.
como papiloma de plexo coroide, a tumores altamente malig
nos, como oligodendrogliomas anaplásicos e ependimomas.
Como grupo, os GNAs ocorrem em pacientes de to
das as idades. Alguns - como o papiloma de plexo coroi
Oligodendrogliomas e gliomas "mistos"
de - são considerados tumores de crianças pequenas, me Os oligodendrogliomas são encontrados predominante
nores de 5 anos. Em contrapartida, os oligodendrogliomas mente na substância branca. Sua função primária é a pro
tendem a ser tumores de adultos. Diferentes subtipos de dução e a preservação da mielina.
ependimomas afetam diferentes idades. O ependimoma Os tumores derivados dos oligodendrogliócitos, co
celular em geral é um tumor da infância, enquanto o su nhecidos como oligodendrogliomas, são o terceiro tipo
bependimoma é um tumor de idosos. Às vezes, um tumor mais comum de neoplasia glial (após o astrocitoma ana
"pediátrico", como um ependimoma, é encontrado em plásico e o glioblastoma multiforme). O oligodendroglio
adultos, e um tumor de "adultos", como um oligodendro ma foi originalmente descrito em 1929, como um subtipo
glioma anaplásico, é encontrado em crianças. dc glioma com células que morfologicamente se pareciam
Os gliomas "puros" consistem em um tipo tumoral com oligodendrócitos normais. Os oligodendrogliomas
único, mas gliomas também podem ocorrer com histolo- que são mistos a elementos que parecem astrocíticos são
gias mistas de diferentes linhagens celulares. O oligoas- chamados de oligoastrocitomas.
trocitoma é um exemplo clássico e é o mais comum dos A característica em comum de oligodendrogliomas e
gliomas "mistos". oligoastrocitomas é a predominância de células que pare-
500 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

cem oligodendrócitos. Histologicamente, os tumores oli-


godendrogliais variam de bem diferenciados a neoplasias
malignas francas. Os oligodendrogliomas são atualmente
classificados em apenas duas classes: tumores bem dife
renciados (oligodendrogliomas) e uma variante maligna
(oligodendroglioma anaplásico). Ambos - juntamente
com o oligoastrocitoma - serão discutidos nesta seção.

Oligodendroglioma
Terminologia
Os oligodendrogliomas (OGs) são tumores hemisféricos
difusamente infiltrativos, bem diferenciados, de cresci
mento lento, que provavelmente se originam de oligoden
drócitos ou de células-tronco gliais imaturas.

18-1 Os oligodendrogliomas são massas pobre Etlologla


mente demarcadas, "carnosas" que infiltram o córtex
e SB subcortical. O remodelamento do osso adjacente
Conceitos gerais. Não existe prova definitiva de que os
é comum. OGs originam-se das células oligodendrogliais. A suposta
origem dos OGs é baseada na sua semelhança morfológi-
ca aos oligodendrócitos normais.
Genética. Além de suas características histológicas, os
OGs possuem alterações genéticas específicas que os dis
tinguem dos astrocitomas, bem como de outros gliomas.
Perdas alélicas dos cromossomos Ip e 19q são uma "as
sinatura" molecular distinta dos OGs e ocorrem em 50 a
70% dos OGs, tanto de baixo grau, como anaplásicos.
A mutação IDHI é vista em 80% dos casos. Muta
ções celulares da inicialização do câncer concomitantes,
mutações IDHç perda Ip e I9q são especificas para OGs.
O gene promotor da metilação metioguanina-metiltrans-
ferase (MGMT) é comum em pacientes pediátricos e em
adultos Jovens com OGs, enquanto mutações IDHI estão
ausentes na maioria dos casos pediátricos.

18-2 As células dos oligodendrogliomas apresentam


núcleos uniformes redondos e "halos" perinucleares
Patologia
(aspecto em "ovo frito"). (Cortesia de P. Burger, MD.) Localização. A maioria dos OGs se origina da junção entre
as substâncias branca e cinzenta (SB-SC). A maioria (85 a
90%) é supratentorial. O local mais comum é o lobo fron
tal (50 a 65%), seguido pelos lobos parietal e occipital.
A fossa posterior e a medula espinal são locais incomuns
para os OGs.
Patologia macroscópica. Os oligodendrogliomas são mas
sas "carnosas" de tom dourado a róseo. Eles tendem a in
filtrar o córtex e expandir um ou mais giros (Figs. 18-1
e 18-4). A extensão pela membrana neuroglial (glia limi-
lans) para a superfície piai é comum.
A maioria dos OGs é pobremente circunscrita e mes
cla-se gradualmente com as estruturas adjacentes. A for
mação de cistos e de necrose é incomum. A hemorragia é
rara nos oligodendrogliomas de baixo grau.
Características microscópicas. Os OGs variam em celu-

18-3 Massa hipodensa cortical/subcorlical com Ca+-t


laridade. Alguns são paucicelulares, enquanto outros
B, sinal heterogêneo B e mínimo realce BSI na demonstram lâminas de células justapostas. Núcleos
RM. Oligodendroglioma. liipercromáticos redondos uniformes ou levemente ova-
> 3 C- > ^ or "O Z i O
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502 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

(Fig. 18-3). A degeneraçâo cística ocorre em 20%. He


morragia evidente e edema peritumorai são menos co
muns e não indicam degeneraçâo maligna (Fig. 18-6).
O realce varia de nenhum a moderado; aproximada
mente 50% dos OGs demonstram algum grau de realce
(Fig. 18-5). Um padrão multifocal esparso é típico.
Achados na RM. Na ressonância magnética (RM), os OGs
com freqüência se apresentam bein delineados e são hi-
pointensos em relação à substância cinzenta na pondera
ção em Ti. Eles costumam ser heterogeneamente hipe-
rintensos em T2/FLAIR (Figs. 18-3 e 18-7). O edema
vasogênico é comum. As calciflcações são vistas como
focos com artefatos de susceptibilidade magnética nas se
qüências T2*.
Um realce moderado e heterogêneo é visto em cerca
18-6 Ocasionalmente, os oligodendrogliomas grau If de metade dos casos. Não há relação entre a presença ou
da OMS exibem hemorragia e necrose ES. {Cortesia de o volume de realce e a presença ou ausência de deleção
R. Hewlett, MD.)
Ip el9q.
Os OGs não restringem à difusão. Colina moderada
mente elevada e redução do n-acetil-aspartaio (NAA) sem
um pico de lactato é típico na espectroscopia de protons.
A perfusão na RM (pRM) é utilizada com freqüência
para predizer o grau pela OMS das neoplasias cerebrais.
Os oligodendrogliomas de baixo grau são mais vasculari-
zados e mclabolicamente ativos que os astrocitomas com
o mesmo grau. Os OGs podem apresentar focos de alto
volume sangüíneo cerebral (CBV) relativo que refletem
a vascularizaçào proeminente em "tela de galinheiro", tão
característica dos oligodendrogliomas com codeleçào Ip
e 19q de baixo grau. Como conseqüência, um CBV rela
tivo elevado em um OG não indica necessariamente alto
grau histopatológico.

Diagnóstico diferencial
18-7A Ponderação em Ti demonstra uma neoplasia O principal diagnóstico diferencial do OG é o astroci-
bifrontal de aspecto agressivo, com intensidade de sinal
toma difuso de baixo grau. Astrocitomas fibrilares di
heterogênea devido à hemorragia subaguda B.
fusamente infiltratives costumam envolver a substância
branca, não o córtex, e não sofrem realce. A diferencia
ção de um OG grau 11 pela OMS para um oligoastrocito-
ma misto ou um oligodendroglioma anaplásico (OAn)
pode ser difícil com base apenas nos aspectos de ima
gem. Hemorragia e necrose são comuns tanto no OAn
quanto no OG.
Outros tumores de crescimento lento e com base cor
tical que apresentam convulsões incluem o ganglioglío-
ma e o tumor neuroepitelial disembrioplásico (DNET).
Ambos são mais comuns em crianças e em adultos jovens.
Os gangliogliomas são mais comuns no lobo temporal
,v: K ^ d. com um aspecto de "cisto -h nódulo". Os DNETs em geral
são "bolhosos" e podem ter displasia cortical associada.
O neurocitoma central é indistinguível do OG à mi-
croscopia óptica e requer colorações por imuno-histoquí-
mica (p. ex., sinaptofisina) para o diagnóstico. Antes da
18-78 Ponderação em T2 revela hemorragia suba
guda E3 e intensidade de sinal heterogênea. O diag identificação do neurocitoma central como uma entidade
nóstico pré-operatório foi de GBM. A cirurgia revelou distinta, essas neoplasias eram chamadas de "oligoden
oligodendroglioma. drogliomas intraventriculares".
Neoplasias glials não astrocíticas 503

O neurocítoma extraventricular é uma variante


com base cortical muito rara, que não necessariamente
exibe o padrão "bolhoso" típico do seu análogo intraven
tricular; na imagem, pode ser indistinguível do OG.

OLIGODENDROGLIOMA

Patologia
• Características gerais
o Originam-se da junção entre as substâncias branca
e cinzenta
o Hemisféricos (85-90%)
o Lobo frontal (50-65%)
o Cortex difusamente infiltrado
o Pouco circunscritos
• Características microscópicas
o Células em "ovo frito" 18-8 Necropsía de um oligodendroglioma anaplásico
o Grau II da OMS difusamente infiltrativo demonstra necrose e hemorra
gia SI. {Cortesia de R. Hewlett, MD.)
Aspectos clínicos
• Epidemiologia
o Terceiro tumor cerebral primário mais comum (2-5%)
o Mais comum em adultos de meia-idade
o Raro em crianças
• Apresentação
o Convulsões
• Prognóstico do tratamento
o Quimiossensibilidade se codeleçâo 1p e 19q

Imagem
• Massa cortical redonda/ovoide
• Relativamente bem delifinidos
• Ca++ (70-90%)
• Hemorragia e edema peritumorais são incomuns
• 50% realçam

Oligodendroglioma anaplásico 18-9A Aquisição em FIAIR de um paciente com oli


godendroglioma anaplásico demonstra intensidade de
Terminologia sinal muito heterogênea S e edema peritumoral ES.
o oligodendroglioma anaplásico (OAn) é o correspon
dente maligno do oligodendroglioma na classificação em
dois níveis da OMS das neoplasias oligodendrogliais.

Etiologia
Os OAns podem surgir como lesões novas ou originar-se
da progressão de um oligodendroglioma grau II preexis
tente. CodeleçÕes Ip e 19q estão presentes em 30 a 40%
dos casos. Entre 20 e 25% exibem uma amplificação do
gene EGFR.

Patologia
Localização. Os OAns demonstram a mesma preferência
que os OGs pelo lobo frontal. O lobo temporal é o segun
do local mais comum.

Patologia macroscópica. As características macroscópi


18-9B Aquisição em TI pós-contraste demonstra
cas do OAn são similares às dos oligodendrogliomas realce linear e esparso ^3. Oligodendroglioma anaplá
grau 11, com exceção da presença de focos necróticos sico (OMS grau III) foi encontrado na histopatologia.
(Fig. 18-8).
504 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

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III. y

p- ^

18-10 TC sem contraste e série de imagens de RM de um homem 18-11 Mulher de 24 anos se apresentou â emergência com convul
de 37 anos com início súbito de convulsões demonstra massa parietal sões. TC sem contraste e série de imagens de RM demonstram massa pa
esquerda relativamente bem definida B. Oligodendroligoma grau II da rietal esquerda B, que parece com o oligodendroglioma da Fig. 18-10.
OMS comprovado hislologicamente. Oligodendroglioma anaplásico (OMS grau III).

Características microscópicas. Características focais ou di a sobrevida, portanto, a ressecçuo total permanece sendo o
fusas de malignidade estão presentes. Os OAns têm maior principal tratamento. A quimioterapia com procarbazina.
densidade celular, com maior pleomorflsmo nuclear e hi- lomustina e vincristina (regime PCV) ou temozolomida
pcrcromatismo que os OGs. Degeneraçào cística e necro (TMZ) pode ser efetiva nos OAns que possuem codeleção
se com ou sem pseudopaliçadas são comuns. Hipertrofia Ip e 19q. A radioterapia é uma opção para pacientes com
microvascular e proliferação são comuns. tumor residual ou recorrente.
Atividade mitótica mais alta caracteriza os OAns. Os
índices de proliferação MIB-1 estão elevados. Embora não Imagem
haja valor de ponto de corte aceitável para a distinção en As características de imagem gerais do OAn são muito si
tre OAn e OG, índices de 7 a 10% ou maiores são típicos. milares àquelas do OG e não são confiáveis para predizer
Estadiamento, graduação e classificação. Os OAns são tu ograu do tumor (Figs. 18-lüe 18-11). Edema peritumo-
mores grau III pela OMS. ral, hemorragia e focos de degeneração cística são mais
comuns. O realce é variável, indo de ausente a marcante
Aspectos clínicos (Fig. 18-9).
Epidemiologia. Entre 25 a 35% dos oligodendrogliomas são Como os OGs são. com freqüência, bastante vascu-
anaplásicos. Os OAns correspondem a 1 a 2% de todos os larizados. o CBV relativo pode ser enganoso. A espec-
tumores cerebrais primários. troscopia de prótons é de maior utilidade, com relação
Apresentação. Os pacientes com OAns são cerca de sete ou
Co:Cr maior que 2,33 sugestiva de oligodendroglioma
oito anos mais velhos que os pacientes com OGs. A média anaplásico.
de idade na apresentação é de 45 a 50 anos. Os sintomas
clínicos são indistinguíveis daqueles do OG, com convul Diagnóstico diferencial
sões e cefaleia sendo as apresentações mais comuns. o principal diagnóstico diferencial do OAn é o oligoden
droglioma. O padrão de realce do tumor não é útil para
História natural. O tempo de sobrevida varia de poucos
distinguir o OAn de oligodendroglioma de baixo grau. A
meses a poucos anos. A média de sobrevida é de quatro
confirmação histológica é necessária mesmo em tumores
anos, com uma taxa de expectativa global em cinco anos
de 20 a 40%. Os pacientes com codeleções Ip e 19q e tu desprovidos de realce.
O ollgoastrocitoma e o astrocitoma anaplásico
mores quimiossensíveis têm um melhor prognóstico.
ou mesmo o glioblastoma também podem ser difíceis
Opções de tratamento. Até o momento, não há tratamentos de diferenciar do OAn com base apenas nos achados de
padronizados para OAns. A citorredução máxima melhora imasem.
Neoplasias glials não astrocíticas 505

18-12 Caso de necropsia de oligoasUocitoma mislo mostra uma mas 18-13 Série de imagens de um paciente com oligoaslrociloma do
sa parietal com margens aparentemente bem definidas, com hemorragia cumentado. O tumor ES parece bem demarcado, não sofre realce e é
e necrose. (Cortesia de R. Hewlett, MO.) indistinguível, com base na imagem, de um oligodendroglioma ou oligo
dendroglioma anaplásico.

Oligoastrodtomas Estadiamento, graduação e classificação. Um sistema de gra


o oligoastrocitoma (OA) tem uma conspícua mistura de duação em dois níveis é utilizado, classificando os OAs
em baixo grau ou anaplásicos.
dois tipos celulares neoplásicos distintos. Células tumo
Os OAs de baixo grau são neoplasias moderadamente
rals que se parecem com as do oligodendroglioma e do
astrocitoma flbrilar estão presentes, com graus variáveis celulares, com nenhuma ou baixa atividade mitótica, e são
considerados neoplasias grau II pela OMS; os oligoastro-
de anaplasia.
citomas anaplásicos exibem características clássicas de
Etiologia malignidade e são designados como grau 111 pela OMS.
Se houver necrose em um tumor "misto" que contém
Conceitos gerais. As células precursoras gliais, células pro- elementos astrocítico e oligodendroglial, a classificação
geniloras multipotenciais que estão aptas a sofrer dife da OMS atual sugere que o diagnóstico histológico deva
renciação tanto astrocítica quanto oligodendroglial, são a ser glioblastoma com algumas características oligoden-
suposta origem dos OAs. drogliais, e não OA.
Genética. Entre 30 e 50% dos OAs demonstram codeíeções
Aspectos clínicos
Ip e 19q, as quais estão associadas à quimiossensibilidade
e a um melhor prognóstico. Epidemiología. o OA é o glioma histologicamente misto
mais comum, representando 5 a 10% de todos os gliomas.
Patologia Aspectos demogrãficos. Os OAs são tumores de adultos
Localização. A localização dos OAs é similar a dos oli jovens com média de idade no momento do diagnóstico
godendrogliomas. O lobo frontal é o local mais comum, entre 35 e 45 anos.
correspondendo por 55 a 60% de todos os OAs. O lobo
Apresentação. Convulsão é o sintoma mais comum na
temporal é o segundo local mais comum. apresentação, seguida de déficit neurológico foca!.
Patologia macroscópica. Os OAs não possuem característi
História natural. O componente maligno mais comum
cas macroscópicas que os distingam de outras neoplasias do OA, em geral o astrocitoma, determina o prognóstico
gliais infiltrativas difusas (Fig. 18-12).
global. O tempo médio de sobrevida de 6,3 anos para o
Características microscópicas. As células gliais neoplásicas OA de baixo grau é o meio termo entre os tempos de so
com fenótipos tanto astrocítico quanto oligodendroglial brevida dos oligoastrocitomas de baixo grau puros e os
devem estar presentes para o diagnóstico histológico de anaplásicos. Os fatores para um prognóstico favorável
OA. Heterogeneidade significativa é típica. incluem pacientes mais jovens, ressecção total do tumor
506 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

e a presença de codeleções Ip e 19q. O tempo médio de Achados na RM. Os OAs são hipointensos se comparados à
sobrevida para o OA é de 2,8 anos. substância cinzenta nas ponderações em TI. Hiperintensi-
dade heterogênea é característica nas ponderações em T2
Opções de tratamento. Os OAs respondem de forma menos
favorável à quimioterapia do que os tumores oügoden- e nas aquisições em FLAIR.
drogliais puros, provavelmente devido ao componente as-
trocítico ser quimiorresistente. Entretanto, o prognóstico Diagnóstico diferencial
para os pacientes com OA anaplásico ainda assim é me O diagnóstico diferencial do OA inclui o oligodendro
lhor que para os pacientes com glioblastoma multiforme. glioma e o astroeitoma inflltrativo difuso.

Imagem
Características gerais. Distinguir os tumores oligodendro- Tumores ependimários
gliais puros dos gliomas histologicamente mistos não é
possível com base apenas nos aspectos de imagem (Fig. Os tumores ependimários originam-se do revestimento
18-13). Em geral, as características de imagem dos oligo- ependimário dos ventrículos cerebrais e do canal central
astrocitomas mistos espelham as duas graduações dos oli na medula espinal. As células-tronco/progenitoras cance
godendrogliomas. Os OAs de baixo grau parecem muito si rígenas também foram postuladas como possíveis origens.
milares aos oligodendrogliomas grau li da OMS, e os OAs A OMS classifica os tumores que exibem diferencia
anaplásicos se parecem com os OAns grau III da OMS. ção ependimária em quatro grupos distintos. São estes,
em ordem ascendente de malignidade: subependimoma,
Achados na TC. Os OAs são heterogeneamente hipodensos
ependimoma mixopapilar, ependimoma e ependimoma
na TC sem contraste e demonstram realce variável ao es
tudo com contraste.
anaplásico.

18-14 Ilustração demonstra o


"clássico" ependimoma celular
do quarto venlrículo se esten
dendo pelo forame de Magendie
para a cisterna magna B9, em
torno da ponte, abaixo do bra-
chium pof}tis e pelos recessos
laterais para as cisternas dos ân
gulos ponlocerebelares
18-15A Peça de necropsia no
plano sagltal mostra um epen
dimoma preenchendo o cjuarto
ventriculo, elevando o verme e
se estendendo poslerolnferior-
mente para preencher a cisterna
magna B3.

18-15B Visão coronal do mes


mo caso mostra extensão maciça
do tumor por meio de ambos
os forames de Luschka para as
cisternas dos ângulos ponlocere
belares ES.
18-15C Visão posterior mostra
protrusâo tumoral 'pelo íorame
de Magendie, preenchendo com
pletamente a cisterna magna. Os
ependimomas da fossa posterior
se "espremem" através dos
forames do quarto ventriculo,
moldando-se como pasta de
dente por entre os espaços llquó-
ricos adjacentes. (Cortesia de E.
Ross, MD.)
Neoplasias gliais não astrocíticas 507

ft
18-16 Corle axial mostra um ependimoma preenchendo o quarto 18-17A TC sem contraste de um menino de 3 anos com ependimoma
ventrículo IS e se estendendo anterolateralmenle pelos recessos late demonstra uma massa na linha média preenchendo o quarto ventrículo
rais em direção aos forames de Luschka SI. com densidade mista ES e calciticada S.

São conhecidos três graus pela classificação da OMS mação até que se diferenciem em tipos celulares progeni-
dentro do espectro dos tumores ependimários. O subepen- tores mais restritos.
dimoma e o ependimoma mixopapilar são neoplasias grau Cada célula de origem é suscetível a algumas mutações
1 pela OMS; o ependimoma é considerado neoplasia grau genéticas. Várias alterações em receptores Notch e BMP,
II; e o ependimoma anaplásico é designado como tumor bem como na via hedgehog foram associadas à tumorogê-
grau 111. nese do ependimoma. Monossomia do eromossomo 22 e
Discutiremos esses tumores nesta seção, começando mutações homeohox-containing (HOX) ocorrem, em sua
com o subtipo mais comum, o ependimoma. Seguire maioria, nos ependimomas exlracranianos (espinais).
mos com considerações sobre o ependimoma anaplási
co (EA). Embora o EA seja incomum, seus aspectos de Patologia
imagem são muito similares aos do ependimoma "clás Localização. Cerca de 60 a 70% dos ependimomas são
sico". O ijltimo subtipo dos ependimomas que ocorre no infratentoriais. Destes, 95% são encontrados no quarto
cérebro é o subependimoma, que tem aspecto muito ventrículo. O restante das lesões ocorre no ângulo pon-
diverso do ependimoma e do ependimoma anaplásico. t o c e r e b e l a r.
Embora seja um tumor quase sempre intraespinal, Entre 30 a 40% dos ependimomas são supratenfcriais.
também faremos considerações, de forma breve, sobre o A maioria, entre 80 e 85%, são neoplasias parenquimato-
ependimoma mixopapilar. O ependimoblastoma, um tu sas hemisféricas. A localização intraventricular é rara.
mor grau IV da OMS, é classificado como uma neoplasia
embrionária juntamente com outros tumores neuroecto- Número e localização. Os ependimomas são neoplasias so
dérmicos primitivos e será discutido no Capítulo 21. litárias. O tamanho varia, mas a maioria dos ependimo
mas supratentoriais são neoplasias volumosas com mais
de 4 centímetros no momento da apresentação.
Ependimoma
Patologia macroscópica. Os ependimomas de fossa poste
Etiologia rior são de coloração bronze-avermelhada ou acinzentada
Genética. As alterações moleculares que levam à oncogê-
e formam massas lobuladas com margens relativamente
nese do ependimoma ainda não foram completamente elu bem definidas, que protruem pelos recessos laterais do
cidadas. Evidências recentes sugerem que os ependimo
mas têm localização, bem como assinaturas de expressão quarto ventrículo (Figs. 18-14,18-15,18-16).
grau específico, relacionadas às diferentes células-tronco Características microscópicas. Os neuropatologistas admi
da glia radial em todos os três compartimentos cranioespi- tem quatro subtipos histológicos principais de ependimo
nais. Células-tronco mutantes podem não sofrer transfor ma. Do mais para o menos comum, eles são os subtipos
508 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorals

celulares de células claras, papilar e tanicítico. Variantes Aspectos demogrãficos. Os ependimomas possuem uma
raras incluem os ependimomas de células gigantes. lipi- distribuição bimodal. Embora eles sejam encontrados em
dizados e melanocítico. Em poucos casos, pode ocorrer todas as idades, a maioria ocorre em crianças entre 1 e 5
metaplasia mesenquimal maligna ("ependimossarcoma"). anos. A média de idade na apresentação está entre 4 e 6
O aspecto da microarquiletura mais característico do anos. Um segundo pico menor é visto em adultos Jovens
ependimoma é a presença de pseudorrosetas perivascula- entre 20 e 30 anos. Estudos observacionais tem mostrado
res, nas quais as células tumorals estão dispostas radial- um aumento significativo na prevalência de ependimomas
mente ao redor dos vasos sangüíneos. em adultos nos últimos 30 anos.
A vascularização típica do ependimoma é relativa Há uma predominância masculina moderada (57% de
mente madura e demonstra pouca atividade angiogénica todos os ependimomas).
se comparada a gliomas malignos ou a variantes anaplási-
cas do ependimoma. Apresentação. Os sintomas dependem da localização. Os
ependimomas do quarto ventrículo comumente causam
Estadiamento, graduação e classificação. Os ependimomas hidrocefalia intraventricular obstrutiva e se apresentam
são neoplasias grau 11 da OMS. com cefaleía, vômitos e papiiedema. A ataxia é comum. Os
Aspectos clínicos ependimomas parenquimatosos supratentoriais se apresen
tam com convulsões e déficits neurológicos focais.
Epidemiologia. Os ependimomas representam 3 a 9% de to
dos os tumores neuroepiteliais. Eles correspondem a cerca História natural. Os pacientes com ependimoma exibem
de 10% das neoplasias do SNC e a 30% de todos os tumo uma variação de eventos clínicos. Os ependimomas em
res cerebrais em crianças abaixo dos 3 anos de idade. O geral são tumores de crescimento lento. Entretanto, o
ependimoma é o terceiro tumor mais comum de fossa pos prognóstico geral é relativamente pobre, com uma taxa
terior na infôncia (após o meduloblastoma e o astrocitoma). de sobrevida de 50 a 60% em cinco anos. A extensão da

18-17B Aquisição em FLAIR


do mesmo paciente da pagina
anterior. A massa com intensida
de de sinal mista B no quarto
ventrículo inferior se estende
anterolateralmente por ambos
os forames de Luschka para as
cisternas dos ângulos pontocere-
beiares BSÍ.
18-17C Aquisição em TI pós-
-contraste no plano sagital do
mesmo paciente mostra a massa
com realce heterogêneo no in
terior do quarto ventrículo
protruindo posteroinferiormente
pelo forame de Magendie para a
cisterna magna El.

18-17D Aquisição em TI
pós-contraste com saturação de ■/ l
gordura no plano axial do mes
mo paciente demonstra tumor
misto sólido cístico com áreas de
marcado realce confluente B e
moderado realce periférico B.
18-17E Aquisição em TI
pós-contraste no plano coronal
mostra o tumor se estendendo
inferiormente do quarto ventrí
culo para a cisterna magna E2.
lateralmente pelos forames de
Luschka B. Observe a hidro
cefalia obstrutiva EB. A histo-
patologia revelou ependimoma
anaplãsico (grau ill da OMS).
Neoplasias glials não astrodticas 509

ressecção lumoral é o fator determinante mais importante; As imagens sagitais revelam uma massa que preenche
a demonstração de ausência de lesão residual nos exames a maior parte do quarto ventriculo, com extrusão inferior
de imagem do pós-operatório prolonga a taxa de sobrevi- para a cisterna magna. As imagens axiais demonstram a
da em cinco anos para quase 75%. extensão lateral em direção ou nas cisternas dos ângulos
A correlação entre o grau do tumor e o prognóstico pontocerebelares (Fíg. 18-17).
é controversa, mas a sobrevida global nos pacientes com Hidrocefalia obstrutiva é uma característica associada
ependimomas grau II é melhor do que a dos pacientes do ependimoma infratentorial. O líquido extracelular com
com ependimoma anaplásico. freqüência se acumula em tomo dos ventrículos, dando o
Opções de tratamento. Citorredução cirúrgica máxima se aspecto de margens indistintas.
A disseminação do LCS é o fator-chave no estadia-
guida de radioterapia coníbnnacional - c não irradiação
mento, prognóstico e tratamento do ependimoma. O úni
cranioespinal - é o tratamento-padrào. A terapia adjuvan-
te costuma ser reservada para a recorrência tumoral. co preditor de imagem pré-operatório significativo para
o prognóstico do paciente é a evidência de disseminação
Imagem do tumor. Por isso, estudos de imagem pré-openitóríos
Características gerais. Os ependimomas infrateníoriais são de todo o neuroeixo devem ser realizados em qualquer
tumores plásticos, relativamente bem definidos, que em criança com neoplasia da fossa posterior, em especial se
houver suspeita de meduloblastoma ou ependimoma.
geral se originam do soalho do quarto ventrículo e que
protruem exteriormente pelos forames. Eles se estendem Os ependimomas supratentoriais geralmente são
lateralmente pelos forames de Luschka em direção à cis tumores hemisféricos grandes e volumosos, de aspecto
terna dos ângulos pontocerebelares (APCs) e posteroinfe- agressivo. Formação cística grosseira, calcificaçào e he
riomiente pelo forame de Magendie para a cisterna magna morragia são mais comuns se comparado ao seu corres
(Fig. 18-15). pondente infratentorial (Fig. 18-18).

18-18 Ilustração demonstra


ependimoma supratentoria!
como uma grande massa he-
misférka hemorrágica com nível
liquido-íiquidoES, calcificações
i3 e significativo edema perilu-
morai 1^.
18-19A Ponderação em TI
em um paciente com ependimo
ma hemisférico que apresenta
múltiplos cistos ES, com com
ponentes sólidos mistos hiper e
hipointensos IS e significativo
eciema peritumoral

18-198 Ponderação em T2
mostra a intensidade de sinal
marcadamente heterogênea do
componente sólido da mas
sa tumoral.
18-19C Ponderação em Ti
pós-contraste com saturação de
gordura mostra realce sólido e
heterogêneo nas bordas da le
são. A maioria dos ependimomas
supratentoriais está localizada no
parênquima cerebral, e não nos
ventrículos.
510 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Achados na TC. Os ependimomas apresentam densidade crianças muito pequenas, o PNET e o tumor rabdoide/
mista na TC sem contraste com cistos intratumorais hi- teratolde atípico podem causar massas hemisféricas que
podensos interpostos a porções de partes moles iso e hi- lembram o ependimoma parenquimatoso.
perdensas. Calciflcações grosseiras ocorrem em cerca de
metade dos ependimomas (Fig. 18-17A). Hemorragia ma
EPENDIMOMA
croscópica pode ser identificada em 10% dos casos.
A maioria dos ependimomas demonstra realce hetero Localização
gêneo leve a moderado. • Infratentoriais (60-70%)
o Quarto ventrículo (95%)
Achados na RM. Os ependimomas em geral sào heteroge- • Süpratentoriais (30-40%)
neamente hipointensos em relação ao parênquima cere o Hemisférios» ventrículos
bral nas ponderações em TI e hiperintensos em T2/FLAÍR
(Fig. 18-17). Após a administração de contraste, a maio Patologia
• Patologia macroscópica
ria dos ependimomas sofre realce. Áreas de realce forte o Protrui a partir do quarto ventrículo para o APC,
e relativamente homogêneo estão interpostas a focos de
cisterna magna
mínimo ou nenhum realce. • Subtipos histológicos
As imagens em T2* (GRE, SWI) costumam demons o Celular (mais comum)
trar focos de artefatos de susceptibilidade magnética que o Células claras
podem ser causados por calciflcações e/ou hemorragia. o Papilar
Um ependimoma pode sangrar, causando hemorragia su- o Tanicítico (menos comum)
baracnóidea não aneurismática e siderose em tomo do tu • Características microscópicas
mor e ao longo das superficies piais do cerebelo. o Pseudorrosetas perivasculares são características
A maioria dos ependimomas não sofre restrição à di o Grau II da OMS

fusão, embora focos de restrição possam ser identificados Aspectos clínicos


em alguns casos. • 10% dos tumores cerebrais da infância
Na espectroscopia de protons, as relações entre os • Terceiro tumor mais comum da fossa posterior
metabólitos convencionais não são específicas. Colina o Após o meduloblastoma e astrocitoma
elevada e NAA reduzido são comuns no ependimoma e • Distribuição etária bimodal
o Maioria = 1-5 anos
em muitos outros tumores cerebrais. O estudo de perfusão
o Segundo pequeno pico = 20-30 anos
por RM em geral demonstra marcada elevação no volume • Apresentação e história natural
sangüíneo cerebral com retomo tardio {poor return) à li o Ataxia, sintomas de hidrocefalia obstrutiva
nha de base na permeabilidade capilar. o Crescimento relativamente lento
o Sobrevida em 5 anos = 50-60%
Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial do ependimoma depende da lo Imagem
• Ependimoma infratentorial
calização.
O principal diagnóstico diferencial do ependimoma o Preenche o quarto ventrículo
o Estende-se para o APC, cisterna magna
infratentorial é o meduloblastoma (PNET-MB). Os o Hidrocefalia obstrutiva
meduloblastomas são mais comuns e se originam do teto o Cistos, Ca ++ (50%), hemorragia (10%) na TC sem
do quarto ventrículo (e não do soalho, como é típico dos contraste
ependimomas). Os PNET-MB são hiperdensos na TC sem o Intensidade de sinal mista, forte realce na RM
contraste, com freqüência apresentam restrição à difusão o Focos de artefato de susceptibilidade magnética no
e demonstram evidência de disseminação no LCS no mo T2* são comuns
mento do diagnóstico. Cistos, hemorragia e calciflcações o Usualmente não restringe à difusão
sào menos comuns no meduloblastoma, se comparados ao • Ependimoma supratentorial
ependimoma.
o Em geral grandes, volumosos, de aspecto
O quarto ventrículo é um local incomum de astro- agressivo
o Cistos grosseiros, Ca++ e hemorragia são comuns
citomu pilocítico. Um gliomu de tronco encefálico
dorsalmente exofítico, em geral um astrocitoma fibrilar Diagnóstico diferencial
difusamente infiltrativo, pode se projetar para o quarto • Ependimoma Infratentorial
ventrículo, mas seu epicentro intra-axial ajuda a diferen o Meduloblastoma (PNET-MB)
ciá-lo do ependimoma. o Astrocitoma pilocítico (relativamente incomum no
Os principais diagnósticos diferenciais do ependi quarto ventrículo)
• Ependimoma supratentorial
moma supratentorial são o astrocitoma anaplásíco ou
o Astrocitoma anaplásico, GBM
o glioblastoma multiforme. O astroblastoma é um tu
o P N E T- S N C
mor de crianças não tão pequenas e de adultos jovens, que o Tumor teratoide/rabdoide atípico
possui um aspecto "bolhoso" misto sólido-cístico. Em
Neoplasias giiais nao astrociticas 511

Ependimoma anoplasico
O ependimoma anapiásico (EA) é um glioma maligno que
demonstra algum grau de diferenciação ependimária. mas
exibe diferentes perfis genéticos. Os EAs possuem a via
Wnt/p desregulada.
O EA é caracterizado por crescimento mais rápido,
proliferação vascular, aumento da celularidade, atividade
mitótica alta e prognóstico pouco favorável se comparado
ao ependimoma celular típico. Os EAs são classificados
como neoplasias grau III da OMS.
O EA é um diagnóstico neuropatológico, já que os
achados de imagem são indistinguíveis daqueles do epen
dimoma celular.

Subependimomo
Terminologia
Os subependimomas (SEs) são tumores não invasivos
raros, benignos e de crescimento lento, que são mais en
contrados incidentalmente nos exames de imagem ou em
autópsias.

Etiologia
A origem dos SEs não é clara. Eles podem se originar de
células precursoras gliais-ependimárias pluripotenciais,
de astrócitos da lâmina subependimária ou de lesões iia-
martomatosas preexistentes.

Patologia
Localização. Os subependimomas são localizados no inte
rior ou adjacente a um espaço revestido por epêndima. Eles
são mais encontrados no aspecto inferior do quarto ven-
trículo (50 a 60%) (Figs. 18-20, 18-21 e 18-23), seguidos
dos cornos frontais dos ventrículos laterais, com freqüência
aderidos ao septo pelúcido (30 a 40%) (Fig. 18-25). Os SEs 18-21 Coíte de necropsia no plano sagital mostra
achado incidental de um pequeno subependimoma do
parenquimatosos podem ocorrer, mas são incomuns.
quarto ventrícuio HI. (Cortesia de P. Burger, MD.)
Tamanho e número. OS SEs são tumores solitários. A maio
ria tem menos de dois centímetros, embora alguns tu
mores possam chegar a vários centímetros de diâmetro.
Foram relatados poucos casos de enormes SEs biventri-
culares que preenchem ambos os ventrículos laterais.
Como a fossa posterior é anatomicamente mais contida,
os tumores infratentoriais costumam ser menores que seus
análogos supratentoriais.
Patologia macroscópica. Os SEs são massas sólidas, redon
das a lobuladas, bem definidas, de coloração bronze-acin-
zentado. Calcificações, cistos e hemorragia são comuns
em lesões grandes.

Características microscópicas. Núcleos delicados em um es-


troma fibrilar denso com degeneração microcística variá
vel é o achado típico. A expressão do marcador MlB-1 é
inferior a 1%.
18-22 Ponderação em T2 no plano sagital revela
Estadiamento, graduação e classificação. Os subependimo achado incidental de subependimoma de quarto ventrí
mas são classificados como neoplasias grau I pela OMS. cuio no obex E3.
512 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

18-23 Caso de necropsia moslra um grande subependimoma do quar 18-24 Série de estudos de RM mostra um grande subependimoma
to ventíículo Hi. (Cortesia de R. Hewlett, MD). B do quarto venlrículo com intensidade de sinal mista iso/hipointensa
em TI e hiperintensidade em T2/FLAIR. A massa realça forte e uniforme
mente

Aspectos clínicos Achados na RM. Os SEs são hipo a isointensos se compa


rados ao cérebro nas ponderações em TI. Os cistos intra
Epioemiologia. Os SEs são encontrados em 0,5 a 1% das au
tumorais são comuns nas lesões maiores. Os SEs são he-
tópsias e correspondem a 8% de todos os ependimomas.
terogeneamente hiperintensos no T2/FLAIR (Figs. 18-22,
Aspectos demográficos. Os SEs são tumores de adultos jo 18-24). Edema peritumoral costuma estar ausente. As
vens e de meia-idade. Eles são muito raros em crianças. aquisições em T2* (GRE, SWl) podem mostrar focos de
Assim como em outros ependimomas, há uma predomi artefato de susceptibilidade magnética, provavelmente se
nância masculina moderada. cundários a calcificações. Hemorragia é vista em 10a 12%.
História natural. Os SEs exibem um padrão de cresci O realce varia de ausente/leve a moderado (Fig. 18-26).
mento indolente, expandindo-se devagar para o espaço Os SEs não restringem à difusão. A espectroscopia
de protons demonstra colina norma! com NAA levemente
ventricular. Tumores grandes podem causar hidrocefalia
reduzido.
obstrutiva, mas raramente invadem as estruturas cere
brais adjacentes. A recorrência é rara após a ressecção
total.
Diagnóstico diferenciai
o diagnóstico diferencial do SE varia com a idade e a loca
Opções de tratamento. "Controle evolutivo" com exames lização. Em pacientes mais velhos, o principal diagnóstico
de imagem seriados é apropriado em pacientes assintomá- d i f e r e n c i a l é a m c t á s t a s e i n t r a v e n t r i c u l a r. A m a i o r i a d a s
ticos. A ressecção cirúrgica completa cm SEs sintomáti metástases intraventriculares se origina do plexo coroide.
cos é o procedimento de escolha. Em adultos jovens ou de meia-idade, o neurocitoma cen
tral deve ser considerado. O neurocitoma central costuma
Imagem ser encontrado no corpo do ventrículo lateral, e não no cor
Características gerais. Os SEs são massas nodulares bem no frontal ou no quarto venlrículo inferior, e tem um aspec
definidas que podem expandir o ventrículo, mas causam to "bolhoso" característico. O papiloma de plexo coroidc
pouco efeito de massa. As lesões grandes podem causar ocupa o corpo e não a porção inferior do quarto ventrículo.
hidrocefalia obstrutiva. Em crianças, o ependimoma celular e - em pacientes
Achados na TC. Os SEs são iso a levemente hipodensos com esclerose tuberosa - o astrocitoma subependimário
se comparados ao parênquima cerebral no exame de TC de células gigantes são possibilidades. Os papílomas de
sem contraste. Calcificações e cistos intratumorais podem plexo coroide em crianças ocorrem mais nos átrios dos
estar presentes, em especial nas lesões maiores. ventrículos laterais. O papiloma de plexo coroide também
A hemorragia é rara. Realce ausente ou pequeno é tem uma aparência frondosa e demonstra intenso realce
visto na TC com contraste. uniforme.
Neoplasias giials não astrodticas 513

18-25 Ilustração no plano coronal demonstra subependimoma no cor 18-26 Aquisição em TI pós-conlrasle no plano coronal demons-
no frontal do ventrkulo lateral HI, aderido ao septo pelúcido. Ira uma massa desprovida de realce no corno frontal esquerdo B.
Presume-se um subependimoma, um achado incidenlal neste paciente
masculino de meia-idade.

Ependimoma mixopapHar roide, papiloma de plexo coroide atípico e carcinoma do


0 ependimoma mixopapilar é um tipo de ependimoma de plexo coroide. Nesta seção, discutiremos cada um desses
crescimento muito lento que ocoire, em sua maioria, em tipos, com foco principal no papiloma de plexo coroide -
o tumor primário do plexo coroide mais comum.
adultos jovens. Ele é quase exclusivamente um tumor do
cone medular, cauda equina e Jilum terminal da medula
Papiloma de plexo coroide
espinal.
Os ependimomas mixopapilares são classificados Terminologia
como grau 1 da OMS. No ependimoma mixopapilar típico, o papiloma de plexo coroide (PPC) é a mais benigna das
células alongadas positivas para proteína glial fibrilar ácida neoplasias do plexo coroide,
(GFAP) estão em uma distribuição papilar em tomo de um
centro fibrovascular que contém tanto vasos sangüíneos hia- Etiologia
linizados quanto degeneração mixoide. O índice marcador Conceitos gerais. Os PPCs congênitos são comuns e podem
MlB-1 ébaixo, geralmente inferiora 1%. Não há variantes se desenvolver quando o plexo coroide em diferenciação é
anaplásicas conhecidas de ependimoma mixopapilar. transitoriamente ciliado. Os PPCs nos adultos provavelmen
Os ependimomas mixopapilares intracranianos pri te se originam do epitélio do plexo coroide diferenciado.
mários são raros, mas foram relatados nos ventrículos e
Genética. Alguns genes que são expressos nos papilomas
no parênquima cerebral. Os achados de imagem não são
do plexo coroide humano foram identificados. Entre eles,
específícos, mas em geral se apresentam como um cisto o TWISTI é altamente expresso e promove proliferação e
com nódulo em associação, o qual sofre realce.
invasão.
Os tumores de plexo coroide - em especial os car
cinomas - ocorrem em pacientes com síndrome dc Li-
Tumores do plexo coroide -Fraumeni, uma síndrome predisponente ao câncer
causada por mutações TP53 na linhagem germinativa.
o epitélio do plexo coroide possui uma origem embrioná Mutações SMARCBÍ com alterações na proteína INII e
ria em comum com as células ependimárias. Consequen PPCs foram descritas na síndrome de predisposição ra-
temente, os tumores de plexo coroide são considerados bdoíde. Ambas as mutações são pouco identificadas nos
tumores do tecido neuroepitelial e compreendem um im PPCs esporádicos.
portante subgrupo dos gliomas não astrociticos. Os PPCs também ocorrem como parte da síndrome
A classificação da OMS mais recente admite três ti de Alcardi, uma síndrome dominante ligada ao X que
pos de neoplasia de plexo coroide: papiloma do plexo co- ocorre quase exclusivamente em pacientes femininas. A
514 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

18-27 Visão magnificada do plexo coroide mostra inúmeras excres- 18-28 Aspecto microscópico típico do papiloma de plexo coroide é
céncias de aspecto frondoso com LCS preenchendo as lendas entre as mostrado com formações frondosas redundantes e papilas aplainadas.
projeções papiiares. (Cortesia dos arquivos AFIP.) Não há atipia celular ou figuras mitólicas. (Cortesia de P. Burger, MD.)

síndrome de Aicardi é definida pela tríade de espasmos in adultos. Os ventrículos laterais são locais raros de PPC
fantis, agenesia do corpo caíoso e anormalidades patogno- em pacientes mais velhos.
mônicas coriorretinianas (lacunas). Desde que foi descrita
Tamanho e número. Os PPCs costumam ser tumores solitá
pela primeira vez, em 1965, novas características, como
rios, variando em tamanho de pequenos a enormes massas.
malformações corticais, heterotopias de substância cin
Ocasionalmente, múltiplas lesões não contíguas são vis
zenta, PPCs e cistos de plexo coroide foram identificados
tas, mas a maioria representa disseminação no LCS prove
e adicionados ao espectro de Aicardi. A prevalência dos
niente do local do tumor primário. Múltiplos PPCs origi-
PPCs na síndrome de Aicardi é estimada em 3 a 5%. PPCs
nando-se como tumores sincrônicos raramente são vistos.
bilaterais e triventriculares ocorrem em 1% dos casos.
Patologia macroscópica. Os PPCs são massas bem cir
Patologia cunscritas de aparência papilar ou em couve-flor que po
Localização. OS PPCs se originam onde houver plexo co dem aderir à parede ventricular, mas sem invadi-la (Fig.
roide, ocorrendo proporcionalmente à quantia de plexo 18-27). Cistos e hemorragia são comuns.
coroide presente em cada localização. Por isso, a maioria
Características microscópicas. Histologicamente, a estrutura
tem origem nos ventrículos laterais (50%) e no quarto ven-
dos PPCs lembra muito àquela do plexo coroide normal não
trículo (40%). O trígono é o local mais comum. Alguns
neoplásico (Fig. 18-28). Um centro de tecido conectivo fibro-
grandes PPCs envolvem localizações múltiplas. O PPC vascular coberto por uma camada de células epiteliais unifor
triventricular é visto em 5% dos casos e se origina no ter
mes de aspecto benigno é típico. Citoqueratinas, vimentina e
ceiro ventrículo, estendendo-se cranialmente pelo forame
de Monro para o interior de ambos os ventrículos laterais. podoplanina são expressas por quase todos os PPCs.
A atividade mitótica é muito baixa, com MIB-I infe
Apenas 5 a 10% dos PPCs ocorrem em outras locali rior a I %. Os PPCs são geralmente confinados ao ventrí
zações que não no quarto ventrículo e nos ventrículos late culo de origem e poucos exibem um padrão de crescimen
rais. Os PPCs são ocasionalmente encontrados como tumo
to infíltrativo.
res primários do ângulo pontocerebelar (APC), situação na
qual tufos de plexo coroide são extrusos pelos forames de Estadíamento, graduação e classificação. Os PPCs são neo
Luschka para as cisternas dos APCs adjacentes. Os PPCs plasias grau I da classificação da OMS.
extraventrículares são raros. Eles foram relatados no tronco
encefálico, cerebelo, fossa hipofísária e septo pelúcido. Aspectos clínicos
Há um forte efeito da idade sobre a localização do Epidemiologia. Os PPCs são lesões raras, correspondendo
PPC. Mais de 80% de todos os PPCs em lactentes ori a menos de 1% de todas as neoplasias intracranianas pri
ginam-se dos ventrículos laterais. O quarto ventrículo e márias. Contudo, os PPCs representam 13% dos tumores
as cisternas dos APCs são localizações mais típicas em cerebrais que ocorrem no primeiro ano de vida.
Neoplasias glials não astrodticas 515

18-29 Exame de TC sem contraste e série de imagens de RM de 18-30 Ponderações em Ti e em T2 mostram massa no interior do
monstram o aspecto típico do PPC. A massa lobulada intraventricular terceiro ventriculo SI. Aquisição em Tl pós-contraste no piano sagital
realça fortemente ES. Observe a hidrocefalia causada pela superpro e coronal mostram a natureza papilar da massa a qual se estende
dução de LCS. superiormente pelo forame de Monro para o interior de ambos os ventrí-
cülos laterais e causa hidrocefalia obstrutiva.

Aspectos demográficos. A média de idade na apresentação Achados na TC. A maioria dos PPCs são iso a hiperdensos
é de 1,5 anos para os PPCs dos ventrículos laterais e ter se comparados ao parênquima cerebral nos exames de TC
ceiro ventriculo, 22,5 anos para os PPCs do quarto ventri sem contraste (Figs. 18-29 e 18-3Í A). Calcificações são
culo, e 35,5 anos para os PPCs do APC. Há uma discreta vistas em 25% dos casos. Hidrocefalia - tanto obstrutiva
predominância masculina. como causada por superprodução liquórica - é comum.
Os exames de TC com contraste mostram realce intenso e
Apresentação. Os PPCs tendem a obstruir a rota normal
do LCS. Os lactentes se apresentam com aumento do homogêneo (Fig. 18-31B).
perímetro cefálico e elevação da pressão intracraniana. Achados na RM. Uma massa de contornos lobulados
Crianças e adultos podem apresentar cefaleia, náuseas e e bem definidos que é iso a levemente hipointensa em
vômitos.
relação ao parênquima cerebral é vista nas ponderações
O PPC também pode se apresentar como um tumor em Tl (Fig. 18-30). Os PPCs são iso a hiperintensos nas
cerebral fetal e é a quinta neoplasia cerebral congênita
ponderações em T2 e em FLAIR (Fig. 18-31C). Flow
mais comum, após o teratoma, astrocitoma, craniofarin- voids internos lineares e ramificados refletem o aumento
gioma e tumor neuroectodérmico primitivo. Macrocefalia da vascularização, que é comum nos PPCs. As aquisi
com grande massa intracraniana e hidrocefalia é a apre
ções em T2* (GRE, SWl) podem mostrar focos hipoin-
sentação mais comum. tensos secundários a calcificações ou à hemorragia in-
História natural. A ressecção cirúrgica é com freqüência tratumoral.

curativa. A taxa de recorrência após a ressecção total é Realce intenso e homogêneo é visto após a adminis
baixa, de apenas cerca de 5 a 6%. A progressão maligna tração de contraste (Figs. 18-30 e 18-31D). Os PPCs ge
do PPC para carcinoma de plexo coroide foi relatada, mas ralmente não restringem à difusão. A espectroscopia de
é rara. prótons pode mostrar elevação do mioinositol (ml).
Variantes raras do PPC incluem PPC puramente císti-
Imagem co e melástases extra-axiais císticas de um PPC intraven
Características gerais. Uma massa intraventricular lobula tricular. No PPC puramente cístico, um grande cisto, mó
da e bem definida, com excrescências papilares frondosas vel, com nódulos murais que apresentam intenso realce,
é típica. Disseminação leptomeningea difusa é incomum, está aderido ao plexo coroide. Ele pode causar hidroce
mas pode ocorrer em PPCs benignos, portanto, exames falia obstrutiva súbita. Metástases extra-axiais puramen
pré-operatórios de imagem de todo o neuroeixo são re te císticas de PPC são vistas como cistos cisternais com
comendados. intensidade de sinal semelhante ao LCS, que não sofrem
516 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumoraís

realce e que lembram múltiplos cistos parasitários, mais LCS superior a 3 litros por dia. Ao contrário do PPC, a
comumente neurocisticercose. maioria dos casos de hiperplasia de plexo coroide é bilate
ral e aumenta difusamente o plexo coroide em toda a sua
UiTRASSONOGRAFiA. Os PPCs aparecem como massas intra-
extensão.
ventriculares hiperecolcas lobuladas bem definidas na ul-
Os xantogranulomas de plexo coroide são lesões
trassonogralla transcraniaiia. incidentals benignas que ocorrem no plexo coroide dos
ventrículos laterais. Eles consistem em células epiteliais
Diagnóstico diferencial
descamadas com acúmulo de lípideos, juntamente com
Os principais diagnósticos diferenciais do PPC sâo papi-
loma atípico de plexo coroidc e carcinoma dc plexo co- macrófagos e células gigantes de corpos estranhos mul-
tinucleadas. Ao contrário da maioria dos PPCs, eles são
roide (CaPC). O PPC atípico (neoplasia grau 11 da OMS)
e PPC típico (grau I da OMS) dividem características de mais encontrados em pacientes de meia-idade ou mais
velhos. Nos exames de imagem, aparecem como cistos
imagem similares e devem ser diferenciados histologica-
multiloculados bilaterais no interior do glomo do plexo
mente. O CaPC é mais propenso a invadir o parênquima
cerebral que o PPC. A disseminação no LCS ocorre em coroide, o qual sofre realce.
Metástases no plexo coroide ocorrem em pacientes
ambos. PPC e CaPC, e, portanto, não é uma característica
de meia-idade ou em adultos mais velhos e não se encai
útil para a diferenciação ou um prediíor confiável de ma-
xam no diagnóstico diferencial do PPC pediátrico.
lignidade.
A hiperplasia do plexo corolde, também chamada
de hiperplasia vilosa do plexo coroide. é uma causa rara Papiloma atípico do plexo coroide
de superprodução de LCS e hidrocefalia .v/ií/nZ-resistente. O papiloma atípico de plexo coroide (PAPC) é uma neo
A hiperplasia vilosa difusa pode resultar em produção de plasia recentemente descrita que possui malignidade in-

18-31A TC sem contraste


de um homem de 43 anos com
ceíaleías intensas, sem achados
focais ao exame neurológico,
demonstra moderada diiatação
dos cornos temporais dos ven
trículos lalerias E3. O quarto
ventrícuio não é visibiiizado com
suas características usuais. Ao
invés disso, uma grande massa
B, quase isodensa, preenche
o quase imperceptível quarto
ventrícuio.
18-316 TC com contraste
mostra que a massa realça de
maneira intensa e bastante
unifome.

18-31C Aquisição em FLAIR


do mesmo paciente mostra que
a massa é hiperintensa com
alguns pequenos focos internos
hipointensos.
18-310 Aquisição em TT
com contraste com saturação de
gordura mostra a massa bastante
5'
bem. Note as excrescéncias com k
aspecto frondoso que sofrem
realce com LCS não realçanle
no interstício entre as projeções
tumorals iÈ>.. Papiloma de plexo
coróide grau l da OMS foi identi
ficado à histopatologia.

\
V y c
Neoplasias gliais não astrocíticas 517

termediária entre o PPC (neoplasia grau 1 da OMS) e o tico negativo. A taxa de sobrevida em cinco anos relatada
carcinoma de plexo coroide (neoplasia grau III da OMS). para pacientes com tumores TP53 imunopositivos é de 0%.
Os PAPCs representam cerca de 15% de todos os tumores
de plexo coroide. Patologia
A principal característica histopatológica que distin Patologia macroscópica. Os CaPCs quase sempre se origi
gue o PAPC é o aumento da atividade mitótica com índice nam dos ventrículos laterais. Este volumoso e heterogêneo
do marcador MIB-1 elevado (Fig. 18-33). Até o momen tumor intraventricular freqüentemente exibe hemorragia
to, os exames de imagem nào conseguem diferenciar entre franca e focos necróticos. A invasão para o parênquima
PAPC e PPC, portanto, o diagnóstico definitivo depende cerebral adjacente é comum (Fig. 18-34).
da histopatologia.
Características microscópicas. Características citológicas
evidentes de malignidade são vistas, incluindo mitoses
Carcinoma de plexo coroide
freqüentes (geralmente pelo menos 5 a 10 por campo de
Terminologia grande aumento), densidade celular aumentada, pleomor-
O carcinoma de plexo coroide (CaPC) é um tumor maligno fismo nuclear, perda da estrutura papilar e necrose. O
raro que ocorre quase sempre em crianças de pouca idade. MIB-i está elevado, variando de 15 a 20% (Fig. 18-35).
Características genéticas e imuno-histoquímicas mos
Etiologia tram algum grau de sobreposição entre o CaPC e o tumor
teratoide/rabdoide atípico.
Genética. Quase metade de todos os CaPCs porta mutações
TP53. O tumor com genoma com mutação TP53 está asso Estadiamento, graduação e classificação, o CaPC é uma ne
ciado a um significativo risco de progressão e a um prognós oplasia grau III da classificação da OMS.

18-32A Ponderação em Ti
mostra uma massa lobulada no
interior do corpo do ventrículo
lateral esquerdo 1^.
18-32B Ponderação em T2
mostra que a massa B é Isoin-
tensa à substância cinzenta.

18-32C A massa B realça


intensamente nas aquisições em
TI pós-conlraste com saturação
de gordura. PPC atípico (grau II
da OMS) foi identificado hislopa-
tologlcamente.
18-33 Tumores papilares do
plexo coroide são diagnosticados
como atípicos com base no au
mento da atividade mitótica S]
(maior do que nos PPCs grau l da
OMS). Duas ou mais mitoses por
campo de grande aumento é o
limite sugerido, situação na qual
o tumor exemplificado se enqua
dra. (Cortesia de P. Burger, MD.)
518 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Aspectos clínicos casos. Alguns tumores TP53 imunonegativos têm sido tra
Epidemiologia. Embora o CaPC seja incomum, representan tados com sucesso sem radioterapia.
do menos de 1% de todos os tumores cerebrais pediátri-
cos, ele corresponde a 5% das neoplasias supratentoriais.
Imagem
O CaPC corresponde a 20 a 40% de todas as neoplasias o CaPC freqüentemente invade o parênquima cerebral
primárias do plexo coroide. adjacente através do epêndima ventricular. Edema, ne
crose, cistos intratumorais e hemorragia são comuns
Aspectos demográficos. Entre 70 e 80% dos CaPCs se origi (Fig. 18-36). O realce é forte, embora heterogêneo
nam em crianças menores de 3 anos. A média de idade no
(Fig. 18-37). A disseminação no LCS é comum.
momento do diagnóstico é de 18 meses.
Apresentação. Os sintomas mais comuns - náuseas, vômi Diagnóstico diferencial
tos, cefaleia e obnubilaçào - são causados por hidrocefa- Os principais diagnósticos diferenciais são papiloma dc
lia obstruiiva. plexo coroide e papiloma atípico do plexo coroidc. As
características de imagem desses três tumores primários
História natural. O prognóstico em pacientes com esses
do plexo coroide superpõem-se. A disseminação no LCS
tumores agressivos é desanimador, especialmente naque
ocorre tanto nas variedades benignas quanto nas malig
les com ressecção incompleta de um tumor com genótipo
nas. O papiloma de plexo coroide raramente invade o
com mutação TP53.
parênquima cerebral, portanto, a presença de invasão pa-
Opções de tratamento. Ressecção total é o tratamento pri renquimatosa evidente e a associação de edema, sugerem
mário. O tratamento multimodal com radioterapia cranio- CaPC.

espinal e quimioterapia neoadjuvante ICE (ifosfamida, A maioria das outras neoplasias supratentoriais em
carboplatina, etoposide) melhora a sobrevida em alguns crianças muito novas é mais parenquimatosa do que in-

18-34 Ilustração demonstra


carcinoma de plexo coroide.
Massa de aspecto hemorrágico e
altamente vascularizado preen
che o átrio do ventrículo lateral
e invade o parênquima cerebral
adjacente.
18-35 Fotomicrogralia define
carcinoma de plexo coroide. Ati-
pia celular com múltiplas mitoses
SI são indicativos de CaPC.
m m m
(Cortesia de P. Burger, MO.)

18-36A Ponderação em T2 no
plano axial mostra achados de
um carcinoma de plexo coroide
típicos. A intensidade de sinal ex
tremamente heterogênea, bem
como a ausência de definição
de limite ependimário entre o
tumor e o parênquima cerebral
adjacente são achados típicos.
18-36B A maioria dos car
cinomas de plexo coroide de
monstra hemorragia intratumoral
significativa, tal como esta vista
nesta aquisição em T2* GRE como
hipointensidades com artefatos de
susceptibilidade magnética SI.
Observe siderose por hemorragia
prévia cobrindo a superfície do
cerebelo e da medula ÍS.
Neoplasias glials não astrocíticas 519

18-37A Exame de TC sem


contraste de uma menina de 2
anos com aumento do perímetro
cefálico e papiledema mostra
uma massa lobulada predomi
nantemente hiperdensa no ven-
trículo lateral direito, invadindo o
parênquima cerebral adjacente.
18-378 Ponderação em Ti
mostra que a massa é em sua
maior parte iso a hipointensa,
mas áreas de híperintensidade
variável sugerem hemorragia
ou conteúdo proteico em
cistos

18-37C Ponderação em T2
mostra a natureza extrema
mente heterogênea da massa.
Invasão tumoral franca do parên
quima cerebral com edema adja
cente E3 estão presentes.
18-370 Aquisição em FLAIR
demonstra a massa ES, o ede
ma periférico E2 e hemorragia
e/ou formação cística

18-37E Aquisição em TI pós-


-contraste mostra que a massa
realça intensa, mas heterogene-
amente.
18-37F Aquisição em TI
pós-conlrasle no plano coronal
mostra a extensão tumoral e a
invasão do parênquima cerebral
adjacente. Carcinoma do plexo
coroide.
520 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

traventricular. Astrocitoma, ependimoma, tumor neu- Astroblastoma


roectodérmico primitivo e tumor teratoide/rabdoide
atípico podem se apresentar como volumosas massas de
Terminologia
o astroblastoma é uma neoplasia glial rara que afeta
aspecto agressivo com hemorragia e necrose.
principalmente pacientes mais jovens. Embora sua etio-
logia precisa e histopatogenese exata sejam controver
TUMORES 00 PLEXO COROIDE sas, o astroblastoma é reconhecido como uma entidade
distinta.
Papiloma de plexo coroide
• Patologia
o Ventrículos laterais (50%, mais em crianças) Patologia
o Quarto ventrículo, cisterna ARC (40%, mais em Macroscopicamente, os astroblastomas são massas paren-
adultos) quimatosas hemisféricas firmes, freqüentemente císticas
o Terceiro ventrículo (10%, crianças)
o Configuração lobulada, frondosa (Fig. 18-38). Mesmo que o nome "astroblastoma" impli
o Grau I da OMS
que em uma linhagem astrocítica, esse tumor é histopato-
• Aspectos clínicos logicamente mais similar ao epèndima, com pseudorrose-
o 13% dos tumores cerebrais no primeiro ano de tas perivasculares freqüentes.
vida Embora alguns pesquisadores admitam subtipos de
o Média de idade -1,5 anos para os PRCs nos astroblastomas de baixo e alto grau, não há classificação
ventrículos laterais e terceiro ventrículo determinada pela OMS até o momento.
o Sintomas de hidrocefalla obstrutiva são comuns
o Ocorre nas síndromes de Aicairdi, Li-Fraumeni, Aspectos clínicos
predisposição rabdoide Os astroblastomas correspondem a menos de 1% de to
• TC
dos os tumores cerebrais primários e a 0,5 a 3% de todos
o Massas lobüladas iso/hiperdensas
o Hidrocefalia é comum os gliomas. Embora possam ocorrer em qualquer idade, a
o Ca++ (25%) maioria é encontrada em crianças e em adultos jovens. O
o TC com contraste mostra realce Intenso pico de idade no momento do diagnóstico está entre 10 e
• RM 30 anos.
o Iso/hipodensos no TI Apesar de seu nome soar ameaçador, o comporta
o Iso/hiperintensos noT2/FLAlR mento biológico do astroblastoma é bastante variável. Os
o f/otv vo/ds são comuns
pacientes com tumores de baixo grau e ressecção cirúrgi
o Pode ter focos de susceptibilidade magnética no ca total costumam apresentar boas taxas de sobrevida em
T2*
o Realce intenso, ausência de restrição longo prazo.
o Ocasionalmente demonstram disseminação
Imagem
liquórica (realizar imagem pré-operatória de todo o
neuroeixo) Características gerais. O astroblastoma é quase exclusi
vamente um tumor hemisférico supratentorial e é bem
Papiloma atípico do plexo coroide definido. O edema periférico é discreto ou ausente. A
• Grau I! da OMS
• Achados de imagem similares aos do PPC maioria dos astroblastomas exibe componente tanto só
lido como cístico, dando a eles uma aparência "bolhosa"
Carcinoma de plexo coroide característica.
• Raro
• Crianças < 3 anos (70-80%) Achados na TC. Mais de 85% dos astrocitomas demonstra
• Grau III da OMS calcificações na TC sem contraste. Calcificaçòes puntifor-
• Imagem mes/psamomatosas ou globulares densas são típicas.
o Invasão através do epèndima
o Edema, necrose, cistos e hemorragia são comuns Achados na RM. O astroblastoma é hipo a isointen-
o Realce forte e heterogêneo so se comparado à substância branca na ponderação
o Disseminação liquórica é comum em TI e heterogeneamente hiperintenso no T2/FLAIR
(Fig. 18-39). Um aspecto "bolhoso", causado por cistos
intratumorais, é comum. Hemorragia, incluindo níveis
sangue-líquido no interior do componente cístico, pode
estar presente.
Outros tumores neuroepitelíais O realce heterogêneo após a administração de con
"Outros tumores neuroepiteiiais" é um grupo eclético de traste é típico. A combinação de realce periférico e no
neoplasias incomuns que atualmente incluem o astroblas- dular sólido dá a algumas lesões o aspecto de "anel de si-
toma, glioma cordoide do terceiro ventrículo e o glioma nete". Alguns astroblastomas periféricos incitam a reação
angiocêntrico. durai, causando o sinal da "cauda durai".
Neoplasias glials não astrocíticas 521

Diagnóstico diferencial lis do terceiro ventrículo sugerem uma histogênese epen-


Mesmo que em geral os achados de imagem do astroblas- dimária para essa neoplasia pouco comum. Não há fatores
de risco ou associações sindrômicas conhecidas.
loma sejam inespecífícos. a combinação da idade (10 a
30 anos), localização anatômica (hemisfério cerebral) e a
Patologia
aparência "bolhosa" pode sugerir o diagnóstico.
Outras entidades que se parecem com o astroblastoma Localização. Os GCs se originam do aspecto anterior do ter
ceiro ventrículo, adjacente a lamina ierminalis. O menor
variam com a idade. Em crianças mais novas, devem ser
GC já relatado media 1.5 cm. e o maior 7 cm de diâmetro.
considerados o astrocitoma, ependinioma hemisférico e
tumor teratoíde/rabdoide atípico. Em crianças um pou Patologia macroscópica. Os GCs são massas sólidas se-
co maiores e em adultos jovens, o oligodendroglioma e miluscenies, redondas ou levemente lobuladas que são
o xantoastrocitoma pleomórfico entram no diagnóstico bronze-acinzentadas e moderadamente vascularizadas
diferencial. (FIg. 18-40). Muitos GCs são encapsulados.
Características microscópicas. O aspecto geral é o de uma
Glioma cordoide do terceiro ventrículo estrutura cordoide com fundo mixoide. Cordões ou agru
O glioma cordoide (GC) é um raro tumor de adultos dis- pamentos de células neoplásicas epitelioides fusiformes
tinguível pela sua localização (região do terceiro ventrícu ou redondas com citoplasma eosinofílico abundante estão
lo), histologia estereotípica (elementos tanto gliais quanto suspensas em uma matriz rica em linfoplasmócitos. muci
cordoides) e aspectos de imagem característicos. nosa e vacuolizada.
Os GCs lembram os cordomas ou os meningiomas
Etiologia cordoides microscopicamente. Contudo, ao contrário
Embora a etiologia precisa dos GCs não seja clara, estu destes, os GCs mostram uma forte imunorreatividade
dos ultraestrulurais e a suposta origem da lamina tennina- difusa para a proteína glial flbrilar ácida, um marcador

18-38 Ilustração demonstra o


astroblastoma como uma massa
tiemisférica relativamente bem
circunscrita com múltiplos cistos
intratumorais.
18-39A Ponderação em TI
no plano axial mostra achados
típicos do astroblastoma com
inúmeros microscópicos e múlti
plos grandes cistos.

18-39B Ponderação em T2
mostra que, em relação ao tama
nho da massa, ha pouco edema
perilumoral B.
18-39C Aquisição em 11 pós-
-contraste mostra que as porções
sólidas sofrem realce enquanto
as císticas não o fazem.
522 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

glial. A maioria é positiva para um antígeno de membra hipotálamo e ao soalho do terceiro ventrículo, a ressecção
na epitelial e CD34, mas negativo para proteína de neu- é subtotal. A complicação pós-operatória mais comum é a
roftlamento. disflinção hipotaiâmica com diabetes insípido e obesidade.
As mitoses são raras e o índice do marcador MlB-1
é baixo. Imagem
Características gerais. As características radiológicas dos
Estadiamento, graduação e classificação. Os GCs são neo
GCs relatados são consistentes. A maioria dos GCs é mas
plasias grau II da classificação da OMS.
sa ovoide, de limites bem definidos, que está confinada
ao terceiro ventrículo e claramente separada da hipófise
Aspectos clínicos
e do infundíbulo. Embora causem abaulamento e possam
Epidemiologia. o GC é raro, representando menos de 1% de
aderir superficialmente ao hipotálamo, a invasão do pa-
todos os gliomas.
rênquima cerebral franca é rara. O realce é forte e relati
Aspectos demográficos. O GC é um tumor de adultos de meia- vamente uniforme.
-idade (35 a 60 anos). Há uma razão na ordem de 2:1 M:H.
Achados na TC. Os GCs são moderadamente hiperdensos
Apresentação. A apresentação clínica do GC varia. Cefa- se comparados ao parênquima cerebral na TC sem con
leia, náuseas e prejuízo de memória são comuns. No exa traste. Realce forte e homogêneo é típico. Foram relatados
me neurológico, déficit em campo visual é a anormalida casos ocasionais com calcificações. Hidrocefalia está pre
de mais comum. Distiirbios endócrinos são vistos em 10 a sente em 10 a 15% dos casos.
15% dos pacientes.
Achados na RM. A RM no plano sagital demonstra que o
História natural e tratamento. Os GCs são tumores de cres tumor está claramente separado da hipófise e da haste in
cimento lento. Como freqüentemente estão aderidos ao fundibular (Fig. 18-41). Os GCs são isointensos ao parên-

18-40 Espécime de necropsia


em corte na linha média do
plano sagital mostra um glioma
cordoide como uma massa lobu-
lada que preenche o terceiro
ventrículo. (Cortesia de P. Burger,
MD.)
18-41A Exame de TC sem
contraste mostra uma massa na
linha média lobulada, hiperdensa
e parcialmente calcilicada B
no aspecto inferior do terceiro
ventrículo.

18-41B Aquisição em FLAIR


do mesmo paciente mostra que
a massa ES é heterogeneamen-
te hiperintensa.
18-41C Aquisição em TI
pós-contrasle no plano sagital
mostra que a massa ES tem
margens bem definidas e realça
intensamente, mas de certa for
ma heterogênea. A haste infun
dibular e a glândula hipofisária
têm aspecto totalmente
normal. Glioma cordoide do ter
ceiro ventrículo foi o diagnóstico
hisiopatológico.
Neoplasias gliais não astrocíticas 523

quima cerebral em ambas as ponderações T1 e T2. Realce Glioma angiocêntríco


forte e uniforme é típico. Cistos intraíumorais são vistos
O glioma angiocêntríco (GA) é um tumor recentemente
em 25% dos casos, mas a hemorragia é rara.
descrito, associado à epilepsia. Devido a sua histogênese
incerta, a OMS agrupa o GA junto com o astroblastoma e
Diagnóstico diferencial o glioma cordoide na categoria "outros tumores neuroe-
Todos os tumores primários do terceiro ventrículo em
piteliais."
adultos são incomuns, assim como metástases nessa lo
calização. Como os GCs estão separados da hipófíse, o Terminologia
macroadenoma não é um diagnóstico diferencial, embora O glioma angiocêntríco também foi chamado de "tumor
alguns macroadenomas hipofísários puramente do ter neuroepitelial angiocêntríco" (TNA).
ceiro ventrículo tenham sido relatados. O meningioma
cordoidc pode parecer muito similar ao GC, mas o tercei Etiologia
ro ventrículo é uma localização pouco relatada para essa Até o momento, a etiologia do GA é incerta; linhagens
variante de meningioma. astrocítica e ependimária foram sugeridas. Alguns pes
Os hamartomas do tuber cmereum (HTC) são mais quisadores referem precursores gliais ou neuronais como
comuns em pacientes pré-adolescentes masculinos com possíveis origens.
puberdade precoce. Os HTCs são isointensos ao parên-
quima cerebral nas ponderações em TI e em T2 e não so Aspectos clínicos
frem realce. Como os GCs são tumores de adultos, tumo Embora possam ocorrer em qualquer idade, os GAs são
res hipotalàmicos da infância, como o craniofaringioma tumores de crianças e de adultos jovens. Eles são epi-
adamantinomatoso e o astrocitoma pilocítico, não são leptogênicos com mais de 95% do pacientes apresen
considerados no diagnóstico diferencial. tando epilepsia focal intratável. Os GAs correspondem

18-42A Pondeíação axial T2


de um paciente com convulsões
mostra uma massa subcortical no
lobo parietal direito como uma
hiperintensidade em forma de
cunha EI.
18-42B Aquisição em FLAIR
mostra a massa EI. bem como
o espessamento dos giros adja
centes B.

18-42C Aquisição em TI pós-


•conlraste mostra que a massa
não sofre realce.
18-420 O mapa de ADC mos
tra que não há restrição. Glioma
angiocêntrico foi o diagnóstico
histológíco. O espessamento girai
adjacente visto no FLAIR prova
velmente representa displasia
cortical focal, em geral associada
ao glioma angiocêntrico. (Corte
sia de M. Castillo, MD.)
524 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

a até 8% dos tumores descobertos nas cirurgias para sólido de base cortical. Necrose, hemorragia, cistos intra-
epilepsia. tumorais ou calcificações estão ausentes.
Aexcisão cirúrgica em geral é curativa. A RM mostra uma massa cortical expansiva, difusa
mente infiltrativa, sem margens bem definidas. A maioria
Patologia dos GAs é hiperintenso em T2/FLAIR. Uma borda sutil de
Os GAs são tumores superficiais de base cortical. A lo encurtamento do tempo TI e extensão similar a um pedí-
calização mais comum relatada é o lobo frontal, seguido culo em direção aos ventrículos foi descrita. O realce cos
pelo lobo temporal. Os GAs são caracterizados por cé tuma estar ausente. Displasia cortical focal com freqüência
lulas em fuso bipolares alongadas, com uma marcante pode ser identificada adjacente ao tumor (Fíg. 18-42).
orientação angiocêntrica radial ou longitudinal. Displasia
cortical focal adjacente é comum. Diagnóstico diferencial
O MIB-1 do GA é geralmente inferior a 1 %. Os GAs O GA tem aparência muito similar a outras neoplasias de
são classificados como neoplasias grau I pela OMS baixo grau corticais em crianças/adultos jovens que se
apresentam com epilepsia de longa data. Os principais
Imagem diagnósticos diferenciais incluem o tumor neuroepitelíal
Os achados de imagem foram relatados em apenas alguns dísembrioplásico, o ganglíoglíoma e o ongodendroglio-
poucos casos. O achado mais comum na TC é um tumor ma. Todos eles são mais comuns que o GA.
Neoplasias glials não astrocíticas 525

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19
Tumores neuronais e glioneuronais

Tumores glioneuronais 527 oplasias glioneuronais costumam estar associadas a con


Visão geral dos tumores de células ganglionares 527 vulsões, biologicamenle menos agressivas do que a maio
ria dos tumores gliais, e em geral apresentam prognóstico
Ganglioglioma 528
Astrocitoma/ganglioglíoma infantil desmoplásico 530 mais favorável.
ONET 531 Todos os tumores nas categorias neuronal e glioneu-
Tu m o r g l i o n e u r o n a ! f o r m a d o r d e r o s e t a s 5 3 4 ronal mista são oficialmente designados como grau I ou
Tumor glioneurona! papilar 534
grau II da OMS. Alguns neuropatologistas identificaram
Tumores neuronais 535 um grupo de tumores glioneuronais mais agressivos que
Visão geral dos gangliocitomas 535
morfologicamente se assemelham a gliomas malignos,
Gangliocitoma 535
porém mostram evidência imuno-histoquímica de dife
Gangliocitoma cerebeíar displásico 536
Neurocitoma central 539 renciação neuronal; estes foram provisoriamente classifi
Neurocitoma extraventricuiar 542 cados como grau III da OMS.
Começaremos esta seção pela discussão de tumo
res histologicamente mistos que demonstram elementos
Como discutido antes, os tumores neuroepiteliais são o neuronais e gliais. Uma dessas neoplasias (ganglioglio
maior grupo de neoplasias do SNC. Por definição, o ter ma) está entre os tumores que mais comumente causam
mo "tumor neuroepitelial" compreende todas as neopla epilepsia. Consideraremos então brevemente tumores in
sias que são derivadas de células gliais, neurônios ou suas fantis desmoplásicos que têm elementos astrocíticos e/ou
células precursoras. células ganglionares.
Neoplasias gliais puras - astrocitomas e o grupo he Na seqüência, abordaremos o tumor neuroepitelial
terogêneo de gliomas não astrocíticos - foram abordadas disembrioplásico (DNET), um tumor relativamente novo
nos dois capítulos anteriores. Agora voltaremos nossa que hoje é reconhecido como uma das causas mais co
atenção para o próximo grande grupo de neoplasias pri muns de epilepsia do lobo temporal. Concluímos a seção
márias do SNC, isto é, tumores neuroepiteliais com célu discutindo dois tumores que foram inicialmente incluídos
las ganglionares e/ou neurócitos diferenciados. na classificação de 2007 da OMS: tumor glioneurona! for
Tumores parenquimatosos da pineal e tumores em mador de rosetas e tumor glioneurona! papilar.
brionários com neuroblastos proliferativos pouco diferen
ciados, o último subgrupo de tumores neuroepiteliais, são Visão geral dos tumores de células
discutidos nos Capítulos 20 e 21, respectivamente. ganglionares
Os tumores de células ganglionares são neoplasias bem
diferenciadas que contêm neurônios maduros porém dis-
mórficos. A maioria dos tumores de células ganglionares
Tumores glioneuronais são tumores histologicamente mistos que contêm elemen
o reconhecimento de novos gliomas de baixo grau que tos de células ganglionares e gliais. Essas neoplasias são
contêm elementos neurocíticos distintos expandiu o es chamadas de gangliogliomas, os quais são neoplasias
pectro de tumores glioneuronais. Os tumores glioneu grau 1 ou 11 da OMS. Tumores mais agressivos (i.e., ati
ronais possuem padrões morfológicos e comportamento vidade mitótica significativa, proliferação microvascular,
biológico variados. necrose ocasional), chamados gangliogliomas anaplási-
Os tumores glioneuronais são menos comuns do que cos, foram provisoriamente classificados como grau II da
as neoplasias gliais puras, respondendo por cerca de 0,5 OMS. O grau IV da OMS não é aplicado para tumores de
a 2% de todos os tumores cerebrais. Como grupo, as ne células ganglionares.
528 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

19-1 Ilustração coronal mostrando típico ganglioglioma do lobo tem 19-2 Espécime de lobeclomia temporal parcial com ganglioglioma
poral com cisto SI e nódulo mural parcialmente caicificado ÍS. mostrando nódulo tumoral ÍS e cistos parcialmente colapsados SI.
A hemorragia é primariamente cirúrgica. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)

Os tumores de células ganglionares que apresentam Patologia


exclusivamente células ganglionares são muito raros. Es
LocauzaçÀo. Os GGs ocorrem em todo o SNC, incluindo
sas neoplasias são designadas ganglíocítomas. Todos os
a medula. Mais de 75% se originam no lobo temporal
gangliocitomas são tumores grau I da OMS.
(Fig. 19-1). O segundo local mais comum é o lobo frontal,
Começaremos nossa discussão de tumores de células
localização de 10% dos GGs.
ganglionares com o ganglioglioma, que é a neoplasia glio- Cerca de 15% dos GGs são encontrados na fossa pos
neuronal mais comum do SNC. Essas neoplasias também
terior, no tronco encefálico ou no cerebelo. Alguns pou
são a causa tumoral mais freqüente de epilepsia do lobo
cos GGs foram descritos no quarto ventrículo e no ângulo
temporal, representando 40% de todos os casos. Como os
pontocerebelar. GGs também ocorrem como lesões intra-
gangliocitomas são neoplasias puramente neuronals, são medulares.
discutidos na seção seguinte.
Tamanho e número. GGs são lesões solitárias e praticamen
Ganglioglioma te nunca metastatizam. Elas variam no tamanho em 1 a
6 cm.
Terminologia
o ganglioglioma (GG) é um tumor bem diferenciado, de Patologia macroscópica. GGs são neoplasias localizadas
crescimento lento e composto por células ganglionares superficialmente, firmes e acinzentadas que costumam
displásicas e células gliais neoplásicas. expandir o córtex (Fig. 19-2). A aparência mais comum
é a de um cisto com nódulo mural ou tumor sólido. A cal-
Etiologla cificação é comum, mas hemorragia grosseira e necrose
Conceitos gerais. Os GGs provavelmente surgem a partir franca são raras. A extensão para o espaço subaracnóideo
de um precursor glioneuronal malformado quando o ele adjacente é comum e não indica anaplasia.
mento glial sofre transfonnação neoplásica. Alguns casos Características microscópicas. A característica histológica
foram relatados como tendo origem no córtex displásico. do GG é a combinação de elementos neuronals e gliais, a
Genética. Pouco se sabe a respeito da patogênese molecu qual pode ser mista ou geograficamente separada. Núme
lar dos GGs. Desequilíbrios genômicos com ganhos nos ros variados de neurônios displásicos estão entremeados
cromossomos 7 e 12 e deleção do 22q nas células neoplá ao componente glial, que constitui o elemento prolifera
sicas foram relatados em até dois terços de todos os casos. tive e neoplásico do tumor. Células astrocíticas com ca
GGs foram descritos na sindrome de Turcot, bem como na racterísticas pilocíticas ou fibrilares são o elemento glial
neuroflbromatose tipo 1 e tipo 2. mais comum.
Tumores neuronais e glioneuronais 529

19-3 Imagens coronals de RMem um garoto de 16 anos com crises con- 19-4 Massa cortical/subcortical frontal majoritariamente sólida hipoin-
vulsivas de longa data mostrando uma massa parcialmente sólida e cística tensa em T1 e híperintensa em T2 B mostrando realce intenso B.
no lobo temporal esquerdo B3 com hiperintensidade em FLAIR nódu- Ganglioglioma.
Io S e realce anelar ao redor do cisto B. (Cortesia de P. Rodriguez, MO.)

Figuras mitóticas sào raras. MIB-1 reflete o compo Apresentação. Epilepsia de lobo temporal (ELT) crônica
nente proliferativo glial e varia de 1 a 3%. e farmacologicamente resistente ocorre em 90% dos ca
A coloração imuno-histoquímica demonstra caracte sos. As crises convulsivas costumam ser do tipo parcial
rísticas neuronais (i.e., expressão de sinaptoflsina) e gliais complexa.
(células GFAP-positivas). Aproximadamente 75% dos História natural. GGs são neoplasias de crescimento mui
GGs exibem imunorreatividade para o epítopo de células-
to lento. A degeneração maligna é incomum, ocorrendo
-tronco CD34.
em I a 5% dos casos.
Características malignas nos GGs são incomuns, po
rém, quando presentes, quase invariavelmente envolvem Opções de tratamento. A ressecção cirúrgica completa ge
o componente glial. A transformação sarcomatosa ocorre, ralmente é curativa, com 80% dos pacientes ficando livres
porém é rara. de convulsões após a remoção do tumor. A vasta maioria
dos pacientes apresenta sobrevida em cinco anos livre de
Estadiamento, graduação e classificação. Gangliogliomas recorrência.
em geral são benignos, e a maioria é designada como neo
plasia grau I da OMS. Não há critérios estabelecidos para Imagem
diferenciar GGs grau I da OMS de GGs grau II da OMS. Características gerais. Os GGs sào lesões parenquimatosas
A transformação maligna é rara. Muito raramente
superficiais com base cortical que possuem dois padrões
foram relatados GGs com características anaplásicas que
gerais de imagem: (1) massa parcialmente cística com nó-
correspondem ao grau III da OMS. dulo mural (Fig. 19-3) ou (2) tumor sólido relativamente
bem delimitado (Fig. 19-4). GGs difusamente infiltrativos
Aspectos clínicos e pobremente delimitados ocorrem, porém são incomuns.
Epidemíologia. o ganglioglioma é o tumor glioneuronal
Achados na TC. Os GGs demonstram atenuação variável
misto mais comum, porém causa apenas 1 a 1,5% de to
na TC sem contraste. Um componente cístico é observado
dos os tumores cerebrais primários. GGs são mais comuns
em quase 60% dos casos. Cerca de 30% apresentam um
em crianças e representam entre 5 e 10% das neoplasias
cisto hipodenso circunscrito com nódulo mural isodenso,
de SNC pediátricas.
enquanto 40% são primariamente hipodensos. Entre 30 e
Aspectos demográficos. O GG é predominantemente um tu 50% dos GGs calcificam. Hemorragia é rara.
mor de crianças e de adultos jovens; 80% dos pacientes Somente 50% dos GGs realçam apos a administração
têm menos de 30 anos de idade. O pico de apresentação é de contraste. Os padrões variam de sólido, periférico ou
15 a 20 anos. Não há predileção por gênero. nodular até cístico com impregnação nodular.
530 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Achados na RM. Comparados ao córtex, GGs sào hipo a estarem em geral presentes em uma única lesão, a OMS
isointensos em TI e hiperintensos em T2/FLA1R. Edema considera AID/GID uma entidade neoplásica única.
circunjacente geralmente está ausente. Displasia cortical
focal adjacente ao tumor ocorre em alguns casos. Patologia
O realce varia de nenhum ou mínimo a moderado po AlDs/GlDs sào massas grandes, boceladas, hemisféricas
rém heterogêneo. O padrão clássico é uma massa cística supratentoriais com um diâmetro mediano que se aproxima
com um nódulo mural que realça. Impregnação sólida ho de 8 cm. São tumores sólido-cisticos nitidamente demar
mogênea também ocorre. cados que envolvem o córtex superficial e as leptomenin-
ges adjacentes, com freqüência parecendo aderidos à dura
Diagnóstico diferenciai (Fig. 19-5). Os lobos frontal e parietal são os mais comuns.
A maior consideração no diagnóstico diferencial é o as- Microscopicamente, AlDs/GIDs possuem três com
trocitoma fíbrilar de baixo grau. Note que astrocitomas ponentes distintos: células fusiformes em um estroma
difusamente infiltrativos de baixo grau não realçam. Um "desmoplásico", astrócitos com citoplasma vítreo e um
astrocitoma pílocítíco hemisférico supratentorial pode se componente neuronal variável, em geral grupos de células
apresentar como um cisto com um nódulo em realce. A neuronals ou gangliônicas indiferenciadas. Tumores sem
calcificação em astrocitomas pilocíticos é rara comparada um componente de células ganglionares sào denominados
à do GG. "astrocitomas infantis desmoplásicos".
O xantoastrocitoma pleomórrico (XAP) habitual Atividade mitótica é rara. AID/GID é designado
mente possui "cisto + nódulo mural" e assemelha-se ao como tumor grau 1 da OMS.
GG. O XAP com freqüência possui "cauda" durai, auxi
liando a distingui-lo de outras neoplasias corticais induto- Aspectos clínicos
ras de epilepsia. AlDs/GIDs ocorrem em crianças com menos de 5 anos de
O tumor neuroepitelial disembrloplásico (DNET)
idade, com a maioria apresentando-se dentro do primeiro
é uma neoplasia cortical superficial que possui uma apa ano de vida. Entre 20 e 25% ocorrem em crianças com
rência multicistica "bolhosa". Um anel hiperintenso cir mais de 24 meses.
cundando a massa na seqüência FLAIR é comum. Em O crescimento do perímetro cefálico com abaulamen-
contraste ao GG, realce é raro. to das fontanelas em um lactente letárgico com "olhar em
O oligodendrogiioma é mais difuso e menos bem sol poente" é a apresentação típica.
delimitado do que o GG. Oligodendrogliomas com uma A maioria das neoplasias intracranianas que se apre
configuração de "cisto + nódulo mural" são incomuns. sentam em crianças e neonatos estão associadas a um
Quando eles ocorrem, são de difícil diferenciação com os prognóstico sombrio. Em contrapartida, AID/GID possui
GGs em exames de imagem. um prognóstico benigno e muito raramente metastatiza.
A ressecção completa em geral resulta em longo tempo
CAUSAS DE EPILEPSIA DO LOBO TEMPORAL
de sobrevida. Alguns AlDs/GIDs até mesmo regridem es
pontaneamente após exérese parcial.
Mais comum = esclerose temporal mesial Aproximadamente 15% das crianças com AID/GID
Epilepsia do lobo temporal associada a tumor desenvolvem disseminação leptomeníngea e evoluem
• Ganglioglioma (40%) para óbito.
• DNET (20%)
• Astrocitoma difuso de baixo grau (20%) Imagem
• Outros (20%)
Os exames de imagem revelam uma volumosa massa só-
o Astrocitoma pilocítico
o Xantoastrocitoma pleomórfico lido-cística heterogênea supratentorial. A porção cística é
o Oligodendroglioma comumente localizada em posição profunda na substância
branca hemisférica, enquanto a porção sólida é, em geral,
periférica, com freqüência abaulando a dura.
A TC mostra uma porção cística hipoatenuante com
Astrodtoma/gangliogliomo infantil
um componente sólido de densidade mista. Calcificação
desmoplásico tem sido relatada em alguns casos, porém é incomum. He
Terminologia morragia, necrose e edema peritumoral são raros.
Tumores infantis desmoplásicos são lesões raras, em geral A RM mostra uma grande massa, com freqüência
benignas, majoritariamente císticas de crianças jovens e multilobulada ou cística septada, com um componente só
que com freqüência possuem uma aparência radiológica lido semelhante à placa com base durai. A massa sólida re
agressiva. Duas formas histológicas de tumores infantis alça fortemente, porém com freqüência heterogeneamente
desmoplásicos foram descritas: astrocitoma infantil des (Fig. 19-6). Espessamento durai adjacente (sinal da "cau
moplásico (AID) e ganglioglioma infantil desmoplásico da durai") é comum. Cerca de 25% dos casos mostram ao
(GID). Devido ao fato de elementos de ambos os tipos menos algum realce do componente cístico.
Tumores neuronais e glioneuronais 531

Diagnóstico diferencial
A causa mais comum de massa volumosa, lobuíada, he
terogênea e hemisférica em um lactente é o teratoma. O
teratoma tem aparência muito mais heterogênea do que
o AID/GID e freqüentemente possui extensão extracra-
niana. O tumor neuroectodérmico primitivo (PNET) é
outra neoplasia cerebral congênita comum. Cistos terato-
matosos e relacionados a PNET raramente são tão grandes
quanto aqueles do AID/GID, e suas porções sólidas em
geral não abaulam a dura.
O cpcndimoma supratentorial freqüentemente cal-
cifica, sangra, e pode ocorrer em crianças mais velhas e
em adultos.

DNET

O gangiioglioma e o tumor neuroepitelial disembrioplás- 19-5 Ilustração mostrando astrocitoma/ganglioglio-


tico (GG ou DNET) são os dois tumores mais comuns as ma infantil desmopiásico com grande componente mis
sociados à epilepsia de longa data. O DNET foi original to sólido SI e cístico S abaulando a dura.
mente identificado em espécimes cirúrgicos de pacientes
jovens com epilepsia refratária ao tratamento medicamen
toso. Ele foi oficialmente reconhecido como uma entidade
tumoral distinta em 1993 e incluído na categoria de "tu
mores neuronais e neuronais-gliais mistos".

Terminologia
o DNET é uma lesão benigna, em geral cortical, caracteriza
da por arquitetura multinodular (Fig. 19-7). Devido ao fato
de que o DNET é freqüentemente associado à displasia cor
tical, alguns neuropatologistas creem que ele possa ser uma
malformação congênita em vez de uma neoplasia verdadeira.

Etiologia
A etiologia precisa do DNET é desconhecida. Até o mo
mento, nenhuma mutação ou deleção genética foi detec
tada. DNETs com freqüência expressam marcadores de
19-6A Imagem ponderada em T2 em um lactente de
células-tronco como CD34. sugerindo uma possível ori 10 meses mostrando hidroceíalia obstrutiva e uma enor
gem no desenvolvimento. me massa sólldo-cística no hemisfério cerebral direito.

Patologia
Localização. Entre 45 e 50% dos DNETs se localizam no
lobo temporal; um terço ocorre no lobo frontal. Enquanto
a maior parte é encontrada no córtex, a substância bran
ca também pode ser afetada. Raros casos foram relatados
em outros lugares, como o ventrículo lateral, e uma forma
"difusa" incomum foi descrita.

Tamanho e número. DNETs são geralmente lesões solitá


rias, apesar de vários casos com múltiplos "microfocos"
tumorals terem sido relatados (Fíg. 19-11). Os DNETs
variam de tamanho de milímetros até vários centímetros.
Alguns poucos tumores que acometem uma grande por
ção do lobo afetado foram descritos.
Patologia macroscópica. Os DNETs são tumores intracor-
ticais que espessam e expandem os giros. O componente
19-6B Imagem ponderada em 11 pós-gadolínio
glioneural com freqüência tem uma consistência viscosa mostrando que a massa confina e espessa a dura-arac-
em conjunto com um único ou múltiplos nódulos mais fir noíde S. e realça intensamente E3, assim como as
mes (Fíg. 19-9). paredes do cisto B3. AID.
532 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Características microscópicas. A assinatura histológica do


DNET é seu "elemento glioneural específico" (EGE).
DNETs "simples" consistem em EGE e em áreas nodula-
res. Uma arquitetura multinodular com colunas ou nódulos
de neurônios agrupados orientados perpendicularmente ao
córtex e delimitados por células semelhantes a oligoden-
drócitos é característica. Os neurônios parecem boiar em
uma matriz pálida e de aparência mucinosa adjacente a es
sas colunas. Atipia citológica e mitoses são raras.
DNETs "complexos" possuem características adicio
nais, incluindo displasia cortical. O cóitex adjacente é dis-
plásico em cerca de 80% dos DNETs.
Estadiamento, graduação e classificação. Os DNETs são ne
oplasias grau I da OMS.

19-7 Ilustração demonstrando DNET com componen Aspectos clínicos


tes multicísticos e multinodulares.
o DNET é um tumor de crianças e adultos jovens. A apre
sentação ocorre antes dos 20 anos na vasta maioria dos
pacientes, com típicas crises convulsivas parciais comple
xas farmacologicamente resistentes. Apesar de os DNETs
compreenderem apenas 1% de todos os tumores neuroepi-
telíais, eles estão somente atrás dos gangliogliomas como
causa de epilepsia do lobo temporal.
Os DNETs apresentam mínimo ou nenhum cresci
mento com o tempo. Transformação maligna é extrema
mente rara.

A lesioneclomia simples costuma ser bem-sucedida.


No entanto, devido ao fato de que displasia cortical está
freqüentemente associada a DNET, uma ressecçào mais
agressiva é defendida por muitos cirurgiões especialistas
em epilepsia. A remoção de áreas epileptogênicas adja
centes ao tumor aumenta a chance de cura da epilepsia.
O acompanhamento a longo prazo pode não demons
trar recorrência tumoral, mesmo em pacientes com ressec
19-8A Imagem ponderada em T2 no plano sagital
mostrando uma massa "bolhosa" no lobo temporal B3. çào subtotal.

Imagem
Características gerais. O DNET possui uma aparência dis
tinta nos estudos de neuroimagem. Uma massa cortical/
subcortical bem delimitada, triangular e "pseudocística"
ou "bolhosa" em um paciente jovem com longo históri
co de epilepsia parcial complexa é altamente sugestiva do
diagnóstico (Fíg. 19-8).
Achados na TC. Exames de TC sem contaste revelam uma
massa cortical/subcortical hipodensa. Calcificação é vista
em 20% dos casos. A hemorragia intratumoral grosseira é
rara. Depressão óssea focai ou remodelamento da calota
craniana são comuns com tumores adjacentes à tábua in
terna do crânio.

Achados na RM. Uma massa cortical multilobulada, hipoin-


tensa, "bolhosa" e que pode acometer a substância branca
subcortical é observada na seqüência ponderada em TI. Os
19-8B Imagem ponderada em T2 no plano coronal
do mesmo paciente mostrando uma massa "bolhosa" DNETs são marcadamente hiperintensos em T2, com uma
com base cortical e típica aparência de um ONET B. aparência miilticistica ou septada (Fig. 19-10), (Fig. 19-11).
Tumores neuronais e glioneuronais 533

Os DNETs são hiperintensos em comparação com


o córtex norma! na seqüência FLAIR. Uma borda ainda DNET
mais hiperintensa ao longo da periferia tumoral, caracte
Patologia
rística, está presente em 75% dos casos. Edema peritumo- • Benigno (grau l da OMS)
ral está ausente. • Raro (<1% de todos os tumores neuroepltelials)
Artefatos de susceptibilidade magnética em T2* • Lobo temporal é o local mais comum
(GRE, SWI) ocorrem em alguns casos, mais provavel • Arquitetura multinodular
mente relacionados à calciflcação do que à hemorragia. • Freqüentemente associado a displasía cortical
Os DNETs em geral apresentam pouco ou nenhum
realce na seqüência TI pós-gadolinio. Quando presente, Aspectos clínicos
• Pacientes < 20 anos
o realce costuma ser limitado a um padrão levemente no o Epilepsia parcial complexa
dular ou puntiforme. o Segunda maior causa tumoral de ELI
A espectroscopia de protons mostra redução do NAA • Cresce lentamente, cirurgia em geral curativa
sem elevação da colina ou da relação colinaxreatina.
Imagem
• Massa cortical/subcortlcal em cunha
Diagnóstico diferencial • "Aponta" na direção do ventrículo
Os diagnósticos diferenciais principais são a displasía corti • Aspecto multicístico/septado "bolhoso"
cal focai e o ganglioglioma. O aspecto "bolhoso" do DNET o Hiperintenso em 12
e o halo hiperintenso em FLAIR são características úteis na o Borda de hiperintensidade em FLAIR
diferenciação. O raro glioma angiocêntrico se assemelha o Edema ausente
muito ao DNET nos exames de imagem, porém uma borda o Em geral não realça
hiperintensa é observada em TI em vez de FLAIR.

19-9 Espécime cirúrgico


ressecado mostrando os típicos
cistos noduiares e um tanto "mu-
cinosos" do DNET. (Cortesia de R.
Hewlett, MD.)
19-10A Imagem axial ponde
rada em 12 demonstrando córtex
expandido com cistos muito
hiperintensos B9.

19-1OB FLAIR mostrando que


a massa bem delimitada envolve
o córtex e a substância branca
subcortical. Borda hiperintensa
Bé característica. (Cortesia de
L Loevner, MD.)
19-11 Outro caso de DNET
mostrando uma massa vermiana
difusa com múltiplos cistos es
parsos E3. A borda hiperintensa
em FLAIR ao redor dos cistos
B é altamente sugestiva do
diagnóstico.
534 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Tumor glioneuronol formador de rosetas


O tumor glioneuronal formador de rosetas (TGFR) é um
tumor raro e de crescimento lento de adultos jovens e de
meia-idade que foi oficialmente reconhecido em 2007. A
idade média no diagnóstico é de 33 anos. Os sintomas tí
picos de apresentação são cefaleia e ataxia.
Em geral, os TGFRs são lesões infratentoriais. A lo
calização mais comum - mas de modo algum a única - é
0 quarto ventrículo e/ou hemisfério cerebelar. O tamanho
varia de I a 2 cm a grandes e bocelados tumores que oca
sionalmente excedem 4 cm de diâmetro.
A caracteristica patológica do TGFR é a sua histo-
logia bifásica com elementos neurocíticos e astrocíticos
formando pseudorrosetas neurocíticas perivasculares. O
índice de proliferação MlB-1 é baixo. Invasão local e dis
19-12 o TGFR é um tumor muito heterogêneo, com seminação pelo LCS são raras. TGFRs são tumores grau
cisto, hemorragia, níveis líquido-liquido e realce irregu 1 da OMS.
lar. (Cortesia de M. Thurnher, MD.) A aparência de um TGFR clássico nos exames de
imagem é mais ameaçadora do que sua patologia benig
na e seu comportamento biológico indicam. Uma massa
de aspecto heterogêneo centrada no interior do quarto
ventrículo ou verme é o achado típico (Fig. 19-12). Uma
aparência multicística com hemorragia, níveis líquido-
-líquido e calcificações é comum. O realce varia de ne
nhum a heterogêneo.
O diagnóstico diferencial do TGFR é limitado. Sem
pre deve-se considerar metástase. porém é rara em adul
tos jovens. Neoplasias infratentoriais primárias de linha
média nessa faixa etária são incomuns. Um ependimoma
com cistos e hemorragia pode se assemelhar ao TGFR.
Um astrocitoma pilGcíticG é em geral encontrado em pa
cientes mais jovens e raramente sangra. O papiloma de
plexG coroide ocorre no quarto ventrículo em adultos,
mas seu realce intenso e sua distinta arquitetura papilar e
19-13A Imagem ponderada em T2 de um TGFR frondosa ajudam a distingui-lo do TGFR.
mostrando massa cística bem circunscrita BI com nó-
dulo mural B no hemisfério direito. (Cortesia de F. J.
Tumor glioneuronal papilar
Rodriguez, MD.)
Inicialmente considerado uma variante do ganglioglioma,
o tumor glioneuronal papilar (TGP) foi reconhecido em
2007 como uma entidade distinta. Ele é um tumor dos he
misférios cerebrais raro, bem circunscrito e clinicamente
i n d o l o r.
Semelhantemente aos TGFRs, os TGPs são tumores
bifásicos com elementos astrocíticos e neuronais. A carac
terística distintiva do TGP é a presença de pseudopapilas
vasculares hialinizadas. Até o momento, o TGP não rece
beu uma graduação tumoral, porém seu comportamento
indolor é característico de uma neoplasia grau 1.
Os achados de imagem no TGP são inespecificos. Um
cisto com nódulo que realça é a aparência mais relatada
(Fig. 19-13). O principal diagnóstico diferencial é o gan
glioglioma, o qual possui aspecto praticamente idêntico
a o T G P.

19-13B TGFR clássico com dupla população da ca


mada glial perivascular e neurócitos interpapilares
redondos [S. (Cortesia de F. J. Rodriguez, MD.)
Tumores neuronais e glioneuronais 535

cos", são mais conhecidos como doença de Lhermltte-


Tu m o r e s n e u r o n a l s -Duclos (DLD).

Como grupo, tumores que exibem exclusivamente células


Gangliocitoma
ganglionares ou diferenciação neurocítica compreendem
apenas 0,5 a 1% de todos os tumores cerebrais primários. Terminologia
Duas categorias gerais de tumores neuronais são reconhe o gangliocitoma (GGCit) é uma neoplasia benigna e cir
cidas: gangliocitoma e neurocitoma. cunscrita que contém somente células ganglionares dife
renciadas. Nenhum componente glial está presente.
Visão geral dos gangliocitomas
Os gangliocitomas são compostos exclusivamente por Etiologia
células ganglionares. Os gangliocitomas podem parecer A etiologia do GGCit é desconhecida, embora ele seja
mais malformativos (hamartomatosos) do que verdadei considerado um tumor do desenvolvimento.
ramente neoplásicos e costumam estar associados a dis-
plasia cortical adjacente. Gangliocitomas hemisféricos su- Patologia
pratentoriais são muito raros e conhecidos simplesmente Localização. Apesar de poderem ocorrer em qualquer local,
como gangliocitomas. quase três quartos dos GGCits supratenloriais surgem no
Gangliocitomas cerebelares são mais comuns. Tam lobo temporal. Outros sítios relatados incluem o tronco
bém chamados de "gangliocitomas cerebelares displási- encefálico, a região selar e a medula espinal.

19-14A TC sem contraste em


um homem de 29 anos com cri
ses convulsivas mostrando uma
massa parcialmente calcifícada
e cística no lobo frontal
esquerdo.
19-146 Imagem pondera
da em T2 do mesmo paciente
mostrando que a porção sólida
parcialmente calcificada da
massa SI possui sinal muito
heterogêneo. Um grande cisto
a e outro menor estão
associados à massa. Há mínimo
edema, considerando o tamanho
do tumor.

19-14C Imagem ponderada


em T2* GRE demonstrando
artefato de susceptibilidade na
porção densamente calcificada
da lesão SI.
19-140 O nódulo tumoral
apresenta leve realce Irregular
BS. O diagnóstico pré-ope-
ralório era de ganglioglioma.
Gangliocitoma palologicamente
comprovado. (Cortesia de N.
Agarwal, MD.)
536 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

19-15A Imagem em FLAIR em um homem de 55 anos com crises 19-156 Espectfoscopia de protons demonstrando curva normal de
convulsivas de longa data mostrando uma lesão hiperintensa bem de metabólilos. Gangliocitoma íoi diagnosticado na histopatologia.
limitada cortical/subcorticai no lobo parietal direito BS. A lesão não
apresentou realce pelo contraste paramagnético (não mostrado).

Características macro e microscópicas. Os GGCits podem mente indutores de epilepsia, corticais, com componentes
ser lesões sólidas ou mistas sólido-císticas. Microscopi- cístico e sólido com impregnação. Os gangliogliomas po
camente, os GGCits consistem em células ganglionares dem ser indistinguíveis de GGCits nos exames dc imagem.
maduras de aparência estranha. Mitoses são poucas ou A displasia cortical, outra causa comum de epilepsia re-
ausentes, imunorreatividade ao CD34, um marcador de fratária em pacientes Jovens, segue a intensidade de sinal
célula-tronco, é positiva na maioria dos gangliocitomas. da substância cinzenta em todas as seqüências e não realça.
Os GGCits são neoplasias grau 1 da OMS.
Gangliocitoma cerebelar displàsico
Aspectos clínicos Terminologia
Os GGCits ocorrem com mais freqüência em crianças e O gangliocitoma cerebelar displàsico é uma massa ce
em adultos jovens com menos de 30 anos. A maior parte
rebelar rara e benigna composta por células gangliona
dos pacientes se apresenta com epilepsia farmacologica- res displásicas. O gangliocitoma cerebelar displàsico é
menle resistente.
também conhecido como doença de Lhermittc-Duclos
Os GGCits possuem crescimento lento, se houver. A
(DLD). Outros termos para DLD incluem hipertrofia de
ressecção ciriárgica costuma ser curativa e resulta em so- células granulares, hipertrofia granulomolecular do cere-
brevida a longo prazo livre de recorrência.
belo, hamartoma cerebelar, ganglioneuroma difuso e gan-
gliomatose do cerebelo.
Imagem A DLD pode ocorrer como parte da síndrome de
Os GGCits têm densidade mista à TC sem contraste, fre miíltiplos hamartomas chamada síndrome dc Cowden
qüentemente contendo componentes sólidos e císticos (SCow). Quando a DLD e a SCow ocorrem Juntas, são
(Fig. 19-14). Calciflcação é comum, ocorrendo em cerca de ocasionalmente chamadas de síndrome de Cowden-Lher-
um terço dos casos. Hemorragia e necrose estão ausentes. mitte-Duclos (síndrome COLD). A SCow é também
Os GGCits são hipo a isointensos relativamente ao conhecida como síndrome de múltiplos hamartomas-
córtex em imagens ponderadas em TI e hiperintensos em -neoplasias ou síndrome do tumor hamartoma PTEN.
T2/FLA1R (Fig. 19-15). O realce varia de nenhum a in A SCow é uma facomatose autossômica dominante.
tenso e homogêneo nas porções sólidas do tumor. A maioria dos pacientes possui neoplasias hamartomato-
sas da pele combinadas com neoplasias e hamartomas de
Diagnóstico diferencial vários outros órgãos. Tumores de mama, tireoide, endo-
o principal diagnóstico diferencial do gangliocitoma é o métrio e trato gastrintestinal são as outras neoplasias mais
ganglíoglioma. Os gangliogliomas são tumores frequente- prevalentes em pacientes com SCow.
Tumores neuronais e glioneuronais 537

19-16A Espécime de necropsia mostrando gangliocitoma cerebeiar 19-16B Corte seccional através da massa demonstrando folias cere-
displásico expandindo o hemisfério cerebeiar. belares grosseiramente espessadas BSI. (Cortesia dos arquivos da AFIP.)

Etiologia Características microscópicas. A DLD é caracterizada pela


Conceitos gerais. É debatido se a DLD consiste em uma le marcada alteração das camadas corticais normais do ce-
rebelo. A hipertrofia difusa da camada de células granu-
são neoplásica. malformativa ou hamartomatosa. A maio
lares com ausência da camada de células de Purkinje do
ria dos casos de DLD são esporádicos, mas a associação
cerebelo é típica (Fig. 19-18). Hipertrofia progressiva das
de DLD com SCow favorece uma origem hamartomatosa.
células granulares com mielinização aumentada dos seus
Cerca de 40% dos gangliocitomas cerebelares displá-
axônios e uma camada molecular expandida também é ca
sicos ocorrem como parte da SCow.
racterística. Mitoses e necrose estão ausentes.
Genética. A SCow é causada por uma mutação na linha
Estadiamento, graduação e classificação. Embora a DLD
germinativa PTEN, que resulta em uma proliferação de
seja provavelmente um hamartoma e não uma neoplasia
tecidos ectodérmicos, mesodérmicos ou endodérmicos. A
verdadeira, ela é designada como grau 1 da OMS.
SCow é caracterizada por miiltiplos hamartomas e neopla
sias malignas. Aspectos clínicos
Epidemiologia. a prevalência de DLD é desconhecida. A
Patologia incidência de SCow com mutação PTEN é estimada em
Localização. A DLD é sempre infratentorial, em geral en uma em 250.000 pessoas.
volvendo os hemisférios cerebelares ou o verme. Lesões
Aspectos demográficos. A DLD ocorre em todas as faixas
maiores comumente envolvem os dois. O tronco encefáli-
co é uma localização rara para a DLD. etárias, porém a maioria dos casos ocorre em adultos entre
20 e 40 anos. A idade média no diagnóstico é de 34 anos.
Tamanho e número. Gangliocitomas cerebelares displási- Não há predileção por gênero.
cos freqüentemente se tomam muito grandes, deslocando
o quarto ventriculo e causando hidrocefalia obstrutiva. A Apresentação. Os pacientes podem ser assintomáticos ou
vasta maioria é unilateral, embora alguns casos de DLD apresentar sintomas de aumento da pressão intracraniana,
como cefaleia. náuseas e vômitos. Paralisias de nervos
com lesões bilaterais nos hemisférios cerebelares tenham
sido relatados.
cranianos, alteração da marcha e anormalidades visuais
também são comuns.
Patologia macroscópica. A aparência macroscópica da DLD
História natural. A DLD cresce muito lentamente ao lon
é a de uma massa tumoral que expande e substitui a arqui
tetura cerebeiar normal (Fig. 19-16). Nos cortes seccio go de vários anos. Não há casos relatados de dissemina
ção metastálica ou liquórica.
nais, as folias cerebelares estão marcadamente alargadas
e possuem uma aparência grosseiramente "giriforme" Opções de tratamento. Derivação ventricular ou ressecçào
(Fig. 19-17). cirúrgica são opções para pacientes sintomáticos com hi-
538 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

19-17 Ilustração demonstrando o gangliocitoma cerebeiar displásico 19-18 A expansão de folias na DLD é mais bem visualizada com baixa
(doença de Lhermitte-Duclos). magnificação, na qual o espessamento do cóítex cerebeiar afetado 131
e a perda da coloração escura das células granulares internas são pronta
mente evidentes. (Cortesia de F. J. Rodriguez, MD.)

drocefalia. Tendo em vista que a DLD não é encapsulada e da características da DLD. O estudo de perfusão mostra
mistura-se gradualmente aos tecidos cerebelares normais, elevado rCBV, refletindo a proeminência de veias dilata
a ressecção completa é difícil e os índices de complicação das interfoliais, e não malignidade.
são elevados. A espectroscopia por RM mostra pico de NAA nor
mal ou levemente reduzido, e relação colina:creatina nor
Imagem mal. Um duplo pico de lactato pode estar presente.
Características gerais. Uma massa cerebeiar unilateral sem
impregnação em um paciente de meia-idade que demons Diagnóstico diferencial
tra um padrão proeminente de "listras de tigre" na RM é Os achados de imagem da DLD são tão característicos
típica de DLD. que o diagnóstico pode ser estabelecido sem confirmação
Achados na TC. A maioria dos casos de DLD é hipodensa por biópsia. Apesar de o diagnóstico diferencial sugerido
na TC sem contraste. Efeito de massa com compressão do algumas vezes incluir meduloblastoma e infarto cerebeiar
subagudo, essas condições em geral não devem ser con
quarto ventrículo, obliteração das cisternas dos ângulos
fundidas com DLD.
pontocerebelares e hidrocefalia obstrutiva são comuns.
O meduloblastoma, em especial sua variante desmo-
Calei ficação é rara. Necrose e hemorragia estão ausentes.
A TC com contraste não mostra realce apreciável. plástica, pode se apresentar como uma massa cerebeiar la
A DLD é moderadamente hipcrmetabólica no estudo teral, porém ocorre em pacientes mais jovens e raramente
demonstra o padrão de "listras de tigre" tão característico
de PET/TC com FDG.
de DLD. O infarto cerebeiar está confinado a um ter
Achados na RM. Uma massa cerebeiar expansiva com ban ritório vascular específico, e os sintomas são agudos ou
das lineares hipointensas em TI é típica. Imagens ponde subagudos ao invés de crônicos.
radas em T2 mostram o padrão patognomônico de "listras Ocasionalmente, os gangllogliomas ocorrem na fossa
de tigre", com alternação de camadas internas hiperinten- posterior e podem mimetizar DLD. Gangliogliomas real
sas e externas hipointensas em folias cerebelares espessa çam e, embora às vezes possuam aparência estranha, rara
das (Fig. 19-19). mente demonstram "listras de tigre" proeminentes.
O T2* (GRE, SWI) demonstra canais venosos proe Algumas raras displasias corticals cerebelares po
minentes circundando as folias grosseiramente espessa dem simular DLD. Entretanto, essas malformações não
das. A seqüência TI pós-contraste mostra marcado realce demonstram crescimento progressivo e raramente promo
linear nessas veias anormais. vem efeito de massa com hidrocefalia.
A seqüência mostra difusão restrita, provavelmente Foram relatados alguns poucos casos de complexo da
refletindo a hipercelularidade e a densidade axonal eleva- esclerose tuberosa (CET) na fossa posterior simulando
Tumores neuronais e glioneuronais 539

19-19A Série de imagens de RM em um paciente com DLO mos 19-19B Imagens adicionais mostram numerosos flow voids SI
trando os achados típicos de espessamento das folias cerebeiares e causados pelas veias dilatadas que impregnam na imagem em Tl pós-
efeito de massa B. A DLD é celular, podendo apresentar difusão -contraste B. A OTi mostra a orientação anteroposterior das folias
restrita S. cerebeiares

DLD. No entanto, esses pacientes geralmente são mais jo Neurocitoma central


vens e possuem outros estigmas de CET. Uma neoplasia intraventricular incomuin de caráter be
nigno em adultos jovens, originalmente considerada um
GANGLIOCITOMAS CEREBEIARES SLibtipo de oligodendroglioma, é na atualidade reconhe
cida como um tumor de linhagem neuronal, que recebe
Ganglíocítoma o nome de neurocitoma central. Neoplasias de aspecto
• Patologia
similar no parênquima cerebral são menos comuns e de
o Tumor raro composto por células ganglionares
nominadas neurocítomas extraventriculares. Nesta se
diferenciadas
o Lobo temporal (75%) ção, consideraremos essas duas neoplasias neurocíticas
o Grau I da OMS benignas.
• Aspectos clínicos
o Maior parte dos pacientes < 30 anos TerminDlDgla
o Epilepsia O neurocitoma central (NC) é um tumor neuroepitelial
• Imagem bem diferenciado com elementos neurocíticos maduros.
o "Cisto + nóduío" ou sólidos
o Sem hemorragia ou necrose
o Calcificação freqüente, realce variável
EtioÍDgia
A origem exata dos NCs é desconhecida. Células precur
Gangllodtoma cerebeiar dísplásíco soras bipotenciais da matriz germinativa periventricular
• Terminologia são capazes de diferenciação neuronal e glial, podendo
o Doença de Lhermitte-Duclos (DLD) ser a origem dessas neoplasias incomuns. As codeleções
o DLD + múltiplos hamartomas = doença de Cowden em lpJ9q características do oligodendroglioma estão
(CDLD) ausentes.
• Patologia
o Folias cerebeiares aumentadas, com espessamento
PatDÍDgla
"giriforme"
o Camada granular hipertrofiada, camada de Purkinje Localização. NCs são tumores do corpo dos ventriculos la
ausente terais, anexados ao septo pelúcido e surgindo próximo ao
o Grau I da DMS forame de Monro (Fig. 19-20).
• Imagem
o Massa com aparência laminada, "listras de tigre" Tamanho e número. Os NCs variam em tamanho de peque
o Realce linear das veias ao redor das folias espessadas no a enorme com extensão através do forame de Monro e
envolvimento do ventrículo contralateral.
540 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

19-20 Ilustração coronal mostrando neurocitoma central como uma 19-21 Imagem coronal ponderada em 72 mostrando o aspecto clás
massa multicístlca, relativamente vascular e ocasionalmente hemorrági sico de um neurocitoma central, com múltiplos cistos hiperintensos cau
ca no corpo do ventrículo lateral. sando uma aparência de "bolhas de sabão".

Patologia macroscópica. A aparência macroscópica do NC apresentam entre 20 e 40 anos. A idade média no diagnós
é similar à do oligodendroglioma. Uma massa intraventri tico é de 30 anos. Não há predileção por gênero.
cular bem delimitada, lobulada e moderadamente vascular
Apresentação. Os sintomas são relacionados ao aumento
é característica (Flg. 19-22).
da pressão intracraniana. Cefaleia, alteração do estado
Características microscópicas. A assinatura hisiológica do mental e anormalidades visuais são comuns. Déficits neu
NC é sua notável uniformidade nuclear com células re rológicos focais são raros. Alguns NCs são encontrados
dondas uniformes dispostas em folhas ou lóbulos. Zonas incidentalmente nos exames de imagem.
proeminentes de finos neurópilos podem estar presentes História natural. NCs são tumores de crescimento lento
entre os lóbulos tumorals.
que raramente invadem o parênquima cerebral adjacente.
O índice proliferativo MIB-1 é geralmente menor do Uma obstrução ventricular siábita ou hemorragia intratu-
que 2%. Um índice maior do que 2% ou o aumento nas moral aguda podem causar deterioração clínica aguda e
mitoses com proliferação microvascular têm sido associa até mesmo morte. A disseminação através do LCS foi des
dos a um elevado risco de recorrência tumoral.
crita, porém é muito rara.
A imuno-histoquímica é positiva para sinaptofisina.
Olig2 é negativo, o que ajuda a distinguir NC de oligo Opções de tratamento. A ressecção cirúrgica completa é o
tratamento de escolha. A extensão da ressecção é o fator
dendroglioma.
prognóstico mais importante. E raro haver recorrência. A
Estadiamento, graduação e classificação, o neurocitoma sobrevida em cinco anos é de 90%.
central é uma neoplasia grau 11 da OMS.
Imagem
Aspectos clínicos Características gerais. Uma massa "bolhosa" no corpo ou
Epioemiologia. o NC é a neoplasia intraventricular primária no como frontal do ventrículo lateral é clássica para NC
mais comum de adultos jovens e de meia-idade, represen (Fig. 19-21).
tando cerca de metade dos casos. Em geral, elas são neo
Achados na TC. A TC sem contraste mostra uma lesão in
plasias raras que representam entre 0,25 e 0,5% de todas
traventricular sólido-cística de densidade mista que está
as neoplasias intracranianas e 10% de todos os tumores
anexada ao septo pelúcido. Hidrocefalia obstrutiva é co
intraventriculares.
mum. A calcificação está presente em 50 a 70% dos casos.
Aspectos demográficos. Os NCs em geral são tumores de Hemorragia inlratumoral franca ocorre, porém é rara. NCs
adultos jovens, raramente diagnosticados em crianças ou mostram realce moderado, mas heterogêneo na TC com
em idosos. Quase três quartos de todos os pacientes se contraste.
Tumores neuronais e glioneuronais 541

Achados na RM. NCs são massas heterogêneas majorita- O ependimoma celular supratentorial ocorre em
riamente isodensas à substância cinzenta em TI. Cistos crianças e é majoritariamente uma massa intraparenqui-
intratumorais q flow voids vasculares proeminentes são matosa, e não intraventricular.
comuns. Uma aparência "bolhosa" em T2 é típica. NCs O astrocitoma subependimárlo de células gigantes
são heterogeneamente hiperintensos em FLAIR e de também ocorre em localização similar, adjacente ao fora
monstram impregnação moderada a intensa após adminis me de Monro. Estigmas clínicos e outros estigmas de ima
tração do meio de contraste (FIg. 19-23). gem de esclerose tuberosa (i.e., nódulos subependimários
A redução de NA A e uma modesta elevação da colina e túberes corticais) em geral estão presentes.
estão presentes na espectroscopia de prótons. A presença Metastases intraventriculares geralmente ocorrem
de NAA e glicina com um pico invertido de alanina em em pacientes mais velhos. O plexo coroide é uma locali
1,5 ppm com um tempo de eco de 135 ms é altamente zação mais comum do que o corpo do ventriculo lateral.
sugestiva de neurocitoma. Meningiomas também são mais comuns no trígono ven
tricular (glomo do plexo coroide) do que no como frontal
Diagnóstico diferencial ou corpo.
O principal diagnóstico diferencial do NC é o subependi- O oligodendroglioma intraventricular verdadeiro é
moma. O subependimoma é mais comum inferiormente raro. Como a aparência nos exames de imagem é indis-
no quarto ventriculo, porém subependimomas supraten- tinguível da do NC, o diagnóstico de oligodendroglioma
toriais são localizados adjacentes ao forame de Monro e intraventricular é estabelecido com base em estudos imu-

podem parecer muito semelhantes. Os NCs são tumores no-histoquímicos e genéticos. Os oligodendrogliomas são
dc adultos jovens, enquanto os subependimomas são mais negativos para sinaptofisina e freqüentemente apresentam
comuns em adultos mais velhos. mutações do01Íg2e lp,19q.

19-22 Caso de necropsia


mostrando uma grande neopla
sia hemorrágica confinada aos
ventriculos laterais. Neurocitoma
central. (Cortesia de R. Hewlett,
MD.)
19-23A Imagem axial pon
derada em T2 mostrando massa
biventricular de intensidade de
sinal mista SI causando mo
derada hídroceíalia obstrutiva.
Observe o acúmulo subependi
márlo de liquido no lobo frontal
esquerdo B. Não há "halo" pe
riventricular ao redor do restante
dos ventriculos laterais.
542 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Neurocitoma extraventricular Aspectos clínicos


Terminologia Os NEs são geralmente tumores de adultos jovens. O sin
toma de apresentação mais comum é a epilepsia. Alguns
Neoplasias que se assemelham a neurocitomas centrais
estudos sugerem que os NEs se comportam mais agres
(NCs) foram relatadas fora do sistema ventricular. Em
sivamente do que os NCs e possuem pior prognóstico a
2007, a OMS categorizou esses tumores incomuns como
neurocitomas extraventriculares (NE). longo prazo.

Patologia Imagem
Os NEs são histologicamente idênticos aos NCs. Como a Os NEs variam amplamente em sua aparência nos exame
única característica que os diferencia dos NCs é a locali de imagem. Eles se localizam nos hemisférios cerebrais
zação, ambos receberam a mesma classificação patológi ou na região parasselar. Alguns tumores se assemelham
ca (grau II da OMS). a NCs ou a tumores neuroepiteliais disembrioplásicos
Alguns autores têm relatado uma variabilidade mais (DNETs) com uma aparência "bolhosa" hiperintensa em
T2 (Fig. 19-24). Outros possuem uma configuração "cisto
ampla nas características morfológicas, celularidade, ín
dice de proliferação e prognóstico em comparação com + nódulo" similar à do ganglioglioma.
os NCs. Quando características histológicas atípicas estão Alguns neurocitomas extraventriculares se apresen
presentes, como necrose, proliferação vascular e mitoses tam como grandes tumores heterogêneos e com realce
(mais de três em 10 campos de alta potência), essas va pelo meio de contraste, sendo difícil sua distinção com
riantes são freqüentemente denominadas NEs "atípicos". astrocitomas de alto grau, tumores neuroectodérmicos pri
Uma classificação da OMS ainda não foi estabelecida mitivos (PNETs) ou ependimomas supralentoriais. Estes
para NEs atípicos. provavelmente representam NEs "atípicos" (Fig. 19-25).

19-24A Imagem sagital pon


derada em T2 em um menino
-

de 7 anos com crises convulsi


vas mostrando múltiplos cistos
hiperintensos no giro temporal
inferior E2.
19-24B Imagem coronal
k
ponderada em T2 do mesmo pa
ciente demonstrando uma massa

■#
cistica relativamente distinta na % ,
f
porção media! do lobo temporal , 9
direito B. O diagnóstico pré-
■operalório foi DNET, Neurocito
ma extraventricular foi diagnos
ticado na análise fiistopatológica.
(Cortesia de A. Rossi, MD.)

f
19-25A Imagem em FLAIR
de uma mulher de 61 anos com
cefaleia e redução de força à
direita mostrando uma massa
hiperintensa B adjacente ao
ventrículo lateral esquerdo. O
liquido proteináceo no Interior
necrótico IS não é suprimido.
19-25B A imagem em TI
pós-contraste demonstra realce
espesso, nodular e periférico.
A histopatologia evidenciou
mitoses freqüentes e prolife
ração endotelial. Neurocitoma
extraventricular anaplásico
sinaptofisina-positivo. (Cortesia
dej. Boxerman, MD.)
Tumores neuronals e glioneuronais 543

Tumor glioneuronal formador de rosetas


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20
Tumores da pineal e de
células germinativas
tases, tumores neuronals, tumores endoteliais e linfomas
Anatomia da região pineal 545
são todos encontrados nessa topografia, assim como le
Anatomia macroscópica 546
Imagem normal 548 sões congênitas, como cistos epidermoide, dermoide e
Tumores do parênquima pineal 549 lipomas.
Plneocltoma 549 De maneira geral, os tumores da região pineal são
Tumor do parênquima pineal com diferenciação raros, respondendo por 1 a 3% de todas as neoplasias in
intermediária 551 tracranianas. Apesar da complexidade histológica, as ne
Pineoblastoma 553 oplasias nessa região podem ser agrupadas em três cate
Tumor papilar da região pineal 556
gorias simples. Os dois grupos mais comuns têm origem
Tumores de células germinativas 556 na glândula pineal: (1) tumores das células do parênquima
Visão geral dos tumores de células germinativas 556
Germinoma 559
pineal e (2) tumores de células germinativas (TCGs).
O terceiro grupo de lesões da região pineal é compos
Te r a t o m a 561
Outras neoplasias de células germinativas 563 to por tumores com origem em "outras células". São tu
mores e lesões não tumorals que têm origem em estruturas
adjacentes à glândula pineal. Incluem entidades como o
A região pineal está localizada no meio do cérebro. De meningioma do ápice do tentório, dilatação aneurismática
vido à presença de muitas estruturas críticas circundando da veia de Galeno e cistos não neoplásicos. Essas lesões
essa pequena glândula, cirurgias nessa região impõem um são detalhadas em outros capítulos do livro, mas são resu
desafio aos neurocirurgiões. O aspecto posterior do ter midas no quadro ao final do capítulo, que inclui os diag
ceiro ventrículo, mesencéfalo, tálamos, veia de Galeno, nósticos diferenciais de uma lesão na região pineal.
veias cerebrais internas e lâmina quadrigêmea estão todos A discussão será iniciada por uma breve revisão da
localizados ao redor. anatomia macroscópica e dos aspectos de imagem da re
A glândula pineal por si própria consiste em células gião pineal. O entendimento da anatomia da região pineal
do parênquima pineal, astrócitos e neurônios do sistema é fundamental para o diagnóstico diferencial correto. Os
simpático. Remanescentes das células primitivas costu diagnósticos diferenciais para uma lesão expansiva no
mam ser retidos nas estruturas da linha média (inclusive interior da glândula pineal são muito diferentes de uma
na glândula pineal), permitindo que tumores germinativos lesão na mesma topografia mas fora da glândula.
se desenvolvam nesta topografia. Posteriormente, será dada atenção para os dois maio
Há muitas outras células que podem ser identificadas res grupos de neoplasias, as neoplasias parenquimatosas
adjacentes à glândula pineal. Estas incluem células epen- e os tumores de células germinativas. Os TCGs ocupam
dimárias (revestindo o terceiro ventrículo), células do ple- uma categoria separada na classificação da Organização
xo coroide, células da aracnoide que formam o velum in- Mundial da Saúde (OMS); entretanto, como a região pine
al é o local mais comum dos TCGs e por eles entrarem no
terposUum, e astrócitos no tronco, no tálamo e no esplênio
do corpo calosD. diagnóstico diferencial de uma lesão intrínseca da pineal,
As lesões da região pineal incluem um amplo espec serão considerados neste capítulo.
tro de entidades neoplásicas e não neoplásicas. Essa di
versidade histológica reflete a grande quantidade de tipos
celulares que reside dentro da glândula pineal e nas estru
turas adjacentes.
Anatomia da região pineal
A região pineal também pode ser sítio de neoplasias A região pineal é localizada abaixo da foice do cérebro,
que são mais encontradas em outras topografias. Metas próxima ao ponto em que ela encontra a tenda do cerebe-
546 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

20-1 Secção sagítal mediana demonstra a complexidade anatômica da região pineal. A glândula pineal B encontra-se adjacente ao ápice do ten-
tório e à veia de Galeno SJ, ficando atrás do terceiro ventrículo e abaixo do velum interpositum (VI) [S. O VI fica abaixo do fórnice contém as
veias cerebrais internas e ajuda a formar o teto do terceiro ventrículo. (Cortesia de M. Nielsen, MD.)

Io. Essa complexa região anatômica abriga a glândula pi tem conexões com as comissuras habenular e posterior,
neal, os espaços liquóricos adjacentes (terceiro ventrículo hipotálamo, hipocampo, amígdala e tronco encefálico.
e cisternas subaracnoides), o parênquima cerebral (esplê- O principal suprimento vascular da glândula pineal é
nio do corpo caloso, lâmina quadrigeminal e porção su derivado de ramos da artéria coróidea mediai posterior. A
perior do verme cerebelar), as artérias (coróidea posterior glândula não têm barreira hematoencefálica.
lateral e mediai), as veias (veias cerebrais internas, veia de Do ponto de vista microscópico, 95% da glândula
Galeno), os seios durais (seio sagital inferior, seio reto) e pineal consiste em neurônios especializados, os pinealó-
as meninges (dura e aracnoide) (Fig. 20-1). citos, que se arranjam em cordões ou lóbulos separados
por estroma fibrovascular. Os pinealócitos têm funções
Anatomia macroscópica fotossensitivas e neuroendócrinas. Entre os pinealócitos
A discussão será iniciada pela glândula pineal e depois existem astrócitos e vasos sangüíneos. Finas catcificações
sua relação com as estruturas nonnais que a circundam. são encontradas no interior do parênquima pineal.
O principal hormônio produzido pela glândula pine
Glândula pineal al é a melatonina. A melatonína tem papel importante
A glândula pineal é um pequeno órgão endócrino arredon na sincronização dos ritmos temporais de reprodução e
dado ou triangular que repousa entre os colículos superio nos ciclos circadianos. Os receptores MTl e MT2 me-
res. E conectada ao diencéfalo e à parede posterior do ter tabotrópicos de melatonina associados a proteínas são
ceiro ventrículo pela haste da pineal. A glândula também influenciados pelos ciclos de luz/escuridão e são os prin-
Tumores da pineal e de células germinativas 547

20-2 Ilustração no piano sagitai demonstra a anatomia normal da re 20-3 Ilustração no plano axial demonstra o velum interpositum VB
gião pineal. A glândula pineal B fica abaixo do fórnice [31, do velum aberto no teto do terceiro ventrículo, as veias cerebrais internas (31 e a
interpositum ÍS e da veia cerebral interna B. veia de Galeno S.

cipais mediadores da atividade fisiológica da glândula Os corpos mamilares conectam-se com as porções finais
pineal. dos fórnices.
A comissura e os corpos dos fómices situam-se acima
Terceiro ventrículo e comissuras do velum interpositum,, das veias cerebrais intemas e da
A glândula pineal encontra-se na porção posterior do ter glândula pineal (Fig. 20-2).
ceiro ventrículo, onde podem ser identificados dois reces
sos que se relacionam com a glândula pineal. O recesso Velum interpositum
suprapineal, mais proeminente, encontra-se acima da A tela coróidea é uma membrana translúcida bilami-
glândula pineal e abaixo do esplênio do corpo caloso. O nar que forma o velum interpositum (VI) (Fig. 20-1).
recesso pineal, menor, aponta posteriormente em direção O VI se estende (por isso "interposto") entre os corpos
à glândula. dos fórnices, forma o teto do terceiro ventrículo e fecha-
Dois tratos de fibras comissurais também se rela -se anteriormente no forame de Monro. Se ele for aberto
cionam com a glândula pineal. A comissura habelunar posteriormente, forma um espaço preenchido por líquido
encontra-se acima da glândula, imediatamente abaixo do cerebrospinal (LCS) que se comunica diretamente com a
recesso suprapineal. A comissura posterior encontra-se cisterna quadrigeminal. Essa variante da normalidade é
abaixo da glândula. chamada de cavum velum interpositum ou cisterna do
veíum interpositum.
Fórnice O VI se estende lateralmente sobre o tálamo até a
Os fómices compõem o sistema límbico. Os dois fórnices, fissura coróidea onde é contíguo com o plexo coroide do
juntos com as flmbrias, são os menores e mais internos ventrículo lateral. O VI ainda cobre a glândula pineal e a
dos três arcos em formato de C que circundam o dien- comissura habelunar, porém não é afixado a essas estru
céfalo e os núcleos da base. Os fómices fornecem vias turas.

eferentes aos hipocampos.


Cada fórnice possui quatro porções. O arco crural, Cisterna quadrigeminal
abaixo do esplênio do corpo caloso, participa da formação A cisterna quadrigeminal é um espaço romboide preen
da parede mediai dos ventrículos laterais. A comissura do chido por LCS localizado dorsalmente à placa tectal (qua
fórnice conecta os dois arcos cmrais, que convergem para drigeminal) e à glândula pineal. É contígua inferiomiente
formar o corpo. O corpo conecta-se à superfície inferior com a cisterna supravermiana e lateralmente com as duas
do corpo caloso. Os corpos dos fómices curvam-se infe cisternas ambiens. Anteriormente, conecta-se com a cis
riormente, formando as colunas ou "pilares" do fórnice. terna do velum interpositum.
548 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Meninges
Dobras da camada interna (meníngea) da dura formam a
foice do cérebro e o tentório do cerebelo. Esses dois fo
lhetos durais unem-se logo abaixo do esplênio do corpo
caloso para fonnar a junção falcotentorial.
Uma lâmina fina, pouco aderente e quase transparen
te da aracnoide segue junto com a dura e forma o limite
externo dos espaços subaracnoides. A aracnoide não se
invagina para o interior dos sulcos cerebrais e cisternas
do LCS.

Veias e seios venosos


As veias cerebrais internas (VCls) são duas veias parame-
dianas que cursam posteriormente entre as lâminas mem-
branosas dorsal e ventral do velum interpositum. As VCIs
20-4A Imagem ponderada em T2 no plano sagital terminam na cisterna quadrigeminal unindo-se com a veia
demonstra a glândula pineal l^i atrás do terceiro ven- de Rosenthal para formar a grande veia cerebral de Gale
trículo, abaixo da veia cerebral interna do velum no (Fig. 20-3). As VCIs encontram-se acima da glândula
interpositum ES e do (órnice CS).
pineal, que está localizada anterior e inferiormente à veia
de Galeno (Fig. 20-2).
O seio sagital inferior (SSI) direciona-se posterior
mente ao longo da margem (livre) inferior da foice do cé
rebro. O SSI e a veia de Galeno unem-se na junção falco
tentorial para formar o seio reto. A junção falcotentorial,
junto com os folhetos do tentório do cerebelo, formam o
A \ teto da cisterna quadrigeminal.

Artérias
As artérias coróideas mediais posteriores originam-se
do segmento P2 das artérias cerebrais posteriores. Elas se
curvam lateralmente ao redor do tronco, entram na tela
coróidea e vão em direção anteromedial ao longo do teto
♦ /i do terceiro ventrículo. Os ramos das artérias coróideas
B mediais posteriores fornecem suprimento arterial para a
20-48 Imagem ponderada em T2 no plano axial glândula pineal.
demonstra a glândula pineal B3 atrás do terceiro ven-
trículo B. A cisterna quadrigeminal B e a veia de Parênqulma
Galeno Si também são mostradas. o esplênio do corpo caloso encontra-se acima e poste
riormente à glândula pineal. A placa tectal (quadrigemi
nal) encontra-se abaixo da glândula. Os talamos encon
tram-se em situação inferolateral à glândula pineal.

Imagem normal
Calcificações pineais na tomografia
computadorizada (TC)
Calcificações pineais fisiológicas ("concreções") são co
muns. A mineralização primária ocorre em uma matriz or
gânica formada por pinealócitos. As calcificações pineais
aumentam com a idade, tendo prevalência descrita de 1%
em crianças abaixo de 6 anos, 8% em pacientes abaixo de
10 anos, e 40% em pacientes acima de 30 anos. Mais da
metade de todos adultos apresenta calcificações na glân
dula pineal.
20-4C Imagem ponderada em T2 no plano coronal
mostra a glândula pineal ES abaixo das veias cerebrais
internas ES. velum inlerposilum B e fórnices SI.
Tumores da pineal e de células germinativas 549

O diâmetro da glândula pineal normal costuma ser


menor ou igual a 10 mm, mas glândulas medindo entre
14-15 mm também sào comuns.

Ressonância magnética (RM) da região pineal


Imagens ponderadas em T2 no plano sagital com corte
fino e campo de visão pequeno sào ideais para avaliar a
glândula pineal e estruturas adjacentes. O contraste en
tre o LCS na porção posterior do terceiro ventriculo em
frente à glândula, o velum interpositum acima, e a cisterna
quadrigeminal posteriormente pemiitem delineação máxi
ma da glândula (Fig. 20-4).
Uma forma fácil de lembrar as relações da glândula
pineal com as estruturas adjacentes é feita usando uma
imagem ponderada em T2 no plano sagital. De cima para
baixo, o mnemônico "famoso VIP" identifica o fómice, o 20-5 Ilustração do pineocitoma. O centro cístico e
velum interpositum, as veias cerebrais internas e a glân recoberto por um halo de tumor sólido parcialmente
dula pineal. Lesões nos fórnices, no VI e nas VCIs irão calcificado [i3. Hemorragia S não é incomum.
deslocar a glândula pineal inferiormente.
Lesões que iniciam na placa tectal deslocam a glân
dula pineal anterossuperiormente, ao passo que lesões no
terceiro ventriculo deslocam a glândula posteriormente.
Saber a anatomia macroscópica ajuda a tomar o diagnós
tico diferencial mais simples.

Tumores do parênquima pineal


Na América do Norte e na Europa, tumores da região pi
neal representam menos de 1% de todas as neoplasias in
tracranianas primárias, porém respondem por 3 a 8% dos
tumores pediátricos. Na Ásia, respondem por 3 a 3,5%
dos tumores cerebrais.
A maior parte dos tumores da glândula pineal são as
neoplasias de células germinativas, que respondem por 20-6 Imagem de necropsia mostra um pineocitoma
40% de todos os tumores da pineal. Tumores do parênqui como uma massa bem demarcada lobuíada através

ma da glândula pineal (TPGPs) respondem por menos de do terceiro ventriculo IS. (Cortesia de B. Morten, MD.)

0,2% de todos tumores cerebrais e causam cerca de 15 a


30% dos tumores da glândula pineal.
TPGPs são neoplasias neuroepiteliais oriundas dos
pinealócitos ou de seus precursores. A classificação dos
TPGPs é baseada na presença ou ausência de mitoses e
na aparência do tumor ao corante para neurofilamentos.
Três graus são reconhecidos: (1) pincocitoma, o tumor
do parênquima pineal mais comum; (2) tumor de dife
renciação intermediária do parênquima pineal: e (3)
pineoblastoma, o mais raro e maligno tumor.

Pineodtoma

Terminologia
Pineocitoma é um tumor do parênquima da pineal bem
diferenciado, composto por células maduras que lembram
pinealócitos normais. 20-7 Rosetas pineocitomatosas são típicas i
Diferentemente das pseudorosetas perivasculares, não
existe vaso central. (Cortesia de B. K. DeMasters, MO.)
550 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Etiologia é a formação de grandes "rosetas pineocitomatosas"


Os pineocitomas originam-se dos pinealócitos ou de seus (Fig. 20-7).
precursores. Mutações genéticas consistentes ainda não Imunopositividade para marcadores neuronals como
foram descritas. sinaptofisina e proteína neurofilamentar é comum.
Estadiamento, graduação e classificação. Os pineocitomas
Patologia são positivos para sinaplofisina e neurofilamentos e não
Localização e tamanho. Os pineocitomas estào localizados apresentam mitoses. São classificados pela OMS como
atrás do terceiro ventrículo e raramente o invadem ou in neoplasias de grau 1.
vadem as estruturas adjacentes (Fig. 20-5). Esses tumores
variam de tamanho, a maioria medindo menos de 3 cen Aspectos clínicos
tímetros de diâmetro, embora existam relatos de tumores Epidemiolgia. Pineocitomas são os TPGPs mais comuns,
"gigantes". respondendo por 15 a 60% de todas os tumores.
Patologia macroscópica. São lesões expansivas bem cir Demografia. Esses tumores ocorrem em todas as faixas etá
cunscritas, arredondadas ou lobuladas, acinzentadas, que rias, mas são mais comuns nos adultos. A média de idade
apresentam cistos intratumorais ou focos de hemorragia à no diagnóstico é de 40 anos. Não há predileção por sexo.
secçào transversal (Fig. 20-6).
Apresentação. Muitos pequenos pineocitomas são desco
Características microscópicas. Essas lesões são compostas bertos incidentalmente em exames de imagem. Grandes
por pequenas células uniformes que lembram os pine lesões comprimem estruturas adjacentes ou causam hi-
alócitos. A características mais comum desses tumores drocefalia. Cefaleia e síndrome de Parinaud (paralisia da

20-8A TC moslra os achados


típicos de um pineocitoma. Lesão
cística que "empurra" as calcifi-
cações em direção à periferia da
lesão ES.
20-88 Imagem ponderada em
T2 no mesmo paciente mostra o
cisto B circundado por um fino
halo de tecido sólido B.

20-8C flair mostra a parede


do cisto E3 moderadamente
hiperintensa e o fluido do cisto
B sem supressão de sinal. -:///
20-8D imagem ponderada em
TI pós-contraste com saturação
de gordura mostra que a parede
do cisto sofre realce E3.

E
Tumores da pineal e de células germinativas 551

mirada superior) são achados comuns em pacientes sinto


máticos. (continuaçõo)
• RM
História natural. O crescimento dos pineocitomas é bas o Iso/hipcintenso em TI, hiperintenso em T2
tante lento e com freqüência as lesões se mantêm estáveis o Formações císticas são comuns, pode sangrar
por muitos anos. A sobrevida em 5 anos é de 85 a 100%. o Realce variável (sólido, periférico, nodular)
• Diagnóstico diferencial
Opções de tratamento. "Observação cuidadosa" é comum o Cisto benigno de pineal (pode ser indistinguível)
com lesões pequenas. Exames de imagem são realizados o Germinoma ("engloba" as calcificações,
somente se os sintomas do paciente mudarem. Ressecção
adolescentes do sexo masculino)
cirúrgica completa em geral é curativa, sem recorrência o TTPDI (aspecto mais agressivo)
ou disseminação no LCS.

Imagem Tumor do parènquima pineal com


Achados na TC. São lesões mistas iso a hipodensas na TC.
As calcificações parecem empurradas em direção à mar diferenciação intermediária
gem da glândula (Fig. 20-8A). Algumas lesões da pineal têm pior aspecto e compor
tam-se mais agressivamente do que os pineocitomas,
Achados na RM. Os pineocitomas são massas de tecido mas permanecem menos malignas que os pineoblas-
bem demarcadas, arredondadas ou lobuladas, que são iso tomas. Em 2007. a OMS reconheceu formalmente um
a hipointensas nas imagens ponderadas em TI e hipe- novo tumor, o do parènquima pineal com diferenciação
rintensas nas imagens ponderadas em T2/FLA1R (Figs. intermediária, que também é intermediário em termos
20-8B e 20-8C). T2* GRE pode demonstrar artefato de de agressividade e encontra-se entre o pineocitoma e o
susceptibilidade magnética por focos de calcificaçào ou pineoblastoma.
sangramentos. Há realce ávido típico, em padrão sólido,
marginal ou mesmo nodular (Fig. 20-8D). Terminologia
"Tumor do parènquima pineal com diferenciação intenne-
Diagnóstico diferencial diária" (TTPDl) substitui os termos pineocitoma "atípico"
O principal diagnóstico diferencial do pineocitoma é o ou "agressivo".
cisto de pineal. Cistos de pineal podem ser indistinguí-
veis dos pineocitomas em estudos de imagem. O germi- Patologia
noma "engloba" cm vez de "empurrar" as calcificações
Macroscopicamente, o TTPDl é uma grande massa hete
pineais, e é mais comum em adolescentes do sexo mascu rogênea com calcificações periféricas e alterações císticas
lino, apresentando realce uniforme e intenso. O tumor do variáveis. Microscopicamente, TTPDls apresentam de
parcnquima pineal com diferenciação intermediária moderada a alta celularidade e exibem arquitetura lobular
(TPPDI) é um tumor de pacientes adultos de meia-idade densa. Áreas de diferenciação intermediária combinadas
ou idosos. O aspecto de imagem do TPPDI é mais "agres com rosetas pineocitomatosas são comuns.
sivo" que o do pineocitoma. TTPDls são grau II ou III da OMS. Tumores com
Ki-67 entre 3 e 7%, < 6 mitoses por 10 campos de gran
de aumento (HPF) e positividade para proteína neuroflla-
mentar (PNF) são neoplasias grau II. Tumores negativos
PINEOCITOMA para PNF com < 6 mitoses por HPF ou PNF-positivos
com > 6 mitoses são lesões grau 111.
Patologia
• A maioria com 1-3 cm
• Bem demarcados, arredondados/lobulados Aspectos clínicos
• OMS grau I Epidemiologia e demografia. TTPDls representam pelo me
nos 20% de todos os tumores do parènquima pineal e são
Aspectos clínicos tumores de adultos de meia-idade.
• Tumor mais comum do parènquima pineal
• Adultos (média = 40 anos) História natural. Poucos casos de TTPDl foram relatados.
• Cresce muito lento, freqüentemente estável por anos
Diplopia, síndrome de Parinaud e cefaleia são os sintomas
mais relatados.
Imagem
• TC O comportamento biológico é variável, e sobrevida
o Misto (Iso/hipodenso) longa - mesmo sem ressecção total - é comum. Os tumo
o Calcificações pineais "empurradas" res tendem a crescer de forma lenta ao longo de muitos
anos e recorrer localmente. Disseminação no LCS foi re
(continuo)
latada em poucos casos.
552 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Opções de tratamento. O tratamento dos TTPDIs é contro tensas à substância cinzenta e hiperinlensas no FLAIR,
verso. Biópsia estereotáxica seguida por ressecçao cirúr Imagens T2* (GRE, SWI) podem demonstrar focos hi-
gica é o tratamento mais comum. O papel da quimiotera pointensos de artefato de susceptibilidade magnética. O
pia adjuvante ou radioterapia é indeterminado. realce costuma ser intenso e heterogêneo nas imagens
ponderadas em Tl pós-contraste.
Imagem A espectroscopia por ressonância magnética (ERM)
Características gerais. TTPDIs possuem um aspecto de mostra Cho elevada e NA A reduzido. Pico de lactato pode
imagem mais "agressivo" que o pineocitoma (FIg. 20-9). estar presente.
Extensão sobre estruturas adjacentes (p. ex., os ventricu-
ios e o tálamo) é comum. O tamanho varia de menos de 1 Diagnóstico diferencial
centímetro até grandes massas que possuem 4 a 6 centíme o principal diagnóstico diferencial do TTPDl é o pineo
tros de diâmetro. Disseminação no LCS é incomum, mas citoma. Uma massa de aspecto mais agressivo na região
ocorre, o que sugere que avaliação por imagem de todo pineal em um paciente de meia-idade ou adulto mais ve
neuroeixo seja realizada antes do tratamento cirúrgico. lho é mais consistente com TTPDl. Pacientes com his
tória de "pineocitoma atípico" ou um pineocitoma que
Achados da TC. A TC mostra uma lesão hiperdensa que "en
cresce com o passar do tempo podem ser portadores de
globa" as calcificações da glândula pineal (Fig. 20-10). As um TTPDl. Pineoblastoma é um tumor normal de pa
lesões costumam apresentar realce forte e uniforme.
cientes mais jovens.
Achados na RM. TTPDIs são lesões com intensidade de Germinoma é mais comum em adolescentes do sexo
sinal mista, iso e hipointensas nas imagens ponderadas em masculino. O tumor papilar da região pineal pode se
Tl. Nas imagens ponderadas em T2, as lesões são isoin- apresentar de forma idêntica, mas é muito raro.

20-9A Imagem ponderada em


TI de uma mulher de 57 anos
com ceíaleia e problemas visuais
intermitentes mostra uma lesão
expansiva de 2 cm, bem delimi
tada, levemente hipodensa B
na glândula pineal.
20-9B Imagem ponderada
em 12 mostra que a lesão expan
siva S é heterogeneamente
hiperintensa com algumas áreas
de degeneração cística B.

20-9C Realce heterogêneo


moderado B pode ser visto na
imagem ponderada em n pós-
-contraste.
20-90 ERM evidencia eleva
ção da colina B, queda do NAA
ES, pico invertido de lactado
B. Tumor do parènquima pine
al de diferenciação intermediá
ria, grau II da OMS, foi diagnos
ticado por imagem e confirmado
por histopatologia.
Tumores da pineal e de células germinativas 553

Pineoblastoma
TUMOR DO PARÊNQUIMA PiNEAL COM
DIFERENCIAÇÃO INTERMEDIÁRIA Terminologia
O pineoblastoma (PB) é um tumor altamente maligno
Patologia neuroectodérmico primitivo (PNET) da glândula pineal.
• TTPDI: entre o pineodtoma e o pineoblastoma
• 20% dos tumores pineals
• Grau II e III da OMS Etiologia
o Varia conforme mitoses e positividade para Acredita-se que os PBs originem-se de células precurso
n e u r o fi l a m e n t o ras primitivas embrionárias que expressam algumas ca
racterísticas das células parenquimatosas da pineal ("pi-
Aspectos clínicos
• Adultos de meia-idade nealócitos").
• Prognóstico variável
Patologia
Imagem Patologia macroscópica. Um tumor mole, friável, difusa
• Mais "agressivo" que o pineocitoma
• Normalmente maior e mais heterogêneo mente infiltrativo que invade o cérebro adjacente e obstrui
• Pode se disseminar pelo LCS o aqueduto cerebral é o achado típico (Fig. 20-11). Ne
crose e hemorragia intratumoral são comuns, assim como
Diagnóstico diferencial disseminação no LCS com lesões que recobrem o cérebro
• Pineocitoma > > pineoblastoma
e a medula espinal (FIg. 20-12).
• Germinoma
• Tumor papilar da região pineal Características microscópicas. PBs são neoplasias embrio
nárias altamente celulares que lembram os PNETs. Peque-

20-10A TC em uma mulher


de 75 anos mostra uma lesão
expansiva pineal lobulada com
realce BE3 com calficações B
"empurradas" em direção à peri
feria do tumor.
20-10B Imagem ponderada
em 11 mostra que a lesão ES
tem intensidade mista, iso e
hipointensa. Outra lesão pode ser
vista no quarto ventrículo B.

20-10C Imagem ponderada


em T2 mostra que a lesão E9 é
heterogeneamente hiperintensa
e contém múltiplos cistos. As
veias cerebrais internas pa
recem envolvidas pela lesão.
20-100 Imagem ponderada
em TI pós-contraste demonstra
realce da lesão pineal ES e da
lesão no quarto ventrículo B.
Observe sutil revestimento da
ponte e bulbo por tumor B.
RM lombossacra (não mostrada)
evidenciou múltiplas metastases.
TPPDl, grau II. (Cortesia de P. Hil-
denbrand, MD.)
554 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

nas células não diferenciadas com núcleos hipercromáti-


cos e citoplasma escasso compõem o aspecto histológico
dominante do PB. Às vezes rosetas de Homer-Wright
(diferenciação neuroblástica) ou rosetas de Flexner-Win-
tersteiner (diferenciação retinoblástica) podem ser identi
ficadas (Fig. 20-13).

Estadiamento, graduação e classificação. Pineoblastomas


são neoplasias grau IV da OMS.

Aspectos clínicos
Epidemiologia. Os pineoblastomas respondem por 0,5 a 1%
dos tumores cerebrais primários, 15% das neoplasias da
região pineal e 30 a 45% dos tumores parenquimatosos
da pineal.

20-11 Ilustração no plano sagilal demonstra o pine- Demografia. Embora ocorram em qualquer idade, os PBs
oblastoma S com disseminação liquórica no Interior são mais prevalentes em crianças. A maioria se apresenta
dos venirículos B e espaços subaracnoides B. nas duas primeiras décadas de vida.

Apresentação. Sintomas de hipertensão intracraniana como


cefaleia, náusea e vômitos são típicos. Síndrome de Pari-
naud é comum.

História natural. Os pineoblastomas são os mais primi


tivos e biologicamente agressivos tumores do parênqui-
ma pineal. O prognóstico é pobre, com sobrevida média
de 16 a 25 meses. Disseminação pelo LCS é freqüente
no momento do diagnóstico e é a causa mais comum de
morte.

Opções de tratamento. Cirurgia citorredutora com quimio


terapia adjuvante e radioterapia cranioespinal é o regime
típico de tratamento.

Imagem
20-12 Necropsia de um caso de pineoblastoma Características gerais. PBs são grandes massas da região
demonstra disseminação tumoral com metastases no- pineal de aspecto agressivo que invadem as estruturas ad
dulares recobrindo os ventrículos laterais e o terceiro
jacentes e em geral causam hidrocefalia obstrutiva. Disse
ventrículo. (Cortesia de B. Horten, MD.)
minação no LCS também é comum, logo todo neuroeixo
deve ser estudado antes da cirurgia.
Achados na TC. Uma grande massa hiperdensa, heterogê
nea com hidrocefalia obstrutiva é típica. Se houver calci-
ficações na pineal, elas parecem "empurradas" em direção
à periferia do tumor (Fig. 20-14A).
Achados na RM. PBs são tumores heterogêneos que fre
qüentemente demonstram necrose e hemorragia intratu-
moral. As lesões apresentam sinal misto iso e hipointenso
ao parênquima cerebral em imagens ponderadas em TI e
também sinal misto iso a hiperintenso nas imagens ponde
radas em T2 (Fig. 20-15). Há realce forte e heterogêneo.
Por serem tumores de alta celularidade, restrição no es
tudo da difusão da água é achado comum (Fig. 20-143).

20-13 0 pineoblastoma é composto por cordões de


Diagnóstico diferencial
células azuis índiterencíadas com roseta ocasionais B. O principal diagnóstico diferencial do pineoblastoma é
(Cortesia de 8. K. DeMasters, MD.) o TTPDI. PBs costumam ocorrer em crianças. Dissemi-
Tumores da pineal e de células germinativas 555

nação pelo LCS no diagnóstico é comum. O germínoma


(continuação)
pode mimetizar o PB nos estudos de imagem, já que com
freqüência demonstra disseminação no LCS. Germino- • Infiltra difusamente as estruturas adjacentes
mas são mais comuns em adolescentes e adultos jovens • Disseminação pelo LCS comum e precoce
do sexo masculino. Eles tendem a "englobar" as calcifica- • Grau ÍV da OMS

ções, em vez de as "empurrar". Aspectos clínicos


Tumores malignos de células germinativas não • 15% dos tumores da região pineal
• 30-45% dos TPGPs
germinomatosos são um grupo heterogêneo de tumores
• Afeta crianças (< 20 anos)
que podem ser indistinguíveis nos estudos de imagem dos
• Prognóstico geralmente pobre
PBs. Marcadores tumorais elevados como alfa-fetoprote-
ína e beta-gonodotrofina coriônica humana - geralmente Imagem
• TC
negativos nos germinomas e PB - podem ser úteis para o
o Heterogeneamente hiperdenso
diagnóstico diferencial. o Calcificações "empurradas"
• RM
o Lesões grandes com aparência agressiva
PINEOBLASTOMA o Necrose e hemorragia intratumoral são comuns
o Realça fortemente e heterogeneamente
Patologia
• Mais primitivo e maligno de todos os TPGPs o Restrição na difusão (alta celularidade)
• PNET embrionário o Procurar por disseminação liquórica (imagem de
todo neuroeixo)
(contínuo)

20-14A TC de um pineoblas-
toma mostra uma lesão pouco
definida na região pineal, leve
mente hiperdensa El causando
hidrocefalia obstrutiva. Algumas
calcificações são vistas na
periferia da lesão.
20-14B Imagem em difusão
do mesmo paciente mostra res
trição moderada ES, consisten
te com alta celularidade.

20-15A Imagem ponderada


em T2 de outro paciente com pi-
neoblastoma mostra uma grande
massa ES causando hidrocefalia
obstrutiva grave.
20-15B Imagem ponderada
em TI pós-contraste no mesmo
paciente mostra que a lesão real
ça B intensa e uniformemente.
(Cortesia de R. Hewlett, MD.)

A
556 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

20-16A Peça de necropsia de uma lesão expansiva na porção pos 20-16B imagem ponderada em Ti pós-contraste no plano sagitai
terior do terceiro ventrícuio que invade o tegmento mesencefáiico mostra uma massa pineai com realce S causando hidrocefaiia obstrutí-
demonstra cistos B3 e hemorragia A microscopia demonstrou va. Os achados de imagem são inespecílicos. (Cortesia de P. Burger, MD.)
diferenciação ependimária, permitindo que o tumor fosse classificado
c o m o T P R P.

Tumor papilar da região pineal (continuação)


O tumor papilar da região pineal (TPRP) é um tumor neu- o Na parede posterior do terceiro ventrícuio
roepiteiial raro, recentemente reconhecido, que se origina o Diferenciação ependimária
do epêndima especializado do órgão subcomissural locali • Grau lie IN da OMS
zado na parede posleroinferior do terceiro ventrícuio (Fig. o Recorrência local, disseminação llquórica
20-16A). Esse tumor demonstra uma arquitetura papilar
Imagem
distinta com epitélio colunar pseudoestratifícado. Carac • Inespecífica
terísticas ultraestruturais sugerem diferenciação epen • Massas grandes, lobuladas, com realce
dimária. Estudo por imimo-histoquímica é positivo para
citoqueratinas. Diagnóstico diferencial
• Tumor do parênquima pineal de diferenciação
A graduação dos TPRPs ainda não foi definida, mas
intermediária
a maioria dos neuropatologislas os consideram como tu
mores grau 11 ou 111 da OMS. Por esse motivo, a dife
renciação com pineocitoma, neoplasia grau I da OMS, é
importante para o tratamento.
Tumores de células germinativas
Apenas poucos TPRPs com imagem foram relatados.
As lesões tendem a ser grandes, bem circunscritas, e com Visão geral dos tumores de células
freqüência parcialmente císticas. Realce importante e he germinativas
terogêneo é típico desses tumores (Fig. 20-16B). Nenhu Os tumores de células germinativas intracranianos
ma característica que possa ser usada para distinguir esses
tumores dos do parênquima pineal de diferenciação inter (TCGs) são neoplasias raras que variam histologicamente,
em prognóstico e comportamento clínico.
mediária. o principal diagnóstico diferencial, foi descrita.
Eles são divididos em dois grupos básicos. Os germi-
nomas compõem o maior grupo. O menor grupo consiste
TUMOR PAPILAR DA REGIÃO PINEAL em TCGs não germinomatosos, que inclui tanto o terato
ma quanto um grupo heterogêneo de "outras" neoplasias
Etiología e patologia de células genninativas não germinomatosas.
• Recentemente reconhecido (OMS em 2007)
• Provável origem no órgão subcomissural Esta seção é iniciada com uma visão geral dos TCGs
intracranianos, depois serão discutidos os germinomas, te
(continuo) ratomas e as "outras" neoplasias de células germinativas.
Tumores da pineal e de células germinativas 557

Terminologia localizações próximas à linha média (p. ex., núcleos da


Os TCGs intracranianos são homólogos morfológicos e base).
de imunofenotipagem às neoplasias equivalentes que se Os TCGs são classificados e graduados de acordo
com os perfis histológico e imuno-histoquímico. Eles va
desenvolvem nas gônadas e sítios extragonadais. Eles re
cebem o mesmo nome dos tumores extracranianos, como riam em malignidade de teratomas maduros com tecido
totalmente diferenciado até neoplasias pouco diferencia
germinoma, teratoma, carcinoma embrionário, tumor do
saco vitelínico, coriocarcinoma, e TCG misto. das e altamente agressivas como carcinoma embrionário,
coriocarcinoma e tumores do seio endodérmico (saco

Etiologia vitelínico).
Os TCGs originam-se de células-tronco totipotenciais
ou da migração errática de células de um dos três folhe Aspectos clínicos
tos primitivos (ectoderma, mesoderma e endoderma). Como grupo, os TCGs respondem por 0,5 a 3,5% de to
Estudos recentes avaliando perfis de RNAm mostram dos os tumores cerebrais, embora causem entre 3 e 8% de
que os TCGs malignos em geral parecem células-tronco todas as neoplasias primárias do sistema nervoso central
embrionárias. (SNC) em crianças. A prevalência varia com a localização
geográfica. Na Ásia, os TCGs causam 9 a 15% dos tumo
Patologia res cerebrais pediátricos.
Embora os TCGs possam originar-se em muitas loca Os TCGs costumam ser tumores de crianças ou adul
lizações intracranianas, eles apresentam uma afinidade tos jovens; 80 a 90% dos pacientes são jovens com 20
particular pela linha média (p. ex., região pineal, junto anos. A maioria dos TCGs secreta oncoproteínas como
ao terceiro ventrículo e infundíbulo hipofisário) ou por alfa-fetoproteína e beta-gonadotrofina coriônica humana,

20-17 Ilustração sagital mos


tra o germinoma pineal típico
S. Oisseminaçào iiquórica para
o terceiro, o lateral e o quarto
ventrículos é comum, assim
como disseminação tumoral no
espaço subaracnoide
20-18A Espécime de necrop-
sia demonstra um germinoma
pineal SI.

2 0 - 1 8 B Vi s ã o d a c i s t e r n a s
da base no mesmo caso mostra
disseminação iiquórica tumoral
("meningite carcinomatosa")
preenchendo a cisterna supras-
selar SI e cobrindo o cérebro.
(Cortesia de R. Hewiett, MD.)
20-19 O germinoma clássico

i
consiste em grandes células
redondas com nucléolos proe
minentes misturadas com pe
quenos linlócitos. (Cortesia de T.
Tihan, MD.)

Ti t f t ê. ^
558 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

permitindo que a avaliação laboratorial tome-se útil para


estabelecimento do diagnóstico. TUMORES DE CÉLULAS GERMINATIVAS
O prognóstico e o tratamento variam com o tipo de INTRACRANIANOS
tumor. Germinomas localizados são tratados com radiole-
Patologia
rapia e trazem um prognóstico relativamente bom. A qui • Homólogos das neoplasias gonadals
mioterapia é reservada para os germinomas disseminados. o Germinoma, teratoma, coriocarcinoma, etc.
Teratomas maduros são tratados com cirurgia. Os outros • Neoplasias se correlacionam com ectoderma,
TCGs são manejados com várias combinações de cirur mesoderma e endoderma primitivos
• Propensão a se apresentar na ou próximo da linha
gia, quimioterapia e radioterapia.
média

Aspectos clínicos
• 3-8% dos tumores primários do SNC em crianças
o Mais comum na Ásia (9-15% dos tumores cerebrais
pediátricos)
• Geralmente afeta crianças e adultos jovens
o 80-90% < 20 anos de idade
• A maior parte secreta oncoproteínas (alfa-
fetoproteína, beta-gonadotrofina coriônica humana)
• Tratamento e prognóstico variam com o tipo de tumor

20-20A TC pós-ventriculos-
tomia mostra uma lesão pirteal
hiperdensa E3 "englobando" as
cakificações da glândula pineal

20-208 Imagem pondera


da em T1 no plano sagital do
mesmo paciente mostra uma
lesão pineal bem delimitada ES
comprimindo a lâmina tectal
inferiormente S, causando hi-
drocefalia obstrutiva grave.

20-20C Imagem ponderada


em 12 no mesmo paciente de
monstra intensidade de sinal
mista na lesão B. Observe
hidrocefalia obstrutiva grave com
"halo" de fluido ao redor de am
bos os cornos temporais
20-20D 12* demonstra hi-
pointensidades com artefato de
susceptibilidade magnética ao
redor e dentro da lesão expansi
va, provavelmente combinação
de hemorragia e cakificações.
Tumores da pineal e de células germinatlvas 559

Germinoma invadem o teto mesencefálico ou causam hidrocefalia po


dem medir vários centímetros no momento do diagnóstico.
Terminologia Aproximadamente 20% dos germinomas intracra
Ainda que os germinomas também sejam chamados de nianos são múltiplos. A combinação mais freqüente é de
disgerminomas ou seminomas extragonadais, "germino- uma lesão pineal com uma lesão suprasselar ("bifocal" ou
ma" ainda é o melhor termo. O nome antigo "teratoma "duplo de linha média") (Fig. 20-17). Ainda é debatido se
atípico" causa confusão e não é mais utilizado. tratam-se de lesões sincrônicas ou metastáticas.

Patologia macroscópica. Os germinomas costumam ser


Patologia sólidos, friáveis, esbranquiçados, freqüentemente infil
Localização. Germinomas intracranianos têm marcada pre trando as estruturas adjacentes. Cistos intratumorais, pe
dileção pela linha média. Entre 80 e 90% tocam a linha quenos focos de hemorragia e disseminação liquórica são
média. Um terço é encontrado na região pineal, enquanto achados comuns (Fig. 20-18).
a segunda topografia mais comum é a região suprasselar,
Características microscópicas. Os germinomas são histolo-
que responde por um quarto a um terço dos genninomas.
Germinomas fora da linha média ocorrem em 5 a 10% dos gicamente semelhantes ao disgerminoma ovariano e semi
noma testicular. Um germinoma puro consiste em grandes
casos, sendo os núcleos da base o local mais comum.
células, pouco diferenciadas, com nucléolos proeminentes
Tamanho e número. O tamanho do tumor no momento do
arranjados em cordões monomórficos ou lóbulos separados
diagnóstico varia com a localização. Alguns germinomas por finos septos fibrovasculares. Muitos germinomas apre
infiindibulares tomam-se sintomáticos (em geral causando sentam um padrão multicelular com abundantes linfócitos
diabetes insípido) antes de poderem ser detectados na RM de imaturos misturados com as grandes células do germino
alta resolução pós-conlraste. Germinomas da pineal que não ma. Mitoses são comuns, mas necrose é rara (Fig. 20-19),

20-20E Imagem ponderada


em TI pós-conlraste com sa
turação de gordura no mesmo
paciente mostra que a lesão ex
pansiva B realça intensamen
te. Observe no tumor no recesso
anterior do terceiro ventriculo

r W e ao longo do soalho do
quarto ventriculo
20-20F Imagem ponderada
em TI pós-contraste com satura
ção de gordura mostra lesão ex
7 1 ^ pansiva com realce ES e realce
de sulcos e cisternas B suge
rindo disseminação liquórica.

20-20G Imagem em difusão


mostra restrição BS.
20-20H Mapa de ADC mostra
restrição moderada à difusão
ES consistente com uma lesão
altamente celular. Germinoma.
560 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Estadiamento, graduação e classificação. Germinomas pu Achados na TC. Por conterem grande quantidade de lin
ros são neoplasias grau II da OMS. fócitos, muitos germinomas podem ser hiperdensos se
comparados ao parênquima cerebral. O tumor parece "re
Aspectos clínicos cobrir" a porção posterior do terceiro ventrículo. Hidro-
Epidemiologia. o germinoma é o TCG intracraniano mais cefalia obstrutiva é variável. As calcificações pineais são
comum, respondendo por I a 2% dos tumores cerebrais "englobadas" e circundadas pelo tumor (Fíg. 20-20A).
primários. Realce uniforme importante é típico. Procure por uma se
Demografia. Mais de 90% dos pacientes possuem menos gunda lesão na região suprasselar.
de 20 anos no momento do diagnóstico. O pico de apre Achados na RM. Nas imagens ponderadas em TI e T2, os
sentação é entre 10 e 12 anos. A proporção H:M para o germinomas são iso a levemente hiperintensos em rela
germinoma da pineal é de 10:1. Germinomas suprassela- ção ao córtex. Cistos intratumorais de tamanho variável
res não têm predileção por sexo. são comuns, em especial em lesões grandes. Hemorra
Apresentação. A apresentação varia conforme a localiza gia é incomum, exceto nos germinomas dos núcleos da
base. Imagens T2* (GRE, SWI) podem demonstrar arte
ção. Germinomas da pineal em geral se apresentam com
cefaleia e síndrome de Parinaud. A apresentação mais co fato de susceptibilidade magnética devido a calcificações
mum para o germinoma suprasselar é o diabetes insípido intratumorais. O realce é forte e geralmente homogêneo
central. Perda visual e puberdade precoce também são ou (Figs. 20-20B, 20-20C, 20-20D, 20-20E e 20-20F).
tras apresentações possíveis. Pela alta celularidade, os germinomas podem mostrar
restrição à difusão (Figs. 20-20G e 20-20H).
Historia natural. Disseminação no LCS e invasão são co
muns, porém germinomas puros apresentam uma respos Diagnóstico diferencial
ta muito favorável à radioterapia. A sobrevida em 5 anos Os principais diagnósticos diferenciais do germinoma de
para pacientes com germinomas puros tratados é > 90%. pineal são um tumor de células germinativas misto ou
Germinomas que contêm células gigantes sinciciotro- um tumor de células germinativas não germinomato-
foblásticas possuem maior recorrência e menor sobrevida so. Alguns pineoblastomas podem apresentar-se seme
a longo prazo. lhantes ao germinoma, mas "empurram" e não "englo
Opções de tratamento. Documentação histológica seguida bam" as calcificações pineais. Tumor do parênquima
por radioterapia é o tratamento-padrão. Quimioterapia pineal de diferenciação intermediária em geral ocorre
adjuvante é reservada apenas para tumores disseminados. em pacientes adultos de meia-idade ou mais velhos.
O principal diagnóstico diferencial do germinoma su
prasselar é a histíocitose de células de Langerhans (HCL).
GERMINOMA: CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E Ambos são comuns em crianças, freqüentemente causando
PATOLÓGICAS diabetes insípido, e podem ser indistinguíveis apenas por
estudos de imagem. Entretanto, HCL não produz oncopro-
Patologia
• Envolve estruturas da linha média (80-90%) teínas. Neurossarcoidose em um adulto pode apresentar-se
• Pineal > > suprasselar > núcleos da base como massa suprasselar que lembra o gemiinoma.
• Múltiplos (20%, geralmente pineal + suprasselar)
• Células do germinoma + numerosos linfócitos
GERMINOMA: IMAGEM
Aspectos clínicos
• 1-2% de todas neoplasias (mais comum na Ásia) TC
• TCG intracraniano mais comum • TC: hlperdenso, "engloba" as calcificações da pineal
• > 90% dos pacientes abaixo de 20 anos • TC pós-contraste: realce forte, uniforme.
• Germinoma da pineal, H:M = 3-10:1; suprasselar, H = M.
R M
• Podem causar diabetes insípido antes de a lesão • TI Iso/hlpo, T2 iso/hiperintenso
infundibular ser vista na imagem • GRE mostra calcificações e hemorragia
• Freqüentemente com restrição à difusão
• Realce intenso, heterogêneo
Imagem • Disseminação liquórica comum (procurar outras
Características gerais. Disseminação no LCS é comum, lesões)
portanto todo neuroeixo deve ser avaliado em pacientes • Imagem de todo neuroeixo antes da cirurgia!
com suspeita de germinoma. A RM é o método de escolha
Diagnósticos diferenciais
para delinear a extensão do comprometimento pelo ger • TCG não germinomatosos
minoma. Alerta: alguns germinomas suprasselares podem • TPGP (pineoblastoma, TPPDI)
apresentar-se com diabetes insípido bem antes das lesões • Hisíiocitose (lesão na haste em criança)
se tornarem visíveis na RM. Nesses casos, estudos de • Neurossarcoidose (lesão na haste em adulto)
imagem seriados devem ser realizados.
Tumores da pineal e de células germinatlvas 5 6 1

Te r a t o m a

Teratomas são lesões expansivas tridérmicas que se ori


ginam de células-tronco embrionárias deslocadas. Essas
lesões recapitulam o desenvolvimento somático e se dife
renciam nos tipos celulares oriundos da ectoderma, meso-
derma e endoderma.
Embora possam originar-se em qualquer local do
corpo, os teratomas são mais encontrados nas regiões sa-
crococcígena, gonadal, mediastinal, retroperitoneal, cer-
vicofascial e intracraniana. Há envolvimento preferencial
da linha média; lesões intracranianas costumam iniciar na
região pineal ou suprasselar.
Essa neoplasia responde por 2 a 4% dos tumores ce
rebrais primários em crianças e quase metade de todos os
tumores cerebrais congênitos (perinatais). Ela responde
por mais de 60% dos tumores cerebrais parenquimatosos 20-21 Ilustração mostra um teratoma da pineal com
detectados no pré-natal. típicos componentes teciduais heterogêneos (cistos,
Teratomas são mais comuns em asiáticos e homens. A tumor sólido, calcificações, gordura, etc.).

doença apresenta dois picos na distribuição etária. Cerca


de 10% ocorre antes dos 5 anos; aproximadamente metade
ocorre dos 5 a 15 anos. A idade no diagnóstico é uma ca
racterísticas prognostica importante, independentemente
da localização do tumor. Apresentação ante ou perinatal é
associada com alto risco de eventos adversos. O compor
tamento clínico também varia com o tamanho do tumor.
Existem três tipos conhecidos de teratoma, que vão
desde uma lesão benigna bem definida, chamada de te
ratoma "maduro", passando por teratoma imaturo até um
teratoma com diferenciação maligna. Todos apresentam
características de imagem, como massas complexas com
densidade e intensidade de sinal muito heterogêneos. Cis
tos e hemorragia são comuns.

Teratoma maduro
Os teratomas maduros são tumores lobulados bem demar 20-22 Caso de necropsia demonstra um teratoma de

cados que contêm elementos maduros bem diferenciados pineal típico com componentes bastante heterogêneos.
(Cortesia de B. Alvord, MO.)
de todas as três camadas embrionárias. Elementos ecto-
dérmicos como pele, cabelo e apêndices dérmicos (p. ex.,
glândulas sebáceas) são comuns (Fig. 20-21). Tecidos
mesodérmicos como cartilagem, osso, gordura e músculo
podem ser características evidentes. Epitélio respiratório
ou entérico com freqüência recobrem cistos intratumorais
(Flg. 20-22).
A atividade mitótica é baixa ou ausente. Um teratoma
maduro é uma lesão grau 1 da OMS.
O tamanho do termatoma maduro varia de lesões
pineais relativamente pequenas a grandes lesões holo-
cranianas, com grandes extensões extracranianas para a
órbita, face, orelhas e cavidade oral. O componente in
tracraniano desses teratomas craniofaciais pode tornar-se
tão grande que há perda da arquitetura normal intracra
niana. Nesses casos, as estruturas normais do cérebro são
irreconhecíveis.
20-23 Imagem ponderada em 11 de um teratoma
A imagem demonstra uma lesão multiloculada com de pineal maduro mostra Intensidade de sinal hetero
plexa contendo gordura, caicificações, cistos e outros teci gênea. Não existe componente francamente lipomalo-
dos (Fig. 20-23). Hemorragia é comum. Realce é variável. so com tempo TI curto.
562 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Te r a t o m a i m a t u r o Teratoma com transformação maligna


Teratomas imaturos contêm uma mistura complexa de Teratomas com transformação maligna em geral iniciam
pelo menos alguns tecidos fetais das três camadas ger- em teratomas imaturos e contêm neoplasias somáticas
minativas em combinação com tecidos mais maduros como rabdomiossarcoma ou sarcoma indiferenciado.
(Figs. 20-24 e 20-25). É comum existir cartilagem, osso,
mucosa intestinal e músculo liso misturados com tecido
eclodérmico primitivo neural. Hemorragia e necrose são T E R ATO M A S I N T R A C R A N I A N O S
c o m u n s .

Teratomas imaturos gigantes são lesões congênitas, Patologia


• Originários de células germinativas multipotendais
geralmente identificadas em um feto ou recém-nascido. • Tridérmicos com células derivadas de todas três
A maioria é associada com natimorto. morte perinatal ou camadas germinativas
morbidade importante após tentativa de ressecçào. • Três tipos
O diagnóstico ultrassonográfico de teratoma intra o Teratoma maturo (mais comum, bem diferenciado)
craniano pode ser feito de forma relativamente precoce o Teratoma imaturo (alguma quantidade de tecido
na gestação (15-16 semanas). Macrocefalia, hidrocefalia indiferenciado)
o Teratoma com transformação maligna
progressiva e polidràmnio são comuns. Uma massa hete
rogênea rapidamente progressiva com áreas hipo e hipere- Aspectos clínicos
cogênicas é o típico. • Apenas 3-4% de todos teratomas estão no SNC
A TC e a RM demonstram substituição quase com • 40-50% de todos tumores congênitos cerebrais
pleta do tecido cerebral por uma massa com densidade ou (continuo)
intensidade de sinal heterogênea (Figs. 20-26 e 20-27).

20-24 Caso de necropsia fetal


mostra um grande teratoma ima
turo intra e extracraniano com

múltiplos cistos e hemorragias.


20-25 Macroscopia de uma
peça de necropsia de um tera
toma congênito mostrando uma
massa heterogênea ocupando
praticamente toda cavidade
intracraniana BI. Apenas uma
pequena lâmina de tecido cere
bral está presente B, a qual foi
deslocada perifericamente pelo
grande tumor. (Cortesia de T.
Tihan, MD.)

20-26 Imagem ponderada


em TI pós-morte de um recém-
-nascido com macrocefalia
mostra substituição completa do
tecido cerebral por uma massa
de intensidade de sinal comple
xa. Teratoma imaturo com tecido
neural ectodérmico, cartilagem,
osso, mucosa Intestinal, músculo
liso e hemorragia puderam ser
identificados na necropsia.
20-27 Imagem ponderada
em T2 no plano sagital em outro
caso de um recém nascido com
macrocefalia mostra uma grande
massa suprasselar heterogênea
Tumores da pineal e de células germinativas 563

(continuação)
Imagem
• Grande lesão holocraniana/extracraniana em um
recém-nascido?
o Mais provavelmente teratoma
o Distorce o crânio/cérebro, separa suturas
o Estruturas intracranianas podem estar
irreconhecíveis
o Pode se estender pela base do crânio para a
cavidade oral
o Intensidade de sinal/densidade mistas
o Cistos e hemorragia são comuns
• Teratoma pineal
o Densidade e intensidade de sinal mistas
o Gordura, calcificações, osso e cistos são comuns
o Com freqüência causa hidrocefalia obstrutiva
20-28A Imagem ponderada em Ti no plano sagital
de um menino de 8 anos com cefaleia mostra uma le
são pineal com intensidade de sinal mista B.
Outras neoplasias de células germinativas
Germinomas são as mais comuns das neoplasias de cé
lulas germinativas. Tumores malignos de células germi
nativas não germinomatosas (TMCGNGs) são neoplasias
raras que contêm células epiteliais não diferenciadas e
estão com freqüência misturados com outros elementos
de células germinativas (mais comumente germinoma).
Incluem os tumores do saco vítelínico (seio endodérmi-
co). carcinoma embrionário, coriocarcinoma e tumor
misto de células germinativas.
Os TMCGNGs ocorrem em adolescentes, com pico
de incidência entre 10 e 15 anos. O prognóstico costuma
ser ruim com sobrevida média menor que dois anos.
Diferenciar as neoplasia de células germinativas in
tracranianas apenas com base em imagens é problemáti
co. Todos TCGs intracranianos - benignos ou malignos
- tendem a "tocar" a linha média. Muitos expressam on-
20-28B Imagem ponderada em T2 após derivação
coproteínas. portanto o perfil imuno-histoquímico é parte ventricular mostra que a lesão B mantém as caracte
essencial do diagnóstico. rísticas de sinal misto.

Tumor do saco vítelínico


o tumor do saco vitelínico (seio endodérmico) represen
ta apenas 2% de todos os TCGs intracranianos. Eles são
compostos por células epiteliais primitivas em uma matriz
frouxa mixoide de celularidade variável. O pico de ocor
rência é aos 20 anos. Aspectos de imagem são inespecí-
fi c o s .

Carcinoma embrionário
Carcinoma embrionário é outro tumor que contém gran
des células epitelioides anaplásicas organizadas em cor
dões, filas ou agrupamentos.
Os aspectos de imagem são inespecificos. Uma gran
de massa com densidade e intensidade de sinal heterogê
nea, apresentando realce heterogêneo, costuma ser o as
20-28C Imagem ponderada em TI pós-contraste
pecto de imagem encontrado (Fig. 20-28). mostra focos de realce sólido, anelar e áreas sem real
ce. Diagnóstico pré-operatório de teratoma. Patologia
diagnosticou carcinoma embrionário.
564 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Coriocarcinoma
A maioria dos coriocarcinomas se desenvolve dentro ou
fora do útero após um evento gestacional (coriocarcinoma
"gestacional"). Coriocarcinomas não gestacionais podem
iniciar de células germinativas gonadals ou extragonadais,
com localização na linha média.
O coriocarcinoma do SNC pode ser primário ou me-
tastático, vindo de um sítio extracraniano como o retro-
peritônio ou mediastino. Coriocarcinoma intracraniano
primário (CCIP) é o mais raro e mais maligno de todos os
TCGs intracranianos.
Os CCIPs são tumores dimórficos caracterizados por
diferenciação extraembrionária em linhas citotrofoblásti-
cas e sinciciotrofoblásticas. Eles são compostos por célu
las trofoblásticas mononucleadas misturadas com grandes
20-29A Imagem ponderada em Ti no piano sagilai células multinucleadas sinciciotrofioblásticas. Hemorra
em um menino de 13 anos com sindrome de Parinaud gia, necrose, fibrose e neovascularizaçâo são comuns.
mostra uma lesão pineal hipointensa B. Os CCIPs apresentam-se mais em pacientes entre 3 e
20 anos. Existe uma predominância masculina aproxima
da de 4:1. Puberdade precoce é a apresentação mais co
mum em pacientes do sexo masculino. Níveis séricos de
hCG/beta-hCG muito elevados são sugestivos de CCIP.
Os locais mais comuns do CCIP são as regiões pi
neal e supasselar. A RM é útil para localizar, caracterizar
e realizar avaliação pré-operatória, porém os achados de
imagem são inespecíflcos. Hemorragia intratumoral com
hipointensidades em linha ou confluentes em imagens
ponderadas em T2 são comuns. Realce heterogêneo peri
férico ou nodular é visto na maioria dos casos. Metastases
extraneurais e no LCS são comuns.

Tumor misto de células germinativas


Os TCGs mistos são compostos por qualquer um dos
subtipos histológicos, freqüentemente juntos com ele
mentos germinomatosos. TCGs mistos são mais comuns
20-29B A massa é heterogeneamente hiperintensa
na imagem ponderada em T2.
que qualquer lesão de células germinativas pura, exceto
germinoma. Achados de imagem são inespecíflcos (Fig.
20-29).

AVALIAÇÃO DE MASSAS NA REGIÃO PINEAL


Considerar três questões
• A massa está na própria glândula pineal?
• Qual a idade e o sexo do paciente?
• Existe evidência laboratorial de oncoproteínas?

Massa na glândula pineal


• Comum
o Cisto de pineal (não neoplásico)
• Menos comum
o Pineocitoma
o Germinoma
• Raro, porém importante
o TPPDI
o PIneoblastoma
20-29C Realce forte e heterogêneo pode ser visto na
imagem ponderada em Ti pós-contraste. Tumor misto
de células germinativas. (Cortesia de M. Thurnher, MD.) (continua)
Tumores da pineal e de células germínativas 565

• Sato K et al: Pathology of pineal parenchymal tumors. Prog


(continuação) Neurol Surg. 23:12-25,2009
o TCG maligna não germinomatoso
o Tumor papilar da região pineal Tumor do parènquima pineal com diferenciação
o Astrocitoma intermediária
o Metástase • Fukuoka K et al: Pineal parenchymal tumor of intermediate

Massa na região pineal differentiation with marked elevation of MlB-1 labeling


• Comum index. Brain Tumor Pathol. Epub ahead of print, 2012
o Massas da glândula pineal • Han SJ et al: Pathology of pineal parenchymal tumors.
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o Outros cistos não neopiásicos (aracnoide, dermolde, • Komakula S et al: Pineal parenchymal tumor of intermediate
etc.) differentiation: imaging spectrum of an unusual tumor in 11
o Neoplasias (astrocitoma, meningioma, metástase) cases. Neuroradiology. 53(8):577-84, 2011
o Lipoma
• Raro, porém importante
Pineoblastoma
o lesões vasculares (malformação da veia de Galeno,
• Smith AB et al: From the archives of the AFIP: lesions
aneurismas, fistula arteriovenosa durai) of the pineal region: radiologic-pathologic correlation.
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Tumor papilar da região pineal


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566 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

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21
Tumores embrionários
e neuroblásticos
identificado subtipo dos PNETs do SNC, conhecido como
Meduloblastoma 567
tumor embrionário com neurópilo abundante e rosetas
Visão geral sobre o meduloblastoma 567
Meduloblastoma clássico 569
verdadeiras (TENARV).
Va r i a n t e s do meduloblastoma 572

Tumores neuroectodérmicos primitivas do SNC 575


PNET supratentorial 575
Va r i a n t e s de PNET do SNC 579
Meduloblastoma
Tumores rabdoides malignos 585 Visõo geral sobre o meduloblastoma
Tumor teratoide rabdoide atípico 585
Outras neoplasias do 5NC com características rabdoides 587
Existe significativa variabilidade no comportamento bio
lógico entre os medulobastomas (MBs), que são atual
mente classificados apenas com base histológica, inci
O uso crescente do perfil genético molecular na neuropa- tando uma intensa busca por marcadores moleculares que
tologia teve um enorme impacto na identificação e no tra possam facilitar o reconhecimento e o tratamento desse
tamento das neoplasias do sistema nervoso central (SNC). importante câncer da infância.
Um exemplo clássico é a rotina atual da determinação do Hoje, entende-se que o meduloblastoma não é uma
estado lp,19q nos oligodendrogliomas. doença única. Pesquisas transcriptômicas recentes de
O rápido desenvolvimento da classificação molecular monstraram que a entidade patologicamente definida e
dos tumores cerebrais também influenciou o entendimen historicamente conhecida como meduloblastoma é com
to das neoplasias embrionárias, talvez mais do que em posta por múltiplos subgrupos com distinção clínica e
qualquer outro grupo de neoplasias. molecular. Além disso, cada subgrupo contém pelo menos
Os tumores cerebrais embrionários são um grupo he um nível hierárquico adicional e alguns possuem múlti
terogêneo de neoplasias primitivas com manifestações plos níveis e subgrupos. Cada subgrupo molecular de MB
histopatológicas versáteis. A maioria consiste em células difere em demografía, transcriptomas, eventos genéticos
pouco diferenciadas, semelhantes às células-tronco, en somáticos e desfechos clínicos.
quanto outras demonstram algum grau de diferenciação Compreender o meduloblastoma no contexto de
nas linhagens neuronal, glial ou (menos comum) em ou modificações histològicas em sua classificação e do
tras linhagens, como as de células miogênicas. rápido desenvolvimento do perfil molecular é ditTcil.
To d o s o s t u m o r e s e m b r i o n á r i o s s ã o c l a s s i f i c a d o s A tentativa de correlacionar manifestações de imagem
como neoplasias grau IV da Organização Mundial da Saú com componentes dos perfis histológico e molecular é
de (OMS). A maioria ocorre em lactentes e em crianças desafiadora. Esta seção fornece uma visão geral do me
jovens, e eles são, em geral, caracterizados pelo com duloblastoma, sua patogênese e o estado atual do diag
portamento clínico agressivo. A maioria desses tumores n ó s t i c o m o l e c u l a r.
possui uma tendência inerente para metastatizar vasta e As seções seguintes discutem os subtipos específicos
precocemente pelas vias do liquido cerebrospinal (LCS). do MB e seus aspectos de imagem. Se você espera uma
A classificação da OMS reconhece três categorias de relação 1:1 entre as variantes histològicas. subgrupos mo
tumores embrionários: (I) meduloblastoma, (2) tumores leculares e achados de imagem específicos, ficará desa
neuroectodérmicos primitivos do SNC (PNETs) e (3) pontado. Isso é impossível. Mas se você quiser melhorar
tumor teratoide rabdoide atípico. Esses três grupos se sua compreensão sobre esses tumores fascinantes e seus
rão discutidos neste capítulo, junto com o recentemente aspectos de imagem, prossiga a leitura.
568 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Epidemiologia Grupo 3. O grupo 3 é o terceiro maior subgrupo de MB


O meduíoblastoma (MB) é o tumor maligno mais co (20-25%). Os tumores do grupo 3 em geral exibem a
mum do SNC na infância e é o segundo tumor cerebral histologia clássica do MB, embora essa categoria tam
bém englobe a maioria dos tumores de grandes células/
pediátrico mais comum (após o astrocitoma).
anaplásicos.
Classificação patológica do meduíoblastoma e Os MBs do grupo 3 são mais comuns em lactentes,
raramente ocorrem em adultos, exibem uma predominân
subtipos de MB
cia masculina de quase 2:1. metastatizam com freqüência
Os meduloblasiomas são um grupo histoiogicamente diver
e possuem o pior desfecho dos quatro subtipos molecu
so de tumores. A classificação histológica da OMS de 2007
lares.
admite o meduíoblastoma clássico (CMB, chamado apenas
de "meduíoblastoma") e quatro variantes dele: (I) medu Grupo 4. O grupo 4 é o maior (cerca de 35%) dos quatro
íoblastoma nodular desmoplásico; (2) meduíoblastoma subgrupos moleculares. Nesse subgrupo, podem ocorrer o
com nodularldade extensa; (3) meduíoblastoma anaplá- MB clássico e suas variantes anaplásica e de grandes cé
sico; e (4) meduíoblastoma de grandes células. Os dois lulas, ao passo que os MBs desmoplásicos são incomuns.
últimos são, por vezes, agrupados em conjunto e referidos Esses MBs afetam todas as idades, mas são mais comuns
como "meduíoblastoma de grandes células/anaplásico". em crianças. A razão H:M é de 2:1. Os MBs do grupo 4
Todos os meduloblastomas - independentemente de freqüentemente metastatizam.
seu subtipo - são classificados como neoplasias grau IV
pela OMS.
CLASSIFICAÇÃO DOS MEDULOBLASTOMAS
Classificação molecular dos MBs Classificação histopatológica
Um consenso de 2010 identificou quatro subgrupos mole • Meduíoblastoma ("clássico", CMB)
• Variantes do meduíoblastoma
culares principais, cada um com uma via citogenética de
o Meduíoblastoma nodular desmoplásico (MND)
origem diferente. As duas vias nomeadas são as vias Shh
o Meduíoblastoma com nodularldade extensa (MNE)
e a Wnt. Dois grupos não Wnt e não Shh são chamados
o Meduíoblastoma anaplásico (MAn)
de "grupo 3" e "grupo 4". Os quatro grupos possuem ori
o Meduíoblastoma de grandes células (MGC)
gens, localizações anatômicas preferenciais, demografias,
potenciais metastáticos e desfechos clínicos diferentes. Classificação molecular
• Meduloblastomas via Shh
Mbs via Shh. Entre 25 e 30% dos MBs originam-se de cé o Segundo maior subgrupo (25-30%)
lulas precursoras dos neurônios da camada granulosa apôs o Origem de células precursoras de neurônios da
a ativação da via Shh. As células precursoras dos neurô camada granulosa
nios da camada granulosa são encontradas na camada ex o Ativação da via Shh
terna do cerebelo até o início do segundo ano de vida. o Mais comum em lactentes < 4 anos e adultos > 16
Os MBs Shh exibem uma distribuição etária bimodal, a n o s

ocorrendo em lactentes (menores que 4 anos) e em adultos o Todos os tipos histológicos, mas MND, MGC e MAn
são mais comuns
(maiores de 16 anos). Não há predileção por gênero. • Meduloblastomas via Wnt
Os MBs Shh estão com freqüência localizados late
o Menor subgrupo (10%)
ralmente nos hemisférios cerebelares. Embora possam dar o Originam-se do/infiltram-se no tronco encefálico
origem tanto ao MB clássico quanto a suas variantes, eles dorsal e quarto ventrículo
exibem com maior freqüência histologia de grandes cé o Raros em lactentes, mais comuns em crianças e
lulas, anaplásica ou desmoplásica. Os pacientes com MB adultos
Shh têm um prognóstico relativamente ruim. o > 97% CMB

Indivíduos com mutações de linhagem germinativa o Melhor prognóstico


no receptor PTCH da via Shh apresentam síndrome do • Meduloblastomas do grupo 3
nevo basocelular (Gorlin) e estão predispostos ao desen o Terceiro maior subgrupo (20-25%)
volvimento do meduíoblastoma.
o Lactentes; raro em adultos
o Predomina CMB, mas a maioria dos MAs está no
Mbs via WNT. Os meduloblastomas Wnt são o menor sub grupo 3.
grupo de MBs (10%) e são diferentes dos MBs Shh. Os o Pior prognóstico
MBs Wnt originam-se do e inflltram-se no tronco encefá- • Meduloblastomas do grupo 4
lico dorsal e o quarto ventrículo. o Maior subgrupo (35%)
Os MBs Wnt são muito raros em lactentes e mais co
o Todos os tipos histológicos; MND é raro
o Todas as Idades, mas mais comum em crianças
muns em crianças e adultos. Eles quase sempre exibem
o Freqüentemente metastatizam
a histologia clássica do MB e conferem um prognóstico
significativamente melhor em longo prazo se comparados
aos outros subgrupos de MBs.
Tumores embrionários 569

21-1 Figura ilustra o MB clássico como um "pequeno tumor arre 21-2 Espécime de necropsia demonstra um grande meduloblastoma
dondado de células azuis", densamente celular no interior do quarto BI no quarto ventriculo com algum grau de preservação do aspecto
ventriculo SI. Disseminação no LC5 (S com "poiviiho de açúcar" diluso mais superior ventricular (cS. A ponte está comprimida anteriormente
cobrindo as superlícies cerebrais com freqüência está presente no mo 1^. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
mento do diagnóstico iniciai.

Meduloblastoma clássico mindo a ponte anteriormente (Flg. 21-2). Pequenos focos


esparsos de necrose e hemorragia podem estar presentes.
Terminologia
Características microscópicas. Os CMBs são tumores alta
o meduloblastoma clássico (CMB) é um tumor neuroec-
mente celulares. O aspecto típico é o de camadas densas
todérmico primitivo que se origina no cerebeío. Os MBs
de células uniformes com núcleos pleomórficos hiper-
clássicos de fossa posterior são também denominados
cromáticos redondos ou ovais, envoltos por ciloplasma
PNET-MBs para distingui-los dos PNETs que ocorrem
escasso ("tumor de pequenas células redondas e azuis").
em outras localizações no SNC (ver a seguir).
Rosetas neuroblásticas (Homer-Wright) - arranjos radiais
de células tumorals em torno de processos fibrilares - são
Etiologia encontradas em 40% dos casos.
Os CMBs ocorrem em todos os quatro subgrupos molecu
lares principais.
Aspectos clínicos
Epídemiologia e aspectos demográficos. Os MBs causam 10%
Patologia
dos tumores cerebrais pediátricos e são a neoplasia de fos
Localização. Mais de 85% dos CMBs têm origem na linha sa posterior mais comum da infância. Os CMBs corres
média. Eles estão localizados no interior do quarto ven
pondem a 70% dos MBs. A maioria ocorre antes dos 10
triculo, com infiltração focai do dorso do tronco encefáli- anos. Há um segundo e menor pico em adultos com idade
co (Fig. 21-1). Às vezes, o CMB ocorre como uma lesão entre 20 e 40 anos,
difusamente infiltrativa sem uma massa focai dominante.
Extensão posteroinferior para a cisterna magna é co Apresentação. As manifestações clínicas mais comuns do
mum. Ao contrário do ependimoma, a extensão lateral MB são vômitos (90%) e cefaleia (80%). Regressão psi-
para o ângulo cerebelopontino é rara. comotora, ataxia, estrabismo e espasticidade são comuns.
A média de intervalo entre o início dos sintomas e o diag
Tamanho e niímero. Os CMBs variam em tamanho. A maio nóstico é de dois meses.
ria mede entre 2 e 4 centímetros no momento do diagnós Em razão de sua localização, os MBs tendem a com
tico inicial.
primir o quarto ventriculo e causar hidrocefalia obstruti-
Patologia macroscópica. Os CMBs são massas relativa va. Em um terço das crianças abaixo dos 3 anos, o diag
mente bem definidas, de coloração rósea ou acinzentada, nóstico é feito apenas após o aparecimento de sinais de
que preenchem o quarto ventriculo, deslocando e compri hipertensão intracraniana que determinam risco de vida.
570 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumoraís

21-3A Exame de TC sem contraste mostra um meduloblastoma clás 21-3B TC com contraste mostra forte realce B. Observe o leve alar
sico. Uma massa B predominantemente hiperdensa na linha média, gamento dos cornos temporais EB. Hidrocefalia obstrutiva é um achado
na (ossa posterior, é típica. Cistos intratumorais estão presentes em 40% comum nos meduloblastomas.
dos casos.

História natural. O progresso significativo no tratamento


aumentou para 60-70% a taxa de sobrevida em 5 anos em (continuoçõo)
pacientes com CMB. Os MBs clássicos que apresentam • CMBs do aspecto dorsal do mesencéfalo quarto
ativação da via de sinalização Wnt possuem um prognós
ventrículo
tico mais favorável, com taxa de sobrevida em 5 anos de
95% em crianças e de 100% em adultos. Patologia
• Linha média {> 85%, quarto ventrículo)
Opções de tratamento. A ressecção cinirgica é o tratamento • "Tumor de pequenas células redondas e azuis"
primário. A quimioterapia adjuvante aumenta as taxas de • Rosetas neuroblásticas (Homer-Wright)
sobrevida em pacientes de alto risco (i.e., crianças abaixo • Grau IV da OMS
dos 3 anos, pacientes com ressecção incompleta e aqueles
com disseminação no LCS). Em razão dos significativos Epidemioíogia e aspectos demográficos
• MB: 10% de todos os tumores cerebrais pediátricos
efeitos adversos sobre o SNC em desenvolvimento, a ra- • CMBS: 70% dos MBs
dioterapia cranioespinal costuma ser evitada, especial • Neoplasia maligna mais comum da fossa posterior da
mente em crianças com menos de 2 anos. infância
Com os recentes avanços no perfil de expressão gêni- • Maioria CMBs em pacientes < 10 anos; segundo pico
ca, as decisões de tratamento baseiam-se na identificação do em pacientes com 20-40 anos
subtipo molecular específico nos indivíduos com MB. Por
exemplo, como a maioria dos pacientes com MB do tipo
Wnt tem boa expectativa de vida, terapias que acrescentem Imagem
morbidade significativa podem sem desnecessárias para eles. Características gerais. Os CMBs possuem margens relati
vamente definidas nos exames de imagem. Apesar de sua
aparência, 40 a 50% apresentam disseminação no LCS
MEDULOBLASTOMA CLÁSSICO no momento do diagnóstico. É recomendado estudo pré-
Terminologia -operatório por ressonância magnética (RM), com injeção
• Meduloblastoma clássico (CMB); PNET-MB de contraste, de todo o neuroeixo.

Etiologia Achados na TC. Os exames de tomografia computadorizada


• Representação dos quatro subtipos moleculares
(TC) sem contraste mostram uma massa moderadamente
(continua) hiperdensa, relativamente bem definida na linha média,
na fossa posterior. Formação cística (40%) e calcificações
Tumores embrionários 571

21 ■4A Série de aquisições


de exame de RM demonstra os
achados típicos de um medulo-

i
blastoma clássico. Ponderação
em TI no plano sagital mostra
uma grande massa hipointensa
B, expandindo e preenchendo
a maior parte do quarto ventrí-
culo, mas poupando seu aspecto
mais superior B. A ponte está
comprimida e deslocada ante
riormente. Hldrocefalia obstrutl-
va moderada está presente.
21-46 Ponderação em 11 no
plano axial mostra que a massa
hipointensa na linha média
expande e preenche o quarto
ventrículo.

21-4C Ponderação em T2
no plano sagital mostra que a
massa B é levemente hiperin-
tensa e contém diversos cistos
hiperlntensos B. Observe a
preservação do aspecto superior
do quarto ventrículo B.
21-4D Ponderação em T2 no
plano axial mostra o cisto
a hiperintensidade heterogênea
da massa B e os cornos tem
porais dilatados pela hídrocefalla
obstrutiva.

21-4E Aquisição em TI pós-


-contraste no plano sagital
mostra que a massa possui re
alce Irregular e anelar E3, mas
também que parte do tumor não
realça. O realce do medulobias-
toma é variável.
21-4F Ponderação em difusão
mostra restrição B na parte
densamente celular da massa.
572 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumoraís

21-5 Espécime de necropsia de um adulto mostra meduloblastoma 21-6 Aquisição em TI pós-contraste com saturação de gordura em um
desmoplásico como uma massa B de aspecto fibroso, localizada late- adulto com um meduloblastoma desmoplásico mostra massa E3 com
ralmente no hemisfério cerebelar. (Cortesia de R. Hewlett, MO.) forte realce, de localização cerebelar lateral.

(20-25%) sào comuns. Hemorragia franca é rara. Realce


forte, heterogêneo, é visto na TC com contraste (Fig. 21-3). MEDULOBLASTOMA CLÁSSICO: IMAGEM
Se calcificações densas tentoriais ou na foice estive TC
rem presentes, o paciente deve ser investigado para sín- • Hiperdenso na TC sem contraste
drome do nevo basocelular (Gorlin). • Cistos (40%)
• Ca ++ (20-25%)
Achados na rm. Quase todos os CMBs sào hipointensos • Hemorragia é rara
em relação à substância cinzenta nas ponderações em Ti e • Realça forte e heterogeneamente
hiperintensos nas ponderações em T2. Edema peritumoral RM
está presente em um terço dos casos. A hidrocefalia obs- • Hipo e hiperintenso no 11 e no 12, respectivamente
irutiva com migração no LCS transependimária é comum • Com freqüência restringe à difusão
e melhor deinonstrada no FLAIR. • Realce: ausente a forte
Os padrões de realce mostram marcada variação, indo
Diagnóstico diferencial
de mínimo a esparso/irregular, até acentuado. Dois terços • Variante de meduloblastoma
dos CMBs apresentam importante realce, ao passo que • Tumor teratoide rabdoide atípico
um terço apresenta apenas realce sutil, marginal ou linear. • Doença de Lhermitte-Duclos (adultos)
Em razão de sua celularidade densa, os CMBs com
freqüência apresentam moderada restrição à difusão
Va r i a n t e s d o m e d u l o b l a s t o m a
(Fig. 21-4).
Meduloblastoma desmoplásico
Diagnóstico diferencial o meduloblastoma desmoplásico (MND) é uma variante
o principal diagnóstico diferencial do CMB em crianças de MB caracterizada por nódulos de maturação neuronal
é uma variante de meduloblastoma. Um tumor teratoi- em uma densa rede de fibras de retículína intercelulares.
de rabdoide atípico (AT/RT) na fossa posterior pode ser Há uma forte associação entre a histologia desmoplásica e
indistinguível de um CMB com base apenas nos estudos o subtipo Shh; quase todos aqueles em adultos e 90% dos
de imagem. MNDs em lactentes pertencem ao subgrupo Shh.
O diagnóstico diferencial em adultos difere. A massa Os MNDs correspondem a 15-20% dos meduloblas-
mais comum na fossa posterior em adultos é a metástase. tomas, mas a prevalência varia com a idade do paciente.
A doença de Lhermitte-Duclos (DLD) pode ser vis Os MNDs causam cerca de 40% dos MBs em lactentes, e
ta em crianças, mas é mais comum em adultos jovens. A apenas 10% dos MBs em adultos.
DLD e o meduloblastoma cerebelar podem se parecer, em O verme é o local preferencial em crianças. Os MNDs
bora o padrão estriado da DLD seja bastante característico. em a dulto s costu mam estar localizado s late ra lme nte n o s
Tumores embrionários 573

21 -TA Ponderação em T2 no plano axial de uma criança de 4 anos 21-7B Aquisição em TI pós-contraste no plano coronal mostra que o
com medulobiasloma desmopiásico mostra múltiplos cistos pequenos e tumor realça de maneira forte, mas heterogênea. O verme é o local pre
periféricos B e áreas de hipoinlensas focais ferenciai dos MNDs em crianças. (Cortesia de S. Biaser, MD.)

hemisférios cerebelares (Fig. 21-5). Os MNDs possuem pados em conjunto como meduloblastoma anaplásico/
um prognóstico melhor que os MBs clássico, anaplásico grandes células (MA). Os MAs são geralmente dos subti-
ou de grandes células. pos moleculares Shh, grupo 3 ou grupo 4. Tanto os MGCs
Os achados de imagem que sugerem um MND in quanto os MAns possuem um prognóstico sombrio.
cluem localização fora da linha média (adultos) (Fig. Células monomórficas com grandes núcleos redon
21-6), múltiplos pequenos cistos periféricos (Fig. 21-7) e dos, nucléolos proeminentes e quantidades variáveis de
áreas focais iso ou hipointensas em T2/FLA1R que apre citoplasma eosinofílico sugerem o diagnóstico de MGC.
sentam realce no T1 pós-contraste. Não há relato de características que distingam o MGC do
MAn (Fig. 21-9).
Meduloblastoma com nodularidade extensa
Os meduloblastomas com nodularidade extensa (MNEs)
VA R I A N T E S D E M E D U L O B L A S TO M A
ocorrem quase exclusivamente em lactentes e a maioria é
meduloblastoma da via Shh. A arquitetura expandida lo Meduloblastoma desmopiásico
bular ("nodular") dos MNEs é a principal característica • Origem de células precursoras neuronals da camada
histológica que os diferencia dos CMBs e dos MNDs. granulosa
• Ativação da via Shh
Os estudos por imagem demonstram marcada nodula
• Neuropllintranodular, densa rede de fibras de reticuiina
ridade. Localização fora da linha média ou paramediana é • Crianças pequenas, segundo pico em adultos jovens
comum. Aquisições de RM em TI pós-contraste mostram • Localização fora da linha média em adultos, verme
massas tumorals multifocais em "cachos de uva" que real em crianças
çam forte e uniformemente (Fig. 21-8). • Melhor prognóstico

Meduloblastoma anaplásico Meduloblastoma com nodularidade extensa


• Lactentes
O meduloblastoma anaplásico (MAn) mostra inarcado • Fora da linha média ou paramedianos > linha média
pleomorfismo nuclear e alta atividade milótica. Cistos, • Massas tumorals multifocais em "cachos de uva"
necrose e hemorragia intratumoral são comuns. Realce
Meduloblastoma anaplásico
acentuado, mas heterogêneo, é típico. • Cistos, necrose e hemorragia são comuns

Meduloblastoma de grandes células Meduloblastoma de grandes células


• Raro
o meduloblastoma de grandes células (MGC) é a variante • Patologia e imagem se sobrepõem ao MB anaplásico
histológica mais rara, correspondendo por apenas 2 a 4% • Não há achados de imagem que o distingam do MB
dos casos. Os MGCs possuem uma considerável sobrepo
anaplásico
sição citológica com os MAns e são com freqüência agru-
574 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

21-8A Ponderação em T2 no
piano axial de um laclente com
MNE mostra o padrão extensa
mente nodular, quase giriforme,
desta enorme massa holocere-
belar.
21-8B Aquisição em TI pós-
-contraste no plano coronal mos
tra o realce nodular em cachos - â
de uva do tumor E3. (Cortesia
de B. Jones, MD.)

21-9A Ponderação em T2
no plano axial de uma menina
f à
de 5 anos com marcha Instável
mostra uma massa E3 com
Intensidade de sinal mista, de
localização lateral, com hipoin-
lensldade central sugestiva
de hemorragia.
21-9B TI pós-contraste
mostra que a massa possui
realce forte e heterogêneo.
A histopalología revelou um
meduloblastoma anaplásico de
sjia
grandes células. (Cortesia de S.
Blaser, MD.)

21-10A Ponderação em T2

if
no plano axial de paciente de 2
anos mostra uma massa ESI de
aspecto nodular com intensidade
de sinal mista, no verme, esten
dendo-se lateralmente para am
bos os hemisférios cerebelares.
21-10B Os componentes V ^
nodulares B realçam de for
ma forte, mas heterogênea. À
exceção da localização na linha
média, os aspectos de imagem
sugerem MNE. A histopatologia
demonstrou meduloblastoma
desmoplásico. Este caso ilustra a
dificuldade de predizer a histolo-
V í
gia do MB com base apenas nos
achados de imagem.
Tumores embrionários 575

Em resumo, quando se analisam os exames das va possuem características genéticas diferentes e são mais
riantes de meduíoblastoma, não há achados de imagem agressivos. O prognóstico costuma ser ruim.
que possam distinguir uma variante da outra de forma Os PNETs do SNC possuem três principais grupos
confiável. Mesmo o padrão nodular dos MNEs pode ser reconhecidos: (1) PNET supratentoríal: (2) meduloepi-
encontrado em outros subtipos, que podem simular este telíoma; e (3) ependimoma. Há também uma nova enti
padrão de imagem (Fig. 21-10). dade tumoral - tumor embrionário com neurópilo abun
dante e rosetas verdadeiras - que ainda não é reconhecida
oficialmente pela OMS como um subtipo de PNET. Ele
está incluído aqui em razão de sua aceitação geral pelos
Tumores neuroectodérmicos primitivos neuropatologistas, mas sua relação com o ependimoma é
doSNC controversa.

Outros tumores primitivos de células redondas, como


Os tumores neuroectodérmicos primitivos são o segun
o pineoblastoma. são suficientemente únicos e, por isso,
do maior grupo de neoplasias embrionárias do SNC.
mantidos em um tópico diagnóstico próprio, que será dis
Eles são um grupo histologicamente heterogêneo, com
cutido em outros capítulos. Inicia-se esta seção com os
posto de células neuroepiteliais pouco diferenciadas. Os PNETs supratentoriais e, então, serão considerados todos
PNETs têm a capacidade de se diferenciar em linhagens
os outros subtipos de PNET do SNC menos comuns, jun
embrionárias neuronais, astrocíticas ou ependimárias.
tamente com as "variantes de PNET do SNC".
Alguns PNETs exibem diferenciação em múltiplas
linhagens.
Todos os PNETs do SNC são neoplasias grau IV da PNET supratentoríal
OMS. Apesar de dividir algumas características histopa- Os termos "PNET do SNC" ou "PNET supratentoríal" são
tológicas com os meduloblastomas, os PNETs do SNC aplicados a tumores embrionários de localização extracere-

21-11 Necfopsia (à esquerda)


e aquisição em FLAIR antemor-
tem (à direita) de um lactente
de 8 meses com um PNET su-
pratentorial mostra uma grande
massa hemisférica de aspecto
agressivo com áreas confluentes
de necrose e hemorragia. Há
relativamente pouco edema
peritumorai. (Cortesia de R. Hew
lett, MD.)
21 -12A Ponderação em TI
no plano axial em outro lactente
mostra uma grande massa E3
frontal à direita com áreas de ne
crose B e hemorragia

21-128 Ponderação em T2
do mesmo paciente mostra que
a massa é relativamente bem
definida ES e predominante
mente hiperintensa com focos
heterogeneamente hipointensos
de hemorragia B3.
21-12C A lesão restringe à
difusão E9. PNET supratentorial.
(Cortesia de G. Hedlund, DO.)
576 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

belar no SNC. Os PNETs cerebelares são designados como Diversas alterações genéticas foram identificadas nos
meduloblastomas. O PNET supratentorial possui caracte PNETs do SNC. Algumas das anormalidades citogenéti-
rísticas predominantemente gliais, enquanto o meduloblas- cas mais comuns são ganhos 19q, 2p e Iq. Também exis
toma em geral segue um padrão de diferenciação neuronal. tem diferenças genéticas no raro PNET do SNC de inicio
adulto. Os PNETs adultos demonstram uma alta incidên
Terminologia cia de mutações TP53.
o PNET supratentorial é um tumor embrionário compos Amplificações de genes c-myc e n-niyc são comuns
to de células neuroepiteliais indiferenciadas ou pouco di em crianças com PNETs, mas raras em adultos. Amplifi-
ferenciadas. Algum grau de diferenciação nas linhagens caçào no cromossomo 19q ocorre em uma subdivisão dos
neuronal, astrocítica, muscular ou melanocítica pode PNETs, incluindo o TENARV.
ocorrer. Se um PNET supratentorial exibe diferenciação
neuronal exclusiva, ele é chamado de neuroblastoma ce Patologia
rebral. Se células imaturas gangliônicas estiverem pre
Localização. Os hemisférios cerebrais são o local mais co
sentes, o tumor é chamado de ganglioneuroblastoma. mum dos PNETs supratentoriais. As regiões suprasselar
c da pineal são localizações menos comuns. Raramente
Etlologla os PNETs originam-se como neoplasias leptomeníngeas
Assim como nos tumores embrionários sólidos de outras
primárias difusas sem uma lesão focai identificável.
localizações, acredita-se que os PNETs do SNC surjam
de células de iniciação tumoral semelhantes às células- Patologia macroscópica. Os PNETs supratentoriais variam
-tronco. Poucos casos de PNET "secundário" foram re em tamanho, mas a maioria possui mais de 5 centímetros
latados em pacientes com um tumor cerebral irradiado de diâmetro. Alguns são lesões maciças que ocupam a
previamente. maior parte de um hemisfério cerebral. Apesar do tama-

21-13A TC sem conloste em


um paciente de 13 meses com
vômitos persistentes e letargia
progressiva mostra uma grande
massa bifrontai E9 com densi
dade mista iso, hipo e hiperden-
sa, com caicificaçôes esparsas.
21-13B Ponderação em TI
do mesmo paciente mostra uma
massa com intensidade de sinal
mista predominando áreas iso e
hipointensas.

21-13C Ponderação em T2
mostra que a massa é heteroge-
neamente hiperintensa. A lesão
parece relativamente bem defi
nida em relação ao parênquima
cerebral de seu entorno e não h;
edema peritumorai.
21-13D Aquisição em TI pós-
■contrasle mostra um padrão
heterogêneo com realce perifé
rico circundando áreas císticas

desprovidas de realce, estrias e


focos irregulares de realce. PN£T
supratentorial foi comprovado
pela patologia. (Cortesia de G.
Hediund, DO.)
Tumores embrionários 577

nho, os PNETs com freqüência apresentam-se relativa e papiloma de plexo coroide), mas correspondem a apenas
mente bem definidos e causam pouco edema para o seu 5% de todas as neoplasias pediátricas do SNC.
tamanho. Nos cortes seccionais, os PNETs sào massas Lactentes com PNET supratentorial apresentam um
rosa-avermeihadas a arroxeadas que freqüentemente con aumento do perímetro cefálico e sinais de elevação da
têm cistos e hemorragia (Fig. 21-11). pressão intracraniana.
o prognóstico é sombrio, com uma taxa de sobrevida
Características microscópicas. Os PNETs do SNC são tu
em 5 anos pior que a do meduloblastoma, sendo especial
mores altamente celulares, compostos por células pou mente ruins em crianças menores que 2 anos. Dissemina
co diferenciadas, com elevada relação entre o núcleo e
ção precoce no LCS ocorre em 25% dos PNETs supraten-
o citoplasma ("pequenas células redondas e azuis"). Os toriais e é um fator prognóstico muito ruim.
PNETs devem expressar pelo menos um marcador imuno-
-histoquímico (p. ex., sinaptofisina) refletindo a diferen Imagem
ciação neuronal. O marcador nuclear INll está presente. Características gerais. Os PNETs do SNC apresentam di
A expressão da GFAP é variável. A atividade mitótica é versas características de imagem em comum. Os tumo
elevada. res crescem rapidamente e são, com freqüência, massas
muito grandes, de aspecto heterogêneo, que causam dis
Estaoiamento, graduação e classificação. Todos os PNETs do
SNC são neoplasias grau IV pela OMS. torção e apagamenlo da arquitetura cerebral subjacente
(Fig. 21-12).
Aspectos clínicos Achados na TC. Todos os PNETs do SNC são lesões com
os PNETs do SNC ocorrem predominantemente em plexas heterogeneamente iso a hiperdensas, com com
crianças abaixo dos 5 anos. Eles são o quarto tumor fe ponentes mistos sólidos e císticos (Fig. 21-13). Necrose
tal cerebral mais comum (atrás do teratoma, astrocitoma e hemorragia intratumoral são comuns. Pelo menos 70%

21 -14A Ponderação em 12
em um recém-nascido com ma-
crocrania, nistagmo, respiração
periódica e abaulamento da
fonlanela mostra uma massa
hemisférica B3 necrótica e
parcialmente hemorrágica com
hemossiderina S circundando
a massa e o cérebro.
21 -14B Esta ponderação em
TI pós-contraste mostra que as
bordas do tumor realçam E3.
Note o realce na pia S e em
torno do epéndima ventricular
B a .

21-14C Aquisição coronal TI


pós-contraste mostra o realce
irregular da "cresta" do tumor
E2 e realce piai indicando dis
seminação no LCS S. Há uma
coleção liquida B proteinácea
extra-axial sobre o hemisfério
esquerdo.
21-140 T2 ^GRE no plano
coronal mostra artefatos de
susceptibilidade magnética da
deposição de hemossiderina em
torno do tumor e do cere-
belo E3. PNET foi diagnosticado
3 histopatologia. (Cortesia de G.
Hediund, DO.)
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Tumores embrionários 579

ciação. Todas são neoplasias raras, altamente malignas,


(continuação) que se originam de células-tronco primitivas. Todas ten
Imagem dem a afetar lactentes e crianças pequenas. Elas costu
• Massa volumosa supratentoria! com relativamente mam apresentar-se como volumosas massas hemisféricas
pouco edema supratentoriais que possuem achados similares à imagem.
o Cistos e hemorragia são comuns
• Marcada hiperdensidade heterogênea à TC sem
Meduloepitelioma
contraste
• Densidade/intensidade de sinal mista em todas as O meduloepitelioma (ME) é um tumor embrionário carac
terizado por arranjos papilares tubulares de neuroepitélio
seqüências da RM
• Realce irregular, restrição à difusão. neoplásico que simula o tubo neural embrionário. Áreas
com MlB-1 excedendo 50% são comuns.
Diagnóstico diferenciai Quase todos os pacientes são menores de 5 anos no
• Astrocitoma (AA, GBM)
• Ependimoma supratentorial momento do diagnóstico. Metade possui menos de 2 anos.
• Tumor teratoide rabdoide atípico Sintomas relacionados à elevação da pressão intracrania
• Te r a t o m a na são típicos à apresentação.
Assim como os PNETs, os MEs são, com freqüência,
tumores maciços que substituem grande parte do hemisfé
rio afetado e apresentam-se muito heterogêneos, tanto na
Variantes de PNET do SNC TC quanto na RM. Cistos, calcificações e, por vezes, focos
D i v e r s a s v a r i a n t e s d o P N E T d o S N C f o r a m i d e n t i fi c a d a s hemorrágicos são comuns (Fig. 21-15). Não há caracterís
e individualizadas com base em seus padrões de diferen ticas de imagem que distingam os MEs de outros PNETs.

21-16A Ponderação em TI no
plano axial de um menino de 4
anos mostra uma massa parietal
esquerda com margens bem de
finidas, com componentes com
intensidade de sinal mista-hiper,
hipo e isointensa E3.
21-16B Ponderação em T2
confirma a natureza bem defi
nida da massa BeS. Observe a
marcante heterogeneidade da
intensidade de sinal e, ainda, a
completa ausência de edema
peritumoral.

21-16C Aquisição em 11
pós-contraste com saturação
de gordura mostra que a maior
parte da massa não sofre realce,
entretanto, há focos sólidos e
lineares de realce esparsos no
centro do tumor.
21 -160 A lesão restringe à
difusão B. O diagnóstico histo-
lógico foi de ependimoblastoma.
(Cortesia de M, Warmuthe-Metz,
MD.)

D
580 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

21-17A Série de imagens


de uma menina de 3 anos com
TENARV comprovado. Ponderação
em TI mostra uma grande massa
bifrontai com intensidade de
sinal mista.
21-17B Aquisição axial FLAIR
mostra que a massa é muito he
terogênea e parece conter focos
de degeneraçao cística BSS e di
versos flow voids vasculares S.
observe a hidrocefalia obstrutiva
com bloqueio da drenagem do
líquido intersticial em torno do
ventrfculo lateral esquerdo. 0
edema peritumoral é mínimo.

21-17C Aquisição T2 ' GRE


demonstra artefatos de suscep-
tibilidade magnética devido a
hemorragia íntratumoral B.
21-170 Aquisição em TI pós-
-contraste revela que a maior
parle da lesão não realça. Está
presente fluxo lento em vasos
tumorals aumentados de calibre
E 3

21 -17E As porções sólidas do


tumor são altamente celulares e
restringem fortemente à difusão
es. Os achados de imagem
do TENARV são indistinguíveis
daqueles dos outros PNETs supra-
tentoriais. (Compare com as Figs.
21-11 e21-12.)
21 -17F Perfusão por RM
mostra CBV relativo apenas leve
mente elevado na borda sólida
da massa B. (Cortesia de M.
Thurnher, MO.)
Tumores embrionários 581

Ependimoblastoma mento do perímetro cefálico e as crianças um pouco mais


velhas apresentam sinais de aumento da pressão intracra
Ependimoblastoma diz respeito a uma categoria pouco niana. A disseminação no LCS é comum e o prognóstico
definida, cuja existência como uma entidade própria foi
contestada (p. ex., Jiuikins et ai. Ependymoblastoma: geralmente é pobre, mesmo com tratamento agressivo.
dear, damned, distracting diagnosis, farewell! Brain Pa Imagem e diagnóstico diferencial. Os achados de imagem
thol. 20(l):I33-9, 2010). são similares àqueles dos outros tumores embrionários
EriotOGiA E PATOLOGIA. À cirurgia e à necropsia, o ependi primitivos, ou seja, uma grande massa hemisférica muito
moblastoma apresenta-se como uma massa hemisférica heterogênea que parece relativamente bem demarcada em
relação ao parênquima cerebral adjacente. O edema pe-
grande, macia e mais carnosa, um tanto friável. Os epen- ritumoral varia de ausente a extenso. O realce após a ad
dimoblastomas são lesões altamente vasculares, portanto
cistos macroscópicos e modificações hemorrágicas são ministração de contraste é bastante variável (Fig. 21-16).
Os principais diagnósticos diferenciais do ependi
c o m u n s .
moblastoma são o PNET do SNC e outras variantes de
A suposta chave histológica é a presença de rosetas
PNET. como o meduloepitelioma e o TENARV (ver
"ependimoblastomatosas", embora possam ser vistas tam
bém em outros PNETs. Muitas lesões que foram chama abaixo). Todos os PNETs supratentoriais e as neoplasias
embrionárias se parecem aos estudos de imagem, portan
das de ependimoblastomas foram reclassificadas como
TENARVs (ver a seguir). to, o diagnóstico definitivo depende da caracterização his-
topatológica e imuno-histoquímica.
Aspectos clínicos. Em quase todos os relatos, os pacientes O ependimoma anaplásico é uma neoplasia glial não
possuem menos de 5 anos. Os ependimoblastomas em ge astrocitica, histologicamente distinta, que não deve ser
ral crescem rápido, portanto, os lactentes apresentam au confundida com o ependimoblastoma.

21 -18A TC óssea em corte


axial de um menino de 9 meses
com proptose e neuroblastoma
suprarrenal estágio IV identi
ficado na TC abdominal (nâo
mostrada). Observe a marcante
periostíte espiculada orbital com
massas de tecidos moles nas
adjacências B.
21-18B Corte mais cranial do
mesmo paciente mostra o clás
sico aspecto de "cabelo em pé"
B do neuroblastoma metastá-
tlco. (Cortesia de S. Blaser, MD.)
582 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Tumor embrionário com neurópilo abundante e


rosetas verdadeiras
O tumor embrionário com neurópilo abundante e rose-
tas verdadeiras (TENARV) é um subtipo raro de PNET
do SNC que combina características microscópicas do
neuroblastoma (abaixo) com as do ependimoblastoma.
A presença de neurópilo fibrilar fino abundante distingue
patologicamente o TENARV dos outros PNETs. Os TE-
NARVs são considerados neoplasias grau IV pela OMS.
Todos os TENARVs relatados ocorreram em crianças
menores de 4 anos. Ao contrário do meduloblastoma, o
TENARV se dá predominantemente em pacientes do sexo
feminino (F:M = 2:1). Os TENARVs são tumores alta
mente malignos e com desfecho clinico ruim, apesar de
tratamentos agressivos.
21-20A Aquisição em TI pós-conlrasle com saturação
Os achados de imagem são indistinguíveis daqueles
de gordura em um neuroblastoma metastático mostra
massas de tecidos moles com realce bílateralmente E2 e
dos outros PNETs. Uma volumosa massa hemisférica, de
periostile neoplásica com padrão de "cabelo em pé" ÍS. aspecto heterogêneo, que possui pouco edema e restringe
à difusão é o típico (Fig. 21-17).

Neuroblastoma do SNC
o neuroblastoma craniocerebral pode ser tanto secundário
como primário. A doença secundária é mais comum que
a primária e, portanto, será discutida primeiro. O neuro
blastoma é notório por suas diversas manifestações (um
dos "grandes simuladores") e pode se disfarçar como uma
doença neurológica primária em uma criança com um dis
túrbio neurológico inexplicado.
Neuroblastoma secundário (metastático). O neuroblastoma
(NB) é um tumor neuroendócrino que se origina de ele
mentos da crista neural, em geral no interior da glândula
suprarrenal ou no sistema nervoso simpático. É o câncer
sólido extracraniano mais comum da infância e é o câncer
21-20B Aquisição mais cranial em TI pós-contraste mais comum em lactentes. O NB corresponde a 10-15%
com saturação de gordura mostra o realce da calvária de todas as malignidades da infância, seguindo a leucemia
[§>], associado com dissemiriação tumoral E3 tanto e os tumores cerebrais primários em prevalência.
intra quanto extracraniana.
Aspectos clinicas. As metástases estão presentes
em quase 70% dos pacientes com NB no momento do
diagnóstico. As metástases para o esqueleto são a mani
festação mais comum. Cerca de 25% ocorrem na órbita,
calvária e base do crânio. A manifestação clínica clássica
do NB metastático orbital é uma criança com proptose e
"olhos de guaxinim".
O envolvimento do SNC pelo NB metastático é inco-
mum e em geral ocorre como uma complicação tardia da
doença no estágio IV (risco em 3 anos = 8%). As metás
tases de NB no SNC são detectadas geralmente mais na
recorrência da doença do que no diagnóstico inicial.
Imagem. A TC sem contraste mostra uma ou mais
massas de partes moles hiperdensas na órbita, crânio, es-
calpo e/ou componentes extradurals. A TC óssea mostra
finas espículas do tipo "cabelo em pé" de osso periosteal
21-20C Aquisição em TI pós-conlrasle com saturação que se projetam a partir do crânio ou das asas maiores
de gordura no plano coronal mostra a extensão das me- do esfenoide (Fig. 21-18). Múltiplas lesões bilaterais en
tástases Be a marcante periostite neoplásica com pa
volvendo as tábuas ósseas interna e externa do crânio são
drão de "cabelo em pé" [S. {Cortesia de C. Y. Ho, MD.)
Tumores embrionários 583

típicas (Fig. 21-19). Defeitos ííticos e suluras alargadas e


indistintas são outros achados comuns.
A RM mostra uma massa extra-axial que é hetero-
gencamente hipointensa em relação ao parênquima ce
rebral em ambas as ponderações Ti e T2. Forte realce
após a administração de contraste é típico. Hipointensi-
dades lineares que representam as espículas ósseas dos
"cabelos em pé" podem, por vezes, ser identificadas no
interior das massas, estas últimas com importante realce
(Fig. 21-20).
As lesões do SNC são incomuns, aparecendo como
uma massa parenquimatosa, intraventricular ou mesmo na
medula espinal. A disseminação leptoineníngea da doença
é rara.
Os estudos por medicina nuclear são úteis na avalia
ção precoce do NB. Imagem com metaiodobenzilguanidi- 21-21 Ilustração coronal retrata o ENB como uma
na (MIBG) é a modalidade mais sensível e específica para grande massa nasal com extensão intracraniana
determinar doença primária ou metastática. O PET com cranial através da lâmina crivosa Si.
18F-FDG é útil para definir os estágios I e II do NB.
O principal diagnóstico diferencial do neuroblastoma
metastático para a calvárla é a leucemia. Ambos com fre
qüência apresentam massas com base durai ou calvariana,
mas as lesões parenquimatosas são mais comuns com a
leucemia do que com o NB.
Outra lesão que pode se apresentar com lesões ósseas
líticas é a histiocltose de células de Langerhans (HCL).
Ambas podem se apresentar com massas de base durai,
mas a reação espiculada periosteal do NB metastático está
ausente na HCL.

Neuroblastoma primário do snc. O neuroblastoma primário


do SNC é menos comum que a doença secundária. Se um
PNET supratentorial exibe apenas diferenciação neuro
nal, então, por definição, ele é um neuroblastoma cere
bral. Os achados de imagem são indistinguíveis daqueles 21-22A Aquisição em 11 pós-contraste no plano co
de outros PNETs, ou seja, grande massa hemisférica com ronal mostra um enorme ENB em "halteres" composto
necrose, hemorragia e forte realce, embora heterogêneo, por uma grande massa nasal BI, uma massa intracra
niana menor ES e área de degeneração cistica ES.
após a administração de contraste.

Estesloneuroblastoma
Terminologia. O estesloneuroblastoma (ENB) é um tumor
neuroectodérmico raro que se origina na cavidade nasal
superior (Fig. 21-21). Ele também é conhecido como neu
roblastoma olfatório.

Etiologia. Os ENBs são tumores com origem da crista neu


ral que surgem da mucosa olfatória. Não há fatores de ris
co conhecidos.

Patologia. Os ENBs aparecem macroscopicamente como


massas lobuladas moderadamente vasculares. Microsco-
picamente, eles apresentam uma matriz intercelular neu-
rofibrilar e formação de rosetas. Pleomorfismo nuclear
leve com mitoses infrequentes é típico. A microscopia
eletrônica demonstra grânulos neurossecretores.
21-22B Aquisição em TI pós-contraste no plano sa-
Como são neoplasias extracranianas primárias, os
gital mostra a verdadeira extensão da massa extra B
ENBs não são graduados de acordo com os critérios da e intracraniana B e das áreas císticas B. A lâmina
OMS. A graduação histológica utiliza o sistema de Hyam crivosa SI está predominantemente destruída.
584 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

com graus que variam de 1 a 4 com base no pleomorfismo na anterior e a porção inferior na cavidade nasal, com o
nuclear, mitoses, necrose, etc. A classificação de Kadishé aspecto mais estreito na lâmina crivosa - é visto em gran
utilizada para o estadiamento compreende três estágios: des massas (Fig. 21-22).
estágio A, tumores localizados na cavidade nasal; estágio Achados na TC. A TC óssea mostra remodelamento
B, cavidade nasal e seios paranasals; e estágio C, extensão ósseo misto à destruição óssea, especialmente na lâmina
além das cavidades nasosinusais, incluindo envolvimento crivosa. Calcificaçôes intratumorais salpicadas são inco-
intracraniano. muns. Na TC com contraste, uma massa com realce ho

Aspectos clínicos. Os ENBs possuem uma grande variação mogêneo é típica.


Achados na RM. O ENB é hipo a isointenso se com
etária com pico bimodal entre 20 e 60 anos. O ENB não
costuma ser uma possibilidade diagnostica em crianças. parado ao parênquima cerebral nas ponderações cm TI e
iso a hiperintenso nas ponderações em T2. Áreas de dege-
Os sintomas mais comuns são obstrução nasal e
neração cistica e hemorragia intratumoral são comuns. Al
epistaxe. Os ENBs com extensão intracraniana podem
guns grandes ENBs que apresentam extensão intracrania
apresentar-se com cefaleia, proptose e neuropatias cra na possuem cistos não neoplásicos associados em tomo de
nianas.
suas margens superior e lateral, na interface entre o tumor
A taxa de sobrevida em 5 anos é de aproximadamente
e o parênquima cerebral. Os ENBs em geral realçam forte
75%, embora a recorrência local seja comum. Metástases
e relativamente uniformemente.
hematogênicas ou Enfáticas se desenvolvem em 10-30% A disseminação do ENB para linfonodos cervicais é
dos pacientes.
comum, em geral primeiro para os linfonodos da cadeia
Imagem. O achado típico do ENB é uma massa no aspecto 11, com freqüente envolvimento da cadeia 1, da cadeia 111
superior da cavidade nasal, na lâmina crivosa. Uma mor- e de grupos linfonodais retrofaríngeos nos estágios finais.
fologia em "halteres" - a porção superior na fossa crania Os linfonodos que portam doença metastática são predo-

21-23A TC sem contraste de


uma menina de 18 meses, com
vômitos por 1-2 semanas mostra
uma massa frontal à direita ES
mista, predominantemente hi-
perdensa, com marcado edema
vasogênico S.
21 -236 Ponderação em T2
mostra que a massa apresenta
intensidade de sinal mista, em
sua maioria hipo e isointensa.

21-23C Aquisição em Ti pós-


•conlrasle mostra realce difuso,

át '
mas muito heterogêneo.
21-23D O mapa de AOC mos
tra importante restrição ES difu
sa devido à alta celuiaridade do
tumor. A especlroscopia de pró-
tons (não mostrada) demonstra
, V
elevação da colina e do lactato. O
diagnóstico histológico foi de AT/
RT. (Cortesia de B. Jones, MD.) •

*
Tumores embrionários 585

minantemente sólidos e demonstram ávida captação do costuma ser hiperdenso na TC sem contraste e raramente
meio de contraste. apresenta extensão direta cranial para a base do crânio e a
PET/TC. A PET/TC com 18F-FDG é útil com os exa fossa anterior.
mes de imagem convencionais no estadiamento inicial ou
reestadiamento subsequente do ENB. Pode revelar doença
metastática linfonodal e a distância, bem como recorrên
cia local obscurecida nos exames padrão por modifica Tumores rabdoides malignos
ções relacionadas ao tratamento. A PET/TC modifica o Os tumores rabdoides malignos (TRMs) são tumores
estadiamento previamente determinado da doença e altera
agressivos que foram inicialmente descritos nos rins e em
o manejo do paciente em cerca de 40% dos casos, com tecidos moles de lactentes e crianças pequenas. Os tumo
mais de um terço dos tumores reclassificados para um res rabdoides cranianos foram depois reconhecidos como
grau superior. uma entidade patológica distinta e denominados tumor
Diagnóstico diferencial. Os principais diagnósticos diferen teratoide rabdoide atípico (AT/RT). Os AT/RTs podem
ciais do ENB com extensão intracraniana são carcinoma ser separados dos PNETs e dos TRMs por característi
de células escamosas (CCE) e adenocarcinoma sino- cas imuno-histoquímicas. histopatológicas e moleculares
nasal. O CCE sinonasal é mais comum no antro maxilar distintas.

do que na cavidade nasal e não realça tão intensamente


quanto o ENB. Os pacientes com adenocarcinoma sino Tumor teratoide rabdoide atípico
nasal com freqüência possuem uma história ocupacional
ou exposição a pó de madeira. O carcinoma sinonasal in- Etiologia
diferenciado pode ser difícil de distinguir do ENB com o tumor teratoide rabdoide atípico é um dos tumores do
base apenas nos exames de imagem. O linfoma sinonasal SNC em que uma alteração patognomônica de um gene

21-24A TC sem contrasle


de um menino de 5 anos com
náuseas e vômitos matinais
mostra uma massa na fossa
posterior B com aspecto misto
hiperdenso e císlico, centrada no
hemisfério cerebelar direito.
21-248 Ponderação em TI
do mesmo paciente mostra que
a massa é muito grande e exibe
intensidade de sinal mista B.

21-24C Ponderação em T2
mostra que a porção sólida B é
muito hipointensa, enquanto os
múltiplos cistos de tamanhos va
riados são hiperintensos Ob
serve os níveis líquido-hemáticos
BI em alguns dos cistos.
21-240 Ponderação em Ti
pós-conlraste mostra realce
heterogêneo leve a moderado. A
espectroscopia de prótons (não
mostrada) demonstra colina
marcadamente elevada. O diag
nóstico histológico foi de AT/RT.
(Cortesia de G. Hediund, DO.)
586 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

supressor tumoral foi identificada. DeleçÕes no gene A disseminação no LCS é comum, portanto todo o
INIl/hSNF5/BAF47 ocorrem em quase todos os casos e neuroeixo deve passar por um estudo por imagem antes da
são consideradas diagnosticas de AT/RT, diferenciando intervenção cirúrgica.
este tumor do PNET e de outras neoplasias do SNC com
Achados na TC. O exame de TC sem contraste mostra uma
características rabdoides.
massa leve a moderadamente hiperdensa, com cistos e
focos hemorrágicos (Fig. 21-23). Calciflcações e hidro-
Patologia
cefalia obstrutiva - especialmente com AT/RT na fossa
Localização. Os AT/RTs ocorrem tanto no compartimento
posterior - são comuns. O realce costuma ser forte, mas
supra como no infratentorial. Aproximadamente metade
dos AT/RTs é supratentorial, em geral ocorrendo nos he heterogêneo.
misférios cerebrais. Os AT/RTs de fossa posterior ocorrem Achados na RM. Os AT/RTs são heterogeneamente hipo
mais nos hemisférios cerebelares. a isointensos ao parênquima cerebral nas poderações em
TI, e iso a hiperintensos nas ponderações em T2 (Fig. 21-
Patologia macroscópica. O aspecto macroscópico - uma
24). Focos com artefatos de susceptibilidade magnética
grande massa macia, camosa, hemorrágica e necrótica - é no T2* (ORE, SWI) são comuns. Restrição leve a mode
similar ao de outros PNETs do SNC.
rada está presente à difusão. A espectroscopia de prótons
Características microscópicas. Os AT/RTs são compostos mostra elevação da colina e NAA reduzido ou ausente.
de elementos pouco diferenciados neurais, epiteliais e O realce nas aquisições em TI pós-contraste é forte,
mesenquimais juntamente com células rabdoides proemi mas heterogêneo. A disseminação leptomeníngea está pre
nentes. sente em 15-20% dos casos no momento do diagnóstico
inicial.
Aspectos clínicos
Epidemiologia. os AT/RTs correspondem a 1-2% de todos Diagnóstico diferencial
os tumores cerebrais pediátricos. A maioria ocorre em o diagnóstico diferencial do AT/RT varia com a locali
crianças abaixo dos 5 anos. O pico de incidência está en zação.
tre o nascimento e os 2 anos, período no qual o AT/RT se Os principais diagnósticos diferenciais do AT/RT su
aproxima do PNET e do meduloblastoma. O AT/RT pode pratentorial incluem PNET do SNC. ependímoma su
ocorrer em adultos, mas é raro. Há uma moderada predo pratentorial, teratoma e astrocitoma maligno. Todos
minância masculina. podem ser tumores volumosos e maciços com aspectos
A síndrome de predisposição para o tumor rabdoi- de imagem muito heterogêneos, sendo que o diagnóstico
de (SPTR) é uma síndrome cancerígena familiar caracte diferencial requer a biópsia e coloração INI 1.
rizada por um notável aumento do risco de desenvolver O principal diagnóstico diferencial para AT/RT da
TRMs - incluindo AT/RT - causada pela perda ou ina- fossa posterior é o meduloblastoma. Embora esses tumo
tivação do gene INIl. A análise genealógica sustenta um res possam parecer praticamente idênticos, o meduloblas
padrão de herança autossômica dominante com penetrân- toma em geral ocorre na linha média, ao passo que os AT/
cia variável. RTs com freqüência se situam fora desta linha, próximo
Os pacientes com SPTR podem desenvolver um AT/ ao ângulo cerebelopontino.
RT c o m u m T R M s i n c r ô n i c o r e n a l o u e x t r a r r e n a l . C r i a n
ças com SPTR e AT/RT apresentam uma doença mais ex
tensa e com progressão mais rápida. Outros tumores do TUMOR TERATOlOE RABOOIDE ATÍPICO
SNC associados com SPTR incluem carcinoma de plexo
coroide e meningiomarabdoide. Etiologia
• Perda do gene supressor tumoral lNn/hSNF5/BAF47
História natural. O AT/RT é um tumor altamente maligno, no cromossomo 22.

quase sempre fatal. A maioria das crianças morre dentro


de 6 a 8 meses, apesar da terapia agressiva. A taxa de so- Patologia
• infratentorial (- 50%), supratentorial (~ 50%)
brevida em adultos é um pouco melhor, com média de 2 • Freqüentemente fora da linha média (hemisférios
a n o s .
cerebrais e cerebelares)
• Elementos neuroepiteliais pouco diferenciados +
Imagem células rabdoides
Características gerais. O AT/RT divide muitas característi • Grau IV da OMS
cas de imagem com outros tumores embrionários, ou seja,
Aspectos clínicos
são neoplasias densamente celulares, que com freqüência • 1-2% dos tumores cerebrais pediátricos
contêm hemorragia, necrose, cistos e calcificações. Um • Crianças < 5 anos, maioria < 2 anos; raro em adultos
tumor moderadamente grande, maciço, misto, com com • Síndrome da predisposição para o tumor rabdoide
ponentes sólido e cístico e densidade/intensidade de sinal
(continua)
heterogênea é típico.
Tumores embrionários 587

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Diagnóstico diferencial
• Diagnóstico diferencial do AT/RT suprotentofiol
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• Diagnóstico diferencial do AT/RT da fossa posterior the current consensus. Acta Neuropathol. 123(4):465-72,2012
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São muito raros outros tumores do SNC, excetuando-se of brain tumors. AJNR Am J Ncuroradiol. 31(3):389-90,2010
o AT/RT, com características rabdoides ou rabdomioblás-
ticas. O glioblastoma rabdoide é uma entidade recen Variantes do meduioblastoma
temente descrita, na qual um glioblastoma multiforme • Liu HQ et al: MRl features in children with desmoplastic
(GBM) está associado com um componente rabdoide medulloblastoma. J Clin Neurosci. 19(2):281-5. 2012
definido. Tumor rabdoide primário com componente de • Fruehwald-Pallamar J el al: Magnetic resonance imaging
glioma de baixo grau também foi descrito. Em ambos, a spectrum of medulloblastoma. Neuroradiology. 53(6):387-
imuno-histoquimica é positiva para GFAP e INI 1. 9 6 , 2 0 11
O menigioma rabdoide é um subtipo incomum de
meningioma grau III da OMS que contém camadas de Tumores neuroectodérmicos primitivos do SNC
células rabdoides. A maioria possui índices proliferativos • Behdad A et al: Central nervous system primitive
elevados e exibe outras características citológicas de ma- neuroectodermal tumors: a clinicopathologic and genetic
lignidade. Os meningiomas rabdoides são muito raros em study of 33 cases. Brain Pathol. 20(2):441-50,2010
lactentes e retêm coloração INII1, o que os diferencia his-
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588 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorals

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Tumor teratoide rabdoide atípico
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Publishing. 1.1.248-55,2012
22
Tumores das meninges

O terceiro subgrupo é composto pelas raras lesões


Anatomia das meninges cranianas 589
melanocíticas das meninges cranianas, incluindo o me
Dura-máter 589
Aracnoide e granulaçòes da aracnoide 590 lanocitoma focai e a melanocitose leptomeningea difusa.
Pia-máter 590 Embora a histogênese do hemangioblasloma seja in
Tumores meningoteliais 591 certa, essas neoplasias altamente vasculares contêm es-
Meningioma 591
troma e componentes vasculares. Tendo em vista que os
Meningioma atípico 599 investigadores descobriram que o componente estromal
Meningioma maligno 601 (não o vascular) é o elemento neoplásico, a classificação
Tumores mesenquimais não meningoteliais 602 da OMS considera o hemangioblasloma como parte da
Tumores mesenquimais benignos 602 quarta e última categoria, "outras neoplasias relaciona
Hemangioma 604 das com as meninges".
Tumores mesenquimais maiignos 606
Tumor fibroso solitário e hemangiopericitoma 608
L e s õ e s m e l a n o c í t i c a s p r i m á r i a s 6 11
Melanocitoma 6 11 Anatomia das meninges cranianas
Melanocitose/melanomalose meningea difusa 612
As meninges cranianas consistem na dura-máter, na arac
Outras neoplasias relacionadas 612
noide e na pia-máter.
Hemangioblasloma 612

Dura-máter
As meninges cranianas são responsáveis por um grande A dura-máter - também chamada de paquimeninge - é
espectro de neoplasias que em geral se manifestam como uma lâmina de tecido fibroso que reveste a calvária e a
massas extra-axiais (fora do parênquiina cerebral, mas medula. Como está implícito no nome (latim para "mãe
dentro do crânio). Os tumores das meninges cranianas dura"), a dura-máter é um envoltório espesso que provê
são divididos em quatro subgrupos patológicos básicos: importante proteção contra lesões e infecções. Também
(1) neoplasias meningoteliais (meningiomas); (2) tumores é a estrutura mais importante para a circulação no liquido
mesenquimais não meningoteliais; (3) lesões melanocíti cerebrospinal (LCS).
cas primárias; e (4) na terminologia da Organização Mun Os neurocirurgiões tradicionalmente veem a dura-má
dial da Saúde (OMS), "outras neoplasias relacionadas ter craniana com uma estrutura bilaminar simples com uma
com as meninges". camada externa ("periosteal") e outra interna ("me
O meningioma é a neoplasia intracraniana mais co ningea"). A camada externa é fixada na calota craniana,
mum. Meningiomas (benigno, atípico e anaplásico) são de especialmente nas suturas. A camada interna (meningea)
longe o maior grupo de neoplasias meningoteliais. Embora dobra-se para formar a foice do cérebro, o tentório do cere-
os meningiomas estejam fisicamente afixados à dura-má- belo e o diafragma da sela. As duas camadas se separam e
ter, eles, na realidade, têm origem nas células da aracnoide. contêm os seios venosos da dura-máter (ver Cap. 9).
Tanto tumores mesenquimais benignos quanto malig Os anatomistas identificaram três diferentes camadas
nos podem se originar no sistema nervoso central (SNC). da dura-máter na microscopia. A camada da margem ex
Esses tumores mesenquimais não meningoteliais raros terna durai, que tem apenas 2 micrômetros de espessura,
correspondem histologicamente aos tumores de tecidos é a camada mais fina, formada por fibroblastos, colágeno
moles ou ósseos encontrados em qualquer local do corpo. e fibras elásticas. A camada média, chamada de dura-
O hemangioma e o hemangiopericitoma estão incluídos -máter fibrosa, é bem vascularizada. A espessura varia
neste subgrupo. de acordo com a localização e a idade do paciente (mais
590 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

22-1 Visão aproximada da dura-máler Bi aberta para mostrar o seio 22-2 Ilustração demonstra a pia-máter a aracnoide E2 e a gra-
sagital superior com numerosas granulações da aracnoide protruíndo nulação da aracnoide se projetando para o seio venoso B. LCS do espa
para o interior do seio B. Observe o pequeno lago venoso parassagital ço subaracnoide é recoberto por um "capuz" de células da aracnoide.
com uma granulação aracnoide ES. (Cortesia de E. Ross, MO.)

proeminente em crianças que adultos). A camada mais in coladas, formando um espaço (espaço subdural ou inter-
terna é chamada de camada de células da borda durai. dural) entre essas duas camadas de meninges.
Essa camada mais interna tem 8 micrômetros de espessura Projeções vilosas especializadas da aracnoide pro-
e é composta por células que se aderem às trabéculas da truem para o interior dos seios venosos (Fig. 22-1) e são
aracnoide. chamadas de granulações da aracnoide (GAs). As OAs
Imagens de microscopia eletrônica revelam que a são recobertas por uma camada de células especializadas
dura-máter na realidade é composta por cinco camadas, que permitem a reabsorção do LCS pelo sistema venoso
cada uma com diferentes constituintes e padrões de orga (Fig. 22-2).
nização. A camada mais externa (camada da superfície As maiores OAs encontram-se ao longo do seio sa
óssea) toca a face interna da calota craniana. Os próximos gital superior, porém também estão presentes nos demais
três componentes (camada externa média, camada vas seios venosos. As OAs também são comuns no ossos
cular e camada interna mediana) compõem a camada temporal. Cerca de 10-15% penetram completamente na
média, reconhecida pelos anatomistas como dura-máter dura-máter para fazer contato direto com a superfície cor
fibrosa. Fibras de colágeno altamente organizadas na ca tical interna.
mada mediana estão dispostas em três direções para for
mar as três camadas diferentes. Pia-máter
A camada mais interna, também chamada de camada
A pia-máter é a camada mais interna das meninges cra
aracnóidea, encontra a própria membrana aracnoide. Essa nianas. Ela cobre a superfície do cérebro e adere ao córtex
camada consiste em feixes de colágeno tortuosos que não
com relativa força, seguindo o contorno dos giros cere
são orientados em uma direção comum. brais. A pia-máter invagina ao redor dos vasos penetrantes
para formar os espaços (Virchow-Robin) perivasculares
Aracnoide e granulações da aracnoide (EPVs).
A aracnoide é uma membrana translúcida que é frouxa Estudos recentes demonstram que os EPVs formam
mente conectada à camada durai mais interna e segue to uma rede intraparenquimatosa complicada, distribuída em
dos os contornos durais que se projetam para o interior todo cérebro, conectando as convexidades cerebrais, cis
do crânio. A camada mais externa da aracnoide contém ternas basais e sistema ventricular. Os EPVs têm papel im
células que se entrelaçam com as células da camada mais portante ao prover rotas para drenagem de metabólitos ce
interna da dura-máter, mas que podem ser facilmente des- rebrais e na manutenção da pressão intracraniana normal.
Tumores das meninges 591

co), os seios paranasais e o nariz. Alguns Mts têm origem


Tumores meningoteliais no crânio (meningioma intraósseo ou intradiploico).
Os meningiomas estão entre os tumores cerebrais mais
comuns, respondendo por um quarto a um terço de Iodas MENINGIOMA: LOCALIZAÇÃO
neoplasias intracranianas primárias. A OMS divide os me
Geral
ningiomas em três grupos, com base no grau do tumor e • Supratentorial (90%), infratentorial (8-10%)
na probabilidade de recorrência. Meningiomas grau I da • Múltiplo (10%; NF2, menlnglomatose)
OMS apresentam baixo risco de recorrência e de cresci
mento agressivo. Esses meningiomas histologica e biolo- locais
• Mais comum (60-70%)
gicamente benignos são o tipo mais comum.
o Parassagital (25%)
Alguns subtipos de meningiomas são associados com
o Convexidade (20%)
comportamento clínico mais agressivo e desfecho me o Entre a fossa anterior e média junto do esfenoide
nos favorável. Meningiomas atípicos correspondem ao
(15-20%)
grau II da OMS. A fonna mais agressiva de meningioma, • Menos comum (20-25%)
correspondendo ao grau III, é o meningioma anaplásico o Fossa posterior (8-10%)
("maligno"). Os três graus de meningiomas serão consi o Goteira olfatória (5-10%)
derados nesta seção. o Parasselar (S-10%)
• Raro (2%)
o Intraventricular
Meningioma
o Região pineal/ápice do tentório
Terminologia o Extradural (bainha do nervo óptico, seios
Meningiomas benignos também são chamados de menin paranasals, nariz, intraósseo)
giomas típicos (Mts) ou comuns.
Tamanho e número. Os meningiomas variam muito de ta
Etioiogla
manho. A maioria é pequena (menos de 1 centímetro) e
Os meningiomas se originam das células meningoteliais
encontrada ocasionalmente. Alguns - em especial aqueles
da aracnoide. Entre 50 e 60% dos meningiomas apresen
se que originam na fossa anterior na região da goteira ol
tam inativação da proteína Merlin do gene neuroflbroma-
fatória - podem alcançar grandes dimensões antes de se
lose tipo 2 (NF2) relacionada com a perda do braço longo
tomarem sintomáticos.
do cromossomo 22. Perdas de alelos em Ip e 3p também
Os meningiomas podem ser solitários ou múltiplos.
são comuns em meningiomas esporádicos, particulannen-
te nos de alto grau. Meningiomas múltiplos ocorrem na NF2 e na síndrome
dc meningiomatose múltipla.
Esses tumores também podem ser induzidos por ra
diação, com intervalo entre a dose de radiação e o desen Patologia macroscópica. Existem duas configurações
volvimento do tumor de 20 a 40 anos. Muitos desses tu gerais: arredondado ("globoso") (Figs. 22-4, 22-5 e
mores apresentam monossomia do cromossomo 7. 22-6) e achatado, séssil, como um carpete ("em placa")
A maioria dos meningiomas apresenta receptores (Fig. 22-11). Os Mts em geral têm massas firmes de con
de progesterona e estrogênio. São um dos poucos tu sistência elástica, com limites bem definidos, que apre
mores cerebrais que apresentam predileção pelo sexo sentam uma ampla base durai. A medida que crescem, os
feminino. Mts invaginam para o interior do crânio em direção ao
parênquima cerebral. Uma "fenda" de LCS e vasos costu
Patologia ma estar presente entre o tumor e o córtex adjacente (Figs.
Localização. Os meningiomas podem ocorrer em quase 22-5 e 22-6). Embora os meningiomas benignos possam
todos os locais do SNC (Fig. 22-3). Mais de 90% dos ocasionalmente invadir o cérebro, isso é incomum.

meningiomas são supratentoriais e são mais comuns em Os meningiomas podem ser acompanhados de espes-
situação parassagital e na convexidade, respondendo por samento reaciona! não neoplásico da dura-máter adjacente
quase metade de todos meningiomas. (sinal da "cauda durai" na imagem) (Figs. 22-7 e 22-8).
Entre 15 e 20% estão localizados na divisão entre a Os tumores com freqüência invadem seios venosos durais
fossa anterior e média junto ao esfenoide. Outras localiza e podem se estender através da dura-máter para o crânio,
ções comuns incluem a base do crânio na goteira olfatória produzindo hiperostose da calvária.
e regiões selar/parasselar (incluindo o seio cavernoso). Embora pequenos "microcistos" não sejam incomuns
Locais supratentoriais menos comuns incluem os ventrí- nos Mts, alterações císticas macroscópicas são raras. He
culos (geralmente no glomo do plexo coroide) e a região morragia franca é incomum. ocorrendo em apenas 1-2%
pineal (ápice do tentório). dos casos.
Entre 1 e 2% dos meningiomas são extradurais. As lo Raramente um tumor primário extracraniano pode
calizações incluem o nervo óptico (bainha do nervo ópti metastatizar para o interior de um meningioma. Essa
592 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

22-3 Os locais mais comuns de meningioma são a convexidade, a re 22-4 Espécime de necropsla mostra um meningioma globoso clássico
gião parafalcina, seguida pelo osso esfenoide na transição entre a fossa SI como uma massa arredondada, bocelada, com superfície achatada
média e a anterior, a goteira olfatória e a região selar/parasselar. Apro em direção à dura-máter. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
ximadamente 8-10% são infralentoriais. Sitios extracranianos incluem a
bainha do nervo óptico, o nariz e os seios paranasais.

"colisão tumoral" pode ocorrer com metástases de neo A maioria dos Mts é pequena e descoberta inciden-
plasia pulmonar ou mamária para o interior do meningio talmente por imagem ou na necropsia. A prevalência de
ma de histologia típica. lesões subclínicas é de 1-3%.

Características microscópicas. Os meningiomas exibem um Meningiomas múltiplos são comuns em pacientes


com neurofibromatose tipo 2 (NF2) e síndromes de me
amplo espectro de características histológicas. De fato, a
ningiomas múltiplos hereditárias não relacionadas à NF2.
classificação da OMS lista muitos subtipos de meningio
mas típicos. Os mais comuns são as variantes meningote- Meningiomas múltiplos esporádicos (não sindrômicos)
ocorrem em 10% dos casos.
lial, fibrosa e mista ou "transicional".
Todos os meningiomas típicos são tumores grau I da Demografia. Os meningiomas são tumores de adultos de
OMS por definição e apresentam baixo risco de recorrên meia-idade e de idosos. O pico de ocorrência encontra-
cia e de crescimento agressivo. O índice mitótico é baixo, -se aos 60-70 anos. Embora o meningioma responda por
com MIB-1 geralmente < ]%. menos de 3% dos tumores cerebrais primários em crian
Embora não exista diferença clínica entre os subtipos ças, eles ainda representam o grupo mais comum de neo
meningoteliais que compartilham o mesmo grau da OMS, plasias durais nesses pacientes. Muitos (se não todos) são
a classificação da OMS mais recente sugere que os Mts relacionados à NF2. Os meningiomas associados à NF2
histologicamente benignos que exibem invasão cerebral acontecem em uma idade menor se comparados aos me
microscópica ou macroscópica devam ser designados ningiomas não sindrômicos.
neoplasias grau II. Mulheres apresentam quase duas vezes mais chances
de desenvolver um meningioma típico do que homens. A
Aspectos clínicos taxa M:H varia com idade, atingindo um pico de 3,5-4:1
Epioemiologia. Historicamente, os meningiomas foram no grupo de pacientes de meia-idade.
considerados o segundo tumor primário intracraniano
mais comum (após o astrocitoma). Dados epidemioló- Apresentação. Os sintomas se relacionam ao tamanho e à
localização do tumor. Menos de 10% dos meningiomas
gicos recentes sugerem que ele é o tumor primário mais tomam-se sintomáticos.
diagnosticado, respondendo por cerca de um terço de to
dos os tumores do SNC relatados. Meningiomas típicos História natural. Estudos longitudinais demonstraram
respondem por 90-95% desses tumores. que a maioria dos meningiomas abaixo de 2,5 cm cres-
Tumores das meninges 593

22-6 Espécime de necropsia demonstra o aspecto globoso do menin


reacional (cauda durai) espessamento ósseo adjacente fenda gioma clássico S. Observe a fenda de LCS e os vasos IS, espessa
de LCS e vasos SI. A AMMed supre o centro do tumor em um padrão de mento durai reacional ES (sinal da cauda durai).
"raios de sol" vasos piais suprem a periferia do tumor S!.

ce muito lentamente ao longo de 5 anos. A maioria dos MENINGIOMA: ASPECTOS CLÍNICOS


meningiomas pequenos e assintomáticos encontrados
Epidemiologla
acidentalmente mostra mínimo crescimento e em geral é • Neoplasia primária intracraniana mais comum
acompanhada por imagem. • A maioria é assintomática
Degeneração maligna de um Mt em meningioma atí • Achado incidental em imagem/necropsia (1-3%)
pico ou anaplásico é rara. Metástases extracranianas são o Solitário (90%)
• MtJÍtIplo na NF2, meningiomatose
raras, ocorrendo em 1 a cada 1.000 casos. Quando elas
ocorrem, os locais de metástases são os pulmões e o es Demografia
queleto axial. Foram relatadas metástases tanto de meni- • M;H = 2:1
• Pico de incidência = 40-60 anos
giomas atípicos quanto malignos.
• Raro em crianças, exceto na NF2
Opções de tratamento. Um neurocirurgião uma vez disse:
"Como uma impressão digital, cada meningioma é dife História natural
• Cresce lentamente
rente". A estratificação do risco-benefício do tratamento
• Raramente metastatiza
de um meningioma varia não apenas com o tipo de tumor
e o grau, mas também com o tamanho e a localização, o
suprimento vascular e a presença ou ausência de um plano líTiagem
de clivagem do tumor com o cérebro. Características gerais, O aspecto geral de um Mt é de uma
Cirurgia guiada por imagem com ressecçâo de lesões massa com base durai extra-axial, arredondada ou lobu-
sintomáticas geralmente é curativa. Embora o principal
lada, bem demarcada, que empurra o córtex. Uma fenda
fator associado com recorrência do meningioma seja res de LCS e vasos costuma estar presente, em especial na
secçâo subtotal, estudos recentes mostram que deixar pe ressonância magnética (RM). Invasão do parênquima é
quenas quantidades de tumor aderido a estruturas cruciais incomum. Raramente um meningioma pedunculado pode
como vasos e nervos cranianos não afeta o desfecho de
invaginar para o interior do cérebro, tomando difícil a di
maneira significativa. ferenciação com um tumor primário intra-axial.
Radiocirurgia estereotáxica ou quimioterapia com Cistos associados ao meningioma são encontrados em
antagonistas da progesterona podem ser opções em pa 4-7% dos casos. Eles podem ser intra ou extratumorais.
cientes com Mts em locais críticos, como o seio caver- Em algumas circunstâncias, quantidades de LCS são en
n o s o . carceradas entre o tumor e o parênquima cerebral.
594 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

22-7 Secçâo transversal de um meningioma demonstra base durai, 22-8 Imagem ponderada em TI pós-contraste mostra que o menin
espessamenlo durai reacional E3 (sinal da cauda durai). (Cortesia de R. gioma típico sofre realce forte e praticamente uniforme B. Espes-
Hewlett, MD.) samento durai adjacente B (sinal da cauda durai) é comum e tem
origem reacional, nao neoplásica.

Achados na TC. nas imagens ponderadas em TI sugere a variante micro-


Tomogrqfia computadorizada. Cerca de três quartos dos cística do Mt.

meningiomas são leve a moderadamente hiperdensos se Imagem ponderada em T2. A maioria dos Mts é iso
comparados ao córtex (Fig. 22-9A). Cerca de um quarto é a moderadamente hiperintensa se comparada ao córtex
isodenso. Meningiomas hipodensos são incomuns. Necro (Figs. 22-1 OB, 22-13B e 22-15). Tumores com essas ca
se franca ou hemorragia é rara. racterísticas são associados a uma consistência "macia"
Edema vasogênico peritumoral, visto como hipoden- durante a cirurgia, ao passo que tumores com hipointen
sidade confluente no parênquima cerebral adjacente, está sidade em T2/FLA1R tendem a ser "duros" na cirurgia.
presente em cerca de 60% dos casos. Meningiomas densamente fibróticos e calcificados podem
Aproximadamente 25% dos Mts demonstram calcifl- ser hipointensos.
cações, que podem ser de aspecto focai globular ou difuso A fenda com LCS e vasos é melhor visualizada em
micronodular ("psamomatosas"). imagens ponderadas em T2, como um halo hiperintenso
A TC com filtro ósseo pode identificar hiperostose interposto entre o tumor e o cérebro. Uma quantidade de
que varia de grau leve a muito importante. Esse achado é flow voids representando vasos deslocados é vista com
com freqüência, porém não sempre, associado com inva
freqüência no interior da fenda.
são tumoral (Fig. 22-12). Lise óssea ou destruição óssea Algumas vezes o padrão de "raios de sol", que re
franca pode ocorrer. O envolvimento ósseo ocorre com presenta o suprimento vascular durai do tumor, pode ser
meningiomas benignos e malignos e não é achado prediti- identificado se irradiando do centro em direção à periferia
vo de grau tumoral. da lesão expansiva (Fig. 22-14).
TCpós-contrasle. A maioria dos meningiomas realça FLAIR. A intensidade de sinal do meningioma
forte e uniformemente (Fig. 22-9B). varia de iso a hiperintenso (Figs. 22-lOC e 22-13). O
Achados na RM. FLAIR é muito útil para demonstrar o edema peritu
Características gerais. A maioria dos meningiomas é he- moral, encontrado em aproximadamente metade dos
terogeneamente isointensa ao córtex em todas as seqüên Mts. O edema peritumoral é relacionado com a presen
cias. Entre 10 e 25% dos casos demonstram alterações ça de suprimento sangüíneo piai e expressão de fator
sugestivas de formações císticas ou necrose. Hemorragia de crescimento do endotélio vascular (VEGF), e não ao
franca é incomum. tamanho e grau tumorals. Alguns pequenos meningio
Imagem ponderada em TI. Os meningiomas são, em mas incitam grande edema peritumoral, ao passo que
geral, iso a levemente hipointensos comparados ao córtex outras grandes lesões expansivas exibem praticamente
(Figs. 22-lOA e 22-13A). Hipointensidade predominante nenhum edema.
Tumores das meninges 595

22-9A TC mostra os achados típicos de um meningioma. Uma massa 22-9B TC pós-contraste mostra que o tumor El solte íorte realce.
leve a moderadamente hiperdensa Be2 associada com edema peritumo
ral hipodenso

Quantidades de LCS encarceradas na fenda entre o Espectivscopia por RM. A alanina (Ala. pico em 1.48
tumor e o cérebro ("cistos peritumorais") podem ser mais ppm) encontra-se elevada no meningioma, embora gluia-
proteináceas e nâo ter o sinal suprimido no FLAIR. mato-glutamina (Glx, pico em 2,1-2,6 ppm) e gluiationa
T2* (GRE, SWI). Seqüências T2* são úteis para de (GSH, pico em 2.95 ppm) possam ser potenciais marcado
monstrar calcificação intratumoral (Fig. 22-1OD). Artefa res mais específicos.
to de susceptibilidade magnética secundário à hemorragia
A n g i o g r a fi a
intratumoral é raro.
TI pós-contraste. Quase todos os meningiomas, in Angiotomografia computadorizada, angiorressonáncia
cluindo aqueles densamente calciflcados e intraósseos, magnética artéria! e venosa. A angiotomografia computa
dorizada (ATC) é útil para detectar invasão ou oclusão de
demonstram pelo menos algum realce após a infusão do
seios venosos durais. Embora possa ser útil para demons
contraste. Acima de 95% realçam forte e homogeneamen-
trar o aspecto geral do suprimento vascular do meningio
te (Figs. 22-lOE, 22-lOF e 22-Í3D).
Uma cauda durai é vista na maioria dos meningiomas ma, angiografia com subtração digital (ASD) é o melhor
método para delinear a vascularização do tumor antes da
e varia de uma área relativamente focai adjacente ao tu
mor (Fig. 22-8) até um extenso espessamento durai com embolização ou cirurgia. Invasão tumoral dos maiores
seios venosos durais é bem demonstrada na angiorresso
realce que se estende além do sitio tumoral. A "cauda"
náncia magnética (ARM) venosa.
durai com freqüência realça mais intensa e uniformemen
ASD. O aspecto clássico angiográfico de um menin
te que o próprio tumor. O sinal da "cauda durai" nâo é
gioma é de um agrupamento de vasos radial estendendo-
patognomônico de meningioma.
-se da base do tumor em direção à periferia. Vasos durais
A maior parte da "cauda durai" representa espessa
mento durai reacional benigno. A extensão tumoral além chegam ao centro da lesão e se irradiam perifericamente
de 1 centímetro da base durai é rara.
do pedículo vascular do tumor (Fig. 22-16A). Vasos piais
de ramos da artéria carótida interna podem ser "parasita
Cistos intratumorais sem realce são vistos em 5% dos
casos. Os cistos peritumorais não neoplásicos não real
dos" e fornecer suprimento sangüíneo para a periferia da
lesão (Fig. 22-16C).
çam. A presença de um cisto periférico que sofre realce
Um blu.sh vascular prolongado que persiste na fase
sugere a presença de tumor na parede do cisto. venosa também é um achado típico. Em alguns casos, fis
Difusão. A maioria dos meningiomas não apresenta
tulas arteriovenosas com veias apresentando "drenagem
restrição à difusão da água.
precoce" podem ser vistas (Fig. 22-16B). Exame cuidado
Perfusãopor RM. A perfusào por RM pode ser útil para
so da fase venosa deve ser realizado para detectar invasão
distinguir o Mt de meningiomas atípicos/malignos. Alto
ou oclusão dos seios venosos durais.
volume sangüíneo cerebral (CBV) relativo na lesão ou no
edema periférico sugere um grau tumoral mais agressivo.
596 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

22-10A Grande meningioma


da convexidade com achados tí
picos de RM. O tumor tem ampla
base durai, desloca o córtex e a
interface da SB-SC em direção à
linha média ES. Os meningio
mas geralmente sâo isointensos
ao córtex nas imagens pondera
das em TI.
22-1OB A intensidade do sinal
em T2 varia. Nesta imagem o
tumor é iso/levemente hiperin-
tenso relativamente ao córtex.
Vasos durais em padrão de "raios
de sol" S podem ser vistos.
Observe a fenda de LCS e vasos
E], bem como a interface entre
a S8-SC deslocada em direção à
linha média ^3.

22-10C A intensidade de sinal


no FLAIR também varia. Nesta
imagem o tumor varia de iso ES
a levemente hiperintenso B.
22-lOD T2" GRE pode de
monstrar focos de artefato de
susceplibilidade magnética F^l
Eles são normalmente relacio
nados com calcificaçôes em vez
de hemorragias. Hemorragias
macroscópicas em meningiomas
grau I da OMS são raras.

22-1OE Imagem ponderada


em TI pós-contraste mostra que
o tumor realça intensamente.
Esta imagem permite melhor
identificação do padrão em
"raios de sol" da vasculari-
zaçâo que supre o tumor, se irra
diando da área de espessamenlo
ósseo ES.
22-10F Imagem ponderada
em TI no plano coronal mostra
o aspecto em "raios de sol" dos
vasos nutridores. Ramos aumen
tados da artéria meningea média
penetram no tumor junto à área
de espessamenlo ósseo SI.
Tumores das meninges 597

22-11 Espécime de necropsia


mostra um grande meningioma
"em placa" com base durai B.
Tais tumores freqüentemente
afetam mais de um comparti-
mento, infiltram e espessam
as estruturas ósseas. A asa do
esfenoide e a órbita são os locais
mais comuns. (Cortesia de R.
Hewlett, MD.)
22-12 Imagem ponderada
em T2 demonstra espessamento
marcado da asa maior do esfe
noide B com um meningioma
"em placa" B na órbita, fossa
craniana média e cisternas su-
prasseiar. (Cortesia de S. Hetai,
MO.)

22-13A imagem ponderada


em TI em uma mulher de 54
anos com cefaieia com aspecto
normal, exceto por um pequeno
meningioma isointenso na con-
vexidade B, visto nesta ima
gem "escondido" em um sulco
minimamente alargado.
22-13B Imagem ponderada
em T2 no plano axial do mesmo
paciente mostra que o meningio
ma B é praticamente isointen
so ao córtex adjacente, tornando
difícil sua identificação.

22-13C O meningioma é
hiperintenso no FIAIR B e não
é acompanhado de edema no
córtex adjacente.
22-130 imagem ponderada
em TI pós-contraste mostra que
o pequeno meningioma ES so
fre realce intenso e uniforme. A
lesão foi seguida por 2 anos sem
alteração na imagem.
598 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Embolização pré-operatória com devascularização


tumoral pode reduzir o tempo de cirurgia e perda sangüí
nea. Delinear com cuidado o suprimento sangüíneo tumo
ral, incluindo anastomoses de risco intra e extracranianas,
é essencial para o sucesso do procedimento.

MENINGIOMA: IMAGEM

Geral
• Arredondado ou achatado ("em placa"), base durai
• Massa extra-axial com fenda entre tumor e cérebro

TC
• Hiperdenso (70-75%)
• Calcificado (20-25%)
• Cistos (peri ou intratumoral) (10-15%)
• Hemorragia é rara
• > 90% sofre realce

R M
• Habitualmente isoíntenso à substância cinzenta
• Fenda com LCS e vasos
• ± flow voids vasculares
• Freqüentemente realce heterogêneo intenso (> 98%)
• Cauda durai (60%)

Angíografía
• Vascularização em "raios de sol"
• Artérias durais do centro para a periferia, artérias
piais da periferia para o centro
• ''Blush" prolongado, densamente vascular.

Diagnóstico diferencial
o principal diagnóstico diferencial do meningioma típico
é o meningioma atípico ou meningioma maligno. Em
bora não existam características de imagem típicas que
22-15A Imagem ponderada em T2 mostra um me possam distinguir o Mt dessas variantes agressivas, Mts
ningioma da convexidade isoíntenso. Hiperintensidade são estatisticamente muito mais comuns. Os meningiomas
central B está presente onde os vasos durais pene
malignos costumam invadir o cérebro e exibem uma con
tram o tumor (compare com a Fig. 22-14).
figuração de "cogumelo" (ver a seguir).
Metástases durais, geralmente de câncer de mama
ou pulmão, podem ser praticamente indistinguíveis dos
meningiomas nos estudos de imagem.
Outras diagnósticos diferenciais incluem granuloma
(tuberculose, sarcoidose) e paquimeningiíe hípertrófica
idiopática. Granulomas durais solitários são raros. Paqui
meningiíe hipertróflca idiopática é incomum. A maioria dos
casos é encontrada na base do crânio ou adjacente a ela, em
particular na órbita, no seio cavemoso e na fossa posterior
(clivo/ângulo pontocerebelar), podendo invadir osso e se
comportar praticamente igual ao meningioma "em placa".
Entidades raras que podem mimetizar o meningioma
incluem o hemangioma e o tumor fibroso solitário. Um
hemangioma da dura-máter ou de um seio venoso é
uma neoplasia angiogênica verdadeira que pode lembrar
um meningioma. A maioria dos hemangiomas é muito hi-
22-1 SB Imagem ponderada em TI pós-contraste
mostra que a massa sofre realce intenso. Observe os perintensa em imagens ponderadas em T2, ao passo que
flow voids no centro vascular da lesão SI. os meningiomas são iso ou levemente hiperintensos. Ima-
Tumores das meninges 599

gens tardias mostram "enchimento" lento centrípeto da


massa nas imagens de RM dinâmicas pós-contraste, suge
rindo o diagnóstico.
Tu m o r f i b r o s e s o l i t á r i o i n t r a c r a n i a n o é m u i t o r a r o .
A maioria é encontrada adjacente à dura-máter, aos seios
venosos ou ao plexo coroide e pode ter as mesmas carac
terísticas de imagem do meningioma típico.
Hcmatopoiese extramedular (HE) pode se apresen
tar como doença confluente ou multifocal, com base durai
lembrando meningiomatose múltipla ou solitária "em pla
ca". HE ocorre no cenário de anemia crônica e doenças de
depleção da medula óssea.

DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS DO MENINGIOMA

Comum
22-16A ASD em AP da ACE mostra artéria meníngea
• Metastases durais
média aumentada de calibre SI com vasos em padrão
Menos comum de "raios de sol" nutrindo o meningioma.
• Granuloma

Raro, mas Importante


• Paquimeningite hipertrófica idiopática
• Hemangioma durai/seio venoso
• Tumor fibroso solitário
• Hematopoiese extramedular

Meningioma atípico
Terminologia
A histopatologia do meningioma atípico foi definida neste
capítulo (ver anteriormente).

Etiologia
Existe uma correlação significativa entre o número de
mutações inativadoras NF2 e o grau tumoral. Aproxima
damente 60% dos meningiomas atípicos demonstram ga 22-168 Fase tardia da OSA da ACE mostra blush vas

nho no braço cromossômico Iq. cular prolongado SI tipico do meningioma. Um veia


de drenagem precoce pode ser identificada IS.

Patologia
Localização. A maior parte dos meningiomas atípicos e ma
lignos origina-se na calvária. A base do crânio é uma lo
calização relativamente incomum para essas lesões mais
agressivas.
Patologia macroscópica. Embora os meningiomas atípicos
com freqüência invadam o cérebro adjacente, a invasão
cerebral é insuficiente para estabelecer o diagnóstico de
meningioma atípico. Cordões irregulares de células tu
morals mais atípicas infiltram o parênquima cerebral sem
uma camada interposta de leptomeninges.
Características microscópicas. Um meningioma atípico exibe
atividade mitótica aumentada (> 4 mitoses por 10 campos de
grande aumento) ou três ou mais das seguintes característi
cas histológicas: celularidade aumentada, pequenas células
22-16C ASO da AC! demonstra efeito expansivo
com relação núcleo:citoplasma aumentada, nucléolos proe
sobre a ACA que se encontra deslocada SI. Presença
minentes, crescimento sem padrão ou em camadas e focos de pequeno fluxo arterial para a periferia do tumor 1^
de necrose. Um índice MIB-1 > 4 é típico. vindo dos ramos piais da ACM.
600 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Alguns subtipos de meningiomas são classificados com base em estudos de imagem. Entretanto, uma vez
como grau II da OMS porque apresentam grande probabi que a invasão cerebral é uma característica freqüente
lidade de recorrência e/ou comportamento mais agressivo. (mas não invariável) dos meningiomas atípicos, a "fen-
Esses incluem os subtipos de células claras e cordoide. da" de LCS e vasos vista nos Mts com freqüência está
ausente.
Aspectos clínicos
Achados na TC. Os meningiomas atípicos são geralmente
Epidemiologia. Os meningiomas atípicos representam 4-8%
dos meningiomas. hiperdensos, com margens irregulares. Ausência de calci-
ficações ou pequenas calcificações podem ser vistas, e in
Demografia. Os meningiomas atípicos tendem a ocorrer em
vasão óssea franca com osteólise é comum. O tumor pode
pacientes mais jovens que os pacientes com Mts. Meningio
mas pediátricos tendem a ser mais agressivos. Em contra atingir o escalpo através do crânio.
partida aos Mts, os meningiomas atípicos apresentam leve Achados de RM. As margens do tumor geralmente não são
predominância no sexo masculino. evidentes em relação ao córtex adjacente. Uma fenda de
História natural. Meningiomas atípicos são associados com LCS e vasos está ausente ou é parcialmente evidente.
alta taxa de recorrência (25-30%) e curto período livre de Edema peritumoral é comum, mas é um achado pouco
doença em relação aos Mts. A tendência dos meningiomas específico. O realce após infusão de contraste é forte e
intrínsecos da base do crânio de recorrer depende mais das levemente heterogêneo.
limitações cirúrgicas do que de fatores biológicos. O coeficiente de difusão aparente (ADC) é baixo nos
meningiomas atípicos e malignos comparado aos Mts.
Imagem Perfusão por RM pode mostrar CBV relativo elevado, em
Características gerais. Uma regra geral é de que é difícil especial no edema peritumoral (Fig. 22-17). Espectrosco-
- se não impossível - predizer o grau do meningioma pia por RM demonstra elevação da alanina.

22-17A FLAIR em uma mu


lher de 68 anos de idade com

herniparesia direita mostra uma


lesão hiperintensa na convexi-
dade à direita, lobulada SI,
com numerosos flow voids IS e
edema B.
22-17B Imagem ponderada
em TI pós-contraste com satura
ção de contraste demonstra que
a lesão sofre importante realce
B uniforme. A imagem no pla
no coronal (não mostrada) iden
tificava base e cauda durai.

22-17C A lesão B demons


tra difusão restrita, consistente
com alta celularidade.
22-170 Espectroscopia por
RM demonstra colina marca-
damente elevada. O mapa de
colina mostra elevação do meta-
bólito Bi com os maiores níveis
no centro da lesão SI. Menin
gioma atípico, tipo células claras,
grau II da OMS. (Cortesia de M.
Thurnher, MD.)
Tumores das meninges 601

Diagnóstico diferencial Patologia


Visto que é difícil determinar o grau tumoral do menin A maioria dos MMs invade o cérebro e exibe característi
gioma com base apenas nos achados de imagem, o prin cas hislológicas de neoplasia maligna franca (Fig. 22-18).
cipal diagnóstico diferencial do meningioma atípico é o Essas características incluem atipia celular com núcleos
meningioma típico. Metástase durai e meningioma bizarros e indice mitótico elevado (> 20). Os subtipos de
maligno podem ser indístinguíveis de meningioma atípi MM incluem papilar e rabdoide.
co. Sarcomas, como gliossarcoma em pacientes idosos, e
Ewing e sarcoma osteogênico nos pacientes jovens, tam Aspectos clínicos
bém podem ser de difícil diferenciação com meningiomas Epidemiologia. Meningiomas malignos são raros, represen
de comportamento biológico mais agressivo. tando apenas 1 -3% de todos meningiomas. MMs apresen
tam grande predileção pelo sexo masculino.
Meningioma maligno História natural. O prognóstico é ruim. As taxas de recor
Terminologia rência após ressecção do MM são de 50-95%. O tempo
Meningioma anaplásico ou maligno (MM) corresponde de sobrevida é curto, com sobrevida média, em algumas
histologicamente ao grau III da OMS. séries, abaixo de dois anos. Localização parassagital junto
à foice do cérebro está associada com menor recorrência
Etioíogla e maior sobrevida.

Há aumento do número de mutações cromossômicas em


relação aos meningiomas atipicos. Os níveis de metüa- Imagem
ção de HOXA são mais altos nos meningiomas grau II/III Características gerais. A tríade de imagem de uma massa
comparado às neoplasias de grau 1. extracraniana. osteólise e tumor intracraniano em formato

22-18 Ilustração demonstra


um meningioma maligno inva
dindo o parênquima cerebral [S
sem fenda evidente de ICS e
vasos. O tumor também penetra
a dura-máter, invade a calvária e
tem componente extracraniano
Observe a configuração em
"cogumelo" E3 que pode ser
mais característica de meningio
mas agressivos do que benignos.
22-19A Imagem ponderada
em T1 sagital mostra uma lesão
expansiva se estendendo através
da calvária com componentes in
tra B3 e extracranianos í^.

22-19B Imagem ponderada


em TI pós-contraste no mesmo
paciente demonstra um tumor
invasivo transdural e transcra-
niano E3. Não se identifica
borda entre o tumor e o cérebro.
Meningioma (maligno) grau III
da OMS foi o diagnóstico histo-
patológico.
22-20 Imagem ponderada
em T2 em outro paciente com
meningioma anaplásico (malig
no) mostra a configuração em
cogumelo SI.
602 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

de "cogumelo" está presente na maioria - mas não todos - ocorrem no SNC. Tumores puramente fibroses, como a fí-
dos casos de MM (Figs. 22-19 e 22-20). bromatose e o tumor flbroso solitário, são raros, tão raros
quanto tumores flbro-histiocíticos mistos, como histiocito-
Diagnóstico diferencial ma flbroso benigno (também chamado de xantoma fibrose).
o principal diagnóstico diferencial do MM é metástase.
O ineníngioma atípico e os sarcomas podem ser confun Etiologia
didos com o MM. Os TMBs intracranianos originam-se das meninges (dura-
-máter), do plexo coroide e da base do crânio. As menin
ges cranianas contêm células mesenquimatosas pluripo-
tenciais primitivas que podem gerar um amplo espectro
Tumores mesenquimais não de tumores mesenquimais não meningoteliais. A maioria
meningoteliais é supratentorial. e a foice é o local mais comum.
A base do crânio e o divo se desenvolvem por ossi-
As neoplasias mesenquimais não meningoteliais corres
ficaçâo endocondrai. Condromas e encondromas geral
pondem aos tumores de tecidos moles ou ósseos encon mente se originam nas sincondroses cartilaginosas na base
trados em qualquer local do corpo. Podem ser tumores
do crânio (Fig. 22-21). A porção central da base do crâ
de tecido adiposo, flbroso, histiocítico, cartilagionoso ou
vascular, e também podem originar-se de músculos e os nio, em especial a região selar/parasselar, é o local mais
comum dessas neoplasias. Menos comum, os condromas
sos. Essas neoplasias podem ser tanto benignas (grau 1 da
OMS) quanto altamente malignas (grau IV da OMS). podem se iniciar na dura-máter ou na foice do cérebro.
Osteocondromas em geral crescem na base do crânio ou
Os tumores mesenquimais meningoteliais raramente
envolvem o SNC. Quando eles o fazem, costumam ser le próximos a ela.
sões extra-axiais. Essas neoplasias serão discutidas neste Contrastando com a base do crânio, a convexida-
de craniana se desenvolve por ossificaçào membranosa.
capítulo.
Osteomas são tumores benignos que se iniciam no osso
membranoso. Na cabeça, os seios paranasals (Fig. 22-22)
Tumores mesenquimais benignos
e a calvária (Fig. 22-23) são os locais mais comuns.
Terminologia
Os tumores mesenquimais benignos (TMBs) correspondem Patologia
em nome e histologia aos seus correspondentes extracra- o aspecto micro e macroscópico dos TMBs depende do
nianos. Tumores osteocartilaginosos, como condroma, os- tipo celular e é semelhante ao de seus equivalentes extra-
teocondroma e osteoma, são os TMBs mais comuns que cranianos. Por exemplo, condromas são lesões boceladas

22-21A Imagem ponderada em T2 mostra uma massa suprasselar 22-21B Imagem ponderada em TI pós-contraste no plano coronal
bem delineada B com arcos hipoíntensos circundando áreas hiperin- mostra que a massa envolve o seio cavernoso e sofre realce importante e
tensas lobuladas. heterogêneo ES. Pequeno componente suprasselar pode ser visto BI.
Encondroma foi o diagnóstico histológico. (Cortesia de P. Sundgren, MD.)
Tumores das meninges 603

bem demarcadas que em geral possuem uma ampla base niano crônico. Grandes TMBs, em especial aqueles que
e macroscopicamente lembram cartilagem. Os osteomas se originam na base do crânio ou próximo a ela, podem
lembram osso lamelar denso. causar paralisias de nervos cranianos.
Os TMBs são todos grau 1 da OMS.
História natural. A maioria dos TMBs pode ser completa
mente ressecada com prognóstico favorável. Degeneração
Aspectos clínicos
maligna é rara. Osteocondromas múltiplos ("osteocondro-
Epioemiologia. Com exceção dos hemangiomas e lipomas,
matose") têm grande propensão para transformação ma
os tumores mesenquimais não meningoteliais são raros.
ligna. O risco aumenta conforme aumenta o número e o
Juntos, esses TM Bs respondem por menos de I % de todas tamanho das lesões.
as neoplasias intracranianas. De forma geral, o condro-
ma é o tumor osteocartilaginoso benigno mais comum da Opções de tratamento. A menos que seja esteticamente
base do crânio. Osteoma é o tumor ósseo benigno mais deformante, TMBs pequenos como os osteomas em ge
comum da calvária.
ral apresentam pouca ou nenhuma manifestação clínica e
são tratados conservadoramente. O tratamento para lesões
A maioria dos TMBs ocorre como lesões solitárias
não associadas a sindromes genéticas. TMBs múltiplos sintomáticas é a ressecção cirúrgica completa.
ocorrem como parte de sindromes tumorals hereditárias.
Osteomas múltiplos ocorrem como parte da síndrome de Imagem
Gardner (junto com tumores cutâneos e pòlipos colôni- Características gerais. Os achados de imagem variam com
o tipo de tumor. A maioria dos TMBs consiste em massas
cos). Encondromas múltiplos ou "encondromatose" são
de aspecto benigno no escalpo, no crânio ou na dura-má-
parte da doença de Oilier. Encondromas associados com ter que lembram seus equivalentes extracranianos.
hemangiomas de tecidos moles são encontrados na sín
drome de Maffucci. Achados na tc. Condromas são massas sésseis, levemente

Demografia. TMBs ocorrem em qualquer idade. O pico de lobuladas, expansivas, que contêm calcificações curvi-
lineares condrais. Discreto realce na TC com contraste
idade do condroma é entre 20 e 40 anos. Os osteomas são
mais comuns em pacientes de meia-idade. Geralmente pode ser evidenciado.
Osteocondromas são massas ósseas pedunculadas ou
não há predileção por sexo.
sésseis que são contínuas e projetadas de um osso adja
Apresentação. A maioria dos TMBs é assintomática e cente. Osteocondromas podem exibir um capuz de matriz
descoberta ocasionalmente. Outras lesões, como os os cartilaginosa com calcificações espiculadas que realçam
teomas, podem apresentar-se como um abaulamento cra- levemente após infusão de contraste.

22-22 TC com filtro ósseo mostra um osteoma típico no seio frontal 22-23 TC sem contraste mostra uma massa hiperdensa se originando
esquerdo O. do osso occipital direito E3, bem identificada na TC com filtro ósseo B
com aspecto de osso cortical denso. A iesâo é muito fiipointensa na ima
gem ponderada em T2 BI.
604 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Os osteomas são vistos como massas densas de teci


Etiologia
do ósseo lamelar maduro bem demarcado. Ocorrem nos
Os hemangiomas provavelmente se iniciam de hiperplasia
seios paranasals - o sítio mais comum - ou na calvária. e proliferação endotelial tipo hamartomatosa.
Achados na rm. Todos os TMBs são, em gerai, massas bem
delimitadas, de aspecto não invasivo, com intensidade de Patologia
sina! variável em TI e T2. O padrão de impregnação em Localização. Hemangiomas intracranianos podem ser lo
"anel e arco" pode ser visto com os condromas. TMBs ge calizados em diferentes compartimentos cranianos, mas
ralmente não incitam reação durai, logo uma cauda durai quase sempre são extra-axiais. São encontrados na calvá
não é esperada. ria, nos seios venosos durais e na dura-máter.
Tamanho e número. Os hemangiomas variam cm tamanho,
Hemongiomo de microscópicos a grandes lesões. Extensão transespacial
Terminologia através de diferentes compartimentos anatômicos (p. ex.,
Os hemangiomas são tumores meningoteliais mesenqui- escalpo e crânio, tecidos moles, órbita e seio cavemoso)
é comum. Lesões multicêntricas do SNC são incomuns.
mais benignos. São as neoplasias vasculares mais comuns
e lembram vasos normais encontrados nos órgãos do cor Patologia macroscópica. Hemangiomas são lesões verme-
po (Fig. 22-24). Os hemangiomas são completamente di Iho-amarronzadas não encapsuladas, de aspecto vascular.
ferentes e não devem ser confundidos com os angiomas Quando elas envolvem a calvária, espiculas radiais de osso
cavernosos. que são malformações vasculares, e não ne lamelar são interpostas com canais vasculares de vários ta
oplasias. manhos (Fig. 22-25). Os hemangiomas dos seios venosos

22-24 Ilustração no plano co


ronal demonstra um hemangio
ma típico da calvária com espi
culas de osso lamelar interpostas
com canais vasculares.
22-25 Fotografia de um he-
mangiona da calvária ressecado
mostra uma lesão de aspecto
vascular, sem cápsula El, com
espiculas radiais ósseas B.

22-26A Imagem ponderada


em 11 pós-contraste mostra um
hemangioma da calvária típico
El que expande discretamente
o espaço diploico. Os canais vas
culares realçam intensamente,
diferentemente das espiculas ós
seas no interior da lesão
22-26B Imagem ponderada
em 12 no plano axial de outro
hemangioma da calvária mostra
que a massa B é quase total
mente hiperintensa. Os pontos
hipointensos de espiculas ósseas
radiais dão à lesão um aspecto
listrado.
Tumores das meninges 605

e da dura-máter não contêm osso e consistem em grandes


canais vasculares em uma massa de tecidos moles e com-
pressíveis, diferentemente dos hemangiomas da calvária.
Características microscópicas. Os hemangiomas são classi
ficados com base nos vasos dominantes e podem ser capi
lares, cavemosos ou mistos. A maioria dos hemangiomas
intracranianos é cavemoso e contém grandes espaços re
vestidos por endotélio separados por septos fbrosos. Os
hemangiomas capilares intracranianos são muito raros e
consistem em pequenos vasos sem septos fibroses.

Estadiamento, graduação e classificação. Hemangiomas são


neoplasias grau I da OMS.

Aspectos clínicos
Demografia. Os hemangiomas representam apenas cerca
22-27 Grande hemangioma de tecidos moles infantil
de 1 % de todos os tumores ósseos. A maioria é encontrada isointenso em TI e hiperintenso em T2 com realce
na coluna; o espaço diploico da calvária é o sitio intra Intenso Observe os numerosos flow voids B.
craniano mais comum. Hemangiomas durais e dos seios
venosos são raros.
Os hemangiomas podem ocorrer em qualquer idade,
embora o pico de apresentação seja entre os 40 e 50 anos.
A relação H:M é de 1:2-4.

Apresentação. Os hemangiomas da calvária são, na maio


ria, assintomáticos e limitados ao espaço diploico, não se
estendendo além das tábuas interna e externa (Fig. 22-26).
Grandes lesões podem se apresentar como massas firmes
não dolorosas. Hemangiomas do escalpo se apresentando
com sindrome de Kasabach-Merritt (coagulopatia de con
sumo por seqüestro e destruição de fatores de coagulação
dentro da lesão) já foram reportados.
Hemangiomas dos seios cavenosos podem ser assin
tomáticos, mas com freqüência se apresentam com cefa-
leia, diplopia ou outras neuropatias cranianas como ani-
22-28A Imagem ponderada em T2 axial mostra uma
socoria.
lesão excepcionalmente hiperintensa ES no seio cavemo
Hemangiomas intracranianos como parte das sindro so esquerdo se estendendo para a sela e a fossa posterior.
me POEMS, uma doença multissistêmica que se apresen
ta com características de polineuropatia, organomegalia,
endocrinopatia, doenças da proliferação monoclonal plas-
mocitária e alterações cutâneas {skin).
História natural. Os hemangiomas costumam crescer mui
to lentamente e não sofrem degeneraçâo maligna. Gra
videz e administração hormonal podem mediar o cresci
mento da lesão.
Hemangiomas capilares da Infância (localizados na
pele, no escalpo, na órbita e na mucosa oral) surgem al
guns poucos meses após o nascimento, crescem rapida
mente, atingem um platô e involuem (Fig. 22-27).
Opções de tratamento. Hemangiomas da calvária são trata
dos de forma conservadora, a menos que seja documenta
do crescimento tumoral. O tratamento dos hemangiomas
de seios venosos durais é muito mais problemático. Essas
22-28B Imagem ponderada em Ti pós-contraste
lesões vasculares sangram facilmente e a mortalidade ci com saturação de gordura mostra que a lesão sofre re
rúrgica é alta. Radiação {gamma knife surgery) tem sido alce intenso e homogêneo B. Hemangioma foi diag
usada em alguns casos com sucesso e pode se tomar a nosticado na cirurgia. (Cortesia de P. Chapman, MD.)
606 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

primeira opção de tratamento para hemangiomas em loca


lizações críticas como os seios cavemosos.

Imagem
Achados na TC. Um hemangioma da calvária é visto como
uma lesão expansiva de margens definidas na TC. Algu
mas lesões isoladas ao escalpo podem não envolver os
ossos adjacentes.
A tomografia óssea mostra que a camada interna e a
externa estão afiladas, porém intactas. Uma margem es-
clerótica fína pode circundar a lesão. Hiperdensidadcs
radiadas ou reticiiladas causadas por algumas poucas tra-
béculas espessadas estão presentes dentro do hemangio
ma, formando um aspecto de "favo de mel" ou "grades
de cadeia".
Na TC com contraste, focos de realce intenso mistu
22-29 Grande lesão na base do crânio S] invadindo
o cérebro. Observe componentes de aspecto cartilagi- rados com hipodensidades focais causadas por trabéculas
noso Condrossarcoma. (Arquivos da AFíP.) residuais espessadas são típicos.
Achados na RM. O padrão dominante nas imagens pon
deradas em TI é um misto de hipo e isointensidade, ge
ralmente causados por gordura, e não hemorragia, dentro
da lesão. A maioria dos hemangiomas é hiperintensa em
imagens ponderadas em T2 (Fig. 22-28A).
Imagens pós-contraste mostram realce intenso difuso
(Fig. 22-28B). Imagens dinâmicas mostram enchimento
centrípeto da lesão.
Angiografia. Hemangiomas dos seios venosos e da dura-
-máter lembram bastante os meningiomas, com acúmulo
de contraste lentiflcado e persistente nas fases venosa e
capilar do angiograma.

Diagnóstico diferencial
o diagnóstico diferencial do hemangioma da calvária
22-30 ilustração demonstra condrossarcoma da base inclui "cavidades" causadas por lagos venosos e granu-
do crânio SI centrada na fissura petro-occipital es lações da aracnoide, trepanações, dermoides, granuloma
querda (compare com lado direito normal B9). eosinofllico e metástase. O principal diagnóstico diferen
cial dos hemangionas dos seios venosos e da dura-máter
é o meningioma. Meningiomas não apresentam marcada
hiperintensidade na ponderação T2 vista na maioria dos
hemangiomas.

Tumores mesenquimais malignos


Os tumores mesenquimais não meningoteliais malignos
são a versão maligna dos tumores de tecidos moles e ós
seos descritos acima. Eles são grau IV da classificação da
OMS.

Terminologia
Tumores mesenquimais malignos (TMMs) compreendem
a maioria dos sarcomas (de vários tipos histológicos) e
outras neoplasias como histiocitoma fibroso maligno
22-31 Imagem ponderada em T2 mostra um con (HFM).
drossarcoma típico da base do crânio como uma lesão
hiperintensa E3 centrada na fissura petro-occipital
erodindo o ápice petroso.
Tumores das meninges 607

Etiologia
A maioria dos investigadores acredita que as células me-
senqiiimais meníngeas píuripotenciais sejam as responsá
veis pela origem dos TMMs. Essas células são capazes
de dar origem a um grande espectro de tipos hislológicos
vistos nas neoplasias meningoteliais.
Radioterapia prévia é uma causa conhecida dos
TMMs, mais comumente fibrossarcomas. O vírus Eps-
tein-Barr pode apresentar papel no desenvolvimento de
tumores de músculo liso, o que às vezes ocorre em pa
cientes imunocomprometidos.

Patologia
Localização. A maioria dos TMMs intracranianos origi
na-se na dura-máter ou na base do crânio (Fig. 22-29).
Alguns originam-se no escalpo ou na calvária. Os con- 22-32A Imagem ponderada em T2 no plano coronal
drossarcomas originam-se na fissura petro-occipital de uma criança com um abauíamento na cabeça mostra
uma lesão invasiva infiltrativa transcraniana transdural
(Fig. 22-30). com intensidade de sinal misto.
Patologia macroscópica. A maioria dos sarcomas intracra
nianos invade o cérebro. Necrose e hemorragia macros
cópica é comum.
Características microscópicas. A maioria dos TMMs é com

posta por células mesenquimais pequenas não diferencia


das que podem ser de difícil diferenciação na microscopia
tradicional. Microscopia eletrônica e imuno-histoquímica
podem ser técnicas úteis adicionais.

Aspectos clínicos
Epidemiología. Os TMMs são raros. Agrupados, respondem
por 0,5-2% das neoplasias intracranianas.
Demografía. TMMs podem ocorrer em qualquer idade.
Alguns (como o rabdomiossarcoma e o sarcoma de
Ewing) são mais comuns em crianças do que em adul
tos. Os condrossarcomas são tumores de adultos jovens, 22-32B A massa sofre realce intenso e bastante
com média de idade na apresentação de 37 anos. Fi heterogêneo nas imagens ponderadas em Ti pós-
brossarcomas são mais comuns em pacientes de meia- -contraste.

-idade. Não existe predileção por gênero para a maioria


dos TMMs. Sarcoma de Ewing é mais comum no sexo
masculino.

História natural. O prognóstico depende do tipo e grau tu


moral. A maioria dos TMMs cresce rapidamente e o prog
nóstico costuma ser ruim. Muitos recorrem localmente,
algumas vezes anos após o tratamento inicial. Metastases
fora do SNC são incomuns.
Exceção à essa regra são os condrossarcomas da base
do crânio. A maioria é lesão moderadamente diferenciada
de baixo grau que apresenta crescimento lento, invasão
local e raramente apresenta metastases (Fig. 22-31). Con
drossarcomas de alto grau são tumores mais agressivos
que com freqüência metastatizam e têm um prognóstico
muito pior.
22-32C Imagem ponderada em TI pós-contraste
sagilai mostra lesão heterogênea de aspecto agressivo.
Sarcoma de Ewing.
608 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

22-33 Tumores fibrosos solitários são lesões firmes, bem circunscritas 22-34 Uma massa isointensa em T1 e hípointensa em T2 S que so
que podem ser idênticas aos meningiomas. fre realce importante e uniforme B vista no átrio do ventrículo lateral
esquerdo. Diagnóstico pré-operatório de meningioma intraventricular.
Diagnóstico pós-operatório de tumor fibroso solitário.

Imagem Diagnóstico diferencial


Características gerais. Os achados de imagem dos TMMs Não existem características radiológicas que diferen
são os de uma lesão agressiva durai, na base do crânio, ciam a maioria dos TMMs de outras neoplasias agressi
calvária e escalpo, com invasão das estruturas adjacentes vas como meningioma maligno ou metástases. Alguns
(Fig. 22-32). Embora sarcomas intracranianos possam subtipos de sarcoma são de difícil identificação com base
apresentar-se circunscritos, invasão parenquimatosa local apenas nos estudos de imagem. Por exemplo, um lipos-
em geral está presente na cirurgia. sarcoma histologicamente definido pode não demonstrar
Achados na TC. A TC sem contraste mostra uma massa de características de imagem que sugiram a presença de gor
dura na lesão.
tecidos moles de densidade mista que causa lise do osso
adjacente. O condrossarcoma pode apresentar calcifí-
cações puntiformes ou com aspecto clássico de "anéis e Tumor fibrosa solitário e hemangiopericitoma
arcos". Algumas vezes, calcificações em "raio de sol" po
Terminologia
dem ser vistas nos osteossarcomas. Reação periosteal cos
Tumor fibroso solitário (TFS) representa um contínuo
tuma estar ausente, com exceção do sarcoma de Ewing.
de tumores mcsenquimais com celularidade aumentada.
A maioria dos TMMs apresenta realce intenso e leve
O aspecto final mais maligno do TFS é composto por tu
mente heterogêneo.
mores antes chamados de hemangiopericitomas (HPC). O
Achados na RM. O papel da RM é identificar uma mas hemangiopericitoma agora é chamado de "tumor fibroso
sa com características agressivas, visto que não existem solitário, tipo hemangiopericitoma" ou "TFS celular".
achados específicos de RM para os TMMs. Tecidos fibro Embora raro, o HPC é a neoplasia maligna primária
sos, condroides e osteoides são hipointensos em imagens mesenquimal não meningotelial mais comum. Esses tu
ponderadas em TI e T2. FLAIR é muito útil para identifi mores são muito celulares e vasculares, sendo conhecidos
car invasão cerebral.
por seu comportamento clínico agressivo e altas taxas de
A maioria dos TMMs sofre realce intenso e heterogê
recorrência, com metástases distantes mesmo após cirur
neo. Focos de necrose são incomuns.
gia com ressecção total.
Angiografia. a maioria dos TMMs, como os angiossarco-
mas, é vascular. Outros mostram pouca ou nenhuma vas- Etlologia
cularização e são vistos como massas avasculares inespe- Conceitos gerais. Antes considerado como derivado dos
cífícas. pericitos vasculares - células contráteis que circundam
Tumores das meninges 609

os capilares - o HPC, hoje, é considerado um sarcoma drão. Quantidades variáveis de filamentos colágenos e
fibroblástico. reticulina estão presentes. Vasos tumorals podem ser bas
tante proeminentes. Mitoses são raras, com Ki-67 entre
Patologia 1-4%. Anaplasia é incomum. A maioria dos TFSs é lesão
Localização. A maioria dos TFSs apresenta base durai, ge de baixo grau.
ralmente se originando da foice do cérebro e tentório. Le Características histológicas do HPC podem se sobre
sões intraparenquimatosas ocorrem no cérebro e na medu por com as do TFS, e em determinados momentos podem
la espinal. com freqüência sem fixação durai perceptível. não ser observados pontos de corte entre elas. De maneira
Os ventriculos cerebrais são outra localização comum. geral, os HPCs são tumores altamente celulares que con
O local mais comum para os HPCs é a região occipi têm densas massas de células enoveladas, vasos em fenda
tal, onde eles envolvem o seio transverso. colabados e uma rede abundante de fibras de reticulina.

Tamanho e número. TFSs são quase sempre lesões solitárias. Necrose é comum. Atipia nuclear e atividade mitótica
São tumores relativamente grandes, atingindo até 10 cm de variam, sendo que mais de 5 mitoses por 10 campos de
diâmetro. Lesões com mais de 4-5 cm não são incomuns. grande aumento são freqüentes. Expressão do K.i-67 ge
ralmente é maior ou igual a 10%. Podem existir HPCs tí
Patologia macroscópica. TFSs são neoplasias sólidas, lobu-
picos (grau II da OMS) e anaplásicos (grau 111 da OMS).
ladas e relativamente bem demarcadas (Fig. 22-33). HPCs
contêm espaços vasculares abundantes (Fig. 22-36). He Aspectos clínicos
morragia intratumoral é comum, Epioemiologia. HPCs são tumores raros, respondendo por
Características macroscópicas. TFSs demonstram celulari- menos de 1% de todas as neoplasias intracranianas primá
dade variável com uma arquitetura fasciculada sem pa rias e 2-4% de todos tumores meníngeos.

22-35A TC pós-conlraste
mostra uma lesão expansiva
Iranscalvãria que destrói os teci
dos ósseos S] e invade tanto o
cérebro quanto o escalpo. Áreas
sem realce B) provavelmente
representam necrose.
22-35B Imagem ponderada
em T2 mostra que a massa des
loca a dura-máter em direção
interna SI, erode o crânio em
direção aos tecidos moles subga-
leais S). a lesão é heterogéne-
amenle hiperintensa com focos
hipointensos que podem
representar necrose.

22-35C Imagem ponderada


em TI pós-contraste mostra que
a lesão sofre realce intenso hete
rogêneo. Realce parenquimatoso
profundo à dura-máter Bi
sugere invasão do parênquima
cerebral.
22-350 Visão aproximada
de imagem ponderada em Ti
pós-contraste mostra hipoin-
tensidade central SI. tumor
com aspecto de "cogumelo" se
originando na dura-máter B3
com direção ao espaço subgaleal
SI. Hemangiopericitoma (TFS
celular).
610 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Demografia. HPCs meningeos em geral ocorrem em idade giomas. As lesões são isointensas à substância cinzenta
um pouco mais precoce que os meningiomas. A média de (SC) nas imagens ponderadas em TI e apresentam inten
idade no diagnóstico é 43 anos. Existe uma leve predomi sidade de sinal variada nas imagens ponderadas em T2.
nância em homens. Padrão misto hiper e hipointenso é comum. Áreas ricas
em colágeno podem ser muito hipointensas. Realce ávi
História natural. Mesmo com ressecçào completa, recor
do após infusão de contraste endovenoso é característico
rência local é a regra. A maioria dos HPCs meníngeos
acaba metastatizando para ossos extracranianos, pulmão (Fig. 22-34).
A maioria dos HPCs demonstra intensidade de sinal
e cérebro. Não existe diferença significativa na sobrevida
mista em todas as seqüências de pulso. Eles tendem a ser
entre os graus 11 e III.
predominantemente isointensos à substância cinzenta em
Opções de tratamento. Ressecçào cirúrgica com radiotera- TI e apresentarem sinal iso a hiperintenso em T2 (Fig. 22-
pia ou radiocirurgia é o melhor tratamento. 35). Flow voids marcados estão quase sempre presentes.
O realce após infusão de contraste é marcado e hete
Imagem rogêneo. Focos sem realce são comuns.
Achados na TC. HPCs são massas exlra-axiais hiperdensas
Angiografia. HPCs podem invadir e ocluir seios durais,
que invadem e destroem o osso. Lesões fora da calvária
abaixo do escalpo são comuns. Calcificações e hiperosto- portanto, a angiotomografia computadorizada venoso ou a
se reaciona! estão ausentes.
angiorressonância magnética venosa podem ser úteis para
delinear a patência vascular.
Realce forte e heterogêneo é característico.
A ASD mostra os HPCs, como massas hipervascula-
Achados na RM. TFSs intracranianos de baixo grau são res com vascularização proeminente, veias com drenagem
lesões circunscritas de base durai que lembram menin precoce e persistência prolongada do contraste (Figs. 22-

22-35E Angiografia seletiva


da artéria occipital no mesmo
paciente da página anterior
demonstra ramos transósseos
caiibrosos ÍS suprindo o tumor
S).
22-35F Fase tardia da ASD
mostra biush vascular prolon
gado e intenso no tumor. Dife
rentemente dos TFSs benignos,
HPCs são neoplasias altamente
vasculares.

22-36A Espécime ressecada


mostra a natureza bocelada do
HPC. Observe a semelhança com
o tumor iibroso solitário ilustrado
na Fig. 22-33.
22-26B Corte através do
espécime demonstra múltiplos
cistos e espaços perivasculares
alargados.
Tumores das meninges 611

35E e 22-35F). As lesões geralmente recrutam suprimen Massas focais possuem um espectro morfológico que
to sangüíneo de vasos tanto durais quando piais. vai desde um melanocitoma de baixo grau ao melanoma
maligno. Infiltrados melanocíticos leptomeníngeos difu
Diagnóstico diferencial sos ocorrem na melanocitose/melanomatose meníngea
o principal diagnóstico diferencial do TFS de baixo grau (melanose neurocutânea) (Fig. 22-37).
é o meningioma típico (grau I da OMS). O principal diag A maioria das lesões melanocíticas do SNC são me
nóstico diferencial do HPC é um meningioma vascular e tástases de melanomas malignos extracranianos. Tumores
agressivo, em particular o meningioma atípico ou ma melanocíticos primários do SNC são muito raros e pos
ligno. HPCs raramente calcificam ou causam hiperostose. suem uma incidência estimada de 0,9 por 10 milhões.
Metástases durais com invasão craniana podem ser Neoplasias melanocíticas primárias variam desde mela
indistinguíveis dos HPCs. Neoplasias raras que podem nocitoma begnino a tumor melanocítico de diferenciação
lembrar os HPCs incluem o gliossarcoma e o tumor fi- intermediária e melanoma maligno.
broso maligno.
Melanocitoma
Melanocitomas respondem por menos de 0,1% de to
das as neoplasias do SNC. São tumores de baixo grau
Lesões melanocíticas primárias solitários, escuros, pigmentados, que não invadem o cé
Lesões melanocíticas primárias do SNC são neoplasias ra rebro adjacente. Os locais preferidos são a fossa poste
ras da crista neural derivadas de melanócitos leptomenín- rior (base do crânio e ângulo pontocerebelar), cavo de
geos. Elas se apresentam como massas nodulares focais Meckel (acompanhado do nevo de Cia) e medula/raízes
ou infiltrados leptomeníngeos difusos. espinais.

22-37A Espécime de necrop-


sia demonslra melanose lepto-
menfngea difusa com coloração
cinza e preta de toda superfície
cerebral.
22-37B Secção transversal
do mesmo paciente mostra que
os giros estão aumentados e
preenchidos com numerosos
pequenos nóduios pretos S] re
presentando extensão do tumor
via espaços perivascuiares. Mela-
nocitose maligna leptomeníngea
difusa primária. (Cortesia de R.
Hewlett, MO.)

22-38A Imagem ponderada


em TI em um paciente com me
lanose neurocutânea mostra hi-
perintensldades ovoides caracte
rísticas nas amígdalas de ambos
lobos temporais B. Outro foco
de deposição melanocltica com
redução do tempo T1 B é visto
ao longo do mesencéfalo.
22-38B Imagem ponderada
em 11 pós-conlraste no mesmo
paciente demonstra realce lep-
tomeníngeo difuso e espesso.
(Cortesia de S. Blaser, MO.)
612 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Os melanocitomas raramente sofrem transformação


maligna. O prognóstico é variável para tumores melano-
cíticos de diferenciação intermediária e ruim para o me
lanoma.

Lesões melanocíticas são hiperdensas na TC sem


contraste e sofrem forte realce na TC pós-contraste. As
propriedades paramagnéticas da melanina causam encur-
tamento do tempo TI, portanto, hiperintensidade nas ima
gens ponderadas em TI e hipointensidade nas imagens
ponderadas em T2 são características.
O principal diagnóstico diferencial para lesões me
lanocíticas primárias do cérebro é o melanoma maligno
metastático.

Melanocitose/melanomatose meníngea
22-39 Ilustração demonstra o HB com cisto parietal difusa
junto ao cerebelo. O nódulo vascular tumoral toca Melanocitose e melanomatose leptomeningea difusa são
B a superfície piai.
características da melanose neurocutânea (MNC), uma sín-
drome rara da infância. A maioria dos pacientes apresenta-se
com numerosos nevos melanocíticos congênitos na pele.
Lesões melanocíticas difusas apresentam-se como
agregados confluentes densos, espessos e escuros que pre
enchem os espaços subaracnoides e cobrem a pia-máter.
Focos de hiperintensidade em TI bilaterais na amíg-
dala são um sinal precoce de MNC (Fig. 22-38A). Realce
leptomeníngeo difuso e extensão para o interior do pa-
rênquima cerebral via espaços perivasculares podem ser
evidenciados e indicam transformação maligna com pior
prognóstico (Fig. 22-38B).

Outras neoplasias relacionadas


22-40 Espécime de necropsia mostra o nódulo SI Hemangioblastomo
e o cisto hemorrágico IS de um HB típico. (Cortesia de Terminologia
E. Ross, MD.)
o hemangioblastoma (HB) também é conhecido como
hemangioma capilar. Embora o termo "blastoma" sugira
malignidade, lesão altamente agressiva, os HBs são ne
oplasias vasculares benignas, de crescimento lento, rela
tivamente indolentes. Os HBs ocorrem tanto nas formas

esporádica quando múltipla.


HB múltiplos são quase sempre associados com a
síndrome autossômica dominante de von HíppcI-Lindau
(SvHL). Uma forma rara não associada à SvHL é chama
da de hemangioblastomatose leptomeningea.

Etiologia
A etiologia precisa dos HBs permanece desconhecida.
Mutações do gene VHL (perdas e inativações) estão pre
sentes em 20-50% dos HBs esporádicos.

22-41 Fotografia intraoperalória mostra vasos


Patologia
aumentados ES nutridores da lesão de cor vermelho- Localização. HBs podem ocorrer em qualquer parte do
-carne sólida do HB SNC, embora a maioria (90-95%) dos HBs intracrania-
Tumores das meninges 613

nos esteja localizado na fossa posterior. O cerebelo é de \ >


longe o local mais comum (80%), seguido pelo verme ce-
rebelar (15%). Cerca de 5% das lesões ocorrem no tron
co, geralmente no bulbo. O nódulo de um HB é localiza
do de forma superficial e em geral toca a superfície piai
(Fig. 22-39).
Tumores supratentoriais são raros, respondendo por
5-10% de todos os HBs. A maioria está agrupada ao redor
das vias ópticas e ocorre no contexto da SvHL.
Tamanho e número. O tamanho dos hemangioblastomas é
variável, de pequenas a grandes lesões, principalmente se
associados a cistos. A menos que os pacientes sejam sin-
drômicos, os HBs são, na maior parte, solitários.
Patologia macroscópica. O aspecto mais comum é de um
nódulo vermelho-came de aspecto vascular que toca a su
22-42A Imagem ponderada em T2 demonstra o HB
perfície piai (Flg. 22-40). Um cisto de tamanho variável clássico como um cisto hiperintenso nódulo tumo
está presente em 50-60% dos casos. O fluido do cisto nor ral SI tocando a face piai.
malmente é amarelado, e a parede é fina. Cerca de 40%
dos HBs são tumores sólidos (Fig. 22-41).
Características microscópicas. HBs contêm dois tipos ce
lulares diferentes: células vasculares e estromais. Geral
mente são as células do estroma (não as vasculares) que
representam os elementos neoplásicos do HB.
A parede do cisto da maioria dos HBs não é neoplá-
sica e é composta por cérebro comprimido com neuróglia .V *
flbrilar desprovida de células tumorals. O fluido do cisto
intratumoral compartilha uma assinatura proteica com o
plasma normal e não apresenta proteínas em comum com
o tecido tumoral do HB. A formação de cisto no HB é

V
resultado da perda de líquido pelos vasos tumorals e não
liquefaçâo tumoral ou secreção ativa do tumor.
As mitoses nos HBs são raras ou ausentes, assim
como as taxas de proliferação (geralmente MIB-1 < 1). O
HB é uma neoplasia grau I da OMS. Não existe variante 22-42B T1C+FS RM no mesmo paciente demonstra
atípica ou anaplásica conhecida. que o nódulo tumoral B realça Intensamente, ao con
trário da parte do cisto B.

HEMANGIOBLASTOMA:
PATOLOGIA E ASPECTOS CLÍNICOS

Patologia
• Localização
o Fossa posterior (90-95%)
o Cerebelo é o local mais comum
• Patologia macroscópica
o "Cisto + nódulo" (60%), sólido (40%)

Aspectos clínicos
• Epidemiologia
o Incomum (1-2,5% dos tumores cerebrais primários)
o 7% dos tumores de fossa posterior de adultos
• Demografia
o Pico de Idade = 30-65 anos (mais jovens na SvHL)
o Raro abaixo de 15 anos
• História natural
o Crescimento lento 22-43 ASO do HB típico mostra o blush tumoral pro
o Metástases são raras longado característico vindo de ramos aumentados da
PICASICAICASI.
614 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Aspectos clínicos cação para tratamento, embora as taxas de crescimento


Epidemiologia. Os HBs respondem por 1-2,5% de todas do tumor/cisto possam ser usadas para estimar o desen
volvimento de futuros sintomas e necessidade de trata
as neoplasias do SNC e cerca de 7% de todos os tumo
res da fossa posterior de adultos. É a segunda lesão ex mento cirúrgico.
Embora HBs não tenham tendências para metastati-
pansiva infratentorial mais freqüente em adultos (depois
de metástase). Entre 25-40% dos HBs são associados a zar. existem alguns relatos esporádicos de disseminação
SvHL. intraespinal. Ressecção completa em bloco é o procedi
mento de escolha e elimina a recorrência tumoral, embora
Demografia. o HB geralmente é um tumor de adultos entre novos hemangioblastomas possam se desenvolver no ce
30 e 65 anos. HBs pediátricos são raros. HBs associados nário da SvHL.
a SvHL tendem a se apresentar em pacientes mais jovens,
porém permanecem raros em crianças abaixo de 15 anos. Imagem
Existe uma leve predominância em homens. Características gerais. HBs apresentam quatro padrões de
Apresentação. Os principais sintomas em pacientes com a imagem básicos: (1) HB sólido sem cisto associado; (2)
HB com cisto intratumoral; (3) HB com cisto peritumoral
forma cística do HB são causados pelo cisto e não pelo
nódulo neoplásico. Cefaleia é o sintoma de apresentação (cisto não neoplásico com nódulo tumoral sólido); e (4)
em 85% dos casos.
HB associado com cistos tanto perl quando intratumorais
(cisto não neoplásico peritumoral com nódulo sólido com
História natural e opções de tratamento. Os HBs apre cistos). Cisto peritumoral sem realce com nódulo sólido é
sentam um padrão de crescimento irregular, freqüente o padrão de apresentação mais comum, visto em 50-65%
mente permanecendo estáveis por longos períodos de dos casos. O segundo padrão mais comum é a forma sóli
tempo. Progressão apenas da imagem não é uma indi da. vista em cerca de 40% dos casos.

22-44A Imagem ponderada


em 11 pós-coniraste no plano
sagitai mostra o aspecto típico
de um hemangiobiastoma sólido

22-44B Imagem ponderada


em TI pós-contraste no plano co
ronal mostra realce heterogêneo
intenso do HB ES. Compare com
a fotografia Intraoperatória da
Figura 22-42. HBs no bulbo ten
dem a ser sólidos, ao passo que
os localizados nos hemisférios
cerebelares freqüentemente têm
aspecto de "cisto + nódulo".

22-45A Imagem ponderada


em TI pós-contraste com satura
ção de gordura no plano sagitai
mostra múltiplos hemangioblas
tomas no cerebelo e na medula
espinal B.
22-45B Imagem ponderada
em TI pós-contraste no plano
coronal no mesmo paciente mos
tra mais pelo menos quatro HBs
separados B.
Tumores das meninges 615

Á
22-46 Imagem ponderada em TI pós-conlraste no plano coronal 22-47 Imagem ponderada em TI pós-contraste no plano coronal de
demonstra massa suprasselar com realce ES. Hemangioblastoma com monstra lesão expansiva no lobo temporal com cisto ES e nódulo B so
provado por biópsia. (Cortesia de R. Bert, MO.) frendo realce. Hemangioblastoma comprovado. (Cortesia de C. Sulton, MO.)

Achados na TC. A aparência mais comum na tomografla é HBs supratentoriais são raros. A maior parte ocorre ao
de um nódulo bem definido iso a levemente hiperdenso, redor dos nervos e do quiasma óptico (Fig. 22-46). Esses
associado com cisto hipodenso. Caícificações e hemorra HBs podem se apresentar como uma lesão expansiva he-
gia macroscópica estão ausentes. O nódulo sofre realce misférica com o aspecto de "cisto + nódulo" (Fig. 22-47).
importante e uniforme após administração de contraste. Angiografia. o aspecto mais comum é de um tumor in
Achados na RM. Um nódulo isointenso com /7ovv voids tensamente vascular que demonstra um blush prolongado
proeminentes é visto nas imagens ponderadas em TI. Se (Fig. 22-43). Veias de drenagem precoce são comuns. Se
houver um cisto peritumoraK ele é hipointenso ao parên- houver um cisto associado ao tumor, os vasos podem estar
quima nas imagens ponderadas em Ti. mas hiperintenso deslocados e esticados sobre a massa avascular.

comparado ao LCS.
Em comparação ao parênquima cerebral, o nódulo Diagnóstico diferencial
tumoral de um HB é moderadamente hiperintenso nas O diagnóstico diferencial do HB varia conforme a
imagens ponderadas em T2/FLAIR. Cistos intratumorais idade do paciente. Em pacientes de meia-idade e adultos
e fJow voids proeminentes são comuns. O fluido do cisto é mais velhos, a causa mais comum de uma massa intra-
muito hiperintenso, tanto nas imagens ponderadas em T2 -axial parenquimatosa com realce na fossa posterior é
quanto no FLAIR (Fig. 22-42A). uma metástasc, e não o HB.
As vezes um HE sangra. Se houver produtos de san- Uma massa cerebelar com o aspecto "cisto + nódulo"
gramento, pode ser evidenciado artefato de susceptibilida- em uma criança ou adulto jovem é mais provavelmente
de magnética em T2*. um astrocítoma pilocítico e não um HB ou metástase.
Realce intenso do nódulo - mas não do cisto - é o Eventualmente uma malformação cavernomatosa pode
achado característico (Fig. 22-42B). O realce da parede mimetizar um HB com hemorragia.
do cisto deve levantar a possibilidade de envolvimento tu Se houver mais de um HB presente, o paciente por
moral, visto que o cérebro comprimido e não neoplásico definição tem SvHL. História familiar positiva ou presen
não sofre realce. ça de outros marcadores da SvHL (como cistos viscerais,
HBs não císticos sofrem importante realce, freqüente angiomas de retina e carcinoma de células renais) devem
mente heterogêneo (Fig. 22-44). HBs múltiplos são vistos ser avaliados do ponto de vista genético.
na SvHL e variam de diminutas lesões puntiformes até
grandes tumores sólidos (Fig. 22-45).
616 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

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Tumores dos nervos cranianos
e das bainhas nervosas

Anatomia dos nervos cranianos 619


capítulo será iniciado com uma revisão sobre a anatomia
normal dos nervos cranianos.
Nervos cranianos altos 619
Nervos cranianos baixos 624

Schwannomas 632
Visão geral dos schwannomas 632
Schwannoma vestibular 635
Anatomia dos nervos cranianos
Schwannoma trigeminal 637 Nesta seção será discutida a anatomia dos nervos crania
Schwannoma do forame jugular 638
nos (NC), iniciando com a discussão dos nervos cranianos
Schwannoma do nervo facial 639
Schwannomas de outros nervos intracranianos 639
altos (NCs I-VI). Após serão discutidos os nervos cra
Schwannomas do parênquima cerebral 643 nianos baixos (NCs VII-XII). A função, a anatomia e os
N e u r o fi b r o m a s 644 aspectos-chave de imagem/clínicos serão delineados para
Neurofibroma solitário 644
cada um dos nervos cranianos.
N e u r o fi b r o m a plexiforme 644 A anatomia intracraniana de cada nervo é discutida

Neoplasias malignas das bainhas nervosas 647 por segmentos, desde a localização intra-axial e saída do
Tumor maligno de bainha nervosa periférica 647 cérebro, passagem pelas cisternas do líquido cerebrospi
Outros tumores de bainha nervosa 648 nal (LCS), entrada e/ou saída da base do crânio e curso
extracraniano. Lembre-se: os nervos cranianos não pa
ram na base do crânio. Quando neuropatias cranianas são
A classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) examinadas, é importante estudar com cuidado cada seg
para tumores do sistema nervoso central (SNC) primários mento do nervo, seguindo-o em todo seu trajeto, desde a
designa uma categoria separada de tumores das bainhas origem até a extremidade "funcional".
nervosas como "tumores dos nervos cranianos e paraespi-
nais". Com exceção do schwannoma vestibular, todos os Nervos cranianos altos
tumores de bainha nervosa intracranianos são raros. Eles
Nervo olfatório (NC I)
podem ocorrer esporadicamente ou como parte de duas
síndromes neurocutâneas associadas ao desenvolvimento Função. O nervo olfatório é o aferente visceral especial en
volvido com o sentido do olfato.
de tumores, a neurofibromatose tipos I e 2.
A maioria das neoplasias de bainhas nervosas é be Anatomia. Fibras não mielinizadas de células receptoras
nigna. Os dois principais tipos encontrados no interior do bipolares no teto da cavidade nasal se unem em fascícu-
crânio ou próximos da base do crânio são o schwannoma los, perfuram a lâmina crivosa do osso etmoide e fazem
e o neurofibroma. Ambos serão discutidos com detalhes
sinapse no bulbo olfatório. O bulbo olfatório passa pos
neste capítulo, junto com a rara neoplasia maligna da bai teriormente para o trígono olfatório. A estria olfatória do
nha de nervos periféricos (TMBNP). trígono passa para o interior do cérebro com o maior tra
Um terceiro tipo, o perineurioma, é basicamente um to, a estria olfatória lateral, terminando no lobo temporal
tumor dos nervos periféricos e tecidos moles, embora ra (Fig. 23-1).
ros casos envolvendo nervos cranianos tenham sido rela Os nervos olfatórios não apresentam uma camada de
tados. O perineurioma será discutido ao final do capitulo. células de Schwann. Células especiais chamadas de "glia
Mais de 99% dos tumores de bainha nervosa intracra embainhante olfatória" (GEO) localizam-se na mucosa
nianos são associados ao nervo craniano. Devido aos as e no bulbo olfatórios e circundam os axônios dos nervos
pectos de imagem característicos desses tumores se rela olfatórios. A GEO lembra células de Schwann na micros-
cionarem com a localização do nervo que acometem, este copia óptica, porém corantes imuno-histoquimicos dife-
620 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

renciam as duas. As GEO são populações de astrócitos es


pecializados que podem migrar e regenerar, aumentando
de extensão após a lesão.
Aspectos-chave. a tomografía computadorizada (TC) dos
seios da face no plano coronal focada no teto nasal e na
lâmina crivosa é o melhor exame para avaliar anosmia
isolada. Ressonância magnética (RM) do nariz, da fossa
craniana anterior e dos lobos temporais mediais é o me
lhor exame para anosmia clinicamente comprovada.

Nervo Óptico (NC II)


O nervo óptico é tecnicamente um trato cerebral, e não
um nervo craniano verdadeiro; ele não é embainhado,
e é mielinizado por oligodendrócitos, não células de
Schwann. Os tumores do nervo óptico são astrocitomas, e
23-1 Tratos olfatórios (NC I) S], quiasma óptico não schwannomas, sendo discutidos no Capítulo 17.
[S, nervos oculomotor (NC III) 17?], troclear (NC IV)
ES, trigémeo B e abducente (NC VI) IB. Função. O nervo óptico é o nervo da visão.
Anatomia. A via óptica consiste em globo ocular/retina,
nervo óptico, quiasma óptico e estruturas retroquiasmá-
ticas. O segmento Intraocular do NC 11 é circundado
por uma bainha de LCS que se conecta diretamente com
o espaço subaracnoide (ES) intracraniano. Ele é recober
to pelas mesmas três camadas meníngeas que o cérebro
(dura-máter, aracnoide e pia-máter). O segmento intraca-
nalicular do nervo óptico passa pelo canal óptico (Figs.
23-4 e 23-6). O segmento intracraniano (cisternal) se
estende do canal óptico ao quiasma óptico.
O quiasma óptico é urna estrutura em formato de X
que se localizada na porção superior da cisterna suprasse-
lar. As fibras nervosas das metades mediais de ambas as
retinas decussam nessa estrutura, direcionando-se poste-
rolateralmente para o lado oposto (Figs. 23-2 e 23-3).
Os tratos ópticos são extensões posteriores do quias
23-2 Ilustração demonstra o sistema visual e os ma óptico que se curvam ao redor dos pedúnculos ce
campos visuais desde os globos oculares até o cortex rebrais. As bandas laterais fazem sinapse nos corpos
calcarino. geniculados laterais (CGL). Axônios eferentes do CGL
formam as radiações ópticas (tratos geniculocalcarinos).
As radiações ópticas se separam à medida que seguem
posteriormente para terminar no córtex calcarino (córtex
visual primário).
CoNCEiTOS-CHAVE. Patologia do globo óptico ou dos nervos
ópticos resulta em perda visual monocular. O foco do
estudo de imagem deve abranger desde o globo ocular ao
quiasma óptico. Lesões intrínsecas e extrínsecas do quias
ma óptico causam hemianopsia heterônima bitemporal,
ou seja, perda de ambos os campos visuais temporais. Pa
tologias retroquiasmáticas causam hemianopsia homô
nima, que é a perda visual que envolve as duas metades
direitas ou esquerdas dos campos visuais. Uma lesão lo
calizada à esquerda causa hemianopsia homônima direita.
enquanto uma lesão à direita causa hemianopsia homôni
ma esquerda.
23-3 Imagem ponderada em T2 no plano axial
demonstra os nervos ópticos circundados por LCS nas
Edema de papila é a manifestação ocular do aumen
bainhas dos nervos ópticos B. O quiasma óptico B to de pressão intracraniana (PlC) transmitida ao longo do
e os tratos ópticos ES também são visualizados. ES da bainha do nervo óptico. Nos estudos de imagem
Tumores dos nervos cranianos e das bainhas nervosas 621

de pacientes com edema de papila moderado a grave, a


esclera posterior torna-se achatada e a cabeça do nervo
óptico pode se apresentar elevada. Tortuosidade acentua
da e alongamento com diiatação dos ESs periópticos são
c o m u n s .

Nervo oculomotor (NC III)


Função. O nervo oculomotor tem tanto funções parassim-
páticas quanto motoras. Ele inerva todos os músculos ex-
traoculares, exceto o reto lateral e o oblíquo superior. Suas
fibras parassimpáticas controlam o esfincter pupilar e a
acomodação.
Anatomia. O nervo oculomotor apresenta quatro segmen
tos. O segmento intra-axial está no mesencéfalo. O nú
cleo oculomotor localiza-se logo à frente da substância
cinzenta periaquedutal. Os fascículos do NC 111 cursam 23-4 Lâmina crivosa (NC I) canal óptico (NC II)
anteriormente pelo núcleo rubro e a substância negra e [^, FOS (III, IV e V,) S, forame redondo (Vj) tB,
saem do mesencéfalo medialmente aos pedúnculos cere oval (V,) forame jugular (IX-XI) tB.
brais (Fig. 23-1).
O segmento cisternal cursa anteriormente em dire

K
ção ao seio cavemoso, passando entre as artérias cerebral
posterior e cerebelar superior.
O segmento intracavcrnoso se localiza na parede su
perolateral do seio cavemoso, circundado por uma bainha
fina de LCS (a cisterna oculomotora) (Figs. 23-7, 23-8
e 23-9). O nervo oculomotor emerge do seio cavemoso
pela fissura orbitária superior (Fíg. 23-4). O segmento ex-
Iracraniano passa pelo ânulo tendinoso e, então, divide-se
em ramos superior e inferior (Fig. 23-10). As fibras paras
simpáticas pré-ganglionares seguem o ramo inferior em
direção ao gânglio ciliar.
CoNCEiTOS-CHAVÉ. As flbras constritoras pupilares do NC III
estão localizadas na periferia do ner\'0, predominante
mente ao longo do aspecto superolateral. O segmento
cisternal do nervo oculomotor está localizado próximo 23-5 A TC óssea demonstra o forame jugular com a
à artéria comunicante posterior (AComP). Aneurismas pars nervosa B9 e a pars vascularis O canal caro-
da AComP com freqüência comprimem o terceiro nervo, tídeo petroso EB também é visualizado.
causando paralisia do terceiro nervo com envolvimen
to pupilar. A paralisia do terceiro nervo sem envolvi
mento pupilar geralmente é causada por infarto micro
vascular do núcleo do nervo com preservação relativa
das fibras periféricas.

Nervo troclear (NC IV)


Função. O nervo troclear é um nervo puramente motor que
inerva o músculo oblíquo superior.
Anatomia. Assim como o nervo oculomotor, o NC IV apre
senta quatro segmentos. Seus segmentos intra-axiais tam
bém estão localizados no mesencéfalo, anteriormente à
substância cinzenta periaquedutal, logo abaixo do núcleo
do nervo oculomotor. Os fascículos do nervo troclear cur
sam posteroinferiormente ao redor do aqueduto cerebral e
então decussam dentro do véu medular superior. O nervo
troclear tem origem no mesencéfalo dorsal logo abaixo 23-6 A TC óssea demonstra os canais ópticos ES e
dos colículos inferiores (Fig. 23-10). os condutos auditivos internos BI.
622 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

O segmento cisternal se direciona anteriormente na


cisterna ambiens. adjacente à margem livre do tentório do
cerebelo. Ele então passa entre a artéria cerebral posterior
e cerebelar superior, logo abaixo ao nervo oculomotor, e
entra no seio cavemoso (SC). O segmento cavemoso se
localiza na parede durai lateral, logo abaixo do NC 111
(Fig. 23-8).
O nervo troclear sai do SC pela fissura orbitária supe
rior junto com os NCs III e VI. O segmento extracraniano
passa, então, sobre o anel fíbroso de Zinn (os NCs III e VI
passam pelo anel).
CoNCEiTOS-CHAVE. O loíigo cufso do Segmento cisternal e sua
proximidade com o ângulo agudo do tentório do cerebelo
fazem o nervo troclear especialmente vulnerável a lesões
traumáticas cranianas. A paralisia troclear causa paralisia
23-7 NC III SI, NCIV gânglio de Gasser (irige- do músculo oblíquo superior, resultando em rotação ex
minal) B, V3 SI e NC IV terna do olho afetado. A diplopia resultante e a fraqueza
da mirada inferior obrigam a maior parte dos pacientes a
inclinar suas cabeças em direção oposta ao lado afetado.
Procure por neuropatia troclear nos pacientes com torci-
colo ("pescoço duro").

Nervo trigêmeo (NC V)


Função. O nervo trigêmeo é um nervo misto sensitivo e
motor. Ele é o maior nervo sensitivo da cabeça e face e na
inerva os músculos da mastigação.

Anatomia. O nervo trigêmeo apresenta quatro segmentos:


um gânglio (o gânglio semilunar) e três divisões pós-gan-
glionares (Fig. 23-11).
O segmento intra-axial possui quatro núcleos (três
sensitivos e um motor) que estão localizados no tronco e
na medula cervical superior (entre C2-C4).
O NC V emerge da porção lateral da ponte na zona
23-8 Com exceção do NC VI ES, os NCs do seio ca-
vernoso estão na parede durai lateral. Os NCs III S, IV de entrada de raízes. O segmento cisternal cursa ante
[S, V, S e V, riormente pela cisterna pré-pontina. Ele, então, passa por
meio de um anel durai, o poro trigeminal, e entra no cavo
de Meckel (Fig. 23-12).
O segmento ínterdural está localizado inteiramente
dentro do cavo de Meckel, que é uma bolsa revestida por
dura-máter e aracnoide do espaço pré-pontino. Uma vez
dentro do cavo de Meckel, o NC I se separa em vários
pequenos fascículos (Fig. 23-9). Ele faz sinapse no gân
glio trigeminal (gasscriano ou semilunar), uma pequena
quantidade de tecido em formato crescente que fica abai
xo do cavo de Meckel (Fig. 23-7).
O segmento pós-ganglionar do NC V consiste em
três divisões: NC V, (nervo oflálmico), NC Vj (nervo ma
xilar) e NC Vj (nervo mandibular).
O nervo oftálmico localiza-se na parede lateral do
seio cavemoso logo abaixo do NC IV. Ele segue anterior
mente em direção ao ápice da órbita e emerge do SC pela
23-9 Imagem ponderada em T2 no plano coronal
fissura orbitária superior (FOS).
demonstra o NC III na cisterna oculomotora E3. os O nervo maxilar cursa anteriormente na parede late
fascículos do nervo trigêmeo no cavo de Meckel B e ral do SC, logo abaixo do NC V,. Ele emerge do SC por
o gânglio de Gasser t3. meio do forame redondo, atravessando o aspecto superior
Tumores dos nervos cranianos e das bainhas nervosas 6 2 3

da fossa pterigopalatina. Após, entra na órbita e cursa an


teriormente na goteira infra-orbitária, exteriorizando-se
pelo forame infraorbitário. O nervo maxilar é responsável
pela sensibilidade da bochecha e dos dentes superiores.
O nervo mandibular emerge do cavo de Meckel
diretamente do gânglio semilunar, passando pelo forame
oval inferiormente. Diferentemente das duas outras divi
sões pós-ganglionares, o NC Vj não passa através do seio
cavernoso. O nervo mandibular é motor e sensitivo, iner-
vando os músculos da mastigação, músculo milo-hioide e
o ventre anterior do músculo digástrico. Seu componente
sensitivo inerva os dentes inferiores e a língua.
CONCEITOS-CHAVE. Esteja alerta para atrofia por denervação
(redução volumétrica, infiltração adiposa) dos músculos da
mastigação. Este pode ser o primeiro sinal de uma neuropa-
tia do V3 e deve levar prontamente à investigação adicional 23-10 Nervo oculomotor (NC 111) núcleo troclear
(lesões do cavo de Meckel são a causa mais comum). 101, nervo troclear e nervo Irigémeo (NC V) B3.

Nervo abducente (NC VI)


Função. O nervo abducente é um nervo puramente motor.
Ele inerva o músculo reto lateral (abdução).

Anatomia. O nervo abducente apresenta cinco segmentos.


O segmento intra-axial inicial no núcleo do NC VI, que
está localizado na ponte, logo anterior ao quarto ventrícu-
lo. Axônios do NC VIII circundam o núcleo abducente,
criando um abaulamento no soalho do quarto ventrículo
chamado de colículo do facial (Fig. 23-13).
Fibras do núcleo abducente se direcionam em sentido
anterior, emergindo do tronco lateralmente à linha média
najunção pontomesencefálica.
O segmento cisternal do NC VI ascende anterossu-
periormente pela cisterna pré-pontina e penetra na dura-
-máter do divo. O segmento interdural do NC VI cursa
superiormente entre as duas camadas da dura-máter em 23-11 A ilustração demonstra os ramos do nervo tri-
um canal estreito, chamado de Canal de Dorello. Ele pas gêmeo V, B. BI. V,E]. segmento cisternal
sa então sobre o topo do ápice petroso logo abaixo do li- gânglio de Gasser no cavo de Meckel SI.
gamento petroesfenoidal e entra no seio cavernoso.
O segmento cavernoso cursa em direção anterior den
tro do SC, sendo o único nervo craniano que realmente faz
isso (os outros estão incorporados na dura-máter da pare
de lateral). Dentro do SC, o nervo abducente está locali
zado ao longo do aspecto inferolateral da artéria carótida
interna (Figs. 23-7 e 23-8).
O NC VI emerge do SC pela fissura orbitária supe
rior. O segmento intraorbitário passa anteriomente pelo
anel tendíneo que fixa os músculos extraoculares.
CONCEITOS-CHAVE. Paralisia simples (i.e., isolada) do nervo
abducente é a paralisia mais comum de nervo craniano
existente. Uma "pseudo" paralisia do sexto nervo (incapa
cidade de abduzir o olho) geralmente é causada por uma
lesão infiltrativa no músculo reto lateral.
No seu curso pelo ápice petroso, o nervo abducente
está vulnerável ao aumento da pressão intracraniana e a 23-12 Imagem ponderada em T2 no plano axial
processos intlamatórios dos ossos temporais adjacentes demonstra os segmentos cisternal i-^l e do cavo de
Meckel E3 do nervo irigémeo.
("apicite petrosa").
6 2 4 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

NERVOS CRANIANOS ALTOS (NCS l-VI)


Nervo olfatórío (NC I)
• Função = aferente visceral para o cifato
• Entrada no crânio = lâmina crivosa
• Conceitos-chave
o Imagem no plano coronal da porção superior do
nariz aos lobos temporais
Nervo óptico (NC II)
• Função = visão
• Entrada no crânio = canal óptico
• Conceitos-chave
o Trato cerebral mielinizado
o Não embainhado por células de Schwann
o Tumores são astrocitomas, não schawannomas

Nervo oculomotor (NC ill)


• Função
segmento intíacanalicular do NC Vtll BI, gânglio ge-
nículado ES, NPSM e segmentos cociear B e o inerva todos músculos extraoculares, exceto reto
vestibular BÉI do NC Vlll. lateral e oblíquo superior
• Saída no crânio: fissura orbitária superior
• Conceito-chave
o A neuropatia poupa ou envolve a pupila?
Nervo troclear (NC IV)
• Função = inerva o músculo oblíquo superior
• Saída no crânio = fissura orbitária superior (FOS)
• Conceito-chave
o Inclinação da cabeça/torcicolo pode ser causado
por lesão do NC IV
Nervo trigêmeo (NC V)
• Função (misto motor e sensitivo)
o Inerva os músculos da mastigação
o Sensibilidade da cabeça e da face
• Saídas no crânio
o Oftálmico (NC V,) = FOS
o Maxilar (NC V^) = forame redondo
o Mandibular (NC V3) = forame oval
23-14 Imagem demonstra o CAI B, canal do nervo
• Conceitos-chave
facial com o joelho anterior e o gânglio geniculado E3,
o Olhe para a face
segmento timpãnico B! e joelho posterior BI.
o Atrofia por denervação dos músculos mastigadores
Nervo abducente (NC VI)
• Função: inerva o reto lateral
• Saída do crânio = FOS
• Conceitos-chave
o Doença intrínseca do músculo reto lateral pode
mimetizar a paralisia do NC VI
o PiC e apicite petrosa podem causar paralisia do
abducente

Nervos cranianos baixos


Nervo facial (NC Vil)
Função. O nervo facial apresenta múltiplas funções. Ele
prevê inervação motora para os músculos da expressão
facial. Também provê inervação parassimpática para as
23-15 Imagem ponderada em T2 demonstra o NC Vil
glândula lacrimal, sublingual e submandibular. Além dis
ES, os nervos veslibulococlear [S e vestibular superior
ES além dos nervos cociear direito BI e vestibular so, tem função sensitiva especial, o sentido do paladar,
inferior B. para os dois terços anteriores da língua.
Tumores dos nervos cranianos e das bainhas nervosas 625

Anatomia. O nervo facial apresenta quatro segmentos. O


segmento íntra-axial é formado pelo núcleo do nervo
facial, que se localiza na ponte ventrolateral. Fibras efe-
rentes do núcleo motor circundam dorsalmente o núcleo
abducente, depois seguem anterolateralmente para sair no
tronco na junção pontomedular (Fig. 23-13).
O segmento cisternal do NC Vil segue lateralmente
pelo ângulo pontocerebelar (APC) junto com o nervo ves-
tibulococlear (NC Vlll) para o conduto auditivo interno
(CAI) (Fig. 23-15).
O nervo facial íntratemporal segue um curso com
plexo, primeiro em direção lateral como segmento cana
licular sendo o mais anterossuperior dos quatro nervos no
CAI. Ele então emerge do CAI ósseo, inclina-se anterior
mente para formar o segmento iabiríntico. Na curvatura
mais anterior (que é chamada de "joelho anterior"), o ner
23-16 NPSM do NC Vil nervos corda do timpano
vo facial faz sinapse com o gânglio geniculado e então E] e estapedial S>J, forame estilomaslóideo SI. Ra
segue posteriormente abaixo do canal semicircular como mos distais se dividem dentro da parótida.
segmento timpánico (Fig. 23-14). Ele se curva inferior
mente no "joelho posterior" e segue inferiormente na
mastoide como segmento mastóideo (Fig. 23-18).
Os ramos infratemporais importantes do nervo fa
cial de cima para baixo são o nervo petroso superfícial
maior (NPSM) (fibras parassimpáticas que promovem
inervação da glândula lacrimal), o nervo estapedíal (iner-
vação do músculo estapedial) e o nervo corda do tim
pano (paladar dos dois terços anteriores da língua) (Figs.
23-16 e 23-17).
O nervo facial emerge do crânio pelo forame estilo-
mastóideo e penetra na glândula parótida. Uma vez dentro
da glândula, o nervo facial extracraniano ramifica-se em
ramos motores terminais que inervam os músculos da ex
pressão facial (Fig. 23-16).
CoNCEiTOS-CHAVE. Rcalce do nervo facial no interior da cis
terna do APC e conduto auditivo é sempre anormal. En 23-17 Núcleo solitário para o corda do timpano
(paladar) E3, núcleo salivatório superior para o NPSM
tretanto, um plexo vascular robusto circunda a maior parte
(lacrimal) S, nervo/núcleo motor S.
do nervo facial Íntratemporal, com exceção do segmento
Iabiríntico. Por esse motivo, o nervo facial é o único nervo
craniano que pode apresentar segmentos que exibem real
ce após a administração de contraste endovenoso.
Se o canal ósseo do NC VII Íntratemporal está nor
mal, leve realce do gânglio geniculado e dos segmentos
timpánico e mastóideo pode ser considerado um achado
normal. O gânglio geniculado sofre realce em 75% dos
casos, e o segmento timpánico apresenta realce em cer
ca de metade dos pacientes. O segmento mastóideo quase
sempre sofre realce. O realce do nervo facial é mais cons-
pícuo em campos de maior intensidade (3.0 T).
O primeiro passo no estudo por imagem do nervo fa
cial é a informação clínica. Quando a imagem é solicitada
para avaliar "paralisia do nervo facial", informações de
talhadas são necessárias. A paralisia de Bell típica (i.e.,
de curta duração e sem outra neuropatia associada) não
23-18 TC óssea demonstra o segmento timpánico
necessita de imagem. El abaixo do canal semicircular lateral e o seg
É essencial saber se a lesão nervosa é central ("neu mento mastóideo ÍS descendo para o forame estilo-
rônio motor superior") ou periférico ("neurônio motor in- mastóideo
626 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

ferior"). Lesão de neurônio moXor superior (central ou su


pranuclear), relacionada com lesão parenquimatosa acima
do tronco, resulta na paralisia dos músculos contralaterals
da expressão facial, porém poupa a região frontal. A causa
mais comum de paralisia do neurônio motor superior é o
acidente vascular cerebral (AVC).
Lesão do neurônio motor inferior pode resultar de
lesão do NC VII em qualquer ponto desde o núcleo do
tronco até os ramos periféricos. A paralisia do neurônio
motor inferior resulta em paralisia de todos os músculos
da expressão facial ipsilaterais. Nesses casos, a imagem
deve se estender do tronco até a glândula parótida.
Se uma lesão do neurônio motor inferior do nervo fa
cial estiver presente, informações adicionais sobre as cha
madas funções especiais do nervo facial são necessárias.
O paladar e a glândula lacrimal estão intactos? O paciente
23-19 NC VIII. Nervo coclear/modiolo nerves
vestibulares iníerior \3\ e superior [^. Núcleos no apresenta hiperacusia? Se as funções especiais estiverem
bulbo, tratos no pedúnculo cerebeiar inferior. poupadas, a causa da paralisia facial de neurônio inferior
é extracraniana.
Se as funções especiais estiverem comprometidas, sa
ber exatamente qual delas está envolvida ajuda a localizar
a extensão da lesão. Tumores parotídeos malignos - em
especial o carcinoma adenoide cístico - têm propensão a
invadir o forame estilomastóideo e o nervo facial intra-

temporal.
O ramo mais distai do nervo facial intratemporal
é o corda do timpano, que é comprometido primeira
mente. Como resultado, há perda do paladar na porção
anterior da língua. Na medida em que o tumor cresce
mais cranialmente, o próximo ramo afetado é o nervo
estapedial, resultando em hiperacusia. Quando o tumor
chega ao gânglio geniculado, o nervo petroso maior su
perficial será comprometido, resultando em alterações
lacrimals.

23-20 CAl ósseo com o nervo facial (NC VII) O,


Uma lesão proximal ao gânglio geniculado causará
nervo coclear (NC Vlll) iS, nervos vestibulares superior paralisia facial e afetará as três funções especiais.
El e inferior crista falciforme Se uma paralisia facial baixa associar-se a envolvi
mento do NC VI e/ou NC VIII, a lesão provavelmente
está localizada na ponte (NC VI) ou APC-CAI (NC VIII).

Nervo vestibulococlear (NC Vlll)


Função. O nervo vestibulococlear é sensitivo, sendo res
ponsável pelo sentido da audição e do equilíbrio.
Anatomia. O NC Vlll apresenta dois componentes princi
pais, o nervo coclear e o nervo vestibular (Figs. 23-19
e 23-20). Diferentemente dos demais nervos cranianos,
o NC Vlll é melhor descrito do segmento distai para o
proximal.
O nervo coclear origina-se do gânglio espiral no
modíolo da cóciea. As fibras passam pela abertura co
clear para o interior do CAI (Fig. 23-21). O nervo co
clear é o mais anteroinferior dos quatro nervos no CAI
23-21 Cóciea com o modiolo nervo coclear El (Fig. 23-24). Próximo da abertura do CAI, o poro acústi
e abertura da cóciea 1^. Células do gânglio espiral sâo co, o nervo coclear se junta aos nervos vestibulares supe
mostradas em amarelo dentro do modíolo. rior e inferior para formar o nervo vestibulococlear.
Tumores dos nervos cranianos e das bainhas nervosas 627

O nervo vestibular origina-se dos neurônios bipo-


lares no gânglio vestibular no fundo do CAI. As fibras
coalescem para formar os nervos vestibulares superior e
inferior, que são separados por uma barra óssea chamada
de crista falciforme (transversa). Os nervos vestibulares
superior e inferior cursam medialmente no aspecto poste
rior do CAI (Figs. 23-22 e 23-23). No poro acústico eles
se juntam ao nervo coclear para formar o NC VIII.
O NC VIII passa medialmente pela cisterna do APC
e entra no tronco lateral na junção pontomedular para for
mar o segmento intra-axial. O núcleo coclear é encon
trado no corpo restiforme localizado na superfície lateral
» -^4
do pedúnculo cerebelar inferior. O núcleo vestibular está
localizado no soalho do aspecto inferior do quarto ventrí-
culo.

CONCEITOS-CHAVE. Pelo menos 90 a 95% de todas lesões que 23-22 Imagem ponderada em T2 no plano axial
causam hipoacusia neurossensorial (HNS) - e são detecta demonstra o NC VIIo nervo vestibulococlear (NC
das em imagem - são schwannomas vestibulares. Disfun- VIII) o nervo vestibular superior E3. Flóculo do
cerebelo S.
ção do nervo vestibular isolada (tontura, vertigem e alte
rações do equilíbrio) normalmente não apresenta achados
na RM. Hipoacusia condutiva (intracoclear) é mais bem
avaliada por tomografía de alta resolução do osso tempo
ral com filtro ósseo.

NERVOS CRANIANOS Vil E VIII

Nervo facial (NC Vil)


• Função
o Motor (músculos da expressão facial)
o Sensibilidade especial (paladar, 2/3 anteriores da
língua)
o Parassimpático (glândulas lacrimals,
submandibulares e sublinguals)
• Saída do crânio
o Juntamente com o NC VIU no interior do CAI para
posteriormente emergir do crânio pelo forame 23-23 Imagem ponderada em T2 no plano coronal
estilomastóideo demonstra o NC V S], NC VII NC VIII veslfbu-
• Conceitos-chave lo B, canal semicircular superior B.
o A paralisa de Bell clássica não necessita de exames
de imagem
o Neuropatia do NC VII? Verificar se relacionada com
neurônio motor superior ou inferior
o Neoplasias da parótlda ascendem pelo nervo facial
o As funções especiais estão afetadas (paladar,
hiperacusia, glândula lacrimal)?
Nervo vestibulococlear (NC Vil!)
• Função = nervo sensitivo aferente
o Audição (nervo coclear)
o Equilíbrio (nervo vestibular)
• Entrada no crânio = CAI
o Mais anteroinferior = nervo coclear
o Posterior = nervos vestibulares superior e Inferior
• Conceitos-chave
o RM na difusão do nervo vestibular geralmente é
negativa
o HNS unilateral com lesão na RM 95% SV 23-24 Imagem ponderada em T2 no plano sagilai
da metade do CAI mostra quatro nervos como "pontos"
no ICS: NC VII B, nervos vestibulares superior B e
inferior B, além do nervo coclear (S.
628 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Nervo glossofaríngeo (NC IX)


Função. O nervo glossofaríngeo é pequeno, porém apre
senta funções complexas. Ele é um nervo sensitivo espe
cial (responsável pelo paladar no terço posterior da lín
gua) e também um nervo sensitivo comum (inervando a
orelha média e a faringe). Carrega fibras parassimpáticas
para a glândula parótida e fibras motoras para o músculo
estilofaríngeo. Finalmente, é sensitivo visceral para o cor
po e seio carotídeo.
Anatomia. Como a maioria dos outros nervos cranianos, o
NC IX apresenta quatro segmentos: intra-axial, cisternal,
na base do crânio e extracraniano.
O NC IX tem quatro núcleos. Todos estão no bulbo
superior e médio, localizados anterolateralmente ao as
23-25 NCs baixos, forames. NCs Vll e Vlil no CAIFS,
pecto inferior do quarto ventrículo. O segmento intra-
NCs XIX B, XI no forame jugular, NC XII BS -axíal é composto pelos núcleos e seus respectivos tra
no canal do hipoglosso. tos. Os tratos direcionam-se anterolateralmente do núcleo
para sair ou entrar no bulbo no sulco pós-olivar.
O segmento cisternal vai em direção ao forame ju
gular (FJ). com trajeto logo abaixo do nervo vago. O ner
vo glossofaríngeo emerge do crânio, passando no aspecto
anterior (pars nervosa) do forame jugular (Figs. 23-5 e
23-25). No segmento da base do crânio, o nervo glosso
faríngeo localiza-se adjacente ao seio petroso inferior. O
segmento extracraniano cursa inferiormente pelo espaço
carotídeo.

CoNCEiTOS-CHAVE. No plaiio coronal, a região basioccipital e


os tubérculos jugulares compõem uma imagem que lembra
a cabeça, o bico e o corpo de uma águia. O NC IX (junta
mente com os NCs X e XI) cursa pelo forame jugular, que
está localizado superolateralmente à "cabeça" e ao "pesco
ço" da águia. O canal do hipoglosso localiza-se abaixo da
"cabeça" da águia, no "pescoço" formado pelo "bico", su
23-26 NCSVIH, VlleVlllEfl, IXf^, XB, XI
XIIES. 0 lubérculo jugular parece a cabeça de periormente e "corpo" inferionnente (Figs. 23-26 e 23-27).
uma águia.
Nervo vago (NC X)
Função. O nervo vago também é um nervo misto com fun
ções sensitivas (orelha, laringe, vísceras), especiais (tato
da epiglote), motoras (maior parte do palato mole, nervos
laríngeos superior e recorrente) e parassimpáticas (regiões
da cabeça/pescoço, tórax e vísceras abdominais).
Anatomia. O segmento intra-axial do nervo vago loca
liza-se no bulbo inferior. O núcleo localiza-se na porção
anterior do aspecto inferior do quarto ventrículo. Fibras
para e do núcleo emergem do bulbo no sulco pós-olivar.
O segmento cisternal corre anterolateralmente pela cis
terna bulbar, entre o nervo glossofaríngeo superiormente
e a porção bulbar do nervo acessório espinal (NC XI) in
feriormente.
O segmento da base do crânio inicia onde o NC X
entra no aspecto posterior (pars vascularis) do forame ju
23-27 NCs IX/X/XI emergem do forame jugular Si
no topo do tubérculo jugular B ("cabeça" da águia). gular. Ele se localiza anteromedialmente ao bulbo jugular.
NC XII emerge do canal hipoglosso abaixo do O NC X emerge do forame jugular para o interior do espa
"bico" da águia. ço carotídeo. Ele desce, passando abaixo do arco aórtico
Tumores dos nervos cranianos e das bainhas nervosas 629

à esquerda e da artéria subclávia à direita. Os nervos la-


ríngeos recorrentes direcionam-se cranialmente na goteira
traqueoesofágica.
CONCEITOS-CHAVE. Neuropatias vagais proximais requerem
imagem do bulbo ao nível do hioide. Se múltiplos nervos
cranianos (NCs IX-Xll) forem afetados, a lesão geralmen
te está na cisterna bulbar ou na base do crânio (forame
jugular), onde os quatro nervos estão próximos.
A neuropatia do vago distai costuma apresentar ma
nifestação isolada como disfunção laríngea (olhar para a
corda vocal medializada). Esta situação necessita de ima
gem do nível do osso hioide ao longo de todo caminho
até a carena traqueal/janela aortopulmonar à esquerda e
artéria subclávia à direita.

Nervo acessório espinal (NC XI) 23-28 NCs IX S], X [S, XI Ba. Fibras bulbares do
NC XI B cruzam em direção ao NC X e se juntam com
Função. O nervo acessório espinal é puramente motor e
as raízes espinais do núcleo acessório do NC XI ES no
inerva os músculos estemocleidomastóideo e trapézio. forame jugular.
Anatomia. O NC XI apresenta dois segmentos íntra-axiaís
que se originam de dois grupos de núcleos diferentes, um
no bulbo e outro na medula cervical proximal. As fibras
bulbares originam-se no núcleo ambíguo (Fig. 23-28). As
fibras espinais têm origem no núcleo espinal, uma coluna
de células ao longo do como anterior da medula que se
estende deCl-C5 (Fig. 23-29).
No início, os dois segmentos cisternais do NC XI
seguem dois cursos distintos. As fibras bulbares emergem
do bulbo no sulco pós-olivar (Fig. 22-30) e direcionam-
-se anterolateralmente pelas cisternas da base junto aos
os NCs IX e X. As fibras espinais emergem do aspecto
lateral da medula espinal e direcionam-se superiormente
(Fig. 23-31). Ambos feixes de fibras unem-se nas cister
nas da base. O segmento da base do crânio do NC XI
passa pela porção posterior (pars vascularis) do forame
jugular, juntamente com nervo vago e o bulbo da jugular 23-29 0 núcleo espinal do NC XI SI envia radículas
(Fig. 23-34). para formar a raiz espinal do nervo acessório ÍS.
O segmento extracraniano inicia assim que o nervo
glossofaríngeo emerge do forame jugular para o interior
do espaço carotídeo.
CONCElTOS-CHAVE. O NC XI com freqüência é lesionado du
rante esvaziamento cervical radical. Procure por atrofia
do músculo trapézio e hipertrofia compensatória do mús
culo elevador da escápula ipsilateral.

NERVOS CRANIANOS IX, X E XI

Nervo glossofaríngeo (NC IX)


• Funções
o Paladar/sensação para o terço posterior da língua
o Sensibilidade para a orelha média e faringe
o Parassimpático para a glândula parótida
o Motor para o estilofaríngeo
o Visceromotor para o corpo/seio carotídeo 23-30 Imagem ponderada em T2 demonstra o seg
mento bulbar do NC XI esquerdo S emergindo do
(continuo) sulco pós-olivar.
630 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

(continuação)
• Saída do crânio
o Forame jugular {pars nervoso)
• Conceitos-chave
o Neuropatia isolada do NC IX é rara
o Geralmente ocorre com neuropatia do X e XI
o Olhar na cisterna bulbar e lesão na base do crânio

Nervo vago (X)


• Funções
o Sensibiiidade (orelha, laringe e vísceras)
o Paladar (epiglote)
o Motor (inerva o palato mole, constritores da faringe
e da laringe)
o Parassimpático (cabeça/pescoço, tórax, abdõme)
• Saída do crânio

23-31 NC XII B emerge do bulbo no sulco pré- o Forame jugular (pars vasculoris)
■olivaí. 0 NC IX está na pars nervosa do FJ E^. Os NCs • Conceitos-chave
X S e XI ES estão na pars vascularis. o Neuropatia proximal: imagem do bulbo ao hioide
o Neuropatia distai: imagem até a artéria subclávia
(direita) e janela aortopulmonar (esquerda)
Nervo acessório espinal (NC Xi)
• Função
o Motor para os mijsculos esternocleidomastóideo e
trapézio
• Saída/entrada do crânio
o O componente espinal entra pelo forame magno e
se une com a porção bulbar
o Ambos saem pelo forame jugular {pars vascularis)
Conceitos-chave
o Pode ser lesionado durante esvaziamento cervical
radical
o Olhar para atrofia do músculo trapézio ipsilateral

Nervo hipoglosso (NC XII)


23-32 TC óssea axial demonstra o canal do hlpoglos-
50 Forame oval S] (NC Vj), forame espinhoso BI Função. O neiA/o hipoglosso é um neiA'o puramente motor
(artéria meníngea média) também podem ser vistos. que inerva os mijsculos intrínsecos e a maioria dos mús
culos extrínsecos da língua (estiioglosso, hioglosso, ge-
nioglosso).
A única exceção é o músculo genio-hioide que é iner-
vado pela raiz espinal Cl.
Anatomia. O nervo hipoglosso possui quatro segmentos
distintos. Os segmentos intra-axial, cisternal e da base
do crânio são relativamente curtos. O segmento extra-
craniano é de longe a porção mais longa e complexa do
NCXII.
O segmento intra-axial do NC Xll inicia no núcleo
hipoglosso. O núcleo hipoglosso localiza-se logo abaixo
da eminência hipoglossal do aspecto inferior do quarto
ventrículo. As fibras correm anteriormente por meio do
bulbo e emergem no sulco pré-olivar (ventrolateral) para
entrar na cisterna bulbar (basal).
O segmento cisternal estende-se desde sua saída no
23-33 Canal do hipoglosso Si (saída do NC XII),
bulbo pelas cisternas da base até a entrada do canal do
forame jugular + espícula jugular [S. O NC íX emerge
da pars nervoso B, os NCs X e XI emergem da pars hipoglosso (Fig. 23-31). Acompanhado por um plexo ve-
vasculoris 3). noso proeminente, o segmento da base do crânio do NC
Tumores dos nervos cranianos e das bainhas nervosas 631

23-34 Nervo olfatório (I), quiasma óptico (II), nervo oculomotot (ill), nervo troclear (IV) cursando anteriormente na cisterna ambiens, nervo trigé-
meo (V) com seus ramos oftálmico (V,), maxilar (Vj) e mandibular (V,). Os nervos abducenle (VI) e hipoglosso (XII) nâo são visualizados. Segmentos do
APC dos nervos facial (VII) e vestibulococlear (VIII) são mostrados. Os nervos glossofaríngeo (IX), vago (X) e acessório espinal (XI) seguem em direção
ao forame jugular. (Cortesia de M. Nielsen, MD.)

XII passa por meio do canal do hipoglosso, localizado estão localizados entre a "cabeça" e o "bico" (Figs. 23-27
no osso occipital abaixo do tubérculo jugular e do forame e 23-33).
Lesões do nervo hipoglosso causam atrofia dos mús
jugular.
O segmento extracraniano do nervo hipoglosso des culos da língua ipsilaterais. Procure por infiltração gordu
ce no aspecto posterior do canal carotídeo. Ele emerge rosa e perda volumétrica.
do espaço carotídeo entre a artéria carótida e a veia ju
gular interna, correndo anteroinferiormente em direção NERVO HIPOGLOSSO (NC Xil)
ao osso hioide levando inervaçào motora aos músculos
• Função
da língua.
o Motor para os músculos da língua
CONCEITOS-CHAVE CLÍNICOS E OE IMAGEM. O NC XII é mais fa • Saída do crânio = canal hipoglosso
cilmente identificado nas imagens axiais. O cortex do di o Na base do osso occipital
o Abaixo do tubérculo jugular e forame jugular
vo faz um ângulo reto abrupto e direciona-se em sentido
• Conceitos-chave
anterolateral para formar a parede mediai do curto e de o Procurar por atrofia por denervação ipsilateral da
orientação oblíqua canal do hipoglosso (Fig. 23-32).
língua
No plano coronal, o tubérculo jugular e o côndilo oc o Redução volumétrica, infiltração gordurosa (dos
cipital formam uma imagem que lembra a cabeça, bico músculos da língua)
e corpo de uma águia. O canal do hipoglosso e o nervo
632 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

é a NF2. A presença de schwannomas vestibulares bilate


Schwannomas rais é patognomônica de NF2. Um SV e um familiar de
Os neuropatologislas reconhecem quatro sublipos histo- primeiro grau com NF2 ou um SV em combinação com
outro schwannoma de nervo craniano, meningioma ou
lógicos de schwanommas: convencional, celular, plexi-
forme e melanocítico. A maioria dos schwannomas que glioma também é indicativo de NF2.
Schwannomatose é uma condição com múltiplos
envolve os nervos cranianos é do tipo convencional. Com
schwannomas periféricos, em geral dolorosos, sem outras
exceção do schwanomma melanocítico, os achados de
características de NF2. Esses pacientes não apresentam
imagem não permitem a distinção entre os subtipos his- evidências de SV, não possuem parentes de primeiro grau
tológicos. Ou, em vez disso, os schwannomas intracrania
com NF2 e tampouco mutação constitucional conhecida
nos convencionais são diferenciados - e assim discutidos
relacionada à NF2.
nesta seção - de acordo com o nervo do qual se originam.
A schwannomatose ocorre em 2 a 4% dos pacien
Visto que a patologia dos schwannomas intracrania
tes com schwannomas. Ocorrem tanto formas familiares
nos é semelhante, as características compartilhadas por
essas lesões serão discutidas anteriormente à discussão de quanto esporádicas da schwannomatose, e elas podem es
tar associadas tanto com schwannomas intracranianos não
cada tipo específico de schwannoma.
vestibulares quanto com schwannomas espinais.
Pacientes com schwannomatose tendem a ser mais
Visõo gerai dos schwannomas
jovens que os que se apresentam com schwannomas soli
Terminologia tários. A média de idade é de 28,5 anos.
Os schwannomas são tumores benignos encapsulados de Schwannoma plexiforme, também conhecido como
crescimento lento compostos inteiramente por células de schwannoma multinodular, é um tumor de células de
Schwann bem diferenciadas. De forma menos comum, Schwann no qual múltiplas (Fig. 23-50) lesões circunscri
são chamados de neurinomas e neurilemoma. tas ocorrem ao longo de um fascículo nervoso afetado. A
maioria é tumor restrito à derme e aos tecidos subcutâneos

Etlologia das extremidades, tronco, cabeça e pescoço. Lesões cere


Conceitos gerais. Os schwannomas originam-se das células brais não foram relatadas.

de Schwann, que são derivadas da crista neural. Por não Aproximadamente, 90% dos schwannomas plexifor-
conterem células de Schwann, os nervos olfatório (NC 1) mes são esporádicos com 5% associados com NF2 e 5%
e óptico {NC II) não desenvolvem schwannomas. Exis com schwannomatose. Diferentemente dos pacientes com
tem raros casos reportados de "schwannomas da goteira neurofibromatose tipo 1 e neurofibromas plexiformes, não
olfatória". que provavelmente se relacionam com tumores existe tendência à degeneração maligna dos schwanno
mas plexiformes.
originados de células embainhantes olfatórias.
As células de Schwann também não são componen
tes normais do parênquima cerebral. O raro schwanno Patologia
ma intraparenquimatoso provavelmente tem origem em Localização. Os schwannomas têm origem na junção entre a
remanescentes de células da crista neural que depois ex glia e as células de Schwann dos NCs 111-XlI. A distância do
pressam de modo errado a diferenciação para células de cérebro para a interface onde a cobertura glial termina e as
Schwann aberrantes. Schwannomas intramedulares (me células de Schwann embainhantes começam varia conforme
dula espinal) são mais comuns que schwannomas no inte cada nervo craniano. Em alguns, como o nervo oculomotor
rior do parênquima cerebral. (NC 111), a junção está bastante próxima ao cérebro. Nes
te caso, os schwannomas originam-se próximos da emer
Genética. O supressor tumoral da neurofibromatose tipo
2 (NF2) Merlin é uma proteína cuja ausência resulta em gência do nervo. Em outros, como no schwannoma vesti-
bulococlear (NC VIII), a junção está a alguma distância da
morfogênese defeituosa e gênese tumoral em vários teci
dos. Estudos genéticos têm associado schwannomas espo emergência ou entrada do nervo no tronco encefálico.
Os nervos sensitivos são muito mais afetados pelos
rádicos c relacionados à NF2 (especialmente os schwan
schwannomas quando comparados aos nervos cranianos
nomas vestibulares [SV]) ao gene supressor tumoral NF2
localizado no cromossomo 22. Cerca de metade dos casos
puramente motores. O nervo vestibulococlear é de longe o
local intracraniano mais comum (95%). O segundo local
de NF2 representam novas mutações, sugerindo que exis
mais comum é o nervo trigêmeo (NC V) (2 a 4%).
ta uma alta taxa de mutação deste gene.
Os schwannomas de outros nervos que não sejam o
Inativação bialélica (o clássico "mecanismo dos dois NC VIII e V são muito raros, respondendo por apenas
eventos") do gene NF2 é detectada em todos casos de I a 2%. Como grupo, os schwannomas do forame jugular
schwannomas vestibulares e em aproximadamente 50 a
70% dos meningiomas. (i.e.. schwannomas com origem nos nervos glossofarín-
geo, vago e acessório espinal) são o terceiro tipo mais co
SÍNDROMES TUMORAis HERDADAS. A síndrome mais comum de mum, seguidos pelos schwannomas faciais (NC VIII) e do
predisposição tumoral que causa múltiplos schwannomas hipoglosso (NC XII). Na ausência de NF2, os schwanno-
Tumores dos nervos cranianos e das bainhas nervosas 633

23-35 Ilustrações no plano axial (esquerda) e sagital (direita) de 23-36 Justaposição dos clássicos padrões "Antoni A" celular SI e
monstra um schwannoma se originando dentro de um nervo unifascicu- "Anion! B" pouco celular do schwannoma convencional. (Corlesia de
lar. O tumor desloca outras fibras nervosas perifericamenle E3. A. Ersen, MD, B. Scheithauer, MD.)

mas dos NCs III, IV e VI são todos muito raros. Schwan dem demonstrar hipercelularidade e pouca atipia nuclear. Fi
nomas intraparenquimatosos existem, mas são raros. guras mitóticas freqüentes e índices proliferativos aumenta
dos podem ser vistos em crianças jovens. Os schwannomas
Tamanho e número. A maioria dos schwannomas intracra
celulares não sofrem transformação maligna.
nianos é pequena, especialmente aqueles que se originam
O schwannoma plexiforme pode ser tanto do tipo
de nervos motores. Alguns, os schwannomas trigeminais,
convencional quanto celular. Schwannoma mclanocítico
podem atingir grandes dimensões e envolver tanto os
pode ser benigno ou maligno (10%) com mitoses freqüen
compartimentos intra quando extracranianos. tes. macronucléolos e metástases distantes.
A maioria dos schwannomas é solitária em pacientes
previamente hígidos, sendo denominados "esporádicos" Estadiamento, GRADUAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO. Os schwannomas
ou "solitários". A presença de schwannomas múltiplos no convencionais são tumores grau I da OMS.
mesmo indivíduo sugere uma síndrome de predisposição
tumoral.
S C H WA N N O M A S I N T R A C R A N I A N O S
Patologia macroscópica. Os schwannomas originam-se ex-
cenlricamenie nos nervos e são lesões bem encapsuladas Sinônimos
• Neurliemoma, neurinoma
de margens definidas (Figs. 23-35 e 23-37). Alterações
císticas são comuns, assim como tonalidade amarelada de
Epidemiologia
vido ao acúmulo de lipídeos (Fig. 23-38). Pode haver he • Vestibular (NC VIII) é o mais comum (95%)
morragia, porem sangramentos macroscópicos são raros. o Todos os outros locais combinados (1 a 5%)
• O nervo trigêmeo (NC V) é a segunda localização mais
Características microscópicas. Um padrão bifásico é típico
c o m u m
do schwannoma convencional. O padrão "Antoni A" • Forame jugular (NCs IX, X e XI) é a terceira localização
consiste em fascículos compactos de células fusiformes mais comum
alongadas que demonstram colunas alongadas de núcleos • Hipoglosso (NC XII) é o quarto local mais comum
fusiformes (corpos de Verocay). Um padrão menos celu • Todas as outras localizações são raras, exceto na NF2
lar. com textura menos densa e arranjo aleatório, contendo • Schwannomas intraparenquimatosos são muito raros
agrupamentos de células preenchidas por lipídeos. é cha
mado de padrão "Antoni B" (Fig. 23-36). Figuras mitóti- Patologia
• Tem origem na junção entre as células gliais e as
cas são raras. A imuno-histoquímica é caracterizada por células de Schwann
forte positividade para a proteína SI00. o A distância do cérebro varia de acordo com o NC
O schwannoma celular consiste de tecido "Antoni A",
(continua)
porém não apresenta corpos de Verocay. Esses tumores po-
634 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorals

23-37 iluslraçâo de um grande schwannoma vestibular demonstra 23-38 Espécime de necropsia demonstra um schwannoma vestibu-
o aspecto clássico de "sorvete na casquinha". Observe a fenda de iocociear Cor amarelada e hemorragias petequiais são comuns.
vasos e LCS entre o pedúncuío cerebelar médio ES e o hemisfério Observe a fenda de LCS e vasos S) entre o tumor e o cérebro. (Cortesia
cerebeiar [í>i. de 8, Horten, MD.)

(continuoçõo) A recorrência após remoção cirúrgica de um schwan


noma convencionai é incomum. Cerca de 30 a 40% dos
• Tumor benigno encapsulado da bainha nervosa
• Células neoplásicas de Schwann bem diferenciadas schwannomas celulares recorrem após ressecção total,
• Histologia bifásica com dois componentes mas não sofrem transformação maligna.
o Compacto, com celularidade altamente organizada Os schwannomas raramente, ou talvez nunca, sofrem
("Antoni A") degeneração maligna. A maioria dos "schwannomas ma
o Menos celular, matriz mixoide ("Antoni B") lignos intracerebrais" é provavelmente um tumor maligno
da bainha de nervos periféricos (ver a seguir).
Aproximadamente, 10% dos schwannomas mela-
Aspectos clínicos nocíticos são malignos. Em quase metade desses casos,
Epidemiologia. a maioria dos schwannomas ocorre fora do
os pacientes apresentam o complexo de Carney, uma
SNC, mais freqüentemente na pele e nos tecidos subcu- doença autossômica dominante caracterizada por pigmen-
tâneos. Os schwannomas intracranianos são incomuns, tação lentiginosa facial, mixoma cardíaco e excesso de
constituindo cerca de 7% de todas neoplasias primárias. atividade endócrina (p. ex., puberdade precoce, adenoma
hipofisário com acromegalia, síndrome de Cushing com
Demografia. Todas as idades são afetadas, porém o pico de hiperplasia multinodular suprarrenal).
incidência está entre os 40 e 60 anos. Os schwannomas
ocorrem em crianças, porém são incomuns nessa faixa Opções de tratamento. Dependendo do tamanho, da loca
etária, ao menos que associados com NF2. Não existe pre lização e dos sintomas, as opções de tratamento vão de
dileção por gênero.
observação cuidadosa até cirurgia e radiocirurgia estere-
otáxica.
Apresentação. A maioria dos schwannomas é assintomáti-
ca. e quaisquer sintomas se relacionam com a localização. Imagem
Como os schwannomas preferem nervos sensitivos, sinto Características gerais. A neuroimagem demonstra uma le
mas motores são raros. Os schwannoma vestibulococlear, são extra-axial bem circunscrita que se origina dentro ou
o tipo intracraniano mais comum, apresenta-se com hipo- próximo de um nervo craniano.
acusia neurossensorial (ver a seguir).
Achados na TC. A maior parte dos schwannomas são hete
História natural. Schwannomas são tumores benignos que rogêneos na TC. Alterações císticas são comuns, hemor
tendem a crescer muito lentamente. A exceção são os S Vs ragia é incomum e calciflcações são raras. Realce intenso
em pacientes jovens com NF2. Esses tumores apresentam moderadamente heterogêneo após administração de con
altos índices MIB-l. traste é a regra.
Tumores dos nervos cranianos e das bainhas nervosas 635

Achados na RM. Os schwannomas são em geral isointen-


sos ao cérebro nas imagens ponderadas em TI e hetero-
geneamente hiperinlensos nas imagens ponderadas em
T2/FLAIR (Figs. 23-39 e 23-41). Embora a hemorragia
intratumoral seja rara, imagens ponderadas em T2* (GRE,
SWI) com freqüência demonstram artefato de susceptibi-
lidade magnética por focos de microssangramentos.
Praticamente todos os schwannomas sofrem intenso
realce. Cerca de 15% apresentam cistos intratumorais sem
realce. Cistos peritumorais não neoplásicos ocorrem em
15% dos casos, em especial nas grandes lesões.

Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferenciai de um nervo craniano solitá
rio aumentado e com realce inclui schwannoma, escle-
rose múltipla, neurite viral e pós-viral, doença de Lyme, 23-39A Séries de imagens demonstra um SV clássi
sarcoidose, isquemia e neoplasias malignas (metástases, co. Imagem ponderada em Ti demonstra que a lesão
E3 é isoinlensa à SC e parece um "sorvete na casqui
linfoma, leucemia).
nha".
A causa mais comum de múltiplos nervos cranianos
com realce é a metástase. NF2. neurite (especialmente
doença de Lyme), linfoma e leucemia são causas menos
importantes de metástases. Causas raras, porém impor
tantes, incluem esclerose múltipla e polineuropatia crô
nica desmielinizante inflamatória, doença que costuma
afetar os nervos espinais, mas que pode envolver nervos
cranianos.

Schwannoma vestibular

Terminologia
o schwanomma vestibular (SV) é o termo preferido para o
schwannoma do NC VIII. Os SVs também são conhecidos
como schwannomas acústicos e neuromas acústicos.
Os schwannomas intralabirínticos focais, conhecidos
como schwannomas da orelha interna, formam um sub
grupo especial de schwannomas do NC VIII (Fig. 23-40). 23-39B CIS5 com cortes finos demonstra a lesão B
Os schwannomas intralabirínticos são denominados con e a íenda de LCS e dos vasos E3.
forme sua localização. Aqueles que se localizam no inte
rior da cóciea são chamados de intracocleares. As lesões
dentro do vestíbulo são chamadas de intravestibularcs

(Fig. 23-42). Se o schwannoma envolver tanto o vestíbu


lo quanto a cóciea, ele é chamado de vestibulococlear.
Um schwannoma que atravessa o modíolo da cóciea para
a profundidade do conduto auditivo interno (CAI) é cha
mado de transmodiolar. Se uma lesão cruza do vestíbulo
para a profundidade do CAI é chamada de transmacular.
Finalmente, um schwannoma extenso que cruza a orelha
interna da profundidade do CAI para a orelha média é
chamado de transótico (Fig. 23-43).

Etiologia
Conceitos gerais. Os SVs originam-se da porção vestibular
do NC VIII na junção entre as células gliais e as células
de Schwann, no interior do conduto auditivo interno, pró 23-39C Realce forte e relativamente uniforme B
ximo ao poro acústico. Esses schwannomas raramente se é visto nas imagens ponderadas em TI pós-infusão de
contraste. O tumor se estende ao fundo do CAI
originam da porção coclear do NC VIII.
636 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorals

Genética. A patogênese que envolve tanto os SVs familia do ângulo pontocercbelar, respondendo por 85 a 90% das
res quanto a maioria dos esporádicos tem sido relacionada lesões nesta topografia.
com a mutação de um único gene, o gene NF2 localizado
Demografia. o pico de apresentação está entre os 40 a 60
no cromossomo 22. Quase 60% dos SVs apresentam mu
anos. Não existe predileção por sexo.
tações com inalivação do gene NF2.
Apresentação. A apresentação mais comum é de hipoa-
Patologia cusia neurossensorial (HNS) lentamente progressiva cm
Localização. SVs podem ocorrer em qualquer localização um paciente adulto. Pequenos SVs podem se apresentar
no trajeto do nervo. Pequenos SVs com freqüência são no início com zumbido. Grandes lesões com freqüência
intracanaliculares. Lesões grandes protruem medialmente se apresentam com neuropatia trigeminal e/ou facial as
sociadas.
por meio do poro acústico para o interior do ângulo pon-
tocerebelar (APC). História natural. A taxa de crescimento do SVs varia. Na
Tamanho e número. A maioria dos SVs é arredondada ou média, eles tendem a aumentar entre 1 ou 2 milímetros
ovalada, e em geral mede entre 2 a 10 mm de comprimen por ano. Cerca de 60% crescem muito lentamente (me
to. Os SVs que se estendem para o APC podem se tomar nos de 1 milímetro por ano), enquanto 10% dos pacientes
grandes, acima de 5 centímetros de diâmetro. SVs bilate apresentam crescimento rápido das lesões (mais de 3 mi
rais são patognomônicos de NF2. límetros por ano).
A taxa de crescimento dos SVs associados com NF2

Aspectos clínicos em geral é considerada mais agressiva se comparada a dos


Epidemiologia. o SV é o schwannoma intracraniano mais SVs esporádicos.
comum. SV também é a lesão mais comum na cisterna

23-40 ilustração demonstra


um SV intracanaiicuíar como um
aumento fusiforme do nervo
l~>l-
23-41 (Superior) Um pequeno
SV intracanaiicuíar BSI é mostra
do na imagem ponderada em TI
pós-contraste. (inferior) Imagem
ponderada em T2 de alta resolu
ção no piano axiai do mesmo pa
ciente demonstra o SV como uma
massa isointensa arredondada no
CAI B. Observe o "capuz" de
LCS no fundo do CAI E3.

23-42 Imagem ponderada


em TI pós-contraste demons
tra um pequeno schwannoma
intraiabirintico com realce ES.
Por envolver apenas o vestibuio
é chamado de schwannoma
intravestibuiar. O CAI B está
normal.
23-43 imagem ponderada
em T2 no piano axial demonstra
um schwannoma que envolve
o vestibuio E3 e a cóciea B.
Um pequeno nóduio tumoral
B pode ser visto no fundo do
CAI, portanto, trata-se de um
schwannoma transótico.
Tumores dos nervos cranianos e das bainhas nervosas 637

Opções de tratamento. As opções de tratamento variam. graíla por RM com modelagem do tumor pode demons
Uma observação cuidadosa de lesões pequenas com ima trar a localização precisa dos NCs que circundam um
gens seriadas é freqüente, em especial em pacientes mais grande SV.
idosos. A remoção cirúrgica ou a radioterapia estereotáxica
são outras possibilidades terapêuticas. A abordagem cirúr Diagnóstico diferencial
gica varia conforme o tamanho e a localização tumorais, o principal diagnóstico diferencial do SV é o meningio
bem como com a possibilidade de preservação auditiva. ma do APC. A maioria dos meningiomas "cobre" o CAI
e não se estende para o interior do poro acústico. Entre
Imagem tanto, a presença de uma cauda durai "reacional" no CAI
Características gerais. A aparência clássica de imagem pode dificultar a distinção entre um SV e um meningioma,
é de uma lesão expansiva com ávido realce, que parece a menos que outras caudas durais ao longo da margem
um "sorvete na casquinha" (Fig. 23-37). Muitos dos SVs petrosa estejam presentes.
estendem-se medialmente a partir da origem no interior U m s c h w a n n o m a d o n e r v o f a c i a l c o n fi n a d o a o C A I

do CAI. A porção intracanalicular representa a "casqui pode ser de difícil distinção de um SV. Os schwannomas
nha". Se um SV passa pelo poro acústico, ele em geral do nervo facial são menos comuns e em geral apresentam
se expande quando entra no APC, formando o "sorvete" uma "cauda" para o segmento labiríntico do nervo facial.
sobre o cone. Cuidado: extensão ao longo do segmento labiríntico do
Definir o tamanho e a extensão do SV é um dos obje nervo facial significa que o schwannoma tem origem no
NC VII e não é um SV.
tivos mais importantes da imagem. Alguns SVs permane
cem como lesões pequenas de crescimento lento que são Metástases podem cobrir o nervo facial e vestibulo-
coclear dentro do CAI. As metástases normalmente são
inteiramente iníracanaliculares. Muitos SVs intracanali-
CLilares apresentam um "capuz" de LCS interposto entre bilaterais e acompanhadas de outras lesões.
a lesão e o modíolo. Outros crescem lateralmente, esten
Outras massas no APC como cistos epidermoides,
dendo-se profundamente para o interior do CAI, passando cistos aracnoides e aneurismas podem em geral ser di
ferenciadas facilmente dos SVs. Os SVs às vezes apre
pela abertura coclear para o modíolo. sentam cistos intramurais proeminentes, mas um schwan
Achados na TC. A TC geralmente é negativa, a menos que noma completamente cístico sem tumor periférico com
as lesões sejam grandes o suficiente para expandir o CAI realce é muito raro.
ou protruir para o interior da cisterna do APC. Os SVs
não apresentam calcificações, são moderadamente hiper- Schwannoma trigeminal
densos na TC e sofrem importante realce uniforme na TC Embora sejam o segundo tipo de schwannoma intracra
pós-contraste. TC com filtro ósseo pode demonstrar alar niano mais comum, os schwannomas trigeminais são
gamento do CAI no lado sintomático. tumores raros. Esses tumores podem envolver qualquer
Achados na RM. FLAIR de todo cérebro associado a ima parte do NC V, incluindo as divisões extracranianas peri
gens ponderadas em TI pós-contraste no plano axial e féricas do nervo. Cerca de dois terços de todos tumores do
coronal do APC e do CAI são o padrão de imagem. Um cavo de Meckel são schwannomas.
estudo de rastreamento para adultos com HNS unilateral O principal sintoma de apresentação envolve disfun-
é uma opção comum e costuma ser limitada a imagens ção sensitiva em uma ou mais das três divisões. Neuralgia
ponderadas em T2 de alta resolução, CISS ou FIESTA. do trigêmeo é incomum, embora possa ocorrer.
Análise detalhada do APC/CAl pode ser realizada com
essas seqüências, reservando estudos contrastados para Imagem
pacientes com rastreamento duvidoso. Os schwannomas trigeminais ocorrem da junção do gân
Os SVs em geral são isointensos ao cérebro nas glio de Gasser com a raiz do nervo trigêmeo (Fig. 23-44).
imagens ponderadas em TI (Fig. 23-39A). Um SV in Pequenas lesões podem ser confinadas ao cavo de Meckel.
tracanalicular se apresenta como um defeito de enchi As lesões podem apresentar um aspecto característico nas
mento hipointenso no interior do LCS brilhante no CISS imagens ponderadas em T2, o sinal do "cavo de Meckel
(Fig. 23-39B). Grandes SVs são iso a heterogeneamente piscando". Por 90% do cavo de Meckel ser normalmente
hiperintensos nas imagens ponderadas em T2. Micro-he- preenchido por LCS, qualquer lesão que preencha o cavo
morragias em T2* são comuns, embora hemorragia ma com tecidos moles contrasta com o sinal brilhante do lado
croscópica seja rara. oposto normal (Fig. 23-45).
Quase todos os SVs sofrem forte realce após admi Tumores bicompartimentais são comuns. Os schwan
nistração de contraste (Fig. 23-39C). Uma "cauda durai" nomas que se originam no cavo de Meckel podem se es
associada ao schwannoma pode estar presente, porém é tender para a fossa posterior (através do poro trigeminal).
rara se comparada a dos meningiomas. Esses tumores têm o formato característico de "halteres"
Seqüências especiais de imagem podem ser úteis no (FIg. 23-46). Menos comumente, tumores bicomparti
planejamento pré-operatório para cirurgia do SV. Tracto- mentais pode estender-se para a fossa média anteroin-
638 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

ferionnente pelo forame oval para o espaço mastigador. nas 42 casos relatados entre 1908 e 2008. A maioria (85%)
Os tumores que envolvem todas as três localizações são apresenta-se com sintomas vestibulococleares secundá
incomuns e denominados de schwannomas trigeminals rios à compressão e ao deslocamento e não sintomas ao do
tricompartimentais (Fig. 23-47). NC IX. Os schwannomas glossofaríngeos podem ocorrer
Schwannomas que envolvem a divisão mandibular em qualquer lugar no curso do NC IX, mas a maioria dos
(NC V3) podem causar atrofia por denervaçào dos múscu casos sintomáticos é inlracraniano/intraósseo.
los da mastigação.
Comparados com seus equivalentes extracranianos,
os schwannomas vagais intracranianos são raros. Os
Diagnóstico diferencial puramente intracisternais são ainda mais raros. A maio
A aparência do schwannoma tricompartimental do NC V ria dos schwannomas vagais é lesão em '"halteres" que se
é característica. Os principais diagnósticos diferenciais de estende das cisternas da base pelo forame jugular para o
um schwannoma do cavo de Meckel são meningioma e espaço carotídeo profundo (Figs. 23-48 e 23-49). Quan
mctástases. do grandes, elas podem comprimir o bulbo ventrolateral e
causar hipertensão neurogênica refratária.
Schwannoma do forame jugular Schwannomas do nervo acessório espinal não as
Embora os schwannomas respondam por aproximada sociados com neurofibromatose são muito raros. Eles po
mente 40% de todas as neoplasias do forame jugular (FJ), dem ser tanto intrajugulares quanto intracisternais.
os schwannomas do FJ constituem apenas 2 a 4% de todos Os principais diagnósticos diferenciais do schwanno
os schwannomas intracranianos. ma do FJ incluem meningioma, tumor do glome jugular
Schwannomas glossofaríngeos são os schwannomas e metástase. Apenas um schwannoma do FJ remodela e
do FJ mais comuns, embora ainda sejam raros, com ape alarga a fossa jugular lentamente.

23-44 Schwannoma trigemi


nal em "halteres". O segmento
tumoral cisterna! B é compri
mido conforme ele passa pelo
poro trigeminal 31.0 schwan
noma então expande novamente
ES quando entra no cavo de
Meckel.
23-45 (Superior) Imagem
ponderada em T2 no plano coro
nal de um schwannoma do NC V • •
Ilustra o sinal do "cavo de Meckel
piscante". O lado direito, preen
chido por LCS B contrasta com
o cavo de Meckel preenchido por
tumor ES. (Inferior) O schwan
noma sofre realce B, enquanto
o lado direito S está normal.

23-46 Grande schwannoma


trigeminal em formato de "hal
teres". O tumor é hiperintenso
nas imagens ponderadas em
T2/FLAIR B e sofre forte realce
nas imagens ponderadas em Ti
pós-contraste BI. Observe a
proeminente constrição pelo anel
durai do poro trigeminial B.
23-47 Schwannoma "tricom
partimental" gigante dos NCs
Vj e Vj com alterações císticas
e hemorrágicas alarga a fossa
pterigopalatina estende-se
da fossa posterior B para o in
terior da fossa média B, e pelo
forame oval chega ao espaço
mastigador
Tumores dos nervos cranianos e das bainhas nervosas 6 3 9

Schwannoma do nervo facial Os SNFs da fossa geniculada costumam apresentar-


-se como uma massa arredondada ou tubular com realce
Os schwannomas do nerwo facial (SNF) são lesões raras
no interior de um canal do nervo facial alargado sem as
que podem se originar no curso do nervo facial, desde sua
pecto destrutivo.
origem no ângulo ponlocerebelar até as ramificações ter SNFs que comprometem o nervo petroso superior
minais no espaço parotídeo (Figs. 23-50 e 23-51). Depen
maior são vistos como uma massa extra-axial na fossa
dendo da localização ao longo do trajeto do NC VII, os
craniana média de aspecto arredondado (FIg. 25-53).
SNFs demonstram vários padrões de imagem. A apresen
Os SNFs do segmento timpânico com freqüência são
tação clínica mais comum é a paralisia facial.
Os SNFs do APC-CAI são radiologicamenle indi- pedunculados no interior da cavidade da orelha média,
ferenciáveis dos schwannomas vestibulares se eles não
perdendo sua configuração tubular.
demonstrarem extensão para o segmento labiríntico do Quando o segmento mastóideo está envolvido, o tu
mor pode romper para o interior das células aeradas da
canal do nervo facial. As lesões que ultrapassam o seg
mastoide e assumir um aspecto mais agressivo, mimeti-
mento labiríntico com freqüência apresentam formato de
zando um tumor maligno invasivo.
"halteres".
Aproximadamente, 90% dos schwannomas do NF
Schwannomas de outros nervos
envolvem mais de um segmento do nervo facial (Fig.
intracranianos
23-52). A fossa geniculada é o local mais comum, sendo
envolvida em mais de 80% de todos schwannomas do NF. Os schwannomas de nervos motores são menos comuns
Os segmentos iabirínticos e tímpânicos são envolvidos que aqueles que se originam de nervos sensitivos ou mis
cada um em cerca de metade dos casos de schwannoma tos sensitivo-motores. Menos de 1% dos schwannomas
do NF. tem origem nos NCs III, IV, VI e XII.

23-48 Ilustração no plano co


ronal de um schwannoma vagal
demonstra o tumor alargando e
remodelando as margens ósseas
do forame jugular (3. O "bico"
da "águia" está erodido.
23-49A TC demonstra re-
modelamento ósseo do forame
jugular direito. A espinha jugular
El está erodida, porém o córtex
periférico S parece intacto
(compare com a FIg. 23-6).

23-49B Imagem ponderada


em TI pós-conlraste demonstra
uma lesão expansiva com realce
no forame jugular B.
23-49C Imagem ponderada
em TI pós-contrasle com sa
turação de gordura demonstra
uma lesão com realce intenso
B. Compare esta Imagem
com o bulbo da jugular e veia
jugular esquerda normais B.
Na cirurgia, esse schwannoma do
forame jugular provou ter origem
do nervo vago (NC X).
640 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Os "outros" schwannomas cranianos têm característi Estesioneuroblastoma, também conhecido como neu
cas semelhantes aos subtipos mais comuns nos estudos de roblastoma olfatório, é um tumor maligno raro que se ori
imagem. A maioria dos schwannomas dos nervos motores gina na cavidade nasal superior da mucosa olfatória. Este
é pequeno, arredondado ou ovalado, bem delineado, com tumor é discutido com os tumores embrionários e neuro-
forte realce após infusão de contraste endovenoso. blásticos (ver Capítulo 21).

"Schwannoma" olfatório (NC I) "Schwannoma" do nervo óptico (NC II)


As células que embainham o nervo olfatório intracraniano As neoplasias do nervo óptico (um tracto cerebral) são
são, na realidade, células glials modificadas, e não célu astrocitomas e não schwannomas. Os schwannomas intra-
las de Schwann (ver anterionnente). Tumores primários orbitáros originam-se de ramos periféricos dos nervos IV,
da bainha do NC I são muito raros. Antes chamados de V,, VI ou das fibras simpáticas ou parassimpáticas, e não
"schwannomas da goteira olfatória" ou "schwannoma do nervo óptico.
subfrontal". esses tumores são chamados de forma mais
adequada de tumores da "glia embainhante olfatória" Schwannoma oculomotor (NC III)
(GEO). A distinção entre um tumor da GEO e um verda Os schwannomas oculomotores são raros, porém são os
deiro schwannoma somente pode ser feita usando coran schwannomas puramente motores mais comuns (Fig. 23-55).
tes imuno-histoquímicos. Podem ser assintomáticos ou se apresentar com diplopia.
Os tumores do NC 1 em geral se apresentam com A localização mais freqüente do schwannoma do NC
anosmia. Muitos atingem grandes dimensões, causando III é na cisterna interpeduncular próximo do ponto onde
sinais frontais como labilidade emocional e crises convul o nervo emerge do mesencéfalo (Fig. 23-56). O segun
sivas parciais complexas (Fig. 23-54). do sítio mais comum é no seio cavemoso. A maioria dos

23-50 Ilustração no piano


axial demonstra um pequeno
schwannoma do nervo facial
de aspecto tubular envolvendo
o segmento labiríntlco E3. o
gânglio geniculado B e o seg
mento timpânico anterior E3
noNCVII.
23-51 ilustração demonstra
um grande schwannoma do ner
vo facial com comprometimento
dos segmentos do APC ES e CAI
[S. O tumor pode mimetizar
um schwannoma vestibular
("sorvete na casquinha") exceto
pela cauda do tumor Eâ se
estendendo para o interior do
segmento labirintico.

23-52 Visão aproximada


da imagem ponderada em TI • \

A
pós-coniraste demonstra um
schwannoma do nervo facial no
APC BI, estendendo-se para
o interior do CAi e gânglio
geniculado ES.
2 3 - 5 3 Va r i a n t e d o s c h w a n n o
ma do nervo facial se originou A/
de um ramo do nervo petroso
superficial maior El e se es
tende posteriormente para o
interior do segmento timpânico
El e labirintico/CAI
Tumores dos nervos cranianos e das bainhas nervosas 641

23-54A Imagem ponderada


em TI pós-contraste com satura
ção de gordura no plano sagítai
demonstra realce intenso de
uma massa subírontaí em for
mato de "halteres" B3 que se
estende por meio de uma lâmina
crivosa erodida para o interior da
cavidade nasal B.
23-54B Imagem ponderada
em TI pós-contraste no pla
no axial do mesmo paciente
demonstra que a massa de
intenso realce e limites precisos
está centrada na lâmina crivo
sa. Diagnóstico histológico de
schwannoma do nervo olfatório.
A maioria dos casos parecidos
são provavelmente tumores de
células embainhantes olfatórias,
não schwannomas verdadeiros.
(Cortesia de G. Parker, MD.)

23-55 Caso de necropsia de


um schwannoma incidental do
nervo oculomotor esquerdo E]
visto entre a artéria cerebral pos
terior acima artéria cerebe-
lar superior abaixo BI. Compare
com o NC Ml B normal. (Corte
sia de E. T. Hediey-Whyte, MD.)
23-56A Imagem ponderada
em TI pós-contraste demonstra o
nervo oculomotor direito com re
alce e aumento de tamanho BS.

23-56B Imagem ponderada


em TI pós-contraste no plano
sagital no mesmo paciente
demonstra aumento tubular do
nervo oculomotor E3 se esten
dendo do ponto em que emerge
do mesencéfalo até o seio ca-
vernoso.

23-56C Imagem ponderada


em TI pós-contraste no mesmo
paciente demonstra que o nervo
oculomotor aumentado sofre
realce intenso B9. A lesão per
maneceu sem alteração por três
anos. Diagnóstico presumido de
schwannoma.
642 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

23-57A Imagem ponderada


em T1 pós-conlraste no piano
axial com saturação de gordura
demonstra um pequeno tumor
com realce na cisterna ambiens
esquerda B.

' ■-'Wi ■
23-57B Imagem ponderada
em T1 pós-contraste no plano co
ronal com saturação de gordura
no mesmo paciente demonstra
que o tumor E3 localiza-se
ao longo do curso esperado do
NCIV, Provável schwannoma
troclear.

t " A

23-58 Ilustração demonstra


um schwannoma do hipoglosso.
Os schwannomas do NC XII apre
sentam o formato de "halteres"
com um segmento cisterna! ES,
estreitamento relativo no canal
ósseo do hipoglosso e gran
des componentes exlracranianos
S].
23-59 Visão aproximada da TC
óssea no plano coronal com um
schwannoma do hipoglosso de
monstra um canal do hipoglosso
aumentado B3 com redução da
espessura e remodelamento do
tubérculo jugular B ("cabeça"
e "bico" da águia, como visto na
Fig. 23-27).

23-60A Imagem ponderada


em TI no plano axial demonstra
atrofia da lingua com infiltração
gordurosa hiperintensa no lado
esquerdo
23-60B Imagem ponderada
em TI pós-contraste com satura
ção de gordura no plano axial no
mesmo paciente demonstra um
schwannoma do hipoglosso com
um pequeno segmento cisternal
B, canal ósseo do hipoglosso
alargado B, uma grande mas
sa tumoral extracraniana
Compare com o canal hipoglosso
direito normal SI.
Tumores dos nervos cranianos e das bainhas nervosas 6 4 3

í:
23-61A Imagem ponderada em Ti pós-conlraste demonstra uma
lesão parenquimatosa bem demarcada com intenso realce ES sem
.cr:
23-61B Imagem ponderada em TI pós-contraste no plano sagilai
do mesmo paciente demonstra que a lesão é claramente intra-axial.
edema. Schwannoma intraparenquimatoso foi diagnosticado na histopatología.

schwannomas intracranianos oculomotores é pequeno, em Schwannoma do hipoglosso (NC XIII)


geral medindo menos de 0,5 cm de diâmetro. Os schwan Os tumores hipoglossais são a forma raríssima dos "ou
nomas combinados orbitocavemosos são grandes, esten tros" schwannomas, respondendo por apenas 5% de to
dendo-se da órbita pela fissura orbitária superior para o
dos os schwannomas intracranianos não vestibulares
interior do seio cavemoso.
(Flg. 23-58). Acima de 90% se apresenta com hemiatrofia
Os schwannomas intraorbitários são raros. Como gru
por denervação da língua (Flg. 23-60).
po, eles respondem por apenas 1% dos tumores orbitários. A maioria dos schwannomas do NC XII origina-se
Geralmente esses tumores apresentam-se com proptose
no interior do crânio e pode estender-se para o exterior
progressiva e diplopia. do crânio como um tumor em formato de "halteres" que
Schwannoma troclear (NC IV) expande e remodela o canal do hipoglosso (Fig. 23-59). A
maioria são massas sólidas com realce (Flg. 23-60), em
Os schwannomas do nervo troclear são incomuns
bora alterações císticas ou mesmo hemorrágicas tenham
(Flg. 23-57). Eles causam diplopia (paralisia isolada do sido relatadas.
músculo oblíquo superior) e desvio compensatório da ca
beça que pode ser erroneamente diagnosticado como tor-
cicolo. A maioria dos schwannomas do NC IV é pequeno
Schwannomas do parênquima cerebral
e em geral são observados com cautela ou tratados com Visto que o parênquima cerebral não contém células de
óculos prismáticos. Schwann, os schwannomas não associados com nervos
cranianos são muito raros. A maioria dos casos relatados
Schwannoma abducente (NC VI) de schwannomas intraparenquimatosos é encontrada nos
Os schwannomas do nervo abducente são raros. A maioria lobos frontais e temporais. Os schwannomas parenquima-
dos pacientes apresenta-se com história de diplopia. tosos também foram descritos nos hemisférios cerebela-
Eles podem ocorrer em qualquer local ao longo de res, verme cerebelar, tronco e ventriculos cerebrais.
toda extensão do nervo, incluindo os componentes ca- Os schwannomas do parênquima podem se originar de
vemosos e orbitários. A maioria é encontrada na cisterna células da crista neural ectópicas que se deslocam durante
do ângulo pontocerebelar, adjacente à junção pontome- a embriogênese. Outras possíveis etiologias incluem ori
sencefálica. Comumente, eles deslocam o complexo do gem no plexo simpático que circunda os vasos cerebrais.
nervo facial/vestibulococlear posterossuperiormente e Patologicamente, dois terços dos casos são císticos ou
podem ser de difícil distinção nos estudos de imagem dos apresentam áreas de degeneração cística. A histologia do
schwannomas, os quais se originam no segmento cisternal schwannoma parenquimatoso é indistinguível dos outros
d o n e r v o f a c i a l / v e s t i b u l o c o c l e a r. schwannomas.
644 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

-%
Y f N

\
t

23-62A Imagem ponderada em T1 em urn homem de 17 anos com


uma lesão no escalpo de longa data e indoior que demonstra uma massa
de tecidos moles isointensa B.
Í
23-62B Imagem ponderada em II pós-contraste com saturação de
gordura do mesmo paciente mostra que a lesão sofre intenso realce B.
Um neurofibroma solitário foi encontrado na cirurgia.

Nos estudos de imagem, a maioria dos schwannomas tos por células de Schwann. Os neurofibromas consistem
intraparenquimatosos mostra-se com limites bem demar tanto de células de Schwann quanto de flbroblastos. NFs
cados. O aspecto de imagem mais comum é de um cisto também contêm outros tipos celulares, incluindo célu
com um nódulo mural e realce periférico. Um terço dos las perineurais, mastócitos, perícitos, células endoteliais
tumores sào sólidos com realce intenso homogêneo ou he e células de músculo listo. Os NFs também apresentam
terogêneo (Fig. 23-61). O edema peritumoral varia desde grandes quantidades de matriz extracelular com colágeno.
moderado a ausente. Nesta seção serão discutidos os neurofibromas soli
tário e plexiforme. A neuroflbromatose tipos 1 e 2 será
discutida no Capítulo 39.

N e u r o fi b r o m a s Neurofibroma solitário
Os neurofibromas intracranianos (NFs) sào menos co Um neurofibroma solitário na cabeça e no pescoço rara
muns que os schwannomas. Os NFs podem afetar o es mente - se não nunca - envolve um nervo craniano. Os
calpo, crânio e alguns nervos cranianos (especialmente o neurofibromas solitários afetam pacientes de todas idades
NC V,), ou raramente o cérebro. Eles são encontrados em e em geral são esporádicos (não sindrômicos). A maioria
todas as idades. Ambos os sexos são afetados igualmente. ocorre na ausência de NFl e apresenta-se como uma mas
Os NFs podem ser solitários ou múltiplos. Múltiplos sa indoior no escalpo ou na pele.
NFs e NFs plexifoimes ocorrem apenas associados com Os neurofibromas solitários são arredondados ou ova
neuroftbromatose tipo 1 (NFl). lados, sem cápsula, compostos por células de Schwann e
O aspecto macroscópico dos NFs é diferente dos flbroblastos em uma matriz mixoide ou colágena. Os neu
schwannomas. Os schwannomas são lesões encapsuladas rofibromas solitários são neoplasias grau 1 da OMS.
bem delimitadas que crescem do nervo, em geral deslo Os neurofibromas solitários do escalpo são vistos
cando os elementos normais do nervo de origem para o em estudos de imagem como massas com realce, focais,
lado. Em contraste, o neurofibroma geralmente se apre bem delimitadas, que tocam e não invadem a calvária
senta como expansão mais difusa do nervo. Ele mostra
(Fig. 23-62).
fascículos únicos ou múltiplos que entram e saem do ner
vo afetado. Os axônios do nervo acometido passam pelos
Neurofibroma plexiforme
neurofibromas e misturam-se com as células tumorals, o
que também os distingue dos schwannomas. Terminologia e etiologia
O aspecto microscópico dos NFs também difere dos Os neurofibromas plexifonmes (NPs) são neoplasias infil-
schwannomas. Os schwannomas são puramente compos trativas intra ou extraneurais que ocorrem quase exclusi-
Tumores dos nervos cranianos e das bainhas nervosas 645

vãmente em pacientes com NFl (Fig. 23-63). Raramente, Características microscópicas e macroscópicas. Macroscopi-
esses tumores ocorrem sem outros sinais de NF1. Inativa- camente os NPs apresentam-se como um "saco de ver
ção biaiélica do gene NFl tem sido identificada em casos mes" (FIg. 23-65). Os NPs demonstram padrão de cres
esporádicos de NPs. cimento intrafascicular predominante, com segmentos
redundantes de fascículos nervosos expandidos mistura
dos com fibras colágenas e material mucoide (Flg. 23-66).
Patologia
Localização. Aproximadamente um terço de todos NPs são Estadiamento, graduação e classificação. Os NPs são neopla
encontrados na cabeça e no pescoço. Os NPs cranianos sias grau I da OMS.
envolvem os NCs V. IX e X. A localização mais típica é
no escalpo, órbita, fossa pterigopalatina e glândula paró- Aspectos clínicos
tida. Os NPs da órbita ou do escalpo com mais freqüência Os NPs são a maior causa de morbidade em pacientes com
envolvem os ramos oftálmicos do nervo trigêmeo. Os NPs NFl. Cerca dc 5% dos NPs acabam degenerando para tu
parotideos envolvem ramos periféricos do nervo facial. mores malignos periféricos de bainha nervosa.
Os NPs extracranianos são vistos comprometendo
múltiplos conipartimentos sem respeitar limites fascials. Imagem
Os NPs orbitários podem expandir a fissura orbitária su Características gerais. Os NPs são massas de tecidos moles
perior e estender-se para o interior de um seio ou para tão vermiformes, pobremente delineadas que infiltram difusa
longe quanto o cavo de Meckel (Fig. 23-64). mente o escalpo, a órbita e a glândula parótida.
Tamanho e número. Os NPs costumam ser extensos e difu Achados na TC. Os NPs infiltram e espessam os tecidos
samente inflltrativos. Lesões de múltiplos tamanhos são moles, do escalpo e da periórbita. Eles costumam ser Íso-
típicas. densos aos músculos. Calcificação e hemorragia são raras.

23-63 Ilustração demonstra


NP difusamente infillrativo, de
formando o escalpo ES.
23-64 Ilustração no plano
axial demonstra NP extenso B
da face e órbita à direita, infil
trando o seio cavernoso em
um paciente com NFl. Buftalmo
("olho de boi") hipoplasla
da asa do esfenoide S e outras
características da NFl são ilustra
das nesta imagem.

23-65 Patologia macroscópica


demonstra um neurofibroma
plexiforme com múltiplos fascí
culos aumentados, de formato
vermiforme. (Cortesia de R. Hew
lett, MD.)
23-66 Ilustração demonstra
a diferença entre schwannomas
(acima) e os neurofibromas
(abaixo). Schwannomas B
deslocam os fascículos nervosos
enquanto os neurofibromas B
se infiltram entre os fascículos.
646 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

23-67 TC pós-contraste demonstra NP como uma massa infiltrativa 23-68 Imagem ponderada em 12 de uma paciente com NF1 demons
com mínimo realce E3 que envolve os tecidos subcutâneos e a glândula tra os achados característicos do NP. Massas hiperintensas multílobuladas
parótida. Outro NP é visto no músculo pré-vertebral esquerdo ^3. (Cor B com hipointensidade puntilormes centrais E3 são típicas. (Cortesia
tesia de C. Glastonbury, MD.) de C. Glastonbury, MD.)

A TC pós-contraste demonstra realce heterogêneo


NEUROFIBROMA
(FIg. 23-67). A TC com filtro ósseo pode demonstrar ex
Neurofibroma solitário
pansão da fissura orbitária superior e da fossa pterigopa-
latina.
• A maioria é esporádica (não sindrômica)
• Todas as faixas etárias (crianças a adultas)
Achados na rm. Os NPs são isointensos nas imagens pon • Nodular a polipoide
deradas em TI e hiperintensos nas imagens ponderadas • Escalpo, pele
em T2. Realce intenso, algumas vezes heterogêneo, é tí • Raramente (ou nunca) envolve os nervos cranianos
pico. O sinal do "alvo", uma hipointensidade dentro de Neurofibroma piexiforme
um fascículo tumoral com realce periférico, é visto em • Patologia
alguns NPs, porém não é considerado patognomônico o Composto por células de Schwann + fibroblastos e
(Fig. 23-68). material mucoide
o Fusiforme, infiltra os nervos
Diagnóstico diferencial o Freqüentemente multicompartimental
O principal diagnóstico diferencial no NP é o tumor o Não respeita os limites fascials
• Aspectos clínicos
maligno de bainha nervosa periférica (TMBNP). o Geralmente diagnóstico de NFI
Como muitos TMBNPs iniciam-se dos NPs, a dife
o NPs "esporádicos" podem ocorrer sem outros
renciação precoce pode ser difícil. Se um NP prévio sinais de NF2, mas a maioria apresenta alteração
quiescente aumenta com rapidez ou se torna doloroso, genética
a degeneração maligna para um TMBNP deve ser sus o Risco de generação maligna no NP = 5%
peitada. A maioria dos TMBNP são tumores invasivos e o Aumento rápido/doloroso, invasão? Suspeitar de
i n fi l t r a t i v e s . TMBNP!
Os schwannomas são lesões solitárias bem circuns • Imagem
critas que envolvem os nervos cranianos, especialmente o o Lesões multifocais no escalpo e na órbita são mais
c o m u n s
NC Vlll. Em contraste com o NP, os schwannomas do es-
o Aspecto de "saco de vermes"
calpo e da órbita são incomuns. Carcinoma basocelular o Pode alargar a FOS, estender-se para o seio
e metastases infiltrando a pele/escalpo sem envolvimento
cavernoso
concomitante do crânio são raros. Os sarcomas e os linfo- o Envolvimento intracraniano é raro ao menos que
mas do escalpo também são raros. Quando presentes, são
haja degeneração maligna
lesões mais difusamente inflltrativas e homogêneas sem
tecido normal interposto com a massa. (continua)
Tumores dos nervos cranianos e das bainhas nervosas 647

' ■ ^
^ í j

23-69A Um paciente com NF1 e NP de longa data apresentou cresci 23-69B Imagem ponderada em Ti pós-conlrasle mostra que a massa
mento rápido da massa, a qual se tornou dolorosa. Imagem ponderada sofre realce intenso e muito heterogêneo. O tamanho, a extensão e a
em TI demonstra uma massa de tecidos moles invadindo a base do crâ natureza agressiva da lesão são diferentes dos exames prévios. TMBNP
nio e a medula cervical alta. foi diagnosticado na cirurgia.

neural. A outra metade origina-se de tumores benignos


(continuação) preexistentes da bainha nervosa. As lesões precursoras
• Diagnóstico diferencial i d e n t i fi c a d a s e d e s c r i t a s c o m T M B N P i n c l u e m t a n t o o
o TMBNP (invasivo) neurofibroma intraneural solitário quanto o plexiforme.
o Schwannoma (geralmente lesões solitárias na A transformação maligna dos schwannomas celulares ou
pele/escalpo, schwannomas plexiformes são raros) convencionais é rara.
o Metastases
Aproximadamente, dois terços dos TMBNPs são re
lacionados com degeneração maligna de tumores associa
dos com NF1. O risco ao longo da vida de desenvolver um
MPNST em qualquer localização para um paciente com
NF é estimado em 8 a 13%.
Neoplasias malignas das bainhas
n e r v o s a s Patologia
Tumor maligno de bainha nervosa periférica LocauzaçÀO. Os TMBNPs são muito mais comuns nos ner
vos periféricos e espinais do que nos nervos cranianos.
Terminologia O local mais afetado no crânio são os nervos vestibular,
Um tumor maligno de bainha nervosa periférica (TMB- facial e trigêmeo. TMBNPs intracranianos não associados
NP) é qualquer tumor que se origine de um nervo peri com nervos cranianos são raros.
férico ou demonstre diferenciação em nervo periférico.
Tamanho e nijmero. A maioria dos TMBNPs apresenta mais
Esse termo substitui designações como schwannoma ma
de 5 centímetros, embora lesões intracranianas possam ser
ligno, neurofibroma maligno, neurossarcoma e neurofi- menores no momento do diagnóstico.
brossarcoma.

Quando ocorre no interior do crânio, um TMBNP é Características microscópicas. O TMBNP é uma lesão alta
chamado, algumas vezes, de tumor maligno intracerebral mente infiltrativa, hipercelular, que mostra feixes de cé
da bainha nervosa ou tumor maligno intracraniano primá lulas malignas em proliferação com numerosas mitoses.
rio da bainha nervosa. A imuno-histoquímica diferencia os tumores da bainha
nervosa dos sarcomas de partes moles. A maioria dos
Etloiogia casos demonstra imunorreatividade forte e difusa para a
Cerca de metade de todos TMBNPs ocorre esporadi proteína p53 associada com positividade para SIOO e co-
camente, a maioria de células pluripotenciais da crista lágeno IV-laminina.
648 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Tumor de Triton é um subtipo de TMBNP que apre


Diagnóstico diferencial
senta diferenciação rabdomiossarcomatosa.
Pequenos TMBNPs podem ser indistinguíveis de tumo
Estadiamento, graduação e classificação. Os TMBNP com res periféricos de bainha nervosa benignos. O principal
freqüência são graduados de acordo com a classificação diagnóstico diferencial de um TMBNP do escalpo ou na
de Enneking para sarcomas ósseos e de tecidos moles das base do crânio é um neurofibroma plexiforme (NP).
extremidades. Em contraste, os TMBNPs intracranianos Ambos são difusamente infiltrativos e apresentam mar
são graduados (como todos os tumores cerebrais) pelo sis gens pobres. Quando os NPs estendem-se para o interior
tema da OMS. Quase todos TMBNPs intracranianos são do crânio, eles expandem os forames e as fissuras e não
invadem diretamente o cérebro ou o osso. Aumento rápi
histologicamente de alto grau e designados como neopla
sias grau 111 e IV da OMS. do e destruição óssea são mais consistentes com TMBNP.
O raro TMBNP do parênquima cerebral que não é
Aspectos clínicos associado ao nervo craniano é indistinguível de outras
Epidemiologia. Os TMBNPs são raros, respondendo por neoplasias altamente agressivas, inclusive neoplasias ma
apenas 0,001% das neoplasias malignas. Os que se origi lignas. Os principais diagnósticos diferenciais incluem
nam de nervos cranianos são ainda mais raros. Os TMB glioblastoma multiforme, gliossarcoma, fíbrossarcoma
e histiocitoma fibroso maligno.
NPs intracranianos não associados com nervos cranianos
são raros.

Demografia. Embora possam ocorrer em todas as faixas TUMOR MALIGNO DA BAINHA

etárias, os TMBNPs esporádicos são primariamente tu NERVOSA PERIFÉRICA


mores de adultos de meia-idade e idosos. O pico de in
Terminologia
cidência encontra-se entre os 50 e 60 anos. Os TMBNPs • TMBNP é o termo aceito (substitui schwannoma
associados com NFl ocorrem mais precocemente. com maligno, neurofibrossarcoma)
idade média entre 20 e 35 anos, Os TMBNPs demonstram
uma leve predominância feminina. Patologia
• Localização
Historia natural. Os TMBNPs intracranianos são tumores
o Periférico/espinal > > nervos cranianos
o Vestibular, facial e trigeminal são localizações
agressivos, de crescimento rápido, altamente invasivos,
intracranianas mais comuns
que em geral apresentam o mesmo prognóstico daqueles • Características
localizados nos nervos periféricos e espinais. Os TMBNPs o Amplamente Inflltrativo
são fatais em dois terços de todos pacientes. A maioria o Células fusiformes malignas, numerosas mitoses
morre como resultado de metástases disseminadas apesar o Imuno-histoquímica diferencia o TMBNP de outros
do tratamento cirúrgico, radioterápico e quimioterápico. sarcomas
o OMS grau III e IV
Opções de tratamento, Ressecçào tumoral completa com
radioterapia adjuvante é a base do tratamento. Mesmo Aspectos clínicos
com margens livres, a recorrência é comum (40 a 70%). • Raro, geralmente em adultos de meia-idade e Idosos
• Em pacientes mais jovens se associados com NFl
A sobrevida dos pacientes com ressecção tumoral subtotal
• Podem recorrer ("de novo") ou se originar de
geralmente é menor que um ano.
degeneração maligna de neurofibroma
• 8a 13% de risco para TMBNP em um neurofibroma
Imagem plexiforme
Não existem características óbvias que possam diferen
ciar os TMBNPs de tumores de bainha nervosa benignos Imagem
• Sem características de imagem distintas
em um único estudo de imagem. Necrose macroscópica • Comportamento nos estudos de imagem seriados é o
ou hemoiragia são raras. Alguns poucos tumores no início melhor indicador
podem demonstrar invasão cerebral ou craniana francas, • Rápido crescimento agressivo
margens indefinidas e edema. A espectroscopia por RM • Invasão e disseminação liquórica
não é específica. Elevação da colina é comum.
E o comportamento em exames de imagem seriados
que ajuda a diferenciar o TMBNP dos tumores benignos Outros tumores de bainha nervosa
de bainha nervosa. Crescimento agressivo com invasão Outras neoplasias às vezes envolvem os nervos cranianos,
cerebral e óssea é típico (Fig. 23-69). A disseminação no embora a maioria seja muito mais comum em nervos e em
LCS com freqüência é identificada após o diagnóstico ini tecidos moles periféricos. Exemplos incluem o perineu-
cial ter sido estabelecido. Metástases extracranianas dis roma, o tumor fibroso solitário e o neurofibrossarcoma.
tantes, na maioria das vezes para os pulmões, são comuns. Esses tumores apresentam graus variados na classificação
Tumores dos nervos cranianos e das bainhas nervosas 649

da OMS, variando de benigno (grau I) a maligno (graus series with long-term follow-up. J Neurosurg. 114(3):756-62,
2 0 11
lie III).
Os perineuromas intraneurais respondem por apenas
1% dos tumores de bainhas nervosas. Os perineuromas Schwannoma vestibular
• Kohno M el al: Is an acoustic neuroma an epiarachnoid
envolvendo nervos cranianos são muito raros. São rela
tados casos que envolvem primariamente ramos extracra- or subarachnoid tumor? Neurosurgery. 68(4): 1006-16;
discussion 1016-7.20! 1
nianos dos nervos facial e trigêmeo.
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meningioma. Os TFSs que se originam de NCs intracra Schwannoma trigeminal
nianos são indistinguíveis dos schwannomas nos estudos • Muto J et al: Meckel's cave tumors: relation to the meninges
de imagem, portanto, o diagnóstico definitivo pode ser
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feito somente por histologia. clinical studies. Neurosurgery. 67(3 Suppl Operative):291-8;
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650 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

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24
Linfomas, tumores
lematQDoiéticcs e histiocíticos

Linfomas 651
apenas os linfomas malignos e os tumores histiocíticos no
Linfoma primário do SNC 652 grupo das neoplasias hematopoiéticas, incluiremos leuce
Linfoma intravascular (angiocêntrico) 658 mia neste capítulo, mesmo que o acometimento do SNC
Linfomatose cerebral 661 pela doença deva-se quase exclusivamente de forma se
Linfoma M A LT 661 cundária à doença sistêmica. O acometimento do crânio e
Granulomatose linfomatoide 661 do cérebro pelo plasmocitoma e pelo míeloma múltiplo
Doença linfoproliferativa pós-transplante 662 é também secundário à doença extracraniana, porém essas
Linfoma metastático intracraniano 664
condições também são incluídas aqui, em vez de no Capí
Tumores histiocíticos 667
tulo 27, sobre metástases.
Histiocitose de células de Langerhans 667
Histiociloses de células não Langerhans 670
Histiociloses malignas 674
Tumores hematopoiéticos e lesões pseudotumorais....675 Linfomas
Leucemia 675
Tumores de células plasmocitárias 678 o SNC pode ser acometido por várias lesões linfoides
Hematopoiese extramedular 681 que ocorrem como tumores primários ou como depósitos
metastáticos de doença extracraniana. Em conjunto, as
O espectro das neoplasias hematopoiéticas e das lesões neoplasias linfoides representam o sexto maior grupo de
pseudotumorais varia de lesões não neoplásicas como he malignidades do SNC.
Todas as neoplasias linfoides, incluindo o linfoma, o
matopoiese extramedular e histiocitoses a neoplasias fran
camente malignas, como o linfoma. mieloma e a leucemia linfoide, originam-se da transfor
Começaremos nossa discussão com a lesão mais fre mação maligna de células linfoides normais. O SNC não
qüente: o linfoma do SNC. Focaremos primeiro no lin possui vasos linfáticos e tecido linfoide, como e por que
foma primário do sistema nervoso central (SNC). A os linfomas podem se originar como neoplasias primárias
seguir, discutiremos os outros subtipos de linfoma pri do SNC ainda é desconhecido. E evidente que as células
mário do SNC, incluindo o linfoma intravascular (an do linfoma - independentemente se elas se originaram
giocêntrico), um linfoma de SNC muito especial que se dentro ou fora do cérebro - exibem um neurotropismo
dissemina pelos vasos sangüíneos e ao longo dos espaços distinto e altamente seletivo para o microambiente e vas-
perivasculares. cularizaçâo do SNC.
As condições linfomatoides não malignas e pré-malig- Mais de 95% dos linfomas primários do SNC (LPSNC)
nas. incluindo a granulomatose linfomatoide e a doença são linfomas difusos de grandes células B (LDGCB). Ou
linfoproliferativa pós-transplante, às vezes podem afe tros subtipos de LPSNC representam menos de 5% dos ca
tar o SNC. Ambas são discutidas na seção de linfomas. sos. Os linfomas de Hodgkin (LH) do SNC são incomuns.
Os tumores histiocíticos podem acometer o SNC. A maioria é observada no contexto de doença sistêmica
Essas neoplasias e massas pseudotumorais não neoplási avançada, porém poucas lesões primárias do SNC foram
cas são compostas de histiócitos, que são microscopica- descritas. Os linfomas extranodais de células T natural kil
mente idênticos às suas contraparles extracranianas. Tanto ler (NK.) costumam acometer a cavidade nasal e afetam o
a histiocitose de células de Langerhans quanto as histio SNC apenas quando elas se estendem para a fossa craniana
citoses de células não Langerhans são discutidas. anterior por meio da lâmina cribriforme.
Em seguida, voltaremos nossa atenção à leucemia. Começaremos nossa discussão sobre o linfoma primá
Apesar da classificação da Organização Mundial da Saú rio do SNC enfocando o LDGCB. Em seguida, abordaremos
de (OMS) mais recente para as neoplasias do SNC incluir alguns linfomas não LDGCB, incluindo o linfoma intravas-
652 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

24-1 Múltiplas lesões periventricuíares com acometimento dos nú 24-2 Espécime de necropsia mostra LPSNC com massas bilaterais nos
cleos da base, tálamos e corpo caloso, típicas do LPSNC. Observe a ex núcleos da base e dos tálamos e disseminação tumoral circunja-
tensa disseminação subependimária da doença LPSNCs em geral se cente ao epêndima dos ventrículos laterais [S. (Cortesia de R. Hewlett,
estendem ao longo das superfícies ependimárias. MD.)

cular. a linfomatose cerebral, o linfoma do tecido linfoide As síndromes congênitas de imunodeficiência au


associado à mucosa (MALT) e a doença linfoproliferativa mentam o risco de linfoma, assim como a grave imunos-
pós-transplante (DLPT). Finalizaremos a seção com uma supressão adquirida. As síndromes congênitas de imuno-
breve revisão sobre o linfoma metastático do SNC. (O lin deficiência incluem a síndrome de Wiskott-Aldrich e a
foma metastático está incluído aqui em vez de no Capítulo ímunodcfícicncia combinada grave.
27. com as outras doenças metastáticas, porque suas carac O acometimento do SNC ocorre em 20 a 25% dos
terísticas radiológicas diferem das apresentadas pelas outras pacientes imunossuprimídos que desenvolvem linfomas
neoplasias sistêmicas que se disseminam para o cérebro.) pós-transplante (ver adiante). Entre 2 e 12% dos pacien
tes com HIV/Aids em terapia antirretroviral altamente
Linfoma primário do SNC ativa (HAART) eventualmente desenvolvem linfoma do
SNC, em geral durante os estágios tardios da doença de
Terminologia base. Esses pacientes podem exibir níveis elevados de
O linfoma primário do SNC (LPSNC) é uma rara variante citocinas estimulatórias de células B e outros marcadores
do linfoma não Hodgkin extranodal restrito ao cérebro, à de ativação imune vários anos antes do diagnóstico de
medula, aos olhos e às meninges. Por definição, a doença linfoma não Hodgkin sistêmico de células B associado
fora do sistema nervoso está ausente no momento do diag à Aids.
nóstico inicial. Genética. O LPSNC está associado com três "assina
turas" genéticas distintas, similares às do LDGCB: célula
Etiologia B do centro germinativo, célula B ativada e linfoma tipo
Conceitos gerais. Embora a etiologia precisa do LPSNC 3 de grandes células B. Vários genes associados com in-
seja desconhecida, muitos pesquisadores acreditam que terleucina-4, um fator de crescimento de células B, são
ele provavelmente se origina de células precursoras lin- expressos LPSNC.
foides do centro germinativo.
O LPSNC se desenvolve tanto em pacientes imuno- Patologia
competenles quanto em imunodeficientes. Doenças autoi- Localização. Os LPSNCs podem afetar qualquer local do
munes relacionadas ao LPSNC incluem artrite reumatoide, neuroeixo. Mais de 95% dos LPSNCs possuem contato
síndrome de Sjogren e lúpus eritematoso sistêmico (LES). com uma superfície de líquido cerebrospinal (LCS), seja o
Alguns linfomas estão relacionados a infecçòes vi epêndima ventricular ou a pia (Fig. 24-1). Os hemisférios
rais. LPSNCs associados ao vírus Epstein-Barr (EBV) cerebrais são o local preferido (85%). As lesões costu
representam cerca de 10 a 15% dos casos. mam ser profundas, com uma predileção pela substância
Linfomas, tumores hematopoiéticas e histiocíticos 653

branca periventricular, em especial o corpo caloso. Os nú Tamanho e número. As lesões dos LPSNCs variam em ta
cleos da base e os tálamos são as outras localizações mais manho, de implantes microscópicos a volumosas massas.
comuns. Disseminação tumoral ao longo do epêndima Estima-se que 40 a 60% dos LPSNCs são lesões soli
ventricular e para o plexo coroide é observada em alguns tárias. Dos LPSNCs com múltiplas lesões, metade é bila
casos (Fig. 24-2). teral. As lesões amplamente disseminadas - uma condição
O hipotálamo, o infundibulo e a hipóílse são os locais denominada "linfomatose cerebral" - são incomuns, ocor
menos comuns para o LPSNC. As lesões da fossa poste rendo em 5% dos casos (ver a seguir).
rior são raras (15% dos casos).
Patologia macroscópica. Massas hemisféricas únicas ou
O LPSNC pode desenvolver-se na dura, nas lepto-
múltiplas são típicas. Diferentemente dos astrocitomas,
meninges, na abóbada craniana e na porção central da linfomas tendem a ser lesões bem delimitadas em vez de
base do crânio, embora essas áreas sejam mais envolvi
difusamente infiltrativas. A maioria é lesão sólida e pá
das por acometimento metastático de tumores primários
lida. com pequenos focos hemorrágicos ocasionais. Ne
extracranianos.
crose franca e hemorragia intratumoral ostensiva são mais
Os linfomas primários com base durai são muito ra
comuns em LPSNCs relacionados à Aids (Fig. 24-6).
ros. A maioria consiste em linfomas de células T e linfo
mas de células B de baixo grau, freqüentemente dos tipos Características microscópicas. Os LPSNCs exibem uma pre
linfoplasmocítico ou MALT. dileção pelos vasos sangüíneos, resultando em um carac
Os linfomas oculares são quase sempre de células B terístico agrupamento linfomaloide ao redor de pequenos
de alto grau. Em contraste, linfomas dos anexos orbitários vasos cerebrais. As células tumorals estendem-se desses
são mais freqüentemente tumores do tipo MALT (ver a agrupamentos perivasculares para o interior do parênqui-
seguir). ma adjacente.

24-3 Imagem de TC sem con


traste mostra múltiplas massas
hiperdensas nas margens dos
ventrícuíos laterais B, um
achado característico no LPSNC.
24-4 Imagem de TC sem
contraste em outro paciente
com LPSNC mostra uma massa

hiperdensa em "borboleta" B
cruzando o corpo caloso.

24-5A Imagem de TC sem


contraste em um paciente com
LPSNC mostra massas hiper
densas no hemisfério cerebelar
esquerdo B.
24-5B A TC com contraste
mostra moderado realce nas
massas cerebelares. (Cortesia de
P. Hildenbrand, MD.)
654 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

A maioria dos LPSNC sào linfomas de células B de


alto grau que demonstram predominância de células blás-
ticas imaturas e com grandes núcleos pleomórflcos. O ín
dice MlB-1 é alto, excedendo 50 (mais elevado do que
o observado noglioblastoma multiforme). Os LPSNCs de
baixo grau são incomuns e correspondem histologicamen-
te às suas contrapartes sistêmicas.

LPSNC: ETIOLOGIA E PATOLOGIA

Etíologia
• Origem precisa desconhecida
• O SNC não possui vasos linfáticos e linfócitos
• Risco aumentado com
o Vírus (EBV, HIV/Aids)
o Síndromes congênitas de imunodeficiência
24-6 Espécime de necropsia de um pacienle com o Imunossupressão grave (quimioterapia, uso crônico
HlV/Alds e LPSNC mostra uma massa hemorrágica nos de corticosteroides)
núcleos da base à esquerda SI. (Cortesia de R. Hew
lett, MD.) Patologia
• 6% de todas as neoplasias primárias do SNC, porém
aumentando
• Predileção pelas porções profundas do cérebro
o SB periventricular, nijcleos da base
o Agrupamentos linfoides perivasculares comuns
• Solitário (2/3), mijltiplo (1/3)
o Mijltipios compartimentos podem estar
envolvidos
• Lesões focais > difusamente infiitrativas
• Hemorragia e necrose raras em imunocompetentes
• Maioria são linfomas não Hodgkin
• Linfomas difusos de grandes células (90 a 95%)
o Células blásticas imaturas
o MIB-1 > 50
• Linfomas de baixo grau, Burkitt, células T (5 a 10%)
• Linfomas de Hodgkin primários do SNC raros

24-7 Imagem de TC com contraste mostra necrose


e apenas tênue realce periférico ES neste pacien
Aspectos clínicos
te Hiv-positivo com LPSNC. Epidemiologia. Apesar de os LPSNCs representarem apenas
6% de todas as neoplasias malignas do SNC, a prevalên
cia vem aumentando devido à epidemia de HlV/Aids e o
uso de terapias imunossupressoras.
Demografia. Embora os LPSNCs possam ocorrer em
iodas as idades, geralmente são tumores de adultos de
meia-idade ou mais velhos. O pico de apresentação em
pacientes imunocompetentes é aos 60 anos. Em compa
ração, a idade média de início em pacientes com HIV/
Aids é 40 anos. Linfomas em receptores de transplantes
costumam ocorrer entre os 35 e 40 anos. A idade média
de início em crianças com imunodeficiências congênitas
é 10 anos. Há uma predominância geral masculina de 3:2
nos LPSNCs.

Apresentação. A maioria dos pacientes com LPSNC apre


senta déficits neurológicos focais, alteração do estado
24-8 Imagem ponderada em Ti mostra encurtamen-
mental e distúrbios neuropsiquiátricos. Crises convulsivas
to 11 devido à hemorragia subaguda ES com hemorra são menos comuns do que em pacientes com outros tumo
gia mais aguda no centro necrótico da lesão B. res cerebrais primários.
Linfomas, tumores hematopoiéticos e histiocíticos 655

História natural. Independentemente do estado imunológi-


co, o prognóstico tende a serruim. Os LPSNCs são tumores
agressivos com uma sobrevida mediana de apenas alguns
meses. Mesmo com o tratamento convencional com qui
mioterapia e radioterapia, o índice de sobrevida em cinco
anos é menor do que 10%. Os pacientes imunocompetentes
com menos de 60 anos respondem melhor do que pacientes
mais velhos com LPSNC. A sobrevida geral em pacientes
com HlV/Aids e outras formas de imunocomprometimento
com LPSNC é reduzida, não importando a faixa etária.

Opções de tratamento. O diagnóstico precoce é crucial para


o manejo apropriado do LPSNC. Como a ressecção cirúr
gica não melhora o prognóstico, é recomendada a biópsia
estereotáxica para confirmação diagnóstica e determina
ção do tipo histológico do tumor.
Assim como para linfomas não Hodgkin sistêmicos, 24-9A Imagem com ponderação em FLAIR em um
as opções de tratamento para LPSNCs incluem corticos- paciente com linfoma primário de grandes células B
mostra uma massa hiperintensa no esplênio do corpo
teroides, quimioterapia e radioterapia. Cerca de 70% dos caloso ES.
LPSNCs inicialmente respondem ao tratamento, porém re
caídas são muito comuns. Somente 20 a 40% dos pacientes
apresentam sobrevida prolongada livre de progressão.
Agentes antineoplásicos desenvolvidos para trata
mento de malignidades de células B e outras doenças im
pulsionadas por células B, como artrite reumatoide, têm
sido usados com algum sucesso em casos selecionados.
O rituximab é um anticorpo monoclonal G1 quimérlco
murino/humano direcionado ao CD20, um marcador de
superfície celular encontrado em linfócitos B.
Transplantes de células-tronco autólogos têm produ
zido resultados mistos, porém podem ser eficazes, espe
cialmente em pacientes jovens com LPSNC recém-diag-
nosticado.

Imagem
Características gerais. Os achados de imagem no LPSNC
24-98 Imagem em TI pós-contraste do mesmo pa
variam com o estado imunológico.
ciente mostra que a massa C3 realça intensamente e
A ressonância magnética (RM) craniencefálica com
quase uniformemente.
contraste endovenoso é a modalidade de escolha para a
avaliação de pacientes com suspeita de LPSNC. Como o
acometimento isolado da medula é raro (3 a 4% dos casos),
o estudo da coluna é indicado apenas em pacientes com
mielopatia ou suspeita de disseminação meníngea difusa.
Achados de TC. Os LPSNCs são tumores altamente celu
lares. As lesões de substância branca ou nos núcleos da
base em contato com uma superfície de LCS são típicas.
A maioria das lesões é hiperdensa em comparação com o
cérebro normal na tomografia computadorizada (TC) sem
contraste (Figs. 24-3, 24-4). Intenso edema peritumoral
é comum, porém necrose, hemorragia e calcificaçào são
raras (2 a 5%), a não ser que o paciente seja imunocom-
prometido (Fig. 24-7).
Os linfomas de SNC em pacientes imunocompetentes
mostram realce leve a moderado e relativamente homogê
neo (Fig. 24-5). Realce anelar irregular é raro, a não ser 24-9C A seqüência mostra restrição à difusão I
característica de massa densamente celular.
que o paciente seja imunocomprometido.
656 Neoplasias, cistos e lesões

24-1 OA LD6CB primário


multlcompartimenla! (dura e
parènquima) em urn homem
imunocompetente de 81 anos é
ilustrado nesta série de imagens.
Imagem axial em TI mostra uma
massa frontal direita isointensa
com base durai E3 e significati
vo edema peritumorai
24-1 GB A imagem ponderada
em T2 mostra que a massa Eã é
iso a discretamente hiperintensa
em relação à substancia cinzenta.

24-10C A lesão B restringe


fortemente na difusão.
24-100 Imagem axial com
ponderação TI pós-contraste
mostra que a lesão B realça
intensa e uniformemente.

24-10E Imagem axiai em TI


pós-contraste pelos ventrículos
laterais mostra uma massa
parenquimatosa mal definida
porém com intenso realce B e
uma lesão menor no lobo frontal
esquerdo S.
24-10F Imagem coronal em
TI pós-contraste no mesmo pa
ciente mostra realce multifocal
irregular.
Linfomas, tumores hematopoiéticos e histiocíticos 657

Achados de RM. Mais de três quartos dos LDGCB em pa


cientes imunocompetentes são iso a discretamente hi-
pointensos em comparação com a substância cinzenta na
ponderação TI eisointensosemTl (Fig. 24-10). Os linfo
mas de células T são leve a moderadamente hiperintensos
em T2 (Fig. 24-11).
O sinal em FLAIR é variável, porém em geral iso ou
hiperintenso. Micro-hemorragias com artefatos de suscep-
tibilidade magnética intratumorais em T2* estão presentes
em 5 a 8% dos casos. Devido à alta celularidade, mais de
95% dos LPSNCs mostram restrição à difusão leve a mo
derada (Fig. 24-9).
Quase todos os LPSNCs em pacientes imunocompe
tentes apresentam realce. Impregnação sólida homogênea
ou heterogênea é comum; realce anelar é raro. Na perfu-
são por RM, o rCBV é relativamente baixo em compara 24-11A Imagem ponderada em T2 de uma mulher
ção com o do glioblastoma. de 52 anos com LPSNC do tipo diiuso de grandes célu
Em pacientes imunocomprometidos. a hemorragia las T mostra uma massa hiper e hípointensa B com
intratumoral com encurtamento TI e artefatos de suscepti- importante edema peritumora!
bilidade na ponderação T2* é comum (Fig. 24-8). O realce
é variável, mas costuma ser leve. Realce anelar circundan
do um centro de tecido necrótico sem impregnação é típico.
Achados de FDG-PET. Os linfomas sistêmicos ocultos são
encontrados em 5 a 8% dos pacientes com presumido
LPSNC. Tomografia por emissão de pósitrons (PET) com
fluordesoxiglicose (FDG) e PET-TC são úteis na busca de
linfoma extracraniano.

Diagnóstico diferencial
o principal diagnóstico diferencial do LPSNC é o glio
blastoma multiforme (GBM). Embora ambos os tumores
cruzem o corpo caloso, hemorragia e necrose são raras no
LPSNC. O realce em pacientes imunocompetentes com
LPSNC é intenso e relativamente homogêneo, enquanto
um padrão anelar periférico é mais típico de GBM. 24-116 A massa hipercelular E3 mostra restrição à
O segundo diagnóstico diferencial mais comum do difusão. Observe o pequeno nódulo tumoral secundário
LPSNC é a metástasc. Os LPSNCs com base durai po periventricular S.
dem se assemelhar a meningiomas ou, devido à hiperden-
sidade, simular hematoma epi ou subdural agudo.
Se o paciente é imunocomprometido, o principal
diagnóstico diferencial do LPSNC é a toxopiasmose.
Uma lesão solitária com realce anelar em um paciente
com HIV/Aids é mais freqüentemente linfoma, enquanto
lesões múltiplas são mais características de toxopiasmose.
O sinal do "alvo excêntrico" é sugestivo de toxopiasmose,
embora linfomas necróticos às vezes mostrem um realce
com padrão de "anel com nódulo". A toxopiasmose é hi-
permetabólica no PET e na perfusão por RM.
A leucoencefalopatia multifocal progressiva (LEMP)
geralmente não realça. Entretanto, lesões agudas de
LEMP e a síndrome inflamatória da reconstítuíção
Imunológica (IRlS) associada ao vírus JC podem de
monstrar realce anelar. A impregnação com freqüência
possui aspecto bizarro, com anéis parciais mal delimita 24-11C Imagem em TI pós-contraste mostra que a
dos com realce circundando focos de desmielinização. massa realça intensa e uniformemente.
658 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

No contexto de transplante de órgãos sólidos ou cé


lulas hematopoiéticas, a granulomatose linfomatoíde e a
doença linfoproliferativa pós-transplante (DLPT) podem
assemelhar-se muito ao LPSNC. Uma biópsia é necessária
para confirmação do diagnóstico e manejo do paciente.

LPSNC: IMAGEM

Características gerais
• Achados variam com o estado imunológico
• Corticosteroides podem mascarar/i os achados de
imagem
• 5B periventricular e nijcleos da base são locais comuns
TC
• Hiperdenso na TC sem contraste (imunocompetentes)
• Hemorragia e necrose são raras, a não ser em
24-12 Ilustração demonstrando LI. As células malig
nas entopem os vasos, causando infiltrados perivascula- imunocomprometidos
res e hemorragias petequials. RM
• Geralmente isointensos à SC em TI e T2
• Hemorragias petequiais em imunocompetentes
• Hemorragia e necrose ostensivas em
imunocomprometidos
• Realce intenso e uniforme (anelar em
imunocomprometidos)
• Freqüentemente restringe a difusão

Diagnóstico diferencial
• Glioblastoma multiforme e metástases em
imunocompetentes
• Toxoplasmose em imunocomprometidos
• Granulomatose linfomatoíde e DIPT em receptores de
transplantes

Linfoma intravascular (angiocèntrico)


o linfoma intravascular (angiocèntrico) (LI) é um tipo
24-13 Necropsia de LI mostra infiltrados acinzenta-
raro de linfoma caracterizado pela proliferação de células
dos puntiformes e lineares IS com hemorragias pete
quials e perivasculares SI. malignas no interior de vasos de pequeno e médio calibre.
Embora possa acometer qualquer órgão, o LI costuma afe
• _ tar a pele e o SNC.
A ■?
í!. t
Terminologia
t
9
' V i
* l'-
i o LI também é chamado de linfoma angiocèntrico ou
angioendoteliotrópico, linfoma angiotrópico de grandes
.^ células, linfoma endovascular e angioendoteliomatose
•1 ' maligna.
^4•
« Etiologia
" 4
• .
O LI é um linfoma agressivo e maligno que em geral sur

' 'V ge de células B. Células T ou células NK podem às vezes


ser as células de origem. Uma possível associação de LI
- , tá
4

(especialmente do tipo NK) com EBV foi descrita.

v WM ' Patologia
24-14 Linfoma intravascular preenchendo comple A aparência macroscópica varia de normal a pequenos infar-
tamente uma arteriola cerebral com "pequenas células tos multifocals em diferentes etapas de evolução esparsos no
redondas azuis". (Cortesia de T. Tihan, MD.) córtex e na substância branca subcortical (Fig. 24-12).
Linfomas, tumores hematopoiéticos e histiocíticos 659

Massas cerebrais focais são raras. Micro-hemorragias


petequiais podem estar presentes e são mais comuns do que
sangramentos macroscópicos confliientes (Fig. 24-13).
Ao exame histologic©, células atípicas com grandes
núcleos redondos e nucléolos proeminentes são encontra
das em vasos de pequeno e médio tamanho (Fig. 24-14).
A extensão para os espaços perivasculares adjacentes é
mínima ou ausente. Coloração para CD20 é útil na identi
ficação de células tumorals, em especial quando elas são
esparsas e bastante espalhadas.

Aspectos clínicos
Epioemiologia. o li é raro. Envolvimento do SNC ocorre
em 75 a 85% dos pacientes.
Demografia. o li em geral é um tumor de pacientes de
meia-idade ou mais velhos. A idade média de apresenta 24-15A Imagem em FLAIR em uma mulher de 78
anos com confusão e declínio do estado mental mostra
ção é 60 a 65 anos.
múltiplas hiperintensidades bilaterais subcorticais e na
Apresentação. Déficits sensitivos e motores, neuropatias e SB profunda B.
múltiplos episódios semelhantes a acidente vascular cere
bral (AVC) são sintomas comuns. Alguns pacientes apre
sentam deterioração neurológica progressiva e declínio
cognitivo caracterizado por confusão e perda de memória.
Alterações de pele, com placas ou nódulos elevados, estão
presentes em metade dos casos.
História natural. O desfecho costuma ser ruim. No mo
mento da apresentação inicial, a maior parte dos pacien
tes já possui doença avançada e disseminada. O LI é uma
doença rapidamente progressiva, com alto índice de mor
talidade. A sobrevida média é de 7 a 12 meses.

Opções de tratamento. Como o LI é uma doença ampla


mente disseminada, a quimioterapia sistêmica é o trata
mento recomendado. Quimioterapia em altas doses com
transplante autólogo de células-tronco é mais usada em
pacientes mais jovens. 24-15B Imagem em TI pós-coniraste mostra realce
irregular das lesões E3.
Imagem
Não há achados de neuroimagem patognomônicos de LI.
Focos isquêmicos são o achado de imagem mais comum.
A TC pode ser normal ou inespecifica, demonstrando
apenas hipodensidades esparsas na substância branca. A
RM mostra múltiplas hiperintensidades em T2/FLAIR
(Fig. 24-15). As micro-hemorragias são comuns, então
focos hipointensos em T2* (GRE, SWI) estão com fre
qüência presentes (Fig. 24-16). Realce linear/puntiforme
orientado ao longo dos espaços perivasculares é sugestivo
de LI. Áreas multifocals de restrição à difusão podem es
tar presentes (Fig. 24-16D).

Diagnóstico diferencial
o LI é um "grande imitador", tanto clinica quanto radio-
logicamente. Uma biópsia estereotáxica é, portanto, ne
cessária para estabelecer o diagnóstico definitivo. Vascu- 24-15C Imagem em Ti pós-contraste pelos ventrí-
lite com focos de realce lineares e puntiformes pode ser culos laterais mostra numerosas lesões adicionais com
quase indistinguível do LI apenas nos exames de imagem. realce B. A biópsia revelou um linfoma intravascular.
660 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

O LPSNC, especialmente no contexto de smdro-


mes de imunodeficiência, pode simular LI. O LI é mais LINFOMA INTRAVASCULAR (ANGIOCÊNTRICO)
freqüentemente multi focai, enquanto dois terços dos Patologia
LPSNCs são lesões solitárias. O LPSNC difuso multifo • Vasos de pequeno e médio calibre preenchidos por
cal, em especial quando ocorre na forma de Hnfomatose tumor
cerebral, pode ser de difícil distinção do LI. A linfomato- • Pouco ou nenhum tumor parenquimatoso
se cerebral em geral mostra pouco ou nenhum realce. • Infartos multifocals e micro-hemorragias comuns
A leucoencefalopatia rapidamente progressiva com
Aspectos clínicos
lesões confluentes e sem realce na substância branca é • Pacientes de maior idade com demência, declínio
uma rara apresentação do LI difusamente infíltrativo do
cognitivo e AiTs
SNC, e pode mimetizar uma doença desmieiinizante ce • Lesões de peie (50%)
rebral.
A encefalitc viral subaguda pode simular LI, princi Imagem
• Hiperintensidades multifocals em T2/FLAIR
palmente na biópsia. A neurossarcoidose parenquimato- • Hemorragias e focos de restrição à difusão
sa com disseminação nodular perivascular também pode • Realce iinear/puntiforme
assemelhar-se a LI nos exames de imagem.
Diagnósticos diferenciais comuns
• LPSNC
• Vascuiite

24-16A Imagem em T2 em
um paciente de 60 anos com
história de confusão progressiva
e declínio do estado mental com
vários meses de evolução mostra
hiperintensidades mal definidas
na SB hemisférica B3.
24-16B Imagem em FLAIR do
mesmo paciente mostra várias
outras lesões adicionais. Não há
evidência de hiperintensidades
no córtex ou nos núcleos da
base.

24-16C T2'''' GRE mostra múl


tiplos focos hemorrágicos dimi
nutos E3.
24-160 A imagem em difu
são mostra múltiplos focos de
difusão restrita em ambos os he
misférios B. O paciente faleceu
pouco tempo após o exame ser
realizado. A necropsia demons
trou linfoma intravascular.
Linfomas, tumores hematopoiéticos e histiociticos 661

Linfomatose cerebral Granulomatose linfomatolde


A linfomatose cerebral é uma forma incomum de A granulomatose linfomatoide (GL) é um raro distúrbio
LPSNC. infiltração difusa de células do linfoma tanto na linfoproliferativo multicêntrico angiocêntrico e angioin-
substância cinzenta quanto na substância branca sem uma vasivo caracterizado pela proliferação de células B atípi
lesão expansiva focai é característica. cas com potencial maligno incerto.
A maior parte dos pacientes é de meia-idade ou idosa,
apresentando encefalopatia subaguda com demência rapi Etiologia
damente progressiva. Alterações de personalidade e ataxia A infecção pelo EBV é uma característica descrita na
são comuns. maioria dos casos. A GL também ocorre no contexto
Os achados de imagem são inespecíficos, com hi- de MIV/Aids e em pacientes em imunossupressào após
perintensidades em T2/FLAIR irregulares e confluentes. transplantes de órgãos sólidos. Os distúrbios adquiridos,
Pouco ou nenhum realce é típico (Fig. 24-17). O principal como a doença de Wiskott-Aldrich e a síndrome de imu-
diagnóstico diferencial é a gliomatose cerebral. nodeficiência congênita, são causas raras, porém relata
das de GL.
Linfoma MALT
Linfomas do tecido linfoide associados à mucosa (MALT) Patologia
na cabeça e no pescoço são com freqüência tumores dos o pulmão é o local mais afetado, seguido pela pele. O
anexos oculares, ocorrendo na conjuntiva, glândulas lacri- SNC é acometido em cerca de 25% dos casos.
mais, órbita e pálpebras (Fig. 24-18). As meninges crania As lesões variam em tamanho, de poucos milímetros
nas, especialmente a dura, são locais ocasionais. As lesões a até 2 centímetros de diâmetro. Grandes massas focais
são raras.
parenquimatosas são raras.

24-17A Imagem com ponde


ração em FLAIR em um paciente
idoso com confusão e alteração
do estado mental mostra exten
sas hiperlntensidades confluen
tes na SB e nos núcleos da base
de ambos os tiemisférlos B.
Observe o acometimento do es-
plénlo do corpo caloso E3.
24-17B Imagem em TI pós-
-conlraste não mostra realce. O

diagnóstico histopatológíco foi


linfomatose cerebral, (Cortesia
de T. Tihan, MD.)

24-18A Imagem em Ti pós-


-contraste em uma mulher de
63 anos com proptose à direita
mostra uma massa multlcom-
partlmental com Impregnação
intensa E3 que envolve o
espaço retrobulbar Intraconal,
os músculos extraoculares e a
glândula lacrimal.
24-18B Imagem coronal em
TI pós-contraste mostra que a
lesão preenche a órbita ES e
circunda o nervo óptico IS.
A biópsia demonstrou linfoma
MALT. (Cortesia de L. Ginsberg,
MD.)
662 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

A GL compartilha várias semelhanças histológicas Imagem


com a doença iinfoproiiferativa pós-transplante (ver a
Quase metade dos pacientes com GL possuem lesões
seguir). Infiltrados polimorfos angiocêntricos e angiodes- cerebrais demonstráveis na RM. Os achados de imagem
trutivos consistituídos predominantemente por linfócitos
são inespecíficos e não há correlação direta com o grau
misturados a plasmócitos, imunoblastos e histiócitos estão
daGL.
presentes. As anormalidades mais comuns são hiperintensida-
A GL é graduada em uma escala de 1 a 3 com base no
des nodulares multifocais em T2/FLAIR nos hemisférios
número de células B atípicas EBV-positivas e a quantida
de de necrose presente. cerebrais, no cerebelo ou na medula. O segundo achado
de imagem mais comum é o envolvimento das leptoine-
Aspectos clínicos ninges e dos nervos cranianos. Massas durais e lesões de
Pacientes de todas as idades são afetados, porém o pico plexo coroide também ocorrem.
A GL em geral impregna intensamente. Tanto padrões
de ocorrência acontece entre os 40 e 60 anos. As mani
de realce sólido quanto anelar, bem como focos de im
festações clínicas, os dados laboratoriais e os achados de
imagem são inespecíficos, portanto a biópsia é necessária pregnação puntiformes e lineares multifocais, foram des
critos (Fig. 24-19).
para o diagnóstico definitivo.
O prognóstico em geral é ruim. Entre 10 e 60% dos
pacientes com GL eventualmente desenvolvem linfomas Doença Iinfoproiiferativa pós-transplante
de grandes células B. A sobrevida média após a transfor A doença Iinfoproiiferativa pós-transplante (DLPT) é uma
mação maligna é de 20 meses. Radioterapia, quimiotera das complicações potencialmente fatais da terapia imu-
pia e anticorpos monoclonais antiCD 20 têm sido usados nossupressora em pacientes com transplantes de órgãos
com limitado sucesso. sólidos e células-tronco hematopoiéticas.

24-19A Imagem de TC sem


contraste em um rapaz de 16
anos com febre, tosse e ataxia
mostra infiltrado heterogêneo iso
e hípointenso B na SB de am
bos os hemisférios cerebeiares.
24-19B Imagem axialcom
ponderação Ti do mesmo pa
ciente mostra que as lesões
cerebeiares multifocais são leve
mente hiperintensas E2.

24-19C Imagem em TI pós-


-contraste mostra intenso realce
das lesões B.
24-19D Imagem em plano
mais superior com ponderação
TI pós-contraste mostra focos de
realce adicionais B nos núcleos
da base e SB hemisférica. O
diagnóstico pela imagem foi de
linfo-histiocitose hemolagocitica.
A biópsia revelou granulomatose
linfomatolde.
Linfomas, tumores hematopoiéticos e histiocíticos 663

O espectro da DLPT varia de doença semelhante à Demografia. Receptores de transplantes pediátricos de


mononucleose infecciosa com hiperplasia linfonodal a senvolvem DLPT com mais freqüência do que pacientes
linfoma maligno. A maior parte das DLPT está relacio adultos porque é menos provável que as crianças possuam
nada ao EBV. imunidade específica para o EBV no momento do trans
plante. A freqüência varia com o tipo de transplante, sen
Patologia do que a maior prevalência é descrita em transplantes de
As DLPTs podem ser poliinórficas ou monomórficas. A múltiplos órgãos ou de intestino (20%), pulmão ou cora
DLPT polimórfíca consiste em uma população celular he ção (8 a 20%), fígado (4 a 15%) e rins (1 a 8%). A DLPT
terogênea que pode refletir toda a variação da maturação após o transplante de células-tronco hematopoiéticas re
das células B, de proeminentes infiltrados plasmacíticos a presenta menos de 2% dos casos.
imunoblastos proliferativos com necrose. A DLPT polimór
fíca não preenche os critérios histológicos para linfoma. Apresentação. A DLPT em geral se apresenta vários anos
A DLPT monomórfica é constituída por grandes cé após o transplante. Os sintomas estão relacionados à loca
lulas blásticas com nucléolos proeminentes. A maioria é lização do tumor.
classificada como linfomas de grandes células B. Opções de tratamento. Como os regimes de tratamento va
riam, a distinção entre DLPT polimórfíca, monomórfica
Aspectos clínicos e linfoma maligno é essencial, e freqüentemente requer
Epioemiologia. a prevalência geral de DLPT após trans biópsia para o diagnóstico definitivo.
plante de órgãos sólidos é de 0,5 a 2,5%. O acometimento A redução ou cessação da imunossupressão costuma
do SNC é raro. ocorrendo em menos de 0,5% dos casos ser o primeiro passo no tratamento da DLPT. A DLPT
de transplante. Entretanto, até 15 a 20% dos pacientes que polimórfíca geralmente responde bem dentro de 2 a 4
desenvolvem DLPT possuem envolvimento do SNC. semanas. A DLPT que não responde à redução da imu-

24-20A Imagem com ponde


ração em FLAIR em um menino
de 4 anos submetido a trans
plante de múltiplos órgãos e que
desenvolveu crises convulsivas
e tremores. Observe o espessa-
mento e a hiperintensidade dos
íórnlces E3, porção mediai dos
núcleos da base e joelho das
cápsulas internas
24-20B Imagem em plano
mais superior mostra uma
grande lesão na junção SB-SC
do hemisfério esquerdo E3 e
uma lesão menor no hemisfério
direito B.

24-20C Imagem coronal em


TI pós-contraste mostra realce
heterogêneo B nos núcleos da
base e hipotálamo.
24-200 A lesão do hemisfério
esquerdo apresenta intenso real
ce anelar B, com tênues pro
jeções tumorals se estendendo
para a S6 adjacente O mapa
ADC (não mostrado) demonstrou
moderada restrição à difusão. A
biópsia revelou DLPT com linfo
ma de grandes células B. (Corte
sia de S. Blaser, MD.)
664 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

nossupressão possui uma alta taxa de mortalidade (50 a


90%). (continuação)
A maioria dos casos de DLPT monomórfica é irres- • Apresentação variada após o transplante
ponsiva à retirada da imimossupressão e requer modalida • Crianças > adultos
des terapêuticas adicionais. Ressecçào cirúrgica, quimio
Imagem
terapia e radioterapia são possibilidades. • Achados no cérebro semelhantes ao linfoma
Como as lesões da DLPT no SNC costumam ser resis relacionado à Aids
tentes ao esquema CHOP, a radioterapia é geralmente utili • DLPT extracraniana
zada em combinação com agentes como o metotrexalo em o Adenopatia cervical bilateral comum
altas doses. Altas doses de rituximab, um anticorpo mono o Lesões orbitárias e nasossinusais
clonal antiCD 20. podem ser efetivas em alguns pacientes.

Imagem Linfoma metastàtico intracraniano


As características de imagem da DLPT no SNC lem
bram as encontradas no linfoma relacionado à Aids. A Terminologia
maioria das lesões são massas solitárias hipointensas ao o linfoma metastàtico intracraniano é também chamado de
córtex em TI e heterogeneamente hipo a hiperintensas linfoma secundário do SNC (LSSNC). Nele, as lesões de
na ponderação T2. Realce periférico e anelar é comum crânio, meninges e encéfalo são secundárias ao linfoma sis
após a administração de meio de contraste (Fig. 24-20). têmico (Figs. 24-21, 24-22, 24-23, 24-24, 24-25 e 24-26).
As DLPT relacionadas ao linfoma costumam apresentar
moderada restrição na difusão. Aspectos clínicos
A DLPT extracraniana de cabeça e pescoço resulta Os tumores agressivos de alto grau aumentam o risco
em um espectro de achados. A linfadenopatia cervical de disseminação para o SNC. Entre 3 e 5% dos pacien
bilateral ocorre em 75% dos casos. Os nódulos com fre tes com linfomas sistêmicos difusos de grandes células B
qüência parecem necróticos. Outras manifestações in eventualmente desenvolvem acometimento do SNC. Cer
cluem envolvimento orbitário e lesões nasossinusais que ca de 80% dos LSSNCs são causados por LDGCB.
se assemelham à polipose ou à sinusite. O pico de prevalência do linfoma metastàtico de SNC
acontece aos 60 a 70 anos. O prognóstico é ruim, especial
Diagnóstico diferencial mente nos pacientes mais idosos. Metotrexato sistêmico
o principal diagnóstico diferencial da DLPT é o línfonin tem sido recomendado como o tratamento ideal para a
primário do SNC - em especial o linfoma relacionado à recidiva isolada no SNC acometendo o parênquima ce
Aids. O diagnóstico diferencial das lesões de SNC em re rebral. O tratamento com rituximab pode ser efetivo em
ceptores de transplantes incluem também infecções opor alguns casos.
tunistas, como a toxoplasmose.
Imagem
o LSSNC é identificado em exames de neuroimagem. O
DOENÇA LINFOPROLIFERATiVA PÓS-TRANSPLANTE envolvimento craniano e durai é muito mais freqüente do
Terminologia e etiologla que com o LPSNC (Fig. 24-27). Tanto metástases na abó-
• Complicação de transplantes de órgãos ou células- bada quanto na base do crânio são comuns (Fig. 24-28).
-tronco As metástases na base do crânio podem estender-se infe
o Manutenção prolongada de imunossupressão riormente para o nariz ou para os seios paranasals, ou se
• Varia de doença benigna "mono-like" a linfoma
espalhar superiormente para o interior do seio cavernoso,
maligno cavo de Meckel e hipófisc/haste hipofisária.
Patologia
As lesões na calota craniana com freqüência envol
• Proliferações linfoides polimórficas ou monomórficas vem o couro cabeludo e o espaço epidural adjacente.
• DLPT polimórfica possui elementos plasmacíticos de "Caudas" durais são comuns. O envolvimento das lepto-
células B de maturidade variada meninges e do parênquima cerebral subjacente pode ocor
• DLPT monomórfica possui células blásticas -> linfoma rer como complicação tardia. As lesões parenquimatosas
de grandes células B na ausência de doença craniana e durai são incomuns.
Aspectos clínicos A disseminação tumoral difusa pelas leptomeninges
• 0,5 a 2,5% dos pacientes com transplantes de órgãos e lesões disseminadas pelo LCS são relativamente inco
sólidos muns (Fig. 24-29). A disseminação tumoral ao longo dos
• 15 a 20% dos pacientes com DLPT possuem nervos ópticos é rara. As neuropatias cranianas com realce
acometimento do SNC multifocal nos nervos cranianos ocorrem como complica
(continua) ções tardias. As lesões intradurais na coluna (drop metas
tases) ocorrem em 3 a 5% dos casos.
("OW 'uaiMan "a ap eisauos
sud6euj|) 'Q ou!|e)S!J} op sçjie
3lu3iuoidj|p eujojuti dp |e?oj
o|npou ujn oh [S
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-ojsap ejsa euijaj v '[^ osijdç
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equjoq e apuodxa a ai|3Udajd
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•jOLunj o|ad
op|A|OAua OAOisa uj^qiuE) (epoj)
-souj oeu) asijpdiq v '[^| J^inq
-ipunjuj aiseq e essadsa LU^qujoi
oii^tseiauu ouiojuji sea6
-uiuaujodai saso)$?iauj ojisolu
epeuujxojdo liiaõeuJi SZ-PZ
asoieujoiõuiuauj uiojq
■ujd| eujo)U!| ap sje^o] soijs
-odap so|d!)|nuj ujq} q osnjip
lejnp oiuaoiessadsa pZ-PZ
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sagpjoa jod sopo6jo|o ogisa aseq
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anb ojisooi 03p?J0) Ginpauj G|ad
IGfXG ogiDdS ta Gumba epno:
Gp SGSOAjau sazjGJ SG aiuauj
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0|dujG 0 GJisuoLuap G!Sdoj3au
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S99 SODIiJDOjlSm 3 S0D!13!0d01GLil3L| sajGLunj 'seUJOjUn
666 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

24-27A Imagem axial em TI


pós-contrasle mostra espessa-
mento durai difuso B e massa
no couro cabeludo S9.
24-27B Imagem coronal em
TI pós-conlraste mostra que o
espessamento durai difuso é
mais evidente logo abaixo da
massa no couro cabeludo. A calo
ta craniana mostra acometimen-
to tumoral difuso, visto como
realce irregular ES. Linfoma
sistêmico de grandes células B.

24-28A Imagem axial de TC


em janela óssea mostra lesões
líticas difusas 3] na parte
central da base do crânio e do
clívus S.
24-28B Imagem em Ti pós-
•contraste mostra realce difuso
com tumor extradural se es
tendendo para ambas as fossas
cranianas médias E3.0 tumor
erodiu o clívus para o interior da
cisterna pré-pontina Ambos
os meatos acústicos internos
também estão preenchidos por
tumor B. Múltiplas metástases
de linfoma sistêmico difuso de
grandes células.

24-29A Imagem axial em TI


pós-contraste em outro paciente
com linfoma de células B me-
tastático mostra extenso tumor
linear e nodular com realce E3
no epêndima de ambos os ven-
trículos laterais. Observe o espes
samento e o realce durai frontal
à esquerda B.

Si*'
24-29B Imagem coronal em
TI pós-contraste mostra extenso
realce ependimário e subepen-
dímário ao longo das paredes
de ambos os ventrículos laterais
ES. Espessamento durai difuso
e uma massa focai no plexo
coroide do quarto ventrículo E3
também são observados.
Linfomas, tumores hematopoiéticos e histiocíticos 667

24-30 Ilustração demonstrando as lesões líticas cranianas bem defi- 24-31 Imagem de TC em janela óssea mostra o aspecto clássico da
nidas características da HCL. As lesões não possuem esclerose marginal e HCL como uma lesão lítica bem definida na calota craniana Observe
apresentam limites "chanfrados" B. a massa de partes moles associadas B.

raramente ocorrem como tumores primários do SNC, e


LINFOMA INTRACRANIANO não serão discutidos de forma mais profunda.
SECUNDÁRIO (METASTÁTICO) Começaremos essa seção discutindo a histiocitose
80% a partir de linfomas sistêmicos de células B de de células de Langerhans. Seguiremos com quatro his-
alto grau tiocitoses de células não Langerhans que afetam o SNC,
Lesões cranianas e durais > > lesões parenquimatosas denominadas doença de Rosai-Dorfman, doença de Er-
cerebrais dheim-Chester, linfo-histiocitose hemofagocítica e xan-
• Doença multicompartimental comum togranuloma juvenil. Fecharemos a discussão com uma
• Lesões na calota craniana, espaço epidural e couro breve consideração a respeito das histiocitoses malignas.
cabeludo
• Base do crânio + nariz, seio cavernoso/hipófise Histiocitose de células de Langerhans
Disseminação leptomeníngea e LSC incomum Terminologia
Drop metastases na coluna (3 a 5%) A histiocitose de células de Langerhans (HCL) foi previa
mente referida como histiocitose X e inclui o granuloma
eosinofilico, doença de Hashimoto-Pritzker, a doença de
Hand-Schüller-Christian e a doença de Abt-Letíerer-Siwe.
Tumores histiocíticos
Os tumores histiocíticos são um grupo heterogêneo de tu Etiologia
mores e massas pseudotumorais compostos por histiócitos A etiologia das lesões histiocíticas permanece desconhe
e em geral associados a lesões extracranianas de idêntica cida, embora uma resposta imune anormal entre as célu
histologia. las T e os macrófagos tenha sido postulada.
As proliferações histiocíticas são identificadas pelas As células da HCL representam células dendriticas
células que as compõem e classificadas em três grupos. de Langerhans imaturas e parcialmente ativadas. As cé
O primeiro consiste em distúrbios relacionados às célu lulas microglials são os histiócitos intrínsecos do cérebro
las dendriticas, dos quais a histiocitose de células de Lan- e podem participar no surgimento de lesão neuronal se
gerhans é o tipo mais comum. O segundo é um grupo di cundária. como a neurodegeneração associada à HCL do
verso de distúrbios de células histiocíticas não Langerhans cerebelo e dos núcleos da base.
relacionadas a macrófagos. O terceiro grupo compreende
distúrbios histiocíticos malignos, como a leucemia mono- Patologia
cítica e o sarcoma histiocítico. Esses são mais encontra Localização. As lesões ósseas são as manifestações mais
dos na pele, nos linfonodos e no trato gastrintestinal. Eles freqüentes da HCL, ocorrendo em 85 a 90% dos casos
668 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

(Fig. 24-30). Metade desses casos possui envolvimento


monostótico.
Os ossos da face e da base do crânio sào os locais
mais afetados (55%), seguidos pela região hipotálamo-
-hipofisária (50%), meninges cranianas (30%) e plexo co
roide (5%). Cerca de um terço dos pacientes exibe lesões
parenquimatosas. Alterações neurodegenerativas associa
das no cerebelo e no tronco encefálico sào observadas em
5 a 10% dos casos.

Tamanho e número. O tamanho varia de pequenas lesões na


calota craniana a extensas massas inflltrativas que envol
vem a maior parte da base do crânio. As lesões múltiplas
são encontradas em 50% dos casos.

Patologia macroscópica. As lesões são branco-amareladas


e variam de discretos nóduios de base durai a infiltrados
24-32A Imagem com ponderação T2 em paciente
com HCL mostra massas hipointensas na região supras- parenquimatosos granulates e mal definidos.
selar B, no piexo coroide B e na dura tB.
Características microscópicas. As lesões da HCL contêm

' •/•■V uma mistura de células de Langerhans, macrófagos, linfó-


citos, plasmócitos e, às vezes, eosinófilos. Sulcos e fendas
nucleares auxiliam na diferenciação entre as células de
Langerhans e os histiócitos genéricos. As células de Lan
gerhans expressam SIOO e vimentina, bem como vários
marcadores hisliocitários.

Estadiamento, graduação e classificação, a HCL é atualmente


classificada com base na extensão da doença em unifocal,

r -
multifocal (geralmente poliostótica) e disseminada.

Aspectos clínicos
Epidemiologia. a HCL é rara. A prevalência em crianças é
estimada em 0,5 por 100.000 por ano.
Demografia. a maioria dos casos com lesões isoladas se
8
apresenta em crianças com menos de 2 anos, com uma
24-328 Imagem em Ti pós-contraste no mesmo pa
predominância masculina de 2:1. O início da doença mul
ciente mostra que as lesões impregnam intensamente
tifocal costuma ser entre 2 e 5 anos.
e de maneira levemente heterogênea.
Apresentação. O sinal neurológico mais comum da HCL
é diabetes insípido, o qual está presente em 12% dos pa
cientes com HCL multifocal. Outros achados relacionados
ao SNC incluem sintomas de elevação da pressão intra
craniana, paralisia de nervos cranianos, crises convulsi
vas, alterações visuais e ataxia.
História natural. A história natural e o prognóstico variam
de acordo com a idade de início e se a doença é isolada,
multifocal ou disseminada. Em geral, há uma relação in
versa entre a gravidade dos envolvimentos e a idade de
aparecimento. A sobrevida geral é boa, embora a morta
lidade em crianças mais novas com doença multissistê-
mica seja próxima a 15 a 20%. As lesões ósseas solitárias
possuem o melhor prognóstico, uma vez que a remissão
espontânea é relativamente comum.

24-32C Imagem sagilai em 11 pós-contraste mostra Opções de tratamento. As opções de tratamento dependem
a massa suprasseiar envolvendo o hipotáíamo, a haste dos sintomas, localização e extensão da doença, variando de
infundibular e infiltrando a hipófise B. ressecção cirúrgica simples a radioterapia e quimioterapia.
Linfomas, tumores hematopoiéticos e histiocíticos 669

e é observada como hiperinlensidades continentes em


Imagem
T2/FLAIR.
Achados de TC. Um ou mais defeitos ósseos de margens
As lesões da HCL realçam intensa e uniformemente
definidas na face ou na base do crânio são as manifes
nas imagens em TI pós-contraste. Procure um infundíbu-
tações mais comuns na TC sem contraste (Fig. 24-31). lo espessado e com impregnação, massas com base durai
Um aspecto "chanfrado" com a tábua interna mais afe
e acometimento do plexo coroide (Fig. 24-32).
tada do que a tábua externa é típico. A destruição geo
gráfica da base do crânio, com freqüência centrada no Diagnóstico diferencial
osso temporal, pode ser extensa (Fig. 24-33). As lesões
o diagnóstico diferencial varia com a localização da le
associadas de partes moles podem ser pequenas e rela
são. Lesões líticas na calota craniana que podem simular
tivamente discretas, ou ser massas volumosas e extensi
HCL incluem orifícios de trepanaçâo e outros defeitos
v a m e n t e i n fi l t r a l i v a s .
cirúrgicos, cistos dermoides e epidermoides, cistos Icp-
Achados de RM. Massas de partes moles adjacentes à abó- tomeníngeos e infecçâo. Com exceção do neuroblasto
bada ou à base do crânio podem demonstrar leve encurta- ma, metástases ósseas são raras em crianças.
mento TI secundário à presença de histiócitos contendo Uma haste infundibular espessada pode ser observada
lipídeos. com germinoma, a consideração diferencial mais impor
Anormalidades do hipotálamo e da haste hipofisária tante. As lesões menos comuns com uma haste espessada
são comuns. O "ponto brilhante" posterior da hipòfise e com perda do afundamento incluem neurossarcoidose
costuma estar ausente, e a haste infundibular pode se (incomum em crianças), astrocitoma e hipotisite.
encontrar espessada e com perda do seu afundamento. A destruição da base do crânio centrada no osso tem
As lesões são discretamente hiperintesas em T2. A dege- poral ocorre na otomastoíditc grave e no rabdomios-
neração cerebelar secundária ocorre em 25% dos casos s a r c o m a .

24-33A TC em janela óssea


de uma criança com HCL mostra
destruição lítica com centro no
osso temporal direito E2. Ob
serve a grande massa de partes
moles associadas S.
24-33B Imagem em pon
deração TI do mesmo paciente
mostra que a massa destrutiva
Ba é isointensa ao cérebro. Ob
serve a fina linha preta da dura
deslocada Bi.

24-33C Imagem em T2 mos


tra que a massa é heterogene-
amente iso e hiperintensa em
relação à substância branca.
24-33D A lesão impregna
intensamente e de modo hete
rogêneo.
670 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Histiocitoses de células não Langerhans e as órbitas (especialmente as pálpebras e as glândulas


Os tumores e as lesões pseudotumorais nesse grupo não lacrimals) sao mais afetados.
A DRD intracraniana ocorre em 5% dos casos. Mas
apresentam as células dendrílicas de Langerhans. A maio
ria dos distúrbios não HCL surge de macrófagos mononu- sas durais solitárias ou múltiplas que são moderadamente
cleares derivados da medula óssea em vários estágios de hiperdensas na TC sem contraste e impregnam intensa
desenvolvimento e maturação. mente na TC com contraste são achados típicos. Lesões
selares/suprasselares e na coluna são menos comuns. Elas
Doença de Rosai-Doríman podem ser isoladas ou ocorrer em conjunto com lesões
durais ou orbitais mais típicas.
Terminologia é etiologia. A doença de Rosai-Dorfman (DRD).
A DRD é isointensa à substância branca na ponderação
também chamada de histiocitose sinusal com linfadenopatia
TI e iso a levemente hipointensa em T2 (Fig. 24-34), As
maciça, é uma rara entidade pseudolinfomatosa benigna de lesões demonstram alta anisotropia fracionada, baixo valor
etiologia desconhecida. Histiócitos proliferativos benignos no mapa do coeficiente de difusão aparente (ADC) e leve
causam um marcante alargamento dos seios linfáticos.
artefato de susceptibilidade magnética em SWl. Realce ho
Aspectos clínicos. Quase 80% dos pacientes com DRD mogêneo e intenso ocorre após a administração de meio de
possuem menos de 20 anos no momento do diagnóstico contraste. A perfusão por RM encontra-se reduzida.
inicial. O prognóstico geralmente é favorável após a res- O PET-FDG (fluordesoxiglicose) mostra captação
secção cirúrgica e/ou terapia com corticosteroides. variável. A doença linfonodal e lacrimal apresenta ávi
Imagem. A DRD possui um aspecto de imagem inconstan da captação, porém os outros locais são freqüentemente
" f r i o s " n o P E T- F D G .
te, porém com freqüência se apresenta como linfadenopa
tia cervical bilateral. Envolvimento extranodal é observa Diagnóstico diferencial. A DRD ex// í/craniana assemelha-se
do em 50% dos casos. Apele, o nariz, os seios paranasais muito ao línfoma não Hodgkln. A linfadenopatia reativa

24-34A Imagem em TI
mostra obliteração de sulcos e
da interface S6-SC em ambos os
lobos frontais B e ao longo das
fissuras inter-hemisféricas B.
24-34B Imagem em T2 mos
tra massas parafaicínas lobuladas
B iso a discretamente hiperin-
lensas em relação ao córtex.

24-34C Imagem axial em TI


pós-conlraste mostra massas
lobuladas frontais e parafalcinas
com realce intenso B.
24-340 Imagem coronal em
TI pós-conlraste mostra lesões
adicionais sobre a convexidade
B e ao longo dos folhetos do
tentório cerebelar O pacien
te teve doença de Rosai-Dorfman
diagnosticada por biópsia de
linfonodos cervicais.
Linfomas, tumores hematopoiéticos e histiocíticos 671

24-35 (Superior à esquerda) Imagem com ponderação T2 mostra hiperintensidades irregulares nos núcleos denteados e pedúnculos cerebelares de
ambos os hemisférios E2. (Superior à direita) Realce irregular E3 é observado em T1 pós-contraste. (Inferior). Lesões adicionais estão presentes nos
seios cavernosos BI, cerebelo superior B, lobos temporais ES e órbitas E3. Doença de Erdheim-Chester comprovada por biópsia. (Cortesia de M.
Warmuth-Metz, MD.)

e a adenopatia por TB sào comuns cm crianças e podem Patologia. A DEC é caracterizada por infiltrados de ma-
simular DRD. Biópsia com histopatologia é necessária crófagos espumosos, células gigantes e histiócitos.
para o diagnóstico definitivo. Embora possa afetar múltiplos órgãos, a DEC é mais
O principal diagnóstico diferencial da DRD intracra uma doença de ossos longos. Manifestações extraesque-
niana é o meningioma. A perfusão por RM é iJtil na dife léticas ocorrem em 50% dos casos. Lesões intracranianas
renciação com a DRD, a qual costurna ser hipometabóli- estão presentes em 10% dos pacientes. Cérebro, meninges,
ca. A neurossarcoidose com envolvimento durai e selar/ órbitas e região selar/suprasselar são locais de acometimen-
suprasselar pode mimetizar DRD. to pela DEC. Quase todos os pacientes com DEC intracra
niana possuem espessamenlo facial e/ou da calota craniana.
Doença de Erdheifn-Chester Imagem. O eixo hipotálamo-hipofisário está envolvido em
Terminologia e etiologia. A doença de Erdheim-Chester 50 a 55% dos casos de DEC intracraniana. A ponte e o
(DEC) é uma rara histiocitose não HCL caracterizada por cerebelo - em especial os núcleos denteados - são a se
infiltrados xantomatosos de histiócitos espumosos. Sua
gunda localização intra-axial mais comum. Massas durais
etiologia é desconhecida. solitárias ou múltiplas com ou sem espessamento menín-
Aspectos clínicos. A DEC em geral ocone em adultos com geo difuso irregular ocorrem em quase 25% dos casos. A
mais de 55 anos. O prognóstico na DEC costuma ser ruim, esclerose dos ossos da face, da calota craniana e da coluna
embora o tratamento com interferon-a tenha aumentado a vertebral pode ser uma característica específica que suge
sobrevida de alguns pacientes. re o diagnóstico.
672 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

24-36 (Superior) Imagens ponderadas em T2 em uma criança de 2 anos com febre alta e crises convulsivas mostra múltiplas hiperintensidades
irregulares E9 expandindo a ponte e ambos os pedünculos cerebelares médios, estendendo-se para os núcleos denteados e hemisférios cerebelares.
(Inferior) Imagens em TI pós-contraste SPGR para localização estereotáxica previamente à biópsia mostra realce difuso confluente e irregular 0
diagnóstico histopatológico foi de linfo-hisliocitose fiemofagocftica.

Exames de imagem em pacientes com acometimen- podem ocorrer. Essas lesões são muito hipointensas em
to do eixo hipotálamo-hipofisário apresentam ausência T2 e impregnam intensamente.
do "ponto brilhante" posterior na hipófise em TI. Uma
massa focai suprasselar ou espessamento nodular da haste Diagnóstico diferencial. O diagnóstico diferencial da DEC
inclui meningioma e HCL. A HCL é em geral uma
hipofisária é comum.
Massas durais semelhantes meningiomas são isoin- doença de crianças, enquanto a DEC afeta mais adultos
de meia-idade e mais velhos. Esclerose dos ossos da face
tensas na ponderação TI e Íso a hipointensas em T2. Real
ce intenso e homogêneo é típico. e/ou calota craniana pode ser uma característica ímpar da
Entre 15 a 20% dos casos de DEC apresentam lesões DEC, embora a análise histológica desempenhe o papel
definitivo na diferenciação da DEC das outras histiocito-
parenquimatosas. Áreas multifocais de hiperintensidade
em T2/FLA1R que demonstram leve realce nodular em ses. A granulomatose de Wegener (GW) pode simular
TI pós-contraste são achados típicos (Fig. 24-35). Realce DEC pelas lesões de seios paranasais, órbitas e meninges,
ependimário com extensão linear profunda para o interior porém a GW geralmente causa osieólise, e não esclerose.
dos núcleos lentiformes foi descrito como achado suges
tivo de DEC. Llnfo-histiocltose hefnofagocítica
Um achado único na DEC é doença perivascular. Fi Terminologia e etiologia. A linfo-histiocitose hemofagocíti-
brose periaórlica e infiltrado perivascular ao longo das ca (LHH) é uma rara doença sistêmica caracterizada pela
artérias carótidas estendendo-se para os seios cavernosos agressiva proliferação de macrófagos ativados e histióci-
Linfomas, tumores hematopciéticos e histiocíticos 673

24-37A Série de imagens


que demonstram achados típicos
em um paciente com xantogra-
nuioma juvenil, imagem axial
em TI mostra hipointensidades
bilaterais e simétricas B na
substância branca dos hemisfé
rios cerebelares.
24-37B As lesões El são
hiperintensas em FLAIR. Lesões
adicionais são observadas na
porção inferior da ponte e no

X ' lfi ) bulbo B.

24-37C Imagem em TI pós-


-contraste mostra plexo coroide
com realce e volume aumentado

í( 24-370 Imagem coronal em


TI pós-contraste mostra a grande
lesão no plexo coroide direito
e uma menor no plexo co
roide esquerdo E2.

24-37E A condição do pa
ciente piorou. Exame de controle
com ponderação em FLAIR vários
meses depois mostra que as
lesões no cerebelo e no tronco
encefálico agora são confluentes.
24-37F Corte em plano mais
superior mostra o desenvolvi
mento de extensas lesões na SB
supratentorial. Xantogranuloma
juvenil comprovado por biópsia.
674 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

24-38 Ilustração coronal mostra a típica descoioração esverdeada do 24-39 Espécime de necíopsia mostra espessamento durai, infiltração
sarcoma granulocítico. Doença extradural e nos seios paranasals é mais e massas focais E3 em um paciente que faleceu por LMA. (Cortesia de
comum. Lesões parenquimatosas nos núcleos da base, hipotálamo e has R. Hewlett, MO.)
te hipofisaria também são ilustradas.

tos que apresentam hemofagocitose. Ela é constituída por A encefalomielite disseminada aguda (ADEM)
duas formas distintas: (1) LHH primária ou familial, que pode simular LHH secundária clinicamente, porém com
em geral ocorre na infância como um distiírbio autossô- freqüência envolve os tálamos e o tronco encefálico, e não
mico recessivo, e a (2) LHH secundária, a qual é um pro demonstra as lesões perivasculares simétricas.
cesso reativo associado à infecçao causada por vírus como
EBV. HlNl e o Bunyavirus. Xantogranuloma juvenil
o xantogranuloma juvenil (XGJ) é uma doença histioci-
Aspectos clínicos. A LHH é primariamente uma doença de
tária incomum que geralmente afeta crianças pequenas
lactentes e crianças jovens. Febre, hepatoespienomegalia
e está limitada à pele. O XGJ pode surgir no cérebro ou
e citopenias caracterizam a doença. A apresentação clínica
nas meninges, com ou sem manifestações cutâneas asso
típica inclui irritabilidade, abaulamento fontanelar, crises ciadas. As lesões cerebrais foram associadas com formas
convulsivas, paralisias de nervos cranianos, ataxia e he
multifocais ou sistêmicas da doença, com um curso clíni
miplegia. co ocasionalmente fulminante ou progressivo.
A LHH primária é letal sem transplante alogênico de
Os achados de imagem no XGJ são variáveis. As le
células-tronco. A LHH secundária é autolimitada.
sões disseminadas na substância branca lembram as en
Imagem. O acometimento do SNC está presente em pelo contradas na LHH (Fig. 24-37). As lesões também podem
menos 75% dos pacientes com LHH no momento do diag afetar a região selar, o plexo coroide, as órbitas e os seios
nóstico inicial. Os exames de imagem mostram extensos paranasais. Uma rara forma disseminada de xantoma, cha
infiltrados confluentes hiperintensos em T2/FLA1R no ce- mada xantoma disseminatum, afeta mais adultos jovens.
rebelo e na substância branca cerebral (Fig. 24-36). O eixo hipotálamo-hipofísário e a dura são os locais mais
As lesões perivasculares simétricas sem envolvimen afetados por essa variante.
to dos tálamos e do tronco encefálico são comuns na LHH
primária. Histiocitoses malignas
O realce linear e nodular das lesões parenquimatosas A histiocitose maligna é uma rara neoplasia do sistema re-
e superfícies piais do cérebro é típico. ticuloendotelial caracterizada pela proliferação ncoplásica
Diagnóstico diferencial. Os principais diagnósticos dife de histiócitos teciduais. O histiocitoma fibroso maligno é
renciais da LHH são a histiocitose de células de Lan- atualmente considerado um sarcoma pleomófíco indife-
gerhans e o xantogranuloma juvenil, uma histiocitose renciado de alto grau, e não é mais visto como uma le
não HCL incomum. A biópsia é necessária para estabe são histiocítica verdadeira. Somente casos isolados foram
lecer o diagnóstico definitivo e orientar o tratamento descritos com acometimento cerebral. Sarcomas e tumores

apropriado. mesenquimais malignos são discutidos no Capítulo 22.


Linfomas, tumores hematopoiéticos e histiocíticos 675

24-40A TC sem contraste em um paciente com sarcoma granuiocitico 24-40B Corte em plano mais superior no mesmo paciente mostra
mostra uma massa extra-axial hiperdensa EEI que se assemelha a um múltiplas massas hiperdensas adicionais B.
hematoma subdural.

mieloperoxidase nessas células imaturas). Como 30% das


Tumores hematopoieticos e lesões células possuem outras cores (branca, cinza ou marrom),
esses tumores foram renomeados sarcomas granulocíti-
pseudotumorais cos (mícloidcs).
Leucemia
A leucemia é a forma mais comum de câncer infantil, re Etlologld
presentando cerca de um terço dos casos. A leucemia lin- o sarcoma granuiocitico é com freqüência diagnosticado
foblástica aguda (LLA) é responsável por 80% dos casos e junto com ou logo após o início da leucemia aguda. Em
a leucemia mieioide aguda (LMA) pela maior parte dos 15 pacientes sem leucemia evidente, o sarcoma granuiociti
a 20% restantes. A leucemia mielocítica crônica (LMC) e co geralmente prenuncia o desenvolvimento de LMA em
a leucemia linfocítica são muito mais comuns em adultos. alguns meses. Outras condições que predispõem ao de
Independentemente do tipo específico, as características senvolvimento do sarcoma granuiocitico são as síndromes
clínicas gerais das leucemias são semelhantes. mielodisplásicas e os distúrbios mieloproliferativos não
Sendo mais incomum no passado, a prevalência de neoplásicos, como a policitemia vera, hipereosinofilia e a
envolvimento do SNC tem aumentado com os avanços no metaplasia amiloide.
tratamento que resultam em uma sobrevida geral prolon Sarcomas granulocíticos intracranianos provavel
gada. Os sintomas neurológicos em pacientes com leuce mente se desenvolvem quando células neoplásicas na ca
mia podem decorrer do envolvituento do SNC (direto, ou lota craniana migram pelos canais harvesianos através do
efeitos primários), ou ocorrer como complicação do trata periósteo e para o interior da dura para formar massas leu
mento (efeitos secundários). cêmicas focais. Se a barreira pial-glial é violada, o tumor
As complicações relacionadas ao tratamento incluem pode se espalhar diretamente ou via os espaços perivascu-
lesões de substância branca, microangiopatia mineralizan- lares para o interior do cérebro subjacente.
te, síndrome da encefalopatia posterior reversível (PRES), A leucemia extramedular (LE) é comum em crianças
tumores secundários, infecções e redução volumétrica com leucemia. O acometimento do SNC é raro e ocorre
cerebral. Essas condições são abordadas no Capítulo 30, tanto como células leucêmicas no interior do LCS quanto
"Encefalopatia tóxica". Aqui discutiremos os efeitos dire como agregados focais de células mieloides imaturas que
tos da leucemia no SNC. infiltram o osso e os tecidos moles.

Terminologia Patologia
Massas leucêmicas contendo mieloblastos primitivos ou Localização. A LE pode afetar qualquer parte do corpo,
mielócitos foram no início denominadas cloromas (pela incluindo a pele, os linfonodos, o estômago e o cólon.
descoloração esverdeada causada pelos altos níveis de Múltiplas lesões são comuns. As lesões nas vértebras, nas
676 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

órbitas e na calota craniana são mais comuns do que de Características microscópicas. Os sarcomas granulocíticos
pósitos intracranianos, os quais são relativamente raros. são tumores altamente celulares, constituídos de mielo-
Entre 5 e 7% dos pacientes com LMA possuem blastos leucêmicos e precursores mieloides embebidos em
envolvimento assintomático do SNC evidenciado por uma rica rede de fibras de reticulina. Monótonas células
análise citológica positiva do LCS. A leucemia eviden tumorais com grandes núcleos, nucléolos proeminentes
te apresenta-se em três formas: (1) doença meníngea e escasso citoplasma eosinofílico são típicos. Os núcleos
("meningite carcinomatosa"); (2) agregados tumorals são pleomórficos. Mitoses múltiplas são típicas, com o ín
intravasculares com doença cerebral difusa ("encefalite dice MIB-1 excedendo 50%.
carcinomatosa"); e (3) massas tumorais focais (sarcomas
granulocíticos). Aspectos clínicos
A maioria das lesões intracranianas está localizada Epidemiologia e demografia. Os sarcomas granulocíticos
nas adjacências de depósitos malignos nas órbitas, nos ocorrem em 3 a 10% dos pacientes com LMA e 1 a 2%
seios paranasals, na base do crânio ou na calota craniana. dos pacientes com LMC. As lesões intracranianas e na
Sarcomas granulocíticos intra-axiais ocorrem, porém são coluna na ausência de doença sistêmica são muito raras.
menos comuns (Fig. 24-38). Embora o sarcoma granulocítico possa afetar pacientes de
Tamanho e número. Envolvimento multifocal é típico. qualquer idade, 60% possuem menos de 15 anos no mo
mento do diagnóstico inicial.
As lesões extra-axiais costumam ser grandes e vistas
como extensos infiltrados ósseos e massas de base durai Apresentação. O contexto clínico típico é o de uma criança
(Fig. 24-39). As lesões parenquimatosas são menores, va com LMA que desenvolve cefaleia ou déficits neurológi
riando de poucos milímetros a 1 ou 2 centímetros. cos focais. A doença meníngea pode ocorrer em adultos

24-41A TC sem contraste em


uma criança com leucemia mie-
loide aguda e aumento de vo
lume no couro cabeiudo mostra
uma massa frontal na iinha mé
dia E3 com edema peritumorai
e destruição óssea
24-416 Imagem ponderada
em T2 no mesmo paciente mos
tra a massa no couro cabeiudo
B3, lesão óssea permeativa
destrutiva B e a massa paren-
quimatosa que é isodensa
ao córtex.

24-41C A lesão é altamente


celular, demonstrando moderada
restrição à difusão E3.
linfomas, tumores hematopoiéticos e histiocítlcos 677

24-42A Imagem de TC sem contraste em uma criança com LMA mos- 24-42B A lesão é hipointensa na ponderação 12. "Cloroma" (sarcoma
tra uma massa arredondada e muito hiperdensa B na coroa radiada granulocitico) foi encontrado na biópsia.
esquerda.

com leucemia mieloide aguda ou crônica. Paralisias de T2/FLAÍR (Figs. 24-41,24-42). A seqüência FLAIR é útil
nervos cranianos são sintomas típicos. na detecção de disseminação piai. perivascular e no LCS.
A hemorragia é comum e facilmente detectável nas ima
História natural. Embora a sobrevida geral da LMA trata
da seja de 40 a 50%, o surgimento de sarcomas granulo- gens com ponderação T2* (GRE, SWl).
O realce costuma ser intenso e relativamente homo
cíticos implica transformação blástica e pior prognóstico.
A transformação da leucemia Hnfocítica crônica (LLC) gêneo. Imagens ponderadas em TI pós-contraste com
em linfoma nao Hodgkin difuso de grandes células ("sín- saturação da gordura são úteis na detecção de acometi
mento ósseo e na delineaçào de sua extensão. Devido à
drome de Richter") é uma rara, mas séria complicação. A
sua celularidade, o sarcoma granulocitico com freqüência
sobrevida mediana na transformação da LLC é de cinco
demonstra restrição à difusão.
ou seis meses, apesar da terapia com múltiplos agentes.
Achados de medicina nuclear. Exames com Tc-99, MDP
Opções de tratamento. Os pacientes com LMA apresentan
do sarcoma granulocitico podem se beneficiar de regimes são comumente usados para detectar doença óssea. O
individualizados com quimioterapia adaptada ao risco, PET-FDG ou PET-TC do corpo inteiro mostram ávida
intensificação da terapia pós-induçào, transplante de célu- captação e são úteis no estadiamento inicial, bem como na
las-tronco hematopoiéticas e manutenção prolongada do avaliação da resposta ao tratamento.
tratamento.
Diagnóstico diferencial
Imagem o diagnóstico diferencial depende da localização. Sarco
Os exames de imagem são a chave para o diagnóstico do mas granuiocíticos de base durai podem assemelhar-se a
acometimento do SNC, uma vez que os estudos do LCS hematomas extra-axiais. linfomas ou meningcomas.

podem ser negativos. Em crianças mais jovens, neuroblastoma metastá-


tico e histiocitose de células de Langerhans podem mi-
Achados de TC. Os sarcomas granuiocíticos apresentam-se metizar um sarcoma granulocitico. Hcmatopoiese extra-
como urna ou mais massas durais iso ou hiperdensas na
medular é uma consideração diagnóstica, porém é mais
TC sem contraste (Fig. 24-40). Realce intenso e unifonne
hipointensa do que o sarcoma granulocitico em T2.
é típico. A janela óssea da TC com freqüência mostra le Os sarcomas granuiocíticos parenquimatosos ou "clo-
sões lucentes permeativas e destrutivas. Uma massa adja
romas" são muito menos comuns do que as lesões durais.
cente de partes moles pode estar presente. O principal diagnóstico diferencial do sarcoma granulo
Achados de RM. As lesões são hipo a isointensas na pon citico é o linfoma ou, em pacientes mais velhos, a me-
deração TI e heterogeneamente iso a hipointensas em tástase.
678 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

24-44 TC em janela óssea mostra achados típicos do MM. Inúmeras


lesões iílicas em "saca-bocado" ES dão à calota craniana o aspecto em
soes em "saca-bocado" no espaço diploico "sal e pimenta" caracterisco do MM.

LEUCEMIA NO SNC (continuaçõo)


o ± hemorragia em 12" (GRE, SWI)
Terminologia e etiologia
• Leucemia = câncer mais comum da Infância o Realce intenso
o Leucemia línfoide aguda (LLA) (80%) o Difusão freqüentemente positiva
o Leucemia mieloide aguda (LMA) (20%) • PET-FDG e PET-TC de corpo inteiro
o Leucemias crônicas geralmente em adultos o úteis no estadiamento e avaliação da resposta ao
• As leucemias no SNC são leucemias extramedulares tratamento

Patologia e aspectos clínicos


• Espectro de doença da leucemia no SNC
o Doença meníngea Tumores de células plasmocitárias
o Doença parenquimatosa difusa (rara)
O mieloma de células plasmocitárias e os distúrbios imu-
o Sarcoma granulocítico (massa leucêmica focai)
• Localização nossecretores relacionados são um grupo de proliferações
o Extra-axial, durai > parenquimatosa clonals de células B, caracterizado pela produção de imu-
o Tipicamente por depósitos malignos no crânio, noglobulina monoclonal por plasmócitos imortalizados.
órbitas e seios paranasals Três formas principais de proliferações de células
o Múltiplas lesões em múltiplos compartimentos é plasmocitárias são reconhecidas: (1) plasmocitoma ósseo
típico solitário; (2) plasmocitoma extramedular solitário; e (3)
• Apresentação variável; assintomático, LCS positivo (5 mieloma múltiplo.
a 7%) Os plasmocitomas ósseos solitários (PDS) são, às
o Envolvimento do SNC em 3 a 10% dos pacientes
vezes, denominados plasmocitomas ou plasmocitomas
com LMA
solitários (PSol). Psols são caracterizados por uma massa
Imagem
de plasmócitos neoplásicos monoclonais no osso ou nos
• TC sem contraste tecidos moles sem evidência de doença sistêmica. Psols
o Lesões ósseas permeativas e destrutivas são raros (5 a 10% de todas as neoplasias plasmocitárias)
o Massas durais hiperdensas (doença parenquimatosa e são mais encontrados nas vértebras e no crânio.
rara) Os plasmocitomas extramedulares solitários (PE)
• RM
costumam ser observados na cabeça e no pescoço, na ca
o Hipo/isointensa ao cérebro em TI
o Heterogeneamente iso/hiperintensa em T2 vidade nasal e na nasofaringe.
A doença multifocal é denominada mieloma múlti
(continuo) plo (MM) (Fig. 24-43). O linfoma plasmoblástico é um
linfoma incomum e agressivo que surge com freqüência
Linfomas, tumores hematopoiéticos e histiocíticos 679

na cavidade oral de pacientes infectados pelo vírus HIV. ioma múltiplo são incomuns (4 a 5% dos casos), e rara
Raramente a hiperplasla plasmocltárla monoclonal atí mente acometem o SNC.
pica ocorre como um pseudotumor inflamatório intracra Características macro é microscópicas. Um tecido gelatinoso
niano (discutido no Cap. 28, "Cistos não neoplásicos").
vermelho-amarronado substitui a medula óssea amarela.
A perda do osso trabecular é evidente. O exame microscó
Etiologia
pico revela monótonas folhas de plasmócitos neoplásicos
Apesar da etiologia dos tumores plasmocitários perma unifomes e bem diferenciados com núcleos excêntricos e
necer desconhecida, existem boas evidências de que seja
citoplasma basofílico. Em geral, pelo menos 10% das cé
um processo de transformação com múltiplos passos que
lulas no espécime de biópsia da medula óssea necessitam
corresponde aos estágios discemíveis da doença. ser plasmócitos para o diagnóstico definitivo de MM.
A gamopatia monoclonal é uma lesão precursora as-
Os tumores de células plasmocitárias expressam ca
sintomática comum que carrega um risco anual de 1%
deias leves e pesadas de imunoglobulinas. Aproximada
para a progressão para franca neoplasia plasmocitária. Os mente 60% dos MMs produzem IgG, 20 a 25% produzem
estágios terminais nas neoplasias plasmocitárias são ca
racterizados por crescente complexidade genética e inde IgA e 15 a 20% produzem cadeias leves de imunoglobu
linas livres.
pendência das células estromais da medula óssea.
Estadiamento, graduação e classificação. Os dois estadia-
Patologia mentos para mieioma mais utilizados são a classificação
Localização. Os POS quase sempre ocorrem na medula de Durie-Salmon PLUS e o Internacional Staging System
vermelha, mais freqüentemente na coluna. O crânio é a (ISS). A classificação de Durie-Salmon PLUS integra
segunda localização mais comum na cabeça e pescoço. parâmetros clínicos, laboratoriais e histopatológicos aos
Plasmocitomas extramedulares e PEs na presença de mie- achados de imagem (ver quadro a seguir).

24-45A TC em janela óssea


mostra extensas lesões destru
tivas permeativas na base do
crânio S3, características de
mieioma múltiplo.
24-45B Imagem em TI pós-
-contraste com saturação da gor
dura no mesmo paciente mostra
que as lesões S3 realçam inten
sa e uniformemente.

24-46A Imagem axial pon


derada em TI em um paciente

IT • r'.. , -
CMC MM e múltiplas paralisias
de pares cranianos mostra uma
massa isointensa B infiltrada
e destruindo a base do crânio e
se estendendo lateralmente para
ambos os seios cavernosos.
If ; 24-46B Imagem coronal em
TI pós-contraste mostra que a
lesão da base do crânio realça
intensamente, estendendo-se
para o interior da nasofaringe su
perior B e do cavo de Meckel à
- ví esquerda S. Lesões adicionais
são observadas na abóbada cra
niana e demonstram "caudas"
durais B.
680 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Aspectos clínicos
Epidemiologia. o mm é a neoplasia óssea primária mais co
mum, representando cerca de 10% de todas as malignida-
des hematológicas. Quase metade de todos os plasmocito-
mas ósseos solitários eventualmente evoluem para MM.
MM intracraniano é incomum e em geral secundá
rio. ocorrendo na maioria dos casos como extensão para
a dura e leptomeninges a partir de lesões ósseas na calota
craniana, base do crânio, nariz ou seios paranasais.
O píasmocitoma primário do SNC é muito raro. A
macroglobulinemia de Waldestrõm {também conhecida
como síndrome de Bing-Neel) pode formar lesões durais
e, em seguida, invadir o parênquima cerebral.
Oemografia. a prevalência varia com o tipo de prolifera
ção plasmocitária, porém geralmente se eleva nas idades
24-47A Imagem com ponderação FLAIR em um pa
ciente com macroglobulinemia de Waldeslrõm mostra
avançadas. A idade média dos pacientes com POS ou PE
sulcos hiperintensos e edema no hemisfério cerebral
é 55 anos. A maioria dos pacientes com MM possuem
esquerdo B. mais de 40 anos, com o pico de idade de apresentação aos
70 anos. Há uma discreta predominância feminina para
o POS e uma moderada predominância masculina no PE
e M M .

Apresentação. A apresentação mais comum é dor óssea.


Sintomas constitucionais, como febre de origem desco
nhecida, são comuns no MM. O envolvimento de nervos
cranianos é raro, porém pode se desenvolver secundaria
mente a um píasmocitoma da base do crânio.
A imunoeletroforese detecta a proteína M no soro
e/ou urina em 99% dos pacientes.
História natural. Muitos tumores plasmocitários eventual
mente se transfonnam em MM. O índice de sobrevida em
cinco anos no MM é de 20%. Com novos regimes de tra
tamento, a sobrevida mediana tein elevado de 2 a 3 anos
para quatro anos. O óbito é secundário à insuficiência re
24-47B Imagem em Ti pós-contrasle mostra massa nal, à infecçào ou a eventos tromboembólicos.
na dura-aracnoide com realce além de impregna
ção dos sulcos subjacentes ES.
Opções de tratamento. O diagnóstico é feito por meio de
biópsia, e o tratamento depende do estágio da doença. A
avaliação cuidadosa das características clínicas, morfoló-
gicas, imunofenotípicas e citogenéticas é necessária para
a estratiflcação individual do risco e para o tratamento
adequado.
Opções comuns para lesões plasmocitárias solitárias
são a radioterapia seguida de lalidomida e dexametasona.
O transplante autólogo de células-tronco tem prolongado
a sobrevida de alguns pacientes com MM.
As complicações do tratamento incluem osteonecrose
e complicações relacionadas aos bisfosfonados (osteone
crose mandibular e fraturas subtrocantéricas por insufi
ciência).

Imagem
Embora a radiografia possa detectar apenas a perda óssea
24-47C Imagem coronal ponderada em 11 pós-con- trabecular de mais de 30 a 50%, radiografias do esquele
traste mostra espessamento difuso da dura-aracnoide to ainda são utilizadas para estadiamento e vigilância dos
Infiltrado íinfoplasmocitário nas meninges. (Corte tumores plasmocitários. A TC é o melhor método para o
sia de P. Hlldenbrand, MO.)
Linfomas, tumores hematopoiéticos e histiocíticos 681

delineamento das lesões líticas na base do crânio ou calota


craniana. TUMORES PLASMOCITÁRIOS
A RM é mais utilizada para avaliar a presença de in
Terminologia
filtração medular difusa e definir a extensão da doença • Plasmocitoma ósseo solitário (POS)
para as partes moles. RM de corpo inteiro é útil na detec • Doença multifocal = mieloma múltiplo (MM)
ção de doença sistêmica que indicaria o diagnóstico de
mieloma múltiplo em vez de plasmocitoma solitário. Patologia
• Acometimento preferencial da medula vermelha
Achados de TC. Plasmocitomas ósseos solitários são mas • Coluna > crânio

sas de partes moles intramedulares que produzem lesões Estadiamento Durie-Salmon PLUS (mieloma
líticas centradas na medula óssea. A TC sem contraste
múltiplo)
mostra lesões em "saca-bocado" sem margens escleró- • Gamopatia monoclonal
ticas ou matriz interna identificável. Ruptura da cortical o <10% de plasmócitos na medula óssea
com formação de massa adjacente de partes moles à lesão o Medula óssea normal na RM e PET-TC
lítica pode estar presente. • Mieloma múltiplo latente
O mieloma múltiplo apresenta numerosas lesões líti o 2 10% de plasmócitos na medula óssea
o Doença medular limitada na RM e PET-TC
cas, em geral centradas na coluna, na base do crânio, na • Mieloma múltiplo
abóbada craniana e nos ossos faciais. Um padrão de "sal e
o > 10% de plasmócitos e/ou plasmocitoma + lesão
pimenta" é típico (Fig. 24-44). de órgão-alvo
Osteopenia difusa sem lesões focais é observada em o Lesões focais ou difusas na RM
10% dos casos de MM. o T da captação do FDG na medula (multifocal ou
Achados de RM. No estadiamento do mieloma múltiplo, difuso)
a extensão do acometimento da medula óssea é avaliada
Aspectos clínicos
na ponderação TI. A RM de corpo inteiro tem sido vista • Gamopatia monoclonal é uma lesão precursora
como a modalidade de imagem mais sensível para a de c o m u m
• 1% de risco anual para o desenvolvimento de
tecção de lesões ósseas focais e difusas.
As lesões ósseas substituem a medula amarela hipe- neoplasia plasmocitária
• Geralmente adultos mais velhos
rintensa normal e em geral são hipointensas na pondera • Aproximadamente 50% dos POS evoluem para MM
ção TI (Fig. 24-46). Seqüências com saturação da gordu • Sobrevida em cinco anos no MM = 20%
ra, como STIR com ponderação T2, também evidenciam
a extensão da infiltração da medula óssea. Tanto o POS Imagem
• TC sem contraste
quanto o MM realçam intensamente após a administração
o Lesões líticas em "saca-bocado" solitárias ou
de meio de contraste (Fig. 24-45). Envolvimento lepto-
meníngeo e parenquimatoso ocorre, porém é incomum mútiplas
o ± massa de partes moles
(Fig. 24-47). • RM

Medicina nuclear. A cintilografía óssea não é útil na avalia o Lesões substituem a medula normal

ção do MM, uma vez que as lesões são "frias" nas aqui o Hipointensas em T1 e T2
o Realçam em TI pós-contraste
sições com Tc-99m. O PET-TC é útil na identificação e
localização de lesões extramedulares. A sensibilidade é de Diagnóstico diferencial
96%, com uma especificidade de quase 80%. • Metástases líticas (tumor primário extracraniano)
• Leucemia, linfoma
Diagnóstico diferencial • Macroadenoma invasivo da hipófise (centro da base
Múltiplas lesões destrutivas em "saca-bocado" podem pa do crânio)
recer idênticas a metástases líticas.
MM na coluna e base do crânio pode assemelhar-se
à leucemia ou ao linfoma não Hodgkin. Tanto a leuce
Hematopoiese extramedulor
mia quanto o linfoma geralmente apresentam atividade A hematopoiese extramedular (HE) é a formação com
aumentada na cintilografía. pensatória de elementos sangüíneos devido à redução da
O cordoma esfenoclival pode simular MM, porém é hematopoiese medular. Anemias variadas (talassemias,
muito hiperintenso em T2 e contém sequestros ósseos cal- anemia falciforme, esferocitose hereditária, etc.) são a
cifícados intralumorais. etiologia mais comum, representando 45% dos casos.
O macroadenoma invasive de hipófise pode ser Mielofibrose e síndromes mielodisplásicas (35%) são
de difícil distinção com o MM, uma vez que ambos são as próximas causas subjacentes mais comuns associadas
isointensos à substância cinzenta. Níveis elevados de pro- à H E .

lactina costumam estar presentes. Não é possível separar Múltiplas massas bem delimitadas, justaósseas,
a hipófise da massa. circunscritas e hipercelulares são típicas (Figs. 24-48
682 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

e 24-49). O [oca! mais comum é o esqueleto axial


(Fig. 24-51). A face e o crânio são os locais mais comuns HEMATOPOIESE EXTRAMEDULAR
na cabeça e no pescoço. O espaço subdural é a localização
Etiologia
intracraniana mais comum. • Hematopoiese medular reduzida
A HE é hiperdensa na TC sem contraste, realce inten • Formação compensatória de elementos sangüíneos
sa e homogeneamenle na TC com contraste (Fig. 24-50) • Anemias (45%), mielofibrose/mielodlsplasia (35%)
e pode apresentar achados de doença óssea subjacente à
Patologia
Janela óssea (p. ex., aspecto de "cabelos em pé" {hair on • Múltiplas massas bem delimitadas justaósseas
end) na talassemia, densa obliteração óssea do espaço di- • Coluna, face, crânio, dura
ploico na osteopetrose).
Massas subdurais arredondadas ou lobuladas que são Imagem
• Hiperdensas na TC sem contraste
iso ou levemente hiperintensas em relação à SC na ponde
• Iso/hipo em 11, hipo em 12
ração TI c hipointensas em T2 são típicas (Figs. 24-52A • Realce intenso
e 24-52B). A HE realça intensa e uniformemente nas ima
gens em Ti pós-contraste (Fig. 24-52C). Diagnóstico diferencial
Os principais diagnósticos diferenciais da HE intra • Metástases durais
craniana são metastases durais e meningeoma. Ncuros- • Meningioma
• Neurossarcoidose
sarcoídose e línfoma são outras considerações.
• Línfoma

24-48 Ilustração demonstran


do hematopoiese extramedular.
O espaço diploico é convertido
de medula amarela para medula
hematopoiética ("vermelha")
E3. Múltiplas massas lobuladas
extra-axials [^, geralmente
subdurais, podem ocorrerem
casos graves.
24-49 Nódulo ressecado de
HE mostra o tecido hemato-
poiético como área de medula
vermelha com focos gordurosos
esparsos. (Cortesia de R. Hewlett,
MD.)

24-50 TC com contraste mos


tra massas durais com realce
ea em um adolescente com
talassemia e hematopoiese ex
tramedular.
24-51 Imagem coronal com
ponderação Ti pós-contraste em
uma adolescente com talassemia
e hematopoiese extramedular
mostra múltiplas massas lobula
das paraespinais com realce El.
(Cortesia de S. Blaser, MD.)
Unfomas, tumores hematopoiéticos e histiocíticos 683

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25
Neoplasias selares e lesões
semelhantes a tumores
Apesar da enorme variedade de lesões que podem ocor
Anatomia da região selar 689
rer nesta região, pelo menos 75 a 80% de todas as massas se-
Anatomia macroscópica 689
Técnicas de imagem e anatomia 691 lares/justasselares são em razão de uma das "cinco grandes"
lesões: macroadenoma, meningioma, aneurisma, craniofa
Variantes da normalidade ao estudo de imagem 694
"Kissing" carótidas 694 ringioma e asírocítoma. A soma de todas as outras lesões
Hiperplasia hipofisária 694 corresponde a menos de um quarto das massas da região se
Sela vazia 696 lar. Entidades como germinoma, cisto da bolsa de Rathke e
Lesões congênitas 699 hipofisite são responsáveis por 1 a 2% ou menos cada.
Anomalias hipofisárias 699 Alguns autores recomendam o uso de uma mnemôni-
Hamartoma hipotalâmico 700 ca (como SATCHMO para sarcoidose, aneurisma ou ade
Cisto da bolsa de Rathke 703
noma, teratoma ou tuberculose, craniofaringioma ou cis
Neoplasias 705 to, hipofisite ou hamartoma ou histiocitose, meningioma
Adenomas hipofisários 705 ou meíástase e glioma óptico) para lembrar do espectro
Carcinoma hipoflsário 712 de lesões que podem ocorrer na/em tomo da sela turcica.
Blastoma hipofisárlo 712
Contudo, esta lista mescla lesões raras e comuns, e é pou
Craniofaringioma 713
Tu m o r e s h i p o f i s á r i o s n ã o a d e n o m a t o s o s 7 1 8 co útil para estabelecer diagnósticos diferenciais clínica e
Lesões diversas 719 radiologicamente apropriados.
Os capítulos anteriores a esta seção focam em neo
H i p o fi s i t e 719
Apoplexia hipofisária 722 plasias específicas definidas histopatologicamente. Este
Pré e pós-operatório da sela 725 capítulo é diferente. É definido pela geografia e localiza
Diagnóstico diferencial de uma massa na região selar. 727 ção. O objetivo desta discussão é apresentar a anatomia
Lesões intrasselares 728 da região selar e discutir as diversas lesões que se situam
Massas suprasselares comuns 729 nesta "vizinhança" anatomicamente variada.
Massas suprasselares menos comuns 729
Começaremos este capítulo com uma visão geral que
Massas suprasselares importantes, mas raras 730
incluí chaves para o diagnóstico, considerações clínicas e
Massas da haste infundibuiar 730
Massas císticas intra/suprasselares 730
achados auxiliares nos estudos de imagem. Considerare
mos, então, a anatomia normal macroscópica e nos exa
mes de imagem da região selar.
Visão geral Após, discutiremos variantes da normalidade, como
A região selar é uma das áreas cerebrais anatomicamen- a hipertrofia fisiológica, que pode simular uma patologia
te mais complexas. Ela engloba o componente ósseo da hipofisária. As lesões congênitas (como hamartoma do
sela turcica e a glândula hipofisária, somados às estruturas tuber cinereum), que podem ser confundidas com patolo
normais de seu entorno. Praticamente qualquer um destes gias mais ameaçadoras, também serão caracterizadas. As
componentes pode originar patologias que variam de inó neoplasias da glândula hipofisária e da haste infundibular
cuas a graves, potencialmente fatais. serão discutidas. Segue-se uma breve consideração sobre
Pelo menos 30 lesões diferentes ocorrem na ou nos outras lesões diversas, como hipofisite linfocítica, apople
arredores da glândula hipofisária, originando-se da pró xia hipofisária e o pós-operatório da sela.
pria glândula ou de estruturas adjacentes, que incluem O objetivo dos estudos por imagem é determinar pre
seios cavernosos e seu conteúdo, artérias (o círculo de cisamente a localização e as características da massa selar,
Willis), nervos cranianos, meninges, espaços do líquido delinear sua relação - e envolvimento - com as estrutu
cerebrospinal (LCS) (a cisterna suprasselar e o terceiro ras de seu entorno e construir um diagnóstico diferencial
ventrículo) e parênquima cerebral (o hipotálamo). sensato e restrito para ajudar a direcionar a conduta do
688 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

25-1 Corte de peça anatômica na linha média demonstra a sela 25-2 Fotomicrografia de uma glândula hipofisária normal sec-
turcica e as estruturas que a rodeiam. Adeno-hipófise SI e neuro- cionada mostra a bolsa de Rathke e seu remanescente como uma
■hipófise [S são mostradas, bem como o quiasma óptico B e os "fenda" IS entre os lobos anterior (ã esquerda B) e posterior
recessos óptico E3 e infundibular ^3 do terceiro ventrículo. (Cortesia (â direita ES) da glândula hipofisária. (Cortesia de A. Ersen, MD, B.
de M. Nielsen, MS.) Scheithauer, MD.)

paciente. Concluiremos o capítulo com uma síntese e in da região selar é a idade do paciente. As lesões que são
trodução aos diagnósticos diferenciais das massas selares. comuns em adultos (macroadenoma, meningioma e aneu-
Quando finalizarmos esta discussão, você deve estar rísma) costumam ser raras em crianças. Uma lesão em
apto a olhar para uma massa selar desconhecida e ofere uma criança pré-pubere - especialmente em um menino
cer diagnósticos diferenciais cabíveis, e não apenas falar - que se parece com um macroadenoma, quase nunca é
todas as possíveis lesões que podem ser encontradas nesta uma neoplasia. Aumento não neoplásico da glândula hi
região anatomicamente complexa. pofisária em crianças é muito mais comum do que tumo
res. Consequentemente, uma hipófise "graúda" em uma
Considerações diagnósticas criança é quase sempre uma hipertrofia fisiológica normal
A sublocalização anatômica é a característica isolada mais ou secundária à insuficiência de órgào-alvo (mais comu-
importante e a chave para estabelecer o diagnóstico dife mente hipotireoidismo).
rencial apropriado das massas da região selar. O primeiro Algumas lesões que são comuns em crianças (p. ex.,
passo é atribuir a lesão a um dos três compartimentos ana astrocitoma pilocítico opticoquiasmático/hipotalâmico e
tômicos, ídentifícando-a como (1) intrasselar, (2) supras- craniofaringioma) são incomuns em adultos.
selar ou (3) da haste infundibular. O gênero também é importante. Os estudos de ima
A chave para determinar a sublocalização anatômica é gem em mulheres jovens com ciclos menstruais e em mu
esta pergunta: "A glândula hipofisária é identificada separa lheres pós-parto com freqüência demonstram a glândula
damente da lesão?". Se a resposta é não e a glândula é a pró hipofisária dc aspecto "cheio", devido à hiperplasia fisio
pria massa, o diagnóstico mais provável é de macroadenoma. lógica temporária.
Se a massa está claramente separada da glândula hipofi
sária, ela é extra-hipofisária e consequentemente não se trata Considerações de imagem
de um macroadenoma. Outras patologias, como meningioma Os aspectos de imagem são muito úteis para a avaliação
ou craniofaringioma devem ser consideradas nestes casos. das lesões da região selar. Após estabelecer a sublocaliza
ção anatômica da lesão, procure por pistas na imagem. Há
Considerações clínicas outras lesões? A lesão é calcificada? A aparência é cística?
A característica clínica mais importante para se estabele Contém produtos hemáticos? É focai ou infiltrativa? Sofre
cer o diagnóstico diferencial apropriado para as massas realce?
Neoplasias selares e lesões semelhantes a tumores 689

25-3 Aspectos macroscópicos em corte coronal, revelando as impor 25-4 Os nervos cranianos na parede lateral durai dos seios cavernosos
tantes estruturas adjacentes à glândula hipofisária E3. ACIs cavernosas incluem o III IV SI, V,-Se NCs. Apenas o VI B NC está
B e supraclinóideas são mostradas, assim como o diafragma da sela no interior do próprio seio cavernoso.
[^1 e os nervos ópticos SI. (Cortesia de M. Nielsen, MS.)

durai costela a fossa hipofisária lateralmente e forma a pa


Anatomia da região selar rede mediai do seio cavernoso.
Uma pequena cobertura circular durai, o diafragma
Faremos uma breve revisão sobre a anatomia macros
da sela (Fig. 25-3), forma um teto sobre a sela, que cobre
cópica e os exames de imagem da região selar. A com quase completamente a glândula hipofisária. O diafragma
preensão da anatomia normal forma as bases para as da sela possui uma abertura central de tamanho variável,
considerações subsequentes sobre as neoplasias selares o hiato diafragmático, por onde passa a haste hipofisária
e lesões similares a tumores, os principais tópicos deste
(Fig. 25-5). O diâmetro médio do hiato diafragmático é de
capítulo. 7 milímetros.
Uma membrana basal de aracnoidc proeminente,
Anatomia macroscópica chamada de membrana de Liliequist, forma trabéculas
Anatomia óssea que cruzam a cisterna suprasselar e cobrem o hipotálamo
e o diafragma da sela. A aracnoide se reflete sobre a haste
A sela turcica ("sela turca") é uma concavidade na linha
média do basiesfenoide que contém a glândula hipofisária. infundibular, formando uma fina cisterna hipofisária que
Os limites anteriores da sela são formados pelos processos pode fornecer um plano de dissecção cirúrgica na aborda
clinoides anteriores da asa menor do esfenoide, enquanto gem das massas suprasselares.
o limite posterior é formado pelo dorso da sela. O topo do Glândula hipofisária
dorso da sela sofre uma discreta expansão para formar os
A glândula hipofisária, também chamada de pituitária, é
processos clinoides posteriores, que, por sua vez, formam
a margem superior do divo (Fig. 25-1). uma glândula com forma de feijão, de coloração verme-
O soalho da sela é parte do teto do seio esfenoidal, Iho-acinzentada, formada por duas partes distintas (por
vezes chamadas de "lobos"): a hipófise anterior, também
que é parcial ou completamente aerado. Os segmentos ca
vernosos das artérias carótidas internas localizam-se em
chamada de adeno-hipófise (AH) e a hipófise posterior
um recesso ósseo raso (os sulcos carotídeos) localizados ou ncuro-hlpóflse (NH) (Fig. 25-37).
inferolateralmente à fossa hipofisária (Fig. 25-3). Os aspectos anterior e posterior da hipófise diferem
em origem embriológica, função e estrutura, mas estão
unidos em uma única glândula.
Meninges
As meninges na e em volta da sela formam um importan Hipófise anterior (adeno-hipófise). A AH, antes chamada de
te marco divisório. A dura cobre o soalho ósseo da sela, lobo anterior, corresponde a 75 a 80% do volume total da
separando-a da glândula hipofisária. Uma fina reflexão glândula hipofisária. A AH envolve anterolateralmente a
690 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

25-5 Ilustração no plano axial demonstra a glândula hlpofisãria Í3\ e 25-6 Ilustração no plano sagital representa os nervos cranianos do
a haste S], vistas pela abertura do diafragma da sela [=3. seio cavernoso laterais à glândula hlpoíisárla e à haste S. O cavo
de Meckel é preenchido com LCS, contém fascículos do V NC e o gânglio
de gasser (semilunar) H.

NH. com uma configuração cm U. A AH é subdividida em cimento, a AH inicia uma drástica fase de crescimento,
três partes: pars distalis (pars anterior), pars intermedia que aumenta o tamanho da glândula.
(PI) e a pars tuberalis. A glândula hipofisária dos adultos pode adaptar sua
Ela se desenvolve como uma projeção, chamada de composição celular em resposta a modificações das con
bolsa de Rathke, da ectoderme embrionária que reveste dições fisiológicas.
o teto da cavidade bucal (Fig. 25-2). Este prolongamento
Hipófise posterior (neuro-hipófise). A hipófise posterior ou
subseqüentemente desprende-se da cavidade bucal e sua pa
rede anterior se espessa para tomar-se a maior parte da AH, neuro-hipófise se desenvolve do diencéfalo embrionário
chamada de pars distalis. A parede posterior se diferencia (prosencéfalo) como uma extensão inferior do hipotálamo.
em pars intermedia, enquanto as porções dorsolaterais se A hipófise posterior é subdividida na grande pars nervosa
estendem em tomo do infundíbuio como a pars tuberalis. e em uma parte menor, o infundíbuio (haste hipofisária).
As três partes da AH produzem hormônios. Em sua A NH compreende 20 a 25% do volume total da glân
maioria são hormônios tróficos que regulam a função de dula hipofisária. ANH permanece unida ao cérebro por
outras células endócrinas, como células secretoras das gô- meio do infundíbuio, que se insere na eminência media
nodas. tireoide e cortex suprarrenal. Todos os hormônios na do hipotálamo.
da hipófise anterior são regulados por hormônios de libe A maior parle do parênquima da pars nervosa con
ração hipotalâmicos, com exceção da prolactina, que está siste em terminações axonais de neurônios, cujos corpos
sob controle do circuito dopaminérgico. celulares estão localizados no hipotálamo. Os neurônios
As células da pars distalis da AH produzem cinco constituem cerca de 75% do lobo posterior. Os 25% res
hormônios diferentes: somatotrofina (também conheci tantes do lobo posterior consistem em células glials cha
da como hormônio do crescimento ou GH), prolactina, madas de pltuícitos.
hormônio tireoestimulante (TSH), hormônio foliculo- Não há células produtoras de hormônio na pars ner
-estimulante/luteinizante (FSH/LH) e o hormônio adreno- vosa ou na haste infundibular. Em vez disso, a pars nervo
corticotrófico (ACTH). Além disso, a AH também possui sa secreta dois hormônios que são formados no hipotála
uma substancial proporção de células que não expressam mo: o hormônio antidiurético (ADH. também chamado
marcadores hormonais. Estas células não secretoras de de vasopressina) e a ocitocina. Ambos são sintetizados
hormônios são chamadas de cromófobas. como um pré-pró-hormônio maior, que também contêm
A glândula hipofisária dos recém-nascidos Já apresen a proteína de transporte, a neurofísina. O pró-hormônio é
ta um conjunto completo de células produtoras hormonais transportado pelo trato hipotálamo-hipofisário no infundí
completamente diferenciadas. Entretanto, a glândula pós- buio, clivado em sua forma ativa na NH e armazenado nos
-natal sofre um grande remodelamento. Logo após o nas- grânulos secretórios nos axônios terminais.
Neoplasias selares e iesoes semelhantes a tumores 691

Suprimento sangüíneo Nervos cranianos. Aqui revisaremos brevemente os nervos


Veias. O sistema porta-hipofisárlo consiste em um piexo cranianos que cursam pelo seio cavernoso. (A anatomia
de todos os nervos cranianos será discutida em detalhes
capilar primário na eminência mediana e no infundíbulo e
um piexo capilar secundário na pars disfalis da AH. Eles no Cap. 23).
estào conectados por longas veias porta hipofisárias. O O nervo abducentc (VI NC) é o único nervo crania
no que realmente se localiza no interior do SC, inferolate-
sangue venoso tanto do lobo anterior quanto do posterior
drena para o seio cavernoso. ralmente à ACI. Os 111, IV, V, e V, nervos cranianos estão
O sistema portal forma uma ligação essencial entre o dispostos no interior na parede durai lateral (Fig. 25-4).
O nervo oculomotor (111 NC) é o mais cranial dos NCs
hipotálamo e o sistema endócrino: ele é a rota pela qual os
cavernosos e está contido no interior de uma fina bainha
honnônios de liberação e inibição hipotalàmicos alcançam
as suas células-alvo na pars disialis da AH para controlar de aracnoide preenchida por LCS. chamada de cisterna
a função hipofisária. O sistema portal também carrega os oculomotora. O nervo troclear (IV NC) localiza-se logo
abaixo do 111 NC.
hormônios hipofisários da glândula para seus alvos endó-
crinos e facilita o feedback de controle da secreção. Duas ramificações do nervo trigêmeo (V NC), os
nervos offálmico (V,) e maxilar (V,), localizam-se abaixo
Artérias. Dois grupos de ramos originam-se das artérias do nervo troclear. O nervo mandibular (Vj) não está con
carótidas internas (ACls) para suprir a neuro-hipófise. tido no SC. O gânglio trigeminal situa-se em outro espaço
Artérias hipofisárias inferiores únicas emergem das circundado por aracnoide e preenchido por LCS, o cavo
ACls cavernosas e suprem a maior parte da neuro-hipó de Meckel. O NC Vj sai inferiormente a partir do gânglio
fise. Diversas artérias hipofisárias superiores originam- trigeminal (gânglio de gasser ou semilunar) e passa pelo
-se das ACls supraclinóideas com contribuições menores forame oval em direção ao espaço mastigador(Fig. 25-6).
das artériais cerebrais anterior e posterior. As artérias hi
pofisárias superiores suprem primordialmente a eminên Técnicas de imagem e anatomia
cia mediana do hipotálamo e a haste infundibular.
Não há suprimento arterial direto para a adeno-hipó- Considerações técnicas
fi s e . Os exames de imagem apropriados do eixo hipotálamo-
-hipofisário são baseados em testes endócrinos específi
Hipotálamo e terceiro ventrículo cos, sugeridos por sinais e sintomas clínicos. A ressonân
O hipotálamo localiza-se diretamente acima da glândula cia magnética (RM) multiplanar com cortes finos e com
hipofisária, estendendo-se posteriormente a partir da la FOV {field of view) pequeno obtidos antes e após a admi
mina terminalis (parede anterior do terceiro ventrículo) nistração de contraste (seqüências dinâmicas e estáticas)
até os corpos mamilares. O tuber cinerenm faz parte do são o melhor procedimento de escolha, em especial para
hipotálamo. Ele é uma massa convexa afilada de subs anormalidades hipotalâmicas (Fig. 25-7). Angiografia por
tância cinzenta que se localiza entre os corpos mamilares tomografia computadorizada (ATC), angiografia por res
e o quiasma óptico. A haste infundibular se estende in sonância magnética (ARM), angiografia com subtração
feriormente a partir do tuber cinerenm e segue atilando digital (ASD) e amostragem dos seios petrosos são técni
gradualmente até se tomar contígua com o lobo posterior cas suplementares em casos selecionados.
hipofisário. A tomografia computadorizada (TC) com a injeção de
O terceiro ventrículo se localiza na linha média, logo contraste às vezes facilita o diagnóstico de anormalidades
acima do hipotálamo. Dois recessos do terceiro ventrículo neuroendócrinas, mas é menos sensível que a RM. A TC
preenchidos por LCS, os recessos óptico e infundibular, óssea pode ser útil para demonstrar a extensão do envolvi
projetam-se inferiormente em direção ao hipotálamo. O mento ósseo nos adenomas invasivos.
recesso óptico possui morfologia mais redonda e se loca
liza logo em frente ao quiasma óptico. O recesso infun Tamanho e configuração hipofisária
dibular é mais cônico e pontiagudo, estendendo-se para o A altura da glândula hipofisária no plano coronal nas se
aspecto mais superior da haste hipofisária. qüências ponderadas em TI na RM varia com a idade e
com o gênero. Em crianças pré-púberes, 6 milímetros ou
Seios cavernosos, nervos cranianos menos é o normal. O limite superior da normalidade em
Seios cavernosos. Os seios cavernosos (SCs) são compar- adultos masculinos e em mulheres pós-menopáusicas é de
timentos venosos trabeculados de morfologia irregular 8 milímetros.

que se localizam junto às laterais da sela turcica. Os SCs A hipertrofia fisiológica em meninas pré-púberes e
estào contidos no interior de uma proeminente parede em jovens mulheres em idade fértil é comum, com a altu
durai lateral e de uma fina (freqüentemente inaparente) ra normal da glândula podendo chegar a até 10 mm. Em
parede durai mediai. Os conteúdos importantes do SC gestantes e em mulheres no período de amamentação, a
incluem os segmentos cavernosos das ACls e diversos glândula pode ser ainda maior, adquirindo uma convexi-
nervos cranianos. dade superior e podendo medir até 14 a 15 mm em altura.
692 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

25-7A Ponderação em T2
no plano sagital em RM 3.0T
demonstra a glândula hípofisária
e suas estruturas adjacentes: O
quiasma óptico BS e os recessos
óptico E3 e infundibular
25-7B Aquisição em TI pós-

m
-contraste mostra o intenso
realce venoso durai dos seios
cavernosos ES e o realce leve
mente menos intenso da glându
la hípofisária 0 III NC é visto
como uma estrutura linear des
provida de realce S. cursando
anteriormente na parede lateral
durai. Os flow voids da ACI caver
nosa normalmente se situam nos
sulcos carotídeos, lateralmente à
glândula hípofisária.

25-7C Ponderação em 12 no
plano coronal mostra a hiperin-
tensidade do ICS nas cisternas
oculomotoras ESI e nos cavos
de Meckel Os "pontos" no
interior dos cavos de Meckel são
fascicules dos nervos trigêmeos,
O diafragma da sela ES cobre
a mesma.

25-7D Aquisição em 11 pós-


-contraste no plano coronal com - - í •
saturação de gordura mostra o
III NC como um defeito de enchi
mento arredondado ES despro
vido de realce no canto superior
externo do seio cavernoso.
A haste infundibular B e a
glândula hípofisária B sofrem
realce, mas menos intensamente
que o sangue venoso no interior
dos seios cavernosos.

25-7E Ponderação em Ti no
plano sagital com saturação de
gordura mostra que a neuro-hi-
pófíse B permanece brilhante,
indicando que a sua hiperin-
tensidade não é por conteúdo
gorduroso, mas sim por grânulos
neurossecretórios.
25-7F Aquisição em Ti pós-
-contraste com saturação de
gordura no plano sagital mostra
que a haste infundibular ES e
o tuber clnereum B do hipo-
tálamo carecem de barreira he-
matoencefálica e sofrem realce.
Observe o afunilamento normal
do infundibulo enquanto cursa
inferiormente do hipotálamo
para a glândula hípofisária.
Neoplasias selares e lesões semelhantes a tumores 693

25-8 Dissecção de peça de necfopsia da base craniana central mostra 2S-9 Ponderação em TI no plano axial mostra "kissing" carótidas ES
as artérias carótidas cavernosas posicionadas medialmenle B, limitan com a glândula hipofisária comprimida entre elas. O sinal hiperintenso
do e comprimindo levemente a glândula hipofisária (Cortesia de A. da glândula hipofisária posterior S é visto deslocado para cima, entre
Ersen, MO, B. Scheittiauer, MD.) as artérias carótidas.

A haste infundibular mede aproximadamente 3,3 mm A haste infundibular e o tuber cinereum também ca
de diâmetro ao nível do quiasma óptico e reduz de calibre recem de barreira hematoencefálica e sofrem realce nas

gradualmente para cerca de 2 mm enquanto descreve uma ponderações em TI pós-contraste (Fig. 25-7F).
trajetória descendente para se inserir na glândula hipofisá
ria (Fig. 25-7F). "Incidentalomas" hipofisários
Áreas focais de hipoiníensidade ou de ausência de realce
Intensidade de sinal da glândula hipofisária são comuns nas aquisições pós-contraste da glândula hipo
A intensidade de sinal da glândula hipofisária é variá fisária. Essas alterações são vistas em 15 a 20% dos pacien
vel. Com exceção dos neonates (nos quais a AH pode tes assintomáticos e foram apelidadas de "incidentalomas"
ser grande e muito hiperintensa). a AH costuma ser hipofisários. A maioria possui menos de 1 centímetro de
isointensa se comparada ao córtex em ambas as ponde diâmetro ("microincidentalomas"). Eles podem ser causa
rações TI e T2. ANH possui um curto tempo TI (o cha dos por cistos intra-hipoflsários, bem como por microade
mado sinal hiperintenso da neuro-hipófise ou SHNH), nomas não funcionantes. Ambos são comuns em autópsias.
causado pela presença de grânulos neurossecretores. O Embora a maioria dos "incidentalomas" hipofisários
SHNH não contém lipídeos e não suprime às técnicas não seja suspeito nos achados de imagem e geralmente
de saturação de gordura (Fig. 25-7E). Até 20% dos pa não apresente significado clínico, diretrizes endocrino-
cientes endocrinologicamente normais não possuem o lógicas recentes recomendam que os pacientes com mi
SHNH. croincidentalomas sejam submetidos a exame físico,
A haste infundibular é isointensa à hipófise, exceto história clinica e avaliação laboratorial básica (i.e., men-
por uma hiperintensidade central nas ponderações em T2. suraçâo dos níveis de prolactina e lGF-1). Os pacientes
O recesso infundibular do terceiro ventrículo se estende com "macroincidentalomas" (mais que 1 centímetro) de
inferiormente na haste em uma distância variável. vem ser avaliados para hipopituitarismo e submetidos a
avaliação por campimetria convencional se a lesão estiver
Padrões de realce contígua aos nervos ou ao quiasma óptico.
A glândula hipofisária não possui barreira hematoence- Se o paciente não preencher critérios cirúrgicos es
fálica, portanto, ela realça rápida e intensamente após pecíficos para a ressecção, o seguimento por RM é reco
a administração do contraste. A glândula hipofisária mendado em seis meses para um "macroincidentaloma" e
apresenta realce levemente menor que o sangue veno- em um ano para um "microincidentaloma" e, subseqüen
so que está no interior dos seios cavernosos adjacen temente, com freqüência progressivamente menor se o
tes (Fig. 25-7D). "incidentaloma" permanecer estável em tamanho.
694 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorals

dula hipofisária, comprimindo-a para cima e fazendo-a


Variantes da normalidade ao estudo parecer levemente aumentada. A presença das ACIs me
de imagem dialmente posicionadas é muito importante no planeja
mento cirúrgico de hipofisectomia transesfenoidal, já que
Diversas variantes da normalidade podem ocorrer na as ACIs com posicionamento normal não são encontradas
glândula hipofisária e nos arredores da sela turcica; elas por esta abordagem (Fig. 25-9).
não devem ser confundidas com patologias nos estudos
de imagem. Nem toda a hipóflse com aumento de volu
me é anormal. O pseudoaumento da glândula hipofisária Hiperplasia hipofisária
pode ser causado por '"^kissing" carótidas ou por uma sela Terminologia
óssea atipicamente rasa. A hiperplasia hipofisária pode A hiperplasia hipofisária é um aumento não neoplásico do
ser anormal, mas também pode ser fisiológica e normal. número de células adeno-hipofisárias, podendo ser nor
Uma sela vazia é uma variante da normalidade comum, mal (fisiológica) ou patológica.
mas também pode ser uma manifestação de hipertensão
intracraniana idiopática (pseudotumor cereft/v). Etiologia
Hiperplasia fisiológica. O aumento fisiológico no volume
"ff/sj/ng" carótidas hipofisário é comum e normal em muitas circunstâncias.
As artérias carótidas internas cavernosas situam-se em A hipertrofia fisiológica da puberdade e o aumento da
geral lateralmente à glândula hipofisária, nos sulcos ca- glândula hipofisária em mulheres jovens em idade fértil
rotídeos parasselares. As vezes, as ACls estão posicio são muito comuns (Figs. 25-10, 25-11, 25-12 e 25-13). O
nadas medialmente e cursam no interior da sela óssea aumento da glândula hipofisária secundário à hiperplasia
(Fig. 25-8). As kissing carótidas podem restringir a glân de células prolactínicas também pode ocorrer durante a

25-10 ilustração no piano


coronal mostra a hiperplasia
hipofisária fisiológica. A glândula
está uniformemente aumentada
e possui uma leve convexidade
em sua margem superior.
25-11 Fotomicrografia de bai
xa magnificaçào mostra um corte
axial da glândula hipofisária com
hiperplasia. O lobo anterior SI
difusamente aumentado reduz
a neuro-hipófise [S. (Cortesia
de A. Ersen, MO, 8. Scheithauer,
MO.)

25-12 Ponderação em TI no
plano sagital em uma paciente
de 16 anos mostra o abaulamen-
to superior normal da glândula
hipofisária B. O soalho da sela
está intacto. Observe o sinal
hiperintenso da neuro-hipófise

25-13 Aquisição em TI pós-


-contraste no plano coronal da
mesma paciente mostra a conve
xidade superior da glândula E3,
quase tocando o quiasma óptico.
O volume global da glândula
hipófise é quase duas vezes o
volume de uma mulher pós-
-menopáusica.
Neoplasias selares e lesoes semelhantes a tumores 695

25-14A Aquisição em T1 pós-contraste no piano coronal de um pa 25-148 A avaliação endócrina revelou hipotireoidismo. O exame foi
ciente masculino pré-púbere mostra hiperplasla hlpofisaria E9 com repetido algumas semanas após o início do tratamento, apresentando
abaulamento superior da glândula que simula um macroadenoma. resultado normal ES.

gravidez e no período de amamentação, ou em resposta ao Aspectos clínicos


tratamento com estrogênio exógeno. Epioemiologia. Com exceção da hiperplasia das células pro
Hiperplasia patológica, a hiperpiasia patológica costuma dutoras de PRL na gravidez, a hiperplasia hipofisária é
ocorrer em resposta à insuficiência de órgão-alvo. A hi rara.

perplasia de células produtoras de TSH pode ser induzida Aspectos demográficos. Os pacientes costumam ser crianças
por hipotireoidismo primário de longa data (Fig. 25-14). ou adultos jovens. A hiperplasia das células de PRL é a
A hiperplasia de células produtoras de ACTH ocorre com
etiologia mais comum.
hipocortisoiismo na doença de Addison. A hiperpiasia go-
nadotrófica ocorre em resposta ao hipogonadismo primá Apresentação. Os sintomas variam com o hormônio envol
rio (síndromes de Klinefelter ou Turner). vido. A hiperplasia das células produtoras de PRL causa
A hiperplasia patológica também pode ser induzida hiperprolactinemia, enquanto a das células relacionadas
ao GH causa gigantismo ou acromegalia e a das células
pelo excesso ectópico de hormônios de liberação. A hiper
relacionadas ao ACTH causa doença de Gushing.
plasia de células produtoras de GH ocorre com o aumento
do GHRH secretado por tumor de células de ilhotas pan- História natural. A hipertrofia fisiológica normal não re
creáticas, feocromocitoma, carcinoma brônquico e tumor quer tratamento. A hiperplasia patológica é tratada com
carcinoide tímico. medicamentos e o prognóstico é excelente. Não há au
A hiperplasia das células produtoras de ACTH pode mento na prevalência de adenomas.
ser secundária à secreção de CRH por um hamartoma hi-
potalámico (adiante), tumor neuroendócrino ou doença de Imagem
Gushing ACTH-dependente. Hiperplasia mamotrófica e Aumento simétrico do tamanho da glândula hipofisária e
somatotrófica ocorre na síndrome de McCune-Albright e de seu volume global, sem efeito de massa focai ou erosão
no gigantismo. óssea são os achados clássicos.
Os exames de TC sem contraste mostram que a glân
Patologia dula mede cerca de 10 a 15 mm de altura e apresenta uma
Patologia macroscópica. A forma mais comum fisiológica convexidade em sua margem superior. Não há evidência
da hiperplasia hipofísária é a hiperplasia difusa das célu de erosão óssea da sela turcica. O realce é forte e geral
las produtoras de prolactina (PRL) durante a gravidez e o mente uniforme na TC com contraste.

período de amamentação. A adeno-hipófise toma-se sime- A RM demonstra um aumento da glândula, com ar-
tricamente aumentada, algumas vezes quase 2 a 3 vezes queamento superior, que pode até mesmo demonstrar
o seu tamanho normal, mas, com exceção disso, possui contato com o quiasma óptico. O aumento hipofisário é
aparência macroscópica normal. isointenso ao córtex em ambas as ponderações TI e T2.
696 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

As aquisições dinâmicas durante a injeção de contraste Se/o vazia


na RM com 3 milímetros de espessura do corte e com
FOV pequeno mostram que a glândula realça de manei Terminologia
ra homogênea. Ocasionalmente, um realce nodular fo A sela vazia (SV) é uma protrusão da aracnoide, preen
cal está presente na hiperplasia de células produtoras de chida por LCS que se estende da cisterna suprasselar, pelo
ACTH. diafragma da sela, para o interior da sela turcica (Fig. 25-
15). Uma SV raramente é toda "vazia"; um pequeno re
Diagnóstico diferencial manescente aplainado da glândula hipofísária está quase
A distinção entre a hiperplasia hipoflsária e o macroade- sempre presente no fundo da sela óssea, mesmo que não
noma pode ser difícil. Idade, gênero e estado endócrino seja perceptível nos estudos de imagem. Assim, o termo
são úteis para a definição. Neoplasias primárias da glân "sela parcialmente vazia" é anatomicamente mais correto.
dula hipofísária são raras em crianças, enquanto o aumen
to fisiológico é comum. Lembre-se: uma glândula hipofí Etiologia
sária aumentada em um paciente masculino pré-púbere é Uma SV pode ser primária ou secundária. Uma sela va
quase sempre hiperplasia, e não adenoma. zia primária ocorre quando uma abertura anormalmente
A hipofísite línfocítíca pode causar um aumento larga (por vezes chamada de "incompetente") do diafrag
na glândula hipofísária. Ela é mais comum em mulhe ma da sela permite a hemiação intrasselar da aracnoide e
res gestantes e puérperas e pode ser difícil de distinguir LCS oriundos da cisterna suprasselar para o interior da
da hiperplasia fisiológica por células produtoras de PRL sela turcica logo abaixo (Fig. 25-16). O LCS pulsátil pode
com base apenas nos estudos de imagem. Se houver au gradualmente alargar e aprofundar a sela, mas a lâmina
mento da haste, a hipofísite torna-se mais provável que a dura óssea que separa a sela do seio esfenoidal permanece
hiperplasia. intacta (Fig. 25-17).

25-15 Ilustração representa


um sela vazia primária B
com cisterna de aracnoide,
preenchida com LCS, protruindo
inferiormente para o interior da
seia aumentada e "achatando"3
glândula hipofísária posteroin-
feriormente contra o soalho da
sela
25-16 Espécime de necropsia
visto de cima mostra uma gran
de abertura do diafragma da seia
SI com a sela preenchida por
LCS logo abaixo (Cortesia de
M. Sage, MD.)

25-17 Fotomicrografia de bai


xa magnificação em corte sagitai
mostra uma seia parcialmente
vazia como uma seia aumenta
da, em sua maioria preenchida •
por LCS S] e com a glândula
hipofísária [S aplainada contra
o soalho da sela. (Cortesia de W.
Kucharczyk, MD.)
25-18 Ponderação em Ti no
plano sagitai de um paciente
assintomático mostra a clássica
seia vazia como um espaço
preenchido por LCS E3. A glân J
dula hipofísária está atilada e
"■
comprimida contra o soalho da
sela O paciente era endocri- ■J

nologicamente normal.
Neoplasias selares e lesões semelhantes a tumores 697

Uma sela vazia secundária ocorre quando o volume Aspectos clínicos


hipofisário está reduzido por cirurgia, terapia com bro- Epioemiologia. a prevalência exata da SV é desconhecida.
mocriptina ou tratamento radioterápico. Menos freqüen Uma SV é identificada em 5 a 10% dos exames de RM
temente, apoplexia hipofisária {com um macroadenoma craniencefálicas.
hipofisário) pode deixar a sela óssea expandida bastante
vazia, com apenas um pequeno remanescente de tecido Aspectos demográficos. Embora a SV possa ocorrer em
glandular hemorrágico infartado no aspecto posteroinfe- qualquer idade, o pico de apresentação se dá aos 50 anos.
rior da sela. Há uma predominância feminina na ordem de 4:1. O índi
Raramente uma criança com insulto perinatal resul ce de massa corporal dos pacientes com uma sela vazia ou
tando em necrose neuronal difusa no hipotálamo pode parcialmente vazia é maior do que aqueles que não apre
sentam a mesma.
apresentar uma haste hipofisária muito fina e uma sela
parcialmente vazia. Apresentação. A maioria dos pacientes com SV é assinto-
Uma causa rara, mas importante, de SV é a síndrome mático ou apresenta sintomas inespecíficos, como cefa-
de Sheehan. A síndrome de Sheehan é uma das causas leia (FIgs. 25-18 e 25-19). Contudo, a SV primária pode
mais comuns de hipopituitarismo nos países subdesen estar associada a diversas condições clínicas, variando de
volvidos. Ela resulta de necrose hipofisária isquêmica em distiirbios endócrinos leves a rinorreia e otorreia. Entre 18
razão de hemorragia grave pós-parto. A maioria dos pa a 20% dos pacientes com SV primária possuem hiperpro-
cientes com síndrome de Sheehan possui uma sela vazia lactinemia, 5% hipopituitarismo global anterior e 4% de
nos exames de TC ou RM. ficiência isolada de GH. Quase 80% das pacientes obesas
de meia-idade com rinorreia ou otorreia liquórica espontâ-

25-19A Ponderação em TI no

N plano sagital de uma mulher de


28 anos com convulsões parciais
complexas revela uma sela vazia
B .
25-19B Aquisição em TI pós-
-contraste da mesma paciente
mostra que a haste B se insere
fora da linha média, uma varian
te da normalidade. O perfil endó-
crino da paciente estava normal.

.-•J

25-20A Uma sela vazia nem


sempre é benigna, como está
ilustrado neste caso de uma
mulher de 56 anos com perda
de ICS. A enorme sela vazia B
preenchida por ICS está muito
maior que nas variantes da nor
malidade usuais.
25-20B Ponderação em T2 no
plano coronal da mesma pacien
te mostra a sela preenchida por
ICS B, com uma coleção líqui
da Bi abaixo do soalho aíilado.
A cirurgia confirmou deiscência
óssea, a qual foi reparada.
698 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorals

nea, apresentam uma SV em associação, demonstrada nos na SV primária, mas, na SV secundária, apresenta defeitos
exames por RM pré-operatórios (Fig. 25-20). cirúrgicos causados por hipofisectomia transesfenoidal. A
Ocasionalmente, os pacientes se apresentam com haste infundibular e o remanescente hipofisário realçam
distúrbios visuais causados por deslocamento inferior do nos exames de TC com contraste. A haste pode estar des
quiasma óptico para o interior da sela vazia. A maioria locada da linha media, com aspecto um pouco "inclinado".
destes casos é de SVs secundárias após hipofisectomia
Achados na RM. O líquido intrasselar comporta-se como
transesfenoidal para ressecção de adenomas hipofísários.
o LCS nas ponderações em TI e em T2 e suprime com
Opções de tratamento. A SV primária ou secundária ge pletamente no FLAIR. A ponderação em difusão não de
ralmente não requer tratamento definitivo. A reposição monstra restrição. Em casos graves, o quiasma óptico e/ou
hormonal pode ser necessária em alguns casos. Rinorreia/ o aspecto anterior do terceiro ventrículo podem parecer
otorreia liquórica ou deslocamento do quiasma óptico herniados para - ou retraídos em direção - a sela. Se a
com comprometimento visual importante podem necessi SV for secundária à cirurgia, tamponamento com o uso
tar de intervenção cirúrgica. de enxerto de gordura e cicatrizes com aderências podem
distorcer os achados de imagem.
Imagem
Características gerais. Os estudos de imagem mostram Diagnóstico diferencial
LCS intrasselar com uma glândula hipofisária afilada e O principal diagnóstico diferencial da SV é a hiperten
são intracraniana idiopática (Hll), também chamada de
aplainada contra o soaiho da sela.
"pseudotumor cerehri". Ambas têm prevalência aumenta
Achados na TC. Líquido com densidade como LCS preen da em mulheres obesas. Os achados de imagem também
che a sela que pode apresentar tamanho normal ou mode apresentam algum grau de sobreposição, já que estas con
radamente alargado. O soalho ósseo da sela está intacto dições freqüentemente apresentam uma sela túrcica vazia.

25-21 Ilustração no piano sa-


gitai demonstra ectopia da glân
dula hipofisária posterior SB
localizada na extremidade distai
da haste hipofisária trancada. A
sela túrcica e a adeno-hipõfise
E3 são pequenas.
25-2 2 Ponderação em T1
no plano sagital mostra uma
glândula hipofisária posterior
ectópica na eminência mediana
B. O infundibulo está ausente
e a glândula hipofisária anterior
IS] é pequena. O sinal hiperin-
tenso da hipófise posterior está
ausente.

25-23A Ponderação em Ti no
plano sagital de uma menina de
4 anos com pan-hipopituitarismo
mostra anormalidades mais gra
ves com quase nenhum tecido

Y )
no interior da sela SI, haste
ausente e hipófise posterior
ectópica no hipotálamo B.
25-23B Ponderação em T2
no plano coronal da mesma
paciente mostra uma glândula
hipofisária B quase imper
ceptível e haste ausente, com
deslocamento da neuro-hipólise
nohipotálamo ÍS.
r ^
' ■ B
Neoplasias seiares e lesões semelhantes a tumores 699

Na HII. as bainhas dos nen'os ópticos estão dilatadas e os


ventrículos e as cisternas de LCS com freqüência parecem
menores que o normal.
A pressão intracraniana elevada (T PIC) causada
por hidrocefalia obstrutiva resulta em deslocamento do
recesso anterior do terceiro ventrículo - e não da cisterna
suprasselar - em direção ou para o interior da sela óssea.
Migração de LCS transependimária é comum no T PIC,
mas ausente na SV.
Um cisto aracnoide suprasselar (CAS) pode herniar
para o interior da sela turcica. A sela óssea com freqüência
está não apenas alargada, mas também crodida e aplai
nada. A ponderação em T2 no plano sagital mostra um
terceiro ventrículo comprimido e elevado, envolvendo o
CAS.

25-24A RM pondeiada em TI no plano sagital mos


tra espessamento do soaiho do terceiro ventrículo B3
e uma sela turcica B rasa, quase imperceptível.
Lesões congênitas
Anomalias hipofisárías
A ausência completa da glândula hipofisária e da haste
é rara e quase sempre fatal ao nascimento ou logo após
o mesmo. A hipoplasia hipofisária é muito mais comum
(Fig. 25-21). Muitas crianças afetadas possuem deficiên
cia de hormônio do crescimento e, portanto, baixa esta
tura; eles são os "anões hipofisários". Esses pacientes
podem ser tratados com terapia de reposição hormonal,
por isso o diagnóstico preciso e precoce dessa alteração
é essencial.

Hipoplasia hipofisária
Uma glândula hipofisária hipoplásica é a anormalidade
mais freqüente em crianças com deficiência isolada de
hormônio do crescimento (DIHC), enquanto anormali 25-24B Ponderação em Ti no piano coronal do
dades na haste são mais comuns em crianças com de mesmo paciente mostra duas glândulas hipotisárias
ficiências hormonais múltiplas. Quase 75% das crianças hiperintensas BS.
com hipopituitarismo são do sexo masculino.
As anormalidades na imagem incluem sela e lobo
hipofisário anterior pequenos, hipoplasia ou ausência da
haste e lobo hipofisário posterior ectópico, visto como
deslocamento da hiperintensidade em TI do lobo poste
rior para o infundíbulo ou para eminência mediana do hi-
potálamo (Figs. 25-22 e 25-23).
Em geral, a extensão das anormalidades na RM se
correlaciona com o grau de gravidade da deficiência hor
monal. Os pacientes com deficiência isolada de GH são
mais propensos a ter adeno-hipófise e infundíbulo de ta
manho normal do que aqueles com deficiências endócri-
nas múltiplas.
A síndrome de Kallman, também conhecida como
hipogonadismo hipogonadotrófico, é um distúrbio da mi
gração neuronal que resulta em nervos e em sulcos olfa- 25-24C Ponderação em T2 no plano coronal do
tórios hipoplásicos ou ausentes. Diversas anormalidades mesmo paciente mostra duplicação da haste [^. A
visuais e septais, bem como hipoplasia da glândula hipofi presença de glândula e haste hipofisária duplicada é
sária, são comuns nesta síndrome. uma anomalia congênita rara.
700 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Duplicação hipofisária Etiologia


A duplicação hipofisária é uma anomalia rara na qual duas Os HHs são anomalias da migração neuronal que pro
hastes hipofisárias podem ser identificadas nas imagens vavelmente ocorrem entre 33 e 41 semanas de idade
coronais (Figs. 25-24B e 25-24C). O tuber cinereum e os gestacional. Uma anormalidade sindrômica que ocorre
corpos mamilares estão fusionados em uma única massa com o HH, a síndrome de Pallister-Hall (SPH), é cau
espessa que pode ser melhor visualizada nas imagens sa- sada por uma mutação frameshift GL13 no cromossomo
gitais na linha média (Fig. 25-24A). Anormalidades cra- 7pl3.
niofaciais e craniocervicais são comuns nestes casos.
Ao contrário da hipoplasia hipofisária, a duplicação Patologia
hipofisária raramente causa deficiências hormonais. Em Localização. A maioria dos HHs está localizado no tuber
vez disso, um espectro de anormalidades de fusão e seg cinereum, entre a haste infundibular e os corpos mami
mentação craniofaciais e craniocervicais da linha média lares (Figs. 25-25 e 25-26). Eles podem ser peduncula-
são vistos. O sexo feminino é o mais afetado. dos (Flg. 25-27) ou sésseis (Fig. 25-28). As lesões pe-
dunculadas estendem-se inferiormente do hipotálamo
Hamartoma hipotalómico para a cisterna suprasselar, enquanto as sésseis proje
tam-se do soalho do terceiro ventrículo para seu lúmen.
Terminologia
o hamartoma hipotalâmico (HH), também conhecido Tamanho e número, Os HHs são lesões solitárias que va
como diencefálico ou hamartoma do tuber cinereum. é riam em tamanho, de alguns milímetros (Fig. 25-29) a
uma malformação congênita não neoplásica associada à enormes lesões mistas sólido-císticas medindo vários cen

puberdade precoce, distúrbios do comportamento e crises tímetros em diâmetro (Figs. 25-30,25-31).


gelásticas.

25-25 lluslração sagital mos


tra um hamartoma hipotalâmico
pedunculado S] interposto
entre o infundibuio, anterior
mente e os corpos mamilares,
posteriormente. A massa lembra
a substância cinzenta.
2 5 - 2 6 Vi s ã o s u b m e n t o v é r t i c e
mostra um clássico HH pendu-
culado BI em "botão de colari
nho" posicionado entre a haste
infundibular B à sua frente e
os corpos mamilares (que não
estão visíveis) e a ponte E3,
posteriormente. (Cortesia de R.
Hewlett, MD.)

25-27A Ponderação em T2
no plano sagital de uma criança
de 12 anos com puberdade pre
coce central mostra um clássico
hamartoma hipotalâmico em
"botão de colarinho" l~>l entre a
haste infundibular B] e os cor
pos mamilares [S. Essa massa é
isointensa à substância cinzenta.
25-27B Aquisição em TI pós-
-contraste no plano sagital do
mesmo paciente mostra que o
hamartoma hipotalâmico B9
não sofre realce.
Neoplasias selares e lesões semelhantes a tumores 701

25-28 Ponderação em T2 no

TFT
I
piano sagilal mosUa um clássico
HH séssil ES abaulando o soaiho
do terceiro ventriculo [S.
25-29 Ponderação em 12 no
piano sagitai mostra um minús
culo HH séssil B logo atrás do
infundíbulo ES e em frente aos

i f corpos mamilares B.

25-30A Aquisição em TI
pós-contrasle do exame de um
adolescente com hipogonadismo
hipogonadotrófico mostra uma
grande massa ES lobulada des
provida de realce na cisternas su-
prasselar e pré-pontina. A haste
infundibular B está deslocada
anteriormente.
25-30B Espectroscopia de
protons muitivoxe! da lesão
mostra redução do NAA B
com mioinositol elevado B no
voxel colocado sobre a lesão. Os
achados e a história clínica são
compatíveis com um grande ha
martoma hipotalâmico.

25-31A Ponderação em 11 no

! f \ plano sagitai mostra um enorme


hamartoma hipotalâmico se
estendendo posteriormente ao
divo B. Um cisto El com
intensidade de sinal semelhante
ao LC5 está associado à massa.
25-31B Ponderação em T2
do mesmo paciente mostra que
o hamartoma é composto por
substância cinzenta B desor
ganizada displásica com algum
grau de substância branca dis-
mieiinizada B no interior da le
são. (Cortesia de (?. Nguyen, MD.)
7 0 2 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

25-32 liusiíação coronal mostra um típico cisto da bolsa de Rathke 25-33 Ponderação em TI no plano sagital em um paciente assin-
interposto entre a glândula hipofisária S] e o quiasma óptico B3. tomálico mostra minúscula massa hiperintensa suprasselar ES, que
parece separada da glândula hipofisária e da hiperintensidade da neuro-
-hipófise Presumivelmente um cisto da bolsa de Rathke.

Características micro e macroscópicas. Os HHs são massas Anomalias associadas ao HH incluem a holoprosen-
de partes moles redondas ou ovoides bem definidas que cefalia. Os pacientes com SPH possuem malformações
lembram o parênquima cerebral normal. Histoíogicamen- digitais e outras anomalias da linha média (epiglote, larin-
te, os HHs consistem em pequenos e grandes neurônios ge), bem como anomalias cardíacas, renais e anais, além
bem diferenciados interpostos a quantidades variáveis de do hamartoma hipotalâmico.
células gliais. Calcificaçâo, hemorragia e necrose são ra
História natural. Os HHs geralmente permanecem está
ras, embora lesões muito grandes com freqüência conte veis em tamanho. Terapia de supressão hormonal, ou seja,
nham cistos de margens bem definidas.
agonistas do LHRH, são úteis em alguns casos. A cirurgia
Estadiamento, graduação e classificação, a classificação mais pode ser necessária na falha da terapia medicamentosa ou
comum dos HHs é a morfológica. Os HHs podem ser pe- no rápido crescimento lesional.
dunculados ou sésseis. Os HHs pedunculados estão aderi
dos ao tuber cinereum e projetam-se para a cisterna supras Imagem
selar. Os HHs sésseis estão aderidos ao soalho do terceiro
Características gerais. Uma massa hipotalámica entre a
ventrículo e com freqüência incorporam os corpos mamila- haste infundibular e os corpos mamilares é o aspecto clás
res. A projeção para a cisterna suprasselar é variável. sico de imagem do HH (FIg. 25-27).
Aspectos clínicos Achados na TC. O exame de TC sem contraste mostra uma
Aspectos demográficos. Os HHs são lesões raras, embora massa suprasselar homogênea que é iso a levemente hi-
até um terço dos pacientes com puberdade precoce central podensa se comparada ao parênquima cerebral. Cistos in-
apresentem estas lesões. Há uma moderada predominân tralesionais podem estar presentes nos HHs maiores. Os
cia masculina. HHs não se impregnam à TC com contraste.

Apresentação. A maioria dos HHs se apresenta entre 1 e 3 Achados na RM. Os HHs pedunculados possuem a mor-
anos de idade. Três quartos dos pacientes com HHs histo- fologia de um "botão de colarinho" nas ponderações em
logicamente comprovados possuem puberdade precoce e TI no plano sagital, estendendo-se inferiormente para a
50% têm convulsões. cisterna suprasselar. A intensidade de sinal é isointensa
Os HHs associados a convulsões são variáveis, depen à substância cinzenta normal nas ponderações em TI e
dentes da idade e com freqüência refratários ao tratamento. iso a levemente hiperintensa em T2/FLAIR. O grau de
Crises gelásticas (paroxismos ictais de riso) são o tipo mais hiperintensidade em T2 está diretamente relacionado à
comum e variam de um sorriso a contrações intensas do proporção de tecido glial versus neuronal no interior da
diafragma acompanhadas de estremecimentos corporais. lesão.
Neoplasias selares e lesões semelhantes a tumores 703

Os HHs não sofrem realce após a administração de Cisto da bolsa de Rathke


contraste.
A espectroscopia de prótons mostra leve redução do Terminologia
NAA e discreto aumento de colina, compatível com redução o cisto da bolsa de Rathke (CBR) é um cisto endodérmico
da densidade neuronal e gliose relativa. O mioinositol está benigno da região selar.
elevado, o que é consistente corno o aumento do componen
te glial se comparado ao parênquima cerebral normal. Etiologia
Pensa-se que os CBRs originem-se de remanescentes fatais
Diagnóstico diferencial da bolsa de Rathke. Quando o estomodeu embrionário (a
Os diagnósticos diferenciais do HH são os craniofarin- cavidade oral primitiva) invagina e estende-se dorsalmen-
giomas e os astrocitomas hipotalâmicos/quiasmáticos. As te, ele forma o dueto craniofaríngeo revestido por endo-
características clínicas são muito úteis para distinguir o derme. Este encontra uma proeminência do terceiro ven-
HH destas lesões. trículo, originando a hipófise. A parede anterior da bolsa
O craniofaringioma é a massa suprasselar mais co forma o lobo anterior e a pars luberalis, enquanto a parede
mum em crianças. Cerca de 90% dos craniofaringiomas posterior forma a pars intermedia. O lúmen inteqjosto for
são císticos, 90% calcificam e 90% apresentam realce no ma uma "fenda" estreita - a fenda de Rathke que nor
dular ou de suas margens. malmente regride entre décima segunda semana de idade
O astrocltoma pilocítico hipotalâmico/vias ópticas gestacional. Se ela persistir e se expandir, forma o CBR.
é a segunda massa suprasselar mais comum em pacien
tes pediátricos. Os astrocitomas são hiperintensos em Patologia
T2/FLAIR e com freqüência apresentam realce no TI Localização. Os CBRs estão limitados à região selar. Cerca
pós-contraste. de 40% são completamente intrasselares, em geral posi-

25-34A Exame de TC sem


contraste mostra uma massa

hiperdensa se projetando supe


riormente para a cisterna supras
selar B.
25-34B Ponderação em 11
no plano coronal do mesmo pa
ciente mostra que a massa B é
hiperintensa.

■5

a m m M
25-34C Ponderação em 12 do
mesmo paciente mostra que o
cisto E3 é hipointenso e contém
um nódulo ^3 ainda mais hi
pointenso intracístico.
25-340 Uma borda ("garra")
de glândula hipofisária com real
ce B é vista em torno do cisto.

Cisto da bolsa de Rathke com
nódulo intracístico foi encontrado
na cirurgia.
704 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

cionados entre o lobo anterior e a pars intermedia, en Apresentação. A maioria dos CBRs é assintomático e des
quanto 60% são suprasselares (Figs. 25-32 e 25-33). coberto incidentalmenle nos estudos de imagem ou na
Tamanho e número. A maioria dos CBRs sintomáticos mede necropsia. Os CBRs sintomáticos causam disfunção hipo-
fisária. alterações visuais e cefaleia.
entre 5 e 15 mm de diâmetro. Ocasionalmente, um CBR
As vezes, mas não sempre, os CBRs apresentam-se
toma-se muito grande e pode comprimir o parênquima ce
com "apoplexia do cisto" causada por hemorragia súbita
rebral adjacente e erodir a base do crânio.
no interior do cisto. Os sintomas geralmente são indistin-
Patologia macroscópica. Os CBRs são cistos de margens guíveis daqueles da apoplexia hipofísária.
bem definidas, levemente lobuladas. O conteúdo do cisto
História natural. A maioria dos CBRs é estável e não sofre
varia de claro, semelhante ao LCS. a material mucoide
amarelado, denso e espessado. modificação em seu tamanho ou em suas características.
Os CBRs não apresentam degeneraçao maligna.
Características microscópicas. Os CBRs são cistos endodér-
micos (e não ectodérmicos). Eles são revestidos por uma Imagem
única camada de epitélio ciliar cuboide ou colunar, junta Achados na TC. Os exames de TC sem contraste mostram
mente com quantidades variáveis de células caliciformes. u m a m a s s a r e d o n d a o u o v o i d e d e l i m i t e s b e m d e fi n i d o s
Nos estudos de imuno-liistoquímica, os CBRs expressam no interior ou logo acima da sela turcica. Três quartos dos
citoqueratinas 8 e 20. CBRs são hipodensos na TC sem contraste, enquanto 20%
são mistos hipo e isodensos. Entre 5 e 10% são hiperden-
Aspectos clínicos sos (Fig. 25-34A). Calcificações são incomuns se compa
Aspectos demográficos. Embora os CBRs possam ocorrer radas ao craniofaringioma.
em qualquer idade, a média de idade de apresentação está
em 45 anos.

25-35A Ponderação em TI
no piano sagitai de um paciente
com alterações visuais mostra
que o quiasma óptico ES está
elevado em razão de uma massa
E3 supra e intrasselar, que é
isointensa à substância cinzenta.
25-35B A massa B é muito
hiperintensa nas ponderações
em T2. Observe o quiasma óptico
B elevado, abraçando a lesão.

25-36A A lesão B é muito


hiperintensa no FLAIR.
25-36B Aquisição em TI
pós-contraste no plano sagital
demonstra o clássico sinal da
"garra" formado por uma fina
borda de glândula hipofisaria
B comprimida que contorna a
massa, esta última sem realce.
Cisto da bolsa de Rathke foi con
firmado na cirurgia.
Neoplasias seiares e lesões semelhantes a tumores 705

TSH
5%

GH
GH ACTH
50% 15-20% 50%

PRL , PRL
15-20% 15-20%

FSH/LH 10%

25-37 Secção sagitai pela glândula hlpoíisária demonstra os lobos 25-38 Gráfico demonstra a localização das células do lobo hipofisário
hipofisárlos anterior e posterior ES, bem como a haste infundibular anterior. As asas laterais contêm principalmente células produtoras de
[S conectando o hipotálamo à neuro-hipófise. (Cortesia de A, Ersen, GH e PRL. Os corticotróllcos e tireotróficos se localizam na érea mucoide
MO, B. Schelthauer, MO.) mediana com moríologia semelhante a uma cunha (verde). As células
responsáveis pelo FHS/LH estáo distribuídas difusamente.

Achados na RM. A intensidade de sinal varia com o con- são comuns) e epidermoide (raramente na linha média, com
teiido do cisto. Metade dos CBRs são hipointensos nas porta-se de modo semelhante ao LCS), cistos de aracnoide
ponderações em TI e a outra metade é hiperintensa (maiores, semelhantes ao LCS, desprovidos de nódulo in
(Fig. 25-35). A maioria dos CBRs é hiperintenso em T2 tracístico) e cistos inflamatórios (p. ex., neurocisticercose,
(Fig. 25-35), enquanto 25 a 30% são iso a hipointensos. A cistos múltiplos são muito mais prevalentes que solitários).
inspeção cuidadosa revela um nódulo intracístico em 40 a
75% dos casos (Figs. 25-34C e 25-34D).
CISTO DA BOLSA DE RATHKE
Os CBRs são quase sempre hiperintensos no FLAIR
(Fig. 25-36A). Uma borda de realce (sinal da "garra") Etiologla e patologia
devido à glândula hipofisária comprimida pode ser vis • Remanescente embrionário da fenda de Rathke
• Intrasselar (40%), suprasselar (60%)
ta, com freqüência, rodeando a lesão cistica sem realce • O conteúdo varia (de semelhante ao LCS a mucoide e
(Fig. 25-36B).
espesso)
• Revestimento endodérmico + células callciformes
Diagnóstico diferencial
o principal diagnóstico diferencial é o craniofaringioma. Imagem
• Hipointensos (50%), hiperintensos (50%) no TI
Calcifícações floculares, periféricas ou nodulares são co • Hiperintensos em T2/FLAIR
muns no craniofaringioma, enquanto os CBRs raramente • Procure por
calcificam. O realce periférico ou nodular do craniofarin • Nódulo intracístico (40 a 75%)
gioma é geralmente mais espesso e irregular que o realce • Realce em "garra"
da glandula hipofisária em "garra" que rodeia o CBR não
realçante.
Um adenoma hipofisário cístico - especialmente um
microadenoma cístico não funcionante - pode ser difí
cil de distinguir de um pequeno CBR intrasselar. Ambos Neoplasias
raramente calcificam e são etiologias comuns de inciden- Adenomas hipofisórios
talomas nos exames de RM. Nenhum deles requer trata
mento, portanto esta distinção é acadêmica. Terminologia
Outros cistos não neoplásicos que podem ocorrer na Os adenomas hipofísários são tumores da adeno-hipófise
região selar são os cistos dermoide (gordura e calcifícações compostos por células secretoras que produzem hormô-
706 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

nios hipofísários (Figs. 25-37 e 25-38). Os microadeno Mutações na proteína interatuante-receptora do aril-
mas são definidos como tumores de 10 mm ou menos de -hidrocarboneto (AIP) foram identificadas em alguns
diâmetro, enquanto os adenomas maiores são denomina pacientes com síndrome do adenoma hipofisário familiar
dos macroadenomas (Figs. 25-39,25-40,25-41 e 25-42). isolado (abaixo), mas são raras em pacientes com adeno
mas hipofísários esporádicos.
Etiologia SíNDROMES TUMORAIS HIPOFISÁRIAS FAMILIARES. A maioria dos ade
Conceitos gerais. Células com propriedades progenito-
nomas hipofísários é esporádico e ocorre em adultos. Apro
ras multipotenciais, semelhantes a células-tronco, foram
ximadamente 5% dos adenomas hipofísários são familiares.
identificadas na glândula hipofisária de adultos e podem
São conhecidas quatro síndromes tumorais familiares
desempenhar um papel na tumorogênese. Alterações no herdadas com defeitos genéticos identificados associadas
microambiente normal das células-tronco hipofisárias po a adenomas hipofísários: neoplasia endócrina múltipla
dem servir de gatilho para a proliferação desordenada e
tipo 1, complexo de Carney, síndrome de McCune-Albright
subsequente formação dos adenomas hipofísários. e síndrome do adenoma hipofisário familiar isolado.
Genética. A gênese dos adenomas é um processo que en Neoplasia endócrina múltipla do tipo 1 (NEMl)
volve múltiplas causas e múltiplas fases, que incluem é uma doença autossômica dominante com mutações de
fases tanto de iniciação como de progressão. A ativação linhagem germinativa altamente penetrantes que pre
de diversos oncogeneses e a perda das funções de genes dispõem os pacientes a desenvolver tumores em células
supressores tumorais estão envolvidas. Além disso, al secretoras hormonais. A NEM I é caracterizada por uma
guns fatores endócrinos tanto a nível hipotalâmico quanto combinação de mais de 20 tumores endócrinos e não en
sistêmico podem induzir a proliferação celular adeno- dócrinos. Os tumores hipofísários ocorrem em 15 a 40%
-hipofisária, dos pacientes com NEMl. Os adenomas associados a

25-39 Ilustração no plano


coronal mostra massa selar/su-
prasselar com morfologia em bo
neco de neve ou em "oito"í3].
Pequenos focos de hemorragia
[-^1 e modificações císticas ^
estão presentes no interior da
lesão. A glândula hipofisária não
pode ser identificada separada
mente da massa; na verdade, a
glândula é a massa.
25-40 Espécime de necropsia
mostra um macroadenoma E3
protruindo superiormente pelo
diafragma da sela para o interior
da cisterna suprasselar.

25-41 Adenomas hipofísários


B são masass circunscritas que
comprimem e deslocam a glân
dula normal B.
25-42 Fotomicrografia de bai
xa magnificação no plano sagital
mostra um prolactinoma erodin-
do o soalho selar SI e compri
mindo e deslocando a glândula
hipofisária normal ÍS.
Neoplasias seiares e lesões semelhantes a tumores 707

Tabela 25-1 classificação funcional dos adenomas hipofisários

Tipo de Adenoma Perfil imuno-fiistoquimico Apresentação clínica

Adenoma de células de PRL esparsa- 27,0 1:2,5 PRL Mulheres: síndrome de amenorreia-galactor-
mente granulado reia; homens: massa selar, hipogonadismo

Adenoma de células de PRL densa- 0,04 N/D PRL


mente granulado

Adenoma de células de GH densa- 7,1 1:0,7 GH, subunidade a (PRL, TSH, Acromegalia (adultos) ou gigantismo (crian
mente granulado LH,FSH) ças)

Adenoma de células de GH esparsa- 6,2 1:1,1 GH, PRL (subunidade a Acromegalia (adultos) ou gigantismo (crian
mente granulado ças)

Adenoma misto de células de 6H-PRL 3,5 1:1,1 GH, PRL (subunidade a, TSH) Acromegalia + hiperprolactinemia

Adenoma mamosomatolrófico 1,2 1:1,1 GH, PRL (subunidade a, TSH) Acromegalia + hiperprolactinemia

Adenoma acidófilo de células-troncc 1,6 1:1,5 PRL, GH Hiperprolactinemia; acromegalia é incomum

Adenoma corticolrófico densamente 9,6 1:5,4 ACTH (LH, subunidade a) Síndrome de Gushing, síndrome de Nelson
granulado

Adenoma corticotrófico esparsamen- Raro N/D ACTH Síndrome de Gushing, síndrome de Nelson
te granulado

Adenoma tíreotrófico 1,1 1:1,3 TSH (GH, PRL, subunidade a) Hipertireoidismo

Adenoma gonadotrófico 9,8 1:0,8 FSH, LH, subunidade a(AGTH) Massa selar não funcionante

Adenoma "corticotrófico" silencioso 1,5 1:1,7 AGTH Massa selar não funcionante, hipofisária
subtipo 1

Adenoma "corticotrófico" silencioso 2,0 1:0,2 p Endorfina, ACTH Massa selar não funcionante
subtipo 2

Adenoma silencioso subtipo 3 1,4 1:1,1 Qualquer combinação dos Mulheres: Simula adenoma secretor de PRL;
hormônios da hipófise an- homens: Massa selar não funcionante
terior

Adenoma de células nulas 12,4 1:0,7 Imunorreativo (FSH, LH, TSH, Massa selar não funcionante
subunidade a)

Oncocitomas 13,4 1:0,5 Imunonegativo (FSH, LH, TSH, Massa selar não funcionante
subunidade a)

Adenomas não classificados 1,8 N/D N/D Va r i á v e l

N/D, não disponível; PRL,prolactina; TSH, hormônio tireoestimulante, LH, hormônio luteinizante; FSH, hormônio foíículo-estimulante; ACTH, hormônio adrenocorti-
cotróíico; GH, tiormõnio do crescimento.

NEM! freqüentemente sào neoplasias pluri-hormonais glândulas endócrinas levam a síndromes de hipersecre-
(mais comumente secretoras de prolactina e de hoimônio çào como acromegalia, hiperprolactinemia e síndrome
do crescimento), maiores e mais invasivas. de Cushing. A SMAlb é causada por uma mutação pòs-
O complexo de Carney está associado com pigmen- -2igótica no gene G/VAS.
tação irregular da pele, mixomas, tumores endócrinos e A síndrome do adenoma hípofisárío familiar isola
schwannomas. O envolvimento suprarrenal causando do (SAHFI) é um distúrbio que foi recentemente descrito,
síndrome de Cushing ACTH-independente é visto em um no qual os membros afetados de uma família desenvol
terço a metade dos pacientes com complexo de Camey. vem apenas tumores hipofisários. Ela inclui tumores hipo
Tumores hipofisários produtores de hormônio do cresci fisários que nâo estão associados a NEM 1 e ao complexo
mento são vistos em 10%. de Camey.
A síndrome de McCune Albright (SMAlb) é de Os prolactinomas são encontrados em 40% dos pa
finida pela tríade de precocidade sexual gonadotrofina cientes com SAHFI, somatotropinomas em 30% e adeno
independente, manchas de pele café com leite e displa- mas não secretores em 13%. Em geral, os tumores hipo
sia fibrosa. Tumores ou hiperplasia nodular de diversas fisários na SAHFI apresentam-se mais cedo que os AHs
708 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

25-43 Série de exames moslra um pequeno macroadenoma que 25-44 Ponderações em TI no plano sagilai (superior à esquerda) e T2
mede 12 mm em altura. A massa é isointensa à SC E3 nas ponderações (superior à direita), FLAIR (inferior á esquerda) e Ti pós-contraste (infe
em T1 e em T2 B e realça forte e uniformemente tB. rior à direita), mostram uma grande massa B em "boneco de neve"
ou em "oito" intra-/suprasselar. A glândula fiipofisária não pode ser
identificada separadamente da massa (macroadenoma).

esporádicos, são maiores e mais freqüentemente apresen mas "duplos" ou mesmo "triplos" são encontrados em 1 %
tam invasão dos seios cavemosos. das autópsias, mas raramente diagnosticados nos exames
Dois subgrupos de SAHFI foram identificados com de RM pré-operatórios.
base em características genéticas e fenotípicas. Em 15 a
Patologia macroscópica. Os macroadenomas são massas lobu-
25% dos casos, as famílias afetadas possuem mutações do
ladas marrom-avermelhadas que com freqüência protruem
gene AIP e herança autossômica dominante. O segundo
e maior grupo possui início da doença na idade adulta e superiormente por meio da abertura do diafragma da sela
(FIg. 25-40), ou menos comumente, estendem-se lateral
tipos mais variados de adenoma. Até o momento, não fo mente em direção aos seios cavemosos. Cerca de metade
ram identificados genes causais.
dos macroadenomas contêm cistos e/ou focos hemorrágicos.

Patologia Características microscópicas. O exame histológico mostra


Localização. Com raras exceções, os adenomas originam- uma população uniforme de células redondas, poligonais
-se no interior da sela tiircica. Outros locais relatados in ou alongadas com citoplasma moderadamente abundante
cluem o seio esfenoidal (o local mais comum), nasofarin- e nucléolos pouco evidentes. A atipia celular é incomum e
ge, terceiro ventrículo e cisterna suprassclar. Esses casos as mitoses são raras.
são designados como adenomas hípofísários cctópicos.
Estadiamento, graduação e classificação, a classificação dos
Os adenomas se originam da adeno-hipófise. A loca
adenomas é, atualmente, baseada no perfil imuno-histo-
lização específica segue a distribuição normal das células
químico e na apresentação clínica. As propriedades "tinto-
que contêm os peptídeos. Os prolactinomas e os tumores se- riais" das células vistas nos preparados de H&E ("acidofi-
cretores de hormônio do crescimento - dois dos adenomas
lico", "basofilico", "cromofóbico") não estão precisamente
hipofisários mais comuns - tendem a surgir lateralmente na relacionadas com a produção de hormônios específicos e
adeno-hipófise, enquanto os tumores secretores de TSH e não são mais utilizadas nos critérios diagnósticos.
ACTH mais freqüentemente se situam na linha média.
Os adenomas hipofisários são tumores grau 1 da
Tamanho e número. Os adenomas variam em tamanho des OMS. Imunorreativídade do p53 e MIB-1 se correlacio
de lesões microscópicas (Figs. 25-47 e 25-48) a tumores nam com invasão tumoral, mas não indicam transfor

gigantes, com mais de 5 centímetros, que invadem a base mação maligna. A maioria dos adenomas é uma lesão
do crânio e se estendem para múltiplas fossas cranianas. "típica" com ambos MIB-1 e p53 abaixo de 3%. índices
Os adenomas hipofisários são lesões solitárias. Múltiplos elevados se correlacionam com recidiva precoce e cresci
adenomas hipofisários sincrônicos são incomuns. Adeno- mento mais rápido na recorrência.
Neoplasias seiares e lesões semelhantes a tumores 709

25-45 Massa lobulada ínvasiva selar/suprasselar E3 mostra múl 25-46 TC óssea (superior à esquerda) e TC com contraste (superior a di
tiplos pequenos e médios cistos híperintensos O macroadenoma reita) mostram um enorme macroadenoma hipofisário invasive ES. A TC
também invade o seio cavernoso direito com contraste, ponderação em TI no piano sagitai e aquisição coronal Ti
pós-contraste com saturação de gordura mostram lagos de tCS adjacentes
ao tumor correspondentes a cistos não neopiásicos peritumorais.

Aspectos clínicos Os macroadenomas geralmente se apresentam com


efeito de massa. Cefaleia e distúrbios visuais são comuns.
Epidemiologia. Os adenomas hipofisários estão entre as
Diabetes insípido raramente está associado com adenoma
neoplasias mais comuns do SNC, correspondendo por 10
a 15% das neoplasias intracranianas primárias. Cerca de hipofisário, portanto, sua presença deve suscitar diagnós
ticos alternativos.
60% dos pacientes que se submetem à cirurgia possuem
macroadenomas, e 40% microadenomas. Contudo, os História natural e tratamento. Embora a taxa de cresci
microadenomas são muito mais comuns que os macroa mento dos adenomas hipofisários seja bastante variável,
denomas à necropsia. Microincidentalomas clinicamente a maioria cresce vagarosamente durante anos. A transfor
silenciosos são identificados em 15 a 25% das autópsias. mação maligna é rara.
As opções de tratamento são numerosas e incluem res-
Aspectos demográficos. A idade de pico da apresentação
secção cirúrgica, tratamento medicamentoso, radiocirurgia
está entre os 40 e 70 anos. Apenas 2% dos adenomas hipo esterotáxica e radioterapia convencional. As estratégias de
fisários são encontrados em crianças. A maioria ocorre em o tratamento devem ser diferentes para cada paciente.
adolescentes do sexo feminino. Os adenomas hipofisários
em pacientes masculinos pré-piiberes são muito raros. Imagem
Características gerais. Uma massa selar ou combinada intra
Apresentação. Quase dois terços dos adenomas hipofisá
rios secretam hormônios (48% prolactina, 10% hormô e suprasselar que não pode ser individualizada da glân
nio do crescimento, 6% corticotrofina, 1% tireotrofina) dula hipofisária - a massa é a glândula - é o achado de
e causam síndromes hipersecretórias típicas. O um terço imagem mais característico.
restante não produz hormônios e são referidos como ade Achados na TC. A TC óssea pode mostrar alargamento e
nomas não funcionantes (ou não secretores) (Tab. 25-1). remodelamento da sela túrcica. A lâmina dura do soa-
Mulheres com prolactinomas apresentam-se com sín- lho selar geralmente está intacta. Note, entretanto, que
drome de amenorreia-galactorreia, enquanto os homens os adenomas hipofisários gigantes podem invadir a base
apresentam hipogonadismo e impotência. Os tumores do crânio, simulando metástases ou processo infeccioso
secretores de GH causam acromegalia em adultos e gi agressivo.
gantismo em crianças. Os pacientes com tumores cortico- Os adenomas hipofisários demonstram atenuação va
trópicos apresentam doença de Gushing ou síndrome de riável nos exames de TC sem contraste. Os macroadeno
Nelson (rápido crescimento de um adenoma após adrena- mas são isodensos á substância cinzenta, porém cistos (15
lectomia bilateral). Adenomas secretores de TSH causam a 20%) e hemorragias (10%) são comuns. Calcificações
hipertireoidismo. são raras (menos de 2%). Realce moderado, mas hetero-
710 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

gêneo. é típico nos macroadenomas na TC com contraste, RM. A altura da glândula é de IO mm ou menos exceto se
mas os microadenomas pequenos podem ser invisíveis. a paciente for gestante ou estiver no período de amamen
Achados na rm.
tação. Menos comumente, insuficiência de órgão-alvo
Macroadenomas. Os macroadenomas são isointensos ao
(como hipotireoidismo) resulta em aumento compensató
rio da hipófise. Como os adenomas são muito raros em
córtex (Fig. 25-43 e 25-44). O sinal hiperintenso da hipó-
fise posterior está ausente (20%) ou deslocado para a cis crianças, se uma menina pré-púbere ou um homem jovem
terna supradiafragmática (80%) nas ponderações em Ti no possuir uma glândula hipofisária sugestiva de adenoma,
a avaliação endocrinológica é obrigatória.
plano sagital. Pequenos cistos e focos hemorrágicos são Tumores que lembram um adenoma hipofisário in
comuns. Níveis líquido-líquido podem estar presentes, mas
cluem o meningioma, metástasc e craniofaringioma. Me
são mais comuns em pacientes com apoplexia hipofisária.
Os adenomas hipofisários geralmente são isointensos ningioma e metástases são muito raros em crianças. O me
à substância cinzenta nas ponderações em T2, mas tam ningioma do diafragma da sela pode ser identificado em
bém podem demonstrar intensidade de sinal heterogênea separado da glândula hipofisária, que se situa abaixo. Me-
nigiomas intrasselares isolados verdadeiros são muito raros.
(Fig. 25-45). Hiperintensidade ao longo das vias ópticas Metástasc na haste e/ou na glândula hipofisária de
em T2/FLAIR ocorre em 15 a 20% dos casos em que o
uma neoplasia primária extracraniana é incomum. Pulmão
macroadenoma comprime o quiasma óptico. Os adeno
e mama são as fontes mais comuns. A maioria das metás
mas com hemorragia apresentam artefatos de susceptibili-
tases hipofisárias são secundárias à disseminação oriun
dade magnética no T2*.
da de ossos adjacentes ou dos seios cavernosos, em geral
A maioria dos macroadenomas realça fortemente,
ocorrendo como uma manifestação tardia de um tumor
mas de maneira heterogênea nas aquisições em TI pós-
sistêmico conhecido. Metástases hematogênicas para a
-contraste (Fig. 25-46). Espessamento durai sutil ("cau
da" durai) está presente em 5 a 10% dos casos. glândula hipofisária podem ocorrer, mas são raras. Metás
tases no SNC para outros locais no cérebro são comuns,
Microadenomas. A menos que sofram hemorragia,
mas não invariavelmente presentes.
os pequenos microadenomas podem ser imperceptíveis
O craniofaringioma é o tumor suprasselar mais comum
nas sequências-padrão sem a injeção de contraste. Mui
da infância, enquanto os adenomas hipofisários são raros. Os
tos microadenomas aparecem levemente hipointensos nas
craniofaringiomas em adultos de meia-idade são tumores
aquisições em TI pós-contraste. Outros realçam mais for
temente e tomam-se isointensos ao restante de glândula sólido-papilares que não calciflcam como os adamantinoma-
tosos. Independentemente disso, a glândula hipofisária pode
hipofisária, tomando-os praticamente invisíveis. ser identificada anatomicamente separada da massa.
Os microadenomas realçam de maneira mais lenta que
O carcinoma liipoÍl.sário é extremamente raro
o tecido hipofisário normal. Pode-se tirar proveito desta dis
(adiante). Em razão de sua raridade, até os tumores hipo
crepância no tempo de realce utilizando aquisições dinâmi fisários com aspecto muito agressivo são estatisticamente
cas durante a injeção de contraste, em cortes finos, no plano
muito mais prováveis de estarem relacionados a macroa
coronal. As aquisições rápidas durante a injeção de contraste
denomas do que a carcinomas.
com freqüência conseguem discernir o microadenoma, com
Entidades não neoplásicas que podem simular um ma
realce lento, da glândula normal, com realce precoce. Entre
croadenoma incluem aneurisma e hipofisite. Um aneuris-
10 a 30% dos microadenomas são vistos apenas nas seqüên
ma nasce excentricamente a partir do círculo de Willis e
cias dinâmicas em TI pós-contraste (Fig. 25-49).
não está na linha média diretamente acima da sela. Aneu-
Angiografia. a ATC em pacientes com macroadenoma rismas saculares paramedianos são hiperdensos na TC sem
com extensão suprasselar pode mostrar deslocamento contraste e podem demonstrar calcificações periféricas
lateral da carótida interna supraclinóidea e das artérias enquanto os adenomas hipofisários raramente calciflcam.
coróideas anteriores. A ASD pode demonstrar um tronco Um "/7ovv voicC com ou sem um coágulo laminado junto à
meningo-hipoflsário aumentado com "Ww.v/t" vascular parede do aneurisma é comum na RM.
prolongado no tumor. A liípofísite é muito menos comum que o macroade
Amostras de sangue venoso dos seios petroso infe- noma, mas pode parecer idêntica ao adenoma hipofisário
rior/cavemoso podem ser úteis na avaliação dos pacientes nos exames de imagem. A hipofisite linfocítica - o tipo
com síndrome de Cushing ACTH-dependente. mais comum -ocorre em pacientes femininas periparto ou
pós-parto ou na hipofisite autoimune nas pacientes trata
Diagnóstico diferencial das com terapias imunomoduladoras (p. ex., ipilimumab
o diagnóstico diferencial do adenoma hipofisário varia com para melanoma maligno metastálico).
o tamanho e com os aspectos demográficos dos pacientes.
Microadenoma hipofisário. O microadenoma hipofisário pode
Macroadenoma hipofisário. O principal diagnóstico diferen ser difícil de distinguir de um cisto não neoplásico inciden
cial do macroadenoma hipofisário é a hiperpiasia hipofi tal intra-hipofisário como um cisto da bolsa de Rathke ou
sária. Entre 25 e 30% das mulheres endocrinologicamen- um cisto da pars intermedia. Os microadenomas realçam;
te normais entre 18 a 35 anos possuem uma convexidade os cistos são vistos como focos desprovidos de realce no
superior da glândula hipofisária nos exames de TC ou de interior da glândula hipofisária intensamente realçante.
Neoplasias selares e lesões semelhantes a tumores 711

25-47 Ilustração coronal


demonstra um microadenoma
hlpoíisário ES.
25-48 Fotomicrografia de
baixa magniíicação da glândula
hipofisária à necropsia mostra
um pequeno microadenoma
não secretor ES rodeado pela
adeno-hipófise normal IS. Mi
croadenomas incidentals assinto-
méticos são comuns nos estudos
por imagem e nas autópsias.
(Cortesia de J. Townsend, MD.)

y .

25-49A Ponderação em TI no
plano coronal de paciente com
cefaleia, amenorreia e prolactina
elevada demonstra uma massa
hipoinlensa Si no aspecto late
ral direito da glândula hipofisária.
25-498 Aquisição-padrão em
TI pós-contraste com saturação
de gordura não demonstra anor
malidades.

25-49C Imagem precoce de


seqüências dinâmicas durante
/ a injeção de contraste no plano
, ' \
coronal mostra o realce rápido e
intenso da glândula normal
A massa realça mais vagarosa
mente e, portanto, aparece rela
tivamente hipointensa ES.
25-490 Fase tardia da se
qüência dinâmica mostra que
a massa sofreu realce a agora
está Isointensa ao restante da
glândula, tornando-se invisível.
Microadenoma hipofisário foi en
contrado durante a cirurgia.
712 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

25-50 Espécime de necropsia de carcinoma hipofisário com dissemi 25-51 Aquisição em TI pós-contraste mostra carcinoma hipofisário
nação do LCS mostra "drop metástase" ES adjacente à medula. Disse como uma massa com realce heterogêneo invadindo o divo e englo
minação sistêmica ou do LCS é necessária para o diagnóstico. (Cortesia bando o segmento cavernoso da artéria carótida 13). Os achados de
de A. Ersen, MO, B. Scheithauer, MO.) imagem são indistinguiveís do macroadenoma invasivo. (Cortesia de A.
Ersen, MD, 6. Scheithauer, MD.)

Um pequeno microadenoma hemorrágico pode ter aspecto Carcinoma hipofisário


idêntico a um CBR que contém fluido protcináceo, já que O carcinoma hipofisário (CH) é muito raro, representando
ambos são hiperintensos nas ponderações em Ti. menos de 0,2% de todas as neoplasias adeno-hipofisárias
operadas. Sua prevalência estimada é de quatro por mi
ADENOMA HIPOFISÁRIO: IMAGEM lhão de pessoas/ano. A maioria dos CHs origina-se como
TC metástases de mijUiplos e recorrentes adenomas invasi
• Sela alargada, remodelada, cortex intacto vos; malignidade primária é incomum. A sobrevida é in
• Adenomas hipofisários invasivos causam erosão e
versamente proporcional ao aumento da idade.
destruição óssea Os critérios histológicos convencionais para malig
• Maioria são isodensos ao parênquima cerebral
o Cistos (15 a 20%) nidade (necrose, atipia nuclear, pleomorfismo, atividade
o Hemorragia (10%) mitótica) são insuficientes para o diagnóstico. Um CH
o Ca ++ é rara (1 a 2%) verdadeiro deve exibir invasão franca do parênquima ce
RM rebral ou metástases sistêmicas/do LCS (FIg. 25-50).
• Usualmente isointensos ao cortex O CH não possui características de imagem ímpares e
• Intensidade de sinal heterogênea é comum (cistos, podem ser indistinguiveís de um adenoma invasivo, mas
hemorragia) histologicamente típico (Fig. 25-51). Apenas a documen
• Realce forte, mas heterogêneo
• 10 a 30% dos microadenomas são vistos apenas nas tação de metástases cranioespinais ou de disseminação
sistêmica do tumor podem confirmar o diagnóstico.
aquisições dinâmicas em Ti pós-contraste
Diagnóstico diferencial Blastoma hipofisário
• Hiperplasia hipofisária (considerar idade e sexo do
paciente) O blastoma hipofisário é um tumor hipofisário recente
o Fisiológica Qovens mulheres/gestantes/em fase de mente descrito em neonatos e em iactentes, caracterizado
amamentação) por grandes estruturas glandulares que se parecem com
o Não fisiológica (insuficiência de órgão-alvo)
• Outros tumores
o epitélio de Rathke e com as células adeno-hipofisárias.
o Meningioma, craniofaringioma, metástases Desenvolvimento hipofisário interrompido e proliferação
o Carcinoma hipofisário ê excepcionalmente raro descontrolada é a etiologia provável deste tumor atípico.
o Adenoma hipofisário com aspecto agressivo quase A histologia mostra pequenas células indiferenciadas
nunca é maligno semelhantes a blastema interpostas com grandes células
• Lesões não neoplásicas
o Aneurisma
hipofisárias secretoras. A atividade mitótica é variável. Os
o Hipofisite achados de imagem não são específicos e se parecem com
os do macroadenoma. Os poucos casos descritos mostram
Neoplasias selares e lesões semelhantes a tumores 713

25-52 lluslraçSo no plano sagital moslra uma massa suprasseiar 25-53 Espécime de necropsía de um craniofaringioma adamantino-
predominantemenle cística e sólida com calcificações periféricas focais. matoso mostra um pequeno componente sólido intrasselar B e um
Observe o pequeno componente intrasselar ES da massa e o nível grande componente cístico suprasseiar que adere ao parênquima cere
líquido-líquido, O líquido, rico em colesterol, é escuro e viscoso. bral adjacente B. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)

uma massa selar/suprasselar com realce heterogêneo, fre ca de 90% dos CFs são adamantinomatosos; 10% são

qüentemente invadindo o seio cavemoso. papilares.


O aspecto macroscópico típico de um craniofarin
gioma adamantinomatoso é o de uma massa multilobu-
Craniofaríngioma lada suprasseiar. parcialmente sólida, mas em sua maior
Terminologia e etiologia parte cística (Figs. 25-53 e 25-54). Múltiplos cistos lo-
o craniofaringioma (CF) é uma lesão benigna, represen culados são comuns. Os cistos com freqüência contêm li
tada por uma massa selar/suprasselar, com freqüência quido escuro, viscoso, em "óleo de maquinaria", rico em
parcialmente cística, que se origina de remanescentes cristais de colesterol (Fig. 25-52). A superfície dos CFs
epiteliais da bolsa de Rathke. A patogênese do CF é des adamantinomatosos costuma ser irregular e infiltrativa,
conhecida. A reativação da via de sinalização Wnt pode aderindo às estruturas adjacentes, como o hipotálamo.
ser um dos fatores envolvidos na patogênese dos CFs ada- O craniofaríngioma papilar é uma massa discreta
mantinomatosos. mente encapsulada com superiTcie lisa que não adere às
estruturas cerebrais adjacentes. Os CFs papilares são só
Patologia lidos, com configuração em couve-flor. Quando contêm
Localização. CFs completamente intrasselares são raros. cistos, o líquido é claro (ao contrário do conteúdo rico em
Os CFs são tumores primariamente suprasselares (75%). colesterol, em "óleo de maquinaria" dos CFs adamantino
Um pequeno componente intrasselar está presente em 20 matosos).
a 25% dos casos (Fig. 25-52). As vezes os CFs (especial
Características microscópicas. Os CFs adamantinomatosos
mente do tipo papilar) originam-se em sua maior parte,
possuem uma camada periférica de epitélio escamoso es-
ou totalmente, do terceiro ventrículo (Figs. 25-58,25-61). tratificado em paliçadas em tomo dos nódulos da "rede"
Tamanho e número. Os CFs são lesões solitárias que va de queratina. "Fendas" de colesterol de debris escamosos
riam em tamanho, de poucos milímetros a vários centí são típicos. Calcificação é comum.
metros. Lesões maiores que 5 centímetros são comuns. Os CFs papilares possuem camadas sólidas de epité
Craniofaringiomas gigantes podem se estender para as lio escamoso bem diferenciado. Pseudopapilas epiteliais
fossas cranianas anterior e média (Fig. 25-57). Exten grosseiras formam-se em tomo de um centro de estroma
são posteroinferior, entre o divo e a ponte, inferiormente f i b r o v a s c u l a r. O c a s i o n a l m e n t e c é l u l a s c a l i c i n a i s e s t ã o
para o interior do forame magno pode ser vista em lesões presentes.
grandes.
Estadiamento, graduação e classificação. Tanto o CF ada
Patologia macroscópica. Dois tipos de craniofaringiomas mantinomatoso quanto o papilar são considerados neo
são reconhecidos: adamantionomatosos e papilares. Cer- plasias grau I da classificação da OMS. O MIB-1 é baixo.
714 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

25-54 Espécime de necropsia


em visão axial mostra um
cranioíaringioma S] predomi
nantemente cistico na cisterna
suprasselar. Um pequeno nódulo
tumoral está presente [S. (Cor
tesia de R. Hewlett, MD.)
25-55A Exame de TC sem
contraste no piano axial em um
menino de 7 anos com uma
história de alterações visuais há
dois meses, que se apresentou
com perda visual quase total
aguda, mostra uma típica massa
suprasselar com caícificações
periféricas E3, sugestiva de cra-
niofaringioma.

25-55B Ponderação em 11 no
plano sagital mostra uma massa
lobulada E3 intra e suprasselar
que é quase isointensa à subs
tância cinzenta do corpo caloso.
25-55C A massa ea é muito
hiperintensa na ponderação em
12. Alguns debris hipointensos
estão presentes no fundo
da massa predominantemente
cística.

25-55D Aquisição em TI

0
pós-contrasle no plano sagital
mostra fino realce periférico em
torno da massa B.
25-55E Aquisição em TI
pós-contraste no plano coronal
mostra o lino realce periférico
com um pequeno nódulo
tumoral Cranioíaringioma
adamantinomatoso foi encontra
do na cirurgia.

i
Neoplasias selafes e lesões semelhantes a tumores 715

Aspectos clínicos História natural. Os CPs são neoplasias de crescimento


Epidemiologia. o CF é a neoplasia não glial mais comum
lento com propensão à recorrência após a cirurgia. Mais
de 85% dos pacientes sobrevivem ao menos três anos
em crianças, correspondendo a 6 a 10% de todos os tu
mores cerebrais pediátricos e a pouco mais da metade das após o diagnóstico. Contudo, a taxa de recorrência aos
10 anos se aproxima de 20%, mesmo em pacientes com
neoplasias suprasselares.
ressecção macroscópica total. A recorrência é significati
Aspectos demográficos. Os CPs ocorrem quase que igual vamente mais comum com lesões grandes e com excisão
mente em crianças e em adultos. Os CPs adamantinoma- incompleta.
tosos possuem uma distribuição etária bimodal com um Cerca de metade dos pacientes com sobrevida em
pico maior entre 5 a 10 anos e um segundo pico menor longo prazo apresentam redução na qualidade de vida,
aos 50 a 60 anos. Os CPs são raros em recém-nascidos e a maioria devido à obesidade mórbida hipotalâmica. A
em lactentes; apenas 5% se originam em pacientes entre o transformação maligna espontânea é rara. A maioria dos
nascimento e os 5 anos de idade. casos de degeneração maligna do CP ocorre em pacientes
Os CPs papilares quase sempre ocorrem em adultos, com múltiplas recidivas e radioterapia prévia.
com pico de incidência entre 40 e 44 anos.
Opções de tratamento. A ressecção macroscópica total é a me
Apresentação. Os sintomas variam com o tamanho do tu lhor opção de tratamento. A lesão hipotalâmica é o principal
mor e a idade do paciente. Os pacientes costumam apre risco, especialmente em grandes CPs adamantinomatosos.
sentar-se com distúrbios visuais, com ou sem cefaleia
em associação. Os grandes tumores comprimem a haste Imagem
infundibular ("efeito haste"). Deficiências endócrinas in Características gerais. Uma massa suprasselar extra-axial,
cluindo retardo no crescimento, puberdade tardia e diabe sólido-cistica, parcialmente calcificada em uma criança é
tes insípido são comuns. a apresentação clássica. Uma glândula hipofisária com-

25-56A Ponderação em TI
no plano axial em um paciente
masculino de 14 anos mostra
uma grande massa suprasselar
ES que é predominantemente
Isointensa ao córtex, exceto por
uma pequena excrescência no
dular posterior que apresenta um
minúsculo foco híperintenso
25-56B A ponderação em di
fusão não evidencia restrição.

25-56C Perfusâo por RM não


demonstra elevação do volume
sangüíneo cerebral relativo. A
massa B é tão avascular quan
to o ICS contido nos cornos occi-
pitais dos ventrículos laterais.
25-56D A espectroscopía
de protons mostra um grande
pico de lipídeo-lactato S,
característico do colesterol e do
conteúdo lipídico dos craniofa-
ringiomas. Um craniofaringioma
adamantinomatoso foi encontra
do durante a cirurgia.
716 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

25-57A Corte axial de TC


sem contraste de um menino
de 9 anos mostra uma massa
hipodensa envolvendo as fossas
cranianas anterior, média e pos
terior B. Um pequeno foco de
calcificação BI está presente no
interior da massa.
25-57B Ponderação em 12 no
plano axiai mostra que os cistos
são predominantemente hiperin-
tensos E3.

25-57C Aquisição em TI
pós-contraste no plano sagital
demonstra fino realce periférico
ES em torno dos componentes
da massa.
25-570 Aquisição em TI pós-
-contraste no piano axiai confir
ma que a fina periferia de realce
está presente B. Quando uma
massa muiticística de aspecto bi
zarro em uma criança estende-se
para diversas fossas, o craniofa-
ringioma deve ser considerado.

25-58 Corte sagital na iinfia


média mostra uma massa sólida
preenchendo o terceiro ventri-
culo. Craniofaringioma papiiar.
(Cortesia de B. Scheithauer, MD.)
25-59 Aquisição em T1 no
plano sagital de um homem
de 37 anos mostra uma massa
sólida com realce no terceiro
ventrículo B. Craniofaringioma
papiiar. (Cortesia de C. Sutton,
MD.)
Neoplasias selares e lesões semelhantes a tumores 717

25-60A Um homem de 44 anos com cefaleia e sintomas psiquiátricos. 25-60B Aquisição em FLAIR demonstra que a massa não sofre supres
TC sem contraste mostra uma massa ES hipodensa, bem definida, não são. Observe a hiperintensidade no hipotálamo e nos tratos ópticos B.
caicificada na cisterna suprasseiar. Craniofaringioma papilar foi encontrado durante a cirurgia. Não havia
invasão parenquimatosa por parte do tumor.

primida e deslocada pode, por vezes, ser identitleada em muito mais heterogêneo e não apresentam realce nodular.
separado da massa. O coeficiente de difusão aparente (ADC) do CBR está au
mentado se comparado ao dos CFs císticos. A imuno-his-
Achados na TC. Os CFs adamantinomatosos seguem a "re
toquímica é útil. Já que os CBR expressam citoqueratinas
gra dos nove", ou seja, 90% são mistos sólido-císticos,
90% são calciflcados e 90% sofrem realce (Fig. 25-55). específicas e os CFs não.
Um astrocitoma quiasmático/hipotalâmico é uma
Os CFs papilares raramente calcifícam. Eles são com
massa sólida suprasseiar que é claramente inlraparenqui-
freqüência sólidos ou predominantemente sólidos. Quan matosa. Calcificações e cistos são incomuns.
do contêm cistos intratumorais, os cistos são menores e
O adenoma hipofísárío é raro em crianças pré-pú-
com aspecto menos complexo que aqueles vistos nos CFs
beres (período que é o pico dos CFs). Um cisto dermoi-
adamantinomatosos.
de pode ser hiperintenso nas ponderações em TI e pode
Achados na RM. A intensidade de sinal varia com o con apresentar calcificações. Um cisto epidermoidc (CE) está
teúdo dos cistos (Fig. 25-56). Múltiplos cistos são comuns fora da linha média; CEs suprasselares são incomuns. Os
e o líquido intracístico no interior de cada cisto varia de cistos dermoide e epidermoide não realçam.
liipo a hiperintenso se comparado ao parênquima cerebral
nas ponderações em TI (Fig. 25-55).
Os cistos do CF são variavelmente hiperintensos nas C R A N I O FA R I N G I O M A
ponderações em T2 e no FLAIR, O nódulo sólido é com fre
Etiologia
qüência calcificado e moderadamente hipointenso. Hiperin- • Remanescentes epiteliais da bolsa de Rathke
lensidade que se estende ao longo dos tratos ópticos é comum
e representa edema, e não invasão tumoral (Fig. 25-60). Patologia
As paredes dos cistos e os nódulos sólidos realçam após • Dois tipos
a administração do meio de contraste (Figs. 25-55 e 25-59). o Adamantínomatoso (90%)
A espectroscopia de protons mostra um grande pico li- o Papilar (10%)
o Ambos são grau 1 da OMS
pídeo-lactato, característico do colesterol e dos constituin • Adamantinomatoso
tes lipídicos de um CF. A perfusão por RM mostra baixo o Mtjltiplos cistos
volume sangüíneo cerebral (CBV) relativo (Fig. 25-56). o Epitélios escamosos, "rede" de queratina
o Rico em colesterol, líquido em "óleo de
Diagnóstico diferencial
maquinaria"
o principal diagnóstico diferencial do CF é um cisto da
(continua)
bolsa de Rathke. Os CBRs não calcifícam, têm aspecto
718 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

(continuação)
• Papliares
o Sólido » cístico (líquido claro)
o Quase sempre em adultos

Aspectos clínicos
• > 50% das neoplasias pedlátricas suprasselares
• Ocorre igualmente em crianças e em adultos
o Pico em crianças = 5 a 10 anos
o Pico em adultos = 40 a 44 anos
• Crescimento lento
o Recidiva é comum
o Transformação maligna é rara

Imagem
• TC
o Podem ser gigantes (>5cm), envolvem múltiplas
25-61A Ponderação em T1 no piano sagital de um
fossas
homem de 64 anos com tonturas mostra uma massa o Adamantinomatosos 90% císticos, 90% calcificam,
no aspecto anterior do terceiro ventriculo, clara
mente separada da glândula hipoíisária normal
90% realçam
o Papilares: Sólido > cístico
• RM
o Sinal variável em TI
o Usualmente fiiperintenso em T2/FLAIR
o Espectroscopia de prótons: grandes picos de
lipideo-lactato
Diagnóstico diferencial
• Cisto da bolsa de Ratfike

Tumores bipofisários nõo adef)omatosos


Os tumores não adenomatoses primários da glândula hi-
pofisária são raros, além de pouco compreendidos e com
nomenclatura confusa. A Classificação de Tumores do
Sistema Nervoso Central, de 2007, da OMS, esclareceu
este assunto, reconhecendo três neoplasias histologica-
25-61B Ponderação em T2 mostra que a massa mente distintas: pituicitoma, oncocitoma de células fusi-
do terceiro ventriculo é sólida, isointensa ao córtex.
formes (SCO) e tumor de células granulares. Todos estes
são tumores grau I da OMS.

Pituicitoma
Previamente conhecido como "coristoma" e "infundibu-
loma", o pituicitoma origina-se de células glials modifi
cadas ("pituícitos") que habitam a haste infundibular e a
neuro-hipófise (Fig. 25-62).
Alterações visuais com ou sem cefaleia é o sintoma
mais comum na apresentação. Os pacientes com pituici
toma quase nunca apresentam diabetes insípido, galactor-
reia ou prolactinemia.
O pituicitoma pode aparecer tanto como massa intra
ou suprasselar. A maioria dos pituicitomas são isointensos
ao parcnquima cerebral nas ponderações em TI e hipe-
rintensos em T2. Eles realçam homogeneamente após a
25-61C Aquisição em TI pós-contraste no plano
administração do contraste (Fig. 25-63).
coronal mostra que a massa realça de maneira intensa
O pituicitoma é o único dos tumores não adenomato-
e homogênea. Craniofaringioma adamantinomatoso foi sos que pode se apresentar como uma massa puramente
encontrado à cirurgia. intrasselar. Uma massa intrasselar que está claramente se-
Neoplasias seiares e lesões semelhantes a tumores 719

parada da glândula hipofisária anterior e que realça de ma tomando-se sintomáticos em adultos de meia-idade ou em
neira homogênea é mais provavelmente um pituicitoma. idosos. Alterações visuais, cefaleia e amenorreia são co
muns. De maneira semelhante ao pituicitoma e ao SCO,
Oncocltoma de células fusiformes os tumores de células granulares raramente se apresentam
o SCO. também conhecido como tumor de células fo- com diabetes insípido, prolactinemia ou galactorreia.
lículoestreladas, origina-se da adeno-hipófíse. Os SCO Os tumores de células granulares são massas suprasse
consistem em oncócitos fusiformes contendo citoplasma lares. Eles são hiperdensos na TC sem contraste e isointen-
sos ao parênquima cerebral em ambas as ponderações TI e
granular rico em mitocôndrias.
T2. Os tumores de células granulares realçam fortemente e
Alterações visuais, pan-hipopituitarismo e cefaleia
sào os sintomas mais comuns à apresentação. Os SCOs homogeneamente após a administração do contraste.
não parecem causar diabetes insípido.
Até o momento, todos os casos patologicamente com
provados apresentaram-se como lesões hipofisárias infll- Lesões diversas
trativas mistas intra e suprasselares. Os achados de imagem
são similares aos - e não podem ser distinguidos - do ade Hipofisite
noma hipofisário ou da hipofisite linfocítica (Fig. 25-64). A hipofisite é uma inflamação da glândula hipofisária que
compreende um grupo cada vez mais complexo de doen
Tumor de células granulares
ças. Há duas formas histológicas principais de hipofisite:
Como o pituicitoma, o tumor de células granulares é um hipofisite linfocítica e não linfocítica. Relatos recentes de
tumor da neuro-hipófise. Muitos tumores de células gra outras variantes aumentaram ainda mais o espectro das hi-
nulares são assintomáticos e descobertos incidentalmente poflsites. Nesta seção, focaremos na hipofisite linfocítica,
na necropsia. Alguns aumentam de tamanho com o tempo. a forma mais comum. Então, discutiremos brevemente a

25-62 Ilustração em sagilai


mostra um pituicitoma B en
volvendo d haste infundibular e a
neuro-hipófise.
25-63 Aquisição em Ti pós-
-contraste no plano sagital de
uma mulher de 22 anos com
atraso no crescimento e hipopi-
tuitarismo mostra uma massa
infundibular B que sofre realce
e que está separada da glândula
hipofisária ES. Os achados de
imagem permaneceram estáveis
por muitos anos. Presume-se
tratar-se de um pituicitoma.

25-64A Ponderação em 11
no plano sagital de uma mulher
de 69 anos com cefaleia e he
mianopsia bitemporal mostra
uma massa selar e suprasselar
B que é bem definida e isoin-
tensa ao parênquima cerebral.
A glândula hipofisária não pode
ser distinguida separadamente
da massa.
25-64B Aquisição em TI
pós-contraste no plano coronal
mostra que a lesão realça forte
e uniformemente. O diagnóstico
pré-operatório foi de macroade-
noma hipofisário. Oncocitoma de
células fusiformes foi o diagnós
tico ao exame histológico.
720 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

25-65 Ilustração no piano sagital mostra hipofisite iiniocitica. Observe 25-66 Adeno-hipofisite liníocílica está exemplificada por numerosos
0 espessamento do infundibuio B3 e a infiltração no lobo anterior da linfócitos infiltratives citologicamente benignos invadindo a glândula.
glândula hipofisária B. (Cortesia de B. K. DeMaslers, MD.)

hipotlsite não linfocítica, incluindo a hipofisite granulo- A INHL envolve a neuro e a adeno-hipófise.
matosa e algumas das entidades recentemente descritas
Aspectos clínicos. Entre 80 e 90% dos pacientes com HL
que são com freqüência caracterizadas por infiltrados de são mulheres; 30 a 60% dos casos ocorrem no período
células plasmáticas.
periparto. Não há efeito adverso sobre o feto.
Os sintomas mais comuns na apresentação são cefa-
Hipofisite linfocítica leia e múltiplas deficiências endócrinas com hipopitui-
Terminologia. A hipofisite linfocítica (HL) também é cha tarismo parcial ou total. Diabetes insípido é comum. A
mada de adeno-hipofisite linfocítica, hipofisite primária e deficiência de ACTH com freqüência aparece primeiro.
inflamação da haste. Uma variante da HL é chamada de A hiperprolactinemia ocorre em um terço dos pacientes,
infundibuio neuro-hipofísite linfocítica (INHL).
provavelmente secundária à compressão da haste.
Etiologia. a HL é uma alteração inflamatória autoimune Homens, mulheres após a idade fértil e crianças são
incomum da glândula hipofisária que ocorre com mais afetados em 10 a 20% dos casos. Homens de meia-idade

freqüência em mulheres em idade fértil, no finai da gra apresentam-se com diabetes insípido.
videz ou logo após o nascimento. A capacidade imune é O tratamento consiste em reposição hormonal com ou
sem o uso de corticosteroides.
reestabelecida na fase final da gravidez/período periparto.
Anticorpos anti-liipófise apresentam uma correação com Imagem. A HL é intra ou suprasselar. Espessamento da dura
a glândula hipofisária e com a placenta. ou da mucosa do seio esfenoidal adjacente é comum.
A HL também está associada com outras doenças au- A imagem mostra uma haste infundibular difusa
toimunes. Aproximadamente 25% dos pacientes possuem mente espessada, com perda de seu afilamento gradual
uma doença autoimune/inflamatòria sistêmica coexisten- usual. Uma glândula hipofisária redonda, simetricamentc
te. Tireoidite, polimiosite, diabetes tipo 1 e psoríase foram aumentada, é comum (Fig. 25-67). O soalho da sela está
associadas com HL. intacto, sem expansão ou erosão. O sinal hiperintenso da
Patologia. Na HL. a glândula hipofisária e a haste pare hipófise posterior está ausente em 75% dos casos. A HL
cem difusamente aumentadas e firmes, embora as modi realça intensa e uniformemente.
ficações inflamatórias sejam predominante ou exclusi Diagnóstico diferencial. O principal diagnóstico diferencial
vamente no lobo anterior (Fig. 25-65). As características para a HL é o macroadenoma hipofisário não secretor.
microscópicas incluem um infiltrado denso, composto por Esta distinção é importante, já que o tratamento difere sig
linfócitos T (Fig. 25-66). Graus variáveis de destruição nificativamente. A HL é tratada com medicação, enquanto a
glandular e fibrose podem estar presentes. Granulomas e ressecção cirúrgica é o tratamento primário para o macroa
células gigantes estão ausentes. denoma hipofisário. Os macroadenomas podem ser gigan-
Neoplasias selares e lesões semelhantes a tumores 721

les e a HL apenas ocasionalmente excede 3 centímetros em


diâmetro. Os achados clínicos também são úteis, já que a H L (continuação)
comumente se apresenta com diabetes insípido (Fig. 25-69). o Idade < 30 anos favorece hipofisite
A haste está normal na hiperphishi hipofísária. em o Paciente gestante/periparto
bora a faixa etária e o gênero dos pacientes seja similar. o Diabetes insípido é comum
• Massas menores
As metástases ocorrem em pacientes mais velhos com
• Expansão hipofísária simétrica
tumor primário sistêmico conhecido.
• Perda do sinal hiperintenso da neuro-hipófise
A iiipoflsitc granulomatosa pode ocorrer secundária
à infecção. sarcoidose ou histiocitose de células de Lan- (SHNH)
• Aumento da haste, perda do afilamento normal
gerhans. A HG é menos comum que a HL, tem um per • Sinal homogêneo, forte realce
fil epidemiológico diferente e tende a realçar de maneira
mais heterogênea. As hipofísites relacionadas à IgG4 e a Adenoma hipofisário
• Perfil clínico
drogas são muito raras. o Pacientes mais velhos (pico = 60 anos)
o Diabetes insípido é raro
• Massas maiores
HIPOFISITE V5. ADENOMA o Volume maior que 6cm^ favorece adenoma
HIPOFISÁRIO NÃO SECRETOR • Expansão assimétrica hipofisária
• SHNH geralmente preservado
Hipofisite • Deslocamento da haste, que a exceção disso está
• Perfil clínico
o Pacientes jovens (pico = 32 anos) normal
• Heterogeneidade de sinal, realce moderado
(continuo)

25-67A Uma gestante de


19 anos desenvolveu alteração
visual aguda no fim do terceiro
trimestre. Ponderação em ti no
plano coronal mostra massa BB
intra e suprasselar em "oito" ou
em forma de boneco de neve.
25-67B Ponderação em T2 no
plano coronal mostra que a lesão
B9 é levemente hiperintensa.
Observe a elevação do quiasma
óptico E3, que "abraça" a mas
S" ' j.

m
k .

sa superiormente.

V . - ■ JrSíi

A i

25-67C Aquisição em TI pós-


-contrasle com saturação de gor
dura no plano sagital mostra que
a massa E3 realça intensamen
te e uniformemente. Observe a
presença de "caudas" durais BI
adjacentes ã massa.
25-670 Aquisição em TI
pós-contraste no plano coronal
mostra que a massa possui confi
guração em "oito" praticamente

■A
idêntica à vista no macroade-
noma hipofisário. Contudo, as
"caudas" durais vistas na aquisi
ção sagital são achados atípicos
nos macroadenomas. Hipofisite
linfocítica.
722 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Hipofisite granuiomatosa
A hipofisite granuiomatosa (HG) possui características
epidemiológicas diversas da HL. A HG é igualmente co
mum em ambos os sexos e não apresenta associação com
gravidez.
A HG pode ser primária (idiopática) ou secundária
(Fig. 25-68). A HG secundária é muito mais comum que
a primária e em gerai resulta de inflamação granuiomato
sa necrotizante. As HGs inflamatórias/infecciosas também

podem ser causadas por TB. sarcoidose, intécçòes fúngi-


cas, sífllis, histiocitose de células de Langerhans, granu-
lomatose de Wegener, doença de Erdheim-Chester, hipo
fisite granuiomatosa autoimune, cisto da bolsa de Rathke
roto ou craniofaringioma. As HGs também podem ocorrer
como reações a doenças inflamatórias sistêmicas como
25-68 Hipofisite granuiomatosa. (Superior) Glândula doença de Crohn. Os achados de imagem são inespecifi-
hipofisária "graúda"B, haste B e pseudotumor B. cos, lembrando aqueles da HL ou do adenoma hipofisário.
(Inferior). Resolução do quadro após o uso de corticoides. A HG primária (HGP) é uma doença inflamatória
rara sem um organismo infeccioso identificável. A etio-
logia precisa da HGP é desconhecida. Granulomas não
necrotizantes com células gigantes multinucleadas, histi-
ócitos, diversas células plasmáticas e linfócitos são típi
cos. A HGP apresenta diabetes insipido. Uma massa selar
simétrica que realça forte, mas heterogeneamente, é vista
nos estudos por imagem.

Outras variantes da hipofisite


Uma série de outras novas variantes de hipofisite foi re
centemente descrita. A hipofisite relacionada à lgG4
possui um marcado infiltrado mononuclear, caracteriza
do principalmente por um número aumentado de células
plasmáticas IgG4-positivas. Os achados de imagem lem
bram aqueles da infundíbiilo neuro-hipofisite linfocítica.
A haste hipofisária e o lobo posterior da hipófise estão
25-69 INHL em um homem de meia-idade com dia
betes insipido é vista como uma massa BI com realce aumentados e realçam intensamente após a administração
no hipotálamo. do contraste.
A hipofisite relacionada a drogas foi relatada em
casos de câncer com imunoterapia com anticorpos que
estimulam a resposta das células T (p. ex., ipilimumab)
(Fig. 25-70). Os clínicos e os radiologistas devem estar
atentos para a hipofisite autoimune induzida como uma
complicação dos novos tratamentos.

Apoplexia hipofisária
A apoplexia hipofisária é uma síndrome clínica aguda
bem descrita com cefaleia, deficiências visuais e endócri-
nas variáveis. Em alguns casos, desenvolve-se insuficiên
cia hipofisária profunda com risco de vida.

Etiologla
A apoplexia hipofisária é causada por hemorragia na - ou
necrose isquêmica da - glândula hipofisária. Um macro-
25-70 Paciente em uso de ipilimumab para mela
noma melaslálico desenvolveu hipofisite induzida pela
adenoma preexistente está presente em 65 a 90% dos ca
droga com infiltração da haste e da glândula hipofisária sos, mas a apoplexia hipofisária também pode ocorrer em
B . microadenomas ou em glândulas hipofisárias histologica-
Neoplasias selares e lesões semelhantes a tumores 723

25-71 Ilustração no piano cofonai mostra um macroadenoma com 25-72 Espécime de necropsia de apoplexia hipofisária mostra um
hemorragia aguda S] causando apoplexia hipofisaria. macroadenoma hemorrágico E3 estendendo-se para ambos os seios
cavemosos (Cortesia de R. Hewlett, MD.)

mente normais. O fator que precipita a hemorragia ou a Raramente desenvolve-se apoplexia hipofisária com
necrose é desconhecido. pan-hipopituitarismo e diabetes insipido em pacientes
Em casos raros, os pacientes que se submetem a trata com hemólise, elevação das enzimas hepáticas e plaque-
mento com bromocriptina ou cabergolina para adenomas topenia (síndrome de HELLP).
hipofísários podem desenvolver apoplexia hipofisária História natural. A apoplexia hipofisária varia de um
com risco de vida.
evento clinicamente benigno a catastrófico com déficits
neurológicos permanentes. Coma ou morte podem acon
Patologia tecer em casos graves.
A aparência macroscópica mais comum da apoplexia hipo Os pacientes que sobrevivem em longo prazo com
fisária é a de uma grande massa intrasselar ou combinada
freqüência apresentam insuficiência hipofisária perma
intra e suprasselar (Flg. 25-71). Entre 85 e 90% dos casos nente. necessitando de reposição hormonal (mais comu-
demonstram infartos hemorrágicos macroscópicos (Fíg. mente esteroides e hormônio tireoidiano). Quase metade
25-72). Infartos hipofísários não hemorrágicos ("brandos") dos pacientes masculinos com apoplexia hipofisária ne
causam um aspecto aumentado e edemaciado da glândula. cessitam de reposição de testosterona.
Os pacientes com adenomas hipofísários e apoplexia
Aspectos clínicos hipofisária podem demonstrar recorrência do crescimento
Epidemiologia e aspectos demográficos, a apoplexia hipofisá do tumor hipofisário e, consequentemente, merecem su
ria é rara, ocorrendo em cerca de 1% de todos os pacientes pervisão pós-operatória continuada.
com macroadenomas hipofísários. A idade de pico está Uma rara variante da apoplexia hipofisária c a .sín
em 55 a 60 anos. A apoplexia hipofisária é rara em pacien drome de Sheehan (SS). A síndrome de Sheehan trata-se
tes abaixo dos 15 anos. A relação H;M é 2:1. da necrose isquêmica aguda pós-parto da glândula hipofi
sária anterior, causada por perda sangüínea e choque hipo-
Apresentação. Cefaleia é quase universal nos pacientes
volémico durante ou após o nascimento.
com apoplexia hipofisária e é o sintoma inicial mais co
A SS pode resultar em perda da função hormonal em
mum, seguido de náuseas (80%) e alterações de campo vi
longo prazo.
sual (70%). Tumores hemorrágicos que se estendem para
os seios cavemosos podem comprimir o 111. IV, V e VI Sequela de SS é uma rara causa de sela parcialmente
vazia nos estudos de imagem.
nervos cranianos.

Quase 80% de todos os pacientes com apoplexia hi Opções tratamento. A descompressão cirúrgica é necessária
pofisária possuem pan-hipopituitarismo. Uma crise su- em pacientes com comprometimento da acuidade visual.
prarrenal aguda com hipovolemia, choque e coagulação Terapia de suporte com esteroides e reposição líquida/elc-
intravascular disseminada pode ocorrer. trolítica/hormonal costuma ser necessária.
724 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Imagem
Características gerais. Uma glândula hipofisária aumentada
com realce periférico é típico (Fig. 25-73). Hemorragia
intraglandular macroscópica é comum, mas não está sem
pre presente.

Achados na TC. Os exames de TC sem contraste são freqüen


temente normais. Hemorragia na glândula hipofisária com
uma massa hiperdensa selar/suprasselar pode ser identifica
da em 20 a 25% dos casos. Ocasionalmente, hemorragia su-
baracnóidea para as cisternas da base pode ser identificada.
Achados na RM. A RM é o exame de escolha para a avalia
ção da suspeita de apoplexia hipofisária. A intensidade de
sinal depende de se apoplexia hipofisária for hemorrágica
ou não hemorrágica. A hemorragia pode ser identificada
25-73A Ponderação em Ti de um homem de 68 em 85 a 90% dos casos (Fig. 25-74).
anos com cefaleia em "trovão" e alterações visuais A intensidade de sinal depende da idade do coágu
mostra massa ea intra e suprasseiar predominante
lo. A apoplexia hipofisária aguda é heterogeneamente Íso
mente isointensa.
a hipointensa ao parênquima cerebral na ponderação em
TI. Inicialmente, a apoplexia hipofisária é iso a levemente
hiperintensa na ponderação em T2 e toma-se hipointensa
nesta mesma ponderação. A compressão aguda do hipo-
tálamo e do quiasma óptico pode causar edema visível ao
longo dos tratos ópticos nas aquisições em T2/FLAIR.
Artefatos de susceptibilidade magnética no T2* são
comuns se produtos sangüíneos estiverem presentes, mas
podem ser obscurecidos por artefatos dos seios paranasais
adjacentes. As aquisições em TI pós-contraste mostram
realce periférico (Fig. 25-75). Espessamento durai e real
ce são vistos em 50% e espessamento da mucosa do seio
esfenoidal adjacente ocorre em 80% dos pacientes. A apo
plexia hipofisária restringe na ponderação em difusão.

Diagnóstico diferenciai
25-73B Ponderação em T2 no plano coronal mostra o principal diagnóstico diferencial da apoplexia hipofi
que a massa possui intensidade de sinal multo hetero sária é o macroadenoma hemorrágico. Hemorragias fo
gênea com múltiplos focos hemorrágicos íB. cais em adenomas são comuns, mas ao contrário da apo
plexia hipofisária, o curso clínico é subagudo ou crônico.
A maioria dos adenomas realça de maneira forte, mas
heterogênea, enquanto a apoplexia hipofisária demonstra
realce periférico em torno de uma glândula hipofisária ex
pandida c predominantemente desprovida de realce.
A hípofísitc linfocítica pode causar início relativa
mente súbito dos sintomas e, portanto, simular apoplexia
hipofisária. A HL causa apenas um modesto aumento da
glândula. A hipófise realça intensa e uniformemente.
O cisto da bolsa dc Rathke pode conter líquido es
pesso proteináceo que aparece hiperintenso nas pondera
ções em TI e simula hemorragia hipofisária. A maioria
dos CBRs é assintomático e encontrado incidentalmente.
Com algumas exceções, CBRs que se tomam sintomáticos
seguem um curso subagudo/crônico. A apoplexia é uma
25-73C Aquisição em TI pós-contraste com satura apresentação rara, mas distinta, causada por hemorragia
ção de gordura no plano coronal mostra uma fina borda súbita para o interior do cisto. O CBR com apoplexia pode
de realce periférico ES. Apoplexia hipofisária. Adeno simular os sintomas da apoplexia hipofisária, mas o cisto
ma predominantemente necrótico e hemorrágico foi
encontrado à cirurgia. pode ser identificado em separado da glândula hipofisária.
Neoplasias selares e lesões semelhantes a tumores 725

25-74 Apoplexia hipofisária em uma mulher de SO anos com quatro 25-75 (Superior à esquerda) ponderação em TI mostra uma glândula
dias de alterações visuais mostra hemorragia subaguda na glândula hi hipofisária aumentada B e espessamento hipotaiâmico (Superior
pofisária B com nível sangue-líquído à direita) Hiperintensidade em FLAIR ao longo dos tratos ópticos B.
(Inferior) Realce periférico l-^l. Apoplexia hipofisária não hemorrágica.

O abscesso hípofísário é uma rara entidade que pode


ser difícil de distinguir da apoplexia hipofisária com in- (continuação)
farto "brando" (isquêmico). Os sinais clínicos de infecçào • Realce periférico em torno da glândula não
podem ser mínimos ou ausentes. Encurtamento TI nas realçante
• Pode causar edema de tratos ópticos e
bordas em vez de no centro da massa é característico do
abscesso. Realce periférico com restrição à difusão é típi hipotaiâmico
co no abscesso hipofisário e na apoplexia hipofisária. Diagnóstico diferencial
A trombose aguda de um grande aneurisma intra ou • Macroadenoma hemorrágico sem apoplexia
• Hipofisite
parasselar pode se apresentar com pan-hipopituitarismo
• Apoplexia do cisto da bolsa de Rathke
e com hemorragia subaracnóidea. Um coágulo laminado
• Abscesso hipofisário
com "idade mista" é comum, e um pequeno /Zovv void resi
• Aneurisma trombosado agudo
dual, em razão do lijmen residual patente, freqüentemente
pode ser identificado.
Pré e pós-operatório da sela
APOPLEXIA HIPOFISÁRIA Duas abordagens são quase sempre utilizadas na cirurgia
selar: a tradicional cirurgia sublabial transesfenoidal e a
Etiologia
• Necrose hipofisária hemorrágica ou não hemorrágica cirurgia totalmente endoscópica minimamente invasiva. A
• Macroadenoma preexistente (65 a 90%) cirurgia guiada por imagem com robótica e RM intraope-
ratória estereotáxica está sendo cada vez mais utilizada
Aspectos clínicos com técnicas niicrocirúrgicas e endoscópicas. A cranio-
• Instalação stíbita
tomia subfrontal é relativamente incomum e em geral é
• Cefaleia, alterações visuais
• Hipopituitarismo (80%) utilizada apenas em lesões com tumores supradiafragmá-
• Pode determinar risco de vida ticos anormalmente grandes.
• Pode resultar em insuficiência hipofisária permanente Cada uma destas técnicas requer avaliação por ima
• Síndrome de Sheehan = necrose hipofisária pós-parto gem pré-operatória cuidadosa. Nesta seção, focaremos
na avaliação pré-operatória para - e na imagem pós-
Imagem
• Hipófise aumentada -operalória da - cirurgia transesfenoidal e endoscópica.
o ihemorragia Ambas envolvem navegação segura do seio esfenoidal,
evitando as muitas estruturas críticas dos arredores da
(continuo)
sela.
726 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

25-76A Ponderação em Ti no plano sagital de uma paciente com 25-76B Ponderação em T2 no plano coronal mostra a calota craniana
acromegalia de longa data mostra o seio esfenoidal bem aerado S, B excepcionalmente espessa deste paciente. A distância intercarotidea
estendendo-se posteriormente para o divo B. A pneumatlzação é clas B mede 24 mm. A cirurgia transesfenoidal obteve sucesso em razão
sificada como posterior. Observe a convexidade B selar bem definida da anatomia favorável.
em direção ao seio esfenoidal.

Avaliação pré-operatória dos podem tomar a cirurgia tecnicamente mais fácil, mas
A maioria das abordagens cirúrgicas (transetmoidal, também distorcem a configuração anatômica, afilando o
transnasal ou transseptal) passam pelos seios esfenoidais osso e tomando potencialmente descobertas as artérias ca
rótidas e os nervos ópticos.
para alcançar a sela. A despeito da técnica operatória - mi
croscópica ou endoscópica - que será utilizada, delinear a
Um dorso da sela pneumatizado pode ser penetrado
anatomia dos seios esfenoidais e identificar as variantes
durante a cimrgia, resultando em vazamento de LCS.
anatômicas que podem repercutir na cirurgia é importante Configuração selar. A presença (bem definida) ou ausência
para o sucesso no desfecho do paciente. (mal-definida) de convexidade selar em relação ao soalho
A TC e a RM possuem contribuições únicas para a da sela e ao grau de pneumatização esfenoidal devem ser
avaliação pré-operatória completa das lesões selares. A relatados. Pneumatização do planum esfenoidale e do dor
RM multiplanar é o exame de escolha para caracterizar so da sela também deve ser notada. Elas são determinadas
a lesão e definir sua extensão. Em conjunto com a RM, pelas imagens de RM no plano sagital.
a TC pré-operatória ajuda a definir a anatomia óssea re Uma convexidade selar proeminente para o interior
levante. de um seio esfenoidal pneumatizado é vista em 75% dos
Quatro características-chave da anatomia dos seios pacientes (Fig. 25-76A). Os outros 25% possuem um ar-
esfenoidais devem ser identificadas: a localização e ex queamento ausente ou mal-det1nido. Seios esfenoidais
tensão da pneumatização, a configuração selar, quaisquer bem pneumatizados com convexidade selar proeminente
septações e a distância intercarotidea. são fatores que facilitam a cirurgia, que é ainda mais fácil
se o soalho da sela estiver atilado ou roto pelo tumor. A
Pneumatização. A localização e a extensão da pneumati
zação dos seios esfenoidais é a principal preocupação. A pneumatização do dorso da sela está presente na maioria
dos casos.
pneumatização é classificada como selar (57%), pós-selar
(22%), pré-selar (21%) ou conchal (2%). O tipo específi SeptaçÃo. a presença ou ausência de um septo interes-
co de pneumatização geralmente é determinado nas ima fenoide deve ser determinada. Se presente, observe se
gens de RM no plano sagital (Fig. 25-76). há um único septo intersinus ou mais de um septo. A
E importante que o raro esfenoide conchal não pneu- posição da inserção septal (no soalho da sela, no canal
matizado seja reconhecido no pré-operaíório, já que toma carotídeo ou no canal óptico) deve ser identificada. Essa
a cirurgia transesfenoidal mais difícil. No extremo oposto alteração é mais bem avaliada na TC óssea axial e co
desse espectro, seios esfenoidais altamente pneumatiza- ronal.
Neoplasias selares e lesões semelhantes a tumores 727

As aquisições axiais não evidenciam septaçào em 10


a 11% dos pacientes e demonstram uma única septação
interesfenoide em 70%. Um septo acessório é visto em
10% dos pacientes e 7 a 9% possuem múltiplos septos.
O septo interesfenoide deve ser removido para expor
o soalho da sela, portanto, determinar sua localização é
crucial. O septo raramente está localizado na linha média.
Ele está desviado, indo de um lado para o outro e divi
dindo o seio esfenoidal em duas cavidades desiguais. Isso
resulta em um aspecto assimétrico do soalho da sela. Em
30 a 40% dos pacientes, o septo possui um desvio mais
lateral e termina adjacente à artéria carótida interna.
Distância intercarotídea. A distância intercarotídea é men
surada entre os aspectos mediais dos dois /7ovv voids dos
segmentos cavemosos das ACIs, vistos na RM no plano
coronal, na linha média da sela. A distância intercarotídea 25-77A Ponderação em TI no plano sagital de exa
me pré-operatófio mostra uma grande massa mista
varia, indo de 10 a 12 mm a 30 mm (média de 23 mm).
sólido-cística intra e suprasselar, que expande, erode e
Distâncias estreitas (menos de 12 mm) aumentam a chan
aprofunda a sela túrcica.
ce de lesão vascular durante a cirurgia transesfenoidal.

Avaliação pós-operatória
Para avaliar a sela pós-operatória, imagens nos planos sa-
gital e coronal em cortes finos e com FOV pequeno são
obrigatórias. Aquisições em TI pré-contraste e imagens
ponderadas em T2, além de aquisições pós-contraste com
saturação de gordura são as sequências-padrão.
O aspecto dos exames de RM no pós-operatório é
complicado por hemorragia, pelo uso de agentes hemostá-
ticos, por materiais de tamponamento (músculo, gordura,
fáscia lata) e por tumor residual. Os achados típicos in
cluem defeito ósseo na parede anterior do seio esfenoidal,
líquido e espessamento da mucosa do seio, material adi-
poso colocado na sela turcica, hemorragia e graus variá
veis de efeito de massa residual (FIg. 25-77).
O primeiro exame pós-operatório fornece uma base 25-77B Aquisição em TI pós-contraste pré-opera-
tória após redução tumoral mostra material adiposo
para comparação dos exames de imagem subsequentes.
Com o tempo, a hemorragia se resolve e é reabsorvida, utilizado para tamponamento B, tumor residual B
e nível hidroaéreo ES esfenoidal.
o material adiposo sofre fibrose e se retrai e o efeito de
massa diminui. Uma sela parcialmente vazia com ou sem
tração da haste infundibular e do quiasma óptico é típica
nos meses ou anos após a cirurgia inicial.
Complicações como diabetes insípido, transecção da
haste e distúrbio eletrolítico são temporárias. Complica
ções em longo prazo incluem perda de LCS e neuropatia
craniana.

Diagnóstico diferencial de uma massa na


região selar
Encerramos este capítulo recapitulando a abordagem para
construir um diagnóstico diferencial útil e direcionado
para uma massa da região selar.
25-77C Aquisição em TI pós-contraste com satura
Determinar a sublocalizaçao é o primeiro e mais im
ção de gordura mostra a supressão da gordura El e
portante passo. A lesão é (1) intrasselar, (2) suprasselar, ou um fino realce tumoral periférico
728 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorals

(3) da haste infundibular? Ou está situada em uma combi


nação destes locais? QUANDO A MASSA NÃO PODE SER SEPARADA DA
Determinar se uma massa seiar/suprasseiar é a pró GLÂNDULA HIPOFISÁRIA
pria glândula hipofisária ou está separada é a tarefa mais Comum
importante da imagem e é o achado mais útil (Fígs. 25-78, • Hiperplasia hipofisária
25-79,25-80 e 25-81). Massas que podem ser distinguidas • Macroadenoma hipofisário
em separado da glândula hipofisária raramente são macro-
adenomas. Menos comum
• Neurossarcoldose
A característica clínica mais útil é a idade do paciente. • Histiocitose de células de Langerhans
Algumas lesões são mais comuns em adultos, mas rara • Hipofisite
mente ocorrem em crianças. O gênero e o estado endocri-
nológico são dicas auxiliares úteis. Por exemplo, macroa- Rara, mas importante
• Metástases
denomas hipofisários raramente causam diabetes insípido,
• Linfoma
mas é um dos sintomas mais comuns na apresentação da
• Germinoma
hipofisite.
Por fim, considere alguns achados de imagem espe
cíficos. A massa é cística? Ela é calcificada? Qual é sua
Lesões intrasselares
intensidade de sinal?
As lesões intrasselares podem ter configuração em massa
ou não. Tenha dois conceitos em mente: (1) nem todas as
"glândulas hipofisárías aumentadas" são anormais. O ta
manho e a altura da hipófise variam com sexo e idade. A

25-78 Visão submentovéítice


de um cérebro à necropsia com
uma grande massa B intra e
suprasselar. A glândula hipofi
sária não pode ser separada da
massa. (Cortesia de R. Hewlett,
MD.)
25-79 Ponderação em Ti no
plano coronal mostra a clássica
moríologia em "boneco de neve"
do macroadenoma. A massa e a
glândula são indistinguíveis uma
da outra.

25-80 Visão coronal de um


meningioma suprasselar à ne
cropsia. O tumor B está sepa
rado da glândula hipofisária B,
a qual está abaixo, por meio do
diafragma da sela 1^, de onde
se originou o menigioma. (Corte
sia dej. Paltan, MD.)
25-81 Ponderação em TI no
plano coronal mostra uma massa
suprasselar B que é isointensa
ao parênquima cerebral adjacen
te. A massa está separada por
meio do hipointenso diafragma
da sela, da glândula hipofisária
normal ^3, que é levemente
mais hiperintensa se comparada
à massa B.
Neoplasias selares e lesões semelhantes a tumores 729

25-82 Espécime de necropsia demonstra um aneurisma suprasselar 25-83 TC sem contraste de um homem de 55 anos com cefaleia mos

S] não roto. tra massa hiperdensa não calcifícada B na cisterna suprasselar. As pos
sibilidades a serem consideradas em um adulto incluem macroadenoma,
meningioma e aneurisma. Grande aneurisma de topo da basilar.

hipóflse "graúda" também pode ocorrer na hipotensào in ras em crianças (Figs. 25-82 e 25-83). O craniofaringioma
tracraniana. (2) "Incidentalomas" hipofisários são comuns e o astrocitoma pilocítico hipotalâmico/quiasmático são
(identificados em 15 a 20% dos exames de RM normais). os "dois grandes" em crianças.

LESÀO INTRASSELAR MASSAS SUPRASSELARES COMUNS

Comum Adultos
• Hiperplasia hipofisária (fisiológica, não fisiológica) • Adenoma hipofisário (massa = glândula)
• Microadenoma hipofisário • Meningioma (massa separada da glândula)
• Sela vazia • Aneurisma {flow void, artefato de pulsação)
Menos comum
Crianças
• Macroadenoma hipofisário • Craniofaringioma (90% císticos, 90% calcificam, 90%
• Cisto da bolsa de Rathke (ou outros)
realçam)
• Craniofaringioma • Astrocitoma pilocítico hipotalâmico/quiasmático
• Neurossarcoidose
(sólido, sem calcificações)
Rara, mas importante
• Hipofisite linfocítica
• Hipotensão intracraniana (congestão venosa) A105505 suprasselares menos comuns
• Vascular {"kissing" carótidas, aneurisma)
• Meningioma
A presença de algumas lesões menos comuns pode ser in
• Metástases
ferida nos estudos por imagem.
• Linfoma

MASSAS SUPRASSELARES MENOS COMUNS


Massas suprasselares comuns Cisto da bolsa de Rathke (bem definido, separado da
As cinco massas suprasselares mais comuns, ou as "cinco hipófise)
grandes", são; macroadenoma hipofisário, meningioma, Cisto de aracnoide (se comporta exatamente como o
aneurisma, craniofaringioma e astrocitoma. Em conjunto, LC5)
elas correspondem a 75 a 80% de todas as massas da re Cisto dermoide (parece com a gordura)
gião selar. Três delas (as "três grandes") - adenoma, me Neurocisticercose (usualmente mijltipla)
ningioma e aneurisma - são comuns em adultos, mas ra-
730 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

fAossas suprasselares importantes, mas raras massa cística que se originou na sela versus extensão
Mantenha estas lesões em mente - elas podem simular intrasselar de uma lesão suprasselar. Além do cisto da
lesões mais comuns ou o tratamento apropriado difere bolsa de Rathke, as lesões completamente intrasselares
drasticamente.
não neoplásicas císticas são raras, assim como o cranio-
faringioma totalmente intrasselar desprovido de extensão
suprasselar.
MASSAS SUPRASSELARES RARAS,
M A S I M P O R TA N T E S
MASSAS CÍSTICAS INTRASSILARÍS
Hipofisite (pode se parecer com um adenoma)
Comuns
Hamatoma hipotalâmico ("botão de colarinho" entre a • Sela vazia
haste e os corpos mamilares) • Hipertensão intracraniana idiopática
Metastases (câncer sistêmico, procure por outras lesões)
Menos comuns
Linfoma (com freqüência infiltra as estruturas • Cisto da bolsa de Rathke
adjacentes) • Neurocisticercose cística

Raras, mas importantes


Massas da haste infundibular • Craniofaringioma
• Cisto epidermoide
Aqui estào incluídas entidades cuja manifestação primária • Cisto de aracnoide
é o espessamento da haste infundibular. A idade do pa • Apoplexia hipofisária
ciente é pertinente. • Aneurisma trombosado

MASSAS DA HASTE INFUNDIBULAR

Adultos
MASSAS CÍSTICAS 5UPRASSÍLARIS
• Neurossarcoidose (lesão isolada da haste é rara) Comuns
• Hipofisite (inflamação da haste) • Terceiro ventrículo alargado
• Metástase o Hidrocefalia obstrutiva (genérica)
• Linfoma o Estenose de aqueduto
• Pituicitoma • Cisto de aracnoide
• Transecção da haste (pode fazer a haste parecer • Craniofaringioma
encurtada e grossa) • Neurocisticercose cística

Crianças Menos comuns


• Germinoma (diabetes insípido pode ocorrer mesmo • Cisto da bolsa de Rathke
antes da lesão ser visível na RM) • Cisto dermoide
• Histiocilose (procure por outras lesões) • Cisto epidermoide
• Neuro-hipófise ectópica (SHNH deslocado) • Espaços perivasculares alargados (núcleos da base)
• Leucemia
Raras, mas importantes
• Macroadenoma hipofisário
• Apoplexia hipofisária
Massas císticas intra/suprasselares • Astrocitoma (sólido)
Se uma massa intra ou suprasselar é primária ou exclu • Cisto ependimário
sivamente cística, as considerações no diagnóstico dife • Aneurisma sacular trombosado
rencial se modificam. O aspecto-chave é distinguir uma
Neoplasias selares e lesões semelhantes a tumores 731

Cisto da bolsa de Rathke


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26
Outros tumores e patologias com
características tumorais

Tumores extracranianos e patologias com


características tumorais 733
Tumores extracranianos e patologias
Displasla fi b r o s a 733 com características tumorais
Doença de Paget 737
Cisto ósseo aneurismático 740 Displasia fibrosa
Cordoma 742 As lesões fibro-ósseas benignas do complexo craniofacial
PseucJotumores Intracranianos 743 são representadas por uma variedade de processos patoló
Ecchofdosis physaliphora 743
gicos intraósseos. Nesses processos estão incluídas as dis-
Te x t i l o m a 744
plasias ósseas, das quais a mais comum é a displasia fibrosa.
Pseudoneoplasia calcificante do neuroeixo 745
Pseudotumor infiamatório idiopático 746
Terminologia
A displasia fibrosa (DF) é uma lesão displásica fibro-óssea
Algumas importantes neoplasias que afetam a calvária, a que também é conhecida como displasia ílbrocartilaginosa,
base do crânio e as meninges cranianas não estão incluí osteite fibrosa e doença fibrocística generalizada do osso.
das na classificação mais recente padronizada da Organi
zação Mundial da Saúde (OMS) para os tumores do sis Etiologia
tema nervoso central (SNC). Este capítulo aborda várias Conceitos gerais. A DF é uma displasia do desenvolvimento
dessas intrigantes neoplasias e patologias com caracterís com parada local do desenvolvimento normal estrutural/
ticas tumorais que não se encaixam facilmente nas outras
arquitetural. A diferenciação anormal dos osteoblastos
seções do livro. Doenças infecciosas, granulomatosas, resulta em substituição do osso trabeculado e da medula
desmielinizantes e vasculares, entre outras, podem, algu normal por osso não lamelar imaturo e estroma flbroso.
mas vezes, mimetizar neoplasias do SNC e são discutidas
nos respectivos capítulos deste livro. Genética. A DF resulta de mutações somáticas do gene
Neste capítulo, serão discutidos os tumores e as pa GNASl, envolvido na formação mesenquimatosa do es
tologias exrracranianas com características tumorais. Es queleto.
sas lesões quase sempre iniciam na calvária ou na base do
crânio. Depois, será discutido um grupo interessante de Patologia
lesões //irz-acranianas que mimetizam neoplasias, ou seja, Localização. Praticamente qualquer osso da cabeça ou do
pseudotumores. Essas lesões pseudotumorais podem ini pescoço pode ser afetado pela DF. O crânio e os ossos da
ciar nas meninges, nas cisternas do líquido cerebrospinal face são a localização de 10 a 25% de todas lesões da forma
(LCS) ou no parênquima cerebral. Algumas lesões - em monostótica. O osso frontal é o local da calvária mais co

especial pseudotumor inílamatório idiopático - podem mum, seguido pelo osso temporal, esfenoide e osso parietal.
envolver múltiplos compartimentos e ter localização in Envolvimento do divo é raro. A órbita, zigoma, maxila e
tracraniana, extra-axial ou combinação de ambas. mandibula são os sítios mais freqüentes na face (Fig. 26-1).
734 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Tamanho e número. As lesões da DF variam em tamanho,


desde pequenas, menores que I centímetro, até lesões
grandes que envolvem quase um osso inteiro. Osteogé-
nese alterada pode ser restrita a apenas um osso ('"DF
monostótica") ou miílliplos ossos ("DF poliostótica"). A
DF solitária responde por 80 a 85% de todas lesões; a DF
poliostótica ocorre em 15 a 20% dos casos,
A DF poliostótica associada com endocrinopatia é co
nhecida como síndrome de McCune-AIbright (SMAlb) e
ocorre em 3 a 5% dos casos. A tríade clássica da SMAlb
consiste em lesões mtíltiplas, disfunção endócrina (nor
malmente puberdade precoce) e hiperpigmentaçào cutâ
nea ("manchas café com leite").

Patologia macroscópica. A DF tem uma coloração levemen


te acinzenlada (Fig. 26-2). Dependendo da quantidade re
26-1 DF com expansão da margem orbitária lateral lativa de tecido fibroso em relação ao conteiído ósseo, a
asa do eslenoide e escama temporal. Observe te.xtura varia de firme e borrachosa até friável.
exoftaímia e estiramento do nervo óptico.
Características microscópicas. Tecidos flbrosos e ósseos
estão misturados em proporções variadas (Fig. 26-3).
Nos estágios precoces pode ser encontrada osteogênese
pronunciada com finas trabéciilas anastomóticas ósseas
circundadas por osteoblastos. Um elemento estromal fi-
broblástico com graus variáveis de vascularização é inter
posto entre as irabécuias de osso imaturo não trabecular,
lembrando "ideogramas chineses".
Aproximadamente, 60% dos casos demonstram pa
drões mistos estromais diferentes, com elementos fibro-
blásticos comuns. Esses achados incluem metamorfose

gordurosa focai (20 a 25%), estroma mixoide (15%) e


calcificações (12%). Degeneração cistica pode estar pre
sente, porém é incomum.

Aspectos clínicos
26-2 DF em uma costela é um tumor sólldo-amare- Epidemiologia. a DF é rara, representando cerca de 1% de
lado que expande o osso e apresenta aspecto de "vidro todas as neoplasias ósseas primárias biopsiadas. É a se
fosco", (Cortesia de A. Rosenberg, MD, G. P. Nielsen, MD.)
gunda lesão craniana mais comum na população pediá-
trica (depois do cisto dermoide).
Demografia. Embora a DF ocorra praticamente em qual
quer faixa etária, a maioria dos pacientes apresenta me
nos de 30 anos no momento do diagnóstico inicial. A DF
poliostótica se apresenta mais precocemente, com média
de idade de 8 anos. Com exceção da DF como parte da
SMAlb, que afeta mais mulheres do que homens, não
existe predileção por sexo.

Apresentação. Os sintomas da DF craniofacial dependem do


local da lesão. Expansão óssea indolor com assimetria da
calvária e da face são achados comuns. Proptose e neuropa-
tia óptica são comuns em pacientes com doença orbitária.
Perda auditiva condutiva e paralisia facial são achados típi
cos em pacientes com DF do osso temporal. DF mandibu
lar costuma apresentar-se clinicamente com "querubismo".
26-3 DF demonstra irabécuias ósseas entrelaçadas
estroma (ibroso formação de osso novo
A DF poliostótica pode causar "leontíase óssea" (fás-
subperiosteal reativo 1^. (A. Rosenberg, MD, G. P. cies leonina) ou neuropatias cranianas complexas (secun
Nielsen, MD.) dárias ao estreitamento grave dos forames neurais).
Outros tumores e patologias com características tumorais 735

História natural. O curso da doença varia. As lesões mo-


nostóticas nào regridem ou desaparecem, porém geral
mente estabilizam na puberdade. Em contraste, a DF po-
iioslótica toma-se menos ativa após a puberdade, embora
deformidades de ossos longos possam progredir e serem
acompanhadas do desenvolvimento de microfraturas ós
seas. Ambas as formas da DF, monostótica e poliostótica,
raramente sofrem transformação maligna.

Opções de tratamento. As opções de tratamento da DF são


limitadas. A recorrência é muito alta após curetagem e en
xerto ósseo. Radioterapia costuma ser evitada, pois pode
induzir transformação maligna. A terapia com bifosfona-
dos endovenosos tem sido usada para melhorar o curso da
doença com sucesso em alguns casos.

26-4 TC óssea demonstra a DF como uma lesão


DISPLASIA FIBROSA: PATOLOGIA E expansiva com aparência em "vidro fosco" B. O osso
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS frontal é o local mais comum da DF na calvária.

Patologia
• Localização, niímero
o Qualquer osso
o Craniofacial (10 a 25%)
o Solitária (80 a 85%) ou poliostótica
• Patologia macroscópica: osso não trabecular
• Patologia microscópica
o Mistura variável de componentes ósseos e fibrosos
o Menos comum: gordura, tecido mixoide,
calcificação, cistos
Aspectos clínicos
• Raro (menos de 1% dos tumores ósseos biopsiados)
o Uma das lesões fibro-ósseas mais comuns
• Pacientes monostóticas com menos de 30 anos
• DF poliostótica
o Pacientes mais jovens (média de idade = 8 anos)
o McCune-Albright (3 a 5%) 26-5A Imagem ponderada em TI no plano sagitai do
o Envolvimento craniofacial comum mesmo paciente demonstra que o osso frontal expan
dido é preencfiido com tecido hipodenso fiomogêneo
B .
Imagem
Características gerais. A maioria das tesões craniofaciais
é monostótica. Entretanto, estudo do esqueleto, ou resso
nância magnética (RM) de todo o corpo, são recomenda
dos para detectar lesões assintomáticas em outros ossos
que poderiam indicar doença poliostótica ou síndrome de
McCune Albright.
Os achados de imagem dependem do estágio da
doença. Em geral, lesões precoces são radiotransparentes
com progressiva calcificação, resultando em aspecto de
"vidro-fosco". Padrões mistos são comuns.

Achados na TC. Remodelamento ósseo nào agressivo e es-


pcssamento dos ossos afetados são achados típicos. A to-
mografia computadorizada (TC) demonstra uma lesão ex
pansiva geográfica centrada na cavidade medular. Transição
abrupta entre a lesão e o osso normal adjacente é típico. 26-5B Moderada hipointensidade na imagem pon
O aspecto na TC óssea varia com o conteúdo rela derada em T2 B é característica da DF com porções
tivo de osso e tecido flbroso. A DF pode ser esclerótica. extensamente ossilicadas/fibrosas.
736 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

26-6 Ilustração no piano coronal demonstra doença de Paget difusa 26-7 Espécime de necropsia demonstra alterações pagetoides na cal-
do crânio com espessamento diploico grave B e invagínacão basilar vária com espessamento difuso ósseo, substituição da medula gordurosa
B reduzindo o espaço para as estruturas da fossa posterior. com tecido fibrovascular B3. (Cortesia de E. T. Hediey-Whyte, MD.)

cística ou mista (algumas vezes "pageloide"). O padrão Doença de Paget ocorre em pacientes idosos e cos
de áreas mistas de radiopacidade e radiotransparência é tuma envolver a calvária e o osso temporal. Aspecto de
encontrado em metade dos casos. O aspecto clássico re "bola de algodão" é típico nas radiografias do crânio e na
lativamente homogêneo em "vidro-fosco" ocorre em 25% TC óssea.
dos casos (Fig. 26-4). As lesões densamente escleróticas O fibroma ossificante (FO) pode mimetizar a forma
são comuns na base do crânio. Cerca de um quarto de to monostótica cística da DF. O FO apresenta margem óssea
dos os casos de DF apresenta alguma alteração cística, espessa, com centro de baixa densidade na TC óssea, em
vista como áreas centrais radiotransparentes com margens geral com aspecto de lesão expansiva localizada. Osteomie-
finais e escleróticas. lite esclcrosante difusa da mandíbula também lembra a DF.
O meningioma intraósseo é outro diagnóstico di
Achados na RM. A DF em geral é homogeneamente hi-
ferencial. Os meningiomas intraósseos são mais comuns
pointensa nas imagens ponderadas em TI (Fig. 26-5A). A na calvária do que na base do crânio e nos ossos faciais.
intensidade de sinal nas imagens ponderadas em T2 é va
Uma massa de tecidos "em placa" com forte realce geral
riável. Hipointensidade moderada é característica das por
mente está associada a lesões ósseas. A metástase mista
ções ossificadas e/ou fibrosas da lesão (Fig. 26-5B). As esclerótica-destrutiva na base do crânio pode mimetizar a
lesões ativas podem ser heterogêneas e apresentar áreas
DF. Na maioria dos casos, o sítio primário extracraniano
de alto sinal no FLAIR. Os cistos apresentam-se como fo
é conhecido.
cos arredondados de alto sinal.
O diagnóstico diferencial da DF inclui doenças fibro-
A intensidade do sinal após a infusão de contraste va
-ósseas raras que podem afetar os ossos craniofaciais. São
ria conforme o estágio da lesão desde nenhum realce até
incluídos nesse grupo a osteite deformante, a dísplasia
realce difuso e ávido nos casos com doença ativa.
óssea exuberante, a dísplasia eemento-óssea focai e a
Medicina nuclear. O FDG-PET demonstra atividade meta- dísplasia periapical cementária.
bólica aumentada em um ou mais sítios afetados. Alterações ósseas faciais associadas com hiperpara-
tireoidismo e osteodistrofía renal podem apresentar-se
Diagnóstico diferencial com aspecto de "vidro-fosco" tanto nas radiografias con
Os principais diagnósticos diferenciais para a DF cranio vencionais quanto na TC. Entretanto, em contraste com a
facial são doença de Paget e fibroma ossificante. DF, essas alterações são generalizadas e difusas.
Outros tumores e patologias com características tumorals 737

Doença de Paget
DISPLASIA FIBROSA: IMAGEM
Terminologia
Imagem A doença de Paget (DPag) óssea, também chamada de
• TC
o Osso remodelado, expandido osteite deformante, é o exemplo mais exagerado de re-
o Aspecto clássico de "vidro-fosco" modelamento ósseo anormal. A DPag é caracterizada por
o Alterações escleróticas, císticas, mistas rápido remodelamento ósseo no interior de uma ou mais
{"pagetoide") lesões sutis no esqueleto.
• RM
o Hipointenso em n, intensidade de sinal em T2 Etlologia
variável (geralmente hipointenso) As alterações genéticas ocorrem nos casos clássicos da
o Realce varia de nenhum a intenso
doença de Paget do idoso e nas displasias ósseas pagetoi-
Diagnóstico diferencial des familiares incomuns que se iniciam na infância. Todas
• Doença de Paget (pacientes mais velhos) as doenças envolvem função defeituosa das rotas molecu
• Fibroma ossificante, outras lesões fibro-ósseas lares que regulam a osteoclastogênese (rotas da osteopro-
benignas tegerina/TNFRSFllAou daB/RANKL/RANK).
• Meningioma intraósseo
• Osteodistrofia renal
Mutações no gene que codifica o sequestosomo 1
{SQSTMl) foram identificados em um terço dos pacientes
com a forma familial da DF e em uma pequena proporção
de pacientes com DPag esporádica. Mutações no SQSTMl
afetam o funcionamento do fenótipo p62, que aumenta a

26-8A TC óssea demonstra


uma calvária espessa com com
% ponentes mistos llticos B e
escleróticos ES (aparência em
"bola de algodão") característica
dos estágios ativo e esclerótico

(t da doença de Paget.
26-88 Imagem ponderada
em TI demonstra misto de hiper
B e hipointensidade E2 das
lesões diploicas em uma calvária
maciçamente expandida em um
paciente idoso com doença de
Paget.

'4,

26-8C Imagem ponderada em


T2 demonstra o aspecto extre
mamente moteado da calvária
na doença de Paget.
26-80 Realce segmentar é
visto nas imagens ponderadas
em TI pós-contraste com satu
ração de gordura, indicando que
alguma atividade de doença está
presente neste caso crônico.
738 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

sensibilidade dos precursores osteoclásticos para citocinas


osteoclastogênicas, determinando uma predisposição para
a DPag. Mutações do SQSTMl também estão fortemente
associadas com a gravidade e as complicações da DPag.
As mutações do gene da proteína valosina (VCP) cau
sam uma doença línica, caracterizada por DPag clássica,
que inclui miopatia com corpos de inclusão e demências
frontotemporais.

Patologia
Localização, tamanho e número. O crânio (tanto a calvária
quanto a base do crânio) é afetado em 25 a 65% dos pa
cientes (Fig. 26-6). Em contraste com a DF, a DPag tem
apresentação poliostótica mais freqüente (65 a 90% dos
casos).
26-9A Radiografia do crânio em perfil demonstra a Patologia macroscópica. O crânio pagetoide demonstra es
fase íitica da DPag B, a "osleoporose circunscrita",
pessamento difuso. Placas de tecido fibrovascular substi
junto com área de espessamento do crânio tB.
tuem a medula gordurosa (Fig. 26-7).
Características microscópicas. Na fase lítica inicial, a DPag é
caracterizada por lesões flbro-ósseas celulares com trabé-
culas osteoides minimamente calcificadas. Vascularização
aumentada é comum. Revestimento osteoblástico está pre
sente, acompanhado de lacunas de reabsorção osteoclásti-
ca. Osteoclastos são numerosos e têm tamanho maior que
o normal, apresentando maior número de núcleos.
Na fase inativa, a renovação óssea e a vascularização
reduzem excessivamente, e as trabéculas ósseas tornam-
-se mais coesas.

Aspectos clínicos
Epidemiologia. a DPag é comum e afeta mais de 10% dos
indivíduos com mais de 80 anos. A doença é prevalente
nos Estados Unidos e nas Ilhas Britânicas, no Canadá, na
26-96 Cintilografia óssea do mesmo paciente de Austrália e em algumas partes do Norte Europeu. A DPag
monstra uma área de captação anormal occipital 1^, é rara na Ásia e na África.
localização típica da DPag na calvária.
Demografia. a DPag clássica é uma doença do idoso. A
maioria dos pacientes apresenta entre 55 e 85 anos, com
menos de 5% dos casos ocorrendo em pacientes com
menos de 40 anos. Existe uma moderada predominância
masculina.
A doença de Paget juvenil, também conhecida como
hiperfosfatasia juvenil, é uma doença óssea autossômica
recessiva. Ela começa na infância e caracteriza-se por
alargamento de ossos longos, protrusão acetabular, fratu
ras patológicas e espessamento do crânio.
Apresentação. A apresentação varia com a localização, e
todos os ossos do complexo craniofacial podem ser afeta
dos. Os pacientes com DPag da calvária podem apresentar
aumento do tamanho do crânio. As neuropatias cranianas
são comuns com lesões da base do crânio, mais comu-
mente o NC VIII. Os pacientes podem apresentar-se tanto
26-10 TC do osso temporal demonstra esclerose da
base do crânio quiescente B com expansão óssea,
com perda auditiva condutiva (envolvimento ossicular)
espessamento cortical e estreitamento de ambos os quanto neurossensorial (envolvimento coclear ou com
CAIS B. pressão óssea).
Outros tumores e patologias com características tumorals 739

A fosfatase alcalina sérica muito elevada é uma carac


terística constante, enquanto o cálcio e o fosfato permane
cem dentro dos limites da normalidade.

História natural. Expansão óssea com deformidade do


esqueleto extracraniano é típico. Enfraquecimento ósseo
pode levar a deformidades e a fraturas de ossos longos.
Em contraste, DPag craniofacial geralmente tem cur
so mais benigno e pode permanecer assintomática por
anos.

Dois processos ncoplásicos estão associados à DPag;


tumor de células gigantes (benigno) e sarcoma (maligno).
O tumor de células gigantes é uma lesão intra-óssea ex
pansiva que em geral ocorre nas epifises e metáfises dos
ossos longos em pacientes com DPag poliostótica crônica.
Os tumores de células gigantes originados de ossos page-
toides são raros. Apenas 2% ocorrem no crânio, onde o 26-11 Radiografia do crânio em perfil demonstra le
local mais comum é o osso esfenoide. Envolvimento da sões ósseas líticas S e esclerólicas BSl, o aspecto em
calota craniana é raro. "bolas de algodão" DPag na fase ativa mista.

A transformação maligna para osteossarcoma ocorre


em 0,5 a 1% dos casos e geralmente é vista em pacientes
com doença disseminada. A maioria dos osteossarcomas n
são de alto grau e já metastatizaram no momento do diag
nóstico. Apenas 15% dos pacientes sobrevivem além de 2
a 3 anos do diagnóstico.

Opções de tratamento. Os bifosfonados reduzem o metabo


lismo ósseo e têm sido efetivos em vários casos de DPag.

Imagem
Características gerais. Os achados de imagem na DPAg va
riam com o estágio da doença. Na face inicial ativa, lesões
radiotransparentes se desenvolvem na calvária, condição
denominada de "osteoporose circunscrita" (Fig. 26-9A).
Segue expansão óssea com lesões mistas líticas com focos
de esclerose e calcificações nodulares confluentes (as
26-12 TC óssea demonstra focos líticos BB mistu
pecto de "bola de algodão") no estágio misto ativo (Fig. rados com espessamento ósseo B e esclerose com
26-11). O estágio final inativo ou quiescente é visto como margens pouco definidas B (estágio da DPag com
esclerose óssea densa (Fig. 26-10). "bolas de algodão").

Achados na tc. Na DPag inicial, a TC óssea demonstra


focos líticos bem definidos (osteoporose circunscrita).
Áreas mistas de lise óssea e esclerose posteriormente se
desenvolvem, produzindo o aspecto de "bola de algodão"
(Figs. 26-8A, 26-12). Graus variados de esclerose óssea
densa podem se desenvolver.
Em casos graves, a base do crânio pode estar expandi
da, causando invaginação basilar.
Achados na RM. Lesões multifocals hipointensas em Tl
substituem a medula gordurosa (Fig. 26-8A). A intensi
dade de sinal nas imagens ponderadas em T2 costuma ser
heterogênea (Fig. 26-8C). Realce segmentar nas imagens
ponderadas em Tl pós-contraste pode ocorrer na zona hi-
pervascular da DPag ativa (Fig. 26-8D).
Medicina nuclear. O estágio ativo da DPag demonstra cap
tação intensa na cintilografía óssea com Tc-99m (Figs. 26-13 Cintilografía óssea demonstra múltiplas áreas
26-9B e 26-13). de captação em um paciente com DPag poliostótica.
740 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Diagnóstico diferenciai
(continuação)
A displasía fíbrosa pode se apresentar de maneira muito
o Sarcoma > tumor de células gigantes
semelhante à DPag craniofacial. Entretanto, a DPag ocor
re nos pacientes idosos e não tem o aspecto típico em "vi Imagem
dro fosco" que caracteriza a DF. • Precoce: lítica ("osteoporose circunscrita")
As metastases escleróticas podem lembrar a DPag, • Intermediária: mista lítica e esclerótica ("bola de
porém não há coalescência de trabéculas ósseas ou au algodão")
• Tardia: esclerose óssea densa
mento ósseo associado. A fase lítica precoce da DPag
pode lembrar as metástases líticas ou o mieloma múltiplo; Diagnóstico diferencial
ambas não causam expansão do osso afetado. • Oisplasia fibrosa (pacientes jovens)
• Metástases, mieloma

DOENÇA DE PAGET
Cisto ósseo aneurísmático
Patologia
• Monostótica (65 a 90%)
Terminologia
• Calvária e base do crânio afetadas (25 a 60%)
• Tecido fibro-ósseo substitui a medula gordurosa o cisto ósseo aneurismático (COA) são lesões multicis-
ticas expansivas benignas que costumam se desenvolver
Aspectos clínicos na infância ou na vida adulta inicial. Pelo menos 70% dos
• Afeta até 10% dos pacientes com mais de 80 anos COA são lesões primárias; o restante se origina secunda
• Aumento craniano, neuropatia do NC VIM comum riamente dentro de um tumor benigno preexistente como
• Transformação maligna (0,5 a 1%)
um tumor de células gigantes ou osteoblastoma.
(continuo)

26-14A TC de uma menina de


7 anos com proptose à esquerda
e respiração bucal demonstra
uma grande lesão expansiva na
profundidade da face envoiven-
do a base do crânio à esquerda,
observe os níveis fluidos
26-146 TC pós-contraste de
monstra que o aspecto iaterai da •y í ^
* I
t

lesão demonstra realce sólido e


relativamente uniforme B.

26-14C TC óssea no plano


coronal demonstra um baio em
"casca de ovo" fino de osso ex
pandido circundado a lesão B.
26-14D Imagem ponderada
em T2 no plano coronal demons
tra que a intensidade do sinal
no interior da lesão é mista
que há expansão cranial em
direção à fossa craniana média,
com elevação do lobo temporal
B. Cisto ósseo aneurismático.
(Cortesia de A. illner, MD.)
Outros tumores e patologias com características tumorals 741

Patologia nância pelo sexo masculino. Os sintomas variam com a


A localização mais comum do COA é a metáfise de ossos localização. A maioria das lesões é assintomática ou apre
senta crescimento lento e progressivo.
longos (70 a 80% dos casos), sendo as vértebras (geral-
menle elementos posteriores) a localização de 15% das O tratamento para os COAs sintomáticos c cureta-
lesões. gem, criocirurgia e enxerto ósseo. As taxas de recorrência
Os ossos craniofaciais são uma localização comum. são altas, variando de 20 a 50%. Embolizaçào pré-opera-
As lesões podem ocorrer na mandíbula e maxila, porção tória pode ser útil em casos selecionados.
petrosa do osso temporal, base do esfenoide e seios para-
nasais. Os COAs do crânio e órbita são raros, responden Imagem
do por menos de 1 % dos casos. A TC demonstra uma lesão excêntrica com osso expan
Os COAs consistem em espaços cavemosos preenchi dido. remodelado, balonado ("aneurismaticamente dilata
dos por sangue em vários estágios de degradação. Cistos do") com margens finas e escleróticas (Fig. 26-14). Múlti
de variados tamanhos são separados por septos revestidos plos espaços císticos com niveis líquidos estão presentes.
por endotélio. fíbroblastos fusiformes e células gigantes A RM demonstra uma lesão multicistica com halo hi-
mullinucleadas esparsas. poinlenso circundando múltiplos espaços preenchidos por
líquido. Hemorragias com tempo de evolução diferentes e
Aspectos clínicos níveis líquidos são características de imagem importantes,
Os COAs representam 5% de todos os tumores ósseos pri assim como são os pequenos cistos ("divertículos") que se
mários e são o segundo tipo mais comum de tumor ósseo projetam de grandes lesões. O halo periférico e os septos
na infância, comprovado por histopatologia na infância. fibrosos sofrem realce após a administração de contraste
Cerca de 70% ocorrem até os 20 anos. com leve predomi (Fig. 26-15).

26-15A TC pós-conlraste no
plano axial de um cisto ósseo
aneurismático demonstra múl
tiplos cistos com niveis líquidos
B e realce periférico B.
26-158 TC pós-contraste no
piano coronal mostra que a mas
sa E3 é tanto intra quando ex-
tracraniana. Os níveis de sangue
e líquido são melhor avaliados
nesta imagem axial.

26-15C imagem ponderada

li' em T2 demonstra múltiplos cistos


com niveis de sangue e liquido
[^. A fina linha de baixo sinal
esticada sobre a massa B é a

% d u r a - m á t e r.
26-150 Imagem ponderada
em TI pós-contraste com satu
ração de gordura demonstra o
realce característico das paredes
do cisto e septações no interior
do tumor.
742 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Diagnóstico diferencial Patologia


Alguns COAs podem apresentar uma fase de crescimento Cordomas são tumores de linha média que podem se de
relativamente rápida e podem ser clinicamente confundi senvolver em qualquer local ao longo da notocorda. O
dos com uma lesão mais agressiva. O diagnóstico diferen sacro é o local mais comum (50% de todos cordomas),
cial de imagem mais importante do COA é o osteossar- seguido pela região esfeno-occipital (divo) (35%) e co
coma teleangiectásico (OS), que pode apresentar níveis luna (15%).
líquidos como o COA. Margens incompletas, massa de A maioria dos cordomas esfeno-occipilais é uma le
tecidos moles, destruição cortical e porções sólidas devem são de linha média (FIg. 26-16). Eventualmente, um cor
sugerir o diagnóstico de OS teleangiectásico. doma localiza-se fora da linha média e é extra-ósseo. ge
Tumor dc células gigantes e osteoblastoma estão ralmente na nasofaringe e no seio cavemoso.
associados com COA secundário e ambas as doenças de Duas principais formas histológicas de cordoma são
monstram componentes sólidos associados. reconhecidas: típico ("clássico") e condroide. O cordoma tí
pico ou clássico consiste em células physaliphoras que con
Cordoma tém mucina e vacúolos de glicogênio, fazendo com que o
citoplasma tenha aspecto "bolhoso". Cordomas condroides
Terminologia e etiologia apresentam elementos estromais que lembram cartilagem
Cordomas são neoplasias primariamente malignas, local hialina com células neoplásicas aninhadas em lacunas. Um
mente agressivas com um fenótipo que se relaciona com terceiro tipo, cordoma desdiferenciado, representa menos
a notocorda. Os cordomas da base do crânio (divo) (CCl) de 5% dos cordomas e ocorre na região sacrococcígena.
provavelmente se originam dos remanescentes primitivos Tanto os cordomas típicos quanto os condroides são
finais da notocorda cranial. SubpopulaçÕes de células-tron- intensamente positivos para o marcador epitelial de quera-
co neoplásicas têm sido identificadas em alguns cordomas. tina e o antígeno epitelial de membrana (AEM).

26-16 Ilustração no plano


sagitai demonstra uma massa
expansiva, destrutiva, lobulada,
localizada no divo com uma pro
jeção digitiforme de tumor 13
indentando a ponte. A glândula
hipófíse ES está elevada pelo
tumor. Observe fragmentos ós
s e o s " fl u t u a n d o " n o i n t e r i o r
do cordoma.
26-17 Imagem ponderada em
TI no plano sagitai demonstra
que o divo é quase completa
mente substituído pelo cordoma
com a clássica projeção
digitiforme ("polegar") de tumor
indentando a ponte B.

26-18A TC em outro paciente


demonstra uma lesão destrutiva
ES que se projeta posterior do
divo, contendo um "seqüestro"
de osso destruído B.
26-18B Imagem pondera
da em T2 no mesmo paciente
demonstra que a lesão B é
fieterogeneamente hiperintensa,
característica do cordoma.
Outros tumores e patologias com características tumorals 743

26-19A Imagem ponderada em T2 no plano axial demonstra uma 26-198 A massa El sofre realce intenso nas imagens ponderadas
lesão híperintensa EEI no seio cavernoso esquerdo invadindo o osso em TI pós-contrasle. Cordomas laterais ao divo são menos comuns que
esfenoide. os da linha média. (Cortesia dej. Curé, MD.)

Aspectos clínicos Diagnóstico diferencial


Os cordomas respondem por 2 a 5% de todos tumores ós O principal diagnóstico diferencial do cordoma do divo
seos primários, porém são responsáveis por cerca de 40% (CCl) é macroadenoma invasivo hiporisárío. Os CCl
dos tumores sacrais. Embora os cordomas possam ocorrer deslocam, mas não invadem, a glândula hipófise, enquan
em qualquer idade, o pico de prevalência está entre 40 e 60 to os macroadenomas não apresentam plano de clivagem
anos. Existe uma leve predominância pelo sexo masculino. com a glândula.
Os cordomas do divo em geral se apresentam com A intensidade de sinal do condrossarcoma da base
cefaleia e diplopia secundária à compressão do NC VI. do crânio é muito similar a dos CCl. Os condrossarcomas
Cordomas grandes podem causar neuropatias cranianas originam-se em situação paramediana, ao longo da fissura
múltiplas, incluindo perda visual e dor facial. petro-occipital. Ecchordosis physaliphora é um remanes
Embora eles cresçam lentamente, os cordomas são le cente raro da notocorda que pode se originar em qualquer
tais, a menos que sejam tratados com ressecção agressiva local, desde a base do crânio até o sacro. A maioria das le
e radioterapia. A sobrevida média em 5 anos para pacien sões é pequena e encontrada incidentalmente na necropsia
tes após ressecção radical é de 75%. ou em exames de imagem. Essas lesões em geral se loca
lizam na frente da ponte e apresentam uma fina haste com
Imagem um componente intraclival pequeno.
A TC demonstra uma lesão moderadamente hiperdensa Metastases da base do crânio e plasmoeítomas são
bem circunscrita na linha média com alterações ósseas lí- lesões destrutivas isointensas ao cérebro em todas as se
ticas permeativas. CalcifícaçÕes intratumorais geralmente qüências. Meningioma predominantemente intraósseo é
representam seqüestro de osso destruído (Fig. 26-18). raro na base do crânio. Ele geralmente causa escierose e
Cordomas normalmente tem intensidade de sinal en
hiperostose em vez do padrão destrutivo permeativo.
tre baixa e intermediária na imagem ponderada em TI. No
plano sagital, a projeção digitiforme ("polegar") de tumor
é vista com freqüência posteriormente através do córtex
do divo e indentando a ponte (Fig. 26-17). Pseudotumores intracranianos
Os cordomas típicos são muito hiperintensos nas
Ecchordosis physaliphora
imagens ponderadas em T2 (Fig. 26-19). refletindo o alto
conteúdo líquido no interior das células physaliphoras. Ecchordosis physaliphora (EP) é uma pequena massa de
As calcificações intratumorais e as hemorragias podem tecidos gelatinosos que representam remanescentes ec-
determinar a formação de focos de baixo sinal dentro de tópicos da notocorda (Fig. 26-20). Restos da notocorda
uma massa de alto sinal. Realce heterogêneo moderado a ectópicos podem ocorrer em qualquer local ao longo da
intenso é comum após administração de contraste. linha média do eixo cranioespinal, desde o dorso da sela
744 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

26-20 Espécime de necíopsia demonstra um nódulo gelatinoso e 26-21 Imagem ponderada em T2 no piano axial demonstra uma lesão
brilhante ES na frente da ponte. Achado incidental de Ecchordosis phy- de linha média hiperintensa lobulada e bem delineada ES que indenta
saliphora. (Cortesia de R. Hewlett, MD.) a ponle. Ecchordosis physaliphora.

até a região sacrococcígena. As Ecchordosis physaliphora Te x t i l o m a


são inais comuns na coluna do que no crânio e geralmen Elementos hemostáticos que são introduzidos no SNC
te são achados incidentais nos exames de imagem ou na
às vezes induzem uma reação inllamatória excessiva que
necropsia. pode ser de difícil diferenciação de um tumor recorrente
A TC demonstra uma massa intraclival sem realce,
ou residual nos estudos de neuroimagem.
bem delineada, com margens escleróticas.
O aspecto de imagem distingue a Ecchordosis phy Terminologia
saliphora de outras lesões semelhantes é a presença o textiloma se refere a uma massa criada por elementos
de um pequeno pedículo ou haste que conecta a lesão
cirúrgicos retidos associada à reação inflamatória contra
com um componente intradural na cisterna pré-pontina.
corpos estranhos. Os termos "gossipiboma". "gauzoma"
Mais bem demonstradas na RM. as EPs são iso a le e "musselinoma" referem-se especificamente ao tipo de
vemente hiperintensas ao LCS nas imagens ponderadas material não absorvido retido.
em TI e hiperintensas nas imagens ponderadas em T2
(Fig. 26-21). Etiologia
O principal diagnóstico da Ecchordosis physaliphora Os agentes hemostáticos podem ou não ser reabsorvíveis.
na região basiesfenoidal é um cordoma do divo. Os cor-
Agentes reabsorvíveis incluem esponjas de gelatina, celu
domas são lesões permeativas e destrutivas. Outras lesões lose oxidada e colágeno microfibrilar. Agentes não reab
na cisterna pré-pontina que podem mimetizar a Ecchordo sorvíveis incluem várias formas de esponjas de algodão,
sis physaliphora incluem os cistos de aracnoide, neuroen- tecido (musselina) e raio sintético. Enquanto os agentes
téricos, epidermoides e dermoides. Cistos de aracnoide hemostáticos bioabsorviveis não são retirados, os não ab-
são muito mais comuns nas cisternas dos ângulos ponto- sorvíveis são removidos antes do fechamento cirúrgico.
cerebelares e apresentam-se exatamente como o LCS em Qualquer um desses materiais pode induzir reação infla
todas as seqüências de pulso na RM. matória. criando um textiloma.
Cistos ncurocntéricos com freqüência iocalizam-
-se em situação levemente paramediana e um pouco mais Patologia
inferiormente, adjacente à junção pontobulbar. Os cistos A maioria dos textilomas ocorre dentro de sítios cirúrgi
epidermoides (CE) são irregulares, algo frondosos, e cos ou ao redor de aneurismas reforçados com envoltório
apresentam restrição ao estudo da difusão da água. CEs de musselina. A análise histológica demonstra um centro
são mais comuns na cisterna do ângulo pontocerebelar. Os com o agente hemostáiico inerte em degeneração, circun
cistos dermoides em geral seguem a intensidade de sinal dado por reação inflamatória. Células gigantes e histió-
da gordura, e não do LCS. citos freqüentemente estão presentes. Cada agente exibe
Outros tumores e patologias com características tumorals 745

características histológicas diferentes, permitindo uma


identificação especifica (Fig. 26-22C).

Aspectos clínicos
Textilomas são incomuns. A prevalência mais alta relatada
ocorre em cirurgias abdominais e ortopédicas. Textilomas
intracranianos são raros com menos de 75 casos relatados.
Eles podem ser assintomáticos ou causar sintomas
que simulem recorrência tumoral.

Imagem
Os textilomas intracranianos quase sempre se apresentam
iso ou hipoinlensos nas imagens ponderadas em TI. Cer
ca de 45% são iso e 40% são hipointensos em T2/FLA1R
(Fig. 26-22A). Algum artefato de susceptibilidade mag
nética nas imagens T2* pode estar presente. Realce anelar
26-22A FLAIR axial demonstra uma massa hípoin-
ou sólido heterogêneo ocorre em freqüência semelhante tensa SI adjacente à cavidade de ressecão tumoral
(Fig. 26-22B).

Diagnóstico diferencial
O principal diagnóstico diferencial é a neoplasia recor
rente e a necrose por radiotcrapia. Tumor residual ou
recorrente pode coexistir com o textiloma. Se presente, hi-
pointensidade em T2 ajuda a distinguir o textiloma de neo
plasia ou abscesso. Diagnóstico definitivo requer biópsia e
exame histológico com corantes de rotina e luz polarizada.

Pseudoneoplosia calcificante do neuroeixo


A pseudoneoplasia calcificante do neuroeixo (CAPNON)
é uma lesão não neoplásica do SNC rara. mas importante.
Pseudoneoplasias calcificantes também são conhecidas
como lesões fíbro-ósseas, cálculos cerebrais, "pedras ce
rebrais" ou "rochas cerebrais".
As CAPNONs são lesões não neoplásicas e não infla-
matórias. São massas distintas que contém várias combi 26-22B A lesão B demonstra realce sólido, mas
nações de estroma condromixoide e fibrovascular, calcifi- heterogêneo no TI pós-contraste com saturação de
cação metaplásica e ossificação. gordura.
As CAPNONs costumam ser asslntomáticas e des
cobertas acidentalmente em estudos de imagem. Quando
presentes, o sintoma mais comum é a epilepsia. Poucos
casos são reportados em associação com meningioangio-
matose e neurofibromatose tipo 2.
A TC demonstra uma "pedra" densamente calcificada
leptomeníngea, na profundidade de um sulco ou do parén-
quima cerebral. O lobo temporal é o local mais comum
(Fig. 26-23A).
Na RM, a CAPNON demonstra pouco efeito expan
sivo, isointensidade nas imagens ponderadas em TI e
hipointensidade homogênea nas imagens ponderadas em
T2/FLA1R (Flg. 26-23B). O artefato de susceptibilidade
magnética discreto é visto nas imagens T2* GRE. Edema
perilesional varia de ausente a extenso. Realce de ausente
a moderado. Padrões de realce já descritos incluem o sóli
do, linear, serpenginoso e periférico anelar (Fig. 26-23C). 26-22C Histologla (mesmo caso) demonstra espícu-
O diagnóstico diferencial de CAPNON inclui uma las amortas ES circundadas por sangue. Textiloma de
lesão vascular calcificada - mais freqüentemente uma Gelfoam. (Cortesia de B. K. DeMasters, MD.)
746 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

malformação cavernomatosa - e neoplasias densamente


caicificadas. como oligodendroglioma, meningioma e
paplloma de plexo coroide com metaplasia óssea. Em
bora malformações cavemomatosas possam ser diagnos
ticadas pela hiperintensidade heterogênea nas imagens
ponderadas em T2, a biópsia costuma ser necessária para
o diagnóstico definitivo.

Pseudotumor inflamatório idiopático


Os pseudotumores inflamatórios são lesões incomuns que
podem ser quase indistinguívels de neoplasias verdadei
ras. Embora sejam mais comuns nos pulmões, os pseu
dotumores inflamatórios foram descritos em praticamente
todas as partes do corpo. Os pseudotumores da cabeça e
do pescoço envolvem a órbita, onde representam 5 a 8%
das massas orbitárias.
Os pseudotumores extraorbitários (base do crânio e
intracranianos) são raros. Eles freqüentemente se compor
tam de forma agressiva, simulando lesões mais ominosas
como infecção fúngica invasiva ou neoplasias malignas.

Terminologia
o pseudotumor inflamatório idiopático (PIl) intracrania
no é um processo inflamatório benigno não neoplásico
que também é conhecido como tumor miofibroblástico
innainatório, granuloma plasmocitário, xantogranuloma,
paquimeningite hipertróflca craniana idiopático e síndro-
me de Tolosa-Hunt.

Etiologia
O PIls costumam ocorrer sem causas locais ou sistêmicas
identificáveis, e suas origens permanecem desconhecidas.
Muitos investigadores propõem um processo imunológi-
co exagerado mediado por ünfócitos T e B como possível
26-23B FLAIR demonstra ausência de sinal na lesão etiologia para essas lesões pouco comuns. Outros sugeri
e a ram que infecções virais (p. ex., Epstein-Baar) podem ter
um pape! significativo na patogênese dos pseudotumores
inflamatórios.

Patologia
Localização. Pseudotumores intracranianos são divididos
em tipos pela localização: parenquimatosa, meníngea,
mista meníngea e parenquimatosa, intraventricular e no
seio cavernoso (freqüente, porém não invariavelmente,
extensão de doença orbitária). Cerca de 60% dos Plls ori-
ginam-se das meninges. Invasão do parênquima cerebral
adjacente ocorre em aproximadamente 10% dos casos.
Tamanho e número. Lesões intracranianas variam de peque
nas lesões focais infiltrativas a grandes massas com base
durai multifocals com envolvimento parenquimatoso ex
tenso (Figs. 26-24C, 26-24D).
Patologia macroscópica. A PII clássica é uma massa firme,
26-23C Imagem ponderada em TI pós-contraste amarelada, algo lobulada, que espessa a dura-aracnoide
demonstra realce frustro nas septações dentro da lesão. (Flg. 26-24D). Alguns casos demonstram infiltração focai
CAPNON. (Cortesia de S. Blaser, MD.) do cérebro adjacente (Flg. 26-24C).
Outros tumores e patologias com características tumorals 747

Características microscópicas. O aspecto comum da PII Com algumas exceções, a maioria dos PIIs - em es
nas lâminas-padrão coradas com hematoxilina e eosina pecial aqueles com esclerose fíbrótica densa - costuma
é de células fíbroblásticas em proliferação, porém de as responder pouco aos corticosteroides. O tratamento de
pecto benigno, misturadas com infiltrados inflamatórios escolha é a ressecção cirúrgica. Radioterapia e quimiote
(Fig. 26-25C). Quantidades variáveis de linfócitos poli- rapia foram usados com pouco sucesso.
clonais, macrófagos, células polimorfonucleares, plasmó-
citos, eosinófílos e histiócitos estão presentes dentro de Imagem
um estroma fibroso. Características gerais. PIIs em geral causam um espessa-
A quantidade de fibrose no interior de um PIl em ge mento tumoral da dura-máter. Os PIIs da base do crânio
ral aumenta com a cronicidade. Nenhuma célula neoplá- comumente se estendem para e pela órbita, seio cavemo-
sica está presente, e corantes para agentes infecciosos são so, cavo de Meckel e dura-máter adjacente. As lesões da
negativos. MIB-1 é baixo, geralmente menor que 1%. fossa posterior podem invadir o divo e o osso temporal.
A imuno-histoquímica demonstra expressão de actina Espessamento e realce de um ou mais nervos cranianos
de músculo liso, porém corantes para a quinase do linfo- foi relatado.
ma anaplásico (QLA) geralmente são negativos.
Achados na TC. A TC mostra uma ou mais massas extra-
-axiais hiperdensas (Fig. 26-24A). Remodelamento
Aspectos clínicos ósseo focai, erosão ou franca destruição pode existir,
Os pseudotumores orbitários podem se apresentar em
embora sejam manifestações pouco comuns. Realce uni
qualquer faixa etária e causar proptose dolorosa. Os pseu forme forte após a administração de contraste é típico
dotumores inflamatórios da base do crânio e intracrania
(Fig. 26-24B).
nos costumam apresentar-se em adultos. Cefaleia, sinto
mas visuais e neuropatia craniana são sintomas comuns.

26-24A TC demonstra uma


massa frontal direita hiperdensa
com espessamento da caivária
adjacente associado B.
26-246 TC pós-contraste
demonstra que a extensa lesão
envolve ambos os lobos frontais,
apresenta realce moderado e re
lativamente uniforme B.

26-24C Espécime de ne-


cropsia do mesmo paciente
demonstra uma massa hetero
gênea extensamente infiltrativa
no lobo frontal direito e núcleo
caudado esquerdo SI.
26-24D A dura é marcada-
mente infiltrada e espessada
B. Hístologia demonstrou
pseudotumor ínflamatório idio-
pático invasivo sem evidência de
neoplasia ou infecção. (Cortesia
de R. Hewlett, MD.)
748 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Achados na RM. PIIs são geralmente isointensos ao córtex


nas imagens ponderadas em TI e moderada a muito hi-
pointensos nas imagens ponderadas em 12 (Fig. 26-25A).
Hipointensidade em T2 se correlaciona com a quantidade
de fibrose presente na lesão.
Realce uniforme intenso é característico da PII e é
melhor demonstrado nas seqüências ponderadas em TI
pós-contraste com saturação de gordura (Fig. 26-25B).
Aspecto de massa de base durai lobulada ou de margens
lisas é típico (Fig. 26-26).
Um achado secundário freqüente da Pll mais exten
sa é a trombose de veias corticais e/ou trotnbose de seios
venosos durais. Edema parenquimatoso focai, visto como
aumento da intensidade de sinal nas imagens ponderadas
em T2/FLA1R, é comum e pode refletir congestão venosa
ou invasão franca pseudotumoral para o interior do cére
26-25A Imagem ponderada em T2 demonstra uma
massa durai bifrontai lobulada muito hipointensa B
bro adjacente.
com híperintensidade em ambos os lobos frontais
Diagnóstico diferencia!
O diagnóstico diferencial de Pll requer biópsia e confir
mação histológica; não existem características de imagem
patognomônicas da PII. Os achados podem ser muito
similares ao meningioma "em placa" e ao linfoma não
Hodgkin meníngeo. A intensidade de sinal e realce nessas
três lesões pode ser idêntica, embora importante hipoin
tensidade nas imagens ponderadas em T2 seja mais típico
do Pll.
Outras lesões intracranianas que podem mimetizar
PII são ncurossarcoidose, pseudotumor atípico mico-
bactcríano de células fusiformes, metastases ósseas e
durais além de invasão craniana de um carcinoma na-
sofaríngeo. A meningite, especialmente secundária à tu
berculose e à infecção fúngica, pode causar espessamento
meníngeo focai que lembra muito o Pll com ou sem ero
26-25B Imagem ponderada em TI pós-contrasle do são óssea adjacente.
mesmo paciente demonstra espessamento durai exten
so B com invasão do seio frontal direito

Referências selecionadas
Tumores extracranianos e patologias com
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Outros tumores e patologias com características tumorals 749

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26-26C imagem ponderada em TI pós-contraste


demonstra que a lesão infiltra o selo cavernoso B e
se estende inferiormente para o interior do forame oval
Pseudotumor infiamatório.
750 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

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27
Metástases e síndromes
paraneoplásicas
40% dos pacientes com câncer eventualmente desenvol
Lesões metastáticas 751
vem metástases cerebrais.
visão geral 751
Metástases parenquimatosas 756
Metástases cranianas e durais 762 Visão geral
Metástases ieptomeníngeas 765
Outras metástases 767 Terminologia
Disseminação geográfica direta de neoplasias de cabeça e As metástases são tumores secundários que se originam
pescoço 770 de neoplasias primárias de outro local.
Metástases perineurais 771
Síndromes paraneoplásicas 773 Etlologla
Encefalite limbica paraneoplásica 774
Rotas de disseminação. As metástases do SNC podem se
Outras síndromes paraneoplásicas 774
originar de tumores primários extra ou intracranianos.
As metástases de neoplasias primárias cxtracranianas
A doença metastática do sistema nervoso central (SNC) ("metástases do corpo para o cérebro") surgem mais via
pode se originar de várias fontes e possuir muitas "faces" disseminação hematogcnica.
nos exames de imagem. Começaremos com uma visão Uma variante rara das metástases hematogênicas do
geral, com foco nas principais características, incluindo corpo para o cérebro são as metástases de tumor para
como e de onde surgem as metástases, o efeito da idade no tumor (MTT). As MTTs em geral ocorrem quando uma
tipo primário do tumor e a localização do SNC, sintoma neoplasia epitelial extracraniana agressiva "doadora"
tologia, opções de tratamento e prognóstico. (mais freqüentemente carcinoma de mama ou pulmão)
Seguiremos com uma discussão a respeito das metás metastatiza para um tumor intracraniano "receptor" be
tases cranianas de acordo com a localização anatômica, nigno ou de baixo grau (um meningioma). As MTTs às
começando pelo parênquima, o local mais comum. Con vezes são chamadas de tumores de colisão, ou seja, dois
cluiremos com uma discussão a respeito dos efeitos re tipos diferentes de tumor justapostos em uma massa úni
motos do câncer sobre o SNC e o grupo das chamadas ca, porém esse termo, de forma mais correta, refere-se a
síndromes paraneoplásicas, que vem adquirindo crescente duas neoplasias adjacentes que invadem uma a outra.
importância. A extensão geográfica direta de uma lesão em urna
estrutura adjacente (como um carcinoma de células es-
camosas na nasofaringe) também ocorre, mas é muito
menos comum do que a disseminação hematogênica. A
Lesões metastáticas
invasão em geral acontece ao longo das vias de menor re
As metástases cerebrais não são apenas a maior causa de sistência, pelos forames e pelas fissuras naturais onde o
mortalidade por câncer, visto que, como grupo, tomaram- osso é afllado ou ausente. As disseminações perineural e
-se as neoplasias mais comuns de SNC em adultos. Desde perivascular são menos comuns, porém importantes rotas
1960, tem havido um aumento de cinco vezes na prevalên de extensão geográfica direta pelas quais os tumores de
cia geral de metástases cerebrais; a razão entre os tumores cabeça e pescoço podem acessar o SNC.
cerebrais metastáticos e os primários é quase de 50:50. O As neoplasias intracranianas primárias às vezes
aumento da sobrevida geral da população, a melhoria no se disseminam de um local do SNC para outro, causan
diagnóstico e os novos regimes de tratamento, que permi do metástases do cérebro para o cérebro ou do cérebro
tem que os pacientes com cânceres sistêmicos sobrevivam para a medula. Um exemplo típico é a disseminação de
por períodos prolongados, contribuem para esse aumento um astrocitoma maligno (p. ex., glioblastoma multifor
marcante na prevalência. Nos Estados Unidos, mais de me) para outros locais do SNC. A disseminação ocorre
752 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

27-1 Ilustração demonstra metastases parenquimatosas E^J com 27-2 Metástases de carcinoma broncogênico mostram variada localiza
edema circunjacente S>1. A junção entre as substâncias branca e cinzen ção e aspectos diversos. As lesões na junção S8-SC apresentam hemorragia
ta é a localização mais comum. A maioria das metastases é arredondada, as lesões no mesencéfalo são cinza-amarronzadas SI e outra metás-
e não ínfllirativa. tase parenquimatosa apresenta necrose ES. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)

mais ao longo dos tratos compactos de substância branca, Se as células metastáticas conseguem colonizar o
como o corpo caloso e a cápsula interna, mas também inóspito hábitat cerebral, proteínas de matiz, citocinas c
pode acometer o epéndima ventricular, a pia c os espaços diversos fatores de crescimento criam um microambien

perivasculares. te que promove o crescimento tumoral. A inativação de


A disseminação pelo líquido cerebrospinal (LCS) genes supressores tumorals com a simultânea ativação de
com ''meningite carcinomatosa" e ''drop metastases''' para proto-oncogênes é típica. A ativação e a ampüficação de
o cérebro e a medula ocorrem com neoplasias primárias alguns genes, como o EGFR. também são comuns.
extra ou intracranianas.
Origem das metastases do SNC. Tanto a fonte quanto a lo
Formação das metastases. Embora a disseminação vascu calização intracraniana das metástases variam com a
lar das células tumorals sistêmicas ocorra facilmente, o idade do paciente. Cerca de 10% de todas as metástases
desenvolvimento das metástases cerebrais é muito mais cerebrais originam-se de uma neoplasia primária desco
complexo do que a simples embolia tumoral para um nhecida no momento do diagnóstico inicial. Em 10% dos
órgão-alvo. O cérebro é um órgão com uma "relativa pro pacientes, o cérebro é o único órgão acometido.
teção" biológica em decorrência da barreia hematoencefá- Crianças. As fontes mais comuns de metástases cra
lica. A maior parte das células tumorals disseminadas não nianas em crianças são as neoplasias hematológicas. Em
produzem metástases cerebrais de forma imediata. ordem descendente de freqüência, incluem leucemia, lin-
O estabelecimento, o crescimento e a sobrevivên foma e sarcoma (osteossarcoma, rabdomiossarcoma e sar
cia das metástases dependem da interação das células coma de Ewing).
tumorals com múltiplos fatores do microambiente do A localização preferencial é o crânio e a dura. As me
órgão-alvo. A formação das metástases é um processo tástases parenquimatosas são muito menos comuns em
biologicamente complicado e geneticamente mediado. crianças em comparação com os adultos.
Uma autêntica cascata de eventos é necessária antes que Adultos. O tumor primário mais comum que promove
as metástases cerebrais se desenvolvam. Receptores es metástases para o parênquima cerebral é o câncer de pulmão
pecíficos medeiam a ligação e a subsequente infiltração (especialmente o de pequenas células e o adenocarcinoma).
das células tumorals circulantes no SNC. Uma vez que O câncer de mama é a segunda fonte primária mais comum,
as células neoplásicas entram no cérebro, elas são cir seguida por melanoma, carcinoma renal e de cólon.
cundadas e infiltradas por astrócitos ativados. Esses as- Metástases para o crânio, a dura e a coluna costumam
trócitos regulam e ativam os "genes de sobrevivência" ser causadas por câncer de próstata, mama ou pulmão,
nas células tumorals, tornando-as altamente resistentes seguidas por linfoma não Hodgkin, mieloma múltiplo e
à quimioterapia. neoplasias renais.
Metástases e síndromes paraneoplásicas 753

27-3 Ilustração axial demonstra uma metáslase craniana destrutiva 27-4 Metástases cranianas são vistas como lesões permeativas, líticas
B expandindo o espaço diploico e invadindo/espessando a dura subja e destrutivas Si.
cente (estrutura linear em azul claro) [S.

Patologia
METÁSTASES 00 SNC: Localização. O parênquima cerebral é o local mais comum
EPIDEMIOLDGIA E ETIOLOGIA
(80%), seguido pelo crânio e pela dura (15%). A infiltração
Epídemíología difusa das leptomeninges (pia) e do espaço subaracnoide é
• Adultos > > crianças incomum, representando apenas 5% de todos os casos.
o Metástases = neoplasias do SNC mais comuns em A maioria das metástases parenquimatosas está lo
adultos calizada nos hemisférios cerebrais. As metástases he-
° Aumento de 5x nos últimos 50 anos
o Metástases cerebrais em mais de 40% dos matogênicas possuem predileção pelas zonas de fron
teira arterial e a junção entre o córtex e a substância
pacientes com câncer
branca subcortical (Fig. 27-1). Entre 3 e 5% são en
Rotas de disseminação contrados nos nijcleos da base. Raramente, as células
• Mais comum = primário extracraniano para o SNC via
o Disseminação hematogênica neoplásicas infiltram de forma difusa no cérebro e nos
o Extensão geográfica direta (nasofaringe, selos espaços perivasculares, um processo chamado encefali-
te carcinomatosa.
paranasais)
o Disseminação perineural e perivascular Somente 15% das metástases são encontradas nos ce-
• Menos comum rebelo. Mesencéfalo, ponte e bulbo são locais incomuns
o Primário do SNC com metástase do cérebro para o (especialmente para lesões solitárias) e representam me
cérebro nos de 1% das metástases.
o Primário do SNC com metástase do cérebro para o LCS Outros locais raros incluem o plexo coroidc, o epên-
• Pouco comum
dima ventricular, a hipófise/haste hipofisária e a coroide
o Metástases de tumor para tumor
retiniana.
o Justaposição de dois tumores de tipos diferentes
em uma massa única Tamanho é número. Embora as metástases parenquimatosas
o Às vezes cfiamados de "tumor de colisão" variem em tamanho, de implantes microscópicos a alguns
o Tumores "doadores" mais comuns: mama, pulmão centímetros de diâmetro, a maioria possui entre poucos
o Tumor "receptor" mais comum: meningioma
milímetros e 1,5 centímetros. Grandes metástases hemis-
Origem féricas são raras. Em contraste, as metástases do crânio e
• 10% com primário desconhecido no momento do da dura podem se tomar bastante volumosas.
diagnóstico Aproximadamente metade de todas as metástases são
o Crianças: leucemia, linfoma, sarcoma
lesões solitárias, e outra metade é múltipla, Cerca de 20%
o Adultos: pulmão, mama; melanoma, carcinoma
dos pacientes possuem duas lesões, 30% possuem três ou
renal e de còlon
mais, e somente 5% possuem mais do que cinco lesões.
754 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorals

27-5A Tumor metastático E] penetra a dura e invade o seio sa- 27-5B Fotomicrografia de baixa magniíicação moslra que o aspecto
gilal superior. 0 crânio sobrejacente (não mostrado) estava acometido. endocraniano do tumor envolve tanto a dura quanto a aracnoide subja
cente SI. (Cortesia de P. Burger, MD.)

Patologia macroscópica. O aspecto das metástases na pato As metástases durais costumam ocorrer em combi
logia macroscópica varia de acordo com o local do tumor. nação com lesões cranianas adjacentes, apresentando-se
Metástases parenquimatosas. As metástases paren- como nódulos focais ou folhas de tumor mais difusas e em
quimatosas são lesões arredondadas e relativamente dis placas (Figs. 27-5, 27-6, 27-7 e 27-8). Metástases durais
tintas (Fig. 27-2). Edema peritumoral. necrose e efeito ex sem o envolvimento do crânio são menos comuns.

pansivo variam de nenhum a acentuados. Com a exceção Metástases leptomeníngeas. O termo "metástase lep-
do melanoma melanocítico, que é preto, a maioria é amar- tomeníngea", na verdade, descreve as metástases para os
ronzada ou branco-acinzentada. Alguns adenocarcinomas espaços subaracnoides e a pia. A opacifícação difusa das
produtores de mucina possuem um aspecto gelatinoso. leptomeninges com revestimento em aspecto de açúcar é
A distribuição espacial das metástases parenquimatosas típica (Fig. 27-9). A infiltração dos espaços perivasculares
não é uniforme, sugerindo que a vulnerabilidade para as me (de Virchow-Robin) com extensão para o córtex adjacente
tástases pode diferir entre as regiões do cérebro. Por exem é comum (Fig. 27-10).
plo, os lobos parietais e occipitais são os locais mais comuns Características microscópicas. Embora as metástases pos
para câncer de pulmão de não pequenas células. A hemorra sam demonstrar mitoses mais acentuadas e elevados ín
gia também varia com o tipo de tumor. Melanomas, carcino dices de proliferação em comparação com a sua fonte pri
mas de células renais e coriocarcinomas são mais propensos mária. elas preservam as mesmas características celulares.
a desenvolverem hemorragias intratumorais. Por exemplo, Algumas metástases são mais difíceis do que outras
em comparação com o câncer de pulmão, o melanoma pos para se caracterizar nos estudos histopatológicos-padrao.
sui uma probabilidade cinco vezes maior de sangrar. A caracterização imuno-histoquímica e novos testes ba
Metástases parenquimatosas difusamente infiltra- seados em microRNA podem identificar o tecido tumoral
tivas são raras. Quando ocorrem, elas podem ser indis- de origem na maioria desses casos.
tinguíveis de astrocitomas anaplásicos ou glioblastomas
multiformes. O carcinoma pulmonar de pequenas células
é o tumor mais comum a causar infiltração pseudoglio- METÁSTASES DO SNC: PATOLOGIA
matosa.
Localização
Metástases cranianas/durais. Metástases na calota e • Adultos
na base do crânio podem ser lesões bem delimitadas ou di o cérebro (80%, hemisférios cerebrais»cerebelo)
fusamente destrutivas e de margens indefinidas (Figs. 27-3 o Crânio/dura (15%)
e 27-4). Tumores de cabeça e pescoço que se estendem o Pia ("leptomeníngea"), LCS (5%)
o Outros (1%)
para o interior do crânio por invasão geográfica direta ge
ralmente causam significativa destruição óssea local. (continua)
Metástases e síndromes paraneoplásicas 755

(continuoçõo)
• Crianças
o Crânio/dura » parenquima cerebral
Ta m a n h o
• Metástases parenquimatosas
o Microscópicas a poucos centímetros (a maioria 0,5
a 1,5 cm)
• Metástases para crânio/dura
o Variável; podem se tornar muito grandes
Número
• Solitária (50%)
• Duas lesões (20%)
• Três lesões ou mais (30%)
o Somente 5% possuem mais de cinco lesões

Patologia macroscópica 27-6 Metástase durai solitária S] indenta o cérebro


• Arredondadas, bem circunscritas » infiltrativas e possui aspecto idêntico ao de um meningioma.
• Edema, necrose e hemorragia variáveis (Cortesia de R. Hewlett, MO.)

Características microscópicas
• Preservam as características gerais do tumor primário
• Podem ter mais mitoses e índices proliferativos mais
elevados

Aspectos clínicos
Oemografia. Conforme os tratamentos para os cânceres sis
têmicos melhoram, os pacientes vivem por mais tempo e
a incidência de metástases cerebrais continua a crescer.
Hoje, até 40% dos pacientes com cânceres sistêmi
cos tratados eventualmente desenvolvem metástases ce
rebrais. A incidência possui forte relação com a idade,
variando de menos de 1:100.000 em pacientes com menos
de 25 anos a mais de 30:! 00.000 aos 60 anos.
O pico de prevalência acontece em pacientes com mais 27-7 Múltiplas metástases durais de carcinoma de
de 68 anos. Somente 6 a 10% das crianças com malignida- mama S!. (Cortesia de B. Horten, MD.)
des extracranianas desenvolvem metástases cerebrais.
As metástases para o crânio e a dura possuem uma
distribuição bimodal. Existe um pico menor em crianças
e um pico muito maior em adultos de meia-idade e mais
velhos. A idade média é de 50 anos, com viés devido aos
casos pediátricos e mulheres jovens com neoplasias agres
sivas de mama.

Apresentação. Os sintomas variam conforme o tamanho do


tumor. Crises convulsivas e déficits neurológicos focais
são os sintomas de apresentação mais comuns das metás
tases parenquimatosas. Metade de todos os pacientes com
metástases para crânio/dura apresentam cefaleia. Crises
convulsivas, déficits sensitivos ou motores, neuropatia de
pares cranianos ou massa palpável sob o couro cabeludo
também são outros sintomas comuns.

História natural. A história natural das metástases paren


27-8 Metástase na dura-aracnoide de um tumor pri
quimatosas é grave. O aumento progressivo e inexorá mário de próstata obiitera o espaço subaracnoide e se
vel tanto no número quanto no tamanho das metástases estende para a superfície piai do cérebro SI. (Cortesia
é típico. de P. Burger, MD.)
756 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

27-9 Metástases pia-aracnoides ("leptomeningeas") revestindo o 27-10 Metástases preenchendo o espaço subaracnoide entre a aracnoide
cérebro e preenchendo as cisternas subaracnoides da base ES. (Cortesia ES e a superfície piai do cérebro [^, estendendo-se ao longo dos espaços
de R. Hewlett, MD.) perivasculares para o interior do córtex (Cortesia de P. Burger, MO.)

A sobrevida média após o diagnóstico é curta, geral Imagem


mente entre três e seis meses. Por exemplo, a sobrevida
A tomograíla computadorizada (TC) e a ressonância mag
em pacientes com metástases não tratadas de câncer de
nética (RM) convencionais são as modalidades mais utili
pulmão é de cerca de 1 mês. zadas para a detecção das metástases cerebrais e a moni
Opções de tratamento. Os objetivos do tratamento são a toração do tratamento.
prevenção/paliação dos sintomas, a melhora da qualidade Achados de TC. Tanto as reconstruções para partes moles
de vida e o aumento da sobrevida. Ressecção ciriirgica,
quanto para ossos devem ser realizadas, uma vez que lesões
radiocirurgia estereotáxica fracionada, radioterapia total sutis da calota craniana podem ser facilmente negligencia
do cérebro e quimioterapia são opções comuns.
das. As reconstruções para partes moles devem ser analisadas
A escolha do tratamento varia com o número e a lo
com janela estreita e intermediária ("subdural") (Fig. 27-11).
calização das metástases. Os pacientes com metástases TC sem contraste. A maioria das metástases é iso a le
solitárias podem apresentar melhor qualidade de vida e vemente hipodensa em relação à substância cinzenta (Fig.
sobrevida um pouco mais prolongada após a ressecção ci
27-12A). Na ausência de edema ou hemorragia intratumo-
rúrgica e/ou a radiocirurgia estereotáxica. ral, até mesmo metástases moderadamente volumosas po
dem ser invisíveis nos exames de TC sem contraste. Com
Imagem
exceção das metástases tratadas, calcificações são raras.
Os achados de imagem e diagnósticos diferenciais variam As vezes, a primeira manifestação de uma metásta-
com a localização das metástases. Cada localização anatô se intracraniana é um sangramento cerebral catastrófico.
mica possui características especiais; cada uma delas será As metástases subjacentes não são causas incomuns de
discutida a seguir.
hemorragia intracraniana espontânea em adultos mais ve
lhos (Fig. 27-13).
Metastases parenquimatosas TC com contraste. A maioria das metástases paren
Terminologia quimatosas realça intensamente após a administração de
meio de contraste (Flg. 27-12B). Aquisições tardias com
As metástases parenquimatosas são implantes tumorals
dose dupla podem aumentar a conspicuidade das lesões.
secundários que acometem o parênquima cerebral. O tu
Padrões de impregnação sólido, puntiforme, nodular ou
mor nos espaços perivasculares (de Virchow-Robin) tam
anelar podem ser observados.
bém está incluído na nossa discussão sobre metástases
parenquimatosas; as metástases intraventriculares (epen- Achados de RM.
dimárias e de plexo coroide) são abordadas na seção sobre Ponderação TI. A maioria das metástases é iso a leve
outras metástases (ver a seguir). mente hipointensa em TI (Fig. 27-14A). A exceção são
Metastases e síndromes paraneoplásicas 757

27-1 IA Cofle de TC sem con


traste em um homem de 64 anos
com cefaleia e sem deficits neu
rológicos focais não demonstra
anormalidades no parênquima
cerebral. Uma sutil irregularidade
na porção posterior do osso pa
rietal esquerdo pode ser no
tada na reconstrução para partes
moles (80 UH).
27-1 IB A reconstrução com
algoritmo para osso mostra uma
lesão permeativa e destrutiva
solitária que se estende por meio
das tábuas interna e externa da
calota craniana Metástase
de carcinoma de pulmão.

27-12A Corte axial de TC sem


contraste em uma mulher de 63
anos com carcinoma de mama
já conhecido demonstra algumas
hiperdensidades bifrontais BS.
27-128 A TC com contraste
mostra inúmeras metástases
com realce, a maioria das quais
eram isodensas e completa
mente invisíveis no estudo pré-
-contraste.

27-13A Um homem de 80
anos compareceu ao Pronto
/ Atendimento com queixa de
"derrame". A TC sem contraste
mostra um volumoso hematoma
heterogeneamente hiperdenso-
parieto-occipital à esquerda.
27-138 Um estudo de perfusão
por TC (não mostrado) e uma ATC

r' r- foram realizados. A ATC demons


tra um sinal da "mancha" (spot
sign) de acúmulo de contraste
ES no interior do hematoma
em expansão O diagnóstico
pré-operatório foi de hemorragia
hipertensiva com sangramento de
pseudoaneurisma. Um adenocar
cinoma com sangramento ativo,
de sítio primário desconhecido, foi
identificado na cirurgia.
758 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

as metástases de melanoma, as quais possuem um encur- ponderadas em difusão da água é imprevisível. As metás
tamenio TI intrínseco e, portanto, apresentam-se mode tases de adenocarcinomas bem diferenciados tendem a ser
radamente hiperintensas (Fig. 27-15). As metástases he hipointensas (sem restrição), enquanto carcinomas neuro-
morrágicas subagudas demonstram intensidade de sinal endócrinos mais agressivos de pequenas e grandes células
heterogênea e desordenada, freqüentemente com focos são hiperiniensos na difusão (Fig. 27-17A). Os valores de
misturados de hiper e hipointensidade em TI de aspecto coeficiente de difusão aparente (ADC) refletem a celula
bizarro (Fig. 27-16). ridade do tumor de modo inverso, ou seja. baixo ADC in
T2/FLAIR. A intensidade de sinal em T2 varia depen dica alta celularidade.
dendo do tipo de tumor, celularidade da lesão, presença de A seqüência DTl com a combinação de anisotropia
resíduos hemorrágicos e quantidade de edema peritumoral. fracionada (FA) e cálculos de ADC pode ser útil na distin
Muitas metástases são neoplasias muito celulares com ele ção entre metástases e glioblastoma.
vadas razões núcleo/citoplasma e, portanto, possuem as Perfusão. A diferenciação entre tumores primários e
pecto hipointenso em T2/FLAIR (Figs. 27-14B e 27-14C). metástases cerebrais solitárias usando a perfusão por RM
Exceções incluem tumores mucinoses, metástases císticas (pRM) é controversa. Alguns estudos sugerem que a acu-
e tumores com grandes quantidades de necrose central, os rácia diagnóstica da RM - incluindo o cálculo do rCBV
- é melhor para a graduação das neoplasias gliais do que
quais podem apresentar moderada hiperintensidade.
Algumas metástases hiperintensas demonstram pou na diferenciação entre gliomas de alto grau e metástases
co ou nenhum edema circunjacenle. Múltiplas pequenas parenquimalosas.
metástases hiperintensas ("metástases miliares") podem Espectro.<!copia de prolans. Sinal proeminente de
ser confundidas com doença de pequenos vasos, a não ser lipídeos é o pico dominante na espectroscopia da maio
que seja administrado meio de contraste. ria das metástases cerebrais. Entretanto, o sinal dos lipí
T2*. Os produtos sangüíneos e a melanina contêm deos também é comum em muitos processos celulares,
ions metálicos, incluindo ferro, cobre, manganês e zinco. incluindo inflamação e necrose. A colina costuma estar
Tanto a hemorragia subaguda quanto a melanina causam elevada, e a Cr está reduzida ou ausente na maior parte
acentuada queda de sinal (artefato de susceptibilidade das metástases.

magnética) nas imagens ponderadas em T2* (GRE, SWI) RM molecular. Alguns meios de contraste de RM têm
como alvos específicos marcadores como a molécula de
(Figs. 27-16 e 27-19). Quase 75% das metástases de me
lanoma apresentam hiperintensidade em TI ou efeitos de adesão de células vasculares endoteliais-1 (VICAM-l),
susceptibilidade; 25% apresentam os dois. Metástases não que possuem expressão aumentada nos vasos associados
melanóticas não hemorrágicas não se tomam hipointensas às metástases cerebrais. O uso dessas substâncias pode
em T2* (Fig. 27-15). permitir a detecção precoce de micrometástases antes que
TI pós-conlrasle. Quase todas as metástases não as lesões se tomem evidentes nas sequências-padrão com
realce pelo gadolínio.
hemorrágicas realçam após a administração de meio de
contraste (Fig. 27-14D). Os padrões variam de impregna Achados de medicina nuclear. Embora possua eficiência
ção sólida e uniforme a nodular, "cisto + nódulo" e anelar para a determinação da doença sistêmica, a tomografía
(Figs. 27-17 e 27-18). Múltiplas metástases no mesmo pa por emissão de pósitrons (PET-TC) padrão subestima pa
ciente podem exibir diferentes padrões (Fig. 27-16). cientes com metástases cerebrais e deixa de demonstrar
Estudos longitudinais demonstraram que, em pacien várias lesões facilmente detectadas na RM padrão. Resul
tes mais velhos, hiperintensidades multifocais identifica tados preliminares com o uso de novos agentes, como o
das nas ponderações T2/FLAIR que não realçam após a FI8-D0PA, são promissores na detecção de recidiva da
administração de meio de contraste quase nunca se reve doença após o tratamento cirúrgico e/ou radioterapia.
lam metástases.
A conspicuidade das metástases pode ser aumenta Diagnóstico diferencial
da nas imagens em TI pós-conlraste com supressão de o diagnóstico diferencial das metástases parenquimalo
gordura e seqüências com transferência de magnetiza- sas varia com os achados de imagem. O principal diag
çào. Descreveu-se um aumento da sensibilidade com o nóstico diferencial para as metástases com realce punti-
uso de dose dupla ou mesmo tripla de contraste, porém forme e anelar é o abseesso. Os abscessos e os êmbolos
não é uma prática rotineira. A seqüência T2/FLAIR pós- scptícos em geral têm restrição à difusão da água e de
-contraste é uma nova técnica que aumenta a sensibilidade monstram aminoácidos e lactato elevados na espectros
em comparação às seqüências de inversão da recuperação copia de prótons.
(IR) pós-contraste e gradiente-espoliada (FSPOR) prepa Às vezes, o glioblastoma multiforme (GBM) pode
rada com inversão da recuperação. simular metástases parenquimalosas. especialmente um
Difusão. Com exceção das neoplasias altamente ce GBM multifocal com lesões metacrônicas ou dissemina
lulares, como o meduloblastoma e o linfoma. a maioria ção tumoral do cérebro para o cérebro. O GBM solitário
dos tumores ctrehrú^ primários não apresenta restrição à tende a ser infiltrativo, enquanto as metástases são quase
difusão. O comportamento das metástases nas seqüências sempre arredondadas e relativamente bem delimitadas.
Metastases e síndromes paraneoplásicas 759

27-14A Imagem ponderada


em TI em um homem de 63
anos com carcinoma urotelial e
um exame normal há seis me
ses, que apresentou crise convul
siva. Múltiplas hipointensidades
são observadas na SB subcortical
dos hemisférios cerebrais.
27-14B Módulos iso a leve
mente hiperintesos nas interfa
ces SB-SC B>] estão circundados
por edema nessa imagem pon
derada em T2.

27-14C Os nódulos são hipe-


rintensos em FLAIR. Pequenas
lesões adicionais na junção cór-
ticossubcortical são observadas
B .
27-14D As lesões realçam
intensamente na seqüência Ti
pós-contraste. Vários diminutos
focos de realce B que não fo
ram observados em T2/FLAIR são
identificados.

■' . • :■ ■

27-15A (Esquerda) Espécime


de necropsia mostra típicos
nódulos negros e arredondados
no córtex e nas interfaces S8-5C
característicos de melanoma
metastático. (Direita) Imagem
ponderada em Ti em um pacien
te com melanoma metastático
mostra inúmeras metástases
hiperintensas.
27-15B Imagem ponderada
em T2'' GRE no mesmo paciente
mostra que somente algumas
das metástases visíveis em Ti
apresentam artefatos de suscep-
tibilidade magnética, indicando
que a maior parte do encurta-
mento TI é secundário à melani-
na, e não hemorragia subaguda.
760 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

27-16A Imagem ponderada


em TI em outro paciente com
melanoma metastático demons
tra três metástases, cada uma
com um aspecto diferente. Lima
[S apresenta hemorragia em
diferentes idades, lembrando
uma malformação cavernoma-
tosa. A segunda apresenta ne
crose central SI, e a meiástase
infundibular ES é isointensa à
substância branca.
27-16B Imagem em plano
pouco mais superior no mesmo
paciente mostra hemorragia com
nível líquido-líquido B na me-
tástase necrótica.

27-16C A ponderação T2' 6RE


mostra artefato de susceptibl-
lidade magnética circundando
a borda da metástase necrótica
enquanto a outra lesão he
morrágica S] apresenta perda
de sinal quase homogênea.
27-16D Imagem na seqüên
cia 11 pós-contraste mostra
que a metástase infundibular
B3 apresenta realce intenso e
uniforme. A metástase necrótica
demonstra uma configuração de
"cisto + nódulo" enquanto
a metástase hemorrágica menor
apresenta um pequeno anel de
impregnação ES.

27-17A Dois casos incomuns


demonstram aspectos variantes
das metástases. Metástases de
carcinoma de pulmão em um
paciente idoso apresentam-se
como hiperintensidades em 12
inespecíficas porém apre
sentam realce puntiforme e ane-
lar na seqüência Ti pós-contraste
E3. Algumas demonstram res
trição à difusão E3.
27-17B (Esquerda) A ima
gem em T2 mostra uma lesão
infiltrativa, cistica e hemorrágica
ÍS. (Direita) A seqüência Ti
pós-contraste mostra bizarro
realce anelar multiloculado B.
O diagnóstico pré-operatório foi
de GBM. Metástase de câncer de
mama foi encontrada na cirurgia.
Metastases e síndromes paraneoplásicas 761

27-18 Um homem de 63 apresentou intensa cefaieia e papiledema. 27-19 Ocasionalmente, as metástases se apresentam como en-
A TC sem contraste mostra uma massa solitária com hemorragia na fossa cefalopatia inespecífica. As imagens em T2/FLAiR mostram algumas
posterior As imagens de RM mostram um padrão de "cisto nódu- hiperintensidades esparsas na SB SJ. Não há realce definido em T1 pós-
lo". Adenocarcinoma de sitio primário desconhecido. -contraste, múltiplos focos de susceptibilidade magnética em 12" S].
Metástases de câncer de mama.

GBMs costumam ser solitários e localizados na substân


cia branca profunda cerebral, enquanto 50% das metásta METÁSTASES PARENQUIMATOSAS: IMAGEM
ses são mtiltiplas, ocorrendo nas interfaces entre as subs TC

tâncias branca e cinzenta.


• Densidade variável (a maioria iso a hipodensa)
• A maior parte realça na TC com contraste
Os tumores cerebrais primários infratentoriais sào
• Reconstrução com filtro ósseo para pesquisa de
raros em adultos. Nào importa como são os achados de
metástases na calota e na base do crânio
imagem, uma massa cerebelar solitária em um adulto
de meia-idade ou mais velho deve ser considerada uma Ponderação TI
metástase até que se prove o contrário. Mesmo com um • Maioria das metástases: iso a levemente hipointensas
• Metástases de melanoma: hiperintensas
aspecto de "cisto + nódulo", o qual é clássico para heman- • Metástases hemorrágicas: heterogeneamente
gioblastoma. metástases ainda devem estar no topo da lis
ta de diagnósticos diferenciais. hiperintensas
Tanto metástases quanto miíltíplos infartos embóli- T2/FLAIR
• Varia com o tipo de tumor, celularidade e hemorragia
cos compartilham uma predileção pelas "zonas de fron
• Mais comum: iso a levemente hiperintensas
teira" arteriais e a interface entre as substâncias branca • Podem se assemelhar a doença de pequenos vasos
e cinzenta. A maioria dos infartos agudos restringe in
T2"
tensamente a difusão da água e raramente demonstra um
• Artefatos de susceptibilidade com sangue subagudo
padrão de realce anelar na seqüência TI pós-contraste. e melanina
Infartos crônicos e doença microvascular de pequenos
vasos são hiperintensos em T2 e não impregnam após a TI pós-contraste
• Quase todas as metástases nào hemorrágicas realçam
administração do meio de contraste.
intensamente
A esclerose múltipla (EM) ocorre em pacientes mais • Sólido, puntiforme, anelar, "cisto + nódulo"
jovens e está preferencialmente localizada na substância
branca periventricular profunda. Um padrão de realce anelar Difusão
• Variável; mais comum: sem restrição
incompleto ou em "ferradura" é mais característico de EM e • Metástases altamente celulares podem restringir
outras doenças desmielinizantes do que de metástases.
Múltiplos angiomas cavernosos podem simular me Espectroscopla de protons
tástases hemorrágicas. As metástases hemorrágicas em • Característica mais proeminente: pico de lipídeos
• Colina elevada. Cr reduzida ou ausente
geral demonstram evolução desordenada dos produtos (continuo)
sangüíneos e um anel de hemossiderina incompleto.
762 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

27-20A Corte de TC sem contraste com reconstrução com filtro para 27-20B A reconstrução com filtro ósseo demonstra inúmeras lesões
partes moles em janela para partes moles (80 UH) não mostra anormali lilicas bem definidas na calota craniana. Mieloma múltiplo.
dades nesse homem de 53 anos com cefaleia.

possuem M Ds. Os tumores de mama (35%) e próstata (15


iCQt)t\f)UQ0O) a 20%) são as fontes mais freqüentes. As lesões solitárias
Diagnóstico diferenciai são discretamente mais comuns do que MDs múltiplas.
• Mais comum: abscesses, êmbolos sépticos
• Menos comum
o Glioblastoma multiforme
Imagem
o Múltiplos infartos embólicos Características gerais. As lesões focais solitárias ou múlti
o Doença de pequenos vasos (microangiopatia) plas acometem o crânio, a dura ou ambos. Um padrão me
o Doença desmielinizante nos comum é o espessamento neoplásico difuso da dura-
o Múltiplas malformações cavernomatosas -aracnoide, visto como uma camada curvilínea de tumor
que segue a tábua interna da calota craniana.
Achados de TC. A avaliação completa requer a reconstrução
Metastases cranianas e durais das imagens tanto com filtro de partes moles quanto com
Terminologia filtro ósseo (Fig. 27-20). As imagens reconstruídas com
o termo "crânio" refere-se tanto à calota quanto à base. filtro para partes moles obscurecem as lesões cranianas,
Como não é possível distinguir entre o envolvimento as quais podem se tornar invisíveis, a não ser que sejam
neoplásico da camada periosteal e da camada meníngea utilizados filtros ósseos para reconstrução. Os cortes para
da dura, iremos nos referir a estas camadas em conjunto partes moles visualizados com janelas ósseas não forne
como "dura". A aracnoide - camada mais externa das lep- cem detalhes suficientes para a avaliação adequada.
tomeninges - adere-se à dura, portanto quase sempre tam TC sem contraste. Grandes metástases durais deslo
bém está acometida quando o tumor a invade. Para fins cam o cérebro internamente, deformando a interface entre
de discussão, essas estruturas são referidas em conjunto as substâncias branca e cinzenta medialmente. Hipoden-
como dura-aracnoide. sidades no cérebro subjacente sugerem invasão parenqui-
matosa ou isquemia venosa.
Visão geral A TC óssea demonstra uma ou mais lesões intraós-
o crânio e a dura são o segundo local mais comum de seas relativamente circunscritas. As lesões permeativas e
metástases no SNC provindas de tumores primários ex- difusamente destrutivas são o segundo padrão mais co
tracranianos. As metástases na calota e na base do crânio mum. Algumas poucas metástases ósseas - a maioria de
podem ocorrer com ou sem acometimento durai. câncer de próstata ou câncer de mama tratado - podem ser
Em contraste, as metástases durais (MD) sem lesões blásticas ou escleróticas.
coexistentes na calota craniana são menos comuns. En Tc com contraste. O achado mais comum é o de uma
tre 8 e I 0% dos pacientes com câncer sistêmico avançado massa de partes moles com centro geométrico no espaço
Metástases e síndromes paraneoplásicas 763

27-21 (Esquerda) Corte de TC


com contraste em janela para
parles moles mostra uma lesão
ea com centro no espaço diploi-
co da calota craniana. (Direita)
A janela intermediária mostra a
M.'-i extensão da metástase lítica e
destrutiva delineando me
lhor os componentes subgaleal e
extradural B.
27-22 Carcinoma de mama
metastático para o crânio e dura
é visto como uma lesão perme-
ativa e destrutiva na diploide
parietal esquerda 63. A lesão é
predominantemente isointensa
ao cérebro nas ponderações TI e
T2 S e apresenta restrição na
difusão E3.

27-23 (Esquerda) Metástase


sutil na dura-aracnoide é obser
vada aqui como um leve espes-
samento B. (Direita) A dura
espessada B realça na seqüên
cia TI pós-contraste. As lesões
diploícas com impregnação agora
podem ser identificadas S.
27-24 Metástases de câncer
de próstata espessam a
dura e preenchem o espaço
subaracnoide B. Edema B
indica infiltração ao longo dos
espaços perivasculares para o
interior do parênquima cerebral.
(Cortesia de N. Agarwal, MD.)

27-25 Metástase de macro-


globulinemia de Waldenstrom na
dura-aracnoide se estende para
o espaço subaracnoide e oblitera
os sulcos. (Cortesia de P. Hilden-
brand, MD.)
27-26 Extensa metástase na
calota craniana, couro cabeludo e
dura provinda de um carcinoma
de pulmão é ilustrada.
764 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

diploico. Um fomiato biconvexo com extensão tanto sub- tástases na calota craniana. As estruturas normais costumam

galeai quanto dura! é típico (Fig. 27-21). A maioria das ser bem delimitadas e a dura subjacente está nomial.
metástases durais realça intensamente. O mieloma pode ser indistinguível de múltiplas metás
tases líticas no crânio. A osteomielite da base do crânio é
Achados de RM.
uma rara, porém letal, infecção que pode se assemelhar a
Ponderação TI. A gordura hiperintensa no espaço di metástases difusas da base do crânio. Os valores de ADC são
ploico fornece uma excelente demarcação natural para as mais elevados na infecção do que nas neoplasias malignas.
metástases cranianas. As metástases substituem a medula O principal diagnóstico diferencial para metástases
amarela hiperintensa e aparecem nas imagens como focos solitárias ou multifocais da dura-aracnoide é o meningio
infiltrativos hipointensos (Fig. 27-22). As metástases du ma. Metástases, especialmente de câncer de mama. po
rais espessam a dura-aracnoide e são tipicamente iso ou dem ser quase indistinguíveis de meningiomas solitários
hipointesas ao córtex subjacente (Fig. 27-23, 27-24). ou múltiplos apenas do ponto de vista de imagem.
T2/FLA1R. A maior parte das metástases cranianas O diagnóstico diferencial para o espessamento difuso
são hiperintensas à medula em T2, porém a intensidade da dura-aracnoide é muito mais amplo. Paquimeningopa-
de sinal das metástases durais é variável. Hiperintensidade tias não neoplásicas. como meningite, hematoma subdural
em FLAIR nos sulcos subjacentes sugere disseminação tu crônico e hipotensão intracraniana podem causar espes
moral para a pia-aracnoide (Fig. 27-25). Hiperintensidade samento difuso da dura-aracnoide. O espessamento durai
no cérebro subjacente está presente em metade de todos metastático é geralmente, porém não sempre, mais "rugo-
os casos e sugere invasão tumoral ao longo dos espaços so e esburacado" (Figs. 27-23 e 27-24).
perivasculares ou comprometimento da drenagem venosa.
T! pós-conírasíe. Quase 70% das metástases durais
estão acompanhadas de metástases no crânio sobrejacente METÁSTASES NO CRÂNIO E NA DURA-ARACNOIDE
(Fig. 27-26). O envolvimento do couro cabeludo adjacente Características gerais
também é comum. A seqüência ponderada em TI pós-con- • Segundo local mais comum de metástases no SNC
traste deve ser realizada com saturação do sinal da gordura • Crânio Isolado ou crânio + dura > > metástase durai

(TI C+ PS) para uma delineação otimizada, uma vez que isolada
• Metástases "durais" geralmente são na dura e na
algumas lesões na calota craniana podem realçar apenas o
suficiente para tomarem-se isointensas à gordura. aracnoide

A maior parte das MDs realça intensamente, apresen TC


tando-se como massas biconvexas com centro geométri • Uso de reconstruções com filtro de partes moles e osso
co no espaço diploico adjacente. "Caudas" durais estão • Crânio: lesões líticas permeativas
presentes em cerca de metade dos casos. Franca invasão • Couro cabeludo, dura: massa biconvexa com centro
tumoral para o interior do cérebro subjacente é observada no crânio
em um terço dos casos. O espessamento durai pode ser R M
liso e difuso ou nodular e com aspecto de massa. • TI: metástases substituem a gordura hiperintensa
Difusão. Metástases hipercelulares com núcleos au • T2: maioria das metástases é hiperintensa
mentados e matriz extracelular reduzida podem apresen • FLAIR: procure por
tar restrição à difusão (hiperintensas) e baixos valores de o Hiperintensidade nos sulcos subjacentes (sugere
ADC (hipointensas). tumor na pia/espaço subaracnoide)
o Hiperintensidade no parênquima (sugere invasão
Achados de medicina nuclear. As metástases cranianas são cerebral ao longo dos espaços perivasculares)
positivas nas aquisições com Tc-99m. As aquisições in • 11 pós-contraste:
tegradas de PET-TC com fluordesoxiglicose (FDG) pos o Uso de seqüências com saturação de gordura
suem um valor preditivo positivo muito elevado para o Lesões no crânio/couro cabeludo/dura podem ser
metástases ósseas, incluindo lesões na calota craniana. As focais ou difusas, realce intenso
lesões durais não são tão bem visualizadas.
o Sinal da "cauda durai" (50%)
o Menos comum: espessamento difuso da
Diagnóstico diferencial dura-aracnoide ("rugoso e esburacado" ou liso)
o diagnóstico diferencial das metástases do crânio e dura- • Difusão: metástases hipercelulares podem apresentar
-aracnoide depende de qual companimento está envolvi restrição
do e se lesões solitárias ou múltiplas estão presentes.
Diagnóstico diferencial
O principal diagnóstico diferencial para as metástases • Metástases cranianas
cranianas são defeitos cirúrgicos e estruturas normais. Um o Defeito cirúrgico, lagos venosos/granulações
defeito cirúrgico, como um orifício de trepanação ou cranio- aracnóideas
tomia pode ser distinguido de metástase pela história clínica o Mieloma
o Osteomielite
e a presença de defeitos no couro cabeludo sobrejacente. La
• Metástases durais
gos venosos, sulcos vasculares, granulações aracnóideas o Meningioma (solitário ou múltiplo)
e, ocasionalmente, até mesmo suturas podem simular me
Melástases e sfndromes paraneopiásicas 765

Metastases leptomeníngeas Epidemioiogla e etíoíogia


A disseminação tumoral ieptomeníngea é uma compli As metástases leptomeníngeas são incomuns, observadas
cação metastática com impacto crescente na oncologia em apenas 5% dos pacientes com cânceres sistêmicos
clínica. Recentes avanços no manejo terapêutico foram (Fig. 27-9). O tumor extracraniano primário que mais
obtidos, portanto o diagnóstico precoce é critico para o causa ML é o câncer de mama. A segunda origem mais
tratamento otimizado. Além da investigação do LCS, a comum é o carcinoma pulmonar de pequenas células.
RM com contraste de todo o neuroeixo é recomendada Os tumores primários intracranianos comumente cau
para a avaliação completa pré-lratamento. sam ML. Em adultos, os dois mais comuns são o glioblas
toma multiforme e o linfoma (Fig. 27-29). As fontes mais
Terminologia comuns de ML na infância são os tumores neuroectodér-

o termo anatômico "lepiomeninges" refere-se à aracnoide micos primitivos (PNETs), meduloblastomas, ependimo-
e à pia. O termo usado, "metástases leptomeníngeas", é mas e germinomas.
tecnicamente incorreto, uma vez que é empregado para
Imagem
designar o padrão de imagem observado quando o tumor Características gerais. Diferentemente das metástases da du-
acomete a pia e os espaços subaracnoides (Fig. 27-27). As
ra-aracnoide, que "abraçam" a tábua interna da calota cra
metástases aracnóideas são quase sempre secundárias ao
niana, as metástases leptomeníngeas seguem as superficies
envolvimento durai e apresentam aspecto bastante dife
rente (Fig. 27-28). corticais, curvando-se ao longo dos giros e mergulhando
nos sulcos. O aspecto geral das aquisições com contraste é
Para fins desta discussão, as metástases para pia/espaço
como se o LCS "se tornasse branco" (Fig. 27-29).
subaracnoide são referidas como metástases leptomenínge
as (ML). Outros sinônimos incluem carcinomatose menín- Achados de TC. As imagens de TC sem contraste podem ser
gea, meningite neoplásica e meningite carcinomatosa. nonnaís ou mostrar apenas discreta hidrocefalia. Uma su-

27-27 Série de duas ilustra


ções demonstrando a diferença
entre os padrões de imagem
das metastases na pia-aracnoide
("leptomeníngeas") e na dura-
-aracnoide em exames contras
tados. Esta ilustração mostra as
melástases na pia e espaço su
baracnoide em branco, cobrindo
a superfície cerebral, os sulcos e
preenchendo os espaços suba
racnoides SI.
27-28 Esta ilustração de
monstra as metástases na dura-
•aracnoide como espessamentos
curvilineos que seguem a tábua
interna do crânio B.

27-29 Espécime de necropsia


mostra metástases leptome
níngeas difusas que parecem
"açúcar de confeiteiro" reves
tindo as superficies cerebrais
ES e preenchendo os espaços
subaracnoides ÍS. Glioblastoma
em adultos e meduloblastoma
em crianças são causas comuns
desse padrão.
27-30 Imagem na seqüência
TI pós-contraste mostra me
tástases lineares e nodulares
difusas de carcinoma de mama
revestindo as superfícies cere
brais e preenchendo os espaços
subaracnoides.
766 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorals

til obliteraçào de sulcos e cisternas com infiltrados quase


isodensos pode ser observada substituindo o LCS hipo-
denso em alguns casos.
As imagens de TC com contraste também podem ser
normais. Realce dos sulcos e giros, em especial na base do
cérebro, pode ser observada em alguns casos.
Achados de RM. As imagens na ponderação TI podem ser
normais ou demonstrar apenas LCS borrado ou "sujo". A
maioria das MLs é hiperintensa em T2 e pode ser indistin-
guível do LCS normal.
As imagens em FLAIR mostram perda da supressão
do LCS, resultando em uma hiperintensidade inespecífi-
ca nos sulcos e cisternas. Se há extensão tumoral da pia
para os espaços perivasculares, o parênquima cerebral
subjacente pode apresentar edema vasogênico hiperin-
27-31 Espécime de necropsia mostra metastases tenso.
bilalerals para os CAI/APC e nos NCs VII e VIII O. Car As imagens em TI pós-contraste mostram achados
cinoma de cólon. (Cortesia de R. Hewlett, MO.) semelhantes aos encontrados na meningite. Impregna
ção lisa ou nodular parece revestir a superfície cerebral
e, algumas vezes, preenche quase inteiramente os espaços
subaracnoides (Fig. 27-30). Espessamento de nervos cra
nianos com realce linear, nodular ou focai com aspecto
de massa pode ocorrer com ou sem doença disseminada
(Figs. 27-31 e 27-32).
Diminutos nódulos miliares com realce ou focos de
impregnação lineares no córtex e na substância branca
subcortical indicam extensão ao longo dos espaços peri
vasculares penetrantes.

Diagnóstico diferencial
O principal diagnóstico diferencial das metastases lep-
tomeníngeas é a meningite infecciosa. Pode ser difícil
ou mesmo impossível fazer a distinção entre meningite
carcinomatosa e infecciosa com base apenas nos achados
27-32A Imagem axial na seqüência Ti pós-contraste de imagem. Outras considerações diagnósticas incluem
mostra que os segmentos císternais e do cavo de Me
ncurossarcoidose. A história clínica e os dados laborato-
ckel de ambos os nervos trigémeos estão espessados e
com realce E3.

METÁSTASES LEPTOMENÍNGEAS
Características gerais
• Metastases para a pia/espaço subaracnoide
• Incomum
o 5% dos cânceres sistêmicos
o Mais comum com tumores cerebrais primários
(p. ex., GBM, PNET, germinoma)
TC
• TC sem contraste: pode ser normal hidrocefalia
• TC com contraste: realce de sulcos e cisternas

(semelhante à meningite piogênica)


RM
• TI: LCS normal ou "sujo"
• T2: geralmente normal
• FLAIR: hiperintensidade nos sulcos e cisternas
27-32B TI pós-contraste axial no mesmo paciente (inespecífica)
também mostra que ambos os nervos oculomotores tam
(continuo)
bém estão espessados ES. Leucemia linfoblástica aguda.
Metástases e síndromes paraneoplásicas 767

abordaremos a localização e o aspecto de imagem dessas


(continuação) metástases.
• TI pós-contraste: realce nos sulcos e cisternas
(inespecífico) Metástases para o LCS
A circulação de células luinorais no LCS pode ser de di
Diagnóstico diferenciai
• Meningite fícil detecção com o uso de exames citológicos de rotina
• Neurossarcoídose e em geral é identificada em exames de imagem nos está
gios mais tardios da disseminação da doença.
Metástases intra ou extracranianas podem semear o
riais são elementos essenciais para o estabelecimento do LCS. As metástases intracranianas para o LCS costumam
diagnóstico correto. ser vistas como LCS "sujo" nas seqüências ponderadas
em TI e FLAIR, com freqüência ocorrendo em conjunto
Outras metastases com disseminação pia difusa. As '"drop metastases" para
As três áreas discutidas anteriormente (parênquima ce o espaço subaracnoide da coluna são uma manifestação da
rebral, crânio/dura-aracnoide e pia/espaço subaracnoide) disseminação generalizada para o LCS.
são os locais mais comuns de envolvimento por depósitos Disseminação ependimária ao redor das paredes ven-
metastáticos no SNC. Entretanto, há vários locais "secre triculares ocorre com tumores primários de SNC com
tos" que também podem abrigar metástases. O LCS, os muito mais freqüência do que com fontes extracranianas.
ventrículos, o plexo coroide, a hipófise e a haste infun
dibular, a glândula pineal e os globos oculares são locais Metástases para ventrículos/plexo coroide
menos óbvios onde as metástases intracranianas ocorrem Localização. O plexo coroide dos ventrículos laterais
e podem escapar da detecção (Fig. 27-33). Nesta seção. (PCo) é o local mais comum para metástases ventricula-

27-33 ilustração submento-


véftice demonstra os locais típi
cos de metástases não prenqui-
matosas do SNC. Esses incluem
o plexo coroide e os ventrículos
a hipófise e haste infundi
bular IS e os globos oculares
(coroide da retina)
27-34 TC com contraste mos
tra uma massa lobulada com
realce no segmento posterior do
globo ocular esquerdo B. Carci
noma de mama metastático.

27-35 Imagem coronal pon


derada em TI pós-contraste
mostra glomo do plexo coroide
esquerdo aumentado e com im
pregnação Intensa ES. Carcino
ma de mama metastático.
27-36 Imagem axial pondera
da em TI pós-contraste em outro
paciente mostra dois nódulos
subependimários com impreg
nação E3. Carcinoma de mama
metastático.
768 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

27-37A Imagem sagital na ponderação TI mostra uma massa infiltra- 27-376 Imagem ponderada em Ti pós-contraste mostra que a massa
tiva no hípotálamo e na haste infundibular B. realça intensa e uniformemente. Câncer de mama metastático.

res. seguido pelo terceiro ventrículo. Somente 0.5% das nistração de meio de contraste é típico. Metástases para o
metástases ventriculares ocorrem no quarto ventrículo. PCo demonstram uma opacificaçào vascular prolongada
Metástases solitárias para o PCo sào mais comuns do que na ASD.
mijítiplas lesões. As metástases para o PCo em geral ocor
rem na presença de múltiplas metástases em outros locais Diagnóstico diferencial. Em um paciente de mais idade (es
do cérebro. As vezes, um depósito metastático pode se pecialmente alguém com neoplasia sistêmica conhecida,
como carcinoma de células renais), o diagnóstico diferen
alojar no plexo coroide antes que lesões parenquimatosas
tornem-se aparentes.
cial de uma massa no plexo coroide deve sempre incluir
metástase. Outras lesões comuns no plexo coroide em
Aspectos clínicos. Metástases intraventriculares de tumores pacientes mais velhos são meningioma e xantogranulo-
malignos extracranianos sào raras, representando apenas ma de plexo coroide. Os meningiomas de plexo coroide
1 a 5% das metástases cerebrais e 6% de todos os tumo
realçam intensamente e em geral de forma uniforme. Os
res intraventriculares. A maioria envolve o plexo coroide cistos de plexo coroide (xantogranulomas) sào bilaterais e
(Fig. 27-35); o epêndima ventricular é afetado com menos de aspecto multicístico.
freqüência (Fig. 27-36). Embora metástases solitárias para o terceiro ventrí
As fontes primárias mais comuns em adultos sào o culo sejam raras, depósitos metastáticos para o plexo co
carcinoma de células renais e o câncer de pulmão. Mela roide no forame de Monro podem simular cisto coloídc.
noma. cánceres de estomago e colon, e linfoma são causas
Apesar da parede do cisto às vezes demonstrar realce pe
menos comuns de metástases para o PCo. Neuroblastoma,
riférico, o realce sólido quase nunca ocorre.
tumor de Wilms e retinoblastoma sào as fontes primárias
mais comuns em crianças. O prognóstico tende a ser ruim, Metastases para a hipófise/haste infundibular
com a maior parte dos pacientes sucumbindo à progressão
Aspectos clínicos. As metástases causam cerca de 1% de
da doença sistêmica ou à doença multifocal no SNC.
todos os tumores de hipófise ressecados e são encontradas
Imagem. As metástases para o PCo o alargam e são iso a em 1 a 2% das necropsias. Tumores primários de mama
hiperdensas em relação ao plexo coroide normal nas ima e pulmão representam dois terços dos casos, seguidos
gens de TC sem contraste. Elas realçam de forma intensa, por adenocarcinomas de trato gastrintestinal. A maioria
porém heterogênea. das metástases para a hipófise acomete o lobo posterior,
As metástases para o plexo coroide costumam ser hi- provavelmente ao seu suprimento arterial direto por meio
pervasculares. portanto hemorragias são bastante freqüen das artérias hipoflsárias (a hipófise anterior é predominan
tes. A maior parte das metástases não hemorrágicas para temente suprida pelo sistema venoso portal da hipófise).
o PCo são hipointensas em relação ao cérebro em TI e Metástases cerebrais coexistentes são comuns, porém le
hiperintensas em T2/FLAIR. Realce intenso após a admi sões solitárias também ocorrem.
Melástases e síndromes paraneoplásicas 769

27-38A Espécime de necropsia mostra carcinoma de células esca- 27-38B O tumor se estende do selo cavernoso ao longo do NC III para
mosas da nasoíaringe estendendo-se superiormente, erodindo a porção o interior das cisternas suprasselar e pré-pontina bèl. (Cortesia de R.
central da base do crânio para o interior do seio cavernoso [—>] e soalho Hewlett, MD.)
da sela [í>L

Sinais e sintomas como ccfaleia e alterações visuais lesões solitárias sem evidência de depósitos metastáticos
podem simular os encontrados no macroadenoma dc hi- em outros locais, e são indistinguíveis das neoplasias pri
pótlse, embora com freqüência eles progridam de forma márias da glândula pineal nos exames de imagem.
mais rápida nos pacientes com metástases. Diabetes insí-
Metastases ocuiares
pido é comum na clínica.
Aspectos clínicos. Metástases para os globos ocuiares são
Imagem. Uma massa selar com ou sem erosão óssea, espes- raras. O trato uveal altamente vascularizado é a localiza
samento da haste, perda do hipersinal da hipóflse posterior
ção mais comum se metástases estão presentes. Na uvea,
e invasão dos seios cavemosos são típicos, porém inespe- a coroide é o local mais afetado, representando cerca de
cificos, assim como uma massa infiltrativa na hipóflse e/ou 90% de todas as metástases ocuiares. A íris (8 a 9%) e o
haste com cistos, hemorragia e realce heterogêneo (Fig.
corpo ciliar (2%) são outras localizações possíveis.
27-37). Os achados de RM são inespecíflcos e bastante se O câncer de mama é a causa mais comum de metásta
melhantes aos encontrados no macroadenoma de hipóllse. ses ocuiares, seguido pelo câncer de pulmão. O diagnósti
Diagnóstico diferencial. O principal diagnóstico diferencial co das metástases ocuiares é baseado em achados clínicos
das metástases para a hipóllse é o macroadenoma. Os complementados por exames de imagem.
macroadenomas raramente se apresentam com diabetes
Imagem. Os achados de TC e RM são inespecíflcos, demons
insípido. No contexto de neoplasia sistêmica conhecida, trando uma massa no segmento posterior que com freqüên
o crescimento rápido de uma massa hipoflsária com iní cia realça intensamente após a administração do meio de
cio de diabetes insípido é altamente sugestivo, porém não contraste (Fig. 27-34). A avaliação de todo o cérebro é re
diagnóstico de metástase. A hipofisite linfocítica também comendada, uma vez que 20 a 25% dos pacientes com me
pode se assemelhar à metástase hipofisária nos exames de tástases coróideas possuem lesões concomitantes no SNC.
imagem.
Diagnóstico diferencial. O diagnóstico diferencial das me
Metástases para a glândula pineal tástases coróideas inclui outras massas hiperdensas do
Embora a glândula pineal seja uma fonte relativamente segmento posterior. O melanoma primário de coroide e
comum de tumores primários do SNC que se disseminam o hemangioma podem apresentar aspecto similar na TC
para o LCS, é um dos locais que mais raramente abrigam e na RM. Tanto metástases quanto o melanoma podem
metástases. Somente 0,3% das metástases intracranianas penetrar a membrana de Bruch. A ultrassonografia ocular
acometem a glândula pineal. O pulmão, a mama. a pele pode ser útil no diagnóstico de hemangioma. O melanoma
(melanoma) e o rim são as origens mais freqüentes. Quan e as metástases podem incitar hemorragia coróidea ou
do as metástases para a pineal ocorrem, costumam ser descolamento de retina.
770 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Disseminação geográfica direta de neoplasias Carcinoma de células escamosas sinonasal


de cabeça e pescoço o carcinoma de células escamosas (CCE) é um tumor
A disseminação superior de neoplasias de cabeça e pesco epitelial maligno agressivo com uma diferenciação de
ço, como carcinoma de células escamosas sinonasal, car células escamosas ou epidermoides. O CCE é o tumor
cinoma adenoide cístico, linfoma não Hodgkin e estesio- maligno sinonasal mais comum, representando 3% de
neuroblastoma pode se estender para o interior do crânio. todas as neoplasias de cabeça e pescoço. Quase todos
Essa extensão direta é também chamada de disseminação os CCEs ocorrem em pacientes com mais de 40 anos,
com um pico de prevalência entre 50 e 70 anos. Há uma
geográfica ou regional.
Os tumores sinonasais podem ganhar acesso à cavi moderada predominância masculina. A maioria dos pa
dade craniana de três maneiras: {1) erosão superiormente cientes apresenta sintomas de sinusite refratária à terapia
medicamentosa.
por meio do frágil osso da placa cribriforme para o inte
rior da fossa craniana anterior; (2) extensão direta para a Fatores de risco para o desenvolvimento de CCE si
fossa pterigopalatina (FPP) com disseminação posterior nonasal incluem a inalação de pó de madeira, partículas
metálicas e alguns produtos químicos. Não há associação
para o interior do seio cavernoso (Fig. 27-38); e (3) dis
direta com o tabagismo.
seminação perineural do tumor para o interior da FPP,
seio cavernoso e cavo de Meckel. Faremos uma breve Patologia. Quase três quartos dos carcinomas de células
discussão sobre o carcinoma de células escamosas sino escamosas sinonasais originam-se nos seios, enquanto 25
nasal como protótipo da neoplasia de cabeça e pescoço a 30% surgem primariamente nas fossas nasais. O antro
com disseminação intracraniana geográfica. A dissemi maxilar é, em geral, o local mais comum de ocorrência de
nação perineural de tumores é abordada de forma sepa CCE sinonasal. Cerca de 10% dos CCEs sinusais surgem
rada a seguir. nos seios etmoidais.

27-39A CCE nasofaríngeo


recorrente apresenta extensão
superior para o interior do seio
etmoidal direito B e ambas as
fossas cranianas anteriores S.
27-398 Imagem axial pon
derada em 11 pós-contraste
demonstra a massiva extensão
do tumor para os seios frontais.
Os ossos frontais encontram-se

completamente erodidos. A dura


está espessada e rompida B,
com tumor se estendendo inte
riormente e obíiterando o espaço
subaracnoide subjacente.

27-40A Lesão com realce


preenche o cavo de Meckel à
direita B, infiltrando e espes
sando o NC V, BI. O NC Vj (não
mostrado) também demonstrava
acometimento tumoral.
27-408 Imagem coronal na
ponderação 11 pós-contraste
mostra que os músculos da
mastigação ipsilalerais, incluin
do o músculo temporal, estão
atróficos e lipossubstitufdos em
comparação com o lado esquer
do de aspecto normal. Atrofia por
denervaçâo.
Metástases e síndromes paraneoplásicas 771

Os CCEs sinonasais que acometem o cérebro sào clas nervo facial (NC VII) (Fig. 27-42). O CCE ou melanoma
sificados de acordo com os critérios do American Joint da face podem infiltrar a divisão infraorbital do NC V,. A
Committee on Cancer (AJCC) em vez de receberem uma disseminação posterior para o interior da FPP permite o
graduação da Organização Mundial da Saúde (OMS). O acesso ao seio cavernoso e o cavo de Meckel via forame
CCE nasoetmoidal que invade a placa cribriforme é consi redondo.
derado um tumor T3. Se a fossa craniana anterior está en O nervo mandibular (NC V3) pode ser invadido por
volvida, o tumor é uma lesão T4a. Os tumores T4b acome qualquer lesão maligna do espaço mastigador. A dissemi
tem a dura, o cérebro, a fossa craniana média, o clívus ou nação retrógrada pelo nervo a partir de um CCE da muco
os nervos cranianos exceto o nervo mandibular (NC V3). sa da cavidade oral é um exemplo clássico (Fig. 27-43).
Os tumores malignos da glândula parótida, como o
Imagem. As imagens de TC mostram uma massa sólida
carcinoma adenoide cístico, podem "rastejar" ao longo
com margens irregulares e destruição óssea. O CCE si-
do nervo facial por todo o trajeto até o conduto auditivo
nonasal é isointenso à mucosa na ponderação TI e leve a
interno.
moderadamente hipointenso em T2.
Os CCEs apresentam leve a moderado realce após Características microscópicas. O tumor se estende ao longo
a administração do meio de contraste, porém empregam do nervo pelo epineuro, expressando moléculas de adesão
cm grau menor do que os adenocarcinomas, estesioneu- celular neural (MACN), e eventualmente invadindo o ner
roblastomas e melanomas. As imagens ponderadas em TI vo propriamente dito.
pós-contraste com saturação de gordura nos planos axial
e sagital são recomendadas para a detecção de dissemina Aspectos clínicos
ção perineural do tumor (ver a seguir). As imagens coro- A disseminação TPeri precoce é freqüentemente assinto-
nais em TI pós-contraste são recomendadas para delinear mática. Dor e parestesias trigeminais, incluindo atrofia
a extensão por meio da placa cribriforme para o interior por denervação dos músculos da mastigação, são comuns
da fossa craniana anterior (Fig. 27-39). em lesões do NC V. As lesões do NC VII apresentam-se
com fraqueza ou paralisia dos músculos da face. As fun
Diagnóstico diferencial. O diagnóstico diferencial do CCE
sinonasal com extensão intracraniana inclui outros tumo
ções especiais do NC VII são perdidas conforme o tumor
res malignos, como o adenocarcinoma sinonasal, carci gradualmente se dissemina superiormente pelo canal do
nervo facial.
noma indiferenciado e linfoma não Hodgkin. Condições
não malignas que mimetizam o CCE sinonasal e que po
Imagem
dem se estender para o interior do crânio incluem sinusite
Características gerais. O alargamento tubular dos nervos
fúngica invasiva e granulomatose de Wegener.
afetados, juntamente com o alargamento do respectivo ca
nal ou forame ósseo, é típico. Se o nervo passa por uma
Metastases períneurais estrutura como a FPP, que é normalmente preenchida por
Terminologia gordura, a gordura se toma "suja" ou obliterada. Procure
A disseminação perineural de tumor (TPeri) é definida por atrofia por denervação - comum com lesões do NC
como uma extensão de um tumor maligno ao longo das V3 - notada pelos músculos da mastigação lipossubstituí-
bainhas nervosas. dos e com volume reduzido (FIg. 27-40).
Achados de TC. A TC óssea mostra alargamento delimitado
Etiologia - não permeativo ou destrutivo - dos forames ou canais
Muitos cânceres de cabeça e pescoço possuem propen
afetados. A TC sem contraste pode demonstrar densidade
são para a disseminação ao longo das bainhas nervosas.
anormal nos tecidos moles substituindo a gordura normal.
Tumores cutâneos ou de mucosas, como o CCE, e ma-
A TC com contraste pode revelar discreto realce nos teci
lignidades das glândulas salivares, como o carcinoma dos moles.
adenoide cístico, são propensos para a disseminação pe
Se o tumor estende-se para o interior do seio caverno
rineural. Outros tumores, como o melanoma e o linfoma
so, as paredes podem estar abauladas e o cavo de Meckel
não Hodgking, também se disseminam com freqüência ao
pode estar preenchido por tecidos moles em vez de LCS.
longo das principais bainhas nervosas. A invasão perineu
ral acontece em 2 a 6% dos carcinomas cutâneos basais e Achados de RM. O contraste natural provido pela gordura
de células escamosas da cabeça e do pescoço. na ponderação TI é útil na detecção de possível TPeri.
A disseminação TPeri pode ser anterógrada, retrógra Obliteração da gordura - especialmente na FPP - é um
da ou ambas. Lesões "salteadas" ("skip " lesions) e lesões achado-chave. O TPeri com freqüência é isointenso ao
que cruzam de um nervo para outro são comuns. nervo e de difícil visualização na ponderação T2. A disse
minação tumoral para o cavo de Meckel substitui o LCS
Patologia hiperintenso normal por tecidos moles isointensos.
Localização. Os nervos mais afetados por TPeri são a divi As imagens em TI pós-contraste devem ser obtidas
são maxilar do nervo trigémeo (NC V,) (Fig. 27-41) e o com saturação do sinal da gordura para aumentar a cons-
772 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorals

27-41A Ilustração sagilal de


monstra disseminação perineural
de um lumor maligno da face
ao longo do nervo Infraorbital
S para o interior da fossa
pterígopalatina por meio do
lorame redondo para o cavo de
Meckel e o gânglio gasseriano
B .
27-41B imagem sagital pon
derada em TI pós-contraste com
saturação de gordura mostra
tumor na lace com disseminação
retrógrada ao longo do nervo
infraorbital ES, preenchendo
3 fossa pterigopalatina B e
estendendo-se para o forame
redondo B.

27-42A Ilustração sagital


oblíqua mostra um tumor de pa-
rótida 1^1 se estendendo para o
interior do crânio ao longo do NC
Vil descendente até o joelho
posterior 1/rS.
27-42B Imagem sagital pon
derada em T1 pós-contraste com
saturação de gordura mostra
um tumor com impregnação na
parótida BI estendendo-se ao
longo da porção descendente do
nervo facial B.

■ i ' ^

27-43A Ilustração coronal


demonstra disseminação peri
neural de tumor estendendo-se
do espaço mastigador para o
interior da mandíbula ao longo
do nervo alveolar inferior e
em seguida disseminando-se ao
longo do nervo mandibular (Vj)
através do forame oval S
para o interior do cavo de Meckel
e gânglio gasseriano.
27-43B imagem coronal
ponderada em TI pós-contraste
mostra um nervo mandibular
marcadamente espessado e com
realce B que se estende proxi-
malmente para o interior do fo
rame oval ^3. Comparar com o
NC V normal e sem impregnação
a esquerda B.
Metastases e síndromes paraneoplásicas 773

picuidade dos nervos alargados e com impregnação inten do que o envolvimento solitário na PDIC. Outras causas de
sa e unifonne. realce multifocal de nervos cranianos incluem esclerose
múltipla, neurite viral/pós-viral e doença de Lyme.
Diagnóstico diferencial
Os principais diagnósticos diferenciais para um nervo so
litário alargado e com realce em um adulto de meia-idade
ou mais velho são metástase perineural e schwannoma.
Síndromes paraneoplásicas
Os schwannomas são alargamentos tubulares ou fusifor- Terminaremos este capítulo com uma breve discussão dos
mes que sofrem impregnação intensa, porém heterogênea. efeitos neurológicos remotos induzidos pelo câncer, deno
A maioria dos schwannomas ocorre nos nervos vestibuio- minados síndromes paraneoplásicas ou distúrbios neuro
cocleares. enquanto os nervos trigêmeos e faciais são os lógicos paraneoplásicos (DNP). Por definição, DNPs não
locais mais comuns para metástases perineurais. O linfo- são relacionados à invasão tumoral direta (local ou metas-
nia pode envolver um único nervo craniano, mas é mais tálica), efeitos da quimioterapia, desnutrição ou infecção.
freqüentemente multifocal. Em uma síndrome paraneoplásica, os tumores externos ao
Os neurofibromas plc.viformcs podem infiltrar a di SNC exercem sua influência adversa no cérebro, não por
visão orbital do NC V, porém quase sempre ocorrem na metástases, mas indiretamente, de forma predominante,
neuroFibromaiose tipo I. por meio de mecanismos imunológicos ou mediados por
A neurossarcoidosc e a sinusite fúngica invasiva po células T. Os DNPs podem acometer o SNC (cérebro e
dem infiltrar um ou mais nervos cranianos. A polincuro- medula) ou o sistema nervoso periférico.
patia desmielinízantc inflamatória crônica (PDIC) em Síndromes paraneoplásicas são raras, afetando me
geral acomete os nervos espinais, mas pode afetar os ner nos de I % de todos os pacientes com cánceres sistêmicos.
vos cranianos. Múltiplos NCs com realce são mais comuns Nesses casos, as síndromes paraneoplásicas são diagnos-

27-44A Imagem axial pon


derada em T2 em um homem
de 75 anos com carcinoma
pulmonar de pequenas células
e enceíalite límbica paraneo
plásica mostra hiperintensidade
confluente bilateral em ambos os
lobos temporais anteromediais
S I .
27-44B Imagem em plano
mais superior no mesmo pacien
te mostra que o córtex insular e
as cápsulas extrema e externa à
direita estão afetados SI.

27-45A Imagem axial em


FLAIR em um homem de 67
anos com anticorpos contra o
complexo de canais de potás
sio dependentes de voltagem
(CPDV) documentados mostra
hiperintensidade em ambos os
lobos temporais mediais E3.
27-45B Imagem em plano
mais superior mostra a extensão
da hiperintensidade, incluindo
acometimento na insula direita.
774 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

ticadas apenas após de outras etiologias - principalmen inflamatório linfoplasmocitário com graus variáveis de
te doença metastática - terem sido excluídas. Em 70% perda neuronal é típico.
dos pacientes com DNP os sintomas neurológicos são a
primeira manifestação do tumor. Ao menos 60% dos pa Imagem
cientes com DNP possuem anticorpos antineuronais que A RM é a modalidade de escolha para o diagnóstico de
podem ser detectados no sangue ou no LCS, porém os ELP. As seqüências T2/FLAIR demonstram hiperin-
exames de imagem podem oferecer as primeiras pistas lensidade em um ou ambos os lobos temporais mediais
para a presença de um possível DNP. (Fig. 27-44).
Vários tipos de DNPjá foram reconhecidos. Esses in
cluem a encefalite límbica paraneoplásica, encefalomieli- Diagnóstico diferencial
te paraneoplásica, degeneração cerebelar paraneoplásica, o principal diagnóstico diferencial da ELP é a encefalite
opsoclonus-mioclonus-alaxia paraneoplásica, neuropatia hcrpctica. Outras causas de encefalite límbica que podem
sensorial paraneoplásica e a síndrome miastênica de Ea simular ELP incluem a síndrome de encefalite límbica
ton-Lambert.
aguda pós-transplante (ELPT) e a encefalite pelo her-
Abordaremos a síndrome paraneoplásica mais co pes-vírus humano 6 (HHV-6). A encefalite pelo HHV-6
mum, a encefalite límbica paraneoplásica, e, em seguida, está associada a malignidades hematoiógicas como leu
discutiremos alguns outros DNPs. Concluiremos com cemia e os linfomas de Hodgkin e angioimunoblástico de
uma breve menção sobre os distúrbios paraneoplásicos células T. A glíomatose cerebral ocasionalmente cruza
extralímbicos e as síndromes autoimunes soronegativas a comissura anterior e infiltra ambos os lobos temporais,
que podem simular encefalite límbica paraneoplásica. s i m u l a n d o E L P.

Encefalite límbica paraneoplásica Outras síndromes paraneoplásicos


Terminologia Degeneração cerebelar paraneoplásica
Por definição, a encefalite límbica paraneoplásica (ELP) é A degeneração cerebelar paraneoplásica (DCPN) acome
um distúrbio do sistema límbico. Os lobos temporais me- te o cerebelo e em geral se apresenta com ataxia e ins
diais estão envolvidos, porém a região frontal inferior, o cór- tabilidade de marcha, vertigem, tonturas e osciloscopia.
tex insular e o giro do cíngulo também podem estar afetados. Anticorpos anti-Yo e anticorpos contra canais de cálcio
dependentes de voltagem P/Q podem ser detectados no
Etiologia sangue dos pacientes afetados.
A neoplasia mais associada com a ELP é o câncer de pul Geralmente não há anormalidades macroscópicas
mão de pequenas células, identificado em cerca de metade visíveis. A assinatura histológica da DCPN é a intensa e
de todos os casos. Outros tumores associados incluem as disseminada perda de células de Purkinje com redução va
neoplasias testiculares (20%), carcinoma de mama (8%), riável das células granulares. Infiltrados inflamatórios em
timoma e linfoma. geral são esparsos ou estão ausentes.
Anticorpos antineuronais são com freqüência, porém Os exames de RM são normais ("notavelmente or
não sempre, encontrados no LCS ou sangue dos pacientes dinários") na maioria dos pacientes. Alguns casos de
com ELP. O mais comum é o anticorpo anti-Hu, o qual monstram aumento de volume transitório do cerebelo,
está presente em cerca de metade dos pacientes com ELP com hiperintensidade focai ou difusa em FLAIR. Leve
associada à carcinoma pulmonar de pequenas células. O realce cortical e meníngeo pode estar presente. A DCPN
anticorpo antita foi associado ao câncer testicular. subaguda ou crônica demonstra leve a moderada atrofia
cerebelar generalizada e hipometabolismo nos exames
Aspectos clínicos de PET.

Apresentação. Os sintomas neurológicos freqüentemente pre


cedem a identificação do tumor responsável em semanas a Distúrbios de anticorpos contra o complexo de
meses. A natureza inespecíflca e a diversidade dos sintomas canais de potássio dependentes de voltagem
aumentam a dificuldade diagnóstica da ELP. Os sintomas Os anticorpos contra o complexo de canais de potássio
se desenvolvem gradualmente e evoluem em um período de dependentes de voltagem (CPDV) estão associados tan
dias a semanas. Confusão e perda da memória recente com to à ELP típica quanto a uma encefalite menos focai que
relativa preservação das outras funções cognitivas - com está associada a distúrbios psiquiátricos e a sintomas de
ou sem alterações de humor e comportamento - são típicas. disfunção autonômica (p. ex., distúrbios da motilidade
Crises convulsivas parciais complexas são comuns. gastrintestinal).
Na infância, as apresentações no SNC associadas a
Patologia anticorpos contra o complexo CPDV incluem encefalite
As características histológicas da ELP são similares às límbica, estado epiléptico, encefalopatia epiléptica e re
e n c o n t r a d a s n a e n c e f a l i t e e m i e l i t e v i r a i s . U m i n fi l t r a d o gressão autística.
Metastases e sfndromes paraneoplásicas 775

Os anticorpos contra o complexo CPDV também são lhar a gliomas, com uma lesão focai pseudotumoral que
encontrados em muitos pacientes com encefaiite límbica apresentam realce.
não paraneoplásica. Somente 30% dos pacientes com an
ticorpos contra o complexo CPVD possuem tumores sis Osteomalácea oncogênica
têmicos, primariamente carcinoma pulmonar de pequenas A osteomalácea oncogênica, também chamada de osteo
células e timoma. Os achados de imagem são inespecifi- malácea induzida por tumor (OIT), é uma síndrome pa
cos e incluem hiperintensidade em T2/FLAIR no sistema raneoplásica incomum adquirida. Ela geralmente afeta os
límbico e/ou nos núcleos da base (Fig. 27-45). membros ou o esqueleto axial, porém às vezes acomete a
base do crânio. A OIT é difícil de ser diagnosticada devido
Encefalopatias paraneoplásicas lobar extralímbica ao início insidioso dos sintomas - na maior parte, dor ós
e autoimune soronegativa sea generalizada e fraqueza muscular.
As encefalopatias lobares extra limbicas paraneoplási Os tumores que causam OIT são tumores mesen-
cas (EPLEL) e a encefaiite límbica autoimune sorone quimals fosfatúricos com tecido conectivo misto que
gativa (ELAS) têm recebido menos atenção do que as secretam fator de crescimento fibroblástico 23 (FGF-23).
mais clássicas ELP e DCPN. Nessas síndromes, as ex O FGF-23 inativa os cotransportadores de sódio e fosfa
tensas buscas por agentes infecciosos e autoanticorpos to nos túbulos renais proximais. O hemangiopericitoma
são negativas. causa aproximadamente 70 a 80% dos casos de OIT.
Os achados de imagem são similares aos encontrados A hlpolbsfatemia resulta em grave osteopenia com
na encefaiite herpética e na encefaiite límbica paraneoplá múltiplas fraturas de consolidação prejudicada na coluna
sica, com hiperintensidade em T2/FLA1R no uncus e no e extremidades. A base do crânio e as regiões oral e maxi-
hipocampo (Fig. 27-46). Alguns casos podem se asseme lofacial são afetadas.

27-46A Imagem axial na


ponderação FLAIR em um ho
mem de 32 anos com demência
progressiva de seis meses de
evolução mostra fissuras silvia-
nas alargadas, cornos temporais
proeminentes e marcante re
dução volumétrica de ambos os
hipocampos. Hiperintensidade
uncal-hipocampal bilateral e si
métrica está presente B.
27-46B imagem coronal em
FLAIR mostra redução volumé
trica supratentorial generalizada
com hiperintensidade simétrica
dos hipocampos B.

27-46C Imagem em TI pós-


•contraste não mostra evidência
de realce.
27-46D Imagem coronal de
PET com FDG mostra acentuada
redução na captação em ambos
os lobos temporais medíais B.
O diagnóstico por imagem foi de
encefaiite límbica paraneoplási
ca. A ostensiva investigação de
neoplasias sistêmicas e agentes
infecciosos foi negativa. O diag
nóstico finai foi de encefaiite
límbica autoimune soronegativa
(ELAS).
776 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Outras metastases
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28
Cistos não neoplásicos

Cistos do couro cabeludo 779


neuropatologia - é de pouca ajuda quando temos que pro
videnciar um diagnóstico diferencial apropriado baseado
Considerações gerais 779
Cisto triquilemai ("sebáceo") 780 somente nos achados de imagem.
Cistos extra-axiais 782 Para classificação de cistos intracranianos, a aborda
Cisto aracnoide 782 gem baseada na imagem é muito mais prática, uma vez
Cisto de fissura coróidea 786 que a maioria dos cistos intracranianos é descoberto nos
Cisto epidermoide 786 exames por tomografia computadorizada (TC) ou resso
Cisto dermoide 789
Cisto neuroentérico 791
nância magnética (RM). Esta abordagem leva em consi
Cisto pineal 794 deração três fatores definidos: (I) localização anatômica;
Cistos não neoplásicos associados a tumores 797 (2) características de imagem (i.e., densidade/intensidade
Cistos parenquimatosos 799 de sinal de seu conteúdo, ausência/presença de calcifica-
Espaços perivasculares dilatados 799 ções e/ou realce); e (3) idade do paciente. Desses três, a
Remanescentes do sulco hipocampal 802
Cisto neuroglial 803
localização anatômica é a de maior utilidade.
Cisto porencefálico 804 Enquanto muitos tipos de cistos intracranianos ocor
rem em mais de uma localização anatômica, alguns sítios
Cistos intraventriculares 805
Cistos de plexo coroide 805 são "preferidos" por certos cistos. Neste capítulo, discutire
Cisto coloide 807 mos cistos de fora para dentro, começando pelo couro ca
Cisto ependimário 8 11 beludo e cistos intracranianos extra-axiais, depois daremos
atenção aos cistos parenquimatosos e intraventriculares.
Existem muitos tipos de cistos intracranianos. Alguns são Existem quatro questões-chave baseadas na anatomia
incidentais e sem significado. Outros podem causar sinto para considerar uma lesão intracraniana com aspecto císti-
co (ver abaixo). Um quadro-resumo baseado nessas ques
mas graves, com risco de morte. Neste capítulo, considera
tões simples, junto com os cistos discutidos no texto, será
remos vários tipos de cistos intracranianos: variantes ana
incluído a seguir (Tab. 28-1).
tômicas com aparência cística que podem ser confundidas
com doença, cistos congênitos/de desenvolvimento, entre
outros. Excluiremos os cistos parasitários, malformações QUATRO QUESTÕES-CHAVE
císticas do encéfalo e neoplasias císticas, pois foram discu B A S E A D A S N A A N AT O M I A
tidas nos seus respectivos capítulos. A etiologia, patologia e
O cisto é intra ou extra-axial?
importância clínica dos cistos intracranianos não neoplási
cos são variadas, o que toma sua classificação um desafio. O cisto é supra ou infra tentorial?
Baseando-se em etiologia, os cistos são classificados O cisto é na linha média ou fora da linha média?
como variantes anatômicas normais (p. ex., espaços peri Se o cisto é intra-axial, ele está no parênquima cerebral
vasculares dilatados), lesões congênitas derivadas do ecto ou nos ventrículos?
ou endoderma embriogênico (cistos coloides e neuroenté-
ricos), cistos de inclusão do desenvolvimento (p. ex., cis
tos dermoides e epidermoides), e cistos que não são facil
mente classificados em uma categoria específica (como os Cistos cio couro cabeludo
cistos de plexo coroide e os cistos associados a tumores).
A etiologia é interessante, porém não ajuda em estabele Considerações gerais
cer um diagnóstico baseado por imagem. Inúmeros cistos cutâneos benignos podem se manifestar
Categorizar os cistos pela característica histoíógica como lesões do couro cabeludo. Na maioria dos casos, não
de suas paredes - como ocorre nos textos tradicionais de são realizados exames de imagem, pois o couro cabeludo
780 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Tabela 28-1 Lesões intracranianas cístícas

Extra-axíal Intra-axial

Supratentorial Supratentorial

Linha média Parenquimatosos

Cisto pineal EPVs dilatados

Cisto dermoide Cisto neuroglial

Cisto da íenda de Rathke Cisto porencefálico

Cisto aracnoide (suprasselar) Remanescentes do sulco hipocampal

Fora da linha média Intraventricular

Cisto aracnoide (fossa craniana média, convexidade) Cisto de plexo coroide

Cisto epidermoide Cisto coloide

Cisto associado a tumores Cisto de fissura colóidea

Cisto triquilemal ("sebáceo") (couro cabeludo) Cisto ependimário

Cisto ieptomeníngeo ("fratura em crescimento")

Infratentorial infratentorial

Linha média Parenquimatoso

Cisto neuroentérico EPVs dilatados (núcleo denteado)

Cisto aracnoide (retrocerebelar)

Fora da linha media Intraventricular

Epidermoide (APC) Epidermoide (quarto ventrículo, cisterna magna)


Cisto aracnoide (APC) Quarto ventrículo cistico ("encarcerado")

Cisto associado a tumores

ARC, ângulo pontocerebelaf; EPV, espaço perivascular. Cisto Ieptomeníngeo, cisto da tenda de Rathke e quarto ventrículo cístico/encarcerado sâo discutidos nos
Capítulos 2, 25 e 34, respectivamente. Todas as outras entidades da tabela serão consideradas aqui.

é facilmente acessível na inspeção visual e manual. Entre cabeludo e neurofibromas. Menos comuns, porém impor
tanto, massas do couro cabeludo não são tão incomuns de tantes lesões de couro cabeludo em crianças incluem a ce-
identificar nos estudos de imagem realizados para visua falocele e o sinus pericranii.
lizar estruturas intracranianas. A imagem também torna- Os três cistos de couro cabeludo mais comuns estatis
-se importante quando a lesão do couro cabeludo pode ser ticamente são o cisto epidennoide (50%), o cisto triquile
maligna no aspecto clínico, tem um componente vascular mal (25 a 30%), e o cisto dermoide (20 a 25%). Os cistos
ou pode estar anatomicamente em contiguidade com o epidermoide e dermoide serão discutidos depois, neste ca
contetjdo intracraniano.
pitulo. Discutiremos aqui os cistos triquilemais (pilar ou
A idade é um dado importante para o diagnóstico di "sebáceos") do couro cabeludo.
ferencial de massas de couro cabeludo não traumáticas.
Em adultos, o diagnóstico diferencial inclui carcinomas Cisto triquilemal C^sebáceo")
de pele (células escamosas e basais), cistos dermoides e
epidermoides, hemangiomas e metastases. Cistos triqui- Terminologia
lemais (CTs) ("sebáceos") são massas comuns no couro Embora o termo "cisto sebáceo" seja mais usado pelos
cabeludo em pacientes de meia-idade e idosos. radiologistas. esse tipo de cisto não contém material se
A massa mais comum no couro cabeludo em crian báceo. Esses cistos são mais chamados de cistos triqui
ças é a histiocitose da célula de Langerhans. seguido pelos lemais. Raramente CTs aumentam e proliferam. CTs que
cistos epidermoides e dermoides. hemangiomas de couro proliferam são conhecidos como tumores pilares ("em
Cistos não neoplásicos 781

28-1 TC sem contraste axial em uma mulher de 79 anos com massa 28-2 Dois cistos triquilemais E3 são vistos nessa imagem coronal T1
no couro cabeludo não endurecida presente ha anos. A massa B é hi- C+. Os cistos são heterogêneos, isoinlensos ao parênquima cerebral e
perdensa, parcialmente calciticada. Cisto triquilemal. cercados incompletamente por gordura. Eles não realçam.

turbante"). CTs malignos são referidos como "carcinoma Imagem


cístico proliferante triquilemal".
Aspectos gerais. Essas massas de couro cabeludo em geral
são grandes, bem delineadas, arredondadas ou ovoides,
Patologia mas com uma aparência complexa.
Localização, tamanho, e nijmero. A maioria dos CTs é en
contrada dentro do tecido dérmico ou subcutâneo. Eles Achados na TC. CTs são massas sólidas, císticas ou sólido-
-císticas bem delineadas e hiperdensas comparadas à gor
podem ser únicos ou múltiplos e variam de poucos milí
metros a vários centímetros. dura subcutânea. Calcificação é comum e pode ser vista de
maneira puntiforme, curvilínea ou grosseira (Fig. 28-1).
Achados microscópicos e macroscópicos. CTs são caracteri
Algumas vezes, as caícificaçòes dispõem-se em camadas
zados por uma cápsula fibrosa delineada por um epitélio na porção dependente dos cistos grandes. CTs típicos não
escamoso estratificado. O conteúdo cístico consiste de
apresentam impregnação pelo contraste, nem remodelam
uma cera de queratina descamada. Microscopicamente, o ou invadem a calota craniana.
cisto triquilemal lembra a bainha radicular de um foliculo
Achados de RM. CTs são massas do couro cabeludo bem
capilar, não uma glândula sebácea.
circunscritas, incompletamente envoltas por gordura
Aspectos clínicos (Fig. 28-2). Eles costumam ser isoinlensos ao cérebro e ao
Epidemiologia e demografia, CTs afetam entre 5 a 10% da músculo na seqüência TI e heterogencamentc hipointenso
em T2.
população. Embora eles possam ocorrer em qualquer ida
de, ocorrem normalmente em mulheres idosas. CTs não suprimem no FLAIR. Focos hipointensos em
T2* (GRE, SWI) são causados por calcitlcações, e não
Apresentação e história natural. CTs costumam aparecer hemorragia.
como massas subcutâneas do couro cabeludo sem pelos, CTs simples e não complicados não realçam, embora
móveis e discretamente compressíveis. a variante proliferativa possa mostrar realce significativo
CTs crescem devagar e estão presentes por anos. Ra nos lóbulos sólidos intercalados com focos císticos sem
ramente eles se tornam agressivos e podem até mesmo realces
invadir o osso. Degeneraçâo maligna com metástase à
distância é rara.
Diagnóstico diferencial
Opções de tratamento. Excisào cirúrgica é o tratamento. Em adultos, diagnóstico diferencial por imagem são tu
Excisão incompleta pode resultar em recorrência. mores do couro cabeludo benignos e malignos. Carcino-
782 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

ma de células basais e metastases do couro cabeludo


são massas mal definidas, pouco delineadas no couro ca Cistos extra-axials
beludo, que invadem o tecido subcutâneo e podem cau
Cistos extra-axiais estão entre o cérebro e a calota craniana.
sar erosão óssea. Ulcerações superficiais são comuns.
Com algumas poucas exceções, a maioria se localiza den
Cistos dermoide e epidcrmoíde, assim como heman
tro da membrana aracnoide ou no espaço subaracnóideo.
giomas, são mais comuns na calota craniana do que no Determinar a localização de um cisto extra-axial (supra
couro cabeludo. CTs são raros em crianças. Nessa faixa
vs. infratentorial, linha média vs. fora da linha média) é útil
etária, as lesões mais importantes para diferenciar cis
tos benignos do couro cabeludo (geralmente dermoides/ para estabelecer o diagnóstico diferencial (Tab. 28-1). Por
exemplo, um cisto aracnoide é o único tipo que ocorre na
epidermoides, não CTs) são malformações congênitas fossa posterior. Alguns cistos extra-axiais são em geral (em
cerebrais que protruem por meio de defeitos da calota
bora não sempre) fora da linha média. Outros - cistos pine-
craniana e apresentam-se como massas subcutâneas.
ais e da fenda de Rathke - ocorrem somente na linha média.
Cefaloceles contêm combinações variadas de encéfalo/
Começaremos nossa discussão dos cistos extra-axiais
meninges/vasos. com o tipo mais comum, o cisto aracnoide.
Eles variam em tamanho, de lesões muito grandes a
pequenas ("cefalocele atrésica")- Sinus pericranii é uma
massa de couro cabeludo compressível, azulada, que se Cisto aracnoide
comunica com o sistema venoso intracraniano por um de Embora cistos aracnoidais possam ocorrer em todo o neu-
feito na calota craniana. roeixo, a maioria é intracraniana.

28-3 Gráfico mostra CAr da


fossa craniana média. A aracnoi
de SI divide-se e isola o LCS, a
fossa média está expandida, e o
osso adjacente está afilado. Ob
serve que o lobo temporal
está deslocado posteriormente.
28-4 Espécime de necropsia
mostra um clássico cisto aracnoi
de da fossa média entre cama
das "duplicadas" de aracnoide
S. O lobo temporal S está
deslocado, hipoplásico. (cortesia
de J. Townsend, MD.)

28-5 Um cisto aracnoide é


delineado por uma única camada
de células da aracnoide madura
GrS abaixo de uma delicada
membrana fibrosa. (Cortesia de
P. Burger, MD.)
28-6 Cistos aracnoides geral
mente têm margens recortadas e
apresentam intensidade de sinal
semelhante ao LCS em T2 ES.
Eles suprimem em FLAIR ^3, re
modelam a calota craniana S
e não realçam.
Cistos não neoplásicos 783

28-7A TC sem contraste mostra cisto aracnoide na convexidade I 28-76 Seis meses depois, o paciente teve uma cefaleía súbita. O cisto
que expande e remodela a calota craniana S. IS é agora hiperdenso comparado ao LCS, e mostra o nível sangue-
-iíquido Apoplexia cística com hemorragia súbita.

Terminologia Quase dois terços são encontrados na fossa craniana


Um cisto aracnoide (CAr), também conhecido como cisto média, anteromedialmente ao lobo temporal (Fig. 28-4).
Cerca de 15% dos CArs são encontrados nas convexida-
meníngeo, é um cisto que contém líquido cerebrospinal
des dos hemisférios cerebrais, predominantemente acima
(LCS) delineado por uma camada de células aracnoidais
dos lobos frontais.
achatadas.
CArs da linha média são raros no compartimento
Etiologia supratentorial. A localização supratentorial mais comum
Conceitos gerais. A maioria dos CArs se origina de ano dos CArs é a cisterna suprasselar, seguido pela cisterna
malias de desenvolvimento meníngeo. As endomeninges quadrigeminal e pelo véu interpósito. Entre 10 a 15% dos
embriônicas falham em fundir e permanecem separadas, CArs são encontrados na fossa posterior. A localização
fonnando uma aracnoide "duplicada". O LCS é secreta- mais comum é a cistema do ângulo pontocerebelar (APC),
do pelas células na parede cística e acumulado entre as onde os CArs são a segunda lesão cística extra-axial mais
camadas. comum (seguido do epidermoide). A próxima localização
Menos comumente, loculações aracnoides são adqui mais freqüente é retrocerebelar.
ridas como resultado de hemorragia, infecçào ou cirurgia. Tamanho e número. Os CArs variam em tamanho, de cistos
Cistos semelhantes à aracnoide são algumas vezes origi
pequenos a grandes massas. CArs são quase sempre soli
nados adjacentes a tumores extra-axiais como meningio tários. Múltiplos cistos meníngeos já foram relatados, mas
mas, schwannomas e macrodenomas hipofisários. Esses
provavelmente são adquiridos, resultando de meningites
cistos benignos associados a tumores com conteúdo líqui não detectadas.
do serão discutidos separadamente.
Patologia macroscópica. CArs são cistos bem delimitados,
Genética. A maioria dos CArs é esporádico e não sindrô-
preenchidos por um líquido incolor que lembra o LCS.
mico. CArs sindrômicos já foram relatados em associação
Eles são desprovidos de septações internas e são completa
com síndromes acrocalosais, Aicardi e Pailister-Hall.
mente envoltos por uma delicada membrana translucente.

Patologia Achados microscópicos. CArs consistem em uma delicada

Localização. A maioria dos CArs é supratentorial. Eles membrana fibrosa delineada por uma camada única de
geralmente são fora da linha média e são os cistos extra- células aracnoidais maduras e histologicamente normais
-axiais supratentoriais fora da linha média mais comuns (Fig. 28-5). Pequenos infiltrados infiamatórios podem
(Fig. 28-3). ocorrer, mas são raros.
784 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

28-8 O CAr suprasselar é ísointenso ao ICS em T2 B. A pulsação do 28-9 CAr no ângulo pontocerebelar esquerdo é isointenso ao LC5 em
LCS dentro do cisto não é suprimida completamente no FLAIR [S. Cis- TI e T2 ES e suprime complemente no FLAIR Nenhuma restrição
ternograma por TC demonstra o contraste diluído nos ventriculos laterais da difusão é identificada B.
^3, enquanto o cisto não comunicante ^3 não se opacifica.

Alguns cistos aracnoides suprasselares podem ser


CISTO ARACNOIOE: PATOLOGIA muito grandes e causar hidrocefalia obstrutiva.
Localização História natural. A maioria dos CArs são estáveis por mui
• Supratentorial (90%)
tos anos. Se houver aumento, é muito gradual. O aumen
o Fossa média (67%)
to do cisto é associado com a idade jovem e raramente
o Convexidades (15%)
o Outras (5-10%): cisternas suprasselar, acontece em crianças maiores que 4 anos no momento do
quadrigemlna! diagnóstico inicial.
• Infratentorlal (10-12%) A hemorragia no cisto aracnoide é rara. mas pode
o A maioria na cisterna do APC (segunda massa causar aumento súbito.
cística mais comum no APC)
o Menos comum = cisterna magna Opções de tratamento. CArs assintomáticos geralmente são
lesões "nào-me-toque". As opções cirúrgicas para CArs
Patologia macroscópica sintomáticos incluem ressecção endoscópica ou fenestra-
• Cistos com paredes finas e translucente com líquido
çâo. fenestração aberta/inarsupialização ou derivação cis-
claro
to-peritoneal com válvula programada. Após a derivação,
• Delineado por células aracnoidais maduras
60% dos CArs desaparecem completamente; em metade
desses pacientes é possível remover a derivação sem de

Aspectos clínicos pendência.


Epioemiologia. CArs são os mais comuns de iodos os cistos
Imagem
congênitos intracranianos. Eles contam com aproximada Aspectos gerais. CArs não complicados comportam-se exa
mente 1% de todas as lesões intracranianas expansivas e
tamente como o LCS na TC e RM (Fig. 28-6). FLAIR e
são identificados nos estudos de imagem em cerca de 2%
difusão são as melhores seqüências para diferenciar mas
dos pacientes.
sas intracranianas de aspecto cístico.
Demografia. CArs podem ser vistos em qualquer idade. A
Achados na TC. CArs não complicados têm densidade
maioria (±75%) é encontrada em crianças e em adultos
igual a do LCS (Fig. 28-7A). Se ocorrer hemorragias in-
jovens. Existe um discreto predomínio no sexo masculino.
tracísticas, o líquido do cisto pode ser moderadamente hi-
Apresentação. A maioria dos CArs é assintomática e encon perdenso em relação ao LCS (Fig. 28-7B). Grandes CArs
trada incidentalmente. Os sintomas variam com tamanho da fossa craniana média expandem a fossa e causam hipo-
e localização. Cefaleia é comum em CArs sintomáticos. plasia ou deslocamento do lobo temporal.
Cistos não neoplásicos 785

Nos casos de CArs grandes, a TC pode demonstrar tensidade de sinal heterogêneo e propagação dos artefatos
remodelamento da calota craniana adjacente. CArs nào de fase nas imagens. Os CArs não apresentam restrição da
causam invasão óssea. difusão e não impregnam pelo contraste. Os estudos de flu
CArs nào impregnam pelo contraste. A realização de xo do LCS, como o 2D cinePC, podem demonstrar comu
contraste intratecal ("cisternografia por TC") pode ser iitil nicação entre os cistos e o espaço subaracnoide adjacente.
para demonstrar comunicação com o espaço subaracnoi-
de (ES) (Fig. 28-8). A maioria dos CArs sintomáticos nào Diagnóstico diferencial
demonstra comunicação direta com o ES e pode requerer o maior diagnóstico diferencial dos CArs são os cistos
descompressão microciriirgica. Os pacientes CArs comu- epidcrmoldes (CE). Cistos epidermoides apresentam in
nicantes podem nào precisar de intervenção cirúrgica. tensidade de sinal quase sempre - porém não exatamente -
Achados na RM. CArs são lesões bem delimitadas, que se igual a do LCS. Eles têm aspecto em couve-flor, com uma
guem a intensidade de sinal do LCS em todas as seqüên configuração lobulada em vez de bordas bem delimitadas
cias (Fig. 28-6). Eles são. portanto, isointensos ao LCS como nos CArs. Os CEs envolvem os vasos e os nervos
nas imagens ponderadas em TI e T2 (Fig. 28-9). Os CArs cranianos, insinuando-os ao longo das cisternas. Os CEs
causam moderado efeito expansivo local, deslocando, nào suprimem completamente no FLAIR e costumam mos
mas não envolvendo o parênquima enceialico, vasos e trar uma hiperintensidade moderada a intensa na difusão.
nervos cranianos adjacentes. Espaços subaracnoides dilatados causados por per
A aparência interna dos CArs não demonstra nenhum da volumétrica do encéfalo são coleções de LCS difusas
achado, não contendo septações ou vasos. e não causam efeito de massa nas estruturas adjacentes.
Os CArs suprimem completamente no FLAIR (Fig. Higroma subdural ou hematoma subdural crônico
28-10). Às vezes a pulsação do LCS dentro de grandes le (HSDc) não apresentam intensidade de sinal igual ao LCS
sões pode causar o defasamento de spins, produzindo in e geralmente são crescentes, nào arredondados. HSDc

28-1 OA CAf retrocerebelar na


linha média [^i é bem delimita
do, com densidade igual ao LCS
na TC sem contraste.
28-106 T1 sagital mostra que
o cisto arredondado E3 é isoin-
tenso ao LCS, eleva e deforma o
verme cerebeiarB.

28-10C O cisto E3 é isoin-


tenso ao LCS em 12.
28-100 O cisto ES suprime
completamente em FLAIR. A
segunda localização mais comum
na fossa posterior para os cistos
aracnoidais é o aspecto retroce
rebelar da cisterna magna.
786 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

28-11 T2 axial mostra um cisto de fissura coróidea clássico E2 como 28-12 O cisto de fissura coróidea é isodenso ao LCS na TC sem contraste
um cisto bem delimitado, com sinal semelhante ao LCS, mediai ao corno B. 11 sagital mostra um clássico cisto alongado "cilíndrico" A lesão
temporal do ventrículo lateral. suprime completamente no FLAIR ES e é isointensa ao LCS em T2 í^.

geralmente demonstra evidências de hemorragias pré Cisto de fissura coróidea


vias, em especial nas seqüências T2*. e podem apresentar A fissura coróidea é um espaço contendo LCS entre o fór-
membranas com impregnação pelo contraste.
nice e o tálamo. Normalmente é uma pequena fenda rasa,
Os cistos porcnccrálícos parecem como LCS, mas em forma de C, que curva posterossuperiormentc do lobo
são intra-axiais e delineados por uma substância branca
temporal anterior ao longo de todo átrio do ventrículo la
gliótica, que é hiperintensa no FLAIR. Raramente, cistos teral. As artérias coróideas e o plexo coroidal percorrem
neurocntéricos podem se assemelhar aos CArs, embora medialmente à fissura coróidea.
eles sejam hiperintensos comparados ao LCS. Cistos neu Um cisto contendo LCS pode se formar em qualquer
rocntéricos supratentoriais são raros.
parle ao longo da fissura coróidea. Esses "cistos de fissura
coróidea" provavelmente são causados por uma tela co
róidea embriònica mal desenvolvida, uma camada dupla
CISTOS ARACNOIDAIS: ASPECTOS
CLÍNICOS E OE IMAGEM de pia-máter que invagina através da fissura coróidea para
alcançar os ventrículos laterais.
Aspectos clínicos Cistos de fissura coróidea podem, portanto, ser consi
• Cistos intracranianos não neoplésicos mais comuns
derados um subtipo de cisto aracnoide. Iremos considerá-
o 1% de todas as massas intracranianas
o Todas as idades; crianças e adultos jovens (75%) -los de forma separada porque eles apresentam uma loca
o Prevalência = 2% nos exames de imagem lização única e uma imagem característica.
• A maioria não comunica com espaço subaracnóideo (ES)
Imagem
Imagem Os cistos de fissura coróidea estão localizados medialmente
• Comportam-se exatamente como o LCS
• FLAiR/dIfusão são as melhores seqüências para ao como temporal dos ventrículos laterais e seguem a densi
diferenciar de outros cistos
dade/intensidade de sinal igual ao LCS em todas as seqüên
• Diagnóstico diferencial cias (Fig. 28-11). Nas imagens coronal e axial eles são arre
• Mais comum = cisto epidermoide dondados a ovalados, mas nas imagens sagitais apresentam
• Menos comuns uma fonna cilíndrica alongada característica (Flg. 28-12).
o Espaços subaracnoidais dilatados
o Higroma subdural loculado/hematoma Cisto epidermoide
o Cisto porencefálico
o Cisto associado à neoplasia Os cistos epidermoides congênitos e adquiridos são en
• Raros = cisto neuroentérico contrados no sistema nervoso central (SNC). Enquanto
cistos epidermoides na coluna espinal são geralmente
Cistos não neoplásiccs 787

28-13 Gráfico sagital ilustra um cisto epidermoide multilobulado, na 28-14 Espécime de necropsia mostra um cisto epidermoide na fossa
cisterna pré-pontina. Um efeito de massa significativo desloca a ponte, posterior como um tumor branco, "perolado" nas cisternas cerebeiopon-
junção cervicomedular, medula espinal cervical superior. tina, pré-pontina ES. Observe o encarceramento da artéria basilar [S,
nervos ocuiomotores K).

doenças adquiridas, os cistos epidermoides intracranianos por 10 a 15% dos CEs. As localizações menos comuns são
têm origem sempre congênita. os ventrículos cerebrais, em geral o quatro ventrículo. CEs
puramente extradurals e intradiploicos contam por 5 a 10%
Terminologia dos casos. CEs parenquimatosos ocorrem, mas são raros.
Um cisto epidermoide (CE) intracraniano é um cisto de Patologia macroscópica. A superficie externa de um CE
inclusão que deriva de elementos ectodérinicos embriôni-
é geralmente brilhosa, lembrando uma madrepérola
cos. Cistos epidermoides têm sido incorretamente chama
(Fig. 28-14). Múltiplas excrescências "em couve flor"
dos de "tumores", mas eles não são neoplásicos. O termo são típicas (Fig. 28-15). O cisto é preenchido por material
"colesteatoma" pode ser reservado para lesões adquiridas
mole, seroso, cremoso ou em flocos.
que surgem como complicações de otite média crônica.
Achados microscópicos. A parede do cisto consiste em uma
Etiología cápsula fibrosa externa delineada por um epitélio escamoso
Conceitos gerais. CEs surgem durante a terceira e a quarta estratificado. O cisto contém lamelas concêntricas de debris
semanas gestacionais. Remanescentes celulares ectodér- queratinosos e colesterol cristalino sólido. Apêndices der-
micos causados pela clivagem incompleta do ectoderma mais (uma característica dos cistos dermoides) são ausentes.
neural cutâneo resultam na inclusão de epiblastos no tubo
neural. Epidermoides congênitos do APC são derivados Aspectos clínicos
das células do primeiro sulco branquial. Epidemiologia. CEs representam 0,2 a 1,8% de todos os tu
mores intracranianos primários e lesões pseudo-tumorais.
Patologia Eles são os cistos de desenvolvimento intracraniano mais
Localização. CEs extracranianos costumam envolver o comuns e são 4 a 9 vezes mais comuns que os cistos der
couro cabeludo, a face e o pescoço. Mais de 90% dos CEs moides. De maneira geral, o CE é a terceira massa mais
intracranianos são intradurais e são quase sempre extra- comum do APC (após o schwannoma vestibular e o me
-axiais (Fig. 28-13). CEs são mais comuns fora da linha ningioma) e a massa cística mais comum nessa localização.
média ou paramedianos, e têm uma predileção pelas cis Demografia. o pico de idade de apresentação é de 20 a 60
ternas basais, onde eles se insinuam ao redor dos nervos
anos. CEs sintomáticos são raros em crianças. Não existe
cranianos e dos vasos.
um predomínio por sexo.
A cisterna do APC é o sítio mais comum, com quase
metade de todos os CEs intracranianos. A fossa craniana Apresentação. CEs podem ser clinicamente silenciosos por
média (fissura Silviana) e a região parasselar juntas contam muitos anos. Os sintomas dependem da localização da lesão.
788 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

28-15 Espécie cirúrgica visla de perto mostra a aparência clássica "em 28-16 Cisto epidermoide lembra o ICS em TI e 12 B, mas náo su
couve-llor" da superfície externa de um cisto epidermoide. prime no FLAIR demonstra moderada restrição da difusão B.

Cefaleia e neuropatia craniana (especialmente envolvendo


Imagem
os nervos cranianos V, VIi e Vil!) sào achados comuns.
Aspectos gerais. Os cistos epidermoides assemelham-se ao
História natural. CEs crescem muito vagarosamente por LCS na imagem (Fig. 28-16). Excrescências irregulares
um acúmulo progressivo de células epidérmicas normais frondosas e um padrão de crescimento insinuante nas cis
em divisão e de queratina descarnada. CEs geralmente al ternas liquóricas são característicos.
cançam um tamanho considerável antes de se tornarem Achados na TC. Mais de 95% dos CEs são hipodensos e
sintomáticos. Ao contrário dos cistos dennoides, rotura de
aparecem quase idênticos ao LCS nas TCs sem contras
um CE é raro. Transformação maligna é rara.
te. Calcificaçào está presente em 10 a 25%. Hemorragia
Opções de tratamento. As características insinuantes dos é muito rara. Epidermoides "brancos" hiperdensos são
CEs os tomam difíceis de ressecar. Embora a ressecção incomuns, representando 3% de todas as lesões relatadas.
total minimize o risco de meningite asséptica pós-ope Impregnação pelo contraste é rara.
ratória. hidrocefalia e recorrência tumoral, uma cirurgia Achados na RM. CEs são iso ou discretamente hiperin-
agressiva pode estar associada com déficit de neivos cra tensos se comparados ao LCS tanto nas seqüências pon
nianos e ísquemias. deradas em TI quanto em T2. Uma discreta heteroge-
neidade de intensidade de sinal costuma estar presente
CISTO EPIOERMOIDE: ETIOLOGIA, (Fig. 28-17).
PATO L O G I A E E P I D E M I O L O G I A Epidermoides "atípicos" representam apenas 5 a 6%
dos casos. Um epidermoide "branco" é um tipo raro de
Etíología cisto que tem um alto conteúdo proteico e pode ser hi-
• Cistos de inclusão congênita
• Remanescente epiteíial do tubo neural perintenso em TI e hipointenso em T2. A impregnação
pelo contraste em geral é ausente, embora discreto realce
Patologia periférico possa ser visto em 25% dos casos.
• Patologia macroscópica
o Insinuante, envolve vasos/nervos cranianos
CEs não suprimem nada ou apresentam uma supres
são incompleta em FLAIR. Eles restringem na difusão
o Superfície lobulada com excrescências "peroladas"
o Conteúdo seroso, cremoso e são. portanto, moderada a intensamente hiperintensos
• Patologia microscópica (Fig. 28-18).
o Epitélio escamoso + debris queratinosos, colesterol
sólido
Diagnóstico diferencial
o SEM apêndices dermais o maior diagnóstico diferencial é o cisto aracnoídc. Os
CAs são bem delimitados, apresentam intensidade de
Epídemiologia sinal exatamente igual ao LCS em todas as seqüências,
• 0,2-1,8% dos tumores intracranianos primários
suprimem completamente no FLAIR e não apresentam
Cistos nao neopiásicos 789

28-17 Cisto epidermoide da calota ctaniana expande o espaço diploi- 28-18 Caso variante mostra um raro cisto epidermoide de parênqui-
CO, mostra focos mosqueados de iso/hipoinlensidade em Tl ES, hiperin- ma cerebral. A intensidade de sinal do cisto é muito semelhante ao LCS
tensidade heterogênea em T2/FLAIR E], discreto realce periférico BI. em T2/FLAÍR ES, mas o cisto mostra um tênue realce periférico ES e
uma importante restrição da difusão

restrição da difusão. O raro epidermoide "branco" pode se Cisto dermoide


assemelhar a um cisto neurocntcrico.
Cistos parasitários como neurocisticercose (NCC) Terminologia
são múltiplos e pequenos, e podem conter um escólex vi o cisto dermoide (CD) é uma massa cística histologica-
sível. A maioria dos cistos de NCC está localizado dentro
mente benigna com epitélio escamoso maduro, material
dos sulcos cerebrais, e não no parênquima cerebral. Ne queratinoso e estruturas anexiais (folículos capilares,
oplasias cístícas são raramente confundidas com CEs, glândulas sebáceas e glândulas sudoríparas).
uma vez que a parede cística e/ou nódulos realçam.
Cistos dcrmoides não devem ser confundidos com
Etiologia
ECs. Cistos dermoides contêm gordura e apêndices der- Conceitos gerais. Como os cistos epidermoides, acredita-
mais e não lembram o LCS nos exames de imagem. -se que CDs têm origem da inclusão de células proge-
nitoras comprometidas com a linhagem ectodérmica no
momento do fechamento do tubo neural (3" a 5" semana
CISTO EPIDERMOIDE: IMAGEM da embriogênese). CDs crescem lentamente, secundá
rios à produção de cabelo e sebo nos elementos dermais
Aspectos gerais internos.
• Lembra LCS (vs. dermoide que se assemelha a gordura)
• Insinua ao redor/ao longo das cisternas de LCS Genética. A maioria dos CDs é esporádica, embora exis
ta relato de associação com síndromes Goldenhar e
Localização
• Intradural (90%), intradiploico (10%) Klippel-Feil.
• Cisterna APC localização mais comum (~ 50%)
Patologia
TC
• Hipodenso (>95%) Localização. CDs são lesões extra-axiais que são encontra
das com mais freqüência na linha média (Fig. 29-19). A
RM cisterna suprasselar é a localização mais comum, seguida
• Discretamente hlperintenso ao LCS em Ti da fossa posterior e da região frontonasal.
• Não suprime no FLAIR
• Restringe ("brilha") na difusão Patologia. O cisto dermoide é um cisto unilocular com
paredes espessadas, delineadas por epitélio escamoso
Diagnóstico diferencial
• Mais comum = cisto aracnoidal estratificado. Os CDs contêm material sebáceo oleoso e
• Menos comum == cisto inflamatório espesso, debris de queratina e anexos epidérmicos, como
folículos capilares (Fig. 28-20). Elementos lipídicos e de
28-19 Cisto dermoide frontal inferior B é visto como uma massa 28-20 Cisto dermoide contém material espesso, sebáceo oleoso, de
discreta fieterogènea, contendo gordura, epitéiio escamoso e apêndices bris queratinosos e cabelo E3. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
dêrmicos. Observe o nívei gordura-iíquido B e a gordura no espaço
subaracnóideo ES devido à ruptura do cisto.

colesterol lluluando em material proieináceo podem estar


Imagem
presentes. Aspectos gerais. CDs lembram gordura. Uma massa redon
Aspectos microscópicos. A parede externa do CD da, bem circunscrita contendo lipídeos é a aparência mais
consiste em epitéiio escamoso. A camada interna contém
freqüente.
múltiplas glândulas sebáceas e apócrinas, gordura e folí-
culos capilares. Achados na TC. CDs são muito hipointensos na TC sem con
traste (Fig. 28-21). Calcificações na cápsula são vistas em
Aspectos clínicos 20% dos casos. Com a rotura, focos de gordura hipoden-
Epidemíologia. CDs são menos comuns que cistos epider- sas disseminadas pela cisterna do LCS podem causar nível
moides, representando menos de 0,5% de todas as massas gordura-iíquido no interior dos ventrículos. Em crianças
intracranianas. com CD frontal, a TC com janela óssea demonstra uma
crista galli bifida, com forame cego grande e fistula.
Demografia. a apresentação ocorre em indivíduos mais jo
Achados na RM. A intensidade de sinal varia com o con
vens do que os epidermoides, com picos aos 20 a 30 anos.
teúdo de gordura no cisto. A maioria dos CDs é heteroge-
Apresentação. CDs geralmente se mantêm assintomáticos neamente hiperintenso em TI. TI é também a seqüência
até sua rotura. Embora a rotura dos cistos não seja fatal, mais sensivel para detectar os focos de gordura no espa
meningite química com convulsões, coma, vasoespas- ço subaracnóideo, achado diagnóstico de dermoide roto
mos, infartos, e até mesmo morte, podem ser uma con (Fig. 28-22). Seqüências com supressão de gordura é útil
seqüência. para confirmar a presença de elementos lipídicos.
História natural. CDs em geral crescem muito devagar, As seqüências densidade de protons (DP) e T2 mos
embora crescimento rápido com rotura já tinha sido rela tram artefato de '^^chemical shift" muito mais pronunciado
tado. A rotura do cisto costuma ser espontânea, mas pode na direção de freqüência, uma vez que o TR é alto. Gor
dura é muito hipointensa nas imagens T2 convencionais,
estar associada a trauma craniano. Gordura de um CD
roto pode persistir por anos. As vezes, CDs degeneram mas "brilha" (hiperintenso) nas seqüências 12 fast spin
echo. DCs demonstram hiperintensidade heterogênea com
em carcinomas de células escamosas.
laminações lineares ou estriadas se fios de cabelo estive
Opções de tratamento. A ressecçào cirúrgica completa é rem presentes no cisto.
o objetivo, mas um tumor residual aderente a estruturas CDs não complicados são heterogeneamente hiperin-
neurovasculares é deixado para minimizar complicações tensos em FLAIR. CDs rotos demonstram discreta hipe
pós-operatórias. Diferentemente dos CEs, a recorrência rintensidade em FLAIR nos sulcos e artefato de suscepti-
após a ressecçào do CD é muito baixa. bilidade magnética na seqüência T2* GRE.
Cistos não neoplásicos 791

i
28-21 TC sem contraste de um dermoide roto mostra uma massa hi-
podensa suprasselar E2 e focos de gordura nos sulcos ÍS. 0 conteúdo
do cisto E3 e a gordura subaracnóidea B são hiperintensos em T1.

A maioria dos CDs não impregna pelo contraste, em


28-22 Dermoide roto em um homem de 44 anos, com cefaleia grave
súbita. TC sem contraste mostra hidrocefalia obstrutiva, focos hipodensos
de gordura no espaço subacnóideo ^3. A gordura é hiperintensa em Ti,
FLAIR B, artefato de susceptibilídade magnética no T2* GRE B.

Cisto neuroentéríco
bora a rotura dos CDs possa causar uma meningite química Cistos neuroentéricos são lesões raras do SNC derivadas
significativa com reação leptomeníngea extensa e realce. do desenvolvimento endodérmico. São mais comuns na
A espectroscopia pode mostrar um pico elevado de coluna que no cérebro.
lipídeo em 0,9 a 1,3 ppm.
Terminologia
Diagnóstico diferencial Cisto neuroentéríco (NE) é também chamado de cisto
o maior diagnóstico diferencial dos CDs é o cisto epider-
enterógeno, cisto enlérico e cisto endodérmico. Outros
moidc. CEs comportam-se como o LCS enquanto os CDs termos menos comuns, usados para os cistos NE intraes-
lembram gordura. Lipomas podem lembrar CDs, mas ge
pinais, são gastrogênicos e cistos arquentéricos.
ralmente são muito mais homogêneos nos exames de ima
gem e são associados com outras malformações congêni Etiologia
tas, como disgenesia do corpo caloso. Craniofaringioma Os cistos neuroentéricos, assim como os cistos da fenda
é multicistico, estende-se para a sela turcica, calcifica e
de Rathke e cistos coloides, são lesões do desenvolvimen
realça pelo contraste. Teratomas podem lembrar CD. mas to do SNC derivadas da endoderme. Eles provavelmente
em geral ocorrem na glândula pineal e são muito mais he se originam da persistência do canal neuroentéríco embri-
terogêneos nos exames de imagem do que o CD típico. ônico, uma conexão temporária entre os sacos amniótico
e vitelinico durante a terceira semana de cmbriogêncsc.
CISTO DERMOIDE VS. EPIDERMOIDE Células endodérmicas primitivas podem ser incorporadas
na notocorda. Esses tecidos acumulados fora da localiza
Patologia
• Epitélio escamoso + debris de queratina (ambos ção comum podem formar um cisto NE.
dermoide, epidermoide) O aspecto mais cefálico da notocorda forma o divo,
• Mais gordura, apêndices (somente dermoide) e por isso a maioria dos NEs intracranianos é encontrada
na linha média da fossa posterior. Não existem boas teo
Aspectos clínicos rias para explicar o desenvolvimento de raros cistos NEs
• Pelo menos quatro vezes menos comum que o cisto
epidermoide supratentoriais.
• Mais comum em crianças, adultos jovens
• Comumente rompem Patologia
Localização. A localização mais comum dos NEs é na colu
Imagem na. Cistos NEs intracranianos são raros, contando por me
• CD se comporta como gordura e EC como LCS
nos de 25% de todos os casos. Quase 75% deles ocorrem
792 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

28-23 Gfáfico sagitai mostra cisto neuroenlérico clássico f^- Cistos 28-24 Cistos neuroentéricos (endodérmicos) são em sua maior parte
neuroenléricos intracranianos são mais encontrados próximos da linha delineados por um epitélio ciliado pseudoeslratificado e contém nú
média, anterior ao tronco encefálico. meros variados de células caliciformes [^. (Cortesia de P. Burger, MD.)

na fossa posterior, e quase todos são extra-axiais. A posi pico aos 30 a 40 anos, e um pico menor aos 10 anos. A
ção típica é na linha média ou paramediana, anteriormente média de idade na apresentação é de 34 anos. Existe uma
à junção pontomedular (Fig. 28-23). A cisterna do APC pequena predominância masculina.
inferior também é uma localização comum.
Entre 25 a 30% dos cistos NE intracranianos são su- Apresentação. Cistos NE da fossa posterior apresentam-se
com dor cervical ou cefaleia occipital. Cefaleias, altera
pratentoriais. Quase todos os casos relatados são fora da
linha média, localizados adjacentes aos lobos frontais. ções de comportamento e convulsões têm sido relatadas
nos casos de lesões supratentoriais.
Ta m a n h o e n l i m e r o . C i s t o s N E s v a r i a m e m t a m a n h o . A
maioria é pequeno, 1 a 3 centímetros de diâmetro. Às ve História natural. Cistos NEs crescem muito devagar e ge
ralmente são estáveis por anos.
zes, cistos NEs podem se tomar muito grandes (acima de
9 centímetros), especialmente quando ocorrem no com- Opções de tratamento. Cistos NEs pequenos são muitas ve
parlimento supratentorial. zes monitorados com exames de imagem periódicos. Cis
Cistos NEs são quase sempre solitários. A dissemina tos sintomáticos são ressecados. A remoção cirúrgica total
ção de cistos, até mesmo disseminação de múltiplos cistos é o objetivo do tratamento, mas pode ser difícil devido a
pelo canal espinal já foi relatada, porém esse fenômeno é adesões da membrana cistica a estruturas neurovasculares
raro.
importantes.
Patologia macroscópica. Cistos NEs são bem delineados,
com margens lisas. A parede é fina e translúcida. O con
CISTO NEUROENTÉRICO:
teúdo cístico varia de um líquido incolor claro, que lem
bra o LCS, a uma secreçao mucoide viscosa. PATOLOGIA E ASPECTOS CLÍNICOS

Achados microscópicos. Cistos NEs são delineados por epi Localização


• Fossa posterior (75%)
télio colunar pseudoestratificado com células ciliadas e o Extra-axial, linha média/discretamente paramediano
uma quantidade variável de células caliciformes secreto- o Anterior à junção pontomedular
ras de mucina (Fig. 28-24). Alguns casos de metaplasia • Supratentorial (25%)
escamosa, e até mesmo adenocarcinomas mucinosos que o Extra-axial, adjacente aos lobos temporais
surgem em um cisto NE já foram relatados.
Patologia
• Cistos de Inclusão congênitas derivados do endoderma
Aspectos clínicos • Tamanho varia de 1 a 9 cm
Demografia. Cistos NEs ocorrem em pacientes de todas as
(continua)
idades. A distribuição etária é bimodal, com um grande
Cistos não neoplásicos 793

são raras. Cistos NEs não realçam após injeção endove-


(continuação) nosa de contraste.
• Formato arredondado/ovalado, com margens lisas
Achados na RM. Cistos NEs são lesões bem delimitadas
• Parede contém células caíiciformes, secretoras de
mucina que deslocam, mas não englobam, estruturas neurovascu-
lares adjacentes. A parede cística não é visível. A intensi
Aspectos clínicos dade de sinal do conteúdo cístico varia muito, dependen
• Cisto neufoentérico espinal é 3 a 4 vezes mais do da seqüência de imagem e do conteúdo proteico.
comum que intracranianos O conteúdo do cisto é quase sempre iso a hipcrintenso
• Assintomáticos ou cefaleia, dor cervical
em comparação com o LCS em TI (Fig. 28-25). Acima de
90% são hiperintensos ao LCS em DP e T2. Entre 5 a 10%
- cistos NEs com conteúdo espesso, significativamente
Imagem desidratados - são hipointensos.
Aspectos gerais. Cistos NEs são bem delineados e arredon
Cistos NEs não suprimem em FLAIR e são quase
dados ou ovulados. A densidade e a intensidade de sina! va sempre hiperintensos em relação ao LCS. Como os cistos
riam de acordo com o conteúdo proteico do cisto. A maioria NEs quase nunca calcificam ou sangram, seqüências T2*
dos cistos NEs é moderadamente proteináceo e, portanto, (GRE. SWI) não demonstram artefato de susceptibilidade
não seguem precisamente a intensidade de sinal do LCS. magnética.
Apenas alguns relatos de cistos NEs incluíram os
Achados na TC. A maioria dos cistos NE é iso a discreta achados na difusão. Nesses casos, a restrição de difusão
mente hiperdenso comparados ao LCS. Cistos NEs hiper- era discreta ou ausente.
densos ("brancos") são vistos em cerca de 25% dos casos. A maioria dos cistos NEs não realça após a adminis
Calciflcação e hemorragias intracísticas são ausentes. Ao tração de contraste. Poucos casos de discreto realce anelar
contrário dos cistos NEs espinais, anormalidades ósseas posterior na interface cisto/encéfalo já foram relatados.

28-25A TI sagital de um cisto


NE mostra uma massa na linha
média ovoide hiperintensa ES
na frente do bulbo.
28-25B T2 axial mostra que a
massa [^J é bem delineada. Ela
é heterogeneamente hipointen-
sa ao ICS, sugerindo conteúdo
espesso. Em geral, cistos NEs são
hiperintensos ao LCS.

28-25C TI C+ coronal mostra


que a massa ovoide B é bem
delimitada e hiperintensa.
28-250 TI C+ axial com satu
ração de gordura mostra que a
massa E3 estende-se inferior
mente para o bulbo inferior. O
centro da massa é discretamente
paramediano, uma solução
típica para cistos NEs da fossa
posterior.
794 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

28-26 Espécime de necropsia mostra uma massa arredondada gelati 28-27 Ecordose fisaliforme vista aqui como uma massa lobulada pré-
nosa na frente da ponte S. Achado acidental de ecordose fisaliforme. -pontina que é discretamente hiperintensa ao LCS em T2 ES, não supri
(Cortesia de R. Hewlett, MD.) me em FLAIR Bi, conecta-se na linha média com o divo B3.

Diagnóstico diferencial
CISTO NEUROENTÉRICO: IMAGEM
Outros cistos derivados do endoderma como o cisto da
fenda de Rathke (sela tijrcica) e cisto coloide (forame de TC
• TC sem contraste: iso/discretamente hiperintenso
Monro) são facilmente diferenciados dos NEs. Eles apre
ao LCS
sentam uma localização específica e suas localizações
• TC com contraste: não impregna
anatômicas não se interpõem àquelas dos NEs.
O maior diagnóstico diferencial dos NEs é o cisto R M
epíderinoíde. Os cistos epidermoides são lesões insinu- • TI: quase sempre iso/discretamente hiperintenso
antes que apresentam superficies lobuladas e frondosas. ao LCS
A maioria dos CEs apresenta grande restrição da difusão. • DP, T2: hiperintenso ao CSF (> 90%)
CEs de fossa posterior geralmente são mais laterais que • FLAIR: não suprime
• Difusão: discreto/sem restrição
os cistos NEs, ocorrendo mais na cisterna do APC que na
junção pontomedular. Alguns casos relatados de epider Diagnóstico diferencial
moides "brancos" podem ter sido cistos NEs. • Mais comum = epidermoide, cisto aracnoide
O cisto aracnoide segue o sinal do LCS em todas as • Menos comum = schwannoma (cístico)
• Raro = ecordose fisaliforme
seqüências (p. ex., suprime completamente no FLAIR) e
não restringe na difusão.
Schwannoma é a massa extra-axial mais comum na
fossa posterior em adultos. Em geral, apresenta um inten C/sto pineal
so realce e raramente ocorre na linha média. As imagens atuais têm levado a uma melhor visualização
Uma variante anatômica rara que pode ser confundida das "estruturas" da glândula pineal encontradas na TC e
com um cisto NE de fossa posterior é a ecordose fisalifor especialmente na RM. Essas lesões, geralmente vistas em
me. Uma ecordose fisaliforme (EF) é um remanescente da pacientes com queixas vagas e sem sintomas referidos à
notocorda com aparência gelatinosa que pode aparecer em região da pineal, podem ser problemáticas tanto para o ra-
qualquer lugar do dorso da sela à região sacrococcigea. EFs diologista quanto para o médico assistente.
são encontradas em cerca de 2% das autópsias. EFs intracra
nianas são lesões da linha média bem delimitadas que ocor Terminologia
rem na cisterna pré-pontina (Fig. 28-26). Elas são aderidas Um cisto pineal (CP) é um cisto benigno delineado por
a um defeito visível no dorso do divo por um fino pediculo células gliais, com conteúdo líquido no parênquima da
(Fig. 28-27). Cordoma é a variante maligna da ecordose. glândula pineal.
Cistos nao neoplásicos 795

28-28 Gráfico sagítal mostra uma pequena lesão cística na glândula 28-29 Imagens axial (esquerda), sagítal (direita) de necropsia de cis
pineal SI. Pequenos cistos benignos na pineal são muitas vezes inci- to da pineal 3] mostra a localização típica atrás do teto mesencefálico.
dentalmente encontrados na autópsia ou imagem. (Cortesia de E. T. Hediey-Whyte, MO.)

zona bem definida de tecido glial fíbrilar fino com fibras


Etiologia
de Rosenthal. CPs não apresentam revestimento ependi-
A etiologia precisa dos CPs é desconhecida. Teorias in
mário ou epitelial. A superfície interna da cavidade cistica
cluem persistência de cavidades pineais embriônicas coa-
é marcada por hemossiderina como o resultado de uma
lescentes e degeneração glial com cavitações.
hemorragia intralesional. Não existe diferença histológica
entre CPs sintomáticos e assintomáticos.
Patologia
Localização. As estruturas anatômicas normais da linha Aspectos clínicos
média na região da pineal - de cima para baixo - são o
Epidemiologia. Lesões com aparência cística na glândula
fórnice, velum interpositum, veias cerebrais internas e
pineal são comuns, vistas em 23% dos adultos saudáveis
glândula pineal (ver Capitulo 20). Como esperado, qual na RM. Entre 25 a 40% das glândulas pineais com ne
quer massa da glândula pineal - incluindo CPs - localiza-
-se abaixo do fórnice, velum interpositum, e veias cere cropsia apresentam cistos microscópicos
brais internas, deslocando-as superiormente. Enquanto Demografia. CPs podem ocorrer em qualquer idade, em
os CPs podem comprimir o terceiro ventriculo posterior, bora eles sejam mais descobertos em adultos jovens e ve
a maioria dos CPs exerce pequeno ou nenhum efeito de lhos. A razão M:H é de 3:1. A incidência entre mulheres
massa no teto mesencefálico e aqueduto cerebral, portanto na idade de 21 a 30 anos é maior do que em qualquer ou
a hidrocefalia é rara, exceto em cistos muito grandes. tro grupo.

Tamanho e nlimero. CPs são lesões expansivas arredondadas Apresentação. A maioria dos CPs é clinicamente benigno e
ou ovuladas bem delimitadas dentro de uma glândula pine assintomático, descobertos incidentalmente na imagem ou
al com aparência normal (Fig. 28-28). A maioria dos CPs na necropsia. Grandes cistos da pineal podem obstruir o
é menor que 10 mm em diâmetro. O maior CP já relatado aqueduto cerebral, resultando em hidrocefalia e cefaleia.
é de 4.5 cm. Cistos da pineal geralmente são uniloculados, Síndrome de Parinaud (compressão tectal) é menos co
mas lesões contendo múltiplos pequenos cistos ocorrem. m u m .

Patologia macroscópica. A aparência geral é de uma glândula "Apoplexia" da pineal ocorre com hemorragia intra-
císiica súbita. Cefaleias agudas progressivas combinadas
pineal lisa, macia e amarelada que contém cisto uni ou mul- com sintomas visuais podem ocorrer. Uma cefaleia "em
tilocular (Fig. 28-29). O liquido cístico é claro a amarelado.
trovoada" pode mimetizar sintomas de hemorragia su-
Aspectos microscópicos. Cistos da pineal são cavidades de baracnóidea por ruptura de aneurisma. A "apoplexia" da
diversos tamanhos, circundados por uma camada externa pineal pode resultar em hidrocefalia obstrutiva intraven
de parênquima pineal atenuado. A camada interna é uma tricular aguda. Raros casos ocorrem com morte súbita.
796 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

28-30 TC sem contraste mostra calcificaçòes periféricas na parede da 28-31 Grande cisto da pineal discretamente hiperintenso ao LCS na
glândula pineal aumentada E3, característico para cisto da pineal e pi- TC sem contraste B e hiperintenso em T2/FIAIR B mostra um fino
neocltoma. Cisto pineal não neoplásico foi provado cirurgicamente. realce anelar B em Ti C+.

História NATtJRAL. Segmentos seriados de lesões císticas in com hemorragia intracistica aguda - podem causar hidro
determinadas na região da pineal mostram, na maioria dos cefalia obstrutiva. Nesses casos, DPe T2/FLAIR mostram
casos, nenhum aumento significativo no tamanho ou em hiperintensidades estendendo-se para a substância branca
suas características ao longo do tempo tendo como inter periventricular devido ao acúmulo de liquido intersticial
valo meses a anos. A maioria dos investigadores recomen subependimário. Esses são bem demonstrados nas ima
da que cistos de pineal identificados sejam seguidos cli gens sagitais.
nicamente. e não requerem exames de imagem seriados. Entre 50 e 60% dos CPs são discretamente hiperin-
tensos em relação ao LCS em TI. Cerca de 40% são isoin-
Opções de tratamento. A maioria dos cistos da pineal é be tensos ao LCS. Cerca de I ou 2% são muito hiperinten-
nigna. Cistos sintomáticos podem requerer aspiração este- sos. o que pode indicar hemorragia intracistica. Um nivel
reotáxica ou ressecção/biópsia.
sangue-liquido pode estar presente (Fig. 28-32).
A maioria dos CPs é hiperintenso ao LCS nas seqüên
Imagem
cias intermediárias (DP) e iso a discretamente hiperinten
Achados de TC. Pelo menos 20% dos CPs mostram calcifl-
so em T2. Septações internas são visíveis em 20 a 25%
cação dentro da parede do cisto (Fig. 28-30). O conteijdo
dos casos. Se hemorragia aguda tiver ocorrido, o sangue
cístico é iso a discretamente hiperdenso sem relação ao
intracístico pode aparecer muito hipointenso.
LCS (Fig. 28-31). Um CP muito hiperdenso em um pa
CPs não suprimem completamente no FLAIR, e são
ciente com cefaleia grave deve levantar a suspeita de he
moderadamente hiperintensos em relação ao parênqui-
morragia com "apoplexia" cística. ma cerebral. Se tiver ocorrido hemorragia intracistica, o
Os ventrículos geralmente são normais. Ventrículos
conteúdo do cisto aparece na seqüência T2* (GRE, SWI).
grandes com margens "borradas" indicam hidrocefalia
(FIg. 28-33). Classificações periféricas podem demons
aguda obstrutiva. trar discreto artefato de susceptibilidade magnética.
A impregnação é típica. Padrões anelar. em crescente
ou nodular já foram descritos em CPs. Mais de 90% dos CPs realçam. O padrão mais comum
é de um realce anelar circunferencial e fino (Fig. 28-31).
Achados na RM. Imagens sagitais c axiais ponderadas em Padrões menos comuns incluem nodular, em crescente ou
T2 com cortes finos de alta resolução são muito úteis para irregular.
detecção e caracterização de lesões nessa região anatomi- CPs não restringem na difusão. Marcadores neuronais
camente complexa. estão ausentes na espectroscopia.
Assim como outros cistos, a intensidade de sinal em
CP varia com a seqüência de imagem e conteúdo cístico. Diagnóstico diferenciai
A maioria dos cistos da pineal é pequeno e causa mí o diagnóstico diferencial mais comum é a glândula pine
nimo ou nenhum efeito de massa. Grandes cistos - ou CPs al normal. Glândulas pineais normais contêm um ou mais
Cistos não neoplásicos 797

v \

28-32 Sagital T2 em uma mulher de 17 anos com importante cefaieia 28-33 Pequeno cisto da glândula pineal com hemorragia ES, artefa
de início súbito e alterações visuais, mostra um grande cisto da pineal to de susceptibilidade magnética em TZ"" FS, realce anelar e nodular na
ES com nível sangue-líquido S indicando hemorragia ("apoplexia" imagem TI C+ com saturação de gordura
cística).

pequenos cistos e podem ter realce nodular, em crescente


ou em anel. (continuação)
A entidade patológica mais importante a ser diferen Aspectos clínicos
ciada dos CPs é o pineocitoma. O pineocitoma é um tumor • Comum

de parênquima pineal grau I da Organização Mundial da o 23% das RMs normais, 25 a 40% das autópsias
Saúde (OMS) que costuma ser sólido ou pelo menos par • Ocorrem em qualquer idade; mais comuns em adultos
• Geralmente assintomáticos, incidentaímente
cialmente sólido/cístico. Pineocitomas císticos são menos
encontrados
comuns e podem ser indistinguíveis dos CPs na imagem.
Como essas neoplasias são de crescimento muito baixo, pi Imagem
neocitomas podem ser estáveis por muitos anos, sem alte • Ca ++ (25%)
• Realce periférico, nodular ou em crescente
ração significativa nos exames de imagem seriados.
Achados de imagem atípicos, invasão focai, ou au • Diagnóstico diferencial
• Glândula pineal normal
mento significativo em um intervalo de tempo em um
• Pineocitoma
cisto de pineal presumido ou pineocitoma devem levantar
a suspeita de um tumor mais agressivo ou tumor do pa
rênquima da pineal com diferenciação intermediária
{TPPDI). Cistos não neoplásicos associados a tumores
Cistos não neoplásicos que ocorrem próximos à glân
Terminologia
dula pineal incluem cisto epidermoide e cisto aracnoide
Cistos associados a tumores (CAT) são cistos benignos
(da placa quadrigeminal e do véu interpósito). Essas le
sões extrapineais não devem ser confundidas com CPs. adjacentes a uma neoplasia, mas não contidos nela.
CATs também são conhecidos como cistos peritu-
morais. Os cirurgiões algumas vezes os chamam de cis
tos "mensageiros", uma vez que eles são adjacentes a (e,
CISTO PINEAL
portanto, "anunciam" a presença de) uma massa tumoral.
Patologia
• Abaixo do fórnice, veias cerebrais internas Etiologia
• Geralmente < 1 cm, unilocular
É discutível se os CATs são cistos aracnoides verdadeiros
• A parede contém parênquima pineal atenuado
• Fluido claro a amarelado
ou coleções líquidas em sua maior parte delineados por
tecido cerebral gliótico comprimido. A formação do cisto
(continua)
pode também estar relacionada à deficiência da barreira
798 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

hematoencefálica com extravasamento peritumoral de lí mas às vezes múltiplas coleções líquidas e loculadas são
quido, eietrólitos, e proteínas plasmáticas de uma micro- encarceradas na interface tumor-cérebro.
vasculatura alterada.
CATs são geralmente associados a tumores extra- Aspectos clínicos
-axiais benignos, como meningioma, schwannoma, ma- A menos que um CAT tome-se grande, os sintomas são
croadenoma hipofisário e craniofarigioma. CATs são geralmente relacionados à própria neoplasia, não ao
encontrados em ambos os compartimentos, supra e infra- C AT.
tentoriai.

Imagem
Patologia Aspectos gerais. A aparência comum é de um ou mais "la
A maioria dos CATs representa "lagos" de LCS encarcera gos" de líquido encarcerado envolvendo uma massa tu
dos, encistados, adjacentes a uma grande neoplasia extra- moral extra-axial (Fig. 28-35).
-axial (Fig. 28-34). Os conteúdos dessas coleções peritu-
Achados na TC. CATs são hipodensos ao cérebro e ge
morais variam de um líquido límpido semelhante ao LCS
ralmente iso a hiperdensos em relação ao LCS. Calcifi-
a um líquido proteináceo turvo. A parede cística consiste
em tecido cerebral gliótico com astrocitócitos e linfócitos cações, hemorragias ou impregnação pelo contraste são
ausentes.
reativos. Nenhuma célula tumoral está presente.
Achados na RM. Assim como em outros cistos, a intensida
Localização. CATs geralmente são localizados na interface
de de sinal varia com o conteúdo proteico. A maioria dos
tumor-cérebro entre a massa e o córtex adjacente.
CATs é hipointensa ao cérebro em TI e muito hiperintensa
Tamanho e numero. CATs variam de pequenas coleções in em DPeT2 (Figs. 28-36 e 28-37). A supressão no FLAIR
significantes a cistos muito grandes. A maioria é solitária. é variável. A impregnação é mínima ou ausente e geral-

28-34 Espécime de necropsia


mostra um meningioma frontal
ES com uma tenda LCS-vascular
ES, grande cisto associado a
tumor
28-35 Coronal 12 mostra um
meningioma típico da asa do
esfenoide S3 com lagos hípe-
rínlensos de líquido encarcerado
BI entre o tumor e cérebro.
(Cortesia de M. Thurnher, MD.)

28-36 Axial 12 mostra um

grande schwannoma vestibular


I-tS com um cisto proeminente
BI interposto entre o tumor,
cerebelo.
28-37 Axial T2 mostra um
macroadenoma hipofisário com
extensão suprasselar B3, um
cisto associado a tumor proemi
nente ES com nível sangue-
-Ifquido Bi.
Cistos não neoplásicos 799

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»
■I
^ f

28-38 Gráfico coronal mostra EPVs normais acompanhando as artérias 28-39 Axial T2 mostra espaços perivascuíares típicos B agíomera-
perfurantes nos núcleos da base e substancia branca subcortical. EPVs dos ao redor da comissura anterior B.
normais aglomeram-se ao redor da comissura anterior, mas também
ocorrem em todas as áreas.

mente relacionada às alterações inflamatórias reativas na costumam ser assimétricos, podem causar efeito de massa
parede cística, não a tumor. e têm sido freqüentemente confundidos com tumores mul-
ticísticos cerebrais.
Olagnóstlco diferencial
Cistos associados a tumores devem ser diferenciados de Terminologia
neoplasias císticas. Outras considerações incluem cisto Espaços perivascuíares (EPVs) são também conhecidos
aracnoide (não associado a tumor) e espaços perivascu como espaços de Virchow-Robin. EPVs são espaços de
íares dilatados (Virchow-Robin). Esses líltimos são con lineados por pia-máter que acompanham as artérias e ar-
glomerados de cistos intraparenquimatosos de tamanhos teríolas perfurantes no parênquima cerebral. Os EPVs não
variados que contêm líquido intersticial, mas se compor se comunicam diretamente com o espaço subaracnoide.
tam como o LCS nos estudos de imagem.
Etiologia
Conceitos gerais. Os EPVs cerebrais formam uma com

plicada rede intraparenquimatosa que é distribuída pelos


Cistos parenquimatosos hemisférios cerebrais, mesencéfalo e cerebelo. Eles são
Cistos parenquimatosos (iiitra-axiais) são muito mais co preenchidos por líquido intersticial (LI), não LCS, e acre
muns do que cistos extra-axiais e intraventriculares. Uma dita-se que são a principal via de saída de LI e metabólitos
vez que um cisto foi identificado como localizado dentro cerebrais do encéfalo. Evidências recentes sugerem que
do parênquima cerebral, seu diagnóstico diferencial é li EPVs também apresentam um papel essencial na manu
mitado. Os cistos parenquimatosos mais comuns - espa tenção da homeostase da pressão intracraniana.
ços perivascuíares proeminentes e remanescentes do sulco O motivo preciso de alguns EPVs tomarem-se dilata
hipocampal - são variantes anatômicas. Cistos neurogliais dos é desconhecido. A maioria dos investigadores acredi
e cistos porencefálicos são relativamente incomuns. Todos ta que a saída do LI é bloqueada, causando alargamentos
os outros cistos não neoplásicos, não infecciosos são raros. císticos dos EPVs.

Genética. Aumento esporádico dos EPVs não tem uma


Espaços perivascuíares dilatados predileção genética conhecida. Pacientes com doença de
Os "cistos" mais comuns intraparenquimatosos são es Hurler, Hunter, ou San-Filippo acumulam mucopolissa-
paços perivascuíares dilatados. Eles variam de solitários, carídeos não degradados dentro dos EPVs dilatados. Al
pequenos, imperceptíveis, e discretos a múltiplos, gran gumas distrofias musculares congênitas também podem
des, bizarras coleções de líquido semelhante ao LCS. Eles estar associadas a EPVs císticos.
800 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

28-40 Gráfico coronal moslra alargamento dos espaços perivasculares 28-41 TC sem contraste e RM demonstram um aglomerado de cistos de
dilatados no mesencéfalo e talamos que causam efeito de massa no ter tamanhos variados com sinal semelhante ao LCS BEI expandindo grossei
ceiro ventrículo e no aqueduto causando a hidrocefalia. ramente o mesencéfalo. Espaços perivasculares gigantes "tumefativos".

Patologia Aspectos clínicos


Localização. Enquanto EPVs podem ser encontrados em Epidemiologia. EPVs são os "cistos" não neoplásicos mais
praticamente qualquer lugar do encéfalo, eles têm uma comuns no parênquima cerebral. Nas RMs 3T de alta re
grande predileção pelo terço inferior dos núcleos da base, solução, pequenos EPVs são vistos em quase todos os pa
em especial próximo à comissura anterior (Figs. 28-38 e cientes, todas as localizações e todas as idades.
28-39). Eles também são comuns na substância branca
subcortical e profunda, assim como no mesencéfalo e nos Demografia. EPVs dilatados são mais comuns em pacientes
de meia-idade e idosos. Entre 25 a 30% das crianças de
núcleos denteados do cerebelo.
monstram EPVs proeminentes nas RMs de alta resolução.
Tamanho e número. EPVs dilatados tendem a ocorrer em
Apresentação. A maioria dos EPVs dilatados não causa sin
aglomerados. Coleções de múltiplos EPVs de tamanhos
tomas e é descoberta incidentalmente em estudos de ima
variados são muito mais comuns do que lesões unilocu-
lares solitárias. gem ou necropsia. A avaliação neuropsicológica costuma
A maioria dos EPVs são menores que 2 mm. EPVs ser normal. Sintomas não específicos, como cefaleia, ton-
aumentam em tamanho e prevalência com a idade. EPVs tura. comprometimento de memória e sintomas Parkinson
like têm sido relatados em alguns casos, mas sua relação
gigantes, chamados de tumefativos, medindo acima de
9 cm em diâmetro já foram relatados. com EPVs é incerta. Grandes EPVs no mesencéfalo podem
causar hidrocefalia obstrutiva e apresentar-se com cefaleia.
Patologia macroscópica. EPVs dilatados aparecem como
Historia natural. EPVs dilatados tendem a ser estáveis em
coleções de cistos bem delimitados preenchidos com lí
quido incolor claro (Fíg. 28-40). tamanho e permanecem inalterados por muitos anos. Ape
nas alguns casos de alargamento progressivo dos EPVs Já
Aspectos microscópicos. EPVs são delineados por uma ca foram relatados.
mada única ou dupla de pia-máter invaginada. EPVs cor-
ticais são delineados por uma única camada piai. enquanto Opções de tratamento. EPVs dilatados são lesões benignas
duas camadas acompanham as artérias lentículo estriadas que não devem ser confundidas com doenças graves. Se o
e mesencefálicas. EPV no mesencéfalo causa hidrocefalia obstrutiva, o tra
Como um EPV penetra na substância branca subcor tamento geralmente aceito é a derivação ventricular, não
tical, ela se toma fenestrada e descontínua. A camada piai do cisto.

desaparece completamente ao nível capilar.


O parênquiina cerebral ao redor dos EPVs é normal, Imagem
sem gliose, inflamação, hemorragia ou deposição de ami- Aspectos gerais. O padrão comum dos EPVs dilatados é de
loide perceptível. um ou mais cistos aglomerados de tamanhos variados se-
Cistos não neoplásicos 801

melhantes ao LCS. Eles causam efeito de massa focai. Por EPVs não sangram, impregnam ou demonstram res
exemplo, se ocorrem na substância branca subcortical, os trição da difusão.
giros adjacentes são dilatados com compressão concomi
tante do sulco adjacente.
ESPAÇOS PERIVASCULARES DILATADOS
Achados na TC. EPVs dilatados são grupos de lesões ar-
redondadas/ovoidcs/lineares/puntiformes semelhantes ao Terminologia
• Também conhecidos como espaços de Virchow-Robin
LCS que não demonstram calcificações ou hemorragias • Achados ao redor dos vasos sangüíneos perfurantes
(Fig. 28-41). EPVs não realçam após a injeção endoveno- • Delineados por pia, preenchidos por líquido
sa de contraste.
intersticial
• Não se comunicam diretamente com ES
Achados na RM. Embora eles sejam preenchidos com lí
quido intersticial, a intensidade de sinal dos EPVs é seme Patologia
lhante à do LCS em todas as seqüências (Fig. 28-41). Efei • EPVs normais comuns, menores que 2 cm
to de massa focai é comum. EPVs dilatados na substância • EPVs gigantes "tumefativos" acima de 9 cm já foram
branca subcortical expandem o giro adjacente (Figs. 28-42 relatados
e 28-43). EPVs dilatados no mesencéfalo podem compri • Núcleos da base, SB subcortical mais comum
mir o aqueduto e o terceiro ventriculo, resultando em hi-
Imagem
drocefalia obstrutiva intraventricular (Fig. 28-41). • Geralmente aparência bizarra
EPVs são isointensos ao LCS em TI. PD e T2. Eles • Ocorre em aglomerados
suprimem completamente no FLAIR. Edema do parên- • Cistos variam em tamanho
• Seguem o LCS
quima cerebral adjacente é ausente, embora 25% dos
EPVs "tumefativos" apresentam mínimo aumento da in
tensidade de sinal ao redor dos cistos.

2 8 - 4 2 G r a fi c o d e m o n s t r a
inúmeros EPVs dilatados hemis-
féricos l-rS na S8 subcortical
profunda. Observe que os giros
adjacentes estão expandi
dos, mas normais.
28-43A T2 sagilai mostra
EPVs dilatados envolvendo a
maior parte da substância branca
subcortical e profunda dos tie-
misférios cerebrais B. Os giros
estão expandidos mas o
cortex está intacto.

28-43B Axia! T2 mostra que


ambos os hemisférios estão afe
' X tados, mas que a distribuição dos
EPVs dilatados é assimétrica.
28-43C FLAIR coronal do mes
mo paciente mostra que o liqui
do nos EPVs suprime, mas existe
hiperintensidade ao redor dos
cistos compatível com discreta
gliose. (Cortesia de M. Warmuth
- MetZ, MD.)
802 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

28-44 Gráfico de lobo temporal normal mostra cistos alinhados na 28-45 FLAíR axial mostra remanescentes do sulco hipocampal como
região lateral do hipocampo, ao longo da cavidade residual do sulco hi- pequeninos cistos alinhados EEI mediai aos lobos temporais. Eles con
pocampal primitivo Cistos remanescentes do sulco hipocampal são tém LCS e, portanto, suprimem completamente no FlAlR.
um achado incidental normal.

Diagnóstico diferencial Algumas vezes, alguns segmentos do sulco hipocam


o maior diagnóstico diferencial é o de infartos lacunares pal falham em fundir. Uma ou mais cavidades císticas
crônicos. Enquanto os EPVs ocorrem nos núcleos da base residuais persistem na vida adulta. Essas cavidades rema
e suprimem no FLAIR, infartos lacunares não se aglome nescentes - cistos hipocampais remanescentes - são va
ram ao redor da comissura anterior, são irregulares em ta riantes anatômicas normais (Fig. 28-44).
manho, e com freqüência apresentam hiperintensidade no
parênquima encefálico adjacente.
Patologia
Em alguns pacientes idosos, EPVs muito proeminen RSH são cavidades delineadas por pia-máter preenchidas
tes dos núcleos da base estão presentes. Essa condição por LCS. Pequenos vasos sangüíneos são também incluí
chamada "eía/ cr/ô/e". não deve ser confundida com múl dos quando os sulcos hipocampais são formados, desdo
brados e fusionados.
tiplos infartos lacunares. EPVs são arredondados/ovoides,
com configuração regular, e o parênquima cerebral adja
cente é geralmente normal sem gliose ou edema. Aspectos clínicos
Cistos infecciosos (especialmente cistos de neurocis- RSH são achados incidentais sem significância clínica.
ticercose parenquimatosos) são pequenos. Embora múlti Eles não causam crises convulsivas e não estão relacio
plos ou multiloculares, eles não ocorrem como aglomera nados a trauma.
dos de cistos tamanho variados como ocorre com os EPVs.
Imagem
Remanescentes do sulco hipocompol RSH são vistos em 10 a 15% das RMs normais de alta re

Terminologia solução. Eles aparecem como "colar de contas" com múlti


Remanescentes do sulco hipocampal (RSH) são também plos cistos pequenos arredondados ou ovoides curvando-se
chamados de cistos remanescentes hipocampais e cavida ao longo do hipocampo entre o giro denteado e o subicu-
des sulcais hipocampais. liim, medialmente ao como temporal do venirículo lateral.
RSHs seguem o sinal do LCS em todas as seqüências. Eles
Etiologia suprimem completamente no FLAIR (Fig. 28-45), não
Com 15 semanas de idade fetal, os hipocampos normal apresentam realce e não restringem na difusão.
mente desdobram-se e envolvem uma fissura rasa "aber
ta" - o sulco hipocampal - ao longo da superfície mediai Diagnostico diferencial
do lobo temporal. As paredes dos sulcos hipocampais fun o maior diagnóstico diferencial dos RSHs são os espaços
dem gradualmente, e o sulco é oblilerado. perivasculares dilatados. Enquanto eles ocorrem no lobo
Cistos não neoplásicos 803

temporal. EPVs dilatados são encontrados na substância


branca subcortical da insula e no polo anterior do lobo
temporal, não medialmente ao corno temporal dos ventrí-
culos laterais.

Cisto neuroglial
Terminologia
Os cistos neurogliais (CNG) são algumas vezes chamados
de cistos giíoepcndimários ou cistos neuroepitelíais.
Eles são cavidades benignas com conteúdo fluido locali
zados na substância branca cerebral.

Patologia
Localização. Embora CNGs ocorram em todo o neuroei-
xo, eles são geralmente supratentoriais. Os lobos frontais
28-46 Os cistos neurogliais são delineados por uma
são a localização mais comum. Eles estão localizados ad camada simples de epitélio cuboide/colunar. Cilios são
jacentes aos ventrículos laterais, mas não se comunicam raros. (Cortesia de P. Burger, MD.)
diretamente com eles.

Tamanho e número. A maioria dos CNGs são cistos solitá


rios e uniloculares. Eles variam eiri tamanho, de pequenos
milímetros até vários centímetros de diâmetro.

Patologia macroscópica. CNGs são cistos arredondados, lisos,


uniloculares que contêm líquido claro semelhante à LCS.
Aspectos microscópicos. A maioria dos CNGs é delineado

por um epitélio simples, não estratiflcado, colunar/cuboi-


de (Fig. 28-46). O epitélio geralmente está em contato di
reto com a substância branca profunda cerebral sem uma
cápsula ou membrana basal interposta.

Aspectos clínicos
Epidemiologia. Cistos neurogliais parenquimatosos são in-
comuns, representando menos de 1% de todos os cistos 28-47 Cisto neuroglial lobo frontal direito ES em
intracranianos.
um homem de 69 anos segue a intensidade de sinal do
LCS em todas as seqüências, não realça.
Demografia. CNGs ocorrem em todos os grupos etários,
mas são mais comuns em adultos. Não há predileção por
gênero.
Apresentação. CNGs costumam ser assintomáticos e en
contrados incidentalmente nos exames de imagem ou ne-
cropsia. O sintoma mais comum, se presente, é a celáleia.
História natural. Muitos dos CNGs, se não a maioria, são
estáveis por muitos anos.

Opções oe tratamento. Controle com estudos de imagem


seriados é o curso típico. Grandes CNGs podem ser fenes-
trados ou drenados.

Imagem
Achados gerais. CNGs são cistos lisos, arredondados ou
ovoides, com conteúdo líquido.
28-48 Cisto neuroglial confirmado no lobo occipital
Achados na TC. CNGs apresentam densidade de líquido, direito não apresenta realce na TC sem contraste B,
que lembra o LCS, não apresentam calcificações e não segue a intensidade de sinal do LCS em T2/FLAIR B
sangram.
não apresenta restrição da difusão
804 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

28-49 Espécime de necropsia mostra um cisto porencefálico tipico 28-50 TC sem contraste e RM mostram um cisto porencefálico pós-
como uma cavidade preenchida por LCS que se estende da superficie cere -traumatico estendendo da superficie do lobo temporal para o corno
bral até o epêndima ventricular B3. (Cortesia de J. Townsend, MD.) temporal do ventrículo lateral. O cisto contém LCS.

Achados na RM. A intensidade dc sinal no cisto varia bcpendimários, cistos germinolíticos e leucomalacia pe
com seu conteúdo. A maioria dos CNGs é iso ou discreta riventricular (LPV) cística. Cistos subependimários são
mente hiperintenso ao LCS (FIg. 28-47). Eles geralmen áreas cisticas delineadas por epêndima adjacentes às mar
te suprimem no FLAIR, não restringem e nao realçam gens superolaterais do corpo e corno frontal dos ventrícu
(Fig. 28-48). O parênquima adjacente ao CNG é normal los laterais. Eles são comuns e geralmente lesões inócuas
ou pode demonstrar mínima gliose. causadas por coarctação ou coaptação das paredes dos
cornos frontais.
Diagnóstico diferencial Cistos germinolíticos são cistos delineados por cé
o diagnóstico de CNG é na maioria das vezes um diag lulas glials que se situam ao longo do sulco caudotalâ-
nóstico de exclusão, eliminando outras possibilidades mico. Eles são associados com distúrbios metabólicos
mais graves. hereditários (p. ex., Zellweger) e infecções congênitas
O maior diagnóstico diferencial do CNG é o espa (p. ex., CMV), geralmente contêm septações ou hemos-
ço perivascular dilatado. A maioria dos EPVs dilatados siderina. e não realçam. LPV cística ocorre com mais fre
é múltiplo (não solitário) e ocorre como aglomerados de qüência cm recém-nascidos prematuros e são localizadas
cistos de tamanhos variados. Um cisto porencefálico é dorsolateralmente ao corpo dos ventrículos laterais.
o resultado de um dano no parênquima cerebral. Cistos
porencefálicos comunicam-se com os ventrículos laterais Cisto porencefálico
e são delineados por tecido gliótico ou substância branca
espongiótica. Terminologia
Cistos aracnoidaís são extra-axiais, não intra-axiais, "Porencefalia" literalmente significa um buraco no cére
e são delineados por células aracnoidais achatadas. Cistos bro. Cistos porencefálicos são cavidades parenquimatosas
epidermoídcs são quase sempre extra-axiais, não supri congênitas ou adquiridas preenchidas por LCS que podem
mem no FLAIR, e restringem na difusão. Cistos cpendí- comunicar-se com o sistema ventricular. Esses cistos ou
mários são intraventriculares. cavidades também comunicam-se por meio de um "poro"
Cistos neoplásicos intlamatórios geralmente não com o espaço subaracnóideo.
seguem o LCS, demonstram impregnação pelo contraste
ou calcificações em suas paredes, e freqüentemente são Etiologia
circundados por edema. Cistos porencefálicos são lesões encefaloclásticas, o re
Uma variedade de diferentes cistos periventricula- sultado final de um processo destrutivo (p. ex., trauma,
res ocorrem em recém-nascidos ou em crianças. Alguns infecção. dano vascular, cirurgia) que compromete o pa
podem persistir na vida adulta. Esses incluem cistos su- rênquima cerebral.
Cistos não neoplásicos 805

A maioria dos cistos porencefálicos é esporádico. Al tologicamente benignos se proliferam dentro e ao redor
gumas poucas síndromes hereditárias (p. ex., porencefalia do parênquima cerebral lesionado. Cistos porencefáli
familiar autossômica dominante) foram relatadas. cos com gliose reativa adjacente devem ser diferencia
dos da espongiose, um processo que representa perda
Patologia de tecido (não proliferação astrocística) com formação
Os cistos porencefálicos variam em tamanho, de alguns de áreas vazias (espongiformes) no cérebro ("buracos").
centímetros a cistos que envolvem quase todo um hemis Gliose é uma lesão de baixa a média celularidade que
fério cerebral. é hiperintensa em T2 e não apresenta supressão no
Cistos porencefálicos são cavidades ou escavações FLAIR. A espongiose é hiperintensa em 72, mas supri
me no FLAIR.
profundas, uni ou bilaterais, com paredes lisas dentro do
parênquima encefálico. Eles geralmente são lesões de Um cisto aracnoíde é extra-axial e não se comuni

"espessura completa" estendendo-se do ventrículo lateral ca com o ventrículo. Esquizcncefalia (literalmente "se
para a glia cortical limitante (Fig. 28-49). As vezes, uma paração no cérebro") é uma lesão congênita que pode
pequena camada de epêndima ou de substância branca su- ser de "lábio aberto" ou "fechado". Uma fenda esqui-
bependimária pode separar o cisto dos ventrículos. zencefálica de "lábio aberto" pode ser muito parecida
com um cisto porencefálico, mas é delineada por subs
Aspectos clínicos tância cinzenta displásica, não uma substância branca
Epidemiologia. Cistos porencefálicos são comuns, especial gliótica.
mente em crianças, onde eles representam 2,5% das le Hidrancncefalia ("água no cérebro") é uma lesão
sões cerebrais congênitas. congênita na qual a maior parte do encéfalo supra tento
rial desenvolvido foi destruído por uma oclusão arterial.
Apresentação. Hemiplegia espástica, epilepsia refraiária a Nesse caso, o cérebro assemelha-se a um saco de água
medicamentos, e atraso psicoinotor são os sintomas mais com pouco ou nenhum córtex remanescente. Hidranen-
c o m u n s .
cefalia é bilateral e simétrica, enquanto a maioria dos
História natural. A maioria dos cistos porencefálicos per cistos porencefálicos é unilateral ou bilateral, porém as
manece estável por muitos anos. Às vezes um cisto poren- simétricos.
cefálico pode continuar a seqüestrar líquido e expandir,
causando efeito de massa.

Cistos intraventriculares
Imagem
Achados na TC. Cistos porencefálicos são cavidades preen Cistos intraventriculares incluem cistos de plexo coroide,
chidas por LCS bem delimitadas, com paredes lisas, que cistos coloides e cistos ependimários.
cm geral se comunicam diretamente com o ventrículo ad
jacente (FIg. 28-50). O ventrículo ipsilateral costuma ser Cistos de plexo cofolde
alargado secundariamente à perda de volume do parênqui Cistos de plexo coroide são um dos tipos mais comuns de
ma adjacente. cistos intracranianos. A maioria é pequeno e sem signi-
Calcifícações são raras. TC com janela óssea pode mostrar ficância. Ocasionalmente, grandes cistos podem ter uma
a fi l a m e n t o e r e m o d e l a m e n t o d a c a l o t a c r a n i a n a c a u s a d o aparência atípica e causar dúvidas diagnósticas.
pela pulsação crônica do LCS.
Um cisto porencefálico não realça pelo contraste en- Terminologia
dovenoso. O cisto de plexo coroide (CiPC) pode também ser deno
minado xantogranuloma do plexo coroide (XPC). CiPCs
Achados na RM. Cistos porencefálicos seguem o sinal do
são cistos não neoplásicos não inflamatórios do plexo co
LCS em todas as seqüências (Fig. 28-50). Grandes cistos
roide.
podem mostrar heterogeneidades internas secundárias à
defasagem dos spins. Estes cistos suprimem completa Etiologia
mente no FLAIR, embora exista um anel hiperintenso de
Conceitos gerais. CiPCs podem ser congênitos ou adqui
substância branca gliótica ou espongiotica ao redor do cis
ridos. Lesões adquiridas são muito mais comuns; os li-
to. Restrição da difusão não está presente.
pídeos que se acumulam da descamação e degeneração
do epitélio do plexo coroide coalescem em macrocistos e
Diagnóstico diferencial
provocam uma resposta xantomatosa.
o maior diagnóstico diferencial é a encefalomalacia cís-
tica. Uma cavidade encefalomalásica é mais irregular e Genética. CiPCs congênitos, grandes (superior a 10 mm),
não se comunica com o ventrículo adjacente. podem estar associados a aneuploidias, principalmente
Cistos porencefálicos são delineados por gliose re trissomia do 18. CiPCs, juntamente com papilomas do
ativa ("cicatriz" glial) que ocorre quando astrócitos his- plexo coroide, também ocorrem na síndrome de Aicardi.
806 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Patologia
Localização. A maioria dos CiPCs são encontrados no álrio
dos ventrículos laterais, dentro do glomo do plexo coroide
(Fig. 28-51).
Tamanho e níjmero. CiPCs costumam ser pequenos, varian
do de poucos milímetros até 1 centímetro, embora às ve
zes grandes cistos excedam 2 centímetros em diâmetro.
Mijltiplas lesões bilaterais são mais comuns do que CiPCs
solitários unilaterais.

Patologia macroscópica. CiPCs são massas nodulares,


parcialmente císticas, amareladas, encontradas no glo
mo do plexo coroide (Fig. 28-52). Eles apresentam
conteúdo altamente proteico e gelatinoso. Hemorragia
é rara.
28-51 Múltiplas massas císticas no glome do plexo
coroide Em adultos sua prevalência aumenta com Aspectos clínicos
a idade. A maioria são xantogranulomas degenerativos. Oemografia. CiPCs são os mais comuns de todos os cis
tos intracranianos, ocorrendo em até 50% das autópsias.
CiPCs são encontrados nos dois extremos de idade. Em
adultos, sua prevalência aumenta com a idade, enquan
to CiPCs no feto reduzem com a idade gestacional. Não
existe predileção por sexo.

Apresentação e história natural. A maioria dos CiPCs em


adultos é encontrado incidentalmente e é assintomático,
permanecendo estável por muitos anos. CiPCs congênitos
são detectados na ultrassonografia pré-natal em 1% dos
fetos durante o segundo trimestre de gestação e geralmen
te regridem durante o terceiro trimestre. Quando detecta
dos após o nascimento. CiPCs não apresentam significân-
cia clínica em neonates normais.

Imagem
Achados na TC. CiPCs são iso a discretamente hiperden-
28*52 Espécime de necropsia mostra múltiplos cistos
sos em relação ao LCS intraventricular. Aglomerados ir
no glome do plexo coroide nos ventrículos laterais
(Cortesia de N. Nakase, MD.) regulares de calcitlcações ao redor de suas margens é um
achado comum. O realce varia de nenhum a realce anelar
completo ao redor de cada cisto.
Achados na RM. CiPCs não seguem a intensidade de sinal
do LCS. Eles são iso a discretamente hiperintensos com
parados ao LCS nas seqüências TI e são hiperintensos em
DP e T2. O sinal no FLAIR é variável (Fig. 28-53).
O realce após a administração endovenosa de contras
te varia de nenhum a intenso. Padrões de realce sólido,
anelar e nodular podem ocorrer.
Entre 60 a 80% dos CiPCs aparecem hiperintensos
na difusão, mas permanecem isointensos ao parênquima
no ADC. Estes podem, portanto, representar uma pseu-
dorrestrição e não uma restrição verdadeira da difusão da
água.
Ultrassonografia. Ultrassonografia fetal pode mostrar
múltiplos cistos de tamanhos variados.
28-53 Cistos de plexo coroide são geralmente bilate
rais, biperintensos em relação ao LCS B e geralmente
brilham muito na difusão
Cistos não neoplásicos 807

Diagnóstico diferencial Cisto coloide


o maior diagnóstico diferencial do CiPC é o cisto epen- Terminologia
dimário. Cistos ependimários geralmente deslocam e Cistos coloides (CG) são também chamados de cistos
comprimem o plexo coroide em vez de surgir dele. Cistos
paratiseais. Eles são cistos unüoculares. com conteúdo
ependimários comportam-se muito mais como o LCS do mucinoso quase sempre encontrados no topo do terceiro
que os CiPCs. Cistos parasitários intraventriculares, espe ventrículo. no forame de Monro (Fig. 28-54).
cificamente os de ncurocistícercose, são incomuns. Eles
não são associados a cistos de plexo coroide. O escóiex
Etiologia
costuma estar presente.
Conceitos gerais. CCs são cistos endodérmicos, e não
Cistos epidermoides às vezes ocorrem nos ventrícu-
ncLiroectodérmicos. Eles são semelhantes a outros cistos
los. mas são mais comuns no quarto ventrículo. uma loca
intracranianos derivados do intestino anterior primitivo,
lização rara para CiPCs. ou seja, cistos da fenda de Raihke e cisto ncuroentéri-
Papiloma de plexo coroide nos ventrículos laterais co. Apesar de sua etiologia exata ser desconhecida, eles
é um tumor de criança abaixo de 5 anos, e realça inten
se originam presumivelmente de elementos ectópicos
samente. Um plexo coroide aumentado e com realce sem
endodérmicos que migram para o teto diencefálico em
formação de cistos pode ser visto na malformação de brionário.
Sturge-Weber, drenagem venosa colateral e hiperpla-
sia viiosa difusa. Sturge-Weber e drenagem venosa co Genética. Nenhuma mutação genética específica foi iden
lateral geralmente causam aumento unilateral do plexo tificada. Alguns raros cistos coloides familiares foram
coroide. Todo o plexo coroide está alargado na hiperplasia descritos como tendo um padrão de herança auiossômica
vilosa difusa. recessiva com penetrância variável.

Patologia
CISTOS DE PLEXO COROIDE
Localização. Mais de 99% dos CC estão localizados no
Etiologia forame de Monro, fixos ao teto anterossuperior do ven
• Congênita
trículo lateral. As paredes posteriores dos cornos frontais
o Síndrcme de Aicardi
dos ventrículos laterais são separadas lateralmente ao re
o Trissomia do 18
• Adquirida dor dos cistos, e os pilares da coluna do fómice "abrem"
o Epitélio descamado e degenerado no CC.
o Resposta xantomatosa Tamanho e número. CCs são lesões quase sempre solitá
Patologia rias. O tamanho varia de pequenos (alguns milímetros) até
• Bilateral, geralmente multilocuíado 3 centímetros. O tamanho médio é de 1.5 centímetros.
• Mais comum no glomo do plexo coroide
Patologia macroscópica. CCs são cistos com paredes lisas,
• Conteúdo proteico e gelatinoso
bem delimitados, esféricos ou ovais que apresentam um
Aspectos clínicos centro gelatinoso de viscosidade variável (FIg, 28-55).
• Cisto intracraniano mais comum
Hemorragia grosseira é muito rara.
• A maioria encontrada incldentalmente
• Mais comum em fetos/crianças jovens e adultos mais Aspectos microscópicos. A parede de um CC consiste em
velhos uma fina cápsula fibrosa delineada por epitélio colunar
simples ou pseudoestratificado. Algumas células calici-
Imagem formes ciliadas e secretoras de mucina são intercaladas
• TC
o iso/discretamente hiperdenso com o revestimento do cisto. Assim como outros cistos
o CA ++ comum endodérmicos, CCs são positivos para citoqueratinas e
o Realce variável (realce anelar mais comum) EMA na imuno-histoquimica.
• RM
o Iso a discretamente hiperintenso ao LCS em 11 Aspectos clínicos
o Hiperintenso em DP/T2, FLAIR variável Epidemiologia. Cistos coloides correspondem a apro
o Realce variável
ximadamente 1% de todos os tumores intracranianos,
o Brilha na difusão, mas isointenso no ADC
mas causam 10 a 15% de todos os tumores intraventri

Diagnóstico diferencial culares.


• Mais comum
o Cisto ependimário (unilateral) Demografia. a maioria dos CCs sintomáticos apresenta-se
• Incomum/raro entre os 30 e 50 anos; o pico de idade é de 40 anos. CCs
o Cisto epidermoide(raramente intraventricular) pediátricos são raros; menos de 8% de todos os pacientes
o Metástase cística são menores que 15 anos no momento do diagnóstico ini
cial. Não há predileção por sexo.
808 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

28-54 Grafico axial mostra um cisto coloide clássico no forame de Mon 28-55 Espécime de necropsia mostra hidrocefaiia obstrutiva um
ro causando discreta/moderada hidrocefaiia obslrutiva. Observe que os grande cisto coloide B com aparência gelatinosa no forame de Monro.
fórnices e o plexo coroide estão elevados e esticados sobre o cisto [S. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)

Apresentação. A apresentação clínica dos CCs é diversa,


variando de assintomático, cistos descobertos incidental- CISTO COLOIDE: ETIOPATOLOGIA
mente (quase metade de todos os pacientes) a deteriora E ASPECTOS CLÍNICOS
ção aguda, coma e morte. CCs causam sintomas quando Etíología
eles obstruem o fluxo do LCS no forame de Monro. Ce- • Cisto endodérmico
faleia é o sintoma presente em 50 a 60% dos pacientes • Provavelmente derivado de elementos ectópicos do
sintomáticos. teto diencefállco

Historia natural. Mais de 90% dos CCs - especialmen Patologia


te pequenos cistos encontrados em pacientes mais idosos • Forame de Monro (> 99%)
- são estáveis e não aumentam. Os 10% que aumentam • Tamanho varia de pequenos mm até 3 cm
tendem a ser lesões grandes, causam hidrocefaiia, e são • Cápsula fibrosa
• Revestimento do cisto
encontrados em pacientes mais jovens.
o Epitélio colunar
"Apoplexia" do cisto com hemorragia intracistica e o Células caliciformes secretoras de mucina
aumento súbito ocorre, mas é rara. • Centro gelatinoso (viscosidade variável)
Opções de tratamento. Pequenos cistos coloides assintomá- Aspectos clínicos
ticos que são descobertos incidentalmente e monitorados • Epidemiologia
com exames de imagem seriados raramente crescem ou o 1% de todos os tumores intracranianos
causam hidrocefaiia obstrutiva. Ainda assim, seu trata o 15-20% das massas intraventriculares
mento é discutido. O tratamento neuroendoscópico tem • Idade = 40 anos (raro em crianças)
• Assintomático, encontrado incidentalmente (50%)
surgido como uma alternativa segura e efetiva à microci-
• Cefaleia é o sintoma mais comum
rurgia com acesso transcortical - transventricular ou um
• Obstrução sijbita pode causar coma, morte
acesso transcaiosal.
• Estável, não aumenta (90%)

Imagem
Aspectos gerais. CCs são massas bem delimitadas, arredon
dadas ou ovoides. O aspecto de imagem depende de sua
viscosidade e/ou conteúdo de colesterol. A quantidade re
lativa de material mucoso, colesterol, proteína e água afe-
Cistos nao neoplásicos 809

28-56 TC sem contraste mostra um cisto coloide clássico como uma 28-57 TC sem contraste mostra cisto coloide hiperdenso B que é
massa hiperdensa bem circunscrita B no íorame de Monro. hiperintenso em Ti B. hipointenso em T2 31 intensidade de sinal
misto no FLAIR S.

ta a densidade/intensidade de sinal. Cistos desidratados, CCs geralmente não realçam. Um ílno realce perifé
espessos têm aparência muito diferente das lesões ricas rico pelo contraste endovenoso pode ser visto em alguns
em água. casos (FIg. 28-58).

Achados na TC. A densidade na TC sem contraste correla


Diagnóstico diferencial
ciona diretamente com o estado de hidrataçào do conteúdo
Uma lesão hiperdensa focai bem delimitada no forame de
cistico. Cerca de dois terços de todos os CCs sào hiper-
Monro na TC sem contraste é praticamente patognomôni-
densos em relação ao parênquima (Fig. 28-56), enquanto
ca de CC. Às vezes uma grande ectasia arterial - geral
um terço são iso a hipodensos (Fig. 28-58). A hidrocefalia
mente da artéria basilar - pode se assemelhar a um CC,
é variável. Hemorragia e calcifícações são muito raras.
embora seções seriadas facilmente demonstrem a natureza
A maioria dos CCs não mostra realce pelo contras
tubular do vaso ectásico.
te. Ocasionalmente, um fíno realce anelar pode ser iden
Na RM, a "lesão" mais comum que se assemelha
tificado no cisto. Realce nodular ou sólido quase nunca
ao CC é o artefato causado pelo fluxo pulsátíl do LCS
acontece.
AT C / V T C d e m o n s t r a v e i a s c e r e b r a i s i n t e r n a s d e s l o (Figs. 28-59 e 28-60). O artefato de fase propagado pela
cadas posterolateralmente ao redor do CC. imagem é útil em estabelecera etiologia. Imagens mul-
tiplanares e outras seqüências de pulso também podem
Achados na RM. A intensidade de sinal varia com conteúdo ajudar.
cistico. A intensidade de sinal em Ti reflete a concentra Neoplasias como metastases e subcpendiniomas
ção de colesterol. A maioria dos CCs é hiperintenso cm (geralmente no corno frontal do forame de Monro, não
relação ao parênquima (Fig. 28-57), mas um terço sào no terceiro ventrículo anterossuperior) podem ser hiper-
isointensos. Pequenos CCs isointensos podem ser muito densas na TC sem contraste. Grandes craniofaringiomas
dilTceis dc identificar em TI. e macroadenomas hipofisáríos podem estender-se supe
O sinal em DP e T2 é muito variável, uma vez que re riormente até próximo ao forame de Monro. RM multi
flete o conteúdo de água. A maioria dos CCs são hiperin- planar mostra que a origem desses tumores é inferior ao
tensos se comparados ao parênquima em DP e isointensos terceiro ventrículo.
em T2. Alguns CCs com conteúdo espesso são hipointen- Raramente um astrocitoma ou línfoma pode infil
sos. Cerca de 25% demonstram sinal hipo e hiperintensos trar e espessar os fómices e, portanto, mimetizar um cisto
em seu interior (o efeito "black hole'''). Níveis liquido- coloide. A maioria de todas essas neoplasias é lesão di
-líquido são raros. fusamente infiltrativa. não focai que geralmente mostra
CCs não suprimem no FLAIR (Fig. 28-58) nem so moderado a intenso realce após injeção endovenosa de
frem restrição da difusão. contraste.
810 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

28-58A Paciente com cefaleia


intensa súbita antes de se tornar
comatoso. TC sem contraste na

emergência mostra uma massa


isodensa íorame de Monro ES
com aumento dos ventrículos.
Observe o "borramento" das
margens ventriculares B.
28-588 FLAIR mostra que
o cisto é hiperintenso EI. O
"halo" do líquido BI ao redor
do ventrículo lateral é secundário
à obstrução da drenagem do
líquido intersticial na substancia
branca cerebral profunda.

28-58C TI C+ com saturação


de gordura demonstra um realce
anelar ao redor do cisto B.
28-580 Coronal TI C+ tam
bém mostra um realce anelar
E3. Essa é uma variante do cisto
coloide.

28-59 Axial FLAIR mostra


artefato de pulsação do LCS no
terceiro ventrículo ES, forame
de Monro BI.
28-60 TI C+ coronal mostra
fluxo do LCS no forame de Monro
ES mimetizando um cisto co
loide. Observe a posição normal
dos fórnices B, veias cerebrais
internas ES

10.
Cistos não neopiásicos 811

28-62 RM demonstra a aparência típica de um cisto ependlmário no


lateral 1-^, visto aqui como um cisto simples contendo LCS que desloca átrio do venirículo lateral direito. 0 cisto ES comporta-se exatamente
o plexo coroide adjacente. Cistos ependlmários seguem o sinal do LCS como LCS em todas as seqüências. Observe o plexo coroide B desloca
em todas as seqüências. do ao redor da massa.

Outras massas do plexo coroide do terceiro ventrí-


(continuação)
culo/forame de Monro como papiloma, xantogranuloma e
• Raro, mas importante
cistos de plexo coroide são raros.
o Astrocitoma de baixo grau
o Linfoma
o Papiloma de plexo coroide
CISTO COLOIDE: IMAGEM
o Cisto de plexo coroide
Imagem
o Xantogranuloma
• TC
o Dois terços hiperdenso
o Um terço iso a hipodenso
o Geralmente não realça Cisto ependimário
• RM
Terminologia
o Intensidade de sinal varia com a seqüência,
Os cistos ependlmários também podem ser chamados de
conteúdo cístico
o Típico: hiper em TI, hipointenso em T2 cistos glioependimários. Alguns autores consideram os
o Espesso: hipointenso em T2 cistos ependimários um subtipo de cisto neuroepitelial.
o Efeito "black hole" (25%)
o Não suprime no FLAIR Patologia
o Geralmente não realça Os cistos ependimários são lesões solitárias que são
o Um fino realce periférico anelar pode ocorrer mais encontradas no átrio dos ventrículos laterais, onde
o Não restringe na difusão
podem causar uma assimetria ventricular significativa
Diagnóstico diferencial (Fig. 28-61). Menos comumente, eles ocorrem no parên-
• Mais comum
quima cerebral.
o Ectasia da artéria basilar (TC sem contraste) Cistos ependimários são lesões raras, correspondem
o Artefato de fluxo do ICS (RM)
por menos de 1% de todos os cistos não neopiásicos intra
• Menos comum
cranianos. Sua precisa patogênese é desconhecida.
o Metástase
Cistos ependimários são geralmente uniloculares,
o Subependimoma
o Macroadenoma hipofisário com paredes finas, e preenchidos por líquido claro seme
o Craniofaringioma lhante ao LCS. Eles são delineados por uma camada de
células simples colunares ou cuboides que se assemelham
(continuo)
ao revestimento endoventricular normal.
812 Neoplasias, cistos e lesões pseudotumorais

Aspectos clínicos
Cistos ependimários são assintomáticos e descobertos
incidentalmente nas imagens ou durante necropsia. A
maioria dos pacientes é adulto jovem (abaixo de 40 anos).
Sintomas não específicos, como cefaleia e disfunções
cognitivas são comuns. Cistos ependimários grandes oca
sionalmente causam hidrocefalia obstrutiva e aumentam a
pressão intracraniana.

Imagem
Cisto ependimário segue a densidade/intensidade de sinal
do LCS. Ele suprime completamente no FLAIR, não realça
e não demonstra restrição da difusão (Figs. 28-62 e 28-63).

Diagnóstico diferencial
28-63A TC sem contraste em um paciente de 22 Exceto pela localização, cistos ependimários podem ser
anos com cefaleia mostra uma massa intraventricular indistinguíveis na imagem de outros cistos intracranianos
semelhante ao LCS que desloca o cavum do septo pelú- benignos como os cistos neurogliais.
cido B e o plexo coroide BI. A mais importante massa intraventricular que pode se
assemelhar ao cisto ependimário é o cisto do plexo coroi
de. Cistos do plexo coroide são bilaterais, multiloculares
e localizados dentro do glomo do plexo coroide. Cistos
ependimários surgem fora do plexo coroide e em geral o
deslocam superolateralmente.
Cistos epidermoides são raros no ventriculo lateral.
Eles não suprimem completamente no FLAIR e demons
tram restrição à difusão. Cistos aracnoides são idênticos
aos cistos ependimários na densidade e intensidade de
sinal, mas são raramente intraventriculares. Metastases
císticas para o plexo coroide são raras; realce nodular ou
periférico e irregular é típico.

CISTO EPENDIMÁRIO
Terminologia
28-636 FLAIR do mesmo paciente mostra que o • Também chamados de cistos glloependimárlos ou
líquido suprime completamente. Uma fina parede do neuroepitelidis
cisto B3 é visível.
Patologia
• 1% dos cistos intracranianos
• Solitários, geralmente uniloculares
• Delineados por epitélio colunar
• Contém LCS

Aspectos clínicos
• A maioria assintomático, descobertos incidentalmente
• Todas as idades, mais em < 40 anos

Imagem
• Densidade, Intensidade de sinal = LCS
• Sem realce, sem restrição

Diagnóstico diferenciai
• Mais comum
o Cisto de plexo coroide
• Incomum/raro
o Cisto epidermoide
28-63C TI C* com saturação de gordura mostra que o Cisto dermoide
o cisto não realça e desloca o plexo coroide B3 lateral o Metástase cística
mente. Cisto ependimário.
Cistos não neoplásicos 813

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814 Neoplasias, cistos c lesões pseudotumorais

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Parte V

ícís tóxicos, metabólicos,


degenerativos e do LCS

\
29
Abordagem dos distúrbios tóxicos,
metabólicos, degenerativos e do LCS
médicos atualmente. Incluiremos também nesta parte do
Anatomia e fisiologla dos núcleos da base e tálamos ...817
texto hidrocefalia e distúrbios relacionados.
Considerações fisiológicas 817
Anatomia macroscópica normal 818 Como as doenças tóxicas, metabólicas e degenerati
Anatomia normal por imagem 820 vas, adquiridas e herdadas, em geral acometem os núcleos
Distúrbios tóxicos e metabólicos 820 profundos de substância cinzenta, bilateralmenle e de ma
Diagnóstico diferencial das lesões bilaterais nos neira simétrica, começaremos este capítulo descrevendo
núcleos da base 821 a fisiologia, a anatomia e os aspectos normais de imagem
Lesões putaminais 823 dos núcleos da base (NBs) e do sistema dopaminérgico
Lesões nos globos pálidos 824
estriatonigral.
Lesões lalâmicas 827
Depois, apresentaremos uma abordagem - baseada
Distúrbios degenerativos e do LCS 828 na anatomia - dos diagnósticos diferenciais das doenças
Alterações relacionadas à idade 828 tóxicas, metabólicas e degenerativas. Quadros e casos re
Demência e degeneração cerebral 828
Hidrocefalia e distúrbios do LCS 829
presentativos ilustram essa abordagem - e algumas consi
derações suplementares - para o diagnóstico por imagem.
Por último, discutiremos brevemente as alterações
Esta parte, dedicada aos distúrbios tóxicos, metabólicos, normais do SNC relacionadas à idade, o que estabelece os
degenerativos e do LCS, trata de alguns dos assuntos fundamentos para a abordagem por imagem das demên-
mais desafiadores na neurorradiologia. Ao contrário das cias, da degeneração cerebral e dos distúrbios do líquido
demais doenças encefálicas, os efeitos no sistema nervo cerebrospinal (LCS).
so central (SNC) são geralmente secundários a distúrbios
sistêmicos. Pacientes que apresentam encefaiopatia agu
da podem ter distúrbios metabólicos desconhecidos ou
não diagnosticados. Anatomia e fisiologla dos núcleos da
Os distúrbios metabólicos são relativamente inco- base e tálamos
muns, porém são afecções importantes nas quais a ima
gem pode ter um papel fundamental para o diagnóstico
Considerações fisiológicas
precoce e manejo apropriado do paciente. O abuso de Metabolismo dos núcleos da base
drogas e álcool tem aumentado em todo o mundo, e a lis Considerando-se tamanho e volume, o cérebro é uma es
ta dc toxinas no meio ambiente que podem afetar o SNC trutura pequena. No entanto, em relação ao seu tamanho,
continua crescendo. As duas etiologias costumam estar o cérebro é um dos órgãos mais metabolicamenle ativos.
relacionadas, pois muitas toxinas induzem distúrbios me Ele normalmente recebe cerca de 15% do total do débito
tabólicos e algumas doenças sistêmicas metabólicas têm cardíaco, consome em tomo de 20% do oxigênio sangüí
efeito tóxico direto no cérebro. neo e metaboliza acima de 20% da glicose no sangue.
Com o aumento rápido do número de idosos, a preva Devido à sua alta demanda metabólica intrínseca, o
lência de demência e degeneração cerebral também tem cérebro é muito sensível a processos que reduzem a dis
se tomado uma preocupação mundial. Exames de imagem tribuição e utilização do sangue, oxigênio e glicose. Uma
do encéfalo nos idosos com alterações do estado mental grande variedade de substâncias tóxicas faz exatamente
são algumas das requisições mais freqüentes nos pedidos isso.
818 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do ICS

Duas áreas cerebrais são especialmente suscetí


veis ao dano tóxico e metabólico; os NBs e a substân
cia branca. Os NBs são muito vascularizados, ricos em
mitocôndrias e carregados de neurotransmissores. Os
NBs - sobretudo o putame e o globo pálido - são par
ticularmente suscetíveis à hipoxia ou anóxia e também
costumam ser acometidos por distúrbios tóxicos e me
tabólicos.

O sisteina dopaminérgico estriatonigral


A pars compacta da substância negra (pcSN) contem
grande parte da população de neurônios dopamincrgi-
cos no mesencéfalo. Neurônios dopaminérgicos mesen-
cefálicos auxiliam na regulação dos movimentos volun
tários. A degeneração desses neurônios na pcSN reduz
29-1 Desenho mostrando os núcleos da base. Núcleo
a entrada de dopamina no corpo estriado e resulta em
caudado 1-^, putame 1^, globo pálido ÍS. Os tala distúrbios do movimento, como doença de Parkinson.
mos B3 formam a borda mediai do terceiro ventrículo. O sistema dopaminérgico estriatonigral é discutido em
mais detalhes no capítulo de demências e degeneração
cerebral.

Anatomia macroscópica normal


Os núcleos da base (NBs) são núcleos subcorticais (subs
tância cinzenta profunda) pareados e simétricos que for
mam o centro do sistema extrapiramidal e controlam a ati
vidade motora. Os NBs consistem em (I) núcleo caudado
(NCa), (2) putame e (3) globo pálido (GP).
O NCa e o putame formam o corpo estriado. Duas
outras estruturas - a substância negra (SN) e o núcleo
subtalâmico (NST) - são relacionadas funcionalmente ao
estriado. Juntas, essas estruturas formam o sistema estria
tonigral.
Devido à sua forma triangular ou em lente, o putame
e o GP juntos são chamados de núcleo lentiforme (Fig.
29-2 TI axial mostrando núcleos da base, talamos
Isolntensos como a substância cinzenta. Os globos páli 29-1).
dos são discretamente hiperintensos ao caudado, Os núcleos lentiformes localizam-se medialmente
putame. ao córtex insular, do qual são separados (de mediai para
lateral) pela substância branca (SB) da cápsula externa,
pela substância cinzenta do claustrum e pela fina cama
da de SB da cápsula extrema. Medialmente, os núcleos
lentiformes são separados do núcleo caudado e tálamo
pelos segmentos anterior e posterior da cápsula interna
(Fig. 29-4).
A SN e o NST são descritos adiante, pois fazem parte
■ ^ \ <i do sistema estriatonigral.
Os tálamos são os maiores núcleos de substância
cinzenta, mas não fazem parte dos "núcleos da base".
Os tálamos também são considerados separadamente
adiante.

Núcleo caudado
O NCa é uma estrutura em forma de C com uma cabeça
grande, corpo afilado e cauda curvilínea. O NCa cursa pa-
29-3 Em T2, os globos pálidos B são mais hipoin-
tensos do que o putame, caudado. O putame fica com
a mesma intensidade durante as sete ou oito décadas
de vida.
Abordagem dos distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS 819

ralelamente ao corpo dos ventrículos laterais, formando


parte de seu soalho e de sua parede lateral. A cauda segue
a curva do como temporal e situa-se ao longo de seu teto.
Anteriormente, a cauda se expande e torna-se contígua
com o aspecto posteroinferior do putame. O aspecto mais
anterior da cauda está em contato com a amígdala - mas
separado dela.
Um sulco profundo chamado sulco terminal separa o
NCa do tálamo e envolve uma faixa de fibras chamada
stria terminalis. O sulco terminal percorre toda a volta do
ventrículo lateral, da amígdala ao hipotálamo.
O NCa juntamente com o putame recebe estímulos
do córtex cerebral e é conectado à substância negra e
ao GP.

Putame
29-4 Imagem coronal no nível dos cornos frontais
o putame é a parte mais externa dos NBs. Medialmente, mostrando núcleo caudado ES, putame globo pá-
o putame é separado do GP por uma fina camada de fibras
de SB, a lâmina medular lateral (externa).

Globo pálido
O GP consiste em dois segmentos. O segmento lateral
(externo) é separado do segmento mediai por uma fina ca
mada de axônios mielinizados, a lâmina medular interna.

Tálamo
Os talamos são massas de substância cinzenta simétricas
e ovaladas, orientadas obliquamente, que se situam poste-
romedialmcnte aos núcleos lentiformes. Os dois tálamos
formam a parede lateral do terceiro ventrículo (Fig. 29-7).
O aspecto anterior de cada tálamo abaula o forame de
Monro. O tálamo posterior protrui-se para o átrio dos ven-
triculos laterais, enquanto a superfície dorsal forma parte
do soalho do ventrículo lateral. A síria íerminalis demar
ca a divisão entre o tálamo e o corpo do NCa. O fórnice 29-5 Na imagem coronal em TI, os globos pálidos
são levemente hiperintensos em relação ao puta
curva-se abaixo do tálamo, do qual é separado pela fissura
me, exceto por hipoinlensidades puntiíormes causadas
coróidea.
por Ca-<"^ B.
Lateralmente, os tálamos são separados do GP pelo
segmento posterior das cápsulas internas. Os tálamos
agem como estações de transmissão sensorial e motora
para o córtex.
Cada tálamo é subdividido em grupos de núcleos
(talâmicos anterior, mediai e lateral). Os núcleos genicu-
lados laterais (parte do sistema visual) e os núcleos geni-
cülados mediais (parte do sistema auditivo) são também
considerados parte do tálamo. O pulvinar é o aspecto mais
posterior do tálamo e está localizado dentro da curva do
ventrículo lateral, logo anteriormente ao átrio.

Substância negra
A substância negra (SN) está localizada no mesencéfalo.
A SN apresenta cor preta nas peças anatômicas devido
aos altos níveis de melanina nos neurônios dopaminérgi-
29-6 T2 coronal demonstrando que GPs mediais B
são os mais hipointensos dos núcleos da base. Os puta-
mes B são isointensos ao córtex.
820 Distúrbios tóxicos, metabóiicos, degenerativos e do LCS

< ?-V-
♦ ^
>
.g'e.
29-7 Gráfico coronal demonslrando os subnúcieos talâmicos maiores
SI e suas relações com o terceiro venlrículo [§>] e cápsulas infernas
29-8 T2 coronal no nível do lerceiro ventrículo posterior mostrando
que os tálamos B são em sua maior parte isointensos ao córtex.

COS. A SN é composta de duas partes: um segmento mais T2


profundo rico em células denominado pars compacta O NCa, os putames e os tálamos são isointensos à subs
(pcSN) e um segmento maior, porem menos celular, a tância cinzenta cortical na ponderação T2 (Fig. 29-8). A
pars reticiilada. mielina contida no GP é maior do que em relação ao pu
tame (Fig. 29-3), (Fig. 29-6), de modo que o GP aparece
Núcleo subtalâinico
relativamente mais hipointenso em T2. Existe aumento
o núcleo subtalâmico (NST) é um núcleo pequeno bicon- da deposição de ferro com a idade, e o putame torna-se
vexo que se localiza no mesencéfalo superior, inferome-
progressivamente mais hipointenso. Um putame "preto" é
dial ao tálamo e cápsula interna e superolateral ao núcleo normal na sétima e oitava décadas de vida.
rubro. O NST é envolvido por fibras da substância negra,
mas recebe estímulos do GP. T2"'
O GP é hipointenso em relação ao córtex nas seqüências
Anatomia normal por imagem GRE ou SWl. Por volta da sétima ou oitava décadas de
Os núcleos lentiforme, NCa, talamos e cápsulas internas vida, a deposição de ferro no putame aumenta, e o putame
e externas podem ser identificados na TC, mas sua anato lateral aparece hipointenso em relação ao tálamo, mas não
mia é mais bem avaliada pela RM. tão hipointenso quanto o GP. As alterações e deposição de
ferro no cérebro relacionadas à idade são discutidas em
TI mais detalhes no capitulo sobre demência e degcneração
O NCa, os putames e os tálamos são isointensos ao cór- cerebral.
tex nas seqüências ponderadas em TI. Os globos pá
lidos são menos celulares do que o putame e caudado
(Fig. 29-2). Como os GPs são sítios comuns de calci-
Distúrbios tóxicos e metabóiicos
ficações fisiológicas e deposição de ferro relacionadas
à idade, os segmentos do GP variam em intensidade de Muitas doenças tóxicas, metabólicas, sistêmicas e dege
sinal (Fig. 29-5). Calcificações podem causar encurta- nerativas afetam os núcleos da base e os tálamos de ma
mento de TI e discreto hipersinal no segmento mediai. neira simétrica.
A substância branca compacta inteiramente mielinizada Quando os exames de imagem demonstram lesões
das cápsulas internas e externas aparece hiperintensa em bilaterais que envolvem todos os núcleos da substância
relação aos núcleos da base. branca, as lesões em geral são secundárias a distúrbios
Abordagem dos distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LC5 821

sistêmicos difusos ou metabólicos. Lesões descontínuas, Diagnóstico diferencial das lesões bilaterais
focais e assimétricas são mais comumente de origem in nos núcleos da base
fecciosa, pós-infecciosa, traumáticas ou neoplásicas. As lesões bilaterais mais comuns dos núcleos da base são
As lesões bilaterais de núcleos da base podem ter dife
variantes normais, como calcificações fisiológicas e es
rentes causas. Doenças que afetam especificamente o pu-
paços perivasculares proeminentes. Doenças vasculares,
tame ou globo pálido em um padrão simétrico e bilateral lesões hipóxico-isquêmicas e distúrbios metabólicos co
têm, de certa maneira, espectro eiiopatológico diferente. muns, como insuficiência hepática crônica, são as causas
Tanto a idade do paciente quanto as características de ima mais freqüentes de anormalidades.
gem podem ajudar a estabelecer diagnósticos diferenciais. InfecçÕes, abusos de toxinas ou drogas, ou distúrbios
Nos próximos capítulos, consideraremos distúrbios metabólicos, como desmieíinização osmótica e encefalo
tóxicos e metabólicos por diagnóstico (p. ex., doença he- patia de Wernicke, são causas menos comuns de lesões
pática crônica, encefalopatia hepática aguda, encefalopa- bilaterais nos núcleos da base.
tia hipóxico-isquêmica). Uma avaliação cuidadosa dos achados de imagem fora
Aqui direcionaremos os diagnósticos diferenciais das dos núcleos da base, como, por exemplo, o envolvimento
lesões nos NBs primeiramente por localização (i.e., lesões cortical ou de substância branca - Juntamente com corre
em NBs bilaterais) e depois por subíocalização. As enti lação clínica e laboratorial - é essencial para diferenciar
dades dentro de cada diagnóstico diferencial serão cate entre as muitas doenças que causam anormalidades bilate
gorizadas como comuns, menos comuns e raras, porém rais nos núcleos da base (Figs. 29-9. 29-10, 29-11, 29-12,
importantes. 29-13, 29-14, 29-15, 29-16,29-17, 29-18).

29-9 TC sem contraste axial


em uma mulher de 39 anos de
idade com ceialeia e exame
neurológico normal mostrando
calcificações fisiológicas simétri
cas e bilaterais na região mediai
dos globos pálidos E3.
29-10 Necropsia de caso de
hipoxia com necrose estriatal
aguda mostrando lesões bilate
rais nos núcleos caudados BI,
putame BI. Os globos pálidos e
os tálamos são poupados. (Corte
sia de R. Hewlett, MD.)

29-11 RM ponderada em
12, axiai, em um paciente com
anóxia e necrose dos núcleos da
base, mostrando hiperintensidade
bilateral nos núcleos caudados
B, putame e globos pálidos
B e córtex B. Os tálamos es
tão relativamente poupados.
29-12 T2 axial demonstrando
inúmeros cistos com sinal se
melhante ao LCS de tamanhos
variados nos núcleos caudados,
putames e globos pálidos BS
poupando relativamente os tala
mos. Essas alterações são infre-
quentes espaços perivasculares
proeminentes (também cha
mados "état cribié", ou "status
cribriforme").
822 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do

LESÕES BILATERAIS COMUNS DOS NÚCLEOS DA BASE


Variações normais
• Mineralização fisiológica
o Globo pálido mediai»caudado, putame
• Espaços perivasculares proeminentes
o Seguem o sinal do LCS, suprimem no FLAIR
Doenças vasculares
• Infartos lacunares
o Bilaterais múltiplas, assimétricas, esparsas
• Dano axonal difuso/vascular
o Hemorragias, outras lesões
Lesões hipóxico-isquêmicas
• Encefalopatia hipóxico-isquêmica (EHi)
o NB ± córtex - zonas fronteiriças, hipocampos, tálamos
Distúrbios metabólicos
29-13 FLAIR mostrando hiperintensidade bilateral • Doença hepática crônica
nos núcleos caudados Si, putame S9 e talamos o Hiperintensidade GP, SN
^3. Encefallte do Nilo Ocidental. (Cortesia de M.
Colombo, MD.)

LESÕES BILATERAIS MENOS COMUNS


DOS NÚCLEOS DA BASE
Infecção/pós-infecção
• Viral
o Especialmente encefalopatias flavivirais (vírus do
oeste do Nilo, encefalopatia japonesa, etc.)
• Pós-viral, pós-vacinação
o Encefalomielite disseminada aguda (ADEM):
isoladas»confluentes; SB, tálamos, medula
espinal geralmente envolvidos
o Necrose estriatal aguda
Envenenamento tóxico e abuso de drogas
• Monóxido de carbono
o GP (SB pode mostrar envolvimento tardio)
• Heroína
o NB, SB {"chasing the dragon")
• Metanol
29-14 FLAIR axial mostrando hiperintensidade si
o Putame, SB
métrica no núcleo caudado ES, putames ES, tálamos
• Cianeto
Mieiinóiise osmótica extrapontina.
o Putame (geralmente hemorrágico)
• Nitroimidazol
o Núcleos denteados, colículos inferiores, esplênio, NB
Distúrbios metabólicos
• Desmielinização osmótica ("extrapontina")
o NB, ± ponte, SB
• Encefalopatia de Wernicke
o Tálamos mediais, mesencéfalo (periaquedutal),
corpos mamilares
Doença vascular
• Trombose de veia cerebral interna/veia de Galeno/
seio reto
° NB, SB profunda
• Infarto da artéria de Percheron
o Tálamos bilaterais, mesencéfalo (sinal do "V")
Neoplasias
• Linfoma primário do SNC
o Periventricular (SB, NB)
29-15 FLAIR axial mostrando hiperintensidades bila • Astrocitoma
terais assimétricas nos núcleos caudados ES, putame o "Glioma" bitalâmico
S e tálamo Ociusào da veia profunda.
Abordagem dos distúrbios tóxicos, metabóiicos, degenerativos e do LCS 823

LESÕES BILATERAIS RARAS, POREM IMPORTANTES


NOS NÚCLEOS DA BASE
Distúrbios metabóiicos
• Hiperamonemia aguda
o Insuficiência hepática aguda
o Deficiência de ornitina-transcarbamilase, etc.
• Hiperglicemia aguda
o GP, caudado
• Hipogllcemia grave
o Córtex occipital, fiipocampos, ± SB
Infecção e inflamação
• Toxoplasmose
o Geralmente HlV-positivo, outras lesões com realce
anelar
• Doença de Behcet
o Mesencéfalo em geral envolvido
o Úlceras aftosas orogenitais 29-16 TI axial em um paciente com NFl demonstran
• Esclerose múltipla (EM) crônica de longa data do hiperintensidades multifocals nos NBs B3, grande hi-
o NBs tornam-se muito hipointensos pointensidade B decorrente de vacuolização da mieiina.
o Putame, tálamos > GP, NCa
o Doença extensa da SB, perda volumétrica
• Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ)
o NB anterior (caudado, putame)
o Tálamos posteromediais (T2/FLAIR sinal
hiperintenso do "taco de hockey")
° Cortical variável (occipital = variante de Heidenhain)
Distúrbios hereditários
• Neurofibromatose tipo 1 (NF1)
o Hiperintensidade em 11 no GP, focos hiperintensos
em 12
• Encefalopatias mitocondriais
o Encefalopatia mitocondrial com acidose láctica e
episódios semelhantes a AVC (MELAS), epilepsia
mioclônica com fibras vermelhas rasgadas (MERRF)
o Doença de Leigh (putame, região periaquedutal,
pedúnculos cerebrais)
• Doença de Wilson
o Putame, NCa, tálamos ventrolaterals 29-17 TI axial em um paciente com encefalopatia
• Neurodegeneração associada à pantotenato-quinase mitocondrial (MERRF) demonstrando hipointensidades
multifocals nos NBs SI.
(PKAN)
o GP ("olho do tigre")
• Doença de Huntington
o Atrofia de NCa, putame
• Doença de Fahr
o Aumento da densidade simétrica nos NBs, tálamos,
núcleos denteados, SB subcortical, Ca++
• Distúrbios do armazenamento do ferro
o Hipointensidades tipo artefato de susceptibilidade
magnética simétricas nos NBs

Lesões putominais
Em geral, os putames são menos afetados do que os globos
pálidos e os tálamos. A lesão que mais comumente afeta o
putame é a hemorragia hipertensiva. Sangramentos hiper-
tensivos agudos em geral são unilaterais, embora algumas
hemorragias prévias possam ser vistas nas seqüências T2*.
Lesões putaminais simétricas e bilaterais costumam 29-18 GRE12* em um paciente com aceruloplasmi-
ocorrer com envolvimento de todos os NBs. Entretanto, nemia demonstrando hipointensidades simétricas tipo
existem algumas lesões que envolvem predominantemen artefato de susceptibilidade magnética nos NBs GS,
tálamos córtex Ea.
te, ou quase exclusivamente, os putames.
824 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

Eventos tóxicos, metabólicos, hipóxico-isquêmicos e


distiírbios degenerativos são responsáveis pela maior parte
das lesões putaminais simétricas (FIgs. 29-19,29-20,29-21).

LESÕES PUTAMÍNAIS COMUNS


Distúrbios metabólicos
• Hemorragia hipertensiva
o Putame lateral/cápsula externa
Encefalopatía hipóxico-isquêmica
• EHI em recém-nascidos a termo
• Infartos hipotensivos

LESÕES PUTAMÍNAIS MENOS COMUNS


Distúrbios tóxicos
29-19 FLAIR em um paciente com anóxia mostrando
• Toxicidade pelo metanol*
hiperintensidades bilaterais nos putames núcleos
caudados corlicais B o Geralmente hemorrágicos
° ± SB subcortical
• Desmielinízação osmótica
o Mielinólise extrapontina
Distúrbios hereditários
• Doença de Leigh
• Neuroferritinopatia
o Putames, GPs, denteados
'"Envolve predominantemente ou quase exclusivamente os
putames.

LESÕES PUTAMÍNAIS RARAS, PORÉM IMPORTANTES


Doenças degenerativas
• Doença de Huntington
o NCa, putames
• Doença de Parkinson
o Hipointensidade putaminal
29-20 FLAIR mostrando hiperintensidades simétricas • Atrofia de múltiplos sistemas
no NCa B, putames ES, córtex B. Hipoglicemia o Tipo parkinsoniana* (hiperlntensidade putaminal
grave. (Cortesia de M. Castillo, MD.) em anel)
Míscelãnea
• Doença de Creutzfeldt-Jakob*
o Putame anterior, NCa
o Talamos posteromedials
o Córtex variável (± envolvimento predominante ou
exclusivo)
'"Envolve predominantemente ou quase exclusivamente os
putames.

Lesões nos globos pálidos


o globo pálido (GP) é a parte dos NBs mais sensível à
hipoxia. A grande maioria das lesões simétricas dos GPs
são secundárias a processos hipoxêmicos, tóxicos ou me
tabólicos. A maior parte causa anormalidades simétricas
no estudo de imagem (Figs. 29-22,29-23, 29-24).
O diagnóstico diferencial das lesões nos GPs pode ser
29-21 TC sem contraste mostrando lesões hipoden-
sas putamínais bilaterais e simétricas EI, hemorragia
abordado pela prevalência (comuns, menos comuns, raras
Toxicidade aguda pelo metanol. (Cortesia de 6. mas importantes), etiologia, idade, achados de imagem,
Hart, MD.) ou uma combinação desses fatores.
Abordagem dos distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS 825

LESÕES COMUNS NOS GLOBOS PÁLIDOS


Variação da normalidade
• Calcificaçâo fisiológica
o GP mediai

Encefalopatia hípóxico-isquêmica
• Anóxia, hipoxia (quase-afogamento, hipoperfusão
cerebral)
• EHI neonatal (aguda e grave)
Distúrbios tóxicos/metabólicos
• Doença hepática crônica
o Hiper em TI, hipointensidade em T2*
• Monóxido de carbono
o Hiperintensidade em 12 no GP mediai

LESÕES MENOS COMUNS NOS GLOBOS PÁLIDOS


29-22 12 em um paciente com infarto hipotensivo
Distúrbios tóxicos/metabólicos decorrente de overdose de narcóticos mostrando hipe
• Encefalopatia tóxica pós-opioide rintensidades bilaterais nos globos pálidos B.
o Geralmente associada a EHI
• HiperaÜmentação
o Deposição de manganês, encurtamento de 11
• Hipotireoidismo crônico
o Calcificações puntiformes
o Hiper em TI, hipointensidade em 12
Distúrbios hereditários
• NF1
■ \' KA' ' f 3
• Doença de Leigh

LESÕES RARAS, PORÉM IMPORTANTES


NOS GLOBOS PÁLIDOS
Distúrbios tóxicos/metabólicos
• Kernicterus

C? . V /
o Encurtamento de TI
• Envenenamento por cianeto
o Hemorragias em GP, necrose laminar cortical 29-23 12 mostrando hiperintensidades bilaterais
Distúrbios hereditários medíais nos GPs B, assim como hiperintensidades
• Doença de Fahr confluentes difusas na SB Envenenamento por
o Calcificações confluentes, simétricas e densas monóxido de carbono.
• Doença de Wilson
o Hiperintensidades em T2 nos GPs, putames
o Sinal da "face do panda gigante" no mesencéfalo
• PKAN
o "Olho do tigre" (hipersinal em T2 central e
hipointensidade periférica)
o Nem sempre presente!
• Neurodegeneração com acúmulo cerebral de ferro (NBIA)
o Hipointensidade no GP, SN ± putame
• Doença do xarope de bordo (DXB)
o Edema (GP, tronco encefálico, tálamos, SB cerebelar) ^ :
• Acidemia metilmalônica (AMM)
o Hiperintensidades em T2 simétricas nos GPs ± SB
Doenças degenerativas
• Degeneração hepatocerebral
o 1% dos pacientes com cirrose, derivação
portossistêmica
o Encurtamento de TI
\ v\ ' - y i V /
• Paralisia supranuclear progressiva 29-24 T2 mostrando o sinal clássico do "olho do tigre"
o Também afeta NST, SN com hiperintensidades mediais nos GPs B associadas à
hipointensidade ao redor bem definida PKAN.
826 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

Lesões do globo pálido por idade


Algumas lesões no GP são comuns em adultos, mas ra
ras em crianças; outras são vistas primariamente no grupo
etário pediátrico.

LESÕES DO GLOBO PÁLIDO POR IDADE


Lesões no GP no adulto
• Hipoxia/anóxia
• Abuso de drogas
• Envenenamento por monóxido de carbono
• Encefaiopatia hepática
• Hiperaiimentação
• Hipotireoidismo
• Doença de Wilson
• NBIA
29-25 T2 axial moslrando infartos talâmicos mediais
bilaterais E3 causados pela oclusão da artéria de
Lesões no GP na criança
• EHI
Percheron.
• NFl
• Doença de Leigh
• Doença de Wilson
• Kernicterus
• NBIA, PKAN
• DXB
• AMM
7 r •
A i >

Lesões no globo pálido pelo aspecto de imagem


Algumas lesões no GP podem ser distinguidas pela sua
atenuação típica na TC ou intensidade de sinal na RM.

LESÕES NO GLOBO PÁLIDO POR SEUS


ASPECTOS DE IMAGEM

Hipodensidade na TC sem contraste


• EHI
29-26 FLAIR axial mostrando lesões bitalamicas E2
• Intoxicação por monóxido de carbono
com envolvimento menos extenso dos putames Eg
GP. Oclusão das veias cerebrais internas.
Hiperdensidade na TC sem contraste
• Calcificações fisiológicas
• Hipotireoidismo
• Doença de Fahr
Hiperintensidade em T1
• Encefaiopatia hepática crônica
• Hiperaiimentação
• NFl
• Hipotireoidismo
• Kernicterus (agudo)
• Doença de Wilson
Hiperintensidade em T2
• EHI
• Abuso de drogas
• Intoxicação por monóxido de carbono
• NF1
• Doença de Leigh
• Kernicterus (crônico)
29-27 FLAIR em um paciente com encefalite por • Doença de Wilson
EBV mostrando envolvimento bítalâmico E3, SB • PKAN, DXB, AMM
occipital
Abordagem dos distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS 827

Lesões talâmicas
Como os infartos lacunares e os sangramentos hiperinten-
sos são comuns, lesões talâmicas unilaterais são mais co
muns do que anormalidades simétricas bilaterais.
Por outro lado, como as lesões talâmicas simétricas
bilaterais são relativamente incomuns, apresentam um
diagnóstico diferencial limitado. Assim como as lesões
simétricas nos NBs discutidas antes, as lesões talâmicas
bilaterais tendem a ser tóxicas, metabólicas, vasculares,
infecciosas ou hipóxico-isquêmicas (Figs. 29-25, 29-26,
29-27, 29-28, 29-29, 29-30).

LESÕES TALAMICAS UNILATERAIS

Comuns
• Infarto lacunar
• Hemorragia intracraniana hipertensiva 29-28 FLAIR em um paciente com encefalopatía
de Wernicke mostrando lesões simétricas nos talamos
Menos comuns mediais E3.
• NF1
• Astrocitoma difuso (fibrilar de baixo grau)
• Glioblastoma multiforme
• Astrocitoma neopiásico
• ADEM

Raras, porém importantes


• EM
• Trombose de veia cerebral interna unilateral
• Germinoma

LESÕES BITALÂMICAS COMUNS


Lesões vasculares
• Ociüsão venosa profunda
o Táíamo > GR, putame, NCa ± SB profunda
• Isquemia arterial
o Infarto da artéria de Percheron
o Trombose do "topo da basilar" 29-29 FLAIR em um paciente com DCJ mostrando o
• Vasculite clássico sinal do "taco de hocke/' E3 assim como tii-
perintensidades anteriores no NCa e no putame.
Encefalopatía hípóxico-Isquêmica
• Hipoperfusão grave
o NB, hipocampos, córtex
• Geralmente ocorrem em neonates a termo

LESÕES BITALÂMICAS MENOS COMUNS


Infecção/pós-infecção/dístúrbíos inflamatórios
• ADEM
o Geralmente com lesões de SB
• Encefalites virais
o Muitos agentes afetam os talamos (vírus Epstein-Barr,
vírus do oeste do Nilo, encefalite japonesa, etc.)
• DCj
o Sinal "do taco de hockey" (pulvinar, tálamo mediai)
Distúrbios tóxícos/metabólicos
• Mielinóiise osmótica (extrapontina)
o Tálamos, cápsulas externas, putames, NCa
29-30 T2 mostrando hiperintensidades bilalàmicas
(continua) EJ, insular direita em um paciente com gliomo-
tose cerebral, astrocitoma grau 2 pela OMS.
828 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LC5

(continuação) LESÕES BITALÂMICAS POR IDADE


• Encefalopatia de Wernicke
Lesões bitalâmicas na criança
o Tálamo mediai, mesencéfalo, corpos mamiiares • Encefalopatia hjpóxlco-jsquémica
• Inalação por solvente (tolueno, etc.) • ADEM
• Encefalopatia hipertensiva aguda (PRES) • Astrocitoma bitalâmico
o Lobos occipitais, zonas fronteiriças > NB • Distúrbios metabólicos hereditários
• Status epilepticus • Distúrbios metabólicos adquiridos
o Pulvinar, esplênio • Encefalopatia tóxica
o Em geral hipocampos ± córtex • Oclusão venosa profunda
• Encefalite necrolizante aguda
Neoplasias
• Astrocitoma bitalâmico de baixo grau
Lesões bitalâmicas no adulto
• Gliomotose cerebral • Oclusão venosa profunda
• Oclusão da artéria de Percheron, "topo da basilar"
• Hipoperfusâo grave
• ADEM
LESÕES BITALÂMICAS RARAS, • Encefalopatia de Wernicke
PORÉM IMPORTANTES • Desmielinização osmótica
• Vascullte
Infecção/pós-infecção/distúrbios Inflamatórios . DCJ
• EM (grave, crônica)
o NB hipointenso em T2"
• Encefalopatia necrosante aguda da criança

Distúrbios hereditários
• Doenças mitocondriais
• Doença de Krabbe
Distúrbios degenerativos e do LCS
o Hiperdenso na TC, hipointenso em 12
Alterações relacionadas à idade
• Doença de Wilson
o Putames, NCa > talamos Alterações normais no cérebro relacionadas à idade ocor
• Doença de Fahr rem ao longo da vida. Entender os estágios diferentes da
o 6P > tálamo formação cerebral e a progressão normal da mielinização
• Doença de Fabry é importante para diagnosticar doenças metabólicas here
o Hiperintensidade em 11 no tálamo posterior ditárias.
("pulvinar") Do outro lado do espectro de idade, o volume é nor
o M » F
malmente perdido em algumas partes do cérebro, enquan
o AVCs (territorial, lacunar) to outras permanecem relativamente intactas. A deposição
o Doença cardíaca, renal anormal de minerais nos MBs pode ser uma pista para
Neoplasias distúrbios degenerativos e metabólicos. Entender o que
• Glioblastoma multiforme é uma deposição normal de metal pesado em diferentes
• Astrocitoma anaplásico décadas é um pré-requisito para diagnosticar essas anor
malidades nos estudos de imagem.
Síndromes paraneoplásicas
• Podem mimetizar doenças priónicas
Demência e degeneração cerebral
Uma vez estabelecido o entendimento do envelhecimento
Lesões bitalâmicas por idade cerebral normal, discutiremos a patologia e as manifesta
Assim como as lesões nos GPs, algumas lesões simétri ções por imagem da demência. Apesar de, em muitos ca
cas bitalâmicas - como aquelas causadas por distúrbios sos, identificarmos uma ''predominância lobar" de perda
metabólicos hereditários - são mais comuns em crianças. de volume na TC e RM convencional, esses achados são
Outras são vistas primariamente em adultos. Algumas (p. geralmente manifestações tardias. O diagnóstico precoce
ex., distúrbios metabólicos adquiridos, oclusão venosa de distúrbios demenciais aumenta com estudos funcionais
profunda, ADEM) ocorrem em todas as idades. por RM e PET.
As causas mais comuns e raras, porém importantes, Degenerações do SNC, desde doença de Parkinson
de lesões bitalâmicas em crianças e em adultos são de até degeneração walleriana e olivar hipertrófica, serão
monstradas no quadro a seguir. consideradas. A anatomia e a fisiologia do sistema do-
Abordagem dos distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS 829

paminérgico cerebral serão revisadas, assim como a ana Primeiramente, descreveremos a anatomia normal dos
tomia essencial para a avaliação pré e pós-operatória de ventrículos e dos espaços do LCS, assim como as variantes
estimiilador cerebral profundo. de imagem que podem ser confundidas com doenças.
Hidrocefalia, distúrbios da produção/circulação/ab
Hidrocefalia e distúrbios do LC5 sorção do LCS e a recentemente descrita sindrome de hi
Como as anormalidades dos espaços liquóricos cerebrais drocefalia aguda de baixa pressão inapropriada serão então
são manifestações comuns de degeneração cerebral em discutidas. Por último, consideraremos fistula liquórica e
pacientes idosos, assim como uma causa potencialmente suas seqüelas incluindo hipotensão intracraniana - con
tratável de encefalopatia, dedicaremos o último capítulo dições nas quais a imagem representa um papel essencial
desta parte para hidrocefalia e distúrbios do LCS. tanto para o diagnóstico quanto para o manejo do paciente.
830 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

Lesões putaminais
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30
Encefalooatia tóxica

nicos são comumente inespecífícos. A apresentação pode


Álcool e distúrbios relacionados 831
ser confundida devido ao uso de múltiplas drogas e efei
Intoxicação alcoólica aguda 832
tos secundários, como hipoxia, que mascaram a patologia
Encefalopatia alcoólica crônica 832
Encefalopatia de Wernicke 834 subjacente. Doenças agudas ou crônicas concomitantes
Doença de Marchiafava-Bignami 837 em usuários também contribuem para a dificuldade em
intoxicação por metanol 839 separar quais achados clínicos e de imagem podem ser
Envenenamento por etilenoglicol 841 atribuídos a drogas específicas.
Anfetaminas e derivados 841 A maioria das toxinas causa lesões bilaterais e simé
Metanfetamina 842 tricas que acometem os núcleos da base e tálamo com va
MDMA ("ecs/05/') 842
riável envolvimento da substância branca.
Benzodiazepinicos 843 Concentraremo-nos primeiramente nos tipos mais co
Cocaína 843
muns de encefalopatias tóxicas, começando com os efei
Opioides e derivados 845 tos agudos e crônicos do álcool no cérebro, seguindo pela
Heroína 845
Metadona 846
discussão sobre abuso de drogas. Toxinas inaladas (como
Oxicodona 846 monóxido de carbono e cianeto) e envenenamento por
metais pesados são considerados na seqüência. Concluire
To x i n a s e gases inalados 847
Envenenamento por monóxido de carbono 847 mos com distúrbios relacionados ao tratamento.
Óxido nitroso 849
Abuso de tolueno 849
Envenenamento por organofosforados 850
Envenenamento por cianelo 851 Álcool e distúrbios relacionados
Envenenamento e intoxicação por metais pesados 852 o álcool (etanol [EtOH]) é uma das substâncias de maior
Envenenamento por chumbo 852 abuso no mundo. O EtOH causa diferentes efeitos nos
Envenenamento por mercúrio 853
diferentes órgãos. Enquanto o sistema gastrintestinal é
Distúrbios relacionados ao tratamento 853
exposto a concentrações mais elevadas de álcool do que
Dano por radioterapia 853
Efeitos da quimioterapia 856 qualquer outro tecido, o etanol cruza facilmente a barreira
hematoencefálica e é uma potente neurotoxina. Seus efei
Efeitos da cirurgia 857
tos, tanto a curto como a longo prazo, são profundos.
O consumo excessivo de álcool pode resultar em al
A lista de toxinas e venenos que afetam o SNC é ex terações cerebrais crônicas assim como distúrbios neuro
tensa e continua a crescer. Alguns agentes são proposital- lógicos agudos que ameaçam a vida. Comorbidades como
mente injetados, inalados ou ingeridos, enquanto outros desnutrição e deficiências vitamínicas podem levar á en
são acidentalmente encontrados ou administrados em um cefalopatia de Wernicke. A alteração da osmolaridade sé-
ambiente médico controlado. Algumas toxinas se acumu rica relacionada ao abuso de álcool pode causar distúrbios
lam lentamente, e suas manifestações são sutis e o início desmielinizantes agudos.
é insidioso. Outras causam toxicidade profunda e pratica Começaremos nossa discussão sobre o álcool e o
mente imediata no SNC, com rápida instalação de coma e cérebro fazendo breves considerações acerca dos efeitos
óbito. Algumas outras - como o etanol - possuem efeitos crônicos da intoxicação por álcool. Então discutiremos
tanto agudos quanto crônicos. a encefalopatia alcoólica crônica antes de voltarmos a
Muitas drogas ilícitas "de rua" causam graves efei atenção para outras complicações do abuso de álcool,
tos adversos no SNC. Uma história acurada costuma ser incluindo síndromes de desmielinização induzidas por
difícil de obter nos pacientes afetados, e os sintomas clí álcool e encefalopatia de Wernicke. Fecharemos esta
832 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

30-1 Necfopsia de irnoxicação alcoólica aguda mostrando edema ce 30-2 Imagem ponderada em T2 em um paciente comatoso, o qual
rebral com necrose na SB subcortical/profunda especialmente acen havia bebido quase quatro litros de vodca ou uísque diariamente durante
tuada no corpo caloso 175). Os núcleos da base e tálamos se encontram uma semana, mostrando edema cerebral difuso, hiperintensidade na S8
edemaciados, pálidos e iníartados [-51. (Cortesia de R. Hewlett, MD.) B e lesões talâmicas ES. Intoxicação alcoólica aguda.

seçào com duas formas menos comuns de abuso rela corticais induzidas por crises convulsivas, como hiperin
cionado. isto é, intoxicação por metanol e ingestão de tensidade girai e restrição à difusão, também podem estar
etilenoglicol (aniicongelante). associadas. As imagens de DTl podem detectar alterações
após consumo agudo de álcool que não são visíveis nas
Intoxicação alcoólica aguda imagens de RM convencionais.
Etiologia
A intoxicação alcoólica aguda é uma complicação do Bncefalopatia alcoólica crônica
consumo excessivo e é mais comum em adolescentes, os Os efeitos adversos a longo prazo do etanol no cérebro são
quais são especialmente vulneráveis à neurotoxicidade do muito mais comuns do que aqueles da intoxicação aguda.
etanol. O cérebro adolescente passa por uma maturação A lesão cerebral crônica relacionada ao álcool pode
estrutural e possui uma vulnerabilidade tánica ao álcool. ser dividida em primária e secundária. Começaremos nos
O consumo excessivo pelo adolescente reduz a expressão sa discussão com os efeitos diretos do EtOH no cérebro

gênica adulta de neurotransmissores, reduz o funciona e. em seguida, consideraremos os efeitos secundários, a


mento do prosencéfalo basal e reduz a densidade de neu maior parte relacionada a seqüelas de doença hepática,
rônios colinérgicos. desnutrição, má absorção e disliirbios hidreletrolíticos.
Os efeitos agudos do consumo excessivo são mar
cantes. O etanol inibe a atividade da bomba Na-t-/K-t-. Etiologia
E d e m a c e l u l a r, e d e m a c e r e b r a l c i t o t ó x i c o c o m r i s c o d e O álcool é prontamente absorvido pela mucosa do estô
vida e estado epiléptico não convulsivo podem suceder mago e do intestino delgado. Um figado de função normal
(Fig. 30-1). Uma concentração sangüínea de álcool de metaboliza cerca dc 90% do etanol.
0.4% resulta em perda da consciência, e níveis acima de O EtOH rapidamente atravessa a barreira hemato-
0,5% são geralmente letais. encefáliea, causando neurotoxicidade direta e indireta.
A neurotoxicidade direta é causada pela ativação dos re
Imagem ceptores de NMDA. resultando em uma susceptibilidade
Achados de imagem em pacientes com intoxicação al aumentada à excitotoxicidade mediada por glutamato.
coólica aguda incluem edema cerebral difuso e hiperin- Ou tro s e fe i to s d i re to s i n cl u e m a to xi ci d a d e d o a ce ta l d e -
tensidade confluente na substância branca subcortical e ído e dos produtos de peroxidação lipídica relacionados,
profunda supratentorial em T2/FLAIR (30-2). Alterações os quais podem se ligar ao tecido cerebral e iniciar uma
Encefalopatia tóxica 833

30-3 Ilustração sagítai mostrando atrofia generalizada e vermiana 30-4 Imagem sagilai ponderada em Ti em um paciente com encefa
superiormente, e necrose do corpo caloso BÊS relacionadas à toxicidade lopatia alcoólica e doença de MarchIafava-BIgnaml mostrando hlpolnten-
alcoólica. Necrose de corpos mamilares B e substância cinzenta peria- sidade na porção média do corpo caloso B. Os corpos mamilares S e
quedutal é observada na encelalopatia de Wernicke. o verme superior B estão airóficos. (Cortesia de a. oatir, MD.)

ativação e expressão de fatores inflamatórios. A lesão de lopatia alcoólica crônica. Inicialmente, o verme superior
membrana, a perda neuronal e a redução de volume da atrofia e as fissuras cerebelares se tomam proeminentes
substância branca resultantes refletem os efeitos indiretos (Figs. 30-4, 30-5). Nos estágios mais avançados, a subs
(Ia toxicidade pelo álcool. tância branca frontal é envolvida, e os reflexos desse aco-
O abuso crônico de EtOH desregula a conectivida melimento são o alargamento dos sulcos e o aumento dos
de sináptica, aumenta as apoptoses e reduz a expressão ventrículos laterais. Nos estágios finais, é observada perda
de genes que codificam a produção de mielina no córtex de volume global (Fig. 30-6).
frontal, hipocampo e cerebelo.
Achados na TC. A TC sem contraste mostra alargamento
Patologia ventricular e sulcal generalizados. A substância branca ce
Patologia Macroscópica. O cérebro reflete os efeitos cumu rebral com freqüência é anormalmente hipodensa e com
volume reduzido. A fissura horizontal e as folias do venne
lativos do consumo crônico de álcool (Fig. 30-3). A
atrofia cerebral é evidenciada pelos ventrículos e sulcos superior são excepcionalmente proeminentes em relação
aumentados, sobretudo nos lobos frontais, e se deve pre à idade do paciente.
dominantemente à perda de substância branca. Achados na RM. A insuficiência hepática crônica secun
A degeneração cerebelar induzida pelo álcool tam dária à cirrose pode causar hiperintensidade nos ntjcleos
bém é comum. As folias do verme rostral e dos aspectos da base cm TI, provavelmente secundária ao acúmulo
anterossuperiores dos hemisférios cerebrais estão atrófi- de manganês. Hiperintcnsidades focais e confluentes na
cas, separadas por sulcos interfoliais alargados. substância branca em T2/FLAIR são comuns.

Características microscópicas. Alterações histológicas nos As anormalidades neuroquímicas induzidas pelo


hemisférios cerebrais são inespecíficas. A perda das célu álcool podem ser detectadas antes que a atrofia cere
las de Purkinje no cerebelo, junto com a esparsa perda de bral se torne aparente. A espectroscopia de prótons pode
células granulares e atrofia da camada molecular, refletem demonstrar uma concentração reduzida de NAA (um
a degeneração cerebelar induzida pelo álcool. marcador de viabilidade neuronal) e metabólitos con
tendo colina (marcadores de turnover de membrana ce
Imagem lular), em conjunto com elevação da concentração de
Características gerais. Um padrão característico de redução mioinositol (um presumível marcador de proliferação
volumétrica cerebral progressiva é observado na encefa- astrocitária).
834 Distúrbios tóxicos, metabóilcos, degenerativos e do LCS

30-5 Imagem coronal ponderada em T2 em um etilista crônico de 41 30-6 Imagem ponderada em T2 em um etilista crônico de 30 anos
anos mostrando marcada atrofia do cerebelo superior com acentuado com deterioração aguda mostrando redução voiumétríca generalizada.
alargamento das fissuras fiorizontais E3. O parênquima supratentorial Observe a lesão no espiénio do corpo caloso BI, que apresentava difu
encontra-se relativamente preservado. são restrita (não mostrada). Atrofia induzida por álcool com desmielini-
zaçâo tóxica aguda.

Etioiogia
ENCEFALOPATIA ALCOÓLICA
Aspectos gerais. A tiamina (vitamina BI) é necessária para
AGUDA/CRÔNICA a manutenção da integridade estrutural e dos gradientes
Intoxicação alcoólica aguda osmóticos por meio das membranas celulares. A insufi
• Rara
ciência de tiamina resulta em acidose láctica com edema
• Causada pelo consumo social excessivo intra e extracelular.
• imagem
A EW é causada pela deficiência de tiamina. A des
o Edema cerebral difuso
o Desmielinização aguda nutrição com consumo inadequado de tiamina, a absorção
gastrintestinal reduzida e a utilização intracelular defi
Encefalopatia alcoólica crônica ciente de tiamina podem contribuir para a instalação da
• Comum
EW relacionada ao álcool.
• Efeitos tóxicos primários nos neurônios A flsiopatologia subjacente da EW não relacionada
o Neurotransmissores, receptores
ao álcool é idêntica à da EW alcoólica, porém sua etio
• Efeitos secundários relacionados à doença hepática ou
iogia é diferente. A desnutrição secundária a transtornos
gastrintestinal alimentares ou cirurgia de bypass gástrico com consumo
o Encefalopatia hepática
o Desnutrição, má absorção drasticamente reduzido de tiamina é típica. Hiperêmese
o Homeostase hldreletrolítica (p. ex., gestação, quimioterapia) e hiperalimentação pro
• Imagem longada são outras causas comuns de EW não alcoólica.
o Perda volumétrica (verme superior, cerebelo e
lobos frontais, em seguida generalizada) Patologia
o Mielinólise da substância branca
Localização. Os locais mais afetados são os corpos mamila-
res, hipotálamo, núcleos talâmicos mediais (adjacentes ao
terceiro ventriculo), placa tectal e a substância cinzenta pe-
Encefalopatia de Wernicke riaquedutal (FIg. 30-7). Áreas menos envolvidas incluem
o cerebelo (especialmente os núcleos denteados), núcleos
Terminologia
A encefalopatia de Wernicke (EW) também é conhecida rubros, esplênio do corpo caloso e o córtex cerebral.
como síndrome de Wernicke-Korsakoff. A EW pode ocor Patologia macroscópica. Se a EW ocorre no contexto de
rer estando relacionada ou não ao álcool. alcoolismo crônico, uma atrofia cerebral generalizada
Encefalopatia tóxica 835

30-7 Espécimes de necropsia de um paciente com encefalopatia de Wernicke mostrando necrose hemorrágica dos corpos mamilares E3 (a imagem
na inserção mostra o aspecto normal para comparação), necrose bitalâmica circundando as paredes do terceiro ventrfculo necrose na substancia
cinzenta periaquedutal El e na porção inferior do teclo E. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)

(sobrelucio do verme cerebelar e dos lobos frontais) está História natural. A mortalidade na EW não tratada é ele
presente. Desmielinizaçào e hemorragias petequiais são vada. A rápida reposição endovenosa de tiamina é impres
comuns no estágio agudo da EW. Necrose do corpo ca- cindível para a prevenção das seqüelas mais graves da EW.
loso, rarefação da substância branca e atrofia dos corpos Alguns sobreviventes desenvolvem psicose de Korsakotf,
mamilares podem também ser observadas na EW crônica. com profunda amnésia, perda de memória e confabulações.

Aspectos clínicos Imagem


Aspectos demográficos. A dependência alcoólica ocorre Os exames de imagem, em especial a RM, estão desenvol
em todos os países e grupos socioeconômicos. A EW re vendo um papel cada vez mais importante no diagnóstico
lacionada ao álcool é dependente da dose e ocorre sem
precoce da EW.
predileção por gênero ou etnia. Quase metade de todos os
casos de EW ocorrem em pacientes não etilístas. Embora Achados na TC. A TC possui uma baixa sensibilidade para
a EW seja de modo geral mais comum em adultos, ela detecção da EW. Exames de TC sem contraste na EW
também ocorre em crianças! aguda são freqüentemente normais. Achados sutis in
cluem hipodensidades bilaterais circunjacentes ao tercei
Apresentação. Somente 30% dos pacientes demonstram a ro ventrículo e ao mesencéfalo. A TC com contraste pode
clássica tríade clínica da EW com (1) disfunção ocular (p.
demonstrar leve realce nas áreas afetadas.
ex., nistagmo, paralisia do olhar conjugado, oftalmople-
gia), (2) ataxia e (3) alteração do estado mental. A maioria Achados na RM. A RM é muito mais sensível do que a TC,
dos pacientes apresenta polineuropatia. e é o método de escolha para a avaliação de pacientes com
836 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

30-8A Imagem em FLAIR em


um paciente com encefalopatia
de Wernicke aguda mostrando
hiperintensidade na substância
cinzenta periaqueduta! B e no ■> * / '
teclo S3.
30-8B Imagem em FLAIR

V- P' ■
em nível cranial novamente
mostrando hiperintensidade na
substancia cinzenta periaque-
dutal Os corpos mamilares
também se encontram hiperin-
tensos E3.

V'^ >7
30-8C Imagem em FLAIR
mostrando hiperintensidade nos
talamos mediais adjacentes às
paredes do terceiro ventrículo
E3. O hipotálamo S também
está acometido.
30-8D Imagem em FLAIR ao
nível da convexidade cerebral
mostrando hiperintensidades
corticais bilaterais e relativamen
te simétricas B3

30-8E Imagem em difusão


do mesmo paciente mostrando
difusão restrita nos corpos mami
lares B. A substância cinzenta
periaquedutal não restringe,
sugerindo que as lesões do me-
sencéfalo vistas em FLAIR sejam
menos agudas.
30-8F Imagem coronal pon
derada em TI pós-contraste de
monstrando realce nos coliculos
inferiores E3.
Encefalopatia tóxica 837

30-9 Espécime de necropsia de um paciente com doença de Mar- 30-10 Imagem de TC com contraste em um paciente etilista com
chiafava-BIgnami mostrando necrose nas camadas médias do corpo doença de Marchiafava-Bignami mostrando atrofia cerebral generaliza
caloso f-y, o clássico achado patológico nessa condição. (Cortesia de R. da, acentuada hipodensidade no joelho do corpo caloso EI e na subs
Hewlett, MO.) tância branca adjacente BI. (Cortesia de A. Datir, MO.)

suspeita cie EW. As imagens em TI podem demonstrar entanto, infartos da APer não afetam os corpos mamilares
iiipointensidade ao redor do terceiro ventrículo e do aque- e costumam poupar a placa tectal.
duto cerebral. Em casos graves, hemorragias petequiais
estão presentes e podem causar hiperintensidades em TI
nos tálamos mediais e corpos mamilares. ENCEFALOPATIA DE WERNICKE

Durante a fase aguda, pode ser observada hiperin- Etiologia


tensidade em T2/FLAIR nas áreas afetadas (Fig. 30-8). • Deficiência de tiamina (vitamina Bi)
Lesões bilaterais e simétricas nos corpos mamilares e ao • Relacionada ao álcool (50%), não alcoólica (50%)
redor do terceiro ventrículo são típicas. A placa tectal e a
Patologia
substância cinzenta periaquedutal costumam ser envolvi • Localização
das. Menos comumente, hiperintensidades corticais bila o Comum = corpos mamilares, tálamos mediais,
terais porém assimétricas estão presentes, e a seqüência tecto, SC periaquedutal
DTI mostra áreas correspondentes de restrição à difusão. o Menos comum = córtex, cerebelo, esplênio do
Alguns casos mostram um foco isolado de difusão restrita corpo caloso
no esplênio do corpo caloso.
Aspectos clínicos
Em cerca de metade dos casos de EW alcoólica, as • Tríade clássica de disfunção ocular, ataxia e alteração
imagens pós-contraste demonstram realce das lesões do estado mental em < 30%
periventriculares e periaquedutais. A impregnação in • Pode ocorrer em crianças!
tensa e uniforme dos corpos mamilares é observada em • Tiamina endovenosa imprescindível
até 80% dos casos crônicos, sendo considerada patog-
Imagem
nomònica de EW. Entretanto, alguns pesquisadores re • Hiperintensidade em T2/FLAIR, restrição à difusão
latam que o realce é muito menos comum em EW não • Realce variável; mais comum na EW alcoólica
alcoólica. o Realce dos corpos mamilares patognomónico
Na EW crônica, há atrofia dos corpos mamilares.

Diagnóstico diferencial Doença de Marchiafava-Bignami


o diagnóstico diferencial da EW clássica é limitado. Os A doença de Marchiafava-Bignami é um distúrbio raro
tálamos mediais e o mesencéfalo estão simetricamente en que causa desmielinização progressiva e necrose do corpo
volvidos no infarto da artéria de Percheron (APer). No caloso.
838 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

Terminologia Além desse fato. um tipo específico de lesão cortical ce


A doença de Marchiafava-Bignami (DMB) é também (in rebral, denominada esclerose laminar de Morei, pode ser
observado no córtex frontolateral.
corretamente) conhecida como "encefalopatia dos bebe
dores de vinho tinto". Patologia macroscópica. Degeneração do corpo caloso é a
principal característica da DMB e varia de desmieliniza-
Etiologia çào até franca necrose cística das camadas médias.
A DMB está primariamente associada ao abuso crônico
de etanol. Existe uma associação anedótica (porém não Aspectos clínicos
comprovada) com vinho tinto. Raros casos de DMB em Epidemiologia. a DMB é rara. A maioria dos casos é encon
pacientes não elilistas foram relatados. A maior parte dos trada em homens de meia-idade.
pesquisadores atribui a DMB à deficiência de vitaminas
do complexo B (i.e., todas as oito vitaminas, diferente Apresentação. O diagnóstico clinico da DMB é difícil e
mente da deficiência específica de BI na EW). muitas vezes confundido com EW. Alguns pesquisadores
relatam que ambas as doenças ocorrem simultaneamente.
Patologia A DMB SE APRESENTA EM DUAS FORMAS CLÍNICAS. Na DMB agu
Localização. O diagnóstico da DMB por métodos de ima da, é típico o declínio rápido com comprometimento da
gem é baseado na presença de lesões de corpo caloso. O consciência, crises convulsivas, rigidez muscular e mor
envolvimento seletivo das camadas médias ao longo de
te dentro de vários dias. Na forma crônica, síndrome de
toda a extensão do corpo caloso é altamente sugestivo de
desconexão inter-hemisférica (p. ex., apraxia, hemialexia.
DMB (Fig. 30-9).
demência) pode ser vista e dura meses a vários anos.
Lesões fora do corpo caloso também ocorrem na
DMB. Foram descritas lesões na substância branca hemis- História natural. A maior parte dos pacientes que sobre
férica, cápsula interna e pedúnculos cerebelares médios. vivem à DMB apresenta seqüelas neurológicas graves,

30-1 IA Imagem coronal


ponderada em TI pós-contraste
em um paciente que bebe muito
mostrando realce no corpo ca
loso E2.
30-118 Imagem sagllal em
TI pós-contraste demonstrando
lesões com realce no corpo ca
loso G3.

30-11C Imagem em FLAIR


do mesmo paciente mostrando
hiperintensidade simétrica no
mesencéíalo B e na substancia
cinzenta periaquedutal B9.
30-11D Imagem obtida em
nível mais cranial mostrando hi
perintensidade nos talamos me-
diais B, ao longo das paredes
do terceiro ventriculo. Doença de
Marchiafava-Bignami aguda com
achados de imagem de desmieli-
nizaçào aguda e encefalopatia de
Wernicke. (Cortesia de S. van der
Westhuizen, MD.)
Encefalopatia tóxica 839

embora alguns casos com desfecho favorável tenham A DMB crônica com necrose franca do corpo ca
sido relatados. loso é vista como um adelgaçamento do corpo caloso e
hiperintensidades nas suas camadas médias na seqüência
Opções de tratamento. Se instituída com rapidez, a adminis
TI no plano sagital (Fig. 30-4). Em paciente com DMB
tração endovenosa de complexo vitamínico B e terapia com
crônica, imagens ponderadas em T2* podem demonstrar
metüprednisolona podem reverter o curso crônico da DMB.
múltiplas áreas hipointensas nas regiões corticossubcor-
ticais e no corpo caloso. Outras alterações associadas a
Imagem
etilismo crônico, como atrofia dos corpos mamilares, são
Características gerais. O envolvimento seletivo das cama
c o m u n s .
das médias do corpo caloso é típico. Assim como outros
distúrbios relacionados ao álcool, a DMB também pode
Diagnóstico diferencial
ser acompanhada por outras doenças determinadas pelo
No contexto de abuso de álcool, lesões do corpo caloso
etilismo. Encefalopatia alcoólica crônica com redução vo-
são altamente sugestivas de DMB. Outras doenças que
lumétrica generalizada do encéfalo é comum. Distúrbios
podem alterar o corpo caloso incluem esclerose múltipla,
hidreletrolíticos podem causar desmielinização osmótica.
dano axonal difuso e infarto lacunar. Todas essas doen
Achados na TC. A TC pode ser normal no estágio agudo da ças possuem lesões descontínuas esparsas que raras vezes
DMB. Nos estágios crônicos, é possível observar hipo- envolvem a totalidade da extensão do corpo caloso.
densidade linear no joelho do corpo caloso que, no con
texto de etilismo crônico, é altamente sugestiva do diag Intoxicação por metanol
nóstico (Fig. 30-10). O metanol é um potente depressor do SNC. Os pacientes
Achados na RM. As alterações iniciais da DMB aguda são freqüentemente estão comatosos, e uma história acurada
mais bem observadas em FLAIR. Hiperintensidades no pode ser impossível de se obter. Além disso, poucos hos
Joelho do corpo caloso e no córtex frontoparietal apare pitais incluem o metanol em seus testes toxicológicos de
cem primeiro, seguidas por lesões no esplênio. A imagem rotina. Portanto, o diagnóstico é comumente tardio, e a
em difusão é inicialmente negativa, sugerindo que as alte morbidade e mortalidade permanecem elevadas. Os exa
mes de imagem podem fornecer importantes pistas para
rações em FLAIR provavelmente refletem edema vasogê-
nico (e não citotóxico) intramielínico. Restrição à difusão o diagnóstico de uma possível intoxicação por metanol.
é posteriormente observada no esplênio do corpo caloso.
Durante a fase aguda, as lesões da substância branca Terminologia
A intoxicação ou envenenamento por metanol (MtOH) é
podem realçar (Fíg. 30-11). Tanto padrões de realce peri
féricos quanto sólidos e confluentes foram relatados. também conhecida como encefalopatia por metanol.

x :

30-12 Espécime de necropsia de um paciente com intoxicação fatal 30-13 TC sem contíaste em um paciente com envenenamento agudo
por metanol mostrando necrose hemorrágica em ambos os putames ES por metanol mostrando necrose putaminal coníluente BS e irregular
e na substância branca subinsuiar S. (Cortesia de R. Hewlett, MO.) Bi. (Cortesia de R. Ramakantan, MD.)
840 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

30-14A TC sem conUasle em um paciente que sobreviveu à intoxica 30-14B Corte de TC sem contraste mais cranial, através da coroa
ção aguda por metanoi mostrando putames hipodensos e reduzidos ES radiada, mostrando marcada hipodensidade em toda a SB de ambos os
e hipodensidades biiaterais e simétricas na SB subcortícai Bi. hemisférios

Etiologia Apresentação. Uma peculiaridade da intoxicação pelo MtOH


o MtOH é um componente comum em solventes, verni é o período de latência entre a ingestão e o aparecimento de
sintomas clínicos, O início dos sintomas é variável e fre
zes, perfumes, removedores de tinta, anticongelantes e
compostos de gasolina. Ele pode ser ingerido ou inalado qüentemente tardio, em especial se o etanol for consumido
acidental ou intencionalmente, ou absorvido por via trans- simultaneamente, uma vez que isso lentifica o metabolismo
dérmica. Em alguns casos, o envenenamento por MlOH do metanol. Entre 85 e 90% dos pacientes apresentam dis
resulta do consumo de destilados ilícitos. túrbios visuais. Três quartos de todos os pacientes possuem
O MtOH é convertido em ácido fórmico e ácido lác-
sintomas gastrintestinais inespecíficos, como náuseas e vô
mitos. Cerca de 25% estão comatosos na admissão.
tico, causando grave acidose metabólica com pH arterial
variando de 6,8 a 7,1. A elevação do anion gap e do gap História natural. A ingestão de 30 mL de metanol puro
osmolaré uma pista laboratorial importante para a presen comumente resulta em morte. Uma quantidade de 4 mL
ça de toxicidade por metanol. pode causar cegueira. Níveis sangüíneos de metanol aci
ma de 200 mg/L são considerados tóxicos, e níveis acima
Patologia de 1.500 mg/L são potencialmente fatais.
Localização. Necrose bilateral dos núcleos da base é a ca Embora a latência para o aparecimento dos sintomas
racterística de imagem mais importante do envenenamen seja variável, a progressão da sintomatologia pode ser rá
to por MtOH. O envolvimento seletivo dos putames com pida. Insuficiência respiratória e óbito podem ocorrer den
preservação relativa dos globos pálidos é comum. Necro tro de poucas horas.
se difusa da substância branca subinsular e subcortical Hemorragia putaminal e necrose da substância branca
ocorre em casos graves (Fig. 30-12). subcortical da insula estão associadas a um desfecho clí
Não há relação consistente entre o prognóstico clínico nico mais desfavorável.
e a extensão das anormalidades encontradas nos exames
de imagem. Opções de tratamento. A intoxicação pelo metanol é trata
da efetivamente com agentes alcalinos para combater a
Aspectos clínicos acidose, antídotos (etanol ou fomepizole para bloquear a
produção de ácido fórmico e hemodiálise para remover o
Epidemiología. Comparada à encefalopatia relacionada ao
MtOM.
álcool, o envenenamento por metanol é raro.
Aspectos demográficos. A imensa maioria dos pacientes é Imagem
do sexo masculino. O pico de idade ocorre entre a terceira Achados na TC. A TC sem contraste inicial é normal em
e a quarta décadas de vida. muitos pacientes com intoxicação por MtOH. A maioria
Encefaiopalia tóxica 841

30-15A TC com contraste em um paciente que ingeriu etilenoglicoi 30-15B Imagem sagital ponderada em Ti mostrando hipointensidade
mostrando hipodensidade simétrica no mesencéfaío com extensão cra na ponte e no mesencéfaío a qual é mais bem vista como hiperin-
nial para os talamos ES. tensidade no FLAIR coronal Realce irregular é observado na seqüên
cia TI pós-conlraste B.

dos pacientes que sobrevivem por mais de 24 horas de Envenenamento por etilenogiicol
monstra lesões hipodensas nos putames e ocasionalmente o etilenogiicol é uma forma tóxica de álcool incolor, ino
na substância branca profunda. Necrose hemorrágica pu- dora e de sabor adocicado, sendo um componente comum
taminal é observada em 15 a 25% dos casos (Fig. 30-13). em fluidos para degelo. Ele pode ser ingerido por etilistas
O realce é variável, variando de nenhum a realce periféri ou, devido ao seu sabor adocicado e fácil acesso, aciden
co das lesões putaminais. talmente ingerido por crianças e animais.
Caso o paciente sobreviva, formam-se cavidades cis-
Quando ingerido, o etilenogiicol causa acidose meta-
ticas no interior dos putames, representando as seqüelas bòlica e pode promover lesões no cérebro, fígado, rins e
crônicas do envenenamento por MiOH (Fig. 30-14).
pulmões. O etilenogiicol é convertido em glicolato, o qual
Achados na RM. Necrose putaminal bilateral com envol é o principal metabólilo responsável pela acidose metabóli-
vimento variável da substância branca está presente. Hi- ca. O glicolato é então metabolizado para oxalato. que pre
perintensidade em TI e hipointensidades esparsas em T2 cipita com cálcio na forma de oxalato de cálcio e se depo
estão presentes na fase aguda tardia/subaguda precoce da sita em vários tecidos. A acidose metabólica com elevado

necrose hemorrágica. Artefatos de susceplibilidade mag anion gap e gap osmolar tem resolução em 24 a 72 horas.
nética estão presentes em T2*. A seqüência ponderada em O tratamento precoce com o inibidor da álcool desi-
difusão mostra difusão restrita nas áreas afetadas. drogenase 4-metilpirazol (4MP, fomepizol) é muito efeti
Os pacientes que sobrevivem possuem lesões hiperin- vo. Outros regimes de tratamento incluem o uso de álcalis
tensas simétricas em T2/FLAIR nos putames, com variá para combater a acidose, etanol como um antimetabólito
vel envolvimento da substância branca subcortical. e diálise.
Os achados de imagem da toxicidade aguda por etile
Diagnóstico diferencial noglicoi incluem edema nos núcleos da base, tálamos, me
As lesões putaminais bilaterais e simétricas não são espe sencéfaío e porção superior da ponte (Fig. 30-15). Necrose
cíficas para intoxicação por MtOH e podem ser observadas putaminal, similar àquela observada na intoxicação por me
na doença de Wilson e nas eneefalopatías mitocondriais tanol, pode ser observada em casos subagudos e crônicos.
(p. ex., Keams-Sayre, Leigh). A encelalopatia hipóxico-
-isquêmica acomete os núcleos caudados e outros núcle
os da base além dos putames. A intoxicação aguda por
Anfetaminas e derivados
cianeto é rara porém pode assemelhar-se à encefalopatia
por MtOH. O envenenamento por monóxido de carbono As propriedades "hedônicas" e viciantes das drogas de
geralmente afeta os globos pálidos em vez do putames. abuso - particularmente anfetaminas e cocaína - estão re-
842 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LC5

lacionadas aos elevados níveis de dopamina nas sinapses Os exames de RM em adultos usuários crônicos de
dos neurônios monoaminérgicos. A maioria das drogas de MA demonstram volumes menores de substância cinzenta
abuso é excitotóxica e causa dois principais tipos de pato na seqüência ponderada em TI. sobretudo nos lobos fron
logia: eventos vasculares (p. ex., isquemia, hemorragia) e tais. e mais hiperintensidades na substância branca em
leucoencefalopatia. T2/FLAIR do que seria esperado para a idade do paciente.
Estudos funcionais de neuroimagem também têm de A espectroscopia de prótons mostra redução nos níveis de
monstrado que drogas de abuso estão associadas a disfun- colina e mioinositol nos lobos frontais. A seqüência DTI
ções em diversas regiões cerebrais. As regiões responsá mostra uma PA mais baixa nos lobos frontais, e valores
veis pela memória de trabalho, controle inibitório, atenção mais elevados de ADC nos núcleos da base.
e tomada de decisões encontram-se prejudicadas cm grau
que se correlaciona com a intensidade e cronicidade do MDMA {""ecstasy")
abuso. Além disso, a mitose, a migração e a sobrevida ce A 3-.4-inetilenodioximetanfetamina é também conhecida
lular no SNC do feto de uma gestante usuária de drogas como MDMA ou ecstasy. Popular como droga recrea-
estão negativamente afetadas. cional. a MDMA induz euforia e alterações sensorials
secundárias à rápida liberação de potentes vasoconstrito-
Metanfetamina res nas sinapses serotoninérgicas. A MDMA pode causar
As metanfetaminas (MA ou meth) são drogas psicoesti- constrição arterial, vasculite ou vasospamo prolongado
mulantes altamente aditivas. O abuso da metanfetamina com infartos isquêmicos agudos. A isquemia induzida por
"cristal" tem crescido continuamente na última década. MDMA é mais pronunciada em regiões cerebrais ricas em
Até mesmo uma única exposição crônica à MA pode re serotonina, como os globos pálidos e o córtex occipital, os
sultar em alterações profundas no fluxo sangüíneo cere quais são especialmente vulneráveis (Fig. 30-17).
bral. Tanto infartos hemorrágicos quanto isquêmicos po Necrose hipocampal aguda com subsequente atrofia
dem ocorrer (Fig. 30-16). foi relatada em usuários crônicos de ecslasy.

30-16A Uma usuária de


metanfelamina de 32 anos teve
cefaleia de início súbito, seguida
de colapso e coma. A TC sem
contraste mostra hemorragia
subaracnóidea e intraventricular
difusas B. Um hematoma focai
inter-hemisférico B circunda
o foco hipointenso arredondado
causado por um aneurísma de
artéria comunicante anterior
B .
30-168 Reconstrução sagital
do mesmo caso mostrando o
sistema ventricular repleto de
coágulos. Hemorragia subarac
nóidea e focai circunda o aneu
rísma B.

30-17A Imagem em FLAIR no


plano axial em um adolescente
que usou MDMA ("ecstasy") em
uma festa "rave" mostrando
hiperintensidade focai no lobo
occipital esquerdo B.
30-178 ARM do mesmo pa
ciente mostrando áreas alternan-
tes de estreitamento e dilatação
S] nas artérias occipital e pa
rietal posterior, consistentes com
vasculite induzida por drogas.
(Cortesia de P. Hildenbrand, MD.)
Encefalopatia tóxica 843

Benzodiazepínicos A ruptura de um aneurisma preexistente ou malfor


Os benzodiazepínicos, às vezes chamados de "benzo", mação vascular subjacente representa quase metade de
todos os infartos hemorrágicos relacionados à cocaína. A
sào substâncias psicoativas usadas no tratamento de
cocaína também facilita a agregação plaquetária e pode
ansiedade, insônia, crises convulsivas, espasmos mus
levar à oclusão vascular trombótica.
culares e abstinência alcoólica. Overdose de benzodia
A vasoconstrição cerebral aguda e/ou a vasculopatia
zepínicos tem sido associada a encefalopatia hipóxico-is-
induzida pela cocaína podem levar a infartos isquêmicos.
quêmica (Fig. 30-18), infartos isquêmicos e hemorrágicos A cocaína inalada causa grave vasoconstrição no plexo
(Fig. 30-19) e leucoencefalopatia tóxica tardia. vascular da mucosa do seplo nasal (plexo de Kiesselbach).
Abuso crônico pode causar necrose e perfuração septal.
Cocaína
A cocaína pode ser inalada (cheirada), fumada ou inje Patologia
tada. Na sua forma mais comum (hidrocloreto de cocaí As hemorragias macroscópicas, particularmente nos pu-
na), é absorvida pela mucosa nasal. O "crack", a forma tames e na cápsula externa, são os achados de patologia
alcalóide de base isolada do hidrocloreto de cocaína, pode macroscópica mais comuns, sendo duas vezes mais fre
ta m b é m s e r fu m a d o .
qüentes do que os infartos isquêmicos.
Microscopicamente, a arteriopatia por cocaína é ca
Etlologla racterizada por alterações intlamatórias e necrose.
Independentemente da rota de administração, o impacto ad
verso da cocaína no cérebro está amplamente relacionado Aspectos clínicos
aos seus efeitos vasculares. A hipertensão sistêmica pode Epidemiologia. Quase um terço dos AVCs em pacientes
ser extrema, causando infartos hemorrágicos espontâneos. com idade inferior a 45 anos são relacionados a drogas.

30-18 Uma mulher de 60


anos com depressão foi encon
trada inconsciente após overdose
r' X de benzodiazepínicos e opioides.
As imagens mostram lesões
bilaterais e simétricas nos globos
pálidos.
30-19 Imagens de RM em
uma mulher de 45 anos com
transtorno bipolar e toxicologia
positiva para opioides e benzo
diazepínicos mostrando infartos
corticais e nos globos pálidos.
Ela também apresentava infartos
cerebelares hemorrágicos e si
métricos (não mostrados).

30-20 TC sem contraste mos


trando hemorragia hipertensiva
aguda com sangramento no
putame e cápsula externa ES
em um paciente com abuso de
cocaina.
30-21 TC sem contraste em
um paciente com abuso de coca
ina mostrando edema cerebral
difuso e infartos isquêmicos mul
tifocals B.
844 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

30-22A TC sem contraste em um paciente com abuso de cocaína 30-22B ASD lateral do mesmo paciente mostrando múltiplas áreas de
mostrando hipodensidade grande e confluente E3 no lobo frontal direi constrição e dilatação 31, características de vasculite induzida por drogas.
to, com hemorragia aguda tardia

com 80 a 90% ocorrendo na quarta e quinta décadas de Diagnóstico diferencial


vida. O risco de AVC é mais alto dentro das primeiras seis A causa mais comum de hemorragia intracraniana espontâ
horas após o uso da substância. nea (não traumática) em crianças é malformação vascular
Apresentação. Cefaleia, crise convulsiva e déflcits neuro subjacente. Uma hemorragia parenquimatosa inexplicada
em adultos jovens e de meia-idade também deve pronta
lógicos focais são os sintomas mais comuns.
mente incluir a avaliação para possível abuso de drogas.
História natural. O início do acidente vascular relacionado
Os infartos embólicos provenientes de doença car
à cocaína pode ser imediato se hipertensivo ou no caso de díaca, bem como vasculite secundária à infecção ou a doen
hemorragia subaracnóidea. A vasculopatia induzida por ças granulomatosas, autoimunes ou colagenoses, podem ter
cocaína com infartos isquêmicos pode ocorrer em até uma uma aparência idêntica à da vasculopatia por uso de cocaína.
semana após o uso.

Imagem COCAÍNA E ANFETAMINA EFEITOS NO CÉREBRO


Os infartos - tanto isquêmicos quanto hemorrágicos Anfetaminas
- são as principais manifestações da lesão cerebral in • Metanfetamina
o Infartos hemorrágicos e isquêmicos
duzida pela cocaína (Fig. 30-20). As hemorragias po o Atrofia frontal
dem ser parenquimatosas (secundárias à hipertensão ou • MDMA {"ecstasy")
malformações vasculares) ou subaracnóideas (ruptura o vasospasmo, infartos
de aneurisma). Os sangrairtentos hipertensivos geral o Localização: córtex occipital, globos pálidos
mente possuem centro na cápsula externa/putame ou no • Benzodlazepinicos
o Leucoencefalopatia tóxica tardia
tálamo.
A encefalopatia hipertensiva aguda com síndrome da Cocaína
• Hemorragia intracraniana
encefalopatia posterior reversível (PRES) também pode o Hemorragia intracraniana hipertensiva (50%)
ocorrer. Edema vasogênico nos lobos occipitais é o acha o Aneurisma ou malformação arteriovenosa
do mais comum. desconhecidos
Infartos isquêmicos podem ser causados por vasos • infarto isquêmico
o Vasospasmo
pasm©, vasoconstrição induzida pela cocaína, vasculite ou
o Vasculite
trombose (Fig. 30-21). Acidentes vasculares agudos indu
• Encefalopatia hipertensiva aguda
zidos por cocaína são positivos na seqüência em difusão. o Síndrome da encefalopatia posterior reversível (PRES)
A ARM, a ATC ou a ASD podem mostrar áreas focais de o Edema vasogênico (occipital bilateral)
afilamento e irregularidade arterial (Fig. 30-22).
Encefalopatid tóxica 845

30-23 TC sem contraste após inalação de heroína {chasing the dragon) 30-24 Um homem de 57 anos desenvolveu leucoenceíalopatia aguda
mostrando hipodensidade simétrica na SB cerebelar FLAIR demons após chasing de dragon. A RM mostra hiperintensidade B na SB peri
trando hiperintensidade no corpo caioso e cápsulas internas B. As lesões ventricular profunda em T2/FLAIR, com correspondente restrição à difu
restringem na seqüência em difusão S. (Cortesia de K. Nelson, MD.) são nas seqüências em difusão e ADC. (Cortesia de M. Michel, MD.)

músculo liso vascular pode causar vasospasm© reversível.


Opioides e derivados A resposta imune aos aditivos presentes na heroína injeta
da pode causar isquemia ou vasculite.
A heroína é o opioide de abuso mais comum. Outras dro
gas nesse grupo incluem morfína, hídrocodona, oxico- Patologia
dona. Indromorfona, codeína e narcóticos relacionados
A necropsia de cérebros de pacientes com encefalopatia
como fentanil. meperidina. metadona e ópio.
Além dos efeitos diretos dos opioides no cérebro, im associada à heroína mostra aparência esponjosa da subs
tância branca cerebral. A microscopia demonstra desmie-
purezas e aditivos podem produzir patologias sistêmicas.
linização e vacuolização da substância branca. Como o
Hipotensão e anóxia podem também complicar o quadro
clínico e o aspecto de imagem da toxicidade dos opioides. cerebelo também possui uma alta densidade de receptores
opioides, alterações similares podem ser observadas na
sua substância branca.
Heroína
A heroína é comumente injetada por via endovenosa. A imagem
complicação mais comum da heroína injetada é o AVC. A Achados na TC. A toxicidade aguda do SNC pela heroína
isquemia dos globos pálidos, muito similar àquela observa inalada {chasing the dragon) é caracterizada por hipoden-
da no envenenamento por monóxido de carbono, é comum.
sidades simétricas na substância branca cerebelar, algu
Os efeitos agudos mais dramáticos ocorrem com a
mas vezes descritas como em padrão de "asa de borbole
heroina inalada. A forma de base isolada é aquecida em
ta" (Fig. 30-23). A substância branca cerebral posterior,
papel alumínio e os vapores são então inalados {chashiff o braço posterior da cápsula interna e os globos pálidos
the dragon). A inalação de vapor de heroína causa uma
também são comumente afetados. O braço anterior da
leucoenceíalopatia tóxica marcante.
A complicação mais freqüente do abuso de heroína cápsula interna é poupado.
é a infecção. A endocardite é comum e pode resultar em Achados na RM. Imagens em T2/FLA1R em pacientes
embolia séptica, abscessos cerebrais e vasculite com for com leucoencefalopatia relacionada à heroína em está
mação de aneurismas micóticos. gio precoce demonstram hiperintensidade na substância
branca cerebelar com relativa preservação dos núcleos
Etlologla denteados. Há, com freqüência, envolvimento seletivo
A heroina causa alterações agudas e crônicas como vascu- simétrico dos braços posteriores das cápsulas internas,
lopatia, leucoencefalopatia e perda volumétrica cerebral tratos corticospinais, lemnisco mediai e trato solitário
generalizada. A estimulaçào dos receptores opioides no (Flg. 30-23).
846 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

30-25 Imagens de RM em uma mulher de 33 anos com overdose de 30-26 Envenenamento acidental por metadona em uma criança
metadona mostrando hiperintensidade simétrica confluente em FLAIR mostrando hipodensidade cerebelar bilateral na TC sem contraste B,
E3 e restrição à difusão na difusão hiperintensidade em T2/FIAIR BI e restrição à difusão BS.

Hiperintensidade confluente na substância branca Foi relatado que a ingestão acidental de metadona
cerebral, incluindo o corpo caloso, é comum em casos pode causar grave edema cerebelar com hidrocefalia obs-
graves de encefalopatia induzida pelo vapor de heroína trutiva aguda em crianças (Fig. 30-26).
(30-24). As imagens em difusão mostram restrição aguda
à difusão da água nas áreas afetadas; a espectroscopia de Oxicodona
protons demonstra um pico de lactato na substância bran Os achados de imagem dos poucos casos relatados de
ca cerebral.
overdose de oxicodona e Oxycontin mostram difusão res
O abuso crônico de heroína pode causar doença mi trita nos hemisférios cerebelares e globos pálidos.
crovascular. Hiperintensidades multifocals esparsas na
substância branca subcortical ou periventricular são co
muns. porém não são tão prevalentes ou marcadas como OPIOlOES
na vasculopatia por cocaína.
Heroína
• Injetada
Metadona o Mais comum = infartos isquêmicos
As assim chamadas drogas substitutivas, como o opioide o Globos pálidos, SB (assemelha-se à intoxicação
sintético metadona, são usadas no tratamento para por CO)
• Inalada
abuso/dependência, bem como no manejo da dor intra o Chasing the drogon
tável. Com crescente uso e disponibilidade da metadona, o Mais comum = leucoencefalopatia
sua overdose também tem se tornado mais freqüente. o Cerebelo, SB cerebral
A encefalopatia tóxica pós-opioide similar àquela
Metadona
causada pela heroína inalada tem sido descrita com a • Adultos
metadona. Hiperintensidade difusa, simétrica e con o Encefalopatia tóxica
fluente na substância branca cerebral em T2/FLAIR é • Crianças
observada (Fig. 30-25). As fibras subcorticais em U são o Geralmente Ingestão acidental
poupadas. Diferentemente da toxicidade da heroína, al o Edema cerebelar
terações no cerebelo e no tronco encefálico são sutis ou
Oxicodona
ausentes em adultos. A espectroscopia de protons mos • Isquemia no cerebelo e globos pálidos
tra elevação da colina, redução do NAA e aumento do • Menos comum = leucoencefalopatia tóxica
lactato.
Encefalopatia tóxica 847

Etioiogla
Toxinas e gases inalados Os efeitos tóxicos do CO resultam, em sua maior parte,
Algumas drogas de abuso, como a heroina, possuem múl do comprometimento do transporte de oxigênio. O CO se
tiplas formas de administração. Outras são gases e, por combina reversivelmente com a hemoglobina (Hgb) com
tanto, exclusivamente inaladas. Exemplos incluem toxi afinidade 200 vezes maior do que a do oxigênio. Se os
nas como o monóxido de carbono e drogas de abuso como níveis de carboxi-hemoglobina (CO-Hgb) se elevarem
o óxido nitroso. Algumas toxinas, como o cianeto, podem para valores acima de 20%, danos cerebrais e cardíacos
ser inaladas, ingeridas ou absorvidas por via transdérmica. são freqüentes.
Cianetos podem causar - ou contribuir para - óbitos por A CO-Hgb prejudica o transporte de oxigênio pelos eri-
inalação de fumaça. trócitos, reduzindo o oxigênio celular e causando hipoxia.
Vapores inalados de agentes liquidos voláteis incluem Além disso, a peroxidação de lipídeos causa dano oxida-
o amil-nitrito {"'poppers''') e solventes industriais (p. ex., tivo. Peroxinitritos promovem lesão no endotélio vascular.
tolueno).
Patologia
Envenenamento por monóxido de carbono Localização. Devido ao fato de os globos pálidos serem ex
traordinariamente sensíveis à hipoxia, a alteração caracte
Terminologia rística da intoxicação aguda por CO é a necrose simétri
o monóxido de carbono (CO) é um gás incolor, inodoro e ca dos globos pálidos (Figs. 30-27, 30-28). A substância
insipido produzido pela combustão incompleta de vários branca cerebral é a segunda área mais comumente afetada
combustíveis. O envenenamento por CO é causado por e costuma mostrar desmielinização e necrose tardias, que
inalação proposital ou acidental. podem aparecer várias semanas após o episódio inicial.

30-27 ilustração no plano


axial mostrando o envolvimento
típico do cérebro pelo envenena
mento por monóxido de carbono.
Os globos pálidos (6Ps) S!
são os mais afetados, seguidos
pela substância branca cerebral.
Patologicamente, há necrose nos
GPs e áreas variáveis de necrose
e desmielinização na substância
branca.
30-28 Espécime de necropsia
com envenenamento por mo
nóxido de carbono mostrando
necrose coagulativa (não he
morrágica) simétrica nos globos
pálidos mediais H).

30-29A Imagem ponderada


em TI em um homem de 49
anos com envenenamento por
CO mostrando lesões simétricas
nos globos pálidos mediais. Note
o tênue halo hiperintenso o
fino halo interno hipointenso e a
necrose coagulativa central ob
servada como lesões levemente
hiperintensas
30-29B Imagem em FLAIR do
mesmo paciente mostrando que
a lesão é predominantemente
hiperintensa ES com centro
isointenso í^. A região isoin-
tensa mostra realce no TI pós-
•contraste (não mostrado).
848 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

30-30A Imagem axial ponderada em T2 em um pacienie com en 30-308 Imagem axial em T2 mais superior mostrando que a hiperin
venenamento por CO há duas semanas mostrando hiperintensidades tensidade afeta a maior parte da coroa radiada B e poupa predomi
características nos globos pálidos E3. Hiperintensidade confluente nantemente a SB subcortical. Envenenamento por CO em sua forma de
envolve praticamente toda a SB cerebral BI, com exceção das fibras "intervalo" (subaguda) com desmielinização tóxica.
subcorticais em U.

Aspectos clínicos sidade sutil nos globos pálidos. Um leve halo de hiperin
tensidade causada por hemorragia ou necrose coagulativa
Apresentação e história natural. O envenenamento agudo
pode estar presente (Fig. 30-29A).
por CO inicialmente causa náusea, vômitos, cefaleia e As imagens de T2/FLAIR mostram hiperintensidades
rebaixamento do nível de consciência. O prognóstico de
bilaterais nos globos pálidos mediais (Fig. 30-29B), com
pende da duração e da intensidade da exposição. Crises os putames e núcleos caudados menos comumente afeta
convulsivas, coma e óbito podem suceder.
dos. Um fino halo hipointenso circunjacente à lesão pode
Os pacientes que sobrevivem ao envenenamento por
estar presente.
CO freqüentemente desenvolvem encefalopatia tardia.
Além das áreas hiperintensas observadas em T2, as
Sintomas de parkinsonismo, deficits de memória e altera
imagens em FLAIR podem revelar envolvimento discreto
ções cognitivas são comuns. dos núcleos caudados, tálamos, hipocampos, corpo calo-
Opções de tratamento. A terapia com oxigênio hiperbárico so, fórnice e córtex cerebral.
é o tratamento de escolha para o envenenamento agudo A seqüência em difusão mostra hiperintensidades bi
por CO. A administração precoce de oxigênio a 100% laterais nos globos pálidos, bem como focos de difusão
restrita na substância branca subcortical. O mapa ADC na
pode auxiliar a atenuar as seqüelas neuropsiquiátricas a
substância branca cerebral se eleva de modo significativo,
longo prazo.
refletindo extensa lesão tecidual microestrutural. A seqüên
Imagem cia DTI mostra redução da FA nas áreas corticais associadas.
Até um terço dos pacientes com envenenamento por
Achados na TC. Os exames iniciais de TC sem contraste
CO desenvolvem leucoencefalopatia tardia com progres
podem ser normais. Hipodensidade simétrica em ambos
siva desmielinização da substância branca, a forma de
os globos pálidos se desenvolve dentro de poucas horas.
"intervalo" (subaguda) da intoxicação. Extensas áreas si
Hemorragia volumosa é rara. Hipodensidade difusa variá métricas e confluentes de hiperintensidade em T2/FLAIR
vel na substância branca hemisférica pode ser observada
são achados característicos (Fig. 30-30).
em casos graves.

Achados na RM. A RM multiplanar (p. ex., FLAIR, T2 e Diagnóstico diferencial


difusão) é a modalidade mais sensível para detecção pre o principal diagnóstico diferencial do envenenamento por
coce das alterações causadas pelo envenenamento por CO é a encefalopatia hipóxico-isqucmica (EHl). Como
CO. As imagens ponderadas em TI mostram hipointen- as duas condições compartilham alguns aspectos de fisio-
Encefalopatia tóxica 849

30-31 Imagem axial ponderada em T2 em um paciente com abuso de 30-32 Imagem sagital ponderada em Ti mostrando afiiamento do
oxido nitroso mostrando desmielinização seletiva e simétrica das colunas corpo caloso B9, e imagens em T2/FLAIR demonstrando hiperintensida-
posteriores BI, característica da degeneração combinada subaguda. de coniluente na SB B. Toxicidade do tolueno devido ao uso crônico de
(Cortesia de C. Glastonbury, MBBS.) cola de sapateiro. (Cortesia de S. Lincofí, MD.)

patologia, os achados de imagem de EHI e envenenamen O excesso de N,0 oxida irreversivelmente o íon co-
to por CO se sobrepõem. A EHI em geral afeta todos os balto da vitamina BI2, o qual é necessário para a meti-
núcleos da base e os hipocampos, com menos freqüência lação dos fosfolipídeos da bainha de mielina. O abuso
a substância branca ou os globos pálidos isoladamente. O crônico de óxido nitroso causa mielopatia e neuropatia
envenenamento por organofosforados (exposição aci periférica progressivas. O resultado final é a degeneração
dental ou proposital) pode causar necrose hemorrágica combinada subaguda da medula espinal. As colunas
bilateral dos globos pálidos. dorsais e os tratos corticospinais são preferencialmente
A doença de Wilson acomete os núcleos da base, me- afetados (Fig. 30-31). As lesões cerebrais são raras.
sencéfalo, ponte e núcleos denteados.
Encefalopatias mitocondriais, especialmente a Abuso de tolueno
doença de Leigh, costumam afetar pacientes mais jovens. o componente mais importante dos solventes industriais
As lesões do tronco encefálico e putames são mais co é o tolueno. motivo pelo qual concentraremos nossa dis
muns do que o envolvimento dos globos pálidos. cussão nessa substância em particular. O tolueno, um
Algumas encefalites virais, como a encefalite Japo líquido incolor em colas, diluentes, tintas e outros pro
nesa, afetam preferencialmente os núcleos da base e os dutos industriais, é lipossolúvel e rapidamente absorvido
tálamos. A doença de Creutzfeldt-Jacob (DCJ) é rapi pelo SNC. A exposição prolongada ocupacional e o uso
damente progressiva e afeta o núcleos caudados, a porção
proposital causam lesões neurológicas multifocals e neu
anterior dos núcleos da base e o córtex. O envolvimento
ropatia óptica.
da região posteromedial dos tálamos é comum na DCJ e
raro no envenenamento por CO. Terminologia
o tolueno, também chamado de metilbenzeno, é um hi-
Óxido nitroso drocarboneto aromático. O envenenamento por tolueno
O óxido nitroso (N,0), comumente conhecido como "gás resulta em cnccfaloputia crônica por solvente.
hilariante", é um suplemento anestésico inalado usado
com freqüência em procedimentos dentários e cirurgias Etioiogla
orais. O N,0 é extremamente solúvel em compostos lipídi- Os métodos comuns de abuso de solventes são a inalação
cos e usado como propelente em sprays de aerossol (p. ex., direta no recipiente, a inalação em um tecido embebido
sprays de chaníHly e outros produtos culinários). O N^O é com o produto sobre a boca e o nariz, e a inalação em uma
ocasionalmente inalado pela suposta euforia. sacola plástica.
850 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

/
A
/

30-33A Espécime de necropsia de um pacienle com inalação de 30-338 Secção coronal através dos lobos occipitais mostrando necro
fumaça, possivelmenfe cinzas de lixo com vapor de cianeto. Observe a se cortical laminar ÍS. (Cortesia de R. Hewlett, MO.)
necrose talâmica bilateral 1^.

Patologia Envenenamento por organofosforados


o toiueno afeta preferencialmente a substância branca Organofosforados (OF) são ingredientes comuns em pes
cerebral e os nervos ópticos, causando desmielinizaçào ticidas. Devido a seu amplo uso na agricultura, pronta
e gliose. A deposição de ferro nos talamos e núcleos da disponibilidade e facilidade de acesso, os OFs são causas
base devido à desmielinizaçào e perda axonal também é potenciais de exposição acidental ou proposital.
c o m u m . "Pesticidas de rua" (pesticidas agrícolas ilegais, de
cantados e sem identificação usados predominantemente
Aspectos Clínicos para fins domésticos) representam um risco crescente para
o abuso de solventes é particularmente prevalente em envenenamentos significativos por pesticidas em nações
adolescentes e em adultos jovens. O baixo custo e a fa emergentes.
cilidade de obtenção têm contribuído para o aumento da O efeito anticolinesterásico dos OFs causa três poten
prevalência em muitos países. O uso crônico regular de ciais síndromes neurológicas distintas. O efeito inicial agu
toiueno causa prejuízo cognitivo grave e irreversível. do é uma crise colinérgica com risco de vida pelo estímulo
excessivo aos receptores muscarínicos. A síndrome inter
Imagem mediária é caracterizada por paralisia de nervos cranianos,
Os exames de imagem em paciente com abuso crônico de paresia da musculatura proximal, polineuropatia tardia e
toiueno costumam ser normais. Anormalidades são obser sintomas extrapiramidais do tipo parkinsonismo. A exposi
vadas após vários anos de abuso crônico. Lesões difusas ção ocupacional crônica ou em baixas doses pode resultar
na substância branca são observadas em quase metade em distúrbios neurocomportamentais e neuropsiquiátricos.
dos pacientes, inicialmente vistas como hiperintensida- O envenenamento agudo por OFs causa necrose he
de em T2/FLAIR na SB periventricular profunda com morrágica dos núcleos da base com o sinal do "olho do ti
subsequente extensão para os centros semiovais e áreas gre". Nas imagens em T2, um anel marcadamenle hipoin-
subcorticais. A cápsula interna, o cerebelo e a ponte são tcnso causado pela deposição excessiva de ferro circunda
comumente afetados (FIg. 30-32). um foco central hiperintenso nos globos pálidos mediais.
A exposição crônica e prolongada ao toiueno tam O diagnóstico diferencial do envenenamento por OFs
bém causa atrofia generalizada com dilalaçâo ventricular inclui outras causas de necrose dos globos pálidos rela
e alargamento dos espaços subaracnóideos. A perda de cionadas a drogas, como a intoxicação por monóxido de
volume da SB é observada como afilamento do corpo ca- carbono. A encefalopatia hipóxico-isquêmica e encefalo-
loso. A extensão da redução volumétrica se correlaciona patias metabólicas como as doenças de Leigh e Wilson
diretamente com a duração do abuso. também afetam os núcleos da base.
Encefalopatia tóxica 851

30-34A Imagem em FIAIR em um caso de inalação de fumaça com 30-34B Imagem em plano mais superior no mesmo paciente mos
envenenamento por cianeto por queima de plástico mostrando hiperin- trando as hiperinlensídades B, as quais são especialmente proeminen
tensidade simétrica nos núcleos caudados e nos putames Si, lesões tes nos lobos occipitals B.
mais sutis no tálamo posteromedial B e fiiperintensidades curvilíneas
cortícais B.

Envenenamento por cianeto Patologia


Terminologia Necrose hemorrágica dos núcleos da base e necrose cor
o cianeto (CN) é um dos mais potentes e mortais de todos tical laminar são achados patológicos característicos do
envenenamento por CN (Fig. 30-33).
os venenos. Compostos cianogênicos podem ser encontra
dos em substâncias domésticas e industriais, podendo ser
Aspectos clínicos
propositalmente ou acidentalmente ingeridos.
A intoxicação aguda por CN é também chamada de Os pacientes com envenenamento agudo por CN apre
envenenamento por CN e costuma ser resultado de tentati sentam irresponsividade, instabilidade hemodinâmica e
va de suicídio ou inalação de fumaça. A toxicidade crônica grave acidose láctica. Como as doses administradas são
pelo CN é comumente causada pela exposição ocupacional freqüentemente altas, o envenenamento agudo por CN é
a substâncias que contêm compostos cianogênicos. A expo fatal em 95% dos casos, com óbito em geral ocorrendo em
minutos. Os sobreviventes podem desenvolver pseudopa-
sição crônica ao CN resulta em encefalopatia por cianeto.
rkinsonismo com sintomas extrapiramidais.
Etloiogia
o CN existe nas formas gasosa, sólida e líquida. O en Imagem
venenamento por CN pode ocorrer por inalação, ingestão A RM é a modalidade de escolha para demonstrar a exten
ou absorção transdérmica. A combustão de muitos mate são das lesões. Os pacientes que sobrevivem ao episódio
riais comuns como alguns tecidos e plásticos pode liberar inicial mostram hiperintensidade simétrica nos núcleos
cianeto e outros compostos cianogênicos. Compostos cia da base e hiperintensidade cortical linear em T2/FLAIR
nogênicos também são encontrados em alguns alimentos, (Fig. 30-34). O envenenamento por CN geralmente poupa
como amêndoas, frutas de caroço, feijão-de-lima e raiz de os hipocampos. As imagens em TI pós-contraste apresen
mandioca. tam realce intenso nas áreas afetadas.
O cianeto inativa a citocromo oxidase, uma enziina- Nas fases subaguda e crônica, a necrose hemorrági
-chave na cadeia respiratória mitocondrial. Portanto, o ca causa hiperintensidade em TI nos núcleos da base. A
envenenamento agudo por CN afeta estruturas com altas necrose laminar resulta em hiperintensidade linear serpi-
exigências metabólicas. Os núcleos da base e o córtex ginosa no córtex.
são mais comumente acometidos. Hipoxia cerebral pode
ocorrer como parte do processo agudo de intoxicação, Diagnóstico diferencial
complicando tanto o diagnóstico quanto o tratamento do o diagnóstico diferencial mais importante do envenena
envenenamento por CN. mento por CN é a encefalopatia hipóxico-isquêmica.
852 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

30-35 TC sem contraste mostrando redução volumétrica nos lobos 30-36 Caso de necropsia de envenenamento crônico por mercúrio
frontais e temporais devido a envenenamento por chumbo. (Cortesia de mostrando perda volumétrica difusa cortical e cerebelar. A medula, a
R, Ramakantan, MD.) ponte e o mesencéfalo também se encontram reduzidos. (Cortesia de R.
Hewlett, MD.)

Esta pode complicar o envenenamento por CN, e suas ca


racterísticas freqüentemente se sobrepõem, uma vez que Envenenamento e intoxicação por
os núcleos da base são afetados em ambas as condições. metais pesados
Uma variedade de metais pode causar sérias disfunções
TOXINAS E GASES INALADOS
neurológicas quando depositados em quantidades exces
Envenenamento por monóxído de carbono sivas no SNC. O acúmulo de manganês é mais comum no
• Agudo: necrose simétrica dos globos pálidos contexto da insuficiência hepática crônica (ver Capítulo
• Subagudo ("intervalo"): ieucoencefaiopatla confluente 32), porém também ocorre com a exposição ocupacional.
Outras toxinas do ambiente, como chumbo e mercúrio,
Abuso de oxido nitroso
• Lesões cerebrais raras podem causar neurotoxicidade significativa.
• Degeneração combinada subaguda da medula espinal
o Hiperintensidade das colunas dorsais Envenenamento por chumbo
Abuso de tolueno (solventes) o chumbo (Pb) é uma neurotoxina ambiental potente e
• Uso crônico e repetido difundida, especialmente prejudicial durante o desenvol
o Atrofia vimento na infância. O envenenamento crônico por Pb
o Lesões de substância branca ocorre em três formas: (1) forma gastrintestinal (ano
o Lesões no tálamo, substância negra, núcleos rubros rexia, vômitos, "eólica" plúmbica, etc.), (2) forma neu
e núcleos denteados romuscular (fraqueza muscular, mialgias, neurite peri
Envenenamento por organofosforados (pesticidas) férica, etc.), (3) forma cerebral ou neuropsiquiátrica
• Hemorragia e necrose dos núcleos da base (irritabilidade, cefaleia, encefalopatia, crises convulsivas,
• Sinal do "olho do tigre" etc.). A forma cerebral é comum em crianças, enquanto as
Envenenamento por cianeto manifestações neuromusculares são mais freqüentes em
• Suicídio, inalação de fumaça adultos. A forma gastrintestinal ocorre em ambas as faixas
• Hemorragia e necrose dos núcleos da base etárias.

• Necrose cortical laminar Utensílios de cozinha contendo chumbo e medicações


indígenas são fontes comuns de envenenamento por Pb
Encefalopatia tóxica 853

em países em desenvolvimento. A exposição crônica a Dano por radioterapia


chumbo está associada a um impacto significante e persis A cada ano, nos Estados Unidos, cerca de 100.000 pa
tente na microestrutura da substância branca.
cientes com tumores cerebrais primários e metastáíicos
Os pacientes com encefalopatia por chumbo modera sobrevivem tempo suficiente (mais do que seis meses)
da a grave em geral possuem níveis sangüíneos que exce
para desenvolverem algum grau de dano induzido pela
dem 70 pg/dL. Nesses casos, a TC ou RM podem revelar
radioterapia (DIR).
perda volumétrica, especialmente no córtex frontal e na Muitos pesquisadores dividem o DIR em três fases:
SB subcortical (Fig. 30-35). dano agudo, dano precoce e dano tardio. Até o momento,
Em casos mais brandos, a DTI pode revelar alterações
a fisiopatologia e o curso natural do DIR no SNC não são
sutis como redução da anisotropia fracionada e difusibili-
completamente compreendidos. Patologicamente, o dano
dade na coroa radiada e no corpo caloso.
pela radioterapia (RxT) varia de leve edema vasogênico
transitório a franca necrose. O dano que resulta da radio
Envenenamento por mercúrio terapia depende de um número de variáveis que incluem
o mercúrio (Hg) ocorre naturalmente em três formas: o dose total, tamanho da área, número/frequência/fracio-
mercúrio elementar, o vapor de mercúrio e o mercúrio namento das doses, uso concomitante de quimioterapia e
orgânico/inorgânico. O mercúrio elementar {"prata liqui idade do paciente.
da") é líquido em temperatura ambiente. O Hg líquido não Vários tecidos diferentes do SNC são afetados pela
é absorvido pela pele e, se ingerido, passa através do trato RxT. Células do endotélio vascular, oligodendrócitos, as-
gastrintestinal sem ser absorvido. O mercúrio se toma va trócitos, micróglia e neurônios provavelmente interagem
por com facilidade, possuindo alta difusibilidade e lipos- na resposta cerebral ao dano pela radiação.
solubilidade. O vapor de Hg é muito tóxico e facilmente Os oligodendrócitos são especialmente sensíveis.
absorvido. Ocorre dano vascular tanto no dano precoce quanto no
Apesar das exposições ocupacionais ao Hg ainda tardio. Antes considerados radiorresistentes, hoje se sabe
ocorrerem ocasionalmente em atividades como manu
que os neurônios respondem negativamente à radiação e
fatura e mineração, a maior parte dos casos é causada provavelmente desempenham um papel importante, po
por absorção transdérmica de cosméticos ilegais e bio- rém não ainda não bem elucidado, no declínio cognitivo
concentraçâo de metilmercúrio inorgânico na cadeia ali tardio induzido pela radioterapia.
mentar. Frutos do mar (peixe e mamíferos marinhos) são
especialmente suscetíveis à contaminação. O envenena Dano agudo pela radioterapia
mento por mercúrio orgânico é conhecido como doença O DIR agudo ocorre dias a semanas após a irradiação e é
de Minamata. muito raramente encontrado com os regimes modernos de
A patologia macroscópica mostra atrofia cortical dis RxT. As principais manifestações clínicas do DIR agudo
seminada, redução de volume da substância branca e afi- incluem cefaleia e torpor.
lamento do corpo caloso (Fig. 30-36). Espongiose e gliose Os exames de imagem costumam ser normais, mas a
acentuadas, com perda neuronal, são observadas ao estu
espectroscopia de prótons, a DTI e a RMf podem detec
do microscópico. tar anormalidades antes que os sintomas neurocognitivos
Achados de imagem da doença de Minamata incluem ou as alterações anatômicas apareçam. Ocasionalmente,
atrofia do córtex calcarino (visual), do verme e hemisfé edema transitório da substância branca secundário a al
rios cerebelares, e do córtex pós-central. Fluxo sangüíneo
terações na permeabilidade capilar pode ser visto nas se
reduzido pode ser observado mesmo na ausência de atro
qüências T2/FLAIR.
fi a c e r e b e l a r.

Dano precoce pela radioterapia


No DIR precoce, anormalidades nas imagens podem ser
Distúrbios reíacionadcs detectadas a partir de I a 6 meses após a RxT ter sido
completada. O DIR precoce é caracterizado patologica
ao tratamento
mente por desmielinização transitória e clinicamente por
Uma discussão extensa sobre todas as anormalidades ia- sonolência, déficits de atenção e perda da memória a curto
trogênicas no cérebro está muito além do escopo deste prazo. Os pacientes podem apresentar prejuízos cogniti
texto. Discutiremos aqui os distúrbios mais comuns, con vos significativos mesmo na ausência de anormalidades
centrando nossa atenção nos efeitos de tratamentos que anatômicas detectáveis.
precisam ser identificados em exames de imagem, como Áreas hipodensas confluentes na TC sem contraste e
radioterapia, quimioterapia e cirurgia. hiperintensidade da SB periventricular em T2/FLAIR são
854 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

anormalidades típicas. Nesse estágio, alterações pelo DIR Seqüelas em longo prazo do dano por radiação
costumam ser leves e reversíveis, com freqüência regre
Além da encefalopatia necrosante, complicações em
dindo de forma espontânea.
longo prazo da RxT incluem vasculopatia, microangiopa-
Dano tardio pela radioterapia tia mineralizante, proliferação glomeruloide microvascu
lar com telangiectasias (malformações vasculares induzi
O DIR tardio não é observado até pelo menos seis me
das pela RxT) e desenvolvimento de neoplasias induzidas
ses após a irradiação. Essas lesões tardias são vistas como
progressivas e, em grande parte, irreversíveis, resultando pela radioterapia.
da perda de células glials e do endotélio vascular. A vasculopatia induzida por radiação com hiper-
Patologicamente, a necrose coagulativa em um padrão plasia endotelial resulta em estreitamento difuso de ar
de "mosaico" com focos coalescentes produz leucoencefa- térias de médio e grande calibre. Infartos isquêmicos e
lopatia necrosante na SB profunda cerebral. As fibras sub- doença semelhante à Moyamoya podem ocorrer como
corticais em U e o corpo caloso são poupados (Fig. 30-37). resultado (Fig. 30-38).
Alterações vasculares incluem necrose fibrinoide, hialini- A microangiopatia mineralizante é freqüentemente
zação e esclerose associada à trombose. A necrose tardia
observada em pacientes tratados com combinação de RxT
pela radiação é inicialmente expansiva e com efeito de e quimioterapia. A microangiopatia mineralizante em ge
massa, com necrose em grande parte confinada à SB. ral se toma aparente até pelo menos dois anos após o tra
No início, o DIR tardio mostra efeito de massa e tamento; é então observada como calcifícações nos núcle
realce variável nos exames de imagem. Na seqüência, os da base e da substância branca subcortical (Fig. 30-39).
perda volumétrica, espongiose da SB com hiperinten- Malformações vasculares induzidas pela radiote
sidade confluente e calcifícações podem ser observadas rapia (MACIRs) são primariamente telangiectasias capi
(Fig. 30-37). lares ou malformações cavemomatosas, mais comumente

30-37A Um homem de 47
anos submetido a RXT cerebral
total por leucemia desenvolveu
declínio cognitivo progressivo e
prejuízo funcional três anos após
o tratamento. A imagem em
FLAIR mostra perda volumétrica
com venlriculos aumentados,
sulcos proeminentes e hipe-
rintensidade confluente da SB
profunda e periventricular B.
As fibras subcorticais em U estão
poupadas.
30-37B Imagem em FLAIR em
plano mais superior mostrando
hiperintensidade confluente na
SB característica de leuco-
encefalopatía necrosante.

30-37C Imagem ponderada


em JI' GRE mostrando vários
focos hipointensos com artefatos
de susceptibilidade E3, consis
tentes com malformações vascu
lares induzidas pela radioterapia.
30-370 Imagem em 12* em
plano mais superior mostrando
focos hipointensos adicionais
Encefalopatia tóxica 855

30-38 ARM em um paciente


com infarto de ACM direita anos
após a RxT mostrando ailerações
com padrão de moyamoya,
vasculopatia pós-írradiação.
Estenose de alto grau em ambas
as ACis supraciinóideas B está
presente. (Cortesia de P. Hiiden-
brand, MO.)
30-39 TC sem contraste em

/ T V um homem de 20 anos subme


tido à RxT e quimioterapia aos 8

\A/ I
anos devido à medulobiastoma.
As calcifica^ões nos núcleos da
base S3 e na SB subcortical B
A são características de microan-
giopatia mineraiizante. (Cortesia
de P. Chapman, MD.)

30-40A Paciente com irradia


ção total do cérebro e quimio
terapia para oligodendrogiioma
anaplásico apresentou crises
convulsivas cinco anos após o

d
tratamento. Imagem ponderada
em TI pós-contraste mostrando
múltiplos focos de realce na SB
do hemisfério esquerdo B.
Necrose tardia por radioterapia
versus recorrência tumoral.
30-40B pRM mostrando ele
vado rCBV nas áreas de realce
B, que sugere que os focos
de realce representam tumor
recorrente em vez de ieucoence-
falopatia necrosante.
•4*

30-40C Imagem ponderada


em T2* SWI mostrando inúmeros
focos hipointensos com sus-
. / ceptibilidade magnética na SB,
consistentes com malformações
vasculares induzidas pela radio
terapia.
30-40D Imagem em piano
mais superior do mesmo pacien
te mostrando pequenas lesões
adicionais e um foco maior {^,
consistente com hemorragia na
neoplasia recorrente. A biópsia
confirmou recorrência do oligo
dendroglioma anaplásico (grau
111 da OMS) e telangiectasias
capilares.
856 Distúrbios tóxicos, metabòlicos, degenerativos e do LCS

observadas em crianças que receberam radioterapia cere Diferentemente do dano pela radioterapia, a lesão tó
bral total para leucemia iinfoblástica aguda. As seqüên xica aguda induzida pela quimioterapia é comum. As duas
cias ponderadas em T2* (GRE, SWI) demonstram micro- anormalidades mais freqüentes são a síndrome da encefa-
-hemorragias com artefatos de susceptibilidade magnética lopatia posterior reversível e a leucoencefalopatia induzi
na maior parte dos pacientes (Fig. 30-40). O desenvolvi da pelo tratamento.
mento de MACiRs em menos de três anos após a RxT é A síndrome da encefalopatia posterior reversível
incomum. Crianças com menos de 10 anos de idade no (PRES) é discutida em detalhes no Capitulo 32. Na PRES
momento da irradiação apresentam maior risco. relacionada à quimioterapia, os achados de imagem cos
Neoplasias induzidas pela radioterapia são raras, tumam ser atípicos. Os lobos occipitais são comumente
porém freqüentemente devastadoras. A RxT é o fator de poupados, enquanto o cerebelo, o tronco encefálico e os
risco mais importante para o desenvolvimento de uma núcleos da base em geral são afetados. Hemorragia, realce
nova neoplasia primária do SNC. Em torno de 70% são pelo meio de contraste e restrição à difusão - todos relati
meningiomas. 20% são astrocitomas malignos e 10% são vamente raros na PRES "típica" - são comuns.
sarcomas. Os meningiomas ocorrem em média 17 a 20 A leucoencefalopatia induzida pelo tratamento é
anos após o tratamento, enquanto os gliomas ocorrem em especialmente comum em pacientes tratados com me
uma média de nove anos. Os sarcomas possuem uma la- totrexato. Neurotoxicidade aguda ocorre em 5 a 18%
tência média de 7 a 8 anos após a RxT. das crianças tratadas para leucemia Iinfoblástica aguda.
Áreas de hiperintensidade em T2/FLAIR confluentes,
Efeitos da quimioterapia bilaterais e relativamente simétricas na SB periventri
Atualmente, os agentes quimiotcrápicos mais comuns en cular são típicas (Fig. 30-41). As anormalidades nos
volvidos com toxicidade no SNC são metotrexato. citara- exames de imagem costumam desaparecer após o tra
bina, vincristina, asparaginase e corticosteroides. tamento.

30-41A Uma menina de 5


anos que recebeu metotrexato
intrateca! para leucemia Iinfo
blástica aguda. A deterioração
clínica aguda levou a solicitação
de exames de imagem. A TC sem
contraste mostra hipodensidade
confluente na SB tB em ambos
os hemisférios.
30-41B Imagem pondera
da em T2 da mesma paciente
mostrando hiperintensidade
conlluenle e simétrica na SB pro
funda de ambos os hemisférios
ESI. Observe que as fibras sub-
cortícais em U estão poupadas.

30-41C Imagem em plano


mais superior da mesma pacien
te mostrando a hiperintensidade
confluente na SB e as fibras
subcorticais poupadas.
30-410 Imagem coronal
d'
ponderada em 12 da mesma
paciente nove anos depois mos
trando resolução completa das
alterações na SB.
Encefalopatia toxica 857

30-42 (Esquerda) Imagem coronal ponderada em T2 após ressecçâo 30-43 Síndrome do flap cutâneo rebaixado seis dias após craniec-
de meningioma mostrando uma massa mista hiper E3 e hipointensa tomia descompressiva. O flap cutâneo ES obliterou os sulcos frontais,
ES. (Direita) A lesão B realça fortemente e de maneira relativamente causando uma leve herníação subfaicial contralateral,
uniforme. A cirurgia revelou textiloma sem tumor residual ou recorrente.

Efeitos da cirurgia Quase 40% dos textilomas são hipointensos em T2.


A interpretação de achados de imagem no cérebro pós-ope-
Muitos promovem artefatos de susceptibilidade magnéti
ca nas seqüências ponderadas em T2* (GRE, SWI). A res
rado pode ser desafiadora. Achados esperados incluem pneu-
trição à difusão é variável. A maioria realça; tanto padrões
moencéfalo, hemorragia focai, edema de retração, pequenas
sólidos quanto anelares podem ocorrer (Fig. 30-42).
coleções de LCR subdurals (higromas), etc. Concentraremos
nossa discussão em apenas duas anormalidades cujo reco
Síndrome do Flap cutâneo rebaixado
nhecimento é importante nos exames de imagem: retenção
de material cirúrgico ("textiloma", também discutido no Ca A síndrome àoflap cutâneo rebaixado (SFCR) - também
referida como "síndrome do trepanado" - é uma causa
pítulo 26) e síndrome do flap cutâneo rebaixado (SFCR).
incomum de deterioração neurológica em pacientes que
Textiloma passaram por grandes craniectomias descompressivas
o textiloma - também conhecido corno gossipiboma, devido a edema cerebral incontrolável (comumente após
muslinoma ou gauzoma - é uma reação de corpo estranho trauma ou infartos hemisféricos "malignos").
a elementos cirúrgicos retidos. O termo tradicionalmente A SFCR ocorre em 20 a 25% dos pacientes que sobre
refere-se a reações a elementos cirúrgicos inadvertida vivem à cirurgia descompressiva e nos quais a cranioplas-
mente deixados no leito cirúrgico, porém recentemente tia é tardia. Essa condição se apresenta semanas a meses
foi expandido para incluir reações a elementos cirúrgicos após a craniectomia e é aliviada pela cranioplastia. Os
intencionalmente posicionados. sinais e sintomas de apresentação variam, porém rebaixa
A incidência de textiloma é de 0,001 a 0,01% na li mento do nível de consciência e hemiparesia são os acha
teratura cirúrgica geral. Textilomas intracranianos são ra dos mais comuns. Em casos graves, a SFCR pode incorrer
ros. Tanto agentes hemostáticos absorvíveis quanto não em risco de vida, especialmente se exacerbada por punção
absorvíveis podem ser colocados no leito cirúrgico para tombar ou fistula liquórica.
As características de imagem mais comuns da SFCR
promover hemostasia persistente após o fechamento.
Quando ocorrem, os textilomas podem ser confundi são a depressão do flap cutâneo e efeito de massa no cór-
dos com tumor recorrente ou com abscessos nos exames tex, evidenciado pela obliteração dos sulcos e borramento
de imagem. A maior parte dos materiais cirurgicamente da interface entre as substâncias branca e cinzenta sob o

posicionados (p. ex., hemostatos de algodão, tecido de flap cutâneo. O desvio das estruturas da linha média ou da
musseline, politetrafluoretileno [Teflon]) não apresenta fissura inter-hemisférica e/ou septo pelúcido contralate-
anormalidades de sinal na RM. Eles são identificados ape ralmente dsaflap cutâneo rebaixado é observado em 75%
nas quando uma reação de corpo estranho se desenvolve, dos casos (Fig. 30-43).
formando um textiloma.
858 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

Intoxicação por metanol


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31
Doenças metabólicas hereditárias

normal da substância branca é um pré-requisito para en


Mielinização e desenvolvimento normal da tender as DMHs. Desse modo, este capitulo iniciará com
substância branca 861
uma revisão de como a mielinização normalmente ocorre
Considerações gerais 861
do nascimento até os dois anos de idade.
Imagem da mielinização normal 869
Classificação das doenças metabólicas hereditárias 869 Depois de terem sido delineados os padrões da
Visão geral 869 mielinização normal vistos nas RMs, o capítulo segui
Abordagem com base em organelas 870 rá com uma visão geral e introdução das DMHs. Se
Abordagem metabólica 870 rão apresentadas uma discussão da classificação e uma
Abordagem com base na imagem 871 abordagem recomendada para analisar as alterações da
Doenças metabólicas hereditárias que afetam imagem.
predominantemente a substância branca 871 Finalmente, serão apresentadas DMHs específicas. A
Predomínio da substância branca periventricular 871 discussão enfatizará as leucodistrofias herdadas, incluin
Predomínio da substância branca subcortical 884
do aquelas com desenvolvimento anormal da mielina, hi-
Doenças hipomielinizantes 885
pomielinização ou degeneração da mielina.
Doenças metabólicas hereditárias que afetam
predominantemente a substância cinzenta 886
Doenças metabólicas hereditárias que afetam
principalmente os núcleos profundos da
substância cinzenta 886
Mielinização e desenvolvimento normal
Doenças metabólicas hereditárias que afetam da substância branca
principalmente o córtex 894
Considerações gerais
Doenças que afetam as substâncias cinzenta e branca ...895
Mucopolissacaridoses 895 Mielinização
Doença de Canavan 897 A mielinização é um processo ordenado, altamente regu
Doença de Alexander 899
lado e com múltiplas fases que começa durante a quinta
Doenças da biogênese peroxissomal 901
Doenças mitocondriais (doenças da cadeia respiratória) 902 semana fetal e se completa até 18 a 24 meses pós-natal.
Doenças do ciclo da ureia/amônia 909 Algumas estruturas (p. ex., nervos cranianos) mielinizam
Acidemias metilmalônica e propiònica 909 relativamente mais cedo no desenvolvimento fetal, en
Gangliosidose 909 quanto outras (p. ex., radiações ópticas e fibras para/de
Doença de Fabry 910 áreas associativas) em geral não mielinizam por completo
até a terceira ou mesmo quarta década de vida.
Doenças metabólicas hereditárias (DMHs) - algumas A mielinização cerebral geralmente progride de sen
vezes chamadas de "erros inatos do metabolismo" - são tido Inferior para superior, central para periférico e
doenças relativamente incomuns que representam um de posterior para anterior. Por exemplo, o tronco encefáli-
safio diagnóstico para clínicos e radiologistas. As DMHs co mieliniza antes dos hemisférios cerebelares, o segmen
podem apresentar-se praticamente em qualquer idade, da to posterior das cápsulas internas mieliniza antes do seg
infância até a quinta ou sexta década. Os sintomas variam mento anterior, e a substância branca (SB) periventricular
não só entre as doenças, mas também no grau de gravida profunda mieliniza antes das fibras subcorticais em U. O
de dos pacientes com a mesma doença. t r o n c o e n c e f á l i c o d o r s a l m i e l i n i z a a n t e s d o a n t e r i o r, e -
Ressonâncias magnéticas (RMs) são obtidas de rotina com exceção dos tratos de associação parieto-occipitais
em recém-nascidos e em crianças com atraso do desen - a SB occipital mieliniza mais cedo que a SB no lobo
volvimento neurológico. O conhecimento da mielinização temporal anterior e no lobo frontal.
862 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

Tabela 31-1 Sinais de mielinização selecionados


Idade Hlperíntensidade em TI Hipointensidade em T2
Nascimento

Tronco encefálico dorsal Tronco encefálico dorsal

Segmento posterior da Cl Segmento posterior da Cl parcial

Giro perirrolândico Giro perirrolândico

3 a 4 meses

Tronco encefálico ventral Segmento posterior da Cl

Segmento anterior da Cl

Esplênio do CC

Coroa radiada central e posterior

6 meses

SB cerebelar Tronco encefálico ventral

Joelho do CC Segmento anterior da Cl

SB parietal, occipital Esplênio do CC

SB occipital

12 meses

Fossa posterior (- adulto) A maior parte da coroa radiada

A maior parte da coroa radiada SB subcortical posterior

SB subcortical posterior

18 meses

Toda a SB, exceto fibras em U temporais, frontais Toda a SB, exceto fibras em U temporais, frontais, radiações occipitais

24 meses

Fibras em U frontais, temporais anteriores Fibras em U frontais, temporais anteriores

CC ° corpo Cdioso; Cl = cápsula interna; S6 = substância branca.

Tomografia computadorizada com dois fatores importantes, ou seja, a idade do pacien


Os hemisférios de um recém-nascido a termo normal ao te e a seqüência de imagem empregada.
nascimento aparecem bem formados. O padrão girai é A SB não mielinizada é hipointensa em relação à subs
tância cinzenta em TI. Assim que a SB se desenvolve, toma-
maduro, com o córtex e os sulcos da superfTcie distinta
mente definidos. As fissuras cerebrais laterais (silvianas) -se hiperintensa. A maturação da mielina com hlperíntensi
dade em T1 da SB está relacionada ao aumento no colesterol
podem ser um pouco proeminentes, mas em geral asseme
lham-se àquelas vistas em crianças maiores. Os espaços e de galactocerebrosídeos nas membranas da mielina.
subaracnóideos frontais e as cisternas da base geralmente A SB inteiramente mielinizada é hipointensa em rela
são proeminentes até um ano de idade. ção à substância cinzenta em T2. A maturação da mielina
Ao nascimento, a SB é, em sua maior parte, não mie- resulta em redução do conteúdo de água na SB, com con
comitante hipointensidade em T2.
linizada, portanto aparece hipodensa devido ao alto con
teúdo relativo de água. Durante os primeiros 6 ou 8 meses de vida, as seqüên
cias ponderadas em TI são melhores para avaliar a estru
tura macroscópica do encéfalo e para analisar a maturação
Ressonância magnética da SB. Seqüências pesadas ponderadas em T2 são as se
A anatomia detalhada do córtex cerebral e da SB é mais qüências mais sensíveis para avaliar a maturação da SB
bem delineada pela RM. A aparência da SB madura varia entre 6 e 18 meses.
Doenças metabólicas hereditárias 863

3 1 -1 A TI a xi a l e m u m re cém-
-nascido a lermo normal ao nas
cimento mostrando que o bulbo
dorsal os pedúnculos cere-
belares inferiores e o verme S
são hiperintensos e densamente
mielinizados, em comparação
com o tronco encefálico mais
anterior B. A SB cerebelar não
está mielinízada e hipoíntensa.
31-18 T2 mostrando que o
bulbo e os pedúnculos cerebela-
res inferiores EEl, assim como o
núcleo denteado B e o verme
estão mielinizados. A SB
não mielinizada no hemisfério
cerebelar permanece hiperin-
tensa.

31 -1C 11 no mesmo recém-


-nascido a termo mostrando
\
hiperintensidade no segmento
posterior das cápsulas internas,
mais intensa na localização dos
tratos corticospinals B.
31 -1D T2 mostrando uma dis
creta hipointensidade B, que
representa a mielinização preco
ce no segmento posterior da cáp
sula interna. O esplênio do corpo
caloso B não está mielinizado.
Este achado é mais evidente em
TI do que em T2.

31-1E TI mostrando hiperin


tensidade nos giros rolândicos e
perirrolãndicos B, correspon
dendo à mielinização precoce
normal nesses giros. Hiperinten
sidade mal-definida na SB dos
tratos corticospinals B repre
senta a mielinização precoce
normal dos tratos motores.
31 -1F T2 mostrando SB pre
dominantemente hiperintensa
(não mielinizada). Observe a
hipointensidade normal nos giros
rolândicos e perirrolãndicos B,
e a tênue hipointensidade nos
tratos corticospinals S.
864 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

31-2 A TI axial em um recém-


-nascido normal com 3,5 meses
mostrando que o bulbo ES
está completamente mielini-
zado. A híperintensidade agora
estende-se até os hemislérios
cerebelares proximais mas
a SB mais periférica permanece
não míelinizada e aparece hi-
pointensa.
31-2B T2 mostrando hipoin-
tensidade no tronco encefáíico
dorsal B e nos núcleos dos
nervos cranianos assim

como nos pedúncuios cerebela


res médios BS.

31-2C TI. Observe o intenso

hipersinal no segmento posterior


ES e uma discreta hiperintensi-
dade começando a aparecer no
segmento anterior das cápsulas
internas ES. A S8 profunda occi
pital posterior está começando a
mieiinizar BI.
31-20 T2. A hipointensidade
é vista no segmento posterior
das cápsulas internas ES. O
segmento anterior B está co
meçando a mieiinizar, não sendo
bem visualizado entre o hipos-
sinal do caudado e os núcleos
da base.

31-2E TI. A SB na coroa


radiada permanece, em sua
maior parle, não mielinizada
aos 3,5 meses, embora alguma
mielinizaçâo na SB profunda
nos sulcos centrais B3 esteja
presente.
31-2F T2. Exceto pelas áreas
"borradas" B profundas dos
sulcos centrais, a SB na coroa
radiada permanece hiperintensa
e não mielinizada.
Doenças metabólicas hereditárias 865

31-3A TI axial de uma criança


de seis meses mostrando que a
ponte B e os pedúnculos cere-
belares médios B estão com
pletamente mielínizados e que
a hiperintensidade se estende
perifericamente nos hemisférios
cerebelares EB
31-38 T2 no mesmo paciente
mostrando um grande contraste
entre a ponte hipointensa (míe-
linizada) B e a SB cerebelar
proximal B. em comparação
com a S6 hiperintensa não miell-
nizada nos lobos temporais S.

31-3C 11 mostrando hipe


rintensidade nos segmentos
posterior IS e anterior da
cápsula interna B, assim como
no esplènio B e no joelho B
do corpo caloso. A 58 subcortical
não está mielinizada e está isoin-
tensa em relação ao córtex,
31 -30 12. Ambos os segmen
tos da cápsula interna B estão
mielínizados e hipointensos. O
esplènio do corpo caloso B é
mais hipointenso que o joelho
o qual acabou de iniciar a
mielinização. O espaço subarac-
nóideo frontal proeminente é
normal.

31-3E TI. A mielinização


estende-se da SB central até as
fibras subcorticais periféricas,
especialmente nos lobos parietal
e occipital B.
31-3F T2. A hipointensidade
na coroa radiada B não é tão
extensa quanto a hiperintensida
de vista na Ti correspondente.
De fato, a mielinização nas
seqüências ponderadas em T2
normalmente é vista depois
daquela em TI. Observe a pro-
eminéncia normal dos espaços
subaracnóideos frontais e inter-
-hemisféricos.
866 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

31-4A TI axiai em uma


criança normal de 12 meses de
idade moslrando que a ponle e
o cerebeio têm uma aparência
semelhante no adulto. A ponte
E3 e os pedúnculos cerebelares
médios ES são completa e den
samente mieiinizados. A SB do
lobo temporal anterior B ainda
não está mielinizada.
31 -48 T2. A SB cerebelar é
hipointensa e mielinizada, em
contraste com a SB subcortical
nos lobos temporais a qual
é ainda hiperintensa e não mie
linizada.

3 1 - 4 C 11 m o s t r a n d o u m a
míelinízação semelhante à
do adulto. A hiperintensidade
estende-se até as fibras subcor-
ticais nos lobos occipitais ES e
parietais. Na porção mais ante
rior dos lobos frontais, as fibras
subcorticais em U permanecem
não mielinizadas BI.
31-4D 12 mostrando hipoin-
tensidade subcortical das fibras
em U nos lobos occipital ES,
parietal, mas não nos lobos tem
poral, frontal BI. Alguma hiipe-
rintensídade lateral aos cornos
occipitais trígonos El é normal.

31-4E A mielinizaçâo da coroa


radiada e das fibras subcorticais
em U está quase completa em
TI. Apenas os tratos de associa
ção subcorticais mais anteriores
B permanecem não mieiini
zados.
31-4F T2. As fibras subcorti
cais em U parietais e occipitais,
juntamente com a porção central
da coroa radiada aparecem
hipointensas. As fibras frontais
mais superiores B permane tr
cem não mielinizadas. A presen
ça de alguns focos hiperintensos
laterais e posterossuperiores ■<
•-1
aos ventrículos laterais B é N '■ l '
normal.
Doenças metabólicas hereditárias 867

31-5A TI axial em uma crian


ça normal de 18 meses de idade
mostrando que as estruturas da
fossa posterior são iguais às do
adulto. Hiperintensidade na SB
das folias cerebelares ES indica
que a mielinizaçâo está com
pleta. A SB nos lobos temporais
anteriores BI permanece não
mielinizada.
31-5B T2. Aos 18 meses, as
estruturas da fossa posterior es
tão completamente mielinizadas,
mas a SB nos lobos temporais
anteriores permanece não mie
linizada, e ainda é hiperintensa

31-5C TI. Com exceção da


porção mais anterior dos lobos
frontais El e dos lobos tem
porais superiores as fibras
subcorticais em D são comple
tamente mielinizadas aos 18
m e s e s .

31-5D T2. Somente as fibras


subcorticais em U temporais
B e frontais El permanecem
hiperintensas e não mieliniza
das com 18 semanas de Idade.
Observe a hiperintensidade
persistente nas fibras de asso
ciação parieto-occipitais El, as
quais em geral não mielinizam
completamente e permanecem
hiperintensas até a segunda ou
terceira décadas.

31-5E TI. A SB na coroa radia


da agora parece quase igual à do
adulto, com a hiperintensidade
estendendo-se até as fibras sub
corticais em U El
31-5F T2. Com exceção de
algumas fibras subcorticais em U
frontais El, a mielinizaçâo da
coroa radiada está completa. As
hiperintensidades puntiformes
na SB parietal subcortical B
são espaços perívasculares, os
quais normalmente são vistos
na RM 3.0T em pacientes pedià-
tricos.
868 Distúrbios tóxicos, metabóllcos, degenerativos e do LCS

31-6A TI axial em uma crian


ça normal de 3 anos mostrando
uma aparência de adulto. A
maturação, a arborizaçào e a
r
mielinização das folias cerebe-
íares estão completas. Observe
a hiperintensidade nas fibras
subcorticais em U da S6 do lobo
temporal anterior B, indicando
mielinização normal.
31-6B A12 neste paciente
de três anos tem uma aparência
semelhante ã de adulto, com a
SB mielinizada (hípoíntensa) nos
lobos temporais B e nas folias
do cerebelo B.

31-6C TI na altura dos ven-


trículos laterais mostrando um
padrão de mielinização de adulto
estendendo-se até a SB subcor
tical dos lobos frontais B e
temporais BI.
31-60 T2 na altura dos núcle
os da base, indistinguível da T2
de adulto. Observe as discretas
hiperintensidades nas radiações
occipitais B, um achado nor
mal.

31-6E TI na coroa radiada


mostrando que a mielinização é
indistinguível daquela do encé-
falo adulto. Embora visualmente
completa, estudos funcionais
indicam que algum grau de mie
linização ativa continua durante
a adolescência.
31-6F T2. A coroa radiada é
hipointensa, exceto por algu
mas hiperintensidades lineares
esparsas que representam
líquido intersticial nos espaços
perivasculares (Virchow-Robin),
um achado normal.
Doenças metabólicas hereditárias 869

Como uma regra geral, a SB mielinizaáa é hipe- Seis meses a um ano


rintensa em TI antes de se tornar hipointensa em T2
TI. A SB assume uma aparência semelhante à do adulto ao
(Tab. 31-1). No mínimo, uma avaliação acurada da mie- redor de oito meses de idade, com a hiperintensidade se
linização requer tanto Ti quanto T2. As técnicas mais estendendo por quase todo o cerebelo e a SB hemisférica.
avançadas, como imagem do tensor da difusão (DTI, de A coroa radiada é quase completamente hiperintensa, ex
diffusion tensor imaging) e transferência de magnetização ceto por suas fibras mais anteriores e periféricas.
(TM), podem fornecer informações adicionais. Dos 11 aos 12 meses de idade, a SB lembra o padrão
daquela de adulto, com a hiperintensidade se estendendo
Imagem da mielinizaçõo normal por quase todas as fibras subcorticais em "U". Somente
Os principais marcadores selecionados da mielinização a SB do lobo temporal anterior e a SB mais periférica do
normal nas imagens ponderadas em TI e T2 foram resu lobo frontal permanecem não mielinizadas, aparecendo
midos antes neste capítulo (Tab. 31-1), sendo discutidos isointensas ao córtex adjacente (Fig. 31-4).
em mais detalhes aqui.
T2. A hipointensidade aparece no joelho do CC aos oito
Do nascimento aos três meses meses e no segmento anterior da cápsula interna aos
11 meses. A hipointensidade em T2 permanece nas SBs
TI. Nas seqüências ponderadas em TI. o encéfalo de um
subcorticais frontal e temporal anterior. O baixo sinal na
recém-nascido a termo assemelha-se ao encéfalo do adul
SB frontal profunda aparece com 14 semanas. Exceto pe
to na ponderação T2, ou seja, a maioria da SB cerebral
los lobos temporais, na parte mais anterior, aos 18 meses a
tem menor sinal que a substância cinzenta. O tronco en-
SB é semelhante à do adulto (Fig. 31-5).
cefálico dorsal, a decussação dos pedúnculos cerebelares
superiores, o segmento posterior da cápsula interna, os Dois anos à idade adulta
talamos ventrolaterals e a coroa radiada profunda adja
TI. A SB do lobo temporal anterior não se torna com
cente aos ventrículos laterais são as únicas estruturas hi-
pletamente hiperintensa em TI até 24 a 30 meses (Fig.
perintensas em TI (mielinizadas) em um recém-nascido a
termo (Fig. 31-1). 31-6). Embora a mielinização de SB seja visualmente
A hiperintensidade na SB profunda começa a apare completa nesta idade, estudos funcionais por RM de
cer com um mês e estende-se para as folias a partir de monstram que alguma mielinização ativa continua duran
te a adolescência.
duas ou três semanas após o nascimento.
T2. Em T2. a SB em um recém-nascido a termo asseme
T2. É comum ver regiões de sinal alto simétrico na SB,
lateral e dorsal aos ventrículos laterais. Isso representa
lha-se àquela em uma imagem TI de um adulto, ou seja,
ela apresenta maior sinal em comparação com a substân "zonas terminais" da mielinização incompleta do encéfalo
nas fibras de associação parieto-occipitais e é considerado
cia cinzenta. Hipointensidade pode ser vista no tronco en-
um achado normal. Essas "zonas terminais" geralmente
cefálico dorsal, no segmento posterior da cápsula interna
e no tálamo ventrolateral. Os núcleos denteados do cere- permanecem hiperintensas em T2 até a segunda ou ter
belo consistem em substância cinzenta e, portanto, tam ceira décadas (Figs. 31-4D. 3I-4F e31-5D). Focos punti-
formes e lineares esparsos de hipersinal em T2 na SB que
bém aparecem hipointensos.
Ao nascimento, os giros rolándicos e perirrolândicos do são suprimidos completamente em inversão-recuperação
com supressão da água livre (FLAIR, áefluid-attenuated
córlex são muito hipointensos. Isso corresponde à conhecida
mielinização precoce da SB nesses giros. Uma hipointen inversion-recovery) também são comuns. Eles são espa
sidade mal-deflnida "borrada" na SB dos giros rolândico/ ços pcrivasculares (Virchow-Robin) normais e ocorrem
em todas as idades (Fig. 31-6F).
perirroiândico também aparece após o nascimento.

Três a seis meses


TI. O segmento posterior da cápsula interna e a SB pro
Classificação das doenças metabólicas
ximal e mais central das folias cerebelares tomam-se hi-
hereditárias
perintensos três meses após o nascimento (Fig. 31-2). O
alto sinal aparece no esplênio do corpo caloso (CC) em Visão geral
torno de quatro semanas e também pode ser identificado
o número exato e a variedade das doenças metabólicas
no joelho aos seis meses de idade (Fig. 31-3).
hereditárias (DMHs) são grandes. Novas entidades, junta
T2. O baixo sinal aparece no segmento posterior da cáp mente com seus achados na RM, são constantemente adi
sula interna aos três meses e pode ser visto no esplênio do cionadas à lista dessas doenças, a qual não para de crescer.
CC aos seis meses. A SB na coroa radiada profunda que Além disso, identificar uma dessas doenças requer não
se estende do córtex motor para o corpo dos ventrículos somente a interpretação correta dos achados de imagem,
laterais micliniza antes, aparecendo "borrada" e discreta mas também o entendimento de interpretações clínicas,
mente hipointensa (Fig. 31-3). análise genética e defeitos bioquímicos específicos. Em
870 Distúrbios tóxicos, metabóiicos, degenerativos e do LCS

alguns casos, biópsia do encéfalo, de pele ou de músculo é mente formados que apresentam uma única enzima com
necessária para estabelecer um diagnóstico preciso. função anormal ou deficiente.
Uma discussão exaustiva das DMHs está além do ob As deficiências da formação do peroxissomo resultam
jetivo deste livro. O leitor interessado deve consultar os em condições como a síndrome de Zelhveger, a adreno-
textos de A. James Barkovicb. Neste capitulo, serão con ieucüdístrofía neonatal e a doença de Refsum infantil.
sideradas as doenças neurometabólicas hereditárias po Os distúrbios nos quais os peroxissomos são formados,
rém comuns, bem como algumas menos comuns, porém mas não funcionam corretamente, incluem a adrenoleu-
importantes, resumindo sua etiopalologia, demografla e codistrofía ligada ao X e a doença de Refsum clássica.
apresentação clínica, além dos achados de imagem mais
importantes de cada uma delas. Doenças mitocondriais
Inicia-se considerando as diversas abordagens para As doenças mitocondriais, também chamadas de doenças
classificar essas doenças incomuns, porém interessantes. da cadeia respiratória, são caracterizadas por uma fun
Um dos sistemas mais comuns de classificação das DMHs ção mitocondrial anormal. O resultado é a produção não
divide essas doenças de acordo com a organela celular pareada de tri fosfato de adenosina (ATP, de adenosine iri-
(p. ex.. mitocôndria, lisossomos) predominantemente afe phosphate) (energia) nas células afetadas.
tada. Outra classificação caracteriza as DMHs por seu de Algumas doenças mitocondriais predominante ou
feito em uma via metabólica específica (p. ex., distúrbios exclusivamente afetam a musculatura eslriada e, por
do metabolismo do carboidrato). tanto. não serão discutidas neste texto. Encefalopatias
Será discutida rapidamente cada uma delas, sendo então mitocondriais importantes incluem doença de Leigh,
delineada - e subseqüentemente usada - uma abordagem encefalopatia mitocondrial com acidose láctica e episó
desenvolvida por A. James Barkovich que tem como base a dios semelhantes a acidente vascular cerebral (MELAS,
localização anatômica e os achados de imagem específicos. de mitochondria! encephalopathy with lactic acidosis and
stroke-like episodes), epilepsia mioclônica com fibras ver
Abordagem com base em organelas melhas rasgadas (MERRF, de myoclonic epilepsy with
Três organelas celulares são primariamente afetadas nas ragged red fibers), síndrome de Kearns-Sayre (SKS) e
acidúria glulárica tipos I e 11.
DMHs (p. ex., lisossomos, peroxissomos e mitocôndrias).
Classificar as DMHs de acordo com a organela afetada tem
o benefício da simplicidade conceituai. Entretanto, muitas
CLASSIFICAÇÃO DAS DOENÇAS METABÓLICAS
das DMHs não ocorrem por um distúrbio na função da orga HEREDITÁRIAS COM BASE EM ORGANELAS
nela. tomando esse esquema de classificação menos amplo.
Doenças lisossomaís
• MucopolissacaridosGS
Doenças lisossomaís
• Gangllosidoses
As doenças lisossomais são caracterizadas por lisossomos • Leucodistrofia metacromática
anormais e distúrbios do metabolismo do carboidrato. A fre • Doença de Krabbe
qüência dos distúrbios lisossomais varia muito conforme a • Doença de Fabry
distribuição geográfica. Alguns são muito mais freqüentes
em certas localizações devido à alta prevalência de mutações. Doenças peroxissomais
• Formação peroxissomal anormal
As mucopolissacaridoses são os distúrbios clássicos o Síndrome de Zellweger
de depósito lisossomal. Elas resultam de deficiência de o Adrenoleucodistrofia neonatal
enzimas que envolvem a degradação de mucopolissaca- o Doença de Refsum infantil
rídeos (glicosaminoglicanos). Os mucopolissacarídeos • Função peroxissomal anormal
que não se degradam completamente se acumulam nos o Adrenoleucodistrofia ligada aoX
lisossomos, os quais geralmente se tornam grandes e va- o Doença de Refsum clássica
cuolados. As mucopolissacaridoses prototípicas incluem
Doença mitocondrial
as síndromes de Hurler. Hunter. Sanniippo e Morquio. • Doença de Leigh
As gangliosidoses são doenças raras de depósito li • MELAS
sossomal caracterizadas pela deficiência de p-galactosi- • MERRF
dase. Oligossacarídeos anormais acumulam-se no encéfa • Síndrome de Kearns-Sayre
lo e nas vísceras. Os distúrbios típicos são GMl e GM2 • Acidúria glutárica tipos I e II
(doenças de Tay-Sachs e Sandhoff, respectivamente).

Doenças peroxissomais Abordagem metabólica


Os peroxissomos contêm múltiplas enzimas essenciais Muitas das DMHs resultam em acúmulo de um ou mais re
para o crescimento e o desenvolvimento normais. Doen síduos metabólitos anormais, como amônia, cobre ou produ
ças peroxissomais herdadas podem resultar da falta de de tos da degradação do ferro. Essas DMHs são resumidas a se
senvolvimento da organela ou de peroxissomos normal guir e discutidas detalhadamente no decorrer deste capítulo.
Doenças metabólicas hereditárias 871

Orgânicas/aminoacidopatias e doenças do é depositada ao redor dos axônios, mas depois é quebrada


ciclo da uréia ou destruída).
Uma terceira categoria relativamente nova de leuco-
As aminoacidopatias e as doenças do ciclo da uréia resul
distrofia consiste em (3) doenças hipomielinizantes (aqui
tam da não eliminação do nitrogênio e são caracterizadas
a SB pode mielinizar de modo parcial, mas nunca com
por hiperamonemia e não elevação dos níveis de glulami-
na. Os distúrbios do ciclo da uréia típicos incluem doença pletamente). As leucoencefalopatias hipomielinizantes
são um grupo incomum de doenças genéticas que causam
do xarope de bordo, acidemia metilmalônica. defícicn-
atraso na maturação da mielina ou pouca mielinização.
cia de ornitina-transcarbamilase e citrolínemia.
Da perspectiva da imagem, pode ser difícil determinar
Doença de Canavan é caracterizada por aciduria de se o distúrbio é í/Zímielinizante, í/cimielinizante ou hipo-
N-acetil-L-aspartato (NAA) e acúmulo de NAA no cére mielinizante. Uma abordagem mais prática com base na
bro. que resulta em uma grande degeneraçào esponjosa.
imagem é determinar se o distúrbio primário afeta a SB
Doença de Alexander resulta da mutação do gene
profunda (periventricular) ou as fibras de associação cur
que codifica a proteína glial tlbrilar ácida (GFAP, de glial tas subcorticais (fibras em U). Em algumas doenças, tanto
fibrillary acidic protein). O acúmulo maciço de fibras de a SB profunda quanto a SB periférica podem ser afetadas.
Rosenthal nos astrócitos resulta em macrocefalia e na re
Os exemplos de leucodistrofias que apresentam pre
dução da mielina na SB frontal. domínio de acometimento da SB profunda incluem a leu-
codistrofia metacromática e a adrenoleucodisirofia ligada
Doenças do metabolismo do cobre
ao X. As leucodistrofias que envolvem as fibras subcor
o cobre é um alimento essencial para todos os organis
ticais em U precocemente no curso da doença incluem
mos vivos. Entretanto, uma quantidade excessiva de cobre
a leucoencefalopatia megaloencefálica com cistos e a
danifica as células. Distúrbios na homeostase normal do
cobre são a marca de três doenças genéticas: doença de doença de Alexander infantil. Ambas também se apresen
tam com macrocefalia.
Wilson, doença de Menkes e doença do corno occipital.
As doenças em que praticamente toda a SB (peri
Doenças com acúmulo de ferro no cérebro ventricular e subcortical) permanece não mielinizada são
raras. O aspecto de imagem dessas doenças lembra o cére
o acúmulo de ferro nos núcleos da base e nos núcleos
denteados acontece durante o envelhecimento normal.
bro normal do recém-nascido com uma SB imatura, quase
Um grupo de doenças genéticas denominadas neurodege- completamente não mielinizada. Nesse caso, toda a SB
- incluindo as fibras subcorticais em U - aparece unifor
neração com acúmulo cerebral de ferro (NBIA, de neiiro-
memente hiperintensa em T2.
degeneration with brain iron accumulation) é caracteri
zado por depósito cerebral de ferro em quantidades e em
localizações anormais, resultando em morte neuronal, Predomínio da substância branca
periventricular
Abordagem com base na imagem A doença prototípica que costuma envolver inicialmente a
Barkovich e colaboradores elaboraram uma abordagem SB profunda de maneira simétrica e poupa as fibras sub
prática com base na imagem para diagnóstico das DMHs corticais em U até suas fases mais tardias é a leucodistrofía
derivada do trabalho de van der Knaap e Valk. Essa abor metacromática. Outras com um padrão similar de predomí
dagem busca determinar se a doença envolve principal ou nio periventricular incluem a doença de Krabbe (leucodis
exclusivamente (1) a SB, (2) principalmente a substância trofía com células globoides), a adrenoleucodistrofia ligada
cinzenta, ou (3) ambas. Neste texto, será seguida a classi ao X e a doença da substância branca evanescente (DSBE).
ficação com base nessas três categorias com achados de
imagens predominantes. Achados gerais de cada categoria PRINCIPAIS DOENÇAS METABÓLICAS
individual serão descritos no início de cada seção. Então,
HEREDITÁRIAS COM PREDOMÍNIO DA
serão discutidas as maiores entidades diagnósticas de cada
SUBSTÂNCIA BRANCA PERIVENTRICULAR
grupo com base em imagens.
Comuns
• iGucodistrofia metacromática
• Adrenoleucodistrofia ligada ao X clássica
Doenças metabólicas hereditárias Menos comuns
que afetam predominantemente a • Leucodistrofia com células globoides (doença de Krabbe)
• Doença da substância branca evanescente
substância branca
As doenças da SB (leucodistrofias) algumas vezes são Raras, mas importantes
• Fenilcetonúria
divididas em duas categorias: (1) doenças í/iímielinizan- • Doença do xarope de bordo
tes (i.e., a mielinização normal não ocorre) e (2) doenças • Oistrofia muscular congênita com deficiência de merosina
í/c.vmielinizantes (i.e., a mielina forma-se normalmente e
872 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

Leucodistrofia metacromática
Terminologia. A leucodistrofia metacromática (LDM),
também conhecida como sulfatidose, é uma doença de
acúmulo lisossomal devastadora caracterizada por acú
mulo intraiisossomal de sulfatídeos esfingolipideos em
múltiplos tecidos.
Etiologia. a LDM é causada pela redução da enzima arilsul-
fatase A com falha da quebra e da reutilização da mielina.
Patologia. Macroscopicamente. o cérebro afetado pela LDM
pode ser normal ou demonstrar discreta redução volumétri-
ca. A SB periventricular mostra uma coloração acinzentada.
com as fibras subcorticais em U relativamente normais.
Desmielinização é o principal fator histopatoiògico e
afeta tanto o sistema nervoso central (SNC) quanto o pe
31-7A Tomograíia compuladoíizada (TC) sem riférico. Uma metacromasia marrom característica (pela
contraste em um menino de 6 anos com adrenoleuco- qual a doença é denominada) é vista com a coloração vio
distrofia mostrando hipodensidade simétrica na SB peri leta cresil ácida e representa depósitos intracelulares de
ventricular B3 preservando as fibras subcorlicais em U.
colesterol, fosfolipídeos e sulfatides. Os testes tissulares
para a arilsulfatase A são positivos.
Aspectos clínicos. A LDM é uma das mais comuns de todas
as doenças da SB hereditárias, com uma prevalência de
I; 100.000 nascidos vivos. A LDM é mais comum cm ju
deus Habbani e índios Navajo.
Os sintomas iniciais da LDM podem aparecer em
qualquer idade. Três formas clínicas são conhecidas atual
mente: infantil tardia (início antes dos três anos), juvenil
(início antes dos 16 anos) e LDM adulta. A forma infantil
é a mais comum e costuma se apresentar no segundo ano
de vida com comprometimento visuomotor. distúrbios da
marcha e dor abdominal. Declínio progressivo e morte
dentro de quatro anos costumam ocorrer. A forma juvenil
inicia entre 5 e 10 anos, em geral com deterioração do
desempenho escolar. Sobrevida além de 20 anos é rara.
31-78 T2 mostrando o clássico padrão em "borbole A forma adulta pode apresentar-se como uma demência
ta" de hiperintensidades simétricas ao redor dos cornos de início precoce, com sintomas semelhantes à esclerose
frontais e dos átrios dos ventrícuios laterais
múltipla e sinais cerebelares progressivos.
As opções de tratamento estabelecidas incluem trans
plantes de células-tronco hematopoiéticas. Terapias de
reposição enzimática e gênica com células progenitoras
oligodendrogliais ou neurais ainda são experimentais.
Imagem. O exame de imagem típico da LMC é uma leu
codistrofia rapidamente progressiva. A TC seriada mostra
hipodensidade confluente com disseminação centrífuga
no esplênio do CG e SB periventricular parieto-occipital
inicialmente comprometida. A doença gradualmente es
tende-se para os lobos frontais e posteriormente para a SB
temporal.
A aparência típica na RM é de hiperintensidade em
T2/FLAIR confluente. simétrica, com aspecto em "borbo
leta" na SB periventricular (Fig. 31-7). As fibras subcorti
cais em U e o cerebelo costumam ser preservados até um
31-7C FLAIR mostrando o padrão em "borboleta" da estágio tardio da doença.
leucemia mielocítica crônica. As cápsulas internas e a Ilhas de mielina normal ao redor das veias mediila-
SB subcortical estão normais. res na SB podem produzir um padrão "tigroide" ou "em
Doenças metabólicas hereditárias 873

leopardo", com hipointensidades lineares em um mar de


hiperintensidade confluente (Fig. 31-8). Nào se observa
realce pelo contraste em Ti C+. Alguns poucos casos de
LDM foram relatados com nervos cranianos e/ou raízes
nervosas da cauda equina espessados e com realce.
Restrição da difusão da água é rara. A espectrosco-
pia por ressonância magnética (ERM) costuma mostrar
aumento da colina com aumento variável do mioinositol.

Diagnóstico diferencial. Os maiores diagnósticos diferen


ciais da LDM incluem outras DMHs que primariamente
afetam a SB periventricular. A leucodistrofia com células
globoidcs (doença de Krabbe) mostra hiperdensidades
bitalâmicas na TC sem contraste, envolve o cerebelo pre-
cocemente e costuma demonstrar espessamento dos ner
vos ópticos e do quiasma.
A doença de Pelizaeus-Merzbacher geralmente 31-8A LDM clássica em um menino de 2 anos.
Observe as fibras subcorticais em u preservadas E3 e
apresenta-se em neonatos e mostra uma falta quase total
as ilhas de mielina preservadas ao redor das vênulas
de mielinização. O cerebelo em geral é muito atrofiado. A
(padrão "tigroide") B.
DSBE começa na SB periventricular, mas eventualmente
envolve toda a SB hemisférica, e costuma apresentar ca-
vitaçòes e nào realça.

L E U C O D I S T R O F I A M E TA C R O M AT I C A

Etiologia e patologia
Distúrbio de acúmulo lisossomal
Redução da arllsulfatase A acúmulo de
esfingolipídeo
Desmielinização periventricular
Aspectos clínicos
Leucodistrofia hereditária mais comum
Três formas
Infantil tardia (mais comum)
Juvenil
Adulta (início tardio) 31-86 FLAIR mostrando desmielinização hiperintensa
confluente e mielina preservada [S (padrão "tigroide").
magem
observe as fibras subcorticais em U poupadas BSI.
Disseminação centrífuga da desmielinização
Início no esplênio do CC, na SB profunda parieto
occipital
SB frontal, temporal afetada tardiamente
Preservação das fibras subcorticais em U, do
cerebelo
Clássica = padrão em "borboleta"
Hiperintensidades simétricas ao redor dos cornos
frontais, átrios
Padrão "tigroide"
"Fitas" de mielina perivenular preservadas na SB

Diagnóstico diferencial
Outras doenças que predominantemente acometem a
SB periventricular
Leucodistrofia com células gioboides (doença de
Krabbe)
Doença de Pelizaeus-Merzbacher
Doença da substância branca evanescente 31-8C FLAIR mostrando pontos (padrão de "leopar-
Doenças destrutivas do") da mielina preservada B dentro da desmielini
Leucomalacla periventricular zação confluente da Se profunda que poupa as fibras
subcorticais em U.
874 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

Adrenoleucodistrofia ligada ao X Aspectos clínicos. A ALD-X é a doença mais comum cau


Terminologia. A adrenoleucodistrofia ligada ao X (ALD-X) sada por uma única proteína ou deficiência enzimática
era chamada de doença de Schilder "bronzeada" e leuco- a se apresentar na infancia. A incidência estimada é de
1:20.000 a 50.000.
distrofía tipo melanodérmica antes de o envolvimento su-
Várias formas clínicas de ALD e distúrbios relacio
prarrenal ser conhecido.
nados já foram descritos. A ALD-X clássica é a forma
Etiologia. a adrenoleucodistrofia (ALD) é uma doença mais comum (45%), sendo vista quase exclusivamente em
peroxissomal herdada causada pela mutação do gene meninos de 15 a 12 anos. Dificuldades de comportamento
ABCDl. O metabolismo anormal dos peroxissomos resul e deterioração do desempenho escolar são comuns. Cerca
ta na redução da (3-oxidação dos ácidos graxos de cadeia de 10% dos pacientes afetados apresentam sintomas agu
muito longa (VLCFAs, very long chain falty acids). Os dos com crises convulsivas, crise suprarrenal, encefalopa-
VLCFAs acumulam-se na SB, causando uma desmielini- tia aguda ou coma.
zação inflamatória grave. A degeneraçào axonal na fos A adrenomieloneuropatia (AMN) é o segundo tipo
sa posterior e na medula espinal também é típica dessa
mais comum (35%), sendo outro distúrbio ligado ao X
doença. que ocorre principalmente em homens. O pico de apresen
Patologia. Três zonas distintas de perda da mielina são vis tação é de 20 a 30 anos, mais tardiamente que a ALD-X
tas na ALD (Fig. 31-9). A zona mais interna consiste em clássica. A AMN é caracterizada por degeneração axonal
um centro necrótico de astrogliose. Uma zona intermediá no tronco encefálíco e na medula espinal.
ria de desmielinização ativa e de inflamação perivascular Cerca de 20% dos pacientes com ALD-X apresentam
situa-se logo externamente ao centro necrótico da lesão, A insuficiência suprarrenal isolada (doença de Addison).
zona mais periférica consiste em desmielinização inicial O envolvimento neurológico está ausente. Outras formas
sem alterações inflamatórias (Fig. 31-10). menos comuns de ALD incluem ALD de início na adoles-

31-9 Gráfico mostrando zonas


distintas na AlD. A zona mais
profunda é o centro necrótico
Hl; a zona intermediária (S
mostra mielinízação ativa e infla
mação; os limites mais externos
1^ mostram desmielinização
inicial sem inflamação.
31-10 Uma secçâode necrop-
sia coronal na ALD-X mostrando
as três zonas de mielina; centro
necrótico ES, zona intermediá
ria (região acinzentada IS),
limites externos (coloração
amarelada SI). (Cortesia dos
arquivos da AFIP.)

31-1 IA ALD-X clássica. Lesões


simétricas ao redor dos átrios.
A área mais hiperintensa é o
centro necrótico BEl. A camada
de desmielinização ativa com
inflamação ao redor do centro
necrótico é menos hiperintensa
A zona mais periférica,
ou zona limilante ES, mostra
desmielinização inicial sem alte
rações inflamatórias.
3 1 - 11 B A z o n a i n t e r m e d i á r i a
de desmielinização ativa realça
em TI C+ com saturação de gor
dura B, onde as áreas perifé
ricas E3 e a região central ES
não realçam.
Doenças metabólicas hereditárias 875

31-12 ALD clássica moslrando hipodensidade na SB peíiatfiai E3. 31-13 FLAIR (acima à esquerda) de um menino de 5 anos com AID pre
caIcKicações B e restrição da difusão S nas regiões inflamatórias coce mostra um pequeno foco fiiperintenso no esplênio H. Seis messes
com desmíelinização aguda. depois, TI (acima à direita), FLAIR (abaixo à esquerda) mostram aumento
do tamanho da lesão B. T1 C+ (abaixo à direita) mostra realce B.

cència ou idade adulta e doença com sintomas discretos comissurais e as vias da visão e da audição podem ser to
em mulheres carreadoras. dos eventualmente envolvidos.
A ALD-X não tratada tem um prognóstico ruim. Os limites externos da desmielinizaçao aparecem
Uma progressão persistente com quadriparesia espástica, hiperintensos em TI, mas não realçam. A zona interme
cegueira, surdez e estado vegetative é típica. Uma dieta diária de desmielinização inflamatória ativa geralmente
com base no óleo de Lorenzo (uma mistura de trioleína e realça em TI C-i-.
trierucina) tem ajudado a reduzir os sintomas em alguns Restrição de difusão na zona intermediária da des
pacientes. O transplante de medula óssea precoce ou a mielinização inflamatória pode estar presente em imagem
terapia genética com células-tronco hematopoiéticas têm ponderada em difusão. A ERM mostra a redução do NAA
melhorado o prognóstico clínico para outros pacientes. até mesmo na SB aparentemente normal. A elevação da
colina, do mioinositol e do lactato é comum.
Imagem. O diagnóstico definitivo da ALD-X é estabeleci Um sistema de escore visual com base na RM (es
do pela análise do aumento na quantidade de VLCFA na cala de Loes) divide o cérebro em nove regiões com 23
pele. Quando típico, os achados de imagem podem sugerir sub-regiões. Cada região é pontuada pela presença (1) ou
fortemente o diagnóstico. Embora as TCs algumas vezes ausência (0) de atrofia, e toda sub-região é avaliada como
sejam obtidas como um estudo de avaliação inicial em normal (0), anormalidade unilateral (0,5), ou anormalida
crianças com encefalopatias de origem desconhecida, a des bilaterais (1) na intensidade de sinal.
RM é o método de escolha.
Variações dos padrões de imagem da ALD-X são co
Achados na TC. Uma TC sem contraste demonstra muns. Cerca de lOa 15% de todos os pacientes com ALD-X
hipodensidade no esplênio do CC e na SB ao redor dos clássica têm uma desmielinização com predomínio ante
átrios e dos cornos occipitais dos ventriculos laterais. rior, a hiperintensidade inicialmente aparece no joelho do
Calcificação na SB comprometida é comum (Fig. 31-12). CC (não no esplênio) e segue para a SB dos lobos frontais
Uma TC sem contraste pode mostrar realce ao redor da (Fig. 31-14). Padrões incomuns já descritos incluem doença
SB hipodensa central. unilateral, doença com lesões bioccipitais e bifrontais, além
Achados na RM. O padrão com predomínio posterior da variante que envolve somente as cápsulas internas.
é visto em 80% dos pacientes com ALD-X (Fig. 31-11). O Os achados de imagens em pacientes com AMN va
achado mais precoce é a hiperintensidade em T2/FLA1R riam dos achados naqueles pacientes com ALD-X clássi
na região mediana do esplênio do CC (Fig. 31-13). Com ca. Os hemisférios cerebrais são relativamente poupados,
a progressão da doença, a hiperintensidade estende-se de com envolvimento predominante do cerebelo, dos tratos
posterior para anterior e do centro para a periferia. A SB corticospinais e da medula espinal (Fíg. 31-15). O realce
peritrigonal, os tratos corticospinais, o fórnice, as fibras costuma estar ausente.
876 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

31-14 Imagem de um paciente com ALD variante mostrando lesões 31-15 Lesões simétricas na 56 cerebeiar, na ponte lateral, em ambos
confluentes simétricas e frontais ES poupando a SB parieto-occipital. os nervos cranianos (NC) V, nos pedúnculos cerebelares superiores, nas
Observe o envolvimento das cápsulas internas, dos pedúnculos cere cápsulas internas El são vistos em uma mulher de 33 anos com AMN.
brais BI. Observe o realce periférico das lesões cerebelares ÍS.

Diagnóstico diferencial. Quando a ALD-X se apresenta


em pacientes com idade e sexo característicos (i.e.. me (continuação)
ninos de 5 a 12 anos) e com um predomínio posterior • Adrenomieloneuropatia (AMN)
o Segunda forma mais comum (35%)
típico nos estudos de imagem, o diagnóstico diferencial
o Mais comum no sexo masculino
é muito limitado. A leucoencefalopatia com envolvi
• Doença de Addison
mento do tronco/medular e alto lactato (LETML)
• Sem envolvimento do SNC (20%)
pode lembrar a ALD, mas tem uma apresentação clínica
diferente e é causada por uma mutação homozigótica no Imagem
• ALD-X com predomínio posterior em 80%
gene DARS2.
o Achados iniciais: hiperintensidade no esplênio do CC
o Disseminação posterior para anterior, central para
periférica
o Zona intermediária geralmente realça, restringe na
ADRENOLEUCODISTROFIA difusão
• Padrões variantes
Etiologia o ALD-X com predomínio anterior (10 e 15%)
• Distúrbio peroxissomal o AMN envolve os tratos corticospinals, o cerebelo, a
• Redução da oxidação dos VLCFAs
medula espinal + a SB hemisférica
Patologia Diagnóstico diferencial
• Desmlelinizaçào inflamatória grave • ALD-X patognomônica se o sexo, a Idade e os achados
• Três zonas
de imagem forem clássicos
o Centro necrótico
o Zona intermediária de desmielinização ativa +
inflamação Leucodistrofia de células globoides
o Desmielinização periférica sem inflamação
(doença de Krabbe)
Aspectos clínicos Terminologia. A leucodistrofia dc células globoides (LCG),
• ALD-X clássica
o Forma mais comum (45%) também conhecida como doença de Krabbe, é caracteriza
o Meninos pré-adolescentes da pela presença de células "globoides" únicas nas lesões
o Deterioração cognitiva da performance escolar desmielinizantes.

Etiologia e patologia, a LCG é uma doença autossômica


(continuo)
recessiva de depósito lisossomal causada pela deficiência
Doenças metabólicas hereditárias 877

da enzima galactocerebrosidase p-galactosidase. O déficit


de clivagem da galactose resulta no acúmulo progressivo
de psicosina em células grandes ("globoides") multinu-
cleadas epitelioides. Como a psicosina é especialmente
tóxica aos oligodendrócitos, o resultado é uma destruição
oligodendrocítica importante com perda de mielina.
Tanto o SNC quanto o periférico é afetado. O cérebro
demonstra graus variáveis de perda volumétrica, com re
dução da SB, dilatação ventricular e sulcos alargados. A
SB periventricular mostra uma coloração acinzentada. As
fibras subcorticais em U em geral são poupadas. Os nervos
ópticos e periféricos podem ser espessados e fibróticos.
Os achados histopatológicos típicos são uma desmie-
linizaçào e gliose extensa da SB com numerosos macrófa-
gos proeminentes PAS-positivos (células "globoides"). A
microscopia eletrônica mostra inclusões cristaloides den 31-16 TC sem contraste em uma criança de 18 me
sas de galactocerebrosidase. ses com LCG infantil mostrando hiperdensidades simé
tricas nos táiamos B.
Aspectos clínicos. A LCG é uma doença pan-étnica com
uma prevalência feminina de 80%. As formas infantil, ju
venil e adulta são conhecidas. A forma infantil é a mais
comum, em geral apresentando-se entre o terceiro e o sex
to mês com uma irrilabilidade extrema e dificuldade de

alimentação. A LCG neonatal é rapidamente progressiva e


quase invariavelmente fatal.
Até pouco tempo atrás, não existia qualquer tratamen
to para LCG. O transplante de células-tronco hematopoi-
éticas tem reduzido os efeitos da deficiência enzimática
em alguns casos.

Imagem. A TC sem contraste pode ajudar no diagnóstico


da LCG (Fig. 31-16), diferentemente da maioria das leu-
codistrofiias. Calcificações simétricas bilaterais nos tála-
mos, nos núcleos da base, na cápsula interna, nos tratos
corticospinais e nos núcleos deníeados do cerebelo podem
ser identificadas até mesmo antes do desenvolvimento de 31-17A TI em um paciente de 6 meses com LCG
anormalidades visíveis no estudo por RM. mostrando uma hipointensidade intensa nos núcleos
Os achados clássicos da RM na LCG são hiperinten- denteados tS.

sidades no trato corticospinal em T2/FLA1R com des-


mielinizaçào simétrica confluente na SB periventricular
profunda. As fibras subcorticais em U costumam ser pou
padas. Hipointensidades bitalâmicas em T2 são comuns.
A DTl pode demonstrar uma redução da anisotropia
fracionada no trato corticospinal antes das outras anorma
lidades aparecerem. Os achados na ERM de aumento da
colina e redução do NAA na SB hemisférica são caracte
rísticos. mas não são específicos.
A doença de Krabbe é uma das poucas leucodistrofias
nas quais os achados cerebelares aparecem precocemente
no curso da doença. Um "halo" alternante ou hipointen
sidades em anel em TI e hiperintensidades em T2 podem
ser identificados na SB cerebelar ao redor dos núcleos
denteados (Fig. 31-17).
Outro achado distinto da LCG é o espessamento dos 8
nervos ópticos intracranianos e do quiasma. Espessamen 31 -178 T2 mostrando o clássico anel ou "halo" al
to difuso e realce dos nervos cranianos e das raízes da ternado de hiper-, hipointensidades B características
cauda equina também já foram relatados em LCG. da doença de Krabbe.
878 Distúrbios tóxicos, metabóllcos, degenerativos e do LCS

31-18 OSBE em um menino de 5 anos, originalmente diagnosticado 31-19 Leucoencefalopatia de Cree (agora conhecida como uma va
com LDM. Observe as lesões simétricas periventriculares, poupando as riante grave da DSBE) em uma criança com 8 meses mostrando falta
fibras em U, com formações de cistos precocemente B9. (Cortesia de S. quase completa de mielinização.
Harder, MD.)

Diagnóstico diferencial. Enquanto a histopatologia da LCG (continuação)


é única e praticamente patognomônica da doença, o diag
o Juvenil
nóstico diferencial por imagem da LCG inclui outras leu- o Adulta (rara)
codistroflas com predomínio da SB periventricular. As
alterações da SB na LDM e na DSBE podem ser muito Imagem
• TC sem contraste: Ca++ nos núcleos da base, nos
semelhantes no início da doença, mas essas condições não
talamos
demonstram calcificações nos núcleos da base/tálamos,
• RM
um achado típico da LCG.
o Hiperintensidades na SB periventricular, no trato
Outras doenças de acúmulo lisossomal podem se asse
melhar à LCG, incluindo a lipofuscinose ceroide neuronal corticospinal
o Preservação das fibras subcorticais em U
e a gangliosidose GM2. A lipofuscinose ceroide neuronal o "Halo" alternado ao redor dos núcleos denteados
(também conhecida como doença de Batten) pode ter hi- o Espessamento dos nervos óplicos/quiasma +-
perdensidades nos tálamos na TC sem contraste. A gan outros NCs
gliosidose GM2 infantil "clássica" (doença de Tay-Sachs)
mostra hipointensidades talâmicas similares em T2. A Diagnóstico diferencial
• Outras doenças com predomínio da SB periventricular
GM2 de início tardio mostra atrofia cerebelar progressiva. o Leucodistrofia metacromática
o Doença da substância branca evanescente
• Outras doenças de acúmulo lisossomal
o Lipofuscinose ceroide neuronal
LEUCODISTROFIA DE CÉLULAS GLOBOiOES
o Gangliosidose GM2
(DOENÇA DE KRABBE)
Etíologla e patologia
• Doença de acúmulo lisossomal
• Deficiência de galaclocerebrosidase p-galactosidase Doença da substância branca evanescente
• Acúmulo de psicosinas nas células "globoides" A DSBE, também chamada de vanishing white matter
• Muito tóxica para os oligodendrócitos disease e previamente denominada ataxia infantil com
hipomielinização do SNC (AIHSNC), é uma leucoence
Aspectos clínicos falopatia incomum caracterizada por uma SB difusamen
• Feminina (80%)
• Três formas
te anormal que literalmente "evanesce" com o tempo. A
o Infantil (maioria) leucoencefalopatia de Cree - uma vez considerada uma
entidade diferente -atualmente é reconhecida como uma
(continuo)
forma de início recente e grave da DSBE.
Doenças metabóücas hereditárias 879

31-20 Uma menina de 13 anos com íenilcetonúria, dislúrbio cognitivo 31-21 TC sem contraste em um menino de 13 anos com doença do
discreto. A hiperintensidade na SB periventricular B não mostra realce, xarope de bordo mostrando edema B em mesencéfalo dorsal e SB ce-
mas mostra restrição na difusão. rebelar, pedúncuios cerebrais, cápsulas internas, hemisférios.

Etiologia. a DSBE é um distúrbio autossômico recessivo Cerca de 15% dos casos de DSBE ocorrem em ado
causado por uma mutação no gene elF2B, o qual tem im lescentes e em adultos. A idade média da DSBE de início

portante papel na iniciação da translação do RNA mensa tardio é de 30 anos. Ela costuma se apresentar com distúr
geiro para proteína, principalmente após sua exposição a bios de aprendizado, com um déficit cognitivo insidioso e
um estresse fisiológico (p. ex., calor, trauma, infecção). prolongado. Uma deterioração neurológica rápida induzi
Isto resulta em uma reciclagem deficiente da proteína e da por estresse com morte é comum.
em um acúmulo intracelular de proteínas desnaturadas.
Imagem. Hipointensidades em TI extensas e confluentes
Patologia. A SB frontoparietal profunda é a mais gra na SB com hiperintensidade em T2/FLA1R são típicas. A
vemente afetada, com um envolvimento relativamente doença inicialmente é periventricular, mas depois se es
menor dos lobos temporais. Os núcleos da base, o CC, a palha, envolvendo as fibras arqueadas subcorticais. Com
comissura anterior e as cápsulas internas são caracteristi- o tempo, a SB afetada fica rarefeita. Focos de cavitação
camente poupados. A aparência macroscópica da SB com com intensidade de sinal semelhante ao líquido cerebros
prometida varia de uma coloração acinzentada gelatinosa pinal (LCS) podem se desenvolver (Fig. 31-18). A perda
a áreas de degeneração cística com cavitações francas. difusa do volume com o aumento dos ventrículos de dois
A DSBE afeta predominantemente oligodendrócitos sulcos é vista em estudos seriados. A DSBE não apresenta
e astrócitos, com relativa preservação dos neurônios. Os impregnação pelo contraste.
achados microscópicos incluem palidez da mielina, afí- Redução da difusidade na SB de aparência normal
lamcnto da bainha de mielina, vacuolização e alterações pode ser um marcador inicial de degeneração cerebral na
císticas. O aumento paradoxal dos oligodendrócitos DSBE. Redução de NAA, Cho e Cr com mioinositol nor
pode ser visto em algumas áreas, com marcada perda mal é vista na ERM e reflete a degeneração inicial da SB
em outras. sem gliose reativa.

Aspectos clínicos. A DSBE clássica apresenta-se em crian Diagnóstico diferencial. A DSBE não é a única leucoence-
ças de 2 a 5 anos. O desenvolvimento inicialmente é nor falopatia que causa "desaparecimento" ou (evanescência)
mal, mas em seguida há comprometimento motor pro da SB cerebral. A doença de Alexander e as encefalopatias
gressivo e cognitivo com sinais cerebelares e piramidais. mitocondriais podem estar associadas com a rarefaçâo da
A morte durante a adolescência é típica. SB e a degeneração cística. A doença de Alexander apre
A leucoencefalopatía de Cree é uma forma grave e senta-se com macrocefalia. Cistos frontais na SB podem
rapidamente progressiva de DSBE que afeta crianças en ocorrer no estágio final da doença. Cerca de 10% das en
tre as idades de 3 e 9 meses, sendo invariavelmente fatal cefalopatias mitocondriais afetam predominantemente a
aos 21 meses (Fig. 31-19). SB e podem formar cavitações.
880 Distúrbios tóxicos, metabòlicos, degenerativos e do LCS

31-22A TI axial em uma f /

criança que era normal ao nas r


cimento, mas que iniciou com
convulsões com 28 dias. Observe
a hipointensidade na SB cerebe-
lar na ponte dorsal B e
nos tratos piramidais/tegmentals
pareados El. OXB foi diagnos
ticada.
31-22B T2 no mesmo pa
ciente mostrando uma hiperin-
tensidade bem delimitada na SB
cerebelar e nos tratos pontinos
poupando a substância cinzenta
dos núcleos denteados ÍS.

31-22C 12 no nível do mesen-


céfalo demonstrando Importante
edema dos pedúnculos cerebrais
B, claramente contrastando
com a intensidade de sinal nor
mal relativa da SB hemisférica
não mielinizada.
31 -220 O "edema na DXB"
muito hiperintenso no segmento
posterior da cápsula interna
mielinizado B é facilmente
diferenciado da SB fiemisférica
não mielinizada menos f^iperln-
tensa S.

31-22E Difusão mostrando


uma Importante restrição da
difusão na SB cerebelar e nos
tratos pontinos mielinizados,
31-22F ERMcomTEde
144 ms mostrando pico em
0,9 a 1,0 ppm ^3 que repre
senta a-cetoácidos de cadeias
ramificadas, geralmente vistos
na fase aguda da descompensa
ção da OXB.

.
Doenças metabólicas hereditárias 881

A LCG (ou doença de Krabbe) pode lembrar uma regiões frontais e peritrigonais (Fig. 31-20). As fibras ar-
DSBE grave clinicamente, mas os achados de imagem queadas subcorticais periféricas costumam ser poupadas.
com calcificações nos núcleos da base/tálamos e os "ha A PKU não apresenta impregnação pelo contraste endo-
los" cerebelares ajudam a diferenciar a LCG da DSBE. venoso. Uma discreta restrição na difusão pode estar pre
sente na difusão. A ERM em geral mostra um pico de Phe
Fenilcetonúria que ressoa a 7,37 ppm.
A fenilcetonúria (PKU, de phenylketonuria) é o erro do
metabolismo do aminoácido mais comum, sendo causada Doença do xarope de bordo
pela mutação no gene da fenilalanina-hidroxilase (PAH, A doença do xarope de bordo (DXB), também conhecida
de phenylalanine hydroxylase), o qual é mapeado no cro como encefalopatia da leucina, é uma doença autossômica
mossomo 12q24.1. Os níveis elevados de fenilalanina recessiva do metabolismo dos aminoácidos de cadeia ra
(Phe) são tóxicos para o cérebro em desenvolvimento. mificada. A redução da atividade do complexo desidroge-
No passado, a PKU era diagnosticada pela presença da nase a-cetoácido de cadeia ramificada resulta no aumento
hiperfenilalaninemia e pela "urina fétida". A maior parte dos dos níveis cerebrais de leucina e de outros melabólitos
casos de PKU agora é diagnosticada por programas de ras- leucotóxicos. Consequentemente, esses metabólitos indu
treamento nos recém-nascidos. A PKU não tratada causa um zem um edema ciiotóxico ou intramielínico.
grave retardo mental e atraso no desenvolvimento global. O Os recém-nascidos com DXB clássica inicialmente
monitoramento da dieta controla a progressão da doença, e são normais. Os sintomas costumam se desenvolver den
pacientes que são tratados precocemente podem desenvol tro de alguns dias após o nascimento e incluem dificulda
ver apenas um comprometimento cognitivo mínimo. de de amamentação, letargia, vômitos e convulsões. Em
Os estudos de imagem mostram hiperintensidades alguns casos graves, o cheiro da urina assemelha-se ao do
em T2/FLAIR na SB periventricular, particularmente nas xarope de bordo ou ao de açúcar queimado.

31-23A T2 axial em um
menino de 4 anos com HHci e
uma história de ociusão de seio
venoso quando recém-nascido
mostrando uma atrofia cerebeiar
generalizada.
31-23B Uma T2 coronal no
mesmo paciente mostrando atro
fia, hiperintensidades esparsas
na SB dos lobos temporais B
e um foco de desmielinizaçâo
perivascular B3.

31-24A T2 axial em um me
nino de 10 anos com distrofia
muscular congênita e com defi
ciência de merosina mostrando
uma hiperintensidade confluente
na 56 periventricular ES. As
fibras arqueadas subcorticais
estão poupadas S, assim como

A- - ; -. H
occEa.
31-24B Corte coronal em T2
no mesmo paciente mostrando

i a hiperintensidade confluente na
56 profunda ES. O CC ES e a
58 subcortical BI estão preser
vados. Nenhuma malformação

H t ^ / cortical é vista.
882 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

O ultrassom transcraniano durante o estágio agudo


do edema da DXB mostra aumento da ecogenicidade nos
tálamos e nos niicleos da base.
Uma TC sem contraste mostra intensa hipodensidade
na SB mielinizada com edema vasogênico no tronco ence-
fálico dorsal, no cerebelo, nos pedúnculos cerebrais e no
segmento posterior da cápsula interna (Fig. 31-21). A RM
mostra uma importante hiperintensidade em T2/FLAIR
com margens relativamente bem delimitadas. A seqüência
difusão mostra restrição da difusão da água (Fig. 31-22).
A ERM mostra um pico em 0,9 ppm causado por um
acúmulo de a-cetoaminoácidos de cadeia ramificada. Esse

pico está presente com um TE tanto curto (30 ms) quanto


intermediário (144 ms) ou até mesmo com TEs longos,
diferenciando-os dos picos de macromoléculas normais
31-25 Um caso de necropsia de leucodislíofia
que podem ser vistos somente no TE curto.
megaloencefálica com cistos subcorticais mostrando
múltiplos cistos subcorticais 3], rarelaçâo da SB 1^
na S6 subcorneal frontal. (Cortesia de R. Hewlett, MO.) Hiper-homoclsteinemla
A hiper-homocisteinemia (HHci) - antigamente conheci
da como homocistinúria - é um grupo heterogêneo de dis
túrbios herdados que afetam o metabolismo da metionina,
resultando na elevação da homocisteína no plasma.
Os pacientes com HHci são normais ao nascimento, mas
desenvolvem anormalidades em múltiplos sistemas envol
vendo os olhos, o esqueleto, o sistema vascular e o SNC. Um
deslocamento superior do cristalino ocorre precocemente e
afeta a maioria dos pacientes. A osteoporose e a cifoescolio-
se são comuns. Um dano endotelial e a hipercoagulabilidade
resultam em uma alta incidência de oclusões tanto arteriais

quanto venosas que podem ocorrer cm qualquer idade.


A principal manifestação nos exames de imagem na
HHci cerebral é vascular. Doenças ociusivas, tanto no
sistema arterial quanto venoso, são típicas. A microan-
31-26A FLAIR axial em uma criança de 22 meses giopatia decorrente de aterosclerose prematura, acidentes
com ieucodistroíia megaloencefálica com cistos sub vasculares cerebrais (AVCs) arteriais tromboembólicos,
corticais mostrando uma SB edemaciada, tiiperinten- infartos lacunares, ociusão sinovenosa e perdas de volume
sa, "aguada" e cistos subcorticais temporais com
intensidade de sinal semelíiante ao LCS ES. generalizadas é comum. Um aumento no número de hipe
rintensidades na SB em T2/FLAIR é visto até em pacien
tes com níveis discretamente elevados de homocisteína no

plasma (Fig. 31-23).

Dlstrofia muscular congênita


As distrofias musculares congênitas (DMCs) têm uma varie
dade de manifestações. Algumas se apresentam com hipo-
lonia e fraqueza muscular sem sintomas no SNC, enquanto
outras se apresentam com mielinização anormal e córtex
normal ou malformações corticais com uma mielinização
normal. Estas últimas serão consideradas no Capítulo 37.
Em sua maioria, as DMCs caracterizadas por uma
mielinização anormal são DMCs merosina-defícientes
(DMCMDs). A biópsia muscular mostra alterações distrófi-
cas com uma expressão negativa da merosina (laminina a2).
Esses pacientes geralmente são hipotônicos ao nas
31-26B FLAIR em uma criança de 2 anos com ieu
codistroíia megaioencefáiica com cistos subcorticais cimento ("bebe mole") e exibem um grave atraso motor.
mostrando edema, hiperintensidades subcorticais na A RM mostra uma hiperintensidade em T2/FLA1R di
SB B. Cistos preencfiidos com líquido são completa fusa e confiuente na SB periventricular. O CC, a cápsula
mente suprimidos.
Doenças metabólicas hereditárias 883

31 -ZTA Achados iniciais da


LMCS são demonslfados nesse
menino de 6 meses com ma-
crocefalia. A TI mostra uma
mielinização normal no CC e nas
cápsulas internas B3, mas a SB
hemisférica é muito hipointensa
e imatura para a idade.
31-278 n axial na coroa
radiada mostrando uma im
portante falta da mielinização.
Alguns dos giros aparecem
alargados ES, embora nenhum
cisto subcortical evidente seja
identificado.

31-27C Imagens ponderadas


em 12 no mesmo paciente mos
trando uma hiperintensidade
anormal difusa na 58 dos he
misférios cerebrais, incluindo as
fibras subcorticais em U. O cortex
adjacente aparece normal.
31-27D 12 nos núcleos da
base mostrando uma mlellniza-
cão normal do CC ES e de am
bos os segmentos das cápsulas
internas B9. As demais porções
da SB hemisférica aparecem de
modo anormal e hiperintenso.

31-27E 12 na coroa radiada


superior no mesmo paciente
mostrando que a SB subcortical
ES é sutil, mas definitivamen
te mais hiperintensa que a SB
central possivelmente indi
cando uma degeneração cística
precoce.
31-27F T2 coronal mostrando
que a maior parte da hiperin
tensidade na SB está nos lobos
temporais mediais ^3, em
comparação com os giros da con-
vexidade edemaciados isso
provavelmente represente o de
senvolvimento precoce dos cistos
característicos vistos na LMCS.
884 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

31-28A T2 axial em uma menina de 3 anos com síndrome do4H 31-288 T2 coronal na mesma paciente mostrando que a ausência da
mostrando que a maior parte da SB hemisférica é hiperintensa. A hipoín- mielinização também envolve as fibras subcorticais em U B. A acentu
tensidade em T2 nos tratos ópticos B e no segmento posterior das ada atrofia cerebelar precoce B é característica da síndrome do 4H,
cápsulas internas tS é característica.

interna e as fibras subcorticais em U costumam ser poupa Patologia. Patologia macroscópica mostra um cérebro
dos (FIg. 31-24). edemaciado com múltiplos cistos subcorticais de tama
nhos variados (Fig. 31-25). Os núcleos da base são pou
Predomínio da substância branca subcortical pados. Nos poucos casos de LMCS com hisiopaíologia
As DMHs que inicial ou predominantemente afetam a SB relatados, uma extensa vacuolização é vista nas camadas
subcortical são muito menos comuns do que aquelas com externas da bainha de mielina, resultando na aparência
envolvimento da SB profunda periventricular. A DMH edemaciada característica da SB na RM.

mais importante com envolvimento predominantemen Aspectos clínicos. A LMCS é clinicamente diferente das ou
te da SB subcortical é a leucodistrofía megaloencefálica tras leucoencefalopatias por sua típica deterioração neuro
com cistos subcorticais.
lógica de curso lento. A macrocefalia de início infantil é
característica, mas a deterioração neurológica em geral é
Leucodistrofía megaloencefálica com cistos tardia. A idade do início dos sintomas varia muito, desde o
subcorticais nascimento até os 25 anos, com uma idade média de seis
Terminologia. A leucodistrofía megaloencefálica com cis meses.

tos subcorticais (LMCS), também conhecida como íeu- Os sinais piramidais e cerebelares são comuns. Cri
coencefalopatia megaloencefálica vacuolizante, é um ses convulsivas são variáveis. Enquanto a distribuição da
distúrbio autossômico recessivo raro com achados carac LMCS é global, muitos pacientes relatados apresentam
terísticos na RM e um curso clínico variável, porém leve. etnia indiana.

Etiologia. a LMCS é um distúrbio geneticamente heterogê Imagem. O diagnóstico da LMCS costuma ser estabelecido
neo. Cerca de 75% dos casos são causados pela mutação pela RM. A macrocefalia com hiperintensidade difusa e
no gene MLCI. MLCl é uma proteína de membrana oligo- confluente na SB subcortical é típica. Os giros afetados
mérica localizada na junção astrócito-astrócito. Uma nova aparecem "aguados" e edemaciados (Fig. 31-27). Os nú
mutação descrita no gene HEPACAM ç{\xq codifica a pro cleos da base são poupados; o CC e a cápsula interna ge
teína GlialCAM, uma molécula de adesão celular hepática ralmente são normais. A SB cerebelar costuma ser normal
e glial semelhante à IgG, pode corresponder ao restante dos ou estar discretamente comprometida.
casos. Ambos os defeitos levam a uma troca anormal das Os cistos subcorticais característicos com sinal seme
células de junção. Os pacientes com mutação HEPACAM lhante ao LCS se desenvolvem nos lobos temporais ante
desenvolvem um espectro de anormalidades que variam de riores e depois aparecem nos lobos frontoparietals. Dife
uma macrocefalia benigna familiar a uma LMCS que é in- rentemente nas lesões na SB, os cistos são suprimidos por
distinguível daquela causada pela mutação no MLCL completo na FLAIR (Fig. 31-26). O número e o tamanho
Doenças metabólicas hereditárias 885

31-29A T2 axial em um menino de 6 meses com atraso do desen 31-29B O exame de controle no mesmo paciente aos 3 anos não
volvimento motor e uma circunlerência cefálica normal mostrando uma mostra mielinízação no intervalo. A análise genética mostrou uma muta
ausência quase completa da mielinízação, incluindo as libras subcorticais ção no PLP1, diagnóstico de doença de Pelizaeus-Merzbacher.
em u. Nesta idade, as cápsulas internas deveriam estar mielinizadas.

dos cistos podem aumentar com o tempo. A SB anormal e nização deficiente em dois exames de RM sucessivos obti
os cistos não apresentam impregnação em TI C+. dos com pelo menos seis meses de diferença (Fíg. 31-29).
A ERM mostra aumento discreto a moderado do O achado mais comum é uma discreta hiperintensidade
NAA e redução da relação NAA:Cr. em T2 na maior parte da SB cerebral hemisférica. Em alguns
Diagnóstico diferencial. A LMCS pode ser diferenciada das casos, a intensidade de sinal em TI pode ser quase normal.
outras DMHs com macrocrania. Os dois principais diag Seguindo a hipomielinização de etiologia desconhe
nósticos diferenciais são a doença de Canavan e a doença cida, a segunda doença hipomielinizante herdada mais co
mum é a síndrome do 4H. A síndrome hipomielinizante
de Alexander, ambas caracterizadas por um comprometi
m a i s c o n h e c i d a é a s í n d r o m e d e P e l i z a e u s - M e r z b a c h e r.
mento clínico muito maior. A doença de Canavan quase
Ambas são causadas pela mutação de um gene que co
sempre envolve os núcleos da base, não apresenta cistos difica a proteína 1 proteolipidica (PLPI, de proteolipid
subcorticais e demonstra um grande pico de NAA na ERM.
A doença de Alexander também envolve os núcleos pmtein /) mielínica.
da base, é predominantemente frontal, e em geral realça
após a administração endovenosa do contraste.
DOENÇAS HIPOMIELINIZANTES
Doenças hipomielinizantes Mais comuns
• Hipomielinização de causa desconhecida
Um tipo recentemente reconhecido de DMH rara é carac
• Síndrome do AH
terizado por atraso ou redução da mielinização da SB. Co
• Doença de Pelizaeus-Merzbacher
nhecidas como leucoencefalopatias hipomielinizantes. essas • Doença semelhante à Pelizaeus-Merzbacher
doenças heterogêneas exibem redução ou ausência da mie
Menos comuns
linização. As doenças /t/^omielinizantes se diferenciam das
outras doenças da SB que são caracterizadas por produção • Hipomielinização com catarata congênita
• Gangliosídose GM2
anormal de mielina (doenças í:/«mielinizantes) ou destruição
• Doença de Salla (siaíúrla)
da mielina (doenças c/evmieiinizantes). Em sua maioria, as
• Fucosidose
leucoencefalopatias hipomielinizantes são doenças de acú • Síndrome de Cockayne
mulo lisossomal. Embora algumas tenham sido identifica • Gangilosidose GM1
das e caracterizadas, aquelas de origem desconhecida cons • Hipomielinização com atrofia dos núcleos da base e
tituem a maior categoria dessas leucoencefalopatias. do cerebelo
O critério de imagem genericamente aceito para o diag
(continuo)
nóstico de hipomielinização é o padrão inalterado da mieli-
886 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

desenvolvimento motor e espasticidade. O prognóstico


(continuação) é reservado e a morte ocorre precocemente no início da
Raras infancia.
• Síndrome de dEL (18q)
• Síndrome de Cockayne Imagem. O aspecto de imagem típico da DPM é uma falta
• Trlcotiodistrofias (cabelo quebradiço, suifúrico-deficiente) quase completa de mielinização (Fig. 31-29). Toda a SB
cerebral aparece homogeneamente muito hiperintensa em
T2. Em alguns casos, a mielina preservada ao redor dos
Síndrome do 4H espaços perivasculares configura um padrão "tigroide" na
SB. Hiperintensidade dos tratos piramidais ou de toda a
O diagnóstico da síndrome do 4H tem como base a com
ponte costuma estar presente. A perda volumétrica pro
binação de hipomielinização na RM, hipogonadismo
gressiva da SB e do cerebelo é comum. Alterações cavitá-
hipogonadotrófico e hipodontia. A hipomielinização rias na SB costumam estar ausentes.
na síndrome do 4H é diferente. A /7/pointensidade em
T2 das radiações ópticas, dos tratos piramidais nos seg Diagnóstico diferencial. O maior diagnóstico diferencial
mentos posteriores das cápsulas internas e dos tálamos da DPM são outras doenças hípomielínlzantes. A hipe
anterolaterais, juntamente com atrofia cerebelar e uma rintensidade piramidal e pontina é um achado útil para o
discreta hiperintensidade na SB cerebelar, é caracterís diagnóstico diferencial. Os pacientes com doença seme
tica (Fig. 31-28). lhante à DPM têm uma apresentação similar, mas falta a
mutação do PLPI característica da DPM. Nesses casos, a
Doença de Pelizaeus-Merzbacher mielinização é tardia, mas se desenvolve lentamente após
Terminologia e etiologia. A doença de Pelizaeus-Merzba os 2 anos de idade.

cher (DPM) é uma doença ligada ao X que resulta na falta


quase total de mielinização. A DPM é uma doença hipo-
mielinizante causada por variações no PLPI. Duas formas
de DPM são conhecidas: tipo 1 (clássica) e tipo 2 (neona Doenças metabólicas hereditárias
tal). A DPM clássica é um distúrbio recessivo ligado ao que afetam predominantemente a
X; já na forma neonatal, os pacientes podem mostrar tanto substância cinzenta
uma herança autossômica quanto uma herança recessiva
As DMHs que afetam predominantemente a substância
ligada ao X.
cinzenta (SC) sem afetar a SB também são conhecidas
A maioria dos pacientes com DPM apresenta uma hi
como poliodistrofias. Elas podem ser subdivididas naque
perintensidade homogênea intensa em toda a SB cerebral.
las que envolvem o córtex e naquelas que envolvem em
Atrofia cerebelar é comum.
sua maior parte os núcleos profundos de SC. As doenças
Patologia. Macroscopicamente, o cérebro aparece atrófl- da SC herdadas que envolvem os núcleos profundos de
co, com um córtex normal e uma SB reduzida, acinzenta- SC são significativamente mais comuns que aquelas que
da ou com aparência gelatinosa. A SB cerebelar, o tronco afetam principalmente o córtex.
encefálico e a medula espinal também são reduzidos e
acinzentados. Os nervos ópticos (que são tratos encefá- Doenças metabólicas hereditárias que afetam
licos) geralmente são comprometidos, mas outros nervos principalmente os núcleos profundos da
cranianos (que são envolvidos por uma bainha com uma substância cinzenta
proteína diferente de mielina chamada de PMP22) nor
malmente são mielinizados.
Muitas são as doenças hereditárias que afetam principal
mente os núcleos da base e os tálamos. Três erros inatos
A histopatologia mostra uma marcada redução ou au
sência dos oligodendrócitos com uma coloração variável do metabolismo com uma predileção específica pelos nú
cleos profundos de SC são a NBIA tipo 1 (também conhe
da mielina. Os casos de DPM neonatal mostram uma defi
cida como neurodegeneração associada à pantotenato-
ciência quase completa da coloração da mielina. enquanto
os casos de progressão mais lenta demonstram a preserva -quinase, ou PKAN, de pantothenate kinase-associated
ção de ilhas de mielina ao redor dos vasos sangüíneos em neuropathy), as síndromes da deficiência de creatina e
a doença de repetição da citosina-adenina-guanina (CAG)
um padrão "tigroide" clássico ou descontínuo.
chamada de doença dc Huntington.
Aspectos clínicos. Embora seja uma das doenças hipomie- Esta seção iniciará com uma visão geral dos distúr
linizantes mais comuns, a DPM causa apenas 5 a 7% de bios com acúmulo cerebral de ferro, para, então, dar-se
todas as leucodistroflas hereditárias. Cerca de 100% das atenção especial à PKAN, às síndromes da deficiência
DPMs clássicas ocorrem em homens. A DPM neonatal de creatina e à doença de Huntington. A seção termina
pode afetar ambos os sexos. rá com uma discussão sobre as duas doenças hereditárias
A DPM costuma ser identificada em crianças com com o metabolismo de cobre anormal, doença de Wilson
menos de um ano e apresenta-se com nistagmo, atraso do e doença de Menkes.
Doenças metabóiicas hereditárias 887

31-30 T2 (acima), GRE (gradienle-eco) (abaixo) em um pacienle com 31-31 Uma mulher de 19 anos com PKAN confirmada. Observe a in-
PKAN mostrando o sinal clássico (do olho do tigre) com focos hiperinten- tensa hipointensidade de GP BS). SN B e núcleo rubro ES e a falta do
SOS bilaterais B nos GPs mediais envoltos por uma intensa hipointen- sinal do "olho do tigre". A imagem em difusão é normal,
sidade

astrócitos e micróglias, que por sua vez causam perda


Doenças com acúmulo cerebral de ferro
neuronal e gliose. A imunocoloração para proteína Tau
Algum acúmulo de ferro nos núcleos da base e nos nú
cleos denteados ocorre como parte normal do envelheci hiperfosforilada revela numerosas redes neurofibrilares.
mento (ver Capitulo 33). A NBIA representa um grupo de Aspectos clínicos. A NBIA tipo 1 pode se desenvol
ver em qualquer idade. Quatro formas clínicas já foram
doenças clinica e geneticamente heterogêneas caracteri reconhecidas: infantil (início no primeiro ano de vida), in
zadas por neurodegeneraçâo progressiva e uma elevação
anormal do ferro cerebral.
fantil tardia (início entre 2 e 5 anos). Juvenil ou "clássica"
Quatro subtipos importantes de NBIAjá foram de (início entre 7 e 15 anos) e NBIA tipo 1 de início adulto.
finidos molecular e geneticamente: (!) PKAN, ou NBI A A maioria dos casos é diagnosticada na primeira déca
da ou durante o início da adolescência. A doença começa
tipo I, (2) neuroferritinopatia (NBIA tipo 2), (3) distrofia
neuroaxonal infantil e (4) aceruloplasminemia. com distúrbios de marcha lentamente progressivos e atra
O foco desta discussão será a PKAN, o tipo mais co so no desenvolvimento psicomotor. Hipercinesias ocorrem
mum de NBIA, para depois serem discutidos brevemente em cerca de 50% dos casos. A deterioração progressiva
os outros três tipos. mental finalmente leva à demência. Nos estágios tardios
da doença, as discinesias são substituídas por uma rigidez.
PKAN. Mutações PANK2 são associadas com uma idade de
início mais jovem, uma progressão mais rápida e uma
Terminologia. A PKAN era inicialmente conhecida como
maior freqüência de distonia, disartria, comprometimento
doença de Hallervorden-Spatz.
intelectual e distúrbios da marcha. Parkinsonismo é visto
Etlologia. A PKAN é uma doença familiar autos-
sômica recessiva caracterizada pelo depósito excessivo predominantemente em pacientes com doença de início
de ferro nos globos pálidos (GPs) e na substância negra adulto.

(SN). Ela é causada pela mutação do gene da pantotenato- Imagem. Os achados de imagem refletem a distribui
-quinase {PANK2) localizado no cromossomo 20p 12.2-13. ção anatômica do acúmulo excessivo de ferro. A T2 mos
Patologia. Macroscopicamente, a PKAN é caracteri tra uma intensa hipointensidade de sinal nos GPs e na SN.
zada por atrofia e uma coloração amarronzada do GP me Um pequeno foco de hiperintensidade central no aspecto
diai, da zona reticular da SN (Fig. 31-33) e, algumas ve mediai do GP muito hipointenso (ocorre o clássico sinal
zes, dos núcleos denteados. Os núcleos rubros geralmente do "olho do tigre") é causado por uma gliose tissular e
são poupados. Pigmentos granulates que contêm ferro, 11- vacuolização (Fig. 31-30).
pofuscina e neuromelanina acumulam-se em "esferoides" É importante notar que nem todos os casos de PKAN
axonais (axônios distendidos e edemaciados), neurônios. demonstram o sinal do "olho do tigre Um encurtamento
888 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

de T2 no GP com artefato de susceptibilidade magnética tias mitocondriais mostram hiperintensidade estriatal (não
em T2* (ORE, SWl [imagem ponderada em susceptibili hipointensidade). Elas também envolvem predominante
dade, de susceptibility weighted imaging^) em uma criança mente o núcleo caudado e o putame, não o GP mediai.
ou adulto jovem deve sugerir o diagnóstico de uma NBIA
- tanto PKAN como distrofia axonal infantil - mesmo na Neüroferritinopatia. Mutação na porção carboxiterminal
ausência do sinal do "olho do tigre" (Flg. 31-30). do gene da ferritina de cadeia leve {FTL) interfere na
As lesões na PKAN não apresentam realce em TI com habilidade de transporte do ferro. Uma redução ativa do
ferro é depositada nos neurônios, causando estresse oxi-
gadolínio, tampouco demonstram restrição da difusão, em
bora a DTI demonstre um significativo aumento da aniso- dativo com perda neuronal e gliose. O resultado é a neü
tropia fracionada tanto no GP quanto na SN. A ERM mos roferritinopatia. uma doença autossòmica dominante do
tra uma redução do pico de NAA e uma redução da relação adulto com uma idade média de início de 39 anos.

NAA:Cr compatível com perda neuroaxonal. O aumento O fenótipo clínico predominante da neüroferritino
do pico do mioinositol e da relação mI:Cr com o TE curto patia é um distúrbio extrapiramidal com movimentos
está presente, sugerindo proliferação glial reativa. coreiformes e distonia focai. Distúrbios cognitivos e psi
Diagnóstico diferencial. O depósito anormal de ferro quiátricos precoces estão ausentes, diferenciando a neüro
nos núcleos da base ocorre com PKAN, assim como com ferritinopatia da doença de Huntington.
outras NBIAs. Aceruloplasminemia e neuroferritino- Os achados de imagem mais precocemente deteclá-
patia são doenças de início adulto, ambas envolvendo o veis na neüroferritinopatia são a hipointensidade em T2*
córtex, que é preservado na PKAN. no GP e na SN. A hipointensidade em T2 no GP e na SN,
As alterações de sina! nos núcleos da base ocorrem em no núcleo rubro, no caudado, no putame, no tálamo, e no
inúmeras outras DMHs. Doença de Wilson, doença de córtex cerebral costuma ocorrer depois. Em estágios tar
Leigh, necrose estriatal bilateral infantil e encefalopa- dios, a gliose e a degeneração cística do GP mediai podem

31-32A T2'GRE axial em


uma mulher de 66 anos com
aceruloplasminemia mosirando
uma intensa hipointensidade nos
núcleos denteados SI, com um
discreto, mas definido, artefato
de susceptibilidade magnética
linear no córtex cerebelar
31-32B T2* GRE axial na
mesma paciente mostrando
hipointensidades tipo artefato
de susceptibilidade magnética
simétricas na SN ES, no núcleo
rubro B e no putame inferior
E l .

31-32C Uma imagem de


T2* GRE mais cefálica na altura
dos ventrícülos laterais e do
terceiro ventrículo mostrando
uma hipointensidade simétrica
e intensa nos núcleos caudados
Ea, nos putames Be] e em am
bos os talamos IS. Observe a
hipointensidade tipo artefato de
susceptibilidade magnética sutil
no córtex
31-320 T2* SWl na coroa
radiada mostrando Intensas

hipointensidades curvilineas por


todo o córtex dos hemisférios
cerebrais B.
Doenças metabólicas hereditárias 889

31-33 Caso de necropsia de PKAN mostrando uma coloração amarron- 31-34 T2 axial, coronal em uma criança de 11 meses com deficiência
zada característica !ES causada por depósito de (erro na SN. (Cortesia de de creatine mostrando fiiperíntensidades simétricas nos CPs ES. A El^M
E. T. Hediey-Whyte, MD.) com TE longo mostra ausência do pico de Cr. Com suplementaçâo dietéti-
ca, uma ERM realizada três anos depois é completamente normal.

produzir um foco de hiperintensidade em T2 que apre A RM é muito útil no diagnóstico das NBlAs. Todas
senta uma aparência similar ao "olho do tigre" visto na as NBIAs demonstram uma deposição do ferro nos GPs,
PKAN (ver anteriormente). mas diferem nos outros achados associados. A distribui
ção da hipointensidade em T2 ou T2* pode ajudar a dife
Distrofia neuroaxonal infantil. Mutação na fosfolipase A2 renciar entre os subtipos de NBIAs (ver quadro a seguir).
{PLA2G6) causa dístrofía neuroaxonal infantil (DNl),
uma doença psicomotora grave caracterizada por hipoto-
nia progressiva, hiper-reflexia e tetraparesia. A idade mé HIPOINTENSIDADE EM 12'' NAS NBIAS
dia de apresentação é de 14 meses. A progressão da doença
PKAN
geralmente é rápida, com morte na idade média de 9 anos. • GP, SN, núcleos denteados
Os estudos de imagem nas crianças com DNI mos • Sinai do "olho do tigre" variável
t r a m u m a a t r o fi a c e r e b e l a r a c e n t u a d a e m c e r c a d e 9 5 % • Preservação do córtex
dos casos. A hiperintensidade em T2/FLA1R no cerebelo
DNl
secundária à gliose também é comum. Quase 50% dos ca • Atrofia cerebelar (75%)
sos demonstram deposição anormal de ferro com hipoin- • Hipointensidade em T2" em GP, SN (50%)
tensidade em T2 nos GPs e na SN. • Preservação do córtex
Aceruloplasminemia. Mutações homozigóticas do gene ce-
Neuroferritinopatía
ruloplasmina causam aceruloplasminemia, também co • Hipointensidade em 12" em GP, SN
nhecida como deficiência hereditária de ceruloplasmina. • Depois núcleos denteados/caudados, tálamos
A ceruloplasmina carreia mais de 95% de todo o cobre • Acometimento do córtex
no plasma e age como uma ferroxidase. tendo assim um
Aceruloplasminemia
importante papel na mobilização do ferro tissular. • GP, núcleo caudado, putame, tálamos
A aceruloplasminemia é uma doença de adultos de • Núcleo rubro, SN, núcleos denteados
meia-idade caracterizada pela tríade clínica de diabetes, • Acometimento do córtex cerebral, cerebelar
retinopatia e sintomas neurológicos (demência primá
ria, discinesia craniofacial e ataxia cerebelar). TI e T2*
Síndrome da deficiência de creatina
(GRE, SWI) demonstram uma intensa hipointensidade no
córtex cerebral e cerebelar. no GP, nos núcleos caudados, As slndromes da deficiência de creatina são doenças au-
no putame, nos tálamos, no núcleo rubro, na SN e nos nú tossòmicas recessivas. A creatina e a fosfatocreatina são
cleos denteados (Fig. 31-32). essenciais para o armazenamento e a transmissão da ener-
890 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LC5

gia ligada ao fosfato tanto no músculo quanto no cérebro. va hereditária crônica autossômica dominante com uma
Uma depleçâo grave de creatina causa hipotonia e atraso penetráncia completa. O defeito genético responsável
no desenvolvimento. Uma suplementação dietética pode ocorre no braço curto do cromossomo 4, que codifica a
reverter os sintomas parcial ou completamente; desse proteína huntingtina. O gene da huntingtina inclui um
modo, o diagnóstico é crucial para o manejo dos pacientes. segmento repetitivo de CAG trinucleotídeo de compri
A RM mostra hiperintensidades em T2/FLA1R simé mento variável.
tricas e bilaterais nos GPs. A ERM é a chave para o diag A presença de mais de 38 repetições confirma o diag
nóstico e mostra uma redução ou ausência do pico de Cr nóstico de DH. Em geral, existe um aumento progressivo
nos estudos com TE longo (FIg. 31-34). do tamanho da seqüência repetida de CAG com gerações
sucessivas.
Doença de Huntington
Patologia. Agregados da proteína huntingtina acumulam-
Até recentemente, acreditava-se que a doença de Hunting
-se nos terminais axônicos, o que eventualmente causa
ton (DH) era regionalmente seletiva, afetando somente a
a morte de neurônios espinhosos médios. A necropsia
SC (mais especificamente os núcleos caudado e putame).
mostra atrofia cerebral generalizada com uma média de
Embora as técnicas de imagem avançadas, como a DTl,
30% de redução do peso cerebral. Tanto o córtex quanto
demonstrem que a SB também é afetada, os aspectos de
a SB hemisférica são afetados. A anormalidade macros
imagem dominantes sao alterações nos núcleos cinzentos
cópica mais característica é a perda volumétrica com ra-
profundos. Portanto, a DH foi incluída nesta seção com
outras DMHs que preferencialmente envolvem o estriado. refação de núcleos caudados, putame e GP (Figs. 31-35
e 31-36).
Terminologia e etiologia. A DH, também conhecida como Microscopicamente, a DH mostra uma perda neuro
coréia de Huntington, é uma doença neurodegenerati- nal com inclusões nucleares da huntingtina, gliose astrocí-

31-35 Gráfico axial mostrando


um núcleo caudado reduzido,
a t r o fi a d o c o m o s c o r n o s
frontais convexos externamente
B que são típicos da DH.
31 -36 Autópsia coronal da
DH mostrando os cornos frontais
convexos externamente B, a
redução acentuada do núcleo
caudado ÍIS e o putame atrofia
do SI. (Cortesia de R. Hewlett,
MD.)

31 -37 TC sem contraste em


um paciente com DH mostrando
atrofia moderada generalizada
e acentuada do caudado, vista
como uma convexidade dos cor
nos frontais e superficialmente
B. (Cortesia de M. Huckman,
MD.)
31-38 FLAIR em um paciente
com DH mostrando uma cabeça
do núcleo caudado quase inexis
tente atrofia dos núcleos da
base e fina intensidade putami-
nal B.
Doenças metabólicas hereditárias 891

tica e acúmulo de ferro. As alterações são mais acentuadas


nos núcleos da base, mas também podem ser vistas em DOENÇA DE HUNTINGTON
outras regiões do cérebro, incluindo o cerebelo.
Etíologia
• Autossômica dominante, penetrância completa
Aspectos clInicos. A incidência da DH é de 4 a 7:100.000
• Distúrbio repetitivo do CAG trinucleotídeo
na maior parte da população. A idade média do início dos
sintomas é de 35 a 45 anos. Somente 5 a 10% dos pacien Patologia
tes apresentam os sintomas antes dos 20 anos ("DH de • Núcleo caudado, putame, GP
início juvenil"). Não há predileção por sexo. • Inclusões nucleares da proteína huntingtina
A repetição do segmento de CAG e a idade influen • Perda neuronal, gliose, acúmulo de ferro
ciam na expressão e na progressão da DM. O iníeio adulto Clínica
da DH é caracterizado por perda progressiva da função • DH de início adulto (35 a 45 anos) = 90%
motora normal, desenvolvimento de movimentos corei- • DH de início juvenil (menos de 20 anos) = 10%
formes estereotipados e deterioração cognitiva. Uma vez
Imagem
que os sintomas apareçam, a doença progride persistente • Hiperintensidade de T2/FLAIR no núcleo caudado,
mente e resulta em morte em IO a 20 anos.
putame
A DH de início juvenil é inicialmente caracterizada • Convexidade periférica dos cornos frontais
por rigidez e distonia, muito mais do que por coréia. Os
sinais cerebelares também são comuns.

Imagem. Os estudos convencionais de imagem (TC, RM) Distúrbios do metabolismo do cobre


são normais no curso inicial da doença. Conforme os sin
o cobre é essencial para o funcionamento normal do cére
tomas se desenvolvem e progridem, a TC sem contraste bro. As proteínas que contêm cobre são elementos críticos
mostra uma atrofia do núcleo caudado com alargamento e
para inúmeros sistemas enzimáticos, incluindo a homeos-
convexidade periférica dos cornos frontais e uma atrofia tase do ferro. A homeostase do cobre é um equilíbrio deli
difusa generalizada variável (Fig. 31-37). cado que requer aporte dietético e excreção apropriada. O
A RM mostra uma perda cerebral volumétrica difusa cobre excessivo é neurotóxico. Duas doenças do metabo
com hiperintensidade em T2/FLA1R e redução da cabeça lismo do cobre - doença de Wilson e doença de Menkes
dos núcleos caudados. A hiperintensidade putaminal é co - têm manifestações acentuadas no SNC.
mum (Fig. 31-38). .As manifestações mais importantes da doença de
Estudos volumétricos por RM podem demonstrar Wilson (DW) são encontradas nos núcleos da base, no
uma redução do volume dos núcleos da base anos antes mesencéfalo e nos núcleos denteados do cerebelo. Desse
do início dos distúrbios motores. A morfometria baseada
modo, a DW será discutida nesta seção com as DMHs que
em voxel, a DTI e a tomografia por emissão de positrons
predominantemente afetam a SC. Uma breve considera
(PET, de positron emission tomography) também já de ção da doença de Menkes também será realizada.
monstraram anormalidades na SB hemisférica e no córtex
tanto de carreadores assintomáticos quanto de pacientes Doença de Wilson
com DH "pré-manifestação".
Etíologia. A DW é uma doença autossômica recessiva in-
As imagens da transferência de magnetização (ITMs) comum do transporte de cobre, sendo causada pela muta
demonstram um alto pico de redução relacionada ao com
ção do gene ATP7B. A mutação causa acúmulo anormal
primento da repetição de CAG na SC e na SB de aparên de Cu nos hepatócitos que, posteriormente, alcançam a
cia normal. Distúrbios na ITM são aparentes na DH pre
circulação. A deposição de cobre nos complexos de Goigi
coce e são homogêneos tanto para a SB quanto para a SC.
e nas mitocôndrias resulta em um dano oxidative primário
Diagnóstico diferencial. Algumas doenças neurodegene- ao flgado, ao cérebro, ao rim, ao sistema esquelético e ao
rativas adquiridas podem se assemelhar à DH de adul olho.
to. incluindo a atrofia de múltiplos sistemas (AMS). a Patologia. A vulnerabilidade seletiva do corpo es-
dcgcneração corticobasal e a demência frontotempo- triado e a disfunçâo mitocondrial são responsáveis pela
ral lobar, Todas essas doenças adquiridas costumam ser perda volumétrica predominante dos núcleos da base vis
acompanhadas de atrofías dos núcleos da base, embora, ta na DW (Fig. 31-40). Os achados patológicos macros
diferentemente da DH. os núcleos caudados não sejam cópicos são inespecíficos, com dilatação ventricular e
afetados de modo desproporcional. proeminência dos sulcos vistas na autópsia em inúmeros
O diagnóstico diferenciai da DH juvenil inclui está casos. Os achados microscópicos incluem edema, necro
gios tardios da doença de Wilson com atrofia do núcleo se e alterações espongiformes nos núcleos da base. Glio
caudado e do tronco encefálico. PKAN com coreoatetose se e mielinização variável estão presentes na SB cerebral
e demência pode mimetizar os sintomas da DH. O sinal e c e r e b e l a r.
"do olho do tigre" no GP mediai diferencia a PKAN da Aspectos clínicos. A DW geralmente afeta crianças e
D H . adultos jovens. A incidência relatada de DW sintomática
892 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

é de 1:30.000 a 40.000, mas a freqüência de carreadores


assintomáticos é de 1:90. Nào há predileção por sexo.
Os sintomas da DW de início precoce (8 a 16 anos)
costumam ser relatados como insuficiência hepática. Os
sintomas da DW de início tardio são principalmente neuro
lógicos e facilmente reconhecíveis na segunda ou terceira
décadas de vida. Disartria, distonia, tremor, ataxia, sinto
mas semelhantes a Parkinson e a distijrbios de comporta
mento são comuns. O depósito de ferro na cómea causa os
anéis verde-amarelados característicos de Kayser-Fleischer
vistos no exame por lâmpada de fenda (Fig. 31-39).
Os sintomas clínicos geralmente progridem, e as alte
rações de sinal na RM podem diminuir com o tratamento
apropriado. A DW não tratada é sempre fatal.
Imagem. A TC sem contraste pode ser normal, es
31 -39 OVir com o clássico anel de Kayser-Fleischer pecialmente no curso inicial da doença. A TC subestima
verde-amarelado S). (Cortesia dos arquivos da AFIP.) as alterações patológicas da DW. Atrofia cerebral difusa,
proeminência dos cornos frontais dos ventrículos laterais
e hipodensidades estriatais e talâmicas podem ser vistas
nos casos avançados.
A intensidade do sinal em TI é variável. Alguns casos
demonstram uma discreta hipointensidade nas áreas afe
tadas, enquanto outros mostram um encurtamento de TI
semelhante àquele visto na encefalopatia hepática crônica
(ver Capítulo 32).
O achado de imagem da DW na RM é a hiperinten-
sidade em T2/FLAIR simétrica e bilateral nos putames
(70%), nos núcleos caudados (60%), nos tálamos ventro
laterals (55 a 60%) e no mesencéfalo (50%) (Fig. 31-41).

I'X -1 A hiperintensidade pode ser vista algumas vezes na ponte


(20%), no bulbo (10 a 15%) e no cerebelo (10%). A SB
cerebral (25%) e a SB cerebelar (10%) podem mostrar hi
perintensidades continentes focais ou difusas.
Em 10 a 12% dos casos, a hiperintensidade difusa do
31 -40 Atrofia generalizada, putame SI e caudados tegumento (mesencéfalo) poupando os núcleos rubros dá
atilados S) e núcleos da base reduzidos [S são ca uma aparência descrita como "a face do panda gigante".
racterísticas da DW. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
T2* (GRE, SWl) mostra artefato de susceptibilidade
magnética no putame, no caudado, nos tálamos ventro
laterals e geralmente nos núcleos denteados. Realce pelo
contraste costuma estar ausente, embora um discreto real
ce possa ocorrer em estágios agudos.
Restrição da difusão no corpo estriado pode ser vista
nos estágios iniciais da DW. Elevação dos valores de coe
ficiente de difusão aparente (ADC. de apparent diffusion
coefficient) é compatível com necrose e degeneração es-
pongiforme, sendo vista na DW crônica de longa data. A
ERM mostra uma redução em NAA e Cho. A PET mostra
acentuada redução no metabolismo da glicose e redução
da atividade da dopa-descarboxilase, o que indica um dis
túrbio da via estriatonigral dopaminérgica.
Diagnóstico diferencial. O diagnóstico diferencial da
DW inclui outras doenças metabólicas que afetam os núcle
os da base, como doença de Leigh, NBIAs e acidúrias or
31-41 DW aguda mostrando hiperintensidades nos gânicas. A doença de Leigh (encefalomielopatia subaguda
GBs em TI, T2 ES, poupando os GPs, restrição da difu necrosante) mostra lesões espongiformes bilaterais e simé
são ES sem realce S;. (Cortesia de M. Ayadi, MD.) tricas e hiperintensas nos putames e no mesencéfalo. A SB
Doenças metabólicas hereditárias 893

31-42A Caso de doença de


Menkes mostrando uma acentu
ada neurodegeneração progres
siva. Uma TC sem contraste axial
em uma menina de 7 meses com
macrocefalia e baixo crescimento
parece normal, exceto por um
pequeno hematoma subdural à
esquerda B.
31 -426 A criança foi reexa
minada aos 16 meses. Grandes
hematomas subdurals bilaterais
estão presentes B. O cérebro

parece pequeno e acentuada-
mente atrófico. O espaço suba-
racnóideo adjacente B está
grosseiramente alargado.

31-42C Um estudo por RM


foi realizado. A TI sagital mostra
que o cérebro B está extrema
mente atrofiado e os hematomas
subdurals são hipointensos.
Observe os tortuosos flow voids
incomuns da artéria basilar B.
31-42D T2 coronal com satu
ração de gordura mostrando que
os hematomas subdurals simétri
cos são separados por uma fina
membrana Hi. Observe a tortu
osa artéria basilar e os vasos
corticais nas alargadas fissuras
silvianas [S.

31-42E T2 axial mostrando


vasos tortuosos Hl. Observe o
nível líquido-líquido S] em am
bos os hematomas subdurals.
31-42F T2 mais cefálica mos
trando uma grande atrofia cere
bral, hematomas subdurals e um
deslocamento Interno da arac-
noide f^. Doença de Menkes
("cabelos encarapinhados, vasos
encarapinhados"). A atrofia ce
rebral acentuada e as coleções
líquidas subdurals são típicas, as
sim como a tortuosidade excessi
va das artérias intracranianas.
894 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LC5

31-43A T2 axtal em uma menina de 7 anos com SR mostrando a dl- 31 -436 T2 coronal na mesma paciente mostrando afilamento cortical
latação dos cornos frontais e uma importante redução volumétrica com na região frontal posterior E3 e nos lobos temporais Uma maior
predominio frontotemporal. A SB hemisférica parece normal. perda volumétrica com alargamento da cisterna suprasselar e das fissu
ras silvianas está presente.

em geral é afetada na doença de Leigh, enquanto o caudado ou principalmente a SC cortical são raras. Duas DMHs
e o tálamo são comumente menos envolvidos. A ERM de clássicas que envolvem o córtex serão rapidamente discu
monstra elevação dos níveis de lactato nos núcleos da base. tidas aqui: a lipofuscinosc ceroide neuronal e a síndro
De maneira semelhante, a PKAN pode se parecer à me de Rett.
DW. A DW predominantemente afeta os putames e os nú
cleos caudados em vez dos GPs mediais e não demonstra Lipofusclnose ceroide neuronal
o sinal do "olho do tigre" geralmente visto na PICAN. As lipofuscinoses ceroides neuronais (LCNs) são uma
família heterogênea de doenças neurodegenerativas her
Doença de Menkes. A doença de Menkes - também conhe
cida como kinky hair syndrome - é uma doença ligada ao dadas caracterizadas pelo acúmulo de inclusões ceroides
- lipopigmentos nos neurônios. Vários tipos diferentes já
X. multissistêmica e letal do metabolismo do cobre cau
foram descritos. Anteriormente, as LCNs eram classifica
sada pela mutação do gene ATP7A. A doença de Menkes
clássica grave é caracterizada por neurodegeneração pro das, de acordo com a idade de início, em infantil, infantil
tardia, juvenil (i.e., doença de Batten) e forma adulta (p.
gressiva, anormalidades do tecido conectivo, pili torti (ca
belo "encarapinhado") e morte no inicio da infância. Ela ex., doença de Kufs). A mutação genética específica que
causa a maioria dessas formas foi identificada, e as LCNs
corresponde a 90 a 95% dos casos.
A imagem na doença de Menkes mostra atrofia ce agora são classificadas de acordo com os oito genes afe
tados {CLNl-8).
rebral grave com coleções líquidas subdurais e uma
A LCN é predominantemente uma doença da infân
tortiiosidade excessiva das artérias intracranianas (lem
brar: "cabelos encarapinhados, vasos encarapinhados") cia, com uma incidência estimada de 1:12.500. O diag
nóstico é estabelecido por achados clinicopatológicos,
(Rg. 31-42).
análises enzimáticas e testes genéticos moleculares. Estu
Um fenótipo mais discreto, a síndrome do corno oc
dos ultraestruturais - geralmente de espécimes de biópsia
cipital (SCO), também chamada de Ehlers-Danlos tipo
de pele - são usados para confirmar a presença e a nature
9, é caracterizada por manifestações do tecido conecti
za do material de acúmulo lisossomal (i.e., lipopigmentos
vo (a maioria anormalidades esqueléticas) e uma grande
sobrevida. específicos).
O achado patológico macroscópico nas LCNs infan
tis é uma atrofia acentuada global sem predomínio lobar
Doenças metabólicos hereditárias que afetam específico. Todas as LCNs demonstram achados histopa-
principalmente o córtex tológicos semelhantes, ou seja, acúmulo anormal de inclu
Em comparação com as DMHs que comprometem os nú sões PAS-positivas e Sudan black-positivas nos neurônios
cleos profundos de SC, as doenças que afetam exclusiva balonados. As camadas corticais III, V e VI são as mais
Doenças metabólicas hereditárias 895

gravemente afetadas. A perda neuronal progressiva e se


letiva e a gliose com degeneração secundária da SB estão
universalmente presentes.
As LCNs apresentam achados de imagem comuns,
mas inespecíficos: graus variados de atrofia progressiva
com afllamento cortical, dilatação dos ventrículos, hipe-
rintensidades em T2/FLA1R anelares periventriculares e
sulcos proeminentes.

Síndrome de Rett
A síndrome de Rett (SR) é uma doença progressiva neuro-
degenerativa que quase sempre acomete meninas. A maio
ria dos casos é esporádica, e nenhum fator de risco foi
identificado. A mutação no gene da proteína 2 de ligação
metil-CpG {MECP2) é identificada em 80% dos casos.
A SR ocorre em 1:20.000 meninas. Os indivíduos
31-44 MPS com múltiplos EPVs S! radialmente
afetados costumam ser normais ao nascimento, não apre orientados na SB. Observe o predomínio posterior, o
sentando qualquer anormalidade. O crescimento cefálico envolvimento do CC ÍS.

gradualmente desacelera após o primeiro mês de vida, e


um grave retardo psicomotor desenvolve-se. Comprome
timento intelectual, alterações de humor e de comporta
mento, dificuldade de fala, apraxia do tronco e um movi
mento estereotipado se desenvolvem.
Os estudos de imagem mostram microcefalia com
discreta, mas difusa, redução volumétrica do córtex e da
SB hemisférica.
A perda mais proeminente é vista nos lobos frontais,
no córtex temporal anterior (Fig. 31-43). A DTI mostra
uma redução da anisotropia fracionada (FA) no CC, na
cápsula interna, na SB frontal e no giro do cíngulo ante
rior, com preservação ou aumento da FA na coroa radiada
posterior. A ERM mostra redução do NAA.
O diagnóstico diferencial clínico da SR inclui LCN e
autismo. O afllamento cortical na LCN é generalizado e não
exibe um padrão frontotemporal visto na SR. Autismo é ex 31-45 TI em uma criança com MPS 1H (doença de
cluído se o paciente tiver uma mutação MECP2 positiva. Hurler) mostrando alargamento dos EPVs na SB, incluin
do o CC B.

Doenças que afetam as substâncias


cinzenta e branca
Na última seção deste capítulo, serão discutidas as DMHs
que afetam lanto a SC quanto a SB. As etiopatologias são
muito variáveis, abrangendo de organelas anormais a dis-
funções enzimáticas específicas.
Para esta discussão, foram selecionados mucopolissa-
caridoses, doença de Canavan, doença de Alexander, dis
túrbios peroxissomais específicos e doenças mitocondriais.

Mucopolissacarídoses
Terminologia e etiologia
As mucopolissacarídoses (MPSs) são doenças de acúmu
31-46 MPS 1HS (Hurler-Scheie) com coloração na
lo lisossomal caracterizadas por degradação incompleta e mielina mostrando alargamento dos EPVs ^3 envoltos
acúmulo progressivo de glicosaminoglicanas (GAGs) tó por mucopolissacarídeos não degradados. (Cortesia de
xicas em vários órgãos. As MPSs já foram agrupadas em P. Shannon, MD.)
896 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

31-47 TC sem contraste em doença de Hunter mostrando hipo- 31-48 12 sagilai, coronal e axial em um menino de 2 anos com
densidade na SB B com lesões focais nos núcleos da base S. 12 doença de Hunter mostrando múltiplos EPVs alargados B. Observe o
mostrando alargamento dos EPVs no CC B e doença confluente na SB predomínio posterior e o envolvimento do CC. As lesões são suprimidas
IS. O alargamento dos EPVs é suprimido na FIAIR SI; a doença da SB na FIjMR

permanece hiperintensa.

uma entidade única e denominadas "gargolismo" por sua lia e disostoses esqueléticas a espessamento da dura, face
face característica. grosseira e macrocrania. A idade de apresentação varia,
As MPSs são agora designadas como MPSs 1 a 9. assim como a apresentação por sexo e o prognóstico.
Cada uma apresenta uma deficiência enzimática especí A doença de Hurler (MPS IH) e a doença de Hun
fica que causa a inabilidade de degradar a GAG. A MPS ter (MPS 2) são as duas formas mais comuns de MPS.
IH (doença de Hurler) e a MPS IHS (doença de Hurler- Os pacientes com Hurler são normais ao nascimento, mas
-Scheie) apresentam deficiência de a-L-iduronidase. A desenvolvem precocemente sintomas do SNC, incluindo
MPS 2 (doença de Hunter) é caracterizada pela deficiên atraso do desenvolvimento e retardo mental. A doença de
cia de iduronato-2-sulfatase. As outras MPSs incluem a Hurler não tratada costuma resultar em morte aos 10 anos.
MPS 3A (doença de Sanfilippo), a MPS 4A (doença de A MPS 2 (doença de Hunter) é um distúrbio ligado ao X
Morquio) e a MPS 6 (doença de Maroteaux-Lamy). e é vista somente em meninos. Essa doença é caracterizada
por um envolvimento multissistêmico progressivo de SNC,
Patologia articulações, ossos, coração, pele. fígado, olhos e outros ór
A autofagia é um processo totalmente regulado na via li- gãos. Os pacientes geralmente sobrevivem até o meio de sua
sossomal que degrada proteínas e lesiona organelas celu adolescência, mas morrem devido a doenças cardíacas.
lares. A autofagia anormal combinada com a degradação
incompleta e o acúmulo progressivo das GAGs é a patolo Imagem
gia que leva à MPS. Os achados de imagem típicos da MPS são ilustrados nas
Dois aspectos macroscópicos das MPSs são o espes- doenças de Hurler (MPS 1H) e Hunter (MPS 2). Os acha
samento das meninges e a dilatação dos espaços perivas- dos mais importantes dessas doenças são macrocefalia.
culares (EPVs). Os EPVs alargados dão uma aparência EPVs alargados e paquimeningopatia.
cribriforme ao cérebro tanto na patologia quanto na ima
Macrocefalia. A TC sem contraste mostra um aumento
gem (Figs. 31-44 e 31-45).
encefálico, geralmente com sutura nietópica em "bico" e
Microscopicamente, as MPSs são caracterizadas pela uma configuração escafocefálica.
dilatação dos EPVs envoltos por GAG não degradada Hidrocefalia progressiva e atrofia podem estar pre
(Flg. 31-46). sentes. A RM sagital também demonstra macrocefalia
Aspectos clínicos com desproporção craniofacial.
Todas as MPSs têm fenótipos clínicos diferentes. Essas EPVs ALARGADOS. Uma aparência cribrifonne na SB cere
anormalidades sistêmicas variam de hepatoesplenomega- bral posterior e no CC é característica e é causada por
Doenças melabólicas hereditárias 897

31-49 T2 sagital em um paciente com a MPS 1H mostrando estreita 31 -50 Caso de autópsia de MPS 1H mostrando espessamento durai
mento do forame magno, com compressão medular. A estenose da JCV evidente SI que causa estreitamento acentuado do forame magno
é causada pela combinação de um arco posterior de Cl EE, displasia do (S. (Cortesia dos arquivos da AFIP.)
deltoide e ligamento espessado

inúmeros EPVs dilatados (Fig. 31-45). Embora algumas qualquer idade. Embora possam ser vistos em crianças e
vezes chamados de "buracos de Hurler", esses EPVs alar até mesmo em bebês, os EPVs proeminentes são mais co
gados são típicos tanto da doença de Hurler quanto da de muns em pacientes de meia-idade e em idosos. Macroce-
Hunter, sendo muito menos comuns nas outras MPSs. falia não está presente nessa variante normal.
A TC sem contraste pode mostrar hipodensidades EPVs dilatados com um predomínio frontal são os
multifocais semelhantes ao LCS na SB e nos núcleos da achados da sindrome velocardiofacial. As artérias ca
base (Fig. 31-47). rótidas deslocadas na faringe estão presentes, um achado
A T2 mostra hiperintensidades semelhantes ao LCS não associado com a MPS.
nos EPVs alargados. A SB ao redor pode mostrar hi
perintensidades confluentes ou esparsas. Os EPVs são Doença de Canavan
completamente suprimidos na FLAIR (Fig. 31-48). Um A doença de Canavan (DC) é neurodegenerativa autossô-
discreto "halo" de hiperintensidade costuma envolver as mica recessiva fatal e atualmente não apresenta um tra
lesões.
tamento efetivo. Ela é a única doença identificada gene
Os EPVs alargados não apresentam artefato de sus- ticamente causada pela deficiência de um metabólito - o
ceptibilidade magnética em T2* e não realçam após inje NAA - que é produzida exclusivamente no cérebro.
ção endovenosa do contraste.
Paquimeninggpatia. As meninges, em especial aquelas ao Terminologia
redor da junção craniovertebral (JCV), costumam ser es A DC também é conhecida como leucodistrofía espon-
pessadas e aparecem muito hipointensas nas imagens pon giforme, degeneração espongiótica do SNC, deficiência
deradas em T2 (Fig. 31-49). Em vários casos, as meninges de aspartoaciclase e doença de Canavan-van Bogaert-
espessadas podem comprimir o bulbo ou a medula espinal -Bertrand.
cervical superior (Fig. 31-50). Displasia do odontoide e
um arco posterior de Cl curto - comum nas MPSs - po Etiologia
dem exacerbar a estenose da JCV, causando uma mielopa- O NAA é o segundo aminoácido mais abundante no cére
tia progressiva. Uma giba lombar com o corpo vertebral bro de um mamífero. Os níveis de NAA no cérebro nor
LI em "bico" é comum na doença de Hurler. malmente são mantidos dentro de uma variação altamente
regulada. A aspartoaciclase - a enzima responsável pela
Diagnóstico diferencial metabolização do NAA - é um marcador da maturação
o diagnóstico diferencial da MPS é limitado. EPVs proe dos oligodendrócitos. A mutação do gene aspA causa acú
minentes podem ser um achado normal em pacientes de mulo anormal de NAA no cérebro e resulta em DC.
898 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

Precisamente como e por que o NA A excessivo causa Imagem


edema intramielínico dramático e dano mielinico associa A TC sem contraste mostra uma grande cabeça com hi-
do com DC é algo desconhecido.
podensidades difusas na SB nos hemisférios cerebrais e
no cerebelo. Os GPs também aparecem hipodensos. A DC
Patologia não apresenta impregnação pelo contraste.
O cérebro na DC aparece edemaciado macroscopicamente. A A RM mostra praticamente a ausência completa da
análise microscópica mostra uma degeneração espongiforme mielinização, com hiperintensidades em Tl/FLAIR con-
da SB com astrócitos edemaciados nos GPs e nos táiamos. fluentes na SB e nos GPs. No início do curso da doença,
as fibras arqueadas subcorticais são inicialmente afetadas
Aspectos clínicos e os giros aparecem aumentados. Com a progressão da
A DC é mais comum em judeus Ashkenazi e rara na popu doença, ocorre uma perda de volume difusa com dilatação
lação não judaica; um a cada 40 judeus Ashkenazi carrega ventricular e proeminência dos sulcos. A SB hemisférica
o gene aspA mutado. Não há predileção por gênero. e cerebelar, os núcleos da base e o córtex são todos afe
Três variantes clínicas da DC são reconhecidas. A for tados.
ma congênita apresenta-se dentro dos primeiros dias de A ERM é a chave para o diagnóstico definitivo da
vida e leva a uma hipotonia profunda com uma dificul DC. Uma elevação acentuada do NAA é vista praticamen
dade de controle da cabeça. Ela resulta rapidamente em te em todos os casos (Fig. 31-51). A Cr é reduzida. Um
morte. A forma mais comum é, de longe, a DC infantil, a elevado pico de ml algumas vezes está presente.
qual se apresenta entre 3 e 6 meses e é caracterizada por
hipotonia, macrocefalia e convulsões. Morte entre 1 e 3 Diagnóstico diferencial
anos é algo típico. A DC de início juvenil começa entre 4 e o diagnóstico diferencial mais importante da DC é a
5 anos e é a forma mais lentamente progressiva. doença de Alexander. Tanto a DC quanto a doença de

31-S1A 11 sagital em um me
nino de 2 anos com DC mostran
do macroenceíalia com uma evi
dente desproporção craniofacial.
Perda voiumétrica generalizada
moderada está presente em
Iodos os hemisférios cerebrais e
no cerebeio.
31 -51B T2 axial mostrando
uma hiperintensidade difusa na
SB por todo o encéfalo, o que
indica ausência completa da mie
linização. Os GPs B são hipe-
rintensos e estão tão reduzidos e
atróficos que quase desaparecem
por completo.

31 -51C 12 na coroa radiada


no mesmo paciente mostrando
ausência completa da mieliniza
ção. O córtex aparece afilado, e
os sulcos estão proeminentes.
31-51D Uma ERM muilivoxel
na SB com TE = 135 ms mostra
uma elevação importante do
pico de NAA ressoando em
2,0 ppm ES. A Cr ES está
significativamente reduzida. Um
pequeno pico de mioinositol S
está presente.
Doenças metabólicas hereditárias 899

Alexander causam macrocefalia, mas a elevação do pico A DALjuvenil ocorre entre 2 e 12 anos e é caracteriza
de NAA na ERM diferencia as duas entidades. Além dis da por sinais bulbares e cerebelares. Os pacientes com mais
so, a doença de Alexander apresenta impregnação pelo de 12 anos apresentam uma variedade de sinais e sintomas,
contraste, enquanto a DC não. incluindo ataxia, sinais bulbares e declínio cognitivo. Mio-
A Icucodistrofia megaloenccfálíca com cistos subcor- clono palatino ocorre em 40% dos casos de DAL adulta.
tlcais envolve as fibras arqueadas subconicais, assim como A progressão da doença é variável. Os pacientes com
na DC, mas os núcleos da base não são comprometidos. A DAL de início adulto têm um curso mais lento, mais pro
DPM demonstra uma falta quase total de mielinização, mas longado. Embora os achados de imagem possam sugerir a
não causa macrocefalia e não afeta os núcleos da base. doença, o diagnóstico de DAL é confirmado pelo aumento
dos níveis da GFAP no LCS ou pela análise do gene GFAP.
Doença de Alexander
Imagem
Terminologia A TC sem contraste nas crianças com DAL mostra um
A doença de Alexander (DAL) é também conhecida como
aumento da cabeça com hipodensidades simétricas na SB
leucodistrofía fibrinoide, um termo inapropriado, uma vez
nos lobos frontais que se estendem posteriormente para
que a doença envolve tanto a SB quanto a SC. os núcleos caudados e as cápsulas interna e externa (Fig.
31-52). A DAL é uma das poucas DMHs que demonstram
Etloiogla realce após a injeção endovenosa do contraste. Um realce
Os pacientes com DAL apresentam uma mutação de novo
periventricular bifrontal intenso pode ser visto nas TCs
heterozigota dominante do gene GFAP, que codifica a com contraste no início da doença.
proteína glial fíbrilar ácida, uma proteína de filamento in A RM mostra hipointensidade em TI e hiperintensi-
termediário expressa apenas nos astrócitos. Os pais dos dade em T2/FLAIR na SB frontal, nos núcleos caudados
pacientes com DAL de início no recém-nascido ou infan e no putame anterior. Embora a DAL infantil envolva pre-
til são neurologicamente normais. cocemente as fibras subcorticais em U, a SB periventri
As mutações no causam precipitação e acúmu cular é mais gravemente afetada na maioria das formas
lo dos agregados mutantes do GFAP, que começam duran
juvenil e adulta. O achado clássico é um anel hipointenso
te o desenvolvimento fetal. em TI e hiperintenso em T2 ao redor dos cornos fron
tais. A FLAIR pode mostrar encefalomalacia cística na SB
Patologia frontal nos casos mais graves e prolongados.
o cérebro dos recém-nascidos com DAL apresenta um Um achado único na DAL é um aumento na cabeça
aumento acentuado da densidade astrocítica e é macros- dos núcleos caudados e fómices, que aparecem edemacia-
copicamente aumentado. dos e hiperintensos. Os tálamos, os GPs e o cerebelo são
Uma importante perda da mielina nos hemisférios, no menos comumente afetados.
tronco encefálico, no cerebelo e na medula espinal faz a Ao contrário da maioria das DMHs, a DAL pode de
SB - em especial nos lobos frontais - parecer muito páli monstrar um realce moderado a intenso na TI C+. Anéis
da. Em vários casos, a SB aparece parcialmente ou quase de realce intenso podem ser vistos ao redor das superfícies
inteiramente cística. As fibras arqueadas subcorticais são dos núcleos caudados edemaciados e da SB comprometi
relativamente preservadas. Um afilamenlo cortical com da. Nas formas juvenil e adulta, o envolvimento cerebelar
atrofia dos núcleos da base e dos tálamos é comum. pode ser evidente e pode mimetizar neoplasias.
O achado histopatológico típico da DAL é a presença A ERM mostra redução do NAA, elevação do mioi-
de um grande número de fibras de Rosenthal (FRos) nos nositol e aumento variável da colina e do lactato. A ima
astrócitos. As FRos são corpos de inclusão citoplásmicos gem em difusão mostra uma difusidade normal a aumen
e eosinofílicos ovoides ou em forma de haste. A intensa tada na SB afetada.
falta de quase toda a mielina na DAL é considerada um
fenômeno secundário que resulta de uma interrupção da Diagnóstico diferencial
mielinização derivada do astrócito. O diagnóstico diferencial mais importante na DAL são as
outras leucodislrofías hereditárias com macrocefalia, in
Aspectos clínicos cluindo principalmente a DC e as MPSs. Enquanto ambas
A DAL é rara, correspondendo a apenas 1 a 2% das leuco- as condições, DAL e DC, mostram uma falta completa
distrofias herdadas na criança. da mielinização com hiperintensidade em T2/FLAIR na
Três formas clínicas são reconhecidas: infantil, ju SB, a predileção da DAL pelos lobos frontais, pela cabeça
venil e adulta. Na forma infantil, que é a mais comum, dos núcleos caudados e pelo realce por contraste ajuda a
pacientes com menos de dois anos se apresentam com diferenciá-la da DC.
megalencefalia, retardo psicomotor progressivo e crises As MPSs, em especial as doenças de Hurler e de Hun
convulsivas. Espasticidade e tetraplegia eventualmente ter, apresentam uma aparência "cribriforme" da SB e do
podem se desenvolver. CC causada pelo alargamento dos EPVs. O envolvimen-
900 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

31 -52 A TC sem contraste em


um menino de 6 meses com
macfoceíalia e DAL confirmadas
mostrando uma intensa hipoden-
sídade biíronlal B estendendo-
-se anteriormente para os núcle
os da base.
31-52B 11 C+ axial mostrando
a diferenciação entre a 56 frontal
fiipointensa B e a 5B parieto-
-occipital com aparência normal
S. A hipointensidade estende-
-se para as cápsulas externas,
observe o anel fiiperintenso
característico ao redor dos cornos
frontais B.

31 ■S2C Em contraste com


a SB hiperintensa frontal, com
aparência edemaciada B, a SB
parielo-occipital com aparência
normal B é menos evidente na
T2. observe o envolvimento da
cápsula externa B. As cápsulas
internas são parcialmente mie-
linizadas e, portanto, aparecem
menos hiperintensas que a SB
frontal. O anel hipointenso ao
redor dos cornos frontais é
característico.
31-S2D TI C+ axial mostrando
realce na SB periventricular B
e nos núcleos da base B.

31-52E TI C+ coronal mos


trando um espaço evidente na
SB periventricular profunda B
e nos núcleos da base
31-52F TI C+ sagital mostran
do um realce em quase toda a SB
periventricular profunda B e
uma fiipointensidade intensa na
SB frontal e parietal anterior
relativamente poupando os lobos
occipitais.
Doenças metabóíicas hereditárias 901

to da SC profunda não ocorre, e as lesões não realçam.


Algumas das MPSs - especialmente a MPS 1 - causam
espessamento durai, que está ausente na DAL.
A leucodistrofía megaloencefálica com cistos sub-
corticais envolve precocemente as fibras arqueadas sub-
corticais, não envolve os núcleos da base e não realça.

Comum
DIAGNOSTICO DIFERENCIAL:

CRIANÇA COM MACROCEFALIA

• Variante do normal
• Macrocrania familiar normal
NiV
• Macrocrania benigna da infância

Menos comum
• Trauma não acidental com hematomas subcorticais
31-53 Autópsia coronal do ESZ mostrando giros anor
mais com paquigiria, polimicrogiria B e redução da
Raro, mas importante
• Doenças metabóíicas hereditárias sulcação. (Cortesia dos arquivos da AFIP.)
o Doença de Canavan
o Doença de Alexander
o Mucopolissacaridoses
o leucodistrofia megaloencefálica com cistos
subcorticais
o Acidúria glutárica tipo 1

ÉS
Doenças da biogênese peroxissomal

w -
Os peroxissomos são pequenas organelas com uma mem
brana única que contêm mais de 50 enzimas necessárias
para o crescimento, o desenvolvimento e o metabolismo
celular normais. A biossíntese dos plasmalógenos e a 3-
-oxidação dos ácidos graxos de cadeia longa são algu
mas das funções especiais dos peroxissomos. Os defeitos
genéticos que afetam tanto a deformação peroxissomal
quanto sua função enzimática causam um grupo de doen 31-54A T2 coronal em um recém-nascido com ESZ
ças chamadas de doenças peroxissomais. mostrando cistos germinoliticos pequenos B no sulco
caudotalâmico e áreas de polimicrogiria B.
Terminologia
Existem dois tipos principais de doenças peroxissomais.
O tipo mais comum é causado pela deficiência de uma
única pivteína em um peroxissomo intacto (morfologica-
mente normal). Este grupo inclui, entre outras condições,
a ALD-X, a AMN e a doença de Refsum clássica (adulto).
A ALD e a AMN afetam a SB periventricular e foram dis
cutidas neste capítulo com outras doenças que apresentam
esse padrão de imagem.
O segundo grupo mais comum das doenças pero
xissomais, aquelas causadas por uma formação anormal
dos peroxissomos, será discutido a seguir. As doenças nas
quais as organelas peroxissomais não se formam normal
mente são chamadas de doenças da biogênese peroxisso
mal (DBPs). As DBPs costumam ser caracterizadas por
múltiplos (não únicos) defeitos enzimáticos.
Quatro grandes DBPs são conhecidas: síndrome de 31 -548 12 axiai no mesmo paciente mostrando mi-
Zellweger (SZ, também chamada de doença hepatorre- crogiria difusa SI e focos de hiperintensidade anormal
nal), ALD neonatal, síndrome de Refsum infantil e acon- S na SB.
902 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

dropiasia punctata rizomélica clássica. As três primeiras ronal isolados (p. ex., polimicrogiria perisilviana bilateral)
doenças são agrupadas e referidas como espectro da sín- ocorrem sem outros estigmas clínicos ou de imagem do ESZ.
dromc de Zellweger (ESZ).
Doenças mitocondriais (doenças da cadeia
Etiologia respiratória)
As DBPs são doenças autossômicas recessivas causadas As mitocôndrias são organelas celulares que são as "usi
pela mutação de um dos 13 grupos de genes peroxisso- nas" responsáveis pela produção de energia. Cinco com
mais {PEX). A forma mais grave é o ESZ, responsável por plexos são embutidos na membrana mitocondrial interna
cerca de 80% de todos os casos e caracterizado por uma e são responsáveis pela fosforilação oxidativa (OXPHOS,
ausência quase completa de peroxissomos. de oxidative phosphorylation)', defeitos em qualquer um
desses complexos resultam em uma OXPHOS defeituosa
Patologia e em uma produção deficiente de ATP.
As DBPs são caracterizadas patologicamente por dano à As doenças mitocondriais são causadas pela mutação
matriz germinativa, cistos germinolíticos subependimá- do DNA mitocondrial (mtDNA) e estão entre as causas
rios, migração neuronal desordenada e hipomielinização. mais comuns de DMHs. Embora quase todos os órgãos e
Os achados macroscópicos mais comuns são anorma tecidos do corpo possam ser afetados, o SNC e o músculo
lidades cerebrais neocorticais e cerebelares. Atrofia cere esquelético são especialmente vulneráveis, pois deman
bral e giros anormais - mais freqüentemente paquigiria ou dam maior energia.
polimicrogiria - são comuns em pacientes com ESZ grave Quatro grandes síndromes encefalomiopáticas têm
{Fig. 31-53). Um defeito nos peroxissomos das células sido descritas e serão consideradas aqui: doença de Leigh.
oligodendrogliais também causa formação e manutenção SKS, MELAS e MERRF. Serão consideradas ainda as aci
anormal da SB. durias glutáricas tipos 1 e 2, também causadas por anorma
lidades na enzima mediada por mtDNA. Outras doenças
Aspectos clínicos mitocondriais - síndrome de Alpers. miopatia mitocondrial
As DBPs são menos comuns que muitas outras DMHs. A infantil e neuropatia óptica hereditária de Leber (NOHL) -
incidência estimada é de 1:20.000 a 100.000 nascidos vivos. são raras e não serão discutidas neste texto.
Em contraste com a ALD, não há predileção por gênero. As doenças mitocondriais apresentam uma sobreposi
AS DBPs são clinicamente diferentes, mas achados ção significante e nem sempre são facilmente diferencia
freqüentes incluem face dismórfica, com grande fontanela das umas das outras.
e suturas, testa alta e base do nariz alargada. Disfunção
hepatointestinal, hipotonia ("bebê mole"), convulsões, re- Doença de Leigh
tinite pigmentosa e retardo psicomotor são comuns. A doença de Leigh (DL), também conhecida como ence-
O curso da doença de diferentes DBPs varia conside falopatia necrosante aguda, é causada pela mutação que
ravelmente. Os neonates afetados pela forma mais grave c o d i fi c a a e n z i m a O X P H O S .
da SZ em geral morrem com 6 meses de idade, enquanto Patologia. A patologia macroscópica da DL demonstra
aqueles afetados pelas formas mais discretas da doença focos marrom-acinzentados gelatinosos ou cavidades nos
podem sobreviver por mais de 20 anos. núcleos da base, no tronco da base, nos núcleos dentea-
dos, nos tálamos e na medula espinal, com variada dege-
Imagem neração espongiforme da SB e desmieíinizaçào.
Os achados de imagem nas DBPs são variáveis, mas os as
Aspectos clínicos. As manifestações clínicas da DL são
pectos mais comuns são distúrbios da migração neuronal e
muito variáveis. A maioria dos pacientes com DL apre
mielinização anormal. O ESZ é caracterizado por microgiria
e paquigiria, geralmente com lesões perisilvianas simétricas senta-se na infancia com déficit de crescimento, hipoto
bilaterais. A SB hipomielinizadaé vista como hiperintensida- nia central, regressão do desenvolvimento, ataxia, dis
des confluentes em T2/FLAIR na SB. Cistos germinolíticos função bulbar e oftalmoplegia. Os níveis de lactato no
sangue e no LCS são altos.
subependimais (caudotalâmicos) são achados comuns (FIg.
31-54). Hiperbilirrubinemia pode causar aumento da intensi Imagem. A RM mostra áreas hiperintensas em T2/FLA1R
dade de sinal em TI nos GPs em pacientes mais velhos. bilaterais e simétricas nos núcleos da base (Fig. 31-55). Os
putames (em especial o segmento posterior) são consisten-
Diagnóstico diferencial temente comprometidos, assim como a cabeça dos núcleos
o maior diagnóstico diferencial de ESZ é a infecção congê caudados. O tálamo dorsomedial também pode estar en
nita por citomcgalovírus (CMV). Ambas as condições, ESZ volvido, enquanto os GPs são menos comumente afetados.
e CMV congênito, exibem hipomielinização e malformações As lesões no tronco encefálico médio e inferior (pon-
corticais. As calcificações são achados mais proeminentes de te/bulbo) são típicas na DL e em alguns casos podem ser o
CMV, e os cistos periventriculares em geral não são localiza único achado. As lesões simétricas nos pedúnculos cerebrais
dos no sulco caudotalâmico. Distúrbios de migração neu são comuns, e a SC periaquedutal é freqüentemente afetada.
Doenças metabólicas hereditárias 903

Lesões agudas podem existir na difusão, mas não re Aspectos clínicos. A tríade clínica de acidose láctica, cri
alçam. A ERM no LCS costuma mostrar um pico de lacta- ses convulsivas e episódios semelhantes a AVC é a apre
to proeminente em 1,3 ppm. sentação clássica, mas outros sintomas comuns incluem
Diagnóstico diferencial. Uma vez que os achados de imagem enxaquecas, vômitos episódicos e hemiplegia alternada.
dessas doenças se sobrepõem, o diagnóstico diferencial da Anormalidades cardíacas, disfunçâo renal, distúrbios da
DL inclui as outras encefalomielopatias mitocondriais. motilidade gastrintestinal e fraqueza muscular generaliza
da também são comuns.
A MELAS tipicamente mostra alterações semelhantes a
AVC na SC cortical em uma distribuição não territorial. A MELAS é uma causa incomum, mas importante de
AVC na iníáncia. A média do início dos sintomas é de 15
Doenças metabólicas hipóxico-isquêmicas podem
mimetizar alguns achados da DL. A DW mostra hiperin- anos, embora alguns pacientes possam não se tornar sinto
tensidades em T2/FLA1R nos putames, no mesencéfalo máticos até os 40 a 50 anos.

e nos táiamos. Os GPs na DW geralmente mostram um Imagem. Os achados de imagem variam com a manifesta
único encurtamento em TI secundário à insuficiência he-
ção da doença (FIg. 31-56). A MELAS aguda geralmente
pática. Asfixia perinatal muito grave pode afetar os nú mostra giros hiperintensos em T2/FLAIR expandidos. A
cleos da base e mimetizar DL, mas o córtex perirrolândico SB adjacente é normal, e as anormalidades corticais cru
costuma estar comprometido. zam territórios vasculares, diferenciando a MELAS de um
infarto cerebral agudo (Fig. 31-57). Os lobos parietal e
Encefalopatia mitocondrial com acidose láctica occipital são os mais comumente afetados. Um realce gi
(MELAS) e episódios semelhantes a acidente rai em T1 C+ é típico. A angiografia por ressonância mag
vascular cerebral nética (ARM) não mostra evidência de oclusão de gran
Terminologia e etiologia. A MELAS é causada por várias des artérias. A MELAS crônica mostra infartos lacunares

mutações diferentes no mtDNA. multifocais, calcificações simétricas nos núcleos da base.

31-55A T2 axial em uma


mulher de 19 anos com DL
mostrando hiperinlensidades si
métricas bilaterais na SB dos dois
hemisférios cerebelares B e do
bulbo B.
31-55B T2 mais cefálica na
mesma paciente mostrando
hiperinlensidades intensas na SC
periaquedutal B.

31-55C T2 mostrando hiperin


lensidades simétricas no mesen
céfalo superior B e em ambos
os núcleos da base
31-550 T2 na altura dos
ventriculos laterais mostrando
hiperinlensidades focais no
córtex occipital direito e na SB
subcortical B compatíveis com
infarto. Discretas hiperinlensida
des simétricas laterais e dorsais
ao átrio B são as zonas ter
minais de mielinização normais
das fibras de associação parieto-
-occipitais.
904 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

perda volumétrica da SB e atrofia progressiva do córtex Síndrome de Kearns-Sayre


parieto-occipital. Terminologia e etiologia. A SKS, também conhecida como
A ERM é extremamente útil para o diagnóstico da
síndrome oftalmoplégica de Keams-Sayre, é outra doença
maioria das encefalopatias mitocondriais. Cerca de dois ter do mtDNA. Inúmeras deleções genéticas diferentes têm
ços dos casos de MELAS mostram um pico (duplo) de lacta sido identificadas em pacientes com SKS.
te proeminente em 1,3 ppm no parénquima encefálico com
aparência nonnal. Cuidado: um terço dos casos não mostra Patologia. O achado patológico mais típico da SKS é a va-
elevação no pico de lactate no parénquima encefálico, mas cuolização espongiforme da SB. Os hemisférios cerebrais
pode mostrar um pico de lactate elevado no LCS ventricular. e o mesencéfalo geralmente são comprometidos. O cere-
belo, o tronco encefálico e a medula espinal também são
Diagnóstico diferencial. O diagnóstico diferencial de MELAS
envolvidos com freqüência, enquanto o CC e as cápsulas
inclui íiifarto cerebral em grandes territórios. A MELAS internas geralmente são poupados.
poupa a SB subcortical e profunda e cruza territórios vascu
lares (em geral na distribuição das artérias cerebrais média e Aspectos clínicos. A SKS costuma apresentar-se em crian
posterior). Crises convulsivas prolongadas podem causar ças maiores ou em adultos jovens e é caracterizada por
expansão dos giros, hiperintensidades e realce que se asse baixa estatura, oftalmoplegia externa progressiva, retinite
melham à MELAS. A ERM não mostra o aumento dos ní pigmentosa, perda auditiva neurossensorial e ataxia.
veis de lactato no LCS ou no parénquima encefálico normal. Outros órgãos freqüentemente estão envolvidos na
A DL costuma envolver o mesencéfalo, que está me SKS. Bloqueio cardíaco e fraqueza muscular proximal
nos comumente envolvido na MELAS. A MERRF tam são comuns. Fibras vermelhas rasgadas estão presentes na
bém mostra uma propensão a envolver os núcleos da base, biópsia muscular.
os núcleos caudados e as zonas vasculares fronteiriças.

31-56 o gráfico mostra al


terações de MELAS com lesões
crônicas e agudas (infartos
l a c u n a r e s a t r o fi a c o r t i c a l
A manifestação aguda é o
edema girai que cruza os territó
rios vascuiares e poupa a SB
subjacente.
31-57A T2 em uma menina
de 10 anos com MELAS mos
trando a sequela de uma lesão
antiga parieto-occipital esquerda
um edema agudo girai
temporoparietal direito S que
poupa a SB subjacente.

31-578 T2 coronai mostrando


um aumento do ventricuio lateral
esquerdo, atrofia cortical EB
com edema girai agudo à direita
B e "shifting spread" caracte
rísticos de MELAS.
31-57C Difusão mostrando ÍS" ^ í - 'V
restrição da difusão aguda B
em um córtex expandido ede-
matoso poupando a SB adjacente
BI A ERM (não demonstrada)
mostrou uma eievação dos níveis
de lactato no encélaio com apa
•JF N * -i
rência normal.


Doenças metabólicas hereditárias 905

Imagem. A TC mostra calciflcações simétricas variáveis é uma doença multissistêmica caracterizada por mioclono
nos núcleos da base. Uma discreta perda volumétrica cor (geralmente como primeiro sintoma) seguido por epilep
tical e cerebelar é comum. sia, ataxia, fraqueza, miocardiopatia e demência. O início
A A R M m o s tr a a u m e n to d a i n te n s i d a d e d e s i n a l e m na infância é típico.
T2/FLAIR nos núcleos da base, na SB e no cerebelo. As A MERRF é patologicamente caracterizada por uma
libras arqueadas subcorticais, os tratos corticospinais, o degeneração sistêmica envolvendo os GPs, a SB, os nú
cerebelo e o tronco encefálico posterior são precocemente cleos rubros, os núcleos denieados, os núcleos olivares
envolvidos na doença, enquanto a SB periventricular per inferiores, o córtex e os tratos espinocerebelares.
manece relativamente poupada (Fig. 31-58). Estudos de imagem mostram infartos nas zonas fron
A difusão mostra redução da difusão no tronco ence teiriças e nos núcleos da base. O maior diagnóstico dife
fálico e na SB subcortical. A ERM demonstra aumento do rencial por imagem de MERRF é a MELAS; em geral,
lactato. as duas doenças se sobrepõem. Patologicamente, o maior

Diagnóstico diferencial. Existe uma sobreposição signifi diagnóstico diferencial é SKS, uma vez que ambas as con
cativa entre os achados de imagem da SKS e de outras dições podem demonstrar a presença de fibras vermelhas
rasgadas na biópsia muscular.
doenças mitocondriais. como a MELAS. O envolvimento
precoce do córtex em distribuições não vasculares - parti Acidúria glutárica tipo 1
cularmente nos lobos parietal e occipital - é característico
Terminologia. A acidúria glutárica tipo 1 (AGI) também é
de MELAS, mas é raro em SKS.
chamada de acidemia glutárica tipo 1.
Epilepsia mioclônica com fibras vermelhas rasgadas Etiologia. a AG 1 é uma DMH autossômica recessiva cau
A MERRF é outra síndrome com mutação no mtDNA que sada pela deficiência da enzima mitocondrial glutaril-co-
resulta em OXPHOS mitocondrial defeituosa. A MERRF enzima A-desidrogenase (GCDH). A GCDH é necessária

31-58A T2 axial em um ado


lescente com SKS demonstrando
hipoinlensídades simétricas
bilaterais nas pontes El e nos
pedúncuios cerebelares médios
r a .
31 -586 12 no nível dos núcle
os da base mostrando alteração
de sinal nos GPs BI e nas cáp
sulas internas

31-580 12 na altura dos


ventrículos laterais mostrando
hiperintensidades multifocals em
fitas na SB periventricular B9 e
na SB subcortical B.
31-58D FLAIR coronal no
mesmo paciente com SKS mos
trando o envolvimento das fibras
subcorticais em U ES, dos tratos
corticospinais/cápsulas internas
S e dos talamos mediais ES.
906 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

para o metabolismo da Usina, da hidroxilisina e do tripto- Imagem. Os três achados de imagem "típicos" da AGI clás
fano. A deficiência de GCDH leva ao acúmulo de ácido sica são (1) macrocrania, (2) alargamento bilateral das fis
giutárico, que impede a opercularizaçào durante o terceiro suras silvianas ("abertas") e (3) lesões nos núcleos da base
trimestre do desenvolvimento fetal. simétricos e bilaterais (Fig. 31-59). A AGI grave também
pode causar alterações difusas na SB hemisférica.
Patologia. O excesso de ácido giutárico é neurotóxico. As
Crianças com AGI em crise metabòlica em geral
células dos núcleos da base e da SB são especialmente
apresentam-se com necrose estriatal aguda. Os núcleos
vulneráveis. Alterações espongiformes com perda neuro da base difusamente edemaciados que são hiperintensos
nal, vacuolização da mielina e acúmulo de líquido intra- em T2/FLA1R e que se restringem na difusão são típicos
mielínico são achados microscópicos típicos da AGI.
(Fig. 31-60).
A AGI crônica causa aumento dos espaços do LCS
Aspectos clínicos. A maioria das crianças com AGI ini
e atrofia (Fig. 31-61). A perda volumétrica pode romper
cialmente é normal. A maior parte apresenta-se durante
o primeiro ano de vida com necrose estriatal aguda, ge veias que cruzam da superfície cerebral para a dura, resul
ralmente desencadeada por febre ou imunização. Crises tando em hematomas subdurals recorrentes (Fig. 31-62).
A AGI não realça em TI C+. A ERM é inespecífica,
convulsivas, retardo mental e movimentos distônicos-dis-
com redução de NAA, aumento da relação Cho:Cr e (du
cinéticos também são comuns.
rante as crises) elevação dos níveis de laclalo.
Os pacientes podem desenvolver uma encefalopatia
aguda semelhante a Reye com cetoacidoses e vômitos. Diagnóstico diferencial. O maior diagnóstico diferencial
Hipoglicemia acompanhada de elevação de ácidos orgâ de AG 1 é o de lesões não acidentais. No entanto, a AG 1
nicos na urina é comum. Os metabólitos no sangue e na nãc('está associada a fraturas, e os hematomas subdurais
urina podem estar completamente normais entre as crises associados com a AGI não ocorrem na ausência de alar
metabólicas. gamento dos espaços de LCS.

31-59 Gráfico axia! mostrando


achados típicos da AGI. Observe
o aumento simétrico SI dos
núcleos da base e as fissuras sil
vianas "abertas" bilateralmente
Bi. Os tálamos SI aparecem
normais.
31-60 Imagem em difusão de
uma criança com crise metabòli
ca aguda e com necrose estriatal
aguda mostrando restrição da
difusão nos núcleos da base ^3.
Observe as fissuras silvianas
"abertas" os tálamos estão
poupados E],

31-61A T2 axial em uma


criança de 7 meses com AGI
mostrando aumento e hiperin-
tensidade nos núcleos caudados,
aire®
nos putames e nos GPs B
poupando os tálamos. As fissuras
silvianas estão alargadas. A
mielinização na SB hemisférica é
grosseiramente atrasada.
31-61B T2 coronal no mesmo
paciente mostrando redução
volumétrica encefálica difusa,
aumento dos núcleos da base
e atraso da mielinização. As
fissuras silvianas ÍS aparecem
um pouco opercularizadas e
"abertas".
Doenças metabólicas hereditárias 907

31-62A Achado de imagem


clássico da AGI. TC sem contraste
axial em uma criança de 7 meses
com macrocefalia e atraso de
desenvolvimento mostrando as
fissuras silvianas "abertas" E3 e
um grande hematoma subdural
bifrontal
31-62B TC sem contraste
mais cefálica no mesmo pacien
te demonstrando os extensos
hematomas subdurais crônicos
bilaterais S.

31-62C FLAIR axial mostrando


as fissuras silvianas "abertas"
B] e os hematomas subdurais
crônicos

■ T 1
31-62D T2 mostrando as
fissuras silvianas "abertas" B,
as coleções líquidas subdurais
Be o atraso significativo da
1 71 mielinização em uma criança de
7 meses.

V u /

31-62E Imagem em difusão


mostrando uma discreta hipe-
rintensidade na SB frontal e nas
cápsulas internas B.
31-62F TC sem contraste 10
meses depois mostrando uma
resolução quase completa dos
hematomas subdurais. Uma pe
quena coleção residual está pre
sente nas convexidades frontal
e temporal direitas. As fissuras
silvianas ainda apresentam-se
"abertas", uma aparência clássi
ca da AG1.
908 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

31-63A TC axial sem contras


te em uma mulher de 51 anos
com deficiência de ornltlna-
■transcarbamiiase, agora em
crise metabólica aguda. Edema
cerebral difuso é identificado. O
córtex, os núcleos da base e os
tãlamos apresentam a mesma
densidade da SB adjacente.
31-63B TC sem contraste
mais cefálica na mesma paciente
mostrando os giros edemaclados
e hipodensos com apagamento
completo dos sulcos.

31 -630 T2 na mesma pacien


te mostrando hiperintensidade
difusa nos núcleos da base e no
cortex, mais evidente nos córtl-
ces perl-insular e frontal ES. Os
lobos occipitais B são relativa
mente poupados.
31-63D T2 mais cefálica na
mesma paciente mostrando os
córtices frontal e parietal difusa
mente edemaciados E3. Nova
mente, os lobos occipitais B
são relativamente poupados, um
padrão característico da hipera-
monemia causada pela deficiên
cia de ornítina-transcarbamilase.

31-63E Imagem em difusão


na mesma paciente mostrando
restrição da difusão dos córtices
perl-insular e frontal B e do
tálamo esquerdo com envolvi
mento menos evidente do CC
S9. Os lobos occipitais B não
mostram restrição da difusão.
31-63F Imagem em difusão
mais cefálica mostrando que
a restrição envolve o córtex e
poupa a SB subjacente da coroa
radiada.

F
Doenças metabólicas hereditárias 909

31-64 TC sem conlraste em uma criança de 1 ano com atraso de 31 -65 12 coronal em um menino de 15 anos com 6M2 de início ju
desenvolvimento e com GM1 (doença de Tay-Sachs) mostrando redução venil (doença de Sandhoff) mostrando hemisférios cerebrais normais e
volumétrica dos núcleos da base S e tálamos hiperdensos B. atrofia cerebelar proeminente B.

Outras causas de macrocefalia em crianças devem ser A RM mostra edema nos núcleos da base e no córtex,
consideradas no diagnóstico diferencial, incluindo hidro- com hiperintensidade em T2/FLA1R. O córtex peri-insular
cefalia, coleções benignas da infância (espaço subaracnói- geralmente é afetado primeiro, com o envolvimento então
deo alargado) no primeiro ano de vida, macrocefalia fa estendendo-se para os lobos frontal, parietal, temporal e
miliar benigna (variante da normalidade) e outras DMHs (finalmente) occipital (Fig. 31-63). Os GPs, os putames e
como MPSs, DC e DAL. os tálamos são afetados pela hiperamonemia prolongada e
podem apresentar restrição da difusão.
Acidijria glutárica tipo 2 O maior diagnóstico diferencial da hiperamonemia
A aciduria glutárica tipo 2 (AG2) resulta do defeito da ca aguda causada por doenças do ciclo da uréia é a ence-
deia de transporte do elétron mitocondrial na coenzima Q. falopatía hipóxíco-ísquêmíca (EHI). Crianças com EHl
Estudos de imagem mostram hiperintensidades simétricas costumam apresentar mais anormalidades talâmicas e no
em T2/FLAIR nos núcleos da base e na SB hemisférica, córtex perirroiândico.
mas a "abertura" das fissuras silvianas característica da
AGI está ausente. Acidemias metilmalônico e propiônica
A acidemia metilmalônica (AMM) e a acidemia pro
Doenças do ciclo da ureia/amônia piônica (AP) são doenças autossômicas recessivas que
A amônia é uma importante fonte de nitrogênio e é neces clinicamente se apresentam com cetoacidose episódica,
sária para a síntese de aminoácidos, assim como para o náuseas e vômitos, hipotonia progressiva e crises con
vulsivas.
balanço ácido-básico normal. Quando presente em altas
concentrações, a amônia é tóxica. Os achados de imagem em ambas as doenças são
O ciclo da amônia normalmente evita o acúmulo ex inespecíficos. Dilaiação ventricular, atrofia cortical, perda
cessivo de produtos tóxicos do nitrogênio por incorporar volumétrica cerebelar e hiperintensidade em T2/FLA1R
na SB periventricular são as anormalidades mais comuns
nitrogênio em uréia, que é secretada na urina. A interrup
na AMM. Calciflcações bilaterais nos núcleos da base es
ção do ciclo da uréia resulta na elevação da amônia sérica,
que rapidamente cruza a barreira hematoencefálica e cau tão presentes em 5 a 10% dos casos. As APs geralmente
sa edema difuso. envolvem os putames e os núcleos caudados e causam
Inúmeras doenças diferentes do ciclo da uréia já fo mielinização reduzida na SB hemisférica.
ram identificadas. Duas doenças clássicas são a deficiên
cia de ornitina-transcarbamilase e a citrulinemia. Am Gangliosidose
bas são caracterizadas por um edema cerebral difuso nas Duas formas de gangliosidose são conhecidas: a GMl
TCs sem contraste. (doença de Tay-Sachs) e a GM2 (doença de Sandhoff).
910 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

31-66A TC axial sem contraste em um paciente com doença de Fabry 31-66B TI no mesmo paciente mostrando o sinal do "pulvinar" hi-
mostrando caiciíicações bilaterais no caudado direito, em ambos os GPs perintenso B9, considerado essencialmente patognomônico da doença
e nos tálamos posteriores. de Fabry.

Elas são bioquimicamente diferentes, mas clinicamente CC (que costuma ser poupado), a SB aparece hiperintensa
indistinguíveis. em T2/FLAIR.
A GMI é uma doença de actimuio lisossomal rara.
A deficiência da enzima lisossomal p-galactosidase re Doença de Fabry
sulta no acúmulo de gangliosídeos GMl no cérebro (em A doença de Fabry causa 1,5 a 5% dos AVCs inexplicados
especial nos núcleos da base) e de oligossacarídeos nas em pacientes jovens e está presente em 4 a 5% dos ho
vísceras abdominais. A GM2 é uma doença autossômica mens com hipertrofia ventricular esquerda inexplicada ou
recessiva de acúmulo de esfíngolipídeos. AVCs criptogênicos. Como existe a terapia de reposição
Ambas, GM1 e GM2, existem nas formas infantil, ju enzimática, é importante diagnosticar a doença de Fabry
venil e adulta. Os pacientes com a forma infantil de GMl antes de as lesões irreversíveis acontecerem.
se apresentam entre o nascimento e os seis meses com
características faciais grosseiras, disostose esquelética e Etlologia e patologia
hepatoesplenomegalia. A GM 1 de início juvenil apresen A doença de Fabry é uma doença de acúmulo lisossomal
ta-se com atraso motor, seguido por deterioração mental e ligado ao X do metabolismo dos glicoesfingolipídeos. A
sinais extrapiramidais. A doença de início na fase adulta é mutação na a-galactosidase leva a um acúmulo de glico
caracterizada por distonia e ataxia lentamente progressi esfingolipídeos em vários tecidos, em especial no endoté-
va, assim como sinais extrapiramidais. lio vascular e nas células musculares lisas.
Os achados de imagem em ambas as condições são As funções endoteliais deficientes resultam em uma
muito semelhantes. Os pacientes com gangliosidosc de vasculopatia multissistêmica progressiva. Os vasos re
início infantil mostram preferencialmente envolvimento nais, cardíacos e cerebrais são gravemente afetados. Em
dos tálamos, que costumam aparecer pequenos e hiper- bolia cardíaca, arteriopatia de grandes vasos e doenças
densos na TC sem contraste (Fig. 31-64). Os núcleos da microvasculares ocorrem.
base e, algumas vezes, a SB cerebral e cerebelar são re
lativamente hipodensos. Os pacientes com a doença de Aspectos clínicos
inicio juvenil e adulto podem mostrar apenas atrofia ce Crianças com essa condição costumam apresentar-se com
rebelar (Fíg. 31-65). angioceratomas, mas a doença de Fabry de início tardio
A RM na gangliosidose de início infantil pode de é muito mais difícil de diagnosticar. AVCs induzidos por
monstrar alguma hiperintensidade em TI nos tálamos. Os doença de Fabry em geral ocorrem antes do estabeleci
GPs e os tálamos ventrais em geral aparecem profunda mento do diagnóstico definitivo. Enquanto a idade média
mente reduzidos e hipointensos em T2. Com exceção do do primeiro AVC é de 39 anos em homens e 45 anos em
Doenças metabólicas hereditárias 911

mulheres, cerca de 22% dos pacientes sào mais jovens mento do diagnóstico, as lesões aumentam em número e
que 30 anos no início da apresentação. podem tomar-se coalescentes (Flg. 31-67).
Mais de 85% dos AVCs na doença de Fabry são is- Dez por cento dos pacientes demonstram hipoin-
quêmicos. Infartos hemorrágicos são menos comuns e em tensidades tipo artefato de susceptibilidade magnética
geral ocorrem devido à hipertensão renovascular. em T2* (GRE, SWI) devido a microssangramentos. Os
achados de imagem menos comuns incluem dolicoec-
Imagem tasias.
A TC sem contraste mostra calcificaçòes bilaterais e ge
ralmente simétricas nos núcleos da base e nos tálamos Diagnóstico diferencial
(Fig. 31-66A). Hipodensidades mullifocais na SB profun O diagnóstico diferencial da doença de Fabry inclui ou
da compatíveis com infartos lacunares podem ser iden tras doenças caracterizadas por calcificaçòes nos núcleos
tificadas em alguns casos. Os pacientes com doença de da base. Doença de Fahr causa calcificaçòes bilaterais e
Fabry de longa data demonstram perda volumétrica com densas nos núcleos da base e nos tálamos. O cerebelo e a

diiataçào dos ventrículos e sulcos. transição SB-SC freqüentemente são afetados na doença
A ARM pode mostrar um encurtamento em TI nos de Fahr, mas em geral não são comprometidos na doença
núcleos da base e nos tálamos. O sinal "pulvinar" (hipe- de Fabry.
rintensidade em TI no tálamo posterior) é altamente su Distúrbios endocrinológicos como hiperparatireoi-
gestivo da doença de Fabry (Fig. 31-66B). Entre 45 e 50% dismo, hipoparatireoidismo, pseudo-hipoparatireoidismo
dos pacientes adultos com doença de Fabry apresentam e hipotireoidismo podem ter calcificaçòes similares, mas
hiperintensidades multifocais e esparsas em T2/FLAIR não demonstram os infartos multifocais típicos da doença
nos núcleos da base/tálamos e na SB cerebral. No mo de Fabry.

31-67A T2 axial em um ho
mem de A2 anos com doença
de Fabry e história de múltiplos
infartos mostrando hiperintensi
dades em ambos os hemisférios
cerebelares compatíveis com
infartos multifocais ES.
31-67B T2 axial no mesmo
paciente mostrando infartos la
cunares multifocais nos tálamos,
nos núcleos da base e na SB peri
ventricular profunda B.

31-67C T2" GRE axial no


mesmo paciente mostrando
múltiplas hipointensidades tipo
artefato de susceptibilidade
magnética no cerebelo e no lobo
temporal esquerdo B.
31-670 T2* GRE no nível dos
ventrículos laterais mostrando

/"N inúmeros pontos pretos tipo


artefato de susceptibilidade
magnética em ambos os tálamos

•. "W . •
912 Distúrbios tóxicos, metabóllcos, degenerativos e do LCS

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32
Doenças metabólicas
adauiridas e sistêmicas
dades do metabolismo da glicose e da função da tireoide/
Encefalopatias hipertensivas 915
Encefalopatia hiperlensiva aguda, sindrome da paratireoide.
encefalopatia posterior reversível 915 Depois, serão discutidos os distúrbios relacionados à
Hipertensão maligna 921 crise convulsiva, uma vez que a atividade ictal sustentada
Encefalopatia hipertensíva crônica 923 com hipermetabolismo pode afetar seriamente o cérebro.
Distúrbios da glicose 925 Será apresentada inicialmente uma breve delineação da
Encefalopatia hipoglicêmica pediátrica/adulta 925 anatomia normal do lobo temporal e do sistema límbico
Hipoglicemia neonatai/infanlil 926 como uma introdução para o tópico desafiador que é a
Distúrbios associados à tiipergllcemia 929 epilepsia. A seção será finalizada explorando-se o interes
Distúrbios da tireoide 932 sante fenômeno da lesão transitória do esplênio do corpo
Hipotireoidismo congênito 932 caloso e da amnésia global transitória.
Doenças hipotireoidianas adquiridas 934 Finalmente, será apresentada uma miscelânea das
Hipertireoidismo 935
doenças metabólicas adquiridas, como a encefalopatia he-
Distúrbios da paratireoide 936 pática (tanto aguda quanto crônica), e das síndromes de
Hiperparatireoidismo 936 desmielinizaçào osmótica.
Distúrbios da hipoparatireoide 939
Crises convulsivas e distúrbios relacionados 940
Anatomia normal do lobo temporal 940
Esclerose mesial temporal 942
Estado epiléptico 944
Encefalopatias hipertensivas
Lesões transitórias do esplênio do corpo caloso 947 Se não reconhecidos e tratados, os efeitos da elevação
Amnésia global transitória 947 aguda da pressão sangüínea e da hipertensão (HTN) crô
Outros distúrbios 948 nica no cérebro podem ser devastadores. Esta seção terá
Doença de Fahr 948 início com uma discussão sobre a encefalopatia hiperten-
Encefalopatia tiepática 952 siva aguda, sendo apresentados depois os danos ao SNC
Encefalopatia bilirrubínica 955 causados pela HTN.
Sindrome da desmielinizaçào osmótica 956
Distúrbios da sobrecarga de ferro 961
Encefalopatia hipertensíva aguda^ sindrome
da encefalopatia posterior reversível
O cérebro é altamente suscetível a inúmeros distúrbios
metabólicos adquiridos. Assim como nas doenças meta Terminologia
bólicas hereditárias e nas encefalopatias tóxicas, os nú A manifestação mais comum da encefalopatia hiperlensiva
cleos da base e o córtex são especialmente vulneráveis. aguda é a sindrome da encefalopatia posterior reversível
Enquanto a substância branca (SB) hemisférica é menos (PRES, de posterior reversible encephalopathy syndro
comumenle comprometida, algumas doenças adquiridas, me), também conhecida como sindrome da leucoencefa-
como a desmielinizaçào osmótica, podem poupar a subs lopatia posterior reversível (SLPR). Apesar do nome da
tância cinzenta (SC) e apresentar-se com intensas anorma sindrome, as lesões raramente são limitadas aos aspectos
lidades na SB. "posteriores" (parieto-occipitais) do cérebro (ver a seguir).
Neste capítulo, serão apresentadas as doenças meta
bólicas adquiridas e sistêmicas que envolvem o sistema Etioiogia
nervoso central (SNC), iniciando-se com a mais comum Conceitos gerais. Embora a etioiogia da PRES não seja
- hipertensão - antes de voltar a atenção para as anormali completamente entendida, a HTN (independentemente
916 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

da etiologia) parece ser um fator comum. Falha da autor- sepse. várias drogas e agentes quimioterápicos, e síndro-
regulação cerebral, hiperperfusão, quebra da barreira he- mes da lise tumoral.
matoencefálica e edema vasogênico [não citotóxico) sâo Etiologias menos comuns para a PRES incluem a in
a explicação mais comumente postulada. Nesse cenário, gestão de produtos alimentares (como alcaçuz) contendo
a PRES resulta em um vazamento hidrostático com ex- substâncias que causam excesso de mineralocorticoide.
travasamento ou transudaçao de líquido e macromolécu- A tríade de HTN, hipocalemia e alcalose metabólica é
las através das paredes arteriolares com dado endotelial típica. Os pacientes com excesso de mineralocorticoides
(Fig. 32-1). também apresentam uma reatividade vascular endotélio-
Uma teoria alternativa para o desenvolvimento da -dependente comprometida, que pode contribuir para o
PRES evoca vasospasmos ou vasculopatia com disfunçào desenvolvimento da PRES.
endotelial vascular e redução da perfusào cerebral. Raramente, a PRES é associada com a chamada sín
drome de ataque migranoso semelhante a AVC após tera
Condições associadas. Inicialmente descrita em associação pia radioterápica (SMART, de stroke-like migraine atta
com eclâmpsia, drogas imunossupressivas e crise hiper- cks after radiation therapy).
tensiva aguda, a PRES é reconhecida agora como um
distúrbio que pode ser induzido por um grande número Patologia
de doenças e agentes. Outras condições associadas com a A patologia é indefinida, uma vez que a PRES raramen
PRES incÍLiem microangiopatia trombótica (como síndro- te é fatal e somente passa por biópsia em circunstâncias
me hemolitico-urêmica [SHU], púrpura trombocitopênica excepcionais. Cérebros submetidos à necropsia de pacien
trombótica [PTT] e coagulopatia intravascular dissemina tes com PRES complicada mostram edema cerebral difu
da [CIVD]), encefalopatias urêmicas (p. ex., nefropatia so com micro-hemorragias petequiais bilaterais múltiplas
lúpica e glomcrulonefrite aguda), síndrome do choque/ nos lobos occipilais (Fig. 32-2).

32-1 Gráfico axial mosuando


edema vasogênico corlical/
subcorneal |-^j na circulação
posterior característico de PRES.
Hemorragias petequiais 1®
ocorrem em alguns casos, mas
isso não é comum.
32-2 Patologia macroscópica
de PRES complicada mostrando
edema cerebral difuso com giros
expandidos. Hemorragias pete
quiais e focos de encefalo-
malácia secundária a infarto ES
estão presentes. (Cortesia de R.
Hewlett, MD.)

32-3A Mulher de 20 anos


com eclâmpsia se apresentando
com crises convulsivas, HTN
grave e perda de consciência.
A tomografia computadorizada
(TC) sem contraste mostra um
achado clássico de PRES com hi-
podensidades occípitais bilaterais
B. Lesões mais sutis sâo vistas
anteriormente nas zonas frontei
riças B.
32-3B FLAIR na mesma pa
ciente mostrando achados clás
sicos de edema da S6 cortical/
subcortical em PRES. As lesões
não restringem na imagem pon
derada em difusão.
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 917

Os achados microscópicos na PRES lembram aqueles A progressão de pré-eclâmpsia para eclampsia ocor
relatados na encefalopatia hipertensiva maligna. O córtex re em 0,5% das pacientes com pré-eclâmpsia leve e em
occipital, a SB subcortical e o cerebelo demonstram uma 2 a 3% das pacientes com pré-eclâmpsia grave. A pré-
gama de patologias microvasculares, incluindo necrose -eclâmpsia é caracterizada por um pico de pressão sis-
arteriolar fibrinoide com hemorragias petequiais, exsu- tólica de 160 mmHg ou maior, ou pressão diastólica
dato proteináceo e infiltração de macrófagos nos espaços sangüínea de 100 mmHg ou maior, função renal com
perivasculares. A SB adjacente costuma ser edematosa. prometida, trombocitopenia, e/ou evidências de anemia
hemolítica microangiopática, dano hepatocelular, edema
Aspectos clínicos pulmonar e distúrbios neurológicos (principalmente cri
Epidemiologia e edemografia. Embora o pico de idade seja ses convulsivas).
de 20 a 40 anos, a PRES pode afetar desde crianças na Apresentação. Embora 92% dos pacientes com PRES
infancia até idosos. Existe uma predominância moderada apresentem pressão arterial agudamente elevada (mé
no sexo feminino, muito por causa da forte associação da dia = 200/110 mmHg), a PRES também pode ocorrer
PRES com a pré-eclâmpsia. na ausência de HTN ou na presença de uma HTN leve.
A pré-eclâmpsia é a causa mais comum de PRES. Crise convulsiva é o sintoma clínico mais comumente
Essa doença específica da gravidez é caracterizada por presente na PRES, sendo vista em 67 a 91% dos casos.
HTN (pressão arterial acima de 140/90 mmHg) e protei As crises convulsivas associadas à PRES costumam ser
nuria ocorrendo após 20 semanas de gestação em uma únicas, curtas, não complicadas tipo grande mal, que
paciente previamente normotensa. A pré-eclâmpsia e suas terminam espontaneamente dentro das primeiras 24
variantes afetam cerca de 5% das gestações e continuam horas. Crises convulsivas seriadas ou recorrentes são
liderando a causa de morbidade materna e fetal. c o m u n s .

32-4A Uma mulher de 63

a
anos com doença renal em
estágio íinai apresentou uma
crise convulsiva e caiu. A pressão
arterial na emergência era de
. ' W c 220/140 mmHg. a TC sem con
traste, realizada para avaliação
de hemorragias intracranianas,
eslava normal.
32-4B A ressonância mag
nética (RM) foi obtida devido à
suspeita de PRES. O FLAIR obtido
1 hora após a TC sem contraste
mostra hiperintensidades multi-
focais no mesencéfalo, nos lobos
temporais posteroinferiores e no
córtex parieto-occipilai EJ.

32-4C Imagem ponderada em


FLAIR na altura dos ventrículos
laterais mostrando lesões bilate
rais e relativamente simétricas
no córtex parieto-occipital E3.
32-40 Difusão na mesma pa
ciente não mostrando evidência
de restrição. A difusão costuma
ser, embora não invariavelmen
te, normal em PRES porque o
edema é, em sua maior parte,
vasogênico e não citotóxico.
918 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

32-5A Uma variante da PRE5


é ilustrada em uma mulher de 23
anos com lúpus e HTN grave que
se apresentou na emergência
com grande mal epiléptico. A T2
na altura dos ventrículos mostra
lesões bilaterais parieto-occipi-
tais B e lesões simétricas nos
núcleos da base B.
32-5B T2 na mesma pacien
te na altura da coroa radiada
mostrando hiperintensidades
intensas corticais/subcorticais ao
longo das zonas fronteiriças E3.

32-5C Difusão na mesma


paciente mostrando uma discreta
restrição B nas áreas afetadas.
32-5D Somente o giro mais
intensamente afetado B mos
%

■^
tra restrição da difusão; compare
com o edema mais extenso visto
n a T 2 a n t e r i o r.

g ' ^

32-5E T2 axial 10 dias após


mostrando uma resolução com
pleta das lesões depois da nor
malização da pressão arterial. As
imagens não mostram evidên
cias de anormalidades residuais.
32-5F Difusão obtida no
mesmo período não mostrando
evidência de restrição. Mesmo
a PRES grave costuma resolver

^-5-♦
completamente.
^ -VV-A
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 919

Outros sintomas freqüentes incluem cefaleia (80%), Os lobos parieto-occipitais raramente são as únicas
distúrbios visuais (60%) e alteração do nível de consciên áreas afetadas na PRES. Os lobos frontais estão envolvi
cia (30%). dos em 75 a 90% dos casos, e os lobos temporais (65%) e
Comorbidades comuns relatadas em séries recentes o cerebelo também costumam ser afetados. A doença ce-
incluem esteroides ou imunossupressores (40%), lúpus rebelar é mais comum em pacientes com história de doen
eritematoso sistêmico (30%), doença renal (20 a 30%), ças autoimunes, enquanto pacientes com sepse em geral
eclâmpsia (20%) e outras doenças, como as vasculites. demonstram envolvimento cortical.
Como muitos pacientes com PRES se apresentam
História natural e opções de tratamento. A PRES grave
com cefaleia grave, a TC sem contraste costuma ser obtida
pode representar um risco à vida. Se as substâncias inci- como um procedimento de rastreamento. Desse modo, é
tantes ou as condições precipitantes forem eliminadas e a extremamente importante identificar até mesmo anorma
HTN for rapidamente tratada, a PRES costuma resolver lidades sutis que sejam sugestivas de PRES. Se a TC sem
sem anormalidades residuais ou com anormalidades mí
contraste de rastreamento é normal e a PRES é suspeitada
nimas. Em casos raros, a PRES causa danos permanentes,
clinicamente, uma RM com difusão e T2*adicionalmenie
em geral infartos hemorrágicos corticais/subcorticais ou
às seqüências de rotina (TI e T2/FLA1R) deve ser obtida.
nos núcleos da base.
Achados na TC. Hipodensidades sutis esparsas corticais/
subcorticais - geralmente nos lobos parieto-occipitais, em
SÍNDROME DA ENCEFALOPATIA POSTERIOR zonas fronteiriças e/ou no cerebelo - podem ser as anor
REVERSÍVEL: TERMINOLOGIA, ETIOLOGIA, malidades iniciais na TC sem contraste (Fig. 32-3).
ASPECTOS CLÍNICOS Hemorragia intracraniana associada à PRES é inco-
Terminologia mum, sendo vista em apenas 5 a 6% dos casos. Três dife
• Síndrome da encefalopatia posterior reversível (PRES) rentes padrões de hemorragias intracranianas associadas
• Observar: As lesões gerolmente não são apenas à PRES ocorrem em proporções quase iguais: hematoma
posteriores parenquimatoso focai, micro-hemorragias multifocals
(menores que 5 mm) e hemorragias subaracnoides na con-
Etiologla
• Disautorregulação induzida por HTN vs. vasospasmos, vexidade.
A TC com contraste costuma ser negativa, embora ca
iperfusão
• TTpa -> falha da autorregulação ^ edema sos graves possam mostrar focos de realce esparsos, não
vasogênico (não citotóxico) confluentes. subcorticais/corticais.
o Dano endotelial "quebra" da barreira
hematoencefálica
Achados na RM. A PRES apresenta achados tanto clássicos
o Extravasamento de líquido, macromoléculas quanto atípicos na RM. Deve-se ter em mente que a PRES
• Causas (HTN é o fator comum possível) raramente é apenas posterior e nem sempre é reversível.
o Pré-eclâmpsia/eclâmpsia A PRES clássica demonstra alterações de sinal bilate
o Quimioterapia, drogas imunossupressoras rais parieto-occipitais corticais/subcorticais que são hipoin-
o Microangiopatias trombóticas (p. ex., 5HU/PTT) tensas em TI e hiperintensas em T2/FLA1R (Flg. 32-4).
o Insuficiência renal
"Vazamento" pelas arteríolas com perda de integridade da
o Choque/sepse
barreira hematoencefálica pode causar alguns focos de re
o Síndrome da lise tumoral
o Alimento/drogas indutoras de excesso de alce nas seqüências TI C+.
mineralocorticoide
Infarto franco é muito raro na PRES. Como a maioria
dos casos de PRES é causada por edema vasogênico (não
Aspectos clínicos citotóxico), a difusão costuma ser negativa. Entretanto,
• Todas as idades (pico = 20 a 40 anos) causas atípicas (especialmente em crianças) com restrição
• F > > M
• PA geralmente TT, mas pode ocorrer com PA normal já foram relatadas. Os estudos da perfusão por RM têm
demonstrado redução cortical do rCBV na PRES.
ou discretamente elevada
• Costuma resolver completamente com a normalização A PRES atípica é quase tão comum quanto a PRES
da PA clássica. Os achados de imagem na PRES atípica incluem
envolvimento de lobos frontais, zonas fronteiriças corticais.
núcleos da base, tronco encefálico e cerebelo (Fig. 32-5).
Imagem Nos casos incomuns, lesões no tronco encefálico e/ou no
Aspectos gerais. A PRES é conhecida por seu envolvimento cerebelo podem ser a única anormalidade presente. A me
preferencial dos lobos occipitais, visto em 85 a 95% dos dula espinal já foi relatada como um local raro de envolvi
casos ÇFig. 32-3). Os lobos occipitais são particularmente mento da PRES.
vulneráveis devido à inervação simpática relativamente A maioria dos casos de PRES resolve-se completa
esparsa da circulação anterior, que resulta em uma menor mente sem anormalidades residuais detectáveis, seguido
proteção contra os efeitos da HTN sistêmica grave. da normalização da pressão arterial. Lesões irreversíveis
920 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do ICS

(p. ex., infarto, hemorragias) são relativamente incomuns,


ocorrendo em cerca de 15% dos casos.

Angiografia. Vasculopatia é um achado comum na angio-


grafla por TC (ATC), na angiografia por RM (ARM) e
na angiografia com subtração digital (ASD) em pacientes
com PRES. Enquanto o polígono de Willis e seus maiores
troncos em geral aparecem normais, acentuado afllamen-
to e redução da visualização dos ramos arteriais distais -
em especial nas regiões parieto-occipitais - são comuns.
Constriçào difusa dos vasos ou estreitamento, irregulari
dades focais e uma aparência "em contas de rosário" são
achados típicos, mas não são específicos na PRES.

Diagnóstico diferencial
Os maiores diagnósticos diferenciais da PRES incluem
32-6 T2 em uma HTN induzida por cocaína, com uma PA infarto-isquemia cerebral, vasculiie, hipoglicemia, estado
= 220/140 mmHg. Observar a hiperintensidade simétrica
do bulbo ao mesencéfalo, poupando o parieto-occipital.
epiléptico, trombose venosa, síndrome da vasoconstrição
cerebral reversível e microangiopatias trombóticas.
A PRES raramente envolve apenas a circulação poste
rior, portanto infarto-isquemia cerebral aguda costuma

r
ser fácil de diferenciar. Infartos na distribuição da artéria
cerebral posterior bilateral são raros na ausência da trom
bose "do topo da basilar", que costuma afetar outras áreas,
como os tálamos, o mesencéfalo e o cerebelo superior.
A vasculite pode lembrar a vasculopatia induzida por
PRES na angiografia. A distribuição das lesões na vasculi
te é muito mais randômica e menos simétrica, geralmente
não demonstrando uma predominância parieto-occipital,
vista na PRES, e em geral realçando após administração
do contraste.
A hipoglicemia costuma afetar o córtex parieto-occi

m
32-7A TC sem contraste em um menino de 4 anos
com SHU e HTN grave. O declínio neurológico agudo
pital e a SB subcortical, portanto os achados clínicos vis
tos em laboratório (p. ex., baixa glicose sérica, ausência de
HTN sistêmica) são achados diferenciais importantes. O
estado epiléptico pode causar edema girai transitório, mas
mostra hiperdensidades bilaterais simétricas nos nú raramente é bilateral e pode afetar qualquer parte do córtex.
cleos da base e nos tálamos E3. Entidades menos comuns que podem se assemelhar à
PRES incluem trombose venosa e síndrome da vasocons
trição reversível. A trombose do aspecto posterior (des
cendente) do seio sagital superior pode causar edema bi
lateral parieto-occipital cortical/subcorlical. A hemorragia
é comum (rara na PRES), c a venografia por TC (VTC)
facilmente demonstra o seio ocluído. A síndrome da va
soconstrição cerebral reversível tem alguns achados co
muns (p. ex., hemorragia subaracnóidca da conexidade)
com a PRES, mas cm geral é limitada a um sulco solitário
ou somente a alguns sulcos adjacentes.
Microangiopatias trombóticas - SHU/PTT, CIVD,
hipertensão maligna (HM) - podem ser difíceis de diferen
ciar de PRES somente com base nos achados de imagem.
SHU/PTT e CIVD são diagnósticos clínico-laboratoriais.
A PRES é uma manifestação típica de todas as mi
croangiopatias trombóticas, embora a diferenciação entre
32-7B Imagem cefálica mostrando edema dos PRES e HM possa ser acadêmica. A presença de edema
hemisférios cerebrais com apagamento dos sulcos. O
cerebral difuso e micro-hemorragias multifjcais é mais
paciente morreu 2 horas depois por HTN extrema e he
morragias do trato gastrintestinal.
comum na HM. Localizações atípicas (tronco encefálico.
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 921

cerebelo, núcleos da base), restrição de difusão e edema


cerebral generalizado são mais comuns na HM. (continuoçõo)
o Difusão geralmente, mas não invariavelmente,
negativa
SÍNDROME DA ENCEFALOPATIA POSTERIOR
o Nenhum/leve realce (a menos que PRES grave)
REVERSÍVEL: IMAGEM
Diagnóstico diferenciai
• Isquemia-infarto da circulação posterior
Imagem • Vascülite
• Aspectos gerais
• Estado epiléptico
o 85 3 95% parieto-occipitais, mas raramente são os
• Hipoglicemia
únicos locais
o Outros locais: frontotemporal, zonas fronteiriças, • Microangiopatia trombótica (SHU/PTT, CIVD, HM)
• Trombose venosa
tronco encefálico, cerebelo, núcleos da base • Síndrome da vasoconstrição cerebral reversível
• TC
o Pode ser normal ou apenas sutilmente anormal
o Hipodensidades posteriores corticais/subcorlicais
o Hemorragia grosseira e rara Hipertensão maligna
• RM
o Se houver suspeita de PRES e a TC for normal, deve- Terminologia
-se realizar uma RM A hipertensão maligna (HM), algumas vezes denomina
o Hiperintensidades em T2/FLAIR (parieto-occipitais da crise hipertensiva aguda, é caracterizada clinicamente
mais comuns) por elevação extrema da pressão arterial e papiledema. A
HM acelerada é identificada pela presença de retinopatia
(continuo)
grave (exsudatos, hemorragias, estenoses arteriolares, es-

32-8A TC sem contrasle em

uma mulher de 55 anos com HM


mostrando um hematoma lobar

occipital direito ES com edema


ao redor B e efeito de massa
no ventrículo lateral adjacente

32-8B 12 mostrando que


o hematoma B é um pouco
heterogêneo, mas em sua maior
parte isointenso com o córtex.
várias outras hiperintensidades
mal-definidas estão presentes na
SB subcortical

32-8C TI C+ axial com satu

ração de gordura na mesma pa


ciente mostrando múltiplos focos
de realce confluentes nos hemis
férios cerebrais ES secundários
à quebra da barreira hematoen-
cefálica causada pela HM.
32-8D TI C* mais cefálica
com saturação de gordura mos
trando inúmeros focos de realce
no córtex e nas SBs subcortical e
profunda E3. A paciente faleceu
logo após a ressonância ter sido
obtida.
922 Distúrbios tóxicos, metabóllcos, degenerativos e do ICS

32-9A TC axial sem contraste em um paciente com HTN crônica cie 32-9B TC sem contraste na coroa radiada mostrando hipodensidades
longa data demonstrando hipodensidades nas SBs frontal e periatrial nas SBs subcortical e profunda. Essas lesões algumas vezes são cha
confluentes ES. madas de "encefalopatia subcortical aterosclerólica" e são comuns em
pacientes com HM e hiperlipidemia.

pasmos, etc.) sem papiledema. Ambas as formas de HM Patologia


são consideradas associadas a danos vasculares graves aos
rins e a outros órgãos. Macroscopicamente, o cérebro aparece inchado/edemato-
so. Os hematomas parenquimatosos grosseiros e as micro-
Encefalopatia hípertensiva ocorre quando a eleva
ção da pressão arterial média ultrapassa a autorregula- -hemorragias petequiais perivasculares podem estar pre
sentes. Microinfartos agudos, em especial nos núcleos da
ção cerebral. A perda de controle da perfusão cerebral
leva a aumento do fluxo sangüíneo cerebral (CBF, de base e na ponte, são comuns.
cerebral blood flow), hiperperfusão cerebral e edema Os achados microscópicos da HM incluem necrose
fibrinoide arteriolar e plaquetas microvasculares/trombos
vasogênico.
de fibrina. Edema com exsudato proteináceo na SB adja
cente é um achado associado típico.
Etiologia
Qualquer forma de distúrbio hipertensivo, independen
temente de sua etiologia, pode precipitar uma crise hi- Aspectos clínicos
A pressão arterial na HM é muito elevada, com níveis
pertensiva. A elevação rápida da pressão arterial parece
ser mais importante do que o nível absoluto da pressão diastólicos geralmente acima de 130 a 140 mmHg. Ce-
arterial. faleia com ou sem encefalopatia coexistente é o sintoma
HM em casos de HTN crônica é na verdade rara, mais comum e costuma ser acompanhada por distúrbios
ocorrendo em menos de 1% de todos os pacientes. Con visuais, náuseas e vômitos, e alteração do estado mental.
tudo, como a prevalência de HM na população geral é Insuficiência cardíaca congestiva, deterioração da função
muito alta, a chamada HTN essencial (HM crônica sem renal e anemia são comuns.
uma causa identificada) ainda é a condição mais comum As complicações da crise hipertensiva aguda em geral
que predispõe à HM. A HM também ocorre em indivíduos são reversíveis se a condição é diagnosticada propriamente e
previamente normotensos. Uma elevação súbita e grave a terapia apropriada é instituída de forma rápida. A redução
da HM pode ocorrer em crianças com glomerulonefrite rápida da pressão sangüínea costuma resultar em aumento
aguda, mulheres grávidas com eclâmpsia e pacientes de significativo e imediato da encefalopatia hipertensiva.
todas as idades com abuso de substâncias (p. ex., coca
ína). Causas menos comuns de HM incluem crises de Imagens
feocromocitoma, síndrome de retirada da clonidina, inte Os achados de imagem na HM variam de clássicos, seme
rações medicamentosas (p. ex., inibidores da monoamina- lhantes à PRES com uma predominância parieto-occipital,
-oxidase + tiramina) e superatividade autonômica em pa a "atípicos". Achados "atípicos" são mais comuns na HM
cientes com distúrbios da medula espinal. comparados à PRES e incluem uma doença com predomí-
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 923

nio no tronco encefálico (Fig. 32-6), assim como lesões Encefolopatia hipertensiva crônica
nos núcleos da base e nas zonas fronteiriças (Fig. 32-7).
Enquanto as manifestações clínicas e de imagem da PRES
Edema cerebral difuso pode estar presente, especialmente e da HM podem ser traumáticas e apresentar risco de mor
em casos graves.
te, os efeitos da HTN de longa data não tratada ou pouco
Micro-hemorragias lobares e/ou parenquimatosas mul tratada nas funções orgânicas também podem ser devas
tifocals no cortex, nos núcleos da base, nas pontes e no cere- tadores.
belo sào comuns na HM e são mais bem visualizadas como
focos em artefatos de susceptibilidade magnética na T2*
Patologia
(GRE, SWI). Hemorragias subaracnóideas nas convexida- o achado histopalológico mais compatível com encefa-
des com múltiplos focos de cstcnose de pequenos segmentos
arteriais lembrando síndrome da vasoconstrição cerebral re lopatia hipertensiva crônica (EHtC) é a microvasculopa-
versível (SVCR) têm sido relatadas em alguns casos de HM.
tia caracterizada por arterioloesclerose e lipo-hialinose
A HM pode causar quebra difusa da barreira hemato- (ver Capítulo 10). Estcnose e oclusao de pequenas ar
térias e arteríolas devido ao depósito de camadas de
encefálica com intensos realces multifocais após a admi
nistração endovcnosa do contraste (Fig. 32-8). Restrição colágeno hialínico causam redução da densidade de oli-
da difusão não é incomum. godendrócitos, palidez de mielina, gliose e perda de vo
lume da SB cspongiforme. Infartos lacunares múltiplos
são comuns.
Diagnóstico diferencial
o maior diagnóstico diferencial da HM é a PRES. A PTT
com isquemia cerebral e micro-hemorragias pode parecer Aspectos clínicos
idêntica em exames de imagem, e sua distinção é estabele A EHtC é mais comum em pacientes de meia-idade e
cida por achados clinico-laboratoriais em vez de achados idosos. Essa condição afeta homens mais freqüentemen
de imagem. te que mulheres e é muito prevalente em afrodescenden-

32-10A T2 axial em uma


mulher de 74 anos com HTN
pouco controlada mostrando
perda de volume generalizada
com aumento dos ventriculos e

proeminêncla dos sulcos. Hipe-


rintensidades confluentes na SB
e perda irregular profunda B3,
junto com múltiplas lesões punti-
formes com aparência cística nos
núcleos da base e nas cápsulas
externas BI estão presentes.
32-10B FLAIR mostrando
hiperintensidades confluentes na
SB profunda B, enquanto os
cistos nos núcleos da base B
suprimem em sua maioria e são
espaços perivasculares dilatados.

32-10C 12* GRE na fossa

posterior mostrando múltiplas


hipointensidades tipo artefato de
susceptibilidade magnética na
ponte inferior e no cerebelo B.
32-100 72" GRE nos ventricu
los laterais mostrando hipointen
sidades tipo artefato de suscep
tibilidade magnética multifocais
nos núcleos da base B com
apenas alguns pequenos focos
periféricos B identificados. A
Imagem é compatível com arte-
rioloesclerose/lipo-hialinose (as
hiperintensidades em T2/FLAIR)
e múltiplos microssangramen-
tos hipertensivos (os "pontos

c
pretos").
924 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

tes. Além da idade e da pressão sangüínea cronicamente


elevada, o tabagismo é um fator de risco independente
para EHtC. A sindrome metabólica (alteração do meta
bolismo da glicose, elevação da pressão arterial, obesi
dade central e dislipidemia) é muito comum e contribui
significativamente para o impacto da EHtC em todo o
mundo.

O sintoma mais comum da EHtC é a cefaleia não


específica. Uma progressão passo a passo ou gradual da
disfimção cognitiva também é comum e pode resultar em
demência vascular,

Imagem
Os dois achados de imagem principais da EHtC são (1)
lesões difusas e/ou confluentes na SB e (2) microssangra-
32-11 Necropsia de uma hipoglicemia grave mos mentos multifocais. As lesões na SB são concentradas na
trando necrose cortical bilateral e simétrica parieto- coroa radiada e na SB periventricular profunda - em espe
-occipital, frontal H], (Cortesia de R. Hewlett, MD.) cial ao redor dos átrios e dos ventrículos laterais. O dano
na SB aparece hipodenso na TC sem contraste (Fig. 32-9)
e hiperintenso em T2/FLAIR.
Sangramentos petequiais múltiplos ("micro-hemorra-
gias") são a segunda manifestação mais comum da EHtC.
Em geral, essas alterações não são identificadas na TC
sem contraste e podem ser invisíveis nas seqüências co
muns da RM (T2FSE e FLAIR). A T2* (GRE, SWI) pode
mostrar múltiplas hipointensidades tipo artefato de sus-
ceptibilidade magnética ("pontos pretos") que tendem a se
concentrar nos núcleos da base e no cerebelo (Flg. 32-10).
Os achados de imagem na EHtC podem também re
fletir doença "aguda na crônica". A T2* na maioria dos
pacientes com hemorragias hipertensivas clássicas nos
núcleos da base ou lobares demonstra hemorragias pe
tequiais. Ocasionalmente, pacientes com HTN crônica
de longa data desenvolvem uma crise hipertensiva agu
32-12A TC sem contraste mostrando atrações típi da e podem demonstrar achados de PRES sobreposta na
cas da hipoglicemia com edema girai parieto-occipital
doença da SB crônica de longa data.
ES, hipodensidade putaminal ^3 e talamos poupa
dos ^3.
Diagnóstico diferencial
o maior diagnóstico diferencial da EHtC é a angioputia
amíloíde cerebral (AAC). As lesões da SB em ambas as
doenças costumam parecer semelhantes, e as duas condi
ções podem causar microangiopatia hemorrágica. Os mi-
crossangramentos da AAC em geral são mais periféricos

i v:
(p. ex., córtex, leptomeninge) e raramente afetam o tronco
encefálico ou o cerebelo. As micro-hemorragias hiperten
sivas são mais comuns nos núcleos da base e freqüente
mente podem ser identificadas na ponte e nos hemisférios
cerebelares.
A arteriopatia cerebral autossômica dominante com
Infartos subcorticaís e leucoencefalopatia (CADASIL,
de cerebral autosomal dominam arteriopathy with sub
cortical infarcts and leukoencephalopathy) também pode
mimetizar a EHtC. A CADASIL costuma se apresentar em
32-12B Difusão no mesmo caso de uma encefalopa- pacientes jovens e causa múltiplos infartos lacunares sub-
tia hepática aguda mostrando restrição no cortex parie corticais. Lesões no lobo temporal anterior e nas cápsulas
to-occipital e no putame, poupando os talamos e a SB. internas são achados de imagem clássicos da CADASIL.
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 925

Encefalopatia hipoglicèmica pediátríca/adulta


Distúrbios da glicose
Terminologia
o cérebro necessita de muita glicose, consumindo mais da Hipogliceniia literalmente significa baixo açúcar no san
metade do total da glicose corporal. Como o cérebro não gue e é causada por um desequilíbrio entre o suporte da
estoca o excesso de energia como glicogênio, a função do glicose e a utilização da glicose. Dano cerebral hipogli-
SNC é altamente dependente de um suporte de glicose cêmíco agudo também é chamado de encefalopatia hipo
sangüínea regular e contínua (ver quadro a seguir). glicèmica.
Os níveis de glicose no sangue são rigorosamente re
gulados e costumam ser mantidos dentro de uma variância Etiologia
llsiológica pequena. Os distúrbios do metabolismo da gli A encefalopatia hipoglicèmica em crianças é mais comu-
cose - tanto /j/poglicemia quanto hipergWcQvciisi - podem mente associada com diabetes melito tipo 1. Raramente
causar danos ao SNC.
a hipogliceniia ocorre como um distúrbio herdado (ver a
As manifestações neurológicas do distúrbio do me
seguir) ou secundário a tumores secretores de insulina.
tabolismo da glicose variam de déficits focais discretos No cenário adulto mais comum - diabetes melito
e reversíveis a estado epiléptico, coma e morte. Como as
tipo II avançado - a hípoglicemia costuma resultar de
manifestações clínicas e de imagem em neonatos diferem uma ação combinada entre o excesso relativo ou abso
daquelas em crianças maiores e em adultos, a hipoglice- luto de insulina e o comprometimento da contrarregula-
mia nesses dois grupos será discutida separadamente.
ção da glicose; a insulina por si só não é neurotóxica. A
A maioria dos casos de hípoglicemia é adquirida. Al maioria dos casos de hípoglicemia adulta ocorre como
gumas poucas síndromes hereditárias se apresentam com um efeito adverso do tratamento do diabetes com insuli
uma hípoglicemia hiperinsulinémica como uma manifes
na e sulfonilureia.
tação secundária da doença sistêmica. Os efeitos da hípo Outros fatores além dos níveis absolutos de glicose
glicemia no cérebro de um recém-nascido são idênticos,
sangüínea também afetam a presença e a extensão dos
independentemente da etiologia, portanto serão discutidos danos cerebrais hipoglicêmicos, incluindo a duração e a
neste capítulo.
gravidade da hipoglicemia, a presença e o grau de hipoxia
Após discussão sobre a hípoglicemia, será dada aten e outros distúrbios metabólicos, o CBF e as necessidades
ção aos distúrbios associados à hiperglicemia que podem metabólicas do SNC/cardiovasculares.
afetar o SNC.

Patologia
GLICOSE E O CÉREBRO A hipoglicemia tem efeitos diretos e indiretos no cérebro,
que são muito sensíveis à insuficiência da glicose. Essa
Físíologla normal
• O cérebro é um grande consumidor de glicose insuficiência resulta na redução da utilização do oxigê
o Utiliza 10 a 150 g/dia nio e compromete a produção de energia intracelular. Os
• A glicose deve ser transportada ativamente através efeitos indiretos ocorrem secundariamente ao acúmulo
da barreira hematoencefálica e à liberação de neurotransmissores excitatórios, que
o Proteína de transporte da glicose (GLUT-I, de algumas vezes acentuam o grau de lesão hipoglicèmica
glucose transport protein I) cerebral.
• Metabolismo da glicose
Necrose cortical é o achado macroscópico mais co
o Oxidação aeróbica (20% do 0^ total corporal
mum na encefalopatia hipoglicèmica. Enquanto todo o
consumido) córtex pode ser afetado, as regiões parieto-occipitais em
o Glicose intracelular convertida a piruvato
o Então metabolizado em trifosfato de adenosine geral são mais gravemente envolvidas (Fig. 32-11). Ou
tras áreas especialmente vulneráveis incluem os núcleos
(ATP, de adenosine triphosphate), fosfocreatina
• Utilização da glicose diretamente relacionada ao CBF da base, os hipocampos e as amígdalas. Os talamos, a SB,
o GM - Sx S8 o tronco encefálico e o cerebelo costumam ser poupados.
o Na maioria das vezes, usada para transporte ativo
de íons, manutenção dos potenciais de membrana Achados clínicos
• Homeostase da glicose
o paciente hipoglicêmico típico é um idoso com diabete
o Concentração da glicose sangüínea dinâmica,
em terapia de reposição de insulina e com alteração da
rigorosamente regulada
o Monitores cerebrais, "conduz" o eixo intestino-SNC- ingestão de glicose. Uma overdose intencional ou aciden
-endócrino
tal é mais comum em crianças e em adultos jovens e de
o Interações complexas mantêm a giicemia normal meia-idade.
Crises convulsivas, alterações do estado mental e
Ftsíologia anormal coma são sintomas comuns da encefalopatia hipoglicèmi
• Muita ou pouca glicose pode lesionar o cérebro
• Distúrbios hipergiicémicos » hipoglicêmicos ca. O prognóstico varia com a extensão da lesão cerebral.
Se os núcleos da base são envolvidos, o resultado geral-
926 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LC5

mente é ruim. Se a lesão nos núcleos da base é mínima ou


ausente, déficits neurológicos residuais estão relacionados
com a gravidade da lesão cortical.
Devido aos efeitos simpatoadrenérgicos. o infarto
do miocárdio e as arritmias graves são efeitos indiretos
comuns da hipoglicemia e podem ser responsáveis pela
síndrome da "morte súbita".

Imagem
Achados na TC. A TC sem contraste costuma mostrar os
lobos parietal e occipital hipodensos simetricamente. Os
putames com freqüência aparecem hipodensos, enquanto
os tálamos são poupados (Fig. 32-12). Em casos mais gra
ves, edema cerebral difuso com apagamento dos sulcos
quase total e transição córtex-SB borrada pode ser visto.
32-13A T2 de um pacienie com diabetes de 21 anos
de idade encontrado "caído" mostra hiperintensida- Achados na RM. A TI em paciente com encefalopalia hi-
des corticais parieto-occipitais E3 e nos núcleos da poglicêmica aguda pode ser normal ou demonstrar apenas
base B. edema girai e apagamento dos sulcos. Nos estágios su-
bagudo e crônico, as hiperintensidades girais curvilíneas
secundárias à necrose laminar podem estar presentes.
A hiperintensidade em T2/FLAIR no córtex parieto-
-occipital e nos núcleos da base é típica da encefalopatia
hipoglicêmica aguda (Fig. 32-13). Os tálamos, a SB sub
cortical/profunda e o cerebelo em geral são poupados. A
T2* costuma mostrar mínimo ou nenhum artefato de sus-

ceptibilidade magnética sugerindo hemorragia.


O realce em TI C-^ é variável e, quando presente, em
geral é discreto, mostrando restrição da difusão (Fig. 32-12).
A espectroscopia por ressonância magnética (ERM) de
monstra redução do N-acetil-L-aspartato (NAA) com ou
sem um pico de lactato proeminente.

Diagnóstico diferencial
o diagnóstico diferencial mais importante da encefalopa
32-13B Difusão do mesmo paciente mostra restrição tia hipoglicêmica é a encefalopatia hipóxico-isquêmica
do cortex B, núcleos da base Os talamos e SB (EHI). A EHI costuma ocorrer seguida de uma parada
estão poupados. cardíaca ou de hipoperfusão global. Em contraste com a
encefalopatia hipoglicêmica, os tálamos e o cerebelo em
geral são afetados na EHI. Isquemia-infarto cerebral
agudo tem um formato em cunha, envolvendo tanto o
córtex quanto a SB subjacente.
A encefalopatia hipertensiva aguda (PRES) costu
ma afetar o córtex parieto-occipital, mas poupa a maioria
da SB subjacente e raramente restringe a difusão. Os pa
cientes com PRES se apresentam com HTN não controla
da, não com hipoglicemia.

Hipoglicemia neonatal/infantil
o cérebro imaturo é relativamente resistente à hipogli
cemia. Diferentemente de crianças de mais idade e de
adultos, os neonatos têm uma demanda menor de glicose
absoluta e podem utilizar outros substratos como lactado
para a produção de energia. No entanto, uma hipoglicemia
32-13C Mapa ADC confirma a restrição da difusão no prolongada e/ou grave pode resultar em um dano cerebral
cortex devastador em neonatos.
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 927

Terminologia
A definição clínica/laboratorial precisa da hipoglicemia
neonatal/infantil é controversa. Entre 5 e 15% das crian
ças a termo normais têm um valor de glicose plasmática
tão baixo quanto 40 a 45 mg/dL. Definições atualmente
aceitas de hipoglicemia significativa no recém-nascido
são os níveis de glicose abaixo de 30 a 35 mg/dL nas
primeiras 24 horas após o nascimento e 40 a 45 mg/dL
depois.

Etiologia
A encefalopalia hipoglicêinica neonatal/infantil é secun
dária à hiperinsulinemia, sendo mais freqüentemente cau
sada pelo diabetes materno com um mau controle glicêmi-
co. Diabetes materno não controlado leva à hiperglicemia
crônica fetal inlraútero, Isso resulta em uma hiperinsuli 32-14A TC sem contraste em uma criança cJe 3 dias
nemia neonatal transitória e em hipoglicemia de gravida com hipoglicemia intensa mostrando hipodensidades
simétricas posteriores bilaterais E2 e núcleos da base
de variada.
mai-delinidos.
Raramente, a hipoglicemia hiperinsulinémica infantil
é hereditária. Os tipos mais comuns de hiperinsiilinismo
congênito ou hipoglicemia hiperinsulinémica persisten
te em crianças resultam de mutações nos genes que co
dificam o canal de potássio sensível a ATP das células
p-pancreáticas.
Hipoglicemia neonatal também pode ocorrer na sín-
drome de Beckwith-Wledemann (SBW), uma doença
hereditária com macrossomia, macroglossia, viscero-
megalia, onfalocele, tumores embrionários, citomegalia
adrenocortical e anormalidades renais. A maioria dos ca
sos de hipoglicemia associados à SBW é discreta e tran •A
sitória, mas pode persistir e - se não detectada e não tra
tada - representa um significativo risco para seqüelas de
desenvolvimento.

Patologia 32-14B Coeficiente de difusão aparente (AOC, de


Hipoglicemia transitória e discreta em geral não danifica apparent diffusion coefficient) mostrando restrição da
o cérebro do neonato. Hipoglicemia prolongada e grave difusão nos lobos parieto-occipitais B e nos núcleos
causa necrose coagulativa nas camadas médias do córtex da base e do tálamo

parieto-occipital e na SB subjacente.

Aspectos clínicos
A encefalopatia hipoglicêmica neonatal/infantil cos
tuma se apresentar nos primeiros três dias de vida, em
geral dentro das primeiras 24 horas. Bebês grandes para
a idade gestacional têm um risco aumentado de hipogli
cemia, mesmo quando não são produto dc uma gravidez
diabética.
O nível exato de hipoglicemia que requer tratamen
to é controverso. Alguns especialistas recomendam tratar
apenas os neonatos sintomáticos com concentração de
glicose abaixo de 45 a 50 mg/dL. A resposta à terapia de
glicose costuma ser imediata se o grau e a duração da hi
poglicemia forem discretos a moderados.
32-14C ERM com TE longo no mesmo caso mos
trando redução no NAA E3 e lactato moderadamente
elevado Bi.
928 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

32-15A T2 axial em uma


criança de 5 dias com hipogli-
cemia mostrando apagamento
da interface S8-SC nos lobos
parieto-occipitais ES em com
paração com os lobos frontais
normais 0 córtex, a SB adja
cente S] e o esplénio do corpo
caloso H] estão edemaciados e
fiiperintensos.
32-156 Mapa ADC no mesmo
caso mostrando uma intensa re
dução na difusão nos lobos parie
tal e occipital ES e no esplénio
do corpo caloso ES.

32-15C TI no mesmo pa
ciente de 7 dias mostrando SB
edemaciada e intensamente
hipointensa nos lobos parietal,
occipital B, córtex fiiperinten-
so, afilado ES e pulvinar dos
táiamos fiipointensos ES.
32-150 12 no mesmo mo
mento mostrando córtex afilado
edemaciado com focos de au
mento ES e redução da
intensidade de sinal, pulvinares
hiperintensos ES e cápsulas
internas anormalmente fiiperin-
tensas B.

32-15E T2 axial na mesma


criança com 1 ano de idade mos
trando lobos parieto-occipitais
filperintensos e reduzidos, com
grande perda cortical, ulegíria e
SB com aparência encefalomalá-
sica ES.
32-15F FLAIR coronal, tam
bém realizada com a criança de
1 ano, mostrando híperinlen-
sidades extensas na SB B e
afílamento e redução dos giros
com alargamentos focais dos
sulcos B.
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 929

Imagem
(continuação)
Alguns achados de imagem na hipoglicemia neonatal/in- o Fatores exacerbantes (p. ex., hipoxia)
fantil lembram aqueles de crianças de mais idade e adultos, o Reconhecimento, tratamento imediato/apropriado
ou seja, envolvimento predominante do córtex parieto-oc-
cipital e dos núcleos da base. Entretanto, o envolvimento Hipoglicemia pediátríca/adulta
da SB. dos tálamos e do cerebelo é relativamente mais co • Etíologia
o Geralmente associada com diabetes
mum em neonates se comparado com encefalopatia hipo-
o Excesso absoluto/relativo de insulina ou
glicêmica em crianças de mais idade e em adultos.
insuficiência de glicose
A TC sem contraste em neonates com encefalopa o Produção de energia/utilização de Oj i,
tia hipoglicêmica aguda mostra hipodensidades cere
neurotransmissores e citotóxicos T
brais posteriores com apagamento da interface SC/SB • Patologia
(Fig. 32-14). Em especial nos casos graves, o cérebro apa o Necrose cortical
rece difusamente inchado e hipodenso. • Imagem
A RM nos estágios agudos da encefalopatia hipogli o Hipodensidade/hiperintensidade no córtex parieto-
cêmica neonatal mostra hiperintensidades em T2/FLA1R -occipital, núcleos da base
e restrição da difusão no córtex parieto-occipital. na SB o Restrição da difusão
subcortical e no esplênio do corpo caloso (Figs. 32-15A o SB, talamos e cerebelo geralmente poupados
e32-15B). Hipoglicemia neonatai/infantíl
Nas fases aguda tardia/subaguda precoce, as áreas • Etiologia
afetadas estão edemaciadas e expandidas (Figs. 32-15C o Mais comum: diabetes materno
e32-15D). o Hipergiicemia fetal hiperinsulinemia ^
Encefalomalacia cística pode ocorrer. Na encefalo hipoglicemia
o Menos comum: hiperinsulinemia congênita
patia hipoglicêmica crônica, os córtices parieto-occipi-
hereditária
tais tornain-se atrófícos, reduzidos e encefalomalásicos
• Aspectos clínicos
(Figs.32-15Ee32-l5F). o Geralmente presente nos primeiros três dias pós-
-natal
Diagnóstico diferencial o o nível de glicose é variável
Assim como em crianças de mais idade e em adultos, o • Imagem
maior diagnóstico diferencial da encefalopatia hipogli o Geralmente semelhante a do adulto
cêmica neonatal é o dano hipóxico-isquêmíco (DHI) a (predominância posterior)
termo. A encefalopatia hipoglicêmica e o DHI em geral o Diferente: SB subcortical, tálamos em geral
coexistem, potencializando a extensão das lesões cere envolvidos
brais. Os achados de imagem nos dois distúrbios podem • Diagnóstico diferencial
o Encefalopatia hipóxico-isquêmica a termo
ser indistinguiveis.
o Encefalopatia mitocondrial (MELAS)
As doenças mitocondriais hereditárias como a ence
falopatia mitocondrial com acidose láctica e episódios
semelhantes a acidente vascular cerebral (MELAS. de
mitochondrial encephalopathy with lactic acidosis and
Distúrbios associados à biperglicemia
stroke-like episodes) podem apresentar-se com edema Enquanto a hiperglicemia pode ser espontânea, ela é mais
cortical que poupa a SB adjacente. A MELAS raramente freqüentemente associada ao diabetes melito (DM). Nes
é bilateral e simétrica e demonstra lactato marcadamente ta seção, será discutido brevemente o DM. antes de dar-
aumentado na ERM. -se atenção especificamente aos danos cerebrais induzidos
pela hiperglicemia. Primeiramente serão discutidos os efei
tos da hiperglicemia crônica do cérebro, vista como doença
HIPOGLICEMIA de pequenos vasos acelerada (microvascular). Então, serão
consideradas duas condições menos comuns associadas
Conceitos gerais com as alterações da hiperglicemia aguda no SNC: cetoaci-
• Desequilíbrio entre o suporte e a utilização da glicose
dose diabética e estado hiperosmolar hiperglicêmico (raro).
hipoglicemia
• Pode ser discreta, transitória, assintomática
• A extensão das lesões cerebrais depende de Diabetes
o Grau, duração da hipoglicemia No diabetes melito tipo I (DM1), previamente chamado
o CBF, utilização da glicose de "diabetes juvenil", uma falta de insulina resulta da des
o Disponibilidade/utilização de fontes de energia truição das células p produtoras de insulina no páncreas,
alternativas (p. ex., lactato) presumivelmente secundária a um processo autoimune
mediado. O DM1 corresponde a apenas 5 a 10% de todos
(continua)
os pacientes com DM.
930 Distúrbios tóxicos, metabóilcos, degenerativos e do LCS

32-16A FLAIR axial de um paciente com DM2 e EHH mostrando giros hi- 32-168 Mapa ADC do mesmo paciente mostrando restrição da difu-
perintensos BH e SB hipointensa BI no lobo parieto-occipitai esquerdo. são B3. (Cortesia de K. K. Oguz, MO.)

A maioria dos pacientes com diabetes tem diabetes osmolaridade normal a EHH com mínima ou nenhuma
nieüto tipo 11 (DM2), previamente chamado de "diabetes cetose e coma.
de início adulto". O DM2 também é conhecido como dia CD e EHH são causados pela redução da ação efeti
betes não insulino-dependente e é causado pela deficiên va da insulina circulante. A "fome" intracelular estimula
cia relativa da insulina ou por resistência insulínica celu a liberação dos hormônios contrarreguladores glucagon,
lar. O DM2 ocorre tanto em crianças quanto em adultos. catecolaminas, Cortisol e honnônio do crescimento. Isso
Fatores de risco incluem baixo nível de atividade, dieta leva a uma produção de glicose hepática e renal acelerada
pobre e excesso de peso. e à redução da utilização da glicose nos tecidos periféricos
dependentes de insulina (p. ex., músculo, fígado, tecido
Dano cerebral hiperglicémico crônico adiposo). O resultado é hiperglicemia, lipólise (com libe
o dano cerebral induzido pela hiperglicemia pode ser ração de ácidos graxos livres na circulação) e oxidaçâo
crônico ou agudo. Com o aumento mundial da obesida ácida gordurosa hepática (em corpos cetônicos).
de e com a crescente prevalência de DM2, os efeitos da CD c EHH também estão associados com glicosúria,
hiperglicemia crônica no cérebro são muito conhecidos. que pode causar disúria osinótica com conseqüente perda de
Os pacientes com DM2 têm arterioloesclerose acelerada e água, sódio, potássio e outros eletrólitos. Em casos graves,
hipo-hialinose com infarto silencioso, perda volumétrica alterações secundárias da desmielinização osmótica aguda
cerebral e redução da função cognitiva. podem complicar os achados de imagem dessas doenças.
A RM mostra aumento dos números de hiperintensi- Cetoacídose diabética. Embora a CD possa ocorrer em pa
dades subcorticais e periventriculares em T2/FLAIR, em cientes com DM 1 e DM2, é muito incomum no DM2. Ela
especial na SB frontal, na ponte e no cerebelo. A imagem é definida como acidose com pH venoso menor que 7,3 ou
do tensor da difusão (DTl, de diffusion tensor imaging) de
concentração de bicarbonato sérico menor que 15 mmol/L
monstra perda da integridade microestrutural com redução na presença de concentração de glicose sérica maior que
da anisotropia fracionada (FA, úq fractional anisotropy). 11 mmol/L. A CD é caracterizada por glicosúria, cetonú-
ria e cetonemia.
Dano cerebral hiperglicémico agudo A CD em geral é uma doença recorrente. A mortali
Embora o dano cerebral agudo na hiperglicemia seja me dade para cada episódio é relativamente pequena (0,15 a
nos comum que na hipoglicemia, a hiperglicemia também 0.3%). O edema cerebral idiopático corresponde a pelo
pode causar uma morbidade maior e uma mortalidade sig menos dois terços dos casos fatais.
nificativa. Duas condições agudas são associadas com a A imagem em pacientes com CD aguda é não especí
hiperglicemia: a cetoacídose diabética (CD) e o estado fica, com edema cerebral vasogênico sendo a anormalida
hipcrosmolar hiperglicémico (EHH). Essas duas doen de mais comum, idade jovem, acidose grave, hipocapnia
ças podem ser consideradas o ponto final de um contí e desidratação já foram citadas como fatores de risco para
nuo clinico-laboratorial de CD com sintomas mínimos e edema cerebral.
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 931

Estado hiperosmolar hiperglicêmico. O EHH ocorre quase


exclusivamente em pacientes com DM2. Ele já foi consi
derado uma condição relativamente rara, vista somente na
população idosa. Com o aumento do DM2 na infância, o
EHH agora ocorre em pacientes de todas as idades e está
se tomando significativamente mais comum.
Os critérios clínico-iaboratoriais para EHH incluem
concentração de glicose no plasma superior a 33,3
mmol/L, concentração de bicarbonato sérico superior a
15 mmol/U cetonúria e cetonemia ausentes ou mínimas,
osmolalidadc sérica efetiva superior a 320 mmol/kg e pre
sença de estupor ou coma. Diferentemente da CD, crises
convulsivas são comuns. Glicosúria e hipernatremia pela
desidratação podem levar a edema cerebral, desmieliniza-
ção osmótica, crises convulsivas e parada cardíaca.
O achado de imagem mais importante no EHH é a
/n/jointensidade em T2/FLAIR na SB parieto-occipital
(Fig. 32-16). Pacientes tratados para EHH com correção
rápida do estado hiperosmolar podem também desenvol
ver desmielinização osmótica com achados típicos de
mielinólise central pontina (ver a seguir).

Hemlballsmo-hemicorela induzido pela


hipergiicemia
A síndrome chamada de hemibalismo-hemicoreia induzido
pela hipergiicemia (HHH) é caracterizada por movimentos
involuntários unilaterais e não padronizados. O HHH é
uma complicação rara, mas potencialmente reversível da
hipergiicemia não cetótica. Ele costuma ocorrer em pa
cientes idosos, afeta mais freqüentemente as mulheres e
pode ser o primeiro sintoma ("desmascarador") do DM2.
O HHH pode se resolver em dias ou persistir por anos.
Os achados na RM são praticamente patognomônicos
de HHH. Hiperintensidade em TI unilateral nos núcleos
32-17B FLAIR no mesmo paciente mostrando hipe
da base poupando o tálaino é característica (Fig. 32-17). rintensidade nos núcieos da base direitos. O restante do
A anormalidade de sinal provavelmente represente uma cérebro está normai.
deposição de zinco, não cálcio nem hemorragia.

HIPERGIICEMIA

Conceitos gerais
• Espontânea (rara) ou associada ao diabetes (comum)
• Aguda (rara) ou crônica (comum)
Hipergiicemia
• Dano cerebral associado ao diabetes crônico
o Arterioloesclerose acelerada, diminuição cognitiva
o RM: i volume cerebral, t hiperintensidades na SB
• Dano cerebral hipoglicêmico agudo
o cetoacidose diabética (CD)
o Estado hiperosmolar hiperglicêmico (EHH)
o Hemibalismo-hemicoreia induzido pela
hipergiicemia (HHH)
• Imagem
o CD: edema cerebral vasogénico +-desmielinização
osmótica
o EHH: hipointensidade na SB subcortical 32-17C 12* GRE mostrando mínima hipointensidade
o HHH: encurtamento de TI unilateral nos núcleos da
no globo páiido E5] e artefato ou susceptibilidade
base
magnética não significativo, que seria sugestivo de he
morragia. (K. K. Oguz, MD.)
932 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

Distúrbios da tireoide
Os distiírbios da tireoide são doenças metabólicas relati
vamente comuns que muitas vezes são leves e raramente
afetam a função cerebral. Entretanto, muitos achados de
imagem - alguns deles evidentes - são associados com
doença tireoidiana. Alguns podem ser confundidos com
doenças mais sérias {p. ex.. hiperplasia hipofisária induzi
da pelo hipotireoidismo mimetizando adenoma hipofisá-
rio), e alguns (p. ex., encefalopatia de Hashimoto) podem
ocasionar risco à vida.
O hipotireoidismo pode ser congênito ou adquirido.
A discussão sobre doenças da tireoide será iniciada com
o hipotireoidismo congênito, dando-se então atenção às
doenças hipotireoidianas adquiridas e suas manifestações
32-18 A tireolde embfionáfia migra inferiormente da de imagem. A seção terminará com uma rápida conside
lingua para o pescoço. A tireoide ectópica pode ocorrer ração sobre as doenças hipertireoidianas e seus efeitos no
em qualquer lugar ao longo do dueto lireoglosso B.
SNC.

Hipotireoidismo congênito
O hipotireoidismo congênito (HC) ocorre em 1:2.000 a
4.000 recém-nascidos e é uma das causas previniveis mais
comuns de retardo mental. Se o diagnóstico e o tratamen
to inicial forem feitos dentro de algumas semanas após o
nascimento, o neurodesenvolvimento costuma ser normal.
Recém-nascidos com HC normalmente têm algum re
síduo inicial de função tireoidiana devido ao T4 materno
que cruza a placenta do feto. Com uma meia-vida de seis
dias, no entanto, o T4 materno será metabolizado e excre
tado quase por completo com 3 a 4 semanas de idade.
Nos países desenvolvidos, com os programas de
rastreamento dos recém-nascidos, a maioria das crian
ças com HC é diagnosticada logo após o nascimento. O
32-19 Gráfico sagital mostrando localizações possí
hormônio tireoestimulante (TSH, de thyroid-siimidatmg
veis da tireoide ectópica. A maioria ocorre ao longo do hormone) sérico é elevado (em geral mais de 20 a 30
dueto tireoglosso, mas pode ocorrer em qualquer lugar mu/L). Em países menos desenvolvidos, o HC costuma
(p. ex., subesternal). ser diagnosticado tardiamente na infância quando achados
clínicos suspeitos levam a um teste de função da tireoide
ou a exames de imagem. O achado clinico mais visível é a
face sugestiva de "cretinismo", um termo não mais usado
devido a suas implicações pejorativas.

Etiologla e apresentação
o HC pode ser causado por disgenesia tireoidiana, dis-
-hormonogenesia ou hipotireoidismo central. A deficiên
cia de iodo e a doença tireoidiana materna também podem
causar hipotireoidismo nos recém-nascidos.
Fatores maternos. O HC transitório pode ocorrer em re
cém-nascidos pré-termo em áreas com deficiências endê
micas de iodo ou em famílias com história de bócio.
Na tireoidite autoimune materna, anticorpos IgG
atravessam a placenta e podem bloquear a produção da
32-20 Gráfico mostrando eixo hipolalãmico-hipo-
tireoide fetal. Medicação ou terapia com 1-131 para o hi
fisário e tireoide. Observar que T3 e T4 B inibem a potireoidismo materno ou câncer também pode agir ad
estimulação hipotalãmíca e hipofisária da tireoide. versamente no feto.
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 933

32-21 Visão anterior de Tc-99m em uma criança com HC não mos 32-22 Imagem de um menino de 13 anos com piora do hipotireoidis-
trando captação em qualquer das localizações possíveis para o tecido mo, provavelmente secundário a um defeito de organificaçâo, mostran
tireoidiano, incluindo a orofaringe/base da língua 0b], o pescoço SI e do uma tireoide bilobada com uma captação muito baixa SI. (Cortesia
o mediastino [^. (Cortesia de J. P. 0'Maley, MD.) de J. P. 0'Maley, MD.)

OlSGENESiA DA TIREOIDE. A dlsgenesia da tireoide é a causa Hipotireoidismo central (secundário). Disfunções hipofi-
mais comum de HC, correspondendo a 70 a 75% dos ca sárias ou hipolalâmicas causam 10 a 15% dos casos de
sos. A falha do desenvolvimento normal da glândula ti HC. A glândula é formada normalmente, mas o eixo hi-
reoide inclui uma formação anormal da glândula e uma potálamo-hipófise-tireoide é interrompido (Fig. 32-20). A
descida aberrante da tireoide. maioria dos casos de hipotireoidismo secundário é causa
O tecido da tireoide ectópica corresponde a 25 a da pela redução do TSH hipofisário e costuma ocorrer em
50% dos casos com disgenesia da tireoide. A ectopia pode combinação com a deficiência de hormônio hipofisário.
ocorrer em qualquer lugar ao longo do dueto tireoglosso O denominado hipotireoidismo terciário devido à redução
embrionário (Fig. 32-18), a via que segue a tireoide em do TSH liipotalâinico é raro em crianças.
desenvolvimento enquanto ela desce da base da língua ao
pescoço (Fig. 32-19). A produção de hormônio na tireoide Imagem
Estudos de imagem na face e no pescoço demonstram
ectópica é baixa (apesar da presença de tecido funcionan-
uma tireoide ectópica em mais da metade de todos os ca
te), mas não completamente ausente. Em alguns casos, a
sos de HC. Cerca de 90% ocorrem na base na língua, onde
produção hormonal pode ser suficiente para atrasar os sin
tomas clínicos até a adolescência. são vistos como uma massa bem delimitada, arredondada
A agenesia da tireoide ou hipoplasía corresponde a ou ovoide, hiperdensa na linha média na TC sem contras
20 a 50% dos casos de HC e costuma causar hipotireoidis- te, e uma massa iso em TI e hiperintensa em T2 na RM.
mo grave com marcada redução do T4, elevação do TSH e Realce uniforme e intenso após injeção endovenosa de
níveis indetectáveis de tireoglobulina. contraste é típico.
A ausência completa da tireoide e a hipoplasia tireoi-
Ois-HORMONOGENESIA. Erros inatos da biossíntese dos hor diana representam a maioria dos casos remanescentes.
mônios tireoidianos (dis-hormonogenesia) correspondem Estudos nucleares (pertecnetato Tc-99m ou 1-123) não
a 5 a 15% dos casos de HC. Os defeitos ocorrem na bios costumam ser usados para o diagnóstico de disgenesia tí-
síntese. na secreção ou na utilização dos hormônios tireoi reoidiana e demonstram a ausência da captação (nenhuma
dianos, incluindo anormalidades enzimáticas, deficiência atividade em qualquer dos locais esperados) (Fig. 32-21).
de transporte do sódio/íodeto, resistência de TSH com Erros inatos do metabolismo dos hormônios tireoidianos
receptores de TSH anormais nas membranas das células em geral aparecem como tireoides pequenas bilobadas na
foliculares, e resistência do hormônio tireoidiano perifé localização esperada (Fig.32-22).
rico com defeito do receptor de T3 nos núcleos celulares Imagens de RM cerebral em crianças com HC podem
periféricos. mostrar uma discreta atrofia generalizada com redução do
934 Distúrbios tóxicos, metabóíicos, degenerativos e do LCS

volume da SB e menor diferenciação das camadas corti- Doenças hipotireoidianas adquiridas


cais, proeminência das fissuras silvianas e hipointensida- O hipotireoidismo adquirido é muito mais comum que
de em T2 nos globos pálidos e na substância negra.
a variedade congênita, afetando 8 a 9 milhões de norte-
-americanos e muito mais pacientes em todo o mundo.
Diagnóstico diferencial Essa condição tem importantes manifestações na ima
Como a porção central da base da língua é a localização gem: hiperplasia hipoflsária e tireoidite/encefalopatia de
mais comum para a tireoide ectópica (Fig. 32-23), os Hashimoto.
diagnósticos diferenciais mais importantes são malforma
ção venosa ou hemangioma, tonsila lingual proeminente/ Hiperplasia hipoflsária
assimétrica e neoplasias (linfoma não Hodgkin). A tireoi O aumento da glândula hipofisária é comum em mulheres
de lingual pode expandir de modo significativo durante a
jovens no período menstrual e durante a gravidez/lacta-
puberdade. Em 75% dos casos, a tireoide lingual é o úni çào. Aumento não fisiológico do volume da hipófise - au
co tecido tireoidiano fiincionante: isso não deve ser con mento hipofisário patológico - é muito menos comum e
fundido com um tumor e removido (Figs. 32-24 e 32-25). costuma ocorrer em resposta a uma insuficiência de al
A malformação venosa exibe uma hiperintensidade gum órgão.
em T2 proeminente. Um hemangioma infantil da via aé O hipotireoidismo pode resultar em hiperplasia ce
rea superior costuma ser subglótico e assimétrico. Um he lular secundária a TSH e aumento simétrico da glândula
mangioma transglótico envolve múltiplas estruturas, não hipofisária, podendo mimetizar um adenoma hipofisário
apenas a base da língua. O tecido tonsílar proeminente/ nos exames de imagem. A hiperplasia hipofisária fisioló
assimétrico tem a mesma densidade/intensidade de sinal gica e a não fisiológica são discutidas com detalhes no
que as outras estruturas linfoides. Capítulo 25. A maioria dos casos de hiperplasia hipofi-

32-23 Gráfico axial mostrando


uma tireoide sublingual SI na
linha média posterior da língua,
profundamente ao forame cego.
Contorno muito definido e uma
localização na linha média na
base da língua ou no soalho
da boca são típicos da tireoide
lingual.
32-24 TC com contraste mos
trando tireoide lingual clássica
B. vista como uma massa na
linha média com realce uniforme
na base da língua.

32-25A TI sagital em uma


menina de 13 anos com hipoti
reoidismo mostrando uma massa
bem delineada E2 na base da
língua. A massa é isointensa
com a musculatura intrínseca da
língua.
32-25B TI axial na mesma
paciente mostrando que a massa
B está localizada na linha mé
dia e é bem demarcada. Tireoide
lingual clássica.

m
1.-.V
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 935

32-26A T2 axial em uma mulher de 51 anos com encefalopatia de 32-26B FLAIR na mesma paciente mostrando o envolvimento da SB
Hashimoto aguda mostrando hiperinlensidades confluentes e simétricas subcortical frontal poupando os lobos occipitais.
na S6 subcortical e profunda.

sária induzida pelo hipotireoidismo reverte com a terapia podem ser inicialmente diagnosticados de modo errôneo
de reposição de hormônio da tireoide. Cuidado: qualquer como tendo uma demência "pré-senil".
homem na pré-puberdade que apresente um "macroade- Imagem. Cerca da metade de todos os pacientes com ence
noma hipofisário" nos estudos de imagem deve ter uma
falopatia de Hashimoto demonstra anormalidades na ima
avaliação endocrinológica detalhada, uma vez que macro-
adenomas são excepcionalmente raros nesse grupo etário. gem. Os achados mais típicos na RM são as hiperintensi-
dades difusas confluentes ou focais em T2/FLA1R na SB
subcortical e profunda periventricular. Os lobos occipitais
Encefalopatia de Hashimoto são relativamente poupados (Fig. 32-26). A encefalopatia
Terminologia e etiologia. A encefalopatia de Hashimoto é de Hashimoto em geral não realça após administração ve-
uma condição rara, mas tratável, geralmente associada nosa de contraste.
com a tireoidite de Hashimoto (TH) e caracterizada por
altos níveis de anticorpos antitireoide. A encefalite de Hipertireoidismo
Hashimoto também é chamada de "encefalopatia respon- A manifestação mais comum do hipertireoidismo na ca
siva a esteroide associada à tireoidite autoimune". Ela é
uma complicação neurológica bem reconhecida da doença beça e no pescoço é a oftalmopatia tireoidiana (doença
de Graves). O envolvimento cerebral no hipertireoidismo
autoimune da tireoide e é a causa mais comum de hipoti
ocorre, mas é muito raro.
reoidismo adquirido.
Os macroadenomas hipofisários secreíores de tirotro-
Ocasionalmente, a encefalopatia de Hashimoto ocorre
pinas causam hipertireoidismo devido à síndrome de se-
com um hipotireoidismo "iatrogênico" grave, geralmente
creção inapropriada de TSH. Os estados hipocortisolêmi-
com reposição hormonal inadequada seguida de tireoidec-
cos (p. ex., síndrome de Sheehan com necrose hipofisária
tomia ou tratamento com I-131 radioativo.
peri ou pós-parto) também podem precipitar hiperimuni-
Aspectos clínicos. A encefalopatia de Hashimoto ocorre dade e hipertireoidismo autoimune.
tanto em crianças quanto em adultos, e existe uma preva Existe um aumento da prevalência de distúrbios psi
lência moderada no sexo feminino. quiátricos e de comportamento em pacientes com hiper
A maioria dos pacientes apresenta-se com encefalo tireoidismo, incluindo o hipertireoidismo apatético e a
patia aguda ou distúrbios neuropsiquiátricos graves (algu demência hipertireóidea. A tireotoxicose também pode
mas vezes chamados de "loucura mixedematosa"). Outros causar distúrbios de consciência. Crises convulsivas, nor
sintomas comuns incluem crises convulsivas (66%), mio- malmente do tipo generalizada tônico-clônica, ocorrem
clonos (38%) e infarto cerebral (27%). Ocasionalmente, em menos de 1% dos casos.
os pacientes apresentam-se com mais declínio cognitivo Exames de imagem do encéfalo no hipertireoidismo
gradual e alterações da personalidade. Esses pacientes são incomuns. Alguns poucos casos de hipertensão in-
936 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

tracraníana idiopática aguda ("pseudotumor cerebral")


associados com hipertireoidismo foram relatados.
Devido aos efeitos no fator de atividade VIII, o hi
pertireoidismo já foi relatado como um fator de risco in
dependente para trombose venosa durai. A doença de
Graves Já foi relatada como uma causa rara de hiperin-
tensidade transitória no esplênio do corpo caloso e uma
síndrome autoímune desmíelinizante niultifásica tipo
cscicrose múltipla.

DISTÚRBIOS DA TIREOIDE

Distúrbios do hipotireoidismo congênito


• Etloiogld
o DIsgenesia tireoidiana, disormonogênese,

32-27 TC sem contraste da calota craniana de um pa hipotireoidismo central


• Imagem
ciente com tiiperparatlreoldismo mostrando os focos ca
o Tireoide ectópica em 50% (90% na base da língua)
racterísticos "sal e pimenta" de reabsorçáo e esclerose.
o Não deve ser confundido com neoplasia

Distúrbios do hipotireoidismo adquirido


• Hiperplasía hipofisária
o Homens pré-púberes com hipófise "gorda"
• Encefalopatia de Hashimoto
o Edema da SB (poupa os lobos occipltais)

Hipertireoidismo
• Oftalmopatia tireoidiana (doença de Graves)
f' >.t t" '
• Raramente é realizado exame de imagem do
cérebro

Distúrbios da paratireolde
V-
As glândulas da paratireoide estão localizadas no espa
32-28A TC sem contraste em hiperparatireoidismo ço visceral do pescoço. Elas normalmente apresentam o
mostrando Ca+» bilateral e simétrico nas cabeças dos tamanho e a morfologia de um grão de feijão e são mui
núcleos caudados, no putame, no globo pálido e no to aderentes à superfície posterior dos lobos da tireoide.
tálamo. Alguns Ca++ estão na junção SB-SC.
As glândulas paratireoides ectópicas são encontradas em
2% dos casos, geralmente logo abaixo do polo tireoidia-
no inferior, mas também podem ser encontradas da região
cervical superior até o mediastino. A maioria dos pacien
tes tem quatro glândulas paratireoides, 10% têm cinco ou
mais. e 3% têm três ou menos.
As anormalidades metabòlicas relacionadas à dis-
função hormonal da paratireoide incluem o hiperpara
tireoidismo primário e secundário, assim como o hi-
poparatireoidismo, o pseudo-hipoparatireoidismo e o
pseudo-pseudo-hipoparatireoidismo.

Hiperparatireoidismo
As glândulas paratireoides controlam o metabolismo do
cálcio produzindo o hormônio da paratireoide (PTH, de
parathyroid hormone). O hiperparatireoidismo (HPT) é a
32-286 TI coronal do mesmo paciente mostrando doença clássica de reabsorção óssea; portanto, anormali
encurtamento de Ti com hiperintensidades simétricas dades na imagem podem ser vistas tanto na calota crania
nos núcleos caudados S3 e nos núcleos da base na quanto no cérebro.
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 937

O HPT pode ser um distúrbio adquirido (comum) ou caracterizada por carcinoma medular da tireoide (99%), fe-
herdado (raro). Ambas as condições são brevemente dis ocromocitoma (50%) e tumores da paratireoide (20 a 30%).
cutidas neste capítulo. O HPT também pode ser primário,
Aspectos clínicos. O HPT primário é mais comum em adul
secundário ou até mesmo terciário. Devido ao aumento
tos de meia-idade e idosos, sendo relativamente raro em
do número de pacientes em diáüse, o tipo mais comum
crianças. Existe uma grande predominância no sexo femi
atualmente é o HPT secundário.
nino. O HPT primário é caracterizado por hipercalcemia e

Hjperparatlreoidismo primário hipofosfatemia (o cálcio sérico é elevado; o fósforo sérico


é normal ou reduzido). O HPT costuma serassintomático.
Etidlogia. No HPT primário, níveis altos de PTH resul Os sinais gerais em pacientes com HPT sintomático são
tam em reabsorção óssea desnecessária. A causa mais
caracterizados como "pedras, ossos, gemidos abdominais
comum do HPT primário é o adenoma da paratireoide. e lamentos psíquicos" (do inglês stones, hones, abdominal
responsável por 75 a 85% dos casos. A segunda etiologia groans, and psychic moans).
mais comum é a hiperplasia paratireóidea não neoplásica
Uma entidade recentemente descrita (e controversa) é
(10 a 20%). O carcinoma da paratireoide é raro, represen chamada de "HPT primário normocalcêmico". Os pacien
tando apenas 1 a 5% dos casos.
tes têm um nível de PTH elevado, mas um cálcio sérico e
O HPT primário esporádico é muito mais comum que
um nível de vitamina D normais.
o HPT hereditário. As mais importantes sindromes herda
das associadas com HPT primário são a neoplasia endócrina Imagem. A TC óssea demonstra lesões "em sal e pimenta"
múltipla (NEM tipo 1, NEM tipo 2a) e o HPT familial isola difusas na calota craniana. Elas são causadas por focos
do. Os maiores achados em pacientes com NEMl incluem o de reabsorção óssea intercalados com esclerose variada
tumor da paratireoide (95%), o tumor pancreálico neuroen- (Fig. 32-27). Reabsorção simétrica bilateral da lâmina
dócrino (40%) e a neoplasia hipofisária (30%). A NEM2a é dura dos dentes pode estar presente.

32-29A TC axial óssea em um


paciente com HPT secundário
mostrando leontíase óssea com
espessamento da calota craniana
e "tumores marrons" focais es-

r \
cleróticos S!.
32-29B TC óssea coronal no
mesmo paciente mostrando um
intenso espessamento da calota
craniana.

32-30A TC sem contraste


em um homem de 31 anos com
doença renal crônica avançada
e diálise de longa data mos
trando intenso espessamento e
depósitos de placas ao longo do
tentório ES. Observar a ausên
cia de calcificações nos núcleos
da base.
32-30B TC sem contraste
mais cefálica no mesmo paciente
mostrando focos adicionais de
calcificações durais ES.
938 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

32-31A TI sagital em um ho
mem de 34 anos com uma his
tória de 25 anos de insuficiência
renal em diálise, HPT secundário
conhecido e macrocefalia. Ele
desenvolveu redução da visão
e espessamento dos discos óp
ticos. Observar o espessamento
marcado da calota craniana B,
com múltiplos 'tumores mar
rons" e pannus espessado e
caicificado ao redor do odontoide
B a
32-31B TI sagital no mesmo
paciente mostrando espessa
mento da parede da órbita E3
e da calota craniana. Observar os
"tumores marrons" proeminen
tes bem delimitados de intensi
dade de sinal variável

32-31C TI axial mostrando


espessamento acentuado da ca
lota craniana e lesões focais.
32-31D T2 mostrando calota
craniana espessada B e múl
tiplos "tumores marrons" de in
tensidade de sinal variável Bi.
Observar que algumas das lesões
mais híperíntensas B9 são qua
se invisíveis em TI à esquerda.

32-31E FLAIR mostrando


crânio espessado e "tumores
marrons" multifocais. O encéfalo
subjacente aparece normal.
32-31F TI coronal com
saturação de gordura mostrando
que um dos "tumores marrons"
realça B. Observar a dura es
pessada B. o osso espessado
causa redução significativa do
volume das órbitas com com
pressão da bainha dos nervos
ópticos B no ápice orbitário.
(Cortesia de S. Chung, MD.)
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 939

Os achados mais comuns no cérebro são calcificação A DRC de longa data também pode resultar em calcifíca-
dos núcleos da base na TC sem contraste. Depósitos si ções extensas nas carótidas internas e externas.
métricos bilaterais nos globos pálidos, no putame e nos
núcleos caudados são típicos. Os tálamos, a SB subcorti Hlperparatireoldismo terciário
cal e os núcleos denteados também podem estar afetados o HPT terciário resulta de um HPT secundário de longa
(Fig. 32-28A). data e raramente é visto. A glândula paratireóidea toma-se
A RM mostra encurtamenlo simétrico em TI e hi-
hiperplásica e não responde de modo apropriado aos níveis
pointensidade em T2 nos núcleos da base (Fig. 32-28B). de cálcio sérico (i.e., funciona "autonomicamente"). Os
Artefato de susceptibilidade magnética discreto a mode achados de imagem são similares aos do HPT secundário.
rado em T2* (GRE, SWI) é típico. "Tumores marrons"
- lesões não neoplásicas solitárias ou múltiplas da calota
Distúrbios da hipoparatireoide
craniana - são comuns (ver a seguir).
Três tipos de hipoparatireoidismo são conhecidos: hipo-
paratireoidismo, pseudo-hipoparatireoidismo e o pseudo-
HIperparatirGoidlsmo secundário
-pseudo-hipoparatireoidismo. Todas as três doenças com
Etiologia. o HPT secundário é caracterizado por hiperse-
partilham achados comuns nos exames de imagem do
creção de PTH e hiperplasia da glândula paratireoide. cérebro, embora tenham apresentação clínica e achados
A causa mais comum do HPT secundário é a doença laboratoriais variáveis.
renal crônica (DRC). A maioria dos pacientes em diálise
eventualmente desenvolve o HPT secundário. Outras etio-
Hipoparatireoidismo
logias do HPT secundário incluem deficiência da dieta de o hipoparatireoidismo (HP) é uma doença da infância,
cálcio, distúrbios da vitamina D, redução do metabolismo
em geral apresentando-se por volta dos 5 anos de idade. E
de fosfato e hipomagnesemia.
provável que essa condição seja uma doença autoimune-
Aspectos clínicos. A maioria dos pacientes com HPT secun -mediada com redução da produção do PTH. O HP é ca
dário tem mais de 40 anos no momento do diagnóstico racterizado por hipocalcemia e hipofosfatemia. Espasmo
inicial. Não existe predileção por gênero. O cálcio sérico carpopedal, tetania, crises convulsivas e hiper-reflexia são
é normal ou baixo, o fósforo sérico é aumentado, e o pro apresentações comuns.
duto cálcio-fosfato é elevado. A vitamina D é reduzida, o Calcificações intracranianas são achados típicos na
que quase sempre é secundário à doença renal em vez de TC sem contraste (Fig. 32-32). Os núcleos da base são
deficiência dietética. os locais mais comuns, seguidos pelo cérebro e pelo cere-
A manifestação comum da DRC é a osteodistrofia belo. Calcificações no tecido subcutâneo são comuns nas
renal. O espessamento maciço da calota craniana e da extremidades, mas raras na cabeça e no pescoço.
base do crânio reduz as dimensões dos canais neurais e Os achados extracranianos mais evidentes são rela
vasculares. O envolvimento progressivo dos nervos cra cionados à osteosclerose. Calcificação no ligamento es-
nianos - mais comumente a neuropatia óptica compres- pinal/ossifícação, formação de osteófitos e entesopatia
siva - e a estenose carotídea com sintomas de isquemia (especialmente ao redor da pelve) são típicas. O HP no
são típicos. adulto é raro e quase sempre é iatrogênico, ocorrendo
Imagem. O HPT secundário afeta primeiro a calota crania inadvertidamente após tireoidectomia. Em contraste com
na e a dura; o parênquima cerebral geralmente é normal. o HP infantil, o HP adulto tem poucos achados nos exa
A TC sem contraste mostra um espessamento acentuado mes de imagem.
da calota craniana e dos ossos da face, uma condição al
gumas vezes descrita como "leontíase urêmica óssea" ou
Pseudo-hipoparatireoidismo
macrocefalia (Fig. 32-29). O pseudo-hipoparatireoidismo (PHP) é causado pela
"Tumores marrons" podem ser vistos tanto no HPT insensibilidade do órgão-alvo e é caracterizado por ele
primário quanto no secundário. Esses tumores represen vação dos níveis de PTH. Obesidade, face arredondada
tam um processo reativo - não neoplásico - causado por e retardo mental são achados clínicos essenciais. A oste

reabsorção óssea osteoclástica. Reposição fibrosa, hemor odistrofia hereditária de Albright (OHA) é um fenótipo
ragia e necrose levam à formação de cistos com aparência específico visto no PHP autossômico dominante e é ca
amarronzada. "Tumores marrons" solitários ou múltiplos racterizada pelos quarto e quinto metacarpos curtos e pela
são vistos na TC óssea como lesões líticas expansivas fo baixa estatura.
cais com margem não esclerótica. A intensidade de sinal
na RM é muito variável, refletindo a idade e a quantidade Pseudo-pseudo-hipoparatireoidismo
de hemorragia, assim como a presença de tecido fibroso e o pseudo-pseudo-hipoparatireoidismo (PPHP) é causa
formação cística (Fig. 32-31). do pela expressão incompleta do PHP (por isso o termo
O achado intracraniano clássico no HPT secundário é "pseudo-pseudo..."). Os níveis de cálcio e fosfato são
um espessamento durai cm placa extenso (Fig. 32-30). normais.
940 Distúrbios tóxicos, metabóíicos, degenerativos e do LCS

32-32A TC sem contraste axial em um paciente de 7 anos com novas 32-32B Imagem um pouco mais cefálica mostrando calcificações
crises convulsivas e HP documentado mostrando calcificações simétricas adicionais.
nos núcleos da base B, com pequenos focos calcificados na Interface
SB-SCBI.

vimento, neoplásicas ou degenerativas e podem afetar


DISTÚRBIOS DA PARATIREOIDE diferentes áreas do encéfalo. Como o lobo temporal é o
local mais comumente afetado, esta seção iniciará com
Hiperparatireoldismo
• Hiperparatireoidismo primário (adenomas da uma breve revisão de sua anatomia macroscópica e de
paratireoide) imagem. Uma atenção especial será dada ao hipocampo,
o "Pedras, ossos, gemido abdominal" uma vez que é o local envolvido na esclerose mesial tem
o Calota craniana em "sal e pimenta" (reabsorçâo
poral, um importante diagnóstico por imagem.
óssea, esclerose) Serão consideradas as manifestações de imagem da
o "Tumores marrons"
crise convulsiva em atividade. Duas doenças clássicas re
o Ca++ nos núcleos da base
• Secundário (insuficiência renal crônica) presentam os efeitos das crises convulsivas crônicas repe
o Osteodistrofia renal calota craniana, face tidas (esclerose mesial temporal) e da atividade epiléptica
espessada (macrocefalia) aguda prolongada (estado epiléptico) no cérebro.
o "Tumores marrons" Depois será discutida a anormalidade recentemente
o Espessamento durai em placa descrita que pode ser vista com crises convulsivas (assim
o Calcificações "em tubo" nas artérias carótidas como a variedade de outros distúrbios), a "lesão transitória
Distúrbios do hipoparatireoldismo do esplênio do corpo caloso". A seção será concluída com
• Três tipos (diferenciados pelos achados clínicos/ a consideração dos achados de imagem da amnésia global
laboratoriais) transitória, que compromete especificamente o hipocampo.
o Hipoparatireoidismo
o Pseudo-hipoparatireoidismo Anatomia norma! do lobo temporal
o Pseudo-pseudo-hipoparatireoidismo
• Todos compartilham os mesmos achados de imagem Aqui, será revisada rapidamente a anatomia geral do lobo
o C3++ nos núcleos da base > cérebro, cerebelo temporal antes de serem apresentados com detalhes os hi
o Ca++ no ligamento espinal, osteófitos pocampos.

Anatomia macroscópica
Lobo temporal. O lobo temporal situa-se inferiormente à
fissura silviana. Sua superfície lateral apresenta três gi
Crises convulsivas e distúrbios relacionados
ros: o giro temporal superior (contém o córtex auditivo
As crises convulsivas podem ser precipitadas por muitas primário), o giro temporal médio (conecta-se com as vias
condições infecciosas, metabólicas, tóxicas, de desenvol- auditivas, somatossensoriais e de associação visual) e o
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 941

giro temporal inferior {contém a mais alta área de asso Nos cortes coronais através do corpo, ele é composto
ciação visual). por duas camadas de SC em formato de U: o como de
O lobo temporal também contém as subdivisões do Ammon e o giro denteado. O corno de Ammon - o hi
sistema límbico (Fig. 32-33). O giro para-hipocampal si pocampo propriamente dito - forma o "U" mais supero
tua-se na superfície mediai do lobo temporal e une-se com lateral, invertido, enquanto o giro denteado forma o "U"
o uncus (Fig. 32-34). inferomedial (Fig. 32-35).
Hipocampo. O hipocampo humano é uma parte do cérebro O corno de Ammon (CA) é subdividido em quatro zo
nas com base na largura, no tamanho celular e na densida
fílogeneticamente antiga que tem um papcl-chave na me
mória. Ele pode ser afetado por muitas doenças neurológi de celular. Essas zonas süo chamadas de CA 1, CA2, CA3
cas comuns, incluindo infarto isquêmico agudo, amnésia e CA4. O CAI (também chamado de setor Sommer) é a
zona lateral mais externa e consiste em pequenas células
global transitória, epilepsia e encefaíite.
O hipocampo é parte do sistema límbico, três áreas em piramidais que são especialmente vulneráveis à anoxia. O
formato de C que circundam o diencéfalo e os núcleos da CA2 curva-se superomedialmente a partir do CAI e con
base (Fig. 32-33). O hipocampo propriamente dito é parte do siste em uma banda estreita de células que são relativa
arco médio, que se estende do lobo temporal ao lobo frontal. mente resistentes à anoxia. O CA3 é uma banda frouxa

Ele está situado no aspecto mediai do corno temporal que se une ao CA4, a zona mais interna. O CA4 é envolto
e salienta-se em seu soalho. O hipocampo tem três seg pelo giro denteado.
mentos anatômicos: a cabeça {pes hippocampus^ a parte
anterior com digitações), o corpo (cilíndrico) e uma cauda Anatomia da imagem
posterior que se estreita e se curva ao redor do esplênio do Os giros temporais superior, médio e inferior são mais
corpo caloso (Fig. 32-33). bem identificados na RM no plano sagital.

32-33 Gráfico sagital mos


trando os três arcos em formato
de "C" do sistema límbico. O
fiipocampo e o indusium gríseum
são mostrados em amarelo. A
cabeça anterior com digitações
B. o corpo B e a cauda E3
do tilpocampo situam-se ao lon
go do soalfio do corno temporal
do ventrículo lateral.
32-34 Gráfico coronal mos
trando o giro denteado S], o
corno de Ammon [S, o giro
para-fiipocampal o sulco hl-
pocampal Si, o sulco colateral
e o corno temporal do ventrículo
lateral SI.

32-35 A histología coronal


mostra as zonas CAI a 4 do corno
de Ammon. As duas camadas de
SC em formato de "U" constituí
das pelo giro denteado Interna
mente IrX e pelo corno de Am
mon externamente B formam
o fiipocampo e são bem vistas. A
S6 (coloração violeta) do alvéolo
SI e da fimbria ÍS é externa à
SC do corno de Ammon.
32-36 T2 coronal de alta reso
lução mostrando um fiipocampo
normal com camadas distintas
de SB e SC.
942 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

32-37 Gráfico coronal de uma EMT típica. O hipocampo direito ÍS 32-38 T2 coronal em um homem de 27 anos com história de epilepsia
é atrofiado e escierótico, com perda de sua arquitetura interna normal. intratável e trauma craniano fechado antigo mostrando uma encefalo-
O como temporal direito SI é alargado, e o fórnice ipsilateral B é maíácia no lobo temporal B. O hipocampo direito reduzido e hiperin-
pequeno. tenso ES é compatível com EMT.

O hipocampo é mais bem retratado no plano coro a fisiopatologia exata de como e por que a EMT se de
nal perpendicular ao eixo longo do hipocampo. Cortes senvolve seja desconhecida, processos inflamatórios ou
finos de inversão-recuperação (IR, de inversion-reco crises convulsivas prolongadas com dano hipocampal
very) (ou 3D TI SPGR [seqüência de pulso gradiente- hipóxico-isquêmico são considerados os candidatos mais
-eco espoliada, de spoiled gradient recalled]), T2 de prováveis.
alta resolução e FLAIR coronal de todo o cérebro são
recomendados. Patologia
Imagens coronais mostram o hipocampo como uma A EMT é caracterizada macroscopicamente por atrofia
estrutura em formato de "cavalo-marinho" imediatamente do hipocampo e das estruturas adjacentes (Fig. 32-37). O
abaixo da fissura coróidea e do como temporal dos ven-
corpo hipocampal (85 a 90%) é o local mais comumente
triculos laterais (FIg. 32-36). O giro para-hipocampal é afetado, seguido pela cauda (60%) e pela cabeça (50%).
separado do giro denteado pelo sulco hipocampal. O sulco Cerca de 15 a 20% dos casos são bilaterais, mas geral
colateral é uma divisão importante que se situa inferolate- mente são assimétricos.
ralmente ao giro hipocampal. As áreas CAI e CA4 são mais suscetíveis ao DHI,
mas todas as regiões do hipocampo podem ser afetadas.
Esclerose mesial temporal Perda neuronal com astrogliose crônica é o achado histo-
A epilepsia do lobo temporal (ELT) é a forma mais co lògico típico.
mum de epilepsia parcial complexa e pode ocorrer com ou
sem esclerose mesial temporal. Aspectos clínicos
Epioemioldgia. Cerca de 10% de todos os indivíduos apre
Terminologia sentam uma crise convulsiva ao longo da vida. Dois ter
A esclerose mesial temporal (EMT) é a fonna mais fre ços dessas crises são convulsivas não recorrentes febris/
qüente de epilepsia relacionada a uma localização. Sua não febris. O pico de prevalência é bimodal (inferior a 1
manifestação mais comum é a crise convulsiva parcial ano e superior a 55 anos). Um terço dos pacientes desen
complexa. volve crises convulsivas repetidas ("epilepsia").
Cerca de 20% dos pacientes com epilepsia têm crises
Etiologia parciais complexas. Dessas crises, 35 a 50% são refratá-
Uma variedade de eventos como trauma ou infecção rias à terapia anticonvulsivante.
pode precipitar crises convulsivas parciais complexas A EMT é um dos tipos mais comuns de epilepsia re
intratáveis (Fig. 32-38). O resultado é a EMT. Embora lacionada a uma localização e representa a maioria dos
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 943

pacientes que são submetidos à lobectomia temporal para anormal com obscurecimento da arquitetura interna do
crises convulsivas. hipocampo é típica. A EMT em geral não realça após a
Demografia. a EMT é uma doença de crianças de mais ida administração endovenosa do contraste.
A difusão mostra hiperintensidade e aumento da difu-
de e de adultos jovens. Não há predileção por gênero.
sidade no ADC (T2 "shine-lhrough"). A espectroscopia na
Apresentação. A maioria dos pacientes com EMT se apre ELT mostra uma redução do NAA no foco epileptogênico,
senta com crises parciais complexas com duração de 1 a presumivelmente secundária à perda neural. Cho e Cr cos
2 minutos. "Auras" precedentes com medo, ansiedade e tumam estar inalterados. Na EMT. o NAA é reduzido - e
sintomas autonômicos associados são comuns. não apenas no hipocampo. Alterações extra-hipocampais
e até mesmo para regiões extratemporais podem ser de
Opções de tratamento. A lobectomia temporal anteromedial
monstradas.
é o tratamento mais comum para a EMT com ELT resis
tente à medicação e é bem-sucedida em reduzir ou elimi Achados na medicina nuclear. Tomografia por emissão de
nar as crises convulsivas em 70 a 90% dos casos. positrons (PET, de positron emission tomography) com
fluordesoxiglicose (FDG) é o procedimento de imagem
Imagem mais sensível para o diagnóstico de EMT. O hipometabo-
Achados na RM. Os marcadores de imagem da EMT são lismo do lobo temporal é o achado típico. A tomografia
encontrados em 60 a 70% dos pacientes com ELT. A IR computadorizada por emissão de fóton único (SPECT,
coronal verdadeira ou a seqüência 3D SPGR mostra um de single photon emission computed tomography) mos
hipocampo reduzido com atrofia do fórnice ipsilateral e tra hiperperfusão na zona epileptogênica durante ativi
alargamento do corno temporal adjacente e/ou da fissura dade epiléptica. Hipoperfusão no período interictal é
coróidea (Fig. 32-39). A hiperintensidade em T2-FLAIR c o m u m .

32-39A IR coronal verdadeira


em uma mulher de 37 anos com
ELT mostrando uma redução vo-
/

A lumélrica do hipocampo esquer


do o fórnice ipsilateral B
é pequeno.
/ 32-39B T2 coronal com cortes
finos na mesma paciente mos
trando que o hipocampo esquer
do reduzido é hiperintenso BI.
O corno temporal B é discreta
mente alargado em comparação
com o lado direito.
^ i

32-39C PET com FDG sagital


mostrando um hipometabolismo
intenso no lobo temporal afetado
B
32-390 PET com FDG coronal
na mesma paciente mostran
do que todo o lobo temporal
esquerdo ES é intensamente
hipometabólico. Observar o me
tabolismo reduzido no lobo tem
poral direito BI, possivelmente
refletindo crises convulsivas
crônicas subclínicas.
944 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

32-40A T2 axial em um homem de 30 anos com estado epiléptico mos 32-408 Difusão no mesmo paciente mostrando restrição aguda em
trando que ambos os hipocampos estão edemaciados e híperintensos ES. ambos os hipocampos B.

Angiografia. No passado, a maioria dos pacientes com portam-se como o líquido cerebrospinal (LCS) e supri
ELT intratável que eratn candidatos para ressecçào do mem na FLAIR.

lobo temporal realizava um teste de Wada (teste amo-


barbital intracarotídeo) para avaliar a lateralizaçào da Estado epiléptico
linguagem e estimar o risco pós-operatório de distijrbios
de memória. Com as novas técnicas não invasivas, como
Terminologia
o mapeamento pela ressonância magnética funcional em o estado epiléptico (EE) é uma atividade epileptogênica
repouso, a utilização do teste de Wada está diminuindo prolongada (mais de 30 minutos), contínua, com o eletro-
precipitadamente. Ele não é mais usado em muitos cen encefalograma (EEG) demonstrando atividade epiléptica.
tros de epilepsia. Duas ou mais crises sem uma recuperação completa entre
os eventos também são consideradas EE. O EE pode ser
Diagnóstico diferencial focai ou generalizado; EE convulsivo e generalizado re
O maior diagnóstico diferencial da EMT é o estado epi presenta um risco potencial à vida se não for controlado.
léptico, que pode ser subclinico e causar edema geral tran
sitório com hiperintensidade em T2/FLAIR e/ou realce no Etiologia
córtex afetado, assim como no hipocampo. Atividade ictal prolongada induz um hipermetabolismo
Um glioma de baixo grau (astrocitoma de grau 2 com aumento da utilização da glicose. A perfusão aumen
pela OMS, oligodendroglioma, oligoastrocitoma) no lobo ta, mas ainda é insuficiente para a demanda de glicose.
temporal pode causar ELT resistente à medicação. Os O resultado é uma produção de energia celular compro
gliomas costumam ser hiperintensos em T2/FLA1R e cau metida, edema celular citotóxico e edema vasogênico.
sam efeito de massa, não perda volumétrica. Neoplasias Com a atividade epiléptica grave prolongada, a barreira
corticais associadas com ELT incluem tumor neuroepite- hematoencefálica pode se tomar permeável, permitindo o
lial díscmbrioplásico (DNET). Os DNETs costumam ser vazamento de líquidos e macromoléculas para o espaço
massas bem delimitadas e "bolhosas" que geralmente es e x t r a c e l u l a r.

tão associadas com displasia cortical adjacente. A displa-


sía cortical é isointensa com a SC. mas com freqüência Patologia
causa hiperintensidade em T2 na SB subjacente do lobo Edema vasogênico e/ou citotóxico transitório causa ede
temporal. ma cortical que costuma poupar a SB subjacente.
Lesões com aspecto cístico no lobo temporal que são
hiperintensas em T2 incluem espaços perivasculares Aspectos clínicos
proeminentes, remanescentes do sulco hípocampal e o EE ocorre em todas as idades, mas o pico de apresen
cistos da físsura coróídea. Essas lesões benignas com tação é em adultos jovens. Não há predileção por gênero.
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 945

32-41A FLAIR axial em um


paciente com EE por três dias an
tes do exame de imagem mos
trando um edema girai difuso e
fiiperintensídade com distribui
ção não vascular B. Observar
a S8 subjacente relativamente
poupada ÍS.
32-41B FlAIR na altura dos
ventrículos laterais mostrando
que o tálamo Ipsilateral também
está envolvido B. O edema
cortical B poupa a SB subja
cente IS. O hemisfério esquer
do aparece normal.

32-41C A hiperintensidade
giriforme poupando a coroa ra
diada é ilustrada.
32-41D Difusão do mesmo

paciente mostrando restrição no


córtex afetado B. A SB subja
cente e o hemisfério esquerdo
são poupados.

32-41E Difusão na altura dos


ventrículos laterais demonstran
do restrição giriforme B que
cruza todos os três territórios
vasculares. Observar um envolvi
mento do tálamo ipsilaieral B.
32-41F Mapa ADC confir
mando a restrição da difusão
nas mesmas áreas, vista aqui
como uma hipointensidade in
tensa B em comparação com
o hemisfério cerebral esquerdo
normal.
946 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

Imagem As imagens realizadas semanas a vários meses de


Aspectos gerais. Os achados de imagem do EE variam com pois do BE mostram anonnalidades estruturais em cerca
a acuidade e a gravidade. A maioria das anormalidades de um terço dos pacientes. As anormalidades pemianentes
relatadas incluem atrofia cerebral focai, necrose cortical
peri-ictais agudas é reversível e normaliza dentro de al
laminar, EMT e baixa anisotropia fracionada na SB de
guns dias. Alterações irreversíveis ocorrem especialmente
no EE com crises convulsivas generalizadas. aparência normal.

Achados na TC. A TC axial sem contraste pode ser normal Diagnóstico diferencial
ou mostrar um edema girai com apagamento dos sulcos e O maior diagnóstico diferencial do edema cerebral peri-ictal
hipodensidade no parcnquima. A TC com contraste pode é Isquemla-infarto cerebral agudo. A isquemia cerebral
demonstrar um realce girai em uma distribuição não vas aguda ocorre em uma distribuição territorial vascular típi
c u l a r. ca. apresenta formato de cunha (envolvendo a SC e a SB)
Achados na RM. A RM peri-ictal mostra hiperintensidade e é positiva na difusão anles que a hiperintensidade em T2/
em T2/FLAIR com edema girai (Fig. 32-40). A SB sub FLAIR se desenvolva. No EE contínuo, as alterações de si
cortical e profunda é relativamente poupada. Diásquise nal na difusão e em T2 costumam ocorrer simultaneamente.
cerebelar cruzada, envolvimento talâmico ipsilateral e le Cerebrite pode causar massa hiperintensa em
sões nos núcleos da base são vistos em alguns casos. T2/FLAIR que se restringe na difusão. A cerebrite costu
O realce giriforme em TI C+ varia de nenhum a in ma envolver a SB subcortical, assim como o córtex. A en-
tenso. A restrição da difusão com lesões hipocampais uni cefalite herpética em geral é precedida por um pródromo
ou bilaterais, talâmicas e corticais é comum (Fíg. 32-41). viral, afeta o sistema límbico, freqüentemente é bilateral,
Estudos pRM e pTC ictais demonstram hiperperfusão. mas assimétrica, costuma demonstrar hemorragias pele-
quiais e apresenta realce.

32-42A Uma mulher de 20


anos tinha suspendido a me
dicação anticonvulsivante três
semanas antes desse exame. A
T2 mostra uma lesão hiperinten
sa arredondada bem delimitada
no meio do esplênio do
corpo caloso.
32-42B Difusão na mesma
paciente mostrando restrição na
região B.

32-42C T2 três meses depois


mostrando que a lesão se resol
veu completamente.
32-420 Difusão de controle
não mostrando anormalidades.
Neste caso, a paciente não apre
sentou crises convulsivas, por
tanto a lesão transitória do corpo
caloso foi considerada secundária
á retirada da medicação anticon
vulsivante.
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 947

A cncefalopatía mítocondríal com acidosc lúctiea Imagem


e episódios semelhantes a acidente vascular cerebral
Nos estudos de imagem, as LETs são lesões arredonda
(MELAS, de mitochondrial encephalopathy with lactic das a ovoides, homogêneas, não hemorrágicas, centradas
acidosis and stroke-like episodes), em sua apresentação
no espiênio do corpo caloso. Elas são discretamente hi-
inicial, pode afetar o cortex em uma distribuição não vas
cular. Os sintomas são aqueles de isquemia, não crises pointensas em TI, demonstram uma hiperintensidade em
T2/FLA1R, não realçam e apresentam restrição da difusão
convulsivas. A ERM no cérebro não envolvido costuma
demonstrar um pico de lactato. (Figs. 32-42Ae32-42B).
As LETs revolvem completamente em alguns dias ou
A amnésia global transitória causa pequenos focos
semanas, e estudos de imagem de controle são normais
puntiformes de restrição da difusão no hipocampo lateral.
(Figs.32-42Ce32-42D).

Lesões transitórias do espiênio do corpo caloso Amnésia global transitória


As lesões esplênicas transitórias (LETs) adquiridas são
um achado de imagem incomum que pode ser visto em Terminologia
inúmeras condições clínicas com etiologias variadas. A amnésia global transitória (AGT) é um distúrbio neuro
lógico único caracterizado por (1) perda de memória sú
Etlopatologia bita sem outros sinais de comprometimento neurológico
Precisamente como e por que a LET aparece e depois desa ou cognitivo e (2) recuperação clínica completa dentro de
24 horas.
parece é desconhecido. Alguns investigadores propuseram
Como uma síndrome clínica, a AGT é facilmente re
que isso ocorre por uma insuficiência rápida e reversível da
conhecida: o paciente tem amnésia transitória isolada com
regulação no líquido celular. Outros sugeriram uma quebra
focai da barreira hematoencefálica com edema intramielí- consciência normal e nenhum outro distúrbio neurológico
nico nas fibras de decussação que são originadas no lobo ou cognitivo.
temporal. Como a LET aparece e desaparece relativamente
rápido, desmielinizaçào reversível ou mielinólise osmótica
Etíoiogia
transitória parecem ser as etiologias mais prováveis. A etiologia da AGT é desconhecida. Descarga neuronal
paroxística ou fenômeno epiléptico (p. ex., depressão
Condições associadas cortical alastrante, crises convulsivas com dano neuronal
As LETs foram identificadas pela primeira vez em pacien tardio), enxaqueca com aura, infarto isquêinico ou hipo-
tes com epilepsia, sendo inicialmente consideradas uma xia, falência local de energia não isquêmica e congestão
anormalidade reversível relacionada a crises convulsivas venosa têm sido propostos como possíveis mecanismos
e/ou terapia. O uso e a descontinuação dos fármacos antie- patológicos.
pilépticos (FAEs) são as condições mais comumente asso
ciadas. Pelo menos 14 fármacos já foram implicados no Aspectos clínicos
desenvolvimento das LETs, que costumam aparecer entre A maioria dos pacientes com AGT têm entre 50 e 70 anos;
24 horas e três semanas após a descontinuação da terapia a AGT é rara em indivíduos com menos de 40 anos. Não

antiepiléptica. há predileção por gênero. O cenário típico é um paciente


A segunda causa mais comum de LET é infecçào, ge de meia-idade que subitamente começa a esquecer de uma
ralmente encefalite viral. O vírus influenza, o rotavirus, o conversa dentro de minutos e tende a repetir as mesmas
sarampo, o herpes-vírus humano tipo 6, o vírus do oeste questões. Amnésia anterógrada com preservação do es
do Nilo, o vírus Epstein-Barr, o vírus varicela-zóster, a ca- tado de alerta, atenção e identidade individual são acha
xumba e o adenovirus já foram todos relatados com LETs. dos compatíveis. Os EEGs são normais em 80 a 90% dos
A meningoencefalite bactcriana é menos comumente as casos, com os demais mostrando atividade não epilepti-
sociada à LET, forme mínima. Os sintomas resolvem-se em 24 horas ou
Distúrbios metabólicos como hipoglicemia e hipona- menos e não existe sequela clínica a longo prazo.
tremia, abuso agudo de álcool, desnutrição e deficiência Recorrências são relativamente raras (5 a 10% por
de vitamina B12 constituem o terceiro grupo mais comum ano). A avaliação psicométrica não mostra diferença na
de distúrbios associados à LET. Eclámpsia e síndrome performance cognitiva entre pacientes com AGT e indi
hemolítico-urêmica (SHU)Já foram relatadas como raras víduos sadios com idade semelhante. Não há diferença no
causas possíveis. prognóstico em pacientes com lesões positivas na difusão
Outras associações relatadas incluem edema cerebral em comparação com aqueles com estudo normal.
devido a altas altitudes, lúpus eritematoso sistêmico, oclusão
da veia cerebral interna e doença de Charcot-Marie-Tooth. Imagem
Uma variante da LET. na qual as alterações de sinal As TCs são invariavelmente normais, e as sequências-
reversíveis no corpo caloso ocorrem em associação com -padrão da RM (T2/FLA1R) em geral não demonstram
encefalopatia febril, foi recentemente descrita. anormalidades.
948 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

L
A V- K *

f' fèi
r

32-43A FLAIR axial em um homem de 54 anos com AGT não demons 32-43B DTl com b = 3.000 mostrando um único pequeno foco de
trando anormalidades. restrição da difusão no hipocampo lateral direito B, mediaimente ao
corno temporal.

Cerca de 80% dos pacientes com AGT desenvolvem sões da AGT em geral são múltiplas, mas sua localização
anormalidades hipocampais focais na difusão (FIg. 32-43). exclusiva no hipocampo atenua contra infartos cmbólicos.
Cortes finos (três milímetros) obtidos com altos valores de As crises convulsivas podem causar restrição da di
b (pelo menos 2.000) e magnetos com alto campo aumen fusão transitória, mas costumam envolver áreas grandes a
tam a sensibilidade. moderadas do córtex. As lesões puntiformes da AGT são
Os achados típicos da AGT são um ou mais focos distintamente diferentes das restrições da difusão girifor-
puntiformes milimétricos com restrição da difusão na mes corticais vistas no EE e das lesões predominantemente
área CA 1 do hipocampo. Eles aparecem como hiperinten- posteriores vistas nas crises convulsivas hipoglícêmicas.
sidades ao longo do aspecto lateral do hipocampo, me A deficiência de tiamina com encefalopatía de
diaimente ao como temporal. As lesões podem ser ijnicas Wernicke aguda pode se apresentar como um distúrbio
(55%) ou miáltiplas (45%), unilaterais (50 a 55%) ou bi fulminante com preservação relativa do nível de consciên
laterais (45 a 50%). O corno do hipocampo é o local mais cia. As lesões são encontradas no tálamo mediai, nos cor
comumente envolvido, seguido pela cabeça. As anormali
pos mamilares, na região periaquedutal e na placa tectal.
dades na difusão na AGT aumentam de modo significati Os hipocampos são poupados.
vo com o tempo seguindo o início dos sintomas. Entre O e
6 horas, 34% dos pacientes mostram focos de restrição da
difusão. Isso aumenta para 62% em pacientes com exame
de imagem entre 6 e 12 horas e para 67% em pacientes Outros distúrbios
entre 12 e 24 horas. Pelo terceiro dia, 75% dos pacientes
demonstram anormalidades. Imagens de controle costu Doença de Fahr
mam mostrar uma resolução completa ao décimo dia. A doença de Fahr é uma doença hereditária e resulta em
Alguns poucos casos relatados demonstraram tanto calcificações intensas nos núcleos da base. Embora seja
hipoperfusão quanto hipometabolismo no hipocampo na idiopática, será incluída neste capítulo (e não no Capítu
P E T o u n a S P E C T. lo 31 com os distúrbios metabólicos hereditários), pois os
achados de imagem lembram aqueles das doenças meta-
Diagnóstico diferencial bólicas adquiridas.
Os dois maiores diagnósticos diferenciais da AGT são o
acidente vascular cerebral (AVC) e as crises convulsivas. Terminologia
O AVC embólico estratégico isolado na área temporal me A doença de Fahr também é conhecida como calcificação
sial. no tálamo ou no fómice pode produzir uma síndrome dos núcleos da base idiopática familiar, ferrocalcinose cere
amnésica isolada e mimetizar a AGT clinicamente. As le brovascular e calcinose estriopalidodental. Essa condição é
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 949

32-44A TC axial em um ho
mem de SI anos com doença
de Fahr mostrando calcificaçâo
simétrica bilateral na SB cerebe-
íar ^9.
32-44B TC sem contraste
mostrando calcificaçòes muito
densas nos núcleos caudados e
nos globos pálidos ES, assim
como calcificações mais discretas
na SB frontal

32-44C TC sem contraste


mais cefálica do mesmo pacien
te mostrando calcificações nos
putames e nos globos pálidos
laterais E3, poupando rela
tivamente o globo pálido B
mais mediai. Calcificações estão
presentes no pulvinar de ambos
os talamos È. Calcificações
puntiformes são vistas na SB
cerebral.
32-44D Calcificações mais
extensas estão presentes nas
cabeças E2 e nos corpos dos
núcleos caudados.

32-44E TC sem contraste


mostrando calcificações lineares
estendendo-se perpendicular
mente dos núcleos caudados
para a SB cerebral E3.
32-44F TC na altura da coroa
radiada mostrando inúmeras
calcificações lineares discretas
estendendo-se através da SB
cerebral profunda B.
950 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

caracterizada por caicificações nos núcleos da base e extra- O metabolismo do cálcio-fósforo e os níveis de PTH são

gangliônicas, parkinsonismo e sintomas neuropsiquiátricos. normais.

Depósitos de cálcio, junto com outros minerais, em


Etlopatologia geral começam pela terceira década, mas os sintomas se
A etiopatoíogia exata da doença de Fahr é desconhecida. desenvolvem uma ou duas décadas depois, geralmente
Essa condição é uma doença autossômica dominante rara entre 30 e 60 anos de idade. Os achados clínicos seguem
uma distribuição bimodal: psicose tipo esquizofrenia cos
que está relacionada a muitos cromossomos diferentes.
tuma se apresentar no início da idade adulta com sintomas
Patologia extrapiramidais, e demência subcortical predomina em
pacientes com mais de 50 anos.
As autópsias de alguns casos descritos de doença de Fahr
demonstram caicificaçôes acentuadas nos núcleos da Imagem
base, nos táiamos, na SB cerebral, na SE cerebelar e nos Achados na TC. TC sem contraste é o estudo de imagem
núcleos denteados. Vários casos mostram tllas de peque mais sensível. Calcificações extensas bilaterais relativa
nos calcosferitos ao longo dos capilares. Em alguns casos, mente simétricas nos núcleos da base são o achado mais
emaranhados difusos neurofibrilares com calcificações comum, O globo pálido (GP) lateral é mais gravemente
tipo Fahr já foram identificados em pacientes com demên afetado, com preservação relativa do GP mediai. O puta-
cia de Alzheimer de início recente.
me, o caudado. os táiamos, os núcleos denteados do ce-
rebelo e a SB cerebral e cerebelar (incluindo a cápsula
Aspectos clínicos interna) são comumente afetados (FIgs. 32-44A. 32-44B.
A doença de Fahr costuma ser assintomática na primei 32-44C, 32-44D. 32-44E e 32-44F). A doença de Fahr
ra e na segunda décadas. Não há predileção por gênero. não realça na TC com contraste.

32-446 TI axial do mesmo


paciente, assim como mcslrado
na página anterior, moslrando
hiperintensídades relativamen
te simétricas nas cabeças dos
núcleos caudados IS, nos GPs
laterais B e no pulvinar de am
bos os táiamos S9.
32-44H T2 do mesmo pacien
te não demonstrando anormali
dades visíveis.

32-441 12" GRE mostrando


intensas hipointensidades tipo
artefato de susceptibilidade
magnética nas mesmas areas
(cabeças dos núcleos caudados
^3, GP ^3 e pulvinar do tála-
mo IB) como as calcificações
na TC sem contraste e correspon
dendo a hiperintensidades da
imagem Ti anterior.
32-44J T2" GRE mostrando
focos tipo artefato de susceptibi
lidade magnética estendendo-se
perpendicularmente dos núcleos
caudados para a SB profunda
periventricular QJ.
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 951

Achados na RM. As imagens por RM na doença de Fahr nos núcleos da base. Esse achado pode refletira hiper-rea-
podem ser confusas. A intensidade de sinal varia de acor tivaçào com quebra do circuito neural cortical-subcortical
do com o estágio da doença e a quantidade de calcificação responsável pelos episódios psicóticos geralmente asso
c deposição de metal pesado. A calciflcaçao costuma ser ciados à doença de Fahr.
hiperinlensa em TI. mas pode ser muito variável em 12
(Figs. 32-44G, 32-44H e 32-45). T2/FLA1R pode aparecer Diagnóstico diferencial
normal ou discretamente anormal, podendo também mos Calcificações nos núcleos da base são não específicas e
trar extensos focos de prolongamento em T2 nos núcleos podem ser fisiológicas ou resultar de uma variedade de
da base e na SB cerebral que podem ser tão intensos a pon danos tóxicos, metabólicos, inflamatórios e infecciosos. A
to de mimetizarem desmielinizaçào tóxica/metabólica. sublocalização específica da calcificação pode ser muito
A T2* (GRE, SWI) mostra alterações de suscetibili- útil à etiologia.
dade intensas com hipointensidade tipo artefato de sus- O maior diagnóstico diferencial da doença de Fahr é
ceptibilidade magnética secundárias à deposição de ferro a calciticação físiológica nos núcleos da base normal.
(FIgs. 32-441 e 32-44J). A doença de Fahr não realça na Calcificações relacionadas à idade ("senescentes") são co
seqüência TI C+. muns, costumam estar localizadas no G? mediai, são rela
tivamente mínimas e não apresentam significado clínico.
Ultrassonografia. a ultrassonografla transcraniana reali
A doença de Fahr tem calcificações mais pesadas, muito
zada através da janela acústica do osso temporal demons
mais extensas. Essa doença também demonstra calcifica-
tra aumento da ecogenicidade nos núcleos da base, nos
talamos e na substância negra. ção em outras localizações, como os tálamos, os núcleos
denteados e as SBs cerebral e cerebelar.
Medicina nuclear. A SPECT tem demonstrado aumento da Distúrbios da paratircoide (i.e., hiperparatireoidis-
captação nos lobos temporais com redução da captação mo. HP. PHP. PPHP) podem ter calcificações em uma

32-45A TI axial em um pa
ciente com doença de Fahr mos
trando extenso encurtamenlo de
11 nos núcleos da base ES e no
tálamo ES, com envolvimento
relativamente menor dos GPs
mediais B.
32-45B T1 mais ceíálica do
mesmo paciente mostrando en-
curtamentodeTi globular, assim
como puntiforme e linear S
na SB cerebral periventricular
profunda.

32-45C T2 do mesmo pacien


te mostrando focos hiperintensos
irregulares puntiformes e linea
res em ambos os tálamos B.
32-450 Imagem mais cefálica
mostrando hiperintensidades

. 4'
ovoídes na SB cerebral profunda
ES, orientada perpendicular
mente aos venlrículos laterais,
Esses achados de doença de Fahr
não devem ser confundidos com
infartos ou placas de esclerose
múltipla. (Cortesia de M. Ayadi,
MD.)
952 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

32-46A TI axial em um paciente de 31 anos com insuficiência hepáti- 32-46B TI axial C+ mostrando hiperintensidades nos núcleos da base
ca crônica mostrando encurtamento de Ti simétrico nos GPs B. simétricas ES, assim como hiperintensidades nos pedúnculos cerebrais
e na substância negra BI. Esses achados são clássicos de encefalopatia
hepática crônica.

distribuição semelhante à doença de Falir. O HP e o PFIP Encefalopatia hepática


podem ser confirmados pelos níveis séricos de cálcio, fós A encefalopatia hepática (EH) é uma causa importante de
foro e PTH. Todos os três são normais tanto na doença de morbidade e mortalidade em pacientes com doenças he-
Falir quanto no PPHP assintomático, que pode aparecer
idêntico nos estudos de imagem.
páticas graves. A EH é classificada em três grupos princi
pais: EH minima (também conhecida como EH latente ou
subclínica). EH crônica e EH aguda.
CALCIFICAÇÕES BILATERAIS E SIMÉTRICAS DOS Embora os mecanismos exatos responsáveis pela EH
NÚCLEOS DA BASE permaneçam desconhecidos, a elevação dos níveis de
amônia no sangue e no cérebro tem sido fortemente impli
Comuns
• Normal {relacionada à idade; geralmente do globo cada na patogênese da EH.
A amônia é metabolizada primeiramente no fígado
pálido mediai)
• Neurocisticercose pelo ciclo da uréia. Quando a capacidade metabólica do
Menos comuns
fígado é gravemente reduzida, a destoxificação da amônia
• Tóxica é comprometida. Resíduos de nitrogênio acumulam-se e
o Hipoxia cruzam facilmente a barreira hematoencefálica. A amô
o Envenenamento por CO nia e seu principal metabólito, a glutamina, interferem no
o Radioterapia (RxT) metabolismo mitocondrial do cérebro e na produção de
o Quimioterapia energia. A osmolaridade aumentada nos astrócitos causa
• Distúrbios endocrinológicos edema e perda da autorregulação, resultando em edema
o Espectro do hipoparatireoidismo cerebral.
o Hipotireoidismo
• infecção congênita Inicialmente, será discutida a EH crônica, dando-se
o CMV atenção às manifestações agudas da insuficiência hepáti
ca e a sua manifestação mais fulminante, a encefalopatia
o HIV
• Distúrbio mitocondrial liiperamonêmica.
Raras mais importantes Encefalopatia hepática crônica
• Doença de Fahr
• Neurodegeneração associada à pantotenato-quinase A encefalopatia hepática crônica (EHC) é uma síndro-
me clínica potencialmente reversível que ocorre em
(PKAN, de pantothenate kinase-associated neuropathy)
• Hiperparatireoidismo um cenário de disfunçâo hepática crônica grave. Tanto
crianças quanto adultos podem ser afetados. A maioria
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 953

dos pacientes tem uma história de cirrose de longa data,


geralmente acompanhada por HTN portal e shunt por-
tossistêmico.
As TCs sem contraste costumam ser normais ou mos
tram uma discreta redução volumétrica. Na maioria dos
casos, a RM mostra hiperintensidades simétricas e bilate
rais nos GPs e na substância negra em TI, provavelmente
secundárias ao depósito de manganês (Fig. 32-46). A hi-
perintensidade em TI também já foi relatada na glândula
hipofisária e no hipotálamo, mas é menos comum. A TI
no sistema estriatopalidal pode reduzir ou até mesmo de
saparecer após o transplante renal.

Encefalopatla hepática aguda e hiperamonemia


Terminologia. A encefalopatla hepática aguda (EHA) é
causada pela hiperamonemia, que pode ser hepática e não
32-47A TC sem contraste em uma mulher com hi
hepática. peramonemia aguda mostrando edema cerebral diíuso
com apagamento dos sulcos e perda da diferenciação
Etiologia. Enquanto a descompensação hepática aguda
5B-SC.
é a causa mais comum de hiperamonemia em adultos, a
toxicidade por drogas também é uma consideração im
portante. Valproate, asparaginase, acetaminofeno e qui
mioterapia já foram implicados no desenvolvimento da
encefalopatia hiperamonêmica.
Outros casos não hepáticos importantes de hiperamo
4 %
nemia incluem doenças hematológicas, nutrição parente
ral. transplante de medula óssea, infecção do trato urinário

|y
e hepatite geral fulminante.
Anormalidades hereditárias do ciclo da uréia ou
acidemias orgânicas como citrulinemia e deficiência de
ornitina-transcarbamilase são outras causas potenciais de
encefalopatia hiperamonêmica aguda (ver Capitulo 31).
Muitos pacientes com EHA têm múltiplas anorma
lidades sistêmicas e metabólicas. Dano hipóxico, crises
convulsivas e hipoglicemia exacerbam os efeitos tóxicos
agudos da amônia no cérebro.
32-47B T2 mostrando o córtex, os núcleos da base
Patologia. A EHA é caracterizada macroscopicamente por e os talamos mediais difusamente edemaciados e hi-
necrose laminar do córtex cerebral. Edema citotóxico gra períntensos.
ve nos astrócitos com dano neuronal anóxico é o achado
hislológico típico da EHA.
Aspectos clínicos. As manifestações clínicas precoces da
hiperamonemia podem ser vistas com os níveis de amônia
plasmáticos de 55 a 60 mmoI/L. Irritabilidade, letargia,
vômito e sonolência são típicos. Redução progressiva da
consciência, crises convulsivas e coma são as principais
manifestações da EHA grave e geralmente são vistos
quando os níveis de amônia são pelo menos quatro vezes

«LVyrl£ .1
o valor normal.
A EHA é um distúrbio com morbidade e mortalida
de altas. O reconhecimento e o tratamento agressivo são
críticos para o prognóstico do paciente. A estratégia de
manejo tradicional tem focado na redução da geração de
amônia no intestino, embora 15% da amônia se originem
no colo. Estudos recentes têm demonstrado que a admi i r
nistração de L-omitina L-aspartato (LOLA) melhora o es 32-47C Difusão mostrando a restrição nas mesmas
tado mental e reduz os níveis de amônia no LCS. estruturas. Observar a SB subcortical profunda poupada.
954 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

Imagem. Inicialmente, a TC sem contraste mostra apenas


edema cerebral mínimo com apagamento discreto dos sul
cos. Com o aumento do edema cerebral, a diferenciação
da SB-SC é "borrada", os hemisférios tomam-se difusa
mente hipodensos. e pode ocorrer uma hemiação cerebral
descendente central completa (Fig. 32-47A).
Em Ti. os giros aparecem edemaciados e hipointen-
sos. O espaço de LCS é comprimido. Hiperintensidades si
métricas bilaterais em T2/FLAIR no córtex insular, no giro
do cíngulo e nos nijcicos da base são comuns, assim como
a preservação relativa das regiões perirrolândica e occi
pital (Fig. 32-47B). Um dano cortical difuso maior com
envolvimento dos talamos e do tronco encefálico também
é comum. A SB hemisférica costuma ser poupada, embora
algum envolvimento das fibras de associação subcorticais
32-48 Espécie de autópsia coronal da enceíaíopatía possa ser visto em crianças e ocasionalmente em adultos.
bilirrubiníca mostrando uma coloração amarela no GP A EHA restringe fortemente na difusão (Fig. 32-47C).
IrS. (Cortesia de R. Hewlett, MD.) e a RM pode mostrar um pico de glutamina-glutamato no
tempo de eco curto.
Diagnóstico diferencial. Os maiores diagnósticos diferen
ciais da EHA-hiperamonemia são a hipoglicemia, a EHI
e o EE. A hipoglicemia é uma comorbidade comum em
pacientes com EHC. A hipoglicemia aguda costuma afe
tar o córtex parieto-occipital. A glicose sérica é baixa, e a
amônia é normal.
A EHI pode ser difícil de diferenciar da EHA somen
te pelos exames de imagem. No entanto, o envolvimento
simétrico do córtex insular e do giro do cíngulo deve su
gerir EHA. O EE geralmente é unilateral, e os núcleos da
base costumam ser poupados.

ENCEFALOPATIA HEPATICA AGUDA X CRÔNICA

32-49A TI axiai de uma menina de 5 anos com en- Encefalopatía hepática crônica
• Mais comum
cefalopatía bilirrubiníca mostrando hiperintensidade nos • Etiologia
núcleos subtalâmicos E9 e na substância negra B.
o Doença hepática crônica grave (cirrose)
• Imagem
o Hiperintensidade em TI no globo pálido e na
substância negra
o Provavelmente deposição de manganês

Encefalopatía hepática aguda


• Rara
• Etiologia
o Geralmente associada com hiperamonemia
o Descompensação hepática aguda (hepatite viral, etc.)
o Toxicidade por drogas (acetaminofeno, vaiproato,
etc.)
o Nutrição parenteral, infecção

/
4 • Imagem = achados da hiperamonemia
o Giros edemaciados bilateralmente e hiperintensos
em T2-FLAIR
o Mais grave: córtex insular, giro do cíngulo
o +- Núcleos da base, tálamos
32-496 TI sagital da mesma paciente mostrando a o Difusão 4+
hiperintensidade nos núcleos subtalâmicos ESI, no me- o A ERM pode mostrar um pico de glutamina-glutamato
sencéfalo B e nos núcleos denteados ES.
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 955

Encefahpatia bHirrubínica
Terminologia
A encefalopatia biiirrubínica (EB), também conhecia
como kernicterus, é causada pela hiperbllirrubinemia.
Uma forma mais leve da EB crônica é denominada dis-
função neurológica induzida pela bilirrubina (DNIB).

Etiologia
No kernicterus. o fígado é basicamente incapaz de conju
gar a bilirrubina insolúvel em diglicuronídeo de bilirrubi
na solúvel em água.
É incerto como a bilirrubina chega ao cérebro. A hi-
perbilirrubinemia neonatal resulta na bilirrubina não con
jugada passando através da barreira hematoencefálica
imatura ou comprometida.
32-50A T1 dxídl mostrando hiperintensídades no
A hiperbilirrubinemia está associada com inúme mesencétalo B e nos hipocampos E9.
ras condições predisponentes, incluindo prematuridade,
distúrbios hemoliticos (em especial o grupo de incom
patibilidade sangüínea), amamentação, perda de peso
significativa ao nascimento, policitemia e desidratação.
Defeitos herdados ou adquiridos da conjugação da bi
lirrubina, metabolismo da glicose, distúrbios do trânsito
gastrintestina! e drogas que competem com a bilirrubina
por albumina ligante são outros fatores que aumentam o
risco de EB.

Patologia
o principal fator macroscópico patológico é a coloração
amarelada do GP, dos corpos mamilares, da substância
negra, dos núcleos subtalâmicos, do hipocampo, dos nú
cleos denteados e da medula espinal (Fig. 32-48). O maior
achado histológico da EB aguda é a necrose neuronal com
pequena ou nenhuma reação inflamatória. A demonstra
ção de pigmento de bilirrubina dentro dos neurônios é in- 32-50B TI mostrando hiperintensídades intensas
c o m u m .
nos GPs E3 e hiperintensidades menores na cauda dos
hipocampos S.

Aspectos clínicos
Embora a icterícia neonatal seja comum, o kernicterus é
raro em países desenvolvidos. A incidência estimada nos
Estados Unidos é de cerca de cinco casos por ano.
Nem todos os recém-nascidos com kernicterus exi
bem sintomas. Os neonatos com hiperbilirrubinemia evi
dente apresentam sintomas nos primeiros dias de vida.
Icterícia, estupor, hipotonia e dificuldade de sucção são
seguidos por epistótonos e hiper-reflexia.
Os achados em crianças com kernicterus crônico clás
sico variam em gravidade. A maioria mostra algum tipo de
distúrbio de movimento, mais comumente atetose. Outras
anormalidades incluem distúrbios auditivos, comprometi
mento oculomotor (particularmente do olhar para cima) e
dentes com esmaltes displásicos. Retardo mental franco é
relativamente incomum.
Os pacientes com DNIB podem mostrar anormalida 32-50C T2 axial no mesmo nivel não mostrando evi
des discretas do neurodesenvolvimento sem achados clí dência de anormalidades de sinal nos GPs, um achado
nicos clássicos de kernicterus. típico de EB aguda.
956 Distúrbios tóxicos, metabóiicos, degenerativos e do LCS

32-51 Gráfico axial mostrando desmielinização osmólica aguda SI 32-52 T2 axial mostrando desmielinizaçâo osmótica clássica. A ponte
afetando a ponte central. Observar a SB periférica poupada e a posição periférica é poupada, assim como os tratos corticospinais e as fibras
dos tratos corticospinais [S. transversas da ponte.

Imagem mentação e hipergücemia não cetótica. A neurofíbro-


A RM é o procedimento de escolha, uma vez que a TC matose tipo I também pode causar encurtamento discreto
em TI no GP. Seqüelas tardias de intoxicação por mo-
quase sempre é normal. As imagens ponderadas em TI
durante os estágios agudos da EB mostram hiperintensi- nóxido de carbono podem causar encurtamento em TI e
dades simétricas bilaterais nos GPs, nos núcleos subtalâ- hiperintensidade em T2 no GP mediai.
micos, na substância negra, nos hipocampos e nos núcleos
denteados (Fig. 32-49). Os tálamos e o córtex costumam Síndrome da desmielinizaçâo osmótica
ser poupados. Imagens ponderadas em T2 em geral são Distúrbios agudos de eletrólitos e de osmolalidade podem
normais no estágio agudo (Fig. 32-50). causar alterações alarmantes no estado mental. A hiperos-
A EB crônica pode mostrar hiperintensidade em molalidade extrema é rara. O estado hipo-osmolar é muito
T2/FLAIR nas áreas típicas. Esclerose hipocampal bila mais comum, sendo a hiponatremia o estado hipo-osmolar
teral com perda volumétrica e hiperintensidade em T2 é mais freqüente.
c o m u m .

A difusão é normal em ambas as fases da EB (aguda Terminologia


e crônica). A ERM mostra redução da relação NAA:Cho e A síndrome da desmielinizaçâo osmótica (SDO) era ini
NAA:Cr. Recém-nascidos pré-termo com EB podem de cialmente chamada de mielinólise pontina central e/ou
monstrar aumento de glutamina-glutamato. mielinólise extrapontina.

Diagnóstico diferencial Etlologla


Os maiores diagnósticos diferenciais por imagem da EB A SDO classicamente ocorre quando grandes alterações
são as outras doenças que causam anormalidades no GR nos níveis de sódio sérico são induzidas por uma rápida
O GP é uma área de alta atividade metabóíica com de correção da hiponatremia. E desconhecido como exata
manda significativa de glicose e oxigênio, que é, portanto, mente isso resulta em perda de mielina.
vulnerável a inúmeras doenças sistêmicas e metabólicas. Os oligodendrócitos, que formam as bainhas de
Em neonates a termo com suspeita de EB, o maior mielina, são particularmente vulneráveis a alterações
diagnóstico diferencial é o DHl agudo. No DHl em pa osmóticas. A bainha de mielina pode romper-se e divi
cientes a termo, o putame é o sítio mais comumente afe dir-se se o estresse osmótico nos oligodendrócitos for
tado. Hiperintensidades em T2/FLA1R e restrição da difu grave.
são são típicas de DHl, mas estão ausentes na EB. Nos estados hiponatrêmicos-hiperosmolares, a água
Hiperintensidades em TI simétricas bilaterais no GP extracelular move-se para dentro das células com alto
são vistas em insuficiência hepática crônica, hiperali- conteúdo de soluto, levando a edema celular. As células
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 957

glials seletivamente incham após um estresse hipotôni- Patologia macroscópica. Do ponto de vista macroscópico, a
00, enquanto os neurônios não. Disfunções dos canais de ponte central é anormalmente mole e exibe uma área rom-
água específicos da glia - aquaporina-4 e aquaporina-l boide ou em forma de tridente de coloração acinzentada.
- resultam em edema cerebral e aumentam a pressão in A ponte periférica é poupada.
tracraniana. Necrose cortical laminar pode ocorrer na SDO, tan
to primariamente quanto em associação com hipoxia ou
Patologia anoxia. Nesses casos, o córtex afetado aparece mole e
Localização. A SDO é tradicionalmente considerada uma pálido.
lesão pontina (Figs. 32-51 e 32-52). Entretanto, o envol Achados microscópicos. Do ponto de vista microscópico, a
vimento multifocal não é somente comum, mas também SDO é caracterizada por perda de mielina com relativa
característico. Apenas 50% dos casos de SDO têm lesões preservação dos axônios e dos neurônios. A desmielini-
pontinas isoladas. Em 30% dos casos, focos mieiinolíticos zação ativa sem evidencia de inflamação significativa é
ocorrem dentro e fora da ponte. Os núcleos da base e os típica. A presença de astrócitos reativos e macrófagos es
hemisférios cerebrais são sítios comuns. A desmieliniza- pumosos Cfoamy"), carregados de lipídeos abundantes, é
çào da SB é exclusivamente extraponlina em 20 a 25% característica.
dos casos.
Outras partes do SNC que podem estar envolvidas na Aspectos clínicos
SDO incluem o cerebelo (em especial os pedúnculos ce- Demografia e epioemiologia. a SDO é um distúrbio raro e
rebelares médios), os núcleos da base, os tálamos, o corpo sua exata prevalência é desconhecida. Ela pode ocorrer
geniculado lateral e a SB hemisférica. Alguns casos de em qualquer fase da vida, mas é mais comum em pacien
SDO envolvem o córtex. tes de meia-idade (pico = 30 a 60 anos). Existe uma pre-

32-53A TC sem conlraste em


uma mulher de 37 anos com SDO
mostrando uma hipodensidade
triangular centrai na ponte E3.
32-53B TI na mesma pa
ciente mostrando que a lesão é
hípointensa B. As fibras trans
versas da ponte estão poupadas
e são vistas aqui como linhas de
encéfalo preservado B passan

k,#
do de um lado para o outro.

V I
32-53C T2 mostrando a forma
em "tridente" ou em "asa de
morcego" simétrica da mielinóli-
se pontina ES. A ponte periféri
ca está poupada.
32-53D T2 mais cefálíca na
ponte superior mostrando a
■ ' lesão ES com "linhas" de tratos
transversos da ponte mielíni-
zados e preservados B vistos
cruzando a lesão.

y
958 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

valência moderada em homens. Pacientes pediátricos com te. Alguns pacientes sobrevivem com pouco ou nenhum
SDO costumam apresentar diabetes ou anorexia. déficit residual. Em casos graves, o paciente pode se tor
As causas mais comuns de SDO são correção rápida nar quadriparético e evoluir para a síndrome de locked-in.
da hiponatremia, alcoolismo, transplante hepático e des
Opções de tratamento. O sódio sérico inicial na SDO cos
nutrição. tuma estar abaixo de 115 a 120 mmol/L e a osmolalidade
As comorbidades que predispõem ao desenvolvimen
sérica é menor que 275 mOsm/kg. Embora não exista um
to da SDO incluem doença renal, suprarrenal, hipofisária
consenso em relação às taxas de correção da hiponatre
e paraneoplásica. Vômitos prolongados (p. ex., hiperême-
se gravídica), queimaduras graves, transplante e uso pro mia, uma correção de mais de 12 mmol/L/dia parece au
mentar o risco de SDO.
longado de diurético podem contribuir para o desenvolvi A SDO também pode ocorrer (I) em pacientes nor-
mento da SDO.
monatrèmicos e (2) de modo independente em relação às
Apresentação. Os sintomas mais comuns da SDO são altera alterações do sódio sérico.
ção do estado mental e crises convulsivas. Um curso clínico
bifásico é comum. Quando a normonatremia é restaurada, o Imagem
estado mental melhora, mas pode deteriorar-se rapidamen Aspectos gerais. Os achados de imagem na SDO costu
te depois. Outros achados incluem paralisia pseudobulbar, mam aparecer uma ou duas semanas após os sintomas
disartria e disfagia. Distúrbios do movimento são comuns clínicos.
quando a mielinólise envolve os núcleos da base.
Achados na TC. A TC sem contraste pode ser normal ou
História natural. O prognóstico da SDO varia de modo demonstrar hipodensidade nas áreas afetadas, particular
significativo de uma recuperação completa a coma e mor mente na ponte central (FIg. 32-53A).

32-54A TI sagilai em um ho
mem de 44 anos alcoólatra com
vômitos, crises convulsivas e al
teração aguda do estado mental.
A ponte central é discretamente
aumentada e hipointensa
enquanto a ponte periférica B
é poupada.
32-54B T2 no mesmo pacien
te mostrando hiperintensidades
simétricas centrais B poupan
do a ponte periférica (3 e os
tratos corticospinais f^.
4^-

32-54C Axial TI C+ no mes


mo paciente mostrando realce
discreto, mas simétrico na SB
afetada B poupando os tratos
corticospinais S.
32-540 Difusão no mesmo
paciente mostrando restrição
aguda B. A SDO com desmie-
linização aguda pode realçar e
restringir. S
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 959

Achados na RM. As sequências-padrão da RM podem ser Diagnóstico diferencial


normais nos primeiros dias. Eventualmente, a SDO torna- o maior diagnóstico diferencial da SDO "central" é o in-
-se hipointensa em TI e hiperintensa em T2/FLAIR.
farto-isquemia pontina. Infartos das artérias perfuran-
As lesões costumam ser bem delimitadas e simétricas. tes basilares envolvem a superfície da ponte e geralmente
A SDO poniina é arredondada, triangular ou em formato são assimétricos.
de "asa de morcego". A ponte periférica, assim como o
Doença desmielinízantc pode envolver a ponte, mas
trato corticospinal e as fibras transversas da ponte, é pou raramente é simétrica. A FLAIR sagital costuma demons
pada (Flgs. 32-53B. 32-53C e 32-53D). O envolvimento trar lesões em outros lugares, em especial ao longo da in
dos núcleos da base e da SB hemisférica é visto em pelo terface calososseptal.
menos metade de todos os casos. A neoplasia raramente mimetiza SDO. Os gliomas
A T2* (GRE, SWI) não mostra evidência de hemor da ponte podem expandir a ponte e aparecer hiperintensos
ragia. Lesões agudas tardias ou subagudas da SDO po em T2/FLA1R. Eles são as neoplasias de crianças e adul
d e m d e m o n s t r a r r e a l c e m o d e r a d o c o n fl u e n i e e m T I C + tos jovens. Doença metastálica na fossa posterior costuma
(Fig. 32-54). ocorrer no cerebelo, não na ponte.
A difusão é a seqüência mais sensível para SDO agu O maior diagnóstico diferencial da SDO extraponlina
da e pode demonstrar restrição, enquanto outras seqüên com envolvimento dos núcleos da base e/ou cortical é a
cias são normais (Figs. 32-55 e 32-56). A DTÍ mostra des-
doença metabólica. Encefalopatia hípertenslva (PRES)
continuidade da SB pontina central com preservação dos
pode envolver a ponte, mas não poupa os tratos perifé
tratos periférico e transverso (Fig. 32-57). ricos da SB. Os núcleos da base são afetados na doença
dc Wilson e nas doenças mitocondriais, mas a ponte é
menos comumente envolvida.

32-55A FtAiR axial em um


homem de 45 anos mostrando
hiperinlensidades na ponte cen
tral E3. A ponte periférica está
poupada, um achado clássico
da SDO.
3 2 - 5 5 B FL A IR n o m e s m o
paciente mostrando hiperinten-
sidade simétrica nos núcleos
caudados E2 e nos putames
Ba, com hiperintensidades
discretas nos tálamos A SDO
comumente envolve a ponte e
os sítios extrapontinos.

32-56A Uma variação da SOO


é ilustrada por essa imagem
FLAIR axial em um homem de
56 anos com confusão após uma
correção rápida da hiponatremia.
Observar a hiperintensídade nos
núcleos da base E3 e em am
bos os tálamos
32-56B Difusão mostrando
que o córtex também é afetado

> ^ 7 de modo difuso, mas assimétrico


B. Necrose cortical laminar
r - algumas vezes pode ser vista
na SDO.

jf- . B
960 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

32-57A Variação de SDO com


mielinólise pontina e extraponti-

'i
na é ilustrada neste caso de um
homem de 46 anos alcoólatra
que iniciou com hiponatremia
grave seguida de cirurgia, ra
pidamente corrigida. T1 sagilai
mostrando uma banda de hipoin-
tensidade na ponte centrai B,
poupando a periferia.
32-57B T2 mostrando uma
hiperinlensidade pontina central
ES com lesões simétricas nos
dois pedúncuios cerebeiares
maiores S.

32-57C OTI com b = 3.000


mostrando uma área cruciforme
de restrição da difusão na ponte
centrai E3, com grandes áreas
ovoides de restrição da difusão
em ambos os pedúncuios cere
beiares maiores B. •• ^
32-570 DTI mais cefálica
mostrando restrição da difusão
em ambos os corpos genicuiados
laterais E3 e nos núcleos sub-
' k
talâmicos

32-S7E DTI nos ventrículos la


terais mostrando restrição simé é
trica nos segmentos posteriores
de ambas as cápsulas internas í. ;V;. "•
ES e no táiamo S.
32-57F Mapa colorido da DTI \ ê
mostrando as fibras pontinas
periféricas preservadas em verde
E] com ruptura da SB pontina
centrai os tratos pontinos
transversos (em vermelho) estão
-^1. ■■
preservados E3.

' * • V*
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 961

SÍNDROME DA DESMIELiNIZAÇÃO OSMÓTICA (continuação)


• Pode ocorrer sem distúrbios do sódio sérico
Terminologia
• 5D0 (originalmente denominada mielinólise pontina,
Imagem
extrapontina) • Pode ser inicialmente normal
• Hipodensa na TC sem contrast^
Etiologia • Hipointensa em n, hiperintensa em T2
• Estado hipo-osmolar (hiponatremia)
• Correção muito rápida grande fluxo de sódio sérico • Pode restringir na difusão, realça
• Oligodendrócitos especialmente vulneráveis ao
estresse osmótico
Distúrbios do sobrecarga de ferro
Patologia
• Ponte isolada (50%) o ferro é vital para o metabolismo neuronal normal e tem
• Preservação da periferia e dos tratos transversos da um papel-chave no transporte de oxigênio cerebral, no
ponte transporte de elétrons, na síntese de neurotransmissores e
• Ponte + extrapontina (30%) na produção de mielina.
• Núcleos da base, tálamo, SB hemisférica A deposição de ferro cerebral ocorre como parte do
• Exclusivamente extrapontina (20 a 25%) envelhecimento normal. Entretanto, o ferro excessivo é
• +-Necrose laminar cortical
neurotóxico. A ferritina, uma proteína que contém na-
Aspectos clínicos nopartículas de ferro, induz a formação de espécies re
• Qualquer idade; pico = 30 a 60 anos ativas de oxigênio e inibe a captação de glutamato das
junções sinápticas, levando potencialmente a uma neu-
(continua)
rodegeneração.

32-58A TI sagital em uma


mulher de 28 anos com anemia
faiciforme e hemocromatose
mostrando hipointensidade in
tensa na medula óssea da calota
craniana nos divos BI e
na coluna cervical B (com sinal
de "disco brilhante").
32-586 FLAIR axial mostran
do calota craniana espessa e
hipointensa e hiperintensidades
multifocais ao longo da zona
fronteiriça profunda da coroa
radiada B, achados comuns da
anemia faiciforme.

32-58C T2''' GRE na mesma

paciente mostrando hipointen


sidade intensa com artefato de
susceptibilidade magnética nos
plexos coroides B em ambos
os cornos temporais dos ventri-
culos laterais.
32-58D 72" GRE mais cefálica
da mesma paciente mostrando
siderose extensa em ambos os
plexos coroides B.
962 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

Os distúrbios de sobrecarga de ferro envolvem um por trauma, tumor, cirurgia prévia ou hemorragias suba-
grande espectro de etiologias herdadas e adquiridas. As racnóideas repetidas de uma má formação arteriovenosa
doenças hereditárias do metabolismo do ferro são discuti ou de aneurisma. A angiopatia amiloide é uma causa co
das no Capítulo 31. Os distúrbios adquiridos de sobrecar mum de siderose em pacientes idosos.
ga de ferro serão descritos aqui.
Imagem
Terminologia A glândula hipofisárla - em especial o lobo anterior - é
A sobrecarga adquirida de ferro cerebral é chamada de si- muito sensível aos efeitos tóxicos precoces da sobrecarga
derose. Quando o depósito de ferro ocorre ao longo dos de ferro. A deposição progressiva de ferro causa uma hi-
nervos cranianos ou da superfície piai do cérebro, é de pointensidade intensa na hipófise nas seqüências ponde
nominada siderosc superficial. A hcmocromatose é o radas em T2.
acúmulo patológico de ferro intracelular nos tecidos pa- O depósito de ferro nos plexos eoroldes ocorre nos
renquimatosos. casos de discrasia hematológica, como na anemia falcifor
me. As TCs sem contraste costumam ser normais, mas a
Etiologia seqüência T2* (GRE, SWl) da RM mostra hipointensida-
A sobrecarga sistêmica de ferro pode ser causada por des simétricas com artefato de susceptibilidade magnética
discrasias sangüíneas hereditárias ou adquiridas (p. ex., no plexo coroide (Fig. 32-58).
talassemia maior, anemia falciforme, anemia aplásica ou A siderose superficial ao longo das superfícies ce
refratária, doença mielodisplásica) ou por uma absorção rebrais e dos nervos cranianos geralmente é associada
intestinal aumentada de ferro. com hemorragias subaracnóideas repetidas e não dis
Depósitos anormais de ferro podem ocorrer como um tribuídas de modo uniforme. A T2* mostra artefato de
achado de muitas doenças degenerativas. As doenças de susceptibilidade magnética ao longo da pia (superfície
Parkinson e de Alzheimer, assim como a esclerose late girai).
ral amiotrófica e a esclerose múltipla progressiva crônica, O depósito de ferro dentro do córtex e dos núcleos
estão associadas com o aumento do depósito de ferro nos da base é menos comum e está associado com neuro-
núcleos da base. ferritinopatias e síndromes de degeneração cerebral. Hi-
No cérebro, a siderose superficial é mais comum que pointensidades serpiginosas simétricas difusas e núcleos
o acúmulo de ferro dentro do córtex por si só (i.e., he- profundos de SC muito hipointensos são vistos nas se
mocromatose). A siderose superficial costuma ser causada qüências de T2*.
Doenças metabólicas adquiridas e sistêmicas 963

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33
Demências e degenerações cerebrais

A neurodegeneração ocorre quando os neurônios de


o envelhecimento normal do cérebro 967
uma parte específica do cérebro, da medula espinal ou dos
introdução ao envelhecimento normal do cérebro 967
nervos cranianos morrem. Embora a demência sempre
Imagem do envelhecimento normal do cérebro 969
envolva degeneração cerebral, nem todas as doenças neu-
Demências 971
Doença de Alzheimer 971
rodegenerativas são demenciais; algumas doenças neuro-
Demência vascular 977 degenerativas (p. ex., doença de Parkinson) podem estar
Demências frontotemporais 980 associadas com demência, mas a maioria não está.
Demência com corpos de Lewy 984
Outras demências 986

Doenças degenerativas 991


Doença de Parkinson 992 O envelhecimento normal do cérebro
Atrofia de múltiplos sistemas 995
Paralisia supranuclear progressiva 998 Introdução ao envelhecimento normal
Esclerose lateral amiotrófica 999 do cérebro
Degeneração walleriana 1001
Degeneração olivar hipertrõfica 1003 Terminologia
Hemiatrofia cerebral (Dyke-Davidoff-Masson) 1007 Alterações relacionadas à idade ocorrem em quase todas
as partes do cérebro. O termo "envelhecimento normal
Os esforços da saiide pública em todo o mundo para me do cérebro" usado neste capitulo refere-se ao espectro
de achados de neuroimagem relacionados à idade deline
lhorar as condições de vida, prevenir doenças e intensifi
car os tratamentos médicos têm resultado no aumento da
ados pelo Rotterdam Scan Study (RSS), um estudo lon
gitudinal contínuo com base populacional. Tendo início
população idosa. Indivíduos com mais de 65 anos agora
em 1990, o RSS inclui agora seqüências de ressonância
representam 13% da população, totalizando cerca de 20%
pelo ano de 2030. magnética (RM) avançadas e tem incluído pessoas de 45
À medida que a população mundial envelhece, o nú anos e com mais idade que são submetidas a exames de
mero de pacientes com doenças debilitantes e degenera imagem a cada 3 a 4 anos.
O termo "envelhecimento bem-sucedido do cére
ção encefálica também aumenta. A prevalência e a inci
dência de demência aumentam de modo notável entre os bro" refere-se aos pacientes cujos estudos de imagem não
65 e 85 anos. Essa condição já é um dos assuntos mais demonstraram marcadores de doença de pequenos vasos
desafiadores da saúde pública do século XXI e alcançará ("microvascular") como as hiperintcnsidades da substân
níveis quase epidêmicos nas próximas décadas. cia branca com arterioloesclerose e lipo-hialinose, infar-
Entender a biologia e a imagem normal do envelheci tos lacunares silenciosos e microssangramentos.
mento é pré-requisito para se entender a patobiologia das Indivíduos com 65 a 85 anos são considerados ido

doenças degenerativas cerebrais. Desse modo, primeira sos, e o grupo dos pacientes "mais idosos" é formado por
mente serão delineadas as alterações normais relacionadas à aqueles com mais de 90 anos.
idade na estrutura e na função do cérebro. Depois será dada
Genética
atenção à demência e às doenças degenerativas cerebrais.
A demência é uma perda da função cerebral que afeta Fatores genéticos claramente afetam o envelhecimen
a memória, o pensamento, a linguagem, o julgamento e o to cerebral e o declínio cognitivo relacionado à idade. A
comportamento. Ela tem muitas causas, mas, na maioria apolipoproteína E (ApoE) e seis novos polimorfismos
das vezes, ocorre secundariamente a um processo degene únicos do nucleotídeo (PUN) associados no cromossomo
rativo do cérebro. A maior parte das doenças demenciais 17q25 são variações genéticas fortemente associadas com
é irreversível. doença cerebral na RM.
968 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

33-1 Gráfico axial mostrando envelhecimento cerebral normal de um 33-2 Tomografta computadorizada (TC) sem contraste em um homem
paciente normal de 80 anos. Observar a proeminêncla dos sulcos e dos de 100 anos, Independente e cognitivamente normal, que teve uma
ventrículos na ausência de anormalidades parenquimatosas. queda, mostrando um discreto alargamento de sulcos e ventriculos sem
evidências de lesões na substância branca.

Patologia Emaranhados neurofíbrilares (ENs) são causados


Patologia macroscópica. O volume cerebral difuso diminui por agregados de proteína tau dentro dos neurônios. O
com o avanço da idade e é indicado por aumento relativo estadiamento patoanatômico de Braak divide a doença
dos espaços de líquido cerebrospinal (LCS). A proemi- de Alzheimer em seis estágios diferentes com base na
nência dos sulcos com o aumento proporcional dos ven distribuição geográfica dos ENs. Os estágios 5 ou 6 de
triculos é normal (Fig. 33-1). Embora ocorra afilamento Braak são encontrados em 6% dos casos cognitivamente
mínimo do manto cortical com a idade, as alterações neu- normais.

roanatômicas predominantes ocorrem na substância bran Corpos de Lewy são aglomerados intraneurais das
ca subcortical. proteínas a-sinucleína e ubiquitina. Eles são encontra
dos em 5 a 10 dos indivíduos cognitivamente intactos. A
Achados microscópicos. O envelhecimento cerebral fisioló maioria dos pacientes idosos cognitivamente normais com
gico é acompanhado por degeneração ubíqua dos neurô esses marcadores histológicos da patologia de doença de
nios e dos oligodendrócitos. Disfunção neuronal - em vez
Alzheimer (DA) eventualmente desenvolverá DA sinto
de perda neuronal franca - parece predominar, com redu mática. As diferenças entre indivíduos cognitivamente
ção do tamanho celular (em vez de redução do nijmero), normais, pacientes idosos com declínio cognitivo muito
poda dendrítica e perda das sinapses das áreas seleciona sutil e aqueles com DA pré-clínica ou pré-sintomática são
das (p. ex., hipocampo), mas não globalmente. difíceis de determinar (ver a seguir). O acúmulo de ENs
A substância branca (SB) subcortical demonstra redu
e PSs pode ocorrer por décadas até o desenvolvimento de
ção do niimero de fibras mielinizadas, aumento do espaço alterações cognitivas claras.
extracelular e gliose. O espaço perivascular (Virchow-
-Robin) na SB subcortical e nos núcleos da base aumenta. Aspectos clínicos
Três marcadores histológicos são associados com demên
Epidemiologia e demografia. a maturação cerebral continua
cia: placas senis, emaranhados neurofibrilares e corpos de
até a terceira década de vida; após, o envelhecimento cere
Lewy. Todos podem ser identificados no envelhecimento
bral predomina. Embora a incidência de demências aumen
normal do cérebro; portanto, o limite entre o normal e a
te de modo significativo com o envelhecimento, apenas
demência "pré-clínica" é indefinido.
Placas senis (PSs) são depósitos de amiloide celular
dois terços dos pacientes com mais de 85 anos permane
cem neurologicamente intactos e cognitivamente normais.
que se acumulam na substância cinzenta cerebral. Metade
dos indivíduos idosos cognitivamente intactos demonstra Apresentação. A diferença entre o envelhecimento normal
uma densidade moderada ou freqüente na PS. e a demência inicial ("pré-clínica") é indefinida. O termo
Demências e degenerações cerebrais 969

comprometimento cognitivo leve é usado pra designar o Achados na TC


estado transicional entre as alterações cognitivas espera O envelhecimento cerebral normal demonstra discreto
das do envelhecimento normal e a demência franca.
alargamento dos ventrículos e proeminência dos sulcos en
A maioria dos pacientes com mais idade e perda de contrados na TC sem contraste (Fig. 33-2). CalcificaçÕes
memória não tem demência. Com o envelhecimento, to
puntiformes nos núcleos da base mediais são fisiológicas.
dos os indivíduos experimentam um déficit de memória.
CalcificaçÕes curvilíneas nas artérias carótidas caver
Como expresso por um escritor, "esquecer onde coloca nosas e no sistema vertebrobasilar são comuns. O signifi
mos nossa chave é déficit de memória, mas esquecer para cado das calcificações macrovasculares como um marca
que a chave é usada é demência". dor de doença microvascular é discutido.
Algumas poucas hipodensidades na SB são comuns,
Imagem do envelhecimento normal mas hipointensidades subcorticais confluentes, em espe
do cérebro cial ao redor do álrio dos ventrículos laterais, são marca

Uma vez que a patologia cerebral associada à idade inicia dores de arlerioloesclerose.
muito antes do desenvolvimento dos sintomas clínicos, a A TC com contraste não demonstra focos de realce

imagem tem um papel central na avaliação de pacientes no parênquima nos cérebros com envelhecimento normal.
idosos com sinais precoces de demência. Assim como os
achados de imagem refletem as alterações significativas Achados na RM
da morfologia cerebral que ocorrem com o desenvolvi TI. Imagens ponderadas em TI mostram discreto, mas
mento fetal e pós-natal, outros achados refletem altera simétrico, aumento ventricular e proeminência proporcio
ções normais no envelhecimento cerebral. nal dos espaços subaracnóideos (Fig. 33-3). O corpo calo-

33-3A TC sem contraste em


um homem de 71 anos neuro-
/ ^ \ logicamente normal com um
carcinoma de células escamosas
da orelha externa mostrando
discreto alargamento dos ventrí

X
culos e sulcos com uma SB com
aparência normal.
33-3B T2 no mesmo paciente
mostrando hiperintensidades
arredondadas multifocals e linea
res que provavelmente re
presentam espaços perivascula-
res proeminentes, mas normais.

33-3C FLAIR no mesmo


paciente mostrando hiperinten
sidades {caps) periventriculares
frontais B e uma fina hiperin-

> 5 tensidade ao redor dos ventrícu


los laterais
33-30 T2'''GRE no mesmo pa
ciente mostrando hipointensida-
de nos globos pálidos S3, mas
não no putame ou nos talamos.
Nenhum microssangramento
está presente. Envelhecimento
cerebral normal "bem-sucedido".
970 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

W. t ^p

33-4 Imagem ponderada em susceptibilidade (SWl, de susceptibility 33-5 SWI 3.0 T em uma mulher normal de 82 anos mostrando um
weighted imaging) axial 3.0 T em um homem normal de 65 anos mos aumento moderado do terceiro ventrículo e dos ventriculos laterais. Os
trando intensas hipointensídades nos globos pálidos mediais SI, com núcleos da base são muito hipointensos. O depósito de ferro do puta-
uma hipointensidade menos proeminente nos putames ÍSl. me [S é igual ao do globo pálido. Observar a ausência de hipointensi
dade nos talamos.

SC pode parecer discretamente afilado na imagem sagital na pars reticulata da substância negra (SN), seguida pelo
ponderada em Ti. Os espaços perivasculares proeminen globo pálido (GP), onde o depósito de ferro progride de
tes são achados normais. Eles são preenchidos por líquido mediai para lateral. O núcleo rubro e o putame são outros
interslicial (não LCS), mas comportam-se como LCS em locais comuns onde a ferritina normalmente se acumula.
todas as seqüências. O depósito de ferro no GP e na SN estabiliza na idade
T2/FLAIR. Hiperintensidades na substância branca adulta, mas continua até os 80 anos no putame.
O depósito de ferro férrico é mais bem demonstra
(HSBs) e infartos lacunares em T2/FLAIR são muito
do nas seqüências T2*. As imagens com susceptibilida
prevalentes em idosos. Eles são associados a fatores de
risco cardiovascular como diabetes e hiperlipidemia. O de magnética (SWI) são mais sensíveis que as imagens
envelhecimento cerebral "bem-sucedido" pode demons gradiente-eco (GRE). A heterogeneidade do campo e os
trar algumas HSBs esparsas não confluentes (um número efeitos de susceptibilidade magnética são proporcionais à
razoável é uma HSB por década). força do campo magnético, e a hipointensidade aumenta
nas imagens em 3.0 T.
Os espaços perivasculares (EPVs) aumentam em pre
valência e tamanho com a idade e são vistos em T2 como Hipointensídades em T2* são normais no GP mediai
coleções semelhantes ao LCS bem delimitadas, arredon (Fig. 33-4). A hipointensidade putaminal costuma ser me
nos proeminente até a oitava década. O núcleo caudado
dadas, ovoides ou lineares nos núcleos da base, na SB
mostra baixa quantidade de depósito de ferro em qualquer
subcortical, no mesencéfalo, entre outros (ver Capítulo
idade. O tálamo normalmente não exibe hipointensidade
28). Os EPVs suprimem completamente na FLAIR. Entre
na seqüência 12* (Fig. 33-5).
25 e 30% podem demonstrar uma fina hiperintensidade ao
redor. Infartos lacunares costumam demonstrar uma hipe Microssangramentos em T2* são comuns no cére
bro em envelhecimento. As seqüências GRE e SWI de
rintensidade irregular ao redor das lesões.
A FLAIR em pacientes idosos normais demonstra monstram microssangramentos cerebrais em 20% dos pa
uma hiperintensidade anelar fina e lisa periventricular ao cientes com mais de 60 anos e em um terço dos pacientes
redor dos ventriculos laterais que provavelmente repre com 80 anos ou mais. Embora comuns e, portanto, estatis
sente aumento do líquido intersticial extracelular na SB ticamente "normais", microssangramentos não são carac
terísticos de um envelhecimento cerebral bem-sucedido.
subependimária. A hiperintensidade tipo cap ao redor dos
cornos frontais é comum em pacientes normais. Os microssangramentos nos núcleos da base do cerebelo
em geral são indicativos de encefalopatias hipertensivas
T2 ' (GRE, SWl). O ferro cerebral não está presente ao nas crônicas. Microssangramentos lobares corticais são típi
cimento, mas se acumula gradualmente como uma parte cos da angiopatia amiloide e são associados com um pior
do desenvolvimento normal. O acúmulo de ferro é maior
desempenho cognitivo.
Oemências e degenerações cerebrais 971

Imagem oo tensor oa difusão (DTI, de diffusion tensor ima


ging). Os efeitos deletérios de alterações na SB na cogni- Demências
çào dependem do grau da lesão, da perda volumétrica e de A demência é um comprometimento adquirido da habi
características como a integridade da SB, que pode não
lidade intelectual que afeta múltiplos domínios cogniti
ser aparente nas seqüências de padrões de imagem, Até
vos, incluindo a memória, a linguagem e as habilidades
mesmo a "SB com aparência normal" pode demonstrar
visuoespaciais. Labilidade emocional, alterações compor-
perda da anisotropia fracionada (FA, de fractional aniso- tamentais e deterioração da habilidade de executar ativi
iropy) na DTI. dades diárias são comuns. A demência é um dos grandes
Espectroscopia por ressonância magnética (ERM). a ERM medos que as pessoas têm quanto ao envelhecimento.
mostra uma elevação gradual do N-acetil-L-asparlato As três demências mais comuns são DA, demência
(NAA) no córtex, na SB cerebral e nos lobos temporais, com corpos de Lewy e demência vascular. Juntas elas
com concomitante aumento de Cho e Cr. são responsáveis pela maioria de todos os casos de de
mência. Causas menos freqüentes incluem degcneraçâo
PET com FDG/pRM lobar frontotemporal (inicialmente conhecida como
Os estudos de tomografía por emissão de positrons (PET, doença de Pick) e degcneraçâo corticobasal. Pode ser di
de positron emission tomography) com fluordesoxiglicose fícil diferenciar as várias síndromes demenciais, uma vez
(FDG) mostram um aumento gradual do fluxo sangüíneo que os achados clínicos com freqüência se sobrepõem e as
cerebral relativo (rCBF, de relative cerebral blood flow) chamadas demências mistas são comuns.

com 0 envelhecimento, em particular nos lobos frontais. À medida que os novos agentes modifícadores de
Os pacientes com baixa perfusão cerebral total nos estu doença entram na prática clínica, o diagnóstico correto
dos de perfusão por RM (pRM) têm mais HSB, mas sua do tipo de demência tem se tomado muito importante. A

relação precisa com o desempenho cognitivo é incerta. avaliação de pacientes com doença demencial potencial
requer uma história clínica detalhada e um exame físico
Diagnóstico diferencial cuidadoso, assim como a avaliação cognitiva, de compor
tamento e capacidade funcional e social.
A correlação entre o desempenho cognitivo e a imagem
Atualmente não existe um único marcador compor-
do encéfalo é complexa e difícil de determinar. Portan
tamental que diferencie de maneira confiável a DA - de
to, o principal diagnóstico diferencial do envelhecimento
normal do cérebro é o comprometimento cognitivo leve longe a doença demencial mais comum - das outras sín
dromes demenciais. Como a imagem desempenha um pa
e a DA precoce "pré-clínica". As HSBs são marcadores de
pel cada vez maior no diagnóstico das demências, serão
doenças microvasculares, existindo assim uma sobreposi discutidos os tipos mais importantes. Quando possível,
ção considerável entre os cérebros normais e aqueles com serão apontados achados e novas modalidades de imagem
encefalopatia arteriolosclerótica subcortical.
que ajudem a diferenciar os possíveis distúrbios não de
menciais potencialmente reversíveis.
PARÂMETROS DE IMAGEM DE
ROTTERDAM (ROTTERDAM STUDY) Doença de Alzheimer
DO ENVELHECIMENTO CEREBRAL
Terminologia
• Volumes do tecido cerebral A doença de Alzheimer (DA) é uma condição neurodege-
0 Córtex nerativa progressiva que leva a declínio cognitivo, com
0 Substância branca
prometimento da habilidade de realizar atividades diárias
o Sublocalizações (p. ex., hipocampos) e variação das condições fisiológicas e de comportamento.
• Volumes das estruturas que contêm LCS
A DA também é conhecida como doença senil do
o Ventrículos
o Sulcos tipo Alzheimer. Existem cada vez mais evidencias de que
• Hiperintensidades na substância branca a DA não seja um distúrbio único e abrangente, mas um
• Infartos contínuo de gravidade. O processo patogênico da DA é
o Lacunar prolongado e pode estender-se por muitas décadas. A
o Cortical doença prodrômica pré-clínica/assintomátíca (i.e., a pa
• Depósito de ferro tologia está presente, mas a cognição permanece intacta)
o Globos pálidos pode existir por anos antes da evidência de desenvolvi
o Núcleos rubros mento de déficit cognitivo leve (DCL).
o Substância negra
• Microssangramentos
• Integridade e conectividade da substância branca Etlologia
• Fluxo sangüíneo cerebral Conceitos gerais. A DA é caracterizada patoflsiologicamen-
• Metabolismo cerebral te por uma "cascata amiloide". Um clearance reduzido de
agregados da proteína p-amiloide (Ap) resulta em seu acú-
972 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

33-6 Espécime de necropsia coronal de um pacienle com DA precoce 33-7 TC axial sem contrasle em uma mulher de 54 anos com DA
hístologicamente provada mostrando aumento dos ventrículos laterais. grave de Início precoce mostrando uma dilatação acentuada dos cornos
Os cornos temporais sâo proporcionalmente aumentados, e os hipocam temporais B e dos sulcos BI.
pos [^] aparecem discretamente atrofiados.

mulo anormal nos neurônios. O resíduo da A(â42 é inso- Aspectos microscópicos. As três marcas histológicas carac
liável e altamente neurotóxico. Aglomerados de Ap42 for terísticas da DA são as PSs, os ENs e a perda neuronal
mam as PSs na substância cinzenta cortical. Os depósitos exagerada. Todas sào típicas, mas nenhuma é específica
de A342 também espessam as paredes das arteriolas corti- para a DA.
cais e das leplomeninges, causando angíopatia amiloídc. A DA também pode coexistir com outras doenças,
Outro aspecto essencial da DA é a tauopatia. A fosfo- como a doença cerebrovascular ou os corpos de Lewy.
rilaçào anormal de uma proteína associada ao microttjbulo Quantidades variáveis de depósitos de amiloide nas arte
conhecida como "tau" eventualmente leva ao desenvolvi riolas corticais e nas leptomeninges (angiopatia amiloide)
mento de ENs e à morte neuronal. Os níveis liquóricos estão presentes em mais de 90% dos casos de DA. Existe
de tau sào quase triplicados em pacientes com DA. evidência de que a patologia vascular e a patologia da DA
Genética. Cerca de 10% dos casos têm uma forte his sejam aditivas e que os pacientes com a combinação de
tória familiar de DA. Quase todas as variações do gene ambas tenham uma demência clinicamente mais grave.
familiar na DA apontam a APP (proteína precursora de
Estadiamento, graduação e classificação. Existem várias es
amiloíde, de amyloid precursor protein), as presenilinas calas de classificação histológica na patologia de Alzhei
(PSENl, PSEN2) e o poíimorfismo do gene APÕE* E4 mer. Uma das mais usadas - o sistema Braak e Braak -
como fortes fatores de risco herdados para DA. tem como base a distribuição topográfica dos ENs e dos
filamentos de neurópilos, com graduações de I a 6. A esca
Patologia la CERAD (Consórcio para Estabelecer um Registro para
Patologia macroscópica. Do ponto de vista macroscópico, o a Doença de Alzheimer, de Consortium to Establish a Re-
cérebro afetado pela DA mostra atrofia generalizada com gistiy for Alzheimer Disease) tem como base a quantidade
redução dos giros, alargamento dos sulcos e aumento dos de placas neuriticas neocorticais em relação à idade.
ventrículos laterais (principalmente dos cornos tempo O terceiro sistema (o Poly Pathology AD Assessment
rais). As alterações são mais marcadas nos lobos temporal 9, ou PPAD9) tem como base não apenas os ENFs e as
mediai e parietal (Fig. 33-6). O lobo frontal costuma ser placas neuriticas, mas também a combinação de outros
envolvido, enquanto o lobo occipital e o córtex motor são fatores, incluindo a extensão da degeneração neuronal, a
relativamente poupados. microvacuolização, o distúrbio citoarquitetural e a gliose.
A DA tem subtipos clínico-patológicos distintos. O Cada achado é calculado para nove regiões diferentes do
hipocampo é muito afetado em 75% dos casos. Uma pre cérebro.
servação hipocampal relativa é vista em 10%, e a predomi Até agora, a correlação entre esses grandes sistemas
nância límbica ocorre em cerca de 15% dos casos de DA. de estadiamento é subótima. A escolha do sistema de esta-
33-8C FLAIR coronal mostran
do uma intensa atrofia do lobo
temporal com alargamento das
fissuras silvianas B3 e relativa
preservação do volume do lobo
frontal
33-8D T2 mostrando que os
cornos temporais dos ventriculos
laterais estão muito alargados
E S

33-8E T2 mais cefálica da


mesma paciente mostrando alar
gamento dos cornos temporais
ES e perda desproporcional do
volume dos lobos temporais
em comparação com os lobos
occipitais de aparência normal

33-8F Imagem dos tiemisfé-


rios cerebrais superiores mos
trando atrofia simétrica dos lobos
parietais B.
974 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

R-lateral L-lateral R-mediai L-medial Superior

#1 4» 4» ^

^ m ^ ê
* 4» 4» A H
^ ^ T T 7
^ (:J^ Qi
ICMRGIc (normalized to Pons)

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0


-WÊÊ
0.0 10 2.0 3.0 4.0 S.O
2'Score

33-9 PET com FDG sagitai com projeções eslereotáxicas de superfície em uma mulher de 70 anos com DA possível.
A RM nâo demonstrou anormalidades visíveis. Linha superior = mapa de referência. Segunda linha = metabolismo da
glicose em um grupo de controle idoso normal. Terceira linha = mapa de metabolismo da glicose da paciente. Ob
serva-se a intensa redução nos lobos temporal mediai S e parietal B poupando os lobos frontal, occipital. Linha
inferior = mapa Z-score. (Cortesia de N. Foster, MO.)

diainenlo afeta a avaliação da patologia da DA e, portanto, clínico da DA usando os critérios NINCDS-ADRA (Natio
seu diagnóstico final. nal Institute of Neurological Disorders and Stroke-Alzhei
mer Disease and Related Disorders) define três níveis de
Aspectos cifnicos certeza: DA possível, provável e definida. O diagnóstico de
Epidemiologia e demografia. a da é a causa mais comum DA definida atualmente requer o diagnóstico clínico de DA
de demência, representando cerca de 50 a 60% de todos provável mais confinnaçào neuropatológica.
os casos e afetando mais de 35 milhões de pessoas em A Alzheimer Disease Neuroimaging Initiative
todo o mundo. O World Alzheimer Report prediz que esse (ADNI) é um estudo longitudinal, multicêntrico que está
número será quase o dobro em 2030 e será superior a 100 sendo realizado para identificar biomarcadores clínicos,
milhões em 2050. de imagem, genéticos e biomecânicos para a detecção pre
A idade é o maior fator de risco para o desenvol coce e rastreamento da DA. Os protocolos de pesquisa da
vimento de DA. A prevalência da DA é de I a 2% aos ADNl tem identificado novas modalidades de imagem e
65 anos e aumenta 15 a 25% a cada década. Nos pacientes biomarcadores no LCS que podem eventualmente ajudar
"idosos mais velhos" (mais de 90 anos), patologias mistas a diferenciar o envelhecimento saudável do patológico.
- em geral DA mais doença vascular - predominam.
Apresentação. Um DCL causa um declínio discreto, mas
Diagnóstico. Historicamente, o diagnóstico definitivo da DA notável (e mensurável), das habilidades cognitivas. O
era feito somente por biópsia ou autópsia. O diagnóstico DCL mais discreto é uma forma de domínio cognitivo úni-
Deméndas e degenerações cerebrais 975

CO (amnésico) que é caracterizada por perda de memória


além da esperada para a idade e o grau de educação. Nesse
caso, a função cognitiva global é mantida, sendo observa
da a capacidade de realização de atividades diárias.
Indivíduos com DCL não preenchem as diretrizes
diagnosticas para demência, mas ainda apresentam risco
aumentado de eventualmente desenvolver DA ou outro
tipo de demência.
Pacientes com DA muito precoce mostram compro
metimento da memória de curto prazo. Com a progressão
da doença, os défícits de memória aumentam e estão asso
ciados com alterações neuropsiquiátricas, dificuldades de
encontrar palavras, cognição espacial e função executiva
reduzida. Distúrbios motores, sensoriais e da marcha são
incomuns até um estágio relativamente tardio da doença.
História natural e opções de tratamento. A DA é uma doença 33-10 ERM em DA mostrando aumento no pico de
crônica, a progressão é gradual e os pacientes vivem em mé mioinositol (ml) ES. A relação de NAA B e ml está
dia 8 a 10 anos após o diagnóstico. Entre 5 e 10% dos pa reduzida; o pico de creatina (Cr) EES está reduzido.
cientes com DCL progridem para DA provável a cada ano.
Não existem tratamentos estabelecidos para prevenir
ou reverter a DA. Muitos fármacos atuais modificadores
da doença focam na redução da Ap-amiloidose. Tratar pa
cientes com DCL com inibidores da colinesterase ou anta-

gonistas dos receptores de N-metil D-aspartato (NMDA)


pode transitoriamente aumentar a função cognitiva, mas
não atrasa a conversão de DCL em DA.

Imagem
Aspectos gerais. Um dos objetivos mais importantes dos
exames de imagem por TC e RM é identificar anormalida
des específicas que podem ajudar no diagnóstico clínico
da DA. Outro grande papel é excluir etiologias alterna
tivas que podem mimetizar DA, ou seja. "causas reversí
veis de demência" (ver a seguir).
33-11A PET com FDG 18F em DA mostrando uma
A introdução de radiofármacos para uma quantificação
intensa redução do metabolismo em ambos os lobos
não invasiva in vivo da carga de Ap no cérebro tem revo
temporais B, com os lobos frontais comparativamen
lucionado a abordagem da avaliação por imagem da DA. te normais

Achados na TC. A TC sem contraste é um procedimento


de rastreamento útil para excluir causas potencialmente
reversíveis ou tratáveis de demência, como hematoma
subdural e hidrocefalia de pressão normal. Por outro lado,
TCs geralmente são não informativas, em especial nos es
tágios iniciais da DA.
A atrofia do lobo temporal mediai costuma ser o acha
do mais precocemente identificável na TC (Fig. 33-7). Os
achados tardios incluem atrofia cortical generalizada.
Achados na RM. As funções atuais da RM convencional na
avaliação de pacientes com distúrbios demenciais são (1)
excluir outras causas de demência, (2) identificar padrões
regiâo-específicos de perda de volume cerebral (p. ex.,
atrofia com "predominância lobar") e (3) identificar mar
cadores de imagem de comorbidades de doença vascular
como a angiopatia amiloide. 33-11B Hipometabolismo parietal E3 na imagem
As alterações morfológicas mais comuns na RM mais cefálica. Hipometabolismo temporal/parietal e
convencional são os giros afilados, a proeminência dos atividade frontal preservada são característicos de DA.
976 Distúrbios tóxicos, melabólicos, degenerativos e do LCS

sulcos e o alargamento dos ventrículos laterais. O lobo Embora a carga de Ap acessada pela PET não se cor
temporal mediai - em particular o hipocampo e o córtex relacione fortemente com o déficit cognitivo na DA. ela
entorrinal - muitas vezes é desproporcionalmente afeta correlaciona-se com déficit de memória e risco de declí
do (FIg. 33-8). As imagens de alta resolução (seqüências nio cognitivo em pacientes idosos. A correlação com o dé
TI MP-RAGE e/ou a seqüência de pulso gradiente-eco ficit de memória - um dos sintomas mais precoces da DA
- sugere que a deposição de AP não seja parte do proces
espoliada [SPGR, de spoiled gradient recalled]) com re
construções multiplanares são seqüências recomendadas so de envelhecimento normal. A deposição de Ap ocorre
pela Iniciativa de Neuroimagem da Doença de Alzheimer muito antes do início dos sintomas e provavelmente repre
(ADNI, de Alzheimer's Disease Neuroimaging Initiative). sente DA pré-clínica em indivíduos assintomáticos e DA
A análise volumétrica automatizada ou semiautomatiza- prodrômica em pacientes com DCL.
da assistida por computador dos hipocampos e dos giros
para-hipocampais pode ajudar a diferenciar os pacientes Diagnóstico diferencial
com DCL dos idosos normais. A diferenciação entre processos degenerativos normais
As seqüências T2* (GRE, SWI) são muito mais sen relacionados à idade e DA precoce "pré-clínica" é difícil.
síveis que as seqüências spin eco rápido (FSE, ÚQ/ast spin Não existe uma maneira geral disponível para diferenciar
echo) padrão para detectar micro-hemorragias corticais que entre as duas condições, mas a PET com FDG é útil.
possam sugerir angiopatia amiloide. A ERM mostra redu "Demências mistas" são comuns, em especial em pa
ção do NAA e aumento do mioinosilol (ml) em pacientes cientes com mais de 90 anos. Demência vascular (DVasc)
com DA, até mesmo durante os estágios iniciais da doença é a demência mais comum associada à DA. Infartos lacu-

(Fig. 33-10). A relação NAAimI é relativamente sensível nares e corticais são achados típicos na DVasc. Angiopa
e altamente específica para a diferenciação dos pacientes tia amiloide cerebral em geral coexiste com DA. Corpos
com DA daqueles com envelhecimento normal. A relação de Lewy muitas vezes são encontrados em pacientes com
NAA:Cr no giro do cíngulo posterior e no córtex occipital DA ("variantes de corpos de Lewy da DA").
A DLFT mostra atrofia frontal e temporal anterior e
esquerdo prediz a conversão de DCL em provável DA com
sensibilidade relativamente alta e boa especificidade. hipometabolismo; os lobos parietais em geral são poupa
A DTI em pacientes com DA mostra redução da FA dos. Demência com corpos de Lewy costuma demons
em diversas regiões, em especial no fascículo longitudinal trar hipometabolismo generalizado, não focai. Pacientes
com degeneração corticobasal têm sintomas extrapira-
superior e no esplênio do corpo caloso. A FA reduzida re
flete as alterações microestruturais precoces na SB. midais proeminentes.
As causas de demência reversível que podem ser
Neuroimagem funcional. A patologia morfológica do cére identificadas em estudos de imagem incluem lesões ex
bro costuma estar presente anos antes do início clínico e pansivas como hematoma subdural crônico, deficiências
pode ser visualizada somente pelo uso de estudos de ima de vitamina (tiamina, B12), endocrinopatia (p. ex., hipoti-
gem especiais. A RM funcional (RMf) mostra redução na reoidismo) e hidrocefalia de pressão normal.
intensidade e/ou na extensão da ativação nas regiões fron
tal e temporal nas tarefas cognitivas, em especial naquelas
DOENÇA DE ALZHEIMER
que requerem decisões semânticas ou fonológicas.
A pRM pode demonstrar redução sutil do volume Etiopatologia
• "Cascata amiloide" neurotóxica
sangüíneo cerebral relativo (rCBV, de relative cerebral o Acúmulo de Ap42 ^ placas senis, angiopatia amiloide
blood volume) nos lobos temporal e parietal em pacientes • Tauopatias -> emaranhados neurofibrilares, morte
com DCL.
neuronal
Medicina nuclear. A PET com FDG 18F demonstra áreas Aspectos clínicos
de hipometabolismo funcional e ajuda a diferenciar a DA • Demência mais comum (50 a 60% de todos os casos)
de outras demências com predominância lobar (p. ex., de- • A prevalência aumenta 15 a 25% por década após os
65 anos
generação lobar frontotemporal) (Figs. 33-9 e 33-11).
A PET usando radiofármacos ligantes ao amiloide Imagem
como o IIC PiB {Pittsburgh compound B) surgiu como • Atrofia lobar com dominância frontoparietal
uma das melhores técnicas para o diagnóstico precoce da o Hipocampo, córtex entorrinal
DA. A medida que novas terapias entram nos ensaios clí o PET com FDG mostrando hipometabolismo
o Radiofármacos amiloide-ligantes (11C PIB)
nicos, a importância da imagem Ap in vivo está se tornan
• Angiopatia amiloide "pontos pretos tipo artefato
do crucial.
de susceptibilidade magnética em 12 '
A carga de Ap medida pela PET correlaciona-se com
os relatos histopatológicos de distribuição de AP no enve Diagnóstico diferencial
• Exclui demências reversíveis
lhecimento e na demência. Ela aparece mais corada que a
• Envelhecimento normal, demência vascular,
PET com FDG 18F e é uma excelente ferramenta para dife
renciar a DA da degeneração lobar frontotemporal (DLFT). degeneração lobar frontotemporal
Demêndas e degeneraçoes cerebrais 977

33-12 Gráfico axial da OVasc mostrando atrofia cerebral difusa, perda 33-13 Espécime de necropsia mostrando grande infarto territorial
volumétrica focai devido a múltiplos infartos crônicos infarto no B e pequenos infartos corticais ES, assim como lesões na SB
lobo occipital esquerdo agudo B e pequenos infartos lacunares nos no hemisfério cerebral esquerdo. Grandes infartos são a causa menos
núcleos da base/tálamos BI. comum de DVasc que doença difusa de pequenos vasos. (Cortesia de
R. Hewlett, MD.)

Demência vascular Patologia


A doença cerebrovascular é uma causa comum de declínio Patología macroscópica, o achado macroscópico mais co
cognitivo. A característica de doença microvascular "si mum rapidamente identificável na DVasc é de infartos
lenciosa" e seus efeitos deletérios de longa data na cogni- múltiplos com atrofia focai (FIgs. 33-12 e 33-13). Oclu-
ção estão se tomando bem reconhecidos. sões de ramos corticais em infartos territoriais grandes são
menos comuns que infartos lacunares subcorticais múlti
Terminologia plos ou isquemia generalizada da SB.
A DVasc algumas vezes também é chamada de multi- Achados microscópicos. As modificações nas paredes dos
-infarto, distúrbio cognitivo vascular, déficit cognitivo vasos são mais comuns e presumivelmente sejam as altera
vascular. DVasc isquêmica subcortical e demência pós- ções mais precoces identificáveis associadas com DVasc.
-infarto. Todos são termos abrangentes para a disfunçào Arteriosclerose e angíopatia amiloide são as principais
cognitiva associada a dano vascular cerebral e presumi patologias subjacentes à doença vascular de pequenos va
velmente causada por esse dano. sos. A perda de mielina e a modificação dos EPVs são o
segundo achado vascular mais comum da demência.
Etiologia Os chamados microinfartos - diminutos focos de
Em geral, a DVasc é uma doença adquirida causada pela perda neuronal, gliose, palidcz ou degeneraçào cística
carga acumulativa de lesões cerebrovasculares. Enquanto franca - e outras lesões cerebrovasculares são vistos na

qualquer vaso - pequeno ou grande - pode ser afetado, necropsia em quase dois terços dos pacientes com DVasc
em sua maioria os casos são angiopatias microvasculares e em mais da metade de todos os casos com distúrbios

(ver a seguir). demenciais (p. ex., DA, demência com corpos de Lewy).
Raramente a DVasc é causada por um distúrbio he As lesões são encontradas em todas as regiões cerebrais e
reditário como a arteriopatia cerebral autossômica do são especialmente comuns no córtex, na SB subcortical e
minante com infartos subcorticais e leucoencefalopatia nos núcleos da base.

(CADASIL, de cerebral autosomal dominant arteriopa-


thy with subcortical infarcts and leukoencephalopathy) ou Aspectos clínicos
a encefalopatia mitocondrial. A CADASIL é o distúrbio Epidemiologia e demografia. a DVasc é a segunda causa
vascular hereditário mais comum e é causada pela muta mais comum de demência (depois da DA) e representa
ção NOTCH3 no cromossomo 19. cerca de 10% de todos os casos de demência nos países
978 Distúrbios tóxicas, metabólicos, degenerativos e do LCS

desenvolvidos. A DVasc é um componente comum das subcorticais e nos núcleos da base. Hipodensidades con-
demências "mistas" que é especialmente prevalente em fluentes ou esparsas na SB subcortical e periventricular
pacientes com DA. profunda, em especial ao redor do átrio dos ventrículos
A incidência da DVasc aumenta com a idade. Os fato laterais, são típicas.
res de risco incluem hipertensão, diabetes, dislipidemia e
Achados na RM. A TI geralmente mostra uma perda vo
tabagismo. Existe uma predominância moderada no sexo iumétrica difusa maior do que o esperado. Múltiplas hi-
masculino.
pointensidades nos núcleos da base e na SB profunda são
Apresentação. A história de múltiplos episódios de infarto típicas. Infartos corticais focais e grandes infartos terri
com déficits neurológicos focais é característica de pa toriais com encefalomalacia podem ser identificados em
cientes com DVasc. Alterações do humor e de comporta muitos casos.
mento são mais típicas do que a perda de memória. A T2/FLA1R mostra hiperintensidades multifocais
difusas e confiuentes nos luicleos da base e na SB cere
História natural. Deterioração neurológica progressiva
bral. O córtex e a SB subcortical costumam ser afetados
episódica, intercalada com intervalo de estabilização clí
(Figs. 33-14A, 33-14B e 33-14C). Seqüências da T2* po
nica relativa, é um padrão típico da DVasc.
dem demonstrar múltiplas hipoinlensidades tipo artefato de
Imagem susceptibilidade magnética no córtex e ao longo da super
fície piai nos hemisférios cerebrais (Figs. 33-15 e 33-16).
Achados gerais. Os achados gerais de imagem da DVasc
A DTI mostra redução da FA e aumento dos valores
são infartos multifocais e isquemia na SB.
do coeficiente de difusão aparente (ADC, de apparent cii-
Achados na TC. A TC sem contraste mostra uma redução jfusion coefficient) na SB com aparência normal ou mini
voiumétrica generalizada com múltiplos infartos corticais. mamente anormal. Múltiplas regiões são afetadas, em es-

33-14A FLAIR axial em uma


mulher de 82 anos com DVasc
mostrando um pequeno infarto
lacunar um infarto cortical
local e hiperintensidades na SB
subcortical B.
33-14B FLAIR mais cefálica na
mesma paciente mostrando hi
perintensidades adicionais ES.

33-14C Seqüência T2^ GRE


R-rri9di«l L*madiai Supanor
mostrando infartos lacunares
[^1 e corticais mas sem
hipointensidades tipo artefato de
^ ^ H
susceptibilidade magnética su
gestivas de angiopatia amiloide.
33-140 PET mostrando um
controle normal com idade d
semelhante (segunda linha) e

• o
o exame do paciente (terceira
linha). Observam-se as áreas
corticais multifocais com redução
do metabolismo da glicose ES.
0 mapa Z-score (abaixo) mostra
as áreas gravemente afetadas «J & !*:
em verde. (Cortesia de N, Foster,
MO.)
Demências e degenerações cerebrais 979

pecial o fascículo fronto-occipital inferior, o corpo caloso A DLFT é caracterizada por um início precoce de
e o fascículo longitudinal superior. alteração de comportamento, enquanto as habilidades vi-
M e d i c i n a n u c l e a r. A P E T c o m F D G m o s t r a m u i t a s á r e a s
suoespaciais permanecem relativamente inalteradas. Atro
fia frontotempora! com giros em lâmina de faca é típica.
difusamente distribuídas de hipometabolismo, em geral
A demência com corpos de Lewy (DLB, de demen
sem uma predominância lobar específica (Figs. 33-I4B
tia with Lewy bodies) pode ser difícil de diferenciar da
e33-15D). DVasc sem biópsia. O cérebro inteiro é hipometabólico, e
a atrofia em geral é mínima ou está ausente. A DLB costu
Diagnóstico diferencial ma ocorrer sem infartos.
O maior diagnóstico diferencial da DVasc é a DA. As duas A angiopatia amiloide cerebral comumente coe
doenças sobrepÕem-se e geralmente coexistem. A DA xiste com a DA e a DVasc e pode ser indistinguível sem
costuma mostrar uma perda volumétrica importante e se biópsia.
letiva nos lobos temporais, em especial nos hipocampos. A encefalopatia alcoólica é a terceira causa mais co
Os núcleos da base costumam ser poupados na DA, mas mum de demência em todo o mundo. A perda de volume
ein geral sào afetados na DVasc. generalizada com envolvimento focai do verme superior
A CADASIL é a causa mais comum de DVasc here é típica. Os níveis de vitamina B12 em uma variação
ditária. O início dos sintomas costuma ser mais precoce subclínica baixa a normal (menos de 250 pmol/L) são
que na DVasc esporádica. Grandes infartos territoriais associados com DA, DVasc e doença de Parkinson. Esse
sào menos comuns na CADASIL se comparados com a pequeno subconjunto de demências é reversivel com a te
DVasc; lesões temporais anteriores e na cápsula externa rapia de vitamina B!2, que não apresenta alto custo e é
sào muito sugestivas de CADASIL. segura.

33-15A FLAIR de um homem


de 76 anos normotenso com
demência mostrando múltiplas
hiperinlensidades confluentes na
SB subcortical B e periventri
cular profunda
33-15B FLAIR mais cefáiica do
mesmo paciente mostrando uma
carga significativa de lesões na
SB subcortical B. Observa-se o
sulco parietal proeminente B.

33-15C T2' GRE no mesmo


paciente mostrando hipointen-
sidades muitifocais corticais
tipo artefato de susceptibiiidade
magnética características da
angiopatia amiloide cerebral.
33-150 PET do mesmo pa
ciente mostrando áreas muitifo
cais de redução do metabolismo
da glicose (terceira linha) em
comparação com um grupo de
controle normal da mesma idade
(segunda linha). O mapa Z-score
(linha inferior) mostra a natureza
difusa das lesões vistas na DVasc.
(Cortesia de M. Foster, MD.)
980 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

Demências frontotemporais
DEMÊNCIA VASCULAR
Terminologia
Etiopatología As demências frontotemporais são uma família heterogê
• Episódios isquémicos múltiplos
• Pode ser de pequenos, grandes vasos nea de doenças caracterizadas pelo envolvimento seletivo
• Aterosclerose, arteriosclerose, angiopatia amlíoide dos lobos frontal e temporal. Elas eram inicialmente agru
padas e conhecidas coletivamente como doença de Pick.
Aspectos clínicos O termo doença de Pick é agora reservado para causas
• Segunda demência mais comum (10%)
• Comumente mista com outras demências (p. ex., DA) com a presença dos chamados corpos de Pick, inclusões
• Múltiplos infartos; deterioração episódica intraneiironais arredondadas e prateadas que contêm vá
rias proteínas, incluindo a tau (uma proteína complexa
Imagem que regula a dinâmica dos microtubules).
• Múltiplos infartos (lacunar, cortical > grandes territórios) O termo DLFT é uma descrição macroscópica ana
• Isquemia na SB
tômica da atrofia relativamente seletiva nos lobos frontal
• "Pontos pretos tipos artefatos de susceptibilidade
e temporal que caracteriza a maioria das demências fron
magnética em T2" (ou associados à hipertensão)
totemporais - mas não todas. Essa atrofia característica
Diagnóstico diferencial é causada por um processo patológico que varia em seus
• Doença de Alzheimer achados microscópicos e moleculares (ver a seguir).
• CADASIL (DVasc hereditária mais comum)
• Degeneração lobar frontotemporal
• Demência com corpos de Lewy
Etiologia
• Demências relacionadas à nutrição Conceitos gerais. Embora existam inúmeras entidades in
cluídas nas demências frontotemporais, uma das mais fre-

33-16A T2 axial em uma mu


lher de 76 anos com história de
múltiplos infartos e um diagnós
tico clínico de DVasc mostrando
perda de volume generalizada
com SB subcortical confluente
com hiperintensldades E3. A
baixa sensibilidade das imagens
de FSE (fast spin echo) para
demonstrar hemorragias é vista
neste caso; apenas discretas
hipointensidades B podem ser
identificadas.
33-16B 12* GRE mostrando
uma lesão arredondada, com
artefato de susceptibilidade
magnética focai 3>] com várias
hipointensidades lineares discre
tas [r^.

33-16C Seqüência 12' SWt


mostrando hipointensidades
corticais e piais confluenles ex
tensas S].
33-16D 12* SWI mais infe
riormente mostrando múltiplos
"pontos pretos" pequenos
corticais SI característicos da
angiopatia amiloide, a causa sub
jacente da DVasc dessa paciente.
Seqüências 12* devem ser parte
de todos os protocolos de RM em
pacientes com demência.
Demências e degenerações cerebrais 981

33-17 O grafico demonstra a clássica atrofia desproporcional do lobo 33-18 Espécime de necropsia de DLFT mostrando importante atrofia
frontal de um estágio tardio da demência írontotemporal. Os sulcos são dos giros centrais Hcom uma aparência normal dos lobos parietal, oc-
proeminentes, e os giros são em lâmina de faca. Os lobos parieto-occipi- cipital. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)
tais estão poupados. Os giros ao redor do sulco central são normais.

quentes é a DLFT com proteína tau positiva (DLFT-TAU). Patologia


Algumas tauopatias esporádicas menos comuns sobre- P a t o l o g i a m a c r o s c ó p i c a . A s D L F Ts s ã o c a r a c t e r i z a d a s
põem-se com a DLFT do ponto de vista clinico, neuro- por atrofia frontotemporal acentuada, perda neuronal,
patológico e genético, sendo agora reconhecidas como gliose e espongiose das camadas corticais superficiais
formadoras de um espectro de uma tínica doença.
(Fig. 33-17). Os giros afetados são atilados e estreitos,
Degeneraçâo corticobasal, paralisia supranuclear causando a aparência típica dos giros em lâmina de faca.
progressiva, csclerose lateral amiotrófica e complexo As regiões posteriores do cérebro, em especial os polos
parkinsonismo-demência são todas parte de uma grande
occipitais, são relativamente poupadas até estágios tardios
família de doenças frontotemporais. Como seus achados da doença (Fig. 33-18).
de imagem são bem diferentes daqueles da DLFT, essas
doenças são consideradas separadamente a seguir, com Aspectos microscópicos. As DLFTs relacionadas às tauo
outras degenerações. patias são classificadas de acordo com os achados mor-
fológicos e a composição bioquímica das inclusões
Genética. O cérebro normal contém seis isoformas da
da proteína tau. A doença de Pick - a tauopatia DLFT
proteína tau, com três (3R-) ou quatro (4R-) repetições prototípica - é caracterizada pela presença de corpos
microtúbulos-ligantes. As mutações levam a um acúmulo de Pick, inclusões argirofílicas (coloração prateada) ar
anormal nos neurônios e/ou na glia. As tauopatias mais
redondadas ou ovais no citoplasma dos neurônios. Os
esporádicas (incluindo a degeneraçâo corticobasal e a pa
corpos de Pick são mais comumente encontrados nos
ralisia supranuclear progressiva) têm uma deposição pre
giros denteados, na amígdala e no neocortex frontal e
dominante de proteína 4R-tau, embora os corpos de Pick
temporal.
contenham exclusivamente proteína 3R-tau.
A maioria dos casos de DLFT é esporádica. Entre Estadiamento, graduação e classificação. Uma nova classi
tanto, 20 a 30% são familiares e exibem um padrão de ficação histopatológica da DLFT define quatro grandes
herança autossômico dominante. Cerca de 10% são cau categorias com base na presença ou na ausência de corpos
sados por mutações no gene da proteína tau associada aos de exclusão celular ou específicos: (I) DLFT com inclu
microtubules {MAPT, de microtubule-associatedprotein sões de proteína tau (DLFT-TAU), (2) DLFT com inclu
tau), e 10% têm mutações no gene da progranulina (GRN). sões de proteína tau negativa e TDP-43+ (DLFT-TDP),
A alta penetrância da expansão de repetição do he- (3) DLFT com inclusões de proteína tau/TDP negativo
xanucleotídeo no cromossomo 9p21 (C90RF72) tem e fiised-in sarcoma (FUS) positivo (DLFT-FUS) e (4)
sido associada com DLFT e esclerose lateral amiotrófica DLFT com imuno-histoquímica positiva contra proteínas
(ELA). do sistema proteossomo-ubiquitina (DLFT-UPS).
982 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

Aspectos clínicos ausência de comprometimento de outros domínios cogni


tivos. Pacientes com demência semântica (DS) exibem
Epidemiologia e demografia. a DLFT é a segunda causa mais
comum de demência "pré-senll", representando 20% de alterações de comportamento e dificuldade na compreen
são da linguagem, enquanto a fala está relativamente
todos os casos em pacientes com menos de 65 anos. Ex
fl u e n t e .
cluindo a encefalopatia hepática, ela é a terceira causa
A correlação entre a histopatologia e as síndromes
mais comum de demência. A DLFT constitui 10 a 25% de
clínicas varia. A DFTvc é histopatologicamente heterogê
todos os casos de demência. A prevalência estimada varia
entre 5 e 15/100.000.
nea. enquanto a DS está associada com patologia TDP e
patologia ANFP com proteína tau.
Apresentação. A idade média de início é mais jovem do
História natural. A sobrevida média dos pacientes com
que a observada na DA e em outras doenças neurodegene-
DLFT é de 6 a 11 anos após o início dos sintomas.
rativas. A DLFT ocorre entre a terceira e a nona décadas,
mas o pico de incidência é entre 45 e 65 anos.
Imagem
Três subtipos clínicos da demência frontotemporal
Aspectos gerais. Os achados da neuroimagem das DFTs
(DFT) são reconhecidos. O mais comum é a demência
devem ser analisados considerando-se o seguinte: se as
frontotemporal variante comportamental (DFTvc),
DFTs produzem atrofia focai temporal ou extratemporal
que é caracterizada por alterações na personalidade e na
conduta social. Em contraste com a DA, as funções visuo- (p. ex., frontal), se o padrão é relativamente simétrico ou
se é muito assimétrico, e qual lado (esquerdo x direito) é
espaciais inicialmente são bem preservadas.
mais gravemente afetado.
As outras duas síndromes de DLFT são os tipos va
riantes de linguagem. Afasta não fluente progressiva Achados na TC. As anormalidades na TC representam o es
(ANFP) é o distúrbio da linguagem que pode ocorrer na tágio tardio da DLFT. Atrofia simétrica grave dos lobos

33-19 A TC sem contraste em


um homem de 59 anos com DIFT
mostrando uma intensa atrofia
cerebral com giros em lâmina de
faca B. Observa-se a atrofia
do lobo temporal S com acen
tuado alargamento das fissuras
sílvianas. Os lobos parietal e occi
pital aparecem normais.
33-19B Imagem mais cefálica
do mesmo paciente mostrando
a atrofia predominantemente
frontal E3. Os sulcos parietais
também sâo moderadamente
proeminentes em um paciente
dessa idade.

33-19C PET com FDG mos


trando uma redução intensa
do metabolismo da glicose em
ambos os lobos frontais B; os
lobos parietais B são afetados
de modo menos grave. Os lobos
occipitais aparecem normais.
33-190 Imagem mais cefálica
do mesmo paciente mostrando
intenso hipometabolismo frontal
B, mas os lobos parietais apre
sentam moderada redução da
utilização da glicose.
Demências e degeneraçoes cerebrais 983

frontais com menor perda volumétrica nos lobos tempo ral e esquerdo versus direito. O subtipo DS mostra uma
rais é o achado mais comum (Fig. 33-19). perda volumétrica temporal bilateral, mas nenhuma
atrofia frontal (Fig. 33-20). A DFT e a ANFP demons
Achados na RM. Embora as imagens obtidas em TI mos
tram perda volumétrica frontal e temporal bilateral, mas
trem perda volumétrica frontotempora! generalizada, a
o hemisfério direito é mais afetado na DFTvc, enquan
morfometria baseada em Voxel pode diferenciar entre
to a perda volumétrica predomina no lado esquerdo na
subtipos patológicos distintos. A doença de Pick (DLFT- A N F P.
-TAU) é associada com atrofia assimétrica acentuada en Dano da SB também ocorre na DLFT, sendo prova
volvendo as regiões temporais e/ou extratemporais (i.e.,
velmente secundário a dano no córtex subjacente. A ima
frontais). A doença DLFT-TDP mostra atrofia assimétrica
relativamente localizada no lobo temporal. gem ponderada em difusão mostra o aumento da difusida-
de média no giro frontal superior, nos giros orbitais e nos
Algumas mutações genéticas na DLFT também exi lobos temporais anteriores.
bem diferentes padrões de perda volumétrica. C90RF72
.A DTI com FA reduzida no fascículo longitudinal su
está associada com atrofia simétrica dos lobos frontais,
perior é comum na DFTvc e correlaciona-se com os dis
com perda volumétrica adicional nos lobos temporais
túrbios de comportamento, enquanto o fascículo longitu
anteriores, nos lobos parietais e occipitais e no cerebelo dinal inferior é mais afetado na variante DS.
(Fig. 33-21). Em contraste, uma atrofia temporal antero- .A ERM mostra redução do NAA e elevação do ml
medial acentuada está associada com mutações da pro
nos lobos frontais.
teína tau, e a atrofia temporoparietal está associada com
mutações da progranulina. Achados na medicina nuclear. A PET com FDG mostra hi-

Subtipos clinicas da DLFT também se correlacio poperfusào e hipometabolismo nos lobos frontal e tem
nam com o predomínio da atrofia frontal versus tempo poral.

33-20A Séries de imagem em


um homem de 63 anos com DLFT
mostrando a utilidade do deta
lhamento dos padrões de atrofia
cerebral. Observa-se a intensa
perda volumétrica do lobo tem
poral B com relativa preserva
ção do giro frontal ES.
33-2DB T2 axial no mesmo
paciente mostrando importante
atrofia do lobo temporal relativa
mente simétrica, com giros em
lâmina de faca B e acentuado
aumento dos cornos temporais
dos ventrículos laterais S.

33-20C TI C+ coronal do
mesmo paciente mostrando alar
gamento simétrico das fissuras
silvianas e dos cornos tem
porais ES, indicando perda vo
lumétrica temporal. O giro frontal
posterior ES aparece normal.
33-200 Imagem coronal mais
anterior mostrando redução vo
lumétrica dos giros do lobo tem
poral, em lâmina de faca
e giros frontais normais B. A
atrofia com predomínio no lobo
temporal é relativamente simé
trica e compatível com DLFT do
subtipo DS.
984 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

Diagnóstico diferencial
o maior diagnóstico diferencial da DLFT é a DA, na qual
a atrofia é predominantemente frontal e parietal, com per
da volumétrica desproporcional dos hipocampos. A atro
fia do giro do cíngulo anterior, orbitais, e do córtex fron-
toinsular é mais característica da DLFT.
A DVasc é caracterizada por infartos corticais mul-
tifocais ou territoriais, isquemia na SB e lacunas nos nú
cleos da base.

DEGENERAÇÃO LOBAR
frontotÍmporal
Etiopatologla
• Classificada de acordo com as Inclusões celulares
33-21A TI sagital na fossa craniana média mostran o DLFT com inclusões de proteína tau
do perda volumétrica acentuada do lobo frontal B e o DLFT com inclusões de proteína tau (-), TDP (+)
moderada do lobo temporal ^3. o DLFT com proteína tau/TDP (-), fused in
sarcoma (+)
o DLFT com sistema proteossomo-ubiquitina (+)

Aspectos clínicos
• Segunda causa mais comum de demência
"pré-senil"
• Responsável por 20% de todos os casos em menores
de 65 anos
• Subtipos clínicos
o Variante comportamental (DFTvc)
o Afasia não fluente progressiva (ANFP)
^ W o Demência semântica (DS)

Imagem
• Classificação de atrofia (RM volumétrica melhor)
o Predominância frontal vs. extratemporal (frontal)
o Simétrica ou assimétrica (PET com FDG 18F)
B o Hipometabolismo frontotemporal
33-218 T2 axial mostrando perda volumétrica fron Diagnóstico diferencial
tal B e do lobo parietal BI, acentuada e moderada, • Doença de Alzheimer
relativamente simétrica, para o paciente aos 65 anos. o Parietal, temporal > frontotemporal
• Demência vascular
o Infartos multifocals
o Alterações isquémicas na SB

Demência com corpos de Lewy


Terminologia
A demência com corpos de Lewy (DLB) também é de
nominada doença difusa dos corpos de Lewy (DLBD).
Outras doenças com corpos de Lewy incluem doença
de Parkinson (DP), demência por doença de Parkin
son (DDF) e a chamada variante de corpos de Lewy
(vLB) da DA. Todas as três doenças se sobrepõem com
a DLB e abrangem um grupo de fenótípos clínicos que
variam de dificuldades relativas puramente motoras na
DDP a distúrbios cognitivos de comportamento que
33-21C Hipometabolismo nos lobos frontais B,
mas 05 lobos parietaisH são moderadamente ho- predominam na DLB. Coletivamente essas doenças são
lometabóllcos na PET, Possível DLFT com mutação agrupadas junto com o termo distúrbios dos corpos de
C90RF72.
Lewy.
Demências e degenerações cerebrais 985

33-22A Caso de necropsia de DLB difusa mostrando discreta perda 33-228 Corte axial mostrando um alargamento discreto dos ventrícu-
volumélrica generalizada sem uma predominância lobar específica. los sem outras anormalidades definidas identificadas. Os lobos occipitais
aparecem normais. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)

Etiologla Apresentação e diagnóstico. Como os sintomas da DLB po


dem lembrar outras demências mais comumente conheci
Os corpos de Lewy (LBs) sào proteínas intraneuronais
das {DA, DP), ela é pouco conhecida como uma causa de
esféricas e agregadas que consistem primariamente em a-
declínio cognitivo progressivo.
-sinucleina (a-sin), uma proteína pré-sináptíca desdobra
Três achados diagnósticos centrais da DLB podem ser
da, associada ao microtúbulo e semelhante à proteína tau.
definidos: (1) alucinações visuais recorrentes e distúrbios
Portanto, a DLB é considerada uma sinucleinopatia, um
grupo de doenças com mutação no gene a-sinucleína que espaciais, (2) parkinsonismo espontâneo e (3) cognição
flutuante com variações na atenção e alerta. A presença de
também incluem DP, DDP, atrofia de múltiplos sistemas,
dois desses três fatores é considerada evidência de DLB
insuficiência anatômica pura e distúrbio do comporta
mento do sono REM.
provável.
História natural. Pacientes com DLB pura têm taxas
Patologia anuais de atrofia e aumento ventricular que são compará
Patologia macroscópica. A aparência macroscópica da DLB veis em pacientes-controle de mesma idade e menos acen
lembra a DA inicial. A atrofia frontotemporal e parietal tuadas que nos pacientes com DA.
costuma ser discreta a moderada, enquanto os hipocampos
e os lobos occipitais em geral são poupados (FIg. 33-22). Imagem
A SM e o locus cenileus aparecem pálidos. Aspectos gerais. Apesar dos sintomas visuais proeminentes
Achados microscópicos. A marca histopatológica da DLB que costumam caracterizar a DLB, uma maior perda vo-
lumétrica occipital não é um achado típico. Estudos ana
é a presença de inclusões dc LBs no córtex e no tronco
tômicos por imagem em geral são normais ou mostram
encefálico, especialmente na SN e na substância cinzenta
(SC) mesopontina dorsal. Alguns marcadores patológicos
apenas uma perda volumétrica generalizada. A combina
de DA. como placas amiloides e ENs, podem ser encon ção da volumetria por RM e PET ou SPECT parece ser
mais útil.
trados em muitos pacientes com DLB. Por sua vez, as in
clusões de LBs podem ser identificadas em pacientes com Achados na RM. ATI apresenta apenas uma discreta atro
DA (vLB da DA). fia generalizada sem predominância lobar (Fig. 33-23),
T2/FLA1R podem demonstrar hiperintensldades na SB
Aspectos clínicos não específicas que são semelhantes àquelas encontradas
Epidemiologia e oemografia. a DLB agora é reconhecida em pacientes cogniíivamente normais.
como a segunda demência neurodegenerativa mais comum, Os estudos volumétricos em geral mostram pequena
correspondendo a cerca de 5 a 25% de todos os pacientes. atrofia cortical. A redução volumétrica nos hipoíálamos.
986 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

no prosencéfalo basal e no mesencéfalo pode ser vista em


alguns casos. Costuma existir uma atrofia mais putaminal
e relativamente menor no lobo temporal mediai na DLB
em comparação com a DA.
A DTI demonstra aumento da difusidade média nas
amígdalas e redução da FA nos fascículos longitudinal in
ferior e occipitofrontal inferior. A ERM mostra relações
NAAiCr relativamente normais.

M e d i c i n a n u c l e a r. O m e t a b o l i s m o n u c l e a r n a P E T c o m
FDG e a redução do fluxo sangüíneo em SPECT-FIMPAO
ou pRM são típicos da DLB (Fig. 33-24). O córtex visual
primário é especialmente afetado.
A neuroimagem do transportador de dopamina pré-
-sináptico com FP-CIT mostra uma quase ausência de
captação no putame e uma redução acentuada da capta
33-23A 12 em um paciente com declínio cognitivo e ção no caudado. Radioligantes colinérgicos podem ajudar
alucinações visuais mostrando discreta atrofia difusa. Os a identificar a importante perda neuronal colinérgica que
lobos occipitais mostram-se relativamente normais.
ocorre na DLB e na DDR

A inervaçào simpática reduzida para o coração ocorre


por todo o espectro da doença de LBs e pode ser medida
com 1-123 MIBG, um análogo da noradrenalina que pode
provar ser muito útil em diferenciar DLB de DA.

Diagnóstico diferencial
Como as anormalidades de movimento são um acha
do central da DLB, o maior diagnóstico diferencial é a
doença de Parkinson com demência. Entre 20 e 40%
dos pacientes com DP eventualmente desenvolvem um
distúrbio demencial progressivo, sendo assim dificil de
diferenciar as duas doenças puramente com os achados
clinico-patológicos. O segundo diagnóstico diferencial
importante é a DA. Os achados clínicos e patológicos das
duas doenças geralmente se sobrepõem. Pacientes com
33-238 Imagem mais cefálica do mesmo paciente
DLB têm um metabolismo reduzido da glicose e hipoper-
mostrando discreta perda volumétrlca simétrica e difu fusâo nos lobos occipitais com perda volumétrica variável
sa. O diagnóstico clínico era de DIB provável. nos núcleos da base. O hipometabolismo hipocampal e a
perda volumétrica são mais comuns na DA.
R-lateral C-lstsral R-<nedial L-medIal Superior A atrofia cortical posterior (ver a seguir) é uma
^1- T 4^ nova doença descrita que pode mimetizar DLB e normal
mente ocorre em pacientes mais jovens.

^ ^ ^ # Outras demèndas

Degeneração corticobasa!
^ V A Terminologia e etiologia. A degeneração corticobasal (DCB)
é uma doença neurodegenerativa e demencial incomum
V esporádica cuja caracterização continua sendo desenvol
vida. Antes considerada uma entidade clinico-patológica
^ O t -' O distinta, a DCB tem vários fenótipos clínicos e síndromes
associadas. Os termos síndrome corticobasal (SCB) e
ICttaC«c

fcft «4 1C Í6 SCB/DCB têm sido usados para o conhecimento da hete-


6.« 3» ao 4 O i.t

£ 4 C o r «
rogeneidade clinico-patológica da DCB.
33-24 PET com FDG em outro paciente com OLB A DCB é classificada como uma tauopatia, uma vez
mostrando hipometabolismo occipital E3. (Cortesia de que demonstra acúmulos anormais da proteína tau nos
N. Foster, MD.) neurônios e na glia.
Demências e degenerações cerebrais 987

R-laleral L-lateral R-medial L-medtal Superior

ííj- ^ ^ ®
^ ^ ^ A
< 11 / ^
#» ^ ^ i

33-25 DCB em uma mulher de 61 anos com o braço esquerdo espás- 33-26 PET com FOG em DCB (terceira linha) mostrando um acentuado
tico. Os lobos temporal e occipital parecem normais. Observam-se atrofia hipometabolísmo nos lobos frontoparietals e nos núcleos da base ES
assimétrica, filamento cortical e SB hiperintensa na região perirroiândica em Comparação com o normal (segunda linha). O hemisfério esquerdo
direita E3. ea é mais gravemente afetado do que o direito ^3. (Cortesia de N.
Foster, MD.)

Patologia. O achado macroscópico mais comum da DCB é clinicamente mais afetado. O córtex pré-frontal dorsal e
atrofia frontoparietal assimétrica, especialmente nas áreas perirrolândico, o estriado e o tegmento mesencefálico são
motoras e sensitivas. Os córtices temporal e occipital são as regiões mais envolvidas (Fig. 33-25). A FLAIR pode
relativamente poupados. A degeneração estriatonigral é mostrar hiperintensidades esparsas ou confluentes na SB
vista como uma acentuada atrofia e descoloração da SN. subcortical rolândica. A SPECT e a PET demonstram hi-
O putame, o GP, o tálamo e o hipotálamo são afetados em pometabolismo assimétrico e frontoparietal e nos núcleos
menor grau. da base/tálamo (Fig. 33-26). Os estudos usando imagem
Microscopicamente, a DCB é caracterizada por acro- com transportador de dopamina estriatal muitas vezes são
masia (neurônios pálidos em fonna de balão) e inclusões úteis em diferenciar DCB de outras doenças neurodegene-
rativas como a DP.
citoplasmáticas positivas para a proteína tau nos astrócitos
no córtex atrófico. O diagnóstico diferencial da DCB inclui as síndromes
parkinsonianas idiopáticas e atípicas (p. ex., paralisia
Aspectos clínicos. A DCB costuma afetar pacientes com 50
supranuclear progressiva e atrofia de múltiplos sistemas).
a 70 anos. O início é insidioso e progressivo. A DCB pode Em pacientes com disfunção cognitiva, os sintomas po
estar associada com uma ampla variedade de distiírbios dem mimetizar a DLB ou uma das síndromes da DLFT.
motores, sensitivos, de comportamento e cognitivos. Pa-
rkinsonisino resistente à levodopa, assimétrico, acinético Doença de Creutzfeldt-Jakob
rígido e distonia de membro (em geral afetando os braços) Encefalopatias espongiformes transmissíveis (EETs),
são achados clássicos. A rigidez é seguida por bradicine-
também conhecidas como doenças priônicas, são um
sia, distúrbio de marcha e tremor. O fenômeno do membro
grupo de doenças neurodegenerativas que incluem
alienígena ocorre em 50% dos casos. doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ), kuru, síndrome
Os achados corticais variáveis da DCB incluem de
de Gerstmann-Strãussler-Schenker e insônia familiar
clínio cognitivo com déficit da produção de linguagem fatal. As EETs em animais incluem a paraplexia enzoó-
(afasia não fluente) e sintomas que mimetizam paralisia tica (scrapie) dos ovinos (de ovelhas e cabras), a doença
supranuclear progressiva ou atrofia cortical posterior. O crônica debilitante (de veados e alces), a encefalopatia
aprendizado e a memória são relativamente poupados. espongiforme ("doença da vaca louca") e a encefalopatia
Imagem e diagnóstico diferencial. Os estudos de imagem felina (de gatos domésticos).
convencionais mostram uma atrofia frontoparietal mo O kuru foi a primeira EET humana reconhecida,
derada. mas assimétrica, contralateral ao lado que está ocorrendo na população de Papua Nova Guiné. Trata-se
988 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

33-27 Necfopsia de uma DCje mostrando uma atrofia acentuada nos 33-28 FLAIR axial mostrando achados clássicos da DCJe com núcleos
núcleos caudados S] e nos núcleos da base anteriores Í3]. 0 córtex caudados B, putame anterior B e tálamos IS hiperintensos.
cerebral é muito fino, em especial nos lobos occipilals í^l, onde quase
não é aparente. (Cortesia de R. Hewlett, MD.)

de uma síndrome atáxica cerebelar uniformemente fatal: Patologia. A patologia macroscópica mostra aumento ven
atualmente o kuru praticamente desapareceu, em função tricular, atrofia do núcleo caudado e perda volumétrica
do abandono do canibalismo, a única fonte de transmissão cortical que varia de mínima a intensa (Fig. 33-27). A SB
entre seres humanos. é relativamente poupada.
A DCJ é a EET humana mais comum e tem uma dis A tríade clássica para achados histopatológicos na
tribuição em todo o mundo. A DCJ é única, uma vez que é DCJ é perda neuronal acentuada, alterações espongifor-
tanto uma doença infecciosa quanto um distúrbio demen- mes e astrogliose intensa. Os córtices cerebral e cerebelar
cial neurogenético. A DCJ é a EET arquetípica e é deta são mais gravemente afetados, embora os núcleos da base
lhada na discussão a seguir. e os tálamos apresentem um envolvimento freqüente. Pla
Etíologia, a DCJ é uma doença neurodegenerativa rapi cas amiloides podem ser identificadas em 10% dos casos.
damente progressiva causada pelas partículas infecciosas Vários depósitos de PrP(Sc) estão presentes, e a imu-
proteináceas {"prions") que são desprovidas de DNA e norreatividade de Prp(Sc) é o padrão-ouro para o diagnós
RNA. A proteína priônica anormal, PrP(Sc), é uma iso- tico neuropatológico da doença priônica humana.
forma desdobrada (uma folha p-pregueada) da proteína
Epidemiologia e demografia. a DCJ agora representa mais
priônica normal do hospedeiro, PrP(C). A forma anormal de 90% das doenças priônicas em seres humanos. Cerca
propaga-se, recrutando a isoforma normal e estabelecen de 85% dos casos de DCJ são esporádicos (DCJe), com
do sua conformação na proteína homóloga do hospedeiro.
uma incidência mundial ao ano de 1 a 2 casos por milhão.
A conversão confonnacional de PrP(C) a PrP(Sc) é nw
O pico de idade de início é de 55 a 75 anos. Não existe
evento fundamental de todas as doenças priônicas.
predileção por gênero. A DCJ genética causa a maioria
Quatro tipos de DCJ são reconhecidos: esporádica dos demais casos (15%). A DCJv e a DCJ iatrogênica re
(DCJe), familiar ou genética, iatrogênica e variante
presentam menos de 1% dos casos.
(DCJv). A DCJe é o tipo mais comum. A DCJ genética A variante DCJ costuma se apresentar em pacientes
é causada por mutações diversas no gene PRNP A DCJ
mais jovens, entre 15 e 40 anos. Sintomas psiquiátricos pre
iatrogênica é causada por materiais contaminados com dominam. Cerca de 220 casos de DCJv já foram relatados,
prions (p. ex.. instrumentos cirúrgicos, enxertos de dura- com a maioria - mas não todos - ocorrendo no Reino Uni
-máter, transplante de córnea cadavérica, hormônio do
do. A incidência de DCJv tem reduzido nos últimos anos,
crescimento humano derivado da hipófise).
A DCJv costuma resultar da transmissão de encefalo-
mas pequenos números de novos casos são identificados.

patia espongiforme bovina do gado para seres humanos, Aspectos clínicos. Cinco subtipos clínico-patológicos da
sendo também conhecida como "nova variante" da DCJ. DCJe foram identificados. Três subtipos afetam predomi-
Demências e degenerações cerebrais 989

nantemente as funções cognitivas, e os outros dois com As TCs costumam ser normais, em especial nos está
prometem as atividades motoras cerebelares. No subtipo gios iniciais da doença. Estudos seriados podem mostrar
mais comum, uma demência rapidamente agravante é se dilatação ventricular progressiva e proeminência dos sulcos.
guida de movimentos mioclônicos e mutismo acinético. RM com difusão é o procedimento de imagem de
Em dois terços dos casos de DCJe, o eletroencefalograma escolha. Imagens ponderadas em TI em geral são nor
(EEG) mostra um padrão periódico característico de on mais. Hiperintensidades em T2/FLAIR nos mlcleos da
das bi ou trifásicas. base, nos tálamos e no córtex cerebelar são a anormalida
Duas apresentações menos comuns, mas importantes, de inicial mais comum na DCJe clássica. O núcleo cau-

da DCJe são a chamada variante de Brownell-Oppenhei- dado anterior e o putame são mais afetados que os GPs
mer (uma síndrome cerebelar pura) e a variante de Heide- (FIg. 33-28). O envolvimento cortical - especialmente
nhain (comprometimento visual puro levando a cegueira envolvendo os lobos frontal, temporal e parietal - é co
cortical).
mum, mas costuma aparecer assimétrico. O envolvimen
A DCJ é uma doença progressiva e fatal. A sobrevida to do lobo occipital domina na variante de Heidenhain
média é de cerca de quatro meses, embora a DCJv progrida (Fig. 33-29), enquanto o cerebelo é afetado na variante
de Brownell-Oppenheimer.
mais lentamente. Enquanto o diagnóstico definitivo da DCJe
Hiperinlensidade em T2/FLAIR no tálamo posterior
requer necropsia ou biópsia cerebral, os estudos de imagem (sinal do "pulvinar") ou no tálamo posteromedial (sinal do
permitem um diagnóstico de DCJe provável. A DCJv algu "taco de hockey") é vista em 90% dos casos de DCJv, mas
mas vezes pode ser diagnosticada com biópsia tonsilar.
pode ocorrer na DCJe (Fig. 33-30).
Imagem. A DCJ envolve principalmente as estruturas da SC A difusão mostra hiperintensidades no estriado e no
do cérebro. A doença da SB é muito menos comum e ge tálamo (Fig. 33-31). Restrição da difusão giriibrme no
ralmente é um achado final. córtex cerebral é comum. A DCJ não realça em TI C+.

33-29A Uma série de ima


gens mostrando achados clássi
cos da variante de Heidenhain da
DCJe. FLAIR axial mostrando hipe
rinlensidade cortical bilateral nos
lobos occipilais ES. Enquanto os
núcleos caudados anteriores S
aparecem discretamente hipe-
rintensos, os núcleos da base são
poupados.
33-29B FLAIR sagllal mos
trando hiperinlensidade occipital
e temporal posterior B. Os
lobos frontais e parietal anterior
são poupados.

33-29C T2 corona! do mesmo


paciente mostrando uma intensa
hiperinlensidade em ambos os
cortices occipilais B.
33-290 Difusão mostrando
uma intensa restrição do córtex
em ambos os lobos occipilais
B. A SB subjacente é poupada.
990 Distúrbios tóxicos, metabóilcos, degenerativos e do LCS

Diagnóstico diferencial. A DCJ deve ser diferenciada de


outras causas de demência como a DA e a DLFT. O en (continuQçõo)
volvimento dos núcleos da base na DCJ é um fator útil o isoforma desdobrada de PrP(Sc) do hospedeiro
na diferenciação. Diferentemente da maioria das doenças normal PrP(C)
demenciais, a DCJ mostra intensa restrição da difusão. o Propagada pela conversão conformacional de
A doença de Gerstniann-Straiissler-Schenker PrP(C) em PrP(Sc)
• Quatro tipos de DCJ conhecidos
(GSS) e a insônia familiar fatal (IFF) podem ser diferen o Esporádica (DCJe) (85%)
ciadas clinicamente da DCJe. A GSS geralmente apresen o Genética/familiar (15%)
ta-se como uma ataxia cerebelar com declínio cognitivo o latrogênica (< 1%)
de início tardio. A IFF começa com distúrbios autonômi- o Variante ("doença da vaca louca") (DCJv) (< 1%)
cos e de sono.
Aspectos clínicos
• Pico de idade = 55/75 anos
• Demência rapidamente progressiva, morte em DCJe
dentro de quatro meses
DOENÇA DE CREUTZFELDT-JAKOB
Imagem
Patologia e etiologia • Hiperintensidade em T2/FLAIR
• Encefalopatia espongiforme transmissível humana o Núcleos da base, tálamos, córtex
mais comum o Sinal do "pulvinar": tálamo posterior
• DCJ é uma doença priónica o Sinal do "taco de hockey": tálamo posteromedial
o Partículas proteináceas sem DNA, RNA o Córtex occipital na variante de Heidenhain
• Restrição da difusão
(continua)

33-30A Difusão axial em um


paciente com DCJe mostrando J Tf "
o sinal clássico do "taco de ^ • 1/^
hockey" do tálamo posterome
dial ES. Os núcleos caudados

. m
anteriores E3 e ambos os
putames B também são en
volvidos.
33-30B Difusão no mesmo
paciente com DCJe mostrando
uma forte restrição correspon
dente nos tálamos posterome
dials E3. nos núcleos caudados
E3 e nos putames S.

33-31A FlAIR axial em um


paciente com DCJv mostrando o
clássico sinal do "pulvinar" com
hiperintensidade simétrica nos
tálamos posteriores tS.
33-31B Difusão no mesmo
paciente mostrando restrição
focai em ambos os tálamos
posteriores B3 correspondendo
ao sinal do "pulvinar" visto na
FLAIR.
Demências e degenerações cerebrais 991

33-32A MP-RAGE sagital em um paciente com perda gradual da ha- 33-32B T2 no mesmo paciente mostrando aumento dos cornos occi-
biiidade visuoperceptual e diagnóstico clínico de ACortP mostrando uma pitais e acentuada redução da SB, atrofia cortical grave em ambos os lo-
perda volumétrica occipital acentuada E3 e parietal moderada bos occipitais ES e perda volumétrica temporal superior moderada com
alargamento das fissuras silvianas BI.

Atrofia cortical posterior


A atrofia cortical posterior (ACortP) é uma sindrome neu- Doenças degenerativas
rodegenerativa rara caracterizada por início insidioso e Nesta seção, será considerada uma variedade de degene
declínio seletivo e gradual das habilidades visuoespaciais rações cerebrais. Embora algumas (como a DP) possam
e visuoperceptuais. A memória e a fluência verbal são re ser associadas com demência, a maioria não é. Como a
lativamente bem preservadas. A idade do início dos sinto DP ocorre mais freqüentemente como um distúrbio de
mas costuma ser de 50 a 65 anos. movimento do que como uma doença demencial, ela será
A ACortP provavelmente afete os córtices parietal, discutida com outras demências degenerativas.
occipital e occipitotemporal, poupando relativamente os O uso de estimuladores cerebrais profundos (DBSs,
lobos frontais e temporomediais. Diferentemente da DA. de deep brain stimulators) em pacientes em tratamento
a alta densidade de ENFs e PSs é encontrada nas regiões para DP rígido-acinélica incapacitante é muito comum:
parieto-occipitais, enquanto os lobos frontais são menos portanto, uma revisão rápida do sistema estriato-dopa-
envolvidos. minérgico e de sua anatomia relevante será útil antes da
Uma atrofia com predominância posterior nos estu discussão sobre a DP.
dos de imagem é típica (Fig. 33-32), embora nem todos
os pacientes com ACortP demonstrem redução volumé Sistema estriato-dopaminérgico
trica. Envolvimento assimétrico, especialmente nos lobos Neurônios dopaminérgicos são encontrados no cérebro,
occipitais, é comum. Dados limitados nos estudos com mas é evidente que a maior coleção se situe no mesen-
DTI sugerem que a ACortP afete adversamente a integri céfalo. Aqui os neurônios dopaminérgicos são locali
dade dos tratos da SB nas regiões posteriores do cérebro. zados em três áreas específicas: área tegmental ventral
A PET com FDG mostra uni hipometabolismo dos lobos (ATV), pars compacta da substância negra (pcSN) e
parieto-occipitais e nos campos frontais oculares. campo retrobulbar. Os neurônios da ATV projetam-se
O maior diagnóstico diferencial da ACortP é a varian para o córtex frontal e estriato-ventral, enquanto os neu
te occipital (Heidenhain) da DCJ. Enquanto os achados rônios da pcSN se projetam para o putame e os núcleos
clínicos e histopatológicos de ambas as doenças se sobre caudados.

põem. a ACortP demonstra maior perda parietal direita Os neurônios dopaminérgicos mesencefálicos aju
com menor atrofia temporal mediai e hipocampal. Outras dam a regular os movimentos voluntários e influenciam
considerações diagnosticas incluem a DLB e a DCB. no comportamento de recompensa.
992 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LC5

-ít ■
V
I V .
9

33-33 RM 9.0 T axial no mesencéíalo mostrando núcleos subtalâ-


V
33-34 T2 no mesencéfalo superior mostrando a posição aproximada
mkos em formas de lente ÍS posicionados entre os polos rostrais dos dos núcleos subtalâmicos hipointensos B localizados medialmente aos
núcleos rubros medialmente Eíi e a SN B lateralmente. (Cortesia de pedúnculos cerebrais e envolvidos pela SN anteromedial. O núcleo sub-
T. P, Naidich, MD., B. N. Delman, MD.) talãmico é separado do núcleo rubro por uma fina banda hiperinlensa.

Anatomia macroscópica relevante Anatomia da imagem


O sistema estriatonigral consiste em niácleos da base (nú Nas seqüências ponderadas em T2 na RM 1.5 ou 3.0 T
cleo caudado, putame e GP), SN e núcleos subtalâmicos. com cortes finos, os NSTs são vistos como estruturas hi-
A anatomia macroscópica e por imagem dos núcleos da pointensas em forma de amêndoas que são orientadas obli-
base é discutida no Capitulo 32. quamente em todos os três planos-padrào. No plano axial,
A SN situa-se no tegmento mesencefálico, entre os o NST situa-se entre a SN anterossuperiormente e o NR
pedúnculos cerebrais e os núcleos rubros. Ela consiste em posteromedialmenie. A hipointensidade do NST mistura-
uma SC pigmentada que se estende ao longo do mesencé -se de modo imperceptível com aquela da SN (Fig. 33-34).
falo, da ponte para a região subtalâmica. A SN tem duas mas medialmente a SB da Zl separa o NST do NR.
partes: a pars compacta (que contém células dopaminér- O ponto mediano do NST situa-se 9.7 a 9,9 mm late
gicas) e a pars reticulata (que contém as células GABA- ralmente à linha média. Sua posição (e a correta localiza
éigicas). O núcleo rubro (NR) é uma formação de SC ção da ponta do DBS) pode ser estimada na TC achando-
arredondada que se situa medialmente à SN e serve como -se os pedúnculos cerebrais superiores e medindo-se 9 a
uma estação de transmissão do cerebelo, do GP e do cor 10 mm a partir da linha média.
tex (Fig. 33-33).
O núcleo subtalâmico (NST) é uma pequena estru
Doença de Parkinson
tura em forma de lente que mede cerca de 100 a 125 mm^
em seu volume total. A SN envolve as bordas anterior e Terminologia
inferior do NST. O NST situa-se dentro da cápsula inter A doença de Parkinson (DP) é uma doença neurodege-
na, 1 a 2 mm da borda anterolateral do NR. nerativa multissistémica que afeta diversas vias neuro-
A borda superior do NST é formada pelo fascículo nais e vários circuitos neurotransmissores. A constelação
lenticular, enquanto o aspecto lateral está em contato com de tremor ao repouso, bradicinesia e rigidez costuma ser
a cápsula interna. A borda mediai é formada por uma ban denominada parkinsonismo. Quando a DP é acompa
da de sustância branca - a zona incerta (Zl) - que se situa nhada de demência, ela é referida como demência as
entre o NST e o NR. sociada à doença de Parkinson (DDP). Quando a DP é
O NST atualmente é o alvo preferido do posiciona acompanhada de outros sinais clínicos, ela é chamada de
mento de eletrodo DBS estereotático de forma direta (com "Parkinson-pius", um termo abrangente que inclui atro-
base na imagem) e indireta (por atlas) no tratamento de fía de múltiplos sistemas e paralisia supranuclear pro
distúrbios do movimento. gressiva (ver a seguir).
Demências e degenerações cerebrais 993

33-35 Diagrama axial mostrando atrofia do mesencéfalo com estrei 33-36 Cortes de necropsia comparando o mesencéfalo normal (es
tamento e despigmentação da SN [S na DP (acima) em relação à ana querda) com um encéfalo afetado com DP (direita). Observam-se a per
tomia normal (abaixo). Observa-se um estreitamento da pars compacta da volumétrica do mesencéfalo na DP e a palidez da SN ES. (Cortesia
entre os NRs. de R. Hewlett, MO.)

Do ponto de vista clínico, a DP é classificada como em "borboleta" dos pedúnculos cerebrais (Fig. 33-35).
uma doença neurodegenerativa; do ponto de vista histopato- A despigmentação da SN da DP é um achado patológico
lógico, como uma doença com corpos de Lewy, e do ponto comum e está relacionada com a perda de neuromelanina
de vista imunopatológico, como uma sinuclcinopatia. (Fig. 33-36).
Achados microscópicos. Os efeitos mais devastadores da DP
Etiologia são achados no sistema dopaminérgico estriatonigral. As
Conceitos gerais. Embora inúmeros fatores ambientais te
duas marcas histopatológicas da DP são (1) depressão gra
nham sido implicados, o envelhecimento é o fator de risco ve dos neurônios dopaminérgicos na pcSN e (2) presença
mais significativo conhecido para a DP. de LBs nos neurônios sobreviventes. A imunocitoquímica
Na DP. a degeneração de neurônios dopaminérgicos mostra coloração nos LBs positiva para ubiquitina e a-
na pcSN reduz a entrada dopaminérgica no estriado. A -sinucleina.
degeneração neuronal é uma histopatologia relativamen
te avançada antes de se tomar clinicamente aparente. No Estadiamento, graduação e classificação. Braak e colabora
momento em que os sintomas clínicos se desenvolvem, dores dividiram a DP em seis estágios, que correlacionam
mais de 65% dos neurônios dopaminérgicos estão perdi os sintomas clínicos com a distribuição dos LBs. Os LBs
dos e 80% da dopamina estriatal estão depletados. começam a se acumular muito antes do diagnóstico. O
A morte de neurônios dopaminérgicos na DP é regio processo da doença no encéfalo em geral segue um curso
ascendente.
nal e muito seletiva, com perda neuronal muito concentra
da na pcSN. O mecanismo preciso da susceptibilidade dos Os estágios 1 e 2 são pré-clínicos. No estágio 1, os
LBs são confinados ao buibo e ao sistema olfatório. Com
neurônios dopaminérgicos e a tendência regional para a
a progressão da doença, os LBs espalham-se para o tronco
morte celular na pcSN são pouco entendidos.
encefálico superior e o telencéfalo. No estágio 3 de Braak,
Genética. A maioria dos casos de DP é esporádica e idiopá- inúmeros LBs estão presentes na SN, a perda de neurô
tica. Entre 10 e 20% são familiares. Onze locus genéticos, nios dopaminérgicos é evidente, o sistema colinérgico te-
incluindo mutação da glucocerebrosidase {GBA), foram lencefálico é envolvido, e os primeiros sintomas clínicos
identificados recentemente como fatores de risco para a DP. c o m e ç a m a a p a r e c e r.
No estágio 4 de Braak. o sistema límbico torna-se
Patologia comprometido. Na maioria dos estágios avançados (está
Patologia macroscópica. O mesencéfalo pode aparecer dis gios 5 e 6 de Braak), os LBs são envolvidos por todo o
cretamente atrófico com uma configuração chanfrada ou neocórtex.
994 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

33-37 TC axial em um paciente com posicionamento incorreto do DBS 33-38 FLAIR axial (acima) e T2'' 6RE (abaixo) em um homem de 6t
esquerdo (acima) mostrando a ponta situada acima e mediai ao NST. O anos mostrando discreta perda volumétrica do mesencéfalo e estreita
DBS esquerdo reposicionado e um novo DBS direito (abaixo) estão na mento da pcSN, em especial no lado direito B, onde é difícil delinear a
posição anatômica correta no NST. borda entre SN e NR.

Aspectos clínicos Opções de tratamento


Epidemiologia e DEMOGRAFiA. A DP é O dlstúrbic de movimen Tratamento niedicamentoso. Imímeras medicações es
to e a doença com LBs mais comum. Sua distribuição é tão disponíveis para o controle dos sintomas da DP. A le-
mundial, e a prevalência estimada é de 150 a 200:100 mil. vodopa foi introduzida há mais de 40 anos e persiste como
Existe uma discreta predominância no sexo masculino. tratamento mais eficaz, em especial em pacientes jovens.
O pico da idade de início é 60 anos. O início antes dos Como os neurônios secretores de dopamina da pcSN
45 anos é i ncomum. Raramente a DP ocorre como uma são perdidos, os níveis de dopamina estriatal tomam-se
distonia autossômica dominante de início juvenil. cada vez mais dependentes da administração periférica de

Apresentação. O diagnóstico de DP depende de vários sin levodopa. Por sua vez, esse estímulo não fisiológico rom
tomas. Os três sintomas cardinais da DP são tremor ao
pe um estriado já instável, e as flutuações nos sintomas
motores aumentam. As complicações motoras da levo
repouso, rigidez e bradicinesia (lentidão em executar os
movimentos). Uma face não expressiva, algumas vezes dopa, como "esgotamento", discinesia e fenômeno "liga-
chamada de "face em máscara" ou "face em pedra", é uma -desliga", são comuns. Na verdade, elas desenvolvem-se
em quase metade de todos os pacientes que receberam o
manifestação comum da bradicinesia. medicamento por mais de cinco anos, em 80% daqueles
Outros sintomas clássicos são o tremor tipo "contar
tratados por 10 anos, e em quase todos os pacientes com
dinheiro", a rigidez em "roda denteada", ou em "cano de
doença de início precoce.
chumbo", e a instabilidade funcional com marcha com
Terapias modificadoras de doença, como antagonistas
passos curtos. A rigidez ocorre nos músculos agonistas e da adenosina A2A, inibidores da MAO-b e agonistas da
antagonistas, afeta os movimentos em ambas as direções
e pode ocorrer nos movimentos passivos de velocidade dopamina, estão sendo consideradas, assim como a terapia
muito baixa. genética para melhorar a produção de dopamina in vivo.
A demência eventualmente desenvolve-se em 40% Opções cirúrgicas. Aestimulação de alta freqüência
de estruturas profundas do cérebro é agora a preferida à
dos pacientes com DP. Achados menos comuns da DP in
cluem alterações autonômicas, anormalidades de compor terapia ablativa/lesional. O uso de DBS tem se tornado a
técnica preferida para o tratamento de uma gama de sinto
tamento, depressão e distúrbio do sono.
mas relacionados à DP avançada.
História natural. A DP costuma seguir um curso progres O NST é considerado um dos alvos ideais para o
sivo lento, com uma duração média de 13 anos. Quedas DBS. Os eletrodos são inseridos por orifícios de trepana-
e "marcha congelada" tomam-se a maior causa de desa- çào 25 a 30 mm laterais às suturas sagitais, 20 a 30 mm
bilidade. anteriores às suturas coronais e angulados cerca de 60%
Deméncias e degenerações cerebrais 995

do piano horizontal da linha da comissura anterior-poste


rior (CA-CP). As posições dos eletrodos são determinadas DOENÇA DE PARKINSON
pela RM pré-operatória ou pelo uso de atlas computado Etiología e patologia
rizados padrão. • Degeneração dos neurônios dopaminérgicos na pcSN
A distância do NST da linha média varia de indivíduo o Redução da captação dopaminérgica no estriado
o Perda de 60% dos neurônios da pcSN; 80% da
para indivíduo. Como o NST costuma ser difícil de iden
tificar em imagens-padrão da RM, muitos neurocirurgiões dopamina estriatal depletados antes dos sintomas
clínicos de DP se desenvolverem
identificam o NR e posicionam o DBS um pouco ante
• Substância negra torna-se despigmentada
rolateral a ele. Estudos recentes indicam que alguns pa • Pars compacta fina
cientes - aqueles chamados de NST-dominantes - podem • Desenvolvimento de corpos de Lewy
responder bem com um DBS, assim como com eletrodos o A DP é a doença com corpos de Lewy mais comum
bilaterais.
Aspectos clínicos
• Pico de idade = 60 anos
Imagem • Três fatores cardinais
Achados na TC. A TC é usada principalmente seguida do o Tremor ao repouso
posicionamento do DBS para avaliar a posição do eletro o Rigidez
do e para verificar suas complicações cirúrgicas. O posi o Bradicinesia
cionamento correto no NST é visto quando a ponta dos
eletrodos está a cerca de 9 mm da linha média e localiza Opções de tratamento
• Medicamentoso
da dentro da margem superior dos pedúnculos cerebrais o Levodopa (L-dopa), outros fármacos
(Fig. 33-37). • Cirúrgico
Achados na RM. As sequências-padrão da RM costumam o Estimulação cerebral profunda (DBS)
o Implante de eletrodos nos núcleos subtalâmicos
ser desapontadoras no diagnóstico de imagem da DR Uma
discreta perda volumétrica do mesencéfalo vista como Imagem
uma conformação em "borboleta" pode ser observada na • Dificuldade de diagnóstico na RM convencional
RM 1.5 T em alguns casos avançados. Achados que po o +- atrofia do mesencéfalo
dem sustentar o diagnóstico de DP incluem afilamento da o +- substância negra afilada e irregular
o +- SN "tocada", núcleo rubro
pars compacta (com "toque" nos NRs e nas SNs) e perda • Imagem do transportador da dopamina (TrDopa)
do hipersinal normal da SN em TI (Fig. 33-38).
o PET ou SPECT pode mostrar redução da captação
Os NSTs são difíceis de identificar nas imagens-pa
drão de 1.5 e 3.0 T à medida que sua hipointensidade se
une com a hipointensidade da SN. Em 7.0 T, o formato
e os limites da SN nas seqüências com susceptibilidade, Atrofia de múltiplos sistemas
que normalmente aparecem lisos e arqueados, podem se Terminologia
tornar irregulares ("serrados" ou "granulados") e borrados
A atrofia de múltiplos sistemas (AMS) é uma doença
em pacientes com DP.
neurodegenerativa esporádica de início adulto que é uma
Medicina nuclear. Os transportadores de dopamina (TrDo- das síndromes Parkinson-pius mais comum. As síndro-
pas) são responsáveis pela limpeza da dopamina nas fen- mes Parkinson-plus exibem achados clássicos discinéticos
das sinápticas após sua liberação. A imagem do TrDopa da DDP mais défícits adicionais que não estão presentes
com SPECT ou PET é usada para avalizar a integridade na DP idiopática simples. As síndromes Parkinson-plus
das células nervosas dopaminérgicas pré-sinápticas em incluem AMS, paralisia supranuclear progressiva e DCB.
pacientes com distúrbios do movimento. A redução da Cada uma dessas condições será discutida por vez.
captação de radioligantes como 1-123 FP-CIT e 6-F18 A AMS inclui três doenças previamente descritas
fluoro-L-di-hidroxifenilalanina é considerada altamente como entidades separadas: degeneração estríatonígral.
sugestiva de DP. atrofia olivopontocerebelar e síndrome de Shy-Drager.
Essas doenças são agora conhecidas como subtipos clí
Diagnóstico diferencial nicos da AMS. Esses subtipos são identificados pela sin
Quando a demência está presente, o maior diagnóstico tomatologia dominante e foram renomeados para AMSp,
diferencial da DDP é a DLB. Os achados clínicos sobre AMSc e AMSa, respectivamente.
põem-se e são diferenciados pelo início dos sintomas se Quando os sintomas parkinsonianos (extrapiramidais)
o parkinsonismo precede a demência por muitos anos. predominam, a doença é designada AMSp. Se sintomas
Se isso ocorrer, o diagnóstico de DDP é mais provável cerebelares como ataxia predominam, a doença é denomi
que o de distúrbio dos LBs. O parkinsonismo é um acha nada AMSc. Quando os sintomas de falência autonômica,
do proeminente na atrolia de múltiplos sistemas (ver a hipotensão ortostática, anidrose global ou disfunções uro
seguir). genitals predominam, a condição é designada AMSa.
9 9 6 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

33-39 Caso de necropsia de AMSc mostrando atrofia cerebeiar, redu- 33-40 AMSc grave com marcada atrofia da ponte e cerebelo. O IV
ção das dimensões dos pedúnculos cerebelares médios e ponte pequena ventrícuio está alargado. Observar o sinal da "cruz" E^1. Na DTl, os tratos
com o sinal da "cruz" (Cortesia de J. Townsend, M.D.) pontinos são de difícil visualização B.

Etiologia e patologia
ATROFIA DE MÚLTIPLOS SISTEMAS
A etiologia da AMS é desconhecida. A patologia ina-
croscópica mostra dois padrões de atrofia diferentes.
TERMINOLOGIA, PATOLOGIA E ASPECTOS CLÍNICOS
A AMSp mostra despigmentaçao e palidez da SN. O Terminologia
putame pode estar atrofiado e mostrar uma coloração • Síndrome Parkinson-plus
acinzentada secundária ao acúmulo do pigmento lipo- • Três doenças agora consideradas parte da AMS
fuscina. Na AMSc, a perda volumétrica acentuada do o Degeneração estriatonigral
o Atrofia olivopontocerebelar
cerebelo, da ponte, dos pedúnculos cerebelares médios
o Síndrome de Shy-Drager
(PCMs) e do bulbo dá à ponte uma aparência cm "bico"
(Fig. 33-39). A AMSa pode demonstrar a combinação Patologia
desses padrões. • AMSp
Microscopicamente, a AMS é classificada como in o Substância negra despigmentada
clusões citoplasmáticas gliais que são imunopositivas o Putame atrofiado, coloração acinzentada
• AMSc
para cc-sinucíeína e ubiquitina.
o Ponte atrofiada "retificada"
o Aparência em "bico"
Aspectos clínicos o Pedúnculos/hemisfêrios cerebelares atróficos
A idade média de inicio é de 58 anos; a idade média • Achados microscópicos
de duração é de 5,8 anos. Os aspectos semelhantes o Inclusões citoplasmáticas gliais
a Parkinson estão presentes em 75 a 90% de todos os o Imuno-histoquímica (+) para sinucleína, ubiquitina
pacientes com AMS, independentemente do subtipo.
Outros sintomas como disaulonomia, ataxia cerebeiar e Aspectos clínicos
• Divididos em subtipos pelos sintomas dominantes
sinais cerebelares podem ocorrer em qualquer combina
o Parkinsoniano AMSp
ção. Cerca de dois terços dos casos de AMS são classi o Cerebeiar AMSc
ficados como tipo parkinsoniano (AMSp) e 32% como ° AutonômicoAMSa
AMSc. Algum grau de disautonomia sintomática está • Achados parkinsonianos em 85 a 90% de todos os
presente em quase todos os pacientes, mas raramente é pacientes com AMS
o achado dominante. Menos de 5% dos pacientes com • Início médio = 58 anos; duração = 5,8 anos
AMS têm AMSa.
Demências e degenerações cerebrais 997

33-41 TI "acima" e 12 "abaixo" axiais mostrando alterações da 33-42 12" GRE axial em um paciente com AMSp mostrando hipoin
AMSp. Observam-se os venlrículos/sulcos grandes e o putame afilado e tensidade anormal no putame B e hipointensidade proeminente inco-
atrofiado B com um anel lateral irregular de hipointensidade e hipe- mum na SN
rintensidade B.

Imagem Em pacientes com AMSp, o putame aparece peque


Aspectos gerais. Embora possa existir uma sobreposição, no e hipointenso em T2 e geralmente tem um anel com
alta intensidade irregular ao longo de sua borda lateral em
os achados de imagem para os dois subtipos mais comuns
1.5 T (sinal pufomincil slit) (Fig. 33-41). Cuidado: uma
de AMS (AMSp e AMSc) são um pouco diferentes.
linha hiperintensa slit-Uke, fina e lisa ao longo do putame
Achados na TC. A TC sem contraste na AMSc mostra atro lateral, é um achado normal em 3.0 T.
fia cerebelar com os hemisférios mais gravemente afe A T2* (GRE SWl) mostra aumento significativo no
tados que o verme. Uma ponte pequena retificada e um depósito de ferro do putame em comparação com os con
quarto ventrículo alargado são achados associados co troles de mesma idade e os pacientes com DP (Fig. 33-42).
muns. A atrofia cortical - especialmente envolvendo os
Medicina nuclear. A AMS é um distúrbio pré-gangliônico,
lobos parietal e occipital - pode estar presente. Os acha
dos na AMSp são menos óbvios. portanto a PET com marcadores adrenérgicos pós-gangli-
ônicos como 1-123 MIBG é normal.
A TC sem contraste pode demonstrar um putame re
duzido com as margens laterais retificadas.
Diagnóstico diferencial
Achados na RM. A AMSc na TI mostra uma ponte e um o maior diagnóstico diferencial da AMS é a DP. Os
bulbo reduzidos, atrofia cerebelar simétrica, PCMs pe achados clínicos normalmente se sobrepõem. A imagem
quenos e um quarto ventrículo alargado. mostra que a espessura dos pedúnculos cerebelares está
T2/FLAIR mostram uma hiperintensidade crucifor- diminuída na AMS, mas não na DP. O depósito de ferro
me na ponte denominada sinal da "cruz" (Fig. 33-40). O no putame aparece prccocemente e é mais proeminente na
sinal da "cruz" resulta da perda seletiva das fibras trans AMSp em comparação com a DP. A imagem com TrDopa
versas pontocerebelares mielinizadas e dos neurônios na mostra intensa redução ou ausência da captação na DP,
rafe pontina. mas é normal na AMS.
A difusão mostra aumento do ADC na ponte, nos pe- Síndromes parkinsonianas atípicas (p. ex., parali
dúnculos cerebelares médios, na SB cerebelar e nos nú sia supranuclear progressiva e DCB) também podem
cleos denteados. ser difíceis de diferenciar clinicamente da AMS, mas
A DTÍ demonstra redução do volume dos feixes de os valores de ADC regional e a espessura do PCM são
fibras e redução de FA nas fibras transversas pontocerebe normais.
lares degeneradas. Um envolvimento do trato corticospi A ataxia espinocerebelar pode parecer idêntica à
nal não é aparente nas seqüências T2 convencionais, mas AMSc, demonstrando os pedúnculos cerebelares atrófi-
pode ser demonstrado claramente com a DTI. cos e hiperintensos e um sinal da "cruz". A hipoglicemía
998 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

pode causar uma hiperintensidade transitória e uma restri das inclusões da proteína tau é predominantemente sub
ção da difusão aguda nos PCMs e nos tratos piramidais. cortical, com o GP, o NST, a SN e o tronco encefálico mais
gravemente afetados. O envolvimento cortical é comum.
ATROFIA DE MÚLTIPLOS SISTEMAS: IMAGEM
Aspectos clínicos
imagem Epidemiologia e demografia. a PSP é a segunda forma mais
• AMSp comum de parkinsonismo (depois da PSP idiopática) e é a
o Pütame pequeno com uma hipointensidade lateral mais comum das chamadas Parkinson-plus.
em T2/FLAÍR A prevalência da PSP depende da idade e é estimada
o T depósito de ferro putaminal em 12' em 6 a 10% de todos os casos de DP.
• AMSc
o Atrofia cerebelar Apresentação e história natural. O início dos sintomas da
o Pedúnculos cerebelares médios pequenos, côncavos PSP é insidioso, em geral começando pela sexta e sétima
o Ponte com dimensões reduzidas em "bico", sinal décadas de vida. O pico de início é de 63 anos, e nenhum
da "cruz" caso foi relatado em pacientes com menos de 40 anos.
o FA reduzida nos tratos transversos pontocerebelares
Dois fenótipos de PSP são reconhecidos: síndrome de
e corticospinal
• AMSa Richardson (PSP-RS) e PSP tipo parkinsoniana (PSP-P).
o Sem achados de imagem distintos A PSP-RS é a apresentação clássica mais comum, com
marcha balançante, distonia axial e sintomas oculares pre
Olagnóstico diferenciai coces. A paralisia do olhar conjugado vertical é um diag
• Doença de Parkinson
nóstico definitivo, mas costuma se desenvolver anos após
• Síndromes parkinsonianas atípicas (paralisia
o início da doença.
supranuclear progressiva, degeneração corticobasal) Um terço dos pacientes exibe o fenótipo PSP-P. O pa
• Ataxia espinocerebelar
• Hipoglkemia (hiperintensidade transitória no PCM) rkinsonismo domina o quadro clínico inicial, com bradi-
cinesia, rigidez, movimentos oculares normais e resposta
transitória à levodopa.
Paralisia supranuclear progressiva Embora o curso da doença seja variável, a PSP é um
processo neurodegenerativo progressivo. Os sintomas neu-
Terminologia
ropsiquiátricos desenvolvem-se em mais da metade dos
A paralisia supranuclear progressiva (PSP) - também
pacientes dentro de dois anos do início da doença. Em 15
conhecida como síndrome de Steele-Richardson-01-
a 30% dos casos, declínio cognitivo e alterações de com
szewski - é uma doença neurodegenerativa caracterizada
portamento são as queixas presentes e podem permanecer
por paralisia supranuclear do olhar, instabilidade postural como único achado clínico durante todo o curso da doença.
e demência discreta.

Imagem
Etiologia e patologia Achados na TC. A TC sem contraste mostra uma perda vo
Diferentemente da doença com LBs, da DP e da AMS
lumétrica variável do mesencéfalo com cisternas interpe-
(que são sinucleinopatias), a PSP é uma tauopatia. dunculares e ambientes proeminentes. Aumento ventricu
Quando a proteína tau flbriliza, ela toma-se menos lar discreto é comum.
solúvel, e as propriedades estabilizadoras de microtubules
são reduzidas. A PSP compartilha muitos achados clíni Achados na RM. Imagens ponderadas em TI e T2 sagitais
cos, patológicos e genéticos com outras doenças relacio mostram atrofia do mesencéfalo com a superfície supe
nadas à proteína tau, como a DCB e a DLFT com proteína rior côncava (sinal do "pingüim" ou do "beija-flor")
tau positiva. (Fig. 33-45). Cálculos volumélricos mostram que o me
O maior achado patológico macroscópico é a despig- sencéfalo sagital é menor que 70 mm^ e que a razão me-
mentação da SN e do locus cenileus com atrofia do me- sencéfalo/ponte é menor que 0,15, apenas metade daquela
sencéfalo. A atrofia variada do GP, do tálamo e dos NSTs, dos controles normais. Imagens axiais mostram alarga
juntamente com uma perda volumétrica discreta simétrica mento do ângulo interpeduncular e concavidade normal
frontal, também pode estar presente (Figs. 33-43 e 33-44). do tegmento do mesencéfalo.
A heterogeneidade patológica é comum na PSP. Os Além do mesencéfalo pequeno, do terceiro ventrículo
achados histopatológicos compatíveis com outras doenças alargado e das cisternas perimesencefálicas proeminentes,
neurodegenerativas coexistentes como a DA e a DLBD os pedúnculos cerebelares superiores também aparecem
estão presentes na maioria dos casos. atróflcos e a placa quadrigeminal geralmente é afetada.
A PSP é caracterizada histopatologicamente por per Os índices de DTl (FA, difusidade média e TC) de
da neuronal e gliose astrocítica. Inclusões celulares tau- monstram anormalidades na SB que geralmente são dis
-imunorreativas acumulam-se dentro dos neurônios e da cretas ou não aparentes em T2/FLAIR. As alterações na
glia (em astrócitos "tufados" ou estrelados). A distribuição SB são mais graves na PSP-RS.
Demências e degenerações cerebrais 999

Medicina nuclear. A PET com FDG mostra um hipoineta-


bolismo da glicose no mesencéfalo e ao longo das regiões
frontais mediais. Os radioligantes de TrDopa mostram
uma redução uniforme dos terminais nervosos de dopami-
na nos núcleos caudado e putame.

Diagnóstico diferencial
o maior diagnóstico diferencial inclui outras tauopatias
como a DCB e algumas formas de DLFT. Todas compar
tilham mecanismos moleculares comuns e provavelmente
sejam parte de um mesmo espectro de doença. A DA, a
DP e a AMSp geralmente não exibem perda volumétrica
mesencefáiica acentuada ou atrofia dos colículos superio
res, que são vistas na PSP.

33-43 Gráfico sagital (esquerda) e 12 de alta re


PARALISIA SUPRANUCLEAR PROGRESSIVA solução (direita) mostrando a ponte e o mesencéfalo
normais.
Etiología e patologia
• Proteína tau anormal ("tauopatia")
• Substância negra despigmentada
• Atrofia proeminente do mesencéfalo

Aspectos clínicos
• Segunda causa mais comum de parkinsonismo
• Início insidioso (década de 60, 70)
• Sintomas psiquiátricos desenvolvem-se em 50% dos
casos

Imagem
• Perda de volume do mesencéfalo
o Sinal do "pingüim" ou do "beija-flor" na TI sagital
o Afilamento da placa quadrigeminal (espessamento
dos colículos superiores)
o Cisternas adjacentes T
• Mesencéfalo, hipometabolismo frontal-medial

Diagnóstico diferencial 33-44 PSP com atrofia fronlotemporal B, SN SI


• Outras tauopatias
e locus ceruleus despigmentados í^, e pedúnculos
o Degeneração corticobasal cerebelares superiores pequenos SI.
o Algumas formas de DLFT
• Alzheimer, DP, AMSp
o Atrofia não desproporcional do mesencéfalo, dos
colículos superiores

Esclerose lateral amiotrófica

Terminologia
A esclerose lateral amiotrófica (ELA) também é conhe
cida como doença do neurônio motor (ELA-DNM) ou
doença de Lou Gehrig.

Etiologia
Conceitos gerais. Neurônios motores superiores (NMSs) no
córtex motor primário enviam axônios inferiormente ao
longo do trato corticospinal (TCS) para que passem pelo
33-45 PSP mostrando mesencéfalo pequeno com
mesencéfalo, cruzem na junção cervicobulbar e transitem concavidade superior com sinal do "pingüim" ou do
na medula espinal. Lá, eles se ligam com as células dos "beija-flor" B, atrofia teclai B e mesencéfalo côn-
cornos anteriores (neurônios motores inferiores [NMIs]). cavo
1000 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

33-46 T2 axial de um pacienle com 19 anos com diagnóstico de ELA 33-47 Tractogralia coronal de um paciente com ELA mostra que o TCE
mostra hiperintensidade bilateral do TCE estendendo-se da SB subcortical superior direito S é menor que o esquerdo com aparência relativa-
no córtex motor ES pela coroa radiada ES para a perna posterior das mente normal. (Cortesia de N. Agarwal, MD.)
cápsulas internas B e pedúnculos cerebrais f^.

A ELA é caracterizada pela degeneraçào progressiva


dos neurônios motores no cérebro e na medula espinal. Até
Aspectos clínicos:
Epidemiologia e demografia. ela tem uma incidência de 1
este momento, é discutível se a degeneraçào é uma neuro-
a 2 em 100.000 por ano e é a doença do neurônio motor
patia (i.e., começa no corpo celular e progride anterogra-
mais comum, representando aproximadamente 85% dos
damente) ou uma axonopatia com degeneraçào retrógrada.
todos os casos.
Genética. A expansão de hexanucleotideos repetidos no A maioria dos casos de ELA são esporádicos; 10 a
gene C90RF72 tem sido associada com ELA e DLFT. A 15% dos casos são familiares. A média de idade de início
mutação ocorre tanto em casos esporádicos quanto em ca dos sintomas é 10 anos antes do que a ELA esporádica.
sos familiares.
Apresentação. Sinais de doença tanto do NMS quanto do
NMI são geralmente exigidos para o diagnóstico clínico
Patologia de ELA. Evidência de degeneraçào do NMS incluem hi-
Patologia macroscópica. A evidência de atrofia muscular
pertonicidade, hiper-reflexia e alteração dos reflexos. A
generalizada afetando os membros, mtisculos intercostais doença do NMI resulta em fasciculações, atrofia e fraque
e o diafragma é típica na autópsia. Macroscopicamente, za musculares.
o cérebro geralmente nào demonstra alterações, mas dis
Enquanto ELA tem o mesmo espectro genético da
creta atrofia focai do giro pré-central pode ser vista em DLFT, a fraqueza muscular é seu fator dominante, e a
alguns casos. demência raramente ocorre. O início da doença é tipica
Achados microscópicos. A maior alteração histopatológica mente insidioso, uma vez que pelo menos 30% das células
da ELA é a perda dos neurônios motores no córtex motor, do como anterior são perdidas antes da fraqueza toniar-se
tronco encefálico, e cornos anteriores da medula espinal. clinicamente aparente.
Desmielinização, degeneraçào axonal e asirocitose são História natural. Embora a sobrevida média do diagnós
achados típicos. tico até o óbito seja entre 3 a 4 anos, 10% dos pacientes
Uma proteinopatia mediada por RNA com TDP-43 sobrevivem além de 10 anos. O óbito geralmente ocorre
e F U S m u t a d o s o c o r r e e m E L A e D L F T. A i m u n o - h i s - por insuficiência respiratória devido à fraqueza do dia
toquímica demonstra a presença de corpos de inclusões fragma.
citoplasmáticas da proteína ubiquitinada TDP-43 nos neu
rônios motores. Patologia extramotora é também comu- Imagem.
mente encontrada no córtex frontal e nos neurônios CA4 Achados na RM. Atrofia macroscópica no TI é incomum
dos hipocampos. na ELA. A morfometria baseada em voxel pode demons-
Deméncias e degenerações cerebrais 1001

trar atrofia sutil da substância cinzenta no giro pré-central.


Pacientes com ELA/DLFT exibem uma perda volumé- (continuação)
trica frontotemporal mais pronunciada. O TCE e a SB Aspectos clínicos
subcorUcais aparecem normais na maioria dos pacientes • ELA esporádica > familiar
• Inicio insidioso
com ELA com sinais NMSpredominantes!
• Sintomas de NMS, NMI
Pacientes com ELA/DLFT exibem uma perda volu-
• Morte por falência respiratória
métrica frontotemporal mais pronunciada. O TCS e a SB
siíbcorticais aparecem normais na maioria dos pacientes Imagem
com ELA com sinais de NMS predominantes. • T2/FLAIR geralmente normal
Uma pequena porcentagem demonstra hiperinten- o Hiperintensidade na TC costuma ocorrer, mas é
sidades no TCS nas seqüências DP, T2 ou FLAÍR. A incomum
o Segmento posterior da Cl, pedúnculos cerebrais
hiperintensidade pode ocorrer em qualquer lugar da SB • Oil mostra redução de FA
subcortical, dos pedúnculos cerebrais e da ponte. As al o Tractografia mostra afiíamento de um ou de ambos
terações geralmente sào mais proeminentes nas cápsulas os TCSs subcorticais
internas e nos pedúnculos cerebrais (Fig. 33-46). Como o
TCS normalmente é um pouco hiperintenso, esse achado Diagnóstico diferencial
tem pouca sensibilidade e especificidade como um "mar • Mais comum; normal
o TCS normalmente um pouco hiperintenso
cador" de imagem para ELA.
o Especialmente no segmento posterior da Cl,
Independentemente da intensidade do TCS, a DTI
mostra redução da FA nas cápsulas internas dos pacientes pedúnculos
• Menos comum
com ELA, indicando perda da integridade microanatômi- o Degeneração walleriana (unilateral)
ca. A SB extramotora também costuma mostrar redução o Esclerose lateral primaria
da FA. A tractografia demonstra truncamenlo subcortical o Doença desmielinizante
do TCS em pacientes com hiperintensidades demonstrá- o Infiltração tumoral
veis nas seqüências DP ou T2 (Fig.33-47).
A ERM geralmente é não específica com redução em
NAA:Cr no córtex pré-central.
Degeneração walleriana
Diagnóstico diferencial Terminologia
O maior diagnóstico diferencial da ELA é a hiperintensi A degeneração walleriana (DW) é uma degeneração an-
dade normal dos tratos de SB compactos, inteiramente terógrada intrínseca dos axônios distais e de suas bainhas
mielinizados. O TCS costuma ser levemente hiperintenso de mielina causada por destacamento de ou dano a seus
em T2, especialmente na RM de 3.0 T. axônios proximais ou corpos celulares.
Outra consideração diagnostica é a esclerose lateral
primária (ELP), uma doença do neurônio motor autos- Etlologia
sômica recessiva de início juvenil que afeta apenas os No cérebro, a DW geralmente ocorre após trauma, infarto,
NMSs. A degeneração walleriana também pode causar doença desmielinizante ou ressecção cirúrgica. Os tratos
hiperintensidade em T2/FLAIR ao longo do TCS, mas é descendentes da SB ipsilaterais aos neurônios danificados
unilateral. degeneram - mas não imediatamente. Os axônios podem
Outras doenças que podem demonstrar hiperintensi permanecer morfologicamente estáveis nas primeiras 24 a
dade em T2 ao longo do TCS incluem desmielinização 72 horas. A parte distai do axônio então sofre fragmenta
e doenças inflamatórias. doenças metabólicas como o ção progressiva que progride em direção ao axônio.
coma hipoglicemico agudo e neoplasias infdtrativas A maioria das formas de degeneração axonal agora
(mais comumente astrocitomas de alto grau). envolve eventos em "cascata". O comprometimento da
barreira hematonervosa causa uma rápida absorção de
cálcio do espaço extracclular para o citoplasma axonal,
ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA ativando a protease cálcio-sensivel calpaína e danificando
Terminologia e etlologia o transporte axonal. As mitocôndrias são danificadas e os
• Doença de Leu Gehrig vacúolos são acumulados, levando a um edema axonal.
• Atrofia do neurônio motor progressiva no cérebro, na A via da degradação ubiquitina/protease é ativada, e
medula espinal os axônios eventualmente sofrem autofagia com degrada
Patologia ção das proteínas intracelulares e das organelas.
• Cérebro macroscopicamente normal A infiltração de macrófagos exacerba o dano celular
• Perda de neurônios motores por liberar mediadores pró-inflamatórios tóxicos. O resul
tado é uma desintegração granular do citoesqueleto e per
(continua)
da volumétrica nos tratos de SB afetados ou nos nervos.
1002 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

33-48 Espécime de necropsia de um paciente com DW crônica após 33-49 TC sem contraste (esquerda acima) e uma série de imagens
um grande infarlo na artéria cerebral média (ACM) esquerda SI mos ponderadas em T2 demonstrando alterações crônicas da OW após um
trando perda de volume do pedúnculo cerebral esquerdo e da ponte infarto territorial grande. Observa-se atrofia do pediinculo cerebral es
superior ES. (Cortesia de R. Hewlett, MO.) querdo, da ponte superior e do mesencéíaio B.

Patologia sidades em T2/FLAÍR ou restrição da difusão no TCS que


Praticamente qualquer trato da SB ou do nervo no encé- podem ser precursores da DW (Fig. 33-50).
falo, na medula espinal ou no sistema nervoso periférico Quando a DW se desenvolve, a hiperintensidade em
T2/FLAIR ao longo do TCS ipsilateral ao córtex danifi
pode exibir alterações de DW. A via de fibras motoras di
recionadas caudalmente do TCS descendente é a locali
cado pode ocorrer tão cedo quanto três dias após o início
de um grande infarto, mas costuma se tornar visível entre
zação mais comum do evento cerebral visível. Outras lo
três e quatro semanas depois. A hiperintensidade pode ser
calizações afetadas incluem o corpo caloso, as radiações
transitória ou permanente. Alterações crônicas incluem
ópticas, os fòmices e os pedúnculos cerebelares.
Na DW crônica, a perda volumétrica do mesencéfalo focos de encefalomalacia franca com perda volumétrica
e da ponte ipsilateral para uma lesão destrutiva (p. ex., um do pedúnculo ipsilateral, da ponte rostral e das pirâmides
medulares. A DW crônica não realça em Ti C-i-, mas de-
grande infarto territorial) é macroscopicamente visível
(Fig. 33-48). Os achados microscópicos incluem altera generação aguda pode mostrar discreto realce transitório.
ções precoces da desintegração da mielina e destruição do Restrição da difusão transitória no TCS pode desen
axônio.
volver-se no infarto isquêmico agudo, dentro de 48 a 72
horas. A redução de ADC e FA é um achado característico.
Aspectos clínicos Alterações microesiruturais nos tratos da SB são espe
cialmente bem demonstradas na DTl (Figs. 33-51 e 33-52).
As anormalidades da imagem na DW (ver a seguir) pa
Infarto hemisférico crônico mostra redução da difusidade
recem se correlacionar com déficits motores e pior prog
média (DMed) e da FA com ausência da cor no TCS.
nóstico.

Diagnóstico diferencial
Imagem
o maior diagnóstico diferencial da DW é a doença neuro-
Achados na TC. A TC é pouco sensível nos estágios agudo
e subagudo da DW. A atrofia do pedúnculo cerebral ipsila degenerativa primária. A hiperintensidade em T2/FLAIR
teral é o achado mais comum na DW crônica (Fig. 33-49). algumas vezes vista na ELA é bilateral e estende-se da
SB subcortical adjacente ao córtex motor até o tronco en-
Achados na RM. O desenvolvimento de DW visível segui cefálico. Tumores cerebrais primários infiltrativos de alto
do de infarto, trauma e cirurgia não é previsível. Pouco grau (em geral astrocitonia anaplásico ou glioblastoma
menos da metade dos pacientes com déficits motores se multiforme) infiltram ao longo dos tratos da SB compac
guidos de um infarto lacunar agudo demonstra hiperinten- ta, mas causam expansão e, não, atrofia.
Demências e degenerações cerebrais 1003

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33-50 Um paciente com OW aguda três semanas após uma ressecçâo 33-51 OTI em um paciente com DW mostrando a ausência da cor azul
de tumor no hemisfério cerebral esquerdo. A RM mostra hiperintensida- (fibras descendentes) ES no pedúnculo cerebral esquerdo (TCS) compa
de no TCS ES sem perda volumétrica. rado com o TCS direito normal

Degeneraçõo olivor hipertrófica o NOl ipsilateral, completando o triângulo de Guillain-


-Mollaret (Fig. 33-54).
Para entender os achados de imagem na degeneração oli-
var hipertrófica, é necessário primeiro entender a anato
mia do bulbo e as conexões funeionais entre as olivas, os Terminologia
NRs e o cerebelo.
A degeneração olivar hipertrófica (DOH) é uma degene
ração secundária do NOl causada por um dano na via den-
Anatomia do bulbo e do triângulo de Guillaín- teado-rubro-olivar. A interrupção da via denteado-rubro-
Mollaret -olivar em qualquer ponto causa DOM,
Duas protLiberâncias proeminentes ventrais estão pre
sentes na superfície superior do bulbo: as pirâmides e as Etlologla
olivas. As pirâmides são estruturas pareadas, separadas Diferentemente das outras degenerações. na DOH as es
na linha média por uma fissura mediana central no bulbo. truturas degenerantes (as olivas) tornam-se hipertróficas
em vez de atróficas. Sintomas cerebelares e atrofia olivar
Elas contêm os TCSs ipsilalerais acima de sua decussa-
costumam se desenvolver muitos meses após o evento in-
ção, As olivas são niícleos de SC complexos e embolados
citante. Entendera clínica e os fundamentos patológicos
ciue são laterais às pirâmides e separados delas por um
sulco ventrolateral (pré-olivar) (Fig. 33-53). da DOH, assim como suas manifestações de imagem, aju
O triângulo de Guillain-Mollaret consiste em nú dará a evitar potenciais interpretações erradas dessa lesão
cleo olivar inferior (NOl) ipsilatcral, núcleo denteado incomum, como evento isquêmico, neoplasia ou desmie-
(ND) contralateral e NR ipsilateral, juntamente com linização tumefativa local.
suas três vias neurais de conexão, ou seja, trato olivo- A DOH é uma degeneração trans-sináptica causada
cerebelar. trato dentatorrubral e trato tegmental por lesões no triângulo de Guillain-Mollaret. Lesões nos
central. tratos denteado-rubral ou tegmento-central (rubro-olivar)
Fibras olivocerebelares do NOl ipsilateral cruzam a fu n ci o n a l m e n te d e sco n e cta m a s o l i va s e ca u sa m a D OH
linha média através dos pedúnculos cerebelares inferiores, mais freqüentemente do que as lesões localizadas na via
conectando-se com o ND contralateral e o córtex cerebe- o l i v o - c e r e b e l a r.
lar. As fibras dentalorrubrais então entram no pedúnculo A lesão primária na DOH costuma ser hemorrágica,
cerebelar superior {hrachium conjiinctiviim) e decussam tanto por hipertensão, cirurgia, má formação vascular ou
no mesencéfalo para se conectar ao NR oposto. O tra trauma. Infarto pontomesencefálico também ocasional
to tegmentar central ipsilateral então desce do NR para mente causa DOH.
1004 Distúrbios tóxicos. metabólicos, degenerativos e do LCS

33-52A T2 axíal em um pa
ciente com DW aguda provada
por biópsia mostrando uma lesão
blperintensa e expansiva na SB
cerebral profunda E2.
33-52B A tiiperintensidade
em continuidade com a lesão da
SB hemisférica é vista no TCS es
querdo S. Pode-se compará-la
com a hiperintensidade discreta
e normal no pedúnculo cerebral
direito ES.

33-52C T2 coronal mostran


do uma fiiperintensldade em
continuidade com a lesão da SB
profunda ES por todo o seu
caminho na cápsula interna S,
pela ponte B3 e inferiormente
atéobuibo S.
33-52D TI C+ coronal com
saturação de gordura mostrando
realce ao longo da cápsula inter
na cefálica ES.

3 3 - 5 2 E D i fu sã o co ro n a l mo s
trando restrição no ICS esquerdo
E S
33-52F DTI colorida mostran
do alguma redução dos tratos
de fibra azul (de superior para
inferior) na cápsula interna es
querda B.
Deméncias e degenerações cerebrais 1005

33-53 Gráfico axial do bulbo superior mostrando as pirâmides buiba- 33-54 Gráfico coronai mostrando o triánguio de Guiilain-Mollaret. O
res El em cada lado da fissura mediana ventrai. As olivas B situam- triângulo é composto peio núcieo oiívar inferior ipsiiateral (verde), peio
-se posteriormente ao sulco pré-olivar E3. núcleo denteado (azul) do cerebelo contralateral e peio NR ipsiiateral
(vermelfio).

Alguns casos de doenças mitocondriais com muta Aspectos clínicos


ção de POLG e SURFI já foram descritos como causa de Epidemiologia e demografia. a DOH é rara. Já foi relatada
DOH. Ocasionalmente, nenhuma lesão incitante pode ser em pacientes de todas as idades, de crianças a idosos. Não
i d e n t i fi c a d a .
existe uma predileção por sexo.

Patologia Apresentação e história natural. A apresentação da DOH é


Localização. Três padrões distintos desenvolvem-se, todos um mioclono palatal, que costuma se desenvolver entre
relacionados à localização e à lesão incitante. Na DOH 4 e 12 semanas seguidas do dano cerebral. O mioclono
ipsiiateral, a lesão primária é limitada ao trato tegmentar palatal é visto como movimentos rítmicos e involuntários
central no mesencéfalo. Na DOH contralateral, a lesão do palalo mole, da úvula, da faringe e da laringe. O tremor
primária está localizada no cerebelo (no ND ou no pedún- denteado-rubral ("tremor de Holmes") pode ocorrer antes
ciiio cerebelar posterior). Na DOH bilateral, a lesão en do mioclono palatal.
volve tanto o trato tegmentar central quanto o pedúnculo
cerebelar superior. Imagem
Cerca de 75% dos casos de DOH são unilaterais e Aspectos gerais. O desenvolvimento da DOH é um proces
25% são bilaterais. so tardio. Enquanto as alterações algumas vezes podem
ser detectadas dentro de 3 a 4 semanas após o início do
Patologia macroscópica. A hipertrofia olivar é vista ma-
dano, a hipertrofia máxima ocorre entre 5 e 15 meses. A
croscopicamente como alargamento assimétrico do bulbo
anterior. O NR contralateral geralmente é visto pálido. Na hipertrofia costuma se resolver em 1 a 3 anos, e o NOI
eventualmente toma-se atrófico.
DOH crônica, o NOl ipsiiateral e o córtex contralateral
podem estar reduzidos e atrofiados. Achados na TC. Enquanto a TC sem contraste pode de
monstrar a lesão primária (p. ex., hemorragia), a DOH
Achados microscópicos. A interrupção do triângulo de
geralmente não é identificada.
Guiilain-Mollaret funcionalmente desconecta a oliva. O
resultado é degeneraçào citoplasmática e vacuolar, au Achados na RM. As imagens ponderadas em TI costumam
mento neuronal e proliferação de astrócitos gemistocíti- ser normais ou mostrar um discreto aumento do NOI. A
cos. Os neurônios aumentados e os astrócitos proliferados hiperintensidade em T2/FLAÍR sem o aumento do NOI
causam a hipertrofia inicial. Com o tempo, a oliva afetada ocorre entre quatro e seis semanas, mas pode ser detec-
a t r o fi a . tável tão cedo quanto três semanas após o insulto inicial.
1006 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

33-55A T2 axial em um paciente que desenvolveu mlociono palatal 33-556 T2 axial no bulbo do mesmo paciente mostrando DOH unila
seis meses depois da ressecção de um meduloblastoma mostrando alte teral GS.
rações cirúrgicas no núcleo denteado direito B.

Entre três meses e muitos anos depois, o NOl mostra-


-se tanto hiperintenso quanto hipertrofiado {Figs. 33-55 DEGENERAÇÃO OLIVAR HiPERTRÓFICA
e 33-56). Enquanto a hipertrofia costuma se resolver e
Etiologia
a atrofia eventualmente ocorre, a hiperintensidade pode • interrupção do triângulo de Guillain-Mollaret
persistir indefinidamente. o Causa degeneração trans-sináptica
A DOH não realça em TI C-t*. • Geralmente secundária a lesões no mesencéfalo
A T2* SWl pode demonstrar degeneração do NR, vis o Malformação cavernomatosa, neoplasias
ta como uma perda da hipointensidade normal no NR; o
Patologia
sinal deveria se assemelhar àquele da SN. • Hipertrofia olivar inferior
o Pode ser uni ou bilateral
Medicina nuclear. A PET mostra aumento da atividade me-
• Localização variável
tabólica nos estágios iniciais da DOH, enquanto a SPECT
o ipsilateral ou contralateral à lesão primária
pode demonstrar hiperperfusão.
Aspectos clínicos
Diagnóstico diferencial • Rara
• Pode ocorrer em qualquer idade
O maior diagnóstico diferencial da DOH é a variedade de
• Início tardio
outras lesões que causam hiperintensidade em T2/FLAIR
o Geralmente ocorre 4 a 12 semanas após o insulto
no bulbo anterior. Essas lesões incluem doenças desmie- • Mioclono palatal, tumor dentalorrubral
linizantes, neoplasias e infarto de artérias pcrfurantes.
A presença de lesão incitante no triângulo de Guillain- Imagem
-Mollaret (p. ex., hemorragia) estabelece a anormalidade • Hipertrofia máxima com 5 a 15 meses
o Geralmente resolve em 1 a 3 anos
olivar como DOH.
o Depois a NOl atrofia
Uma rara semelhança da DOH bilateral é causada
• Hiperintensidade em NOl em T2/FLAIR
pelo antibiótico nitroimidazol chamado de metronida- • Não realça
zol. A neurotoxicidade do metronidazol é uma ence-

falopatia induzida por fármacos com lesões hiperinten- Diagnóstico diferencial


• Comum
sas em T2/FLA1R no esplênio do corpo caloso e NR,
assim como no caudado, no lentifonue, nas olivas e no o [sclerose múltipla, neoplasia
o Infarto de artéria perfurante
núcleo denteado. As lesões costumam ser bilaterais e
• Raro, mas importante
simétricas.
o Neurotoxicidade do metronidazol
Deméncias e degenerações cerebrais 1007

33-56A TI C+ axiai em uma mulher de 46 anos que desenvolveu 33-566 T2 na mesma paciente mostrando OOH bilateral E2.
mioclono palalal 18 meses após uma hemorragia no ironco encefético
secundária a uma malformação mista S cavernosa ea

H e m i a t r o fi a c e r e b r a l A TC óssea mostra graus variáveis de espessamento


da calota craniana, elevação da asa do esfenoidc e do
(Dyke-Davidoff-Masson)
osso temporal petroso e expansão dos seios e da mas-
TeriDínologia e etiologia toide.
A síndrome de Dyke-Davidoff-Masson (DDMS, de
Achados na RM. A TI mostra perda volumétrica hemis-
Dyke-Davidoff-Masson syndrome), também conhecida
férica com sulcos e cisternas proeminentes. T2/FLAIR
como hemiatrofia cerebral, costuma ser causada por um
demonstra encefalomalacia com giros e SB subcortical
dano intraulerino ou na infância precoce como infarto,
reduzidos e hiperintensos (Fig. 33-59). O pedúnculo cere
trauma ou (menos comumente) infecçào. A falta de cres
bral ipsilateral em geral é pequeno. A atrofia do cerebelo
cimento do cérebro ipsilateral causa um espessamento da
calvária e do espaço diploico, enquanto os seios parana esquerdo contralateral é comum e secundária à diásquise
cerebelar cruzada.
sals e as mastoides tornam-se alargados e hiperaerados
A DDMS não realça em TI C+, nem demonstra res
(Fig. 33-57).
trição da difusão.
Aspectos clínicos
Diagnóstico diferencial
Os pacientes costumam se apresentar com hemiplegia ou
O maior diagnóstico diferencial é a síndrome de Sturge-
hemiparesia contralateral. Crises convulsivas e retardo
-Weber (SSW). A DDMS não apresenta o angioma piai
mental são comuns.
com realce, o alargamento do plexo coroide e as calcifica-
Imagem ções corticais distróflcas da SSW.
A encefalite de Rasmussen não demonstra as alte
Aspectos gerais. O hemisfério afetado demonstra redução
rações típicas da calota craniana da DDMS, mostrando
volumétrica difusa com encefalomalacia e gliose. A he
encefalomalacia mais focai, geralmente no lobo temporal
miatrofia do lado esquerdo (70%) é mais comum que a do
mediai e ao redor da fissura silviana. Na hemimegaloen-
lado direito.
cefalia, o hemisfério anonnal é aumentado (não pequeno
Achados na TC. A TC sem contraste demonstra um hemis como na DDMS) e tem aspecto displásico causado por
fério atrófico com alargamento dos sulcos e dilatação dos um supercrescimento hamartomatoso. Grandes infartos
ventrículos Ipsilaterais. O seio sagital superior e a fissura territoriais na ACM que ocorrem após dois ou três anos
inter-hemisférica em geral são deslocados da linha média não causam as alterações na calota craniana que caracte
(Fig. 33-58). rizam a DDMS.
1008 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

33-57 Gráfico axial moslrando


DDMS com hemisfério esquerdo
reduzido e atrofiado, espessa-
mento da calota craniana ES e
inserção da foice fora da linha
média B e do seio sagital su
perior [S.
33-58 TC sem contraste
mostrando os achados típicos da
ODMS, com atrofia significativa
e caicificações distróficas no
hemisfério cerebral esquerdo. A
foice insere-se fora da linha mé
dia [^, e a calota craniana está
espessada

33-59A TI axial em um
menino de 13 anos com crises
convulsivas de longa data e
hemiparesia esquerda mostran
do hemialrofia do hemisfério
cerebral direito acentuada, com
alargamento do ventriculo lateral
E3, foice e fissura inter-hemis-
férica fora da linha média B3 e
calota craniana espessada BI.
33-596 T2 mais cefálica no
mesmo paciente mostrando que
o LCS preenche espaços acima
do hemisfério cerebral atrofiado.
Pode-se comparar o espessa-
mento da calota craniana
com o normal do lado esquerdo.

33-59C FLAIR no mesmo pa


ciente mostrando atrofia cortical
com gliose na SB extensa EES,
redução volumétrica dos núcleos
da base BI e do seio frontal
direito proeminente tS3.
33-590 T1 C+coronal com
saturação de gordura no mesmo
paciente mostrando elevação,
hiperaeração do osso temporal
direito IB e inserção da foice e
do seio sagital superior fora da
linha média El. (Cortesia de M.
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Deméncias e degenerações cerebrais 1009

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34
Hidrocefalia e doenças do
iquido cerebrospina
A seguir, serão descritas as variações da normalida
Desenvolvimento normal dos ventrículos e das
cisternas 1013
de, que não devem ser confundidas com doença, e então
Ventrículos 1013
a hidrocefalia e as manifestações da pressão liquórica
Plexo coroide 1014 elevada, incluindo hipertensão intracraniana idiopática
Espaços subaracnoides 1014 ("pseudotumor cerebral"). O capítulo se encerrará com
Anatomia normal dos ventrículos e das cisternas 1014 uma discussão sobre fistulas Iiquóricas e hipotensão in
Sistema ventricular 1014 tracraniana.
Plexo coroide e líquido cerebrospinal 1017
Espaços/cisternas subaracnoides 1017
Va r i a ç õ e s da normalidade 1018
Ventrículos laterais assimétricos 1018 Desenvolvimento normal dos
Cavum do septo pelúcido e covum vergae 1018 ventrículos e das cisternas
Cavum velum Interpositum 1020
Espaços subaracnoides aumentados 1021 Ve n t r í c u l o s
Artefatos de fluxo liquórico 1023
o sistema ventricular embrionário é uma série de câma
Hidrocefalia 1023 ras interconectadas preenchidas por líquido que se ori
Hidrocefalia obstrutiva intraventricular 1025
Hidrocefalia obstrutiva extraventricular 1031 ginam de expansões da cavidade central do tubo neural
Hidrocefalia por excesso de produção 1033 embrionário. A medida que o cérebro em desenvolvi
Hidrocefalia de pressão normal 1033 mento se curva e se expande, formam-se as vesículas
Síndrome de hidrocefalia aguda com inapropriada do prosencéfalo, do mesencéfalo e do rombencéfalo.
baixa pressão liquórica 1035 A cavidade do prosencéfalo divide-se em dois ven
Hipertensão intracraniana idiopática 1037 trículos laterais, que se desenvolvem como projeções
Derivações iiquóricas e complicações 1040 do terceiro ventrículo dorsal e são conectadas com ele
Fistulas Iiquóricas e seqüelas 1044
pelos forames interventriculares (forames de Monro)
Fistulas Iiquóricas 1044
(Fig. 34-1).
Hipotensão intracraniana 1045
O aqueduto cerebral desenvolve-se a partir da vesí-
cula mesencefálica. O quarto ventrículo desenvolve-se
Os espaços liquóricos cerebrais são compostos pelo sis a partir da cavidade prosencefálica e fusiona-se proxi-
tema ventricular - uma série de cavidades conectadas malmente com o aqueduto cerebral e caudalmente com
preenchidas por líquido cerebrospinal (LCS) - e pelo es o canal central da medula espinal. No plano coronal, os
paço subaracnoide. O entendimento da anatomia normal ventrículos laterais em desenvolvimento formam um mo-
desses espaços liquóricos e suas variantes é um pré-re noventrículo central em formato de "H" que continua in
quisito para decifrar as patologias que se relacionam com feriormente em direção ao aqueduto e então se conecta ao
eles. Este capítulo iniciará com uma pequena discussão quarto ventrículo.
sobre o desenvolvimento dos ventrículos e demais espa Pela décima primeira ou décima segunda semana de
ços liquóricos. sendo posteriormente delineada sua anato gestação, o aspecto inferomedial do teto do quarto ven
mia macroscópica e de imagem. trículo torna-se afilado e abre-se, formando o forame de
1014 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

Q
34-1 Embrioiogia do prosencéfalo, dos venUiculos e do plexo coroi- 34-2 Ilustração demonstrando os ventrículos laterais pares B, o
de. A cavidade central do tubo neural g>l desenvolve projeções B3 lorame de Monro [^, o terceiro venirículo S, o aqueduto SI e o
do terceiro ventriculo rostral ES, formando um monoventriculo em quarto ventrículo EB, com seus três forames de drenagem, além do
formato de H. o plexo coroide S desenvolve-se ao longo da fissura óbex na porção inferior.
coroide.

Magendic. Os forames de Luschka abrem-se logo após,


estabelecendo comimicaçào entre o sistema ventricular Anatomia normal dos ventrículos e
em desenvolvimento e o espaço subaracnoide. das cisternas

Plexo coroide Sistema vef)tricular

O plexo coroide embrionário forma-se onde o mesênqui- o sistema ventricular é composto por quatro cavidades re
ma meníngeo dobrado - a tela coróidea - faz contato com vestidas por epêndima que se localizam na profundidade
o revestimento ependimário dos ventrículos. A invagina- do cérebro (Figura 34-2). Os ventrículos laterais pares
comunicam-se com o terceiro ventrículo via forame de
ção ocorre ao longo de toda a fissura coróidea. uma fenda
estreita localizada no venirículo lateral mediai entre o fór- Monro, que tem formato de "Y". O terceiro ventrículo co-
nice e o tálamo.
munica-se com o quarto ventrículo via aqueduto cerebral
No início, o plexo coroide fetal é relativamente (de Sylvius). O quarto ventrículo, por sua vez, comunica-
-se com o espaço subaracnoide.
grande em relação ao tamanho dos ventrículos late
rais, ocupando cerca de três quartos da luz ventricular Ventrículos laterais
(Fig. 34-i). À medida que o cérebro e o sistema ventri
Cada ventrículo lateral é uma estrutura em formato de C
cular crescem, o plexo coroide diminui gradualmente
em volume relativo.
com um corpo, átrio e três projeções ("comos"). Será con
siderada individualmente cada parte dos ventrículos late
rais da porção anterior para posterior.
Espaços subaracnoides O corno frontal é o segmento mais anterior do ven
As leptomeninges são derivadas de uma camada gelati trículo lateral. Seu teto é formado pelo joelho do corpo
nosa do mesoderma paraxial - as meninges primitivas caloso (CC), e ele é circundado inferolateralmente pela
ou "menin.x primiíivíf - que envolve o tubo neural. No cabeça do núcleo caudado. O septo pelúcido é uma mem
dia 32, a zona mais interna da meninge primitiva de brana fina de dupla camada que se estende do CC para o
genera sistematicamente, formando espaços irregulares forame de Monro, formando as bordas mediais de ambos
no aspecto ventral do rombencéfalo. Então, esses es os cornos frontais.
paços se estendem caudal e dorsalmente, coalescendo O corpo do ventrículo lateral passa abaixo do CC
assim para formar as leptomeninges preenchidas por posteriormente. Seu soalho é formado pelo tálamo dor
líquido. sal, e sua parede mediai é delimitada pelo fómice. Late-
Hidrocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1015

34-3 Ilustração no piano sagital demonstrando o espaço subaracnoide 34-4 Imagem ponderada em T2 no plano sagital mostrando o ventrí
com ICS (azul) entre a aracnoide (roxo) e a pia-máter (laranja). A pia- culo lateral S, o velum interpositum tB, o recesso do aspecto ante
•méter adere-se firmemente ao cérebro, enquanto a aracnoide se adere rior do terceiro ventrículo de aparência afilada ÍS e o fastígio do quarto
frouxamente ò dura-méter. ventrículo EI.

ralmente, ele curva-se ao redor do corpo e da cauda do infundibular mais agudo. Dois pequenos recessos, su
núcleo caudado. prapineal e pineal, formam-se na parede posterior do ter
O átrio contém o glomo do plexo coroide e é forma ceiro ventrículo. A aderência intertalâmica (massa inter
do pela convergência do corpo com os cornos temporal média) de tamanho variável fica entre as paredes laterais.
e occipital. O corno temporal estende-se anteroinferior-
mente e é circundado inferomediaimente pelo hipocampo. Aqueduto cerebral
O corno occipital é circundado inteiramente por tratos de O aqueduto cerebral é um conduto alongado tubular que
substância branca (SB), principalmente o trato geniculo- se localiza entre o tegmento mesencefálico e a lâmina
calcarino e o forceps maior do CC. quadrigeminal. Ele conecta o terceiro com o quarto ven
trículo.
Forame de Monro
O forame de Monro (forame interventricular) é uma es Quarto ventrículo
trutura em formato de Y, com dois grandes braços que se o quarto ventrículo - algumas vezes chamado de fos
estendem em direção a cada ventrículo lateral e um tronco sa romboide - é uma cavidade em formato de diamante
comum que se conecta com o soalho do terceiro ventrícu que se localiza entre a ponte dorsal e o verme cerebelar
lo. As bordas anteriores do forame de Monro são forma (Figs. 34-3 e 34-4). Ele tem cinco recessos distintos. O
das pelos pilares (corpos) dos fómices. As bordas poste fastígio é uma projeção dorsal triangular na linha média
riores são formadas pelos plexos coroides. que aponta em direção ao verme cerebelar. Os recessos
posterossuperiores são bolsas pares, delgadas, preenchi
Terceiro ventrículo das por LCS, que se curvam sobre as tonsilas cerebelares.
O terceiro ventrículo é uma cavidade única, em formato Os recessos laterais curvam-se anterolateralmente a par
de fenda, localizada na linha média, orientada vertical tir do quarto ventrículo, passando abaixo dos pedúnculos
mente e posicionada entre os tálamos. O teto é formado cerebelares maiores para o interior do aspecto inferior das
pela tela coróidea, uma camada dupla de pia invaginada. cisternas do ângulo pontocerebelar (Fig. 34-5).
A comissura anterior localiza-se na borda anterior do ter O quarto ventrículo estreita-se de modo gradual à me
ceiro ventrículo. O soalho é formado por quiasma óptico, dida que cursa inferionnente, formando o óbex. Próximo
hipotálamo, corpos mamilares e teto do tegmento mesen- da junção cervicobulbar, o óbex torna-se continuo com o
cefálico. canal central da medula espinal. Ajunção entre o óbex e
Existem duas projeções inferiores do ventrículo late o canal central é demarcada por um abaulamento dorsal
ral, o recesso óptico levemente arredondado e o recesso proeminente formado pelo núcleo grácil.
1016 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

34-5A Imagens ponderadas


em T2 em campo de 3.0 T de
monstrando anatomia ventricular
normal. A porção inferior do
quarto ventrículo ES possui
"pontos" de plexo coroide. 0
recesso posterolateral BI e os
forames de Luschka SI estão
indicados.
34-5B O aspecto lateral do
corpo do quarto ventrículo lem
bra um "feijão". Observam-se
as indentações causadas pelos
colículos do facial B. O recesso
posterior superior B cobre as
tonsilas cerebelares.

34-5C A cisterna suprasselar


com o hipotálamo e o recesso in
fundibular do terceiro ventrículo
1^, além dos corpos mamilares
[S, são claramente identifica S f -
dos. O aqueduto cerebral é pe
queno e triangular E3. As cister
nas quadrigeminais E2 contêm
LV.
artérias coróideas, veia basal de
Rosenthal e nervos trocleares,
34-5D Cornos frontais dos
ventriculos laterais separados
pelo septo pelúcido. Um peque
no CSP pode ser evidenciado T •
B. Observam-se os forames de
Monro com suas duas conexões
B

s. X . - i!

34-5E Plexo coroide B e


vasos cruzando anteromedial-
mente em direção ao forame de
Monro (visto em corte inferior).
Os sulcos da superfície B são
pequenos, mas bem demarcados
neste exame normal.
34-5F Imagem no plano
coronal demonstrando o velum
inlerpositum B abaixo dos
fórnices B. O quarto ventrículo
romboide junta-se ao aqueduto
superiormente S]. O forame de
Magendie na linha média [S e
o recesso posterossuperior B
cobrindo as tonsilas cerebelares
também podem ser vistos.
Hidrocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1017

Plexo coroide e líquido cefebrospinal dal, saindo pelo quarto ventrículo através do forame
mediai (de Magendie) e pelos dois forames laterais (de
0 espaço liquórico é um sistema dinâmico de pressão
com balanço hidrostático entre a produção e a absorção de Luschka) para as cisternas dos ângulos pontocerebela-
res. A única comunicação natural entre os ventrículos
LCS. A pressão do LCS determina a pressão intracrania
cerebrais e o espaço subaracnoide (ES) é via quarto
na, e os valores normais variam entre 3 e 4 mmHg, antes
ventrículo.
de um ano de idade, até 10 e 15 mmHg, em adultos.
Em contraste ao fluxo unidirecional nos ventrículos,
o fluxo de LCS no ES é multidirecional. O LCS circula
Anatomia
rostralmente para as granulações de aracnoide e caudal-
O plexo coroide (PC) é composto por numerosas excres- mente para os ESs espinais.
cências papilares altamente vasculares. Essas papilas con A absorção do LCS ocorre por duas vias. A dre
sistem em tecido conectivo central coberto por epitélio
nagem primária é feita pelas granulações da aracnoide
secretor derivado do epêndima.
para o interior dos seios venosos durais. Evidências ex
A maior massa de PC está no glomo, localizado no
perimentais indicam que quantidades de LCS pequenas,
á tr i o d o s ve n tr íc u l o s l a te ra i s. O PC e ste n d e -se a n te r o s- mas significativas, são drenadas do cérebro via cone
superiormente ao longo do soalho do ventrículo lateral, xões entre os espaços perivasculares, bainhas de nervos
entre os fómices e os tálamos. Ele também se estende an-
espinais e cranianos, além de linfáticos da cabeça e do
teroinferiormente do glomo para o como temporal, onde
pescoço.
preenche a fissura coroide e se localiza superomedialmen- Exatamente como o LCS circula é controverso. Dois
te ao hipocampo. mecanismos foram propostos: fluxo em bloco ou fluxo
pulsátil. No fluxo em bloco, a membrana aracnoide e as
Função granulações são consideradas os agentes primários de dre
O PC possui duas principais funções: produção de LCS nagem do LCS, da manutenção da homeostase liquórica
e manutenção da barreira entre o sangue e o LCS. Em e da regulagem da pressão intracraniana. Um pequeno
adultos, o epitélio do PC forma LCS a uma taxa de cer gradiente hidrostático existe entre os locais onde o LCS
ca de 0,4 mL por minuto ou cerca de 500 mL a cada é produzido (PC) e absorvido (granulações da aracnoi
24 horas. O LCS é substituído aproximadamente quatro de), permitindo o fluxo em bloco. A absorção do LCS pe
vezes ao dia, permitindo a remoção de substâncias des las granulações é adaptada para filtrar de acordo com a
necessárias. pressão do LCS.
O PC não é a única fonte de LCS. O fluido intersti- No fluxo pulsátil, acredita-se que ondas de pressão
cial cerebral é uma forma importante de produção de LCS geradas pelo ciclo cardíaco sejam responsáveis pelo mo
extracoroide. Pequenas fontes potenciais de produção de vimento do LCS. Quando o PC e as artérias cerebrais se
LCS incluem o epêndima ventricular e os capilares cere expandem na sístole, o LCS é passivamente misturado e
brais. movimentado. As ondas de pressão também são transmiti
O volume total de LCS em neonatos é de 10 a 60 mL, das ao parênquima cerebral e necessitam de amortecimen
sendo de cerca de 150 mL em adultos. Os ventrículos to. O cérebro é envolvido pelo crânio rígido, portanto a
contêm apenas 25 mL de LCS, encontrando-se o restante pressão é modulada pela expansão dos seios venosos e do
(125 mL) nos espaços subaracnoides craniospinais. saco tecal elástico espinal.
O PC mantém a barreira sangue-LCS via junções A circulação liquórica pode refletir uma combinação
de ambos os mecanismos.
apertadas entre as células epiteliais. A transferência de
proteínas por essa barreira é altamente regulada. Subpo-
pulações especificas de células epiteliais do PC são res Espaços/cisternas subaracnoides
ponsáveis pela transferência de proteínas plasmáticas do Os espaços subaracnoides (ESs) encontram-se entre
sangue para o LCS por meio da proteína ligante de albu- a pia e a aracnoide (Fig. 34-3). Os sulcos cerebrais são
m i n a S PA R C .
pequenos ESs interpostos entre os giros cerebrais. Expan
Acreditava-se que o LCS era um simples envelope de sões focais dos ESs formam as cisternas de LCS. Nume
proteção ao sistema nervoso central (SNC). Hoje o LCS rosos septos piais cruzam os ESs do cérebro para a arac
tem reconhecida função essencial na manutenção da ho- noide, que é frouxamente fixada à membrana interna da
meostase do fluido intersticial cerebral e na regulação do d u r a - m á t e r.
funcionamento neuronal. As maiores cisternas são encontradas na base do
crânio acima da sela túrcica, ao redor do tronco, no ápi
Circulação do líquido cerebrospinal ce do tentório, adjacentes aos ângulos pontocerebelares
o LCS costuma circular livremente entre os dois reser e acima/abaixo do forame magno. Todos os ESs se co
vatórios intracranianos - os ventrículos e as cisternas municam livremente entre si e com o sistema ventricu

liquóricas - e o espaço subaracnoide. O fluxo do LCS lar, provendo caminhos naturais para a disseminação de
nas cavidades ventriculares é unidirecional e rostrocau- doenças.
1018 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

34-6 TC no plano axial demonslrando assimeiria normal dos ventricu- 34-7 Imagem ponderada em 12 de alta resolução no plano coronal
íos laterais. O septo pelúcído ESI está levemente abaulado e deslocado demonstrando hidrocefalla obstrutiva unilateral. O ventrículo lateral
através da linha média. Não existe fluido íntersticial periventricular ou direito esta aumentado devido a uma aderência E3 que obstrui a dre
evidência de efeito expansivo. nagem em local próximo ao forame de Monro.

tensão posterior digitiforme alongada do CSP que se loca


Variações da normalidade liza entre os fómices (Fig. 34-8).
O CSP pode ocorrer de modo isolado, entretanto o
Ventrículos laterais assimétricos
CV somente ocorre em combinação com o CSP. Quando
Os ventrículos laterais assimétricos podem ser identifi os dois ocorrem, a nomenclatura correta do latim é '"ca-
cados em estudos de imagem em cerca de 5 a 10% dos vum septipellucidi et vergae". No uso cotidiano, a combi
pacientes normais. A assimetria costuma ser leve ou mo nação geralmente é chamada de CSP.
derada (Fig. 34-6). Abaulamento, desvio e deslocamento
do septo peltícido através da linha média são comuns; por Etiologia
si só não apresentam significado patológico ou são res Os septos pelúcidos são duas membranas triangulares pa
ponsáveis por algum tipo de cefaleia. res ("folhetos") que se desenvolvem aproximadamente
Graus graves de assimetria, aumento ventricular difu com 12 semanas de idade gestacional. Os septos pelúcidos
so e evidência de transudaçào ependimária devem pronta embrionários não são fusionados, e a cavidade entre eles
mente levantar suspeita de uma patologia associada. é preenchida com LCS. Essa simples cavidade entre os
O principal diagnóstico diferencial para os ventrí dois folhetos recebe dois nomes diferentes. Anlerionnente
culos laterais assimétricos é a hídrocefalía obstrutiva ao forame de Monro é chamada de CSP. A continuação
unilateral. Essa hidrocefalia é rara, ocorrendo apenas posterior entre os fómices é chamada de CV.
quando um dos braços do forame de Monro está obstruído Normalmente os dois septos pelúcidos fundem-se, e a
(Fig. 34-7). Obstrução membranosa do forame de Monro cavidade entre eles é obliterada. As membranas fundidas

pode não ser diagnosticada e é mais bem diferenciada da tornam-se o septo pelúcido.
assimetria ventricular benigna por técnicas especiais de
ressonância magnética (RM) (ver a seguir). Aspectos clínicos
A prevalência do CSP diminui com o aumento da idade.
Cavum do septo pelúcido e cavam vergae Entre 3 e 6 meses de idade, o CSP está fechado em 80 a
85% dos pacientes. A persistência do CSP na vida adulta
Terminologia ocorre em 15 a 20% dos pacientes.
o cavum do septo pelúcído (CSP) é uma cavidade preen A presença do CSP costuma ser assintomática e é uma
chida por LCS que se encontra entre os cornos frontais alteração do tipo "não toque" encontrada acidentalmente
dos ventrículos laterais. O cavum vergae (CV) é uma ex em exames de imagem.
Hidfocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1019

o CSP está completamente fechado entre 3 e 6 meses do


Imagem
TC £ RM. O aspecto do CSP e do CV tanto nos estudos pós-natal. O CSP pode persistir na vida adulta como uma
de tomografia computadorizada (TC) quanto nos de RM variação da normalidade.
varia de uma cavidade em fenda pouco visível (Fig. 34-9)
a uma coleção proeminente medindo vários milímetros de Diagnóstico diferencial
diâmetro (Fig. 34-10). O CSP é isodenso ao LCS na TC e A localização e a aparência do CSP com ou sem o CV é
segue a intensidade de sinal do LCS na RM. O sinal é to praticamente patognomônica e não deve ser confundida
talmente suprimido na inversão-recuperação com supres com um cavum velum interpositum (CVI). O CVI é um
são da água livre (FLAIR, de jJuid-altenuated inversion- espaço de LCS triangular, afilado, que recobre os táia-
mos e o terceiro ventrícuio. O CVI normalmente ocorre
•recovery).
Em casos raros, um CSP/CV excepcionalmente au s e m o C S P.

mentado determina efeito expansivo, deslocando os fómi- A ausência do septo pelúcido é traduzida pela au
ces e os folhetos dos septos pelúcidos lateralmente. sência dos folhetos septals, dando aos cornos frontais a
Cltrassonografía. O CSP está presente em 100% dos aparência de uma cavidade quadrangular repleta de LCS.
fetos e sempre é identificado nas ultrassonografias obsté- Um ventrícuio lateral assimétrico pode ter um septo pe
tricas. Ele aumenta de tamanho entre 19 e 27 semanas de lúcido fusionado deslocado através da linha média. Cistos
idade gestacional, tem pico com 28 semanas e então gra ependimários nos cornos frontais são raros, porém, quan
dualmente fecha de trás para frente. Ao termo, a porção do presentes, eles deslocam focalmente o septo pelúcido
posterior em geral está fusionada e, em 85% dos casos, em vez de afastarem os folhetos do septo pelúcido.

34-8 Imagem coronal com de


talhe no plano axial demonstran
do o clássico CSP com CV [S. O
CSP tem aspecto triangular no
plano coronal e digitiforme no
plano axial.
34-9 Visão aproximada de
uma Imagem ponderada em Ti
demonstrando um CSP muito
pequeno com CV, visto como
uma coleção liquórica digitiforme
entre os fórnices BEI. Observa-
-se que há continuidade entre
as cavidades do CSP e do
CV (Si.

34-1 OA CSP com CV é de


monstrado nesta Imagem pon
derada em T2. Observa-se que a
grande coleção de LCS entre os
ventrículos laterais determina
abaulamento dos folhetos do
septo pelúcido SI e dos corpos
dos fórnices \^.
34-lOB Imagem ponderada
em TI pós-contraste no plano
sagital no mesmo caso demons
trando que o espaço preenchido
por LCS é contínuo com o CSP
anteriormente B e com o CV
posteriormente ES. As veias ce
rebrais internas estão deslocadas
inferiormente B.
1020 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

Cavum velum interpositum Imagem


Terminologia Em estudos de imagem, o CVI apresenta-se como um es
O vehim mterposituni (VI) é uma membrana translúcida paço preenchido por LCS que se curva sobre os tálamos
entre os ventrículos laterais. O ápice aponta em direção ao
formada por duas membranas invaginadas de pia-arac-
forame de Monro (Fig. 34-12).
noide. O VI é aderido à superfície inferior dos fómices
O tamanho do CVI varia de uma cavidade quase
e estende-se lateralmente sobre os tálamos para se tomar
contínuo com o PC dos ventrículos laterais. Juntamente
inaparente a uma massa de formato cístico arredondada
ou ovalada que eleva e separa os fómices superiormente
com os fómices, o VI forma o teto do terceiro ventrículo
(Figs. 34-13 e 34-14) ao mesmo tempo em que achata e
(ver Capitulo 20). desloca as veias cerebrais internas inferiormente.
O VI com freqüência é preenchido por LCS e aberto
O CVI é isodenso ao LCS na TC e isointenso em to
posteriormente, se comunicando diretamente com a cis das as seqüências da RM. Ele é suprimido totalmente na
terna quadrigeminal. Em tais casos, é chamado de CVI
FLAIR, não sofre realce e não apresenta restrição no estu
(Fig. 34-11). O CVI é uma variação da normalidade. do da difusão da água.

Aspectos clínicos Diagnóstico diferencial


CVIs podem ser encontrados em qualquer idade. Eles cos o principal diagnóstico diferencial do CVI é um cisto epi-
tumam ser assintomáticos e descobertos incidentalmente dermoide. Um cisto epidcrmoide dentro do CVI é uma
em estudos de imagem. Uma cefaleia leve inespecíflca entidade rara, porém possível. Esse cisto mostra alguma
sem deficits focais é um sintoma referido, restrição à difusão e não tem sinal totalmente suprimido

34-11 Ilustração no plano S2-


gital com detalhe no plano axlal
demonstrando o CVI. Observam-
•se a elevação e o deslocamento
d o s f ó m i c e s Ta m b é m s e
observa o deslocamento inferior
das velas cerebrais internas e do
terceiro ventrículo ES.
34-12 Imagem ponderada em
T2 no plano axial demonstrando
o CVI. O aspecto triangular com
o ápice S] apontando anterior
mente e os fómices B des
locados lateralmente é clássico
do CVI.

34-13 Imagem ponderada em


11 no mesmo paciente demons
trando que o CVI S] desloca
inferiormente a veia cerebral
interna B e eleva e desloca o
fórnice superiormente ES.
34-14 Variação mostrando um
CVI anormalmente grande com
deslocamento anterossuperior
marcado dos fómices B. Esse
caso provavelmente represente
um cisto de aracnoide no VI.
Hidrocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1021

na FLAIR. Um CVI grande pode ser indistinguivel de um


cisto aracnoide com base apenas nos estudos de imagem.
Um CSP com CV apresenta formato alongado, digi-
tiforme e não triangular.

Espaços subaracnoides aumentados


ESs aumentados ocorrem em três condições: hidrocefalia
comunicante, atrofia cerebral e aumento benigno dos ESs.
A hidrocefalia comunicante (tanto os tipos intra quanto os
exlraveniriculares) será discutida posteriormente. A atro
fia cerebral - algumas vezes chamada inapropriadamente
de "hidrocefalia ex-vácuo" - será discutida no Capítulo
33 como manifestação do envelhecimento e da degenera-
çào cerebral. Nesta seção, será discutido o aumento benig
no fisiológico dos ESs.
34-15 Ilustração demonstrando aumento benigno
dos ESs frontais Os ESs posteriores são normais.
Terminologia
Observam-se as veias corticais atravessando o ES proe
Aumento idiopático dos ESs com tamanho ventricular minente
normal a levemente aumentado é comum em crianças.
Grandes espaços de LCS em crianças normais do ponto
de vista neurológico e do desenvolvimento com ou sem
tnacrocefalia podem ser chamados de aumento benigno
do ES. hidrocefalia externa idiopática benigna e coleções
fluidas extracerebrais da infância. O termo preferido é au
mento benigno dos ESs.

Etiologia
A etiologia precisa do aumento benigno dos ESs em crian
ças é desconhecida, mas provavelmente esteja relacionada
com as vias de drenagem de LCS imaturas. As granula-
çôes de Pacchioni não estão totalmente desenvolvidas até
12 a 18 meses do pós-natal. momento no qual o aumento
benigno dos ESs em geral está resolvido.
Não existe predisposição genética, embora 80% das
crianças com aumento benigno dos ESs apresentem histó 34-16A TC pós-contraste em uma criança de 7 meses
ria familiar de macrocefalia. de idade demonstrando ESs proeminentes bifrontais e in-
ter-hemisféricos Be3, além das veias cruzando o ES

Patologia
Do ponto de vista macroscópico, os ESs são amplos e
mais proeminentes que o habitual (Fig. 34-15). Não exis
tem membranas subdurals que possam sugerir hematomas
subdurals crônicos ou efusões.

Aspectos clínicos
Epidemiologia e demografia. a incidência do aumento benig
no do ES é de difícil mensuração. Ela é relatada em 2 a
65% dos estudos de imagem para macrocrania em crian
ças com menos de 1 ano de idade.
O aumento benigno do ES normalmente apresenta-se
entre 3 e 8 meses. Existe predominância no sexo masculi
no na proporção de 4:1.

Apresentação. O perímetro cefálico occipitofrontal (POP)


34-16B TC pós-contraste em corte mais cranial no
tende a estar no limite superior da normalidade ao nascimen
mesmo paciente demonstrando coleções fluidas E9 e
to e aumenta rapidamente nos primeiros meses. Macrocrania veias cruzando o ES Bi. Aumento benigno dos ESs da
com POP acima do percentil 95 é um achado característico. infância.
1022 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

Não existem achados que indiquem hipertensão intra


craniana ou trauma não acidental. Metade dos casos apre
senta leve atraso de desenvolvimento, todavia os marcos
normais do desenvolvimento em geral são atingidos.
História natural. Aumento benigno dos ESs é um fenômeno
autolimitado que costuma estar resolvido entre 12 e 24 me
ses sem intervenção. A macrocrania associada pode estar
resolvida por volta de dois anos, porém ela com freqüência
se mantém aumentada, permanecendo no percentil 98.

Opções de tratamento. Nenhum tratamento costuma ser ne


cessário.

Imagem
Os ESs frontais em crianças podem ser normalmente mais
proeminentes, atingindo um máximo de tamanho aos sete
34-17A Imagem ponderada em TI no plano sagital
meses. Apenas a presença de ESs proeminentes não cons
em uma criança com desenvolvimenlo normal aos 7
meses de idade e com macrocefaiia demonstrando ma-
titui o diagnóstico de aumento benigno dos ESs; a circun
crocrania e aumento dos ESs frontais fiS. ferência craniana deve estar acima do percentil 95.
Achados na TC. Achados típicos na TC em crianças com
aumento benigno dos ESs incluem ESs bifroniais e inter-
-hemisféricos anteriores aumentados com mais de cinco
milímetros de largura, aumento das cisternas suprasselar/
quiasmática, fissuras silvianas proeminentes e ventrículos
laterais e terceiro ventrículo levemente aumentados. Os
sulcos posteriores e da convexidade são normais.
A TC pós-contraste demonstra veias corticais atraves
sando o ES (Fig. 34-16). Não existe evidência de mem
branas espessadas com realce que possam sugerir hemato
ma subdural ou higroma.
Achados na RM. O fluido no ES frontal aumentado com

porta-se como o LCS porque é LCS (Fig. 34-17). Ele tem


sinal suprimido na FLAIR e não apresenta artefato de
susceptibilidade magnética em T2* (GRE, SWI). Realce
34-17B imagem ponderada em TI no mesmo pa das veias atravessando os ESs pode ser visto nas imagens
ciente mostrando ESs proeminentes BSI, bem como as ponderadas em TI pós-contraste. O estudo da difusão é
fissuras de Sylvius S. normal.

Ultrassonoqrafia. a ultrassonografia mostra aumento da


distância craniocortical com focos ecogênicos lineares
causados pelas veias corticais que atravessam em direção
ao seio sagital superior. O Doppler colorido demonstra es
truturas venosas atravessando os ESs proeminentes.

Diagnóstico diferencial
Os principais diagnósticos diferenciais do aumento benig
no do ES são atrofia, hidrccefalia obstrutiva exiraventri-
cular e trauma não acidental. Na atrofia, o PDF é normal
ou está reduzido. Na hidrccefalia obstrutiva extraven-
trieular secundária à obstrução ou a trauma, o quarto ven
trículo geralmente está aumentado, e o LCS nos espaços
extra-axiais não segue o LCS em densidade ou intensida
de de sinal.

34-17C imagem ponderada em T2 demonstrando Eventualmente, crianças com aumento benigno dos
ESs frontais e inter-hemisféricos proeminentes SJ. ESs apresentam coleções subdurals hemorrágicas so
além de veias cruzando o ES BI. brepostas, de modo similar ao que ocorre com cistos de
Hidrocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1023

aracnoide. Em tais crianças, trauma não acidental deve ser paciente pode ser involuntária e relacionada com pulsação
considerado até que a avaliação cuidadosa demonstre au arterial ou do LCS.
sência de evidências que sustentem a hipótese de lesões Artefatos de pulsação na direção da codificação de
por maus-tratos. fase causam propagação de artefatos "fantasmas" em
linha reta ao longo de todo o plano de imagem e com fre
Artefatos de fluxo liquórico qüência são vistos como focos altemantes de alto e baixo
O LCS normal apresenta tempos de relaxamento de TI sinal (Fig. 34-21).
e T2 longos, causando o aspecto familiar de sinal baixo
e alto, respectivamente. Artefatos relacionados ao LCS
no cérebro e na medula são comuns nos estudos por RM, Hidrocefalia
principalmente devido ao movimento de vai-e-vem pulsá-
til liquórico. Embora uma discussão completa dos artefa A hidrocefalia é a doença que mais comumente necessita
tos relacionados ao movimento do LCS esteja além do es de tratamento neurocirúrgico em crianças. O tratamento
copo deste texto, serão descritos a seguir os três principais consome uma grande quantidade de recursos do sistema
artefatos que podem mimetizar uma patologia na RM. de saúde, com os custos se aproximando de 1 bilhão de
Os artefatos de fluxo liquórico são causados por efei dólares apenas nos Estados Unidos. Anteriormente con
tos "time offlighi" (TOF), fluxo turbulento e movimento siderada apenas uma doença da infância, a hidrocefalia
do paciente. cada vez mais vem sendo reconhecida como causa pouco
comum, mas de significativa importância, de disfunçào
Efeitos "time of flight" neurológica em adultos.
Os efeitos TOF podem resultar em perda de sinal (sinal Existem muitos aspectos ainda desconhecidos (embo
escuro do LCS) ou realce relacionado ao fluxo, que pro ra devessem ser conhecidos) sobre a hidrocefalia. Neste
duz sinal elevado do LCS. A perda de sinal do efeito TOF capítulo serão consideradas algumas das maiores contro
está diretamente relacionada com a velocidade do LCS, vérsias acerca da hidrocefalia, com foco inicial nas mani
sendo mais proeminente onde o fluxo é acelerado através festações de imagem e complicações.
de estruturas estreitas. Localizações típicas para a perda
de sinal do efeito TOF são ao redor do forame de Monro e Terminologia
no terceiro e quarto ventrículos (FIg. 34-18). Uma definição rigorosa de hidrocefalia é surpreendente
Anulação incompleta do LCS na FLAIR pode fazer mente difícil. A terminologia e a classificação são assunto
o LCS de sulcos e cisternas apresentar o aspecto espúrio de debate contínuo. A abordagem comum seguida neste
de alto sinal, mimetizando hemorragia subaracnóidca, in- capítulo subclassifica a hidrocefalia pelo local presumido
fecção ou doença metastálica (Fig. 34-19). da obstrução do LCS, ou seja, no interior (hidrocefalia
Fenômenos de entrada de corte são mais evidentes obstrutiva intraventricular [HOl]) ou fora dos ventrí
nas imagens ponderadas em TI (Fig. 34-20). O alto sinal culos (hidrocefalia obstrutiva extraventricular [HOE]).
é causado por influxo de spins não saturados que apresen Essa distinção é importante, visto que o tratamento para
tam magnetização longitudinal total. O primeiro corte do HOl (derivação liquórica) é diferente do tratamento para
volume da imagem mostra de modo mais proeminente o HOE (fenestração de membrana).
realce por efeitos relacionados ao fluxo, que são mais pro O termo "hidrocefalia ex-vácuo" usado para des
nunciados na porção inferior da fossa posterior em cortes crever o aumento ventricular e de cisternas causado por
axiais e ao redor do forame de Monro em imagens coro- perda de volume parenquimatoso está desatualizado e não
nais. Esse fenômeno de entrada de corte cria artefatos que deve mais ser utilizado.
podem mimetizar lesões expansivas.
Etlologla
Fluxo turbulento A hidrocefalia é uma condição heterogênea com causas
o fluxo turbulento causa velocidades de fluxo e direções diversas. A presença de ventrículos aumentados associa
diferentes, com perda de sinal secundária à defasagem de dos com aumento da pressão intracraniana é apenas uma
spins no interior do voxel. No cérebro, fluxo turbulento apresentação no espectro que vai desde hipertensão in
com perda de sinal é comum no aqueduto cerebral, no tracraniana idiopática ("pseudotumor cerebral") até uma
quarto ventrículo e ao redor de vasos com pulsação. Esse síndrome recentemente reconhecida e enigmática de hi
efeito é especialmente pronunciado ao redor da artéria ba drocefalia com baixa pressão liquórica.
silar, onde pode simular dilatação aneurismática. Três diferentes teorias têm sido utilizadas para expli
car o desenvolvimento de hidrocefalia.
Artefatos de movimento O pensamento tradicional de longa data sobre a etio-
o artefato mais problemático na RM é a movimentação logia da hidrocefalia (literalmente "água no cérebro") diz
voluntária do paciente, o que pode ser evitado por lem que ela é o resultado de um desequilíbrio entre a produ
bretes verbais ou sedação leve. Alguma movimentação do ção e a absorção de LCS. Como a produção de LCS per-
1024 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

34-18A Imagem ponderada


em 12 no plano axial demons
trando defasagem de spins
(áreas cinza B) no LCS da
cisterna pré-pontlna causada por
pulsações da artéria basilar.
34-18B Imagem ponderada
em T2 demonstrando LCS hipoin-
tenso na porção superior do ter
ceiro ventrículo E3 causado por
(luxo de LCS pulsãtil no íorame
de Monro.

34-19 FLAIR com sinal do LCS


totalmente suprimido nos ven-
trículos B e cisterna supraver-
miana B, enquanto o LCS na
cisterna pré-pontina permanece
brilhante B.
34-20 Primeiro corte de aqui
sição ponderada em Ti demons
trando sinal alto artefatual no
terceiro ventrículo 0^) causado
por realce relacionado ao fluxo.
Fluxo turbulento com defasagem
de spins ao redor do forame de
Monro é a causa das hiperin-
tensidades B em ambos os
ventrículos laterais. Observam-se
artefatos "fantasmas" ao longo
da imagem na direção da codifi
cação de fase S.

34-21A FLAIR axial demons


trando focos hiperintensos no
quarto ventrículo B causados
por artefatos de pulsação iiquóri-
ca. Observa-se a propagação em
uma banda linear na direção da
codificação de fase B3.
3 4 - 2 1 B A r t e f a t o d e c o d i fi c a
ção de fase propagado horizon
talmente através dos ventrículos
e do parênquima B.
Hidrocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1025

34-22 HOI triventricular com aumenlo marcado dos ventrículos laterais 34-23 Imagem de necropsia de um caso de estenose aquedutal SI.
e do terceiro ventrículo, CC alongado e aquedulo cerebral em formato de Venlfículo lateral maciçamente aumentado KS, terceiro ventrículo
funil S) com obstrução distai. Observam-se o tamanho normal do quarto abaulado ES e quarto ventrículo normal SI. (Cortesia das Coleções
ventrículo e o abaulamento do soalho do terceiro ventrículo ~Si. Rubinstein, Arquivos da AFIP.)

manece relativamente constante e nao se reduz de modo hidrocefalia obstrutiva crônica. Hidrodinâmica alterada -
significativo até que a pressão intracraniana se aproxime e não absorção defeituosa - é considerada a origem de
da pressão sistólica, acredita-se que a hidrocefalia seja o ambos os tipos de hidrocefalia crônica.
resultado de uma absorção deficiente. A superprodução de As aquaporinas (AQPs) - e seu papel no movimen
LCS verdadeira é uma situação rara (ocorrendo apenas no to da água nas interfaces cerebrais - estão envolvidas na
cenário das neoplasias de PC e hiperplasia vilosa). mais nova tentativa de explicar o desenvolvimento da hi
Nesse modelo convencional, a circulação e a absor drocefalia. Estudos em animais mostram que, com o au
ção do LCS ocorrem principalmente por fluxo em bloco, mento da pressão intracraniana e o acúmulo de fluido ven
um mecanismo amplamente passivo que depende de um tricular. ocorre inicialmente inibição de AQPl e posterior
leve gradiente de pressão entre o ES e os seios venosos. ativação de canais iônicos de AQP1.
Quando a absorção do LCS é comprometida, os ventrí
culos aumentam e o resultado é a hidrocefalia. A absor Hidrocefalia obstrutiva intraventricular
ção pode ser bloqueada em qualquer nível no interior do
sistema ventricular, na cisterna magna, nas cisternas da Terminologia
base e nas convexidades cerebrais. As conexões entre os Os termos hidrocefalia obstrutiva intraventricular (HOl)
e hidrocefalia não comunicante são usados para designar
espaços perivasculares, as bainhas dos nervos espinais e
cranianos, e os linfáticos da cabeça e do pescoço foram obstrução física nos forames de saída do quarto ventrículo
postuladas como caminhos alternativos de drenagem do ou proximal a eles.
LCS, ainda que inadequados,
Um modelo alternativo usa a dinâmica alterada do Etioiogla
fluxo do LCS para explicar o desenvolvimento da hidro Conceitos gerais. A HOI pode ser congênita ou adquiri
cefalia. Nesse cenário, complacência alterada do saco da, aguda (HOIA) ou crônica (HOlC). A HOl congênita
durai espinal, amortecimento alterado do leito vascular, ocorre em condições como estenose de aqueduto.
ou ondas de pressão da pulsação das artérias e dos PCs Embora a HOIA possa ocorrer de modo repentino (p.
exercem pressão anonnal sobre o parcnquima cerebral. O ex., obstrução do forame de Monro por um cisto coloide),
balanço delicado entre esse sistema é comprometido, re ela geralmente se desenvolve em um período de semanas
sultando em hidrocefalia. ou mesmo meses. Qualquer lesão expansiva intraventri
Nessa abordagem, a hidrocefalia é dividida em dois cular (como uma neoplasia ou um cisto) pode causar HOI,
grandes grupos, hidrocefalia aguda e crônica. A hidroce assim como qualquer lesão extraventricular de tamanho
falia aguda é causada por uma obstrução intraventricular suficiente para ocluir uma estrutura crítica (p. ex., o aque
e consiste em dois subtipos, hidrocefalia comunicante e duto cerebral).
1026 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

Quando os ventrículos se tomam obstruídos, o eflu- A causa mais comum de HOI (hidrocefalia não co-
xo de LCS cessa. Como a produção de LCS continua, os municante) é a obstrução membranosa pós-hemorrágica
ventrículos tomam-se aumentados. A medida que os ven ou pós-intlainatória. Os locais mais comuns de obstrução
trículos se expandem, aumenta a pressão exercida sobre o são, em ordem, os forames de Luschka, o aqueduto cere
parênquima cerebral adjacente. A pressão intraparenqui- bral e o forame de Magendie. O forame de Monro é uma
matosa aumentada compromete a vascularização cerebral, localização relativamente rara.
reduzindo a perfusão cerebral. A pressão aumentada tam Massas intraventriculares são a próxima causa mais
bém comprime as veias subependimárias, que reduzem a comum de HOI adquirida. A prevalência das patologias
absorção de fluido inlersticial cerebral pelas veias medu- especificas varia conforme a localização, O cisto coloide é
iares profundas e pelos espaços perivasculares. O resul a lesão mais comumente encontrada no forame de Monro,
tado é edema Interstíclal periventricular. A quantidade seguido pela esclerose tuberosa (nódulos subependimá-
do LCS que atravessa o epêndima ventricular ("fluxo de rios e aslrocitomas de células gigantes). Após obstrução
LCS transependlmárlo") é desconhecida.
benigna (membranosa), as lesões que mais comumente
Na HOlC "compensada", os ventrículos expandem-se obstruem o aqueduto de Sylvius são os gliomas da placa
de modo lento o suficiente para permitir que a liomeosta- tectal e as neoplasias da região pineal.
se do LCS seja relativamente mantida. Edema intersticial O quarto ventrículo é um local comum para neopla
periventricular está ausente. sias que podem causar hidrocefalia obstrutiva. Em crian
Etiopatogenia. As causas gerais de hidrocefalia obstrutiva ças, o meduloblastoma é o tumor mais comum que causa
vão desde anormalidades do desenvolvimento/genéticas a HOI, seguido por ependimoma, astrocitoma pilocitico,
trauma, infecção, hemorragia intracraniana, neoplasias e a s t r o c i t o m a d i f u s o i n fi l t r a t i v o e t u m o r t e r a t o i d e r a b d o i d e
cistos. atípico (AT/RT, de atypical teratoid/rhabdoid tumor).

34-24 Os sinais de hidroce


falia obstrutiva demonstrados
nesta TC incluem cornos tempo
rais aumentados B em relação
ao tamanho das cisternas da
base. O terceiro ventrículo tem
aspecto ovalado B em vez de
em íenda.
34-25 TC em outro paciente
com HO! mostrando cornos fron
tais aumentados e arredondados,
aumento do terceiro ventrículo,
margens indefinidas dos ventrí
culos laterais S por edema in
tersticial periventricular e sulcos
superficiais indefinidos.

34-26A A utilidade da RM
no plano sagital na hidrocefalia
é demonstrada por esta FLAIR.
Observam-se os recessos anterior
e posterior do terceiro ventrículo
arredondados e aumentados
El, deslocamento cranial e re
dução da espessura do CC O
quarto ventrículo é normal B.
34-26B Visão aproximada da
CISS sagital claramente demons
trando uma fina aderência no
aqueduto como causa da hidro
cefalia triventricular. O aqueduto
distai B e o quarto ventrículo
B são normais.
Hidrocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1027

Em adultos, metástases, hemangioblastoma, cisto epi- O exame microscópico demonstra que o revestimento
dermoide e papiloma de plexo coroide (PPC) sao lesões ependimário se encontra descontínuo ou ausente. Os es
do quarto ventriculo que podem causar hidrocefalia. Cis paços exlracelulares periventriculares estão aumentados,
tos inflamatórios (p. ex., neurocisticercose) ocorrem no e a SB circunjacente está rarefeita e tem aspecto pálido. O
sistema ventricular de pacientes de todas as faixas etárias. córtex encontra-se relativamente bem preservado.
Genética. A hidrocefalia congênita pode ou não ser parte de
Aspectos clínicos
uma síndrome genética. Nos dias de hoje, apenas um gene
- a molécula neural de adesão celular LI {LICAM, de cell Epidemiologia e demografia. a HOl pode afetar pessoas de
qualquer idade, desde o feto (hidrocefalia congênita in-
adhesion molecule LI) - foi reconhecido como causador
de hidrocefalia congênita. A hidrocefalia ligada ao X (es- trauterina) até o idoso. Não há predileção por sexo, exceto
na hidrocefalia congênita primária, na qual a razão H:M
tenose aquedutal hereditária) é causada por mutação no
é de 2,6:1.
gene LICAM.
Apresentação. A apresentação da HOl varia em gravidade
e tempo de evolução. A cefaleia é o sintoma mais comum,
Patologia
enquanto o edema de papila é o sinal mais comum. Náu
Macroscopicamente, os ventrículos localizados próximos
à obstrução têm aspecto balonado (Figs. 34-22 e 34-23). sea, vômitos e paralisia do NG VI também são freqüentes
na HOí.
O epêndima está afilado e pode estar focalmente roto ou
mesmo ausente. O CG apresenta espessura reduzida e está História natural. A história natural da HOl varia. A maio
deslocado superiormente contra a foice rígida do cérebro. ria dos casos costuma progredir se não tratada. A HOIA
Alterações focais de encefalomalacia são comuns no cor grave não tratada pode resultar em coma e mesmo em
po do CG. morte. Alguns pacientes com HOl de desenvolvimento

34-27A TC demonstrando os
achados clássicos de HOl. Au
mento marcado dos ventrículos
laterais com margens "borradas"
e hípodensidade periventricular
Bel Indicam edema interstícial.
Os sulcos da convexidade estão

comprimidos e não são bem


Identificados.
34-27B Imagem pondera
da em T2 no mesmo paciente
demonstrando alargamento
dos ventrículos laterais e fluido
hiperintenso na SB periventricu
lar B.

34-27C FLAIR demonstrando


um halo de fluido íntersticial
hiperintenso GS circundando os
ventrículos laterais agudamente
aumentados.
34-270 FLAIR sagital no
mesmo paciente demonstrando
projeções hiperintensas B
se estendendo da margem dos
ventrículos laterais, provavel
mente representando absorção
comprometida de fluido íntersti
cial em vez de migração de ICS
transependimáfia do ventriculo
para a SB.
1028 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

34-28 HOl de longa data "compensada" causada por estenose aque- 34-29 FLAIR em estenose aquedutal de longa data demonstrando hi-
dutal demonstrando aumento simétrico dos ventriculos laterais e dila- drocefalia obslrutiva "compensada". Os ventriculos estão marcadamente
tação simétrica dos forames de Monro E3. A SB B apresenta grave aumentados, porém não existe "halo" de edema intersticial periventri
redução volumétrica, entretanto o cortex tem aspecto normal. (Cortesia cular.
de R. Hewlett, MD.)

lento podem não buscar atendimento médico até a vida o método de escolha. Imagens de RM multiplanares deli-
adulta (p. ex., a síndrome recentemente descoberta de es neam melhor a hidrocefalia e freqüentemente permitem a
tenose aquedutal de início tardio). identificação da etiologia.
Em imagens axiais, achados gerais de imagem in
Opções de tratamento. Derivação liqiiórica (válvula, ventri-
cluem aumento dos cornos temporais dos ventriculos late
culostomia, fenestraçào endoscópica do soalho do terceiro
rais (fora de proporção em relação aos ESs) (FIg. 34-24).
ventrículo) é um procedimento comum, freqüentemente Os cornos frontais assumem formato "arredondado". O
realizado como primeiro passo antes do tratamento deUni-
terceiro ventrículo - que tem aspecto em fenda nos cortes
tivo da obstrução (p. ex., remoção de um cisto coloide ou
axiais - está expandido e perde o aspecto afilado carac
ressecção de uma neoplasia intraventricular). terístico (Flg. 34-25). As paredes ventriculares primeiro
apresentam-se paralelas e posteriormente expandem-se,
Imagem de modo que o terceiro ventrículo assume um aspecto
Características gerais. Várias medidas foram propostas para
alongado ou ovalado. Conforme os ventriculos continuam
quantificar a hidrocefalia. Entre elas estão índices como o a dilatar, as cisternas subaracnoides e os sulcos da con-
diâmetro dos cornos frontais em relação à tábua interna do vexidade podem ser comprimidos, e os giros aparecem
crânio ("índice ventricular" ou "índice de Evans"), o raio achatados contra a calvária.
do como frontal e o ângulo ventricular. A utilidade de tais
Imagens sagitais mostram o CC de espessura reduzi
medidas bidimensionais comparadas com a análise visual da, alongado, abaulado cranialmente e, em casos graves,
é incerta. Medidas volumétricas geradas por computador
impactado contra a foice do cérebro. O recesso anterior
têm sido propostas como fonte dos melhores padrões nor do terceiro ventrículo aumenta, perdendo o aspecto agudo
mativos, mas demandam tempo de trabalho e são de difí normal (Fig. 34-26A).
cil obtenção. Nos casos de HOlC, o LCS pulsátil no terceiro ventrí
Apesar das limitações de acurácia. a análise radioló- culo choca-se no centro da base do crânio continuamente.
gica subjetiva permanece como o método mais comum A sela turcica óssea aumenta de modo gradual e assume
para avaliar o tamanho ventricular. A hidrocefalia costu uma configuração "aberta". Em casos graves, a porção an
ma ser diagnosticada quando os ventriculos têm aspecto terior do terceiro ventrículo pode prolruir para o interior
desproporcionalmente aumentado com relação aos ESs. da sela.
Embora, com freqüência, imagens de TC sejam usa Se os ventriculos laterais e o terceiro ventrículo estão
das como método de rastreamento em pacientes com ce- aumentados, mas o quarto ventrículo permanece normal (p.
faleia e sinais de hipertensão intracraniana, a RM deve ser ex., como ocorre na estenose de aqueduto), a condição é
Hidrocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1029

chamada de hidrocefaiia tríventrícular. Se as quatro câ


maras do sistema ventricular estào aumentadas, a condição
é chamada de hidrocefalia quadríventricular. A hidroce
falia quadriventricular é causada por uma lesão expansiva
no quarto ventriculo ou obstrução dos forames de drena
gem (em geral por hemorragia subaracnóidea ou infecçào).
Em cerca de 0,5 a 1% dos casos de HOI. apenas um
ventriculo lateral está aumentado ("hidrocefalia iinila-
teral"). A maioria dos casos é adquirida, associada com
neurocisticercose intraventricular ou com a presença de
membrana na junção do aspecto inferior do corno frontal
com o forame de Monro.

Achados na TC. Os achados de imagem variam com o tem


po de evolução e a gravidade. As imagens de TC na HOl A
demonstram ventriculos laterais e terceiro ventriculo au
mentados. enquanto o tamanho do quarto ventriculo pode 34-30 (Acima) HOl com encefalomalacia do CC B
variar. Os cornos temporais são proeminentes, os cornos causada por compressão pela foice do cérebro. (Abaixo)
Imagem ponderada em TI demonstrando a compressão
frontais apresentam-se "arredondados", e as margens dos sobre o CC E3.
ventriculos são indistintas ou estão "borradas". O fluido

periventricular - tanto por drenagem comprometida do


fluido intersticial quanto porestravasamento transependi-
mário de LCS - causa um "halo" de baixa densidade na
SB adjacente (Fig. 34-27A). Os sulcos e as cisternas da
base apresentam-se comprimidos ou apagados.
Achados na RM. As imagens ponderadas em TI no pla
no axial demonstram que os ventriculos laterais estão
aumentados simetricamente. Em imagens sagitais, o CC
está com espessura reduzida e abaulado superiormente,
enquanto os fórnices e as veias cerebrais internas estão
deslocados inferiormente.
Na HOIA, imagens ponderadas em T2 demonstram
"projeções" de hiperintensidade com sinal de LCS se es
tendendo radialmente dos ventriculos laterais em direção
à SB circunjacente. O fluido do "halo" periventricular não
34-31 Imagem ponderada em TI pós-contraste de
tem o sinal suprimido na FLAIR (Figs. 34-27B, 34-27C HOl de longa data mostrando que os ventriculos laterais
e 34-27D). Na hidrocefalia crônica "compensada" de E3 e o CC são forçados em direção superior contra a
longa data, os ventriculos têm aspecto aumentado e a foice do cérebro BI.
SB apresenta-se atenuada, porém sem o sinal do "halo"
(Figs. 34-28 e 34-29).
As imagens ponderadas em T2 de alta resolução, se
qüências FIESTA ou CISS. demonstram muito bem os
espaços de LCS e podem identificar anormalidades su
tis não detectadas nas sequências-padrão (Fig. 34-26B).
Estudos do fluxo liquórico ("2í/ cine phase contrast ima
ging") são úteis para demonstrar a dinâmica do fluxo do
LCS no aqueduto e junto ao forame magno.

Complicações da hidrocefalia. Em casos graves de HOl,


o CC é comprimido contra a margem inferior da foice
(Figs. 34-30 e 34-31). Isso pode causar necrose compres-
siva e perda de axônios do CC, também conhecida como
síndrome de compressão do corpo caloso (SCCC). Na
SCCC aguda, o CC pode inicialmente se apresentar in
chado e hiperintenso nas imagens ponderadas em T2 e na 34-32 SCCC pós-descompressâo. A FLAIR após deri
FLAIR. Alterações subagudas e crônicas são vistas como vação liquórica demonstra hiperintensidade no CC, SB
focos de encefalomalacia em um CC de aspecto atróilco periventricular B e fibras rompidas na DTl B.
1030 Distúrbios tóxicos, metabóllcos, degenerativos e do LCS

e reduzido. Em 15% dos casos de HOI. o CC mostra alto


sinal em T2/FLAIR após a descompressão. Em casos ra
ros, a hiperintensidade estende-se além do CC para a SB
periventricular (Fig. 34-32).
Aumento ventricular maciço pode enfraquecer a pare
de mediai do ventriculo lateral o suficiente para que seja
formado um divertículo de pulsão extruso pela parede
inferomedial do átrio. Tal divertículo atrial medial pode
causar efeito expansivo significativo sobre o aspecto pos
terior do terceiro ventriculo, a lâmina tectal e o aqueduto.
Divertículos atriais grandes podem hemiar inferiormente
através da incisura do tentório para a fossa posterior, com
primindo o verme e o quarto ventriculo (Fig. 34-33).
Em casos raros, o epêndima pode realmente romper e
permitir a passagem de LCS para a SB adjacente ("ruptura
34-33A Hidrocefalíd iríventrícular com herniação
ventricular"), criando uma fenda preenchida por líquido
no hemisfério cerebral.
intrasselar do terceiro ventriculo B3 e coleção de LCS
comprimindo e deslocando o verme cerebelar B.
Diagnóstico diferencial
O principal diagnóstico diferencial de HOl é hidrocefalia
obstrutiva extraventricular (ver a seguir). Os pacientes
com freqüência apresentam história de hemorragia suba-
racnóidea por aneurisma cerebral roto ou meningite. Os
ventrículos laterais e o terceiro e o quarto ventrículos es
tão simétrica e desproporcionalmente aumentados.
Redução volumctrica parcnquímatosa causa dilata-
çào secundária dos ventrículos com aumento proporcional
dos sulcos cerebrais e das cisternas liquóricas. Em crian
ças com grandes ventrículos, a medida da circunferência
craniana é um dado fundamental na avaliação clinica. O
achado de grandes ventrículos associados ao aumento do
perímetro cefálico favorece o diagnóstico de hidrocefa
lia; grandes ventrículos com perímetro cefálico normal ou
reduzido são mais comuns em condições congênitas ou
34-33B Imagem ponderada em T2 no mesmo pa
ciente demonstrando aumento dos venirículos laterais perda volumétrica (atrofia).
com divertículo mediai do átrio direito e paredes ventri- Uma característica importante para diferenciar hidroce
cutares atiladas BI. falia obstrutiva de atrofia é o aspecto dos cornos temporais.
Na hidrocefalia obstrutiva. eles têm aspecto arredondado e
apresentam dilataçào moderada a grave. Se a HOI for aguda,
um "halo" periventricular costuma estar presente.
Mesmo com relativamente pouca perda volumétrica,
os cornos temporais mantêm seu aspecto riniforme e estão
com dilatação mínima ou moderada. As margens dos ventrí
culos laterais permanecem bem definidas. A hipodensidade
periventricular tem aspecto confluente quando é causada por
isquemia microvascular crônica, diferentemente do edema
intersticial ou da exsudaçào liquórica transependimária.
Hidrocefalia de pressão normal é uma doença de
adultos de mais idade caracterizada por demência progres
siva, distúrbios da marcha e incontinência (ver a seguir).
Os ventrículos com freqüência se mostram desproporcio
nalmente aumentados com relação aos sulcos e às cisternas.
34-33C Imagem ponderada em Tl pós-contraste no
Hidrocefalia por produção aumentada de LCS é
uma entidade rara, associada com PPG ou com uma con
plano coronal demonstrando bem o divertículo atrial
mediai B herniando através da Incisura tentorial e dição de maior raridade denominada hiperplasia vilosa. O
comprimindo o verme cerebelar B. glomo do PC está aumentado e apresenta realce intenso.
Hidrocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1031

Hidrocefalia obstrutiva extroventricular

Terminologia
A hidrocefalia obstrutiva extraventricular (HOE) também
é chamada de hidrocefalia comunicante para indicar que a
obstrução está localizada fora do sistema ventricular.

Etlologla
A obstrução causadora da HOE pode estar localizada
em qualquer nível desde os forames de saída do quarto
ventrículo até as granulações da aracnoide. Hemorragia
subaracnóidea, tanto traumática quanto por aneurisma in
tracraniano, é a causa mais freqüente. Outras etiologias
comuns incluem meningite purulenta, meningite granulo-
niatosa e metástases disseminadas no LCS.

34-34A Meningile tuberculosa extensa com exsuda-


Patologia
to espesso nas cisternas basais ociuindo os íorames de
A patologia macroscópica demonstra dilatação ventricular
Magendie e Luschka SI,
generalizada. As cisternas da base e os sulcos da convexi-
dade podem estar preenchidos por exsudatos agudos ou
crônicos (Flg. 34-34), fibrose meníngea ou aderências da
aracnoide relacionadas à siderose crônica.

Aspectos clínicos
Assim como na HOl, a apresentação da HOE varia com
o tempo de evolução e a gravidade do quadro. O sintoma
mais comum é a cefaleia, seguida por sinais de aumento
da pressão intracraniana como edema de papila, náusea,
vômito e diplopia.

Imagem
Achados na TC. O aspecto clássico da HOE na TC é de au
mento simétrico e proporcional dos ventrícuios laterais e
do terceiro e quarto ventrícuios. As cisternas da base são
hiperdensas na hemorragia subaracnóidea aguda e podem
J
34-34B Corte no plano axial através do cerebelo
se apresentar isointensas e apagadas nas meningites piogê- demonstrando que o quarto ventriculo ES está marca-
nicas e neoplásicas. A TC pós-contraste demonstra realce damente aumentado e arredondado ("balonado").
nos casos de HOE secundária à infecção ou à neoplasia.
Achados na RM. As mesmas seqüências de imagem usadas
na HOI aplicam-se para avaliação da HOE. Se a hidroce
falia for causada por hemorragia subaracnóidea ou menin
gite, o LCS tem aspecto "sujo" nas imagens ponderadas
em TI e hiperintenso na FLAIR. As imagens ponderadas
em TI pós-contraste podem demonstrar realce de sulcos e
cisternas (Fig. 34-35).
Em contraste com a HOI, mais da metade dos casos
de HOE não apresenta causa identificável para a obstru
ção nas seqüências de pulso padrão de RM. Em tais casos,
é importante tentar identificar sutis membranas que pos
sam estar causando a obstrução extraventricular.
As cisternas liquóricas, os ventrícuios e os forames de
drenagem são mais bem demonstrados com seqüências de
pulso especiais como a 3D-C1SS ("ÍÍ) constructive inter 34-34C Aumento do terceiro ventriculo SI e de
ference in the steady state"). ambos os ventrícuios laterais i^, Hidrocefalia "co
Usando-se a 3D-CISS de alta resolução, a obstrução municante" extraventricular. (Cortesia de R. Hewlett,
por membranas finas pode ser demonstrada em cerca de MD.)
1032 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

20% dos pacientes com hidrocefalia sem causa definida.


Mesmo se a membrana nào for identificada diretamente, (continuação)

diferenças na intensidade de sinal do LCS proximal e dis • HOIaguda


tai ao local da membrana podem ser úteis na localização o Ventrículos proximais ao ponto de obstrução de
do ponto de obstrução. aspecto balonado
o Edema intersticial periventricular
o Margens ventriculares "indefinidas"
Diagnóstico diferenciai o "Halo" ± "projeções" de fluido ao redor dos
o principal diagnóstico diferencial da HOE é a HOI. Em
ventrículos
alguns casos - mesmo com seqüências especiais como a o Hiperintensidade em 12, não suprime sinal na FLAIR
3D-CISS - pode ser difícil, se não impossível, de locali • HO! compensada crônica
zar o nível da obstrução. o Ventrículos grandes
o Sem fluido ou hiperintensidade periventricular
• Complicações da HOI
o Síndrome de compressão do corpo caloso
H I D R O C E FA L I A G B S T R U T I VA o Divertículo atrial

Hidrocefalia obstrutiva intraventricular Hidrocefalia obstrutiva extraventricular


• Também conhecida como hidrocefalia não • Também conhecida como "hidrocefalia comunicante"
comunicante • Obstrução fora do sistema ventricular
o Obstrução nos/próxima dos forames do quarto o Dos forames do quarto ventrículo às granulações da
ventfícüio aracnoide
• Congênita ou adquirida, aguda ou crônica • Imagem
o Membranas pós-inflamatórias/pós-hemorragicas o Mais de 50% não demonstram etiologia identificável
o Massa intraventricular obstrutiva o Utilização da CISS para procurar por membranas
(continua) obstrutivas

34-35A FLAIR em um pacien


te com meningite criplocócica
e piora do estado mental de
monstrando o quarto ventrículo
aumentado E3 circundado por
"projeções" hiperinlensas de flui
do intersticial BI.
34-35B FLAIR no mesmo
paciente demonstrando "capuz"
de fluido intersticial hiperintenso
circundando simetricamenle os
ventrículos laterais aumentados
El. Os sulcos estão gravemente
comprimidos e pouco definidos.

34-35C Foi instalada uma


derivação ventricular, mas o
paciente piorou, imagem pon
derada em TI pós-contraste no
plano sagitai demonstrando
realce extenso das meninges ba
silares El. o quarto ventrículo
e o aqueduto cerebral S3 estão
bastante aumentados. Observa-
-se nível de debris e LCS BI na
porção gravitacional dependente
do quarto ventrículo.
34-35D Os forames de
drenagem SI estão ociuídos
por meningite grave. Imagens
posteriores nào demonstraram
realce no ES.
Hidrocefaiia e doenças do líquido cerebrospinal 1033

34-36A Imagem ponderada em TI no piano axial em uma criança de 34-36B imagem ponderada em TI pós-conlrasle no mesmo paciente
18 meses de idade com macrocrania demonstrando aumento simétrico demonstrando que a lesão expansiva sofre intenso reaice. Hidrocefaiia
do terceiro ventrícuio e dos ventrícuios laterais. Uma iesâo expansiva de por excesso de produção de LCS causada por um PPC.
aspecto papiiar E3 é vista no átrio do ventrícuio laterai esquerdo.

Hidrocefaiia por excesso de produção Hidrocefaiia de pressão normal


A hidrocefaiia por excesso de produção é rara e resulta da Não existem diretrizes com base em evidências tanto para
formação excessiva de LCS. Aumento panventricularé o o diagnóstico quanto para o tratamento da hidrocefaiia de
achado de imagem mais comum, porém não está sempre pressão normal. Nesta seção, a síndrome será rapidamente
presente. revisada, sendo resumido o espectro de achados de ima
Os papilomas do plexo coroidc (PPCs) são a cau gem que - em conjunto com a história e o exame neuroló
sa mais comum de hidrocefaiia por excesso de produção gico - pode sugerir o diagnóstico.
(Fig. 34-36). Eles respondem por 2 a 4% das neoplasias
da infância e geralmente ocorrem em crianças com menos Terminologia
de 5 anos. Alguns PPCs produzem grandes quantidades A hidrocefaiia de pressão normal (HPN) foi inicialmen
de LCS, superando a capacidade absortiva das granula- te descrita por Hakim e Addams como "hidrocefaiia sin
ções da aracnoide e das outras estruturas de drenagem. tomática oculta com pressão do LCS normal". A doença
Carcinomas do plexo coroidc (CaPCs) também podem também tem sido chamada de síndrome idiopática de
causar hidrocefaiia por excesso de produção de LCS, mas hidrocefaiia adulta. A forma primária ou idiopática da
apresentam apenas um décimo da freqüência dos PPCs. HPN (HPNI) é diferenciada da HPN secundária, na qual
Os achados de imagem tanto do PPC quanto do CaPC são existe um antecedente conhecido de hemorragia subarac-
delineados no Capítulo 18. nóidea. lesão traumática cerebral ou meningite.
Hiperplasia vilosa difusa do plexo coroidc (HDPC)
é uma causa rara de hidrocefaiia por excesso de produ Etioiogla
ção. A produção de LCS na HDPC pode exceder três li A HPN é caracterizada por ventriculomegalia com
tros por dia. A HDPC apresenta características histológi- pressão do LCS normal e hemodinâmica do LCS alterada.
cas normais com mínimo ou nenhum pleomorfismo ou A patogênese da doença é pouco entendida e controversa.
hipercromia. Alguns investigadores propuseram que as propriedades
Estudos de imagem na HDPC demonstram hidroce viscoelásticas das paredes ventriculares e do parênquima
faiia grave com aumento maciço de todo o PC. O PC di cerebral sofrem efeito de "martelo d'àgua" com as pulsa
fusamente aumentado realça de modo intenso e costuma ções liquóricas. Ondas "B" de alta pressão intermitente
apresentar múltiplos cistos de vários tamanhos que não juntamente com complacência cerebral alterada do sis
sofrem realce. A HDPC pode ser difícil de diferenciar dos tema venoso e do ES craniospinal são outras etiologias
raros PPCs bilaterais, que em geral causam aumento focai propostas. Fluxo sangüíneo cerebral regional reduzido e
- e não difuso - do PC.
doença microvascular acelerada provavelmente contri-
1034 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

buam para a degeneraçào parenquimatosa que costuma Apresentação. A natureza e a gravidade dos sintomas, tanto
acompanhara HPN. quanto do curso da doença, variam na HPN. Distúrbios
da marcha com aumento do triângulo de sustentação são
Patologia sintomas iniciais típicos. A tríade clássica de "Hakim" de
Os ventrículos apresentam-se macroscopicamente aumen demência, apraxia da marcha e incontinência urinária está
tados. A SB periventricular com freqüência se apresenta presente na minoria dos pacientes e geralmente representa
anormal, porém sem infartos francos. Agrupamentos neu- doença avançada. Embora distúrbios da marcha possam
rofibrilares e outras alterações microscópicas encontradas ser vistos na maior parte dos casos, nem todos os pacien
na doença de Alzheimer são vistos em 20% dos casos. tes apresentam déficits cognitivos.
História natural. A história natural da HPN não foi bem
Aspectos clínicos
caracterizada e o tempo de progressão não é uniforme. A
Epioemiologia e demografia. a HPN responde por cerca de 5
maioria dos pacientes apresenta declínio cognitivo e mo
a 6% de todas as demências. A incidência de HPN é esti
tor progressivo.
mada em 1 a 5 novos casos por 100.000 pessoas ao ano.
Embora seja mais comum em pacientes acima de 60 anos, Opções de tratamento. Alguns pacientes inicialmente res
a HPN eventualmente pode ocorrer em crianças após he pondem de modo notável à derivação ventricular ("HPN
morragia intraventricular ou meningite. Existe uma pre com resposta à derivação"). A resposta favorável à deriva
dominância moderada no sexo masculino. ção varia de 35 a 40% em pacientes com HPN "possível"
A HPN pode ser classificada como "possível" ou a 65% naqueles diagnosticados com HPN "provável".
"provável" com base na combinação de aspectos clínicos, O desfecho a longo prazo é mais complicado. Embora
estudos de imagem e resposta à punção lombar com dre a melhora da marcha seja comum, apenas um terço dos
nagem de volumes maiores de LCS. pacientes apresenta melhora contínua três anos após a de-

34-37A Imagem ponderada


em TI no plano sagital em um
homem de 62 anos com demên
cia e alterações leves da marcha
demonstrando um ventrículo
lateral aumentado ESe sulcos
de aspecto normal. Evidência de
LCS hiperdinâmico pode ser vista
pelos exagerados flow voids no
quarto ventrículo S.
34-376 FLAIR axial no mesmo
paciente demonstrando aumento
simétrico dos ventrículos laterais
e terceiro ventrículo com sulcos
de aspecto normal ou reduzido.
Observa-se o tênue "halo" peri
ventricular B3.

34-37C Imagem ponderada


em 72 demonstrando um aque-
duto aumentado com "flow void"
proeminente não habitual 69.
Novamente, observam-se os
ventrículos laterais e o terceiro
ventrículo desproporclonalmente
aumentados, comparados com as
fissuras de Sylvius normais e os
sulcos da convexidade.
34-370 RM 20 contraste de
fase demonstrando o aqueduto
aumentado com fluxo liquórico
hiperdinâmico 69.0 diagnóstico
de HPN! provável foi estabeleci
do, e o paciente foi submetido à
derivação ventriculoperltoneal.
Hidroceíalia e doenças do líquido cerebrospinal 1035

34-38A Neste paciente com HPN, a cisternografia multiplanar de 24 34-38B Visão do topo da cabeça do mesmo paciente também após
horas com ln-111 DTPA mostra o radiofármaco nos ventrkulos laterais 24 horas mostrando claramente atividade nos ventrículos laterais 13,
S] e ausência de atividade sobre a convexidade ÍS. (Cortesia de K. confirmando o diagnóstico de HPNI provável. (Cortesia de K. Morton,
Morton, MD.) MD.)

rivaçào. Cogniçào e disfunçâo urinária são sintomas com ta um moderado "halo" periventricular de alto sinal em
menor resposta. T2/FLAIR(Fig. 34-37B).
A imagem do tensor da difusão (DTl, de diffusion ten
Imagem sor imaging) é um bom marcador para patologia da SB
Características gerais. Os estudos de imagem em pacientes e demonstra anisotropia fracionada aumentada no braço
com suspeita de HPN sào necessários, porém nào forne posterior da cápsula interna.
cem todas as informações essenciais para se estabelecer o Estudos de fluxo com contraste de fase 2D ou 3D po
diagnóstico definitivo de HPN. O objetivo de identificar dem demonstrar fluxo aumentado e volume médio aque-
dutal marcadamente elevado.
pacientes que terão melhor resposta após derivação ven-
triculoperitoneal parece interessante. Medicina nuclear. Atividade ventricular pronunciada na
O aspecto de imagem mais característico da HPN é a
cisternografia de 24 horas com In-111 DTPA é conside
presença de algum grau de ventriculomegalia (índice de rada um bom indicador de HPN (Fig. 34-38). Tomografia
Evans de pelo menos 0,3) que parece desproporcional ao
por emissão de pósitrons (PET, de positron emission to
aumento dos sulcos ("desproporção ventriculossulcal")
mography) com fluordesoxiglicose (FDG) 18F demonstra
(Fig. 34-37). metabolismo cerebral regional diminuído.
Achados na TC. A TC demonstra aumento dos ventrículos
laterais com cornos frontais arredondados. O terceiro ven- Diagnóstico diferencial
trículo está moderadamente aumentado, embora o quarto A principal dificuldade em diagnosticar HPNI é fazer a dis
ventrículo possa parecer normal. tinção com outra doença neurodegenerativa. Mais de 75%
As cisternas da base e as fissuras de Sylvius podem dos pacientes com HPN apresentam outras doenças neuro-
ser algo proeminentes - em comparação com o grau de degenerativas, mais comumente doença de Alzheimer e
ventriculomegalia, o aumento de sulcos é leve. Hipoden- demência vascular. Na atrofía relacionada à idade, os
sidade periventricular é comum e com freqüência repre ventrículos e o ES estão aumentados proporcionalmente.
senta a combinação do aumento de fluido intersticial com
a rarefaçào da SB secundária à doença microvascular. Síndrome de bidrocefalia aguda com
Achados na RM. Imagens ponderadas em TI demonstram inapropríada baixa pressão liquórica
ventrículos aumentados. Um flow void proeminente e A maioria dos pacientes com hidrocefalia obstrutiva agu
exagerado no aqueduto cerebral pode ser evidente. O CC da apresenta ventriculomegalia e aumento da pressão
costuma estar afilado. A maioria dos pacientes apresen intracraniana (PIC). Entretanto, um pequeno grupo de
1036 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

34-39A Imagem ponderada em TI no plano axial em um pacienle com 34-39B O cateter foi reposicionado e o paciente apresentou piora
derivação venlricuioperitonea! e ceíaleía demonstrando o cateter E3 no neurológica aguda após 10 dias. A TC demonstra ventrículos "balonados",
ventrículo lateral esquerdo colapsado, em lenda S. O ventricuio lateral edema periventricular 63 e sulcos reduzidos. A OVE demonstrou pressão
direito está moderadamente aumentado; os sulcos têm aspecto normal. liquórica inapropriadamente baixa, consistente com 5ILPAH.

pacientes com hidrocefalia obslrutiva apresenta vcntricu- O mniHiO. Os pacientes sem derivação costumam apre
lomegalia com PlC inadequadamente baixa. sentar pressões muito abaixo do esperado as quais rapida
mente se tornam ainda mais baixas. Em ambos os cená
Terminologia rios, a PlC é baixa demais para permitira drenagem pelos
A síndrome de hidrocefalia aguda com inapropriada bai m e c a n i s m o s d e D VE n o r ma i s .
xa pressão liquórica (SILPAH) algumas vezes é chamada Tratamentos com bandas tensoras ao redor do pesco
de "hidrocefalia de pressão negativa". Como a pressão de ço e por redução da DVE para níveis negativos em geral
abertura nem sempre é "negativa", os termos SILPAH ou resultam em melhora clínica e resolução da ventriculome
"hidrocefalia de pressão muito baixa" são mais adequados. galia. O reestabelecimento da comunicação entre o siste
ma ventricular e o ES pode ser necessário para corrigir a
Etiologia dinâmica da PIC.
Anteriormente acreditava-se que a SILPAH ocorresse so
mente nos pacientes com derivação ventriculoperitoneal Imagem
prévia. Hoje sabe-se que a SILPAH ocorre também em Os achados de imagem são idênticos aos da hidrocefalia
outros pacientes. O fator comum é o isolamento do siste obstrutiva aguda grave. Aumento quadriventricular, halos
ma ventricular do ES com perda (ou drenagem) de LCS, de edema intersticial periventricular e pequenos - algu
resultando em turgor cerebral e PIC reduzidos. A produ mas vezes não aparentes - ESs estão presentes.
ção de LCS continua expande os ventrículos.
Diagnóstico diferencial
Aspectos clínicos O principal diagnóstico diferencial da SILPAH é a síndro
A SILPAH é incomum e - por sua natureza enigmática e me muito mais comum de hidrocefalia obstrutiva aguda
contraintuitiva - com freqüência não é reconhecida. com aumento da PlC. Os achados de imagem são idênti
Os pacientes com SILPAH se apresentam com dete cos. portanto o diagnóstico definitivo é estabelecido ape
rioração neurológica progressiva, ventriculomegalia agu nas quando a DVE demonstra PlC inesperadamente baixa.
da progressiva e PIC inapropriadamente baixa quando um A SILPAH deve ser diferenciada da hipotensão in
cateter de derivação ventricular externa (DVE) é instalado tracraniana idiopática. uma doença também caracteriza
(Fig. 34-39). A SILPAH afeta pacientes de todas as faixas da por baixa PIC (ver a seguir). A hipotensão intracrania
etárias; 20% deles são crianças. na é caracterizada por deslocamento caudal das estruturas
Os pacientes com derivação ventricular e SILPAH centrais do cérebro e do mesencéfalo, migração caudal
normalmente apresentam pressão de abertura inferior a tonsilar e espessamento/realce durai.
Hidrocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1037

34-40A Imagem ponderada em Ti no plano sagilal em uma mulher 34-40B Imagem ponderada em T2 na mesma paciente demonstrando
obesa de 33 anos demonstrando quantidade excessiva de gordura B e achatamento posterior dos globos oculares com protrusão intraocular das
sela turcica parcialmente vazia B. cabeças dos nervos ópticos S. A pressão de abertura na punção lombar
foi de 440 mmHjO, compatível com Hll moderadamente grave.

Hipovolemia líquórica crítica pós-craniotomia


pode causar hipotensão cerebral marcada com migração (continuação)
inferior notável das estruturas intracranianas. Tanto na hi ° Hidrocefalia obstrutiva aguda progressiva
potensão intracraniana idiopática quanto na hipovolemia o Pressão de abertura liquórica pode ser muito baixa
de LCS pós-craniotomia, os ventrículos normalmente são ou negativa
• Imagem
pequenos, e não aumentados.
o Semelhante à hidrocefalia obstrutiva aguda com T PIC
o Aumento quadriventricular
o Sulcos pequenos/pouco aparentes são comuns
OUTRAS HIDROCEFALIAS
• Diagnóstico diferencial
Hidrocefalia por excesso de produção ° Hidrocefalia obstrutiva aguda com T PIC
• Rara o Hipotensão intracraniana idiopática
• Resulta de excesso de produção de LCS o Hipovolemia liquórica crítica pós-craniotomia
o Tumor de plexo coroide » hiperplasia
• Imagem demonstra aumento panventricular
Hidrocefalia de pressão normal Hipertensõo intracraniana idiopática
• Ventriculomegalia com pressão liquórica normal,
Terminologia
dinâmica de fluidos alterada
• Responde por = 5% das demências A hipertensão intracraniana idiopática (HII) também é
• Demência, ataxia de marcha, incontinència (minoria) conhecida como hipertensão intracraniana benigna e
• Diagnóstico por imagem é difícil pseudotumor cerebral.
o Aumento desproporcional dos ventrículos em
relação aos sulcos Etiologia e patologia
o RM pode mostrar flow vo/c/aquedutal exagerado e A HII caracteriza-se por PIC aumentada sem uma causa
stroke volume aumentado identificável entre várias entidades, que incluem hidroce
o Cisternografia com ln-111 DTPA: radiofármaco
falia, lesão expansiva, anormalidades liquóricas ou trom
intraventricular após 24 horas bose de seio venoso durai.
Síndrome de hidrocefalia aguda com inapropriada
baixa pressão liquórica Aspectos clínicos
• Deterioração neurológica progressiva Epidemiologia e demografia. a HII é rara. Classicamente, a

(continua)
doença apresenta-se em mulheres acima do peso que estão
entre os 20 a 45 anos.
1038 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

Apresentação. A cefaleia é o sintoma mais comum (90 a


95%), seguida por zumbido e distúrbios visuais. Edema
de papiia é o sinal mais comum no exame neurológico.
História natural. A HIl pode causar distúrbio visual pro
gressivo e até mesmo cegueira.
Opções oe tratamento. O tratamento ótimo para a Hll é
controverso. Diuréticos e dieta são efetivos em muitos pa
cientes, mas a recidiva é alta (25 a 30%).
Tratamento com stent nos pacientes que apresentam
estenose do seio transverso com diferença de pressão sig
nificativa ao longo da lesão tem apresentado sucesso na
melhora dos sintomas e na redução do edema de papila
(Figs. 34-42D e 34-42E). Função lombar com drenagem
de maiores volumes de LCS e fenestração da bainha do
34-41A Imagem ponderada em Ti no plano sagilai nervo óptico são opções de tratamento em pacientes com
junto à linha média em uma mulher grávida com ceía- HII grave.
leia importante, alterações visuais e edema de papila
demonstrando sela parcialmente vazia B.
Imagem
A neuroimagem é utilizada para (I) excluir causas identifi
cáveis de aumento da PlC (p. ex., neoplasia ou hidrocefalia
obstrutiva) e (2) identificar os achados associados com HII.
Os achados de imagem mais significativos de HII
incluem achatamcnto da porção posterior dos glo
bos ocularcs, protrusão intraocular dos nervos ópti
cos, sela parcialmente vazia e estenose de seio venoso
(Fig. 34-42). A presença de um ou a combinação desses
sinais aumenta significativamente as chances de HII, e a
ausência deles não exclui o diagnóstico. O diagnóstico
definitivo de HII é estabelecido por punção lombar, que
demonstra PlC aumentada (maior que 200 mmH,0) com
LCS nonnal.
Achados na RM. Imagens no plano sagital demons
tram a sela túrcica parcialmente vazia (Fig. 34-40). Ob
34-41B Imagem ponderada em 12 no plano sagital
serva-se que a glândula hipófise ocupa menos de 50%
com saturação de gordura através do globo ocular de
monstrando aumento marcado das bainhas dos nervos da fossa hipofisária e tem superfície superior de aspecto
ópticos e compressão dos nervos ópticos B. A cabeça do côncavo. O globo ocupar parece achatado ou côncavo no
nervo óptico protrui para o interior do globo ocular [S. aspecto posterior, sendo evidenciada protrusão intraocu
lar do nervo óptico (Fig. 34-41). A prevalência de outros
achados, como ventrículos reduzidos ou em fenda, ESs
reduzidos (sulcos e cisternas pequenos), tonsilas desloca
das inferiormente e bainhas dos nervos ópticos dilatadas/
tortuosas, não difere significativamente da prevalência
nos controles normais.

Angiotomografía/angiorressonância venosa. A
angiorressonância magnética venosa demonstra estenose
do seio transverso t jlow gaps. Há controvérsias quanto a
isso ser causa ou conseqüência da PlC aumentada. A an-
giotomografia venosa é útil para diferenciar um segmento
hipoplásico de seio venoso de um segmento trombosado.

Diagnóstico diferencial
o diagnóstico diferencial mais importante em pacientes
34-41C Imagem ponderada em T2 mostrando sela com suspeita de HII é hipertensão intracraniana secun
turcica vazia bainhas dos nervos ópticos dilatadas dária (p. ex., aumento da PlC com causa identificável).
B e protrusão da cabeça dos nervos ópticos f^. Embora a dilatação da bainha dos nervos ópticos ("hi-
Hipertensão Intracraniana.
Hidrocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1039

34-42A TC no plano axial em


uma mulher de 29 anos com
cefaleia grave intratável de
monstrando ventrículos laterais
reduzidos E3 e sulcos quase
inaparentes sobre os hemisférios
cerebrais.
34-428 Imagem pondera
da em TI da mesma paciente
demonstrando sela turcica par
cialmente vazia ES e migração
lonsilar leve B sem íngurglta-
mento durai ou deformidade do
mesencéfalo.

34-42C Imagem ponderada


em T2 demonstrando dllatação

fi r%
sutil das bainhas dos nervos óp
ticos (ES e relativa redução dos
sulcos corticais sobre a superfície
cortical Os globos oculares
tém aspecto normal.

1
' fi * n 34-420 Imagem ponderada
em 12 mais cranial mostrando
que ambos os ventrículos laterais
têm aspecto reduzido B3.

1 i

}
34-42E Angiorressonância
magnética venosa mostrando
seio transverso direito hipoplá-
sico ES e seio transverso es
querdo dominante com aparente
eslenose de alto grau B.
34-42F Anglografia com sub
tração digital (ASD) anteropos
terior confirmando estenose do
seio transverso esquerdo SI. O
gradiente de pressão através da
estenose é de 10 mmHg, Foi co
locado um stent no ponto de es
tenose com resolução da cefaleia
da paciente. Estenose de seio
venoso ou aderência causando
hipertensão intracraniana é uma
causa rara, mas potencialmente
remediável de Hll.
1040 Distúrbios tóxicos, metabóllcos, degenerativos e do LCS

34-43A TC em um paciente com múltiplas revisões de derivação 34-43B Imagem de uma série de radiografias mostrando o fragmento
ventricular demonstrando um cateter abandonado ES e um segundo do cateter abandonado O segmento cervical do cateter "ativo" está
cateter "ativo" B no ventriculo lateral esquerdo. Ambos os ventriculos fraturado (Cortesia de 5. Blaser, MD.)
estavam moderadamente aumentados em relação aos estudos prévios
(não mostrados).

dropsia") e o achatainento posterior dos globos oculares diretamente ao tratamento para pacientes de todas as ida
indiquem aumento da PIC, eles podem ser vistos tanto na des com hidrocefalia excedem US$ I bilhão por ano ape
HI! quando na hipertensão intracraniana secundária. A nas nos Estados Unidos.
ventriculomegalia é mais comum na hipertensão intracra A imagem tem um papel essencial na avaliação de pa
niana secundária, enquanto os ventriculos costumam ser cientes com derivações liquóricas. A falha da derivação
normais ou pequenos na HIl. pode resultar tanto em aumento quanto em colapso dos
Trombose de seio venoso durai (TSD) é outra consi ventriculos. A manifestação de imagem mais comum da
deração importante. A T2* (GRE, SWl) demonstra trom falha da derivação é o aumento dos ventriculos. A TC em
bo com artefato de susceptibilidade magnética no seio geral é o método de escolha para a avaliação dos pacien
venoso afetado. A angiorressonância magnética ou a an- tes com cateteres intracranianos. Modalidades alternati
giotomografia venosa pode demonstrar o coágulo. vas incluem ultrassonografía transfontanelar e técnicas
novas rápidas de RM, como seqüências fast steady-sraíe
Defivações liquóricas e complicações gradienl-recalled-echo (S S -G R E).
Embora a terceiroventricuiostomia endoscópica esteja ga Nesta seção serão resumidas algumas das causas mais
nhando aceitação, o iratamento-padrão para todos os tipos comuns de falha de funcionamento das derivações ventri
de hidrocefalia permanece a instalação de uma derivação culares.

v e n t r i c u l a r.
A instalação de uma derivação ventricular é um dos pro Falha mecânica
cedimentos neurocirúrgicos mais comuns. Múltiplas cirur Falhas mecânicas representam cerca de 75% dos proble
gias são regra, e não exceção; cerca de 50% das derivações mas relacionados à derivação ventricular. Desconexão ou
ventriculares em crianças falham nos primeiros dois anos, e fratura do sistema respondem pelos outros 15% ou menos
a vasta maioria falha em até 10 anos após a instalação. (Fig. 34-43).
Os custos e a morbidade ao longo da vida associados A maioria das derivações ventriculoperitoneais apre
com a instalação do shunl para tratar hidrocefalia da in senta vários componentes. Os sistemas usados com mais
fância e do adulto são substanciais. Mais da metade de to freqüência consistem em três peças: (I) cateter ventricular
dos os pacientes pediátricos e adultos necessita de revisão conectado a uma (2) válvula e (3) cateter distai peritoneal.
da derivação. Cerca de 55% das crianças são submetidas A descontinuidade da derivação ventricular pode ocorrer
a quatro ou mais revisões, e cerca de 10% apresentam três em qualquer local do trajeto, porém a desconexão é mais
ou mais infecções da derivação. Os custos relacionados comum na junção dos vários componentes.
Hidrocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1041

34-44A TC em uma criança


com hidrocefalia e derivação
ventricular demonstrando o cate-
ter B3 e os ventricuios laterais
em fenda S. Apesar do mal
funcionamento da derivação, o
paciente estava assintomático.
34-44B Radiografia do crânio
obtida no mesmo momento
demonstrando continuidade do
sistema de drenagem ativo ES.
Um fragmento de derivação
abandonado no pescoço pode ser
evidenciado

34-44C Radiografia de tórax


obtida como parte da série de
radiografias confirmando a conti
nuidade do cateter de derivação
ativo B e demonstrando o
aspecto distai do fragmento da
derivação abandonada BI.
34-440 Vários anos depois, a
criança desenvolveu cefaieia in
tensa. A TC demonstra que o ca
teter ventricular B não mudou
de posição. Entretanto, os ventri
cuios laterais agora têm aspecto
moderadamente aumentado se
comparados ao exame prévio.

34-44E Em comparação
com a radiografia do crânio da
série anterior (Fig, 34-44B), no
momento o cateter do sistema
ativo termina abruptamente no
pescoço B.
34-44F A radiografia de tórax
demonstra uma segunda des-
continuidade no cateter B. O
segmento distai está enrolado
no quadrante superior esquerdo
SI, uma posição inadequada.
(Cortesia de K. Moore, MD.)
1042 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do

A modalidade de imagem utilizada com mais fre


qüência para avaliar falha mecânica é uma série de radio
grafias. Embora algumas evidências sugiram que apenas
um pequeno número (menos de 1%) das radiografias aju
de na tomada de decisão cirúrgica, tais exames ainda cos
tumam ser solicitados.
A série de radiografias-padrào é composta por ra
diografias de crânio (duas incidências), pescoço, tórax e
abdome/pelve para acompanhar o trajeto e a integridade
do cateter. O diagnóstico acurado das fraturas e das des
conexões do mecanismo é complicado por três fatores: (I)
ampla variedade de mecanismos utilizados, (2) acúmulo
de fragmentos residuais de cateteres "abandonados" nos
pacientes com múltiplas revisões e (3) segmentos do me
canismo não radiopacos. Uma comparação cuidadosa do
estudo atual com estudos anteriores é essencial para deter
34-45A Imagem ponderada em T2 após instalação
minar a integridade do sistema "ativo".
de derivação demonstrando um grande quarto ventricu-
lo "isolado" SI achatando a ponte contra o divo B3,
comprimindo o verme ÍS. Falhas de válvulas programáveis
Atualmente, muitos neurocirurgiões utilizam uma válvula
programável em vez de uma válvula de pressão fixa para
o tratamento da hidrocefalia. Tais dispositivos permitem
ajuste não invasivo das configurações de pressão da vál
vula (em mais de 50% dos casos, a pressão de abertura
de uma válvula necessita de ajuste, algumas vezes após
meses ou mesmo anos).
Imagem costuma ser realizada para avaliar as confi
gurações da válvula. Leitores interessados devem consul
tar o trabalho abrangente sobre o aspecto radiográfico das
válvulas produzido por Lollis e colaboradores.

Síndrome do ventricuio em fenda


Alguns pacientes com derivação liquórica exibem sinais
clínicos de disfunção da derivação sem evidência de au
■. ^ r- " mento ventricular, condição conhecida como síndrome do
34-45B imagem ponderada em T2 no piano axial
ventricuio em fenda (SVF) (Fig. 34-44).
demonstrando que o quarto ventricuio aumentado e
encarcerado B3 perdeu o aspecto normal de "feijão" A etiologia da SVF é controversa. Alguns pacientes
que apresenta em cada lateral. apresentam paredes ventriculares alteradas com compla
cência diminuída e tolerância reduzida para flutuações
normais na PIC. Outros podem apresentar baixa pressão
com ventrículos colapsados secundários à drenagem ex
cessiva ou à fistula liquórica. Obstrução intermitente ou
parcial pode ser um fator contribuinte.
A comparação com exames de imagem prévios é
essencial. A TC demonstra um ou ambos os ventrículos
laterais pequenos ou em fenda. Estudos funcionais de
monstram que a derivação ventricular pode ser preenchi
da lentamente por LCS, embora ainda esteja funcionando,
mesmo que o fluxo com freqüência esteja reduzido.

Outras complicações
Derivação liquórica em hidrocefalia de longa data com
drenagem liquórica excessiva pode aumentar o risco de
hematoma subdural. Alterações cicatriciais intraventricu-
34-45C FLAIR não demonstrando evidências de flui
lares e aderências podem bloquear o fluxo de LCS de um
do intersticial periventricular ao redor do quarto ventri
cuio encarcerado B. (Cortesia de K. Moore, MO.) compartimento para outro, produzindo encarceramen-
Hidrocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1043

34-46A TC óssea em um
paciente com fistula liquófica
espontânea demonstrando um
defeito no osso esfenoide direito
E3 e niveí liquido no seio esfe
noide direito S.
34-46B Imagem ponderada
em T2 com saturação de gordura
no mesmo paciente demons
trando preencfiimento do seio
esfenoide direito por liquido B.
O seio esfenoide esquerdo nor
malmente está aerado. A clster-
nografia com ln-111 OTPA (não
mostrada) apresentou atividade
no nariz e no seio esfenoide,
confirmando fistula liquórica.
(Cortesia de H. R. Harnsberger,
MD.)

34-47A TC óssea no plano


axial em um paciente com rinor-
reia liquórica à esquerda após
trauma craniano grave demons
trando uma fratura linear que se
estende através do divo B.
34-47B Imagem em topo
grafia mais cranial no mesmo
paciente demonstrando que
a fratura B se estende para
o interior do seio esfenoide.
Observa-se nível líquido B
consistente com fistula liquórica.
(Cortesia de H. R. Harnsberger,
MD.)

34-48A Imagem ponderada


em 72 no plano axial de um pa
ciente com cefaleia grave e me
ningite recorrente demonstrando
preencfiimento por líquido da
mastoide direita B, além de
defeito no osso temporal
34-48B Cisternografia por TC
no plano coronal no mesmo pa
ciente demonstrando contraste
na cisterna do ângulo pontocere-
belar acessando a porção petrosa
do osso temporal B por meio
de um defeito causado por uma
granulação da aracnoíde gigante
[S, com presença de contraste
na mastoide B e na orelha
média ^3. (Cortesia de H. R.
Harnsberger, MD.)
1044 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

to de uni vcntrículo (isolado) (Fig. 34-45). A produção


Etloiogia
continuada de LCS pode resultar em aumento maciço do
As fistulas liquóricas podem ser congênitas ou adquiri
ventrículo aumentado. A infecçâo é uma complicação re
das. As fistulas congênitas podem ocorrer com cefalocele,
lativamente incomum. porém pode resultar em meningite,
canal craniofaringeo persistente e defeito da lâmina cri-
ventriculitee pioencéfalo.
briforme.
As complicações abdominais das derivações ventri-
As fistulas adquiridas podem ser espontâneas, pós-
culoperitoneais incluem coleções liquóricas loculadas -traumáticas ou iatrogênicas. As fistulas espontâneas são
("pseudocistos"), ascite e perfurações intestinais. Obstru mais comumentc associadas com granulações da aracnoi-
ção distai da derivação pode ser causa de faiba mecânica de no seio esfenoide lateral. As fistulas pós-traumáticas
e hidrocefalia.
costumam ocorrer com fraturas do seio esfenoide, lâmina
cribriforme e teto do etmoide. As fistulas liquóricas iatro
gênicas são vistas no cenário de cirurgia da base do crânio
Fistulas liquóricas e seqüelas ou após cirurgia endoscópica sinusal.

Fistulas liquóricas Aspectos clínicos


Terminologia Epidemiologia e demografia. Fistulas liquóricas podem exis
A presença de LCS em qualquer local fora do ES do cére tir em pacientes de qualquer idade. Trauma, cirurgia da
bro e da medula é anormal. As fistulas liquóricas são no base do crânio prévia e cirurgia sinonasal são anteceden
meadas pela localização, por exemplo, rinorreia liquórica tes comuns. Fistulas espontâneas em geral desenvolvem-
(nasofaringe), otorreia liquórica (osso temporal). -se em mulheres obesas de meia-idade com HII.

34-49 Hipotensão intracraniana


com seios durais distendidos Sf],
hipóíise aumentada ÍS e tonsiias
cerebeiares herniadas E3. Mi
gração cerebral caudal deforma o
mesencéfalo, desloca caudalmen-
te a ponte e reduz o ângulo entre
a ponte e o mesencéfalo 00 na
junção entre a veia cerebral inter
na e a veia de Galeno B9.
34-50A Imagem ponderada
em TI no plano sagital demons
trando fierniaçào tonsilar [3,
flow voids venosos proemi
nentes rebaixamento do
mesencéfalo com redução do ân
gulo ponto-mesencefáíico B,
aumento volumétrico da fiipófise
B e quíasma óptico impactado
sobre a sela túrcica S3.

34-50B Imagem ponderada


em TI pòs-contraste mostrando
realce durai B e os seios trans
versos proeminentes e distendi
dos S.
34-50C Imagem ponderada
em TI seqüência de pulso gra-
diente-eco espoliada (SPGR, de
spoiled gradient recalled) pós-
-contrasle no plano coronal mos
trando realce durai difuso B se
estendendo para o interior dos
canais auditivos O ângulo
ventricular é de ill" (normal 2
120"), o que é consistente com
migração inferior das estruturas
centrais do cérebro. Hipotensão
intracraniana clássica.
Hidrocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1045

Imagem posteriormente medidas, em geral entre I e 2 horas após a


Achados na TC. TC com filtro ósseo e reconstruções mul- injeção do radiofármaco. A medida das compressas deve
ser pelo menos 1,5 vez a medida do sangue.
tiplanares é o método de escolha e pode evitar a cister-
nografia por TC. Um defeito ósseo, com ou sem nível Diagnósticos diferenciais
líquido no seio adjacente, é o achado típico (Figs. 34-46 O principal diagnóstico diferencial da fistula liquórica é um
e 34-47). Defeitos com menos de 3 a 4 mm podem ser
defeito na base do crânio sem fistula líquóriea. Algumas
difíceis de detectar, em especial em áreas onde o osso nor
áreas da base do crânio - como lâmina cribriforme, recesso
malmente é bastante fino.
olfalório e ápices petrosos - costumam ser bastante finas.
Cisternografia por TC está indicada se a TC-padrào
com filtro ósseo for negativa ou mostrar mais de um local
possível de fistula (Fig. 34-48). Hipotensõo intracraniana
A hipotensão intracraniana é uma doença pouco entendi
Achados na RM. A RM costuma ser utilizada apenas se
da. freqüentemente diagnosticada de maneira incorreta,
a TC for negativa ou se houver suspeita da presença de
que pode se apresentar com uma grande variedade de sin
parênquima cerebral dentro de uma cefalocele. Imagens tomas. A imagem é a chave para o diagnóstico, algumas
ponderadas em T2 demonstram um defeito ósseo com vezes permitindo uma primeira impressão sobre a causa
fluido na cavidade sinusal adjacente. de sintomas tão freqüentemente enganadores.
Medicina nuclear. Na cisternografia com isótopos, o LCS
é m a r c a d o c o m Tc - 9 9 m o u I n - 111 D T PA i n t r a t e c a l , e a Terminologia
atividade sobre a cabeça e a coluna é medida. Pequenas A hipotensão intracraniana também é conhecida como
compressas podem ser colocadas no nariz ou na orelha e síndrome de hípovolemia líquóriea.

34-51A Hipotensão Intracra


niana leve é ilustrada neste caso
de uma mulher de 32 anos com
cefaleia postura! 10 dias após
punçào lombar. Imagem ponde
rada em TI no plano sagítal mos
trando as tonsilas cerebelares
com posição e configuração nor
mais E3. Existe uma leve defor
midade do mesencéfalo e o
quiasma óptico está comprimido
sobre a sela turcica
34-51B Imagem ponderada
em TI pós-conlraste no plano
axial demonstrando leve realce
durai B que também se esten
de para o interior de ambos os
canais auditivos internos ^3.

34-51C Imagem ponderada


em TI pós-contraste com satu
ração de gordura demonstrando
haste hipoíisária espessada B,
espessamento durai leve e com
realce B.
34-51D Imagem ponderada
em TI pós-conlraste demonstra
pequenos ventrículos laterais
B e leve realce durai difuso
B. Os sintomas resolveram
completamente após patch epi
dural de sangue.
1046 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LC5

34-52A Imagem ponderada


em TI no plano sagital de uma
mulher de 30 anos com cefaleia
grave e redução do nível de
consciência demonstrando os
achados da hipotensão intracra
niana moderada a grave. Obser-
vam-se migração caudal tonsilar
ES, rebaixamento do mesencé-
íalo, ângulo mesencéfalo-ponti-
no reduzido B e ES suprasselar
reduzido com o recesso anterior
do terceiro ventriculo deslocado
sobre a sela túrcica
34-52B Imagem ponderada
em TI na mesma paciente mos
trando a ponte espessada B e
as margens convexas dos seios
transversos

34-52C Imagem ponderada


em TI demonstrando obliteraçao
completa das cisternas da base e
sulcos da convexidade. O terceiro
ventriculo ES está deslocado in-
leriormenle, os lobos temporais
estão herniados medialmente
B e o mesencéfalo parece gra
vemente comprimido, com mar
gens posteriores côncavas B.
34-52D Imagem ponderada
em T2 no mesmo nível mostran
do o terceiro ventriculo desloca
do caudalmente B, e sulcos e
cisternas obliterados. O mesen
céfalo B parece comprimido e
alongado no plano axial.

34-52E Imagem pondera


da em TI pós-contraste com
saturação de gordura no plano
axial demonstrando realce durai
difuso B.
34-52F Imagem ponderada
em TI SPGR pós-contraste no
plano coronal confirmando o re
alce durai difuso B.
Hidrocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1047

mcnte apresenta-se normal, sem evidência de neoplasia ou


Etiologia
A hipotensão intracraniana pode ser espontânea ou adqui inflamação. Casos crônicos de HIE podem apresentar fi
brose da dura-aracnoide com agrupamentos proeminentes
rida. Causas antecedentes comuns incluem punçào lom
de células meningoleliais; esses agrupamentos não devem
bar, cirurgia espinal e trauma. Divertículos da aracnoide
ser confundidos com meningiomas.
espinai podem romper subitamente e causar muitos dos
casos de hipotensão intracraniana "espontânea". Aspectos clínicos
Tosse vigorosa, exercício e desidratação grave são
Epidémiologia e DEMOGRAFiA. A real incidência da HIE é des
outras causas relatadas de hipotensão intracraniana espon
conhecida. A prevalência estimada é de 1:50.000 por ano.
tânea (HIE). Pacientes com síndrome de Marfan e Ehlers-
Embora a HIE possa ocorrer em qualquer faixa etária, a
-Danlos apresentam anormalidades do tecido conectivo e
aumento do risco de perda liquórica por ruptura da dura- prevalência maior ocorre na terceira e na quarta décadas.
Existe predominância moderada no sexo feminino.
-máter enfraquecida. Ocasionalmente, a perda de LCS
pode ocorrer por um defeito durai relacionado com pato Apresentação. Os sintomas variam amplamente, desde ce-
logia espinal cervical degenerativa. Fistulas liquóricas na faleia leve até coma. A apresentação clássica da HIE é
base do crânio raramente causam HIE. a cefaleia ortostática grave que melhora com o decúbito.
(Perda de cerca de 10% do LCS total é necessária para
Patologia induzir cefaleia ortostática.) Cefaleia não ortostática. rigi
Hipovolemia liquórica e hipotensão (inferior a 60 mmH,0) dez de nuca e alterações visuais são menos comuns. Ca
resultam em ingurgitamento venoso e deslocamento cau sos mais graves podem se apresentar com encefalopatia
dal do cérebro (FIg. 34-49). A dura-máter caracteristica- progressiva.

34-53A Hipotensão intra


craniana pode ameaçar a vida
se a migração caudal se tornar
grave ou grandes hematomas
subdurals (HSOs) forem for
mados, como aconteceu neste
caso. Imagem ponderada em Ti
pós-contraste no plano sagital
demonstrando deformidade do
mesencéfalo grave e compressão
descendente da ponte BEI, veias
cerebrais internas achatadas
realce durai grosseiro S] e
distensão venosa S.
34-538 Imagem ponderada
em TI pós-contraste com satu
ração de gordura demonstrando
as veias cerebrais internas (VCIs)
e os ventriculos deslocados me-
díalmente E3, além de HSOs
bilaterais B.

34-S3C Imagem ponderada


em TI pós-contraste no plano
coronal demonstra os HSDs 19,
realce durai difuso 69, ângulo
ventricular marcadamente dimi
nuído (fechado) ES a partir da
tração para baixo nas estruturas
centrais do encéfalo.
34-S3D Imagem pondera
da em T2 no plano coronal no
mesmo paciente demonstrando
deslocamento caudal do terceiro
ventrículo em fenda B através
da incisura do tentório, além
de HSOs de diferentes idades
9 e "fechamento" do ângulo
ventricular.
1048 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

34-54A Os achados tomográ-


ficos da hipotensao intracraniana
podem ser sutis, como ilustrado
neste caso. Observa-se ausência
das cisternas suprasselares e dos
espaços íiquóricos. 0 cérebro
parece estar apertado. Os lobos
temporais estão deslocados me-
dialmente sobre o tentório B.
34-54B TC no mesmo pa
ciente com alguns artefatos de
movimento B3. demonstrando
ventrículos pequenos, perda
completa dos sulcos cerebrais e
átrios ventriculares medialmente
deslocados E3.

34-54C Corte tomográíico


através do vértice demonstrando
coleções fluidas extra-axiais
hipodensas B com um hema
toma subdural de aspecto mais
agudo E3.
34-54D RM obtida pela sus
peita de hipotensão intracrania
na. Imagem ponderada em Ti
demonstrando migração tonsllar
caudal leve ES e deformidade
do mesencéfalo com redução
do ângulo mesencéfalo-pontino
A cisterna suprasselar é pra
ticamente inexistente, e o quias-
ma óptico ES está comprimido
sobre a sela.

34-54E Imagem ponderada


em T2 demonstrando o cérebro
"apertado" com sulcos reduzidos.
Um terceiro ventrículo em fenda
está sobreposto ao mesencéfalo
B, sugerindo deslocamento
inferior. Pequenas coleções de
fluido extra-axiais são evidencia
das S.
34-54F Imagem ponderada
em T2 mais cranial no mesmo
paciente demonstrando hemato
mas subdurals com intensidades
de sinal mistas S.
Hidrocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1049

34-55A (Esquerda) Imagem ponderada em TI no plano sagital antes 34-55B Imagem ponderada em TI pós-contraste com saturação de
da reoperação para oligodendroglioma demonstrando glândula hlpófise gordura demonstrando a glândula hipófise arredondada, com realce E],
normal B. (Direita) No pós-operatório, o paciente piorou da cefaleia. junto com ingurgitamento durai BI. Um dos achados de imagem mais
Observa-se o aumento da glândula hipófise ES. confiáveis na hipotensão intracraniana pós-operatória é o aumento da
glândula hipófise.

História natural. A maioria dos casos de HIE resolve-se de trículos pequenos com desvio mediai do átrio dos ventrí-
modo espontâneo. Em casos raros, migração caudal do cére culos laterais e aumento volumétrico da ponte.
bro não tratada pode resultar em coma ou mesmo em morte.
Achados na RM
Opções de tratamento. O tratamento tem objetivo de res
taurar o volume de LCS. Reposição de fluidos e repouso Imagens ponderadas em TI. As imagens ponderadas em
TI no plano sagital demonstram migração cerebral caudal
podem ser suficientes na maior parte dos casos. Em ou em aproximadamente metade dos casos. Rebaixamento do
tros, "'patdf epidural de sangue ou reparo cirúrgico pode
ser necessário. Infusão salina de emergência em pacientes mesencéfalo, com localização abaixo do nível que passa
obnubilados, com encefalopatia grave, pode salvar a vida. pelo dorso da sela, ângulo entre os pedúnculos cerebrais e
a ponte menor que 90" e achatamento da ponte contra o di
O ''patch" epidural de sangue costuma ser realizado
vo são achados típicos. O deslocamento caudal das tonsi-
com base apenas nos achados clínicos e de imagem. Se
las cerebelares é comum, porém não está sempre presente.
injeções de pequenos a grandes volumes de sangue não
O quiasma óptico e o hipotálamo com freqüência es
forem bem-sucedidas, mais estudos podem ser necessá
tão comprimidos sobre a sela turcica, apagando a cisterna
rios para localizar o nível preciso da fistula liquórica.
suprasselar. A glândula hipófise mostra-se aumentada em
até 50% de todos os casos (Figs. 34-50A, 34-51 e 34-55).
Imagem
Imagens no plano axial mostram as cisternas da
Embora a TC com freqüência seja obtida como método de
base apagadas. O mesencéfalo e a ponte podem aparecer
rastreamcnto nos pacientes com cefaleia grave ou intratá
alongados (sinal da "ponte gorda"), e os lobos temporais
vel, a RM é o método de escolha para avaliar a hipótese
de HIE. Várias alterações podem ser evidenciadas na HIE; aparecem deslocados medialmente sobre o tentório e a
incisura do tentório. Os ventrículos laterais em geral são
apenas raramente identificam-se todos os sinais de ima
pequenos e distorcidos à medida que são empurrados me
gem em um mesmo paciente. diai e inferiormente pelo cérebro rebaixado (Fig. 34-53).
Achados na TC. O achado mais evidente na TC é o de co Em casos de migração caudal grave do cérebro, ima
leções de fluido subdural; todavia, esse achado está pre gens no plano coronal podem demonstrar que o ângulo
sente em apenas 15% dos casos. Achados sutis na TC para entre o teto dos ventrículos laterais se encontra progressi
a presença de HIE incluem apagamento das cisternas da vamente reduzido (inferior a 120") (Fig. 34-50B).
base (em especial o ES suprasselar). hemiação mediai dos Os seios durais com freqüência se apresentam distor
lobos temporais na incisura do tentório do cerebelo. ven- cidos, com margens convexas em direção anterior e "Jlow
1050 Distúrbios tóxicos, metabólicos, degenerativos e do LCS

voids" aumentados (Flg. 34-50C). Coleções fluidas sub- Outras causas de espessamento da dura-aracnoide
durais (higromas > hematomas) são variáveis (Figs. 34-53 (infecçâo, metástases, etc.) não apresentam o espectro de
e 34-54). achados associados com HIE. A paquimeningite hiper-
T 2 / F L A I R . Te r c e i r o v e n t r i c u l o e m f e n d a d e s l o c a d o trófica idiopática em geral não é tão difusa quanto o es
caudalmente nas imagens axiais apresenta-se quase so pessamento visto na HIE. A invasão óssea (osso temporal,
breposto ao mesencéfalo (Fig. 34-52). órbitas) não é característica da HIE.
TJ pós-conírasíe. Um dos achados mais consistentes A TSD pode se apresentar com seios venosos engur-
na HIE, o espessamento durai difuso com realce intenso, é gitados secundariamente à drenagem venosa colateral. As
visto em 85% dos casos. Espessamento durai linear pode seqüências T2* (GRE, SWI) demonstram o coágulo com
se estender para o interior dos canais auditivos, inferior artefato de susceptibilidade magnética nos seios venosos
mente ao divo e através do forame magno para o interior afetados e fluxo baixo nas veias medulares (SB) se o coá
do canal cervical superior (Fig. 34-51). gulo se estender para as veias cerebrais internas.
Imagens da coluna. Piexos venosos cervicais engur-
gitados e com realce podem se apresentar com o aspecto
de uma "cortina rasgada", reduzindo a amplitude do ca HIPOTENSÃO INTRACRANIANA
nal. Espessamento durai pode mimetizar sarcoidose ou
doença metastática. Etíologia e patologia
• Hipovolemia liquórica -> cérebro "rebaixado", seios
Imagem por RM de toda a coluna pode ser útil para
detectar LCS fora do ES. Quando a localização precisa da venosos/dura-máter T
• Pode ser espontânea (idiopática) ou adquirida
fistula liquórica se torna importante no manejo da hipo-
volemia liquórica, mielografla dinâmica por TC (MTC) Aspectos clínicos
• Cefaleia ortostática
pode ser útil. Mielografla por RM com gadolíneo intra-
• Hipotensão intracraniana grave pode causar coma ou
tecal (atualmente em uso off-labet) pode detectar fistulas
mesmo a morte
em pacientes selecionados nos quais a MTC não tenha
sido útil. Achados na RM
• Comuns
Medicina nuclear. A cisternografia intratecal com In-111
o Cérebro rebaixado
DTPA pode ser útil para identificar fistulas liquóricas. A
o Ângulo entre o mesencéfalo e a ponte reduzido
salda do radiotraçador para o compartimento extradural, ti
(inferior 90°)
picamente para o espaço paraespinal, pode ser identificada. o Quiasma óptico/hipotálamo comprimidos sobre a
A fusão das imagens de tomografia computadorizada por sela
emissão de fóton único (SPECT, de singiephoton emission o Espessamento difuso com realce da dura-máter
computed tomography) e TC é bastante útil para determinar • Menos comuns

o nível exato onde se encontra a fistula liquórica. o Ponte e mesencéfalo podem parecer "gordos"
o ± Deslocamento caudal das tonsilas cerebelares

Diagnóstico diferencial o Sulcos e cisternas apagados


o Ventrícülos laterais pequenos ± átrios deslocados
o principal diagnóstico diferencial da hipotensão intracra
niana é a malformação de Chiari tipo I. A única anorma inferomedialmente
o Ângulo ventricular inferior a 120°
lidade intracraniana em Chiari 1 são as tonsilas rebaixa
o ± Coleções subdurals (higromas > hematomas
das, que se apresentam alongadas com as folias orientadas
verticalmente. Confundir HIE com Chiari I nos estudos de francos)
o Seios venosos durais abaulados com margens
imagem pode levar a uma cinugia descompressiva, com convexas
piora da hipovolemia liquórica e deterioração clinica.
Hidrocefalia e doenças do líquido cerebrospinal 1051

Hidrocefalia
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35
Embriologia e abordagem das
malformações congênitas
delineados. O desenvolvimento das três maiores comissu-
Formação do hemisfério cerebral 1055 ras cerebrais (corpo caloso, comissura anterior e comis-
Neufulaçâo 1055
sura hipocampal) é detalhado no Capitulo 37 como uma
Proliferação neuronal 1056
Migração neuronal 1057 introdução às anormalidades calosais.
Operculaçâo, suicação e giraçâo 1058 Depois será apresentado um pouco da coreografia
Mielinizaçâo 1058 complexa necessária para o desenvolvimento adequado
Desenvolvimento do mesencéfalo e do rombencéfaio...l059 do mesencéfalo e das estruturas do rombencéfalo (pon
Principais eventos embriológicos 1059 te, cerebelo, bulbo). Uma rápida discussão sobre como o
Anomalias do mesencéfalo-rombencéfaio 1059
mesencéfalo e o cérebro se desenvolvem está incluida. A
Abordagem por Imagem das malformações cerebrais... 1062 seção final deste capitulo sugere uma abordagem para a
Considerações técnicas 1062 análise das malformações cerebrais.
Análise da imagem 1062

Um conhecimento básico do desenvolvimento normal do


cérebro e da maturação fornece fundamentos essenciais Formação do hemisfério cerebral
para se entender as malformações congênitas, o assunto Os maiores eventos embriológicos do desenvolvimento
da parte final deste livro. cerebral começam com neurulação, proliferação neuro
Este texto aborda passo a passo a embriologia, dis nal e migração neuronal. Os processos de operculaçâo e
cutindo aspectos diferentes do desenvolvimento do siste desenvolvimento dos giros e dos sulcos, assim como os
ma nervoso central (SNC) com sua patologia relevante. primeiros passos da mielinizaçâo, ocorrem depois, entre
Alguns conceitos já foram elucidados em capítulos ante 11 semanas da idade gestacional e o nascimento.
riores. A maturação da mielinizaçâo do nascimento até os
três anos foi discutida no Capitulo 31 com as doenças me- Neurulação
tabólicas hereditárias, e o desenvolvimento dos ventrícu- Tubo neural e vesículas cerebrais
los e do plexo coroide foi apresentado no Capítulo 34 em o passo inicial para o desenvolvimento cerebral ocorre
conjunto com a discussão da hidrocefalia e do distúrbio durante a terceira semana fetal, quando as três camadas do
do líquido cerebrospinal (LCS). disco germinativo trilaminar emergem. A placa neural de
Aqui será considerado rapidamente o desenvolvi senvolve-se na extremidade cranial do embrião como um
mento normal dos hemisférios cerebrais e do cerebelo.
ectoderma espessado em ambos os lados da linha média.
Primeiramente será apresentada a base da neurulação e Durante a quarta semana fetal, a placa neural endenta
do fechamento do tubo neural, dando-se, então, atenção a e espessa lateralmente, formando as pregas neurais. Es
como o tubo neural se flexiona, dobra-se e se desenvolve sas pregas dobram-se superiormente, encontram a linha
em prosencéfalo, mesencéfalo e rombencéfalo. Os erros média e depois se fundem para formar o tubo neural. A
no desenvolvimento e as malformações resultantes que notocorda primitiva situa-se ventralmente ao tubo neu
podem ocorrer em qualquer estágio são rapidamente re ral, e as células da crista neural são expulsas e migram
sumidos (eles serão discutidos em detalhes nos capítulos lateralmente. O tubo neural forma o cérebro e a medu
subsequentes). la espinal, enquanto a crista neural dá origem aos nervos
O crescimento dos hemisférios cerebrais com sua
periféricos, às raízes e aos gânglios do sistema nervoso
elaboração em lobos, o desenvolvimento dos sulcos e autônomo (Fig. 35-1).
dos giros, e os padrões de migração e de estratificação da Enquanto o tubo neural se fecha, o neuroectoderma
substância cinzenta do neocortex são todos sucintamente (que formará o SNC) se separa do ectoderma cutâneo
1056 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

35-1 Gráfico mostrando a formação e o fecfiamento do tubo neural. A 35-2 O tubo neural fecha-se como um zíper bidirecional, começando
placa neural (vermelha) forma-se, dobra-se e lunde-se na linha média. na linha média e progredindo para as duas extremidades.
Então, os ectodermas neural e cutâneo se separam. A notocorda (verde)
e a crista neural (azul) são mostradas.

em um processo chamado de disjunção. O fechamento do Proliferação neuronal


tubo neural provavelmente comece em 2 a 3 níveis da li
Células-tronco embrionárias
nha média do embrião (Fig. 35-2). O fechamento progride
bidirecionalmente como um zíper ao longo do compri As células-tronco embrionárias pliiripotenies são deri
mento do embrião. As extremidades cefálicas e caudais vadas da massa celular interna do blastocisto do quarto
do tubo neural (os chamados neuroporos anterior e pos ao quinto dia. Essas células são capazes de se proliferar
terior) não se fundem até o 25° e o 26° dia da gestação, e diferenciar em todas as três linhas germinalivas (ecto
respectivamente. derma, mesoderma, endoderma). Os microRNAs parecem
Três vesículas cerebrais primárias - o prosencéfalo, ter um importante papel como reguladores genéticos do
o mesenccfaio e o rombencéfalo - também se formam desenvolvimento, da diferenciação, do crescimento e da
durante a quarta semana. O cérebro embriônico cresce ra neurogênese das células-tronco.
pidamente e começa a se dobrar, formando várias flexuras
(Fig. 35-3). Histogênese dos neurônios e da glia
Durante a quinta semana, o prosencéfalo divide-se em Quando as vesículas cerebrais se desenvolvem e se ex
duas vesículas, formando o íelencéfalo e o diencéfalo. O pandem, as camadas de células-tronco surgem ao redor
rombencéfalo divide-se em metencéfalo e mielenccfalo. do epêndima ventricular primitivo, formando a matriz
Com o mesencéfalo, o cérebro agora tem cinco vesículas germinativa. Essas células-tronco neurais (CTNs) são cé
definitivas ou "secundárias" (Fig. 35-4). lulas multipotentes que geram os principais fenótipos do
SNC, ou seja, neurônios, astrócilos e oligodendrócitos. As
Erros na neurulação CTNs são encontradas primariamente nas zonas germina-
Erros na neurulação resultam em um espectro de anoma tivas (ver Capítulo 16).
lias congênitas. A mais grave é a anencefalía - essencial As CTNs plwipoienles na zona subventricular espe
mente ausência completa dos hemisférios cerebrais - que cializada da matriz germinativa originam os neuroblastos
é causada pela falha do fechamento do neuroporo anterior (neurônios "primitivos" ou "jovens") que migram através
(ver Capítulo 38). Vários tipos de cefaloceles também re do telencéfalo em desenvolvimento para formar a zona do
sultam de anormalidades da neurulação. manto cortical, o precursor do córtex definitivo. Os axô-
O fechamento incompleto do neuroporo posterior resul nios dos neurônios migrantes fonnam a zona intermediária
ta na espinha bífída. Se o neuroectoderma falha em se se entre a matriz germinativa e o manto cortical, que even
parar completamente do ectoderma cutâneo, isso resulta na tualmente se tornarão a substância branca (SB) cerebral.
mielomcningocele. A neurulação anormal do rombencéfalo Algumas CTNs tornam-se células glials radiais
leva à malformação de Chiari tipo 2 (ver Capítulo 36). (CGRs) especializadas que eventualmente irão alcançar
Embriologia e abordagem das malformações congênitas 1057

35-3 O desenvolvimento das vesículas primárias é demonstrado. O pro 35-4 O cérebro desenvolve as fiexuras à medida que o prosencétalo
sencétalo (verde), o mesencéfalo (roxo) e o rombencéfalo (azul-claro). dá origem ao telencéfalo (verde) e ao diencéfalo (vermelho). O mesen-
céfalo (roxo) alonga-se, enquanlo o rombencéfalo dá origem ao meten-
céfaío (amarelo) e ao mielencéfalo (azul-claro).

todo o hemisfério do epêndima ventricular até a pia. As Uma vez que os neurônios "jovens" são gerados na
CGRs também são células-lronco que podem originar tan matriz germinativa e nas zonas ventriculares dorsais, eles
to neurônios quanto glia. Os corpos celulares alongados devem deixar sua "casa" para alcançar seu destino final
das CGRs servem como "uma corda guia" que conduz os (córtex). O córtex cerebral definitivo desenvolve-se por
neurônios migratórios da matriz germinativa até o córtex. um processo altamente ordenado de proliferação, migra
Os astrócitos originam-se de duas fontes: células ção e diferenciação neuronal. O neocortex dos hemisfé
progenitoras gliais da zona ventricular e CGRs da zona rios cerebrais tem seis camadas celulares, cada uma com
intermediária. Os oligodendrócitos originam-se das célu seu padrão distinto próprio de organização e conexão.
las precursoras dos oligodendrócitos das zonas ventricular
e subventricular. Antes da diferenciação em oligodendró Migração neuronal
citos mielinizados, essas células precursoras proliferam, A migração de neurônios recentemente proliferados
migram e depois se espalham pelo SNC. ocorre ao longo da estrutura fornecida pelas CGRs. Os
neurônios viajam através da zona germinativa para o man
Erros na histogênese
to cortical em uma seqüência "de dentro para fora". As
Erros na histogênese e na diferenciação resultam em células inicialmente formam as camadas mais profundas
inúmeras neoplasias embrionárias, incluindo o medulo- do córtex. com cada migração sucessiva ascendendo mais
blastoma e os tumores neuroectodérmicos primitivos. Os
para fora e progressivamente formando as camadas mais
probletnas com a proliferação e a diferenciação das CTNs superficiais. Cada grupo de migração atravessa a camada
também contribui para malformações do desenvolvimen
to cortical (ver a seguir).
já em sua localização formada pelas células que migraram
anteriormente.
O pico de migração neuronal ocorre entre 11 e 15 se
Migração neuroríol manas fetais, embora a migração continue até 35 semanas.
Gênese dos neurônios corticais
Erros na migração neuronal e na
A ncurogcncse ocorre de uma maneira previsível com
geração seqüencial de subtipos ncurais específicos de organização cortical
áreas designadas na matriz germinativa. Por exemplo, o resultado primário dos erros desses estágios são as mal
neurônios corticais cerebrais glutamatérgicos originam- formações do desenvolvimento cortical. Os problemas
-se nas zonas ventriculares dorsais, enquanto neurônios com a proliferação ou a diferenciação das CTNs. a migra
GABAérgicos destinados a originar o corpo estriado se ção e a organização cortical podem resultar em anoma
originam nas zonas mais ventrais. lias de desenvolvimento do neocónex. Exemplos incluem
1058 Malformações congênitas do crânio e do encéfaio

35-5 Cérebro embriônico com 22 semanas, em sua maior parte 35-6 Com o avanço da idade gestacional, múltiplos giros secundários
agírico, com uma fissura silviana rasa BS. 0 prosencéfalo (verde), o e terciários desenvolvem-se, e o número e a complexidade das folias
metencéfalo (amarelo) e o mielencéfaío (azul-claro) são mostrados. As cerebeiares aumentam.
estruturas mesencefáiicas não são visíveis.

microcefalía. megalencefalia, heterotopias, displasias culo se desenvolve e os entalhes laterais se aprofundam,


corticais e lisencefalias. o córtex que já esteve na superfície cerebral se toma com
pletamente coberto (Fig. 35-6). Este tecido - agora "en
terrado" profundamente nas fissuras silvianas - forma a
Operculoçõo, sulcaçõo e giraçõo
insula ("ilha de Reil"). As fissuras silvianas gradualmente
Lobulação e operculação perdem sua configuração "aberta" fetal e assumem sua
Os hemisférios cerebrais primeiro aparecem como eva- configuração estreita do adulto.
ginações do telencéfalo embriônico. Os hemisférios ini As artérias cerebrais médias definitivas seguem a su
cialmente são quase inexpressivos; o córtex é fino e liso. perfície endentada da insula, primeiro mergulhando den
A vascularização cerebral fetal cobre a superfície cere tro e depois fora das fissuras silvianas para se ramificarem
bral em uma rede de vasos com paredes finas e indife- sobre a superfície lateral dos lobos frontal, parietal e tem
renciados. poral.
Os hemisférios cerebrais expandem-se, cobrindo pri Após a fonnação das fissuras silvianas (Flg. 35-7), o
meiro o diencéfalo e depois o mesencéfalo. O teto dos he próximo grupo de endentação da superfície a aparecer é o
misférios cresce mais rapidamente que o dos soalhos. Os dos sulcos calcarinos e parieto-occipitais (Fig. 35-8), se
hemisférios alongam-se e giram, assumindo um formato guidos pelo sulco central (Fig. 35-9). O desenvolvimento
de "C", com a extremidade caudal voltada ventralmente geral ocorre mais rapidamente ao redor das vias sensório-
-motoras e visuais.
para formar os lobos temporais.

Sulcação e giração Anomalias na sulcação e na giração


A sulcação e a giração - dobramento progressivo do te Os erros de desenvolvimento na operculação, na sulcação
lencéfalo e um padrão complexo de lobos e giros - ocor e na giração são relativamente incomuns. A microcefalia
rem relativamente tarde no desenvolvimento embriônico. com padrão girai simplificado e a microlísencefalia são
Os entalhes triangulares rasas da superfície ao longo dos anomalias representativas que têm poucos giros e sulcos
anormalmente rasos.
lados dos hemisférios - o início das fissuras silvianas
(laterais) - primeiro aparecem entre 4 e 5 meses fetais
(Fig. 35-5). Mielinizaçõo
Enquanto o prosencéfalo aumenta, os lobos frontais, A mielinização ocorre de uma maneira ordenada e pre
parietais e temporais emergentes começam a projetar as visível, podendo ser detectada tão cedo quanto em 20
fissuras laterais, formando o opérculo. Enquanto o opér- semanas fetais. Os padrões de mielinização do cérebro
Embriologia e abordagem das malformações congênitas 1059

35-7A T2 axial de uma criança prematura com 26 semanas e 5 dias 35-7B Imagem da coroa radiada mostrando que o cérebro é quase
de vida. As fissuras silvianas estão começando a se formar. A hipoin- completamente liso, com apenas alguns sulcos rasos. Ondas de neurô
tensidade ao redor dos ventrícuios E9 é, em sua maior parte, a matriz nios migratórios hipointensos ES dão à SB uma aparência em camadas
germinativa. e "borrada".

normal, assim como as anormalidades da formação e da gicamente, o cerebelo é uma extensão da linha média e,
manutenção da mielina, são discutidos em detalhes no portanto, parte da ponte dorsal.
Capítulo 31. Em geral, a mielinização segue de inferior Os lábios rombencefálicos fundem-se, formando as
para superior, de trás para frente, de central para comissuras cerebelares no soalho do IV ventrículo. Cada
periférico. hemisfério subseqüentemente se funde e fissura na dire
ção craniocaudal.
A formação do IV ventrículo é um processo comple
xo. Um cume de plexo coroide em desenvolvimento di
Desenvolvimento do mesencéfalo e do vide o IV ventrículo emergente nas áreas membranosas
rombencéfalo anterior e posterior. Normalmente, a membrana anterior
é incorporada ao plexo coroide em desenvolvimento, en
Agora serão resumidos os maiores eventos embriológicos
envolvendo a formação do mesencéfalo e do rombencéfa quanto a área membranosa posterior persiste e eventual
lo. A descrição das conseqüências dos erros de seu desen mente cavita, formando o forame de Magendie na linha
volvimento é apresentada a seguir. média. Precisamente como e quando os forames laterais
se abrem é desconhecido.

Principais eventos embriológicos


O mesencéfalo dá origem ao tronco encefálico, e o rom Anomalias do mesencéfalo-rombencéfalo
bencéfalo origina o bulbo, a ponte e o cerebelo. Cada um Intímeras classificações diferentes das malformações
é "padronizado" ao longo dos dois eixos rostral-caudal e do mesencéfalo e do rombencéfalo já foram propostas.
dorsal-ventral. O mesencéfalo é dividido nas regiões ven Barkovich e colaboradores usam uma abordagem que
tral (tegmenío) e dorsal (teto). Da mesma maneira, o me- caracteriza as lesões de acordo com as considerações de
tencéfalo é dividido nas regiões ventral (ponte) e dorsal desenvolvimento e genética. Esse sistema tem sentido
(cerebelo). consumado e certamente contribui para o entendimento
A ponte é formada pela proliferação de células e tra da patogênese dessas anomalias fascinantes. Entretanto,
tos fibrosos ao longo do metencéfalo ventral. As placas uma abordagem mais tradicional com base na morfologia,
alares do rombencéfalo ("lábios rombencefálicos") se na qual as malformações são agrupadas de acordo com os
espessam para formar as placas cerebelares, que, por sua achados de imagem, é mais simples para os radiologistas.
vez, proliferam-se e eventualmente formam dois hemis O leitor interessado deve consultar as publicações citadas
férios cerebelares e o verme na linha média. Embriolo- no final deste capítulo.
1060 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

35-8A T2 3xial em um recém-


-nascido prematuro normal de 30
semanas mostrando o mesencé-
falo dorsal híperintenso (mieli-
nizado) B. 0 tronco encefáííco
ventral B e a SB cerebelar BI
são hipointensos e não miellnl-
A
zados.
35-8B T2 no mesmo paciente
mostrando que o tronco encefá-
llco dorsal B é miellnizado e
aparece hipointenso em compa
ração com a ponte ventral B e
a SB cerebelar B hiperintensas
(não mielinizadas).

35-8C TI no mesmo paciente


mostrando que o segmento pos
terior das cápsulas internas B
não é miellnizado. A SB cerebral
é completamente não mielinl-
zada e mostra falta relativa dos
giros e dos sulcos. Observam-se
as fissuras silvianas rasas, aber
tas B.
35-8D T2 mostrando as ca
madas de hípointensidade B
que representam os neurônios
migrantes e a matriz residual
o córtex fino B e os
sulcos rasos, incompletamente
t\ yJ
formados, são normais para esse
recém-nascido prematuro.

35-8E TI na coroa radiada


mostrando que a SB é hipoin-
tensa e completamente não
mielinizada. Os sulcos têm uma
aparência primitiva e são muito
rasos, relacionados á imaturida
de. A SB cortical é fina B. / IV ^
35-8F T2 mostrando que a SB
é hiperintensa em comparação
com a hipointensidade do córtex • ; -J
cerebral fino, mas normal. No - ' • t

desenvolvimento inicial, o cére


bro essencialmente parece uma
"sacola de água" de SB não mie
^ p /
linizada coberta por uma camada
fina e incompleta de substância
cinzenta.
Embriologia e abordagem das malformações congênitas 1061

35-9A TI axial em um recém-


-nascido premaluro de 36 sema
nas e três dias de gestação. O
buibo B está mielinizado, e a
intensidade de sinal está aumen
tada. assim como o flóculo e os
núcleos denleados
35-9B 12 axial mostrando que
o buibo, os flóculos e os núcleos
denteados são hipointensos, mas
a SB cerebeiar hemisférica
permanece não mieirnizada e
hiperintensa.

35-9C Enquanto o opérculo


continua a se desenvolver, as
fissuras silvianas ES aparecem
menos proeminentes.
35-9D T2 mostrando que a
SB nos hemisférios cerebrais
permanece não mielinizada e
hiperintensa.

35-9E Mais sulcos da su


perfície e dos giros são agora
aparentes, em especial nos lobos
parietal e occipital. O cortex apa
rece espessado. Comparar com a
imagem de uma criança prema
tura de 30 semanas na Fig. 35-8.
O aumento dos sulcos e dos giros
em ambos os hemisférios é mui
to evidente.
35-9F Com 33 semanas, a SB
da coroa radiada é completa
mente não mielinizada.
1062 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

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íz ^' ' i VYTaf


35-10A TI sagital na linha média mostrando agenesia calosal clás 35-10B 12 coronal no mesmo paciente mostrando a aparência
sica. A comissura anterior está presente, assim como um pequeno clássica "em capacete de viking" dos ventrículos laterais/lll ventrículo.
remanescente do joelho B3. Observam-se as bandas de Probst ES e os hipocampos orientados ver
ticalmente 53.

diffusion tensor imaging) é útil quando anomalias comis-


Abordagem por imagem das surais são identificadas nas seqüências iniciais.
Seqüências TI com contraste e FLAIR costumam ser
malformações cerebrais
opcionais, uma vez que acrescentam pouca informação
Considerações técnicas útil à maioria das malformações congênitas. Entretanto,
elas podem ser muito úteis para delinear anormalidades
Tomografia computadorizada (TC) associadas. Imagem ponderada em difusão e espectrosco-
Os clínicos algumas vezes solicitam TC sem contraste
pia por ressonância magnética (ERM) são úteis para ava
como procedimento de rastreamento inicial em um pa liar lesões expansivas e erros inatos do metabolismo.
ciente com crises convulsivas ou malformações cerebrais
suspeitas. Embora as classificações parenquimatosas, Análise da imagem
o tamanho/configuração dos ventrículos e as principais
anormalidades possam ser identificados, anormalidades A abordagem a seguir para avaliar os estudos de imagem
sutis como displasias corticais sào difíceis de detectar, é modificada e adaptada das diretrizes de A. James Barko-
sendo facilmente negligenciadas. vich para a avaliação de imagem do cérebro pediátrico.
A TC óssea é útil para detectar defeitos faciais na li
nha média e sinostoses. Imagens sagitais
Começa-se com cortes na linha média, examinando-se en
Ressonância magnética (RM) tão a proporção craniofacial. Ao nascimento, a razão da
A RM é o procedimento de escolha. Os dois fatores calota craniana para a face deve ser de 5:1 ou 6:1. Com
mais importantes são a diferenciação da substância dois anos, ela deve ser de 2,5:1. Em adultos e crianças
cinzenta-branca e a alta resolução espacial. Muitos neu- acima de 10 anos, ela deve ser de cerca de 1,5:1.
rorradiologistas pediátricos recomendam seqüências TI A mais comum de todas as malformações encefálicas
sagital ou TI inversão-recuperação com supressão da são as anomalias das comissuras cerebrais (em especial do
água livre (FLAIR, úq fluid-attenuated inversion-reco- corpo caloso), que podem ser rapidamente identificadas
veiy), seqüências TI volumétricas (p. ex., MP-RAGE) nas imagens de TI sagitais (Fig. 35-lOA). As anomalias
e seqüências T2 sagitais e coronais com TR/TEs muito comissurais também são a malformação mais comum as
longos. sociada a outras anomalias e síndromes; portanto, ao se
A seqüência T2* (ORE, SWl) pode ser útil se mine localizar uma, deve-se continuar procurando. Devem-se
ralização anormal ou anomalia vascular forem suspeitas. buscar anormalidades na glândula hipofisária e no hipo-
A tractografia com imagem do tensor da difusão (DTl, de tálamo. Devem-se também avaliar o tamanho e a morfolo-
Embriologia e abordagem das malformações congênitas 1063

a
)¥ \
\
i\

E
35-11 T2 axial moslrando lisencefalia tipo cobblestone em ambos os 35-12 FLAIR mostrando nódulos subependimários B e tuberes
polos occipitais E3. (Cortesia de M. Warmuth-Metz, MD.) corlicais Bcom as hiperintensidades subcorticais típicas em forma de
chama B do complexo da esclerose tuberosa.

gia dos ventrículos laterais, em especial de seus recessos média, a holoprosencefalia está presente. Se a FIH apa
anteriores. rece irregular e os giros "interdigitam" pela linha média,
Devem-se procurar por outras lesões como lipomas e o paciente quase certamente tem uma malformação de
cistos. Eles em geral localizam-se na linha média ou são Chiari tipo 2.
paramedianos, podendo ser rapidainente identificados. As Devem-se avaliar o tamanho, o formato e a posi
imagens sagitais na linha média também permitem uma ção dos ventrículos. Sc o III ventrículo aparece "alto" e
boa avaliação das estruturas da fossa posterior. O IV ven- os cornos frontais dos ventrículos laterais parecem um
irículo aparece normal? Pode-se encontrar o fastigium "capacete de viking", a disgenesia do corpo caloso está
apontando dorsalmente? Devem-se avaliar a posição das presente (Fig. 35-lOB). Se os cornos frontais aparecem
tonsilas e a junção craniovertebral para anomalias. quadrados, deve-se observar cuidadosamente se há ausên
Se os ventrículos laterais e o III ventrículo são gran cia do cavum do septo pelúcido. Essa ausência é vista na
des e o IV ventrículo aparece normal, deve-se procurar displasia septo-óptica e em geral é vista como displasia
por um aqueduto em forma de funil indicando uma este- calosal ou esquizencefalia.
nose aquedutal. Se for visualizada uma estenose do aque Devem-se avaliar cuidadosamente os cornos tem
duto, deve-se observar cuidadosamente a placa quadrige- porais e o hipocampo para se ter certeza de que eles são
minal para ver se a causa pode ser um glioma tectal de normalmente rodados e orientados horizontalmente (não
baixo grau. verticalmente, como costuma ocorrer na holoprosencefa
Imagens sagitais também são especialmente títeis lia. na lisencefalia, nas anomalias calosais e nas malfor
para avaliar o córtex cerebral. O córtex está muito espes mações no desenvolvimento cortical).
so? Muito fino? Irregular? Anomalias do desenvolvimen
to cortical como a paquigiria e displasias corticais asso Imagens axiais
ciadas com fendas cerebrais ("esquizencefalia") são mais A combinação de uma TI verdadeira com uma T2 TR/TE
facilmente identificadas nas imagens sagitais. longa é necessária na avaliação de todos os casos de atra
so do desenvolvimento para avaliar a maturação da mie-
Imagens coronals lina. O espessamento e a configuração do manto cortical
Em geral, as displasias corticais são bilaterais e mais fre também são vistos (Fig. 35-11). O tamanho, o formato e a
qüentemente são agrupadas ao redor das fissuras silvia- configuração do ventrículo são facilmente avaliados nessa
nas. As imagens coronais fazem uma comparação lado a seqüência.
lado relativamente fácil. Deve-se seguir a fissura inter- Seqüências FLAIR são especialmente úteis na avalia
-hemisférica (FIH) por todo seu trajeto de frente para ção de anormalidades como na displasia cortical focal ou
trás. Se os hemisférios estão em contiguidade na linha de Taylor e das hiperintensidades na SB subcortical em
1064 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

35-13 T2 axial em um paciente com rombencefalossinapse mostran 35-14 T2 axial mostrando anomalia clássica do "dente molar" com o
do ausência do verme com conliguidade de ambos os hemisférios cere- IV ventriculo superior alongado B3. os pedúnculos cerebeiares superio
belares na linha média 63. (Cortesia de M. Warmuth-Metz, MD.) res espessados B e o verme "dividido" B3.

forma de chama vistas no complexo da esclerose tuberosa • Glenn OA et al: Malformations of cortical development;

(Fig. 35-12). diagnostic accuracy of fetal MR imaging. Radiology.


Não se deve esquecer da fossa superior. O ÍV ventrí- 263O):843-55,20l2
culo no plano axial geralmente tem a forma de um grão de • Swartling FJ et al: Distinct neural stem cell populations give
feijão em seu lado. Se o verme está ausente e o hemisfério rise to disparate brain tumors in response to N-MYC. Cancer
cerebelar aparece continuo de um lado ao outro, romben Cell. 2l(5):601-!3, 2012

cefalossinapse está presente (Fig. 35-13). Se o IV ventrí-


culo e os pedijnculos cerebeiares superiores lembram um Desenvolvimer)to do mesencéfaio e do
dente molar, a malformação do dente molar está presente rombencéfaio
(Fig. 35-14).
Anomalias do mesencéfalo-rombencéfalo
• Barkovich AJ et al: A developmental and genetic
c l a s s i fi c a t i o n f o r m i d b r a i n - h i n d b r a i n m a l f o r m a t i o n s . B r a i n .
Referências selecionadas 132(Pt l2):3199-230, 2009

Formação do hemisfério cerebral


Abordagem por imagem das malformações
Proliferação neuronal cerebrais
• Barkovich AJ et ai; Congenital malfonnations of the brain
and skull. In Pediatric Neuroradiology. 5th ed. Philadelphia:
Análise por imagem
• Vcdolin L et al: Inherited cerebellar ataxia in childhood: a
Lippincoit Williams & Wilkins. 367-75. 2012
pattern- recognition approach using brain MRI. AJNR Am J
Neuroradiol. Epub ahead of print, 2012
Migração neuronal • Barkovich AJ: Congenital malformations overview. In
• Aronica E et al: Malformations of conical development.
Brain Pathol. 22(3):380-401. 2012
Osbom AG et al: Diagnostic Imaging: Brain. 2nd ed. Salt
Lake City: Amirsys Publishing. 1.1.2-5.2010
• Barkovich AJ et al: A developmental and genetic
classification for malformations of cortical development:
update 2012. Brain. I35{Pt 5): 1348-69, 2012
36
Malformações da fossa posterior

os maiores achados anatômicos especificamente os que se


Anatomia da fossa posterior 1065
Anatomia macroscópica 1065
relacionam à fossa posterior.
Anatomia por imagem 1068

Malformações de Chiari 1070


Introdução às malformações de Chiari 1070
Chiari 1 1070
Anatomia da fossa posterior
Chiari 2 1075
Anatomia macroscópica
Chiari 3 1079
Va r i a n t e s de Chiari 1081 A fossa posterior (FP) é a maior e mais profunda de todas
as fossas cranianas. E um espaço em formato de taça, re
Malformações do rombencéfaio 1082
Espectro Dandy-Waiker 1082
lativamente protegido, que se situa abaixo do tentório. A
Outras malformações 1086 FP contém o rombencéfaio com o tronco (ponte e bulbo)
anteriormente, o verme e os hemisférios cerebelares pos-
terolateralmente.
O ccrebelo é uma das estruturas cerebrais que se desen
O mesencéfalo situa-se dentro da incisura tentorial.
volve de forma precoce. Seu desenvolvimento ocorre em
Ele representa a transição entre os hemisférios cerebrais
um longo período, uma vez que a proliferação, a migração acima e a ponte e hemisférios cerebelares abaixo do ten
e a maturação celular se estendem para os primeiros me
tório.
ses pós-natais. O cerebelo é, portanto, vulnerável a con
Os espaços que contêm liquido cerebrospinal (LCS)
tratempos do desenvolvimento. na FP incluem parte do aqueduto cerebral, o quarto ventrí
As estruturas neurais da fossa posterior são deriva culo e as cisternas de LCS que circundam o tronco ence-
das do rombencéfaio (romhoeiicephalon) embriônico, fálico e o cerebelo.
enquanto o mesencephalon origina as estruturas mesence-
fálicas. Elementos mesodermais dão origem às meninges Osso e dura
e ao osso que circundam e protegem as estruturas neurais.
o dorso da sela do osso esfenoide e o divo do osso ba-
Erros do desenvolvimento em qualquer um deles origina
sioccipital formam a parede anterior da FP. Lateralmente,
o espectro de malformações do mesencéfalo e rombencé a FP é delineada pelo osso temporal petroso. A escama oc
faio que serão discutidas neste capítulo. Um resumo dos
cipital forma grande parte do soalho côncavo, e o tentório
achados de imagens dessas malformações é apresentado cerebelar em forma de tenda cobre a FP superiormente.
n a Ta b e l a 3 6 - 1 . FP comunica-se superiormente com o compartimento su-
Começaremos a discussão das malformações da fossa pratentorial por meio da incisura tentorial em forma de
posterior com as anomalias conhecidas como malforma U e inferiormente com o espaço subaracnóideo através do
ções de Chiari. Seguindo para o rombencéfaio, conside forame magno ovoide.
raremos o espectro Dandy-WaIker e um grupo de outras A camada da dura com uma membrana aracnoide fra
malformações. camente aderente recobre a parle óssea da FP. A dura cra
Revisaremos a anatomia normal da fossa posterior niana tem duas camadas, uma interna (meninge) e outra
como fundamentos para entender essas lesões. Algumas externa (endosteal), que são fusionadas, exceto onde elas
estruturas (p. ex., o quarto ventrículo, as artérias, os seios são separadas, para englobar os seios venosos durais.
venosos durais, os nervos cranianos) já foram discutidas As camadas meníngeas da dura cobrem a FP com
com detalhes em capítulos anteriores. Aqui. resumiremos duas pregas crescentes proeminentes, as folhas do ten-
1066 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

36-1 Estruturas ósseas da fossa posterior (FP) vistas de cima. A ponte 36-2 Gráfico sagital da FP normal. Observe a superfície inferior das
apoia-se na curvatura do divo 31. A escama occipital forma a maior tonsilas arredondadas SI. Núcleo grácil 1^, junção entre o obex do
parte do soaiho da FP; sulcos para a torcuíar seios transversos quarto ventrículo e o canal centrai situa-se acima do forame magno. A
são facilmente vistos. (Cortesia de M. Nielsen, MS.) fissura primária do verme situa-se ao longo da superfície tentorial.

tório cerebelar, que separam os compartimentos Intra e sas quanto os grandes tratos descendentes de substância
supratentoriais. Uma grande abertura central em forma de branca que são contínuos com os pedúnculos cerebrais
U, a íncisura tentorial, contém o mesencéfalo. Quanti superiormente e com as pirâmides bulbares inferiormen
dades variadas de hemisfério cerebelar superior e verme te. Sua parte dorsal - o tegmento - é comum em todas
projetam para o hiato tentorial atrás do mesencéfalo. as estruturas do tronco encefálico (mesencéfalo, ponte e
As margens externas convexas da dura separam-se bulbo) e contém a formação reticular e múltiplos núcleos
posteriormente ao longo da escama occipital para conter dos nervos cranianos.
a confluência dos seios {torcuíar herophili) e seios trans O bulbo é a parte mais caudal do tronco encefálico e
versos, aderidos lateralmente aos ossos temporais e poste representa a transição do cérebro para a medula espinal.
riormente ao osso occipital. A foice cerebelar consiste em Seu segmento ventral (anterior) contém as olivas e os tra
uma ou mais pequenas pregas concèntricas de dura que se tos piramidais. Um marco importante de imagem é a proe
projetam para a cisterna magna e aderem superiormente a minente "ondulação" ao longo do bulbo dorsal criado pelo
superfície inferior do tentório. núcleo grácil. Isso demarca a junção entre o quarto ventrí
A dura divide-se em duas camadas distintas quando culo (obex) e o canal central da medula espinal, O núcleo
passa inferiormente através do forame magno para o canal grácil normalmente se situa acima do forame magno.
cervical superior. A camada interna endosteal toma-se o
periósteo do canal vertebral, e a camada meníngea toma- Cerebelo
-se a dura do saco tecal. Na coluna, as duas camadas são o cerebelo é uma estrutura bilobada localizada posterior
separadas por gordura, o plexo venoso epidural e o tecido mente ao tronco encefálico e ao quarto ventrículo. Ela
conectivo frouxo. consiste em dois hemisférios e um verme na linha média.
Cada hemisfério cerebelar tem três superfícies: supe
Tronco encefálico rior (tentorial), inferior (suboccipital) e anterior (petrosa).
o tronco encefálico tem três divisões anatômicas: o me A superfície superior abaula a superfície inferior do ten
sencéfalo, a ponte e o bulbo. O mesencéfalo situa-se par tório; a superfície inferior é em sua maior parte delineada
cialmente acima e parcialmente abaixo do tentório. Ele pela escama occipital; e a superfície anterior situa-se ao
curva através da incisura tentorial, conectando a ponte e o longo da parede posterior do osso temporal petroso.
cerebelo com as estruturas do prosencéfalo basal e hemis As fissuras dividem o cerebelo em lobos e lóbulos.
férios cerebrais. A mais proeminente é a grande fissura horizontal. Essa
A ponte apoia-se na suave curva do divo (Fig. 36.1). fenda profunda envolve o cerebelo e separa suas super
Seu aspecto ventral contém tanto fibras pontinas transver fícies superior e inferior. A fissura primária, orientada
Malformações da fossa posterior 1067

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36-3 T2 sagital mostra FP normal; núcleo grácil com a junção do 36-4 Imagem um pouco mais lateral mostra a folia orientada horizon
quarto ventriculo e o canal central da medula espinal fostigium do talmente B, as superfícies inferiores das tonsilas arredondadas S e a
quarto ventriculo B, a fissura primária do verme B. fi s s u r a h o r i z o n t a l B .

obliquamente, divide o cerebelo em lobos anterior e pos O córtex cerebelar é um contínuo de tecido que é do
terior. Fissuras menores subdividem os lobos em lóbulos. brado em forma de acordeão para formar várias pontas
Alguns marcos divisórios proeminentes superficiais proeminentes. O córtex tem três camadas principais: a ca
dos hemisférios cerebrais incluem as tonsilas cerebela- mada molecular é a mais superficial e é com neurônios
res, que se estendem inferomedialmente dos lóbulos bi- relativamente escassos; a camada das células de Purkin-
ventrais (Fig. 36-2). Uma pequena protuberância de teci je contém as células de Purkinje, que são arranjadas em
do, o flóculo, situa-se abaixo de cada pedúnculo cerebelar uma linha única entre a camada molecular superficial e a
médio e projeta-se anteriormente para a cisterna do ângu camada granular profunda; e a camada granular é a mais
lo ponto-cerebelar. complexa e a mais celular, contendo corpos e axônios de
Três pedúnculos pareados ligam os hemisférios cere- neurônios granulares.
belares ao tronco encefálico. O pedúnculo cerebelar su
perior {brachium conjuncíiviim) conecta o cerebelo aos Quarto ventriculo e cisternas
hemisférios cerebrais pelo mesencéfalo. Os pedijnculos A anatomia do quarto ventriculo é delineada em mais de
cerebelares superiores contém fibras eferentes do nttcleo talhes no Capitulo 34.
rubro ao tálamo. O quarto ventriculo é um espaço complexo em for
Os pedúnculos cerebelares médios (brachium ma de diamante que corre ao longo da ponte dorsal e do
poniis) conectam o cerebelo à ponte e representam a bulbo superior. Importantes reparos anatômicos são o fas-
continuação dos tratos corticopontinos. Os pedúnculos tigium apontado dorsalmente, os recessos laterais que
cerebelares inferiores (também conhecidos como cor desembocam nas cisternas do ângulo pontocerebelar atra
pos restiformes) conectam o cerebelo ao bulbo e contêm vés do forame de Luschka, e o forame de .Vlagendie na
tratos espinocerebelares e tratos para os núcleos vesti linha média (a saida do quarto ventriculo para a cisterna
bulares. magna).
O verme situa-se entre ambos os hemisférios cerebe Os recessos posterossuperiores são evaginações fi
lares, atrás do quarto ventriculo. Seus lóbulos são (em or nas, em fundo cego, em forma de orelha que se curvam
dem horária a partir do teto do quarto ventriculo) lingula, sobre o topo das tonsilas cerebelares. O obex é a extensão
lóbulo central, culmen, declive, folium, tuber, pirâmide, inferior do quarto ventriculo e comunica-se diretamente
úvula e nódulo. A fissura primária proeminente continua com o canal central da medula espinal cervical.
cruzando o verme dos hemisférios cerebelares e separa o As maiores cisternas da FP são as cisternas pré-ponti-
culmen do declive. Com exceção da lingula, cada lóbulo nas, cisterna do ângulo pontocerebelar e a cisterna magna
vermiano está também em contiguidade direta com o ló de tamanho variado. Parte da cisterna magna (a valécula)
bulo adjacente do hemisfério cerebelar. estende-se superiormente entre as duas tonsilas cerebela-
1068 Malformações congênitas do crânio e do encéfaio

res e é conectada com o quarto ventrículo através do fora- de uma linha desenhada entre a ponta do divo anterior
me de Magendie. mente e o forame magno posteriormente ("linha basion-
-opisthioji'').
Artérias, veias e seios durais O fastigium forma um triângulo de LCS, cujo ápice
As artérias da FP são detalhadas no Capítulo 8; as veias aponta para o verme. A fissura primária do verme é uma
e os seios venosos durais foram discutidos no Capitulo 9. fenda bem demarcada virada para o tentório e que divide
o culmen do declive.
Nervos cranianos Um pouco lateralmente à linha média, as lonsilas ce-
Os nervos cranianos - juntamente com as cistemas atra rebelares podem ser identificadas como estruturas ovoides
vés das quais eles cursam e os forames ósseos através dos situadas entre o verme e o quarto ventrículo inferior. As
tonsilas normais apresentam folias orientadas horizontal
quais eles entram e deixam a cavidade craniana - são dis
cutidos em detalhes no Capitulo 23. mente e uma superilcie inferior suavemente arredondada
(Fig. 36-4). Cortes mais laterais através dos hemisférios
mostram o núcleo denteado, o ponüs hracbiiim e a fissura
Anatomia por imagem
primária do cerebelo.
Plano sagital
Plano axial
Imagens na linha média mostram o soalho do quarto
ventrículo estendendo-se do aqueduto cerebral acima As imagens através da FP superior mostram o verme e
ao obex abaixo. A junção do obex e do canal central é a superfície superior dos hemisférios cerebelares situa
marcado por uma protuberância dorsal, o fascículo grácil das atrás da ponte e do mesencéfalo, dentro da incisura
(Fig. 36-6). O núcleo grácil normalmente se situa acima tentorial.

36-5 T2 axial mostra os pe-


dúnculos cerebelares superiores
normais verme B, lissu-
ras horizontais B do cerebelo.
36-6 Imagem axial na altura
do corpo do quarto ventrículo
■ 's . ^
mostra recesso posterossuperior
preenchido por LCS E3, cobrindo í \
o topo das tonsilas cerebelares
Núcleos denteados B es
tão mineralizados, hipointensos.
j-

36-7 Imagem mais inferior


através do quarto ventrículo
mostra o forame de Magendie
na linha média [S, recessos
laterais ES, tonsilas ES, lo
bos floculares do cerebelo B
projetando-se para a cisterna do
ângulo ponto-cerebelar.
36-8 T2 através do forame
magno mostra o bulbo ES,
lonsilas cerebelares S, valé-
cula situada entre as tonsilas
e a porção inferior da cisterna
magna
Malformações da fossa posterior 1069

Um pouco abaixo, os pedúnculos cerebelares supe magna que recebe o forame de Magendie na linha mé
riores sào vistos corno Finos feixes de substância bran dia - é o espaço de LCS que se situa entre as tonsilas
ca localizados ao lado do quarto ventrículo superior (Fig. 36-8). O bulbo situa-se logo à frente (e mediai) às
(Fig. 36-5). tonsilas cerebelares. O bulbo anterior é formado por duas
No nível dos pedúnculos cerebelares médios, o cor "protuberâncias": as pirâmides e as olivas.
po do quarto ventrículo lembra um feijão em perfil. As
duas protuberâncias ao longo do aspecto anterior são os Plano coronal
colículos e a proluberância posterior mediana é o nó- Imagem através da "barriga" anterior da ponte mostra os
dulo do verme. Algumas vezes, um fino recesso poste- grandes lóbulos biventrais dos hemisférios cerebelares
rossuperior pode ser visto cobrindo o topo das tonsilas posteriores com as tonsilas cerebelares projetando-se in-
cerebelares (Fig. 36-6). Anterolateralmente, o flóculo feromedialmente (Figs. 36-9 e 36-10). Os flóculos situ
projeta-se de cada hemisfério para a cisterna do ângulo am-se logo a frente da fissura horizontal (Fig. 36-9).
pontocerebelar. Posteriormente, a forma romboide ou em diamante
Mais inferiormente, o recesso lateral do quarto ven do quarto ventrículo pode ser identificada. Finas cober
trículo passa anterolateralmente abaixo dos pedúnculos turas de LCS, os recessos posterossuperiores cobrem o
cerebelares médios (Fig. 36-7). Tufos de plexo coroide topo das tonsilas cerebelares (Fig. 36-11). Inferiormente,
passam através do recesso lateral e dos forames de Lus- o quarto ventrículo abre na cisterna magna via forame de
chka para as cisternas do ângulo pontocerebelar inferior Magendie. Os grandes pedúnculos cerebelares médios
medialmente ao flóculo. são vistos lateralmente ao quarto ventrículo. Mais poste
As tonsilas cerebelares podem ser identificadas logo riormente, o verme pode ser visto entre os dois hemisfé
abaixo do forame magno. A valécula - parte da cisterna rios (Fig. 36-12).

36-9 Gráfico coronal mostra


brachium pontis (pedúnculos
cerebelares médios) f^, verme
BI, ílóculo ES, tonsilas BS
projetando-se inferiormente dos
lóbulos biventrais.
36-10 T2 coronal mostra ton
silas [r->l, forame de Luchka
fissuras horizontais

36-11 Imagem coronal mais


^ 9 posterior mostra o forame de
Magendie B, verme f^, pe
H dúnculos cerebelares superiores
recessos posterossuperiores
k EU e cobertura lonsilar f—>1.
36-12 T2 mais posterior
mostra fissuras primárias E3,
fissuras horizontais B, verme
A na linha média E3.
1070 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

36-13 Malformação de Ctiiari 1 com a linha basion-opisthion mos- 36-14 Visla semiaxial de um caso de necropsia mostra malformação
trada em verde. Observe as tonsilas pontiagudas situadas inferiormente de Chiari l. Observe o deslocamento inferior das tonsilas com orientação
com folias com orientação vertical O núcleo grácil Si está desloca- vertical das folias Si. (Cortesia de E. T. Hediey-Whyte, MD.)
do inferiormente.

Chiari 1
Malformações de Chiari Aspectos gerais
Introdução às malformações de Chiari A malfonnaçào de Chiari 1 (MCI) é definida como uma
As malformações de Chiari foram primeiramente descri ectopia caudal das tonsilas cerebelares. Não existe um
tas no final do século XIX, por um patologista austríaco. consenso sobre a distância precisa das tonsilas abaixo
Hans Chiari. Ele descreveu o que parecia ser um grupo do forame magno para o diagnóstico de MCI. Alguns
relacionado a malformações da fossa posterior associadas investigadores consideram ectopia tonsilar uma medida
com hidrocefalia e as dividiu em três tipos: Chiari 1,2 e 3. de 5 mm ou mais como suficiente para estabelecer o
Chiari I e 2 são doenças patogeneticamente diferen diagnóstico de MCI. No entanto, outros insistem que
tes. Chiari I envolve deslocamento inferior das tonsilas as anormalidades adicionais, como deformidade ton
cerebelares (Fig. 36-13); Chiari 2 é sempre associada silar, obliteraçào dos espaços de LCS retrotonsilares,
com mielodisplasia e envolve herniação do bulbo e ver ou alteração da dinâmica do fluxo de LCS devem estar
me. Chiari 3 é classicamente caracterizada como her presentes.
niação do conteijdo da fossa posterior através do defeito Anormalidades na medula espinal cervical são co
ósseo occipitocervical baixo. muns na MCI. Uma cavidade complexa preenchida por
"Malformação de Chiari 4" foi originalmente usada LCS com múltiplas septações de tecido glial espongió-
para designar o que é agora conhecido como agenesia ce- tico é típico. CavitaçÕes medulares delineadas por glia
rcbelar primária, não herniação da fossa posterior. Então, geralmente süo referidas como siringomlelias. O termo
o termo foi abandonado. hídromielía refere-se a uma expansão do canal central
Alguns autores expandiram o espectro Chiari para delineado por epèndima. Na MC 1. áreas extensas de des
incluir variantes como Chiari O (siringomielia sem her nudamento ependimário e cicatriz astrocitica dificultam
niação tonsilar franca), Chiari 1,5 (protrusào caudal do a diferenciação entre hidro e siringomielia até mesmo na
tronco encefálico além das tonsilas), e Chiari 5 (Chiari examinação histológica. Portanto, essas cavidades não
2 mais mielomeningocele occipital ou cervical alta). Es neoplásicas. septadas, paracentrais, com conteúdo líqui
sas variantes são controversas e serão discutidas de forma do são geralmente descritas como hidrossiringomielia ou
breve no final desta seção. simplesmente siringomielia.
Malformações da fossa posterior 1071

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36-15A T2 sagital de um homem com 23 anos com malformação de 36-15B T2 axial do mesmo paciente mostra forame magno "lotado"
Chiar! 1 clássica mostra as tonsilas em posição baixa, pontiagudas El, com os espaços retrocerebelares de LCS obliterados E3.
fossa posterior com tamanho normal. Hiperintensidade em T2 na medula
B representa estado "pré-siringomielia".

Etiologia pinal. Descida sistólica como um pistão das tonsilas impac-


Conceitos gerais. A patogenia da MCI não é bem entendida tadas pode criar ondas de pressão anormais intraespinal do
e permanece controversa. Fatores genéticos, não genéti LCS, que, por sua vez, podem resultar no desenvolvimento
da hidrossiringomielia na medula cervical superior.
cos e epigenéticos foram propostos.
A hemodinâmica do LCS alterada com aceleração da
Insuficiência mesodérmica primária para-axial com
um subdesenvolvimento da protovértebra occipital já foi velocidade de fluxo e aumento do gradiente de pressão
considerado como explicação para o desenvolvimento pode também causar ou contribuir para o deslocamento do
de MCI. Outras teorias sugerem que distijrbios dos ele tecido cerebral para fora do crânio e para o canal cervical
mentos derivados da crista neural podem levam a hiper superior.
ou hipo-ossificação da base-condro crânio, resultando nas Genética. Estudo de agregação familiar, estudos com gême
alterações morfométricas na fossa posterior. os, e cossegregaçào da MCI com condições genéticas co
A combinação da anatomia óssea alterada e da hidro- nhecidas como acondroplasia e síndrome de Klippel-Feil,
dinâmica anormal do LCS é o conceito mais aceito. e análises recentes do genoma proporcionam uma forte
evidência de componente genético da MC 1.
Fossa posterior anormal, Muitos - mas não todos - pacien
tes com MCI demonstram uma geometria anormal da fossa Enquanto causas genéticas especificas de MCI não
foram ainda totalmente elucidadas, os cromossomos 9q21
posterior óssea ("'esinitiiras da fossa posterior com tama
nho normal situadas em um envelope ósseo muito peque e 15q21 (também o sitio do gene fibrilina-1, a maior causa
da síndrome de Marian) têm sido implicados em alguns
no"). Várias combinações de comprimento clival reduzido
estudos.
congenitamente, encurtamento do basioccipilo, e anomalias
de fusão dajunçào craniovertebral (JCV) podem resultar em
uma fossa craniana posterior com profundidade diminuída
Patologia
e/ou volume da fossa posterior anormalmente pequeno. Macroscopicamente, as tonsilas herniadas no MCI são
deslocadas inferiormente e achatadas pela impacção con
Dinâmica do LCS alterada. Siringomielia está presente em 40 tra o opistio (FIg. 36-14). Elas costumam aparecer firmes
a 80% dos indivíduos com MC 1 sintomático. Sua etiologia e escleróticas. Espessamento aracnoide e adesões ao redor
é também controversa. Impacção tonsilar e adesões arac- da JCV são comuns. Microscopicamente, alterações de
noides posteriores causam aumento da resistência do fluxo generativas com perda de células de Purkinje e granular
do LCS entre os espaços subaracnoides intracraniano e es- podem estar presentes.
1072 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

36-16A TI sagilal moslfa


forame magno "lotado", ectopia
tonsilar com aparência "pontia
guda" que é típico do Chiari
1. observe a hidrossiringomieiia
na medula cervical superior B.
36-166 T2 sagitai mostra
tonsilas "pontiagudas" B,
folias tonsilares com orientação
oblíqua ÍS. Múltiplas sepiações
na cavidade siringomiélica são
claramente vistas B. O quarto
ventrículo inferior é alongado, e
o núcleo grácil B está situado
inferiormente.

36-16C TI C+ sagilal com


saturação de gordura mostra que
a cavidade siringomiélica E3
não realça.
36-160 T2 axial mostra cavi
dade de LCS bem delimitada B
na medula espinal cervical cen
tral. Por imagem, não é possível
diferenciar entre uma dilalaçâo
do canal central delineada por
epêndima (hidromielia) das ca-
vitaçòes paracenlrais medulares
delineadas por glia (siringomie-
lia), portanto, o termo hidrossi
ringomieiia costuma ser usado
para designar este associado à
MCI.

36-16E T2 do mesmo pa
ciente mostra tonsilas B, de
formidade do buibo BI, dando
a aparência de forame magno
"lotado" típico da MCI.
36-16F Estudo do fluxo no LCS
na seqüência em contraste de
fase no plano sagitai na sistole
(esquerdo), diastole (direito)
mostra fluxo normal do LCS B
na frente da junção cervico-
bulbar, sem fluxo posterior no
forame magno S. Impacção
tonsilar, adesões evitam a circu
lação normal do LCS.
Malformações da fossa posterior 1073

36-17 Imagens ponderadas em T2 sagital (esquerda) e axial (direita) 36-18 Estudo do luxo do LCS com cine PC 20 mostra a mudança do
mostram ectopia tonsilar E3 e siringomielia B em um paciente com sinal de preto [=5^ para claro B atrás da medula espinal cervical com
MCI. patível com pulsações tonsilares tipo "pistão".

Aspectos clínicos O resultado da siringomielia associada a MCI é in


Epidemidlogia e oemografia. MC 1 é a malformação de Chia- certo. Estudos longitudinais mostram que a cavidade si
ri mais comum e pode ser identiUcada em pacientes de ringomiélica permanece estável ou reduz de tamanho em
todas as idades. Sua prevalência estimada na população cerca de 90% dos pacientes pediátricos que têm sintomas

geral é de 0,6 a I %. mas estudos recentes mostraram mal neurológicos mínimos.


Outros desenvolvem escoliose progressiva, sintomas
formação de Chiari 1 em 3,6% das crianças que realiza
ram ressonância magnética (RM) de encéfalo ou coluna de medula espinal ou deficits bulbares. Esses déficits são,
cervical de rotina. Não existe uma predileção pelo gênero. algumas vezes, precipitados ou exacerbados por mínimo
trauma cervical ou craniano.
A cavidade siringomiélica associada a MCI é rara em
crianças abaixo de I ano, mas a incidência aumenta com Opções de tratamento. Assim como tudo em MCI, o tra
a idade. Esse aumento relacionado à idade é mais pronun tamento é controverso. Ectopias tonsilares assintomáticas
ciado nos primeiros cinco anos de vida. na ausência de uma cavidade siringomiélica associada ou
Apresentação. Entre um terço e metade de todos os pacien escoliose costuma não ser tratada. Controle periódico dos
tes com achados de imagem compatíveis com MCI são pacientes com hidrossiringomielia documentada é reco
assintomáticos no momento do diagnóstico. mendado, uma vez que 12% dessas cavidades podem au
A apresentação de MCI sintomático é diferente de mentar de tamanho e necessitar de descompressão cránio-
acordo com a idade. Crianças de 2 anos ou menos geral -cervical se os sintomas piorarem.
O tratamento da MCI sintomática tenta restaurar a
mente se apresentam com disfunção orofaríngea (aproxi
madamente 80%). Aqueles entre 3 e 5 anos apresentam-se dinâmica normal do LCS no forame magno (FM). A des
com cefaleia (57%) ou sintomas relacionados à siringo- compressão suboccipital/Cl posterior com ou sem ressec-
mielia (86%) e escoliose (38%). Apresentações incomuns ção tonsilar parcial é o procedimento mais comum.
incluem hipersonolência e apneia do sono. Cefaleia su
Imagem
boccipital induzida pela manobra de Valsalva (i.e., com
tosse ou espirro), dor cervical e sincope são comuns em Aspectos gerais. A linha basion-opisthion (LBO) é uma li
nha desenhada da ponta do divo até o arco posterior do
adultos.
forame magno (Fig. 36-13). A medida da distância da
História natural. A história natural da MCI é variável. margem inferior da tonsila cerebelar até essa linha no pla
Muitos pacientes pennanecem assintomáticos. Alguns in no sagital define a posição tonsilar.
vestigadores acreditam que o grau de ectopia tonsilar no Um deslocamento tonsilar de 5 mm ou mais abaixo
MCI aumenta gradualmente com o tempo e está associa da LBO - geralmente considerado diagnóstico da MCI -
da com uma maior chance de tomar-se sintomática. é um critério pobre para o diagnóstico definitivo. Tonsilas
1074 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

situadas 6 mm abaixo do forame magno são comuns entre magno e a pulsação anormal das tonsilas são em geral as
leio anos. Quase 15% de todos os pacientes têm tonsilas sociados com a morfologia tonsilar pontiaguda.
que se situam 1 ou 4 mm abaixo do forame magno, e 0,5 Anormalidades associadas. Uma avaliação completa por
a 1% têm tonsilas que se projetam 5 mm dentro do canal
imagem do MCI inclui cérebro, JCV e toda a coluna. Hi-
cervical superior. drocefalia discreta a moderada está presente em 10% dos
Deve ser tomado grande cuidado para estabelecer o
pacientes com MCI. Disgenesia do corpo caloso é vista
diagnóstico de MCI, em especial com base somente na em 3% e ausência do septo pelúcido em 2,4% dos casos.
ectopia tonsilar incerta. Ao menos que: (1) as tonsilas apa Outras anomalias supratentoriais são incomuns.
reçam comprimidas e pontiagudas em vez de arredonda A hidrossiringomielia está presente em 10 a 20%
das (Fig. 36-15A), (2) as folias tonsilares são anguladas dos pacientes assintomáticos e em 40 a 80% dos pa
obliquamente ou inferiormente (em vez de horizontal cientes com MCI sintomáticos. Anomalias esqueléticas
mente), e (3) os espaços de LCS retrocerebelares no nível associadas incluem odonloide retrovertido, anomalia
do forame magno/Cl estão obliterados (Fig. 36-15B), o
Klippel-Feil, invaginação basilar, platibasia, anomalias de
diagnóstico não pode ser garantido. As tonsilas com po fusão da JCV, cifose e/ou escoliose.
sição baixa que mantêm sua forma arredondada e estão
circundadas por espaço de LCS com aparência normal são Diagnóstico diferencial
em geral assintomáticos e sem significância diagnóstica. Descida tonsilar congênita (MCI) deve ser diferenciada
Achados na TC. Tomografia computadorizada (TC) sem de variantes da normalidade (ectopias tonsilares discre
contraste pode revelar um forame magno "lotado" e apa- tas não complicadas). O diagnóstico diferencial patológi
co mais importante é hemiação tonsilar adquirida, cau
gamento do espaço de LCS retrotonsilar. TC óssea ge
ralmente demonstra uma combinação de fossa craniana sada por aumento da pressão intracraniana ou hipotensão
intracraniana.
posterior pequena e rasa, divo curto e anomalias de as
Aumento da pressão intracraniana devido a uma
similação da JCV. Olhe com cuidado para as anomalias
da calota, uma vez que quase 10% dos pacientes com cra- massa supralentorial com transmissão da pressão através
niossinostose não sindrômica de sutura única tem MCI.
da incisura tentorial pode ser facilmente diferenciada de
MCI. Sinais de hemiação transtentorial descendente es
Achados na RM. TI e T2 sagital mostram tonsilas "pontia tão presentes com deslocamento inferior do mesencéfalo.
gudas" com folias orientadas mais verticalmente, oblitera- Hemiação tonsilar nesses casos é um efeito secundário e
ção dos espaços subaracnóideos retrocerebelares e pré-bul- não deve ser denominada "Chiari 1 adquirido".
bar, e um forame magno "lotado". A fossa posterior pode Hipotensão intracraniana mostra um conjunto de
aparecer normal e pequena com um divo curto e seio reto outros achados além do deslocamento inferior das tonsi
abruptamente angulado. Diferentemente do Chiari 2 (ver las. Mesencéfalo "afundado", aumento da glândula hipo-
adiante), o quarto ventrículo apresenta um fastigium nor fisária, queda do quiasma óptico e do hipotálamo no dorso
mal (ponto dorsal), Em alguns casos, o quarto ventrículo da sela, hematoma subdural, ingurgitamento dos seios ve-
inferior é discretamente alongado, e o núcleo grácil - que nosos, e espessamento e realce de paqui e leptomeninges
demarca o final do obex e o início do canal central - pode são anormalidades típicas. Hipotensão intracraniana con
aparecer em posição discretamente baixa (Fig. 36-16). fundida como MCI pode ter conseqüência drástica, uma
A medula espinal cervical proximal deve ser exami vez que descompressão cinugica pode exacerbar a queda
nada com cuidado para a presença de hidrossiringomie- do tronco encefálico.
lia (Fig. 36-17). Hiperintensidades parenquimatosas em Cerca de 20% dos pacientes com hipertensão intra
T2/FLAIR sem formação cística franca pode indicar um craniana idiopática ("pseudotumor cerebral") exibem
estado "pré-siringomielia". ectopia tonsilar cerebelar de 5 mm ou mais. Metade des
O diâmetro do canal central em relação à medula cos ses pacientes exibem uma configuração tonsilar pontia
tuma reduzir significativamente durante os primeiros anos guda, e muitos tem um obex em baixa posição. Olhar os
de vida. Uma cavidade medular central com LCS de 3 mm outros sintomas de hipertensão intracraniana idiopática
ou mais no plano axial é anormal em crianças mais velhas e (p. ex., protrusão da cabeça do nervo óptico para o globo
em adultos, e deve ser considerada uma hidrossiringomie- ocular) é essencial para evitar um diagnóstico errado de
lia. O tamanho médio da hidrossiringomielia em grandes Chiari 1.
séries de pacientes com MCI foi quase de 8 mm de espes Outras condições que reduzem o volume da fossa cra
sura e uma média de 9 corpos vertebrais em comprimento. niana posterior podem também deslocar as tonsilas abaixo
Estudos de fluxo de LCS sagital com a seqüência con do forame. Esses casos de constrição craniana incluem
traste de fase mostra redução ou ausência do sinal alter- craniossinostose, acondroplasia, acromegalia e doença de
nante branco (sistólico) e preto (diastólico) atrás da junção Paget. "Fixação" craniana devido à artrite reumatoide, os-
cérvico-medular. Qualquer alteração na intensidade de si teogênese imperfeita, distúrbios hereditários do tecido co-
nal das tonsilas cerebelares no modo cine sugere pulsação nectivo e instabilidade da articulação occipito atlantoaxial
tonsilar (Fig. 36-18). O fluxo de LCS alterado no forame podem também forçar as tonsilas abaixo do forame magno.
Malformações da fossa posterior 1075

36-19 Gráfico demonstra o feto com malformação de Chiar! 2 BS, 36-20 Gráfico demonstra MC2 com pequena fossa posterior B3,
ancoramento da medula espinal na mielomeníngocele B3. grande massa intermédia teto "em bico" B, disgenesia do corpo
caloso, alongamento do quarto ventriculo (S com nódulo deslocado in
feriormente em "cascata" S! e plexo coroide, esporão medular O.

Chiari 2 Patologia
Terminologia e definição Macroscopicamente, um largo espectro de achados pode
estar presente na MC2. Mielomeníngocele e fossa pos
Malfoimaçào de Chiari 2 (MC2) é uma malformação da
terior pequena com divo e pirâmides petrosas côncavas
fossa posterior complexa que é quase sempre associada à
estão quase sempre presentes (Fig. 36-20). O verme ce-
mielodisplasia (mielomeníngocele) (Fig. 36-19).
rebelar (tipicamente o nódulo) é deslocado inferiormente
Etiologia ao longo do aspecto dorsal da medula espinal cervical.
O quarto ventriculo, a ponte e o bulbo são alongados e
Conceitos gerais. MC2 é um distúrbio do fechamento
do tubo neural, mas também envolve anormalidades parcialmente deslocados para o canal espinal cervical. O
bulbo baixo pode estar deformado.
do mesoderrna paraxial do crânio e da coluna. Inúme
ros passos são necessários para o fechamento adequado Diferentemente do Chiari 1, anomalias supratento-
do tubo neural e da formação das expansões focais que riais é uma regra na MC2, não uma exceção. Hidrocefalia
está presente na maioria dos casos, e estenose aquedu-
subseqüentemente formam as vesículas cerebrais e os
ventriculos. Elementos esqueléticos do crânio e da co tal é comum. Disgenesia do corpo caloso e anomalias da
luna vertebral tornam-se "modelados" ao redor do tubo
substância cinzenta, como polimicrogeria e heterotopias
neural. são freqüentes (Figs. 36-21, 36-22, 36-23, 36-24, 36-25
e 36-26).
Somente se o neuroporo posterior fecha, os ventri
culos em desenvolvimento se expandem suficientemen
te para um tamanho normal da fossa posterior, formada Aspectos clínicos
ao redor do tronco encefálico e do cerebelo. Se isso não Epidemiologia e demografia. a prevalência geral de MC2 é
ocorrer, o cerebelo desenvolve-se em uma pequena fossa de 0,44 em 1.000 nascidos vivos, mas tem reduzido com a
posterior com ligações tentoriais baixas. O cerebelo em terapia profilática materna com folato. A dose de 4 mg por
crescimento é espremido cefalicamente através da incisu- dia reduz pelo menos 70% do risco de MC2.
ra tentorial e esticado inferiormente através do FM.
Apresentação. MC2 é identificada em útero com uitras-
Genética. Quase metade de todas as anomalias de fecha sonografia ou rastreamento fetal com a elevação de
mento do tubo neural têm mutação no gene metileno-te- a-fetoproteína. Ao nascimento, a mielomeníngocele e
tra-hidrofolato redutase (MTHFR). A deficiência de folato hidrocefalia coexistentes são fatores clínicos dominantes
materno e teratógenos como anticonvulsivantes já foram em cerca de 90% dos casos. Détlcits de nervos cranianos
relacionados ao risco aumentado de MC2. baixos, períodos de apneia e sinais bulbares podem estar
1076 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

36-21 (Esquerda) MC2 mostra


esporão bulbar E2, nódulo em
"cascata" plexo coroide
atrás do buibo. quarto ventrículo
alongado como "canudo de re-
írigerante" teto "em bico"
EC, grande massa intermédia
[31. (Cortesia de T. P. Naidich,
MD.) (Direita) MC2 com esteno-
gíria El. substância cinzenta
heterotópica ventricuios
laterais "pontiagudos" ÍE^. (Cor
tesia de E. T. Hediey-Whyte, MD.)
36-22 MC2 mostra esporão
bulbar El, nódulo em "casca
ta", plexo coroide S, quarto
ventrículo alongado "em forma
de canudo" !S. (Cortesia de R.
Hewlett, MD.)

36-23 Espécime de necropsia


de um paciente com MC2 mos
tra uma fossa posterior muito
pequena hemisférios cere-
belares "espremidos" anterior
mente ao redor do bulbo.
(Cortesia de R. Hewlett, MD.)
36-24 Espécime de necropsia
de MC2 mostra uma fossa poste
rior muito pequena El, grande
massa intermédia disge-
nesia do corpo caloso com giros
radiais convergentes em um ter
ceiro ventrículo em posição alta
que está aberto dorsalmente
para a fissura inter-hemisférica.
(Cortesia de R. Hewlett, MD.)

36-25 Espécime de necropsia


coronal de MC2 mostra agenesia
do corpo caloso com terceiro
ventrículo e ventricuios laterais
com aparência de "capacete
viking" ou em "cabeça de alce"
I—^1. Observe a interdigítaçâo
girai criando uma aparência
irregular, "serrtihada" da fissura
inter-hemisférica El. (Cortesia
de J. Townsend, MD.)
36-26 Vista axial de necropsia
de medula de paciente com MC2.
Observe o grande disrafismo
dorsal B, mielomeningocele
El com placódio neural exposto
El. (Cortesia de R. Hewlett,
MD.)
Malformações da fossa posterior 1077

presentes. Paralisia das extremidades inferiores, disfun- sado por anormalidades mesenquimais e não é uma conse
ção esfíncteriana e espasticidade costumam desenvolver- qüência do aumento da pressão intracraniana.
-se tardiamente. Afilamento focai da calota e aparência "escavada"
são achados de imagens típicos do crânio lacunar. A cal-
Opções de tratamento. O reparo fetal da mielomeningocele
vária aparece afilada com inúmeros defeitos radioluscen-
é muito comum e pode reduzir sintomas subsequentes. O
tes circulares ou ovais e depressões rasas. As alterações
reparo cirúrgico em 72 horas após o nascimento reduz a
reduzem com a idade e a maioria se resolve com seis me
mortalidade e a morbidade do disrafismo aberto.
ses, embora algumas ondulações da tábua interna possam
Imagem persistir no adulto.
Uma fossa posterior óssea pequena c rasa com um
MC2 afeta muitas regiões do crânio, encéfalo e coluna,
seio transverso em posição baixa é quase sempre presen
portanto, várias anormalidades de imagem podem ser te na MC2. Um forame magno grande, "aberto" é co
vistas.
mum. Ossos petrosos temporais côncavos e divo curto
Crânio e dura. A convexidade da calota craniana é formada côncavo estão geralmente presentes (Fig. 36-28).
por osso membranoso. Com a falha do fechamento do tubo Anormalidades durais são comuns. Uma íncisura
neural e a ausência de distensão do cérebro fetal, induções tentorial em forma de coração grande, aberta e uma foi
normais das placas membranosas da calota não ocorrem. ce fina, hipoplásica ou fenestrada são achados freqüen
Coleções organizadas de fibras de colágeno e crescimento tes. A foice fenestrada permite os giros cruzarem a linha
radial deficiente da cauvária em desenvolvimento ocor média. InlerdigitaçÕes girais e a foice deficiente resultam
rem. O resultado é uma anomalia chamada crânio lacunar na aparência de uma fissura inter-hemisférica irregular
(i.e., lückenschâdel) (Fig. 36-27). O crânio lacunar é cau nos estudos de imagem (Figs. 36-28C e 36-29C).

36-27 Caso de necropsia de


crânio lacunar (Lückenschâdel)
em MC2 mostra múltiplos locos
"escavados" de osso atilado,
quase translucente ^3. (Cortesia
de R. Hewlett, MD.)
36-28A TC sem contraste de
um paciente com MC2 mostra
uma fossa pequena posterior
com cristas petrosas còncavas
H, ondulações na tábua inter
na [S, sem quarto ventrículo
visível e hemisférios cerebelares
"comprimidos" ES quase en-
velopando o bulbo alongado e
esticado inferiormente

36-28B TC sem contraste do


mesmo paciente mostra incisure
em formato de coração ampla
mente aberta com cerebelo pro-
truindo superiormente ES, teto
discretamente "em bico"
36-28C Imagem mais supe
rior do mesmo paciente mostra
uma aparência "serriihada" típica
da fissura inter-hemisférica ES
devido à interdigilação girai tipi
camente vista no MC2.
1078 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

Mesencéfalo, ponte, bulbo e cerebelo. As anormali Os hemisférios e o verme cerebelar são empurra
dades do tronco encefálico e cerebelo são uma constante dos superiormente através da incisura, dando a aparên
na MC2. O bulbo e o verme cerebelar (não as tonsilas) cia de cerebelo "alto" nas imagens TI e T2 coronais
estão deslocados inferiormente para o canal cervical su (Fig.36-29D).
perior em uma distância variável. O tecido cerebelar in Ventrículos. As anormalidades dos ventrículos estão pre
feriormente é o nódulo, com contribuições variáveis da
sentes em mais de 90% dos pacientes com MC2. O quarto
úvula e pirâmide. Uma "dobra" cervicobuibar com um
ventrículo é deslocado caudalmente, não apresenta o fas-
"esporão bulbar" é comum no canal cervical superior,
tigium (ponto dorsal), e aparece afilado e alongado (quar
mas pode situar-se tão baixo quanto T1 -4 em casos graves.
to ventrículo em "canudo de refrigerante"). O terceiro
Nas imagens TI e T2 sagitais. o deslocamento infe
ventrículo é geralmente grande e tem uma massa inter
rior do verme, bulbo e plexo coroide formam um tecido
média muito proeminente (Fig. 36-29A).
"em cascata" que protrui inferiormente através do fora-
O s v e n t r i c u l o s l a t e r a i s v a r i a m e m t a m a n h o e c o n fi
me magno e situa-se atrás da medula espinal. O cerebelo
hemiado superiormente pode comprimir e deformar a pla guração. A hidrocefalia é quase sempre presente ao nasci
mento. Os cornos atriais e occipitais são desproporcional-
ca quadrigeminal, dando a aparência de teto "em bico"
mente aumentados ("colpocefalia"), sugerindo a presença
(Figs. 36-29A e 36-29B). de disgenesia calosal. Após derivação, os ventrículos la
Além do deslocamento céfalo-caudal dos conteúdos
terais freqüentemente mantêm a aparência serrilhada ou
da fossa posterior, os hemisférios cerebelares geralmente
ondulada. Um grande espaço de LCS entre os lobos occi
curvam-se anteromedialmente ao redor do tronco encefá
lico. Em casos graves, a ponte e o bulbo aparecem quase pitais costuma persistir.
envolvidos pelo cerebelo "comprimido" nos estudos de Hemisférios cerebrais. Malformações do desenvolvimento
imagem axial. cortical como polimícrogiria, giros estreitos contraídos

36-29A imagem sagital em


uma paciente com 13 anos
demonstra muitos achados de
Chiari 2, incluindo iossa poste
rior pequena, quarto ventrículo
alongado em "canudo de re
frigerante" S, verme/plexo
coroide "em cascata" atrás do
bulbo E3, teto "em bico" l~>i,
grande massa intermédia B
e malformações girais múltiplas
("estenogiria") [^.
36-29B T2 axial mostra teto
"em bico" 1^, estenogiria IS,
ondulações na cauvária B.

36-29C T2 axial mostra foice


fenestrada com interdigitação

n \
girai e giros curtos f^, fissura
inter-fiemisférica irregular com
aparência "serrilhada".
36-290 T2 coronal mostra
seio transverso com posição
baixa B e uma fossa posterior
muito pequena, cerebelo "alto"
S] que protrui inferiormente
através da incisura tentorial,
interdigitação girai IS dando a
aparência "serrilhada" da fissura
inter-hemisférica.
Malformações da fossa posterior 1079

C'estenogiria") (Fig. 36-29B), e heterotopia de substân radas por alguns investigadores como Chiari 1,5 (ver a
cia cinzenta são achados associados freqüentes. Disge- seguir).
nesia do corpo caloso é encontrada em quase dois terço Hidrocefalia congênita crônica grave derivada
de todos os pacientes, e anormalidades dos fórnices são pode causar herniação cerebelar superior através da in-
c o m u n s . cisura tentorial, mas não se observa a descida do tronco
encefálico nem mielomeningocele.
Coluna e medula espinal. Disrafismo aberto com mielonie-

niiigocele está presente em quase todos os casos de MC2. Chiari 3


Hidrosiringomielia é visto em 50%.
Terminologia
Diagnóstico diferencial Malformação de Chiari 3 (MC3) é a malformação de Chia
o maior diagnóstico diferencial da MC2 são as outras ri mais rara. MC3 consiste em uma fossa posterior pequena
malformações de Chiari. No Chiari 1, são as tonsiias com deslocamento caudal do tronco encefálico e herniação
(não o verme) que herniam inferiormente. Mielomenin- variável das meninges/conteúdo da fossa posterior através
gocele é ausente e a fossa posterior e seu conteúdo apare de um defeito ósseo occipital baixo ou cervical alto.
cem relativamente normais, exceto pelas suas pequenas
dimensões. Se achados de MC2 mais uma cefalocele oc Patologia
cipital baixa ou cervical alta estão presentes, o diagnós A cefalocele contém meninges juntamente com quantida
tico é de Chiari 3. de variável de tecido cerebral, vasos e espaços de LCS. O
Alguns poucos casos de odontoide angulado poste encéfalo é geralmente com aparência displásica e desor
riormente, descida do tronco encefálico e ectopia ton- ganizada com extensa gliose e heterotopia de substância
silar sem mielodisplasia foram descritas e são conside cinzenta.

36-30A T2 sagital em uma


criança de 3 dias mostra Chiari
3 com uma cefalocele S que
contém cérebro displásico her-
niado LCS em contiguidade
comoventrículo lateral.
36-30B T1 axial (esquerdo),
T2 (direito) do mesmo paciente
mostra extensão dos ventrículos
laterais Si para a cefalocele.
(Cortesia de G. Hedlund, MD.)

36-31A Chiari 3 com cranium


bifidum grande estendendo-se
do osso occipital iS por toda
coluna cervical SI.
36-31B T2 sagital do mesmo
paciente com cranium bifidum e
Chiari 3 mostra um grande saco
meningocélíco Si encéfalo her-
niado e com aparência displásica
Bi. O quarto ventrículo E3 é
alargado, alongado e "espremi
do" através da cefalocele. (Corte
sia de A. lllner, MO.)
1080 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

Aspectos clínicos
(continuação)
A ceralocele na MC3 em geral aparece como uma grande
o Cefaleia suboccipital induzida por Valsalva, dor
massa coberta de pele, semelhante a um saco que protrui
cervical
posteroinferiormente da JCV. Microcefalia é comum e, • Imagem
em casos extremos, a cefalocele é maior que o tamanho o Ectopia tonsilar caudal (> 5 mm abaixo do FM)
craniano (Fig. 36-30). o Tonsilas pontiagudas com folias anguladas
Alguns casos são diagnosticados com ultrassono- o Forame magnum "lotado" com apagamento dos
graíla pré-natal. Outros pacientes apresentam-se ao nas espaços de LCS
cimento com sinais bulbares e de tratos longos, crises o Redução/ausência do fluxo de LCS no FM posterior
convulsivas e atraso do desenvolvimento. A mortalidade o Hidrossiringomielia em 10 a 20% em
cirúrgica é alta e o prognóstico costuma ser pobre, uma assintomático, 40 a 80% em pacientes sintomáticos
vez que os sobreviventes têm graves déficits neurológicos • Diagnóstico diferencial
residuais.
o Tonsilas normais com "posição baixa"
(arredondadas, sem distúrbios de LCS)
o Herniaçâo adquirida (T da pressão intracraniana,
Imagem
TC sem contraste mostra achados ósseos similares àque hipotensão intracraniana)
les vistos na MC2, ou seja, uma pequena fossa posterior, Chiari 2
divo curto com ondulações, crânio lacunar, defeito na • Terminologia
o Malformação complexa da fossa posterior com
porção ventral-condral do osso supraoccipital e cranium
bifidum baixo que pode estender-se inferiormente para en mielomeningocele
• Etiologia
volver a maior parte da coluna cervical (Fig. 36-31).
o Distúrbio do fechamento no neuroporo posterior
A RM delineia melhor o conteúdo do saco hemiário,
o Vestculas em desenvolvimento falhou em expandir
que geralmente Inclui cerebelo/tronco encefálico com apa o Anormalidades mesodérmicas paraxiais (crânio,
rência displásica, assim como espaços de LOS distorcidos
coluna)
e vasos. Um quarto ventrículo deformado e algumas vezes o Fossa posterior óssea "muito pequena"
do terceiro ventrículo podem ser parcialmente encontrados • Aspectos clínicos
dentro da massa de tecido encefálico e meninges hemia- o Prevalência i com folato materno
das. Veias, seios durais, e até mesmo a artéria basilar são o Mielomeningocele, hidrocefalia dominam o quadro
algumas vezes "empurrados" para dentro do defeito ósseo. clínico ao nascimento
• Imagem
Diagnóstico diferenciai o Mielomeningocele (quase sempre)
o Cranio lacunar
O diagnóstico diferencial da MC3 inclui cefalocele oc o Fossa posterior pequena
cipital isolada, iniencefalia e cefalocele occipital sindrô- o Dura anormal (FM aberto, incisura em forma de
mica. Cefalocele occipital isolada falta os achados intra
coração, foice fenestrada)
cranianos típicos da MC2 e não é associada a disrafismo o Deslocamento inferior do bulbo, verme ^
cervical. "cascata" de tecido
Iniencefalia é uma cefalocele occipital com grande o "Dobra" cervicobuibar, "esporão" bulbar
disrafismo espinal e retroflexão fixa do pescoço. Cefa o Cerebelo "alto"
locele occipital sindrômica ocorre com outros achados o Quarto ventrículo em "canudo de refrigerante"
específicos (p. ex., nas Síndromes Meckel-Gruber e Gol- o Massa intermédia proeminente
o Hidrocefalia, ventrículos derivados aparecem
denhar-Gorlin).
ondulados
o Disgenesia do corpo caloso
o Estenogiria, heterotopia da substância cinzenta
MALFORMAÇÕES CHIARI
Chiari 3
Chiari 1 • Etiologia
• Etiologia (controversa) o Fossa posterior pequena
o Insuficiência mesodérmica paraxial? o Deslocamento caudal do tronco encefálico
o Fossa posterior óssea pequena? o Defeito ósseo occipital baixo ou cervical alto
o Dinâmica do LC5 alterada? o Cefalocele com herniaçâo de meninge, encéfalo
• Aspectos clínicos
o Malformação de Chiari mais comum displásico, ventrículos
• O saco hemiário pode conter
o Encontrado em 3 a 4% das crianças em imagem de o Meninges
encéfalo de rotina o Encéfalo displásico
o Mais de 50% assintomáticos
o Ventrículos deformados
(continuo) o Vasos sangüíneos (seios venosos, artérias)
Malformações da fossa posterior 1081

36-32 T2 sagital mostra malformação de Chiari O com siringomielia 36-33 T2 sagital de uma criança com 6 anos com malformação de
torácica E3. A tonsíla cerebeiai B é arredondada e em posição nor- Chiari 1,5 mostra odontoide retrofietido ES, herniaçao tonsilar B, FM
mal, mas o FM aparece "lotado" posteriormente. lotado e núcleo grácil com baixa posição BI.

Va r i a n t e s d e C h i a r i tam cerca de 22% de todos os pacientes com 16 anos ou


Algumas adições à classificação original de Chiari têm menos referidos para tratamento cirúrgico de malforma
sido propostas por neurocirurgiõcs para englobar as her- ções relacionadas ao Chiari.
niaçõcs da fossa posterior que não se encaixam nas deíl- Nenhum sinal ou sintoma único é peculiar para
niçcics clássicas de Chiari 1. 2 e 3. Embora essas adições MC 1.5. O sintoma mais freqüente é a cefaleia (geralmente
não tenham sido universalmente adotadas, radiologistas induzida por Valsalva). Escoliose progressiva e sintomas
devem pelo menos conhecer estas entidades recentemente relacionados a siringomielia, como parestesias de extre
descritas. midades, são comuns.
As condutas para MC1,5 diferem significativamente
Malformação de Chiari O daqueles com MCI e MC2. Pacientes sintomáticos com
Essa variante consiste em hidrossiringomielia e FM "lo MCI clássico requerem apenas uma descompressão su
tado". Chiari O difere do Chiari I uma vez que as lomilas boccipital (com ou sem duroplastia). Os pacientes com
cerebelwes são normalmente posicionadas (i.e., acima ou anormalidades "complexas" MC 1,5 requerem outras in
menos de 3 mm abaixo do FM) (Fig. 36-32). Os pacientes tervenções adicionais, como ressecção do odontoide tran-
com Chiari O são tipicamente sintomáticos (em geral de soral e fusão occipitocervical. Os pacientes com MC2 re
vido a siringomielia). querem reparação da mielomeningocele.
Imagem. Além da ectopia tonsilar (ver acima), pacientes
Malformação de Chiari 1,5 com MCI,5 demonstram várias outras anormalidades
Terminologia. O termo malformação de Chiari 1,5 (MC 1,5) de imagem significativas. Um dos maiores achados que
foi inventado por neurocirurgiões para designar a malfor diferenciam MC 1,5 de MCI é a presença de herniação
mação de "Chiari complexa", na qual a herniaçao das ton- do tronco encefálico através do FM (por isso o termo
silas cerebelares é complicada por outras anormalidades
"malformação de Chiari 1,5"). Alongamento/desloca
(p. ex., deslocamento caudal do tronco encefálico e quarto mento caudal do tronco encefálico e do quarto ventrí
ventrículo e/ou "dobra" cervicobulbar). MC 1,5 difere do culo e deslocamento do obex abaixo do FM são comuns
Chiari 1 clássico devido à descida do tronco encefálico
(Fig. 36-33). FM "lotado" com "dobras" do bulbo cos
que é também presente além da ectopia tonsilar. MC1.5 tuma estar presente, além do deslocamento inferior das
difere do Chiari 2 pela ausência de mielomeningocele.
tonsilas.
Aspectos clínicos. A prevalência exata da MC 1,5 é desco Anormalidades ósseas são comuns na MCI,5. Elas
nhecida. Grandes séries recentes mostram que casos que incluem um odontoide "retrofietido", ângulo clival-cervi-
preencham os critérios de imagem para MC 1,5 represen cal anormal, occipitalizaçào do atlas, invaginação basilar
1082 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

com compressão do tronco encefálico pelo odontoide e


escoliose. Siringomielia está presente em 50% dos casos,
mas espinha bifida e mielodisplasia estão ausentes.
Diagnóstico diferencial. O maior diagnóstico diferencial
da MC 1,5 é MCI. Corno as condutas terapêuticas são
diferentes, distinguir essas duas malformações é impor
tante. Enquanto tanto MCI.5 e MCI apresentam achados
comuns como descida tonsilar e anormalidades ósseas, a
descida caudal do tronco encefálico difere essas duas mal
formações.

Malformações de Chiari 4 e Chiari 5


Os termos "agenesia cerebelar primária" ou "hipoplasia
cerebelar grave" devem ser usados em vez de "malfor
mação de Chiari 4". A fossa posterior é de tamanho nor
36-34 MOW. Seio transverso, tórcufa elevada mal e em sua maior parte preenchido por LCS. A ponte
seio transverso angulado B. verme cerebelar hipopla- é pequena e aparece achatada. Não existe mielomenin-
sico rodado superiormente S, hidrocefalia.
gocele, e os achados intracranianos do Chiari 2 estão
ausentes.

Um caso no qual o cerebelo estava ausente e o lobo


occipital herniou através do forame magno para o ca
nal cervical superior foi descrito como "malformação
de Chiari 5".

Malformações do rombencéfalo
Espectro Dandy-Waiker
O espectro Dandy-Walker (DW) é um assunto contro
verso. Alguns autores incluem distúrbios relacionados
com uma megacisterna magna - a qual outros consideram
como uma variante normal - e a assim chamada varian
te Dandy-Walker como anormalidades discretas dentro
36-35A Espécime de necropsia de MOW mostra do espectro DW. Nessa seção, usaremos uma definição
FP grande com cisto vermes hipoplásico rodado
expandida do espectro DW e incluiremos anormalidades
B, lórcula com alta inserção B. 0 probe está no da megacisterna magna à malformação Dandy-Walker
aqueduto.
clássica.

Terminologia
o espectro Dandy-Walker (EDW) é um distúrbio gene
ralizado do desenvolvimento mesenquimal que afeta tanto
o cerebelo quanto a meninge sobrejacente.
A malformação Daiidy-Walker (MDW) consiste em
uma FP grande com uma conlluência do seio venoso com
inserção alta, grande ci.sto da FP estendendo-se dorsal-
mente do quarto venlriculo, e graus variáveis de hipopla
sia vermiana e dos hemisférios cerebelares (Fig. 36-34).
A variante Dandy-Walker (VDW) é um termo an
tigo usado para designar um verme hipoplásico e roda
do com ou sem aumento do quarto ventrículo associado.
VDW é agora considerada uma forma discreta do espectro
Dandy-Walker.
36-35B Vista posterior com a dura aberta mostra
Um cisto da bolsa de Blake persistente é uma pro-
um grande cisto da FP, tórcuia com inserção !â), seios trusão do quarto ventrículo através do forame de Magen-
transversos angulados 3]. (E. Ross, MD.) die para a cisterna vermiana delineada por epêndima. O
Malformações da fossa posterior 1083

plexo coroide do quarto ventrículo está deslocado, e o


ângulo tegmento vermiano está aumentado, mas o verme
está norma! em tamanfio e configuração.
A megii cisterna magna (MCM) consiste em uma
grande FP com uma cisterna magna aumentada. O quarto
ventrículo, verme e cérebro supratentorial estão normais.
MCM representa a forma mais sutil de EDW.

Etlologia
Embriologia. Se a área membranosa anterior do quarto
ventrículo embriônico falha em incorporar de maneira
apropriada o plexo coroide, ou se existe atraso na abertura
do forame do Magendie, o teto do quarto ventrículo infla
posteriormente e forma o cisto na cisterna magna preen
chido por LCS característico da MDW.
Genética. Três genes causadores de MDW já foram iden 36-36A MOW clássico com cisto na FP grande ele
tificados: FOXCI no cromossomo 6p25, e os genes liga vando a tórcula remanescente vermiano rodado
superiormente ponte pequena, corpo caloso dis-
das ZICl e ZIC4 no cromossomo 3q24. Cada membro
genético.
da família do gene ZIC codifica um fator de transcrição
ZINC-FINGER (ZF) relacionado que é amplamente ex
presso durante o desenvolvimento cerebelar. Ambos,
ZICl e ZIC4, têm papéis importantes na regulação do
tamanho cerebelar e da foliação normal do cerebelo. As
proteínas Zic competem ou interagem com a proteína Gli
para regular a sinalização Shh, que é crucial para o desen
volvimento normal do cerebelo.
Ratos com deleção heterozigótica dos genes ligados
ZiCl e ZIC4 formulam MDW humano, embora a base
do desenvolvimento deste fenótipo permaneça desco
nhecida.

Patologia
Patologia macroscópica. Os achados macroscópicos mais
importantes da MDW são (1) uma FP alargada com (2)
deslocamento superior do tentório e dos seios venosos 36-366 T2 axial mostra quarto ventrículo aberto
e (3) dilatação cística do quarto ventrículo (Fig. 36-35). dorsalmente ÍS para um grande cisto na FP. Os hemis
Anormalidades vermianas variam de uma ausência com férios cerebelares são pequenos, deslocados anterior
mente S].
pleta à graus variantes de hipoplasia.
MDW é freqüentemente associada a outras anomalias
do sistema nervoso central (SNC). Quase dois terços dos
pacientes têm anormalidades girais (p. ex., paqui ou poli-
microgiria, substância cinzenta heterotópica). Disgenesia
do corpo caloso é comum. Anomalias craniofaciais, car
díacas e do trato urinário são freqüentes.
Achados microscópicos. O cisto da FP na MDW é tipica
mente delineado por duas camadas: uma camada externa
de pia-aracnoide e uma camada intema de epêndima. Às
vezes, remanescentes microscópicos de tecido cerebelar
estão presentes na parede do cisto.

Aspectos clínicos
Epidemiologia e demografia. MDW é a malformação cerebe
lar congênita mais comum, com uma prevalência estima
da de 1:5.000 nascidos vivos. Existe uma discreta predo 36-36C T2 axial mostra disgenesia do corpo caloso
minância pelo sexo feminino (M:H igual 1,5 a 2:1). com polimicrogiria E3.
1084 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

Apresentação. A apresentação mais comum da MDW é o muito alargada. O seio reto, a confluência dos seios, e o
aumento da pressão intracraniana secundária à hidrocefa- ápice tentorial são elevados acima da sutura lambidoide
lia. Apesar das extensas anormalidades cerebelares. sinais ("inversão lambidoide-torcular"). Os seios transversos
cerebelares são incomuns. descendem em um ângulo agudo da torcular herophili em
direção aos seios sigmoides (Fig. 36-36).
História natural. Morte precoce é comum na MDW clássi
O osso occipital pode permanecer ondulado, com es-
ca. Se a MDW é relativamente discreta ou não complicada
pessamentos focais, e remodelado em tochs os tipos de
por outras anomalias do SNC, a inteligência pode ser nor
EDW, incluindo a MCM. O seio reto descende em um
mal e os deficits neurológicos mínimos.
ângulo normal na MCM, mas a tórcula é geralmente um
Opções oe tratamento. Desvio do LCS, geralmente deriva pouco elevada. A MCM costuma demonstrar dura-arac-
ção ventrículo peritoneal com ou sem derivação do cisto noide (foice cerebelar) parcialmente desdobrada mas ima
ou marsupialização, é o tratamento-padrào para MDW gens T2 axial.
com hidrocefalia.
Ventrículos e cisternas, o soalho do quarto ventrículo está
Imagem presente e aparece normal na MDW. O véu medular an
terior e o fastigium estão ausentes. O quarto ventrículo
o espectro de anormalidades de imagem na DW é amplo,
abre-se dorsalmcnle em um cisto de tamanho variável que
afetando - em graus variáveis - o crânio e a dura, os ven-
contém LCS. que infla posteriormente atrás e entre o re
trículos e os espaços de LCS. e o encéfalo.
manescente dos hemisférios cerebelares.
Crânio e oura, seios venosos. Diferentemente do MC2, Hidrocefalia obstrutiva generalizada está presente em
no qual a FP é anormalmente pequena, a FP na MDW é mais de 80% dos pacientes com MDW ao nascimento. Se

36-37 TC sem contraste em


uma menina de 11 anos com
EDW leve mostra uma aparência
"em fechadura" do quarto ventrí
culo ESI abrindo em um íorame
magno proeminente B via um
forame de Magendie aumentado
E ]
36-38 TC sem contraste axial
em uma criança de 10 dias mos
tra uma deformidade em "fecha
dura" mais pronunciada da EDW
ieve com hipopiasia vermiana
inferior, quarto veniriculo alar
gado B abrindo para a cisterna
magna B via uma abertura do
forame de Magendie B3.

36-39A T2 sagilai em uma


mulher de 30 anos assintomática
mostra uma cisterna magna
muito proeminente com
o verme inferior discretamente
hipopiásico SI.
36-39B 72 axial da mesma
paciente mostra hipopiasia ver
miana inferior discreta, cisterna
magna proeminente ^3, forame
de Magendie alargado ES. EDW
leve com megacisterna magna.
Malformações da fossa posterior 1085

a disgenesia do corpo caloso está presente, os ventrículos


laterais são muito separados e podem ter cornos occipitais
proeminentes (colpocefalia).
O quarto ventrículo é normal na MCM e mostra um
fastigium normal (pontodorsal) nas imagens sagitais da
RM. No EDW leve (previamente chamada de "variante"
Dandy-Walker), o quarto ventrículo tem uma configura
ção "em fechadura" na imagem axial causada por uma
valécula amplamente patente que se comunica com uma
mega cisterna proeminente (Figs. 36-37 e 36-38).
O cisto da bolsa de Blake é uma protrusao do quarto
ventrículo, que é delineada por epêndima que apresenta
um ângulo tegmento vermiano aumentado.

Tronco encefálico, cerebelo e verme. O tronco encefálico


aparece normal nas formas leves de MDW, mas geral
mente aparece um pouco pequeno nas formas moderadas 36-40A TI sagilai mostra EDW leve (mega cisterna
e mais graves de MDW. magna). Observe o osso occipital fino F^, ondulado
O verme é normal na MCM, a forma mais leve de
í^. Ponte, quarto ventrículo e verme são normais.
todas as MDW. Graus variáveis de hipoplasia vermia-
na são vistos do restante das doenças do espectro DW
(Figs. 36-39 e 36-40). Os lóbulos inferiores são geralmen
te hipoplásicos na MDW leve. Na MDW clássica, o re
manescente vermiano aparece rodado e elevado acima do
grande cisto da FP.
Os hemisférios cerebelares também demonstram
graus variáveis de hipoplasia. Eles aparecem normais ou
quase normais na MCM e VDW. mas são hipoplásicos na
MDW. Nos casos graves de MDW. os remanescentes ce
rebelares aparecem com aspecto "em asa" e deslocados
anterolateralmente.

Anormalidades associadas. Outras anormalidades do SNC


estão presentes em 70% das MDW. O achado mais co
mum é a agenesia ou disgenesia do corpo caloso. Um cis
to inter-hemisférico dorsal pode estar presente. Anormali 36-406 T2 axial do mesmo paciente mostra "ondu
dades da substância cinzenta (p. ex., heterotopias, fendas, lações" ósseas dura-aracnoide da foice cerebelar
paqui e polimicrogiria) são anormalidades comumente parcialmente desdobrada S).
associadas.

Diagnóstico diferencial
Como o Dandy-Walker é, na verdade, um espectro,
existem muitos casos "intermediários". De uma pers
pectiva clínica, pode não ter significância o verme hi-
poplásieo rodado da malformação Dandy-Walker leve.
O cisto da bolsa de Blake pode ser indistinguível da
EDW leve.
O cisto aracnoide retrocerebelar é considerado

por algumas pessoas como parte da EDW. Aqui, um


cisto de linha média delineado por aracnoide é locali
zado atrás do verme e do quarto ventrículo, mas não se
comunica com ele. Não existe associação com hidro-
cefalia ou disgenesia cerebelar. Ao contrário da MCM,
veias e foice cerebelar não atravessam a coleção de 36-40C T1C+ coronal mostra que a mega cisterna
LCS. magna 1^1 eleva o tentório posterior E3, tórcula E3.
1086 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

36-41 Gráfico coronal de rombencefalossinapse mostra que o verme 36-42 T2 coronal mostra uma clássica rombencefalossinapse. Observe
está ausente na linha média do cerebelo. Em seu lugar, as folias, sulcos, a ausência de verme, folias orientadas transversalmente, continuidade
e substância branca cerebelar SI são contínuos através da linha média. da substância branca cerebelar atravessando a linha média B.

napse, síndrome de Joubert e hipoplasias e displasias não


ESPECTRO DANDY-WALKER classificadas cerebelares.

Malformação Dandy-Walker
• Fossa posterior grande Rombencefalossinapse
• O cisto estende-se posteriormente do quarto ventrículo Terminologia. A rombencefalossinapse é uma malformação
• Hipoplasia vermiana, cerebelar variável cerebral da linha média caracterizada por (1) "falta" do
• Confluência venosa com alta inserção verme cerebelar e (2) aparente fusão dos hemisférios ce
Verme rodado hipoplásíco rebelares (Fig. 36-41).
• Termo antigo igual variante Dandy-Waiker
Patologia. A gravidade varia de discreta (ausência parcial
• FP de tamanho normal
• Abertura do quarto ventrículo "em fechadura" do nódulo, verme anterior e posterior) a completa (todo o
verme, incluindo o nódulo, está ausente). Uma continui
Cisto da bolsa de Blake dade dorsal da linha média dos hemisférios cerebelares é
• Protrusão delineada por epêndima do quarto característica. As tonsilas, núcleos denteados e pedúncu-
ventrículo los cerebelares superiores geralmente são fusionados.
• Aumento do ângulo tegmento vermiano
• Pode ser difícil de diferenciar da MDW Aspectos clínicos. A rombencefalossinapse pode ser vis
ta em pacientes com VACTERL (anomalias vertebrais,
Megacísterna magna atresia anal, anomalias cardiovasculares, fistulas traqueo-
• FP grande
• Cisterna magna aumentada esofágicas, anomalias renais, e defeitos nos membros su
• Pode remodelar e causar ondulações no occipito periores e inferiores).
• Atravessada por veias, foice cerebelar
• Quarto ventrículo, verme normal Imagem. Imagens por RM sagitais mostram um recesso
• Sem anormalidades supratentoriais fastigial do quarto ventrículo rodado superiormente e
falta do padrão foliar normal da linha média do verme.
Imagens coronais mostram folias transversas e continui
dade da substância branca cerebelar através da linha mé
Outras malformações dia (Fig. 36-42). Imagens axiais confirmam a ausência de
Ocorrem intímeras malformações da FP menos comuns. verme. Imagens através do quarto ventrículo rostral po
Nós discutiremos várias delas, nas quais as anormalidades dem demonstrar uma forma em diamante ou pontiaguda
são definidas por achados de imagem: rombencefalossi (Fig. 36-43).
Malformações da fossa posterior 1087

Estenose do aqueduto e hidrocefalia são comuns. SJ clássico é a síndrome "pura". A forma oculorrenal
Ausência do cavum do septo pelúcido é visto em metade é denominada SCOR (síndrome cerebelo-oculorrenal). SJ
dos casos. Os tálamos, os fórnices e o teto podem ser com polidactilia pré-axial ou mesoaxial e defeitos orofa-
parcial ou completamente fusionados. Outras anomalias ciais é conhecida como síndrome oro-facial-digital tipo
incluem a ausência dos bulbos olfatórios e disgenesia do 6 (OFD-6). Síndrome Coach consiste em hipoplasia do
corpo caloso. verme cerebelar, oligofrenia, ataxia, coloboma ocular e
fibrose hepática.
Síndrome dejoubert e doenças relacionadas
Etiologia. Com exceção dos raros casos recessivos ligados
Terminologia e classificação. Síndrome de Joubert (SJ) e
ao X, SJDR segue uma herança autossômica recessiva.
doenças relacionadas (SJDR) são um grupo de síndromes Pelo menos 10 genes afetados que ajudam a regular o
nas quais a marca obrigatória é o sinal do "dente molar",
crescimento e a decussação normal dos axônios já foram
uma malformação complexa do tronco encefálico que
i d e n t i fi c a d o s n a S J D R .
lembra o dente molar nas imagens axiais.
SJDR é geneticamente heterogênea. Distúrbios do
Anomalias renais, oculares. de extremidades, hepáli-
dente molar são, pelo menos em partes, "ciliopatias" com
cas e dos duetos biliares são comuns no espectro SJDR.
Seis maiores subgrupos fenotípicos de SJDR são reconhe mutações das proteínas ciliares/centrossomais que afetam
a migração celular.
cidos: SJ puro, SJ com defeito ocular, SJ com defeito re
nal. SJ com defeitos oculorrenais, SJ com defeito hepático Patologia. SJDR é caracterizada macroscopicamente por
e SJ com defeito orofaciodigital. um verme dismórfico com fenda sagital, pedúnculos cere-

36-43A TI sagital de um pa
ciente com rombencefalossinap-
se mostra foliação anormal do
que parece ser o verme ES.
36-43B 12 axial do mesmo
paciente mostra ausência de ver
me, continuidade da substância
branca através da linha média
E S

36-43C T2 coronal mostra


ausência de verme, folias cere-
belares orientadas transversal
mente ES.
36-43D T2 coronal do mes
mo paciente mostra displasía
septo-óptica com ausência do
cavum do septo pelúcido
uma anormalidade comumente
associada com rombenceíalos-
sinapse.
1088 Malformações congênitas do crânio e do encéfaio

belares superiores grandes sem decussação e um fastigium nha média mostram um verme pequeno e dismórfíco.
do quarto ventrículo arredondado e alongado (Figs. 36-44 O quarto ventrículo aparece deformado com o fino teto
e 36-45). O diâmetro anteroposterior do mesencéfalo é re convexo superiormente e perda do fastigium normal
duzido. Microscopicamente, displasias e heterotopias dos (Fig. 36-46A).
núcleos cerebelares sào comuns. Imagens axiais demonstram uma aparência clássica
do "dente molar" com o mesencéfalo encurtado, istmo es
Aspectos clínicos. A incidência estimada da SJDR é de
I ;80.000 a 100.000 nascidos vivos. Nào existe predileção treito. fossa interpeduncular profunda e espessamenio dos
pelo sexo. pedúnculos cerebelares superiores ao redor de um quar
SJDR costuma apresentar-se na infância. A apresen to ventrículo em formato de diamante. O verme superior
tação clínica clássica é uma criança com atraso do de apresenta fenda, e a cisterna magna pode aparecer aumen
senvolvimento, ataxia e anormalidades oculomotoras e
tada (Fig. 36-46B).
respiratórias. Neonatos podem exibir nistagmo, apneia e O DTl mostra que as fibras dos pedúnculos cerebe
hiperpneia altemantes, além de crises convulsivas. lares superiores não decussam no mesencéfalo e que os
tratos corticospinals não cruzam no buibo inferior.
Imagem. TC axial sem contraste demonstra fenda vermiana
e um quarto ventrículo com formato estranho e uma con- Diagnóstico diferencial. O maior diagnóstico diferencial
Hguraçào em "asa de morcego". da SJDR é a hipoplasia vermiana c pontocercbclar.
A imagem na RM é a peça fundamental para esta na qual o verme é pequeno, mas não tem uma fenda. Na
belecer o diagnóstico de SJDR. Imagens sagitais na li rombencefalossinapsc, os hemisférios cerebelares e os

36-44 Gráfico axial mostra


malformação dejoubert. Espes-
samento dos pedúrrcuios cere
belares superiores SI ao redor
do quarto ventrículo alongado
formam o sinal clássico do "den
te molar". Observe a fenda no
verme cerebelar í^.
36-45 Espécie de necropsia
de SJDR mostra mesencéfalo
achatado com istmo afilado S],
pedúnculos cerebelares supe
riores espessados ES, quarto
ventrículo em forma de "asa de
morcego" verme superior
com fenda (Cortesia de R.
Hewlett, MD.)

36-46A T2 sagilai em um pa
ciente comjoubert clássico mos
tra verme pequeno deformado
B3, quarto ventrículo superior
convexo Si, fastigium arredon
dado e aumentado
36-46B Imagem axial do
mesmo paciente mostra o sinal
do "dente molar": mesencéfalo
achado com istmo estreito ES,
pedúnculos cerebelares superio
res espessados B ao redor de
um quarto ventrículo alongado,
e fenda desorganizada no verme
ES.
Malformações da fossa posterior 1089

rabela 36-1 Malformações da fossa posterior: imagem

Posição do Ta m a n h o d o Posição da Hemisférios


v e r m e v e r m e tóícula cerebeiares Quarto ventrículo

Megacisterna magna N N N N N

Cisto da bolsa de Blake Rodado N N N "alargado"; comunica com a


fossa posterior via valécula

Cisto aracnoide Pode estar N ou compri N N ou comprimido N ou comprimido


deslocado mido

Disgenesia vermiana Pode estar Pequeno ou N N Forma anormal; falta da ponta


rodado ausente fasligial normal

Malformação Dandy- Rodado Pequeno ou Elevada Geralmente pe Dilatados, aumentados; falta


- Wa l k e r ausente quenos do ponto fastígio

Hipoplasia cerebeiar N Pequeno N Pequeno N ou pequeno

Hipoplasia ponto-cerebelar N Pequeno N Pequeno Falta da protuberãncia pontina

Disrruptura cerebeiar N N ou pequeno N Assimétricos; um Variável dependendo da parle


pequeno, estrutu da disrruptura do cerebelo
ra anormal

Rombencefalossinapse Ausente N Fusionados com Pequeno; falta ponto fastigio


folias horizontais normal
continuas

Sindrome dejouberl Pequeno ou N Pequeno Grande (associado com pe-


ausente dúnculos cerebeiares supe
riores alongados e sinal do
"dente molar")

N, normal.

núcleos denteados são fusionados na linha média, e não Displasia cerebeiar não classificada
divididos.
Um grupo de displasias focais ou difusas não classificadas
Várias síndromes exibem a malformação "do dente
que envolve os hemisférios cerebeiares e/ou verme. Não
molar" na fossa posterior. Muitos neurologistas pediátri-
são associadas com outras malformações conhecidas ou
cos consideram, portanto, o sinal "do dente molar" ines-
síndromes, como a malformação do dente molar, espectro
pecífíco, em vez de solicitar evidência de imagem e clíni Dandy-Walker, distrofia muscular congênita ou romben-
ca. Atraso do desenvolvimento e hipotonia podem estar
cefalossinapse.
presentes junto com episódios de respiração anormal ou Essas displasias cerebeiares não classificadas de
movimentos anormais oculares.
monstram assimetrias ou disrruptura focai das folias
Análise genética pode ser necessária para diferenciar cerebeiares e morfologias dos sulcos. Vários achados
os subtipos de SJDR. são vistos nos estudos de imagem. Fissuras ou fendas
alargadas, orientadas verticalmente (Fig. 36-48), folia-
Hipoplasia cerebeiar
ções desordenadas ou primitivas, falta da arborização da
A hipoplasia cerebeiar (denominada anteriormente de substância branca normal, heterotopias de substância cin
malformação de Chiari 4) mostra um espectro de achados. zenta e pequenas cavidades císticas na substância branca
Em casos graves, a fossa posterior aparece praticamente subcortical são algumas das muitas anormalidades vistas
vazia. Os hemisférios cerebeiares estão quase completa nesses casos (Fig. 36-49).
mente ausentes. A ponte é hipoplásica (Fig. 36-47).
1090 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

36-47 Hipoplasia cerebelar


extrema com tronco encefalico
pequeno FP com aparência
quase "vazia", mas com ta
manho normal SI, pequenos
remanescentes vermianos B e
cerebelar S!.
36-48 T2 axial de um pacien
te com displasia cerebelar não
classificada mostra várias tendas
B. com folias anormais e de
salinhadas.

36-49A Displasia cerebelar


não classificada com fendas B,
folias displásicas interdígitantes m . SV ' W:-
S, cisto hemlsférico B.
36-49B Imagem mais supe
rior do mesmo paciente mostra Ü.'à
o cisto, fenda e aparência de
polimicrogiria B na folia ma-
K' $■
croscopicamente anormal.

> - -

• Loukas M et al: Associated disorders of Chiari type 1


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37
Malformações do desenvolvimento
J

comissural e cortica
suras cerebrais, e então nos concentraremos na disgenesia
Desenvolvimento e anatomia normais das
do corpo caloso, a mais importante anomalia que afeta
comíssuras cerebrais 1093
esses tratos de substância branca (SB).
Desenvolvimento normal 1093
Anatomia macroscópica e radiológica normais 1094 Dedicaremos a segunda metade do capítulo para as
Anomalias comissurais 1095 malformações do desenvolvimento cortical. MDCs são
intrinsecamente epileptogênicas e podem ser responsáveis
Espectro da disgenesia do corpo caloso 1096
Síndromes e anomalias associadas 1098 por 25 a 40% de todas as epilepsias infantis refratárias
ao tratamento clínico. Anteriormente ao desenvolvimen
Visão geral das malformações do desenvolvimento
cortical 11 0 1 to de técnicas de RM de alta resolução, muitas epilepsias
parciais complexas eram consideradas criptogênícas. A
Malformações com números/tipos de células
anormais 11 0 1 detecção, localização e caracterização dessas entidades
MIcrocefalias lioi vêm se tornando cada vez mais importantes no manejo
Displasias corticais focais 11 0 3 do paciente.
Hemimegaloencefalia 11 0 6
Anormalidades da migração neuronal 1108
Heterotopias 11 0 9
Espectro da íisencefalia 11 0 9 Desenvolvimento e anatomia normais
Heterotopias subcorticais e displasias lobares 1114 das comissuras cerebrais
Malformações tipo cobblestone e distrofias musculares
congênitas 111 4 Nesta seção, revisaremos brevemente o desenvolvimento
normal das comissuras e então delinearemos sua anatomia
Malformações secundárias ao desenvolvimento
pós-migracional anormal 111 7 macroscópica e radiológica.
Polimicroglria 111 7
Esquizencefalia 111 9 Desenvolvimento normal
O telencéfalo possui três tratos comissurais principais:
A disgenesia do corpo caloso e as malformações do de o corpo caloso (CC), o qual é o maior e mais proemi
senvolvimento cortica! (MDCs) são duas das mais im nente, a comissura anterior e a comissura hipocampal
portantes anomalias cerebrais congênitas. As anomalias (posterior). A transferência coordenada de informação
das comissuras cerebrais são as mais comuns de todas as entre os hemisférios cerebrais é essencial para a função
malformações congênitas do cérebro, e a disgenesia do normal do cérebro e ocorre por meio dessas três comis
corpo caloso é a malformação específica mais freqüente suras axonais.

que acompanha outras anormalidades do desenvolvimen O desenvolvimento comissural é um processo cuida


to cerebral. dosamente coreografado no qual os axônios dos neurônios
Embora elas afetem regiões muito diferentes do pro- corticais são ativamente guiados através da linha média
sencéfalo, as malformações comissurais e corticais com para atingir seus destinos no hemisfério contralateral. Um
partilham uma característica muito importante: elas se conjunto de mecanismos de direção geneticamente me
desenvolvem quando as células precursoras em migração diados é usado por esses axônios para localizar e inervar
não conseguem atingir seus destinos. seus alvos.

Começaremos este capítulo com uma breve conside A comissura anterior é a primeira comissura do pro-
ração do desenvolvimento e anatomia normais das comis sencéfalo a se desenvolver (oitava semana fetal). A comis-
1094 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

sura hipocampal se foima por volta da 11' semana e é se


guida por axônios de neurônios que finalmente formarão
o espiênio e a porção posterior do CC.
O CC se forma em dois segmentos separados. Entre
a 13® e a 14® semanas fetais, axônios anteriores cruzam
uma estrutura orientadora chamada sling glial, enquanto
outros seguem a comissura hipocampal posteriormente.
O joelho, rostro e corpo aparecem em uma rápida suces
são; o espiênio não se forma até 18 a 19 semanas. Feixes
de fibras no corpo caloso anterior e posterior por fim se
unem para formar uma estrutura única e contínua, o corpo
c a l o s o d e fi n i t i v o .
Ao nascimento, o CC é muito delgado e relativamente
plano na aparência macroscópica. Ele continua a crescer
por vários meses após o nascimento. Conforme a mielini-
37-1 Ilustração sagital da comissura anterior SI e zação prossegue, o Joelho e o espiênio sofrem notável au
dos segmentos do corpo caloso; rostro SI, joelho S, mento de espessura. O comprimento e a espessura do CC
corpo B, istmo @ e espiênio IB. também aumentam. Aos 10 meses de idade, a aparência
global já lembra a de um adulto normal.

Anatomia macroscópica e
radioiógica normais
Corpo caloso
o CC é a maior e mais importante comissura do prosen-
céfalo. Ele é composto por cinco partes. De anterior para
posterior, estas são o rostro, joelho, corpo, istmo e espiê
nio. O rostro é o menor segmento e conecta as superfí
cies orbitais dos lobos frontais. Um "joelho" proeminente
anterior conecta as porções laterais e mediais dos lobos
frontais (FIg. 37-1). Fibras de substância branca se cur
vam anterolateralmente do joelho para o interior dos lobos
frontais como o fórceps menor.
O maior segmento do CC é o corpo. Suas fibras trafe
37-2 Ilustração demonstrando as fibras da coroa gam lateralmente e cruzam com fibras de projeção da co
radiada no interior e cruzando transversalmente o corpo roa radiada (Fig. 37-2). O corpo conecta extensas regiões
caloso ES. corticais de cada hemisfério e forma um X vermelho nas

imagens axiais de DTl (Fig. 37-3).


O istmo é um segmento mais curto e discretamente
mais afilado que se localiza entre o corpo e o espiênio.
O istmo conecta os giros pré e pós-central e o córtex
auditivo com suas contrapartes no hemisfério contrala
teral. O espiênio é a terminação alargada e arredondada
do CC. A maioria das suas fibras se curva posterola-
teralmente para o interior dos lobos occipitais como o
fórceps maior.
Imagens sagitais ponderadas em TI e T2 mostram o
rostro como um delgado trato de SB que se curva poste-
roinferiormente a partir do joelho. A superfície dorsal do
CC, em geral, não é reta, tendo uma aparência levemente
- . y■ I f ^ \ V■
.V.. "ondulada" com um distinto estreitamento posterior - o
istmo - imediatamente antes de se alargar outra vez for
mando o espiênio (Fig. 37-4).
37-3 Imagem em DTI mostrando o corpo caloso nor
mal em vermelho e formato de X, formado pelo joelho Imagens coronais mostram o CC se curvando em
ES com o forceps menor, corpo ^3 e espiênio ^3 ambos os lados através da linha média. Anteriormente,
com o fórceps maior. o joelho é visto como uma contínua faixa de SB conec-
Malformações do desenvolvimento comissura! e cortical 1095

tando os lobos frontais. Mais posteriormente, o CC se


posiciona acima dos fórnices. Faixas de fibras de SB
se projetam para fora a partir do esplênio, formando o
forceps maior.

Comissura anterior
A comissura anterior (CA) é um feixe de fibras compactas
e altamente mielinizadas orientado transversalmente que
cruza a linha média anteriormente ao fómice. Ela é muito
menor do que o CC, porém é uma referência anatômica
cruciai para a neurocirurgia estereotáxica.
A CA se localiza na parede anterior do terceiro ven-
trículo (Fig. 37-5). A partir da linha média, ela se curva
lateralmente no prosencéfalo basal e se divide em dois
fascículos. O feixe menor e mais anterior cursa em dire
ção ao córtex orbitofrontal e ao trato olfatório. O feixe
37-4 Imagem sagital ponderada em T2 mostrando a
posterior, maior, adentra os lobos temporais. A CA conec CA trS bem como o rostro joeltio S, corpo B,
ta as regiões anteriores dos lobos temporais (Fig. 37-6), e ístmo L=í^ e esplênio B do corpo caloso.
tem localização anterossuperior aos cornos temporais dos
ventrículos laterais.
Nas imagens sagitais ponderadas em TI, a CA é
vista como uma estrutura ovoide hiperintensa à frente
da parede anterior do terceiro ventrículo. Nas imagens
axiais em T2, a CA pode ser identificada como uma faixa
de tecido hipointensa e bem delimitada diretamente an
terior ao terceiro ventrículo. Conforme ela cursa lateral
mente, ambos os lados da CA se curvam levemente em

f' ■ -/
direção anterior, assemelhando-se a um arco nas imagens
axiais de RM.

Comissura hipocampal
A comissura hipocampal (CH) é a menor das três comis-
suras principais. Ela consiste em um feixe de fibras trans
versalmente orientado que cruza a linha média na lâmina
pineal posterior. 37-5 Imagem axíal ponderada em T2 mostrando a
Diferentemente do CC e da CA. a CH é menos facil compacta e hipointensa comissura anterior com seu
mente distinguida nas imagens de RM. No plano sagital formato em arco B passando em frente ao terceiro
ventrículo
mediano, suas fibras mielinizadas se misturam impercep-
tivelmente com aquelas da SE inferomedial no esplênio
do CC. Nas imagens coronais através dos átrios dos ven
trículos laterais, a CH pode ser vista em localização infe
rior ao CC, onde suas fibras se combinam com as fibras
dos fórnices.

Anomalias comissurals

Qualquer uma ou a combinação das três comissuras do


prosencéfalo podem ser afetadas por distúrbios do de
senvolvimento. O reconhecimento do espectro surpreen
dentemente amplo das malformações comissurals e o de-
lineamento das eventuais anormalidades associadas são
essenciais para o diagnóstico acurado e completo.
Discutiremos a seguir as malformações do corpo ca-
37-6 Imagem coronal ponderada em T2 mostrando
loso junto com algumas síndromes representativas e le a comissura anterior B, terceiro ventriculo B e o
sões associadas. corpo do corpo caloso B.
1096 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

Espectro da disgenesia do corpo caloso


Terminologia
o corpo caloso (CC) pode estar completamente ausente
(agenesia) (Fig. 37-7), (Fig. 37-8). ou parcialmente íbr-
mado (hipogenesia). A agenesia completa do CC é quase
sempre acompanhada da ausência da comissura hipocam-
pal (CH); a comissura anterior (CA) é comumente presen
te e normal. Se o CC é hipodesenvolvido, os segmentos
posteriores e a porção inferior do joelho costumam estar
ausentes.

Patologia
Na agenesia completa do CC, todos os cinco segmentos
estão faltando. O giro do cíngulo está ausente nas ima
gens no plano sagital, enquanto os hemisférios demons
37-7 Agenesia do CC moslrando a aparência em "capa
tram um padrão de giros em "roda de carroça" que se
cete viking" com terceiro venirículo "elevado" ven-
Irículos laterais pontiagudos e feixes de Probst 3).
estende perpendicularmente ate o teto do terceiro ventri
culo (Fig. 37-9).
Nos cortes coronals, o terceiro ventriculo "eleva
do" é visto como que se abrisse diretamente na fissura
inter-hemisférica. Na verdade, ele é coberto por um fino
teto membranoso que se abaula para o interior da fissura
inter-hemisférica, deslocando lateralmente os fómices. Os
ventriculos laterais possuem contornos agudos e curvados
superiormente (Fig. 37-8).
Um proeminente trato longitudinal de SB chamado
feixe de Probst está situado diretamente no lado interno
do ápice de cada ventriculo (Fig. 37-7). Esses feixes con
sistem em fibras comissurais mal direcionadas, as quais
deveriam ter cruzado a linha média e, no entanto, toma
ram um curso de sentido anteroposterior, endentando as
paredes mediais dos ventriculos laterais.
O septo pelúcido em geral parece ausente, porém de
37-8 Espécime de necropsia em corte coronal com fato possui folhetos amplamente separados que cursam
agenesia do CC mostrando o teto do terceiro ventri- lateralmente - não verticalmente - dos fómices para os
culo atilado IS e feixes de Probst S]. (Cortesia de
feixes de Probst.
J. Townsend, MD.)
Imagens axiais mostram que os ventriculos laterais
são paralelos e não convergentes. Os cornos occipitais
com freqüência possuem dilatação desproporcional, con
dição que recebe o nome de colpocefalia.
A patologia macroscópica da hipogenesia do CC va
ria de acordo com os segmentos perdidos. O esplênio ge
ralmente é pequeno ou ausente.

Aspectos clínicos
Epidemioldgia e aspectos demográficos. A disgenesia do
CC é a malformação do SNC mais comum, sendo en
contrada em 3 a 5% dos indivíduos com distúrbios do
neurodesenvolvimento. A prevalência é de pelo menos
1:4.000 nascidos vivos. Disgenesias de CC não sindrô-
micas são encontradas em pacientes de todas as faixas
etárias.
37-9 Agenesia do CC mostrando giro do cíngulo
ausente, "irradiação" dos giros convergindo para Apresentação. A hipogenesia/disgenesia menor do CC
um terceiro ventriculo elevado (^. (Cortesia de costuma ser encontrada incidentalmente nos exames de
R. Hewlett, MD.) imagem ou necropsia. Grandes malformações comissu-
Malformações do desenvolvimento comissura! e cortical 1097

rais são associadas a crises convulsivas, retardo no desen


volvimento e sintomas relacionados a distúrbios do eixo

hipotalâmico-hipofisário.

Imagem
Achados na TC. A TC sem contraste no plano axial mostra
ventrículos laterais paralelos, não convergentes e ampla
mente separados. Um aumento desproporcional dos cor
nos occipitais é comum.
Achados na RM. As seqüências ponderadas em TI e T2 no
plano sagital melhor demonstram a ausência completa do
CC ou sua disgenesia parcial.
Agenesia completa do corpo caloso. Na agenesia
completa, o terceiro ventrículo parece contínuo com a
fissura inler-hemisférica e é circundado dorsalmente por
giros que se irradiam na direção do terceiro ventrículo 37-10 Os giros em "roda de carroça" E3 convergem
(Fig. 37-10). para o terceiro ventrículo A comissura anterior
é normal BS. A comissura hipocampal esta ausente.
Um cisto inter-hemisférico na linha média pode estar
Agenesia do CC.
presente acima do terceiro ventrículo. Tais cistos podem
ser saculações ventriculares ou estruturas separadas que
não se comunicam com o sistema ventricular.
Uma artéria cerebral anterior (ACA) ázigo pode ser
observada "percorrendo" superiormente a fissura inter-
-hemisférica. Procure por malformações associadas nos
olhos, rombencéfalo e eixo hipotalâmico-hipofisário.
As imagens axiais demonstram bem os ventrícu
los laterais paralelos. Os tratos mielinizados dos fei
xes de Probst podem se apresentar muito proeminentes
(Fig. 37-14).
Imagens no plano coronal mostram aparência de "ca
pacete v/A'/ng" ou "cabeça de alce" causada pelos ventrí
culos laterais curvos e com extremidade apontada supe
riormente e pelo terceiro ventrículo que se expande para
a fissura inter-hemisférica. Os feixes de Probst são vistos
como tratos densamente mielinizados localizados na face
37-11 joelho e remanescente do corpo B
interna do corpo dos ventrículos laterais. Os hipocampos estão presentes. Rostro ES e esplênio estão ausentes.
parecem anormalmente arredondados e orientados verti Hipogenesía do CC.
calmente. Cornos temporais moderadamente dilatados são
comuns. Procure por malformações como substância cin
zenta heterotópica (Fig. 37-13).
A seqüência DTl é especialmente útil em demonstrar
a agenesia do CC. A cor vermelha normal do corpo caloso
(orientação esquerda para a direita) está ausente. No lugar,
os tratos anteroposteriores (verdes) proeminentes dos fei
xes de Probst são identificados (Fig. 37-15).
Hipogenesía do corpo caloso. Na agenesia parcial, o
rostro e o esplênio em geral estão ausentes (Fig. 37-11), e
o joelho e corpo remanescentes com freqüência possuem
uma aparência espessada e "em bloco" (Fig. 37-12). A co
missura hipocampal com freqüência está ausente, porém
a CA costuma estar preservada e possui aparência normal
ou mesmo maior do que a habitual.
Angiografia. Na agenesia completa do CC, a ATC, a ASD
37-12 O CC encontra-se encurtado e "em bloco" com
e a ARM mostram uma ACA ázigo que cursa diretamente rostro ausente B e esplênio atilado com lipoma curvi-
para cima dentro da fissura inter-hemisférica (Fig. 37-17). líneo B. Leve hipogenesía do CC.
1098 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

Diagnóstico diferencial
o principal diagnóstico diferencial da disgenesia do CC é
a destruição causada por trauma, cirurgia (calosotomia)
ou ísquemía. Ocasionalmente, se a comissura hipocam-
pal se forma, mas o CC está ausente, a CH pode mimeti-
zar uma porção remanescente do CC nas imagens sagitais.
Os cortes coronais mostram que a CH conecta os fórnices,
e não os hemisférios.

Síndromes e anomalias associadas


O corpo caloso (CC) é formado ao mesmo tempo em que
os hemisférios cerebrais e o cerebelo estão passando por
rápidas mudanças. A migração neuronal também atinge
seu pico no mesmo período. Embora a disgenesia do CC
possa ocorrer como um fenômeno isolado, não é surpresa
37-13 Imagem coronal ponderada em T2 mostrando
que - de todas as malformações - as anomalias do CC se
o "capacete viking" da agenesia do CC com veniriculos
curvados e voltados superiormente B, feixes de jam a malformação específica mais comumente associada
Probst e SC heterotópica B3. a outras síndromes e anomalias do SNC.

Malformações associadas à disgenesia


do corpo caloso
Malformação de Chiari 2, espectro da malformação
de Dandy-Waiker. dísplasia frontonasal, síndromes da
fenda facial mediana, craniossinostoses sindrômicas,
anomalias hípotalâmico-hiponsárias, hípoplasía/dís-
plasía cerebelar e malformações do desenvolvimento
cortical possuem prevalência aumentada de anomalias do
CC. A agenesia do corpo caloso e espessamentos corticais
regionais são as alterações morfològicas cerebrais mais
comuns na síndrome alcoólica fetal.

Condições genéticas com envolvimento


do corpo caloso
As anomalias nas comissuras cerebrais já foram descritas
37-14 Imagem no plano axial mostrando ventrículos em mais de 200 síndromes! Alguns dos exemplos mais
laterais paralelos e "não convergentes"E3, e feixes de
Probst importantes são incluídos aqui.
Síndrome de aicardi. A síndrome de Aicardi é um distúrbio
do neurodesenvolvimento com herança ligada ao X asso
ciada a graves prejuízos cognitivos e motores. Ela ocorre
f \ quase exclusivamente no sexo feminino e é definida pela
tríade diagnóstica de disgenesia do corpo caloso, lacunas
corioretinianas e espasmos infantis. Outras anormalidades
comumente associadas são polimicrogiria, heterotopia pe
riventricular e subcortical da substância cinzenta e papilo-
mas do plexo coroide.
A agenesia ou hipogenesia do corpo caloso - freqüen
temente com cistos hemisféricos - é a anormalidade ana
tômica mais comum na síndrome de Aicardi (Fig. 37-16).
A seqüência DTl nos pacientes com síndrome de Aicar
di mostra grandes déficits na organização da substância
branca, com ausência de múltiplos tratos de associação
corticocorticais, como o fasciculo arqueado esquerdo.
37-15 Imagem de OTI axial mostrando ausência do cor
po caloso vermelho em formato de X (normal). Feixes de
Síndrome de apert. A síndrome de Apert é também chama
Probst S são verdes, indicando trajeto anteroposterior. da de acrocefalossindactilia tipo 1. A síndrome de Apert
Malformações do desenvolvimento comlssura! e cortical 1099

é caracterizada por cranioestenose, hipoplasia da face e o qual é crucial para a migração e maturação neuronal. O
sindactilia simétrica das mãos e dos pés. Malformações tamanho do cérebro é reduzido, e algum grau de disgene-
do SNC associadas são freqüentes; as mais comuns são a sia do CC é típico. O CC na SWi é menor ou mais curto do
hipoplasia do CC ou do septo pelúcido. que o normal, e com um formato menos côncavo.
SÍNOROME CRASH. A síndrome CRASH - também conheci SlNDROME 00 X FRÁGIL. A síndrome do X frágil é um distúr
da como hidrocefalia ligada ao X - é um raro distúrbio bio ligado ao X causado pela expansão em uma seqüência
genético caracterizado por hipoplasia do corpo caloso, re genética específica de trinucleotídeos (CGG) no cromos
tardo mental, aduçào dos polegares, paraplegia espástica somo X e a causa mais comum de retardo mental geneti
{spasticparaplegia) e hidrocefalia. A síndrome CRASH é camente herdado em meninos. O CC é em geral afllado.
causada pela mutação no gene LICAM, que regula a mo porém presente.
lécula de adesão celular LI. a qual possui papel essencial
no desenvolvimento normal do SNC. SÍNDROME MORNING GLORY. A Síndrome morning glory é
uma rara anomalia do disco óptico que recebeu o nome
SÍNDROME DA DELEÇÂO 22q11.2. A síndrome da deleção devido à sua aparência característica ao exame de fundo
22ql 1.2 (SD22q) é também conhecida como síndrome de olho. Uma larga escavação em formato de funil no
de DiGeorge. Morfometria facial atípica, transtorno ob-
disco óptico com glíose central esbranquiçada é circun
sessivo-compulsivo e outras alterações psiquiátricas são dada por vasos retínais que emergem da periferia do dis
comuns nos pacientes com SD22q. Muitos pacientes pos co. Achados no SNC incluem coloboma, estafiloma es-
suem um CC anormalmente grande e de formato alterado.
cleral. cisto do nervo óptico e distúrbios da linha média,
Síndrome de williams. A síndrome de Williams (SWi) é como disgenesia do CC, encefalocele basal e displasia
causada pela microdeleçào dos genes no lócus 7qll.23, frontonasal.

37-16A Imagem sagitaí


ponderada em Tl em uma me
nina de 3 anos com síndrome
de Aicardi mostrando agenesia
completa do CC e da comlssura
hipocampal. A comlssura anterior
ES está presente, porém é pe
quena. Observe leve malforma
ção de Dandy-Waiker com mega
cisterna magna
37-16B Imagem sagital
ponderada em T2 mostrando
agenesia completa do CC, giro do
cingulo ausente, terceiro ventri-
culo "elevado" irradiação de
giros ES e ACA azigo ES.

37-16C Imagem axial ponde


rada em T2 do mesmo paciente
mostrando um pequeno cisto
inter-hemisférico B, ramos da
ACA ázigo BS, ventriculos late
rais paralelos, SC heterotópica
ES e paquigiria [^.
37-16D Imagem coronal em
T2 mostrando a clássica "cabeça
de alce" com terceiro ventriculo
elevado ES ("face" do alce),
ventriculos laterais pontiagudos
B ("chifres" do alce), feixes
de Probst proeminentes B e
pequeno nódulo de SC heterotó
pica SI.
1100 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

ESPECTRO DA DISGENESIA DO CORPO CALOSO

Terminologia
• Ausência completa do corpo caloso (CC) = agenesia
o Comissura hipocampaí (CH) ausente
o Comissura anterior (CA) freqüentemente presente
o Se todas as três ausentes = agenesia tricomissural
• CC disgenétlco, fiipodesenvolvido
o Rostro e esplênio freqüentemente ausentes na
agenesia parcial
o Agenesia parcial posterior = CH, esplênio, ± corpo
posterior
Embriologia e patologia
• Falfia dos mecanismos embrionários de
direcionamento
o Axònios podem não ser formados
37-17A Imagem sagitai ponderada em T2 mostran o Falha do direcionamento molecular
do agenesia do CC, cisto inter-hemisférico S e ACA o Sling glial e/ou CH não se desenvolvem
ézigo [S. normalmente
o Falha no direcionamento dos axônios através da
linha média
• Múltiplos genes envolvidos

Aspectos clínicos
• Malformação do SNC mais comum
• Encontrada em 3 a 5% dos distúrbios do
neurodesenvolvimento

Imagem
• Plano sagital
o Agenesia parcial ou completa do CC
o Terceiro ventrículo parece "aberto" para a fissura
Inter-hemlsférica
o Giro do cingulo ausente SI giros "se irradiam"
perifericamente a partir do terceiro ventrículo
• Plano axial
o Ventrículos laterais paralelos, não convergentes e
37-17B imagem axial ponderada em T2 do mesmo amplamente separados
paciente mostrando ventrículos laterais paralelos, gran • Plano coronal
de cisto inter-hemisférico Be3 e ACA ázigo [^. o Aparência de "capacete viking" ou "cabeça de alce"
o Terceiro ventrículo "elevado"
o Ventrículos laterais pontiagudos e curvados
superiormente
o Feixes de Probst

Anomalias e síndromes associadas


• Malformações
o Chiari 2
o Dandy-Waiker
o Displasia e fenda frontonasals
o Hipoplasia/displasia cerebelar
o Malformações do eixo hipotalâmico-hipofisário
o Malformações do desenvolvimento cortical
• Quase 200 síndromes genéticas
o Síndrome de Aicardi
o Síndrome de Apert
o Síndrome CRASH
o Síndrome da deleção 22q1l.2 (DiGeorge)
37-17C Imagem coronal ponderada em T2 mostran o Síndrome morning glory
do o cisto inter-hemisférico B3 e a artéria ázigo 1^1.
Malformações do desenvolvimento comissural e cortical 1101

Visão geral das malformações do MALFORMAÇÕES 00 DESENVOLVIMENTO CORTICAL


desenvolvimento cortical I. Malformações secundárias à proliferação ou à
apoptose glial/neuronal
As malformações do desenvolvimento cortical (MDCs) • A. Mlcrocefalia
representam um largo espectro de lesões corticais que • B. Megaloencefalia
resultam da alteração nos processos do desenvolvimen o Polimicrogiria e megaloencefalia
to e da formação do manto cortical. Essas malforma • C. Disgenesia cortical com proliferação celular anormal
ções foram anteriormente definidas como "distúrbios da o Túberes corticais
o Displasia cortical focal (DCF lib, tipo Taylor)
migração neuronal". Hoje se reconhece que nem todas
as anormalidades corticais são causadas por perturba o Hemimegaloencefalia
ções na migração. O termo agrupador MDC é usado II. Malformações secundárias a anormalidades da
para designar um grupo heterogêneo de lesões focais migração neuronal
ou difusas que se desenvolvem durante a ontogênese • A. Heterotopia
cortical. o Heterotopia periventricular nodular
Os três maiores estágios do desenvolvimento cor • B. Espectro da lisencefalia
tical são a proliferação, migração neuronal e o de o Agiria
senvolvimento pós-mígracional. Essas etapas podem o Paquigiria
o Heterotopia subcortical em banda
se sobrepor: a proliferação continua depois que a mi
• C. Heterotopia subcortical e displasia sublobar
gração neuronal tem início, e o desenvolvimento pós- o Grandes coleções focais de neurônios na SB
-migracional (p. ex., processos da organização cortical) profunda
começa antes de a migração neuronal terminar. Além • D. Malformações tipo cobblestone
disso, as células que resultam da proliferação anormal o Distrofias musculares congênitas
freqüentemente não migram nem se organizam de ma
ill. Anormalidades do desenvolvimento
neira apropriada.
Barkovich e colaboradores sugeriram classificar as pós-mígracional
• A. Polimicrogiria
MDCs de acordo com qual das três etapas do desenvol • B. Esquizencefalia
vimento é primariamente afetada. O grupo I consiste em • c. Displasia cortical focal (tipos I e III)
anormalidades da proliferação ou apoptose neuronal • D. Microcefalia pós-migracional
e glial (resultando em células em número aumentado
ou reduzido). Três subcategorias refletem as malforma
ções devido à (A) proliferação reduzida ou à apoptose
acelerada (microcefalias congênitas), (B) à proliferação
aumentada ou apoptose reduzida (megaloencefalias) e Malformações com números/tipos de
(C) à proliferação anormal (disgenesia e displasia focai células anormais
e difusa).
Microcefalias
O grupo II representa as anormalidades da migra
ção neuronal e foi dividido em quatro subgrupos: (A) A microcefalia (MC), que literalmente significa "cabeça
anormalidades no neuroepêndima durante o início da mi pequena", pode ser primária (genética) ou secundária (não
gração causam heterotopia nodular periventricular; (B) li- genética).
sencefalias são causadas por anormalidades generalizadas .A MC primária é uma malformação congênita cau
da migração transmanto; (C) anormalidades localizadas sada por um defeito no desenvolvimento cerebral. A MC
da migração transmanto resultam em heterotopia subcor secundária é um distúrbio adquirido que resulta de um
tical; e (D) anomalias na migração terminal e defeitos nas insulto que afeta o crescimento cerebral fetal, neonatal
membranas delimitantes piais resultam em malformações ou infantil; isquemia, infecção, diabetes materno e trau
tipo cobblestone. ma são as causas mais comuns. Alguns exemplos de MC
Anormalidades do desenvolvimento pós-migracio- induzida por infecções intrauterinas são ilustrados no Ca
nal compreendem o grupo III. Estas resultam do dano ao pítulo 12. Nesta seção, vamos nos concentrar na microce
córtex durante os estágios tardios e são associadas a insul falia primária (congênita).
tos pré-natais e perinatais.
Uma visão simplificada da nova classificação junta Terminologia e classificação
mente com as malformações representativas em cada gru A microcefalia é definida como um perímetro cefálico
po e subgrupo são resumidas no quadro a seguir. mais do que três desvios-padrão abaixo da média para ida-
1102 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

de e sexo. Na MC primária, não há evidência de outras


causas de redução do volume cerebral, como cranioeste-
noses, infecção perinatal ou trauma.
Barkovich e colaboradores classificam a MC primária
com base nas características morfológicas, como padrões
girais, espessura cortical, a presença de heterotopias, ou
outras malformações, e a mielinizaçào normal ou tardia.
O padrão girai pode ser normal, "simplificado", microgi-
ral ou paquigiral.
Três tipos de microcefalia primária são reconhecidos.
A microcefalia com padrão girai simplificado (MPGS)
é a forma mais comum e mais branda (Fig. 37-18). Giros
simplificados e sulcos anormalmente rasos são as carac
terísticas da MPGS. O córtex é normal ou afilado, e não
espessado. Os giros também são reduzidos em niámero e
demonstram um padrão "simplificado". Vários subtipos
37-18 Espécime de necropsia mostrando microcefa-
iía com padrão girai simplificado. Os giros apresentam de MPGS são descritos com mielinizaçào normal ou tar
menos circunvoiuções do que o normal. (Cortesia de R. dia. heterotopias e cistos aracnoides.
Hewlett, MD.) A microliseiicefalia é caracterizada por grave mi
crocefalia e sulcos anormais. O cérebro é extremamente
pequeno, e o padrão dos sulcos aparece intensamente sim
plificado ou completamente liso (Fig. 37-20). O córtex é
espesso, em geral medindo mais do que 3 mm. Na mi
crocefalia com extensa polimicrogiria. o cérebro é pe
queno. e a polimicrogiria é o padrão girai predominante
(Fig. 37-19).

Etiologia e patologia
A proliferação e a apoptose glioneuronal desempenham
papéis-chave na determinação do tamanho do cérebro, de
modo que anormalidades em qualquer uma delas podem
resultar em microcefalia. A microcefalia familial primária
é um distijrbio autossômico recessivo com um fenótipo
clínico ijnico e heterogeneidade genética.
Várias síndromcs cromossômicas são caracterizadas
37-19 Microcefalia com polimicrogiria El, veias
anormais na fissura silviana Ei e grande veia de Tro- por retardo mental e microcefalia. Estas incluem a tris-
lard E]. (Cortesia de R. Hewlett, MO.) somia do 21 (Down), a trissomia do 18 (Edward), cri-dii-
•chal ("choro do gato", síndrome do 5p), e as síndromes
de Cornelia de Lange e Rubinstein-Taybi.

Aspectos clínicos
Epidemidlogia e aspectos demográficos, a incidência de MC

primária varia de 1: 10.000 a 30.000. A maioria dos casos


de microcefalia primária (genética) é detectada no títero
ou logo após o nascimento.

Apresentação e história natural. Retardo mental, retardo no


desenvolvimento e crises convulsivas são os sintomas clí
nicos mais comuns. O prognóstico é variável.

Imagem
Características gerais. O índice craniofacial está reduzido
(freqüentemente menor ou igual a 1.5:1). A fronte costu
37-20 Microcefalia com lisencefalia assemelhando- ma ser inclinada, e as suturas cranianas podem ter aspecto
-se ao cérebro de um feto de 24 semanas de gestação, proeminente.
com superfície lisa e fissura silviana rasa. (Cortesia de R.
Hewlett, MD.)
Malformações do desenvolvimento comissura! e cortical 1103

Achados na TC. A janela óssea mostra uma calota craniana As seqüências com ponderação em T2* (GRE, SWI)
pequena, freqüentemente com suturas próximas e sobre são úteis para determinar lesões secundárias com resíduos
postas. Em crianças mais velhas, o crânio está espessado hemorrágicos.
e os seios paranasais encontram-se acentuadamente pneu-
matizados. Diagnóstico diferencial
A superfície cortical pode ser normal, simplificada, o maior dilema diagnóstico é a diferenciação entre a mi
microlisencefálica ou polimicrogiral. Os ventrículos po crocefalia primária e a secundária. Calcificações, cistos,
dem parecer normais ou moderadamente dilatados. gliose e encefalomalacia são mais comuns na microcefalia
secundária a infecções (TORCH), a trauma ou à encefalo-
Achados na RM. As imagens sagitais ponderadas em TI
patia isquêmica.
demonstram ossos frontais inclinados e uma marcada re
dução nas proporções craniofaciais (Fig. 37-21). O cére
bro pode parecer pequeno, porém relativamente normal, Displasias corticais focais
pequeno com padrão girai simplificado, ou microlisence- As características histológicas distintas da displasia corti
fálico. cal focal (DCF) foram originalmente descritas por Taylor e
Na microcefalia com padrão girai simplificado, os colaboradores. Hoje se reconhece que a DCF é uma causa
giros são menores em número e possuem uma aparência comum de epilepsia refratária em crianças e em adultos. A
simplificada. Os sulcos são rasos (25 a 50% da profun ressecção cirúrgica é uma opção de tratamento de crescen
didade habitual). Um atraso das etapas de mielinizaçào te importância, motivo pelo qual o reconhecimento e a cor
pode estar presente. Anomalias associadas como disgene- reta delineaçào da DCF nos exames de imagem são ponto-
sia do corpo caloso e cefaloceles são comuns. -chave para o tratamento bem-sucedido dos pacientes.

37-21A Imagem sagital pon


derada em T2 em um paciente
com microcefalia primária mos
trando desproporção craniofacial
com razão de 1,5:1 e fronte incli
n a d a O b s e r v e o C C a fi l a d o
e displásico SSi, padrão girai
simplificado ES.
37-21B Imagem em T2 do
mesmo paciente mostrando o
padrão girai simplificado com
poucos giros e sulcos rasos. Os
olfios são desproporcionaimente
grandes.

37-21C Imagem ponderada


em T2 através dos ventrícu

/ T
los mostrando o padrão girai
simplificado com numerosos
sulcos rasos. A espessura cortical
encontra-se normal, porém a
mielinizaçào é tardia.
37-21D Imagem emT2 do
mesmo paciente novamente
mostrando o padrão girai sim
plificado. Compare com a Fig.
37-18.

Ir
1104 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

37-22 Espécime cirúrgico ressecado de um pacienre com epilepsia 37-23 Imagem em T2 em um menino de 17 anos com crises convulsi
intratável mostrando uma área em forma de (uni! com cortex espessado vas mostrando uma área de córtex malformado de formato em cunha no
e indefinição da interface das substâncias branca e cinzenta SI. Em lobo frontal direito ES. A biópsia revelou displasia cortical focal tipo lib.
contraste, os sulcos e giros normais adjacentes HS. Esta é uma clássica DCF de Taylor, o tipo mais comum.

A fosforilação anormal de substratos do alvo da ra-


Terminologia e classificação
As dísplasias corticais focais - algumas vezes chamadas pamicina em mamíferos (mXOR) parece ser um biomar-
cador para a DCF tipo 11. Além disso, espécimes de DCF
de displasia cortical de Taylor - são regiões localizadas
de substância cinzenta malfoimada não neoplásica. tipo 11b possuem alterações de seqüência no gene TSCl
A Força-Tarefa da International League Against Epi (liamartina) e assemelham-se aos túberes corticais do
complexo da esclerose tuberosa (CET).
lepsy (ILAE) recentemente propôs uma classificação da
DCF em três níveis baseada em achados clínicos, radio- Alterações na proteína double coriin-like, que está
criticamente envolvida na divisão neuronal e migração ra
lógicos e neuropatológicos. A DCF tipo I é urna malfor
dial, podem afetar a corticogênese precoce tanto na DCF
mação isolada com distribuição anormal das camadas
corticais e que demonstra persistência vertical (radial) das quanto no CET.
microcolunas do desenvolvimento (DCF tipo Ia) ou perda
Patologia
da estrutura hexalaminar horizontal (DCF tipo ib) em um
Patologia macroscópica. Espécimes cirúrgicos costumam
ou múltiplos lobos. A DCF tipo Ic é caracterizada por apre
sentar ambos os padrões de estratifícação cortical anormal. parecer normais. Córtex levemente firme e discretamen
te espessado com pobre demarcação da substância branca
A DCF tipo II é uma lesão isolada caracterizada por
subjacente pode estar presente (Fig. 37-22).
estratifícação cortical alterada e neurônios dismóficos
sem (tipo lia) ou com (tipo lib) células em balão. O tipo Características microscópicas. As características histológi-
II é o tipo mais comum de DCF. cas da DCF são a citoarquitetura desorganizada e neurô
Um terceiro tipo de DCF. a DCF tipo III, foi recen nios com forma, tamanho e orientação anormais.
temente reconhecido como distúrbio pós-migracional se A DCF tipo II possui alterações citoarquiteturais pro
cundário a isquemia, infecção, trauma, etc. Nesses casos, nunciadas. Neurônios dismórfícos com diâmetro aumen
anormalidades citoarquiteturais ocorrem em conjunto com tado dos seus corpos celulares e núcleos são encontrados
esclerose hipocampal (DCF tipo llla), tumores associados nos tipos Ha e lib. A espessura cortical está aumentada,
a epilepsia (DCF tipo IIlc) ou-no caso de DCF tipo Illd- e a interface entre as substâncias branca e cinzenta está
outras lesões epileptogênicas adquiridas no inicio da vida. indefinida em ambos os subtipos.
Células em balão proeminentes em conjunto com
Etlologia a redução da mielina e dos oligodendrócitos são típicas
A patologia molecular e a genética da DCF são intensa do tipo lib. Essas células em balão são histologicamen-
mente investigadas, porém incompletamente compreendi te idênticas às células gigantes nos túberes de pacientes
das. A maioria dos casos parece ser esporádica. c o m C E T.
Malformações do desenvolvimento comissura! e cortical 1105

37-24 Imagens mostrando achados sutis de DCF BE9 . A intensidade 37-25 Imagens em outro paciente mostrando achados sutis de DCF
de sinal é similar à da SC em T2/FLAIR. A seqüência em TI pós-contrasle S, incluindo um diminuto foco de calciíicaçào B3 na TC sem contraste.
mostra realce das veias corticais "primitivas" B sobre a dispiasia focai. DCF comprovada com biópsia. (Cortesia de P. Hildenbrand, MD.)
(Cortesia de P. Hildenbrand, MD.)

Aspectos clínicos Achados na RM. Os achados de RM na DCF dependem do


Epidemiología e ASPECTOS DEMOGRÁFiCOS. Como grupo, as tipo e do tamanho das lesões. Por exemplo, a DCF tipo Ia
DCFs sào a causa específica mais comum de epilepsia causa apenas leve hipoplasia hemisférica sem outras le
refratária grave em crianças e em adultos jovens. A DCF sões visíveis.
A DCF tipo 11b mostra uma área localizada de espes-
tipo II é encontrada em 15 a 20% dos pacientes sub
metidos à cirurgia para epilepsia. Nào há predileção por samento cortical e uma área em forma de funil com inde

gênero. finição da interface entre as substâncias branca e cinzen


ta no fundo de um sulco, o sinal "transmanto da RM"
Apresentação e história natural. Crises convulsivas asso
(Fig. 37-23). A intensidade de sinal varia conforme a idade.
ciadas à DCF comumente têm início na primeira década,
Nos neonates e em crianças pequenas, a DCF tipo lib apa
mas podem se apresentar na adolescência ou mesmo na
rece hiperintensa em TI e levemente hipointensa em T2.
vida adulta. Pacientes com DCF tipo Ia são, em geral,
Nos pacientes mais velhos, a DCF aparece como uma área
jovens com crises convulsivas de início precoce e grave em cunha de hiperintensidade em T2/FLA1R estendendo-
retardo psicomotor.
-se do fundo de um sulco para a SB subcortical e profunda.
Opções de tratamento. A epilepsia crônica refratária secun Um foco subcortical linear ou curvilíneo de hiperin
dária à DCF pode ser tratada com ressecção cirijrgica. O tensidade em T2/FLA1R algumas vezes se estende na di
prognóstico varia com o subtipo da DCF; um excelente reção da margem superolateral do ventriculo lateral.
controle das crises é relatado em 70 a 100% dos pacientes A DCF tipo Ilb não sofre realce na seqüência TI
com DCF tipo lib. pós-contraste. Há aumento da difusibilidade e na redução
na FA na seqüência em difusão. A espectroscopia de pro
Imagem tons mostra redução na razão NAAiCr e elevado ml. A
Características gerais. Os achados de imagem da DCF fre
perfusào por RM mostra rCBV normal ou reduzido.
qüentemente sào sutis. A maior parte dos focos tem menos O recentemente definido tipo 111 é primariamente en
de 2 cm de diâmetro, podendo ser de difícil detecção, so contrado em pacientes com esclerose hipocampal (DCF
bretudo nos exames de imagem tradicionais (Fig. 37-24).
tipo II Ia). E característica uma redução volumétrica do
As lesões maiores podem mimetizar neoplasias ou des-
lobo temporal anterior com hiperintensidade anormal na
mielinizaçào focai. SB em T2/FLA1R com o córtex de aparência normal sob
Achados na TC. Os exames de TC em geral são nonnais, a outros aspectos.
nào ser que a lesão seja excepcionalmente extensa. Foram A morfometria com base em voxels, mapeamento pa-
descritos alguns casos de pacientes com lesões de DCF ramétrico estatístico e a análise de texturas sào técnicas

tipo Ilb caicifícadas (FIg. 37-25). avançadas que podem aumentar a detecção de lesões epi-
1106 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

37-26A Hemimegaloencefalia mostrando hemisfério direito aumen 37-26B Imagem em plano mais superior mostrando grande hemisfé-
tado com "crescimento excessivo" da SB. Observe o corno frontal pontia rio/ventrículo com SC heterotópica subependimária E3, polimicrogiria
gudo Si e os cornos occipitais aumentados ÍS. e "crescimento excessivo" da SB com mielinização anormal 31.
(Cortesia de B, Horlen, MD.)

leptogênicas em pacientes com exames de RM tradicio freqüentemente apresenta um realce anelar incompleto,
nais negativos. enquanto que a DCF não sofre realce.
Imagem funcional. A SPECT icial, a PET e a magneioence-
falografia (MEG) podem ser ferramentas benéficas para os
Hemimegaloencefalia
pacientes com exames de RM normais que são suspeitos Terminologia
de portarem DCF. A fusão de imagens tem sido usada de A hemimegaloencefalia (HMEG) - também chamada de
modo intraoperatório para guiar a lesionectomia. As ima
megaloencefalia unilateral - é uma rara malformação ca
gens funcionais também têm sido usadas em conjunto com racterizada por aumento e anormalidades citoarquiteturais
eletrodos subdurais e profundos para localizar a zona ictal. em um hemisfério cerebral.

Diagnóstico diferencial Eíiologia


Os principais diagnósticos diferenciais da DCF (especial A exata etiologia da HMEG é desconhecida. Acredita-
mente a do tipo lib) incluem neoplasia, esclerose tuberosa -se que ela represente uma proliferação anormalmente
e doença desmielinizante. As neoplasias com base corti aumentada das células progenitoras, junto com perda da
cal mais comumente associadas a epilepsia de longa data apoptose pós-neurogênica normal. A sinalização mTOR
incluem o tumor neuroepitelial disernbrioplástico (DNET), anômala pode desempenhar um papel no desenvolvimen
gangliogiioma, oligodendroglioma e astrocitoma difusa to da HMEG e de outras malformações do desenvolvi
mente inflltrativo de baixo grau (OMS grau II). Pode ser mento cortical ("TORopatias" - Tai-gel of Rapamicin).
dicícil (ou mesmo impossível) fazer a diferenciação entre A HMEG pode ocorrer como uma malformação isola
DCF e neoplasias com base apenas nos achados de imagem da, porém aproximadamente 30% dos casos são sindrômi-
As lesões corticais no complexo da esclerose tuberosa cos. Associações com Proteus, Klippel-Weber-Trenaunay,
podem apresentar aspecto muito similar ao observado na síndromes de nevos epidérmicos, neuroflbromatose tipo 1
DCF tipo 11b. Ambas podem calcificar; ambas possuem as e hipomelanose de Ito já foram descritas.
pecto em funil ou chama de vela e podem acometer o cór-
tex e a SB subcortical. O CET geralmente demonstra ou Patologia
tros estigmas de imagem, como nódulos subependimários. Patologia macroscópica. O hemisfério afetado apresenta-se
Uma lesão desmielinizante solitária pode simular aumentado e com padrão girai anormal, córtex espessado
DCF. A perda de mielina e oligodendrócitos na DCF re e áreas de crescimento excessivo hamartomatoso displá-
sulta em alterações de sinais similares, i.e.; hiperinten- sico. A interface entre as substâncias branca e cinzenta
sidade em T2/FLA1R. A desmielinização "tumefativa" encontra-se indefinida (Fig. 37-26).
Malformações do desenvolvimento comissura! e cortical 1107

Características microscópicas. Delaminação cortical grave, mento é grave. As crises convulsivas associadas à HMEG
neurônios hipertróflcos e dismórficos, e heterotopias glio- são freqüentemente refratárias ao tratamento com anticon-
neuronais parenquimatosas e leptomeníngeas são caracte vulsivantes. A hemisferiectomia anatômica ou funcional
rísticas histológicas típicas da HMEG. Células em balão apresenta sucesso variável, uma vez que anormalidades
são encontradas em metade dos casos. no hemisfério "normal" contralateral são comuns.
A substância branca é, com freqüência, extremamente
anormal e pobremente mielinizada. Heterotopias de subs Imagem
tância cinzenta e agrupamentos de astrócitos hipertrofia Características gerais. A HMEG é caracterizada por um he
dos são achados freqüentes. Gliose, vacuolização da SB e misfério aumentado e de aparência displásica, com padrão
alterações císticas são comuns. girai alterado, espessamento cortical e anormalidades na
substância branca. Os ventrículos laterais geralmente
Aspectos clínicos encontram-se dilatados e deformados. Em raros casos, as
Epidemiologia e aspectos demográficos, a HMEG é rara, re alterações displásicas envolvem apenas parte de um he
presentando menos de 5% das MDCs diagnosticadas em misfério (hemimegaloencefalia "focai", "localizada" ou
exames de imagem. "lobar").

Apresentação, história natural e opções de tratamento. A Achados na TC. A TC sem contraste mostra hemisfério e
HMEG comumente se apresenta na infância e é caracteri hemicrânio aumentados. A foice posterior freqüentemente
zada por macrocrania, retardo no desenvolvimento e cri encontra-se deslocada através da linha média (Flg. 37-27).
ses convulsivas. A hemi-hipertrofia extracraniana de parte A mielinização anormal da substância branca pode apre
ou de todo o corpo ipsilateral pode estar presente. sentar aumento na atenuação, fazendo com que a SB do
O prognóstico é ruim, uma vez que as crises convul hemisfério contralateral "normal" pareça hipodensa. Cal-
sivas costumam ser intratáveis e o retardo no desenvolvi cificações distróficas são comuns.

37-27A TC sem contraste em


uma menina de 4 anos com he
mimegaloencefalia e crises con
vulsivas intratáveis mostrando
hemisfério direito aumentado e
hemicrânio com aumento da 5B
na coroa radiada E3- Compare
com o aspecto normal do hemis
fério esquerdo BI.
37-27B Imagem axial em T2
da mesma paciente mostrando
o hemisfério aumentado, SB
hiperintensa ES, ventriculo
aumentado e deformado S e
córtex espessado displásico IB.
Novamente, compare com o lado
esquerdo normal.

37-27C Imagem axial em


T2 ao nível da coroa radiada da
mesma paciente mostrando a SB
hipertrofiada heterogeneamenle
hiperintensa E3 e paquigiria
E l
37-27D Imagem coronal em
T2 da mesma paciente mostran
do a SB hiperplásica hiperintensa
ES, ventriculo deformado e
pontiagudo B, e polimicrogiria
1108 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

A TC com contraste pode revelar veias superficiais anor difícil distinção. Ambas as condições apresentam caracte
mais, "condensadas" e de aspecto primitivo nas regiões de rísticas histológicas idênticas. A presença de anormalida
córtex marcadamente displásico. des extracerebrais associadas (hemi-hipertrofía) pode ser
uma característica útil na diferenciação.
Achados na RM. O córtex freqüentemente encontra-se es
No complexo da escicrosc tuberosa com displasia
pessado e "granuloso" nas imagens ponderadas em TI. cortical generalizada não há aumento do hemisfério e
A mieíinizaçào é desordenada e acelerada, com encurta-
ocorrem outros estigmas de imagem, como nódulos su-
mento de TI. Heterotopias neuronais são comuns. O ven-
trículo ipsilateral em geral está aumentado e deformado. bependimários.
Casos de grave HMEG com quase nenhum marco
Em casos graves, quase nenhuma arquitetura hemisférica
anatômico normal podem ser confundidos com neopla
normal é encontrada.
As imagens ponderadas em T2 mostram áreas de ir sias, normalmente ganglíocítomas.

regularidade e polimicrogiria com indefinição da interfa


ce entre as substâncias branca e cinzenta (Fig. 37-28). A
intensidade de sinal da substância branca em T2/FLAIR
Anormalidades da migração neuronal
é freqüentemente heterogênea com hiperintensidades re
lacionadas a cistos e à gliose (Fig. 37-27). Conforme discutido anteriormente, anormalidades da mi
gração neuronal são divididas em quatro subtipos princi
Diagnóstico diferencial pais. Começaremos com as heterotopias e em seguida nos
o principal diagnóstico diferencial da HMEG é a MDC voltaremos ao espectro da lisencefalia. Conclui-se esta se
focai. Enquanto todo o hemisfério é envolvido na HMEG, ção com uma breve discussão sobre as heterotopias subcor-
casos de hemimegaloencefalia "focai" ou "lobar" são de ticais, displasias sublobares e complexo tipo cobblestone.

37-28A TC sem contraste em


uma criança prematura de 35 se
manas mostrando o hemislério e
o ventrículo lateral aumentados
à direita A SB hemisférica
direita aparenta ser menos hipo-
densa do que a esquerda.
37-288 Corte em plano mais
superior no mesmo paciente
mostrando o hemisfério direito e
o ventrículo lateral aumentados
e inserção da foice fora da
linha média E3.0 diagnóstico
inicial foi infarto no território da
ACM.

37-28C Imagem axial em T2


do mesmo paciente mostrando
a 58 expandida do hemisfério
direito que possui aspecto
"sujo" (i.e., menos hiperintensa
do que a SB não mlelinizada à
esquerda). Observe o íórnice
marcadamente aumentado 63.
37-280 Imagem axial em pla
no mais superior mostrando que
a SB da coroa radiada é menos
hiperintensa do que o normal
e há extenso espessamento
cortical com polimicrogiria B.
Observe as veias proeminentes e
de aspecto primitivo B.
Malformações do desenvolvimento comissura! e cortical 1109

37-29 Ilustração axial moslfando extensa heterotopia subependimá- 37-30 Espécime de necropsia mostrando nódulos de substância cin
ria S] bilateral revestindo os ventriculos laterais. A substância cinzenta zenta heterolópica subependimários SI. Os ventriculos estão aumenta
dos giros corticais é alílada, e os sulcos são rasos. dos e o córtex sobrejacente, afilado. (Cortesia de J. Ardyn, MO.)

Heterotopias rosa - não calcificam. O córtex sobrejacente em geral


encontra-se afilado, porém o padrão de sulcos e giros
A falha da migração neuronal normal ao longo das células
é normal.
glials radiais pode resultar em grandes e visíveis massas
O principal diagnóstico diferencial das heterotopias
de substância cinzenta "heterotópica". Essas coleções
de SC são neoplasias, mais especificamente o gangUoci-
existem em muitos tamanhos e praticamente podem ser
toma. Devido ao fato de as características histológicas da
encontradas em qualquer localização entre os ventriculos
e a pia. Elas podem ser solitárias ou multifocals e existem heterotopia da SC serem muito similares às do ganglioci-
tanto como fenômeno isolado quanto em associação com toma, reconhecer que os achados de imagem são típicos
de um caso de HNP é essencial para evitar o diagnóstico
outras malformações.
incorreto.
A heterotopia nodular periventricular (HNP) é a
forma mais comum de malformação cortical em adultos.
Nessa condição, um ou mais nódulos de substância cin Espectro da llsencefalla
zenta (SC) revestem as paredes laterais dos ventriculos Malformações devidas à migração transmanto difusamen
(Fig. 37-29), (Fig. 37-30). Nódulos de HNP seguem a SC te anormal incluem agiria, paquigíria e heterotopia cm
em densidade/intensidade de sinal e não realçam após a banda. Todas fazem parte do espectro da lisencefalia.
administração de meio de contraste (Fig. 37-31).
A HNP costuma ocorrer com outras anormalidades Terminologia
(p. ex., malformações de Dandy-Walker e Chiari 2) e é o termo lisencefalia (LIS) literalmente significa "cére
mais freqüentemente assimétrica, com um ou mais nó bro liso". Na lisencefalia clássica (LlSc). a superfície
dulos focais ao longo do cornos temporais e occipitais. cerebral não apresenta o padrão normal de sulcos e gi
Mutações no gene FLNA, quando presentes na forma ros. A lisencefalia clássica é também chamada de li
dominante ligada ao X, causam nódulos de SC ectópi- sencefalia tipo I. lisencefalia de quatro camadas ou
cos bilaterais, que são letais no período perinatal em complexo agiria-paquigíria. A agiria é definida como
meninos. um córtex espesso com ausência de giros na superfície
Menos comumente, a HNP se alinha na maior parte (lisencefalia "completa").
ou mesmo em toda a parede lateral do ventrículo lateral. A agiria verdadeira com perda completa de todos os
Coleções de nódulos arredondadas ou ovais endentam giros é relativamente incomum. A maioria dos casos de
as paredes laterais dos ventriculos. dando-lhes uma apa lisencefalia clássica mostra agiria parieto-occipital com
rência distintamente "granulosa". Eles seguem a SC em algumas áreas de giros largos e planos ("paquigíria"). e
todas as seqüências, não sofrem realce e - em contras sulcos rasos ao longo da porção inferior dos lobos frontais
te com os nódulos subependimários da esclerose tube- e temporais (lisencefalia "incompleta").
1110 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

Algumas formas raras de LIS estão associadas a um Outros 10 a 15% dos pacientes com LISc possuem
cerebelo desproporcionalmente pequeno e são referidas mutações no gene do duplo córtex (DCX).
como tlsencefalia com hipoplasia cerebelar. Genes que regulam proteínas associadas a microtu
A variante da lisencefalia (LISv) consiste em córtex bules são especialmente importantes na migração neuro
espesso e em sulcos reduzidos sem uma zona de células nal. Mutações na tubulina {TUB) foram especificamente
escassas. Exemplos incluem a lisencefalia com disgenesia associadas à lisencefalia. Mutações do TUBA!A são res
de corpo caloso ligada ao X e a lisencefalia e genitália ponsáveis por 1 a 4% das lisencefalias clássicas e 30%
ambígua com mutações na via de sinalização de uma gli- dos casos de lisencefalia com hipoplasia cerebelar. Muta
coproteína denominada reelin. ções sem sentido do TUBA!A em geral resultam em agiria
A heterotopia em banda é também chamada de sin- completa.
drome do "duplo córtcx" e é a forma mais branda da Um terceiro gene, RELN {reelin, também conhecido
lisencefalia clássica (Fig. 37-32). como US2), codifica uma proteína de matriz extracelu-
lar que controla as interações intercelulares críticas para
Etlologia o posicionamento celular apropriado e para a migração
Genética. Genes neuronals possuem identidades de camada neuronal. As mutações na RELN estão associadas à lisen
específicas que são seletivamente expressas pelas células cefalia autossômica recessiva com hipoplasia cerebelar.
progenitoras. Outros genes regulam a migração de neurô
nios pós-mitóticos das zonas ventriculares e subventricu- Patologia
lares para o córtex. Distiirbios neste último resultam em Patologia macroscópica. Na LISc, a superílcie externa do
lisencefalia. cérebro apresenta uma definida carência de giros e sul
A maioria dos pacientes com LlSc possui um defeito cos. Nas formas mais graves, os hemisférios cerebrais são
no gene LIS! do cromossomo 17p. Há deleção do LÍSI em lisos com operculização incompleta e fissuras silvianas
todos os pacientes com síndrome de Miller-Dieker. pouco desenvolvidas. Secções coronais demonstram um

37-31A Imagem axial pon


derada em T2 em um paciente
com agenesia do corpo caloso
mostrando múltiplos nóduios de
substância cinzenta helerotópica
^ .
subependimária B3. O córtex
apresenta áreas períssilvianas de
irregularidade e polimicrogiria
B I V .'
37-31B Imagem em plano 1

mais superior no mesmo pacien


te mostrando focos adicionais de
SC heterotópica subependimária i <í f - y
El e displasia cortical y - 1

37-31C Imagem coronoal


ponderada em T2 do mesmo pa
ciente demonstrando muito bem
as heterotopias subependimárias
El, córtex irregular e polimicro
giria
37-31D Imagem ponderada
em T2 através dos átrios dos
ventrículos laterais mostrando as
heterotopias subependimárias
El As heterotopias seguem
a intensidade de sinal da subs
tância cinzenta em todas as
seqüências.
Malformações do desenvolvimento comissural e cortical 1111

cortex marcadamente espessado com giros largos e volu vas. Microcefalia e face discretamente dismórflca são fre
me reduzido da substância branca subjacente (Fig. 37-33). qüentes. Os pacientes com heterotopia em banda se apre
sentam com retardo no desenvolvimento e um distúrbio
Características microscópicas. Na LISc, o córtex habitual de
seis camadas é substituído por um espesso córtex de qua convulsivo leve.

tro camadas. Da mais externa para a mais interna, essas Os pacientes com LISc e graves deformidades fa
camadas sào (I) uma fina camada molecular subpial, (2) ciais são diagnosticados com síndrome de MIIIer-Dieker
um fino córtex externo composto de grandes e desorga (SMD). Bossa frontal, hipertelorismo, nariz arrebitado,
nizados neurônios piramidais, (3) uma zona de "escassez mandíbula pequena e lábio superior proeminente com fina
celular" que consiste majoritariamente em axônios (mieli- borda avermelhada são características da SMD.
nizados após os dois anos de idade), e (4) uma larga faixa
interna de neurônios desorganizados. A substância branca Imagem
está intensamente reduzida em volume e com freqüência Caraqerísticas gerais. Os exames de imagem nos pacien
contém focos de neurônios heterotópicos. tes com LISc completa (agiria) mostram uma superfície
cerebral lisa e inexpressiva com fissuras silvianas raras e
Aspectos clínicos ventrículos aumentados. O córtex está espessado, e a SB
Epioemiologia e aspectos demográficos, a lisencefalia ocorre encontra-se reduzida em volume. As interdigitações habi
em I a 4:100.000 nascidos vivos. Os pacientes com he tuais entre a SC cortical e a SB subcortical estão ausentes.

terotopia em banda são quase sempre do sexo feminino. Em alguns casos, o cerebelo é hipoplásico.

Apresentação. Os pacientes com LISc exibem retardo mo Achados na TC. Cortes axiais de TC sem contraste na LISc
derado e grave no desenvolvimento, prejuízo nas funções mostram uma aparência em "ampulheta" ou em "oito",
neuromotoras, variável retardo mental e crises convulsi causada pela superfície cerebral plana e fissuras silvianas

37-32 Ilustração axial mos


trando a lisencefalld clássica no
hemisfério esquerdo, com faixa
espessa de substância cinzenta
subcortical córtex afllado e
zona de "escassez celular" ES.
O hemisfério direito apresenta
lisencefalia mais branda, com
heterotopia em banda (síndrome
do "duplo córtex") tS e córtex
externo afllado [^.
37-33A Cérebro com lisen
cefalia apresentando fissura sil-
viana rasa SI e a perda quase
completa dos sulcos. Algumas
rasas endentaçòes na superfície
[S estão presentes.

37-33B Corte seccional no


plano coronal mostrando confi
guração em "ampulheta" com
fissuras silvianas rasas SI,
sulcos ausentes e córtex espesso
incompletamente estratificado
[ S .
37-33C Secçâo coronal mais
posterior mostrando a dilatação
dos cornos occipital ("colpoce-
falia") e faixas alterantes de SC
^ e SB S.
1112 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

largas e rasas. Uma espessa faixa de córtex denso e re cia DTI mostra "poda", rarefação e desorganização mar
lativamente bem delimilado circunda uma delgada e lisa cantes nas fibras de associação subcorticais (fibras em U).
faixa de substância branca (Fig. 37-34A). A PA e a difusibilidade axial estão reduzidas, e a difusi-
Exames de TC com contraste mostram veias proemi bilidade radial está aumentada. Os principais tratos de SB
nentes e de aspecto "primitivo" que cursam as fissuras sil- encontram-se aberrantes e heterotópicos (Fig. 37-34D).
vianas e sobre o córtex espessado. Variante da lisencefalia. Na LlSv, os sulcos estão re
duzidos, e o córtex encontra-se espessado, embora não tan
Achados na RM.
to quanto na LISc. Não há camada de "escassez celular".
Lisencefalia clássica. Na LISc. as imagens em TI mostram
uma superfície cortical lisa, uma banda espessa de subs Heterotopia em banda ou sindrome do "duplo córtex
Na heterotopia em banda, uma faixa de SC lisa está separa
tância cinzenta que é nitidamente delimitada da substância
da de um córtex relativamente mais espesso e giriforme por
branca subjacente, e ventriculos aumentados. As seqüências
uma camada de substância branca com aparência normal.
ponderadas em 72 são as melhores para distinguir as dife
rentes camadas corticais. Uma fina camada celular externa
Os exames de RM mostram um padrão girai mais
habitual com córtex relativamente mais espesso. A ca
que é isointensa à SC recobre uma camada hiperintensa de
"escassez celular". A camada de SB é lisa e reduzida em vo
racterística que distingue a heterotopia em banda é o seu
lume. Uma camada mais profunda e espessa de neurônios "duplo córtex". uma camada homogênea de substância
com migração incompleta é comum e pode mimetizar hete cinzenta separada dos ventriculos e do córtex cerebral por
camadas de SB com aparência normal (Fig. 37-35).
rotopia em banda (Fig. 37-34B), (Fig. 37-34C).
Anomalias no corpo caloso são comuns na LlSc. A
anormalidade predominante é a hipogenesia do corpo Diagnóstico diferencial
caloso. O corpo caloso possui um corpo delgado e plano o cérebro prematuro extremo é liso com 24 a 26 sema
com um esplênio orientado mais verticalmente. A seqüên nas de gestação e em geral possui uma aparência "lisen-

37-34A TC sem contraste em

uma menina de 4 meses com


lisencefalia clássica mostrando
superfície lisa e quase agfrica
com fissuras silvianas rasas E3
e configuração em "ampulheta".
O córtex está espessado ^3 e a
substância branca está reduzida
Os ventriculos estão mode
radamente aumentados.
37-34B Imagem axial em TI
mostrando alguns poucos sulcos
rasos e giros largos e planos. As
camadas externa atilada e inter
na espessa de SC estão separa
das por uma camada hipointensa
de "escassez celular" E3.0 vo
lume da S6 5 está reduzido.

37-34C Imagem coronal


ponderada em T2 mostrando
córtex externo liso e afilado ES,
camada de "escassez celular"
hiperintensa B e faixa interna
de SC marcadamente espessada
BI. Observe as veias corticais
de aspecto primitivo SI nas
fissuras silvianas rasas.
37-340 DTI mostrando au
sência de fibras subcorticais em
U arborizadas, e tratos principais
da SB desorganizados e demons
trados como feixes coloridos
multidirecionais.
Malformações d o desenvolvimento comissural e cortical 1113

cefálica" (ver Capítulo 35). O padrão habitual de sulcos


e giros não se desenvolve completamente até cerca de 40
semanas.

Na microcefalia com padrão girai simplificado, o


perímetro cefálico é pelo menos três desvios-padrão abai
xo do normal. Poucos giros, sulcos anormalmente rasos e
um córtex normal ou afilado (e não espessado) estão pre
sentes.

A LI Sc também deve ser distinguida das lisencefa-


lias tipo cobblestone {lisencefalia tipo 2 ou LIS2). Nessa
condição, a superfície cerebral encontra-se "pedregosa"
ao invés de lisa. A LÍS2 está associada a distrofías muscu
lares congênitas (ver a seguir).
A paquigiria assemelha-se histologicamente à LISc.
porém é mais localizada, com freqüência multifocal e ge
ralmente assimétrica. Diferentemente da LlSc, a interface
37-35A Imagem sagilai ponderada em Ti mostran
entre as substâncias branca e cinzenta é indistinta ao lon do heterotopia em banda com córtex externo atilado,
go do córtex que se encontra espessado. SB mielinízada, banda de SC GS e a SB periventricular
A lisencefalia associada ao citomegalovírus pode de ("duplo córtex"
monstrar calciflcações periventriculares.

ESPECTRO DA LISENCEFALIA

Lisencefalia clássica (LISc)


• Patologia: córtex espesso e com quatro camadas
o Fina camada subpial
o Fino córtex externo
o Zona de "escassez celular"
o Larga faixa interna de neurônios desorganizados
• Aspectos clínicos
o LISc + anomalias faciais graves = Miller-Dieker
• Imagem
o cérebro liso, em "ampulheta"
o Superfície plana, fissuras silvianas rasas e "abertas"
o Heterotopia em banda ("duplo córtex")
• Aspectos clínicos
37-35B Imagem coronal na seqüência FSPGR no
o Quase sempre no sexo feminino
mesmo paciente demonstrando com clareza as bandas
• Imagem: lembra um "duplo córtex" de substância cinzenta heterotópica subcortical de as
o Córtex fino e giriforme pecto homogêneo B.
o SB de aspecto normal sob o córtex
o Faixa interna lisa de SC
o SB periventricular de aspecto normal ^ .. ' ''X
Diagnóstico diferencial
• Cérebro prematuro extremo
o A LISc se assemelha a um cérebro fetal com 20 a 24
s e m a n a s
• Microcefalia com padrão girai simplificado
o Cérebro ^ três desvios-padrão abaixo do normal
• Lisencefalias tipo cobblestone (lisencefalia tipo 2)
o Associada a distrofías musculares congênitas
o Superfície "pedregosa" (pedras de calçamento), e
não lisa
• Paquigiria
o Mais localizada, freqüentemente multifocal
o interface SB-SC indistinta
• CMV congênito
o Freqüentemente microcefálica 37-35C Imagem axial ponderada em T2 do mesmo
o Cérebro liso, Ca++ periventriculares paciente mostrando que as bandas subcorticais B
seguem a intensidade de sinal da SC. O córtex sobreja-
cente está afilado.
1114 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

37-36 Ilustração demonstrando a heterotopia subcortical. A grande 37-37 Imagens ponderadas em TI (E) e 12 (D) mostrando uma massa
coleção focal de substância cinzenta S], com aspecto de massa, e cor focai de substância cinzenta heterotópica B e córtex sobrejacente
tex sobrejacente afilado S, são típicos. afilado Observe a deformidade do ventrículo subjacente E3. A SC
heterotópica pode simular neoplasia tanto nos exames de imagem quan
to na histopatologia (gangliocitoma).

Heterotopias subcortlcals e displasias lobares dobra de córtex displásico com interface SB-SC irregular e
indistinta é característica nos exames de imagem.
Heterotopias subcortlcals
Helerolopias subcorticais são malformações nas quais co Malformações tipo cobblestone e distrofias
leções volumosas focais compostas por neurônios são en musculares congênitas
contradas na substância branca profunda do cérebro, em
A lisencefalia tipo cobblestone é também conhecida como
qualquer localização entre o epêndima e o córtex (37-36).
A porção envolvida do hemisfério afetado é anormalmen lisencefalia tipo 2, sendo distinta da lisencefalia tipo 1
te pequena, e o córtex sobrejacente encontra-se atilado e, ("clássica") dos pontos de vista genético, embriológico e
algumas vezes, displásico. patológico.
Em outras formas de heterotopia, massas focais de SC
ectópica ocorrem em colunas lineares ou em turbilhão que Terminologia
se estendem através da substância branca de aspecto nor A lisencefalia tipo cobblestone é também chamada de
mal, do epêndima até a pia. O córtex sobrejacente é afila complexo cobblestone (CBSC) e é caracterizada por uma
do, e o ventrículo subjacente freqüentemente encontra-se superfície cerebral irregular, nodular e "pedregosa", que
distorcido. As massas seguem a SC em todas as seqüên se assemelha a uma rua de pedras de calçamento. Quase
cias, não demonstram edema e não realçam (Fig. 37-37). todos os casos de lisencefalia tipo cobblestone estão asso
O diagnóstico diferencial da heterotopia subcortical ciados a anomalias oculares e ocorrem como parte de uma
são as neoplasias, sobretudo o gangliocitoma. Coleções distrofia muscular congênita (DMC).
heterotópicas de SC podem ter aspecto de massa e de O CBSC inclui três fenótipos de DMC; síndrome
formar o ventrículo adjacente. Entretanto, elas seguem a de Walker-Warburg (SWW), doença músculo-olho-
substância cinzenta em todas as seqüências de imagem e -cérebro (DMOC) e distrofia muscular congênita de
não realçam após a administração de meio de contraste. Fukuyama(DMCF).

Displasias lobares Etiologla


Displasia sublobar é uma malformação muito rara carac O córtex cobblestone resulta de anormalidades causadas
terizada clinicamente por epilepsia em um paciente com por defeitos na membrana basal delímitante piai. Eles criam
desenvolvimento de outra forma normal. Patologicamenle, um "vazamento" que permite um excesso de migração de
a displasia sublobar é uma região de cérebro dismórfico neurônios e células glials para além dos limites gliopiais
dentro de um hemisfério de aspecto normal. Uma profunda externos. A migração excessiva resulta em uma camada ex-
Malformações do desenvolvimento comissural e cortical 1115

traconical de nódulos aberrantes de substância cinzenta - O tronco encefálico é quase sempre pequeno. O ce-
as "pedras de calçamento" - na superfície cerebral. rebelo é freqüentemente pequeno, e suas folias em geral
Todos os distúrbios associados à iisencefalia tipo 2 estão fundidas e desorganizadas. Cerca de 15 a 20% dos
apresentam herança autossômica recessiva. O mecanismo pacientes com SWW também possuem malformação de
molecular comum que liga os distúrbios no cérebro, olhos Dandy-Walker.
e músculos é um defeito na 0-manosilação do a-distrogli-
Características microscópicas. A histopatologia da Iisence
cano. A maioria dos CBSCs são a-distrogllcanopaflas.
falia tipo 2 compartilha muitas características com a poli-
Múltiplos genes já foram implicados no seu desenvolvi
m e n t o .
microgiria. O córtex não possui camadas e está extrema
mente desorganizado. Ao contrário da Iisencefalia tipo 1
Patologia ("clássica"), não são identificadas delaminações caracte-
rizáveis. Há numerosas áreas que apresentam espaços nos
Patologia macroscópica. Em uma visão geral, o cérebro
limites gliopiais, possivelmente promovendo uma rota
geralmente é pequeno. Giros alargados e perda de sulcos
dão ao cérebro um aspecto lisencefálico. As áreas afeta migratória para neurônios aberrantes.
das exibem uma aparência "granulosa" (Fig. 37-38). Na A histopatologia dos músculos esqueléticos mostra
SWW, todo o cérebro costuma estar acometido, enquanto características clássicas das DMCs, isto é. fibras muscula
res em degeneração e regeneração com acentuada fibrose.
pacientes com DMOC e DMCF apresentam quantidades
variáveis de córtex afetado, com freqüência nos lobos oc-
cipitais e região posterolateral dos parietais. Aspectos clínicos
O volume da SB cerebral está reduzido, e o córtex Epidemiologia e aspectos demográficos. Todas as DMCs são
encontra-se irregularmente espessado. A Junção SB-SC raras. A síndrome de Walker-Warburg é a forma mais gra
pode ter um aspecto irregular e nodular. ve, sendo encontrada em todo o mundo. A doença múscu-

37-38A A Iisencefalia tipo


cobblestone recebe esse nome
por causa do aspecto nodular,
"pedregoso" da superfície cere
bral, a qual lembra a superfície
de uma rua com pedras de cal
çamento.
37-38B Secção coronal mos
trando córtex tipo cobblestone
SS, múltiplas linhas, colunas,
redemoinhos e nódulos de subs
tância cinzenta heterotópica SI.
O ventrículo lateral direito
é bastante malformado, com
nódulos de SC heterotópica sube-
pendimária.

37-38C Cortes através do me-


sencéfalo e cerebelo mostrando
coliculos espessos e fusionados
[S] e folias cerebelares displási-
cas bizarras i—»l.
37-38D Um corte mais infe
rior mostra um bulbo pequeno
IS e aspecto "pedregoso" dis
tinto dos hemisférios cerebelares
e do verme B. (Cortesia de R.
Hewlett, MD.)
1116 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

lo-olho-cércbro {muscle-eye-brain disease) lem gravidade ao nascimento, e o retardo motor com freqüência se ma
intermediária e é encontrada primariamente na Finlândia. nifesta antes dos sintomas causados pelo envolvimento
A distrofia muscular congênita de Fukuyama - a forma cerebral.
mais branda - ocorre quase exclusivamente no Japão e em As crianças com DMCF se apresentam com hipoto-
descendentes de japoneses. nia. retardo no desenvolvimento e crises convulsivas. As
anormalidades oculares são menos intensas do que as ob
Apresentação e história natural. A característica marcante
servadas na SWW e na DMOC.
de todas as lisencefaiias tipo 2 é a combinação de distro
fia muscular congênita com o acometimenlo do SNC. A
maior parte dos pacientes apresenta sintomas no primeiro Imagem
ano de vida. porém o grau relativo de redução de força SÍNDROME OE Walker-Warburg. A SWW possui uma apa
muscular é variável. rência distinta na RM. Uma parte ou todo o córtex está
A SWW é caracterizada pela tríade de DMC, anoma extremamente espessado com nódulos de neurônios de
lias cerebrais (primariamente o córtex tipo cobblesione) e sorganizados na superfície (levando à aparência de "pedra
anormalidades oculares. As crianças com SWW possuem de calçamento") e feixes lineares de SC que se projetam
liipotonia profunda ("bebê mole"), anormalidades ocula para o interior da SB subjacente. Hidroccfalia é comum.
res (tais como coloboma e persistência do vítreo primário O tronco encefálico geralmente está hipoplásico e parece
hipoplásico), grave retardo no desenvolvimento e crises "dobrado"; o tecto está alargado e o cerebelo encontra-se
convulsivas. A maior parte dos indivíduos afetados não reduzido, dismórfico e com fotiação anormal.
sobrevive por mais de um ou dois anos. Cistos cerebelares múltiplos e diminutos são típicos
Os pacientes com DMOC são hipotônicos e apre de SWW. Eles são mais bem demonstrados em seqüências
sentam déficits visuais, crises convulsivas e retardo ponderadas em T2 com cortes finos e alta resolução, su
mental. Os achados oculares estão comumente presentes primindo completamente no FLAIR.

37-39A Imagem sagital pon


derada em T2 em um paciente
com lisencefalia lipo cobblestone
associada a doença múscuio-
-olho-cérebfo. Observe a placa
colicular espessada e fusionada
trS, a ponte pequena [S com
aspecto "dobrado" do mesen-
céfalo e o corpo caloso atilado e
arqueado superiormente.
37-39B Imagem axial em T2
do mesmo paciente mostrando
a lisencefalia lipo cobblestone
predominando nos lobos frontais
S

37-39C Imagem em plano


mais superior no mesmo pacien
te demonstrando muito bem a
distinta aparência tipo cobblesto
ne dos giros frontais espessados

37-390 Imagem coronal


ponderada em T2 do mesmo pa
ciente mostrando atraso na mie-
linização ES, córtex cobblestone
S e cistos cerebelares E3.
Malformações do desenvolvimento comissural e cortical 1117

Doença músculo-olho-cérebro. O descolamento de retina


com microftaimia é típico na DMOC. Displasia corti Malformações secundárias ao
cal. polimicrogiria e hipoplasia do verme inferior tam desenvolvimento pós-migracional
bém sào típicos (Fig. 37-39), embora a displasia cortical
anormal
possa não ser aparente na RM até vários meses após o
nascimento. De acordo com Barkovich e colaboradores, o terceiro gru
Displasia muscular congênita de Fukuyama. Os pacientes po de malformações corticais é secundário ao desenvolvi
mento pós-migracional anormal e reflete danos infeccio
com DMCF possuem córtex tipo cohhiesione têmporo-
sos ou isquêmicos, Esse grupo, anteriormente designado
-occipital. O tronco encefálico é reduzido, e a placa co- como "anormalidades da organização cortical", hoje é
licular encontra-se aumentada e fusionada. O cerebelo
dividido em quatro subtipos de polimicrogiria de acordo
possui aparência bastante dismórfica com folias desor com a presença de fendas (esquizencefalia) e a ocorrência
ganizadas e cistos subcorticais hiperintensos em T2 e em
como parte de urna malformação múltipla reconhecida ou
FLAIR.
um distúrbio metabólico herdado.

Diagnóstico diferencial
Os principais diagnósticos diferenciais da lisencefalia tipo
Polimicrogiria
2 com DMC incluem a lisencefalia tipo 1 ("clássica") e a Terminologia e etiologia
polimicrogiria. A DMC não é uma característica da lisen A característica marcante da polimicrogiria (PMG) é um
cefalia tipo 1. Na polimicrogiria. a ausência de anoma córtex irregular com numerosas pequenas convoluçôes e
lias oculares e de fraqueza muscular são aspectos úteis na sulcos rasos ou obliterados. A aparência é a de diminutos
diferenciação. giros em miniatura empilhados sobre outros giros desor
ganizados (Fig. 37-40).

37-40 Ilustração coronal


oblíqua mostrando os giros
espessados "pedregosos" da
polimicrogiria envolvendo os
opérculos frontal 31 e temporal
[S. Observe os sulcos anormais
e a interface irregular entre o
córtex e a substância branca
nas regiões afetadas.
37-41 Espécime de necropsia
mostrando paquigiria e polimi
crogiria, Observe os vários focos
de nódulos diminutos ("giros
empilhados sobre giros") Eã,
dando a superfície cerebral uma
aparência Irregular e "pedre
gosa".

37-42A Imagem axial ponde


rada em T2 em um lactente de
duas semanas de vida e crises
convulsivas mostrando múltiplos
focos de polimicrogiria lEá. O
hemisfério esquerdo é multo
mais intensamente afetado do
que o direito.
37-428 Imagem coronal
ponderada em 12 do mesmo pa
ciente também mostrando a po
limicrogiria S]. A aparência de
múltiplos nódulos de substância
cinzenta empilhados sobre giros
é característica.
1118 Malformações congênitas do crânio e do encéfaío

Há evidência tanto de causas genéticas quanto não único giro ou a maior parte de um hemisfério cerebral. Ela
genéticas de PMG. Muitos casos ocorrem com outras pode ser uni ou bilateral, simétrica ou assimétrica, e focai
malformações (p. ex., síndrome de Zellweger). Um núme ou difusa.
ro de anomalias genéticas associadas, como mutações no Uma parte ou toda a superfície cerebral está coberta
gene homeobox PAX6. foram recentemente identificadas. por inúmeros giros diminutos amontoados e fusionados,
Insultos encefaloclásticos, como infecção (p. ex., dando-lhe uma aparência "granulosa" que foi associada
TORCH), acidente vascular intrauterine (p. ex., oclusão ao aspecto de couro marroquino (Fig. 37-41). Doença bi
da artéria cerebral média), trauma e distúrbios metabó- lateral - sobretudo nas regiões perissilvianas - está pre
licos também foram associados ao desenvolvimento da sente na maioria dos casos.
PMG.
Características microscópicas. Microscopicamente. a fita
c o r t i c a l s e e n c o n t r a a fl l a d a e e x c e s s i v a m e n t e d o b r a
Patologia
da. Existem dois tipos histológicos principais de PMG:
Localização. A PMG perissilviana bilateral é a localização as formas não estraliflcadas e as de quatro camadas. Na
mais comum (61% dos casos). As localizações generali
forma não estratifícada, uma camada molecular contínua
zada (13%), frontal (5%) e parieto-occipital parassagital
está presente sem qualquer organização laminar percep
(3%) são menos comuns. A associação com heterotopias tível. Na forma de quatro camadas, o córtex apresenta
de SC periventriculares é encontrada em 11%, e outras
dobramento, fusão e ramificação complexos. Uma estru
anomalias, como esquizencefalia, são comuns.
tura laminar composta de uma camada molecular, cama
Patologia macroscópica. Os achados macroscópicos da da neuronal externa, camada de fibras nervosas e camada
PMG variam amplamente. A PMG pode acometer um neuronal interna está presente.

37-43 ilustração coronal


oblíqua mostrando uma esqui
zencefalia de "lábio aberto" no
lobo frontal. Observe a interface
irregular entre as substâncias
branca e cinzenta do córtex que
reveste a fenda b>], indicando
sua natureza displásica.
37-44 Espécime de necropsia
mostrando lendas esquizence-
fálicas bilaterais. Observe que
o córtex espesso e anormal se
curva sobre os "lábios" da fenda
B3 e os segue medíalmente até
o epéndima ventricular. (Cortesia
de R. Hewlett, MO.)

37-45A TC sem contraste em


um rapaz de 19 anos após um
traumatismo craniencefálico leve
mostrando os adiados clássicos
de esquizencefalia unilateral.
Uma evaginaçâo mamílar de
ICS do ventrículo lateral ^3
encontra-se em continuidade
com uma fina "costura" de LCS
que se estende até a su
perfície do hemisfério. A fenda
é revestida com SC de aspecto
displásico S.
37-458 Corte em plano mais
superior mostrando a fenda E3
e a SC displásica B se esten
dendo ao epéndima ventricular
Malformações do desenvolvimento comlssurai e cortical 1119

Aspectos clínicos Algumas vezes, a paquígiria pode ser confundida


A PMG pode se apresentar em qualquer idade. Alguns ti com a PMG. O córtex na PMG é fino, nodular e excessi
vamente dobrado. Na displasia cortical focai, a substân
pos de PMG são mais comuns no sexo masculino, suge
rindo o envolvimento de genes ligados ao cromossomo X. cia cinzenta está espessada, e a interface SB-SC encontra-
- s e i n d e fi n i d a .
Os sintomas dependem da localização e da extensão
da PMG. variando de retardo global no desenvolvimento
a déficits neurológicos focais e crises convulsivas. Esquizencefalia
Terminologia
Imagem Esquizencefalia (literalmente significando "cérebro divi
A RM é a modalidade de escolha. Aquisição multipla dido") é uma fenda revestida por substância cinzenta que
nar com cortes finos e alta resolução é necessária para a se estende do epêndima ventricular à superfície piai do
completa delineação e detecção de lesões sutis. Córtex córtex. A fenda abrange toda a espessura do hemisfério
espessado ou com excesso de dobras, superfície nodular afetado (Fig. 37-43).
e interface entre as substâncias branca e cinzenta irregular
e "pontilhada" são os achados mais comuns (FIg. 37-42). Etiologia
Antes acreditava-se que a esquizencefalia representava
Diagnóstico diferencial uma malformação precoce do desenvolvimento corti
o principal diagnóstico diferencial da polimicrogiria é cal, porém atualmente ela é considerada um distúrbio
a lísencefalia tipo 2 (malformação tipo cobblestone). A com causas heterogêneas. Lesões vasculares destrutivas
ausência de distrofla muscular congênita é uma distinção (p. ex., oclusào da ACM) e infecções (p. ex., TORCH)
clínica útil. que ocorrem antes de 28 semanas de gestação são consi-

37-46A Imagem sagital pon


derada em TI mostrando uma
grande fenda preenchida por LCS
ES que se estende superior
mente a partir do ventrículo. A
fenda é revestida com substância
cinzenta de aspecto dispiásico

37-468 imagem em FLAIR do


mesmo paciente mostrando fen-
das esquizencefálicas bilaterais
B que são revestidas por SC
displásica As fendas supri
mem completamente o sinal.

37-46C Imagem axial pon


derada em T2 mostrando que os
"lábios" abertos contém "flow
voids" proeminentes tB, con
sistentes com as veias corticais

primitivas "não condensadas"


que comumente acompanham a
esquizencefalia.
37-460 Imagem coronal em
T2 mostrando os "mamilos" ES!
de ICS que se estendem para
fora dos ventrículos para o inte
rior das fendas esquizencefálicas.
1120 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

deradas etiologias prováveis. A destruição focai de fibras picas envolvendo septo pelúcido. corpo caloso. quiasma
gliais radiais com prejuízo na migração neuronal tem sido óptico e hipocampo.
vista como uma potencial conseqüência desses insultos Microscopicamente, a substância cinzenta que reves
vasculares e infecciosos precoces. te a fenda está desorganizada e não apresenta as camadas
A maioria dos casos de esquizencefalia é esporádica, corticais normais.

porém algumas ocorrências de esquizencefalia familial


foram descritas.
Aspectos clínicos
Um terço de todos os casos possui associação com Epídemiologia e aspectos demográficos, a esquizencefalia é
outra anormalidade fora do SNC secundária à perturbação
rara. A prevalência estimada na população é de cerca de
vascular (p. ex., síndrome da banda amniótica ou gastros-
1 a 2:100.000 pessoas. Não há predileção por gênero.
quise).
Apresentação e história natural. As manifestações clíni
Patologia cas mais comuns da esquizencefalia são epilepsia re-
À macroscopia. o cérebro exibe uma profunda fenda que fratária ao tratamento farmacológico, retardo no desen
se estende da superfície ao ventrículo. A fenda é circunda volvimento e déficits motores. A gravidade dos déficits
da e revestida por um córlex desorganizado e de aspecto motores e mentais se correlaciona com a extensão do
dismórfico (Fig. 37-44). Os "lábios" da fenda podem es defeito anatômico. Fendas de "lábio aberto" comumen-
tar fusionados ou Justapostos (esquizencefalia de "lábios le resultam nos comprometimentos mais significativos.
fechados") ou encontrar-se amplamente separados (esqui Uma fenda unilateral de "lábio fechado" pode causar
zencefalia de "lábio aberto"). As fendas podem estar as apenas crises convulsivas. Alguns casos são descobertos
sociadas a uma série de outras anormalidades macroscó de forma acidental.

37-47A Imagem axial ponde


rada em TI mostrando grandes
fendas esquízenceíálicas de
"lábio aberto" BEl em ambos os
liemisférios.
37-47B A imagem ponderada
em T2 mostra os tálamos e
alguns remanescentes cerebrais
nos polos frontais e occi-
pitais.

37-47C Imagem em plano


mais superior mostrando a
presença de foice e fissura inter-
-hemisférica S], distinguindo
este caso extremo de esquizen
cefalia da holoprosencefalía. Os
remanescentes anterior e pos
terior do cérebro são diferentes
da pequena borda de cortex ao
redor dos ventrículos laterais
extremamente dilatados da hi-
drocefalia grave.
37-47D Imagem coronal
ponderada em T2 mostrando que
não há córlex externamente às
enormes lendas esquizenceláli-
cas "abertas".
Malformações do desenvolvimento comissural e cortical 1121

Imagem A ASD ou ATC/ARM podem demonstrar a oclusão


Os achados-chave de imagem na esquizencefaiia são: (1) ou ausência da artéria cerebral média em alguns casos.
um defeito preenchido por LCS que se estende da pare
de ventricular à superfície piai e (2) a substância cinzenta Diagnóstico diferencial
displásica revestindo a fenda. o diagnóstico diferencial dos defeitos cerebrais preenchi
Exames de TC sem contraste mostram uma evagina- dos por LCS inclui tanto lesões do desenvolvimento quan
ção ou "ondulação" focai de LCS em forma de V que se to lesões destrutivas. O principal diagnóstico diferencial
estende para fora a partir do ventrículo lateral. As fendas da esquizencefaiia é a porcncefalía. Na porencefalia. a
podem ser uni (60%) ou bilaterais (40%), proeminen fenda é revestida por substância branca gliótica, e não por
tes ("lábio aberto") ou pouco visíveis ("lábio fechado") substância cinzenta displásica.
(Fig. 37-45). O córtex que reveste as fendas é hiperdenso Um volumoso cisto aracnoide pode simular esqui
em relação à substância branca e interrompe a aparência zencefaiia de "lábio aberto". Um cisto aracnoide deslo
relativamente uniforme da coroa radiada. ca o córtex adjacente, que de outro modo possui aspecto
As anormalidades associadas comuns são septo pe- normal.
lúcido ausente (70% dos casos) e um corpo caloso focal- Heterotopia transmanto ou polimicrogiria com
mente afilado ou disgenético. dobramentos profundos podem ser difíceis de distinguir
A RM é mais sensível do que a TC, em especial para a da esquizencefaiia com "lábios" fechados e justapostos.
delimitação de anormalidades associadas, como displasia Aquisição em múltiplos planos com seqüências pondera
cortical (polimicrogiria. paquigiria) e substância cinzenta das cm T2 com alta resolução, cortes finos de ponderação
heterotópica. A fenda segue a intensidade de sinal do LCS T! com reformatação 3D e exibição de superficie som-
em todas as seqüências (Figs. 37-46,37-47,37-48). breada são úteis na diferenciação dessas entidades.

37-48A Esquizencefaiia
unilateral de "lábio fechado" é
ilustrada neste caso. Observe a
substância cinzenta se estenden
do do ventrículo B à superfície
piai do cérebro B
37-488 Imagem sagita! em
T2 mostrando que o revesti
mento de SC da fenda possui a
mesma intensidade de sinal do
córtex.

37-48C Imagem sagitai pon


derada em T2 mostrando que
a SC heterotópica ao redor da
fenda protrui para o interior do
corpo do ventrículo lateral B.
37-480 Imagem axial em T2
mostrando a SC heterotópica BI
circundando a fenda E3, a qual
é difícil de discernir devido à sua
pequena largura.
1122 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

Visõo geral das malformações do


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38
Holoprosencefalia, doenças f ^

relacionadas e semelhantes
ausência do prosencéfalo, da calota craniana e do couro
Anencefalia 11 2 5
cabeludo. O encéfalo remanescente - geralmente apenas
Holoprosencefalia 11 2 5 o tronco encefálico - não é coberto por osso ou pele. A
Holoprosencefalia alobar 11 2 7
maioria dos fetos anencefálicos é abortado ou morre logo
Holoprosencefalia semilobar 11 2 8
Holoprosencefalia lobar 11 2 9 após o nascimento (Fig. 38-1).
Duas malformações raras letais - aproscncefalía
Va r i a n t e s d a h o l o p r o s e n c e f a l i a 11 3 1
Sintelencefalia 11 3 1 (AP) e atelenccfalia (AT) - são intermediárias em um
H o l o p r o s e n c e f a l i a s e p t o p r e ó p t i c a 11 3 3 contínuo entre a anencefalia e a holoprosencefalia. AP/AT
agora é considerada o extremo mais grave do espectro
Doenças da linha média relacionadas 1134
da holoprosencefalia. Essas três malformações extremas
Displastas septo-óplicas 11 3 4
Arrinencefalia 11 3 6 são geralmente diagnosticadas com ressonância mag
S e m e l h a n t e s d a h o l o p r o s e n c e f a l i a 11 3 6 nética (RM) fetal, ultrassonografia ou exame pós-morte
Hidranencefalia 11 3 6 (Flg.38-2).

Neste capitulo, discutiremos as holoprosencefalias e as


doenças relacionadas. As holoprosencefalias e variantes, Holoprosencefalia
como a sintelencefalia, são classificadas como anomalias do
A holoprosencefalia abrange um contínuo da forma alobar
desenvolvimento ventral do prosencéfalo. Outras anomalias
até a forma lobar. Enquanto cada uma é delineada sepa
do prosencéfalo ventral incluem a displasia septo-óptica
radamente, lembre-se que as holoprosencefalias são, na
(com ou sem anonnalidades do eixo hipotalàmico e hipo-
verdade, um espectrum sem um limite claro que distingue
flsário) e a arrinencefalia, ambas discutidas neste capitulo.
um tipo de outro.
Ta m b é m c o n s i d e r a r e m o s d u a s a n o m a l i a s f a c i a i s d a
linha média, a síndrome do inciso central maxilar media
no solitário e o espectro da estenose/atresia da abertura pi- Terminologia
riforme e coanal congênita, que costumam estar presentes Na holoprosencefalia (HPE), o prosencéfalo fetal falha
na holoprosencefalia e na arrinencefalia. em dividir em dois hemisférios. "Holoprosencefalia"
Concluiremos o capitulo com uma breve discussão da literalmente significa ventriculo único ("holo") envol
vendo o prosencéfalo ("pros") embriônico do cérebro
hidranencefalia, uma destruição intraútero adquirida dos
hemisférios cerebrais que pode algumas vezes ser confun ("encefalia").
dida com holoprosencefalia alobar ou uma grave esqui- A holoprosencefalia é um continuo que varia da for
zencefalia "de lábio aberto".
ma mais grave (HPE alobar) para as formas lobares le
ves. Um tipo intermediário, HPE semilobar, é menos
grave que a HPE alobar, mas não tão diferenciada quanto
a variedade lobar. A distinção entre essas três formas é
Anencefalia baseada na ausência ou na presença da fissura na linha
média separando os hemisférios.
Anencefalia ("sem cérebro") ocorre quando a extremida
de cefálica do tubo neural falha em fechar, resultando na
1126 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

Etiologia
Embriologia. No desenvolvimento embriológico normal, o
prosencéfalo fetal começa como um saco frontal incolor,
preenchido por líquido; evolui através de uma série de
dobraduras, flexuras e divertículos; e torna-se os ventrí-
culos e hemisférios cerebrais definitivos. No estágio mais
inicial, divertículos bilaterais do tubo neural formam uma
cavidade central única preenchida por líquido ("mono-
ventrículo") que eventualmente irão se desenvolver nos
ventrículos laterais e no terceiro ventrículo (ver Capítulo
34). A separação em dois hemisférios é completada pela
quinta semana de gestação.
As holoprosencefalias são caracterizadas pela falha
da indução normal do dorso ventral e pela falta da sepa
ração rostral do prosencéfalo. Nas formas mais graves, as
38-1 Espécime de necropsia mostra uma falha total estruturas derivadas do diencéfalo, como os núcleos da
do fechamento do tubo neural com dlsraflsmo espinal base, também permanecem fusionados na linha média.
completo E3, anencefalia (Cortesia de R. Hew Como a indução ventral é muito relacionada ao desenvol
lett, MD.)
vimento facial, a HPE também é associada com inúmeras
anomalias faciais características.

Conceitos gerais. Entre um quarto e metade dos pacientes


com HPE têm uma síndrome conhecida (p. ex., Pallister-
-Hall) ou um defeito genético único. HPE não sindrômica
é muitas vezes associada a inúmeros teratogênios ambien
tais (p. ex., ácido retinoico e álcool) e fatores maternos,
como a diabetes pré-gravidez, tabagismo e abuso de subs
tâncias. Entretanto, estudos recentes questionam essas
asserções.
Genética. Pelo menos 12 regiões em 11 cromossomos se
parados têm sido identificadas como tendo um papel na
HPE familiar. As mutações em quatro genes principais da
HPE (SHH, ZIC2, SIX3, TGIF) são identificadas em 25%
dos casos. A forma mais grave da HPE está associada a
38-2A Sagital T2 de um feto com aprosencefalla mutações dos genes SIX3 e ZIC2.
mostra ausência do encéfalo supratentorlal G3, ausên
cia de nariz [S, pequeno remanescente do cerebelo Aspectos clínicos
BS.
Epidemiologia e oemografia. a holoprosencefalia é a malfor
mação do prosencéfalo humano mais comum. A incidên
cia da HPE varia de 1:250 dos fetos abortados a 1:10.000-
20.000 nascidos vivos.

Apresentação. A apresentação e o prognóstico da HPE va


riam muito. Existe uma grande variação das anomalias
cerebrais e da face. As malformações craniofaciais, como
ciclopia ou probóscide única, hipotelorismo, anonnali-
dades nasais e fendas faciais ocorrem em aproximada
mente 75 a 85% dos casos. A afirmação "a face prediz
o cérebro" significa que a maioria dos defeitos faciais
graves geralmente (embora não sempre) são encontrados
na maior parte das anormalidades intracranianas graves
(Fig. 38-3A).
Entretanto, as anormalidades funcionais variam mui
to. Aproximadamente três quartos dos pacientes com HPE
38- 2B Necropsia do mesmo caso, vista de cima, tem endocrinopatias; em geral a gravidade correlaciona
não mostra tecido supratentorlal SB. Apenas o cerebe
lo está presente
com o grau de não separação liipotalâmica.
Holoprosencefalia, doenças relacionadas e semelhantes 1127

História natural. Os fetos com HPE alobar grave costu lobo identificável é visto (FIg. 38-3B). Os núcleos da base
mam ser abortados de forma espontânea, e crianças muito são em geral presentes, mas fusionados. A foice e o seio
afetadas com freqüência morrem quando neonates. Indi sagital são ausentes, assim como os bulbos e tratos olfa-
víduos que sobrevivem geralmente exibem um retardo tórios. Os nervos ópticos podem ser normais, fusionados
mental variável e crises convulsivas. A insuUciência hipo- ou ausentes.

fisária e a anosmia congênita com ausência do I nervo cra O cérebro por si só é geralmente menor do que o nor
nial (1 NC) ("arrinencefalia") sâo outros achados clínicos mal. Sua configuração varia de achatado ("em panqueca")
comuns da HPE. a em forma de cálice ou bola. As fissuras silvianas não são
formadas, e a superfície cerebral também aparece com
Imagem pletamente agírica ou com mínimos sulcos rasos e giros
Os achados de imagem variam de um holoesféreo em lisos, desordenados.
formato de panqueca com monoventrículo central (HPE Cortes seccionais demonstram um monoventrícu
alobar) a hemisférios cerebrais quase completamente se lo em forma decrescente que abre dorsalmente para um
parados, bem diferenciados com mínimas anormalidades grande cisto dorsal preenchido de LCS (Fig. 38-4).
(HPE lobar).
Aspectos clínicos
A HPE alobar tem alta letalidade intrauterina e uma taxa
Holoprosencefalia alobar
de nascimento prematuro. Ela é encontrada em 1:250 das
Terminologia e patologia gestações abortadas e cerca de 1:15.000 dos nascidos vi
A holoprosencefalia alobar (HPEa) é a forma mais grave vos. A morte uterina e os partos prematuros são comuns.
da HPE. Nenhuma fissura na linha média divide o cére Com graves deformidades faciais como a ciclopia e a
bro em dois hemisférios cerebrais separados, e nenhum probóscide, a sobrevivência costuma ser de menos de uma

38-3A Fologídfia clínica de


um feto abortado com holo
prosencefalia alobar mostra
anormalidades faciais extremas
com probóscide central 31,
ciclopia cavidade oral com
fenda
38-3B Vista do cérebro au-
topsiado do mesmo caso mostra
cérebro completamente liso,
sem evidência de sulcaçâo,
gíração, ou estruturas da linha
média como a foice e a fissura
inler-hemisférica. (Cortesia de R.
Hewlett, MO.)

38-4A Necropsia de uma


holoprosencefalia alobar mostra
grande cisto dorsal 1^, tálamos
fusionados hemisférios
rudimentares EI com mínima
sulcaçâo, gíração.
38-4B Corte seccional coronal
do mesmo caso não demonstra
fissura na linha média com fusão
dos hemisférios rudimentares.
Um monoventrículo central 13
tem um aspecto "em ferradura".
(Cortesia dej. Townsend, MO.)
1128 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

38-5A TC sem contraste mostra holopfosenceíalia. Pequeno anel de 38-5B Imagem mais cefáiica do mesmo paciente mostra um grande
córtex ES ao redor do monoventriculo central em forma de "ferradura" cisto dorsal IS, monoventriculo com uma fina camada de cérebro ao
SI. Talamos fusionados E]. redor B. A foice e a fissura inter-tiemisférica não estão presentes.

semana. O prognóstico nos recém-nascidos sobreviven Diagnóstico diferencial


tes é ruim. Pelo menos metade de todos os pacientes com O maior diagnóstico diferencial da HPEa é a hidranen-
HPEa morrem em menos de cinco meses, e 80% morrem
cefalia. Na hidranencefalia. a face é normal. A foice está
antes de um ano.
presente, mas a maior parte do tecido cerebral foi destru
ída, em geral por um acidente vascular intrauterino ou in-
ifTiagem fecção.
Nenhum ventrículo normal pode ser identificado. Tomo-
gratla computadorizada (TC) sem contraste mostra uma Holoprosencefalia semilobar
cavidade em forma de ferradura preenchida por líquido
cerebrospinal (LCS) que é contínua posteriormente com Terminologia e patologia
um grande cisto dorsal (Fig. 38-5). A holoprosencefalia semilobar (HPEs) é um intermediá
TI sagital mostra um tecido fino anteroinferior em rio em gravidade entre HPE alobar e HPE lobar. Achados
forma de panqueca com giração pobre e nenhuma fissura graduais estão presentes. A HPEs mais grave mostra uma
na linha média perceptível. A maior parte da calota crania fissura inter-hemisférica rudimentar e uma foice incom
na aparece preenchida por LCS e quase sem característi pleta (Figs. 38-6 e 38-7). Os cornos temporais dos ven-
cas. Em contraste, o tronco encefálico e o cerebelo podem trículos laterais podem ser parcialmente formados, mas o
parecer relativamente normais. septo pelúcido está ausente. Um cisto dorsal pode estar
Imagens coronals demonstram melhor o monoven presente.
triculo central. O septo pelúcido e o terceiro ventrículo
estão ausentes, assim como a foice cerebral e a fissura Imagem
inter-hemisférica. O manto cerebral é fusionado através Com a HPEs progressivamente mais bem diferenciada,
da linha média anteriormente. O cérebro aparece f1no mais fissura inter-hemisférica aparece formada. Os nú
e quase agírico, embora pequenos sulcos rasos possam cleos profundos exibem graus variados de separação. Se
estar presentes. Os núcleos da base são pequenos e fu o terceiro ventrículo rudimentar está presente, os tálamos
sionados na linha média. Não existem comissuras per podem estar parcialmente separados. Os núcleos da base e
ceptíveis. os hipotálamos ainda estão muito fusionados. As cabeças
Imagens axiais mostram que o cérebro é completa dos núcleos caudados são contínuas através da linha mé
mente fusionado através da linha média sem evidência da dia (Fig. 38-8).
f i s s u r a i n t e r - h e m i s f é r i c a a n t e r i o r. O m o n o v e n t r i c u l o a b r e O esplênio do corpo caloso está presente, mas o corpo
dorsalmente em um grande cisto preenchido por LCS. e o joelho estão ausentes. Barkovich apontou que (1) a
Holoprosencefalia, doenças relacionadas e semelhantes 1129

38-6 Caso de necropsia coronal de uma HPE semilobar grave mostra 38-7 Axial T2 mostra HPEs grave com fissura inter-fiemisférica rudi
um ventrículo central em forma de H com cornos temporais primitivos mentar posterior EB, cornos ventriculares primitivos EI, fusão da linha
núcleos da base lusionados EI, fissura inter-liemisférica rudimen média anterior.
tar SI. (Cortesia de R. Hewlett, MO.)

holoprosencefalia é a única malformação na qual o cor Imagem


po caloso posterior forma enquanto os aspectos anteriores Na HPE lobar, os hemisférios cerebrais - incluindo os
estão ausentes, e (2) quanto mais anteriormente o corpo
tálamos e a maioria dos núcleos da base - são em sua
caloso forma, melhor o cérebro é desenvolvido.
maior parte separados. Pelo menos algumas porções mais
rostrais e ventrais dos lobos frontais são contínuas na li
Diagnóstico diferencial nha média (Fig. 38-9). Os tálamos e os núcleos da base
Os maiores diagnósticos diferenciais da HPE semilobar são separados, embora a cabeça dos núcleos da base pos
são HPE alobar e HPE lobar, dependendo da gravidade sam parecer fusionados.
da HPEs. Os cornos frontais e os ventriculos laterais estão pre
sentes, mas com aspecto displásico. Os cornos temporal e
Holoprosencefalia lobar occipital são mais bem definidos, e o terceiro ventrículo
Terminologia e patologia geralmente aparece normal. Não existe septo pelúcido.
O corpo caloso é presente e pode estar normal, in
A HPE lobar é a holoprosencefalia mais bem diferencia
da. A fissura inler-hemisférica e a foice são claramente de
completo ou hipoplásico. O esplênio e a maior parte do
corpo pode ser identificado, embora o joelho e o rostro
senvolvidas, embora seu aspecto mais anterior são rasos e
com aspecto displásico.
geralmente sejam ausentes. Em contraste com a disgene-
sia isolada ou sindrômica do corpo caloso, não existem
O terceiro ventrículo e os cornos dos ventriculos la
bandas de Probst em qualquer uma das HPEs.
terais são bem formados, embora o septo pelúcido esteja A parede dos hipotálamos permanece unida e o quias-
ausente e os cornos frontais quase sempre apareçam dis- ma óptico é menor do que o normal. Os bulbos olfatórios
mórficos. Os hipocampos estão presentes, mas orientados estão presentes na HPE lobar bem diferenciada. A glân
mais verticalmente que o normal. dula hipofisária pode estar achatada, hipoplásica ou ectó-
pica.
Aspectos clínicos
Os pacientes com holoprosencefalia lobar são menos Diagnóstico diferencial
afetados se comparados com indivíduos com HPEs. o maior diagnóstico diferencial da HPE lobar é a displa-
Atraso discreto do desenvolvimento, disfunção hipotalâ- sia septo-óptíca (DSC). Alguns autores consideram DSC
mica e hipofisária e distúrbios visuais são sintomas mais uma forma bem diferenciada do espectrum da HPE. Em
c o m u n s . contraste a HPE lobar, os cornos frontais são bem fonna-
1130 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

38-8A TI sagilai mostra HPE


semilobar com diferenciação
parcial do terceiro venlrícuio
F?l, cornos occipitais ÍS. 0 me-
sencéfaio, ponte e cerebelo são
comparativamente normais.
38-8B 12 axial do mesmo
paciente mostra tiipotelorismo
discreto sem nenhuma anomalia
da face. Cornos temporais B
e occipitais B9 rudimentares
estão presentes. O terceiro
ventrículo S é parcialmente
formado. Os talamos S) são se
parados, mas o hipotélamo
permanece fusionado.

38-8C 12 mais cefálico do


mesmo paciente mostra núcleos
da base fusionados B. fissura
inter-hemisférica rudimentar
posterior B, ausência da fis
sura inter-hemisférica anterior
com o cérebro fusionado na linha
média [^.
38-8D Imagem mais cefálica
mostra o aspecto superior do
monoventrículo central pouco
diferenciado. O corpo caloso e
todas as estruturas normais da
linha média estão ausentes.

38-8E T2 coronal mostra o


monoventrículo com cornos
temporais rudimentares B. Um
terceiro ventrículo parcialmente
formado B separa os talamos
31. A fissura inter-hemisférica
está ausente.
38-8F DTI colorido mostra o
monoventrículo central circunda
do por tratos de substância bran
ca desorganizados e caóticos.
Holoprosencefalia, doenças relacionadas e semelhantes 1131

dos na DSO. A arrinencefalia pode se assemelhar à HPE


lobar, mas os bulbos olfatórios costumam estar presentes
n a H P E l o b a r.
Na sintelcncefalia (variante inter-hemisférica media
na da HPE), o joelho e o espiênio do corpo caloso sâo
formados, mas o corpo está ausente e os lobos frontais
posteriores sâo contínuos na linha média.

HOLOPROSENCEFALIA

Holoprosencefalia alobar
• Mais grave; alta letalidade intrauterina
• Cérebro "em panqueca" com monoventrículo
central
• NB fusionados; sem foice, sem fissura inter-
-hemisférica (FÍH)
38-9A T2 sagital na HPE lobar mostra um cérebro
Holoprosencefalia semilobar bem diferenciado, um terceiro ventrículo de aparência
• Foice rudimentar, IFH posterior
quase normal a CA ázigos B.
• Cornos ventriculares, terceiro ventrículo primitivos
• Tálamos geralmente separados, mas NB fusionado

Holoprosencefalia lobar
• Forma mais bem diferenciada de HPE
• NB separados, foice/FIH presentes exceto
anteroinferiormente
• Lobos frontais ventrais permanecem fusionados na
linha média

Variantes da holoprosencefalia
Muitas variantes da HPE já foram identificadas, incluin
do a sintelencefalia e holoprosencefalias septo preópticas.
A arrinencefalia, a qual alguns autores consideram uma
variante da HPE, será considerada, neste capítulo, junta
38-9B T2 axial mostra cornos occipitais bem desen
mente com a displasia septo-óptica.
volvidos E3, terceiro ventrículo cornos frontais
pouco identificados com mínima fusão da linha média
Sintelencefalia anterior

A sintelencefalia é também chamada de variante inter-


-hemisférica mediana da HPE (HPEvim). Aqui os he
misférios anterior e posterior são separados pela foice e
fissura inter-hemisférica, mas suas seções medianas são
fusionadas na linha média (Fig. 38-10). Em contraste com
a HPE clássica, os aspectos ventrais do prosencéfalo basal
são poupados, então os núcleos da base e os bulbos olfató
rios aparecem normais.
Os achados de imagem na HPEvim sâo diagnósticos.
TI e T2 sagitais mostram que o espiênio e o joelho do
corpo caloso estão presentes, mas o corpo está ausente.
Os lobos frontais posteriores são contínuos através da li
nha média nas imagens coronais. Os corpos dos ventrícu-
los laterais aparecem estreitos e fusionados. Um nódulo
característico de substância cinzenta é visto ao longo do
aspecto dorsal dos ventriculos laterais fusionados. O ter
ceiro ventrículo é bem formado, mas o septo pelúcido está 38-9C T2 coronal mostra que o córtex frontal ante
ausente. roinferior é fusionado através da linha média B.
1132 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

38-10 Gráfico axial demonstra


sinteienceíalia com ausência da
fissura inter-hemisférica na por
ção mediana, extensão superior
de uma fissura silviana anômala
através da linha média SI. E
focos de substância branca e
cinzenta que cruzam os he
misférios,
38-11A TC axial em um pa
ciente com sinlelencefalia mos
tra que as porções medianas dos
hemisférios aparecem fusionadas
na linha média com pontes de
substância branca B e cinzenta

38-1 IB TI sagitai do mesmo


paciente mostra os achados clás
sicos de sinlelencefalia. 0 joelho
E3 e o esplênío B do corpo
caloso estão presentes sem um
corpo interposto. Observe a subs
tância cinzenta anormal B3 que
deforma o ventrículo lateral.
3 8 - 11 C T 2 c o r o n a l m o s t r a
ventrículos laterais estreitos e
não separados E3 com um nó-
duio de substância cinzenta B
acima dos ventrículos laterais
fusionados. Os lobos frontais pos
teriores são contínuos através da
linha média B sem uma fissura
inter-hemisférica.

38-1 ID T2 axial mostra que


as fissuras silvianas anormais
continuam superiormente,
encontrando-se na convexidade
cerebral superior e cruzando a
linha média B.
38-11E OTI axial do mesmo
paciente mostra tratos de SB nos
lobos frontais posterossuperior
encontrando e cruzando a linha
média E3.
Holoprosencefalia, doenças relacionadas e semelhantes 1133

Imagens axiais mostram partes anterior e posterior ra piriforme nasal (ECAPN). Ambas serão rapidamente
da fissura inter-hemisférica e a ausência da sua seção me discutidas aqui.
diana. A foice também estreita e desaparece em ambas as
regiões frontal posterior e parietal anterior. Em 85% dos Síndrome do incisivo central maxilar
casos, as fissuras silvianas cursam superiormente e encon mediano solitário
tram nos cortes coronais uma fissura delineada por córtex A sín d ro m e d o i n ci si vo ce n tra l ma x i l a r me d i a n o so l i tá ri o
que é contínua através da linha média (Fig. 38-llA, 38- é uma malformação rara que consiste em múltiplos defei
IIB, 38-nCe38-nD). tos (principalmente da linha média). A maioria dos autores
O D Ti d e m o n s t r a t r a t o s d a s u b s t â n c i a b r a n c a h o r i
sugere que SSICMMS é uma variante da holoprosencefa
zontais que cruzam a linha média logo abaixo do córtex lia, embora outros considerem-na uma entidade distinta.
fusionado (Fig. 38-11E). Recém-nascidos com SICMMS geralmente se apre
sentam com dificuldades de respiração secundária à
Holoprosencefalia septo preóptica obstrução nasal, O atraso do neurodesenvolvimento e
Recentemente, muitas fonnas da HPE têm sido descritas, anormalidades endócrinas, como a baixa estatura e a pu-
nas quais a falha de separação hemisférica é restrita às berdade precoce, são achados associados comuns.
porções septais (subcalosal) e/ou regiões preópticas. Pa Achados de imagem na SICMMS variam de anorma
cientes com esses tipos de HPE - denominada holopro lidades dentárias isoladas com um incisivo maxilar único
sencefalia septo preóptica - em geral apresentam-se com e um palato em formato de V a anormalidades mais com
malformações crânio-faciais da linha média discretas. Es plexas que envolvem o cérebro (Fig. 38-12). Anomalias
sas variantes incluem o incisivo central maxilar media do fórnice, septo pelúcido e corpo caloso anterior estão
no solitário (SICMMS) e estenose congênita da abertu geralmente presentes. Uma artéria cerebral ázigos ante-

38-12A TC axial em um

/ f/i<A ~'-
recém-nascido de 3 dias com
dificuldades de respiração mostra
um incisivo maxilar único na
linha média ES.
38-12B TC coronal óssea do
mesmo paciente mostra o inci
sivo central ES e a estenose da
abertura piriforme

38-12C T2 axial do mesmo


paciente com 7 meses mostra
HPE lobar com discreto hipote-
lorismo, lobos frontais ventrals
fusionados ES
38-12D Imagens mais cefáli-
cas mostram ausência do septo
pelúcido, espessamento dos
fórnices com aspecto displáslco

$ »
1134 Malformações congênitas do crânio e do encéfaio

rior é comum. A hipoplasia da haste hipofisária ocoire em


alguns casos.

Estenose congênita da abertura


piriforme nasal
Estenose congênita da abertura piriforme nasal (ECAPN)
pode existir como uma anormalidade isolada com atresia
coanal, estenose nasal média ou estenose da abertura pi
riforme. ECAPN pode coexistir com SICMMS. ECAPN
está associada com uma alta incidência de disfunção do
eixo hipotalámico suprarrenal.

VARIANTES OA HOLOPROSENCEFALIA

Síntelencefalía
• Também conhecida como a variante inter-hemisférica
38-13 Gráfico coronal mostra DSO com ausência do
cavum do seplo pelúcido e com cornos anteriores com mediana da HPE
teto achatado e quiasma óptico pequeno B. • Presença do joelho, esplènio do CC; ausência mediana
o Apenas malformações cerebrais com esta
morfologia
• Foice mediana, fissura inter-hemisférica ausentes
• Substância cinzenta e branca frontais posteriores
fusíonadas na linha média

Síndrome do incisivo central maxilar mediano


solitário
• Incisivo mediano único
• Geralmente coexiste com anormalidades nasais
• Anormalidades cerebrais do fórnix, septo pelúcido, CC
Estenose congênita da abertura piriforme nasal
• Atresia de coana
• Estenose nasal mediana, estenose da abertura
piriforme
• Geralmente coexiste com SICMMS
• Disfunção do eixo hipotaiâmico-hipofisário-adrenal
c o m u m

38-14 Ausência do septo pelúcido ÍS, ventrícuios


laterais quadrados com cornos frontais apontados infe
riormente O. (Cortesia de J. Townsend, MD.)

Doenças cia linha média relacionadas


Displasios septo-ópticas
Alguns autores consideram a dispiasia septo-óptica como
simplesmente uma forma bem diferenciada da holopro-
sencefalia lobar. Entretanto, a falta de fusào da linha mé
dia ventral e a natureza heterogênea da doença são mais
compatíveis com uma malformação da linha média sepa
rada, porém relacionada.

Terminologia e patologia
A dispiasia septo-óptica (DSO) é também conhecida como
síndrome de Morsier. Dois achados patológicos principais
definem DSO: (i) ausência do septo pelúcido; e (2) hipo
plasia do nervo óptico (Figs. 38-13 e 38-14).
38-15 T2 coronal em um recém-nascido mostra a Quando a DSO ocorre com outras anormalidades,
ausência do cavum do septo pelúcido esquizence- como a esquizencefalia e a disgenesia calosal, a síndrome
falia El e polimicrogiria extensa [S. é chamada de DSO plus (Fig. 38-15).
Holoprosencefalia, doenças relacionadas e semelhantes 1135

Etiologia ou em forma de caixa apontando inferiormente. O quias-


A maioria dos casos de DSO é esporádico. A mutação do ma óptico e um ou ambos os nervos ópticos aparecem pe
quenos em cerca de metade de todos os casos.
gene homeobox HESXl já foi identificada em alguns ca
sos. Anormalidades dos genes SOX - fatores de transcri Imagens sagitais mostram que o septo pelúcido está
ausente e os fómices estão localizados inferiormente, dan
ção envolvidos no desenvolvimento da hipófise - já foram
do ao ventrículo lateral uma aparência "vazia" (Fig. 38-16).
vistos em outros.
Ausência isolada do septo pelúcido é rara, portanto,
procure cuidadosamente por outras anormalidades. Um
Aspectos clínicos
grupo de pacientes com DSO tem malformações do de
o aspecto clínico mais comum da DSO é o comprometi
senvolvimento cortical (p. ex., heterotopias, esquizence-
mento visual. Aproximadamente dois terços dos pacientes falia e polimicrogiria) somados com a hipoplasia do nervo
com DSO também desenvolvem anormalidades endócri-
óptico. Outro subgrupo demonstra uma glândula hipo-
nas devido à insuficiência hipotalámica-hipofisária. Hipo-
fisária pequena com haste Fina ou ausente e uma neuro-
glicemia sintomática e diabetes insípido são comuns em -hipófise ectópica, tipicamente vista como um "ponto" de
recém-nascidos; retardo do crescimento pode tornar-se
hiperintensidade em TI ao longo da iminência mediana
aparente mais tarde. do hipotálamo (ver Capítulo 25).

Imagem Diagnóstico diferencial


Os achados de imagem da DSO são diagnósticos. Imagens o maior diagnóstico diferencial da DSO é a HPE lobar
finas coronais TI e T2 mostram ausência ou hipoplasia do bem diferenciada. Os bulbos olfatórios estão presentes
seplo pelúcido. Os cornos frontais aparecem "quadrados" na HPE lobar, mas costumam estar ausentes na DSO. Os

38-16A T2 sagiial em um me
nino de 13 meses com dispiasia
septo-óptica mostra um ventrícu
lo lateral com aparência vazia e
fórnice de baixa localização SI.
O quiasma óptico ÍS aparece
pequeno.
38-16B T2 axial do mesmo

paciente mostra que o quiasma


óptico [S aparece pequeno.

38-16C T2 coronal mostra o


quiasma óptico hipopíásico
ausência do septo pelúcido ^3 e
a aparência peculiar "quadrada"
dos cornos frontais. Os cornos
frontais apontando inferiormente
Be9 também são achados carac
terísticos da DSO.
38-16D Ambos os nervos
ópticos ES são muito pequenos.
Os bulbos olfatórios devem ser
facilmente Identificados nas
Imagens T2 coronals através dos
recessos olfatórios, mas eles es
tão ausentes BI.
1136 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

hemisférios cerebrais e os núcleos da base são completa


mente separados na DSO. Semelhantes da holoprosencefaiia
Hidranencefalia
Arrínencefalia
A arrínencefalia (ARR) é uma malformação congêni Embora alguns autores considerem a hidranencefalia uma
ta na qual os bulbos e tratos olfatórios estão ausentes malformação congênita, ela é na verdade a conseqüência
de uma destruição grave cerebral intra-útero. Ela será dis
(Figs. 38-17, 38-18, 38-19 e 38-20). Enquanto a ARR
cutida devido à sua importância em reconhecer e diferen
pode existir isoladamente, a maioria dos casos ocorre
ciar a hidranencefalia dc outras doenças, como a holopro
com múltiplas outras anormalidades faciais medianas
sencefaiia alobar e a hidrocefalia máxima.
como a fenda palatina, fenda labial, malformações nasais
e/ou oculares.
Anormalidades intracranianas associadas comuns in Terminologia
cluem anormalidades do eixo hipotalâmico-hipofisário. o termo hidranencefalia é uma contração de "hidroanen-
disgenesia calosal, HPE alobar e semilobar. cefalia", que significa "água sem cérebro".
Quando hipoplasia/aplasia olfatória ocorre com Em casos raros, apenas um hemisfério é destruído.
hipogonadismo hipogonadotrófico, cia é denominada Esta condição é denominada hemi-hidrancnccfalia.
sindrome de Kallmann. A agenesia olfatória ocorre em
cerca de 25% dos pacientes com sindrome CHARGE Etiologia e patologia
(coloboma, malformações cardíacas, atresia de coana. A etiologia precisa da hidranencefalia é desconhecida,
retardo de desenvolvimento, anomalias genitais e ano mas a maioria dos investigadores acredita que o compro
malias da orelha). metimento da circulação da artéria carótida interna antes

38-17 Gráfico submenlo


vértice demonstra os bulbos olfa
tórios normais trigone ÍS
e estrias olfatórias laterais S
passando pelos lobos temporais.
38-18 T2 coronal em recém-
-nascido mostra bulbos olfatórios
ES e sulcos olfatórios B
normais.

38-19 Caso de necropsia de


arrínencefalia mostra ausência
dos bulbos olfatórios e sulcos ol
fatórios rasos, deformados SI.
(Cortesia de R. Hewlett, MD.)
38-20 T2 coronal de um re
cém-nascido com múltiplas anor
malidades congênitas demonstra
arrínencefalia com ausência dos
bulbos olfatórios B3 e ausência
dos sulcos olfatórios B. (Corte
sia de S. Blaser, MO.)
Holoprosencefalia, doenças relacionadas e semelhantes 1137

38-21A Caso de necropsia de hidranencefaiia demonstra macroceflia 38-21B A calota craniana preenchida por água é alargada e os he-
com transiluminação intensa indicando que a maior parte do crânio é mistérios cerebrais estão ausentes. A foice cerebral 3Í e o tentório
preenchida por água. estão presentes, assim como os núcleos da base S! que aparecem
normalmente separados.

de 16 semanas de gestação seguida por uma necrose lique- O prognóstico é ruim. Metade dos recém-nascidos vi
fativa difusa do manto cerebral é o responsável. Trauma vos com hidranencefaiia morre no primeiro mês, e 85%
materno, toxinas, síndrome da transfusão gemelar, hemor morrem no final do primeiro ano. Ocasionais sobreviven
ragia maciça e infecção já foram descritas como possíveis tes Já foram relatados. O maior problema no manejo desses
fatores contribuintes. casos é controlar a macrocefalia que geralmente acompa
Na hidranencefaiia a maior parte dos hemisférios nha a hidranencefaiia. Pacientes com hemi-hidranencefalia
cerebrais foram destruídos e estão total ou parcialmente têm melhor prognóstico e podem ter maior sobrevida.
substituídos por sacos transluscentes de paredes finas com
LCS que preenchem a maior parte do espaço supratento- Imagem
rial (Fig. 38-21). A camada externa consiste em leptome- Aspectos gerais. Uma cabeça normal ou grande com uma
ninge, e a camada interna é tecido glial sem elementos calota craniana preenchida por líquido (cérebro "em saco
ependimários demonstráveis. de água") e pequenos nichos de cérebro remanescente
A foice está intacta. Os lobos temporais mediais, o com uma foice cerebral e foice cerebral normais são acha
tronco encefálico, cerebelo e parte dos tálamos - todos dos típicos (Flg. 38-22).
supridos pela circulação posterior - são relativamente
Achados na TC. TC sem contraste mostra que o LCS preen
preservados. Assim como parte dos plexos coroides é su
che quase todo o espaço supralentorial. A foice cerebral
primido pela circulação posterior, o LCS continua a ser
é geralmente intacta e parece "flutuar" na calota crania
produzido, mas normalmente não é reabsorvido. Isso dis-
tende o saco preenchido por liquido, que é o achado pa na preenchida por água (Flg. 38-23). Os núcleos da base
estão presentes e separados, mas podem aparecer mode
tológico dominante da hidranencefaiia. A hidranencefaiia
ocorre esporadicamente sem outras malformações asso radamente atrofiados. Pequenos remanescentes de lobos
ciadas. A síndrome de Fowler é uma doença autossômica frontais mediai e parieto-occipitais podem estar presentes.
recessiva rara na qual a hidranencefaiia é acompanhada de Achados na RM. A RM demonstra uma grande ausência do
vaseulopatia glomeruloide dos vasos do sistema nervoso manto cerebral. A foice é facilmente identificada. Os espa
central (SNC) e atrofia muscular neurogênica. ços preenchidos por liquido seguem o sinal do LCS em to
das as seqüências, embora alguma heterogeneidade de sinal
Aspectos clínicos esteja presente secundário à pulsação do LCS (Fig. 38-24).
A hidranencefaiia ocorre em 1 a 2 por 10.000 nascidos Na hemi-hidranencefalia, um hemisfério parece estar
vivos e representa 0,6% das malformações do SNS nas ausente e o espaço cheio de LCS costuma deslocar a foice
séries de necropsia perinatal/natal. ao longo da linha média (Flg. 38-25).
1138 Malformações congênitas do crânio e do encéfalo

Na holoprosencefalia alobar a foice e a fissura inter-


Diagnóstico diferencial
-hemisférica estão ausentes. Os núcleos da base estão fu-
o diagnóstico diferencial mais importante da hidranen-
sionados. Uma grave esquizencefalia bilateral "de lábio
cefalia é a hldrocefalia obstrutiva (HO) grave. Na HO
aberto" tem uma grande fenda transmântica de LCS que
grave (p. ex., secundária à estenose do aqueduto), um fino são delineados por um córtex displásico. Encefalomalá-
córtex pode ser visto comprimido contra a dura e a tábua
cea cística grave mostra ventrículos grandes com múlti
interna da calota craniana.
plas cavidades parenquimatosas preenchidas por LCS.

38-22 o gráfico demonstra


hidranencefalia. A cabeça é gran
de, os talamos são separados
na lintia média ES, a foice B
está presente. Os compartimen-
tos supratentoriais são quase
completamente preencfiidos por
LCS. Não existe cérebro ao redor
das cavidades preenchidas por
LCS; apenas dura-aracnoide B
está presente.
38-23 TC sem contraste mos
tra hidranencefalia. Ambos os
hemisférios são substituídos por
LCS. Os núcleos da base/tálamo
estão separados a foice está
presente E2. Não existe cérebro
visivel fora das cavidades preen
chidas por LCS B.

38-24A TI sagital mostra hi


dranencefalia com macrocefalia;
LCS preenche quase todos os es
paços supratentoriais. Tronco en-
ceíállco e cerebeio são normais.
38-24B TI coronal do mesmo
caso mostra calota craniana
expandida, preenchida por LCS,
pequeno remanescente cerebral
A foice está presente
(Cortesia de A. lllner, MD.)
Hoioprosencefalia, doenças relacionadas e semelhantes 1139

38-25A T2 axial mostra qu

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