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Wanderson Luiz Silva 1; Maria Elvira P. Maceira 2 & Otto Corrêa Rotunno Filho 3
RESUMO – As mudanças climáticas podem alterar o regime hídrico nas áreas de drenagem
correspondentes às usinas hidrelétricas brasileiras. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é
apresentar uma análise das tendências detectadas, calibração de um modelo hidrológico, avaliação
de um modelo climático e cenários futuros de precipitação e de vazão, além da capacidade de
regularização dos reservatórios nas usinas de Tucuruí e Itaipu. Para as projeções futuras (2011-
2100), são utilizados os dados do modelo climático regional Eta aninhado aos modelos globais
HadGEM2-ES e MIROC5 nos cenários RCP4.5 e RCP8.5 do IPCC. O modelo hidrológico adotado
é o SMAP na escala mensal com a adição de um parâmetro de translação. Os resultados indicam
que os totais pluviométricos anuais estão aumentando na usina de Itaipu. As vazões estão reduzindo
em Tucuruí e se elevando em Itaipu. Os modelos conseguem capturar satisfatoriamente a
distribuição da precipitação e da vazão nas diferentes regiões brasileiras, além de suas
variabilidades sazonais. As projeções futuras são de redução dos volumes de chuva e das afluências
naturais em Tucuruí e de diferentes cenários em Itaipu, onde há mais incerteza. Diante de cenários
críticos futuros, faz-se necessário avaliar a capacidade de regularização dos reservatórios das usinas.
ABSTRACT – Climate change may alter the water regime in the drainage areas corresponding to
the Brazilian hydroelectric power plants. In this context, the objective of this work is to present an
analysis of the detected trends, calibration of a hydrological model, evaluation of a climate model
and future scenarios of precipitation and streamflow, as well as the regularization capacity of the
reservoirs in Tucuruí and Itaipu power plants. For the future projections (2011-2100), data come
from the Eta regional climate model nested to the HadGEM2-ES and MIROC5 global models in the
RCP4.5 and RCP8.5 scenarios of the IPCC. The hydrological model adopted is the SMAP in the
monthly scale with the addition of a translation parameter. Results indicate that annual rainfall is
increasing in the Itaipu power plant. Streamflows are decreasing in Tucuruí and increasing in Itaipu.
Models are able to capture satisfactorily the precipitation and streamflow distribution in different
Brazilian regions, as well as the seasonal variabilities. Future projections point to a reduction of
rainfall volumes and natural streamflow in Tucuruí and different scenarios in Itaipu, where there is
more uncertainty. In view of future critical scenarios, it is necessary to evaluate the reservoirs
regularization capacity of the power plants.
Figura 1 – Localização das usinas hidrelétricas de Tucuruí e Itaipu e suas respectivas bacias de drenagem
analisadas nesta pesquisa.
onde Qs,t é a vazão simulada no mês t, Qo,t é a vazão observada no mês t e ̅𝑄̅̅̅𝑜 é a média das vazões
observadas no tempo N.
onde tipc e tfpc são o início e o fim do período crítico, respectivamente, Qr é a vazão necessária e Q é
a vazão afluente.
As anomalias das projeções futuras de afluências naturais mensais produzidas pelo modelo
hidrológico SMAP são empregadas nos dados históricos de vazões do ONS para cada usina
hidrelétrica e analisadas a fim de se avaliar a capacidade de cada reservatório para atender a
hipótese de regularização nos climas presente e futuro. Para essa investigação, considera-se a vazão
média no clima presente (1961 a 1990) e no clima futuro (2011 a 2100). Os meses que necessitam
de regularização são aqueles em que a afluência observada ou prevista se estabelece abaixo da
vazão média, ou abaixo de um determinado percentual dessa vazão média.
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3. RESULTADOS
A Figura 3 ilustra as magnitudes das tendências geradas pelos testes estatísticos de Mann-
Kendall e da Curvatura de Sen (nível de confiança de 95%) dos percentis de precipitação e vazão.
Nota-se que um panorama de redução das menores afluências vem ocorrendo na área de drenagem
de Tucuruí. Observa-se que, no intervalo de classes de chuva entre os percentis 25 e 50, há uma
tendência enfática de elevação na área de drenagem de Itaipu, onde todos os indicadores de
afluências estão crescendo significativamente no período de 1941 a 1999, desde +60 m³/s.ano nas
vazões mais baixas até +120 m³/s.ano nas vazões mais altas.
Figura 3 – Magnitudes das tendências dos percentis das precipitações mensais e das vazões mensais para as
UHEs Tucuruí entre 1971 e 2006 e Itaipu entre 1941 e 1999. Os marcadores preenchidos foram classificados
como estatisticamente significativos no nível de confiança de 95% por meio do teste de Mann-Kendall.
O modelo hidrológico SMAP foi calibrado e examinado com respeito às simulações das
vazões no clima presente (Figura 4). A UHE Tucuruí apresenta uma boa representação das vazões,
inclusive de sua variabilidade sazonal, com NASH de 0,936. A aplicação do parâmetro LAG nessa
grande bacia possibilitou a boa correlação das afluências observadas e simuladas (0,96), não
permitindo defasagem entre as vazões, uma vez que o tempo de percurso da água aqui possui muita
importância para a afluência final no mês em questão. Em Itaipu, o modelo SMAP consegue
simular muito bem os picos de vazão, além da crescente tendência das afluências identificada no
decorrer das últimas décadas, com NASH de 0,825 e correlação de 0,90.
Em relação às simulações do modelo climático Eta, verifica-se que o ciclo sazonal da
precipitação é bem capturado, contudo os dados tendem a subestimar ou superestimar em diferentes
ordens de grandeza esses volumes pluviométricos médios mensais (Figura 5). Dessa maneira,
emprega-se um fator linear mensal de correção de viés nesses dados por meio da razão entre as
climatologias observada e simulada, aperfeiçoando assim as simulações em cerca de 55%.
Figura 5 – Acumulados pluviométricos (mm) médios mensais observados (linha preta) e simulados pelos
modelos Eta-HadGEM2-ES (linha azul), Eta-MIROC5 (linha verde), assim como sua média (Eta-Média,
linha vermelha), nas UHEs Tucuruí e Itaipu para o período de 1961 a 1990.
A Figura 7 apresenta as projeções futuras de vazão dos cenários RCPs 4.5 e 8.5 do IPCC em
relação às afluências observadas. Observa-se que as afluências naturais deverão diminuir em média
na UHE Tucuruí no decorrer dos meses do ano. No aproveitamento hidrelétrico de Itaipu,
considerando-se todos os possíveis cenários, nota-se que o comportamento das afluências no clima
futuro será bastante semelhante ao clima presente na média, inclusive com alguma redução dos
eventos extremos. Contudo, vale ressaltar que os cenários do modelo Eta-HadGEM2-ES são de
redução, enquanto que as projeções do modelo Eta-MIROC5 são de elevação.
Figura 7 – Gráficos de dispersão confrontando as afluências médias mensais (m³/s) obsevadas no clima
presente (1961 a 1990) e as vazões projetadas (2011 a 2100) pelos modelos climáticos Eta-HadGEM2-ES e
Eta-MIROC5 nos cenários RCP4.5 e RCP8.5 do IPCC.
4. CONCLUSÕES
Neste trabalho, explora-se as tendências de precipitação e de vazão e as consequências das
mudanças climáticas nas UHEs Tucuruí e Itaipu. A verificação das tendências observadas no
transcurso, principalmente, da segunda metade do século XX identificou um aumento das chuvas e
das vazões na área de drenagem da UHE Itaipu. A bacia de drenagem da UHE Tucuruí apresentou
uma diminuição de suas vazões. Tais tendências detectadas são extremamente importantes no nível
nacional e podem subsidiar possíveis medidas de adaptação e/ou mitigação nos reservatórios.
O modelo SMAP mensal foi calibrado e validado como pré-requisito para o exame dos
cenários futuros de afluências naturais. A versão tradicional do modelo acrescida de um parâmetro
de dependência temporal dos escoamentos superficial e de base exibiu resultados satisfatórios. O
modelo climático regional Eta foi aninhado a modelos globais para a geração de cenários de
mudanças climáticas conforme os cenários RCP4.5 e RCP8.5 do AR5 do IPCC. Através do
emprego de uma técnica de correção de desvios sistemáticos, as principais características
fisiográficas presentes da precipitação e sua variabilidade sazonal foram muito bem simbolizadas.
Na análise das projeções futuras, observou-se um decréscimo significativo dos totais
pluviométricos e das afluências naturais no decorrer do século XXI na UHE Tucuruí. O mesmo
padrão é projetado para a UHE Itaipu através do modelo Eta-HadGEM2-ES, enquanto que
tendências de elevação da precipitação e da vazão são simuladas pelo modelo Eta-MIROC5.
Segundo as curvas de regularização, a UHE Tucuruí é a que mais necessita de um eficiente
esquema de regularização das afluências. Logo, é essencial uma reflexão acerca da coordenação dos
reservatórios diante dos cenários futuros de precipitação e de vazão. Contudo, a incerteza ainda é
seriamente profusa na esfera das mudanças climáticas.
Além do aprimoramento do modelo regional, novos processos de regionalização
(downscaling) podem ser engendrados. Os recentes cenários Shared Socio-Economic Pathways
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(SSPs; IPCC, 2016) do AR6 do IPCC poderão futuramente ser utilizados para a geração de novos
cenários de alterações climáticas. Por fim, tópicos ambientais e operacionais podem ser
incorporados à análise da capacidade de regularização a fim de se estruturar uma metodologia mais
robusta a respeito dos efeitos das alterações climáticas sobre os reservatórios.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Programa de Engenharia Civil da COPPE/UFRJ e ao CEPEL pelo apoio ao
trabalho. Agradecimentos são estendidos à FAPERJ, por meio dos projetos FAPERJ – Pensa Rio –
Edital 34/2014 (2014-2017) – E-26/010.002980/2014, FAPERJ no E_12/2015 e FAPERJ no E_22/2016,
bem como ao suporte oferecido pelo CNPq por meio do projeto Edital n o 12/2016 – Processo
306944/2016-2 e projeto Edital Universal no 14/2013 – Processo 485136/2013-9 e pela CAPES -
Código de Financiamento 001.
REFERÊNCIAS
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