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Alan de Oliveira Miranda – NUSP 12605125

EDM 0423 Metodologia do Ensino de Filosofia

Resenha: Escola-Favela, Conhecimentos, Transgressão e Poder: Esses


Meninos Não Têm Jeito?

Rodrigo Torquato da Silva buscará, através de um texto organizado em dois


subtítulos, ambos estruturados em um relato pessoal e uma teoria/crítica oriunda
deste relato, seguidos de uma terceira parte conclusiva, elaborar uma crítica ao
sistema educacional público liberal em dois vieses, a saber: o Cotidiano e o
Burocrático.

1. O primeiro subtítulo, “esse menino não tem jeito” terá o papel da crítica ao
cotidiano do modelo burguês de ensino público com o autor narrando sua trajetória
enquanto jovem tanto na escola quanto fora dela, nas ruas enquanto trabalhador,
enquanto “adulto precoce”, e a dificuldade naquele espaço consequente das
bagagens trazidas pela sua classe social e pelo discurso adquirido das ruas, tanto
com o cotidiano da favela da Rocinha quanto na vida laboral pelas praias do Rio de
Janeiro. Tais bagagens, tais discursos, colidiram com as demandas
comportamentais das escolas das quais Torquato era consequentemente,
cotidianamente, ora formalmente ora pelas entrelinhas, rechaçado, denotando,
portanto, a dificuldade da escola em assimilar diferentes discursos, demandas e
realidades trazidas pelo estudante, muito devido, em grosso resumo, a uma
necessidade deste modelo educacional, em fazer com que este estudante para
adaptar-se, precise cumprir com o papel de aluno no sentido de uma certa
passividade frente a linguagem, a doutrina e a rotina da sala de aula contrárias
àqueles que são frutos ou habitantes deste entre-lugar onde, em um lugar há uma
demanda prática e ativa pela existência e em outro há esta demanda escolar
protocolar da cartilha comportamental passiva, “não transgressora”.

2. O segundo subtítulo, “Sem endereço, não posso estudar”, terá o papel da


crítica à burocracia do modelo burguês de ensino público com o autor, agora,
professor do ensino fundamental testemunhando o caso de um morador de rua que,
em busca de regressar aos estudos, esbarra na falta de endereço fixo para acessar
a escola. Aqui a crítica à burocracia da escola pública liberal se amplia de certa
forma ao capitalismo liberal, uma vez que tal relato expõe o caráter excludente do
conceito de propriedade privada, sustentáculo deste modelo. Se antes, no primeiro
relato, a denúncia se direcionava diretamente à escola que, através do rito cotidiano
promovia o fracasso escolar de quem não se adaptava à sua cartilha, aqui há uma
cartilha muito menos sutil e mais ampla, gritada pela burocracia escolar que impede
o “fracassado social” deste regime burguês liberal de acessar os meios pelas quais
se poderia pleitear alguma melhora em suas condições de vida. Torna-se latente
aqui, a hipocrisia do discurso meritocrata do modelo político econômico educacional,
enfim, social vigente.

3. Na conclusão de seu texto, Torquato irá problematizar o modelo de escola


e a posição da ciência na sociedade liberal. No que tange ao modelo, a crítica se
direciona ao eurocentrismo epistemicida que promove sistematicamente o fracasso
escolar dos jovens que, ainda que em situações sociais econômicas consideradas
pelo modelo econômico e social vigente, desfavoráveis e inapropriados, conseguem
acessar o modelo liberal burguês de ensino público. Trata-se de uma crítica mais
direta à escola, um apontamento direcionado ao primeiro subtítulo portanto.

A crítica à posição da ciência na sociedade liberal, o apontamento portanto,


destinado ao segundo subtítulo, denuncia a consequência do apontamento
destinado ao primeiro subtítulo: a exclusão dos que não se adequam ao modelo
liberal eurocêntrico de ensino e consequentemente de ciência.

Com a junção dos dois subtítulos nessa conclusão, Torquato alcança através
da citação de Quijano, o que considera ser o epicentro do problema: A criação de
um modelo de produção intelectual formal colonialista moderno capitalista e
eurocentrado.

A partir daí, finalmente Torquato atinge seu objetivo com este artigo: Propor
reflexão a respeito das realidades e das consequências dos processos de exclusão
e fracasso sistemáticos dos pertencentes as classes trabalhadoras na vida escolar,
além de trazer à realidade propostas de rompimento com este modelo de educação
pública liberal burguesa.

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