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TERRAS DE PRETO, TERRAS DE SANTO, TERRAS DE {INDIO —Uso.COMUM E CONFLITO ‘Alfredo Wagner Berno de Almeida” 1, SISTEMAS DE USO COMUM NA ESTRUTURA AGRARIA a terra] Anali- ‘ole dos recur: vidualments por um determi: nado grupo doméstico de pequenos produtores diretos ou por um de seus membros! Tal controle se dé através de normas especificas institutfdas_para_além do cédigo legal catadas, de ma- nei sensual, nos meandros das relage tabele _fnitre varios grupos familiares, que compéem uma unidade social, Tanto podem expressar um acesso estével & terra, como ocorre em éreas de colonizaggo antiga, quando evidenciam formas rela- tivamente transitérias intrinsecas as regides de ocupagao recente. __ A atualizagdo destas normas ocorre em territérios préprios, cujas delimitacdes so socialmente reconhecidas, inclusive pelos [eircundantes. A territorialidade funcio 10 fator de 80, defesa e forga. {Lagos soliddrios e de ajuda mitua infor um conjunto de regras firmadas sobre uma base fisica considera- ‘ga comum, essencial e inaliendvel, néo obstante disposigdes suces- ‘sérias, porventura existentes. De mansira genérica estas extensbes sf0_representadas por seus ocupantes e por aqueles de dreas linde Lras sob a acepego corrente de terra comum. Codi I A O presente trabsiho trate-se de uma versio amoliada © com modifieaces. de ordem conceitual, sobretudo pela critica exercida 4 nopdo anterior ‘mente utilizada de posse comunal, do artigo intitulado “"Terras de Preto, Terras de Santo, Terras dg Indio: posse comunal e conflito”, publicado nna Revista Humanidades n° 16, Brasilia, UnB, 1988, pp. 42-49. Por seus designios peculiares, 0 acesso a terra para o exerc/- cio das atividades produtivas, se dé no. apenas através das trad cionais estruturas intermedidrias da familia, dos grupos de paren- tes, do povoado ou de aldeia, mas também’ por um certo grau de coesdo e solidariedade obtido face a antagonistas ¢ em situagdes de extrema adversidade, que reforcam politicamente as redes de rela- 952s sociais. A nao ser que existam relagGes de consangiinidade, estreitos lacos de vizinhanca @ afinidade ou rituais de admissdo, que assegurem a subordinacdo de novos membros as regras que diseiplinam as formas de posse e uso da terra, ternse interditado 0 -acess0 aos recursos bésicos. A limitagdo da forca imperativa destas normas a diferentes territorios descont/nuos e dispersos geograficamente, com funda- mentos hist6ricos e etnolégicos os mais diversos, chama a atenoo para[possivels invariantes poextensivos ao constante significado de terra comum, Mais sé0 dados a conhecer ao se privilegiar a territo- lidade_como_unidade de recorte, desdobrando-se uma multipli- ‘cidade de categorias co-irmas, tais como terras de parente, terras com 0 objetivo de proce- ;processos sociais inseparavel- mente vinculados @ estas normas @ aos grupos que as promulgam ¢ acatam. ‘1.1- NogGes pré-concebidas: desconhecimento e irrelevancia Os sistemas de usufruto comum da terra por colidirem fia- grantemente com as disposigdes juridicas vigentes @ com o senso comum de interpretagdes econdmicas oficiosas e jé cristalizadas, @ despsito de factualmente percebidos, jamais foram objeto de qualquer inventariamento. As extensdes que Ihes correspondem nunca foram catalogadas, quantificadas ou sujeitas as técnicas dos métodos estatisticos e de cadastramento de iméveis adotadas pelos 6raios de planejamento da intervenedo governamental na érea ru- ral. Prevalece a inexisténcia de quaiquer “interesse prético” para examinar € compreender estes sistemas tidos como ‘ obsoletos”. Representariam, sob este prisma, anacronismos mais préprios de 165 rénicas histéricas, de documentos embolorados de arquivos, de verbetes dos dicionérios de folclore e de ceriménies. religiosas e festas tradicionais. So vistos como uma recriago intelectual de etndgrafos, que incorrem na reedigao de antigos mitos ou, quem sabe, numa idealizacdo dos politicos de aco localizada suposta: ‘mente empenhados no reavivamento de utopias caras ao ideério populista. ‘As manifestagSes daqueles sistemas so, entretanto, empiri- camente detectéveis por um conjunto finito de especialistas. Tem sido registradas por pesquisadores e cientistas sociais, que desen- volver trabalhos de campo e de observagdo direta, por técnicos de 6raos governamentais que realizam vistorias de iméveis rurais © verificagées in loco de ocorréncia de conflitos agrérios, assim co- mo por integrantes de entidades confessionais e voluntérias de apoio aos movimentos dos trabalhadores rurais, que executam a vidades andlogas. ituacso adotada_no recenseamento, sem qualquer referencia a sua dimen- $80, a8 areas geogréfi ificam, 8 relevéncia de sua rodueso @ ac edu x fo apenas a propriedade © a ambém suas formas derivadas, parecem se dil 25,a0 $e omititem_na_interpretacdo.. des_modalidades “de_uso_comum_da terra, fundam-se, no mais das vezes, em_nogSes deterministas para expor o que classificam Como sua absolute irrelevancia. Consideram que se trata de for mas_atrasadas, inexoravelmente condenadas 20 desaparecimen- to, ou meros vest/gios do pasado, puramente medievais, que 166 cbritinuam fa recair sobre 08 ‘camponeses, subjugando-os. Neste er foque, referem-se as terras de uso comum e a este estrato da cama- da. camponesa. que Ihes corresponde, como formas residuais ou ‘sobrevivéncias”” de um modo de produgio desaparecido, configu: radas em institui¢6es anacrOnicas que imobilizam aquelas terras, impedindo que sejam colocadas no mercado e transacionadas livre- mente, Fatores étnicos, a légica da endogamia e do casamento-pre- ferencial,/as_regras de sucesso e demais praceitos. que porventura indivisibilidade do patriménio daquelas.unidades s0 dividual ‘mento que permitam a individuos dispé-las as acdes de compra e venda, aqueles sistemas de uso comum da terra s4o entendidos co- mo imobilizando a terra, enquanto mercadoria no seu sentido ple- Mediante tais argumentos, as interpretacdes ortodoxas (1) delineiam um quadro de desintegragéo potencial daqueles sistemas, Porquanto fadados ao aniquilamento peio progresso social e pelo desenvolvimento das forcas produtives. Em sume, considera que ‘a expansfo capitalista no campo necessariamente libera aquelas terres a0 mercado e 8 apropriacdo individual provocando uma transformagao radical des estruturas que condicionam 0 seu uso. As anélises econdmicas assim elaboradas, soam, portanto, indife- rentes quaisquer des particularidades que caracterizam as formas de posse e uso comum da terra, visto que jamais constituem um ‘obstéculo insuperdvel ao desenvolvimento capitalista (2). 1.2- Questo imposta pelas mobilizagées camponesas eee Se como_objeto_necessario de _reflexdo. Com a intensificagéo das mobilizagées camponesas. 167 por uma reforma agréria ampla ¢ imediata, que teve um de seus pontos mais altos no IV Congresso Nacional dos Trabelhadores Rurais, realizado em Brastlia entre 15 e 30 de maio de 1985, ocasi- &o em que foi lancada pelo Mirad-Incra a Proposta ao | Plano de Reforma Agréria da Nova Repiblica, as suas reivindicagdes foram desdobradas e detalhadas pormenorizadamente, revelando a pré- pria fora politica adquirida pelo movimento social. Indmeras si- ‘tuagdes menosprezadas no perfodo ditatorial, passaram a represen- tar quest6es prioritérias , assim, colocades aos érados fundiérios Oficiais. Os sistemas de apossamento pré-existentes em éreas passi- vels de desapropriagdo e regularizacdo, j4 ocupadas por campone- ses, consistiam dentre muitos outros, num destes pontos (3), A partir daf estavam estabelecidas as pré-condigées para se colocar 0 cei bee or cnrtee eter aa air ene BERET quanto em areas de Te inal rae ara or Veleaia deride dalek rol aa das urgentes, de carter emergencial, que assegurassem a perma- nénela dos trabalhedores nestas terras. Isto porquanto a situaeso dominial geraimente indefinida e as dificuldades de reconstituiego das cadeias dominiais tornavam estas éreas preferencials & ago dos grileiros e de novos grupos interessados em adquirir vastas exten- s6es. Mais de uma centena’e meia de zonas criticas de tenséo e conflito social, registradas oficialmente no decorrer de 1985 e 1988, no Norte de Goiés, no Maranho, no Paré, no Ceard, na Bahia e no Sertéo de Pernambuco, referiam-se aquelas situacdes (4). Derivam, assim, das pressGes encetadas pelos trabalhadores rurais a instrugo preliminar de processos com vistas a desapro- priagdo de inimeros iméveis rurais e procedimentos técnicos de reconhecimento das. denominadas terras comum, como algumas medides que objetivevam aprimorar os dados do cadastro técni- co do Incra. Comecavam a ser criadas pols, as sua estat: ticas elementares a sua compreensio. Neste émbito, ul esforgo no sentido de um r sstematico destag extenses de uso. comum muito recente e data de julho de 1986, Trata-se do denominado Laudo Fundiério (LF), elaborado pelo Incra, que se. destina_a levantar informac&es sobre os iméveis rurais e seus deten- tores a qualquer titulo, parceiros e arrendatérios. Nas areas em que for aplicado o LF substituird integralmente a Declaragéo de Imé- is Rural — DP. Neste documento, as terras de uso comum rece- beram a denominagao_genérica de |“ocupacées especiais|’, abran- ‘gendo dentre outras, as chamadas terras di terras dos in. dios_{que_néo_devem ser confundidas com as terras indigenes), terras de negro, fundos de pasto e pastos comuns, também cogno- minados terras abertas, terras soltas e carnpos (6). Pode-se asseverar que as demandas sociais provocaram co- nhecimentos de realidades localizadas, mesmo que néo se possa confiar no rigor da aplicagao dos questionérios do. LF, nos proce- dimentos burocréticos de coligir os dados e nos resultados finais, que deverdo ser apurados em aproximadamente cinco anos. AS apreensies neste sentido, justificadamente, aumentam com a der- rocada geral da “reforma agréria da Nova Repiiblica'’, cuja pé de cal consistiu no decreto que estabelece limites de reas para os iméveis rurais a serem objeto de desapropriagéo por interesse so cial e que extingue o Incra, datado de 22 de outubro de 1987. Nao 6 possivel confundir, todavia, o tempo e o produto des ‘ages fundirias com as caracter'sticas peculiares aqueles sistemas de uso coum aqui referidos. Tais sistemas representam resultados de uma multiplicidade de solugdes engendradas historicamente por diferentes segmentos camponeses para assegurar 0 acesso a terra, notdamente em situagdes de conflito aberto. Para tanto foram sen- do erigidas normas de cardter consensual e consoantes crengas mé- gicas e religiosas, mecanismos ritutais e reciprocidades econémicas ositivas. A sua aceitagdo como leg{timas no pressupde qualquer tipo de imposi¢go. No constituem, portanto, resultado de injun- 9628 pelo uso da forca, da persuasio politica, religiosa ou do saber Tampouco consistem em projetos elaborados para camponeses, fora de seus marcos politicos e sociais intrinsecos, ou com campo- rneses, a partir de experiéncias de mobilizagéo apoiadas por organi- zagBes formais. 169 Procedendo-se esta clivagem pode-se entender, em certa medida, porque néo foram referidas ages implementadas pela Igreja Catélica e entidades confessionais que estimulam as chama- das “rogas comunitdrias” e as experiéncias de “‘coletivago no cam- po” (6). Também néo foram referidas os denominados projetos de assentamento “em forma de exploragao de tipo coletivo” levados a cabo por érafos fundiérios oficiais, tais como o Incra, no caso do Saco do Belém (7), no Ceard e 0 IAF, no caso de Piritube, em Séo Paulo (8) Outros esclarecimentos se colocam. As reflexes ora desen: volvides apoianr-se na literatura produzida por aquele, ja menci nado, conjunto finite de especis ,no_entanto, varia emgé: nero. Compreende artigos, ensaios, dissertacdes de mestrado e 3s académicos, bem como trabalhos de investigagdo histo- Bro imbito de fatal. Em suma, trata-se de di- ferentes modalidades iento baseadas em eventos empi- ricamente observaveis. O que caracteriza esta producdo intelecual e permite aproximé-la & a constatagéo de que af os referidos siste- mas so factualmente percebidos e parcialmente descritos mesmo que de maneira tangencial aos objetivos precipuos de cada um dos textos arrolados. Prepondera, nesta ordem, a produgéo antropolé- ica, resultado de trabalhos de campo realizados nos iltimos quin ze anos, secundada pela produgao dos técnicos dos orgfos oficiais de aco fundidria, fruto da observacdo direta e de verificagées o- ceais de conflitos, empreendidas entre junho de 1985 e dezembro de 1986. Cabe esclarecer que nesta producdo as terres de uso co- mum néo se constituiram em objetos de reflexdo destacados, sen- do to somente considerados no decorrer das anélises. Este deste- que rélativo adquire importancia, porque néo se pode entender a economia dos pequenos produrtores, dos casos em pauta, sem-levé- Jos em conta. Nas circunstancias de aplicacéo direta de conheci- mento como em se tratando dos relatérios alusivos as populagdes atingidas pela construcdo de barragens (Itapirica, Brumado - BA) ou de complexos militares (Centro de Langamento de Alcantara), impdem-se, contudo, como dados fundamentais, face as medidas 170 preconizadas de remopdo e reassentamento. Aliés os relat6rios cita- dos, sem exceego, dizem respeito a trabalhos de aco localizada fa- ce @ conflitos @ tens&es sociais, cujo grau de antagonismo pressu: pe medidas emergenciais, 2. USO COMUM NAS REGIOES DE COLONIZACAO AGRARIA 2.1. Fundamentos histéricos e descrig&o Os sisterias de uso comum nas regiGes de colonizaeSo antiga podem ser observados sob formas as mais variadas e com certos as- ectos fundamentais comuns, tanto de natureza histérica, quanto telativos ao tipo de agriculture desenvolvida, Tais aspectos bem os distinguem, em termos qualitativos, daquelas referenciais historicas geralmente acionades e concernentes as “sobrevivencias” e ‘vesti- gios feudais”, Contrariando as interpretagdes de cunho evolucio- nista, observa-se que antes mesmo daqueles sistemas mencionados terem suas bases assentadas em outros modos de produgo, como © escravismo ou o feudalismo, representam, em verdade, produtos de antagonismos e tensdes peculiares ao proprio desenvolvimento do capitalismo. Constituem-se, por outro lado, parad. mintantemente, em modalidades de apropriagdo da terra, que se desdobraram [margitaimente_20_ econdmico dominante: Emergiram, enquanto artitfcio de autodefesa e busca de alternati- va de diferentes segmentos camponeses, para assegurarem suas bes materials de existéncia, em conjunturas de crise econd- mica também cognominadas pelos historiadores de “decadéncia da grande lavoura’. Foram se constituindo em formas aproxima- das de corporagées territoriais, que se consolidaram, notadamen- ‘te em regides periféricas, meio a miiltiplos conflitos, num momen- ‘to de transiggo em que fica enfraquecido e debilitado o poderio do latifindio sobre populagées historicamente submissas (ind igenas, escravos e agregados), Tornaram-se formas estaveis de acesso e manutengiio da ter- fa, que foram essimiladas, sobretudo, nas relagdes de circulagdo, rribufram-se desigual ¢ descontinuamente por indmeras regides 171 geogréficas sem guardar necessariamente entre'si maiores vinculos, mas quase sempre cumprindo funcgo de abastecimento de géneros. alimenticios (farinha, arroz, feijdo) aos aglomerados urbanos regio nais. Vale esclarecer, todavia, que se hé um sem nGmero de situa- Ses em que a disfuncionalidade explica ancia_ para com_as formas de uso comum, existem, por outro lado, tentativas outas que conheceram medidas fortemente repressivas € completo ai quilamento,_notadament: das_em_m messidnicas ¢ de bandistimo social, No bojo desses movi ligiosos e de rebeldia, notadamente em fins do século XIX (9) primeiras décadas do século XX (10), ocorreram tentativas de esta- belecer novas formas de relagées sociais com a terra. Promulgaram que a terra deveria ser tomada como um bem comum, indivisivel e livre, cuja produgdo dela resultante seria apropriada comunal- ‘mente.’ Tanto no sertdo nordestino, quanto no Sul do pas tals mo- vimentos a0 conhecerem uma expanséo e desenvolverem 0 que & pregoavam, foram considerados como ameagando o sistema de po- der. Ao estimularem o livre acesso a terra, fora de éreas tidas como periféricas, contrastavam vivamente com os mecanismos coerciti vos adotados nas grandes propriedades, encerrando “grave ames: 2” que findou coibida pela forea das armas. Do mesmo modo foram duramente reprimidas, mas ndo ne- cessariamente aniquiladas em toda sua extensfo, aqueles tentativas de se estabeleceram territérios libertos, que ebsorviam, escravos evadidos das grandes fazendes de algodéo e cana-de-aciicar (11). Estas ultimas formas conheceram sua expresso maior com a mul- tiplicag4o de quilombos nos séculos XVIII © XIX, encravados em locais de dificil acesso, inclusive nas regiées de minerag#o aurife- ra. Lograram éxito, em indmeras situagées, na manutengfo de seus dominios. Os sistemas de uso comum podem ser lidos, neste sentido, como fenémenos fundados historicamente no processo de desagre- gagdo e decadéncia de plantations algodoeiras e de cana-de-acticar. i } epresentam| formas que emergiram da fragmentagdo das grandes. « >loragdes agricolas, baseadas na grande propriedade fundiria, 1a nonocultura e nos mecanismos de imobilizagao da forga de tra- batho (ecravidlo e poonagem ds dvds). Compreaidem stuacdes | em que os préprios proprietérios entregaram, doaram formalment Lou Pani pehe ron intent Jerrocada. Entenda-se que se tratavam de terras tituladas, j4 incorporadas formalmente ao mercado desde, pelo menos, a Lei n° 601, de 18 de setembro de 1850, a qual dispunha sobre a medi¢do, demarcagdo e venda das chamadas “'terras devolutas do Império"”. Em certa medida ocorre uma reversio numa tendéncia tida como ascensional de estabeleci- mento de dominios privados com valores monetérios fixados. J As flutaeées de preco dos produtos primérios no merca jional_provoceramn vas desorganizacBes_no_ sistema Drodutlvo das stances euploraedes soneeciions Recend da | aboliodo da escravature, que parece ndo servir como mar ional que tenhe favorecido estes sistemas de uso comum da terra, | reaistram-se_miltiplos casos de desmemt 02 desagregacac de_grandes propriedades fundidrias. Em termos econdmicos, o re- “Sultado mais imediato deste processo de dissolucéo, que se intensi ficou no final do século XIX em regides, cujes grandes exploragses ndo lograram introduzir inovecdes tecnolégicas ou adotar agricul- [turas comerciais assentadas em novas relagdes de trabalho; consis- tiu no afrouxamento dos macanismos repressores da forca de tra ‘balho_e na formacéo de um campesinato, congregando seamentos” de_trabalhadores_curais_que_viviam escravizados.ou imobi izados [Paquelas unidades produtivas. Em diferentes situagdes examinades, ‘Jeonforme se verificaré adiante, registra-se que este campesinato pés-plantation néo procedeu necesseriamer diviséo da ter- Lta_em parcelas individi rantia. A garantia da condi¢do de produtores ‘auténomos uma vez ausente o grande proprietario ou por demais debilitado 0 seu poder, conduzir a formas organizativas, sendo os ditames de uma cooperagdo ampliada e de formas de uso comum, da terra e dos recursos hidricos ¢ florestais. Tais formas se impus: fam_ndo_somente enquanto necessidade produtiva, jé que para abrir rocados e dominar reas de mata © spoeiras uma so tunidace familiar era insuficiente, mas, sobretudo, por razBes p. ticas e de autopreservaciio. Os sistemas de uso eomum tornerame essenciais para estreitar vinculos e forjar uma coeso capaz, de cer- ‘to modo, de garantir o livre acesso a terra frente a outros grupos: sociais mais poderosos e circunstancialmente afastados. Uma certa estabilidade territorial foi alcangada pelo desenvolvimento de insti tuigdes permanentes, com suas regras de-alianca e sucessdo, gravi ‘tando em torno do uso comum dos recursos basicos. Este Passado de solidariedade e unido intima é narrado como “herdico” pelos ‘Seus atuais ocupantes, mais de um século depois e também visto ‘como confirmago de uma regra a ser observada para continuarem @ manter seus dominios, Para_além da representacéo id valizada, destaca-se que estabeleceram uma gestéo econémica peculiar, ou seja,_ndo necessariamente com base em prineipios de Igualdade, mas consoante ferenciagSes_internas_é interesses, nem sempre. Ao contrério do que poderiam supor as anélises determinis- ‘2s verificase que hé formes de uso comum da terra, que consis. tem em processos sociais resuitantes de contradig6es do proprio desenvolvimento do capitalismo. A pertir destas é que foram har- monizados de maneira consolidada interesses de diferentes seqmen- tos camponeses. Assim, os mecanismos que nas formulagées orto- doxas deveriam‘atalmente destrui-los ou absorvé-los constituem, justamente, suas fontes e determinagées principais. Nao teria ocor- rido nestes casos uma transformagio em proletério do ex-escravo ¢ do camponés subjugados 2o latifindio. Verifica-se 0 acamponesa- mento do primeiro © uma redefinigSo de condigo do segundo, transformado, segundo expresso da literatura econdmica, em campesinato livre Estes segmentos de camponeses e seus descendentes pee ram @ se auto-representar e a designar suas extensdes segundo de- TRominagées especiticas atreladas ao sistema de uso comum. A no do _corrente de terra comum 6 acionada como elemento de ident dade indissociével do territ6rio ocupado e das reqras de apro} 9, idenciam, através de denominagdes espscifi cere cence aera slaves de denoninaties ape 74 terras de preto, terras de santo, tertas de Irmandade, terras de pa- rentes, terras de ausente, terras de heranca e patriménio. — As Terras de Preto Tal denominagéo compreende aqueles dom inios doados, en: treques ou adquiridos, com ou sem formalizac&o jurfdica, por fa- mflias de ex-escravos. Abarca também concessdes feitas pelo Esta do a tais familias, mediante & prestagdo de servicos guerreiros. Os descendentes destas familias permanecem nessas terras hé varias ‘gerages sem proceder ao formal de partilha, sem desmembré-las sem delas apoderarem individualmente. Além de detectéveis na Baixada Ocidental (12), nos Vales dos Rios Mearim (13), ltapecu- ru e Parnaiba (14), no Estado do Maranhio, e na zona limitrofe deste com o Piaui, so também observéveis no Amapé, na Bahia (15), no Paré, bem como, em antigas regides de exploragdo mine- ral de Sio Paulo e Minas Gerais, onde as agriculturas comerciais, rndo chegaram a se desenvolver de maneira plena. ‘Abrangida também nc situaces peculiares em que se detecta a presenga de descendent diretos de grandes proprietérios, sem grande poder de coercdo, dotando o aforamento, ou seja, mantendo_fam/lias de ex-escravos e_seus_descendentes_numa condicdo_designade como de foreiros, sem qualsquer obrigagdes maiores, possibilitando, inclusive, uma coexisténcia de formas de uso comum com a cobranca simbélica de foro incidindo sobre parcelas por familia, visando néo deixar diividas sobre seu cardter privado. Os valores estipulados para pa- gamento s€o geralmente tidos como irris6rios e os proprios cam- Poneses terminam por defini-los como “simples agrado” (18). Observa'se ainda que nestas regides as agriculturas comerciais (ca- cau, café, algodéo, cana-de-agécar) néo foram desenvolvidas.. la denominae&o encontram-se algunas ndentes A expresso terra de preto alcanga também aqueles domi- nios ou extenséies correspondentes 4 antigos quilombos e areas de alforriados nas cercanias de antigos néicleos de mineracdo, que permaneceram em lisolamento relativo} mantendo regras de uma - (19). ; concepedo de direito, que! orientavam uma apropriaggo : a comum, dos recursos. Registrados em regides do Tocantins Goiano (17) © da Serra Geral (18) no Norte de Goids, no Vale do Maracassumé, no Maranhéo; e nas antigas dreas mineradoras de Goiés e So Paulo Sublinhe-se que hé ainda as denominadas terras de pheto que foram conquistadas por prestagio de servicos guerreiros ao Estado, Notadamente na guerra da Balaiada (1838-41). A incorporagdo mi. Vitar de escravos evadidos, que atuavam como “bandos armados” foi negociada ¢ pagamento consistiu em alforria e entrega de ter, fas ao “‘chefe dos bandos”. A evocagio deste mesmo ancestral co- mum, tem reforcado, durante século e meio, os lacos solidérios do grupo e certas regras de uso comum, mesmo apds 0 assentamento Bromovido pelo Inera-MA, nos anos 1876-77, em Saco des Almas Estas vias de acesso a terfa (21) ocorrem, pois, cor - | arsgacfo da plantation ou fore de seus limiter errtee aust as, | to relativamente desativados os mecanismos de repr a forca | de.trabelho. Nao correspondem precisamente és situacdes abran: das pela nogdo de “protocampesinato escravo”, isto. &, “as ativide- | rel fools ténomas dos escravos nas parcelas e no. tempo para cultivé-las, que Ihes eram concedidos der 2 plantation” - | D080, 19871 224) (g.n.) (22). Vp Se «Fk —As Terras de Santo Para efeito de ilustragdo e com vistas a uma primeira tentati- va de apreender o significado da expresso terra de santo, pode-se dizer que ela se refere a desagregagao de extensos dominios terri- toriais pertencentes a Igreja. A desorganizagéo das fazendas de al- ‘godo, a partir da segunda década do século XIX, levou, por exem- Plo, no Maranhgo, a que imensas extens6es exploradas por ordens religiosas (jesuitas e depois carmelitas) fossem abandonadas ou et ‘trogues a moradores, agregados e indios destribalizados e submeti dos a uma condigéio de acamponesamento, que ali jd cultivavam. Nesses dom/nios, a molde de outros com fundamentos hist6ricos rox ram a prevalecer formas de uso comum, mesmo seen noicados eleskestics terem inteferido e entfegue for Taimente estas terras & administragao do Estado, em finais do século XIX. Consoante o santo padroeiro destas fazendas, foram sendo adotadas denominagdes proprias, que recobriam seus limites She conferiam unidade territorial, Assim terse as terra de Senta, Tereza, de Santana e de Sfo Raimundo (23). Alids, neste particu. lar, néo, ‘terras de preto, que tem como de- igh ias denominagées de entidades religio- itonio dos Pretos, S40 Cristo- 0 Miguel etc. Nas chamadas ter- vce santo, entretanto,_as formas de uso comum coexister, a0 nivel da imaginagao_dos moradores, cc juridica de fato_destes domi proprietario leaitimo, a despe fc pelo eddigo da sociedade nacional (22 Sobressaem nestas unidades sociais os denominados encarre: | gados ou Tiderangas do grupo que terlam basicamente funeées vin. | culadas a0 ciclo de festas e a0 cerimonial religioso. Além de admi istrare ‘do santo, arrecadando um pagamento simbélico | nistrarem_o do eca n tentre es familias de moradores, geralmente denaminado /oia (PRA. 10, 1875 Ibid), mantém a coesto do grupo acionando rituals de | devogso. ‘As denominadas terras de santo tém sido detectadas tam- bém nes regides de grandes exploragdes de cana-de-agticar da Zone da Mata pernambucana, cujas unidades produtivas se moderniza- ram em fins do século XIX com o advento dos engenhos centrais @ das usinas. Nesta situagdes encontram se areladas a Uma nogio ‘abrange extensdes de terras disponiveis e abertas 4 pequena Freduglo om contraposicéo a grandes propriedades fundisrias ‘undantes. Nem sempre abrigam formas de uso comum da terra ‘¢ responder também pela denorninaggo de Patriménig abranger do, no mais das vezes, povoados camponeses encravados dentro de ‘grandes propriedades, que permanentemente ameagam intrusar seus dominios (25). ‘Anneséo de patriménio do santo remete ainda as regides de 17 expansdo da frente pecuria no sertdo nordestino, onde os campos aguada so mantidos sob regras de uso comum (26) -Remete também a ambigilidades que envolvem as chamadas [[tertas da _Igreja]’, como no caso do patriménio de Nossa Senhora a Conceigdo no Municipio de Benevides, Paré. Inicialmente as au toridades diocesanas recebiam dos camponeses, que cultivavam as terras do patriménio, contribuicées anuais definidas como “ren da’. Em meados de 1983, entretanto, os. camponeses recusaram aceitar ums elevacéo do preco da “‘renda”, consoante a legislacgo, Alegaram que a “terra era da santa’ e no das autoridades eclesiés ticas. A chamada ‘‘renda”” era vivida como simbélica, correspon: dendo a doagdes voluntérias e nao necessariamente pré-fixadas. As denominadas|ferras dé Irmandadé|constituem uma vari- ante dessas formas de apossamento em antigos dom{nios de ordens religiosas. Foram observadas também no Estado do Rio de Janeiro, com referéncia 20s confrontos e tens6es verificadas na area conhe- cida como Séo José da Boa Morte (27). ~ As Terras dos Indios Compreendem domit que: entregu malmente 2 grupos ind/genas ou seus remanescentes, na sequnda metade do século passado e principios deste, sob a forma de doa- Go ou concessio por servigos prestados ao trades pioneiras, colaboragéo com expedig&es militares de desbra- vamento @ outros servicos realizados em obras piiblicas explicam tais atos de consentimento. As titulacBes, entretanto, referem-se, muitas vezes, a tratos individuais, tendo sido concedidas a apenas determinado grupo de fam{lias. Destaque-se que praticas adminis- tratives semelhantes, 20 longo do tempo, tém nutrido tensdes i ternas de dificil conciliago mesmo em éreas oficialmente classifi- cadias como terras ind{genas (28), como sucede com os Potiguara da regio denominada “extinta sesmaria dos indios de Monte-Mor” (LOBATO DE AZEVEDO, 1986: 241), na Parafba, a quem foram concedidos titulos de posses particulares pelo govern imperial entre 1867-69 (28). [Tanto no Nordeste, quanto em regiées do Sul, aqueles aru: pos alcancados pelas concessGes governamentais, a exemplo de ou: tros das reas de colonizagio antiga, conheceram um acelerado procésso de destribalizagso e de perda gradativa de identidade étni | cae passam, no momento atual, por um proceso de.acamponesa: mento, A despeito deste processo que implicou, inclusive, em per: “Ga da lingua e de outros itens de cultura, nota-se que seus descen- dentes diretos permanecem nestes dominios, contrapem-se as tentativas de intrusamento e continuam a denominé-los pela ex pressfo com que foram originalmente tratados pela legislacdo e tal como so designados localmente, ou seja, terra dos indios (30) ‘Mantém-se cultivando e habitando nestas areas, hé varias geracdes, sem qualquer ato de partilhe legal que autorize apropriagées indi viduais e desmembramentos. Correspondem a diversas extensies, localizadas no Vale do Pindaré (MA), no sertéo nordestino, com inimeros povoados e centenas de familias, que adotam 0 uso co mum dos recursos bésicos ¢ que também os denominam . de terra comum (PAULA ANDRADE, 1985 ibid). s dominios referidos nac ram entre as dreas. indfgenas reconhecides pela FUNAI @ nem seus ocupantes postu: lam tal, diferentemente de outros grupos, como os chamados Ta peta, no Ceard, E que nas situacdes enfocadas nao se red tentative do recriaoso da identidad terra, A manutengfo dos dominios nestes casos encontre-se assogu Tada de maneira plena, geragées apds geragdes. Isto, no obstante, possiveis tensGes existentes entre a apropriagao de tratos individu- ais e aquela das dreas de uso comum. Ha momentos em que 0 acir- ramento das tensdes internas ou de conflitos com os antagonistas tradicionais e externos levam os descendentes diretos.a exibirem documentos que créem comprobatério dos direitos outorgados a seus ancestrais. A eficdcia desta crenca ¢ julgada maior quando se defrontam com ameagas que julgam provenientes daqueles que a- dotam as normas legais vigentes. Nestes contextos, que tanto po- dem ser de estabelecer estratagernas para enfrentar grileiros, quan- to de decidir quem deve pagar para cultivar; tem-se reforcadas as regras que disciplinam a unidade social. Mecanismos de harmoni- 179 zagdo € equilibrio entre os interesses individualizadores © aqueles favoraveis a0 uso comum mantém uma certa coesdo, mobilizando- 08 constantemente, Ao contrério, percebe-se que dominios classifi cados oficialmente como areas indigenas (31), especialmente no Norceste, no dispéem de mecanismos para conciliar interesses e mesmo de adotar uma atitude consensual face aos instrumentos, que jé usurparam parte considerdvel das respectivas dress. Desse modo, os casos referidos diferem daquelas extensées identificadas, delimitadas ou demercadas legalmente que constitu- em as terras ind/genas. Com propésito de uma primeira abordagem podem ser aproximados daquelas situaedes de espdlios indivisos, posto que os titulos no foram revalidados com a morte do titular de direito e, ainda que tenha ocorrido 0 parcelamento, jamais fo- ram assim apropriadas passado pelo menos um século, Novamente esté-se diante de uma reversdo des medidas organizadoras do mer- cado de terras a partir da legislacdo de outubro de 1850. As titula- ges de posses particulares a partir da demarcac&o de parcelas in- dividuais, no obstante realizadas, néo conseguiram com que a ocupagao da terra fosse pautada pelos cdnones do direito civil. Pro- cedeu-se aos atos formais, entretanto os ocupantes, sem contesta- 962s significativas, engendraram suas préprias regras de poste e uso da terra. Guardaram zelosamente os t/tulos sem nunca revalidé-los (LOBATO DE AZEVEDO, ibid) contudo, e as préprias familias conhecidas como “dos herdeiros” (PAULA ANDRADE, ibid) tra- taram de diluir 0 planejado parcelamento na rotina das formas de uso comum. — As Terras de Heranga — t by sibs 4 zados quando da morte do titular de direito, a fim de transmit-Tos a seus herdeiros legitimos. As chamadas terras de preto e terras dos ~fnaios, igualmente tituladas, podem também responder por esta 180 designagdo em contextos que envolvem disputas pela legitimacéo jurfdiea dos dominios. Junto a elas constata-se ainds situagdes em ‘que a desagregacdo de grandes exploragées levou a uma condicdo de acamponesamento os descendentes diretos de families dos ou trora grandes proprietérios. Diferem marcadamente numa primeira geragio, posto que para os camponeses o titulo s6 se coloca como uma defesa de seus direitos de cultivo, contra direitos alegados por outros grupos sociais, que mantém com a terra uma relacso mer: cantil. Durante varias geragGes, que adensam a ocupacdo destes do- minios, além de serem estabelecidas formas peculiares de utilize eo da terra, que permitem classificd-las junto aquelas de uso co- mum, percebe-se que @ apropriacdo individual, em termos absolu tos, perde gradativamente sua forea num contexto em que os re cursos so por demais escassos, e que 0 grupo familiar néo pode prescindir de reciprocidades econdmicas. De maneira concomitan- te sdo adotadas medidas para contornar possiveis pressdes de natu reza demogréfica, dado que o estoque de terras se mantém perma- nente, @ para estimular 0 exercicio de atividades acessérias. Nao se constata a contratagso de terceiros e a forea de trabalho 6 com Posta exclusivamente por membros do grupo familiar. Tais situa 9628 manifestam-se em regides tradicionais de frente pecuéria no sertéo nordestino (32). A inexisténcia de formal de partilha, en- tretanto, € observada em quase todas as regides de colonizacdo an tiga do pais. A custédia dos documentos ¢ d pos familiares, que detém uma autori ‘tanto pode ser por atribut ancestrais comuns. Designadas como os "her deiros” (PAULA ANDRADE, ibid), tais fam/li ci bém como drbitros de quaisquer disputas, tals como" colo: af 0 novo rorado”, “a quem se concede a licenga de capoeira”, ‘quem deve pagar a renda” ou “quais os isentos de determinadas obrigagSes” etc. A eles competiria, pois, discernir na aplicagdo das normas, arbitrando contendas e atualizando regras. 181 Percebe-se também a ocorréncia de expressdes co-irmas, no caso destes espdlios. Trata-se das expressGes\terra de parent efar: ra de ausente| Esta ultima refere-se a casos em que foram realize dos autos de partilha sem que herdeiros, porém, tenham se apro- priado efetivamente das parcelas que Ihes foram legalmente desti- nadas, Estas extensdes acabam sendo consideradas liberadas ao cul- tivo pelos demais componentes do grupo familiar (33). — As Terras Sultas ou Abertas A utilizago de formas de uso comum nos dominios em que se_exercem atividedes pastoris parece ser uma prética por demais difundida_2m_todo_o sertdo nordestino, desde os primeios séculos_ ‘da frente pecuéria. ¢ em algumas regiGes da Amazénia, na Ilha de Maraj6, e no Sul do pais, no. 4 ¢. em Santa Catarina, No sertéo nordestino as grandes propriedades jamais foram cercades e mesmo seus limites, quase sempre imprecisos, sempre se confundiram ge- rando disputas entre seus proprietérios. Consoante os cédigos de Posturas municipais as aguadas eram de uso comum e o gado per. manecia sendo criado solto. Somente os rogados deveriam ser man- tidos com cercas para evitar fossem destruldos pelos rebanhos. A inexisténcia de cercas para o criatério levava a que reses de diferen- tes proprietérios se mantivessem juntas e aparentemente indiferen. iadas pelos campos (34). Os denominados faxinais da Regio Sul (35) podem ser a- Proximados destas formas, ressalvando-se que constituem exten. s6es delimitadas para o pastoreio a partir de acordo estabelecido pelos detentores dos titulos, em sua maior parte Pequenos proprie- térios. Os chamados pastos comuns ou campos da \\ha de Marajo (35), assim como os campos naturais da Baixada Maranhense (36) guardam maior proximidade com as regras da pecuaria exten siva do sertéo nordestino. Ai também o ato de apartar ou separar 0 gado_criado solto para ser entregue aos seus respectives dono: acontece antes da Invernada e recebe igualmentea denominaglo de partacio (38). Prevalecem nestas regidés expressbes como fundo de pasto, dreas comuns mais afastadas dos locais onde Se erauem es sedes das fazendas, ou terras soltes, isto € que no conhecmn Getta 182 mentos, cu campos ou pastos comuns ou abertos, de acordo com 0 Censo Agropecusrio da FIBGE (1980). Constata'se neste contexto uma outra nogéo jé verificada, quando se tratou das chamadas terras de santo, ou seja, patrimé- nio. Desdobra-se em significados diversos. A noco de patriménio da comunidade rural, empregada por SOUZA |ibid, 29), néo se confunde, por exemplo, com aquela concernente ao patrim6nio dos santos padroeiros (SOUZA, ibid, 22). Esta diltima se restringe as terras ¢ a0 gado doados por grandes proprietarios para a cons- trugio de templos religiosos. A outra, por sua vez, diz respeito a um conjunto de recursos essenciais — aguadas, fontes e pastagens = que, 2 despeito de estarem sob dominio privado e serem areas ti- tuladas encontram-se dispostas a uma apropriaggo comum. A no- 40 de patriménio da comunidade rural se sobrepée, pois, a uma estrutura fundiéria com base nos limites dos iméveis rurais, traga- dos a partir dos memoriais descritivos das escrituras e da érea fir- mada em titulo, Sob esta concepggo mesmo os pequenos proprie- ‘térios podem manter suas reses soltas jé que as regras asseguram a manutenego e a reprodugéo dos rebanhos de vastissimes redes de vizinhanga nos terrenos secos das caatingas. Quaisquer que sejam. seus detentores tém direitos assegurados, inclusive, a nivel formal polos cédigos de postura. A excerdo das serras frescas onde a la- voura é que continua sendo praticada no aberto. acesso a terra ndo estaria condicionado ao titulo de pro- priedade e hé casos em que mesmo os que aforam terras para cul- tivo mantém reses nestes pastos comuns (39). A inexisténcia de formal de partilha somada as freqiientes imprecis6es de limites e a alguns bols6es de terres pdblices, também alcancadas pelo uso co- mum, contribuiram para consolidar uma relaggo com os meios de produgdo, regulada baixo a coexisténcia de duas modalidades de a- Propriagdo: posse e uso comum e propriedade privada, atendendo basicamente as expectativas de reprodugdo de uma pecuéria exten- siva. Os cercamentos recentes destes pastos comuns e os repeticos casos de gado invadindo rocados, numa clara tentativa de afastar (5 pequenos produtores destes dominios, tem tornado estas areas (“autoriza seja semeado capim e prevaer reservas den 183 zonas criticas de conflito e tens&o social (40), Os pequenos produ- tores rurais que, tradicionalmente, néo tém sido os principais ben ficiados deste sistema de uso, atualmente tém sido compelidos a se afastarem dada a concentragdo de dominios por grandes proprieté- rios € novos grupos interessados na terra, cujos projetos de pecud- ria intensiva usufruem de incentivos fiscais e outros beneficios go- vernamentais. 3- USO COMUM NAS REGIOES DE OCUPACAO RECENTE 3.1. As Terras Libertas e os Centros Nas frentes de expansio (41), que avangam desigualmente na regidio amazénica, segmentos camponeses consideram a terra co- mo um bem néo sujeito & apropriaco individual em cardter perma- mente. O movimento de ocupacio adquire sua expresso mais con- cretas nos pequenos aglomerados que se véo formando préximo ‘aos novos locais de plantio que os camponeses, com o encapoeira- mento dos antigos rogados, estabelecem, sucessivamente, no inte- rior das extensdes de mata (42). Designados regionalmente como centros tais locais de moradia e trabalho, onde sfo abertos os no- vos rogados, constituem a ponta de langa das frentes de expansiio ‘0U 08 seus segmentos mais destacados de penetragdo (SANTOS, 1983: 23). Além da apropriagdo dos recursos bésicos néio ser per: manente no. so contiguos as terras que cade grupo familiar ex- plora.. ‘As families camponesas_que_acatam_tais regras ndo_com- pdem_um grupo de trabalho autolimitado, Seus integrantes,em. distintas_etapas do ciclo agricola, firmam miltiplas relages de. reciprocidade_com_outros_arupos domésticas. Algumas tarefas como 0 desmatamento e a colheita do arroz, requerem niveis es- pecificos de cooperagdo. A coincidéncia no tempo, das tapas do calendério agricola, aproxima diferentes grupos familiares fi- ‘Jxando padres de ajuda miitua. Interdita-se o chamadofcentro}a criagéo_de_animais, mantendo-se os rogados sem cercar. Nao sé fo ca Serva ta, Igarapés e 184 cocais, que ndo podem ser apropriados individualmente. De manei: ra concomitante so estabelecides érees de apropriag#o comum e definidos os critérios de admisso de novos grupos domésticos. A anuéncia ocorre pela concesséo das chamads licencas de capoeira, que possibilitam aos recém-admitidos se estabelecerem dispondo de condigées elementares. Somente as benfeitorias, produto do trabalho familiar, tornam-se objeto de virtuais transagdes. Seme- thante representagdo difere daquela prevalecente em dreas de colo rnizagZo antiga, onde se percebem familias camponesas dispostas de maneira durével numa extenséo de terra transmitida de geragdo em geraodo. Assim, nas regides de fronteira no se registra um pa triménio constante em terras e benfeitorias sujeito a fracionamen- toe tradicionalmente repassado de uma getagio a outra. Observa se uma caracteristica de ocupacéo efetivada por geracdes de um ‘campesinato expropriado, que jé procederam a continuos e inter mitentes deslocamentos do Nordeste até essas regides de terras dis on‘veis, designacas, por eles como terra liberta ou terra sem do- no. A abundancia do recurso basico, as préprias condigdes que de terminam o acesso € 0s freqientes conflitos (43) face a indefini o dominial e a grilagem impossibilitam uma reproduedo do regi me de posse € uso vigente nas regides de origem, ou seja, éreas de colonizacdo antiga. Haveria ainda nestes centros instrumentos escassos e de pro: priedade de um determinado grupo familiar, que se acham sob uma reciprocidade generalizeda. Pildo, forno, casa de farinha e ani mal de tragéo podem ser compartilhados voluntariamenie. Nestes gestos reciprocos os aspectos sociais da relagéo entre as familias camponesas transcendem os aspectos materiais, néo sendo incor Porados aos célculos propriamente econdmicos. Partilhase tam- bém voluntariamente a disposicgo de moradias nos centros, 0 pro- duto da caga, da pesca e da coleta de certos frutos. Alids, a drea pa ra construgdo das cases ¢ escolhida em comum acordo com o deno minado assituante, ou seja, 0 primeiro a colocar rogados e habita- 0 abrindo 0 centro e convidando outros grupos familiares a ali se instalarem, A limpeza de caminhos, a construedo de casas e a ma: nutengdo das éreas de trénsito, nas partes centrais dos povoados, 185 também séo realizados em cooperacéo (44). Os produtos dos roca- dos, por sua vez, n&o encontram-se sujeitos a partilhas, so indivisi- veis, mesmo que formas de cooperaggo com outros grupos tenham, sido acionadas em diferentes etapas do ciclo agricola, Trata-se de atividede principal e autnoma a realizagao econémica da unidade de trabalho familiar. Os camponeses percebein suas atividades naqueles dom inios | Thencionados_como parte de intsresses socials comuns. A reciproo | dade generalizada representa um componente destacado Vi ‘0 processo de descampesinizacdo, nas ha_uma_mobilidade social que agrave ‘truoulentos por parte de grileiros que bus- ios de posse (45). | | 4. DIFERENCIAGAO INTERNA E ANTAGONISMOS Aihp one i A ‘representagéo da terra nas regiées em que se verificam formas de uso comum, excetuando-se os campos e pastagens co- muns, remete &s regras de um dirsito camponés que prescrevem métodos de cultivo em extensdes que podem ser utilizadas conso- ante a vontade de cada grupo familiar, sem exigéncia de areas con- tiguas © permanentes ou de ter 0 conjunto de suas atividades pro- dutivas confinadas numa parcela determinada, Nao hd contiguida- de entre as éreas de cultivo de um mesmo grupo familiar. Os seus ‘socados_distribuem-se, segundo uma_certa dispersio,_pelas varias. reas _destinadas, consensualmente, aos cultivos. No se registra também contiguidade entre estas éreas e aquelas onde se localizam 9s_demais_recursos apropriados. Delineiam-se ainda, intercaladas entce.as.Areas.de.cultivo apropriadas individualmente pelos grupos familiares, dom{nios de uso comum, que ndo pertencem a nenhu- ‘ma _familia em particular e que so considerados vitais par brevivéncia do conjunto das unidades familiares, Nestes sistemas ‘80 articulados dominios de posse e usufruto comunal com regras de aproptiacéo privada. A casa e 0 quintal com seus jiraus de plan- dividualmente pelos.respectivos grupos familiares, do mesmo mo- do que 0 produto das colheitas ¢ os demais frutos dos rogados. O resultado desta ago de trabalho pertence individualmente ao gru- po doméstico que a realizou, Semelhante articulacdo de dominios confrontase com as normas legais vigentes. Seu significado no coincide, antes colide com as formas de apropriacao legalmente assinaladas. Todavia no 6 necessariamente infratora das leis. Hé niveis de assimilacdo asse- gurados de fato no plano das relag6es de circulacdo e permitindo seja absorvida, sem sendes, a produgdo agricola correspondente, Os fundamentos deste confronto no so redutiveis 88 opo- sigges usualmente estabelecidas entre o privado e o comunal, entre © individual e o coletivo ou entre o legal e 0 fundado nos costu: mes. A propria nocio de posse comunal soa inadequada_para_no: ‘ear estes dominios, j8 que s2u significado encontra-se fortemen: ‘te_mercado_pelas referéncias 8s “comunas_primitivas”. Carecem igualmente de rigor as_interpretastes_de_inspitacdo_evolucionista que_fazem_com_que_um_dos élos, por aproximacéies sucessivas, se_dilua_no outro. No desenvolvimento deste tipo lise, as normas de privatizacao_gradativamente iriam so im com a concomitant derrocada. do_império das entidades familiares ou tribais_e_suas_respectivas_formas_de cooperacdo_e reciprocidade consideradas inibidoras dos direitos individuais..Em sentido con- trério, mas com pressupostos similares, tem-se aquelas cutras in- terpretagdes que consideram as formas de uso comum como for- mas incipientes de socialismo, tomando 0 comunal como coleti- Vo @ reproduzindo anélises aproximaveis aquelas dos populistas de fins do século XIX (46). Aparecem imbricadas nas normas camponesas, que as arti culam e combinam, as nogées de propriedade privada e de apos- samento através do uso comum. Tais nogdes se realizam indisso- ciadas em diferentes dom/nios da organizacéo social. Nao repre- sentam elementos destacéveis ou propensos & separacgo. Conju- fr, As.unidades sociais aqui referidas nao representam sedi des homogéneas e de cardter igualitério, como se poderia imaginar. VEK —]! mas de uso comum diferem quali tativamente d ame situagdes concernentes as “comunas primiti= vas’, em que as atividades produtivas sao realizadas em comumeo alee eee comunas, os critérios de re do produto das colheitas, Estes sistemas referidos nada tém a ver também com as r ccriagdes savants ou religiosas de formas comunais e com as recen- tes redescobertas das “origens do comunalismo”, baseadas em uto- pias © em experiéncias como as de R. Owen, Fourier e J. Warren (47). Pelo_contréri estéo_atravesadas-por_um arau de diferenci t te for antagonismos insoliveis, A desiqualdade no acesso aos recursos bé sicos_existe no interior destas_unidades, no se podendo relevar apenes_o3_aspectos_comunais da_cooperacao.—Estes.servem.como elemento contrastante pera fora e frente aos antagonistas que vi sam_usurpar_seus domfnios com pretenses de concentracéo da propriedade fundidria através de grilagens. ‘A gestéo que os camponeses, livres dos mecanismos repres- tho, realizam nestes dominios no se apoia dalidades de ‘apropriacdo ae ‘ou _com formas associstivas imolementades sor pelos éraos oficiais. As terras de uso comum tanto em areas de Scupagdo recente, quanto nas regides de colonizaggo antiga, apre- sentam-se sujeitas a um controle efetivo pelos grupos familiares mais abastados do campesinato, ndo obstante, os dom/nios de uso comum constituiremse numa fonte potencial de recursos essenci ais, sobretudo, para os camponeses mais pobres. Aqueles grupos corresponde 0 monopélio da administraggo das ceriménias religio- ‘sas nas chamadas terras de santo, assirn como a cobranga das deno- minadas /6ias, ou contribuiges voluntérias que cada familia anual- mente oferece ao santo. A apropriaedo privada do fundo de manu: tengdo pelas familias dos encarregados, nas terras de santo, dos herdelros, nos dominios titulados sem formal de partilha, conso- lidam diferenciagées entre os varios segmentos. Do mesmo modo as familias de assituantes nos denominados centros detém maiores possibilidades de comercializagdo da produgao agricola e de loca: lizagdo de seus rogados nas faixas de maior fertilidade. Tais seg: mentos so responsévels, nas reas tituladas, pela guarda da docu: mentagao @ funcionam em todas elas como 08 principals quardiges da vigéncia das regras de uso comum. —B A consolidagio da diferenciagdo leva a tensdes agudas entre ‘0s membros destes grupos familiares mais avancados. Hé aqueles que esposando um nitido projeto de descampesinizagdo empe: nham-se em dispor aquelas terras ao mercado. Assim, nas chama- das terras dos /ndios, um dos membros da fam/lia designada como dos “herdeiros” (PAULA ANDRADE, ibid) é que pretende vender toda a érea a uma empresa agropecuéria, entrando em conflito ‘com todo grupo familiar e por extensdo com 0 conjunto de fa milias daquela unidade social. Nos denominados centros, percebe- se membros da fam(lia do assituante (SANTOS, 1983, ibid) que- rendo impor uma cobranca de “renda"’ 2 revelia do préprio lider. Entéo pode-se dizer que as familias abastades sdo as principais be- beneficiérias do sistema de uso comum, pode-se dizer também que ‘as tensdes internas af verificadas, transcendem os limites de uma disputa familiar e afetam a unidade social como um todo. Uma maior tecnificacgo, as possibilidades de comercializagao e as rela Ses de intermediagdo com os poderes regionais, tornam estas fa- 189 imiias ou pelo menos alguns de seus membros com mais probebili- dade de adotar um projeto de descampesinizagao. Este tipo de dis- puta nos casos mencionados nAo indica que o tal projeto tenha lo- grado éxito sobre os dominios mantidos pelo grupo. 1 Low ‘As situagdes roferidas, passado mais de um século, em se tra- ‘tando das regides de colonizagao antiga, e muitas décadas, quando se menciona as areas de ocupacdo recente, continuam a manter um sistema de uso comum e tem relevéncia nas respectivas economias regionais (48). As denominagdes examinadas prosseguem funcio- nando como categorias de confronto, através das quais uma unida- de social se distingue e se contrapde a outras, afirmando seus dire tos inaliendveis. O fato de manterem uma atualidade é bem indica- tivo de que mantém sua eficécia face aos antagonistas. Por outro lado, indica também que séo constantes as situagées de conflito e tensdo que as ameagam. Neste aspecto, acentuam-se, quando se ve- rifica que os Indices alarmantes de violéncia no campo e a concen tragdo. da propriedade: fundiéria_manifestem-se consoante uma gio geral, cujos objetivos sé dirigidos notadamente contra os fé tores considerados imobilizantes. a representados como formas ideolégicas. de imobilizacdo, que favo- tecem_a familia camponesa, a comunidade. a tribo ou.a etnias nao ‘permitindo conferir 4 terre um sentido pleno de mercadoria (49). ‘io vistos como impedindo que imensos dom/nios sejam transacio- nados nos mercados Imobiliérios capitalistas. Devido a isto, sob e5- ta dtica, precisariam ser desativados para que os referidos merca- dos possem absorver livremente novas extensdes, com valores mo- netérios fixados. A expanséo capitalists lograria deste modo des- ‘ruir tais formas convertendo as terras de uso comum a possibilida- de de apropriagSo individual, resgatando-as ao mercado pela des- mobilizagéo daqueles fatores, que so vistos como subvertendo, ‘em certa medida, o caréter privado da apropriagao. Tais transagbes imobilidrias e 0 respectivo registro legal e individual destas terras constituem mecanismos fundamentais ao desenvolvimento capita- lista em detrimento des praticas de mercado de sistemas economi 190 cos especificos @ subordinados. Os mercados inti ue abar., cam as transagdes de terras © as permissdes de plantio entre campo: nneses, que ndo so escrituradas © apolam-se em contratos verbais, aera eae caneia RS Renter ane coe vem as denominadas “posses itinerantes” (50); que compreendem regras de sucessdo e transferéncia que desconhecem os cénones le- gais. Estas préticas contrapdem-se a uma idéia de modernizagdo a ‘gr{cola apoiada em operagbes crediticias junto a empresas bancé- rias e &s agéncias do mercado financeiro em geral. 0 tipo de contradi¢go resultante faz com que os sistemas de uso comum estejam sujeitos a pressdo constante de programas de titulaego, financiados pelo BIRD (mesmo levando-se em conta as tentativas frustradas de inovagdes contidas na Proposta ao Plano de Reforma Agréria de maio de 1985), que objetivam o parcela: mento e a individualizac&o de lotes. As tentativas de apossamento ilegitimo © de grilagem cartorial parecem também ter aumentado consideravelmente mantendo um clima de conflito e tenséo, Em termos gerais, entretanto, parece que o grau de solidarie- dade e coeséo apresentado pelos camponeses nestas terras de uso comum tem sido forte o bastante para garantir a manutencdo de seus dominios. Os vinculos sélidos que mantém e a estabilidade territorial aleancada constituem a expresso de toda uma rede de relacBes sociais construfda numa situacdo de confronto e que pare- ce ser reativadaa cada novo canflito exercendo uma influéncia des- tacada na resisténcia aquelas miltiplas pressGes. Esta disposiggo se- ria uma das razdes pelas quais, com o acirramento dos confrontos, tals dom{nios podem ser classificados hoje como uma dentre as z0- nas mais criticas de conflito e tenséo social na estrutura agréria a 2, (3) NOTA Destaque-se que a Irrelevancla ditada pelos determinismos 6 de tal or- dem que, além de no ter sido contemplada oficial ¢ formalmente, tem sido igualmente relegada mesmo na intensa polémica acerca des relacdes 4de produpio no campo, que congrega copiosas interpretacées que inss tem em classificé-las como “feudis” ou como “capitalistas”, Para um aprofundamento da |cica da produedo intelectual referida a esta pol ‘mica leie-se: PALMEIRA, Mozcir GS. — Latitundium et Capitalisme au Brésil ~ Lecture “eritique dun debt. Pars, 1971 Com toda certezs tais interpretagées inspiram-se na polémica de V.l. Lenin com os populistas, tal como 0 debate se colocava em fins do sécu- lo XIX (cf. LENIN — 0 desenvolvimento do capitalismo na Russia. Séo Paulo, Ed. Abril, 1982, pp. 209-213) e poueo ou nada tem a ver com (0s deslocamentos conhécidos pela FormulapSo original a partir da Revo lug#o de 1917 @ mais precisamente com o Esbogo Inicial das Teses s0- bre a Questo Agréria para o I! Congresvo da Internacional Comunista, laborado por Lenin, em junho de 1920 (Vide: Programa Agrério Il; Belo Horizonte. A. Giobal Ed. 1979, pp. 97-100). ‘as dliretrizes operacionais de regularizaeio fundiria de Proposta ao levard em consideragdo, além da propriedade familie, es formes de & broprisefo Condominial ou Comunitéria da tere, dos recursos hfdricos © florestais, de maneire que os trebslhadores rurals nfo tenham 0 seu acesso cortado a bens fundamentals efetivamenta incorporedos & sua economia, — Serdo estabelecidas formas de reconhecimento de posse e ttulacfo capszes de articular dominios de usufruto comum com re ‘788 de apropriagdo privada, também adotadas por estes grupos fami Hares, desde que neste sentido tenham as comunidades rurals 3 me nifestado favoravelmente. orientagé0 a ser adotada referese a de- ‘marcagdo dos perimetros desses dominios de usufruto comum, que ‘fo pertencem individualmente 2 nenhum grupo familiar, « que thes essoncials, como: coqueiros, castanhais, fontes déqua, babacuals, Pastagens naturals, igarapés e reservas de mate, de onde as familias do \rabelhedores ruralsretiram palha, talos, lena, madeire para constru- 1 982s espécies vegetais utilizadas em ceriménias tligioses ou de pro- J[priecades mecicinae raconhacides. ~ Parte-se do presuposto de que | # necessidade de titulagio nfo destrua ou desarticule 2 organizagdo @ Lo sistema de epossemento pré-existente. Isto exigird a compatibiliza so dos cadestros declaratérios e fundisrios para que sola possivel conciliar © sistema cadastral ¢ a titulaggo derivada com estas formas 40 uso comum da terra que abrangem, inclusive, a combinagéo da a: griculture com extrativismo em areas descontinuas e outras associagbes . Se sistemes produtivos adequados a realidade regional”. (.n.). Cf. Pro- posta pare @ elaborapso do | Plano Nacional de Reforma Agréria. Brasi Tia, Mirad, maio de 1988, pp. 32 ¢ 33. (4) Ch. dados elaborados pele Coordensdoria de Contlitos Agrérios do Mirac-Inera em dezembro de 1986. (6) Para maiores esclarecimentos consulte-se 0 Manual de Preenchimento seca Socaes pra canto de moval rre goa neieea on 1, Incra, julho de 1986, pp. para uma tra em profundidee dens crete experi, out e iecmutrfo", “eomnpra coletive de alimentos”, “arece da comunids- se comunlt’s eonultese og Comuniaia & aus sevuitreee ge oltvagéo no campo" Cadrnan do CEDI = 10. Je lnc, abi de 1982 2) Vide Projet de Assertamento “Saco de Belém’ am Santa Qutéris CE sau Trabatho reelizado ‘pelos professores e participantes do |! Curso de Pla Tuomas Esco pare Clontagto de Terran Convio BNB /SUDENE/ INCRA/ISRAEL. Fortaleza, 1982, 76pp. ©) Leese “Exposicfo Sobre « Fazend Pritbeproferia slo eng ‘ ro agrénomo Zeke Beze, na PUC-Proter. So Paulo, 22 de maio de 1987, 69po. (8) Para um aprofundamento leia-se: CUNHA, Euclides da. Os Sertdes. So Paulo, Cultrix, Brasilia, INL, 1973 e FACO, Rui. Cangaceiros e Fanét 08. Rio de Janeiro, Civilizagto Brasileira - UFC, 1980. {10) Leiase QUEIROZ, Mauricio Vinhas de. Messianismo e Conflito Social. ‘So Paulo, Atica, 1977 @ HOLANDA, Firmino. "Fortaleza nos tempos do Caldeirio”, Nagdo Ceriri n° 8, novidez, 1983, pp. 15-21. 11) Ch, ALMEIDA, Alfredo WEB, “Qullomboes,Selvgens ¢Facnorooe: uM panico na cepital ¢ no sertéo”. In: A Ideologia da Decadéncia — leitura rae reacts uma hire apesura po Marenhio,Sfo Lu FIPES, 185, p. 156187 (12) Lelage MOURAO SA, Lafs. 0 pio de terra: propriedede comunal & ‘campesinato livre na Baixa Ocidental Maranhense. Dissortocfo de Mes trado epretentada ao PPGAS — Museu Nacional — UFR, 1975, pp. 60-93. (13) Leia-se SOARES, Luiz Eduardo, Campesinato, ideo! de Janeiro, Zahar, Eds., 1981, p. 223. politica. Rio (14) Vide CORREIA LIMA, Olavo. Isolados Negros no Maranhio. So Luis, Ed. So José, 1980, p. 9 ¢ AZEVEDO, Ramiro C. — "Ume experiéncia gm comunidades nogras ruris". So Luis, Gréfice Sfo Luis, 1982, p (15) Leiase CORREIA, Céii Brumado, Bahia”, Bras M. — “Populagdes atingidas pele Barragem do CCA/MIRAD, 1986, (16) Leiase ALMEIDA, Alfredo W.B. de; CORREIA, Célla M. et all, “A, Economia dos Pequenos Produtores Agricolas e'a Implantecso do Con two de Lancamento de Alcéntara”, Brasilia, CCA/MIRAD, 1965, p. 10. (17) Cf. LINHARES, Luis F.R. — “Contflitos de terra na Agropic". Brasilia, agosto de 1985 (mimeo). (18) Vide CARVALHO, Jodomar — “Serra golane tem quilombo de 150 ‘anos". Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 23 de agosto de 1987, p. 20. Referéneia a0 trabalho de pesquisa da antropéloga Marie de Nazaré Baiochi da Universidade Federal de Golds (19) Vide dossié elaborado por técnicos da SUDELPA sobre "As comunida- des negras do Vale da Ribeira’. Sfo Paulo, julho de 1986 (nfo ha qq, ‘mengo explicita aos autores). (20) C. SALES, Celecina — “'Os descondentes de Timéteo — lutas dos cam- pponeses numa éree de conflito do Baixo Peranafba”. Sio Luis, 1984, (21) Nao se registrou casos de aquisi¢fo de terras por etcravos ou por © ceravos, ainda que tenham sido detectadas recomendag&es de vends logo ‘p68 a aboligo. Para efeito de um possivel cotejo, uma vez localizadas, foi detectade uma situacdo transcorrida na Provincia de Esmeraldas, ‘no Equador, no ano de 1885, quando 62 familias adqulriram uma érea de 61.830 hha. Para maioret esclaracimentos consulte-s Fredy ~ “La comuna de negros del Rio Santiago on cien afios de histé- ria". In: Campesinato y organizacién en Esmeraldas. Quito, CAAP/ OCAME, 1988, pp. 19-60. (22) Uma utlizapdo rigorosa desta nogio no pretente exercicio, pressupor © estabelecimento de comparardes diversas entre 0 funclonamento das grandes exploragdes © 0 advento des formes de uso comum nes resides (23) (24) (25) (26) 127) 28) 129) 130) (30) enfacades. A impossibilidade de executar esta operagio anelitica 6 que nos levou @ estabelecer uma distingso dentro/fora, capaz to s6 de aler tar superficialmente para uma possivel diferenca, Para um aprofunda- mento do que “Sidney Mintz chama de protocampesinato escravo"” (CARDOSO, ibid) consulte-se: CARDOSO, Ciro Flamarion S, Excravo ‘ou Camponés ? ~ © protocampesinato negro nas Américas. Sio Paulo, ted, Brasliense, 1987, pp, 91-125, Para_maiores esclarecimentos consulte-se: MOURAO SA, L. Ibid @ PRADO, Rogina. Todo Ano Tem, Dissertapio de Mestrado apresentada 20 PPGAS — Musou Nacional, UFRJ, 1975, MOURAO SA, L. ibid, pp. 80-77. Leia'se a propésito RINALDI, Doris. A terra do santo ¢ 0 mundo dos tengenhes. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1981. Leiase a propésito: ALMEIDA, Alfredo W.8. de & ESTERCI, Neide. Terras soltas e 0 avanco das cercas". Rio de Janeiro, Projeto Emprego 2 Mudangs Sécio-Economica no Nordeste. MN/UFRJ/IPEA, 1977, v. ", Vide O-DWYER, Eliane — ““Reconstituicio do conflito de Sio José da Boa Morte’. Rio de Janeiro, 1978 (mimeo) Cl. Art. 4°, § 4° Art. 198 da Constituicdo de 1946. Para um aprofun- damento das implicacdes desta conceituaeo juridica, consulte-se PA: CHECO DE OLIVEIRA F°, Jogo — “Terras Indigenas no Brasil: uma teniativa de abordagem sociolégica”. Boletim do Museu Nacional n° 44, outubro de 1983, p. 4 CI. LOBATO DE AZEVEDO, Ane L. A Terra Somo Nossa — uma ané- Ise de processos politicos na construedo da terra Potiguara. Dissertagdo de Mestrado apresentade ao PPGAS-MN-UFRJ, 1986, np. 230-50. ‘So bastante escarsas as referéncias bibtiogrSicas que tratam deste te Ima especiico, disposto entre os estudos etnolégioos ¢ as pesquisas re latives ds sociedades camponesas. Para maiores esclarecimentos, leie-se © artigo intitulado "Terra dos Indios”, de autoria de Maristela de Paula Andrade, elaborado a partir de trabalho de campo em Viana (MA), com fins de tese de doutorado em Sociologia na USP, e datado de agosto de 1986. Para um aprofundamento da situacdo atual das dreas indigenes, leie-se: PACHEDO DE OLIVEIRA F°, Jodo — "Terras ind genas: mito e verda- tle" in: Terras Indigenas no Brasil. CEDI/Museu Nacional, 1987, pp. MEXXIX, (32) Cl. ALMEIDA, A.W. @ESTERCI,N.,ibi (33) Ct. observagdes de campo resistradas, no decorrer de 1986, por Ji Borin, a servigo do INCRA, no Municrpio de Unaf, Minas Gerais, (34) Leiase SOUZA, José Bonifacio de. Quixad de Fazenda a cidade (1755- 1988). Rio de Janeiro, IBGE — Consolho Nacionel de Estatistice, 1960, pp. 30-32. De acordo com o autor, a partir de documentos e dos Cédigos de posture podiese afirmar: “As pastagens e aguaclas eram co- ‘mo se fossem bens de uso comum, @ em torno delas se reslizeram os primeiros eontatos entre vaqueiros (ibid, p. 31). (35) A propésito dos faxinais consulte-se: CARVALHO, Horério Martins de. “Da aventura & esperenca: a experiéncia autogestiondria no uso comum da terra”, Curitiba, 1984, pp. 12-32 (mimeo). (36) Vide TOCANTINS, Leandro — "Campos e Currais”, [n:O rio comands 4 vida: uma interpretago da Amazénia. Rio de Janeiro, Biblioteca do Exército, 1973, pp, 115-125, (37) Vide ALMEIDA, Alfredo Wagner B. @ MOURAO SA, Laie — “Questdes Agrérias no Maranho". Pesquisa Antropolégiea n° 9/10, Bras 1976, (38) Cf. AZEVEDO, Guilherme. Vocabulério do criatério norte-iogrand: se. Rio de Janeiro, MA ~ Servico de Informaoo Agricola, 1966, p. 17. BARROSO, Vieira, Marajé: estudo etnogréfico, goolégica © geogréfice dda grande ina. Belém, Imprensa Oficial s/d, pp. 162 @ 163. CASCUDO, Lufs da Camara. Dicionério do folelore ‘brasileiro. Rio de Janeiro, INL, 1954, p, 53, (39) Nos campos naturais de Baixada Maranhense, que se estendem contor- nando 0 golfo observamos povoadios com dezenas de families de foreiros, localizados na beire-campo, no seio de antigos engenhos de ‘eticar, em reas denominadas terras de preto (nos municipios de Pi- nheiro, So Bento, Pericuma) e terras de santo (Bequiméo, Aleéntara), {que tem uma certa divisio de trabalho em que apenas um individuo do. Povoedo toma conta das reses dos demais. Ele cuida do gado salto nos ‘campos naturais no cercados e recehe uma remuneragio através do co- IMhecido sistema de sorte ou sob a forma do servigos prestados pelos demais em seu ropado, (40) Cf, ALMEIDA, A.W.B. & ESTERCI, N, Ibid. — As polémicas em torno cio do século XIX. Consulte-s ia sobre o plano que permite que se facam tapadat no terreno (a1) (42) (43) (44) (45) (46) (47) (43) (49) (50) de Crato e sobre a inconvenicBncia dos pastos comuns...” Por Jerdnimo Francisco Lobo. Corregedor da Comarca do Crato (1803-2), fis. 230-40 do Dos. 16, vol. 22/ANac. Leiase para meiores aprofundamentos: VELHO, Octavio G. Frantes de ‘expansdo e estrutura agréria, Rio de Janeiro, Zahar, Eds,, 1972. Ct. SANTOS, Murilo — “Fronteiras: 8 expanso eamponess no Vale do Rio Caru”. In: Estrutura agréria e colonizagéo ne fronte Belém, Museu P.E, Gooldi—CNPa,, 1983 (mimeo, Com pequenas alteragdes este parégrafo fol reproduzide dé tigo: ALMEIDA, Alfredo Wagner B. de. — “Estruture fundi s80 camponesa”. In: Carajés ~ desafio politico, exologia e desenvolvi- ‘mento. Brasilia, CNPa., Ed. Brasiliense, 1986, pp, 265-198. Ci. SANTOS, M., ibid, 17. ‘A dimensio politica que estes antagonismas adquirem nas regises de ‘ronteira pode ser aprofundada a partir da consulta a: MARTINS, José de Souza — “‘Lutando pela terra: indios ¢ posseiros na Amazonia Le- 921”, In: Os eamponeses ¢ a politica no Brasil. Petrépolis, Vozes, 1980, pp. 103.124, Para aprofundamento das polémicas mantidas com o¢ populistas con- sulte-se: Dilemas do Socialismo — A controvérsia entre Marx, Engels ¢ (08 populistas russos. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1982. Organizacdo, in troduego e notas de Rubem César Fernandes. LLeiase Kenneth Rexroth ~ Communalism: From its origins to the ‘twentieth century. London, Pater Owen, 1975, Esta afirmagio tem que ser relativizada e sujeita 20s resultados de apli- ‘cagio de métodos estatisticos de quantificaco dos dominios e de sua producSo efetive, Estas formulagées foram desenvolvidas no seguinte trabalho de pesqui sa: ALMEIDA, Alfredo Wegner B. de ~ "As areas indigenas e 0 meres do de terres". Acontacou ~ 1984, Sio Paulo, CEDI, 1985, pp. 53-59, A prbri Fgura de “post itnerante”, ud pelos refos deseo fun- ia nos anos 70, numa tentativa de estabelecer uma aproximaedo for- {tl A modalidete de ceupcte etroorees tan etmsea since 2 ria que ser revista, posto que no prossupée a utilizagdo simultines de varias extensGes de terras cultivadas néo contfguas, AGRICULTURA NA AMAZONIA. TIPOS DE AGRICULTURA: PADRAO E TENDENCIAS Philip M. Fearnside” Terra Firme ~ Agricultura Migratéria Agricultura migrat6ria ou itinerante 6 0 método tradicional de cultivo na terra firme na Amazénia. As populagdes ind/genas tém usado essa agricultura de “corte e queima’” por muitos sécu- los como um meio de obtengAo dos viveres baseados em plantas dos solos inférteis, com um gasto minimo de esforgo humano para se defender da competiego implacével do mato e das pragas (Car- neiro, 1960; Gross et al., 1979; Harris, 1971). As grandes éreas de terra em relaggo 8 populacdo humana permitiram o emprego de longos perfodos de pousio, normalmente vérias décadas, entre bre- vves perfodos de cultivo de um a dois enos. Durante 0 perfodo de Pousio, vegetagdo secundéria lenhosa (capoeira, juquira ou quisa- 84) se apodera das rogas “abandonadas” temporariamente, acumu- lando nutrientes na biomassa das érvores, restituindo ao solo a po- rosidade e as outras caracterfsticas da estrutura fisica degradadas pelo cultivo e aumentando o contetido de matéria orgénica do so- lo pois a reduggo da temperatura no solo altera 0 equilfbrio entre © actimulo e a decomposiego do humus do solo. A feuna do solo, diminufda durante 0 perfodo do cultivo, retorna, levando a uma retomads do ciclo de nutrientes e outros papéis do ecossistema da floresta. s caboclos, ou habitantes pobres do interior da Amazonia que falam portugués ou Ifngua geral, também empregam um siste- Pesquisador do Departamento de Ecologia do Instituto Nacional de Pes- sda Amazonia — INPA,

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