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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE

FACULDADE DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E LETRAS DO SERTÃO CENTRAL –


FECLESC

LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA

DISCIPLINA: METODOLOGIA DA PESQUISA HISTÓRIA I

PROFESSOR (A): EDMILSON ALVES MAIA JÚNIOR

ALUNO: JOÃO VICTOR DE MORAIS LOPES

DIÁRIO DE CAMPO

QUIXADÁ – CE

2022
SEMANA 01 – Inicio 07/03

Antes de tudo, sentimentos de tristeza, incertezas, angústias e medo eram


frequente que ocorria nesse período, mas também sentimentos de esperança e otimismo
para o novo início de semestre que seria, finalmente, presencial. Isso tudo ocorria por
conta de tudo o que se tinha vivo, presenciado e experimentado antes – as aulas remotas,
a falta convivência e aquele aconchego de estar presencialmente numa sala com a galera
e estar naquela correria que é a universidade – por isso no início do semestre a frase
recorrente que vinha na caberá era ‘será que agora vai dá certo? ’. Outro fato é de nunca
ter tido aulas presenciais desde o início da graduação em 2020, então era a questão de
entrar na universidade e acompanhar o ritmo do dia a dia da realidade sair de casa as 17h,
pegar ônibus, ir pra Quixadá, chegar na aula ‘em cima’ do horário (as vezes atrasado),
sair da aula 21h40 para ir para uma fila para garantir acento no ônibus e chegar em casa
as 23h30 mais ou menos, isso toda semana, de segunda a sexta. Fora isso é a realidade
também da precariedade e a falta de aconchego nos ônibus – as vezes ir e vir em pé a
viagem toda, goteira dentro do ônibus quando chove, as vezes o ônibus enguiçar no
caminho e chegar em casa mais tarde que o previsto e mais alguns empecilhos dentro do
ônibus.

Essa semana foi um pouco estranha, não no sentindo ruim da palavra, mas por
poder encontrar pessoas que conheci no período das aulas online e saber que realmente
elas existem, principalmente com os colegas com o qual dividi os trabalhos das
disciplinas. Já nos conhecíamos a algum tempo em decorrência dos trabalhos, mas ao nos
vermos pessoalmente foi como se tivéssemos nos conhecendo outra vez. É engraçado
pois antes de nos encontrarmos, eu achava que cada um era de um jeito (fisicamente),
mas presencialmente era todos completamente diferente da minha imaginação. Lembro-
me de frases como “achei que você era bem alta”, “você não parece a mesma pessoa que
via nos encontros do google meet” ditas tanto por mim, quanto por meus colegas.

Além disso, por ocasião do início da disciplina de METEC I, decidi iniciar


algumas leituras sobre meu objeto de pesquisa para o trabalho de conclusão do curso.
Sobre este objeto de pesquisa, já tinha interesse desde antes de iniciar a graduação por
conta da minha ligação já desde criança com a Teologia da Libertação, as Pastorais
Sociais e as Comunidades Eclesiais de Base – CEBs e também por influência de um padre
e um professor ligados aos mesmos citados anteriormente. Meu objeto de pesquisa será
Dom Helder Pessoa Câmara. Ainda não defini concretamente o recorte temporal sobre,
mas provavelmente será a partir de sua ida para o Concílio Vaticano II em Roma, na Itália
até mais ou menos o final dos anos 70, englobando assim, principalmente, sua atuação
durante a ditadura militar no Brasil.

Alguns dias antes de iniciar a semana de integração, consegui emprestado com o


padre citado acima, alguns livros sobre Dom Helder, livros esses que tratam de sua
biografia, sua atuação e alguns ensinamentos. Com o início do semestre, decidi iniciar
primeiro a leitura de um livro que tinha adquirido no final de 2021 chamado o Pacto das
Catacumbas de José Oscar Beozzo. Esse livro vai tratar de um pacto assinado no dia 16
de novembro de 1965, no final do Concílio Vaticano II por alguns bispos e padres nas
catacumbas de Santa Domitila iniciando assim “o compromisso com uma igreja servidora
dos pobres e empenhada em suas lutas por justiça, dignidade, igualdade e solidariedade”
(Pacto das Catacumbas, p.27), como também, a partir da assinatura desse pacto, os
envolvidos se comprometeram em fazer uma série de ações dentro da igreja e no cotidiano
para se concretizar a Igreja dos Pobres.

Saber o ano da foto.

Esse pacto nasceu a partir da experiência vivida pelo padre Paul Gauthier, um
francês que vivia em Nazaré – Israel. Lá, Paul se tornou operário numa construção civil
de viria se tornar futuramente a Fraternidade dos Companheiros de Jesus Carpinteiro. A
partir de sua experiência, Paul escreve o livro Jesus, a Igreja e os Pobres; e a partir de sua
ida para o concílio, começa a se reunir com alguns bispos e padres para trilhar um novo
caminho de uma igreja servido, samaritana e sobretudo pobre. Um dos primeiros que
abraçou a ideia foi, justamente, Dom Helder que esteve bastante engajado com o novo
movimento e ideário.

Ao todo, o documento do pacto tem 13 clausulas que contém uma série de ações
que devem ser adotadas por todos os assinantes e também por aqueles que simpatizaram
com ele. Dentre as medidas a serem adotadas está a renúncia da riqueza e de aparência
luxuosas, não possuir bens, recusar títulos que tenha significado de grandeza, privilégios,
ter maior empenho com a justiça social, com os pobres e marginalizados. A estrutura do
livro, quando se trata do pacto, é interessante pois traz primeiro a clausula (a ação a ser
tomada), depois um texto bíblico de iluminação e por fim um trecho de algum documento
escrito durante o concílio – vejo isso como uma forma de mostrar as mudanças radicais
de renovação tomadas pela igreja naquele momento.

Os bispos do Brasil que estiveram presentes no pacto foram:

1. Helder Pessoa Câmara (1909 – 1999), que na época era arcebispo auxiliar do
Rio de Janeiro – RJ (1952 – 1964), e posteriormente bispo de Olinda e Recife
- PE;
2. Carlos Coelho Gouveia, arcebispo de Recife – PE:
3. Jorge Marcos de Oliveira, bispo de Santo André – SP;
4. João Batista Motta e Albuquerque, arcebispo de Vitória – ES;
5. Eugênio de Araújo Sales, administrador apostólico de Natal, RN (deixou de
frequentar o grupo posteriormente);
6. Walfrido Vieira, bispo auxiliar de Salvador – BA;
7. João Alano de Noday, OP, bispo de Porto Nacional – GO;
8. José Lamartine Soares, bispo de Olinda e Recife – PE;
9. Nivaldo Monte, bispo auxiliar de Aracajú – SE;
10. João José Motta e Albuquerque, arcebispo de São Luís – MA;
11. Manoel Pereira da Costa, bispo de Campina Grande – PB;
12. José Távora, arcebispo de Aracajú – SE;
13. João Batista da Mota e Albuquerque (1909 – 1984), que na época era arcebispo
de Vitória – ES;
14. Francisco Austregésilo de Mesquita Filho (1924 – 2006), que na época era
bispo de Afogados da Ingazeira – PE;
15. José Alberto Lopes de Castro Pinto (1914 – 1997), que na época era bispo
auxiliar de São Sebastião do Rio de Janeiro – RJ (1964 – 1976), e
posteriormente bispo de Guaxupé – MG;
16. Henrique Hector Golland Trindade, OFM (1897 – 1984), que na época era
arcebispo de Botucatu – SP;
17. Antônio Batista Fragoso (1920 – 2006), que na época era bispo auxiliar de São
Luiz do Maranhão (1957 – 1964), e posteriormente bispo de Crateús – CE.

Ao todo, na América Latina, são 9 bispos (além do Brasil, países como Argentina,
Cuba e Dominica também tiveram bispos presentes no pacto). Destes assinantes
brasileiros, além de Dom Helder, conhecia somente a figura de Dom Fragoso, muito
conhecido dentro das Comunidades Eclesiais de Base aqui no Ceará.

Um questionamento que me veio a partir da leitura e vendo a quantidade de bispos


aqui do Brasil que aderiram ao pacto, era se estes bispos ao retornarem ao Brasil e se de
fato adotaram as medidas do pacto, eles foram perseguidos? Levando em consideração a
situação ditatorial da época e as mudanças radicais propostas pelo concílio e pelo pacto,
era meio que obvio terem sito perseguidos pelos militares e/ou também pela própria ala
da igreja que apoiava a ditadura. Não tenho informações sobre a maioria, mas sei que
além de Dom Helder, Dom Fragoso sofreu durante o período.

Após a leitura constatei que este pacto possa-me ser um norteador na minha
pesquisa pois Dom Helder foi um dos que abraçou primeiros bispos brasileiros a aderir
aos ideários do pacto. Ao chegar no Brasil, precisamente em Olinda e Recife onde era sua
diocese, ele deixou imediatamente o palácio apostólico e foi morar na sacristia da igreja
das fronteiras, como também iniciou uma série de ações para com os pobres,
marginalizados e também a cultura. Além disso, parece-me que este pacto possa ter
influenciado Dom Helder nas suas ações durante a ditadura militar. Não só o pacto, mas
também as mudanças do Concílio Vaticano II.

Folheando novamente o livro Brasil: Nunca Mais e também a tese de mestrado


em ciências da religião do Martinho Condini (da qual ele também cita o livro anterior),
cita Dom Helder como um exemplo de ser um dos primeiros a agir conta a ditadura no
Nordeste.

O Livro Brasil: Nunca Mais cita:


“[...] Bispos, como Dom Hélder Câmara, já começavam a ser conhecidos como
identificados com as pressões por mudanças nas estruturas sociais injustas, segundo
compromisso assumido durante o Concílio Vaticano II. ”

Na tese, é interessante notar que essas ações em prol de justiça, é em decorrência


do abandono do Nordeste pelos políticos. E Dom Helder foi muito ativo nisso não só
contra os militares, mas também tecendo críticas contra a ala conservadora da igreja que
apoiava o regime e que era contra as mudanças do concílio.

Sei que Dom Helder foi idealizador da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB) quando ainda era padre, como uma forma de organizar a igreja no Brasil. Mas
com a leitura da tese de Condini descobri que CNBB, dirigida na época por religiosos
conservadores, emitiu uma nota de apoio aos militares em 1964. Além disso, Dom Helder
foi pego pelos militares para dar esclarecimentos, os militares queriam saber se ele era
comunista ou marxista e se também apoiava os guerrilheiros. Também foi chamado pelo
Tribunal do Santo Oficio para também dar esclarecimento sobre suas ações, assim como
fez também depois Leonardo Boff por conta de seus livros e sua ligação com a Teologia
da Libertação.

SEMANA 02 – Inicio 14/03

Passada a leitura do livro anterior (pacto das catacumbas), veio-me o pensamento


de procurar saber também sobre outras personalidades brasileiras que assinaram o pacto
(que o próprio livro cita) ou que tenha tomado para si a causa promovida pelo pacto.
Dentre as pessoas que encontrei e que me interessei a pesquisar foram Dom Fragoso,
Dom Aloísio Lorscheider e Dom Pedro Casaldáliga. Todos os citados já conhecia, mas
nunca tinha pesquisado sobre a vida de cada um.

Dom Fragoso foi um dos bispos brasileiros que assinaram o pacto ao final do
concílio. Foi um ativista dos direitos humanos principalmente durante o a ditadura, nesse
período ele viveu em Crateús. Encontrei uma tese de mestrado, se não me falha a
memória, sobre sua atuação no período da ditadura, mais precisamente sua atuação em
relação a educação.

Dom Aloísio Lorscheider esteve no concílio, mas não foi um dos assinantes do
pacto. Foi muito atuante na ditadura e chegou até a ser preso. Foi arcebispo da
Arquidiocese de Fortaleza de 1973 até 1995.
Dom Pedro Casaldáliga é natural da Espanha, mas veio para o Brasil em 1968.
Atuou na defesa dos povos indígenas e dos mais pobres. Não foi um dos assinantes do
pacto, mas também seguiu seus preceitos, como também foi um dos grandes propagadores
da Teologia da Libertação. Por conta de sua atuação foi por diversas vezes ameaçado de
morte por fazendeiros e latifundiários, chegando até a ser preso na ditadura para
interrogatórios.

SEMANA 03 – Inicio 21/03

Nesta semana dei uma olhada nos livros que tinha pegado emprestado com o padre
Maurício e o professor Gomes, ambos citados anteriormente. Um dos livros, ‘Helder
Câmara – memória viva’ vai relatar diversos fatos da vida do bispo como também
memórias relacionadas a ele, o pequeno livro de apenas 28 páginas foi escrito pelo Grupo
Dom Helder de Fortaleza - CE por ocasião de um evento (que carrega o mesmo título do
livro) que ocorreu em 2016.

Logo no início, o livro relata a inversão o governo militar brasileiro no comitê do


Prêmio Nobel da Paz, no caso, fala que em uma reunião com as empresas escandinavas
da época, um general ameaçou-as de tomar os lucros de suas empresas no Brasil caso elas
não intervissem na nomeação de Dom Helder. Me chamou a atenção em uma parte do
livro em que Dom Helder faz denúncias sem medo sobre a ditadura no Brasil e em uma
dessas denúncias em 26 de maio de 1970 ele denuncia as torturas existentes, como
também casos de tortura acontecidos em Recife e também de São Paulo, da qual este
último ele denuncia as atrocidades da tortura feitas a frei Tito de Alencar. Ou seja, Dom
Helder mesmo ameaçado no Brasil, não teve medo e também denunciou na Europa a
constante violência que a Ditadura fazia no país.

O outro livro – Dom Helder: peregrino da utopia – fala de vários relatos e


memórias de pessoas que tiveram contato com ele. Me chamou a atenção, o depoimento
de Ariano Suassuna, ele recorda que Dom Helder passou a organizar junto com ele
espécie de sarais de cultura com poesia e música. Disso lembro que Dom Helder tinha
muito carisma pelo carnaval, e existe um vídeo muito famoso em que ele aparece em meio
a folia e alegria com o povo. Como também tem uma frase muito famosa dele em que ele
proferiu na Rádio Olinda AM em 1975 que diz assim:

“Carnaval é a alegria popular. Direi mesmo, uma das raras alegrias que ainda
sobram para a minha gente querida.
Peca-se muito no carnaval? Não sei o que pesa mais diante de Deus: se excessos,
aqui e ali, cometidos por foliões, ou farisaísmo e falta de caridade por parte de
quem se julga melhor e mais santo por não brincar o carnaval.
Brinque, meu povo querido! Minha gente queridíssima. É verdade que na quarta-
feira a luta recomeça, mas ao menos se pôs um pouco de sonho na realidade dura
da vida!”

Desta frase, e também pelo ano em que foi dita, percebe-se muito bem que Dom
Helder fala do carnaval em Recife como uma das poucas alegrias que ainda sobrevivem
em meio as perseguições, mortes e grande miséria que estava acontecendo e a ditadura a
piorava e acobertava constantemente.
SEMANA 04 – Inicio 28/03

Inicialmente, é um alívio poder estar presencialmente em uma sala de aula, é um


alívio por que os sentimentos desanimadores que tive na semana referente ao dia 07 de
março já não mais fazia parte da minha rotina. Todo sentimento ruim tornou-se agora
alegria por estar se iniciando as aulas, alegria por sentir a energia de estar estudando numa
sala de aula presencialmente não por uma ‘sala’ do meet. É muito melhor no estilo
presencial do que no virtual. No virtual qualquer coisa poderia distrair sua atenção da
aula, desde o sono até barulhos externos de uma moto, som alto da TV, barulho de
vizinhos e etc. Então essa semana seria muito animador.

Nessa semana também dei uma pequena folheada em outro livro dos que tinha
pego com o padre, o livro é: o peregrino da paz Dom Helder Câmara escrito pelo Pe.
Geovane Saraiva e pelo Professor José Cajuaz Filho. Este livro conta, além de uma
pequena biografia sua, diversos relatos de homenagem pelo primeiro centenário de
nascimento de Dom Helder (07. 02. 1909 – 07. 02. 2009) e também memórias feitas em
nome da Paróquia de Santo Afonso, Fortaleza - CE. É interessante que logo no começo
ele expõe um dualismo quando se fala de Dom Helder – “[...] polêmica: era ou um santo
ou um comunista.”, isso marca bem a figura de Dom Helder: um santo que estava do lado
dos pobres e por conta desta opção foi chamado de comunista. E isso reflete em uma frase
famosa dele que diz: “ quando dou pão aos pobres, me chamam de santo, mas quando eu
questiono porque tem pobres eles me chamam de comunista e subversivo”, não encontrei
o ano da frase mas marca bem o que era ser a favor dos pobres no período ditatorial. Em
uma das memórias fala que Dom Helder em uma conversa com Madre Teresa de Calcutá
em um congresso nos Estados Unidos, ela pergunta como ele se sente em receber tantos
elogios e ele fala que se sente como se fosse o jumentinho que carregou Jesus na entrada
de Jerusalém. A partir daí ele fala que preferia que chamassem ele Jumentinho de Jesus
ou simplesmente Pe. Helder. Quando vi isso, lembrei imediatamente do pacto das
catacumbas quando fala da renúncia de títulos.
Após assistir na primeira aula de METEC I o vídeo do podcast feito pelo grupo
de estudos Fontes Históricas da Ditadura, saí com várias ideias sobre a pesquisa, de onde
eu poderia ir pesquisar. Daí, após a aula, fiz algumas pesquisas e descobri a existência de
um setor de história dentro da Cúria Arquidiocesana ligada a Arquidiocese de Fortaleza.
Nela contém documentos que possa me ajudar na pesquisa (talvez cartas que ligue Dom
Aloísio a Dom Helder, ações da diocese no período da ditadura militar), soube que tem
que marcar horário para poder ter acesso, mas ainda entrei em contato para saber mais
detalhes.

SEMANA 05 – Inicio 04/04

Esta semana, apesar da imensa procrastinação persistente, decidi procurar alguns


artigos, trabalhos ou teses sobre Dom Helder. Depois de muita procura encontrei vários
textos que me interessaram que tanto falavam de dom Helder e vários aspectos de sua
vida, como também encontrei textos sobre Dom Fragoso, Dom Pedro Casaldáliga e sobre
a arquidiocese de Fortaleza. Depois disso iniciei uma leitura rápida, “por cima” de alguns
desses textos.

Uma coisa que me pus a pesquisar foi sobre a Teologia da Libertação, as CEBs e
como isso influenciou Dom Helder, dito isso, encontrei uma tese de mestrado em letras
da Fabiana Ferreira intitulada - Entre o desejo e a contradição: os (des) caminhos na busca
de uma igreja nova. No primeiro capítulo deste trabalho tem algo que me chamou muita
atenção, ela vai falar sobre a Teologia da Libertação e sua relação com o Marxismo. Na
tese, ela vai contar que a TL tenha surgido após o Concílio Vaticano II e pouco antes da
Conferência Episcopal de Medellín, na Colômbia. Que aliás, essas conferencias,
intituladas de Conferencias Episcopais Latino-Americano – CELAM, que vão ocorrer
entre os bispos latino-americanos vão ser grande influencias nas mudança e ações da
igreja na América Latina após o grande concílio.
Segundo a tese, a TL vai surgir como “confronto entre a fé cristã e as situações de
opressão” (p.26). É interessante notar, traçando um paralelo com o CELAM, que a TL
vai surgir em meio ao caos que era (é) a América Latina, no sentido de vários dos países
estavam sofrendo golpes de estado como foi o caso da Colômbia, que foi sede de uma das
conferências. O Brasil vai entrar numa ditadura por meio de um golpe em 1964, e aqui é
interessante notar que de dentro da TL vai surgir dentro do Brasil, na década de 70, as
Comunidades Eclesiais de Base, e logo no período mais aterrorizante da ditadura.
Nesse mesmo contexto de surgimento, a TL vai traçar confrontos pela busca de
justiça, igualdade, direitos sobretudo dos mais pobres, dos povos sem vez e sem voz. Na
mesma tese a autora vai dizer “[...] confrontar, em suas discussões, religião e vida; fé e
política; organização eclesial e organização social do povo”. Ou seja, a TL e as CEBs
vieram, no meu entendimento, para abalar as estruturas clericais e tradicionais da igreja
e da sociedade que não visavam o bem a todos, e trazendo a música do Raul Seixas para
a discussão, a TL e as CEBs foram e ainda são como uma mosca que pousou na sopa, que
pertuba o sono de muitos. E é aí que a Teologia da Libertação vai ser comparada
constantemente com a teoria Marxista, porque ela vai lhe levar ao pensamento crítico e
revolucionário, e a luta que vai findar-se na libertação do oprimido. E isso vai responder
também a questões de o porquê que tantas pessoas vinculado a esse pensamento duplo de
Teologia da Libertação + Teoria Marxista foram perseguidos, interrogados e torturados
por serem taxados principalmente de comunistas. E Dom Helder vai ser uma dessas
pessoas perseguidas e levada para interrogatório.
É interessante, voltando a questão da TL e Marxismo, é que Dom Helder escreveu
um poema sobre o livro do Padre Lebret intitulado de Economia e Humanismo. Nesse
poema é interessante notar que Dom Helder elogia Karl Marx e ainda fala os cristãos tem
culpa por não terem apresentado a fé de maneira correta a ele, e além disso,
posteriormente em um pronunciamento na Universidade de Harvard em 1974 pelo
recebimento do título Doutor Honoris Causa (que depois pesquisando o que era isso,
descobri que isso é a mais alta honraria dada pela universidade pelos feitos de grande
destaque seja na educação, humanismo e etc.), Dom Helder vai falar que a teoria marxista
traz várias verdades e que é de suma importância para a TL.
Outro fato interessante nessa tese é a transição de Dom Helder, do integralismo
ao humanismo integral. Meio estranho e desconexo se pensar que Dom Helder, figura
importante no Brasil na prática do bem e da caridade tenha participado da Ação
Integralista Brasileira e nela tenha ocupado lugar de destaque. Em ligação com esse texto,
li algumas páginas, pouca coisa, da tese de doutorado do professor Edilberto (in
memoriam), nesse trabalhado onde ele fala da ligação do clero cearense com a política,
ele cita Dom Helder quando ainda padre em Fortaleza, muito ligado as questões políticas
da época tenha sido um dos percussores do Integralismo brasileiro ao formar no Ceará
com a ajuda do tenente Severino Sombra e de Jeová Mota, a Legião Cearense do Trabalho
(LCT), ou seja, é interessante notar que Dom Helder naquele momento de sua vida foi
anticomunista, ANTICOMUNISTA!, e isso, vários pesquisadores sobre ele e até mesmo
religiosos tendem a esconder e/ou deixar de lado infame de sua juventude. Segundo o
trabalho da Fabiana, Dom Helder só saiu do movimento após este ver a
“incompatibilidade entre o discurso e as práticas nazi-facistas” (p. 35), e também por
influência dos bispos do Rio de Janeiro.
Algo que vai ser muito marcante é de fato a sua chegada a Pernambuco para
assumir a arquidiocese de Olinda e Recife em 1964. Primeiro que, na cerimônia de posse
no dia 12 de abril do mesmo ano, ele profere um discurso que já deixa evidente sua
opinião, posição como humanista integral, e evidentemente, opondo-se à ditadura. O que
percebi na leitura é que o compromisso que ele assumiu no Pacto das Catacumbas e seu
humanismo integral vão dirigir muito suas ações naqueles anos, assim confirmo que o
Pacto foi e é um grande estopim para mudanças radicais e evidentemente perseguições (e
esta palavra – perseguições – me faz lembrar vagamente de uma frase que não ao certo
se é de Dom Helder, ela fala mais ou menos assim: “ se a igreja neste mundo não é
perseguida, então a igreja está errada”). As ações do bispo vão muito ao encontro da busca
da concretização do pacto e o evangelho, se vê isso no momento em que ele chega em
Recife e busca diálogos com todos – dos perseguidos, presos políticos, pobres e até o
diálogo com todos (ecumênico, com a direita e também a esquerda). Primariamente, por
suas visitas aos presos políticos, os militares “aconselharam” a ele que parasse, mas como
Dom Helder não escutou/ concordou em se calar, os milites partiram para as perseguições
e ataques, e aqui é interessante enfatizar que num primeiro momento os militares usaram
de seu domínio da comunicação para difama-lo, mas quando viram que não dava
resultado, partiram para medidas mais pesadas. E Dom Helder, evidentemente não ficou
calado diante dessas medidas, ele criou uma série de ações/ medidas para enfrentamento
dos militares:
I. Criação de um movimento ativo contra a repressão promovida pelos militares;
II. Criação de uma rede de informações através de boletins e folhetos pelos quais
se divulgavam notícias e documentos dos Bispos com informações sobre direitos
Humanos;
III. Consolidação de políticas pastorais de valorização dos leigos e
descentralização das atividades eclesiais;
IV. Criação do serviço de documentação e informação popular – através desse
serviço, socializavam-se informações sobre custo de vida; questões da terra...
[...]
VIII. Proposição do movimento “Pressão Moral Libertadora”
(Fabiana, 2013)
A partir dessas medidas, vejo de fato concretamente o compromisso com o Pacto,
com o concílio e a Teologia da Libertação.
É interessante notar que Dom Helder quer que o povo se liberte do apoio aos
militares através da conscientização, e se percebe isso quando ele propõe divulgação de
notícias sobre direitos humanos. E ele coloca isso numa verdadeira ação de fé e política,
levando o povo para fora da igreja templo e fazendo acontecer ações políticas pastorais.
E isso faz lembrar também, hoje, das ações do Papa Francisco quando ele fala de uma
igreja em saída para as periferias existenciais e não uma igreja que viva somente nas
sacristias.
Já o outro texto - Atividade política da igreja católica no brasil: As demandas da
sociedade brasileira transnacionalizadas por dom Helder Câmara (1968-1978), de
Adenilson Ferreira de Souza. Fala no início do texto que Dom Helder se tornou um dos
principais alvos dos militares quando se trata da Igreja Católica. Por ser um dos principais
alvos, os que conviviam com ele também sofreram torturas e sequestros ou foram mortos
como é o caso do padre Henrique. Sobre o padre, primeiramente começou recebendo
ligações de um grupo chamado Comando de Caça aos Comunistas (CCC), e um dia, não
voltando para casa, foi encontrado morto por Dom Helder e Dom Lamartine. Outras
pessoas foram presas e torturadas pelos militares, principalmente pessoas ligada ao
projeto Operação Esperança, que faz parte de uma das ações tomadas por Dom Helder ao
chegar em Pernambuco.
SEMANA 06 – Inicio 11/04

Após a aula de METEC I desta semana e da leitura dos textos, me veio a ideia de
fazer futuramente, numa pós-graduação talvez, trabalhar com as memórias do povo em
relação a Dom Helder, ou seja, trabalhar com as memórias daquelas pessoas que
conviveram com ele. Explico, por exemplo, as pessoas pobres da qual foram ajudadas,
das pessoas que conviveram diretamente com ele como o Monge Marcelo Barros que
inclusive lançou um livro sobre Dom Helder recentemente e foi assessor de assuntos
ecumênicos de Dom Helder por 10 anos, ou talvez as memórias do povo que fazem
peregrinação a seu tumulo todos os anos. Este último cito as caravanas que saem de
Fortaleza para Recife no mês de agosto para visitarem seu tumulo, a sacristia onde viveu,
a igreja das fronteiras. Eu mesmo já fui para uma dessas peregrinações, e apesar de ser
cansativo, foram momentos muito bons.

Além disso, tem também as pessoas que foram perseguidas por serem tachadas de
seguidores dele – vi esta semana num vídeo do facebook e que da qual não o encontrei
mais, que o Jô soares chegou a ser perseguido pelos militares e tachado de seguidor de
Dom Helder.

Com isso percebi, após a leitura do texto do Michael Pollak, o quanto a memória
está em constante disputa, conflitosa e bem próximo a nós que me fez lembrar também
que este ano o Presidente Bolsonaro revogou os decretos de luto oficial do Brasil por
Dom Helder e também por Frei Damião.

No youtube descobri além de vários vídeos de falas suas, um canal chamado Dom
Helder Câmara – IDHeC, da qual o canal propaga a história, a memória do bispo, e lá tem
uma playlist que me chamou a atenção chamada ‘Com a palavra: Dom Helder’ da qual
esses vídeos trazem falas diversas de Dom Helder, principalmente nas rádios de Recife.
Lá tem um vídeo intitulado ‘encontro dos dons’ do qual mostra um fragmento de vídeo
de Dom Helder com Chico Buarque da qual em um dos momentos Chico canta a música
A Banda e o bispo, sentado na cadeira, aparentemente com idade muito avançada, começa
a fazer pequenos gestos de dança ou até mesmo de regência ao som da música. Por conta
do vasto material, ainda não olhei todos.

Essa semana ainda descobri um texto escrito pelo Pe. José Ernanne Pinheiro que
foi vigário na Arquidiocese de Olinda e Recife de 1967 a 1986, nesse texto ele vai falar
relatos, fragmentos da vida de Dom Helder tendo como principal foco o seu legado
profético como bem traz seu título. Uma das coisas que ele fala no texto e que chamou
muita a atenção foi a criação da Comissão Estadual de Memória e da Verdade Dom
Helder Câmara, da qual tem o “objetivo de apurar judicialmente “casos” da ditadura”, é
interessante notar que essa comissão vai surgir 1 ano após a criação da Comissão Nacional
da Verdade. Outro fato em relação a essa comissão estadual é que ela vai investigar a
fundo a morte do Padre Henrique em 1969, que segundo o relatório da comissão, além de
militares, civis da extrema direita também participaram da ação.

Lendo esse texto, descobri algo que é de suma importância que não sabia, Dom
Helder implantou na Arquidiocese as CEBs que prova sua ligação mais ainda com a
Teologia da Libertação, consequentemente taxado de comunista.

SEMANA 07 – Inicio 18/ 04

Em uma pequena pesquisa de livros sobre dom Helder descobrir a existência de


livros que contém várias cartas escritas por ele durante o concílio e pós concílio, essas
cartas estavam endereçadas ao Rio de Janeiro e também Pernambuco. Não sei ao certo
qual o conteúdo dessas cartas, mas creio/ especulo que além da temática sobre o concílio
e suas mudanças, ele também deva falar sobre o Pacto das Catacumbas e
consequentemente deva ter muita memória escrita armazenada a ser desmiúçada.
Atualmente me encontro tentando compra-los e começar desmonta-los para análise. Ao
todo são 3 volumes, divididos em tomos e vão desde 1962 a 1966. O concílio inicia-se
em 1962 e termina em 1965, então imagino que o conteúdo das cartas vá além da temática
do concílio e talvez aborde questões sobre a ditadura militar já que a mesma se inicia em
1964.
SEMANA 08 – Inicio 25/ 04

Com a leitura do texto do Pierre Nora, quando se trata dos lugares de memória, e
do texto do Le Goff sobre documento/monumento lembro de imediato de toda a
peregrinação e romarias que acontecem em Recife para visitação de seu túmulo, de padre
Henrique, a igreja das fronteiras, a sacristia com o quarto minúsculo onde morou, como
também, soube da existência de um Centro de Documentação Dom Helder (CEDOCH) e
do Instituto Dom Helder Câmara (IDHeC) que são grandes detentoras de documentos e
memórias tanto de sua história, como também dos acontecimentos em seu nome após sua
morte.
Descobri essa semana que as cartas estão divididas entre cartas que falam do
concílio, mas também cartas que vão relatar sua experiência episcopal, pastoral e política
em Pernambuco, creio que não só lá, mas vá falar também de suas viagens. Dom Helder
nessas cartas também vai citar a situação do Brasil durante o período ditatorial, a pobreza
existente nas periferias. Acho que essas cartas, além de serem endereçadas, me soa muito
como um “diário público” do bispo.

SEMANA 09 – Inicio 03/ 05

Nesta semana, apesar de muito coisa para resolver, muito texto para ler, resolvi
fazer um pequeno mapa para me auxiliar com as datas e acontecimentos da vida de Dom
Helder e outros acontecimentos que ajudar no rumo da pesquisa

DOM HELDER

Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro - 1952

Criação da CNBB - 1952 Cáritas Brasileira - 1956

Concílio Vaticano II – 1962 - 1965

CELAM
Assinatura do Pacto das Catacumbas - 1965  Rio de Janeiro (Brasil, 1955
 Medelín (Colômbia, 1968)
 Puebla (México, 1979)
 Santo Domingo (República Dominicana, 1992)
 Aparecida (Brasil, 2007)
Golpe Militar - 1964

Arcebispo de Olinda e Recife – 1964 - 1985 Teologia da Libertação – Década de 60

Comunidades Eclesiais de Base – Década de 70


Percebi que há muita coisa a se pesquisar sobre Dom Helder, tanta coisa, tanta
informação que chega a dá certas dúvidas de se é isso mesmo o que quero trabalhar,
pesquisar. Aqui é só um pequeno fragmento da vida dele.

Com a escuta e olhar para com a músicas ouvidas na sala percebi o quão
conflituoso e complicado é observar a realidade e critica-la para se fazer história, tem que
estar bem atento ao que é superficial e real na sociedade e a partir disso ir a fundo para
questiona-las. Percebi que a prática historiográfica, do historiador é um ato de resistência
contra aqueles que tentam diariamente deturpar, apagar a memória e fazer dela ponto de
controle da sociedade.

Uma das coisas que percebi com a pesquisa foi que Dom Helder foi um grande
mobilizador das massas, não só católicas, até por que Dom Helder sempre foi uma pessoa
que buscou diálogo com todos, sem distinção de ninguém. Apesar de ter tido uma vida
polêmica, multifacetada, abraçou o pacto, os ideários do concílio e também da teologia
da Libertação e isso se vê claramente em suas ações. Uma frase bem famosa dele é “a paz
é fruto da justiça, ora, se tu queres a paz luta pela justiça” e assim o fez, não se calou
diante das ameaças e continuou sua luta pelos povos sem voz e sem vez – “mais que
comum dos dias, olhei o mais que pude os rostos dos pobres, gastos pela fome, esmagados
pelas humilhações, e neles descobri teu rosto, Cristo Ressuscitado! ”. Dom Helder
observou a realidade do povo e a criticou, por isso tornou-se o alvo número um dos
militares.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Beozzzo, José Oscar. Pacto das catacumbas: por uma igreja servidora e pobre. São Paulo,
Paulinas, 2015.

ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO - "Brasil: Nunca Mais". Petrópolis, Vozes, 1985.

Dom Helder, peregrino da utopia: Caminhos da Educação e da Política / organizadores


Antonio Montenegro, Edla Soares e Alcides Tedesco. Recife: A Prefeitura; Ed.
Universitária de UFPE, 2002;
Saraiva, Pe. Geovane. O Peregrino da Paz: Dom Helder Câmara 1º Centenário / Geovane
Saraiva, José Cajuaz Filho. Fortaleza: Celigráfica, 2009.

GRUPO DOM HELDER. Dom Helder Câmara: Memória Viva. 2016

Pinheiro, Pe. José Ernanne. Dom Helder Câmara, Arcebispo de Olinda e Recife e Bispo
da Igreja – Seu legado Profético. 2014.

REIS, Edilberto Cavalcante. Coronéis de Batina: atuação do clero na política municipal


cearense (1920 – 1964). Tese (doutorado em História Social) – Instituto de Filosofia e
Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2008.

SOUZA, Fabiana Ferreira Nascimento de. Entre o desejo e a contradição: os (des)


caminhos na busca de uma igreja nova. Tese (mestrado) - Universidade Federal de
Pernambuco, 2013.
SOUZA, Adenilson Ferreira. Atividade política da igreja católica no brasil: as demandas
da sociedade brasileira transnacionalizadas por dom Helder Camara (1968-1978). Tese
(mestrado em relações internacionais) - Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais, 2010.
CONDINI, Martinho. Dom Hélder Câmara: modelo de esperança na caminhada para a
paz e justiça social. Tese (mestrado em ciências da religião) Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, 2004.
POLLAK, Michael – Memória, esquecimento, silêncio.
GINSBURG, Carlo. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo:
Companhia das Letras, 1989.
LE GOFF, Jacques. Documento/monumento. In Historia e Memoria. Campinas:
EdUnicamp, 1995.

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