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EXMO. SR. DR. JUIZ DA 6ª VARA CIVEL DA COMARCA DE BELO HORIZONTE/MG.

EMBARGOS À EXECUÇÃO COM EFEITO SUSPENSIVO.

Conforme exposto, o embargante firmou um contrato com a Instituição de


ensino, para prestação de serviço educacional na modalidade presencial, para educação
infantil de seu filho, a qual cursava o segundo ano do ensino fundamental.

Todavia, logo no início da pandemia, com a suspensão das aulas


presenciais/normais, o Colégio, ora embargado, não prestou mais o serviço contratado
aos filhos do embargante, considerando a impossibilidade de ministrarem as aulas.

Além disso, conforme exposto, as crianças não tinham condições


técnicas de assistirem aulas remotas/online, considerando que eram crianças de 6 e 7
anos de idade.

Sendo assim, diante da inviabilidade da continuidade do contrato de


prestação de serviço educacional, por parte do Colégio, o embargante, sr. Vinicius,
solicitou a suspensão do contrato, conforme se verifica no e-mail anexo.

Portanto, não há dúvidas quanto a total ausência de efetiva prestação


do serviço contratado por parte do embargado.

Tanto é verdade que inexiste nos autos um relatório de presença e/ou


frequência das aulas pelo filho do embargante.

Não basta a apresentação do contrato de prestação de serviços


educacionais para que o título seja revestido de executoriedade, também é necessário
demonstrar a efetiva prestação do serviço. O que não foi realizado pelo embargado.

Rua São Paulo, 684 – Conj. 206 – Ed. Vila Rica – Centro – Belo Horizonte/MG – CEP 30170-130.
E-mail: ribeirosematos@hotmail.com – Telefone: (31) 3201 3246

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Nesse sentido, impugna-se expressamente o documento anexado no
id 9597296480, qual seja, certificado de conclusão de série. Um verdadeiro absurdo!

É inacreditável que a Instituição de Ensino tenha emitido tal documento,


considerando que não houve o fornecimento da prestação do serviço de acesso as
aulas!

As crianças ficaram sem estudar a partir de março/2020 e perderam o ano


letivo, como pode o Colégio dar aprovação e conclusão da série? E ainda, realizar a
cobrança/execução das parcelas da mensalidade relativas ao contrato que não cumpriu e
que foi solicitada a suspensão/interrupção?

Sabe-se que, nos termos da legislação vigente, o Colégio tem a obrigação


de apresentar o respectivo relatório, motivo pelo qual deverá ser intimado a apresentar o
relatório de frequência/presença, bem como a lista de chamada da criança, Vittorio
Antonini, relativo ao ano letivo de 2020.

A consequência mais grave vivenciada pelo embargante e seus filhos,


além da crise financeira, foi que as crianças ficaram sem estudar e perderam o ano
letivo.

Analisando os critérios expostos, nota-se que todas as questões


mencionadas impactaram substancialmente o equilíbrio econômico-financeiro contratual
previamente firmado, causando onerosidade excessiva à embargante, sobretudo,
considerando que não houve a execução da prestação do serviço contratada.

O Código de Processo Civil dispõe:

Art. 917. Nos embargos à execução, o executado poderá alegar:

I - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;


II - penhora incorreta ou avaliação errônea;

§ 2º Há excesso de execução quando:


[...]
IV - o exequente, sem cumprir a prestação que lhe corresponde, exige
o adimplemento da prestação do executado;
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D. Magistrado, não há dúvidas sobre o excesso de execução,
considerando que o exequente, “sem cumprir a prestação que lhe corresponde, exige o
adimplemento da prestação do executado”, ou seja, sem prestar o serviço, está cobrando as
parcelas das mensalidades.

Por outro lado, é importante salientar que a Instituição de Ensino afirmou


que iria fazer a reposição das aulas, vejamos:

[...] Os dias que não tiveram aulas serão repostos, presencialmente, no


retorno das atividades. Conforme o comunicado enviado dia 14/04,
vamos cumprir toda a carga horária exigida legalmente, como previsto
no contrato de prestação de serviços educacionais firmado com as
famílias.

Cumpriremos, presencialmente, mais do que as 800 horas anuais


previstas por lei. Como o contrato é anual e a carga horária anual será
cumprida, os valores pagos referentes às mensalidades estão de acordo
com o contrato assinado.

Tão logo o retorno às atividades presenciais seja autorizado,


disponibilizaremos o novo calendário escolar. Qualquer alteração
relativa à data de retorno das aulas, será informada aos pais. Peço que
acompanhe os comunicados oficiais do colégio.
[...]

Todavia, não houve reposição de aulas, sequer um plano estratégico ou


um calendário de aulas de reposição.

Diante de todo o exposto, deverá ser extinta a execução, considerando a


inexigibilidade da obrigação, bem como o excesso de execução por ausência de efetiva
prestação do serviço contratado.

DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.

Inegável a existência de relação de consumo entre as partes, quando


inseridos na definição de consumidor e fornecedor, constante dos art. 2º e 3º do CDC.,
tendo em vista o contrato de prestação de serviços educacionais.

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No ordenamento jurídico brasileiro, em se tratando de relação
consumerista, o consumidor é a parte hipossuficiente da relação jurídica, vez que, deve ser
aplicado a inversão do ônus da prova, nos termos do artigo 6º, VIII do Código de Defesa
do Consumidor, que dispõe o seguinte:

São direitos básicos do consumidor:

VIII- A facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do


ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiência.(Grifos nossos)

A hipossuficiência de que fala o art. 6º, inciso VIII, do Código de Defesa do


Consumidor, se configura, quer na dificuldade econômica, quer na dificuldade técnica de
comprovar as alegações, por parte do consumidor.

A inversão do ônus da prova é prevista como direito básico do consumidor,


visando neutralizar eventuais consequências prejudiciais à parte vulnerável, advindas das
desigualdades técnicas, econômicas e sociais entre fornecedor e consumidor, que
dificultam, ou mesmo impossibilitam, a produção das provas necessárias à defesa de seus
interesses em juízo.

Observa-se que a produção e aquisição das provas para o processo


ultrapassam as forças do consumidor hipossuficiente, considerando que os documentos do
Colégio, sobretudo, no que tange ao aproveitamento escolar do filho do embargante, não
podem ser por ele apresentados nos autos e, somente pelo embargado.

O consumidor, ora embargante, não dispõe da paridade de meios para


obtenção dos documentos e informações necessárias ao prosseguimento da lide.

Além disso, não há dúvidas sobre o contrato de adesão de prestação de


serviço escolar assinado pelo embargante, bem como sobre a verossimilhança das
alegações do executado.

Portanto, tendo por base a condição de vulnerabilidade do consumidor,


diante do fornecedor da prestação de serviço, a inversão do ônus da prova é medida

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que se impõe para propiciar melhor defesa dos interesses e maior equidade no
âmbito processual.

Vale lembrar que o instituto em questão visa atender preceito


constitucional de ordem pública e interesse social (artigo 5º XXXII da CR/88 c/c artigo 1º do
CDC).

DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Diante do exposto, pede-se a V. Exa.:

a) – Que seja julgado totalmente procedente os presentes


Embargos, declarando extinta a execução, considerando a inexigibilidade da obrigação,
bem como o excesso de execução por ausência de efetiva prestação do serviço contratado.
b)
c) – Requer a intimação do embargado para apresentar o relatório de
frequência/presença, bem como a lista de chamada da criança, relativo ao ano letivo
de 2020.

d) Requer ainda, o efeito suspensivo aos presentes embargos,


considerando que a execução poderá causar ao embargante dano grave de difícil
reparação, uma vez que seu prosseguimento regular poderá gerar penhora indevida de seus
bens e bloqueio de suas contas bancárias.

e) - A intimação do embargado para, querendo, impugnar ou apresentar


defesa em face destes embargos.

e) – Requer a INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA em face do embargado,


nos termos do inciso VIII do art. 6º do Código de Defesa do Consumidor;

f) - A condenação do embargado ao pagamento das custas processuais e


honorários advocatícios, estes no percentual de 20% (vinte por cento) do valor da causa;

DAS PROVAS

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Requer, finalmente, todo o gênero de prova no Direito admitidas,
notadamente depoimento pessoal, prova documental e testemunhal, que “ad cautela” ficam
desde já requeridas.

Termos em que pede e espera deferimento.


Belo Horizonte, 15 de dezembro de 2022.

ANECHELE ALVES DE MENEZES RODRIGO CAMPOS DE MATOS


OAB/MG 149.412 OAB/MG 121.535

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