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Capítulo

Vigilância epidemiológica
e doenças de notificação
6
compulsória

Denise Maciel Carvalho

Introdução
Prezado(a) aluno(a), seja bem-vindo(a).

Neste capítulo, abordaremos o conceito de vigilância


epidemiológica e sua aplicabilidade no sistema de saúde
brasileiro (SUS). Apresentaremos a Lista Nacional de Doenças
de Notificação Compulsória, sua finalidade, bem como a sua
concepção.

Tratar destes assuntos é fundamental para que possamos


compreender a importância da vigilância epidemiológica para a
saúde da população e para o desempenho dos profissionais.

Espero que essa leitura lhe seja prazerosa e possa contribuir para
seu desenvolvimento profissional!

Objetivos
Ao final deste capítulo, espero que você seja capaz de:
• Conceituar Vigilância Epidemiológica (VE);
• Reconhecer os conceitos Notificação, Investigação, Busca
Ativa e sua importância para uma Vigilância Epidemiológica
(VE) de qualidade;
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• Compreender a importância da Definição de Caso em


Vigilância Epidemiológica (VE);
• Compreender como é estruturada a Lista Nacional de
Doenças de Notificação Compulsória;
• Conhecer a lista de doenças e agravos de notificação
compulsória, imediata e de surtos, adotada atualmente no
Brasil e no estado de Minas Gerais.

Esquema
6.1 – Vigilância Epidemiológica
6.1.1 Um pouco de história...
6.1.2 Vigilância Epidemiológica (VE) de doenças
transmissíveis e de agravos não transmissíveis
6.1.3 Definição de caso
6.1.4 Epidemias e agravos inusitados
6.2. Doenças de Notificação Compulsória
6.2.1 Critérios de seleção dos agravos
6.2.2 Lista Brasileira de Doenças de Notificação Compulsória
6.3 Considerações Finais

6.1 Vigilância Epidemiológica

De acordo com a Lei Orgânica da Saúde, Lei no 8.080, de 1990,


Vigilância Epidemiológica (VE) é
[...] um conjunto de ações que proporcionam o
conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer
mudança nos fatores determinantes e condicionantes
de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de
recomendar e adotar as medidas de prevenção e
controle das doenças e agravos. (BRASIL,1990).

Assim, para atender à sua finalidade, a VE tem que ser alimentada com
informações sobre as doenças e agravos que estão sob vigilância ou que
possam ocorrer de modo inusitado.
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6.1.1 Um pouco de história....

Antes de adentrarmo-nos nas características da VE, busquemos na


História a origem desses registros específicos na área da Saúde. Para
isso, vamos nos valer do excelente trabalho de pesquisadores brasileiros
e que foi publicado no Informe Epidemiológico do SUS, em março de
1998. (TEIXEIRA et al, 1998):

SAIBA MAIS

Registros indicam que a primeira lista de doenças de notificação compulsória


surgiu em Veneza, Itália, em1377, em legislação fundamentada na
quarentena. Em 1851, também em Veneza, ocorreu a primeira Conferência
Sanitária Internacional, na qual foram estabelecidos os princípios de máxima
proteção contra a propagação internacional de enfermidades e com mínima
restrição, para as viagens e comércio internacional.

Estes princípios foram fundamentais para a formulação do primeiro


Regulamento Sanitário Internacional, em maio de 1951, e são, até
hoje, observados. Naquela época foram definidas seis enfermidades
quarentenáveis: peste, cólera, febre amarela, varíola, tifo e febre recorrente,
todas transmissíveis.

No Brasil, as “Normas Gerais sobre Defesa e Proteção da Saúde” instituídas


em 1961 relacionavam 45 doenças, além de outras viroses humanas e
infortúnios do trabalho, como de notificação compulsória.

Entretanto, só em 1969, em consequência ao entusiasmo dos resultados


da Campanha de Erradicação da Varíola (CEV) e dos seus ensinamentos
quanto ao valor prático da metodologia de Vigilância Epidemiológica, foi
que se iniciou a notificação sistemática de algumas doenças transmissíveis.
Sob a responsabilidade da Fundação de Serviços de Saúde Pública -
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FSESP/Ministério da Saúde, as informações eram coletadas através das


Secretarias Estaduais de Saúde e outros órgãos específicos deste Ministério
e divulgadas em um Boletim Epidemiológico com periodicidade quinzenal.

Com a instituição do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica - SNVE,


formalizado em 1975 e regulamentado em 1976, foi que se ampliou o leque
de doenças de notificação compulsória, incorporando, além das previstas
no Regulamento Sanitário Internacional, aquelas vinculadas ao programa
de imunizações, as coordenadas por órgãos específicos do Ministério da
Saúde (malária, hanseníase e tuberculose) e as meningites em geral. Nos
anos seguintes, outras doenças vêm sendo acrescentadas à lista inicial de
acordo com a realidade epidemiológica.

Entretanto, a diversidade, complexidade e dimensão continental do Brasil,


torna pouco realista a existência de uma única lista de doenças para todo o
seu território, mesmo que se tente contemplar as diferenças regionais, por
isso estados e municípios podem acrescentar doenças a esta lista, caso
necessário, mas jamais retirar. O objetivo destas informações é alimentar os
bancos de dados nacionais de modo a permitir análises mais globalizadas
que orientem o planejamento e adoção de medidas de controle coletivas
necessárias ao conjunto ou grupos específicos da população brasileira, em
situações rotineiras ou emergenciais.

Estados e municípios devem ser continuamente estimulados a elaborarem


suas listas complementares visando o fortalecimento dos sistemas locais de
vigilância epidemiológica, para enfrentamento dos problemas de acordo com
a realidade de cada área. Esta heterogeneidade, aliada ao aperfeiçoamento
da capacidade técnica e operacional do sistema tendo como núcleo comum
as doenças de notificação nacional, serve para imprimir uma maior agilidade
nas respostas necessárias à resolução dos problemas.
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6.1.2 Vigilância Epidemiológica de Doenças Transmissíveis e de


Agravos Não Transmissíveis

As doenças de notificação compulsória são as que podem colocar em


risco a saúde das coletividades e, tradicionalmente, vêm se restringindo
às doenças transmissíveis. Entretanto, a partir da 21a Assembleia
Mundial de Saúde (1968) passou-se a discutir a abrangência do conceito
de VE, e salientar a sua aplicação a outros problemas de saúde, não
transmissíveis, como as violências, intoxicação exógena e agravos
relacionados ao trabalho.

Com o passar dos anos e as mudanças no perfil epidemiológico da


população, em que se observam o declínio das taxas de mortalidade por
doenças infecciosas e parasitárias e o crescente aumento das mortes por
causas externas e doenças crônicas degenerativas, tem-se considerado
que muitas enfermidades não transmissíveis são resultantes do processo
de transformação das sociedades modernas, e que colocam em risco
importantes grupos populacionais impondo enfrentamentos coletivos.

A Constituição Brasileira de 1988, ao reconhecer o conceito ampliado de


saúde e seus determinantes, incorporou a proposta de descentralização
na qual o município é a instância privilegiada para o desenvolvimento das
ações de saúde (Lei no 8.080 de 1990), recolocando para os gestores
das três esferas de governo a necessidade cotidiana de aperfeiçoamento
para o desenvolvimento do SUS. Nessa perspectiva, foi concebido, em
1992, o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) com
o propósito de ser utilizado a partir do nível local, visando à racionalização
do processo de coleta e transferência de dados relacionados às doenças
e agravos de notificação compulsória.

Entretanto, as subnotificações sempre foram uma das principais


dificuldades para a VE e têm causas variadas que vão desde a pouca
sensibilidade e informação dos profissionais de saúde, até a falta de
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prioridade da notificação das doenças na rede de serviços. Outra


dificuldade é a lentidão do sistema, desde os profissionais trabalhando
na rede de serviços até a VE municipal e estadual dificultando a produção
das informações geradas, que não ficam disponíveis nos diversos níveis
do sistema de modo ágil e oportuno de maneira a responder prontamente
ao processo informação-decisão-ação, principal objetivo da VE.
(TEIXEIRA et al, 1998).

A notificação é um instrumento valioso e o mais utilizado na vigilância


epidemiológica, mas não é o único. O conceito de VE pressupõe a
análise de todas as informações sobre a ocorrência de doenças e de
seus fatores condicionantes, com vistas à orientação de medidas de
prevenção e controle. Muitas dessas informações estão disponíveis
em outros sistemas além do Sinan e outras terão que ser coletadas
diretamente, de diferentes formas.

Fundamental é não se perder de vista os fins específicos para os


quais essas informações se destinam: a compreensão do quadro
epidemiológico - suas tendências e fatores que condicionam ou
determinam o comportamento do fenômeno estudado - para a tomada de
decisões oportunas. Caso contrário, corre-se o risco de que a notificação
passe a ser apenas um registro estatístico, superpondo-se a muitos
outros que existem no sistema de saúde.

Dispõe-se de outros sistemas de informações que se referem ao


atendimento hospitalar e ambulatorial, à realização de exames
complementares, ao registro de nascimentos e de óbitos, à visitação
domiciliar por profissionais e agentes comunitários, dentre outros. Os
registros neles contidos são importantes fontes de informações sobre a
ocorrência de doenças, contudo, nem sempre são utilizados na rotina do
trabalho da VE, particularmente em áreas onde apenas ocorre a simples
coleta e transferência de informações para o nível imediatamente superior
do sistema, sem a preocupação da adoção de medidas de controle.
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Destacamos o SI-PNI (Sistema de Informação do Programa Nacional de


Imunizações); os sistemas dos programas de controle de endemias (dengue:
SPNCD, chagas: SisPCDCH); mortalidade: SIM, nascidos vivos: SINASC,
internações hospitalares: SIH/SUS, atendimentos ambulatoriais: SIA/SUS,
atenção primária: E-SUS e regulação de leitos hospitalares (SUS-fácil).

Outras informações são geradas fora do setor saúde (Instituto Brasileiro


de Geografia e Estatística, Saneamento, Educação), e podem ser uteis
durante as análises epidemiológicas específicas da VE e da situação de
saúde, devendo ser utilizadas com maior frequência na rede de serviços
de saúde, por exemplo na elaboração dos planos municipais da saúde
e outros documentos para planejamento de ações de saúde. (TEIXEIRA
et al., 1998, s/d).

Outra importante fonte de dados para a VE é o laboratório. O Ministério da


Saúde instalou, em 1974, em cada Estado da Federação, um Laboratório
Central de Saúde Pública (Lacen) para coordenar os procedimentos de
diagnóstico. Em Minas Gerais, o Lacen está na Fundação Ezequiel Dias,
no Instituto Octávio Magalhães, abrangendo várias redes diagnósticas
das doenças e agravos de notificação compulsória e programas de
monitoramento da qualidade de produtos sujeitos ao controle sanitário.

A Rede Estadual de Laboratórios de Saúde Pública do Estado de Minas


Gerais (RELSP/MG) foi criada em março de 2001 e tem como principal
atividade o atendimento à sua região. Cinco laboratórios integram a
RELSP/MG: Laboratórios Macrorregionais – LMR de Juiz de Fora,
Montes Claros, Pouso Alegre, Teófilo Otoni e Uberaba. Os resultados de
exames laboratoriais são utilizados na rotina da VE como um dado que
complementa o diagnóstico de confirmação da investigação epidemiológica.

Outra atividade extremamente importante é a Investigação


epidemiológica, que deve dar sequência à notificação do caso (agravo –
individual ou surto). A investigação parte da simples suspeita da existência
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de um evento sanitário para determinar sua causa, riscos presentes


ou potenciais para outros indivíduos, visando orientar as medidas de
controle pertinentes. A responsabilidade da notificação é do serviço ou
profissional que está prestando assistência médica ao paciente, mas a
investigação epidemiológica é de responsabilidade do serviço local de
vigilância epidemiológica, que pode contar, se necessário, com o apoio do
serviço regional, estadual e/ou nacional. As investigações geram valiosas
informações, que servem não só para subsidiar a intervenção naquele
evento específico, como também para possíveis situações futuras.

Em um sistema de vigilância, as investigações devem ser acompanhadas


da busca ativa de casos que as complementam, determinando, com
maior precisão, a magnitude e a área geográfica de abrangência do evento.

A imprensa e a população também são importantes canais de


comunicação para que a VE possa investigar todas as informações
geradas nas comunidades a respeito da suspeita de ocorrência de
agravos inusitados ou de doenças que estão sob vigilância.

IMPORTANTE!

Entretanto, estas são informações que devem complementar as demais


produzidas pelo setor saúde, e não a principal fonte de informação.

Existem outros métodos que permitem apontar, com razoável grau


de precisão, a frequência de doenças, estimar riscos e recomendar
a adoção de medidas adequadas de controle, dos quais podemos
destacar os estudos epidemiológicos, que são inquéritos amostrais
periódicos que podem ser eficazes para analisar e acompanhar um
determinado problema, cujo controle não depende, necessariamente,
do monitoramento contínuo de sua ocorrência.
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Nas figuras 1 e 2 observamos o modelo de ficha de investigação de meningite


(frente e verso), uma das doenças de notificação compulsória no Brasil.
Figura 1- Ficha de investigação de meningite – Sinan (frente).

Fonte: Brasil (2007).


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Figura 2 - Ficha de investigação de meningite – Sinan (verso).

Fonte: Brasil (2007).


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Destacamos também os Sistemas Sentinelas, que são uma importante


estratégia de informação para a VE através da organização de redes
constituídas por fontes de notificação especializadas, voltadas para
o estudo de problemas de saúde ou de doenças específicas. As
chamadas fontes sentinelas, quando bem selecionadas, são capazes
de assegurar representatividade e qualidade às informações produzidas,
ainda que não se pretenda conhecer o universo de ocorrências. Como
exemplo, citamos a rede sentinela de influenza no estado de Minas
Gerais, em que serviços especializados cadastrados promovem a coleta
de material biológico de casos de síndrome gripal para monitoramento
das cepas circulantes e posterior contribuição à produção de vacinas
específicas, de acordo com as cepas encontradas.

6.1.3 Definição de Caso

O uso de informações de saúde nas análises epidemiológicas requer a


observância de alguns critérios mínimos, que confiram fidedignidade aos
achados e consequentes recomendações que apoiarão a proposta de
intervenção. Neste sentido, uma importante preocupação diz respeito à
necessidade de padronização da definição de normas e procedimentos
técnicos para cada doença e agravo.

Nesta padronização, especial destaque deve ser dado à definição de


caso de cada dano, doença ou agravo, visando tornar comparáveis
os critérios diagnósticos que regulam a entrada dos casos no sistema,
sejam como suspeitos, prováveis, confirmados ou descartados, de
acordo com a apresentação clínica, diagnóstico laboratorial e situação
epidemiológica específica para cada doença.

Em 1978, o Manual de Vigilância Epidemiológica da Secretaria da Saúde


do Estado de São Paulo destacou como item específico das suas normas
a definição de caso suspeito e confirmado para cada doença e o Guia
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de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde padronizou estas


definições para todo o Brasil em 1986, e todas as atualizações seguintes
seguiram este padrão, inclusive a atual, de 2019. (TEIXEIRA et al, 1998).

A definição de caso de uma doença ou agravo pode se modificar ao


longo de um período em consequência das alterações na epidemiologia
da doença, da intenção de ampliar ou reduzir os parâmetros de ingresso
de casos no sistema, aumentando ou diminuindo a sua sensibilidade e
especificidade. Há a necessidade de que os níveis locais e estaduais do
sistema, ao tomarem a iniciativa de acrescentar novos agravos à lista,
elaborem com antecedência as normas técnicas e operacionais com
particular atenção para as definições de caso. Um exemplo da definição
de caso padronizada pelo Ministério da Saúde encontra-se na ficha de
investigação de meningite. (Figura 1, anterior).

6.1.4 Epidemias e agravos inusitados

Todas as suspeitas de epidemias ou de ocorrência de agravo


inusitado devem ser investigadas e imediatamente notificadas aos
níveis hierárquicos superiores pelo meio mais rápido de comunicação
disponível. Mecanismos próprios de notificação devem ser instituídos,
definidos de acordo com a apresentação clínica e epidemiológica do
evento.

É fundamental que técnicos e gestores do nível local do sistema coloquem


os outros níveis em alerta para que estes também se organizem, caso
haja a necessidade de atuação mais especializada ou mais abrangente,
pois sempre existe a possibilidade de o evento sanitário ultrapassar a
capacidade de resolutividade da área de ocorrência. O planejamento
adequado dos trabalhos de investigação e da atenção médica e da
coleta e transporte de exames para diagnóstico laboratorial, dentro do
rigor técnico e científico vigente, mesmo em situações emergenciais, é a
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chave para se chegar ao correto diagnóstico do agravo ou doença bem


como da formulação de hipóteses consistentes e consequente controle
da situação. (TEIXEIRA et al, 1998).

Atualmente, as informações das epidemias e agravos inusitados chegam


até os diferentes níveis do sistema por telefone, e-mail, relatórios,
comunicações pessoais, redes sociais, etc. Nesse sentido, é importante
lembrar a existência dos CIEVS – Centros de Informações Estratégicas
de Vigilância em Saúde, que compõem a Rede Nacional de Alerta e
Resposta às Emergências em Saúde Pública. No Brasil, são 54 centros
ativos, com representações nos 26 Estados, 1 no Distrito Federal, em
todas as 26 capitais, e em um município estratégico localizado em Foz do
Iguaçu/PR. Estes centros estão integrados por tecnologia de informação
e comunicação que permitem a resposta coordenada.

Nos últimos anos, a ocorrência de epidemias e pandemias por doenças


emergentes ou reemergentes, obrigou a comunidade internacional
a aprimorar os serviços de vigilância em saúde. Veja exemplos da
necessidade de aperfeiçoamento da vigilância em saúde em âmbito
internacional e nacional (federal, estadual e municipal):
• a pandemia por H1N1 em 2009,
• o uso de Antraz em atos terroristas,
• catástrofes ambientais como os rompimentos das barragens de
Mariana e Brumadinho,
• SARS-CoV foi identificado em 2002 como a causa de um surto da
síndrome respiratória aguda grave (SARS);
• SARS-CoV-2 é o novo coronavírus identificado como agente
etiológico da doença pelo coronavírus 2019 (Covid-19) que começou
em Wuhan, na China, no final de 2019 e se espalhou por todo o
mundo;
• Mers-CoV foi identificado em 2012 como a causa da síndrome
respiratória do Oriente Médio (MERS).
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Nas investigações, a elucidação do agente responsável, fatores de


risco e adoção de medidas de prevenção e controle em tempo hábil,
só é possível a partir da notificação imediata durante a suspeita, não
sendo necessário aguardar o resultado final das análises laboratoriais.
É a integração entre os profissionais de saúde do setor público e
privado, Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Secretaria Estadual de
Saúde (SES) e o Ministério da Saúde (MS) que permite a adoção e
implementação de medidas de controle e prevenção oportunas.

Diante deste cenário e continuando o processo de estruturação e


aperfeiçoamento do serviço de recebimento, processamento e resposta
oportuna às emergências epidemiológicas, o Centro de Informações
Estratégicas em Vigilância em Saúde – CIEVS tem atuação direta na
resposta rápida às emergências de saúde pública.

Atuação do CIEVS

• Identificar emergências epidemiológicas, de modo contínuo e


sistemático, por meio de notificação telefônica (Disque Notifica),
eletrônica (E-notifica) e mineração de informações nos principais
meios de comunicação.
• Aperfeiçoar os mecanismos de triagem, verificação e análise
das notificações para identificar e responder às emergências
epidemiológicas.
• Fortalecer a articulação entre a SVS/MS, SES, SMS e outros
órgãos e/ou instituições, para o desencadeamento de resposta às
emergências epidemiológicas.
• Apoiar as áreas técnicas da SVS/MS e SES ou SMS na formulação
de Planos de Respostas às emergências epidemiológicas, por meio
de: informações epidemiológicas oportunas, fomento à estruturação
de Unidades de Respostas, dentre outras ações.
• Monitorar e avaliar a implementação dos planos de respostas
às emergências epidemiológicas, para os eventos de relevância
nacional, pela análise do Sinan Surtos e dos instrumentos de
avaliação desenvolvidos pelo CIEVS.
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• Disponibilizar às áreas técnicas da SVS/MS, estrutura física e


tecnologia da informação, para a análise de situação de saúde dos
programas prioritários da SVS/MS.
• Disponibilizar informações oportunas sobre as emergências
epidemiológicas de relevância nacional e programas prioritários da
SVS/MS. (BRASIL, s/d).

Em Minas Gerais, o CIEVS Minas está disponível 24 horas por dia, 7


dias por semana e as notificações podem ser feitas por e-mail notifica.
se@saude.mg.gov.br por qualquer pessoa. O telefone de plantão é
(31) 99744-6983.

6.2 Doenças de Notificação Compulsória

Assim, a VE deve ser alimentada com informações sobre as doenças


e agravos que estão sob vigilância ou que possam ocorrer de modo
inusitado. O ato de informar é denominado Notificação, que indica a
comunicação da ocorrência de determinada doença ou agravo à saúde,
feita à autoridade sanitária por profissionais de saúde ou qualquer
cidadão, para adoção das medidas de intervenção pertinentes. Destina-
se, em primeira instância, ao serviço local de saúde incumbido de
controlar a ocorrência. (TEIXEIRA et al, 1998).

A Lei n° 6.259 de 30 de outubro de 1975 dispõe sobre a organização


das ações de Vigilância Epidemiológica e estabelece normas relativas à
notificação compulsória de doenças, explicitando em seu Artigo 8°:
É dever de todo cidadão comunicar à autoridade
sanitária local a ocorrência de fato, comprovado ou
presumível, de caso de doença transmissível, sendo
obrigatória a médicos e outros profissionais de saúde
no exercício da profissão, bem como aos responsáveis
por organizações e estabelecimentos públicos e
particulares de saúde e ensino a notificação de casos
suspeitos ou confirmados das doenças relacionadas em
conformidade com o Artigo 7º. (BRASIL, 1975).
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O Artigo 7º acima referido diz:


São de notificação compulsória às autoridades
sanitárias os casos suspeitos ou confirmados: I - de
doenças que podem implicar medidas de isolamento ou
quarentena, de acordo com o Regulamento Sanitário
Internacional; II - de doenças constantes de relação
elaborada pelo Ministério da Saúde, para cada Unidade
da Federação, a ser atualizada periodicamente.
(BRASIL, 1975).

O Artigo 14 da mesma Lei observa ainda: “A inobservância das obrigações


estabelecidas nesta Lei constitui infração sanitária e sujeita o infrator
às penalidades previstas em lei, sem prejuízo das demais sanções
penais cabíveis. (Redação dada pela lei nº 13.730, de 2018).” (BRASIL,
1975). A sua inobservância é considerada infração às normas sanitárias
brasileiras, pressupondo penalidades que vão desde uma simples
advertência, até multas, previstas no Decreto Lei no 785, de 19696.
Entretanto, a VE trabalha na perspectiva do estímulo e persuasão
dos profissionais e cidadãos para o exercício da notificação como
um dever de cidadania e não por receio a punições legais.

6.2.1 Critérios de seleção dos agravos

As doenças sujeitas ao Regulamento Sanitário Internacional (RSI)


(OPAS-BRASIL, s/d) fazem parte de todas as listas dos países membros da
OMS. A seleção de outras doenças e agravos tem obedecido a uma série de
critérios e os mais utilizados têm sido os seguintes (TEIXEIRA et al, 1998):
· Magnitude - doenças com elevada frequência que
afetam grandes contingentes populacionais, que se
traduzem pela incidência, prevalência, mortalidade,
anos potenciais de vida perdidos.
· Potencial de disseminação - expressa-se pela
transmissibilidade da doença, possibilidade da sua
disseminação através de vetores e demais fontes de
infecção, colocando sob risco outros indivíduos ou
coletividades.
· Transcendência - que se tem definido como um
conjunto de características apresentadas por doenças
e agravos, de acordo com sua apresentação clínica
UNIUBE 185

e epidemiológica, das quais as mais importantes


são: a severidade medida pelas taxas de letalidade,
hospitalizações e sequelas; a relevância social que
subjetivamente significa o valor que a sociedade imputa
à ocorrência do evento através da estigmatização
dos doentes, medo, indignação quando incide em
determinadas classes sociais; e as que podem
afetar o desenvolvimento, o que as caracteriza
como de relevância econômica devido a restrições
comerciais, perdas de vidas, absenteísmo ao trabalho,
custo de diagnóstico e tratamento, etc.
· Vulnerabilidade - doenças para as quais existem
instrumentos específicos de prevenção e controle,
permitindo a atuação concreta e efetiva dos serviços de
saúde sob indivíduos ou coletividades.
· Compromissos internacionais - o Governo brasileiro
vem firmando acordos juntamente com os países
membros da Organização Pan-americana de Saúde
/ Organização Mundial de Saúde (OPAS/OMS), que
visam empreender esforços conjuntos para o alcance
de metas continentais ou até mesmo mundiais de
controle, eliminação ou erradicação de algumas
doenças. Exemplo mais expressivo é o do Programa de
Erradicação do Poliovírus Selvagem, que alcançou a
meta de erradicação proposta para as Américas. Desta
forma, teoricamente a poliomielite deveria ser excluída da
lista, mas, este programa preconiza a sua manutenção e
sugere ainda que se acrescentem as Paralisias Flácidas
Agudas, visando à manutenção da vigilância ativa do
vírus, para que se detecte a sua introdução em países
indenes, visto que o mesmo continua circulando em
áreas fora do continente americano.

6.2.2 Lista Brasileira de Doenças de Notificação Compulsória

Os Estados e Municípios devem discutir a inclusão de outras doenças e


agravos à lista nacional, visando ao fortalecimento dos sistemas locais
de vigilância epidemiológica para o enfrentamento dos problemas de
saúde, de acordo com o quadro epidemiológico em cada uma dessas
esferas de Governo. Os quadros 1, 2 e 3 apontam as doenças e agravos
de notificação compulsória no Brasil e no estado de Minas Gerais, de
acordo com a Portaria de Consolidação n°4 de 2017 (BRASIL, 2017) e
Resolução SES/MG nº 6.532 de 2018. (MG, 2018).
186 UNIUBE

Quadro 1 – Doenças e agravos de notificação compulsória.

Fonte: SES-MG (2018, p.7-14).


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Quadro 2 – Doenças de notificação compulsória imediata.

Fonte: SES-MG (2018, p.7-14).


188 UNIUBE

Quadro 3 – Notificação de surto.

Fonte: SES-MG (2018, p.7-14).


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6.3 Considerações Finais

A notificação e investigação de qualquer caso e/ou surto deve,


obrigatoriamente, obedecer à definição de caso de cada agravo publicado
no Guia de Vigilância em Saúde (atualmente está em vigor a 3ª edição,
de 2019) e das atualizações emanadas das coordenações de áreas
específicas do Ministério da Saúde e/ou Secretaria Estadual de Saúde.

Todo e qualquer surto de doença ou ocorrência de agravo inusitado,


independentemente de constar na lista de doença de notificação
compulsória, deve obrigatoriamente ser notificado ao Ministério da Saúde
e investigado.

O estabelecimento de uma lista de doenças de notificação pressupõe a


utilização sistemática dos dados para orientar medidas de intervenção.
Nesse sentido, é necessária a capacitação técnico-operacional dos
órgãos responsáveis pela vigilância epidemiológica, em todos os
níveis, para o processamento, análise e disseminação de informações
decorrentes da notificação.

Para que as recomendações feitas possam ser implementadas, é


necessário que os gestores, nas três esferas de Governo, não poupem
esforços para alocar recursos financeiros e habilitar recursos humanos
para o desencadeamento das ações de vigilância epidemiológica, seja
através da notificação compulsória, seja através dos demais métodos
propostos.

É fundamental a articulação entre a epidemiologia e a assistência à


saúde com vistas a obter sinalização de outros sistemas de informação
da ocorrência de qualquer agravo de notificação compulsória. Além disso,
o setor saúde deve se aproximar cada vez mais dos demais setores da
sociedade (intersetorialidade), como preconiza o SUS (Sistema Único de
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Saúde), de modo que as ações sejam mais eficazes, de acordo com a


realidade de cada comunidade.

Assim, deixamos os seguintes questionamentos para você refletir:

1- Considerando o avanço na Saúde Pública brasileira observado a


partir da década de 70, o que pode ser feito a nível local para que
as ações sejam mais abrangentes e integradas, e obtenhamos,
por consequência, melhores resultados nos nossos indicadores de
saúde?
2- Você entende que seria necessária a inclusão de mais algum agravo
à Lista de Doenças de Notificação Compulsória de seu Município?
Qual(is)?

Desejo-lhe sucesso, bons estudos e espero que esse capítulo possa ter
contribuído de forma positiva para sua atuação profissional!

Resumo
Viu-se neste capítulo, como a vigilância epidemiológica atua e como é
estruturada a Lista Nacional de Doenças de Notificação Compulsória.

Dentre os inúmeros desafios enfrentados pelos profissionais trabalhando


na Saúde Pública no Brasil, observamos a necessidade da integração
entre assistência e vigilância para o sucesso das ações, em todos os
níveis: promoção, proteção e recuperação.
UNIUBE 191

Referências
BRASIL. Câmara dos Deputados. Decreto no 49.974-A, de 21 de janeiro de 1961.
Regulamenta, sob a denominação de Código Nacional de Saúde, a Lei nº 2.312,
de 3 de setembro de 1954, de normas gerais sobre defesa e proteção da saúde.
Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/ decret/1960-1969/decreto-
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BRASIL. Decreto nº 10.212, de 30 de janeiro de 2020. Promulga o texto revisado


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