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CONSIDERAÇÃO DAS RESTRIÇÕES DE CONTROLE DE NÍVEL NA

ESTAÇÃO FLUVIOMÉTRICA DA RÉGUA 11 NA PROGRAMAÇÃO DA


OPERAÇÃO DO SISTEMA ELÉTRICO BRASILEIRO

André Luiz Diniz Souto Lima1 & Tiago Norbiato dos Santos2

RESUMO --- Recentemente, tem sido necessário conciliar, nos modelos de planejamento da
operação energética, o objetivo tradicional de geração de energia elétrica com o atendimento às
restrições relacionadas aos múltiplos usos da água. Para a programação diária da operação, é
particularmente importante considerar restrições de controle de cheias e de controle de variações
nos níveis e/ ou vazões em trechos de rio. Estas últimas visam evitar prejuízos a atividades como
navegação, pesca ou recreação.
Neste trabalho, detalha-se a implementação, no modelo DESSEM-PAT, desenvolvido pelo
CEPEL para a programação da operação do sistema brasileiro, de algumas das restrições do Acordo
Tripartite entre Brasil, Argentina e Paraguai, relacionadas à estação fluviométrica da régua 11 (R-
11). Este ponto de controle de nível, situado no Rio Paraná após a confluência com o Rio Iguaçu, é
de fundamental importância não só para a geração hidroelétrica, por influenciar a cota de jusante de
Itaipu, mas também para o abastecimento e controle de cheias em povoados localizados às margens
do Rio Paraná. Os resultados apresentados mostram a elevada acurácia da modelagem proposta para
considerar as restrições de variação horária e diária no nível de R-11, assim como os impactos que
estas restrições causam aos resultados da programação da operação.

ABSTRACT --- Recently, there has been a growing need to consider, in the operation
planning models for electrical power systems, hydraulic constraints related to multiple uses of
water, in addition to the usual objective of maximizing power generation. For the short term
planning of hydrothermal systems, it is important, in particular, to consider flood control
constraints, as well as constraints avoiding large hourly variations on river levels and/or flows.
These latter constraints avoid damages to some activities, such as navigation, fishing or recreation.
This work details how some of the constraints related to the R-11 gauge, and established by
the Tripartite agreement among Brazil, Argentina and Paraguay, have been introduced in the short
term operation planning model DESSEM-PAT, developed by CEPEL. This gauge, located
downstream Itaipu in the Paraná River and whose level depends on the Rio Iguaçu flows, is of
paramount importance not only for hydro generation (for its influence on the tailrace level of
Itaipu), but also for water supply and flood control along the Paraná River. Results show the high
accuracy of the proposed models for the daily and hourly level variation constraints, as well as the
impacts caused by these constraints to the short term hydrothermal dispatch problem.

Palavras-chave: Programação da operação, usos múltiplos da água, programação linear.


_______________________
1) Pesquisador do CEPEL – Centro de Pesquisas de Energia Elétrica. Av. Horácio Macedo, 354 – Cidade Universitária, Ilha do Fundão, Rio de
Janeiro, RJ, 21941-911. e-mail: diniz@cepel.br.
2) COPPE/UFRJ, Programa de Engenharia de Sistemas. Prestador de serviços para o CEPEL. e-mail: norbiato@cepel.br.

XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1


1 INTRODUÇÃO
O planejamento da operação de sistemas hidrotérmicos, descrito com detalhes por Fortunato
et al (1990), consiste em sinalizar, a partir de dados conhecidos de expansão de geração e de
crescimento da demanda, os montantes de geração térmica e hidroelétrica que devem ser realizados
ao longo de um período, em geral de 5 a 10 anos, de forma a atender a alguns critérios de
suprimento pré-estabelecidos.
Com o objetivo de resolver o problema do planejamento da operação do sistema
hidrotérmico brasileiro, o CEPEL desenvolveu uma cadeia de modelos de otimização, Maceira et al
(2002), que é utilizada pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) e o Comitê de Comercialização
de Energia Elétrica (CCEE) para coordenar a operação do sistema e estabelecer o preço a ser
utilizado no mercado de energia elétrica. Nesta cadeia, já se encontram em plena utilização os
modelos NEWAVE, Maceira et al (1998), para a etapa de médio prazo, e o modelo DECOMP,
Xavier et al (2005), para a etapa de curto prazo. Atualmente, encontra-se em fase inicial de
validação pelo ONS e as empresas do setor o modelo DESSEM-PAT, Diniz et al (2006), que se
destina a ser utilizado como ferramenta de apoio para a programação diária da operação (PDO). A
Tabela 1 mostra um resumo esquemático desta cadeia de modelos.

FCF FCF
NEWAVE DECOMP DESSEM-PAT
(médio prazo) (curto prazo) (programação diária)

Horizonte: 5 anos Horizonte: 1 ano Horizonte: 2 semanas


Discretização: mensal Discretização: semanal / Discretização: horária / patamares
mensal cronológicos

Figura 1– Cadeia de modelos computacionais utilizados pelo ONS para o planejamento


da operação do sistema interligado nacional brasileiro.

A estratégia de resolução adotada nestes três modelos é a programação dinâmica dual


(PDD), proposta por Pereira e Pinto (1991), e a integração entre os mesmos, também ilustrada na
Figura 1, é feita através de funções de custo futuro (FCF). Estas funções representam o custo
esperado de geração térmica e déficit de energia após o período de planejamento de cada modelo,
como uma função do vetor de volumes armazenados finais nos reservatórios.

1.1 A programação diária da operação

O modelo DESSEM-PAT se encontra, em junho de 2007, em fase inicial de validação pelo


ONS para ser utilizado como ferramenta de apoio para a programação diária da operação. O
horizonte de estudo desse modelo é de até duas semanas, discretizado em intervalos horários ou em
patamares cronológicos, de duração variável. As usinas hidroelétricas são representadas
individualmente, e a rede elétrica é considerada por meio de uma modelagem DC, incluindo-se
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restrições de limite de fluxos nos circuitos, Diniz e Norbiato (2006). A geração das usinas
hidroelétricas é modelada por uma função linear por partes do volume armazenado, do
turbinamento e do vertimento, Diniz et al (2004). Finalmente, considera-se um grande número de
restrições hidráulicas de volume armazenado e/ou defluência, individualmente para cada usina, ou
para um grupo de usinas.

1.2 Consideração de usos múltiplos da água

Recentemente, tem sido necessária a incorporação, nos modelos de planejamento da


operação energética, de uma série de restrições com o objetivo de considerar múltiplos usos da
água, além do objetivo tradicional de geração de energia elétrica. Para o problema de programação
diária da operação, é particularmente importante considerar restrições para o controle de cheias e
para impedir variações bruscas nos níveis e/ ou vazões em alguns trechos de rio, as quais podem
causar problemas a algumas atividades como navegação, pesca ou recreação.

1.3 Objetivo do trabalho

Este trabalho detalha como foi implementado, no modelo DESSEM-PAT, algumas das
restrições do Acordo Tripartite entre Brasil, Argentina e Paraguai, ONS (2006), relacionadas à
estação fluviométrica da Régua 11 de Itaipu (R-11). Este posto é um ponto de controle de nível,
situado a jusante de Itaipu no Rio Paraná, e cuja cota depende também da vazão na foz do Rio
Iguaçu. O nível em R-11 é de fundamental importância não só para a geração de energia elétrica,
por influenciar a cota de jusante de Itaipu, mas também para o abastecimento de água e controle de
cheias em povoados situados às margens do Rio Paraná.
O restante do trabalho está organizado da seguinte forma: na seção 2, faz-se uma breve
revisão bibliográfica da consideração de restrições relacionadas a usos múltiplos da água no
problema de programação diária da operação de sistemas hidrotérmicos. Na seção 3, apresenta-se a
formulação matemática do problema de PDO considerado no modelo DESSEM-PAT. Na seção 4,
detalham-se as restrições referentes ao posto de R-11, e como estas foram introduzidas no modelo
DESSEM-PAT. Na seção 5, descreve-se a estratégia adotada para resolver o problema de PDO,
incluindo-se as restrições de R-11. Na seção 6, apresentam-se resultados numéricos, com os
objetivos de avaliar a acurácia na modelagem proposta para as restrições e os impactos da inclusão
destas restrições ao problema. Finalmente, na seção 7 apresentam-se as conclusões deste trabalho.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Embora apenas recentemente tenha tido maior impulso, a consideração de restrições
relacionadas a usos múltiplos da água em modelos de programação da operação tem sido proposta
desde a década de 70. Bonaert et al (1972) resolve um problema de despacho com horizonte de um
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dia, considerando restrições de defluência máxima em algumas usinas para fins de navegação.
Restrições semelhantes, também limitando a defluência das usinas hidroelétricas, foram
consideradas, por exemplo, em Wakamori et al (1982), para controle da vazão nos rios, e por
Garcia-Gonzales et al (2003), por questões ambientais e de irrigação. Um tipo de restrição bastante
comum é o de limite inferior e/ou superior de volume armazenado, como em Wu et al,1991.
A inclusão de limites de defluência para as usinas hidroelétricas não causa, em geral, grande
impacto à resolução do problema de PDO, já que estas restrições apenas delimitam o intervalo de
valores possíveis para o turbinamento e o vertimento. Dificuldades maiores surgem quando se
consideram restrições que estabelecem uma interdependência entre duas ou mais variáveis do
problema, tais como limites de armazenamento1 e de variação de armazenamento ou defluência
entre intervalos sucessivos de tempo na discretização do problema.
Em George et al (1996) e Chang et al (2001), consideram-se restrições de variação de
defluência com o intuito de evitar variações bruscas na vazão dos trechos de rio à jusante das
usinas. Sherkat et al (1988) considera tanto restrições de variação de defluência como de variação
de armazenamento, para um problema de programação com horizonte de dois dias e discretização
horária. Restrições ainda mais sofisticadas impõem uma determinada relação entre os volumes, ou
cotas, de dois reservatórios em cascata ou em rios adjacentes, de forma a controlar a vazão no
trecho de rio ou canal que os une, como em Piekutowski et al (1994), Christoforidis et al (1996), e
Tufegdzic et al (1996).
No Brasil, tem-se como exemplo a introdução de restrições de defluência mínima no modelo
NEWAVE, Duarte (2002), e a consideração, no modelo DECOMP, de volumes de espera para
controle de cheias, restrições de defluência mínima, e retiradas da água para usos múltiplos, CEPEL
(2003) e Pimentel et al (2005). No próprio modelo DESSEM-PAT, tem sido incluídas restrições de
volume de espera e de defluência mínima para as usinas, Maceira et al (2000), e a operação do
canal Pereira Barreto, entre as usinas de Ilha Solteira e de Três Irmãos, CEPEL (2006).

3 FORMULAÇÃO MATEMÁTICA DO PROBLEMA


De forma geral, o problema de programação diária da operação (PDO) de um sistema
hidrotérmico consiste em determinar o despacho horário de geração das usinas hidroelétricas e
termoelétricas para um horizonte que varia de um dia até uma ou duas semanas, atendendo à
demanda de energia ao longo do período, às restrições operativas das usinas e às restrições elétricas
do sistema, e obedecendo a um determinado critério para a otimização (Diniz, 2007).

1
O armazenamento de uma usina em determinado instante depende de sua operação em todos os intervalos de tempo
anteriores.
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Neste trabalho, a função objetivo considerada (1) consiste na minimização da soma dos
custos de geração térmica, durante o período de programação, com o custo futuro, o qual é função
dos volumes armazenados finais nos reservatórios. As restrições do problema, de forma
simplificada, incluem: atendimento à demanda em cada um dos subsistemas interligados
eletricamente (2); balanço hídrico nas usinas hidroelétricas (3); função de produção das usinas
hidroelétricas (4); limites de armazenamento e/ou defluência (5); limites de geração (6)-(7), e
limites de intercâmbio entre subsistemas (8). A formulação matemática do problema como um
programa linear é mostrada a seguir:
T NT
(1) min Z = ∑∑ ci ( gtit ) + α T (V T ) (1)
t =1 i =1

s.a.:

(2) ∑ gt tj + ∑ ghtj + ∑ (Int tj→i − Intit→ j ) = Dit i = 1,…,NS, t = 1,…,T, (2)


j∈Φ i j∈Ψ i j∈Ω i

t −1
(3) Vi = Vi + I i − (Qi + Si ) +
t t t t
∑ (Qtj + S tj ) , i = 1,…,NH, t = 1,…,T, (3)
j∈M i

(4) ghi = FPH (Vi , Qi , S i )


t t t t
i = 1,...,NH, t = 1,...,T, (4)

(5) Vi t ≤ Vi t ≤ Vi t , Qit ≤ Qit ≤ Qit , i = 1,...,NH, t = 1,...,T, (5)

(6) ghi ≤ ghi ≤ ghi , i = 1,...,NH, t = 1,...,T, (6)


t t t

(7) gt i ≤ gt it ≤ gt i , i = 1,...,NT, t = 1,...,T, (7)

(8) Intit→ j ≤ Inti→ j , i,j = 1,...,NS, t = 1,...,T, (8)


onde o supra índice t indica o intervalo de tempo, e os sub-índices os elementos a que se referem as
variáveis, cuja descrição é dada no Quadro 1.

Quadro 1 – Descrição das variáveis do problema de programação diária considerado neste trabalho.
αT: custo futuro, como uma função linear por M: conjunto de usinas à montante de cada
partes do vetor de volumes armazenados usina hidroelétrica;
nos reservatórios ao final do intervalo T; NH: número de usinas hidroelétricas;
c (.): custo incremental de geração das unidades NS: número de subsistemas;
termoelétricas; NT: número de unidades termoelétricas;
D: demanda de energia por subsistema; Ω: conjunto de subsistemas que fazem
FPH: função de produção hidroelétrica intercâmbio com cada subsistema;
Φ: conjunto de unidades termoelétricas de Q: vazões turbinadas das usinas hidroelétricas;
cada subsistema; S: vazões vertidas das usinas hidroelétricas;
gh: geração das usinas hidroelétricas; T: número de intervalos de tempo;
gt: geração das unidades termoelétricas; V: volumes armazenado das usinas
I: vazões naturais às usinas hidroelétricas; hidroelétricas;
Int: intercâmbios entre subsistemas; Ψ: conjunto de usinas hidroelétricas de cada
subsistema.

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4 CONSIDERAÇÃO DAS RESTRIÇÕES DO POSTO DA RÉGUA 11 DE
ITAIPU
A Régua 11, ou R-11, é um posto de medição fluviométrica, situado cerca de 20 km à
jusante de Itaipu, na Tríplice Fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai. Entre Itaipu e R-11, o Rio
Paraná recebe os afluentes vindos do Rio Iguaçu. A Figura 2 a seguir apresenta um esquema
topológico desta região, apresentando as principais usinas hidroelétricas envolvidas e suas
características principais. Os termos QPR e QIG correspondem às vazões à jusante de Itaipu e na foz
do Rio Iguaçu, respectivamente, as quais serão utilizadas em algumas das expressões descritas
posteriormente.

Rio Paraná Rio Iguaçu

Porto Primavera Salto Santiago

Salto Osório
Itaipú
Potência Reservatório de
Usina Instalada Regularização
Salto Caxias (MW) (hm3)

QPR Porto Primavera 1.540 5.600


QIG
Itaipu 12.600 19.000
Brasil Salto Santiago 1.420 4.113
Salto Osório 1.078 403
Argentina / RÉGUA 11
Paraguai Salto Caxias 1.240 273

Figura 2– Esquema topológico dos rios e usinas hidroelétricas próximas ao posto R-11 de Itaipu.

A seção do posto R-11 está sujeita a restrições impostas pelo Acordo Tripartite, firmado em
1979 entre Brasil, Argentina e Paraguai, as quais são descritas a seguir, ONS (2006):
• restrição de velocidade superficial máxima de 2,0 m/s;
• restrição de variação máxima horária de 0,50m na cota de R-11;
• restrição de variação máxima diária de 2,00m na cota de R-11.
Além destas questões, considerou-se também neste trabalho a influência da cota em R-11 no
nível do canal de fuga de Itaipu, devido ao remanso. Desta forma, a altura de queda e,
conseqüentemente, a geração de Itaipu, depende da cota em R-11;

4.1 Modelagem matemática das restrições de velocidade máxima

Segundo dados fornecidos pela usina de Itaipu, a vazão QR11 em R-11 pode ser avaliada a
partir das vazões à jusante de Itaipu e na foz do Rio Iguaçu, pela seguinte expressão:
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(9) QR11 = k PR QPR + k IG QIG , (9)

onde, na prática, k PR = 1,03 e k IG = 1,17.


t
Desta forma, a vazão QR11 em R-11, em cada intervalo de tempo t, pode ser obtida a partir
da operação energética calculada pelo modelo DESSEM-PAT, pela expressão:
t t t t t
(10) QR11 = k PR (Qit + S it ) + k IG (Qscx + S scx ) , (10)

onde it e scx indicam, respectivamente, os índices das usinas de Itaipu e Salto Caxias.
Conhecendo a área AR11 da seção transversal em R-11, a velocidade longitudinal média

v med
R 11
neste ponto pode ser estimada pela expressão (PINTO et al (2003)):

(11) QR11 = AR11v med


R11
. (11)

No entanto, a velocidade longitudinal ao longo de uma reta vertical na seção transversal de


um rio varia de acordo com o desenho mostrado na Figura 3:

v sup NA

Seção
transversal Sentido do rio

Fundo do rio
v fundo = 0

Figura 3 – Vetores de velocidade longitudinal ao longo de uma reta vertical na


seção transversal de um rio.

A velocidade superficial em R-11 será aproximada pela seguinte expressão:

(12) vRsup med


11 = k v R11 , (12)

onde k é um fator, suposto conhecido, que relaciona a velocidade média com a velocidade
superficial na seção de R-11.
Combinando as equações (10), (11) e (12), a inclusão da restrição de velocidade superficial
máxima no posto de R-11 se dá pela adição da inequação (13) ao problema de PDO:

(13)
k
AR11
[ t t t
]
k PR (Qit + S it ) + k IG (Qscx + S scx ) ≤ v Rsup11max .
t
(13)

XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 7


4.2 Modelagem da influência da cota de R-11 na geração de Itaipu

A função de produção de uma usina hidroelétrica (vide eq. (4)) é representada no modelo
DESSEM-PAT por uma função linear por partes do volume armazenado V, turbinamento Q, e
vertimento S na própria usina, conforme a expressão abaixo:
i,k i ,k i,k i ,k
(14) ghit ≤ γ 0 + γV Vi t + γ Q Qit + γ S S it , k = 1,...K i , i = 1,...NH , t = 1,...T , (14)

i, k i ,k i ,k i ,k
onde Ki é o número de cortes da função linear por partes para a usina i, e γ 0 , γ V , γQ e γS

correspondem, respectivamente, aos termos independente, de volume armazenado, de turbinamento,


e de vertimento para o corte k da usina i.
A construção destes cortes é feita a partir dos polinômios que fornecem a cota de montante
do reservatório, como função do volume armazenado V, e a cota de jusante, em função da
defluência Q+S da própria usina. Detalhes desta modelagem são descritos em Diniz (2004).
No caso da usina de Itaipu, a cota de jusante não é função somente da sua própria
defluência, mas também da vazão que o Rio Iguaçu lança ao Rio Paraná. Esta relação é descrita por
meio de um polinômio de quarto grau, fornecido por Itaipu, que relaciona a cota de jusante de Itaipu
com a vazão em R-11. Como a vazão em R-11, por sua vez, é função tanto da defluência de Itaipu
como de Salto Caxias (eq. (10)), a geração de Itaipu, por fim, é representada no modelo DESSEM-
PAT como uma função linear por partes de Vit, Qit, Sit, Qscx e Sscx :
it ,k it ,k it , k it ,k it , k
(15) ghitt ≤ γ 0 + γV Vitt + γ Q Qitt + γ S S it + γ scx (Qscx
t t
+ S scx ), k = 1,...K it , t = 1,...T , (15)

it , k
onde γ SCX é a inclinação de cada corte para a função de produção de Itaipu, em relação à vazão
defluente de Salto Caxias.

4.3 Modelagem matemática das restrições de variação horária no nível da R-11

A maior dificuldade na modelagem das restrições de variação na cota de R-11 é o fato de


esta cota não é uma variável de decisão na modelagem do problema de PDO. Os valores de cota em
cada intervalo de tempo só podem ser calculados a posteriori, a partir dos valores das variáveis V, Q
e S de cada usina no despacho ótimo encontrado pelo modelo. Portanto, deve-se procurar
representar as restrições de variação de cota por meio de variações na vazão QR11, pois esta é uma
variável que pode ser representada no modelo, por meio da Eq. (10).
A relação entre a cota hR11 e a vazão QR11 em R-11 é dada pelo seguinte polinômio,
fornecido pela usina de Itaipu:
2
Q R11 = 7,01514936 × 10 4 − 5,2535121 × 10 2 hR11 − 2,2702358 × 101 hR11 +
3 4
(16) + 2,9623555 × 10 −1 hR11 − 7,4791788 × 10 − 4 hR11 . (16)

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Invertendo esta relação, obtém-se a curva-chave f mostrada na Figura 4. Para cada valor de
~ ~
QR11 , pode-se definir um intervalo de comprimento ∆QR11, centrado em QR11 , e desta forma obter
~ ~ ~
um intervalo correspondente ∆ hR11( hR11 ), tendo hR11 := f ( QR11 ) como um ponto interior.
hR11

f
~
∆hR11 hR11

~
Q R11 QR11
∆QR11

Figura 4 – Curva chave do posto de R-11.

A variação máxima horária na cota da régua 11, denotada por ∆hRH11(max) , é um valor fixo.

Desta forma, a estratégia proposta para considerar estas restrições no problema de PDO consiste em
determinar, para cada valor de QR11, o comprimento de intervalo ∆QR11 que leva a uma variação de
± ∆hRH11(max) em torno do ponto hR11(QR11). Com isto, define-se uma função ∆QRH11 (Q R11 ) , que indica,

para cada valor de QR11, a variação nesta vazão que corresponde à variação máxima especificada
∆hRH11(max) na cota de R-11. Ao se calcular os valores desta função em um conjunto de pontos para

QR11, obtém-se uma relação quase linear, semelhante à mostrada na Figura 5.

∆QRH11 (QR11 )
a RH11

bRH11

QR11

Figura 5 – Curva que relaciona a vazão em R-11 com o valor de variação dessa vazão que resulta
em uma variação de ± ∆hRH11(max) na cota de R-11.

Utilizando a técnica de regressão linear, obtêm-se os valores dos parâmetros bRH11 e a RH11 que
permitem escrever a relação:

(17) ∆Q RH11 (QR11 ) = bRH11 + a RH11QR11 . (17)

XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 9


Esta equação indica, para cada valor da variável QR11, o intervalo de comprimento ∆QR11 ,
no interior do qual esta variável pode oscilar ao longo de uma hora, de forma a não ultrapassar o
limite ∆hRH11(max) para a variação na cota em R-11.

As restrições de máxima variação horária podem ser então escritas da forma seguinte:
t −1 t −1
− ∆QRH11 (QR11 ) t t −1 ∆QRH11 (QR11 )
(18) ≤ QR11 − QR11 ≤ , t =1,...T. (18)
2 2

Substituindo (17) em (18) e arrumando convenientemente os termos, obtém-se a formulação


seguinte para as restrições a serem adicionadas ao problema de PDO, a fim de representar a máxima
variação horária na cota em R-11:

 t a RH11 t −1 bRH11
Q
 R11 + ( − 1)Q R11 ≥ −
(19) 2 2 t =1,...T, (19)
 H H
Q t − ( a R11 + 1) Q t −1 ≤ bR11 ,
 R11 2
R11
2
0
onde o valor de Q R11 é conhecido, e os valores de QRt 11 são dados por (10).
Naturalmente, as expressões (19) correspondem a uma aproximação para as reais restrições
− ∆hRH11(max) ≤ hRt 11 − hRt 11 ≤ ∆hRH11(max) , t =1,...T. A acurácia desta aproximação é avaliada

posteriormente na seção 6.2.

4.4 Modelagem matemática das restrições de variação diária no nível da R-11

A modelagem das restrições de variação diária segue, de forma geral, os mesmos passos
descritos na seção 4.3, para as restrições de variação horária. Realizam-se os seguintes
procedimentos:
• obtém-se uma curva ∆QRD11 (Q R11 ) := bRD11 + a RD11QR11 que indica, para cada valor de QR11, a

variação máxima que esta variável pode sofrer de forma a não ultrapassar o limite ∆hRD11(max) ,

para a variação diária na cota de R-11;


• as restrições de limite de variação na vazão da R-11 devem ser impostas a todos os pares de
t t
vazões ( Q R11 1 , Q R11 2 ), tais que t1−t2 ≤ 24.
Desta forma, procedendo-se de maneira similar à seção anterior, obtém-se a seguinte
formulação para as restrições a serem adicionadas ao problema de PDO, a fim de representar a
máxima variação diária na cota da R-11:

 t a RD11 t− j bRD11
 Q R11 + ( − 1)Q R11 ≥ −
2 2
(20)  D D
j=1,...24, t =1,...T, (20)
Q t − ( a R11 + 1) Q t − j ≤ bR11 ,
 R11 2
R11
2
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0 −1 −23
onde os valores de Q R11 , Q R11 ,..., Q R11 são todos conhecidos, e correspondem às vazões em R-
11 no dia anterior ao início do período de programação da operação.

4.5 Considerações adicionais

Fazem-se as seguintes observações adicionais em relação às restrições descritas da seção 4.1


à seção 4.4:
• para fins de facilidade de exposição, as formulações apresentadas para as restrições de variação
diária e horária consideram um problema com discretização horária, uniforme ao longo de todo
o período de estudo. Conforme ressaltado em Diniz e Norbiato (2006), o modelo DESSEM-
PAT pode assumir uma discretização temporal variável, onde um único intervalo de tempo pode
representar a operação de diversas horas. Assim, a implementação realizada no modelo para
estas restrições considerou a adequação de seus limites de acordo com a discretização temporal
adotada;
• as restrições de variação horária e diária acoplam variáveis de diferentes intervalos de tempo.
Assim, na estratégia de solução proposta, descrita na seção seguinte, deve-se levar em
consideração variáveis de estado adicionais para o subproblema de cada intervalo t. Estas
variáveis correspondem às vazões na régua 11 em todos os intervalos de tempo anteriores ao
intervalo t, até se completar um período de 24 horas.

5 ESTRATÉGIA DE RESOLUÇÃO
Como mencionado anteriormente, o modelo DESSEM-PAT resolve o problema de PDO,
formulado de maneira linear, pela técnica de programação dinâmica dual (PDD). Seguindo os
procedimentos apresentados em Pereira e Pinto (1991), essa estratégia consiste na decomposição
temporal do problema em um subproblema (estágio) [t] para cada intervalo de tempo. Cada estágio
corresponde ao subproblema com as restrições e custos referentes a um determinado intervalo. A
resolução do problema é feita por meio de uma decomposição de Benders multi-estágio, pela qual
se constrói uma FCF para cada estágio.
Cada iteração da PDD consiste de: (i) uma simulação denominada forward, desde o estagio
1 até o estagio T, onde a condição inicial de cada estágio é obtida da solução do estagio anterior; (ii)
uma recursão denominada backward, desde o estagio T-1 até o estagio 1, onde se utiliza, para cada
estágio, a mesma condição inicial utilizada na última simulação forward, porém adicionando-se as
novas restrições referentes aos cortes de Benders construídos a partir da solução do estágio t+1. O
fluxograma do processo iterativo para resolução do problema é mostrado na Figura 6.

XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 11


Inicialização k=1, t=1, x1 conhecido
t=1
Z = 0,Z = ∞
k=k+1

simulação Forward
t>T? sim

não
t=t+1 Z = min{Z ;
- Resolve subproblema[t(k-1)] com o T −1

vetor de estados xt ω
T
+ ∑ Z t}
t =1
- Armazena xt+1 e custo de geração
térmica Zt

recursão Backward
Constrói corte de Benders
para estágio t-1

t=t -1
Resolve subproblema
[t (k)]: = [t (k-1)] + novo corte, não
t < 1?
com vetor de estados xt
sim

não Z = ω1
(Z − Z ) Z < ε

sim

Fim

Figura 6– Estratégia de resolução do problema de programação diária da operação no modelo


DESSEM-PAT.

Denotando por u, v o produto escalar entre dois vetores u e v, estes cortes têm a seguinte

forma:

(21) , ∂ω t t* t
α t −1 ≥ ω t * + ( x ), x − x t * , (21)
∂x t

onde αt-1 é o custo futuro para o estagio t-1, ω t* é o valor ótimo do subproblema t na iteração
corrente (incluindo o custo futuro), x t* é o vetor com a solução para as variáveis de estado do
estágio t na iteração corrente (obtida das soluções dos estágios 1 ao t-1 na simulação forward), e
∂ω t
(•) é o vetor das derivadas parciais de ωt em relação às variáveis de estado do subproblema t.
∂x t
A equação (21) define um corte linear para a FCF do estagio t-1 como função do vetor de
variáveis de estado xt para o subproblema t. Estas variáveis de estado consistem nos volumes Vt-1
nos reservatórios ao final do estagio t-1, e nas vazões Q Rj11 para todos os j intervalos anteriores

XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 12


compreendidos em um período de 24 horas. Em cada simulação forward, atualizam-se o limite

inferior Z e superior Z para o valor ótimo Z* do problema. A convergência se dá quando a


diferença relativa entre esses dois valores é inferior a uma dada tolerância ε. Maiores detalhes do
processo de resolução do problema são apresentados em Diniz e Norbiato (2006).

6 – RESULTADOS NUMÉRICOS
Apresentam-se, neste capítulo, os resultados numéricos da aplicação das restrições referentes
ao posto de R-11 no modelo DESSEM-PAT. Na seção 6.1, verifica-se a acurácia da modelagem da
influência da R-11 na geração de Itaipu, e na seção 6.2 a acurácia da representação das restrições de
variação horária e diária de Itaipu. Finalmente, na seção 6.3, avaliam-se os impactos econômicos da
introdução das restrições de R-11 no problema de programação diária da operação.
A acurácia na aproximação para as restrições de velocidade máxima superficial na R-11,
descritas na seção 4.1, não têm como serem avaliadas, por não se terem disponíveis todos os
parâmetros da seção transversal da R-11 para o cálculo das velocidades longitudinais, e também
porque os resultados do modelo DESSEM-PAT não contêm informações suficientes de operação
hidráulica para o cálculo exato, a posteriori, da velocidade superficial exata na R-11.
Todos os resultados desta seção foram obtidos executando-se o modelo DESSEM-PAT para
um problema com horizonte de estudo de uma semana e discretização horária, compreendendo o
período entre 28/10/2006 e 03/11/2006. Os dados do estudo correspondem à configuração do
sistema brasileiro e restrições operativas referentes ao Programa Mensal da Operação de novembro
de 2006, composta por 118 usinas hidroelétricas e 41 usinas termoelétricas. A formulação do
problema inclui 268 restrições de origem hidráulica.

6.1 Análise da modelagem da geração de Itaipu

Nesta seção, analisam-se as diferenças entre as gerações horárias de Itaipu obtidas de duas
formas:

• sem a modelagem da R-11: neste caso, a cota de jusante de Itaipu é determinada por um
polinômio em função da defluência da própria usina. Este polinômio consta do cadastro de usinas
hidroelétricas, fornecido pelo ONS;

• com a modelagem da R-11: neste caso, a cota de jusante de Itaipu é função da vazão na R-11,
por meio de um polinômio fornecido por Itaipu.

As diferenças, ao longo da semana, das gerações de Itaipu consideradas de ambas as formas


são mostradas na Figura 7.

XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 13


GH Itaipu (MW)
9200
9000
8800
8600
8400
8200
8000
7800
7600
7400
1 10 19 28 37 46 55 64 73 82 91 100 109 118 127 136 145 154 163 t
Sem modelagem da R-11 Com modelagem da R-11

Figura 7 – Comparação das gerações de Itaipu considerando ou não a influência da R-11

Observa-se que a geração de Itaipu segue, ao longo da semana, o mesmo padrão em ambas
as abordagens. Isto mostra a adequação do uso, no modelo DECOMP, CEPEL (2003), do polinômio
que consta no cadastro do ONS (sem a modelagem da R-11), para se ter uma boa aproximação da
geração semanal da usina de Itaipu. No entanto, diferenças não desprezíveis observadas entre as
duas curvas, principalmente nos períodos de carga leve, mostram a importância de se considerar
uma modelagem mais detalhada da usina de Itaipu ao se realizar a programação diária da operação
do sistema.
Verifica-se, a seguir, a acurácia na modelagem da função de produção da usina de Itaipu
considerando-se a influência da R-11. A Figura 8 mostra a distribuição dos desvios entre os valores
exatos de geração, calculados a posteriori a partir da operação hidráulica determinada pelo modelo,
e os obtidos pelo modelo através das inequações (14), considerando-se os 168 valores horários
obtidos ao longo da semana.
p r o b . acum.
1,00

0,80

0,60

0,40

0,20

0,00
1,00 1,20 1,40 1,60 1,80 2,00 2,20 2,40 2,60 2,80 3,00 3,20
d esvi o d a F PHA ( %)

Figura 8 – Distribuição dos desvios na modelagem da função de produção (FPHA) da usina de


Itaipu no modelo DESSEM-PAT, em relação aos valores exatos da função (considerando-se a
influência da R-11).

Os desvios variam de pouco mais de 1% até aproximadamente 3,20%. Os valores são


superiores aos desvios médios da função de produção das usinas hidroelétricas usualmente obtidos
pela metodologia descrita em Xavier (2005). Entretanto, deve-se pesar a maior dificuldade na

XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 14


modelagem da função de produção de Itaipu, já que esta depende da operação não só desta usina,
mas também da usina de Salto Caxias.
Finalmente, ressalta-se, na Figura 9, a importância de se representar a influência da operação
do rio Iguaçu na geração da usina de Itaipu. As duas curvas mostradas na figura foram obtidas
considerando-se a influência da R-11 na geração de Itaipu. A curva em linha grossa mostra a
geração de Itaipu no caso original, mostrado na Figura 7. A curva em linha fina mostra a geração de
Itaipu obtida em um segundo caso, semelhante ao original porém adicionando-se uma restrição de
defluência mínima de 2.310,0 m3/s para a usina de Salto Caxias, a partir do terceiro dia de operação
(intervalo 73 em diante), a qual provocou um vertimento nesta usina. Observa-se como o aumento
na defluência do rio Iguaçu influencia negativamente na geração da usina de Itaipu, principalmente
nos instantes em que a usina decresce o seu nível de geração.
GH (Itaipu) - MW

9100
8800
8500
8200
7900
7600
7300
7000
6700
6400
1 11 21 31 41 51 61 71 81 91 101 111 121 131 141 151 161

t
GH Itaipu - sem vertimento em Salto Caxias
GH Itaipu - com vertimento em Salto Caxias

Figura 9 – Comparação da geração de Itaipu com e sem vertimento na usina de Salto Caxias.

6.2 Análise da modelagem das restrições de variação de nível

Verifica-se, nesta seção a acurácia na modelagem das restrições de variação horária e diária
na cota da R-11. Mostra-se, no gráfico da Figura 10-(a), as diferenças nas cotas da R-11,
considerando ou não as restrições de variação horária.

Valores horários de cota e m R-11 (m ) Variação diária na cota de R-11 (m )

97,00 (a) 1,80


(b)
96,50 1,60

96,00 1,40

95,50 1,20
95,00 1,00
94,50 0,80
94,00 0,60
93,50
0,40
93,00
t 0,20
1 11 21 31 41 51 61 71 81 91 101 111 121 131 141 151 161
0,00
co m restriçõ es de variação ho rária 1 11 21 31 41 51 61 71 81 91 101 111 121 131 141 151 161 t
sem restriçõ es de variação ho rária

Figura 10– (a) Valores horários de cota em R-11, com e sem as restrições de variação horária.
(b) Curva de máxima variação diária na cota da R-11, considerando,
para cada instante de tempo, as cotas nas 24 horas anteriores.

XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 15


No caso irrestrito, ocorrem grandes variações horárias da cota em R-11 no início da semana,
enquanto no caso restrito a diminuição desta cota, no mesmo período, segue estritamente os limites
de variação horária. Durante boa parte da semana, as duas curvas coincidem, mostrando que os
limites de variação horária são naturalmente respeitados com a operação ótima do ponto de vista
econômico. Entretanto, os picos de variação na cota, nos instantes 94 a 98, e nos instantes 141 e
142, são mais acentuados no caso irrestrito.
Em relação à variação diária, mostra-se, na Figura 10-(b), o histórico de variação máxima
diária nas 24 horas anteriores a cada instante de tempo no período de programação. Para este caso, a
restrição de variação máxima diária foi atendida com folgas.
Observa-se que as restrições (19) só asseguram o atendimento adequado das restrições de
variação horária em R-11 caso a modelagem da relação entre as variações de vazão e as variações
de cota em R-11, descrita na seção 4.3, seja suficientemente acurada. O Quadro 2 a seguir mostra as
variações horárias em R-11 calculadas a posteriori, a partir dos resultados do modelo, nos
intervalos de tempo em que as restrições (19) ficaram ativas. Pode-se perceber a grande acurácia
atingida pelo modelo na representação destas restrições.

Quadro 2 – Valores exatos de variação horária, obtidos a partir dos resultados do modelo.
t ∆hR11 (m) t ∆hR11 (m) t ∆hR11 (m)
1 − 0,51 35 + 0,50 104 + 0,50
2 − 0,50 47 − 0,51 121 − 0,51
3 − 0,50 56 + 0,50 128 + 0,50
4 − 0,50 73 − 0,51 145 − 0,51
25 − 0,50 80 + 0,50 152 + 0,50
26 − 0,51 97 − 0,51

6.3 Impacto econômico da consideração das restrições de R-11

Finalmente, analisa-se, nesta seção, o impacto econômico da consideração das restrições


referentes à R-11 no problema de programação diária da operação do sistema elétrico brasileiro.
Os impactos no custo total de operação do sistema e no custo marginal médio durante a
semana são mostrados no Quadro 3 a seguir.

Quadro 3 – Impacto das restrições de R-11 nos custos de operação do sistema.


Custo Semanal de Custo marginal médio
operação (103 R$) (R$/MWh)
Sem as restrições de R-11 310.052,4 48,27
Com as restrições de R-11 315.127,8 54,02
Variação 1,64% 11,92 %

XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 16


Apesar de ser apenas um ponto de controle de nível, nota-se que o impacto das restrições de
R-11 na programação da operação não são desprezíveis, causando um aumento médio de 11,92% no
custo marginal de operação, e de 1,64% no custo semanal. O principal fator responsável por esta
influência da R-11 nos resultados da operação é a dependência da operação da usina de Itaipu a
estas restrições. No caso em estudo, Itaipu possui uma capacidade de geração de 12.600 MW, que
corresponde à aproximadamente 25% da demanda do sistema brasileiro no caso estudado.
O maior impacto foi no custo marginal de operação. A Figura 11 a seguir compara a
evolução horária do custo marginal de operação para o subsistema Sul, para os casos com e sem as
restrições da R-11. Observa-se que, de modo geral, as diferenças se acentuam para valores mais
baixos de custos marginal. Nota-se que, em alguns intervalos de tempo, o custo marginal foi zero.

CMO (R$/MWh)
80

70

60

50

40

30

20

10

0
1 11 21 31 41 51 61 71 81 91 101 111 121 131 141 151 161

Sem as restrições de R-11 Com as restrições de R-11


t

Figura 11 - Impacto das restrições da R-11 no custo marginal de operação horário.

7 CONCLUSÕES
Este trabalho teve como objetivo mostrar como foram modeladas, no modelo DESSEM-PAT,
em validação pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) para uso na programação diária da
operação do sistema elétrico brasileiro, as restrições referentes ao posto de medição fluviométrica
da Régua 11 (ou R-11), situado a jusante de Itaipu. Estas restrições incluem a influência da cota de
R-11 na geração de Itaipu e limites de variação horária e diária na cota de R-11, para atender aos
requisitos constantes do Acordo Tripartite, firmado entre Brasil, Argentina e Paraguai.
Os resultados mostram a acurácia da modelagem proposta, já que as restrições foram
atendidas de forma bastante satisfatória. Os impactos verificados da inclusão das restrições de R-11
no problema de programação da operação do sistema brasileiro evidenciam a necessidade de se
incluir tais restrições no cálculo do despacho horário das usinas hidroelétricas, que deve ser
realizado diariamente pelo ONS. A inclusão destas restrições no modelo DESSEM-PAT, que
determina o despacho hidrotérmico de mínimo custo total para o sistema e que atenda a todas as
restrições impostas ao modelo, assegura o equilíbrio entre o desejo de se operar o sistema de forma

XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 17


ótima, do ponto de vista econômico, e a necessidade de se atender às restrições ambientais e de usos
múltiplos da água, as quais tem tido importância crescente no Brasil e no exterior.

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