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Isso de amizade...

- Artur da Távola -

Ah, esse fenômeno instigante, o das amizades que se mantêm independentes da


convivência.

Será amizade? Será saudade comum dos anos vividos em amizade? Será saudade
dos anos felizes ou uma afinidade que se espraia no tempo? Não sei responder. Sei
que com algumas pessoas (poucas), há uma insistência teimosa em desejar ver,
trocar idéias e experiências, creio, pela certeza da reciprocidade e do "ser aceito".
        Sim, talvez seja a certeza de ser aceito, uma das maiores necessidades
humanas neste mundo de incompreensões. Talvez seja a necessidade da existência
de certeza prévia de acolhimento ao que somos, como somos e ao que pensamos,
o fermento da amizade.
        O mistério da amizade talvez resida no alívio que traz a existência de alguém
que nos acolha. Digo acolha e, não, recolha - aí já seria dependência de um lado e
paternalismo do outro.
        Acolher significa receber de bom grado, previamente, sem julgamentos ou
resistências. É molesto o fato de que os seres humanos vivam a julgar e que suas
opiniões prévias interponham barreiras na comunicação, dificultando-a.
        O mistério da afinidade consiste na inexistência das resistências ao outro,
mesmo quando haja discordância. Isso não deriva apenas de afeto. Quantas vezes
há afeto entre as pessoas sem, porém, a aceitação natural, espontânea e prévia?
        Verifique nas amizades tidas e vividas ao logo da vida, o que delas restou.
Haverá muita vivência, boa e má. Raramente, porém, restará a amizade...
        Com os anos, vão se tornando escassas as amizades que atravessaram o
terreno íntimo que lhes é próprio sem arranhões e sem mágoas, restando, como
fruto, após ingentes experiências humanas e existenciais, apenas (e já é tanto...) a
amizade.
        Amizade é o que resta da amizade. Se o que resta de uma amizade é
amizade, então amizade é. Da verdadeira!

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