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Sinopse

Tudo começou com a minha bexiga.

Eu não queria testemunhar um acordo obscuro no corredor do


banheiro.

Não pensei duas vezes quando liguei para a polícia.

E eu certamente não sabia a quem o clube pertencia.

Asher Black.

Ex-assassino da máfia.

CEO bilionário.

Solteirão mais cobiçado de Nova York.

Quando ele aparece na minha faculdade, à procura da garota


que ligou para os policiais sobre seus negócios,

Eu sei que estou praticamente morta.

O que eu não espero é a oferta dele – ele vai pagar a minha


mensalidade, arranjar-me um trabalho confortável depois que
eu me formar, e tudo o que tenho que fazer…

é ser sua noiva de fachada.


Epígrafo

O melhor tipo de amor começa com um olá inesperado.


– Desconhecido
Dedicatória

Para minha família: L, Chlo e Bau.


Nota da Autora

Amados leitores,

Asher Black é o meu romance de estreia, e depois de


anos e anos sonhando em me tornar escritora, finalmente sou
uma! Esta é uma história próxima e querida para o meu
coração, porque, como Lucy, lutei para ser corajosa. Na
minha vida, minha coragem vem na forma de perseguir meu
sonho de escrever.

Eu deveria me tornar uma médica. Terminei meus


requisitos pré-med, fiz um monte de trabalho voluntário
médico e beijei um monte de bundas de professores de
biologia, com a impressão de que eu precisaria de uma carta
de recomendação. E para ir da perspectiva de uma carreira
estável para uma profissão de tudo ou nada, tinha que ter
muita coragem, que eu não sabia que tinha até agora.

No entanto, aqui estou eu – escrevendo! Espero que, ao


descobrir o que você quer ser na vida, vocês sigam seus
sonhos e não os sonhos que outros lhe propuseram. Encontre
coragem para trilhar seu próprio caminho e sejam as pessoas
destemidas que sei que todas vocês são.

xoxo,
Coragem

Coragem: /kərij/ (substantivo) a capacidade de fazer algo que


assusta alguém; força em face da dor ou tristeza

Coragem não é ação na ausência de medo. Coragem.


Bravura. Valor. Nada disso existe sem medo. O medo dá
sentido aos nossos sacrifícios e significado às nossas vitórias.

Ter medo não faz de você um covarde, assim como ser


destemido não o faz corajoso. Não tenha vergonha dos seus
medos. Seja grato por sua coragem, apesar deles.

Enfrente os seus medos. Reúna a audácia para enfrentá-


los. Seja corajoso e, acima de tudo, encontre a coragem de
seguir seu coração.

Fomos feitos para ser corajosos.


Prólogo

Acima de tudo, seja a heroína da sua vida, não a vítima.


– Nora Ephron

Se você soubesse que a calamidade traria paz, suportaria


o mal pelo bem?

Os biscoitos Fortune1 costumam te deixar pensativo.


Esse em particular tinha gosto de um presságio, e o sabor
permaneceu em minha língua enquanto o ônibus seguia pela
a cidade.

Eu quebrei o próximo, sem me incomodar em tirar as


migalhas do meu colo enquanto elas caíam como gotas de
chuva espalhadas sobre meu suéter.

O ato de viver é um salto de fé. O que é mais um?

Um péssimo conselho – se é que você pode chama-lo


assim. Saltos de fé levam você a falésias de trinta metros e
não há como sobreviver a isso.

Pergunte a qualquer um que tenha tentado.

Exatamente.

Eles não existem.

1 Eles são conhecidos como os biscoitos da sorte.


Eu devorei a porcaria do biscoito da sorte em duas
mordidas, amaldiçoei meu baixo orçamento para comida
quando uma borda irregular de biscoito raspou o céu da
minha boca e abri o próximo.

O melhor tipo de amor começa com um olá inesperado.

Encantador. O Panda Express2 poderia passar de


conselhos filosóficos para conselhos amorosos de merda ao
estilo Hallmark3, mas não podiam me oferecer nada mais do
que três biscoitos da sorte e dois goles de sopa por menos de
cinco dólares. Era assim que eu sabia que estava de volta aos
Estados Unidos.

Havia conselhos ruins o suficiente no mundo todo, mas,


de alguma forma, sempre me senti mais centrada aqui. Onde
a vida gostava de chutar minha bunda repetidas vezes,
apenas para sorrir às minhas custas. Eu esfarelei os três
biscoitos e os empurrei para o fundo da minha mochila.

Nem sequer pensei duas vezes nas palavras.

Mas deveria ter pensado.

Talvez, então, eu estivesse preparada para Asher Black.

Talvez, então, eu estivesse em segurança no meu


dormitório, em vez de me esconder em uma sala segura,
enquanto um tiroteio acontecia nas proximidades.

Talvez, então, meu coração ainda seria meu.

2 É uma referência a restaurante que serve comida chinesa “autêntica”.


3 É uma referência a um estilo próprio, uma marca original.
Capítulo 1

É preciso coragem para amadurecer e se tornar quem você


realmente é.
– E.E. Cummings

A única coisa passando pela minha mente enquanto


caminhamos para o bar era: este lugar costumava ser um
clube de strip. Agora, é uma boate da moda que atende à elite
de Nova York e a quem tiver a sorte de poder entrar.

Hoje à noite, isso inclui Aimee e eu. Como entramos,


não faço ideia, apesar de suspeitar que tenha algo a ver com
Aimee.

Com quase um metro e oitenta de altura, ela tem o


corpo de uma modelo e o visual de uma estrela. Ela é uma
garota de uma pequena cidade rural da América, mas
olhando para ela, você não saberia.

Vestida com um minúsculo vestido de lantejoulas e


sapatos de salto alto, ela parece a garota da cidade grande
que ela finge ser. A cada passo que damos, vejo homens
olhando-a com luxúria e mulheres olhando-a com inveja.

— Ouvi dizer que este lugar costumava ser um clube de


strip, — diz Aimee, ecoando meus pensamentos.
Aimee e eu acabamos de nos conhecer hoje. Nós duas
somos juniores da Universidade Wilton. Ela é minha nova
colega de quarto em Vaserley Hall, um dos prédios de
dormitórios de Wilton. Até onde eu sei, também somos as
únicas transferidas em nossa sala.

Enquanto eu completei os meus requisitos online ao


mesmo tempo em que trabalhava como voluntária
internacional, Aimee foi para a faculdade comunitária local
em sua cidade natal, economizando dinheiro suficiente para
pagar o restante do que sua bolsa em Wilton não cobre.

Nós duas somos novas na área, e mesmo minutos


depois de me conhecer, Aimee sugeriu que fôssemos ao
Rogue, o clube mais badalado de Nova York. Mais cedo, ela
me disse que a pequena cidade em que cresceu era muito
isolada e estava animada para se tornar uma nova-iorquina o
mais rápido possível.

Eu acreditava que ela conseguiria.

Ela já parece em parte, e eu poderia jurar que mais cedo


ela me pediu para “passar a garrafa de watta, dahling”4.

Eu olho de soslaio para ela, querendo saber o que ela


está escondendo atrás de sua fachada glamourosa. Entendo o
desejo de abandonar raízes melhor do que a maioria, mas
geralmente o faço fugindo de um lugar para outro, nunca me

4 Watta é como os “caipiras” pronunciam water (água) e dahling é como eles pronunciam darling
(querida).
estabelecendo. Já posso dizer que Aimee, por outro lado, está
escolhendo se tornar uma pessoa completamente diferente.

É alarmante de se ver.

— Mas, tipo, alto nível, — continua Aimee.

Uma risada surpresa escorrega pela minha garganta. —


Um clube de strip de alto nível? Eles existem?

Sempre pensei em clubes de strip-tease como lugares


decadentes, mas, ao olhar em volta, posso imaginar Rogue
como um clube de strip-tease elegante. Mesmo que essas
palavras juntas pareçam um oxímoro.

Há dançarinas em gaiolas suspensas de tamanho


humano. Elas estão vestidas com elegantes vestidos pretos,
mas eu imagino que nos dias de Rogue Club de strip, as
dançarinas acima não usavam absolutamente nada.

As barras que cercam as gaiolas são pretas e moldadas


em teias de intrincados e belos desenhos góticos. Em vez de
um fundo coberto, as bases das gaiolas são feitas de vidro
grosso, permitindo que os clientes do clube vejam
completamente as gaiolas por baixo. Espero que as
dançarinas estejam usando roupas íntimas, mas mantenho a
cabeça baixa por precaução.

O resto da boate tem uma estética gótica moderna que


dá ao local uma vibração misteriosa e proibida. Isso me faz
sentir que não deveria estar aqui, mas tenho sorte de estar.
Existem grandes lustres pendurados acima das gaiolas. As
paredes são pintadas de preto fosco e o piso é de concreto
com um acabamento epóxi preto brilhante.

Acima dos lustres e das gaiolas suspensas, o teto é de


um branco puro, contrastando fortemente com a escuridão
do resto do clube. A área do bar também é branca, pintada
sobre intrincados acessórios de madeira. Existem várias
mesas embutidas na parede em todo o clube e ocultas por
cortinas de veludo vermelho que estão penduradas nos tetos
altos e descem até o chão para uma maior privacidade.

Um nível VIP também está acima de nós, cobrindo


parcialmente os tetos altos de um lado do clube. Tem uma
varanda com vista para o resto do clube, mas, tanto quanto
eu posso ver, o que não é muito, parece que não há ninguém
lá em cima.

— Se existe um clube de strip-tease de alto padrão,


então é Asher Black que o possui, — diz um cara,
aproximando-se de nós quando chegamos ao bar.

Pego Aimee olhando para o sujeito com interesse. Ele é


atraente de uma maneira estereotipada, mas não é o meu
tipo. Enquanto eu prefiro homens altos, morenos e bonitos,
esse cara tem apenas uma altura acima da média e com
cabelo loiro claro. Como qualquer outro cara do clube, ele
está usando calças e camisa social.

Por mais bonito que ele seja, ele é do tipo que se


misturaria com a multidão e, depois de dois anos viajando
pelo mundo e conhecendo tantas pessoas, eu preciso de
alguém diferente para despertar meu interesse. Alguém
intrigante. Misterioso, até.

Viro minha cabeça em direção a Aimee e falo: — Ele é


todo seu.

Mesmo antes de ela sorrir para mim, já sei que ela está
interessada. Em nossa viagem de Uber até aqui, ela
confessou que tem uma obsessão por meninos. Foi mais
como um aviso, alertando-me para ignorar seu gosto se ela
ficar muito louca. Eu garanti a ela que não é nada que eu não
possa lidar.

Como uma ex-criança adotiva, já vi mais do que meu


quinhão de loucos. Inferno, uma de minhas mães adotivas
teve uma conversa sobre sexo, um ser assexuado
autoproclamado que fora minha mãe adotiva por menos de
uma hora, antes de ela começar a me explicar como estimular
um frênulo. Além disso, ela ainda era virgem.

Eu assisto, animada, enquanto Aimee olha para o cara


novamente, analisando-o com interesse. O cara cora quando
ela se aproxima dele. Estremeço quando percebo que ela é,
pelo menos, uma cabeça mais alta que ele em seus saltos.

Ela deve ter tido dificuldade em encontrar homens com


a sua altura na cidade pequena. Com 1,73, sou alguns
centímetros mais baixa que ela, e às vezes, tenho dificuldade
em encontrar homens mais altos que eu onde quer que eu vá.
Pode chamar de vaidade, mas tenho dificuldade em namorar
homens mais baixos do que eu.
— Zeke, — o cara se apresenta.

Ele ainda está nervoso, mas não o culpo. Aimee é


absolutamente deslumbrante, e sua atenção está
completamente voltada para ele. Posso ver como isso é
desconcertante para ele.

— Eu sou Aimee. — Ela aponta para si mesma. — E


essa é Lucy. — Ela gesticula para mim com a mesma mão,
antes de continuar: — Então, quem é Asher Black?

Os olhos de Zeke se arregalam comicamente. — Ele é


dono deste clube...— Sua voz desaparece sem jeito. Parece
que ele quer dizer mais, mas quando seus olhos olham para a
área VIP, ele rapidamente os desvia e cala a boca. Ele parece
quase... com medo.

Intrigada com a reação de Zeke, viro minha cabeça na


direção do andar VIP. É um nível acima da área principal do
clube, então não consigo ver o topo, mas há uma grande
escadaria que leva até lá. Não fica a mais de um metro de
distância de onde estamos, na borda da área do bar, o que
significa que tenho uma vista de perto dos dois guardas que
estão posicionados em frente à escada.

Ambos estão vestindo ternos e usam fones de ouvido,


como os que vi nos filmes. Seus olhos estão constantemente
examinando o clube, sempre em alerta. E antes, quando
passamos por eles a caminho do bar, eu os ouvi falando o
que acho que era italiano.
Também noto que há guardas parados por todo o clube,
pressionados contra as paredes com os braços cruzados e os
olhos vigilantes. Eles também têm os fones de ouvido
enrolados. Na verdade, existem muitos guardas de segurança
no Rogue, e todos estão vestidos com equipamentos de alta
tecnologia e rostos super sérios, como se eles soubessem o
que estão fazendo. É bastante intimidante e muito exagerado.

Um dos guardas no pé da escada toca brevemente seu


fone de ouvido. Ele diz algo para o outro guarda e, de repente,
os dois reforçam sua formação um ao lado do outro. Uma
linda mulher loira se aproxima dos dois.

Ela é alta e magra, com uma moldura de modelo esbelta


semelhante à de Aimee. Eu não ficaria chocada ao saber que
ela é uma modelo. Normalmente, eu ficaria encantada com a
beleza dela, mas, ao lado de Aimee, estou me acostumando.
Não posso deixar de observar, enquanto ela sobe as escadas
com graça depois de ignorar os dois guardas ao longo do
caminho. Eu me pergunto quem ela é?

Atrás dela, um homem a segue de perto. Um suspiro


suave escapa da minha boca. Ele é de tirar o fôlego. Meus
olhos traçam as bordas definidas de sua mandíbula,
extasiados. Ele tem um rosto que pertence aos cinemas, mas
minha intuição me diz que ele nunca concordará com essa
exposição.

São os olhos dele que me transmitem isso. Eles são


inteligentes, mas também protegidos. A essa distância, vejo
como são nítidos e vividamente azuis. Uma frieza punitiva
existe dentro de suas profundezas, imitando a expressão
sombria em seu rosto, o que me dá a impressão distinta de
que ele não quer estar aqui.

Desvio o olhar dos olhos dele, porque a insensibilidade


neles é demais. Quase desumano. Eu tento desviar o olhar
dele completamente, mas não consigo evitar.

Eu olho.

E nem tento esconder.

Eu olho para o seu cabelo escuro, que é cortado rente


nos lados, mas mantidos mais longos no topo. Eu olho para o
terno sob medida que ele está vestindo, o que não faz nada
para esconder seu físico musculoso. Eu até olho para os pés
dele, que estão envoltos em sapatos elegantes que
provavelmente custam mais do que meu aluguel mensal.

Quando ele passa pelos guardas, percebo que ele é mais


alto que os dois. Ele tem que ter pelo menos 1,88 de altura.
Eu assisto, cativada, enquanto seus olhos examinam a
multidão antes de se fixarem nos meus. Eles ficam lá por
mais tempo do que o normal, tempo suficiente para eu vê-los
escurecer antes que ele varra os olhos por todo meu corpo,
demorando muito tempo nos inchaços parcialmente expostos
dos meus seios. Eu acho que é desejo que vejo em seu rosto,
mas desapareceu quase instantaneamente.

Como se nem estivesse lá. Talvez eu tenha imaginado?


Sua atenção volta para um dos guardas, cuja boca está
se movendo. Eles acenam um para o outro antes dele passar.
Ele ficou lá por menos de dez segundos, mas a coisa toda me
deixou sem fôlego. Estou empolgada quando ele sobe as
escadas e desaparece da minha vista.

Levo uma cotovelada dura no meu lado de Aimee.


Esfrego a área abaixo das minhas costelas, massageando a
dor e a encaro. — O que foi isso?

— Onde você estava agora? — Ela pergunta. — Você


parecia estar em pensamentos profundos. — Uma risada
desliza por seus lábios vermelhos de sangue. — Sorria.
Estamos em um clube. E não apenas qualquer clube. O
Rogue.

Eu suspiro. — Lugar nenhum. — E então eu minto,


querendo manter a luxúria que vi em Olhos Azuis para mim.
— Eu estava preocupada com o primeiro dia de aula amanhã.
Quase todo mundo tem a vantagem de ir a Wilton desde o
primeiro ano. É intimidador.

Na verdade, não estou realmente preocupada. Sempre


fui o tipo de pessoa inteligente que não exige esforço, mas sei
que, se for necessário, sempre posso aprender e estudar. E é
improvável que chegue a isso. Mas eu minto de qualquer
maneira.

Sou movida por um desejo irracional de manter em


segredo a visão de Olhos Azuis. Algo sobre a maneira como
seus olhos percorreram meu corpo tão intimamente – mesmo
a alguns metros de distância – pareceu íntimo, como se
devesse apenas ser mantido entre nós. É contra o código das
garotas ver um cara gostoso e não o apontar?

Eu não saberia.

Aimee é minha única amizade, garota ou garoto, e eu


acabei de conhecê-la.

Não me importo com esse pensamento deprimente,


porque Aimee já está zombando. — Por favor. Eu vi sua
agenda. Você está em aulas com nomes que eu nem consigo
pronunciar e muito menos entender.

Isso é verdade. Minha especialização em Wilton é


Bioinformática e Genômica. Quando mostrei a ela minha
agenda, Aimee me disse que o nome da minha graduação é
suficiente para lhe dar dor de cabeça. Ela é formada em
administração de empresas, e sei que sozinha é uma façanha
impressionante.

Wilton tem o melhor programa de negócios do país,


ainda melhor que o da Wharton. Com uma taxa de admissão
abaixo de um por cento, o processo de admissão é
incrivelmente seletivo e inclui uma série de entrevistas que
ocorrem ao longo de um ano. A admissão de Aimee significa
que ela não é apenas mais brilhante do que a maioria das
pessoas, mas também é bem falada.

Naturalmente, a primeira coisa que ela me disse foi: —


Eu preciso transar. Você está pronta para uma partida de
visitas a clubes? Ou você vai ser uma daquelas colegas de
quarto de alto nível que odeiam minhas entranhas?

Eu não queria ser uma estraga prazeres, então aqui


estou eu. Além disso, encontrar uma transa sem
compromisso uma noite não parece uma má ideia. Eu não
faço sexo há anos. E julgando pela maneira como meu corpo
reagiu com Olhos Azuis, estou muito atrasada para alguma
atenção especial de um homem.

Zeke assobia, lembrando-me que ele está aqui. Ele tem


um olhar impressionado estampado em seu rosto americano
e bonito de menino. — Vocês duas vão para Wilton?

Entre as universidades da Ivy League, Wilton está no


topo. O nome vem com muito prestígio. E de todas as
universidades da Ivy League, Wilton é a única em que a
doação de um edifício não pode comprar sua aceitação ou
obter favores para entrar. O intelecto é valorizado sobre o
dinheiro, uma raridade neste mundo.

Entendo porque Zeke está olhando para Aimee ainda


mais intrigado. Ele sabia que ela era bonita, mas agora ele
sabe que ela é inteligente.

Aimee assente antes de descartar o tópico. — Sim, mas


isso é chato. — Ela lhe dá um sorriso sedutor. — Vamos
dançar. Eu mal posso ouvir vocês de qualquer maneira.

Ela tem um ponto válido. Com a intensidade da música,


estou impressionada por termos conseguido manter uma
conversa. Eu olho entre os dois. Aimee está dando a Zeke
olhos de quarto (sexo), e eu sei que se eu os seguir até a pista
de dança, serei a de fora.

Não, obrigada.

Então, quando Aimee se vira para mim e acena com a


cabeça em direção à pista de dança, balanço minha cabeça.
— Eu vou ao banheiro e, em seguida, talvez encontre um cara
bonito para dançar.

Aimee assente em aprovação. — Mande-me uma


mensagem quando estiver pronta para sair.

Eu concordo, mesmo que ainda tenhamos que trocar


números. E então eles estão fora. Observo enquanto Aimee
leva Zeke em direção ao centro da pista de dança, com a mão
segurando firmemente a dele. A multidão se separa dela como
se ela fosse da realeza. Ela certamente parece que é alguém.

Eu sorrio. Eu gosto de Aimee. Eu realmente gosto. Ela é


peculiar, mas peculiar pode ser bom. Além disso, é bom
conhecer alguém confiante, mas não convencido. Gentil, mas
não influenciável. Interessada, mas não intrometida. Ela é a
ursinha dos meus Cachinhos Dourados – exatamente. Já
posso dizer que ela será uma ótima companheira de quarto e
talvez até uma amiga algum dia.

Eu observo Aimee e Zeke por um momento. Eles


estavam de mãos dadas quando me deixaram, mas agora
estão pressionados um contra o outro. Aimee parece feliz em
seu elemento, então eu decido deixá-la com Zeke em paz pelo
resto da noite.

Sou apenas eu aqui, e não posso deixar de sentir que,


não importa para onde eu vá e quem eu encontre, sempre
será apenas eu.
Capítulo 2

Todos os nossos sonhos podem se realizar, se tivermos a


coragem de perseguí-los.
– Walt Disney

— Se eu sair por um minuto, posso voltar depois? —


Pergunto ao homem que guarda a porta do que eu acho que é
uma saída lateral. Eu estou dançando no clube há quase
uma hora sem parar. Meus pés doem e estou precisando
urgentemente de ar fresco.

Ele olha para mim, percorrendo os olhos de um lado


para o outro do corpo em uma escrutínia violação. É o mesmo
olhar que o segurança deu à Aimee e a mim antes, cheio de
julgamento irrestrito, contemplando se somos ou não boas o
suficiente para estar aqui.

Para meu alívio, ele assente. — Bata três vezes quando


quiser voltar.

Assim que eu saio, o ar frio de Nova York alivia a dor


nas minhas têmporas. Está mais silencioso por aqui, mas
ainda consigo ouvir a música que está tocando lá dentro. O
que era inicialmente hipnótico agora está me dando dor de
cabeça, deixando-me desesperada pelo ar fresco.
Pressiono minhas costas contra a parede de tijolos do
prédio, parando para observar o que está ao meu redor.
Estou em um beco, mas a única entrada e saída é a porta
pela qual acabei de passar – outra medida de segurança, sem
dúvida. A rua estreita foi bloqueada de ambos os lados por
paredes de tijolo montanhosas. Eles são pintados de preto, e
o logotipo de Rogue está estampado no centro de cada parede
com tinta spray branca.

É estranho estar em um beco que não é realmente um


beco – mais como uma sala ao ar livre com asfalto como pisos
e o céu noturno como um teto. Sou grata pela privacidade
que as paredes circundantes proporcionam, porque um beco
escuro na cidade de Nova York não é exatamente o lugar mais
seguro para uma garota ficar sozinha à noite.

Eu pulo em alerta quando a porta se abre ao meu lado.


— Só mais um minuto. Eu prometo, — digo, virando o rosto
para o segurança.

Em vez disso, acho o cara de antes.

Olhos Azuis.

Ele está olhando para mim com diversão no rosto, tão


diferente da frieza que eu testemunhei anteriormente. —
Acho que isso levará mais de um minuto.

Minha respiração fica presa na garganta enquanto tomo


suas palavras e as promessas sombrias que elas mantêm.
Seus olhos estão me devorando, roçando o comprimento do
meu corpo e me segurando em cativeiro. Assusto-me quando
dou um passo inconsciente em sua direção, querendo estar
mais perto dele. Para tocar seu rosto, seu corpo, onde quer
que ele me deixe.

Eu cerro os punhos, forçando-me a parar essa linha


ridícula de pensamento.

Agora eu entendo o que as heroínas nos romances


sentem quando conhecem seus machos alfa. Não é amor
instantâneo. É luxúria, tão forte e esmagadora, que é fácil
confundir os dois. Para minha sorte, minha cabeça está
aparafusada o suficiente para perceber que o que estou
sentindo é pura e simples luxúria não adulterada. E precisa
de uma saída.

Mas este é um homem que me seguiu até um beco. Um


homem que eu não conheço nem confio. Eu o nivelo com um
olhar acusador. — Você me seguiu até aqui?

— Sim. — Não há hesitação nem remorso em sua voz,


apenas uma verdade persistente que paira corajosamente no
ar. Ele me olha com cautela enquanto eu dou um passo
instintivo para trás, pressionando-me contra a parede
novamente. — Diga-me que você não me quer aqui, e eu vou
embora. Sem perguntas.

Eu me pergunto se ele está dizendo a verdade. Se ele


está, faria maravilhas para aliviar minhas preocupações de
segurança. Porque a verdade é que, eu o quero aqui. Eu quero
isso. Quero as promessas de prazer que seus olhos estão me
dando. Eu quero beijar aqueles lábios carnudos. Quero que
as mãos dele me devastem. Eu quero tudo.

Então, eu o testei.

— Eu não quero você aqui, — eu minto, esperando para


ver se ele vai embora.

Ele acena com a cabeça e se vira, batendo na porta três


vezes – o sinal para abrir. Fico aliviada em saber que ele
estava dizendo a verdade. Que eu posso ter esta noite de
prazer sem me preocupar com minha segurança.

Quando a porta se abre e o guarda coloca a cabeça para


fora, digo: — Espere.

Quero dizer. Eu quero isso. Eu o quero.

Chame isso de instinto, ou insanidade, ou


provavelmente um pouco dos dois, mas já posso dizer que,
quando ele me tocar, será eletrizante. Só de olhar para ele,
posso ver que este é um homem que pega o que quer. Agora
mesmo? Sou eu. Amanhã? Quem se importa? Não é para isso
que serve encontros de uma noite.

Olhos Azuis acena para o guarda de segurança, que


fecha a porta novamente. Ele se vira para mim e o olhar
fascinado de aprovação em seu rosto envia um arrepio de
prazer pela minha espinha. — Você estava me testando.

Eu concordo. — Eu estava.
Ele dá um passo mais perto de mim. — E se eu não
tivesse passado?

Enfio um dedo em seu cinto e o puxo para mais perto. —


Provavelmente estaríamos na mesma posição, só que eu
estaria mentindo para nós dois quando dissesse que não
quero isso.

Ele coloca as mãos contra a parede em ambos os lados


da minha cabeça, enjaulando-me. — E agora?

Meu dedo do pé esquerdo roça contra o tornozelo dele,


subindo lentamente o comprimento de sua perna até
enganchar em sua cintura. Eu o uso para empurrá-lo para
frente até que somos pressionados firmemente um contra o
outro.

Não preciso mentir. Eu quero isso.

Seus lábios estão nos meus antes que eu possa piscar,


sua língua fodendo minha boca do jeito que eu espero que ele
faça no meu corpo. Eu respondo ansiosa, minha língua
roçando a dele e saboreando o sabor distinto de hortelã e
amaretto. É um beijo imundo, cruel, violento e confuso, cheio
das promessas sinistras que mal posso esperar para que ele
solte meu corpo carente. É insondável o quanto eu quero
isso, o quanto eu tenho sede disso desde que meus olhos se
conectaram com os dele e viram o desejo espreitando em suas
profundezas.
Seus lábios se movem para a pele abaixo da minha
orelha, sugando levemente antes que ele a morda
suavemente, enviando um choque de dor direto para os picos
rígidos dos meus mamilos. Um gemido animalesco escapa da
minha boca quando sua língua passa sobre a pele sensível
que ele mordeu, lambendo a dor deliciosa. Seus lábios
descem pela minha garganta, encontrando suas mãos nos
meus seios.

Ele aperta um mamilo com uma mão, enquanto sua


boca suga grosseiramente o outro broto através do tecido fino
do meu vestido. Minhas mãos se enroscam em seus cabelos,
empurrando-o para baixo, querendo que ele esteja lá. Ele me
permite, rindo da minha falta de paciência, enquanto
propositalmente arrasta os dedos lentamente ao longo do
comprimento das minhas coxas em um toque provocador.

Eu gemo, pegando a perna que estava envolvida em sua


cintura e prendendo-a por cima do ombro. O movimento
levanta a saia do meu vestido mais alto, expondo mais da
minha pele ao ar fresco do outono. Ele se inclina para a
frente e enfia o nariz na minha carne sensível, mergulhando-
o na minha fenda através do tecido de algodão da minha
calcinha.

Enroscando meus dedos no elástico da minha calcinha,


empurro-a para baixo, ansiosa demais para o contato pele
com pele. As vibrações de seu rosnado em resposta enviam
meus quadris empurrando para frente, forçando nossos
lábios a se chocarem.
Eu choro ao sentir sua língua, traçando o comprimento
do meu monte. Ele leva um dos meus lábios completamente
em sua boca, chupando suavemente, antes de soltá-lo. A
ponta do seu polegar roça no meu clitóris, espalhando a
umidade da minha abertura sobre ele e esfregando em
círculos lentos.

Quando seus lábios assumem a posição do polegar no


meu clitóris, eu quase me perco. Ele gira a língua em torno
dele, provocando-me com o ritmo lento. Estou ofegante
quando um de seus dedos entra em mim, bombeando meu
corpo com facilidade. Um segundo dedo se junta ao primeiro,
e eu monto os dois, saboreando a sensação de sua boca
quente no meu clitóris e seus longos dedos no meu corpo.
Com cada impulso de sua língua, posso me sentir alcançando
a borda, aproximando-me cada vez mais da liberação de que
preciso desesperadamente.

É isso. Este é o momento em que espero há anos. O fim


do meu período de seca. O começo do êxtase. Estou tão perto
de gozar. Eu posso sentir isso na aceleração do meu
batimento cardíaco, a lembrança do sabor de sua língua na
minha boca, seus lábios contra os meus, e o arranhar das
minhas unhas na nuca dele.

Eu gemo alto, minha voz grossa de prazer. — Estou


perto. Estou perto. Estou tão perto, — digo, ofegando entre
cada respiração.
Ele se afasta de repente, e a perda de seu calor é
substituída pela calma do ar. — Pode esperar? — Ele
pergunta, seu tom agudo e exigente.

— O-o quê? — Eu pergunto, lutando para me acomodar


através da densa névoa de luxúria. É inevitável.

Ele…?

Olho para ele, seguindo sua linha de visão. Ele ainda


está olhando para a minha carne exposta lá.

Meu queixo cai.

Ele acabou de perguntar à minha vagina se pode


esperar? Para gozar?

Porque a resposta é um retumbante não. Esperei, tipo,


dois anos para gozar na mão de alguém que não fosse a
minha.

Estendo a mão e puxo minha calcinha de sua posição


sobre os joelhos. Quando ela está me protegendo
adequadamente, eu rapidamente a cubro com meu vestido,
percebendo tardiamente o quão feio é a roupa de baixo de
algodão. Eu poderia estar usando calcinha de vovó.

Há um silêncio enorme enquanto espero que ele pare de


encarar minha virilha agora coberta. Quando arrisco um
olhar para o rosto bonito dele, descubro que ele não está
olhando para mim. Ele está olhando para o espaço – na
direção que minha calcinha feia estava. Eu dou um passo
discreto, colocando o máximo de distância possível entre nós.

Ele pode ser o homem mais gostoso que eu já vi, mas eu


não vou transar com um louco. Mesmo que ele venha com
uma boca capaz de prazeres inconcebíveis. Meus olhos
disparam para a porta, perguntando-me se posso escapar
rapidamente sem ele perceber que estou saindo.

— Tudo bem, — diz ele, e eu entendo que ele não estava


falando com minhas partes femininas.

Ele estava falando em um fone de ouvido. É menor do


que os enrolados que os guardas estão vestindo. Enquanto os
deles são maiores e conectados, o dele é sem fio e minúsculo,
cabendo inteiramente no ouvido e camuflado por sua cor de
carne.

Ele se levanta, ajeita o terno e late: — Eu estarei lá em


um minuto.

Com isso, ele bate na porta três vezes e entra no clube


assim que se abre, deixando-me boquiaberta, com o meu
feitiço seco ainda intacto.

Sem desculpas. Sem despedidas.

O idiota nem me dá a cortesia de me olhar.


Capítulo 3

Coragem é graça sob pressão.


– Ernest Hemingway

Leva alguns momentos debilitantes para acalmar minha


raiva. Porque, sério, quem faz isso?

Ele não poderia me dar mais trinta segundos? Eu estava


tão perto!

Ainda estou brava quando percebi o quão recém fodida


eu pareço. Meu cabelo está arrepiado em todas as direções,
estou completamente corada da cabeça aos pés, e sinto o
cheiro do sexo que quase não tive. Preciso ir ao banheiro e
lidar com isso antes de encontrar Aimee e sair desse lugar
miserável.

Uma coisa é certa: nunca mais venho para o Rogue.

Eu posso encontrar Olhos Azuis no inferno daqui a cem


anos, e ainda será muito cedo. Sei com certeza que é para
onde ele vai também. Não tenho dúvidas de que existe um
lugar especial lá embaixo para homens que deixam as
mulheres à beira do orgasmo assim.

Bato na porta três vezes. Eu sou rápida a rosnar quando


a porta se abre e me encontro com o sorriso divertido do
guarda.
Foda-se ele. Foda-se Olhos Azuis.

E foda-se este lugar estúpido.

Vou até o banheiro, forçando-me a me acalmar. Respire


fundo.

Inspire.

Expire.

Inspire.

Expire.

Inspire.

Expire.

Repito o mantra até deixar de me sentir à beira de me


transformar em um monstro verde com um QI de nível gênio.

Quando chego ao corredor que leva ao banheiro


feminino, passo por um homem com a loira de antes, aquela
que subiu para a área VIP com Olhos Azuis. Eles estão muito
ocupados discutindo para me notar.

Na verdade, eles parecem não me ver, então eu


mantenho minha cabeça baixa e inclino meu rosto e corpo
para longe deles, tentando cuidar de meus próprios assuntos.
É o Foster Care 1015: mantenha a boca fechada, a cabeça
baixa e as opiniões para si mesmo. Passando por eles,

5 Não há um significado exato para Foster Care, mas seria como se fosse um manual de crianças
adotadas.
percebo que, embora dois anos se passaram desde que eu
saí, o Foster Care 101 ainda é uma segunda natureza para
mim.

No entanto, sou capaz de dar uma boa olhada no


homem antes de me virar. Construído como um campeão de
pesos pesados e vestido da cabeça aos pés de preto, ele é
super assustador. Intimidador. As tatuagens de cobra que
mergulham por baixo da camisa e acabam na cabeça raspada
me dão arrepios indesejados. Elas apenas aumentam seu
semblante duro.

Um arrepio terrível corre através de mim, e eu


rapidamente entro no banheiro das mulheres, ansiosa para
me afastar da dupla.

Estou calma quando termino de me arrumar e torcer


meu cabelo em um rabo de cavalo bagunçado. Depois de ir ao
banheiro, volto para a pia, apenas para perceber que a
discussão lá fora ficou mais alta. Eu quero sair em silêncio,
mas os dois estavam ainda mais perto da porta do banheiro
agora. Não há como sair sem chamar a atenção para mim
mesma, e meu instinto me diz que eu definitivamente não
deveria estar chamando atenção para mim.

Há um baque seguido de um grito agudo. Minha


respiração engata. Abro a porta apenas uma fresta e olho
para fora. O cara assustador tem uma arma em uma mão e o
pescoço da garota na outra. O corpo dele está encostado ao
dela, pressionando o resto dela contra a parede. Se ele não
estivesse segurando uma arma na mão, eu teria classificado o
comportamento deles como sexual.

Mas não, ele está tentando intimidá-la, e está


funcionando... em mim.

Meu queixo cai. Claro, eles estão em um corredor vazio,


mas ainda é um lugar público. Há tantos olhos no clube, e o
corredor não tem portas. Qualquer um pode passar e ver o
que está acontecendo. Com toda a segurança posicionada no
lugar, estou realmente surpresa que eles ainda não tenham
sido pegos. Esse cara não está preocupado que alguém possa
vê-lo segurando essa garota? Com uma arma!

Empurro a porta um pouco mais, tomando cuidado para


permanecer em silêncio e invisível. Desse ângulo, sou capaz
de ver a multidão no clube.

Que diabos?

Estou chocada além da descrença. Os dois têm uma


visão clara da multidão, mas as pessoas estão praticamente
se esforçando para ignorá-los. E as pessoas desviam o olhar
depois de menos de um segundo, como se não tivessem visto
nada.

Meus punhos cerram. Esse cara é assustador, claro,


mas todos são covardes por não fazerem nada. Mas,
novamente, eu também. Eu sou quem está escondida no
banheiro. Eu tenho que ajudá-la, mas o que posso fazer? Ele
tem uma arma, pelo amor de Deus. Uma arma.

Depois do meu tempo viajando por países do terceiro


mundo, eu me acostumei a armas e perigos. Mas essa é a
América. A nação mais rica do mundo, deveria ser seguro
aqui. Eu não deveria estar em uma situação envolvendo uma
arma no meu primeiro dia de volta.

Eu fecho a porta do banheiro, fazendo o meu melhor


para ficar quieta. Meu coração está batendo forte enquanto
eu debato minhas opções. Obviamente, eu tenho que ajudar a
garota. Mas se eu sair e lutar com ele, isso apenas colocaria
nós duas em risco. Meu treinamento de autodefesa consiste
em chutar um adolescente nas bolas na escola e literalmente
nada mais. Eu não posso bater em uma arma! Eu nem
saberia por onde começar.

Os guardas da segurança também estão fora de questão.


Alertá-los exigirá passar por esse cara. Mais uma vez, ele tem
uma arma. Eu não sou uma tola e não tenho um desejo de
morte. Hoje não vou interpretar a heroína.

Lembro-me do meu telefone na minha bolsa. Posso ligar


para a polícia e espero que cheguem aqui a tempo. É o que eu
vou fazer. É a melhor opção, eu me tranquilizo. Pego o telefone
e ligo para o 9-1-1, esperando com um suspiro irritado o som
do tom de discagem. Eu me afasto ainda mais no banheiro
para ficar quieta.

— 9-1-1. Qual é a sua emergência? — A voz do operador


é profunda e masculina, calma e forte.

Isso me acalma imensamente.

Eu fecho meus olhos, permitindo que sua voz me dê


força por um breve momento. — Uh... — Eu hesito, sem
saber o que dizer. Eu nunca liguei para o 9-1-1 antes. —
Estou no banheiro de uma boate e há um cara do lado de fora
com uma arma. Ele está sufocando uma garota. O que eu
faço?

— Antes de tudo, senhora, mantenha a calma. A boate


está lotada?

— Sim, — eu digo, lutando para manter a incredulidade


fora da minha voz.

Ele está falando sério? É sexta-feira à noite, em uma


área de faculdade na cidade mais populosa dos Estados
Unidos. Claro que está lotada.

— Em que boate você está?

— Rogue.
Há um suspiro desconcertado na linha antes que o
operador se recupere. Ele diz, embora de maneira fraca: — E
tem um homem armado?

— Sim.

Estou começando a ter um mau pressentimento sobre


isso. Bem, eu já estava com um mau pressentimento antes,
mas isso era principalmente preocupação pela garota. Agora,
também é uma preocupação por mim.

Estou presa na Twilight Zone6?

Se sim, onde está Bruce Willis?

E como diabos eu saio?

O operador finalmente fala novamente: — Tem certeza


de que deseja denunciar isso? — Meu queixo cai.

O quê? Sério?

Os policiais podem perguntar isso quando alguém relata


que um cara assustador tem uma arma na mão e está
estrangulando uma mulher? Isso é além do estranho. Isso é
uma coisa? As armas são consideradas preliminares em Nova
York? 50 Tons de Cinza não me preparou para isso.

Oh, Deus.

E se eu apenas estiver interrompendo o sexo excêntrico?

6 É uma referência a um lugar onde as coisas não fazem sentido. É como se fosse uma outra
dimensão.
Isso não me tornaria pior do que Olhos Azuis. E ele é
um idiota. Eu não quero ser uma idiota. Eles são nojentos,
feios e fedidos – eu me forço a parar minha divagação mental
nervosa. É um dos meus muitos maus hábitos.

Eu levanto minha cabeça novamente a tempo de ver o


cara assustador correndo as mãos pela lateral do corpo da
garota. É lento e sensual, mas a arma ainda está lá. A luz
reflete no gatilho, piscando para mim, apesar de sua
mortalidade. Pode disparar a qualquer segundo.

A incerteza que corre através de mim passa pelo meu


sistema. Eu me afasto para o banheiro, certa de que estou
fazendo a coisa correta. Além disso, eu estava com medo pela
mulher antes, mas agora estou cada vez mais desconfortável
com o meu papel nisso. Quero sair o mais rápido possível,
sem ser a principal testemunha de um assassinato, e os
policiais ainda são minha melhor aposta.

— Sim, — eu digo com firmeza, sem deixar margem para


dúvidas.

— Você tem certeza de que ele não é um guarda de


segurança?

Lembro-me dos ternos combinados que todos os


guardas do clube estão vestindo. Com calça social justa e um
paletó azul marinho sob medida, esse cara está vestido da
mesma forma que Zeke, porém Zeke parece um menino
comparado a ele. Esse cara certamente é construído como os
guardas, mas ele não está vestido como um.
— Acho que não, — digo.

— Ok, — o operador concorda. — Eu tenho uma


unidade de patrulha por perto. Eles estarão aí em alguns
minutos. Por favor, espere na fila e fique parada. — Ele
hesita. — Faça o que fizer, não chame a atenção para si
mesma.

Não brinca.

Eu solto uma respiração e junto com ela vai a minha


raiva. Estou sendo desnecessariamente cruel com esse cara,
mesmo que meus socos estejam na minha cabeça. O
sarcasmo pode ser o meu mecanismo de defesa preferido,
mas não é muito bom.

Alguns minutos.

Eu posso fazer isso.

Eu posso esperar esse tempo. — Ok, — digo ao


operador.

Afasto-me mais da porta com o telefone ainda


pressionado contra o ouvido. Mas volto para a porta quase
imediatamente depois, minha curiosidade me vencendo.

Estou salvando essa garota, então eu posso espiá-la, eu


penso.

Com o olho posicionado no buraco da fechadura da


porta, observo o homem começar a dar tapinhas nela com a
mão livre. O corpo dele ainda está colado com o dela,
mantendo-a pressionada contra a parede. A garota tem um
olhar indignado no rosto e ela parece estar mais brava do que
assustada. Isso é mais uma coisa a acrescentar à longa lista
de coisas estranhas sobre essa situação.

Algo está acontecendo aqui. Começo a reconsiderar


minha decisão. Talvez eu tenha sido muito apressada em
chamar a polícia. Eu estive em muitas regiões perigosas nos
últimos dois anos, então a violência parecia a conclusão mais
óbvia para mim. Mas agora, a julgar pela maneira como o
sujeito recua com um sorriso malicioso, rapidamente
substituindo seus traços de raiva, sei que cometi um erro.

Olho para o telefone na minha mão. O operador ainda


está na linha. Foda-se. Ele enviou uma unidade de patrulha e
eles já estão a caminho. É tarde demais para cancelar tudo?
Discuto minhas opções por mais dois segundos antes de
tomar outra decisão precipitada.

Eu desligo a chamada da polícia.

Encerro a ligação e limpo o telefone, removendo todas as


minhas impressões digitais. É um telefone pré-pago
internacional que comprei há alguns anos em Moçambique. É
improvável que eles possam rastreá-lo de volta para mim.

Eu nunca liguei dele antes. Eu não tinha ninguém para


ligar e só o comprei para emergências. Eu estava querendo
comprar um telefone novo com uma operadora nacional, mas
minha bunda preguiçosa ainda não chegou lá. Estou feliz por
isso agora.
Depois de virar o telefone, retiro a bateria e o cartão
SIM. A bateria jogo no lixo, enquanto o cartão SIM jogo em
um dos banheiros. Pego o telefone – que ainda estou
segurando com uma toalha de papel para limpas minhas
impressões – e o coloco na pia sob um fluxo de água.
Certifico-me de que seja baixo o suficiente para que eles não
possam ouvir o som da água do lado de fora, embora as
chances de isso acontecer sejam reduzidas. O clube está
barulhento, afinal.

Pego o telefone molhado e o jogo no lixo. Depois, uso a


toalha de papel molhada para limpar qualquer lugar que eu
possa ter tocado. Eu sei que estou sendo paranoica. De
maneira nenhuma alguns policiais vão dedicar um tempo
para tirar impressões digitais em um banheiro que tem
impressões digitais em todos os lugares, apenas para me
identificar.

Tanto faz.

Melhor prevenir do que remediar.

Quando termino de ceder à minha paranoia, volto ao


buraco da fechadura a tempo de ver um cara se
aproximando. Ele é uma sombra escura de movimento até
que ele se aproxima e a luz brilha em seu rosto magnífico e
áspero. Eu o reconheço imediatamente.

É ele.

Olhos Azuis.
Idiota.

Destinado ao inferno.

Seja qual for o nome dele.

Ainda não decidi como quero chamá-lo.

Como você dá um nome a alguém que tem o poder de


inclinar a Terra em seu eixo? Porque, certamente, é a única
maneira de estar me sentindo assim agora. Como se o mundo
estivesse caindo para dentro, e esse homem, que me levou à
beira do orgasmo e depois foi embora, de repente está no
centro dele.

Talvez eu esteja apenas louca?

Não sei, mas sei que ainda estou com raiva. Meu
primeiro instinto é empurrar a porta e dar um tapa nele, mas
me contenho.

Por pouco.

— Você a revistou? — Ele pergunta imediatamente. Sem


olá. Sem pretensões.

Ele disse apenas três palavras, mas eu me deleito com o


som de sua voz novamente. É áspero, masculino e sexy. Eu
quero me afogar nele, e então eu quero que ele me ressuscite
com aqueles lábios carnudos.

Olhe para mim.


Estou em uma situação superficial e ainda estou com
tesão. O que é ainda mais embaraçoso é que, mesmo depois
que ele me deixou na mão, foi ele quem me deixou com tesão.
Preciso tirar uma página do livro de Aimee e transar. Todo o
caminho dessa vez. Acrescento isso à minha lista de tarefas
mentais depois de sair dessa situação.

O cara assustador assente e diz: — Sim, chefe.

Chefe.

Cara assustador trabalha para os Olhos Azuis?

Eu me pergunto o que eles fazem. Do seu terno elegante


ao seu relógio sofisticado, Olhos Azuis parece que está cheio
de riqueza. Tudo o que ele faz deve ser lucrativo.

A garota revira os olhos e cruza os braços. Não há


indicação de que ela estava sendo maltratada nem um
minuto atrás. Ela nem parece se importar. Em vez disso, há
um ar altivo sobre ela quando ela diz: — Sim, Asher. Agora
que você acabou de me tratar como se eu fosse a inimiga,
podemos começar?

Asher.

Esse é o nome dos Olhos Azuis.

Lembro-me do que Zeke disse sobre um Asher Black,


dono da boate. É ele? Se assim for, faz sentido. Ele tem
acesso à área VIP e parece que tem muito dinheiro sobrando.
E ninguém aqui parece se importar com o fato de seu
“funcionário” estar lidando com essa garota.

Droga.

O que eu fiz? Liguei para a polícia sobre o que agora


parece ser um acordo comercial consensual. Claro, uma arma
estava envolvida, mas tudo parece bem e elegante agora.
Aimee vai me odiar. Eles vão me colocar na lista negra do
Rogue por isso.

Este é o fim dos meus dias de balada. Agora, tenho que


conhecer homens no Tinder. Eu nem tenho um telefone que
funcione.

Telefone estúpido, molhado.

E como se não pudesse piorar, um dos guardas de


Asher se aproxima e sussurra algo em seu ouvido. O que ele
disse faz o corpo de Asher ficar rígido.

Ele se vira para os outros dois, olhos cheios de ira


requintadamente contida, e rosna: — Quem diabos chamou a
polícia?

Ninguém o responde.

Asher se endireita, e sua máscara está de volta no lugar


em um instante. Calma, mas também gelada. A frustração
em seu rosto é rapidamente afastada, e ele começa a latir
ordens.
— Bastian, — ele se dirige ao cara assustador, — leva-a
de volta. Não chame a atenção para si mesmos. Ninguém
pode ver vocês dois juntos.

Ele sai abruptamente depois disso, e seus guardas, a


garota e o cara assustador, que agora eu sei que se chama
Bastian, seguem-no. Eu dou um suspiro de alívio, feliz por
estar sozinha.
Capítulo 4

Coragem é o medo que aguenta mais um minuto.


– George S. Patton

Esperei alguns minutos antes de sair do banheiro. A


música da boate já foi desligada quando eu entro na área
principal, procurando por Aimee. Existem vários policiais
dentro, esvaziando o local. Alguns dos rostos da multidão
mostram confusão, mas, em geral, todo mundo parece
animado, mesmo que a noite esteja sendo cortada pela
polícia. É desconcertante.

Mas não posso insistir nisso, porque um par de mãos


me agarra. Eu pulo, alarmada, já no limite do incidente no
corredor.

— Relaxe! Sou só eu. — Aimee joga a cabeça para trás e


ri. — Estamos procurando por você! A polícia está aqui, Lucy!
Isso é tão emocionante.

Zeke assente atrás dela. — Nós devemos sair. Não


queremos ser pegos no fogo cruzado.

Fogo cruzado?

Suas palavras, como o resto desta noite bizarra,


parecem-me estranhas.
Cruzo os braços sobre o peito, sem me mexer quando ele
tenta levar Aimee e eu em direção à porta. — Fogo cruzado?
O que você quer dizer com isso? — Eu não me incomodo em
conter a acusação tingindo minha voz.

Ele suspira, e eu o vejo olhar para a porta com um olhar


contemplativo, como se estivesse pensando em nos deixar
aqui.

Nem pense nisso, amigo.

Todos os homens são idiotas ou são apenas os nova-


iorquinos?

Ele se vira para mim e me lança um olhar incrédulo. —


Este é o Rogue, — diz ele, como se tudo explicasse.

Dou-lhe um olhar vazio. — E?

Aimee olha de um lado para o outro entre nós, uma


carranca puxando as bordas dos lábios vermelhos.

— E pertence à máfia, — diz Zeke, suspirando


novamente. Eu sou apenas uma dor na bunda de todo mundo
hoje?

E então eu processo o que Zeke disse. A máfia?!

Mas ele não terminou. — A família Romano, para ser


exato.

Oh.

Oh.
Ah não.

A família Romano.

Eu cresci em todo o país e estou fora há alguns anos,


mas até eu sei quem é a família Romano. Eles são uma das
cinco famílias criminosas americanas. Todo o nordeste dos
Estados Unidos e partes do Canadá são seu território. Eles
são grandes, e a ideia de estar em um clube de propriedade
da família Romano é absolutamente assustadora.

Será que o incidente no corredor está conectado à


maldita máfia?!

É então que eu sei que realmente me ferrei. Eu não


posso voltar disso. Eu interferi nos negócios da máfia. Só
espero que ninguém tenha me visto ou se importado o
suficiente para me encontrar. Lembro-me da fúria no rosto de
Asher, e a memória causa um calafrio na minha espinha.

Eu realmente preciso sair daqui. Agora. E orar a todos


os deuses do universo para que ninguém descubra que
chamei os policiais para a máfia. A família Romano.

Oh meu Deus.

Tudo faz sentido agora. Os guardas. O dinheiro de


Asher. O tapinha. A arma. As pessoas que ignoraram o que
estava acontecendo. Bastian. O operador 9-1-1. A enorme
quantidade de policiais aqui agora.
Olho a porta como se fosse minha salvação e aceno. —
Ok, vamos sair daqui.

Estou fingindo estar relaxada do lado de fora, enquanto


Zeke leva Aimee e eu para fora do Rogue, empurrando a
multidão abarrotada, mas estou morrendo por dentro.
Literalmente. Na minha cabeça, estou repetindo as milhões
de maneiras diferentes que podem terminar em minha morte
como um rolo de filme mórbido repetidamente. Eu também
estou mentalmente colocando meus negócios em ordem. Mas,
na verdade, ninguém sentirá minha falta, e não tenho nada
de valor para deixar para trás.

Eu cresci no sistema de assistência social da Califórnia,


pulando de casa em casa antes de envelhecer e sair para ser
voluntária em todo o mundo. Ninguém nem sabe que estou
em Nova York, exceto os registros da escola e Aimee, que
acabei de conhecer hoje. A multidão pode facilmente se
desfazer de mim, e ninguém nem piscaria um olho. Esse é
um pensamento deprimente.

Quando chegamos às portas, já me assegurei pelo


menos uma dúzia de vezes que ninguém me viu entrar no
corredor. Que Bastian e a garota estavam ocupados demais
discutindo para me notar. Quando saímos do Rogue, uma fila
de carros de polícia chama minha atenção. Eu xinguei,
fazendo com que Aimee me enviasse um olhar confuso. Mas
eu mal percebo. Estou com muita raiva do operador da
polícia por mentir.
Aquele idiota me disse que um carro-patrulha estava
chegando. Não é um. São oito!

Não acredito que não pensei nisso quando vi quantos


oficiais estavam no clube conduzindo pessoas para fora.
Quero gemer e me livrar da minha miséria antes que a família
Romano possa. Eu sou a razão pela qual oito carros da
polícia estão aqui. De jeito nenhum eles serão capazes de
deixar isso passar.

Na verdade, existem apenas dois oficiais do lado de fora.


O resto provavelmente ainda está na boate, expulsando as
pessoas e fazendo o que eles devem fazer. Os dois policiais
estão conversando com Asher, que está encostado em um
carro da polícia como um diabo, com a atitude espalhada em
seu rosto indiferente. Se eu não visse o quão zangado ele
estava quando soube que os policiais haviam sido chamados,
eu teria pensado que nada pode perturbá-lo.

Há uma multidão ansiosa cercando Asher e os oficiais.


Alguns deles até têm seus smartphones, gravando tudo.
Aimee puxa Zeke e eu para uma parada, seus olhos redondos
fixos em Asher com um olhar de fome neles. Eu franzo a
testa. Ela não vê que ele é perigoso?

Mas até eu tenho que admitir que suas conexões


obscuras com a máfia não fazem nada para diminuir minha
atração por ele. Não há como negar o quão sedutor é esse
homem.

Mesmo que ele tenha me deixado na mão… Oh, não.


A realização me corta profundamente. Eu fiquei com um
mafioso.

Observo quando uma das mãos dos policiais se mexe


perto do coldre de armas. Os olhos de Asher se estreitam com
a ação, e ele se endireita de sua posição contra o carro da
polícia. O movimento sai como uma provocação.

Estou tensa, preparando-me para uma batalha que


imagino que Asher vencerá. Mas não vem, porque o rádio do
oficial dispara. Por meio dele, alguém está dizendo algo sobre
dois suspeitos fugindo pela entrada dos fundos. Lembro-me
do que Asher disse a Bastian sobre passar pelos fundos e
instantaneamente sei que são Bastian e a garota.

O corpo de Asher não está mais relaxado. Ele tem um


olhar neutro no rosto, mas eu posso ver o aperto de seus
ombros e os músculos apreensivamente enrolados de seu
pescoço. Gostaria de saber se mais alguém pode vê-lo, mas os
policiais partiram para a parte de trás do Rogue e com eles
vai a maioria da multidão.

Se ficarmos mais tempo, seremos apenas nós e Asher.


Isso definitivamente não pode acontecer. Coloco uma mão
nas costas de Aimee e outra nas de Zeke, incentivando os
dois a avançar. Estamos praticamente correndo agora.

— Cara! Qual é o seu problema? — Aimee está


carrancuda. A cabeça dela ainda está virada na direção de
Asher, com um olhar de reverência e luxúria estampado em
todo o rosto.
— Nada. Eu só... é a multidão. — Continuo
pressionando Zeke e Aimee até estarmos a uma distância
confortável do Rogue.

Aimee revira os olhos. — Relaxe, Lucy! Eles não têm


ideia de que existimos. — Então, seus olhos se iluminam e
ela grita. — Mas ohmeuDeus, você viu isso?! Isso foi tão legal.
Eu amo Nova Iorque! — Ela suspira um suspiro contente. —
Melhor. Noite. De. Sempre.

Zeke revira os olhos e chama um Uber para nós, mas


estou muito fora para realmente prestar atenção ao que está
acontecendo. Eu os vejo trocando números à distância antes
de Zeke sair em seu próprio táxi. Um carro chega e eu sou
levada a ele. Aimee e eu estamos sozinhas na parte de trás do
carro enquanto o motorista contorna o veículo ao seu lado,
tendo acabado de fechar a porta para nós.

—Relaxe, — ela diz novamente.

Mas não consigo relaxar. Mesmo quando chegamos de


volta aos dormitórios e estou deitada na cama, não consigo
relaxar. Ao fechar meus olhos, percebo que minhas mãos
estão sangrando. Elas foram enroladas em punhos pela
última metade da noite. Apertei-os com tanta força que
minhas unhas perfuraram minha pele, deixando sulcos em
forma de lua crescente nas palmas das mãos.

Eu não dormi naquela noite.


Capítulo 5

O homem não pode descobrir novos oceanos, a menos que


tenha coragem de perder de vista a costa.
– André Gide

Na manhã seguinte, nada acontece. Fico na cama o dia


todo, mesmo quando Aimee insiste em explorar a cidade com
ela antes das aulas começarem na terça-feira. No dia
seguinte, nada acontece. E no próximo, até que seja o
primeiro dia de aula, e ainda assim – nada acontece.

Eu vou para a aula, mas mal consigo me concentrar. Eu


deveria estar empolgada com o meu primeiro dia em Wilton.
É a melhor faculdade do país, e eu trabalhei duro para
chegar aqui. Mas a emoção de uma educação estelar é
ofuscada pelo meu medo de não viver o suficiente para
concluí-la.

O dia após o meu primeiro dia de aula também passa


sem intercorrências. Eu ainda estou viva, o que é nada
menos que um milagre depois de mexer com a família
Romano. Nada fora do comum acontece. Vou para a aula
como deveria e até recebo uma solicitação de entrevista da
cafeteria do campus, na qual me inscrevi on-line antes de me
mudar para Nova York.
E o dia seguinte é normal novamente. Eu vou para as
minhas aulas. Eu até me saí bem na entrevista e consegui o
emprego. Os dias passam e, finalmente, finalmente consigo
respirar normalmente. O medo da morte desaparece, mas
ainda me lembro daquela noite. Desde a ligação até a
chegada da polícia, está presa no fundo da minha mente,
mas, pelo menos, eu sou capaz de seguir em frente com a
minha vida. Uma parte de mim começa a considerar que eles
vão me deixar em paz. Que a família Romano não se importa
o suficiente para retaliar.

É um pensamento ingênuo em que não estou pensando


estrategicamente.

Faz um mês após o incidente e estou prestes a sair do


trabalho na cafeteria. Enfio meu pequeno avental verde em
meu armário de funcionários e coloco minha mochila de
couro por cima do meu ombro. Foi um presente do meu
primeiro salário, junto com um iPhone novinho em folha para
substituir o telefone barato que perdi para o incidente no
corredor. Inferno, eu até baixei o aplicativo Tinder, mas ainda
não criei uma conta. Quando eu fizer, no entanto, sei qual
será meu critério número um – não ser mafioso.
Não estou prestando atenção quando saio da sala de
descanso e esbarro em alguém, derramando o café que estou
segurando em cima de mim. Eu xinguei, apesar de agradecer
que o café não esteja quente.

— Veja onde você está indo. — Eu conheço essa voz.

É dolorosamente familiar.

Minka Reynolds mora no meu prédio. Ela e Aimee se


atacam desde o início do ano letivo, então, como colega de
quarto e amiga de Aimee, eu sou uma inimiga por tabela. E
eu estou ficando cansada disso.

Não posso passar por seus amigos esnobes sem que eles
zombem das minhas roupas, ou do meu cabelo, ou do que
quer que eles decidam tirar sarro naquele dia. Está me dando
nos nervos, mas tenho dito a mim mesma que, se os ignorar,
eles vão parar.

Estou errada.

Eles não pararam.

Se alguma coisa, só piorou.

E quando olho para Minka e vejo o rosto dela, sei que


ela esbarrou em mim de propósito. Há um sorriso satisfeito
em seus lábios, e ela está levantando uma sobrancelha como
se dissesse: — O que você vai fazer sobre isso?

Claro, eu não faço nada.


Suspiro e me viro, voltando para a sala de descanso. Eu
posso ter começado a ignorar seus golpes com a esperança de
que eles parassem, mas agora é tarde demais. Estou muito
comprometida em ficar quieta e me sinto presa no meu plano
estúpido. Como se eu falar agora, será uma vitória para ela,
uma confirmação de que ela me levou ao meu ponto de
ruptura quando não o fez.

Então, a única alternativa é agir como se eu não me


importasse.

Depois de bater a porta da sala de descanso na sua


cara, eu escoo o resto do café na pia e jogo o copo vazio no
lixo. Olhando no espelho de corpo inteiro barato que fica
atrás da porta, avalio os danos.

Meu casaco está completamente encharcado de café.


Estou feliz por ter um emprego e agora poder comprar outro,
porque está completamente arruinado. Também tiro e jogo
fora, sabendo que não poderei remover as manchas do meu
Signature Mocha Prevent a Nap Frappe ™ – quem nomeia
essas coisas? – Com chantilly em vez de leite, duas doses de
xarope de avelã, uma dose extra, uma colher e meia de java
chips, uma chuva de caramelo e um pedúnculo de fava de
baunilha misturados. Ah, e chantilly extra.

Sim.

Eu sou uma daquelas pessoas que faz pedidos


desagradáveis de bebida, mas eu faço minhas próprias
bebidas, então quem se importa? Sinto-me nua na minha
camisete de seda com renda, que mergulha no meu decote.

Parece claramente que pertence a um conjunto de


lingerie para dormir. Na verdade, é uma parte do conjunto de
pijama que meu último pai adotivo me deu.

Ele é assustador, e eu sei que ele só comprou para mim


para que pudesse ver meu corpo nele, mas eu o mantive de
qualquer maneira. Mendigos não podem escolher. Na época,
eu não possuía muitas roupas e precisava de tudo o que
pudesse colocar em minhas mãos.

Na verdade, eu comecei a amar como isso veste em mim,


então nunca o joguei fora, mesmo que eu devesse ter feito.
Quero dizer, quem mantém roupa de dormir comprada por
seu pai adotivo enervante? Aparentemente eu. E eu gosto.
Das roupas, não do meu pai adotivo. Fugi daquele cara o
mais rápido que minha assistente social me permitiu.

Mas estava de camisola e calcinha hoje de manhã


quando acordei tarde. Eu nem tive tempo de trocar. Eu
apenas vesti o moletom com capuz de ontem e o jeans preto
skinny e segui para trabalhar o mais rápido que pude.

Agora, lamento minha decisão, mas os dormitórios estão


do outro lado do campus e tenho menos de cinco minutos
para chegar à palestra do Dr. Rolland. Não há tempo para me
trocar, se eu quiser chegar às aulas a tempo. E eu quero. O
Dr. Rolland é cuspidor, então tenho que ir para a aula mais
cedo, se quiser um assento fora da zona de respingos.
Saio apressadamente pela porta dos fundos, esperando
evitar Minka. Faço uma anotação mental para sair pela porta
dos fundos a partir de agora. É covarde, mas a última vez que
tentei ser uma heroína, acabei chamando a polícia para a
máfia. Eu ainda não consigo dormir confortavelmente à noite.
As bolsas debaixo dos meus olhos são uma prova disso.

Eu talvez tivesse oito horas de sono antes do Incidente


no Corredor, mas agora estou mais como seis horas.
Vislumbro meu reflexo na janela e estremeço. Está mais para
cinco horas e meia. Eu pareço realmente exausta. Entre o
estresse da retaliação, meus cursos da divisão superior e as
longas horas no café, tenho motivos para estar.

Milagrosamente, chego às aulas a tempo. A palestra está


quase começando, então todos os bons lugares nas fileiras
central e traseira são preenchidos. Como se meu dia não
pudesse piorar, hoje não tenho escolha a não ser sentar na
zona molhada. Sento-me no centro da primeira fila. De
qualquer maneira, estou sentada na zona de respingos7, para
que eu possa ter a melhor visualização do quadro enquanto
estiver aqui.

Eu pulo de surpresa quando alguém se senta ao meu


lado. Eu pensei que era a última pessoa aqui. Na capacidade
máxima, apenas uma pessoa precisa se sentar na zona de
respingos. Essa sou eu, então quem é esse? Eu me viro para
quem quer que seja, pronta para avisá-lo sobre a zona de

7 Zona de respingos seria aquela zona que fica perto do professor ou palestrante, tão perto que o
cuspe pode pegar na pessoa que se senta nessa zona.
respingos, quando me deparo com familiares olhos azuis. Eu
percebo quem é imediatamente.

Asher Black. Oh Deus.

Sinto o pânico surgir instantaneamente. Ele está aqui


para me matar?

Devo ter dito isso em voz alta, porque o olhar sério em


seu rosto é substituído por um de diversão. Ele corta seu
comportamento gelado como o último quebra-gelo, mas não
faz nada para aliviar minha preocupação.

— Eu sou tão assustador? — Ele pergunta, uma


sobrancelha arqueada em dúvida. Eu engulo e aceno.

Se isso fosse um desenho animado, haveria um trago


audível vindo de mim. Sua sobrancelha retorna à sua posição
normal. — Eu mereço.

Os olhos de Asher escurecem, o azul gelado


transformando-se em azul-marinho em um piscar de olhos, e
vejo a dica de perigo ali. Sempre esteve lá, mas as sombras
acentuam até que eu não consigo me concentrar em mais
nada.

— Com toda a honestidade, eu estava aqui para... —


Seus olhos percorrem a sala, provavelmente procurando
bisbilhoteiros.

É um esforço infrutífero. Nós dois sabemos que todos


vão prestar atenção assim que perceberem que ele está aqui.
Ele olha para alguém e abaixa a voz até eu me esforçar
para ouvi-lo. — …cuidar de você.

Eu me afasto dele, para que ele não possa ver o horror


gravado no meu rosto cansado. Se há uma coisa que os
zilhões de filmes e livros da máfia que eu assisti e li durante
minha pesquisa após o incidente no corredor me ensinaram,
é que “cuidar de” é o código para: eu mato e escondo seu
corpo sob um canteiro de obras, onde eles construirão um
conjunto habitacional da Seção 8 sobre você e só encontrarão
seu corpo cinquenta anos depois, quando algum bilionário
rico e aspirante a Trump comprar o complexo, expulsar os
pobres, demolir e construir uma torre de apartamentos sobre
ele.

Ele profanará ainda mais sua memória ao não permitir


que as minorias aluguem lá.

Ah, e Shawn Spencer entrará para resolver o seu caso


de assassinato, pelo menos eles descobrirão quem fez isso e
será engraçado.

Risca isso.

Psych foi cancelado.

Então, Reese e Harold obterão seu número de segurança


social de sua máquina de inteligência artificial e encontrarão
seu corpo e levarão seu assassino à justiça.

Risque isso também.


Person of Interest foi cancelada…

Por que todos os meus programas favoritos são sempre


cancelados?!

Eu odeio redes de TV. Eles sempre cancelam meus


programas favoritos e me deixam no vácuo. O que eu devo
fazer com isso? Escrever meu próprio final? Ninguém tem
tempo para...

Foda-se, estou divagando.

Na verdade, estou divagando mentalmente, o que é pior,


porque quando divago mentalmente, tenho a tendência de
expressar as palavras que estou pensando. Como uma
maldita idiota. Fico feliz por desviar o olhar de Asher, porque
se não morrer hoje pelas mãos dele, definitivamente morrerei
de vergonha.

Sem fôlego, eu me paro. Pensando em suas palavras,


sinto um ataque de pânico se aproximando. Eu não consigo
respirar. Abro a boca para dizer algo, mas nada sai. Como ele
pode ser tão descarado? Entrando na minha classe, sentado
ao meu lado, e quase me dizendo em público que ele está
aqui para me matar. Ele fará isso em público?

Eu olho o relógio. São 9h10 em ponto. A aula está


prestes a começar. Tenho 50 minutos para pensar antes de
sair. Nem preciso pensar nisso para saber que ele vai me
seguir fora da aula. O conhecimento causa outro ataque de
pânico, antes mesmo que eu tenha a chance de me livrar do
último.

Eu posso sentir Asher inclinando-se para mim.

— Ei, — diz ele, seu tom surpreendentemente gentil,


mas firme. Eu não posso olhar para ele. Isso apenas pioraria
as coisas.

— Ei, — ele diz novamente, mas desta vez, ele coloca os


dedos no meu queixo e me vira para encará-lo.

Quando finalmente o faço, quero me afastar novamente.


Há um vinco entre as sobrancelhas que não existia antes. É
um olhar de preocupação que parece deslocado em seus
traços fortes, mas não sei se é para mim ou por minha causa.

Provavelmente o último, porque Asher Black não está


interessado em mim. Certo?

— Acalme-se, Lucy, — diz ele, assustando-me com o seu


conhecimento do meu nome. Sua voz é cheia de
condescendência e aborrecimento, o que apenas confirma
minha teoria. Ele não está preocupado comigo. — Você está
chamando a atenção para nós e não quer fazer isso.

Eu respiro fundo. — P-por que não deveria? — Eu


engulo, reunindo coragem para falar de novo, mesmo que
minhas palavras sejam cheias de gagueira. — Dê-m-me um
m-motivo pelo qual eu não deveria gritar.
O olhar que ele me lança faz desaparecer qualquer
esperança de que eu esteja falando novamente. — Nem pense
nisso. Eu te segui aqui. Eu posso te rastrear em qualquer
lugar, exceto que na próxima vez, não vou ser tão legal.

Ele tem razão.

Não duvido nem por um segundo que, com seus


recursos, ele possa me seguir em qualquer lugar. Eu o
pesquisei no Google após o incidente em Rogue. Não fiquei
surpresa ao saber que ele é um grande negócio aqui em Nova
York, não apenas no submundo, mas também no mundo dos
negócios, onde ele é dono de uma empresa da Fortune 500
que o tornou um dos homens mais ricos da cidade.

Não consegui encontrar muita coisa sobre seus negócios


ilegais, apenas algumas especulações e histórias ridículas de
que ele nunca foi formalmente acusado. Eu fui capaz de
descobrir um pouco sobre seus negócios jurídicos, todos
controlados por meio de sua empresa, a Black Enterprises.

Sinto a mudança no ar quando as pessoas percebem


que Asher Black está aqui. Ele não apenas é dono de uma
empresa de sucesso, como seus possíveis laços com a máfia e
a aparência deslumbrante fizeram dele um queridinho da
mídia. Os paparazzi parecem seguir todos os seus
movimentos, e há blogs de fãs por toda a Internet que postam
fotos dele o dia todo. Eu sei, sem dúvida, que a maioria das
pessoas nesta classe sabe quem ele é, e este é um salão de
palestras para trezentas pessoas.
A sala de aula, que antes aguardava silenciosamente o
Dr. Rolland, agora está cheia de sussurros. Ouço algumas
pessoas se levantarem e, pelo canto do olho, vejo algumas
garotas descendo os degraus e indo em direção à fila da
frente. Está quase cheio agora.

Uma garota bonita com olhos grandes e um sorriso


sensual se senta ao lado de Asher. Ele nem olha para ela. Ele
ainda está me olhando com uma leve carranca no rosto. Eu
engulo, aceno para ele para confirmar que não vou gritar, e
olho para longe.

Alguém se senta ao meu lado. É uma das lacaias de


Minka. O nome dela pode ser algo como Nelly ou Nessy. Ela
olha para Asher com curiosidade, sem se preocupar em
esconder seu interesse. Isso me irrita.

Esse cara provavelmente quer me matar, e ela está


olhando para ele como se quisesse se casar, ter filhos e ser
enterrada ao lado dele. E não necessariamente nessa ordem.

É o conhecimento de que Asher provavelmente vai me


matar de qualquer maneira que me dá coragem para dizer: —
Por que você está sentada ao meu lado, Nelly? Você nem
gosta de mim. — Sinto Asher se mexer em seu assento ao
meu lado, mas enquanto não estiver olhando para ele, ainda
tenho coragem de falar.

O queixo dela cai. Ela provavelmente está pasma que eu


esteja dizendo algo para ela depois de um mês
silenciosamente atormentando-me. — É Nella, — diz ela
rigidamente. Os olhos dela se voltam para Asher. — E eu ia
perguntar a Asher se você o estava incomodando.

Eu quase bufo. Ela é cheia de merda. De jeito nenhum


ela não viu que ele foi o único a se aproximar de mim. É uma
tradição da sala de aula para todos verem quem tem a
infelicidade de se sentar na zona de respingos. Não acredito
nem por um segundo que ela não tenha me visto aqui
primeiro. Ela provavelmente até faria uma pergunta, ansiosa
para ver o cuspe do Dr. Rolland voar em minha direção por
cinquenta minutos.

Então, eu finalmente corto essa besteira depois de um


longo mês de tolerância. — Besteira. — Eu cruzo meus
braços. — Você me viu sentada aqui sozinha na zona de
respingo. — Eu ouço distante Asher questionar a zona de
respingo em voz baixa, mas eu o ignoro. Estou empolgada, e
nem ele consegue me desviar disso. — Você provavelmente
pensou que era engraçado. Então você o viu, — eu aceno na
direção de Asher, — sentando-se e pensou que você viria até
aqui toda recatada e inocente para entrar nas calças dele. —
Respiro fundo, percebendo que essa pode ser uma
oportunidade para fugir. — Bem, você é bem-vinda para se
sentar no meu lugar e tentar.

Os olhos dela se arregalam de espanto. Esta


provavelmente não é a direção que ela pensou que eu estava
indo. Inferno, até eu estou impressionada comigo mesma. Eu
queria envergonhá-la. Esta é a oportunidade perfeita, mas
fugir de Asher é muito mais importante. Minha vida é mais
importante do que essas brigas mesquinhas com Minka e sua
equipe.

Pego minha bolsa e me movo para sair. Estou na metade


do meu assento quando um braço envolve minha cintura e
me puxa de volta para minha cadeira. Asher move seu braço
para que ele fique frouxamente em volta dos meus ombros,
seus longos dedos mergulhando casualmente no lado da
minha camisete furtiva.

Estou perfeitamente ciente de que não estou usando


sutiã. Eu sei que ele pode sentir meu batimento cardíaco
rápido e o brilho leve do suor que está cobrindo a área do
meu pescoço em contato com o braço dele. Inferno, eu posso
até ouvir a respiração rápida.

Eu sinto que sou sua presa, um animalzinho manso


com o qual ele pode brincar antes de matar. E quando ele se
inclina no meu ouvido e sussurra: — Você não achou que
seria tão fácil, não é? — Eu sei que estou certa.

Ele está se divertindo.

O bastardo se diverte com o meu medo.

Eu tento tirá-lo dos meus ombros, mas seu aperto


apenas se fecha. Seus dedos estão agora cavando na lateral
do meu peito, trazendo de volta memórias de suas mãos e
boca nos meus mamilos. É estranhamente erótico, mas é um
ataque indesejado.
O medo e meu desejo estúpido parecem estranhos
juntos, mas também não totalmente desagradáveis.

É oficial.

Eu sou uma idiota.

Em minha lápide estará escrito: “Aqui jaz Idiota:


excitada, solitária e não totalmente certa da cabeça”, e não
estará errado.

Nella bufa e cruza os braços, olhando com desdém a


maneira como o braço dele aperta meus ombros. Ela pode me
odiar o quanto quiser. Eu estarei morta em breve de qualquer
maneira. Eu olho o relógio. Apenas dois minutos se
passaram.

Droga.

Eu tenho que suportar isso por mais 48 minutos, e


agora estou literalmente nos braços do meu futuro assassino.

Ninguém fica perturbado quando o Dr. Rolland entra,


parecendo despenteado e vestindo o casaco do lado avesso.
Dr. Rolland ensina mecânica quântica e está sempre em seu
próprio mundo. Ele é, sem dúvida, um homem brilhante, mas
seu brilho é ofuscado por sua incapacidade de chegar às
aulas a tempo e fazer contato visual com seus alunos.

Ele já está iniciando sua palestra sobre o Princípio da


Incerteza de Heisenberg e nem chegou à frente da classe. Ele
ainda nem tem o pequeno microfone da sala de aula preso à
camisa. Geralmente é onde eu me esforço para ouvir o que ele
está dizendo, mas com minha morte pairando sobre mim, eu
sei que não prestarei atenção à palestra de hoje.

Inferno, isso nem me diverte quando, em um grande ato


de justiça cármica, o Dr. Rolland abre a boca e cuspe voa na
bochecha de Nella.

Ela mereceu.

Pela meia hora seguinte, Asher mantém o braço em volta


dos meus ombros, segurando-me no lugar. Eu tentei me
levantar mais cedo, quando pensei que ele não estava
prestando atenção em mim, mas ele apenas apertou mais. É
quase doloroso agora. Então eu não tentei novamente,
mesmo quando seu dedo roçou no meu mamilo. Ainda não
tenho certeza se isso foi de propósito.

A pior parte é que parte de mim é grata por apenas isso


estar acontecendo. Que eu tenho – olho para o relógio – mais
14 minutos de segurança garantida, mesmo que eu tenha
que suportá-lo com os seus dedos no lado do meu peito. Fico
confortada com o conhecimento de que ele não pode me
machucar em uma sala cheia de testemunhas, mas, na
verdade, estou vivendo com tempo emprestado.

O último mês de vida foi um presente generoso. No


fundo da minha mente, eu sei disso. Eu seria estúpida em
pensar o contrário. A família Romano não deve ser motivo de
brincadeira. Pessoas muito maiores do que eu morreram
tentando.

A parte superficial e sem sentido de mim diz para


esquecer quem é Asher. Reconhecer e aceitar que minha vida
terminará em breve. Essa parte de mim está me incentivando
a tirar um momento para apreciar o toque de um homem
lindo antes que isso aconteça.

Mesmo que esse homem lindo possa eventualmente ser


meu assassino.

Essa é a parte de mim que não transa há anos. Anos. É


a parte de mim que lembra como era ter o dedo em mim, a
língua no meu clitóris. É também a parte de mim que é
responsável por meus mamilos endurecidos, que atualmente
são picos pontudos sob minha camiseta.

É então que o Dr. Rolland decide colocar os óculos. Seus


olhos demoram um momento para se ajustar antes de se
concentrarem.

Direto.

Em.
Mim.

Ou, mais especificamente, meus mamilos.

Ele olha em alarme por um momento estranho antes


que seus olhos se voltem para o meu rosto. Seus olhos não
são desconfiados. Eles estão apenas atordoados. E então ele
vê o braço em volta dos meus ombros e o segue até o dono.
Não fico surpresa quando o clicker na mão dele cai
imediatamente no chão.

Isso é humilhante. Eu tenho um mafioso brincando com


meus mamilos no meio da aula, um professor que apenas
olhou para os meus mamilos e tem medo do mafioso, e 299
pares de olhos em mim. 301 se você contar com o Dr. Rolland
e Asher.

Observo cautelosamente enquanto o Dr. Rolland pega o


dispositivo. Suas mãos estão trêmulas, assim como sua voz.
Ele está divagando agora sobre algo que Heisenberg pode ter
dito no leito de morte, mas suas palavras não estão realmente
fazendo sentido. Eu posso sentir a tensão na sala, meio
simpática e meio antecipadora. Muitos dos alunos têm
olhares ansiosos, prontos para ver o que o Dr. Rolland fará.

Ele pega um grosso conjunto de papéis e olha através


deles. Ele ainda está divagando sobre Heisenberg, e suas
mãos ainda estão tremendo. Uma folha de papel desliza de
seus dedos para o chão, aterrissando aos meus pés.
Olho para Asher, odiando-me por instintivamente pedir
permissão para recuperá-lo. Ele me dá uma expressão
satisfeita, que contrasta muito com a indiferença de seus
olhos, e assente. E então, porque eu sou claramente uma
idiota e não quero que ele pense que pode me controlar, eu
mostro minha língua para ele. É rápido, apenas um lampejo
de uma língua que dura não mais que um quarto de segundo,
mas ainda assim...

Eu. Mostro. Minha. Língua. Para. Ele.

Sou uma mulher de vinte anos e só mostrei a língua


para um mafioso. Claro que sim.

Fico mortificada quando me inclino para pegar o papel.


Incapaz de me ajudar, olho para ele. Faz parte da lista de
turmas. Meu palpite é que o Dr. Rolland estava procurando o
nome de Asher na lista. Ele não o encontrará, mas eu entrego
o papel de volta ao Dr. Rolland de qualquer maneira.

Uma parte de mim até se diverte quando o Dr. Rolland,


com a testa suada e o rosto vermelho de medo, acena com a
cabeça para o papel e continua a palestra. Ele fingiu que
Asher estava matriculado na turma em vez de expulsá-lo, que
é a política da universidade para os ouvintes de palestras,
algo que é surpreendentemente comum em Wilton. O Dr.
Rolland é um ator horrível, e sua reação é um lembrete
desnecessário do medo que Asher desperta em pessoas
respeitáveis de todas as esferas da vida.
Minha diversão com as más habilidades de atuação do
Dr. Rolland desaparece quando o braço de Asher volta ao
redor dos meus ombros, um lembrete pesado do que está por
vir. Eu fico rígida quando as pessoas ao nosso redor
começam a arrumar suas coisas. Olho para o relógio. São dez
horas da manhã. Eu posso ouvir os sinos da morte tocando,
provocando-me na privacidade da minha própria cabeça.

Vou morrer.

Vou morrer.

Vou morrer.
Capítulo 6

Coragem é resistência ao medo, domínio do medo – não


ausência de medo.
– Mark Twain

Todo mundo se levanta, as garotas que ocupavam a


primeira fila permanecem, os olhos saltando de Asher para
mim. Nella ainda permanece sentada ao meu lado até Asher
se levantar, girar minha mochila em seu ombro largo e
agarrar minha mão. Quando nos levantamos e saímos, mais
de uma dúzia de garotas o seguem, incluindo Nella.

Eu nunca pensei que ficaria agradecida por ter a


companhia de Nella, mas eu estou. Isso significa que eu
tenho uma testemunha. Mas ao som das risadas estridentes,
Asher lança um olhar ameaçador para as meninas atrás de
nós. Elas embaralham-se instantaneamente, mais rápido do
que eu pensava ser possível em seus saltos altos. Lá se vão
minhas testemunhas.

Asher e eu saímos de mãos dadas. Essa parte superficial


de mim se pergunta se é assim que parece estar em um
relacionamento, duas pessoas de mãos dadas e saindo da
sala de aula. Exceto que não estamos nem perto de ser um
casal, e eu estou tentando muito me segurar, então eu não
vou parecer uma bagunça do lado de fora. Não preciso que
Asher saiba o quanto estou vulnerável e use isso contra mim.

Eu também devo parecer ridícula na minha camiseta,


que é praticamente lingerie. Pelo menos meu jeans cobre
minhas pernas. E Asher, tão lindo como ele é, parece
deslocado com o brilho perigoso nos olhos e o terno sob
medida que ele veste como uma segunda pele.

Ok, então não parecemos nada com um casal normal.

Fico triste com o conhecimento de que nunca terei a


oportunidade de experimentar um relacionamento real. Eu
preciso encontrar uma maneira de me salvar. Há tantas
coisas que quero fazer na minha vida, coisas que nunca
experimentei e que não terei chance se morrer agora. Eu
decido que não dói impedi-lo.

Viro-me para Asher e digo: — Tenho outra palestra para


ir.

Fico surpresa quando ele acena com a cabeça. Mas ele


não solta a minha mão. Em vez disso, inclina a cabeça, como
se estivesse me pedindo para liderar o caminho. Suspiro e
seguimos na direção de Sproul Hall, onde minha palestra
sobre aplicações avançadas de estatística em genética está
sendo realizada. Essa classe é menor, com menos de dez
pessoas, e eu me pergunto o que acontecerá quando eu
entrar na classe com Asher ao meu lado.
Enquanto caminhamos, considerei minhas opções muito
limitadas. Eu sei que Asher não vai me deixar fora de vista
tão cedo, então, o que quer que eu faça, tenho que fazê-lo sob
seus olhos vigilantes. Não conheço ninguém bem o suficiente
para passar qualquer sinal secreto de que estou prestes a ser
morta pelo homem mais quente do mundo.

Além disso, se eu contar a alguém, há uma grande


chance de eles não acreditarem em mim ou não conseguirem
fazer nada a respeito. E então ficarei na mesma posição, mas
Asher terá ainda mais motivos para me odiar. Eu decido ficar
de olho em quaisquer oportunidades melhores para fugir.

Parte de mim nem pensa que deveria estar tentando


fugir. Lucy Excitada se anima, e eu sento a bunda dela de
volta. Eu tenho o suficiente em minha mente sem adicionar
Lucy Excitada na mistura.

Lucy Sã argumenta que não há nada para fazer que não


seja pior do que o que está acontecendo atualmente. Se ele
me quisesse morta, eu já estaria morta. Eu não posso me
esconder dele. Não quero fugir dele e deixar Wilton. Ter um
diploma daqui mudará definitivamente minha vida para
melhor, e não há como sacrificar isso.

Também não posso ir à polícia. Já assisti a filmes


suficientes e li blogs de fãs da família Romano suficientes
para saber que eles provavelmente têm muitos policiais em
sua folha de pagamento. Não saberei em quem confiar. Seria
uma aposta recorrer a eles. Eu também não tenho ninguém
na minha vida além de Aimee, cujo conselho seria dormir
com Asher.

Dentro de mim, Lucy Excitada levanta a cabeça. Coloco


mentalmente fita adesiva na boca dela e forço-me a parar de
pensar em Asher antes que Lucy Excitada domine meu
cérebro e corpo, e faça algo estúpido. Como tentar pular em
cima dele.

Quando entramos na aula, fico perplexa quando a Dra.


Lance cumprimenta Asher com um sorriso caloroso. Ela é
uma mulher mais velha, com cabelos brancos, um corpo
redondo e olhos penetrantes. Mas com o jeito que ela olha
para Asher como se o adorasse, tenho que questionar sua
inteligência.

— Asher! Que surpresa agradável! — Ela cumprimenta e


olha curiosamente nossas mãos unidas. — Você veio revisar
suas estatísticas? Infelizmente, são estatísticas para os
principais cursos de ciências, não para os negócios.

Ah.

Li online que Asher concluiu um programa conjunto de


seis anos de bacharelado e mestrado em ciências na Jefferson
School of Business de Wilton em apenas três anos. Eu não
acreditei quando li, mas estou começando agora. A Dra.
Lance ensina estatísticas avançadas em várias disciplinas,
incluindo negócios. Se Asher tem um bacharelado e mestrado
da escola de negócios de Wilton, eles devem ter se cruzado
antes.
— Posso me sentar? — Asher pergunta. Sua voz está
sem o fio duro que costuma ter. Ele parece quase...
agradável.

Mas quando eu olho para ele, seu rosto está tão


impassível como sempre.

— É claro, é claro. Você pode se sentar onde quiser.

Eu sutilmente arranco minha mão do aperto de Asher,


sabendo que ele não pode segurá-la de volta com a atenção
que a Dra. Lance está nos dando. Ela é muito afiada para não
notar algo assim. Penso brevemente em enviar-lhe um sinal
para chamar a polícia, mas sei que eles nunca chegarão a
tempo.

E a Dra. Lance é velha demais para enfrentar Asher.


Inferno, é improvável que alguém de qualquer idade possa.
Seu corpo é moldado em uma arma perigosa, provavelmente
mais letal do que uma arma carregada. É definitivamente
mais assustador, e eu saberia – já tive experiência com os
dois.

De costas para a Dra. Lance, Asher me envia um olhar


de aviso. Eu tento ignorá-lo, indo em direção aos assentos.
Esses assentos não têm o estilo de um estádio, como o da
sala de palestras. São pequenas mesas individuais,
consistindo em cadeiras de plástico presas a mesas de
madeira com parafusos de metal.
Todo mundo já está sentado, olhando para nós com
vários olhares de descrença. Eu não tenho certeza se é
porque Asher é um cara assustador ou porque eu trouxe um
encontro para a aula. Encontro uma mesa vazia, cercada em
todos os lados por pessoas. Se eu me sentar nessa, Asher não
será capaz de se sentar perto de mim. Sento-me na mesa,
meu rosto com um sorriso presunçoso. Vou ter mais 50
minutos de paz sentado sem ele ao meu lado. Com o andar
do meu dia, isso é mais do que posso esperar.

Meu sorriso cai quando Asher olha para o aluno sentado


ao meu lado. Ele quase pula da cadeira e corre para a vazia
do outro lado da sala de aula. Asher se senta na cadeira
recém abandonada. Ele estende a mão, agarra minha mesa
com uma mão e a arrasta facilmente para mais perto dele até
tocar sua mesa. Então, ele passa o braço em volta dos meus
ombros.

Eu não reajo. Eu ainda estou muito atordoada. Ele


apenas assustou um pobre rapaz e arrastou todas os 56
quilos de mim junto com esta mesa de 22 quilos com uma
mão. Eu sei que ele poderia ter feito isso, mesmo que eu
pesasse 67 quilos a mais. Eu estou tão fodida.

E isso, sentada ao lado dele e debaixo do braço, é


ridículo. Isso é desnecessário. Não vou a lugar nenhum, quer
o braço dele esteja ao meu redor ou não. Eu não tenho
coragem. Nós dois sabemos disso. Nós dois também sabemos
que correr é uma jogada ilógica. Ele está fazendo isso para
me irritar, e eu sei que não prestarei atenção em mais uma
aula.

Não que isso importe.

As chances são de que eu estarei morta depois desta


aula de qualquer maneira.

É claro que não presto atenção a toda a palestra, mas


fico surpresa quando a Dra. Lance faz perguntas e Asher
responde a todas. Conheça tudo. Asher está no meio de outra
resposta quando um sorriso raro adorna o rosto do Dr.
Lance, porque Asher não apenas responde às perguntas, ele
explica suas respostas com um nível de profundidade e
dificuldade que é impressionante e inimitável. Nem mesmo a
Dra. Lance, que há muito tempo alcançou o status de emérito
em Wilton, pode explicar os conceitos como Asher. E os
garotos estúpidos da classe estão comendo tudo.

Sou a única garota da turma, o que não é exatamente


chocante, porque os campos STEM8 são em sua maioria
dominados por homens. Além do fato de que a bioinformática
e a genômica são um campo tão especializado, que eu sou a
única garota de Wilton em toda a graduação.

É solitário e chato, mas o que posso fazer? Andar por aí


batendo nas portas e pedindo às meninas que se convertam
nas ciências, no estilo dos vendedores da Bíblia?

8Sigla para: science, technology, engineering and mathematics (ciência, tecnologia, engenharia e
matemática)
Não, obrigada.

Depois de alguns minutos, os meninos da classe param


de se importar que Asher seja intimidador e afiliado à família
Romano. Inferno, eu não ficaria surpresa se alguns deles nem
soubessem, dado o foco desses caras em seus estudos. O que
eles realmente se importam é conseguir um A. E Asher é
alguém que pode explicar conceitos complicados para eles
melhor do que o professor.

Eu posso ver a adoração nos olhos deles. Isso me irrita.

Quando a aula finalmente termina, o garoto que Asher


assustou realmente tem a coragem de ir até Asher e fazer
uma pergunta sobre inferência fiduciária. E Asher realmente
responde. Ronald Fisher, o inventor da inferência fiduciária,
nem sequer o entendeu completamente. Mas Asher sim.
Estou estupefata.

Quem é esse cara?

Depois de responder a mais algumas perguntas, como


uma maldita celebridade, Asher se vira para mim e diz: —
Você vai falar comigo ou vamos perder mais uma hora
sentados em uma palestra na qual não prestará atenção?

Eu suspiro, sem surpresa que ele pegou meu plano.


Hoje não tenho outra aula. E então eu processo suas
palavras novamente.

— Conversar? Você quer conversar? Eu pensei que você


estava aqui para 'cuidar de mim'. — Minha voz afunda no
final, imitando seu tom profundo sem sucesso. Eu parecia a
prole pré-adolescente de Monster Cookie e Arnold
Schwarzenegger.

Ele finalmente tira o braço dos meus ombros e agarra


minha mão. Estamos em pé agora, e minha mochila já está
de alguma forma sobre um dos ombros dele.

— Eu disse que estava, — ele admite. — Mas não mais.

— Não mais, — eu repito, descrença colorindo minhas


palavras. — E por que diabos não? — Puxa, eu sou estúpida.
Eu não acabei de dizer isso. É como olhar um cavalo de
presente na cara e cuspir nele. Ou pisando na ponta dos pés
e fazendo piadas com a sua mãe.

Por que não posso ficar calada?

— Vamos a algum lugar privado, — diz ele.

É então que percebo que temos a atenção de todos. Até


a Dra. Lance. Eles podem não saber ou se importar com as
conexões da máfia de Asher, mas o drama ainda é drama, e
esses meninos parecem viciados no nosso. Fico feliz que
estávamos sussurrando.

Eu aceno para ele. Asher pegaria minha mão e me


arrastaria para longe se eu dissesse não. Eu poderia muito
bem ir por minha própria vontade. Deixamos Sproul com
Asher puxa minha mão, puxando-me para outro prédio e
corredor que eu nem sabia que existia.
Sou levada a um elevador, onde há um repentino e
rápido flash de luz que me assusta. Ele me firma quando eu
pulo para trás e deixo porque estou atordoada demais para
detê-lo. Então, estamos indo para baixo. O elevador se abre
para o porão do edifício.

Deveria ser assustador – estou no porão com um


assassino, um cenário clássico para quase todos os filmes de
terror, mas estou fascinada demais para registrar a ameaça.
O porão é um laboratório secreto gigante que eu nunca vi em
nenhum mapa ou diretório de Wilton.

E é a perfeição.

Eu até passo por uma centrífuga de última geração que


é mais agradável do que as caras armazenadas no edifício de
genômica. Isto é incrível. É melhor que o pornô do Tumblr.

Nem pense nisso, Lucy Excitada.

Não posso deixar de perguntar: — Como você sabe sobre


este lugar?

— Não vejo como isso é da sua conta.

Seu tom agudo me tira do meu devaneio aterrorizado.


Faço uma pausa abrupta com o som e continuo olhando em
volta, usando a minha maravilha como uma tática de
estagnação. Eu procuro saídas, fingindo que estou
continuando minha exploração visual do laboratório.
Os olhos perceptivos de Asher se estreitam no meu
teatro, e suspeito que ele saiba o que estou fazendo. Eu ainda
finjo que estou explorando o lugar de qualquer maneira. Ele
surpreendentemente me deixa.

Há uma porta para uma escada, mas tem um scanner


de identificação ao lado. Duvido que tenha acesso a ele, e
meu cartão de identificação de estudante está na minha
carteira, que está na mochila que Asher ainda está
segurando, de qualquer maneira. A única outra saída é o
elevador, que já está no terceiro andar.

Se eu quiser entrar nele, terei que esperar que volte ao


porão. Além disso, o flash no elevador anteriormente era
provavelmente uma medida de segurança maluca, como um
scanner biométrico ou algo assim. Não sei ao certo, mas não
vou correr o risco.

O que significa que estou presa.

O olhar no rosto de Asher me diz que ele sabe disso.


Provavelmente foi por isso que ele me trouxe aqui em
primeiro lugar. Como ele sabe que esse lugar existe, eu não
sei, mas isso é um mistério para outra hora, mesmo que
esteja me matando não perguntar. Se eu viver além dos
próximos minutos. Agora que penso nisso, este é o lugar
perfeito para me matar – secreto, isolado e cheio de produtos
químicos.

Feita minha leitura, não digo nada, esperando Asher


falar. — Você é diferente do que eu pensei que seria.
Meus olhos disparam para ele em interesse confuso. —
Como você achou que eu seria?

— Eu pensei que você fosse uma planta. Uma espiã para


uma das famílias. Talvez até uma espiã corporativa, um pote
de mel para roubar segredos. Alguém com um objetivo, pelo
menos. Mas você não é, verdade?

Meus olhos se arregalam. Ele pensou que eu era uma


espiã? Para uma das cinco famílias? A ideia é tão ridícula que
tenho que rir.

— Você pensou que eu era uma espiã?

Eu nem vou tocar no comentário do pote de mel...


porque, sério? Eu? Um pote de mel?

Se eu fosse um pote de mel, ele não teria me


abandonado antes do orgasmo…

Não devo pensar nisso.

Não devo pensar nisso.

Não devo pensar nisso.

Sua voz corta meu mantra mental. — O que eu deveria


pensar? — Seus olhos endurecem de raiva. — Você chamou a
polícia no meio de um importa — Ele se interrompe. — Você
ligou para a polícia em um telefone internacional pago em
dinheiro há mais de dois anos em uma cidade remota do
Moçambique.
Quando ele coloca dessa maneira, eu realmente pareço
muito durona.

Mas ele não terminou. — O cartão SIM estava no


banheiro. Os meus técnicos demoraram um pouco para
recuperá-lo. Eles nem pensaram que podiam, mas quando
finalmente conseguiram, não havia nada. Nem um único
contato.

Isso porque eu não conhecia ninguém na época. Eu não


tenho família, e ir de um lar adotivo para outro torna difícil
de fazer amigos. Mesmo agora, só tenho o número de Aimee e
do meu chefe. Ninguém que eu conheci durante o meu tempo
de voluntariado também tem dinheiro para um telefone. É um
luxo que a maioria das pessoas na América nem percebe que
é luxuoso.

— O telefone sofreu sérios danos causados pela água e a


maior parte do número de série foi arranhada.

Eu estremeço. Não foi raspado de propósito. Eu sou


horrível em cuidar dos meus aparelhos eletrônicos. Além
disso, o telefone era um telefone de dez dólares que eu
realmente não precisava. Foi apenas uma precaução em caso
de emergência enquanto estava no exterior. Eu nem pensei
em mantê-lo incólume pelo meu descuido e propensão a
arruinar eletrônicos.

Ele continua: — E em todas as filmagens que tivemos de


você, sua cabeça estava abaixada ou atrás daquela sua
amiga. Aimee. Eu sabia como você era, mas precisávamos de
uma fotografia real para distribuir. O desenhista não era bom
o suficiente.

Nem registro que ele saiba o nome de Aimee. Estou


muito focada na sorte que tenho por ter evitado as câmeras.
Não as evitei intencionalmente. Na verdade, eu nem sequer
considerei as câmeras até agora.

Aimee é realmente muito alta, especialmente nos saltos.


Não me choca que a altura dela me proteja das câmeras.
Quanto a olhar para baixo, evitava olhar por causa das
dançarinas penduradas acima de nós nas gaiolas.

— Essas é por causa das suas dançarinas! — Eu choro.


— Culpe-as!

Ele faz uma careta. — Do que você está falando?

— Eu não tinha certeza se elas estavam usando roupas


íntimas! Então, eu não olhei para cima!

Asher esfrega a testa com força e olha exasperado para o


teto. É o tipo de coisa universal que quer dizer o-que-eu-vou-
fazer-com-você. E honestamente, eu me faço a mesma
pergunta frequentemente.

Ele faz um barulho entre um suspiro e um grunhido. —


Quando vimos o vídeo, você era a única que estava perto dos
banheiros quando os policiais foram chamados. Essa parte
foi fácil. Identificar você foi a parte mais difícil. Seu rosto não
estava nas câmeras e parecia que você estava sozinha. Você
não dançou com Aimee, e enquanto vocês estavam perto uma
da outra, não parecia que vieram juntas.

Eu lembro. Eu estava perdida em minha cabeça,


imaginando Rogue como um clube de strip. Então, eu estava
focada em Asher quando meus olhos o viram indo para a área
VIP. Depois disso, Aimee dançou com um cara, enquanto eu
dançava com estranhos.

— Sua ligação para o 9-1-1 foi um beco sem saída. Você


nunca se identificou. Seu telefone era um beco sem saída.
Demorou uma eternidade para rastrear e, quando finalmente
o fizemos, descobrimos que havia sido comprado em dinheiro.
— Uma risada seca ondula através dele. — Eu pensei que
alguém estava atrás de mim. Você era um maldito fantasma.
Na semana passada, colocamos nossas mãos em vídeos de
alguém que filmou meu encontro com a polícia.

Memórias de pessoas na multidão que cercavam os dois


policiais e Asher passaram pela minha cabeça. Eu tinha visto
as pessoas com as câmeras, mas não pensei em esconder
meu rosto. Eu sou tão estúpida.

— Seu rosto não estava nele. Foi apenas pego por trás,
mas suas mãos estavam nas costas da sua amiga e com
aquele cara com quem ela estava. Eu sabia que era você. Eu
reconheci o vestido. Depois disso, ficou mais fácil. Puxamos
as informações do cara do bar. Ele era apenas um advogado
qualquer que você conheceu lá. Nós o interrogamos, mas ele
não sabia de nada.
Estou chocada. Eles o interrogaram? A culpa enche meu
estômago, e espero que ele não esteja machucado por minha
causa. Espere... eu lembro dele trocando números com
Aimee. Hã. Ele não nos enganou. Estou lhe dando adereços
malucos, mas nem me lembro do nome dele.

— Mas sua colega de quarto foi ainda mais fácil de


encontrar. Ela postou dezenas de fotos daquela noite no
Instagram. — Ele ri. — Ela até marcou o Rogue nelas.
Imagine minha surpresa quando vi seu rosto em uma delas.

Nossa conselheira residente tirou uma foto minha e de


Aimee antes de sairmos para Rogue, e Aimee imediatamente
postou no Instagram – #Rogue #Exclusive #Roomies4Lyfe.

Ele me dá uma risada irônica. — Tudo o que


precisávamos fazer era olhar para o feed do Rogue no
Instagram. Nós teríamos identificado você em minutos. Em
vez disso, levou um mês. Eu perdi um maldito mês e quase
um milhão de dólares para encontrar alguém que nem sequer
é uma ameaça.

Espere. Um milhão de dólares?! Não consigo nem


imaginar essa quantia de dinheiro.

— Sabe, eu nem tinha certeza se você era ou não uma


ameaça quando cheguei aqui. Sua verificação de
antecedentes era vazia. Não apenas limpa, mas vazia. Como
se não houvesse nada sobre você no último mês.
Isso porque meu último pai adotivo, Steve, que me deu a
camiseta que estou vestindo atualmente, é um merda. Ele
tinha uma obsessão doentia comigo. Talvez ele ainda o faça.
Ele estava começando a agir, entrando furtivamente no meu
quarto à noite e me encarando.

Uma vez, acordei para ir ao banheiro, e ele estava lá,


acariciando-se ao pé da minha cama. Fechei os olhos e fingi
dormir, imaginando que estava mais segura dormindo. Fiquei
aliviada quando ele não me tocou naquela noite, mas sempre
me perguntarei se ele já teria feito e eu nunca acordei com
isso.

Na manhã seguinte, arrumei minhas malas, larguei a


escola e fui direto para minha assistente social, que me tirou
do inferno. Passei meu último mês como menor em alguma
casa de grupo de merda, onde Steve continuava tentando me
visitar, mesmo que ele tivesse sido avisado pelos policiais
para não o fazer.

Minha assistente social até me deu uma ordem


protetora de emergência contra ele, mas isso não impediu
Steve de tentar. É por isso que nunca me incomodei com uma
ordem de restrição. Acabei por sair assim que tive a chance.

Quando completei 18 anos, minha assistente social


concordou em selar meu arquivo e me ajudar a mudar meu
nome, que costumava ser Elena Lucy Reeves. Agora, é Lucy
Ives. Mudei para o meu nome do meio e o nome de solteira da
minha mãe biológica. Então, eu saí do país.
Por dois anos, fui embora. E agora, aqui estou eu,
novamente em perigo e vestindo a camisete que Steve me
deu.

A ironia não está perdida para mim.

Asher ri novamente. É um som sem vida. — Você é um


fantasma, mas eu não acho que você esteja conectada à
máfia. Eu não tinha certeza antes, mas depois de encontrá-la
novamente, acho que não. — Seus olhos examinam meu
corpo, fazendo-me tremer. Seus lábios carnudos se enroscam
com nojo. — Eu quero dizer, olhe para você. Você está
tremendo, pelo amor de Deus. É patético. — Aqueles olhos
azuis arrepiantes se estreitam em mim, e ele dá um passo
ameaçador mais perto. — Por que você chamou a polícia?

Dou um passo para trás e me ocupo olhando o chão.

É um piso realmente interessante. Parece um chão.

Parece um chão. Chão.

Chão.

Chão.

Chão.

Ch...

Asher interrompe minha linda ode ao chão. — Você vai


ter que me responder eventualmente.
Eu mantenho meus olhos fixos no meu amigo sujo, o
chão. — E-e… eu pensei que aquele grandão estava
machucando aquela garota.

—Ele estava.

Eu olho para ele, surpresa por ele admitir isso.

Ele continua: — Mas esse era o ponto. Ela sabia disso.


Eu sabia. Ele sabia disso. Todo mundo que passou por eles
sabia disso. Todos menos você.

Ele dá um passo mais perto e eu tento dar um passo


para trás, mas já estou pressionada contra a parede. Ele está
tão perto agora, eu posso sentir sua respiração na minha
testa. Eu posso até sentir o cheiro de menta, tão frio quanto a
indiferença em seus olhos.

O olhar de indiferença é substituído por alegria. — Lucy,


você chamou a polícia porquê estava brava por eu não ter ido
até o fim com você? — Suas mãos percorrem meu corpo,
descansando abaixo dos meus quadris. — Nós podemos
consertar isso facilmente.

Quando seus dedos roçam na minha bunda de calça


jeans, eu grito: — Não! — Não tenho certeza se é uma
resposta à sua pergunta ou uma resposta ao seu toque.

Não acredito que já tive coragem de tocar nesse homem,


embora isso tenha acontecido antes de saber que ele está na
máfia. É como se no segundo que eu descobrisse, meu medo
extinguisse toda a minha bravata, estabelecendo-a como um
eclipse solar. Só espero que o mundo continue a girar e que
um dia o sol se revele junto com meus nervos.

A diversão em seu rosto se foi, e ele se inclina e


sussurra em meu ouvido: — Então, o que vamos fazer com
você?

É aqui que eu deveria implorar pela minha vida?

Farei se isso significar que vou viver. Estou construindo


um futuro para mim em Wilton, e vale a pena implorar. Não
me importo se isso me torna patética ou fraca. Conheço meus
pontos fortes e fracos o suficiente para saber que nunca vou
me afastar desse homem, a menos que ele me permita.

— Não me mate. — Eu olho para ele. Deus, ele está tão


perto agora.

— Por favor, não me mate, — eu imploro novamente, o


pedido em minha voz tão desconhecida para meus próprios
ouvidos.

Seu sorriso é condescendente. — Eu não vou te matar.


Você é inocente. Você deu um passo errado, mas ainda é
inocente.

— O que você vai fazer comigo? — Eu estremeço.

Isso soou mais sugestivo do que deveria.

O sorriso no rosto me diz que ele também ouviu. Ele se


inclina ainda mais para perto, inclinando a cabeça para que
fiquemos quase nos olhos um do outro. Ele coloca o dedo
embaixo do meu queixo e levanta meu rosto. Soltei um
suspiro trêmulo, e ele o inspira. É a coisa mais íntima que já
experimentei, e não sou virgem.

Quando ele fala, seus lábios roçam levemente os meus.


— Você me deve um favor. — Meus olhos caem para os lábios
dele.

— Um favor?

Cada vez que falamos, estamos praticamente nos


beijando, roubando o ar um do outro, mas não o devolvendo.
Eu não luto contra isso. Congelada de medo, luxúria e
estupidez, não posso, e isso é frustrante.

O que eu estou fazendo?

Este é um homem que já matou antes. Inferno, algumas


horas atrás, ele estava prestes a me matar. No entanto, aqui
estou eu, roçando meus lábios nos dele, roubando suas
respirações como se fossem minhas. Mas, além de concordar
com isso, não vejo outras opções que não terminem com meu
corpo flutuando no rio Hudson.

Uma parte de mim vê isso pelo que é. Uma tática de


medo. Um jogo de poder. Ele está me deixando saber que ele
me controla, lembrando-me como tenho medo dele. E ele está
certo. Estou com muito medo de lutar, mas valorizo muito a
minha educação em Wilton.

Ele se afasta. — Um favor. Presumo que você tenha um


telefone novo?
Quando eu aceno, ainda atordoada, ele estende a mão.
Aponto para minha mochila. Ele pega meu telefone no bolso
da frente e entra em algo. Alguns segundos depois, eu ouço o
telefone dele tocando. Ele devolve meu telefone à minha
mochila.

— Você tem meu número. Eu tenho o seu.

E então ele se foi sem um adeus. Embora ele tenha


deixado a porta da escada aberta para mim, fico ali por uma
hora, pressionada contra a parede. Chocada.

Eu devo um favor a um mafioso.

Como diabos isso aconteceu?


Capítulo 7

Aquele que não é corajoso o suficiente para correr riscos nada


realizará na vida.
– Muhammad Ali

Asher não é apenas um mafioso. Ele é um executor, que


é “muito quente”. Pelo menos, foi o que Aimee me disse
quando me confrontou em nosso dormitório. Ela me atacou
assim que eu abri a porta. Acabei de contar a ela o que havia
acontecido, a partir da noite em que fomos para Rogue e
terminamos comigo em um laboratório secreto no campus.
Claro, eu deixei de fora a parte de ficar com Asher.

— Então deixe-me ver se entendi. — Atualmente, ela


está deitada na minha cama, de pijama, porque a metade do
quarto dela é uma pocilga absoluta, como sempre. Ela não
conseguia nem encontrar um lugar em sua cama antes de
desistir e se deitar na minha. — Ele segurou sua mão
enquanto a levava para a aula? Isso é muuuuito fofo!

— Não, não é. — Eu cruzo meus braços. —E ra para


garantir que eu não escapasse! O que é fofo em segurar
alguém contra a sua vontade?!

Eu propositalmente ignoro todos os romances que gosto


de ler, onde é mais do que aceitável ser sequestrada desde
que o sequestrador seja rico e bonito. Eu mentiria se dissesse
que não desmaiei durante a leitura de um livro em que um
cara rico e gostoso persegue uma garota bonita e é um
grande idiota para ela, mas eles se apaixonam de qualquer
maneira.

Mas isso é tudo ficção.

Fazer isso acontecer na realidade é completamente


diferente. E assustador.

Muito assustador.

Ela balança a cabeça. — De jeito nenhum foi contra a


sua vontade. Não acredito nem por um segundo que você
possa dar as mãos a alguém tão gostoso e não querer estar
nessa posição. — Aimee é claramente alguém que sofre da
síndrome do perseguidor de romance.

— Ele é executor da máfia, — digo novamente.

Essa deve ter sido a décima vez que eu disse isso. Não
espero que ela abandone magicamente sua vaidade e
fantasias, mas não posso deixar de mencionar. Ainda estou
tendo problemas para envolver meu cérebro em torno da
minha situação.

— Isso é ainda mais quente! — Ela bate palmas


vigorosamente, como quando Elle Woods encontra Bruce
Banner, o estilista, o movimento ainda fazendo a cama
tremer. —Ele é como um John Wick da vida real, exceto que é
um milhão de vezes mais quente que Keanu Reeves.
Eu franzo a testa. — Exceto que Keanu Reeves é
realmente uma boa pessoa. Tipo, uma pessoa muito boa. E
você o viu em The Replacements? — Eu abano meu rosto. —
Desmaiei.

Ela joga as mãos para cima, como se ela tivesse o direito


de ficar frustrada comigo. — Você está divagando! Asher
Black é claramente o mais quente.

Ela é impossível. E está extremamente certa (Asher é


mais quente, afinal), mas ainda é ridículo. Ele me ameaçou,
pelo amor de Deus. Isso não o abaixa na escala Richter de
gostosura? E Keanu Reeves nunca me ameaçaria...

Além disso, a maioria das ameaças de Asher era


subliminar, o que é ainda pior. Isso significa que ele é
calculado. Astuto. Asher não é um valentão da escola
confiando na força bruta, embora eu não tenha dúvida de que
ele a possui. Sua maior força, no entanto, está em sua
sutileza, no jeito em que ele nunca revela sua mão, a menos
que queira. Tenho a sensação de que ele nunca faz nada sem
um propósito.

— Você está divagando. — Sento-me em cima da minha


mesa e abro um novo pacote de Starbursts (bala). — A
questão é que estou em perigo. Devo um favor ao executor da
família criminosa mais perigosa do país. Minha vida acabou.
Eu também poderia mudar meu nome, alterar cirurgicamente
meu rosto e me mudar para o Tajiquistão... onde ele
provavelmente ainda poderá me rastrear. — Eu gemo. — O
que eu vou fazer, Aims? Estamos falando da máfia.

O rosto de Aimee fica sério. Quando ela abre a boca e


diz: — Aqui está o que você vai fazer, — quase espero que ela
me dê conselhos reais. Ela não o faz, é claro. Isso seria pedir
demais.

Em vez disso, ela diz: — Você vai se vestir com sua


roupa mais sexy, aquela LBD que eu vi no mês passado, e
você vai marchar até Rogue e exigir ver Asher. Então, você vai
abrir as pernas para ele, ele vai te foder até que ele esteja
praticamente vivendo na sua vagina, e vocês viverão juntos
fora do casamento. Mas quem se importa? Ninguém está
julgando. Porque, e repito, ele é tão gostoso. Você poderia
olhar para aquela bunda apertada o dia inteiro.

Jogo uma explosão de balas Starbursts na testa dela. —


Sim, e depois do nosso casamento, serei abatida por uma
família rival, mas não antes do veneno que Asher colocará na
minha comida todos os dias. A pior parte é que ele vai se
safar porque o veneno é impossível de rastrear. — Reviro os
olhos e bufo. — Seja séria, Aimee! Poxa, como esse cara já
não está na cadeia?

Mas eu sei a resposta para essa pergunta antes de


perguntar. Ele é esperto, mais esperto do que qualquer
policial, agente e criminoso do seu lado e contra ele. Isso o
torna intocável. Eu testemunhei isso em primeira mão do
jeito que ele se comporta, seus olhos inteligentes sempre
procurando ameaças, não importa o quanto estivéssemos
expostos e mesmo quando não estávamos. Ele estava sempre
em alerta, pronto, alerta. Pelo que sei, não sei, e sinto que
não quero saber.

Asher não é apenas esperto das ruas. Ele também é um


sábio talentoso com uma educação formal que a maioria das
pessoas nem sonha e muito menos sabe lidar. Juntamente
com sua aparência incomparável, ele é o pacote completo.
Isso o torna letal.

— Estou falando sério! — Aimee se senta na minha


cama. Uma carranca rara adorna suas belas feições. — Estou
falando sério, Loosey Goosey.9 — Ela revira os olhos para a
minha carranca. Ela sabe que eu odeio esse apelido. — Você
tem um dos solteiros mais elegíveis do país. Você seria uma
tola para não tirar proveito disso.

— Solteirão elegível?! — Jogo outra explosão de balas


nela e, quando ela pega na boca, jogo o tubo inteiro em seu
caminho. Observo como todos os Starbursts voam para fora
do rasgo no tubo e pousam em seu rosto. — Eu tenho certeza
que ser um criminoso faz dele inelegível!

Ela me dá um suspiro lamentável. — Lucy, Lucy, Lucy.


Quando você vai entender isso? — Ela desembrulha a
Explosão Estelar que caiu em sua boca e a joga de volta para
dentro, mastigando-a com a graça de um gorila.

É cereja. Meu sabor favorito. Foda-se ela.

9 O apelido é uma referência a uma pessoa muito relaxada.


— Não há nada para entender. Ele é um criminoso,
chamei a polícia e ele ia me matar. Fim da história.

O fim.

Ah! Se apenas fosse isso.

Com a boca cheia, Aimee responde: — Mas ele é um


criminoso gostoso. Não é que ele seja pedófilo, agressor
doméstico ou cafetão.

Eu gemo. Estou envergonhada em nome do meu sexo. —


Não existe crime 'gostoso'! Crime é crime! — Faço uma
anotação mental para descobrir a cura para a Síndrome da
Perseguidora de Romance.

Ela bufa. — Não se você se parecer como Asher Black.


Sério, Lucy, estou com tanta inveja de você agora. Você
deveria ter visto meu rosto quando soube que Asher Black
está namorando você.

— Com ciúmes?! Você é louca, Aimee. Louca! — Deito as


costas na mesa, para não precisar olha para ela. — E
definitivamente não estamos namorando.

— Com certeza é o que parecia.

— Parecia? Sério? Você me viu e não veio me salvar? Ou


pelo menos chamar a polícia?! Como melhor amiga, você é
péssima.
— Eu gostaria de estar lá, para que eu pudesse dar uma
espiada em sua bela bunda. — Ela faz uma pausa e ouço um
movimento em minha direção. — Veja por si mesma.

O telefone gigante de Aimee pousa no meu peito. Viro e


olho para a tela. Há um texto aberto de uma das garotas
#TeamAimee em nosso hall. O anexo é uma foto minha e de
Asher, atravessando a quadra do campus até Sproul.

Com nossas mãos juntas, nós realmente parecemos um


casal. Ele está incrível em seu terno, e em meus jeans pretos
justos, blusa risqué e botas de salto alto, pareço alguém
digna de sua boa aparência. Eu chegaria a dizer que ficamos
bem juntos.

Até minhas madeixas negras normalmente rebeldes


concordam comigo hoje, acomodando-se perfeitamente abaixo
da curva estreita da minha cintura. Meus cílios longos são
revestidos com rímel preto, destacando os verdes vibrantes
nos meus olhos. Embora pareça exausta, minha pele clara é
até naturalmente corada nas bochechas. É por medo, mas
olhando para a foto, não sei dizer.

Nós parecemos bem juntos. Muito bem

Aimee fala baixinho: — Olhe para isso e me diga


honestamente que vocês não seriam bons juntos.

A luta me deixa. Eu sei por que Aimee está


pressionando a questão. Depois da segunda semana de aula,
Aimee me confrontou, informando que se eu sou lésbica, ela
ainda gostaria de ser minha amiga.

Quando perguntei a ela sobre o que ela estava falando,


ela disse: — Bem, você nem olhou para um cara desde que eu
te conheci.

Claramente, ela compara celibato a lesbianismo. Eu


respondi dizendo a ela que os homens só vão me distrair dos
meus estudos, mas essa não é a verdadeira razão. Asher é.
No mês passado, não consegui me concentrar em nada,
exceto no meu medo da vingança. Aimee deixou passar então,
mas ela não parou de sugerir caras com quem ela gostaria de
me arrumar.

Este é um daqueles momentos, exceto que ela não


conhece Asher e não se importa que ele seja um criminoso
suspeito. Ela também não percebe que já nos pegamos... e eu
nunca tive meu final feliz.

Ok, então eu ainda estou ansiosa.

Ele não podia esperar mais trinta segundos?

Ah, e err... obviamente, a ameaça ao meu bem-estar é a


parte mais dissuasiva de Asher. Não posso ignorar o fato de
que ele é perigoso e está tão fora da minha liga. A conexão
parece um acaso, um lapso de julgamento tanto da parte dele
quanto da minha. Dele, porque ele me acha patética. E
minha, porque eu não posso nem estar perto dele sem tremer
nas minhas botas.
Eu suspiro. — Parecemos bem juntos, claro, mas quero
mais do que isso. — É a minha vez de parecer louca. — Eu
quero um cara com quem eu possa conversar
confortavelmente. Alguém que me faz sentir segura, querida e
bonita.

Isso não é dito, mas nós duas sabemos que Asher não é
esse cara. Eu não acho que ele personifique uma dessas
quatro qualidades. Inferno, nem sei por que Aimee acha que
ele é uma opção realista. Não é como se ele me quisesse. É
improvável que ele, de repente, expresse interesse depois do
quase sexo, e repito, “patético”.

Além disso, eu pedi o conselho dela para permanecer


viva sem namorar, mas claramente fui para a pessoa errada.

Aimee geme. — Ugh, você está me deprimindo. — Ela se


levanta e vai para o meu armário. — Vamos. Nós vamos sair.
Vamos encontrar um cara para tirar isso da cabeça. Quando
foi a última vez que você fez sexo?

Eu nem me lembro.

Não é como se eu fosse contra o sexo. Gosto disso, mas


tive outras prioridades – como permanecer viva em um
orfanato; permanecer viva apesar do meu psicopata ex-pai
adotivo; permanecer viva enquanto viajava para países
perigosos; e agora, bem, permanecer viva, apesar de um
mafioso muito irritado.

— Colegial? — Eu finalmente respondo.


Pode ter sido o fim do último ano com Ethan Winters.
Nós nos odiávamos, mas isso não nos impediu de fazer sexo
explosivo com ódio. Eu sorrio com as lembranças. Aimee se
vira para mim, com a mandíbula frouxa. Espero que ela diga
alguma coisa. Ela não faz, o que me faz rir.

— Sério? — Eu digo, ainda rindo. — A única coisa que te


deixa em silêncio é a minha falta de vida sexual? Eu deveria
falar sobre isso com mais frequência.

— Ha. Ha. Ria, Virgem Maria. — Ela joga algo em mim.


Ele cai no meu colo. — Mas você vai me agradecer quando
transar esta noite.

Olho para o que ela jogou no meu colo. É o meu


vestidinho preto. O tecido é apertado, atinge o meio da coxa e
mostra uma quantidade desconfortável de decote. É mais
sexy do que eu estou acostumada, mas quando o vi em uma
loja de artigos usados no Marrocos, sabia que tinha que ficar
com ele.

Lembro-me de quando uma das minhas muitas mães


adotivas me disse que toda garota deveria ter um vestidinho
preto. Algo que a faça se sentir sexy. Confiante. No topo do
mundo. Isso é esse vestido para mim. Ainda não encontrei o
momento certo para usá-lo, mas, aparentemente, Aimee acha
que é esse.

Então, eu desisto de discutir sobre isso. Eu tiro a roupa,


porque com Aimee é impossível lutar de qualquer maneira.
Ela gosta de discutir em círculos até que a pessoa com quem
ela discorda fica com dor de cabeça e desiste. Eu gosto da
minha cabeça do jeito que está, muito obrigada.

E, honestamente, prefiro consertar minha vida sexual


inexistente à ameaça iminente que Asher representa para o
meu bem-estar. Eu acho que uma noite de sexo vai resolver
meus problemas? Não, mas isso vai tirar minha mente deles.
Além disso, alguns orgasmos nunca machucaram ninguém.

Lucy Excitada concorda com a cabeça e bate no peito de


dentro da célula mental em que a enfiei quando Asher e eu
estávamos escovando os lábios. Olhando para trás, percebo
que fiz um círculo completo. Isso tudo começou com Asher
me pressionando contra a parede no beco fora de Rogue,
depois Bastian pressionando aquela garota loira contra a
parede no corredor do banheiro. E, finalmente, algumas
horas atrás, eu estava na mesma posição novamente com
Asher.

Enquanto me apronto, não me incomodo com


maquiagem. Estou com rímel e meu rosto está claro o
suficiente para não precisar de base. Provavelmente estamos
indo a uma boate, onde eu suo qualquer maquiagem de
qualquer maneira. Depois de vasculhar sua bolsa, Aimee me
joga um tubo de protetor labial Burt's Bees.

É meu.

Reviro os olhos enquanto o deslizo pelos lábios. Estou


pronta para ir. Jogo o batom na cama da minha colega de
quarto, onde ele se perde imediatamente na bagunça. Sério,
eu não sei como ela encontra algo do seu lado do quarto. Eu
nem sei como ela dorme à noite, quando sua cama está cheia
de bugigangas.

Quando olho para ela, Aimee já está vestida. Ela está


usando outro minivestido colorido e de lantejoulas. Ela adora
isso. Em termos de roupa de boate, eles são praticamente
tudo o que ela possui. Este em particular é uma cor turquesa
profunda que complementa seu tom de pele pálido.

O cabelo loiro claro de Aimee é penteado em um elegante


coque francês, e seu rosto está propositalmente sem
maquiagem, exceto pelo batom vermelho ousado que ela
sempre usa. Uma vez, ela me disse que a primeira coisa que
ela quer que um homem veja quando a olha são os lábios. E
depois de ser sua colega de quarto por um mês, posso
garantir que é exatamente isso que acontece sempre que um
cara olha para ela.

Mesmo a nossa conselheira não pode se conter.

Depois de colocar outra camada de batom, Aimee está


pronta. Minha coisa favorita sobre ela é como ela pode se
preparar em menos de dez minutos. Ela sempre sabe o que
quer vestir, e não perde tempo colocando muita maquiagem.
Nenhuma de nós pode pagar outra coisa senão os produtos
essenciais.

Nós duas calçamos sapatos de salto nude para mim e


sapatos vermelhos para ela, e caminhamos para a rua para
esperar o Uber que ela chamou alguns minutos atrás. Nem
sei para onde estamos indo até chegarmos lá e lamento
imediatamente minha amizade com Aimee.
Capítulo 8

Se você tiver coragem de começar, tem coragem de ter sucesso.


– David Viscott

Começo a gemer assim que vejo o letreiro da Rogue


acima de nós, uma sensação de pavor enchendo meu
estômago vazio.

— Aimee, eu te odeio.

— De nada.

— Você é uma merda.

— Bem, você não, porque vai nos levar à boate com suas
novas conexões.

E foi isso que eu fiz.

Ou pode ser como estamos hoje à noite. De qualquer


maneira, o segurança olha para nós e conduz Aimee e eu
para dentro, para grande desgosto das centenas de pessoas
que estão esperando na fila. Quando somos pessoalmente
recebidas por uma linda garota e subimos as escadas para o
nível VIP, sei que esse tratamento não tem nada a ver com a
aparência.

Em nossa primeira vez em Rogue, esperamos na fila por


horas com nossos saltos estúpidos matando nossos pés.
Agora, estamos sendo tratadas como VIPs, conduzidas
diretamente do Uber para dentro e escoltadas diretamente
para o nível VIP. A única coisa que falta é uma maldita
limusine. Isso tem escrito Asher Black por todo o lado.

O nível VIP é impressionante. Nos lados da sala há


paredes de vidro pintadas de branco com luzes brilhantes
atrás delas. Através do vidro colorido, posso ver os contornos
dos corpos dançantes. Há cinco meninas de cada lado, suas
sombras formando movimentos que são claramente o produto
do treinamento formal. Podemos ver suas sombras, mas elas
não podem nos ver. É como um espelho de sentido único
nessa forma.

Uma mesa longa, porém, fina, fica em frente a um banco


amplo no estilo de estande. O estande aberto é feito de veludo
vermelho-sangue e pressionado contra a parede central. No
meio do estande, está Asher. Ele não parece surpreso em me
ver. De fato, seu belo rosto está completamente vazio de
emoção, tão difícil de ler como sempre.

Aimee pega minha mão e me arrasta até ele. Eu quase


caio sobre os meus saltos. Quando nos aproximamos, eu dou
uma olhada melhor nele. Ele está vestindo um terno, é claro,
mas desta vez é um azul marinho escuro. O tecido é apertado
ao redor de suas coxas ao sentar, e Lucy Excitada admira
como elas são musculosas.

Por mais excessiva que Aimee possa ser, ela está certa
neste momento. Lucy Excitada precisa transar.
Dou uma olhada ansiosa atrás de mim, perguntando-me
se é tarde demais para ir para a pista de dança abaixo e
encontrar um candidato adequado para o que eu quero.
Estou começando a me referir ao meu lado desviante na
terceira pessoa.

Isto é mau.

Quanto tempo se passou desde que eu fiz sexo mesmo?

Mais de dois anos.

Tenho que me lembrar de novo e de novo, porque mal


posso acreditar. Eu deixei de ter um amigo quase diário com
benefícios para parar de comer peru frio por anos. Isso tem
que ser algum tipo de registro. E não do tipo que eu gostaria
de anunciar.

— Senhoras, — Asher nos cumprimenta quando o


alcançamos. — O que traz vocês duas aqui? — Ele parece
muito convencido para o meu gosto.

Eu desvio meus olhos, mas me sento de qualquer


maneira.

Aimee fala por mim: — Lucy, aqui, precisa transar.

O. Que. Porra.

Eu vou matá-la. Ela deve estar determinada a me


transformar em uma maníaca homicida. Talvez então suas
fantasias de Asher e eu vivendo felizes para sempre sejam
realmente realistas. Eu a encaro, esperando que, quanto
mais eu olhe, mais provável eu esqueça que ela acabou de
dizer a Asher que eu preciso transar.

Eu estou tão mortificada.

Asher ri. Na verdade, parece genuíno, mas uma parte de


mim duvida disso. Tudo sobre esse homem é muito
controlado, muito proposital. Tipo, se ele não se beneficiasse
de algo, ele não faria isso. Então, o que ele ganha por me
receber aqui em cima? Rir de mim?

Ele encontra meus olhos. — Bem, acho que posso


ajudá-la a cuidar disso. — Espere... Ele está realmente
reconhecendo nossa conexão?

Suas palavras são ditas de forma tão sugestiva, tão


paqueradora, que não consigo esconder meu choque. Aimee
até suspira.

Meu rosto bate no dele tão rapidamente que fico tonta


por um breve momento. — O quê? — Eu sussurro, mas ele
ouve.

Há alegria em seus olhos azuis quando ele continua: —


A boate está em sua capacidade máxima esta noite. Existem
muitos candidatos adequados abaixo. Você pode trazer um
que você goste aqui para um pouco mais de privacidade.

—Oh.

Eu pensei... não importa o que eu pensei.


Meus olhos se estreitam nele. Eu sinto que ele está
brincando comigo de novo, esperando que eu não aceite sua
oferta. Em vez disso, sentando-me aqui e ansiando por ele
como se eu não tivesse outras opções.

Então, faço o oposto do que ele pensa que vou fazer e


concordo. — OK. Acho que vou fazer exatamente isso.

Eu levanto e saio. Quando estou a meio caminho da


escada, não posso deixar de voltar a encará-lo, um sorriso
presunçoso no meu rosto. Mas ele nem está olhando para
mim. Ele tira o telefone, a boca enrugada e franzindo a testa
levemente para a tela. Aimee também não está olhando para
mim. Ela está muito ocupada roubando olhares na virilha
dele.

A maldita traidora.

Suspiro e continuo em direção à escada. Do meu ponto


de vista no topo da escada, procuro se alguém é do meu tipo.
Claro, ninguém parece interessante depois de ver Asher aqui.

Eu escolho um cara aleatório para dançar. Ele é fofo e


bem vestido, mas também é significativamente mais baixo
que eu e um pouco fedorento. Para ser sincera, só estou
dançando com ele porque ele garantiu uma posição na pista
de dança que tem a vista perfeita da escada que leva ao nível
VIP.

Digo a mim mesma que só estou interessada porque


deixei Aimee lá em cima com um suposto assassino. Eu
tenho que ter certeza que ela está bem. É a coisa responsável
a fazer. Qualquer boa amiga faria isso, certo? Mas quando
Aimee desce a escada e é substituída pela loira do incidente
do corredor, eu não vou a lugar nenhum.

Aimee está aqui embaixo, segura e viva, mas ainda não


consigo me mexer. Eu não me entendo. Observo e espero,
mesmo quando o cara fedorento passa o braço em volta da
minha cintura e me puxa para mais perto, invadindo minha
bolha pessoal com seu odor podre.

Suporto seu cheiro de repolho em conserva,


concentrando todo o poder do meu cérebro nas escadas até
que não consigo mais sentir o cheiro. E quando a Loirinha
finalmente desce com uma expressão lívida estampada em
todo o rosto bonito, eu posso finalmente respirar novamente.
Eu me arrependo instantaneamente.

Duas palavras: repolho em conserva. Bruto.

Eu não aguento mais o cheiro, então me afasto do cara,


murmuro um agradecimento rápido e vou para a pista de
dança para encontrar Aimee.

— Ele me expulsou, — diz ela assim que põe os olhos


em mim. — Alguma garota veio até nós e ele me expulsou. —
Ela sorri maliciosamente. — Ela estava olhando para mim o
tempo todo também. Eu acho que ela estava com ciúmes de
eu tê-lo só para mim.
Eu acho que tenho um pouco de ciúmes dela, mas estou
tendo dificuldade em admitir minha própria estupidez

Não.

Eu não tenho síndrome de perseguidora de romance. De


jeito nenhum.

Espero que ela diga algo mais, mas ela não diz. Em vez
disso, dançamos, perdendo-nos no ritmo da música. Quando
mãos fortes deslizam pela minha cintura por trás e os olhos
de Aimee se arregalam, eu sei que são de Asher.

Uma parte de mim está convencida de que sabia que ele


estava lá antes mesmo de me tocar. Eu sou definitivamente
louca. Isso é certo.

Ele molda seu corpo duro nas minhas costas, e seus


lábios roçam provocativamente contra a minha orelha. —
Relaxe.

Estremeço com o contato, mas não respondo.

Ele começa a mover seu corpo contra o meu em um


ritmo hipnótico. — Aja normalmente.

Eu quero zombar. Ele está me tocando, e ele quer que eu


aja normalmente? Um cara com sua aparência e sua
ocupação é tudo, menos normal. Além disso, eu não consigo
nem soletrar a palavra “normal”, muito menos quando
consigo sentir cada maço individual de seus músculos
abdominais pressionados contra minhas costas. Existem oito
deles.

Oito!

— Pense nisso como um teste, — continua ele. — Eu


vou receber o meu favor em breve, mas se você não passar
neste teste, terei que pedir que faça outra coisa por mim. E
eu garanto a você, não será tão fácil quanto o que estou
prestes a pedir. — Seu braço direito agarra minha cintura
com mais força. — OK?

Eu penso sobre suas palavras. Dançar com ele é um


teste? Meus pensamentos piscam para o que esse clube
costumava ser – um clube de strip-tease. Ele quer me
transformar em uma stripper? Não, provavelmente não é isso.
Afinal, este não é mais um clube de striptease.

Será que ele quer que eu lhe dê uma provocação


particular? Isso também é improvável, porque vamos ser
sinceros. Eu já estava nua e me contorcendo na frente dele
uma vez e ele foi capaz de se conter tão facilmente. Além
disso, tudo o que ele precisa fazer é perguntar e qualquer
garota estará disposta. Ele não precisa de mim para isso.

Mas uma parte de mim – chamada Lucy Excitada, é


claro – não é tão oposta à ideia. No grande esquema das
coisas, isso é bastante manso em comparação com as outras
coisas nefastas que ele pode me pedir. Penso em Wilton e no
que vou sacrificar se não concordar.
Eu me decidi. Ele disse que o que ele quiser agora será
mais fácil do que o que ele pode inventar mais tarde, e eu
acredito nele. Ele pode ser super assustador, mas até onde eu
sei, ele ainda não mentiu para mim.

Concordo com a cabeça e inclino a cabeça para trás,


encostando-a no ombro dele, para que ele possa me ouvir
quando eu digo: — O que você quer que eu faça?

— Por enquanto? Dance comigo como você faria com


qualquer outro cara.

Só que é uma tarefa impossível, porque ele não é apenas


outro cara. Ele é um cara que eu quero despir e me esfregar
como uma cadela no cio. Ele também é um cara de quem
quero me esconder e fugir. Lucy Excitada e Lucy Sã estão em
guerra dentro de mim.

No final, elas se comprometem. Finjo que Asher é um


robô, o que o torna menos intimidador. O pensamento até me
faz rir. Aimee, que finalmente se recuperou de ver Asher
novamente, envia-me um olhar preocupado com o som da
minha risada. Eu a ignoro, minha mente focada em
desumanizar Asher.

Robô, Lucy Sã diz na minha cabeça. Robô de sexo, Lucy


Excitada altera. Bem.

Robô de sexo.

Eu posso fazer isso.


Asher não é humano; ele é um robô sexual, alguma
coisa para eu usar para o meu próprio prazer.

Eu alcanço atrás de mim e agarro o lado de sua coxa,


puxando sua parte inferior do corpo para mais perto de mim,
até que eu possa senti-lo pressionado contra minha parte
inferior das costas. Ele está macio agora, mas posso dizer que
ele é generosamente dotado, fazendo com que o contato envie
um arrepio pelo meu corpo.

Minha outra mão envolve seu pescoço e puxa até que


somos pressionados um contra o outro do pescoço para
baixo. Eu moo minha bunda contra ele, movendo-me bem
sensualmente ao ritmo magnético da música, uma mistura
erótica do clube de “Good for You” de Selena Gomez.

Asher quer que eu o trate como qualquer outro cara, e


eu vou. Se ele fosse o cara mais gostoso do mundo e a Lucy
Excitada estivesse no comando, eu discretamente me
aproveitaria dele em público até que eu pudesse me
encontrar com ele em particular. Eu não sou uma puritana.
Não tenho nada contra sexo casual. Conectar-me com Asher
há um mês é prova disso. Meu longo período de seca tem
tudo a ver com falta de oportunidade e nada com falta de
esforço.

Então, aqui estou eu, moendo contra o executor da


família Romano e gostando. Asher rosna, virando-me e me
posicionando até que meus seios estejam pressionados contra
ele. Ele desliza uma perna entre as minhas coxas e eu
automaticamente me esfrego contra ela, meu vestido levanta
um pouco para revelar mais da minha pele.

Estou encharcando minha calcinha e espero não deixar


um ponto molhado nas roupas de Asher. Eu mal considero
isso, no entanto. Estou muito perdida no momento,
embaraçosamente próxima de gozar. Eu até esqueço quem ele
é por um segundo, simplesmente curtindo sua companhia em
vez de me preocupar com as consequências inevitáveis.

Asher abaixa a cabeça, enterrando o rosto no meu


pescoço. Aperto o botão dele com a sensação de sua língua
correndo pelo comprimento do meu maxilar. Seu nariz segue
pelo meu pescoço até que seus lábios chegam ao meu lóbulo,
e ele o morde.

Isso é demais. Estou tão perto. Eu quero gozar. Eu


preciso. Tem sido muito tempo. Ele tem que saber o que está
fazendo comigo. Sinto uma repentina vontade de olhar nos
olhos dele e ver se estou tendo o mesmo efeito nele.

Eu acho que sim. Afinal, ele tem uma dura e enorme


ereção pressionada contra mim. Mas minhas inseguranças
estão lá. Elas não esqueceram como ele me deixou naquela
noite. Como eu estava tão perto de gozar em seus dedos, sua
língua contra meu clitóris, e ele foi capaz de se afastar.

Quando finalmente encontro coragem para olhar para


cima, fico paralisada. Percebo que todos os olhos ao nosso
redor estão em Asher e em mim. Não é isso que me perturba.
É Asher, sempre Asher. Seus olhos estão inclinados para
cima, focados em um grupo de pessoas que estão na varanda
da área VIP. Eles estão olhando diretamente para nós.

Compreensão inunda através de mim. Isso tudo é um


show.

Por quê? Eu não sei. Tudo o que sei é que estava tão
perto de gozar e ainda preciso de libertação. Eu pensei que
talvez – apenas talvez – Asher fosse quem me forneceria, mas
eu estava errada.
Capítulo 9

A vida diminui ou se expande proporcionalmente à coragem.


– Anaïs Nin

Dou um passo para longe dele, ou tento. Ele não me


deixa. Seus olhos retornam aos meus, e ele franze a testa
com o que vê.

Tento me afastar novamente e, felizmente, ele me


permite. Ele pega minha mão, no entanto. Eu não me
importo. É mais fácil do que ser pressionada contra ele. Não
consigo pensar quando estou tão perto dele, quando posso
sentir sua ereção cortando deliciosamente no meu estômago.
Quando ele começa a me arrastar em direção à escada, eu
cedo, mas não antes de dar à Aimee um olhar impotente. Ela
parece chocada, mas ainda consegue me dar um olhar
atrevido na minha atenção.

Quase posso ouvi-la dizer: — Puh-lease.10 Eu não vou


me sentir mal por você de mãos dadas e dançar com Asher
pirando Black.

No final da escada, eu afundo meus calcanhares no


chão, tentando parar nosso movimento. Asher me dá um
suspiro irritado antes de virar para encontrar o meu olhar,
mas não estou focada em seu rosto. Estou de olho na
10 É a forma do sotaque dela falar please (por favor).
pequena mancha molhada em sua coxa, uma mancha
molhada que eu fiz.

Ele segue meu olhar e sorri antes de limpá-lo com o


dedo indicador na mão livre. Eu assisto com a boca aberta
enquanto – eu não estou brincando – ele mergulha o dedo na
boca e chupa.

— Nós cuidaremos disso mais tarde, — ele promete,


antes de me puxar pelas escadas. — Quando chegarmos lá,
seja legal. Apenas siga meu exemplo.

Eu apenas aceno, muito chocada para ligar e dizer


qualquer coisa. Livre de um sutiã, meus mamilos estão
doloridos contra o meu vestido, o atrito agradável e frustrante
ao mesmo tempo. Em minha defesa, o homem apenas lambeu
minha umidade do seu dedo.

No topo da escada, somos recebidos pelo grupo de


homens de terno. O mesmo grupo que Asher estava olhando
enquanto dançava comigo. Estes são os homens para quem
ele estava fazendo um show, então eu me forço a prestar
atenção. Para procurar pistas que possam me ajudar. Posso
ser flexível com as demandas de Asher, mas não custa nada
estar mais informada.

Há cinco homens aqui. Cada homem é acompanhado


por uma mulher bonita. Todas, exceto uma, parecem uma
cópia da garota loira do incidente no corredor. Altas e
magras. Seios pequenos e alegres. Maquiagem pesada.
Objetos caros. Vestidos de grife.
Elas são todas impressionantes, é claro, o que não me
surpreende. Isso também não me intimida, porque não há
como não me sentir bonita depois de dançar assim com
Asher. Além disso, eu posso estar no meio do nada nos
últimos dois anos, mas ainda sei o que é bonito e sei que,
para a maioria das pessoas, eu me encaixo na conta.

Fico ali cautelosamente, enquanto algumas das


mulheres me olham de cima a baixo, não cruelmente – como
na maioria das vezes – mas julgando a mesma coisa. O
homem do outro lado me olha de cima a baixo também. O
início de um sorriso feio se encolhe contra seus lábios finos.

Depois de um tempo tenso, Asher ainda não me


apresentou, então dou um aceno estranho com a mão livre e
digo: — Oi! Meu nome é Lucy. Eu sou...

Asher me interrompe: — Minha noiva. — O quê?!

Algumas das garotas ofegam.

Estou surpresa por não ter ofegado eu mesma.

É por isso que um caso de uma noite ganha uma


reputação ruim? Eles armam e te deixam antes que você
chegue ao orgasmo, localizam-na um mês depois, ameaçam e
depois fazem uma pseudo-proposta em frente a um grupo de
homens de meia idade e suas esposas?

— Sua noiva, hein? — Uma voz cética pergunta.


Pertence ao homem que zomba de nós. — Esse é um
momento conveniente.
Asher acena um pouco nossas mãos unidas, como se
fosse uma prova da legitimidade de nosso suposto
compromisso. Minha mão, que está suando desde antes do
anúncio da notícia de sua falsa proposta, quase escapa da
palma da mão. Ele aperta ainda mais, o que só me faz suar
ainda mais.

Todo mundo ainda está em silêncio.

Os olhos do homem zombeteiro se estreitam na minha


mão esquerda. Um olhar presunçoso cruza seu rosto. Ele
parece muito satisfeito. — Onde está o anel?

Eu posso sentir o aperto de Asher na minha mão em


resposta. É quase doloroso agora. Eu suspiro mentalmente. É
agora ou nunca, e tenho a sensação de que esse é o favor que
ele vem conduzindo. O que eu tenho feito testes.

Fingir ser a noiva de Asher é melhor do que dar um soco


ou afogar um filhote, ou qualquer uma das milhões de outras
coisas malditas que pensei que ele me pediria. Nenhuma das
minhas suposições sequer esteve perto de ser sua noiva falsa,
mas quando eu realmente considero isso, este é o melhor
cenário.

Eu posso viver minha vida normalmente e apenas aceno


com a cabeça se alguém me perguntar se estamos noivos.
Então, eu tomo minha decisão, resolvendo me comprometer
com a mentira de Asher.
Dou um suspiro de advertência falso e digo: — Asher!
Você deveria manter nosso noivado em segredo, querido! —
Eu bati de brincadeira no peito com a mão livre. Então,
abaixei minha voz conspirativamente, viro na direção do
homem zombador e digo: — Ele não deveria anunciar nada
até eu me formar. Eu queria passar meu tempo em Wilton
sem qualquer alarde. — Eu levanto minha mão esquerda e
mexo meus dedos nus. — Daí a falta de um anel. — Eu imito
um suspiro decepcionado. — Eu acho que o segredo foi
revelado agora.

Quando um dos outros homens diz: — Uau. Wilton? Isso


é muito impressionante, querida, — Asher afrouxa o aperto
na minha mão e aperta rapidamente. Eu sei que é a maneira
dele de transmitir sua aprovação. Eu me viro para olhá-lo,
certificando-me de colar um olhar de adoração no meu rosto.

Porra, eu sou uma ótima atriz.

Meus talentos estão desperdiçados nas ciências.

Asher se inclina para beijar minha têmpora. O beijo


esconde o “obrigado”, que ele desliza baixinho. Dou um leve
aceno de cabeça que sei que apenas ele vai pegar e viro para
me apoiar nele. Ele passa o braço livre pelo meu corpo e uma
das meninas solta um longo — awwww! — Enquanto isso,
estou tentando esconder a maneira como meu coração está
batendo no meu peito com seu toque gentil.

Eu aceno para o homem que fez o comentário sobre


Wilton e digo: — Obrigada. Estou muito agradecida por ter
entrado. É realmente uma universidade maravilhosa. — E
para tornar nosso noivado falso mais crível, eu falo: — Você
sabe, Asher também foi para lá. — Olho para ele com olhos
falsos e continuo: — Ele entrou em duas das minhas
palestras hoje e acabou respondendo a todas as perguntas da
professora de estatística! Foi inacreditável.

O rosto do homem escarnecedor está vermelho agora.


Ele parece irritado, o que me dá a sensação de que essa farsa
é para ele. E parece estar funcionando. Ele está claramente
chateado.

— Acho que já vimos o suficiente, — diz. Ele se vira para


o resto do seu grupo. — Temos muito o que preparar para
esta próxima semana. Acho que vou encerrar a noite.

O resto do grupo murmura acordos e sai depois de se


despedir de Asher e eu. Quando eles se foram, Asher sinaliza
para um de seus guardas, que assente antes de puxar um
dispositivo da manga.

É uma vara longa e chata, como a que a segurança do


aeroporto usa para procurar metais. Observo fascinada o
guarda balançar a bengala por toda a área VIP, como se
procurasse algo. Uma escuta, provavelmente.

A ideia daqueles homens colocando uma escuta aqui é


perturbadora. Isso me deixa tensa e Asher me aperta em
resposta. É então que eu percebo que ainda estou nos braços
dele. Meu rosto fica vermelho. Eu me afasto de seu corpo
imediatamente e me viro para encará-lo.
Ele me estuda como eu o estudo.

— Você sabe, — ele começa, — você é uma mentirosa


muito boa. Se eu não soubesse melhor, talvez eu tivesse que
reconsiderar acreditar em você quando disser que não é espiã
de uma das outras famílias. Ou uma agente.

Ele não pode se dar ao luxo disso. Isso não é dito, mas
nós dois sabemos que é verdade. Eu posso dizer que esses
homens são importantes, e agora eles acham que estamos
noivos. Ele precisa de mim. E enquanto ele precisar de mim,
estou segura em Nova York e posso ficar em Wilton. Por esse
motivo, pretendo aproveitar a segurança desse noivado falso o
máximo de tempo possível.

Fico em silêncio por um momento antes de dar de


ombros. — Eu cresci em um orfanato. Aprendi a mentir
quando os serviços sociais surgiram.

É sombrio, mas é a minha realidade. Algumas famílias


adotivas costumavam me deixar passar fome ou sabiam que
só me levariam para o cheque mensal, mas essas famílias são
melhores do que as que me batiam.

Os que me machucavam fisicamente, e as famílias como


Steve, eram os mais perigosos. Você sempre pode roubar
comida e viver com pessoas que não se importam com você,
mas não pode desfazer a morte. Simplesmente não é possível.
Então, eu me treinei para mentir para os assistentes sociais
sobre minhas condições de vida e, em troca, eu poderia ficar
nas casas “melhores”.
Asher assente. Não há piedade em seus olhos. Apenas
compreendendo. — Então eu fiz a escolha certa. Você voltará
comigo esta noite.

— O quê? — Eu ouvi isso certo? — Você quer que eu


durma na sua casa?

Ele suspira, como se fosse um incômodo explicar seu


processo de pensamento para mim. — Eu duvido que eles
tenham olhos em você ainda, mas por precaução, você
precisará ficar comigo. Não há dúvida quanto à validade
desse trabalho.

De jeito nenhum. Eu não concordei com isso. Eu não


concordo com isso. Eu pensei que, no máximo, eu teria que ir
a alguns eventos, parecer bonita e sorrir muito. Mas morar
com ele? Ele está pedindo demais.

Dou outro passo para trás, colocando ainda mais


distância entre nós. — Não. Absolutamente não, — digo,
cruzando os braços.

Quanto mais tempo passo com Asher, mais confiante me


sinto em responder. Gosto da coragem recém-descoberta em
mim, mesmo que a razão disso atualmente esteja me dando
um olhar mortal.

Ele estreita os olhos. — Preciso lembrar que você me


deve um favor da minha escolha? Você não pode dizer não,
Lucy. — Ele se vira para um de seus guardas e diz: — Deixe a
amiga dela saber que Lucy virá comigo.
Eu me viro para o guarda e digo: — Não. Deixe minha
amiga saber que eu não irei com o Sr. Black. Diga a ela para
ligar para a polícia se eu não voltar para casa hoje à noite,
pois sem dúvida estarei sequestrada.

Asher rosna quando o guarda não se move. — Xavier,


ignore-a. Faça o que eu digo, — ele late, antes de me arrastar
à força para um elevador escondido, localizado atrás de um
dos painéis de vidro colorido.

Eu luto contra o seu domínio, mas isso só me traz mais


perto dele.

Ele ri. — Continue fazendo isso, querida. Isso só torna


tudo mais agradável.

Paro de me mover e torço a cabeça para nivelá-lo com


um olhar. O bastardo assustador parece quase... satisfeito
consigo mesmo. Ele pressiona um botão no painel. O elevador
dá um pulo para baixo e eu tropeço nos calcanhares,
despreparada para o movimento repentino. Asher me firma,
apertando-me em volta da minha cintura.

— Solte-me, — eu exijo.

Um sorriso fugaz enfeita seu rosto. — Você vai cair?

Eu faço uma careta. — Não.

— Você vai se comportar?

— Não, mas eu vou gritar se você não me deixar ir.


Ele ri. — Continue. Ninguém vai te ouvir.

E quando as portas se abrem para uma garagem


privada vazia, vejo que ele está certo.

Eu suspiro. — Bem. Eu não vou gritar. Prometo. — Eu


levanto quatro dedos, o que eu acho que é a Honra do
Escoteiro ou algo assim.

Ele olha para a minha mão, revira os olhos e empurra


um dos meus dedos para baixo, desse modo estou apenas
segurando três. Então, ele assente e vai embora depois de me
libertar. Eu o sigo com relutância, embora não esteja
realmente muito preocupada com minha segurança. Eu sei
que ficarei bem enquanto ele precisar de mim, embora eu
apreciasse se ele pudesse diminuir um pouco o fator
assustador.

— Você sabe, — eu começo, olhando-o com cautela. —


Se vamos fazer isso, você terá que ser menos assustador.

— Menos assustador?

Eu aceno e faço um gesto de varredura para ele com a


mão. — Veja? Assustador.

Ele tem uma carranca no rosto. Seus braços estão


cruzados, fazendo com que o bíceps se mova
formidavelmente. No meu gesto, porém, ele solta os braços,
mas não faz muita diferença. Ele ainda está sério, e ainda é
intimidador.
— Eu não sei o que você espera que eu faça, Lucy.

— Você poderia tentar sorrir mais.

Eu assisto quando seus lábios se transformam em um


sorriso forçado. Ele se parece com o filho do Chuck e do
Curinga. A visão é tão assustadora que tropeço nos
calcanhares e quase vou de cara no chão. Asher me firma,
mas eu tiro seu braço de cima de mim e faço uma careta.

— Nunca faça isso de novo. — A carranca ainda está no


meu rosto.

— Devidamente anotado, — diz ele secamente.

Quando nos aproximamos de um carro elegante, vejo


Asher brincar com o relógio antes que as portas se levantem
automaticamente como asas de pássaros. Assim que ele vê
meu rosto aberto, Asher apenas revira os olhos e entra.
Deslizo para o banco do passageiro e pulo quando as portas
se fecham automaticamente assim que minha bunda bate no
couro amanteigado.

Olho o relógio mágico de Asher com suspeita quando ele


liga o carro e sai da garagem.

Ele vê meu olhar e diz: — É um relógio inteligente. Não


vai morder.

Eu nunca vi um relógio inteligente como esse antes.


Nem parece um relógio. Uma pulseira de couro cor de camelo
está presa a uma tela. Embora tenha uma interface
eletrônica, o mostrador está definido para imitar a aparência
analógica de um relógio comum. É tão realista que não sei
dizer a diferença. A tela eletrônica é circular, envolto em um
caro cenário preto que parece mais pertencer a um Rolex ou
Cartier do que a um relógio eletrônico.

— Isso é tão ostensivo, — digo, pensando em todo o


sofrimento que testemunhei no exterior.

— Em alguns anos, será a norma.

— Sim, — eu arqueio minha sobrancelha, — para


esnobes ricos.

— Telefones inteligentes costumavam ser raros, mas


agora estão por toda parte. Você não acha que os iPhones são
ostensivos? — Ele olha o iPhone que estou segurando em
uma das minhas mãos.

Seu tom é condescendente, o que me irrita, mas deixo


para lá. Não sei por que estou sendo tão confrontadora. Não é
como se eu não soubesse que o 1% do topo existe. Inferno, eu
geralmente nem me importo.

Mas agora, porque ele faz parte desse estilo de vida,


sinto-me compelida a ressentir-me. Eu também rapidamente
percebo minha estupidez. Estou cutucando um urso que foi
generoso o suficiente para não me matar. Eu deveria estar
enrolada em posição fetal. Em vez disso, estou irritando-o.

— Desculpe, — eu cedi, porque não quero ser comida de


urso.
Eu sou fofa demais para ser comida de urso. O que os
ursos comem de qualquer maneira? Peixe? Plantas? Insetos?
Morenas estranhas com uma propensão para fugir de seus
problemas? Eu não pareço com nenhum desses. Ok, bem,
talvez o último me descreva bem.

Ele me dá uma rápida olhada antes de voltar os olhos


para a estrada. Há um raro olhar estupefato naqueles olhos
azuis.

Eu me explico: — Vou parar de ser mesquinha se você


prometer que voltaremos à discussão sobre meus arranjos de
vida depois que acordarmos.

Ele concorda. — Bem. Eu posso concordar com isso.


Falaremos sobre isso de manhã, mas não importa. Você vai
morar comigo, e ponto final.

Meu queixo cai. — Você é impossível!

Um toque de sorriso fantasma em seus lábios. — Não fui


eu quem chamou a polícia. Você se colocou nessa situação.

Eu calei a boca.

Nós dirigimos mais alguns minutos em silêncio antes


que ele fale novamente. — Você é a substituta dela.

— De quem? — Eu pergunto, mas suspeito que já sei a


resposta para minha própria pergunta.

— A garota que você viu sendo revistada...


— Maltratada, — eu corrijo.

Ele revira os olhos, mas deixa minha interjeição deslizar.


— Aquela garota que você viu naquela noite deveria ser
minha noiva falsa, mas você arruinou tudo no minuto em que
chamou atenção negativa para ela quando ligou para a
polícia.

— Oh. — E como não consigo me conter, pergunto: —


Por que ela estava sendo maltratada?

— Ela estava prestes a repassar o contrato de


casamento com meu advogado. Ela já assinou um NDA 11,
mas eu não confiava nela para não ter um dispositivo de
gravação. Era para ser uma revista rápida e simples. Ela
estava sendo difícil, não deixando Bastian fazer o trabalho
dele. Ele pode ter ficado um pouco duro, mas isso é culpa
dela.

Eu concordo. Eu também suspeito que vou ver um NDA


em breve. Estou surpresa por ainda não ter sido forçada a
assinar um, mas todo o artifício do clube parece espontâneo.
Como Asher viu uma oportunidade comigo e com aqueles
homens lá, e ele a aproveitou.

— Por que você não me checou?

— Eu já fiz, Lucy.

— O q...

11 É um documento/termo de manter sigilo.


Eu me paro quando a ficha cai. A dança. Eu pensei que
ele estava sentindo as curvas do meu corpo, mas ele estava
realmente me verificando. É louco como alguém tão
inteligente em livros pode ser tão estúpida. Você pensaria que
minha vida no exterior e, quando criança adotiva, me daria
mais sabedoria, mas obviamente não o fez.

Eu redireciono minha linha de questionamento,


observando com gratidão que ele está realmente sendo
bastante aberto. — Por que você precisa de uma noiva falsa?
Você tem que saber o quão atraente você é. — Eu nem coro
quando digo isso. É simplesmente factual. — Você poderia,
eu não sei, talvez encontrar uma noiva de verdade? Alguém
que você não precise forçar a isso.

Ele está sorrindo quando diz: — Eu não tive que forçar


Nicole a isso. Ela queria tudo sozinha. Você foi quem
arruinou. Você me levou a isso.

Não faz sentido argumentar contra, então eu digo: —


Uma noiva falsa é uma solução bastante drástica para
qualquer coisa. Você vai precisar me explicar isso se quiser
que eu toque junto com sua farsa.

Seu rosto endurece, lembrando-me que ele é um


predador. — Você vai jogar junto, porque você precisa. — Ele
suspira. — Só estou explicando por que é pertinente ao seu
papel como minha noiva. Estou no processo de deixar a
família Romano há um tempo agora.
Choque sobrepõe minha ira. — O quê? Ninguém
simplesmente sai da máfia.

— Eu nunca estive realmente nisso, para começar. Eu


era um contratado independente, alguém que só era chamado
para consertar a bagunça conforme necessário. Eu não
estava envolvido nas operações do dia a dia.

Partes da minha pesquisa no Google dizem o contrário.


— Mas você possui alguns dos negócios da máfia.

— É uma pequena porcentagem de apenas algumas das


empresas, — ele corrige. — Entrei como consultor de
negócios. Eles me deram uma bolsa de estudos em uma
empresa de fachada que me permitiu pagar as mensalidades
de Wilton. Em troca, tornei-me consultor de negócios deles.
Mas apenas como contratado independente.

— E tudo isso foi legal? — Eu pergunto, incrédula.

— Nem sempre resolvi situações por meios legais, mas


em termos de consultoria de negócios, isso era
principalmente legal. Eu recebi uma taxa de consultor e até
preenchi um W-912 pelo meu trabalho. Minha renda também
era tributada pelo governo. Totalmente legal.

Eu não acredito nisso. — Mas algumas dessas empresas


são esquemas de lavagem de dinheiro. — Eu li isso em um
blog que segue a família Romano.

12 É um número de identificação de contribuinte.


Ele parece assustado com o meu conhecimento. — Você
tem certeza de que não é uma espiã? — Mas a falta de calor
em seu tom me diz que ele está apenas brincando. — Eles
ganham muito dinheiro por meios legais, mas uma das
empresas de papel é um esquema de lavagem de dinheiro.

— Qual? — Eu pergunto.

Ele olha para mim. — Você tem certeza que quer saber?
Você não pode des-saber, e isso pode ser um conhecimento
perigoso.

Eu penso sobre isso. Eu realmente não quero saber,


mas meu instinto está me dizendo que eu preciso aprender o
máximo possível sobre a situação, sobre ele. A ignorância é
frequentemente mais prejudicial que o conhecimento. Basta
perguntar à Mary Jane Watson quando o Duende Verde a
arrastou por toda a cidade. Ela é uma donzela em perigo, o
que eu me recuso a ser.

Eu decidirei ser uma gata assustada com ataques


aleatórios de coragem.

Concordo e digo: — Des-saber não é uma palavra, e o


Asher Black que o mundo conhece não deixaria ninguém
prejudicar sua noiva.

Ele solta uma risada atordoada. — Não, ele não deixaria.


— Ele fica em silêncio por um momento. — É a cadeia de
clubes de strip-tease.

Eu reviro meus olhos. “Números”.


— Na verdade, é uma das minhas ideias mais
brilhantes. Stripping é um negócio pesado em dinheiro. O
IRS13 sabe e aceita isso. A família Romano faz com que seus
filhos entrem com seus ganhos em dinheiro, e eles gastam
todo esse dinheiro na gorjeta das strippers e garçonetes. As
meninas juntam as gorjetas, que vão para Frankie Romano.

Frankie Romano é o chefe da família Romano.

Termino por ele: — Deixe-me adivinhar. As meninas são


funcionárias legais que são pagas em salários, provenientes
das gorjetas e da taxa de cobertura, enquanto os meninos
mantêm sua participação nos lucros e dão gorjeta ao resto. A
gorjeta de renda e o salário dos funcionários do clube são
tributados como ganhos legais. — Eu ri. — Você
provavelmente ainda tem a política de gorjeta nos contratos
dos funcionários.

Asher parece impressionado. — Exatamente. Os federais


não podem tocar a família Romano. Os únicos envolvidos nas
transações ilegais são tecnicamente apenas clientes dos
clubes. Eles teriam que alvejar esses caras individualmente, e
mesmo que sejam pegos, isso não remonta aos Romanos. Não
há como cortar a cabeça da cobra. Apenas um suprimento
interminável de caudas que são inúteis. As caudas sempre
voltam a crescer.

Eu estudo o perfil de Asher. Este é o mais animado que


eu vi nele. Isso flui em sua aparência, e ele parece revigorado

13 Receita Federal dos EUA


– e muito menos assustador do que o habitual. O efeito é
suficiente para fazer meu coração pular algumas batidas.

Eu sussurro. — Você é muito inteligente, não é? —


Balanço a cabeça, limpando tudo o que me possuiu para
cumprimentá-lo.

Ele suspira, e isso me lembra porque ele está me


dizendo essas coisas em primeiro lugar. Eu preciso saber o
máximo que puder sobre o meu novo “noivo”.

— Não inteligente o suficiente. — Seus dedos apertam


com mais força o volante. — Eu assinei um contrato para
10% dos ganhos de todos os negócios que ajudei a criar para
os Romanos. Foi muito dinheiro, e usei para investir em
meus próprios negócios. Todos os meus negócios estão sob
uma empresa, a Black Enterprises.

Ele faz uma pausa, permitindo que as informações


entrem. — Um dos membros do conselho está tentando votar
com base em minhas suspeitas ligações com a máfia, e ele
pode apontar minhas ações nos negócios da Romano como
evidência. Mesmo que tecnicamente não sejam ilegais, essas
empresas estão ligadas à família Romano, que tem uma
reputação notória por lidar com o crime organizado. Eles se
afastaram principalmente do material hardcore, mas não
pinta a imagem mais favorável de mim.

— O que está tentando votar em você... Ele é o único


que zombou a noite toda, certo?
Asher me dá uma risada seca. É divertido e irritado ao
mesmo tempo. — Sim, esse. O nome dele é René Toussaint.
Ele acha que, se o conselho me tirar, ele será promovido a
CEO. O homem está atrás do meu bônus e poder, e ele não
liga para como ele consegue. Inferno, se ele puder pôr as
mãos em minhas ações majoritárias da empresa, não hesitará
em tomá-las.

— Há motivos para a sua demissão?

— Não há provas de que eu tenha feito algo ilegal pela


máfia, então ele não pode me atacar desse ângulo. O que ele
está fazendo é me pintar como jovem, inexperiente e instável,
a fim de provar que sou uma ameaça ao bem-estar da
empresa. É uma campanha difamatória. Também não dei
exatamente uma dificultade para ele. No mundo dos
negócios, sou jovem, o que automaticamente me torna
inexperiente para eles.

Ele tem apenas 25 anos. Considerando que, como algo


que só torna suas realizações ainda mais impressionantes,
posso ver como René pode retratá-lo negativamente.

— Quanto à minha instabilidade, todos os membros do


conselho têm esposas, filhos e lares. Essa é a visão deles de
estabilidade. Sou solteiro, não tenho família e moro em uma
cobertura.

— É aí que eu entro, — digo, juntando as peças. Eu


posso lidar com isso, estar envolvida em uma disputa de
escritório em vez de uma máfia.
— Se eu tenho uma noiva, René não pode argumentar
que não penso no futuro, que não estou criando raízes.

— E como um 'fantasma', eles não serão capazes de


puxar sujeira em mim. — Não me incomodo em dizer a ele
que Lucy nem é meu nome verdadeiro. Não é como se eu
fosse uma criminosa.

— Exatamente. Além do fato de você participar de uma


Ivy League e ter passado os últimos dois anos de sua vida
como voluntária, você é praticamente uma santa. Você é uma
candidata ainda melhor do que era Nicole.

Eu não posso me ajudar. — Por que ela era uma


candidata de qualquer maneira?

— Ela fazia sentido, porque ela era alguém que eu


transava regularmente. — Ele diz isso tão casualmente que
eu nem pisco. — Participamos de eventos juntos algumas
vezes, ela é bonita e tem um histórico limpo. Isso era crível.
Mas você é o prêmio. Você não vai simplesmente não me fazer
parecer mal. Você realmente vai me fazer parecer bem.

Quase não registro o elogio. O jeito que ele diz que não é
bajulação. Apenas é.

Fico em silêncio por um momento. — Então me conte.


Por que eu deveria ir junto com esse noivado falso?

— Fácil. Você não tem escolha.


E justamente quando estou começando a me sentir
confortável com ele, ele diz algo assim. Estou quase
agradecida pelo lembrete tão necessário da ameaça iminente
em minha vida. Eu estava me deixando relaxar, o que poderia
ter sido a minha morte.

Eu me viro para ele e dou a ele um olhar sério,


reconhecendo que devo cortar a ameaça à minha vida pela
raiz, se puder. — Isso não é verdade. A qualquer momento,
tenho o poder de desistir de você. O que está me impedindo
de fazer isso?

— Eu sou um homem perigoso.

— Isso pode ser verdade, mas eu não acho que você vai
me machucar.

— Não? — Ele está divertido. Está escrito em todo o


rosto dele.

— Não.

Lembro-me das palavras dele hoje mais cedo.

Você é inocente. Você deu um passo errado, mas ainda é


inocente.

Depois de passar mais tempo com ele, acredito nele


agora mais do que nunca. Talvez exista realmente uma linha
que ele traça, um código de conduta moral que ele possui.
Estou realmente disposta a arriscar minha vida em um
talvez?
Eu delibero minhas próximas palavras cuidadosamente.
— Você não vai me machucar. Não quando existem melhores
alternativas. Você é um homem de negócios, então venda isso
para mim. Convença-me a concordar de bom grado. — Desde
que eu devo a ele e a ação já foi feita, eu me comprometi
mentalmente a fingir ser sua noiva, mas ele não precisa saber
disso. Eu acho que se eu vou ser a noiva falsa dele de
qualquer maneira, é melhor eu tirar algo disso. Eu reconheço
uma oportunidade quando eu vejo uma.

Ele para o carro no sinal vermelho e se vira para me


olhar, seus olhos avaliando. Não entendo o que estou vendo
neles. Isso é… admiração?

— Você está tentando renegociar nossos termos,


senhorita Ives? — Há diversão em seus olhos azuis gelados.

Concordo e limpo o rosto, tirando uma lição de um dos


livros de Aimee – você não entra em uma reunião de negócios
com emoções. — Para mim, nem começamos a negociar.

A luz fica verde e eu vejo como Asher vira à direita.


Entramos na garagem de um prédio. Olho para o nome da
rua antes de seguirmos para o subterrâneo. Fico
agradavelmente surpresa ao saber que estamos a apenas
uma quadra de Wilton, perfeitamente a uma curta distância.

Inferno, o lugar de Asher é ainda mais próximo do


campus principal do que o Vaserley Hall. Poderei acordar
mais tarde pela manhã e… me pego antes de terminar minha
frase. Nem concordei em me mudar, mas já estou fazendo
planos.

Fico em silêncio enquanto Asher dirige o bat-móvel para


dentro da garagem. Vejo outra porta de garagem e, quando
ele aperta um botão, a porta se levanta. Minhas sobrancelhas
também se levantam. Ele tem uma garagem privada dentro
da garagem. Claro que sim. Ele estaciona ao lado de uma fila
de carros vazios e desliga o motor. Em vez de sair do veículo,
ele se inclina um pouco mais para trás e olha para mim.

— Você está virando o jogo comigo, — diz ele, seus olhos


brilhando com interesse e algo parecido com apreciação.

Eu mantenho minha posição, batendo as borboletas


estúpidas que tremem com seus elogios não ditos. — Estou
apenas tentando fazer disso um acordo justo.

Eu o estudo, esperando que ele fale, para me dizer se fiz


uma jogada errada ou certa. Enquanto assisto uma miríade
de emoções passando pelo rosto dele, fico chocada ao
perceber que elas estão lá. Eu pensei que ele era frio, um
assassino, mas desde que entrei no Rogue hoje, ele não tem
sido o assassino cruel que a cidade o pinta.

— Você realmente matou alguém? — As palavras saem


dos meus lábios antes que eu possa detê-las. Cubro minha
boca, horrorizada com minha falta de filtro. — E-eu não q-
quis dizer i-isso.
Ele olha para mim, estudando o medo no meu rosto.
Quando ele finalmente fala, fico impressionada com as
palavras dele.

—Não por um tempo.

Ele estende a mão para minhas mãos trêmulas, fazendo


meu coração parar enquanto as remove da posição sobre a
minha boca e as coloca no meu colo. Ele solta imediatamente
depois, mas seus olhos permanecem nos meus.

— Não faça isso, — diz ele. — Não seja tão mansa,


garotinha. Seja a mulher que me desafia. É com isso que eu
quero me envolver. Não tenho utilidade para a menininha
encolhida que treme ao me ver. Eu preciso da mulher forte
que eu sei que você é. Aquela que vê uma oportunidade e a
aproveita. Aquela que acabou de virar a mesa em mim,
exigindo um negócio justo... aquela inteligente o suficiente
para me testar quando tudo que ela queria era que eu
deslizasse meu pau profundamente dentro de suas paredes
apertadas.

Eu respiro fundo, incapaz de expirar até que eu


absolutamente precise… deslizasse meu pau
profundamente...

Suas palavras estão repetindo na minha cabeça – a


honestidade, a ternura e a vulgaridade estão todas lá dentro,
fazendo meu coração acelerar e meu rosto corar. Essa garota
que ele descreveu...
Essa não sou eu, sou?

No entanto, eu quero ser ela. Estou surpresa que ele


queira isso também. É mais difícil do que parece, no entanto.
Quando ele é assim, honesto e aberto, é impossível conciliar
minhas experiências com esse lado dele com aquele que me
prendeu na parede do campus e me perseguiu para as aulas,
brincando com minhas emoções e medo.

Esse é o Asher Black das lendas. Dizia-se que aquele


havia atingido mais de uma dúzia de membros de uma
família rival em uma noite. Esse Asher, o que exige que eu
seja mais forte, é ainda mais estranho para mim do que o
alter ego assassino. Não sei de que lado ele espera, e está me
dando chicotadas para acomodar minhas percepções de
duelo sobre ele.

Não sei se tenho terror ou medo, por isso procuro ser


uma mulher digna de minha própria admiração. Forte. Afasto
meus nervos e os substituo por coragem – não porque ele me
pediu, mas porque estou cansada de ser fraca quando sou
capaz de ser forte.

Eu me viro e faço contato visual com ele, ignorando a


satisfação em seu rosto. — Por que devo concordar com esta
farsa?

Ele aceita minha mudança de atitude facilmente,


alterando seu tom para uma voz sexy e dominadora de sala
de reuniões. — Vi suas finanças e sua situação de bolsa de
estudos. Você tem o suficiente para pagar as mensalidades,
mas não pode continuar vivendo nos dormitórios. Seu
trabalho na cafeteria é suficiente para pagar os livros e um
pouco de aluguel, mas o que acontece quando o aluguel
aumentar em Vaserley? E isso vai acontecer. Acontece todo
ano.

— Eu tenho procurado empregos na cidade.

— E todo o dinheiro que você ganhará em um emprego


de verão básico vai para o seu aluguel. Você estará esgotada
no início da faculdade. Esse é um plano de merda, e você
sabe disso.

— Posso sair dos dormitórios e encontrar um


apartamento barato, — protesto.

— Em nenhum lugar perto do campus, porque não há


nada mais barato que cinco mil por mês nesta área. Este é o
principal mercado imobiliário de Nova York. Você está
realmente disposta a trabalhar tanto só para morar em um
apartamento? — Ele suaviza sua voz até que seja uma pausa
sedutora. — Venha morar comigo, Lucy.

Poxa, a maneira como ele diz meu nome é uma canção


de ninar. Eu odeio que ele esteja fazendo maravilhas na
minha decisão. Ele realmente é o predador perfeito – perigo
envolto em um pacote enganosamente bonito. Exceto que sou
inteligente o suficiente para saber melhor. Eu tenho que ser,
pelo meu próprio bem.
— Eu já paguei aluguel pelo resto do semestre, — digo
fracamente.

— Envie-me o seu contrato de locação e eu posso lhe


dar um reembolso. Estou familiarizado com o direito
imobiliário.

Claro que ele está.

— Mas, e Aimee? — Eu pergunto, pegando meu último


trunfo.

— Ela conseguirá seu próprio quarto nos dormitórios. É


um bom negócio.

— Até algum estranho aparecer, ela pode não se dar


bem com a mudança.

— Depois que o ano letivo começou? Isso quase nunca


acontece, e você sabe disso.

— Mas... eu nem te conheço. Você está conectado à


máfia.

— Eu não estou envolvido com os negócios ilegais da


família Romano há um tempo e, quando eu estava, nunca
machucava mulheres.

Eu acredito nele. Minha pesquisa na Internet apoia suas


palavras e, olhando para ele agora, não posso deixar de
acreditar em sua sinceridade. Ninguém é tão bom quanto
ator. Nem mesmo Leonardo DiCaprio pode mentir de forma
tão convincente. Admito isso e sou a maior DiCapriHo (fã) que
você já conheceu.

Estou atirando no escuro agora. — Você poderia me dar


dinheiro em troca de meus serviços. — Eu estremeço. Eu
pareço uma maldita prostituta.

Felizmente, ele ignora minha sugestão. — Qualquer


dinheiro ou trocas eletrônicas de dinheiro corre o risco de
aparecer em uma verificação de antecedentes financeiros, que
René sem dúvida executará. O que posso fazer é aliviá-la de
algumas despesas regulares de uma maneira que não atraia
suspeitas. Se você for morar comigo, economizará dezenas de
milhares de dólares em aluguel sem levantar nenhuma
sobrancelha. Também posso lhe fornecer mantimentos, o que
economizaria outros US $ 12.000 ao longo do ano.

Eu me engasgo com uma risada surpresa. US $ 12.000


por ano em compras? Para uma pessoa? Ele come ouro?

Ele ignora minha risada zombeteira. — Depois de se


formar, você precisará de um emprego. Eu posso escrever
uma carta de recomendação. Como CEO de uma empresa
multinacional, ela terá muito peso.

Eu suspiro. Até eu sei que isso é bom demais para não


aceitar. Posso me concentrar nos meus estudos em vez de
trabalhar e me preocupar com aluguel. E quando chegar a
hora de conseguir um emprego, receberei uma carta de
recomendação de um dos homens mais poderosos da cidade.
Fico em silêncio por mais alguns minutos, tentando pensar
em mais razões para não concordar e falhando
miseravelmente.

Ele pega na minha cara e assente. — Bom. — Está


decidido.

Eu oficialmente concordei em morar com Asher Black.


Capítulo 10

Coragem é o que é preciso para se levantar e falar.


Também é preciso coragem para sentar e ouvir.
– Winston Churchill

Tem muitos carros na garagem de Asher. Não consigo


imaginar que sejam todos dele, especialmente porque alguns
deles são cópias carbono um do outro. Asher me leva além da
fila de carros e entra em um elevador localizado em sua
garagem particular que nos leva direto para a cobertura.

Estou impressionada ao descobrir que, em vez de


música de elevador, as notícias estão tocando em segundo
plano. É uma reprise de um episódio do Mad Money de
ontem, no qual o apresentador discute a aquisição da
IlluminaGen, empresa farmacêutica da Black Enterprises,
uma empresa farmacêutica cujo trabalho eu estou
intimamente familiarizada através dos meus cursos em
Wilton.

Eu me viro para Asher e levanto uma sobrancelha


interrogativa.

Ele sorri. — Eu não posso dizer nada sobre isso.

Um sorriso enfeita meus lábios quando provoco: — Nem


mesmo para sua noiva?
O sorriso desliza dos meus lábios.

Que raio foi aquilo?

Seu rosto fica sério. — Ei. Sem segundos pensamentos,


ok?

Concordo, mas ainda estou franzindo a testa quando as


portas do elevador se abrem. O elevador leva a um corredor
com uma única porta, a entrada do apartamento dele. Depois
que entramos, fico admirada quando Asher me leva a um
tour pela área principal.

A cozinha é grande, com equipamentos de última


geração limpos e brilhantes. A cobertura tem um piso plano
aberto, para que eu possa ver a cozinha, a sala de estar e a
área de jantar de uma só vez. Torna o espaço já
superdimensionado ainda maior. Essa quantidade de espaço
é quase inédita na cidade de Nova York.

— O lugar todo é à prova de balas e de som. Há um


botão de pânico em cada quarto. — Ele aponta para o da
cozinha, que está escondido em um dos armários. — Se você
pressionar, meus guardas entrarão. — Aos meus olhos
arregalados, ele acrescenta: — Não se preocupe. É apenas
uma precaução. Ninguém envolvido com nenhuma das
famílias ousaria vir atrás de mim. É realmente apenas
proteção contra espionagem corporativa agora.

Concordo com a cabeça, embora nem esteja


processando metade do que ele está dizendo. Estou muito
impressionada com a grandiosidade do lugar e com palavras
terríveis como “espionagem”, “bala” e “pânico”. Ignorando um
amplo corredor no primeiro andar, Asher me leva por uma
escada em espiral e direto para o quarto. É grande, medindo
pelo menos 74 metros quadrados.

De jeito nenhum isso é um quarto de hóspedes, mas


pergunto por precaução. — Este é o quarto de hóspedes para
mim?

Asher balança a cabeça. — É o meu quarto. O principal.

É surreal estar em pé no quarto dele. Há uma sala de


estar que leva para outra sala de dormir, separada apenas
por um arco da largura de um ônibus escolar. Na área
principal do quarto, há uma cama no centro e um grande
aparelho de televisão de tela plana. A cama é a de um rei
gigante do Alasca, coberto com lençóis de seda pretos, um
edredom de plumas preto e um cobertor decorativo vermelho.

O chão, como o resto da cobertura, é todo de madeira


escura. Há uma porta aberta que leva a um elegante closet e
outro arco sem porta que serve como entrada para um
banheiro principal gigante.

Estou impressionada com o tamanho e a opulência do


lugar. Não consigo nem imaginar como será o meu quarto de
hóspedes. — Você pode me mostrar o meu quarto? — Eu
pergunto.
Asher abre os braços, como se quisesse dizer que é esse.
Eu franzi a testa. — Você está me dando o principal?

— Vamos compartilhar o principal.

Eu balanço minha cabeça vigorosamente. — Não. De


jeito nenhum.

Asher encolhe os ombros. — Você sempre pode ficar


com o sofá.

— Eu sou a única a fazer um favor a você. Eu não vou


pegar o sofá. Eu vou para a cama.

Ele encolhe os ombros novamente. — Vá em frente.

Eu aceno, satisfeita. Eu o deixo lá, entrando no closet


para me arrumar para dormir. É o dobro do tamanho do meu
dormitório e pode ser facilmente confundido com uma
butique de roupas masculinas sofisticadas. Eu balanço
minha cabeça em descrença com a luxúria. Depois de pegar
uma camiseta de algodão macio, eu a levo ao banheiro,
ignorando propositadamente Asher, que passa por mim no
caminho para trocar de roupa.

Como o resto do lugar, o banheiro parece caro, com piso


de mármore branco Carrara e armários pretos modernos. Há
um vaso sanitário separado no seu próprio espaço. O
chuveiro, envolto em mármore cinza, é separado do local por
uma porta de vidro. Dentro dela, há um banco e vários
chuveiros em estilo cascata. Ao lado do chuveiro, há uma
banheira de hidromassagem branca, adequada para cinco.
Eu vou ao banheiro. Depois, lavo minhas mãos e puxo
uma gaveta embaixo da pia, encontrando uma escova de
dentes fechada. Escovo os dentes com ela, lavo o rosto para
tirar meu rímel e a sujeira e decido tomar um banho rápido.
Depois de jogar meu amado pretinho básico no cesto. Paro de
calcinha, percebendo que não tenho calcinha limpa para
vestir. A minha estava suja por todo o incidente na pista de
dança. Lembro-me de como estava encharcada e faço uma
careta.

Nojento.

Eu não vou conseguir dormir nela. Também jogo a


calcinha no cesto. Então, coloquei meu telefone no balcão,
depois de me lembrar de enviar uma mensagem para Aimee,
deixando-a saber que estou em segurança.

Eu: No apartamento de Asher, sã e salva. Esteja segura


esta noite! Te vejo em breve!

E como sou covarde, desligo o telefone antes que ela


possa me mandar uma mensagem de volta. Sei que amanhã
vou acordar para um milhão de perguntas que não sei se
posso responder. Vou ter que conversar com Asher sobre os
parâmetros desse arranjo mais tarde. Ainda não assinei um
acordo de confidencialidade também.

Quando terminei o banho, não tenho outra escolha a


não ser puxar a camiseta macia de Asher sobre meu corpo
nu. Eu me sinto incrivelmente nua por baixo. Vestir a camisa
de outro homem é íntimo o suficiente, principalmente porque
não estou usando sutiã nem calcinha. O conhecimento de
que é de Asher e ele está por perto, em algum lugar da
mesma cobertura, faz minhas bochechas corarem.

Quando eu entro no quarto depois de secar meu cabelo,


eu congelo encontrando Asher na cama. Ele está sem camisa,
vestindo apenas uma cueca boxer preta da Calvin Klein.

Eu desvio meus olhos. — Eu pensei que nós


concordamos que eu pegaria a cama.

Quando olho para ele, ele está dando de ombros, mas


seus olhos estão focados em sua camisa no meu corpo.

— Ninguém está impedindo você, — diz ele.

— Mas…

— Não seja ridícula. Quem sabe por quanto tempo você


estará aqui? Não vou dormir indefinidamente em um sofá em
minha própria casa.

— Este lugar é enorme! Tem que ter, tipo, 900 metros


quadrados!

— O dobro.

Meu queixo cai. — Mil e oitocentos metros quadrados e


você não pode nem dar um quarto para mim?

— É apenas uma casa de dez cômodos, — diz o rico. Ele


marca cada dedo em uma contagem visual.

Um. “Master.”
Dois. “Escritório.”

Três. “Biblioteca.”

Quatro. “Arsenal.”

Cinco. “Campo de tiro.”

Seis. “Sala de cinema.”

Sete. “Sala de segurança.”

Ele levanta todos os dez dedos agora. — E o resto foi


combinado e reformado em uma academia pessoal.

Eu não acredito nisso. O cara tem um campo de tiro,


arsenal, academia, teatro, biblioteca, sala de segurança e
escritório em um apartamento em Nova York? Eu sei que ele
tem dinheiro, mas isso é simplesmente insano.

Ele continua: — Você pode dormir em qualquer cômodo


que quiser, mas posso garantir que essa cama e o sofá são
suas melhores opções.

Eu gemo. Eu não vou gastar quem sabe quanto tempo


dormindo no sofá. Eu poderia muito bem começar a me
acostumar a dormir na cama com Asher. Com um suspiro
longo e exagerado, vou para o lado vazio da cama. Quando
passo por ele, pego seus olhos rolando. Ele parece fazer isso
muito ao meu redor.

Asher vai escovar os dentes e tomar banho antes de


voltar para a cama. Quando ele se instala, eu ainda não me
acostumei com o fato de que vamos dormir na mesma cama
por quanto tempo estiver aqui.

— Luzes, — ele comanda no ar vazio, e somos


imediatamente inundados pela escuridão.

Eu corro até estar na beira absoluta da cama. Como é


uma king, há uma quantidade generosa de espaço entre
Asher e eu, mas não parece suficiente. Eu não consigo dormir
assim.

Estou pensando em adormecer no sofá quando Asher


suspira e corre em minha direção. Eu posso imaginá-lo
revirando os olhos enquanto ele envolve um braço forte em
volta da minha cintura e me puxa em sua direção. Ele aninha
seu corpo no meu, posicionando-nos para que ele seja a
Conchinha Grande e eu a Conchinha Pequena.

Agora, com sua frente musculosa pressionada contra


minhas costas e a sensação de sua respiração no meu ombro,
eu realmente não consigo dormir. Estou ainda mais
consciente de que não tenho nada por baixo da camisa de
Asher. Ficamos assim por um momento antes de Asher
apertar meu corpo e se sentar.

Em um movimento surpreendentemente cavalheiresco,


ele pega um travesseiro e o cobertor extra e se muda para o
chão. Ele sai como uma luz em segundos, deixando-me
pensar...

Que raio foi aquilo?


Quando acordo, ainda está relativamente escuro.
Embora as cortinas opacas estejam fechadas, vejo uma luz
brilhante aparecendo sob uma borda descoberta da parede, a
parede da janela. Um olhar para o relógio na mesa de
cabeceira me diz que é um pouco tarde. Depois de dormir
tarde na noite passada, ainda estou cansada, embora este
seja o melhor sono que eu tive desde o incidente no corredor.

Eu levanto meus cotovelos um pouco quando Asher


entra no quarto. Ele está de terno e tem uma bonita caixa
preta na mão. Há um laço intrincadamente amarrado em
volta.

Quando ele coloca na mesa de cabeceira e começa a


sair, pergunto: — Aonde você está indo? — Ele faz uma pausa
por um momento, a meio caminho da porta. — Trabalhar.

Eu aceno e me deito, sem me preocupar em responder.


Porque, mesmo? Quem trabalha no sábado? Estou tão
cansada agora, que não consigo nem imaginar trabalhar
neste momento. Eu deixei meu sono dominar meu corpo,
embalando-me em outro sono profundo e sem sonhos.
Quando acordo novamente, o lugar está vazio. Há uma
nota na mesa de cabeceira anexada à caixa que Asher deixou
mais cedo.

No trabalho. Jantar às seis. Te vejo em breve.

Não está assinado, mas a nota é claramente de Asher.


Dentro da caixa há um vestido de noite verde esmeralda e
sedoso. É seguro assumir que aonde quer que vamos é
chique. Uma olhada no relógio me diz que tenho uma hora
para me arrumar. Não estou surpresa por ter dormido até as
cinco da tarde. Não tenho dormido bem ultimamente, mas
agora que sei que Asher precisa de mim demais para me
prejudicar, estou ansiosa para recuperar o atraso em muitas
horas perdidas.

Asher entra quando eu visto o vestido e estou pronta


para ir. Meu rosto está sem maquiagem, porque não tenho
meus produtos de beleza comigo, mas fui capaz de arrumar
meu cabelo de maneira elegante com alguns laços e grampos
de cabelo que encontrei em uma das gavetas do banheiro. Eu
nem paro para considerar a quem eles pertencem.

Nojento.

Asher não olhou para mim desde que entrou, mas sei
que ele está ciente da minha presença. Eu me movo
desconfortavelmente, incapaz de desviar os olhos de seu peito
nu enquanto o vejo se despir. Quando ele puxa as calças
pelas pernas, revelando coxas tensas e musculosas, eu me
concentro no seu pacote, envolto em uma cueca boxer Calvin
Klein azul marinho.

Não parei de cobiçar Asher. É estúpido, eu sei, e farei


bem em lembrar quem ele é. Mas quando um homem
atraente está parado na minha frente com nada além de
roupas íntimas, vou olhar. É impossível não fazer. Eu não
sou freira. Inferno, duvido que uma freira seria capaz de
desviar o olhar de um Asher sem camisa.

Eu limpo minha garganta. — Onde vamos jantar?

Quando ele olha para mim, seus olhos queimam uma


trilha lenta pelo meu corpo, começando pelos dedos dos pés,
viajando pela pele exposta sob a fenda ousada do meu vestido
e, eventualmente, nivelando-se nos abundantes inchaços do
meu decote que saem do vestido. Uma vez que seus olhos se
fixam nos meus, não há dúvida em minha mente que esse
desejo é mútuo. Ele está me dando o mesmo olhar que me
deu na primeira noite em que o conheci.

Dou um passo instintivo para trás, tentando me


distanciar disso.

—L'oscurità.

O L'oscurità é um restaurante italiano chique no


TriBeCa, com uma lista de espera de mais de um ano. Eu sei
disso porque Minka uma vez ficou no corredor, falando sobre
o quão exclusivo é depois de ir lá para um encontro com um
velho sujeito de fundo de hedge. Não tenho certeza se tenho
as maneiras na mesa para um jantar em um lugar tão
ornamental.

Ao meu olhar hesitante, Asher diz: — Não se preocupe.


Estamos apenas jantando com minha família. Pense nisso
como um teste para resolver nossos problemas.

Concordo, mas agora estou ainda mais horrorizada por


dentro… vou conhecer a família dele?!

Isso é pior!

— Sua família sabe que isso é falso? — Eu gesticulo


para frente e para trás entre nós.

Ele concorda. — Eles sabem tudo.

Tudo?!

Memórias dos dedos de Asher em mim, seus lábios


chupando meu clitóris, inundam através de mim. Eu
estremeço, esperando que eles não saibam o que aconteceu
no beco naquela noite.
Capítulo 11

Ser profundamente amado por alguém lhe dá força, enquanto


amar alguém profundamente lhe dá coragem.
– Lao Zi

O trajeto até o restaurante é curto. Vamos direto da


garagem privativa subterrânea do prédio da cobertura para a
garagem subterrânea do prédio do restaurante. Eu nunca
respiro o ar de Nova York.

Asher abre a porta para mim, oferecendo-me uma mão


que eu orgulhosamente recuso. Eu sou uma mulher do
século 21, caramba. Eu posso sair de um maldito carro. Em
vez de sua mão, eu uso a porta para me ajudar a levantar e
acidentalmente aperto um dos botões perto da maçaneta da
porta. Assim que isso acontece, rodas saem do fundo da
porta.

Meus olhos se arregalam com a visão bizarra. — Seu


carro acabou de crescer rodas?!

— Elas estão lá caso o carro seja interrompido durante


um tiroteio.

Ele ignora minha respiração aguda. Em minha defesa, a


ideia de precisar de proteção contra um tiroteio é tão
estranha.
— A porta pode ser removida das dobradiças e podemos
nos esconder atrás da porta à prova de balas enquanto nos
movemos para algum lugar mais seguro. As rodas estão lá
para que não tenhamos que carregar a porta.

Isso é... genial. Mas também ridículo. Um tiroteio?!

Asher pressiona o botão novamente e as rodas deslizam


lentamente de volta para a porta do carro. Ele oferece o braço
para mim, e eu coloco minha mão na dobra do cotovelo dele,
preocupada que, se eu não aceitar sua ajuda novamente, algo
possa crescer fora dele também. Como talvez chifres de suas
têmporas, ou cauda de um diabo.

Somos conduzidos ao restaurante pelo maître, que


chama Asher de — Sr. Black... e eu de ...Srta. Ives, — sem a
necessidade de apresentações. Como ele sabe meu nome, não
faço ideia. Ele nos leva da garagem subterrânea privada para
uma sala privada. Os guardas de Asher, que nos
acompanharam no banco da frente do carro da cidade,
posicionam-se na porta – um fora e outro dentro.

Eu entro na sala. É uma sala grande, mas há apenas


uma mesa, uma mesa ovular chique com quatro lugares. Em
uma parede há vidro, estendendo-se por toda a extensão da
parede. Do outro lado, está a cozinha, embora eu assuma que
o vidro é espelhado, porque os funcionários da cozinha
parecem não perceber que estamos do outro lado.
Estou chocada ao ver o cara da minha primeira noite no
Rogue – acho que Bastian – lá, conversando com o que parece
ser o chefe de cozinha.

Os olhos de Asher seguem minha linha de visão. — Ele é


meu gerente. — Meu gerente.

Patrão.

Minha mente rapidamente junta tudo.

Asher é dono de L'oscurità. Bastian é o gerente. É assim


que Bastian trabalha para ele. Quando estamos sentados um
ao lado do outro, os garçons chegam e nos servem vinho sem
receber nossos pedidos. Quando eles saem, Bastian entra na
sala com um homem mais velho, provavelmente com
quarenta e tantos anos. Ambos estão vestidos de terno,
entrando na área com uma linguagem corporal confiante.
Asher disse que vamos nos encontrar com sua família, mas
noto que nem Bastian nem o homem se parecem com Asher.

Asher se levanta e abraça o homem com força. Sério.

Quando eles se afastam, Asher pergunta: — Como você


está, Vince?

— Os negócios estão bem. Não posso reclamar. — Vince


vira os olhos para mim e eles acendem. —Você deve ser Lucy.
Meu nome é Vincent, mas você pode me chamar de Vince ou
Vinny.
Eu aceno e me movo para apertar sua mão, mas ele me
puxa para um abraço também. Confusa, eu devolvo, ainda
que fracamente. Quando estamos todos sentados, olho entre
os três homens.

Devo parecer curiosa, porque Vince ri e diz: —Não é uma


relação de sangue, querida. — Bastian zomba. — Sim, de
jeito nenhum eu estou relacionado com essa cara feia.

Um sorriso genuíno cruza o rosto “feio” de Asher. —


Lembro-me de algumas de suas ex-namoradas que disseram
o contrário.

Espere. Recapitule.

Ele acabou de fazer uma piada? Asher acabou de fazer


uma piada. Isso é estranho.

Por que eles estão agindo como se fosse normal? É


definitivamente estranho, certo?

Os assassinos da máfia não brincam… sentam-se


sozinhos em salas escuras, meditando e ouvindo música
clássica entre suas mortes.

Vince ri de todo coração, ignorando minha perplexidade,


e me diz: — Foi assim que tudo começou. Bastian e Asher
estavam namorando a mesma jovem, uma...

Bastian sorri e diz: — Ela não era dama, — ao mesmo


tempo em que Asher bufa e diz: — Não, não estávamos
namorando. Nós estávamos fodendo.
Os olhos de Bastian se estreitam. — Sim. Sim. Você
pensa que é uma merda quente, Ash. Nós sabemos.

Vince ignora os dois. — Bastian descobriu sobre Asher,


e ele foi confrontá-lo.

— E eu fodi com ele, — termina Asher. — Ele também


tinha um taco de beisebol.

— Eu tenho três irmãos – Elias, Gio e Frankie, — diz


Vince.

Eu ainda estou montando as peças. Frankie é o chefe da


família Romano, o que significa que Vince não é apenas um
Romano, mas também um membro de alto escalão. Estou
essencialmente jantando com a realeza da máfia... e nem
tenho medo.

O quão foda eu sou agora?

— Bastian é o filho de Gio, o que o tornou meu


sobrinho. Eu era chefe de fiscalização, então fui enviado para
lidar com Asher pessoalmente, Bastian sendo meu sobrinho e
tudo. Eu não estava esperando o que encontrei.
Naturalmente, Bastian mentiu e nos disse que foi espancado
por alguém mais velho, mas na época, Asher era apenas um
garoto de 15 anos, quase cinco anos mais novo que Bastian.
Então, olhei para ele e disse–

— Onde estão seus sapatos, garoto? — Asher termina.

— E Asher disse...
— Eu não tenho nenhum.

— E eu disse...

— Bem, vamos pegar alguns para você.

Há um olhar de carinho no rosto de Asher. É tão


vulnerável que me pega completamente de surpresa. Eu
tenho procurado por suas fraquezas desde o momento em
que o conheci, e aqui está, e é tão inesperado...

Asher ama alguém.

Seu amor por esse homem é palpável, tão tangível


quanto o chão em que ando e a cadeira em que estou
sentada. É a maior fraqueza que já vi dele, o lado mais
vulnerável que ele me mostrou. Eu nem pensei que ele tinha
alguma vulnerabilidade. Eu quase desisti de procurar.

Tenho vergonha de saber imediatamente como posso


usar isso em meu benefício.

Perceptivo como sempre, Asher estreita os olhos para


mim e se inclina, sussurrando no meu ouvido: — Não
confunda meu amor com uma fraqueza, Lucy. Esse amor foi
forte o suficiente para transformar um garoto de dezoito anos
em um assassino implacável. Preste atenção ao meu aviso.
Não há nada que eu não faça por aqueles que amo.

Eu recuo bruscamente com suas palavras, rapidamente


levantando minha cadeira um pouco no processo.
...forte o suficiente para transformar um garoto de dezoito
anos em um assassino implacável.

Há um boato de que, quando Asher tinha dezoito anos,


ele estava vivendo com um caporegime (capo) Romano quando
foram atacados por membros da família Andretti. Isso foi
durante as guerras territoriais, e a família Andretti enviou
duas dúzias de pessoas para matar o capo, que devia ser
Vince.

Depois de uma briga entre os guardas de Vince e os


soldados Andretti, ainda havia mais de uma dúzia de
soldados Andretti vivos. Eles pensaram que venceram, que
Vince era deles. Eles não sabiam que Asher estava morando
lá. Eles não estavam prontos para ele. Talvez eles nunca
pudessem estar. Ele matou todos, e depois se infiltrou na
casa de um dos capos de Andretti e fez o que eles tentaram
fazer com Vince.

Só que ele conseguiu, matando um capo Andretti e


dezenas de seus homens. Um arrepio percorre minha
espinha.

Não há nada que eu não faça por aqueles que amo.

Vou me lembrar do aviso dele enquanto eu viver. Eu


estava errada. Seu amor não é uma fraqueza. É a sua maior
força.
Vince vira os olhos para mim e diz: — Asher é como meu
filho. Ele se mudou para minha casa logo depois que eu o
conheci e morou lá, mesmo quando foi para Wilton.

Quando o rosto de Bastian se transforma em um


rosnado e ele diz: — Sim, e seu pedaço de merda de 'pai' nem
percebeu que ele se foi até ele começar a ganhar dinheiro, e
eles queriam um pedaço disso, — eu percebo que ele ama
Asher também.

Eu não conhecia o amor até aquele momento. Talvez eu


tenha pensado no amor como uma fraqueza, porque nunca o
senti. Os únicos relacionamentos que vi foram paródias
desagradáveis, parasitárias e voláteis, degradado pelo fluxo
interminável de pais adotivos que tive. Até agora, eu não
sabia como é amar e ser amado. É assim que esses três se
olham, interagem e se tratam.

Isso é mágico.

É a coisa mais forte que eu já testemunhei.

E eu quero isso para mim.

Seriamente.
Capítulo 12

Coragem é saber o que não temer.


– Platão

Sou acordada com o som da voz de uma mulher. É


zangada e confrontadora. Eu definitivamente não quero me
envolver com esse drama, então eu mantenho meus olhos
fechados e respirando, fingindo ainda estar dormindo.

— Por que ela está aqui? — A voz é estridente e


fumegante.

Asher suspira. — Eu não vou explicar isso de novo,


Monica. Você trabalha para mim, não o contrário. Eu não
deveria ter essa conversa com você.

— Mas...

— Você está me irritando. Pare.

Ela fica em silêncio por um momento. — Tudo bem, mas


eu não gosto.

— Anotado, — Asher diz secamente. — Você tem o que


eu pedi?

Eu ouço uma sacudida de uma bolsa, provavelmente


uma mochila, antes que a mulher, Monica, diga: — Aqui.
— Obrigado Monica. Você pode se levar para fora agora.

É uma dispensa, e meu corpo relaxa quando a ouço


sair. Os passos de Asher são assustadoramente silenciosos
quando ele se aproxima da cama e joga algo sobre ela ao meu
lado. É pesado.

— Aqui, — diz ele.

Abro os olhos lentamente, fingindo acordar. Ele revira os


olhos para o meu teatro.

— Como você sabia que eu estava acordada? — Eu


pergunto.

Ele não me responde, e eu não me incomodo em


perguntar novamente. Não esqueci o tempo dele como
executor. Com suas habilidades de super ninja, ele
provavelmente é capaz de contar meus batimentos cardíacos
a uma milha de distância como Edward Cullen, ou algo
igualmente legal e predador.

Em vez disso, olho para o que ele jogou para mim. É


uma pasta preta, sem descrição, sem rótulo e com cerca de
dois centímetros e meio de espessura.

— O que é isso? — Eu pergunto.

— Está cheio de papelada e atividades para casamentos


envolvendo uma pessoa sem cidadania. Casamentos com
green card (visto permanente). Eles usam essas atividades e
questionários na preparação para suas entrevistas com
agentes de imigração.

— E você pensou que poderíamos usá-los para nos


conhecermos, — termino.

Ele levanta uma das mãos, mostrando-me uma pasta


idêntica. — É uma maneira rápida e eficiente, sim.

Eu gemo e aceno. — Tudo bem, mas deixe-me escovar


os dentes primeiro.

Quando termino de escovar os dentes, encontro Asher


na cama, sentado de pernas cruzadas. Sem camisa e com
moletom, ele parece de dar água na boca e quase... acessível.
Ele está com uma tampa de caneta na boca e já começou a
preencher seu questionário.

Ele olha para mim quando eu me aproximo dele,


sentando-me do outro lado da cama. Pego a caneta que ele
joga no meu caminho, abro a pasta, coloco-a
confortavelmente no meu colo e começo o meu questionário.

Ficamos em um silêncio confortável, o único som sai dos


rabiscos de nossas canetas. As perguntas são simples no
início, apenas questões gerais de fundo..., mas o problema é
que meu histórico é obscuro, na melhor das hipóteses. Meu
nome nem é meu nome verdadeiro.

Respondo as perguntas da melhor maneira possível,


preenchendo meu nome legal e sendo sincera sobre meu local
de nascimento. Deixo em branco os nomes dos meus pais
biológicos, porque responder a essas linhas só levará a mais
perguntas sobre porque eu tenho o sobrenome da minha mãe
e não o do meu pai. Se o restante das perguntas for assim,
esse será um longo dia.

Quando uma hora se passou, eu só respondi algumas


perguntas, pulando cerca de noventa e nove por cento delas.

Eu gemo, finalmente decidindo desistir. — Isso não vai


funcionar.

Asher estuda meu rosto, permanecendo no leve brilho


do suor na minha testa. (Algumas das perguntas me
deixaram nervosa. Processe-me.)

— Por que não? — Ele pergunta, seu tom uniforme, mas


irritado, o que eu acho típico.

Eu me contento com uma meia verdade. — Porque eu


sou uma criança adotiva. Não sei muitas coisas sobre o meu
passado, e o que sei é complicado. Como a seção dos pais.
Devo listar todos os pais adotivos que tiveram uma mão para
me criar? Há muitos deles.

Ele estende a mão e pega meu fichário. Uma carranca


enfeita seu rosto enquanto ele examina as páginas,
presumivelmente irritado com todos os espaços vazios. Ele
suspira. — Nós vamos ter que fazer isso verbalmente.

Ótimo.
Agora eu tenho que mentir de forma convincente em voz
alta.

Eu aceno com relutância. — Como você quer fazer isso?

— Iremos pergunta por pergunta, revezando-nos para


respondê-las.

— OK. Você vai primeiro.

— Meu nome é Asher Aaron Black e nasci em 17 de


maio de 1991.

Ele bufa quando me pega fazendo anotações no


aplicativo Quizlet do meu telefone. Certifiquei-me de definir
meu perfil como particular primeiro. Não quero que as
pessoas se perguntem porque tenho cartões de memória da
vida de Asher, como se eu fosse uma perseguidora ou algo
assim. Eu aceno para ele continuar.

— Nasci no Mount Sinai Queens Hospital de mãe viciada


e pai cafetão. Não tenho irmãos que eu conheça.

Eu estremeço com o quão casualmente ele disse isso,


meus dedos hesitando na tela do meu iPhone antes de
completar os cartões de memória.

Ocupação da mãe? Drogada.

Ocupação do pai? Cafetão.


Asher para de falar e tira um pedaço de papel da parte
de trás da pasta. Ele coloca na minha frente. É um acordo de
confidencialidade.

Eu passo por ele, quando ele diz: — Você precisa assinar


isso antes que eu continue.

Eu aceno e assino depois de ler a coisa toda. É bem


direto. Eu não tenho que desistir do sangue do meu
primogênito ou algo assim... mas sob nenhuma circunstância
posso revelar algo sobre o meu tempo com Asher em relação à
natureza falsa do relacionamento. Também não estou
autorizada a discutir informações confidenciais sobre Asher
ou seus negócios com ninguém que não seja ele ou outras
partes envolvidas relevantes. Basicamente, preciso usar do
bom senso ao conversar com as pessoas sobre Asher.

Depois de devolver o acordo assinado, começo a minha


vez: — Meu nome é Lucy Ives. — Atualmente verdadeiro,
anteriormente falso.

—Eu não tenho um nome do meio. — Falso.

—Eu também realmente não sei muito sobre meus pais


biológicos. — Falso.

— Também não sei onde nasci. — Falso.

— Alguém me deixou em um quartel de bombeiros. —


Verdade.

— E os serviços sociais vieram me buscar. — Verdade.


— Quanto aos meus pais adotivos, houve muitos para
contar. — Verdade.

— Eu também tive muitos irmãos adotivos, mas nunca


estive perto de nenhum deles. — Verdade.

— Eu nunca fiquei em lugar algum por mais de alguns


meses. — Falso.

— Devo citar todos os meus pais, mães, irmãs e irmãos


adotivos? Eu realmente não quero. — Maior verdade que já
contei.

Eu não quero abrir a Caixa de Pandora que é Steve e


meu nome e, o mais embaraçoso, a maneira como eu fugi dos
meus problemas em vez de enfrentá-los. Também é
desconcertante o quanto da minha vida é uma mentira. Asher
pode ter uma formação duvidosa, mas eu também. Não tenho
o direito de ficar alarmada com ele quando minha história
tem tanta massa cinzenta quanto a dele.

Há um olhar contemplativo no rosto de Asher antes de


ele sacudir a cabeça. — Se surgir, vou apenas dizer que você
pulou de um lar adotivo para outro, nunca ficando em lugar
algum por mais do que alguns meses.

Concordo, escondendo meu alívio por trás de um sorriso


banal. Estou feliz por terminar com minha rodada de
mentiras. Honestamente, estou me perguntando por que não
entrei na política. Com todas as mentiras que estou
acostumada a contar, acho que seria muito boa nisso. O
Politifact provavelmente me daria uma nota de fogo no Truth-
O-Meter ™, mas isso parece impulsionar carreiras em vez de
danificá-las.

Estou me imaginando em um terninho abafado, falando


em dezenas de comícios de campanha, quando Asher
gesticula para que eu continue. Sim, tentarei ser o mais
sincera possível daqui em diante. Porque, honestamente, com
quem estou brincando? Não consigo usar um terninho, tenho
medo de falar em público e geralmente adormeço nos
primeiros minutos de uma palestra, sem falar em horas de
audiências no congresso. A única característica política que
possuo é uma afinidade completamente esculpida por contar
mentiras.

— Os lares adotivos ficavam no Alto Deserto da


Califórnia, acima do Inland Empire. É uma área bastante
pobre, com alta taxa de criminalidade e temperaturas
ridiculamente altas. — Eu estremeço. — Você provavelmente
pode adivinhar que tipo de lugar era esse.

Nem tudo era ruim, mas certamente não era seguro ou


divertido. É o laboratório de metanfetamina da nação. Pelo
que me lembro, há muitas casas de trailers lá que abrigam
laboratórios de metanfetamina. Não era incomum que uma
casa subisse em chamas e, quando isso acontecia, todos
sabiam que tipo de casa era.

No silêncio de Asher, continuo, imaginando que é seguro


mencionar minha assistente social: — O nome da minha
assistente social é Mary Peters. Ela era minha assistente
social desde o momento em que entrei no sistema até o tempo
em que entrei na maioridade. Ela é gente boa. Ela é
provavelmente a coisa mais próxima de uma figura materna
que eu já tive, mas, mesmo assim, não somos muito
próximas. Não falo com ela desde o dia em que me tornei
maior de idade.

Eu realmente deveria falar com Mary, mas tenho


vergonha de mim mesma. Eu fugi, mesmo que ela tivesse me
aconselhado a não comprometer meu futuro assim. Ela me
disse que poderíamos fazer algo sobre Steve, mas eu não
acreditei nela. Ainda não acredito, mas me sinto mal por
perder contato com ela. Ela foi acima e além para mim. Não
há como negar isso.

Enquanto continuamos, estou aliviada e espantada ao


ver que não há julgamento no rosto de Asher. Ele apenas
assente e internaliza as informações que eu lhe dou,
memorizando-as facilmente com esse cérebro selvagem dele.
Eu? Eu tenho mais de mil flashcards quando terminamos o
questionário. Agora eu sei muito mais do que eu esperava
saber sobre Asher.

Tenho cartões de memória cheios de coisas mundanas,


como:

Nome? Asher Aaron Black.

Cor favorita? Preto.


Animal de estimação da infância? Um terrier de
Pitbull preto chamado Cão.

Bebida de escolha? Água ou chá preto. Nada mais.

É muito sutil, mas acho que Asher realmente gosta da


cor preta.

É quando nos aprofundamos nos aspectos mais


sombrios da vida de Asher que eu percebo o quão honesto ele
está sendo. A coragem de falar sobre experiências dolorosas
da vida é estranha para mim, portanto, vê-la em Asher é tão
impressionante quanto alarmante.

— Onde você aprendeu a lutar? — Eu pergunto,


lembrando como ele venceu Bastian quando ele tinha apenas
quinze anos.

Lentamente, dirigimo-nos das perguntas nas planilhas


para uma conversa inesperadamente fácil. Estou
genuinamente curiosa sobre ele e seu passado. Isso é mais do
que aprender coisas a serem usadas contra ele.

— Meus pais não tinham muito dinheiro, então eu cresci


em uma área bem ruim. Havia muitas gangues. Eu não entrei
em nenhuma, mas tive que aprender a lutar e me defender.
Acabei me inscrevendo nas aulas de MMA em uma academia
local. — Ele ri sem vergonha. — Roubei o dinheiro para as
aulas do fundo de drogas da minha mãe. Eu misturava as
drogas dela com água com açúcar, para que durasse mais.
Depois, roubava o dinheiro economizado e o usava nas aulas.
— Uma noite, eu terminei de lutar, e uma garota veio até
mim. Acabamos fodendo no vestiário. Nós fomos pegos, e
acontece que ela estava namorando Bastian. Uma semana
depois, ele vem até mim com um taco de beisebol, e eu luto
de volta. Bati nele também.

— Eu deveria ter sido morto depois disso, mas os capos


ficaram impressionados. Então, Vince me acolheu. Ele não
tinha filhos e, por algum motivo, ele me queria. Eu me mudei
para a casa dele no Upper East Side, e ele me matriculou em
uma escola preparatória particular nas proximidades. Depois
disso, fui para Wilton. Vince poderia ter pago minha
mensalidade, mas ele já fez muito por mim, então eu não
queria pedir. Acabei fazendo um acordo com a família, e bem,
você sabe o resto.

Quanto à minha parte do conhecendo você, minto sobre


o que preciso e digo a verdade sobre o que posso. Não acho
que Asher suspeite de mim. Minha educação em um orfanato
facilita desviar a atenção da minha falta de vida pessoal, e
sou capaz de repetir o mesmo tema – que minha infância foi
péssima, mas era típica de uma criança de um lar adotivo em
uma área pobre.

Blá, blá, blá.

Para ser justa, isso é bem próximo da verdade. Porque


esse é o meu passado – um monte de blá. Mas agora? Mesmo
que toda essa situação esteja realmente confusa, ainda é
emocionante.
Sinto que estou vivendo pela primeira vez e tenho que
agradecer – e culpar – a Asher por isso.
Capítulo 13

A coragem da vida é frequentemente um espetáculo menos


dramático do que a coragem de um momento final; mas não é
menos que uma magnífica mistura de triunfo e tragédia.
– John F. Kennedy

— O que você quer comer? — Asher pergunta.

Atualmente estamos dando um tempo, porque meu


estômago não para de rosnar. O questionário demorou mais
do que pensávamos, então acabamos pulando o café da
manhã. A fome tem sido torturante, dado meu amor por
comida. Eu até listei comer como meu maior passatempo. O
de Asher é MMA.

Eu sorrio. — Você me diz, Lucy Expert.

Estou me sentindo confortável demais com Asher, mas


confio genuinamente nele para não me machucar. Na
verdade, eu gosto da companhia dele. É melhor do que o que
normalmente faço em um domingo, que é lição de casa. E se
estou sendo sincera, posso me ver desfrutando de toda essa
coisa de noiva falsa.

Este é um bom lugar para morar, não tenho que pagar


por comida e moradia, estou mais perto do coração do
campus do que estava antes e posso dormir a noite toda sem
acordar com os roncos de Aimee ou do som de alguém
tropeçando bêbado pelo corredor.

Asher brincalhão balança a cabeça para mim. Ele parece


menos irritado comigo agora. — Frango da Pad Thai?

Eu concordo. — Se tivermos tailandesa, você receberá o


Pad See Ew com carne e camarão.

Aprecio seu olhar de aprovação com minhas incríveis


habilidades de memorização. Sinceramente, minhas
habilidades não são tão boas quanto as de Asher, que
suspeito ser o resultado de ele ter uma memória eidética. Eu,
por outro lado? Eu sou uma porca. Eu nunca esqueço nada
relacionado à comida.

Asher pega o telefone para ligar para Monica, que eu


aprendi que é sua assistente, para o pedido de comida. De
acordo com nossa conversa conduzida por questionário, ela
tem tido um problema de atitude recentemente, mas Asher
reluta em demití-la porque está trabalhando com ele desde
que ele começou a empresa enquanto estava em Wilton.

Vai demorar muito tempo para ele treinar outra pessoa.


Suas palavras, não minhas. Pessoalmente, não a elogio por
trabalhar para ele por mais de meia década sem uma
promoção. O que ela está pensando? Não é à toa que ela é tão
rabugenta.

Enquanto Asher está conversando com Monica, decidi


tirar meu telefone do modo avião. Meu telefone vibra por um
minuto sólido com vários textos recebidos antes de parar.
Tenho 27 mensagens não lidas, todas de Aimee, e um correio
de voz dela também. Eles são todos por volta das 4 da manhã
na noite em que fomos para o Rogue, exceto o mais recente,
que é um texto isolado da noite passada.

Aimee: Você está na casa de Asher???????!#$&!(#$*!)


&#$!!!!!!!!

Aimee: Eu li isso direito?!?!!?!?😱😱😱

Aimee: Olá????

Aimee: Lucy! Você não pode simplesmente jogar essa 💣


assim e não responder.

Aimee: Eu te odeio.

Aimee: Em casa. Sã e salva e não graças a você. 🙅🏼

Aimee: Comendo todas as suas Starbursts, estão todas


indo para a minha barriga. A próxima é a rosa.

Aimee: A rosa se foi. A próxima é a amarela.

Aimee: É sério? Não vai responder? Nem mesmo pela


Starburst????

Aimee: Eu te odeio muito! Não me deixe sem resposta!


ASHER BLACK?! 🖕🏼👿

Aimee: Tire uma foto do Pequeno Asher. Eu preciso


saber.
Aimee: Quão grande ele é????

Aimee: Aposto que ele é reaaaaaalllllllmente grande.

Aimee: Vocês têm que ter bebês. 👶🏻👼🏻🍼

Aimee: E se casarem. 💍👰🏻🤴🏻

Aimee: Ele não vai envenenar você, eu prometo. Eu não


vou deixar.

Aimee: Se você não transar com ele, eu vou… 🙋🏼🤷🏼

Aimee: Luccccccccccyyyyyyyy, eu preciso saber.

Aimee: Você é a pior companheira de quarto de todos os


tempos. 👿👊🖕🏻

Aimee: Eu comi todas as suas Starbursts.👅💁🏼

Aimee: Estou indo dormir na sua cama. A única maneira


de você me parar é respondendo.

Aimee: Grrrrrrrrr...

Aimee: Estou ligando para a polícia se você não enviar


uma mensagem de volta...

Aimee: Estou dando 24 horas para enviar uma


mensagem de volta ou estou chamando a polícia. Eu quero
dizer isso, Loosey Goosey. 👊🏻

Eu reviro meus olhos. Esses textos têm uma gramática e


ortografia bastante decentes, dado o quão provavelmente
Aimee estava bêbada quando os digitou. Abro meu registro de
chamadas e toco no botão correio de voz. Clico em play,
pressionando o telefone no ouvido e tapando o outro ouvido
com um dedo para ouvir bem.

Quando olho para Asher, ele está olhando para mim,


não está mais no telefone com Monica. Eu digo o nome de
Aimee quando o começo do correio de voz começa a tocar.
Asher pega o telefone das minhas mãos.

— Ei! — Eu digo, assistindo impotente enquanto ele


coloca o telefone no alto-falante e reinicia o correio de voz.

Espero com uma expectativa mortificada quando a


mensagem de Aimee começa, sua voz bêbada é nítida e alta
nos alto-falantes.

— Loosey Goosey! É melhor você atender o seu telefone.


O que aconteceu com irmãs antes dos garotos? — Ela faz
uma pausa. — Ou são garotas antes de galos? — Há algum
farfalhar. — Estou comendo todas as suas Starbursts, Lucy.
Restam apenas as laranjas para eu comer, enquanto você
está no Asher, provavelmente gostando do seu pau gostoso.

Oh, Deus.

Minhas mãos cobrem meu rosto. Eu não posso nem


olhar para Asher.

Aimee não acabou de me envergonhar. — Eu aposto que


ele é enorme. O que ele tem, 20 centímetros? 22? Não me
diga que ele é, tipo, um pequeno. Eu juro, ficarei muito
decepcionada. Não poderei olhar para outro pau novamente.

Eu pulo, tentando pegar o telefone da mão de Asher.


Mas ele é surpreendentemente mais rápido do que eu,
pausando a mensagem antes de me derrubar na cama. Ele
tem meus dois pulsos amarrados com uma de suas mãos e
meu corpo preso sob o dele. Prendo a respiração e fecho os
olhos. Seu corpo inteiro está intimamente pressionado contra
o meu, então não consigo pensar direito.

Então, ele pressiona o play na mensagem novamente


com a mão livre.

— Puxa, você pode imaginar fazer sexo com Asher


Black? Se alguém merece, é você depois desse período de
seca de três anos.

Dois, quero corrigir, mas qual é o objetivo? Isso ainda


faz muito tempo.

Eu gemo e espio um olho aberto. Asher está sorrindo, o


que realmente o faz parecer humano. Isso me lembra o tempo
em que fui à Disneylândia com minha casa de grupo em um
dia da semana, e não havia fila para a Space Mountain. Eu
andava de novo e de novo e de novo naquele dia, querendo
extrair o presente raro até não poder mais. Eu quero fazer o
mesmo com o sorriso de Asher, porque pode não haver uma
próxima vez.
Penso em pegar meu iPhone das mãos dele e tirar uma
foto. Mas não antes de excluir o correio de voz, é claro. Este é
o maior sorriso que eu já vi Asher dar, e é naturalmente às
minhas custas.

Aimee é a pior melhor amiga de todos os tempos.

— Diga-me se ele te faz ter orgasmos, — continua ela. —


Aposto que você terá vários orgasmos. — Aimee boceja. —
Orgasmos de Asher. Provavelmente são tão bons que
merecem seu próprio nome. Ashorgasms? Ashgasms? Como...
— Há um ronco alto. Aimee adormeceu ao telefone.

Esperamos por mais, o corpo de Asher ainda


pressionado contra o meu, mas depois de mais trinta
segundos de roncos, ele termina o correio de voz. Noto que ele
não o exclui.

— Ashgasms? — Ele pergunta.

— Cale-se, — eu digo, muito consciente de que ele ainda


está em mim e minhas mãos ainda estão presas às dele.

Ele abaixa a cabeça, aconchegando o rosto no meu


pescoço antes de sussurrar no meu ouvido. — Ela não está
errada, você sabe. As coisas que posso fazer com você vão...

Claro, é aí que Monica escolhe aparecer, nem se


incomodando em bater. — Ashe, — ela faz uma pausa
quando nos vê, um olhar severo instantaneamente cruzando
seu rosto.
As coisas que ele pode fazer comigo serão o quê?! Eu
preciso saber. Eu imediatamente odeio Monica por nos
interromper. Agradeço-lhe mentalmente por isso também.
Quem sabe o que teria acontecido se ela não o fizesse?

Tomo um momento para estudá-la pela primeira vez. Ela


é linda. Muito bonita, com cabelos loiros claros, olhos azuis
arregalados, um corpo pequeno e pernas infinitamente
longas. Naturalmente, ela também está bem vestida e usa
saltos nude pintados de vermelho nas solas dos pés. Em
suma, ela parece alguém mais adequado para ser a noiva
falsa de Asher do que eu.

Eu não estou com ciúmes, no entanto. Se vou passar


por essa experiência incólume, não posso gostar dele assim.
Eu nem consigo pensar assim. Asher ainda tem conexões
perigosas com a máfia, e embora eu o conheça muito bem
depois de horas examinando questionários de green card
(visto permanente) e estou confiante de que ele não vai me
machucar, ainda não é suficiente para formar um vínculo de
relacionamento real do qual só o tempo é capaz. E sem esse
vínculo, não tenho justificativa para o ciúme.

Então, sim... aquele pequeno aperto que sinto no meu


coração? Isso não é ciúme.

Não!

Nem um pouco!
Olho suas pernas ridiculamente longas novamente. Meu
rosto está ficando um pouco verde?

Monica ainda está me encarando com os olhos estreitos


quando eu termino a leitura dela. Seus olhos se concentram
nas minhas mãos, que são limitadas pelas dele, e percebo
que nossa posição parece íntima demais. Para ser justa,
parece ser isso mesmo.

A julgar pelo olhar dolorido em seu rosto, quando ela vê


Asher e eu em uma situação comprometedora, percebo que
ela não é estúpida por trabalhar na mesma empresa – com o
mesmo homem – por mais de meia década sem promoção. Ela
é estúpida por fazer tudo isso porque ama seu chefe, apesar
do fato de ele claramente não se sentir da mesma maneira.

E ele definitivamente não o faz.

Eu poderia dizer isso quando ele a dispensou tão


facilmente mais cedo, seu tom cansado agora do que eu sei
que era de exaustão por sua paixão. Também posso dizer isso
agora, da maneira que ele não dá a mínima para o quão perto
estamos, que estamos fazendo isso na frente dela. Ele ainda
está olhando para mim, uma expressão tempestuosa em seus
olhos azul requintados.

As coisas que eu posso fazer com você...

Poxa, eu ainda quero que ele termine essa frase.

É a atenção enervante de Asher que me faz sentar


rapidamente, afastando-o. Ele me deixa, embora eu me sinta
ainda mais constrangida sem ele me cobrir. Minhas pernas
estão à vista sob a camiseta dele, que subiu alto no meu
corpo quando ele me atacou. Empurro para baixo, agradecida
por não ter aumentado o suficiente para revelar minhas
partes femininas. Saltando, finjo não ser incomodada.

— Deixe-me ajudá-la com isso, — eu digo, olhando as


sacolas de comida em seus braços.

Ela tem duas sacolas, que parecem estar segurando


mais do que apenas o Pad Thai e o Pad See Ew que Asher e
eu pedimos. Tudo bem para mim. Quanto mais comida,
melhor.

Ela empurra minha mão e diz: — Bobagem. Eu posso


fazer isso.

Eu levanto minhas mãos em falsa rendição, escondendo


meu sorriso com o olhar irritado no rosto de Asher. Ela é
assistente dele. Se ela o irrita, ele deve lhe mostrar a porta.
Pelo que vi, ela voltaria... sem bater.

Nós seguimos Monica lá embaixo, meu estômago


roncando algumas vezes ao longo do caminho. Eu empurro
Asher com meu ombro fazendo-o rir pela milionésima vez.
Monica olha com desprezo.

Eu quase me sinto mal pela garota. Ela claramente


gosta muito dele, e aqui estou eu, uma completa estranha em
uma posição em que ela deseja desesperadamente estar. Ela
está aqui há cinco anos. Estou aqui há pouco mais de um dia
e fiz mais progressos. Isso tem que ser péssimo.

Eu assisto enquanto ela descarrega as sacolas. Eu estou


certa. Existem três recipientes para viagem em vez de apenas
dois. Ela coloca os três na mesa de jantar. O rotulado “Pad
Thai” é colocado sobre o jogo americano de mesa à esquerda
do rotulado “Fried Rice”. No outro à direita do Fried Rice, ela
coloca o Pad See Ew de Asher. Eu vejo o que ela está fazendo.
Ela está se colocando entre Asher e eu, separando-nos para
que ela possa se sentar ao lado dele.

Asher a estuda enquanto ela se senta. Ela tem uma


expressão indiferente colada no rosto, mas vejo como seus
ombros estão tensos. Ela realmente acha que pode puxar
essa merda tímida para alguém tão inteligente quanto Asher?

Asher não se senta. Em vez disso, ele pega nossos dois


recipientes de comida e caminha para a sala de estar. — Você
pode ficar na cobertura enquanto come sua comida, Monica,
mas Lucy e eu vamos comer a nossa aqui.

Ele está traçando limites entre eles, e eu me pergunto


quantas vezes ele tem que fazer isso. Pelo olhar no rosto de
Monica, eu diria que não é o suficiente. Ela parece
decepcionada e com o coração partido, em vez de
acostumada. Eu me pergunto brevemente se eles têm uma
história juntos. Se o tiverem, preciso saber se vou interpretar
bem sua noiva falsa.
Quando me sento no chão ao lado dele, digo baixinho: —
Ela vai ser um problema?

Asher balança a cabeça, abrindo minha caixa de comida


para mim. Está colocado na mesa de café à nossa frente.

— Não. Ela só tem uma pequena queda por mim. — Ele


me entrega um garfo depois que eu balanço minha cabeça
nos pauzinhos que ele me oferece.

— Pequena? — Eu bufo, minha voz ainda baixa. Eu


aponto para frente e para trás entre nós. — Acho que ela sabe
que isso é falso? — Lembro-me de que ela foi a que deixou os
questionários de green card.

— Sim, — Asher suspira. — É inevitável. Ela é minha


assistente, então ela tem que saber tudo. Ela assinou um
NDA como parte de seu contrato de funcionária.

— E você confia nela?

— Ela não me decepcionou até agora.

Concordo, mas minha mente não está à vontade. Nas


últimas 24 horas, percebi que também tenho algo a perder
nisso, além dos benefícios financeiros. Eu já sou parte disso.
Meu destino foi selado assim que fui apresentada às pessoas
como a noiva de Asher.

Se for divulgado que eu menti sobre isso, que estamos


mentindo sobre esse relacionamento, minha reputação
profissional será arruinada. Nova York é uma cidade grande,
mas a celebridade de Asher é ainda maior. Ser uma
mentirosa tão publicamente arruinará minhas oportunidades
de emprego aqui. Meu futuro aqui.

E o que é necessário para tudo desmoronar é Monica


abrindo a boca sobre o que ela sabe. Ela gosta de Asher. Eu
simpatizo com isso, mas isso não significa que eu goste do
poder que o conhecimento dela tem sobre mim. Ela tem o
motivo para me machucar, e eu serei amaldiçoada se deixar
isso acontecer.

O pensamento envia um arrepio escuro pelas minhas


costas.
Capítulo 14

A coragem nem sempre ruge. Às vezes, a coragem é a voz


calma no final do dia, dizendo: “Tentarei novamente amanhã”.
– Mary Anne Radmacher

Asher vai conversar com Mônica depois que terminamos


de comer. Ele tem algumas propriedades comerciais para
examinar e clientes para atender, e eu tenho que desfazer as
malas e fazer as tarefas de qualquer maneira.

O olhar presunçoso no rosto de Monica quando ela sai


da cobertura com Asher me irrita. Não tenho ciúmes que eles
estão passando tempo juntos. Estou irritada que ela tenha o
poder de arruinar o meu futuro e, a julgar pelo quão
mesquinha ela foi antes e pelos rostos que ela fez para mim
quando Asher não estava olhando, ela parece ser do tipo que
usará isso.

Fico com instruções estritas para retornar aos


dormitórios com um dos guardas de Asher e limpar
discretamente meu dormitório. Eu envio uma mensagem para
Aimee, informando que estou a caminho, e encaminho meu
contrato de aluguel para o endereço de e-mail de Asher antes
de eu sair. Ele prometeu que o cancelaria quando tiver
chance, e será como se eu nunca tivesse assinado.

E meu nome é Afrodite e eu inventei o orgasmo.


Eu também posso ser ilusória.

Enquanto Xavier, o guarda que examinou o nível VIP em


busca de escutas duas noites atrás, leva-me a Vaserley,
considero o que direi a Aimee. Como minha melhor amiga
(bem, minha única amiga), ela precisa de respostas e
provavelmente não vai parar até conseguir.

Não acho que ela dirá a ninguém que meu


relacionamento com Asher é falso, mas não quero arriscar.
Por mais que eu goste dela, eu a conheço há cerca de um
mês, afinal. Além disso, eu já assinei um NDA, então
legalmente não posso contar nada a ela.

Por outro lado, eu sei que Aimee tem um nariz muito


bom para besteiras. Ela reconhecerá se estou mentindo para
ela e tenho que lhe contar uma coisa. Se não pode ser uma
mentira, a única alternativa é a verdade.

Além disso, ela está ciente da linha do tempo do nosso


relacionamento. Ela acha que Asher e eu acabamos de nos
conhecer ontem. Ela saberá que é mentira um noivado de um
dia, assim como qualquer outra pessoa se souber que Asher e
eu apenas nos conhecemos corretamente.

Mas, no que diz respeito ao resto do mundo, Asher e eu


parecemos tão aconchegantes quanto um casal cada vez que
fomos vistos em público juntos. Por exemplo, quando ele me
perseguia pelo campus, ele sempre tinha o braço em volta dos
meus ombros ou segurava minha mão em uma dele. Quando
eu estava no clube dele duas noites atrás, a equipe deu a
mim e a Aimee o tratamento VIP, conduzindo-nos
imediatamente a Asher no nível VIP.

Eu também praticamente quase fiz sexo com Asher na


pista de dança na frente de todo mundo, mas não quero
pensar nisso. Atualmente, é o Voldemort da minha vida
agora, para nunca ser mencionado ou falado.

De qualquer forma, a cereja no topo é que saímos do


clube juntos, fomos jantar com a família dele, e eu acabei de
sair da casa de Asher depois de ficar com ele o fim de semana
inteiro, embora eu tenha feito isso na garagem particular de
um carro preto com janelas escurecidas como breu…

A cor favorita de Asher, é claro.

Repito a história de capa de nosso relacionamento


novamente: Na primeira noite em que estive no Rogue,
trancamos os olhos e foi amor à primeira vista. Ele me seguiu
para fora, onde conversamos e tivemos nosso primeiro beijo.
Quando saí, esqueci meu telefone no banheiro devido ao
caos.

Asher ficou tão impressionado comigo que me localizou,


usando meu telefone como desculpa quando o que ele
realmente queria era um encontro. Quando ele me encontrou
e devolveu, eu já tinha um telefone novo, mas ainda fiquei
comovida com o gesto. Eu concordei com o encontro, e
estamos namorando em segredo desde então. Ele me propôs
na semana passada fora do Rogue, onde tivemos nosso
primeiro beijo.
É como uma história moderna da Cinderela, só que eu
perdi um telefone barato e não um sapatinho de cristal.

E, também, é uma versão ruim da verdade, o que facilita


a lembrança. É claro que mudamos um pouco a linha do
tempo, então ele supostamente me encontrou há três
semanas e nos apaixonamos rapidamente. Mesmo que fosse
mais realista, não podemos mais atrasar a linha do tempo,
pois só cheguei ao país há um mês na primeira noite em que
fui para o Rogue.

Nós apenas teremos que trabalhar mais para vender o


quanto somos apaixonados.

Felicidade.

— Chegamos, senhorita Ives, — diz Xavier, enquanto


puxa o carro para um dos pontos de visitante.

— Lucy, — eu corrijo automaticamente.

Suspiro, porque ainda não descobri o que fazer com


Aimee. Eu decido apenas perguntar para Asher. Escrevi para
ele no número que ele programou no meu telefone dias atrás,
no laboratório secreto.

Lucy: O que eu digo à Aimee?

Asher: Xavier tem um NDA para ela assinar.

Lucy: K...
Eu franzi a testa. Asher levou menos de um minuto para
responder, quase como se estivesse esperando pelo texto. E
Xavier já tinha preparado com um NDA para Aimee? Parece
uma configuração, meu primeiro teste de lealdade.

Eu apostaria minha vida que Asher queria saber se vou


quebrar meu NDA para contar a Aimee sobre nós. Eu não fiz.
Passei no primeiro teste, mas e o próximo? E o que teria
acontecido se eu não tivesse passado?

Xavier me segue até o prédio. Passamos por uma das


estudantes que administra a recepção. Seus olhos se
arregalam quando ela vê Xavier. Eu entendo a reação dela.
Ele é alto, bonito e bem construído, mesmo sob o tecido do
terno.

Mas ele não é tão bonito quanto Asher. Por causa de


Asher, estou rapidamente me tornando imune a homens
atraentes. Meu coração nem se acelera quando entro no meu
salão e avisto Kyle, coordenador de programas do meu
dormitório e o galã de Vaserley Hall.

Kyle é um veterano. Ele não é apenas inteligente, mas


também é alto e super atraente do jeito americano,
Abercrombie e Fitch. Aimee e as outras garotas do dormitório
ficaram obcecadas por ele assim que o viram. Até eu o achei
quente quando o conheci no dia seguinte ao incidente do
Rogue, que me deixou andando com o rabo entre as pernas
por um mês.
Eu ainda acho que ele é atraente, e este é o
compromisso pós-Asher... mas eu me ressinto, no entanto.
Ele é realmente a fonte original da rivalidade Minka vs.
Aimee. Ambas as meninas pensam que o viram primeiro, e as
duas o querem, não importando o fato de RAs e PCs não
terem permissão para ficar com seus residentes.

— Ei, Luce, — Kyle me cumprimenta. — Uau. — Seus


olhos se arregalam quando ele vê Xavier. Vaserley é um
dormitório misto, e trazer pessoas do sexo oposto em nossos
quartos é permitido, mas acho que Kyle está atordoado
porque sou uma das poucas que ainda não o fez. Até agora, é
isso.

Não é que eu seja contra a ideia. É só que eu tenho me


concentrado demais em permanecer viva depois de ligar para
a polícia no Rogue para sequer considerar conhecer garotos.
Agora, sou falsa noiva de um e trazendo outro para o meu
quarto. É louco o quanto mudou em apenas um fim de
semana.

— Kyle, este é Xavier, — eu digo. E porque ele


provavelmente descobrirá em breve, acrescento: — Ele veio
me ajudar com a minha mudança.

— Você está se mudando? — Kyle parece surpreso.

— Sim, — confirmo, mas não adiciono mais nada. Não é


da conta dele. Isso foi apenas um aviso de cortesia.
Eu passo por ele, enquanto Kyle e Xavier fazem uma
saudação estranha com a cabeça que eu sempre vejo os caras
fazerem. Quando entro no meu quarto, Aimee já está deitada
na minha cama, esperando pacientemente por mim. Ela se
senta assim que me vê.

Antes que ela possa falar, entrego a ela o NDA que


recebi de Xavier no carro e digo: — Você precisa assinar isso
antes que eu possa lhe contar qualquer coisa.

Os olhos de Aimee se arregalam enquanto ela examina a


NDA. —Oh meu Deus! Isso é tão emocionante. É como se
você estivesse namorando Christian Grey da vida real. Ele
gosta de BDSM? Ele quer que você seja submissa dele?— Ela
abaixa a voz de maneira conspiratória. — Ele tem um quarto
vermelho na casa dele?

Eu coro com a ideia de Asher me usar como submissa.


Então, esfrego minhas têmporas, tentando combater a dor de
cabeça crescente que Aimee está provocando com sua rodada
de perguntas. — Assine primeiro. Então eu vou conversar.

Ela assente e assina, exatamente assim. Eu nem acho


que ela leu completamente o NDA. Antes que eu possa dizer
qualquer coisa, Xavier entra na sala atrás de mim, batendo a
porta no meu corpo, que estava em sua trajetória. Caio no
chão, aterrissando em um dos saltos espetados de Aimee e
raspando as palmas das mãos contra a ponta afiada. Isso tira
sangue, e eu olho para Aimee por deixar suas coisas por todo
lado, mas ela está muito ocupada olhando para Xavier.
— Porra. Desculpe, senhorita Ives, — diz Xavier. A
maldição parece engraçada justaposta ao lado do uso formal
do meu sobrenome.

— Lucy, — eu corrijo. Novamente.

Afinal, Xavier trabalha para Asher, não para mim.

Ele me ajuda, e fico impressionada quando Aimee fica


calada. Ela está estudando Xavier com o escrutínio de um
perfil do FBI.

— Aimee, este é Xavier. Xavier, esta é minha colega de


quarto, Aimee.

Xavier acena para Aimee. — Olá.

Ele estende a mão para ela apertar, mas ela o deixa


pendurado. Há outro minuto de silêncio antes que um olhar
de compreensão se espalhe pelo rosto dela.

Ela olha para mim de Xavier e diz: — Sua cadela


excêntrica! Você teve um trio, não teve? — Ela acena o NDA
que ainda está em suas mãos. — É disso que se trata, não é?!
Você nem pensou em me convidar?! Isso machuca! Vocês
precisam de um quarto? — Seus olhos percorrem a forma de
Xavier enquanto ela lambe os lábios. — Eu me ofereço como
tributo! — Ela se levanta e levanta uma perna e um braço em
uma pose de Buzz Lightyear14.

14 Referência ao personagem de Toy Story.


— Aimee, — eu gemo. — Esse é o Buzz Lightyear. Você
está tentando fazer como a Katniss Everdeen15. — Mas ela
não terminou. Ela se senta novamente com um som
dramático. — Diga-me, Loosey Goosey. — Ela revira os olhos
para minha constatação. Ela sabe o quanto eu odeio o
apelido. — Eu assinei a maldita coisa. — Ela acena o NDA
novamente. Ele balança loucamente em suas mãos. — Foi
MMF16? MFM17? Você tem que pelo menos me dizer isso.

Antes que ela rasgue com todos os seus acenos, pego o


acordo de confidencialidade de seus dedos e o coloco com
segurança em uma pasta da minha mesa. Eu entrego a
Xavier, que coloca na frente do seu terno.

Eu volto para Aimee. — Do que você está falando? O que


essas letras significam?"

Eu olho para Xavier em busca de ajuda, mas ele tem


uma expressão divertida no rosto que não deixa seus traços
esculpidos desde que conheceu Aimee. Ele levanta uma
sobrancelha para mim.

Isso é útil.

— Puxa, Lucy, — diz Aimee. — Você precisa ler mais. —


Resmungando, ela murmura: — E pensar que eu achei que
ela era a inteligente...

—Eu...

15 Personagem principal do filme Jogos Vorazes


16 Sexo a três com uma mulher e dois homens bisexuais, com contato entre todos
17 Sexo a três com uma mulher e dois homens, mas nesse caso não há contato bisexual
Ela começa a me cortar. Antes que ela possa dizer mais
alguma coisa, cubro a boca de Aimee com a palma da mão. É
a palma da minha mão com sangue.

Opa.

— Ai credo! — Ela grita.

Xavier passa um lenço para ela e eu juro que ela


desmaia. Eu gemo. Não chegaremos a lugar nenhum nesse
ritmo.

Pego um novo tubo de Starbursts do meu esconderijo


secreto na minha cômoda e o seguro. — Este é o pau
sagrado18, — estremeço com a minha escolha suja de
palavras, — e quem o segura começa a falar. E todo mundo
tem que ficar quieto.

Olho fixamente para Aimee, porque, realmente, Xavier


nem disse cinco palavras desde que entrou na sala. O
segredo é calar Aimee e mais ninguém. Ela pula para o
bastão, mas Xavier corta na minha frente, mais rápido que
um raio, impedindo o corpo de Aimee de alcançar o meu. É
então que eu percebo que ele não está aqui apenas para me
ajudar a sair. Ele é meu guarda-costas.

Santo inferno.

Eu tenho um guarda-costas pessoal.

18 No original é Holy Stick, é como se o tubo de balas fosse uma referência aquelas varinhas da fala,
ou seja, aquelas varinhas que são dadas as pessoas terem o poder da fala. Porém, o termo que a
personagem usa é como se ela estivesse com o pau, ao invés de varinha, da fala.
Este é um lembrete maluco do tipo de vida que Asher
vive, do tipo de vida em que me meti.

Eu limpo minha garganta. E então eu limpo novamente,


porque eu posso sentir um ataque de pânico se aproximando.
Respiro fundo e respondo às perguntas de Aimee, uma por
uma. — Até onde eu sei, as únicas semelhanças entre Asher
Black e Christian Grey são sua riqueza, reclusão e
atratividade. Ah, e os dois sobrenomes são nomes de cores!

— Não tenho certeza se Asher gosta de BDSM. Eu não


saberia. Não, ele não quer que eu seja sua submissa. Eu não
acho que ele tem um quarto vermelho. Não, nós não tivemos
um trio. Nós nem sequer tivemos um duo, — ...embora quase
o tivéssemos. — Não é disso que se trata.

— Nós também não vamos ter um quarteto e, — respiro


um ar muito necessário, — se eu tivesse um quarteto, você
não estaria nele, sua esquisita! — Faço uma pausa,
perguntando-me se cobri todas as perguntas dela. — Ah, e eu
também não sei o que MMM e FM ou o que você disse
significa, então não posso responder a isso.

Aimee se afasta de Xavier e volta para seu poleiro na


minha cama. — Ok, — ela arrasta a palavra. — Então, se
vocês não fizeram sexo e ele não pediu que você fosse
submissa, o que ele queria?

Olho de relance para Xavier, perguntando-me se ele


sabe que meu compromisso com Asher é falso. Ele estava lá
quando Asher anunciou nosso noivado, mas não tenho
certeza se ele ouviu Asher e eu conversando depois, ou se
Asher disse a ele que não é real. Este pode ser outro teste.
Posso perguntar a Xavier se ele tem um NDA, mas mesmo se
ele disser que sim, ele pode facilmente estar mentindo.

Volto para Aimee e digo: — Segure-se aí. — Pego meu


telefone e envio uma mensagem para Asher.

Lucy: Xavier conhece nosso acordo?

Espero alguns minutos, mas ele não responde. Aimee


está parecendo impaciente, a boca já aberta. Eu aceno o tubo
Starburst, também conhecido como Pau Sagrado, que
concede permissão. Ela fecha a boca. Mais um minuto se
passa, e perco a paciência.

— Volto já, — eu digo e corro para o corredor.

Eu corro para o banheiro e bato a porta na frente do


rosto de Xavier. De jeito nenhum eu vou deixa-lo me seguir
até o banheiro. Eu tenho limites. Eu ligo para o número de
Asher, batendo meus dedos no azulejo enquanto espero que
ele atenda.

— Olá? — É a Monica.

— Ei, Monica. Você pode colocar Asher no telefone? —


Peço docemente, consciente de que ela sabe a verdade e pode
queimar eu e Asher num piscar de olhos.

— Desculpa. — Ela não parece arrependida. — Ele está


em uma reunião agora.
Eu não acredito nela. O som de buzinas ao fundo
confirma minhas suspeitas.

Reviro os olhos, minha tolerância por Monica já se foi. —


Não ele não está. Coloque-o no telefone.

— Eu disse que ele está em uma reunião. Você é surda?

Ao fundo, ouço Asher dizer: — Quem é?

— Ninguém, — Monica diz ao mesmo tempo que eu grito


—EUUUUUU!!!!! — No microfone. Eu sinto que tenho cinco
anos. Xavier espia a cabeça no banheiro, olhando-me
confuso. Afasto a cabeça dele com a mão livre e fecho a porta
novamente, trancando-a desta vez.

Há uma confusão na linha. — Lucy? — É Asher desta


vez.

— Ei, — eu digo. E porque eu já gritei como uma criança


de cinco anos, eu decidi entrar na brincadeira com Monica. —
Este é um momento ruim? Monica disse que você estava em
uma reunião.

Ele respira fundo. — Eu não estava em uma reunião.


Vou ter que conversar com Monica sobre sempre passar suas
ligações diretamente para mim. — Ele faz uma pausa. — Está
tudo bem?

— Sim... — Eu abaixei minha voz, — eu só estava me


perguntando se Xavier sabe sobre o nosso acordo. Eu já
perguntei através de texto, mas Aimee está realmente ansiosa
para eu contar tudo a ela. E Xavier está lá conosco, então não
posso dizer nada se ele não souber de nada.

— Oh. Sim ele sabe. Vá em frente e diga o que quiser na


frente dele.

— Ok, — eu digo.

— Ok, — ele diz de volta.

Ficamos na linha, sem dizer nada. Surpreendentemente,


não é estranho. Eu gosto do som da respiração dele.

Espera... o quê?!

Eu gosto do som da respiração dele?!

Quem pensa merda assim?

Eu nem me reconheço.

Por fim, ele diz: — Vejo você mais tarde? Sinta-se à


vontade para se servir do que estiver na cozinha. Não
chegarei em casa até tarde.

Agradeço a ele e desligo o telefone, mas estou distraída


com o que ele disse. Casa.

Ainda não tinha caído a ficha de que estou morando


com Asher, mas depois de ouví-lo chamar assim, estou
começando a perceber a gravidade da nossa situação.

Estou prestes a ir morar com Asher Black.


E, de repente, fico feliz que Aimee assinou o NDA e
tenho alguém com quem conversar... mesmo que ela
inevitavelmente me dê alguns conselhos ruins sobre fazer
sexo com Asher antes que ele mude de ideia sobre isso.

Quando entro no corredor novamente, Xavier está


encostado na parede ao lado da porta do banheiro. Algumas
das garotas estão no corredor conversando umas com as
outras, mas eu posso ver seus olhos disparando para Xavier.
Enquanto os seus olhos estão neutros no dormitório, nem
pertencendo ao lado de Aimee e nem ao de Minka.

Como a Suíça.

Gostaria de saber em qual time a Suíça estaria – #


TeamAimee ou #TeamMinka? Provavelmente Team Minka,
porque Aimee é muito bagunceira. E o povo suíço não é
obcecado por limpeza? Eu sei que eles gostam de queijo e
chocolate, e votam um zilhão de vezes por ano, e se mantêm
sozinhos, e estão acostumados com o frio e as montanhas, e
algo sobre facas suíças, e me pergunto se Asher tem uma
faca suíça ou gosta de garotas suíças e…

Ok, estou divagando mentalmente. Novamente.

Estar no corredor me deixa nervosa. Estou sempre


alerta, preocupada que Minka possa virar uma esquina e me
atacar. Eu também estou tentando muito não pensar em
como eu gosto da respiração de Asher, e estou indo morar
com ele, e...
Não.

Não estou pensando em nada disso.

As meninas me olham com curiosidade, mas não com


maldade, quando Xavier se endireita ao me ver. Eu as ignoro,
porque, embora elas não tenham aumentado o meu tormento
pela equipe de Minka, elas também não têm ajudado. Além
disso, em breve elas não serão minhas vizinhas de qualquer
maneira. Felizmente, este é o fim do meu tempo lidando com
a Minka & Co também.

— Desculpe, — eu digo para Xavier. — Eu tive que


perguntar a Asher se você sabe sobre o meu acordo com ele.

— Você poderia ter me perguntado, — ele murmura,


mantendo a voz baixa.

Eu sussurro também. — Não, eu não poderia.

Ele poderia ter mentido. Nós dois sabemos disso.


Quando vejo o olhar de aprovação em seus olhos, sei que
acabei de passar em outro teste. Este pode não ser de Asher,
mas é de um de seus guardas, e isso significa alguma coisa.
É lisonjeiro, até.

As primeiras palavras que saem da minha boca quando


entro no dormitório são: — Eu estou em um noivado falso
com Asher Black. — Pego o Pau Sagrado da minha mesa e o
lanço para Aimee.
Ela está tão chocada que deixa cair no chão. Ela se
recupera, pegando-o rapidamente. — De jeito nenhum.

Eu atiro minha mão para fora para o bastão e o pego


quando ela joga no meu caminho. — Sim.

Ela pega o bastão. — Como? O quê? Quando? Onde? E


por quê?

Respiro fundo e começo: — Como? Asher Black na frente


do conselho de administração da Black Enterprises.

—O quê? Foi uma proposta falsa para fazê-lo parecer


estável na frente do conselho. Um dos imbecis, — Xavier
bufa, — está tentando fazer com que Asher seja votado fora
do conselho.

— Quando? Asher anunciou nosso noivado algumas


noites atrás, assim que subimos as escadas depois de
dançar. Pegou-me desprevenida além do inferno, mas eu
joguei junto.

— Onde? Foi na parte do andar VIP que tem vista para o


resto do clube. Aquela área da varanda.

— Por quê? Como eu disse, ele precisa parecer estável na


frente do conselho. Todos eles têm esposas e famílias, então o
casamento é como eles julgam a estabilidade. — Eu jogo o
Pau Sagrado para ela.

Ela me impressiona ao pegá-lo no ar. — Uau. Você está


noiva de Asher Black.
— Noiva falsa, — eu me intrometi.

Ela me cutuca e balança o Pau Sagrado na minha cara.


— Quando vocês vão transar?

Eu sabia.

Reviro os olhos, esperando nada menos que Aimee. Eu


puxo o bastão das mãos dela. — Nós não vamos. Somos
noivos falsos, repito. Falsos. Falsos. Falsos.

Ela pega o bastão. — Você não precisa estar noiva de


alguém para fazer sexo. Você só precisa estar perto dele.

Como Aimee está em seu melhor comportamento, pego o


bastão e o jogo na minha mesa, para que possamos conversar
livremente sem o tedioso vai e volta. — Ponto justo.

— Eu digo que você use seu acesso à casa dele para


aparecer na cama dele com uma lingerie minúscula. Seduza o
inferno fora dele.

Eu reviro meus olhos. — Isso tornaria o resto desse


noivado muito estranho.

— O sexo só é estranho se as duas partes que


concordam são imaturas ou não estão prontas para tê-lo. —
Ela me olha de cima a baixo. — O que você está enfrentando
agora não é um período seco. Inferno, nem é uma seca. É
uma tigela de poeira. Diga-me, você encontra teias de aranha
lá toda vez que você se toca?

Xavier bufa ao meu lado.


Eu olho para ele. — Eu não vou fazer sexo com Asher.
Deixe isso.

— Bem. — Ela suspira como se estivesse pensando que


não está bem. — Então, como isso vai funcionar?

Eu hesito. — Essa é a coisa. Estou me mudando para a


casa dele.

Ela se endireita. — Mas... — Um beicinho cruza seus


lábios vermelhos. — E os dormitórios? Você é minha colega
de quarto! Você não pode me deixar!

— Eu tenho que! Não fará sentido se eu não morar com


ele.

— Mas e eu? E a nossa amizade?

— Nós ficaremos bem! Você ainda será minha melhor


amiga e eu estarei a uma curta distância de você. A casa de
Asher fica ao lado do campus.

— Sua casa, — ela corrige.

— O quê?

— Agora é a sua casa também. — Seus olhos percorrem


minha forma tensa. — Se vocês forem morar juntos, pelo
menos chame o lugar de seu também.

Eu suspiro e me sento ao lado dela na minha cama. —


Isso parece irreal.
Ela envolve um braço em volta de mim. — Por favor,
diga-me que vocês compartilharão a mesma cama.

Cubro meu rosto com as mãos. — Eu não sei. Eu acho


que realmente estaremos. Inferno, quase fizemos a primeira
noite até que ele se levantou e dormiu no chão. Eu acho que
ele fez isso por mim. Nós não dormimos juntos desde então.

Ela se levanta, vasculha seu armário e depois me


entrega alguma coisa. — Aqui. Use isso. Ele não saberá o que
o atingiu.

Olho para o que ela me deu. É uma camisola sexy, fofa e


sexy ao mesmo tempo. De jeito nenhum eu vou vestir isso em
qualquer lugar perto de Asher.

— Obrigada, — eu digo, porque sei como ela reagirá se


eu recusar o presente dela.

Ela estreita os olhos em suspeita, mas compra a minha


mentira. — Eu acho que você está aqui para arrumar suas
coisas, hein?

Eu concordo. — Ele me quer fora daqui até o final do


dia.

Ela se levanta. — Vamos. Vou te ajudar.

Surpreendo a nós duas quando me levanto e envolvo


meus braços em volta dela em um abraço. Um que ela
honestamente merece. Ela realmente é uma grande amiga.
Passamos a próxima meia hora fazendo as malas com a
ajuda de Xavier. Não demora muito, porque, como órfã, não
tenho muito. Xavier faz apenas duas viagens para levar todos
os meus pertences para o carro. Enquanto ele está fazendo
sua última viagem, eu troco o vestido LBD de duas noites
atrás, que vesti novamente antes de sair de Asher. Eu não
queria usar a camisa dele no corredor enquanto fazia minha
caminhada da vergonha. E o vestido de noite teria atraído
muita atenção.

Coloquei um macacão que deixei de lado enquanto fazia


as malas mais cedo e jogo meu vestido na mochila com o
resto dos meus trabalhos escolares. Então, eu me despeço de
Aimee como se fosse a última vez que nos veríamos. Não sei
porque isso parece tanto um término. Quero dizer, nós já
concordamos em nos encontrar em um restaurante fora do
campus para almoçar no final da próxima semana.

Mas meu instinto está me dizendo que isso é o fim de


alguma coisa. Eu simplesmente não sei o quê.
Capítulo 15

Coragem é fazer o que você tem medo de fazer. Não pode haver
coragem, a menos que você esteja com medo.
– Eddie Rickenbacker

Está quieto quando Xavier e eu chegamos em casa.

Casa.

Eu tremo com a palavra.

Xavier me ajuda a levar minhas coisas para o quarto


principal. Trabalhamos em silêncio, pendurando minhas
roupas em um canto do armário que tirei as roupas de Asher.
Além do meu laptop, carregadores e material escolar, não
tenho muito mais. Deixei minha roupa de cama para Aimee,
porque ela sempre gostou mais da minha cama. Nós duas
sabemos que é porque a dela está uma bagunça. Dentro de
uma semana, minha cama antiga estará da mesma maneira.

Meu estômago ronca. O som disso é a única coisa


familiar sobre esse lugar. Suspiro e desço para o jantar. A
cozinha está equipada, o que é uma agradável surpresa.

Vaserley Hall não possui cozinhas. Todos os moradores


comem em uma sala de jantar comum que serve buffet de
comida. Comer comida sempre que eu quero era bom no
começo, mas acabei ficando cansada das escolhas limitadas.
É bom poder preparar comida para mim, para variar.

Pego os ingredientes de uma lasanha, juntamente com


uma faca, uma tábua de madeira e uma panela grande.
Trituro alguns dentes de alho e erva-doce, pico uma cebola e
um pouco de salsa, orégano e alecrim. Refogo a cebola no
azeite e acrescento o alho, as sementes de erva-doce e o
frango desfiado. Depois de adicionar o resto dos ingredientes,
algumas especiarias e uma tonelada de vinho tinto, ligo o
fogão para ferver e lavo os tomates das minhas mãos.

Xavier me segue lá em cima enquanto pego meu livro.


Quando o molho está pronto, eu terminei a maior parte da
minha lição de casa da semana na mesa da cozinha. Bati um
ovo com queijo ricota e adicionei um pouco de salsa. Então,
pego uma assadeira grande, mussarela ralada e um pouco de
macarrão gourmet de lasanha que encontro na despensa. Eu
coloco a lasanha em camadas e a ponho no forno pré-
aquecido.

Tento terminar meus deveres de estatística, o único que


me resta na semana, mas a inferência fiduciária está me
chutando. Eu empurro para o lado, desistindo e volto minha
atenção para Xavier. Ele está sentado ao meu lado na mesa
da sala de jantar, os braços cruzados sobre o peito e os olhos
focados na porta da frente.

Periodicamente, ele se levanta para examinar a sala e


andar pela casa, provavelmente procurando por ameaças. É
um esforço inútil, no entanto. Este lugar é como Fort Knox. O
Serviço Secreto provavelmente pode aprender uma coisa ou
duas com Asher e sua equipe de segurança.

Anteriormente, passei pela sala de segurança e vi quatro


guardas sentados ali, olhando para mais de uma dúzia de
telas planas cheias de vídeo ao vivo em HD do edifício.
Existem câmeras posicionadas nos corredores de todos os
andares de todo o prédio, em todo o exterior do prédio, nas
garagens de estacionamento e em todas as áreas públicas do
prédio. Eu até vi alguns ângulos de câmera que pareciam ser
tirados dos prédios em frente ao nosso.

Observando as filmagens, soube que também havia uma


sala de cinema e academia no primeiro andar do prédio, mas,
a julgar pela lotação da academia da torre, não culpo Asher
por querer a sua. Além disso, por razões de segurança, a
única entrada para a cobertura é do elevador na garagem
privada de Asher e da escada de emergência ao lado. Ambos
podem ser acessados apenas a partir da cobertura e da
garagem.

Seria chato pegar o elevador lá embaixo, atravessar a


garagem particular até a garagem dos moradores, pegar um
elevador no saguão e depois caminhar até a academia de lá
toda vez que eu quiser me exercitar. A caminhada até lá é
suficiente para malhar minha bunda preguiçosa.
— Como você não está entediado? — Finalmente
pergunto a Xavier depois de vê-lo vasculhar a sala com os
olhos pela milionésima vez.

— Entediado? — Suas sobrancelhas estão juntas. — Por


que eu estaria entediado?

— Porque você está sentado aí, sem fazer nada.

— Estou fazendo o meu trabalho.

Eu suspiro. — O que há com a segurança? Eu entendo a


pesada segurança do clube, mas aqui também?

— Os seguranças do clube pertencem à família Romano.


O Sr. Black nunca os demitiu quando se apoderou de Rogue.
Levaria muito tempo para treinar novos caras, e ele já confia
nos que trabalham lá. Além disso, os caras gostam disso. É
muito mais seguro do que uma equipe de segurança em um
dos outros clubes teria.

— Somente a equipe de segurança pessoal do Sr. Black


tem acesso ao nível VIP do clube, essa cobertura e equipe de
segurança pessoal de qualquer maneira. Você pode nos
diferenciar pelos nossos fones. Os deles são enrolados e
visíveis, enquanto os nossos têm tons de pele para serem
secretos.

— Oh, — eu digo. — Por que existem tantos de vocês?

— Geralmente não existem muitos de nós. No total,


existem cerca de 26 pessoas que alternam de turno para
turno. Você tem um guarda noturno para quando eu não
estou aqui. O nome dele é Wilson, mas se você mantiver
horas de sono regulares e nada de ruim acontecer,
provavelmente nunca o encontrará. Os guardas ficam na sala
de segurança à noite, saindo apenas quando fazem suas
rondas. Eles nunca vão para o quarto, no entanto.

— Rondas, — repito. — É quando você pressiona essas


coisas de botão?

Notei que, quando Xavier faz suas —rondas—, ele aperta


pequenos botões em cada quarto. Eles são super pequenos e
têm a cor das paredes. Eu nem saberia que eles estão lá se eu
não o visse pressioná-los.

— Eles são outra precaução de segurança. Eu tenho


cerca de dez minutos para pressioná-los durante cada uma
das minhas rondas programadas. Se eu não os pressionar a
tempo, um alerta é emitido para toda a equipe, todos nós,
vinte e seis. Existem protocolos para quando isso acontece,
mas nunca aconteceu. Nem sempre sou eu fazendo as rondas
também. Quando não estou aqui, ou porque estou fora do
turno, ou com você, sempre há três pessoas na sala de
segurança. Um deles faz isso então.

— Uau, — eu suspiro.

Eu nunca ouvi falar de segurança tão pesada para uma


pessoa, especialmente uma que pode cuidar de si mesma.
Tudo isso é realmente necessário? Ele diz que não está mais
na máfia, mas como posso acreditar quando ele tem mais
segurança do que o prefeito?

Olho para Xavier, perguntando-me o que ele fazia antes


de ser meu segurança. — O que você fazia antes de ser
designado para mim?

— Fui retirado das minhas rondas antigas na sala de


segurança para trabalhar com seus detalhes pessoais, então
eles estão treinando um novato agora. É por isso que há
quatro caras na sala de segurança em vez de apenas três

— Apenas?

— O Sr. Black tem muitos inimigos, Sra. Ives.

— Lucy, — eu corrijo, distraidamente.

Suas palavras me arrepiam completamente. Eles são


mais um lembrete dos perigos de conhecer Asher. Suspeito
que sempre que olhar para Xavier, serei lembrada do perigo
ao qual estou me expondo.

Uma parte de mim não consegue entender a ideia de


uma ameaça grande o suficiente para exigir a existência de
uma segurança tão pesada. Eu tenho que me garantir que é
apenas uma precaução para um homem rico. Isso é para
seus inimigos corporativos, não para os criminosos.

Lembro-me de que o acordo que tenho com Asher é


bom. Ganharei segurança financeira enquanto durar essa
farsa e, depois que me formar, terei meu trabalho de escolha
com a carta de recomendação e conexões de Asher. Meus
pensamentos refletem os rumores de que a empresa de Asher
adquiriu a IllumaGen. Trabalhar lá seria um sonho tornado
realidade.

Se estou sendo sincera, os benefícios superam os riscos.


Asher não tem motivos para me machucar agora que sabe
que não sou uma ameaça. Na verdade, tenho um guarda de
segurança para me proteger! Não há como os “inimigos” de
Asher passarem por essa segurança insana.

Vidro e paredes à prova de balas? Botões de pânico?


Quartos de pânico? Um arsenal? 26 guardas? Ronda a cada
meia hora? Esta é a segurança adequada para o presidente.
Além disso, Asher não está mais envolvido nos negócios da
família Romano.

...ou ele está?

Assim que a lasanha está pronta, divido-a em oito


pedaços grandes e os separo. Dou um para cada um dos
guardas na sala de segurança, para surpresa deles, e entrego
um prato para Xavier. Quando Asher chega em casa, eu
acabei de terminar a última lasanha e Xavier já pegou um
dos pedaços extras. Ele terminou aquele também.

— Droga, garota, — diz Xavier ao mesmo tempo em que


Asher entra em nossa linha de visão. — Você sabe cozinhar.

— O que você fez? — Asher pergunta.

— Lasanha. — Levanto-me e aqueço o pedaço restante


para ele, porque tecnicamente é a comida dele, de qualquer
maneira.

Quando termino, coloco-o no jogo americano ao lado do


meu assento. Ele afrouxa a gravata e a coloca no balcão da
cozinha antes de se sentar ao meu lado. Ele parece exausto,
mas ainda consegue parecer alerta. Desvio os olhos enquanto
ele abre os botões do topo até seu botão de baixo. Até o
menor pedaço de pele é suficiente para me provocar, então eu
não me permito olhar.

— Você nunca me disse que sabe cozinhar. — Ele geme


quando dá uma mordida.

Afasto as imagens sujas que seu gemido provoca e


encolho os ombros. — Um dos meus pais adotivos era um
chef e eu adorava comer o suficiente para querer aprender a
fazer comida. Ele acabou me ensinando muito.

Também aprendi a fazer muitas comidas diferentes de


todas as famílias com as quais vivi, de comida peruana à
irlandesa. Meus pratos vietnamitas também são
ridiculamente bons. Meu Bo Luc Lac é delicioso, de derreter
na boca.

Saltar de um lar adotivo para outro é como viajar pelo


mundo de muitas maneiras. Você é exposto a um grupo tão
diverso de pessoas e aprende com as experiências que elas
proporcionam. Não tenho certeza se trocaria tudo por uma
infância e uma família estáveis, embora eu certamente
pudesse ter passado sem alguns dos arrepios.

Asher assente e dá outra mordida. A maneira sensual


como ele fecha os olhos e morde envia pensamentos sujos
através da minha mente.

Ele engole e se vira para Xavier, que leva meu prato e o


dele para a máquina de lavar louça. — Você pode ir por hoje.

Xavier assente, despede-se de nós e do resto da equipe


de segurança e vai embora. Quando ele se foi, somos apenas
Asher e eu na sala. Após os questionários desta manhã, estou
mais à vontade com ele, mas ele ainda me deixa tensa. Então,
eu me distraio com meus deveres de estatísticas, abrindo
meu livro caro e começo a trabalhar.

Eu mordi um pedaço do meu lápis número 2 quando


Asher pergunta: — O que há de errado?

Eu expiro profundamente, relutante em admitir o meu


fracasso. — Eu não entendo isso.

Ele se inclina, dá uma olhada no meu trabalho e


encolhe os ombros. — Não se preocupe com isso. A inferência
fiduciária está desatualizada de qualquer maneira. Você
provavelmente nunca vai usá-la.

— Pode ser, mas isso não muda o fato de que ainda vou
ter prova.

Asher se levanta e coloca seu prato na máquina de lavar


louça junto com todos os outros pratos que Xavier trouxe da
sala de segurança antes de sair. Tento não assistir enquanto
Asher carrega a máquina de lavar louça com todos os
utensílios de cozinha e pratos que utilizei para fazer a
lasanha. Ele coloca sabão na máquina e liga. É estranho vê-lo
realizar atos domésticos. É como assistir a um leão selvagem
brincar.

Depois que ele volta ao assento ao meu lado, fico


chocada quando ele começa a me explicar matemática. Eu
escuto, e meia hora depois, sou uma profissional orgulhosa
por inferência fiduciária. Eu quase desejo que seja usada com
mais frequência.

— Você deveria ter sido professor, — eu digo, enquanto


arrumo meu trabalho na minha mochila. Eu o sigo pelas
escadas.

Ele faz uma pausa para pensar sobre isso antes de


balançar a cabeça. — Isso nunca daria certo. Eu não gosto de
pessoas, e os professores lidam com muitas delas.

— Você também lida, como homem de negócios.


— Isso é diferente. Eu sou o chefe no trabalho. Eu tenho
controle. Professores não. Eles respondem aos pais e
administradores e estudantes e ao governo. Isso torna o que
eles fazem infinitamente mais difícil do que eu. — Ele hesita.
— Pelo menos para alguém como eu.

Concordo com a cabeça. Eu sou uma professora


horrível. Ensinar exige conjuntos de habilidades que eu não
possuo, como paciência e compaixão. Tenho imenso respeito
por aqueles que conseguem, principalmente porque tentei
ensinar em um dos orfanatos em que me voluntariei na
África. Eu falhei miseravelmente.

Encontro-me dizendo a Asher: — Tentei ensinar uma


vez. Eu estava em um orfanato em Djibouti. O diretor do local
achou que seria uma boa ideia eu ensinar inglês para as
crianças, já que todos os outros voluntários falavam francês
ou árabe. — Eu rio. — Foi um desastre. Eu fiz metade das
crianças chorar ao final de um período de aula de uma hora.
Eles acabaram me mudando para as cozinhas, onde minhas
únicas interações com um ser vivo eram com uma mulher
idosa que nunca falava comigo.

— Depois de um tempo, finalmente tive o suficiente do


silêncio dela e exigi que ela falasse comigo. — Eu estremeço.
— Quando ela fez sinais de volta com as mãos, eu me senti a
maior cadela do mundo. Lá estava eu, odiando-a por não
falar comigo, e ela era muda o tempo todo. O pior é que eu
não conseguia entender o que ela estava dizendo. Era em
língua de sinais da Somália.
Asher e eu estamos em nosso quarto agora. Ele está
tirando a roupa, preparando-se para tomar banho, mas ele
faz uma pausa para me dar um olhar de simpatia. — O que
você acabou fazendo?

Eu desvio meus olhos quando ele tira sua cueca e vai


para o banheiro. Não vejo o pacote dele, apenas uma parte
traseira muito, muito firme, mas ainda estou respirando
pesado depois.

Como ele pode estar tão confortável nu?

Eu gosto do meu corpo, mas não tenho o tipo de


confiança que ele possui. Eu gostaria de ter, mas duvido que
a maioria das pessoas faça isso. O mundo provavelmente será
invadido por colônias nudistas, se isso acontecer.

Eu limpo minha garganta e levanto minha voz, para que


ele possa me ouvir no banheiro. — Eu saí.

Eu tinha vergonha de mim mesma então. Como eu


disse, quando as coisas ficam difíceis, eu geralmente fujo.

— O que você disse? — Asher grita do chuveiro.

Eu suspiro. Ele ligou o chuveiro e provavelmente não


pode me ouvir sobre o barulho. Mas o que ele espera que eu
faça? Entre no banheiro para que ele possa ouvir? Eu nem
quero me repetir, e não sei o que sairá da minha boca se o vir
nu, totalmente frontal.

— Eu disse que 'corri' —. Repito, mais alto desta vez.


— Hã?

— Eu corri! — Eu estou gritando agora.

— Fale novamente?

— Ugh! — Amaldiçoo baixinho, levanto-me e entro no


banheiro, sua nudez que seja condenada. Quando o vejo,
nem me dou ao trabalho de vislumbrar suas partes íntimas.
Olho-o com um olhar morto nos olhos e digo: — EU. CORRI.
É isso que você quer ouvir?! Que eu sou uma fujona? Que eu
corro de tudo?

O que vejo em seu rosto me surpreende. Um olhar de


compreensão passa entre nós, mas Asher também parece
imperturbável com a minha explosão.

Considero brevemente que ele fingiu não me ouvir, para


que pudesse me ver admitir minha covardia cara a cara. O
pensamento me deixa com raiva.

Estou tremendo de fúria quando ele me olha nos olhos e


diz: — Mas você não fugiu de mim.

Eu me afasto dele como se tivesse levado um tapa. Ele


tem razão. Eu não fugi dele. É porque eu tenho mais a perder
agora? Uma formação? Um futuro para pensar? Uma opção
melhor? Eu não sei. Tudo o que sei é que estou cansada de
correr. Corri de um lar adotivo para outro. Eu fugi de Steve.
Eu corri de um país para o outro. Eu corri de Rogue.

Mas eu não corri dele.


Eu não estou correndo agora. Estou lidando com meus
problemas, reconhecendo-os e encontrando soluções. Estou
tentando ser uma pessoa melhor, e goste ou não, ele fez parte
desse processo. Mesmo que ele seja a causa dos meus
problemas e a solução.

Ele me lança um olhar que me faria correr para as


colinas se não tivéssemos discutido meus hábitos de fuga
embaraçosos.

— O que você espera que eu diga sobre isso? — Minha


voz é um sussurro, mas não estou surpresa que ele me ouça
sobre o som do chuveiro.

Seus olhos azuis perfuram minha alma. — Por que você


não está correndo agora?

— Eu não sei.
Capítulo 16

Às vezes, até viver é um ato de coragem.


– Sêneca, o Jovem

— Não, — Asher diz pela décima quinta vez.

— Você está falando sério?! — Eu exijo. — Você não


pode simplesmente me prender aqui, Asher. Estou ficando
louca. — Minha voz nem soa mais como minha voz. — Eu
nunca concordei em ficar presa em sua torre como se eu
fosse a Rapunzel, ou algo assim. — Eu rio ironicamente. —
Eu preciso de um príncipe para me resgatar? Irei me
certificar de perguntar a René quando ele te destronar.

Normalmente, eu não falava assim com Asher, mas


entre a loucura agitada e o fato de ele realmente ter me
deixado fugir com a resposta, eu não dou meus socos verbais.

Asher mostra uma careta para mim. É feio e bonito ao


mesmo tempo. — Você pode sair quando Tommy chegar.

Tommy é meu novo estilista. Asher o contratou no dia


seguinte à minha mudança para o apartamento dele. Acordei
naquela manhã com um homem asiático lindo e bem
arrumado pressionando fita métrica em volta dos meus seios.

As primeiras palavras que saíram de sua boca foram: —


Garota, eu gostaria de ter seios tão grandes quanto os seus.
Então, ele me puxou para fora da cama e começou a
medir meu corpo em lugares que eu não sabia que
precisavam ser medidos. Dois dias depois, ele voltou com um
monte de tecido para acessórios, mas eu não o vi desde
então. E eu também não percebi que minha liberdade
depende dele.

— Tommy?! — Eu digo, embora seja mais como um


grito. — Ó meu Deus! Você é um idiota! Isso é sobre minhas
roupas?! Você não parecia ter um problema com a maneira
como me visto quando VOCÊ CONTOU AOS SEUS COLEGAS
QUE ESTAMOS ENVOLVIDOS! — Eu estremeço,
envergonhada com o quão estridente meus gritos chegaram
no final da frase. Como não posso me ajudar, acrescento: —
Inacreditável! — E vou até a academia.

Fiquei chocada quando descobri que o ginásio de Asher


não é apenas um ginásio, embora também tenha todo o
equipamento padrão e muito mais. Também é uma academia
do UFC, com equipamento de luta, um ringue de boxe e sacos
de pancadas suficientes para eu dar um soco e chutar minha
raiva. Isso tem sido útil ultimamente, já que estou com muita
raiva agora.

Porque depois que percebi que não fugiria de Asher,


também percebi que não tinha tanto medo dele como pensava
inicialmente. É como se o medo que havia só existisse porque
eu deixei, mas depois que reconheci que era apenas uma
construção, ele evaporou. Também ajuda que, ultimamente,
ele tem me irritado a tal ponto que nem o medo pode me
impedir de me defender.

O inferno não tem fúria como uma mulher presa, ou


qualquer que seja o ditado.

Não tenho medo de Asher, o que é bom para mim e ruim


para ele. É bom para mim, porque sou capaz de me defender
agora. É ruim para ele, porque ele está me dando muito para
enfrentar. Primeiro, ele contratou Tommy sem perguntar, o
que é incrível e semelhante a ter minha própria fada
madrinha, mas esse não é o ponto. Ele não me perguntou se
eu queria roupas novas. Ele acabou decidindo que sim.

Então, quando tentei ir às aulas na segunda-feira, ele


me disse que não posso. Nenhuma razão foi dada, apenas um
“não”. Tentei sair de qualquer maneira com Xavier logo atrás,
mas aparentemente há um scanner biométrico para acessar o
elevador.

E adivinhe quem não tem acesso? Eu.

Quando meu olhar se voltou para Xavier, ele levantou as


mãos e disse: — Não posso fazer isso. Tenho que pagar as
contas.

Rosnei e caminhei de volta para Asher, onde exigi que


ele me deixasse sair. Quando ele me deu um irritante "não”
novamente, eu perdi minha paciência, chutando e socando
qualquer parte dele que eu pudesse. Eu nem sequer o
arranhei, o que só me irritou ainda mais. Em vez disso, ele se
aproximou de mim, facilmente me levantou pela cintura,
jogou-me na academia e me disse para “fazer isso”.

Dois domingos se passaram desde então, e essa tem


sido nossa rotina todos os dias desde então. Acordo e
pergunto se posso sair. Ele diz: “Não”. Eu grito e grito até
minha garganta doer, depois tento escapar. Eu
inevitavelmente falho e pulo de volta para ele.

Como minha voz geralmente desapareceu das minhas


sessões de gritos matinais, recorro a chutes e socos. Ele me
deixa na academia, onde eu chuto e soco todos os sacos à
vista. Eventualmente, Xavier se cansa da minha má forma e
me ensina a lutar corretamente. Eu até melhorei.

Ontem, quando um dos meus socos caiu no estômago


de Asher, juro que ele sorriu por um segundo antes de
desaparecer. Hoje, nem estou incomodada em escapar. Vou
direto para o meu próprio saco de boxe rosa, com o qual
Asher me surpreendeu ontem. Talvez eu tenha impresso uma
foto do rosto dele na impressora do escritório ontem à noite e
colei no saco para praticar tiro ao alvo. Estou realmente
empolgada para testá-lo.

Se Asher realmente quiser me compensar, ele me


deixará sair daqui, ou terá um saco de pancadas que se
parece com ele feito sob medida para mim. Porque, por mais
divertido que seja dar um soco na foto dele, certamente não é
o mesmo.
Quando termino minhas lutas, vou para o escritório e
entro na área de trabalho de Asher, que é muito mais rápida
que o meu laptop. Afinal, é um produto da Black Enterprises.
Abro a foto de Asher no Photoshop, um close do rosto que
encontrei na internet e edito algumas contusões no rosto. Eu
digitalmente dou a ele um lábio rasgado e um olho roxo,
porque eu posso. Quando imprimo, sorrio e mostro com
orgulho para Xavier, que revira os olhos.

É ridículo. Eu sei. Algumas semanas atrás, eu estava


participando de laboratórios em uma prestigiada
universidade de pesquisa da Ivy League e entregando ensaios
perspicazes sobre as aplicações práticas da pesquisa MITE no
Projeto Genoma Humano. Hoje, estou fazendo montagens no
fotoshop no rosto do meu guarda/noivo falso, porque não
posso fazer isso na vida real. Eu também estou
orgulhosamente mostrando ao meu guarda-costas, que
também é meu guarda da prisão, como se eu esperasse que
fosse emoldurado na geladeira ou algo assim.

Espere…

Eu reinicio a impressora, imprimo outra cópia e escrevo


um “A +” gigante no canto superior direito em Sharpie
vermelho. Eu ouço Xavier gemer quando ele vê o que estou
fazendo, mas eu o ignoro. Eu levo a fita comigo, porque Asher
não me parece o tipo que tem imã de geladeira por aí. Estou
gravando minha obra-prima na superfície brilhante e de aço
inoxidável do gigantesco pedaço de metal que é a nossa
geladeira quando Asher desce da escada com Monica
arrastando-se logo atrás, como a pequena enxerida que ela é.

Obviamente, meu relacionamento com Monica é a única


coisa que não mudou. Bem, se possível, nós nos odiamos
mais agora. Ela faz uma careta para mim todas as manhãs
quando entra no quarto para acordar Asher às 5 da manhã
como um galo humano irritante.

Ela não gosta que eu durma na cama enquanto ele


dorme no chão, mas eu garanto que ela gostaria ainda menos
se nós dois dormíssemos na cama... porque eu me recuso a
dormir no chão. Inferno, acho que Asher merece dormir no
chão por me manter prisioneira aqui. Eu certamente não me
sinto mal com o nosso arranjo de dormir.

— O que você está fazendo? — Asher pergunta,


aproximando-se de Xavier e eu.

Dou alguns passos para trás e admiro minha obra-


prima, dando-me um tapinha nas costas por um trabalho
bem feito. Inclino minha cabeça para o lado, como se
estivesse admirando obras de arte de valor inestimável no
Louvre, e digo com um sotaque francês pesado e falso: — O
olho roxo é maravilhoso, não é mesmo?

Eu deslizo um olhar para o rosto de Asher. Ele está


olhando a foto, seus lábios tremendo. Ele está tentando
esconder sua diversão, mas está lá. Eu sei disso. Eu posso
ver em seus olhos azuis, que estão mais leves que o normal.
Fazer Asher sorrir é outra maneira de tentar vencer essa luta
que estamos enfrentando. Como você pode ver, eu realmente
perdi quando achei que poderia ganhar uma briga com esse
homem, fazendo-o sorrir.

Eu preciso sair daqui.

Também não tenho ideia de porque estou sendo feita de


refém. Estou sendo bem alimentada, e ele está realmente me
tratando melhor do que eu esperava. Aparentemente, meus
professores sabem que eu não assisti às aulas e me enviaram
meus trabalhos de casa por e-mail e me enviaram slides e
notas de aula, o que é estranho e definitivamente não está de
acordo com a política da universidade, que afirma que um
aluno deve se retirar de uma classe após duas ausências não
justificadas.

Depois de faltar várias semanas de aula, eu


definitivamente estive ausente mais de duas vezes. Eu deveria
ser expulsa dessas aulas, mas, em vez disso, estou recebendo
o tratamento VIP. Meus professores estão até me enviando e-
mails com frases como “Estou ansioso para vê-la em breve!”
neles.

Não em breve.

— Feito com bom gosto, — diz Asher. Essa é outra


surpresa que aprendi. Asher tem um senso de humor.

É sutil, mas está lá.

Eu largo o sotaque francês. — Acho que posso


facilmente obter uma oferta de seis dígitos por isso.
Cruzo os braços e ando de um lado da geladeira para o
outro, fingindo olhar para ela de vários ângulos. Eu ouço
Monica cantarolar de aborrecimento, o que quase me faz
perder isso, mas sou capaz de conter minhas risadas.

Dou um passo atrás ao lado de Asher. — Eu diria que


vale um quarto de milhão de dólares. Pelo menos. — Asher
bate no queixo com o dedo indicador, o rosto imitando uma
expressão pensativa. — Está faltando alguma coisa, — diz
ele. Então, pega um papel do fichário na mão de Monica e o
cola na geladeira, cobrindo o rosto com photoshop no
processo.

Na foto de Asher, há um galo, usando estiletes


Louboutin nus. Suas penas são da mesma cor do cabelo de
Monica. Há um despertador pendurado no pescoço, definido
para as 5 da manhã. O fundo da imagem está totalmente
escuro, claramente ainda durante a noite.

É isso aí.

Eu me perco.

Estou quase chorando no chão, rindo pra caramba, nem


me importando de ter acabado de perder esse jogo estúpido
que acho que estou jogando. Quando olho para trás, a foto de
substituição de Asher ainda está lá. Eu rio de novo. Asher e
Xavier estão sorrindo, mas Monica tem uma expressão
constipada no rosto.
Eu não acho que ela entenda que é o galo, entrando no
quarto de Asher às cinco todas as manhãs, sem ser
convidada e sem aviso prévio. Ela não entende por que isso é
engraçado, mas tudo bem. Eu acho que ouvir o riso dela
quebraria meu cérebro já delirante de qualquer maneira.

Levanto a foto da geladeira, movendo-a para que fique


ao lado da minha obra-prima. — Eles devem ser vendidos
como um conjunto.

— Ugh, você tem que agir como uma criança? — Monica


diz, sua voz ainda mais sarcástica hoje.

Se estou sendo sincera, estou agindo como uma criança.


Para ser justa, não saio da cobertura há quase um mês. Eu
tive que pular todos os meus encontros de almoço com
Aimee, que deve me odiar agora. Não sinto o sol na minha
pele há anos.

Eu até me peguei tentando tomar banho de sol


encostada na janela de biquíni. Não foi uma boa ideia.
Aprendi que tenho medo de altura. Xavier, é claro, achou
hilário e sempre me pergunta quando vou fazer de novo.

Como ela já pensa que estou sendo juvenil e é verdade,


decido que até me permitir voltar à civilização, não me
importo.

Então, imito sua pose e voz e zombei de suas palavras:


— Ugh, você tem que estar aqui agora?
Nem sequer é uma queimadura decente, mas Monica
não se importa. Eu posso ler Harry Potter para ela, e ela
ainda ficará com raiva. É quando você sabe que o ódio de
alguém é irracional. Como alguém possui um coração
batendo e não gosta de Harry Potter?! Sério, há um lugar
especial no inferno para aqueles usuários da Amazon e do
Goodreads que dão uma estrela para Harry Potter.

— Talvez você deva ir, — Asher diz à Monica enquanto


eu estou ocupada fazendo um décimo círculo do inferno para
os inimigos de Harry Potter.

Seus olhos se arregalam e a irritação brilha através


deles, mas ela não diz nada. Ela sai pela porta, batendo-a ao
sair. Tento correr atrás dela, esperando poder escapar com
ela, mas um braço forte desliza em volta da minha cintura e
me puxa para trás. Estou encostada no peito poderoso de
Asher.

— Sério?! Ela é usuária dessa coisa biométrica e eu não


sou?! — Abandono o pequeno orgulho que me resta e
lamento. — Eu tenho que sair daqui, Asher. Faz tanto tempo.
Por favor, por favor, por favor, por favor, por favor. Eu nem
sei mais como cheira lá fora.

— Poluição, — diz Xavier, prestativamente.

Isso faz dele um alvo de um gancho.

Eu perco, é claro.
Eu nem sempre sou uma pessoa violenta. Eu juro. Eu
simplesmente não suporto ficar presa em um lugar por tanto
tempo. Eu sempre estive em movimento, de lar adotivo para
lar adotivo ou de país para país. Eu não acho que posso lidar
com isso por muito mais tempo.

Inferno, acho que não estou lidando com isso agora.

O apartamento de Asher é enorme, mas não é liberdade.


Eu quero minha liberdade. Estou ficando louca sem isso.
Tenho um novo respeito pelos prisioneiros. Como eles fazem
isso? Como eles lidam com isso? Estou presa em um
apartamento de luxo de dois mil metros quadrados e isso está
me deixando louca.

Na semana passada, o destaque da minha semana foi


quando eu me escondi sob a mesa de Asher por 13 horas,
esperando que ele entrasse para que eu pudesse assustá-lo.
Eu estava dormindo quando ele chegou lá e praticamente
desperdiçou meu dia inteiro por nada. Asher acabou
carregando meu eu adormecido para a cama.

Suspirando, Asher me entrega uma caixa. — É um


protótipo para o nosso mais novo conjunto de óculos de
realidade virtual. Isso ajudará com a loucura um pouco. Eu
já programei vários jogos e atividades cênicas nele. Aqui estão
os controles para isso.

Pego o par de luvas que ele me entrega. Elas têm


pequenos círculos de metal por toda parte, o que, suponho,
funciona como um controlador.
— Elas são feias, — digo a ele, embora eu esteja
lisonjeada por ele confiar em mim. Que ele pensou em fazer
isso por mim... mesmo sendo ele quem me prendeu aqui.

— É um protótipo, Lucy. — Há uma escuridão em seus


olhos quando ele diz: — Além disso, a beleza é
superestimada.

As palavras são estranhas vindo da boca dele,


considerando que ele é a pessoa mais bonita fisicamente que
eu já conheci. Sem saber o que dizer, analisei a lista de
aplicativos que ele programou no console de realidade virtual.
Existem dezenas deles, todos atendidos pelos meus
interesses, mas alguns chamam minha atenção mais
rapidamente:

Laboratório de Lucy

Desde monofluorobacetato de sódio a batrachotox e tudo


mais, experimente produtos químicos perigosos que
normalmente não seria capaz na vida real.

Aventuras para Lucy

Dos picos brilhantes e gelados de Machu Picchu às


profundezas misteriosas e escuras das Trincheira de
Mariana, o mundo é sua ostra, Lucy Ives.

Cozinha de Lucy
Qualquer ferramenta, qualquer aparelho, qualquer
ingrediente – é todo seu. Faça o seu bolo de sonho ou lasanha
favorita sem a bagunça.

Dezenas de aplicativos – Laboratório de Lucy, Aventuras


para Lucy, Cozinha de Lucy e muitos outros – têm o meu
nome e são atendidos pelos meus interesses, principalmente
coisas sobre mim que mencionei brevemente desde que o
conheci. Não acredito que ele se lembra de todas essas coisas
sobre mim.

Há um aplicativo de uma arena praticamente esgotada


do Madison Square Garden destinada a livrar-me do medo do
palco. Eu mencionei meu medo de palco para ele uma vez de
passagem. Outro aplicativo tem como objetivo me ensinar a
tocar o triângulo. Eu nem me lembrava que tinha dito a ele
que não podia tocar nenhum instrumento... “Nem mesmo o
triângulo19”, eu disse na época. Nunca foi trazido à tona
novamente.

Assim como os assuntos da maioria dos aplicativos. É


alarmante e lisonjeiro que ele esteja prestando tanta atenção
em mim, nas coisas que digo a ele e nas que não digo.

Meu Deus.

Ele fez tudo isso por mim.

Mas ele também me prendeu aqui.

Como devo me sentir sobre isso?

19 É a referência ao instrumento musical em formato de triângulo.


Não tenho certeza, mas sei que meu coração está
disparando uma maratona por minuto e, quando olho para
agradecer, ele já se foi.

Como o fantasma enigmático que ele é.


Capítulo 17

É curioso que a coragem física seja tão comum no mundo e a


moral seja tão rara.
– Mark Twain

Uma hora depois, estou esquiando em algumas encostas


de Atenas a toda velocidade, com Xavier logo atrás de mim.
Na verdade, não posso vê-lo, já que estou de óculos, mas
definitivamente posso ouví-lo, mexendo nos móveis para eu
não bater em nada às cegas.

Ele até tem travesseiros grossos e confortáveis em cada


uma das mãos para quando estou prestes a bater em uma
parede. Ele os coloca na frente do meu rosto, e dou de cara
em travesseiro, em vez da parede.

Estou no meio do meu salto olímpico de um teleférico


quando ouço: — De jeito nenhum, amiga. O que você está
vestindo? Nunca mais quero ver aquelas luvas e aqueles
óculos hediondos.

— Tommy! — Eu grito, arrancando os óculos e jogando-


os no rosto de Xavier. Ele os pega.

Por pouco.

— Protótipo caro, — diz ele.


Eu dou de ombros. Não estou com vontade de ser gentil
com as coisas de Asher quando ele me prendeu aqui. Estou
com vontade de colocar fogo neste prédio, e minha passagem
acabou de chegar... mas me pego gentilmente tirando as
luvas e as colocando cuidadosamente na mesa de café.

Xavier levanta uma sobrancelha questionadora com a


minha mudança de ritmo, mas eu o ignoro. Não sei o que
dizer a ele. Então, talvez eu seja grata pelo presente de Asher
e não queira estragá-lo. E daí? Eu me afasto rapidamente dos
olhos inquisitivos de Xavier e envolvo Tommy em um abraço,
apertando sua grossura nos meus braços ansiosos, que são
muito mais tonificados do que costumavam ser, graças às
sessões de treinamento de Xavier.

Espero que a nova definição em meu corpo não exija que


Tommy passe mais um mês trocando de roupa. Falando em
levar uma eternidade, quero perguntar a ele por que demorou
tanto tempo para fazer algumas roupas, mas não quero ser
rude e chatear minha passagem daqui. Então, eu mantenho
minha boca fechada e espero.

Ele não me faz esperar muito tempo. — Experimente


isso, — diz ele, enfiando uma sacola de roupas nas minhas
mãos estupefatas. — Eu vou pegar o resto das roupas do
corredor.

Decido me trocar na sala, para que Tommy não precise


carregar suas criações pelas escadas. Além disso, não quero
que isso demore mais do que o necessário. Agora que tenho
as roupas, posso sair daqui.

Uma parte de mim azedou com o pensamento, incapaz


de acreditar que Asher me mantinha presa em sua casa
porque eu não estava vestida adequadamente. Eu até
perguntei-lhe se eu poderia simplesmente ir à alguma loja de
designer na 5th Avenue para comprar algo para vestir. Eu até
o deixaria escolher a roupa.

Ele me deu um retumbante “não”.

As roupas têm que ser do Tommy.

Quando abro a sacola, posso ver o porquê. Há um lindo


vestido cor de vinho, que consiste em um corpete de malha e
espartilho de renda e uma saia justa. A parte superior do
espartilho é costurada à mão com belos rubis e o que espero
que não sejam diamantes de verdade. Eu nunca vi nada
parecido. Estou animada para vestir este vestido.

Xavier desvia os olhos quando eu me troco, lutando para


amarrar as costas até Tommy entrar e fazer isso por mim. Ele
se dirige a um interruptor por um painel na parede,
pressionando alguns botões até a janela de vidro do chão ao
teto que separa a cobertura de Asher do resto de Nova York.
Ele se transforma em um espelho, fazendo minha boca ficar
boquiaberta.

— O que acabou de acontecer? — Eu pergunto.


— É uma versão do vidro eletrocrômico feito de
nanotecnologia. A Black Enterprises fabrica, — diz Xavier.

Nossos olhos se encontram no espelho, e eu vejo os dele


se arregalarem quando ele me olha. Eu me viro para o meu
reflexo, lembrando-me do vestido e ansiosa para ver como ele
se parece.

— Uau, — eu respiro.

O vestido se encaixa como uma luva, abraçando todas


as curvas do meu corpo. O espartilho é todo de malha e
renda, que parece lingerie e ainda parece elegante. Há um
deslizamento nu costurado no forro por baixo, então eu não
estou realmente nua lá embaixo. A saia do vestido se apega
firmemente ao meu corpo, terminando apenas no joelho. Eu
posso me ver vestindo isso em um elegante jantar ou
coquetel, embora eu nunca tenha ido a um.

— Eu sei. Eu sou incrível, — Tommy diz


presunçosamente.

Quando Xavier se vira para me analisar


adequadamente, ele não diz nada. Ele simplesmente olha, e é
tudo que eu preciso saber. Estou muito bem neste vestido.

— Tommy, se o resto das roupas ficar assim, eu vou


sequestrar você, — digo a ele, incapaz de parar de encarar o
vestido.

— Falando nisso, — ele responde. — O resto das roupas


deve servir em você, para que você não precise experimentar
tudo. Mas há algumas coisas que podem precisar ser
alteradas, então você só precisará experimentar esses itens.

Eu aceno, sobrecarregada quando me viro para ver o


que ele me trouxe. Há cabides e cabides de roupas
pendurados em prateleiras de metal com rodas. Isso é mais
roupas do que Asher possui. Não tenho ideia de onde vamos
armazená-las, ou como vamos levar tudo para cima. Agora eu
entendo porque Tommy demorou tanto tempo para fazer tudo
isso. Ele me construiu uma loja inteira de roupas.

— Eu teria terminado tudo mais cedo, mas Asher disse


que você está malhando. Ele me enviou uma foto atualizada e
eu arrumei tudo para você. — Tommy está olhando minha
nova figura.

Decido ignorar a parte de Asher ter uma foto recente de


mim. — Você refez tudo isso através de uma imagem?!

— Eu sou muito bom no meu trabalho.

— Sim. Não brinque, — concordo, encarando a coleção


com descrença.

Há pelo menos uma dúzia de vestidos de noite na


mistura, todos impressionantes, é claro. Não tenho ideia de
quando vou usá-los, já que nunca fui convidada para um
evento chique e Asher não me leva para sair desde o nosso
noivado. Mas estou animada para experimentar cada um
deles.
Sinto que sou a Cinderela sem a parte em que ela é
perseguida pelo reino por um estranho com quem ela dançou
sobre um maldito sapato. Você pode imaginar ir a um clube,
dançar com um cara aleatório e tê-lo atrás de você em todo o
país?

Isso é chamado de perseguição. E não é sexy.

Quando termino de experimentar as roupas, estou


exausta. Eu experimentei a maior parte dos itens da coleção,
apenas para Tommy levar só dois vestidos para mais
alterações. Os guardas saem da sala de segurança para
ajudar Xavier a carregar as prateleiras de roupas para o
andar de cima. Tommy e eu seguimos com, pelo menos, mil
novos cabides de veludo.

Temos que trocar os grossos cabides de madeira das


roupas de Asher pelos novos e ultrafinos que Tommy trouxe
para que minhas roupas caibam em nosso closet
compartilhado. Mesmo assim, nossas roupas estão tão juntas
que é difícil puxar um item. E é um closet gigante. Estou
surpresa que Tommy tenha feito tudo isso em tão pouco
tempo.

Só quando Tommy e eu estamos voltando para admirar


nosso trabalho é que percebo que todas as minhas roupas
velhas estão em uma sacola no chão. Tommy pega a bolsa e
se dirige para a porta.

— O que você está fazendo? — A acusação na minha voz


é clara.
— Estou levando esses itens para a Goodwill para doar.

— Você está o quê?!

Eu sei que tenho todas essas maravilhosas roupas


novas, e Asher disse que me deixará ficar com elas depois que
isso acabar, mas não posso deixar de me sentir apegada às
minhas roupas velhas. Elas são minhas. Eu trabalhei duro
durante o ensino médio para pagar muito do que Tommy está
tão pronto para doar. Eu não tinha uma família para comprar
essas coisas para mim. Eu trabalhei por eles e, por isso,
estou apegada. No mínimo, quero ficar com meu vestidinho
preto.

Tommy encolhe os ombros. — Ordens de Asher. — Ele


olha as roupas, embaladas como sardinha uma ao lado da
outra. — Você parece não ter mais espaço também.

Ele tem razão. Eu deveria estar agradecida por essas


roupas novas. De jeito nenhum eu gostaria de me livrar de
algumas delas para dar espaço aos velhos, mas não posso
evitar.

— Mas eu...

Seus olhos se voltam para Xavier, que está sentado em


uma cadeira no centro do closet, deliberadamente cuidando
de seus próprios assuntos. — Eu tenho ordens estritas para
doar isso. Desculpe. — E então ele foge rapidamente.
Eu deixei, porque não tenho outra escolha. Não posso
perseguí-lo pelos elevadores quando a trava biométrica
estúpida não me permite acessar.

— A culpa é sua, — digo a Xavier.

Ele terminou suas rondas alguns minutos atrás e está


sentado no closet desde então. — Por que?!

— Se eu tivesse acesso ao elevador, poderia tê-lo


perseguido.

— Eu posso lhe dar acesso agora.

E ele faz.

Pela primeira vez em um mês, estou livre.


Capítulo 18

Coragem é nunca deixar suas ações serem influenciadas por


seus medos.
– Arthur Koestler

Ter liberdade quase melhora o sentimento de perder


todas as minhas roupas, mas a dor da perda ainda não se foi.
Eu posso sentir um peso se instalando no meu peito,
dominando a excitação da liberdade. Estou exagerando?
Provavelmente. Eu não posso evitar, no entanto. Essas
roupas esfarrapadas são as únicas coisas que eu mantive do
meu passado.

Envio uma mensagem para Aimee, pedindo que ela me


encontre para um jantar cedo na Cantina de Carmen, um
restaurante mexicano perto do campus. Cortesia de Tommy,
estou vestida com jeans azul escuro, camisa de gola alta
preta de mangas compridas e botas de cano alto de veludo
preto na altura da coxa que fazem minha altura se erguer a
dez centímetros do chão.

Eu pareço bem.

É quase estranho.

A última vez que vi Aimee, eu estava usando minhas


próprias roupas esfarrapadas. Agora, estou usando roupas de
estilista, criações únicas. É assim que a personagem de Julia
Roberts se sente em Pretty Woman? Duas partes, uma
princesa e uma parte prostituta?

Xavier e eu pegamos um dos muitos carros estacionados


na garagem particular. Aparentemente, todos os carros
idênticos pertencem a Asher, mas são designados a um
funcionário durante seu período trabalhando para Asher. Os
funcionários deixam os carros estacionados na garagem por
motivos de segurança e praticidade.

O carro em que estamos é preto, espaçoso e cheio de


assentos de couro de cor creme. Eu não estou focada na
suavidade dos assentos, no entanto. Meu nariz está
pressionado contra a janela quando saímos para as ruas. Eu
tenho olhos arregalados, corpo cantarolando em antecipação,
quando avisto Nova York do nível do solo pela primeira vez
em quase um mês.

Eu me sinto como uma prisioneira sendo libertada. A


experiência da liberdade é quase irresistível. Quando movo a
janela para baixo, Xavier a fecha e trava, dizendo algo sobre
um risco potencial à segurança.

Não me importo, porque o restaurante fica a apenas um


quarteirão de distância. Poderíamos ter caminhado,
realmente. É muito mais prático do que encontrar
estacionamento na cidade de Nova York, especialmente perto
do campus.
Acontece que não precisamos nos preocupar com
estacionamento, já que Xavier estaciona em uma zona sem
estacionamento sem se preocupar com o mundo.

— Nós não vamos ter um carro para voltar quando


sairmos. — Franzindo a testa, aponto para a placa que diz —
Zona de reboque.

Xavier acena com a cabeça em direção à placa da frente.


— Eles não vão rebocar este carro ou multá-lo.

Eu olho para isso. Meus olhos se arregalam quando


percebo que são placas diplomáticas. Sério? Como alguém
adquire placas diplomáticas sem realmente ser um
diplomata? A quantidade de influência que Asher tem é
impressionante. Talvez eu precise roubar um carro dele
quando tudo estiver terminado. Posso me acostumar a
estacionar onde quiser na cidade de Nova York.

O Carmen's é um bar de propriedade familiar, cujos


principais clientes são estudantes. Eu vejo muitos deles
enquanto entro. A maioria deles está reunida na área do bar,
assistindo algum jogo de esportes. Os caras estão assistindo
ao jogo, mas as meninas estão assistindo os caras. É uma
visão tão familiar que é reconfortante.

Passo completamente a área do bar e me sento em um


dos estandes no canto dos fundos. Xavier, felizmente, senta-
se em uma mesa diferente enquanto espero por Aimee. Ele
está longe o suficiente para que eu tenha privacidade, mas
perto o suficiente para que ele possa me encontrar
rapidamente se algo der errado.

— Te odeio. Você perdeu – não sei – cerca de quatro dos


nossos almoços e jantares semanais, sua puta. — Aimee se
senta à minha frente, com os braços cruzados, claramente
esperando que eu rasteje.

— Você pode culpar Asher por isso. Eu estava sendo


mantida refém. — Eu viro a mesa. — Você não pensou em vir
me salvar? — Um sorriso fugaz cruza meus lábios quando eu
zoo: — Sua puta.

Aimee revira os olhos e levanta o telefone. — Eu nem


recebi um texto SOS. Nem um único.

Ela está certa. Não queria que ela chamasse a cavalaria.


Alguns dias depois do noivado, assinei um contrato formal,
descrevendo os detalhes do meu acordo com Asher. Estou
tirando muito proveito deste acordo. Além da moradia,
comida, recomendação de emprego e roupas gratuitas, ele
está preparado para me dar um condomínio na área e um
acordo de divórcio de US $ 2,5 milhões após a nossa
separação.

Nós nos casaremos em silêncio no tribunal em algum


momento do próximo ano e nos divorciaremos um ano depois
disso. Em suma, comprometerei dois anos com esse ardil,
mas estarei financeiramente segura pelo resto da minha vida.
É uma oferta generosa, que Asher certamente não tinha que
me oferecer.
Mas estou começando a ver porque ele fez.

É a isca, e eu a mordi – anzol, linha e chumbada.

De jeito nenhum eu vou estragar isso por mim mesma,


mesmo que eu tenha que me esconder na cobertura dele
enquanto espero que algumas roupas sejam feitas. Deus não
permita que eu faça uma gafe de moda e envergonhe Asher.

Suspiro e dou a ela o pedido de desculpas que ela


merece. — Eu sinto muito. Eu realmente senti sua falta. E eu
sinto. — Quando ela era minha colega de quarto, muitas
vezes me via precisando de espaço dela. Mas agora que ela
não está, me pego sentindo falta dela. Já ouvi o ditado “Você
não sabe o que tem até acabar” antes, mas nunca soube que
isso também se aplica às amizades.

Como todas as lições da vida, aprendi da maneira mais


difícil.

Seus olhos estão brilhando quando ela diz: — Eu não


percebi o quanto você é importante para mim até desaparecer
da face da Terra.

Estou feliz que não sou só eu. Meu coração se enche


com as palavras dela, embora eu tente desviar nossa
conversa das coisas pesadas. Eu nunca fui muito boa em
falar sobre sentimentos.

— Eu não desapareci! Você poderia ter me visitado.

— Eu tentei.
— O quê?! — Eu estou irritada agora. — E eles não
deixaram você entrar?

— Não. — Um leve rubor se espalha pelo rosto dela.

Eu nunca a vi corar antes, e isso me faz sentar direito.

Ela admite: — Não consegui subir. Eu também estava


do lado de fora do prédio. Acabei de ver todos esses guardas,
e foi bastante intimidador.

Choque nem começa a descrever o que estou sentindo


agora. Aimee é a destemida entre nós duas, mas aqui estou
eu, morando em um prédio que ela tem medo de entrar.
Quando as mesas viraram em nossa amizade? Como
chegamos aqui?

— Não é tão assustador quanto você imagina. Na


verdade, é um lugar muito legal.

Seus olhos disparam cautelosamente para a mesa de


Xavier. Seu tom é gentil, mas sério, quando ela pergunta em
um sussurro: — Você está em perigo, Lucy? Você me diria se
estiver, certo? Prometo que levarei a sério.

Meu coração esquenta, não familiarizado com o cuidado,


mas gostando mesmo assim. — Estou segura, Aimee. Eu não
faria isso se não me sentisse bem. Existem contratos e
acordos para me proteger se algo der errado. A única maneira
de ver isso errado é se eu violar o contrato, o que não tenho
motivos para fazê-lo. Estou sendo bem tratada e vou ganhar
muito com isso quando acabar. Esta é uma decisão
inteligente para mim.

— Se você diz. Eu confio em você. — E então minha


melhor amiga está de volta, sorrindo e tudo. — Você já
transou com ele?

Eu faço uma careta. — Não, sua pervertida! Podemos


não nos concentrar na minha vida sexual inexistente e
conversar sobre outra coisa?

— Você mora com Asher Black há um mês e ainda não


transou?! Agora eu sei que você é lésbica.

— Eu não sou lésbica, — digo quando um garçom se


aproxima de nós. Eu o reconheço de um dos meus
laboratórios de genoma.

— O que há de errado com lésbicas? — Ele pergunta,


com um sorriso encantador no rosto, provavelmente por
pegar duas garotas bonitas falando sobre lesbianismo.

— Não há nada errado em ser lésbica. — Eu tento


manter um rubor fora do meu rosto. —Eu simplesmente não
sou uma. — Eu levanto minha mão esquerda como prova.

Todos nós olhamos o anel no meu dedo anelar. É um


belo diamante de 5 quilates, com corte princesa, avaliado nos
seis dígitos. Monica foi realmente quem me deu. Asher estava
em uma reunião em Los Angeles quando ela invadiu o quarto
e jogou a caixa de veludo sobre a cama. Ela me deu um
sorriso malicioso e saiu sem dizer nada. A coisa toda me fez
sentir pena dela.

Os olhos de Aimee se arregalam. — Uau, isso é uma


pedra.

— Então, os rumores são verdadeiros? — O garçom diz.


— Quando não te vi no laboratório, assumi o pior.

— E qual seria o pior? — Aimee pergunta atrevidamente.


Seus braços estão cruzados e ela tem um olhar defensivo no
rosto.

Eu a amo por isso.

Ele murmura: — Você sabe... que talvez ela tenha sido


reprovada ou trocado de seção de aula ou...
tenhasidomortaporAsherBlack.

— Qual foi a última parte? — Aimee me pergunta.

Ele olha para Xavier cautelosamente, virando seu corpo


para colocar mais distância entre ele e a mesa de Xavier.
Realmente não funciona, e apenas deixa Xavier mais
desconfiado. Eu o vejo se inclinando para frente, mas o
interrompo com um pequeno movimento da cabeça. Ele
assente e relaxa na cadeira.

O garçom diz, um pouco mais devagar desta vez: —


Pensei que talvez ela tivesse sido morta por Asher Black.

— E por que você acha isso? — Eu pergunto.


— Porque ele está na máfia. — Sua voz é defensiva com
uma pitada de histeria.

— Não há provas, — Aimee se intromete, como a melhor


amiga que ela realmente é.

— Eu vou comer batatas fritas e carne assada, — diz


Xavier em voz alta da próxima mesa. Ele está olhando para o
garçom, que se atrapalha e deixa cair a caneta.

— Oooh! Eu também! — Eu levanto minha mão como


uma criança, ansiosa para afugentar a tensão com boa
comida.

— Idem. — Aimee se recosta no assento. Seus braços


não estão mais cruzados e sua expressão facial está de volta
ao normal.

O cara acena com a cabeça e foge, o rosto apontado para


baixo e os ombros caídos. Eu quase me sinto mal por ele.
Faço uma anotação mental para lhe dar uma boa gorjeta.

— Então, falando de aulas perdidas, como você não foi


expulsa de Wilton? Quando perdi uma das minhas sessões de
direito comercial na semana passada, recebi um e-mail com
uma expressão severa do reitor de Jefferson. — Ela está se
referindo ao nome da escola de negócios de Wilton, a
Jefferson School of Business. — Sério, isso me fez sentir
como se estivesse sendo espancada por e-mail. — Um sorriso
de canário se estende por seus lábios vermelhos. — Você viu
o reitor de Jefferson? Eu deixaria que ele me espancasse
qualquer dia.

Quando eu nem gemo com sua mente única, percebo o


quanto senti sua falta. — Aposto que sua cabeça é apenas
um fluxo interminável de pornografia no Tumblr.

— Basicamente, e todos os tipos apresentados são


pendurados como um cavalo. E neste mundo mágico do
pornô mental do Tumblr, eu tenho seus 32 Ds triplos 20.

Cruzo os braços sobre o peito, conscientemente. — Eles


são apenas Ds triplos na Victoria's Secret. Eu juro, o
tamanho dos bojos deles é pequeno demais. Um bojo
tamanho C na Victoria's Secret é realmente um bojo tamanho
B em qualquer outro lugar.

Ela assente com a cabeça em concordância. — Muito


verdadeiro. É por isso que eu compro lá. — Ela tira a alça do
sutiã. — Tenho que transformar esses Bs em Cs da maneira
que eu puder. — Ela me dá um olhar conhecedor. — Pare de
mudar de assunto.

Ela é impossível.

— Você foi quem imaginou o seu reitor e…

— Meu reitor? Eu gosto do som disso.

— ...e o espancamento, — termino, ignorando o


comentário dela. — Mas, para responder sua pergunta, meus

20 É uma referência a tamanho de sutiã.


professores têm me enviado um e-mail com os cursos.
Entrego minhas tarefas por e-mail. Em vez de meus
laboratórios, tenho entregado ensaios com base nas
aplicações práticas das habilidades aprendidas no laboratório
da semana em questão. Quando faço um teste, um monitor
de estudantes é enviado para a cobertura com o exame e fica
sobre mim enquanto eu termino.

Eu sorrio na última parte. Quando uma das monitoras


se aproximou de mim durante um exame de estatística,
Xavier a prendeu contra a parede em segundos. Ela era
casada, mas isso não a impediu de apreciar seu toque. Pude
ver como as pupilas se dilatavam e ela pressionou o corpo
com mais força no de Xavier. Ela enviou sorrisos
paqueradores para Xavier pelo resto do período de testes.
Eles não foram devolvidos.

Aimee fica em silêncio por um momento. — São as


conexões de Asher que estão lhe dando essa facilidade, certo?

Eu concordo. — Provavelmente. Isso meio que


aconteceu. Os professores começaram a me enviar slides de
palestras, anotações e tarefas do nada, e eu nunca perguntei
como eles sabiam que eu tinha ido embora. Eu meio que
assumi que era Asher.

Há uma cautela estranha em seus olhos. — Não te


assusta que ele tenha esse tipo de influência em Wilton?

Eu entendo as preocupações dela. Eu realmente


entendo. Wilton é notório por valorizar o intelecto em
detrimento da riqueza e do poder. Eles não fazem favoritos
em Wilton, mas aqui estou eu, recebendo tratamento
preferencial por causa de minha conexão com Asher. Duvido
que alguém diga uma palavra sobre isso quando eu voltar.
Nem os estudantes, embora tenham todo o direito de
reclamar do meu tratamento especial.

Estou começando a perceber que, quando Asher faz


alguma coisa, ninguém tem coragem de questioná-lo. A única
coisa que me deixa desconfortável é a inevitabilidade
condenatória de algo dar errado. Você não pode ser intocável
para sempre.

— Não, — eu digo a ela. — Honestamente, ele não me


assusta.

Os olhos dela se estreitam. — Besteira. Eu vi você ao


seu redor. Mesmo que você esteja desejando-o, há medo lá.

Lembro-me da minha conversa com ele sobre correr. —


Claro, havia um pouco de medo a princípio. Eu teria sido
estúpida para não o temer. Mas agora, estou confortável
perto dele. Ele não tem motivos para me machucar. De fato, é
o contrário. Eu tenho um controle de proteção completo. Não
é apenas Xavier.

Nós duas olhamos para Xavier, que de alguma forma


comeu suas batatas fritas antes da carne assada. Ele já está
na metade do prato.
Eu continuo, pensando no meu aplicativo cheio de
flashcards de Asher, detalhando sua infância difícil. — Eu o
conheço melhor agora. Eu entendo por que ele é do jeito que
é. Não tenho medo dele.

E uma parte de mim nunca teve, eu percebo. A qualquer


momento desde que o conheci, eu poderia ter fugido. Eu
poderia ter fugido deste país, mas não o fiz.

Eu me pergunto se há mais nessa decisão do que minha


falta de vontade de sacrificar meu diploma. Por mais
assustador que seja admitir, minhas respostas de luta ou
fuga nunca surgiram em torno de Asher. Talvez meu
subconsciente nunca o tenha visto como uma ameaça.

Os olhos de Aimee me estudam com cuidado. — Você


gosta dele?

— Não! — Eu sou rápida em negar, mas tenho que


admitir: — Estou mais atraída por ele do que há um mês.

Os olhos dela se arregalam. — Você estava realmente


atraída por ele há um mês.

— Sim.

— Há um mês, você estava quase transando com ele na


pista de dança do Rogue.

— Sim.

— E agora você está ainda mais atraída por ele?


— Sim.

Ela se inclina para trás. — Uau. Tem certeza de que


vocês ainda não fizeram sexo?

Eu gemo e fico agradecida quando um garçom deixa a


comida, interrompendo qualquer conversa adicional. Porque
se eu estiver sendo honesta, não poderei dizer ‘não’ se Asher
perguntar. O sexo apenas tornará esse arranjo muito mais
complicado do que precisa, então eu quase espero que ele
não pergunte.

Mas, novamente, não posso manter Lucy Excitada longe


para sempre. Mais dois anos sem sexo será a minha morte.
Eu sei disso com absoluta certeza. É ainda pior que eu esteja
vivendo com o homem mais gostoso do mundo.

Sério.

Asher foi nomeado o Homem Mais Quente do Ano da


People Magazine nos dois anos em que estive fora do país. Ele
provavelmente será nomeado neste ano também.

O garçom aparece com um prato vazio para Aimee. Ela


coloca toda a carne assada no topo e apenas pega as batatas
fritas deslizando o prato para mim. Xavier se inclina e rouba
o prato, lembrando-me que ele não está apenas prestando
atenção a todos os outros no bar, mas a nós também.

Olho para as batatas fritas e a carne assada, que são


apenas queijo, feijão, salsa e guacamole agora. — Por que
você não pede apenas as batatas fritas sem a carne?
Ela levanta uma batata na boca. — Porque eles cobram
o mesmo preço, mesmo sem a carne.

— Então você pede a carne, mesmo que não a coma?

Ela encolhe os ombros. — Alguém sempre come.

Nós duas olhamos para Xavier, que já terminou de


comer o bife. Ele está examinando o bar em busca de —
ameaças em potencial. — Eu juro, essas são suas duas
palavras favoritas. Eu me pergunto o que acontecerá se ele
vir uma ameaça em potencial.

Eu vejo um vislumbre de cabelos ruivos por trás de


Xavier e gemo, porque ela é definitivamente uma ameaça em
potencial. “Bruxa Malvada à frente”.

Um olhar furioso cruza o rosto de Aimee quando ela vê


Minka com sua equipe, Nella e outra garota que eu não sei o
nome. Ainda não nos viram, mas não tenho dúvida de que
eventualmente o farão.

Minka é uma força sobrenatural da natureza. Ela


provavelmente tem um radar da equipe Aimee preso em
algum lugar daquele tamanho com o dobro do seu vestido de
verão zero.

Não sei por que ela está aqui. Não é onde ela come.
Aimee empurra sua comida para longe dela e se levanta. —
Acho que perdi meu apetite. Eu tenho que fazer xixi. — Ela se
move para ir embora, mas para quando me vê roubando seu
guacamole. Os olhos dela se estreitam. — Na verdade, não
perdi o apetite. É apenas algo que as pessoas dizem quando
veem algo nojento.

— Eu sei. — Eu sorrio e mergulho uma batata na


guacamole. — Você dorme, você perde.

Observo enquanto ela caminha para o banheiro. Uma


vez que ela está na porta e fora da vista, os altos murmúrios
no restaurante diminuem rapidamente.

Encontro a fonte do silêncio imediatamente. Asher está


aqui.
Capítulo 19

Coragem é contagiosa. Quando um homem corajoso se


posiciona, os espinhos dos outros ficam rígidos.
– Billy Graham

Asher está fazendo o caminho para mim, vestido com


um terno de três peças sob medida. O trabalho de Tommy,
sem dúvida. É tudo cinza escuro, junto com a camisa e a
gravata. Enquanto a camisa é um algodão egípcio sedoso, o
traje é uma lã leve, com um corte único e lapelas finas
escorrendo pela frente.

Uau.

Parece que ele saiu da capa da GQ. Ele devolve o calor


dos meus olhos com um olhar ardente. A gola alta que estou
usando não mostra pele, mas me sinto sexy nela. Está
apertado, e eu posso ver a aprovação de Asher enquanto ele
corre os olhos pelo meu torso, parando por mais um segundo
em meus seios, como ele fez no passado.

Ele pega o assento, olhando a comida de Aimee com


uma careta. Depois de acenar para Xavier, ele desabotoa os
dois botões do paletó e senta-se ao meu lado. Eu vejo um
flash de uma arma no coldre antes que a aba de seu terno se
feche novamente.
Quando ele desliza, sou empurrada ainda mais para
dentro da cabine até estar contra a parede. É um pouco
pequeno demais para nós dois, especialmente considerando o
tamanho de Asher, então estou inteiramente ciente da
maneira como os lados do nosso corpo são pressionados
firmemente.

Quando ele se inclina e beija minha têmpora, eu


esqueço de respirar.

— O que você está fazendo aqui? — Olho a porta do


banheiro, esperando que Aimee se apresse e volte.

— Encontrando minha noiva e sua melhor amiga para


um jantar mais cedo. Não gostaria que alguém pensasse que
há problemas no paraíso. — Ele diz a última frase
sarcasticamente antes de pegar o telefone e digitar algo nele.
Depois que ele termina, ele entrega o dispositivo para mim.

Na tela, há um artigo que diz literalmente: — Problemas


no paraíso. — Abaixo da manchete, há uma foto minha
entrando no restaurante Carmen. De repente, estou feliz por
estar vestindo as roupas de Tommy, porque, na verdade,
estou bem.

Muito bem.

Eu nem sequer considerava que os paparazzi se


interessariam por mim, mas agora estou feliz por não estar
na minha vestimenta típica, roupas de brechós, a maioria das
quais pertenceram a pelo menos três pessoas antes de
chegarem até mim.

Eu li o artigo:

PROBLEMA NO PARAÍSO?

por Justin Sider

Olá, senhoras (e senhores – também nos vemos)! A nova


noiva de Asher Black, Lucy Ives, 20 anos, foi finalmente vista
– na Cantina Carmen, sem o noivo. Esta é a primeira vez que
ela é retratada desde que os boatos se espalharam pelo
bilionário Asher Black, 25. Hmm... será que já existe
problemas no paraíso para os dois pombinhos? O que é que
vocês acham? Gostaríamos muito de ouvir seus pensamentos
sobre isso! Mas sejamos realistas, sabemos que todos vocês
cruzam os dedos, esperando que não cheguem ao corredor.

Rolo para baixo e leio alguns dos comentários mais


curtidos:

Alyssa (Downey, CA): Finalmente ele voltou a si!


Demorou o suficiente. Todos nós sabíamos que ele é bom
demais para ela.

Hannah Marie (Richmond, VA): Como se você tivesse


os bebês de Asher Black!

David (Devils Lake, ND): Eu aceitaria. Nem me importo


se terei que consolar ela também.
Aaron (El Paso, TX): Aposto que ela tem uma boca como
um vácuo para combinar com aqueles peitos de estrelas
pornôs. Estou certo ou estou certo?

Desgostosa, devolvo o telefone de Asher.

Olhando em volta, noto que Monica não está aqui,


mesmo que ela esteja com ele a essa hora do dia. É apenas
ele e um de seus principais guarda-costas, que está sentado
na mesma mesa que Xavier. Correspondendo a quadros de
Golias e com expressões sérias e pensativas, os dois são a
imagem da intimidação.

Eu volto para Asher. — Cadê a Monica?

— Enviei-a para casa durante o dia. — No meu olhar


confuso, ele acrescenta: — A atitude dela está piorando. Ela
está me dando nos nervos ultimamente. Vou ter que fazer
algo sobre ela.

— Mas você não vai.

Já teria sido feito se ele realmente quisesse. Ele não é do


tipo que espera.

Ele envia um olhar avaliador para mim. Ele envia


arrepios para cima e para baixo nos meus braços. Eu tremo
um pouco, fazendo com que uma sombra de sorriso apareça
em seus lábios.
— Eu não vou, — ele concorda. — Não é uma boa ideia
demitir minha assistente de longa data antes da votação. Não
vai dizer exatamente 'estável'.

— E depois?

— Assim que terminar, ela se vai.

Eu aceno, aliviada. Ela não me suporta, e eu não a


suporto. Eu tenho um contrato que exige que eu fique aqui
por mais dois anos. Ela não. Se uma de nós está indo, é ela.

Eu acho que ela sabe disso também, e está fazendo com


que ela seja ainda mais cruel comigo. Ela é outra Minka, só
que ela tem o poder de me machucar. Falando em Minka, eu
a vejo vindo em nossa direção assim que Aimee se senta à
mesa.

— Algo perverso vem por aqui, — digo, citando o título


do romance de Ray Bradbury.

Aimee afasta os olhos aturdidos de Asher quando Minka


se acomoda na frente da nossa mesa. Há um guincho de
cadeiras enquanto o guarda de Asher e Xavier se levantam
atrás dela. Asher balança a cabeça para os dois, que se
sentam novamente. O guarda de Asher mantém os olhos em
nossa mesa, enquanto Xavier continua examinando a
multidão.

— Minka. — A voz de Aimee é curta, mas oferece uma


saudação mais agradável do que a situação merece.
Minka tem suas garras de abutre, mas ela não está
focada em mim ou em Aimee. Ela está de olho em Asher, que
escolhe aquele momento para passar o braço em volta dos
meus ombros. Eu mantenho contato visual com ela enquanto
me mexo na minha cadeira, aconchegando-me mais perto
dele até minha cabeça descansar confortavelmente em seu
ombro.

Estamos claramente dando um bom show para ela,


porque as mãos de Minka se fecham com força em pequenos
punhos cerrados. Seus olhos se contraem e ela apenas olha
para nós. Atrás de Minka, os olhos de Nella se arregalam. A
outra garota se aperta com força no braço de Nella, sua
expressão é de estupefação.

Minka muda seu rosto para um semblante angelical. —


Ei, Aimee e Lucy. — Ela envia um sorriso doce em nossa
direção. — Nós só queríamos dizer oi. Sentimos sua falta nos
dormitórios, Lucy.

Suas mentiras são convincentes. Inferno, eu acreditaria


nelas se não soubesse melhor.

Ela olha minha camisa, seu desdém claro para mim


como um dia sem nuvens. — Eu amo suas roupas novas.
Elas parecem muito caras. — Ela sorri, então eu me preparo
para um golpe verbal. — Você conseguiu um novo emprego?
Encontrou um chefe que paga bem?

Eu estremeço com a insinuação óbvia. Ela acabou de me


acusar de ser uma prostituta. A alegação chega um pouco
perto de casa, porque enquanto Asher não está me pagando
para transar com ele, ele está me pagando para me casar com
ele.

Se estou sendo sincera, fazer sexo com Asher seria


apenas uma vantagem. Ele nem teria que me pagar por isso.
Se ele perguntasse, eu abriria minhas pernas para ele em um
piscar de olhos.

Como eu cheguei aqui?

Como eu passei de um compromisso falso a querer fazer


sexo com meu noivo falso?

Talvez seja a Síndrome de Estocolmo ou o fato de eu ter


superado meu medo dele, mas quando você se livra do medo,
Asher é engraçado e atencioso. É apenas um absurdo que ele
seja bonito em cima disso.

Ele é o tipo de homem por quem uma garota pode se


apaixonar à primeira vista, e ninguém a culparia.

Eu me tornei uma dessas garotas? Alguém cega pela


aparência? Sinto que estou no banco do passageiro dos meus
hormônios, enquanto Lucy Excitada está com o pé no
acelerador e Lucy Sã está cambaleando ao volante.

Olho de relance para Aimee. Seu rosto está chocado


demais para sua boca dizer qualquer coisa. Eu não posso
culpá-la. Também não acredito que Minka esteja dizendo
tudo isso na frente de Asher. Falando em Asher, seu corpo
ficou completamente rígido ao meu lado. Meu coração aperta
fortemente no meu peito, lembrando que a mãe dele
realmente fez o que Minka está me acusando.

Desloco uma das minhas mãos para tocar sua coxa


debaixo da mesa e lhe dou um aperto reconfortante. Fico sem
palavras quando a mão de Asher encontra a minha debaixo
da mesa, e unimos os dedos, escondidos da vista pela toalha
de mesa branca.

Minka olha para Asher, seu verdadeiro propósito por


estar aqui. — É um prazer conhecer você. — Ela sorri
paquerando, segurando um de seus antebraços com a mão
oposta, então seus seios se apertam. — Asher, certo? Eu sou
uma boa amiga de Lucy. Eu amaria conhecê-lo melhor. — Ela
pisca para ele, e a mensagem oculta é abundantemente clara.

Fico tensa quando Asher olha para ela, seu olhar se


movendo lentamente dos dedos dos pés para a cabeça. Ela
mexe um pouco sob a atenção dele, sua confiança oscilando
um pouco.

Quando ele termina de examiná-la, eu quase espero que


ele aceite a oferta dela, mas ele me choca dizendo: — Se você
vai ter duas caras, pelo menos faça uma delas bonita.

Ela dá um passo imediato para trás, esbarrando em


Nella e na outra garota. Elas tentam segurá-la, mas suas
mãos estão tremendo.
Asher não terminou. — Você tem o hábito de ser uma
cadela com a mulher que eu amo? — Todo mundo olha para
mim, fazendo-me corar sob a súbita atenção.

Asher se inclina para frente, deslocando seu corpo para


que ele a esteja olhando nos olhos enquanto diz: — Eu
conheço o seu tipo. Você não está em Wilton por um diploma.
Você está aqui para encontrar alguém para se casar. Um
otário rico do qual você pode se espreguiçar pelo resto de sua
vida parasitária. — Minka respira fundo, mas ele continua
sem piedade: — Chegue perto de Lucy de novo, e eu vou
bater-lhe tão rápido que ninguém na cidade ousará tocar em
você com uma vara de três metros. Você sabe claramente
quem eu sou. Você sabe que eu farei isso.

Há um silêncio chocado antes de Aimee quebrar com


seu riso estridente. Minka bufa e mantém a cabeça erguida
enquanto se afasta, mas eu posso ver o tremor em suas
pernas. Suas duas lacaias a seguem de perto, sem metade de
sua graça.

Eu ainda estou em silêncio, no entanto. Ninguém nunca


me defendeu assim. Logicamente, eu sei que Asher
provavelmente fez isso por si mesmo. Isso o faria parecer mal
se ele não me defendesse... Mas mesmo se ele não fez isso por
mim, não posso deixar de ser grata.

E emocionada.

Estou viva há mais de vinte anos, e é a primeira vez que


alguém me defende assim. Fico chocada quando algumas
lágrimas escorrem pelo canto dos meus olhos, rastejando
silenciosamente pelas minhas bochechas. Estou impotente
para detê-las.

Asher se vira para mim, uma careta estragando seu


rosto perfeito. — Você está bem?

Aimee parece desconfortável entre nós dois e diz: —


Acho que é hora de eu ir embora. — Ela se inclina sobre a
mesa e aperta minha mão. — Te amo, Luce.

E então somos apenas Asher e eu. E minhas lágrimas


embaraçosas.

Inclino-me um pouco, colocando alguma distância


necessária entre nós. — Eu não sei por que estou chorando.
— Eu respiro fundo e irregularmente e me forço a me
acalmar.

Quando Asher move o corpo, protegendo-me de todos os


outros no bar, fico agradecida. Eu ficaria mortificada se
Minka me visse chorando.

— Não é sobre o que ela disse, é?

Nunca deixa de me surpreender o quão perspicaz ele é.

Balanço a cabeça. Não era Minka. Estou acostumada a


ela dizendo coisas assim para mim. Inferno, ela geralmente é
mais aberta com seus comentários ofensivos. Ela
provavelmente os atenuou porque Asher está aqui.
Estou emocionada porque ele me defendeu. Eu não
posso dizer isso a ele, no entanto. Isso me deixa muito
vulnerável. Então, eu fico em silêncio, esperando-o falar.

Demora alguns minutos, mas ele finalmente fala. —


Chorei na primeira vez que Vince comprou sapatos para mim.

— O quê? — Meus olhos estão claros agora e estou


totalmente virada para encará-lo. Estou confusa com o que
ele está me dizendo, que ele está confiando em mim para me
fazer sentir melhor.

Ele solta uma risada irônica. É vazia e dolorosa. — Foi o


primeiro par de sapatos que alguém me comprou. Antes
disso, eu costumava roubá-los de vizinhos ou de lixeiras. Eu
chorei quando Vince me levou e me comprou sapatos.

Meu coração chora ao pensar em um jovem Asher,


chorando com a primeira coisa gentil que lhe aconteceu. —
Por que você está me contando isso?

Seus olhos parecem sinceros e sem julgamento quando


ele diz: — Não há problema em chorar de bondade. É a
primeira vez que alguém a defende, mas não será a última.
Eu sempre cuidarei de você, ok?

— Como você sabia... — Eu me interrompi. Claro que ele


descobriu. Este é Asher Black.

Eu ri um pouco enquanto repito as palavras que ele me


disse na segunda vez que nos conhecemos: — Você é
diferente do que eu pensava que seria.
Antes, eu pensava que ele era cruel, calculado e
perspicaz. Uma arma letal.

Eu tinha razão.

Mas eu também estava errada.

Ele é muito mais que isso.

Ele é espirituoso, protetor e, também, gentil. Essa


representação de Asher está em desacordo com muitos dos
meus equívocos anteriores sobre ele, e me vejo prometendo
deixar meu viés de ir embora. Julgar Asher pela maneira
como me trata, não pelo que as outras pessoas afirmam que
ele é.

Eu tenho preconceito desde o começo. Eu sei disso


agora.

Asher é muito mais do que conclusões precipitadas, e do


que estou aprendendo sobre ele, eu gosto muito, muito
mesmo.
Capítulo 20

Um homem com coragem faz a maioria.


– Andrew Jackson

Na semana seguinte, fico feliz em encontrar um convite


para o coquetel de networking sênior de Wilton na minha
caixa de entrada de e-mail. O evento da escola é uma
oportunidade para graduandos e graduados em ciências
conhecerem quem é quem na área médica.

É exclusivo para os seniores que se formam com grande


distinção, ou com maior distinção acadêmica. Como júnior,
eu nem deveria estar recebendo um convite. Asher
provavelmente está por trás disso, e acho o gesto
surpreendentemente doce.

É costume ir com um par, então, quando pergunto se


ele vai comigo, fico feliz por Asher concordar. Fico tentada a
perguntar como ele me conseguiu o convite, mas se algo ilegal
estiver envolvido, prefiro não saber. Por isso, um convite para
o evento de networking mais quente do campus é grande
demais para ser recusado.

No dia da festa, visto o vestido cor de vinho que Tommy


me fez, o primeiro vestido que experimentei quando ele
apareceu na semana passada. Estou me sentindo confiante
quando saio do banheiro, finalizada com minha maquiagem
leve.

Asher está saindo do closet com a cabeça baixa, mas ele


olha para cima quando me ouve. Eu fico parada quando ele
me encara, seus olhos viajando dos meus pés de salto alto
para o meu cabelo, que é puxado para um elegante coque
francês.

— Você está deslumbrante, — diz ele, o elogio soando


estranho em seus lábios, mas ainda genuíno.

Com a aprovação dele, eu me forço a não me fazer de


boba. Eu ainda consigo corar, o que faz com que ele balance
a cabeça e sorria. Ele volta para o closet e, quando sai, está
usando uma gravata da mesma cor do meu vestido. Vai bem
com o terno todo preto e a camisa branca pressionada.

Fico surpresa quando ele me entrega as abotoaduras e


levanta uma sobrancelha questionadora, a escuridão da
luxúria ainda espreita nas profundezas dos olhos. Eu já vi
Asher colocar abotoaduras pelo menos uma dúzia de vezes.
Ele não precisa da minha ajuda.

Eu sei disso, mas eu o ajudo de qualquer maneira.


Quando tiro as abotoaduras das palmas das mãos e deslizo
uma para dentro da manga, meus dedos roçam levemente
contra sua pele, e eu imediatamente sei por que ele pediu
minha ajuda.

Ele estava me dando uma desculpa para tocá-lo.


Quando chegamos ao evento, fico surpresa ao ver Minka
no braço de um homem muito mais velho. Ela faz uma careta
para mim, mas sabiamente mantém distância. Eu a vejo
enviando um olhar preocupado para Asher e me pergunto se
o encontro de Minka é um daqueles pobres idiotas que ela
está tentando cavar.

Depois do check-in, Asher e eu nos misturamos. Ele me


apresenta a muitas pessoas, e fico surpresa ao ver como ele
conhece todos esses caras poderosos do meu campo
profissional. São pessoas influentes, que parecem respeitar
Asher. Apesar de jovem, ele se mantém mais seguro de si do
que qualquer outra pessoa aqui.

Tenho orgulho de estar no braço dele.

Também sou grata pela maneira como ele toma cuidado


para me manter envolvida nessas conversas, não como um
acessório, mas como uma parceira. Ele me trata como sua
igual e, em resposta, todo mundo com quem conversamos me
dá o mesmo respeito.

Estou extasiada com todas as conexões que fiz, vou ao


bar tomar uma água com Xavier seguindo alguns metros
atrás de mim. Franzo a testa quando vejo o encontro de
Minka lá. Ele está encostado no balcão quando seus olhos
examinam o ambiente.

Há duas bebidas na frente dele. Ele joga alguma coisa –


uma pílula, talvez? – Em uma das bebidas e a mexe com o
dedo. Tropeço um pouco quando vejo para onde ele está indo,
com as duas bebidas na mão. Meus olhos seguem seu
caminho enquanto ele leva as bebidas para uma mesa a
alguns metros de distância, onde entrega a bebida com a
pílula para Minka.

Eu odeio Minka. Ela me trata mal, tem um complexo de


superioridade e está empenhada em tornar minha vida
miserável desde que a conheci. Mas ela também não merece
ser drogada e quem sabe o que mais. Não há sequer uma
dúvida em minha mente que eu tenho que fazer algo sobre
isso. E rapidamente.

Eu me viro para Xavier e digo a ele o que vi. Ele me leva


de volta a Asher antes de sair com um segurança do evento a
reboque. Eles estão indo na direção de Minka, então eu me
afasto. Ela está em mãos capazes. Eu sei que ela estará
segura agora. Não lhe devo mais nada.

— Podemos sair agora? — Pergunto a Asher, sem saber


como Minka reagirá.

Se houver uma cena e ela for humilhada, eu sei que ela


vai me culpar. Espero que isso não aconteça, mas não quero
estar aqui na hipótese de isso acontecer. Isso está apenas
pedindo problemas, dos quais eu definitivamente não preciso
na frente de pessoas que podem ser meus futuros chefes.

Asher assente. Nós nos despedimos de algumas pessoas


antes de sairmos, seu guarda seguindo de perto. Xavier fica
para trás no evento para lidar com o encontro de Minka,
então apenas nós três saímos pela porta da frente do prédio.

É uma curta caminhada de volta para a cobertura,


então pergunto a Asher se podemos caminhar antes que ele
chame seu motorista para nos buscar. Percorremos a calçada
adjacente ao Sproul Hall, onde minha aula de estatística é
realizada. Asher e eu estamos de mãos dadas, provavelmente
para manter as aparências, mas não me importo. Também
não me importo que o guarda de Asher esteja atrás de nós a
uma distância confortável.

A calçada fica em uma rua ocupada, perto de um


cruzamento movimentado. Olho sem pensar para a rua
agitada, observando o congestionamento de carros passando
lentamente no trânsito. Há ciclistas e motociclistas entrando
e saindo do trânsito, contornando os carros bloqueados.

Sorrio quando vejo uma dupla engraçada em uma


Ducati preta fosca. Há dois homens na motocicleta, mas
estão tão bêbados que mal conseguem se encaixar no banco.
Estou tentando não rir, mas uma risadinha desliza.

Asher ouve e segue minha linha de visão. Franzo a testa,


reagindo aos seus olhos estreitados. Olho para a dupla,
tentando ver o que ele está vendo naqueles olhos calculados,
quando vejo perigo e morte envoltos em um pacote elegante.

Uma arma.

O de trás prende seus olhos em mim e pega a arma.


Asher e eu reagimos ao mesmo tempo, e todo o inferno se
abre. Ele tenta me puxar para trás dele, mas eu já estou me
movendo ao mesmo tempo. Quando a bala atravessa o ar, eu
acidentalmente o empurro em sua trajetória.

Isso o atinge bem no peito.

Enquanto isso, estou agachada com segurança no chão,


protegida pelo corpo que cai. O mundo se move em câmera
lenta enquanto eu o vejo cair. De jeito nenhum ele sobreviveria
a isso, eu acho, mas estou errada quando ele chega pelas
costas com as duas mãos.

Ele puxa uma arma em cada mão e atira. Dois tiros


soam simultaneamente, movendo-se na direção dos
motociclistas que estão saindo. Uma bala atinge cada uma de
suas formas móveis ao mesmo tempo em que Asher
finalmente vai ao chão, caindo.

Em mim.

Eu o empurro de mim gentilmente, tomando cuidado


para não tocar nas armas nem no peito. Meus olhos estão
arregalados enquanto procuro seu torso com meus olhos e
dedos em busca de um buraco de bala. Eu vejo uma abertura
circular no meio da camisa dele, mas não há sangue
escorrendo.

Eu pressiono a área de qualquer maneira, porque é a


única coisa que sei fazer: pressionar a ferida.

— Porra, Lucy! — Asher se afasta da pressão firme de


minhas mãos. — Pare! Querida, pare.

Minha mente nem registra que ele me chamou de —


querida.

Eu olho para ele enquanto ele gentilmente afasta meus


dedos e esfrega seu peito. Asher rasga um pouco o tecido
arruinado de sua camisa e enfia o dedo, puxando a bala.
Meus olhos se arregalam quando vejo que a camiseta dele
nem sequer tem uma marca nela.

Mas estou tão aliviada por ele estar vivo que não penso
enquanto rastejo em seu colo e o abraço. Pode haver lágrimas
escorrendo pelo meu rosto, mas sou orgulhosa demais para
admitir. Eu me afasto, olho para o lugar no peito de Asher
onde ele foi baleado e o abraço novamente.

E então eu me inclino para trás e dou um tapa nele.

Ele pega meu pulso quando me mexo para fazê-lo


novamente. — Ei! O que foi aquilo? — Ele está franzindo a
testa para mim, um olhar de pura perplexidade em seus
olhos azuis.
— Você está vestindo um colete à prova de balas?! —
Faço um gesto para o meu vestido de cocktail. — E quanto a
mim? E se essa bala tivesse me atingido?

Eu me movo para dar um tapa nele novamente com a


mão livre, mas ele pega meus dois pulsos e os usa para me
puxar de volta contra ele. Eu ainda estou montando sua
cintura, pressionada contra seu corpo, então não consigo ver
seu rosto. Ele está tremendo, o que me faz franzir a testa.

Com cuidado, eu envolvo meus braços firmemente em


torno dele. Eu não quero que ele chore. Ele está pensando
sobre o que aconteceria se eu fosse a única atingida? É
inesperado, mas não é indesejável, aprender que eu significo
muito para ele.

Então, eu percebo que ele não está chorando. Ele está


rindo.

É um estrondo profundo, e entre as respirações, ele diz:


— O que você está vestindo é à prova de balas. — Sua risada
diminui, mas ele ainda está me segurando. — Está costurado
no espartilho e na saia do seu vestido. É do mesmo tecido
que o forro do meu terno e da camisa são feitos. — E então
ele ri novamente. — E você não teria levado um tiro de
qualquer maneira. Eu estava me movendo para protegê-la
quando você foi toda inspetor Clouseau e me derrubou.

Sinto uma sombra sobre nós e me viro para encontrar


Xavier, que agora está pairando acima de nós. Ele tem uma
sobrancelha interrogativa levantada em nossa posição. Ainda
estou no colo de Asher e ainda estamos nos abraçando.

Eu tento me mexer, mas ele me aperta mais forte. Não


consigo pensar em deixá-lo, permitindo que sua presença me
acalme. Para me fazer sentir segura novamente, porque neste
momento, ninguém mais pode, além dele.

Tudo faz sentido agora.

Asher tem me protegido desde o início. Ele não me


deixou sair da cobertura até Tommy terminar com minhas
roupas. Minhas roupas à prova de balas. Não foi porque eu
não estava bem vestida. Foi porque eu não estava vestida com
segurança.

Eu amoleço um pouco. Ele me quer em segurança.

Ele pulou na frente de uma bala para mim. Como não


posso ser afetada por isso? Eu sou só humana.

Eu sei que é íntimo, mas estou interessada em saber. É


uma curiosidade ardente e a adrenalina restante que me dá a
coragem de passar as mãos pelo peito de Asher. Eu examino
o terno dele completamente, sentindo o tecido macio debaixo
dos meus dedos. Eu acho que é idêntico ao tecido da tira do
meu vestido.

— Como isso é possível? — Eu pergunto.


— Fabricamos tecidos à prova de balas em um de
nossos laboratórios de P&D. Dou algumas amostras para que
Tommy possa fazer nossas roupas.

— Uau. Não sabia que existe roupas à prova de balas.

— Já existe há pelo menos uma década. O presidente


Obama usou um traje à prova de balas em sua primeira
posse em 2009.

Eu não respondo. Eu ainda estou em seus braços,


abraçando-o. Estou tentando permanecer o mais invisível
possível, porque não estou pronta para deixa-lo ir. Ser
baleado é surreal e ainda estou inquieta. Asher esfrega meus
braços, lutando contra os arrepios causados pelo medo e
substituindo-os por arrepios causados pela nossa
proximidade.

— O que você tem? — Asher pergunta a Xavier.


Enquanto isso, ainda estou me agarrando a ele como um
coala.

— Os dois criminosos foram amarrados.

Olho para Asher e vejo os dois caras no chão,


amarrados. Há um pouco de sangue na calçada ao lado deles,
e um deles está encolhido perigosamente baixo. O guarda-
costas pessoal de Asher está pairando sobre eles, encostado
na motocicleta, que foi puxada para a calçada oposta à
nossa.
— O que você sabe sobre eles? — Os braços de Asher
ainda estão em volta da minha cintura.

Aproximo-me ainda mais, apoiando o queixo no ombro


dele, e ele me aperta mais. Não sei se ele sabe que está
fazendo isso, porque essa posição, sentada no seu colo,
parece tão natural. Natural demais.

— Eles não têm identificação neles. Não acho que sejam


mafiosos. — A voz de Xavier parece preocupada. — Talvez
corporativa?

Eu quero zombar, porque, realmente? Que empresa


contrata alguém para isso?

— Você sabe quem de nós eles estavam atrás?

Eu me afasto dele. —Você acha que eles podem estar


atrás de mim?

Quem quereria me machucar?

Eu não sou ninguém.

— Não podemos descartar nada. — A voz de Asher é


firme, mas gentil, mas eu ainda estou tensa com suas
palavras. — Eu não vou deixar nada acontecer com você.

Fico surpresa quando ele beija minha testa. Há sirenes à


distância, cada vez mais perto, mas continuo sentada no colo
dele. Tensa. Porque se eles me consideram um alvo, podem
olhar para o meu passado.
Para Steve.
Capítulo 21

A história mostra que a coragem pode ser contagiosa e a


esperança pode ter uma vida própria.
– Michelle Obama

Não estou surpresa, os policiais foram chamados. Desde


que saímos da festa antes do jantar ser servido, ainda há
muita luz lá fora. Isso aconteceu em plena luz do dia e há
muitas testemunhas. Alguém era obrigado a chamar a
polícia.

O que me surpreende é que Asher não parece se


importar.

Xavier me dá um olhar conhecedor. — Asher atirou


neles em legítima defesa. Nós não fizemos nada ilegal, então
podemos chamar a polícia. Tudo bem se eles vierem.

— Isso realmente ajuda a provar minha legitimidade. —


A voz de Asher acaricia meus ouvidos. — Se eu ainda
estivesse na máfia, telefonaria para um limpador e
resolveríamos isso internamente. Chamar a polícia significa
que estou fora. Não tenho nada a esconder.

— Oh, — digo, ao ver o primeiro carro da polícia na


esquina e estacionar na calçada.
Dois oficiais uniformizados saem e suas armas são
sacadas enquanto caminham em direção ao guarda de Asher,
que levanta as mãos em sinal de rendição. Outro veículo não
identificado aparece e o homem e a mulher que saem e
seguem em nossa direção estão vestindo roupas comuns.
Eles devem ser detetives. Atrás deles, os atiradores estão
sendo carregados em uma ambulância que acaba de chegar.

— Sr. Black, — o mais velho dos dois detetives nos


cumprimenta.

Desço do colo de Asher o mais graciosamente possível,


permitindo que Xavier me ajude a levantar. Quando Asher se
levanta, a detetive olha o buraco na camisa com cautela. Ao
seu olhar, ele lhe entrega a bala esmagada como prova. Ela
tira uma luva de látex do bolso e a usa para colocar a bala
em um saquinho Ziploc. Observo enquanto ela rabisca algo
na sacola com uma caneta preta.

— Vocês dois podem nos dar suas declarações? — O


detetive masculino pergunta. — Separadamente?

Eu vou com a detetive, Xavier logo atrás. Ele fica a uma


distância suficientemente segura, mas ainda permanece
próximo. A policial envia a ele um olhar desconfiado, e ele nos
dá mais alguns metros de distância.

A detetive começa a me interrogar, seu tom é uma


mistura estranha de firme e gentil, mas sou capaz de
responder a todas as perguntas dela com facilidade. Exceto
uma.
De quem eles estavam atrás?

Estou me sentindo culpada quando me aproximo de


Asher depois que terminamos de ser interrogados. A multidão
se reuniu em torno de nós, e paparazzis estão estacionados
atrás da barricada policial, obviamente nos fazendo
perguntas. De jeito nenhum isso vai ser boa imprensa para
ele.

— Desculpe, — eu digo quando o alcanço.

— Pelo quê? Não é sua culpa que levamos um tiro.

Eu dou de ombros. — É minha culpa que estamos aqui.


Ainda assim, foi muito gentil da sua parte me levar para o
evento hoje à noite. Eu realmente apreciei o convite.

Asher endurece, e seu rosto fica obscuro. — Eu não te


coloquei nesse evento. Do que você está falando?

Eu vacilo. — E-eu recebi um convite através do meu e-


mail. É um evento de networking sênior, e eu sou um júnior.
Eu pensei que você tivesse algo a ver com o convite, que
talvez você tenha puxado algumas cordas para mim. — Faço
uma pausa, olhando sua carranca. — Se você não fez, então
quem fez? — Asher passa o olhar por mim, vendo minha
aparência desgrenhada. Seus olhos são de um azul marinho
gelado quando ele diz: — Eu não sei. É isso que precisamos
descobrir.

Não me choca ao saber que tenho problemas para


dormir naquela noite. Não são imagens do tiroteio que estão
atormentando minha mente, no entanto. Assim que fecho
meus olhos, sonho com Steve na beira da minha cama.

Eu já tive esse sonho antes. Faz um tempo, mas assim


que estou imersa no quarto familiar, sei o que vai acontecer.
Este sonho é uma réplica do que aconteceu na vida real,
exceto que nos meus sonhos, há dois Steves.

Eu sempre sou incapaz de me mover enquanto um


permanece ao pé da cama, acariciando-se, e o outro se
aproxima de mim, sua mão estendendo para tocar meu
corpo. Esta é a parte em que geralmente acordo e fico super
imóvel com os olhos fechados, convencida de que, se eu os
abrir, verei os dois Steves lá. E eles me dirão qual deles é real
– quem não me toca ou quem toca. Eu sempre espero que
seja o primeiro, mas estou com muito medo de perguntar.
Não conhecer se tornou um tormento próprio, sem dúvida um
subproduto da minha covardia.

Desta vez, quando acordo, mantenho meus olhos bem


fechados, como sempre faço. Mas quando sinto a cama
mergulhar, eles se abrem em alarme, relaxando
instantaneamente quando se prendem ao rosto preocupado
de Asher. Ele paira por perto antes que eu diminua a
distância, aconchegando-me na segurança de seus braços,
lembrando de como me senti protegida quando ele me
abraçou após o tiroteio.

— Pesadelo? — Ele pergunta.

Concordo, mas não digo nada, deixando-o assumir que é


do que aconteceu hoje cedo. Não vou contar a ele sobre as
perguntas não respondidas que tenho sobre o Steve que gosta
de assistir e o Steve que gosta de tocar.

— Se eu deixar você dormir na cama, podemos não


conversar sobre isso amanhã? Ou nunca?

Há uma gargalhada em seu peito antes que eu o sinta


me puxar mais forte contra ele. — Sim, Lucy. Eu só quero
que você durma bem.
Falto metade do meu laboratório na manhã seguinte.
Dormir nos braços de Asher foi tão confortável que dormimos
até mais tarde do que normalmente. Ajuda que Monica não
tenha entrado às 5 da manhã para acordar Asher como ela
costuma fazer.

Talvez ela tenha decidido deixá-lo descansar depois de


levar um tiro no peito. Ou, talvez, ela tenha perdido as
chaves.

Ou, talvez, com os dedos cruzados, ela finalmente esteja


repensando seu trabalho aqui. Quem sabe o que passa pela
mente daquela mulher?

Quando chego ao laboratório, já passou uma hora e


restam apenas mais duas horas no período da aula. Eu já
estou me sentindo estranha depois de perder tantas aulas
sem uma repreensão, então, quando eu apareço, aceito meu
castigo como uma campeã, nem sequer me preocupando em
perguntar por máquinas no laboratório. Um aluno normal
não conseguiria uma, então é justo que eu também não.

Há olhos em mim quando começo a extrair o DNA de um


tomate para PCR. Levará quase duas horas na máquina até
que a ciclagem térmica esteja concluída e, nesse período, o
tempo de aula terminará. Eu faço de qualquer maneira, para
que eu possa obter pelo menos pontos de participação
parcial.

A redação deste laboratório, que não posso prescindir


dos dados de um laboratório completo, vale quinze por cento
da minha nota geral na classe. No máximo, receberei metade
do crédito, o que significa que a nota mais alta que posso
obter na classe agora é de 92,5%. E isso pressupondo que eu
obtenha uma pontuação perfeita em tudo o mais que recebo
pelo resto do semestre.

A 93% é um A–. Preciso de um GPA de 3,7, que é uma


média A, para manter minha bolsa de estudos. Eu tenho
corrido direto para o As, porque conseguir um A– é um pouco
perto demais de ter meu GPA cortado para o meu gosto. Eu já
tenho emoção suficiente com Asher na minha vida.

O que basicamente significa que isso é péssimo, e a


queda garantida do meu GPA é suficiente para afundar meu
ânimo. Entre o tiro, o pesadelo e a universidade, estou com
um humor realmente de merda.

É quase o suficiente para me fazer repensar toda essa


farsa.

Quando entro no Rogue, deixo Xavier falar com alguns


de seus amigos guardas sobre o que quer que os seguranças
super-aficionados gostam de falar. Provavelmente sobre
quantas pessoas eles mataram e como se safaram. Xavier
olha como se ele tivesse pelo menos uma dúzia no currículo.

Há apenas um guarda em frente à escada que leva ao


andar VIP quando me aproximo da parte inferior. Está no
meio do dia, portanto não está funcionando. A música não
está ligada e as dançarinas não estão no palco, mas a
segurança certamente está presente. Há ainda mais guardas
do que normalmente há, o que não é surpreendente, dado o
tiroteio que aconteceu alguns dias atrás.

Quando chego ao guarda, um dos Romanos, ele sorri e


diz: — Deixe-me adivinhar. Modelo? Atriz?

— Noiva.

Passei por ele, ignorando seus olhos arregalados. Eu o


sinto seguindo atrás de mim, então eu acelero meu ritmo até
que eu estou praticamente correndo nas escadas.

Quando ele me vê, os olhos de Asher se arregalam. —


Lucy? Uau! O que aconteceu? Houve outro tiro...

— O que diabos há de errado com você? — Eu exijo.

Seus olhos ficam cautelosos, e eles cortam para o


guarda que me seguiu lá em cima. Espero impaciente, meu
pé direito tocando um ritmo rude no chão, enquanto ele
balança a cabeça para o cara, que silenciosamente se afasta
de volta pelas escadas.
Quando os olhos de Asher voltam para mim, ele diz
cautelosamente: — Eu? O que eu fiz?

— Meu laboratório, Asher. — Cruzo os braços e tento o


olhar feroz no rosto.

Espero que seja assustador, porque a blusa rosa pastel


que eu uso não grita exatamente: TENHA MEDO. Embora ele
devesse estar assustado, porque eu estou chateada agora. Eu
posso praticamente sentir minhas células zumbindo em pura
raiva.

Tento não gritar, mas eu faço de qualquer maneira. —


Meu maldito laboratório!

— Oh. — O rosto dele relaxa. — De nada.

— De nada? Você está brincando comigo? É o que você


me diz depois de interferir nas minhas notas?

— O que... — A mandíbula de Asher cai um pouco. —


Você está brava com isso?

— Claro, eu estou brava, — embora minha raiva esteja


se dissipando rapidamente. Agora estou cansada, e com isso
vem uma nova vulnerabilidade. — Wilton é a única coisa
valiosa que tenho na minha vida que é completamente
minha, e já está contaminada.

— As pessoas me encaram quando eu entro na sala de


aula agora e sei que estão com raiva de todo o tratamento
especial que estou recebendo. Eles não dizem nada, porque
você é você, mas eu sei que eles estão pensando. Eu nem os
culpo. Eu não posso culpá-los. O tratamento especial que
estou recebendo é injusto para eles. Isso é um fato.

— A pior parte é que eu não posso nem recusar sua


ajuda, porque sem ela, sou apenas uma garota aleatória que
perdeu dezenas de aulas e merece ser suspensa, sem
mencionar que minha bolsa seria revogada.

— Mas isso? Esta máquina de laboratório? Não pedi


para você me ajudar com isso. Eu poderia ter levado o golpe
ao meu GPA. Eu mereço levar o golpe.

Os olhos de Asher suavizam. — Eu sinto muito. Eu


apenas pensei... foi minha culpa que você dormiu demais e
falhou no laboratório, então eu consertei.

Ele ainda acha que eu fiquei acordada a noite toda com


pesadelos sobre o tiroteio – não os dois Steves.

Eu não o corrijo.

— Esta é a minha vida, Asher! Minha. Não há nada para


ser 'consertado', especialmente por você. — Suspiro,
forçando-me a liberar minha raiva residual, já que seu
coração estava no lugar certo. — Olha, eu sei que você
pensou que estava fazendo a coisa certa, mas eu apreciaria
se, a partir de agora, você não interferisse na minha vida
mais do que o necessário.

— E os aspectos que eu preciso interferir?


— Não há nada em que você 'precise' interferir.

— Estamos noivos, Lucy. Existem aspectos da nossa


vida que estão entrelaçados.

— Consulte-me primeiro.

Ele olha para mim, seus olhos olhando para o meu rosto
e depois para o meu corpo. Eu luto para controlar a reação
do meu corpo à leitura dele.

Asher assente rigidamente. — Bem.

— Bem.

— Bem.

Eu reviro meus olhos. — Eu não estou fazendo isso com


você, Asher.

Um sorriso de menino se forma em seu rosto. — Bem.

Eu não me incomodo em responder. Eu me viro e vou


embora.

Mas meu coração está batendo forte, porque mesmo que


eu não queira a ajuda dele, ele se esforçou para fazer algo de
bom por mim.

E caramba, se isso não me faz gostar um pouco mais


dele.
Capítulo 22

O sucesso não é final, o fracasso não é fatal: é a coragem de


continuar que conta.
– Winston Churchill

Minha mandíbula cai ao ver o par na nossa frente.


Asher e eu estamos em sua cobertura, cercados por sua
equipe de segurança. Todos os vinte e seis deles. À nossa
frente, há um homem e uma mulher que se parecem com
Asher e eu. Claro, existem algumas diferenças visíveis, mas
de longe, ninguém será capaz de nos diferenciar.

Eu estudo minha doppelgänger (cópia) feminina. Ela se


parece comigo, mas não completamente. Enquanto meu peito
é mais cheio e eu sou um pouco mais alta, ela é muito mais
pálida do que eu. Ela também tem menos cabelo e tem olhos
escuros e afundados.

A cópia de Asher tem a mesma altura que ele, mas os


olhos são castanhos, seu cabelo é loiro e suas orelhas
também não estão certas. Ele também está usando óculos de
leitura grossos e está pulando pela sala como se ele estivesse
mudando de ideia. No entanto, quando vi suas pupilas, elas
pareciam bastante normais.
Quando os dois são conduzidos a uma equipe de
estilistas, puxo Asher de lado. — Eles sabem o que você está
pedindo deles?

Eu tento não corar enquanto Asher estuda meu rosto.


Quase morremos juntos, e ele usou seu corpo para proteger o
meu. Eu não ligo que ele estava usando um terno à prova de
balas. Ainda foi incrivelmente corajoso, um ato de bravura
que nunca em um milhão de anos teria imaginado alguém
fazendo por mim.

As poucas preocupações que tive sobre Asher


evaporaram depois disso. Em seu lugar há o respeito. Eu
respeito Asher pelo tipo de homem que ele é para mim.
Respeitar um homem que acho atraente é um território
perigoso.

Se não tomar cuidado, posso começar a desfocar as


linhas desse relacionamento. Já estou muito mais consciente
do corpo dele do que nunca, lutando para encontrar razões
válidas para não perseguir um homem que arriscaria sua
vida pela minha. Não ajuda que eu saiba como é ser beijada
por ele.

Asher suspira. — Eles conhecem os riscos. Damien é um


viciado em adrenalina. Ele é doido por essa merda. Caroline
tem câncer. Ela está morrendo e não pode fazer nada sobre
isso, mas os dois milhões de dólares que estou pagando a ela
ajudarão a família que ela vai deixar.

Meus olhos se arregalam.


Dois milhões de dólares?!

É isso que vale uma vida?

É quanto vale a vida dele ou a minha? Ou as figuras que


estão disfarçadas no meio?

Eu aceno para Asher. Não posso julgá-lo por isso. Como


sempre, ele está certo. Caroline e Damien sabem o que estão
fazendo. Ele não está enganando-os ou algo do tipo. Ainda
assim, uma parte de mim não consegue entender o fato de
que eles estão prestes a arriscar suas vidas por nós.

— Ei. Venha comigo, — Asher diz gentilmente.

Ele me leva escada acima para o nosso quarto. Uma vez


que a porta está fechada, ele me apoia na parede, suas mãos
pressionadas em ambos os lados do meu rosto. Eu deixei,
porque eu preciso do conforto agora. Eu preciso saber que o
que estamos fazendo não é errado e imoral.

Seus olhos azuis olham nos meus, procurando por algo,


embora eu não tenha certeza do que. — Não se sinta mal com
isso. A decisão é deles. Não estamos forçando-os a fazer nada,
ok?

É difícil processar o que ele está dizendo quando


estamos em uma posição tão íntima, mas sei que isso é
importante. Isso precisa ser dito.

— Eu só... eu não posso me conter, mas sinto que eu


deveria estar fazendo isso. Não Caroline.
— Não. — A dureza em sua voz é chocante. — Nem
pense nisso, Lucy. Entre a sua vida e a dela, a sua é a que
importa. Toda. Vez.

— Porque, ela está morrendo?

— Porque você é minha.

Meus olhos se arregalam, e eu instintivamente dou um


passo para longe dele, mas já estou presa contra a parede.
Eu o estudo, tentando decifrar o que ele quis dizer com isso.
Seus olhos estão inexpressivos, e eu não posso lê-los, então
fico tirando minhas próprias conclusões.

E minhas emoções estão em guerra com a lógica.

Se eu sou dele, ele é meu?

Pare o que você está pensando.

Eu não posso evitar.

Ele não quer dizer isso.

Mas e se ele disser?

Você não é realmente dele.

Ele apenas me disse que eu sou.

Isso não é real.

Parece tão real para mim.


Eu solto uma respiração instável. — Você não pode
simplesmente dizer coisas assim.

— Eu não posso? — Há diversão em seus olhos.

— É confuso.

Como quando você sai do seu caminho para me ajudar


com a universidade.

E deita-se na cama comigo porque estou tendo um


pesadelo.

E fica na frente de uma bala por mim.

E me defende de Minka.

E sussurra no meu ouvido que você fará qualquer coisa


por quem ama.

Seus olhos caem nos meus lábios e ele abre a boca para
dizer algo, mas algo no meu rosto o faz parar. Em vez disso,
ele assente e dá um passo para trás. Asher me leva para
baixo, onde sua equipe de segurança está esperando.

Eles estão revisando o plano novamente, então eu os


deixo em paz, entrando na cozinha para uma garrafa de
água. Eu não preciso de uma recapitulação. Minha parte do
plano é bem simples de qualquer maneira. Eu só tenho que
ficar aqui com Asher, Xavier e alguns outros guardas
enquanto Caroline e Damien saem em público, fingindo ser
nós.
Lembro-me da minha conversa com Asher mais cedo.

— É um Cold Charlie21. Você coloca seu capacete no final


do seu rifle sniper. Alguém atira e você remove o capacete.
Então, você atira. É um Cold Charlie.

— Sniper americano? Isso acontece apenas em um filme,


Asher."

— E em um livro, mas isso não o torna menos


verdadeiro."

Estamos tentando atrair mais atiradores, para sabermos


qual de nós eles estão mirando. Se Caroline e Damien
permanecerem realisticamente próximos, mas afastados o
suficiente para que um tiro atinja o alvo pretendido,
saberemos quem eles estão procurando.

Asher tem um detetive particular que rastreou quem


contratou o atirador. Então, até que ele descubra isso, o
melhor que podemos fazer é descobrir qual de nós é o alvo
pretendido. E, aparentemente, a maneira mais rápida de fazer
isso é atrair os atiradores.

A equipe de Asher já fez uma rota para nossos


doppelgängers (cópias) seguirem. A maioria dos guardas de
Asher os seguirá discretamente, na esperança de capturar os
novos atiradores. Enquanto isso, três guardas ficarão na sala
de segurança comigo, juntamente com Xavier e o guarda
pessoal de Asher. Vamos monitorar a situação a partir daí,

21 Um Cold Charlie é como se fosse um alvo utilizado para chamar a atenção da linha de fogo de um
atirador utilizado para saber onde ele está localizado, para confundir os atiradores.
usando imagens ao vivo de alta definição das câmeras
corporais em miniatura acopladas a todos os guardas,
Damien e Caroline.

Quando me aproximo de Asher, ele alcança atrás dele e


enfia um dedo no meu cinto, puxando até que eu esteja ao
seu lado. É um gesto íntimo, mas não inesperado. Desde o
tiro há alguns dias, ficamos mais conscientes um do outro.

Mesmo tendo Xavier, Asher mal saiu do meu lado. Ele


até foi a aulas comigo algumas vezes nesta semana. Sempre
que íamos, Asher usava moletom preto e um capuz preto
para manter o perfil discreto. Sentávamo-nos nos cantos
escuros da sala, escondidos da vista, enquanto eu tentava e
falhava em prestar atenção aos professores.

Para ser justa, Asher de terno é sexy como o pecado,


mas Asher de moletom? É mais provável que eu vá para o céu
do que encontrar um homem mais quente que ele.

— Ainda estamos esperando cabelos e maquiagem, —


diz Asher.

Eu olho para o grupo, observando que há uma pessoa


faltando. — Cadê a Monica?

— Isso é importante para saber. Apenas o pessoal de


segurança e minha família sabem.

E eu.
Eu tenho que perguntar: — Você tem certeza de que isso
não está relacionado à máfia?

— Eu não estou mais na máfia, Lucy.

No entanto, ele pediu a Vincent Romano essas duplas, e


Vince as entregou em tempo recorde. Como é possível
encontrar uma cópia de aparência tão rapidamente?

— Mmhmm, — eu digo, dando de ombros, mas é claro


que eu não acredito em Asher.

Seu dedo se solta do meu jeans e ele dá um passo para


o lado, colocando mais distância entre nós dois.

Eu já sinto falta do seu toque.

— Isso é surreal, — digo, olhando para a tela com


admiração.

Asher está do lado de fora da sala, enquanto eu estou


na sala de segurança com Xavier, o guarda pessoal de Asher
e o guarda novato, que eu suponho que não seja mais um
novato. Nós estamos olhando para a tela, onde Caroline e
Damien estão andando em uma boutique na 5th Avenue. Eles
têm as mãos ligadas juntas e parecem um casal feliz.

Eles estão vestidos com nossas roupas à prova de balas,


embora os dois não saibam que são à prova de balas.
Aparentemente, isso é divulgado apenas com base na
necessidade de conhecimento “por razões de segurança”.
Juro que, se ouvir “por razões de segurança” mais uma vez,
darei a eles um motivo de segurança.

Em vez de lhes contar sobre o tecido à prova de balas,


Asher deu a Damien e Caroline coletes à prova de balas
superfinos para irem sob suas roupas, mesmo que eles não
precisem da camada extra de proteção. Damien não parecia
se importar, mas Caroline estava tremendo como uma folha
antes de sair, e o colete está fazendo maravilhas para acalmar
seus nervos.

Observo Caroline pegar um vestido e segurá-lo contra


seu corpo, fingindo ver se fica bonito ou não nela. O tecido
cobre sua câmera corporal. Temos mais onze câmeras nela e
doze em Damien, graças aos guardas atrás dos dois.

Ainda não consigo acreditar nas semelhanças entre eu e


Caroline e Asher e Damien. Embora demorasse quase duas
horas, a equipe de cabelos e maquiagem fez maravilhas com o
nariz e o queixo protéticos que prenderam no rosto de
Caroline. Eles também deram a ela uma peruca artesanal que
é idêntica ao meu cabelo e parece incrivelmente real. Com um
sutiã e óculos escuros, ela se parece comigo.
Damien também parece muito com Asher. As próteses
ajudaram a corrigir as diferenças em suas orelhas. Ele
recebeu lentes de contato, um corte e um pouco de tintura de
cabelo. Ele também usa maquiagem para se bronzear. No
traje de Asher, há uma estranha semelhança com ele.

Vince fez um ótimo trabalho ao escolher esses dois. Eu


me pergunto como ele fez isso. Existe um mecanismo de
pesquisa subterrânea para esse tipo de cenário? Como o
Google para os condenados e enlouquecidos? Eu imagino o
histórico de pesquisas na Internet na minha cabeça.

Histórico do Navegador

www.UmaConversaDiretaComODiabo.com/search=como
+despejar+um+corpo/

www.BeelzebubSabeSobreABesta.com/pesquisar=como+
conjurar+uma+doppelganger/

www.ConselhoDeVidaComLucifer.com/pesquisar=como+
falar+com+uma+voz+durona+como+o+Batman/

www.OJornalDoDiabo.com/pesquisar=então+ele+está+n
a+minha+ou+não/
www.PergunteParaODiabo.com/pesquisar=Oh+merda+e
u+acho+que+gosto+dele+oque+eu+faço+foda-se+foda-se+foda-
se/

Ok, as duas últimas pesquisas podem ser como meu


histórico de pesquisas. E supor que Vince receba seu
conselho da Internet com o Diabo não é justo.

Vince, Bastian e Asher – os únicos mafiosos que eu


realmente conheço – foram muito legais comigo. Só estou
sofrendo de falta de vontade em segunda mão, cortesia de
Monica, que ligou para Asher há alguns minutos e exigiu
saber onde ele está e por que não está na agenda dela. Ele
ainda está do lado de fora da sala de segurança, conversando
com ela quando deveria estar aqui.

Na tela, Caroline pega um lenço aleatório da prateleira e


o compra. Depois de ensacados, eles saem novamente. Essa é
a parte que me deixa mais tensa. Caroline e Damien estão
expostos, e tudo pode acontecer com eles em campo aberto.

Esta é provavelmente a décima quinta loja em que eles


estiveram e estão ficando sem mãos para carregar as sacolas.
Se algo vai acontecer, tem que acontecer agora. Caroline e
Damien não podem continuar comprando para sempre. Eles
precisam parar eventualmente, e é quase a hora.

Eu me inclino contra Asher assim que o sinto se


acomodando ao meu lado. O contato diminui minha tensão, e
eu me deleito com a sensação de seu polegar roçando meu
braço. Assistimos juntos enquanto Caroline e Damien saem
da calçada e atravessam a rua.

Quando eles alcançam o meio da faixa de pedestres, nós


os perdemos de vista brevemente nos monitores, na
movimentada rua de Nova York cobrindo a saída. Estou
esperando pacientemente pelas ruas limparem quando um
único tiro dispara. Asher e eu nos inclinamos para a frente ao
mesmo tempo, nossos olhos examinando todos os monitores,
tentando encontrar um com uma visão clara de Caroline e
Damien, mas não há uma.

Há apenas caos em todos os lugares, enquanto os


pedestres lutam, correndo em todas as direções.

Não sei dizer de quem é o áudio, mas ouço alguém


gritar: — Ataque terrorista!

Isso só piora o caos.

Mas então eu vejo, uma pequena brecha na multidão.


Há um corpo no chão, e fico surpresa ao perceber que é de
Caroline. Ela está deitada no chão, os braços segurando a
barriga sobre o vestido à prova de balas.

A evidência está lá, bem diante dos meus olhos, mas eu


mal posso acreditar. Eu sou o alvo.
Capítulo 23

Erros são sempre perdoáveis, se alguém tiver a coragem de


admiti-los.
–Bruce Lee

Acontece que estar com Asher é mais fácil do que eu


pensava que seria. Depois que soubemos que sou o alvo,
ambos concordamos que um bloqueio é a rota mais segura.

Infelizmente, também houve sussurros da votação,


então Asher teve que agir. Ele acabou iniciando uma nova
linha de hotéis na Black Enterprises.

Por ser o especialista residente em direito imobiliário e


ter mais conexões, essa é a melhor decisão. Isso o torna
inestimável para a empresa, então eles tiveram que adiar o
voto até o início do próximo trimestre de negócios.

Mas procurar por novos hotéis também significa que ele


tem viajado muito ultimamente, então raramente está em
casa. Mas quando ele está aqui, é mais fácil estar por perto
do que eu esperava inicialmente.

Temos uma coisa legal de colega de quarto acontecendo


aqui, onde nos deixamos em paz até a hora de dormir chegar.

Desde que eu o deixei dormir na cama depois do meu


pesadelo, ele não voltou para o chão. E não vou pedir para
ele. Depois de fazer muito, dormir com ele não é mais
estranho. Eu realmente gosto disso. Não me importo com
isso, mas gosto do toque dele à noite e até sinto falta quando
ele vai embora.

Às vezes, eu cozinho quando ele está na cidade e vamos


comer juntos. Mas ele trabalha principalmente quando está
em Nova York, então nosso contato é mínimo, geralmente
limitado a noites no quarto, onde ele vem me abraçar para
parar de me mexer. Às vezes eu jogo e viro apenas para que
ele me toque. Estou jogando um jogo perigoso, mas anseio
por seu toque e, com todo o tempo que passamos separados,
aceitarei o que puder.

Na verdade, estou começando a me perguntar como


nossa falta de tempo gasto juntos está parecendo para o
público e as pessoas com quem devemos vender esse
relacionamento. Só fomos fotografados juntos três vezes e
nem sequer estávamos tecnicamente em uma das fotografias.

A primeira vez foi quando saímos da Cantina de Carmen


juntos. É a única imagem normal de nós. Estamos de mãos
dadas e estou sorrindo para ele com um sorriso bobo no
rosto. Na semana passada, vislumbrei o telefone de Asher e o
vi como o papel de parede da tela inicial e da tela de bloqueio.

Ele deve me odiar. Eu juro. Essa é a única razão pela


qual ele colocou uma foto minha parecendo uma idiota como
plano de fundo. Eu tenho que dar crédito a ele, no entanto.
Ele está realmente vendendo essa coisa toda de noivo.
A segunda vez que fomos fotografados juntos foi uma
foto totalmente sem vergonha de mim sentada no colo de
Asher após o primeiro disparo. Nele, existem lágrimas feias
escorrendo pelo meu rosto, e Asher parece que ele está
prestes a cometer um assassinato de primeiro, segundo,
terceiro, quarto e quinto grau.

O assassinato em quinto grau é quando você faz contato


visual com Asher enquanto ele tem um olhar furioso no rosto,
e você fica atordoado até a morte por sua gostosura. É como
se petrificar ao fazer contato visual com o Basilisco em Harry
Potter e a Câmara Secreta, a diferença é que Asher é lindo e
veio de uma vagina, em vez de um ovo de galinha chocado
sob um sapo. (Sim, todos nós sabemos o que você fez, Herpo,
The Foul22.)

A terceira foto é de Caroline, vulgo Lucy Falsa, no chão,


uma mão sobre o estômago, enquanto Damien, também
conhecido como Asher Falso, segura sua mão enquanto
esperam a chegada de uma ambulância. Alguém está pisando
no cabelo da Falsa Eu, e Asher Falso parece que está se
divertindo. É uma imagem estranha, e espero que ninguém
nunca nos peça uma explicação.

Mas, no que diz respeito à mídia e a todos os outros,


Caroline/eu sobrevivemos porque ela/eu usava um colete à
prova de balas debaixo do meu vestido – não roupas à prova
de balas. Ainda não sei por que Asher está tão quieto com as
roupas à prova de balas.

22 É um personagem de Harry Potter.


A parte mais louca é que essa imagem foi espalhada por
toda a mídia social, e as pessoas ainda pensam que somos
nós. Quando descobri que tínhamos nos tornado virais, eu
quase tive um ataque cardíaco, perguntando se Steve já viu.
Mas aquela cabra velha teria que aprender a usar a internet
primeiro, e isso nunca acontecerá...

Certo?

Estou na sala de estar com Eduardo, meu chamado


tutor de todas as coisas relacionadas ao WASP, quando Asher
desce a escada com uma mala na mão e um livro na outra
mão. Inclino minha cabeça um pouco para ler o título. Bela
Adormecida no Século 21: Um Conto Moderno.

Eu bufo, fazendo com que ele estreite os olhos para


mim. Eu recuo lentamente quando ele se aproxima de mim.
Os livros que estou segurando acima da cabeça balançam
perigosamente.

Eduardo está me ensinando a andar corretamente de


salto, o que aparentemente envolve usar meu crânio como
seu estante pessoal. Dois dos livros são dicionários, o que é
irônico, considerando que as únicas palavras que Eduardo
parece saber atualmente são “Droga, Lucy!” e “Endireite sua
coluna!”.

— Droga, Lucy! — Eduardo me castiga. — Endireite sua


coluna! — Entendeu o que eu quis dizer?

Eu suspiro irritada, meus olhos cautelosos ainda


focados em Asher enquanto ele segue meu caminho com um
raro olhar travesso em seu rosto. Ao longo de muitos meses
morando juntos, aprendi que Asher pode ser brincalhão
quando somos apenas nós.

Então, eu sou justificadamente cautelosa quando ele


avança em mim, mesmo sabendo que ele não fará nada
ridículo demais com Eduardo assistindo.

— Sim, Lucy. Endireite sua coluna, — zomba Asher.

E então o filho da puta coloca seu livro de capa dura na


minha cabeça e se dirige para a porta.

Eu oscilo em pequenos círculos estranhos, tentando


impedir que os livros tombem. Este é o meu recorde mais
longo até agora, e Asher está prestes a arruiná-lo.

Por não poder me conter, grito: — Asher! — Fico


satisfeita quando ele faz uma pausa na porta, de costas para
mim. — Tem certeza de que não quer seu livro de volta? —
Eu sorrio diabolicamente. — Você não quer descobrir se a
Bela Adormecida do século XXI acorda?
E, claro, é aí que os livros precisam cair, terminando
meu retorno no clássico estilo Lucy. Juro que o ouço rindo
quando ele sai para o corredor.

E porque sou uma seiva condenada, o som melodioso


voa direto para o meu coração e envia um sorriso secreto
para o meu rosto.

Uma hora antes do meio dia, Eduardo volta para casa,


deixando-me com uma enorme dor de cabeça, uma dor no
pescoço e nos pés. Odeio os dias em que tenho que equilibrar
os livros na minha cabeça com saltos altos, mas até tenho
que admitir que sou profissional de salto agora, capaz de
andar neles melhor do que a maioria das modelos de pista.

Eduardo ficou horrorizado quando nos conhecemos há


cerca de um mês, nem sequer hesitando em me informar que
a maioria de suas clientes de cinco anos é mais talentosa em
etiqueta de caminhadas e de mesa do que eu. Depois de três
aulas semanais de expectativas de pessoas ricas, gosto de
pensar que sou agora sua pupila estrela. Ele nunca admitirá
isso, mas eu sei que ele gosta de mim... desde que minha
coluna esteja reta.
Monica entra quando estou prestes a subir para um
banho muito necessário e relaxante. Infelizmente, ela não
desistiu. E ela ainda tem o hábito desagradável de entrar aqui
sem bater como se fosse dona do lugar. Não tenho ideia de
como Asher pode tolerar isso, mas, além da nossa conversa
há muito tempo, sobre como não é uma boa ideia demití-la
agora, ainda não o ouvi comentar sobre isso.

— Arrume-se. Você vai sair com Asher em uma hora


para um evento de caridade, — ela diz antes de ir para a
porta sem se despedir.

Eu franzi a testa. Asher saiu com uma mala algumas


horas atrás. Ele deveria estar em um avião para Dubai. No
mês passado, Asher viajou para Los Angeles, Hong Kong,
Londres, Bahamas e, agora, Dubai. Bem, acho que não, já
que estamos indo para um evento de caridade.

— Espere! — Eu grito quando a mão de Monica se


conecta com a maçaneta da porta.

Ela faz uma pausa, mas não se vira, fazendo-me pensar


se ela pegou isso de Asher.

Eu franzo a testa para ela. — Qual é o evento de


caridade?

— Uma partida de polo, — ela diz, tristemente.

Então, ela se foi, para minha alegria. Eu ainda não gosto


dela, principalmente porque ela é sempre tão rude comigo.
Eu gostaria de dizer que costumo seguir meu caminho em
torno dela, mas geralmente sou rude de volta para ela. Eu
não posso evitar.

É como assistir Here Comes Honey Boo Boo. Eu sei que


é ridículo, mas não posso deixar de prestar atenção quando
está ligado, assim como não posso deixar de dar à Monica um
gosto de seu próprio remédio quando ela está por perto.
Estou brincando com fogo com alguém que tem a capacidade
de acender um fósforo em minha nova e confortável vida, mas
não tenho força de vontade para me conter.

E essa minha nova vida definitivamente é confortável.


Eu realmente amo isso aqui.

Eu aprendi rapidamente que Asher tem que estar muito


envolvido com a divisão imobiliária de sua empresa, e é por
isso que ele está sempre viajando e se encontrando com
dignitários estrangeiros e magnatas do setor imobiliário. Seu
interesse no setor imobiliário faz sentido, desde que ele
cumpriu sua palavra e magicamente me tirou do meu
contrato de locação de aluguel.

Eu ainda tenho um reembolso total, que


milagrosamente incluía o dinheiro de volta para o mês que eu
realmente tinha vivido em Vaserley Hall. Não achei que ele
pudesse fazê-lo, porque minha moradia foi paga pelo meu
pacote de ajuda financeira e meu contrato possuía uma
cláusula não reembolsável, mas ele fez o impossível. Tenho
vinte e três mil dólares em dinheiro da ajuda financeira que
ficam bem na minha conta bancária para atestar isso.
Esse dinheiro significa que eu não tenho que trabalhar
na cafeteria, onde Minka e suas amigas sempre vão, mais
uma vez, então eu parei permanentemente. Antes da
verificação, eu estava de licença não remunerada, mas agora
nunca mais voltarei. E eu estou mil por cento bem com isso.
A vida de desemprego significa que tenho muito mais tempo
para aproveitar minha juventude, tempo que até meus
cursos, que ainda faço em casa, não enchem.

Acontece que eu não preciso me preocupar em ficar


entediada, porque Aimee, Tommy e Eduardo aparecem o
tempo todo. Xavier até se tornou meu amigo. Agora, tenho
quatro amigos inteiros! Isso é mais do que eu já tive há muito
tempo.

Então, eu tenho muito orgulho de mim.

Enquanto estou no closet, considero consultar Tommy


para obter ajuda com roupas, mas não quero incomodá-lo no
fim de semana. Se eu perguntar a Aimee, ela apenas me diz
para usar o vestido mais apertado e curto que eu puder
encontrar.

Aimee e eu ainda nos encontramos algumas vezes por


semana, principalmente na cobertura, e sempre que ela me
vê, ela grita sobre minha roupa e me pergunta porque não
estou me vestindo para seduzir Asher. Normalmente, eu a
ignoro, porque, embora Asher seja insanamente atraente e
muitas vezes me pergunto como seria ir até ele, não quero
estragar a tentativa de amizade que estamos tendo – sim, na
verdade somos amigos.

Eu acho.

Então, talvez isso signifique que eu tenho quatro amigos


e meio?

Tomo banho, seco meu cabelo e ponho maquiagem,


mantendo-a leve. Graças às lições de Eduardo, eu sei que o
polo é jogado principalmente em uma arena coberta durante
os invernos de Nova York, mesmo durante o final do inverno.

Então, escolho um vestido justo branco e um casaco


cinza claro na moda para usar sobre ele. Eu adiciono um
colar rosa de acessório e Louboutins nude à roupa.
Recuando, olho para o meu reflexo no espelho. Tommy e
Eduardo ficariam orgulhosos.

E então espero, percebendo que ainda tenho mais


quinze minutos antes de ter que sair. Pego a pasta com os
questionários de meses atrás, ansiosa pelo que talvez eu deva
saber sobre Asher hoje à noite. Já tenho todos os meus
cartões de memória memorizados, mas ainda estou nervosa.

Afinal, esta será a primeira vez em muito tempo que


saímos juntos. Além disso, é a primeira vez que estaremos na
frente de seus colegas de trabalho depois que anunciamos
nosso noivado... que começa a ser cada vez menos crível a
cada dia que passa.
Eu deslizo através do fichário, tudo parecendo familiar
até encontrar um solavanco em um dos bolsos do fichário. Eu
não havia notado isso antes, mas agora, há linhas recuadas
no material do encadernador por serem esticadas pelo pedaço
de papel dobrado por um longo período.

Eu tiro e leio. É uma planilha de atividades para


acostumar casais falsos à intimidade em público. Meu palpite
é que Monica dobrou o papel e o escondeu aqui antes que ela
nos desse as pastas. Ela claramente não quer que a gente se
toque, muito menos beijar como essa atividade sugere.

Ainda estou encarando o papel quando Asher entra. —


O que é isso? — Ele pergunta.

Eu o estudo. Ele já está vestido para a partida com calça


social branca, camisa branca e blazer esportivo azul marinho
sob medida. Há um lenço branco saindo do bolso do casaco.
A roupa polo casual está em desacordo com a tensão do
rosto.

Eu coloco o papel para baixo na cama e cautelosamente


me aproximo dele. — O que está errado?

Ele hesita, como se estivesse debatendo se ele quer ou


não me dizer, antes de dizer: — Estou chateado.

Não posso deixar de sorrir. — Eu posso ver isso. O que


fez você ficar chateado?
— Eu estava no jato que ia para Dubai quando recebi
uma ligação de Monica, informando que a Black Enterprises
comprou uma barraca na partida de caridade hoje.

— Ok... — eu digo, não vendo o que há de errado nisso.


A caridade é uma coisa boa, certo?

A empresa de Asher é bem conhecida por doar para


várias causas. Antes de conhecê-lo, pensei que eram apenas
relações públicas para distrair sua reputação de mafioso,
mas agora sei que ele faz isso por causa da maneira como foi
criado. Ele me disse uma noite que a generosidade de Vincent
o ajudou a escapar de uma vida sombria e espera poder fazer
o mesmo por outra pessoa. Eu nunca estive mais atraída por
ele do que naquela noite.

— Eu tive que redirecionar o voo, perdendo meu tempo,


o tempo do piloto, o tempo da tripulação e muito combustível.
Tivemos que jogar o combustível no oceano. — No meu olhar
afiado, ele diz: — É um procedimento operacional padrão. O
combustível evapora antes de atingir o oceano. Nenhuma vida
marinha é prejudicada no processo, Steve-O23. Não vá escalar
guindastes agora.

Reviro os olhos com a referência dele ao protesto de


Steve-O no SeaWorld. — Então você está tão louco por perder
tempo e combustível?

Eu o conheço bem o suficiente para saber que há mais


do que isso. É preciso muito para ele mostrar sua raiva.

23 Steve-O é o ator que fez os filmes Jackass.


Ele exala. — Não, eu estou bravo porque dependo da
minha equipe, da Monica, para ficar de olho nas coisas que
não tenho tempo para fazer sozinho. Isso inclui saber com
antecedência quando René vai e age pelas minhas costas,
comprando uma barraca em um evento de caridade e convida
todos do conselho, exceto eu.

Oh.

Ele está bravo porque René pode ter tido a oportunidade


de promover sua agenda anti-Asher, e Monica quase perdeu.
Mas isso também não parece tudo. Ele já esperava que René
fizesse algo assim…

Mas Monica?

Ele não a contrataria se ela não fosse boa em seu


trabalho. O deslize dela deve tê-lo pego de surpresa. Não é de
admirar que ela estivesse tão brava mais cedo quando me
informou sobre o evento.

Eu o estudo, procurando uma reação. — Isso não é


tudo, é? — Ele parece assustado com a minha observação
aguçada.

Eu bato adiante: — Você não está bravo com René. Você


está bravo por Monica. Você está bravo por ela te
decepcionar, mas você também está bravo por ter que
depender de outra pessoa.

O rosto dele endurece. Bingo.


Eu ganhei o prêmio... e ganhei sua ira. Mas não o quero
zangado comigo.

Por mais que me doa admitir, Asher acabou por ser uma
pessoa decente, talvez até uma boa pessoa. Definitivamente,
uma pessoa melhor do que eu. E talvez eu não odeie suas
entranhas e goste mais dele do que deveria... como amiga, é
claro.

Não quero que Asher seja infeliz, muito menos bravo


comigo. Então, eu me aproximo dele e suavizo minha voz: —
450 pessoas.

Ele me dá um olhar confuso. — 450 pessoas?

— É quantas pessoas são necessárias para manter a


Casa Branca. — Eu o empurro suavemente até que ele esteja
sentado na cama.

Estamos no nível dos olhos agora, e ele me deixa pisar


entre suas pernas. Este é o mais perto que eu estive com ele
há algum tempo. Pelo menos com as luzes acesas.

Parando um momento para saborear a proximidade


antes de continuar: — São necessárias 450 pessoas para
administrar uma casa. Você é apenas uma pessoa. Por mais
que seja péssimo, você não pode esperar saber tudo o que
acontece em uma empresa que faz negócios em mais de
setenta países. Deixe-se depender dos outros, mesmo quando
alguém o desaponta. — Faço uma pausa por um segundo,
torço o nariz e acrescento: — Exceto Monica. Você pode
demití-la. Você está certo. Ela é péssima.

Essa é a minha opinião honesta.

Meu coração se enche quando ele joga a cabeça para


trás e ri.

Ele me assusta quando suas mãos vão para a parte de


trás das minhas coxas nuas, levantando um pouco a barra do
meu vestido com a ponta dos dedos longos. — Eu nunca
disse que ela é péssima. — Ele ri de novo. — Não há amor
perdido entre vocês duas, há?

Balanço a cabeça. Eu tenho que morder minha língua


para me impedir de dizer petulantemente: — Ela começou! —
É verdade, mas também é algo esperado de uma criança de
cinco anos e não de vinte.

Seus olhos ficam sérios novamente. — Obrigado.

A maneira como ele me agradece é tão honesta, gentil e


genuína. Eu me esqueço por um momento, inclinando-me um
pouco mais. Eu quero beijá-lo, sentir seus agradecimentos
sussurrados nos meus lábios. Mas ele se afasta e olha o
papel que deixei na cama.

— O que é isso? — Ele pergunta, acenando com a


cabeça.

Não faz sentido mentir. Se vamos ter nossa primeira


aparição pública real juntos, sem incluir o evento da
universidade, preciso estar preparada para a inevitabilidade
de um beijo na boca. Pelo que me lembro, é algo que me
deslumbrará, não importa quantas vezes ele faça isso. Eu
tenho que estar pronta para que isso aconteça, para não me
fazer de boba e fazer algo como ter um orgasmo em público
com um beijo.

Estendo a mão e entrego o papel para ele. Dando-lhe um


olhar aguçado que, espero, retrate minhas suspeitas sobre
Monica, digo: — Encontrei-o dobrado e escondido em nossas
pastas de questionários. — Eu brinco: — Eu me pergunto
como isso aconteceu...

Ele pega a folha de atividades de mim. — Hmm... — ele


diz, ignorando meu último comentário enquanto o lê. — Acho
que devemos fazê-lo antes de sairmos.

Eu concordo. Eu já esperava tanto. Provavelmente


teremos que nos beijar pelo menos uma vez na partida, e se
tivermos nosso segundo beijo em público, minha reação
definitivamente entregará essa farsa.

Pego o papel dele e leio em voz alta: — Primeiro passo.


Mantenha as mãos até que vocês dois estejam confortáveis o
suficiente para seguir em frente.

Asher me envia um sorriso travesso quando ele pega


minha mão e me puxa para um abraço, que é o segundo
passo.
— Passo três, — ele lê antes de rasgar o papel e se
inclinar para a frente para me beijar. Seus lábios são leves
contra os meus, um toque provocador que me deixa louca.
Parece irreal, quase virginal, ser beijada novamente depois de
tanto tempo, principalmente por ele. Uma parte de mim
considera que estou imaginando a coisa toda.

Mas então ele pressiona outro beijo de boca fechada nos


meus lábios, mais forte desta vez, e eu abro minha boca em
resposta. Ele geme, fazendo minhas bochechas corarem e
desliza sua língua na minha boca, roçando-a contra a minha.
Pego dois punhados de sua camisa, aproximando-me dele até
que não haja mais espaço entre nós.

Com as duas mãos, ele agarra minha bunda,


provocando um gemido que escapa da minha boca e entra na
dele. Quando ele corre mais para trás na cama, eu o sigo,
colocando as duas pernas em ambos os lados de suas coxas
até que eu estou montando nele. Uma de suas mãos puxa
meu cabelo enquanto ele aprofunda o beijo. Eu respondo com
entusiasmo, moendo minha metade inferior contra sua
ereção rígida e saboreando o sabor de sua língua contra a
minha.

Ouço passos distantes se aproximando, mas não me


importo. Não até alguém limpar a garganta que eu paro. Não
preciso olhar para saber que é Monica. Essa mulher tem um
radar de bloqueio de pênis.
Eu gemo baixinho e escondo meu rosto no peito de
Asher. Sinto seu peito vibrar contra mim enquanto ele me dá
uma leve risada. As duas mãos dele ainda estão na minha
bunda, e meu corpo inteiro ainda está pressionado contra o
dele, dificultando a concentração.

— Vocês terão que sair agora, se quiserem chegar antes


do jogo começar, — Monica diz, sua voz tensa e cheia de
desaprovação velada.

— Obrigado Monica. Isso é tudo. — Asher faz uma


pausa e ouço o som de seus calcanhares recuando. — E
Monica? Bata da próxima vez, por favor.

— Claro, Sr. Black. — Ela não parece sincera.

A porta bate com força, mais alto que o necessário. Meu


rosto ainda está enterrado no peito de Asher quando ele
inclina meu queixo para trás para me examinar. Há risos em
seus olhos.

— Acho que cumprimos essa tarefa.

Reviro os olhos com as palavras dele e o empurro.


Quando dou uma olhada no espelho, vejo como estou
desgrenhada. Eu tento me consertar, mas é uma causa sem
esperança. Tanta coisa para deixar Eduardo e Tommy
orgulhosos.

Estou penteando meu cabelo com o dedo quando Asher


pega minhas mãos e diz: — Pare —. Seus olhos encontram os
meus no espelho, enquanto sua mão livre segue pela lateral
do meu corpo, terminando na minha cintura. — Você está
bonita.

Pelo jeito que ele está olhando para mim, eu acredito


nele. Esta não é a primeira vez desde que dançamos que tive
que me lembrar de que não estamos juntos de verdade. Desta
vez, estou me lembrando que o beijo foi apenas um exercício.
Capítulo 24

Coragem não é simplesmente uma das virtudes, mas a forma


de todas as virtudes no ponto de teste.
– C.S. Lewis

Quando chegamos à arena e Asher me ajuda a sair do


carro, eu percebo que estamos de mãos dadas desde que
deixamos seu quarto.

— Você está bem? — Ele pergunta.

Eu concordo. — É simplesmente... esmagador.

Há fotógrafos na entrada, gritando nossos nomes. Desde


que nosso noivado foi anunciado, estive em alguns blogs de
Nova York – caminhando para o laboratório (a única aula que
frequento) e comendo com Aimee quando estou desesperada
para sair.

Esta é a minha primeira vez sendo bombardeada por


uma horda de fotógrafos. Eu quase prefiro os que gostam de
me perseguir de longe.

Asher me sacode pressionando um beijo na minha


têmpora, que envia os paparazzis a um frenesi de cliques
altos. — Você vai ficar bem. Respire.
Respiro fundo com um sorriso no rosto. Asher e eu
estamos de pé lado a lado, o braço em volta da minha
cintura. Pelos próximos minutos, aguento os gritos dos
paparazzi e, na verdade, sigo suas sugestões úteis de pose...

Até que alguém grite: — Você está grávida? É por isso


que vocês já estão noivos?

Eu respiro fundo quando o corpo de Asher fica tenso.


Juro que ouço um rosnado animalesco vindo dele. Tudo
acontece rapidamente depois disso. Xavier dá um passo atrás
de nós e talvez Dominic fique na nossa frente enquanto
abrimos caminho entre os paparazzi, a hora das fotos
claramente terminada.

Quando entramos na arena, somos recebidos por um


René presunçoso. — Parabéns pelo bebê, — diz René.

Agora entendo porque Asher esperou tanto tempo para


nos levar a público. Nós somos novos demais. Inferno, o
comentário do paparazzi é prova de que ainda somos novos
demais. Pouco mais de quatro meses se passaram desde que
anunciamos nosso noivado em outubro, e apenas cinco
meses se passaram desde que começamos a namorar –
mesmo que pareça ter sido uma vida desde a primeira vez
que fui a Rogue.

— Não há bebê, — eu digo firmemente, embora não


precise. Eu estava magra quando René me conheceu e,
muitos meses depois, ainda estou magra.
Ele está apenas sendo um idiota.

Asher aperta minha mão e eu com luto minha raiva de


volta.

A loira familiar ao lado de René dá um passo à frente. —


Asher, querido, não seja rude. Você não vai me apresentar a
sua noiva?

Ela diz isso com sarcasmo, eu admiro Asher por não ter
gritado, embora não deva me surpreender. As emoções de
Asher estão trancadas em uma fortaleza. Se ele não quiser, é
impossível saber o que ele está pensando. Estou chocada com
a súbita percepção de que Asher me confidenciou antes, algo
que suspeito que ele nunca tenha feito com mais ninguém.

Isso não é real.

Isso não é real.

Isso não é real.

— Perdoe-me, — diz Asher, sua voz pingando de


condescendência e me tirando do meu espanto. — Viola, essa
é Lucy. Querida, esta é Viola, a esposa de René.

Apertamos as mãos, a sensação de seu aperto


desconfortável no meu. Lembro-me dela de pé ao lado do
marido no Rogue na noite do meu anúncio de noivado. Viola
Toussaint é uma mulher linda, cuja beleza parece não ter
idade. Ela tem um ar elegante, desde a maneira como se
veste até a maneira como o cabelo é puxado para trás,
transformando-se em um coque sem esforço. O único sinal
revelador de sua idade são as mãos, que estão levemente
enrugadas.

— Prazer em conhecê-la, Viola, — eu minto.

Nós quatro, mais Xavier e o guarda de Asher,


caminhamos mais para a arena. Depois que caminhamos
para o local, mal posso dizer que estamos em local coberto.
Os pisos são todos de relva artificial e há até luz natural
brilhando através dos tetos de vidro.

O único sinal de que estamos fechados é o clima


temperado. Embora esteja frio a cerca de dez graus lá fora no
clima de março, são confortáveis vinte e um graus aqui. Sou
capaz de tirar meu casaco e deixá-lo no cabide.

Asher e eu seguimos René até uma barraca chamada —


Empresas Black. — Como um dos principais doadores, a
Black Enterprises tem uma barraca inteira para o conselho
executivo e seus convidados. Fico aliviada quando vejo que
Monica não está lá. Ela provavelmente ainda está lambendo
suas feridas.

Asher me puxa para um canto da barraca e diz: — Vê


aquele homem com quem René está apertando as mãos?

— Sim.

— Esse é Martin Weisman. Ele está na linha de René. —


Ele continua, apontando discretamente para vários outros
homens. — Esse é o resto do conselho. Elliot O'Malley, Owen
Carter e Tim Burks. Você vai se lembrar disso?

Concordo com a cabeça e, como não consigo me conter,


digo com nojo: — Você não tem uma única mulher no seu
conselho?

Ele me dá um gemido exagerado. — Você é um pé no


saco, — diz ele, mas está sorrindo.

Eu me pergunto se é um ato para a multidão.

Isso não é real.

Isso não é real.

Isso não é real.

Ele continua: — Martin votará em René e Elliot e Tim


votarão em mim. Eles são leais. O único que está em jogo é
Owen. Ele será o desempate. Ele é o único que temos que
impressionar.

Eu estudo Owen novamente. Foi ele quem se


impressionou com a minha educação quando estávamos no
Rogue. Ele tem um sorriso fácil e não sai tão mal ou
assustador, como René.

Ele parece bom o suficiente, então eu rolo meus ombros


para trás e aceno. — Eu posso fazer isso.

Asher entrelaça nossos dedos e me leva ao centro da


tenda, apresentando-me formalmente aos homens. Embora
ele não seja tão gentil quanto Elliot ou Tim, Martin é pelo
menos cordial, tratando-me com muito mais respeito do que
René.

Owen é mais difícil de ler. Seu rosto estoico me lembra o


de Asher, embora eu esteja começando a entender que estou
a par de um lado diferente e particular de Asher. Não sei
como me sinto sobre isso. É avassalador e consome tudo,
então eu tiro o pensamento da minha cabeça.

Isso não é real.

Isso não é real.

Isso não é real.

A partida começa, então nos instalamos na frente da


tenda das Empresas Black, que é a principal no centro do
campo. Mesmo entendendo o jogo, graças às lições de
Eduardo, não posso prestar atenção.

Eu posso sentir os olhos de Viola em mim. Ela está


sentada à nossa extrema direita, com todas as outras
esposas. Elas não me deram um convite para me juntar a
elas, o que é bom para mim. Eu me sinto mais confortável ao
lado de Asher de qualquer maneira.

Eu deixei o olhar assustador de Viola ir. Mas depois de


dez minutos, não posso deixar de franzir a testa. Eu peguei
os olhos de Viola em mim pela décima vez em tantos minutos.

Eu sussurro: — Viola continua olhando para nós.

Asher me dá um aceno imperceptível e aperta minha


mão, que está rapidamente se tornando nosso meio de
comunicação silenciosa um com o outro. Então, ele me
surpreende quando levanta nossas mãos unidas e coloca um
beijo de boca aberta no meu pulso.

Sua língua gira em torno da pele sensível, sugando


suavemente por um breve momento, enviando um choque ao
meu clitóris dolorido. Acabou tão rapidamente quanto
começou. Ele pressiona outro beijo rápido no meu pulso e
mais um na minha bochecha antes de voltar sua atenção ao
jogo como se o que aconteceu fosse normal.

Estou feliz por ter colocado meus óculos de sol há


alguns minutos. Meu rosto está sem dúvida corado, e meus
olhos arregalados retratariam minha surpresa. Eu sei que foi
apenas um show para a esposa de René, mas, puta merda.

Cara, eu estou afetada.

Se Asher continuar assim, estou ferrada.


Quando a partida termina, todos ficam na tenda para
socializar. Graças a Eduardo, estou bem preparada para isso.
Asher e eu nos separamos. Enquanto eu vou para
cumprimentar a esposa de Owen, Madeline, ele vai para
cumprimentar Owen.

Madeline era a única morena na sala VIP naquela noite


no clube. Acontece que ela também é muito legal. Ela é mais
gordinha do que eu me lembro, mas ela carrega o peso linda e
graciosamente. Ela é uma das mulheres mais bonitas que eu
já vi, e quando digo isso a ela, ela me dá um sorriso doce e
elogia meus olhos.

— Vocês dois planejam ter filhos tão cedo?

Eu gemo. — Não, até você? — No seu olhar confuso, eu


digo: — Os repórteres estavam nos perseguindo sobre o
motivo de nos casarmos tão cedo. Eles acham que esse é o
motivo do casamento. — Reviro os olhos e dou um tapinha na
barriga plana.

Com a minha sorte, algum fotógrafo provavelmente tirou


uma foto quando minha mão se conectou com a minha
barriga. Eu posso imaginar o que as manchetes leriam – a
noiva de Asher Black esfrega a barriga de grávida no Charity
Polo Match.

— Ah, — diz ela, sua diversão sincera. — Não, eu estava


genuinamente curiosa. — Ela aponta para a barriga e sorri.
— Se eles perguntarem isso novamente, você deve apontá-los
na minha direção. É assim que uma barriga de grávida se
parece. Deve nascer daqui a sete meses.

Oh.

Agora, o peso dela, centrado na pequena bolsa da


barriga, faz mais sentido. Em minha defesa, faz um tempo
desde que eu vi uma mulher grávida. Além disso, o que está
crescendo em sua barriga não é tão antigo quanto o meu
suposto relacionamento com Asher, que não é muito antigo.
Esse é um pensamento preocupante. Aperto o punho com
força, lutando contra o desejo de olhar para Asher.

Forçando-me a focar em Madeline, pergunto: — Menino


ou menina?

Uma expressão melancólica passa por seu rosto antes


que ela a tire. — Owen quer saber, mas eu me recuso a
descobrir. Nós não esperamos para saber os gêneros de
nossos dois últimos filhos, então quero ser surpreendida por
este. — Ela faz uma pausa, sua voz hesitante. — Isto na
verdade, é algo sobre o qual brigamos ultimamente. Parece
tão estúpido quando digo em voz alta. Talvez eu devesse dar a
ele o que ele quer de novo, ou talvez ele devesse me dar o que
eu quero, porque os dois últimos seguiram o seu caminho.
Eu não sei. De qualquer forma, estamos brigando e é uma
merda.

— Uma das minhas mães adotivas engravidou, — eu


começo, assustando-me.

Eu odeio falar sobre minhas famílias adotivas, mas aqui


estou eu, prestes a fazê-lo. É por que eu sinceramente gosto
dela? Ou quero que ela goste de mim pelo bem de Asher?
Talvez um pouco dos dois.

Eu continuo: — Ela era uma das melhores. Eu


realmente gostava dela e do marido. Eles eram gentis um com
o outro e, embora eu não ache que eles estavam apaixonados,
eles eram bons amigos. — Eu suspiro. — O relacionamento
deles também foi construído nessa amizade. Na época, essa
foi a coisa mais próxima que eu já vi de amor – entre
cônjuges e até entre pais e filhos. Eu nunca testemunhei
amor. Mas eles? Eles eram amigos e desfrutavam
genuinamente da companhia um do outro. Porém eles
mudaram depois que engravidaram. Suas brigas estavam
destruindo o casamento. — Olho a barriga de Madeline. —
Quer adivinhar por que eles brigaram?

Os olhos de Madeline se arregalam. — Por descobrir o


sexo do bebê deles?

Eu aceno com a cabeça. — Sim. Todo dia.

— Mas isso é tão estúpido, — diz ela, indignada.

— Exatamente.
— Oh. — Ela faz uma pausa. —Você acabou de chamar
minhas brigas com meu marido de estúpidas?

Eu sorrio um pouco. — Se bem me lembro, você fez.

Nós rimos juntas quando ela sorri. — Eu fiz, não foi?

Eu dou de ombros. — Se ajudar, eu também estava


pensando.

Ela solta uma risada surpresa. Ela enche a sala, fazendo


Asher e Owen olharem. Madeline envia a Owen um sorriso
amoroso e uma piscadela. Ele parece surpreso, o que me faz
pensar que eles realmente estão brigando muito.

— Você sabe, — ela começa. — Você não é tão ruim


quanto eu pensei que seria.

— Você me conhece há dois minutos. Apenas espere.


Meus chifres são retráteis. Você acabou de me pegar em um
bom momento.

Ela ri. — Não mesmo! — O rosto dela fica sério. — Eu


normalmente odeio as garotas que Asher traz por aí.

— Elas são parecidas com elas? — Olho para Viola, que


está rindo com a esposa de Martin. Quando passei por elas
mais cedo, elas estavam avaliando as roupas das pessoas.
Ninguém recebeu mais que dois.

— Elas são piores. As meninas de Asher são idiotas


insípidas. Pelo menos Viola e Marla têm duas células
cerebrais para esfregar.
Eu concordo. Eu posso respeitar o intelecto. Eu acho
que as pessoas mais agradáveis merecem mais, apesar de
quão legal Madeline e eu somos realmente se estamos falando
de outras pessoas pelas costas?

— Tão ruim? — Estou me referindo às garotas de Asher.

— O que quer que você esteja imaginando, é pior.

Eu penso em Nicole. — Eu meio que conheci uma. Na


verdade, nunca conversei com ela, mas a vi de longe.

— Qual é o nome dela?

— Nicole.

— Oh. — Ela faz uma careta. — Aquela ficou por mais


tempo do que o necessário.

Eu rio, porque Asher estava planejando que ela fosse


sua noiva falsa, mas ele me pegou. E agora parece que
acabou sendo positivo. Para ser justa, eu realmente gosto de
Madeline. Não estou nem tentando encantá-la agora. No
começo, claro, mas agora estou gostando de conversar com
uma mulher que respeito.

Madeline me lança um olhar hesitante.

— Basta dizer o que você quiser dizer. — Eu reviro os


olhos de brincadeira e a cutuco com meu ombro. — Eu não
me assusto fácil.
Apenas pergunte ao Asher. Ele costumava ser um
mafioso, e eu estou morando com ele.

— Apenas curiosa, e você não precisa responder se não


quiser, porque é uma pergunta realmente invasiva, mas por
que vocês vão se casar tão cedo?

Eu gemo internamente. Eu tenho medo dessa pergunta.


Olho de relance para Asher. Ele está conversando com Tim,
mas quando eu pego seus olhos, ele me envia um sorriso
doce. Parece tão... real.

Isso não é real.

Isso não é real.

Isso não é real.

Mas eu realmente quero que seja.

Talvez seja porque nunca tive o privilégio de estar em


um relacionamento genuíno, ou talvez porque goste da
pessoa que estou descobrindo que ele é. Mas quando eu
supero seus laços anteriores com a máfia, tudo nele é
perfeito. Não me interpretem mal. Eu sei que ele tem falhas, e
ele não é o cara perfeito, mas ele é perfeito para mim.

Lembro-me do que disse à Aimee há muito tempo.

Quero um cara com quem possa conversar


confortavelmente. Alguém que me faz sentir segura, querida e
bonita.
O engraçado é que eu disse aquelas palavras pensando
que Asher não era nada disso. Eu sei melhor agora. Não há
ninguém na minha vida com quem eu esteja mais confortável
conversando do que Asher, e depois da conversa anterior,
estou começando a pensar que ele se sente da mesma
maneira. E enquanto eu tenho Xavier e os outros guardas,
sinto-me mais segura sempre que Asher está comigo. Mesmo
quando ele envia Xavier e meu guarda noturno para casa e
somos apenas nós, eu me sinto segura. Antes, quando ele me
disse que eu estava linda, eu realmente senti isso.

Mas ele me quer? Não tenho certeza.

Ele é muito difícil de ler.

Porém, três em cada quatro não são tão ruins. Não é?

— Ah, — Madeline diz, dando-me um olhar sabido


quando eu finalmente volto para ela.

Estou encarando Asher tempo demais, mas o mais


surpreendente é que ele está olhando de volta, um olhar
aquecido nos olhos. Um olhar que me faz pensar que ele
atinge quatro dos quatro critérios.

— Ah? — Eu pergunto, tentando me recuperar, mas


ainda distraída.

— Você o ama.

Meus olhos se arregalam e eu quase largo a taça de


champanhe que estou segurando. Eu rapidamente me forço a
me recuperar, esperando que minha reação não pareça
estranha. — Sim, eu amo. Eu realmente, realmente amo, —
minto.

E honestamente, é muito cedo para amá-lo.

Só agora estou percebendo que não apenas o considero


um amigo, mas também alguém que eu gosto
romanticamente, e agora ela está me acusando de amar
Asher?

Sei que não é verdade. Mas... pode ser no futuro.

Se eu abrir meu coração para ele.

Madeline sorri para mim e diz: — Vamos lá. Vamos lá e


dar uma folga ao homem. Seu noivo está olhando para você
desde que você começou a falar comigo.

Meus olhos se arregalam. Não posso deixar de


perguntar: — É?

Madeline ri. — Não aja como se estivesse surpresa.


Vocês dois são um verdadeiro negócio. Vocês nem conseguem
tirar os olhos um do outro. Estou com ciúmes de vocês agora.
Faz tanto tempo que Owen e eu éramos assim.

Ou somos apenas atores talentosos, penso, enquanto


Asher me dá um beijo convincentemente doce nos lábios
quando os alcançamos. Inclino a cabeça no ombro dele
enquanto me concentro no que as pessoas ao nosso redor
estão dizendo.
René, Owen e Martin estão falando francês. Olho para
Asher. Eu não sabia que ele fala francês, mas quando
percebo o que eles estão dizendo, tenho certeza de que ele
não sabe.

Porque se ele soubesse o que eles estavam dizendo sobre


ele, ele ficaria chateado.

René e Martin estão falando merda de Asher na frente


dele, e enquanto Owen parece desconfortável, ele não está
defendendo ou negando o que eles estão dizendo.

Estou chateada quando interrompo: — Chacun voit midi


à sa porte.

É um provérbio francês que se traduz literalmente: —


Todo mundo vê o meio-dia à sua porta —. O que isso significa
é que todo mundo sente que suas opiniões são a verdade
objetiva, mas, na verdade, elas são obscurecidas por seus
próprios interesses pessoais.

Estou essencialmente dizendo que as palavras de René


são ditas por interesse próprio.

Acabei de enfiar uma faca metafórica no intestino


saliente de René e estou prestes a torcer. — Jeme demande ce
que vous voulez gagner en parlant mal de l’amor de ma vie."

Eu me pergunto o que você deseja ganhar falando mal do


amor da minha vida.
Há um silêncio por um momento antes de René reagir.
Ele dá um passo agressivo para a frente, os punhos cerrados
em fúria, mas Martin agarra seu braço e René para.

O olhar de raiva permanece, no entanto. Madeline olha


inquieta entre René, Martin e eu antes de fixar os olhos em
seu marido. Ambas as sobrancelhas de Owen são levantadas.

Eu posso sentir a tensão irradiando de Asher. Aperto


sua mão tranquilizadoramente e pressiono um beijo de
desculpas nela. Ele quer saber o que eu disse, mas não posso
contar a ele na frente de todos. Fazer isso traria mais atenção
à sua incapacidade de falar francês, algo que René pode
continuar usando em desvantagem de Asher.

Mais alguns segundos de silêncio tenso passam antes de


Owen soltar uma risada alta. Um sorriso satisfeito cruza seu
rosto. — Ela fala francês! — Ele diz como se fosse a coisa
mais maravilhosa do mundo.

E está começando a parecer que é.

Eles estão falando besteira de Asher na frente dele,


fazendo-o parecer tolo no processo. Eles provavelmente já
fizeram isso antes também. E agora, eles terão que pensar
duas vezes antes de fazê-lo novamente.

Os olhos de René se estreitam em suspeita. Ele está


visivelmente mais calmo agora. — Sim... onde você aprendeu
a falar francês?
— Passei os últimos dois anos como voluntária no
exterior, principalmente em países de língua francesa na
África. Eu peguei uma coisa ou duas.

— Uma coisa ou duas, — ele repete secamente.

Eu gosto de pensar que o faz parecer um idiota.

E como nunca posso me ajudar, digo: — Agora, se vocês


não se importam, Asher e eu devemos sair. Ele pode ser
educado demais para dizer qualquer coisa, mas estou
desconfortável por estar perto de pessoas que falam mal do
meu noivo, muito menos de fazê-lo de maneira descarada e
desagradável. — Eu me viro para Madeline e a abraço. — Foi
um prazer conhecê-la. — Eu realmente quero dizer isso
também. Então, eu me viro para Owen e digo: — A
antecipação pode ser mais valiosa que o conhecimento. — Eu
olho fixamente para a barriga de Madeline. —Mas nem a
antecipação e nem o conhecimento são mais valiosos que o
amor. — Minhas palavras são claras o suficiente para
transmitir minha mensagem, mas enigmáticas o suficiente
para que todos os outros ouvidos indiscretos não entendam o
que estou dizendo.

Owen parece atordoado. Provavelmente eu ultrapassei


meus limites, mas não me importo com isso quando agarro a
mão de Asher e o conduzo para os cabides de casacos com
Xavier e talvez Dominic nos seguindo. Asher está tenso
enquanto esperamos na longa fila por nossos casacos.
Eu me viro para encará-lo, deslizando as duas mãos sob
o casaco para massagear suas costas. Eu posso sentir como
seus músculos estão enrolados. Quando fico na ponta dos
dedos dos pés e beijo sob sua mandíbula, sinto um músculo
apertar.

Não sei o que estou fazendo.

Ficar aqui com meus braços no casaco de Asher e meus


lábios roçando seu queixo é íntimo. Mas eu já ultrapassei
meus limites com Madeline e Owen, então é melhor
ultrapassar os limites entre mim e Asher. Vou apreciar este
momento sem me importar com as consequências que
inevitavelmente o seguirão.

Pressiono outro beijo no outro lado de sua mandíbula,


arremessando a ponta da minha língua para fora para
localizá-lo. Ele não está me afastando, mas ele também não
está retornando a atenção que estou dando a ele. Eu suspiro,
entrando em seu corpo até que estamos completamente
pressionados um contra o outro.

Ele finalmente passa os braços em volta da minha


cintura e me puxa para mais perto. Gosto de estar em seus
braços por um momento antes que a fila avance. Em vez de
me virar para andar normalmente, dou um passo para trás,
permanecendo no aperto de Asher. Ele segue, e quando ele
aperta mais forte em mim, eu me sinto como sua tábua de
salvação.

Isso não é real.


Isso não é real.

Isso não é real.

Eu olho para ele. Ele ainda não olha para mim, e isso
está me incomodando. Ignorando o quão inapropriado é fazer
isso em público, em um evento de caridade, eu estou na
ponta dos pés novamente e capturo o lábio inferior de Asher
na minha boca, puxando-o suavemente e acariciando-o com a
língua.

Um rosnado baixo escapa de sua boca antes que ele


pressione seus lábios completamente contra os meus em um
beijo duro e exigente. Nós nos beijamos até que a tensão
alojada em seus ombros o deixe – abraçamo-nos, mesmo
quando a fila avança e as pessoas acabam andando ao nosso
redor e Dominic tenha que pegar meu casaco para mim.

Só paramos quando Madeline corre até nós e diz meu


nome. Eu me viro para ela, sabendo que meu rosto deve
parecer selvagem.

— Obrigada, — diz ela.

Eu imediatamente sei a que ela está se referindo. — Eu


não passei dos limites?

— Você fez o que eu gostaria de ter feito há muito


tempo. — Uma risada sombria irrompe de seus lábios,
parecendo deslocada no cenário ensolarado de seu vestido de
verão. — Anos atrás, quando eu tive meu primeiro filho. Não
faz sentido, não é? Tudo isso sobre o sexo de uma criança,
algo que descobriremos eventualmente.

Eu dou a ela um olhar aguçado. Nós já passamos por


isso. Não preciso me repetir.

Ela revira os olhos para mim. — Alguém já lhe disse que


você é tão atrevida?

— Não.

Nunca, eu percebo.

Eu sempre fui uma corredora. Corredores não são


atrevidos. Eles nunca estão por perto para serem atrevidos.
Eles são covardes, como eu era antes de conhecer Asher. Eu
me pergunto se essa pessoa corajosa é quem eu sou agora
que parei de correr. Eu gosto disso. A atrevida Lucy é
destemida, defendendo o homem que ela gosta um minuto e
beijando-o no próximo.

— Desculpe por interromper, — diz Madeline, e isso soa


como seu adeus. Ela olha para Asher e depois de volta para
mim. Ela está falando comigo quando diz: — Eu vou falar
com Owen. Sei que a votação não vai durar algumas
semanas, mas vou falar com ele assim que chegar em casa.
— Ela me dá um olhar aguçado. —Eu gosto de você. Não
tenho certeza sobre Chatty Cathy24 por aqui. — A cabeça dela
assente em direção a Asher, que permanece em silêncio. —
Mas eu gosto de você e eu odiaria ver você partir. — Ela faz

24 É uma referência a uma boneca que fala muito, mas sem dizer nada de importante.
uma careta. — Então, eu teria que me sentar com Viola em
todas essas festas.

Ela sai depois de me dar um abraço lateral, o que é


estranho, porque eu ainda não soltei Asher.

— Você é meio inesperada, — diz Asher quando ela se


foi.

Eu olho para ele. — Sim, eu tenho pensado a mesma


coisa ultimamente. — Então, eu seguro sua gravata e puxo,
puxando seus lábios para os meus.
Capítulo 25

Não desenvolvemos coragem sendo felizes todos os dias. Nós a


desenvolvemos sobrevivendo a tempos difíceis e desafiando
adversidades.
– Barbara de Angelis

Eu o solto, com relutância, enquanto ele vai ao


banheiro. Eu espero no carro com Xavier, sem surpresa que
Dominic tenha ido com Asher. Ele é seu guarda pessoal,
afinal.

Fico atordoada quando a porta do carro se abre e


abruptamente sou abraçada.

— Você é incrível, — diz Asher. Ele me confunde


novamente, dando-me um beijo assim que entra no carro
para a cidade.

— Para o que foi aquilo? — Eu pergunto, sem fôlego.

— Foi um agradecimento. — Existem níveis conflitantes


de ternura e raiva em seus olhos. A raiva vence e o resultado
parece feroz. — Eu não posso acreditar que eles disseram
essas coisas sobre mim, e eu apenas fiquei lá como um
maldito idiota.

— Espere, — eu começo, descrença colorindo minha voz.


— Você sabia o que eles estavam dizendo?
— Não quando eles estavam dizendo isso, mas eu sei
agora.

— Como?

— Aplicativo tradutor.

— Como você soube soletrar suas palavras?

— Eu não fiz. Falei com eles usando o recurso de


ditado25.

— Todos eles?!

— Sim. — No meu olhar incrédulo, ele acrescenta: —


Memória fotográfica.

— Uau. Não brinca. — Eu hesito. —O que eles


disseram? Antes de eu chegar lá.

Os olhos dele escurecem. — Prefiro não repetir. —

Eu entendi aquilo. Não ouvi muito, mas o que ouvi teria


irritado alguém. René chamou Asher, um homem que
construiu um império de bilhões de dólares aos 25 anos de
idade, um dos quais o sustento de René depende, de um tolo
incompetente.

René não sabe com quem está mexendo?

Ele está tão nublado pela ganância por dinheiro e poder


que não percebe o que é um oponente digno de Asher?

25 É utilizado para gravar as palavras e escrevê-las em um formato de texto para o idioma


desejado.
Eu estudo a expressão de Asher. Ele não parece apenas
furioso. Ele também parece envergonhado. Eu odeio o olhar
em seu rosto, então eu digo: — Beije-me de novo, por favor.

É imprudente. Estúpido. Conduzido emocionalmente.

Mas não me arrependo, porque o constrangimento e a


raiva em seu rosto são substituídos por um calor
extraordinário.

E ele me beija repetidamente até meus lábios ficarem


vermelhos e rachados, e não sabemos que estamos sentados
no carro, estacionados em sua garagem por quase uma hora,
enquanto Xavier e Dominic ficam desajeitadamente na frente
sentados, ouvindo a bela sinfonia que é nossos lábios juntos.

Quando finalmente chegamos à nossa casa, eu vou para


a cozinha. Somos apenas nós.

Asher enviou Dominic e Xavier para casa assim que


saímos do carro. Vasculho a despensa com a trilha sonora
musical do riso de Asher.

É às minhas custas, é claro. Meu estômago está


emitindo ruídos desagradáveis desde que saímos do carro. É
por isso que tivemos que parar de nos beijar em primeiro
lugar.

Abro um pacote de biscoitos Famous Amos ™ e me sirvo


um copo de água. Asher para de rir. — Não faça isso.

Eu sorrio enquanto mergulho um biscoito na minha


água em câmera lenta e depois o coloco na minha boca. Ele
geme. — Isso é tão nojento. Não acredito que beijo essa boca.

Meu coração pula uma batida com a palavra ‘beijo’


saindo de seus lábios.

Eu beijo essa boca.

Eu beijo essa boca.

Eu beijo essa boca.

Eu gostaria de gravá-lo dizendo isso, para que eu


pudesse ouví-lo o dia inteiro. Eu definiria como meu toque de
alarme, se pudesse.

— Eu acho delicioso. — Eu dou outra mordida.

Ele teve vários meses para se acostumar com meus


hábitos alimentares. Não é minha culpa que ele leva muito
tempo para se adaptar à grandiosidade.

— Isso é porque isso, — ele aponta para os biscoitos e a


água, — é como mergulhar biscoitos no leite para você. — Ele
faz uma careta. —Você bebe leite sem gordura e sem lactose.
Esse material tem gosto de água.
— Não, não tem! — Eu digo, indignada. Para provar meu
argumento, pulo do banquinho e despejo um copo alto de
leite sem gordura e sem lactose para ele. Eu seguro para ele.
— Tente. Eu juro que não!

Ele olha com nojo. — Não, obrigado.

— Por favor.

Ele suspira, mas há um pequeno sorriso em seu rosto...


até que ele toma um gole. Seu sorriso se transforma em uma
careta, mas ele ainda engole todo o copo rapidamente. — Tem
gosto de água, sua mentirosa.

Eu dou de ombros. — Não, não tem. — Há uma


indignação falsa na minha voz.

Mas estou sorrindo de orelha a orelha, porque ele bebeu


a coisa toda, mesmo que odiasse isto.

Ele estuda meu sorriso. — Lucy?

— Asher?

— Obrigado.

— Você já disse isso.

— Acho que não posso dizer o suficiente.

Eu coro. — Não é grande coisa.

— Pare. Isso foi.

— Talvez um pouco.
— Talvez muito.

— De nada.

Ele fica em silêncio por um tempo. — Foi errado da


minha parte coagir você a fazer isso, — diz ele, chocando o
inferno fora de mim, — mas tenho sorte de ter feito isso.
Ainda assim, eu não deveria ter feito, e se você quiser,
podemos parar com essa farsa. Não há mais favores. Chega
de fingir.

Eu suspiro. É isso. Minha oportunidade de fugir deste


acordo. Eu gostaria de aceitar, mas não aceito. Estou me
divertindo. Eu gosto de Asher. Não sei se ele se sente da
mesma maneira, mas sei que ele me quer fisicamente. Senti
esse desejo pressionado contra mim no carro quando o
montei durante nossos beijos.

Mas isso é suficiente?

Posso desistir da minha liberdade, minha maneira de


cair fora sem saber se ele me quer? Eu seria estúpida.

Mas estúpida é tão bom.

Ele permanece em silêncio por mais alguns minutos. —


Lucy? Estou te dando uma saída. Sem condições.

— Espere, — eu digo, pressionando meus dedos nas


têmporas. A dor de cabeça está se formando rapidamente. —
Estou pensando.
Eu sei o que Aimee diria. Ela me aconselharia a dizer
não, depois correr para a cama dele e exigir que ele me
devastasse. É por isso que sei que devo fazer exatamente o
oposto disso. Afinal, Asher está me dando uma saída, não
uma entrada.

Poxa.

Por que eu quero que a oferta dele seja uma entrada?


Um convite para tornar isso real.

— Você pode ficar com as roupas. Posso pegar seu


quarto de volta no Vaserley Hall. Você nem precisará pagar
por isso. Ainda vou escrever sua carta de recomendação e dar
tudo o que combinamos.

Eu olho para ele. Ele está realmente vendendo isso. É


quase como se ele me quisesse fora.

— Você quer que eu vá embora? — Há uma quantidade


surpreendente de mágoa na minha voz.

— O quê? Não. — Ele exala pesadamente, franzindo a


testa para o meu rosto. — Eu não sei.

Eu não esperava isso, mas, pelo menos, ele está sendo


honesto como sempre. — O que isso significa?

— Isso significa que quero que você fique, mas também


quero que você vá.

— Por que você quer que eu fique?


— Porque eu gosto de você.

— Por que você quer que eu vá?

— Porque eu gosto de você.

— Oh.

— Oh.

Ele gosta de mim

Ele gosta de mim

Ele gosta de mim

Fico em silêncio por um minuto, mas meu coração está


batendo forte. Eu posso ouvir o som de trovão na minha
cabeça. — Eu não tenho ideia do que isso significa.

— Então somos dois, — ele murmura.

Foi-se o executor, o homem seguro e perigoso que o


mundo deseja conhecer, e em seu lugar está o verdadeiro
Asher, vulnerável e honesto diante de uma falha. Só não
percebi que esse é o verdadeiro dele até agora.

— Asher?

— Lucy?

— No momento, acho difícil acreditar que você já tenha


matado alguém.
Seus olhos se arregalam de surpresa, mas ele
permanece sombriamente silencioso. Isso é resposta
suficiente. — Por quê? — Eu pergunto.

— Você não pode des-saber...

Eu interrompo com firmeza: — Não posso des-saber. Eu


sei. Diga-me, por favor.

— A primeira vez... — eu estremeço. Isso significa que


há mais de uma vez. — ...eu tinha 18 anos. — Ele suspira
com o meu olhar de incredulidade, que ainda está lá, apesar
de eu ter ouvido os rumores e lembrar o que ele disse no
L'oscurità. — Aprendi a lutar em uma academia do UFC, e
Vincent decidiu que era importante continuar meu
treinamento quando fui morar com ele. Exceto que seu
treinamento foi mais intenso. Eu não apenas aprendi
combate corpo a corpo. Eu aprendi treinamento tático,
armas, estratégias...

Eu tento conciliar esse Asher com o lutador de 18 anos.


Não posso.

— Eu nunca pensei que teria a chance de usar isso, e


Vincent nunca quis que eu usasse. Foi apenas uma
precaução. Mas então, uma noite, houve um ataque à nossa
casa. Foi coordenado, planejado para ser perfeito, mas o que
eles não tinham planejado era eu. Vincent me manteve fora
dos holofotes. Somente os anciãos da família sabiam sobre o
nosso vínculo, então ninguém sabia que eu morava lá.
— Os atacantes mataram todos os nossos guardas. Eles
perderam alguns, mas ainda tinham dezesseis homens. Eles
pensaram que tinham isso. Dezesseis homens contra o
grande Vincent Romano. Essa era uma luta justa. Eles não
sabiam que eu existia e muito menos que morava naquela
casa. Matei-os antes mesmo de chegarem ao quarto de
Vincent.

— Dezesseis homens. Você matou dezesseis homens?


Como?

— Os primeiros tiveram a garganta cortada. Também


recebi algumas facadas bem colocadas. Eles nem sabiam o
que estava acontecendo. O resto estava confuso. Eles
pensaram que era Vincent, embora não pudessem ter certeza
no escuro, mas de repente, restavam apenas nove deles.

— Eles usavam óculos de visão noturna na escuridão,


então seus periféricos eram inúteis. Eu me certifiquei de que
eles não pudessem me ver. E então acendi as luzes e atirei no
resto antes que pudessem tirar o equipamento noturno. —
Ele faz parecer tão fácil. — Quando Vince acordou, encontrou
uma casa cheia de cadáveres.

— Ele dormiu durante a coisa toda?

Asher assente. — Ele costumava tomar pílulas para


dormir. É por isso que ele tinha que ter tantos guardas.
Apenas no caso de. — Ele dá uma risada sórdida. — Ele não
toma mais os comprimidos.
Eu expiro alto. — E você matou todos esses homens? —
Eu o estudo. — E mais, — eu acho.

Ele assente, e eu me pergunto porque ele está confiando


em mim com isso. — Os anciãos dos Romanos perceberam o
que aconteceu. Havia muitos guardas mortos. Vince não
conseguiu esconder. Além disso, a família Andretti foi
responsável pelo golpe.

Os Andretti são uma das cinco famílias. O território


deles fica no sul dos EUA. A área norte do território se opõe à
área sul do território Romano, causando muitas disputas
territoriais ao longo dos anos.

O ódio puro atravessa o rosto de Asher. — Eles mataram


nossos homens e tentaram matar Vince. Tinha que ser
retaliado. Eles me deram uma equipe e me mandaram fazer
isso.

Eu suspiro. — Aos 18 anos?

Ele concorda. — E eu também tive sucesso. Foi


realmente muito poético. Eu nunca soube quem ordenou
especificamente o golpe, mas fui atrás de alguém com a
mesma classificação que Vince. Eu fiz da mesma maneira que
eles planejaram o golpe de Vince também. Enquanto
dormiam. Olho por olho.

Não quero perguntar, mas tenho que saber. — Ele tinha


uma família?

— Sim, mas eu não mato inocentes.


— Mas você ainda mata pessoas.

— Matava, — ele corrige. — Eu não faço mais isso.

Eu acredito nele, mas isso não muda o fato de que ele


costumava fazer. É diferente suspeitar que ele é um
assassino através de boatos e fofocas na Internet, mas tê-lo
confirmado com tantos detalhes, direto da boca dele, uma
boca que eu recentemente beijei, é doentio.

Eu corro para o banheiro e esvazio meu estômago. Eu


posso sentir Asher pairando na porta.

— Eu não posso fazer isso. Não posso estar com você


quando sei disso, — sussurro.

Não sei se essa é uma maneira barata de combater os


sentimentos intensos que ele traz em mim ou se estou
realmente tão enojada por ele defender alguém que ele ama.
Mas matar pessoas está errado. Eu acredito nisso com
certeza absoluta. Matar os assassinos em legítima defesa é
inexpugnável.

Mas entrar no território de Andretti e matar um capo e


seus homens? Ele não precisava fazer isso.

Isso é premeditado. Isso é assassinato.

Que tipo de pessoa eu seria se soubesse disso e


continuasse a perseguí-lo? Se eu gosto dele, apesar de todo o
sangue em suas mãos?

Suas palavras zombam de mim.


Você não pode des-saber.

Eu deveria ter escutado ele. Talvez então tivéssemos o


que poderíamos ter.

Sua boca se aperta, mas ele assente. — Eu vou pedir


para Xavier ajudá-la com suas coisas.

— Espere! — Eu vacilo, sabendo que o que estou prestes


a dizer é tão estúpido, tão imprudente e tão emocional. Eu
não deveria, mas continuo assim mesmo: — Não posso estar
com você romanticamente, mas ainda vou honrar nosso
acordo.

Eu não sei porque digo isso.

Ok, eu aceito.

Mas é tolice, e nada de bom pode vir disso. No entanto,


não posso decepcionar o Asher que conheci nos últimos
meses. O cara brincalhão. O beijador zeloso. O homem que
era forte o suficiente para aceitar minha ajuda apenas
algumas horas atrás e me agradeceu por isso com deliciosos
beijos.

Como posso negar minha ajuda quando ele ainda


precisa? E se estou sendo sincera, não estou pronta para
deixá-lo ir.

Eu gosto dele.

Meus pensamentos são tão conflitantes que não consigo


entender. Eu gosto dele, mas acho que não posso estar
moralmente com ele se ele for morto, mas ainda estou
escolhendo ajudá-lo, mas isso não é tão errado, pois significa
que estou ajudando um assass..., não sei.

Eu não sei.

Eu não sei.

Eu não sei.

Cortei meus pensamentos tumultuados e espero que ele


fale. Ele faz. — Por que você faria isso por mim?

Eu não sabia a resposta para isso um segundo atrás,


mas olhando para a honestidade em seu rosto, eu sei agora.
A verdade gruda na minha garganta, mas eu a forço a sair.

Tem um gosto amargo. Cru. Exposto. — Eu não corro de


você.

Não posso.
Capítulo 26

A coragem está morrendo de medo, mas de qualquer maneira


segue em frente.
– John Wayne

Temos uma trégua hesitante. Bem, trégua não é a


palavra certa para isso. Isso implica que estamos lutando,
mas não foi isso. As únicas coisas que brigam entre nós são
as que poderíamos ter e as que não deveríamos. Elas estão
constantemente em guerra uma com a outra, raramente
aderindo à trégua que delineamos quando Asher, felizmente,
concordou em esquecer minhas palavras. Eu não corro de
você.

Era estúpido dizer isso, mas ele precisava saber porque


eu decidi ficar. Pelo menos eu fui capaz de lhe dar uma meia-
verdade. De jeito nenhum posso dizer a ele que não estou
pronta para deixá-lo ir.

Sinto o que poderia ter acontecido à noite, quando o


espaço na cama entre Asher e eu se instala sobre nós como
um nevoeiro inevitável. Ele está dormindo na cama comigo
desde o pesadelo, e eu ainda não consigo pedir que ele não o
faça.

Sinto o que não deveria sentir quando ele me dá


beijinhos doces pelos paparazzi. Após a partida de caridade,
fizemos mais aparições públicas juntos, mas ainda estamos
cautelosos com a ameaça contra a minha vida. A polícia não
tem pistas e nem o investigador particular de Asher. Então,
Asher aumentou a segurança. Eu tenho dois guardas
pessoais o tempo todo, Xavier e quem for designado para mim
naquele dia.

Eu sou meio ilusória e meio realista. Eu sei que o que


tínhamos não era realmente algo profundo, mas também sei
que poderia ter sido se eu deixasse. Mas, foi apenas um breve
momento entre duas pessoas que não deveriam estar juntas e
perceberam que queriam estar.

E então acabou. Rápido, mas doloroso. Oh, tão doloroso.

E me pego fingindo que isso não aconteceu.

Asher, abençoe sua alma, está brincando comigo,


ajudando a combater o constrangimento, fingindo que não
existe até que realmente não exista. Fingimos que não há
razões para estar lá e, depois de algumas semanas, não está.
Então, de muitas maneiras, voltamos a como começamos
antes que ele invadisse seu quarto na manhã do jogo de polo
e revelasse suas inseguranças quanto a depender dos outros.

Foi nesse momento que percebi que ele é vulnerável. O


momento que me fez questionar o lado assassino dele. Se não
houver esse momento, não haverá o próximo momento
sensível e o próximo e o próximo. Então, lutei para esquecer
essa memória e, quando finalmente o fiz, era mais fácil
esquecer os beijos que vieram depois
e a mão íntima

e as conversas que temos apenas apertando as mãos um


do outro

e os olhares que ainda roubamos um do outro

e como fiquei com raiva quando aquelas pessoas falaram


mal dele

e como foi bom defender um homem que eu admiro


profundamente

e como o tempo é apenas uma construção quando nos


beijamos

e como ele sabe que eu mergulho meus biscoitos na água

e...

Balanço a cabeça.

Eu deveria estar esquecendo-o, não pensando mais nele.


Asher está em um voo para a Itália. Esta é uma pausa rara
para mim. Desde que Monica estragou tudo sem saber da
partida de caridade com polo até o último minuto, Asher
esteve por aí mais. Aproximadamente um mês se passou
desde o evento, e um novo semestre escolar começou, mas
até agora, Asher não deixou o estado nenhuma vez.

Ele passa a maior parte do tempo no prédio de


escritórios da Black Enterprises, o que ainda significa que eu
tenho a cobertura sozinha a maior parte do dia, mas à noite,
eu o sinto deslizar na cama ao meu lado. É a desgraça e
destaque do meu dia de uma só vez.

Mesmo com Asher na cidade, não falamos muito. Não


vou sair do meu caminho para evitá-lo, embora eu queira. Eu
me recuso a fazer um esforço para evitá-lo, porque significa
reconhecer que há algo entre nós a evitar. Ainda não posso
fazer isso. Tudo ainda está muito cru.

Então, eu aumentei meus cursos para vinte e estou


sempre me perdendo em tarefas irracionais. Quando não
estou fazendo trabalhos escolares, que ainda faço na
cobertura, estou me desgastando fisicamente, seja na
academia ou no campo de tiro de Asher.

É onde estou agora, tirando minhas emoções em um


pedaço de papel com o contorno de um homem. Os estrondos
altos dos tiros estão sendo abafados pela música pop. Tenho
fones de ouvido Bluetooth embaixo dos protetores de ouvido à
prova de som que uso quando estou no alcance. Uma lista de
reprodução que eu recebi do Rogue está ecoando nos meus
ouvidos, tão alta que nem consigo ouvir meus próprios
pensamentos.

Pressiono o botão ao meu lado e o papel alvo avança.


Depois de soltar, estudo os buracos. Fiquei muito melhor,
mas duvido que seja capaz de fazer isso com uma pessoa. Em
uma situação da vida real, provavelmente não terei coragem
de puxar o gatilho e muito menos fazê-lo com precisão.

Não que eu precise. É para isso que há Xavier.


Entrando no arsenal anexado, guardo a arma que estou
usando e saio para o corredor. Xavier está parado ao lado da
porta, seus olhos examinando o amplo corredor. Ele fica aqui
sempre que eu estou brincando no arsenal, porque ele não
será capaz de ouvir nenhuma ameaça além das paredes à
prova de som do arsenal.

Se houver uma ameaça, ele pressiona um botão na


porta e um alarme soa no alcance e no arsenal, que só podem
ser inseridos no alcance. Quando isso acontece, devo entrar
no arsenal, que funciona como uma sala de pânico. Lá, eu
devo pressionar uma sequência de números, e as portas
trancam de uma maneira que só pode ser aberta por dentro.

Os monitores do que está acontecendo lá fora deslizarão


do teto. Eles serão de alta definição, ao vivo e equipados com
áudio. O protocolo também me faz usar equipamentos à
prova de balas de corpo inteiro que cubram meus braços e
pernas e chamar a polícia se não receber notícias de Asher
em quinze minutos.

Eu já disse isso antes e vou repetir: a segurança é um


exagero. Mesmo depois dos dois tiroteios, ainda penso nisso.

Quando ele me vê, entrego a Xavier o papel que


aniquilei. Ele sorri e diz algo parecido com “Melhor”, mas eu
ainda estou com os fones de ouvido e não consigo ouvir nada.
Eu digo a ele que vou tomar um banho, então ele fica do lado
de fora da porta quando eu entro no quarto.
Eu tiro minhas roupas, deixando um rastro de tecido no
chão até ficar completamente nua. Vou limpar mais tarde,
antes de Asher retornar. Estou dançando ao ritmo da música,
aproveitando a liberdade de ter esse lugar para mim mesma
novamente, quando entro no banheiro e vejo Asher.

Eu congelo. Ele está no chuveiro, completamente nu.


Ele tem uma mão na parede de mármore e a outra no pau
duro. Com os olhos fechados e a cabeça debaixo da água
corrente, ele ainda não me viu, então eu não vou embora.

Se você se deparar com alguém como Asher se


acariciando enquanto a água escorre pelo seu peito
musculoso... bem, você estaria mentindo para si mesma se
disser que não pararia para olhar.

Eu fico em pé, enraizada no chão, enquanto sua mão


acaricia o comprimento de seu pênis aumentado. Sinto-me
ofegar, mas somente ouço o som da música que sai dos meus
fones de ouvido. Asher para, sua mão parando no meio do
seu pênis e levanta a cabeça.

Quando seus olhos se fixam nos meus, pensei que ele


pararia, mas ele não o faz.

Ele pega minha forma nua, seus olhos viajando para


cima e para baixo ao longo de mim, brilhando em luxúria e
apreciação. Então, ele continua a se acariciar enquanto olha
para o meu corpo. Seus lábios se separam, e eu acho que um
gemido sai deles, mas não consigo ouvir.
E Santo Inferno, eu quero ouvir.

Eu arranco os fones de ouvido dos meus ouvidos,


jogando-os descuidadamente no chão com o resto da minha
dignidade. A atração magnética que sempre existiu entre nós
me puxa até que eu esteja bem na frente do chuveiro, e a
porta de vidro é a única coisa que nos separa.

Quando coloco uma mão no vidro, a dele faz o mesmo,


bem sobre a minha, movendo-se para ficar cara a cara
comigo. Eu posso abrir a porta e estarei lá com ele em um
segundo. Não é como na primeira noite em que não nos
conhecíamos. Ele me conhece e eu o conheço. Ele não vai me
deixar dessa vez.

Mas eu não posso. Eu sou uma covarde.

Ou talvez eu seja corajosa? Eu não sei.

Mas não sou corajosa o suficiente para deixá-lo e sou


covarde demais para me juntar a ele.

Em vez disso, estou congelada de luxúria, vendo-o


acariciar seu pênis lentamente. Minha boca fica molhada ao
ver uma veia correndo por seu comprimento generoso. Seu
punho cerrado se move lentamente para cima, parando na
cabeça de seu pênis e torcendo antes de voltar para a base.

A água do chuveiro desce pelo rosto, passando pelos


olhos, fazendo com que eles se fechem. Quando ele os abre,
ele avista meus dedos, que mergulharam além da minha
fenda e na minha boceta dolorida. Acaricio-me, bombeando
dois dedos na minha umidade e usando a palma da minha
mão para aliviar meu clitóris latejante.

Seus olhos se conectam com os meus e, quando ele fala,


sai como um rosnado. — Goze para mim, Lucy. Goze comigo.

Meu corpo sucumbe à sua demanda imediatamente,


submetendo-se ao prazer, submetendo-se a ele. Nem um
segundo depois, ele se junta a mim, e meus olhos mal
conseguem ficar abertos pelo prazer, mas eu os forço a abrir,
recusando-me a perder a visão dele gozando para mim.
Gozando comigo.

Quando terminamos, ofegando e mal saciados, nossas


mãos ainda estão pressionadas uma contra a outra,
separadas pela porta de vidro. É claro e fino, mas também
pode ser a Grande Muralha.

Estou nadando na cobertura quando percebo que Xavier


não está comigo. Olho em volta, uma carranca puxando meus
lábios quando não o vejo em lugar nenhum, e saio da piscina.
A água escorre pelo meu corpo vestido de biquíni, mas eu me
limpo com uma toalha felpuda.
Depois que Caroline levou um tiro e decidimos me
manter trancada na cobertura novamente, Asher transformou
o telhado em um deck com piscina. Em vez de grades ou uma
parede na altura da cintura para impedir que eu caísse da
borda da torre, ele tinha vidros à prova de balas instalados ao
redor das bordas do telhado. É claro, com quatro metros de
altura e pode suportar repetidos disparos do rifle de qualquer
atirador.

Todo o conjunto foi instalado a uma velocidade


impossível e tudo foi feito para mim. Por Asher.

Que gosta de mim.

Que gozou na minha frente. Que gozou comigo.

Com quem eu estou tão confusa.

Que eu percebo que está bem na minha frente.

— Onde está o Xavier? — Eu pergunto, quebrando o


silêncio entre nós.

Faz uma semana desde que vi Asher gozar. Desde que


eu gozei com ele. E tenho feito um ótimo trabalho em evitá-lo.
Sempre que ele está em casa, eu me tranco na sala de cinema
e adormeço em um dos assentos confortáveis. Eu nem volto
para o quarto até depois que ele sai para trabalhar na manhã
seguinte.

— Enviei-o para casa durante o dia.


Olho-o cautelosamente. Se ele enviou Xavier para casa
durante o dia, significa que ele está planejando me proteger
até o turno da noite chegar. Ou talvez até passando disso.

— Você está me evitando, — diz ele.

— Eu estou.

Ele assente, aceitando minha verdade com desgosto. —


Jante comigo esta noite.

— Vamo sair da cobertura?

Não somos vistos em público há algum tempo. Talvez ele


tenha um evento que eu preciso ser vista?

— Não, eu vou cozinhar para você.

— Você vai cozinhar para mim?

A imagem de Asher nu debaixo de um avental passa


pela minha mente, sem dúvida um efeito colateral de tê-lo
visto gozar. Eu coro, empurrando a noção da minha mente.
Não consigo pensar nisso.

— Sim, eu vou fazer o seu prato favorito.

— Qual é?

Eu tenho muitos pratos favoritos. A comida é o meu


prato favorito. E não pode ser reduzido a um item.

"Lomo saltado."
Oh. Ele tem razão. Esse é o meu favorito absoluto. —
Você vai me fazer lomo saltado?

Pareço tão estúpida quanto penso ao repetir todas as


suas palavras?

Eu não posso ajudar minha mente com a dúvida, no


entanto. Nós não nos falamos há uma semana, e ele quer
jantar comigo e me fazer minha comida favorita? E é lomo
saltado. É uma forma de arte que tenta assar batatas fritas e
refogar em molho. Nem eu posso fazer isso, e sou uma
cozinheira doméstica talentosa, especialmente agora, depois
de horas de prática no aplicativo Cozinha da Lucy no meu
console de realidade virtual.

— Sim. Agora, se você acabou de tocar Repeat After Me


(repita depois de mim), eu tenho um vestido que gostaria que
você usasse.

Ele tira uma sacola de uma das espreguiçadeiras e a


entrega para mim. A sacola é preta, da mesma cor da cadeira,
então eu nem percebi lá. Eu não abro.

— Então, você fará o jantar para mim e você tem um


vestido para eu usar, apesar de estarmos comendo em casa...
Asher, o que é isso?

— É um encontro. — Ele diz isso de maneira tão casual,


tão prática, mas ainda me deixa confusa. Um encontro?

— Eu disse que não posso estar com você


romanticamente.
— Você também gozou com sua boceta enrolada em
seus dedos enquanto me observava acariciando meu pau. Um
pau que ficou louco de pensar em seu rosto, seu corpo. Um
pau que gozou ao ver você fodendo sua própria boceta com os
dedos.

Eu tremo com as memórias que suas palavras


impetuosas evocam. — Então?

— Então, isso muda as coisas.

— E se nós gozássemos juntos no beco fora do Rogue,


isso também mudaria as coisas? Eu também teria um
encontro?

Eu não teria. Nós dois sabemos disso. Mas preciso que


ele diga. Para dizer qualquer coisa que eu não vou gostar.
Estou parada, porque quero deixá-lo cozinhar para mim, para
ir a esse encontro com ele. Mas tenho medo do que isso
signifique sobre mim se eu fizer.

Ele é um assassino.

Ele matou muitas pessoas.

Lembre-se disso, Lucy.

— Se você gozasse tão bem quanto há uma semana,


sim, isso teria mudado as coisas.

O sorriso desliza pelos meus lábios antes que eu possa


pisotear como o traidor que é. — Você é um mentiroso.
— Você também, Lucy. Você mentiu quando disse que
não pode estar comigo romanticamente. Você pode, mas está
com medo.

— Você me culpa?

—Depende do que você tem medo.

— Você me diz, já que você parece saber todas as


respostas, — murmuro, cruzando os braços amargamente.

Ele dá um passo mais perto, fazendo-me puxar a toalha


com mais força em volta do meu peito. — Você tem medo da
minha reputação. Você tem medo do meu lado mafioso, ainda
não me viu fazer nada relacionado a isso. É o predador que
está escondendo você do mundo que você deve ter medo.
Esse é o homem que perseguiu a família Andretti, um aviso
para eles pensarem duas vezes antes de irem atrás de sua
família novamente. Esse é o homem que fará qualquer coisa
para proteger aqueles que ama.

Eu cambaleio para trás, descrença escrita em todo o


meu rosto. — Você me ama?

— Não, — diz ele, descartando o pensamento


rapidamente. — Mas eu irei. É para onde isso está indo. Você
não vê? Eu me preocupo com você, Lucy. Nós já nos
importamos muito um com o outro. Se não o fizéssemos, eu
não teria pulado na frente de uma bala e você não teria me
defendido na partida de polo. Mas eu fiz, e você fez. Você não
vê o que isso significa?
Eu faço.

Isso significa que ele está certo. Eu me preocupo com


ele, e ele se importa comigo. Eu sei isso. Eu sei disso há um
tempo agora... mas ainda estou brigando com o passado dele.

Com a contagem de corpos perturbadora que ele deixou


em seu rastro.

Ao meu olhar, ele diz com veemência: — Eu não matei


aqueles homens para a família Romano, Lucy. Eu matei
aqueles homens por Vince. Porque ele me cuidou. Porque ele
me deu uma casa. Porque ele pode muito bem ser meu pai.
Porque eu o amo, e ele me ama. Fiz isso por ele e, também,
por você. Eu não me arrependo. Mesmo que isso signifique
que nunca serei o homem a quem você se entrega, sempre
farei qualquer coisa para protegê-la e sempre farei qualquer
coisa para proteger minha família.

Eu tomo a expressão sincera em seu rosto, gravando a


maneira como ele apenas me mostrou sua alma em minha
mente, esperando que nunca esquecesse suas palavras.

Mesmo que isso signifique que nunca serei o homem a


quem você se entrega, sempre farei qualquer coisa para
protegê-la...

Eu sempre farei qualquer coisa para protegê-la.

Eu sempre farei qualquer coisa para protegê-la.

Eu sempre farei qualquer coisa para protegê-la.


Parece muito cedo para dizer algo dessa magnitude, mas
também parece certo. Como nenhuma outra declaração pode
ser feita para o que temos do que “sempre”. E isso me
assusta, mas preciso superar esse medo, porque não importa
o que aconteça, não fugirei de Asher.

Mas isso não significa que não podemos desacelerar.

— Se fizermos isso, — eu começo, — temos que ir


devagar.

Um sorriso surge nos lábios de Asher, e eu sei por que


está lá. Nós ficamos juntos logo após a reunião e nos
mudamos juntos depois de mal nos conhecermos. Também
recentemente nos reunimos. O tempo para o lento já passou.

Mas eu não quero dizer fisicamente. Eu posso cuidar


disso.

Quero dizer emocionalmente. Porque se continuarmos


nesse ritmo, meu gostar se transformará em amor, e eu não
estarei pronta para isso. E eu preciso estar pronta para isso,
para ele. Isso parece real e especial demais para atrapalhar.

— Nós podemos ir devagar, — Asher concorda, fazendo-


me ceder de alívio. Ele se inclina para me beijar, e eu o deixo
roçar seus lábios nos meus. Quando tento puxá-lo para mais
perto, ele se afasta de mim e diz com um sorriso: — Lento o
suficiente para você?

— Te odeio.
Ele ri e se dirige para a porta. Nas costas, ele grita: —
Jantar. Uma hora. Vista o vestido. Tommy costurou um forro
à prova de balas para você.

Quando ele se foi, eu abro a sacola, imaginando o que


ele escolheu para mim. É o vestido.

Meu vestidinho preto.

O que eu comprei no Marrocos. O que eu usava no


Rogue. O que eu pensei que Tommy doou.

Asher salvou para mim.


Capítulo 27

Esforço e coragem não são suficientes sem propósito e direção.


– John F. Kennedy

— Eu ainda não consigo acreditar que você gosta de


mim, — digo, encolhendo-me assim que as palavras escapam
dos meus lábios.

Asher me estuda, uma pitada de um sorriso enfeitando


suas feições. — Por que mais você acha que eu pedi para você
ser minha noiva?

— Você não tinha outra escolha!

— Eu sempre tenho uma escolha.

— Bem, você escolheu perguntar à Nicole também.

— Ela me perguntou.

— Oh.

— Oh, — ele zomba, mas é brincalhão.

Eu o chuto embaixo da mesa, mas ele prende minha


perna entre as dele e se abaixa para puxá-la em seu colo.
Fico feliz por estarmos em casa e não em um restaurante em
público, embora não ache que isso impediria Asher de me
tocar assim.
— Dance comigo, — Asher ordena suavemente,
liberando minha perna.

— Não há música.

— Música! — Asher comanda a sala, e uma melodia


suave começa a tocar.

Deixei que ele me puxasse em seus braços, a alguns


metros da sala de jantar, onde acabamos de jantar. Ainda
sou capaz de me mover levemente, apesar de estar recheada
com o lomo saltado, que estava delicioso e perfeitamente
preparado. Depois de alguns minutos balançando
frouxamente em seus braços, Asher me puxa perigosamente
para mais perto. Inclino minha cabeça para cima, para que
meu rosto não seja esmagado contra sua clavícula.

Ele está quieto, mas eu o ouço dizer: — Você está limpa.

Estou confusa. — Sexualmente? — Eu deixo escapar,


mortificada pela minha falta de tato.

Ele ri e eu sinto vibrar em seu peito. E que peito!


Encontro-me pressionando mais perto dele, para que eu
possa contar quantos pacotes de abdômen ele tem em seu
estômago. Eu já fiz isso antes, mas nunca vou me cansar
disso

— Seu histórico, Lucy. Seu fundo está limpo. Você me


intrigou e tinha um fundo limpo, então eu escolhi você. Não
vou mentir e dizer que queria estar com você naquela época,
mas gostei do que vi.
— Oh. — Eu respiro profundamente e recuo um pouco.

Estou oscilando à beira da incerteza, sem saber se devo


ou não me sentir culpada pelo meu passado. Ele acha que eu
tenho um histórico limpo, mas ele não sabe sobre Steve. Não
é como se eu tivesse feito algo errado, mas é muita bagagem.
Bagagem que não mencionei nenhuma vez.

O que acontece se ele me pedir para ir a Los Angeles


para a inauguração de seu hotel, e eu disser não? Porque, de
jeito nenhum, poderei estar no mesmo estado que Steve. Não
vai acontecer. O pensamento faz minhas pernas tremerem, e
Asher percebe.

— Você está pensando em correr agora? Estou me


movendo rápido demais? — Ele pergunta.

Eu sei que é errado enganá-lo, mas eu ainda aceno. Não


posso contar a ele sobre Steve agora. Muito tempo se passou,
e estou presa à minha decisão.

Ele me olha direto nos olhos enquanto diz: — Eu vou


devagar. Mas sempre que você pensa em fugir, lembre-se de
que não fugiu de mim quando eu era o grande lobo mau.
Você é mais corajosa do que pensa.

Meu rosto fica vermelho e eu murmuro: — Você ainda é


o grande lobo mau. —

— Oh, Lucy. — Ele suspira. — Nunca para você. Nunca


para você.
Devido à sua palavra, Asher diminuiu a velocidade. Eu
quase gostaria de não ter assentido quando ele perguntou se
estava se movendo rápido demais. Que eu deveria ter lhe
contado a verdade. Mas não o fiz e agora estou sofrendo as
consequências.

Faz dois dias, e a maioria das ações que consegui dele


são alguns beijos de boca fechada nos lábios. Estou
enlouquecendo, tentando transformar cada beijo em uma
sessão de beijos que espero que se transforme em sexo. Mas o
que me falta em força de vontade, ele possui de sobra. E
agora, estou precisando desesperadamente de um
lançamento, mas não posso obtê-lo.

Olho o relógio na mesa de cabeceira, observando que


Asher deve estar em casa em breve. Estendo a mão entre as
pernas, passando o dedo pela fenda de qualquer maneira. Eu
não ligo. Eu quase espero que ele me pegue. Eu mergulho um
dedo em mim mesma, bombeando lentamente até que minha
umidade se espalhe por todas as minhas paredes. Eu arrasto
meu dedo úmido de volta e circulo meu clitóris com ele antes
de mergulhar de volta em mim.

Não é o suficiente. Pego um travesseiro aleatório e o


coloco entre minhas coxas, pressionando-me contra ele. Eu
balanço contra o travesseiro macio até sentir o delicioso atrito
contra meu clitóris. Um dos meus dedos aperta um mamilo e
a outra mão massageia um seio. Eu posso sentir minha
umidade pingando de mim e sobre o travesseiro, mas eu não
me importo.

Estou ofegante, tão perto do êxtase, quando ouço Asher


lá fora. Ele está cumprimentando meu guarda noturno, e eu
sei que é apenas uma questão de tempo antes que ele entre
no quarto. Eu rapidamente agarro o travesseiro entre as
minhas pernas e o jogo no topo da cama antes de me arrastar
para debaixo das cobertas.

Quando ele entra no quarto, estou casualmente jogando


Angry Birds no meu iPhone. — Você não bate? — Eu
pergunto, grata por ser capaz de manter minha respiração
estável.

— É o meu quarto.

— Oh. Certo.

Ele pisca para mim. — Você sabe quem deve bater?

— Monica.

Ele ri quando entra no banheiro para tomar um banho.


Eu relaxo meu corpo, dando um tapinha nas costas por jogar
com calma. Mas quando ele termina o banho e entra cama,
sua cabeça se conecta com o travesseiro contra o qual eu
estava moendo, o que eu quase gozei, e ele respira fundo.
Seus olhos se conectam com os meus, a luxúria está
claramente lá, mas ele os fecha antes que algo aconteça.

Antes que ele me toque.

E tudo o que consigo pensar é que não quero mais ir


devagar.
Capítulo 28

É somente através de trabalho e esforço doloroso, por energia


sombria e coragem resoluta que passamos a coisas melhores.
– Theodore Roosevelt

Asher se foi quando eu acordo na manhã seguinte, mas


há uma única rosa negra na mesa de cabeceira,
acompanhada de um bilhete. Meus dedos roçam levemente
contra a rosa negra, maravilhados com a profunda cor de
ébano. Eu nunca vi uma rosa dessa cor antes agora, e é
linda.

Está em um vaso transparente cheio de um líquido


preto, provavelmente água misturada com tinta preta para
transformar a rosa branca em preta. Puxo a nota de baixo do
vaso delicadamente, tomando cuidado para não rasgar. Ela
foi digitada em um cartão preto sofisticado e o texto está em
uma fonte branca bonita e arrojada que se destaca do preto.

Ansioso para vê-la hoje à noite.

Eu sorrio brilhantemente. A nota não está assinada,


mas é seguro assumir que é de Asher. Quero dizer, nós nos
vemos todas as noites, mas hoje à noite, nós dois estaremos
vestidos para impressionar em um evento da Black
Enterprises. Ele pode estar ansioso para me ver, mas também
estou ansiosa para vê-lo. Eu já dei uma olhada no smoking
que ele reservou para esta noite, e minha boca fica molhada
com o pensamento dele nele.

Antes de me arrumar, coloquei a rosa negra


cuidadosamente no vaso. Algumas gotas de água preta
atingem a mesa e, quando vou limpá-la com o dedo, o corante
mancha em minhas mãos. Olho para as palmas das mãos,
encarando a escuridão negra.

Parece ameaçador contra a minha pele pálida.

Asher me lança um olhar preocupado quando ouve


meus pés batendo ansiosamente contra o chão do salão do
baile.

Toque.

Toque.

Toque.

Toque.

Toque.
Toque.

Estou impotente para impedir isso. Os nervos invadiram


meu corpo e não estou mais no controle de minhas ações.

— Vai ficar tudo bem, — Asher sussurra suavemente no


meu ouvido. Eu aceno e me recomponho, porque eu preciso.

Asher e eu estamos no Il Nero, um de seus mais novos


hotéis em Nova York, onde um evento para funcionários da
Black Enterprises está sendo realizado. Segundo ele, a Black
Enterprises detém essas festas quatro vezes por ano para
comemorar o final de cada trimestre. Normalmente, eu
estaria nervosa, claro, mas isso não é normal.

Meu estômago está revirando como se tivesse sido


atingido por um tornado F5, e eu sinto que estou prestes a
vomitar. Por um lado, todo o conselho e CEO da IllumaGen
estão aqui, e Asher está prestes a me apresentar a eles. Por
outro lado, este é o último dia do trimestre de negócios. Isso
significa que a votação de Asher perante o conselho da Black
Enterprises está marcada para daqui a uma semana, e este é
o último dia em que precisamos impressioná-los.

E por acaso enfiei o nariz nos negócios de Owen e


Madeline da última vez que os vi, ainda sinto o cheiro disso.
Espero que Madeline tenha cumprido sua palavra e falado
com Owen em nome de Asher. Acho que vou descobrir em
breve, porque os dois estão em pé com os homens da
IllumaGen.
Ah, e o que há com isso?

Por que todas essas empresas colocam apenas homens


em posições de poder? Foda-se isso.

Quando ela me vê, os olhos de Madeline se iluminam e


fico imediatamente aliviada. Permito que parte do meu
estresse escape, feliz por pelo menos uma das minhas
preocupações ser parcialmente aliviada.

— Lucy! — Madeline manca até mim, sua barriga


fortemente grávida impedindo-a de se mover mais rápido. —
Estou tão feliz que você está aqui!

Meus braços envolvem sua cintura em um abraço


estranho, dada a coisa crescente nela. — Então você não me
odeia?

Ela revira os olhos e diz: — Como posso te odiar quando


estamos fazendo sexo duas vezes por dia?! Sério. Eu que
agradeço. Owen, agradece. Minha vagina agradece.

Eu faço uma reverência dramática no meu vestido de


noite, fazendo com que a fenda alta exponha ainda mais a
pele. Madeline balança a cabeça em fingida desaprovação
quando Asher olha a carne visível, enviando uma sacudida de
desejo através do meu sangue.

Faz apenas alguns dias desde o meu jantar com Asher e


cerca de uma semana e meia desde que entrei no banho de
Asher, mas ainda me lembro o quão grande e grosso parecia
na palma de suas mãos, como foi bom me desfazer diante
dele. Por uma questão de levar as coisas devagar, estamos
contornando o que aconteceu, e estou feliz por isso... porque
se ele mencionar, eu não serei capaz de me segurar.

— Vocês dois são como um bando de adolescentes


excitados. — Madeline nos cutuca e balança a cabeça,
embora seus lábios estejam levantados em um sorriso.

Eu verifico ela. — Diz a mulher com uma vagina que me


agradece.

Estamos rindo quando Owen se aproxima de nós, um


sorriso relaxado no rosto. Ele parece muito mais amigável do
que a última vez que nos conhecemos, então talvez ele
realmente não esteja com raiva de mim. — Você está linda,
Lucy. — Ele beija minha bochecha e aperta as mãos de
Asher. — Asher.

Nós quatro nos dirigimos ao conselho da IllumaGen,


onde sou apresentada aos diretores de nível C da empresa e a
alguns acionistas importantes. Depois que as apresentações
são feitas, eles imediatamente voltam à conversa. Franzo a
testa, pois eles só trabalham para envolver Owen e Asher na
discussão, deixando Madeline e eu para ficar lá como meros
acessórios.

— Proponho cortar o laboratório de pesquisa em


elementos transponíveis (TE). É um esgotamento de nossos
recursos com pouco ou nenhum ganho, — diz o CEO.
Ele recebeu acenos do resto do conselho. Asher se vira
para mim. — O que você acha, Lucy?

Meus olhos se arregalam, alarmados com a atenção


repentina em mim. Eu me sinto como a criança que foi
chamada na aula porque ela não está prestando atenção.
Mas quando olho para Asher, vejo que ele está genuinamente
curioso. Ele quer minha opinião sobre isso.

— Acho que seria tolice interromper a pesquisa da TE.

Bem, do ponto de vista limitado dos negócios, suponho


que entenda porque o CEO sugeriria isso sem realmente
entender as TEs. A pesquisa sobre TE ainda é rudimentar,
tendo sido descoberta apenas nos anos 80. Mas, uma vez que
mais descobertas são feitas, as possibilidades são infinitas.

Continuo: — Hemofilia A e B, predisposição ao câncer,


imunodeficiência combinada grave e porfiria são apenas
algumas das doenças que os TEs causam. A pesquisa em TEs
será vital para curar essas doenças.

Quando olho para o conselho da IllumaGen, percebo


que não os estou convencendo. Eles ganham dinheiro com
curas temporárias, medicamentos que precisam ser usados
repetidamente. Preciso falar com o maior provedor de
dinheiro da IllumaGen- antibióticos.

Segurando uma careta, digo: — Já sabemos que os


transposons em bactérias geralmente carregam um gene para
resistência a antibióticos. Imagine se pudermos descobrir
uma maneira de impedir que esses transposons
transponham.

— Os antibióticos poderiam ser usados com mais


frequência, resultando em um aumento nas vendas para nós,
— conclui o diretor de operações para mim.

Odeio que esses homens vejam a pesquisa inovadora e


potencialmente salva-vidas como uma via de lucro, mas se
isso significa que a pesquisa continuará, não posso reclamar.
A ciência salva vidas, mas não há ciência sem dinheiro. É
irritante, mas há uma razão para escrever subsídios a um
trabalho.

O CEO me estuda por um momento, um olhar estranho


em seu rosto, antes de dizer: — Então, teremos que fazer
cortes no orçamento em outro lugar.

— Não necessariamente, — eu digo, ganhando seu


interesse. — Pelo que estou ouvindo, você trata cada campo
de pesquisa como uma divisão separada, mas se os tratar
como interdisciplinares.... — penso no Dr. Dennis Slamon,
que desenvolveu o medicamento contra o câncer de mama
Herceptin nas pesquisas de controle de natalidade. — ...você
poderá cortar muito trabalho interativo. Menos trabalho,
menos produtos químicos e menos tempo são iguais...

— Dinheiro economizado, — interrompe o CFO.

Eu concordo. — Exatamente.
Quando a conversa continua, Madeline se inclina no
meu ouvido e sussurra: — Isso foi incrível! — Com as minhas
sobrancelhas franzidas, ela explica: — Esses caras são
misóginos idiotas. Eles nunca falaram comigo uma vez além
de dizer oi. É como se minha opinião não importasse, não
importa o fato de que me formei com maior distinção
acadêmica na Wharton, enquanto o diretor financeiro apenas
se formou com distinção.

Aperto a mão dela com simpatia e aceno com a cabeça,


aproveitando a oportunidade para me inclinar para o lado de
Asher. Os campos de negócios e STEM são ambos dominados
por homens, mas combine os dois, e você tem caras como
esses – idiotas que nem param para considerar se a mente de
uma mulher tem mérito. Eu já vi isso antes, e vou vê-lo
novamente.

Asher está cercado por esse tipo de homem através do


trabalho, mas sempre foi respeitoso comigo. Ele pediu minha
opinião e sempre valorizou o que tenho a dizer.

Como estou percebendo o quão incrível é Asher? Ou


acabei de negar?
Capítulo 29

Coragem e perseverança têm um talismã mágico, diante do


qual as dificuldades desaparecem e os obstáculos somem no ar.
– John Quincy Adams

Está perto da hora do jantar quando Asher, Owen,


Madeline, e eu nos aproximamos da mesa principal. É
posicionada acima de todos os outros, como se fosse para a
realeza. E suponho que, nesta empresa, o conselho e o CEO
sejam.

Tomamos nossos assentos designados e, quando nos


acomodamos, noto que o assento ao lado de René está vazio.
Não vi Viola por perto, mas presumi que ela estivesse em
algum lugar, avaliando as pobres meninas por suas
aparências.

Um olhar para René e meu estômago dá um nó. Ele tem


um olhar ansioso no rosto, o que não pode significar que algo
de bom está por vir. Desvio o olhar imediatamente, mas ele
fala.

— Lucy, que surpresa maravilhosa ver você aqui.

— Por quê? — Asher pergunta, um aviso em sua voz. —


Este é um evento da empresa, e sempre levamos nossos
cônjuges aos eventos. Lucy em breve será minha esposa. A
presença dela não deveria ser uma surpresa para nenhum de
nós. — Ele estreita os olhos. — Mas vejo que sua esposa não
está aqui. Está com problemas em casa, René?

— De modo nenhum. — O sorriso de René se espalha


mais, seu rosto é um retrato inquietante de antecipação. —
Ela estava se sentindo mal, mas, felizmente, outro amigo meu
está na cidade. Então, decidi convidá-lo.

Os olhos de Asher se estreitam em suspeita. — Alguém


que conhecemos?

O sorriso de René é tão amplo agora que deve estar


machucando seu rosto. — Eu não acho que vocês tiveram o
prazer de se conhecer, mas sua querida Lucy deve conhecê-lo
bem.

Eu congelo.

É alguém que eu conheço?

Eu realmente não conheço ninguém.

Aimee? Tommy? Eduardo? Minka? As lacaias dela?

Todos eles já moram na cidade e ninguém do meu


passado tem dinheiro para passar férias na cidade de Nova
York. Então, quem mais pode ser? A mão de Asher segura a
minha debaixo da mesa, mas não posso tranquilizá-lo. Ou ele
está me tranquilizando? Eu não sei. Eu não sei de nada
agora. Não tenho ideia de quem René poderia ter trazido.
Minha mente considera Steve brevemente antes que eu
descarte a noção ridícula. Ninguém sabe sobre ele, e eu
mudei meu nome. René não tinha como encontrá-lo.

Mas tenho um pressentimento sobre isso, mesmo


quando abro a boca e digo casualmente: — Oh? Qual o nome
dessa pessoa?

— Agora isso arruinaria a surpresa, não é?

E pelos próximos quinze minutos, René tem aquele


olhar estúpido estampado em todo o rosto. Até Martin, que é
para René o que Nella é para Minka, parece desconfortável.

— Aí está você! — René diz jovialmente, assim que estou


enfiando o bisque de lagosta na minha boca.

Eu quase me engasgo, sabendo que esse deve ser seu


convidado secreto, mas me forço a engolir. Quando levanto a
cabeça para ver quem é, quase engasgo novamente.

Porque é o Steve.

Ouço René apresentá-lo aos outros executivos e suas


esposas, mas não estou prestando atenção. Asher balança a
cabeça para me encarar, a preocupação evidente, e eu não
posso lhe dar a garantia de que ele precisa.

Ele claramente não sabe quem é esse.

Ninguém, exceto René, que está girando a cabeça entre


mim e Steve, como se a única coisa que melhoraria isso é um
saco de pipoca amanteigada para contribuir com seu
estômago.

Meu primeiro instinto é correr. Para colocar o máximo


de distância possível entre Steve e eu. Mas então me lembro
das palavras de Asher.

Sempre que pensar em fugir, lembre-se de que não fugiu


de mim quando eu era o grande lobo mau. Você é mais
corajosa do que pensa.

Ele está certo? Sou corajosa?

Sentada aqui, tremendo e completamente silenciosa,


certamente não me sinto corajosa.

Asher se inclina para perto de mim, sua respiração leve


contra o meu ouvido e diz: — O que há de errado? — Eu não
posso responder. Eu não posso nem apreciar sua
proximidade. Eu estou tremendo. Eu tenho subestimado
minha história com Steve em minha mente, negando
mentalmente que fui vítima de alguém e ainda menos de uma
pessoa baixa como Steve.

Eu usava as roupas que ele tinha me dado como um


emblema de sobrevivência que só eu reconhecia, mas um
olhar para Steve e sei que estou errada. Não sobrevivi a nada.
Eu ainda estou tentando sobreviver. É um processo em
andamento que está chegando ao fim rapidamente.

Eu posso vestir as roupas e fingir que estou bem. Posso


afastar um pesadelo e dizer que não é grande coisa. Posso me
convencer de que superei, que não me pergunto se algo mais
aconteceu naquela noite e em outras noites. Se ele me tocou
antes.

Mas eu estaria mentindo para mim mesma.

Essas são todas as mentiras que compus na minha


cabeça. Eu não me curei. Em vez disso, eu corri. Quando
avisto Asher, que está inclinado para a frente, com uma
carranca nos lábios, eu sei que não posso mais correr. Ele
não sabe quem é Steve, mas sabe que estou com medo e não
gosta. Eu posso ver que ele está prestes a fazer algo sobre
isso, mesmo que esteja na frente do conselho da Black
Enterprises, e enquanto eu quero deixá-lo, não posso permitir
que Asher sacrifique sua empresa por mim.

Não quando há uma alternativa.

Não quando eu posso ser a pessoa que ele acredita que


sou. É hora de enfrentar o meu passado.

Minha mão automaticamente alcança o joelho de Asher,


apertando-o até ele parar.

Eu faço um inventário da situação, sabendo que preciso


fazê-lo o mais rápido possível. Já passou muito tempo desde
a chegada de Steve, e ele está parado sem jeito, seus olhos
fanáticos em mim. Claramente, esta é a reação que René
esperava, porque atualmente ele está recostado na cadeira,
permitindo que a situação siga seu curso.
Ao considerar minhas opções, percebo porque René
trouxe Steve aqui. Se ele conhece Steve, ele sabe o que
aconteceu. Ele sabe que eu corri. Ele acha que eu vou correr
de novo, e se eu correr, lá vai a estabilidade de Asher.

É uma aposta da parte de René, e ele parece tão certo


que não tenho certeza se ele percebe que está jogando.

Ele não me conhece o suficiente para saber que eu


correrei. Ele está assumindo isso com base nas minhas
decisões passadas, mas eu não sou mais essa garota. Eu
tenho um futuro que me recuso a estragar. Eu tenho Aimee e
Tommy e Xavier e até Eduardo.

Eu também tenho Asher.

Então, agarro a mão de Asher e digo a René: — O que é


isso?

Agora que não estou mais tremendo, Asher se endireita


e sua mão pousa na minha coxa. Ele aperta. Pode ser um
aviso ou pode ser uma pergunta. De qualquer maneira, eu
ignoro. Eu tenho que fazer isso. René queria me pegar
desprevenida, e funcionou. Mas não vou deixá-lo vencer.

Eu quero arruiná-lo.

Ele deixou meus demônios voltarem para a minha vida e


fez isso para machucar Asher. Isso não é algo que eu vou
deixa-lo se safar.
— O que você quer dizer? — René está sorrindo
amplamente agora. — Há algum problema? Eu pensei que
você ficaria feliz em ver seu pai. Quero dizer, você era órfã, e
esse homem gentil a levou. Você poderia ao menos ficar um
pouco mais agradecida.

Ao lado dele, Steve assente com entusiasmo, mas não


posso suportar a visão dele, então rapidamente desvio os
olhos. Isso apenas faz René sorrir mais. Ele acha que está
ganhando.

Eu estreito meus olhos, mas mantenho minha voz


nivelada. É preciso muito esforço, mas eu consigo. — Steve
não é meu pai. Ele me adotou por dois anos antes de minha
assistente social me remover de sua casa. O governo até me
permitiu mudar de nome.

Não há melhor maneira de derrubar René do que com a


verdade, mesmo que eu tenha que sacrificar meu coração,
minha dignidade e meu orgulho em troca.

Fico satisfeita quando René começa a empalidecer. Ele


esperava que eu fosse fraca, que me encolhesse diante de um
homem que eu permiti me machucar. Mas eu terminei de ser
fraca. Sentado ao meu lado está um dos homens mais fortes
que conheço. Eu me sento empoderada pelo conhecimento de
que, no pouco tempo que o conheço, eu o levantei em várias
ocasiões e ainda eu me levantei para ele em uma.
Então, eu persisto. — Mas se você conseguiu rastrear
Steve, sabe o que aconteceu quando eu tinha apenas
dezessete anos de idade.

Há alguns suspiros ao redor da mesa daqueles que


perceberam minha insinuação, mas eu os ignoro. Eu até
ignoro o quão tenso Asher ficou ao meu lado.

Eu me inclino para a frente e vou para a matança. —


Que tipo de homem leva um pedófilo e possível estuprador a
uma festa quando ele sabe que a vítima estará presente?

Então, paro um momento para aceitar o que aconteceu.


Eu apenas sacrifiquei meus segredos, minha sanidade e
minha dignidade por Asher. Quero dizer que era para mim,
mas sei que não era. Eu não precisava fazer isso. Eu poderia
ter fugido, já que sou tão boa nisso. Eu poderia ter feito isso
em particular.

Mas, em vez disso, fiz isso aqui, na frente do conselho


dele, para que eles pudessem ver quem é René. Então, na
próxima semana, eles escolherão o lado de Asher. Revelei
meus segredos sujos e me tornei vulnerável. Para Asher. E eu
faria isso de novo em um piscar de olhos.

Em meio ao silêncio que se seguiu, olho René de cima a


baixo, examinando-o cuidadosamente para dar ênfase teatral.
— Que tipo de homem você é, René? Porque você certamente
não parece adequado para se sentar no conselho. — Eu me
viro para os homens à mesa e pergunto: — O que vocês
acham?
Estou colocando-os no assunto. Os que estão ao lado de
René não têm tempo para inventar desculpas para ele. E se
eles discordarem agora, haverá uma brecha mais forte dentro
do conselho, e eles estarão do lado perdedor. Vejo a derrota
no rosto de Martin e de sua esposa, e quase faz valer a pena
sentar na presença de Steve.

Antes que eles possam falar, René, de rosto branco e


olhos em fúria, vira-se para seus colegas de trabalho e diz: —
Ela está mentindo.

Suas palavras cheiram a desespero. Ele não pode


refutar nenhuma das minhas reivindicações. Eu tenho a
verdade do meu lado. Mas ele não se importa, porque se ele
não disser algo agora, ele perderá. Inferno, sua carreira na
Black Enterprises já terminou. Mas ele não é do tipo que
desce sem lutar.

Acontece que nem eu.

Admito em voz alta pela primeira vez desde que contei à


minha assistente social: — Steve me atacou. Eu era menor de
idade na época. Isso não é mentira.

Do assento ao meu lado, Madeline suspira, sua mão


alcançando a minha mão que está do seu lado. Eu a deixei,
mas faço isso para fazê-la se sentir melhor, não porque eu
precise do conforto dela. Não preciso disso quando tenho
Asher. Quando eu me tenho.
René se empurra para frente. Sua boca se abre e se
fecha e se abre e se fecha. Ele está sem palavras, então eu sei
que ele ainda está confuso. Mas isso também significa que ele
ainda está tentando encontrar uma maneira de sair disso. E
eu não vou deixar. A única maneira de mostrar ao conselho
que estou dizendo a verdade é outra confirmação direta da
outra fonte.

Finalmente me viro para Steve, cujos olhos ainda estão


fascinados por mim. — Minha última noite morando com
você... foi a única vez que você entrou no meu quarto?

É uma pergunta carregada, e apenas nós dois sabemos


o que estou realmente perguntando – você apenas se tocou?
Ou você me tocou também?

Eu garanto que estamos fazendo contato visual, porque


tenho que ver se ele está dizendo a verdade. Eu tenho que
olhá-lo nos olhos para isso.

Suas bochechas estão vermelhas e seus olhos olham


cautelosamente ao redor da mesa para todos os outros,
menos eu, até que finalmente voltem para mim. — Essa foi a
única vez.

Oh Deus.

Eu ouço um gemido e acho que é meu, mas estou muito


ocupada absorvendo tudo para me importar.

Alívio como se eu nunca senti inunda através de mim.


Eu caio na minha cadeira, perguntando-me como processar
isso, se eu deveria ou não acreditar nele. Talvez seja uma
ilusão, mas por alguma razão, eu faço.

E então, vejo um borrão em movimento e, na frente de


toda a sua empresa, o conselho e o conselho de IllumaGen,
Asher dá um soco no rosto de Steve, fazendo-o voar no chão.
Capítulo 30

Sabedoria, compaixão e coragem são as três qualidades morais


universalmente reconhecidas pelos homens.
– Confúcio

Todo salão do baile está assustadoramente silencioso.


Quando olho para o chão, vejo Steve esparramado no chão de
madeira escura, com os olhos fechados.

Puta merda.

Asher o nocauteou.

Quando finalmente consigo olhar para Asher, ele está


tremendo. Não sei se é de raiva ou não, mas está me
atingindo mais do que ver Steve novamente.

Um chiado de uma cadeira é o primeiro som a quebrar o


silêncio, e todo mundo se vira para ver René se levantar da
cadeira e seguir em minha direção. Asher imediatamente
entra em ação e o interrompe antes que ele me alcance, mas
René ainda consegue se inclinar profundamente para a
direita e apontar um dedo na minha direção.

— Você, — ele ferve. — Você arruinou tudo.


Não sei porque ele está me elogiando assim, mas tenho
certeza de que o comportamento dele é extremamente
antiprofissional e público, para toda a empresa ver.

Mas, novamente, o de Asher também.

Oh Deus.

O voto.

Não acredito que René ainda esteja na Black Enterprises


depois dessa noite, mas não sei se Asher também. Ele deu
um soco em um cara na frente do conselho da empresa, de
seus funcionários e do conselho da IllumaGen. Isso não é
algo que se espera de um CEO que possa liderar uma
empresa bilionária. Se acontecesse de outra maneira, essa
certamente seria a vitória que René estava procurando –
Asher, agindo violentamente, alimentando os rumores da
máfia.

Mas não aconteceu de outra maneira. Isso aconteceu


comigo.

E Asher pode sofrer por isso.

Ocorre-me o sacrifício que é esse. Posso ter deixado de


lado minha dignidade e confrontado meus demônios por
Asher, mas não perdi nada que não pudesse recuperar.
Asher, por outro lado, arriscou sua companhia por mim. Uma
empresa que ele ama o suficiente para pedir a uma completa
estranha que se case com ele. Ele colocou isso em risco por
mim.
Você não faz algo tão grande para uma mulher que você
gosta. Você faz isso por uma mulher que ama.

Oh meu Deus.

Eu acho que Asher me ama.

Minha mão instintivamente alcança suas costas. Ele


ainda está de pé na minha frente, protegendo-me de René,
mas ao meu toque, ele se recosta, pressionando-se na minha
mão. O movimento é tão natural que sinto dentro de mim,
como se ele fosse uma extensão de mim mesma.

Com a mão ainda nas costas, eu me aproximo do lado


dele, então estamos parados um ao lado do outro.

Estou encarando René diretamente nos olhos quando


digo: — Vou conseguir uma ordem de restrição.

Eu não sei nada sobre direito, então não sei se tenho


algum fundamento legal para isso, mas parecia a coisa certa
a dizer. Como um golpe final para René na frente de todos. E
então eu pego a mão de Asher e saio, acenando em despedida
para todos os outros na mesa.

Eu posso sentir milhares de olhos em nós até sairmos


da sala. Assim que estamos no corredor, Xavier e Dominic
aparecem do nada. Eles nos acompanham até o carro, onde
Asher e eu nos sentamos em silêncio até voltarmos à
cobertura.
Somente quando estamos sozinhos no quarto dele,
Asher finalmente fala. — Por que ele não está na cadeia?

— Nunca houve nenhuma evidência concreta. Era a


minha palavra contra a dele. Pedi à minha assistente social
que me ajudasse a sair, e ela ajudou.

— Eu vou cuidar de Steve.

— Ok.

Eu realmente não me importo mais. Eu superei a dor e a


incerteza que Steve causou e finalmente sinto que estou me
curando. Mas será bom saber que Steve será tratado e não
poderá machucar ninguém.

— Legalmente, — acrescento, por precaução.

Asher sufoca seu pequeno sorriso com um beijo na


minha testa.

Deixei-nos ferver em silêncio por um momento antes de


dizer: — Você me ama. — Seus olhos se arregalam, mas ele
não nega.

Então, pergunto: — Por quê?

Quando ele se senta na cama e gesticula para eu me


juntar a ele, eu faço.

— Lembra quando eu te levei para casa pela primeira


vez? — Depois que eu aceno, ele continua: — Você estava
com tanto medo de mim, mas conseguiu exigir algo em troca
desse acordo. Eu não podia acreditar.

— E você me amou então? — Eu pergunto,


duvidosamente.

Ele balança a cabeça. — Não, mas eu estaria mentindo


se dissesse que não gostei do que vi. Comecei a prestar
melhor atenção em você depois disso, notando seus ataques
aleatórios de bravura. Apesar de seus medos, e há muitos
deles, — eu bufo — você é capaz de superar tudo. Eu nunca
vi uma verdadeira coragem assim antes.

— Não me interprete mal. Vi soldados Romanos


entrarem em batalha sabendo que estariam mortos, mas
esses homens não têm medo. Eles não precisam superar seus
medos para fazer o trabalho. Mas você precisa, e é lindo.

— E quando você me apoiou, nem precisou parar e


considerar. Você acabou por agir. Havia algo tão puro em seu
instinto para me proteger que eu não pude deixar de lhe dar
um pedaço no meu coração naquele dia. Depois disso, eu era
praticamente um caso perdido. Eu me apaixonei por sua
compaixão, sua coragem, sua força e você...

Eu o interrompi com um beijo, pressionando meus


lábios nos dele com uma urgência surpreendente. Quando
me afasto e digo: — Não quero mais ir devagar, — eu poderia
muito bem ter dito: ”Eu te amo”.

Porque eu o amo.
Meu Deus, eu realmente o amo.

Asher está olhando para mim como se estivesse prestes


a exigir tudo de mim. E agora, eu farei qualquer coisa que ele
me pedir, se isso significa que ele vai me empurrar na cama e
pressionar seus lábios nos meus. Quebrar meu feitiço da
seca. Mover-se para mim.

— Ajoelhe-se, — diz ele, sua voz exigente fazendo meus


mamilos enrugarem sob a minha camisa.

— Ok, Sr. Grey, — eu digo, provocando-o, mas faço-o de


qualquer maneira.

— Não. Eu não faço romance de livro, — ele responde, e


eu sei que estou prestes a ser fodida. Violentamente.
Apaixonadamente. Brutalmente.

O aviso é alto e claro, mas eu sei melhor. Asher pode


não ‘fazer’ romances, mas ele é um romance.

Eu pisco para ele, feliz por afastar o estresse da noite


com brincadeira, mesmo que apenas por um momento. —
Mas você faria por mim.

Ele não nega. — Ainda bem que você nunca perguntou.


Para mim.

Ele se levanta, meu rosto está nivelado com as coxas, e


caminha ao meu redor, então ele está de frente para minhas
costas. Eu tremo quando ele arrasta um dedo solitário do
meu ombro até o pescoço e pela espinha. Quando ele alcança
o zíper do meu vestido de noite, ele o puxa para baixo e
desliza as alças do meu vestido dos meus ombros. O tecido
desliza para fora de mim, juntando nos meus joelhos em um
círculo vermelho, mostrando-me completamente para ele.

Ele geme em apreciação quando vê que não estou


usando sutiã nem calcinha. O som vai direto para o meu
clitóris, e eu pulo para a frente, pressionando
desesperadamente o ar vazio. Ele ri levemente da minha
ansiedade e anda ao meu redor até eu estar de frente para
ele.

Observo atentamente enquanto ele tira o paletó do


smoking e começa a remover a camisa, cada estalo de um
botão revelando a pele macia e bronzeada. Quando ele desliza
a camisa dos ombros, deixando-a cair no chão, admiro os
planos duros de seu peito e abdômen, olhando o leve
punhado de cabelo que passa pelo V do quadril e desce pelas
calças.

Incapaz de me parar, estendo a mão para remover suas


calças. Meus dedos remexem em seu cinto, mal conseguindo
deslizá-lo na minha pressa. Ansiosa demais para esperar, eu
puxo sua cueca boxer e calça de uma vez, revelando uma
ereção espessa e longa que me deixa com água na boca em
antecipação.

Asher passa os dedos pelos meus cabelos até que sua


mão esteja descansando na parte de trás da minha cabeça. —
Abra.
Assim que meus lábios se separam, ele empurra seu
pênis para frente e para dentro da minha boca. Nós dois
gememos no instante em que meus lábios fazem contato com
a cabeça de seu pênis. Coloco minhas mãos em suas coxas,
na tentativa de me equilibrar enquanto ele fode meu rosto,
pegando o que quer de mim sem remorso.

Ele pega o que quer, mas eu o uso de volta. Enquanto


ele fode meu rosto, levanto meu corpo mais perto dele até
meu clitóris estar roçando sua perna. Meus quadris se
movem para cima e para baixo, e meu corpo se revolve em
atrito até que eu esteja escorrendo pela perna dele.

Asher se afasta abruptamente e agarra meus braços até


eu ficar de pé. Eu rastejo na cama e fico de quatro. Atrás de
mim, ele passa a palma da mão contra a minha bunda em
um toque provocador antes de dar uma palmada firme. Seus
dedos queimam uma trilha até a minha boceta, e solto um
longo gemido quando ele traça minha fenda, parando para
massagear meu clitóris.

Depois de mergulhar dois dedos dentro de mim, ele


pergunta: — Gostaria de uma palavra segura? — Sua voz
rouca trai sua luxúria. Ele está prestes a perder o controle,
mas eu também.

Eu gemo com suas palavras, mal capaz de deixar


escapar um ‘não’ antes que seus dedos me deixem e sejam
rapidamente substituídos por seu pau, afundando
profundamente em mim por trás. Eu encontro seus impulsos
violentos com os meus, moendo minha bunda contra ele.
Meus dedos agarram os lençóis pretos com força, lutando
para manter meu corpo abaixado enquanto cada bombada
sólida de seu pênis me empurra para frente.

Viro meu cabelo por cima de um ombro e torço-o em um


rabo de cavalo desamarrado, formando uma trela grossa.
Quando eu entrego a ele, ele rosna e puxa meu cabelo até
minhas costas arquearem e a dor é tão boa. Depois que ele
puxa meu cabelo para trás, forçando minha cabeça a se virar
e me beija bruscamente, mordendo meu lábio inferior, eu
gozo com força e incontrolavelmente, convulsivamente,
impotente em torno de seu pau.

Meus braços oscilam, fracos do intenso orgasmo.


Coloco-os nas minhas costas e pressiono-os um contra o
outro, como se estivessem presos por punhos invisíveis.
Asher geme com a visão. Meu rosto repousa no colchão,
enquanto ele continua a me foder por trás, cada impulso
empurrando meu rosto com mais força nos lençóis. Eu posso
sentir um segundo orgasmo se aproximando, mas antes que
ele me alcance, Asher puxa e me vira, então eu estou de
costas na cama.

Ele afunda de volta em mim, seus olhos tão escuros de


luxúria, que eu nem reconheço a cor deles. Não posso deixar
de fechar os olhos ao senti-lo de uma nova posição.

— Abra os olhos, — ele exige. — Olhe para mim quando


você gozar.
Quando abro meus olhos, nossos olhos se encontram, a
conexão tão intensa e íntima que está em desacordo com a
brutal batida de seu corpo no meu.

Um gemido gutural sai dos meus lábios e eu ofego: —


Estou tão perto.

Asher se inclina para frente, então nossas frentes


inteiras são pressionadas juntas, e acelera seu ritmo,
perseguindo meu orgasmo. Quando minhas paredes
começam a tremer em torno de seu pênis, sinto seus dedos
em volta da minha garganta, apertando levemente até que a
sensação vulnerável de ser dominada me faz gozar ainda
mais duro.

Nem um segundo depois, ele goza em mim, e não posso


deixar de desejar que ele tivesse me tomado sem barreiras. O
pensamento de sua pele contra a minha sem barreiras faz
minhas paredes agarrarem seu pau mais apertado.

Asher ri conscientemente e diz: — Precisamos colocar


você no controle da natalidade primeiro.

— Eu tenho um DIU, — eu digo, enquanto ele se afasta


de mim. — E eu estou limpa.

Ele sorri. — Eu sei. Eu também.

Concordo, embora eu já soubesse disso. Ele é muito


cauteloso para contrair uma DST. Asher trata seu corpo
como um templo, malhando frequentemente e comendo bem.
As únicas vezes em que o vi comer mal é quando ele é come
comigo, mas, mesmo assim, ele nunca come junk food.

Asher vai ao banheiro e volta com uma toalha de mão


quente e molhada. Eu relaxo no colchão enquanto ele me
limpa. Quando ele para abruptamente, eu abro meus olhos e
olho para o rosto dele. Ele está olhando meu pescoço, onde
umas marcas avermelhadas de um hematoma começaram,
sem dúvida, a se formar.

Quando ele fala, é suave. — Eu sinto muito.

Um sorriso malicioso cruza meus lábios. — Eu não


sinto.

E então eu agarro seus braços e o puxo contra mim,


reivindicando seus lábios nos meus. Hoje cedo, eu pensava
que estava no começo, mas percebo que estou na margem
oposta – o território nebuloso, onde os lábios de gostar e
amar se beijam e as linhas ficam embaçadas. E quando Asher
entra em mim novamente naquela noite, deslizando
lentamente para dentro e para fora de mim, nossas mãos
entrelaçadas e seus olhos presos nos meus, eu deslizo para
mais perto do amor, perigosamente além do limite de cair
para sempre.
Capítulo 31

A melhor proteção que qualquer mulher pode ter... é coragem.


– Elizabeth Cady Stanton

Acordo com um flash de luz. É rápido e acaba quando


eu abro meus olhos, mas estava brilhante o suficiente para
me acordar do meu sono.

— Asher? — Eu pergunto, grogue. — O que é que foi


isso?

— O alarme de pânico, — ele responde calmamente do


outro lado do quarto. —É uma luz brilhante que brilha uma
vez, seguida por três toques rápidos e sucessivos a uma
altura suficiente e com frequência para nos acordar de um
sono profundo."

Eu acordo em alarme. Quando olho para ele, ele já está


completamente vestido e colocando dois ímãs presos a um
chaveiro em partes aleatórias do espelho de corpo inteiro ao
lado da porta. Ele se abre e dentro dele há um cofre embutido
na parede. Existem armas, variando de um rifle de assalto a
uma espada de samurai, no cofre.

— Coloque algumas roupas. Algo que mostre o mínimo


de pele possível, — diz ele. Sua voz ainda está relaxada, como
se ele não tivesse me dito que o alarme de pânico soou e
atualmente não está carregando seu corpo com armas
suficientes para combater um pequeno exército.

Eu me forço a me acalmar, tentando exibir o mesmo


comportamento legal de Asher. Se ele não está preocupado,
eu também não deveria. No momento em que estou usando
meias pretas, leggings pretas e uma gola alta preta, minhas
mãos não estão mais tremendo. Percebo que Asher está
vestido da mesma maneira e aproveito o tempo para apreciar
o comando de Asher. Cobertos assim, nós dois estaremos
totalmente protegidos de balas em qualquer lugar, menos em
nossas cabeças.

Eu sigo Asher para o arsenal, nós dois nos movendo


silenciosamente pelo chão de madeira. Está tão silencioso nos
corredores que quase não acredito que exista uma ameaça.
Quando chegamos ao arsenal, Asher carrega mais munição,
colocando-o em alguma correia que serpenteia em seu peito.

Ele se vira para mim e diz: — Se eu não voltar em 15


minutos, chame a polícia e peça o detetive Jameson. Ele está
comigo.

E então ele pressiona seus lábios nos meus e sai antes


que eu possa dizer: — O quê?

Alguns segundos depois que ele se foi, as portas do


arsenal começam a se fechar e as telas planas descem do
teto. Percebo que Asher iniciou o protocolo da sala de pânico.
Quando as telas estão totalmente abaixadas, concentro-me
em estudar as imagens nelas, ignorando o buraco no meu
estômago que se forma ao pensar em Asher em perigo.

Reconheço imediatamente a equipe de segurança de


Asher. Existem cerca de treze deles do lado de fora das portas
da cobertura. Dois deles estão ao lado dos elevadores, dois
estão estacionados em frente à escada e o restante deles está
olhando para algum dispositivo preso à porta que separa o
corredor da cobertura. Ao ampliar o dispositivo, percebo que
ele possui vários fios e congelo.

Isso é uma bomba?!

A ideia é tão ridícula, tão absurda que risos frenéticos


borbulham na minha garganta. Afasto-me dessa tela, porque
não consigo me concentrar nisso sem me assustar. Todos os
quartos estão vazios, exceto a área aberta no térreo, onde a
sala de estar, a sala de jantar e a cozinha convergem em um
grande espaço aberto.

Alguns homens estão espalhados pelo chão. Não


reconheço nenhum deles, então sei que eles são os atacantes.
Os três guardas que normalmente ficam na sala de segurança
se juntam ao guarda noturno de Asher e ao meu. Mesmo com
os cinco vivos e vários inimigos mortos, nossos guardas ainda
estão em desvantagem em número de três para um.

Preocupa-me não ver Asher em lugar algum, mas não


consigo me concentrar nisso ou vou perder a calma. Uma
olhada no relógio me diz que menos de um minuto se passou
desde que Asher partiu, embora pareça uma hora. Vou dar a
ele 15 minutos antes de ligar para a polícia, mas nem mais
um segundo.

Observo pela segurança da sala de pânico enquanto


meu guarda noturno dispara dois tiros, o som silencioso
graças ao silenciador preso ao cano de sua arma. Um acerta
um atacante no pescoço e o outro acerta um entre os olhos
com uma precisão irritante. Dois e treze para ir. Meu coração
para quando um dos guardas é atingido no peito com uma
bala. Ele cai e não se levanta. Restam apenas quatro
guardas, e eu ainda tenho treze minutos e cinquenta e dois
segundos antes de poder chamar a polícia.

A contagem regressiva lê treze minutos e dezoito


segundos quando vejo Asher descendo a escada. Restam nove
atacantes e apenas um dos guardas de Asher em pé. O resto
caiu no chão, seus corpos sem vida ainda. Meu coração
lamenta a perda desses homens, mas me forço a empurrar
esses sentimentos de lado até que a ameaça seja eliminada.

Asher para no último degrau, seu corpo escondido atrás


da curva da escada. Enquanto ele fica lá, o último guarda é
baleado no coração.

Agora são apenas Asher e os nove homens.

Observo os homens se separarem em três grupos de


três. Um grupo limpa o salão esquerdo e o outro limpa o
salão direito. Eu ainda tenho minha mão pairando sobre o
telefone via satélite do quarto de pânico, quando o último
grupo se aproxima silenciosamente da escada, onde Asher
está escondido.

Mas em um movimento rápido, Asher jogou facas em


dois deles e tem o último com uma trava na cabeça. Quando
o cara desmaia, Asher amarra os pulsos com um lacre. Tudo
foi feito com tanta rapidez e eficiência que o único som
emitido foi um baque suave dos corpos cortados no chão.

Observo enquanto Asher entra no corredor esquerdo,


onde um dos grupos de três ainda está checando os quartos.
Ele prende um silenciador em uma pistola, depois desliza
para dentro do escritório e atira em dois dos atacantes na
parte de trás da cabeça antes que eles percebam que ele está
lá.

O terceiro está agora entrando no salão pela sala de


cinema que ele acabou de limpar. Ele passa pela porta aberta
do escritório e congela. Ele e Asher fazem contato visual, e
Asher entra em ação, quebrando o pescoço do cara antes que
ele possa levantar a arma nas mãos chocadas.

Restam apenas três atacantes e cerca de dez minutos de


sobra no meu temporizador. Alguns minutos atrás, eu
pensaria que era uma tarefa impossível, mas agora eu sei
melhor. Asher nasceu para isso. Eu posso ver agora, na
maneira como ele se move, calmo e seguro de si. Cada passo
que ele dá tem tal objetivo e beleza que faz com que essas
mortes pareçam quase impressionantes.
Esse pensamento me deixa tão enjoada que tenho
dificuldade em ver Asher matar os outros três com facilidade.
Eu me movo para me afastar da tela, mas quando vejo Asher
se aproximando da porta do corredor externo, pulo em ação,
correndo para o interfone e pressionando um botão.

— Não! — Eu grito.

Asher faz uma pausa na tela quando o som da minha


voz ecoa pelos alto-falantes, e eu assisto seus olhos se
fixarem na câmera, uma sobrancelha arqueada.

— Há um dispositivo do outro lado. Eu acho que é uma


bomba, — eu digo. — Xavier e alguns outros guardas estão lá
fora, lidando com isso.

Ele assente e gesticula para que eu fique na sala, então


eu faço. Observo enquanto ele limpa o resto da casa sozinho.
Estou calma enquanto ele faz isso, porque posso ver pelas
câmeras de segurança que não há ninguém vivo além dele,
mas deixo que continue assim mesmo. Melhor prevenir do
que remediar.

Quando ele termina de limpar a cobertura, ele se


aproxima do quarto de pânico. Pressiono um botão e a porta
se abre, as telas deslizam de volta para o lugar e o telefone
via satélite recua de volta para a parede. Assim que Asher me
vê, ele abre os braços e eu me movo para abraçá-lo.

Ele me leva escada abaixo, e minhas sobrancelhas


franzem em confusão quando ele diz: — The Walking Dead.
Há humor entrelaçado em sua voz, que explode alto na
sala. Eu pulo de medo quando vejo os cinco guardas se
levantando. Meu guarda noturno até estica as mãos na frente
dele e imita mal a caminhada de um zumbi. Ele não ganhará
nenhum Oscar tão cedo.

Eu expiro, minha voz apenas um sussurro. — Que porra


é essa?

O guarda noturno de Asher me ouve e sorri. — Roupas à


prova de balas.

Compreensão surge em mim imediatamente. É por isso


que as roupas à prova de balas só são divulgadas quando
necessário. Em situações como essa, em que os guardas
estão em menor número e podem levar um tiro. Eles fingiram
estar mortos, enquanto Asher permaneceu escondido e
esperou por uma oportunidade de atacar. A previsão
necessária para ter essa precaução é genial, e me vejo
apreciando Asher ainda mais.

Mas não posso evitar o golpe que jogo em seu caminho.


— The Walking Dead? Você não poderia inventar algo melhor?

Asher encolhe os ombros, um sorriso enfeitando seus


lábios. — Pensei que era divertido.

Há um gemido no chão. Observo quando o atacante


amarrado pisca os olhos algumas vezes antes de olhar para
vertical. Ele congela quando me vê, Asher e os cinco guardas
vivos. Então, ele se vira e corre em direção à porta, as mãos
ainda amarradas atrás das costas.

Lembro-me da bomba na porta e enfio minha perna,


fazendo-o tropeçar. É um movimento da escola primária, mas
funciona. Ele dá de cara na madeira e desliza um pouco pelo
chão antes que um dos guardas pise nas costas dele,
parando seu movimento.

— Legal, — diz Asher, com um sorriso nos lábios.

Reviro os olhos, mas também estou sorrindo, porque


isso é estranho. Acabei de fazer tropeçar um cara enviado
para nos matar.

Depois que os guardas cortaram o lacre do cara e


algemaram cada uma das mãos para separar os braços em
uma das cadeiras da sala de jantar, Asher disse a ele: — Vou
fazer uma série de perguntas e você vai respondê-las.

O cara assente com cautela.

— Você não é mafioso, — diz ele, embora eu não tenha


ideia de como ele sabe disso, mas confio que ele esteja certo.
— Então, você não deve lealdade. Não há razão para mentir.
Tenha isso em mente.

O cara assente novamente, mas permanece em silêncio.

Asher vira a faca borboleta que ele está segurando no ar


e a pega. — Quem te contratou?
O cara nem hesita quando diz: — Sem nome, mas ele
tinha cerca de 1,60, meia-idade, e vestindo um terno. Cabelo
escuro, olhos escuros e uma barriga redonda. Parecia
corporativo.

Asher pega seu telefone, digita algo e mostra para o


cara. — É ele?

Quando o cara assente, eu me inclino para ver a


imagem. É uma foto da empresa, de René. Asher continua
seu interrogatório: — Como você chegou aqui?

— Uma senhora nos deu uma chave e nos ajudou a


passar pela biometria. O cliente também nos forneceu um
arquivo com todos os seus protocolos de segurança. — Ele
olha as roupas dos guardas. — Bem, acho que nem todos
eles.

Asher assente, e então, em um movimento rápido


demais para eu rastrear, corta a garganta do cara. Ele se vira
para o guarda noturno e diz: — Encene e apague as imagens
de segurança de hoje à noite. Faça parecer que eles fizeram
isso.

Os guardas acenam para Asher, e eu assisto em choque


quando o cara está desamarrado e esparramado no chão,
então parece que ele foi morto durante a luta. Ele ainda está
fracamente vivo no chão, mas está perdendo muito sangue.
Está agrupando-o em uma auréola carmesim.
A visão é tão sangrenta que me inclino e vomito no chão.
Metade dele cai em um dos atacantes mortos, e eu faço uma
careta antes de vomitar novamente. Eu corro para o banheiro
mais próximo e, felizmente, Asher não segue.
Capítulo 32

O destino ama os destemidos.


– James Russell Lowell

— Você tinha que matá-lo? — Eu pergunto para Asher,


meus braços cruzados e olhos estreitos. Estamos no
escritório, parados perturbadoramente perto dos três corpos
que Asher matou aqui.

— Sim. — No meu olhar de nojo, ele explica: — Ele sabia


sobre as roupas à prova de balas. Ele tinha que ir. Somos nós
ou...

— Ele, — eu termino.

Asher está certo. Não posso culpar essa lógica. Vi em


primeira mão a eficácia das roupas e o potencial delas para
enganar os inimigos. Mas se as pessoas descobrissem sobre
essas roupas, elas estariam preparadas. Eles atirariam na
cabeça e iriam se certificar de que aqueles que estão caídos
estão mortos.

Somos nós ou eles, e eu sempre vou nos escolher.

É assim que este mundo opera.


— Então, foi René? — Eu pergunto, mesmo sabendo a
resposta para isso. Eu só preciso que ele confirme, para
torná-lo real.

Asher assente e pega o telefone. Quando olho para ele,


vejo um e-mail de Owen.

Para: a.black@blackenterprises.com

De: o.carter@blackenterprises.com

Assunto: Reunião do Conselho de Emergência

Caro Sr. Black,

Estou escrevendo para informá-lo que o conselho


convocou uma reunião de emergência em resposta às ações do
Sr. Toussaint hoje à noite. Em votação unânime, o conselho
decidiu demitir Toussaint de seu cargo na Black Enterprises,
com efeito imediato. Ele não receberá pensão e nem
indenização por causa de suas ações contra sua noiva.

Em uma segunda nota, também decidimos cancelar a


próxima votação sobre sua posição como CEO na Black
Enterprises. Achamos que você já sofreu o suficiente nas mãos
do Sr. Toussaint, e as reivindicações dele contra sua
competência são pouco mais do que uma vingança pessoal
contra você, que já foi autorizada a se manifestar por tempo
suficiente.

O Sr. Toussaint acabou de receber um e-mail semelhante,


informando-o sobre nossa decisão de deixá-lo, entrando em
vigor imediatamente. Ele também foi informado do
cancelamento da próxima votação referente à sua posição na
Black Enterprises.

Suspeitamos que o Sr. Toussaint não será muito gentil


com sua demissão e o informaremos da situação à medida que
ela se desenvolver. Até lá, sugerimos que você informe sua
equipe de segurança sobre o Sr. Toussaint, e faremos o mesmo
com a equipe de segurança da empresa.

Obrigado pelo seu tempo. Se você tiver alguma dúvida ou


preocupação, sinta-se à vontade para me enviar um e-mail a
qualquer momento.

Com prazer,

Owen Carter, COO

Quando termino de ler, digo: — Foi vingança.

Asher assente. — Parece que sim.

— E Monica? — Eu pergunto, lembrando o que o cara


disse sobre uma mulher deixar os agressores entrarem. Até
onde eu sei, ela é a única outra mulher com acesso à
cobertura.

— Ela será cuidada.

— Quão envolvida nisso você acha que ela está?

— Ela os deixou entrar e provavelmente deu a René


acesso aos detalhes de segurança.
Lembro-me do aviso tardio que ela deu a Asher sobre a
partida de polo. — E a partida de polo?

Asher estremece. — Ela provavelmente pensou que eu


não redirecionaria meu voo para Dubai.

— Mas você voltou, e ela estava chateada.

Ele concorda. — Mas não sei porque ela está fazendo


isso. Fiquei com a impressão de que ela gosta de mim. Eu
não tinha ideia de que ela me queria morto.

Eu me encolho. — Talvez você não seja o alvo para esta


noite também? Afinal, fui o alvo dos dois últimos tiroteios.

Olho os cadáveres com culpa. É culpa deles escolherem


essa linha de trabalho, mas também é minha culpa que
estejam mortos. Toda essa morte por mim. Isso quase não faz
sentido.

— Eu sei o que você está pensando, — diz Asher, com os


olhos atentos no meu rosto.

— Claro que você sabe.

— Isso não é sua culpa.

— Não inteiramente. Também é de René.

— E minha.

Concordo, porque ele está certo, mas isso não me faz


amá-lo menos. — Então, o que vamos fazer sobre isso? —
Faço um gesto com a mão em direção a todos os cadáveres.
Existem mais de duas dúzias no total. — Eu liguei para
Vince, e nós vamos...

— Não.

— Perdão?

— Não, você vai ligar para a polícia.

— Eu não posso. Se eu ligar para a polícia, tenho que


fazer do jeito deles.

— Exatamente. Faça isso pelas regras. Você tem provas


suficientes.

— Eu? — Ele olha os homens de René. — Eles estão


mortos. Eles não podem testemunhar exatamente contra
René.

Ele está certo, mas tenho certeza de que há algo


conectando-os. — Se esse cara o conheceu pessoalmente, tem
que haver algo para conectá-lo e o restante desses caras a
René. Imagens do encontro? Transferências bancárias?

— Você está disposta a arriscar tudo por isso?

Eu estou bem com René sendo livre, se isso significa que


Asher mantém sua companhia. Eu vi o quanto ele ama a
Black Enterprises, e me recuso a ficar à toa enquanto ele
arrisca sua posição lá novamente. Isso não é como dar um
soco em Steve na frente de toda a empresa.
Isto é, a julgar pelo que Asher é capaz, matar René. Se
ele fizer isso, não há como voltar, e não posso deixar que isso
aconteça.

— Sim, eu estou.

— Bem, eu não estou.

— Pense nisso, Asher. — Dou um passo à frente e


envolvo meus braços em volta de sua cintura, inclinando
minha cabeça para olhar seu rosto. — Se você fizer isso, não
há como voltar. René não faz parte do submundo. Ele estava
no conselho da sua empresa, uma empresa que acabou de
cancelar a reunião para votar se você é ou não um risco para
o bem-estar da mesma. Você é isso e é tão bom quanto na
Black Enterprises.

— Eu não ligo. — Há uma expressão teimosa em seu


rosto. — Eu tenho que fazer isso, Lucy.

— Por quê?

— Porque eles foram atrás de você.

Meu coração esquenta, percebendo mais uma vez


quanto esse homem está disposto a arriscar por mim. Mas
não posso deixar.

— Eles foram atrás de você também, então eu tenho


uma opinião sobre isso. E eu não o quero morto. Quero que
ele apodreça na cadeia. — Agarro sua mão, fecho o punho e
entrelaço nossos dedos. — Por favor, faça isso por mim,
Asher.

Há um longo momento de silêncio antes de ele assentir,


e eu cedo de alívio, meu corpo balançando sobre o dele.

Ele pega meu peso e sorri. — Essa foi nossa primeira


briga de casal?

Revirando os olhos, eu me afasto e dou um tapa de


brincadeira no braço dele. Então, eu ando em direção à
cozinha com Asher atrás de mim. Quando entro na cozinha,
os outros da equipe de segurança de Asher estão lá, cercando
a ilha. Até Xavier está parado aqui, o que suponho que a
bomba tenha sido desarmada.

— O resto dos guardas estão ligando para contato e se


instalando em um perímetro ao redor do prédio, — diz Xavier
para Asher, que assente.

Olho as bancadas. Algumas garrafas de tequila estavam


espalhadas pelo mármore, junto com pelo menos uma dúzia
de copos de shot. Xavier me serve e me entrega.

Eu agarro. — Pelo que estamos bebendo—

— Para o fato de que ainda podemos.

Eu viro um shot.
Capítulo 33

O oposto da coragem em nossa sociedade não é covardia.


É a conformidade.
– Rollo May

Eu me enganei, mas me pego rindo baixinho quando a


polícia chega e alguns de seus olhos se arregalam com a
quantidade ridícula de corpos espalhados pelo prédio.

Aparentemente, os guardas do perímetro de Asher


mataram quinze de seus homens na garagem. Junto com os
catorze que assisti morrer nas câmeras de segurança, os
treze que já estavam mortos antes disso e o guarda cuja
garganta foi cortada, a contagem de corpos é uma ideia
incompreensível, quarenta e três.

René não contratou apenas alguns homens. Ele


contratou um pequeno exército.

E eles falharam.

Eu aprendi que Xavier e os outros doze homens que


estavam no corredor com eles foram capazes de chegar até
nós tão rapidamente, porque eles vivem no andar abaixo do
nosso, que é outra medida de segurança que você precisa
saber. Eles nem explicaram isso aos policiais.
Eles também não discutiram suas roupas à prova de
balas.

Em vez disso, Asher e toda a equipe de segurança


vestiram coletes à prova de balas por cima das camisas antes
da chegada dos policiais e, em seguida, fizeram um show
convincente ao explicar como os atacantes apenas atingiram
seus coletes. Eles até tinham todas as balas que foram
disparadas contra eles escondidas em um saco de provas
Ziploc antes da chegada da polícia.

— Então, nenhuma dessas câmeras pegou nada? —


Uma detetive pergunta a Asher.

Novamente.

Ele suspira, claramente irritado. — Eles limparam as


filmagens e as desligaram antes que eu os matasse.

— Tudo bem, — diz, mas ela claramente não acredita


nele. — E todas essas armas?

— Legalmente possuídas. Eu tenho as licenças, se você


quiser vê-las.

— Você pode encaminhar cópias para o e-mail listado no


meu cartão.

Asher assente, com os braços cruzados. Ele já está


cansado desta entrevista e não posso culpá-lo. Eu também
estaria se suportasse o mesmo nível de escrutínio. Em vez
disso, quando chegaram, os policiais deram uma olhada no
vômito no chão, que Xavier apontou rudemente como meu, e
se afastaram ainda mais de mim.

Como o quarto do pânico também seria desnecessário


saber, eu disse a eles que me escondi embaixo da cama e não
vi nada até Asher me ligar quando acabou. Depois de olhar o
vômito novamente, eles não questionaram minha história.
Xavier achou hilário, é claro.

O policial finalmente acena para Asher ir embora, e ele


se junta a mim no sofá, onde eu não estive escutando tão
sutilmente.

Inclino minha cabeça em seu ombro e respiro seu


perfume familiar. — O que fazemos agora?

— Estou levando você para a casa de Vince.

Eu imediatamente me sento direito. — Não.


Absolutamente não.

— Por que não? Ele pode proteger você.

— Enquanto você faz o que, exatamente?

— Os policiais foram à casa de René para trazê-lo para


interrogatório, mas ele se foi. Estava apenas Viola lá com
seus filhos. Eu vou encontrá-lo.

— E quando você o pegar?

— Vou entregá-lo à polícia. — Deveria ser uma


afirmação, mas o jeito que ele diz tem um tom de pergunta.
— Você irá? — Eu pergunto, duvidosamente.

— Sim, — ele diz com mais certeza. — Estou saindo


para encontrá-lo. Isso é inegociável. Você não estará segura
até que ele esteja morto, ou atrás das grades. — Seus olhos
brilham perigosamente sob as luzes. — Embora eu prefira
que ele morra, sei que você não quer isso. Eu posso
compreender isso, mas não vou deixar aquilo. Eu vou atrás
dele.

— Bem. Mas não vou à casa de Vince.

— Por que não? A casa dele é o lugar mais seguro para


você agora. Você não pode ficar aqui. É uma cena de crime
ativa. Xavier irá com você.

— Eu não vou para a família Romano, Asher.

— Vince não é apenas um Romano. Ele também é


minha família.

— Eu sei disso e não tenho nada contra ele, mas isso


não muda o fato de ele ser Romano. E recorrer a um Romano
depois de um ataque como esse parecerá ruim para o
conselho.

— Foda-se o maldito conselho, Lucy. É com você que eu


me importo.

— Mas você também se importa com a sua empresa.

— Não tanto quanto eu te amo.


Acho que nunca vou ficar cansada dessas três palavras.

E é porque me sinto da mesma maneira que percebo o


que ele está sentindo agora. — Asher... Você está com medo?
— Eu pergunto, surpresa.

—Não, estou racionalmente preocupado.

Suspiro, porque é o mais perto que chegarei a uma


admissão. — Eu estarei segura com Xavier onde quer que
formos. Não precisa ser o lugar de Vince. René está muito
ocupado fugindo para vir atrás de mim novamente.

— Você não sabe disso.

— Então vou me esconder até você encontrá-lo, mas não


será na casa de Vince. Não será à custa do seu futuro na
Black Enterprises.

— Onde mais você iria?

— Vaserley.

Ele zomba. — Isso é óbvio demais. Você já morou lá


antes.

— Não há nenhum registro disso, graças a você. E as


únicas pessoas que sabem que eu morava lá moram no meu
dormitório. Vou me esgueirar e eles nem saberão que estou
lá.
— E você vai ficar no dormitório, apesar da chance de
que René, no passado, possa ter entrevistado seus
companheiros de dormitórios e descobrir que você morou lá?

Eu considero isso. — Se ele estivesse por aí perguntando


sobre mim, Aimee teria me dito. Metade das meninas no
corredor são da equipe Aimee. Ela tem informantes em todos
os lugares.

— Ainda é um risco.

— É o meu risco para correr.

— Não, não é. Não quando eu te amo.

Suspiro feliz com as palavras dele, mas ainda consigo


dizer o que precisa ser dito: — Tudo bem, mas isso significa
que ir atrás de René não é seu risco, porque, — murmuro
rapidamente, — Eu te amo também.

— O quê?

Eu gemo e digo mais alto: — Eu te amo.

Não foi assim que imaginei minha primeira vez dizendo


essas palavras e, a julgar pelo olhar chocado no rosto de
Asher, ele também não.

— Você me ama?

Quando eu aceno, ele fecha a lacuna entre nós e me


beija bruscamente.

Ele se afasta e exige: — Diga de novo.


— Eu te amo. — Minha voz está mais forte desta vez,
confiante.

Ele descansa a testa na minha, olha nos meus olhos e


diz: — Tudo bem. Você pode ficar em Vaserley, mas eu tenho
três guardas em você o tempo todo. Eu terei uma equipe de
segurança do Vince acessando as imagens das câmeras de
segurança, e sempre haverá uma equipe de segurança e uma
equipe militar a menos de sessenta segundos de distância.
Seus três guardas serão Xavier, seu guarda noturno e
Bastian.

— Mas...

— Inegociável. Eu me comprometi, então você também


precisará.

Suspiro, mas digo: — Você sabe, você é realmente


gostoso quando fala comigo com a sua voz de negócios.

Asher joga a cabeça para trás em uma risada


despreocupada e, apesar da gravidade da situação, meu
coração dispara e minha alma se aquece.
Pegamos cerca de uma dúzia de carros e, quando cada
um sai da garagem, eles se dividem em direções diferentes. Se
René estiver nos rastreando, ele terá que adivinhar para onde
estamos indo. Um dos carros vai para Jersey, outro para o
norte do estado, e o restante para motéis aleatórios e
empresas Romano.

Eu levanto uma sobrancelha interrogativa quando nosso


carro para no sinal vermelho e Asher abre a porta para mim.
Ele gesticula para eu sair, e percebo que estamos cercados
principalmente por caminhões gigantes, para que ninguém
possa nos ver. Um dos caminhões é na verdade um caminhão
em movimento maciço, e eu sou conduzida para trás, com
Xavier, meu guarda noturno, e Asher atrás seguindo de perto.

Não há luz na traseira do caminhão, mas posso


distinguir o contorno de várias caixas. Eu bato em uma delas,
testando sua resistência, antes de me sentar em cima dela.
Alguém acende uma luz e a traseira do caminhão fica um
pouco iluminada.

Há um olhar divertido no rosto de Asher quando ele diz:


— Você se saiu bem na sua primeira troca e isca26.

— Segunda, — eu corrijo. — Tecnicamente, toda a coisa


de Caroline e Damien também era uma isca e uma troca.

Asher assente. — Você fez bem, também.

26 Ele está se referindo a primeira vez que eles se conheceram no Rogue e ela conseguiu despistar
ele fazendo com que ele demorasse para encontrar-la.
Eu sorrio e dou de ombros, lembrando a acusação de
Asher há alguns meses. — Disseram-me que sou parte espiã
da máfia e parte espiã corporativa.

— Você esqueceu do pote de mel.

— Isso também.

— Bem, vocês não são fofos? — Uma voz profunda diz.

Eu grito, quase caindo do meu poleiro na caixa quando


uma figura sai do canto sombreado.

Tanto para ser uma espiã...

Asher estende a mão para me firmar, e eu o deixo, meu


corpo tenso.

Quando o carro avança, a luz não fica mais vermelha,


sou capaz de me apoiar em Asher para evitar outra queda.
Seu corpo nem balança com os movimentos bruscos do
veículo.

— Não se preocupe, — Asher murmura. —Ele está


conosco.

— Meu nome é Niccolaio, mas você pode me chamar de


Nick, — o homem se apresenta.

Eu olho para ele, vendo sua pele bronzeada, cabelos


escuros e olhos castanho escuros. Ele está vestido todo de
preto – moletom preto, sapatos pretos e uma camisa preta
apertada que abraça seu corpo musculoso e elegante. Há algo
nele que parece perigoso, letal. É o mesmo que Asher tem,
exceto que não confio em Nick.

Eu me aproximo de Asher e espero que minha voz não


traia minha cautela quando digo: — Eu sou Lucy.

— Eu sei. Lucy Ives, — ele diz, um breve sorriso


brilhando em seu rosto.

Uma carranca puxa fortemente meus lábios. — No


entanto, eu não te conheço.

Está me incomodando que ele saiba meu sobrenome, e


eu não conheço o dele... mesmo que meu sobrenome – e tudo
– seja falso. Falando nisso, devo dizer a Asher meu nome
verdadeiro em algum momento.

Há uma gargalhada antes de Asher passar um braço em


volta dos meus ombros, apertando-me contra ele em um
abraço lateral abertamente afetuoso. — Niccolaio Andretti.

Meu queixo cai, praticamente se desenrolando da


normalidade de seu encaixe. — Andretti?

— Sim. Poupei a vida dele quando tirei a do tio, — diz


Asher, casualmente, e acho que ele está se referindo ao capo
que foi ao território de Andretti para matar. — Nós somos
amigos.

Niccolaio faz uma careta: — Nós não continuaremos


assim se você continuar revelando meus segredos a todos que
você conhece.
Asher revira os olhos. — Não seja dramático, Nick. Lucy
não é todo mundo. Ela é uma das minhas. — Ele se vira para
mim. — Nick estará comigo enquanto eu rastrear René.

Fico imediatamente aliviada ao saber que ele voltou.


Embora eu não conheça nem confie em Nick, Asher parece
confiar, e confio em Asher com a minha vida... até o carro
parar e Nick gesticular para a caixa em que estou sentada e
dizer: — Entre.
Capítulo 34

Diante do que é certo, deixá-lo desfeito mostra falta de


coragem.
– Confúcio

— Desculpe-me? — Meus braços estão cruzados, e eu


estou olhando para Nick. — Você quer que eu entre na caixa?

Ele me ignora, enfia a mão dentro de uma bolsa de


ginástica, tira algumas roupas e as entrega a Asher e aos
guardas. Os três se despem, e eu não posso nem apreciar um
Asher sem camisa, porque um Andretti me pediu para entrar
em uma caixa de papelão em movimento.

Quando os caras terminam de se vestir, usam algum


tipo de uniforme de jeans, camiseta, boné de beisebol e botas
pesadas. Os bonés diziam —Donato's Moving Company—,
enquanto as camisetas tinham o logotipo da empresa na
frente. Os bonés são abaixados o suficiente para que, se eles
mantiverem a cabeça baixa, Asher e os guardas ficarão
irreconhecíveis.

Eu vejo o que está acontecendo.

Onde quer que vamos, eles serão disfarçados de agentes


de mudança, e eu estarei escondida em uma caixa que eles
moverão. Sorte minha.
— Tudo bem, — eu digo, pulando para a caixa e
levantando a tampa.

A caixa pode parecer feita de papelão por fora, mas o


interior é resistente e feito de couro macio. Asher me para por
um momento e aperta um botão, fazendo com que as rodas
desçam da parte inferior da caixa. Um identificador aparece,
o que eu assumo é para ajudar a me mover mais fácil. Todo o
cenário é chique, e me permite concluir que essa não é a
primeira vez que eles movem as pessoas dessa maneira.

Asher me ajuda a entrar na caixa alta e retangular.


Sento-me, mudando até ficar confortável. Quando Asher se
inclina para me beijar, eu o encaro, mas o deixo assim
mesmo. Ele está sorrindo quando fecha a tampa em mim.

Meus dedos travam na parede para me firmar enquanto


estou rolando por uma prancha. Há menos de um minuto de
escuridão antes que a tampa da caixa se abra, e eu estou em
pé dentro de um arenito elegante.

— Onde estamos? — Eu pergunto a Nick, quando Asher


e os guardas voltam para trazer mais caixas móveis, que na
verdade estão vazias.

— Você não gostaria de saber.

Reviro os olhos, mas não pergunto novamente. A viagem


não demorou muito, então, dado o tráfego da cidade de Nova
York, provavelmente ainda estamos muito perto da casa de
Asher. Meu palpite, considerando o quão chique esse lugar é,
é que estamos em um daqueles locais caros do Central Park.

Quando Asher retorna, ele me entrega a bolsa que eu


arrumei. Empacotei apenas com o essencial – um carregador
de telefone, produtos de higiene pessoal e duas mudas de
roupa. Asher, por outro lado, encheu sua bolsa com uma
quantidade insana de armas e munição e todas as roupas
pretas. Ele também tem apenas duas mudas de roupa, o que
me dá esperança de que ele não pense que isso demore
muito.

Somos levados a uma sala com um monte de


computadores e telas de alta tecnologia, e até o anoitecer, eu
assisto enquanto Asher, Nick e os guardas vasculham a vida
de René, revelando tudo, desde o artigo semifascista que ele
escreveu para seu jornal do ensino médio até a amante
grávida, que ele pagou alguns anos atrás. Ela foi embora com
um pedaço considerável de seu patrimônio líquido e ainda
recebe um cheque mensal massivo, o que pode explicar o
desejo de René de adquirir a Black Enterprises para si
mesmo. Há até um e-mail excluído no servidor privado de
René, conectando-o ao meu convite para o evento de
networking na Wilton.

Eu sou incapaz de desviar o olhar enquanto os caras


vasculham todos os segredos de René, endurecidos e
horrorizados pela percepção violenta de que René deve ter
feito o mesmo comigo em algum ponto.
A lua está novamente à vista quando Asher me informa
que é hora de partir para Vaserley. Em vez de deixar o
caminhão em movimento novamente, pegamos um carro da
cidade guardado na garagem. Quando entramos nos fundos e
Nick fecha as cortinas das janelas pretas, percebo que é para
nós.

Ou talvez seja que ele não quer que eu saiba onde ele
mora.

De qualquer maneira, não consigo ver a estrada


enquanto saímos da garagem e entramos na rua. De certa
forma, é como ser movido para dentro da caixa novamente,
exceto que Asher está sentado ao meu lado desta vez. Cerca
de meia hora se passa antes de chegarmos a Vaserley, o que
não faz muito sentido, já que a casa de Asher fica a menos de
um minuto de Vaserley, e a viagem para a casa de Nick
ontem durou apenas dez minutos, no máximo.

Suponho que o motorista deve ter tomado uma longa


rota, ou dirigido em círculos. Não tenho certeza se isso deve
me confundir ou alguém que possa estar nos seguindo.
Independentemente disso, sou muito cautelosa com a rotina
de manto e adaga de Nick, embora, até certo ponto,
reconheça esses movimentos como semelhantes aos
protocolos que Asher colocou em prática.

Quando saio do carro, percebo que estamos no


estacionamento privativo apenas para os funcionários da
Vaserley. Os carros que costumam estacionar nesse lote
pertencem principalmente à equipe do refeitório, empregadas
domésticas, RAs, PCs e administradores residentes. Então,
está bem vazio agora, considerando que é um fim de semana
e a única equipe que dorme em Vaserley são RAs e PCs

Há uma porta para entrar na área dos funcionários do


salão, mas é guardada por um jovem guarda de segurança do
campus. Ele parece ter cerca de vinte anos. Fico surpresa
quando Asher se aproxima do cara, e eles batem os punhos.

— Ash, há quanto tempo! — O cara cumprimenta com


um sorriso fácil.

— Ei, Mark. — Asher gesticula para mim. — Esta é


minha noiva, Lucy. — Ele se vira para mim. — Lucy, esse é
Mark. Costumávamos treinar juntos na academia do UFC do
meu bairro.

Mark acrescenta: — Isso foi antes da princesa Asher ser


levada pelo príncipe encantado e empurrada para uma vida
de escolas preparatórias e de Ivy Leagues.

Asher revira os olhos. — Ele ainda está amargo por


nunca ter ganho uma luta contra mim.
— Sim. Sim. — Mark fica sério, seus olhos cortando
para Nick e os guardas antes de voltar para Asher. — Eu
deixei Bastian entrar alguns minutos atrás. Está tudo bem?

— Sim, Lucy vai se esconder aqui por alguns dias com


esses dois, — ele gesticula para os guardas, — e Bastian.
Temos vigilância sobre Vaserley, mas também aprecio seus
olhos e ouvidos.

— Claro. O mesmo número de telefone?

Asher assente, então Mark abre a porta e somos levados


para dentro pela entrada dos fundos. Vaserley é um
dormitório fantasma enquanto caminhamos para o meu
antigo dormitório, o que faz sentido dada a hora tardia. Nós
ficamos quietos, porém, tendo certeza de não acordar
ninguém.

Um dos guardas de Asher enviou uma mensagem para


Aimee antes do tempo para encontrar outro lugar para ficar,
para que não a acordássemos entrando na sala. Usando
minha chave antiga, abro a porta do meu antigo dormitório e
acendo as luzes. Reviro os olhos quando vejo a bagunça que
Aimee deixou na minha velha cama. Típica.

Até as sobrancelhas de Asher se erguem quando ele


entra em cena. — Foi saqueado?

Não tenho certeza se ele está brincando ou não, então


respondo de qualquer maneira: — Isso é 100% Aimee.

— Hã.
Sem brincadeiras.

Antes que eu possa responder, há uma batida na porta.


Asher abre um pouco, a arma pronta em uma mão, antes de
relaxar o dedo no gatilho e abrir a porta todo o caminho. Vejo
Bastian primeiro e relaxo, mas quando Minka entra na minha
linha de visão, fico instantaneamente tensa novamente.

— O que você quer? — Eu pergunto, sem rodeios.

Bastian responde: — Ela está se oferecendo para lhe dar


um quarto. Parece legítimo.

Minka revira os olhos com a suspeita na minha


expressão. — Eu te devo por me salvar da bebida drogada.
Estamos quites depois disso.

— Examinei sua história eletrônica e fiz uma varredura


completa em seu quarto. Tudo está certo, — continua
Bastian, ignorando-nos. — É uma opção melhor do que o
antigo quarto de Lucy.

Asher se vira para mim e levanta uma sobrancelha


interrogativa. Eu suspiro e aceno, porque Bastian está certo.
Faz mais sentido me esconder no quarto de Minka do que
aquele que eu fiquei.

— Nós aceitamos, — diz Asher.

Minka cruza os braços e acrescenta: — Só para deixar


claro, eu ainda não gosto de você, mas eu te respeito pelo que
você fez por mim.
Eu não respondo, porque honestamente, eu não dou a
mínima. Eu só quero que tudo isso seja feito, para que eu
possa ter Asher de volta em segurança.
Capítulo 35

Ela foi avisada.


Ela recebeu uma explicação.
No entanto, ela persistiu.
Mitch McConnell em – Elizabeth Warren

Três dias.

É o tempo que Asher partiu. Naqueles três dias, eu


andei, joguei, virei e andei de novo, quase sem dormir. Estou
certa de que, se outro dia passar sem nenhuma palavra de
Asher, Bastian me deixará aqui – estou fritando com o último
nervo dele.

Inferno, fritei com o último nervo de Minka em uma hora


da minha estadia, quando ela e Nella, que dividem seu
dormitório, foram parar em um dos quartos das lacaias. Meu
guarda noturno a seguiu até que outro guarda de Asher
pudesse tomar seu lugar. Nenhum de nós confia em Minka e
Nella para manter a boca fechada, então elas precisam ser
vigiadas.

Quando alguém bate à porta, eu me atiro para cima da


cadeira e vou direto para a porta. Para minha irritação,
Xavier me interrompe e Bastian abre a porta no meu lugar.
Há um momento de silêncio tenso antes de ver Asher
atravessando o limiar. Um pequeno corte alinha sua testa e
seu lábio está rasgado, mas fora isso, ele parece bem.

Sem me importar com quem vejo, eu corro até ele e pulo


em seus braços, fazendo-o tropeçar um pouco no corredor
lotado até que ele nos carregue de volta para o quarto. Ele
estremece, e eu imediatamente me desembaraço dele, mas ele
me puxa de volta para seus braços. Deslizo meus dedos sob
sua camisa, pressionando suavemente em torno de seu
abdômen, parando quando ele assobia de dor.

— O que aconteceu? — Eu pergunto.

— Provavelmente uma costela quebrada.

— Você precisa ver um médico.

Ele me dá um sorriso bobo de — você não é tão


bonitinha? — Um sorriso que me irrita. — Não há
necessidade. Vai curar.

Eu não pressiono a questão. Não vencerei e preciso


escolher minhas batalhas.

— O que aconteceu? — Peço novamente, mas desta vez,


estou me referindo ao que aconteceu enquanto ele estava
fora.

— Nick e eu fomos emboscados pelos homens de René.

— Quantos?

— Dezenove em um armazém em Jersey.


Dezenove. Após o confronto na cobertura, não tenho
dúvida de que Asher pode lidar com dezenove homens – com
ou sem a ajuda de Nick. Claramente, Asher está bem. Ele
está aqui, afinal.

Então, pergunto: — Nick?

— Ele está bem. Ele saiu da cidade para se esconder.

Não pergunto sobre isso, porque não dou a mínima para


o motivo de Nick precisar ficar quieto, desde que esteja bem.

— E René?

— Nós o encontramos em um motel a uma milha de


distância do armazém.

— O que você fez?

Ele estreita os olhos com o meu tom acusatório. — Nós


não o matamos, Lucy.

— Então, o que você fez?

— Nós chamamos a polícia.

— E eles o prenderam? Com que evidência?

Asher sorri. — Ele não tinha nenhuma evidência com


ele, mas podemos ter plantado algumas para a polícia
encontrar quando revistaram a sala.

— Asher... isso é ilegal.

— Então? Só é ilegal se a polícia descobrir e não o fará.


Eu deveria estar preocupada que ele tenha infringido a
lei, mas não estou. Estou aliviada por ele estar aqui, e tudo
acabou.

— E Monica?

— Demitida com um processo pendente por violar a


NDA. Também estamos coletando evidências contra ela
enquanto entrarmos com um processo criminal. Temos a
filmagem de segurança mostrando-a entrando no prédio logo
antes do ataque. Entregamos isso aos policiais. Ela deve estar
na prisão em breve, se já não estiver.

— Mas você não sabe se ela está na prisão ainda.

— É só uma questão de tempo.

— Oh.

— Lucy?

— Sim?

Os olhos dele escurecem. — A rosa negra... — ele


começa.

Minha mente dispara, confusa. — O que tem isso?

— René enviou para você. Conseguimos rastrear a


compra.

Meus olhos se arregalam. — Eu pensei que você tinha


me dado.
Asher coloca um dedo embaixo do meu queixo e levanta
meu rosto, então estou olhando nos olhos dele. — Para
referência futura, se eu lhe enviar rosas, será um buquê
inteiro.

Eu sorrio e me inclino para a frente para beijá-lo.


Quando recuo, pergunto: — E agora?

— O que você quiser, Lucy.

Insisto que o que realmente quero depois de tudo isso é


ter um dia normal com Asher, e isso inclui ir à minha única
aula hoje. Estou fazendo outro curso com o Dr. Rolland neste
semestre, um sobre as aplicações da física em biologia. Eu
realmente não fui fisicamente, graças à ameaça na minha
vida, mas estou animada agora.

— Vamos nos atrasar. — Eu franzo a testa.

Asher levanta a sobrancelha, como se dissesse: — E


daí?

— Área de respingo.
Eu rio quando ele acelera o passo, mas morre
imediatamente ao ver Monica. Ela está pairando do lado de
fora da entrada de Vaserley quando saímos. Em seu traje de
designer e uma explosão perfeita, ela me lembra a culinária
do terceiro mundo que eu estava acostumada a comer
durante minhas viagens – temperada até a morte para
esconder a carne podre por baixo.

Quando ela me vê, ela rosna. — Você!

Eu me aproximo dela enquanto Xavier e meu guarda


noturno agarram seus braços. — O que tem eu? Foi você
quem tentou matar Asher.

— Eu nunca machucaria Asher. Era para ser você!

Eu rio da sua ingenuidade. — Foi assim que ele fez você


concordar com isso? Ele prometeu matar a sua concorrência?
— Eu sei que estou certa quando ela congela em sua luta
contra o domínio de Xavier.

Ela abre a boca para dizer algo, mas isso não importa.
Eu já estou passando por ela com Asher ao meu lado. Xavier
fica para trás e espera a polícia chegar, mas eu não.

Eu me movo para longe e sigo em frente.

E quando Asher e eu entramos na sala de aulas e vemos


que os únicos lugares livres estão na zona de respingo,
sentamo-nos de qualquer maneira. Eu rio um pouco quando
um pouco de respingo do Dr. Rolland pousa na bochecha de
Asher, e ele revira os olhos para mim. Quando ele puxa o
lenço do bolso do terno para limpá-lo, aproveito o tempo para
admirá-lo.

Asher é um assassino. Ele é um gênio. Ele é leal.

Ele é o meu tipo perfeito.

Ele é o tipo de homem para quem uma garota se


sentaria na área de respingo. E o mais importante, ele é meu.
Epílogo

O piso de madeira está frio sob meus pés descalços


enquanto caminho para o escritório de Asher. Deixo as luzes
apagadas, sem precisar da luz para me guiar por uma casa
que eu já conheço como a palma da minha mão. Inferno, o
único lar verdadeiro que eu já conheci.

Quando abro a porta do escritório de Asher, meu corpo


está tremendo e fico surpresa por meus pés não ficarem
azuis.

Asher olha para mim de sua mesa, sorri aquele seu


sorriso de molhar a calcinha e olha meu corpo da cabeça aos
pés. Quando seus olhos se fixam nos meus pés gelados, ele
fala com um sorriso confiante: — Pés frios?

— Ha. Ha, — eu brinco. — Eu poderia dizer o mesmo


sobre você. — Eu caminho até ele, olhando para o relógio na
parede antes de me sentar na beira da sua mesa, meu corpo
inteiro de frente para ele. — São três horas da manhã no dia
do nosso casamento e você acorda cinco horas mais cedo.
Esta é a parte em que a futura noiva deve estar preocupada?

— Estou analisando a logística. — Ele acena as mãos


em direção à folha de papel ao meu lado, que tem as palavras
— Detalhe da segurança do casamento — escritas na parte
superior em fonte Times New Roman, antes de me entregar
seu copo de água com gás. Ele arqueia uma sobrancelha
quando pego o copo e o coloco ao meu lado sem beber.

Eu rio, incapaz de me controlar. Cerca de um mês atrás,


Aimee me lembrou nossa conversa no dia em que Asher me
visitou pela primeira vez no campus. Aquela em que
brincamos sobre o meu casamento com Asher, só que
naquela época, dissemos que eu levaria um tiro e seria
envenenada.

Eu não achava que nenhuma dessas coisas aconteceria,


mas também não tinha pensado em mim aqui, e isso
aconteceu. Então, comecei a tomar precauções, deixando a
segurança do casamento por conta de Asher e apenas
comendo e bebendo as coisas que eu mesma preparei.

Eu pensei que estava sendo astuta sobre isso, mas


obviamente não estava, porque toda a provação terminou
com Asher me confrontando e ameaçando reter qualquer
orgasmo futuro até que finalmente confessasse meus medos.

Eu nem durei 24 horas.

Reposiciono-me para ficar no centro da mesa, entre as


pernas de Asher. — Você sabe que eu estava apenas
brincando, certo? Na verdade, não acho que você, ou
qualquer outra pessoa me envenenaria.

Na verdade, eu só quero isso – ele, nós – tanto que


estou disposta a fazer qualquer coisa para que isso aconteça.
— Eu só... eu não queria arriscar nada entre nós.
Prendo minha respiração quando seus dedos tocam meu
quadril, deixando uma trilha provocante para baixo até que
seus dedos alcancem meu pé. Ele o pega e coloca no colo,
esfregando-o entre as palmas das mãos até que o calor do
corpo seja transferido para os meus dedos frios.

Quando ele termina o meu pé direito, ele o troca pelo


meu pé esquerdo, replicando seus movimentos anteriores
enquanto mantém contato visual comigo. — Eu nunca
deixaria nada acontecer com você, Lucy. Poderíamos estar em
extremos opostos do mundo daqui a 80 anos, divorciados e
irritados um com o outro, e eu ainda não deixaria nada
acontecer com você. Porque você é minha. Sempre será.

— E você?

Ele puxa minha perna até eu deslizar da mesa para o


colo dele, nossos rostos quase um centímetro separados. —
Eu sempre fui seu, Lucy.

Eu suspiro, aconchegando-me contra seu corpo e


descansando meu queixo em seu ombro. — Você sabe, você
acabou de pintar um futuro de nós, onde estamos: 1)
fisicamente separados, 2) divorciados e 3) irritados um com o
outro. No dia do nosso casamento, nada menos. Tem certeza
de que vai dizer que sim hoje?

— Sim, espertinha. — Ele se inclina para trás, forçando-


me a olhá-lo nos olhos, porque eu não posso. Asher é tudo, e
tentar desviar o olhar dele é como tentar evitar a morte. Ou
impostos. Maldito, é impossível. — Mas mesmo se não
tivermos hoje, se não tivermos esse casamento, você ainda
será a mulher com quem vou passar o resto da minha vida.
Não precisamos nos casar para validar isso. Ser capaz de
chamá-la de Sra. Black é apenas um bônus.

— Eu sei, mas só para você saber, Asher Aaron Black,


eu aceito. Daqui a oitenta anos, eu aceitarei. Do outro lado do
mundo, eu aceitarei. Irritada com você, eu aceitarei. Aceitarei
um milhão de vezes.

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