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Síntese – Déficit ou Diferença?

Um estudo Sobre o Autismo em Pesquisas


Educacionais

Em sua edição mais recente o DSM-5 apresenta a Tipologia do Transtorno do


Espectro Autista (TEA) em substituição a definição anterior do DSM-IV, que agrupava
na Categoria “Transtornos Globais do Desenvolvimento" a Síndrome Autista, a
Síndrome de Asperger, a Síndrome de Rett, o Transtorno Desintegrativo da infância ou
autismo secundário e o Transtorno Generalizado do Desenvolvimento Não-
especificado. A nova tipologia proposta pelo DSM-5 elimina os 5 subgrupos da versão
anterior e passa a adotar, como critérios de diagnóstico, apenas a escala de gravidade do
transtorno, com base em um modelo bidimensional (BIANCHI, 2016). Segundo o novo
modelo proposto pela American Psychiatric Association (APA), a conhecida tríade do
autismo é agrupada em uma díade, a partir de duas dimensões. A primeira caracteriza-se
por déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos
contextos. A segunda refere-se aos padrões restritos e repetitivos de comportamento,
interesses ou atividades (APA, 2014).

De acordo com Justo (2010), em uma crítica ao modelo biomédico de


explicação sobre o autismo, a tentativa de agrupamento feita pelo DSM-5 fortalece a
tendência de padronização dos indivíduos, ocultando suas diferenças e subjetividades.
Reforça, com isso, uma perspectiva ontológica do autismo que o concebe como doença,
entidade externa e maléfica ao individuo, que, mediante uma terapêutica adequada,
poder ser eliminada (CANGUILHEM, 1995).

A partir de uma noção socialmente imposta sobre o que é normal, define-se


como anormal ou patológico tudo aquilo que, quantitativa ou qualitativamente,
distancia-se do padrão. Normal e patológico assumem aqui um caráter estático e
independente de condições culturais, sociais. No entanto, como afirma Canguilhem
(1995, p.113), "não existe fato que seja normal ou patológico em si. A anomalia e a
mutação não são, em si mesmas, patológicas. Elas exprimem outras normas de vida
possíveis".

Com relação ao autismo, destacam-se os Critical Autism Studies (CAS), termo


cunhado por Davidson e Orsini em um encontro de pesquisadores no Canadá, em 2012,
que resultou na obra Worlds of Autism: Across the spectrum of neurological difference
(DAVIDSON; ORSINI, 2013). Compreendendo que o autismo é, para além de uma
doença, uma rede de significados que se constrói a partir de múltiplas realidades, esse
campo de estudos organiza-se a partir de três eixos: a) na ênfase sobre os modos como
as relações de poder produzem o conhecimento sobre o autismo; b) na busca por novas
narrativas sobre o autismo que discutam os discursos predominantes do modelo
biomédico, centrado no déficit e degradação; e c) na construção de novas estruturas
analíticas sobre o estudo da natureza e a cultura do autismo, com base em pressupostos
teórico-metodológicos inclusivos (DAVIDSNON; ORSINI, 2013; O'DELL et al.,
2016).

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