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8 Causas estruturais e efeitos militares capitulo 7 mostrou por que motivo menor & melhor. Dizer que pouco é melhor que muito nao é dizer que dois é 0 melhor ntimero de todos. A estabilidade dos pares — de corporagdes, de partidos pol cos, de cénjuges— tem sido, muitas vezes, apreciada. Apesar de a maioria dos estudiosos de relacdes internacionais provavelmente acre- ditar que os sistemas de muitas grandes potén resistem & nogio generalizada que do cias ou um mundo de varias ou mais? O capitulo 8 mostrar por que motivo dois ¢ 0 melhor dos pequenos nimeros. Chegimos a algumas conclusdes, mas ndo a essa, a0 considerarmos a econémica. Problemas de segui ou bipolares mostram claramente as v des poténcias, e apenas duas, no sistema. irem duas gr I Estabelecer as virtudes de sistemas de dois pai rar sistemas de diferentes nimeros, Porque 0 preocupado com sistemas de pequenos e ain: CCAUSAS ESTRUTURAIS E BFEITOS MILITARES 223 ivemos de considerar diferengas que aparecem por existirem duas, trés, quatro, ou uitas vezes, juntam efeitos diferentes debaixo do titulo de estabitidade. Eu fiz isso em ensaios de 1964 © 1967, usando a estabilidade para incluir também a paz ¢ a gestio efectiva dos assuntos internacionais, que sfio as preocupagdes respectivas deste capitulo e do proximo. E importante, agora acredito, manter separados efeitos diferentes de forma a que possamos correc- mente localizar as suas causas. Os sistemas andrquicos sdo transformados apenas pelas mudangas i dor ¢ pelas mudangas subsequentes no n s principais partes. Dizer que um sistema p € estivel, significa duas coisas: primeiro, que permaneea andrquico; segundo, que nenhuma variagio subsequente acontega no niimero de partes principais que constituem o sistema. As variagdes «subsequen- tes» no niimero sto mudangas de nimero que levam a expectativas diferentes sobre 0 efeito da estrutura nas unidades. A estabi tema, desde que permaneca andrquico, esti entio estreitamente ada a0 destino dos seus principais membros. A ligagdo estreita & estabelecida pela relagio de mudangas no miimero de grandes potén- 's & transformago do sistema. No entanto, a ligaglo nfo é total que o nlimero de grandes poténcias pode manter-se 0 mesmo ou nilo variar consequentemente mesmo quando algumas poténcias eaem da posi¢do de grandes poténcias apenas para serem substi outras. Os sistemas politico-intemacionais so extraordin estiveis, como mostra graficamente 0 quadro 8.1. O sistema durou trés séculos porque 4 medida que alguns estados posigdes principais outros cl do au das suas capacidades. O sistema durou 4 medida que a identidade dos seus membros mudou. O sistema bipolar tem durado trés décadas porque nenhum estado tem sido capaz de descnvolver capa cidades compariveis as dos Estados Unidos ¢ da Uniio Soviética. O sistema parece robusto, apesar de ser improvavel que dure tanto como o seu predecessor — um assunto para ser considerado na quarta parte deste capitulo, A ligagio entre a sobrevivel 1 estabilidade dos sistemas es de grandes poténcias especificas e também enfraquecida pelo facto de 2 ‘TEORIA DAS RELAGOES INTERNACIONAIS F700 | ARO [HATS | 1910] 13S | TOE | Inglaterra (Gei-Bretanhs) xfx]x]x| x Priissia (Alemana) x |x| x |x Riissia (Unio Soviétiea) x |x fx} ]x Japio.. x |x Estados Unidos... | x| «fe Adspudo de Weight, 1965, mex 29, univ 43. Quadro 8.1 — Grandes poténcias, 1700-1979 que nem todas as mudangas de numero sio mudangas de si os sistemas bipolar e multipolar so distintos & largament portamento requerido das partes em sistemas de au mente, 0 esforgo de balanea. O esforgo de bala mente em e estudiosos de ios podem ser acertados apenas pelos scus esforgos s. Com mais do que dois, as variagdes no alinhamento proporcio- im meios adicionais de ajustamento, adicionando flexil balanga através da combinago com outros variam de formas que (CAUSAS ESTRUTURAIS F EFEITOS MILITARES Ds , quatro é, entdo, 0 menor niimero aceitavel, externo ¢ promete uma estabilidade con- siderivel. Cinco jerado outro mimero limiar, sendo o menor rniimero que promete estabilidade enquanto necesita de um eq dor; e examinarei essa necessidade. Além do cinco no aparecem mais imeros limiares. Sabemos qu i que os nlimeros crescem, devido & com o comportamento incerto de muitos outros, porque pe e devido ao cada vez maior nimero ¢ variedade de coligagdes que podem ser feitas, mas cias. Felizmente, como um assunto pritico, nenhum aumento no mimero de grandes poténcias esté previsto, ‘Até 1945, o sistema de estados-nagdes era multipolar, ¢ sempre com is poténcias. Em toda a histéria modema, a estrutura das cinco ow constituem um sistema distinto ¢ considera as vnplcaysr cites dos sistemas de duas ou de quatro ou mais partes. Ir Com apenas duas grandes poténcias, um sistema de balanga de sve, quatro poténeias so requeridas para o seu bom a servir como eq) misso entre o sistema mais simples possivel de duas poténcias ¢ mi- meros to grandes que fzem os sistemas anrquicos irremediavel- 226 ‘TEORIA DAS RELACOES INTERNACIONAIS portamento da Gra-Bretanha nos séculos xvm ¢ xix. A experiéneia britinica mostra que condigdes tém de prevalecer se & suposto que 0 papel de equilibrador seja efectivamente desempenhado. A primeira condigdo era que a margem de poder do lado do agressor nio to grande que a forga britinica somada parte fraca fosse ficiente para reparar a balanga. Quando os estados do c estivessem quase equilibrados, a Gra-Bretanhia poderia algum efeito. A segunda condi¢do era que os fins britinicos no con- tinente permanecessem negativos, porque os fins positivos ajudam a determinar 08 alinhamentos. Um estado que deseje assegurar um pedago de territério, normalmente, tem de se aliar com estados que ainda no o tenham. Os objectivos do estado entio diminuem 0 es- copo das suas manobras diplomaticas. Finalmente, no papel de equilibrador, a Gra-Bretanha exigiu um estatuto de pi pelo menos, igual a0 da poténcia mais poderosa. A fraqueza br face aos paises curopeus significou até hoje complicagdes com eles. Apenas quando as poténcias continentais estavam quase em eq ‘ou quando a Gri-Bretanha estava notavelmente forte & que ela foi capaz de se manter a parte até que chegasse 0 momento em que 0 se. comprometimento pudesse ser diplomaticamente decisivo, Estas sao condiges altamente especiais, toradas ainda mais especiais pelo facto de as preferéncias politicas nao deverem levar 0 equilibrador identificar-se com nenhum grupo de estados existente ou potencial A teoria da balanga de poder nao pode incorporar 0 papel de equi- librador porque o desempenho do papel depende destas condigdes estreitamente definidas ¢ historicamente improvaveis. O niimero cinco no tem nenhum charme especial, porque nio ha razio para acre- ditar que a parte impar serd capaz e estard disposta a servir de equi- ibrador. Estas consideragdes levam a diividas mais gens alardeadas de aliangas flexiveis, Para ser it de significar que, onde um ou mais estados estado se ird juntar a um lado ou abandonar outro, de forma a fizer © equilibrio pender contra os possiveis agressores. O velho sistema balanga de poder aqui parece-se suspeitosamente com 0 novo sistema de seguranga colectiva da Sociedade das Nagdes e das Qualquer um dos sistemas depende, para a su cionamento, da neutralidade de séria, Para preserv: ema, pelo menos, um estado poderoso tem CCAUSAS ESTRUTURAIS E EFEITOS MILITARES 27 rapassar a pressio das preferéncias ideolégicas, a atracgdo das icdes anteriores, e 0 conflito de interesses presentes de forma a juntar o seu peso ao lado dos pacificos. Deve-se fazer o que 0 momento requer. ‘Uma vez que um dos interesses de cada estado ¢ evitar 0 do por outros estados, porque deveria ser dificil para um ou alguns esta- Gos passar para 0 lado do ameagado? Afinal, cles correm um risco comum. Mas 4 pode, em vez disso, dizer a B: «Uma vez que a ameaga & para ti assim como para mim, eu fico de lado e deixo-te lidar com (© assunto.» Se B agir efectivamente, 4 ganha beneficios gratuitos. Se B, tendo ficado ressentido, nio o fizer, Ae B perdem. A contemplacdo de um destino comum pode nio levar a uma divisio justa do traba- Tho — ou a qualquer trabalho, Se leva ou niio, depende do tamanho do grupo e das desigualdades dentro dele, assim como do cariicter dos seus membros (cf. Olson, 1965, pp. 36, 45). \Vemos as dificuldades em qualquer sistema multipolar onde alguns estados ameagam outros enquanto os alinhamentos so incertos. Ministro dos Negécios Estrangeiros francés Flandin disse a0 Pri- meiro-Ministro britanico Baldwin que a ocupagdo militar de Hitler da Reninia em 1936, proporcionava a ocasifo & Gri-Bretanha para que tomasse a lideranga contra a Alemanha. A medida que a ameaga alema cresceu, alguns lideres britinicos e franceses esperariam que se os ‘seus paises se mantivessem a parte, a Russia ¢ a Alemanha equilibrar- =se-iam ou Iutariam até ao fim (Nicolson, 1966, pp. 247-249; Young, 1976, pp. 128-130). Incertezas sobre quem ameaga quem, sobre quem se ird opor a quem, e sobre quem iré ganhar ou perder com as acgdes dos outros estados aceleram & medida que 0 numero de estados au- menta. Mesmo se assumirmos que os objectivos da maioria dos esta- (0 timing ¢ 0 contetido das acgdes necessirios para de im vez de s para os estados impossibilidade de acreditar que os imperativos conflituosos — agit pelo io bem, como é requerido pelas suas situagSes; ¢ agir a favor da estabilidade ou sobrevivéncia do sistema, como alguns eruditos os aconselham a fazer. Os cientistas politicos que favorecem a flexibili- dade de alinhamento nacional tém de accitar que a flexibilidade vem apenas 4 medida que os niimeros aumentam ¢ também 4 medida que idades ¢ as incertezas se multiplicam. aleanga-los ton tomar 0 assunto seg estados podem recon as compl 28 ‘TEORIA DAS RELAGOES INTERNACIONAIS Com mais de dois estados, a p macia pela qual as A Mlexibilidade de que estamos a cortejar pode preferir outro pretendente e que 0 nosso actual aliado pode abandonar-nos. A flex‘ estreita a nossa escolha de politicas. A estratégia de um estado tem de agradar a um parceito potencial ou satisfazer um parceii situagdo compardvel é encontrada quando os partidos politicos compe- tem por votos formando ou reformando coligagées eleitorais com dife- rentes grupos econémicos, étnicos, religiosos ¢ regionais, A estraté; ou a pol i € suposto que um partido seja um sucesso eleitoral, a sua p pode, simplesmente, ser aquela que os seus lideres acreditam ser a melhor para o pais. A politica deve, pelo menos em parte, set para se ganhar as el larmente, com varios estados aproxi- madamente iguais, a estratégia é, pelo menos em parte, feita para atrair e agarrar alindos. Se se podem formar aliangas, os estados que- redo parecer pareeiros attaentes. Os pretendentes alteram a sua apa~ réncia € adaptam o seu comportamento para aumentar a sua elegibi- lidade. Aqueles que se mantém sem atracedio, a0 descobrirem que competem pobremente, provavelmente tentario ainda mais mudar a sua aparéncia e comportamento. Temos de nos tornar suficientemente atractivos em personal escolha possivel. A alianca diplomatica da Europa nos anos que pre- cedem a Primeira Guerra Mundial é rica em exemplos destes. Desde as Guerras Napolednicas, muitos teriam acreditado que 0 «Republi- canon © 0 «Cossaco» nunca poderiam comprometer-se, quanto m: a adaptar-se de alguma forma a outra, foi consumado 1894 ¢ prontamente produziu a Tripla Entente como seu fruto, quando primeiro a Franga e a Inglaterra e depois a Riissia e a Inglaterra Passaram as suas, ji hé muito existentes, animosidades em 1904 e 1907, respectivamente. Se as presses forem suficientemente fortes, um estado lidar com quase todos. Litvinov comentou na década de 30 que para promover qualquer estado, a com a Alemanha de Hitler (Moo 355). E importante notar que os estas al (CAUSAS ESTRUTURAIS E BFEITOS MILITARES 29 brar que a questio de quem se aliaré a que diabo pode ser a questo decisiva. No final, os actos de Hitler determinaram que todas as gran- des poténcias, excepto a Iti e Na busca pela seguranca, podem ter de ser feitas, tam de ser geridas. As aliangas europeias que comegaram na década de 90 do séeulo xix consolidaram-se & medida que se forma- ram dois blocos. A rigidez de blocos, pensa-se, contribuiu fortemente para a deflagragdo da Primeira Guerra Mundial. O ponto de vista € superficial. As aliangas sio feitas por estados que tém alguns, mas no todos, os interesses em comum. O interesse comum é normalmente negativo: medo de outros estados. A divergéncia emerge quando 0s interesses positivos estio em causa. Considerem dois exemplos. A Riissia teria preferido planear e preparar-se para a ocasidio da guerra contra a Austria-Hungria, Podia esperar derroti-la, mas nao & Alema- nha, ea Austria-Hungria atrapalhou as pretensdes da Réssia de ganhar ‘© controlo dos estreitos que ligam o Mar Mediterraneo e 0 Mat Negro. No entanto, a Franga s6 poderia reconquistar a Alsécia-Lorena derro- tando a Alemanha. A percepeio de uma ameaga comum juntou a Riissia ea Franca. A diplomacia das aliancas, ¢ um grande fluxo de fundos da Franca para a Riissia, ajudou a manté-las juntas e a moldar uma estratégia de alianga mais ao gosto da Franga do que da Riissia. As estratégias de alianga sio sempre 0 produto do compromisso desde que os interesses dos aliados e as suas nogies de como asseguri-los nunca forem idénticas. Além do mais, num sistema multipolar, apesar da formagio de blocos, os nossos aliados podem silenciosamente mudar-se para o campo oposto. Se um membro de uma alianga tenta esclarecer diferengas, ou cooperar de alguma forma, com um membro de outra alianga, os seus préprios aliados ficam desconfortiveis. Assim, ‘a cooperagio anglo-germénica em 1912 ¢ 1913 para refrear as crises entre eles, pode ter sido prejudicial. As reacedes dos seus idiram a Gri-Bretanha e a Alemanha de desempenharem pay ares no Sudeste da Europa em 1914, contudo deu a cada uma delas alguma ivesse firme (Jervis, 230 'TEORIA DAS RELACOES INTERNACIONAIS dos partidos, é alcangada através de uma gestdo inteligente e cuida- dosa; ¢ a gestio de blocos é muitissimo dificil entre quase iguais uma vez que tem de ser planeada de forma cooperativ Se blocos concorrentes sio vistos como muito equilibrados, e se a igo se apoia em assuntos importantes, entdo ao deixar cair um aliado, arriscamos a nossa propria destruigdo. Num momento de crise, a politica (© mais fraco ou mais aventureiro & provavel que deterr do seu campo. Os seus parceiros nfo se podem dar a0 deixar que 0 membro mais fraco se destrua nem de propa: sua desunido ao néo apoiarem uma aventura mesmo enquanto lamen- tam os seus riscos. O prelidio da Primeira Guerra Mund exemplos notaveis. A igualdade aproximada do ntimero de pa de alianga tornou-os intimamente interdependentes. A interdependéncia dos aliados, associada & intensa competigzio entre os dois campos, significava que enquanto qualquer pais pudesse confiar nos seus asso- ciados, nenhum pais de nenhum dos lados poderia exercer controlo. Se a Austria-Hungria marchasse, a Alemanha tinha de a seguir, a dissolugio do Império Austro-Hingaro teria deixado a Alemanha ha de sobre a Franga seria uma derrota para a volta de um circulo vieioso, Por m aliado importante teria afectado o librio, cada estado estava co a sua estratégia € 0 uso das suas forgas para os objec uceiros. Em. certo sentido, a politica instivel dos Bale’s levou 0 mundo pi guerra, Mas essa afirmac’ & bem precisa, Internacionalmente, eventos © condigdes desestabilizadores abundam, As questées impor tantes a pdr sio se eles podem ser geridos melhor, € se 0s seus efeitos sio mais rapidamente absorvidos num sistema do que noutro (ver pp. 284-286). derrota ou a desergio de de Taan« nantealbtans, ce 6 Jog tik dese Jeane el ota que para produzir aquele resultado 36 debaixo da pressio d , as seis ou sete grandes poténcias do periodo entre guerras nijo depois do ilo de dois blocos no tornou o sistema multipolar num si disputar umas cleigdes torna um sistema multipartidario num sistema bipartidario. Mesmo com a maior das presses extemas, a unidio das tempo de guerra ou em aliangas eleitorais, mesmo que se ajustem uns ‘05 outros, continuam a manobrar por maior vantagem ¢ a preocupa- rem-se com a constelago de forgas que se iré formar assim que a dispute terminar. Em sistemas multipolares ex mitir a qualquer uma delas impor linhas claras e fixas entre aliados ¢ adversirios € poucas poténcias para manter baixos os efeitos de um abandono. Com trés ou mais poténcias, a flexibilidade de aliancas mantém as relagdes de amizade e inimizade fluidas e faz com que a estimativa de todos das relagdes de foreas presentes ¢ futuras seja incerta, Desde que o sistema seja de pequenos mimeros, as acgdes de qualquer um deles podem afectar a seguranga de outros. Existem demasiados para permitir a qualquer um ver, com certeza, 0 que esti a acontecer, muito poueos para tomar 0 que esti acontecer num assunto de indiferenca, Tradicionalmente, os estudiosos de relagées internacionais tém pensado que a incerteza que resulta da flexibili- dade de alinhamento gera um cuidado saudivel na politica externa de todos (ef. Kaplan, 1957, pp. 22-36; Morgenthau, 1961, parte iv). Inver samente, eles tém aereditado que os mundos bipolares so duplamente mente se desgastam ou explodem. Esta conclu suficientes. A. inter-

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