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Subúrbios Maru, Cidade Asahara, Japão

Entre os anos de 1999 e 2000

O sol já estava se pondo, e isso o agonia ainda mais. Andar nessas ruas lhe causa uma
confusão sentimental imensa. Por ora um sentimento de aconchego, por outro, um cheiro de
morte e destruição. Ele vai andando apressado sem sequer olhar para os lados. "Será que
alguém pode me reconhecer?!", ele pensa. Claro que não, afinal existe apenas uma única
gravação dele ainda em má qualidade e com ele encapuzado. O cheiro de um frango assado
ao redor o desconcentra e ele acaba deixando aparecer o seu braço, ou melhor, a falta dele. As
pessoas envolta olham para ele, multidões da periferia já acostumadas com deficientes e
pessoas com características fora do comum, olham para ele como um doido… Coisa que
realmente ele é.

Jean, vestindo um posthaus branquissimo, com listras vermelhas passando de um lado para o
outro. Talvez um dos motivos do povo o ignorar a essa hora era porque a tamanha brancura
ofusca os olhos já caminhando para noturnos. O branco era como ligar uma luz após ter
passado horas no escuro, para alguns é desconfortante até demais, para ele era uma luz após
a morte.

Enfim chegou em seu objetivo. Com parede rústica e mal acabada de tijolos, o lado de trás de
um estabelecimento. Nos tijolos se via o cimento brotando entre as lacunas, e alguns estavam
por parte despedaçados. Uma lesma desce a parede que o tanto chama atenção, Jean apenas
dá um leve chute o suficiente para tirar o bicho da parede porém fraco o suficiente para não
matar. Ele olha para o rastro, e se lembra…

Ele era bem pequeno, e muito mais pálido do que é hoje, nem passava em sua cabeça que o
seu companheiro de aventuras seria corroído numa dor viva. Naquele tempo ele adorava
observar os rastros de lesmas "Olha mamãe, o bichinho deixa uma água colorida e brilhosa"
onde sua mãe, era bem sábia, responde: "O nome desse bichinho é lesma, filho. Quando elas
andam pelo chão toda a sujeira que está nele gruda nos corpos dela e ela a leva, deixando
apenas seu muco arco-íris para trás". Jean pergunta se as lesmas, então, são boas; ela lhe
responde: "Elas são boas, filho. Só que elas podem acabar nos deixando doente… De tanto
delas saírem se arrastando por aí, elas acumulam dias e dias de sujeira dentro delas. E por
isso, elas podem acabar sujando a gente sem que elas percebam"
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A passagem se abre, após ele enfiar mão dele dentro de um buraco de tijolo e apertar um
botão. A parede de tijolos revela uma porta tão camuflada, áspera e dura que seria impossível
de alguém identificar se não soubesse da existência da mesma. Ele abre essa falsa parede e
depois a fecha, em seguida ele começa a se arrastar pelo chão, afim de não ativar as
armadilhas no teto. São estrategicamente preparadas para ativar ao menor sinal de
levantamento. Fruto de vários anos bolando meios de dificultar não só o descobrimento desse
lugar, mas a invasão do mesmo.
"Vaya (caramba)! Tudo isso para entrar no tal Reino de Salvação, espero que vale a pena!" Ele
pensa enraivecido. Não entendia para quê tamanho artíficio, para ele os BTV conseguiriam
'exilar' facilmente essa igreja, assim como as outras. Quem sabe esse surbúbio é tão
insignificante, de modo até singular, numa maneira que eles não encontrem ou nem tenham
interesse.

Se arrastando ele percebe um código gravado no chão de mármore. Mais um truque para
tentar enganar os BTV. Ele prossegue se arratando mais um pouquinho, o chão frio
provavelmente se devia ao ar-condicionado da próxima sala. Jean sente o código certo com o
tato da sua única mão, indicando que estava seguro e já podia se levantar.

Ao levantar ele se vê em frente a uma porta, com a luz da próxima sala passando por baixo
dela. A maçaneta então se meche, e a porta abre, ofuscado pela diferença de luminosidade ele
quase não vê a figura que o esperava.

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