Você está na página 1de 31

ISSN 0104-4443

Licenciado sob uma Licença Creative Commons

[T]

O conceito de função na ecologia contemporânea


[I]
The concept of function in contemporary ecology

[A]
Nei Freitas Nunes-Neto[a], Ricardo Santos do Carmo[b], Charbel Niño El-Hani[c]

[a]
Doutor em Ecologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), professor do Departamento de Biologia Geral
da Universidade Federal da Bahia (UFBA), pesquisador do Laboratório de Ensino, Filosofia e História da Biologia
(LEFHBio), Salvador, BA - Brasil, e-mail: nunesneto@gmail.com
[b]
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências da Universidade
Federal da Bahia (UFBA) e Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), professor do Departamento de
Biociências da Universidade Federal de Sergipe (UFS), pesquisador do Laboratório de Ensino, Filosofia e História
da Biologia (LEFHBio), Salvador, BA - Brasil, e-mail: rscarmo@ufba.br
[c]
Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Departamento de Biologia Geral da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), coordenador do Laboratório de Ensino, Filosofia e História da Biologia
(LEFHBio), Salvador, BA - Brasil, e-mail: charbel.elhani@pq.cnpq.br

[R]
Resumo
O discurso funcional é tanto ubíquo quanto central na ecologia contemporânea,
principalmente no contexto das pesquisas sobre biodiversidade e funcionamento
ecossistêmico, que emergiram nos anos 1990 em meio à crise da biodiversidade.
Entretanto, a despeito dessa forte presença na ecologia, o discurso funcional ainda
não tem sido investigado de maneira adequada nesta ciência (ou em sua filoso-
fia), na medida em que muitos problemas fundamentais a respeito do tema ainda

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


44 NUNES-NETO, N. F.; CARMO, R. S. do; EL-HANI, C. N.

permanecem sem respostas claras. Por um lado, os ecólogos que lançam mão de
explicações funcionais parecem simplesmente tomar como dado ou autoevidente o
conceito de função. Contudo, ele nada tem de trivial, tendo em vista os problemas
filosóficos suscitados pela linguagem funcional ou teleológica nas explicações bio-
lógicas, pelo menos desde Aristóteles. Por outro lado, poucos filósofos da ciência
têm se mostrado especialmente interessados nos problemas epistemológicos asso-
ciados ao discurso funcional em ecologia. Tomando essa situação como ponto de
partida, nossa abordagem neste artigo se dá em três etapas. Inicialmente, procede-
mos a uma análise conceitual de função na ecologia atual, com ênfase nos estudos
que relacionam a biodiversidade às propriedades ecossistêmicas. Esboçamos três
significados principais do conceito, mostrando os pressupostos e as implicações
associados a cada um deles. Num segundo momento, procedemos a uma análise das
razões que levam a suspeitas ou objeções contra a linguagem funcional na ecologia.
Por fim, num terceiro momento, lançamos algumas sugestões sobre como funda-
mentar ou dar mais clareza ao discurso funcional na ecologia contemporânea.
[P]
Palavras-chave: Função. Teleologia. Ecologia. Biodiversidade. Ecossistema.
[B]
Abstract
The functional discourse is both ubiquitous and central in contemporary ecology, main-
ly in the context of the researches about biodiversity and ecosystem functioning, amidst
the biodiversity crisis. However, in spite of this strong presence in ecology, the function-
al discourse has not been adequately investigated in ecology (or in its philosophy), as
many fundamental problems about the theme remain without clear answers. On the
one hand, ecologists who use functional explanations seem simply to take the concept
of function for granted or as being self-evident. However, this concept is far from trivial,
given the philosophical problems raised by the functional or teleological language in
biological explanations at least since Aristotle. On the other hand, a few philosophers of
science has been showing a special interest in the epistemological problems associated
to functional discourse in ecology. Taking this fact as a starting point, our approach in
this paper will be developed in three main steps. First, we perform a conceptual analysis
of function in contemporary ecology, emphasizing the studies that relate biodiversity
to ecosystemic properties. We sketch three main meanings of the concept, showing the
presuppositions and implications in each one of them. In a second moment, we pro-
ceed to an analysis of the suspicions or objections raised against functional language in

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


O conceito de função na ecologia contemporânea 45

ecology. Finally, in a third moment, we suggest some ways to ground or give more clarity
to functional discourse in contemporary ecology. [#]
[K]
Keywords: Function. Teleology. Ecology. Biodiversity. Ecosystem.

Introdução

!"#$%&%'(!)"*+",-!"'.!/0#"1,!/2(0!0#"0#"3.%4&#-!5"6
"*+",-!"'.!/0#"1,!/2(0!0#"0#"3.%4&#-!5"6
'.!/0#"1,!/2(0!0#"0#"3.%4&#-!5"6&%576-
"&%576"8
$%5)"!&',/5"0%5"1,!(5"!3#/!5".#$#/2#-#/2#"29-"5(0%"0(5$,2(0%5"/!"6-
&%5%6!"0!"4(%&%'(!:";2<"-#5-%"!"3.73.(!"0#6/(=>%"0%"0%-?/(%"%,"0%5"
%4@#2(A%5"'#.!(5"0!"#$%&%'(!"!3!.#$#"$%-%"3.%4&#-!"!"5#."#/B.#/2!0%"
3#&!"/!5$#/2#"6&%5%6!"0!"#$%&%'(!"CDEFGH; "#2"!&:)"IJJKL"MNDOPQQL
OEF;R;L"SE PR)"IJJTL"R;UO;U)"IJJVL"RDWPN PUL"XNFFNY)"
IJZZ[:"P/2.#"%5"3.%4&#-!5"B,/0!-#/2!(5"/#55#"$!-3%"6&%576$%)"-#.#-
$#-" !2#/=>%" !1,#&#5" A(/$,&!0%5" \" &(/',!'#-" B,/$(%/!&)" 3.#5#/2#" #-"
2%0!" !" #$%&%'(!" C;F]PN^;)" IJJ_L" D;ME N)" IJZJ[" 0#50#" 5,!5" %.(-
'#/5"/%"6/!&"0%"5<$,&%"`N`"C;DEQ)"ZKK_L"]$N QERW)"ZKaV)"3:"bK[:"
!5"c&2(-!5"0<$!0!5)"$%/2,0%)"%",5%"0#",-!"&(/',!'#-"B,/$(%/!&"2#-"
5#"2%./!0%"$!0!"A#d"-!(5"$#/2.!&"/#52!"$(9/$(!)"#-"3!.2($,&!."/%"$%/-
2#e2%" 0%" M.%'.!-!" 0#" M#51,(5!" #-" f(%0(A#.5(0!0#" #" g,/$(%/!-#/2%"
0#"P$%55(52#-!5"C0%.!A!/2#)"fgP[:" #52#"h-4(2%)" !"#$%"<",-"$%/$#(2%"
$#/2.!&)",4?1,%"#"3%&(559-($%"/!5"#e3&($!=i#5"B%./#$(0!5"3#&%5"$(#/2(5-
2!5)"$%-%"0(5$,2(.#-%5"#-"-!(5"0#2!&*#5"!%"&%/'%"0%"!.2('%:
;3#5!."0#"5,!"(-3%.2h/$(!)"3%,$!"!2#/=>%"2#-"5(0%"0#0($!0!"!%"
$%/$#(2%" 0#" B,/=>%" /!" #$%&%'(!)" #-" 3!.2($,&!.)" 0#50#" ,-!" 3#.53#$2(-
A!"#3(52#-%&7'($!:"M%."3!.2#"0!"$%-,/(0!0#"$(#/2?6$!)"!"-!(%.(!"0%5"
$(#/2(52!5" 1,#" 2.!4!&*!" /%" fgP" 3!.#$#" 5(-3&#5-#/2#" 2%-!." %" $%/$#(-
2%"0#"B,/=>%"$%-%"!,2%#A(0#/2#"%,"0!0%Z)".!.!-#/2#"0#6/(/0%8%"0#"
-!/#(.!"$&!.!"%,"!4%.0!/0%"0(6$,&0!0#5"6&%576$!5"!55%$(!0!5"!%"5#,"
,5%2:"M%."3!.2#"0!"$%-,/(0!0#"6&%576$!)"5,.3.##/0#/2#-#/2#)"6&75%B%5"

1
Ver, e.g., DÍAZ; CABIDO, 2001; NADROWSKI; WIRTH; SCHERER-LORENZEN, 2010; PETCHEY; GASTON, 2002, 2006.
2
O ecólogo Naeem (1998), por exemplo, apontou os limites do uso pouco informado do conceito de função nos trabalhos do BFE, mas,

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


46 NUNES-NETO, N. F.; CARMO, R. S. do; EL-HANI, C. N.

0!"4(%&%'(!"/>%"3!.#$#-"-,(2%"(/2#.#55!0%5"/%"!55,/2%)"#-"$%-3!.!-
=>%"\"!2#/=>%"0!0!"\"&(/',!'#-"B,/$(%/!&"/!"4(%&%'(!"#A%&,2(A!"%,"/!"
65(%&%'(!)"3%."#e#-3&%:"^#"B!2%)"3%,$%5"2.!4!&*%5"0#"$!.+2#."6&%576$%"
0(5$,2#-"%",5%"0!"&(/',!'#-"B,/$(%/!&"/!"#$%&%'(!"C;F]PN^;)"IJJ_L"
D;ME N)"IJZJL"S;`)"IJJVL"]$F;jUN L RQPUPF G)"IJJaL" j PR8
PQEL"PF8W; N)"IJJb)"IJZZ[:"D%/2,0%)"/!"-#0(0!"#-"1,#"!"&(/',!'#-"
B,/$(%/!&"5#"-%52.!"2>%"(-3%.2!/2#"/!"3#51,(5!"#$%&7'($!"$%/2#-3%.h-
/#!)"<"/#$#55+.(%"#"(-3%.2!/2#"$%/52.,(.",-"#/2#/0(-#/2%"4#-"(/B%.-!8
<"/#$#55+.(%"#"(-3%.2!/2#"$%/52.,(.",-"#/2#/0(-#/2%"4#-"(/B%.-!8
#"(-3%.2!/2#"$%/52.,(.",-"#/2#/0(-#/2%"4#-"(/B%.-!-
0%"!$#.$!"0%5"5#,5"0(B#.#/2#5"5('/(6$!0%5"#",5%5:
]!5)" !/2#5" 0#" $%/2(/,!.-%5)" 3.#$(5!-%5" 0(d#." !&',-!5" 3!&!A.!5"
!$#.$!"0!".#&#Ah/$(!)"2#7.($!"#"3.+2($!)"0#".#!&(d!.",-"2.!4!&*%"#3(52#-%-
&7'($%"5%4.#"%"$%/$#(2%"0#"B,/=>%"/!"#$%&%'(!:"M!.!"(55%)"B%$!&(d#-%5"/%5"
,5%5"5%$(%$(#/2?6$%5"0%"2#.-%"kB,/=>%l)"3.#5#/2#5"/!5"/%=i#5"0#"&'()*#%&+
',%&&*&-./*,%&"%," !"#0'&+12+3*%1*)'(&*121'm:"P55!5"/%=i#5"5>%"B.#1,#/2#-#/2#"
A(/$,&!0!5" !%" A!&%." 0#" 3.%$#55%5" #$%55(529-($%5" 3!.!" !2(A(0!0#5" *,-!-
/!5)"3%."#e#-3&%)"!"!'.($,&2,.!)"%,"3!.!"!"-!/,2#/=>%"0#"3.%3.(#0!0#5"
#$%55(529-($!5:" P&!5" (-3&($!-)" !55(-)" ,-!" 3#.53#$2(A!" $%/5#.A!$(%/(52!"
2#&#%&7'($!)"/%"5#/2(0%"0#"1,#"5#"$%-3.%-#2#-"$%-"6/!&(0!0#5"%,"B,/-
=i#5"0!"4(%0(A#.5(0!0#"/,-"$%/2#e2%"/!2,.!&"%,"5%$(!&)"#"!/2.%3%$9/2.($!)"
3%."B%$!.#-"/%"1,#"<"4%-"#-"2#.-%5"#$%55(529-($%5"#n%,"/%"1,#"<"4%-"
3!.!"%5"5#.#5"*,-!/%5)"#/2#/0(0%5"$%-%"4#/#6$(+.(%5"0(.#2%5"0#"5#.A(=%5"
3.#52!0%5"3#&%"#$%55(52#-!"%,"3#&!"4(%0(A#.5(0!0#o:"E4A(!-#/2#"*+)"!(/8"*+)"!(/8
)"!(/-
0!)"!"(-3%.2!=>%"0#",-"$%/$#(2%"0%"h-4(2%"5%$(!&)"&'()*#%)"3!.!"%"h-4(2%"
0%5"3.%$#55%5"#$%55(529-($%5)"%"1,#"#-"5("-#5-%"-#.#$#"(/A#52('!=i#5"
!3.%3.(!0!5"#"(/0#3#/0#/2#5)"1,#"/>%"5#.>%"%4@#2%5"0%"3.#5#/2#"!.2('%:"
M!.!"6/5"0%"/%55%"!.',-#/2%)"<"5,6$(#/2#"/%2!.-%5"1,#"*+"(-3%.2!/2#5"
$%/5#1,9/$(!5"3!.!"!"2%-!0!"0#"0#$(5>%"5%4.#"1,#52i#5"5%$(!(5"#"!-4(#/8
5%$(!(5"#"!-4(#/-
2!(5"A(/$,&!0!5"!%",5%"0#55#"0(5$,.5%"B,/$(%/!& :"M%."#e#-3&%)"<"!"3!.2(."0!"
_

!55,/=>%"0#"1,#"!"4(%0(A#.5(0!0#"3.%0,d",-!"5<.(#"0#"5#.A(=%5"#$%55(529-
-($%5"3!.!"!5"5%$(#0!0#5"C#:':"B%.-!=>%"0%5"5%&%5)"3%&(/(d!=>%)"5#1,#52.%"
0#"$!.4%/%["1,#"'%A#./%5"29-"2#/2!0%"0(B#.#/2#5"-%0%5"0#"$&!55(6$+8&%5"

embora importante, isso não é suficiente. Na prática, este autor não realizou uma análise dos problemas filosóficos envolvidos e tem
se limitado apenas a dizer que design ou propósito não está presente nos usos de função no BFE.
3
E.g. FROMM, 2000; TILMAN, 2000.
4
E.g. MILLENIUM ECOSYSTEM ASSESMENT, 2005.

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


O conceito de função na ecologia contemporânea 47

3!.!"!"0#A(0!"A!&%.!=>%"#$%/p-($!:"N/2#.#55!/2#5"#e#-3&%5"5>%"!5"4*('-*)2&
523*-2-&V e 62(,%+ 12+ q',!b" 0!" j/(>%" P,.%3#(!)" $,@%" #51,#-!" 0#" $&!55(-
6$!=>%"3!.!"!5"3%&?2($!5"3c4&($!5"5#"4!5#(!"/!"!4%.0!'#-"0#"&%$!&(d!=>%"
0#"3!0.i#5"#53!$(!(5"0#"4(%0(A#.5(0!0#:"Q.!2!85#"0#",-!"5%&,=>%"3%&?2($!"
1,#"5#3!.!"+.#!5"3.%0,2%.!5"0#"5#.A(=%5"C&'()*,'+7(%1!,-*%"+2('2&["#"+.#!5"0#"
B.,(=>%"0#"5#.A(=%5"C&'()*,'+3'"'8-+2('2&[)"$%-"!"0#6/(=>%"0#"1,!&(6$!0%.#5"
0#"#5$!&!)"2!(5"$%-%"%/"*1*(',*%"29)"3!.!"%"5#.A(=%"0#"3%&(/(d!=>%)"%,"cos:
-'*(2)"3!.!"!"3.%2#=>%"0#"d%/!5"c-(0!5"$%52#(.!5"0#52(/!0!5"!%5"5#.A(=%5"
0#"3.%0,=>%"0#"!&(-#/2%5"#"&!d#."CgNRWPUL"QjU PUL"]EUFN Y)"IJJK[:
Q!(5",5%5"0%"0(5$,.5%"B,/$(%/!&"$%&%$!-"#-"#A(09/$(!"!"/#$#55(-
0!0#"0#"%B#.#$#.",-!"!/+&(5#"6&%576$!"!0#1,!0!"!"5#,".#53#(2%)"4#-"
$%-%"0!"3#.53#$2(A!"!/2.%3%$9/2.($!"!55%$(!0!"!"#55#"0(5$,.5%"/%"fgP:"
E4A(!-#/2#)"2!(5"#-3.#(2!0!5"#52>%"&%/'#"0#"5#.#-"2.(A(!(5)"A(52%"1,#"
#/A%&A#-" 3.%4&#-!5" C.#&!2(A%5" \" B,/=>%" #" !%" !/2.%3%$#/2.(5-%[" 1,#"
29-" 5(0%" -,(2%" 0#4!2(0%5" /!" 6&%5%6!" 3#&%" -#/%5" 0#50#" ;.(5272#&#5:"
#52#"!.2('%)"/%55%"B%$%"0#A#"&(-(2!.85#"!",-"0#55#5"3.%4&#-!5)".#$!(/-
0%"5%4.#"!"1,#52>%"0!"&(/',!'#-"B,/$(%/!&T.
%2#-%5" !(/0!" 1,#" !" B!&2!" 0#" $&!.#d!" 5%4.#" $%/$#(2%5" $#/2.!(5" /!"
#$%&%'(!" />%" #52+" .#52.(2!" !%" $%/$#(2%" 0#" B,/=>%)" A!&#/0%" 2!-4<-" 3!.!"
%,2.%5)"$%-%"%"0#"3*%1*)'(&*121'a e o de ',%&&*&-'/2K)"!-4%5"$%-"(-3&($!-
=i#5"2!/2%"2#7.($!5"1,!/2%"3.+2($!5:";"/#$#55(0!0#"0#"$&!.#d!"$%/$#(2,!&"<"
.#$%/*#$(0!"3#&!"3.73.(!"$%-,/(0!0#"0#"#$7&%'%5)"1,#"2#-".#$%..(0%"\5"
$%/2.(4,(=i#5"0#"2.!4!&*%5"6&%576$%5"$%-"#52#"3.%375(2%ZJ:"D%-%" !##-"
CIJJI)" 3:" ZVoK[)" ,-" 0%5" 3.(/$(3!(5" 3.%3%/#/2#5" 0%" fgP)" .#$%/*#$#,)" k!"
*(527.(!"#"!"6&%5%6!"0!"#$%&%'(!"5>%"2>%"(-3%.2!/2#5"3!.!"r:::s"%"0#5#/A%&-
A(-#/2%" #" 3.%'.#55%" 0!" r#$%&%'(!s" 1,!/2%" !A!/=%5" #-" *(527.(!" /!2,.!&)"

5
Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=CONSLEG:1992L0043:20070101:PT:PDF.>.
6
Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=CONSLEG:2000L0060:20011216:EN:PDF>.
7
Convém dizer que não é óbvio, como poderia parecer para alguns, que uma perspectiva antropocêntrica no âmbito da
conservação seja equivocada, sequer merecendo maiores análises filosóficas. Podemos considerar, por exemplo, a defesa
vigorosa feita por Bryan Norton (2003) de um antropocentrismo fraco na ética ambiental. Isso mostra a importância de
uma análise não somente epistemológica, mas também axiológica do discurso funcional e antropocêntrico do BFE, como
apontaremos nas considerações finais do artigo.
8
E.g. OKSANEN; PIETARINEN, 2004; SARKAR, 2007.
9
E.g. JAX, 2007.
10
E.g. COLYVAN et al., 2009; PICKETT; KOLASA; JONES, 2007; SCHEINER; WILLIG, 2011.

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


48 NUNES-NETO, N. F.; CARMO, R. S. do; EL-HANI, C. N.

2#$/%&%'(!)" -!2#-+2($!)" -%0#&!'#-)" #e3#.(-#/2%5" #" #52!2?52($!l:" >%"


%452!/2#"#55!"!2#/=>%"0%5"#$7&%'%5"!"#52,0%5"B(&%57B($%5)"!"-#5-!"!2#/=>%"
/>%"2#-"!$%-3!/*!0%"%",5%"0%"$%/$#(2%"0#"B,/=>%"/%"fgP:
M%.2!/2%)" 2%-!/0%" $%-%" 3%/2%" 0#" 3!.2(0!" !" 0(5$,55>%" !/2#-
.(%.)"3.%3%-%5"/#52#"!.2('%",-!"!/+&(5#"#3(52#-%&7'($!"0%"$%/$#(2%"
0#" B,/=>%" /%" fgP)" #-" 2.95" 3!55%5:" M.(-#(.%)" .#!&(d!-%5" ,-!" !/+&(-
5#" $%/$#(2,!&" 0#" B,/=>%" /%" fgP)" 0(52(/',(/0%" 2.95" 5('/(6$!0%5" $#/-
2.!(5" !55%$(!0%5" !" #&#)" 4#-" $%-%" %5" 0(5$,2(/0%" $.(2($!-#/2#:" ,-"
5#',/0%"-%-#/2%)"!A!&(!-%5"!5"5,53#(2!5"%,"%4@#=i#5"$%/2.!"%",5%"
0#",-!"&(/',!'#-"B,/$(%/!&"/!"#$%&%'(!:"M%."6-)"/,-"2#.$#(.%"-%-
-#/2%)" 3.%3%-%5)" 4.#A#-#/2#)" !&',/5" $!-(/*%5" 3!.!" !" $%/52.,=>%"
0#",-!"!4%.0!'#-"$%/5(52#/2#"0#" !"#$%"/!"#$%&%'(!:"P55!5"5,'#52i#5"
5#"!6',.!-"$%-%"3%55(4(&(0!0#5"3!.!"!"$%/52.,=>%"0#",-!"2#%.(!"0!"
B,/=>%"#-"6&%5%6!"0!"#$%&%'(!)"%"1,#"3#.-!/#$#"/%"*%.(d%/2#"0#52#"
$!-3%"6&%576$%"3!.!"%5"3.7e(-%5"!/%5:

A ubiquidade e a polissemia de função na ecologia contemporânea

^#"-%0%"'#.!&)"!5"#e3&($!=i#5"B,/$(%/!(5"C;(%&&%+/%1%)"#e3&($!-
=i#5" 1,#" !3#&!-" 3!.!" !&',-!" /%=>%" 0#" B,/=>%" 4(%&7'($![" 5>%" -,(2%"
$%-,/5"/!"#$%&%'(!)"$%-%"3%0#-%5"/%2!."!"3!.2(."0#",-!"!/+&(5#"0%5"
2.!4!&*%5" 0#" (/t,#/2#5" $(#/2(52!5" !55%$(!0%5" !" 0(B#.#/2#5" !4%.0!'#/5"
0#/2.%"0#52!"$(9/$(!ZZ.
%"(/?$(%"0%"5<$,&%"``)"D&#-#/25"#-"ZKZb"@+"B!d(!",5%"0#",-!"
&(/',!'#-" B,/$(%/!&" !%" 2.!2!." !" B%.-!=>%" A#'#2!&" $%-%" ,-" %.'!-
/(5-%" $%-3&#e%)" %" 1,#" .#3.#5#/2!.(!" k!" c/($!" A(5>%" !0#1,!0!" #"
$%-3&#2!" 0!" A#'#2!=>%l" CDFP]P QR)" ZKZb)" 3:" o[:" #55#" !,2%.)" *+"
,-!" B%.2#" !/!&%'(!" #/2.#" !" 5,$#55>%" #$%&7'($!" #" %" 3.%$#55%" 0#" 0#-
0#8
5#/A%&A(-#/2%"#-4.(%&7'($%"0%"%.'!/(5-%)"%"1,#)"3!.#$#"2#."'#.!0%"
.#5(529/$(!"3%."3!.2#"0%5"#$7&%'%5"\"&(/',!'#-"B,/$(%/!&)"$%-%"0(5-
$,2(.#-%5"-!(5"\"B.#/2#u

11
E.g. Frederic Clements (2000), Charles Elton (1927), Eugene Odum (1988), James Lovelock (1990), Shahid Naeem (1998,
2002), entre outros.

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


O conceito de função na ecologia contemporânea 49

D%-%" ,-" %.'!/(5-%)" !" B%.-!=>%" 5,.'#)" $.#5$#)" !-!0,.#$#" #" -%..#:"
R,!" .#53%52!" !%" <23*-2-" <" !3.#5#/2!0!" /%5" 3.%$#55%5" %," /!5" B,/=i#5" #"
/!5"#52.,2,.!5"1,#"5>%"%".#'(52.%)"4#-"$%-%"%".#5,&2!0%"0#52!5"B,/=i#5:"
;&<-"0(55%)"$!0!"B%.-!=>%"$&?-!e"<"$!3!d"0#".#3.%0,d(."!"5("-#5-!)"
.#3#2(/0%"$%-"#55#/$(!&"60#&(0!0#"%5"#52+'(%5"0#"5#,"0#5#/A%&A(-#/2%"
CDFP]P QR)"ZKZb)"3:"oo[:

P&2%/"CZKIT["<"4#-"$%/*#$(0%"3#&!"5,!"/%=>%"0#"/($*%"B,/$(%/!&u

v)"3%.2!/2%)"$%/A#/(#/2#"2#."!&',-"2#.-%"3!.!"0#5$.#A#."%"&-2-!&"0#",-"
!/(-!&"#-"5,!"$%-,/(0!0#)"3!.!"(/0($!."%"1,#"#&#"#52+"B!d#/0%"#"/>%"!3#-
/!5"1,!&"!"5,!"!3!.9/$(!)"#"%"2#.-%",5!0%"<"w/($*%m"CPFQE )"ZKIT)"3:"bo[:

#55#"#$7&%'%)"3%0#-%5"/%2!.)"!(/0!)",-!".#B#.9/$(!"\"(0#(!"0#"
/($*%" $%-%" 3.%655>%)" 1,#" 2!/2%" .#3.#5#/2!" ,-!" !/2.%3%-%.6d!=>%"
$%-%"4,5$!"#e3.(-(."!"(0#(!"0#",-"3!3#&"B,/$(%/!&"0%"!/(-!&"$%-%"
3!.2#"0#",-"5(52#-!"-!(%.u

x,!/0%",-"#$7&%'%"0(d"w!&("A!(",-"2#e,'%m)"#&#"0#A#"(/$&,(."#-"5#,5"
3#/5!-#/2%5"!&',-!"(0#(!"0#6/(0!"0%"&,'!."0%"!/(-!&"/!"$%-,/(0!0#"
\"1,!&"#&#"3#.2#/$#)"#e!2!-#/2#"$%-%"5#"#&#"2(A#55#"0(2%)"w!&("A!("%"A('+-
.(%m"CPFQE )"ZKIT)"3:"b_[:

]!(5"$%/2#-3%.!/#!-#/2#)"S!-#5"F%A#&%$y"CIJJJ)"3:"a_[)"/%"$%/-
2#e2%"0!"2#%.(!"Y!(!)"0#B#/0#,"%",5%"0#",-"0(5$,.5%"B,/$(%/!&)"3%.<-"!'%-
.!"/,-"/?A#&"0#"%.'!/(d!=>%"*(#.+.1,($%"-,(2%"-!(5"#&#A!0%"CA(52%"1,#"!"
2#%.(!"Y!(!"3%55,("$%-%"5#,"%4@#2%"0#"#52,0%"%5"$($&%5"0#".#2.%!&(-#/2!=>%"
#/2.#"5#.#5"A(A%5"#"!-4(#/2#"B?5($%81,?-($%"/,-"/?A#&"'&%4!&[u

kx,!&"!"B,/=>%"0#"$!0!"'+5"/%"!.zl"g%.!"0%"$%/2#e2%"0#"Y!(!)"#55!"3#.-
',/2!" 5#.(!" $%/5(0#.!0!" .#0,/0!/2#" #" (&7'($!)" -!5" 0#/2.%" 0#52#" $%/-
2#e2%"/>%"5#.+"-!(5"(&7'($!"0%"1,#"!"3#.',/2!u"kx,!&"<"!"B,/=>%"0!"*#-
-%'&%4(/!" %," 0!" (/5,&(/!" /%" 5!/',#zl" Q#-%5" 3%52,&!0%" ,-" 5(52#-!"
$(4#./<2($%L" 3%.2!/2%)" <" .!d%+A#&" (/0!'!." !" B,/=>%" 0!5" 3!.2#5" $%-3%-
/#/2#5"CFEHPFEDO)"IJJJ)"3:"a_[:

M!.!" D!3%/(" CIJZJ)" 3:" oVJ[)" %" 3.(/$(3!&" %4@#2(A%" $%'/(2(A%" 0!"
#$%&%'(!"<"#e3&($!."$%-%"$#.2%5"3.%$#55%5"#"%.0#/!-#/2%5"0!"4(%5B#.!"

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


50 NUNES-NETO, N. F.; CARMO, R. S. do; EL-HANI, C. N.

5#" -!/29-)" 5#" .#3#2#-)" />%" %452!/2#" 5,!" .#&!2(A!" (-3.%4!4(&(0!0#ZI.


;"$!.!$2#.(d!=>%"B%./#$(0!"3%."D!3%/("{"!3#5!."0#"/>%"5#.",5,!&"{"
2#-"%"-<.(2%"0#"$%&%$!."#-".#&#A%"!"(-3%.2h/$(!"0!"!/+&(5#"B,/$(%/!&"
3!.!"!"#e3&($!=>%"#$%&7'($!:"E5"#$7&%'%5)"0#"!$%.0%"$%-"#&#)"$%52,-!-"
.#!&(d!."!/+&(5#5"B,/$(%/!(5"0%5"5(52#-!5"#$%&7'($%5)"0#"-%0%"!"-%52.!."
$%-%"$#.2!"k.#(2#.!=>%"0%"(-3.%A+A#&l"<"-!/2(0!"/%5"5(52#-!5"#$%&7-
'($%5)"-#0(!/2#"!"!/+&(5#"0!5"$!3!$(0!0#5"5(529-($!5"3%."#&#5"#e(4(0!5"
#-"2#.-%5"0#"$%/2.(4,(=i#5"$!,5!(5"0!5"$!3!$(0!0#5"0!5"3!.2#5"$%--
3%/#/2#5:"E,"5#@!)"0#52!"3#.53#$2(A!)"!"#e3&($!=>%"$%/5(52#)"#-"2#.-%5"
'#.!(5)"/!"!2.(4,(=>%"0#" !"#$%"!"$!0!"3!.2#"0%"5(52#-!"A(5!/0%"%"#/2#/-
0(-#/2%"0!"-!/,2#/=>%"0#"0#2#.-(/!0%5"3.%$#55%5"#"%.0#/!-#/2%5"
/%"5(52#-!"$%-%",-"2%0%:"P52#"<"4!5($!-#/2#"%"3.%@#2%"0#"#e3&($!=>%"
B,/$(%/!&"0#5#/A%&A(0%"3#&%"6&75%B%"U%4#.2"D,--(/5"CZKTV[:
!" #$%&%'(!" 0!5" c&2(-!5" 2.95" 0<$!0!5)" !"#$%" 5,.'(," $%-%" ,-"
$%-3&#-#/2%"/#$#55+.(%"0%"$%/$#(2%"0#"4(%0(A#.5(0!0#:"M%."(55%)"/>%"
3%0#-%5" 3#.0#." 0#" A(52!" #55#" c&2(-%" $%/$#(2%" /,-!" !/+&(5#" 0#" B,/-
=>%"/!"#$%&%'(!"!2,!&:"Q.!0($(%/!&-#/2#)"!"4(%0(A#.5(0!0#"<"0#6/(0!"/!"
#$%&%'(!"$%-%"0(A#.5(0!0#"0#"#53<$(#5Zo"C];YjUU; )"IJJ_[L"-!(5"
3.#$(5!-#/2#)" $%-%" .(1,#d!" #" !4,/0h/$(!" 0#" #53<$(#5Z_" CWjffPF)"
IJJZ[)" %," 5%-#/2#" $%-%" .(1,#d!" 0#" #53<$(#5ZV:" %" #/2!/2%)" #55!5" 0#-
6/(=i#5"'#.!-"!&',-!5"!-4(',(0!0#5"#"(-3.#$(5i#5:"M%."#e#-3&%)"<"
3%55?A#&" !2.(4,(." %" -#5-%" A!&%." 0#" 4(%0(A#.5(0!0#" C$%/$#4(0!" $%-%"
.(1,#d!" %," .(1,#d!" #" !4,/0h/$(!" 0#" #53<$(#5[)" 3#&!" !3&($!=>%" 0#" ,-"

12
Esta não é, sem dúvida, uma formulação usual do objeto da ecologia. Uma caracterização que nos parece mais usual —
ainda que não mais apropriada, visto que não contempla a ecologia de ecossistemas, mas apenas a ecologia de
comunidades — pode ser encontrada, por exemplo, em Scheiner e Willig (2008, p. 1): “o domínio da ecologia são os padrões
espaciais e temporais de distribuição e abundância de organismos, incluindo causas e consequências”. Tal definição não é
apropriada, pelo menos no âmbito de nossa análise, por reduzir ecologia a ecologia de comunidades. O que há da abordagem
ecossistêmica nesta definição de Scheiner e Willig (2008) está meramente implícito em “causas e consequências”, o que é
insuficiente para dar conta da atual integração proposta pelo BFE, como veremos adiante.
13
Claro, há problemas epistemológicos envolvidos nos usos do termo “espécie” e todos os significados a ele vinculados. Não
podemos, entretanto, abordar este problema aqui, porque nos distanciaria dos nossos objetivos neste trabalho. Para mais
detalhes sobre o conceito de espécie no âmbito de uma discussão sobre biodiversidade, ver MCLAURIN; STERELNY, 2008.
14
Riqueza de espécies é simplesmente o número de espécies presentes numa certa área. A abundância se refere ao número de
indivíduos estimados que compõem a população da espécie na referida área. Para mais detalhes, ver BEGON; TOWNSEND;
HARPER, 2007.
15
E.g. MCARTHUR; WILSON, 1963.

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


O conceito de função na ecologia contemporânea 51

?/0($#"$%-%"%"0#"R*!//%/Zb"CRW; E L"XP;HPU)"ZK_K[)"3!.!"$%-,-
/(0!0#5"#$%&7'($!5"-,(2%"0(B#.#/2#5)"B%.-!0!5"3%."#53<$(#5"0(B#.#/2#5:"
Q.!2!85#"5(-3&#5-#/2#"0#"$%/2!."!5"#53<$(#5"#"5,!5"!4,/0h/$(!5".#&!-
2(A!5:" D%/2,0%)" 0#55!" -!/#(.!)" %42<-85#" />%" -!(5" 1,#" ,-!" (-!'#-"
#52+2($!"0!"$%-,/(0!0#"#$%&7'($!"#-"1,#52>%:"P55!"2.!0($(%/!&"0#6/(-
=>%" 0#" 3*%1*)'(&*121'" /#'&('#/$(!)" 3%." #e#-3&%)" !5" !2(A(0!0#5" %," B,/-
=i#5" .#!&(d!0!5" 3#&!5" #53<$(#5" /%" #$%55(52#-!" 0%" 1,!&" #&!5" 5>%" 3!.2#"
#)"$%/5#1,#/2#-#/2#)"2!-4<-"!"$%/2.(4,(=>%"0#&!5"3!.!"0#2#.-(/!0!5"
3.%3.(#0!0#5"0%5"#$%55(52#-!5)"$%-%"#52!4(&(0!0#)".#5(&(9/$(!)"0#$%--
3%5(=>%"%,"3.%0,=>%"'&%4!&"0#"-!2<.(!"%.'h/($!:
M%."A%&2!"0%"(/?$(%"0!"0<$!0!"0#"ZKKJ)"!5"&(-(2!=i#5"0#55!"!4%.0!-
'#-"#52+2($!"0!"4(%0(A#.5(0!0#"2.%,e#.!-"!"/#$#55(0!0#",.'#/2#"0#"$%/5-
2.,(.",-"2.!2!-#/2%"-!(5"0(/h-($%"#"5(529-($%"0%5"5(52#-!5"#$%&7'($%5:"R7"
0#55#"-%0%"5#"3%0#.(!"2#."/!"0#A(0!"$%/2!"5,!"$%-3&#e(0!0#)"$%-%",-"
.#1,(5(2%)"#/2.#"%,2.!5"$%(5!5)"3!.!"#52.!2<'(!5"0#"$%/5#.A!=>%"-!(5"$%/5(5-
2#/2#5:"E"fgP"#-#.'(,"$%-%",-!".#53%52!"!"#55#"0#5!6%"C;F]PN^;)"
IJJ_L"F; ;UNL"DEjQN WE)"IJZJ[)"$%&%$!/0%"-!(5"9/B!5#"/!"/!2,.#-
d!"0(/h-($!"0!"4(%0(A#.5(0!0#:
P/2.#"%5"!/2#$#0#/2#5"*(527.($%5"0%"fgP)"#52>%"%5"0#5#/A%&A(-#/-
2%5"3.<A(%5"/%"5<$,&%"``"!$#.$!"0!".#&!=>%"#/2.#"0(A#.5(0!0#"#"#52!4(&(-
0!0#:"D*!.&#5"P&2%/)"3%."#e#-3&%)"3.%3p5"1,#"!"#52!4(&(0!0#"C0#6/(0!"
$%-%"!"$!3!$(0!0#"0#".#$,3#.!=>%"0%"5(52#-!"!375"3#.2,.4!=i#5["#"!"
3.%0,=>%"3.(-+.(!"0%5"#$%55(52#-!5"C(52%"<)"!"3.%0,=>%"0#"4(%-!55!"
3%."-#(%"0!"B%2%55?/2#5#["!,-#/2!-"&(/#!.-#/2#"$%-"!"0(A#.5(0!0#"0#"
#53<$(#5)"0#"B!2%)",-!"(0#(!"-,(2%"(/2,(2(A!ZT:"P55!"3.%3%52!"0#"P&2%/"
CZKVa["B%("%45$,.#$(0!)"#/2.#2!/2%)"3#&%5".#5,&2!0%5"$%/2.+.(%5"%42(0%5"

16
O índice de Shannon foi aplicado para medir diversidade na ecologia pela primeira vez em 1958, pelo ecólogo espanhol
Ramon Margalef (SARKAR, 2007, p. 389). Desde então, tornou-se comum na ecologia como o índice de biodiversidade mais
usado. De qualquer maneira, note-se que o índice de Shannon não mede exatamente a diversidade, mas a improbabilidade
de uma sequência de sinais num canal de comunicação (SHANNON; WEAVER, 1949; ver também GLEICK, 2011). No
contexto da ecologia, ele é usado como um substituto (surrogate) para diversidade, não como uma medida direta dela
(JOST, 2006). Neste artigo, não temos como avançar na discussão dos índices matemáticos de biodiversidade e todas as
questões epistemológicas e metodológicas implicadas neles. Por isso, devemos manter nosso foco na linguagem funcional
relacionada ao conceito de biodiversidade na ecologia contemporânea, deixando a questão dos índices de diversidade para
trabalhos futuros. Para mais detalhes a esse respeito, ver RICOTTA (2005) e JOST (2006).
17
Ver ALMEIDA, 2004.

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


52 NUNES-NETO, N. F.; CARMO, R. S. do; EL-HANI, C. N.

3%." U%4#.2" ]!|" CZKTo[)" 1,#" -%52.%," 1,#" 5(52#-!5" -!(5" 0(A#.5%5" 5>%"
-#/%5"#52+A#(5:"N55%"&#A%,"!",-"#$&(35#"0%5"#52,0%5"$#/2.!0%5"/!".#-
&!=>%"#/2.#"0(A#.5(0!0#"4(%&7'($!"#"#52!4(&(0!0#"%,"%,2.!5"3.%3.(#0!-
0#5"#$%55(529-($!5:"P55#"#$&(35#"0,.%,"!2<"%"(/?$(%"0!"0<$!0!"0#"ZKKJ)"
1,!/0%" (/A#52('!=i#5" 1,#" !4%.0!-" #55!" .#&!=>%" .#!3!.#$#.!-" $%-%"
,-!"B%.2#"2#/09/$(!"/!"!'#/0!"#$%&7'($!)"/%2!0!-#/2#"5%4"%".72,&%"0#"
kf(%0(A#.5(0!0#"#"g,/$(%/!-#/2%"0#"P$%55(52#-!5l"CfgP[:
E" fgP" 3%0#" 5#." $!.!$2#.(d!0%)" #-" &(/*!5" '#.!(5)" 3%." -#(%" 0%5"
5#',(/2#5"!53#$2%5u
M.(-#(.%)"2#-"!"2#/09/$(!"0#",%",'3'(+2+3*%1*)'(&*121'+1'&1'+!/2+
7'(&7',-*)2+ /2*&+ 2/792)" />%" !3#/!5" $%-%" .(1,#d!" #n%," !4,/0h/$(!" 0#"
#53<$(#5)" -!5" (/$&,(/0%" %,2.%5" (2#/5" !&<-" 0!5" #53<$(#5" $%-%" $%/52(-
2,(/2#5"0!"0(A#.5(0!0#:"D%-%"!3%/2!" !##- CIJJI)"3:"ZVoK)"'.(B%"/%5-
5%[)"k%5"#$7&%'%5"!'%.!"5#"$%/$#/2.!-"-#/%5"5%4.#"!"0(A#.5(0!0#"$%-%"
$%/$#(2,!&(d!0!" !2.!A<5" 0!" 2!e%/%-(!" %," 0#" /%=i#5" 0#" #1,(&?4.(%" 0!"
0(A#.5(0!0#" 0!" $%-,/(0!0#" r(52%" <)" /c-#.%" 0#" #53<$(#5s" '/+ 2)%(+ 1'+
!/+,%",'*-%+/2*&+*",9!&*)%+1'+=3*%1*)'(&*121'ml:"P53#$(!&"!2#/=>%"2#-"5(0%"
0!0!"\"0(A#.5(0!0#"0#"2.!=%5"%,"!2.(4,2%5"B,/$(%/!(5"0%5"%.'!/(5-%5:
R#',/0%)"%"fgP"2.!/5B%.-!"%"3!3#&"!2.(4,?0%"\"4(%0(A#.5(0!0#"
#-"5(52#-!5"#$%&7'($%5)"#/2#/0#/0%8!"$%-%"!/2+*/7%(-2"-'+,2!&2+1%&+
7(%,'&&%&+',%&&*&-./*,%&Za)"#-"A#d"0#"!3#/!5"$%-%",-"efeito dos processos
4(72($%5"#"!4(72($%5)"$%-%"/!"Q#5#"D#/2.!&"0!"P$%&%'(!"0#"D%-,/(0!0#5"
CQDPD[)" $%/B%.-#" !3.#5#/2!0!" 3%." !##-" CIJJI)" 3:" ZVoa[:" ^#" -%0%"
4.#A#)"!"QDPD"3.%3i#"1,#"%"/c-#.%"0#"#53<$(#5"<",-!"B,/=>%"-!2#-
-+2($!"0#",-"$%/@,/2%"0#"A!.(+A#(5)"(/$&,(/0%"A!.(+A#(5"B?5($%81,?-(-
$!5:" N55%" 5('/(6$!" 1,#" !" 4(%0(A#.5(0!0#" 5#.(!" 5%-#/2#" ,-" #B#(2%" 0%5"
B!2%.#5"!-4(#/2!(5"4(72($%5"#"!4(72($%5:";"2#5#"$#/2.!&"0%"fgP)"3%."5,!"
A#d)" 3.%3i#" %" $%/2.+.(%u" !&',-!5" 3.%3.(#0!0#5" 0%5" #$%55(52#-!5" 5>%"
,-!"B,/=>%"-!2#-+2($!"0#",-"$%/@,/2%"0#"A!.(+A#(5)"(/$&,(/0%"B!2%.#5"
!4(7"2($%5" #" 4(72($%5)" #" !" 4(%0(A#.5(0!0#" #52+" #/2.#" %5" B!2%.#5" 4(72($%5)"

18
Este é um movimento similar ao proporcionado pela teoria Gaia, que propõe que a biota tem um papel fundamental na
construção e regulação das propriedades físico-químicas da Terra (LOVELOCK, 2000), e também pela ideia de construção
de nicho, cada vez mais relevante em biologia evolutiva (ODLING-SMEE, LALAND; FELDMAN, 2003). Apesar das diferenças
entre tais perspectivas, quanto a escalas espaciais ou temporais, é notável a convergência que há entre elas no sentido de
reconhecer um papel ativo para a vida na Terra na construção ou remodelação do ambiente físico-químico.

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


O conceito de função na ecologia contemporânea 53

$%-%",-!"A!.(+A#&"(/0#3#/0#/2#:"P-"2#.-%5"#3(52#-%&7'($%5)"(55%"5('-
/(6$!"1,#"#/1,!/2%"!"4(%0(A#.5(0!0#"<"!55,-(0!"$%-%"'>792"2"1!/ na
#$%&%'(!"0#"$%-,/(0!0#5"2.!0($(%/!&)"%"fgP"!"$%/$#4#"$%-%"'>792"2"&
/!5"#e3&($!=i#5)"$,@%"%4@#2(A%"$#/2.!&"<"B%./#$#.",-!"$%-3.##/5>%"0!5"
3.%3.(#0!0#5" #$%55(529-($!5)" 1,#" 5>%)" 3%." 5#," 2,./%)" %" '>792"2"1!/.
v"/#55#"5#/2(0%"1,#"%"3.73.(%"&-2-!&"#3(52#-%&7'($%"0!"4(%0(A#.5(0!0#"
-,0!"$%-"%"fgPu"0#",-"-#.%"#B#(2%"3!55!"!"5#.",-!".#&#A!/2#"$!,5!:
Q#.$#(.%)"%"fgP"<"!/+'& %(#%+72(2 *"-';(2(+',%9%;*2+1'+,%/!"*121'&+'+
',%9%;*2+1'+',%&&*&-'/2&)"0,!5"#5$%&!5"0#"3#/5!-#/2%"1,#"#52(A#.!-"5#-
3!.!0!5"0#/2.%"0!"#$%&%'(!"0,.!/2#"-,(2%"2#-3%ZK:";-4!5"&(0!-"$%-"
1,#52i#5"1,#"5>%"$#/2.!(5"3!.!"%"#/2#/0(-#/2%"0%5"5(52#-!5"#$%&7'($%5)"
-!5"1,#"B%.!-"!4%.0!0!5"3%."2#%.(!5"#"-%0#&%5"(5%&!0%5"!2<".#$#/2#-
-#/2#u"0#",-"&!0%)"%"#52,0%"0!5"(/2#.!=i#5"4(%&7'($!5)"0!"0(A#.5(0!0#"
C$%/$#4(0!"$%-%".(1,#d!"#"!4,/0h/$(!"0#"#53<$(#5["#"0(52.(4,(=>%"0#"
%.'!/(5-%5)"/!"#$%&%'(!"0#"$%-,/(0!0#5L"0#"%,2.%)"%5"t,e%5"0#"#/#.-
'(!"#"%5"$($&%5"0#"-!2<.(!"/%5"5(52#-!5"#$%&7'($%5)"/!"#$%&%'(!"0#"#$%5-
5(52#-!5)"#-"1,#"%5"%.'!/(5-%5"5>%"2(3($!-#/2#".#3.#5#/2!0%5"$%-%"
$!(e!583.#2!5"/!"-%0#&!'#-"C ;PP])"IJJI)"3:"ZV_T[:
x,!.2%)" <?+ !/2+ %(-'+ -'"1.",*2+ 1'+ ('29*@2#$%+ 1'+ '&-!1%&+ '>7'(*/'"-2*&+
A"$%+27'"2&+1'&,(*-*)%&B"/%"fgP)"(/$&,5(A#)"4,5$!/0%85#".#&!$(%/!."#52,0%5"
0#"$!-3%"#"0#"&!4%.!27.(%"3!.!"$%/52.,(."-%0#&%5"3.#0(2(A%5:"v"$%-,-"
a .#!&(d!=>%"0#"#e3#.(-#/2%5"#-"'.!/0#5"+.#!5"!4#.2!5"%,"-#5-%"0#/2.%"
0#" '.!/0#5" (/52!&!=i#5:" M%." #e#-3&%)" %5" #e3#.(-#/2%5" 0#" D#0!." D.##y)"
/%5"P52!0%5"j/(0%5"CQNF]; )"IJJZL"QNF]; "#2"!&:)"IJJZ[)"fNE^PMQW)"
3%."A+.(%5"3!?5#5"0!"P,.%3! CMgNRQPUPU"#2"!&:)"IJJ_[)"%,"!5"(/52!&!=i#5"
0%"P$%2.%/ C]NFDj"#2"!&:)"IJZI[)"/!"N/'&!2#..!)"2%./!-"3%55?A#&"0(d#."1,#"
%5"#52,0%5".#!&(d!0%5"/%"fgP"#52>%"2.!/5B%.-!/0%"!"#$%&%'(!"/,-!"Big
C,*'",'IJ. ;&<-" 0(55%)" %" !4(5-%" #/2.#" !" -%0#&!'#-" 2#7.($!" #" %5" #52,0%5"
#-3?.($%5"1,#"-!.$%,"!"#$%&%'(!"0,.!/2#"&%/'%"2#-3%"CMPQPUR)"ZKKZL"
DUj}L" UEDW;L" PF8W; N)" IJJT[" 5#" !3.#5#/2!" 0#" B%.-!" 5('/(6$!2(A!-
-#/2#".#0,d(0!"/%"h-4(2%"0%"fgP:
19
Ver PICKETT; KOLASA; JONES, 2007.
20
Por este termo, entendemos investigações com grande suporte financeiro e alta tecnologia disponível, de modo semelhante
ao que o Projeto Manhattan significou para a Física no século XX ou o Projeto Genoma para a Biologia Molecular na virada
do século XX para o século XXI.

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


54 NUNES-NETO, N. F.; CARMO, R. S. do; EL-HANI, C. N.

%" 1,#" 5#" .#B#.#" !" !"#$%)" #52!" <" ,-!" /%=>%" ,4?1,!" #" 2!-4<-"
!55%$(!0!"!",-!"0(A#.5(0!0#"0#"5('/(6$!0%5"/#55#"3.%'.!-!"0#"3#5-
1,(5!:"j-"#e#-3&%"0#"B!&2!"0#"$&!.#d!"/%",5%"0#" !"#$%"/%"fgP"3%0#"
5#."A(52%"/%"5#',(/2#"2.#$*%u"

r~s"$%/B.%/2!0!5"$%-",-!"!$#&#.!0!"3#.0!"0#"#53<$(#5)"!5"B,2,.!5"t%.#5-
2!5"5#.>%"$!3!d#5"0#"-!/2#."5,!5"B,/=i#5"#"5#,5"5#.A(=%5z"P52!-%5"#/B.#/-
2!/0%"%".(5$%"0#"/%5"!3.%e(-!.-%5"0#"/?A#(5"(/B#.(%.#5"0#"B,/=i#5"#"5#.-
A(=%5"0!5"t%.#52!5"/,-"-,/0%"$%-"-#/%5"#53<$(#5"0#"+.A%.#5"r:::sz"P52!"
1,#52>%" #52+" /%" h-!'%" 0!" 3#51,(5!" 5%4.#" !" 4(%0(A#.5(0!0#" B,/$(%/!&)" %"
#52,0%"0%5"#B#(2%5"0!"4(%0(A#.5(0!0#"5%4.#"%"B,/$(%/!-#/2%"#$%55(529-($%"
C ;^UEXRONL"XNUQWL"RDWPUPU8FEUP }P )"IJZJ)"3:"TV[:

;5" B,/=i#5" #" %5" 5#.A(=%5" -#/$(%/!0%5" 3%." #52#5" !,2%.#5" 3%5-
5,#-)"$%-%"#&#5"-#5-%5"/%2!-)",-!"'.!/0#"(-3%.2h/$(!"3.+2($!"#-"
2#.-%5"!-4(#/2!(5:" #55!"$(2!=>%)"#52>%"3.#5#/2#5"%5"2.95"5('/(6$!0%5"
0#"kB,/=>%l"/%"fgP)"1,#"#e3&($(2!.#-%5"!0(!/2#:"D%/2,0%)"/>%"6$!"
$&!.%)"/%"2.#$*%"!$(-!)"%"1,#"<" !"#$%"C%"1,#"%$%..#"#-"2%0%"%"!.2('%)"
1,#" -#/$(%/!" !"#$%" %," !&',-" 0#.(A!0%)" $%-%" !",*%"29" %," !",*%:
"2/'"-%)"VK"A#d#5[:" %"6/!&"0!"$(2!=>%)"0#"B%.-!"(-3&?$(2!)"0#6/#-
85#" !" k3#51,(5!" 5%4.#" !" 4(%0(A#.5(0!0#" B,/$(%/!&l" $%-%" k%" #52,0%"
0%5"#B#(2%5"0!"4(%0(A#.5(0!0#"5%4.#"%"B,/$(%/!-#/2%"#$%55(529-($%l:
R#" %" kB,/$(%/!-#/2%" #$%55(529-($%l" <" 3!.!" 5#." $%-3.##/0(0%" #-"
2#.-%5"0#",-!"#e3&($!=>%"1,#"B!=!".#B#.9/$(!"\"k4(%0(A#.5(0!0#"B,/-
$(%/!&l"%,"-#5-%"1,#"!"#e3&($!=>%"2#/*!"%"5#/2(0%"(/A#.5%)"#&!"5#.+"
5#-3.#"$(.$,&!.u"#e3&($!85#"%"B,/$(%/!-#/2%"!3#&!/0%85#"!%"B,/$(%-
/!&"%,"A($#8A#.5!:";"1,#52>%"k%"1,#"<"B,/=>%zl"3#.-!/#$#"$&!-!/0%"
3%.",-!".#53%52!)"3%.",-!"0#6/(=>%"$&!.!IZ:";"4.#A#"!/+&(5#"0#"2.#-
$*%5"0!"&(2#.!2,.!"#$%&7'($!"$%/2#-3%.h/#!)"$%-%"#55#"1,#"$(2!-%5"
!$(-!)"0#(e!"-!.$!0!"!"/#$#55(0!0#"0#",-!"!/+&(5#"#3(52#-%&7'($!"
0#"B,/=>%"#-"#$%&%'(!:
W+" 0,!5" 0(-#/5i#5" (-3%.2!/2#5" /%" 2.!4!&*%" 3!.!" .#53%/0#." \"
3#.',/2!"k%"1,#"<"B,/=>%zl"/%"$%/2#e2%"#$%&7'($%u",-!"0(-#/5>%"0(d"

21
Uma circularidade similar nas definições de diversidade funcional passa desapercebida na análise de Petchey e Gaston
(2006, p. 741-742).

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


O conceito de função na ecologia contemporânea 55

respeito \" .#!&(d!=>%)" !" 3!.2(." 0#" ,-!" !/+&(5#" 0!" &(2#.!2,.!" #$%&7'($!"
C3%.2!/2%)" 0#" 3.%0,2%5" 0!" 3.+2($!" $(#/2?6$!" .#!&[)" 0#" ,-!" $.?2($!" 0%5"
5('/(6$!0%5" !2.(4,?0%5" \"" kB,/=>%l" 3#&%5" #$7&%'%5:" N55%" 3#.-(2(.+" %48
%4-
2#." ,-!" -!(%." $&!.#d!" 5%4.#" %" 3.%4&#-!" 0!" &(/',!'#-" B,/$(%/!&" /!"
#$%&%'(!:";"%,2.!"0(-#/5>%"5#".#B#.#"!%",5%"0!5"!4%.0!'#/5"0#" !"#$%
#e(52#/2#5"/!"6&%5%6!"0!"4(%&%'(!"$%/2#-3%.h/#!"$%-%"-!.$%5"0#".#-
B#.9/$(!"3!.!"!"0#.(A!=>%"0#",-"$%/$#(2%"!452.!2%"0#"B,/=>%"!3&($+A#&"
\"#$%&%'(!:";5"0,!5"0(-#/5i#5"{"!"3.(-#(.!)"0#",-!"$.?2($!"0(.('(0!"
!%5" 3.%0,2%5" 0!5" 3.+2($!5" 0#" 3#51,(5!" #-" #$%&%'(!)" #" !" 5#',/0!)" 0#"
,-!"3.%3%52!"0#"/%.-!5"3!.!"%",5%"0#" !"#$%"/!"3.+2($!"#$%&7'($!"$%-"
4!5#"/%"$%/*#$(-#/2%"6&%576$%"#52!4#&#$(0%"{"5#"(/t,#/$(!-"0(!&#-
2($!-#/2#)"3%0#/0%"!-4!5"$%/2.(4,(."3!.!",-!"!4%.0!'#-"6&%576$!"
$%/5(52#/2#"#"c2(&"0#"B,/=>%"/!"#$%&%'(!:" #52#"2.!4!&*%)"!A!/=!.#-%5"
-!(5"/!"3.(-#(.!"0(-#/5>%"!3%/2!0!)"!3#/!5"$%-#/2!/0%"0#"-!/#(.!"
4.#A#"5%4.#"!"5#',/0!"0(-#/5>%"/!5"$%/5(0#.!=i#5"6/!(5:
M!.!"!&$!/=!."-!(5"$&!.#d!)"/%2#-%5"!"(-3%.2h/$(!)"3%(5)"0#"$%/5-
2.,(.",-"5(52#-!"0#"$&!55(6$!=>%"0#" !"#$%"/!"#$%&%'(!)"$%-%"0#52!$%,"
S!e"CIJJV)"3:"b_b[u"kE"1,#"<",.'#/2#-#/2#"/#$#55+.(%"<"$%/52.,(.",-!"
$&!55(6$!=>%"$%-3&#2!"0%5"0(B#.#/2#5"2(3%5"0#"B,/=i#5"#"5(52#-!5:"M!.!"
2!(5"0%-?/(%5"-!(5".#52.(2%5"0!"2#%.(!)"<"-,(2%"-!(5"0#5#@+A#&"1,#"'#-
/#.!&(d!=i#5"!3!.#=!-l:" %"1,#"5#',#)"0!.#-%5",-"3!55%"/%"5#/2(0%"
0#"$%/52.,(."2!&"5(52#-!"0#"$&!55(6$!=>%"0%5"5('/(6$!0%5"0#"kB,/=>%l)"
!3%/2!/0%"2.95",5%5"3.(/$(3!(5"0#55#"2#.-%"C#"5#,5"0#.(A!2(A%5["/%"fgP)"
$!32,.!0%5"/!5"#e3.#55i#5"k0(A#.5(0!0#"B,/$(%/!&l)"kB,/=>%"0!"4(%0(-
A#.5(0!0#l" #" kB,/$(%/!-#/2%nB,/=>%" #$%55(529-($!l:" !5" 3.7e(-!5"
5,45#=i#5)"0(5$,2(.#-%5"$.(2($!-#/2#"$!0!",-"0#55#5",5%5:
j-" 1,!.2%" 5('/(6$!0%" 0#" kB,/=>%l" #52+" !55%$(!0%" \5" B,/=i#5"
-!2#-+2($!5",5!0!5"/!"-%0#&!'#-"#$%&7'($!:"P55#",5%"<)"%4A(!-#/2#)"
$%-,-" 0#/2.%" #" B%.!" 0!" #$%&%'(!)" 4#-" $%-%" /%" fgP:" P52!-%5" -!(5"
(/2#.#55!0%5)" $%/2,0%)" #-" B,/=i#5" $%-%" !2.(4,2%5" 0#" 5(52#-!5" 4(%&7-
'($%5" #" #$%&7'($%5:" ;55(-)" />%" 0(5$,2(.#-%5" #52#" ,5%" 0%" 2#.-%" !1,(:"
Q!-3%,$%"3.#2#/0#-%5"0#B#/0#."1,#"#52#5"5>%"%5"c/($%5",5%5"0#" !":
#$%"/!"#$%&%'(!"$%/2#-3%.h/#!"%,"/%"fgP:"^#"1,!&1,#."-!/#(.!)"#&#5"
/%5"3!.#$#-",5%5"%,"5('/(6$!0%5"#53#$(!&-#/2#".#&#A!/2#5"/%"$%/2#e2%"
0#52#"3.%'.!-!"0#"3#51,(5!:

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


56 NUNES-NETO, N. F.; CARMO, R. S. do; EL-HANI, C. N.

Diversidade funcional: funções como itens de diversidade

j-" 3.(-#(.%" ,5%" 0!" /%=>%" 0#" B,/=>%" /%" fgP" 5#" .#B#.#" !" ,-!"
$&!55#" 0#" %4@#2%5" A!.(!/2#5)" (:#:)" B,/=i#5" 3%0#-" 5#." A(52!5" $%-%" (2#/5"
0!"4(%0(A#.5(0!0#)"$%-%"#e3&($!.#-%5"!4!(e%:"P-"2#.-%5"5(-3&#5)"0%"
-#5-%" -%0%" $%-%" B!&!-%5" 0#" 1*)'(&*121'+ 1'+ '&7D,*'&)" 3%0#-%5" 2!--
4<-" B!&!." 0#" 1*)'(&*121'+ 1'+ !"#0'&" %," 1*)'(&*121'+ !",*%"29:" M%." #e#--
3&%)" !##-"CIJJI)"3:"ZVoT)"'.(B%"/%55%["3.%3i#"1,#"%"fgP"0#A#"B%$!."
5%4.#" k1*)'(&*121'+ !",*%"29" #-" A#d" 0#" 1*)'(&*121'+ -2>%"E/*,2l:";55(-)"
B.#1,#/2#-#/2#)" !" $!.!$2#.?52($!" 0#" k5#." 0(A#.5%l" <" !2.(4,?0!" !" 2.!=%5"
%," $!.!$2#.?52($!5" B,/$(%/!(5" 0%5" %.'!/(5-%5)" $%-%" !5" $!.!$2#.?52($!5"
1,?-($!5" 0!5" B%&*!5" /%" 5%&%" CWÄQQP RDWXNFFPU gUE]N L"
f;U; Q;F)"IJZZ[:"^?!d"#"D!4(0%"CIJJZ)"3:"bV_["0#6/#-"0!"5#',(/2#"
-!/#(.!"0(A#.5(0!0#"B,/$(%/!&"#"2.!=%5"B,/$(%/!(5)".#53#$2(A!-#/2#u

4*)'(&*121'+ !",*%"29F %"A!&%."#"%"#53#$2.%"0#"2.!=%5"B,/$(%/!(5"0%5"%.'!-


/(5-%5"3.#5#/2#5"/,-"0!0%"#$%55(52#-!:"E"A!&%."0%5"2.!=%5"5#".#B#.#"\"
3.#5#/=!"#"!4,/0h/$(!".#&!2(A!"0#"$#.2%5"A!&%.#5"C%,"2(3%5["0#"2!-!/*%"
0#"B%&*!5)"$%/2#c0%"0#"/(2.%'9/(%)"!&2,.!5"0#"0%55#&)"$!.!$2#.?52($!5"0#"
0(53#.5>%"#"0%.-9/$(!"0#"5#-#/2#5)"B#/%&%'(!"A#'#2!2(A!"#".#3.%0,2(A!"
#2$:"E"#53#$2.%"0%5"2.!=%5"5#".#B#.#"\"0(B#.#/=!"#/2.#"%5"A!&%.#5"#e2.#-%5"
0%5"2.!=%5"B,/$(%/!(5)"3%."#e#-3&%)"%"#53#$2.%"0#"2!-!/*%5"0#"B%&*!5)"
!&2,.!5"0#"0%55#&)"%,"3.%B,/0(0!0#5"0#"#/.!(d!-#/2%"#e(4(0!5"3#&!5"0(-
B#.#/2#5"3&!/2!5"/,-"#$%55(52#-!:
G(2#%&+ !",*%"2*&F !5"$!.!$2#.?52($!5"0#",-"%.'!/(5-%"1,#"5>%"$%/5(0#.!-
0!5".#&#A!/2#5"3!.!"5,!".#53%52!"!%"!-4(#/2#"#n%,"5#,5"#B#(2%5"5%4.#"%"
B,/$(%/!-#/2%"#$%55(529-($%:"Pe#-3&%5"0#"2.!=%5"B,/$(%/!(5"5>%"2!-!-
/*%5"0#"B%&*!5)".#5(529/$(!"#"&%/'#A(0!0#)"2!-!/*%"#"-%0%"0#"0(53#.-
5>%"0!5"5#-#/2#5)"!&2,.!"#"#52.,2,.!"0%"0%55#&)"$!3!$(0!0#"0#".#4.%2!."#"
$!3!$(0!0#"0#"6e!=>%"5(-4(72($!"0#"/(2.%'9/(%:

PA(0#/2#-#/2#)"$%-%"3%0#-%5"3#.$#4#."/!5"3!55!'#/5"!$(-!)"-,(-
2!5"A#d#5"#52+"(-3&($!0!",-!"$(.$,&!.(0!0#"/!"$%/$#3=>%"0#"0(A#.5(0!0#"
B,/$(%/!&"3#&%5"#$7&%'%5u"0(A#.5(0!0#"B,/$(%/!&"<"5(-3&#5-#/2#"0#6/(0!"
$%-%"0(A#.5(0!0#"0#"2.!=%5"%,"!2.(4,2%5"B,/$(%/!(5:"N55%"0#.(A!"0#"2%-!."
$%-%"0!0%"%,"!,2%#A(0#/2#"%"$%/$#(2%"0#"B,/=>%"/!5"$(9/$(!5"4(%&7'($!5)"
%"1,#"<"$%-,-"#/2.#"4(7&%'%5"0!5"-!(5"0(52(/2!5"+.#!5:"M!.!"#5$!3!."0#55!"

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


O conceito de função na ecologia contemporânea 57

$(.$,&!.(0!0#)"<"B,/0!-#/2!&"%&*!."3!.!"!"6&%5%6!"0!"4(%&%'(!"$%/2#-3%-
.h/#!)"#e2.!(/0%"0#&!",-"$%/$#(2%"0#"B,/=>%"A+&(0%"3!.!"!"ecologia.

A função da biodiversidade: o papel


causal da biodiversidade nos ecossistemas

E,2.%",5%"0%"2#.-%"kB,/=>%l"#52+".#&!$(%/!0%"\"5#',/0!"$!.!$-
2#.?52($!"0%"fgP"!3%/2!0!"!$(-!)"(:#:)"!%"3!3#&"$!,5!&"!2.(4,?0%"\"0(A#.-
5(0!0#"/#55#"3.%'.!-!"0#"3#51,(5!:"D%-%"@+"-#/$(%/!-%5)"#52#"<",-"
-%A(-#/2%"#3(52#-%&7'($%".#&#A!/2#"/!5"4!5#5"0!"#$%&%'(!"$%/2#-3%-
.h/#!u"0!"4(%0(A#.5(0!0#"$%-%"#B#(2%)"/!"QDPD)"#"$%-%",-"$%-3%/#/-
2#" -!(5" !2(A%" /!" 0(/h-($!" #$%&7'($!)" /%" fgP" C ;PP])" IJJI[:" ^#55!"
3#.53#$2(A!)"%",5%"0#" !"#$%"0(d".#53#(2%"\5"(/t,9/$(!5"0!"4(%0(A#.5(-
0!0#"5%4.#"!"%3#.!=>%"0%5"#$%55(52#-!5"%,"5,!5"3.%3.(#0!0#5:";&',/5"
#e#-3&%5"0!"!3&($!=>%"0%"$%/$#(2%"0# B,/=>%"/#52#"5#/2(0%"5>%u

A+3*%1*)'(&*121' planejada -'/+!/2+ !"#$%+1*('-2:"r:::s";"3*%1*)'(&*121'+2&&%:


,*212+-2/3D/+-'/+!/2+ !"#$%)"-!5"<"-#0(!0!"3#&!"4(%0(A#.5(0!0#"3&!/#-
@!0!:"^#55#"-%0%)"!"3*%1*)'(&*121'+792"'H212+-2/3D/+-'/+!/2+ !"#$%+*"1*:
('-2"r:::s"1,#"<".#!&(d!0!"!2.!A<5"0#"5,!"(/t,9/$(!"5%4.#"!"4(%0(A#.5(0!0#"
!55%$(!0!:"M%."#e#-3&%)"!5"+.A%.#5"#-",-"5(52#-!"!'.%t%.#52!&"$.(!-"
5%-4.!)" %" 1,#" 2%./!" 3%55?A#&" $,&2(A!." !3#/!5" $,&2,.!5" (/2%&#.!/2#5" !%"
R%&:";55(-)"!" !"#$%+1*('-2+1'&-2+&';!"12+'&7D,*'+A2&+?()%('&B+D+,(*2(+&%/3(2
C;FQNPUN)"ZKKK)"3:"IZ)"'.(B%"/%55%[:

;"1,#52>%"0#"5#"!"1*)'(&*121'+1'+792"-2&+*"I!'",*2+%&+7(%,'&&%&+',%&&*&-9/*:
cos"2#-".#$#4(0%"!2#/=>%"$.#5$#/2#"/%5"c&2(-%5"$(/$%"!/%5)"$%-%"$%/-
5#1,9/$(!" 0!" 3,4&($!=>%" 0#" A+.(%5" 0#5#/A%&A(-#/2%5" 2#7.($%5" #" #e3#-
.(-#/2%5".#A%&,$(%/+.(%5"C^€;}L"D;fN^E)"IJJZ)"3:"b_b)"'.(B%"/%55%[:

rE"fgP"<s",-"$%.3%".#$#/2#"0#"2.!4!&*%"2#7.($%"#"#e3#.(-#/2!&"1,#"5,-
'#.#"1,#"!" !"#$%+',%&&*&-./*,2"<"'%A#./!0!)"#-"3!.2#)"3#&!"3*%1*)'(&*121'
C ;PP])"IJJI)"3:"ZVoa)"'.(B%"/%55%[:

!" 3.(-#(.!" $(2!=>%)" 3%0#-%5" A#." ,-!" !2.(4,(=>%" #e3&?$(2!" 0#"


!"#$%" \" 4(%0(A#.5(0!0#" 3&!/#@!0!" C792""'1+ 3*%1*)'(&*-J[" #" \" 4(%0(A#.-
5(0!0#" !55%$(!0!" C2&&%,*2-'1+ 3*%1*)'(&*-J[)" /%" $%-#=%" 0%" !.',-#/2%:"

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


58 NUNES-NETO, N. F.; CARMO, R. S. do; EL-HANI, C. N.

D%/2,0%)"!%"6/!&"0%"-#5-%)" !"#$%"<"!2.(4,?0!"!"#53<$(#5)"#"/>%"\"4(%-
0(A#.5(0!0#"#-" 5(:"P55!"%5$(&!=>%"1,!/2%" !%"(2#-" !%"1,!&" <"!2.(4,?0!"
!"#$%" <" $%-,-" #-" 2.!4!&*%5" .#&!$(%/!0%5" !%" fgP" #" $%/52(2,(" !(/0!"
%,2.!" -!/#(.!" 0#" (&,52.!." !" /#$#55(0!0#" 0#" !/!&(5!." %" -%0%" $%-%" !"
/%=>%"0#"B,/=>%"<",5!0!"/#55#"3.%'.!-!"0#"3#51,(5!:
;5" !2.(4,(=i#5" 0#" !"#$%" \" 4(%0(A#.5(0!0#" #52>%" .#&!$(%/!0!5"
$%-" #52.!2<'(!5" 3!.!" !" $%/5#.A!=>%" 0%5" 4#/5" #" 5#.A(=%5" #$%55(529-($%5"
C]NFFP Nj]"PDERGRQP]";RRPRR]P Q)"IJJV[:"^#"-%0%"0(B#-
.#/2#)"/!5"0,!5"$(2!=i#5"5#',(/2#5)"3%0#-%5".#$%/*#$#."!3#/!5"(-3&($(2!-
-#/2#"/%"0(5$,.5%"!"!0%=>%"0#",-!"&(/',!'#-"B,/$(%/!&)"!"5!4#.)"/!5"/%-
=i#5"0#"1,#"!"0(A#.5(0!0#"0#"3&!/2!5"*"I!'",*2"%5"3.%$#55%5"#$%55(529-($%5"
C^€;}L"D;fN^E)"IJJZ["#"0#"1,#"!"B,/=>%"0%"#$%55(52#-!"<";%)'("212 pela
4(%0(A#.5(0!0#"C ;PP])"IJJI[:"P52!5"(0#(!5"3%0#-"5#."!2.#&!0!5"\"/%=>%"
0#"B,/=>%"$%-%",-"3!3#&"$!,5!&"%,",-!"0(53%5(=>%"0#",-"(2#-"0#/2.%"
0#",-"2%0%"$%-3&#e%)"$%-%"3.%3%52%)"3%."#e#-3&%)"3%."D,--(/5"CZKTV[:"
N55%"@+"B%("%45#.A!0%"3%."!&',/5"!,2%.#5"C;F]PN^;)"IJJ_L";F]PN^;L"
PF8W; N)" IJJbL" D;ME N)" IJZJL" ]$F;jUN L RQPUPF G)" IJJaL"
j PR8 PQEL"PF8W; N)"IJZZ[:
#55#"$%/2#e2%"0%",5%"0#" !"#$%)"<"(-3%.2!/2#"0(d#."!&'%"!$#.$!"
0!" 3!&!A.!" k4(%0(A#.5(0!0#l:" !" -#0(0!" #-" 1,#" 5('/(6$!)" #55#/$(!&-
-#/2#)"kA!.(#0!0#l22) />%"3%0#-%5"!2.(4,(."\"4(%0(A#.5(0!0#"%"&-2-!&
0#" ,-!" $!,5!" #)" $%/5#1,#/2#-#/2#)" />%" 3%0#-%5" 0(d#." 1,#" #&!" 2#-"
,-"3!3#&"B,/$(%/!&"/%"#$%55(52#-!:"H!.(#0!0#"<"!&'%"(/B#.(0%)"/>%"%4-
5#.A!0%:"N/B#.(-%5"!"A!.(!=>%"!"3!.2(."0!"%45#.A!=>%"0%5"A!.(!/2#5:" !"
3.+2($!"#$%&7'($!)",-"A!&%."0!"4(%0(A#.5(0!0#"<"(/B#.(0%"!"3!.2(."0#"%48
<"(/B#.(0%"!"3!.2(."0#"%48
!"3!.2(."0#"%4-
5#.A!=i#5"0%5"%.'!/(5-%5"C#-4%.!"#52#"5#@!",-"3.%$#55%"0#"#e2.!3%&!-
=>%"1,#"5#"B!d"2#/0%"#-"$%/2!",-!"!-%52.!"0!"$%-,/(0!0#[)"-!5"!"4(%-
0(A#.5(0!0#"#-"5("-#5-!"<",-!"#/2(0!0#"2#7.($!)"\"1,!&"/>%"5#"3%0#)"
0#"B!2%)"!2.(4,(.",-!"B,/=>%"/%"#$%55(52#-!"C;F]PN^;L PF8W; N)"
IJJb)"3:"oV[:"N55%"#e3&($!)"#-"3!.2#)"!"%5$(&!=>%"1,#"A#-%5"/!"$(2!=>%"0#"
;&2(#.("!$(-!)"/!"1,!&" !"#$%"<"(/($(!&-#/2#"!2.(4,?0!"\"4(%0(A#.5(0!0#)"
22
De modo análogo, podemos falar em diversidade linguística, diversidade cultural, diversidade de legislação e muitos
outros tipos de diversidade. É bastante óbvio que, em todos esses casos, bem como nos biológicos, estamos falando de
variedade, uma qualificação que se aplica a entidades ou processos que diferem em um ou mais aspectos. A estas entidades
ou processos podemos atribuir função, mas não à sua variedade.

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


O conceito de função na ecologia contemporânea 59

-!5)"5(/2%-!2($!-#/2#)"1,!/0%"5#"2.!d",-"#e#-3&%)"3!55!"!"5#."!2.(4,-
?0!"!",-!"#53<$(#:" >%"%452!/2#)"%"-#5-%"1,#"!.',-#/2!-%5"!$(-!"
5%4.#"!2.(4,(=>%"0#" !"#$%"\"4(%0(A#.5(0!0#"5#"!3&($!"\"5,!"!2.(4,(=>%"
!",-!"#53<$(#)"!"/>%"5#."1,#"5#"!55,-!"%"$%/$#(2%"4(%&7'($%"0#"#53<-
$(#"$%-%",-!".#!&(0!0#"4(%&7'($!)"#"/>%"5%-#/2#",-"$%/$#(2%"2#7.($%:"
^#55!"-!/#(.!)"2!&A#d"%"-!(5"3.#$(5%"B%55#"!2.(4,(." !"#$% aos organis-
-%5"0#",-!"0!0!"#53<$(#)"#"/>%"\"4(%0(A#.5(0!0#"%,"\"#53<$(#"#-"5(:
%" $%/2#e2%" 0!5" #e3&($!=i#5" #$%&7'($!5" #52.(2!5)" %" &7$,5" 0!5" !2.(-
4,(=i#5"B,/$(%/!(5"3!.#$#"5#.)"B.#1,#/2#-#/2#)"%"1,#"$*!-!-%5"k(2#/5"
0!"4(%0(A#.5(0!0#l)"(:#:)"!5"#/2(0!0#5"%,"3.%$#55%5"1,#"3%0#-"5#."4(%0(-
A#.5%5"C%.'!/(5-%5)"3%3,&!=i#5)"',(&0!5"#$%&7'($!5Io)"$!.!$2#.?52($!5"0%5"
%.'!/(5-%5)"(/2#.!=i#5"#2$:[:"M%."5,!"A#d)"/,-"$%/2#e2%"-!(5"5%$(%$(#/2?-
6$%"%,"-#5-%"3%&?2($%)"!"4(%0(A#.5(0!0#"3%0#"5#."#&!"-#5-!",-"&7$,5"0#"
!2.(4,(=>%"B,/$(%/!&:"N55%"/>%"3%0#"5#."B#(2%"#-".#&!=>%"\5"3.%3.(#0!0#5"
ecossist9-($!5)"-!5"5(-"/%"1,#"2!/'#"!%"-,/0%"5%$(%$,&2,.!&"*,-!/%:
;"4(%0(A#.5(0!0#"$%-%"#/2(0!0#"!452.!2!"3%0#"$,-3.(."3!3<(5"(-3%.2!/-
2#5"/!5"#52.!2<'(!5"0#"$%/5#.A!=>%)"!0-(/(52.!=>%"0%5".#$,.5%5"/!2,.!(5"#"
#0,$!=>%"0#"/%A!5"'#.!=i#5:" #55!5"!2(A(0!0#5"*,-!/!5)"B,/=i#5"3%0#-"
5#."!2.(4,?0!5"\"4(%0(A#.5(0!0#:" %"#/2!/2%)"#55#5"5>%"3!3<(5"$,-3.(0%5"
3%.",-"$%/$#(2%"#-",-"5(52#-!"$,&2,.!&)"/>%"3%.",-"5,3%52%"B#/p-#/%"
!%"1,!&"3*%1*)'(&*121'"5#".#B#.#)"/%5"#$%55(52#-!5"#-"5("-#5-%5:

Funcionamento do ecossistema ou função do ecossistema

j-" 2#.$#(.%" ,5%" 0%" $%/$#(2%" 0#" B,/=>%" /%" fgP" #52+" -!(5" 0(.#2!-
-#/2#" &('!0%" \" %3#.!=>%" %," 0(/h-($!" 0%" #$%55(52#-!:" M%." #e#-3&%)"
!##-"CIJJI["3.%3i#"1,#"k$%/0(=i#5"B?5($!5"#"1,?-($!5"0%"!-4(#/2#"5>%"
$!0!"A#d"-!(5".#$%/*#$(0!5"$%-%"(-3#&(0!5"C1(*)'"[)"3#&%"-#/%5"#-"3!.-
2#)"3#&!" !"#$%+',%&&*&-9/*,2+C#:':)"$($&!'#-"0#"/,2.(#/2#5"#"t,e%"0#"#/#.-
'(![l"C ;PP])"IJJI)"3:"ZVoK)"'.(B%"/%55%[:"v"(-3%.2!/2#"3#.$#4#."1,#)"
!%"#e#-3&(6$!."!"B,/=>%"#$%55(529-($!"-#0(!/2#".#B#.9/$(!"\"$($&!'#-"0#"

23
Uma guilda ecológica é um grupo de organismos que exercem um mesmo papel ecológico, independente de seu grau de
parentesco ou proximidade taxonômica.

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


60 NUNES-NETO, N. F.; CARMO, R. S. do; EL-HANI, C. N.

/,2.(#/2#5"#"!%"t,e%"0#"#/#.'(!"{"3.%$#55%5"/%"/?A#&"0%"#$%55(52#-!"{)"
!##-"0#(e!"$&!.%"1,#"#&#"/>%"#52+"2.!2!/0%"0#"!&',-!"!2(A(0!0#"0!"4(%-
2!"%,"0%5"%.'!/(5-%5"#-"5#3!.!0%)"-!5"0#"3.%$#55%5"#-",-"/?A#&"-!(5"
#&#A!0%"0#"%.'!/(d!=>%"1,#"(/$&,("!"4(%2!"$%-%"3!.2#:
j-!"$%/$&,5>%"5(-(&!."3%0#"5#."#e2.!?0!"0!"0#6/(=>%"%B#.#$(0!"
3#&!"R%$(#0!0#"P$%&7'($!" %.2#8;-#.($!/!"CPR;[)"/!"1,!&"%"B,/$(%/!-
-#/2%"0%"#$%55(52#-!"<"2.!2!0%"$%-%",-"#B#(2%"C('I',-*%"["0!5"!2(A(0!-
0#5"/%"/?A#&"0%5"%.'!/(5-%5u

E" B,/$(%/!-#/2%" #$%55(529-($%" .#t#2#" !" A(0!" $%&#2(A!" 0!5" !2(A(0!0#5"


0!5"3&!/2!5)"0%5"!/(-!(5"#"-($.%%.'!/(5-%5"#"%5"#B#(2%5"0#52!5"!2(A(0!-
0#5)"w!&(-#/2!=>%)"$.#5$(-#/2%)"-%A(-#/2!=>%)"#&(-(/!=>%"0#".#5?0,%5"
#2$:m)"5%4.#"!5"$%/0(=i#5"B?5($!5"#"1,?-($!5"0%"!-4(#/2#:"r:::s"wB,/$(%/!-
-#/2%m"5('/(6$!"w!2(A(0!0#5"#e(4(0!5m"#"/>%"(-3&($!"1,#"%5"%.'!/(5-%5"
.#!&(d!-"3.%3%5(2!0!-#/2#"3!3<(5"/%"/?A#&"0%5"3.%$#55%5"#$%55(529-(-
$%5"r:::s"CPR;)"ZKKK)"3:"o"!3,0"S;`)"IJJV)"3:"b__[:

v"(-3%.2!/2#"/%2!."1,#"#55!"/%=>%"0#"B,/=>%"/>%"<"5,B($(#/2#-#/2#"
clara)"#53#$(!&-#/2#"1,!/0%"!"$%/5(0#.!-%5"@,/2!-#/2#"$%-",-"0%5"
5('/(6$!0%5"!/2#.(%.#5)".#&!2(A%"\"B,/=>%"0!"4(%0(A#.5(0!0#:";" !"#$%"<"
,-!"$!3!$(0!0#"/%"/?A#&"#$%55(529-($%"%,"<",-!"$!3!$(0!0#"$%/2(0!"
/%"#$%55(52#-!"#)"!55(-)"#e#$,2!0!"3#&!5"5,!5"3!.2#5z"x,!(5"5>%"!5"B,/-
=i#5"/#55#"$%/2#e2%u"!"3.73.(!"$($&!'#-"0#"/,2.(#/2#5"C,-!"$!3!$(0!0#"
0%"#$%55(52#-!"$%-%",-"2%0%["%,"%"3!3#&"1,#"%5"(2#/5"0!"4(%0(A#.5(-
0!0#" 0#5#-3#/*!-" '/+ ('92#$%+ K+ $($&!'#-" 0%5" /,2.(#/2#5" C,-!" $!3!-
$(0!0#" 0%5" (2#/5" 0!" 4(%0(A#.5(0!0#u" %.'!/(5-%5)" 3%3,&!=i#5)" ',(&0!5"
#$%&7'($!5"#2$:[z"j-"0%5",5%5"-!(5"$%-,/5"0%"$%/$#(2%"0#"B,/=>%"/%"
fgP"0(d".#53#(2%"\"kB,/=>%"#$%55(529-($!l:"M%."(55%)"<"B,/0!-#/2!&"2#."
$&!.#d!" 5%4.#" 0%(5" 3%/2%5u" C([" 1,!&" <" %" %4@#2%" 0!" !2.(4,(=>%" B,/$(%/!&"
C#$%55(52#-!z"(2#/5"0!"4(%0(A#.5(0!0#z["#"C((["#-"1,#"$%/2#e2%"#e(52#-"
%,"5>%"5('/(6$!2(A!5"!5"B,/=i#5"#$%55(529-($!5"C3!.!"!"3!(5!'#-z"M!.!"
,-"#$%55(52#-!"-!(%.z"M!.!"!"5%$(#0!0#"*,-!/!z[:
j-!" 5%&,=>%" 1,#" 3%0#.(!)" #-" 3.(/$?3(%)" !$%-%0!." !53#$2%5"
3.!'-+2($%5"0!"&(/',!'#-)"!%"2#-3%"#-"1,#"#A(2!.(!"$%/B,5i#5"$%/$#(-
2,!(5)"5#.(!"!0($(%/!."1,!&(6$!=i#5"!%"2#.-%"kB,/=>%l"3!.!"2%./!."$&!.%"
1,!&"5('/(6$!0%"#52!-%5"!2.(4,(/0%"!",-"0#2#.-(/!0%",5%)"0#/2.%"0!"

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


O conceito de função na ecologia contemporânea 61

3%&(55#-(!"0%"2#.-%:";%"2%-!.-%5"%"2#.-%"kB,/=>%l"$%-%"$!3!$(0!0#"
#$%55(529-($!)"3%0#.?!-%5"B!&!."!$#.$!"0!5" !"#0'&+1%&"#$%55(52#-!5"#-"
,-"$%/2#e2%"-!(5"!-3&%:"M%."#e#-3&%)"!"$($&!'#-"0#"/,2.(#/2#5"3%0#"
2#.",-!" !"#$%)"-!5"5%-#/2#"/%"$%/2#e2%"0#",-"5(52#-!"-!(5"(/$&,5(A%)"
1,#"!"(/$&,("$%-%"3!.2#)"3%."#e#-3&%)",-"5(52#-!"5%$(%$,&2,.!&"*,-!-
/%)"/%"1,!&"!"$($&!'#-"0#"/,2.(#/2#5"3.%3($(!55#"5#.A(=%5"!-4(#/2!(5:"
P52#"<)"2!-4<-)",-"#&#-#/2%"$%-,-"0%"0(5$,.5%"0%"fgP)"/%"1,!&"5#"
0(5$%..#)"$%-"B.#1,9/$(!)"5%4.#"%5"k5#.A(=%5l"B%./#$(0%5"3#&%5"#$%55(5-
2#-!5"\5"!2(A(0!0#5"*,-!/!5)"3%."#e#-3&%)"%5"5#.A(=%5"0#"3%&(/(d!=>%"
3!.!"$,&2(A%5"!'.?$%&!5:";%"2%-!.-%5)"3%.<-)"%"2#.-%"kB,/=>%l"3!.!"
B!d#.-%5".#B#.9/$(!"!",-!"$!3!$(0!0#"0!5"3!.2#5"0%5"#$%55(52#-!5)"3%-
0#.?!-%5"B!&!."5%4.#"!5" !"#0'&+"%&"#$%55(52#-!5)"%"1,#"2.!/5-(2(.(!"!"
(0#(!"0#"1,#"!5"B,/=i#5"#52>%"0#/2.%"0%"#$%55(52#-!)"$%-%",-!"$!3!-
$(0!0#"0#"5,!5"3!.2#5)"/>%"$%-%",-!"$!3!$(0!0#"0%"#$%55(52#-!"$%-%"
,-"2%0%:"N55%"2!&A#d".#5%&A!"%"3.%4&#-!)"0#50#"1,#"%"/?A#&"!"3!.2(."0%"
1,!&"#52!-%5"B!&!/0%"5%4.#" !"#$%"#52#@!"6e!0%:
M%.<-)"2!&"$%#.9/$(!"$%-".#&!=>%"!%"/?A#&"*(#.+.1,($%"3!.!"%"1,!&"
/%55%"0(5$,.5%"5#"0(.('#"/#-"5#-3.#"#52+"$&!.%"/!"$(9/$(!:"j-"#e#-3&%"
0#55!"B!&2!"0#"$&!.#d!"<"!"B!&+$(!"0!"-<0(!"#-"'#/<2($!"0#"3%3,&!=i#5)"
#-"1,#"-%0#&%5"!$#.$!"0#"3.%$#55%5"/%"/?A#&"0#"'.,3%5"0#"%.'!/(5-%5"
2#/2!-"0!."$%/2!"0#55#5"3.%$#55%5"$!&$,&!/0%"%"8-"'&&"-<0(%"0#"%.'!/(58
de organis-
-%5"(/0(A(0,!(5"0#/2.%"0%"'.,3%:"D%/2,0%)"%",5%"0#55!"#52.!2<'(!"5(--
3&#5-#/2#"$%&%$!"0#"&!0%"!"#52.,2,.!"3%3,&!$(%/!&"5,40(A(0(0!"#-"'.,-
3%5)"!%".#0,d(."%"8-"'&&"!%"%.'!/(5-%"(/0(A(0,!&)"#"/>%"-!(5"2.!4!&*!."
$%-"%"8-"'&&+0(B#.#/$(!&"0%5"'.,3%5"/!5"3%3,&!=i#5"CREfPUL"XNFRE )"
ZKKa[:";55(-)"-#5-%",5!/0%"!5"1,!&(6$!=i#5"!$(-!)"$%/2(/,!-%5"2#/0%"
-%2(A%5"3!.!"/%5"3.#%$,3!."$%-"%"0(5$,.5%"B,/$(%/!&"/!"#$%&%'(!:

Suspeitas acerca da linguagem funcional na ecologia

;"0#53#(2%"0%",5%"B.#1,#/2#"0!"/%=>%"0#"B,/=>%"/!"#$%&%'(!)"*+"
5,53#(2!5"%,"%4@#=i#5"!"#&!:"
!"#&!:" !##-"CZKKa)"3:"_J)"'.(B%"/%55%[)"3%."#e#-8
!##-"CZKKa)"3:"_J)"'.(B%"/%55%[)"3%."#e#--
3&%)" 5#" -%52.!" 3.#%$,3!0%" $%-"!" !55%$(!=>%"0%" 0(5$,.5%"B,/$(%/!&"\"
/%=>%"0#"$%-3%.2!-#/2%"(/2#/$(%/!&"%,"designu

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


62 NUNES-NETO, N. F.; CARMO, R. S. do; EL-HANI, C. N.

r:::s"!"3.%0,=>%"0#"!/(-!(5"0#"$!=!)"3.%0,2%5"t%.#52!(5)"3#(e#5"#"%,2.%5"
.#$,.5%5"4(%&7'($%5"3.%3($(!0%5"3#&%5"#$%55(52#-!5"#"(-3%.2!/2#5"3!.!"
%5"*,-!/%5"3%0#-"5#.".#B#.(0%5"$%-%"4#/5"#$%55(529-($%5"C',%&J&-'/+
goods[:" %2#"1,#" !"#$%+"$%+*/79*,2+7(%7L&*-%+%!+1'&*;"M+27'"2&+2-*)*121'.

;"R%$(#0!0#"P$%&7'($!" %.2#8;-#.($!/!"2!-4<-"#e3.#55!"3.#%-
$,3!=>%"1,!/2%"!"#52#"3%55?A#&"3#.('%u

%2#"1,#"= !",*%"2/'"-%N+&*;"*8,2+='>*3*#$%+1'+2-*)*121'&N+'+"$%+*/79*,2+O!'+
%&+ %(;2"*&/%&+ ('29*@'/+ 727D*&+ 7(%7%&*-2*&+ A7!(7%&' !9B+ "%&+ 7(%,'&&%&+ "%+ "P:
)'9+ 1%+ ',%&&*&-'/2Q" r:::s" j-" B,/$(%/!-#/2%" #$%55(529-($% <" !1,#&#" 1,#"
!3.#5#/2!"!2(A(0!0#5"4(%&7'($!5"#"1,?-($!5"$!.!$2#.?52($!5"3!.!"5#,"2(3%"
CPR;)"ZKKK)"3:"o"!3,0 S;`)"IJJV)"3:"b__)"'.(B%"/%55%[:

P-"'#.!&)"$%/$%.0!-%5"$%-"D!3%/("CIJZJ)"3:"oVI8oVo[)"1,#"!/!-
&(5%,"!"1,#52>%"0!"&#'(2(-(0!0#"0!"&(/',!'#-"B,/$(%/!&"/!"#$%&%'(!"#"
3.%3p5" 1,#" *+" 0,!5" .!di#5" 3.(/$(3!(5" 3!.!" !5" 5,53#(2!5" &#A!/2!0!5" !"
.#53#(2%"0%"0(5$,.5%"B,/$(%/!&"/#55!"$(9/$(!u"3.(-#(.%)"!"&('!=>%"#/2.#"%"
0(5$,.5%"B,/$(%/!&"#"%"%.'!/($(5-%L"5#',/0%)"!"(0#/2(6$!=>%"0!"!/+&(5#"
B,/$(%/!&"$%-"!2.(4,(=i#5"0#"design.
%"1,#"$%/$#./#"\"&('!=>%"$%-"%"%.'!/($(5-%)"3!.#$#"1,#"!"%.('#-"
0%" 3.%4&#-!" .#5(0#" /!" 3.%3%52!" #" !0%=>%" 0#" ,-!" !4%.0!'#-" 5,3#.%.-
'!/?5-($!" 3!.!" !" 2.!/5B%.-!=>%" 0!" $%-,/(0!0#" 3%." g.#0#.($" D&#-#/25"
CZKZb[)"/!5"3.73.(!5"%.('#/5"0!"#$%&%'(!:"P55!"3#.53#$2(A!"5%4.#"!"0(/h-(-
$!"0!"$%-,/(0!0#"B%("0#5$!.2!0!"!%"&%/'%"0!5"0<$!0!5"5#',(/2#5"#-"B!A%."
0!"A(5>%"(/0(A(0,!&(52!"0#"W#/.|"Y&#!5%/"CZKIb[:"P55!".#@#(=>%)"!%"1,#"3!-
.#$#)"$.(%,"0#/2.%"0!"#$%&%'(!",-!"!A#.5>%"\"&(/',!'#-"2#&#%&7'($!"#"B,/-
$(%/!&"C!55%$(!0!"$%-"%"3%/2%"0#"A(52!"0#"D&#-#/25[)"$%/B%.-#";&-#(0!"
CIJJ_["2!-4<-"0#52!$%,:"M%.<-)"0#A#85#"/%2!."1,#)"0%",5%"0#",-!"&(/',!-
'#-"B,/$(%/!&"/!"#$%&%'(!)"/>%"5#',#"!"!0%=>%"0#",-!"A(5>%"$&#-#/25(!/!"
5%4.#"!"0(/h-($!"0%5"5(52#-!5"#$%&7'($%5:"E"0%-?/(%"0#"!3&($!=>%"0#",-!"
&(/',!'#-"B,/$(%/!&"/>%"#52+".#52.(2%"!%"0%-?/(%"0%5"%.'!/(5-%5"#"5,!5"
$!3!$(0!0#5)"$%-%"D,--(/5"#"U%2*"CIJZJ["-%52.!-:
x,!/2%"!%"5#',/0%"3%/2%"0(5$,2(0%"3%."D!3%/("CIJZJ[)"<"(-3%.-
2!/2#" .#$%/*#$#.)" !55(-" $%-%" #&#)" 1,#" !2.(4,(=i#5" 0#" design" />%" se
5#" se-
5#8
',#-" /#$#55!.(!-#/2#" 0#" !2.(4,(=i#5" 0#" !"#$%:" P-4%.!" #52!5" c&2(-!5"
5#"!3&(1,#-"!"5(52#-!5"#$%&7'($%5)"%"-#5-%"/>%"A!&#"3!.!"!5"3.(-#(.!5:

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


O conceito de função na ecologia contemporânea 63

;5" !2.(4,(=i#5" 0#" !"#$%" /!" #$%&%'(!" 5>%" ,-" -%0%" 0#" #/2#/0#." $%-%"
!&',/5"#52!0%5"3.#B#.#/$(!(5"0%"5(52#-!"5>%"-!/2(0%5"{"!"0#53#(2%"0#"
5,!"(-3.%4!4(&(0!0#"{"#"#52!"<",-!"$!.!$2#.?52($!"1,#"!"#$%&%'(!"$%--
3!.2(&*!"$%-"!"65(%&%'(!:"P/2.#2!/2%)"/>%"5#',#"0!"&#'(2(-(0!0#"0!5"!2.(-
4,(=i#5"B,/$(%/!(5"/%"$%/2#e2%"0!"#$%&%'(!"1,#"%5"%4@#2%5"0!"!2.(4,(=>%"
B,/$(%/!&"5#@!-".#5,&2!0%"0#",-"3.%$#55%"0#"designI_)"#"#52!"<",-!"(--
3%.2!/2#"0(B#.#/=!"#/2.#"!"#$%&%'(!"#"!"65(%&%'(!"CD;ME N)"IJZJ[IV.
M%."#e#-3&%)"#-4%.!"5#@!)"3%.",-"&!0%)"#3(52#-%&%'($!-#/2#"&#-
'?2(-%"#"$(#/2(6$!-#/2#"c2(&"!2.(4,(."!"B,/=>%"0#"0#$%-3%5(=>%"0!"-!2<-
.(!"%.'h/($!"\5"',(&0!5"0#"!.2.73%0#5"0#$%-3%5(2%.#5"/%"5%&%"0!"g&%.#52!"
;-!dp/($!)" ,-!" A#d" 1,#" #52!" <" ,-!" $%/2.(4,(=>%" 3!.!" !" $($&!'#-" 0#"
/,2.(#/2#5"/%"$%/2#e2%"#$%55(529-($%)"/>%"3%0#-%5"0(d#.)"0#"-%0%"&#-
'?2(-%)"1,#"!"',(&0!"0#"!.2.73%0#5"5#@!".#5,&2!0%"0#",-"3.%$#55%"0#"de:
sign:"E"-#5-%"3%/2%"B%("$%&%$!0%"3%."]$F!,.(/"#"R2#.#&/|"CIJJa)"3:"ZZ_[u

g,/=>%"/!"#$%&%'(!"/>%"<"$%-%"B,/=>%"#-"4(%&%'(!"#A%&,2(A!"%,"-%.B%-
&%'(!"B,/$(%/!&:" #55#5"$!-3%5)"B,/=i#5"0#.(A!-"0!"*(527.(!"5#&#2(A!"r:::s:"
>%"!3#/!5"%5"%.'!/(5-%5"5>%"-,(2%"-!(5"B%.2#-#/2#"(/2#'.!0%5"#"0#&(-(-
2!0%5"0%"1,#"!"$%-,/(0!0# típica)"-!5"2!-4<-)"A(!"0#".#'.!)"!55#-4&#(!5"
locais"/>%"29-"*(527.(!5"5#&#2(A!5:"P&!5"/>%"5>%"3!.2#"0#"&(/*!'#/5:

E,"5#@!)"/>%"3%0#-%5"!3#&!."3!.!"!"5#&#=>%"/!2,.!&"3!.!"#e3&($!."
!"#e(529/$(!"0%5"3.73.(%5"%.'!/(5-%5)"%,"',(&0!5)"!55#-4&#(!5"%,"$%-,8
/(0!0#5" #$%&7'($!5:" v" A#.0!0#" 1,#" 3%0#.?!-%5" !3#&!." 3!.!" !" 5#&#=>%"
/%" /?A#&" 0%" #$%55(52#-!" CRXP RE L" ;UP ^QL" XNFRE )" IJJJ)"
RXP RE L"XNFRE L"PFN;R)"IJJJ["3!.!"0#B#/0#."1,#"B,/=i#5"#$%-
&7'($!5"2!-4<-"3%0#-"5#.".#5,&2!0%5"0#"3.%$#55%5"0#"design)"-!5"#52!"<"

24
A seleção natural, no domínio da Biologia, e a seleção artificial, no contexto cultural, são exemplos de processos de design. Isso não
significa, porém, que exista um designer no processo de geração e manutenção dos traços biológicos ao longo da evolução. Seleção
natural é um processo de “design sem um designer”, como argumentou Francisco Ayala (2004) (ver também CAPONI, 2010, p. 353-
363), ou, dito de outra maneira, o darwinismo nos mostrou como naturalizar a origem do design.
25
O mesmo ponto pode ser colocado também com referência ao conceito de indivíduo, que não é o mesmo para organismos
e ecossistemas, como Huneman (2011) reconhece e desenvolve, baseando-se na ideia de quase-independência, de Herbert
Simon. Enquanto os organismos apresentam uma individualidade forte, de acordo com a qual ser um indivíduo é ser uma
unidade de seleção, ecossistemas possuem apenas uma individualidade fraca. Esse tipo de individualidade não requer
seleção natural, mas apenas a existência de interações ou relações fortes entre subcomponentes, os quais, por sua vez,
interagem de modo relativamente mais fraco com outros subcomponentes, assumidos como externos ao sistema.

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


64 NUNES-NETO, N. F.; CARMO, R. S. do; EL-HANI, C. N.

,-!"(0#(!"4!52!/2#"$%/2.%A#.5!"/!"!2,!&"4(%&%'(!"#A%&,2(A!)"#"(55%"5('/(6$!"
1,#)"3!.!"%5"/%55%5"3.%375(2%5)"#55#"-%A(-#/2%"'#.!.(!"3.%4&#-!5"!(/0!"
-!(%.#5"0%"1,#"!1,#&#5"1,#"#52!-%5"#/B.#/2!/0%:"]#5-%"1,#"/>%"2#/*!-
-%5"!"(/2#/=>%"0#"B#$*!."$%-3&#2!-#/2#"!"3%.2!"3!.!"#55!"3%55(4(&(0!0#)"
#52!"$#.2!-#/2#"/>%"<"!"-#&*%."%3=>%"!.',-#/2!2(A!"/%"#52!0%"!2,!&"0%"
$%/*#$(-#/2%"5%4.#"#A%&,=>%:
j-!" (0#(!" !3.#5#/2!0!" 3%." ^!''" CIJJo[" /%5" 3#.-(2#" 5,52#/2!."
!"-#5-!"$%/$&,5>%"'#.!&:"M!.!"#&#)"!"%.'!/(d!=>%"0%"#$%55(52#-!"C1,#"
(/$&,("%5"$($&%5"0#"-!2<.(!"#"!5".#0#5"0#"(/2#.!=i#5["<",-"#B#(2%"$%&!2#-
.!&"0!5"!=i#5"0#".#3&($!0%.#5"#"(/2#.!2%.#5"0#/2.%"0%"#$%55(52#-!:"^(2%"
0#"%,2.%"-%0%)"!"#A%&,=>%"3%."5#&#=>%"/!2,.!&"!2,!"5%4.#"(/2#.!2%.#5)"
!5"#/2(0!0#5"1,#"(/2#.!'#-"$%-%",-"2%0%"$%-"%".#'(-#"5#&#2(A%)"#"%"
-!(%."%,"-#/%."5,$#55%"0%5"(/2#.!2%.#5"/!"%42#/=>%"0#".#$,.5%5"/!-
1,#&#".#'(-#"5#&#2(A%"#-"1,#"5#"#/$%/2.!-".#5,&2!"#-"$73(!"0(B#.#/$(!&"
0#".#3&($!0%.#5:";"%.'!/(d!=>%"0%"#$%55(52#-!"/!"B%.-!"0#"$($&%5"#".#-
0#5"0#".#&!=i#5"#/2.#"(/2#.!2%.#5"<",-".#5,&2!0%"$%&!2#.!&)"/>%"B,/$(%-
/!&)"0#"3.%$#55%5"5#&#2(A%5"1,#"#52>%"%3#.!/0%"/%"/?A#&"0!5"3%3,&!=i#5"
0#" %.'!/(5-%5:" ]!5)" !(/0!" !55(-)" 3%0#85#" !2.(4,(." B,/=i#5" \5" 3!.2#5"
0%5"#$%55(52#-!5)",-!"A#d"1,#"#&!5"$%/2.(4,!-"3!.!"$!3!$(0!0#5"#$%5-
5(529-($!5)"$%-%"!"$($&!'#-"0#"/,2.(#/2#5)"-#5-%"1,#"%"#$%55(52#-!"
/>%"5#@!".#5,&2!0%"0#"3.%$#55%"0#"design:";&$!/=!-%5)"0#55!"-!/#(.!)"!"
-#5-!"$%/$&,5>%u"!2.(4,(=>%"0#" !"#$%"!"3!.2#5"0#"#$%55(52#-!5"/>%"(--
3&($!"!6.-!."1,#"#$%55(52#-!5"5#@!-"3.%0,2%5"0#"3.%$#55%5"0#"design.
D%-"4!5#"/(55%)"3%0#-%5"0(d#."1,#"!5"%4@#=i#5"%,"3.#%$,3!=i#5"
&#A!/2!0!5"$%/2.!"%",5%"0#" !"#$%"/!"#$%&%'(!"3%0#-"5#."0#(e!0!5"0#"
&!0%:" %"1,#"5#',#)"!3.#5#/2!.#-%5"/%55!5"$%/5(0#.!=i#5"6/!(5)"$%-"
!&',-!5" 5,'#52i#5" 3!.!" !" $%/52.,=>%" 0#" ,-!" !4%.0!'#-" 6&%576$!"
!4.!/'#/2#"0#" !"#$%"/!"6&%5%6!"0!"#$%&%'(!:

Considerações finais: a importância de uma teoria das funções na ecologia

%55!"(/2#/=>%"!1,("B%(".#!&(d!.",-!"!/+&(5#"0%"0(5$,.5%"B,/$(%-
/!&"/%"fgP)"1,#)"$%-%"-%52.!-%5)"<",-"(-3%.2!/2#"3.%'.!-!"0#"3#5-
1,(5!"0!"#$%&%'(!"!2,!&:";&<-"0#"5#.",5!0!"B.#1,#/2#-#/2#)"!"/%=>%"0#"

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


O conceito de função na ecologia contemporânea 65

B,/=>%"<"(-3%.2!/2#"$%-%".#$,.5%"#e3&!/!27.(%"/!"3#51,(5!"#$%&7'($!:"
D%/2,0%)" <" (-3%.2!/2#" /%2!." 1,#" !" B!&2!" 0#" ,-!" 4!5#" !0#1,!0!" 3!.!"
!"&(/',!'#-"B,/$(%/!&"/!"3#51,(5!"#$%&7'($!)"$%-%"A#-%5"/%"$!5%"0%"
fgP)"3!.#$#"'#.!."3.%4&#-!5"3!.!"%"3.%'.#55%"2#7.($%"/%"$!-3%)"$%-%"
/%2!.!-";&-#(0!" #" P&8W!/(" CIJJb)" 3:" Io[)" 1,#" .#!&(d!.!-" ,-!" !/+&(5#"
0#2!&*!0!"0!"&(2#.!2,.!"0#52#"3.%'.!-!"0#"3#51,(5!:"D%-%"A(-%5"/#52#"
!.2('%)"!5"%4@#=i#5"!%",5%"0#" !"#$%"/!"#$%&%'(!"/>%"5>%"5,6$(#/2#-#/2#"
57&(0!5)"0#"-%0%"1,#"0#A#-"5#.".#@#(2!0!5"!"B!A%."0!"!$#(2!=>%"0%"0(5-
$,.5%"B,/$(%/!&:"P/2.#2!/2%)"3!.!",-",5%"$%/5(52#/2#"0#55#"0(5$,.5%)"/>%"
3%0#-%5"3.#5$(/0(."0#",-!"B,/0!-#/2!=>%"#3(52#-%&7'($!"!3.%3.(!0!:"
N55%" /%5" 3!.#$#" (/#A(2+A#&" 5#" 2(A#.-%5" #-" $%/2!" %5" 3.%4&#-!5" 0#" $%/-
B,5>%"5#-h/2($!"#"B!&2!"0#"$&!.#d!"0#$%..#/2#5"0!"3%&(55#-(!"0%"2#.-%"
kB,/=>%l)"$%-%"!3%/2!-%5"!/2#.(%.-#/2#:
j-!"!4%.0!'#-"#3(52#-%&7'($!"$%/5(52#/2#"0#" !"#$%"/!"6&%5%6!"
0!"#$%&%'(!"0#A#"/%.-!2(d!.)"3.#5$.#A#.)"0(d#."$%-%"%"$%/$#(2%"0#"B,/-
=>%"#"%,2.%5"$%/$#(2%5"!55%$(!0%5"0#A#-"5#.",5!0%5"/!"#$%&%'(!)"0#"-%0%"
!"2%./!."-!(5"3.%A+A#&"%"!A!/=%"0#55!"$(9/$(!:" >%"5#"2.!2!)"$%/2,0%)"0#"
0#.(A!.",-!"!4%.0!'#-"/%.-!2(d!0%.!"0#",-"2.!2!-#/2%"-#.!-#/2#"
&7'($%)"-!5"!/2#5"0#"$%/52.,(."2!&"!4%.0!'#-"!"3!.2(."0%"#e!-#"5(52#-+8
!/2#5"0#"$%/52.,(."2!&"!4%.0!'#-"!"3!.2(."0%"#e!-#"5(52#-+-
2($%"0%5",5%5"#B#2(A%5"0#"B,/=>%"/!"#$%&%'(!"3#&%5"$(#/2(52!5"3.!2($!/2#5)"
0#.(A!/0%"/%.-!5"0%5"#-3.#'%5"0#52#"$%/$#(2%"1,#"3!.#=!-"-!(5"B<.-
2#(5)"/%"#53?.(2%"0!"&7'($!"0##|!/!"0!"(/A#52('!=>%"C^PXPG)"ZKoa[:"N55%"
5('/(6$!)"2!-4<-)"1,#)"3%."-!(5"3.#5$.(2(A!5"1,#"5#@!-"2!(5"/%.-!5)"#&!5"
3.73.(!5"5>%"!4#.2!5"\".#A(5>%)"!"3!.2(."0#"5,!"-!(%."%,"-#/%."#6$+$(!"
%,",2(&(0!0#"/%"0%-?/(%"0!"(/A#52('!=>%"3.%3.(!-#/2#"0(2!)"$%/B%.-#"
A#.(6$!0!"3#&!5"3.+2($!5"0%5"3.73.(%5"$(#/2(52!5:";"!4%.0!'#-"/%.-!-
2(d!0%.!)" 3%." 5,!" A#d)" $%/2.(4,(" 3!.!" (&,-(/!." ,-!" -#&*%." 0#5$.(=>%)"
,-"#e!-#"-!(5"-(/,$(%5%"0!"3.73.(!"3.+2($!"$(#/2?6$!)"%"1,#"-%52.!"!"
.#&!=>%"0#"(/2#.0#3#/09/$(!"0!5"0,!5"#-3.#(2!0!5:"
W+"!(/0!"-,(2%5"3.%4&#-!5"#-"!4#.2%"1,!/2%"!%",5%"0#" !"#$%
#-"#$%&%'(!)"$%-%u";"!/!&%'(!"0#A#"5#."$%-"65(%&%'(!"%,"$%-"!"5%$(%-
&%'(!z"CS;`)"IJJV["x,#"!4%.0!'#-"6&%576$!)"#/2.#"!1,#&!5"#/$%/2.!0!5"
/!"6&%5%6!"0!"4(%&%'(!"!2,!&"C#2(%&7'($!)"5(529-($!"%,"%.'!/(d!$(%/!&Ib[)"

26
Na filosofia da biologia atual há três grandes grupos de abordagens sobre função: as perspectivas etiológica (GODFREY-

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


66 NUNES-NETO, N. F.; CARMO, R. S. do; EL-HANI, C. N.

3%0#"B,/0!-#/2!."%5",5%5"0#" !"#$%"#-"#$%&%'(!z"D%-%"5#"0!.(!"2!&"
B,/0!-#/2!=>%z" x,!(5" %5" B,/0!-#/2%5" !e(%&7'($%5" 0%" 0(5$,.5%" B,/-
$(%/!&"#"!/2.%3%$9/2.($%"$%-"A(52!5"\"$%/5#.A!=>%"0%5".#$,.5%5"/%"fgPz
j-".#5,&2!0%"3%55?A#&"C#"0#5#@+A#&["0#".#53%52!5"!"#52!5"1,#52i#5"
3%0#"5#.",-!"2#%.(!"$%/5(52#/2#"0#" !"#$%"#-"6&%5%6!"0!"#$%&%'(!)"$%/-
2#-3&!/0%"!%"-#5-%"2#-3%"#"0#"B%.-!"(/2#'.!0!"%5"5#',(/2#5"#&#-#/-
2%5u"CZ["0#A#"$!32,.!."%5",5%5"#B#2(A%5"0#" !"#$%"3#&%5"#$7&%'%5)"%"1,#"
5('/(6$!" 1,#" 3.#$(5!" #52!." B%.2#-#/2#" $%/#$2!0!" \" 3.+2($!" $(#/2?B($!)"
$%-" 2%0!5" !5" 5,!5" /,!/$#5L"L" CI[" 0#A#" $%/52.,(." ,-" B,/0!-#/2%" #3(5-#3(58
2#-%&7'($%" $%/5(52#/2#" C5#@!" #2(%&7'($%)" 5(529-($%" %," %.'!/(d!$(%/!&["
#" $(#/2(6$!-#/2#" c2(&" 3!.!" %5" ,5%5" 0#" !"#$%" C(52%" <)" !" 3!.2(." 0%" 1,!&"
3%55!-%5"0#.(A!."?/0($#5"-!2#-+2($%5"0#"0#2#.-(/!=>%"0#"0(A#.5(0!-
0#"B,/$(%/!&)"3%."#e#-3&%[L"#)"3%."6-)"Co["0#A#"0!."$%/2!"0#",-!"!4%.-
0!'#-"0!5"(-3&($!=i#5"-%.!(5"#"3%&?2($!5"0%"0(5$,.5%"B,/$(%/!&"/%"1,#"
0(d".#53#(2%"\"$%/5#.A!=>%"0%5".#$,.5%5"/!2,.!(5"#"0!"4(%0(A#.5(0!0#:"
Q!&"2#%.(!"0#" !"#$%"3#.-!/#$#"$%-%"!&'%"!"5#."4,5$!0%"/%"*%.(d%/2#"
0!"6&%5%6!"0!"#$%&%'(!"3!.!"!5"3.7e(-!5"0<$!0!5:

Agradecimentos

:"g:" :8 :"!'.!0#$#"\"g!3#54"3#&!"$%/$#55>%"0#"4%&5!"0#"0%,-
2%.!0%)"\"D!3#5"3%."4%&5!"M^RP"C/:"bJa_nZZ8T["#"3%."!3%(%5"6/!/$#(.%5"
3!.!" 3#51,(5!L" U:" R:" D:" !'.!0#$#" \" D!3#5" 3#&!" $%/$#55>%" 0#" 4%&5!" 0#"
0%,2%.!0%L"D:" :"P:"W:"!'.!0#$#"!%"D M1"3%."4%&5!"0#"3.%0,2(A(0!0#"
#-" 3#51,(5!" /?A#&" Z8D" C/:" oJZIVKnIJZJ8J[" #" \" g!3#54" #" !%" D M1" 3%."
6/!/$(!-#/2%5"0#"3.%@#2%5"0#"3#51,(5!:

SMITH, 1993; WRIGHT, 1973), sistêmica ou disposicional (CUMMINS, 1975; CRAVER, 2001) e perspectiva organizacional
(COLLIER, 2000; MOSSIO; SABORIDO; MORENO, 2009; SABORIDO; MOSSIO; MORENO, 2011). Os dois primeiros grupos são
muito mais conhecidos no debate filosófico contemporâneo, visto que, de alguma forma, se consolidou na filosofia da
biologia dos anos 1990 a ideia de um consenso sem unidade (GODFREY-SMITH, 1993) incluindo estas duas posições, ou
seja, a ideia de que em filosofia da biologia função pode ser concebida etiológica ou sistemicamente. Contudo, a emergência
e o aprofundamento das abordagens organizacionais de função ao longo dos anos 1990 e 2000 não permite a sua exclusão
de uma análise detalhada do conceito de função. Não analisaremos em mais detalhes estas abordagens neste artigo.
A análise que aqui empreendemos visou, sobretudo, uma clarificação do problema dos usos de função na ecologia atual, por
meio de um exame minucioso de um programa de pesquisas muito importante na atualidade, o BFE.

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


O conceito de função na ecologia contemporânea 67

Referências

ADEQ)"M: Histoire de l’ecologie (Que sais-je?):"M!.(5u"M.#55#5",/(A#.5(2!(.#5"0#"


France)"ZKK_:

;G;F;)"g:"N/"X(&&(!-"M!&#|"5*!0%u"^!.(/"#e3&!/!2(%/"%B"0#5('/:"Ludus
Vitalis)"A:"ZI)"3:"Vo8bb)"IJJ_:

;F]PN^;)" ;:" ]:" O papel funcional da biodiversidadeu ,-!" !/+&(5#"


#3(52#-%&7'($!" 0%" M.%'.!-!" 0#" M#51,(5!" f(%0(A#.5(0!0#" 8" g,/$(%/!-#/2%"
P$%55(529-($%:" IJJ_:" ZVb" B:" ^(55#.2!=>%" C]#52.!0%" #-" P/5(/%)" g(&%5%6!" #"
W(527.(!" 0!5" D(9/$(!5[" ‚" j/(A#.5(0!0#" g#0#.!&" 0!" f!*(!" #" j/(A#.5(0!0#"
P52!0,!&"0#"g#(.!"0#"R!/2!/!)"R!&A!0%.)"IJJ_:

;F]PN^;)";:"]:L"PF8W; N)"D:" :";"!2.(4,(=>%"0#"B,/=>%"\"4(%0(A#.5(0!0#"5#-


',/0%"!"A(5>%"0%"w3!3#&"$!,5!&mu",-!"!/+&(5#"#3(52#-%&7'($!"0%"0(5$,.5%"#$%&7'($%"
0!5"c&2(-!5"0,!5"0<$!0!5:" !"#$#%&'(')!$*+,!&'-&'.!#"#/!&)"A:"Z)"3:"IZ8oK)"IJJb:

;FQNPUN)" ]:" ;:" Q *#" #$%&%'($!&" .%&#" %B" 4(%0(A#.5(2|" (/" !'.%#$%5|52#-5:"
Agriculture Ecosystems and Environment)"A:"T_)"3:"ZK8oZ)"ZKKK:"0%(uZJ:ZJZbn
RJZbT8aaJKCKK[JJJIa8b:

fPYE )"]:L"QEX RP ^)"D:L"W;UMPU)"S: Ecologia:"0#"(/0(A?0,%5"!"#$%58


5(52#-!5:"_:"#0:"M%.2%";&#'.#u";.2-#0)"IJJT:

D;ME N)"Y:"F!"$(#/$(!"0#"&%"5,52#/2!4&#u".!d7/"0#"5#."0#&"0(5$,.5%"B,/$(%/!&"
en ecología. Principia)"A:"Z_) 3:"o_K8oTo)"IJZJ:

DEFFNPU)" S:" ;,2%/%-|" !/0" 3.%$#55" $&%5,.#" !5" 2*#" 4!5(5" B%." B,/$2(%/!&-
(2|:" Annals of the New York Academy of Science) A:" KJZ)" 3:" IaJ8IKZ)" IJJJ:"
0%(uZJ:ZZZZn@:ZT_K8bboI:IJJJ:24JbIaT:e:

DEFGH; )"]:"#2"!&:"M*(&%5%3*($!&"(55,#5"(/"#$%&%'|u".#$#/2"2.#/05"!/0"B,2,.#"
directions. Ecology and Society)"A:"Z_)"3:"II)"IJJK:

Dj]]N R)"U:"g,/$2(%/!&"!/!&|5(5:"The Journal of Philosophy)"A:"TI)"3:"T_Z8


TbV)"ZKTV:"0%(uZJ:IoJTnIJI_b_J:

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


68 NUNES-NETO, N. F.; CARMO, R. S. do; EL-HANI, C. N.

Dj]]N R)"U:L"UEQW)"]:"Q.!(25"*!A#"/%2"#A%&A#0"2%"B,/$2(%/"2*#"!|"2*#|"0%"
4#$!,5#"%B"!"3!52"!0A!/2!'#:"N/u";G;F;)"]:"g:"S:L";UM)"U:"CPd:[:"Contemporary
debates in philosophy of biology:"EeB%.0u"X(&#|8f&!$y#&&)"IJZJ:"3:"TI8aV:

DFP]P QR)" g:" P:" !2,.#" !/0" 52.,$2,.#" %B" 2*#" $&(-!e:" Journal of Ecology)
A:"I_)"3:"IVI8Ia_)"ZKob:"0%(uZJ:IoJTnIIVbITa:

DFP]P QR)"g:"P:"Plant successionu"!/"!/!&|5(5"%B"2*#"0#A#&%3-#/2"%B"A#'#2!-


2(%/:"M,4&($!2(%/"/:"I_I:X!5*(/'2%/u"D!./#'(#"N/52(2,2(%/"%B"X!5*(/'2%/)"ZKZb:

DU;HPU)" D:" g:" U%&#" B,/$2(%/5)" -#$*!/(5-5)" !/0" *(#.!.$*|:" Philosophy of


Science)"A:"ba)"3:"Vo8T_:"IJJZ:"0%(uZJ:ZJabnoKIabb:

DUj})"F:"D:L"UEDW;)"M:"F:"f:L"PF8W; N)"D:" :";"3.+2($!"$(#/2?6$!"/!"#$%&%-


'(!"0#"$%-,/(0!0#5u"0(+&%'%5"#/2.#"#-3(.(5-%"#"2#%.(!"/!"&(2#.!2,.!"$(#/2?6$!:"
!"#$#%&'(')!$*+,!&'-&'.!#"#/!&)"A:"I)"3:"IVT8ITa)"IJJT:"

^;YY)" S:" P$%5|52#-" %.'!/(d!2(%/" !5" 5(0#8#ƒ#$25" %B" .#3&($!2%." !/0" (/-
2#.!$2%." !$2(A(2(#5: .!#"#/0' &1-' 23!"#$#430)" A:" Za)" 3:" _KZ8_KI)" IJJo:"
0%(uZJ:ZJIon;uZJI_ZIaZZVbbb:

^PXPG)"SQ+LogicF+2*#"2*#%.|"%B"(/1,(.|:" #"G%.yu"W#/.|"W%&2"!/0"D%:M+RSTUQ

^€;})"R:L"D;fN^E)"]:"H(A#"&!"0(ƒ<.#/$#u"3&!/2"B,/$2(%/!&"0(A#.5(2|"-!„#.5"
2%"#$%5|52#-"3.%$#55#5:"Trends in Ecology and Evolution)"A:"Zb)"3:"b_b8bVV)"
IJJZ:"0%(uZJ:ZJZbnRJZbK8Vo_TCJZ[JIIao8I:

PFQE )"D:"Animal ecology:" #"G%.yu"]!$-(&&!/)"ZKIT:

PFQE )" D:" The ecology of invasions by animals and plants:" F%/0%/u"
]#2*,#/)"ZKVa:

gNRWPU)"f:L"QjU PU)"U:"O:L"]EUFN Y)"M:"^#6/(/'"!/0"$&!55(B|(/'"#$%5|52#-"


5#.A($#5" B%." 0#$(5(%/" -!y(/':" Ecological Economics)" A:" ba)" 3:" b_o8bVo)" IJJK:"
0%(uZJ:ZJZbn@:#$%&#$%/:IJJa:JK:JZ_:

gUE]])" E:" P$%&%'($!&" 52.,$2,.#" !/0" B,/$2(%/5" %B" 4(%0(A#.5(2|" !5" #&#-#/25"
%B" (25" 2%2!&" #$%/%-($" A!&,#:" Environmental and Resource Economics)" A:" Zb)
p. oJo8oIa)"IJJJ:"0%(uZJ:ZJIon;uZJJaoVKJIIaZ_:

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


O conceito de função na ecologia contemporânea 69

YE^gUPG8R]NQW)" M:" g,/$2(%/5u" $%/5#/5,5" (2*%,2" ,/(2|:" 2&5!%5' 23!"#6


sophical Quarterly)"A:"T_)"3:"ZKb8IJa)"ZKKo:

YFP;RE )"W:";:"Q*#"(/0(A(0,!&(52($"$%/$#32"%B"2*#"3&!/2"!55%$(!2(%/:".7""(*!1'
#8'*3('9#,,(0'.#*&1!5&"':"7;)"A:"Vo)"3:"T8Ib)"ZKIb:"0%(uZJ:IoJTnI_TKKoo:

YFPNDO)"SQ The informationF"!"*(52%.|)"!"2*#%.|)"!"t%%0Q" #"G%.yu"M!/2*#%/)"


IJZZ:

WÄQQP RDWXNFFPU)"R:L"gUE]N )" :L"f;U; Q;F)"R:"g,/$2(%/!&"0(A#.-


5(2|"%B"2#..#52.(!&"-($.%4(!&"0#$%-3%5#.5"!/0"2*#(."5,452.!2#5:"Comptes Rendus
.!#"#/!($)"A:"oo_)"3:"oKI8_JI)"IJZZ:"0%(uZJ:ZJZbn@:$.A(:IJZZ:Jo:JJZ:

WjffPFF)"R:"M:"93('71!%(-'1(7*,&"'*3(#,0'#8';!#-!<(,$!*0'&1-';!#/(#/,&-
phy:"M.(/$#2%/u"M.(/$#2%/"j/(A#.5(2|"M.#55)"IJJZ:

Wj P]; )"M:";4%,2"2*#"$%/$#32,!&"B%,/0!2(%/5"%B"#$%&%'($!&"#/'(/##.(/'u"
52!4(&(2|)" (/0(A(0,!&(2|" !/0" A!&,#5:" Procedia Environmental Sciences" A:" K)
3:"TI8aI)"IJZZ:"0%(uZJ:ZJZbn@:3.%#/A:IJZZ:ZZ:JZo:"

S;`)" O:" g,/$2(%/" !/0" kB,/$2(%/(/'l" (/" #$%&%'|u" *!2" 0%#5" (2" -#!/z" Oikos)
A:"ZZZ)"3:"b_Z8b_a)"IJJV:"0%(uZJ:ZZZZn@:ZbJJ8JTJb:IJJV:ZoaVZ:e:

S;`)"O:"D!/"#"0#6/#"#$%5|52#-5z"%/"2*#"$%/B,5(%/"4#2##/"0#6/(2(%/"!/0"
0#5$.(32(%/"%B"#$%&%'($!&"$%/$#325:"=5*&'.!#*3(#,(*!5&)"A:"VV)"3:"o_Z8oVV)"IJJT:"
0%(uZJ:ZJJTn5ZJ__Z8JJT8KJI_8T:

SERQ)"F:"P/2.%3|"!/0"0(A#.5(2|:"Oikos)"A:"ZZo)"3:"obo8oTV)"IJJb:"0%(uZJ:ZZZZn
@:IJJb:JJoJ8ZIKK:Z_TZ_:e:

F; ;UN)" ]:" E:L" DEjQN WE)" U:" f(%0(A#.5(0!0#" #" g,/$(%/!-#/2%" 0#"
P$%55(52#-!5u"5?/2#5#"0#",-"3!.!0('-!"#"5,!"#e3!/5>%"#-"!-4(#/2#5"-!.(/*%5:"
Oecologia AustralisM"A:"Z_)"3:"KVK8Kaa)"IJZJ:"0%(uZJ:_IVTn%#$%:IJZJ:Z_J_:JK:

FEHPFEDO)"S:"P:"W!/05",3"B%."2*#"Y!(!"*|3%2*#5(5:"Nature)"A:"o__)"3:ZJJ8ZJI)"
ZKKJ:"0%(uZJ:ZJoano__ZJJ!J

FEHPFEDO)"S:"P:"Y!(!",-"]%0#&%"3!.!"!"^(/h-($!"M&!/#2+.(!"#"D#&,&!.:"N/u"
QWE]MRE )" X:" N:" CE.':[:" Gaia uma Teoria do Conhecimento:" R>%" M!,&%u"
P0(2%.!"Y!(!)"IJJJ:"3:"TT8KJ:

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


70 NUNES-NETO, N. F.; CARMO, R. S. do; EL-HANI, C. N.

];G)" U:" ]:" Stability and complexity in model ecosystems:" M.(/$#2%/u"


M.(/$#2%/"j/(A#.5(2|"M.#55)"ZKTo:

]cF;jUN )" S:L" RQPUPF G)" O:" >3&*' !$' .!#-!<(,$!*0z" D*($!'%u" D*($!'%"
j/(A#.5(2|"M.#55)"IJJa:"0%(uZJ:TIJan$*($!'%nKTaJIIbVJJaIK:JJZ:JJJZ:"

];YjUU; )";:"Measuring biological diversity:"EeB%.0u"f&!$y#&&"R$(#/$#)"


IJJ_:

]ERRNE)" ]:)" R;fEUN^E)" D:L" ]EUP E)" ;:" ;/" %.'!/(d!2(%/!&" !$$%,/2" B%."
4(%&%'($!&" B,/$2(%/5:" .,!*!$3' ?#7,1&"' 8#,' *3(' 23!"#$#430' #8' @5!(15() A:" bJ)
3:"aZo8a_Z)"IJJK:"0%(uZJ:ZJKon4@35n!e3Job:

]c;UQWjU)"U:L"XNFRE )"P:"E:";/"#1,(&(4.(,-"2*#%.|"%B"(/5,&!."d%%'#%-
'.!3*|:"Evolution)"A:"ZT)"3:"oTo8oaT)"ZKbo:"0%(uZJ:IoJTnI_JTJaK:

]$N QERW)"U:"M:"The background of ecologyu"$%/$#32"!/0"2*#%.|:"D!-4.(0'#u"


D!-4.(0'#"j/(A#.5(2|"M.#55)"ZKaV:"0%(uZJ:ZJZTnDfEKTaJVZZbJaVoT:

]NFDjA';:"#2"!&:"f(%2($"$!.4%/"B##04!$y5"(/"!"-!2#.(!&&|"$&%5#0"5%(&8A#'#2!2(%/-
8!2-%53*#.#"5|52#-:"Nature Climate ChangeM+AQ+V)"3:"IaZ8Ia_)"IJZIQ+0%(uZJ:ZJoan
/$&(-!2#Z__a:

]NFFP Nj]" PDERGRQP]" ;RRPRR]P Q. Ecosystems and human


well-beingu"4(%0(A#.5(2|"5|/2*#5(5:"X!5*(/'2%/u"X%.&0"U#5%,.$#5"N/52(2,2#)"IJJV:

;^UEXRON)"O:L"XNUQW)"D:L"RDWPUPU8FEUP }P )"]:"N5"B%.#52"0(A#.5(-
2|"0.(A(/'"#$%5|52#-"B,/$2(%/"!/0"5#.A($#z"Current Opinion in Environmental
Sustainability)"A:"I)"3:"TV8TK)"IJZJ:"0%(uZJ:ZJZbn@:$%5,52:IJZJ:JI:JJo:

;PP])" R:" R3#$(#5" .#0,/0!/$|" !/0" #$%5|52#-" .#&(!4(&(2|:" Conservation


.!#"#/0)"A:"ZI)"3:"oK8_V)"ZKKa:"0%(uZJ:ZZZZn@:ZVIo8ZToK:ZKKa:KboTK:e:

;PP])"R:"P$%5|52#-"$%/5#1,#/$#5"%B"4(%0(A#.5(2|"&%55u"2*#"#A%&,2(%/"%B"!"3!.-
!0('-:"Ecology)"A:"ao)"3:"ZVoT8ZVII)"IJJI:"0%(uZJ:ZaKJnJJZI8KbVaCIJJI[JaorZVoTu
PDEfFQsI:J:DELI:

j PR8 PQE)" :"g:L"PF8W; N)"D:" :"Y!(!)"2#&#%&%'(!"#"B,/=>%:"Episteme)"


A:"ZZ)"3:"ZV8_a)"IJJb:

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


O conceito de função na ecologia contemporânea 71

j PR8 PQE)" :" g:L" PF8W; N)" D:" :" g,/$2(%/!&" #e3&!/!2(%/5" (/" 4(%&-
!"#$%& ' !"#$()*$%(+,-$.".,%/$.&0%)&%1$& ),+023,0 ).$4+ /$5-0' . 5-"$ 4$20 '-
!"6$ !"#!$% &#'()*"% )$% #+*% ,+)-!"!.+/% !0% &1)*$1*#$ 76$ 89:#$ 56$ ;<=>8::#$ 8:;;6$
* 01;:6;::?@9?<>9:>A<;>9A88>BC;B6

DEFGED#$H6$I)70+ )/%),('$%,-0&.$()*$J%(K$(),-+ 5 &%),+0./6$L)1$MLNOG#$


P6Q$ FEMRGED$ LLL#$ O6$ SI*6T6$ Environmental ethics1$ ()$ (),- ' !"6$ U('*%)1$
H'(&KJ%''#$8::B6$56$;VB>;?A6

EWMLDN>RUII#$X6$Y6Q$MPMPDW#$Z6$D6Q$XIMWUPD#$U6$[6$niche construction1$
,-%$)%!'%&,%*$5+ &%..$0)$%7 '3,0 )6$D%J$Y%+.%"1$\+0)&%, )$])07%+.0,"$\+%..#$8::B6

EW]U#$I6$Ecologia !F0 $*%$Y()%0+ 1$N3()(2(+(#$;9<<6

EZRPDID#$ U6Q$ \LIGPFLDID#$ Y6$ SE+!6T6$ Philosophy and biodiversity.


^(/2+0*!%1$^(/2+0*!%$])07%+.0,"$\+%..#$8::A6$* 01;:6;:;?@^HE9?<:=;;A9<=8?6

\IGIFR#$ F6$ O6$ A critique for ecology6$ ^(/2+0*!%1$ ^(/2+0*!%$ ])07%+.0,"$


\+%..#$;99;6

\XLRGIFIF#$P6$ H6$ %,$ ('6$ F(50*$ *%&("$ 4$ *07%+.0,"_5+ *3&,070,"$ +%'(,0 ).-05.$
(4,%+$0)7(.0 )$0)$%`5%+0/%),('$5'(),$& //3)0,0%.6$ 2")1%2$(%3..-)*(%41!-!5/#$
76$=#$56$=>;A#$8::A6$* 01;:6;:?<@;AB9>;?9;>::8;=6

\L^ZIGG#$R6Q ZEMPRP#$Y6Q$YEDIR#$^6$Ecological understanding1$,-%$)(-


,3+%$ 4$,-% +"$()*$,-%$,-% +"$ 4$)(,3+%6$M )* )1$I'.%70%+#$8::?6

\IG^OIa#$ E6Q$ NPRGED#$ Z6$ X3)&,0 )('$ *07%+.0,"#$ .5%&0%.$ +0&-)%..$ ()*$
& //3)0,"$ & /5 .0,0 )6$ 41!-!5/% -*6*7"#$ 76$ =#$ 56$ A:8>A;;#$ 8::86$ * 01;:6;:AV@
b6;AV;>:8A<68::86::BB96`6

\IG^OIa#$ E6Q$ NPRGED#$ Z6$ X3)&,0 )('$ *07%+.0,"1$ 2(&K$ , $ 2(-


.0&.$ ()*$ ' K0)!$ 4 +J(+*6$ 41!-!5/% 8*6*7"#$ 76$ 9#$ 56$ ?A;>?=<#$ 8::V6$
* 01;:6;;;;@b6;AV;>:8A<68::V6::98A6`6

FL^EGGP#$^6$G-+ 3!-$,-%$b3)!'%$ 4$20 ' !0&('$*07%+.0,"6$31#2% )!#+*!7*#)12#$


76$=B#$56$89>B<#$8::=6$* 01;:6;::?@.;:AA;>::=>?::;>V6

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


72 NUNES-NETO, N. F.; CARMO, R. S. do; EL-HANI, C. N.

RPHEFLWE#$^6Q$UERRLE#$U6Q$UEFIDE#$P6$H0 ' !0&('$ +!()0c(,0 )$()*$&+ ..>


!%)%+(,0 )$ 43)&,0 ).6$ 7)#)"+% 9!'7$2-% 0!7% #+*% ,+)-!"!.+/% !0% &1)*$1*#$ 76$ V8#
56$=<B>V:V#$8:;;6$* 01;:6;:9B@2b5.@(`d:BA6

RPFZPF#$R6$I& ' !"6$Stanford Encyclopedia of Philosophy6$8::=6$P7(0'(2'%$


(,1$e-f51@@5'(, 6.,()4 +*6%*3@%),+0%.@%& ' !"@g6$P&&%..$ )1$8?$b3)6$8:;86

RPFZPF#$ R6$ X+ /$ %& ' !0&('$ *07%+.0,"$ , $ 20 *07%+.0,"6$ L)1$ O]MM#$ W6Q$
F]RI#$U6$SI*6T6$:+*%;2<=7)(5*%;!<.2$)!$%#!%#+*%,+)-!"!.+/%!0% )!-!5/.
^(/2+0*!%1$ ^(/2+0*!%$ ])07%+.0,"$ \+%..#$ 8::?6$ 56$ B<<>A:96$ * 01;:6;:;?@
^^EM9?<:=8;<=;8<86:8;6

S^OILDIF#$ R6$ U6Q$ [LMMLN#$ U6$ F6$P$ !%)%+('$ ,-% +"$ 4$ %& ' !"6$ Theoretical
Ecology# 76$;#$56$8;>8<#$8::<6$* 01;:6;::?@.;8:<:>::?>:::8>:6

R^OILDIF#$R6Q$[LMMLN#$U6$The theory of ecology6$M )* )1$])07%+.0,"$ 4$


^-0&(! $\+%..#$8:;;6$* 01;:6?8:<@&-0&(! @9?<:88V?BV<??6::;6:::;6$

ROPDDED#$ ^6$ I6Q$ [IPhIF#$ [6$ The mathematical theory of communica-


tion6$]+2()(1$])07%+.0,"$ 4$L''0) 0.$\+%..#$;9A96

REHIF#$ I6Q$ [LMRED#$ W6$ R6$ Unto others1$ ,-%$ %7 '3,0 )$ ()*$ 5."&- ' !"$ 4$
3).%'i.-$2%-(70 +6$^(/2+0*!%1$O(+7(+*$])07%+.0,"$\+%..#$;99<6

R[IDRED#$ [6Q$ PFIDWG#$ Y6Q$ [LMRED#$ W6$ R6$ P+,0i&0('$ .%'%&,0 )$ 4$ /0-
&+ 20('$ %& .".,%/.$ 4 +$ B>&-' + ()0'0)%$ 20 *%!+(*(,0 )6$ Environmental
Microbiology#$76$8#$56$=VA>=?;#$8:::6$* 01;:6;:AV@b6;AV8>898:68:::6::;A:6`6

R[IDRED#$[6Q$[LMRED#$W6$R6Q$IMLPR#$F6$P+,0i&0('$%& .".,%/$.%'%&,0 )6$


PNAS#$76$9?#$56$9;;:>9;;A#$8:::6$* 01;:6;:?B@5)(.6;=:8B?=9?6

GLMUPD#$W6$^(3.%.#$& ).%d3%)&%.$()*$%,-0&.$ 4$20 *07%+.0,"6$Nature#$76$A:=#$


56$8:<>8;;#$8:::6$* 01;:6;:B<@B=:;88;?6

GLMUPD#$W6$Ij%&,.$ 4$*07%+.0,"$()*$& /5 .0,0 )$ )$!+(..'()*$.,(20'0,"$()*$


5+ *3&,070,"6$ L)1$ \FIRR#$ U6$ ^6Q$ O]DGMa#$ D6$ Y6Q$ MIhLD#$ R6$ SI*6T6$ Ecology1$
(&-0%7%/%),$()*$&-(''%)!%6$H'(&KJ%''$R&0%)&%1$E`4 +*#$8::;6$56$;<B>8:?6$

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013


O conceito de função na ecologia contemporânea 73

GLMUPD#$ W6$ %,$ ('6$ X +%&(.,0)!$ (!+0&3',3+(''"$ *+07%)$ !' 2('$ %)70+ )/%),('$
&-()!%6$Science#$76$898#$56$8<;>8<A#$8::;6$* 01;:6;;8V@.&0%)&%6;:=?=AA6

[FLNOG#$ M6$ X3)&,0 ).6$ The Philosophical Review#$ 76$ <8#$ )6$ 8#$ 56$ ;B9>;V<#$
;9?B6$* 01;:68B:?@8;<B?VV6

F%&%20* 1$:V@:<@8:;8
Received1$:<@:V@8:;8

P5+ 7(* 1$;A@;;@8:;8


"##$%&'(1$;;@;A@8:;8

Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 25, n. 36, p. 43-73, jan./jun. 2013

Você também pode gostar