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A

Juliano Cordeiro da Costa Oliveira*

Revista de Filosofia
Entre o liberalismo e o
republicanismo: a relação direito
e política em Jürgen Habermas

RESUMO

Nosso artigo debate a relação entre direito e política no pensamento de Jürgen Habermas. Primei-
ramente, mostraremos as concepções liberais e republicanas de política. Em seguida, discutire-
mos como Habermas, através da síntese entre liberalismo e republicanismo, conceitua sua Política
Deliberativa. Em Habermas, direito e política, apesar das diferenças conceituais, complementam-
se entre si, sem que uma esfera se subordine à outra. Nesse contexto, acreditamos na relevância
do tema proposto, principalmente no âmbito da filosofia alemã contemporânea, que tem cada vez
mais dedicado suas discussões em torno dessa temática.

Palavras-chave: Jürgen Habermas; Política; Direito.

ABSTRACT

The aim of this article is to examine Jürgen Habermas’ conceptualization of political deliberation
and show the extent to which it is related to his synthesis between liberalism and republicanism. It
will be rendered evident that Habermas saw a complementary relation between the sphere of Law
and the sphere of politics, so that it is not reasonable to presumed one of the to be subordinated to
the other.
  
Key words: Jürgen Habermas; Politics; Right.

* Mestrando em Filosofia, Universidade Federal do Ceará/Funcap

Argumentos, Ano 1, N°.1 - 2009 13


Acerca do Liberalismo: normativo em relação à democracia republica-
na. Na interpretação liberal, a formação demo-
Normatização Constitucional crática da vontade tem como principal função
Enquanto Legalidade do Poder a legitimação do exercício do poder político,
Político por meio de uma normatização constitucional:
Na interpretação liberal, o processo
Habermas1 e xpõe, primeiramente, as democrático de criação de leis legítimas
concepções liberais e republicanas de política exige determinada forma de institucio-
para, partindo do que há de positivo nos dois nalização jurídica. Tal “lei fundamental”
ideais, chegar a um terceiro modelo novo de é introduzida como condição necessária
política: a deliberativa. Ele argumenta, por e suficiente para o processo democrá-
exemplo, que, na concepção liberal de políti- tico, não como resultado deste, pois a
democracia não pode ser definida pela
ca, o Estado é um aparato da administração
própria democracia.2
pública, estruturado segundo leis de mercado.
A política, sob essa perspectiva e no sentido de Nesse contexto, os direitos liberais po-
formação política da vontade dos cidadãos, dem ser entendidos como garantias de deter-
tem a função de congregar e impor interesses minadas liberdades subjetivas. Os direitos sub-
sociais em particular, mediante um aparato es- jetivos definem, assim, liberdades de ação
tatal já especializado no uso administrativo do iguais para todos os indivíduos ou pessoas jurí-
poder político. dicas, tidas como portadoras de direitos. Ha-
A política liberal, segundo Habermas, é bermas afirma que o liberalismo conseguiu
determinada pela concorrência entre agentes exorcizar, a partir do século XIX, o perigo das
coletivos agindo estrategicamente e pela manu- maiorias tirânicas, postulando, contra a sobe-
tenção ou conquista de posições de poder. O rania do povo, a procedência dos direitos hu-
êxito nesta concepção de política é medido se- manos. A autonomia privada dos membros da
gundo a concorrência dos cidadãos em relação sociedade seria garantida, então, através dos
a pessoas e programas, o que se quantifica a direitos humanos (os direitos clássicos à “liber-
partir dos números de votos. Numa palavra, as dade, à vida e à propriedade”).
eleições têm a mesma estrutura que os atos eleti- Para Locke3, por exemplo, no Segundo
vos de participantes do mercado voltados à con- Tratado Sobre o Governo, o homem tem por
quista de êxito. Os eleitores, portanto, licenciam natureza o poder não só de preservar sua pro-
o acesso a posições de poder, uma vez que os priedade (a vida, a liberdade e os bens) contra
partidos políticos lutam em uma mesma atitude os danos e ataques dos outros homens, mas
que se orienta pela busca do sucesso. também de julgar e castigar as infrações dessa
O modelo de política liberal, por isso, lei. Há, em Locke, uma perspectiva determi-
não consiste na autodeterminação democráti- nante, que é a da obediência necessária às
ca das pessoas que deliberam, tal qual no for- normas, uma vez que as infrações cometidas
mato republicano de política. No liberalismo, a contra a sociedade devem ser penalizadas de
ênfase é dada na liberdade enquanto autono- acordo com o estabelecido em lei.
mia individual. Isto é, os direitos humanos pos- Tudo isso constitui, para Locke, a socie-
suem uma maior relevância em relação ao ide- dade política, porque ninguém pode isentar-se
al da soberania popular, haja vista o destaque das leis que regem uma sociedade. Do contrá-
na autonomia privada em contraposição à pú- rio, o homem se encontraria ainda no estado
blica. Os liberais enfatizam justamente a insti- de natureza, não podendo ser membro ou par-
tucionalização jurídica de liberdades iguais, te da sociedade civil. Assim, no liberalismo de
entendendo-as como direitos subjetivos. Para Locke, ninguém pode ser expulso de sua pro-
eles, os direitos humanos possuem um primado priedade e submetido ao poder político de ou-

1
HABERMAS, J. A inclusão do outro: estudos de teoria política. São Paulo: Edições Loyola, 2002. p. 269-284.
2
HABERMAS J. Era das transições. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. p.159.
3
LOCKE, J. Segundo Tratado Sobre o Governo. In: Os Pensadores. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978, (Coleção Os Pensadores) p.67.

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trem. Por conseguinte, tanto os membros da .
Política e Republicanismo:
sociedade quanto seus governantes devem vi-
ver sob a égide da lei. Todo o poder que o go-
Autodeterminação Democrática
verno tem deve igualmente ser exercido me- da Vontade
diante leis estabelecidas e promulgadas para
que não só os homens civis possam saber qual Acerca da visão republicana, Habermas
o seu dever, mas ao mesmo tempo os gover- demonstra que, ao contrário da liberal, a polí-
nantes, a fim de que estes não desobedeçam tica é constitutiva do processo de coletivização
também as leis. social como um todo. Concebe-se a política
como forma de reflexão sobre um contexto de
Onde quer que a lei termine, a tirania vida ético. Habermas explica que ela constitui
começa se transgredir a lei para dano de o medium em que os integrantes de comunida-
outrem. E quem quer que em autoridade
des solidárias, surgidas de forma natural, cons-
exceda o poder que lhe foi dado pela lei,
cientizam-se de sua interdependência mútua.
e faça uso da força que tem sob as suas
ordens para levar a cabo sobre o súdito,
Os cidadãos dão forma e prosseguimento às
o que a lei não permite, deixa de ser relações preexistentes de reconhecimento mú-
magistrado e, agindo sem autoridade, tuo, transformando-as de forma voluntária e
pode sofrer oposição como qualquer consciente em uma associação de jurisconsor-
pessoa que invada pela força o direito tes livres e iguais:
de outrem.4
[...] os representantes de um humanis-
Na perspectiva liberal, os cidadãos, porta- mo republicano dão destaque ao valor
dores de direitos subjetivos, podem contar, em próprio, não-instrumentalizável, da auto-
realidade, com a defesa do Estado, desde que organização dos cidadãos, de tal modo
que, aos olhos de uma comunidade na-
defendam os próprios interesses nos limites im-
turalmente política, os direitos humanos
postos pelas leis. Desta forma, como explica Ha-
só se tornam obrigatórios enquanto ele-
bermas5, os liberais enfatizam sempre o perigo mentos de sua própria tradição, assumida
de uma “tirania da maioria”, postulando o prima- conscientemente.6
do dos direitos humanos que garantem as liber-
dades pré-políticas do indivíduo, opondo-se tam- A rigor, na interpretação republicana, a
bém à vontade soberana do legislador político. formação democrática da vontade se realiza na
Sobre os aspectos negativos da política forma de um auto-entendimento ético-político.
liberal, Habermas enfatiza que esta destaca Sob essa ótica, a liberdade se relaciona com a
unicamente uma política ligada ao aparelho autonomia do povo soberano que se autodeter-
do Estado, desprezando o conjunto de cida- mina. Diante disso, há uma ênfase na autono-
dãos capazes de agir. Tal centralismo político, mia pública em relação à privada, assim como
no âmbito estatal, impede a circulação social também na soberania do povo em contraposi-
autônoma das pessoas em particular, bem ção aos direitos humanos. Nessa perspectiva, a
como o próprio potencial comunicativo dos ci- formação política da opinião e da vontade cons­
dadãos, pois seria o Estado unicamente o en- titui o medium através do qual a sociedade se
carregado do fazer político. Todavia, Habermas entende como um todo estruturado politica-
considera positiva a questão da normatização mente. O republicanismo, que remonta a Aristó-
jurídica presente no modelo liberal (aspecto teles e a Rousseau, segundo Habermas, sempre
este da política liberal que Habermas se utili­ colocou a liberdade antiga (da comunidade) na
zará na elaboração do conceito de política de- frente da liberdade moderna (do indivíduo).
liberativa) que, em contrapartida, é deixado No modelo republicano, à luz da leitura
em segundo plano no modelo republicano de habermasiana, há uma base social autônoma
política que veremos a seguir. por parte dos cidadãos, que independe da ad-

4
Ibidem., p.114.
5
HABERMAS, J. Direito e democracia: entre facticidade e validade. (v. I). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. p.134.
6
Ibidem., p.134.

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ministração pública e da mobilidade socioeco- Em uma palavra, além das máximas
nômica privada, impedindo a comunicação comuns a todos, cada povo reúne em si
política de ser tragada pelo Estado e assimila- alguma coisa que o dirige de modo todo
da totalmente pelo mercado. Por conseguinte, especial e torna sua legislação adequada
somente a si mesmo.”12
a democracia, no sentido republicano, tem
como fundamento a auto-organização política Tal perspectiva, por exemplo, pode ser
da sociedade. “Disso resulta uma compreensão identificada nas correntes filosóficas contem-
de política dirigida polemicamente contra o porâneas do comunita­rismo. Em suma, para
aparelho do Estado.”7 Na interpretação repu- Rousseau, o poder pertence ao povo e não
blicana, o povo é o titular de uma soberania pode pertencer senão a ele.
que não se deixa representar: “O poder consti- Há, por assim dizer, na política republi-
tuinte baseia-se na prática de autodetermina- cana, uma dependência do poder administra-
ção das pessoas privadas, não de seus repre- tivo em relação ao comunicativo, decorrente
sentantes.”8 do processo de formação da vontade e opinião
Nesse contexto, Habermas cita Rousseau pública. Ou seja, o paradigma da política re-
como um dos nomes do republicanismo pre- publicana não é o mercado, e sim a interlocu-
sentes na filosofia moderna. Para este, só a von- ção entre os cidadãos. Nesse sentido, há me-
tade geral pode dirigir as forças do Estado, nos centralização do poder administrativo e
tendo em vista o bem comum. No capítulo I, estatal, em prol da capacidade comunicativa
intitulado A Soberania é Inalienável, do Livro dos cidadãos. Este aspecto, aliás, é o que Ha-
Segundo do Contrato Social, Rousseau9 afirma bermas considera de positivo no modelo repu-
que o soberano é um ser coletivo, movido pela blicano, que o influenciará no conceito de po-
vontade geral. Diante disso, na perspectiva re- lítica deliberativa:
publicana, a soberania da vontade geral só
[...] o processo da efetivação de direitos
pode ser representada por ela mesma. “A sobe-
está justamente envolvido em contextos que
rania é indivisível pela mesma razão por que é exigem discursos de auto-entendimento
inalienável, pois a vontade ou é geral, ou não o como importante elemento da política
é; ou é a do corpo do povo, ou somente de uma – discussões sobre uma concepção comum
parte.”10 É nula, enfatiza ainda Rousseau, toda do que seja bom e sobre qual a forma
lei que o povo diretamente não ratificar. Se- de vida desejada e reconhecida como
gundo ele, o povo, submetido às leis, deve ser autêntica.13
o seu autor. Só àqueles que se associam cabe Habermas argumenta que o modelo re-
regulamentar as condições da sociedade. Por publicano de política tem a seu favor o fato de
isso, no viés republicano, não pode ser conside- se firmar no sentido radicalmente democrático
rado livre um povo que possui representantes: de uma auto-organização da sociedade pelos
cidadãos, por via comunicativa, não reme­tendo
Afirmo, pois, que a soberania, não sendo
os fins coletivos tão-somente a uma negociação
senão o exercício da vontade geral, ja-
entre interesses particulares opostos. Contudo,
mais pode alienar-se, e que o soberano,
que nada é senão um ser coletivo, só nosso autor vê como desvantagem o fato do
pode ser representado por si mesmo. O modelo republicano de política ser bastante
poder pode transmitir-se; não, porém, a idealista, tornando o processo democrá­tico de-
vontade.11 pendente das virtudes de cidadãos voltados ao
bem comum. Habermas enfatiza que, no con-
Além disso, Rousseau defende que cada ceito republicano de política, o direito e a lei
povo pode ter um sistema particular de instituições. são instrumentos secundários em relação a

7
____. (v. 2), 1997, p.20.
8
Ibidem., p.24.
9
ROUSSEAU, J.-J. Do contrato social. 2.ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. p. 43-4. (Coleção Os Pensadores).
10
Ibidem., p.44.
11
Ibidem., p. 43-4.
12
Ibidem., p. 68.
13
HABERMAS, J. A inclusão do outro: estudos de teoria política. p. 246.

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uma comunidade que se auto-determina. Em Em consonância com o republicanismo, a
outros termos, a concepção republicana des- política deliberativa de Habermas reserva uma
prezaria a normatização jurídica, essencial no posição central para o processo político de for-
modelo de política deliberativa de Habermas. mação da opinião e da vontade, sem, no entan-
Desta forma, como nosso autor relaciona to, entender a constituição jurídico-estatal como
e concilia o princípio da comunicação entre os algo secundário.16 Desta forma, a política deli-
sujeitos com o funcionamento e a importância berativa concebe os direitos fundamentais e os
das instituições? É possível um nexo entre di- princípios do Estado de direito como uma res-
reito e política? Como Habermas, enfim, con- posta conseqüente à pergunta sobre como ins-
ceitua sua política deliberativa, tendo em vista titucionalizar as exigentes condições de comu-
a síntese entre liberalismo e republicanismo? nicação do procedimento democrático. Por um
Tais questões serão discutidas abaixo. lado, o poder político depende do direito para
se legitimar. Por outro, o direito necessita do
Um Conceito Deliberativo de apa­rato político estatal para ser posto.
Portanto, a política deliberativa haber-
Democracia: a Relação de masiana, ao contrário do republicanismo, não
Complementaridade entre Direito torna a efetivação democrática dependente
e Política apenas de um conjunto de cidadãos coletiva-
mente capazes de agir, e sim da institucionali-
Segundo Habermas, Rousseau e Kant14 zação dos procedimentos que lhe digam res-
tentaram articular a união prática e a vontade peito. Além disso, a política deliberativa, ao
soberana no conceito de autonomia, de tal contrário também do modelo puramente libe-
modo que a idéia dos direitos humanos e o ral, não opera com o conceito de um todo so-
princípio da soberania do povo se interpretas- cial centrado no Estado:
sem mutuamente. Mesmo assim, para nosso O terceiro modelo de democracia que me
autor, eles não conseguiram entrelaçar simetri- permito sugerir baseia-se nas condições
camente os dois conceitos: de comunicação sob as quais o processo
De um ponto de vista geral, Kant sugeriu político supõe-se capaz de alcançar re-
um modo de ler a autonomia política que sultados racionais, justamente por cum-
se aproxima mais da liberal, ao passo prir-se, em todo seu alcance, de modo
que Rousseau se aproximou mais do deliberativo. Quando se faz do conceito
republicanismo.15 procedimental da política deliberativa
o cerne normativamente consistente da
Além disso, o liberalismo e o republica- teoria sobre a democracia, resultam daí
nismo ainda estariam presos a uma concepção diferenças tanto em relação à concepção
de filosofia do sujeito e da consciência: o libe- republicana do Estado como uma comu-
ralismo centra-se no indivíduo e o republica- nidade ética, quanto em relação à con-
nismo na comunidade ética. A política delibe- cepção liberal do Estado como defensor
rativa habermasiana, por sua vez, tenta acolher de uma sociedade econômica.17
elementos de ambos os lados, integrando-os
no contexto de um procedimento ideal para as Entretanto, Habermas respeita a separa-
tomadas de decisão. ção que há no modelo liberal entre Estado e

14
Kant, por exemplo, enfatiza que a dignidade da humanidade consiste precisamente na capacidade de ser legislador universal, com a
condição de estar ao mesmo tempo submetido a essa mesma legislação. Ver 15 KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes.
São Paulo: Abril Cultural,1974. p.238. (Coleção Os Pensadores).
15
HABERMAS, J. Direito e democracia: entre facticidade e validade (v. 1). p.164.
16
AVRITZER, L. A Moralidade da democracia: ensaios em teoria habermasiana e teoria democrática. São Paulo/Belo Horizonte: Editora
Perspectiva/UFMG, 1996, p.47: “O entendimento da política enquanto forma de autodeterminação da comunidade não torna Habermas
um republicanista. [...] Nesse sentido, a teoria habermasiana aceita um elemento do republicanismo que é o entendimento da política
enquanto autodeterminação da comunidade e rejeita um outro elemento que é a suposição de autores como Hannah Arendt e Rousseau
acerca da impossibilidade de institucionalização de tais procedimentos.”
17
HABERMAS, J. A inclusão do outro: estudos de teoria política. p.278-279.

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sociedade, sem, contudo, como mencionamos esferas públicas, quanto igualmente a política
antes, o centralismo político extremo na figura parlamentar.
do Estado. Diante disso, é importante enfati- Karl Otto-Apel, porém, considera a pro-
zar que, apesar de Habermas conservar cer- posta habermasiana de política deliberativa
tas características do liberalismo no seu con- passível de várias críticas, não só do ponto de
ceito de política deliberativa, ele não pode vista normativo, mas também do histórico-so-
ser considerado como um pensador pura- ciológico e funcional.19 Para Apel20, o princípio
mente liberal e normativista, no sentido pejo- da democracia não se identifica com o do di-
rativo. A teoria política habermasiana, em reito, que Habermas aponta no sentido de uma
realidade, defende a participação dos sujeitos diferenciação distintiva como co-originário, ao
nos processos decisórios, acrescentando-se a lado da moral pós-convencional e, respectiva-
isso, por exemplo, a importância da regula- mente, pós-tradicional. O princípio da demo-
mentação da economia e do mercado em prol cracia representaria, conforme Apel, um fenô-
do bem-estar das sociedades, algo certamente meno histórico-contingente maior do que o do
que o neoliberalismo abomina, ao defender direito. Isto se revelaria no fato de que ainda
que o mercado funcione sem nenhuma norma- hoje numerosos Estados pretendem ser “Esta-
tizacão ou regulamentação. dos de Direito”, sem aceitar o “preconceito”,
Habermas conserva, então, os momentos segundo eles, eurocêntrico do princípio da de-
positivos do liberalismo e do republicanismo, mocracia liberal.
ao mesmo tempo em que supera aquilo que Habermas, no entanto, persegue a idéia
considera negativo tanto de um como de outro. de legitimação do Estado democrático de di-
É a partir da síntese entre o liberalismo e o re- reito, de tal modo que os direitos humanos e a
publicanismo, rumo a uma política delibera­ soberania popular exerçam funções distintas,
tiva, que o poder socialmente integrativo da mas complementares. Nesse contexto há, em
solidariedade precisa, como diz Habermas18, Habermas, uma conciliação entre a idéia do
desdobrar-se sobre opiniões públicas autôno- direito liberal com a da democracia republi­
mas e procedimentos institucionalizados por cana. Contudo, Apel enfatiza que tal proposta
via jurídico-estatal, para a formação democrá- é inconcebível, uma vez que o princípio do di-
tica da opinião e da vontade. A política delibe- reito não pode ser simplesmente identificado
rativa trabalha, por exemplo, com a imagem de com o da democracia, como Habermas o faz.
uma sociedade descentralizada, pois o sistema Além disso, como é possível, questiona
político não é o topo nem o centro da socie­ Apel21, que a própria coerção das normas jurí-
dade, muito menos o modelo que determina dicas, tal qual nosso autor defende, que se ba-
sua marca estrutural e sim um sistema de ação seia no monopólio estatal da força e, portanto,
ao lado de outros. em dominação e não em convicção por argu-
Por isso, não há um privilégio da política mentos, possa ser justificada de forma ética e
a ser realizada somente na sociedade civil ou discursiva? Será que o modo como Habermas
no parlamento. A política, segundo Habermas, desenvolve sua teoria, principalmente a partir
numa democracia procedimentalista, tem que de Direito e Democracia: Entre Facticidade e
se comunicar com o direito. Em realidade, o Validade, pergunta Apel22, não implica neces-
conceito de política deliberativa abrange e in- sariamente numa autonegação da ética do dis-
tegra tanto as estruturas comunicacionais das curso? Ou seja, na negação do princípio pro-

18
HABERMAS, J. Direito e democracia: entre facticidade e validade (v. I). p. 143.
19
OLIVEIRA, M. Moral, Direito e democracia: o debate Apel Versus Habermas no contexto de uma concepção procedimental da filosofia
prática. In: APEL, K; OLIVEIRA, M; MOREIRA, L. Com Habermas, contra Habermas: direito, discurso e democracia. São Paulo: Landy
Editora, 2004. p.170.
20
APEL, K. Dissolução da ética do discurso? In: APEL, K; OLIVEIRA, M; MOREIRA, L. Com Habermas, contra Habermas: direito, discurso
e democracia. São Paulo: Landy Editora, 2004. p.217.
21
APEL, K. A Ética do discurso diante da problemática jurídica e política: as próprias diferenças de racionalidade entre moralidade, direito
e política podem ser justificadas normativa e racionalmente pela Ética do Discurso? In: APEL, Karl-Otto; OLIVEIRA, Manfredo Araújo
de; MOREIRA, Luiz. Com Habermas, contra Habermas: direito, discurso e democracia. São Paulo: Landy Editora, 2004. p.119.
22
Ibidem., p.119.

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cedimental da formação do consenso pela san- ral) e da eticidade concreta de uma determi-
ção não coativa dos argumentos? nada comunidade (modelo republicano) para
Diante disso, Apel23 cita também uma as regras do discurso que extraem seu con­
crítica a Habermas feita por Otfried Höffe. teúdo normativo da base de validade do agir
Para este, a ética do discurso, partindo de sua orientado pelo entendimento, à luz das rela-
própria abordagem, nem sequer poderia for- ções fáticas de reconhecimento das formas de
mular o problema da justificação da coerção vida comunicativamente estruturadas. Na polí-
jurídica. Ela não teria em sua própria teoria, tica deliberativa, a democracia não depende
segundo Höffe, espaço para a questão da ne- mais de uma cidadania capaz de agir coletiva-
cessidade moral de coerção, de obrigatorie- mente, tal qual no republicanismo, e sim da
dades providas da força jurídica e, com isso, institucionalização dos pressupostos comuni-
de uma imposição de tais obrigatoriedades cacionais, como também do “jogo entre deli-
que fossem organizadas de modo jurídico-for- berações institucionalizadas e opiniões públi-
mal ou estatal-formal. cas que se formam de modo informal.”25
É verdade que a ética do discurso pode, Para Habermas, se prescindirmos dos
pondera Höffe, mencionar procedimentos para conceitos oriundos da filosofia da consciência,
examinar pleitos de validade de normas quanto à a soberania não precisa mais se concentrar no
sua justificativa. Entretanto, ela não consegui- povo, como no republicanismo, nem ser ba­
ria solucionar o problema de que, se entre a nida para o anonimato das competências jurí-
multidão de normas legitimamente fundamen- dico-constitucionais, tal qual no liberalismo.
táveis, também poderá, respectivamente, ha- Com isso, não se desmente a intuição que se
ver, aquelas cuja validade possa ser forçada encontra na base da idéia da soberania popu-
legitimamente. A orientação ético-teórica pela lar: ela simplesmente passa a ser interpretada
“coação do melhor argumento”, que constitui de modo intersubjetivista, tendo igualmente o
legitimidade e não é coativa, e pela motivação acréscimo da normatização jurídica no estabe-
de reconhecimento racionalmente produzida, lecimento da democracia.
excluiria, para Höffe, de antemão, a questão O princípio da comunicação oriundo do
da legitimação da fundamentabilidade moral republicanismo precisa, na política delibera­
de prerrogativas de coação. tiva, institucionalizar-se juridicamente, no sen-
Por isso, os problemas tradicionais de le- tido de garantir objetivamente, por exemplo,
gitimação de dominação e de fundamentação tal direito à comunicação. Daí a soberania do
do Estado não teriam chance, segundo Höffe, povo retira-se para o anonimato dos processos
de ingressarem no âmbito da teoria ético-co- democráticos e para a formação jurídica de
municativa. Ou seja, a ética do discurso, para seus pressupostos comunicativos, para fazer-se
ele, cai em contradição, no momento em que valer como poder produzido comunicativa-
defende a coação e a imposição, como, por mente, ao mesmo tempo legitimado juridica-
exemplo, no caso do direito em Habermas. Se- mente. Posto isto, Habermas 26 chega a falar de
gundo Apel24, Habermas, não respondeu, até uma dessubstancialização da idéia de sobe­
hoje, de maneira convincente as questões pos- rania do povo, a fim de que tal soberania se
tas por Höffe. Nesse contexto, Apel enfatiza que dilua na intersubjetividade dos mundos vividos,
Habermas não deu ainda uma justificação nor- opondo-se à idéia de um macrossujeito sa­
mativa do caráter coercitivo das normas jurídi- bedor de uma totalidade social.
cas e, respectivamente, da obrigatoriedade de A política deliberativa é realizada em
tais normas, a partir da perspectiva de funda- conformidade com os procedimentos conven-
mentação da ética do discurso. cionais da formação institucionalizada da opi-
Habermas insiste, porém, na passagem nião e da vontade, assim também como infor-
dos direitos humanos universais (modelo libe- malmente nas redes da opinião pública. Aqui

23
Ibidem., p. 120.
24
Ibidem., p. 121.
25
HABERMAS, J. Direito e democracia: entre facticidade e validade (v. 2). p.21.
26
Ibidem., p. 273.

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co-existem a idéia de coerção do direito e po- mente, apesar de terem sido vistas tradicional-
sitividade com o princípio da autonomia polí­ mente como conceitos rivais de autonomia.
tica e deliberação dos sujeitos. Há, em Haber- Portanto, a relação correta entre igual­
mas, uma conciliação entre a liberdade dos dade de direito e de fato não pode ser determi-
antigos (autonomia pública republicana) e a nada apenas tendo em vista os direitos subjeti-
dos modernos (autonomia privada liberal), sem vos privados, como no Estado liberal. Quando
que se excluam mutuamente: se admite que a autonomia privada e a pública
Sob as condições de uma compreensão são co-originárias, como defende Habermas,
pós-metafísica do mundo, só tem legiti- tal relação só pode ser determinada, em última
midade o direito que surge da formação instância, pelos cidadãos que deliberam acerca
discursiva da opinião e da vontade de das questões, havendo também uma concilia-
cidadãos que possuem os mesmos di- ção entre soberania popular e direitos huma-
reitos. Estes, por seu turno, só podem nos. Dessa maneira, a autonomia privada e a
perceber, de maneira adequada, sua pública pressupõem-se mutuamente, sem que
autonomia pública, garantida através de os direitos humanos possam reivindicar um pri-
direitos de participação democráticos, na mado sobre a soberania popular, nem esta úl­
medida em que sua autonomia privada tima sobre os direitos humanos. Então, na polí­
for assegurada. Uma autonomia privada
tica deliberativa, há uma necessária coesão
assegurada serve como “garantia para a
entre Estado de direito e democracia.
emergência” da autonomia pública, do
mesmo modo que uma percepção ade- Desse modo, as autonomias privada e pú-
quada da autonomia pública serve como blica pressupõem-se reciprocamente. O
“garantia para a emergência” da privada. nexo interno da democracia com o Estado
[...] O jogo de gangorra entre os sujeitos de direito consiste no fato de que, por
de ação privados e estatais é substituído um lado, os cidadãos só poderão utilizar
pelas formas de comunicação mais ou condizentemente a sua autonomia pública
menos intactas das esferas privadas e se forem suficientemente independentes
públicas do mundo da vida, de um lado, graças a uma autonomia privada assegu-
e pelo sistema político, de outro lado.27 rada de modo igualitário. Por outro lado,
só poderão usufruir de modo igualitário da
Desta forma, uma ordem jurídica é legíti- autonomia privada se eles, como cidadãos,
ma na medida em que assegura a autonomia fizerem um uso adequado da sua autono-
privada e a autonomia cidadã de seus mem- mia política.29
bros (autonomia pública), porque ambas são
co-originárias. Habermas não privilegia, então, Por isso, os destinatários do direito esta-
nem um direito formal (Estado liberal) nem um belecido devem ser ao mesmo tempo os au­
direito material (Estado social). É a liberdade tores que criam o direito. Este, por sua vez,
de constituir seu próprio caminho e sua norma- liga-se, ao mesmo tempo, com a política. Ao
tividade jurídica que é destacada e não formas perder seus fundamentos sacros, o direito, por
de vida dadas imediatamente. A normatividade um lado, é verdade, assume o papel de instru-
que é elevada à paradigma é uma normativi- mento do poder e do mercado, mas, por outro,
dade a posteriori, fundamentada por meio de exige uma fundamentação em termos de uma
um processo constante que cria e constitui seu racionalidade procedimental, nos quadros de
próprio sentido.28 Ora, as liberdades de ação uma sociedade pós-metafísica30.
individuais do sujeito privado e a liberdade pú- Com isso, o modelo do contrato é subs-
blica da comunidade se medeiam reciproca- tituído por um mo­delo do discurso ou da

27
Ibidem., p.146.
28
MOREIRA, L. Direito, procedimento e racionalidade. In: APEL, K; OLIVEIRA, M; MOREIRA, L. Com Haber­mas, Contra Habermas:
direito, discurso e democracia. São Paulo: Landy Editora, 2004. p.189.
29
HABERMAS, J. A constelação pós-nacional: ensaios políticos. São Paulo: Littera Mundi, 2001. p.149.
30
HABERMAS, J. Direito e democracia: entre facticidade e validade (v. 1). p.101: “De fato, a positividade do direito pós-metafísico
também significa que as ordens jurídicas só podem ser construídas e desenvolvidas à luz de princípios justificados racionalmente,
portanto universalistas”.

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deliberação: a comunidade jurídica não fundamenta os fatos, e a aceitabilidade exigida
se constitui através de um contrato social, por pretensões de validade, introduzidas no
mas na base de um entendimento obtido agir comunicativo. Tudo isso ocorre tendo em
através do discurso.31 vista a tensão entre facticidade e validade. No di-
reito, esta tensão aparece na relação de comple-
A intenção habermasiana é solucionar a
mentaridade entre a coerção do direito, que ga-
questão da fundamentação normativa da vali-
rante um nível médio de aceitação da regra, com
dade do direito, a partir do ponto de vista dos
a idéia da autolegislação, que tem a ver com o
participantes das deliberações.
resgate da pretensão de legitimidade das nor-
Daí, partindo-se de um direito procedi-
mas, comunicativamente estabelecidas.
mentalista32, a força coercitiva só pode agir se
for reconhecida como legítima pelos destinatá-
rios e ao mesmo tempo co-autores do direito.
Considerações Finais
Vale lembrar que não é o direito enquanto tal Uma das críticas, por exemplo, que Ha-
que legitima o exercício do poder político, uma bermas34 faz ao direito liberal, é que este não
vez que estaríamos caindo tão-somente num consegue explicar a racionalidade de suas
positivismo jurídico. Em realidade, o direito ex- normas, por não operar com a tensão interna
trai sua força e eficácia, na perspectiva haber- entre facticidade e validade. Ou seja, o direito
masiana, da aliança que a positividade do di- liberal “isola” a comunicação dos sujeitos no
reito estabelece com a pretensão à legitimida- estabelecimento das normas. A conseqüência
de alcançada comunicativamente. Então, a ra- disso é que o direito legal, normativamente exis-
cionalidade comunicativa constitui a única di- tente, pode ao mesmo tempo não ser legitimo,
mensão na qual é possível assegurar ao direito isto é, não estabelecido comunicativamente, per-
um instante de obediência, bem como ao mesmo dendo, por exemplo, sua eficácia social.
tempo um momento de crítica. Ao nível pós-tradicional de justificação,
Nesse sentido, qualquer postura que de- só vale como legítimo, portanto, o direito que
fenda apenas o normativismo ou tão-somente o consegue aceitação racional por parte de to-
realismo é unilateral, pois não se trata de esco- dos os membros da comunidade, numa forma-
lher uma postura em detrimento de outra. Em ção discursiva da opinião e da vontade, man-
sociedades complexas e modernas, há sempre tendo sempre uma relação entre facticidade e
a necessidade de uma tensão entre fato e nor- validade. Desta forma, “a sociedade exerce in-
ma ou, nos termos habermasianos, entre facti- fluência sobre si mesma e sobre o seu desen-
cidade e validade: volvimento através da dominação legitimada
[...] jamais tive a pretensão de desenvolver democraticamente.”35 O direito instituciona­
uma teoria política normativa. Mesmo que liza-se, assim, através da relação de comple-
isso pudesse ter um sentido positivo, não mentaridade entre direitos humanos e sobera-
estou tentando criar, a partir de minha nia popular, permitindo estabelecer-se como
própria cabeça, normas básicas a serem normativo e, ao mesmo tempo, aberto à revo-
seguidas por uma sociedade “bem-orde- gação, a fim de que as normas não percam o
nada”. [...] Além disso, sabemos que os contato com a realidade social.
argumentos que hoje parecem evidentes
Há, enfim, a possibilidade de se avaliar
podem ser falsificados no futuro, à luz de
se uma regulamentação promove ou prejudica
novas informações e experiências.33
a autonomia como um todo. O direito vale,
Desta forma, podemos perceber um en- agora, não porque é posto, mas sim porque
trelaçamento estrutural entre a aceitação, que possui legitimidade de acordo com um proce-

31
_____. Direito e democracia: entre facticidade e validade. (v. 2). p.309.
32
_____. Direito e democracia: entre facticidade e validade (v. 1). p.172: “O direito não consegue o seu sentido normativo pleno per
se através de sua forma, ou através de um conteúdo moral dado a priori, mas através de um procedimento que instaura o direito,
gerando legitimidade”.
33
_____. Diagnósticos do tempo: seis ensaios. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2005. p.161-162.
34
HABERMAS, J. Direito e democracia: entre facticidade e validade (v. 1). p.122.
35
_____. Diagnósticos do Tempo: Seis Ensaios. p.31.

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dimento democrático, no qual se expressa por cionalmente pela Ética do Discurso? In: APEL,
meio de uma racionalidade comunicativa, ha- Karl-Otto; OLIVEIRA, Manfredo Araújo de; MO-
vendo, com isso, uma relação de reciproci­dade REIRA, Luiz. Com Habermas, contra Haber-
entre direito e política. Validade significa, a mas: direito, discurso e democracia. São Paulo:
partir disso, que normas contam com a concor- Landy Editora, 2004.
dância de todos os envolvidos, quando estes, AVRITZER, L. A moralidade da democracia: en-
em discursos práticos, testarem em conjunto se saios em teoria habermasiana e teoria democráti-
uma determinada norma vem ao encontro do ca. São Paulo: Editora Perspectiva 1996.
interesse de todos em igual medida. O direito,
HABERMAS, J. Direito e democracia: entre fac-
portanto, constitui o poder político e vice-versa.
ticidade e validade (v. 1). Rio de Janeiro: Tem-
Na política deliberativa, o direito legiti-
po Brasileiro, 1997.
mamente existente é produzido a partir do po-
der comunicativo. Desta forma, a legalidade _____. Direito e democracia: entre facticidade
jurídica precisa ser produzida à luz do poder e validade (v. 2). Rio de Janeiro: Tempo Brasi-
comunicativo dos cidadãos, almejando um di- leiro, 1997.
reito legitimamente estabelecido. O poder co- _____. A inclusão do outro: estudos de teoria
municativo, por sua vez, precisa, ao mesmo política. São Paulo: Edições Loyola, 2002.
tempo, institucionalizar-se legalmente, haven- _____. A constelação pós-nacional: ensaios
do, na política deliberativa, um nexo entre le- polí­ticos. São Paulo: Littera Mundi, 2001.
galidade jurídica e legitimidade gerada comu- _____. Era das transições. Rio de Janeiro: Tem-
nicativamente. Em Habermas, podemos dizer po Brasileiro, 2003.
que há, portanto, uma necessária tensão entre
_____. Diagnósticos do tempo: seis ensaios. Rio
liberalismo e democracia radical. Logo, consi-
de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2005.
derando-se o que foi discutido, há, nesta teo-
ria, uma interligação entre direito e política. KANT, I. Fundamentação da metafísica do cos-
Enfim, a política deliberativa fundamenta-se tumes. São Paulo: Abril Cultural, 1974. (Cole-
por meio da síntese entre os direitos humanos e ção Os pensadores).
a soberania popular, entre a autonomia priva- LOCKE, J. Segundo tratado sobre o governo.
da e a pública, entre a liberdade dos moder- 2.ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Coleção
nos e a dos antigos. Os pensadores).
OLIVEIRA, M. Moral, direito e democracia: O
Referências Bibliográficas debate Apel Versus Habermas no contexto de
uma concepção procedimental da filosofia
APEL, K. Dissolução da ética do discurso? In: APEL, prática. [s.l.; s.n.; s.d.]
K; OLIVEIRA, M; MOREIRA, L. Com Habermas, MOREIRA, L. Direito, procedimento e racio-
contra Habermas: direito, discurso e democra- nalidade. In: APEL, K; OLIVEIRA, M; MOREIRA,
cia. São Paulo: Landy Editora, 2004. L. Com Habermas, contra Habermas: direito,
_____. A ética do discurso diante da problemá- discurso e democracia. São Paulo: Landy
tica jurídica e política: as próprias diferenças Editora, 2004.
de racionalidade entre moralidade, direito e ROUSSEAU, J.-J. Do contrato social. 2.ed. São Pau-
política podem ser justificadas normativa e ra- lo: Abril Cultural, 1978. (Coleção Os pensadores).

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