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LEMENLACHN, ikaw A Poiihe dh thers es nisterns juridion. Aeron AVIAN. Porte Alegre Aare, SAUL jal, 18 DOUTRINA ESTRANGEIRA A POSICAO DOS TRIBUNAIS NO SISTEMA JURIDICO NIKLAS LUHMANN Professor na Universidade de Biefeld 1Alermanhal Taxto traduzia por Pater Naumann © revisado pela Profa Vera Jacob de Fra: dare. Form usados peréntases pare destacar os termas alemies, cuja tradugso o wadutor considers imparteita. Alim dissg, o5 titulos dat publicagdes em lingua alemd, bem como of nomes de publicagter periddicas erm lingua alema foram citade: no original, ecrescentando- 38 atradugio portuguesa entre parénteses, 0 wadutor introduziu um neologisna, o adjetiva ‘autapoiétios’, terme central da teo- ria sistimica de Niklat Luhmann. Optou pela grafia grega, para impedir qualquer assoclagfo com o adjetive ‘podtico’, ralative & poesia’, @ enfatizar a etimologia. Assi ‘autopolttica’, sempre destacado por aspas simples, significa: que se faz a si mesmo (nota do traduter) A posic¢ao dos Tribunais no sistema juridico é determinada preponderan- temente pela distin¢do entre legislapio e jurisdigao, Os Tribunais sao um lado dessa distingao; do outro lado encontramos a legislacao. A propria distingdo ¢ vista coma um instrumento de autodiseiplina do sistema juridico, com hase em uma tradic3o que remonta & antiquidade '1!, Ela impede que todes as questiies juridicas sejam decididas a partir de um ponto, a partir de um centro, que poderia servir simultaneamente de ponto de interferéncia a interesses sociais, No mundo antigo esse principio se voltava contra a diferenciagio segmentaria dos amigos e parentes ‘mais préximos’ ou ‘mais distantes' u, de maneira limita- da, também contra a centralizacée do poder no topo da sociedade, portanta, (1) — Cfe. Aegidius Calumnae Romanus (Egidia Colonna), De Regimine Principum \.277/79), citado segundo a edigia da Roma de 1607, reimpressa em Aalan arn 1967, p. SOG e& tegi., onde o autor invoca passagens correspondentet da Retérica de Aristdteles (1384401, 180/4 pasigfa dot tribunals no sitterna juridicn contra a estratificagio, Liberdade '! — também e precisamente a liberdade do Juiz = consiste em ter de obedever apenas ds leis, Mas somente no sec. XVII essa forma da diferenciagdo do sistema juridi- co acabou por impor-se plenamente. Antes estava em jogo um principio de significacdo apenas limitada, necessdrio apenas para efeitos de tdenica de regu- lamentacao, Esse principio estava na jurisdietio, concebida como unidade e como tarefa da socfetas civilis, quer dizer, desde o fim da Idade Média como tarefa do estado territorial governada pelo principe (31, Qualquer separacto mais profunda entre legislacdo e jurisdi¢aa teria posto em perigo a unidade do estado territorial politica e juridicamente auténomo, que estava entda em for- macio. Somente no séc, XVII1 os homens passa a aceltar, sob a proteqiio do Direito natural e do Direita da razio, a iddia de que todo e qualquer Direito & Direito Positive segunde a substancia das normas e a efetividade: somente com isso a idéia da autolimitagio se agudiza, O que foi designado acima como protegio através do Direito natural e do Direito da razdo pode ser importante como referéncia erm questGes de justificagdo, mas no propria sistema juridies splica-se agora somente o Direito Positivo, que pode ser reduzido ao propria sistema (4), (2) = Colonna, orm outra passagern, p, 548, (3) — Cfe. aqui Piewe Costa, lurisdictio: Semantica del Poters Politico melta Publicis. fica Medsevale (7700-14331, Mildo, 1969; Brian Terney, Religion, Law and the Growth of ‘Constitutional Thougth, 1150-1650, Cambridge/Gri-Bretanha, 1982, Pp. 20-8 segs. {4} — Podemos recanhece: como um proceso evalutive rigergsamente paralelo o sur gimanto de uma ética estritamente utifitarista, Ela explica © reespecifica, no eéc, XVI © nas primeinas dicadss do séc, XVIII, = Vontade de Deus, fundamentadora de toda & qualquer moral, Cle. para tal NW. E. Simonds, The Decting of Juridical Reason: Deoctrine sod Theory in the Legal Order, Manchester, 1984, p, 83 ¢ segs, Somente Bentham rompe SOM essa gupArestrutura & se-satisfaz com wma explicegdo do principio utilitarista, No lugar de uma fundamentagio a8 grau superior aparece a necessidade da uma regra de interrup- Go para evitar o reyressus in infinéum bem coma um arguments de suto-referéncia a la Descartes: também os orftiess de utilicarismo argumentem de forma urilitariste. Cle. Je- remy Bantham, An Introduction to the Principles of Morals and Legislation (1789, citada segunda a edicSo de Nova lorque, 1948, p. 4 e segs}. Nao d por seaso que essa dtica se liga em Bentham # ume teoria positivista do Direito, A posigio dos tribunals vo sistema juridica! 157 4 diferenciacaa de urn sistema jurfdico autoconstituinte encontra um respalde organizacional na diferenciagao de legistagéo e jurisdicdo. Isso acarreta RUMerosas Consequéncias, que podemos sugerir aqui apenas em breves topicos, (1) — Torna-se possivel incluir es fundamentos da vigéncia do Direite ho préprio sistema juridico na forma de uma lei constitucional {5), embora na forma de uma requlamentagéo especial, para a qual as regras jur(dicas costumei- ras (por exemplo a regra da colisdo, pela qual o Direito novo dernoga em caso de contradig&o o Direite mais antiga) quando com este incompativel, Nao tém vigéncia. Ao mesmo tempo a legislacdo constitucional exige uma Feorganizacao da referencia externa, pois nia podemos esperar com bons argumentos que Deus ou © monarca, que o representa, providencier o texte no ano exato da revolu¢do, Como é sabidio, a soluciio chama-se ‘povo', (2) — Os fundamentos da vigéineia podem ser ampliados. A commen tavw conserva a sus tradicao paisando a reconhecer decisdes de casos precedentes como obrigatérias, ao invés de remeter apenas ao principio da antiquidade imemorial e do costume numa evolucio que chega a termo somente ma segunda metade do séc. XIX (61, Mo cantinente europeu o Direito Civil Romana, aper- teicoado no decurso da histdria, é reconhecido como Direito vigente a partir da interpretagao dos Tribunais ea partir da importancia da experiéncia histérica — mas Isso somente enquanto a processo de uma codificagdo legal ainda mio esta conclufdo, 13] — A tradicional funcdo administrativa local dos Tribunais como or- gaos das instancias centrais — podemos lembrar aqui que os Estados Unidas hao conheciam nenhuma autoridade a nivel local além dos Tribunais, na épo ca@m que a Constituicéo entrou em vigor sob o dogma da separacio dos [5) — Sobre a positividade da lei constitucional tundementadore de Direito @ do por der estatal Gore uma inowagdo da segunda metade do ede. XVIN, ote. Dieter Grimm, Entstehungs—und Wirkungahedingungan des Madernan Konstitutionalismus (CondicSoe do Surgimenta ¢ da Acéo de Constitucionalisme Modernal, in Aktesdes. 26, Deutschen Rechtshistorikertages (Atas do 26° Congreso Alemio da Histéria durtdiea), Frankturw Main, 1987, p. 46-76. 16) — Sobre o desenvolvimento paraleio na Alamanha, cle. Aegina Ogorek, Richterka - nig oder Subsumtiontautomat? Zur Justiztheozie im 19. Jahrhundert (duie-Rei ou Auta mato de Subsuneao? Sobre a Teoris da Justica no ade. X1X), Frankfurt/Main, 1986, sobre- tudo p, 170 e segs. 152/A pantie des tribunals ne sistema juridica poderes 7! — ¢ limitada significativamente e finalmente delegada integralmente 4s autoridades acministrativas especialmente criadas para tal fim. A jurisdigaa (Gerichtsbarkert) ¢ neutralizada politicamente como funcée nuclear do sistema juridico, Mas isso nfo signitica que ela estaria condenada a ineficdcia em questiies de transformacio do Direito '8!, O contrdrio ¢ verdadeire: justamente por ndo poderem ser responsabilizados politicamente pelas conseqiléncias das suas deci- s6es, of Tribunais ficam excluidos da participagie na aco polltica (81, mas sia Por isso mesmo favorecides na sua participacso na transformacdo do Direito, sobretudo em éreas nas quais o legislador damonstra ser relativamente inati- vo (191, (4) — Por volta do fim do sée. XVII também o modelo de ordem/obe- diéneia sofre uma revis&e com vistas A relacio entre legislagao @ jurisprudéncia, Isso se manifesta no fato de se desistir da reserva de interpretagae (/nterpreta- onsvorbehale) [réfdré ldgisiatif) do legislador, considerado até enti necessario: Gi) — Cte. Handrik Hartog, The Public “Law inva Contry Court: Jud Governmant in Eightesth Cantry Massachusetts, in American Journal of Legal History 20 (9976), p. 282-228, Aqui entontramos, de resto, tambérn a explicaeSo histérica do fata dos america: not — naquela época, cgntra as tantativas reformistas de Lorde Manefieled, mas também hoje ainda — congervarem com tamanha teneticade a distingiia de judge © jury, Tretava-se, se abstrairmos dap célebres conventions da Nowa Inglaterra, dé diniea forma de oxpressao de democracia local. (8) — Para tal (e dasmontando uma lenda em torna de Montesquieu, ¥. Regina Ogo- rok, De L'Esprit dos Ligendes oder wie Gewissermaben aus dem Nichts eine interpreta. tHionslehre Wurde [09 L'Esprit des Légendes ou como de certa manele o nada se transfar- ma am uma doutring ce interpretacdo), in Aechtshistoritche Journal (Revista de Histéria do Direito}, 2 11983). (8) = Assim arqumenta par exempia Ernst Forsthoft, Der Staat der Industrigga- solischaft: Dargestellt am Beispiel der Bundesrepublik, Deutschland (O Estado da Sociedade Industrial. Apresentado com basa ne exempla da Aepdblica Federal da Alemanhal, Nu- nique, 1971, p. 133. Assim estudos empiricns de cata mais recente demonstram que = influéneia dos juristas (especializados no conkecimento de sistema judicidria) na politica coatuma ser superestimada, V. Robert L, Netson/John P. Heinz, Lawyers and the Structu- re of Influence in Washington, in Law and Society Review 22 (1988), p. 237-300, (10) — V. para a Eschcia David Liebermann, The Legal Needs of a Comercial Sociaty: The Jurisprudence of Lord Kames, (a Istvan Hont/Michsel Ignatieff (edd,), Wealth and Virtua: The Shaping of Political Eoonamy in the Scottish Enlightenment, Cambridge,’ ‘Gré-Bretonha, 1983, p. 203-231. no sisterna juridica/1 53 a partir de agora ndo 5G a fungao'de aplicacéo, mas também a da interpretacio das feis é delegada aos Tribunais '11!, Somente isso forna possivel que se possa exigit que os Tribunais decidam tedos os casos que /hes sdo apresentadas. A ‘vinculagao & lei’ torna-se assim, por sua vez, objeto da interpretagdo por parte do Juiz, (5) — Concede-se gradativamente também & vontade ‘privade’ um poder de disposicio cada vez maior sobre o simbolo ‘vigincia do Direito’, ¢ isso ne forma de uma liberdade contratual isenta de toda e qualquer coaciio de tipos (12), (17) — Che. sobre esse desenvalvimenta Hermann Conrad, Richter und Geserz im Uber- gang vom Absolutismus zum Verfassungsstaat (Juiz e Direita na Transi¢ée do Absolutismo pare o Estado Conetitucionall, Graz, 1971, (12) — V. sobre o desenvolvimento na Inglaterra, que inicia relativamente tarde em comparagde com a Europa contirwntal, Patrick S. Ativan, The Rise and Fall of Freedom and Contract, Oxford, 1979. De resto, nada mostra melhor @ autonomia da evolugde do sistema juridico do que o fato, surpreendente primeira vista, de qua a figura juricica do contrato consensual liberta de todas a4 restriches segundo tipos « de figagies estreitas a capacidades definidas de demandar (writ, actio) foi implanteda muito antes no continente do que ne Inglaterra, muito mais evancada do ponte de vista econdémico; a Inglaterra inicialmente s2 tinha satistalto com ampllagdes extremaments cautelosas na frribito da doutrina da consideration lobrigagio em reapeito a um service (Gegenleistung) jd prestada oy @ ser prestado. O fundamento da teoria da consideretion repousa sobre uma idéia de reciprocidade: ume promtssa 46 se transforma em contrato juridicamente wilido quando digo pessivel de ser avaliada tconomicamente ¢ dado em troca), ediminindo obrigagdes futuras purat somente no inicio do ste. XIX. A titulo de comparagio, v. Max Rheinstein, Dig Struktur der Vartraglichen Schuldverhalinisse im Anglo-Amerikanischen Reche (4 Es- trutura das Aelagdes de Obrigaptet Contratuais no Direite Anglo-Americana, Berlim, 1932). Cte. ainds A.W. 8. Simpson, A History of the Common Law of Contract: Tha Rise of the Action ef Assumpait, Oxford, 1975; Morton J. Howitz, Tha Tranelormation of American Law, 1780-1280, Camibridge/Mesn,, 1977; A, W, 8, Simpson, Innovation in Mineteenth: Century Contact Law, in ibid,, Legal Theory and Legal History: Essays on the Common Law, London, 1987, p. 171-202. A diferenca fica esclarecida {sem que iso pudesse expii- sar a evolucio distinta do Dirrito Privado! se levarmos em consid@ragSo at regulamenta- gbes intoduzides potas autoricades, que hoje seriam localizadas na esfera do Direita Pobli- on, quer dizer, restrigGes do comercio de imdveis, da procupdo de mercadorias, do cxmedr- cio e dos relacionarmentos de servi¢n; pois elas foram desativades muito antes na Inglaterra do que no continents, Para tal ¥, Dieter Grimm, Soziale, Wirtechattliche und Potitische Voraustzungen der Vertragefreiheit: Eine Vergleichende Skizze |Pressuposios Sociais, Econémicos # Politiens ata Libardacn de Contato: um Esboga Comparative), 40 ibid, Recht und Stast der Burgerlichen Gesellschaft (Dirnito © Estado da Sociedade Burguesa), ‘Frankfurt/Main, 1987, p. 165-191, 1S4/A posigfo dos tribunals ne sistema juridica Como essa liberdade contratual pressupoe fundamentos ndo-contratuais, a doutrina positivista das fontes do Direito nao reconheceu os contrates camo fonte sui generis do. Direito # pode assim contribuir Para velar o alcance da transformacso, Mas os Tribunais reconhecem as ‘vontades das partes contratan- tes’ como objeto da sua interpretagdo, quer dizer como um substitutive do Texto. E de qualquer maneira 9 conceito do ‘privado’ permanece sendo um concelto juridico controlado no sistema juridied, (6) — Quanto mais se reconhece essa competéncia da vontade Privada para a positivizagao do Direito, tanto mais o meio assim criado de um acopla- mento quast ad fbjtunm de vontades demonstra sero campo por excelancia da Mmanifestagdo da intervencdo polltica, que por sua vex se vale da legislacda e se deixa controlar pela jurisprudéncia. © ponto culminante da dowtrina da liberdade contratual — ja determinada ideologicamente enquanta formulacgdo, pols antes tinha sido suficiente falar da forca vinculativa dos contratos como Causa do surgimento de obrigacGes — ¢ ultrapassado rapidamente. Na Inglaterra isso se dd por volta de 1870, nos Estados Unidos duas a trés décadas mais tarde. Os pontos vulnerdveis esto em parte no Direito Trabalhista, em parte no Direito dos cartéis, no qual a liberdade contratual precisava ser qarantida con- tra si mesma, e, surge, bem mais tarde, também no Diteito social (13), Ne entanto, apenas a andlise retrospectiva desse procesio mostra com clareza até que ponto a libera¢io da propriedade e do contrato tinha criado formas que podiam mais tarde servir de meio fimitavef para o sistema polftico, Sem inter- ven¢So na liberdade nao existe nenhuma competéncia requiativa. Mas na Idade Média e ainda no estado territorial mercantilista justamente a liberdade tinha sida inversamente uma excecZo as limitagSes normalmente vigentes, concedida come um ‘privilégio’. (7) — Como resultado de tudo isso a separacio estrita de legislacdo e jurisprudéncia desde o séc. XIX cria a possibilidade de sujeitar um lado A vontade politica ¢ o outro @ vontade privada; com isso ela cria, portanto, a possibilidade de operar com distintas acoplamentos estruturais do sistema juri- dico ao sistema polftico, através das constituicdes, e ao sistema econdmico, através da propriedade e do contrate. A separaclo de legislagao e jurisprudén: tia é antSo formulada paradoxalmente como nao-separacia, came ‘vinculacée do Juiz a lei’, @ isso possibilita na prética a intervencdo paliticamente mativada (13) — Para uma cities v. par exemplo Aoscon Pound, Liberty of Contract, in Yale Law Review 1241909), p, 454.4097, A pesiggo des tribunals no sistema juriefien/155 na propriedade ¢ no contrata. Mas tudo isso depande da manutengdo da separa- do @, com iso, da canalizagdo diferencia! de influéncias externas. A desistén~ cia da manutengdo da separacio acarretaria o colapso do sistema juridico e, conseqdentementa, também o colapso da diferenciacio de politica e economia, Esse breve esboco deverd bastar para mostrar quais foram as influéncias nas transformacies ideoldgicas, pallticas ¢ juridicas, nas quais 3 diferenga de legislagdo e jurisprudéncia se viu obrigada a se afirmar. Ela logrou sobreviver enquanto distingao relacionada e materializada na organizagdo. Pois numa dis- tingéo assim concretizada na organiza¢io ningudm se lembra de solicitar o divércie ao parlamento ou de requerer a modificagio de uma lel junto a um jufzo civel, Nesse sentido justifica-se na pratica a distincao importante do pon to de vista da estrutura do sistema e sobretude da ponto de vista da estrutura da Sociedade, que vi no sistema social [funcionalmente difereanciado) de organi- zaces um tipo completamente diferente de sistemas sociais '14), Nesse caso as organizagdes que interagem segundo a divisGo do trabalho curiprem as suas respectivas funcoes. Mas a fungao da distinedo entre legisiagde @ jurisprudéncia née se localiza no plano organizacional: ela sa localiza ne sistema juridico da sociedade, Assim o paradoxo da unidade do que é distinguide se dissolve; do ponte de vista organtzacional o fato da distingfo vale camo pressuposiy da especificagdo de tarefas. Do ponto de vista social a distingdo vale come unida~ de, como forma. Ela fornece, na sua acao conjunta com outras distingdes, sobretudo nas distingGes entre codificapio binaria e programagdo, igualmente, na diferenca entre Direito ¢ ndo-Direito, por um lado, @ normas juridico-positi- vas, de outro lado, 6 pressuposto para que o proprio sistema jurldico se posse diferanciar do seu mundo circundante e para que ele possa, enquanto sistema Operativamente fechado, reproduzir suas proprias operapdes através da rede de operagies proprias (151, (4) — Cfo. Niklas Lubmann, Interaktion, Organisation, Gesellschaft |Internedo, Orga- nizagio, Sociedade|, in: ibid,, Soziologische Aufklarung [llustragda Socialdgical, Opladan, 1975, 29-20. (15) = Cfe. para tal Gunther Teubner led.}, Autopoletic Law: A New Approach to Law and Society, Berlim, 1999; ibid, Recht als Autapeietisches System (Dirrito como Sistema ‘Autopoidtice’), Frankfurt/Main, 1989. 180A posigiy dist Iibunsis no sistema juridies tl 4 anilise histérica das causas, que forneceram a distingao entre legislacaa f junsprudéncia o seu significado atual, explica aa mesma tempo determinadas fraquezas da descrigao tedrica dessa distingao. A sua posigio central enquanto atmagao estrutural para o processamento de questiies jurfdicas quase nBo & negeda e @ questionada ‘criticamente’ apenas de longe © sem consideracdo de outras postibilidades '16!, Mas a pergunta pela acepelo precisa dessa distincao nao é formulada, como se a resposta fosse evidente de per si: os Parlamentos tstariam entéo num lado ¢ os Tribunais noutrs, Ne Constituigto (GG, art. 97) lemos com clareza compreensivel para juristas o seguinte: “Os Juizes sao independentes e esto sujeitos apenas a Iai’, Independentes, mas no independentes, conforme ld 0 laigo. Com #feito, essa formula da tradi¢ga contém a decislio juridica sobre a diferenciagao do Direito, ‘9 que se pode ver na fato de que of regimes totalitérios interferem aqui © nga no procedimento complicado e demorado da legislacSo. A relevancia interna ao sistema furidico (juridica, justicidvel) pode estar nas relapies que caracterizam a administracio da justica ''7). Nesse casa 9 contradi¢ao se dissolve. Ao mesmo tempo, porém, a tematizagao da ‘independéncia’ produz um deslocamento da Rerspectiva na directo da sujei¢go 4 instrugda, isto ¢, na direcdo de um proble- Ma que podemos recanhecer em cases individuals ¢ remeter assim & prépria Justica. E entao a formula assegura o desiderato costumeiro de todas as hierar quias: # unidade do poder de instrugao. Assim a descricdo oficial parte de um modelo hierdrquico, segundo o qual a legislacao tem precadancia sobre a jurisprudancia, Isso soa plaustvel e nfo parece necessitar de maior fundamentacdo, se lembrarmos que a jurispru déncia deve levar em considerac3o o Direito vigente, em que pesem todas as liberdades de interpretagdo concedides, Somente num exame mals acurado as relagdes se evidenciam mais complexas, Assim sabemos muito bem que o legis- lador teria pouca sorte com as suas leis se ele descurasse da ‘justiciabilidade’. (1G) — Assim mais de passagem no conhacido ensaio de Walter Benjamin, Zur Krithk der Gewalt (Apontamentas sobre a Critica da Violéncia), citado sequndo 4 edigio Ge sammolta Schriften, Tore 1, Frankfurt/Main, 1977, 2/1 79-230, 17) — Cte. para tal Dister Simon, Die Linabhiingigkeit des Richters (A Independencia do Juiz), Darmstadt, 1975, p, 21 @ segs. Podemas acrescentar que nunca sp logrow trans- formar a independéncia garantila numa pretensio de pramogfo; 44 isso jd sugere ‘alhares ditcretos para cima’, A posicia dos tribunais no sistema juridica! 157 O Juiz deve compreander e aplicar a instrucao, o que equivale a poder ope- radia come idéntica no contexte de uma multiplicidade de decisfes am circuns- tancias (Sach/agen) muita diferentes entre si. Além disso foram descobertas nu- merosas ligacdes de feedback entre a legislacdo e a jurisprudéncia /18), Para con- cretizar as requlamentagdes globais, o legislador remete aos Tribunals, ao passa Qué estes remetem ao legislader, quando eles nZo consequem chegar por sis # uma decisio justa 9), Justamente se aceitamos que ambos os Grga0s do siste- ma juridico participam do aperfeigoamento do Direito, resultam disto imterde- pendéncias, que mio podem ser tornadas tao facilmente assimétricas com a distingdo simples entre ‘grau superior’ @ ‘grau inferior’. Permanece uma clara regra de colisio; no caso de um conflite vale a decisio do legislador © nic ado duiz. Mas so os Tribunals que decidem se estamos diante de um caso de confiito ou néo, come para compensar o$ prejulzos causados pela regra. Mas @ sobretudo a vigincia de uma Constituicdo em termos de Direita Positive que faz com que a hierarquizacio da relagio entre a legislagdo e a jurisprudéncia se torne questiondvel, Ele retirou dos Tribunais aquele respalde que podia ester num modo de argumentacéo dentro das categorias do Direita natural (e que, de resto, raras vezes foi utilizado)., Com isso assumimos, no entanta, o problema de que toda o Direitea pade estar de scordo com ou contrdzio & Constituiggo '20), Acontece que onde a Constituicdo constitui ¢ (781 — G problema ¢ discutide tanto no plano das normas como no das compattn- cies, V. por extmplo Michel van de Kerchove!Francais Ost, Le Systéme Juridiqua entre ‘Ordre et Désordre, Paris, 1988, p. 102 ¢ segs (19) — Mesmo no Common Law, célebre por causa do seu ‘Dirgito des Judges", esse argumento da ramissio ¢ €xtremamente familiar, sabretude em conflitos de valores, que Sfio vistos coma possiveis controvérsias politicas, V. para tl Neil MacCormeck, Legal Reasoning and Legal Theory, Oxford, 1978, p. 187 ef pasiim. No entanto, todas as tentative [especiaimente as ampreencdicias na era da codificagdo) de formalizes @ forear uma til dategerdo de competingis na ferma do assim chamado réfdrd fdgaiatif malogra- ram. (20) = A formulegfe ‘unconstitutional’ surge paralelamenie 4 evolugSo do constivu- cionalisma do ste. XVI (primeira registro do Oxford English Dictionary s, v. unconstitu- tional, 1734] @ 08 Tribunais passam 9 usar essa expresso numa primeira exploraciea ne area desconhecida do judiciat review jd antes da ConatituigSo das Estados Unidos de 1787 tom bast em constituigiies dé estados individuals — assim na Commonwealth y Caten, & Virgin (4 Calll, p. 5 e segs. (novernbro de 1782) ¢ am Bayard v Singiaten 1 North Carolina (1 Martin}, p. 52 segs, (novembre de 1 7B71, AGO posigie das tritsuneis noise juridico restringe as competéncias da legislagla, surge a pergunta por quem deve tomar @ deciséo nesse caso. Cada transferdincia dessa tareta ao lagislador tornaria a restricia de modificagies da Constitui¢fo sem sentido, embora ela pertenca ao Direito vigente. Por isso sé os Tribunais podem ser competentes. Mas isso sé pode ser tolerado se os proprios Tribunais forem constituidos pela Constitui- $40, obrigados ac respeita do seu texto e destarte limitadas '21), De qualquer maneira 4 simples existéncia das Cortes Constitucionais suscita divides sobre se a descrigdo hierarquica da rela¢io entre legislardo ¢ jurisprudancia faz justica ao probleme ou se ela representa apenas uma solupio de emergéncia, 4 qual recorremes. por ela nos parecer, num primeira momenta, apropriada para dis- solver a circularidade auto-referencial do sistema jurfdico diferenciada, que éa sua propria fonte de direito. Um problema, que & ne minimo, de igual importancia, esté num terceira fator: na tolerancia da criago privada do Direito vigente por meio de contratos (22), Também diante desse fendmenc a tearia daminante do Direita demonstra pouca compreensdo. Mesmo seo sistema juridico & deserita num santida empf- rico como sistema, pensamos, quase sempre, apenas nas organizagdes ou na categoria profissional dos juristas. Em outras palavras: o sistema funcional social do Direita e a5, organizacoes formadas no dimbita desse sistema ndo sf distinguides com suficiéncia, Nda se vé ou aa menos ndo se considera suficien- temente o fato da comunicagdo acerca do Direito e da disposi¢ga sobre o (21) — Abexander Hamilton ancontra argumentos slogienter para a ‘inecuidade’ de tal solugo nes Federalist Papers 1. 78, citadios ‘Segundo a edigio Middle/Conn., 1961, p 521-534 (525 @ seqs.|. V. também a argumentagio de Marshall in Marbury v Madison 1 Granch (1803), p. 137-180 (176 ¢ segs.) (22) — A quanndade gigantesca de Direito Estatutario priveda nas organizagies do sistema deundmico, que na prdtica é iguaimenta impertante, pocm sor redugida formal- MAN a contratos, Mas quanto ae seu contetido, nfo se trata-de manoire algums apenas de transapdes individual. Par essa rario podemos ve na privatizagde do Direito das carpora- pies, que inicla com at joint stock companies do afc, XVIL & chega ao termo com a Introdapao tegal de limitagies de responsahilidade no sfc. XIX, um fendrmeno oa mesma ordem. V, por exemplo Arthur J, Jacobson, The Private Use of Public Authority: Sow reignty and Associations in the Common Law, jr Buffalo Law Review 29 (1980), p. 599-665. Em cada caso aquilo que deverd ser aceita posteriormente coma Direito dos Tribunals 4 decidido tem controle prévio palo sistema juridies. Os parceiros num contrato somente preciam, bern come o legistador, formular o que alas querem alcanger de tal fnantira que os Tribunal poss reconhect-lo, A posigge dos wibunais no sistema juri Direito ocorrerem, na maioria das vezes, fora desse nucleo sistémico organizado ¢ profissionalmente competente, como se aqui estivessem em jogo apenas fa- 108 que interessam ao Direito em situacdes de conflita endo nos outros casos. Precisamos tio-somente formular esta premissa para ver que nda ha ninguém que efetivamente a defenda. Mas ela funciona como premissa tacita da teoria costumeira do Direita, assim como a premissa da hierarquia, De forma corres: pondente, toda a jurisprudéncia cautelar quase nfo ¢ tratada em termos doutri- ndrios. A massa dos processos geradores de Direito, que supera em muita a iegislagéo, € simplesmente localizada na drea daqueles fatos (Tathestande) que se forma sem nenhuma comunicagdo acerca do Direito '23), Mas na realidade aquela drea social, com vistas & qual o Direito criou organizaciies e¢ competén- cias profissionais, esta localizada nessa drea extra-institucional da comunicacdo explicita sobre 6 Direito. Por consequinte, seria completamente erréneo ver aqui somente problemas que, everitualmente, poderiam dar margem a um input ho sistema jurfdice, . Wh Sem divida as premissas aqui criticadas da heerarquia ¢ das fronteiras do sistema, definidas sequndo papeis, organizagies ou profisses, facilitaram que se partisse da disting3o entre legislagdo @ jurisprudéncia e se desenvolvesse a partir daqui uma teoria do Direito Positive. Asim essa tearia era complemente- da ‘para cima’ através de residuos de um Direito natural ou da razdo ou atravids de conceppties valorativas, sempre que ndo se queria aceitar a sua conclusio arbitraria, "Para fora’, acreditava-se que uma sociologia do Direito, cancebida come pesquisa emplrica, ea competente; ela deveria explicar através do recur- 50 a5 relagies sociais por que, no interesse de quem, sob que formas e com que resultados o Direito é como pretensSo, efetivamente, invocado, Se abandanar- MOS #5585 premissas, etsas teorias adicionais, que no seu Conjunto nao foram muito exitosas, poderiam tornar-se desnecessarias, Mas @ natural que sd padere- mos desistir desses pressupostos da hierarquia e da delimitacdo, se com isso nao (23) — Neturalmente isso vale pare a maiorim quase absolute de comtrstes do dis-a-dia, que sé firmados tacitamente. Ngo quero afirmar que num Onibus, que transporta 24 Passageires, eetio visjande 24 contrator, Mas o sistema juridico sempre é mobilizado & reproduzida no momenta em que uma comunicagio s¢ ecupa com a pargunta, tob quoi condigies algo corresponds ou dave correspander ao dirmito ou nao-direito (Recht brew, Unrecht!. 160! A, potigio dot tribunals no sistema jurfdica deixarmos atrds de nds apenas escombros, isto €, se colocarmos uma outra concep¢io no seu lugar. Tentaremos fazer isso com ajuda da distingao entre centro ¢ periferia, Talvez possamos tomar came ponto de partida o fato ndo-questionada de que sé o sistema juridico coage os Tribunais a decisao, por ‘consaguinte nem © legisladar nem as partes privadas contratantes o fazem (241, Com base nessa regra, 08 Tribunals constituem o centro do sistema juridico. Tudo mais, inclusi- ve a legislecio, representa a periferia. Embora a lei possa coagir a organizacio administrativa do sistema pol{tion 9 decisGes sobre requerimentos ©, por conse- qguinte, & fundamentacdo de uma coagdo legal para a decisia, isso no passa de uma obrigagao legal para a acao, similar 4 obrigagio para uma declaraeio teste- munhal € sujeita ao controle e 4 sancao por parte do Tribunal, Em ditima insténcia toda e qualquer coacdo legal para a decisdo se resume na proibie3o da recusa da prestacio jurisdicional | Verbot der Justizverwergerung). Enquanto o Oireite Romana antigo eo Direito Medieval previam a assis- tincia juridiea apenas para queixas bem determinadas (actiones) e terem nesse sentido sido concebidos a partir do protessa, surgiu, ra passagem para a Idade Moderna, um Direito Civil material, independente do processo e prevenda a protege juridica para todos os direitos legitimas presuntives !25), Alem disso existe agora a assim chamada ‘clausula geral' para @ protege juridica contra atos administratives, Sa com esses reordenamentos a proibicdo da recusa da prestagao jurisdicional adquire o seu alcance modern; 56 a partir daqueles faz sentido definir a posicéo dos Tribunais no sistema juridico a partir da proibicio da recusa da Justica, Do ponte de vista formal, o fate que nos chama a atencio, num primeira momento, esta em que a norma que profbe a recusa da Justica ¢ estatuida coma uma dupla negacdo sem contetido: a ngo-decisao ado é permitida, Essa forma faz justic¢a @ universalidade do principio da protecdo legal, que, por sua 124) — Néo quere neger cor isso que também os iegisladores ou as partes contratar- tes entrar em apures, nos quais nao Ihe resta outa possibilidede sande a decisio, Mas #1368 Spurod esto nesses casos fundados em outros sistemas funcionois, n&o no sistema juridico. Eles s80 de natureea politica, econdmica ou ainda familiar (251 —V., com relaggo a esse reordenamenta, Eugen Ehrlich, Dig Juristische Logik (A Lagica Juridica), 24 ed,, Tabingen, 1925, reimpressdo em Aalen, 1966, Um exame de desenvolvimantos andingos no Canwnen Law, onde a yinoulacgo original write etpecifics- mente definides também foi abancenada, nos mostra que ndo $F trate aqui de uma #spack Hicidade dp Direito Civil Romano, met de uma tend&ncie penérica, A posigdo das tribunaisna sistema juridiea/161 ver, corresponde & competéncia universal do sistema jurfdico para todas as questGes de Direito, Além disso, essa forma leva em consideracido o fato de que n@o se pode antecipar, num sistema jurfdico, quais sdo as pendancias que ele devera resolver, O sistema funciona como sistema operativo fechado, & medida em que ele somente precisa reproduzir suas proprias operactes; mas ele 6, exatamente nesta base, um sistema aberto ao mundo circundante, 4 medida em que ele deve estar disposta 9 reagir a proposi¢tes (Anregungen) de qualquar espécie, contante que elas assumam uma forma juridica, Assim, a proibicSa da recusa da Justic¢a garante a abertura por intermédio do ‘fechamento’ (Gesolas- senheit) '76), Com isso o sistema jurfdico orienta-se com vistas a um mundo circuncan- Te que, em principio, é contingente. Tudo pode ser diferente, Cada norma pode ser infringida por um comportamento, cada expectativa pode nJo ser corres- pondida. Mas essa contingéncia adquire relevancia para o sistema, apenas sequn- do o préprie Codigo, isto é, apenas com vistas & possibilidade ce classificar os fatas (Tatbestdinde) como Direlito ou nao-Direite !?7), No seu proprio Cédigo, o sistema dispée de uma contingincia reformulada, que Ihe faculta selecionar seus proprios estados ¢ desenvalver e modificar seus proprios programas (leis, decisGes de casos precedentes, etc.), que regulamentam o que deve ser conside: rada Direito ou néo-Direito, em cada caso espectfioo, O cardter abstrate da proibigio da recusa da Justi¢a corresponde a esse arranjo interno de contingén- clas; 80 esquematismo bindrio da possibilidade de valoracia positiva ¢ negative 2 4 contingéncia de todas as condicdes para a valorec3o correta, isto 4, 4 contingéncia de todos os programas de deciséo vigantes na Ambito do Direito Positivo, E essa contingincia corresponde, por sua vez, ao fato de que o sistema deve implementar a sua prépria avtopoiesis num mundo circundante, cuja com- plexidade ele ndo pode abarcar. Nao existem, por conseguinte, ‘lacunes no Direito', mas — quando muito — problemas de decis#o nfo regulamentades por leis, Existem mecanismas efi- cazes de protecko na antecdmara | Vorfeld) jurfdica da atividede dos Tribunais: (26) Nao somente obertura apesar oo fechamento’, come ts tratasse de uma ‘esnécie de imparfaicas, de uma vedagao insuficients, de um defeito inevitavell (27) — Cfe. Niklas Luhmann, Dis Codierung des Aechtssysteme (4 Codificacs do Sistema Juridica), it Rechtstheorie (Teoria do Dipets esses Mecanismas asseguram que de maneira alquma todos of problemas juridi- cos, mas, de fato, samente um percentual minimo deles seja submetido & decisia dos Tribunais '28!, Em parte, os Tribunais protegem-sa a si mesmos, a medida que eles leva em consideracdo o Gnus que, sabre eles recal, no contex- ‘to da ponderacéo de conseqiéncias de construgies distintas do Direito (29), Mas existe, antes de mais nada, uma série de decisdes formais de desvio, que, ou postibilitam, como acontece na doutrina das political questions, uma nao- vabordagem dos problemas em questdo (Sachprableme), ou permitem, com aju- da de regras de demonstragio, a elaboracao da decisdio apesar da nao-clarifica- 030 dos fatos (Sachverhalt), Ainda que consideremos todos esses argumentos, no podemos negar o fate de que os programas do sistema jurfdico nfo podem determinar completa- mente as decisSes dos Tribunais. Dito de outra forma: o sistema nao pode operar somante com uma légica puramente dedutiva (o que de modo nenhum exclul o fate de que a arqumentagdo dedutiva desempenha um papel considerd- vel em contesxtos de decisdo suficientemente arranjados e é mesmo indispensd- vel, nem o fato de que erro cometidas nessa drea de fundamentagies de sentences levariam irremediavel mente & suspensio (Auffebung) através de ins- tincias superiores}, Nao existe nenhuma jurisprudéncia mecanica (39), Os Tri- bunais devem, queiram ou nao & independentemente da existéncia ou miio-axis- Tincia de uma motiverio em termos de polftica juridica, interpretar, canstruir (28) — Nae pesquisa sociolégica sobre o acesto Direite igo 4, em garal, avallado negativemente, poli o acarso diferencial ao Direito evidentemente esti correlacionado com outros mecanismos sociais eausadores de desvantagens, sobretudo com o mecanismo do estratificagdo, Mas o mesmo acesso ao Dirait exigiria outros mecanismos de filtragam, De qualquer maneira transcenderlamos os limites de fantasia socioldgica, se tentdssemes ima- gingr o que aconteceria, se toda @ qualquer comunicagio de uma questio juridica deserca- deasse a decisio de um Tribunal, (23) = Com relagfo @ essa inconvenience como argumente dat canseqidiéneias ne Com mon Law, cle. MecCormick em autra passage (1978), p. 1144 sags. 430} — A compreensao disso serviu de ajuda inicial 4 “jurlspridéncia de interestes’ (cfe., por exemplo, Redcoe Pound, Mechanical Jurisprudence, #7 Columbia Law Review 8 (1908), p, 605-823, continuando ume ergumentagio de Jhering). Mas esse argumento se dirige contra um inimigo, que nunca oxistiu, V., para tal, @ publicaggo meente de Ulrich Falk, Ein Gelahrter wie Windscheld: Erkundungen auf den Feldern der Sogenannten Be- grittsjurispredanz (Um erudite como Windscheid: Exploragies nor campos da assim cha- mada jurispruddncia de conceitos), Frankfurt/Main, 1989 dos tribunals no sistema jurfdieo/ 163 e.se for o caso, ‘distinguir’ os casos (como se diz no Common Law), para que possam formular novas regras de decisdo @ testd-tas quanto 4 sua consisténcia frante ao Direito vigente, Assim surge por intermédio da atividade sentenciado- ra dos Tribunais um Direito judicial (Aichterrecht), que, no decorrer da sua reutilizacdo constante, @, em parte, condensada, isto é, formulade com vistas ao recanhecimento (Medererkennung), e, em parte, confirmade, isto é, visto come aproveitével também em outros casos (Ssohlagen). Parece ser universal- mente reconhecido hoje que essa espécie de desenvolvimento do Direito néo pode ser antecipada, nem produzida, nem impedida peto legislador. E ela inde- pende de intengdes manipuladoras (Gesta/rungsabsiohien) de Jufzes excessiva- mente diligentes (fomohe Afohter), motivados por considerapies de polltica jurfdica, embers ela posa ser influenciada por tais intengdes, Ela resulta de proibicBo da recusa da Justica. Por essa razao, podemos compreender essa norma fundamental da ativi- dade dos Tribunals (Gericttsbarkeit} como o paradoxa da transformacdo da coerpaa em fiberdace. Quem se vé coagido 4 decisde e, adicionaimente, 4 fun- damentacao de decisdes, deve reivindicar para tal fim uma liberdade imprescin- divel de canstrugio do Direite, Somente por isso nfo existem ‘lacunas no Direito’. Somente por isso a funcdo interpretativa ndo pode ser separada da funcio judicativa '91!, E somente por isso o sistema jurfdico pode reivindicar a competéncia universal para todos os problemas formulados no esquema ‘Direi- to ou néo-Direlto’, iw Nenhum outro Grgda da administragdo da Justica (Rechtspfiege) a, muito mais ainda, ninguém que participe da comunicerie juridica ocupa uma posigdo similar, Podernos dispor através de leis ou de contratos, através de decretos juridicos ou ainda através de estatutos de organizapies do simbolo ‘vigéncia jurfdica’. Podemos em todas essas formas modificar o estado histérico do siste- ma, modificando a que deve ser considerado coma Direito vigente, © isso ¢ (31) — O‘outre fado* dese acoplamento dé aplicacio da lel @ interpratecia na Magis: tretura ést4 io fato dele abrir a possibilidade de ‘dermocratizer’ o leyislapdo, ite a, de expd-laa ura lrritagio palitica constant. 1B4/A paticks dee tribunair no alarms juricticn feito diariamente num conjunte de indmeres atividades, que ja nGo mais pode- mos abarcar |22), Mas tudo isso acontece em adequacio a dados previamente fornecidos por autros sistemas 9, por essa raz3o, sem uma coeredo & decisSo fundamentada no préprio sistema juridica, Isso tudo acontece na periferia do sistema, Com isso no se afirma que essa transformagSo constante da situacao de vigdncia (Ge/tungsiage) seria menos importante do que o que acentece no centro do sistema, A diferenga de periferia e centre nado implica nenhuma diferenga de ordem hierarquica ou de importancia para a continusgio da aeto- boesis do sistema, Muito pelo contrdrio, a diferenca & uma forma de dois lados, que demarca a saparacdo desses doit lados @ que pode estruturar o Proprio sistema apenas como unidade da diferenca (33), Sem periferia nfo haveria nenhum centro, sem centro mo haveria nenhuma periferia, A distinggo foi formulada com vistas a um constante crossing (Spencer Brown) 2, por conseguinte, com vistas a uma reproducdo operativa do sistema que necessita de tempo. Mas essa forma somente pode ser criada nos seguintes termes: num sentido specifica, vale no centra o contrério do que vale na periferia, A proibieio da recusa da Justica cumpre exatamente essa condicao. Nessa ordem nao podemos mals compreender a legislago coma uma insténcia hierarquicambnte superior A adiministracao da Justica, camo uma Ins- tancia que da instrugSes a serem seguidas pelos Tribunals, E certo que tal conceprse nao ¢ propriamente falsa, Podemos conviver cam ela, O Juiz perma- nece vinculado a lai — mas justamante ndo 4 legislacBo, Evidentemente, negra genericamente vdlidas continuam sendo indispensdveis no sistema. No entante, a legislacdo 2 8 jurisprudéncia participa de processo da formacéo e da madifi- cagdo, da condensacdo e da confirmacio de regras genericamente validas, Nisso 8 legislagdo desempenha mais a funcado de um dro%o periférico, de um ponto (32) — Preupomos aqui, sem que passemos elucidar esse 1Opico em terms setistad- fies, quea vigfncie do Direito nia saja concabide como amanagiio de yma orden suprema (Austin) au de uma norma supreme (Kelen), mas como um simbolo que ciravla no sistema: Assim daveriarnes também com vistas a eres pont abandaner 6 modelo cldssloo da hierarquia, substiuinde-o per uma teoria reterida 4 um perinda histérica determinads (ralebezogene thearie}, que sd admite a vigéncis de que é tratade come vigente no ambito. do sistema mm questéo, (33) — Utilizame: aqui o conceito de forma de George Spencer Brown, Laws of Form, Move lorque, 1979; no o utilizamos, no entante, como ponto de Partide parg um cdiculo de formas. fronteiri¢o na rela¢io entre o sistema jurldico @ o sistema politico, Cabe-lhe ‘acomodar" ‘941 a irritacBo constante do sistema jurfdico pelo sistema polftica ¢ isso somente é possivel na forma de regras genericamente vdlidas, que podem ser trabalhadas no proprio sistema. Seu carater genérico de forme alguma ex- clui a especificacdo eleyada, mas serve apenas para excluir excessos (U/bergriffe} nas decisoes de casos individuais dos Tribunais (isto 4, excessos no processa- mento de irritagdes por parte de um outra mundo circundante). A dominincia da distin¢ao entre periferia e centro mostra claramente Que o sistema total nda pode ser estruturado hierarquicamente. Ele & excessiva- mente complexa para tale, do ponte de vista temporal, axcessivamente dind- mico. 56 0 prépria centro, sé a jurisdicao (Gerichtsharkeit| pode ser constitul: da hierarquicamente. Ela conhece varias inst’nciss, que interligam os Tribunais Superiores @ as Cortes comuns. Assim, a coercio para a decis#o 4 desdobrada & a dre problemética ¢ tendencialmente deslocada para cima, A diferenciagio de periferia ¢ centro possibilita assim uma hierarquizagdo no centro sob a condi- ho de ndo ser estendida ao sistema total; ela possibilita uma diferenciacdo de formas de diferenciagao '25), ‘0 favo de a sociedade moderna aceitar no seu sistema juridico essa forma de diferencie¢go nao constitui mentum acaso e também ndo esté fundamentade apenas na fun¢ao 2 na codificapao especitica desse sistema. Podemos constatar 9 mesmo fato (Sachverhair) também em outros sistemas funcionais, embora também aqui sempre pela ndo-observincia des modelos classicos predominan- tes da autodescricdo desses sistemas. E, em cada caso, procede-se no centro do sistema a uma comutacdo do paradoxo que pressupde @ existéncia de uma periferia, que ajuda a sustentar a reproducdo ‘sutopoidtica’ do sistema e que ao mesma tempo filtra as irritagdes advindas do mundo circundante. No sistema econdmico a funcdo corressondente cabe aos Bancos, Samen- ‘te eles 18m @ possibilidade de vender as suas proprias dividas com lueras, isto é, de conceder créditos sobre depdsitos de poupanca. Somente eles tam a tarefa paradoxal de estimular a sua periferia, isto 4, o seu mundo circundante interno (34) — Pensemod aqui na conhecica distingdo de Piaget entre assimilagéo # acomoda- io. 135) — Podese conststar também o mesmo tata (Sechverhalt} na evolupiio do sistema social, Tambim aquia diferenca cicada/campo possibilina uma diferenciagie eatrutificsté- rin na cidade, a0 pasto que a vide no campo ainda se desenrola segundo o modelo ercaice da diferenciagio sagmentaria, 1OG/A poaigin dos tribunals ipo sistema juridioo ao sistema econdmico, simultaneamente para a poupanga e para a endivida- Mento, Pare @ fotencaa a o Gasto de dinheiro. E somente eles podem organizar- “se hierarquicamente na diferen¢a entre Banco Central, Bancos comerciais e clientela 136}, Os componentes classicos da atividade ecanémica que levaram as reflexdes sobre teoria econdmica a controvérsias sempre novas, a saber a produ- ¢éo, a troca ¢ 0 consump, 130 acontecimentos na periferia do sistema, embora Sua IMportancia no seja menor por causa disso, para repetir isso mais uma vez. Mas sé no centro do sistema administra-se o paradoxa da escassez, 86 aqui a restricdo é transformada com a devide culdaco em abundancia. 0 sistema polftico nos fornece um exemplo a mais. Também aqui encon- tramos uma ordem hierdrquica apenas no centro do sistema, a saber, na organi- za¢ao do Estado, que cumpre a funcio da tomada de decisies que obrigam a coletividade. A prépris polftics mio pode ser ordenads hierarquicamente. Ela Opera na periferia do sistema, reproduz a dindmica do sistema, filtra as chances de consenso para decisSes que obrigam a coletividade, traz a ‘legitimago de- mocrdtica’ {nao importa © que isso significa em cada caso concreto) © liga o centro do sistema ao mecanismo das aleigdes pollticas e da representacao coti- diana dos interesses polfticos. Também para essa ordem é de importancia deci- siva que a fronteira (interna go sistema) entre periferia e centro seja mantidae reproduzida awavés da circulagao do poder polltico, que transpoe a fronteira, Pais do contraria nfo poderia haver partidos politicos, no poderia haver a diferanca entre governo e opasicao, nenhuma concorréncia no preenchimenta dos cargos, nos quais é possiyel a decisSo que obriga a coletividade '37), & também aqui o centro do sistema serve para a dissolugao de um paradoxo, a (36) — A dificuldace de calimitar eis funge contra a endividamento do Estado, isto 4, de ndo yincular obrigatoriamente a monetizagao ao endividamento do Estado, limitan- do-a destarte, ocupou o séc. VIII mas discussSes em torna da iddia do public credit @ levou, entre outras colsas, 4 criwgio de Baneor de erissio. Desde ant3o os ances de smitsio sia ao lado des impostos o segundo Instrumente importante de scoplamento estrutural dos sistemas politico # econdmicn, i37] — Também aqui vale = pena obhar de-relance 9 estado da discusslio ne fir de séc, xVIIL Se ¢xaminarmos em revospectiva as dicuisdes das Assembléins Constituintes, tan~ to da de Filacdifie como ce de Paris, chama a aten¢éo quia pouce o fendrnano des par- tidet politicos fol previsto © o quanto, por conseguinte, as possibilidedes de regulamen- fepdo puramente juridies da constituiggo foram por um lado superestimadas © par outro lado sobracarregadas. A posigio dos tribunals no sistema jurfdica/ 167 saber do paredoxo da decisdo que obriga a coletividede &, portanto, o proprio autor da decisfo (38), Dito de qutra forma: a organizaggo do Estado garante @ imputagdo (Zurechaung) da apéo de agentes Individuais a uma unidade coleti- va, que néo pode ela mesma agir como unidade, mas que deve ser ‘reprasenta- da’. Essa comparepio apenas eshocada mos deve satisfazer aqui para funda- mentar a suposigao de que a diferenciapao dos sistemas funcionais ma sociedade moderna criou condicghes que se manifestam ainda na possivel ordem interna desses sistemas funcionals. Em mais de um caso se formam sistemas funcionais “‘autapoidéticos' simultaneamente complexos @ dindmicos, simultaneamente, ope- rativamente fechados e¢ messa base abertos, que sdo mundo circundante uns PMTa OS GUIFOS & Que ao mesmo tempo entram em relacGes de forte dependén- cia reciproca, Podernos reiponder a isso somente com formas apropriadas de diferenciago interna e da contingéncia estrutural, Uma ordem hierdrquica, que em principio deveria conduzir influéncias do mundo circundante através do seu topo para o sistema, revela-se inadequada para tal fim, As autodescri¢des cor- respondentes ainda sia veiculadas pela tradicao, mas esto cada vez menos em condicGes de levar em considerapdo as realidades internas aos sistemas, Falta uma teoria do dinheiro para o sistema econdamico, Na teoria do sistema politica o Estado continua sendo superestimada, com @ conseqiéncia de que a discus: S30 ¢ dominada pela temdtica do monitaramento da sociedade pelo Estado. O sistema jurfdicg carece de uma teoria edequada da vigéncia de normas. A refle- ado é encaminhada para uma discussao intermindvel entre teorias do Direito de matriz positivista e¢ de matriz do Direito da razdo {estas Ghtimas referidas a valores), sendo que o positivismo se vé obrigado a admitir uma pluralidade de fontes do Direito, ao passa que o Direito de razao se vé obrigado « admitir uma Pluralidade de principios, que ndo pode mais ser reduzida @ farmula central de uma Tazao que se confirma a si mesma na reflexiio, Ambas as formas de esforco VB) — Sobre a impossibilidade de imaginor essa autc-obricapdo do seberano, que ‘Tinka coagide tode a tredigao jusmaturalista 4 suposigic de tecrias do contrate como dnica forma imagindve! de obrigagSo, v. Stephen Holmes, Jean Bodin: The Parades of Sovereignty Sand |therPrivatization of Alligion, fa J, Acland Pennock/lehn W. Chapman fedd.), “Religion, Morality and the Low, (Nomos, XXX), Nove lorque, 1988, p. 55 (17 e says.) VHB). posigdo dos tribunals qo sisteme jurfdico de identificagga da unidade do sistema no sistema como norma aplicdvel j& no ¢ncontram mais nenhuma solucdo para esse preciso problema (29), Nesse contexto, pademos descrever com grande facilidade o direito dos dulzes como uma fonte especial da Direito ¢ admitir, da mesma maneira, que essa fonte somente pode ser apreendida na forme de uma argumentagia racio- nal e assim canalizade de forma disciplinacta, Mas nesse caso ficamos atolados na diferenga entre fontes distintas de Direito ow prinetpios distintas da razdo ‘ou ainda na diferenca entre valores @ interesses distintos, que nao permite mais ‘9 acesso & indagacgo pela unidade e pelo sentido dessa diferen¢a, Por isso, esses anfoques nao logram produzir uma fundamentagao teérica convincente da po- sicio dos Tribunais no sistema jurfdico, A descriclo da teoria sistémica oferece, em contrapartida, a vantagem de beder conceber a unidade do sistema como reprodugao ‘autopoidtica’ « de poder compreender todas as distingdes, com as qualt ossa unidade pode sir ‘observada e descrita, come formas que apresentam sempre dois lados — seje come sistema @ mundo circundante, seja como centro e periferia, seja como Direito e ndo-Direito. Tode a observarao e descri¢fo da unidade de uma multi- plicidede ou da unidade de uma disting3o fundamenta-se em Gltima instancia num paradoxo, Mas gla pode a0 mesmo tempo tornar plaus(vel a idéia de que trata apenas de um problema de observaciio e de que nenhum sistema chega 4 Paralisagao através da ldgica, Devemos atentar apenas para a maneira pela qual Q sistema dissolve o paradoxa da sua auto-referancie; e uma possibilidade /40) consiste em delegar essa tarefa a um centro do sistema, para o qual nao hd alternativas, portanto nao hi concorréncia dentro do sistema, (39) — lse0 vale também pera-a eoneepeda, muita discutida, do rule of recognition de HLA. Hare, The Concept of Law, Oxford, 1961 (traduefio alemi editada em Frankfurt! Main, 1973), @ isso por causa da conservagia do conceita da uma ragra, Se faideeamos de uma Mera practice of recognition © nos raferissemes com itso ao procedimenta de reco- nhecimento € edseripio (Zuordnung) da concatenagin recorrente das operacdes sisidrnicas, ‘chegerfamas perto da concepeio da um slatema juridice ‘autopmittion’, (40) — A propésito de outras distingdes, que podem sér relacionadas com mle, v. Sika Luhrmann, The Third Question: The Creativé Use of Paradoxes in Law and Legal History, in Journal of Lavweand Society 16 (1988), ». 153-165.

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