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ministério da saúde secretaria de vigilância em saúde e ambiente

Boletim
Epidemiológico Volume
Volume 54
54 || 27
32
10 Fev.
Jan. 2023
2023

Análise da situação
epidemiológica
das anomalias congênitas
no Brasil, 2010 a 2021
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), quase 300 mil
Sumário crianças morrem, no mundo todo, dentro das primeiras quatro semanas
de vida em decorrência da presença de anomalias congênitas. No Brasil,
essas condições estão entre as principais causas de mortalidade infantil.1,2,3
1 Análise da situação
epidemiológica
As anomalias congênitas consistem em alterações na estrutura ou
das anomalias congênitas
no Brasil, 2010 a 2021 na função de órgãos ou partes do corpo, as quais ocorrem durante o
desenvolvimento, ainda na vida intrauterina. Elas podem ser causadas
14 Projeção de nascidos vivos por uma ampla variedade de fatores etiológicos, dentre os quais estão
e óbitos no Brasil: revisão fatores genéticos, ambientais (teratógenos) ou ainda a combinação entre
do método de cálculo dos esses (etiologia multifatorial). Seu diagnóstico pode se dar antes, durante
indicadores 1 e 2 do PQA-VS
ou depois do nascimento. Apesar de muitas anomalias serem passíveis de
prevenção e intervenção em diferentes níveis, elas representam importante
causa de mortalidade infantil e morbidade dos indivíduos afetados. Além
dos desfechos citados, elas ainda trazem um grande impacto social e
financeiro para as famílias e os sistemas de saúde.1

Estima-se que, globalmente, pelo menos 3% dos nascidos vivos são diag-
nosticados com algum tipo de anomalia congênita.2 No Brasil, menos de
1% dos nascidos vivos (cerca de 24 mil) são registrados a cada ano com
algum tipo de anomalia congênita no Sistema de Informações sobre Nas-
cidos Vivos (Sinasc).4 Destaca-se que, conforme estabelecido pela Lei n.º
13.685, de 25 de junho de 2018, todas as anomalias congênitas detecta-
Ministério da Saúde das no recém-nascido possuem caráter de notificação compulsória, sendo
Secretaria de Vigilância em Saúde a Declaração de Nascido Vivo (DNV) o documento que permite o regis-
e Ambiente tro desses casos.5 Todavia, mesmo com a obrigatoriedade da notificação,
SRTVN Quadra 701, Via W5 – Lote D,
Edifício PO700, 7º andar
nota-se uma importante subnotificação dos casos quando comparado
CEP: 70.719-040 – Brasília/DF com estimativas globais.1
E-mail: svs@saude.gov.br
Site: www.saude.gov.br/svs
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente | Ministério da Saúde Volume 54 | N.º 3 | 27 Fev. 2023

A versão atual da DNV conta com duas variáveis que oficiais disponíveis para tabulação por meio do endereço
coletam dados sobre as anomalias congênitas: o eletrônico: http://plataforma.saude.gov.br/natalidade/
campo 6 do Bloco I, no qual o profissional registra se anomalias-congenitas/. Destaca-se que a base de
foi detectada alguma anomalia congênita no momento dados do Sinasc referente ao ano de 2021 é considerada
do nascimento (sim/não); e o campo 41 do Bloco VI, no preliminar, tendo sido atualizada, pela última vez, em 29
qual são descritas todas as anomalias identificadas no de agosto de 2022.
momento do nascimento ou ainda no pré-natal.6
As análises apresentadas incluem todos os casos que,
Este Boletim Epidemiológico, em alusão ao Dia Mundial ao nascimento, apresentavam alguma das anomalias
das Anomalias Congênitas (3 de março), tem como ob- congênitas listadas no capítulo XVII da Classificação
jetivo apresentar a situação epidemiológica das anoma- Estatística Internacional de Doenças e Problemas
lias congênitas no Brasil, a fim de reforçar a importância Relacionados à Saúde – 10ª edição (CID-10). Para fins
do seu diagnóstico precoce e qualificado, bem como do de vigilância em saúde, algumas anomalias congênitas
fortalecimento da sua notificação e do monitoramento são consideradas prioritárias para monitoramento ao
no Sinasc. nascimento. Tais anomalias foram selecionadas em
função da sua prevalência na população, por serem
ASpEctoS mEtodológicoS de fácil detecção ao nascimento e serem passíveis
de prevenção primária e intervenção no âmbito do
Os dados apresentados neste boletim incluem todos os Sistema Único de Saúde (SUS).7 A lista de anomalias
nascidos vivos registrados no Sinasc no período de 2010 congênitas prioritárias para a vigilância ao nascimento
a 2021. Para tanto, foram utilizadas as bases públicas são apresentadas no Quadro 1.

Quadro 1 Lista de anomalias congênitas prioritárias para a vigilância ao nascimento

grupos de anomalias congênitas código cid-10 descrição


Q00.0 Anencefalia
Q00.1 Craniorraquisquise
Defeitos de tubo neural Q00.2 Iniencefalia
Q01 Encefalocele
Q05 Espinha bífida
Microcefalia Q02 Microcefalia
Q20 Malformações congênitas das câmaras e das comunicações cardíacas
Q21 Malformações congênitas dos septos cardíacos
Q22 Malformações congênitas das valvas pulmonar e tricúspide
Q23 Malformações congênitas das valvas aórtica e mitral
Cardiopatias congênitas Q24 Outras malformações congênitas do coração
Q25 Malformações congênitas das grandes artérias
Q26 Malformações congênitas das grandes veias
Q27 Outras malformações congênitas do sistema vascular periférico
Q28 Outras malformações congênitas do aparelho circulatório
Q35 Fenda palatina
Fendas Orais Q36 Fenda labial
Q37 Fenda labial com fenda palatina
Q54 Hipospádia
Defeitos de órgãos genitais
Q56 Sexo indeterminado e pseudo-hermafroditismo
Q66 Deformidades congênitas do pé
Q69 Polidactilia
Q71 Defeitos, por redução, do membro superior
Defeitos de membros
Q72 Defeitos, por redução, do membro inferior
Q73 Defeitos por redução de membro não especificado
Q74.3 Artrogripose congênita múltipla
Q79.2 Exonfalia
Defeitos de parede abdominal
Q79.3 Gastrosquise
Síndrome de Down Q90 Síndrome de Down

Fonte: Adaptado de Cardoso-dos-Santos et al. 7

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A análise dos dados foi realizada por meio de estatística observada no ano de 2016 (n=26.054), devido ao surto de
descritiva, com medidas de frequências absoluta e casos de microcefalia e outras anomalias cerebrais em
relativa, considerando os dados do campo 6 do Bloco I nascidos vivos no país em função da infecção congênita
da DNV. As análises das medidas de tendência central, pelo vírus Zika (Figura 1).8 Em contrapartida, o menor
ocorrência de anomalias isoladas ou múltiplas, bem número de registros foi verificado em 2010 (n=21.772)
como para o cálculo do número de casos e prevalências (Figura 1).
das anomalias foram realizadas considerando os dados
do campo 41 do Bloco VI da DNV. As prevalências foram O número de nascidos vivos que apresentaram anomalias
calculadas a partir do número de nascidos vivos com congênitas isoladas, ou seja, tinham uma única anomalia
menção a, pelo menos, uma das anomalias de cada congênita, ou que apresentaram múltiplas anomalias
grupo, em relação ao total de nascidos vivos registrados congênitas neste período é apresentado na Figura 1.
no Sinasc no período analisado, por 10 mil nascidos vivos Entre os nascidos vivos registrados com anomalias
congênitas, a maioria (média de 83% no período avaliado)
apresentou uma anomalia congênita isolada. Percebe-se
SituAção EpidEmiológicA que, entre 2010 e 2016, houve um aumento gradativo do
percentual de registros de nascidos vivos com anomalias
anomalias congênitas múltiplas (passando de 10% em 2010 para 17% em 2016),
Entre os anos de 2010 e 2021, foram registrados no Sinasc sendo que, desde então, o percentual de casos está em
34.559.375 nascidos vivos, dos quais 285.296 (0,83%) torno de 18-19%.
apresentaram alguma anomalia congênita. Em média,
23.775 nascidos vivos ao ano apresentaram alguma Entre as anomalias congênitas registradas nas DNV ao
anomalia congênita, com prevalência de 83 casos a longo dos anos avaliados neste boletim epidemiológico,
cada 10.000 nascidos vivos (NV) no período avaliado. as anomalias consideradas prioritárias para fins de
A maior captação de casos de anomalias congênitas foi vigilância representaram a maioria (58%) (Figura 2).

27.000 26.054 25.932


25.283 24.838
24.485
23.133 23.596
24.000 22.985 22.534
22.400 22.284
21.772 21.552
20.658 21.078
19.947 20.338 20.165
21.000 19.557 19.352 19.213
18.965 18.612 18.375
18.000
Número de casos

15.000

12.000

9.000

6.000 4.502 4.625 4.854 4.673


4.147 4.383 4.159
3.435 3.781 3.672
3.038
3.000 2.215

0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Ano de nascimento
Anomalias Congênitas Isoladas Múltiplas

Fonte: Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos – Sinasc.

Figura 1 Número de nascidos vivos com anomalias congênitas múltiplas e isoladas, Brasil, 2010 a 2021

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21.000 19.961
18.952 19.201
18.548 18.330
18.000 17.284 17.568
16.541 16.758
16.208 16.082
14.932
Número de menções na DNV

15.000 14.532 14.143


13.762
13.198 13.034
12.482 12.547
11.563 11.673
11.673 11.467
12.000 11.227
9.904

9.000

6.000

3.000

0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Ano de nascimento

Anomalias prioritárias para a vigilância ao nascimento Outras anomalias congênitas

Fonte: Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos – Sinasc.

Figura 2 Número de menções (descrição) às anomalias congênitas consideradas prioritárias para a vigilância ao nascimento,
bem como outras anomalias congênitas nas Declarações de Nascido Vivo, Brasil, 2010 a 2021

anomalias congênitas prioritárias para Considerando aspectos gestacionais, filhos de mães


a vigilância ao nascimento que já haviam sofrido abortos, especialmente de re-
As prevalências dos diferentes agravos e condições de petição (≥ 2 abortos), apresentaram maior prevalência
saúde variam conforme características de pessoa, tem- de anomalias congênitas, especialmente cardiopa-
po e lugar. Considerando as características maternas, tias congênitas (16/10.000 NV) e síndrome de Down
gestacionais e dos próprios nascidos vivos, a Tabela 1 (8/10.000 NV). Gestações duplas e especialmente
descreve como se comportaram as prevalências das múltiplas também contaram com maior prevalência
anomalias prioritárias para fins de vigilância ao nas- geral de anomalias congênitas, com destaque para de-
cimento (Quadro 1) entre os anos de 2010 a 2021. De feitos de tubo neural (9/10.000 NV), cardiopatias con-
maneira geral, alguns tipos de anomalias congênitas gênitas (51/10.000 NV) e defeitos de órgãos genitais
apresentam maior prevalência dependendo do perfil (12/10.000 NV). A prematuridade também se destacou
materno e gestacional. nesse contexto, sendo que a prevalência de anomalias
em prematuros (267/10.000 NV) foi três vezes maior
Tendo em conta a idade materna, a prevalência de que em nascidos a termo (86/10.000 NV).
defeitos de parede abdominal demonstrou-se superior
entre as mães jovens (≤ 19 anos) (7/10.000 NV), enquanto Finalmente, analisando aspectos dos nascidos vivos,
as cardiopatias congênitas e a síndrome de Down foram percebe-se que a presença de anomalias congênitas
mais prevalentes entre as mães com idade avançada (≥ 35 é mais comum entre aqueles com Apgar no 5º minuto
anos) (21/10.000 NV e 16/10.000 NV, respectivamente). < 7 (1.307/10.000 NV) ou que nasceram com baixo peso
Quanto aos aspectos socioeconômicos maternos, como (< 2.500g) (370/10.000 NV).
a escolaridade, percebeu-se uma maior prevalência
de anomalias de diagnóstico mais complexo, como
cardiopatias congênitas, entre os filhos de mães com ≥ 8
anos de estudo (superior a 10/10.000 NV).

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tabela 1 Prevalência de anomalias congênitas, segundo grupos prioritários para vigilância ao nascimento e características maternas, da gestação, do parto
e do nascido vivo, Brasil, 2010-2021

Prevalência de grupos específicos de anomalias congênitas


Prevalência
n.º de
variável categoria geral das ac
nascidos vivos* dtn mc cc Fo dog dm dPa sd
(n=285.296)
(n=15.970) (n=6.895) (n=36.267) (n=23.345) (n=16.583) (n=87.731) (n=10.781) (n=12.793)
≤19 5.946.958 98,0 4,7 2,5 6,3 6,3 4,6 26,2 7,0 1,4
Faixa etária da mãe 20 a 34 23.951.215 96,0 4,5 1,9 9,6 6,4 4,6 24,7 2,4 1,9
≥35 4.660.292 153,6 5,1 1,9 20,7 9,1 6,0 28,0 1,9 15,8
Nenhuma 214.870 102,0 5,0 2,3 3,7 8,8 4,0 25,6 1,7 5,9
Escolaridade 1 a 3 anos 1.056.282 99,5 4,9 2,1 4,9 7,1 4,4 26,7 2,2 4,8
da mãe (anos 4 a 7 anos 6.429.342 100,3 5,0 2,3 6,3 7,2 4,5 26,7 3,7 3,3
de estudo) 8 a 11 anos 19.858.166 104,4 4,7 2,2 10,0 6,7 4,9 26,4 3,4 3,0
12 ou mais 6.467.566 111,4 4,0 1,2 18,0 6,7 5,1 21,5 2,1 6,1
Branca 10.449.087 116,1 4,7 1,6 16,4 7,8 5,2 23,3 3,2 5,0
Preta 1.718.705 129,4 4,7 2,8 14,0 6,8 6,2 36,0 3,5 3,4
Raça/cor da mãe Amarela 122.483 132,1 4,5 1,5 24,8 8,0 4,3 23,6 3,8 4,2
Parda 16.621.567 98,2 4,6 2,5 7,6 6,3 4,5 26,1 3,0 2,9
Indígena 256.308 89,3 3,5 2,0 4,5 8,2 2,2 18,3 2,1 2,5
Nenhum 28.810.969 93,7 4,2 1,8 9,6 6,1 4,4 22,9 3,0 3,1
Abortos prévios 1 4.579.615 120,1 5,1 2,2 13,1 7,7 5,1 27,8 2,9 5,2
≥2 1.130.666 142,4 5,8 2,9 16,0 9,0 6,1 30,7 2,9 8,0
Nenhuma 741.493 111,0 6,3 3,6 7,3 6,4 5,2 24,6 3,5 3,3
Número de consultas 1a3 2.206.247 127,5 7,1 2,8 8,9 7,6 5,9 29,8 5,2 3,0
pré-natal 4a6 8.311.745 108,9 5,3 2,4 8,4 6,9 5,2 26,9 4,1 3,5
≥7 23.061.007 99,5 4,0 1,7 11,5 6,6 4,5 24,4 2,5 3,9
≤36 3.715.725 266,9 14,8 4,3 26,9 14,0 12,9 42,6 14,4 8,5
Semanas
37 a 41 29.124.605 85,5 3,4 1,7 8,8 5,9 3,9 23,5 1,8 3,2
de gestação
≥42 917.581 71,9 3,8 1,9 4,3 5,7 3,2 23,0 1,0 1,6
Única 33.787.475 103,1 4,5 2,0 10,3 6,7 4,7 25,3 3,1 3,7
Tipo de gravidez Dupla 702.102 151,0 8,4 2,3 20,5 7,7 10,1 30,9 4,4 3,1
Múltipla 17.655 192,0 8,5 2,3 51,0 8,5 11,9 22,1 2,8 2,3
Vaginal 15.273.432 82,2 2,6 2,3 6,7 5,9 3,8 24,3 1,5 2,9
Tipo de parto
Cesário 19.242.339 121,4 6,2 1,8 13,5 7,4 5,5 26,2 4,4 4,3
Sexo do Masculino 17.696.235 112,7 4,3 1,6 10,6 7,6 6,8 28,7 3,0 3,5
recém-nascido Feminino 16.857.213 89,8 4,8 2,4 10,2 5,8 0,2 21,5 3,1 3,9
<7 378.972 1.306,8 126,5 23,2 95,1 54,5 57,0 139,7 37,0 11,4
Apgar 5º minuto
≥7 33.324.377 91,5 3,2 1,8 9,7 6,3 4,3 24,3 2,8 3,7
Branca 12.567.791 112,8 4,7 1,4 15,2 7,7 5,1 23,3 3,2 5,0
Preta 1.785.248 128,8 4,7 2,7 13,8 6,7 6,1 36,1 3,4 3,5
Raça/cor
Amarela 131.315 130,2 4,3 1,4 24,5 7,9 4,3 22,8 3,6 4,2
do recém-nascido
Parda 18.531.013 96,2 4,5 2,3 7,2 6,2 4,5 26,0 2,9 2,9
Indígena 279.638 88,8 3,5 1,9 4,1 8,5 2,2 18,6 2,0 2,5
Peso ao nascer <2500 2.947.455 369,5 23,6 10,6 37,2 19,7 18,7 53,7 21,6 10,4
(em g) ≥2500 31.592.024 79,4 2,9 1,2 8,0 5,6 3,5 22,8 1,4 3,1
total - 34.559.375 82,6 4,6 2,0 10,5 6,8 4,8 25,4 3,1 3,7

Fonte: Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc). *Para todas as variáveis, a categoria “Ignorado(a)” não foi considerada nos cálculos de prevalências.
Legenda: AC: Anomalias congênitas; DTN: Defeito de tubo neural; MC: Microcefalia; CC: Cardiopatias congênitas; FO: Fendas orais; DOG: Defeitos de órgãos genitais; DM: Defeitos de membros; DPA: Defeitos de parede abdominal;
SD: Síndrome de Down.
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Na Figura 3 e no Anexo 1, está descrito o comportamento cardiopatias congênitas


das prevalências das anomalias prioritárias para a vigilância As cardiopatias congênitas (códigos da CID-10 Q20 a
ao nascimento ao longo dos anos de 2010 a 2021. De Q28) foram o segundo grupo de anomalias congênitas
maneira geral, percebe-se que os defeitos de membros mais prevalente nos anos avaliados (11/10.000 NV). Em
foram as anomalias congênitas mais prevalentes em 2021, elas apresentaram prevalência entre 2/10.000
todos os anos avaliados. As cardiopatias congênitas NV no estado do Amapá e 35/10.000 NV no estado de
foram o segundo grupo de anomalias mais prevalentes São Paulo.
e com maior aumento de prevalência ao longo dos anos
avaliados. Além disso, é importante destacar que, ao As cardiopatias congênitas consistem em alterações
longo desses anos, um surto de casos de microcefalia estruturais do coração e/ou dos seus vasos sanguíneos
foi identificado, entre os anos de 2015 a 2017, sendo o que figuram entre as principais causas de morte
mesmo considerado uma Emergência em Saúde Pública na primeira infância, representando um importante
de Importância Nacional (ESPIN) naquele período.8 problema global de saúde.13,14-16 Mundialmente, a
prevalência, ao nascimento, de cardiopatias congênitas é
Na Figura 4 e no Anexo 2, é apresentada a distribuição estimada como sendo em torno de 91 a 94 casos a cada
das prevalências destas anomalias prioritárias nas 10.000 NV, havendo importantes variações geográficas.
diferentes regiões e Unidades da Federação (UF) no País,
focando no ano de 2021. De maneira geral, os grupos Fendas orais
de anomalias congênitas analisados apresentaram As fendas orais (códigos da CID-10 Q35, Q36, Q37), o
uma ampla variação na sua prevalência em relação terceiro grupo de anomalias mais prevalente no País ao
às diferentes regiões e UF do País. A Região Nordeste longo dos anos avaliados, apresentaram prevalência de
apresentou a maior prevalência de defeitos de tubo 7/10.000 NV no período avaliado. Em 2021, variaram de
neural, microcefalia, defeitos de órgãos genitais e 4/10.000 NV no estado do Tocantins a 10/10.000 NV
defeitos de membros. A Região Sudeste se destacou nos estados de Goiás e Rio Grande do Sul.
quanto à prevalência de cardiopatias congênitas. O Sul,
em contrapartida, apresentou a maior prevalência de Esses defeitos congênitos, de etiologia complexa,
fendas orais, defeitos de parede abdominal e síndrome podem ocorrer de forma isolada ou sindrômica.17 De
de Down. acordo com a literatura, a prevalência dessas anomalias
é de cerca de 10/10.000 NV, variando de acordo com
defeitos de membros grupos étnicos, áreas geográficas, exposição ambiental e
Entre os grupos de anomalias congênitas prioritárias situação socioeconômica.18,19
avaliados neste boletim epidemiológico, o mais
prevalente no País no período avaliado foram os defeitos defeitos de órgão genitais
de membros (códigos da CID-10 Q66, Q69, Q71, Q72, Os defeitos de órgão genitais (códigos da CID-10 Q54 e
Q73, Q74.3), com 25/10.000 NV. Em 2021, a menor Q56) ocorreram em 5/10.000 NV entre os anos de 2010
prevalência foi observada no Amazonas (13/10.000 NV), e 2021. Em 2021, especificamente, a menor prevalência
e a maior prevalência em Sergipe (55/10.000 NV). foi registrada no Amazonas (1/10.000 NV) enquanto a
maior foi registrada em Sergipe (12/10.000 NV).
Os defeitos de membros representam o principal tipo
de anomalia congênita não-cromossômica presente em Entre os defeitos avaliados neste boletim, as hipospádias
recém-nascidos.9,10 Eles apresentam um amplo espectro (Q54) são mais prevalentes e são clinicamente
fenotípico, incluindo a ausência completa do membro ou caracterizadas pelo desenvolvimento incompleto da
sua ausência parcial, além do acometimento apenas das uretra, correspondendo ao principal tipo de anomalia
extremidades superiores, ou inferiores, mãos ou pés.11 congênita do órgão genital masculino.20,21 O sexo
A prevalência desses defeitos varia consideravelmente indeterminado e o pseudo-hermafroditismo (Q56), em
a depender do tipo. Em países europeus, por exemplo, contrapartida, são anomalias congênitas de caráter
a prevalência dos defeitos avaliados neste boletim morfológico e fisiológico, nas quais o recém-nascido
(excluindo o código Q74.3, referente à artrogripose apresenta desenvolvimento atípico de cromossomos,
congênita múltipla) foi de cerca de 24/10.000 NV.12 das gônadas e/ou do sexo anatômico.1 Em países
europeus a prevalência desses dois defeitos é estimada
em 20/10.000 NV.12

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defeitos de tubo neural Estudos em países de diferentes continentes estimam


Os defeitos de tubo neural (códigos da CID-10 Q00.0, como sendo 8 – 14/10.000 NV a prevalência de síndrome
Q00.1, Q00.2, Q01, Q05) tiveram uma prevalência de de Down ao nascimento.12,27,28
5/10.000 NV entre 2010 e 2021. Em 2021, sua prevalência
variou de 1/10.000 NV (Distrito Federal) a 8/10.000 NV defeitos de parede abdominal
(Rondônia). Os defeitos de parede abdominal (códigos da CID-10
Q79.2, Q79.3) foram o segundo grupo de anomalias
Essas anomalias congênitas são oriundas de defeitos no menos prevalente no País entre 2010 e 2021, com
desenvolvimento do sistema nervoso central que resul- 4/10.000 NV. Em 2021 esses defeitos variaram de
tam de falhas no fechamento do tubo neural, estrutura 1/10.000 NV (Paraíba) a 5/10.000 NV (Acre).
embrionária responsável por originar o cérebro e a me-
dula espinal. Essas anomalias têm uma apresentação Tais defeitos constituem um grupo de anomalias con-
clínica variável e, em muitos casos, são extremamente gênitas caracterizados pela herniação dos órgãos
graves, levando à morte precoce.22,23 Referências interna- abdominais.29,30 Em países latino-americanos a pre-
cionais, como de países latino-americanos, estimam uma valência desses defeitos é estimada em cerca de
prevalência de 17/10.000 NV para essas anomalias.24 4/10.000 NV, enquanto em países europeus a estima-
tiva é de 3/10.000 NV.12,31
síndrome de down
A síndrome de Down (código da CID-10 Q90) apresentou microcefalia
uma prevalência de 6/10.000 NV no período avaliado. A microcefalia apresentou prevalência de 2/10.000
Em 2021, apresentou prevalências entre 1/10.000 NV NV no Brasil no período avaliado. Como previamente
(Tocantins) e 9/10.000 NV (Santa Catarina). mencionado, destaca-se que, ao longo desse período,
um surto de casos foi identificado entre os anos de 2015
Tal condição é causada pela presença de uma cópia a 2017.8 Em 2021, prevalências inferiores a 1/10.000 NV
extra do cromossomo 21 e inclui alterações faciais, foram identificadas em 16 UF, com máxima de 2/10.000
musculoesqueléticas e comprometimento intelectual.25,26 NV (Ceará e São Paulo).

27
26
25
24
23
22
21
Prevalência (por 10.000 nascidos vivos)

20
19
18
17
16
15
14
13
12
11
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Ano de nascimento

Defeitos de Tubo Neural Microcefalia Cardiopatias Ccongênitas


Fendas Oorais Defeitos de Órgãos Genitais Defeitos de Membros
Defeitos de Parede Abdominal Síndrome de Down

Fonte: Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos – Sinasc.

Figura 3 Distribuição das prevalências de diferentes grupos de anomalias congênitas consideradas prioritárias para a
vigilância ao nascimento, Brasil, 2010 a 2021

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Fonte: Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos – Sinasc.

Figura 4 Distribuição, por unidades da Federação de residência, das prevalências dos grupos de anomalias congênitas
consideradas prioritárias para a vigilância ao nascimento, Brasil, 2021

A microcefalia, avaliada por meio da medida da cir- população de referência com a mesma idade e sexo.32
cunferência do perímetro cefálico, é definida quando Refere-se ainda como microcefalia grave a medida do
o resultado desta medida é inferior a menos 2 des- perímetro cefálico inferior a menos 3 DP.32
vios-padrão (DP) da média, comparando indivíduos da

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conSidErAçõES FinAiS Nesse contexto, destaca-se que o fortalecimento do


E rEcomEndAçõES diagnóstico precoce, seja no pré-natal ou ao nascimento,
bem como do registro das anomalias congênitas na
As anomalias congênitas são umas das principais causas Declaração de Nascido Vivo e no Sinasc e, finalmente,
de mortalidade e incapacidade infantil ao redor do mundo da vigilância epidemiológica das anomalias congênitas,
e no Brasil. Muitas delas podem ser prevenidas por meio realizada de modo eficiente e padronizado pelos
de medidas simples e de baixo custo, incluindo estratégias diferentes estados e a nível nacional, visa auxiliar no
como vacinação, controle de doenças maternas e de aprimoramento das políticas de atenção à saúde, para
exposições a fatores de risco ambientais. Além de aspectos qualificar a prevenção, desde o planejamento reprodutivo
relacionados à prevenção, diversas anomalias congênitas ao desenvolvimento gestacional, assim como o cuidado
têm tratamento existente ou medidas de intervenção e a reabilitação após o nascimento, estabelecendo
efetivas, quando aplicadas precocemente. melhores condições tanto de vida quanto de crescimento
e desenvolvimento mais inclusivos para esses cidadãos
Dada a importância das anomalias congênitas como brasileiros.
um problema de saúde pública, o fortalecimento da
vigilância dessas condições é fundamental, pois permite
o delineamento de um cenário epidemiológico mais
fidedigno. Tal conhecimento visa subsidiar e contribuir
para a criação e o fortalecimento de medidas de
prevenção e controle eficazes, a fim de minimizar ou até
evitar completamente o aparecimento dos sinais clínicos,
bem como mortalidade associada a tais condições.

É fundamental ressaltar que a notificação de todas as


anomalias congênitas detectadas ao nascimento tem
caráter compulsório, de acordo com a Lei n.º 13.685, de
25 de junho de 2018. Assim, a criação de uma lista com
anomalias congênitas prioritárias para a vigilância ao
nascimento visa fortalecer seu registro no Sinasc, a fim
de melhorar a qualidade das informações referentes a
tais condições no País.

Tendo em vista os dados apresentados no presente


boletim epidemiológico, bem como a comparação
que se fez com referências internacionais, percebe-
se que há no País uma importante subnotificação de
casos de anomalias congênitas. Tal cenário fica ainda
mais evidente quando são comparadas as diferentes
regiões e UF do Brasil, as quais demonstram ampla
variação na prevalência de anomalias congênitas. Essa
subnotificação de casos pode refletir problemas tanto no
diagnóstico de diferentes tipos de anomalias congênitas
quanto no seu registro na DNV. No primeiro caso, as
consequências envolvem desde a oferta de tratamentos
e intervenções oportunas (como cirurgias, por exemplo)
e oferta de acompanhamento multidisciplinar (visando
a reabilitação e o desenvolvimento neuropsicomotor
adequado), até a própria sobrevida dos indivíduos
afetados. Em contrapartida, no segundo caso, o
desconhecimento da situação epidemiológica dessas
condições é a principal consequência, impactando
na construção de ações estratégicas de prevenção e
assistência aos indivíduos afetados.

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AnEXoS

anexo 1 Distribuição por ano, das prevalências dos grupos de anomalias congênitas consideradas prioritárias para a vigilância ao nascimento, Brasil, 2010 a 2021

dtn mc cc Fo dog dm dPa sd


ano
n P n P n P n P n P n P n P n P

2010 1.246 4,4 163 0,6 1.576 5,5 1.774 6,2 1.292 4,5 6.957 24,3 839 2,9 1.085 3,8

2011 1.347 4,6 154 0,5 2.068 7,1 1.930 6,6 1.358 4,7 7.426 25,5 864 3,0 1.061 3,6

2012 1.339 4,6 189 0,7 2.376 8,2 1.913 6,6 1.306 4,5 7.160 24,6 840 2,9 959 3,3

2013 1.260 4,3 183 0,6 3.274 11,3 1.963 6,8 1.387 4,8 7.338 25,3 924 3,2 955 3,3

2014 1.338 4,5 163 0,5 2.784 9,3 1.854 6,2 1.378 4,6 7.109 23,9 966 3,2 949 3,2

2015 1.355 4,5 1.758 5,8 2.866 9,5 1.991 6,6 1.439 4,8 7.240 24,0 872 2,9 1.027 3,4

2016 1.484 5,2 2.276 8,0 3.194 11,2 2.050 7,2 1.417 5,0 7.582 26,5 923 3,2 1.035 3,6

2017 1.452 5,0 561 1,9 3.738 12,8 2.127 7,3 1.543 5,3 7.496 25,6 959 3,3 1.076 3,7

2018 1.427 4,8 453 1,5 3.804 12,9 2.047 7,0 1.495 5,1 7.830 26,6 936 3,2 1.209 4,1

2019 1.360 4,8 366 1,3 3.643 12,8 1.976 6,9 1.365 4,8 7.544 26,5 911 3,2 1.165 4,1

2020 1.185 4,3 335 1,2 3.581 13,1 1.881 6,9 1.358 5,0 7.165 26,2 899 3,3 1.164 4,3

2021 1.177 4,4 294 1,1 3.363 12,6 1.839 6,9 1.245 4,7 6.884 25,8 848 3,2 1.108 4,1

média 15.970 4,6 6.895 2,0 36.267 10,5 23.345 6,8 16.583 4,8 87.731 25,4 10.781 3,1 12.793 3,7

Fonte: Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).


Legenda: NV: Nascidos vivos; DTN: Defeitos de tubo neural; MC: Microcefalia; CC: Cardiopatias congênitas; FO: Fendas orais; DOG: Defeitos de órgãos genitais; DM: Defeitos de membros; DPA: Defeitos de parede abdominal; SD: Síndrome de Down; N: Número de
casos; P: Prevalência.

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boletim epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente | Ministério da Saúde Volume 54 | N.º 3 | 27 Fev. 2023

anexo 2 Distribuição, por unidade da Federação de residência, das prevalências dos grupos de anomalias congênitas consideradas prioritárias para a vigilância
ao nascimento, Brasil, 2021

  dtn mc cc Fo dog dm dPa sd


total de nv
região/uF n P n P n P n P n P n P n P n P

norte 307.385 122 3,8 23 0,6 145 5 179 6,6 67 2,9 543 18,6 91 3,3 87 3,8
Acre 16.242 6 3,7 1 0,6 4 2,5 10 6,2 5 3,1 37 22,8 8 4,9 6 3,7
Amapá 16.329 3 1,8 0 0 3 1,8 15 9,2 4 2,4 34 20,8 8 4,9 5 3,1
Amazonas 77.458 25 3,2 6 0,8 21 2,7 50 6,5 9 1,2 98 12,7 16 2,1 19 2,5
Pará 135.018 57 4,2 12 0,9 63 4,7 66 4,9 26 1,9 258 19,1 41 3 27 2
Rondônia 25.294 21 8,3 0 0 22 8,7 16 6,3 8 3,2 36 14,2 11 4,3 16 6,3
Roraima 13.808 4 2,9 1 0,7 4 2,9 12 8,7 6 4,3 20 14,5 3 2,2 11 8
Tocantins 23.236 6 2,6 3 1,3 28 12,1 10 4,3 9 3,9 60 25,8 4 1,7 3 1,3
nordeste 764.876 393 5 89 1,1 415 5 521 7,3 450 6,4 2.210 29,8 212 2,6 268 3,7
Alagoas 48.601 28 5,8 7 1,4 21 4,3 37 7,6 32 6,6 165 33,9 9 1,9 21 4,3
Bahia 181.699 77 4,2 19 1 102 5,6 87 4,8 68 3,7 465 25,6 50 2,8 57 3,1
Ceará 120.186 76 6,3 22 1,8 93 7,7 97 8,1 80 6,7 413 34,4 28 2,3 63 5,2
Maranhão 106.090 58 5,5 8 0,8 35 3,3 50 4,7 32 3 212 20 26 2,5 21 2
Paraíba 55.743 30 5,4 7 1,3 32 5,7 41 7,4 31 5,6 108 19,4 8 1,4 27 4,8
Pernanbuco 127.869 76 5,9 17 1,3 82 6,4 109 8,5 123 9,6 470 36,8 58 4,5 39 3
Piauí 48.354 11 2,3 1 0,2 14 2,9 30 6,2 15 3,1 101 20,9 9 1,9 8 1,7
Rio Grande do Norte 44.053 20 4,5 4 0,9 21 4,8 38 8,6 29 6,6 98 22,2 15 3,4 13 3
Sergipe 32.281 17 5,3 4 1,2 15 4,6 32 9,9 40 12,4 178 55,1 9 2,8 19 5,9
centro-oeste 228.849 97 4 22 1 128 5,5 167 6,9 92 3,7 559 23,4 81 3,3 62 2,6
Distrito Federal 51.151 7 1,4 7 1,4 30 5,9 25 4,9 22 4,3 115 22,5 16 3,1 13 2,5
Goiás 78.309 47 6 4 0,5 50 6,4 79 10,1 47 6 255 32,6 37 4,7 28 3,6
Mato Grosso 57.700 25 4,3 5 0,9 27 4,7 35 6,1 13 2,3 99 17,2 19 3,3 13 2,3
Mato Grosso do Sul 41.689 18 4,3 6 1,4 21 5 28 6,7 10 2,4 90 21,6 9 2,2 8 1,9
sudeste 1.008.738 439 4,2 130 1,1 2.191 15,5 670 6,1 477 4 2.788 25,9 336 3,5 490 5
Espírito Santo 52.055 25 4,8 5 1 75 14,4 29 5,6 16 3,1 122 23,4 21 4 38 7,3
Minas Gerais 241.279 82 3,4 17 0,7 186 7,7 146 6,1 85 3,5 628 26 62 2,6 86 3,6
Rio de Janeiro 189.422 73 3,9 18 1 99 5,2 101 5,3 71 3,7 452 23,9 71 3,7 65 3,4
São Paulo 525.982 259 4,9 90 1,7 1.831 34,8 394 7,5 305 5,8 1.586 30,2 182 3,5 301 5,7
sul 362.198 126 3,5 30 0,8 484 13,5 302 8,4 159 4,6 784 21,9 128 3,6 201 5,9
Paraná 141.810 44 3,1 11 0,8 142 10 95 6,7 34 2,4 238 16,8 31 2,2 42 3
Rio Grande do Sul 124.323 51 4,1 13 1 211 17 129 10,4 68 5,5 329 26,5 58 4,7 75 6
Santa Catarina 96.065 31 3,2 6 0,6 131 13,6 78 8,1 57 5,9 217 22,6 39 4,1 84 8,7
brasil 2.672.046 1.177 4,4 294 1,1 3.363 12,6 1.839 6,9 1.245 4,7 6.884 25,8 848 3,2 1.108 4,1

Fonte: Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).


Legenda: UF: Unidades da Federação; NV: Nascidos vivos; DTN: Defeitos de tubo neural; MC: Microcefalia; CC: Cardiopatias congênitas; FO: Fendas orais; DOG: Defeitos de órgãos genitais; DM: Defeitos de membros; DPA: Defeitos de parede abdominal; SD: Síndrome de Down;
N: Número de casos; P: Prevalência.

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Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas / Departamento de Análise Epidemiológica e Vigilância de


Doenças Não Transmissíveis / Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (Cgiae/Daent/SVSA).1

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Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente | Ministério da Saúde Volume 54 | N.º 3 | 27 Fev. 2023

Projeção de nascidos vivos


e óbitos no Brasil: revisão
do método de cálculo dos
indicadores 1 e 2 do PQA-VS
O Programa de Qualificação das Ações de Vigilância em gerada pela covid-19 e à disseminação da doença no
Saúde (PQA-VS), regulamentado pela Portaria GM/MS território brasileiro, o Grupo de Trabalho de Vigilância
n.º 1.708, de 16 de agosto de 2013,1 tem como objeti- em Saúde (GT-VS) da Comissão Intergestores Tripartite
vo induzir o aperfeiçoamento das ações de vigilância (CIT) definiu a manutenção em 2020 do regramento do
em saúde nos âmbitos estadual, distrital e municipal. PQA-VS vigente em 2019, incluindo indicadores, metas e
Uma das diretrizes do PQA-VS, exposta na citada Por- fichas de qualificação, com alguns ajustes. As metas es-
taria, é o processo contínuo e progressivo de melhoria tabelecidas para os dois indicadores citados foram: 2
das ações de vigilância em saúde, com foco na gestão,
no processo de trabalho e nos resultados alcançados � indicador 1: ter 90% (noventa por cento) dos registros
pelos estados, Distrito Federal e municípios. Os entes de óbitos alimentados no SIM até 60 dias do final do
federados, por sua vez, assumem todos os compro- mês de ocorrência; e
missos expressos nas metas definidas nos termos do � indicador 2: ter 90% (noventa por cento) dos registros
Anexo I da referida Portaria. de nascidos vivos alimentados no Sinasc até 60 dias
do final do mês de ocorrência.
Os indicadores 1 e 2 do PQA-VS referem-se à alimentação
de registros de óbitos e de nascidos vivos nos sistemas Para fins de cálculo, considera-se o número de nascidos
de informação, a saber: vivos registrados no Sinasc e o número de óbitos
registrados no SIM, que constituem os numeradores dos
� indicador 1: proporção de registros de óbitos alimen- respectivos indicadores. No entanto, os denominadores
tados no Sistema de Informações sobre Mortalidade são desconhecidos, sendo necessário utilizar métodos
(SIM) em relação ao estimado, recebidos na base de que permitam predizer esses valores com adequada
dados federal em até 60 dias após o final do mês confiabilidade. Como toda previsão é incerta, deseja-
de ocorrência. se reduzir ao máximo tal incerteza, de modo que os
� indicador 2: proporção de registros de nascidos valores preditos se assemelhem ao máximo aos valores
vivos alimentados no Sistema de Informações sobre observados, pressupondo-se que a vigilância esteja
Nascidos Vivos (Sinasc) em relação ao estimado, sendo realizada de forma satisfatória. Dessa forma,
recebidos na base de dados federal até 60 dias após é possível identificar quando o município apresenta
o final do mês de ocorrência. registros abaixo do esperado, indicando a necessidade
de implementar ações para melhorar a cobertura dos
Para cada indicador é definida uma meta, que deve ser respectivos sistemas.
alcançada pelos municípios para fazer jus ao recebimen-
to do incentivo financeiro. As metas propostas para o Eventos recentes que impactaram na ocorrência de
PQA-VS, bem como seus respectivos indicadores e a me- eventos vitais, como a emergência de saúde pública
todologia para avaliação, podem e devem ser revisadas relacionada à infecção congênita pelo vírus Zika em
periodicamente pela Secretaria de Vigilância em Saúde 2015,3 bem como a mudança observada no padrão
e Ambiente do Ministério da Saúde (SVSA/MS), passan- de nascimentos no Brasil nos últimos anos,4 alertaram
do pela aprovação das instâncias tripartite de gestão do para a necessidade de revisão do método de predição
Sistema Único de Saúde (SUS). Em virtude da Emergên- de nascidos vivos e óbitos utilizado para definição
cia Internacional em Saúde Pública, devido à pandemia das metas do PQA-VS. Nesse contexto, o presente

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boletim epidemiológico documenta o percurso para Considerando-se as mudanças no padrão de nascimen-


proposição de uma nova metodologia de predição, com tos no país na última década, buscou-se analisar conjunta-
o objetivo de estimar a quantidade mínima esperada de mente a distribuição da TBN de todos os 5.570 municípios
nascidos vivos e óbitos a ser notificada pelos municípios brasileiros, referente ao ano em avaliação. Por exemplo,
brasileiros ao Ministério da Saúde, por meio do Sinasc tomando por base o registo de nascidos vivos em 2020,
e do SIM. calculou-se a TBN para todos os municípios, cuja distri-
buição está apresentada na Figura 1. Foram estimados
os percentis 5, 10 e 15 (P05, P10 e P15, respectivamente)
pErcurSo mEtodológico dessa distribuição. O percentil 5 é igual a 7,7, o que signi-
fica que, em 2020, 5% dos municípios apresentaram TBN
Identificando a subnotificação de nascidos menor ou igual a 7,7 nascidos vivos por mil habitantes.
vivos e óbitos Similarmente, o percentil 10 é igual a 8,7, e o percentil 15 é
A primeira etapa do método proposto consiste na igual a 9,4 nascidos vivos por mil habitantes.
identificação de municípios que apresentam subnotificação
de nascidos vivos ou de óbitos no Sinasc ou no SIM, A partir da análise da distribuição da TBN por municí-
respectivamente. A identificação desses municípios é pio em diferentes anos, bem como da TBN segundo os
importante porque os métodos de predição, em geral, são percentis por Grandes Regiões e porte populacional dos
baseados nos dados registrados pelo município ao longo municípios, concluiu-se pela proposição da utilização do
de uma série histórica. Se há uma subnotificação nessa percentil 15 (P15) como indicador de subnotificação no
série, os métodos de predição também gerarão um número Sinasc. Para o exemplo acima, seria utilizado o ponto de
esperado subestimado. Isso poderia parecer demonstrar corte igual a 9,4 nascidos vivos por mil habitantes para
que o município está cumprindo a meta, quando, na o ano de 2020 (Figura 1). Assim, utilizando-se tal ponto
verdade, ele deveria estar registrando uma quantidade de corte, seria possível classificar os municípios em dois
maior de eventos, seja de nascidos vivos ou de óbitos. grupos: se TBN menor do que 9,4, há indicativo de sub-
notificação ; e TBN maior ou igual a 9,4, não há indicativo
Para fins de identificação da subnotificação no Sinasc, de subnotificação no Sinasc para aquele município.
aplica-se a Taxa Bruta de Natalidade (TBN), a partir da
fórmula: TBN = quantidade de nascidos vivos / população Quanto à subnotificação no SIM, a metodologia em uso
× 1000. Na metodologia vigente, que consta na Portaria é baseada na Taxa Bruta de Mortalidade (TBM), dada
SVS/MS n.º 47, de 3 de maio de 2016,5 foram definidos por: TBM = quantidade de óbitos / população × 1000.
parâmetros mínimos de adequação da TBN segundo Conforme estabelecido pela Portaria n.º 47, de 3 de maio
região e porte populacional, a saber: de 2016, utilizam-se os seguintes parâmetros mínimos
de adequação segundo região e porte populacional:
i. região norte: TBN maiores ou iguais a 14,2 em
municípios com menos de 50 (cinquenta) mil i. uma taxa superior ou igual a 4,4 por mil habitantes,
habitantes, e 14,0 em municípios com 50 (cinquenta) em municípios com população inferior a 50.000
mil ou mais habitantes. habitantes; ou
ii. região nordeste: TBN maiores ou iguais a 13,2 ii. uma taxa superior ou igual a 5,3 por mil habitantes,
em municípios com menos de 50 (cinquenta) mil em municípios com população igual ou superior a
habitantes, e 12,8 em municípios com 50 (cinquenta) 50.000 habitantes.
mil ou mais habitantes.
iii. região sudeste: TBN maiores ou iguais a 10,5 A nova metodologia proposta também utiliza a TBM para
em municípios com menos de 50 (cinquenta) mil sinalização de subnotificação. No entanto, a proposta
habitantes, e 11,5 em municípios com 50 (cinquenta) foi construída a partir da análise dos dados da série
mil ou mais habitantes. histórica, considerando ou não o porte populacional.
iv. região sul: TBN maiores ou iguais a 10,0 em Para definição do ponto de corte, aplicou-se o mesmo
municípios com menos de 50 (cinquenta) mil método proposto para o Sinasc, considerando-se a
habitantes, e 12,1 em municípios com 50 (cinquenta) distribuição da TBM de todos os municípios brasileiros
mil ou mais habitantes. para um determinado ano. Foram utilizados, por exemplo,
v. região centro-oeste: TBN maiores ou iguais a 10,7 os dados do SIM de 2020 por município e calculada a
em municípios com menos de 50 (cinquenta) mil TBM para todos os municípios. A Figura 2 apresenta a
habitantes, e 13,8 em municípios com 50 (cinquenta) distribuição da TBM dos municípios brasileiros no ano
mil ou mais habitantes. de 2020, bem como a posição dos percentis 5, 10 e 15

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(P05, P10 e P15, respectivamente) dessa distribuição. 4,2 óbitos por mil habitantes. Similarmente, o percentil
O percentil 5 é igual a 4,2, o que significa que, em 2020, 10 é igual a 4,9, e o percentil 15 é igual a 5,4 óbitos por
5% dos municípios apresentaram TBM inferior ou igual a mil habitantes.
1.500

P15
9.4

P10
8.7
1.000
Quantidade de municípios

P05
7.7
500
0

0 5 10 15 20 25

Nascidos vivos por mil habitantes

Fonte: Cgiae/Daent/SVSA.

Figura 1 Distribuição da Taxa Bruta de Natalidade dos municípios brasileiros, Brasil, 2020
1.500

P15
5.4

P10
4.9
1.000
Quantidade de municípios

P05
4.2
500
0

2 4 6 8 10 12 14

Óbitos por mil habitantes

Fonte: Cgiae/Daent/SVSA..

Figura 2 Distribuição da Taxa Bruta de Mortalidade dos municípios brasileiros, Brasil, 2020

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Similarmente ao proposto para o Sinasc, optou-se pela Predição do número esperado de eventos vitais
adoção do percentil 15 (P15) para definição do ponto de A Figura 3 mostra o passo a passo para predição do
corte indicativo de subnotificação. Para o ano de 2020, número esperado de nascidos vivos e de óbitos, a partir
o ponto de corte seria de 5,4 óbitos por mil habitantes. da série histórica da TBN e da TBM, respectivamente.
Assim, se um município apresentar TBM inferior a 5,4, Para fins de demonstração do método de cálculo,
tem-se um indicativo de subnotificação de óbitos no SIM. utilizou-se como referência o ano de 2020, para o
Essa definição é essencial na definição dos parâmetros a qual já foram divulgados os dados oficiais do Sinasc
serem considerados para definição do número esperado e do SIM.
de óbitos para aquele município.

2. Prever TBM/TBN 3. Obter o limite inferior


1. Calcular a série futura utilizando cinco da previsão da TBM/
temporal da TBM/TBN modelos distintos TBN futura de cada
de regressão um dos modelos

5. A partir da TBM/TBN 4. Selecionar o menor


selecionada, derivar a dos limites inferiores de
quantidade mínima de previsão como a TBM/
óbitos/nascidos vivos TBN mínima prevista

Fonte: Cgiae/Daent/SVSA..

Figura 3 Passo a passo para predição do número esperado de eventos vitais

etapa 1 Splines cúbicos, polinômios fracionários e Joinpoint. Esses


A etapa 1 inclui o cálculo da TBN/TBM por município, modelos possuem semelhanças com modelos de regres-
para cada 1.000 habitantes (hab.), para a série histórica são linear, em que a variável dependente seria a TBN/TBM
disponível, tendo como denominador a população no ano t, e a variável explicativa é o ano t, com t indo de
municipal residente divulgada pelo Instituto Brasileiro de 2000 até o ano mais recente com dado oficial divulgado.
Geografia e Estatística (IBGE). Preconizou-se a utilização Os modelos testados apresentam, porém, diferenças im-
das séries temporais de TBN/TBM, incluindo todos os portantes em relação aos modelos tradicionais de regres-
anos disponíveis, a partir do ano 2000, até o ano mais são linear, que serão apresentadas a seguir.
recente da série com dados oficiais divulgados.
modelo linear
etapa 2 Neste modelo, a tendência é linear, seguindo uma reta,
Na etapa 2, objetiva-se estimar os valores preditos de enquanto os erros aleatórios são autorregressivos de
TBN/TBM para o ano de interesse. O método vigente, primeira ordem, isto é, AR1 e normalmente distribuídos.
estabelecido pela Portaria SVS/MS n.º 47, de 3 de maio Todos os parâmetros são estimados por máxima
de 2016, utiliza modelos de regressão linear simples para verossimilhança. Temos, portanto, que:
estimar o número esperado de nascidos vivos e óbitos,
a partir da série histórica dos sistemas, nos últimos
4 (quatro) anos, com ou sem correção.

No processo de construção da proposta metodológica,


optou-se por explorar diferentes modelos preditivos apli-
cados na literatura científica, a saber: linear, Prais-Winsten,

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Modelo Prais-Winsten Modelo joinpoint


Este modelo possui estrutura exatamente igual à do O último modelo considerado é um modelo de tendência
modelo Linear, isto é, a tendência é uma reta com erros linear por partes. A forma funcional é igual à do modelo
AR1 normais. A diferença é que os parâmetros β0, β1 e φ Linear, mas para intervalos de anos em vez do conjunto
são obtidos pelo método de Prais-Winsten, que é um total de anos da série. Em cada ponto de junção (joinpoint)
caso particular dos estimadores de mínimos quadrados dos intervalos, há uma mudança da inclinação da reta,
generalizados em dois estágios, enquanto o parâmetro uma inflexão sem descontinuidade, isto é:
σ2 é estimado pelo método dos momentos.

Modelo splines cúbicos


Neste modelo, a tendência é modelada de forma
não paramétrica suavizada e, portanto, pode ser não
linear. A forma não paramétrica é obtida a partir de J
funções splines cúbicas Bj (B-splines), com j variando
de 1 a J. O parâmetro J define a suavidade da curva e O parâmetro J define a quantidade de intervalos (são J-1
é estimado conjuntamente com os demais parâmetros pontos de junção sendo, neste trabalho, limitado a três)
do modelo por máxima verossimilhança penalizada, e é escolhido por meio de um procedimento automático
em que o parâmetro de penalização é obtido por um de testes sequenciais. Nesse modelo, tj são os anos do
procedimento de validação cruzada generalizada. Os intervalo j.
erros são considerados normais e independentes. Assim,
temos que: O modelo para a tendência é mais flexível do que nos
modelos Linear, Prais-Winsten e polinômios fracionários,
mas é menos geral do que splines cúbicos. Os erros são
considerados normais e independentes, apresentando
as mesmas dificuldades dos dois modelos anteriores por
não permitir autocorrelação dos erros.

Todos os cálculos e gráficos foram realizados com o


Esse modelo permite modelar tendências mais gerais do software estatístico R versão 4.1.36. Os modelos linear,
que qualquer outro modelo ajustado neste estudo, mas splines cúbicos e polinômios fracionários foram ajustados
pode gerar extrapolações muito diferentes do conjunto por meio das funções "arima", "smooth.splines" e "lm" do
de dados em alguns casos. Como não considera a R, respectivamente. O modelo Prais-winsten foi ajustado
possibilidade de erros correlacionados no tempo, a usando o pacote "prais"7 do R. Por fim, o modelo Joinpoint
variância estimada pode ser menor do que a verdadeira. foi ajustado com o pacote "segmented"8 do R.

Modelo polinômios fracionários etapa 3


Este modelo não é tão flexível para modelar a tendência A partir de cada modelo de regressão (Linear, Prais-
como o de splines cúbicos, mas permite formas um Winsten, Splines Cúbicos, Polinômios Fracionários e
pouco mais complexas do que uma simples reta, como Joinpoint), foi possível obter valores preditos de TBN
nos modelos Linear e de Prais-Winsten. A tendência aqui e TBM, estimados com dados dos anos t = 1, 2, ..., T (de
é modelada de forma polinomial, usando polinômios de 2000 a 2018 para prever a estimativa em 2020).
graus 1, ½ e 2, da seguinte forma:
Para a TBN, a previsão obtida com dados até T será
denotada por TBNT2, sendo calculada de modo diferente
para cada modelo, exceto para o modelo de Prais-
-Winsten, cujos valores previstos coincidem com os do
modelo Linear. A cada valor TBNT 2 previsto, existe um erro
de previsão associado, cuja variância é obtida de modo
Os parâmetros são estimados por mínimos quadrados e, aproximado para todos os modelos. Para os modelos
por não considerar a possível autocorrelação dos erros, a Prais-Winsten e Splines Cúbicos, a aproximação pode ser,
variância estimada pode ser menor do que a verdadeira, porém, bastante ruim, uma vez que não foram encontradas
impactando os intervalos de previsão. rotinas computacionais adequadas para um cálculo com
melhor qualidade. O mesmo se aplica para a TBM.

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Por fim, sob a premissa de que a distribuição normal é No caso da TBN, utilizando-se o ponto de corte de 9,4 como
adequada, para cada valor predito de TBNT 2 e TBMT 2 é sinalizador de subnotificação no Sinasc, o número esperado
estimado o limite inferior do intervalo de previsão de de nascidos vivos seria definido da seguinte forma:
95%, sendo calculado como o valor predito menos 1,96
vez o desvio padrão de seu erro de predição. � se TBN ≥ 9,4, utilizar o limite inferior do intervalo
de confiança de 95% do valor pontual predito pelo
etapa 4 modelo de Polinômios Fracionários para estimar a
Os modelos para tendência da TBN e da TBM foram quantidade mínima esperada de nascidos vivos a ser
automatizados, uma vez que realizar uma análise registrada no Sinasc;
manual para cada um dos 5.570 municípios brasileiros � se TBN < 9,4, utilizar valor pontual predito como a
seria inviável. Desse modo, com o intuito de se reduzir quantidade mínima esperada de nascidos vivos a ser
o risco de um modelo não ser adequado aos dados de registrada no Sinasc.
algum município ou dos dados estarem contaminados
com algum ponto atípico, bem como de se reduzir O processo completo relacionado ao Sinasc encontra-
o risco na estimação do limite inferior do intervalo se apresentado na Figura 4. De acordo com a meta
de previsão de 95%, decidiu-se pela opção mais estabelecida para o PQA-VS em 2020, caso o município
conservadora de utilizar apenas o menor valor pontual tenha registrado pelo menos 90% da quantidade
predito ou o menor dos limites inferiores de previsão mínima esperada de nascidos vivos no Sinasc, ele seria
feita para o município. Ou seja, para cada uma das cinco considerado como tendo uma alimentação regular
previsões feitas para cada município, padronizou-se sistema. Do contrário, seria considerado como tendo
a utilização do valor pontual predito ou do menor dos alimentação irregular do Sinasc, sendo passível de
limites inferiores de 95% dessas previsões, a depender bloqueio de recursos.
da identificação ou não de indicativos de subnotificação.
De forma conservadora, denomina-se esse valor como Para a TBM, tendo como ponto de corte o valor de 5,4
a TBN ou a TBM mínima prevista. para definição da subnotificação no SIM, o número
esperado de óbitos seria definido como segue:
etapa 5
Nesta etapa, realizou-se o cálculo inverso da TBN e da � se TBM ≥ 5,4, utilizar o limite inferior do intervalo de
TBM para, a partir de sua previsão e da população do confiança de 95% do valor pontual predito pelo modelo
município, obter-se a quantidade de nascidos vivos e de de Polinômios Fracionários para estimar a quantidade
óbitos prevista para o município. Essa quantidade mínima mínima esperada de óbitos a ser registrada no SIM;
está, portanto, implícita na previsão da taxa e poderá ser � se TBM < 5,4, utilizar valor pontual predito como
utilizada no denominador do cálculo do percentual da a quantidade mínima esperada de óbitos a ser
meta. Portanto, a quantidade mínima de nascidos vivos registrada pelo município no SIM.
prevista para o município é dada por: Quantidade mínima
de nascidos vivos = TBN mínima prevista × população /
1.000. O mesmo raciocínio aplica-se aos óbitos, a partir
da TBM.

avaliação da meta do PQa-vs a partir da


metodologia proposta
A partir das análises realizadas para predição da
quantidade mínima de nascidos vivos e de óbitos por
município, optou-se pelo uso apenas do modelo de
regressão utilizando Polinômios Fracionários, com a
variável modelada sendo a TBN ou a TBM de cada
município, que permite um melhor ajuste em caso de
não linearidade e de mudanças no final da série.

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Início

Calcular a série temporal da TBN do município


do ano 2000 até o ano t - 2

Prever a TBN do ano t utilizando modelo regressão de


polinômios fracionários com a série temporal

Obter o valor predito da TBN do ano t e o limite


inferior do seu intervalo de previsão de 95%

Obter o valor predito de nascidos vivos do ano t e


o limite inferior do seu intervalor de previsão de 95%

TBN do município,
observada no ano t
é menor do que 9,4?
Sim Não

Utilizar o valor predito como Utilizar o limite inferior como


quantidade mínima de quantidade mínima de
nascimentos a ser informada nascimentos a ser informada
pelo município no ano t pelo município no ano t

Pelo menos 90% da


quantidade mínima de nascidos
vivos foi registrada pelo
município no Sinasc?
Sim Não

Município com alimentação Município com alimentação


REGULAR do Sinasc IRREGULAR do Sinasc

Fim

Fonte: Autoria própria..

Figura 4 Fluxo para avaliação da meta do PQA-VS referente ao Sinasc

Similar ao que ocorre no Sinasc, caso o município tenha teria alimentação irregular do SIM, sendo passível de
registrado pelo menos 90% da quantidade mínima bloqueio de recursos. O processo completo relacionado
esperada de óbitos no SIM, ele seria considerado como ao SIM encontra-se apresentado na Figura 5.
tendo uma alimentação regular sistema . Caso contrário,

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Início

Calcular a série temporal da TBN do município


do ano 2000 até o ano t - 2

Prever a TBN do ano t utilizando modelo regressão de


polinômios fracionários com a série temporal

Obter o valor predito da TBN do ano t e o limite


inferior do seu intervalo de previsão de 95%

Obter o valor predito de nascidos vivos do ano t e


o limite inferior do seu intervalor de previsão de 95%

TBN do município,
observada no ano t
é menor do que 5,4?
Sim Não

Utilizar o valor predito como Utilizar o limite inferior como


quantidade mínima de quantidade mínima de
nascimentos a ser informada nascimentos a ser informada
pelo município no ano t pelo município no ano t

Pelo menos 90% da


quantidade mínima de óbitos
foi registrada?
Sim Não

Município com alimentação Município com alimentação


REGULAR do SIM IRREGULAR do SIM

Fim

Fonte: Autoria própria..

Figura 5 Fluxo para avaliação da meta do PQA-VS referente ao SIM

simulação de predição de nascidos vivos pelos anos 2000 a 2017. Desse modo, simula-se um
e óbitos processo em que as Etapas 1 a 5 ocorrem no ano 2018,
Como exemplo e teste do processo de previsão da com a realização de previsões das quantidades mínimas
quantidade mínima de nascidos vivos e de óbitos de de nascidos vivos a ocorrer em cada um dos municípios
um município, foi realizada uma simulação usando da- ao longo do ano 2019.
dos registrados nos sistemas no período compreendido

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A simulação foi realizada para todos os municípios do A Figura 6 mostra a série temporal da TBN do mu-
Brasil. No entanto, a título de exemplo, somente serão nicípio de Alagoinhas/BA, bem como o número
apresentados os resultados para nascidos vivos prove- de nascidos vivos registrados no Sinasc ano a ano.
nientes da simulação para o município de Alagoinhas, A predição para o ano de 2019 foi realizada consi-
na Bahia, cuja quantidade de nascidos vivos registrados derando-se os dados de 2000 até 2017 (círculos
no Sinasc no ano de 2019 foi considerada inadequada. pretos). São apresentados os valores preditos para
Quanto aos óbitos, foram apresentados os resultados 2019 e seus respectivos limites inferiores de previ-
da simulação para o município de Fortaleza, capital do são de 95% (triângulos de cores diversas), segundo
Ceará, que registrou um percentual de óbitos inferior a cada um dos cinco modelos ajustados (linhas com
90% do total esperado, considerado inadequado. Para padrões e cores diversas). No canto superior direito
ambos os eventos, foram reportados também os resul- do gráfico, são apresentados os valores preditos e
tados para municípios de maior porte populacional. os respectivos limites inferiores, enquanto algumas
informações básicas de 2019 são apresentadas no
canto superior esquerdo. A TBN de 2019 também foi
rESultAdoS dAS SimulAçõES representada no gráfico por meio de um círculo rosa,
pArA o Ano dE 2019 ressaltando-se que essa estimativa foi incluída ape-
nas para comparação com os valores preditos.
nascidos vivos
Na simulação para todas as capitais, a TBN estimada Na parte inferior da Figura 6, é apresentado o gráfico da
para o ano de 2019 a partir dos registros do Sinasc série temporal de nascidos vivos do referido município
foi maior do que as TBN mínimas estimadas para o da Bahia, de 2000 a 2019. A quantidade mínima de
mesmo ano. Consequentemente, a quantidade de nascidos vivos prevista para o município no ano de
nascidos vivos notificada ao Sinasc é maior do que 2019, implícita na TBN prevista, é apresentada como
a quantidade mínima prevista em todas as capitais. um círculo rosa. Além disso, como referência, o gráfico
Considera-se, portanto, adequada a quantidade de inclui o número de nascidos vivos disponibilizados
nascidos vivos notificada ao Sinasc pelas capitais das UF. pelo Registro Civil (RC), como um círculo verde.

Joinpoint = 16.48 LI: 15.49


NV Sinasc 2019 = 2138 Polinômios fracionários = 17.26 LI: 15.97
290070 Alagoinhas Splines cúbicos = 15.33 LI: 15.33
Taxa Bruta de Natalidade (TBN)

População 2019 = 151596


Prais−Winsten = 15.63 LI: 14.14
TBN observada 2019 = 14.1 Linear AR(1) = 15.63 LI: 14.23
15
10

Linear AR(1)
Prais−Winsten
5

Splines cúbicos
Polinômios fracionários
Joinpoint
0

2000 2005 2010 2015

Ano

290070 Alagoinhas
2.400

NV Sinsac
Nascidos Vivos

NV estimado
NV RC
2.200
2.000

2000 2005 2010 2015

Ano

Fonte: Cgiae/Daent/SVSA.

Figura 6 Gráficos dos resultados da simulação de previsão para Alagoinhas, Ceará

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Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente | Ministério da Saúde Volume 54 | N.º 3 | 27 Fev. 2023

Um resumo da quantidade e do percentual de muni- cípios com população de 100 mil a 500 mil habitantes
cípios que notificaram ao Sinasc uma quantidade de tiveram suas quantidades de nascidos vivos notificadas
nascidos vivos inadequada, segundo a simulação reali- ao Sinasc consideradas inadequadas: Alagoinhas (BA),
zada, é apresentada na Tabela 1, para o Brasil e Regiões. Carapicuíba (SP), Presidente Prudente (SP), Santa Bár-
Observa-se que 0,7% dos municípios brasileiros apre- bara d'Oeste (SP), São Caetano do Sul (SP), Alvorada
sentaram uma quantidade inadequada de nascidos vi- (RS) e Catalão (GO). Os resultados de Alagoinhas (BA)
vos notificados ao Sinasc, variando entre 0,2% na região foram previamente apresentados na Figura 6.
Nordeste e 1,3% na região Sudeste. Apenas sete muni-

tabela 1 Quantidade de municípios com quantidade inadequada de nascidos vivos notificados ao Sinasc, Brasil e Regiões, 2019

municípios com quantidade Percentual de municípios com


região total de municípios inadequada de quantidade inadequada de nascidos
nascidos vivos notificados vivos notificados (%)
norte 450 2 0,4

nordeste 1.794 4 0,2

sudeste 1.668 22 1,3

sul 1.191 8 0,7

centro-oeste 467 4 0,9

brasil 5.570 40 0,7

Fonte: Sinasc.

Óbitos Um resumo da quantidade e do percentual de


Na simulação para todas as capitais, com exceção municípios que notificaram ao SIM uma quantidade
de Fortaleza (CE), a TBM de 2019 calculada com os de óbitos inadequada é apresentado na Tabela 2, para
dados notificados ao SIM é maior do que a TBM mínima o Brasil e Regiões. Observa-se que o percentual de
prevista para esse mesmo ano e, consequentemente, municípios com quantidade inadequada de óbitos
a quantidade de óbitos notificada ao SIM é maior do notificados ao SIM (2,2%) está de acordo com o que seria
que a quantidade mínima prevista. Considera-se, esperado pelo uso dos modelos (2,5%). No entanto, esse
portanto, adequada a quantidade de óbitos notificada percentual varia de acordo com a Região do país, de 1,3%
ao SIM pelas capitais das UF, exceto Fortaleza (CE), cuja a 2,8%. Dois municípios com mais de 500 mil habitantes
quantidade notificada é considerada inadequada a partir tiveram suas quantidades de óbitos notificadas ao SIM
da simulação. consideradas inadequadas: Fortaleza (CE) e Ananindeua
(PA). Entre aqueles com população de 100 a 500 mil
O gráfico da série temporal da TBM do município de habitantes, quatro tiveram suas quantidades de óbitos
Fortaleza, capital do Ceará, é apresentado na parte notificadas ao SIM consideradas inadequadas, sendo
superior da Figura 7. A predição para o ano de 2019 todos da Região Nordeste: Maracanaú (CE), Parnamirim
foi realizada considerando-se os dados de 2000 até (RN), Porto Seguro (BA) e Patos (PB).
2017 (círculos pretos). São apresentados os valores
preditos para 2019 e seus respectivos limites inferiores
de previsão de 95% (triângulos de cores diversas),
segundo cada um dos cinco modelos ajustados (linhas
com padrões e cores diversas). No canto superior
direito do gráfico, são apresentados os valores preditos
e os respectivos limites inferiores, enquanto algumas
informações básicas de 2019 são apresentadas no
canto superior esquerdo.

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Joinpoint = 6.87 LI: 6.42


Óbito SIM 2019 = 15400 Polinômios fracionários = 6.93 LI: 6.28
230440 Fortaleza Splines cúbicos = 6.91 LI: 6.54
Taxa Bruta de Mortalidade (TBM)

População 2019 = 2669342


Prais−Winsten = 6.6 LI: 5.
TBM observada 2019 = 5.8 Linear AR(1) = 6.62 LI: 6.03
6
4

Linear AR(1)
Prais−Winsten
2

Splines cúbicos
Polinômios fracionários
Joinpoint
0

2000 2005 2010 2015

Ano

230440 Fortaleza
11.000 14.000 17.000

Óbito SIM
Óbito estimado
Óbito RC
Óbitos

2000 2005 2010 2015

Ano

Fonte: Cgiae/Daent/SVSA.

Figura 7 Gráficos dos resultados da simulação de previsão para Fortaleza, Ceará

tabela 2 Quantidade de municípios com quantidade inadequada de óbitos notificados ao SIM, Brasil e Regiões, 2019

municípios com quantidade Percentual de municípios com


região total de municípios inadequada de quantidade inadequada
óbitos notificados de óbitos notificados (%)
norte 450 6 1,3

nordeste 1.794 50 2,8

sudeste 1.668 31 1,9

sul 1.191 26 2,2

centro-oeste 467 8 1,7

brasil 5.570 121 2,2

Fonte: SIM.

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conSidErAçõES FinAiS 3. Castro MC, Han QC, Carvalho LR, Victora CG, França
GVA. Implications of Zika virus and congenital Zika
Foram explorados diferentes métodos de estimação, syndrome for the number of live births in Brazil. Proc
sendo cinco modelos diferentes de regressão, entre Natl Acad Sci U S A. 2018 Jun 12;115(24):6177-6182.
lineares e não lineares. A partir das análises realizadas doi: 10.1073/pnas.1718476115.
com a previsão da quantidade mínima de nascidos
vivos e de óbitos, optou-se pelo uso apenas do modelo 4. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância
de regressão utilizando Polinômios Fracionários, com em Saúde. Departamento de Análise em Saúde
a variável modelada sendo a TBN ou a TBM de cada e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis.
município, permitindo assim um melhor ajuste em caso Coordenação-Geral de Informações e Análise
de não linearidade e de mudanças no final da série, Epidemiológica. Mortalidade materna no Brasil, 2009
como a epidemia de microcefalia associada à infecção a 2020. Boletim Epidemiológico 2022; 53(20):19-29.
congênita pelo vírus Zika, em 2016, e a pandemia
gerada pela covid-19, ainda em curso. Também foram 5. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria GM n.º 47, de
analisados os resultados de todas as capitais, todos 3 de maio de 2016. Define os parâmetros para
os municípios de grande porte e muitos municípios de monitoramento da regularidade na alimentação do
médio e pequeno porte populacional, aplicando-se os Sistema de Informação de Agravos de Notificação
modelos a dados de anos anteriores. (SINAN), do Sistema de Informações de Nascidos
Vivos (Sinasc) e do Sistema de Informações sobre
A partir das análises realizadas, foram propostos fluxos Mortalidade (SIM), para fins de manutenção do
para avaliação das metas do PQA-VS, corrigindo pro- repasse de recursos do Piso Fixo de Vigilância
blemas identificados na metodologia anteriormente em Saúde (PFVS) e do Piso Variável de Vigilância
utilizada. Assim, espera-se que a nova metodologia se em Saúde (PVVS) do Bloco de Vigilância em
adeque melhor a diferentes cenários de natalidade e Saúde. Diário Oficial da União, Brasília (DF), 2016
de mortalidade, permitindo assim uma avaliação mais mai 3 [citado 2023 jan 24]. Disponível em: https://
equânime dos municípios. bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/svs/2016/
prt0047_03_05_2016.html.

rEFErÊnciAS 6. R Core Team (2022). R: A language and environment


for statistical computing. R Foundation for Statistical
1. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria GM n.º 1.708, de Computing, Vienna, Austria. URL https://www.R-
16 de agosto de 2013. Regulamenta o Programa project.org/.
de Qualificação das Ações de Vigilância em Saúde
(PQAVS), com a definição de suas diretrizes, 7. Mohr, Franz X. (2021). prais: Prais-Winsten Estimator
financiamento, metodologia de adesão e critérios for AR(1) Serial Correlation. R package version 1.1.2.
de avaliação dos Estados, Distrito Federal e https://CRAN.R-project.org/package=prais.
Municípios. Diário Oficial da União, Brasília (DF), 2013
ago 16 [citado 2023 jan 24]. Disponível em: https:// 8. Muggeo, Vito M. R. (2008). segmented: an R
bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/ Package to Fit Regression Models with Broken-Line
prt1708_16_08_2013.html. Relationships. R News, 8/1, 20-25. https://cran.r-
project.org/doc/Rnews/.
2. Programa de Qualificação das Ações de Vigilância
em Saúde [Internet]. Brasília (DF): Ministério da Saúde;
2023 [citado 2023 jan 24]. Disponível em: https://
www.gov.br/saude/pt-br/acesso-a-informacao/
acoes-e-programas/programa-de-qualificacao-das-
acoes-de-vigilancia-em-saude.

Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas / Departamento de Análise Epidemiológica e Vigilância de


Doenças Não Transmissíveis / Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (Cgiae/Daent/SVSA).2

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Boletim Epidemiológico
ISSN 9352-7864

©1969. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde


e Ambiente.
É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde
que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim
comercial.

secretaria de vigilância em saúde e ambiente (svsa)


Ethel Leonor Noia Maciel

departamento de doenças transmissíveis (dedt)


departamento do Programa nacional de imunizações (dPni)
Eder Gatti Fernandes
departamento de análise epidemiológica e vigilância
de doenças não transmissíveis (daent)
Maria del Carmen Bisi Molina
departamento de vigilância em saúde ambiental e saúde
do trabalhador (dsast)
departamento de emergências em saúde Pública (demsp)
Márcio Henrique de Oliveira Garcia
departamento de articulação estratégica de vigilância
em saúde e ambiente (daevs)
Pedro Eduardo Almeida da Silva
departamento de Hiv/aids, tuberculose, Hepaties virais
e infecções sexualmente transmissíveis (dviaHv)
Draurio Barreira Cravo Neto

ElABorAção:
coordenação-geral de informações e análises epidemiológicas (cgiae/daent)
1
Julia do Amaral Gomes, João Matheus Bremm, Amarílis Bahia Bezerra, Ruanna Sandrelly de Miranda Alves, Marli Souza Rocha.
2
Denise Lopes Porto, Giovanny Vinícius Araújo de França, Marli Souza Rocha.

produção:
núcleo de comunicação (nucom)
Edgard Rebouças

Editorial – nucom
Fred Lobo, Sabrina Lopes
revisão – nucom
Erinaldo Macêdo, Samantha Nascimento

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