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— Desculpa. Foi só uma forma ruim de me expressar. — Disse mostrando
uma feição de dor.
— Venha aqui, deixe-me ver se consigo fazer-lhe algo. — Aproximando-se de
Toya, o jovem pôs sua mão em cima de suas costelas quebradas e aos poucos,
aquela feição de dor foi desaparecendo.
— O que você fez? —, indagou Toya surpreso.
— Nada de mais, apenas absorvi um pouco de sua dor para mim. Agora deve
estar suportável para andar até o nosso posto seguro mais próximo. — Vamos.
Ficar nesse campo aberto é como assinar nossa própria sentença de morte.
Ao terminar sua frase, uma flecha passou zunindo entre suas cabeças, coisa
que o fez ficar em alerta novamente.
— Apenas abaixe-se! —, gritou enquanto desferia um soco contra o chão que
acabou desnivelando o solo, levantando então uma parede feita de rochedos que
serviu de proteção para os dois naquele instante. — Eu e minha boca grande.
— Pelo menos a mira dessa pessoa não está em dia. — Disse Toya, com um
sorriso nervoso ao rosto.
— Não podemos ficar aqui para sempre.
— E odeio isso ser a nossa realidade, sabe? —, bufou.
Vindo de cima, atravessando a parede de rochedos e então caindo aos pés dos
dois, uma granada de fragmentação continuou rolando até que estivesse cozinhada
o suficiente.
— Mas que por... —, praguejou Toya e em uma fração de segundos ambos
saíram voando por conta da explosão.
De repente, um clarão. Sua visão estava turva e o corpo formigava, não tão
longe também dava para se escutar um barulho como se estivessem chamando por
ele, mas, seus tímpanos estavam danificados e nada mais podia ser escutado de
forma clara.
— TOYA! —, com um grito ao fundo, sua visão foi escurecendo mais e mais
até que seus olhos se fecharam completamente.
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Capítulo 1
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“Mãe!” —, vociferou Toya, internamente.
Largando o segundo cachorro-quente e então correndo para onde o seu ônibus
estava estacionado, nada mais que uma cortina de fumaça feita pelo fogo rodeava
o local. O cheiro da fumaça estava insuportável, tendo Toya que subir um pouco
sua camisa até o nariz para “conseguir” respirar um pouco.
O chão tremia cada vez mais e mais, enquanto Toya adentrava aquele mini-
inferno e o grunhido ficava cada vez mais alto. As chamas agora estavam mais altas
e estava ficando cada vez mais difícil a sua passagem.
“Eu tinha certeza de que era por aqui... ah, Jesus...”
Toya havia sim achado o ônibus, mas junto dele, encontrou também algo que,
sinceramente, não é tão agradável de se ver. Os corpos já mortos, em carne-viva,
caídos em frente à escadinha do ônibus. Foram pegos na explosão do ônibus ao
lado quando estavam tentando sair. O cheiro não era nada agradável, mas, Toya
precisava passar por eles para adentrar o veículo.
Tomando cuidado com as chamas, em um salto, Toya passou do chão para a
escadinha do ônibus, pisando na perna de um dos mortos.
“Foi mal.” —, seguindo veículo adentro, gritou: — MÃE?!
Às pressas, foi até a sua direção, logo tentando ajudá-la a se soltar do cinto
que havia emperrado. O chão tremia cada vez mais, de forma mais rápida e brusca,
mas, isso não era foco de Toya agora.
— Mãe... você está bem? —, indagou Toya extremamente preocupado.
— Estou sim... apenas com a coluna doendo, por conta da movimentação
brusca do ônibus, mas, o cinto me ajudou bastante. — Ela riu. — Por essas coisas
que eu digo para você sempre colocar o cinto.
Sua calma era desumana para a situação em que se encontrava, mas, isto era
algo normal vindo da mãe de Toya. Sempre positiva, serena, rara as vezes se
estressava e quando acontecia, durava no máximo cinco segundos.
— Acho que eu devo ter uma tesoura em minha bolsa... não estou conseguindo
te soltar de jeito nenhum... —, disse Toya.
— Respire, se acalme... vai dar tudo certo, está bem?
Revirando os bolsos de sua mochila, Toya ia jogando as coisas para fora em
busca de uma tesoura, pastilhas, sua escova de dentes, roupas, uma toalha, mas
nada de uma tesoura. Quando se lembrou de um estilete que sua mãe estava
usando mais cedo para moldar um pedaço de madeira, um hobby dela.
Quebrando a ponta mais velha e abrindo um pouco mais o estilete, Toya
cortou o couro do cinto e logo estava ajudando sua mãe a se levantar.
— Vamos! —, disse ele dando seus ombros como apoio para sua mãe.
Mas nesse mesmo instante, os dois ouviram uma respiração pesada, seguida
de uma bufada. Ambos pararam por um segundo, até que pensaram estarem
apenas ouvindo coisas. Só que o ônibus estremeceu e ambos tombaram para o
lado. Os tremores haviam parado, mas, logo ouviram um grunhido ensurdecedor.
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Por uma das únicas janelas que estavam abertas, sem a persiana, deu-se para
notar um enorme braço que possuía uma pelagem de cor marrom em cima da mão.
Novamente o ônibus se estremeceu de forma brusca e o nervosismo de Toya
apenas aumentou. Agora segurando o braço de sua mãe de uma forma mais firme,
o mesmo começou a andar bem mais rápido em direção à saída, mas, foi em vão.
Ouvindo um último grunhido, ambos caíram no chão com o estremecer do
veículo, então choraram-se contra o teto. O ônibus agora estava sendo virado e
manipulado como um brinquedo de criança. Os vidros quebraram, e agora apenas
deu-se para ver um enorme olho espiando pela janela. A criatura agitou-se ainda
mais ao localizar Toya e sua mãe, erguendo o ônibus para o alto com suas enormes
mãos e então penetrando a carcaça do veículo com seu chifre.
— Temos que correr! —, vociferou Toya, tentando conseguir equilíbrio para se
levantar.
Olhando pelo buraco deixado pela criatura, Toya teve uma perfeita visão do
monstro. Um dorso humano, musculoso, ombros largos com mãos e braços
enormes, pernas peludas, sendo ao invés de pés, cascos. Um focinho alongado com
um enorme piercing — argola — no nariz, chifres afiadíssimos na cabeça e olhos
bem escuros que se encontraram com os de Toya.
O mesmo pensou que iria ser engolido por aquele olhar penetrante, o medo
agora corria junto às suas veias e sim, ele estava paralisado. Tão petrificado a ponto
de não conseguir ouvir os chamados de sua mãe, que clamava de forma
desesperada. Os momentos passavam em câmera lenta para Toya, que sentiu o
braço de sua mãe sair de seus ombros, logo chegando ao seu peito. Sentiu um
aperto, mas, tinha sido um empurrão. O chifre daquele homem-touro gigante
passou raspando pelo peito de Toya, que logo caiu no chão, vendo a pior cena
possível acontecer em sua frente.
— Mãe...?
O sangue escorria lentamente e pingava no chão. Empalada, ainda
suspendida no ar, a mãe de Toya não se movia mais. Sem poder agir, nem mesmo
tendo forças para gritar, ele continuou ali no chão do ônibus, paralisado, enquanto
a criatura removia o seu chifre dos escombros e então preparava-se para mais um
ataque. Até que se deu para ouvir vozes vindo de fora do veículo.
— Cerquem-no! —, era uma voz masculina imponente. — Não o deixem atacar
novamente!
Tratavam-se de quatro pessoas que vestiam ternos pretos como agentes da
CIA. Dois deles rapidamente se posicionaram atrás do homem-touro e então
esperavam a ordem de seu capitão para agirem.
— Movimentação B-A, instrumentos a vontade! —, disse o mesmo de antes e
de repente, todos começaram a usar os ônibus (ou o resto deles) como terreno.
Pulando de um lado para o outro, a criatura não conseguia acertar-lhes golpes
ficando cada vez mais furiosa e confusa. Duas das quatro pessoas portavam rifles
onde iam dando acertos precisos contra o monstro enquanto ainda estavam se
movimentando pelo ar. Um terceiro tinha métodos mais antiquados, carregando
em mãos uma enorme espada, na qual mirava nas juntas dos joelhos de seu alvo.
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Pendendo para frente, o homem-touro caiu de joelhos no chão, logo recebendo
um tiro dos rifles, um em cada olho forçando-o a colocar suas mãos no rosto
enquanto gemia de dor. Finalizando, os três pularam afastando-se, e o último
homem — capitão dos três — ergueu sua mão esquerda para o alto e num clarão
sem fim, que não permitiu a ninguém ver o que realmente tivera acontecido,
atravessou o peito do monstro, que caiu morto no chão.
— Belo trabalho, capitão Lucian. Foi um excelente golpe. — Disse um de seus
companheiros de equipe.
— Agora não é hora para comemorações, vasculhem o local por possíveis
sobreviventes, comecem por este ônibus que ele estava focado. — Disse Lucian.
Ao entrarem, logo avistaram duas vítimas próximas ao local que o homem-
touro havia atacado e um dos homens gritou avisando ao seu capitão, Lucian.
Chegando mais perto, notaram um jovem garoto todo ensanguentado abraçado à
sua mãe, que tremia de medo.
— Está tudo bem com você? —, indagou um dos homens agora agachado, para
se comunicar com Toya, mas, não se teve resposta.
— Ele está em transe... —, disse Lucian, que havia acabado de subir no
ônibus. — Podem sair, eu mesmo irei leva-lo para fora.
Lucian colocou Toya em seus braços, logo notando que a feição do garoto
estava horrível e seus olhos cheios de lágrimas. Sua camisa estava rasgada no
peito, com um corte feio no mesmo. Ele fungava o nariz, mas, não conseguia dizer
uma palavra sequer, tremia e tremia, enquanto Lucian repetia, sussurrando ao seu
ouvido: “Está tudo bem agora... vai ficar tudo bem... não se preocupe...”.
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