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vidas com história

Pedro MEXIA
O poeta do romantismo desiludido.
Pedro Mexia é poeta, crítico de literatura e cinema, blogger e cronista. Assume-se
como homem de direita porque se identifica com uma visão pessimista das relações
humanas, com a recusa das mudanças bruscas e prefere as reformas às revoluções. Ca-
tólico, apostólico, romano, Pedro Mexia é essencialmente um romântico desiludido,
mas também um crítico subtil.
POR: MARIA TEIXEIRA ALVES

P
Poeta, crítico de literatura (especializado ções, ao estilo da literatura da Europa Central, que ao
em autores portugueses), blogger, cronis- mesmo tempo são histórias muito portuguesas sobre as
ta, crítico de cinema, em tudo isto se re- grandes famílias do Norte e as suas quintas. “A Agustina
vela Pedro Mexia. Mas se tivesse que es- tem nos seus livros um misto de lucidez e crueldade, de
colher uma das actividades seria sem dú- que gosto bastante”. O Vitorino Nemésio pela sua diver-
vida a poesia. “Dou especial importância à sidade, sobretudo na poesia: que vai do religioso ao eró-
poesia, não necessariamente à poesia que tico, passando pelo Brasil, pelos Açores...
já escrevi, mas à poesia como forma de ex- “Se tivesse que escolher um filme, escolheria o Pa-
pressão, concisa e ambígua. A poesia tem a ris Texas (de Wim Wenders), exactamente por ser um fil-
capacidade de chegar ao cérebro sem passar me que retrata com pessimismo as relações humanas”.
pela razão”, diz. Um realizador? “Eric Rohmer, que tem uma forma leve
Acabou o curso de Direito por dever, e de retratar as paixões e os desencontros”. Mas também
ainda estagiou num escritório de advogados, porque nos seus filmes é explícito que “não há uma rela-
mas chumbou no exame de estágio (pela pri- ção entre o que dizemos e o que fazemos”. O que dize-
meira vez chumbou nalguma coisa) e entendeu mos não diz nada sobre o que somos.
isso como um sinal de que definitivamente não Pedro Mexia tem ainda a particularidade de ser um
pertencia ao mundo da advocacia. Porquê Direito? opinion maker de direita, assumidamente. O que não é
Porque estava na área de humanísticas e nenhum comum numa sociedade habituada ao comodismo do pen-
dos cursos da área lhe parecia dar outro futuro que samento único, que prefere opiniões moderadas e consen-
não o ensino. Para além de ter a influência da fa- suais. De direita porque se identifica com “o pessimismo
mília (o seu pai também fez o curso de Direito sem da natureza humana, porque recuso mudanças bruscas,
que viesse a exercer). prefiro reformas a revoluções”. Questionado sobre se a
Ainda estava no terceiro ano do curso quando
começou a escrever, primeiro no DN Jovem, depois
regularmente no DNA, no corpo do jornal Diário de
Notícias, depois Grande Reportagem e actualmente “Dentro das gavetas está a imperfeição do
escreve na revista do DN ao sábado. Como é que se
Foto: Paulo Alexandre Coelho

passa do Direito para a poesia? Perguntámos. Co- mundo; a inalterável imperfeição; a mágoa
meça-se a escrever e depois quando se dá por isso
não se sabe fazer mais nada. Cita Beckett “só sirvo
para isto”. No meio da sua actividade pelos jornais, com que repetidamente te desiludes.”
Pedro Mexia editou cinco livros de poesia “Duplo
Império” (edição de autor); “Em Memória” (ed. Gó- (in “Duplo Império”, 1999)
tica); Avalanche (ed. Quasi); Elliot e outras observa-
ções (ed. Gótica) e “Vida Oculta” (Relógio de
Água). No Natal deverá sair outro livro de poesia. À
parte disso tem publicado um livro com a compilação
das suas crónicas da Grande Reportagem e outro com
os seus textos publicados em blogues. sua tradição familiar de direita não é determinante nessa
Na crítica literária, escreve sobre autores portu- sua visão do Mundo, Pedro Mexia, aceita a influência da
gueses. Porquê? “Tinha que ter um critério de selec- tradição familiar, mas acrescenta a identificação com
ção e escolhi escrever sobre autores portugueses”, uma ideologia professada por autores de ciência política e
diz. Lê vários livros ao mesmo tempo. Tenta ler ou de filosofia, manifestamente de direita. No entanto salva-
espreitar tudo o que sai de escritores portugueses. guarda que não é com toda a direita que se identifica. “O
Mas dentro destes, “há uma linha de água abaixo do que eu sou é um pessimista da natureza humana”. E recu-
qual eu não desço”. Crítico explícito de José Sarama- sa a associação que se faz entre política e religião. “Nun-
go, a quem reconhece livros bons, mas aponta desa- ca concordei com a existência de partidos democrata-
paixonadamente os livros maus, sobretudo aqueles cristãos”. Ser católico é apartidário, defende.
publicados depois do Nobel. O que há é uma mentalidade de esquerda com a qual
Na lista dos autores portugueses pós-Pessoa está totalmente em desacordo, “recuso uma determinada
prefere Agustina Bessa Luís e Vitorino Nemésio. visão do mundo, como aquela que se revela nos debates
Descreve os livros da Agustina como longas medita- do pós-11 de Setembro”, acrescenta. ●

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DINHEIRO & MANAGEMENT • 15 SETEMBRO 2006 • SEMANÁRIO ECONÓMICO

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