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5 Métodos quantitativos e qualitativos e

artigos científicos: ênfase nas hipóteses

Cesar Penazzo Lepri

Introdução

Abordaremos, neste capítulo, as possibilidades de utilização dos métodos


quantitativos e qualitativos na pesquisa científica. O método consiste na adoção
de um conjunto de procedimentos sistemáticos para a etapa de materiais e
métodos / metodologia. Também será dada especial atenção às hipóteses nula
e alternativa dos artigos científicos.

Objetivos
Ao final deste estudo, esperamos que você seja capaz de:
 aplicar os métodos quantitativos e qualitativos na pesquisa científica;
 explicar as hipóteses nula e alternativa dos artigos científicos.

Esquema
5.1 Método quantitativo
5.2 Método qualitativo
5.3 Estatística descritiva
5.4 Estatística inferencial
5.5 Precisão e exatidão dos dados
5.6 Aplicação de questionários
5.7 Artigos científicos
5.7.1 Hipótese nula
5.7.2 Hipótese alternativa
5.7.3 Ferramentas de busca de artigos científicos

5.1 Método quantitativo

O método quantitativo utiliza técnicas estatísticas para a análise dos dados.


Assim, há maior precisão na discussão dos resultados e menor distorção da
análise e interpretação. É comum a utilização nos estudos inferenciais
(inferência estatística). Pela utilização de ferramentas estatísticas, apresenta
maior margem de segurança. Também é bom para estudos de causalidade
(causa e efeito).

Estudos que optam pela utilização do método quantitativo possuem alta


generabilidade (amostras representativas da realidade).

Saiba mais

O conceito de generabilidade refere-se à possibilidade de aplicar os


resultados obtidos em determinada amostra a toda uma população. Em
outras palavras, quando nos referimos à extrapolação ou generalização dos
resultados, estamos diante do ramo da inferência estatística ou estatística
inferencial.

5.2 Método qualitativo

O método qualitativo é destinado ao entendimento das particularidades do


comportamento dos indivíduos. Dessa forma, quando houver alto nível de
complexidade dos fenômenos, esse método tende a ser o escolhido. Portanto,
podemos afirmar que ele é muito empregado em estudos de caso. Entretanto,
por ser um método tão específico, observa-se que possui baixa generabilidade,
ou seja, a extrapolação dos resultados é limitada.

5.3 Estatística descritiva

Sempre que iniciarmos uma análise dos dados, é importante a realização prévia
da estatística descritiva, independentemente do método escolhido (quali ou
quantitativo). Nesta análise inicial, os dados numéricos (contagens, razões,
índices, etc) e os parâmetros (medidas de tendência central e medidas de
dispersão) são apresentados em tabelas e gráficos, conforme estudado nos
capítulos anteriores.
5.4 Estatística inferencial

Após a realização da estatística descritiva, a estatística inferencial pode ser


realizada, ou não. Esta será feita quando os dados forem coletados em amostras
representativas de realidade e a intenção do estudo for realizar a generalização
dos resultados. No entanto, a estatística inferencial não será realizada quando
os dados forem obtidos de uma população (censo). Nesse caso, a inferência
estatística não faz sentido (pois inferência estatística significa realizar a
extrapolação dos resultados de uma amostra para a sua respectiva população).

Frisando novamente o que foi apresentado no início deste capítulo, o método


quantitativo utiliza técnicas estatísticas para a análise dos dados e, portanto, há
maior precisão na discussão dos resultados. Nesse momento torna-se
importante conceituarmos “precisão” e sua diferença da palavra “exatidão”.

5.5 Precisão e exatidão dos dados

Precisão: termo geral usado para avaliar a dispersão de resultados entre ensaios
independentes repetidos de uma mesma amostra em condições definidas. Para
o método ser preciso, ele precisa apresentar “repetitividade” e
“reprodutibilidade”. Repetitividade diz respeito à variação das medidas obtidas
por um único operador, utilizando o mesmo método (e os mesmos
instrumentos/equipamentos de medição), ao medir várias vezes um único
espécime ou corpo-de-prova. Reprodutibilidade apresenta um conceito muito
parecido com repetitividade, porém, a reprodutibilidade se refere à variação das
medidas obtidas por diferentes operadores. Quanto menor for essa variação,
mais reprodutível será o método.

Exatidão: exatidão do método é definida como sendo a concordância entre o


resultado de um ensaio e o valor de referência aceito como convencionalmente
verdadeiro. Portanto, para verificarmos se um método é exato, é imprescindível
a definição do valor de referência, sem o qual não poderemos fazer essa análise.

O esquema, a seguir, exemplifica as diferentes possibilidades, considerando 10


(dez) ensaios independentes em cada situação e ainda considerando o círculo
central como a referência.
BAIXA EXATIDÃO E PRECISÃO ALTA EXATIDÃO E BAIXA PRECISÃO

BAIXA EXATIDÃO E ALTA PRECISÃO ALTA EXATIDÃO E PRECISÃO

Figura 1: Exemplificando exatidão e precisão.

O método qualitativo é muito utilizado em pesquisas que utilizam questionários


e entrevistas para a obtenção dos dados. Isso não significa que o método
quantitativo não poderia ser utilizado, mas apenas que sobressai no qualitativo.

5.6 Aplicação de questionários

Segundo Antônio Carlos Gil (1995), “pode-se definir questionário como a técnica
de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões
apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de
opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas,
dentre outros”.

Para a aplicação de um questionário, três tipos de questões são possíveis:


abertas, fechadas e duplas. Nas questões abertas, os participantes têm a
possibilidade de responderem com as próprias palavras. Nas questões
fechadas, as respostas são fixadas de antemão e é importante deixar um espaço
para “outros”, de forma que possa ser especificado. As questões duplas ou
mistas compreendem a mistura das duas anteriores; inicia-se com uma questão
fechada e geralmente a segunda questão, aberta, é a do “por que”.

Muitas dúvidas podem surgir antes da montagem de um questionário ser


finalizada, como por exemplo, se o tempo para sua aplicação é suficiente e a
percepção dos entrevistados sobre as perguntas feitas. Para responder esses
itens, pode-se realizar um “pré-testing” do questionário, o qual também detectará
possíveis falhas do questionário, complexidade, imprecisão e constrangimento
ao informante.

Uma estratégia alternativa aos questionários para obtenção de informação dos


pacientes é a realização de uma entrevista, que foi definida por Antonio Carlos
Gil (1995) como: “técnica em que o investigador se apresenta frente ao
entrevistado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção de dados que
interessam à investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de interação
social. Mais especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma
das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de
informação”. Assim como nos questionários, o uso de “pré-testing” também é
muito interessante para a validação das perguntas e do método empregado.

5.7 Artigos científicos

Os artigos científicos estão estruturados da seguinte forma: introdução,


proposição (objetivos), materiais e métodos (metodologia), resultados,
discussão, conclusão. Todo o embasamento científico na elaboração do artigo
gira em torno de uma hipótese. Veremos no Capítulo 7 que os testes estatísticos
nada mais são do que testes de hipóteses. Dessa forma, abordaremos a
construção das hipóteses e também a identificação delas nos artigos científicos.
Para tanto, é importante a apresentação de algumas ferramentas para a busca
de artigos científicos, que será apresentada de uma maneira mais ampla,
possibilitando a fixação do conhecimento.

Na estruturação dos artigos científicos, muitas vezes no final da “Introdução”


aparece descrita a “hipótese nula” ou então a “hipótese alternativa”. A seguir, o
conceito e alguns elementos que permitem a identificação de cada uma delas.

5.7.1 Hipótese nula

Hipótese Nula: trata-se da hipótese que assume nenhuma diferença estatística.


Por exemplo: a hipótese nula do presente estudo foi que os diferentes
tratamentos não terão efeito na variável de resposta. Ou então: Hipotetizou-se
que os diferentes medicamentos não influenciarão no peso dos pacientes.
Adicionalmente, outro exemplo: a altura dos indivíduos não terá diferença
estatística após a aplicação dos tratamentos.

É importante observar que para todas essas hipóteses, fica evidente a palavra
“NÃO”, evidenciando a ausência de diferenças estatísticas. Existem também
algumas expressões intuitivas para a identificação da hipótese nula, como: “será
similar a”; “será equivalente à”.

5.7.2 Hipótese alternativa

Hipótese Alternativa: é a hipótese gerada, ou seja, a hipótese do pesquisador.


Essa hipótese é o contrário da hipótese nula, assumindo diferenças estatísticas.
Pode-se construir as frases da seguinte forma: “foi hipotetizado que”; “irá afetar”;
“promoverá”; “resultará”. Outras expressões intuitivas são: “será maior que”; “
terá menos que”.

Considerando que uma hipótese é o inverso da outra, quando da redação de um


artigo científico, deve-se optar por escrever uma ou outra, pois a descrição de
ambas torna o texto repetitivo. Após a coleta de dados e realização da análise
estatística, essas hipóteses serão “rejeitadas” ou “rejeitadas”. Outra forma
correta seria dizer que a hipótese foi “provada” ou “invalidada”. É de praxe que
essa informação fique explícita no primeiro parágrafo da “Discussão”.
5.7.3 Ferramentas de busca de artigos científicos

Na área da saúde, a principal base de dados é o PUBMED. As palavras-chave


dos artigos devem ser digitadas na língua inglesa.

Figura 2: Site da Pubmed.


Fonte: Pubmed (2019).

Adicionalmente ao PUBMED, temos o, MEDLINE, LILACS, BIREME,


LATINDEX, Web of Science, COCHRANE, SCOPUS, dentre outras.

As principais bases de dados nacionais são: Portal de Periódicos – CAPES e o


SCIELO.

Figura 3: Portal de periódicos da CAPES.


Fonte: CAPES (2019).
Também temos a possibilidade de realizarmos o download de um artigo
diretamente na página on-line da Editora, como por exemplo: Springer e Elsevier.

Figura 4: Portal Springer.


Fonte: Springer link (2019).

Outra forma seria o acesso direto ao endereço eletrônico do periódico,


exemplificado a seguir.

Figura 5: Portal The Journal of Pediatrics.


Fonte: THE JOURNAL OF PEDIATRICS
O Google Acadêmico (Google Scholar) também constitui outra importante
ferramenta de busca de artigos científicos.

Figura 6: Google Scholar.


Fonte: Google Scholar (2019).

Uma sugestão é a utilização das palavras-chave do artigo no Google Scholar,


com a colocação de “.PDF” ao final, pois a maioria dos artigos são
disponibilizados nessa extensão.

Uma vez apresentadas as principais bases dos artigos científicos, uma sugestão
para estudo e familiarização com este tema é: procure baixar o PDF de alguns
artigos e localizar as hipóteses: nula ou alternativa.

REFERÊNCIAS

CAPES. Disponível em: https://www.capes.gov.br/. Acesso em: 11 nov. 2019.

FREEDMAN D.; PISANI R.; PURVES R.; ADHIKARI A. Statistics. 3rd ed. New York:
Norton, 1997.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 4. ed. São Paulo:
Atlas, 1995.

GOOGLE SCHOLAR. Disponível em: https://scholar.google.com.br. Acesso em: 11


nov. 2019.

LOYER M. Student Solutions Manual to Accompany Elementary Statistics. 10th


ed. Boston: Addison-Wesley, 2006.
PUBMED. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/. Acesso em: 11 nov.
2019.

SPRINGER Link. https://link.springer.com/. Acesso em: 11 nov. 2019.

THE JOURNAL of Pediatrics. Disponível em: https://www.jpeds.com/. Acesso em: 11


nov. 2019.
TUFTE E. The visual display of quantitative information. 2nd ed. Cheshire, Conn.:
Graphics Press, 2001.
TUKEY J. W. Exploratory Data Analysis, Reading. Mass.: Addison-Wesley, 1977.

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