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Estado de Sergipe

TRIBUNAL DE CONTAS
MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS

Processo n. 001654/2012
Origem: Prefeitura Municipal de Indiaroba
Assunto: Relatório de Inspeção
Interessado: João Eduardo Viegas Mendonça de Araújo

PARECER n. 16/2016

Trata-se de Relatório de Inspeção nº 13/2012, realizado na prefeitura municipal de


Indiaroba, referente ao período auditado de janeiro a junho de 2012, o qual tinha por objetivo
analisar as condições operacionais das escolas do respectivo município, mais precisamente sobre
aspectos como merenda escolar, número de alunos por sala, disponibilidade de transporte para os
alunos e escala de disponibilidade de professores.

2. A equipe de auditoria, após proceder a inspeção especial, detectou as seguintes


inconsistências:

2.1. Escola Municipal Prefeita Ana Maria Habib Mendonça: i- merenda escolar
fornecida de forma irregular, ii- acondicionamento e preparo de alimentos realizados de forma
irregular, iii- precariedade no fornecimento de água, iv- disponibilidade de transporte de forma
parcial;

2.2. Escola Municipal João Vila Nova: i- irregularidade no fornecimento de merenda


escolar, ii- precariedade no abastecimento de água, iii- irregularidade na disponibilidade de
transporte escolar;

2.3. Escola Municipal Antônio Carlos Valadares: i- irregularidade no fornecimento de


merenda escolar, ii- irregularidade na disponibilidade de transporte escolar;

2.4. Escola Municipal Tobias Barreto: i- irregularidade no fornecimento de merenda


escolar, ii- irregularidade na disponibilidade de transporte escolar, iii- precariedade no
abastecimento de água;

2.5. todas as escolas do município encontram-se em desacordo com o que determina a


Lei nº 9.394/1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, bem como a Portaria
Estadual da Secretaria da Educação de nº 7717/2011, uma vez que há desproporcionalidade entre o
quantitativo de alunos/professores por sala de aula;

2.6. Inconsistência nos valores informados de repasse da Prefeitura para o Fundo


Municipal de Saúde; e
2.7. Precariedade na frota de veículos que fazem o transporte escolar (ausência de
sinalização, licenciamentos vencidos, etc.)

3. Devidamente notificado, o gestor apresentou defesa (fls. 94/98).

4. A 4ª Coordenadoria de Controle e Inspeção – CCI, por meio da Informação


Complementar de fls. 106/108, após analisar os argumentos trazidos pela defesa, manteve todos os
apontamentos como irregulares, com exceção da falha referente a inconsistência nos valores
informados de repasse da Prefeitura para o Fundo Municipal de Saúde.

É o relatório.

Mérito.

5. A inspeção realizada no município de Indiaroba, a qual gerou o Relatório de Inspeção


nº 13/2012, foi originada através do requerimento do então Procurador Geral do Ministério Público
Especial à época, João Augusto dos Anjos Bandeira de Mello, tendo em vista o baixo rendimento
escolar do respectivo Município registrado no IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica do ano de 2009. Por essa razão, e a pedido do Procurado Geral, a equipe técnica limitou-se a
analisar aspectos operacionais que poderiam estar influenciado no rendimento escolar do município,
entre eles: fornecimento de merenda escolar, número de alunos por sala, disponibilidade de
transporte para os alunos e escala e disponibilidade de professores.

6. Irregularidade no fornecimento de merenda escolar.

6.1. A equipe de inspeção, após analisar a gestão operacional de algumas escolas, as


quais foram escolhidas por meio de amostragem, detectou uma série de inconsistências. Em todas as
escolas inspecionadas foi observado que havia irregularidade no fornecimento de merenda escolar.

6.2. Em relação a esse apontamento, o gestor fez a seguinte alegação: “informamos que
assim que identificamos as deficiências apontadas pelos respectivos Diretores, tais situações foram
devidamente normalizadas”. Além disso, a defesa alega que tal irregularidade não se refere ao
período auditado, uma vez que o próprio analista, no item 1.1.1 do Relatório, afirmara que a
merenda escolar vinha sendo fornecida de forma irregular a partir do mês de julho, informação essa
obtida através do depoimento de um Diretor de escola, sr. Zacarias Francisco dos Santos. Por fim,
esclarece que, embora tenha ocorrido atrasos no fornecimento de merenda, a prefeitura vinha
adotando as medidas cabíveis, enviando ofícios e e-mail para as empresas fornecedoras cobrando a
pontualidade e execução dos contratos.

6.3. A 4ª CCI, após analisar a defesa, manteve o apontamento como irregular. De acordo
com os técnicos, embora o gestor tenha afirmado que sanou as irregularidades, não houve como
aferir tais medidas.

6.4. O Ministério Público Especial, seguindo o posicionamento da CCI, mantém a


irregularidade do respectivo apontamento. A alegação do gestor que os atrasos no fornecimento de
merenda escola somente ocorreu a partir do mês de julho não prospera, visto que na própria Ata da
Segunda Reunião Ordinária do Conselho Municipal de Alimentação Escolar – CAE (fls. 100/101),
realizada no dia 16 de abril de 2012, há relatado que algumas empresas já estariam descumprindo os
contratos de fornecimento de merenda escolar, seja no atraso no ato a entrega, ou no não
fornecimento de itens obrigatórios. Dessa forma, entendemos que a administração municipal já
estava ciente da situação, ou seja, as impropriedades não se referem apenas ao segundo semestre.
Ressalta-se que a informação contida no item 1.1.1 do Relatório, refere-se ao depoimento de um
único Diretor, ou seja, embora na escola do respectivo diretor os atrasos somente tenham ocorrido a
partir do mês de julho, o mesmo não foi observado em outras, conforme consta tá ata do CAE. Por
esses motivos, mantém-se a irregularidade.

7. Disponibilidade de transporte escolar.

7.1. Em relação às irregularidades relativas à disponibilidade de transporte escolar, a


precariedade no abastecimento de água e ao acondicionamento e preparo de alimentos realizados de
forma irregular verificados nas escolas, o gestor apenas se limita a afirmar que medidas corretivas já
foram tomadas.

7.2. Novamente a 4ª CCI considerou o item como irregular, tendo em vista a


impossibilidade de atestar se, de fato, tais medidas foram executadas.

7.3. O Ministério Público Especial opina pela penalização do gestor, visto que, ainda
que tais irregularidades tenham sido sanadas posteriormente, à época da inspeção a situação
encontrada era de total descaso com a educação. Ou seja, as irregularidades já estavam consumadas,
a simples correção a posteriori não tem poder de saná-las. Trata-se de obrigação legal do gestor
regularizar tais apontamentos. Logo, mantém-se a irregularidade.

8. Divergência de valores repassados ao Fundo Municipal de Saúde.

8.1. Houve, também, Inconsistência nos valores informados de repasse da Prefeitura


para o Fundo Municipal de Saúde. De acordo com a equipe de inspeção, a Prefeitura de Indiaroba,
durante o período inspecionado (janeiro a junho de 2012) repassou ao Fundo Municipal de Saúde o
montante de R$ 773.142,11 (setecentos e setenta e três mil, cento e quarenta e dois reais e onze
centavos); ocorre que os técnicos afirmaram que esse valor diverge do informado no Relatório nº
09/2011, do Fundo Municipal de Saúde, que é de R$ 66.142,11 (sessenta e seis mil, cento e
quarenta e dois reais e onze centavos).

8.2. Em sede de defesa, o gestor faz a seguinte alegação: “atinente a este ponto,
estamos sem condições de atender esta demanda, haja vista que o Relatório nº 09/2011 ao qual
esta equipe de inspeção faz referência, não deve ser relacionado ao tópico em questão, pois
estamos tratando aqui do período de 2012, e o citado relatório refere-se a 2011, bem como não
temos maiores informações acerca deste quesito, prejudicando, assim, nossas alegações de defesa,
ferindo de morte os princípios constitucionais do contraditório e ampla defesa”.

8.3. Após manifestação de defesa, a 4ª CCI reconheceu o equívoco e reformulou seu


entendimento no sentido de desconsiderar o apontamento.

8.4. O Ministério Público, por razões lógicas, segue o posicionamento da


coordenadoria. Não há que se falar em irregularidade desse apontamento.

9. Número de alunos por sala de aula.

9.1. Registra-se, também, que a quantidade de alunos por sala de aula em todas as
escolas inspecionadas encontravam-se em desacordo com o que determina a LDB, visto que,
conforme expõe a equipe de inspeção, nas séries iniciais a proporção de aluno/professor deverá ser
de no mínimo 20 e no máximo 25 por professor.

9.2. Em sua defesa, o gestor alega que o município, está, sim, na média exigida pela
LDB, o que ocorre, segundo ele, é que apenas em alguns casos esporádicos turmas são formadas
com números menores ou maiores de alunos. Diz ainda: “isso não significa que a municipalidade
estava inerte as necessidades prementes desta urbe”. Por fim, a defesa chama atenção para que se
considere a localização das escolas municipais e a situação financeira do respectivo município, uma
vez que na atual conjuntura não seria razoável construir uma unidade escolar para atender somente,
em alguns casos, apenas 5 (cinco) alunos, onerando os cofres do município de forma desnecessária,
visto que há escolar existentes com estrutura física necessária e suficiente para comportar a
quantidade matriculada.

9.3. A 4ª CCI, por sua vez, limita-se a afirmar que as alegações trazidas em sede de
defesa não conseguem sanar a falha detectada por ocasião da inspeção, assim, manteve-a.

9.4. O Ministério Público Especial reconhece o descompasso da rede de ensino do


município de Indiaroba com a legislação. De fato, a Portaria nº 7717/2011, que Estabelece diretrizes
para o funcionamento das Escolas Públicas Estaduais no ano letivo de 2012, em seu art. 15, traz a
limitação de numero de alunos por sala de aula, vejamos:

Art. 15– Para se alcançar relação adequada entre número de alunos e


professor, a enturmação deverá ser:
I- Ensino Fundamental:
a) anos iniciais: mínimo de 20, máximo de até 25 alunos; e
b) anos finais: mínimo de 25, máximo de até 30 alunos.
II- Ensino Médio: mínimo de 35, máximo de até 40 alunos.
Parágrafo único – Será permitida a composição de turmas com número
inferior aos mínimos definidos nos incisos I e II deste artigo, quando
desta implicar em não atendimento à escolaridade obrigatória.

9.5. Ao analisarmos as relações de alunos matriculados na rede de ensino do município


(fls. 38/61), verificamos que havia algumas turmas com número de alunos fora do padrão
estabelecido pela legislação. Entretanto, não foi detectada grande desproporcionalidade na
composição das turmas, os desvios são pequenos. Nesse sentido, tendo em vista o atual cenário
econômico, de escassez de recursos em diversos municípios do estado, e pautando-se no princípio
da razoabilidade, o Ministério Público Especial recomenda que a respectiva administração
municipal envide esforços no sentido de regularizar tão logo a situação aqui analisada.

10. Irregularidade na frota de veículos.

10.1. Por fim, foi apontado pela equipe de inspeção precária situação de alguns
veículos, os quais eram responsáveis pelo transporte escolar, mais precisamente em relação à
ausência de sinalização e licenciamentos vencidos.

10.2. Em sede de defesa, o gestor afirma que não mais se encontra à frente da
administração municipal, motivo pelo qual o impossibilita de tomar qualquer providência. Por fim,
ressalta que durante sua gestão não houve registro de qualquer acidente, pois o transporte dos
alunos era feito de forma segura e os veículos encontravam-se em bom estado de conservação.

10.3. Mais uma vez a 4ª CCI desconsiderou as alegações de defesa, opinando pela
permanência da irregularidade.

10.4. O Ministério Público opina no mesmo sentido da Coordenadoria. Não há razões


lógicas, muito menos jurídica para desconsiderar a irregularidade. À época da inspeção a frota
municipal de veículos responsável pelo transporte escolar encontrava-se em condições precárias.
Situação essa gravíssima, pois expunha ao perigo uma grande quantidade de alunos usuários do
transporte escolar. Em relação ao licenciamento vencido dos veículos, não houve qualquer
documento capaz de comprar que a situação foi regularizada.

Ante o exposto, o Ministério Público Especial opina pela irregularidade do período


analisado (art. 43, inciso I, “b” e “e”, da LC 205/2011), com aplicação ao ex-gestor João Eduardo
Viegas Mendonça de Araújo, de multa, nos termos do art. 93, incisos I e II, da LC n. 205/2011, no
valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), em face das diversas irregularidades apontadas neste
Parecer.

É o parecer.

Aracaju, 3 de fevereiro de 2016.

EDUARDO SANTOS ROLEMBERG CÔRTES


PROCURADOR

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