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Materiais de

Construção Civil
Material Teórico
Introdução ao Estudo dos Materiais de Construção –
Estudo dos Agregados e das Argamassas

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Ernesto Silva Fortes

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Introdução ao Estudo dos Materiais de
Construção – Estudo dos Agregados
e das Argamassas

• Materiais de Construção e Acabamento;


• Critérios Básicos na Seleção dos Materiais;
• Ensaios dos Materiais;
• Agregados;
• Argamassas.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
··Especificar os tipos de materiais utilizados na construção;
··Identificar a propriedade de aplicação dos materiais;
··Definir os termos, as características e as propriedades relativas a agre-
gados empregados em concreto e argamassa de cimento Portland;
··Apresentar os requisitos exigíveis para a argamassa utilizada em as-
sentamento e revestimento de paredes e tetos;
··Identificar entidades normalizadoras;
··Distinguir os tipos de instruções técnicas.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Introdução ao Estudo dos Materiais de Construção –
Estudo dos Agregados e das Argamassas

Materiais de Construção e Acabamento


Para Del Carlo e Kronka (2002), materiais de construção são todos os corpos,
objetos ou substâncias que são usados em qualquer obra de Engenharia.

A Disciplina de Materiais de Construção e acabamento estuda a obtenção, a


aplicação, a conservação, a durabilidade, os ensaios etc. desses materiais, visando a
conhecê-los para melhor aplicá-los. Do correto uso dos materiais de construção de-
pende, em grande parte, a solidez, a durabilidade, o custo e a beleza de uma obra.

Pensando na sustentabilidade na construção civil e na utilização racional das matérias


primas, a norma de Desempenho ABNT NBR 15575-2013 – Parte 1, recomenda:
• Que os empreendimentos sejam construídos mediante exploração e consumo
racionalizado de recursos naturais, objetivando a menor degradação ambien-
tal, o menor consumo de água, de energia e de matérias-primas. Na medida
das possibilidades, devem ser privilegiados os materiais que causem menor
impacto ambiental, desde as fases de exploração dos recursos naturais até sua
utilização final;
• A utilização de madeiras, cuja origem possa ser comprovada mediante apre-
sentação de certificação legal ou proveniente de plano de manejo aprovado
pelos órgãos ambientais;
• Recorrer ao uso de espécies alternativas de madeiras que não estejam en-
quadradas como madeiras em extinção, sendo que as características dessas
espécies podem ser encontradas nas referências bibliográficas do Anexo F;
• Que durante a construção, deve-se implementar um Sistema de Gestão de
resíduos no canteiro de obras, de forma a minimizar sua geração e possibili-
tar a segregação de maneira adequada para facilitar o reuso, a reciclagem ou
a disposição final em locais específicos;
• Aos projetistas que avaliem junto aos fabricantes de materiais, componentes
e equipamentos os resultados de inventários de ciclo de vida de seus produ-
tos, de forma a subsidiar a tomada de decisão na avaliação do impacto que
esses elementos provocam ao meio ambiente.

Ainda segundo as recomendações da norma de Desempenho, NBR 15575-


2013, os materiais de revestimento, acabamento e isolamento termoacústico
empregados na face interna dos sistemas ou elementos que compõem o edifício
devem ter as características de propagação de chamas controladas, de forma
a atender aos requisitos estabelecidos nas Partes 3 a 5 da mesma norma e de
normas brasileiras específicas.

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Classificação dos materiais de construção
quanto à origem ou à obtenção
Conforme apresentado por Bauer (1995), os materiais de construção são clas-
sificados quanto à origem ou obtenção em:
1. Naturais: são encontrados na natureza e não exigem tratamentos espe-
ciais para serem usados. Exemplos: areia, madeira, pedra etc.;
2. Artificiais: são obtidos por processos industriais. Por exemplo, tijolos,
telhas etc.;
3. Combinados: são resultantes da combinação de materiais naturais e arti-
ficiais. Por exemplo: argamassa, concreto etc.

Classificação dos materiais quanto à função


Bauer (1995) determina que os materiais de construção são classificados quan-
to à função em:
1. Materiais de vedação: não têm função resistente na estrutura. Por exem-
plo, vidros, tijolos em certos casos etc.;
2. Materiais de proteção: servem de proteção aos materiais propriamente
ditos. Por exemplo, tintas, vernizes etc.;
3. Materiais com função estrutural: resistem aos esforços atuantes na es-
trutura. Por exemplo, madeira, aço, concreto etc.

Classificação dos materiais quanto à composição


Para Helene e Terzian (1993), os materiais de construção são classificados
quanto à composição em:
1. Simples ou básicos: são aplicados isoladamente. Por exemplo, telha,
tijolo etc.;
2. Produzidos ou compostos: são empregados conjuntamente. Por exem-
plo, concreto, argamassa etc.

Classificação dos materiais quanto à estrutura interna


Os materiais de construção, segundo Bauer (1995), são classificados quanto à
estrutura interna em:
1. Lamelar – Por exemplo, argila;
2. Fibrosa – Por exemplo, amianto;
3. Vítrea – Por exemplo, vidro;
4. Cristalina – Por exemplo, metais;
5. Agregados complexos – Por exemplo, concreto;
6. Fibrosos com estrutura complexa – Por exemplo, madeira.

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Classificação dos materiais quanto à composição química


Quanto à composição química, de acordo com Carasek (2007), os materiais,
são classificados levando em conta duas categorias básicas: os de origem mineral e
os de origem orgânica, conforme apresentado na Tabela 1.

Tabela 1 – Classificação dos materiais quanto à composição química


MINERAIS
Naturais (pedras)
Pétreos
Artificiais (argila expandida)
Produtos siderúrgicos (aço e ligas)
Metálicos Metais (chumbo e cobre)
Mistos (ligas não ferrosas)
ORGÂNICOS
Primitivos (madeira, palha)
Lenhosos
Derivados (papel, papelão)
Fibrosos (tecidos)
Têxteis
Plásticos (fórmica)
Naturais (asfaltos)
Betuminosos
Artificiais (alcatrões)
Mistos Constituição química mais complexa (pinturas)
Fonte: CARASEK, 2007

Critérios Básicos na Seleção dos Materiais


Para a escolha dos materiais, devem ser levados em conta três critérios básicos,
conforme apresentado e discutido por Carasek (2007):
• Critério de ordem técnica: é um critério de ordem geral de acordo com
qual devem ser conhecidas formas padronizadas, dimensões, propriedades
físicas, químicas e mecânicas, resistências ao intemperismo e ao meio, re-
sistência mecânica e moldabilidade para obter resistência, trabalhabilidade,
durabilidade e higiene;
• Critério de ordem econômica: é um critério de ordem geral de acordo com
o qual devem ser conhecidos o valor aquisitivo do material (preço em função
da qualidade e da quantidade), o custo da aplicação e dos equipamentos para
aplicação, o custo de conservação (materiais mão de obra e equipamentos)
e a durabilidade da obra, para melhor transporte, aplicação e conservação;
• Critério de ordem estética: é um critério de ordem pessoal de acordo com
qual deve ser levada em conta a quantidade de material sob a ação dos olhos,
o tipo de mão de obra, o acabamento e a conservação da estética, conside-
rando-se o colorido, a textura e a forma do material.

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Ensaios dos Materiais
De acordo com a norma de Desempenho, NBR 15575-2013, como forma
de garantir melhor qualidade dos sistemas construtivos, os requisitos de desem-
penho devem ser verificados aplicando-se os respectivos métodos de ensaio pre-
vistos nessa Norma; portanto, ensaios laboratoriais, ensaios de tipo, ensaios em
campo, inspeções em protótipos ou em campo, simulações e análise de projetos
devem ser realizados.
A realização de ensaios laboratoriais deve ser baseada nas Normas explicita-
mente referenciadas, no caso, na NBR 15575-2013.
Sendo assim, a fim de testar a qualidade dos materiais de construção, realizam-
-se ensaios com eles, que podem ser realizados direta ou indiretamente.
Quando se observa o comportamento do material em obras já realizadas, o ensaio
é feito diretamente; e quando é feito em laboratório, diz-se que é indireto.
Os ensaios podem ser encarados sob três pontos de vista: ensaios de controle
de produção, de recebimento e de identificação (ABNT NBR 15575:2013).
Os ensaios de controle de produção são realizados nas fábricas, em labora-
tórios que asseguram a fabricação dos materiais dentro das especificações exigidas
Esses ensaios têm as vantagens de diminuir os resíduos de fabricação e, conse-
quentemente, os preços do produto, aperfeiçoar a qualidade, poder reproduzir um
produto já lançado por concorrentes etc.
Os ensaios de recebimento verificam se o produto tem as qualidades neces-
sárias e o fim a que se destina e os de identificação servem para reconhecer, por
meio do maior número possível de constantes, se o produto apresentado é o que
se tem em vista.

Agregados
A ABNT NBR 9935:2011 define agregado como sendo um material granu-
lar, geralmente inerte, com dimensões e propriedades adequadas para a prepa-
ração de argamassa ou do concreto.
Bauer (1995) e Carasek (2007) definem o agregado como o material granular,
sem forma e volume definidos, geralmente inerte, de dimensões e propriedades
adequadas para a Engenharia. Os agregados, conjuntamente com os aglomerados,
especificamente o cimento, formam o principal material de construção: o concreto.
Os principais usos dos agregados na Engenharia passam:
• Na dosagem de argamassas e concretos;
• Na preparação de base para pavimentação;
• Na construção de drenos;
• Nos lastros de ferrovias;
• Na montagem de gabiões.

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Conforme especificações da ABNT NBR 7211:2009 – Agregados para con-


creto – Especificação, os agregados para concreto devem ser compostos por
grãos de minerais duros, compactos, estáveis, duráveis e limpos, e não devem
conter substâncias de natureza e em quantidade que possam afetar a hidratação e
o endurecimento do cimento, a proteção da armadura contra a corrosão, a dura-
bilidade ou, quando for requerido, o aspecto visual externo do concreto.

O exame petrográfico realizado, de acordo com a ABNT NBR 7389:2009, e


interpretado por profissional capacitado, fornece alguns dos subsídios necessá-
rios para o cumprimento dessas condições. Para outras características, consultar
as seções 5 e 6 da mesma norma.

De acordo com Carasek (2007), os agregados possuem as seguintes finalidades


no concreto:
• Transmitir as tensões aplicadas ao concreto por meio de seus grãos. Geralmen-
te, a resistência à compressão dos agregados é superior que a do concreto;
• Reduzir o efeito das variações volumétricas ocasionadas pela retração. Nessa
lógica, quanto maior o teor de agregados em relação à pasta de cimento,
menor será a retração;
• Reduzir o custo do concreto.

Os agregados representam de 60 a 80% do volume de concretos convencionais,


divididos em agregado Miúdo e Graúdo. No concreto, utilizamos dois tipos de agrega-
dos: o graúdo (brita) e o miúdo (areia), definindo, assim, as funções e as propriedades
específicas do concreto.

A autora especifica que:


• Agregado miúdo (areia) – Não deve conter grãos de um único tamanho, ou
seja, deve-se procurar adquirir agregados com boa distribuição granulomé-
trica. Como a quantidade de água no concreto é um fator importante, que
condiciona inclusive a resistência e a durabilidade da estrutura, é importante
considerar, também, a quantidade de água presente na areia (umidade) na
dosagem do concreto;
• Agregado graúdo (brita) – Deve-se ficar atento ao diâmetro máximo, levando-
-se em consideração as dimensões da peça estrutural e a distribuição das ar-
maduras. O teor de material pulverulento deve ser o menor possível, pois sua
presença aumenta consideravelmente a superfície específica, exigindo uma quan-
tidade maior de água, o que ocasiona correções no consumo de cimento (para
não mudar a relação água/cimento) e, consequentemente, influencia o custo do
concreto. O formato dos grãos também é relevante para a qualidade e o custo.
Para isso, calcula-se, geralmente, o índice de forma do agregado, que é a relação
entre a maior e a menor dimensão do grão (analogamente, a relação entre o
comprimento e a altura). Quanto menor o índice de forma, menor será o teor de
vazios do agregado, de modo que a quantidade de argamassa para preenchê-los
também será menor, exigindo menor quantidade de água.

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Classificação dos agregados
Para Bauer (1995), a variedade de agregados passíveis de utilização em reves-
timentos asfálticos é muito grande. Contudo, cada utilização em particular requer
agregados com características específicas e isso inviabiliza muitas fontes potenciais.

Agregados correspondem à aproximadamente 77% de volume e 94% de seu


peso na composição das misturas asfálticas. Segundo o autor, quanto à sua origem,
os agregados podem ser:
• Naturais (seixo rolado, areia de rio, areia de campo etc.);
• Processados (britagem de rocha ou seixo rolado);
• Sintéticos ou artificiais (escória de alto forno e argila expandida);
• Revestimento fresado (reaproveitamento de materiais de revestimentos des-
truídos ou recuperados); tem se tornado uma fonte importante de agregado,
contribuindo para minimizar o prejuízo ambiental que é causado por esse
tipo de resíduo.

Obtenção dos agregados naturais


Agregado natural é o material pétreo granular que pode ser utilizado tal e
qual encontrado na natureza, podendo ser submetido à lavagem, classificação
ou britagem, de acordo com as prescrições da ABNT NBR 9935: 2011. Podem
ser: areia de rio ou cava, areia industrial, pedra britada, pedregulho ou cascalho
e seixo rolado.

Os agregados encontrados na natureza passam por um processo de remoção da


terra e dos materiais orgânicos e em seguida por peneiramento e lavagem. O proces-
so de extração desse tipo de agregado causa vários problemas ambientais.

Os agregados de origem marinha são obtidos pelo processo de dragagem do


fundo do mar. Deve-se deve aplicar um processo de lavagem para remoção do sal
(NaCl) e não deve ser utilizado em concreto armado devido ao ataque às armaduras.

Obtenção dos agregados artificiais – Britagem


De acordo com Carasek (2007), os agregados artificiais são obtidos por meio da
extração em pedreiras. O procedimento de extração, segundo a autora:
1. Inicia-se pela perfuração para a colocação de explosivos;
2. Em seguida, o desmonte de rochas;
3. Depois, a retirada do material desmontado;
4. E, por último, o transporte em caminhões com caçamba basculante.

O material obtido é, então, transportado às centrais de britagem, para pro-


dução e classificação. Comercialmente os produtos de britagem são classificados
quanto ao tamanho (diâmetro):

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• Rachão Primário (base de pavimentações e gabiões): 100 a 150 mm;


• Pedra Britada nº 3 (concreto para fundações, lastros e pavimentações):
25 a 50 mm;
• Pedra Britada nº 2 (concreto estrutural e não estrutural: 19 a 25 mm;
• Pedra Britada nº 1 (concreto estrutural e não estrutural): 12,5 a 19 mm;
• Pedrisco limpo (blocos de concreto e pré-moldados, massa asfáltica): 4,8 a 9,5 mm;
• Pó de Pedra (blocos de concreto e pré-moldados, massa asfáltica): 0,5 a 4,8 mm.

Ainda das centrais de britagem é obtido o agregado miúdo proveniente da brita-


gem de rochas, caracterizado por:
• Grãos mais lamelares e pontiagudos;
• Maior quantidade de material pulverulento e finos em geral (a lavagem minimiza);
• Prejudicar a trabalhabilidade;
• Exigir mais água e cimento, aumentando o custo do concreto.

Principalmente, devido ao impacto ambiental da extração de areia natural, cada


vez mais as areais se afastam dos centros consumidores e o transporte, em muitos
casos, tem custo maior que o próprio material.

Nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo, a distância média


já supera os 100 km. Para otimização de custo e do traço da dosagem, as princi-
pais Usinas de Concreto da região de Curitiba já utilizam 50% de areia natural e
50% de areia artificial na dosagem do concreto (CARASEK, 2007).

Granulometria
Conforme especifica a ABNT NBR NM 248:2003, a composição granulomé-
trica ou graduação de um agregado é a distribuição do percentual dos grãos que
compõem certa amostra de agregado.

Os agregados são classificados quanto ao tamanho de suas partículas, da


seguinte forma:
a) Agregado graúdo: aquele que passa na peneira com abertura de
2” (50,8 mm) e fica retido na peneira nº. 10 (2,0 mm);
b) Agregado miúdo: material que passa na peneira nº. 10 (2,0 mm) e fica
retido na peneira nº. 200 (0,075 mm);
c) Agregado de enchimento ou material de enchimento (fíler): mate-
rial que passa pelo menos 65% na peneira nº. 200 (0,075 mm).

Exemplos de fíleres são: cal extinta, cimento Portland, pó de chaminé. Costu-


ma-se chamar de fino o agregado miúdo juntamente com o fíler, isto é, o material
que passa na peneira nº. 10 (2,0 mm).

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A distribuição granulométrica, determinada segundo a ABNT NBR NM 248,
deve atender aos limites estabelecidos na Tabela 2 e na Tabela 3; podem ser uti-
lizados como agregado miúdo e graúdo para concreto, materiais com distribuição
granulométrica diferente das zonas estabelecidas na Tabela 2 e na Tabela 3, des-
de que estudos prévios de dosagem comprovem sua aplicabilidade.

Tabela 2 – Limites da distribuição granulométrica do agregado miúdo


Peneira com abertura Porcentagem, em massa, retida acumulada
de malha (ABNT NBR Limites inferiores Limites superiores
NM ISO 3310-1) Zona utilizável Zona ótima Zona ótima Zona utilizável
9,5 mm 0 0 0 0
6,3 mm 0 0 0 7
4,75 mm 0 0 5 10
2,36 mm 0 10 20 25
1,18 mm 5 20 30 50
600 μm 15 35 55 70
300 μm 50 65 85 95
150 μm 85 90 95 100
Notas
1. O módulo de finura da zona ótima varia de 2,20 a 2,90.
2. O módulo de finura da zona utilizável inferior varia de 1,55 a 2,20.
3. O módulo de finura da zona utilizável superior varia de 2,90 a 3,50
Fonte: ABNT NBR NM 248

Tabela 3 – Limites da composição granulométrica do agregado graúdo


Peneira com abertura Porcentagem, em massa, retida acumulada
de malha (ABNT NBR Zona granulométrica d/D1)
NM ISO 3310-1) 4,75/12,5 9,5/25 19/31,5 25/50 37, 5/75
75 mm - - - - 0-5
63 mm - - - - 5 -30
50 mm - - - 0-5 75 - 100
37,5 mm - - - 5 - 30 90 - 100
31,5 mm - - 0-5 75 - 100 95 - 100
25 mm - 0-5 5 - 25 2)
87 - 100 -
19 mm - 2 - 15 2)
65 - 95
2)
95 - 100 -
12,5 mm 0-5 40 - 65
2) 2)
95 -100 - -
Fonte: ABNT NBR NM 248

Propriedades dos agregados


Pela importância, é fundamental o conhecimento das propriedades dos agrega-
dos, pois elas influenciam diretamente no comportamento deles (BAUER, 1995).

Os agregados miúdos (areias) e os agregados graúdos (seixos e britas) apresentam


características distintas de propriedades físicas e que são determinadas por meio de en-
saios experimentais, de acordo com as Normas Brasileiras, ABNT NBR NM 248:2003,

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Estudo dos Agregados e das Argamassas

ABNT NBR NM 46:2003, ABNT NBR NM 49:2007, ABNT NBR NM 45:2006,


NBR 7215/1997, NBR 7214/2015, NBR 7218/2010, NBR 7216/2017 e ABNT
NBR 9776:1988.

Conforme apresentado por Bauer (1995), as propriedades dos agregados


têm grande influência nas características físicas e mecânicas do concreto e das
argamassas. A seguir, detalham-se as propriedades dos agregados miúdos e
graúdos, de acordo com as especificações do autor.

Agregados miúdos
Conforme especificado na ABNT NBR 7211:2009, em determinadas regiões
ou para concretos com determinados requisitos específicos, pode ser necessária a
exigência, por parte do consumidor, de prescrições especiais adicionais, ficando a
critério do responsável os limites e os métodos de ensaio. Algumas dessas pres-
crições ou os métodos para sua determinação são exemplificados na Tabela 4 e
definidos a seguir.

Tabela 4 – Ensaios especiais para agregado miúdo


Propriedades Físicas Método
Massa específica ABNT NBR NM 52
Massa unitária ABNT NBR 7251
Absorção de água ABNT NM 30
Inchamento ABNT NBR 6467
Teor de partículas leves ABNT NBR 9936
Umidade superficial ABNT NBR 9775
Fonte: ABNT 7211:2009

• Massa específica real: é a massa da unidade de volume, excluindo-se os va-


zios entre os grãos e os permeáveis, ou seja, a massa de unidade de volume
dos grãos do agregado. Sua determinação é feita por meio do picnômetro ou
do frasco de Chapman, preferencialmente. Segundo Bauer (1995), a massa
específica real do agregado miúdo gira em torno de 2,65Kg/dm3;
• Massa específica aparente: é o peso da unidade de volume, incluindo-se
os vazios contidos nos grãos. É determinada preenchendo-se um recipiente
de dimensões bem conhecidas com agregado, deixando-o cair de uma altura
de 10 a 12cm. É também chamada de unitária, sendo útil para a conversão
das argamassas em concretos, em reação de peso para o volume. A areia, no
estado solto, apresenta o peso unitário em forma de 1,50kg/dm3;
• Teor de unidade: é a relação da massa de água absorvida pelo agregado
que preenche, total ou parcialmente, as vazias e a massa desse agrega-
do quando eco. Sua determinação é feita, principalmente, por meio da
secagem em estufa, método do fogareiro, método do speedy e frasco de
Chapman, entre outros;

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• Granulometria: é a proporção relativa, em porcentagem, dos diferentes ta-
manhos dos grãos que constituem o agregado. A composição granulométrica
tem grande influência nas propriedades futuras das argamassas e concretos.
É determinada por peneiramento, por meio de peneiras com determinada
abertura, constituindo uma série padrão.

A granulometria determina, também, o diâmetro máximo do agregado, que


é a abertura da peneira em que fica retida acumulada uma porcentagem igual
ou imediatamente inferior a 5%. Outro índice importante determinado pela
granulometria é o módulo de finura, que é a soma das porcentagens retidas
acumuladas divididas por 100;
• Impurezas orgânicas: são materiais indesejáveis que estão presentes nas
areias e que, devido a sua origem orgânica, exercem ação prejudicial sobre
a pega e o endurecimento das argamassas e concretos. A verificação das
impurezas orgânicas da areia é feita por meio de comparação da amostra
de agregado miúdo, misturado a uma solução de hidróxido de sódio a uma
solução padrão de ácido tânico;
• Teor de material pulverulento: são partículas de argila que podem influen-
ciar decisivamente o comportamento do concreto. A sua determinação é
feita por meio da lavagem da areia, pois a água elimina essas partículas.

Agregados graúdos
A amostra representativa de um lote de agregado graúdo, coletada de acor-
do com a ABNT NBR NM 26 e reduzida para ensaio de acordo com a ABNT
NBR NM 27, deve satisfazer os requisitos prescritos na ABNT NBR 7211:2009,
quanto à granulometria (Tabela 6), à quantidade máxima de substancias nocivas,
à durabilidade e aos ensaios especiais.

A distribuição granulométrica, determinada segundo a ABNT NBR NM 248, deve


atender aos limites indicados para o agregado graúdo constantes na Tabela 3.
• Durabilidade: Conforme especificado pela ABNT NBR 7211:2009, em
agregados provenientes de regiões litorâneas ou extraídos de águas salobras
ou, ainda, quando houver suspeita de contaminação natural (regiões onde
ocorrem sulfatos naturais como a gipsita) ou industrial (água do lençol freá-
tico contaminado por efluentes industriais), os teores de cloretos e sulfatos
não devem exceder os limites estabelecidos na Tabela 4, da mesma norma;
• Peso unitário: é o peso da unidade de volume aparente do agregado, ou seja,
incluindo no volume os vazios entre os grãos. Segundo Bauer (1995), a unidade
não afeta grandemente o agregado graúdo, pois nele a unidade não provoca o
fenômeno do inchamento.

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Estudo dos Agregados e das Argamassas

Influência da forma do agregado graúdo


nas propriedades do concreto
Os agregados de forma arredondada, segundo Bauer (1995):
• Têm menor índice de vazios;
• Têm menor quantidade de areia no concreto;
• Têm menor superfície específica da mistura fresca;
• Têm menor quantidade de água de amassamento;
• Têm maior resistência;
• Facilita o movimento dos grãos;
• Têm boa trabalhabilidade, com menos água (para a mesma quantidade de água:
o concreto de seixo rolado é mais plástico que o de pedra britada; e para a mes-
ma trabalhabilidade: consome-se menos água no concreto de seixo rolado).

Argamassas
A NBR 13281 (ABNT, 2005) define a argamassa como sendo:
Uma mistura homogênea de agregado(s) miúdo(s), aglomerante(s)
inorgânico(s) e água, contendo ou não aditivos ou adições, com pro-
priedades de aderência e endurecimento, podendo ser dosada em obra
ou em instalação própria (argamassa industrializada).

Argamassas são materiais de construção, com propriedades de aderência e en-


durecimento, obtidos a partir da mistura homogênea de um ou mais aglomerantes,
agregado miúdo (areia) e água, podendo conter, ainda, aditivos e adições minerais
(CARASEK, 2007).

Tipos de argamassa
As argamassas são classificadas, segundo a sua finalidade, em argamassas
para assentamento de alvenarias, para revestimento e para assentamento de
revestimentos (ABNT NBR 13281:2005).

As argamassas de assentamento e revestimento de alvenaria à base de cimen-


to, cal e areia e também as argamassas industrializadas são caracterizadas quanto
ao seu desempenho pelas prescrições ABNT NBR 13281:2005, e estabelece
seus requisitos, conforme apresentado:

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1. P – Resistência à compressão (MPa) – NBR 13279/2005;
2. M – Densidade de massa aparente no estado endurecido (kg/m3) –
NBR 13280/2005;
3. R – Resistência à tração na flexão (MPa) – NBR 13279/2005;
4. C – Coeficiente de capilaridade (g/dm2 /min1/2) – NBR 15259/2005;
5. D – Densidade de massa no estado fresco (kg/m3) – NBR 13278/2005;
6. U – Retenção de água (%) – NBR 13277/2005;
7. A – Resistência Potencial de Aderência à Tração (MPa) – NBR 15258/2005.

Cada um desses requisitos é subdividido em 6 classes, exceto a resistência po-


tencial de aderência à tração, que foi subdividida em 3 classes, conforme apresen-
tado na Tabela 5.

Tabela 5 – Requisitos Argamassas de assentamento e revestimento de alvenaria à base de cimento


P M R C D U A
Classes
MPa Kg/m 3
MPa g/dm /min
2 1/2
kg/m 3
% MPa
1 ≤ 2,0 ≤ 1200 ≤ 1,5 ≤ 1,5 ≤ 1400 ≤ 78 ≤ 0,20
2 1,5 a 3,0 1000 a 1400 1,0 a 2,0 1,0 a 2,5 1200 a 1600 72 a 85 ≥ 0,20
3 2,5 a 4,5 1200 a 1600 1,5 a 2,7 2,0 a 4,0 1400 a 1800 80 a 90 ≥ 0,30
4 4,0 a 6,5 1400 a 1800 2,0 a 3,5 3,0 a 7,0 1600 a 2000 86 a 94 -
5 5,5 a 9,0 1600 a 2000 2,7 a 4,5 5,0 a 12,0 1800 a 2200 91 a 97 -
6 > 8,0 > 1800 > 3,5 > 10,0 > 2000 95 a 100 -
Fonte: NBR 13281:2005

Conforme as prescrições da ABNT NBR 13281:2005, as embalagens das ar-


gamassas industrializadas devem trazer a indicação do tipo de argamassa (revesti-
mento interno, revestimento externo, assentamento de alvenaria de vedação etc.)
e em quais classes se enquadra. Por exemplo, argamassa designada de: P3, M4,
R5, C3, D4, U3, A2.

Argamassas para assentamento de alvenaria


As argamassas para assentamento são usadas para unir blocos ou tijolos das
alvenarias, e seguem as especificações da ABNT NBR 13279:2005. Dependendo
do tipo de bloco ou tijolo, podem ser utilizadas diversas técnicas de assentamento
com argamassa. Normalmente, é utilizada colher de pedreiro, mas podem ser uti-
lizadas, também, bisnagas ou calhas.

As três primeiras fiadas de uma parede de blocos ou tijolos devem ser reves-
tidas, inicialmente, com uma camada de argamassa de impermeabilização, que
protege a parede contra a penetração da umidade.

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UNIDADE Introdução ao Estudo dos Materiais de Construção –
Estudo dos Agregados e das Argamassas

Argamassas para revestimento (ABNT NBR 13281:2005)


Segundo Bauer (2005), usualmente são aplicadas três camadas de argamassa
em uma parede a ser revestida:
1. Chapisco: primeira camada fina e rugosa de argamassa aplicada sobre os
blocos das paredes e no teto. Sem o chapisco, que é a base do revestimen-
to, as outras camadas podem descolar e até cair;
2. Emboço: sobre o chapisco, é aplicada uma camada de massa grossa ou
emboço, para regularizar a superfície,
3. Reboco: é a massa fina que dá o acabamento final. Em alguns casos, não
é usado o reboco, por motivo de economia. Geralmente, tem em seu traço
areias mais finas, pois servem para dar o acabamento ao revestimento.

Ainda segundo o autor, em alguns casos, como em muros, o chapisco pode


ser o único revestimento. Por sobre as argamassas de revestimentos, podem
ser aplicados outros acabamentos como textura, massa corrida, pintura, areias
quartzo, estuque veneziano etc. O acabamento desses revestimentos pode ser
sarrafeado ou desempenado.

Argamassa para assentamento de revestimentos


Revestimentos como azulejos, ladrilhos e cerâmicas são aplicados sobre o em-
boço. Para essa aplicação, também são utilizadas argamassas. No piso, utiliza-se
uma camada de contrapiso e se pode dar o acabamento por sobre essa camada.
Esse acabamento é conhecido como cimentado. O contrapiso é uma camada de
argamassa de regularização e de nivelamento (BAUER, 2005).

Argamassas industrializadas
Atualmente, está sendo cada vez mais comum o uso de argamassas industrializa-
das, ou seja, a mistura dos componentes secos é realizada em uma Planta Industrial.
Assim, na obra, apenas deve ser acrescentada água à mistura prévia. As argamassas
industrializadas para aplicação de revestimentos cerâmicos são conhecidas como ar-
gamassas colantes, (PEREIRA, 2012). Elas apresentam os tipos AC-I, AC-II, AC III e
ACIIIE, segundo a norma NBR 14081 – Partes 1 a 5: 2012 e 15::
a) AC-I: é recomendada para o revestimento interno com exceção de sau-
nas, churrasqueiras e estufas;
b) AC-II: é recomendada para pisos e paredes externos com tensões
comuns de cisalhamento;
c) AC-III: é recomendada para pisos e paredes externos com elevadas
tensões de cisalhamento e piso sobre piso;
d) AC-IIIE: é recomendada para ambientes externos, muito ventilados e
com insolação intensa.

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Argamassas poliméricas
Outro tipo de argamassa industrializada é a argamassa polimérica, que segue as
especificações da ABNT NBR 11905:2015. Seu principal uso se dá no assenta-
mento de tijolos ou blocos na construção de alvenarias (paredes). Por necessitar de
uma quantidade relativamente pequena de material para unir os blocos ou os tijo-
los, uma parede construída com argamassa polimérica apresenta juntas mais finas
do que uma parede construída com argamassa convencional (PEREIRA, 2012).

Ao contrário das argamassas convencionais, que são comercializadas em pó,


a argamassa polimérica é comercializada em estado pastoso e pronto para a uti-
lização, sem nem mesmo necessitar da adição de água.

Por se tratar de um produto elastômero, a argamassa polimérica também


apresenta elevada flexibilidade, o que pode proporcionar vantagens estruturais
ao sistema construtivo.

Classificação das argamassas


As argamassas são empregadas para assentamento de tijolos, blocos, azulejos
etc. Servem, ainda, para revestimento das paredes e tetos, e nos reparos de pe-
ças de concreto. A escolha de um determinado tipo de argamassa está condicio-
nada às exigências da obra (MATTANA et al., 2013).

Conforme as especificações da ABNT NBR 13281:2005, as argamassas são


classificadas de acordo com: a natureza do aglomerante, o tipo de aglomerante,
o número de aglomerante, a densidade de massa da argamassa, a consistência
da argamassa, a plasticidade da argamassa, a forma de preparo ou fornecimento
e a sua função.

De acordo com Mattana et al. (2013), as argamassas são classificadas:


a) Quanto à natureza do aglomerante:
• Argamassa aérea;
• Argamassa hidráulica.
b) Quanto ao tipo de aglomerante:
• Argamassa de cal;
• Argamassa de cimento;
• Argamassa de cal e cimento;
• Argamassa de gesso;
• Argamassa de cal e gesso.
c) Quanto ao número de aglomerante:
• Argamassa simples;
• Argamassa mista.

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UNIDADE Introdução ao Estudo dos Materiais de Construção –
Estudo dos Agregados e das Argamassas

d) Quanto à densidade de massa da argamassa:


• Argamassa leve;
• Argamassa normal;
• Argamassa pesada.
e) Quanto à consistência da argamassa:
• Argamassa seca;
• Argamassa plástica;
• Argamassa fluida.
f) Quanto à plasticidade da argamassa:
• Argamassa pobre ou magra;
• Argamassa média ou cheia;
• Argamassa rica ou gorda.
g) Quanto à forma de preparo ou fornecimento:
• Argamassa preparada em obra;
• Mistura semipronta para argamassa;
• Argamassa industrializada;
• Argamassa dosada em central.
h) Classificação quanto à função:
• Quanto à função, as argamassas podem ser classificadas conforme
apresentado na Tabela 6.

Tabela 6 – Classificação da argamassa quanto à função


Função Tipos
Argamassa de assentamento (elevação);
Para construção de alvenarias
Argamassa de fixação/ encunhamento.
Argamassa de chapisco;
Argamassa de emboço;
Revestimento de paredes e tetos Argamassa de reboco;
Argamassa de camada única;
Argamassa decorativa monocamada.
Argamassa de contrapiso;
Revestimento de pisos
Argamassa de alta resistência para piso.
Argamassa colante;
Revestimento cerâmico
Argamassa de rejuntamento.
Para recuperação de estruturas Argamassa de reparo.
Fonte: Carasek (2007)

Composição das argamassas


Carasek (2007) define o traço como a proporção em volume ou em massa entre
os componentes das argamassas (cimento, cal e areia), que varia de acordo com a
finalidade e as características desejadas da argamassa.

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As argamassas mais comuns são constituídas de cimento, areia e água. Em al-
guns casos, costuma-se adicionar outro material como cal, saibro, barro e caulim,
entre outros, para a obtenção de propriedades especiais.

As argamassas industrializadas utilizam aditivos para obter propriedades es-


peciais. No caso de argamassas poliméricas, os aglomerantes são, normalmen-
te, resinas sintéticas e o agregado é o pó de pedra.

Conforme especificações da ABNT NBR 13281:2005, as argamassas têm a


seguinte composição:
• Agregados (fração grossa + fração fina);
• Aglomerantes (cimento, cal hidratada ou virgem, gesso);
• Adições minerais (escória, pozolana...);
• Aditivos (incorporador de ar, impermeabilizantes, retentores de água...).

A relação água/materiais secos para a formulação dos constituintes em massa tem


grande importância na formulação e na definição das propriedades da argamassa.

Procedimento de mistura
Conforme citado, as argamassas são de um ou mais aglomerantes, agregados
miúdos e água. Além dos componentes essenciais das argamassas, podem ser adi-
cionados outros com o fim de melhorar determinadas propriedades.

Quando misturamos a uma pasta um agregado miúdo, obtemos o que se cha-


ma de argamassa e, conforme as prescrições da ABNT NBR 13281:2005, essa
mistura depende do/da:
a) Tempo de mistura;
b) Tipo de equipamento (potência): Betoneira; Argamassadeira; Mistu-
rador/Laboratório;
c) Sequência de mistura dos componentes (água no pó; pó na água).

Propriedade das argamassas


O desempenho de uma argamassa depende de suas características no estado
plástico e no estado endurecido. Assim como o concreto, as argamassas também
se apresentam em estado plástico nas primeiras horas de confecção, e endure-
cem com o tempo, ganhando resistência, resiliência e durabilidade. Esse processo
chama-se cura da argamassa (CARASEK, 2007).

A argamassa é uma cola que permite unir diversos materiais de construção. Em


muitos casos, podem ser utilizadas argamassas com características especiais para me-
lhorar as características de adesão. Também são importantes as características de
impermeabilização, embora haja necessidade de adição de produtos especiais para
obter as propriedades impermeabilizantes da argamassa (FIORITO, 2009).

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UNIDADE Introdução ao Estudo dos Materiais de Construção –
Estudo dos Agregados e das Argamassas

Propriedades no estado fresco


Conforme apresentado por Carasek (2007), no estado plástico, a argamassa
deve apresentar boa trabalhabilidade para facilitar o assentamento dos blocos e uma
capacidade de retenção de água adequada para garantir a hidratação do cimento.

A Tabela 7 apresenta um resumo das propriedades das argamassas no seu


estado fresco.
Tabela 7 – Propriedades das argamassas
Propriedades Definição
Consistência É a maior ou a menor facilidade da argamassa deformar-se sob ação de cargas.
É a propriedade pela qual a argamassa tende a conservar-se deformada após
Plasticidade
a retirada das tensões de deformação.
Retenção de água É a capacidade de a argamassa fresca manter sua trabalhabilidade quando sujeita
e de consistência a solicitações que provocam a perda de água.
Refere-se às forças físicas de atração existentes entre as partículas sólidas da
Coesão
argamassa e as ligações químicas da pasta aglomerante.
É a tendência de separação da água (pasta) da argamassa, de modo que a água
Exsudação sobe e os agregados descem pelo efeito da gravidade. Argamassas de consistência
fluida apresentam maior tendência a exsudação.
Densidade de massa Relação entre a massa e o volume de material.
Adesão inicial União inicial da argamassa no estado fresco ao substrato.
Fonte: CARASEK, 2007

As propriedades das argamassas no estado fresco dependem do desempenho na


aplicação, da trabalhabilidade e dos aspectos reológicos, consistência e plasticidade,
retenção de água, densidade de massa, densidade de massa e teor de ar incorporado,
conforme apresentado por Carasek (2007), e são mencionados a seguir:
a) Desempenho na aplicação
• Adesão;
• Coesão;
• Densidade;
• Reologia (plasticidade, consistência ~ trabalhabilidade);
• Retração;
• Retenção de água (sucção, exsudação);
b) Trabalhabilidade e aspectos reológicos das argamassas

Trabalhabilidade é propriedade das argamassas no estado fresco que deter-


mina a facilidade com que elas podem ser misturadas, transportadas, aplica-
das, consolidadas e acabadas, numa condição homogênea.

Uma argamassa é chamada “trabalhável” quando permite que o pedrei-


ro ou o aplicador execute bem o seu trabalho. No caso de revestimento,
por exemplo, que ele possa executar o serviço com boa produtividade,
garantindo que o revestimento fique adequadamente aderido à base e
apresente o acabamento superficial especificado;

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c) Consistência e plasticidade
Geralmente, o único meio direto do qual o pedreiro dispõe para corrigir a
trabalhabilidade da argamassa em obra é alterar a quantidade de água de
amassamento, vez que as proporções dos componentes são pré-fixadas;
Esse ajuste, pela adição de mais ou menos água, em primeiro lugar, diz
respeito à consistência ou à fluidez da argamassa, a qual pode ser clas-
sificada em seca, plástica ou fluida, dependendo da quantidade de pasta
aglomerante existente ao redor dos agregados;
• Argamassa seca: a pasta aglomerante somente preenche os vazios
entre os agregados, deixando-os ainda em contato. Existe o atrito entre
as partículas, que resulta numa massa áspera;
• Argamassa plástica: uma fina camada de pasta aglomerante molha
a superfície dos aglomerantes, dando uma boa adesão entre eles, com
uma estrutura pseudossolida;
• Argamassa fluida: as partículas de agregado estão imersas no interior da
pasta aglomerante, sem coesão interna e com tendência de se depositar
por gravidade (segregação). Os grãos de areia não oferecem nenhuma
resistência ao deslizamento, mas a argamassa é tão líquida que se espalha
sobre a base, sem permitir a execução adequada do trabalho.
Quando se ajusta a argamassa para a sua consistência preferida, o pe-
dreiro pode fazer um novo julgamento, expressando isso em palavras
como “áspera”, “pobre” ou “magra” (para as características negativas)
e “plástica” ou “macia” (para as características positivas), referindo-se
à plasticidade dela;
A plasticidade da argamassa é uma propriedade influenciada pelos
tipos e pelas quantidades de aglomerantes e agregados, pelo tempo e
pela intensidade de mistura, além de pela presença de aditivos (princi-
palmente, do aditivo incorporador de ar).
A trabalhabilidade é alterada quando a argamassa entra em contato
com o substrato.
A qualidade e a quantidade da alteração dependem das características
da base, tais como: sucção de água, textura superficial e características
de movimentação de água no seu interior, além das condições ambien-
tais que vão interferir na evaporação;
As alterações podem ser avaliadas indiretamente por meio de caracte-
rísticas e propriedades como a adesão inicial, a retenção de água e de
consistência, a exsudação e a coesão da argamassa.
Avaliar, quantificar e prescrever valores de trabalhabilidade das argamassas
por meio de ensaios não é uma tarefa fácil. Não depende somente das
características intrínsecas da mistura (que, por si só, já são complexas),
mas também de várias propriedades do substrato, da habilidade do
pedreiro que está executando o serviço e da técnica de aplicação.

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UNIDADE Introdução ao Estudo dos Materiais de Construção –
Estudo dos Agregados e das Argamassas

Para a avaliação da consistência da argamassa é utilizada, tradicionalmen-


te, no Brasil, a mesa de consistência (flowtable), prescrita pela NBR 7215
(ABNT, 1997) e são realizados procedimentos de ensaio para a determinação
do índice de consistência prescrito pela NBR 13276 (ABNT, 2016);
• Cabe salientar que a FlowTable não serve para definir completamente
a trabalhabilidade;
• Pode haver duas argamassas com resultados iguais de consistência pelo
flowtable: uma pode ser muito boa do ponto de vista da trabalhabilidade
e a pode outra chegar ao ponto de não ser aplicável;
• Isso conduz à conclusão de que uma abordagem mais completa acerca
da questão da trabalhabilidade demanda estudos mais aprofundados do
ponto de vista reológico;
d) Retenção de água

Retenção de água é uma propriedade que está associada à capacidade


da argamassa manter a sua trabalhabilidade quando sujeita a solicitações
que provocam perda de água de amassamento, seja por evaporação, seja
pela absorção de água pelo substrato. Assim, essa propriedade torna-se
mais importante quando a argamassa é aplicada sobre substratos com
alta sucção de água ou as condições climáticas estão mais desfavoráveis
(alta temperatura, baixa umidade relativa e ventos fortes).

A retenção de água pode ser avaliada pelo método NBR 13277 (ABNT,
2005), e consiste na medida da massa de água retida pela argamassa
após a sucção realizada por meio de uma bomba de vácuo à baixa pres-
são, num funil de filtragem (Funil de Büchner modificado).

A retenção de água é alterada em função da composição da argamassa;


portanto, a utilização de argamassa com aditivo retentor de água (ésteres de
celulose), argamassas mistas de cimento e cal com aditivo incorporador de
ar e argamassa de cimento permite o aumento da retenção de água;
e) Densidade de massa

Quanto mais leve for a argamassa, mais trabalhável será em longo prazo, o
que reduz o esforço do operário na sua aplicação, resultando num aumento
de produtividade ao final da jornada de trabalho.

A densidade de massa das argamassas varia com o teor de ar (princi-


palmente, quando incorporado por meio de aditivos) e com a massa
específica dos materiais constituintes da argamassa, prioritariamente,
do agregado. A densidade de massa das argamassas no estado fresco
é determinada pelo método da ABNT NBR 13278:2005 e represen-
ta a relação entre a massa e o volume do material, sendo expressa em
g/cm³, com duas casas decimais. A Tabela 8 apresenta a caracteriza-
ção da argamassa quanto à densidade conforme a norma.

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Tabela 8 – Densidade da argamassa
Densidade de
Argamassa Principais agregados Usos/Observações
massa (g/cm³)
Leve < 1.40 Argila expandida Isolamento térmico e acústico
Areia quartzosa
Normal 2.3 < A < 1.40 Aplicações convencionais
e calcário britado
Pesada > 2.3 Barita Blindagem de radiação
Fonte: ABNT NBR 13278:2005

f) Densidade de massa e teor de ar incorporado

Diretamente associado à densidade de massa das argamassas com agre-


gados de massa específica normal está o teor de ar incorporado, deter-
minado conforme especificações da NBR 13278:2005;
g) Adesão inicial

A adesão inicial (pegajosidade) é a capacidade de união inicial da ar-


gamassa no estado fresco a uma base. Diretamente relacionada às
características reológicas da pasta, especificamente, à sua tensão su-
perficial. A redução da tensão superficial da pasta favorece a “molha-
gem” do substrato, reduzindo o ângulo de contato entre as superfícies
e implementando a adesão. Esse fenômeno propicia maior contato
físico da pasta com os grãos de agregado e também com a base, me-
lhorando, assim, a adesão. Portanto, podemos concluir que:
a) A tensão superficial da pasta ou argamassa pode ser modificada pela al-
teração de sua composição, sendo ela função inversa do teor de cimento;
b) A adição de cal à argamassa de cimento também diminui a sua ten-
são superficial, contribuindo para molhar de maneira mais efetiva
a superfície dos agregados e do substrato;
c) Efeitos semelhantes propiciam também os aditivos incorporadores
de ar e retentores de água.

A Tabela 9 apresenta os resultados da medição da tensão superficial medida


para diferentes soluções, sendo as medidas realizadas a uma temperatura de
22°C e um Tensiômetro de Nouy (CARASEK, 1996).

Tabela 9 – Tensão superficial na argamassa


Soluções Tensão Superficial (dina/cm)
Água destilada 71,1
Água destilada + cal 66,9
Água destilada + cimento 66,7
Água destilada + cal + cimento 42,2
Água + aditivo incorporador de ar 39,5
Fonte: CARASEK, 1996

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UNIDADE Introdução ao Estudo dos Materiais de Construção –
Estudo dos Agregados e das Argamassas

Propriedades no estado endurecido


As características para o estado endurecido da argamassa são, conforme a
ABNT NBR 13281:2005:
a) Resistência à compressão adequada;
b) Boa resistência de aderência ao cisalhamento;
c) Boa resiliência;
d) Elasticidade/Deformabilidade;
e) Permeabilidade/Capilaridade;
f) Abrasão;
g) Retração;
h) Resistência;
i) Biodeterioração.
A Associação Brasileira das Normas Técnicas (ABNT), por meio de um con-
junto de ensaios normatizados, estabelece os requisitos necessários para cada
característica que deve ser controlada por meio de procedimentos normativos.
A seguir, apresenta-se um resumo desses requisitos, definidos conforme apre-
sentado em Carasek (2007) e em Fiorito (2009):
a) Retração (ABNT NBR 13583:2014; ABNT NBR 15577-4:2018)
A retração da argamassa no estado endurecido é definida como uma con-
tração volumétrica que ocorre na argamassa no estado endurecido, prin-
cipalmente, em decorrência da perda de água adsorvida na superfície dos
constituintes sólidos da pasta endurecida de aglomerante(s) e da redução do
volume dos compostos hidratados em relação ao volume original ocupado
pela água de amassamento e pelo(s) aglomerante(s) anidro(s). Em conclusão,
pode-se afirmar que a retração:
• Depende da variação de volume da pasta aglomerante;
• Apresenta papel fundamental no desempenho das argamassas aplicadas,
principalmente, quanto à durabilidade e à estanqueidade;
• Ocorre devido à perda rápida e acentuada da água de amassamento e
pelas reações na hidratação dos aglomerantes, fatos que provocam as
fissuras nos revestimentos;
• Das argamassas ricas em cimento apresentam maiores disponibili-
dades para o aparecimento de fissuras durante a secagem.
Caso a pasta possua alta relação água/aglomerante retrai-se ao perder
água em excesso de sua composição. Quanto mais elevado for o volume
de vazios a serem preenchidos pela pasta aglomerante, maior o potencial
de retração da argamassa, ou seja:
• A retração é influenciada pelo teor de finos;
• De forma geral, quanto maior o teor de finos, maior a retração;

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• Esses finos requerem maior quantidade de água de amassamento, o que
compromete a durabilidade dos revestimentos;
• Por exigirem mais água, podem interferir no endurecimento da arga-
massa e levar a uma redução da resistência mecânica do revestimento,
devido à alta relação água/aglomerante;
b) Aderência
A norma ABNT NBR 13528:2010 especifica os procedimentos que
permitem a avaliação, tanto em laboratório, quanto em obra, da avalia-
ção da resistência de aderência à tração de revestimentos de argamassa,
também designada resistência ao arrancamento. O termo aderência é
usado para descrever a resistência e a extensão do contato entre a ar-
gamassa e uma base (CARASEK, 2001).

Figura 1 – Ilustração de um ensaio de arrancamento


Fonte: UDESC/UFJF

A base, ou substrato, geralmente é representada não só pela alvenaria, que pode


ser de tijolos ou blocos cerâmicos, blocos de concreto, blocos de concreto celular
autoclavado, blocos sílico-calcários etc., como também pela estrutura de concreto
moldado in loco.
Assim, não se pode falar em aderência de uma argamassa sem especificar em
que material ela está aplicada, pois a aderência é uma propriedade que depende da
interação dos dois materiais (CARASEK, 2001).

Mecanismo da ligação argamassa-substrato


Segundo Fiorito (2009), a aderência da argamassa endurecida ao substrato é um
fenômeno essencialmente mecânico devido, basicamente, à penetração da pasta
aglomerante ou da própria argamassa nos poros ou entre as rugosidades da base
de aplicação.
Quando a argamassa no estado plástico entra em contato com a superfície ab-
sorvente do substrato, parte da água de amassamento, que contém em dissolução
ou estado coloidal os componentes do aglomerante, penetra pelos poros e pelas
cavidades do substrato. No interior dos poros, ocorrem fenômenos de precipita-
ção dos produtos de hidratação do cimento e da cal e, transcorrido algum tempo,
esses precipitados intercapilares exercem ação de ancoragem da argamassa à
base (CARDOSO, 2009).

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UNIDADE Introdução ao Estudo dos Materiais de Construção –
Estudo dos Agregados e das Argamassas

Influência do aglomerante na aderência


Conforme apresentado por Carasek (2001) e detalhado por Fiorito (2009):
• O tipo e as características físicas do cimento podem influenciar os valores
de aderência;
• Um dos parâmetros mais significativos na resistência é a finura do cimento:
quanto mais fino o cimento, maior a resistência de aderência obtida;
• Maiores valores de resistência de aderência são obtidos quando se emprega
o CP V – ARI;
• Cuidado especial deve ser tomado com o uso dessa informação, pois, jus-
tamente em virtude de sua maior finura, o CPV pode levar à retração e à
fissuração do revestimento de modo mais fácil do que com outros cimentos,
considerando-se o mesmo consumo;
• A cal, além de ser um material aglomerante, possui, por sua finura, importan-
tes propriedades plastificantes e de retenção de água;
• As argamassas contendo cal preenchem mais facilmente e de maneira mais com-
pleta toda a superfície do substrato, propiciando maior extensão de aderência;
• A durabilidade da aderência é proporcionada pela habilidade da cal de evi-
tar fissuras e preencher vazios, o que é conseguido por meio da reação de
carbonatação, que se processa ao longo do tempo.

Influência do agregado na resistência de aderência


Segundo os Carasek (2001) e Fiorito (2009):
• A capacidade de aderência da argamassa é dependente, também, dos teores e
das características da areia empregada na confecção das argamassas;
• De forma simplista, com o aumento do teor de areia, há uma redução na resis-
tência de aderência;
• Por outro lado é a areia, por se constituir no esqueleto indeformável da mas-
sa, que garante a durabilidade da aderência pela redução da retração;
• Areias ou composições inertes com altos teores de finos (principalmente,
partículas inferiores a 0,075 mm) podem prejudicar a aderência;
• Nesse caso, podem ser apresentadas duas hipóteses como explicação:
• Travamento dos poros;
• Teoria dos poros ativos
• Para obtenção de bons resultados de aderência, a areia deve possuir uma
distribuição granulométrica contínua;
• De forma geral, quanto maior o módulo de finura das areias, desde que produzam
argamassas trabalháveis, maior será a resistência de aderência obtida.

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Princípios dos métodos de dosagem
Diferentemente do que ocorre atualmente com o concreto, para o qual existem
vários métodos racionais de dosagem, para as argamassas ainda não se dispõe,
no contexto nacional, de métodos totalmente consagrados e difundidos com essa
finalidade. Nesse sentido, vários esforços vêm sendo empreendidos por grupos de
pesquisadores para suprir essa necessidade. Por essa razão, ainda é comum, para
o preparo de argamassas de assentamento e revestimento em obra, o emprego de
traços pré-fixados, baseados em normas e documentos elaborados por instituições
técnicas; são as chamadas “receitas de bolo” (CARDOSO, 2009).

Traços recomendados
De acordo com Cardoso (2009), o traço deve identificar expressamente se a
relação apresentada refere-se à massa ou ao volume dos materiais. Quando o
traço for expresso em volume, deve conter ainda informações sobre condições
gerais influentes na relação entre a massa e o volume do material. Por exemplo:
a) Argamassa inorgânica mista de cimento, cal hidratada e areia 1:3:12
(em volume, cal em pasta, areia seca);
b) Argamassa inorgânica simples de cal hidratada e areia 1:2,5 (em volu-
me, cal em pó, areia úmida);
c) Argamassa inorgânica simples de cimento e areia 1:3,5 (em massa) com
adição de incorporador de ar (0,5% em relação à massa de cimento).
Alguns aspectos são essenciais na definição do traço da argamassa, tais como:
a) Padrão ou nível da edificação;
b) Projeto de execução da alvenaria e do sistema de revestimento;
c) Características dos agregados em função das camadas;
d) Localização: interno ou externo;
e) Tipo de acabamento – Pintura, placas cerâmicas, rocha etc.
Definir o traço para argamassa é uma expressão numérica da proporção em
massa ou em volume entre os materiais constituintes da argamassa, geralmente,
referida ao aglomerante principal presente na mistura.
A Tabela 10 apresenta algumas recomendações de traços de argamassa com
base na etapa da obra.
Tabela 10 – Traços de argamassa recomendados para diferentes tipos de trabalhos
1:2:6
Alvenaria de tijolos Cimento + Cal em pasta + areia média
1:2:8
1:2:6
Emboço paulista Cimento + Cal em pasta + areia média
1:2:8
Emboço externo 1:4:6 Cimento + Cal em pasta + areia fina
Reboco interno 1:2 Cal em pasta + areia fina
Assentamentos em geral 1:4 Cimento + areia média
Fonte: Cardoso (2009)

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UNIDADE Introdução ao Estudo dos Materiais de Construção –
Estudo dos Agregados e das Argamassas

Qualidades das argamassas


Conforme apresentado em Bauer (2005) e prescrito pela norma de desempe-
nho ABNT NBR 15575:2013, para a obtenção de uma argamassa de boa quali-
dade, deve-se levar em conta os seguintes requisitos:
1. A qualidade do cimento e da cal, principalmente, verificando se é de um
fabricante certificado;
2. A qualidade da areia, que deve apresentar grãos duros e limpeza, estar livre
de torrões de barro, galhos, folhas e raízes antes de ser usada (areia lavada);
3. A água, que também deve ser limpa, livre de barro, óleo, galhos, folhas e raízes.

Outro ponto, segundo o autor, que deve ser observado é a forma como se reali-
za a mistura, que pode ser feita de forma manual, em betoneiras ou em centrais de
mistura. Para a obtenção de uma boa mistura, devem-se utilizar, preferencialmente,
meios mecânicos (betoneira ou centrais). A ABNT NBR 13281:2005 prescreve a
mesma coisa.

Para Bauer (2005), uma característica importante da argamassa no estado


plástico é a trabalhabilidade, que é uma composição da plasticidade com o tipo
uso da argamassa e com a sua capacidade de aderência inicial.

Em alguns usos, como no revestimento, é adicionado um quarto componente


à mistura, que pode ser cal, saibro, barro, caulim ou outros, dependendo da
disponibilidade e uso na região. De todos esses materiais chamados de plastifi-
cantes, o mais recomendado é a cal hidratada.

Quando endurecida, a argamassa dever apresentar resistência e resiliência, de


forma a suportar adequadamente os esforços sem se romper.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Livros
Materiais de construção civil
RIBEIRO, Carmen Couto. Materiais de construção civil. Rio de Janeiro: UFMG,
2002. 101p.

 Leitura
Materiais de Construção
Notas de aulas UFPR. Materiais de Construção. Engenharia Civil. Marienne Costa,
Marcelos Medeiros e José Freitas.
https://goo.gl/DoHCSB
Materiais de Construção Civil e Princípios de Ciência e Engenharia de Materiais
https://goo.gl/GHukYz
Guia dos Materiais de Acabamento de Obra
https://goo.gl/Vk4YKy

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UNIDADE Introdução ao Estudo dos Materiais de Construção –
Estudo dos Agregados e das Argamassas

Referências
ASSOCIAÇÃO Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). NBR 12655: Concreto
de cimento Portland: Preparo, controle e recebimento: Procedimento. Rio de
Janeiro: ABNT, 2015.

________. NBR 7215: Cimento Portland: Determinação da resistência a


compressão. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.

________. NBR 8953: Concreto para fins estruturais: Classificação pela massa
específica, por grupo de resistência e consistências. Rio de Janeiro: ABNT, 2015.

________. NBR NM 248: Agregados: Determinação da composição granulométri-


ca. Rio de Janeiro: ABNT, 2003.

________. NBR NM 49: Agregado miúdo: Determinação de impurezas orgânicas.


Rio de Janeiro: ABNT, 2007.

________. NBR 13276: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes


e tetos – preparo da mistura e determinação do índice de consistência. Rio de
Janeiro: ABNT, 2016.

________. NBR 13277: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes


e tetos – Determinação da retenção de água. Rio de Janeiro: ABNT, 2005.

________. NBR 13278: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes


e tetos – Determinação da densidade de massa e teor de ar incorporado. Rio de
Janeiro: ABNT, 2005.

________. NBR 13281: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes


e tetos – Requisitos. Rio de Janeiro, 2005.

________. NBR 7215: Cimento Portland – determinação de resistência à com-


pressão. Rio de Janeiro: ABNT, 1997.

________. NBR 7222: Concreto e argamassa – Determinação da resistência à


tração por compressão diametral de corpos de prova cilíndricos. Rio de Janeiro:
ABNT, 2011.

BAUER, E. Revestimentos de argamassa – Características e peculiaridades.


Brasília: LEM-UnB/SINDUSCON/DF, 2005.

BAUER, Luiz A. Falcão. Materiais de construção. São Paulo: LTC, 1995. v. 1


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CARASEK, H. Aderência de argamassas à base de Cimento Portland a subs-


tratos porosos: avaliação dos fatores intervenientes e contribuição ao estudo
do mecanismo da ligação. 1996. 285p. (Tese de Doutorado) – Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo – USP. São Paulo, 1996.

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________. Argamassas. In: ISAIA. G. C. (org.). Materiais de Construção Civil.
São Paulo: Instituto Brasileiro do Concreto – IBRACON, 2007. v. 1.

CARASEK, H.; CASCUDO, O.; SCARTEZINI, L. M. Importância dos materiais


na aderência dos revestimentos de argamassa. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO
DE TECNOLOGIA DAS ARGAMASSAS, 4o, Brasília/DF, 2001.

CARDOSO, F. A. Método de formulação de argamassas de revestimento ba-


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Doutorado. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – USP. São Paulo
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FIORITO, A. J. S. I. Manual de argamassa e revestimento: estudos e procedi-


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HELENE, Paulo; TERZIAN, Paulo. Manual de dosagem e controle de concreto.


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MATTANA, A. J.; PEREIRA, E.; COSTA, M. R. M. Influência dos constituintes


do revestimento de argamassa sobre as suas propriedades reológicas. Ponta
Grossa: UEPG Ci. Exatas Terra, Ci. Agr. Eng., Ponta Grossa, 19 (1): 33-44, jan/
jun. 2013. Disponível em <http://www.revistas2.uepg.br/index.php/exatas>.

PEREIRA, E. Estudo da influência das propriedades de argamassas colantes


na resistência de aderência de revestimentos cerâmicos aplicados no assen-
tamento de piso sobre piso. 2012. 178p. Dissertação (Mestrado – Programa
de Pós-Graduação em Engenharia de Construção Civil) – Universidade Federal do
Paraná, Curitiba, 2012.

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