Expressão Corporal Reflexão acerca dos exercícios propostos em sala de aula
Quando criança pensamos que o tempo é uma contrapartida, uma
métrica rotineira que determina quando comemos ou quando dormimos, quando crescemos passamos a pensar no tempo como inimigo, principalmente se nos sentimos determinados a prosseguir com uma vida que não lhe possui identidade. Quando era criança, passava minhas tardes em casa, e todos os dias no canal televisivo da Mtv passava clipes de música, geralmente do gênero pop, e era durante estas tardes que eu “exercitava” meu corpo dançando da forma como bem entendesse. Por mais que em minha mente estava ali apenas para cumprir uma recomendação médica para que me exercitasse, havia um certo prazer naquilo, mas assim como o tempo procede, o meu levou minhas lembranças boas embora, e o sentimento de insignificância naquilo que fazia apagou toda e qualquer vontade que possuía de dançar, até este momento. O teatro veio para me mostrar o contrário, quando passava muito tempo com medo do futuro, e sentia-me sem um rumo exato ao que seguir, pude perceber que apenas precisava fazer uma ponte entre as minhas vontades de quando criança, para entender que havia de fato, um lugar para mim no mundo. Mas havia também, dentro desta epifania, o sentimento adormecido, que buscava ao todo tempo massificar meus conhecimentos para que me tornasse produtiva, e que, mesmo compreendendo que uma pessoa que possuía conhecimentos interdisciplinares desenvolvida uma melhor performance, ainda não conseguia aplicá-las diante de mim, e pensava que estudar sobre outras áreas, como o canto ou a dança, seriam o que me faria dissociar do teatro, ao invés de complementá-lo. Todos os dias durante a noite, enquanto retornava para casa, passava em frente á uma escola de balé, em seu entorno haviam luzes azuis neon, e uma música suave, ao que me aparentava ser uma música clássica que tocava, e pela janela era possível ver meninas vestidas de saias e coques nos cabelos segurando-se na barra, enquanto performavam algum movimento, e em constância dos dias que se sucediam, sentia-me deslocada, como alguém que possui um desejo ao qual nunca irá realizar, e fora este sentimento que me inspirou no exercício das cenas, a implementar a ideia de sermos estudantes de balé cujas partes de nosso corpo nos levava para um determinado espaço e, durante aquele exercício, enquanto tocava O Lago dos Cisnes de Tchaikovski, tive o pensamento, mesmo que breve, de ser uma daquelas meninas de coque e saias, em uma aula de balé. Quando recebi o resultado de que havia ganhado uma bolsa integral para estudar no Célia Helena, percebi que em minha vida, finalmente estava construindo algo inteiramente meu, e que não se refletia nas vontades das pessoas ao meu redor, e fora durante o exercício do cardume, em uma das minhas primeiras aulas que presenciei nesta matéria, que senti ao que me parecia ser um estalo feito mentalmente, de sentimentos que eu havia deixados adormecidos pela simples constância de permanecer completo silêncio. Neste outro exercício, cada pessoa do grupo dera o nome de uma música que gostava, eu apresentei uma música dos Mutantes – Tempo no Tempo que eu havia conhecido recentemente através de uma amiga muito querida, e quando esta música começara a tocar, senti como se meu corpo possuísse vida própria e que, mesmo sem possuir conhecimento teórico sobre dança, pois nunca havia de fato estudado sobre isso, a cada batida da música eu sentia arrepios diversos, pois senti-me retornar para 8 anos atrás através de fragmentos de uma criança tímida que dançava em frente à televisão desajeitadamente. Naquele exato momento, compreendi como as interdisciplinaridades da arte se conectam, como o seu corpo no teatro se comunica, e de como é importante manter uma consciência corporal não somente para o trabalho do ator, mas para reconhecer as particularidades de seu próprio corpo, e assim conseguir reproduzir e externalizar tais conhecimentos na nossa própria forma de se relacionar com as pessoas, e principalmente com o mundo. Tal fato apresentado, apenas me resta o tempo de agradecer, não somente devido a profissionalidade com que trata a dança, mas também com o amor ao qual ensina sobre ela, e fora isto que até os dias atuais me fazem sair revigorada de sua aula, e que me fazem também possuir a vontade de trilhar outros caminhos e de buscar conhecimentos distintos não apenas para contribuir minha performance como estudante, mas também para suprir esta necessidade que possuía desde criança, de estar sempre em contato com a arte. Muito obrigada, Marcela de Souza 1ºB
Os Cavaleiros da Triste Figura: uma experiência decolonial do Dom Quixote do Bugio: um processo artístico de criação cênica com o Grupo Teatral Boca de Cena de Aracaju - SE