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A Politica Como Subsistema
A Politica Como Subsistema
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Nascido em Lünemburgo, Alemanha, em 08 de dezembro de 1927, sendo prisioneiro de
guerra das Forças Americanas durante a Segunda Grande Guerra. Formado em direito na
universidade de Freiburg, foi funcionário público entre 1949 e 1959 na cidade de Hanover.
Somente em 1962 retomou a vida acadêmica em Harvard, sendo orientado por Talcott Parsons
por um ano. Em 1968 assumiu a cadeira de sociologia em Bielefeld, onde trabalhou até a sua
aposentadoria. Bechmann e Stehr, 2001, relembram da relativa perplexidade causada por
Luhmann, entre seus pares, logo ao entrar em Bielefeld. Teriam lhe perguntado qual seria seu
programa de pesquisas e este respondeu “A teoria da sociedade moderna. Duração: 30 anos;
sem custos.” (Luhmann apud Bechmann & Stehr, 2001: 186). Luhmann, após publicar mais de
14 mil páginas sob este intento, morreu em dezembro de 1998.
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Cabe frisar que Imannuel Wallerstein e Giovanni Arrighi, além de István Mészáros, também
utilizam uma abordagem que se auto-intitula “sistêmica”. Todavia estamos aqui interpretando o
neosistemismo e suas subderivações enquanto conectadas diretamente ao legado parsoniano,
seja em formato de crítica ou complexificação desta obra em particular.
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Um exemplo bastante preciso é a objetivação do subsistema direito e a sua interpretação da
realidade (o seu entorno) a partir do critério binário de seletividade lícito/ilícito (Neves, 2006) .
No caso particular do subsistema direito, o padrão lícito/ilícito, é uma via de redução de
complexidade com um entorno sempre mais complexo. Mas, é esta redução de complexidade
que faz com que seja possível o funcionamento, de forma relativamente autônoma, dos
diferentes subsistemas funcionalmente diferenciados.
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“Functional differentiantion is a specific historical arregement that has developed since the
th
Middle Ages and was recognized as disruptive only in the second half of the 18 century.”
(Luhmann, 1997a).
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O neoinstitucionalismo apresenta-se enquanto vertente interpretativa importante da ciência
política contemporânea onde, a partir da premissa da ação estratégica entre diferentes atores,
as instituições são pensadas. Há, na verdade, uma simbiose entre a instituição enquanto
limitadora da ação atrelada a uma concepção instrumental dos agentes. Um bom balanço
desta recente tradição pode ser encontrada em Hall e Taylor, 2003.
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Por teoria crítica compreende-se as derivações inspiradas na obra de Karl Marx onde há tanto
um esforço positivo quanto a desconstrução do real. Particularmente refiro-me aos esforços
sistemáticos da tradição alemã ocorrida no século XX (Honneth, 1999).
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“La mayor parte de los sistemas parciales han desarollado um médio de comunicación
simbólicamente generalizado, a manera de ejemplo pueden citarse al dinero en la economia y
la verdad en la ciencia. En en caso de la política el medio correspondiente es, como ya se ha
dicho, el poder. El medio de comunicación poder sólo puede circular en la forma de obediencia.
Por lo mismo, sólo funciona plenamente cuando la orden es obedecida sin oponer resistencia.
Cuando la obediencia no ocurre, aquel que tiene poder puede hacer uso de la violencia física,
garante límite de la obediencia.” (Ibid: 6).
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Norberto Bobbio (1987:14) assim define o “jusnaturalismo” ou “escola de direito natural: “Sob
a velha etiqueta de „escola do direito natural‟, escondem-se autores e correntes muito diversos:
grandes filósofos como Hobbes, Leibniz, Locke, Kant, que se ocuparam também, mas não
precipuamente, de problemas jurídicos e políticos, pertencentes a orientações diversas e por
vezes opostas de pensamento, como Locke e Leibniz, como Hobbes e Kant; juristas-filósofos
como Pufendorf, Thomasius e Wolff, também divididos quanto a pontos essenciais da doutrina;
professores universitários, autores de trabalhos escolásticos que, depois de seus discípulos,
talvez ninguém mais tenha lido; e finalmente, um dos maiores escritores políticos de todos os
tempos, o autor de O Contrato Social.”.
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Aqui temos uma via explicativa particularmente interessante para compreendermos os
movimentos contestatórios no Oriente Médio: novas demandas do entorno geram novos
arranjos do subsistema político em particular.
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Op. Cit.) explica a dinâmica de disputa entre “poder/ não poder” e o movimento
subseqüente entre os atores políticos. Portanto, poder é um conceito relacional
e um recurso intercambiável. O procedimento sistêmico “eleições” é uma saída
que tanto confere legitimidade ao exercício do poder quanto permite, dentro
das regras de previsibilidade dos arranjos sistêmicos, a alternância, mesmo
que hipotética, entre os atores na condição de “governo” ou de “oposição”. Esta
também é uma relativa imprevisibilidade, todavia, pensada dentro dos marcos
do funcionamento operacional do próprio subsistema. Podemos supor que a
democracia moderna seja o exemplo prototípico dessa forma complexa de
propor ações e normas coletivamente vinculantes.
Ainda, sob os parâmetros acima descritos, transitam na política tanto a
definição do que é “bem público” quanto o atendimento de “interesses
privados”. Esta contradição é superada com a noção de “legitimação” do
subsistema que tanto pode ser questionada dentro do funcionamento do
próprio subsistema quanto pelo entorno. Inclusive o conflito é um elemento
motivador de evolução do subsistema, pois exige do mesmo novas respostas
operacionais. O par de codificação “esquerda” e “direita” é expressão da
realização do conflito interpretada no âmbito da política, de onde derivam
novas formas de diferenciação funcional. Note-se que os pares de codificação
apresentadas são elaborados nos marcos do funcionamento operacional do
próprio subsistema. Justamente isto reflete a sua relativa autonomia na medida
em que na interação e diferenciação resultante da relação externo/interno é
que há a expansão ou retração dos limites do próprio subsistema.
Portanto, o subsistema política lida sim, em sua lógica operativa, com
dissensos, conflitos e variações valorativas. Isto gera maior complexidade e
segmentação, portanto, por isso de fato os sistemas políticos pluralistas seriam
uma das maiores expressões de complexificação deste subsistema. Afinal, o
subsistema política necessita encaminhar formas de decisão com
conseqüências para a coletividade daquele Estado-Nacional ou, em alguns
casos, até mesmo em arranjos institucionais transnacionais.
Referências
BECHMANN, Gothard & STEHR, Nico. Niklas Luhmann. In: Tempo social. São
Paulo: USP, nov. 2001, 185-200.
HONNETH, Axel. Teoria crítica. In: GIDDENS, A. & TURNER, J. Teoria social
hoje. São Paulo: Edunesp, 1999, p.503-552.
______. Porque uma “teoria dos sistemas”?. In: NEVES, Clarissa Eckert Baeta
& SAMIOS, Eva Machado Barbosa (orgs.). Niklas Luhmann: a nova teoria dos
sistemas. Porto Alegre: Edufrgs, 1997b, p.37-48.
MÜNCH, Richard. A teoria parsoniana hoje: a busca de uma nova síntese. In:
GIDDENS, Anthony & TURNER, Jonathan. Teoria social hoje. São Paulo:
Editora Unesp, 1999, p.175-228.
]
NEVES, Clarissa Eckert Baeta & NEVES, Fabrício Monteiro. O que há de
complexo no mundo complexo? Niklas Luhmann e a teoria dos sistemas
sociais. In: Sociologias. Porto Alegre: Editora UFRGS, ano 8, n.15, jan/jun
2006, p.182-207.
______. Poder, partido e sistema. In: AMORIM, Maria Stella. Sociologia política
II. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1970, p.9-21.