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ÍNDICE

Aula 01: É PROIBIDO PENSAR........................................................................................ 3

Aula 02: INIMIGOS DO FIM!............................................................................................. 8

Aula 03: O QUE MATOU GOLIAS?................................................................................. 12

Aula 04: EU SÓ QUERO SER FELIZ!............................................................................. 15

Aula 05: POR TRÁS DA MAKE........................................................................................ 19

Aula 06: UMA AULA PARA ALÉM DO QUE SE VÊ.................................................. 25

Aula 07: SEM LIMITES........................................................................................................ 31

Aula 08: SÓ POR DEUS..................................................................................................... 37

Aula 09: PARA QUÊ DEUS?............................................................................................. 42

Aula 10: NÃO EXISTEM ATALHOS!................................................................................ 47

Aula 11: TOP INFLUENCERS!...........................................................................................


INFLUENCERS!........................................................................................... 53

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Aula 01

É PROIBIDO PENSAR
SOBRE O QUE VOCÊ TEM PENSADO?

“A vida não é para ser vivida na sua extensão, mas na sua


profundidade” – Andrei Alves
Qual é o tamanho do mundo? O seu mundo é do tamanho da sua
Existe um limite para o mundo? mente!

Para os gregos, o céu e o mar se A sua mente é uma peça fundamen-


encontravam e era criado um gran- tal para a transformação completa da
de fosso, um abismo que levaria ao sua vida. Sem a mudança da mente,
Tártaro (escuridão profunda). Acredi- provavelmente você viverá um loop
tavam que a terra era redonda e que infinito. Temos que sair do automáti-
ninguém conseguia chegar até o final co, tomar decisões conscientes e
da terra, pois os deuses haviam cria- assumir o governo da nossa vida e
do o metrum, um limite estabelecido reprogramar a nossa mente.
pelos deuses. Aquele que ultrapasse
cometia uma hybris, um erro no ca- “Uma vida irrefletida não vale a pena
minho e receberia um castigo eterno ser vivida” - Sócrates
dos deuses, sendo enviado para o
Tártaro, que está abaixo do Hades. O que a neurociência diz sobre a sua
Existiam várias punições, como metnte?
o exemplo da punição de Prometeu,
• Você não é uma vítima do seu cé-
que foi acorrentado e todos os dias
rebro
um corvo vinha e comia o seu fígado.
• Você cria matéria à medida que
Como ele era um titã, o seu fígado se
você pensa (você está se tornando
regenerava e no outro o corvo voltava
os seus pensamentos)
e comia novamente o seu fígado. Era
• Os seus pensamentos estão mu-
uma maneira de educar as pessoas a
dando o seu DNA
não passarem do limite.
• Como você pensa determina o
O grande fosso era desconhe-
quão bem-sucedido você será.
cido, por isso ele foi imaginado pelos
gregos. E o desconhecido gerava as- “Como é feliz aquele que não segue
sombro. Através dos mitos se criava a o conselho dos ímpios, não imita a con-
ideia de que o mundo estava organi- duta dos pecadores, nem se assenta na
zado e que os deuses comandavam roda dos zombadores! Ao contrário, sua
o Olimpo e o Hades. A terra era dos satisfação está na lei do Senhor, e nessa
homens, mas existiam limites para os lei medita dia e noite” - Salmos 1.1,2
homens. Somente os deuses eram
ilimitados em poder. Até os deuses Quando você toma uma decisão cons-
sofriam punições. Existiam limites ciente de concentrar e direcionar sua
para que o universo estivesse em atenção de forma correta você muda
equilíbrio. O desvio de equilíbrio ge- a matéria física, ou seja, você direciona
rava uma tragédia, merecida para pu- as suas decisões de acordo com os re-
nição. A Terra era chamada de Gaia, o sultados que você deseja obter e não
oceano era a dominação de Poseidon mais governado pelos seus pensa-
e Urano que é o céu e eles delimitam mentos inconsciente, como isso o seu
a terra que pertence aos homens. cérebro e seu corpo mudam de uma
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maneira saudável. Monitorar propo- e com o fermento de Herodes” - Marcos 8.15
sitalmente seus pensamentos pode
As três influências sobre a nossa mente são:
controlar o processamento sensorial
do seu cérebro, a reestruturação. • Fermento de Herodes
• Fermento dos Fariseus
Entenda que você foi projetado para • Fermento do Reino
mais:
1. Fermento de Herodes
“Então disse Deus: “Façamos o homem
É a influência alicerçada na força dos
à nossa imagem, conforme a nossa se-
homens e nos sistemas criados por eles,
melhança. Domine ele sobre os peixes como a política, a vontade popular e a
do mar, sobre as aves do céu, sobre os persuasão. Esse fermento exclui Deus total-
animais grandes de toda a terra e sobre mente. Esse tipo de fermento representa o
todos os pequenos animais que se mo- ateísmo prático. Existe muitos cristãos ateus,
vem rente ao chão” - Gênesis 1.26 que afirmam que acreditam em Deus, mas
vivem como se Ele não existisse.
Deus não guardou a sua imagem em se-
res pequenos, mas em seres eternos 2. Fermento dos Fariseus

Reflita: Representa o sistema religioso. Ele abraça


Deus na teoria, mas não na prática ou na
O que eu estou vivendo hoje é uma ver- experiência. Os fariseus têm Deus na forma,
dade ou preciso ser levado para uma nova mas sem poder. Os fariseus apresentam ex-
estação de pensamento? plicações e não soluções.
Tanto as influências do fermento de Herodes
“Não se amoldem ao padrão deste mundo, como dos fariseus, se baseiam no temor do
mas transformem-se pela renovação da homem. Quando somos influenciados pelos
sua mente, para que sejam capazes de ex- elementos do Reino não tememos o que as
perimentar e comprovar a boa, agradável pessoas pensam a nosso respeito.
e perfeita vontade de Deus” - Romanos 12.2
E contou-lhes ainda outra parábola: “O Rei-
Não se amoldem ao padrão deste mundo no dos céus é como o fermento que uma
- Romanos 12.2a mulher tomou e misturou com uma gran-
de quantidade de farinha, e toda a massa
Amoldar é tomar a forma de algo ficou fermentada” - Mateus 13.33

Enquanto o mundo nos amolda, Deus nos Quando a nossa mente é influenciada pelos
expande! céus, partimos da realidade de Deus para
trazer transformação para essa terra. Ao in-
Existem três tipos de fermentos que Jesus vés de nos amoldar, nós somos agentes de
Cristo nos revela em sua palavra. O fermento transformação da atmosfera.
é uma metáfora para nos revelar que exis-
tem influências sobre a nossa mente que “..., mas transformem-se” - Romanos 12.2b
determinam a maneira como interagimos
com o Reino de Deus. • Metamorfose - transformação da forma
• Arrependimento (Metanoia) - ampliação
Advertiu-os Jesus: “Estejam atentos e te- da mente, transformação da mente
nham cuidado com o fermento dos fariseus

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Quem você se tornou em Cristo? Você tem Só experimentamos o sabor bom, perfeito
uma consciência clara sobre isso? e agradável da vontade de Deus, quando
a nossa mente é expandida pelos céus.
“Vocês, porém, são geração eleita, sacer-
dócio real, nação santa, povo exclusivo de
Deus, para anunciar as grandezas daquele O CRISTIANISMO LIMITA A
que os chamou das trevas para a sua ma-
ravilhosa luz” - 1 Pedro 2.9
LIBERDADE?
1. Geração Eleita: “genos” significa raça. Um E o Senhor Deus ordenou ao homem:
agrupamento de gente com vida e descen-
dência comuns. Somos Filhos de Deus. “Coma livremente de qualquer árvore
do jardim, mas não coma da árvore do
2. Sacerdócio Real: sacerdotes que perten- conhecimento do bem e do mal, porque no
cem à família real. Jesus Cristo, como Sumo dia em que dela comer, certamente você
Sacerdote, é visto entronizado ou um Rei morrerá” - Gênesis 2.16,17
Sacerdote. Somos reais: Temos uma posição
elevada e privilégios. Com base no primeiro ataque de Satanás
contra a humanidade, existem basicamente
3. Nação Santa: o termo grego “laos” (povo, cinco estágios usados pelo inimigo para dis-
nação). torcer a verdade:

4. Povo Exclusivo: o grego diz aqui, literal- 1º ESTÁGIO: DESVIA O SEU FOCO.
mente, “um povo para aquisição” ou então
“um povo para a possessão”. Essa nação “Ora, a serpente era o mais astuto de todos
devia pertencer a Deus verdadeiramente, os animais selvagens que o Senhor Deus
demonstrando isso por seus atos agradáveis tinha feito. E ela perguntou à mulher” -
ao Senhor, ao passo que os povos estrangei- Gênesis 3.1a
ros seriam possuídos por forças espirituais
da maldade, conduzindo-se como bem Quem fica com os olhos perdidos
entendessem. encontra o pecado!

“... pela renovação da sua mente” - Roma- A tentação é um cheque sem fundo, por-
nos 12.2c que traz a expectativa daquilo que se es-
pera, mas na hora de se resgatar o valor, a
É uma relação diretamente proporcional: decepção é grande.
uma vida de poder e uma mente aberta
para o sobrenatural. Pare de tentar enten- A tentação nasce de dentro para fora.
der, decida viver. A renovação da mente tem Somente somos tentados por aquilo
a ver com uma vida de milagres. que somos atraídos.

Uma mentalidade que é influenciada pelo 2º ESTÁGIO: RELATIVIZA A PALAVRA


céu, ela transforma a realidade. DE DEUS

“para que sejam capazes de experimentar “Foi isto mesmo que Deus disse: “Não co-
e comprovar a boa, agradável e perfeita mam de nenhum fruto das árvores do
vontade de Deus.” Romanos 12.2d jardim?” - Gênesis 3.1b

Eu só experimento a vontade de Deus Guarde em seu coração a Palavra de


quando a minha mente for renovada. Deus, tal como ela é.
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3º ESTÁGIO: NEGA A PALAVRA DE DEUS mesma” – Charlene, moradora de Nova
York
Disse a serpente à mulher: “Certamente
não morrerão!” - Gênesis 3.4 “O cristianismo é um nivelador da raça huma-
na, destruidor da vontade humana de ousar
No momento em que as coisas parece- e agir [...] uma cerca de ferro, uma camisa de
rem confusas, não se esqueça daquilo que força que não permite que o homem se ex-
Deus falou quando tudo estava claro panda e cresça” - ativista social, Emma Gold-
man.
e certo.
• O que é liberdade?
4º ESTÁGIO: LEVA AO ABANDONO DA FÉ
Para muitos, liberdade significa a inexistência
“Deus sabe que, no dia em que dele come- de um propósito supremo para o qual fomos
rem, seus olhos se abrirão, e vocês serão criados. Se ele existisse, seríamos obrigados a
como Deus, conhecedores do bem e do adotá-lo e cumpri-lo, o que seria equivalente a
mal... Quando a mulher viu que a árvore uma limitação. A genuína liberdade é a liber-
parecia agradável ao paladar, era atraente dade de criar seu próprio sentido e propósito.
aos olhos e, além disso, desejável para dela Você concorda?
se obter discernimento, tomou do seu fruto, Conforme essa definição de liberdade, o Cris-
comeu-o” - Gênesis 3.5-6a tianismo então, parece inimigo da coesão so-
cial, da adaptabilidade cultural e até mesmo da
Toda vez que pecamos algo em nós mor- personalidade humana autêntica. No entanto,
uma reflexão mais profunda nos leve a perce-
re, perdemos mais do reflexo da glória de
ber que essa objeção se baseia em equívocos
Deus e nos afastamos mais da sua
sobre a natureza da verdade, do cristianismo e
presença. da própria liberdade.

5º ESTÁGIO: PRODUZ CONTAMINAÇÃO Quem de fato limita a vida? É o Cristianismo


ESPIRITUAL ou o homem distante de Deus? É a religião ou
o homem em um relacionamento com Deus?
“E o deu a seu marido, que comeu também.”
Gênesis 3.6b O que será que limita a vida humana?

Será que a crença em uma verdade Cartas de um diabo a seu aprendiz - C. S.


absoluta é inimiga da liberdade? Lewis

Lidamos com o posicionamento de algumas Pelo próprio ato de argumentar, você desperta
a razão de nosso paciente; uma vez desperta,
pessoas que acreditam que o Cristianismo é
como saberemos o que daí poderá resultar?
uma ameaça à liberdade civil, pois divide a
Mesmo se uma cadeia de pensamentos puder
população em vez de unir. Para eles, o cris- ser distorcida a nosso favor, você logo descobri-
tianismo também passa a impressão de ser rá que fortaleceu no seu paciente o hábito fatal
culturalmente ignorante, não reconhecen- de atentar para questões universais e ignorar o
do que culturas distintas têm perspectivas fluxo de
diversas sobre a realidade. Por fim, ele pare- experiências sensoriais imediatas. O seu
ce escravizar ou, no mínimo, infantilizar seus dever é fazer com que ele fixe a atenção nesse
adeptos, determinando aquilo em que eles fluxo. Ensine-o a chamá-lo de “vida real”, e não
têm de crer e o modo que devem agir em o deixe indagar-se sobre o que você quer dizer
todas as circunstâncias. Veja esses relatos: com “real”

“Não quero viver para Deus. Não vou viver Amplie a sua mente! Não se permita se
para Deus. Quero viver para [...] mim limitado pelos pensamentos dessa era.

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Aula 02

INIMIGOS DO FIM!
O QUE É O CERTO E O ERRADO?

“Depende do ponto de vista de cada um, o que é certo


para mim pode não ser certo para o outro” – Angela,
do lar.

“Depende do contexto”- Mateus, Militar.

“Certo é fazer o bem e errado e fazer mal ou tirar algo de


alguém que não me pertence” – Cristina, advogada.

“Sem um referencial fica difícil responder o que é certo ou


errado” - Jefferson, bioquímico.

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emoções e a intuição.
METAMORFOSE
• Forma → Antiforma
Muitos acreditam que o mundo Ocidental • Projeto → Acaso
está passando por um deslocamento cultu- • Hierarquia → Anarquia
ral só comparável às inovações que marca- • Centração → Dispersão
ram o nascimento da modernidade das • Raiz → Rizoma
ruínas da Idade Média. • Obra → Processo
Observe alguns trechos do livro “Modernida- • Narrativa → Antinarrativa
de Líquida” do filósofo Zygmunt Baman • Forma → Antiforma
sobre o período em que estamos vivendo. • Projeto → Acaso
• Hierarquia → Anarquia
Não podemos tolerar o que dura! • Centração → Dispersão
• Raiz → Rizoma
O que conta é o tempo, mais do que o es- • Obra → Processo
paço que lhes toca ocupar; espaço que, • Narrativa → Antinarrativa
afinal, preenchem apenas “por um mo-
mento” Observe outros trechos do livro
“Modernidade Líquida”
Associamos “leveza” ou “ausência de peso”
à mobilidade e à inconstância Os tempos modernos encontraram os
sólidos pré-modernos em estado avança-
A partir de 1970, o pensamento moderno do de desintegração; e um dos motivos
começou a ser bastante questionado pelos mais fortes por trás da urgência em der-
pensadores do período. Como forma de se retê-los era o desejo de, por uma vez, des-
contrapor ao pensamento racional moder- cobrir ou inventar sólidos de solidez dura-
no, surge o “Desconstrucionismo” como doura.
teoria literária, influenciando um novo movi-
mento na filosofia. As lealdades tradicionais, os direitos cos-
tumeiros e as obrigações que atavam pés
Desta forma, os filósofos pós-modernos apli- e mãos, impediam os movimentos e res-
cam as teorias do desconstrucionismo lite- tringiam as iniciativas.
rário ao mundo como um todo. Para eles, o
mundo não tem apenas um significado, as
verdades não são absolutas. A realidade da
MODERNIDADE LÍQUIDA
vida pode, e deve ser “lida” de forma diferen-
te por todo ser dotado de conhecimento. Para Zygmunt Bauman (2004), o homem
pós-moderno possui uma característica
Derrida, Focault e Rorty trouxeram o axio- fundamental: a “fluidez”
ma central para a filosofia pós-moderna em
que “tudo se resume à diferença” → o mun- Na modernidade líquida os padrões
do não tem um centro, somente pontos de não estão dados, nem são impostos, eles
vistas e perspectivas distintas. são vistos como características individuais.
“Os fluidos se movem facilmente (...), dife-
A mente pós-moderna recusa-se a limitar rentemente dos sólidos, não são facilmen-
a verdade à sua dimensão racional e, por te contidos – contornam certos obstáculos,
isso, destrona o intelecto humano de sua dissolvem outros e invadem ou inundam
posição de árbitro da verdade → há seu caminho” (BAUMAN, 1997).
outros caminhos válidos para o conheci-
mento além da razão, o que inclui as
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Características que estão presentes no gida da Modernidade ruiu, e nada veio em
homem pós-moderno segundo Zygmunt seu lugar para substituir.
Bauman (2004).
Uma análise resumida do mundo atual:
• Pluralidade
• Novidade • Filosoficamente, você pode acreditar
• Secularização em qualquer coisa, desde que não afir-
• Racionalidade me que é verdade.
• Imersão no universo • Moralmente, você pode praticar qual-
quer coisa, desde que não afirme que é
um comportamento “melhor”.
A pós-modernidade apresenta um ser • Religiosamente, você pode se apegar a
humano: qualquer coisa, desde que não ponha Je-
sus Cristo no meio.
• Que vivencia ser parte do cosmos
• Liberto de todo controle Será que a pós-modernidade é um estado
• Aberto para novas experiências. de espírito?
• Que se nega a sujeitar-se a uma
ideologia seja capitalista ou socialista
• Que resgata a subjetividade e exige COMO SE POSICIONAR NUM
sua expressão, em todos os sentidos MUNDO LÍQUIDO?
Agora, nós estamos mais livres?
Não é uma questão de debate. É uma
Como não podemos tolerar o que dura. questão de posicionamento.
Então, o que podemos tolerar?

O que jogamos fora para termos mais “Assim, permanecem agora estes três: a fé,
liberdade? a esperança e o amor. O maior deles,
porém, é o amor” - 1 Coríntios 13.13
Características que estão presente na so-
ciedade pós-moderna: “Vocês não dizem: ‘Daqui a quatro meses
haverá a colheita’? Eu lhes digo: Abram os
• Fluidez → Nesta Modernidade chama-
da de “líquida”, os sujeitos não possuem olhos e vejam os campos! Eles estão madu-
mais padrões de referência nem códigos ros para a colheita” - João 4.35
sociais e culturais.
• Fragmentação → os compartimentos es- Podemos ver a pós-modernidade como
tanques que proporcionam liberdade a
um bom desafio?
cada um.
• Secularização → a igreja e a religião per-
dem sua influência na sociedade. Para muitos, a situação pós-moderna é uma
• Religião → O retorno ao sagrado, ao eso- ocasião de desespero. Mas é exatamente
térico e o culto ao mal, são fenômenos da nos momentos históricos que se mostram
pós-modernidade. mais difíceis que a fé viva e frutífera se
levanta, trazendo nova esperança.
Parece que a sociedade pós-moderna, de- Para apresentar o Evangelho ao mundo
pois de tantos avanços, não têm certeza do pós-moderno, não se pode mais seguir o ca-
rumo a tomar. A própria sociologia contem- minho que situa o indivíduo no centro dos
porânea reconhece que toda a estrutura rí- acontecimentos.

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• O que atrai a atenção para esta geração
é ver pessoas reais que vivenciam o que
ensinam em relacionamentos integrais,
autênticos e terapêuticos.
• Não podemos permitir que o compro-
metimento com Cristo estacione em
um esforço intelectual, deixando que se
transforme unicamente em aceitação
de argumentações doutrinárias.
• O evangelho pós-moderno nos fará lem-
brar de que seremos capazes de manter
a ação correta somente quando ela fluir
dos recursos do Espírito Santo, o qual
nos renova continuamente em nossa
pessoa interior.

Você percebe que a sociedade pós-moder-


na está receptiva a um Evangelho relevan-
te? Podemos apresentar uma mensagem
relevante para esse tempo de várias manei-
ras, mas três coisas não essenciais:

1. Compaixão pelas pessoas

“Quando Jesus saiu do barco e viu tão


grande multidão, teve compaixão deles e
curou os seus doentes”. (Mateus 14.14).

2. Abordagem personalizada

Ele disse a eles: “Vem e vê” (João 1.39).

3. Tempo Providencial

“Mas, quando chegou a plenitude do tem-


po, Deus enviou seu Filho, nascido de mu-
lher, nascido debaixo da lei.” (Gálatas 4.4).

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Aula 03

O QUE MATOU GOLIAS?


COMO LIDAR COM A DÚVIDA?

A dúvida é um problema
ou é algo bom? Por quê?

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Qualquer pessoa que esteja comprometida vida espiritual.
com sua fé, inevitavelmente enfrentará o
problema da dúvida. Uma dúvida não res- A dúvida nunca edifica; ela sempre
pondida pode começar a minar a vitalidade destrói.
de sua experiência espiritual.
Quando as dúvidas aparecerem, não tente
• Dúvida é diferente de mistério. escondê-las ou fingir que elas não existem.
• A dúvida gera instabilidade, orgulho e di- Leve-as a Deus em oração e peça-lhe que o
visão. ajude a resolvê-las.
• O mistério, dependência, fé e adoração.
“Eu creio! Ajuda-me na minha incredulida-
“Mas aquele que tem dúvida é condenado de” (Marcos 9.24).
se comer, porque não come com fé; e tudo
o que não provém da fé é pecado” - 2. Quando a dúvida surge, tenha em
Romanos 14.23 mente a relação adequada que existe
entre fé e razão.
“Peça-a, porém, com fé, sem duvidar, pois,
aquele que dúvida é semelhante à onda • Como sei que a minha fé é verdadeira?
do mar, levada e agitada pelo vento” - • Posso ter essa informação com base na
Tiago 1.6 razão e na evidência? Ou, posso saber se
é verdadeira pela própria fé?
“... é alguém que tem mente dividida e é • Minha fé baseia-se na autoridade ou tal-
instável em tudo o que faz” - Tiago 1.8 vez na experiência mística?
• Como sei que minha fé cristã é verdadei-
“As coisas encobertas pertencem ao Se- ra?
nhor, ao nosso Deus, mas as reveladas per-
tencem a nós e aos nossos filhos para sem- Não é com base em qualquer espécie de
pre, para que sigamos todas as palavras evidência ou prova que reconhecemos que
desta lei” - Deuteronômio 29.29 nossa fé é verdadeira, mas é com base no
testemunho do Espírito Santo em nossos
O que pode ser feito? Ignorar, aceitar ou corações que reconhecemos, de forma ime-
enfrentar a dúvida? diata e inconfundível, que a nossa fé é ver-
dadeira.
1. Reconheça que a dúvida nunca é um
problema puramente intelectual. O Espírito de Deus torna evidente que a
nossa fé é verdadeira.
“Pois, a nossa luta não é contra pessoas,
mas contra os poderes e autoridades, con- Pois vocês não receberam um espírito que
tra os dominadores deste mundo de trevas, os escravize para novamente temer, mas
contra as forças espirituais do mal nas re- receberam o Espírito que os adota como
giões celestiais” (Efésios 6.12) filhos, por meio do qual clamamos: “Aba,
Pai”. O próprio Espírito testemunha ao nos-
A dúvida não é apenas uma questão de so espírito que somos filhos de Deus.
debate acadêmico ou de discussão inte- (Romanos 8.15,16)
lectual sem interesse; ela envolve uma
batalha contra sua alma. Há três que dão testemunho: o Espírito, a
água e o sangue; e os três são unânimes.
Não é bíblico pensar que a dúvida é uma vir- Nós aceitamos o testemunho dos homens,
tude; pelo contrário, a dúvida é sempre des- mas o testemunho de Deus tem maior va-
crita nas Escrituras como algo prejudicial à lor, pois é o testemunho de Deus, que ele

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dá acerca de seu Filho. Quem crê no Filho – (Hebreus 11.1)
de Deus tem em si mesmo esse testemu-
nho. Quem não crê em Deus o faz menti- A fé não nega as provas. A fé cria provas!
roso, porque não crê no testemunho que
Deus dá acerca de seu Filho (1 João 5.7-10) Lidamos com três tipos de ceticismo:

3. Lembre-se da fragilidade de nossos • Radical → você pode até acreditar, mas


intelectos e do nosso conhecimento não pode conhecer.
limitado. • Mitigado → você pode conhecer coisas
de experiências imediatas, mas não po-
A nossa finitude pode ser uma ponte ex- demos afirmar se é verdadeiro, apenas se
traordinária para o eterno. é provável.
• Cartesiano → aplicar dúvida a toda cren-
“[...] O conhecimento traz orgulho, mas o ça.
amor edifica. Quem pensa conhecer algu-
ma coisa, ainda não conhece como deve-
ria. Mas quem ama a Deus, este é conheci-
do por Deus” (1 Coríntios 8.1-3).

4. Lute com suas dúvidas até resolvê-las

A submissão é a chave para uma mente


governada pelo céu!

Quando você está diante de uma dúvida,


você pode fazer duas coisas: adorar ou
imaginar.

POR QUE DEVO ACREDITAR?


“Quase que invariavelmente as pessoas
formam suas crenças não baseadas nas
provas, mas naquilo que elas acham atra-
ente” - Blaise Pascal

Conforme James Sire, há quatro razões por


que as pessoas creem:

• Sociológicas
• Psicológicas
• Religiosas
• Filosóficas

Então, por que eu devo crer?

“Ora, a fé é a certeza daquilo que espera-


mos e a prova das coisas que não vemos”

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Aula 04

EU SÓ QUERO SER FELIZ!


O QUE É A FELICIDADE?

“Ver as pessoas ao meu redor felizes”– Angela, do lar.

“É aquilo que te faz bem”- Mateus, Militar.

“É gratidão” – Cristina, advogada.

“ É estar em família” - Jefferson, bioquímico.

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Felicidade → eudaimonia, Grécia antiga → “Aquele que é a Palavra estava no mun-
significava o estado da alma. do, e o mundo foi feito por intermédio dele,
mas o mundo não o reconheceu. Veio para
• Eudaimonia, não seria circunstancial, o que era seu, mas os seus não o recebe-
não se confundindo com o prazer, com ram” - João 1.10-11
a alegria.
• A felicidade não seria um estágio de sa- A felicidade não é apenas um sentido como
tisfação temporário, mas uma busca por algo que veio pronto, mas o sentido que eu
satisfação plena. invento. O projeto que eu construí para mim,
sendo que este projeto tem que me mostrar
Para a filosofia: Felicidade = algo acerca do que significa viver.
realidade - expectativa
Então o Senhor Deus declarou: “Não é bom
• A felicidade é entendida também como que o homem esteja só; farei para ele al-
uma vibração intensa, onde você sente guém que o auxilie e lhe corresponda” -
uma vitalidade exuberante, mas ela não Gênesis 2.18
seria um estado contínuo.
Uma vida feliz é quando a felicidade se torna
• A felicidade seria percebida como instan- uma potência a partir da justiça. Ninguém
tes que elevariam a sua vida ao máximo. poderá ser feliz numa sociedade injusta.

“A vida não deve ser medida pelo número “Bem-aventurados os que têm fome e sede
de vezes que você respirou, mas pelos mo- de justiça, pois serão satisfeitos” -
mentos em que você perdeu o fôlego” - Mateus 5.6
Bob Marley
A felicidade com base em bens materiais
Uma vida feliz, é uma vida livre de tristeza? produz um prazer muito raso.

• Felicidade não é sinônimo de euforia. “Não andem ansiosos por coisa alguma,
mas em tudo, pela oração e súplicas, e com
• A felicidade é simples, mas o simples não ação de graças, apresentem seus pedidos
é o simplório. O simplório é o raso, a sim- a Deus” - Filipenses 4.6
plicidade é a pureza.
• A felicidade vem daquilo que é o essen-
“Mesmo não florescendo a figueira, não ha- cial.
vendo uvas nas videiras; mesmo falhando
a safra de azeitonas, não havendo produ- • O essencial não é o fundamental.
ção de alimento nas lavouras, nem ovelhas
no curral nem bois nos estábulos, ainda as- O fundamental é o que nos ajuda a chegar
sim eu exultarei no Senhor e me alegrarei no essencial, por exemplo: dinheiro é funda-
no Deus da minha salvação” - mental (sem ele eu terei problemas), mas
Habacuque 3.17-18 ele em si não me traz felicidade. O dinheiro
não é desprezível, mas ele em si não é o sufi-
“Eu os estou enviando como ovelhas entre ciente. Então, o erro na busca pela felicidade
lobos. Portanto, sejam prudentes como as seria inverter a prioridade em busca do
serpentes e simples como as pombas” - secundário.
Mateus 10.16
“Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino
• A felicidade não é o lucro com a vida, ou o de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas
que ganhei ou qual foi a vantagem de viver. lhes serão acrescentadas” - Mateus 6.33

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“Portanto eu lhes digo: não se preocupem • Onde suas decisões o têm levado?
com suas próprias vidas, quanto ao que • Você está indo para a plenitude de vida
comer ou beber; nem com seus próprios ou para a escassez?
corpos, quanto ao que vestir. Não é a vida • Você se sente mais cheio ou mais va-
mais importante do que a comida, e o cor- zio?
po mais importante do que a roupa? - • Mais realizado ou mais desgastado?
Mateus 6.25
CATEGORIAS PRINCIPAIS DA ÉTICA
A felicidade pode ser vista também do pon-
to de vista coletivo ou individual. Todos estão 1. A Ética Formal
em busca de uma resposta para a felicidade.
Será que podemos encontrar essas respos- Não existe uma ética para mim, e outra para
tas na política, poder, economia, religião? você. Os valores da ética são inatos, basea-
dos num conhecimento inato.
Jesus perguntou aos Doze: “Vocês também
não querem ir? “Simão Pedro lhe respon- Bases: A intuição, o racionalismo, o misticis-
deu: “Senhor, para quem iremos? Tu tens mo, a sobrenaturalidade, a justiça absoluta,
as palavras de vida eterna - João 6.67-68 a teleologia e o idealismo.

2. A Ética Relativa (da situação)


COMO EU DEVO VIVER?
A conduta ideal pode ser estabelecida so-
Qual é o seu destino? Para onde você está mente através da experiência humana. Ela
indo? não é imposta por uma força exterior, não
humana (se tal força existe).
O mais importante na vida não é velocida-
de, mas direção. Bases: O empirismo, o pragmatismo, o po-
sitivismo, o materialismo, o humanismo, a
Ética tem a ver com direção, caminho... ciência.

• É uma questão exclusivamente humana. 3. A Ética dos Valores


• Pressupõe a capacidade de decidir, de
discernir, de compreender. Este sistema é um meio-termo entre o
• Parte da liberdade dada a cada ser hu- apriorismo (ética formal) e o empirismo
mano de optar em receber ou em recu- (ética relativa).
sar algo.
• Vem do grego ethos, que busca respon- Bases: o racionalismo, a intuição, o misticis-
der uma questão existencial e ao mesmo mo (para alguns estudiosos), o empirismo
tempo social: “Como eu devo viver?”. A (que não é considerado inerentemente
ética tem a ver com o estilo de vida. contrário ao racionalismo).

Independentemente de você ter consciên- PRINCIPAIS LINHAS ÉTICAS


cia sobre qual é o tipo de ética que direciona
a sua vida, ela faz parte do seu cotidiano. A Os filósofos acreditavam que a ética é o ca-
verdade é que todos nós, por sermos seres minho e a felicidade o destino. Essa felicida-
humanos, vivemos a ética. de não se trata de um valor supérfluo, mas a
eudaimonia.
• Como você tem vivido?
• Quais são os critérios que você tem se • Para Aristóteles, a ética das virtudes onde
utilizado para tomar suas decisões? o equilíbrio entre o excesso e a escassez

17
determinaria valores que me levariam à
felicidade.
• Para Immanuel Kant, o imperativo cate-
górico que apregoava o fato de que de-
veríamos ter uma vida regida por princí-
pios e que eles seriam a única opção para
uma vida feliz.
• Para John Stuart Mill, a ética utilitarista
seria a melhor forma de ser feliz, onde o
fim justifica os meios.

A ÉTICA DO REINO
Para Jesus, viver bem não é a busca da felici-
dade, e sim a busca do Reino de Deus.

“Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino


de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas
lhes serão acrescentadas” - Mateus 6.33.

• Jesus prescreveu uma ética para uma


comunidade que vivia na expectativa do
futuro escatológico e tivera a experiência
de viver já naquela época o começo des-
se futuro. A vida no Reino afeta todos os
aspectos dos relacionamentos humanos.
Por isso, Jesus falava de instituições so-
ciais como casamento e divórcio.
• Os cidadãos do Reino também devem
achar sua segurança em Deus, e não nos
bens materiais. Os que buscam o Reino
de Deus também provarão o cuidado do
Soberano (Mateus 6.33).
• A riqueza, por sua vez, não é a chave para
se viver bem, ao contrário, ela traz peri-
gos. A ética do Reino, também, exige as-
sistência aos necessitados. O desejo do
Rei é que os que foram por ele abenço-
ados com bens materiais usem essas dá-
divas em benefício dos outros.

18
Aula 05

POR TRÁS DA MAKE!


PARA VOCÊ, O QUE É BONITO? O BELO?

“O belo é bem complexo, mas acho que uma pessoa boa


pode ser chamada de bela” – Márcio, segurança.

“O belo? O belo sou eu!!”- João, divulgador.

“Isso vai de cada pessoa. O que bonito para mim, pode


não ser para você” – Mateus, Militar.

“Tudo o que vem da graça de Deus e agrada ao povo” -


Damião, aposentado.

“Viver em harmonia com a família é uma coisa bonita” -


Jefferson, bioquímico

19
• Conhecimento sensorial,
QUAL É O SIGNIFICADO DA • Experiência,
ARTE NA EXPERIÊNCIA • Sensibilidade.

HUMANA? Foi empregada para referir-se às artes, pela


primeira vez, pelo alemão Baumgarten, por
volta de 1750.
Temos experimentado um novo nível de
engajamento e de avivamento em nossa • Em seu uso inicial, referia-se ao estudo
cultura. Algumas áreas da vida têm tido das obras de arte enquanto criações da
sua existência redescoberta e se tornado sensibilidade, tendo como finalidade o
objetos de reflexão. Uma dessas áreas é a belo.
da estética. • Pouco a pouco, substituiu a noção de arte
poética e passou a designar toda investi-
A palavra estética vem do grego gação filosófica que tenha por objeto as
aesthesis (sensação), como o tempo artes ou uma arte.
passou a derivar o sentido de teoria da
beleza, ou arte. → do lado do artista e da obra: busca-
-se a realização da beleza;
→ do lado do espectador e receptor:
O que a arte pretende transmitir, com busca-se a reação sob a forma do juízo de
escultura, pintura, música…? gosto, do bom-gosto.

Qual é o seu impulso ou origem? A noção de estética (XVIII e XIX)


pressupunha:

Do ponto de vista da Filosofia, podemos • Que a arte é produto da sensibilidade, da


falar em dois grandes momentos de teo- imaginação e da inspiração do artista e
rização da arte. que sua finalidade é a contemplação;
• Que a contemplação, do lado do artista,
• No primeiro, inaugurado por Platão é a busca do belo (e não do útil, nem do
agradável ou prazeroso) e, do lado do pú-
e Aristóteles, a Filosofia trata as artes
blico, é a avaliação ou o julgamento do
sob a forma poética; valor de beleza atingido pela obra;
• No segundo, a partir do século XVIII, • Que o belo é diferente do verdadeiro.
sob a forma da estética. O verdadeiro é o que é conhecido pelo in-
Arte poética é o nome de uma obra aris- telecto por meio de demonstrações e pro-
totélica sobre as artes da fala e da escrita, vas, que permitem deduzir um particular
do canto e da dança: a poesia e o teatro de um universal (dedução) ou inferir um
(tragédia e comédia). universal de vários particulares (indução)
por meio de conceitos e leis.
• A palavra poética é a tradução para
poiesis → fabricação. O belo, ao contrário, tem a peculiaridade
• A arte poética estuda as obras de arte de possuir um valor universal, embora a
como fabricação de seres e gestos artifi- obra de arte seja essencialmente
ciais produzidos pelos seres humanos. particular.

Estética é a tradução da palavra grega A obra de arte, em sua particularidade e sin-


aesthesis, que significa: gularidade única, oferece algo universal –

20
a beleza – sem necessidade de demonstra- estilos e na preferência pessoal.
ções, provas, inferências e conceitos.
Como exercício de nossa criatividade, a arte
Por exemplo: Quando leio um poema, es- é o universo de nossa liberdade relativa. Por
cuto uma sonata ou observo um quadro, essa razão, é natural que haja diferença de
posso dizer que são belos ou que ali está a estilos entre os diferentes artistas e entre di-
beleza, embora esteja diante de algo único e ferentes culturas no tempo e no espaço, da
incomparável. O juízo de gosto teria, assim, a mesma forma que é natural e desejável que
peculiaridade de emitir um julgamento uni- os diferentes observadores manifestem sua
versal, referindo-se, porém, a algo singular e preferência pessoal por determinadas
particular. manifestações, estilos ou artistas.

Desde o início do século passado, todavia, A boa arte estabelece uma relação de coe-
abandona-se a ideia de juízo de gosto como rência entre forma e conteúdo, e a implica-
critério de apreciação e avaliação das obras ção imediata disso é que a forma de uma
de arte. obra de arte nunca é neutra. Ela é o resultado
de uma cultura, um ambiente, um conjunto
As artes deixaram de ser pensadas exclusi- de possibilidades, e, em última instância, da
vamente do ponto de vista da produção da visão que um artista tem da realidade.
beleza para serem vistas sob outras pers-
pectivas, como: À luz de uma perspectiva cristã, a nossa pre-
ferência pessoal não valida a nossa experi-
• Expressão de emoções e desejos, ência estética. A nossa preferência pelo feio
• Interpretação e crítica da realidade social, não o transforma em belo, da mesma ma-
• Atividade criadora de procedimentos neira que a nossa preferência pelo mal não
inéditos para a invenção de objetos artís- transforma o mal em bem, nem a nossa pre-
ticos. ferência pela mentira torna a mentira verda-
deira.

OBJETIVA OU SUBJETIVA? Há um padrão para o julgamento estético?


Uma das discussões mais comuns no uni- Uma das implicações do fato de que a expe-
verso da arte é se a experiência estética é
riência estética possui uma dimensão nor-
objetiva ou subjetiva. mativa é que a arte pode ser julgada ou ava-
liada. Em A arte e a Bíblia, Francis Schaeffer
A estética é regulamentada por normas apresenta quatro padrões de julgamento.
absolutas ou constitui terreno da comple- São eles:
ta autonomia humana, sobre o qual
fazemos o que bem entendemos? 1. Excelência técnica: o uso que um artista
faz dos recursos à sua disposição e a habili-
“A vida e a arte são complexas demais para dade no uso desses recursos.
aplicarmos regras legalistas; mas isso não
significa que não há normas” - “Não seremos verdadeiros com um artis-
HR Rookmaker, filósofo cristão. ta como pessoa se desprezarmos sua arte
simplesmente porque discordamos de seu
“Quais são as normas para a arte? ” ponto de vista. Escolas cristãs, pais cristãos
e pastores cristãos têm se afastado de mui-
Embora se considere o aspecto normati- tos jovens exatamente por causa disso. Por-
vo da arte, não podemos eliminar o espaço que escolas, pastores e pais, têm deixado
para a subjetividade, expressa nos diferentes de fazer distinção entre excelência técnica

21
e conteúdo, grande parte das obras de arte
de qualidade tem sido rejeitada com escár-
QUAL A RELAÇÃO DA ARTE
nio e chacota. Em vez disso, se o artista ti- COM A ESPIRITUALIDADE?
ver alto nível de excelência técnica, ele deve
ser reconhecido, ainda que discordemos de A Arte e a Religião:
sua cosmovisão. As pessoas devem ser tra-
tadas de maneira justa” - Francis Schaeffer • As duas primeiras manifestações cultu-
rais foram, historicamente, o trabalho e a
religião.
2. Validade: a honestidade do artista para
• Ambas instituíram as primeiras formas
com sua cosmovisão. A arte é algo sério de-
da sociabilidade – a vida comunitária – e
mais para ser vivenciado apenas como meio
da autoridade – o poder religioso.
de subsistência econômica.
• Ambas instituíram os símbolos de orga-
nização humana do espaço e do tempo,
3. Conteúdo: a cosmovisão refletida pela
do corpo e do espírito. As artes, as técni-
obra de arte. Quanto maior é a qualidade de
cas ou artes mecânicas, foram, assim, in-
uma obra de arte, mais importante deve ser
separáveis de ambas.
a crítica ao seu conteúdo.
Todas as atividades humanas assumiram a
forma de rituais:
“…quando algo falso ou imoral é expresso
por meio de uma arte de alta qualidade,
• A guerra,
isso pode ser mais destrutivo e devastador
• A semeadura e a colheita,
do que se fosse comunicado por meio de
• A culinária,
uma arte de qualidade inferior ou de uma
• As trocas,
afirmação prosaica” - Francis Schaeffer
• O nascimento e a morte,
• A doença e a cura,
4. Coerência entre veículo e conteúdo:
• A mudança das estações,
relação harmônica entre o conteúdo comu-
• A passagem do dia à noite,
nicado pela arte e os suportes escolhidos
• Ventos e chuvas,
para a comunicação.
• O movimento dos astros,
No julgamento estético devemos estar aten-
Tudo se realiza ritualísticamente e tudo
tos para o risco de julgar um artista a partir
assume a forma de um culto religioso.
de uma única obra de arte. Ninguém pode
dizer tudo o que gostaria em uma única obra.
• As futuras sete artes (as belas-artes) nas-
Por isso, “devemos julgar o desempenho de
cem, pois, no interior dos cultos e para
um artista e sua cosmovisão com base no
servi-los.
maior número possível de suas obras”.
• O artista era mago – como o médico e o
astrólogo -, artesão – como o arquiteto, o
“Você pode produzir piadas diariamente,
pintor e o escultor -, iniciado num ofício
mas não estou interessado em simples-
sagrado – como o músico e o dançarino.
mente fazer piadas. Estou interessado em
• O artífice iniciava-se nos segredos das
fazer uma tira que diga algo e faça algum
artes ou técnicas recebendo uma edu-
comentário sobre as coisas importantes da
cação especial, tornando-se um iniciado
vida” - Charles Schulz, criador da história
em mistérios.
em quadrinhos Peanuts

22
Arte e Espiritualidade • Jubal – pai de todos os que tocam harpa
e flauta (Gn 4.21)
A arte manifesta o humano no ser huma-
no, dessa forma, a arte poderia ser uma via • Tubalcaim – o artífice (Gn 4.22), hábil em
de acesso à dimensão espiritual – Patrícia forjar o bronze e o ferro.
Tobaldo, escritora
Na Bíblia, há muitas manifestações e refe-
A espiritualidade no olhar filosófico, seria rências à música e à poesia.
uma qualidade ontológica do ser em que
se originam os fenômenos humanos primá- • Jacó abençoa seus filhos com belos ver-
rios, tais como: liberdade, responsabilidade, sos (Gn 49).
vontade, intencionalidade, interesses artísti-
cos, criativos e valorativos. Assim, a espiritua- • Moisés e Miriã celebram a libertação do
lidade transcende para a horizontalidade do Egito com cânticos (Êx 15.1-21)
ser, enquanto a religiosidade aponta para a • As vitórias de Davi são festejadas com
sua verticalidade, em direção a um música e dança (1Sm 18.7);
Ser-supremo. • Os Salmos são entoados pelo povo de
Deus ao som de instrumentos e corais;
Para o autor Viktor Frankl (1905-1997), a arte • Jesus e seus discípulos mais chegados
tem a sua origem na profundidade intuitiva cantam um hino, possivelmente um dos
do inconsciente espiritual, ou seja, em um Salmos, após a instituição da Santa Ceia
inconsciente estético. Assim, a raiz da cria- (Mt 26.30);
tividade possui sua raiz na profundidade • Paulo e Silas entoam hinos na prisão (At
emocional pré-reflexiva. 16.25);
• Estudiosos do Novo Testamento creem
O autor afirma que: que Filipenses 2.5-11 poderia ser um dos
hinos entoados pela Igreja Primitiva;
No artista, a inspiração corresponde à in- • Paulo convoca os cristãos para que “lou-
tuição, em si irracional, da consciência e, vem a Deus com salmos, hinos e cânticos
portanto, não de todo racionalizável e até espirituais” (Cl 3.16);
tem suas raízes numa esfera de espiritua- • O Apocalipse está repleto de hinos de vi-
lidade inconsciente. A partir dela, o artista tória e louvor ao Cordeiro que venceu (Ap
cria; por conseguinte, as fontes a partir das 5; 11; 14; 15).
quais ele cria encontram-se e permane-
cem na obscuridade que nunca pode ser Em termos literários, a Bíblia é um tesouro:
iluminada completamente com a consci- além da própria poesia, há textos narrati-
ência (FRANKL, 1985). vos, legais, sapienciais, proféticos, didáticos,
epistolares, apocalípticos, entre outros, que
A Arte na Bíblia: fazem dela uma verdadeira obra de arte no
tocante à variedade de estilos e construções.
Há um espaço para a arte na espiritualida-
de cristã porque a Bíblia oferece tal espaço A Bíblia é uma obra literária-artística que
à arte. fala de outras obras também, como o taber-
náculo e o Templo.
Desde as primeiras páginas do Gênesis, a • Deus mesmo apresenta a Moisés um mo-
arte se manifesta. “Deus viu tudo o que ha- delo do Tabernáculo (Êx 25.9,40; 26.30) e
via feito, e eis que era muito bom” (Gn 1.31a). levanta pessoas com dons artísticos e ha-
E do trabalho criativo de Deus, nasceram se- bilidades específicas para a construção
res humanos criativos, como: (Êx 31.1-11).
• O Tabernáculo era um lugar cheio de arte.

23
Sua arquitetura reflete a glória de Deus,
e em seu meio Deus perdoava e acolhia
diariamente seus filhos e filhas.

A Bíblia fala criativamente da arte e abre um


espaço para a arte como meio de glorificar
a Deus e de conhecer e sentir o seu amor. O
nosso Deus nos fez seres criativos e nos
inspira a usar a arte para promover e
compartilhar criativamente seu amor
com as pessoas.

“As pequenas coisas que dizemos e faze-


mos em nome de Cristo são como pedras
atiradas na água. As ondas se espalham
em círculos e influenciam pessoas a quem
conhecemos mal ou até mesmo nem
conhecemos” - Charles Schulz, criador da
história em quadrinhos Peanuts

24
Aula 06

UMA AULA PARA ALÉM


DO QUE SE VÊ.
A QUESTÃO FUNDAMENTAL

25
Por que há seres em vez do nada? • Sócrates é real
• Sócrates é o mestre de Platão
Por que sinto que sei que sou diferente • Sócrates é humano
das coisas? Porém, por que também sin- • Sócrates é branco
to que sei que um outro corpo, diferente e • Sócrates é pele e osso
semelhante ao meu, não é uma coisa, mas
um alguém? Cada uma dessas sentenças traz um
sentido diferente sobre a palavra é:
O que é uma coisa? E um objeto?
1 . Sentido de ser ou existir.
Perguntas como essas constituem o campo
da metafísica. A metafísica é a investigação “Sócrates é real”
filosófica que gira em torno da pergunta
“O que é?” Afirma que Sócrates existe.

Este “é” possui dois sentidos: 2. Sentido de identidade.

1. Significa “existe” → se refere à existência da “Sócrates é o mestre de Platão”


realidade: “O que existe?”
Sócrates é idêntico a, é o mesmo que, o mes-
2. Significa “natureza própria de alguma coi- tre de Platão.
sa” → se refere à essência da realidade: “Qual
é a essência daquilo que existe?”. 3. Sentido de predicação essencial.

Metafísica → investiga os fundamentos, as “Sócrates é humano”


causas e o SER íntimo de todas as coisas, in-
dagando por que existem e por que são o Significa que algo (ser humano) é a própria
que são. essência de Sócrates.

Temas principais → existência e essência 4. Sentido de predicação acidental.

Deus existe? Ou, Deus é? “Sócrates é branco”

Disse Deus a Moisés: “Eu Sou o que Sou. É Significa que Sócrates tem uma
isto que você dirá aos israelitas: Eu Sou me propriedade (ser branco) que está
enviou a vocês” - Êxodo 3.14 presente nele.

Disseram-lhe os judeus: “Você ainda não 5. Sentido de constituição (às vezes


tem cinquenta anos, e viu Abraão? “ chamado de “parte-todo”)
Respondeu Jesus: “Eu lhes afirmo que
antes de Abraão nascer, Eu Sou! “ – “Sócrates é pele e osso”
João 8.57-58
Significa que Sócrates é um todo com pele
O que significa isso? Existe diferença en- e ossos como partes. Sócrates é constituído
tre ser e existir? por tais partes.

Já abordamos que a metafísica é o estudo


filosófico do ser ou da realidade. Para ajudar
a esclarecer, considere as seguintes
sentenças:

26
Diante de tais reflexões, os filósofos criaram • Investigação metafísica de segunda or-
duas subdivisões da metafísica: dem, como: sociologia, biologia, física e
psicologia.
1. Ontologia Geral
Os grupos sociais existem como um todo
A ontologia geral é o aspecto mais básico da que é maior do que a soma das partes?
metafísica e existem três tarefas principais
que compõem esse ramo da metafísica:
A METAFÍSICA E O
• A ontologia geral enfoca a natureza
em si.
CRISTIANISMO
Ao surgir, o cristianismo era mais uma en-
O que é ser ou existir? tre as várias religiões orientais; suas raízes
encontravam-se na religião judaica, isto é,
• A ontologia geral estuda os princípios numa religião que, como todas as religiões
gerais do ser, as características gerais antigas, era nacional ou de um povo
que são a verdade de todas as coisas, particular.
quaisquer que sejam.
No entanto, havia nele algo inexistente no
O estudo da natureza da identidade. A iden- judaísmo e nas outras religiões antigas: a
tidade é considerada uma característica ideia de evangelização, isto é, de espalhar a
transcendental de todas as entidades que boas-novas para o mundo inteiro.
existem. Tudo o que existe é uma unidade e
é verdadeiro e bom. Como converter ao cristianismo, pessoas
de outras religiões, que possuíam um
• A ontologia geral inclui o que é passado e um sentido próprios para elas?
denominado de “análise categorial”.
Os evangelizadores levaram em conta:
Um conjunto de categorias é uma coleção
de classificações fundamentais e abrangen- • As condições
tes de quaisquer entidades existentes, onde • A mentalidade dos que deveriam ser
cada entidade se ajusta a uma categoria es- convertidos
pecífica e as categorias em grupo são capa-
zes de classificar todas as entidades. Para o nosso assunto, interessa apenas um
tipo de evangelização e conversão: o dos
2. Metafísica especial intelectuais gregos e romanos, isto é,
daqueles que haviam sido formados não
Os problemas da metafísica especial deve- só em religiões diferentes da judaica, como
riam ser respondidos após o término do tra- também haviam sido educados na
balho da ontologia geral. tradição racionalista da Filosofia.

Nessa área são explanados dois tipos Para apresentar a superioridade da verda-
diferentes de questões: de cristã sobre a tradição filosófica, os pri-
meiros Pais da Igreja ou intelectuais cristãos
• O estudo dos tópicos específicos de inte- adaptaram as ideias filosóficas ao cristianis-
resse especial. mo e fizeram surgir uma Filosofia cristã:

Existe uma alma ou mente?

O ser humano é livre ou determinado?


27
• Apóstolo Paulo Essas diferenças acarretaram muitas
• Apóstolo João mudanças na metafísica herdada dos gre-
• Ambrósio gos. O problema principal para os cristãos
• Eusébio foi o de encontrar um meio para reunir as
• Agostinho de Hipona verdades da razão (Filosofia) e as verda-
• Entre outros des da fé (religião), isto é, para reunir
novamente aquilo que, ao nascer, a
Por que o Cristianismo não precisava da Filosofia havia separado.
Filosofia?

• O foco está na salvação: seu interesse


maior estava na moral, na obediência aos LIVRE-ARBÍTRIO E
mandamentos deixados por Jesus, e não
em uma teoria sobre a realidade;
DETERMINISMO
• O judaísmo: já possuía uma ideia muito Livre Arbítrio
clara do que era o Ser, pois Deus disse a
Moisés “Eu sou aquele que sou”; A terminologia “Livre Arbítrio” apresen-
• Seu interesse maior estava na fé e na ta em sua etimologia uma redundância ou
revelação: não há uma busca pela razão tautologia, uma vez que liberdade e arbítrio
teórica, no conhecimento intelectual e são quase que sinônimos, demonstrando
na reflexão. pouco significado divergente entre si. Além
disso, tanto a liberdade como o arbítrio
Foi, portanto, o desejo de converter os in- conferem ao homem, uma condição além
telectuais gregos e os chefes e imperadores de sua natureza caída ou de sua condição
romanos (isto é, aqueles que estavam acos- de ser humano.
tumados à Filosofia) que “empurrou” os
cristãos para a metafísica. “A liberdade é o grau de independência le-
gítimo que um cidadão, um povo ou uma
→ A metafísica cristã nação elege como valor supremo, como
ideal [...] condição daquele que não se acha
Embora a metafísica cristã seja uma ree- submetido a qualquer força constrange-
laboração da metafísica grega, muitas das dora física ou moral [...]....
ideias gregas não poderiam ser aceitas pelo
cristianismo, como:

Para os gregos Para os cristãos

Mundo Sensível e inteligível. Eterno Criado por Deus a partir do nada e terminará
no dia do Juízo Final

Deus Uma força cósmica racional impessoa Pessoal. É a unidade de três pessoas. Do-
tado de intelecto e de vontade. Oniscien-
te e onipotente

Homem Ser natural, dotado de corpo e alma, está possuindo


uma parte superior e imortal que é o intelecto ou razão
Ser misto, natural por seu corpo e alma,
mas sobrenatural por seu espírito imortal
Capacidade da razão para orientar e Capacidade para escolher tanto o bem
governar a vontade, a fim de que esta quanto o mal. Mais poderosa do que a
Liberdade humana escolha o que é bom, justo e virtuoso razão e, pelo pecado, destinada à perver-
sidade e ao vício, de modo que a ação
moral só será boa, justa e virtuosa se for
guiada pela fé e pela Revelação
o conhecimento é uma atividade do in- a razão humana é limitada e imperfeita,
Conhecimento telecto (o êxtase místico de que falavam incapaz de, por si mesma e sozinha, al-
os neoplatônicos não era algo misterioso cançar a verdade, precisando ser socorri-
ou irracional, mas a forma mais alta da da e corrigida pela fé e pela Revelação
intuição intelectual)

28
...condição daquele que não é cativo ou apenas. Esse é o imperativo prático que
que não é propriedade de outrem [...] constitui parte do primeiro conceito. Tercei-
possibilidade que tem o indivíduo de ro. Sempre devemos agir como se fôssemos
exprimir-se de acordo com sua membros de um reino meramente possível
vontade, sua consciência, sua natureza. de fins, o que nos manterá sempre
Dicionário Houaiss humildes.
Russel Norman Champlin
Arbítrio é a decisão dependente apenas
da vontade; alvedrio [...] domínio ou poder O ser humano não pode ser tratado como
absoluto [...] atitude procedente; alvitre, ex-
um meio ou instrumento para se alcançar
pediente, meio [...] vontade própria e inde- determinado objetivo, mas como um fim
pendente [...] sentença de juiz ou árbitro; em si mesmo, reflete a essência da digni-
parecer. dade humana e, principalmente, ao afirmar
Dicionário Houaiss que só é digno aquilo que está acima do
preço, ou seja, é um valor ou elemento
Para os filósofos e teólogos dois princípios infungível.
caminham lado a lado: a dignidade e a
liberdade. No reino dos fins, tudo tem ou um preço ou
uma dignidade. Quando uma coisa tem
Na era moderna, a contribuição do filósofo preço, pode ser substituída por algo equi-
Immanuel Kant trouxe grandes polêmicas valente; por outro lado, a coisa que se acha
ao difundir a doutrina do imperativo acima de todo preço, e por isso não admite
categórico que consiste numa ideia de que qualquer equivalência, compreende uma
o comportamento moral só existe quando dignidade. Imannuel Kant
este pode ser universalizável, ou seja, deve-
rá ir além do caso concreto, perdendo qual- A autonomia da vontade, capacida-
quer ligação com a finalidade ou utilidade e, de de determinar a si mesmo e estar su-
por fim, esquecendo-se do interesse jeitos às resoluções impostas pelas leis, seria
pessoal. o sustentáculo da dignidade humana. Ade-
mais, para Kant existiria uma discrepância
Portanto, a ação moral de acordo com o real entre a natureza e o homem:
pensamento kantiano seria aquela que en-
contra o próprio fim, em si mesma e não em O homem seria capaz de superar sua ani-
qualquer outro motivo. Nesta mesma pers- malidade, advinda da natureza, assumin-
pectiva, define o filósofo que o imperativo do uma condição de ser humano, por meio
categórico, por ser uma verdade universal, de uma escolha moral, livre e racional, não
não comporta exceções, não pode ser rela- estando, portanto, obrigado a submeter-se
tivizado e deve ser posto em ato sem qual- às inclinações de sua propensão natural. E,
quer questionamento. essas ações morais humanas não poderiam
ser avaliadas a partir de seu conteúdo, mas
O imperativo categórico é alicerçado em de sua forma, uma vez que as qualidades
três fundamentos. Primeiro. Devemos agir almejadas pelo homem são boas proporcio-
sempre de tal modo que possamos que- nalmente à bondade que as possui, ou seja,
rer que aquilo que fazemos se torne uma algo bom pode se tornar mau se a natureza
lei universal. Devemos agir de tal maneira de sua vontade for má.
que nossas ações determinem o que todas
as pessoas sempre devem fazer. Segundo. → Determinismo
Sempre trataremos a humanidade, exis-
tente em nós mesmos e nas outras pesso-
as como um fim, e jamais com um meio

29
Alguns problemas podem ser observados tão somente no equilíbrio entre esses dois
na teoria de Kant, no que diz respeito à irre-termos, onde o homem não estaria exposto
dutibilidade do homem ao mundo natural, a um determinismo inflexível e muito me-
afirmando que nos teria o poder de decidir, em função da
autonomia da vontade, sem quaisquer influ-
A irredutibilidade do homem ao mundo ências externas.
natural tende a acarretar num humanismo
“antropocêntrico” que dificilmente pode se Para Henry Atlan a liberdade consiste em
conciliar com a nova revolução copérnica, nos conscientizarmos de que não podemos
posta em curso nas últimas décadas, que determinar as coisas, afirmando que:
tende a pensar a natureza como algo a
serviço do homem, mas como condição de Mesmo que não passe de um mal-entendi-
sua própria existência (...) centrada na con- do saber que somos livres, devemos proce-
cepção de que os agentes morais são uni- der como se, de fato, o fôssemos -
camente os seres racionais, a concepção Henry Atlan
kantiana não satisfaz aqueles que acredi-
tam que a natureza também seria porta- → O que a Bíblia diz sobre liberdade?
dora de um valor intangível.
Eduardo Rabenhorst “Mas agora que vocês foram libertados do
pecado e se tornaram escravos de Deus, o
Para Rabenhorst, o homem não pode ser fruto que colhem leva à santidade, e o seu
obrigado a agir de acordo com as leis natu- fim é a vida eterna”. Romanos 6.22
rais, mas pode ser influenciável, indubita-
velmente, por forças externas como “Portanto, se o Filho os libertar, vocês de
as “econômicas, pulsões inconscientes, fato serão livres”. João 8.36
condicionamentos culturais ou reações
bioquímicas”. “E conhecerão a verdade, e a verdade os
libertará”. João 8.32
Edgar Morin, em contraponto com a doutri-
na kantiana, apresenta que a liberdade do
homem se traduz numa utopia, pois a ati-
tude humana é resultado reflexo de fatores:

• Ecológicos,
• Genéticos,
• Culturais
• Sociais predeterminados

A liberdade somente pode subsistir num


contexto de equilíbrio entre a ordem e de-
sordem, ao ponto que a coexistência entre
os elementos estáveis e certos da ordem e
os riscos e indeterminações da desordem
geram um ambiente possível para o exercí-
cio da liberdade.

Morin conclui que a liberdade se encon-


tra acima da concepção de “livre arbítrio”
e do “determinismo”, tratando-se de uma
“autonomia dependente” que se manifesta

30
Aula 07

SEM LIMITES
COMO PODEMOS CONHECER?

Se Deus existe, como podemos conhecê-lo?


“Acho que são nas pequenas coisas do dia a dia. Ter um
bebê, por exemplo, é uma das formas de conhecer a
Deus” – Luciana, designer.

“Pela fé de cada um e nas realizações da nossa vida. Prin-


cipalmente, quando pedimos algo para Deus e temos
reposta” - João, divulgador.

“Isso vai de cada pessoa. O que bonito para mim, pode


não ser para você” – Mateus, Militar.

“Através da intimidade profunda com Ele, em oração” -


Cristiane, massoterapeuta.

31
Lidamos aqui com a área da epistemologia • A percepção dos sentidos é concretizada
— A epistemologia é “o discurso acerca do nos informes fornecidos pela experiên-
conhecimento”, e no campo teológico é o cia.
discurso sobre o conhecimento de Deus. • A experiência desenvolve a memória.
• A memória desenvolve a linguagem.
• Episteme (conhecimento) • A linguagem desenvolve a faculdade
discursiva.
• Doxa (opinião ou informação). • A faculdade discursiva desenvolve todas
as vastas sutilezas da intelecção huma-
A doxa seria a crença que se move acompa- na, as complexidades do conhecimento
nhando as coisas que se modificam cons- humano.
tantemente e que acabam não formando • Tudo isso tem por alicerce a percepção
um conceito que sobreviva às mudanças. dos sentidos ou a experiência.

Já a episteme, seria um entendimento que 2. Racionalismo


se coloca acima de qualquer opinião cir-
cunstancial, momentânea e descartável.
• Consiste na supremacia da razão.
“conhecimento é poder, pois o conheci- • Esse sistema crê que o conhecimento ul-
mento produz transformação e mudança” trapassa a mera percepção dos sentidos,
– Francis Bacon fundamentando-se em uma faculdade
superior da natureza humana, usual-
As transformações que o conhecimento mente equiparada com alma ou mente.
promove dá às pessoas a condição de • A mente tem afinidades com a natureza
viver o que nunca viveram. do universo.
• Existiriam ideias latentes.
A palavra conhecimento no latim tem um • A percepção dos sentidos pode até mes-
significado muito especial, cognotio ou mo servir de obstáculo para o conheci-
cognoscere (conhecer), refere-se também a mento humano.
nascimento. • O racionalismo se interessa por verdades
finais e o empirismo se interessa por ver-
O conhecimento produz o nascimento de dades terrenas.
uma nova realidade.

Como podemos conhecer 3. Intuição

Existem quatro fontes lógicas ou critérios


para validar as crenças, são: • Acredita no conhecimento imediato.
• Até mesmo sem o auxílio dos meios da
• Empirismo experiência e da razão,
• Racionalismo • Tal conhecimento se derivaria de uma
• Intuição fonte desconhecida, a “mente universal”,
• Misticismo Deus, a “comunidade das mentes”, de
natureza humana ou de outra categoria.
1. Empirismo • A intuição reconhece a natureza essen-
cial de um objeto, o que a experiência
pode descrever apenas parcialmente.
• Acredita que todo o conhecimento hu- • A intuição, que tem a forma de “conhe-
mano vem através da percepção dos cimento imediato”, não mediado nem
sentidos. pelos sentidos e nem pela razão, pode

32
chegar ao discernimento acerca da ver- • Todos os nossos pensamentos se per-
dade espiritual, incluindo os problemas dem em sua imensidão;
éticos e as questões relativas à alma, sua •
existência, sobrevivência e destino. • Nosso orgulho desaparece em sua infi-
• O exercício na meditação espiritual pode nitude.
desenvolver a intuição.
Nenhum tema contemplativo tende a hu-
4. Misticismo milhar mais a mente que os pensamentos
sobre Deus...
• Trata-se do conhecimento proveniente
de um ser superior, de uma força cósmi- 2. Expande
ca, interna ou externa.
• Segundo o misticismo oriental essa for- Ao mesmo tempo, porém, que este assun-
ça seria interna, isto é, a alma. to humilha a mente, também a expande.
• Segundo o misticismo ocidental, seria
externa, isto é, Deus, a mente cósmica, os O melhor estudo para expandir a alma é a
anjos, os santos, os espíritos dos mortos ciência de Cristo, e este crucificado, e o
etc. “O conhecimento é dom dos deuses” conhecimento de Deus na gloriosa
trindade.

Nada alargará mais o intelecto, nada expan-


O CONHECIMENTO DE DEUS dirá mais a alma do homem que a investi-
gação dedicada, cuidadosa e contínua
“Já foi dito por alguém que “o estudo ade- desse precioso tema.
quado da humanidade é o próprio ho-
mem”. Não, me oponho à ideia, mas creio 3. Consola
ser igualmente verdadeiro que o estudo
correto do eleito de Deus é Deus; o estudo • Na contemplação de Cristo existe um
apropriado ao cristão é a divindade. A mais bálsamo para cada ferida;
alta ciência, a mais elevada especulação, a
mais poderosa filosofia que possa prender • Na meditação sobre o Pai, há consolo
a atenção de um filho de Deus é o nome, para todas as tristezas,
a natureza, a pessoa, a obra, as ações e a
existência do grande Deus, a quem chama • Na influência do Espírito Santo, alívio
Pai” para todas as mágoas.
Charles Haddon Spurgeon.
Não conheço coisa que possa confortar
mais a alma, acalmar as ondas da tristeza e
O que contemplar a Deus provoca da mágoa, pacificar os ventos da provação
no homem? que a meditação a respeito de Deus.

Temos cinco princípios fundamentais


1. Humilha do conhecimento de Deus:

Nada é melhor para o desenvolvimento da


mente humana do que contemplar a Deus. 1. Deus falou aos homens e a Bíblia é
Nada é melhor para o desenvolvimento da sua Palavra: que nos foi dada a fim de nos
mente humana do que contemplar a Deus. tornar sábios para a salvação.

33
2. Deus é Senhor e Rei deste mundo: “Grandes teólogos descobriram diante de
ele governa todas as coisas para sua glória, pequenas provações que eram anões
mostrando sua perfeição em tudo o que faz, espirituais” Charles H. Spurgeon.
a fim de que homens e anjos possam louvá-
lo e adorá-lo. 2. Pode-se saber bastante sobre
piedade sem ter muito conhecimento de
3. Deus é Salvador: ativo em amor Deus.
soberano mediante o Senhor Jesus Cristo
para salvar os crentes da culpa e do poder “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Se-
do pecado, adotá-los como filhos e assim nhor, não profetizamos nós em teu nome?
abençoá-los. Em teu nome não expulsamos demônios
e não realizamos muitos milagres? Então
4. A trindade: Há em Deus três pesso- eu lhes direi claramente: Nunca os conheci.
as (o Pai, o Filho e o Espírito Santo); e a obra Afastem-se de mim vocês, que praticam o
da salvação é operada pelos três ao mesmo mal!” Mateus 7.22-23
tempo: o Pai propõe a redenção, o Filho a
assegura e o Espírito a aplica.
Desejamos tal conhecimento de Deus?
5. Convicção significa responder à
revelação de Deus com confiança: Vejamos duas condições:
obediência, fé, adoração, oração, louvor,
submissão e serviço. A vida deve ser vista e 1. Reconheça como é pequeno o seu
vivida à luz da Palavra de Deus. Isto, e nada conhecimento sobre Deus.
mais, é a verdadeira religião.
“Bem-aventurados os pobres em espírito,
Quem precisa do conhecimento de Deus? pois deles é o Reino dos céus” - Mateus 5.3

2. Precisamos buscar o Salvador.


• Quem levanta a dúvida?
Quando ele estava na terra convidava os ho-
Alguém que pressupõe claramente a im- mens a acompanhá-lo; desse modo vinham
praticabilidade e a irrelevância do estudo da a conhecê-lo e, conhecendo-o, conheciam
natureza e do caráter de Deus para a vida. o Pai.

• Um mundo estranho “Vocês me procurarão e me acharão


quando me procurarem de todo o coração”
Para quem não conhece a Deus o mundo Jeremias 29.13
se torna um lugar estranho, louco, penoso,
e viver nele pode ser decepcionante e desa-
gradável.
CONHECER E SER
Atenção: CONHECIDO
1. Pode-se saber bastante sobre
Deus sem conhecê-lo muito. Vamos usar aqui o exemplo de Daniel para
destacar o testemunho daqueles que co-
Por exemplo, o interesse em teologia, a ca- nhecem a Deus.
pacidade de pensar com clareza e falar bem
sobre temas cristãos não são o mesmo que
conhecer a Deus.
34
1. Os que conhecem a Deus têm O que o conhecimento de Deus envolve?
grande força por meio Dele.
• Primeiro: ouça a Palavra de Deus e a re-
“O povo que conhece ao seu Deus se torna- ceba e acordo com a interpretação do Es-
rá forte e fará proezas” - Daniel 11.32b pírito Santo ao aplicá-la a nós.

• Aquele que conhece a Deus toma a ati- • Segundo: preste atenção à natureza e ao
tude de reagir às tendências que vê ope- caráter de Deus revelados em sua Pala-
rando a seu redor contrárias à Sua von- vra e obra;
tade.
• Quem conhece seu Deus é sensível às si- • Terceiro: aceite seu convite e obedeça a
tuações em que a verdade e a honra de seus mandamentos.
Deus são diretas ou tacitamente preju-
dicadas! • Quarto: reconheça o amor demonstrado
• Os homens que conhecem seu Deus por Deus e alegre-se nele.
são, antes de tudo, homens de oração, e
o primeiro ponto em que seu zelo e sua Níveis de revelação de Deus, parte da
força para a glória de Deus são expressos percepção de sua presença:
é nas orações.
1º Nível: Sustentando todas as coisas
2. Os que conhecem a Deus pensam criadas
grandes coisas sobre ele.
“O Filho é o resplendor da glória de Deus e
“Até que conheças que o Altíssimo tem a expressão exata do seu ser, sustentando
domínio sobre o reino dos homens, e o todas as coisas por sua palavra poderosa”
dá a que quer” - Daniel 4.25 - Hebreus 1.3a

Os pensamentos sobre Deus que tomavam 2º Nível: habitando nos salvos


a mente de Daniel, como testemunham
suas orações: “Acaso não sabem que o corpo de vocês é
santuário do Espírito Santo que habita em
• A sabedoria vocês, que lhes foi dado por Deus, e que vo-
• O poder cês não são de si mesmos?”
• A verdade do grande Deus - 1 Coríntios 6.19
• Deus comanda a história e mostra sua
soberania em atos poderosos 3º Nível: No meio dos adoradores

3. Os que conhecem a Deus são ou- “Pois onde se reunirem dois ou três em meu
sados por causa dele nome, ali eu estou no meio deles”
- Mateus 18.20
Daniel e seus amigos eram homens que
aceitavam riscos. Isso não era temeridade. 4º Nível: Reinando na vida dos filhos de
Deus
4. Os que conhecem a Deus têm
grande alegria Nele. “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não
sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim.
A extensão de nosso contentamento é um A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela
critério pelo qual podemos julgar se conhe- fé no filho de Deus, que me amou e se
cemos a Deus de verdade. entregou por mim” - Gálatas 2.20

35
5º Nível: Atos de bondade 9. Há grande motivo de humilhação em
pensar que Ele vê tudo o que há de errado
“Os que tocavam cornetas e os cantores, em mim que outros não veem, e que Ele vê
em uníssono, louvaram e agradeceram ao mais corrupção do que eu mesmo vejo em
Senhor. Ao som de cornetas, címbalos e mim (o que, em sã consciência, é bastante).
outros instrumentos, levantaram suas vo-
zes em louvor ao Senhor e cantaram: “Ele é 10. Há igualmente um grande incentivo
bom; o seu amor dura para sempre”. Então para adorar e amar a Deus porque, por al-
uma nuvem encheu o templo do Senhor, guma razão insondável, ele quer ser meu
de forma que os sacerdotes não podiam amigo, pois entregou seu Filho para morrer
desempenhar o seu serviço, pois a glória do por mim a fim de cumprir esse propósito.
Senhor encheu o templo de Deus“
- 2 Crônicas 5.13,14

Dez assertivas sobre o que gera no ser


humano o fato de ser conhecido por Deus:

1. Estou gravado nas palmas de sua mão,


e nunca estou longe de seu pensamento.

2. Todo o meu conhecimento dele depende


de sua iniciativa contínua de me conhecer.

3. Eu o conheço porque Ele me conheceu


primeiro e continua a fazê-lo.

4. Ele me conhece como amigo — alguém


que me ama muito e cujos olhos e atenção
jamais se afastam de mim. Por nenhum mo-
mento seu cuidado me faltará.

5. Ele tem um conhecimento significativo.

6. Há um conforto indescritível — o tipo de


conforto que nos estimula, seja dito, e não
debilita — em saber que Deus está
constantemente atento a mim com amor,
e velando por mim para meu benefício.

7. Há um alívio tremendo em saber que


seu amor é profundamente realista.

8. O seu conhecimento prévio do que


há de pior sobre mim, de modo que ago-
ra nada pode desapontá-lo a meu respei-
to, nem extinguir sua determinação de me
abençoar.

36
Aula 08

SÓ POR DEUS
Um livro como a Bíblia exige mais do
que uma capacidade natural de
leitura?

37
Na verdade, ela exige o melhor da leitura to e valorizarmos tudo que Deus é por
natural. No entanto, ela exige também mais nós em Cristo.
– algo que está além do que é meramente • Este desfrutar de tudo que Deus é por
humano. nós em Jesus acontece por vermos a
glória de Jesus como ele realmente é –
A maneira como a Bíblia tem implicações mais valioso e mais belo do que tudo.
indispensáveis para o modo como a lemos. • Este ver é possível somente porque Deus
nos revela sua glória peculiar por meio
Dois fatos repletos de implicações: das Escrituras inspiradas.
• Ler estas Escrituras – ou ouvir alguém as
1. Houve o fato de que o Criador do univer- comunicando – é o meio que Deus de-
so falou por meio de um livro. signou para que sua Palavra tenha estes
2. Há o fato de que ele mostra que este livro efeitos gloriosos.
é completamente verdadeiro por meio
da glória divina revelada nele. Portanto, ler a Bíblia é o meio indispensável
de Deus para realizar seu propósito para a
• A Bíblia é um livro composto de lingua- criação e a redenção.
gem humana comum que precisa ser
entendida – afinal de contas, é um livro Deus quer que leiamos sua Palavra de uma
realmente humano. maneira que envolva ações e experiências
• Por outro lado, a Bíblia resplandece com da alma humana que estão além da
a luz sobrenatural da glória divina. E isso experiência humana comum.
significa que a Bíblia exige mais do que
nosso tipo natural de leitura. Não menos. • Ver a glória de Jesus não se realiza mera-
E sim mais. mente com nossos olhos físicos comuns,
mas com os “olhos do coração” (Ef 1.18) e
Natural e sobrenatural. Se um dos procede do “Senhor, o Espírito”
dois estiver ausente, não leremos (2 Co 3.18).
corretamente a Palavra de Deus. • Desfrutar a glória de Deus não é um pra-
zer humano comum, e sim a própria sa-
tisfação de Cristo em seu Pai, que experi-
“O ALVO PRINCIPAL” mentamos pela presença do seu Espírito
(Jo 15.11).
“... Delas também falamos, não com pala- • Nossa transformação não é reordena-
vras ensinadas pela sabedoria humana, mento moral ou aprimoramento pesso-
mas com palavras ensinadas pelo Espírito, al; em vez disso, é realizado pelo Espírito
interpretando verdades espirituais para os Santo (Rm 8.13).
que são espirituais” (1 Coríntios 2. 7,13)
O ato de ler que busca cumprir os propósi-
Deus planejou que a Bíblia – ler a Bíblia – tos de Deus para a leitura é uma experiên-
seja um meio indispensável para realizar o cia profundamente sobrenatural.
propósito supremo de criação e redenção.
Por mais natural que seja o processo de
• Visto que o propósito de Deus é ter um leitura e por mais naturais que sejam os
relacionamento com seus filhos, o povo princípios descobertos, nenhuma leitura e
de Deus tem de ser transformado de nenhuma descoberta acontece sem a de-
glória em glória na imagem de Cristo. pendência de Deus ou sem considerarmos
• Esta transformação acontece por meio todas as coisas em relação ao valor e à bele-
de desfrutarmos a glória do Senhor Je- za de Deus – se estivermos lendo da manei-
sus – ou seja, sermos satisfeitos por Cris- ra como ele pretende que seu livro seja lido.

38
A NECESSIDADE E A • A influência satânica e pecaminosidade
humana
POSSIBILIDADE
“Vocês estavam mortos em suas transgres-
sões e pecados, nos quais costumavam
“Então lhes abriu o entendimento, para viver, quando seguiam a presente ordem
que pudessem compreender as Escrituras” deste mundo e o príncipe do poder do ar,
(Lucas 24.45) o espírito que agora está atuando nos que
vivem na desobediência. Anteriormente,
Por que ler a Bíblia tem de ser um todos nós também vivíamos entre eles,
ato sobrenatural? satisfazendo as vontades da nossa carne,
seguindo os seus desejos e pensamentos.
A Bíblia nos dá duas razões decisivas: Sata- Como os outros, éramos por natureza me-
nás e o pecado. recedores da ira” (Efésios 2.1-3)

Temos um inimigo que opera cegueira fora A nossa própria pecaminosidade é outra
de nós e uma doença de cegueira dentro de fonte de cegueira espiritual que nos deixa
nós. Juntas, estas duas forças tornam impos- em necessidade de ajuda sobrenatural, se
sível os seres humanos lerem a Bíblia, como almejamos ver a glória de Deus na Escritura.
Deus planejou, sem ajuda sobrenatural.
“A mentalidade da carne é inimiga de Deus
“Mas se o nosso evangelho está encoberto, porque não se submete à lei de Deus, nem
para os que estão perecendo é que está en- pode fazê-lo. Quem é dominado pela carne
coberto. O deus desta era cegou o entendi- não pode agradar a Deus” (Romanos 8.7,8)
mento dos descrentes, para que não vejam
a luz do evangelho da glória de Cristo, que Isto é a nossa rebelião antes e por trás de
é a imagem de Deus“ (2 Coríntios 4.3,4) toda a cegueira satânica. Antes de Satanás
acrescentar seus efeitos cegantes, já esta-
mos em rebelião contra Deus. E, diz Paulo,
O foco de Satanás quando lemos (ou ouvi- está rebelião torna impossível (“nem pode”)
mos) é a essência da mensagem a nossa sujeição à Palavra de Deus.
das Escrituras cristãs.
“Este é o julgamento: a luz veio ao mundo,
A leitura bíblica que apenas coleta fatos, ou mas os homens amaram as trevas, enão
alivia uma consciência culpada, ou reúne ar- a luz, porque as suas obras eram más”
gumentos doutrinários, ou estimula gostos (João 3.19)
literários, ou alimenta curiosidades históri-
cas – este tipo de leitura da Bíblia deixa Sa- Nosso problema não é que há luz insuficien-
tanás tranquilo. Ele já venceu a batalha. te brilhando das Escrituras. Nosso problema
é que amamos as trevas.
No entanto, a leitura que espera ver a digni-
dade e a beleza supremas de Deus – leitura Há esperança de ler como deveríamos?
que almeja deixar-nos satisfeitos com tudo E o que é o ato sobrenatural de ler?
que Deus é para nós em Cristo, leitura que
busca ver e provar que o “SENHOR é bom” Em essência, é uma dependência de Deus,
(Sl 34.8) – Satanás se oporá a esta leitura, do Espírito e de Cristo para fazerem por nós
com todo o seu poder. E seu poder é sobre- o que não podemos fazer por nós mesmos,
natural. Portanto, qualquer leitura que es- quando buscamos ver o que há realmente na
pera vencer o poder de cegueira de Satanás Escritura e quando buscamos desfrutar o que
será uma leitura sobrenatural. vemos e ser transformados pelo que vemos.

39
Como esse milagre acontece? em que muitos naufragam. Eles não pedem
sabedoria e instrução. E, por isso, acham a Bí-
1. Ele abriu nossa mente. Ele lhes blia obscura e dela não obtêm nada. Você deve
disse: “Como vocês custam a entender e orar para que o Espírito o guie a toda a verdade.
Deve implorar ao Senhor Jesus Cristo que abra
como demoram a crer em tudo o que os
seu entendimento, como o fez aos discípulos. O
profetas falaram! Não devia o Cristo sofrer
Senhor Deus, sob cuja inspiração o livro foi es-
estas coisas, para entrar na sua glória?” crito, tem as chaves do livro, e somente ele pode
(Lucas 24.25,26). capacitar você a entendê-lo proveitosamen-
te. Nove vezes, num único salmo, Davi clamou:
2. Ele resplandeceu em nosso “Ensina-me”. Cinco vezes, no mesmo salmo, ele
coração. Pois Deus que disse: “Das trevas disse: “Dá-me entendimento”. John Owen, fa-
resplandeça a luz”, ele mesmo brilhou em lou muito bem: “Há uma luz sagrada na Pala-
nossos corações, para iluminação do conhe- vra; mas há uma cobertura e véu nos olhos dos
cimento da glória de Deus na face de Cristo homens, para que não a vejam corretamente.
(2 Coríntios 4.6). Ora, a remoção deste véu é a obra peculiar do
Espírito Santo.”
3. Ele ilumina os olhos de nosso
coração. “Não deixo de dar graças por vo- Leia a Bíblia de uma maneira que só é pos-
cês, mencionando-os em minhas orações. sível porque Deus mesmo está em você,
Peço que o Deus de nosso Senhor Jesus pelo Espírito Santo, criando um encontro
Cristo, o glorioso Pai, lhes dê espírito de sa- sobrenatural com a Bíblia.
bedoria e de revelação, no pleno conheci-
mento dele. Oro também para que os olhos Nós lemos. Deus revela. Ele nos dá o mila-
do coração de vocês sejam iluminados, a gre sobrenatural. Nós realizamos o milagre
fim de que vocês conheçam a esperança sobrenatural. Entenda:
para a qual ele os chamou, as riquezas da
gloriosa herança dele nos santos e a in- • Deus abre os olhos do cego, mas é o cego
comparável grandeza do seu poder para que vê.
conosco, os que cremos, conforme a atua- • Deus dá vigor às pernas paralíticas, mas é
ção da sua poderosa força” (Efésios 1.16-19). o coxo que realiza o andar.
• Deus chama Lázaro do sepulcro, mas é
4. O dom do mistério do reino. “Mas, Lázaro quem sai com os próprios pés.
felizes são os olhos de vocês, porque veem; • Deus nos dá coragem e amor, mas so-
e os ouvidos de vocês, porque ouvem” mos nós que compartilhamos Cristo com
(Mateus 13.16). Um milagre especial de ilu- nosso próximo.
minação era necessário para que os discípu- • Deus torna a sua glória mais satisfatória
los vissem os indicadores das coisas no do que a lascívia, mas somos nós que nos
Antigo Testamento e nos ensinos de Jesus. afastamos da pornografia.
• Deus inclina o nosso coração à sua Pala-
5. Meu Pai te revelou isto. Simão Pe- vra, mas somos nós que nos levantamos
dro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do da cama bem cedo, pela manhã, para ler
Deus vivo” (Mateus 16.16). Este discernimen- a Bíblia.
to não foi uma genialidade inata da parte de
Pedro. Não foi algo natural. Foi sobrenatural. O propósito de Deus para nós em lermos
Como afirmou o bispo anglicano J. C. Ryle, a Escritura é não somente que vejamos sua
1877: glória e que desfrutemos sua glória, mas
também que sejamos transformados por
A Bíblia é a Palavra de Deus? Então, assegure- este ver e desfrutar, para que nossa vida vi-
-se de jamais lê-la sem oração fervorosa pela sível e audível manifeste a dignidade e a be-
ajuda e o ensino do Espírito Santo. Isto é a rocha leza de Deus.

40
Sem dúvida, isto é muito diferente de ape- • Oração por amigos que poderiam estu-
nas tentar fazer as coisas moralmente me- dar a Bíblia conosco e ajudar-nos a ver
lhores. coisas que não temos visto.
• Oração contra inclinações ou hábitos pe-
O alvo da Bíblia é criar pessoas autênticas caminosos que poderiam cegar-nos para
que se mostram tão satisfeitas em Deus, uma parte da Escritura que não aprecia-
que seu comportamento exterior mostra mos.
que Deus é o seu maior tesouro. • Oração para que, enquanto e s c r e -
vemos o texto em nosso d i á r i o ,
Deus é o valor supremo no coração, e isto observemos as coisas que perdemos nas
muda tudo. Moralidade exterior que apenas leituras simples.
evita pecados notórios não impressiona o
mundo. Devemos orar por qualquer coisa que nos
ajude a prestar atenção ao que está real-
mente escrito. Devemos pedir a Deus que
torne o texto mais claro do que seria sem a
O LUGAR INDISPENSÁVEL sua ajuda.
DA ORAÇÃO
CONCLUSÃO
Quando buscamos o entendimento de um
texto, a oração é frutífera em cada etapa. “O Senhor me disse: “Você viu bem, pois es-
Deus não somente abre os olhos de nosso tou vigiando para que a minha palavra se
coração para ver a sua glória; ele também cumpra” (Jeremias 1.12)
nos guia providencialmente em todo o pro-
cesso de interpretação – até mesmo nas Deus não zela por sua Palavra para ver se ela
partes mais naturais. se tornará realidade. Ele zela por sua Pala-
vra para que ela se torne realidade. Portanto,
O número de coisas pelas quais podería- não há dúvida sobre o resultado.
mos orar para ver o que está na Escritura é
tão grande quanto o número de estratégias O propósito de Deus para a Bíblia não pode
para obter discernimento. falhar.

Deus pode tornar todas elas mais frutífe- • Revelar a dignidade e a beleza infinitas
ras, se lhe pedirmos. Isto poderia incluir: de Deus como a excelência e o valor su-
premo no universo.
• Oração por orientação para notarmos • Abrir os olhos de seu povo para verem
partes do texto que são especialmente essa glória nas Escrituras.
esclarecedoras. • Sejamos transformados de glória em gló-
• Oração para que sejamos guiados a ou- ria, até que a família de Deus esteja com-
tras passagens da Bíblia que oferecerem pleta em número e beleza para a ado-
esclarecimento sobre a passagem que ração fervorosa de Deus, para sempre e
estamos lendo. sempre.
• Oração para que sejamos guiados a ou-
tros livros, sermões e palestras que se- Deus está realizando este plano, à
riam úteis em esclarecer alguns dos pro- medida que milhões de pessoas
blemas com os quais nos deparamos. seguem o ato natural de ler a Bíblia
• Oração por experiências ou lembrança de modo sobrenatural.
de experiências que já tivemos e que tor-
nariam mais real o que estamos lendo.

41
Aula 09

PARA QUÊ DEUS?


UMA CULTURA DIVIDIDA

O que você pensa sobre a fé?

“É essencial para cada ser humano. Ter uma esperança


e uma força no divino é fundamental nesse mundo de
incertezas”– Sérgio, treinador.

“É necessária para nos dar base na vida e para ter uma


religião, independente de qual seja, você precisa de fé”-
Erick, corretor de imóveis.

“Para mim, a fé é a mola-chave para tudo na minha


vida”” – Ana, empresária

“Tenho muita fé, oro todos os dias”- Paulo, economista.

42
Chegamos a um momento cultural em que 3. Cada lado examine a dúvida de uma ma-
tanto o ceticismo secular quanto a fé religio- neira radicalmente nova. Os crentes de-
sa estão passando por um crescimento im- vem aprender a buscar os motivos de sua
portante e poderoso. fé, os céticos precisam aprender a buscar
um tipo de fé oculto em seu raciocínio.
Hoje não vemos nem o cristianismo ociden-
tal do passado nem a sociedade secular sem No fim de cada processo, ainda que conti-
religião que havia sido prevista para o futuro. nue a ser o cético ou o crente de antes, você
Vemos algo totalmente diverso. defenderá seu ponto de vista com maior cla-
reza e mais humildade
• Três gerações atrás, para a maioria dos in-
divíduos, a fé religiosa era uma questão
de herança, não de escolha.
• As pessoas vêm optando por uma vida DEUS REALMENTE EXISTE?
não religiosa, por uma espiritualidade
não institucional.
• As pessoas constroem sua espiritualida- Como acreditar no cristianismo se
de individualmente ou em grupos reli- nem sabemos se Deus existe?
giosos rígidos
• Paradoxalmente, a população vai ficando Deus não pode ser considerado como um
ao mesmo tempo mais religiosa e menos objeto do universo, passível de ser levado a
religiosa. um laboratório e analisado por meio de mé-
todos empíricos.
O cenário se mostra em muitos
casos, assim: Em nenhuma hipótese poderíamos “pro-
var” a existência de Deus como se ele fosse
• Os que creem em Deus e no cristianismo um objeto integralmente contido em nosso
pretendem “impor suas crenças sobre o universo, como acontece com o oxigênio e
restante de nós” e atrasar o relógio para o hidrogênio ou com uma ilha o Pacífico
uma época menos esclarecida. - C.S.Lewis
• Os que não creem são “inimigos da ver-
dade” e “agentes do relativismo e da per- Precisamos compreender alguns
missividade”. princípios:
• Não argumentamos com o outro lado
usando a lógica, apenas acusamos. • Deus está em outra dimensão: Ele não
pode ser conhecido como um objeto
Existe um impasse entre as forças confli- passivo de uma investigação empírica
tantes da dúvida e da fé, e ele não será • Deus deixou a sua impressão “digital” na
solucionado com um mero apelo por mais criação: existem pistas de sua realidade
civilidade e diálogo. que Ele inscreveu no universo
• Deus se incluiu na criação por meio de
Como encontrar um caminho? Jesus Cristo: ele não deixou provas, mas
enviou o seu filho.
1. Cada lado deveria admitir que tanto a fé
religiosa quanto o ceticismo estão em O filósofo Alvin Plantinga acredita que não
alta. existem provas da existência de Deus ca-
2. Os cristãos precisam refletir sobre o fato pazes de convencer a todos. Ele crê, porém,
de que grandes setores da sociedade, an- que existam no mínimo, duas ou três deze-
tes de maioria cristã, viraram as costas à nas de argumentos muito bons em favor da
fé. existência de Deus.

43
• Argumentos Teístas Naturalistas mente precisos, a fim de convencer as pes-
soas de que não é racional rejeitar a ideia de
A pesquisa teísta se dá em dois campos dis- que Deus existe.
tintos:
• Teísmo Bíblico
• Teísmo naturista: aquela que está dentro
daqueles fatos que são obtidos na esfera O teísmo bíblico não é limitado ao processo
da criação, ou natureza, e está sujeita à da razão humana e aos meros fatos concer-
razão humana nentes à existência de Deus.
• Teísmo bíblico: aquela que, embora in-
corpore tudo o que é revelado na natu- É um desdobramento dos detalhes da
reza, é estendida para incluir a revelação verdade revelada a respeito de Deus.
nas Escrituras.
Não descobrimos Deus, ele se revela a nós.
Os argumentos como prova da existência
de Deus que são restritos às limitações do • Deus se revela a nós por meio da sua
teísmo naturalista estão sujeitos a uma clas- criação.
sificação geral dupla: o argumentum a pos-
teriori e o argumentum a priori. Romanos 1.20 diz: “Pois desde a criação do
mundo os atributos invisíveis de Deus, seu
Um argumentum a posteriori é indutivo eterno poder e sua natureza divina, têm
em seu procedimento e conforma-se mais sido vistos claramente, sendo compreendi-
naturalmente aos processos da razão dos por meio das coisas criadas, de forma
humana. que tais homens são indesculpáveis”

Há três argumentos principais a posteriori • Deus se revela a nós por meio da sua
usualmente oferecidos no teísmo Palavra.
naturalista:
Veja 2 Pedro 1.20-21: “Antes de mais nada,
• Cosmológico saibam que nenhuma profecia da Escritu-
• Teleológico ra provém de interpretação pessoal, pois
• Antropológico. jamais a profecia teve origem na vontade
humana, mas homens falaram da parte
O argumentum a priori é dedutivo em seu de Deus, impelidos pelo Espírito Santo”
procedimento, visto que ele progride a par-
tir da base para os fenômenos, do princípio • Deus se revela a nós por meio de seu
para os particulares, do antecedente para o Filho.
consequente, e da causa para o efeito.
Deus se tornou um homem! A vinda de Je-
• O argumento ontológico é o único ar- sus à terra foi mais do que uma revelação
gumentum a priori que os mestres têm geral ou uma revelação especial; a vinda de
desenvolvido no campo do teísmo natu- Jesus ao mundo foi uma revelação pessoal.
ralista
João 1.18 nos diz: “Ninguém jamais viu a
As “provas” tradicionais da existência de Deus, mas o Deus Unigênito, que está junto
Deus, construídas por filósofos cristãos (e al- do Pai, o tornou conhecido”
guns não cristãos) de várias épocas da histó-
ria, são tentativas de analisar as evidências,
especialmente as evidências da natureza, de
modos extremamente cuidadosos e logica-

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• Deus é relacional Se Deus é todo-poderoso, por que
não detém o mal?
A História que Jesus nos conta sobre o Filho
Pródigo, revela claramente quem Deus é. Como um Deus bom e poderoso cria um
Lucas 15.20 nos diz: “Estando ainda longe, mundo em que existiu, e continua existin-
seu pai o viu e, cheio de compaixão, correu do, o mal?
para seu filho, e o abraçou e beijou”
Existem algumas razões para que o mal exis-
É assim que Deus nos ama. Mas a figura de ta no mundo hoje:
um Pai correndo para seu filho arrependido
é muito diferente da imagem que muitos de 1. A vontade de Deus: Deus permite o mal
nós temos de Deus.
• Deus é todo-poderoso. Isso quer dizer
Vejamos alguns conceitos populares de que o mal não poderia estar neste mun-
como é o Deus e o que a Bíblia nos diz de do, a menos que Deus permitisse.
verdade sobre Deus.
• O problema do mal e do sofrimento pode
• Conceito popular: Deus está distante. ser considerado como o maior desafio in-
• A verdade: Deus está sempre perto de telectual para o cristianismo.
nós (Salmo 139.7-12; Tiago 4.8a).
• É realmente difícil entender como um
• Conceito popular: Deus nos observa de Deus tão bom e grande pode permitir
longe. que o mal exista.
• A verdade: Deus está intimamente en-
volvido com cada detalhe de nossas 2. A influência de Satanás: Satanás
vidas (Mateus 6.25-30; Lucas 12.6-7). causa o mal

• Conceito popular: Deus está ansioso O mal não é uma nova criação de Satanás.
para julgar os que fazem coisas erradas. Ele não tem poder de criar nada. Tudo que
• A verdade: Deus está pronto para perdo- ele consegue fazer é tentar distorcer ou re-
ar todos os que o buscam (1Tm 2.4). ter o que Deus criou.

• O clima é mau?
• O sexo é mau?
E O QUE DIZER DO • Nossa habilidade de conversar é má?
SOFRIMENTO? Todas essas coisas são criações de Deus, e
são boas. O mal ocorre quando Satanás as
Por que existe o mal no mundo transforma em desastres naturais, guerras,
criado por Deus? imoralidade ou maledicência.

Três verdades: 3. A escolha da humanidade:


1. Deus é bom Nós aceitamos o mal
2. Deus é Todo-Poderoso
3. O mundo é maligno O mal está presente no mundo porque es-
colhemos fazer coisas más. Não culpe Deus
Como tudo isso pode ser verdade? por isso, nem Satanás. Quer culpar alguém?
Por que Deus permite o sofrimento?
Se Deus é bom, como permite que Lembre-se:
o mal exista?
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1. O mundo é mal, não porque foi cria-
do assim por Deus, mas por causa da esco-
lha da humanidade.

2. Deus cuida daqueles que sofrem.

3. Deus tem como propósito acabar,


um dia, com todo o mal.

4. Ele é paciente e espera que mais


pessoas sejam salvas, para que não sofram
a separação eterna Dele.

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Aula 10

NÃO EXISTEM ATALHOS!


CONTRACULTURA

“Quase toda pessoa que conheço que abraçou


o cristianismo na idade adulta, foi influencia-
da por aquilo que lhe pareceu ser pelo menos
um argumento provável em favor do teísmo”
C.S. Lewis

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A cosmovisão cristã entende que a universa- • Não há uma busca e um exame pelo ver-
lidade do pecado e a singularidade da mor- dadeiro, mas sim pelo útil.
te expiatória de Cristo implicam no fato de
que não há salvação fora de Cristo. Como fa- Por exemplo:
laram os apóstolos:
Uma pessoa que possua sua própria religião
“E não há salvação em nenhum outro, pois (um budista), se dirige ao Kardecismo para
debaixo do céu não há outro nome entre os buscar a comunicação com entes queridos
homens pelo qual devamos ser salvos” já falecidos. Este simpatizante do Kardecis-
(Atos 4.12). mo abraça-o buscando tão somente a utili-
dade que o Kardecismo prega, mesmo sen-
Hoje: do budista.

• A maior parte das pessoas fica feliz em Na contramão desta filosofia está o Exclusi-
concordar que Deus existe. vismo Religioso. O Cristianismo é exclusivis-
• Em nossa sociedade pluralista tornou-se ta. Por maior que seja o grito dos pluralistas,
politicamente incorreto alegar que Deus Jesus Cristo, o Filho de Deus disse que é o
se revelou de forma definitiva em Jesus caminho, a verdade e a vida (João 14.6).
Cristo.
Nosso objetivo como cristãos é levar ao
A doutrina particularista da salvação apenas mundo perdido o Salvador, Jesus! Por isso e
por meio de Cristo era tão escandalosa para para isso fomos chamados para comunicar
o mundo romano politeísta quanto o é para o Evangelho de forma eficaz para um mun-
a cultura ocidental contemporânea. do agonizante e perdido.

• O pluralismo religioso tornou-se o cons-


tante desafio para a pessoa que afirma
que Cristo é o único caminho que leva a A OFENSA DO EVANGELHO
Deus.
• Particularismo é a visão de que somente “Não me envergonho do evangelho, por-
uma religião é o caminho para salvação. que é o poder de Deus para a salvação de
• Pluralismo é a visão de que muitas religi- todo aquele que crê” (Romanos 1.16).
ões são caminhos para a salvação.
Muitos consideram a mensagem do evan-
Mercado da fé gelho como uma ofensa ao seu modo de
pensar e rejeitam o convite do Criador para
• O mundo das religiões é como um ver- um relacionamento.
dadeiro supermercado onde superabun-
dam produtos atraentes. Vejamos dois pontos fundamentais:
• Neste mercado as pessoas têm consumi-
do aquilo que lhes aprazem, sem se dar o • O Único Deus
trabalho de entender que não é possível
que todos os credos de A a Z (ou do Ag- A Bíblia nos revela que há somente um úni-
nosticismo ao Zen) possam levar ao mes- co Deus e que no princípio criou todas as
mo fim. coisas (Gênesis 1.1).
• Aqueles que defendem a filosofia do plu-
ralismo religioso acham que qualquer Isaías 40.28 relata: “Será que você não sabe?
produto do mercado da fé pode atender Nunca ouviu falar? O Senhor é o Deus eterno, o
as necessidades humanas, por isso tudo Criador de toda a terra. Ele não se cansa nem
é bom e de valor. fica exausto, sua sabedoria é insondável. ”
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Como todas as coisas começam com Deus e • Fez amizades com os marginalizados,
existem para Deus, nada em toda criação é com os fracos e com os oprimidos. Convi-
irrelevante para Ele. veu com os desprezados e rejeitados.
• Amou seus inimigos e ensinou os outros
O impacto criado pela realidade de Deus em a fazerem o mesmo.
nossa vida:
Ele é era mais que um bom mestre,
• Como Deus é nosso Criador, pertence- Ele é único e incomparável.
mos a Ele.
• O Autor de toda a criação tem autorida- Ele mesmo acreditava e declarou isso várias
de sobre tudo que criou, inclusive sobre vezes. Talvez sua mais forte declaração seja:
cada um de nós.
• Temos que prestar contas a Ele como João 14.6: “Eu sou o caminho, a verdade e
nosso juiz. a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por
• Isso nos coloca numa posição em que mim”
precisamos desesperadamente de sua
graça. Nenhuma outra pessoa é capaz e
nenhum outro caminho é suficiente.
Essa realidade, para muitos hoje
em dia, se torna uma ofensa. Se a humanidade quiser conhecer a
Deus, deve fazê-lo por meio de Jesus.
Fomos criados para colocar Deus em pri-
meiro lugar em nossa vida: A vida de Jesus é verdadeiramente sem
igual, única, incomparável. Ele é Deus encar-
• O pecado inverte essa ordem: deixamos nado – plenamente humano e plenamente
de adorar a Deus para adorar a nós mes- divino.
mos.
• Muitos estão convencidos de que não im- • Como homem perfeito, só ele pode to-
porta o que Deus diga, encontrarão satis- mar o lugar de homens e mulheres cul-
fação nas pessoas ou em bens materiais. pados. Como Deus perfeito, só ele pode
• Outros tentam se livrar da culpa mudan- satisfazer a justiça divina.
do os padrões de certo e errado em nome • Foi na cruz que Jesus, o Deus encarnado,
do progresso cultural ou de acordo com tomou sobre si a justa punição que os pe-
as tendências culturais. cadores mereciam.
• A humanidade não pode apagar a reali- • Na cruz de Cristo, Deus expressou plena-
dade do pecado e é por isso que precisa mente seu santo juízo sobre o pecado. Ao
da graça de Cristo. mesmo tempo, Deus, em Cristo, supor-
tou totalmente seu santo juízo contra o
É nesse ponto que o evangelho é pecado.
rejeitado por muitos • O Criador do Universo, santo, justo e cheio
de graça, possibilitou em Cristo que qual-
• Jesus é Único e Incomparável quer pessoa, seja onde for, possa reconci-
liar-se com Ele.
As pessoas não têm dificuldades em se
identificar com Jesus. Além disso, as pesso-
as gostam de Jesus. No entanto, cada vez mais, isso parece
ofender a muitos em qualquer cultura.
• Ele foi amoroso e gentil.
• Defendeu a causa dos humildes e
necessitados.

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As pessoas querem fazer seu próprio cami- Há três fatos sobre a morte e ressurreição
nho. Esta é a essência do pecado acima de de Cristo considerados como históricos pela
tudo – confiar em outros caminhos mais do maioria dos acadêmicos.
que no caminho de Deus.
1. Após a crucificação, Jesus foi sepulta-
• A simples ideia de que Deus se tornou do por um membro do sinédrio chamado
homem é estranha para muitos. José de Arimatéia.
• Mais de um bilhão de mulçumanos acre-
ditam que Deus jamais se rebaixaria tor- Isso significa que tanto judeus como gentios
nando-se homem. conheciam o local onde Jesus foi sepultado.
• Centenas de milhões de outras pessoas E isso é importante, pois os apóstolos jamais
acham absurda a ideia de que um ho- poderiam falar de ressurreição se o corpo es-
mem possa ser divino e tenha morrido tivesse no local.
numa cruz.
Argumentos a favor da historicidade:
Diante de todas essas verdades do evange-
lho, percebe-se que a declaração mais forte • O sepultamento de Jesus é confirmado
do cristianismo não é aquilo que os cristãos pela antiga tradição citada por Paulo em
pensam a respeito das questões sociais, do 1Co 15, uma tradição bem antiga e muito
aborto, do casamento ou da liberdade próxima a morte de Cristo para ser consi-
religiosa. derada como mito.
• O evangelho de Marcos muda dramati-
A declaração mais “ofensiva” é que Deus é o camente em seu estilo no relato da morte
Criador, o Senhor e o Juiz de cada pessoa de Cristo, mostrando que ele tinha uma
deste mundo. fonte mais velha que o próprio evange-
lho, que é considerado por muitos acadê-
micos o evangelho mais antigo.
• É altamente improvável que fosse inven-
JESUS RESSUSCITOU tado que um membro do sinédrio, que
DOS MORTOS? levou Cristo à morte, sepultasse a Cristo.

“Pois estabeleceu um dia em que há de jul- Não existe nenhum outro relato concorren-
gar o mundo com justiça, por meio do ho- te. Se o relato fosse fictício era de se esperar
mem que designou. E deu provas disso a algum vestígio histórico ou alguma lenda,
todos, ressuscitando-o dentre os mortos” - mas todas as fontes são unânimes em afir-
Atos 17.31 mar o honroso funeral por José de Arimatéia.

A resposta de que sabemos que Cristo vive, 2. No domingo seguinte à crucificação o


pois Ele vive em nós é razoável em ambien- túmulo de Jesus foi encontrado vazio por
te pessoal, mas em conversas públicas esse alguma de suas seguidoras.
tipo de afirmação não tem mais credibili-
dade que qualquer outra religião ou pessoa Argumentos a favor da historicidade:
que afirme ter uma experiência religiosa.
• O túmulo vazio também faz parte do
Como o cristianismo está arraigado na his- evangelho de Marcos. As histórias da
tória, podemos verificar se tais afirmações morte e do túmulo vazio são uma uni-
são verdadeiras. Então, consideremos, por dade gramatical, de tal forma que não
enquanto, os evangelhos como documen- se pode falar que foi acrescentada poste-
tos históricos. riormente.
• A antiga tradição de 1Co 15 que diz que

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Cristo ressuscitou implica em um túmu- (1) os judeus não tinham nenhuma
lo vazio, principalmente por causa da ex- crença de um Messias morto, mas um Mes-
pressão “no terceiro dia”. sias que ia expulsar os romanos da Terra Pro-
• O relato de Marcos é um relato simples, metida;
desprovido de extravagâncias e acrésci-
mos presentes em lendas. (2) segundo a lei judaica, a execução
• O relato de mulheres daquela época, não de Cristo, pendurado no madeiro, atestava
tinha valor como testemunho. Então, a que ele estava sob a maldição de Deus;
ressurreição ser anunciada por mulheres
é considerado algo vergonhoso, sendo (3) as crenças judaicas da época sobre
um argumento a favor da veracidade do vida após a morte não continham nada so-
que foi descrito. bre alguém ressuscitar antes do último dia.
• As próprias mentiras inventadas pelos ju-
deus na época afirmam que o túmulo es- “Desconheço qualquer outro fato na histó-
tava vazio. A própria reação dos judeus foi ria da humanidade que tenha sido prova-
uma tentativa de explicar o túmulo vazio. do por uma evidência melhor e mais com-
Uma evidência vinda dos próprios inimi- pleta - para o entendimento daquele que
gos do Cristianismo. procura sinceramente - do que o grande si-
nal que Deus nos deu, de que Cristo morreu
3. Em várias ocasiões e circunstâncias, di- e ressuscitou dentre os mortos” -
ferentes pessoas e grupos de pessoas afir- (Thomas Arnold, professor de história em
maram terem visto aparições de Cristo. Oxford)

Argumentos a favor da historicidade: “É, portanto, impossível que eles pudessem


ter persistido em afirmar as verdades que
• A lista de testemunhas citada pela tradi- narraram, se Jesus não tivesse verdadeira-
ção de Paulo em 1Co 15 aponta às apari- mente ressuscitado dentre os mortos e se
ções. eles não tivessem conhecimento desse fato
• As diferentes aparições são confirmadas com a mesma certeza que tinham sobre o
entre os evangelhos (lembre-se que cada conhecimento de qualquer outro fato”-
evangelho é um livro distinto), um forte (Simon Greenleaf, professor da Faculdade
indicativo para saber se algo é históri- de Direito de Harvard).
co (fontes independentes atestando os
mesmos eventos).
• Certas aparições tinham marcas pró-
prias de historicidade, como o irmão de
Tiago que não era um crente em Cristo,
de acordo com os evangelhos (e não ha-
via nenhum motivo de inventarem isso),
mas que virou um mártir por causa de
Cristo. A única explicação possível para
essa notável transformação na vida de
Tiago é que Cristo apareceu a ele.
• Os primeiros discípulos acreditavam que
Jesus havia ressuscitado dos mortos,
mesmo tendo tudo para não crerem nis-
so:

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