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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE

FACULDADE DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E LETRAS DO SERTÃO CENTRAL


– FECLESC

CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA

DISCIPLINA: OFICINA DE INSTRUMENTOS DIDÁTICOS

PROFESSOR (A): BRUNO MUNERATTO

ALUNO: JOÃO VICTOR DE MORAIS LOPES

RESENHA

QUIXADÁ – 2022
A música hoje em dia se tornou uma das maiores fontes de consumo
cultural da sociedade. Todo o cotidiano de uma cidade, de uma vida é sempre
regada a músicas que sempre se molda aos diversos momentos da vida de um
indivíduo/a ou grupos e as mais diversas realidades existentes na sociedade,
ou seja, ela roda todo cotidiano em suas várias pluralidades. E por conta de
sua versatilidade, a música se torna um dos mais fortes meios didáticos usados
pela e para a educação, e em especial, a história.

Nesse sentido a escolha do texto se dá justamente por a música ser um


importante meio para ajudar a compreender o período estudado nos seus mais
diversos sentidos. A exemplo disso, a música erudita do período Moderno,
através de compositores como Bach, Handel e Vivaldi ajudam a compreender o
cotidiano religioso da época ou a MPB no Brasil do século XX durante a
ditadura militar com músicas que vão retratar o cotidiano, o protesto e até
mesmo o nacionalismo/ patriotismo.

O texto escolhido, sobre o RAP, tem como subtópico – Música, RAP e


ensino de História – vem trazer uma reflexão pertinente de bastante relevância
sobre o quão importante e necessário se faz uso do RAP como ferramenta
didática de ensino-aprendizagem na sala de aula, bem como, quais os
impactos do seu uso na história e na formação de uma consciência histórica. E
para tais acontecimentos, é evidente que vários são os desafios de seu uso e
aplicação inserido nas várias realidades existentes na sala de aula

O autor, no início do texto, traz uma provocação pertinente:

“[...] ponto de convergência entre as opiniões dos


especialistas: o grande e histórico desafio de
apresentar um ensino de história instigante e valorizado
pelos estudantes [...]. ” (BARBOSA, 2017, p. 18)

Em outras palavras, um dos desafios maiores da educação, e em


especial da história, é ter um ensino em que todos os alunos participem e
tenham apreço. Surge daí o desafio de que a partir dessa participação ativa
nas discussões na sala de aula, o aluno mude ou faça nascer uma criticidade
da sociedade e visão ampla do mundo a partir da realidade em que ele se
encontra inserido. Essa provocação inicial é um desafio porque nem todos os
alunos irão aceitar ou se interessar, como também, nem todos os professores e
demais núcleos educacionais terão uma boa recepção ou adesão.

Esse desafio se inicia na medida em que os alunos começam a


questionar qual a função de estudar a história. Segundo o autor, isso se dá
pelo fato de que o conteúdo apresentado pelo professor não apresentar
nenhum sentido ou ligação com suas vidas no sentido que, na falta elo de
relação, a tendência do aluno é questionar o conteúdo. Ou seja, no caso, esse
elo de ligação seria pois, justamente, algo que dialogasse com sua situação,
realidade em que vive. Isso, segundo Esdras, “um estímulo estruturante para
despertar na/0 educanda/o o interesse pela história.

Para ocorrer esse interesse pela história é necessário abordagens e


recursos didáticos que ofereçam suporte para o aluno, no qual auxilie na
ligação do fato história com suas realidades. Por isso, faz-se essencial que o
professor conheça a realidade de seus alunos, a partir desse entendimento, irá
ajudá-lo a melhor adaptar/ traçar estratégias para que o aluno se interesse pela
história. Claro, nem sempre é possível englobar todas as realidades/ condições
de todos os alunos, mas faz-se necessário conhece-las e compreende-las na
tentativa de usa-la/s com elo de ligação para as aulas e gerar mais a
aproximação do aluno com a história.

Partindo desse conhecimento da realidade somados a uso da música


como recurso didático se tem uma boa base para a construção de uma
consciência histórica. E sobre a música como recurso, um dos estilos musicais
que mais está ligado as realidades existentes na sociedade é o RAP.

“[...] várias são as possíveis inquietações despertadas


e impulsionadas a partir do RAP e que trazem
informações e reflexões que ainda hoje passam
distante da grande maioria dos livros didáticos [...]. ”
(BARBOSA, 2017, p. 20)

O RAP, hoje em dia, tem sido utilizado em salas de aula por conta da
sua carga de realidade e história que trazem consigo. O RAP mostra por meio
das letras várias críticas que são direcionadas ao sistema, a política, ao
governo evidenciando fatos da sociedade que são esquecidos e/ou escondidos
da população. Por meio do RAP se é possível discutir e contestar sobre tudo o
que ocorre na sociedade, desde as altas classes, a mídia até mesmo as
camadas populares, ou seja, o RAP é grande instrumento de denúncia,
utilizado para mostrar e evidenciar aqueles que não possuem voz ou vez.

Outro fato de extrema relevância presente no RAP é grande carga de


história contida em inúmeras letras de músicas, evidenciando fatos e
personagens da história que são esquecidos e/ou tendem a ser ocultados. E
isso leva a outra questão, o RAP mostra fatos e situações tanto da história
quanto de questões sociais que por diversas vezes é ocultado dos livros
didáticos, livros esses que na maioria das vezes apresentam o conteúdo dentro
de um cunho eurocêntrico e enfatizando inúmeras vezes uma visão da história
onde se destaca somente os grandes fatos, personagens e seus grandes
feitos.

Para evidenciar a importância do uso do RAP no sentido de evidenciar


fatos e forte aliado nas aulas para a construção da história, o autor destaca,
como exemplo, a música “falta abolição” do grupo Tarja Preta que é composta
inteiramente de mulheres negras.

Sobre a música “falsa abolição”, Esdras destaca:

“[...] uma questão que poderíamos chamar de


estruturante no ensino, produção e conhecimento da
história: o apagamento de memórias e culturas do povo
negro no Brasil [...]. ” (BARBOSA, 2017, p. 21)

O autor aborda nesse trecho um questionamento pertinente quando se


trata do ensino de história e sobre os livros didáticos que é justamente a
tendência ao esquecimento da cultura negra (e também indígena) presente no
ensino nas escolas, realidade bastante presente na sociedade atual. Ou seja,
quando se fala no ensino sobre a cultura negra e indígena, o ideal seria
trabalhar constantemente, mas na realidade muita das vezes está restrita
somente a um dia, uma data comemorativa do calendário ou muitas vezes até
as datas passam despercebidas. Nesse sentido, a música do grupo Tarja Preta
vai evidenciar o esquecimento da cultura negra nas escolas. Vai mostrar
também que na escola nunca se foi mostrado quem foi Dandara e sua
importância na história do Brasil.
O RAP, nesse contexto, como ferramenta de auxilio nas aulas para a
construção de uma consciência história se torna essencial e indispensável.
Através dele podemos criar um senso crítico da sociedade em seu todo,
ademais, em sua história se nota que seu nascimento, o RAP a partir do
intermédio dos MC’s era usado para denunciar desigualdade social, racismo,
violência e etc. No Brasil, o RAP, segundo o autor “[...] apresenta composições
de crítica e conscientização política[...]” (BARBOSA, 2017, p. 23), nesse
sentido, o RAP se torna um estilo musical excepcional para as aulas. Por conta
do seu tom de criticidade e por retratar muito bem as realidades urbanas do
país, ele envolve muito a juventude, como também sua linguagem
característica que se torna mais um atrativo, e por isso se torna um forte aliado
no ensino de história.

Em consonância com as características citadas no parágrafo anterior, o


RAP, assim como a música/ arte em geral são uma forma de resistência e
resposta a realidade bruta em que vivemos. Assim, o RAP, se torna um forte
aliado para a construção de uma consciência crítica, como também grande
geradora de propostas de mudança social. O RAP se tornou um refúgio contra
a discrição, preconceito e injustiça, assim como também promovedora de voz e
vez a aqueles que se tornaram vítimas do sistema opressor.

“Outra questão que influencia a escolha do RAP como


instrumento pedagógico, [...] é sua forte ligação com a
história. Isso é facilmente identificável nas letras de
músicas, que utilizam relatos/eventos/personagens/
contextos históricos e seus desdobramentos nos
problemas discutidos no presente. ” (BARBOSA, 2017,
p. 25).

Sobre essa questão, o autor aborda um importante elemento presente


nas músicas – a fundamentação presente nas letras. É interessante se notar a
forte ligação entre o conteúdo/crítica presente nas músicas com a experiência
pessoal de vida e isso é muito importante quando se trata do seu uso sem sala
de aula. Outro fato é que o RAP faz acontecer reflexões questões em que irá
se criticar, por exemplo, o porquê de não termos aulas sobre a história e cultura
negra no Brasil ou o porquê de vermos mais fatos que aconteceram na Europa
e não dá muita evidencia e importância a história local. Então, nesse sentido, o
RAP atua como uma ponte entre as juventudes, história e cultura.

O teor de criticidade no RAP faz com que aumente o diálogo entre o


professor e o aluno na construção de uma consciência histórica capaz
questionar a ação do governo na destruição e opressão da cultura, da
educação, das juventudes e, além disso, fazer acontecer uma juventude mais
participativa nas questões políticas e sociais do país na busca de justiça e
melhorias para uma sociedade cada vez melhor.

Nesse aspecto do uso da música como recurso em sala de aula, a


historiadora Circe Maria F. Bittencourt em seu livro “Ensino de História:
fundamentos e métodos” no capítulo III vai dizer que “[...] existe uma diferença
enorme entre ouvir música e pensar a música. ” (BITTENCOURT, 2008, p.380).
Ou seja, quando se coloca uma música no contexto de ensino de história, vai
além da apreciação da música em sua forma estrutural, é necessário
desconstrui-la/“esmiúça-la”, debate-la para entende-la e fazer ligações com a
história e realidade dos alunos. Além disso, contudo, é fundamental a crítica do
aluno a própria música em sua letra e estrutura, de conhecer também o
contexto de criação da música e autor, para que assim, também, o aluno
conheça e formule um pensamento crítico a respeito da indústria cultural, do
consumo, do mundo capitalista em que está inserido.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BARBOSA, Esdras da Silva. Ensino de História e RAP: Classe, raça e


gênero como possibilidades de diálogo nas aulas de História. Monografia
(Licenciatura em História) - Instituto de Ciências Humanas, Departamento de
História, Universidade de Brasília. Brasília, 2017.

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e


métodos. São Paulo: Cortez, 2008.

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