Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Microcontos
Maternos
Microcontos
Maternos
A m enina de tran ç a s
b r i n cava quand o
a c o n teceu a prim e i r a v e z :
s e u peito subia e d e s c i a
b r u s camente, p u x a v a c o m
fo r ç a o ar pela b o c a . A
m ã e colocou-a d e b r u ç o s
e , p or horas, ma s s a g e o u
s u a s costas com b á l s a m o .
C a n tava baixinho . F o i a l i
q u e a menina d e s c o b r i u
s e u melhor rem é d i o : c o l o
d a m amãe.
01
A joia Maria Neta
A j o ia mais inte r e s s a n t e
d o c oncurso atra í a o o l h a r
d e t odos. Ouvia- s e o e c o d a s
v o z e s do público , e m
a d m iração únic a . A c o n c h a
p e n d urada ao c o l a r
s i m u lava um gr a n d e c o r a ç ã o
p u l s ante. Centen a s d e r u b i s
m i n úsculos inc r u s t a d o s a
e l a refletiam as l u z e s e m
v o l t a. Efeito sing u l a r !
O j ú ri foi unâni m e a o
p r e m iar o jovem d e s i g n e r e
q u i s saber sobre a
in s p iração para o b e l o
tr a b alho.
02
— E u t inha um an o d e
id a d e e sofri um a c i d e n t e d e
a u t o móvel com m e u s p a i s —
e l e contornou a j o i a e x p o s t a
e a p ontou a conc h a
le v e mente entr e a b e r t a
ir r a diando uma f i n a l i n h a
d e b rilho. — A p é r o l a
e n v o lvida aí sou e u . N ã o m e
ju l g uem presun ç o s o !
A p e nas sou mui t o a m a d o .
N a q uele aciden t e q u e s o f r i ,
o r e sgate veio r á p i d o , m a s
n o q uadro que s e
a p r e sentava julg o u - s e
im p ossível sobre v i v e n t e . D e
r e p e nte os param é d i c o s
s u r p reenderem- s e c o m u m
c h o r o de criança . E
p e r c eberam com o o c o r p o
d e m inha mãe,
e s t r anhamente s e d o b r a r a
fe i t o uma concha . A l i
d e n t ro, estava e u . F u i
r e s g atado sem ne m m e s m o
u m a rranhão. C o m e s t a j o i a ,
e s t o u contando a o m u n d o a
h i s t ória do amor d a m i n h a
m ã e . Ela me de u a v i d a
e n q u anto a sua e r a t o m a d a .
Almoço de domingo
Ana Aygadoux
O a r oma do mol h o d e
to m ate invadia t o d a a s a l a .
A m esa coberta d e f a r i n h a
a b r i gava os inúm e r o s
n h o ques enrola d o s n o
g a r f o, mas algo f a l t a v a
n a q u ela lembra n ç a .
M a n u procurou s u a a v ó ,
c o m as mãos gr a n d e s
d e f o rmadas pel a d o e n ç a .
N ã o a encontro u .
N o l ugar da avó, a m ã e d a
M a n u tentava m a n t e r v i v a a
tr a d ição da famí l i a n o s
a l m o ços de dom i n g o .
N h o ques de bat a t a s , 05
c o z i dos na água f e r v e n t e ,
c o m um filete de a z e i t e e
d u a s colheres ra s a s d e s o p a
d e s al. Depois, m e r g u l h a d o s
n o m olho de to m a t e
c a s e iro, era o s a b o r q u e
M a n u conhecia d a i n f â n c i a ,
e a lembrança qu e t i n h a d e
s u a avó.
E n l a çou a cintur a d a m ã e ,
e n c o stando seu r o s t o n o
dela.
A m ãe, s u p r esa, largou a
c o l h er de pau co m q u e
m e x ia o molho e r e t r i b u i u o
a f e t o.
— O q ue você faz é o
p a v ê , mãe, ele t e m s a b o r d e
mãe.
— M a s e o almoço d e
d o m ingo com sa b o r d e v ó ?
— V a i encontrar n o v o s
c a m inhos.
Amor de Mãe
Cida Nunes
P a r a os médico s ,
S i m one não pod e r i a
e n g r avidar, ma s s u a s
o r a ç ões foram ma i s
fo r t es. E Deus a b e n ç o o u - a
c o m uma gravid e z
in e s perada.
D e p ois de quin z e a n o s ,
a t ã o sonhada
m a te rnidade ac o n t e c e u !
C o m muita tern u r a ,
S i m one deposit o u o b e i j o
n a c abecinha de s u a b e b ê .
— V ocê é a joia m a i s
p r e c iosa que te n h o, nem
08
o o u ro nem a pra t a v a l e m
e s s e amor, min h a q u e r i d a
filh a . — murmu r o u
S i m one, agrade c i d a , a o
m o r rer pelo esfo r ç o d o
p a r t o.
Amor Maior
Taís Oya
A menina esperava
ansiosa a chegada da mãe,
todos os dias ela lhe trazia
um presente. Esse, vinha
embrulhado num papel
toalha. A garota abria com
cuidado, seus olhinhos
brilhavam ao ver a
surpresa deliciosa.
Soube depois, não era
qualquer presente — a mãe
deixava de comer seu
lanche no trabalho para
agradá-la.
10
Ausência
Robertson Frizero
O marido aceitou-a
sem questionar. Os filhos
acolheram-na como se
retornasse de uma longa
viagem na qual estivera
incomunicável. Mas ela
sabia: foram meses de
paixão doentia pelo
amante, de ilusão de
liberdade... De volta à
família, sem punições por
sua ausência, só faltava,
para a felicidade
completa, perdoar-se
incondicionalmente.
11
Autobiografia genetriz
Ana Baggioto
A b r i mos o baú d e
e s c r itos de noss a m ã e . C a d a
u m a das três se r e v e z o u n a
le i t ura de poema s ,
e x c e rtos, risos e l á g r i m a s .
T o d as sofriam su a
a u s ê ncia, mas An a e s t a v a
d e s o lada. Talvez p o r q u e ,
q u a n do fora folh a
d e s c artada, noss a m ã e a
in s e rira nas pág i n a s d a s u a
h i s t ória de mate r n i d a d e . A s
m e s mas letras, a c o r d a
tint a , a força e a l e v e z a
im p ressas nas pá g i n a s
ir m ã s, em nada d i f e r i a d e
12
to d o amor impr e s s o n e l a ,
c a p í tulo enxerta d o e
to r n ado essenc i a l à t r a m a
fa m iliar.
H o j e quem nos r a s g a é o
d e s c arte periódi c o d a
e x i s tência que n o s i m p e d e
d e o uvir as cobr a n ç a s
a n t e cipadas do s p o t e s q u e
n ã o voltarão apó s o a l m o ç o
d e d omingo. Se t i v é s s e m o s
o p o der de ediçã o d o
d e s t ino, encaixa r í a m o s
q u i l ômetros de l i n h a s e m
s u a vida como
in s u bordinação à f i n i t u d e
d e a lguém, cujo a m o r
d e s m edido deu- n o s u m
títu l o na concep ç ã o . À A n a ,
d e u - lhe enquan t o a i n d a e r a
u m r abisco invol u n t á r i o .
A vida
Creusa Alves
A estrada, longa. Os
passos apressados da
mulher franzina,
seguidos por outros
miúdos, nas mais
variadas direções e
atenções. Vez ou outra,
o cão veloz, amigo das
crianças, na sua
diversão, antecipava o
obstáculo, o perigo à
espreita, o tempo, de
passos vagarosos. Um
dia, finitos.
15
Bendita Maria
Renata Lima
T o d as as noites, e l a
v i s i tava o quart o d o s f i l h o s ,
a j e i tando aquele q u e s e
d e s c obriu dura n t e o s o n o ,
o u a penas ajeita n d o o
tr a v esseiro. Com t o d o
c u i d ado, para nã o a c o r d á -
lo s .
U m b eijo na test a d e c a d a
u m , d epois saía
d e v a garinho, apa g a n d o a
la m p arina.
A s s i m que mamã e s a i a , e u
d a v a um sorriso e v o l t a v a a
d o r m ir. Ela não p e r c e b i a
q u e eu ainda est a v a
a c o r dada, espera n d o s e u
b e i j o... 19
Cicatrizes
Robertson Frizero
Contrariado, o menino
gritou:
— Vaca inútil!
A mãe ergueu a mão; o
gesto ficou no ar. O braço
erguido recordou-lhe as
bofetadas do ex-marido que
acompanhavam aquela
mesma frase.
Abraçou o filho
assustado; ele chorou.
— Desculpe, mãezinha.
A palavra mágica, nunca
dita pelo pai da criança,
cicatrizou-lhe feridas da
alma.
20
Ciclo Cláudia Moura
Sempre às cinco da
manhã, eu despertava com
o cheirinho do café com
leite e cuscuz.
Cantalorando, minha mãe
entrava no quarto e soltava
essa: “Detesto quem
amanhece dormindo!”. Às
gargalhadas, eu revidava:
“Mas quem amanhece
acordado?”. Hoje em dia,
desperto às cinco para
fazer o café com cuscuz
para meus filhos e, se
demoram, repito: “Detesto
quem amanhece
dormindo”.
21
Ciclos Ana Aygadoux
25
Cura
Ana Baggioto
Enquanto aguardava o
transplante, Luísa
lembrou-se que nascera
de um desejo de verão
moleque. O abandono
apequenou-lhe o rim. As
pessoas são mais
imprevisíveis para o
bem, ensinou a vida. O
perdão dado à sua mãe
biológica, deitada ao seu
lado, redimiu-lhes o
corpo e a alma.
26
De bolo em bolo
Silvio Marconi
C e r t o dia, abri u m
a r m ário na casa d e m i n h a
ir m ã Ana e lá es t a v a a
b a t e deira de bol o s q u e e r a
d e n ossa mãe. Em b a r c a m o s
n u m a deliciosa v i a g e m n o
te m po:
— V ocê lembra d o
C h a min? — Ela s o r r i u ,
a b r i ndo o baú de m e m ó r i a s
d a i nfância.
— A quele gato fi c a v a
liga d ão quando o u v i a e s s a
b a t e deira. Mais d i v e r t i d o
a i n d a do que cor r e r a t r á s
d e l e , era lamber a s t i g e l a s
27
d a s guloseimas q u e
e s t a vam sendo p r e p a r a d a s .
Q u a se não prec i s a v a l a v a r
d e p o is. — Cont i n u e i ,
a n i m ado.
N ó s éramos só q u a t r o
ir m ã os, crescemo s a o r e d o r
d e s s a batedeira. P o r é m ,
h a v i a dezenas de f e s t a s , e
v i v í amos de bolo e m b o l o .
N o s sa casa tinha c h e i r i n h o
d e a niversário.
Q u a ndo já adul t o s , n o s s a
m ã e confidenci o u o q u a n t o
e r a difícil festej a r n o s s o s
a n i v ersários. Ca d a b o l o q u e
e l a fazia para a v i z i n h a n ç a ,
g u a r dava uns tro c a d o s p a r a
fa z e r nossas fes t a s . E e n t ã o
c o m preendemo s a l g u m a s
b r i g as que ecoav a m p e l a s
p a r e des da peq u e n a c a s a .
D e s c obrimos qu e m e u p a i
tinh a aversão a f e s t a s .
Despedida
Viviane Alves
O toque delicado da
mão de Aurora acariciava
o rosto da amada mãe;
pássaros cantavam lá fora
como se fosse uma última
homenagem. O espírito
parecia já ter abandonado
aquele corpo, até que um
sobressalto a despertou.
Era como se a mãe
estivesse lutando para
adiar ao máximo aquele
definitivo ponto final.
30
Destino
Brígida De Poli
D i v i díamos com M a r i o n a
o m e smo banhei r o n a
p e n s ão, onde fom o s m o r a r
d e p o is da viuvez d e m i n h a
m ã e . Nossa vizin h a d e
p o r t a era muito a l t a , o q u e
e x p l icava o apel i d o . E u ,
a d o l escente, tin h a
c u r i osidade de c o n h e c e r
a q u e la mulher q u e e r a
p i p o queira de di a e
p r o s tituta à noi t e .
U m d ia, convid a d a p a r a o
a n i v ersário da f i l h a d e l a ,
c o n h eci o cômo d o a o l a d o .
31
A m enina mimad a f o i h o s t i l
c o m igo por não t e r l e v a d o
p r e s ente. Ela mo r a v a c o m
p a r e ntes. A mã e p a g a v a a s
m e l h ores escolas . Q u e r i a
u m a vida melho r p a r a a
filh a . Eu achava a q u i l o
a d m irável.
A n o s depois, con t a r a m : a
m o ç a acabara n a s d r o g a s .
M a r iona morreu a t r o p e l a d a
e m f rente à esco l a o n d e
v e n d ia pipocas.
Destinos
Robertson Frizero
Na apresentação da
escola o estranhamento.
Burburinho dos adultos.
Olhares à espreita pelo
pátio. Nunca antes teve
isso ali. Necessidade de
reunião, talvez. O pequeno
ia feliz, entre as duas,
agarrado pelas mãos. Elas
sorriam, mas, de
prontidão para lutar, caso
preciso fosse. Mães não
titubeiam em defesa da
cria.
35
Emoção
Elis Cavalheiro
A s d ores piorara m . O
tá x i ia o mais r á p i d o q u e
p o d i a. O trânsit o e s t a v a
c a ó t ico. O marid o a f a g o u
s u a mão e ela se n t i u - s e
s e g u ra; outra co n t r a ç ã o e
o g r ito foi maio r . O t á x i
c h e g ou ao hosp i t a l . J á e r a
ta r d e: o filho n a s c e u n o s
b r a ç os do pai.
36
Erro Médico
Silvio Marconi
O m enino, inteli g e n t e ,
s a u d ável e serel e p e , e
a i n d a ágil nos e s p o r t e s ,
a g o r a já é quase u m
a d o l escente.
A c o ncepção fo i e m m e i o
à s a lucinações d a m ã e . . .
E r a m dias torm e n t o s o s .
A s p rimeiras m u d a n ç a s
n o c orpo levaram - n a a o
m é d ico, que a tr a n q u i l i z o u :
é u m a hérnia d e d i s c o , e s s e
a n a l gésico vai m e l h o r a r a
d o r . Talvez foss e a v e r d a d e
q u e ela queria o u v i r
n a q u ela hora. 37
P o r fim, el e , quando qu i s
s e m ostrar ao mu n d o , n u m
e x a m e de image m , j á t i n h a
d o z e semanas - e l e s o u b e
s e e sconder mu i t o b e m .
V e i o pra esse mu n d o
m o s trando que é e s p e r t o ,
d e s d e os tempo s d a
b a r r iga da mãe .
Habibi
Brígida De Poli
E u s abia que só v o c ê
s e r i a aceito no p a í s
e s t r angeiro. Mes m o a s s i m ,
q u i s acompanhá - l o a t é s e u
d e s t ino para ter c e r t e z a d e
q u e chegaria bem .
A o m e colocare m d e
v o l t a no barco, s ó p e n s a v a
s e v ocê entender i a — n ã o o
a b a n donei por v o n t a d e
p r ó p ria. Queria o m e l h o r
p a r a a sua vida, m e s m o
is s o me custando a d o r
in f i nita da sua a u s ê n c i a .
Q u a ndo a sauda d e
a p e r ta, fecho os o l h o s p a r a
39
s e n t ir a água do m a r n a s
m i n has pernas e s u a v o z
d i z e ndo — "ami a l e a z i z a " .
S i m , serei sempr e s u a
m a m ãe querida. É q u a n d o
a s l ágrimas vêm, s a l g a n d o
o o c eano que nos s e p a r a ,
m e u "habibi".
Lamento Ana Paula Figueiredo
M i n ha mãe nunc a
p e r m itiu que eu m e
a p r o ximasse, com o é d e
s e e sperar de um a
r e l a ção entre mã e e f i l h a .
N o s aniversários e d a t a s
c o m emorativas o s
a b r a ços eram sem p r e
tímid os e rápido s . O
a m o r não existia e m
p a l a vras, ficava i m p l í c i t o
n o s gestos, na e s p e r a
c o m a comida p r o n t a , n o
c h á preparado pa r a
tr a t ar o resfriado .
41
Q u a ndo criança , e u n ã o
c o m preendia e i n v e j a v a o
a f e t o escancarad o d e
m i n has amigas e s u a s
m ã e s. Demorei, m a s
e n t e ndi o que se p a s s a v a
n a r elação com m i n h a m ã e .
E l a não consegui a o f e r e c e r
a q u i lo que não r e c e b e r a .
S a b i a sentir, ma s n ã o
e x p r essar.
N o l eito do hosp i t a l ,
q u a n do se prep a r a v a p a r a
d e s p edir-se da v i d a , e m u m
s u s s urro pediu-m e p e r d ã o ,
e u m a única vez e m m e u s
tr i n ta e cinco a n o s , o u v i - a
d i z e r que me ama v a .
Lavadeira Cida Nunes
E m u m cesto
im p rovisado, lá e s t a v a a
p e q u ena Lindam a r .
F i c a va ali enqua n t o
M a r ia, sua mãe , l a v a v a
r o u p as na marg e m d o r i o
U b e rabinha, se m p r e
a t e n ta, cantarol a n d o
m ú s icas de Elis R e g i n a .
D e r epente, a mu l h e r
o l h o u, não viu a m e n i n a ,
s e u coração disp a r o u .
U m a dor aguda d e
p r e o cupação no c o r a ç ã o .
M e r gulhou no r i o ,
a f l i ta; quando e m e r g i u ,
43
u m a surpresa! Li n d a m a r
e s t a va engatinha n d o n a
m a r gem, rumo à s u a
c a s a . Maria susp i r o u
a l i v iada, saiu c o r r e n d o
a t r á s da pequena .
B e i j ou-a e abraç o u - a
v á r i as vezes, ac a l m a n d o
o s e u coração.
- Ma mãe te ama ! ! ! -
m u r murou, agra d e c i d a .
Libertação
Doralino Souza
45
Mãe
Renata Lima
Q u a se todas as c r i a n ç a s
d a q u ela cidade z i n h a
n a s c eram pelas m ã o s d a D .
M a r ia. Experient e , j á
c o n t ava quanta s l u a s i a m
d a r para a mulhe r b u c h u d a
p a r i r. Quase sem p r e d a v a
c e r t o. Mas, um d i a , e l a
e r r o u, e Né sent i u a s d o r e s
d o p arto antes d o t e m p o .
M a n dou o maior z i n h o i r
a t r á s da parteir a . P e g o u
M a r ia despreve n i d a . A t é
q u e se ajeitou e c r u z o u a
c i d a de, era tard e .
47
A m enina já tinh a
n a s c ido sozinha e , p a r a
d e s e spero da m ã e , c o m o
u m b igo enrolad o n o
p e s c oço. A parte i r a
e n t r ou no quar t o e d e u o
p r o g nóstico:
— E ssa menina v a i s e r
a d v i nha — gest i c u l o u ,
e x p l icando a raz ã o d o
u m b igo apertad o à
g a r g anta da recé m -
n a s c ida.
Maternidade
Robertson Frizero
D a l i la ouviu em s i l ê n c i o a
c o n f issão. Naque l e t e m p o ,
e r a possível um h o m e m
c h e g ar virgem ao
c a s a mento.
— T eu segredo e s t á
g u a r dado. — El a
tr a n quilizou-o. — S e j a
d i s c reto.
S e g u iram moran d o
ju n t os; dormiam n a m e s m a
c a m a. Quando a s i r m ã s
p e r g untavam-lh e d a v i d a d e
c a s a da, ela sorr i a .
49
S e i s anos de cas a m e n t o
te c e ram laços. S e m
tr o c arem carícia s , c r i a r a m
g o s t os, compar t i l h a r a m
h á b i tos. Até sua i r m ã
s o f r er um erro m é d i c o e
p e r d er os movime n t o s .
D a l i la imaginou o c u n h a d o
a p á t ico, o sobri n h o
p e q u eno sem co l o . . .
S e i s dias depois ,
p a r t iria sem cul p a . O
m a r ido nada en t e n d e u .
— J á podes viver t u a
v i d a . — Ela entr e g o u - l h e
o s p apéis do div ó r c i o . —
E u p reciso ser m ã e .
Minha Mãe
Brígida De Poli
H á a nos, os cinc o i r m ã o s
p r e p aravam a m e s a e u m
c a r d ápio especia l p a r a
a l m o çarem com a m ã e .
S e m pre fora um e n c o n t r o
fr a t erno, ainda m a i s a g o r a
q u e todos eram a d u l t o s e
c a s a dos. Já esta v a m
r e u n idos quand o a m ã e
to c o u a c a mpainha e
e n t r ou de mãos d a d a s c o m
o m e nino apare n t a n d o d e z
a n o s . Surpresos, o u v i r a m a
m ã e anunciar q u e a d o t a r a
o g a roto.
52
No Céu
Janice Nodari
M a r ia de Fátim a
a g a r rava-se a um c o l a r ,
fe i t o de macarrã o p i n t a d o
c o m tinta guache . T e n t a v a
le m b rar-se do mo m e n t o
e m q ue a filha h a v i a
p a r t ido, mas a m e m ó r i a
n ã o cooperava.
— D o n a Maria, hoj e a
s e n h ora tem visi t a , v a m o s
g u a r dar esse col a r ? — A
e n f e rmeira esten d e u a m ã o
e m v ão.
M a r ia agarrou- s e à s
c o n t as coloridas e n r o l a n d o
o b a rbante no pu l s o . 54
S u r p reendeu-se c o m a
jo v e m que entr a v a n o
q u a r to. P a r e cia com su a
mãe.
A m oça abaixou p e r t o d e
s u a cadeira, apo i a n d o a
m ã o sobre aque l a q u e
s e g u rava o colar :
— V o c ê ainda guar d a
e s s e colar, mãe?
M a r ia a olhou co n f u s a , o
to q u e era conhec i d o , m a s
n ã o combinavam c o m a
im a g em que via . A m o ç a ,
in s i stente, deu- l h e u m
b e i j o no rosto. M a r i a d e
F á t i ma fechou os o l h o s e
a c e i tou o carinh o
e s t r anho.
N o c alor do afet o , e l a
r e e n controu a fi l h a ,
c r i a nça em seu c o r a ç ã o e
e m s uas lembra n ç a s ,
a d u l ta a enlaçar - l h e a
p r e s ença.
M ã o s unidas no c o l a r d e
m a c arrão tingira m - n a d a s
le m b ranças de s e r m ã e .
O Começo
Doralino Souza
U m a velha part e i r a
s o c o rreu minha m ã e , d i s s e
q u e meu choro f o i c o n t i d o ,
to d a via, carrega d o d e d o r ,
d e p o is falou que e u s e r i a
fe l i z. Aí ela me d e i t o u n o
b r a ç o esquerdo d e m i n h a
m ã e , já que é ao l a d o d o
c o r a ção, e eu gr u d e i n a
te t a . Então foi- s e e m b o r a ,
a m ã e me conto u . S ó q u e
e u a cho que nu n c a h o u v e
p a r t eira nenhuma . A c h o
q u e sempre foi s ó n ó s
d u a s . Minha mã e
57
p e r m aneceu dei t a d a n a
c a m a improvisa d a e n t r e
d o i s cochos, fei t o a n i m a l
q u e pariu e fico u a l a m b e r
a c r ia. Quatro d i a s d e p o i s
r e s o lveu levanta r p r a
b u s c ar rumo, p r a e l a e p r a
mim.
O Farol
Guilherme Balarin
A e s curidão apod e r a v a -
s e d o mundo in t e i r o , c o m o
v a s t o oceano de b r e u . A l u z
d o s dois irmãos d i m i n u í a
d e v a gar. Ondas d e
e s c u ridão batiam n a p o r t a .
A f o me uivava pe l a s
ja n e las, ressaca ; q u e r i a e r a
q u e b rar no ven t r e . O
m u n do apagara, m a s a q u e l a
c a s a teimava em m a n t e r o
b r i l ho. Os irmão s
d i s p utavam um p e d a ç o d e
p ã o solado. A mã e ,
p a c i ente, pegou o p ã o e o
59
r e p a rtiu. Metade p a r a c a d a .
O p ã o atiçou um p o u c o a
lu z dos irmãos. A m ã e s a b i a
q u e , com o tem p o , s e u s
filh o s também se
a p a g ariam. A luz d a m ã e
n ã o falhava; ela n ã o p o d i a
d e i x ar-se apagar . B r i l h a v a
in t e nsa.
O Pai
Brígida De Poli
C o n heceram-se m u i t o
jo v e ns na colôni a . C a s a r a m ,
tive ram oito fil h o s , f o r a o s
n a t i mortos. O ma r i d o
r e c l amava — Po r q u e e s s a
m u lh er não par a d e
e n g r avidar? — co m o s e e l e
n ã o exigisse sex o s e m o l h a r
a f o lhinha.
U m d ia, ele arru m o u u m
fa r n el e sumiu. E l a e n x u g o u
a s l ágrimas e pa s s o u a l a v a r
r o u p a para fora. P r e c i s a v a
a l i m entar as cri a n ç a s
m e n ores. As ma i s v e l h a s
61
fo r a m parar em c a s a s d e
fa m ília. Subiam n o
b a n q uinho para a l c a n ç a r a
p i a e lavar a louç a d a
p a t r oa.
D é c a das depois , o p a i
r e a p areceu, velh o e d o e n t e .
A s f ilhas o acol h e r a m .
C u i d aram dele a t é m o r r e r .
A m ãe não diss e u m a i .
Outrora
Robertson Frizero
D e z anos havia m s e
p a s s ado quando n o s
e n c o ntramos no v a m e n t e .
U m a braço frou x o
c e l e brou o encon t r o , a l i
m e s mo, na rua.
— C omo você es t á l i n d a
e c r escida!
E u n ão consegu i a d i z e r
m ã e; so m ente,
“ F r a ncisca.” Mai s s e t e
a n o s distantes, j á a d u l t a ,
e u a busava do “m a m ã e ” .
F o r a m quatro a n o s a s s i m ,
a t é perde-la par a s e m p r e .
65
Presente
Dedé Ribeiro
R e c e bendo, pel a
p r i m eira vez, aq u e l e s e r
m i n úsculo em s e u s
b r a ç os, a mãe pe r c e b e u
q u e havia perdid o o
d i r e ito de morre r .
66
Primeiro Dia
Cida Nunes
67
Profecia
Ana Aygadoux
S e l m a sempre d i z i a à
s u a filha que em c a s a q u e
te m criança, uma l u z e s t á
s e m pre acesa. Sa m a n t h a
n u n ca prestou mu i t a
a t e n ção ao velho d i t a d o ,
p o i s decidira qu e n u n c a
te r i a um filho. E s s a
r e s o lução foi to m a d a
q u a n do, aos vint e e c i n c o
a n o s , perdeu seu ú n i c o
ir m ã o, dez anos m a i s n o v o ,
e n g o lido pelo ma r r e v o l t o .
A m ãe ainda er a n o v a ,
a p e n as sessenta e n o v e
68
a n o s , mas o sofr i m e n t o a
le v o u a viver nu m m u n d o
s ó s eu. Hoje Sam a n t h a
c o n f irma a sabed o r i a d e
s u a mãe. Mesmo s e m
filh o s, deixa se m p r e u m a
lu z acesa. A vid a a f e z m ã e
d e s ua própria m ã e .
Quem Cala, Consente
Robertson Frizero
P a r a a professor a : " É o
je i t inho dela".
P a r a a psicóloga : " É s ó
d e s e nho de crian ç a " .
P a r a a escola: " N ã o h á
n a d a errado".
P a r a a vizinha: " N ã o s e
m e ta ".
P a r a a avó: "Ele é b o m ,
s u s t enta as cria n ç a s " .
P a r a a filha: "M e n t i r o s a !
N u n ca repita iss o " .
P a r a a delegada: " N u n c a
im a g inei, doutor a ! " .
70
Realizando desejos
Osana Santos
F o r a m duas hor a s d e
m u ita dedicaçã o .
— E s t e parto foi
c o m plicado! — S u s p i r o u o
o b s t etra, alivia d o .
D e s d e o início, L a u r i t a
s a b i a que seria d i f í c i l . N ã o
e r a só a gravide z d e p o i s d o s
q u a r enta e cinco ; c o n v i v e r
c o m a filha e ou v i - l a
c h a m ar outra d e m ã e , s e r i a
m u ito pior.
M a s , aceitara a p r o p o s t a .
Pa r a viver o seu s o n h o , n ã o
71
s e i mportou em r e a l i z a r o
d e o utrem.
— O b r igada pela
o p o r tunidade q u e m e d e r a m
d e s er mãe — sus s u r r a v a
L a u r ita para os p a t r õ e s ,
q u e a acompanh a r a m e m
to d o s os momen t o s .
E l e , sim, terá o p r a z e r d e
s e r pai de verda d e ; m a s a
p a t r oa será mãe s e m j a m a i s
s a b e r o que é a d o r d o
p a r t o.
Retratos
Creusa Alves
M i n has bisavós , h á
m u ito tempo, e s c o l h e r a m
r e t a lhos colorid o s , c o m
e l e m entos da n a t u r e z a , e
fize r am uma lind í s s i m a
c o l c ha, sediment a r a m o
c h ã o batido da c a s a . A s
a v ó s usaram re t a l h o s
ilus t rados de fa t o s e
p e s s oas e tapara m a s
p a r e des. As mã e s c r i a r a m
lo n a s, ilustrand o
c o n q uistas e sau d a d e s , e
73
e n t e lharam a cas a . F o i l á
q u e me surpree n d i c o m
u m m enininho m e
c h a m ando: “Mãe ! ” .
Revelação
Dora Lampert
A v ó mexia uma p a n e l a
s o b r e o fogão à l e n h a ; o
m o m ento precis o — e l a d e
c o s t as para mim.
D e i um suspiro c o m p r i d o ;
a s p alavras, vom i t a d a s :
— E s t ou grávida.
E l a virou-se len t a .
P r o c urou meu o l h o s
e n f i ados nos bor d a d o s d a
v e l h a toalha de m e s a .
F o i com o canto d o o l h a r
q u e vi o dedo e m r iste
a p o n tando para o c h ã o — a s
tá b u as largas de s d e a 75
e x i s tência da ca s a . O p o n t o
te m ido das crian ç a s
c r e s cidas alí — o m e t r o
q u a d rado defro n t e o f o g ã o .
A p r imeira frase a p r e n d i d a
p o r todas era se m p r e e p a r a
s e m pre: H e i s s, isso quei m a.
S u a voz, entre p e d i d o e
o r d e m, soou mo r n a , t e r n a .
— A q u i vou criar m a i s
e s s a criança.
E u t inha apena s q u i n z e
anos.
Ritual
Ana Aygadoux
T o d os os dias, M a r i a n a
fing ia dormir, s ó p a r a
s e n t ir a mãe ent r a r n o
q u a r to, cobrí-la c o m o
e d r e don, beijar s u a t e s t a e
a f a s tar-se, cami n h a n d o
e m p lumas, a p a g ando a
lu z do quarto an t e s d e
sair.
S ó e ntão, perm i t i a - s e
d o r m ir, com o so n o
a b e n çoado por e l a .
77
Segundos
Robertson Frizero
Q u e stão de segun d o s :
o p e queno disp a r o u ; a
m u ltid ão imped i u - a d e
a c o m panhar em q u e
d i r e ção. Gritou o
n o m ezinho mil v e z e s .
U m a boa alma a p i e d o u - s e
d e l a ; depois, os
a u t o falantes, o g e r e n t e , a
p o l í cia, o marid o . T o d o s
o s o lhos condena v a m - l h e
e m s ilêncio. "Co n t e - n o s
c o m o aconteceu " ,
in d a gavam-lhe t o d o s . E
e l a morreu a cad a
in t e rrogatório.
78
Separação
Viviane Alves
79
Sete
Brígida De Poli
M ã e só tem uma ? E u
tive sete. Quand o f u i
s o r t eada pela na t u r e z a
p a r a nascer filh a d e
A l i c e, ganhei co m o b ô n u s
C l a r a, Virgínia, N e l l y ,
J o a n a, Nica e Mi m i , s u a s
ir m ã s. Sempre c h e i a s d e
c a r i nho e cuidad o s
c o m igo, ouvi de t o d a s a o
lo n g o da vida as p a l a v r a s
" m i n ha filha". Q u e s o r t e
e u t ive!
80
Sina
Robertson Frizero
G e m ma determ i n a r a :
— N ão nascendo m u l h e r ,
C a n dinho cuida d e m i m .
D a r i a filho às a r m a s ,
o u t r o aos padres . O m e n o r
e r a dela.
E n v iuvou, meni n a n ã o
v e i o . C a n dinho apren d e u
tu d o . Irmãos par t i r a m ;
fico u ele pela m ã e , d a r o ç a
a o s banhos.
A m o r, Candinho n u n c a
te v e . Gemma pr o i b i a .
M o r reu de forc a , s e m a n a s
d e p o is da mãe.
81
Sintonia
Maurício Silva
A m a mentou. Em
a g r a decimento, r e c e b e u
u m o lhar terno ,
p e n e trante.
— T ambém te am o
— R etribuiu a mã e .
82
Transparente
Janice Nodari
— M eu bebê...
A v o z, um misto d e
o r g u lho e cansaç o , f o i
a b a f ada pelos
c u m primentos s e n d o
tr o c ados entre o p a i , o s
a v ó s e o médico.
N i n g uém a olho u n o s
o l h o s ou lhe dir i g i u
p a l a vras. Alguém v e i o e
tiro u o bebê de s e u l a d o .
E r a mãe. E ficar a
tr a n sparente.
83
Uma Conversa
Renata Lima
A m ulher coloc o u a
m e n ina no colo .
— J á é mocinha , t e m
c i n c o anos. Deve t e r
p e r c ebido que so u v e l h a
p a r a ser sua mãe . . . E l a
p r e c isou viajar. P e d i u
q u e cuidasse de v o c ê .
— Q uando ela v a i
v o l t ar?
— L ogo.
— A té lá, posso t e
c h a m ar de mãe?
A m ulher sorriu.
84
Verdade Indesejada
Ana Paula Figueiredo
A g a c hado, o rapa z
d e p o sitava crisâ n t e m o s n o
tú m ulo. Antes, p o r é m ,
limp ara o entorn o , t i r a r a a s
v e l a s queimada s , t r o c a r a a s
flor e s e a água n o s v a s o s .
U m a vez ao ano e l e t i n h a
e s s e compromis s o c o n s i g o .
V i c e nte nunca ac e i t o u a
a u s ê ncia da mã e . S e n t i a
fa l t a daquilo qu e n u n c a
v i v e ra. Não bast a s s e a
c u l p a que carreg a v a , o s
ir m ã os eram in d i f e r e n t e s a
87
e l e , como se não e x i s t i s s e ,
o u n ão mereces s e u m a
e x i s tência. Agia s e m p r e d a
m e s ma forma: q u a s e a o
fina l do dia lev a v a a s f l o r e s
p a r a a mãe; long e d o s
o l h a res conden á v e i s , e l e
o r a v a e resignav a - s e a o
p e n s ar que sem p r e t e r i a m
a q u e la data para
c o m partilhar.
Vivência
Ana Mello
S o b r eviviam co m o
q u e ela catava n a s
lixe i ras do cent r o d a
c i d a de. Mas Elis a
s o n h ava com um a v i d a
m e l h or para eles .
C o m er o que so b r a v a d o s
p r a t os dos filho s n ã o
s a c i ava sua fome , m a s
e n c h ia seu coraç ã o c o m o
r a s t ro de suas b o c a s q u e
s o r r iam como s e f o s s e
u m b anquete.
89
Voa, Minha Pequena
Daniel Waismann
90
Vó Joaquina
Cláudia Moura
M i ú da, compene t r a d a ,
e r a de poucas pa l a v r a s . S e u
o l h a r impunha r e s p e i t o e
a u t o ridade. Cria n ç a s
d e v i am entrar mu d a s e s a i r
c a l a das. Falar, s ó q u a n d o
fo s s e lhe dada a v e z . R e s t o
d e c omida no p r a t o ,
in t o lerável.
D e s p erdícios, nu n c a
e r a m permitido s . T u d o s e
r e a p roveitava, d e s d e a
b a n a na passada d o p o n t o
q u e se transform a v a e m
p i c o lés, até ves t i d o s
91
a n t i gos, em colc h a s d e
r e t a lhos. Todos o s s e u s
m o v imentos era m c h e i o s
d e s ignificados e , s u a s
p a l a vras, verdad e i r o s
e n s i namentos. A s f é r i a s
n a c asa dela inc l u í a m
a c o r dar às cinco d a
m a n hã para pis a r o m i l h o
p a r a o cuscuz no v e l h o
p i l ã o e lavar lo u ç a s n o
jira u . Obrigatór i o n ã o
e r a , mas fazia n ã o p r a
ver!
Zelos
Lucimar Vieira
L a v a deira profis s i o n a l
e m ã e solteira. C o n h e c i a
to d o mundo na c i d a d e .
P a s s ava o dia na
la v a nderia públi c a , m a s
q u a n do chegava e m c a s a ,
q u e r ia ver a tar e f a d e c a s a
d o s quatro filho s , q u e c o m
s a c r ifício os ma n t i n h a n a
e s c o la. Não se c o n t e n t a v a
c o m respostas cu r t a s n o s
c a d e rnos. Quer i a v e r
p á g i na cheia. Co m a n d a v a
a q u e la família c o m m ã o s
d e f erro.
93
— S e é pobre tem q u e
e s t u dar, pra ser g e n t e n a
v i d a . — Repetia i s s o t o d o
d i a enquanto olh a v a
n o s s os caderno s .
A p e nas aos doz e a n o s ,
e u d escobri que m i n h a
m ã e era analfabe t a .
Zênite Robertson Frizero
— M ais forte!
A m ãe fazia-lhe a s
v o n t ades sempr e q u e p o d i a .
E m p urrar o bal a n ç o , a o
m e n os, não cus t a v a o
d i n h eiro suado d a s
c o s t uras. Por so r t e , o f i l h o
n ã o era de mim o s — q u e r i a
a p e n as voar alto .
O s o nho de ser p i l o t o f o i
im p ossível — fez - s e u m
c o m issário de bo r d o .
Q u a ndo pôde, r e s g a t o u a
m ã e da pobreza e c o m p r o u -
lh e um apartam e n t o —
a n d a r alto, pert o d o c é u .
95
Este ebook foi produzido pelo projeto Literatura Mínima,
cujo objetivo é a divulgação da Literatura Minimalista. O
livro tem distribuição gratuita e agradecemos sua
distribuição e divulgação.
@literaturaminima
www.frizero.com.br
Baixe nossas outras antologias
gratuitamente pelo site:
www.frizero.com.br