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COMPARAÇÃO DO EPOC E GASTO ENERGÉTICO DE

RECUPERAÇÃO ENTRE HIIT E AERÓBICOS CONTÍNUOS


COMPARISON OF EPOC AND RECOVERY ENERGY EXPENDITURE BETWEEN HIIT AND CONTINUOUS Artigo Original
AEROBIC EXERCISE TRAINING Original Article
Artículo Original
COMPARACIÓN DEL EPOC Y GASTO ENERGÉTICO DE RECUPERACIÓN ENTRE HIIT
Y AERÓBICOS CONTINUOS
Mateus Ahlert¹ RESUMO
(Profissional de Educação Física)
Fernando Matzenbacher¹ Objetivos: O presente estudo teve como objetivo comparar o EPOC - consumo excessivo de oxigê-
(Profissional de Educação Física) nio pós-exercício - e o gasto energético na recuperação entre o exercício aeróbico intervalado de alta
José Carlos dos Santos Albarello¹ intensidade (HIIT) e os aeróbicos contínuos em corredores amadores adultos. Métodos: Fizeram parte
(Profissional de Educação Física) do estudo 10 corredores com idade média de 35,7 ± 5,87 anos, estatura 1,69 ± 0,11 m; massa corporal
Gustavo Henrique Halmenschlager¹ 74,13 ± 11,26 kg; percentual de gordura 19,31 ± 4,27% e consumo máximo de oxigênio (VO2máx.) de
(Profissional de Educação Física)
3,50 ± 0,64 l/kg/min-1. O protocolo de exercício aeróbico contínuo consistiu em 20 minutos de corrida
com intensidade de 70-75% FCM. Para HIIT foram realizados dois ciclos de 8 sprints de corrida na maior
1. Universidade de Passo Fundo,
Faculdade de Educação Física e velocidade possível, com duração de 20 segundos/10 segundos de descanso e três minutos de inter-
Fisioterapia. Passo Fundo, RS, Brasil. valo entre os ciclos. A amostra realizou os dois protocolos com no mínimo 48 horas e no máximo uma
semana de intervalo. Após os protocolos de corrida, observou-se o EPOC através da ergoespirometria
Correspondência: e foi analisado o consumo médio entre 25-30 minutos após o exercício. Para o consumo em repouso,
Mateus Ahlert dos Santos. utilizou-se o consumo de oxigênio de 9-10 minutos. O estudo possui delineamento experimental do tipo
Rua Tolentina Campos, 145, Elisa, transversal. Resultados: Observaram-se um consumo de oxigênio de 0,57 ± 0,29 l/kg/min-1 e um gasto
Tapera, RS, Brasil. 99490-000. energético de 2,84 ± 1,44 kcal/min para o exercício aeróbico contínuo, já para o HIIT 0,61 ± 0,62 l/kg/min-1
mateus_ahlert@outlook.com e 3,06 ± 1,10 kcal/min respectivamente (p<0,05). Conclusão: Os protocolos realizados não demonstraram
diferença estatística significativa em relação ao EPOC e ao gasto energético, porém a realização do HIIT
aumentou o metabolismo dos lipídeos para a recuperação do exercício, podendo favorecer o processo
de emagrecimento, além de ser necessário um menor tempo para praticar esse modelo de atividade.
Nível de evidência I, estudo clínico randomizado.

Descritores: Treinamento intervalado de alta intensidade; Consumo de oxigênio; Exercício aeróbico; Gasto
energético.

ABSTRACT
Objectives: The objective of this study was to compare EPOC - excess post-exercise oxygen consumption and
recovery energy expenditure between high intensity interval aerobic exercise (HIIT) and continuous aerobic exercise
in adult amateur runners. Methods: The study included 10 runners, with a mean age of 35.7 ± 5.87 years, height 1.69
± 0.11 m; body mass 74.13 ± 11.26 kg; fat percentage 19.31 ± 4.27% and maximal oxygen consumption (VO2max)
of 3.50 ± 0.64 l/kg/min-1. The continuous aerobic exercise protocol consisted of 20 minutes of running with intensity
of 70-75% HRmax. Two 20-second cycles of 8 sprints were performed for HIIT at the highest possible speed, with 10
seconds of rest and a 3-minute interval between cycles. The sample group performed the two protocols at least 48
hours and at most one week apart. EPOC was observed using ergospirometry after the running protocols, and mean
consumption was analyzed between 25-30 minutes after exercise. Oxygen consumption at 9-10 minutes was used
for resting consumption. The study has a cross-sectional experimental design. Results: Oxygen consumption of 0.57 ±
0.29l/kg/min1 and energy expenditure of 2.84 ± 1.44 kcal/min were observed for continuous aerobic exercise, with values
of 0.61 ± 0.62 l/kg/min-1and 3.06 ± 1.10 kcal/min respectively (p <0.05) for HIIT. Conclusion: The protocols performed
did not show a statistically significant difference in terms of EPOC and energy expenditure, but the performance of
HIIT increased lipid metabolism for exercise recovery, which may favor the weight loss process. Moreover, this activity
model takes up less time. Level of evidence I, randomized clinical trial.

Keywords: High-intensity interval training; Oxygen consumption; Aerobic exercise; Energy expenditure.

RESUMEN
Objetivos: El presente estudio tuvo como objetivo comparar el EPOC - consumo excesivo de oxígeno post ejercicio - y
el gasto energético en la recuperación entre el ejercicio aeróbico con intervalos de alta intensidad (HIIT) y los aeróbicos
continuos en corredores amateurs adultos. Métodos: Formaron parte del estudio 10 corredores con edad promedio de
35,7 ± 5,87 años, estatura 1,69 ± 0,11 m; masa corporal 74,13 ± 11,26 kg; porcentual de grasa 19,31 ± 4,27% y consumo
máximo de oxígeno (VO2máx.) de 3,50 ± 0,64 l/kg/min-1. El protocolo de ejercicio aeróbico continuo consistió en 20
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minutos de carrera con intensidad de 70-75% FCM. Para HIIT fueron realizados dos ciclos de 8 sprints de carrera en la
mayor velocidad posible, con duración de 20 segundos/10 segundos de descanso y tres minutos de intervalo entre los
ciclos. La muestra realizó los dos protocolos con como mínimo 48 horas y como máximo una semana de intervalo.
Después de los protocolos de carrera, se observó el EPOC a través de la ergoespirometría y fue analizado el consumo
promedio entre 25-30 minutos después del ejercicio. Para el consumo en reposo, se utilizó el consumo de oxígeno de
9-10 minutos. El estudio posee delineación experimental del tipo transversal. Resultados: Se observó un consumo de
oxígeno de 0,57 ± 0,29 l/kg/min-1 y un gasto energético de 2,84 ± 1,44 kcal/min para el ejercicio aeróbico continuo,
ya para el HIIT 0,61 ± 0,62 l/kg/min-1 y 3,06 ± 1,10 kcal/min respectivamente (p<0,05). Conclusión: Los protocolos
realizados no demostraron diferencia estadística significativa con relación al EPOC y al gasto energético, aunque
la realización del HIIT aumentó el metabolismo de los lípidos para la recuperación del ejercicio, pudiendo favorecer
el proceso de adelgazamiento, además de ser necesario un menor tiempo para practicar ese modelo de actividad.
Nivel de evidencia I, estudio clínico aleatorizado.

Descriptores: Entrenamiento en intervalos de alta intensidad; Consumo de oxígeno; Ejercicio aeróbico; Gasto de energía.

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1517-869220192501181346 Artigo recebido em 13/06/2017 aprovado em 16/10/2018

INTRODUÇÃO de massa corporal, considerando que o emagrecimento resulta de um


O balanço energético resulta da ingestão e do gasto de energia. balanço energético diário negativo entre ingestão e gasto energético.11,12
Quando em desequilíbrio pode ocorrer a redução ou aumento das Nesse contexto, o objetivo do presente estudo foi comparar o EPOC
reservas de gordura corporal.1 A quantidade de calorias gastas por dia e o gasto energético de recuperação entre HIIT e aeróbio contínuo.
divide-se em três componentes: taxa metabólica de repouso basal, efeito Nossa hipótese foi que o HIIT apresentaria diferenças significativas em
térmico da dieta e exercício físico, sendo este último o componente mais relação ao exercício aeróbio contínuo.
variável, pois ele varia de acordo com o envolvimento das pessoas em
MÉTODOS
programas de exercícios.2
Os exercícios aeróbios se tornaram populares por ser o principal O presente estudo foi realizado no Laboratório de Ergoespirome-
método utilizado para o emagrecimento e o treinamento da capaci- tria e Reabilitação Cardiopulmonar da Faculdade de Educação Física e
dade cardiorrespiratória.3 Estes exercícios estimulam a a as funções do Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo- RS. O estudo foi aprovado
sistema cardíaco, respiratório e metabólicos, recrutando grandes massas pelo Comitê de Ética da universidade local, sob o número 1.748.970.
musculares de forma rítmica para este tipo de exercício físico.4 Fizeram parte do estudo 10 voluntários do sexo masculino com
O treinamento contínuo consiste em um exercício prolongado com idade média 35,7 ± 5,87, estatura 1,69 m ± 0,11, massa corporal 74,13 Kg
ritmo cadenciado de intensidade moderada, realizado entre 60% a 80% ± 11,26, percentual de gordura 19,31 ± 4,27 e VO2máx. de3,50 ±
do VO2máx1, mantendo assim a frequência cardíaca em torno de 7 7 0,64l/kg/min-1, praticantes de corrida há mais de seis meses e no mínimo
70% da máxima.5Já o HIIT é um programa de exercícios c com períodos três vezes por semana. Os participantes foram recrutados da cidade local,
de exercício e de recuperação.6 O intervalo de recuperação pode ser informados sobre os objetivos da pesquisa responderam o questionário
passivo ou ativo, dependendo da intensidade e do objetivo implicados de aptidão física PAR-Q13 e o o assinaram o termo de consentimento
no treinamento, pois ele consegue aprimorar diferentes sistemas de livre e esclarecido.
transferência de energia.7,8 Para verificar a capacidade aeróbia dos participantes utilizou-se o
Após a execução de uma sessão de exercícios a taxa metabólica teste de VO2máx.seguindo o protocolo de Cooper,14 em que o sujeito
permanece elevada em relação aos valores de repouso, para que o deve correr ou caminhar 2400 metros no menor tempo possível. Para
organismo retorne ao seu estado de equilíbrio.6 Esse momento é deno- controlar o tempo do teste utilizou- se um cronômetro Oregon SI210
minado EPOC, consistindo em dois componentes rápido e prolongado. (Oregon Scientific Brasil, Av. Ibirapuera 2907 – 1602, Moema, São Paulo,
Apesar de que, as causas precisas dessas respostas não estejam bem Brasil). A determinação do VO2máx. foi realizada de acordo Cooper.15
esclarecidas, é provável que estes fatores contribuam para a ressíntese A composição corporal foi coletada de acordo com o protocolo
do ATP/CP, aumento na atividade da bomba sódio potássio, restaura- de três dobras de Pollock,16 para a coleta destes dados foi utilizado um
ção do dano tecidual, remoção do lactato, restauração do aumento da plicômetro e um estadiômetro da marca Cescorf(Cescorf Equipamen-
frequência cardíaca e do aumento da temperatura corporal. Durante tos para o Esporte LTDA, Av. Copacabana, 435, Porto Alegre – Brasil.),
o componente prolongado, processos para o retorno da homeostase ambos com precisão em milímetros, e uma balança eletrônica modelo
fisiológica ocorrem em um nível mais baixo e de forma contínua. Estes PLE-180 (Lucastec Balanças Eletrônicas LTDA, Rua Paulo Andrighetti,
processos podem incluir a maior utilização dos ácidos graxos no ciclo 149 - Belenzinho, São Paulo – Brasil).
de Krebs, aumentar o efeito de hormônios como o GH, insulina, ACTH, Procedimentos: Todos participantes foram orientados a não prati-
cortisol e hormônios da tireóide. Além de aumentar a atividade simpática, car nenhuma atividade física nas 48 horas que antecederam as coletas.
a respiração mitocondrial, a temperatura, a ressíntese da mioglobina, Primeiramente, foi coletado o consumo de oxigênio de repouso por
da hemoglobina e do glicogênio.6,7 medida direta de análise de gases. Sendo utilizado uma Máscara de
O EPOC possui relação direta com o gasto energético, posto que, silicone(Hans Rudolph. 8325 Cole ParkwayShawnee, KS 66227. EUA) e
considera-se que a cada litro de oxigênio consumido em média cinco um Analisador de gases Ergo PC Elite VO 2000 (Inbramed, Rua Santos
calorias são gastas em nosso organismo.9 Desta forma é um importan- Dumont. 1766/01 – Porto Alegre, Brasil). Para isso o participante per-
te fator a ser considerado no emagrecimento, pois ao queumenta a maneceu deitado sobre uma maca durante 10 minutos, tendo como
demanda de uma energia extra além da prevista na atividade física.8,10 objeto de análise o último minuto por caracterizar assim um maior
Vários trabalhos têm analisado a contribuição do EPOC para redução tempo de repouso.

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Os protocolos de corrida foram realizados em diferentes dias na pista O EPOC dos diferentes protocolos realizados no presente estudo não
de atletismo de 400 metros da universidade local, todos com um intervalo apresentaram diferença estatística significativa, supõem-se, portanto que
mínimo de 48 horas e no máximo uma semana. Todos participantes o HIIT realizado apesar de produzir respostas fisiológicas diferentes, não
realizaram um aquecimento padrão com duração de cinco minutos de é capaz de alterar o EPOC em relação ao exercício aeróbio contínuo.
corrida de baixa intensidade e, posteriormente deste os sujeitos foram A quantidade de CO2 expirado pelos participantes não apresentou
submetidos a três minutos de descanso para o início do teste. diferença significativa quando comparado com os níveis de repouso.
Para execução do HIIT, foi solicitado que os participantes corressem O Quociente Respiratório (R) mostrou diferença significativa para o
na maior velocidade possível durante os Sprints. Utilizou- se o protocolo HIIT, tendo em vista que este consiste em R= VCO2/VO2, nesse sentido
de Tabata17adaptado para corrida, em que os participantes realizaram observou-se um acompanhamento com o aumento da produção de
oito ciclos de 20 segundos de corrida por 10 segundos de descanso ativo CO2 nesse protocolo.
(caminhada).Após isto, foi permitido um descanso passivo de três minutos,
logo em sequência, foram realizados mais oito ciclos do mesmo protocolo. DISCUSSÃO
Para a realização dos exercícios aeróbios contínuos os sujeitos foram O principal achado do presente estudo foi que após a realização do
submetidos a uma corrida de 20 minutos com intensidade moderada de protocolo de HIIT o OO EPOC foi de 0,61 ± 0,62 lO2/kg/min-1, já para o
70% a 75% da frequência cardíaca máxima de cada indivíduo (220-idade).18 aeróbio contínuo foi de 0,57 ± 0,29 lO2/kg/min-1, sendo assim mostrou
Para monitorar a frequência cardíaca foi utilizado um monitor cardíaco diferença significativa ao consumo de oxigênio em repouso que foi de
da marca Oregon modelo HR102 (Oregon Scientific Brasil, Av. Ibirapuera 0,40 ± 0,14 lO2/kg/min-1. Por outro lado, não foram encontradas diferenças
2907 – 1602, Moema, São Paulo, Brasil). significativas quando comparados entre si. O estudo de Simmons et. al19
Após a realização de cada teste de corrida os participantes foram corroboram com os dados obtidos no presente estudo, pois analisou o
submetidos a cinco minutos de resfriamento, logo em sequência iniciou- EPOC de nove indivíduos, sendo cinco homens e quatro mulheres, que
se o processo para coleta do EPOC. A análise de gases foi verificada de foram submetidos a dois protocolos de exercícios diferentes em uma
acordo com as instruções do fabricante durante 25-30 minutos após o bicicleta ergométrica. O primeiro, continha dez momentos de um minuto
exercício. Os indivíduos permaneceram deitados sobre uma maca no de exercícios a 90% da potência aeróbia máxima por dez intervalos de um
laboratório até o final da coleta. minuto a 60% da potência aeróbia máxima, caracterizando assim um HIIT.
O gasto energético de recuperação foi calculado baseado em Foreaux No segundo protocolo os participantes foram submetidos a 30 minutos
et. Al,9 em que a cada litro de oxigênio consumido varia de 4,69 kcal a de exercícios com intensidade de 50% da potência aeróbia máxima.
5,05 kcal conforme a mistura de substratos energéticos que está sendo O EPOC medido de 11 a 41 minutos foi de 0,86 ± 0,31 lO2/kg/min-1 para o
metabolizada. No presente estudo, realizou-se uma multiplicação entre protocolo de HIIT, já para o protocolo de exercício aeróbio contínuo o EPOC
a quantidade de oxigênio consumida por 5kcal. foi de 0,84 ± 0,44lO2/kg/min-1. Assim como no presente estudo o EPOC
Análise Estatística não foi diferente estatisticamente, apesar de apresentar valores superiores.
Os resultados desse estudo foram expressos por meio da estatística Lira et. al20 identificaram que após 30 minutos de corrida em esteira ro-
descritiva em medidas de tendência central (média) e dispersão (desvio lante com intensidade de 90% do Limiar Anaeróbio o EPOC de 0 a 10 min.
padrão). Os pressupostos de normalidade foram verificados mediante o foi de 5.65 lO2/kg/min-1, de 11 a 20 min. o EPOC foi de 3,92 lO2/kg/min-1,
teste de Shapiro- Wilk. Para verificar as diferenças nas variáveis fisiológicas, já de 21 a 30 min. o EPOC foi de 3,51 lO2/kg/min-1, caracterizando assim
tais como: frequência cardíaca, consumo de oxigênio e gás carbônico, um EPOC maior em relação ao presente estudo.
quociente respiratório e quilocalorias consumidas nas condições de Ao contrário dos dados do presente estudo, Laforgia et.al21 observaram
repouso, pós exercício intervalado e pós exercício contínuo foi utilizado em oito corredores de média distância um EPOC de 9 horas os seguintes
uma ANOVA de medidas repetidas, seguidos por um teste post hoc de valores: 6,9 ± 3,8 lO2/kg/min-1 para o protocolo de atividade submáxima que
Tukey. Os cálculos foram realizados no software de análise estatística consistiu um 30 minutos de corrida em um esteira rolante a 70% VO2máx.,
(SPSS16.0), sendo adotado um nível de significância de 5%(p< 0,05). já para o protocolo supramáximo realizou-se vinte momentos de corrida a
105% VO2máx. por dois minutos de descanso, o EPOC apresentado foi de
RESULTADOS 15,0 ± 3,3 lO2/kg/min-1, caracterizando assim uma diferença significativa
Pode-se observar que a frequência cardíaca (FC) apresentou diferença para o treinamento supramáximo. Desta forma, os protocolos desse estu-
estatística significativa após ambos os exercícios, pois se manteve elevada do apresentaram resultados bem mais altos que os do presente estudo.
em relação aos índices de repouso. Este achado já era esperado, devido Em um estudo mais recente Matsuo et. al22 avaliaram o EPOC de 180
ao processo fisiológico de recuperação e consequentemente do EPOC. minutos de dez indivíduos do sexo masculino que praticaram 7 conjun-
Quando comparada a FC de um exercício com o outro, percebeu-se uma tos de 30 segundos de ciclismo a 120% VO2máx. com 15 segundos de
diferença significativa, pois essa variável se manteve mais elevada no pro- descanso; 3 séries de três minutos com intensidade de 80 – 90% VO2máx.
tocolo de HIIT (Tabela 1). com um descanso ativo de 2 minutos a 50% VO2máx.; e 40 minutos
de exercício aeróbio contínuo com intensidade de 60 – 65 % VO2máx.
Tabela 1. Valores médios e desvio padrão das variáveis analisadas. O EPOC encontrado para cada protocolo foi de 6,8 ± 4,0lO2/kg/min-1; 4,5
Pós aeróbio Pós aeróbio ± 3,3 lO2/kg/min-1; 2,9 ± 2,8 lO2/kg/min-1 respectivamente. Este estudo
Variáveis Repouso
contínuo 25 a 30m intervalado 25 a 30m
demonstrou EPOC maior para o HIIT em relação ao aeróbio contínuo, o
FC ( bpm) 58,8 ± 10,51 66,9 ± 11,55* 79,1 ± 13,29*@
VO2 (L/kg/min-1) 0,40 ± 0,14 0,57 ± 0,29* 0,61 ± 0,62* que se opõem aos resultados do presente estudo.
VCO2 (L/kg/min-1) 0,41 ± 0,16 0.49 ± 0,25 0,49 ± 0,22 Dessa forma, apesar do EPOC dos diferentes protocolos realizados
R (VCO2/VO2) 0,88 ± 0,8 0,87 ± 0,06 0,77 ± 0,07*@ no presente estudo não apresentarem diferença significativa, supõem-se
Kcal/min 1,98 ± 0,72 2,84 ± 1,44* 3,06 ± 1,10* que o HIIT realizado produz respostas fisiológicas diferentes em relação
Fonte: Dados da pesquisa. Frequência cardíaca (FC); Volume absoluto de oxigênio pós exercício (VO2); Volume
absoluto de gás carbônico (VCO2); Quociente Respiratório (R); Calorias gasta após o exercício (Kcal); dos indivíduos
ao aeróbio contínuo, porém não é capaz de alterar de forma significativa
no momento das coletas do EPOC do exercício aeróbio contínuo e o intervalado de alta intensidade. *Diferença o EPOC. No entanto, é necessário um menor tempo de trabalho para
estatística significativa em relação ao repouso. @ Diferença estatística significativa em relação ao EPOC de 25 a
30 minutos do aeróbio contínuo. realizar este protocolo, o que, pode ser benéfico e útil para indivíduos
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que possuem pouco tempo para realizar exercícios físicos. Tendo em (60% VO2pico) ou de baixa intensidade (60% VO2pico). Os autores ainda
vista que o HIIT é uma excelente ferramenta para aumentar o condicio- sugerem que, quanto maior a intensidade do exercício maior o gasto
namento físico e o gasto energético. energético advindo dos lipídeos durante a recuperação. Este fato vem
O Quociente Respiratório (R) mostrou diferença significativa para de encontro com os dados encontrados no presente estudo.
o HIIT, fato justificado provavelmente pelo aumento da quantidade de Diversos estudos vêm analisando as respostas fisiológicas de diferen-
CO2 expirada pelos sujeitos nesse protocolo. Pode-se, ainda, relacionar tes intensidades de exercício, o que percebe-se, é que os dados obtidos
os valores de R com a fonte energética que está sendo utilizada para a nos mesmos são muitas vezes controversos, pois alguns25-27 sugerem
recuperação do sujeito após o exercício. que não há diferença entre as variáveis analisadas, já outros que existe
Para Wilmore e Costill23 a medida que o R se aproxima de 1 aumenta diferença nos protocolos realizados.28-30
a quantidade de substratos provenientes de carboidratos utilizados Ao analisar todos os dados e compará-los com diversos estudos
para a volta à homeostase do organismo, ou seja, os valores próximos percebeu-se que o EPOC e o gasto energético de recuperação variam
de 0,7 sugerem queima de gordura, próximos a 0,9 e 1,0 priorizam a de acordo com a modalidade praticada, o volume e a intensidade
degradação de carboidratos. Desta forma, o presente estudo sugere empregada no exercício.
que o protocolo de HIIT pode favorecer o consumo de lipídios para este
processo, pois o valor apresentado foi de 0,77 para este protocolo. Já no CONCLUSÃO
aeróbio contínuo o valor de R foi 0,87, o que, sugere que a principal fonte Conclui-se, a partir dos resultados do presente estudo, que não
energética metabolizada para a recuperação muscular neste protocolo houve diferença significativa entre os protocolos realizados em relação
são os substratos energéticos advindos dos carboidratos. ao EPOC e ao gasto energético, porém a realização do HIIT pode se
O presente trabalho correlacionou o EPOC com o número de calorias tornar uma ferramenta útil e válida para pessoas que não possuem
utilizadas durante a coleta do mesmo. Os resultados observados rela- tempo para realizar atividades mais longas, mostrando-se eficiente,
tam que houve um aumento considerável em relação as calorias gasta pois promove um EPOC e gasto energético de recuperação parecidos
no repouso, porém não identificou-se diferença significativa quando com os obtidos nos exercícios aeróbios contínuos, além de aumentar
comparado os dois protocolos. o metabolismo dos lipídeos na recuperação do exercício, o que pode
Ao contrário dos dados obtido nesse estudo, Lins et al24 analisaram o favorecer o processo de emagrecimento.
gasto energético de recuperação de duas horas após sessões de exercí-
cios em uma esteira com intensidades diferentes. O grupo que realizou
Todos os autores declararam não haver qualquer potencial conflito
o exercício de alta intensidade (80% VO2pico), obteve um maior gasto
de interesses referente a este artigo.
energético em relação aos grupos que realizaram atividades moderadas

CONTRIBUIÇÕES DOS AUTORES: Cada autor contribui individual e significativamente para o desenvolvimento do manuscrito. MAS (0000-0003-4085-357X)* contribuiu na
concepção, desenho, aquisição, coleta, análise dos dados e redação do manuscrito; FM (0000-0001-9931-4445): revisão, interpretação, análise de dados e desenho do artigo; JCSA
(0000-0001-5963-4866): revisão, interpretação, coleta dos dados e desenho da pesquisa. GHH (0000-0001-6578-0640)*: Revisão e interpretação do artigo. Todos autores revisaram e
aprovaram a versão final do trabalho. *ORCID (Open Researcher and Contributor ID).

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Rev Bras Med Esporte – Vol. 25, No 1 – Jan/Fev, 2019 23

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