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Relato de Campo

Visita à Anglo American em Conceição do Mato Dentro

Ana Clara Oliveira Magalhães (20191051001), Felipe Andrade Costa (20201051003) &
Samuel de Oliveira Freitas (20192051006)

No dia 19 de agosto de 2022, a turma de Prospecção Geológica do semestre letivo


2021/2 (Engenharia Geológica – UFVJM) realizou uma visita técnica à mina a céu aberto
operada pela Anglo American em Conceição do Mato Dentro – MG (Fig. 1). Conhecida como
Minas-Rio, o empreendimento é uma operação de exportação de minério de ferro totalmente
integrada, com a mina, planta de beneficiamento, mineroduto de 529 km e instalação de
exportação dedicada no Porto do Açu, no Rio de Janeiro.

Figura 1 – Operação Minas-Rio, com mina e planta de beneficiamento em Conceição do


Mato Dentro

Fonte: Google Earth

A Anglo American é uma das maiores empresas de mineração do mundo, possuindo


grande variedade de recursos minerais explorados, em diferentes países. A empresa iniciou com
mina de ouro na África do Sul. No Brasil, a Anglo atua desde 1973 e hoje possui quatro
unidades em três estados, Goiás, Rio de Janeiro e Minas Gerais, sendo esse último o carro chefe
da empresa, onde é explorado o minério de ferro (IBNBIO, 2021).
O minério de ferro, de acordo com Caixito & Dias (2018), é muito importante para
o desenvolvimento industrial da nação, visto que é essencial para indústria do aço. Quase 100%
de todo o minério de ferro extraído é utilizado nesse setor. Apesar de ser um dos elementos
mais abundantes da Terra, apenas 4% da crosta superior é composta pelo elemento. O ferro
nativo é raro na natureza, mas existem aproximadamente 300 minerais que possuem o elemento
como componente essências. Desses, apenas os óxidos têm concentrações suficientes para
serem chamados de minério, principalmente a magnetita (Fe3O4) e a hematita (Fe2O3)
(CAIXITO; DIAS, 2018).
Na região de Conceição do Mato Dentro, o minério de ferro está essencialmente
hospedado em formações ferríferas bandadas (FFB) do tipo Lago Superior do Grupo Serra da
Serpentina, no contexto da Serra do Espinhaço Meridional. Segundo Rolim (2016), o Grupo
Serra da Serpentina tem idade máxima de deposição Orosiriana, e foi depositado em uma bacia
intracratônica sem atividade tectônica sindeposicional. É subdividido, da base para o topo, em
duas formações: Formação Meloso, constituída por metapelitos, e Formação Serra do Sapo,
onde se encontram as FFB, além de metadolomitos. Os três principais corpos de FFB na região
são o da Serra do Sapo, o da Serra da Serpentina e o de Morro do Pilar (CAIXITO; DIAS,
2018), e a Anglo American opera nos dois primeiros.
As FFB são rochas sedimentares ou metassedimentares químicas, laminadas a
bandadas por alternância de minerais ricos em ferro e ricos em sílica, que têm como principal
característica o conteúdo anômalo de ferro, geralmente com teores acima de 15%. O teor médio
de ferro das FFB de Conceição do Mato Dentro se situa entre 30 e 35% (ROLIM, 2016). Na
mina, são exploradas as rochas compactas, com teor aproximado de 33%, a rocha friável, com
teor médio de 37% e, eventualmente, porções com hematita especularita, cujo teor pode atingir
até 67% de ferro. Dessa forma, é feito um blend para chegar no teor de cerca de 40% almejado
pela empresa.
Rolim (2016) afirma que dois tipos de enriquecimento foram responsáveis pelo
enriquecimento em ferro das FFB da região: um enriquecimento supergênico, evidenciado pela
forte tendência das FFB serem mais ricas em ferro quando mais intemperizadas e próximas da
superfície, e um enriquecimento (possivelmente hidrotermal) que gera os corpos hematíticos
citados anteriormente, com teores de ferro acima de 60%.
A visita propriamente dita começou em um espaço de educação informal, chamado
Estação Ciência. A Estação Ciência possui vários ambientes destinados a promover a educação,
principalmente ambiental, para a comunidade de Conceição de Mato Dentro, onde a mina está
localizada, e região.
O primeiro ambiente que se destaca, logo na entrada da estação, é o jardim de
Campo Rupestre, uma pequena representação da flora da região. Ao lado, está localizado o
viveiro de mudas, exibindo uma variedade de espécies nativas (Fig. 2), que são usadas no
reflorestamento de minas que já foram desativadas e precisam, por lei, ser recuperadas.

Figura 2 – Algumas espécies nativas da região, cultivadas no viveiro de mudas da Anglo


American

Fonte: Acervo pessoal

Também próximo à entrada da Estação Ciência está a sala de monitoramento


ambiental da mina. Nela são realizadas duas investigações: monitoramento de ruído e da
qualidade do ar. O monitoramento de ruído recebe dados em tempo real do som em volta do
empreendimento, com o objetivo de prevenir o desconforto da comunidade do entorno
proveniente de altos ruídos da mineração. O monitoramento de qualidade do ar trabalha com os
limites estabelecidos pela Resolução 491/2018 do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA) para a quantidade de partículas totais em suspensão (PTS), material particulado
menor do que 10 micrômetros (MP10) e material particulado menor do que 2,5 micrômetros
(MP2,5) suspensas no ar.
A sala que foi visitada em seguida foi a sala de Exposição da Paisagem Natural. Na
sua entrada, ela exibe uma tela interativa, mostrando pontos de interesse da região, como um
mapa de cavernas e outros patrimônios naturais e culturais. Na tela também foi possível
conhecer os diferentes empreendimentos da Anglo American ao redor do mundo, além da sua
sede localizada no Reino Unido. No Brasil, a Anglo possui minas em Niquelândia e Barro Alto,
além do complexo da região de Serro e Conceição do Mato Dentro. Seguindo pela sala, a
próxima seção é dedicada à geologia (Fig. 3A) e geologia regional (Fig. 3B), detalhada
anteriormente, com uma série de amostras e testemunhos de sondagens/amostras das litologias
presentes na área, dando foco para as diferentes formas de ocorrência do minério de ferro que
é extraído pela Anglo nessa região.

Figura 3 – Espaço dedicado à Geologia na sala de Exposição da Paisagem Natural

Legenda: (A) Demonstração da história da Terra; (B) Coluna estratigráfica da mina, desde o embasamento
gnáissico até a crosta laterítica superficial, que muitas vezes é enriquecida com ferro.
Fonte: Acervo pessoal

A última parte da visita à Estação Ciência deu-se na sala de Exposição do


Patrimônio Cultural. Essa sala possui um foco nos acontecimentos históricos da região de Serro
e Conceição do Mato Dentro, desde a época colonial, a descoberta das mineralizações, até o
presente. Além da parte histórica, também são tratadas as questões culturais, os saberes e
fazeres do povo das comunidades locais e até mesmo uma réplica de uma típica cozinha do
interior do Vale do Jequitinhonha.
Deixando a Estação Ciência, a visita encaminhou-se para um mirante onde pôde ser
observado o circuito de tratamento do minério (Fig. 4). O procedimento é dividido em duas
etapas principais: o circuito úmido e o circuito seco. O circuito seco corresponde a etapa de
adequação da granulometria, através várias fases de peneiramento e britagem do material
coletado. Depois dessa adequação, é iniciado o circuito úmido, onde há adição de água e mais
fragmentação desse minério em partículas menores, até atingir a granulometria esperada.
Depois, há retirada de material muito fino, pois ele atrapalha a etapa seguinte, que seria o
processo de flotação, onde separa-se a sílica do ferro. Ainda há mais um ajuste na granulometria
e a realização do blend. Nesse momento também é feito um controle da abrasividade das
partículas para evitar acidentes no mineroduto. Logo após, esse material é lançado em
reservatórios e posteriormente é bombeamento através do mineroduto por 529 km até o porto
no Rio de Janeiro. Nesse local é feita a filtração, retirando a água do produto e embarcando o
material final em navios para sua utilização. Todos os processos são realizados de acordo com
a legislação.

Figura 4 – Planta de beneficiamento da Anglo American

Fonte: Anglo American


Também existe um sítio arqueológico dentro da área de mineração: o Sítio
Arqueológico Abrigo da Usina/Lapa do Fogão. Essa porção é totalmente preservada de acordo
com a regulamentação federal. O sítio arqueológico exibe pinturas rupestres do tipo Tradição
Planalto. Um ponto de interesse dentro do sítio arqueológico é a Lapa do Fogão, onde um
eremita foi encontrado na época que o empreendimento minerário estava sendo estabelecido.
O último ponto de visitação foi um segundo mirante, de onde é possível ter uma
vista da Mina do Sapo (Fig. 5), seção que possui 12 km de extensão. A mina possui 5 frentes
de lavras. Como mencionado anteriormente, o minério extraído possui diferentes teores de
ferro, por isso a mina possui locais onde é misturado todos esses materiais para atingir o teor
solicitado pelo comprador. O desmonte do material é feito por escavadeira ou por explosivos,
dependendo do tipo de rocha, se é mais ou menos friável. O material é transportado pela mina
até o britador, por caminhão fora de estrada com carga média de 250 toneladas, onde ele segue
para as etapas explicadas no primeiro mirante.

Figura 5 – Mina do Sapo

Fonte: Acervo pessoal


A visita possibilitou observar o funcionamento de uma grande empresa minerária,
tanto nas formas de operação, beneficiamento e extração, além dos conceitos ambientais,
históricos e sociais, que estão sempre presentes e recebem uma atenção especial – ou pelo
menos deveriam – nesses empreendimentos próximos a centros urbanos. Além disso, a Anglo
American possui todo um preparo para receber visitantes. Os funcionários são muito receptivos
e educados, o que tornou a visita muito mais dinâmica e muito agradável. Também se
mostraram bem preparados nas questões levantadas, o que facilitou no entendimento de todo o
funcionamento da mina. Assim sendo, a visita foi uma experiência enriquecedora e bastante
produtiva, principalmente porque foi possível ver na prática conceitos abordados em sala de
aula.

REFERÊNCIAS

ANGLO AMERICAN. Onde operamos. Disponível em: <


https://brasil.angloamerican.com/pt-pt/quem-somos/onde-operamos>. Acesso em: 21 ago.
2022.
IBNBIO. Anglo American. Iniciativa Brasileira de Negócios e Biodiversidade, 2021.
Disponível em: < https://cebds.org/ibnbio/empresa/anglo-american/>. Acesso em: 21 ago.
2022.

CAIXITO, F.; DIAS, T. G. Ferro. Recursos Minerais de Minas Gerais, 2018. Disponível
em: < http://recursomineralmg.codemge.com.br/substancias-
minerais/ferro/#:~:text=%C3%89%20um%20dos%20mais%20importantes,de%20ferro%2Dli
ga%20e%20cimentos.>. Acesso em: 21 ago. 2022.

ROLIM, V. K. As formações ferríferas da região de Conceição do Mato Dentro – MG:


posicionamento estratigráfico, evolução tectônica, geocronologia, características
geoquímicas e gênese dos minérios. 243 f. Tese (Doutorado em Geologia Econômica e
Aplicada) – Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Geociências, 2016.

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