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Radioatividade dos núcleos

Prof. Dr. Milan Lalic


Departamento de Física
Universidade Federal de Sergipe

Os slides de apresentação estão baseados nos slides feitos


pela Profa. Dr. Susana de Souza Lalic

1
Radioatividade
• Fenômeno natural pelo qual algumas substâncias ou
elementos químicos, chamados radioativos, são capazes de
emitir radiações.

emissão alfa emissão beta

2
Radioatividade natural
Exemplo do C-14
O homem sempre conviveu com a radioatividade. Nas rochas,
encontramos radioisótopos como o
• U-238 (isótopo radioativo mais abundante da crosta
terrestre),
• U-235,
• Th-232,
• Ra-226
• Ra-228.
Até mesmo em vegetais pode ser detectada a radioatividade:
as batatas, por exemplo, contêm K-40 e C-14.
Nos nossos sangue e ossos encontram-se K-40, C-14 e Ra-226.

3
Radioatividade
natural -
Séries
radioativas

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Gráfico de Segrè
• Dentro de um total de 2500
nuclídeos conhecidos,
menos de 300 são estáveis.
• Não há nuclídeos estáveis
com A = 8 (divisão em 2
nuclídeos duplamente
“mágicos” ).
• Não é formado nenhum
nuclídeo estável com A = 5.
• Nenhum nuclídeo é estável
com A>209 ou Z>83
(grande demais)
• tecnécio e promécio, Z=43
e Z=61, não são estáveis
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Decaimento alfa

Esse tipo de decaimento ocorre em geral para


núcleos muito grandes para serem estáveis.
Ele só será possível se a massa do átomo neutro
original for maior que massa do átomo neutro
final + massa do átomo neutro de hélio.

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Partículas alfa
238U, 235U, 239Pu e o 231Pa são exemplos de
emissores alfa.

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Radiação beta (β)
• São elétrons de alta energia (β−) ou pósitrons (β+) emitidos de
núcleos atômicos num processo conhecido como decaimento
beta.

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Decaimento β− (emissão de elétrons)
• O decaimento beta (β−) ocorre em nuclídeos com razão N/Z
grande demais para que haja estabilidade

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Decaimento β− (emissão de elétrons)
• (β−) são emitidas por núcleos instáveis que possuem um
excesso de nêutrons. Então o nêutron se transforma em um
próton: 𝟏𝟎𝒏 → 𝟏𝟏𝒑 + −𝟏𝟎𝜷 + 𝟎𝟎𝝂
• O próton permanece no núcleo (𝑍 → 𝑍 + 1), enquanto o
elétron e anti-neutrino são ejeitados.

Para ocorrer esse tipo de decaimento a massa atômica do átomo


neutro original deve ser maior que a massa do átomo neutro final.
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Decaimento β− (emissão de elétrons)

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Neutrinos
• O produto resultante de um decaimento deve ter um
momento total zero e a energia deve ser conservada.
• No caso do decaimento beta, apenas a emissão do elétron
estaria violando essas leis de conservação.
• Wolfgang Pauli postulou a existência de neutrinos,
partículas com um momento e energia cinética apropriada
para balancear o evento

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Decaimento β+ (emissão de pósitrons)
• O decaimento beta (β+) ocorre em nuclídeos com razão N/Z
pequeno demais para que haja estabilidade

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Decaimento β+ (emissão de pósitrons)
• Núcleos instáveis que possuem relativamente poucos nêutrons
em relação a prótons, há a conversão de um de seus prótons em
um nêutron

Para ocorrer esse tipo de decaimento a diferença entre a massa


atômica do átomo neutro original e a massa do átomo neutro final
deve ser maior que duas vezes a massa de repouso do elétron
(1,022 MeV) para que haja a criação do pósitron.
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Antimatéria ou antipartícula
• Para cada tipo de partícula de matéria que nós encontramos,
existe uma partícula correspondente de antimatéria ou uma
antipartícula.
• A emissão do pósitron no decaimento β+ é sempre
acompanhada por radiação de aniquilação.
• A aniquilação de pares ocorre quando uma partícula encontra
a sua antipartícula e, na interação, desaparecem, produzindo
radiação eletromagnética.

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Captura de elétrons (CE)
• Se o núcleo tem poucos nêutrons em relação a prótons, mas
não tem energia disponível para a produção do pósitron
(<1,022 MeV), o núcleo original (núcleo pai) pode capturar um
de seus próprios elétrons, em geral da camada K, e emitir um
neutrino.

CE só ocorre se a massa atômica do átomo neutro original é maior


que a massa do átomo neutro final.
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Captura de elétrons (CE)

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Radiação gama
Após a emissão de uma partícula  ou  o núcleo
resultante desse processo, ainda com excesso de energia,
procura estabilizar-se, emitindo esse excesso em forma
de onda eletromagnética, da mesma natureza da luz,
denominada radiação gama ().

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Radiação gama

19
Radiação gama

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Esquema de decaimento radioativo para 74As, ilustrando
processos concorrentes de emissão de elétrons, por emissão de
pósitrons e captura de elétrons

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Conversão interna
Energia de excitação do núcleo, que deveria ser emitida como radiação gama,
pode ser transferida diretamente para um elétron orbital que é ejetado do átomo
com uma energia dada pela diferença entre a energia de excitação EEx do núcleo e
a energia de ligação do elétron na eletrosfera EB:
Nesse caso, o elétron ejeitado
deixa o buraco. Preenchimento
desse buraco por outros elétrons
resulta em produção de raios-X
característicos do material.
O 137Cs, o 109Cd e o 207Bi são
exemplos de fontes de
elétrons de conversão.

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Raios X característicos

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Elétrons Auger
• Embora a energia liberada na transição dos elétrons de níveis
mais energéticos para níveis menos energéticos ocorra às vezes
na forma de um fóton de raio X característico, essa energia
pode também ser transferida diretamente a outro elétron
orbital, que pode então ser ejetado do átomo, sem haver
emissão do fóton. Quando isso ocorre, os elétrons ejetados são
denominados de elétrons Auger.

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Elétrons Auger

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ESPECTROS DE ENERGIA
• A quantidade de energia cinética liberada nos processos de
decaimento é sempre correspondente a diferença de massa
entre o núcleo pai e os produtos gerados, ou seja, a massa do
núcleo inicial menos os produtos finais (partículas emitidas e
núcleo filho), vezes 𝑐 2 .

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Espectro de emissão alfa
Devido às leis de conservação de energia e momento, no caso da
emissão alfa, podemos demonstrar que a energia cinética total
será dividida de modo que cada produto (núcleo filho e He-4) irá
receber uma quantia inversamente proporcional a sua massa.
• Lembre-se que K = p2/2m.
Sendo assim, a partícula alfa ficará com
• K= (A-4)/A∙ K núcleo filho

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Espectro de emissão alfa
As partículas alfa são emitidas sempre com um espectro discreto,
isto é, as energias emitidas possuem sempre valores
determinados.

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Espectro de emissão alfa

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Espectro de emissão beta
• No decaimento -, como a massa do elétron é desprezível em
relação à massa do núcleo filho, toda a energia liberada poderá
ser recebida pelo elétron.
• Porém como já sabemos, há também a emissão de um anti-
neutrino.
• O elétron carregará uma fração da energia da reação (Q) que
foi liberada; o restante será carregado pelo anti-neutrino.

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Espectro de emissão beta
A probabilidade do e- receber toda a energia liberada ou não
receber nada é bem pequena.
O valor mais provável de energia recebida é cerca de 1/3 da
energia máxima liberada.

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Espectro de emissão de pósitrons
A energia máxima que um pósitron poderá receber
corresponde energia liberada (da diferença de massa)
menos 1,022 MeV, que é gasta para a produção do
pósitron

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Espectro de emissão de CE
• No caso da CE só há a emissão de um neutrino. Sendo assim, toda a
energia disponível irá para essa partícula, e seu espectro será discreto.

Detector de
neutrinos Super-
Kamiokande
Japão 33
Leis de decaimento radioativo

Radioatividade é uma propriedade dos núcleos dos átomos. É um processo estocástico.


Não se pode adivinhar o momento em que um determinado núcleo irá emitir radiação.

Entretanto, em um grupo de N átomos, podemos esperar um certo número de


emissões ou transformações em cada segundo.

A probabilidade de decaimento por unidade de tempo é constante, e denominada 𝜆,


chamada constante de decaimento. Essa constante é uma característica dos nuclídeos
radioativos: cada um, em geral, tem 𝜆 diferente!

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𝑁 𝑡
𝑑𝑁 𝑑𝑁 𝑑𝑁
− = 𝜆𝑁 = −𝜆𝑑𝑡 ; = −𝜆 𝑑𝑡 ; ln 𝑁 |𝑁
𝑁0 = −𝜆𝑡
𝑑𝑡 𝑁 𝑁
𝑁0 0

𝑁(𝑡) = 𝑁0 𝑒 −𝜆𝑡 onde 𝑁0 é a quantidade dos núcleos radiativos no instante 𝑡 = 0.

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O número de transformações radioativas que ocorrem em um segundo (taxa de transformações),
é denominado como ATIVIDADE de amostra (A).

𝑑𝑁
𝐴=
𝑑𝑡

𝑑𝑁
= 𝜆𝑁 𝐴 = 𝐴0 𝑒 −𝜆𝑡 ; 𝐴0 = 𝜆𝑁0
𝑑𝑡

A unidade da grandeza de atividade é o bequerel (Bq):


Anteriormente a unidade de atividade era o curie (Ci).
1 Bq = 1 desintegração por segundo
1 Ci = 3,7 x 1010 Bq
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Meia Vida Física
A meia vida é definida
como o tempo
necessário para que
metade dos átomos
instáveis de uma
amostra decaiam.
A meia vida (t1/2) não
sofre interferências de
alterações químicas ou
físicas da amostra e
está relacionada à
constante de
decaimento radioativo.

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N  N 0 exp(  λt)
Tomando N=N0/2
N0
 N 0exp(λt 1 )
2 2

Aplicando ln em
ambos os lados

ln2  λt 1
2

ln2
Rearranjando: t1  Constante de
2 λ decaimento
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O mesmo cálculo com a atividade:

A0
 A0. e -T1/2 1
 e -T1/2 1
 ln    ln e-T1/2

2 2 2
0,693
0,693  . T1/2  T1/2 

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Meia-vida (T1/2)

Atividade inicial A0

1 meia-vida: A0/2 = A0/21


2 meias-vidas: (A0/2)(1/2) = A0/4 = A0/22
3 meias-vidas: (A0/2)(1/2)(1/2) = A0/8 = A0/23

assim, decorridas n meias-vidas

n meias vidas: A0/2n

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Exemplo: átomo pai com
Meia vida = 1 bilhão de anos

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A meia-vida física do I-131 usado
em exames da tireóide é de 8 dias
Decorridos 8 dias,
a atividade
ingerida pelo
paciente será
reduzida à metade.
Passados mais 8
dias, cairá à
metade desse
valor, ou seja, ¼
da atividade inicial
e assim
sucessivamente.
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EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
 Sabendo que a meia vida física do I-125 é 60 dias,
qual é a sua constante de desintegração ()? Após
passar o tempo de uma meia vida, qual é o
percentual de radioatividade restante?
T1/2 = ln2/
 = ln2/T1/2 =
= 0,693/60 dia = 0,01155 dia-1

Ora, se passou 1 meia-vida, resta 50% da


radioatividade inicial!

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Dose Absorvida (D)
Dose nos diz quanta energia Δ𝐸 foi absorvida pela quantidade da matéria de
massa Δ𝑚.
D = ∆E/∆m = [J/kg] = Gy

O dano causado pela radiação depende da energia da radiação que é


absorvida pelo tecido. Por isso, a grandeza dose absorvida é muito
importante em proteção radiológica.

Esta grandeza é aplicável a todos os tipos de radiações ionizantes.

• A unidade atual desta grandeza é o gray (Gy):


1 Gy = 1 J/kg.

• Anteriormente, a dose absorvida era expressa em rad (radiation absorbed


dose).
1 rad = 0,01 J/kg ou 10 mGy. 44

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