O Ramayana é um poema épico antigo e muito amado sobre uma encarnação do Supremo Senhor Krsna na Terra, cerca de 18 milhões de anos atrás, como Ramacandra, o rei ideal. A história é rica em intrigas, heroísmo, romance e aventura, e também em monstros aterradores e criaturas estranhas o bastante para acanhar qualquer ficção científica. Ainda mais estranho para a mente moderna é que essa história deve ser compreendida como totalmente real. Aqui, vemos o Senhor Ramacandra, ou Rama, em compleição esverdeada, acompanhado por Seu irmão Laksmana e pelo grande herói macaco de nome Hanuman. A história narra as maravilhosas qualidades de Rama e os planejamentos para Ele ser coroado rei, planejamentos estes temporariamente impedidos de concretização, e o Seu subseqüente exílio na floresta por muitos anos, onde derrotou e matou muitos demônios perigosos. Próximo ao fim do exílio, Sua esposa Sita foi raptada pelo mais perigoso de todos os demônios, Ravana, aquele possuidor de dez cabeças. Rama, exilado de Seu exército legítimo, encontrou ajuda em uma raça de macacos inteligentes, e uma grande batalha se sucedeu... Quando Rama e Laksmana eram jovens recém-chegados à idade adulta, o sábio Visvamitra solicitou a ajuda deles, pedindo-lhes que derrotassem poderosos demônios raksasas que estavam perturbando os sacrifícios realizados pelos sábios para o bem do mundo. Os sacrifícios tinham início, a noite caía, e os demônios atacavam, poluindo a arena sacrificial com substâncias impuras, como sangue e outros constituintes corpóreos. Rama e Laksmana, tendo sido bem treinados no uso de armas, flecharam os demônios e atiraram-nos centenas de quilômetros oceano adentro. O pai dos rapazes, o rei Dasaratha, expressara o desejo de encontrar para eles esposas adequadas, em razão do que Visvamrta os levou em seguida ao reino de Mithila. Lá, o rei Janaka realizaria uma cerimônia a fim de escolher um esposo para a sua filha Sita. O requerimento estabelecido por ele era que o homem a se casar com sua filha teria de ser capaz de erguer e encordoar um grande arco que fora do Senhor Siva. O arco era misticamente pesado, em virtude do que eram necessários trezentos homens para puxarem a caixa onde ele era mantido, e, até então, ninguém havia sido capaz de sequer erguê-lo. Rama facilmente ergueu o arco e não apenas o encordoou, senão que puxou para trás a corda e arqueou-o até que se partisse produzindo um grande estalo, estalo este cuja força fez com que todos na assembléia cambaleassem para trás. Sita enguirlandou Rama com uma guirlanda de flores frescas para indicar tê-lO aceito como seu esposo. O tempo passou alegremente em Ayodhya. O rei Dasaratha decidiu aposentar-se e coroar Rama o próximo rei. A cidade regozijou-se e fez preparações para o grande festival. Uma pessoa, entretanto, não ficou contente. Manthara era tal pessoa, a criada corcunda da rainha Kaikeyi, a mais nova das três rainhas do rei Dasaratha e também a sua favorita. Manthara aproximou- se de Kaikeyi e a convenceu de que ela, Kaikeyi, agora não tinha mais futuro. Confabulando em segredo, as duas mulheres tramaram uma conspiração envolvendo dois favores especiais que Dasaratha certa vez prometera dar a Kaikeyi muitos anos atrás quando ela o salvou em um campo de batalha. À época, ela não decidiu o que queria, e havia deixado os favores para um tempo quando ela poderia precisar deles. A rainha Kaikeyi recolheu-se para a sala interior de seus aposentos, uma sala reservada para a disposição de descontentamento. Ela soltou seu cabelo, atirou suas jóias pelo cômodo e deitou-se no chão. Quando Dasaratha a encontrou lá, ele perguntou a ela o que havia de errado, ao que ela respondeu desejar então receber os dois favores a ela devidos. Quando seu preocupado esposo prometeu conceder-lhe qualquer coisa que ela quisesse, ela lhe disse: “Conceda-me que meu filho Bharata seja coroado rei ao invés de Rama, e exile Rama na floresta por 12 anos!”. Dasaratha não podia voltar atrás em sua promessa, e ninguém poderia dissuadir Kaikeyi de sua determinação. Dasaratha era um homem de coração partido. Rama aceitou a ordem de ir para a floresta como se fosse uma requisição de Seu próprio pai, e tanto Seu irmão Laksmana como Sua esposa, Sita, insistiram em acompanhá-lO em tal exílio. Todos eles vestiram trajes de casca de árvore, os quais foram avidamente providenciados por Kaikeyi. Um quadrigário os conduziu para fora da cidade. Toda a população, movida por pesar e por amor ao Senhor Rama, seguiu-os e dormiu na floresta com eles. Todavia, cedo pela manhã, antes que os cidadãos acordassem, o grupo exilado silenciosamente embarcou na quadriga a fim de fugirem do povo. Laksmana construiu um chalé para Rama e Sita, e lá todos eles viveram uma vida simples e humilde por muitos anos. Os sábios e eremitas da floresta circundante frequentemente iam visitá-los e solicitavam proteção contra os demônios raksasas que estavam atacando e matando sábios. Rama e Laksmana mataram muitos de tais demônios comedores de pessoas ao longo dos anos. Um dia, uma demônia chamada Surpanakha passou por acaso próxima ao chalé. Escondendo-se nas árvores, ficou a contemplar a beleza da forma de Rama e a desejá-lO sexualmente. Ela abordou Rama e solicitou-Lhe que deixasse Sua esposa “magricela”, Sita, e se casasse com ela. Rama havia feito o voto de não aceitar nenhuma outra esposa senão Sita, muito embora a cultura de seu tempo O permitisse ter muitas esposas. Ele a troçou: “Eu sou casado, mas por que não ficas com meu irmão mais novo, que não tem nenhuma esposa aqui consigo?”. Ela voltou seu olhar para Laksmana e o considerou também muito atrativo. Laksmana, contudo, também entrou no mesmo jogo, oferecendo Rama como a melhor escolha. Irando-se, Surpanakha repentinamente atacou Sita, ante o que Laksmana, em um instante, decepou o nariz e as orelhas de Surpanakha. Surpanakha primeiramente recorreu ao seu irmão Khara, o qual possuía um exército à sua disposição. Vendo a desfiguração de sua irmã e sentindo que sua posição como o senhor demônio da floresta havia sido insultada, Khara primeiramente enviou quatorze demônios guerreiros para matarem os três humanos. Rama, entretanto, matou-os todos, em razão do que Khara reuniu seu exército com milhares de guerreiros e rumou para o ataque. Rama matou todas as tropas de Khara, e seus cavalos, quadrigário, quadriga e arco foram todos destruídos. Após um duelo, o próprio Khara foi morto, e Rama revelou-Se completamente vitorioso. Laksmana não participou dessa contenda; ele ficou fazendo a guarda de Sita. Surpanakha foi, em seguida, ao seu irmão mais velho, de nome Ravana, o mais perigoso de todos os demônios raksasas, ele que era possuidor de dez cabeças. Astuciosa em seus métodos de buscar por vingança, ela não apenas relatou em prantos a Ravana sobre seu desfiguramento e sobre a morte de seu irmão Khara, mas também encontrou oportunidade para mencionar a Ravana que Sita era a mulher mais bela do mundo. Ravana, famoso por derrotar e aterrorizar os semideuses, era conhecido também por seu harém, que ele acumulara seqüestrando esposas e princesas de todo o universo. Agora, tornou- se obcecado pela idéia de roubar Sita de Rama. Ravana bolou um plano: Maricha, um raksasa amigo dele, se disfarçaria como um veado dourado, místico e belo, e apareceria próximo ao chalé de Rama, Sita e Laksmana.
Sita, enlevando-se com a
visão do mesmo, pediu a Rama para capturar o veadinho como um animal de estimação. Rama de fato concordou em adentrar a floresta com o intento de tentar capturar o veado; todavia, dado que Laksmana suspeitava de algo por trás daquilo, Rama ordenou que Laksmana permanecesse no chalé e desse proteção a Sita. Na floresta, Rama suspeitou do atraiçoamento e atirou uma flecha para matar o veado místico. Enquanto Maricha agonizava deitado, esforçou- se para exclamar: “Socorro! Laksmana! Socorro!”, o que fez com a voz de Rama. Ouvindo isso, Sita implorou a Laksmana que partisse em auxílio a Rama. Laksmana desenhou um círculo místico de proteção ao redor de Sita e do chalé e disse a Sita que permanecesse dentro do círculo. Ele, então, partiu a fim de encontrar Rama. Uma vez que ele partira, Ravana foi até o chalé disfarçado de um brahmana idoso e enfraquecido por falta de alimento. Tomada de compaixão, Sita ofereceu-lhe alimento, dando um passo para fora do círculo para fazê-lo. Ravana imediatamente revelou sua natureza verdadeira e raptou Sita. Não encontrando Sita, Rama correu pela floresta lamentando enquanto exclamava o nome de Sita e perguntava se alguém sabia de seu paradeiro. Enquanto isso, Ravana, tendo transposto o oceano, havia carregado Sita até o seu reino de Lanka, onde a deixou sob guarda, rodeada por demônias em um pequeno bosque. Devido a uma maldição, Ravana, temendo a morte, não ousava forçar-se sobre uma mulher, mas ele contava que ganharia Sita por seu considerável charme masculino. Ante o evento do fracasso de seu encanto masculino, ele disse a Sita que, caso ela não o aceitasse; ao final de um ano, ele a devoraria como seu desjejum. O semideus Indra foi até Sita com uma tigela de arroz doce, que, tendo sido oferecido à Suprema Personalidade de Deus, era um alimento espiritual. O arroz doce carregava a bênção de que aquele que o comesse jamais sentiria fome. Rama e Laksmana encontraram o agonizante pássaro Jatayu, que havia lutado com Ravana e tentando socorrer Sita. Os irmãos então partiram pela floresta em direção ao oceano, a centenas de quilômetros de distância. No caminho, foram repentinamente capturados por um demônio gigantesco e terrível chamado Kabandha, demônio este destituído de cabeça e possuidor de braços de 13 quilômetros de comprimento. Rama e Laksmana lutaram, ceifando-lhe os grandes braços, e Kabandha caiu ao chão. Na selva, Rama e Laksmana encontraram os macacos Sugriva, Hanuman e seus companheiros, que aceitaram ajudar Rama na luta contra Ravana. Um grupo de macacos foi enviado em direção ao sul, rumo ao oceano. Tendo sido informados por uma testemunha que Sita havia sido levada por sobre o oceano, os macacos selecionaram Hanuman como o único capaz de pulá-lo. Destarte, Hanuman tornou-se imenso e saltou do topo de uma montanha, voando por sobre as ondas até Lanka em busca de Sita. Tendo chegado a Lanka, Hanuman fez-se imperceptivelmente pequeno e rondou a cidade até encontrar Sita no pequeno bosque rodeada por demônias a dormirem. No primeiro momento, Sita suspeitou que aquilo poderia se tratar de outro artifício de Ravana para atormentá-la, mas Hanuman convenceu-a de que não, isso cantando as glórias de Rama, descrevendo-O corretamente e, por fim, presenteando-a com o anel de Rama, o qual ela reconheceu. Hanuman foi capturado pelos soldados de Ravana, que, não levando um mensageiro-macaco muito a sério, decidiram humilhá-lo ao invés de matá-lo. Eles incendiaram sua calda, mas ele retaliou incendiando a cidade. Ele proferiu um aviso de que o reino de Ravana estava fadado à ruína em decorrência da ofensa de Sita ter sido raptada, após o que saltou novamente por sobre o oceano para levar notícias ao Senhor Rama. Rama tinha um exército de milhões de macacos, mas havia uma grande extensão de água entre Suas tropas e Seu objetivo. O semideus do oceano prometeu, entretanto, que pedras boiariam de modo que uma ponte pudesse ser construída. Os macacos trabalharam duramente, carregando não apenas pedregulhos, mas também árvores, para construírem a ponte, que, por fim, foi concluída. Todo o exército dos macacos marchou por ela. A cidade de Lanka acordou na manhã seguinte rodeada por milhões de soldados-macacos. Ravana também tinha vastas tropas de demônios à sua disposição, e uma grande batalha se fez acontecer. A batalha prosseguiu violentamente por dias. Visto que estava perdendo seus generais mais importantes, Ravana decidiu que era o momento de despertar Kumbakarna de seu sono. Kumbakarna era irmão de Ravana. Seu atributo único era o fato dele ser um gigante. Tempos atrás, ele criou grande caos no universo por comer muitíssimas pessoas, o que fez com que os semideuses amaldiçoassem-no a dormir 364 dias ao ano, acordando apenas um dia para comer. Quando Kumbakarna finalmente despertou e juntou-se à batalha, ele aniquilava milhares de macacos com um mero brandir de sua maça, e, com sua mão, pegava punhados de macaco, trinta por vez, e os levava até sua boca para então comê-los. Os macacos arremessavam pedras e topos de montanha contra ele, mas sem eficácia alguma. Por fim, Rama o matou, primeiramente cortando um braço, então o outro, então suas pernas, e, finalmente, sua cabeça. Furiosamente seguia a batalha, e Rama e Laksmana foram feridos tão gravemente por flechas especiais que se considerou que somente uma erva específica de uma montanha do Himalaia poderia salvá-los. Hanuman novamente saltou aos céus e voou para o Himalaia; todavia, ao chegar na montanha, ele viu que a montanha não lhe revelava a erva específica que era necessária. Ele, devido a isso, ergueu a montanha inteira e a levou consigo para o campo de batalha, onde peritos puderam encontrar a erva e tratar Rama e Laksmana, bem como todo o exército de macacos. Todos os generais de Ravana haviam sido mortos e agora Ravana pessoalmente desafiava Rama. Para a ocasião, Indra havia dado ao Senhor Rama uma quadriga de ouro, e os dois se confrontaram em uma vigorosa e grandessíssima batalha. Rama atirava flechas que decepavam as cabeças de Ravana, mas, a cada cabeça que caía, outra crescia enquanto Ravana continuava atirando flechas contra Rama. Finalmente, Rama fixou uma grandiosa flecha mística em Seu arco e atingiu Ravana no coração, colocando fim à sua vida. A grande guerra findou-se. Sita foi devolvida a Rama... mas Rama fingiu desconfiar-Se dela. Sita havia sido fiel a Ele ou não? Ele ofereceu liberdade a ela. Com seu coração triturado, Sita preparou uma pira, acendeu a mesma e entrou nas chamas. No instante seguinte, o deus do fogo, Agni, devolveu-a completamente ilesa e disse ao Senhor Rama: “Tendes de aceitá-la, Senhor; ela é completamente pura”. Rama então a aceitou de volta muito afetuosamente. Ele disse a ela: “Eu sabia que foras fiel a Mim; Eu queria, entretanto, provar isso ao mundo inteiro de maneira que ninguém pudesse dizer algo contra ti”. Deste modo, eles alegremente se reuniram novamente. O tempo determinado para o período de exílio então chegou ao fim, e era chegado o momento do retorno a Ayodhya. Rama, Laksmana, Sita, Sugriva, Hanuman e muitos outros embarcaram no maravilhoso aeroplano de flores de Ravana, o qual havia sido roubado dos semideuses, e nele voaram de volta para Ayodhya. Bharata, o irmão de Rama em favor de quem o exílio havia sido tramado, jamais aceitara a posição de rei, senão que havia governado o reino como representante de Rama. Houve grande regozijo ante o triunfante retorno de Rama, o rei legítimo, perfeito e plenamente bem-aventurado.