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J.B. Salsbury
Split
Livro Único
Data: 04/2018
~2~
O que você faz quando acorda sem se lembrar do que fez na
noite anterior?
~3~
Dez anos atrás...
Apaguei novamente, mas desta vez foi diferente. Tudo sobre isso é
diferente.
Meus braços doem, mas mesmo assim os lanço aos meus olhos
para limpar a lama negra que encobre minha visão. O peso pressiona
meu ombro, mantendo-me para baixo. Não, eu tenho que sair daqui.
~4~
— O que... — Minha voz não faz nenhum som, apenas um baixo
rosnar dentro de meu peito. Eu tento me levantar, estender a mão.
Ajude-me! Sombras dançam atrás dos meus olhos.
— Fodido massacre...
~5~
A forte pulsação em meu pescoço diminui para um pulsar
maçante. O zumbido em meus ouvidos se transforma em um ronronar.
Calor me envolve.
~6~
SHYANN
Dias Atuais
1
É um designer de sapatos que trabalha em Londres, mais conhecido por seus trabalhos na Jimmy Choo
Ltd.
~7~
— Estou falando sério, Leaf. Certifique-se de obter o ângulo certo.
Preciso que esteja tudo perfeito. Se a câmera pegar o lado errado, eu
vou parecer uma boneca Patch de Cabbage2. — Eu aliso minha saia e
blusa, desejando que a roupa me trouxesse mais confiança, mas em vez
disso me sinto como um desses bichos assassinos que usa cadáveres de
outros insetos como armadura. Não é o mais confortável, mas pelo
menos eu pareço bem o suficiente para ser levada a sério.
2
São uma linha de bonecas esculpidas macias criadas por Xavier Roberts.
~8~
ignoradas. Ataques às mulheres não era incomum, mas quem os estava
cometendo nos últimos meses não estava atacando sexualmente suas
vítimas. Era como a polícia de Phoenix tinha anunciado — de natureza
incomum. — E agora nós tivemos um em nossa cidade.
Possivelmente.
~9~
Eu olho para a câmera ao som da risada de Trevor, em seguida,
reviro os olhos.
Eu conto até cinco nos dedos e depois gesticulo para Lief e ele
acena com a cabeça — Em cinco. Estamos prontos.
— Tudo certo, Leaf está posicionado, parece que ele tem uma boa
visão da polícia e da porta da frente. Se conseguirmos pegar um close
do corpo, esse será o nosso trunfo.
— Eu acho que ela poderia estar viva, mas se sim, por que eles
estão demorando tanto para levá-la para o hospital? De qualquer
maneira, se conseguirmos será épico.
~ 10 ~
Uma onda de desconforto escorrega pelo meu peito à maneira
casual que lidamos com a morte nas notícias. Certo, na tela nós somos
o repórter de inquietação e empatia da notícia, e por dentro nós
estamos alegres por um furo de reportagem de um corpo inoperante?
Não, eu deixo de lado toda essa merda e foco no objetivo.
— Espera.
~ 11 ~
Isso é para você, mamãe.
— Mãe, não... Por favor, mamãe! — Seu grito gutural perfura o ar.
— Mamãe!
~ 12 ~
Eu ignoro a garota o melhor que posso e tento caminhar. —
Parece... que... eles estão...
— Fale! Shyann!
Lief se move para ter uma visão melhor e empurra seus olhos
arregalados para eu entrar no foco. Volto, estudando a menina,
lembrando-me da confusão, do desgosto, da injustiça que tudo
consome.
~ 13 ~
Abro a boca para falar, seguindo a exigência de Trevor na minha
orelha empurrando meus lábios a se moverem, mas não há palavras.
Não posso.
~ 14 ~
A forte pancada da câmera soa em meus ouvidos, sangue escorre
e as sobrancelhas de Leaf se juntam, sinalizando-me a uma única
verdade.
Não é impressionante.
— Você tem certeza que está bem para ir sozinha para casa?—
Trevor está encostado na minha caminhonete, um café em uma mão e
usando seus estúpidos óculos estilo aviador que o fazem parecer nada
com Maverick. Seus cabelos louros sujos não se mexem ao vento e sua
pele pálida é de um homem que passa a maior parte de seus dias atrás
de uma mesa de escritório.
Ele é bonito, recebe muita atenção das mulheres, mas tudo o que
ele sempre foi para mim, foi confortável. Ele não faz minha deusa
sexual interior dar cambalhotas, mas também não me repugna
completamente.
~ 15 ~
Nem sequer demostra um pingo de simpatia, não que ele entenda
por que fiz o que fiz. Trevor é um desses caras robóticos, orgulha-se de
ter zero nível de emoção e prega a importância de manter todos os
relacionamentos, de negócios ou amorosos, sem sentimentos. É uma
das coisas que eu curto sobre ele... Quero dizer, até agora.
~ 16 ~
necessidades. Agora tenho sessenta e oito dólares na minha conta e
meu aluguel estava atrasado até que Trevor pagou os seiscentos dólares
de quebra de contrato para que eu pudesse sair. Eu me sentiria mal por
pegar seu dinheiro, mas a minha única outra opção era pedir ao meu
pai. Trevor era o menor dos males que esmagavam meu orgulho, e Deus
sabe que tenho pouca dignidade para gastar.
— Você me ama.
~ 17 ~
— Entrarei em contato. — Eu evito seus olhos e piso no
acelerador, o forçando a recuar de perto da caminhonete. Eu nem olho
no espelho retrovisor enquanto me afasto.
Eu voo pela estrada, grata pela única coisa que meu pai me deu
além de meus olhos azuis... Minha caminhonete. É pequena, apenas
dois lugares, mas tem tração às quatro rodas e mesmo que seja da cor
do cocô de bebê - a concessionária o chama de champanhe - tem sido a
coisa mais confiável em minha vida.
Não, ela teve que sofrer por mais de dois anos, seu corpo tendo
que desistir em um ritmo agonizante, deixando sua mente por último
para que ela fosse completamente consciente de como estava morrendo.
As lembranças passam por minha mente, meu pai segurando seu corpo
mole, rugindo sua raiva contra Deus.
~ 18 ~
necessidade de correr, para fazer todas as coisas que prometi a minha
mãe que faria. Nós brigamos. Feio. Palavras imperdoáveis foram
trocadas, e nós não conseguimos remendar nosso relacionamento desde
então.
~ 19 ~
LUCAS
— Pode me ajudar?
~ 20 ~
possa desenhá-las mais tarde. Parece estúpido, mas mesmo os objetos
inanimados mais simples guardam um fascínio quando olho para eles
tempo suficiente. Talvez seja uma imaginação vívida ou talvez meu
cérebro não funcione como a maioria.
— Parece bom.
Eu olho para cima para ver Chris, meu encarregado de obras, que
está verificando o meu trabalho. — Obrigado, senhor.
— Lucas.
Ele nem sequer olha para cima, mas a maneira firme como diz
meu nome acelerou meu ritmo até que eu esteja bem ao lado dele. —
Senhor?
Ele não tira os olhos das plantas que se estendem em uma mesa
improvisada, construída com dois cavaletes e uma ripa compensada. —
Os clientes ligaram. Interessados em uma peça especial para a lareira.
— Seu dedo grosso e caloso corre ao longo de uma linha no plano. —
Aqui. Disse que temos um cara que faz um trabalho muito bom. Está
interessado?
~ 21 ~
— É aquele... — Eu olho para a planta, calculando os números. —
Oito metros? Aproximadamente?
Ele coloca seu olhar de aço no meu e eu luto para manter seu
olhar fixo. A cor é tão azul claro que são quase brancos e, contra a pele
que foi exposta ao sol e os elementos para o que eu acho que é perto de
sessenta anos, dá-lhe um olhar misterioso e intimidante — Sete e um
quarto.
O último que eu fiz foi uma cena ao ar livre, um rio que flui com
veados bebendo e uma família de ursos pretos pegando peixe dele. Ele
foi inspirado pela vista fora da minha porta da frente, portanto, fazer
outro deve ser fácil o suficiente.
~ 22 ~
— Hippies do vale. Eles querem reaproveitamento de madeira
tanto quanto pudermos fornecer. A propriedade do Wilson é de
propriedade do banco; eles disseram que nós poderíamos pegar o que
quisermos uma vez que vão nivelar tudo de qualquer maneira. — Nash
puxa a planta e a enrola.
Felizmente a Fazenda Wilson não fica longe, então eu não vou ser
forçado a falar muito. Entre Nash e Cody, o mais jovem parece ser o
mais falante dos dois. Embora ele tenha desistido de me perguntar
sobre qualquer coisa pessoal depois de apenas alguns dias após
conhecê-lo.
É melhor assim.
SHYANN
~ 23 ~
Ter que me sentar do lado de fora do velho escritório no trailer,
com um letreiro da Jennings Contractors3 de lado, faz meu estômago
revirar em nós. Não estava nervosa por enfrentar um dos cidadãos mais
respeitados de Payson, uma cidade com a população de 15.000, ou com
a decepção no rosto do meu pai. E sim com a satisfação que vou dar a
ele uma vez que ele veja que estava certo.
— Boa sorte fazendo isso lá fora por conta própria, Shy. Você não
pertence lá fora. Você pertence a esta cidade, perto de sua mãe.
— Tenho certeza de que ela não dá uma porcaria para onde eu vou,
papai, uma vez que está morta. Além disso, ela saiu de casa quando
tinha a minha idade, e te conheceu. Não seja hipócrita.
Ele vai ter que me torturar para me fazer implorar ou admitir que
eu estraguei tudo. Ele não pode saber o quão perto eu estava de me
tornar famosa só para estragar tudo em apenas alguns minutos ao vivo.
Uma pequena parte de mim sussurra que talvez ele já saiba. Ele
não consegue meu antigo canal de notícias aqui em Payson, mas
3
Jennings Construtores.
~ 24 ~
consegue o noticiário de Phoenix. Merda, quantas pessoas nesta cidade
me viram fazer papel de tola e quando me virem saberão que eu fui
demitida?
~ 25 ~
Meu pai nunca respondeu bem à sutileza, e eu concordo que é
uma perda de tempo. — Perdi meu emprego.
— Não sei. Eu estou falida, não tenho nenhum outro lugar para
ir. — Encolho um ombro e cravo a ponta do meu Ked branco4 na
sujeira. — Pensei que talvez você me desse um lugar para ficar
enquanto tento me reerguer. — Muito humilhante para o meu discurso
de garota durona. Um olhar do meu velho e estou de volta aos meus
dezesseis anos de idade.
Seu olhar se contrai, fazendo seus olhos azuis pálidos ainda mais
assustadores. — Então o quê?
— Merda, não posso dizer que estou surpreso. — Ele esfrega seu
queixo depois a parte de trás de seu pescoço, mas posso ver que o meio
sorriso em seus lábios ainda está lá.
4
Marca de sapatilha branca.
~ 26 ~
Uma pequena risada ressoa em seu peito antes de ele puxá-la
para fora e me surpreender com o barulho — Que diabos você está
vestindo?
— Não toquei em seu quarto desde que você saiu. Todas as suas
roupas ainda estão lá. — Ele aponta para meus pés. — Não vai querer
sujar seus sapatos aqui com os caipiras.
— É isso aí?
Ele para e olha por cima do ombro — Você é minha filha, não é?
~ 27 ~
Eu volto para o meu carro, mas em vez de seguir as ordens de
papai, eu dirijo por mais uma hora exercendo meu livre arbítrio. Sim, é
um desperdício de combustível. Também é irresponsável porque não
tenho dinheiro, mas faço isso sorrindo.
~ 28 ~
LUCAS
Uma vez que não há mais nada da estrutura, me movo para uma
pequena pilha de rochas que é tudo o que resta da cabine. — Não há
muito mais que possa retirar desse aqui.
~ 29 ~
— Obrigado, porra. Está quente como o inferno aqui. — Ele atira
seu pé-de-cabra e eu carrego a primeira pilha de madeira recuperada
para a parte traseira da caminhonete. — Olhe suas costas. — Seus
olhos se arregalam fingindo medo. — O velho Wilson talvez estivesse à
espreita.
— Ahh... Está certo. Você só está aqui por alguns meses. Você
não está familiarizado com a história de Payson. — Ele joga uma
braçada de tábuas e se inclina contra a porta traseira, respirando com
dificuldade. — Família Wilson. Um dos primeiros fazendeiros na cidade,
em 1880 ou alguma merda assim.
~ 30 ~
Não seja um apagão. Por favor, não desmaie.
Blecaute.
Essa foi por pouco. Muito perto. Por sorte este foi curto o
suficiente para poder explicar. Se eu tivesse um apagão na frente de
Cody, ele saberia o meu segredo. Eu não posso me dar ao luxo de
chegar muito perto e deixar minha guarda baixa. Isso não pode
acontecer novamente. Se eu estragar isso e eles descobrirem quem eu
sou, o que eu fiz, eu nunca vou ser capaz de ficar aqui.
~ 31 ~
Bastardo estranho. Se ele soubesse como isso é verdade.
SHYANN
Meu pai nunca iria deixar este lugar. É a primeira e única casa
onde ele morou com minha mãe. Eles construíram depois que se
casaram, criou meu irmão e eu nela, e minha mãe respirou seu último
suspiro apenas duas portas abaixo de onde estou sentada.
Eu sou uma mulher de vinte e três anos de idade que vive com
seu pai porque não pude segurar o meu trabalho. Não importa quantas
vezes eu chequei o meu telefone à espera de um e-mail do tipo nós-
cometemos-um-erro, mas ele nunca veio.
~ 32 ~
— Sem serviço. Chocante. — Eu poderia chamá-lo do telefone fixo
do meu pai, mas eu estava esperando evitar uma longa conversa que só
serve para me lembrar do quão longe eu tinha caído.
Com nada.
— Shy.
~ 33 ~
leve revestimento de poeira, enquanto meu assento junto com o meu
irmão em frente a mim parece ser usado de vez em quando.
~ 34 ~
nativa pendia no ar, assim como o amor que ela tinha para sua família.
Ela era o fio que nos mantinha unidos, e uma vez que ela se foi, todos
nós desmoronamos. Meu pai reclusou em seu trabalho, meu irmão se
refugiou em si mesmo, e eu não pude me afastar disso tudo rápido o
suficiente.
Ele ri, mas está longe de ser um riso engraçado. — Nunca foi bom
o suficiente para você. — ele murmura.
— Olha a boca.
~ 35 ~
— Tenho vinte e três anos. A boca é minha então como eu a uso
não é mais seu negócio.
Cruzo meus braços sobre meu peito, meu sangue disparando com
irritação. — Ah, então bunda pode, sim? Me passe a lista de palavrões
aprovados para que eu possa não ofender sua delicada sensibilidade
durante a minha curta estadia aqui?
Ele inclina a cabeça. — Esteve fora por cinco anos, Shy. Quanto
tempo vamos ter você antes de você partir de novo?
— Eu não sei, mas não planejo viver aqui muito tempo, se é isso
que você está pedindo.
~ 36 ~
— Pai, não é nada pessoal. — Isso é uma mentira. Sempre foi
pessoal. Você não é nada como sua mãe. — Eu poderia morar com Cody.
Porra, isso não vai funcionar. Eu amo meu irmão, mas não estou
vivendo em um trailer e dormindo em um sofá.
Isso deixa uma outra opção. Eu odeio trazê-la. Papai não tem sido
racional desde que mamãe morreu, mas eu tenho que tentar.
A casa do rio era a casa dos sonhos da minha mãe e meu pai.
Eles começaram a construí-la juntos alguns anos antes de mamãe ficar
doente: o plano era ir para lá uma vez que meu irmão e eu estivéssemos
fora de casa. Infelizmente, a construção foi interrompida quando ela
perdeu a capacidade de usar suas mãos, caminhar e, depois ficou
paralisada. Desde então, meu pai fingiu que o lugar não existe. A última
vez que chequei, não era totalmente habitável ainda, mas tem paredes,
água corrente e eletricidade, e não está cheia de memórias de sua
morte.
— Não.
— Não é isso.
~ 37 ~
— Está ocupada.
— Como... — Não, ele não pôs os pés naquele lugar há oito anos e
agora ele tem um inquilino, que porra é essa? — Esse é o lugar de
mamãe. — O alto tom de indignação matiza minhas palavras.
Shy...
~ 38 ~
LUCAS
Uma mulher.
Eu não conheço Cody e Nash há tanto tempo, mas nem uma vez
ouvi falar de meu chefe tendo uma mulher. Não que ele falaria sobre
isso se o fizesse; Ele não me parece o tipo de cara que compartilha os
detalhes de sua vida pessoal.
— Eu não me importo!
~ 39 ~
— Você é desajeitada como o inferno, você sabe disso, certo?—
Cody grita para ela, e seus olhos reviram para ele. Iluminados pelos
meus faróis, eu assisto a expressão de ódio dela instantaneamente
suavizar.
Ele faz o seu caminho em direção à menina e diz algo que não
consigo ouvir, mas é algo que o faz rir. Quem é ela para ele? Prima,
namorada, irmã?
~ 40 ~
Sua varanda frontal desemboca até um riacho que se transforma
em um rio durante a estação chuvosa, bom foi o que eu ouvi falar. É
funcional; a única coisa excepcional sobre o lugar é a localização, mas é
melhor do que o parque de camping em que eu estava, com apenas um
saco de dormir para me manter quente, uma lona para me manter seco,
e um lago para tomar banho. Mas mesmo a área de camping foi um
luxo em comparação a alguns dos lugares em que eu vivi antes. Pelo
menos o ar livre não vem com barras, fechaduras, ou companheiros de
quarto psicopatas.
~ 41 ~
entro na casa, acendendo a única lâmpada pendurada na cozinha, abro
a geladeira. Maionese, mostarda, manteiga de amendoim... Não. Pego
um pacote de cachorro-quente de cabeça para baixo e olho para a
varanda.
O clima é bom o suficiente. Ele deve ficar bem na noite, bem como
estar protegido de animais maiores sob a varanda. Tenho muito
trabalho para fazer esta noite para tentar persuadi-lo.
Se há uma coisa que sei sobre estar com medo, é que a confiança
não é dada livremente, e a escuridão é o seu melhor amigo.
~ 42 ~
Hesitante, eu pego a primeira mordida, rolando em torno da
minha boca para testar o sabor antes de engolir. Passaram-se dez anos
desde que fui forçado a comer a comida que me era dada, e mesmo
depois de longos anos, as memórias nebulosas da intoxicação alimentar
violenta juntamente com riso tem me assombrado a cada refeição. Eu
engulo os sanduíches, atendendo a necessidade de base rapidamente
antes que eu possa acabar logo com isso, em seguida, limpo e me movo
para o único espaço mobilado da casa.
5
Cor castanho dourado.
~ 43 ~
SHYANN
Ela está vivendo em Payson desde que era uma menina e eu juro
que suas raízes correm tão profundamente sob esta cidade que ela
sente a vibração na terra quando alguém novo coloca seus pés aqui. E
uma vez que eles fazem, ela é o megafone que espalha a boa notícia e
ela não fofoca à maneira moderna com mensagens de texto e mídias
sociais. Não. Ela é toda sobre fofocas boca-a-boca, que eu juro é a única
razão pela qual ainda trabalha no restaurante mais movimentado da
cidade que funciona no centro social Payson.
~ 44 ~
— É bom ver você também. — Eu a acaricio, esperando que ela
receba a dica para me soltar.
— Não seja boba. É o lugar perfeito para você; faça o seu nome
por cima dele. Literalmente. — Ela ri e acena para um homem mais
~ 45 ~
velho alguns banquinhos depois de mim quando ele acena para uma
recarga de café. Ela enche sua xícara e volta, ainda sorrindo.
Ela usa o lápis atrás da orelha para coçar o couro cabeludo, que
está escondido debaixo de chumaço de cabelos grisalhos. — Expandir
seu... currículo?
— Eu não entendo.
— Obrigada.
Eu pisco, chocada. — Uau, não percebi que ela estava com tanta
pressa.
— Quanto tempo passou desde que você esteve aqui pela última
vez? — Ela está perguntando, mas sabe. Ela só quer me ouvir dizer.
— Cinco anos.
~ 46 ~
Minha feminista interior aperta os punhos. — Um... Eu não sei, ir
para a faculdade.
Minha colher cai com força contra a tigela de aveia. — Isso não é
o que eu tenho feito D... — Eu fecho a boca para evitar vomitar as
mentiras que ameaçam estourar livre.
— E Sam?
— Ele está indo bem. — Ela faz um clique com a boca — Foi
promovido depois que seu avô faleceu há dois verões.
~ 47 ~
Dorothy e eu conversamos sobre o passado enquanto eu como o
suficiente de aveia para ser educada, embora as memórias de minha
mãe encham meu estômago. Eu mudo o assunto para o mercado de
trabalho de Payson. Parece que minhas opções para o trabalho são o
bar local ou retirar o estrume nas fazendas locais. Eu considero o Pistol
Pete’s. É um bar, sim, mas também apresenta bandas ao vivo que vêm
de Phoenix para tocar nos fins de semana e atrai uma multidão muito
boa. Não é a melhor das oportunidades, mas eu preciso manter meus
olhos em foco. Economizar dinheiro suficiente para ir para o vale,
alugar um apartamento com dinheiro suficiente para viver enquanto eu
imploro meu caminho de volta para a televisão.
Que idiota. Quero dizer, eu tiro sarro das pessoas de Payson, mas
eu posso. Eles são meu povo.
— O quê?
— Sim, ele levou sua esposa para a suíte de lua de mel, descobriu
que ela era virgem, então ele a expulsou e fez o casamento ser anulado.
— Trevor...
~ 48 ~
— A estação vai me oferecer meu emprego de volta? — Não que
pagasse muito, mas esse não era o ponto. Foi a oportunidade de fazer
um nome para mim, para passar para um mercado maior e melhor.
— Você tem certeza que não quer comer nada? — Ela sorri e
derrama seu café.
~ 49 ~
Ele se afasta, como se meu toque o queimasse como fez o café. —
Eu sinto muito. Eu estou...
~ 50 ~
Ela coloca a mão dela sobre a minha — Nem pense nisso. O café
da manhã é por minha conta.
Ela acena. — Este lugar me faz vestir como uma prostituta para
meus turnos. Se eu estivesse em casa, meus shorts seriam, como, meia
~ 51 ~
polegada mais longo. — Ela pisca. — Você está na cidade para o fim de
semana visitando os meninos?
Ela ri baixo, como aqueles anos que fugíamos para fumar cigarros
quando tínhamos dezesseis se tornou mais um hábito para ela. — A
vida na cidade deixou você maluca.
Merda. Alguns fins de semana aqui e ali, vai levar vinte anos para
economizar dinheiro suficiente para sair da cidade. Eu tento ignorar a
vozinha que sussurra que eu acabarei ficando em Jennings.
~ 52 ~
— Veja... Desculpa, está bem? Eu... — Provavelmente deveria ter
chamado ou tentado me reconectar. Eu não a culpo por estar chateada.
— Eu sou uma cadela.
~ 53 ~
SHYANN
Eu corro o olhar pelo local sem demorar muito tempo nos rostos
das pessoas, e não vejo Sam, então eu tomo um lugar no bar.
~ 54 ~
Uma mulher ruiva natural que tem um dos lados de seu cabelo
raspado joga um cardápio frente a mim. — O que vai ser?
Seus olhos estreitam e ela se vira para o cara ao lado dela que
está segurando seis fardos de Heineken sob cada braço. — Monty, você
viu Sam?
— Shyann? É você?
Porra.
~ 55 ~
Aperto meus olhos fechados e respiro fundo, reunindo cada
grama de falsa-felicidade que tenho reservada e viro para...
— É...
~ 56 ~
— A menos que... — Um sorriso doente, mas lindo, pinta em seu
rosto já maquiado. — Talvez haja uma lutadora em você ainda.
— Você vai testar uma teoria, Sam? Se assim for, vou precisar de
várias doses destas. — Eu deslizo o copo vazio para o balcão.
— Outra?
Graças a Deus.
— Eu quero o mesmo.
Exalo a tensão que nos rodeia, junto com algumas pessoas que
tinham se aproximado, e agora se afastam.
~ 57 ~
Não, eu odeio isto. — Certo. O que tem para desfrutar? — Inclino
minha cerveja para os lábios.
— Foi ver Dorothy. — Ela deve saber que foi assim que eu a
encontrei.
— Fui.
~ 58 ~
A ruiva me estuda e pisca. — Jennings... como o...
Não há uma única pessoa neste buraco de terra que não saiba
quem é meu pai? — É algo pessoal.
Não, a menos que beber conte, mas o quão difícil poderia ser?
Pondero dizer: Não, mas talvez uma licenciatura em comunicações de
jornalismo e mídia possa ser suficiente, mas eu mordo minha língua —
Aprendo rápido.
~ 59 ~
— Porra, olha o que a cidade grande nos trouxe.
Seu cabelo loiro espesso está mais curto do que me lembro, mas
não menos bonito. Pele bronzeada, olhos castanho-escuros, de altura e
largura que simboliza o homem da montanha, mas me lembro muito
bem como tudo que é bonito é apenas para mostrar.
Porra.
Meus pés queimam para correr, para dar o fora daqui e aceitar o
trabalho de volta em Jennings, provavelmente o que eu deveria ter feito
em primeiro lugar.
~ 60 ~
Dustin fez uma grande festa no rancho de seus pais. Nós
tínhamos feito amor no celeiro em uma cama de feno como um casal de
aldeões. Ele disse que me amava e estava ansioso pelo nosso futuro
juntos, os nomes de família Jennings e Miller se juntando para ser uma
espécie de nobreza na pequena cidade. Eu disse a ele que estava indo
para Flagstaff para a faculdade e esperava nunca voltar, terminando
assim nosso relacionamento. A coisa é, eu amei Dustin uma vez, tanto
quanto eu era capaz, mas não o amava tanto quanto odiava Payson.
LUCAS
~ 61 ~
Homem-Aranha, Batman, e Pinkie Pie6.
6
Pinkie Pie é uma Pônei terrestre fêmea e é uma das personagens principais de My
Little Pony.
~ 62 ~
lembrar do que sou capaz. O horror do que pode acontecer se eu não
mantiver meus sentimentos sobre controle. Se eu não me agarrar à
minha restrição.
Lembre-se sempre.
~ 63 ~
Eu não quero invadir sua privacidade. Eu deveria me virar e
voltar para a cama, proteger sua modéstia e honra, mas... Minha língua
corre ao longo de meu lábio inferior e meu estômago se revira com
antecipação. Seu riso e sua melodia continuam a filtrar através da
janela aberta. Eu não deveria olhar. Não está certo.
Ela grita.
Ela não está bem na parte mais profunda do riacho, a água bate
na metade da coxa, e ela se vira para encarar a casa. Por um segundo
eu temo que ela possa me ver, mas ela não se assusta, apenas continua
a balançar seu quadril, à vontade, sobre a água gelada.
~ 64 ~
Meus quadris flexionam incontrolavelmente e eu mergulho minha
mão em minhas calças de moletom, agarrando-o tão duro que dói.
É ela.
~ 65 ~
Eu pisco contra o desejo estranho de confortá-la. Como se as
mulheres não me intimidassem o suficiente, mulheres emocionais
desencadeiam uma escuridão em mim, eu não posso permitir.
~ 66 ~
SHYANN
~ 67 ~
agora inclui pegar suprimentos na cidade quando precisarmos deles.
Não queria que você voltasse para a cidade naquela época, mas imagino
que você é uma grande mulher de carreira agora; você pode lidar com
isso.
— Ok, mas...
Meu pai deixa cair uma pilha de pastas de arquivo sobre o meu
colo, e estas se esparramam pelo chão aos meus pés. — O que é isso?—
Como ele conseguiu dirigir uma empresa de sucesso e não saber a
primeira coisa sobre a organização de papelada é um maldito mistério.
~ 68 ~
Meu pai congela e olha para meu irmão. — Porra, o que isso
significa?
— Você é um idiota!
Papai murmura algo que faz Cody rir e eles saem sem dizer
adeus.
7
WD-40 é uma marca registada utilizada em diversas áreas como óleo de penetração (limpador,
lubrificante e solução anticorrosiva). Usado inicialmente em circuitos elétricos, hoje em dia tem mais
utilizações.
~ 69 ~
contabilidade para um homem que sempre me fez sentir como se meus
sonhos fossem muito grandes e que meu lugar estava em um pequeno
lago.
Várias horas depois que meu pai e Cody saíram, estou de joelhos
na papelada e contemplando minha situação de merda. Minha blusa
está enrugada e adere à minha pele, sufocando meu corpo como
plástico filme, e minha calça cinza está provavelmente escura na bunda
por sentar no tapete sujo, mas era o único espaço livre para colocar
tudo para fora.
~ 70 ~
— Senhora. — Ele tira o boné e passa a mão por uma massa
espessa de cabelo escuro, evitando meus olhos — Estou aqui para ver o
Sr. Jennings.
— Shyann.
~ 71 ~
— De onde você é?
— Você é um criminoso?
Seu corpo empurra para trás e ele fica tenso. — Não, senhora.
Não, eu... Eu não sou...
~ 72 ~
Sua mandíbula aperta como se minhas perguntas fossem
irritantes, e eu me pergunto se meu desejo irracional de saber mais
sobre ele está parecendo irritante e intrometido.
LUCAS
E eu a vi nua!
~ 73 ~
— Quatro anos de faculdade e estou organizando papéis. — Ela
bufa e empurra um arquivo em uma gaveta com bastante força para
enrugar as páginas.
Seus lábios se contraem quando ele lança seu olhar para mim. —
Suponho que conheceu minha filha, Shy.
Orgulho incha no meu peito e forço meus olhos para o chão para
evitar que eles vissem meu sorriso. — Obrigado, senhor.
~ 74 ~
— Bom trabalho, Lucas. — Ele sacode a folha solta. — Isso vai
ficar ótimo na madeira.
— Sim, senhora.
Nos meses que estive aqui, consegui manter minhas emoções sob
controle e Shyann Jennings está lutando para derrubar tudo o que
trabalhei tão duro para construir. Esta estabilidade e confiança que ela
emite não combinam com a mulher no riacho ontem à noite. Empurro-a
para fora da minha mente e resolvo mantê-la lá. Mas minha cabeça luta
com uma única pergunta que não consigo deixar ir.
~ 75 ~
SHYANN
~ 76 ~
SHYANN
Depois do longo dia que tive, voltei a casa do meu pai onde ele fez
a Cody e a mim outra refeição, consistindo nos dois únicos grupos de
alimentos que ele alguma vez reconheceu: carne e batatas. Se sua
intenção é que eu ganhe alguns quilos mais, algumas refeições assim
deverão fazer o serviço.
Esta noite foi o primeiro jantar em família que tive desde que meu
irmão e meu pai foram a Flagstaff para a minha formatura. Mas o
jantar desta noite não foi tão estranho quanto o último. Afinal, meu pai
odiou o fato de eu ter desistido da Jennings Contractors para ir para a
faculdade. Não é que ele tenha abençoado a minha educação tanto
quanto ele desprezou por eu querer fazer em outra cidade. Longe dele, a
memória de minha mãe, o legado de Jennings. Além do mais, o deixou
louco eu me recusar a pegar o seu dinheiro pelos cinco anos que estive
fora.
~ 77 ~
a cabeça e me ouvia reclamar da merda mais estúpida. Ela era vibrante,
opinativa; ela gritava usando as suas mãos e ria com todo o seu corpo.
Mas essas são as memórias que eu preciso cavar. Assim que as
encontro no fim, se transformam em imagens assustadoras. Seus
braços inúteis se curvavam em seu corpo, as suas reais bochechas de
Nativa Americana eram excessivamente acentuadas, destacando-se
contra as suas bochechas soltas e pálidas. O seu acentuado esqueleto
sobressai sob a pele fina como papel. O calor queima meus olhos, mas
nenhuma lágrima cai.
Eu sopro um suspiro.
~ 78 ~
Ele deixa cair o olhar e acena com a cabeça. — Sim.
— Como você faz isso, Code? Como você aguenta vir aqui para
esta casa ou até mesmo morar nesta cidade? Tudo me faz lembrar dela.
Foda-se, já faz mais de seis anos que ela morreu, e estar aqui
ainda é uma tortura. Mas se eu alguma vez parei para considerar, até
que ponto o meu pai esteve sofrendo? Ele é a pessoa mais corajosa,
mais forte e mais teimosa que já conheci. Achei que ele estaria bem.
Eventualmente.
~ 79 ~
Seus lábios se curvam para cima com um toque no fim. — Você
pode ser mais velha em anos, mas eu sou muito mais maduro.
— Boa noite.
LUCAS
~ 80 ~
— Ok. Está tudo bem. — Eu atiro o croquete de volta para a tigela
de plástico e empurro-o profundamente debaixo da varanda. — É seu.
Não vou incomodá-lo.
Meu palpite é que já foi ferido antes e luta com confiança. Eu não
quero empurrá-lo e assustá-lo. Tem sido efetivamente meio legal ter
alguém para cuidar de novo.
Shyann.
~ 81 ~
é tudo em que eu mais penso. Para alguém como eu, a obsessão pode
ser perigosa.
No entanto, hoje foi pior. Ela nunca olhou para mim, agiu como
se eu não existisse. E isso doeu, o que é estúpido porque eu mal
conheço a garota.
~ 82 ~
SHYANN
No curto período de tempo que estive aqui, tudo o que fiz foi recair
no dia-a-dia em que vivi o meu último ano no ensino médio, mas com
menos amigos e um futuro muito mais deprimente. Eu estava correndo
em direção aos meus objetivos e agora estou presa na lama de
desânimo que é muito parecido com a sujeira de Payson.
~ 83 ~
— Bom. — A voz grossa do meu pai está ao meu lado, e olho para
cima assim que ele empurra uma ordem de compra na minha cara. —
Saia daqui e pegue este azulejo.
— Duas razões. Um, não é seguro uma mulher viajar sozinha com
aquele cara Shadow à solta. Dois, poderá precisar de algum músculo
extra com essas paletes.
8
O travertino é uma rocha calcária, usada como pedra ornamental em arquitetura, em estado natural
ou polida, aplicada em interiores, exteriores e em decoração.
9
Northern Arizona University (NAU) - A Universidade do Norte do Arizona é uma universidade pública
localizada em Flagstaff, no Arizona, nos Estados Unidos.
~ 84 ~
com correias de catraca. Conhecendo meu pai, é tudo sobre o número
um.
Ele ergue uma sobrancelha. — Nunca disse nada sobre você ter
uma babá.
Meu pai passa por mim e eu sigo-o para fora e para o sol. Meus
olhos se ajustam a tempo para ver a porta do motorista se abrir e duas
longas pernas cobertas de jeans se estenderem da cabine da
caminhonete, seguida por uma camiseta vermelha desbotada e um
chapéu de beisebol.
É aquele...
~ 85 ~
— Ela tem o pedido de compra e vai lidar com tudo. Certifique-se
de que as paletes estejam seguras. — Meu pai pega um cartão de
crédito do bolso e entrega-o para mim. — Para o combustível e o
almoço.
~ 86 ~
está em uma linha apertada, e sua mandíbula bate sempre
ligeiramente, mas ele permanece em silêncio. — Onde você aprendeu a
desenhar?
— Eu não...
Ele morde o seu lábio inferior por alguns segundos. — O que é...
Uh... — Mais silêncio e me pergunto se ele vai se fechar e eu ficarei
presa olhando para fora da janela durante a próxima hora e meia. —
Sua favorita, hum... cor?
~ 87 ~
de tempestade. Mas eu não tenho a chance de olhar mais fundo, pois
ele volta-se para a estrada. — Eu...
— Não.
— Hmm... escravo?
~ 88 ~
— Sua mãe, ela está... — Seus lábios pressionam juntos e os
músculos em seus antebraços saltam.
— E os seus?
— Senhora?
— Eu sei...
— Você não, eu sou... Eu não sou bom com... — ele agita sua mão
para frente e para trás entre nós. — ...isto.
— Isto?
10
Aqui ela quis dizer que, não havia reciprocidade neste assunto.
~ 89 ~
— Conversa fiada. Ou qualquer tipo de conversa. Eu não sou bom
com as pessoas.
Isso é mais do que ele me deu até agora. Talvez a coisa toda do
tipo, quem-sou e quem-és fosse demais.
— O que é isso?
— Vou afirmar duas coisas, e tudo que você tem a fazer é escolher
qual você prefere fazer. Bastante fácil?
— Oh, hum... — Sua perna esquerda pula para cima e para baixo
em um ritmo nervoso. — Você prefere, uh... Ser atacada por um
tubarão ou... — Ele está de volta a mastigar seu lábio inferior e eu tento
não olhar fixamente.
— Um tubarão ou...
— Ou um... urso?
— Morte rápida.
~ 90 ~
você for forçado a assistir enquanto ele come o seu interior. — Eu
tremo. — Sim, eu vou com tubarão. E você?
Pela primeira vez desde que nos conhecemos, ele realmente sorri.
Enorme, amplo e tão brilhante que quase me cega. É infantil, o tipo de
felicidade raramente visto em adultos que estão tão cansados pela vida
que eles já não têm a capacidade de experimentar a alegria pura. É de
tirar o fôlego. Sento-me imóvel, fazendo uma imagem mental,
totalmente cativada.
LUCAS
Ela precisa parar de olhar para mim. Como se seus olhos não
fossem suficientemente difíceis de evitar, magnéticos e curiosos, tudo
ao mesmo tempo, também há seu cheiro. Lá fora no ar fresco, é um
abuso, preso na cabine da caminhonete, é penetrante. Faz-me lembrar
de lençóis limpos e flores frescas. Pura, porém complexa. Confortante e
intoxicante. Resisto ao impulso de relaxar em sua presença,
determinado a passar o dia sem a escuridão que sinto sombreando a
minha mente.
~ 91 ~
— Você pode parar ali. — Shyann aponta para o cais de carga do
armazém. — Vou correr e tocar a campainha.
— Ah, claro, Lucas. — Ele nos faz entrar. — Entre. Eu vou buscá-
lo no empilhador.
Ela aponta um olhar irritado sobre seu ombro para mim, e assim
como quando estávamos jogando ao “Você Prefere?” sinto aquela
sensação estranha de formigueiro na minha cara que está sorrindo
tanto que os meus dentes sentem frio.
— O quê?
~ 92 ~
— Por que meu pai insistiu que eu viesse. Quero dizer, você tinha
cuidado disto totalmente sem mim.
Eu concordo.
~ 93 ~
Ela me dá indicações que nos levam a uma pequena construção
perto da rodovia. A sua pintura azul brilhante está lascada em toda a
parte, como o sinal na parte superior onde se lê THE FRAY HOUSE11,
mas o F é meramente um esboço da letra que não está mais lá. Seu
estacionamento é nada mais do que um local plano de sujeira e há
alguns bancos de piquenique de madeira velha, espalhados em torno da
estrutura simples.
— Não fique tão triste. Prometo que você vai adorar. — Shyann se
aproxima de mim com um prato de papel em cada mão e uma lata de
refrigerante debaixo de cada braço. Ela empurra um prato no meu colo
e cai ao meu lado antes de me entregar uma Coca-Cola.
11
Casa dos Fritos
12
Árvore típica do Estado do Arizona.
~ 94 ~
Eu estudo o papel amarelo que embala um círculo inchado de pão
e o que parece carne triturada, queijo, requeijão e alface. — O que é
isso?
Ela canta baixinho e tenho medo de olhar por medo que ela me
veja como a aberração que eu sou.
~ 95 ~
— Certo? Minha mãe costumava dizer que o México roubava tacos
do seu povo. Ela disse que os navajos possuíam todas as coisas feitas
de milho, e que incluiu tacos, embora, — ela sustenta a comida e
estuda-a. — tenho certeza que isso é tudo farinha.
~ 96 ~
SHYANN
~ 97 ~
Ele coloca seu prato de papel vazio no espaço entre nós. É
estúpido, mas uma pontada de irritação se acende em meu intestino,
por ele nos separar com o lixo.
— Jantar. Acho que meu pai, Cody, e você, precisam de uma boa
refeição esta noite.
~ 98 ~
olhos estão travados nos meus, estou pensando que algo pesado apenas
aconteceu entre nós.
Mas realmente... Eu fiz tudo que pude para dissolver esta tensão
inexplicável entre nós, mas ele se recusa a deixá-la ir. Eu não espero
que ele beije a minha bunda, mas seria bom se ele fizesse um pequeno
esforço para se envolver. Ele é um daqueles tipos de artistas silenciosos,
antissociais e estanhos, mas ainda assim! Eu posso dizer que ele força-
se a falar comigo e até mesmo isso está me dando o mínimo necessário.
O que me irrita é que é exatamente por esta razão que me importa.
~ 99 ~
— Por que eles te chamam de Shy?
Eu olho para ele e tenho que me lembrar que ele não fez nada de
errado, então enviar-lhe o olhar de morte provavelmente não é legal da
minha parte. — Porque é o meu nome. — Duh.
~ 100 ~
Eu queria me lembrar mais. Por mais que eu me esforce por
lembrar de coisas simples como o jeito que suas mãos ficavam depois
de uma manhã a cuidar do jardim, ou do jeito que sentia os seus braços
quando ela me abraçava, elas deslizam por entre os meus dedos, assim
que chego mais perto. Mas eu nunca esqueceria a doçura que tocava o
rosto do meu pai quando ele olhava para ela. Também não esquecerei o
olhar em seu rosto quando ele a viu dar o seu último suspiro, e
certamente não a expressão que ele usava quando olhou para ela,
sentado à beira da cama por horas depois que ela morreu.
LUCAS
~ 101 ~
O sinal adiante diz DEAD MAN’S DROP.
— Eu...
— Vamos, Lucas!
~ 102 ~
Ao som do meu nome, o instinto me faz sacudir, espreitar, e... Oh
meu Deus, ela está deslizando sua calça jeans por suas coxas. Assim
como naquela noite no rio.
Sua mão segura o meu ombro e eu giro ao redor. Sem piscar, não
posso tirar meus olhos longe de Shyann parada diante de mim com
nada além de calcinha e sutiã. A minha boca fica seca, mas isso é
porque o meu maxilar está pendurado, a boca aberta. Eu a fecho.
Memorizei o que ela tem por baixo das tiras de tecido. Estou
pesado e com formigueiro entre minhas pernas, e se ela olhar, o que
graças a Deus, ela não está fazendo, é impossível não vê-lo.
— Ok. — Eu lambo meus lábios e espero que ela não possa sentir
o quanto estou tremendo.
— Mas você tem que ver isso. — Ela se vira e arrasta-me alguns
metros através da floresta até que ela para e aponta. — Lá.
~ 103 ~
Eu posso sentir o calor de sua pele contra o meu antebraço.
— E Sam iria...
— E não tenho. Não mais. Ela trabalha na Pistol Pete's e nós nos
separamos em más condições. — Ela pisca e balança a cabeça. — De
qualquer forma, tivemos alguns bons momentos aqui.
— É seguro?
Meu aperto sobre ela fica mais forte e ela se aproxima o suficiente
para que eu possa sentir o calor de seus seios contra as minhas
costelas — Lucas, você confia em mim?
Um grito que só pode ser descrito como euforia gutural faz eco
nas paredes do canyon e corta através das árvores.
— Isso foi incrível! — Ela acena para mim. — A água está perfeita!
~ 104 ~
vinte e cinco anos. O som de seu guincho acende um fogo no meu peito
que me faz querer saltar.
~ 105 ~
Ainda estou aqui. Sem desmaio.
Isso é quando acontece. Um uivo de riso que eu não sabia que era
capaz de sair do meu peito e ecoar nas paredes de pedra, e neste
momento estou livre. Ela não pode possivelmente saber o quanto me
sinto vitorioso, mas a maneira como seu olhar encontra o meu e sua
expressão suaviza eu não posso deixar de perguntar se ela sabe.
O meu riso morre quando ando pela água para me manter à tona,
confusão em seus olhos.
— Eu não pensei que você faria isso! Você viu a que altura
saltou? — Seu queixo mergulha dentro e fora da água enquanto ela
chuta para ficar à tona — Doeu quando você aterrissou?
Minha pele está sensível, mas eu não acho que seja do golpe. —
Na verdade, não.
— Você deve sair para o sol. — Seus olhos estão fechados e a luz
brilha sobre a pele. Meu olhar segue o caminho de seu pescoço delgado
que conduz ao mergulho entre seus seios que são redondos e enrugados
nas pontas.
~ 106 ~
Minha visão escurece.
~ 107 ~
SHYANN
— Estava aqui.
Imaginei como ele seria sem camisa, mas o que vi hoje fez minha
imaginação se envergonhar. Ele tem uma construção como de nadador.
Ombros largos e poderosos que se afilam nos quadris estreitos e vales
criados por músculos firmes e longos, e seu traseiro... Digamos que
observar Lucas rastejar fora da água foi ainda melhor do que vê-lo
entrar.
~ 108 ~
Meu rosto está pegando fogo, mas felizmente ele está muito
ocupado estacionando para notar. — Oh, certo. Não, está tudo bem, eu
comprei para você.
Meu irmão olha por cima de uma serra de mesa e tira os óculos
de segurança antes de ir em nossa direção.
É possível que estar perto de sua nudez quase pode ter ferrado
com a minha memória de curto prazo.
~ 109 ~
— Hum... Olá? — Eu aceno minhas mãos entre meu irmão e
Lucas. — Acredite ou não, eu consegui cuidar de mim nos últimos cinco
anos com zero ajuda de vocês. Tenho certeza de que posso lidar com a
decisão sobre como chego em casa. — Cruzo meus braços sobre meu
peito.
— Espertinha? Acho que vou ficar com o taco de pão frito que te
trouxe...
— Uh-huh.
~ 110 ~
Eu exalo, relaxando um pouco, e viro para Lucas. Seus lábios
cheios e de aparência suave puxam para um sorriso. Algo que eu decidi
que realmente gosto de ver nele. Ele me observa e deixa cair seu olhar,
mas eu não perco esse sorriso de seus lábios. E celebro uma pequena
vitória por ter sido a pessoa que o colocou lá.
LUCAS
— Obrigada pela carona para casa. Desculpe, por você ter que
fazer isso.
~ 111 ~
Pânico dispara em meu peito.
— Você.
Ela está zangada. Eu não posso tomar sua raiva. Não sem
arriscar um apagão. Minha pele fica quente e úmida. Minha visão está
borrada.
— Esse tempo todo tem sido você. — Sua voz é mais suave agora e
isso ajuda o meu medo, mas só um pouco.
— Sim. Eu fiz.
Calor bate nos meus bíceps e quase me envia pelo telhado. Seus
dedos longos e esguios apertam. — Lucas. Escute-me. Você não fez
nada de errado. Está... — Ela sopra um suspiro. — Você pode me levar
lá?
Isso deve ter sido a causa das lágrimas na noite em que ela
apareceu no riacho.
~ 112 ~
— Seu pai disse que eu poderia morar lá em troca do meu
acabamento.
— Eu sei.
Nós não falamos e uma vez que a casa pequena vem à vista, ela
fica visivelmente tensa.
— Você... me viu?
Eu concordo.
~ 113 ~
Há um deslocamento, o leve som de cascalho sob suas botas, e
sinto seus olhos em mim sem realmente vê-los. — Tudo de mim?
Eu aceno, e temo que isso signifique que tenho que soltar a mão
dela.
~ 114 ~
sobrecarga de seu toque. — Lá! Debaixo do convés! Oh meu Deus, é um
leão de montanha. É um leão de montanha? — Ela agarra meu
abdômen, puxando-me para trás — Há uma arma na caminhonete?
Precisamos...
— Oh, ok. — Sua testa pressiona em meu ombro e ela exala duro.
— Certo. Um cachorro. Eu estou bem.
Eu abro meus olhos e vejo que o cão tem seu nariz e as duas
patas dianteiras cutucando fora debaixo do convés.
~ 115 ~
— Aqui, garoto. — Ele lambe os dedos de Shyann e espera
enquanto ela agarra mais. — Oh, você está com fome.
— Desculpe.
~ 116 ~
SHYANN
~ 117 ~
— É lindo. Ela... — Eu engulo fundo. — Minha mãe teria adorado.
— Seu pai deu para mim. Disse-me só para ter certeza de que
acabasse em algum lugar. — A voz de Lucas está próxima; Eu devia
estar tão perdida que não ouvi ele se mexer. — Eu tentei os quartos,
mas então estaria escondido. Era muito pequeno para a porta da frente.
Achei que a cozinha era o melhor lugar para ser vista.
~ 118 ~
momento instantâneo dos tempos felizes. Antes que nossa família fosse
tocada com a doença e a perda, um tempo em que as possibilidades
eram infinitas.
Ou deveria.
Eu sou fraca.
Eu não deveria. Eu sei que não deveria, mas cada única razão
empalidece perante a maneira com que ele está me segurando como se
ele me emprestasse sua força.
~ 119 ~
seus lábios se abriram. Seu pulso lateja abaixo da minha palma,
combinando com meu próprio.
~ 120 ~
— Não, eu...
— Shy. Ann. Não tão tímida, Shyann. — Ele ri. Sua voz soa
diferente, mais escura e provocante de uma maneira que eu não gosto.
Minhas bochechas coram de vergonha enquanto ele zomba das minhas
emoções. — Não é tão tímida, Shy. Ann. — Ele continua a rolar meu
nome em sua boca como se ele tivesse provado e não gostasse do sabor.
— Você pensou que poderia piscar aqueles doces olhos azuis, empurrar
seus peitos em minha cara, friccionar sua boceta em mim, e começar o
que você quer. — Impaciente, sorri. — Shy. Ann?
~ 121 ~
— Estou partindo. — Eu não preciso dessa porcaria. Um minuto
ele está se importando, depois é indiferente, e, finalmente, cruel. Eu
passo por ele, me sentindo como uma idiota por achar que Lucas era
diferente, que tínhamos uma conexão, mas eu paro e olho nos olhos
dele. — Você poderia ter me dito que não estava interessado.
Ele inclina a cabeça e seus olhos fazem uma trilha para meus
lábios, para o meu peito e... entre minhas pernas. Eu estremeço do
ataque visual e ele deve notar quando esfrega o lábio superior, sorrindo.
— Oh não, Shy. Ann. Ele está interessado. Esse é o problema.
GAGE
Uma mulher.
~ 122 ~
Eu não estou dizendo que ele deve ser gay - inferno, eu sou tão
vidrado por grandes peitos e uma pequena boceta apertada como ele é...
mas além do que podem oferecer sexualmente, as mulheres são
nojentas, más, criaturas miseráveis.
~ 123 ~
vigilância. Lucas conseguiu um lugar para viver, agradável e tranquilo,
perfeito para ele.
Parece que vou ter que ficar por um tempo, cuidar de algumas
das necessidades básicas de Lucas, enquanto ponho um fim a esta
merda de Shyann. Quando meu trabalho aqui for feito, ele não vai estar
pensando com seu pau e eu vou ter essa cadela Shyann liberada de seu
sistema. Para o seu bem.
~ 124 ~
SHYANN
De volta à pista.
13
“de rato a víbora”, deixou de ser a presa e passou a ser o predador.
~ 125 ~
— Dia, papai! — Deixo minha bolsa na minha mesa e escuto o
som de seu jornal dobrando.
Não, obrigada. — Oh, hum... Tenho certeza de que vou ser capaz
de me manter ocupada aqui.
~ 126 ~
— Até logo. — Ele tira seu cinto de ferramentas de outro gancho
que eu coloquei por esse motivo específico e sai.
Sento em minha mesa e verifico meu telefone. Uma vez que está
carregado o suficiente para fazer chamadas, entro em contato com Sam
e aceito qualquer turno que ela me der.
~ 127 ~
faculdade, você estudou, por amor de Deus. Você não poderia pelo
menos conseguir ser a líder no bar de mulheres? E quem diabos é Sam?
Por que eu acho que ligar-lhe foi uma boa ideia? Porque você
estava esperando que ele dissesse algo doce que desviaria sua mente de
Lucas. Gah!
— O quê?
~ 128 ~
Não estava falando sobre... Sua boa notícia é que ele vai se
candidatar a um emprego em Los Angeles?
Ele continua a falar, mas estou morta por dentro, muito longe de
tudo o que ele está gritando.
Idiota egoísta.
Não espero que ele responda. Nada que ele diga vai ajudar neste
ponto.
~ 129 ~
Estou sozinha, já faz muito tempo, e é exatamente assim que
gosto.
— Estou bem.
~ 130 ~
Pego as garrafas de cerveja que ela colocou, enganchando-as com
os dedos. Alguém bate em mim, mas eu controlo a cerveja para não
derramar. Encontro Nick Miller e Justin Boathouse, dois caras que
conhecia na escola. Um é da idade do meu irmão e o outro um ano mais
velho que eu.
Fácil.
Ela se inclina para o lado para olhar em volta de mim, seu cabelo
vermelho brilhante parecendo roxo sob o brilho azul de um sinal de Bud
Light. — Não a vejo. Se importa de encontrá-la e dizer-lhe que preciso
de uma palavra?
~ 131 ~
Depois de fazer as mudanças para seis bebidas, eu corro para a
extremidade oposta do bar em busca de Sam. Ela se encaixa bem em
um lugar como este; cada menina ao redor parece uma versão pornô de
Daisy Duke. Acho que o melhor que conseguiria seria um Pocahontas
puta.
Seus olhos se arregalam com seu sorriso. — Oh, você não viu?
Não consigo evitar o riso que brota em meus lábios, mas estou
determinada a encontrar Sam e enviá-la para Loreen, porque a cada
minuto que eu não estou trabalhando é menos um dólar no meu bolso.
— Um... Sam?
Ela não responde, mas sua mão que estava em suas costelas se
move para deslizar entre eles e para baixo e... Oh garoto. Isto é
estranho.
~ 132 ~
— Sam!
Lucas?
Seus olhos se fecham nos meus e ele rasga sua boca dela.
Lucas aperta Sam contra seu peito tão forte que ela tem que
segurar seus bíceps para não se dobrar para trás.
~ 133 ~
A meio caminho do banheiro, estou lutando contra o desejo de
voltar e arrancar o cabelo de Sam, e alimentar a vagabunda com ele
quando algo puxa meu braço.
Ele passa um olhar preguiçoso sobre mim. — Para onde você vai
tão rápido?
Pego a garrafa, mas ele a puxa para cima. Eu olho para ele, sem
graça, e tento novamente, mas ele inconvenientemente apenas
desaparece fora do meu alcance. Idiota! Finalmente, eu salto para
agarrá-la e ele se move para que meu corpo bata no seu, peito no peito,
barriga na barriga.
~ 134 ~
— Não. Não até você me beijar.
Merda.
— Estou bem.
~ 135 ~
Dustin empurra Lucas. — Quem diabos você acha que... — Seus
olhos se tornam fendas apertadas. — Oh, espere um segundo. Eu ouvi
sobre você. Você é o retardado trabalhando com Jennings. — Empurra
Lucas de novo, mas ele não se move e parece completamente
imperturbável.
Seu bafo de cerveja bate na minha cara enquanto ri. — Não posso
acreditar. Você está pegando o retardado? Você gosta de idiotas, não é
Shy? — Ele me empurra na frente dele. — Você quer ele? Ele vai ter que
te tirar de mim.
Ele devolve seu olhar para Dustin e aperta os ombros de Sam tão
forte que ela grita. Aproximando do rosto de Dustin, deixando-me como
a única coisa entre eles, Lucas sorri, levanta um braço, e soca meu ex
com a velocidade de um relâmpago.
~ 136 ~
Sangue salpica em minha bochecha.
Dustin cai como um saco de ração de porco. Eu teria ido com ele
se não fosse por Lucas segurar em torno da minha cintura.
— Lucas, eu...
Ele me faz girar. Eu tropeço e meu joelho dói antes que eu seja
empurrada contra a parede, quase tirando o ar de meus pulmões. —
Não Lucas. Gage. — Seus lábios batem contra os meus e eu suspiro
enquanto sua língua desliza em minha boca.
Não, não! Eu não quero isso. Eu bato em seu peito com meus
punhos, mas ele rosna, me pressiona mais na parede, segurando meus
braços entre nós. Sua língua bate contra a minha, lábios firmes
exigindo minha cooperação e drenando-me da minha vontade de lutar.
Meus olhos vibram fechados e eu gemo, impotente contra a excitação
que me provoca.
GAGE.
~ 137 ~
Seu corpo fica tenso e ele lentamente se afasta. Seu queixo está
baixo e ele me olha com olhos pesados que estão em chamas com uma
emoção que eu não consigo nomear.
O que é isso? Seu rosto e seu corpo dizem Lucas, mas ele está
agindo de forma diferente. — Quero falar com o Lucas.
Sua cabeça sacode e ele corre para mim, suas mãos grandes
prendendo meus ombros na parede. — Não brinque com ele. Fique
longe, ou eu vou enterrá-lo. — Ele se vira em seu calcanhar e caminha
pelo estacionamento, desaparecendo entre fileiras de carros.
~ 138 ~
LUCAS
Em euforia.
A água azul surge à vista logo abaixo dos meus pés. Ela se torna
maior enquanto eu despenco.
O pulo!
~ 139 ~
Meu sonho realmente aconteceu. Meus lábios puxam em um
sorriso minúsculo apesar da preocupação sobre o meu apagão. Eu a
deixei em sua casa, voltei para casa para trabalhar na minha escultura,
e... Um flash dela na minha cozinha me envolve. Eu não a levei para
casa. Eu a trouxe aqui.
Perfume.
~ 140 ~
Arranco minha camisa e jogo-a no chuveiro para lavá-la. O cheiro
de perfume sempre me lembra minha mãe e não posso arriscar outro
apagão logo em seguida.
Que diabos?
Suor escorre em minha pele e tiro meu jeans para verificar entre
minhas pernas. Nada parece fora do comum, não como antigamente
quando voltava nu, pegajoso e dolorido.
Fiquei no escuro.
~ 141 ~
Meu caderno de esboços está aberto e meu coração bate enquanto
me movo para ele com passos apreensivos. Os desenhos nas páginas
abertas ficam à vista. Shyann nua no rio. Seus olhos claros me olham
na página como um aviso. Rabiscos em caligrafia infantil...
Shyann.
~ 142 ~
— Ah, sim? — Sou cauteloso, não tenho certeza se estamos
falando sobre a mesma coisa, mas de qualquer forma preciso de
respostas.
Ele se inclina para frente. — Devo dizer, fiquei feliz em ouvir que
você deu uma lição naquele merdinha do Dustin. O garoto precisava de
uma porrada.
Olho fixamente na minha frente, mas não vejo nada. Não é como
um apagão em que vou da luz para a escuridão num piscar de olhos.
Isto é...
— Ei... — Ela segura meu queixo e força meu olhar para o dela
enquanto seus olhos buscam os meus. — Lucas... Certo? — Ela afasta
~ 143 ~
seu rosto, mas apenas ligeiramente, como se estivesse se preparando
para algo.
— Sim.
Ela sabe.
Eu concordo.
— Lucas, você tem certeza que está bem? Quando foi a última vez
que comeu?
— Aqui. — Ela me guia para o chão onde caio com minhas costas
contra o tronco.
— Desculpe, eu não sei por que estou tão confuso. Deve ser a
intoxicação alimentar.
~ 144 ~
O sono implora para me levar. Uma brisa fresca se junta com o
sol quente que passa através dos ramos e se estabelece contra a minha
pele. Minhas pálpebras ficam pesadas, mas antes de se fecharem, uma
mão segura meu queixo.
Seu rosto se aproxima do meu, tão perto que eu posso sentir sua
respiração em meus lábios, ver as pequenas manchas de cinza em seus
olhos e cheirar o doce cheiro de seu xampu. — Você confia em mim?
— Não.
— E...?
~ 145 ~
— Não sei o que está acontecendo com você, mas tenho a
sensação de que você sabe tanto quanto eu sei.
~ 146 ~
SHYANN
Eu sabia. Ele está lá, tanto Gage como Lucas. — O que você sabe?
~ 147 ~
Ele lambe seus lábios e puxa seus joelhos para descansar seus
antebraços sobre eles. — Desde que me lembro, tive isso... Apagões.
~ 148 ~
— E quanto aos castigos? — Eu luto contra uma onda de náusea,
temendo sua resposta.
Ele balança a cabeça, mas não elabora. Acho que uma mulher
que castiga seu filho tão terrivelmente a ponto de levá-lo a um apagão
não iria procurar atendimento médico. Muito fácil de ser pega.
~ 149 ~
esse? Lucas ou Gage? Depois disso, quando ele aparecia, me deixava
notas.
~ 150 ~
— É uma desordem de identidade. Alguns chamam isso de
Transtorno de Múltipla Personalidade.
~ 151 ~
Pela queda de seus ombros, diria que ele está assumindo o pior.
— Nada aconteceu, Lucas. Tenho certeza de que vocês dois nunca
passaram da segunda base.
— Isso é errado...
— Muito pior. — Ele congela e olha para mim, seus olhos cinza
brilhando com tristeza. — Você estava lá.
Abro a boca para lhe dizer que ele me beijou, que suas mãos
percorreram meu corpo com uma força que conseguiu me aterrorizar e
me excitar em partes iguais. As palavras dançam na parte de trás da
minha língua, a dor de confessar o quanto eu quero que ele me toque de
novo, o quanto eu desejo por outro beijo possessivo que me rouba o
pensamento coerente.
— Shy.
~ 152 ~
Seus olhos cinza são suplicantes. — Por favor.
Lucas é instável.
Por mais que ele queira me aterrorizar, ele não consegue, e é isso
que me preocupa mais.
~ 153 ~
SHYANN
É Loreen.
~ 154 ~
dissolver quaisquer pontes que tivéssemos construído e me recolocar na
sua lista negra.
Arregalo os olhos, mas giro e fico de costas antes que ele perceba.
— Estou bem, pai. Você não precisa fazer isso. Lucas está
ocupado em sua peça para o McKinstry. Não preciso de babá.
— Ele está aqui perto. Vou apenas pedir para ele entrar e se
certificar de que você está bem.
~ 155 ~
— Saber que alguém está cuidando de você vai me fazer sentir
melhor.
— Não é grande coisa. Faça isso por mim, ok? Dê ao seu velho
uma paz de espírito.
— Mas Lucas...
— Como você sabe? Só porque lhe deu um lugar para ficar não
significa que pode se aproveitar dele.
— Papai!
LUCAS
~ 156 ~
Agarro o formão de talhar e me forço a colocá-lo na lareira em que
estava trabalhando quando ele apareceu. O ar está mais frio à noite e já
faz um tempo que o sol se pôs abaixo da linha da árvore quando tudo
na floresta parece entrar em foco. Sombras dançam, luzes refletem.
Havia levado minha cadeira para a varanda para trabalhar, não tendo
ideia de que minha noite tranquila estava prestes a ser interrompida.
— Um vira-lata.
Eu concordo.
~ 157 ~
Minhas mãos suam e meu pulso dispara. A ansiedade inunda
minhas veias e me marca com insegurança. Vou passar por isso. Fácil.
Bata, certifique-se de que ela está bem, depois vá embora.
Estou tremendo.
SHYANN
Clique.
Clique.
Clique.
Clique.
~ 158 ~
Prefiro assistir à poeira baixar a ver outras pessoas viverem o que
deveria ter sido o meu futuro. A boa notícia é que, sentindo pena de
mim mesma e chafurdando em meus próprios erros, impedem minha
mente de vagar para Lucas. Mas com certeza, em um segundo a
distração se foi e meus pensamentos se voltam para o homem
maravilhosamente quebrado.
Como deve ser a vida para ele? Ele tinha falado sobre seus irmãos
e até mesmo uma irmã. Ele tem uma família, então por que ele está
aqui sozinho em Payson? Talvez ele tenha sido forçado a sair por causa
de sua condição?
— Ei, Lucas.
~ 159 ~
A metade superior de seu rosto está sombreada sob aquele boné de
basebol que começo a desejar em dar um sumiço, assim não teria
dificuldade em ver seus olhos.
— Lucas, você não deve caminhar tão longe tarde da noite. Pelo
menos, não sem um rifle.
Certo, tudo bem. Saio e fecho a porta atrás de mim, então sento
em um banco de ferro velho que minha mãe trouxe para casa de uma
venda de garagem quando eu tinha dez anos. A coisa pesa uma
tonelada e papai disse que se livraria dele se fosse forte o suficiente
para levantá-lo. Ele sorria para ela porque todos nós sabíamos que ele
amava a maldita coisa pelo simples fato de a fazer feliz. O banco foi
coberto de Tupperware na semana em que a mamãe morreu. Entrega
dos benfeitores da cidade. Alimento para o luto, como se pudéssemos
comer quando todo o nosso mundo nos foi arrancado.
~ 160 ~
Sento com os pés sob minha bunda e a poeira suja minhas meias.
Ele inclina a cabeça para trás com força suficiente para bater
contra o tronco. — Sinto muito.
— Eu sei.
Seus olhos parecem quase negros quando sua atenção está toda
em mim.
— Eu não.
~ 161 ~
— Por... Por quê? — Suas sobrancelhas curvam-se sobre seus
olhos e ele se aproxima da luz para que eu possa ver a curiosidade em
seu rosto.
Ele faz uma careta, e receio que ele possa fugir a qualquer
momento, então poderei me libertar.
~ 162 ~
Limpo minha garganta. — Você comeu?
— Ok, cara durão. — Pego sua mão e por um segundo ele tenta se
afastar, mas eu me recuso a deixá-lo ir. — Venha, deixe-me alimentá-lo.
Depois vou levá-lo para casa.
— Ah, merda.
Ele pega uma toalha e abre a porta do forno, puxando uma pizza
enegrecida e deixando cair na pia. Com um movimento de sua mão, ele
joga sobre a água e eu corro ao redor, abrindo todas as janelas,
esperando arejar antes que o detector de fumaça alerte a montanha
inteira para o fato de que eu sou uma péssima cozinheira.
— E carvão.
~ 163 ~
Ele solta os braços e se põe em pé. — Oh, assim... sair?
E há Gage.
Paciência nunca foi meu forte, mas estou disposta a dar uma
chance.
~ 164 ~
LUCAS
~ 165 ~
Ela nega — Não, deixa comigo.
— De nada.
Acho que ela está falando com Shyann, mas seus olhos estão
firmemente focados em mim. O olhar de Shyann vai de um lado para
outro entre nós.
— Não, senhora.
Seus olhos se estreitam e ela se inclina mais até que sua cabeça
está praticamente dentro da caminhonete. — Claro que sim. Você é o
cara novo. As meninas no salão de beleza estavam falando sobre você
no outro dia. — Ela apoia o queixo na palma da mão. — Todo mundo
está morrendo de vontade de conhecer sua história. Você é solteiro?
~ 166 ~
Meu peito se expande com um sopro de alívio.
Shy se vira para mim com expressão chocada, ela agarrou seus
peitos!
— Você riu.
— Bebidas? Olá?
Shy pisca e eu respiro fundo quando ela se vira para pegar nossas
Cocas. Eu as pego para colocar no porta-copos enquanto ela organiza o
resto.
~ 167 ~
— Foi ótimo ver voc... — Não ouvimos o que mais ela disse porque
Shyann sai do drive-thru e pega a estrada de volta para a nossa parte
da cidade.
Eu puxo meu boné de beisebol e espero que ela não veja o quanto
estou desfrutando seu ciúme. — Ela parecia bem para mim.
Ela revira os olhos. — Claro que você diria isso. Ela praticamente
rastejou sobre meu corpo para sentar em seu colo.
— Afff, por favor. — Ela segura sua palma para cima. — Nem
sequer se preocupe em defendê-la. A pobre menina não pôde evitar.
Deus sabe que você não torna isso fácil. — ela murmura.
~ 168 ~
LUCAS
Ela para sua caminhonete na beira do rio, rola para baixo ambas
as janelas, e desliga o motor. Ela me entrega a comida que compramos,
e se instala com uma bota fofa descansando em sua janela aberta.
— Você pode ter intoxicação, eu sei, mas deve ter sido bastante
traumático para desligá-lo da comida, quantos anos depois?
~ 169 ~
Nenhuma presença escura se aproxima ou teme por meu bem-estar.
Apenas contentamento.
— Ei! — Ela aperta meu antebraço. — Você não tem que falar
sobre isso.
~ 170 ~
Saliva enche minha boca enquanto me lembro da variedade de coisas
que ela me fez comer. Eu guardo os detalhes para mim.
— Parte de seu castigo foi em nos fazer acreditar que a comida era
uma recompensa, só para descobrir mais tarde que tudo era parte do
castigo. — Meu olhar desliza para o para-brisa, olhando para o nada,
mas vendo memórias em cores. — Ela deveria ter deixado a comida do
lado de fora por semanas. Mesmo agora, tenho enjoos ao cheirar carne
cozida. — Meu intestino aperta quando me lembro de ir de estar bem
para doente em questão de horas.
— Quantas vezes sua mãe fez isso com você, Lucas? — Sua voz
treme, mas se é de raiva ou tristeza eu não sei e pela sua expressão é
difícil saber.
Gage nem sempre foi minha maldição. Na maioria das vezes, ele
foi meu salvador.
~ 171 ~
— Não. Estou bem agora. — eu sussurro, querendo tranquilizá-la,
porque por alguma razão desconhecida, prefiro passar pela doença e
dor cem vezes mais do que ser a causa de seu desconforto.
Abro a boca para falar, mas a fecho quando ela pula no assento.
~ 172 ~
Ela se aproxima, procurando meus olhos, e a proximidade faz
meu pulso bater. — Ele pode me ouvir?
Ela suspira em derrota e fixa seus olhos nos meus. — Foi o beijo,
Lucas. Foi quando eu percebi que não era você.
— Como?
— Você gostou?
— Fale comigo.
— Mas... Ele assustou você, certo? Você disse que ele te expulsou,
que você foi andando para casa. — Eu pisco, uma guerra de emoções
girando em meu peito. — Eu não posso acreditar que você me beijaria.
— Gage me beijou.
~ 173 ~
Ela estreme e olha para mim com seus pares de olhos azuis. —
Beijei.
Isso não foi uma resposta, mas a forma como ela disse faz parecer
como se fosse.
Sua expressão suaviza e ela guia meu outro braço ao redor de sua
cintura para que eu possa entrelaçar meus dedos em sua parte inferior
das costas. — Está tudo bem?
~ 174 ~
Deslizando suas mãos para cima em meus antebraços, ela leva
um rastro de calor para meus bíceps. — Você está tremendo.
— Eu estou nervoso.
~ 175 ~
minha atenção. Eu inclino minha cabeça, e nossa respiração se mistura
quando nos juntamos.
~ 176 ~
comparada ao vivê-la. Seu corpo disposto em meus braços estimula
minha imaginação e eu nos imagino retorcidos juntos, comigo dentro
dela... minha visão cintila em preto.
Não!
— Lucas...
Mais.
~ 177 ~
Suas mãos deslizam para baixo, mergulhando no cós do meu
jeans.
Eu quero isso. Quero ela. Nunca quis tanto algo na minha vida.
Foco.
Fique presente.
O véu cai.
~ 178 ~
GAGE
Abro minhas mãos, que tinham sido presas tão firmemente a ela
que meus músculos doem, e dou um passo para trás, fervendo.
Eu lentamente movo meu olhar por seu corpo. Calças que não
valorizavam nem a mulher mais sexy, uma camisa desgastada que
mostra seus seios empolados e depois... Ta-da. Aí está.
Reconhecimento.
Eu sorrio.
Ela se abala com meu ataque verbal, mas seu olhar se aperta. —
Por que você está aqui?
~ 179 ~
Ela sacode a cabeça, seus longos fios de cabelos escuros como a
meia-noite balançando com o movimento — Estou aqui com o Lucas...
— Não mais.
Eu tenho que lhe dar crédito. Apesar da dor que passa atrás de
seus olhos, ela não recua, o que parece endurecer meu pau ainda mais.
Cadela.
— O que você acha que vai acontecer aqui? Que pequena fantasia
delirante de conto de fadas você tem girando nesse pequeno cérebro
seu, hein? Você acha que ele vai se apaixonar por você? Que os dois vão
cavalgar para o pôr-do-sol e viverem felizes para sempre?
— O quê... não!
— É isso que você quer, não é? Você quer Lucas porque ele é fácil
de controlar. Você ama o poder que tem sobre ele, não é? Usando essa
boceta para controlar o pobre bastardo.
Ela se encolhe.
— Eu não dou a mínima para o que você quer. Você tem alguma
ideia de quantas mulheres tentaram foder Lucas? Quantas vezes tive
que impedi-lo de ser estuprado?
~ 180 ~
Uma pequena risada reverbera em meu peito. — Você não sabe
merda nenhuma. E graças a mim, nem ele sabe.
— Conte-me.
— Por quê? Então você pode sentir pena dele mais do que já faz?
— A merda que você não tem. Todo mundo tem. Só vou dizer isso
mais uma vez. — Eu respiro fundo, tentando segurar minha raiva. —
Deixe-o sozinho!
Cadela teimosa.
~ 181 ~
Ela dá um passo para trás. — Você não faria isso.
Ela funga, mas se empurra até ficar de pé. Seus olhos encontram
os meus, e embora os dela brilhem com lágrimas não derramadas, seu
olhar é de aço. — Vá se foder.
~ 182 ~
Nós estamos até à cintura na água quando a puxo para ficar na
minha frente. Meus músculos tremem de raiva e de um monte de merda
que me recuso a entender. O brilho da lua é nossa única fonte de luz,
seus lábios aparecem azuis e seus olhos cristalinos.
— Ponha-se de joelhos!
— Por favor, não faça isso. — Ela inclina o queixo para cima, a
água subindo acima de sua mandíbula e gotejando em sua boca e nariz.
Ela tosse, engasgando.
~ 183 ~
agora, Shyann, e seu último pensamento fodido será como Lucas falhou
com você. Ele falhou em resgatá-la, e ele é responsável pela sua morte.
— Nunca me subestime.
~ 184 ~
LUCAS
Shyann!
~ 185 ~
— Sim. — Estou com vergonha de que ela tenha mesmo que
perguntar. O que eu fiz?
— Você me assustou.
Uma única lágrima cai do meu olho, mas com a água espero que
ela não veja a minha covardia. — Eu sei. — A confirmação rasga minha
alma.
~ 186 ~
Eu corro para dentro para pegar uma toalha limpa. Quando volto
para a varanda, eu me preparo para não a encontrar, mas em vez disso
ela está no degrau inferior enrolada em uma pequena bola.
— Eu não.
~ 187 ~
— Desculpe. — Isso é tudo culpa minha. Senti uma calmaria com
essa falsa sensação de segurança, mas depois do meu último apagão eu
deveria ter sabido que as coisas poderiam piorar.
Tenho dois dias antes que Nash e Cody voltem. Eu vou ficar
acordado a noite toda e terminar a lareira e depois arrumar minhas
coisas e seguir em frente.
~ 188 ~
SHYANN
Não consigo fechar os olhos sem ver seu rosto. Deitada na cama
com o sol apenas espiando para aquecer a floresta acordada, não
consigo tirar a última imagem de Gage da minha cabeça para parar de
me assombrar tempo o suficiente para dormir.
14
Amyotrophic lateral sclerosis (ALS) - A esclerose lateral amiotrófica (ELA), também conhecida como
doença do neurônio motor e doença de Lou Gehrig, é uma doença que causa a morte dos neurônios de
controle dos músculos voluntários.[3][9] Alguns também usam o termo doença do neurônio motor para
um grupo de condições que ELA é o mais comum. ELA é caracterizada por rigidez muscular, espasmos
musculares, e, gradualmente, piora da fraqueza, devido aos músculos diminuindo de tamanho. Isto
resulta em dificuldade de fala, deglutição, e, eventualmente, da respiração.
~ 189 ~
Lucas não pode evitar quem ele é, quem se tornou, e ainda assim
é forçado a viver no exílio, incapaz de formar relacionamentos, se
apaixonar, ter um futuro que consiste em alguém fora de si mesmo.
Não sei como convencê-lo de que não vou machucar Lucas. Mas
suponho que a dor para eles é diferente do que é para mim. É possível
que eu tenha estado machucando Lucas todo esse tempo e nem sequer
soubesse.
15
é um espírito que está nas crenças religiosas do povo Pueblo, culturas indígenas americanas
localizadas na parte sudoeste do país.
~ 190 ~
Se isso acontecer, eu confio nele o suficiente para não me
machucar?
Cody?
Eu me sento. — O quê?
~ 191 ~
— Não, volte a dormir. Eu cuido disso. Tem um cara vindo
comigo. Com nós dois, devemos fazer isso rápido. Além disso... — ele
está de pé e olha para mim. — você parece uma merda.
Ele ri. — Legal. Te vejo lá. De jeito nenhum estou perdendo minha
irmã mais velha servindo um bando de fodidos bêbados das
montanhas. Que tempo...
— Tenho que ir, meu cara está aqui. — A cama pula e seus
pesados passos recuam.
Lucas.
~ 192 ~
LUCAS
Eu estou obcecado.
Consumido.
Totalmente enfeitiçado.
Mas aquele olhar, seus lábios puxados em uma linha fina junto
com a mandíbula, e sobrancelhas puxadas juntas. Esse é o rosto da
janela, a dor que retorce seus traços lindos, e eu coloquei a dor lá.
~ 193 ~
Engulo em seco, nervos me fazendo suar mesmo no clima de
dezesseis graus.
— Dor de cabeça?
— Não. — Só arrependimento.
— Oh... — Eu abro minha boca para dizer a ele que eu estava fora
na noite passada beijando sua irmã. Com a língua. Mas penso melhor e
fico de boca fechada.
— Não. Eu não aceito não como resposta. Você está aqui há dois
meses. Quantas vezes você saiu?
Ele empurra seu olhar para o meu. — O quê? Mas você enfrentou
aquele idiota do Dustin no bar na outra noite, certo?
~ 194 ~
Você não quer saber. Minha pele explode em uma poça de suor e
eu abro minha janela para me libertar do sufocante lugar.
— Eu não...
Seus olhos cheios de raiva se lançam aos meus. — Que porra você
acha que isso significa?
MORRA RETARDADO!
~ 195 ~
Olho fixamente para a parede e encolho os ombros. — Nenhuma
ideia.
~ 196 ~
LUCAS
Esta noite é a noite mais legal desde que me mudei para cá.
Assim que o sol se pôs, o ar esfriou e até mesmo houve um estrondo
distante de trovão. Um relâmpago corta o céu para o norte, advertindo
que uma tempestade está se aproximando.
~ 197 ~
em seu irmão. Está no puxão de seus lábios, do jeito que eles... —
Whoa, cara. Não me olhe assim. Isso não é um encontro.
~ 198 ~
— Eu sou bom. — Uma das casas de grupo em que morava tinha
uma mesa de bilhar. Eu não estava interessado nas atividades
extracurriculares que a maioria das outras crianças estavam envolvidas,
então passei muito tempo jogando.
— Shyann Blue Eyes Jennings, traga seu rabo até aqui agora! —
A raiva de Cody atravessa a sala, e mesmo que Shyann não se volte
para ele imediatamente, seus ombros enrijecem ao som de sua voz.
Ele troveja ao redor da mesa assim que ela endireita seus ombros
e gira para encontrá-lo, mas algo impede a sua morte iminente.
~ 199 ~
Ela pisca, uma combinação de choque e medo espelham suas
feições.
Cody corre para sua irmã, puxa-a mais perto das mesas de bilhar,
e olha furioso para alguns outros caras brincando enquanto a encaram
com apreciação.
Eu sei o que ela está procurando, então seguro seus olhos por
alguns segundos até que ela relaxe visivelmente.
— Ei, Lucas.
— Shy.
~ 200 ~
— Eu acho que você parece... — Eu lambo meus lábios e empurro
minhas mãos mais profundamente em meus bolsos. — ...muito bonita.
Ela lança ao irmão o dedo médio e não consigo lutar contra o riso
que brota do meu peito. Ela está falando comigo, o que é mais do que
esperava depois que Gage a aterrorizou na noite passada. Eu não fui
preso e Cody não se virou contra mim, então ela deve ter mantido o que
aconteceu em segredo. Meus músculos relaxam e o nó no meu
estômago se desenrola.
Cody parece conhecer cada pessoa neste lugar; ele foi legal o
suficiente para me apresentar a eles quando vieram dizer oi. É um
pouco estranho, ser bombardeado com tantos rostos novos, alguns que
já vi antes pela cidade, mas a maioria são estranhos.
~ 201 ~
Eu me mantive em um pequeno canto do bar, com o meu boné e
minha cabeça para baixo, e consegui ter um bom tempo. Eu não tenho
cerveja há algum tempo e nunca gostei do ato de beber ou perder o
controle de mim mesmo - Deus sabe que tenho o suficiente disso sem
nenhuma ajuda - mas com a garantia de Shyann indo e vindo, eu bebi
mais do que deveria.
Meu coração bateu tão forte no meu peito que teria jurado que ela
o poderia ver através da minha camisa.
~ 202 ~
— Ei, você está bem?
~ 203 ~
que tomou algumas bebidas. — Seu olhar se move para mim e ela se
esfrega contra mim. — Eu o manuseei muito bem da última vez que
estivemos juntos.
Sam puxa meu queixo de volta para ela e com meu olhar
firmemente fixado em Shy, meus olhos são as últimas coisas a verem,
por isso estou impotente para evitar os lábios de Sam quando eles
engolem os meus.
Ela empurra sua mão entre nós e as palmas das mãos roçam no
pesado comprimento entre minhas pernas. — Mmm...
Sua boca se move para o meu pescoço e ela agarra meu pau tão
duro que dói.
O véu cai.
~ 204 ~
GAGE
Seu peito se agita, atraindo meu olhar para seu decote corado de
raiva.
~ 205 ~
acelerar o processo, chegar na parte boa, quando o garoto Cody fica
entre as meninas lutando.
Desmancha-prazeres.
~ 206 ~
Eu deixo que ela me arraste pelo bar, por um corredor, para
algum tipo de quarto nos fundos. Ela me empurra pela porta, acende
uma luz, depois fecha a porta atrás dela e se inclina contra ela.
— Eu te assusto.
SHYANN
~ 207 ~
Não consigo respirar.
Cada vez que ele roçava contra mim ou sussurrava algo no meu
ouvido, meu corpo inteiro se aquecia e borboletas explodiam em minha
barriga.
Uma pequena voz na minha cabeça grita que sou egoísta, que vou
embora logo de qualquer maneira, então não deveria me importar.
Empurro a voz para longe e me concentro no olhar predatório do
homem na minha frente.
— Você tem bolas. Tenho que admitir. — Ele chega tão perto que
suas botas batem nos dedos de meus pés e sinto o cheiro de cerveja em
sua respiração. Suas juntas correm pelo interior de minhas coxas,
mergulhando sob minha saia — Acho melhor verificar.
Afasto sua a mão para longe e ele geme, seus olhos praticamente
rolando.
~ 208 ~
Ele pressiona a palma de sua mão na porta atrás de mim, inclina-
se, e traça meu cabelo com a ponta do dedo calosa. É gentil, e por um
momento eu finjo que é Lucas. Seu toque desliza ao longo de minha
têmpora, escorrega pela minha face. Estremeço sob a quase carícia. Ele
coloca as duas mãos em meu queixo, seu polegar correndo ao longo do
meu lábio inferior trêmulo. — Assustada, Shy Ann? — Ele ronrona meu
nome e é como fogo e mel molestando minha pele arrepiada.
Ele recua, seus olhos brilham com o calor. — Tem certeza disso?
Minha mente luta para dizer algo, qualquer coisa que lhe lembre
de que sou humana e não uma fonte de tortura para Lucas. Que eu
valho a pena proteger.
— Mentiroso.
~ 209 ~
Ele aperta-me mais forte e minhas mãos voam para as dele. As
unhas prendem seus pulsos para que ele me liberte. — Cuidado com a
boca, Shy Ann, ou vou foder isso.
Minha visão nubla e a escuridão se fecha. Ele não o fará. Ele não
vai. Seja quem for Gage, no coração dele ainda é Lucas e ele nunca me
machucaria.
Ele coloca distância entre nós, uma trégua não dita, mesmo que
apenas por enquanto. Eu me curvo, apoiando meu peso em meus
joelhos. Respiro, permitindo que todo o sangue em minha cabeça flua
de volta em meu corpo.
~ 210 ~
— Dificilmente. — Ele tira seu boné de beisebol e passa uma mão
através de seu cabelo escuro e espesso antes de cobri-lo de volta. — Ela
causa problemas para você, isso pode afetar Lucas.
Ele sorri, mas desta vez não é o tipo assustador, mas o tipo
divertido. Ele balança a cabeça.
— Preciso tirar Lucas daqui antes que tirem suas roupas e seja
raptado. — Cody sorri e dá uma bofetada nas costas de Gage. — Porra,
cara. Quem sabia que você fazia esse tipo. Pensei que Sam ia me rasgar
para chegar até você.
— Mas e Lucas?
~ 211 ~
— Bom. — Eu pego meus tickets, faço as contas e entrego um
punhado de dinheiro para Cody. — Aqui.
Droga!
GAGE
Tudo ruim.
~ 212 ~
Não no meu turno.
Ele não é.
Mas eu sou.
— Não.
— Ataque de tubarão.
~ 213 ~
— Ele também não vai lhe dizer.
Eu estava.
Nunca confiar.
~ 214 ~
Um rosnado baixo ressoa no meu peito e minha mão flexiona em
torno do fecho da porta. Eu poderia dizer-lhe para ir se foder e ir
embora. Vou dizer a ela para se foder e ir embora. Eu não devo
nenhuma merda a ela.
— Cage...
— É por isso.
Pronto. Falei.
— Uau. — Não preciso olhar para saber que seus lábios estão
segurando um sorriso satisfeito. Posso ouvir em sua voz. — Foi muito
gentil da sua parte, Gage.
~ 215 ~
LUCAS
~ 216 ~
barba deixe perceptível a minha cicatriz sob meu queixo - visto um
jeans, uma camiseta branca e minhas botas.
Parece que leva o dobro do tempo que os usuais dez minutos que
gasto ao me dirigir para o local. Com a grande lareira deitada na
carroceria de minha caminhonete, dirijo bem devagar para evitar bater
ao redor nas estradas de terra irregular. Quando estaciono, não vejo o
carro do Sr. Jennings, mas vejo o de Shyann.
— Ouvi o que você disse, mas não preciso de sua ajuda. — Ela
parece frustrada. Irritada. — Só porque você não vê o objetivo de
Oregon não quer dizer que não seja uma boa mudança na carreira. —
Ela respira profundamente e sua cadeira range. — É claro que
pesquisei. Não é como se tivesse apenas fechado os olhos, apontado e
pensado: 'Ah, ei, eu vou me mudar para Oregon!' — Ela se debruça um
pouco.
~ 217 ~
— Ei, Lucas. — Seus olhos são brilhantes, com um sorriso alegre
e toda a sugestão de irritação passou. Eu relaxo um pouco. — Como
está se sentindo esta manhã?
— Não. Mas você ainda está falando comigo, então acho que as
coisas correram bem? — Franzo o cenho e balanço a cabeça. — Eu
estava, não sei, meio que esperando que você pudesse me atualizar?
Eu lembro disso.
Eu concordo.
— Ela voltou para mais. Ela forçou a barra. Eu disse a ela para
recuar. Ela não fez isso...
— E nós?
~ 218 ~
Eu expiro longo e duro, o alívio acalma minha frequência cardíaca
e meus músculos tensos. — Obrigado. Então, você ainda fala com seu
ex-colega de trabalho? — Eu sugo uma respiração perante o meu tom
acusatório.
Ela cai para trás com um suspiro. — Trevor estava... — Ela geme
e esfrega a testa. — Como posso explicar isso sem que me faça parecer
ruim?
Seu olhar azul claro encontra o meu. — Não, mas... Meio que nós
ficamos de vez em quando, mas não era nada sério.
— Se você quis ser repórter, por que você está aqui, trabalhando
para o seu pai? — Ela é a mulher mais bonita e motivada que eu já
conheci, e poderia ser repórter se é isso que ela quer.
~ 219 ~
— Tive de abandonar. Estúpido, realmente. Deixei minhas
emoções obscurecerem meu julgamento. Agora não sou mais viável na
indústria. — Ela balança a cabeça e me acena com um sorriso triste. —
De qualquer forma, foi o bastante para...
O ar entre nós fica pesado e ela olha fixamente a caneta que bate
irrequieta na mesa, até quebrar o contato dos olhos. — Hum... Esse era
o plano.
— Era...?
Seu olhar vacila no meu e, pela primeira vez desde que a conheço,
ela parece insegura. Ela torce as mãos. — Não sei o que vou fazer agora.
— Eu te encontrei.
Estou quebrado.
Instável.
Perigoso.
16
Repetição de forma contínua.
~ 220 ~
Sua palma pressiona seu peito. — Mas o que eu sinto aqui,
quando estamos juntos, me faz acreditar que qualquer coisa é possível.
— Eu... sim.
— Então tudo que preciso provar é que não sou uma ameaça e ele
vai nos deixar em paz.
Ajustei meu boné de beisebol para não olhar para ela. Isso é
demais, mais do que eu mereço. Eu deveria dizer não, afastá-la, voltar a
ignorá-la completamente, mas ela está oferecendo mais do que eu
poderia sonhar.
Tudo o que ela diz parece lógico. Se não houver ameaça, não
haverá Gage. Mas e se ela estiver errada? A emoção não está sujeita à
lógica. Gage tem a capacidade de deixar morte e destruição em seu
rastro. Ele já fez isso antes. Ele poderia fazer isso de novo.
~ 221 ~
Seu olhar fixa em meus lábios e depois em meus olhos, como se
ela estivesse pedindo permissão. Eu gemo em agonia abençoada pois a
atração por ela é tão poderosa quanto meu instinto de fugir. Preso na
inocência de seu olhar, permaneço imóvel quando ela pressiona um
beijo com os lábios fechados em minha boca. — Tudo bem?
— Lucas, eu...
SHYANN
Eu pisco. Pela primeira vez, desde que estou viva, fico muda.
~ 222 ~
Lucas e me concentrar no plano de deixar Payson, mas por mais que
tenha tentado, falhei.
— Espera!
Ele se desloca em seus pés e puxa seu boné mais baixo sobre
seus olhos — A lareira está acabada. Eu preciso entregá-la...
— Está aqui?
— Posso ver?
— Ele vai assinar, ele vai. Como não poderia? Está... Uau, Lucas,
está realmente ótimo.
~ 223 ~
Ele encolhe os ombros, a humildade temperada com um pouco de
satisfação bem merecida. — Obrigado.
~ 224 ~
Nos dirigimos para a casa McKinstry por apenas alguns
quilômetros estrada abaixo. Alguns da equipe de Jennings estão no
local, colocando janelas novas e carregando divisórias.
Eu balanço a cabeça.
— Ei, pai. — Eu deslizo ao lado dele, mas ele não tira os olhos da
parede. Lucas permanece na entrada, inclinando-se com um ombro
contra o batente.
— Shy...
— Vou ter que pedir para o xerife algemar você para mantê-lo
longe dos caras que fizeram isso, assim que eles forem presos?
Morra, retardado.
~ 225 ~
Ele concorda com a cabeça, seus lábios em uma linha apertada
como se estivesse revivendo a frustração de ver a casa pela primeira
vez.
Ele não tem ideia, não se lembra. Claro que não. Foi Gage lá
naquela noite. Dustin o xingou, provocando-o e incitando-o, não Lucas.
~ 226 ~
SHYANN
~ 227 ~
pensamentos, que soam algo como: É melhor não me ignorar, seu filho
da puta. — Seu nome, por favor?
— Sei que foi você. — Minhas mãos tremem de fúria com o que
ele fez, o que ele disse sobre Lucas, o que ele fez com meu pai.
~ 228 ~
Ele encolhe os ombros. — Não tenho nada a confessar. Minhas
mãos estão limpas.
— Cale-se...
~ 229 ~
mandíbula aperta. — Agora, a menos que você tenha alguma evidência
para provar que era eu ou tenha um policial com você para me prender,
saia da minha loja.
— Não, eu...
— Claro.
~ 230 ~
— Sim, eu o conheço.
— Ele pode ser estranho, às vezes, mas, acho que ele é inofensivo.
— Você pode, não sei, imaginar se alguém pode não gostar dele?
Ter uma razão para querer machucá-lo?
~ 231 ~
Comigo ele fala.
— Você voltou.
~ 232 ~
papéis apertada ao meu peito. Eu folheio as folhas tão silenciosamente
quanto possível, me sentindo meio detetive particular e meio
perseguidora.
Lucas Menzano.
— O que é isso?
~ 233 ~
sobre mim nesta completa invasão de sua privacidade. Eu não deveria
estar fazendo isso. Eu tenho seu sobrenome. Isso devia ser suficiente.
— Oi, querida.
— Sério? Estou feliz por mim também! Eles querem que eu faça
só um trabalho e se eu passar nisso, serei contratado.
Mais boas notícias sobre como Trevor está vivendo a vida pela
qual trabalhei duro enquanto estou presa na vida que odeio.
~ 234 ~
— Esta estação é de ponta, Shy. Eles estão procurando pessoas
dinâmicas que são apaixonadas e podem colocar um novo toque nas
reportagens.
Totalmente incrível, Trevor. Por que não vou enfiar meu rosto em
uma bacia de merda para comemorar?
— Acho, quero dizer, não sei isso ainda, mas acho que eles podem
achar seu descontrole em direto muito legal.
— Claro, querida.
Eu desisti de tudo pelo que trabalhei para ver o que acontece com
um homem que mal conheço?
Lucas Menzano.
— Quem?
~ 235 ~
A voz de Trevor estala a minha cabeça e eu aperto meus olhos
fechados. — Oh, hum... Desculpe, eu estava apenas passando por
registros de funcionários. O nome, parecia familiar.
— Sim?
Ele fica quieto por alguns segundos. — Não, mas a NAU é uma
grande universidade. Poderia ter sido um Menzano lá.
Massacre Menzano.
~ 236 ~
— O garoto acabou saindo, alguma estúpida burocracia, é muito
assustador pensar que ele está em algum lugar lá fora, sabe? Nosso
sistema legal falhou em grande escala.
Um adolescente Lucas.
~ 237 ~
parece quatro vezes o seu tamanho, e um grande curativo de gaze
branca em seu pescoço.
Eu não posso piscar, não posso olhar para longe enquanto fixo na
página de imagens diante de mim.
Fotos de prisão.
~ 238 ~
LUCAS
A vida antes de Shyann era fácil. Eu não sabia que algo estava
faltando, então eu nunca me incomodei com minha falta de amigos.
Mas ela me mimou com sua atenção, deu-me o gosto de como seria
~ 239 ~
minha vida se eu a compartilhasse com outra pessoa. Ela me olhou
como se eu fosse importante, respirou uma nova vida para dentro de
mim, e agora ela levou isso para longe.
Que alguém como ela poderia ser capaz de ficar ao lado de alguém
como eu.
~ 240 ~
Um sino toca quando passo pela porta, e sigo as placas que levam
até à seção dedicada aos cães. Há várias opções e marcas diferentes de
rações, eu agarro a embalagem em que o cachorro parece com Buddy e
caminho até à seção com camas. Circular, quadrada, retangular… há
até casas para cachorro. Talvez eu devesse construir uma casa de
cachorro para ele. Tudo que eu precisaria era alguns pedaços de
madeira. Ele sairia debaixo do convés, onde o chão é frio. Ele nunca
sobreviveria ao inverno se eu não construísse para ele...
Meu olhar move-se devagar de seu corpo largo até seu rosto. Sua
mandíbula está travada e uma veia salta de sua testa. — Eu…
desculpe?
— Oh…
— Saia, garoto.
~ 241 ~
— Você precisa de uma escolta, cuzão?
— Ei, idiota!
Eu me movo o mais rápido que posso até à saída quando ouço ele
murmurar atrás de mim. — Aberração fodida.
Um lar.
~ 242 ~
para minha casa no rio. Aperto os olhos e concentro-me no caminho à
minha frente, enquanto a escuridão pressiona dentro de mim.
SHYANN
~ 243 ~
Consegui evitar ir até aos trabalhos em campo desde que soube de
Lucas. Não que eu tenha medo dele, ou o julgue de qualquer maneira...
Ok, talvez isso não seja inteiramente verdade. Eu acabei de perceber
que não conheço Lucas, e tudo o que pensava sobre Gage, todas as
suas ameaças voltam até me atingir. Ele estava certo.
Eu o subestimei.
~ 244 ~
Seus olhos cinzentos brilham na minha mente. Vulnerável,
confuso… A casca de um homem que parecia ganhar vida quanto mais
tempo passávamos juntos. Quanto mais ele confiava em mim, mais eu
via pedaços de quem ele realmente era. Mesmo Cage, comecei a
acreditar que estávamos forjando uma trégua, que ele por fim percebeu
que eu não machucaria Lucas. Acontece que ambos estávamos errados.
~ 245 ~
Cody está de pé junto à minha porta olhando-me fixamente. —
Bem a tempo. — Ele abre a porta para me alcançar e pegar o talão de
cheques. — Ei. — Ele inclina a cabeça. — Você está se sentindo bem?
Você parece, não sei, pálida.
~ 246 ~
— …se está tudo bem, pensei que você poderia ir com ele.
— Vá.
Que diabos.
— Ei, Lucas.
~ 247 ~
Eu engulo fundo. — Eu... Hum... Meu pai, ele disse que você
precisa ir a uma casa e dar uma oferta para algum design...
— Sim.
— Ele pediu que eu fosse com você? — Não sei por que isso saiu
como uma pergunta além do fato de que, apesar disso ser uma ordem
do nosso chefe, sinto a necessidade de obter sua permissão.
Ele tira seu boné e vira-o para frente em sua cabeça, em seguida,
puxa-o para baixo, sobre suas sobrancelhas. — Agora?
Eu concordo.
— Eu posso dirigir.
— Eu não sei...
~ 248 ~
— Por favor, Lucas. — Agora sou eu quem está inquieta. — Só
fazem poucos dias, mas... — Eu movo meus olhos ao redor, então
observo a terra em meus pés. — Eu sinto sua falta.
— Por favor...
Ele para nos cantos para fazer medições rápidas, então passa
para o próximo. Na cozinha é mais do mesmo. Estudo, movimento,
medida. Estudo, movimento, medida.
~ 249 ~
Cada vez que ele levanta os braços, eu tenho um flash de seu
estômago firme e uma tira de cabelo escuro que desaparece em sua
calça jeans. Os músculos de seus braços longos se flexionam com cada
puxão da fita métrica e as imagens de ser segurada nesses braços me
deixam contorcendo.
~ 250 ~
LUCAS
Essa é a única explicação que podia ter para a tortura que ele
está me fazendo passar. Ter Shyann tão perto, presa ao meu lado em
um carro e receber esse olhar penetrante, mesmo sabendo que não
posso tê-la.
Seus ombros caem e ela sobe ao meu lado. Giro a chave, ligando o
motor e esperando que ela me deixe sozinho e não me force a confessar
o quão miserável eu estou, o quanto senti falta de sua amizade, quantas
vezes sonhei com seus lábios.
~ 251 ~
Minhas mãos apertam o volante mais forte. — Você não precisa
explicar. Eu entendo.
— Estacione.
— Não acho que seja uma boa ideia. — Quanto mais cedo me
afastar dela, mais chances tenho de não cair a seus pés, pedindo uma
outra chance.
~ 252 ~
— Eu lembro que você me contou sobre o bar. Eu não sabia que
era ele. — Eu penso em suas palavras. É um pouco tarde para um
pedido de desculpas, não acha? — Faz mais sentido agora.
— Você está certo. Estou mais segura sem você. — Ela mastiga
seu lábio inferior e então solta um suspiro. — Mas pensar em viver sem
você é pior do que meus medos.
Isso poderia ser verdade? Ela poderia se sentir tão perdida quanto
eu quando não estamos juntos? Minhas mãos tremem e para evitar
acidentes, dirijo através de uma estrada velha que conduz a um moinho
abandonado. Eu desligo a caminhonete. O ar no carro está expresso
entre nós e minha mente se esforça para organizar o milhão de
perguntas que estão desordenadas em minha cabeça.
Ela geme — Você não fez nada. Eu… — Seus dedos se apertam
em seus cabelos. — Droga, isso é tão difícil.
~ 253 ~
Não. Ela não pode saber; ela me odiaria se soubesse.
— Lucas?
Os meus irmãos.
— ...Respire!
Minha irmãzinha.
— Lucas! Respire!
~ 254 ~
SHYANN
~ 255 ~
— O ar… não posso.
Ele está tremendo e sua palma está suada, mas ele segura minha
mão. — Por quê... Por que você está fazendo isto comigo?
~ 256 ~
— Gage. — O único nome reverbera no ar ao nosso redor, fazendo
com que um arrepio corra por minhas pernas, pelos meus braços e pelo
meu pescoço.
Gage pode não ser capaz de dizer a Lucas o que aconteceu; meu
palpite é que ele não quer que Lucas saiba para protegê-lo.
~ 257 ~
— Então por que, por que ele mataria seus irmãos? Eles eram
mais jovens do que você, certo? Eles não estavam te machucando,
mas... — Eu engulo, aterrorizada por trazer à tona o inevitável. — Sua
mãe, ela machucou você, Lucas.
Seu corpo se enrijece e ele olha para mim. — Não coloque a culpa
em si próprio? Como você pode dizer isso? Sou eu. Gage sou eu! Quem
ele machuca, eu estou machucando! — Suas pálpebras cintilam e a
raiva que se forma em sua voz me faz recuar. — Ele veio e me protegeu,
mas ele não os protegeu! — Ele fecha as mãos apertadas, então bate um
punho em seu peito com força. — Eu! Eu não os protegi! — Seus
ombros estão tensos e ele respira com dificuldade enquanto suas
narinas estão dilatadas. — Então pare de dizer que não fui eu!
— Por que você está fazendo isso, Shyann? — Sua voz se quebra.
— Por que você não podia simplesmente ficar longe?
— Eu...
— Porquê?
~ 258 ~
GAGE
— Deixe-me explicar...
Eu ganhei.
~ 259 ~
— Corra. Eu vou pegar você. — Eu finjo dar um passo para a
frente e ela tropeça, mas acaba se recuperando.
Funcionou antes.
— Oh meu Deus, ela está bem? — Shyann não tira seus olhos de
mim, como se ela estivesse esperando que eu ataque. — Eles têm
alguma ideia de quem fez isso?
— Qual hospital?
Hospital?
— Sam foi ferida. Ela está na UTI. — Seu lábio inferior estremece,
mas ela sopra um longo suspiro e para. — Alguém a machucou, Gage.
~ 260 ~
Ela passa por mim e sobe na caminhonete enquanto eu fico lá
olhando para o espaço que ela acabou de desocupar. Que diabos? Em
um minuto ela está assustada, e com razão; no próximo ela está me
tratando como se eu fosse seu motorista de merda.
— Vamos!
Totalmente golpeado.
— Você pode não saber disso, mas é óbvio que você não é ele.
Está... um... — Ela movimenta seus olhos, estudando-me, e um
pequeno rubor colore suas bochechas. — Tudo aqui. Suas expressões
são diferentes.
~ 261 ~
Estou sem palavras.
~ 262 ~
SHYANN
— Posso ajudar?
— Não, mas...
— Shy?
~ 263 ~
olhos se enchem de lágrimas. — Eu bati na ambulância. A porta estava
muito aberta e eu podia ouvi-la gemer.
— Alguém invadiu?
Ele encolhe os ombros — Não sei. Quando cheguei, ela olhou para
mim e desmaiou. Ela esteve lá por um tempo, seu sangue estava seco.
Deve ter acontecido durante a noite. — Ele se inclina para a frente,
colocando a cabeça em suas mãos. — Ela foi espancada muito
duramente. Seu rosto, seu corpo, Deus... Shy, mal a reconheci.
~ 264 ~
— Esse cara é uma bomba prestes a explodir. Ele veio até minha
loja me confrontar a respeito de você.
Ele fixa seu olhar no meu. — Como você pode dizer isso? Ele
começou uma briga comigo.
— Não faça isso, Dustin. Eu sei que você está chateado e quer
culpar alguém, mas eu estou dizendo a você, Lucas não é responsável.
~ 265 ~
Não Lucas. De jeito nenhum.
Mas Gage...
Isso não faz sentido. Gage não queria Sam antes; ele se recusou e
até menosprezou. O que ela poderia ter feito para merecer ser
espancada? O que eu fiz para merecer apenas pouca respiração e um
quase afogamento?
Eu olho para cima e viro-me para falar com Dustin. — Volto mais
tarde.
Ele segura minha mão. — Fique longe dele, Shy, pelo menos até
descobrirem quem é o responsável por isso.
~ 266 ~
GAGE
— Ei!
Meu olhar cai para Buddy que está adormecendo em meu colo. —
Assim?
~ 267 ~
Suas sobrancelhas erguem-se como se ela tivesse conseguido
encontrar uma rachadura em minha armadura e está orgulhosa de si
mesma por esse feito. Ela não tem ideia do que eu sou capaz. — O que
você quer, Shy?
— Quero lhe mostrar uma coisa. — Sua voz perde o poder, como
se estivesse lutando para encontrar a coisa certa a dizer. — É
importante e, apenas... foda-se.
Seus olhos flamejam de raiva e sua boca forma uma linha dura.
~ 268 ~
Ela solta um suspiro trêmulo e eu ando em direção a ela. Cada
passo parece aumentar sua respiração e por um segundo ridículo eu
imagino como seria tê-la sob mim, respirando daquela maneira.
Empurro esse pensamento para longe rapidamente e culpo Lucas por
tais sentimentos.
~ 269 ~
— Claro que estou bem. — Irritação fortalece minha resposta.
Eu estendo a mão e puxo com força seu suéter. Ela para, tropeça,
e depois bate em meu peito. Meus braços envolvem sua cintura em um
aperto e eu escovo meus lábios em sua orelha. — Boa tentativa. —
Respiro pesadamente e todo seu corpo estremece contra o meu. — Eu
sempre vou ganhar, Shyann.
~ 270 ~
Junto seus quadris com o meu, certificando-me de que ela não
possa fugir, e mergulho minha mão sob seu suéter. Sua pele está
quente e pegajosa de suor e minha boca enche de água para prová-la.
Eu arrasto a palma da mão para cima, marcando-a com um aperto
firme, até que eu alcanço o tecido sedoso do seu sutiã. Eu empurro
impacientemente o tecido, desesperado para capturar seus pesados
seios em minhas mãos.
— Isso, querida.
— Gage, eu…
Eu puxo seu mamilo com força, e ela finca suas unhas em meus
braços. Meus quadris pressionam sua bunda, encorajando-a a abrir as
pernas, enquanto minha mão livre desliza para agarrar seu lustroso
cabelo preto em torno do meu punho. Uma vez, duas vezes, e eu puxo
sua cabeça para trás. Seus lábios escuros estão separados, seus olhos
fechados e ela se contorce contra mim. Porra, nunca vi nada tão bonito
na minha vida.
~ 271 ~
— Foda-se, olhe para você. — Minha boca reivindica a dela em
um beijo brutal. Sua cabeça se contorce e a curva do seu pescoço é
tentadora, se eu não estivesse brincando com seu seio, eu envolveria
minha mão em torno dele apenas para sentir o sangue vital bombeando
em suas veias.
Lucas.
~ 272 ~
— Eu... — Seus olhos buscam os meus, como se ela estivesse
procurando Lucas para salvá-la. — Eu me importo muito com Lucas,
Gage. É o seu corpo, ele deve estar aqui.
Ela zomba e arrasta suas mãos nas coxas. — Ora, ora, então
somos arrogantes?
Ela se move para longe de mim, onde há uma pequena árvore que
não parece em nada com as outras desse lugar. Deve ter cerca de seis
metros de altura, seus ramos caem em folhas longas que de longe
parecem fios de cabelo. Shyann ajoelha-se na base da árvore e vira-se
para mim, chamando-me com a mão, antes de se voltar para a árvore.
~ 273 ~
— O que é? — Empurro meu queixo em direção da árvore,
sentindo-me completamente desconfortável, por alguma razão que Deus
desconhece.
— Hã…
Enfiei minhas mãos sob minhas axilas. — Então você só... Jogou
seu corpo em um buraco? Foda-se, e você pensou que eu era
implacável.
— Por que você me trouxe aqui? Você disse que queria conversar.
É disso que você queria falar, sua mãe morta se transformando em
comida de vermes sob nossos pés?
~ 274 ~
— Não, eu acho que só queria confiar algo importante para você.
— Ela apoia sua mão sobre a grama selvagem. — Nunca trouxe
ninguém aqui antes. As únicas pessoas que sabem que ela está aqui
são Cody, meu pai, eu... E agora você.
— Eu sei que você não quer confiar em mim, Gage. Você quer que
eu lhe prove que sou um perigo para Lucas, mas você sabe, no fundo,
que não sou. A verdade é que nunca me importei com alguém tão
verdadeiramente quanto me importo com ele. Sei que você quer que eu
vá embora, que vire as costas para vocês e finja que nunca nos
conhecemos, mas eu não posso.
Para vocês?
Eu e Lucas.
É claro que ela vê além de mim e para, mas seus olhos, aqueles
que sugam minha alma, olhos vívidos, focam-se nos meus. — Quero
que confie em mim, Gage. Quero que me diga a verdade. Foi você que
feriu Sam?
~ 275 ~
GAGE
Ela me estuda e o que quer que ela tenha visto, faz com que uma
fração do seu medo se dissolva. — Você ainda não confia em mim.
— Por quê? — Não, não por quê. A resposta é não. Sempre não!
— Pergunte a Lucas.
— É para seu próprio bem. As coisas que ele não sabe iriam
destruí-lo se o fizesse.
~ 276 ~
— Talvez isso seja verdade, mas você não acha que ele merece ter
sua vida de volta? Meu Deus, Gage, ele está correndo e nem sabe por
quê. Ele vive com a culpa de ter matado seus irmãos e irmãs...
— Eu fiz!
~ 277 ~
Eu rosno em sinal de frustração, tão cansado de negar o que meu
interior está gritando. Ela é a pessoa mais fascinante que já conheci, e
pela primeira vez na minha existência, conheci alguém que me faz
querer dar tudo.
SHYANN
Passos soam atrás de mim e meus músculos apertam. Ele não vai
me machucar; eu acredito com cada célula em meu corpo que ele nunca
me machucaria.
~ 278 ~
— Eu a ataquei. — Há um sorriso em sua voz. — Eu empurrei
Lucas para a escuridão e ataquei a cadela. Eu bati naquela puta
estúpida tão forte quanto meu corpo de oito anos permitiu.
— Não.
— Você quer saber? — Sua voz está em minha orelha, tão perto
seu ar quente em meu pescoço. — Você realmente quer saber se eu
matei minha família? Você pode lidar com a verdade da minha vida,
Shyann?!
~ 279 ~
Eu viro a cabeça com seus gritos e me faço a mesma pergunta. Eu
posso? Posso lidar com mais alguma das suas verdades?
— Sim, sim.
Sua boca congela em meu pescoço e sua mão treme onde ele está
segurando meu cabelo, não um tremor de ansiedade, mas de raiva mal
controlada. — Não tenha medo de mim, querida. Você quer a verdade,
você conseguiu. — Sua respiração é como fogo na minha orelha. — Sim,
matei a puta da minha mãe.
~ 280 ~
GAGE
Seus belos olhos estreitos. — Você estava lá; você assumiu para
proteger Lucas. Aquele dia deve ter sido pior do que os outros. De onde
veio a arma?
~ 281 ~
— Você pode confiar em mim. Em algum nível você sabe que
pode. Não lute contra isso. Fale comigo.
A cortina cai.
~ 282 ~
SHYANN
Gage estalou.
Eu amo eles.
Ambos.
Deus, e não é isso que eles têm perdido durante suas vidas
inteiras? É a ausência de amor que os torna reservados. É a ideia de
que eles não são dignos de afeto incondicional que os retém. Com cada
parte do meu ser, eu quero corrigir isso, para lhes provar que eles são
excepcionais. Eu não quero consertá-los, ajudar Lucas com a intenção
de livrá-lo de Gage; que só confirmam o que eles já acreditam. O que
eles precisam é acreditar em seu valor não quem e o quê eles poderiam
se tornar, mas exatamente quem eles já são.
~ 283 ~
ela sempre soube que eu estava destinada a grandes coisas, e essas
coisas grandes não tinham nada a ver com meus objetivos de carreira.
Tomando cada pedaço de afeto que foi derramado sobre mim por
meus pais e cobrindo Lucas com ele. Aceitá-lo, a todos, bem como ao
seu passado. Até mesmo as profundezas do inferno e todos os seus
demônios. Eu mantenho-o mais apertado, não querendo deixá-lo ir,
agora que ele finalmente encontrou descanso. O vento sopra um gemido
suave entre as árvores e eu fecho meus olhos, sentindo pela primeira
vez que estou exatamente onde pertenço.
— Shy?
— Eu sinto muito...
~ 284 ~
— Eu estou. — Eu o beijo de novo, desta vez permitindo que
minha língua humedeça seus lábios.
— Esqueci.
Ele olha com admiração para nada mais do que floresta intocada
e cordilheiras. Extensas montanhas cobertas de rocha e verde que
parecem ficar ali para sempre. O sol, amarelo vibrante, afunda-se atrás
das colinas roxas e pinta o céu em uma série de rosas e laranjas
brilhantes. Ele pisca e aperta a minha mão, então afasta seus olhos da
vista para colocá-los em mim. — É uma obra-prima. — Ele cora, como
se a descrição viesse de algum lugar no fundo, um lugar que ele não
está acostumado a mostrar aos outros. — Quero dizer, não parece real.
— O quê?
~ 285 ~
Seus olhos precipitam-se para os meus, depois para a vista, e de
volta aos meus lábios. — Eu quero beijar você.
Seus lábios tremem por um segundo antes que ele baixe a cabeça
e os pressione nos meus. Levanto nas pontas dos pés e inclino a
cabeça. Ele aceita o convite, seus braços envolvendo minha cintura
enquanto aprofunda o beijo. Minhas pernas balançam e eu luto para
permanecer ereta, não querendo nada mais do que ceder à gravidade de
seu beijo e puxá-lo comigo para o leito de flores silvestres sob nossos
pés.
— Eu sinto muito. Está tudo bem? — Seu corpo inteiro vibra, até
mesmo sua respiração.
~ 286 ~
bocas moldam juntas em um ritmo preguiçoso que mexe com minha
cabeça e inflama meu sangue.
— Me dê sua mão.
— Ok? — Eu sussurro.
~ 287 ~
Sua mão centrada, eu pressiono seu dedo médio mais profundo e
arrasto sua mão para cima e para baixo. Seus lábios se separam e sua
expressão se transforma de nervosa em atônita. Depois de algumas
passagens, ele inclina os dedos, cavando entre minhas pernas. Eu
suspiro com a sensação, e ele flexiona em meu quadril.
Eu puxo meu suéter para expor o peito que ele tocou com a mão e
arqueio minhas costas, oferecendo. Seus olhos deslizam para os meus e
ele mergulha sua cabeça e chupa meu mamilo.
~ 288 ~
— Não é Gage.
— Por quê?
LUCAS
Por mim.
~ 289 ~
É quase demais esperar por algo assim. Mais do que eu mereço,
mas ainda... Deus, como eu quero isso.
Shyann meneia sob a minha perna enquanto ela tenta puxar suas
calças jeans de volta para cima.
Minha mão ainda está no seu corpo e ela pisca para mim.
~ 290 ~
faz esquecer a dor do meu passado. Me faz acreditar que milagres são
possíveis.
— Lucas?
— Obrigada. Isso significa muito para mim. Eu sei que você não
confia facilmente nas pessoas, especialmente nas mulheres. — Eu perco
seu sorriso e sinto falta disso instantaneamente.
~ 291 ~
Ele contou a ela sobre o meu passado. As coisas repugnantes que
fui forçado a fazer, e as coisas ainda piores de que Gage me protegia.
Essas não são histórias compartilhadas entre amantes ou amigos.
Essas são histórias de horror, a espinha dorsal de cada pesadelo, e
destinadas a serem levadas para o túmulo. E eu odeio que Shy tenha
sido contaminada por isso.
Minha mão cai de seu rosto e eu dou um passo atrás. — Por que
ele iria te dizer isso? — Minha voz soa vazia. Sem emoção.
— Não fique louco, ok, eu só... — Ela mastiga seu lábio inferior,
seus olhos contornando o sol quase definido, então de volta para mim.
— Você já se perguntou o que aconteceu naquele dia, no dia em que
você conseguiu aquela cicatriz?
— Mas...
— Porque não?
Porque eu quero que você goste de mim, não quero que você veja
quão fraco eu sou, quero ser merecedor de você.
~ 292 ~
LUCAS
As coisas estão leves entre nós, ela não fala sobre Gage ou o meu
passado, nenhuma menção aos assassinatos. Um trovão estala acima e
nós sentimos as primeiras gotas de chuva quando chegamos ao córrego.
Buddy ladra para nós de seu ponto debaixo da varanda, e Shy dá-
lhe um rápido esfregar antes de me puxar para a porta. Ela sorri para
mim, respirando pesado, seu cabelo preto molhado e grânulos de chuva
em seus cílios. — Isso saiu do nada.
Abro a porta para ela entrar, mas ela permanece alguns segundos
em silêncio antes de fazer um movimento para atravessar a soleira.
Ela para em minha frente e levanta em suas pontas dos pés para
pressionar seus lábios contra os meus. O sal de sua pele se mistura
com a chuva fria e eu lambo meus lábios para absorver cada gota.
~ 293 ~
Ela mergulha suas mãos debaixo da minha camiseta e eu levanto
meus braços enquanto ela desliza para cima do meu corpo e sobre a
minha cabeça. Seu olhar se move através de meus ombros, meu peito, e
mais abaixo até que suas mãos estão no gancho de minhas calças de
brim. Ela tateia com o meu cinto, mas consegue abrir o meu botão. Eu
estou tão duro, tão pronto para ela que minha ereção pressiona o tecido
da minha boxer.
~ 294 ~
Levo-a para meu quarto com passos descoordenados e
gentilmente deito-a na cama. Há um breve momento de insegurança, o
que ela poderia pensar do meu quarto, o colchão nu com lençóis
baratos e cobertor de saco de dormir, mas todo esse medo rapidamente
se evapora quando sua mão me segura sobre o algodão de minha boxer.
Eu abro suas pernas e fico entre elas como ela me ensinou antes,
correndo meus dedos grosseiramente sobre ela até que ela está
gemendo de frustração.
Meus olhos vão para ela e ela relaxa um pouco. Talvez ela esteja
tão nervosa que Gage roube isso como eu.
~ 295 ~
— Espere! — Eu levanto uma mão e corro para o banheiro,
procurando através das gavetas até... aha! Uma única embalagem de
plástico.
Obrigado, Gage!
~ 296 ~
Ela balança a cabeça impacientemente. — Não, depressa... Mais.
Toda vez que olho para ela, a pressão do climax sobe em espiral e
ameaça a libertação. Respire, faça álgebra, qualquer coisa para evitar
este fim muito cedo. Abrindo a camisinha com meus dentes, rolo-o e
encontro os olhos famintos e cheios de desejo de Shyann.
~ 297 ~
músculos. Eu seguro, indo devagar para que possa assistir como cada
cume desliza contra sua suavidade.
Ela sussurra algo e eu fico quieto. Não, eu devo ter ouvido isso
errado. Eu deslizo dentro e fora dela, incapaz de desistir da sensação de
estar profundamente dentro dela, me perguntando se eu vou ter essa
chance novamente.
— ...muito. Eu faço.
— Eu machuquei você?
~ 298 ~
Uma gota cai de seu olho e eu a agarro com o dedo, esfregando
em minha própria pele como se eu pudesse absorver sua dor. — Shy...
Você está chorando.
O sorriso dela se vai, mas ela não parece envergonhada com o fato
de eu a ter visto nua. Suponho que ter relações sexuais significa que
estamos além disso agora. — Sim, a noite no rio. E antes disso fazia
anos.
Eu pisco. — O quê?
— Eu te amo, Lucas.
— Por favor... — Que este seja real. Meus dedos tremem contra
sua boca. — Diga novamente.
~ 299 ~
Balanço minha cabeça de um lado para o outro contra a dela. —
Como isso é possível? — Eu me movo dentro dela, desta vez mais
contundente, dominado por suas palavras.
~ 300 ~
SHYANN
Sua mão aplana contra a minha pele e ele beija o topo da minha
cabeça. — Você é a obra-prima, Shy.
~ 301 ~
Deito-me de costas e atiro meu braço sobre sua barriga. — Isso é
porque eu te amo. E se é difícil de acreditar, vou continuar dizendo a
cada poucos minutos até que acredite.
— Como você sabe que eu estou sorrindo? Você nem consegue ver
meu rosto.
Ele me segura para ele e rola para que esteja em cima de mim. O
peso de seu corpo grande pressiona o meu, e sua ereção repousa contra
minha coxa. Eu mordo meu lábio e tento concentrar além do meu
desejo.
~ 302 ~
Eu dou uma respiração e aceno com a cabeça. — É simples,
realmente. — Eu olho para ele por alguns segundos silenciosos, nervosa
sobre como ele vai levar isso. — A coisa é... Eu também o amo.
— Eu amo.
— Porquê?
— Você mesma disse. Ele não foi bom para você, Shy. — Ele
começa a se levantar e sair da cama. Eu luto para mantê-lo perto, mas
ele é muito forte e estou sozinha na cama, assistindo quando ele veste
sua boxer.
— Ainda.
Uma longa exalação cai de seus lábios e ele deixa cair o queixo em
seu peito. — Eu odeio isso por você.
~ 303 ~
Corro meus lábios ao longo de sua omoplata, tomando prazer na
trilha de arrepios que deixo para trás. — Posso lidar com Gage.
— Por quem?
— Assalto em série.
Ele está olhando abertamente para o nada e sua voz sai num
sussurro minúsculo. — Ódio? Contra quem?
— Mulheres.
17
Modus Operandi - (plural: modi operandi) é uma expressão em latim que significa "modo de
operação". Utilizada para designar uma maneira de agir, operar ou executar uma atividade seguindo
geralmente os mesmos procedimentos. Tratando esses procedimentos como se fossem códigos.
No caso dos assassinos em série, o mesmo modo é usado para matar as vítimas: este modo identifica o
criminoso como o mesmo autor de vários outros crimes.
~ 304 ~
— O quê? Por quê?
— Por favor, fique para trás. — Ele está ofegante, seus punhos
apertados.
~ 305 ~
Eu pisco e abano a cabeça, em seguida, puxo meu suéter e movo
até ele, mas ele segura uma mão para me manter de volta. — Não me
empurre para longe.
~ 306 ~
SHYANN
~ 307 ~
escritório de advocacia local em Phoenix especializado em divórcio, e
depois de volta para as notícias onde uma imagem familiar ocupa a tela.
~ 308 ~
— Você acabou de chegar aqui?
— Sua família me deixou sentar com ela um pouco. Acho que eles
sentiram pena de mim. — Ele esfrega os olhos. — Deus, Shy... Ela está
tão confusa. Olhos inchados fechados, lábios divididos, a maior parte de
sua pele que consegui ver estava ferida.
Ele vira a cabeça para mim, sua expressão suave... alguma coisa.
— Você faria isso por mim?
~ 309 ~
Eu assisto com horror enquanto ele me puxa, seus lábios indo em
direção à minha testa antes que mergulhe rapidamente e pressione sua
boca contra a minha.
~ 310 ~
SHYANN
— Certo. Obrigado por estar aí, você sabe, para nós dois.
~ 311 ~
Eu teclo em encerrar e abro a minha porta, entrando e ligando o
motor.
Eu desço e saio em direção à casa, mas tenho que voltar para trás
para fechar a porta da caminhonete, minha mente dificilmente
consegue acompanhar meu corpo.
Nada.
Nada.
~ 312 ~
Eu seguro a maçaneta e rezo para que ela esteja destrancada,
enquanto me digo que se não estiver, vou quebrar uma maldita janela
se for preciso. Felizmente a porta se abre e eu passo cautelosamente.
— Lucas?
Nada ainda.
~ 313 ~
Aprendi a amar.
Ele pisca e olha para ela; o sorriso que ele estava usando
desaparece. — Você sabe as regras, querida. — Ele mergulha sua língua
em sua boca, o som molhado de sua conexão rastejando em meus
ouvidos.
~ 314 ~
Mas o amor não é suficiente para suportar esse tipo de dor.
GAGE
~ 315 ~
momento em que os pneus de Shy desaparecem pelo caminho, é a
ilusão que o fez. Um truque finamente jogado que funcionou melhor do
que eu poderia ter planejado. Lucas acordando com essa bagunça teria
sido suficiente; ele se sentiria culpado, confessado, e Shyann estaria
fora de sua vida para sempre. Mas não, ela realmente entrou e viu ele.
Perfeito.
É o que eu queria.
Sorte.
Certo.
Digo a mim mesmo que isso é o que precisava ser feito. Shyann
estava zombando de Lucas, então tinha seus lábios esmagados contra a
boca do fodido dono da loja de animais de estimação no meio do
hospital para a cidade inteira ver.
Como ela podia falar com aquele babaca depois de como tratou
Lucas?
~ 316 ~
Tudo o que Lucas queria era estar lá para ela, mas entrar no
hospital e ver as mãos naquela escória horas depois de estar nua em
nossa cama? Foda-se!
Agora ela deve estar se sentindo traída, usada, fodida. Bom. Agora
estamos ambos no inferno e miseráveis.
— Ela não nos ama. Não ama. — O único pouco de amor que eu
já senti de outro ser humano é uma memória há muito esquecida de
meus irmãos. Exceto o que eu sentia por Shyann antes que ela me
apunhalasse pelas costas e que parecia amor. Ela me aceitou, me
desafiou e me protegeu.
Em Gage.
Nos amou.
~ 317 ~
SHYANN
Isso tudo é culpa de Gage. Aquela pobre menina nada fez do que
se deixar levar por um rosto bonito, um corpo sólido e uma porcaria de
charme. Ela não é a prostituta. Ele é!
Ele não vai parar de tentar me empurrar para longe e ele sabe que
meus sentimentos por Lucas também são minha maior fraqueza. Eu
deveria estar de guarda, em vez de abrir meu coração e oferecê-lo
livremente para ser esmagado.
Ama? Ha!
~ 318 ~
Que piada. Estou começando a me perguntar se Gage é capaz de
emoção. Meu palpite é não.
Proteção, claro.
Passo pela tela e vejo duas chamadas perdidas do meu pai, outra
do meu irmão e, em seguida, outra de Trevor. Perfeito, agora posso
chamá-lo de volta e implorar por sua ajuda. Yay.
Tenho certeza de que meu pai e irmão estão tentando saber como
estou. O texto que eu enviei dizendo — “Estou indo para Strawberry por
um tempo.”— foi provavelmente mais preocupante do que não enviar
mais nada. Afinal, ninguém simplesmente vai para Strawberry. Eu não
ficaria surpresa se eles estivessem organizando minha busca e resgate
neste minuto.
— Nash aqui.
~ 319 ~
Eu mastigo meu lábio por alguns segundos, lutando contra o
desejo de quebrar e confessar minhas mais chocadas circunstâncias de
merda com Lucas. — Eu estava no hospital a maior parte do dia, vi
Sam... — Minhas palavras se afastam como se isso fosse toda a
explicação que ele deveria precisar.
Gage tinha que saber que isso iria acontecer... de fato, isso
provavelmente era parte da tortura. Ter que reviver o que vi em detalhes
vívidos e assistir Lucas desmoronar sob a culpa. As chances são de
Lucas ter acordado para uma cena semelhante a que eu vi e ficado
confuso. Certamente ele saberia que tinha sido usado, e sabendo que
Lucas gostaria de confessar e implorar por perdão.
~ 320 ~
Ele acha que pode me humilhar, me desviar usando o homem que
eu amo como uma ferramenta em seu jogo doente.
Ele segura o que parece uma cerveja quente e mal tocada, pois o
esnobe só bebe IPAs18, e não os selos americanos que meu pai prefere...
e sai do sofá. — Oi querida.
~ 321 ~
— O que está acontecendo aqui?
Trevor ri. — Claro que vai funcionar. Com você temos uma
conexão direta com a vítima, bem como uma possível conexão com
alguém relacionado ao Massacre de Menzano.
~ 322 ~
— De jeito nenhum. Não estou ajudando você a culpar um
homem inocente e expor meu amigo a essa merda.
— Trevor, não...
~ 323 ~
Trevor cruza os braços em seu peito como se eles formassem uma
barreira entre nós, tornando-o impenetrável para a minha mensagem
não-verbal. — Lucas foi acusado de matar toda a sua família quando
tinha apenas catorze anos de idade.
Isso será fácil. Tudo que eu tenho que fazer é criar bastante
dúvida para que meu pai dispense Trevor e o coloque fora de casa, e
nós ficaremos bem.
Eu luto nos braços do meu pai para impedir Trevor antes das
palavras finais saírem de sua boca.
~ 324 ~
está vivendo em sua cidade. Trabalhando para sua empresa e
aconchegando-se com sua filha.
Ele ri sem humor e joga seus braços flácidos no ar. — Bem. Vou
pegar a história sem você. — Ele se move para a porta, balança-a
aberta, e se vira, olhando. — Perdeu sua chance, Shy. Acho que você
não está tão motivada como eu pensava.
~ 325 ~
LUCAS
~ 326 ~
Eu levanto do meu assento e me dirijo para o chuveiro,
balançando ligeiramente e agarrando minha cabeça latejante. Uma vez
no meu quarto, tiro minhas calças de moletom e o perfume do sexo
desconhecido alcança meu estômago. Eu apoio meu peso contra a
parede e viro para a luz. Latas de cerveja no chão, meu saco de dormir
jogado, e... meu estômago se aloja em meu peito. Não...
Um preservativo usado.
Eu respiro e fecho meus olhos. Por favor, não. Ele não faria isso
comigo. O calor vem aos meus olhos. Meus braços em volta do meu
estômago, recusando-me a aceitar o óbvio. O cheiro de perfume me
provoca e eu me lembro de tempos semelhantes no passado.
Nunca.
... Seu bastardo ingrato! Agora você vai ter que comer isso também!
E, eventualmente, iria.
~ 327 ~
Ele tomaria os castigos, seria a pessoa mais forte que eu não
poderia ser.
Não foi.
— O que você fez, Gage? — Parece tão ridículo, mas sei que ele
pode me ouvir. — Eu a amo e sei que você também. Por que você não
nos deixa tê-la? — Incapaz de olhar para o meu próprio reflexo, sabendo
que meu corpo foi dado a outra mulher, meus lábios pressionados para
uma estranha, me deixa doente. — Deixe que ela nos ame, por favor.
Nós não merecemos, mas isso não significa que não devemos aceitá-la.
~ 328 ~
Faróis vêm à vista e o corpo de Buddy está imóvel, um grunhido
feroz roncando em sua garganta. Eu me aproximo dele com cautela,
arriscando um toque, mas ele nunca me deixou chegar tão perto antes.
Eu agacho e aperto sua cabeça, na esperança de acalmá-lo. Ele me dá
um rápido olhar e volta para os faróis próximos que são muito baixos
para ser uma caminhonete.
— Você se perdeu?
— Você é?
~ 329 ~
— Trevor Peterson.
Nós?
Sam. Meu pulso bate um pouco mais rápido e eu sou grato que
ele não pode ver meu mal-estar.
~ 330 ~
Ele franze o cenho. — Claro. Você também sabe que há um
homem à solta que está espancando as mulheres? Oito mulheres para
ser exato.
Quem lhe disse isso? Shyann não faria isso. Ela nunca me
venderia... a menos que... Ela sabe que Gage dormiu com outra pessoa?
Raiva a faria me expor?
~ 331 ~
— Você não tem que dizer nada. A evidência fala por si só. Tudo o
que tenho a fazer é conectar os pontos. — Ele anda ao longo da
varanda, sorrindo. — Garotos como você...
Como eu?
— … Seu registro.
— Eu não...
Eu não respondo.
~ 332 ~
Meus olhos estreitam e meu estômago rola com enjoo.
— Oh, com certeza você pode. Venha, me conte sua história e vou
deixar Shy aqui em Payson em vez de arrastá-la para Los Angeles
comigo. Vou deixá-la ficar com sua família em vez de fazer dela minha
esposa.
~ 333 ~
SHYANN
— Como você está? — Meu pai cai ao meu lado no sofá onde eu
tenho olhado para a televisão em branco desde que Trevor saiu.
— Ele não é perigoso. Ele é... — Merda. Minha garganta dói com a
memória dele com outra garota. — Complicado.
~ 334 ~
Eu não posso evitar, sinto que estou traindo a sua confiança, mas
manter seu segredo é um fardo muito pesado. A expressão do meu pai
permanece impassível e ele espera.
— Explique.
— Tem um nome?
— Exatamente.
— Com minha vida. — Embora talvez não tanto com meu coração.
~ 335 ~
— Tudo bem. — Ele se levanta e atira sua garrafa vazia no lixo. —
Só conheci o garoto por alguns meses, mas ele não me deu nenhuma
razão para não confiar nele. Isso diz muito, vendo como esse Trevor faz
minha pele arrepiar só de estar de pé na mesma sala com ele.
— Sim.
— Papai...
— Okay.
~ 336 ~
caminhonete do meu pai batendo e quando o meu pé atinge o passo
inferior da varanda, dois braços envolvem minha cintura por trás.
— Socorro!
— Cale-se!
Merda!
— Lucas!
Gage ri. — Eu não posso acreditar que você seria atraída para um
homem como este. — Ele faz um gesto para Trevor, desgosto torcendo
seu rosto lindo. — Ele já chorou duas vezes. — Uma risada maníaca
explode de seus lábios. — Eu nem tenho uma arma!
~ 337 ~
Meu pai entra mais fundo no cômodo, fechando a porta atrás de
nós. Ele olha fixamente entre Trevor e Gage, mas finalmente se dirige a
Gage. — O que está acontecendo, filho?
Eu aceno de volta. Por mais que eu queira odiar o Gage pelo que
ele fez, quão mal eu quero que ele saiba a dor que me fez passar, eu não
posso. Eu tenho que acreditar que ele agiu por autopreservação,
alguma defesa inerente para evitar qualquer tipo de abuso emocional.
Deus, estou enjoada, mas ainda o amo.
Gage rola os olhos e caminha para a frente. Meu olhar devora seu
torso sem camisa e a maneira como seu suor cai solto em torno dos
quadris estreitos. Ele é a definição de andar perigoso e sexy. Seus olhos
fixos nos meus. — Ele sempre foi uma rainha do drama?
~ 338 ~
— Ha! Sim, bem, ele poderia ter tentado. — Eu olho para meu ex-
amigo. — Como se eu fosse deixar ele me tocar novamente.
— Ouvi o bastante. — Meu pai vai até Trevor e o puxa para cima
da cadeira. Mantendo os pulsos e os tornozelos presos, ele o atira pelo
ombro. — Eu vou estar lá fora. Chame Austin para vir pegar este saco
de porcaria. Vocês falam sobre o que vocês precisam falar antes que o
xerife chegue aqui. E você? — Ele olha para Gage. — Estou confiando
em você com minha filha. Não me faça me arrepender.
— Você me machucou.
Ele balança para trás e seus ombros caem, seu olhar no chão. —
Eu sei.
~ 339 ~
Ele dá um passo à frente, mas deve ver algo na minha expressão
que o faz parar. — Isso não é verdade. Eu confio em você. Eu faço. Eu
não posso suportar perder você, isso é tudo. Nós não podemos viver
sem você. — Ele sopra um longo suspiro. — Como posso provar isso
para você?
— Você quase fez, mas sorte sua que eu não desisto facilmente.
— Você deve nos deixar ir, encontrar a vida que você merece, Shy.
— Seus olhos brilham e ele levanta seu queixo. — Eu não posso
prometer que não vou machucá-la novamente.
— Eu não posso. Isso é tudo tão novo e eu estou com tanto medo
de estragar tudo.
~ 340 ~
Ele se afasta, seus olhos piscando, e não sei como eu sei, mas
sinto Lucas tentando passar. Eu pego o queixo com as duas mãos. —
Eu te amo, Gage. Eu faço.
~ 341 ~
— Mikey chorou; ele implorou para não ser morto. — Sua cabeça
se inclina para o lado, seus olhos frios e assombrados nos meus. —
Você já ouviu um menino de dez anos implorar por sua vida, Shy?
— Ele não podia fazer isso. Toda vez que ele trazia aquela faca
para seu pequeno pescoço, ela gritava que não queria morrer, implorava
por sua vida. — Ele bate a têmpora com o punho. — Eu ainda posso
ouvir!
— Mamãe disse para ele abrir a boca. Ele ouviu. — Seus olhos se
afastam para não se concentrar em nada. — Ele sempre a ouvia. Ele era
um bom garoto. — Saindo de qualquer memória que ele estava, seu
olhar se desloca para o meu. — Ela deslizou seus dedos trêmulos para o
gatilho, pegou a faca e segurou-a na garganta de nossa irmã. Deu-lhe
uma segunda opção. Mate-se ou mate Alexis.
— Oh Deus...
— Até então ela tinha ficado quieta. Talvez tenha sido um choque,
mas eu sabia que ela tinha ido embora dentro de sua cabeça. Uma a
~ 342 ~
uma, ela observou com uma satisfação doente que todos os três de
meus irmãos tomaram uma bala na cabeça. Mas fui eu... Era meu
trabalho mantê-los seguros. Eu não puxei o gatilho, mas fui
responsável por suas mortes.
— Gage, não. Você não tinha escolha; você era uma criança e um
animal.
~ 343 ~
Somente alívio. Respeito. E o sentimento de justiça. — Mas... Você
matou sua mãe.
— Sim?
— Lucas...
~ 344 ~
LUCAS
O que aconteceu?
Eu queria poder.
~ 345 ~
Os faróis brilham enquanto outra caminhonete para, esta marrom
com SHERIFF escrito em dourado nas laterais.
Nash a puxa para longe, mas ela rasga seu braço livre. — Pare, eu
só quero dizer adeus.
Seu lábio treme, mas ela é forte e luta contra as lágrimas. — Não
se preocupe, ok?
Ela suspira e se estica até ficar nas pontas dos pés. — Eu te amo.
— Eu também te amo.
~ 346 ~
LUCAS
— Não, senhor.
— Quer explicar?
~ 347 ~
maioria das pessoas e por causa disso eu me escondo. É como um
sonambulismo, só que estou acordado, mas eu... não estou lá. Então eu
mesmo não me lembro de ter qualquer tipo de relação sexual com Sam,
mas eu os ouvi... juntos.
— Você sabe que Shy e Sam foram amigas há muito tempo. Sam
está agora com o ex de Shyann. — Ele encolhe os ombros. — O ciúme é
um poderoso motivador.
Uma cela.
~ 348 ~
grades balança aberta para um banco acolchoado e um único banheiro.
Eu congelo, meu corpo rejeitando meu comando para se mover. Com
uma pressão firme de Gary, eu passo para dentro e minha pele pica
com ansiedade.
Quem disse que me viu na casa de Sam tem que estar mentindo,
mas é minha palavra - a palavra de um acusado e absolvido criminoso -
contra testemunhas oculares.
Uma vez que a notícia de que estou preso sair, nem mesmo a
minha inocência vai me salvar.
SHYANN
~ 349 ~
Passo pela porta da casa do meu pai bem depois da meia-noite
para encontrá-lo em no lugar familiar na cozinha. Depois que Lucas foi
preso, voltei à casa do rio com Buddy, me assegurei de que ele estivesse
alimentado e quente antes de me sentar falando com suas orelhas
macias. Eu fingi que estava falando com o cachorro, mas eu estava
realmente conversando com minha mãe. Pedindo-lhe orientação e
oração, ela ligaria Lucas com alguma intervenção divina para libertá-lo
dessa carga ridícula.
— Não.
Eu pisco para cima e pela primeira vez não ergo o muro de defesa
nem adopto a atitude inflexível, e digo-lhe exatamente o que está no
meu coração. — Estou apaixonada por ele, pai.
Meu lábio treme e meu peito palpita com seu elogio silencioso.
Ele suspira e uma risada suave cai de seus lábios. — Você sabe
que seu avô não estava muito feliz em ver sua filha apaixonada por um
cara pálida. Ele tornou quase impossível que estivéssemos juntos.
~ 350 ~
Meu instinto é dizer algo para confortá-lo, palavras de força que o
mantenham firme, mas estou sufocada de tristeza. Também sinto falta
dela.
Abro a boca para defender Lucas, mas fecho os lábios sem uma
única defesa. — Ele mereceu. Você não pode emboscar um homem em
sua casa no meio da noite, especialmente um homem como Lucas.
Eu vejo meu pai andar pelo corredor como um homem que puxa o
peso de mil vidas atrás dele.
~ 351 ~
SHYANN
— Desculpe, Shy...
Com ela fora de vista, eu corro para as portas duplas e rezo como
o inferno para não ser pega. Uma vez que entro, ninguém parece se
importar que estou lá, à exceção de alguns olhares de questionamento
das enfermeiras que eu ignoro, agindo como se pertencesse ali,
andando nos salões do hospital.
~ 352 ~
Acredito que seus pais estejam aqui no segundo em que o horário
de visitas comece e eu não quero uma audiência para o que preciso
dizer.
Elas me abraçaram.
~ 353 ~
Minutos silenciosos passam e caem nos seguintes e, pela primeira
vez desde antes de minha mãe morrer, eu rezo. Eu envio pedidos
sinceros e imploro a Deus que Sam sobreviva a isso. Que Lucas tenha
finalmente a oportunidade que ele tão desesperadamente merece e ter
uma chance de viver uma vida livre de medo e cheia de paz.
— Você está aqui cedo. — Seu olhar se move de mim para Sam e
ela franze o cenho.
Sigo seus olhos e meu coração dói pelo que ela deve sentir vendo
sua filha assim. — Sim, eu tinha de vê-la.
— Claro.
LUCAS
~ 354 ~
O tempo passa lentamente quando o sono se recusa a vir. Eu
tenho olhado fixamente para o teto desta cela pequena porque cada vez
que eu fecho meus olhos, tudo que posso ver é Shyann. Seu rosto
atormentado quando fui levado em custódia. O som de seu protesto
grita em meus ouvidos ainda, e sabendo que ela está lá fora se
machucando é pior do que a possibilidade de eu estar na prisão por um
crime que não cometi.
— Menzano.
Calor rasteja até meu pescoço pelo modo como devo parecer por
trás das grades em minha calça de moletom e uma camiseta
emprestada depois de uma noite sem dormir. — Eu estou bem. Sim.
— Ela não era uma ameaça para você, Lucas. Ele não fez isso,
mas... — Ela estuda a sala, observando claramente as poucas câmeras
estrategicamente colocadas e apontando para nós. — Eles sabem sobre
você agora.
Eu concordo.
~ 355 ~
— Shy, não se preocupe comigo. Eles investigarão e a verdade virá
à luz. Tudo vai ficar bem. — Eu não estou convencido, mas eu minto
para fazê-la se sentir melhor.
— Eu quero te abraçar.
~ 356 ~
Ela cora e salta quando a grade de metal que leva para a
delegacia de polícia se abre e o xerife Austin entra. Seu profundo
arrepio faz meu estômago se contorcer de ansiedade e ele olha para
antes de se mover para nós.
— Filha, queria parar para te dizer que Sam está acordada e seus
médicos a deixaram conversar.
O xerife verifica seu relógio. — Gary deve estar indo para lá agora.
— Seus olhos encontram Lucas. — Eu estarei de volta em algum
momento para que você saiba o que temos.
— Obrigado.
— Sim, mas se foi o Shadow, será que ela vai ter alguma
informação para dar que me coloque fora? Quero dizer, se ela não viu
seu rosto, ou ouviu sua voz, e não houvesse nenhuma evidência, isso
não me deixaria culpado?
SHYANN
~ 357 ~
— O tempo acabou! — Um policial chama da porta. — Diga
adeus.
Ele franze o cenho, sua expressão cada vez mais séria. — Eu acho
que temos que estar preparados para o pior. Eles fizeram sua pesquisa,
Shy. Eles sabem meu registro, que eu fui julgado por assassinar minha
família.
~ 358 ~
mesmo se soubesse que tinha tirado uma vida. Se as autoridades
descobrirem alguma vez, o arrastariam para um novo julgamento?
— Não tem chance. Já lhe dei mais tempo do que deveria. — Ele
se dirige para a porta. — Vamos.
LUCAS
~ 359 ~
— Sr. Menzano. — O olhar de Austin é escuro e está fixo no meu.
— Aprecio sua paciência com tudo isso. — Ele abre a porta. — Parece
que fomos enganados por falsas testemunhas. Você está livre para ir.
A abertura está bem ali, mas eu hesito em sair, como se isso fosse
uma provocação para intensificar minha punição. — Eu não entendo.
~ 360 ~
move para se sentar muito longe de mim e a puxo em meu colo. Ela
guincha e olha para mim com os olhos arregalados e um sorriso. Eu
não sei o que está acontecendo comigo, mas agora que a tenho perto de
mim, não parece certo se não estivermos nos tocando.
~ 361 ~
— Trevor Peterson. — Austin repete, e só então ele finalmente
afunda.
— Compreendo. Obrigado.
~ 362 ~
Nós nos movemos para sair, mas Shy vira para trás. — Por favor,
me diga que você o tem, Austin. Preciso saber que Trevor está fora das
ruas.
Ele passa por nós e abre a porta para a pequena área de reserva,
então sorri. — Oh, nós o temos preso.
~ 363 ~
LUCAS
— Não.
~ 364 ~
Ela inclina a cabeça para cima, os dentes cerrados e os olhos
cuspindo fogo azul. — Dois minutos. Só preciso disso.
— Posso, por favor, tirar você daqui antes que você faça nós dois
sermos presos?
SHYANN
~ 365 ~
Em uma parada rápida no café 87, eu observei Lucas encarar
hesitantemente suas panquecas antes que eu alcançasse e desse uma
mordida, depois me aconchegasse no assento de couro enquanto ele me
mostrava aquele sorriso que sempre me fará estremecer. Cody e meu
pai se juntaram a nós e as coisas ficaram um pouco embaraçosas
quando eles perguntaram a Lucas sobre Gage. Ele foi generoso com
suas respostas e minha família boa o suficiente para não forçar muito.
Ele puxa seu lábio superior com a língua, tentando esmagar seu
sorriso. — Nada. — Ele se eleva em toda a sua altura e arranca sua
camisa. — Eu preciso de um banho.
~ 366 ~
— É... — Ele estuda meu rosto. — É isso então? Quando seu
rosto fica sério assim e seus olhos ficam... Eu não sei... intensos?
Ele inclina sua testa sobre a minha. — Isso ainda não parece real
para mim. Você é demais para mim. — Ele inclina a cabeça e arrasta
lentamente o nariz ao longo da minha bochecha, inalando todo o
caminho até minha orelha. Estremeço enquanto sua respiração quente
provoca minha carne sensível. Seus músculos tensionam sob minhas
mãos antes de ele afundar seus dentes no lóbulo da minha orelha e
puxar com um rosnado.
Gage.
— Eu amo.
~ 367 ~
— Você tem a capacidade de me quebrar. — Sua voz é crua,
fazendo-me afundar mais profundamente em seu abraço.
— Eu estou nervosa.
~ 368 ~
— Gage! — Eu rio e enrolo minhas pernas ao seu redor enquanto
ele avança para a casa, através da porta da frente e direto para o
banheiro.
Implacável.
Eu abro a boca para lhe dizer que estou com várias coisas e frio
não é uma delas, mas ele gira o chuveiro e testa a água até que o
cômodo está cheio de vapor. Com uma das mãos ele tira sua camiseta,
então estende os braços.
Eu já estive nua com esse corpo antes, mas não com esse homem.
Eu vou em sua direção e ele me engole em seus braços. Nossos peitos
nus se pressionam e eu posso sentir seu coração batendo contra o meu.
Tão íntimo e gentil, o oposto do que esperava. Ele esfrega minhas costas
e depois coloca seus lábios em meu ouvido. — Entre.
~ 369 ~
Ajoelho-me a seus pés e desamarro suas botas, tirando-as e
colocando de lado junto com as meias. Quando me ergo, ele me puxa
entre suas pernas. Seus braços vêm ao meu redor, segurando-me no
lugar enquanto seus lábios cobrem meu estômago nu com beijos
carinhosos. Correndo meus dedos através de seu cabelo, eu observo
enquanto ele corre seus lábios sobre a minha pele, provando-me e
respirando até que estou me contorcendo de desejo.
Ele moe contra mim e suas mãos tremem como se ele estivesse se
segurando, com medo de perder o controle. Minha respiração rasga
dentro e fora dos meus pulmões em antecipação. Ele deve ter sentido e
solta seu aperto em meu cabelo para me virar. Sua boca se move dos
meus lábios ao meu pescoço, depois para baixo em meus seios e suga
cada mamilo tão forte que dispara raios de sensações através da minha
pele. Ele explora cada centímetro de mim com precisão, enquanto sua
língua não deixa nada negligenciado. Um poderoso aperto me mantém
presa para me impedir de mexer descontrolavelmente.
Ele cai de joelhos e joga minha perna sobre seu ombro, abrindo-
me para ele. Ele olha fixamente entre as minhas pernas até que a
insegurança me faz balançar.
~ 370 ~
Ele geme contra mim enquanto mergulha para me provar lá. Eu
grito, minha cabeça caindo para trás contra os azulejos. Seu ataque
sensual é implacável enquanto ele persuade meu corpo a dobrar-se à
sua vontade. Seus lábios poderosos brincam contra a minha carne
sensível. Sons que eu nunca ouvi antes saem dos meus lábios em uma
sinfonia de necessidade e quando não posso aguentar mais nenhum
segundo, ele se foi.
~ 371 ~
— Eu não vou a lugar nenhum. — Sua ameaça deveria me
assustar, mas me faz sentir segura, mais a salvo do que já estive antes.
Porque esse tem sido o meu medo por todo esse tempo, minha razão
para manter distância daqueles que mais importam para mim, porque
eu nunca sobreviveria se perdesse alguém que eu amo novamente.
Seu rosto se contorce em agonia e ele deixa cair sua testa em meu
ombro enquanto puxa e empurra dentro de mim. — Prometa-me.
Não consigo imaginar minha vida sem Lucas. Sem Gage. Todas as
minhas esperanças e sonhos empalideceram no dia em que os conheci
e, desde então, se transformaram em algo muito maior do que um
trabalho e uma notoriedade. Agora tudo o que importa é nós. Nosso
amor, uma vida juntos.
Ele se inclina para que sua boca esteja em meu ouvido. — Sou
seu. Daqui em diante, nada vai te tocar. Eu nunca vou deixar ninguém
te machucar.
~ 372 ~
Meus olhos vão para onde nossos corpos estão ligados. — Acho
que não consegue chegar mais perto que isso.
Ele cora. — Joguei fora os velhos. — Seus dedos giram uma longa
mecha de meu cabelo e sua expressão se torna séria. — Te fazer feliz
será a missão da minha vida, Shy. — Ele tenta esconder, mas eu vejo o
medo trabalhar atrás de seus olhos — Farei o que for preciso. Terapia,
medicação, qualquer coisa...
~ 373 ~
Seus lábios roçam os meus. — Você preferiria. — Outro beijo. —
Deixar Payson e perseguir seus sonhos? — Sua língua mergulha em
minha boca e eu abro para ele, provando sua apreensão, sua
vulnerabilidade, e eu o beijo com uma paixão que espero que coloque
todas as suas preocupações para descansar. — Ou... — Ele beija a
ponta do meu nariz. — Jogar tudo fora por um cara que não vai a lugar
algum tão cedo?
— Nós podemos.
~ 374 ~
SHYANN
~ 375 ~
— Ei, Sam. — Eu me movo para a cadeira ao lado de sua cama,
mas não me sento. Ainda não tenho certeza se sou bem-vinda para ficar
muito tempo. — Como você está se sentindo?
— Estou bem, até melhor, eu acho. — Ela pisca seu olho bom. —
Obrigada por vir.
~ 376 ~
— Escute, há algo que eu preciso conversar com você. — Eu
mordo meu lábio, preocupada que mencioná-lo irá manchar sua opinião
sobre mim. — É o Lucas.
— Não era com Lucas que você estava... hum... transando. Era
com Gage. — Pronto. Botei para fora.
— De qualquer forma, espero que esteja tudo bem, mas sua mãe
deu a Jennings a chave da sua casa. Lucas está lá com uma tripulação
agora, substituindo todas as suas fechaduras, adicionando trancos nas
janelas e um sistema de segurança.
~ 377 ~
Eu balanço a cabeça. — Não. Ele se sente terrível com a maneira
como Gage tratou você e foi até ao meu pai para conversar sobre fazer o
que for preciso para você se sentir melhor.
— Eu entendo.
— Entende?
~ 378 ~
— Obrigada por vir. — Ela aperta minha mão. — Eu senti falta
disso.
Ela sorri e seu apoio na minha mão fica frouxo quando sua
pálpebra boa se fecha. — Bom.
~ 379 ~
SHYANN
Só levou dois anos e oito meses para convencer meu pai de que
Jennings precisava de um lugar melhor para o escritório, uma
localização mais visível, e uma estrutura que serviria de exemplo para o
produto que vendemos. Levou mais quatro meses para construir o lugar
e hoje é dia de mudança.
— Eventualmente.
20
Ela fala em ‘brand-spankin ergonomic desk chair´, referindo ao tipo de cadeira de executivo,
ergonómica, que existe em vários modelos diferentes. Deixamos um dos modelos, mas existem vários:
~ 380 ~
Logo após Sam ter se recuperado de seus machucados, ela tomou
algumas aulas de contabilidade na escola Satellite e meu pai a
contratou. Tem sido muito divertido trabalhar com ela. Nós
perseguimos meu pai a maioria dos dias com a nossa tagarelice
incessante, então ele fica mais com o trabalho online, o que só ajuda os
negócios.
— Claro.
Eu tomo um gole do meu café assim que Cody entra com outra
caixa etiquetada com "Escritório da Shy" com um grande "FRÁGIL"
escrito do lado.
~ 381 ~
— Oh, eu levo esse! — Eu avanço para pegar a caixa, mas meu
irmão passa por mim e a coloca na minha mesa.
Cody faz um gesto para Sam. — Uma vez que vocês duas
terminaram de conversar, talvez você pudesse começar a desempacotar.
— Ele pisca um sorriso provocante.
~ 382 ~
acho que é você que ama me provocar. — Ele flexiona seus quadris em
minha parte inferior das costas e eu engasgo com o quão duro ele está.
~ 383 ~
— Nem mesmo perto! — Gage morde meus lábios.
~ 384 ~
GAGE
Minha esposa.
E ela é minha.
Eu arrasto meu corpo nu sobre o dela até que meu peito está
entre suas coxas, meus braços apoiados em ambos os lados de sua
barriga.
~ 385 ~
— Está ficando tão grande. — Eu seguro sua barriga como uma
pequena bola de basquete. — Ele não está machucando você, está?
~ 386 ~
Eu escovo meus lábios ao longo de sua orelha. — Eu te amo,
Shyann. Eu vou continuar te amando até que nós dois estejamos longe
dessa terra. Você e os bebês que você nos der.
LUCAS
~ 387 ~
— Mas... Eu sou uma bagunça!
Eu estou perdido para cada som que sai de seus lábios, cada
gemido que vibra seu corpo inteiro, e cada pitada de dor de suas unhas.
Tudo dispara direto para a minha ereção com uma fome que se recusa a
ser ignorada.
~ 388 ~
Ela choraminga quando eu me afasto e caio ao lado dela.
— De você? Sempre.
~ 389 ~