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São Paulo, SP

Copyright © 2019 by Roy Alden Atwood


Publicado originalmente sob o título:
Educating Royalty
Disponível em: https://reformedperspective.ca/educating-royalty/
1ª edição 2020
ISBN: 978-65-89129-00-4
Impresso no Brasil

Tradução: Cesare Turazzi


Revisão: Maurício Fonseca
Capa: Júlio Araújo
Diagramação: Marcos Jundurian

PIRATARIA É PECADO E TAMBÉM UM CRIME


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A887e Atwood, Roy Alden


Educando a realeza / Roy Alden Atwood ; [tradução: Cesare
Turazzi]. – São Paulo: Trinitas, 2020.
25 p. ; 21cm
Tradução de: Educating royalty.
Inclui referências bibliográficas.
ISBN 978-65-89129-00-4
1. Educação cristã. 2. Ensino – Aspectos religiosos – Cristianismo.
I. Título.
CDD: 268.6
Catalogação na publicação: Mariana C. de Melo Pedrosa – CRB07/6477

Todos os direitos reservados à:

Editora Trinitas LTDA


São Paulo, SP
www.editoratrinitas.com.br
Sumário

Quem é você? ........................................... 7


A resposta que muda tudo ........................ 9
O que isso quer dizer?............................... 13
Prioridades: somos realeza.
Comecemos a agir como realeza ................ 15
A educação da realeza: recuperando
as ferramentas perdidas da educação ....... 17
Conclusão................................................. 25
E d u c a nd o a R e a l e z a

Quem é você?

Devemos ensinar os nossos filhos e nossas crian-


ças a serem herdeiros e herdeiras do Reino — e não
meros assalariados no mercado de trabalho.
“Quem é você?”, certa vez um universitário
perguntou-me.
Pergunta estranha, pensei. Eu já havia lidado com
inúmeras perguntas feitas por outros estudantes, mas
esta, em específico, me pegou despreparado.
“É… sou professor”, respondi, cambaleante.
“Não!”, ele retrucou. “Não quis dizer o que você faz,
mas: quem é você?”.
A pergunta me desconcertou. De forma semelhante
à maioria dos norte-americanos, também eu fui meticu-
losamente, embora não intencionalmente, catequizado
desde pequeno por meus pais, na afirmativa de que a
primeira e mais importante pergunta que fazemos a
alguém adulto quando pela primeira vez o conhecemos
(depois de saber seu nome) é: “O que você faz?”.
Aprendi muito bem esta pergunta do catecismo
secular, repetindo-a, literalmente, centenas de vezes no
decorrer dos anos, em todos os âmbitos de interação
social. Mas este catecismo deixou-me primordialmente

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roy alden atwood

despreparado para responder àquela pergunta tão fun-


damental acerca de minha identidade pessoal separada
do meu ambiente de trabalho.
Aquilo me entristeceu, porque, como cristão, estive
mais versado no catecismo do pragmatismo secular do
que nas perguntas 12 e 13 do Catecismo de Heidelberg
ou nas Escrituras. E eu sabia não ser o único.

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E d u c a nd o a R e a l e z a

A resposta que muda tudo

“O mesmo Espírito testifica com o nosso espí-


rito que somos filhos de Deus. E, se nós somos
filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros
de Deus, e coerdeiros de Cristo...” (Rm 8.16–17a)

Com o passar dos anos, refleti naquele embate


e percebi que a resposta bíblica e pactual à per-
gunta “Quem é você?” é gloriosa, erguendo-se em
rígido contraste contra o mito secular de que nosso
emprego, ou “carreira”, nos define. Claro, nosso
trabalho e chamado como cristãos no mercado de
trabalho são importantes. Prover para as nossas
famílias é de grande privilégio e responsabilidade.
Todavia, o enfoque dado ao trabalho, tanto em
nossa vida quanto na educação de nossos filhos,
na maioria dos casos está aplicado da maneira
errada e é, hoje, enfatizado exageradamente nos
círculos reformados.
Nossa ética de trabalho calvinista e nosso senso
vocacional reformado — servir a Deus em todas as
coisas — são heranças gloriosas; contudo, em nosso
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roy alden atwood

contexto do século XXI, tornaram-se amplamente


indistinguíveis da idolatria típica da classe média,
encontrada comumente mesmo entre os crentes
mais próximos de nós (isto é, esta idolatria é ter
“alguma [outra] coisa em que se deposite confiança”
[Catecismo de Heidelberg, pergunta 95]).
Na verdade, por mais de trinta anos de ensino
universitário, alternados entre universidades secu-
lares e cristãs, posso atestar que a única pergunta
que todos os pais — cristãos e não cristãos — têm
em comum e fazem acerca da educação superior,
é: “Que tipo de trabalho meu filho conseguirá ter
quando se graduar?”.
Intencionalmente ou não, é uma pergunta que
revela profundas prioridades mundanas. Ques-
tionamento que, certamente, não é fruto de uma
reflexão cuidadosa, regada em oração, por parte
dos pais sobre o que significa educar filhos da
aliança como herdeiros de Cristo, como seres que
buscarão em primeiro lugar o Reino.
Em contraste, as Escrituras jamais identificam
os filhos da aliança de Deus como pessoas com
empregos e que se apegarão a tradições particulares
de alguma religião. Ao contrário, a Bíblia repetidas
vezes nos chama de herdeiros dum Reino, filhos e
filhas adotados pelo Rei do universo. Não somos
simplesmente cristãos que pretendem ter vários
empregos ou serviços a prestar. Nós somos da
realeza (Rm 8.14–17; Ef 1.3–6; 1Pe 2.9).
Nós, junto de Cristo, reinaremos sobre todas as
criaturas, eternamente (Catecismo de Heidelberg,

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E d u c a nd o a R e a l e z a

pergunta 34). Somos os filhos adotados de Deus


e coerdeiros com Jesus, desfrutamos de todos os
privilégios dos filhos de Deus (Lc 2.11; At 10.36;
1Tm 6.15; Ap 19.16; Catecismo de Heidelberg,
pergunta 34). Somos príncipes e princesas do Rei
dos reis! Somos herdeiros da realeza!
E esta resposta à pergunta “Quem é você?”
muda tudo!
Bem como no caso do príncipe George, o pe-
queno herdeiro ao trono da Inglaterra e do Rei-
no Unido, não podemos ficar nem um dia sequer
sem nos maravilharmos por quem somos, por que
estamos sendo educados e para que preparados
para ser e fazer. Somos herdeiros de um trono e
reino muito superiores e mais gloriosos do que o
da Inglaterra. A Casa de Windsor se empalidece
quando comparada ao reinado de Jesus e à nos-
sa herança divinal. Quanto mais nós, então, que
somos os herdeiros do Rei dos reis e Senhor dos
senhores, deveríamos fazer preparação para nós
e para nossas crianças no que diz respeito à fiel
instrução em tudo o que signifique ser um filho e
uma filha do Criador, Redentor e Senhor do uni-
verso; fiel e zelosamente educados em tudo o que
signifique ser da realeza.

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E d u c a nd o a R e a l e z a

O que isso quer dizer?

Se entendemos que estamos educando a reale-


za, como tal entendimento deve impactar o modo
como ensinamos? E o que esperamos disso tudo?
Entenderemos que não há espaço para a ideia
depravada e sem sentido de “aproveitar a juven-
tude adoidado”, nem para ter poucas expectativas
por nossos filhos. Este seria o espírito rebelde dos
pródigos que se esquecem de quem eles (e seus
filhos) realmente são. Aquele que se posiciona e
se prepara para tomar seu lugar como príncipe ou
princesa no reino de Cristo, deve esperar mais de
si e de seus filhos. “E, a qualquer que muito for
dado, muito se lhe pedirá” (Lc 12.48). Uma vez que
somos realeza em Cristo, Deus tem expectativas e
bênçãos reservadas da magnitude da realeza para
nós e nossos filhos — desde que tenhamos olhos
para ver e ouvidos para ouvir.
O livro todo de Provérbios consiste nas instru-
ções de Salomão dadas aos seus herdeiros reais:

Para se conhecer a sabedoria e a instrução;


para se entenderem, as palavras da prudência.

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Para se receber a instrução do entendimento,


a justiça, o juízo e a equidade; para dar aos
simples, prudência, e aos moços, conhecimen-
to e bom siso; o sábio ouvirá e crescerá em
conhecimento, e o entendido adquirirá sábios
conselhos; para entender os provérbios e sua
interpretação; as palavras dos sábios e as suas
proposições (Pv 1.2–6).

Esta é a educação que deve providenciar muito


mais do que fatos inconscientes ou fragmenta-
dos, muito mais do que habilidades profissionais
especializadas por uma vaga no mercado de tra-
balho. Mais uma vez, não quer dizer que fatos e
habilidades não sejam importantes. Nem mesmo
significa que deveríamos trocar subitamente o suor
e os esforços pragmáticos por chavões pieguistas,
aparentemente espirituais.
O ponto é:
1. onde e quando a educação dos herdeiros
reais de Cristo se encaixa em nossa lista de
prioridades, e
2. como deve ser essa educação?

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Prioridades: somos realeza.


Comecemos a agir como realeza.

Esquecemo-nos da exortação que nos foi pro-


ferida como filhos? “E já vos esquecestes da exor-
tação que argumenta convosco como filhos: Filho
meu, não desprezes a correção do Senhor, e não
desmaies quando por ele fores repreendido; porque
o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer
que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus
vos trata como filhos; porque, que filho há a quem
o pai não corrija?” (Hb 12.5–7).
Os herdeiros de Cristo sabem que seus meios
régios não consistem no domínio à força, no despo-
tismo, no comando egoísta, métodos próprios aos
ímpios. Longe disso. Cristo ascendeu ao trono do
Pai exatamente após ter sacrificado tudo por seu
povo e suas criaturas. Ele entregou-se a si mesmo.
O meio por que Cristo rege é o caminho do amor
altruísta, do sacrifício. Ele morreu para que pos-
samos morrer para o pecado e para a morte. Ele
vive para que possamos viver na glória, para todo
o sempre. Serviço sacrificial em nome do Reino é a

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marca da verdadeira realeza, do verdadeiro reina-


do. Esse serviço sacrificial é que caracteriza nosso
Senhor Jesus Cristo. E o mesmo deve caracterizar
os verdadeiros herdeiros do Senhor, quer na vida,
quer na educação.
Sendo nós herdeiros reais de Cristo, não ousa-
mos estar contentes se preparamos a nós mesmos
ou educamos nossos filhos para o mero papel de
engrenagens no maquinário econômico de nossa
cultura secular e consumista. Mesmo os nossos
antepassados compreenderam que os escravos
eram treinados para o cumprimento de tarefas.
Escravos não têm uma herança por direito, não
têm uma identidade mais profunda. A identidade
do escravo está no trabalho que este faz.
Todavia, quanto aos cidadãos livres e à rea-
leza, que se dedicarão ao avanço do reino, eles
devem ser educados no âmago, para o dia quando
o serviço e a liderança esperados da realeza se fi-
zerem necessários. De forma semelhante, somos
chamados para propósitos mais elevados, para
carregar maiores responsabilidades pelo modo
como vivemos e preparamos nossos filhos para a
vocação real que lhes é própria.
Infelizmente, como o autor de Hebreus recorda,
temos nos esquecido da exortação divina de educar
nossos filhos na disciplina e na instrução do Senhor
(Ef 6.4; Hb 12.5). Em parte, temos nos esquecido
disso porque nos esquecemos de quem somos.

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A educação da realeza: recuperando as


ferramentas perdidas da educação

Este lapso de memória fica mais evidente em


como, hoje, educamos nossos filhos. A educação,
mesmo a que pretende ser cristã, segue, atualmen-
te, na maior parte das vezes, sobretudo o objetivo
de produzir bons operários mirins para a força de
trabalho secular, peças eficientes para a nossa linha
de produção econômica, entre outras coisas mais.
É algo que está longe da expectativa bíblica
sobre os filhos dos cristãos, de que eles sejam satu-
rados com a instrução do Senhor e cresçam sabendo
o que significa ser herdeiros reais de Cristo, o Rei.
Uma educação que leva o nome do Rei deveria, no
mínimo, oferecer aos seus herdeiros reais:

1. Uma compreensão abrangente e integrada


do mundo criado por Deus e de como todas
as coisas convergem no Senhor Jesus Cristo
(Ef 1.4–11).
Tal educação dará de ver às crianças o “quadro
maior”, a visão, a perspectiva completa de como

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todas as coisas, todas as esferas da criação, estão


inter-relacionadas na glória do Criador.
A própria universidade foi invenção cristã, cria-
da na Idade Média (a primeira foi estabelecida
entre 1100 d.C. e 1200 d.C.), estruturada a fim de
fornecer aos alunos uma visão e um fundamento
cristãos integrados para todo o aprendizado futu-
ro. Este era o propósito original das Artes Liberais
clássicas (quer dizer, as artes de um cidadão livre).
Por quase um milênio, as universidades cristãs
ensinaram as Artes Liberais clássicas, ou as assim
chamadas Trivium e Quadrivium:

• o Trivium, ou Três Vias, Três Caminhos,


salientou a excelente e adequada estrutura
da linguagem (Gramática), de modo a dis-
cernir a verdade (Lógica), e como expressar
a verdade com beleza (Retórica) — tudo de
modo a encorajar perpetuamente no aluno
o amor pela bondade, pela verdade e pela
beleza em palavras e na linguagem, como
é tipificado naquele que é A Palavra, em
João 1.1–14;
• o Quadrivium, ou Quatro Vias, Quatro Ca-
minhos, encorajou o amor perpétuo pela
bondade, pela verdade e pela beleza no uso
dos números (Aritmética), dos números no
espaço (Geometria), dos números no tempo
(Música ou Harmonia), e dos números no
espaço e no tempo (Astronomia), revelando
a unidade e a diversidade da criação e de

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nosso Criador Trino no espaço e no tempo


(Dt 6.4: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus
é o único Senhor”; Mt 28.19: “Portanto ide,
fazei discípulos de todas as nações, bati-
zando-os em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo”);
• juntos, Trivium e Quadrivium, originalmen-
te chamados de As Sete Artes Liberais,
propuseram ao aluno a compreensão e
o discernimento essenciais da harmonia
e completude do diversificado mundo de
Deus, e da verdade, da bondade e da beleza
do Criador Trino, que estão inter-relacio-
nadas. Ambos não dão ao estudante meros
fatos ou habilidades para algum trabalho,
mas, sim, sob a perspectiva cristã, as ferra-
mentas de um aprendizado que perdurará
por toda a vida.

Triste dizer, as disciplinas acadêmicas, dispos-


tas arbitrariamente feito um bufê, e o currículo
universitário de hoje, estruturado aleatoriamente,
seguindo a tradição analítica e científica da mo-
dernidade, tendem a fazer o oposto: é um todo que
oferece cacos fragmentados de informação, sem
princípios de coerência ou de relação. Contudo, na
ordem da criação, pelo contrário, o todo sempre é
maior do que a soma das partes. Uma educação
que não nos ensine a como enxergar a inteireza da
criação divina, que não nos muna de modo a com-
preendermos como todas as coisas convergem em
Cristo, inevitavelmente deixa escapar a perspectiva

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completa da criação e do Deus da Criação. É uma


educação parcial, incompleta, distorcida.
Curiosamente, a especialização para o nível
de graduação era praticamente desconhecida na
América do Norte antes do fim do século XIX. Uni-
versitários não seguiam bacharéis dentro de es-
treitas e limitadas disciplinas acadêmicas ou de
especializações vocacionais antes de 1879. Nem
poderiam. O bacharelado nem ao menos existia
até então. Em vez dele, todos os graduandos rece-
biam um alicerce clássico, integrado com as Artes
Liberais. A universidade dava-lhes as ferramentas
essenciais para educar-se, que se aplicavam ao
chamado de cada um, vocações várias, como filhos
e filhas, cônjuges, pais, vizinhos, cidadãos, pro-
vedores, eleitores, compradores e vendedores no
mercado, congregantes. As habilidades de trabalho
e o treinamento num emprego necessários a fim
de prover para a família eram desenvolvidos fora
da sala de aula, com treinamento de campo ou
aprendizado feito no contexto onde o serviço fosse
realizado. Agostinho, Lutero, Calvino, Kuyper, C. S.
Lewis — todos os grandes líderes de nossa tradição
cristã — foram educados sob o modo clássico, no
tradicional método das Artes Liberais integradas
do Trivium e do Quadrivium, e treinados na prática.
Mas o pragmatismo do fim do século XIX e do
início do século XX trocou seu direito à primoge-
nitura pela balbúrdia modernista de um ensopado
de carreiras. As escolas foram transformadas em
campos de treinamento para trabalhos igualitários

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que contratam trabalhadores deste mundo, aban-


donando a busca cristã por sabedoria e conheci-
mento no Senhor. As escolas ficaram idiotizadas
e a igreja ficou cada vez mais fraca desde então.
Reverter o quadro exigirá que os herdeiros reais
do Rei anseiem por:

2. Professores-mestres verdadeiramente pie-


dosos e sábios (Lc 6.40).
De acordo com Jesus, o professor — não o
currículo, não o plano de tarefas, não a tecnologia,
não as facilidades, não a competência técnica ou
curricular, não as aulas particulares — é o mais
importante diferencial na educação de uma crian-
ça. “O discípulo, quando maduro, será como seu
mestre”, Jesus diz. Sinos e sirenes podem ser legais
(embora geralmente sirvam mais de distração do
que de ajuda), mas o professor é uma chave.
Durante a minha experiência, contudo, tenho
visto que os pais cristãos normalmente sabem mais
acerca do porcentual de admissão das faculdades,
ou do sucesso de mercado de tal e tal universidade,
ou do preço dos cursinhos, ou dos planos de finan-
ciamento universitário, ou das bolsas por atividades
extracurriculares, do que sabem eles a respeito do
caráter e da saúde espiritual dos homens e mulheres
que, no fim das contas, modelarão a mente e a vida
de seus filhos dentro e fora das salas de aula. É
lamentável dizer, mas muitos corpos administrati-
vos e conselhos de escolas cristãs não são lá muito
melhores do que isto, tendo por prioridade colecionar

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roy alden atwood

credenciais e pontuações em exames padronizados,


prédios e edifícios, em vez da integridade espiritual
e do caráter de seus professores. É claro, a espe-
cialização acadêmica e os testes admissionais têm
seu lugar. Porém, a literatura destinada aos pais,
ao setor administrativo e escolar salientam com
maior frequência o que há de menor importância,
quando sob a perspectiva do Reino. Esta ênfase
direcionada na direção errada tem o potencial de
catequizar gerações de pais e filhos com o ensino
que, dentro do Reino, é de menor importância.
O professor é tão crucial, como diz Jesus, porque
todo o processo de educar é, fundamentalmente,
pessoal. Isto porque a verdade em si é pessoal. A
verdade é uma pessoa. Jesus declara: Eu sou o
caminho, e a verdade e a vida (Jo 14.6). A verdade
não é uma coleção de fatos irracionais ou de propo-
sições cientificamente verificáveis. É uma pessoa,
uma vida. Professores podem ou não representar e
incluir esta Verdade para os seus alunos. Pais ou
educadores que não compreendem corretamente
este princípio bíblico crucial colocam seus filhos
ou alunos sob grave risco de não compreender a
Verdade, deixando-os à catequização da mentira e
da impiedade. Não importa o quanto os pais pensem
que seus filhos possam ser “bons testemunhos”
no meio educacional secular, crianças não são o
professor, mas elas é que estão sendo ensinadas. E
não importa o quanto pensemos que nossos filhos
já são suficientemente maduros (muitas vezes os
superestimando), “o cimento deles ainda não secou”.

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Eles ainda são alunos buscando por ensino e ma-


turidade, prontamente influenciáveis por aqueles
mais velhos e mais experimentados. A pergunta é:
quem lhes ensinará, quem os guiará à maturidade?
Ademais, quem pensa que as novas tecnologias
que possibilitam o ensino a distância fornecerão
uma educação de qualidade, mas sem colocar as
crianças sob o risco de serem ensinadas por profes-
sores ímpios, cometem erro semelhante. Aprender
do conhecimento, da sabedoria e da piedade não
é algo que se possa baixar da nuvem ou de um
site. O aluno será moldado por seu professor, seja
quem ele ou ela for, independentemente do modo
como a instrução for transmitida.
Por fim, a educação dos herdeiros reais do Rei
deve, também:

3. Formar nossos desejos e modelá-los nas


realidades do Reino, por meio delas e em
prol delas.

Por isso vos digo: Não andeis ansiosos quanto


à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo
que haveis de beber; nem quanto ao vosso
corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida
mais do que o mantimento, e o corpo mais do
que o vestuário? [...] Porque todas estas coisas
os gentios procuram. Decerto vosso Pai celes-
tial bem sabe que necessitais de todas estas
coisas; Mas, buscai primeiro o reino de Deus,
e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão
acrescentadas. (Mt 6.25, 32–33)

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roy alden atwood

Jesus não diz: “buscai primeiro uma prepa-


ração técnica e vocacional, e todos aqueles trecos
sobre o Reino e a justiça de Deus serão incluídos
mais tarde”. O problema é que, ouvindo o que os
pais de alunos prontos para ingressar no estágio
universitário têm a dizer sobre a meta educacional
para seus filhos, você acharia que Jesus, sim disse
isso. O modelo secular vocacional que impera hoje
para a educação superior nos tem influenciado
mais a respeito destes pontos do que têm as escolas
cristãs, as classes de catecúmeno e até mesmo as
igrejas. Dado isto, devemos nos arrepender. Nosso
Pai celestial sabe de tudo aquilo de que precisamos
para vivermos e nos desenvolvermos, e ele proverá
por seus perfeitos meios de acordo com seu tempo,
que é infalível. Ele abertamente diz para que não
nos preocupemos com as coisas de menor impor-
tância. Agarrar-se a um bacharel e esfolar o próprio
couro na preparação da carreira não acrescentarão
sequer um centavo em nossa conta bancária, não
trarão mais uma refeição à mesa, nem muito menos
darão um segundo a mais às nossas vidas daquilo
que ele já não tenha ordenado. Sendo assim, pare
de ser bacharel na preocupação com as coisas de
matéria secundária. Pelo contrário, especialize-se
nas disciplinas que são de prioridade para Deus: o
Reino de Cristo e sua perfeita e reta justiça.
Nossas escolas e universidades devem encora-
jar nossas crianças, filhos da aliança, a um desejo
ardente, constante e profundo pelas coisas de Deus
e de seu Reino.

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Conclusão

Como calvinistas que somos, e que levam a


sério a soberania de Deus — os direitos contidos
na coroa de Cristo —, não podemos, não devemos
criar nossos filhos para serem meras ferramentas
devidamente instruídas no mercado de trabalho
secular, pessoas que pretendem ir à igreja no Dia
do Senhor e param por aí. No momento do batis-
mo de nossos filhos, fizemos votos de criá-los e
prepará-los para coisas muito maiores.
Então, “Quem é você?”:
• você é herdeiro da realeza do Rei dos reis:
comece a agir como esse herdeiro;
• seus filhos são da realeza: comece a tratá-los
como realeza;
• seus filhos são herdeiros do Reino: comece
a educá-los para essa herança.

25
Leia Também

este breve livro sobre a criação de filhos à luz do


N Evangelho, Douglas Wilson mostra como temos um
Pai celestial que tem prazer em nós, tornando possível
amá-lo e obedecer-lhe. Se esse é o tipo de Pai que temos,
será que os pais deste mundo não deveriam buscar ser
da mesma maneira?
Wilson mostra como os pais e mães podem evitar as
duas grandes tentações na educação de seus filhos, seja
criar uma imensa lista de regras a serem minuciosa-
mente obedecidas, seja transformar o lar num lugar tão
divertido que as regras sequer existem. Ao invés disso,
ele insta os pais a inculcarem em seus filhos um amor
por Deus e seu padrão de santidade que irá segui-los
por toda a vida.

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Leia Também

A s escolas tem por objetivo moldar crianças. Moldar


o que elas conhecem, pensam, creem e o que elas
aprendem a amar.
A escolha da escola onde seus filhos estudarão faz toda
a diferença do mundo e tem repercussões eternas!
Em capítulos curtos e cativantes, Moldando Mentes e
Corações apresenta o modelo de educação cristã clás-
sica para pais que buscam a melhor educação para
seus filhos, e aquela que seja mais alinhada com os
princípios e mandamentos bíblicos.
Neste livro, Monica Whatley mostra que as duas opções
mais comuns, de criar as crianças em uma bolha pro-
tetora ou atira-las no mundo despreparadas, não são
opções bíblicas, e apresenta uma terceira opção que vai
mudar sua forma de enxergar a educação de seus filhos.

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Leia Também

C omo podemos cultivar um coração virtuoso em


nossos filhos?
Neste guia apaixonante para pais e professores, Vigen
Guroian busca em algumas das melhores histórias
infantis de todos os tempos a chave para o desenvol-
vimento de uma vida de virtudes em nossas crianças.
Guroian ilumina as diferentes maneiras pelas quais
os contos de fadas e as histórias de fantasia educam
a imaginação moral desde a mais tenra infância, sa-
lientando virtudes morais clássicas como coragem,
bondade e honestidade, especialmente a forma como
são compreendidas no cristianismo, e, ao mesmo tem-
po, evoca de maneira persuasiva o encanto atemporal
dessas obras já conhecidas por muitos.

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