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DIEGO DA FONSECA HERMES ORNELLAS DE GUSMÃO

O controle de acesso ao armamento e o direito à legítima


defesa do indivíduo.

Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao


Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como
requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de
Política e Estratégia.

Orientador: Prof. CEL. RICARDO FAYAL.

Rio de Janeiro
2021
C2021 ESG

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resguarda os direitos autorais, é considerado
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DIEGO DA FONSECA HERMES


ORNELLAS DE GUSMÃO

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

G982c Gusmão, Diego da Fonseca Hermes Ornellas de


O controle de acesso ao armamento e o direito à legítima defesa do
indivíduo / Diego da Fonseca Hermes Ornellas de Gusmão.- Rio de Janeiro:
ESG, 2021.
79 f.

Orientador: Cel R/1 Ricardo Alfredo de Assis Fayal


Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao
Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à
obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos Política e Estratégia
(CAEPE), 2021.

1. Armas de fogo - Legislação. 2. Segurança pública 3. Violência.


4. Desarmamento. I.Título.

CDD – 341.733

Elaborada pelo bibliotecário Antonio Rocha Freire Milhomens – CRB-7/5917


AGRADECIMENTOS

Ao nosso senhor e salvador Jesus Cristo, por ter me dado forças para superar todo e
qualquer desafio.
À minha querida mãe Maria Teresa, pelo amor e apoio. Ao meu querido pai Luiz
Guilherme, pelo exemplo de patriotismo e pela ajuda inestimável na elaboração desta
monografia.
Às minhas irmãs Daniela e Débora, por acreditarem em mim.
À minha amada esposa Fernanda, e a nossas lindas filhas, Letícia e Luísa, pelo amor
incondicional e paciência.
Ao meu orientador, Coronel Ricardo Fayal, pelas orientações e tratamento cordial
sempre dispensado que viabilizaram esta monografia.
Aos meus queridos amigos galácticos da turma “Superação Nacional”, que
abrilhantaram o Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia da Escola Superior de Guerra,
do ano de 2021.
Nenhum homem livre pode ser privado do uso
de armas. (Thomas Jefferson)
RESUMO: A presente monografia teve por objetivo avaliar a política de controle de armas
no Brasil e sua relação com a segurança pública e a legítima defesa. A questão central é saber
se desarmamento civil é uma medida eficaz para assegurar ao indivíduo seu direito
fundamental à segurança. Tendo essa premissa, o estudo desenvolveu-se a partir de
análises de dados estatísticos e comparações, com foco na legislação adotada durante a
história do Brasil e em relação a outros países, em especial os Estados Unidos da América, o
Reino Unido e a Suíça, quanto aos resultados práticos que tais políticas produziram. Foi
levantado que, na formação do Estado, os indivíduos renunciaram a certos direitos
individuais, sem que isso importasse na renúncia ao direito de preservar a própria vida. O uso
da pesquisa bibliográfica foi relevante para o esclarecimento de questões relacionadas à
correta interpretação dos atos normativos apresentados, com suporte na doutrina, assim como
para a explicação dos dados estatísticos obtidos. A legítima defesa do indivíduo é, antes de
tudo, um direito natural, que deve ser reconhecido pelo Estado. Retirar o acesso a armas
legalizadas da população não se mostrou eficaz no combate à criminalidade. O reforço ao
Estado de Direito, com a certeza da aplicação da lei penal contra o agente do crime, é o ponto
central para reduzir os níveis de homicídios. Mais armas legalizadas não significam mais
crimes.

Palavras-chave: Armas de Fogo. Legítima defesa. Direito Natural. Desarmamento.


Direitos Fundamentais. Direito à Segurança. Estado de Direito.
ABSTRACT: The present monograph aimed to evaluate Brazil's gun control policy
and its relation to public security and self-defense. The central question is whether
civil disarmament is an effective measure to ensure the individual's fundamental right
to security. Based on this premise, the study was developed from analyses of
statistical data and comparisons, focusing on the legislation adopted during Brazil's
history and in relation to other countries, especially the United States, the United
Kingdom and Switzerland, regarding the practical results that such policies have
produced. It was pointed out that, in the formation of the State, individuals gave up
certain individual rights, without this implying the renunciation of the right to preserve
one's own life. The use of bibliographical research was relevant for the clarification of
questions related to the correct interpretation of the normative acts presented,
supported by doctrine, as well as for the explanation of the statistical data obtained.
The individual's legitimate defense is, above all, a natural right that must be
recognized by the State. Taking away the access to legalized weapons from the
population has not proved effective in fighting crime. The strengthening of the rule of
law, with the certainty of the application of the criminal law against the agent of the
crime, is the central point to reduce the levels of homicide. More legalized weapons
do not mean more crime.

Keywords: Firearms. Legitimate Defense. Natural Right. Disarmament.


Fundamental Rights. Right to Security. Rule of Law.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Taxa de homicídios em Londres e Nova Iorque......................................................27


Figura 2 - evolução de homicídios no Brasil entre 2004 e 2014..............................................49
Figura 3 – Evolução do número de homicídios por 100 mil habitantes de 1980 a 2016
...................................................................................................................................... 50
Figura 4 - Taxa total de homicídios e homicídios com arma de fogo de 1999 a 2019.
...................................................................................................................................... 52
Figura 5 - Número de armas registradas na Polícia Federal nos anos de 2017, 2019 e 2020.. 53
Figura 6 - Registros de armas de fogo por categoria................................................................54
Figura 7 - Registros de arma de fogo no Exército e na Polícia Federal em 2020....................54
Figura 8 - Armas registradas por estados no Brasil desde 2009 a 2020...................................55
Figura 9 - Registro de armas na Polícia Federal (SINARM) e registro de homicídios.
...................................................................................................................................... 55
Figura 10 - Captura de tela: Posse de armas ajuda a diminuir roubos no campo.....................56
Figura 11 - Roubos em propriedades rurais em Goiás.............................................................57
Figura 12 - Opinião dos policiais e profissionais de segurança pública sobre o acesso a arma
de fogo......................................................................................................................................58
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Evolução das penas dos delitos relacionados a armas de fogo...............................19


Tabela 2 - Referendo - proibição do comércio de armas de fogo e munição- 23 de outubro
de 2005.....................................................................................................................................20
Tabela 3 - 25 países com a população mais armada (2017).....................................................24
Tabela 4 - 10 países com mais homicídios (2017)...................................................................25
Tabela 5 - Número de homicídios por 100 mil habitantes no Brasil de 1980 a 2004 50 Tabela
6 - Acidentes com crianças de 0 a 14 anos entre 2016 e 2019.................................................62
8

Sumário
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................9
2 HISTÓRICO DO CONTROLE DE ARMAMENTO................................................11
2.1 A EXPERIÊNCIA NO BRASIL...........................................................................................................11
2.1.1 BRASIL COLÔNIA....................................................................................................................................... 11
2.1.2 BRASIL IMPÉRIO........................................................................................................................................ 14
2.1.3 BRASIL REPÚBLICA................................................................................................................................... 16
2.2 A EXPERIÊNCIA DE OUTROS PAÍSES............................................................................................22
2.2.1 ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA........................................................................................................... 22
2.2.2 REINO UNIDO............................................................................................................................................. 26
2.2.3 SUÍÇA............................................................................................................................................................ 27
3 A SEGURANÇA PÚBLICA E A LIBERDADE INDIVIDUAL................................28
4 A LEGÍTIMA DEFESA E O DIREITO NATURAL.................................................37
5 POLÍTICAS PÚBLICAS........................................................................................48
5.1 RESULTADOS DO CONTROLE DE ARMAMENTO – MAIS ARMAS SIGNIFICAM MAIS CRIMES?
48
5.2 RESULTADOS DO CONTROLE DE ARMAMENTO – MAIS ARMAS SIGNIFICAM MAIS
ACIDENTES DOMÉSTICOS?..............................................................................................62

5.3 AS CONSEQUÊNCIAS DA FALHA DO ESTADO EM GARANTIR A SEGURANÇA PÚBLICA E O


IMPACTO NA ESFERA INDIVIDUAL – O FORTALECIMENTO DO ESTADO DE DIREITO...................63

6 CONCLUSÕES......................................................................................................69
7 REFERÊNCIAS.....................................................................................................72
9

1 INTRODUÇÃO

O presente estudo pretende abordar a eficácia das políticas de controle de acesso às


armas de fogo pela população na redução da criminalidade, e o risco de cerceamento ao
direito à legítima defesa do indivíduo.
A base do estudo leva em conta o direito à segurança e à liberdade dos indivíduos
como valores complementares, e não antagônicos.
A obrigação do Estado de garantir a segurança e a liberdade, e, em especial, a vida
dos indivíduos está presente na Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações
Unidas, de 1948, que reconheceu em seu artigo 3º valores básicos que são anteriores à própria
criação do Estado, de modo a garantir que “[t]odo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à
segurança pessoal”.
Na mesma linha é o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, de 1966,
incorporado no ordenamento jurídico brasileiro pelo Decreto Presidencial n. 592, de 6 de
junho de 1992, que estabelece que o ideal do ser humano é estar unido ao exercício das
liberdades civis e políticas. Cabe ao estado estabelecer condições para assegurar a liberdade e
a segurança das pessoas, conforme disposto no artigo 9º, 1:

ARTIGO 9 1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais. Ninguém


poderá ser preso ou encarcerado arbitrariamente. Ninguém poderá ser privado de
liberdade, salvo pelos motivos previstos em lei e em conformidade com os
procedimentos nela estabelecidos.(BRASIL, 1992a)

O artigo 7º, 1, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José
da Costa Rica), de 1969, aplicável no Brasil por força do Decreto Presidencial n. 678, de 6 de
novembro de 1992, reconhece que a liberdade está associada à segurança pessoal dos
indivíduos, e que tais direitos decorrem da condição própria do ser humano, nos seguintes
termos:

ARTIGO 7 Direito à Liberdade Pessoal 1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à


segurança pessoais. (BRASIL, 1992b)

A Constituição do Brasil, por sua vez, prevê o tratamento igual de todos perante a lei,
a inviolabilidade do direito à vida e à segurança (art. 5º, caput), sendo a segurança pública um
dever do Estado que deve ser exercido para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio (art. 144, caput).
1

Com isso, é imposto ao Estado brasileiro como função primordial o dever de


proteção à vida e integridade de sua população, para que o cidadão seja livre em relação aos
seus semelhantes e até em relação ao próprio Estado.
É com base nessas premissas, tendo como referência a liberdade do indivíduo, que
enfrentaremos a questão do controle do acesso ao armamento da sociedade civil como política
da segurança pública no Brasil.
A atual legislação, desde a promulgação da Lei Federal n. 10.826, de 22 de dezembro
de 2003, conhecida como Estatuto do Desarmamento, restringe o acesso às armas de fogo
com o argumento de reduzir os níveis de criminalidade, pela consequente diminuição do
número de armas disponíveis aos criminosos.
A efetividade da política de controle de armas merece ser analisada com
profundidade, havendo uma linha de entendimento onde se sustenta que uma maior restrição
geraria benefícios para a sociedade, ao reduzir homicídios entre cidadãos comuns
(BANDEIRA, 2019, p. 95). Em contrapartida, outra linha de entendimento refuta a alegada
correlação entre o aumento do número de crimes violentos e o maior número de armas de
fogo registradas, e argumenta que a política de desarmamento coloca em risco o direito do
cidadão de se defender (BARBOSA, 2020, p. 265).
Nesse cenário, discute-se se a restrição ao acesso às armas de fogo compromete os
meios para o exercício do direito de autodefesa por parte do cidadão, levando-se em conta os
objetivos da política de desarmamento.
No capítulo 2 do presente trabalho faremos o levantamento do histórico do controle
de armamento no Brasil e em outros países, em especial nos Estados Unidos da América, no
Reino Unido e na Suíça, considerando a questão do desarmamento da população civil como
política de segurança pública.
No capítulo 3 será abordada a questão do monopólio da violência pelo estado para
garantir a segurança dos indivíduos, e a esfera de liberdade para o indivíduo exercer o seu
direito de autodefesa.
No capítulo 4 será analisado o instituto da legítima defesa à luz do Direito Natural, e
se as restrições ao acesso ao armamento legalizado ferem direitos fundamentais dos
indivíduos.
No capítulo 5, serão aferidos os resultados do controle de armamento como política
de segurança pública, com a apresentação de dados estatísticos sobre a alegada relação do
número de armas legalizadas com a criminalidade.
1

2 HISTÓRICO DO CONTROLE DE ARMAMENTO

2.1 A experiência no Brasil

Um breve apanhado histórico a respeito do controle de armamento no Brasil é


necessário para compreender a origem da política de desarmamento e seus principais efeitos.

2.1.1 Brasil colônia

Para compreender a origem da política de controle de armamento no Brasil é


necessário analisar os atos normativos dessa política, assim como quais foram os resultados
alcançados.
Ao tempo das Ordenações do Reino, havia regras referentes ao armamento da
população civil que determinavam diretrizes válidas para todo o Império português. A
legislação da época, conforme Izabella de Sales e Arnaldo Zangelmi, não chegava ao ponto de
vedar totalmente a posse e o porte de armas, mas restringia o uso de alguns tipos específicos,
concedendo, ao mesmo tempo, o direito de portar outras armas, dependendo do lugar, do
horário e da condição das pessoas (SALES; ZANGELMI, 2010, p. 3)
Nas Ordenações, foram definidas quais eram as armas proibidas e quais poderiam ser
usadas licitamente no período de vigência dessa legislação, conforme constava do Livro V do
“Codigo Philippino” ou Ordenações e Leis do Reino de Portugal, nos seguintes termos:

TÍTULO LXXX
Das armas , que são defesas, e quando se devem perder
Defendemos que pessoa alguma, não traga em qualquer parte de nossos Reinos, pêla
de chumbo, nem de ferro, nem de pedra feitiça; e sendo achado com ella, seja preso,
estê na Cadêa hum mez, e pague quatro mil réis, e mais seja açoutado publicamente
com braço, e pregão pela Cidade, Villa, ou Lugar onde fòr achado.
E sendo pessoa de qualidade, em que não caiba açoutes, além das sobreditas penas,
será degradado para a Africa por dous anos.
Nem outrosi, possa trazer armas ofensivas, nem defensivas, de dia, nem de noite,
salvo de fôr spada, punhal, ou adaga, como abaixo diremos: sob pena de perder as
ditas armas, e pagar duzentos réis de pena da Cadêa, se fôr peão; porque sendo
Scudeiro, e dahi para cima, ou Mestre de Náo, ou de semelhante, ou maior condição,
ser-lhe-há coutada a arma, e pagará a dita pena sem ir à prisão. (ALMEIDA, 1870,
p. 1226)
1

Destacam Sales e Zangelmi que o legislador régio disciplinou a utilização de armas


curtas em crimes, a ponto de estabelecer como deveria ser a estrutura material dos
armamentos, e que,

[...] Durante o seu reinado, D. João III estabeleceu algumas regras relativas à
utilização da espada de maça (aquela cuja folha possuía cinco quartos), ficando
determinado que nenhuma pessoa, independentemente de seu estado, poderia portar
espada com mais de cinco palmos de vara, incluindo o punho e a maça. Já em 1565,
D. Sebastião mandou passar uma provisão na qual determinou que os cinco palmos
de comprimento não deveriam incluir o punho e a maça [...]. (SALES; ZANGELMI,
2010)

Também fazia parte da política de controle de armamento para a colônia, segundo


Flávio Quintela e Bene Barbosa, a proibição da fabricação de armas no território brasileiro e,
nesse caso, o infrator poderia ser condenado à morte (QUINTELA; BARBOSA, 2015, p. 30).
A restrição à fabricação de armas continuou por todo o período colonial, sem
qualquer mudança, fortalecida pelo surgimento de movimentos de independência em outras
colônias americanas no final do século XVIII (QUINTELA; BARBOSA, 2015, p. 30-31).
Outro interessante registro histórico do controle de armamento é a Lei de 1749,
promulgada por Dom João V de Portugal, que restringiu o porte de espadas e espadins por
pessoas consideradas, naquela época, como pertencentes a baixas classes sociais, tais como
lacaios, marinheiros e negros, conforme texto assim lançado:

“CAPITULO XIV.
Para evitar os homicidios. ferimentos e brigas ; a que dá occasião o trazerem espada ,
ou espadim pessoas de baixa condição , ordeno que não possão trazer estas armas
apprendizes de officios mechanicos , lacaios , mochilas (I)
, marinheiros , barqueiros e grafateiros , negros e outras pessoas de igual ou inferior
condição , sob pena de perdimento da espada ou espadim , de dez mil reis , e de
prisão por tempo de dous mezes pela primeira transgressão ; e pela segunda pagarão
dobrado , e terão um anno de prisão (2).
As mesmas penas ficará sujeita toda a pessoa, que trouxer espada, ou
espadim , não sendo á cinta. Ainda que sejão Soldados.” (sic) (FREITAS; FRANÇA,
1819a, p. 540)

Percebe-se que a legislação de controle de armas também foi utilizada como um


elemento de distinção social, sendo o porte de armas considerado um privilégio restrito a
determinadas categorias de estatura social mais elevada.
1

Sales e Zangelmi destacam que a prerrogativa do acesso às armas contribuía para o


processo de hierarquização da sociedade, prestigiando os indivíduos considerados “vassalos
fiéis da Coroa portuguesa”, e que tal termo

[...] está ligado aos setores da nobreza, grupo tradicionalmente conhecido como
aquele dedicado à defesa do Reino, atividade esta que obviamente estaria
relacionada a uma maior possibilidade de acesso às armas. (SALES; ZANGELMI,
2010, p. 5)

A possibilidade de utilizar armas, assim, era uma demonstração de prestígio social,


com o tratamento diferenciado aos nobres e brancos na hierarquia social.
Liana Maria Reis registra as instruções dadas pelo Rei de Portugal ao primeiro
Governador-Geral da colônia que determinavam a aquisição de armas apenas nos armazéns
reais, e somente por homens brancos e proprietários de bens imóveis ou embarcações,
conforme o seguinte excerto:

O Regimento de 1548, de D. João III, composto de normas e instruções a Tomé de


Souza versava sobre segurança e defesa das fortalezas e povoações e determinava
que moradores brancos e proprietários de casas, terras, águas e embarcações teriam
que adquirir armas brancas e de fogo nos armazéns reais. Cumpre lembrar que a
política metropolitana na América Portuguesa concedia o privilégio do uso de armas
apenas aos moradores das cidades. Os habitantes dos arraiais e vilas estavam
proibidos de usar pistola, faca de ponta e punhal. (REIS, 2004, p. 189-190)

Essa legislação régia estabeleceu não só o local específico em que poderia ser
adquirido o armamento, mas também aqueles que poderiam adquirir. A distinção entre as
classes sociais entre aqueles que podiam ou não portar armas era evidente.
Mesmo assim, conforme registra Liana Reis, em 5 de fevereiro de 1722, foi editada
nova ordem régia, remetendo a uma de 1719, que manteve a determinação de restrição ao
acesso de armas de qualquer tipo só que, desta vez, ampliou a proibição a qualquer pessoa,
fosse ela negro, mulato, branco, pobre, senhor, escravo ou alforriado, conforme excerto assim
lançado:

“[...] que nenhuma pessoa de qualquer Estado, qualidade o condição que seja possa
trazer consigo faca, adaga, punhão, suvetão, ou estoque ainda que seja de marca,
thezoura grande, nem outra qualquer Arma, ou Instrumento se com a ponta se puder
fazer ferida penetrante, nem trazer pistolas, ou armas de fogo mais curtas de que a
Ley permite.” (sic) (apud REIS, 2004, p. 191)
1

As consequências das restrições ao armamento ficaram bem delineadas por Liana


Reis, ao afirmar que as determinações se tornaram letra morta, uma vez que,

[...] num território vasto, cheio de perigos e de constantes ataques de índios, de


quilombolas e assaltantes, os proprietários, para a manutenção da segurança pessoal
e defesa da propriedade, não abriram mão de andar armados, bem como de armarem
seus próprios escravos, especialmente nos confrontos diários com outros senhores.
(REIS, 2004, p. 192)

Ainda nos tempos do Brasil colônia, constava do “Alvará de conformação da


Companhia do Grão Pará” do ano de 1755, a ordem do Rei D. José I de Portugal sobre a
necessidade de autorização estatal para o porte de armas de fogo necessárias para a segurança
dos representantes e funcionários daquela Companhia régia, que merece ser colacionado
conforme a redação original da época:

46. Faz V. Magestade mercê aos Deputados desta Companhia, Secretario e


Conselheiros dela, que não possão ser presos, em quanto servirem os ditos cargos
por ordem de tribunal, Cabo de Guerra, ou Ministro algum de Justiça por caso cível,
ou crime (salvo se for em flagrante delicto), sem ordem do seu Juiz Conservador; e
que seus Feitores e Officiaes quem forem ás Províncias e outros lugares fora da
Côrte fazer compras, e executar-se commissões , de que forem encarregados, possão
usar de todas as armas brancas e de fogo, necessárias para a sua segurança e dos
cabedaes, que levarem ; com tanto que para o fazerem levem cartes expedidas pelo
Juiz Conservador da Companhia no Real Nome de V. Magestade. (sic) (FREITAS;
FRANÇA, 1819, p. 460-461)

É possível extrair desse primeiro registro histórico que o acesso ao armamento foi
considerando um privilégio concedido pela autoridade real, mediante uma disciplina restritiva
de porte e uso de armas pela sociedade.

2.1.2 Brasil império

Na época do império foi editado o Código Criminal de 1830, que previa o crime de
usar armas de fogo ofensivas, que fossem proibidas, com a pena de prisão de quinze a
sessenta dias e multa. A definição das armas proibidas competia às câmaras municipais, com a
expressa atribuição de competência à autoridade pública, no caso o juiz de paz, para deferir a
licença para o porte, conforme a redação dos artigos 297, 298 e 299, assim lançados na sua
redação original:

Art. 297. Usar de armas offensivas, que forem prohibidas.


1

Penas - de prisão por quinze a sessenta dias, e de multa correspondente á metade do


tempo, atém da perda das armas.
Art. 298. Não incorrerão nas penas do artigo antecedente: 1º Os
Officiaes de Justiça, andando em diligencia.
2º Os Militares da primeira e segunda linha, e ordenanças, andando em
diligencia, ou em exercicio na fórma de seus regulamentos.
3º Os que obtiverem licença dos Juizes de Paz.
Art. 299. As Camaras Municipaes declararão em editaes, quaes sejam as armas
offensivas, cujo uso poderão permittir os Juizes de Paz; os casos, em que as poderão
permittir; e bem assim quaes as armas offensivas, que será licito trazer, e usar sem
licença aos occupados em trabalhos, para que ellas forem necessarias.

Na regência de Diogo Antônio Feijó, em 1831, teve início a dissolução das milícias
com a formação de uma Guarda Nacional, que, conforme Costa Junior, se configurava em
uma força não profissional, com a missão de auxiliar o Exército quando fosse requisitado pelo
governo (COSTA JUNIOR, 2015, p. 10)
À Guarda Nacional cabiam também atividades de caráter policial, em especial “a
realização de rondas nas localidades para evitar agrupamentos ilegais, evitar conflitos e
auxiliar os juízes de paz nas diligências da justiça, praticamente as mesmas atividades
desempenhadas pelas milícias coloniais” (idem).
Bene Barbosa e Flávio Quintela apontam que, ciente de que as milícias
representavam o poder bélico nas mãos da população, o regente Feijó buscou transferir esse
poder ao Estado, para monopolizar o uso da força letal pela Guarda Nacional (QUINTELA;
BARBOSA, 2015, p. 31).
Com a criação da Guarda Nacional pela Lei de 18 de agosto de 1831, estabeleceu-se
que as armas utilizadas pelos integrantes da corporação seriam custeadas pelos cofres da
Nação, cabendo a cada guarda nacional conservar e manter o armamento, conforme o art. 66
da referida lei, nos seguintes termos

Art 66. As armas de guerra das Guardas Nacionaes, serão fornecidas a custa da
nação: e o recebimento das que forem entregues aos Guardas Nacionaes, constará de
registros por elles assignados, os quaes se farão pela maneira , que for prescripta
pelo Governo.
Os Guardas Nacionaes serão responsaveis pelas armas que houverem recebido, as
quaes serão sempre de prioridade da nação.
A conservação das armas e concertos, ficarão a cargo dos Guardas Nacionaes. As
armas serão marcadas e numeradas. (sic) (BRASIL, 1831)

Considerando que cabia aos integrantes da Guarda Nacional os custos com


fardamento e manutenção do seu armamento, o ingresso na Guarda Nacional era restrito aos
considerados cidadãos brasileiros com mais de 21 anos (artigo 10, § 1º) e que tivessem renda
suficiente para serem eleitores (artigo 10, § 2º), que na época era
1

de 100$000 réis anuais por bem de raiz, indústria, comércio ou emprego, e para as quatro
maiores cidades do império, a renda anual deveria ser de 200$000 réis (SILVA, 2010, p. 3).
A questão racial perdeu importância para o ingresso na Guarda, bastando a
comprovação da renda pelo cidadão, independentemente de ser branco, negro ou índio,
passando a distinção entre os cidadãos a se basear na renda.
Wellington Barbosa Silva registra que as elites preferiram, em lugar de um Exército
profissional forte e numeroso, criar a Guarda Nacional composta

[...] unicamente por cidadãos industriosos que se armavam com o intuito de defender
a sua própria liberdade, eram mais apropriadas para a manutenção da ordem interna
– cabendo ao Exército apenas a função de combater os inimigos externos. (SILVA,
2010, p. 4)

Registro que o artigo 145 da Constituição Imperial de 1824 atribuía o dever aos
brasileiros de pegar em armas para sustentar a independência, a integridade e a defesa do
Império contra os inimigos externos ou internos (BRASIL, 1824).
Fora dessa situação, contudo, continuava a vedação a que negros e índios
adquirissem armas, salvo se fossem capitães do mato. A seletividade de classes de pessoas ao
acesso às armas era a premissa básica da política de controle de armamento durante o império,
muito ligada à escravatura vigente na época (QUINTELA; BARBOSA, 2015, p. 215).

2.1.3 Brasil república

Com a república, a legislação brasileira sobre controle de armas inicia sua trajetória
sem maiores alterações em relação à legislação do império.
Não obstante, as grandes mudanças sobre a política do controle de armamento se
deram na Era Vargas (1930-1945), em especial pelo enfrentamento ao coronelismo e,
também, como consequência da Revolução Constitucionalista de 1932.
Barbosa Lima Sobrinho, ao prefaciar o clássico Coronelismo, Enxada e Voto, de
Vitor Nunes Leal, aponta que a origem da expressão “coronelismo” remonta à criação da
Guarda Nacional em 1831, que tinha na sua hierarquia a patente de coronel, a qual
correspondia ao comando municipal ou regional e, por sua vez,
1

dependia do prestígio econômico ou social de seu titular, em geral recaindo nos


proprietários rurais (LIMA SOBRINHO in. LEAL, 2012).
Conforme registram Quintela e Barbosa, os coronéis andavam armados, muitos com
armas de qualidade superior às dos policiais da época. Quando Getúlio Vargas assumiu a
presidência do Brasil, ele buscou acabar com as ameaças armadas ao seu governo
(QUINTELA; BARBOSA, 2015, p. 33).
Como forma de tirar o poder dos coronéis, o Governo Vargas iniciou a primeira
campanha de desarmamento no Brasil, passando a propagandear a necessidade de entrega das
armas de todos os fazendeiros do nordeste, com o objetivo de se alcançar a pacificação da
região, com o argumento de que as armas acabavam caindo nas mãos de criminosos (idem)
Ironicamente, a retirada das armas dos fazendeiros e coronéis da região acabou
fortalecendo a atuação de bandos de criminosos, conhecidos como cangaceiros, a ponto de o
notório cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, conhecido por Lampião, criminoso temido,
agradecer ao governo, pois agora podia roubar e matar sem que ninguém o impedisse,
conforme expressiva passagem do livro “As Táticas de Guerra dos Cangaceiros”, da escritora
Christina Marra Machado, quando relata como Lampião recebeu a notícia do desarmamento
na região promovido pelo Major Juarez Távora, comandante das forças nordestinas que
apoiavam Getúlio Vargas:

Lampião estava muito grato com a atitude tomada pelo Major Távora, que
determinara o desarmamento geral dos sertanejos, vendo aí talvez uma solução para
o fim do cangaço. Lampião agradeceu “a bondosa colaboração” que lhe foi prestada,
porque poderia agir mais à vontade no sertão. (MACHADO, 1978, p. 82)

O cangaço, presente no Brasil desde o século XIX, era um movimento criminoso


surgido no Nordeste. Os cangaceiros atacavam em bandos, saqueando e espalhando o terror
por praticamente todo o nordeste brasileiro. Com a morte de Lampião pelas forças policiais
em 1938, o antigo cangaço entrou em declínio.
Outra mudança significativa ocorrida durante o Governo de Getúlio Vargas foi em
razão da Revolução Constitucionalista de 1932, quando as tropas paulistas se rebelaram
contra o Governo Federal, tendo a Força Pública paulista demonstrado capacidade bélica
expressiva, com armamentos equivalentes aos do Exército Brasileiro.
1

Mesmo com a derrota das forças paulistas, chamou a atenção de Vargas o fato de o
Estado de São Paulo possuir armamentos sofisticados e em paridade com as forças federais.
Vargas teria então chegado à conclusão de que as polícias estaduais não deveriam ter
armamento superior aos das Forças Armadas nacionais.
Dentro desse contexto, Getúlio Vargas edita o Decreto 24.602, de 1934, que
determinava em seu artigo 1º a proibição da instalação, no País, de fábricas civis destinadas ao
fabrico de armas e munições de guerra, as quais deveriam pedir autorização do Governo
Federal para o seu funcionamento e deveriam se submeter à fiscalização governamental
(artigo 1º, parágrafo único).
A regulamentação varguista restringiu não só a aquisição de armamento pelas forças
locais, bem como restringiu os calibres permitidos para os civis. Isso ficou estampado no
Decreto nº 1.246, de 11 de dezembro de 1936, conhecido por R-105 (Regulamento para a
fiscalização de produtos controlados pelo exército brasileiro), conforme constava do seu
artigo 137.
Outra inovação do R-105 no § 1º do seu artigo 137, foi condicionar a autorização
ao então Ministério da Guerra para a aquisição pelas forças de segurança estaduais de
armamento classificado como de guerra. Com isso, houve a centralização do controle de
armamento considerado proibido pelo Governo Federal. No ano de 1941 foi editada a Lei de
Contravenções penais, que no seu artigo
18 proibia a fabricação, a venda e o depósito de arma de fogo sem permissão legal, prevendo
uma pena de prisão simples de três meses a um ano. O artigo 19, por sua vez, proibia a
conduta de “trazer consigo” arma sem a permissão legal, com pena de prisão de quinze dias a
seis meses ou multa.
As penas das Lei de Contravenções penais são pequenas, de menor potencial
ofensivo, com uma estatura jurídica inferior às dos crimes.
Naquela época, o deferimento do registro e do porte da arma de fogo eram atribuição
do Delegado da Polícia Civil.
Em 1965 foi editado pelo presidente Castelo Branco o Decreto-Lei nº 55.649, de 28
de janeiro de 1965, que tornou ainda rígido mais o R-105.
Tal disciplina permaneceu até o ano de 1997, quando teve início uma política de
controle de armamento mais severa, com a edição da Lei Federal número 9.437, de 1997, que
criou o Sistema Nacional de Armas (SINARM), tendo sido transferida a atribuição do
registro de armas de fogo dos Delegados da Polícia Civil do Estados
1

para os Delegados da Polícia Federal, com a tipificação de crime de possuir e portar armas de
fogo sem autorização no seu artigo 10.
No ano de 2003 foi sancionada a Lei Federal n. 10.826, de 22 de dezembro de 2003,
logo apelidada de Estatuto do Desarmamento, que trouxe em seu bojo o grau mais elevado de
controle de acesso ao armamento, mantendo e elevando o grau de restrição em relação à Lei
n. 9.437, de 1997.
A Lei 10.826, de 2003, atribuiu ao sistema SINARM e à Polícia Federal as
competências para o registro e o trânsito das armas de fogo de calibres permitidos em geral. O
artigo 9º dessa lei conferiu ao Exército Brasileiro a competência para o registro e autorização
para o trânsito de armas de fogo de caçadores, atiradores e colecionadores, o que incluiu tanto
as armas de calibres permitidos quanto as de calibres restritos, e tudo o mais que se classifica
como Produto Controlado pelo Exército - PCE.
Cabe trazer a distinção entre o porte e a posse de armas, que foi bem explicada por
Danilo Atala nos seguintes termos: “Posse é ter a arma em âmbito de residência, comércio,
fazenda etc. Porte é poder transportar, de forma velada, a arma em via pública” (ATALA,
2021, 69).
O chamado Estatuto do Desarmamento, previu no seu artigo 10, que o porte ilegal de
arma de fogo permitido passa a ter pena de reclusão de 2 a 4 anos, e multa; e, no caso de porte
ilegal de fogo de uso restrito, passou a ter a pena de três a seis anos de reclusão e multa.
Sobre a evolução das penas dos delitos relacionados a armas de fogo, cabe colacionar
a tabela elaborada por Alex Silveira Menezes a qual bem explicita o recrudescimento da
legislação penal:

Tabela 1 - Evolução das penas dos delitos relacionados a armas de fogo

Delito Lei de Contravenções Lei n. 9.437/1997 Lei 10.826/2003


Penais
Posse irregular de arma Art. 19, § 2º, (a): pena Art. 10, caput: pena de Art. 12, caput: pena de
de fogo permitido de prisão simples, de 15 detenção, de 1 a 2 anos, detenção, de 1 a 3 anos e
dias a 3 meses, ou multa, e multa, multa.
ou ambas
coletivamente.
2

Omissão de cautela Art. 19, § 2º, (c): pena Art. 10, § 1º, I: pena de Art. 13, caput, pena de
de prisão simples, de 15 detenção, de 1 a 2 anos, detenção de 1 a 2 anos, e
dias a 3 meses, ou e multa. multa.
multa
Porte ilegal de arma Art. 19, caput: pena de Art. 10, caput: pena de Art. 14, caput: pena de
de fogo permitido prisão simples, de 15 detenção, de 1 a 2 anos, reclusão, de 2 a 4 anos, e
dias a 6 meses, ou e multa. multa.
multa
Disparo de arma de Art. 28, caput: pena de Art. 10, § 1º, III: pena Art. 15, caput: pena de
fogo prisão simples, de 15 de detenção, de 1 a 2 reclusão, de 2 a 4 anos, e
dias a 6 meses, ou anos, e multa. multa.
multa.
Porte ilegal de arma de Igual à pena de porte Art. 10, § 2º, III: pena Art. 16, caput, pena de
fogo de uso restrito ilegal de arma de fogo de reclusão, de 2 a 4 reclusão, de 3 a 6
permitido. anos, e multa. anos, e multa.

Fonte: MENEZES, 2020, p. 79

Nos termos do artigo 4º da Lei n. 10.826, de 2003, para aquisição de arma de fogo o
requerente deverá demonstrar: a ausência de antecedentes criminais; ocupação lícita;
capacidade técnica e psicológica; e declarar a efetiva necessidade de aquisição do armamento.
A restrição mais radical do chamado Estatuto do Desarmamento foi a previsão, no
seu artigo 35, da completa proibição da comercialização de armas de fogo e munição em
território nacional, o que significaria o banimento total do comércio lícito de armamento no
Brasil. Tal vedação ficou condicionada, contudo, a referendo popular, o qual foi realizado no
ano de 2005, tendo 63,94% do eleitorado optado por manter a comercialização de armas
lícitas, conforme informações do Tribunal Superior Eleitoral:

Tabela 2 - Referendo - proibição do comércio de armas de fogo e munição- 23 de outubro de 2005

Sim 33.333.045 -
36,06%
Não 59.109.265 -
63,94%
Votos em branco: 1.329.207
Votos nulos: 1.604.307
Eleitorado: 122.042.615
Comparecimento: 95.375.824
2

Abstenção: 26.666.791
Fonte: BRASIL. TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL, [s.d.]

Independentemente do resultado da votação sobre a comercialização de armas lícitas,


continuaram as campanhas pelo desarmamento da população com o argumento na contenção
da violência.
Pode-se extrair do histórico da legislação sobre controle de armamento que a
restrição ao acesso da população às armas lícitas tem sido a tônica.
Anoto que, apesar de ter sido a Lei 10.826, de 2003, apelidada de “Estatuto do
Desarmamento”, tal denominação não consta da lei, e em nenhum dos seus dispositivos são
mencionadas as palavras “desarmamento” ou “desarmar”.
A referida lei tem trinta e sete artigos, e em todo o seu texto a palavra “regulamento”
aparece vinte e cinco vezes, e a palavra “regulamentar” aparece seis vezes. Isso demonstra
que o legislador delegou ao Chefe do Poder Executivo ampla competência para complementar
a disciplina quanto à aquisição, posse e porte de armas por meio de regulamento.
O ordenamento constitucional outorgou certa margem de liberdade ao Presidente da
República, uma vez que a Constituição do Brasil conferiu ao chefe do poder executivo federal
a atribuição de exercer a direção superior da administração federal (artigo 84, inciso II), e de
expedir decretos para a fiel execução da lei (artigo 84, inciso IV).
Uma mudança de cenário ocorreu a partir do ano de 2019 com a eleição do
presidente Jair Messias Bolsonaro, que trouxe como pauta de sua campanha eleitoral a
alteração do regime jurídico sobre aquisição, cadastro, registro, posse, porte e comercialização
de armas de fogo e de munição.
A primeira alteração normativa começou de maneira tímida, com a edição do Decreto
n. 9.685, de 15 de janeiro de 2019, que fez alterações pontuais no Decreto 5.123, de 1º de
julho de 2004, antigo regulamento do Estatuto do Desarmamento. Essas alterações foram a
presunção de veracidade da declaração de efetiva necessidade para adquirir armamento; e
considerar a efetiva necessidade para o porte de armas a determinadas categorias profissionais
e, em especial, a residentes em área rural e a residentes em área urbana com elevados índices
de violência.
Com a regulamentação pelo Decreto n. 9.785, de 2019, teve início uma nova política
de registro, posse, porte e comercialização de armas de fogo e munição,
2

seguida por uma série de normas infralegais com o objetivo de diminuir a burocracia na
aquisição de armamento para defesa e para a prática do tiro desportivo, caça e colecionismo.
O Decreto 10.628, de 2021, alterou o Decreto nº 9.845, de 25 de junho de 2019, para
dispor sobre aquisição, cadastro, registro e posse de armas de fogo e de munição. Dentre
outros pontos, saliento a possibilidade de aquisição pelo cidadão comum de até seis armas de
fogo de uso permitido (com o Decreto 9.845, de 2019 era de quatro o limite).
Já o Decreto 10.629, de 2021, regulamentou o registro, o cadastro e a aquisição de
armas e de munições por caçadores, colecionadores e atiradores, e passou a prever, para fins
de comprovação de aptidão psicológica, de laudo elaborado por qualquer psicólogo com
registro profissional ativo em Conselho Regional de Psicologia, uma vez que antes se exigia
psicólogo do quadro da Polícia Federal ou por esta credenciado.
Por fim, o Decreto 10.630, de 2021 estabeleceu que o porte de arma de uso permitido
passa a ter validade em todo o território nacional. Importante alteração se deu no artigo 15 do
mencionado decreto, onde está estabelecido que o indeferimento de requerimento para porte
de arma de fogo deverá ser fundamentado pelo Delegado da Polícia Federal.

2.2 A experiência de outros países

2.2.1 Estados Unidos da América

Na declaração de independência dos Estados Unidos da América, datada de 4 de


julho de 1776, consta o ideal de liberdade que, juntamente, com a vida e a busca da felicidade,
são direitos inalienáveis. Caso algum governo ameace esses direitos, é direito do povo alterá-
lo ou aboli-lo para instituir um novo governo, como está claramente expresso no texto
colacionado abaixo:

Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, todos os homens foram
criados iguais, e que lhe foram conferidos por Seu Criador certos Direitos
inalienáveis, dentre eles a vida, a liberdade e a busca pela felicidade. --Que, para
assegurar esses direitos, os governos são instituídos entre os homens, derivando seus
justos poderes do consentimento dos governados. --Sempre que qualquer forma de
governo se tornar destrutiva
2

para esses fins, é Direito do Povo alterar ou aboli-lo, e instituir um novo governo,
estabelecendo sua base em tais princípios e organizando seus poderes de tal forma,
de forma que pareça mais provável que efetue sua Segurança e Felicidade. (tradução
nossa) (NATIONAL ARCHIVES (United States), 1776)

Registra Jacob Hornberger o pensamento dos chamados pais fundadores dos Estados
Unidos, que vinculava a liberdade do cidadão com o seu direito de possuir e portar armas de
fogo, conforme falas atribuídas a James Madison, Thomas Jefferson, Richard Henry Lee e
Patrick Henry, nos seguintes termos:

"Governos temem cidadãos com armas." ~ James Madison


"Nenhum homem livre pode ser privado do uso de armas" ~ Thomas Jefferson "Para
preservar a liberdade, é essencial que as pessoas possuam armas e sejam ensinadas,
desde crianças, a como utilizá-las" ~ Richard Henry Lee "O maior objetivo é fazer
com que cada indivíduo esteja armado.......................................................Todos que
são capazes devem possuir uma arma................Será que finalmente chegamos a
tão humilhante e degradante situação, que nem mais podemos utilizar armas para a
nossa própria defesa?" ~ Patrick Henry (HORNBERGER, 2011)

O reconhecimento do direito do cidadão se defender, inclusive com o emprego de


armas de fogo, foi previsto na 2ª Emenda à Constituição dos Estados Unidos da América,
ratificada em 15 de dezembro de 1779, nos seguintes termos:

EMENDA II
Sendo necessário à segurança de um Estado livre a existência de uma milícia bem
organizada, o direito do povo de possuir e usar armas não poderá ser impedido.
(tradução nossa) (NATIONAL ARCHIVES (United States), 1779)

Sobre o entendimento e alcance da 2ª Emenda à Constituição dos Estados Unidos da


América, a Suprema Corte Norte Americana reconheceu o direito natural de resistência e à
autopreservação ao julgar o caso “District of Columbia v. Heller”, com o voto vencedor do
justice Antonin Scalia, tendo estipulado que:

[. ] proibir as armas de fogo, uma classe inteira de armas que são comumente
usadas para fins de proteção, e proibir as armas de fogo de serem mantidas aptas
para o uso em casa, uma área que tradicionalmente precisa de proteção, viola a
Segunda Emenda. (DISTRICT of Columbia v. Heller : 554 U.S. 570 (2008))

Interessante a passagem no referido julgado sobre as razões pelas quais os cidadãos


norte-americanos preferem uma arma de fogo curta (handgun) para defesa residencial: é fácil
de armazenar em local acessível em caso de emergência; não é
2

facilmente encontrada por um eventual invasor; é mais fácil de usar por quem não tem a força
física para utilizar uma arma longa; e pode ser apontada contra um ladrão com uma das mãos
enquanto a outra liga para a polícia (DISTRICT of Columbia v. Heller : 554 U.S. 570 (2008).
Em 2017 os Estados Unidos da América contavam com uma taxa de 5 homicídios
para cada 100 mil pessoas, e com uma média de 121 armas para cada 100 pessoas conforme
tabela elaborada pelo especialista Bene Barbosa:

Tabela 3 - 25 países com a população mais armada (2017)

25 Países com população mais armada (2017)

Armas por
Homicídios por 100
País 10
mil habitantes²
habitantes¹

Estados Unidos 121 5

Iêmen 53 N.I.

Montenegro 39 2

Sérvia 39 1

Canadá 35 2

Uruguai 35 8

Chipre 34 1

Finlândia 32 1

Líbano 32 4

Islândia 32 1

Bósnia e Herzegovina 31 1

Áustria 30 1

República da Macedônia do Norte 30 2

Noruega 29 1

Malta 29 2
2

Suíça 28 1

Nova Zelândia 26 1

Kosovo 24 3

Suécia 23 1

Paquistão 22 4

Portugal 21 1

França 20 1

Alemanha 20 1

Iraque 20 N.I.

Luxemburgo 19 0

1: Small Arms Survey


2: Organização das Nações Unidas
N.I. — Não Informado

Fonte: BARBOSA, 2021.

Apesar de os Estados União da América serem a nação com mais armas de posse de
civis, não é o país com maiores taxas de homicídio, conforme levantamento feito por Bene
Barbosa:

Tabela 4 - 10 países com mais homicídios (2017)

10 Países com mais homicídios (2017)

Homicídios por 100 mil Armas de fogo por


País
habitantes¹ 100 habitantes²

El Salvador 62 12

Jamaica 56 9

Venezuela 50 19

Honduras 41 14

Belize 38 10

África do Sul 36 10
2

Bahamas 32 19

Brasil 31 8

Santa Lúcia 29 3

Dominica 27 6

1: Organização das Nações Unidas 2:


Small Arms Survey
Fonte: BARBOSA, 2021.

Trata-se de um caso emblemático, em que o expressivo número de armas legalizadas


nas mãos da população não gera necessariamente aumento de crimes.

2.2.2 Reino Unido

O Reino Unido tem um histórico de controle de armamento diverso dos Estados


Unidos da América tendo, desde o início do Século XX, iniciado um processo de restrição
cada vez maior ao acesso às armas de fogo por civis.
Joyce Lee Malcon aponta que o período de 1902 a 1928 é caracterizado pelo
aparecimento do estado intervencionista no Império Britânico. A Lei de Armas Curtas de
1903 pavimentou o caminho para as sucessivas leis de controle de armamento, sempre com
foco no desarmamento dos britânicos (MALCON, 2014, p. 137).
Destaca Malcon que o desarmamento da população estava em pleno andamento por
volta de 1950, graças a uma série de instruções secretas dadas pelo governo à polícia, que
dificultavam e desencorajavam a aquisição de armas de fogo para defesa residencial e pessoal
(MALCON, op. cit., p. 171).
Na década de 1990, o Reino Unido aprovou uma das mais duras legislações sobre
armas de fogo no mundo, o Firearms (Amendment) Act de 1997, que praticamente baniu a
posse privada de armas de fogo naquele país, com a proibição geral para aquisição de armas
de fogo curtas, inclusive para armas de ar comprimido, armas de pequeno calibre, armas de
carregamento pela boca e, até mesmo, para sinalizadores (UNITED KINGDON, 1997).
Não obstante, os dados do Reino Unido não são nada animadores em termos de
redução da criminalidade pois, conforme reportagem de Alan Travis para o “The
2

Guardian”, em 2018, houve o expressivo crescimento da criminalidade na Inglaterra e no País


de Gales:

O aumento da criminalidade acelera na Inglaterra e no País de Gales, conforme


dados da polícia, que demostram um aumento de 14% com relação ao ano anterior
nos crimes registrados em toda a Inglaterra e País de Gales. Os crimes com facas
aumentaram acentuadamente em 21% nos 12 meses até setembro, e os crimes com
armas 20%, de acordo com dados trimestrais divulgados na quinta-feira.
Os chefes de polícia disseram que os aumentos de crimes - incluindo o aumento de
32% nos roubos domésticos para 261.965 crimes e um aumento de 18% nos crimes
relacionados a veículos (443.577 crimes), juntamente com o forte aumento de
crimes violentos - marcaram uma virada após mais de 20 anos de queda nessas
categorias. (TRAVIS, 2018, tradução nossa)

A situação no Reino Unido chegou a tal ponto, que as taxas de homicídio em


Londres em março do ano de 2018 superaram às de Nova Iorque, nos Estados Unidos da
América, conforme reportagem da BBC, a qual trouxe um gráfico com o comparativo entre
essas duas grandes cidades:

Figura 1 - Taxa de homicídios em Londres e Nova Iorque

Fonte: (LONDON, 2018)

Percebe-se que, mesmo com o banimento de armas de fogo legalizadas, privando o


cidadão britânico do acesso às armas para defesa pessoal, os índices de criminalidade
permaneceram altos no Reino Unido.

2.2.3 Suíça
2

A Confederação Helvética, ou simplesmente Suíça, é, assim como os EUA, um dos


países mais armados do mundo. Segundo dados da ONG Small Arms Survey, sediada em
Genebra, há 2,3 milhões de armas particulares, para uma população de 8,4 milhões de pessoas
(SUÍÇA, 2019).
Mesmo assim, as taxas de criminalidade na Suíça são as menores do mundo,
conforme relatam Quintela e Barbosa. Essas taxas têm caído com o tempo para os crimes
violentos (QUINTELA; BARBOSA, 2015, p. 62).
Mesmo com taxas de criminalidade tão pequenas, a população Suíça decidiu em
2019 aprovar uma legislação de controle de armas mais rigorosa, nos termos das diretrizes da
União Europeia, mesmo não sendo a Confederação Helvética membro do bloco europeu
(SUÍÇA, 2019).

3 A SEGURANÇA PÚBLICA E A LIBERDADE INDIVIDUAL

Henry Kissinger explica que a Paz de Vestefália, de 1648, se tornou um ponto de


inflexão na história das nações, pois consagrou o conceito da soberania do Estado. O Estado
foi consagrado como pedra fundamental da ordem europeia, e não o império, a dinastia ou a
confissão religiosa (KISSINGER, 2015, p. 33). Naquele momento,

[...] Foi afirmado o direito de cada um dos signatários escolher sua própria estrutura
doméstica e sua orientação religiosa, a salvo de qualquer tipo de intervenção,
enquanto novas cláusulas garantiam que seitas minoritárias poderiam praticar a sua
fé em paz, sem temer conversão forçada. Para além das exigências do momento,
começavam a ganhar corpo os princípios de um sistema de “relações
internacionais”, um processo pelo desejo comum de evitar a recorrência de uma
guerra total no continente. (KISSINGER, op. cit., p. 33-4)

Segundo Kissinger, Thomas Hobbes, em 1651, três anos após a Paz de Vestefália,
apresentou a teoria do contrato social, na qual a ausência de uma autoridade soberana gera o
risco de uma “guerra de todos contra todos”, e, para que não haja essa insegurança intolerável,
as pessoas delegaram seus direitos a um poder soberano em troca da garantia de segurança
para todos no interior das fronteiras do Estado (KISSINGER, op. cit., p. 38).
2

Com efeito, o monopólio do poder pelo Estado soberano, continua Kissinger, foi
estabelecido por Hobbes como a única maneira de superar o eterno medo da guerra e da morte
violenta (idem).
Conforme Hobbes, não havendo um governo soberano, cada homem acaba sendo
governado pela sua própria razão, vivendo em estado de natureza, dado que:

A condição do homem [...] é uma condição de guerra de todos contra todos, sendo,
neste caso, cada um governado por sua própria razão, e não havendo nada de que
possa lançar mão, que não possa servir-lhe de ajuda para a preservação de sua vida
contra seus inimigos, segue-se daqui que numa tal condição todo homem tem direito
a todas as coisas, incluindo os corpos dos outros. (HOBBES, 2020, p. 87).

Hobbes entendia que o motivo de os homens imporem restrições a si mesmos, e, com


isso, viverem sob a soberania de um Estado, com o abandono do estado de natureza, é o
cuidado com a sua própria preservação e com uma vida mais satisfeita, “saindo da condição
de guerra, que é consequência necessária [...] das paixões naturais dos homens, quando não há
um poder visível capaz de os manter em respeito” (HOBBES, 2020, p. 112), de modo que,

[...] Ninguém tem a liberdade de resistir à espada do Estado, em defesa de outrem,


seja culpado ou inocente. Porque essa liberdade priva a soberania dos meios para
proteger-nos, sendo, portanto, destrutiva da própria essência do Estado. (HOBBES,
op. cit., p. 146)

No raciocínio de Hobbes, o pacto se justifica na medida em que não há nada pior que
o constante estado de guerra de todos contra todos.
No pacto, explica Danilo Atala, os indivíduos renunciam a parte dos seus direitos
naturais para que o Leviatã, que é o Estado soberano, mantenha a paz e a segurança, bem
como a defesa de ameaças estrangeiras, conservando, cada qual, os demais direitos naturais
não renunciados (ATALA, 2021, p. 61)
John Locke, por sua vez, defende que a formação do Estado está embasada no
consentimento de cada indivíduo e na vontade da maioria, uma vez que:

Se todos os homens são, como se tem dito, livres, iguais e independentes por
natureza, ninguém pode ser retirado deste estado e se sujeitar ao poder político de
outro sem o seu próprio consentimento. A única maneira pela qual alguém se
despoja de sua liberdade natural e se coloca dentro das limitações da sociedade civil
é através de acordo com outros homens para se associarem e se unirem em uma
comunidade para uma vida confortável, segura e pacífica uns com os outros,
desfrutando com segurança de suas
3

propriedades e melhor protegidos contra aqueles que não são daquela comunidade.
(LOCKE, 2020, p. 48)

Ao contrário de Hobbes, que considera o Estado como um centro e um instrumento


de poder, John Locke vê o Estado como uma entidade constitucional, que estabelece e impõe
o estado de direito, respeita os direitos dos cidadãos à vida, à liberdade e à propriedade,
motivo pelo qual os países constitucionais também respeitariam e lidariam uns com os outros
segundo normas de tolerância mútua (JACKSON; SØRENSEN, 2018, p. 152) .
Note-se que o contrato social confere ao Estado a autoridade e o dever primordial de
garantir a segurança aos seus nacionais. Para alcançar o fim de garantir a segurança aos
indivíduos, estes aceitam o monopólio da coerção ao Estado, e esse poder deve ficar limitado
a circunstâncias em que a ação estatal é necessária para impedir a violência e a intimidação
exercidas por outros indivíduos.
Conforme o pensamento da Escola Superior de Guerra, “a segurança é uma
necessidade, uma aspiração e um direito inalienável do ser humano” (ESCOLA SUPERIOR
DE GUERRA (BRASIL), 2019, p. 149).
As chamadas razões de insegurança, conforme o pensamento da Escola Superior de
Guerra, são tudo o que pode ameaçar a tranquilidade do homem, individual ou coletivamente,
dificultar ou impedir a proteção que julga ser seu direito, causar temores, e o que é capaz de
gerar conflitos (idem).
Por isso, “segurança é a sensação de garantia necessária e indispensável a uma sociedade
e a cada um de seus integrantes, contra ameaças de qualquer natureza” (ESCOLA SUPERIOR
DE GUERRA (BRASIL). Op. cit, p. 150).
Sendo a segurança uma sensação, ela não pode ser medida, por ser abstrata e
subjetiva. A defesa, por sua vez, é uma ação que trata de neutralizar, reduzir e anular as
ameaças. A defesa é um ato ou conjunto de atos que se contrapõem a determinado tipo de
ameaça e que se caracteriza e dimensiona para proporcionar a sensação adequada de
segurança (idem).
Sociologicamente, na visão de Max Weber, o Estado não se deixa definir a não ser
pelo específico meio que é peculiar a todo agrupamento político, que é o uso da coação física.
E pondera que:

Se só existissem estruturas sociais de que a violência estivesse ausente, o conceito


de Estado teria também desaparecido e apenas subsistiria o que, no sentido próprio
da palavra, se denomina “anarquia”. A violência não é ,
3

evidentemente, o único instrumento de que se vale o Estado – não haja a respeito


qualquer dúvida -, mas é seu instrumento específico. (WEBER, 2013, p. 56)

O Estado contemporâneo, na visão de Weber, reivindica o monopólio do uso


legítimo da violência física, não reconhecendo a qualquer outro grupo ou aos indivíduos o
direito de fazer uso da violência, a não ser nos casos em que o próprio Estado o tolere. O
Estado se transforma na única fonte do direito à violência (idem).
Explicam Jackson e Sørensen que, antes do advento do Estado e do Sistema de
Estados, a garantia da segurança era feita pela família, pelo clã, pelo líder militar ou por
alguma outra entidade de base local. Com o passar do tempo essa responsabilidade foi
transferida gradualmente para o Estado (JACKSON; SØRENSEN, 2018, p. 433).
Tradicionalmente, o conceito de segurança tem como referencial o Estado- nação e
está associado ao nível de análise internacional. Trata-se de garantir a proteção do Estado
diante de ameaças à sua integridade ou soberania, o que pode, no limite, resultar na
conflagração de um conflito armado, ou seja, na guerra (SALVADORI, 2020, p. 14).
Por outro lado, sem desprezar a inegável relevância do Estado, o teórico crítico Ken
Booth não acredita que Estado seja o elemento mais importante, ou referencial, na discussão
sobre a segurança (BOOTH, 1991, p. 316)
Para Booth, a preocupação com a segurança decorre de antigas disputas territoriais
que, apesar de ainda existentes em algumas partes do mundo, hoje cedem lugar a outros tipos
de ameaças, mais focadas no indivíduo, tais como colapso econômico, opressão política,
escassez de alimentos, superpopulação, rivalidades étnicas, questões ambientais, terrorismo,
criminalidade e doenças (BOOTH, 1991, p. 318).
Para esta linha de pensamento, as pessoas se sentem mais ameaçadas pelas diretrizes
tomadas nas políticas públicas (policies) e inadequações de seu próprio governo “do que por
ambições napoleônicas de seus vizinhos” (idem).
A segurança é, para Ken Booth, a possibilidade de o indivíduo alcançar a sua
emancipação. Emancipação é a libertação das pessoas (como indivíduos e grupos) das
restrições físicas e humanas que as impedem de realizar o que livremente escolheriam fazer,
destacando que
3

[a] guerra e a ameaça de guerra são uma dessas restrições, junto com a pobreza, a
educação deficiente, a opressão política e assim por diante. Segurança e
emancipação são duas faces da mesma moeda. A emancipação, não o poder ou a
ordem, produz a verdadeira segurança. Emancipação, teoricamente, é segurança
(BOOTH, 1991, p. 319, tradução nossa)

Mariana Salvadori sustenta que a segurança humana é aquela que tem como objeto
referencial não mais o Estado, mas sim o indivíduo, segundo visões multidimensionais da
segurança, nos seguintes termos:

Em um primeiro momento, o indivíduo seguro é aquele que garante sua integridade


física, estando livre, por exemplo, de conflitos armados ou da violência. A partir de
uma abordagem mais profunda, o indivíduo seguro é aquele que não tenha
ameaçados o seu bem-estar e a sua dignidade, por exemplo através da fome, de
doenças, de desastres ambientais ou de problemas econômicos. E num terceiro
momento, o indivíduo seguro é aquele que tem garantido o exercício de suas
potencialidades (SALVADORI, 2020, p. 27)

Tal pensamento está presente nas bases do conceito de segurança humana do United
Nations Development Programme (UNDP), constante do Relatório de Desenvolvimento
Humano de 1994, que analisou um novo conceito de segurança para os seres humanos, focado
não só em conflitos armados entre estados, mas, em especial, no desenvolvimento dos
indivíduos (SALVADORI, 2020, p. 28).
Segundo o relatório da UNDP:

Por muito tempo, o conceito de segurança foi definido pelo potencial de conflitos
entre estados. Por muito tempo, a segurança foi equiparada às ameaças às fronteiras
dos países. Por muito tempo, nações têm pegado em armas para proteger sua
segurança.
Para a maioria das pessoas, atualmente o sentimento de insegurança surge mais das
preocupações acerca do seu cotidiano do que do medo de um evento cataclísmico
mundial. Segurança laboral, segurança de renda, segurança de saúde, segurança
ambiental, segurança contra a criminalidade
– estas são as preocupações emergentes à segurança humana ao redor do mundo.
(UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME, 1994, p. 3, tradução
nossa)

Para o UNDP, a segurança humana ocorre quando o indivíduo está livre do medo
(freedom from fear) e livre das necessidades (freedom from want), sendo igualmente
relevantes tanto a segurança territorial do Estado como a segurança dos indivíduos nas suas
necessidades, como fome, doenças, crimes e repressão (UNITED NATIONS
DEVELOPMENT PROGRAMME, 1994, p. 3) (SALVADORI, 2020, p. 28).
3

Outro autor que destaca a posição do indivíduo nas questões envolvendo a política de
segurança é Barry Buzan. Para ele, a segurança individual deve ser vista como um problema
social, na medida em que as pessoas se encontram incorporadas em um ambiente humano
com inevitáveis consequências sociais, econômicas e políticas (BUZAN, 1983, p. 19).
As ameaças sociais aparecem de variadas formas, mas Buzan destaca
quatro:

Ameaças físicas (dor, ferimentos, morte), ameaças econômicas (convulsão social ou


destruição de propriedade, proibição de acesso ao trabalho ou de recursos), ameaças
a direitos (violação a liberdades civis usuais), ameaças a posição social ou status
(rebaixamento, humilhação pública). (BUZAN, 1983, p. 19-20, tradução nossa)

A existência dessas ameaças para os indivíduos no contexto social, conforme Buzan,


aponta para o grande dilema que está enraizado na filosofia política, qual seja, de como
equilibrar a liberdade de ação do indivíduo contra as ameaças potenciais e reais que tal
liberdade representa para os outros indivíduos ou, melhor explicando, como ampliar a
liberdade dos indivíduos sem ampliar a opressão da autoridade estatal (BUZAN, 1983, p. 20).
Buzan faz um alerta importante ao identificar um paradoxo na proteção Estatal, uma
vez que, apesar de o Estado ser o mecanismo pelo qual as pessoas buscam alcançar o nível
adequado de segurança contra as ameaças sociais, tal como concebido por Hobbes e Locke, o
mesmo Estado pode se transformar em fonte de ameaças contra os indivíduos (BUZAN, 1983,
p. 20).
As ameaças emanadas do Estado podem tomar importante papel na vida das pessoas.
Elas podem ser agrupadas dentro de quatro categorias gerais de ameaças:

Aquelas decorrentes da legislação nacional e de sua aplicação; aquelas decorrentes


da ação política direta do Estado contra indivíduos ou grupos; aquelas decorrentes
de lutas pelo controle da máquina estatal; e as decorrentes das políticas de segurança
externa do Estado. (BUZAN, 1983, p. 23, tradução nossa)

O posicionamento de Buzan merece toda atenção, considerando que a estrutura


estatal, que tem por finalidade a proteção dos indivíduos, garantindo-lhes a segurança e a paz,
pode acabar se voltando contra aqueles que deveria defender,
3

motivo pelo qual a análise sobre a segurança nacional não pode deixar de levar em
consideração aspectos da segurança interna e em especial do papel dos indivíduos.
O pensamento da Escola Superior de Guerra vai ao encontro da doutrina de Barry
Buzan, ao defender que a segurança pública é a garantia que o Estado proporciona à Nação,
que se alcança pela ausência de prejuízo aos direitos do cidadão, com o eficiente
funcionamento dos órgãos do Estado, configurando a ordem pública (ESCOLA SUPERIOR
DE GUERRA (BRASIL), 2019, p. 152).
A ordem pública é caracterizada, na doutrina da Escola Superior de Guerra, pela
garantia do exercício dos direitos individuais e a manutenção da estabilidade das instituições,
e pelo bom funcionamento dos serviços públicos e o impedimento de danos sociais (idem)
Conforme consta da versão atual da Política Nacional de Defesa, a Segurança
Nacional é definida nos seguintes termos (BRASIL, 2020, p.11):

Segurança Nacional, entendida como a condição que permite a preservação da


soberania e da integridade territorial, a realização dos interesses nacionais, a
despeito de pressões e ameaças de qualquer natureza, e a garantia aos cidadãos do
exercício dos direitos e deveres constitucionais.

As medidas para implementar a segurança demandam ações estatais amplas,


incluindo a segurança pública, conforme ficou consignado na versão de 2012 da Política
Nacional de Defesa (BRASIL, 2012):

Preservar a segurança requer medidas de largo espectro, envolvendo, além da defesa


externa: a defesa civil, a segurança pública e as políticas econômica, social,
educacional, científico-tecnológica, ambiental, de saúde, industrial. Enfim, várias
ações, muitas das quais não implicam qualquer envolvimento das Forças Armadas.

Desse modo, o modelo de análise e da formulação de uma política de segurança deve


levar em consideração não só a realidade externa e interestatal das Relações Internacionais,
mas, em especial, a interna, como a composição da população, tipo de desenvolvimento
econômico e estrutura governamental e regime político (RUDZIT; CASARÕES, 2015, p. 35)
Essa preeminência do indivíduo encontra-se na base do pensamento da Escola
Superior de Guerra, que traz como fundamento axiológico que, na qualidade de pessoa,
3

[...] o Homem se alça acima do Estado, uma vez que seus fins são superiores aos
do Estado. Cabe ao Estado e à sociedade proporcionar ao Homem as condições de
sua autorrealização. Por isso a liberdade do indivíduo constitui, em nossa
cultura, valor prioritário. (ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (BRASIL),
2019, p. 12)

Vale ressaltar que a liberdade do indivíduo, conforme Friedrich Hayek, deve ser
entendida como a ausência de coerção, sendo “o estado no qual o homem não está sujeito a
coerção pela vontade arbitrária de outrem” (HAYEK, 2020, p. 38)
Desse modo, conforme Hayek:

A liberdade ou a falta de liberdade do indivíduo não depende da gama de


escolhas, mas da possibilidade de determinar sua conduta de acordo com suas
pretensões correntes, ou da existência de alguém cujo poder lhe permite
manipular as condições de modo a impor àqueles a sua vontade. Assim,
liberdade pressupõe que o indivíduo tenha assegurada uma esfera privada, que
exista certo conjunto de circunstâncias no qual outros não possam interferir.
(HAYEK, 2020, p. 40)

Pela coerção, “o indivíduo torna-se incapaz de usar sua própria inteligência e


conhecimento ou mesmo de se orientar por seus objetivos e ideias, exceto no sentido de
escolher o menor dos males numa situação que lhe é imposta por outra pessoa”. (HAYEK,
2020, p. 55)
A liberdade do indivíduo merece ser considerada como um direito fundamental,
sendo caracterizada pela capacidade que o indivíduo tem de resistir à coerção, e, mesmo ao
conferir ao Estado o monopólio da violência, há uma esfera de direitos do indivíduo que não
pode ser anulada, dentre estes o de se autodefender.
Essa ressalva referente à esfera de liberdade do indivíduo frente ao Estado encontra-
se presente nos autores clássicos.
Dentre os direitos que Thomas Hobbes considera intransferíveis destaca-se o direito
de o indivíduo se defender contra um ataque, pois “ninguém pode renunciar ao direito de
resistir a quem o ataque pela força para tirar-lhe a vida, dado que é impossível admitir que
através disso vise a algum benefício próprio” (HOBBES, 2020,
p. 89), e, por isso,

[...] ninguém é considerado obrigado pelo pacto social a abster-se de resistir à


violência, não podendo, portanto, pretender-se que alguém deu a outrem qualquer
direito de pôr violentamente a mão em sua pessoa. Ao fundar um Estado, cada um
renuncia ao direito de defender os outros, mas não de defender-se a si mesmo. Além
disso, cada um se obriga a ajudar o soberano na punição de outrem, mas não na sua
própria. (HOBBES, 2020, p. 207)
3

Na mesma toada, John Locke aponta que o direito do indivíduo se defender decorre
de uma lei fundamental da natureza, pois

[...] o ser humano deve ser preservado na medida do possível, se nem todos podem
ser preservados, deve-se dar preferência à segurança do inocente; você pode destruir
o homem que lhe faz guerra ou que se revelou inimigo de sua existência, pela mesma
razão que se pode matar um lobo ou leão: porque homens deste tipo escapam aos
laços da lei comum da razão, não seguem outra lei senão aquela da força e da
violência, e assim podem ser tratados como animais selvagens, criaturas perigosas e
nocivas que certamente o destruirão sempre o tiverem em seu poder. (LOCKE,
2007, pp. 10–11)

A teoria de Locke sustenta que o indivíduo que ameaça o outro ou tenta impor
violentamente a sua vontade pode ser destruído, pois encontra-se em estado de guerra,
entendido este como um estado de inimizade e de destruição que alguém, explicitamente ou
por seu modo de agir, declara fomentar de maneira consciente projetos contra a vida de outro
homem (LOCKE, 2020, p. 10)
Locke raciocinava que, se escapar da violência é a única garantia de preservação do
indivíduo, e como é impossível ao Estado proteger o cidadão o tempo todo, a este deveria ser
dado o direito de defesa contra eventual agressor, não cabendo ao Estado cercear este direito,

[...] porque a lei, estabelecida para garantir a minha preservação contra os atos de
violência, quando não pode agir de imediato para proteger minha vida, cuja perda é
irreparável, me dá o direito de me defender e assim o direito de guerra, ou seja, a
liberdade de matar o agressor; porque este não me deixa tempo para apelar para
nosso juiz comum e torna impossível qualquer decisão que permita uma solução
legal para remediar um caso em que o mal pode ser irreparável. (LOCKE, 2020, p.
12)

Interessante perceber que tanto Hobbes como Locke, teóricos que defendem a
submissão dos indivíduos ao Estado como forma de garantir a segurança e a paz, reconhecem
que o Estado não é infalível nem muito menos onipresente, motivo pelo qual não cabe negar
ao indivíduo o direito à autopreservação em face de violência contra a sua pessoa.
Somente em um cenário distópico, com um Estado gigantesco que assume o controle
da vida de todas as pessoas, com a burocracia ocupando todos os espaços, inclusive o
familiar, é que poderia se cogitar onipresença estatal, gerando inexoravelmente a tirania
contra o indivíduo
Tal cenário é descrito por George Orwell, no seu clássico 1984, no qual o Estado
busca controlar o indivíduo desde os meandros da família, por meio da
3

manipulação de membros treinados desde a infância, transformando todos em agentes


estatais para uma perfeita vigilância, conforme passagem assustadora:

Quase todas as crianças atualmente eram horríveis. O pior de tudo era que, com
auxílio de organizações como os Espiões, transformavam-se sistematicamente em
pequenos selvagens ingovernáveis e, no entanto, isso não produzia nelas tendência
alguma a se rebelar contra a disciplina do Partido. Pelo contrário, adoravam o
Partido e tudo relacionado a ele. As músicas, os desfiles, as bandeiras, as
caminhadas, os exercícios com espingardas de faz de conta, a adoração ao Grande
Irmão – tudo isso era uma espécie de brincadeira gloriosa para elas. Toda a sua
ferocidade era voltada para fora, contra os inimigos do Estado, contra os
estrangeiros, traidores, sabotadores, criminosos do pensamento. Era quase normal
que as pessoas de mais de trinta anos terem medo dos próprios filhos. (ORWELL,
2021, p. 37)

Em um ambiente em que imperem a liberdade e o respeito aos direitos individuais, a


presença do Estado não pode chegar ao ponto de anular o indivíduo, já que não é capaz de
vigiar cada pessoa 24 horas por dia. Quem pretende atingir essa meta de vigilância integral
busca, no fundo, a opressão.
A possibilidade de o indivíduo preservar a própria vida e a de terceiros está acima e é
anterior aos interesses do Estado.

4 A LEGÍTIMA DEFESA E O DIREITO NATURAL

A segurança pública é dever do Estado, e direito e responsabilidade de todos,


conforme consta do artigo 144 da Constituição do Brasil, devendo haver uma estrutura que
garanta a segurança e incolumidade da população, com a rápida e correta aplicação da lei
penal.
O Estado brasileiro deve agir segundo os ditames previstos na Constituição para
fazer com que o cidadão seja livre em relação ao seu semelhante. Assim agindo, garantindo a
liberdade de cada um perante os demais, a igualdade se mostrará atingível, pois se todos
forem livres para poder buscar seus objetivos pessoais não egoísticos, efetivamente o convívio
social será possível, sem a submissão da vontade de um indivíduo sobre o outro.
O dever genérico de o Estado zelar pela segurança pública, contudo, não pode afastar
o direito de cada indivíduo se defender ou de defender terceiros (família,
3

p. ex.) contra agressões injustas, até pelo fato de os agentes estatais não poderem estar em
todos os lugares, conforme já ressaltado.
Apesar de não haver uma previsão na Constituição do Brasil de 1988 nos mesmos
moldes da II Emenda à Constituição dos Estados Unidos da América, é possível extrair do
texto constitucional o direito natural do cidadão utilizar todos os meios cabíveis para a
legítima defesa de seus direitos, sem que haja uma exclusividade do Estado para tanto.
Com efeito, o artigo 5º da Constituição do Brasil declara garantidos a todos os
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País, "a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade". O inciso X deste mesmo artigo assegura
que são "invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra".
No artigo 6º da Constituição do Brasil, o direito à segurança é elencado como um dos
direitos sociais.
Não se pode esquecer que a Constituição em seu artigo 1º, inciso III, eleva a
dignidade da pessoa humana a um dos fundamentos da República Federativa do Brasil.
Na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, consta
expressamente no seu artigo 2º que a “finalidade de toda associação política é a conservação
dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade
a segurança e a resistência à opressão” (DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO
HOMEM E DO CIDADÃO, 1789).
A preservação da própria vida e da integridade física é um dos mais básicos direitos
do cidadão. Não se pode negar o exercício do direito à legítima defesa sob o argumento de
que somente ao Estado cabe garantir ao cidadão a segurança pública.
Como bem destaca Cezar Bitencourt,

[...] a legítima defesa é um dos institutos jurídicos mais bem elaborados através dos
tempos, e representa uma forma abreviada de realização da justiça penal e da sua
sumária execução. E a legítima defesa representa uma verdade imanente à
consciência jurídica universal, que paira acima dos códigos, como conquista
da civilização. (BITTENCOURT, 2004, p. 317)

A mesma linha segue Juarez Cirino dos Santos, para quem

[...] a legítima defesa constitui direito de proteção individual enraizado na


consciência jurídica do povo, explicada por dois princípios fundamentais: o
princípio da proteção individual de bens ou interesses e o princípio social da
3

afirmação do direito em defesa da ordem jurídica. O princípio da proteção


individual justifica ações típicas necessárias para defesa de bens jurídicos
individuais contra agressões antijurídicas, atuais ou iminentes. O princípio da
afirmação do direito justifica defesas necessárias para prevenir ou repelir o injusto
e preservar a ordem jurídica, independentemente da existência de meios alternativos
de proteção, porque o direito não precisa ceder ao injusto, nem o agredido preciso
fugir do agressor – excetuados casos de agressões não-dolosas, de lesões
insignificantes, ou de ações de incapazes, própria da legítima defesa com limitações
ético-sociais. (SANTOS, 2006, p. 227)

De fato, desde os primórdios da história do homem, a legítima defesa tem o seu


fundamente no instinto natural de conservação da própria vida.
Consta do Livro do Êxodo da Bíblia Sagrada a passagem que “se o ladrão que for
pego arrombando for ferido e morrer, quem o feriu não será culpado de homicídio” (ÊXODO,
2012, p. 104, Êxodo, 22,2).
De modo semelhante, registra Eliane Madeira, que a lei das XII Tábuas previa a
ausência de punição para aquele que matasse o ladrão em flagrante delito à noite (II, 3).
Também não era punido quem matasse o ladrão que furtasse à mão armada durante o dia,
desde que a vítima invocasse previamente socorro em altas vozes (II, 6) (MADEIRA, 2015,
p. 133).
Conforme relata Marlene Lessa Vergilio Borges, o grande orador romano Cícero, no
caso “pro Milione”, argumentou que há legitima defesa em caso de reação ao ataque de
inimigos, conforme trecho assim lançado:

Contudo, nesta causa, senhores juízes, não me valerei do tribunado de Tito Ânio
nem de todos os seus feitos em prol da República para defendê-lo desta acusação; se
não tiverdes visto com vossos próprios olhos as armadilhas preparadas por Públio
Clódio contra Milão, não suplicaremos que sejamos absolvidos desta
acusação em virtude de tantos serviços notáveis prestados à República; e nem
pediremos, se a morte de Públio Clódio significou a vossa salvação, que a
atribuais antes ao valor de Milão do que à boa fortuna do povo romano. Mas, se as
insídias daquele forem mais claras do que a luz do dia, então, por fim, eu vos pedirei e
suplicarei, senhores juízes, que, se tudo o mais perdemos, ao menos nos seja deixado
o direito de defendermos impunemente nossa vida da audácia e das armas
dos inimigos. (apud BORGES, 2011, p. 37) (grifos originais)

Ainda no Direito Romano, registra Celso Delmanto et al que

[...] foi a legítima defesa reconhecida em sentenças de Gaio, afirmando que a razão
natural permite defender-se contra o perigo (“Nam adversus periculum
naturalis ratio permittit se defendere”, D. 9, 2, 25) e de Paulo no sentido de que
todas as leis e todos os direitos permitem defender-se da violência pelo uso
da violência (“Vim vi defendere omnes leges omniaque iura permittunt”, I, 45, § 4,
D.9.2). (DELMANTO et al., 2010, p. 176)
4

Desse modo, a legítima defesa decorre da própria natureza do homem, anterior


e independente de qualquer legislação, sendo um direito natural e inalienável. O direito à vida
não é, dessa forma, uma concessão estatal e sim o reconhecimento de uma emanação do
próprio direito natural. O ser humano é um valor em si mesmo que deve ser tratado como
tal, e nunca considerado um
instrumento ou uma coisa (KANT, 1980, p. 134).
Santo Tomás de Aquino explica que “a pessoa significa o que há de mais perfeito
de toda a natureza, i.e., o que subsiste em a natureza racional”, motivo pelo qual a forma de
existir que constitui a pessoa é a mais digna de todas as formas, pois ela existe por si própria
(AQUINO, 2016a, p. 229).
Para ser lícito o ato de defender a si próprio ou a um terceiro, a conduta do agente
deve ser estritamente necessária para interromper ou impedir a agressão, ou seja, deve utilizar
dos meios necessários para fazer cessar a ação criminosa, conforme prescrevem o artigo 23,
inciso II e o artigo 25 ambos do Código Penal Brasileiro, que assim dispõem:

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: II -


em legítima defesa;

Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios


necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

Da lei penal brasileira é possível extrair os seguintes requisitos para o regular


exercício da legítima defesa, conforme Delmanto: a. agressão injusta, atual (presente) ou
iminente (prestes a acontecer); b. preservação de direito (qualquer bem jurídico), próprio ou
de outrem; e c. repelida por meios necessários, usados moderadamente (DELMANTO et al.,
2010, p. 176).
A agressão injusta diz respeito a alguma conduta humana que lesa ou ameaça
direitos. Injusta será a agressão que não estiver protegida por norma jurídica, isto é, não for
autorizada pelo ordenamento jurídico (BITTENCOURT, 2004, p. 319).
Um oficial de justiça munido de mandando de penhora de bens, com ordem judicial
de arrombamento, pode ingressar no domicílio do devedor para retirar os bens necessários
para satisfazer o valor da cobrança judicial, sem que o devedor possa repelir essa conduta pela
legitima defesa, pois o ato de arrombamento e apreensão de bens está justificado pelo
ordenamento jurídico.
4

A legítima defesa pode ser empreendida para defender direito não só da vítima da
agressão, mas também em defesa de outras pessoas.
A legítima defesa de outrem, ou ajuda necessária, somente é válida se existe vontade
de defesa por parte do agredido, pois, como explica Juarez Cirino dos Santos, a
impossibilidade de defesa contra a vontade do agredido resulta do princípio da proteção
individual, tendo em vista agredido pode, por exemplo, ou não querer o uso de arma de fogo
contra o ladrão ou temer represálias (SANTOS, 2006, p. 238).
Cirino dos Santos explica que a vontade presumida do agredido autoriza a defesa de
direito de terceiro, independente da verificação negativa posterior (idem).
Quanto ao direito a ser protegido, qualquer bem jurídico pode ser legitimamente
defendido contra injusta agressão, não havendo na lei brasileira distinção entre os bens que
autorizam o exercício da legítima defesa, seja o bem a vida, o patrimônio, a liberdade, o pudor
ou a honra.
Sobre a defesa da honra conjugal, cabe registrar o entendimento do Supremo
Tribunal Federal ao julgar a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental
n. 779, no sentido de não caber a legítima defesa da honra para justificar a agressão do
cônjuge ou companheiro para reprimir a traição ou adultério, pois, segundo a mais alta corte
de justiça do país, “[a] traição se encontra inserida no contexto das relações amorosas. Seu
desvalor reside no âmbito ético e moral, não havendo direito subjetivo de contra ela agir com
violência.” (BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, 2021b).
É necessário também que a agressão seja atual ou iminente, ou seja, o indivíduo
precisa estar sendo agredido ou em vias de ser agredido para a caracterização da legítima
defesa (SANTOS, op. cit., p. 229).
Havendo o encerramento da agressão, não há hipótese de legítima defesa, na medida
em que, com a cessação da conduta do agressor, ela não é mais atual e muito menos iminente.
Se a vítima agir contra seu antigo agressor por vingança ou por pura maldade não estará
abarcada pela legítima defesa.
Os meios necessários para repelir a agressão, por sua vez, devem ser
suficientes para preservar o direito lesado ou ameaçado de lesão, e, em caso de uma situação
extrema, é admissível que a defesa da vítima importe na morte do agressor. A lei penal
brasileira prevê que o meio utilizado para a legítima defesa seja o necessário para fazer
cessar a agressão, demandando que haja uma
proporcionalidade entre a conduta do agressor e a reação da vítima, e, se não houver
4

outros meios, poder ser considerado necessário o único meio disponível. Mas nessa hipótese,
pondera Cezar Bittencourt, a análise da moderação deverá ser mais exigente
(BITTENCOURT, 2004, p. 321) .
Dessa forma, a vítima da agressão deve utilizar dos meios que dispõe, podendo
chegar a utilizar até uma arma de fogo para se defender, se este for o meio disponível para ela.
Há que se levar em conta que é humanamente impossível em uma situação de perigo,
com a tensão própria do momento, se exigir uma reação refletida da vítima, tendo o artigo 25
do Código Penal Brasileiro previsto que os meios necessários são aqueles que o agente dispõe
no momento da agressão injusta.
A intenção do indivíduo de se proteger e a terceiros contra uma agressão injusta é o
efeito desejado, e não o de tirar a vida do agressor ou lhe causar alguma lesão. A morte ou
lesão do agressor é um efeito sempre indesejado, mas, muitas vezes, inevitável.
Essa é a teoria do duplo efeito de Santo Tomás de Aquino, a qual sustenta que para a
ação desejada do indivíduo se defender há possibilidade de um efeito indesejado, que é a
morte do agressor, desde que o meio empregado seja moderado, conforme lição do aquinate:

Nada impede que um mesmo ato tenha duplo efeito, dos quais só um está em nossa
intenção, estando o outro fora dela. [...] Ora, do ato de quem se defende pode
resultar um efeito duplo: um, a conservação da vida própria; outro, a morte do
atacante. Portanto, tal ato, enquanto visa a conservação da vida, não é, de natureza,
ilícito, pois, a cada um é natural conservar a existência, medida do possível. Um ato,
porém, embora procedente de uma boa intenção, pode tornar-se ilícito se não for
proporcionado ao fim. Portanto, age ilicitamente quem, para defender a vida própria,
empregar violência maior que a necessária. Mas, se repelir a violência
moderadamente, a defesa será lícita; pois, segundo o direito, repelir a força pela
força é lícito, com a moderação de uma defesa sem culpa. Nem é necessário, para a
salvação, deixarmos de praticar o ato da defesa moderada, para evitar a morte de
outrem; pois, estamos mais obrigados a cuidar da nossa vida que da alheia.
(AQUINO, 2016b, p. 419)

Apesar do confronto ser algo a ser evitado, não cabe exigir da vítima atitudes
covardes, muito menos que tolere atitudes ilícitas contra si. A reação à injusta agressão com
os meios que a vítima dispõe é um direito que não pode ser negado, nem mesmo pelo Estado.
O Catecismo da Igreja Católica orienta no sentido de que:
4

O amor para consigo mesmo permanece um princípio fundamental de moralidade.


E, portanto, legítimo fazer respeitar o seu próprio direito à vida. Quem defende a sua
vida não é réu de homicídio, mesmo que se veja constrangido a desferir sobre o
agressor um golpe mortal. (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2017, p. 589;
CIC 2264)

Nesse aspecto, privar o cidadão do direito de possuir e usar armas de fogo pode
ocasionar o desamparo dele em relação ao seu agressor, afastando a possibilidade de exercer
de maneira eficaz a defesa de seus direitos, em especial sua vida e integridade física, deixando
o cidadão à mercê do agressor criminoso.
Cumpre pontuar que, conforme a lição da Congregação para a Doutrina da Fé da
Igreja Católica, desde o momento em que uma lei positiva priva determinada categoria de
seres humanos da proteção que a legislação civil deve conceder-lhes, o Estado acaba por
negar a igualdade de todos perante a lei (CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ,
1988).
O direito de se defender, por ser um direito natural, não pode ser inviabilizado ou
aniquilado pelo Direito Positivo.
Devemos a Sófocles a introdução da discussão sobre a existência de leis universais
que integram o ordenamento jurídico de um país, mesmo que não sejam escritas, conforme
consta da célebre peça Antígona, datada do século V antes de Cristo.
O enredo da peça gira em torno do questionamento de Antígona, filha de Édipo Rei
com Jocasta, ao édito de Creonte, rei de Tebas, que havia proibido o sepultamento de
Polinice, irmão de Antígona. A obra traz importante crítica à adequação e validade de leis
outorgadas com base somente no arbítrio do governante, conforme o diálogo entre Antígona e
sua irmã Ismênia na parte I da mencionada tragédia grega:

ISMÊNIA – Que há, pois? Tu me pareces preocupada!


ANTÍGONA - Certamente! Pois não sabes que Creonte concedeu a um de nossos
irmãos, e negou ao outro, as honras da sepultura? Dizem que inumou Etéocles, como
era de justiça e de acordo com os ritos, assegurando-lhe um lugar condigno entre os
mortos, ao passo que, quanto ao infeliz Polinice, ele proibiu os cidadãos que
encerrem o corpo num túmulo, e sobre este derramem suas lágrimas. Quer que
permaneça insepulto, sem homenagens fúnebres, e presa de aves carniceiras. Tais
são as ordens que a bondade de Creonte impõe a mim, como também a ti, e, eu o
afirmo: ele próprio virá a este sítio comunicá-las a quem ainda as ignore. Disso faz
ele grande empenho, e ameaça a quem quer desobedeça, a ser apedrejado pelo povo.
Tu ouviste o que eu te disse: virá o dia em que veremos se tens sentimentos nobres,
ou se desmentes teu nascimento.
4

ISMÊNIA – Mas, minha pobre irmã, em tais condições, em que te posso eu valer,
quer por palavras, quer por atos?
ANTÍGONA – Quererás auxiliar-me? Agirás de acordo comigo?
ISMÊNIA – A que perigos pensas arriscar-te ainda? Que pretendes fazer?
ANTÍGONA – Ajudarás estes meus braços a transportar o cadáver?
ISMÊNIA – Queres tu, realmente sepultá-lo, embora isso tenha sido vedado a toda a
cidade?
ANTÍGONA – Uma coisa é certa: Polinice era meu irmão, e eu também, embora
recuses o que eu te peço. Não poderei ser acusada de traição para com o meu dever.
ISMÊNIA – Infeliz! Apesar da proibição de Creonte?
ANTÍGONA – Ele não tem o direito de me coagir a abandonar os meus.
(SÓFOCLES, 2014)

Creonte, na qualidade legislador, determinou a punição com morte daquele que


sepultasse o corpo de Polinice, mas Antígona estava determinada a desprezar a lei do
governante em obediência a uma lei escrita pelos deuses, e optou pelo cumprimento da ordem
natural, aceitando as consequências de sua decisão.
Sófocles provoca no leitor a necessidade de refletir a respeito da existência de leis
hierarquicamente superiores àquelas editadas pelo legislador, havendo um direito da natureza
superior e inspirador do direito positivo.
Nesse cenário, entra a discussão sobre a arma de fogo como meio eficaz para a
legítima defesa, que deve ser sempre exercida nos limites da lei e com a responsabilidade
inerente a tal conduta.
A atual legislação sobre acesso ao armamento legalizado pelo cidadão comum cria
obstáculos ao efetivo exercício da legítima defesa, com a vedação quase peremptória do porte
de armas de fogo pelo cidadão, conforme o art. 10 da Lei n. 10.826, de 2003. A lei reservou a
uma classe de agentes estatais a prerrogativa de portarem armas de fogo não só para o
exercício de suas atribuições, mas, em especial, para permitir a sua defesa pessoal, tal como
ocorre com os membros da Magistratura e do Ministério Público.
Foi mantida em grande medida uma tradição legislativa herdada desde a época do
Brasil colônia, ao conferir a agentes estatais e a certas categorias sociais o direito de portarem
armas de fogo, retirando tal direito dos demais membros da sociedade. Permanece arraigado
na política de segurança o critério da renda e demonstração da ocupação lícita para possibilitar
a aquisição de armamento pelo cidadão.
Além das exigências referentes à ausência de antecedentes criminais, ocupação lícita
e demonstração de capacidade técnica e psicológica, há um grande
4

complicador para o porte de armas de fogo que é a avaliação discricionária por parte da
Polícia Federal em relação à necessidade do requerente. Atribui-se ao juízo do agente público,
que examinará o pedido, a autorização para o porte de arma de fogo, segundo as orientações
do Ministério da Justiça, conforme previsto no artigo 6º da Lei 10.826, de 2003.
Em termos práticos, o delegado da Polícia Federal decide se o cidadão precisa ou não
de uma arma, uma vez que a Lei 10.826, de 2003, não define o que é a efetiva necessidade,
não especificando minimamente parâmetros para a avaliação a autoridade, conferindo, ao fim
e ao cabo, um juízo de valor extremamente abrangente para deferir a aquisição ou o porte de
arma de fogo.
A discricionariedade da autoridade pública torna o cidadão sujeito à vontade estatal,
uma vez que transfere à livre avaliação do administrador o que configuraria a atividade de
risco e, assim, decidir pela concessão ou não da aquisição e do porte de armas. É esta a fenda
por onde se esvai o direito do cidadão.
Considerando ser a legítima defesa um direito natural e fundamental, o Estado não
pode criar entraves para o exercício da autodefesa do cidadão, a ponto de transformar a
previsão da legítima defesa constante do art. 25 do Código Penal em uma promessa quase vã.
Não é fácil adquirir ou portar uma arma de fogo e munição legalmente, mesmo
depois dos decretos presidenciais editados a partir de 2019.
Com efeito, o interessado para ter uma arma registrada para sua defesa tem que
passar por um burocrático e custoso processo, no qual deverá demonstrar ter mais de 25
anos, aptidão tanto psicológica como prática para a emissão da autorização de compra de
arma de fogo, além de comprovar a ausência de antecedentes criminais, conforme requisitos
do art. 4º e 28 da Lei 10.826, de 2003. É o preço por querer estar de acordo com a lei.
O possuidor de arma de fogo, e em maior medida o portador de arma de fogo, sofrem
intensa fiscalização estatal, devendo manter sempre atualizados seus dados perante a Polícia
Federal, informando todos os dados pessoais e profissionais para as autoridades públicas.
O simples fato de o titular responder a um inquérito ou processo criminal por crime
doloso importa na cassação das autorizações de posse e de porte de arma de fogo, conforme
determina o art. 14, caput, do Decreto n. 9.847, de 2019.
4

Portar arma de calibre permitido em desacordo com determinação legal ou


regulamentar, a teor do art. 14 da Lei 10.826, de 2003, é crime inafiançável, sujeito a reclusão
de dois a quatro anos, além de multa.
Para o criminoso, por outro lado, pouco importa a lei, já que este, por definição, não
a respeita.
O chamado Estatuto do Desarmamento, promulgado com a promessa de garantir
segurança a todos ao focar do controle ao armamento pela população, acabou, na verdade,
dificultando o acesso a um meio eficaz para o legítimo exercício da autodefesa, violando o
direito natural que cada indivíduo tem de zelar pela preservação de sua própria vida.
Esse tipo de distinção entre pessoas acaba criando estamentos entre os integrantes do
corpo social, com cidadãos de primeira e segunda categorias. O chamado Estatuto do
Desarmamento, nas palavras de Alex Menezes, tem contribuído apenas para aumentar a
disparidade de forças entre o cidadão honesto e os criminosos (MENEZES, 2020, p. 22).
A restrição ao acesso a meios eficientes de defesa pelo cidadão, expondo a vida e a
liberdade do indivíduo à submissão pelo criminoso, viola a Constituição do Brasil de 1988,
em especial o art. 5º, conforme entendimento do professor Celso Antônio Bandeira de Mello,
ao afirmar que

[...] as medidas consagradas na lei [10.826, de 2013] conspiram contra o direito


constitucionalmente proclamado à segurança, à vida, à honra, ao patrimônio, à
dignidade, ao respeito, todos eles insculpidos em dispositivos constitucionais
anteriormente mencionados [arts. 1º, III; 5º; 6º; 144; 225]. Conspiram ainda contra o
direito de liberdade, pois submetem-na a constrições superiores ao indispensável, já
que bastaria a legislação precedente que restringia o porte de arma de fogo e a
guarda residencial dela a cidadãos confiáveis. Restringe, ainda, pela mesma razão, a
liberdade empresarial, liberdade de comércio, além do requerido para a segurança
pública. Ignora o princípio básico, no Estado de Direito, do "favor libertatis".
(MELLO, 2005)

Há ainda uma abordagem que não pode ser desconsiderada, que é a utilização do
desarmamento civil como instrumento de perseguição e controle de dissidentes políticos e de
minorias, conforme registra Stephen P. Halbrook (HALBROOK, 2017, p. 19).
Uma das características da tirania, como bem registra Aristóteles, é a desconfiança
contra o povo, e é por esse motivo que ela cuida de lhe tirar as armas (ARISTÓTELES, 2011,
p. 247).
4

De fato, umas das primeiras medidas de um governo autoritário é a de desarmar a


população para facilitar a tomada do poder, evitando assim uma eventual reação.
É importante lembrar que a tirania não recai somente no Poder Executivo de um país.
Rafael Fontes bem destaca que o legislativo rotineiramente cede à tentação totalitária e, muito
mais grave, é o Poder Judiciário com vocação tirânica (FONTES, 2020).
Na Venezuela Bolivariana, o Tribunal Supremo de Justicia - TSJ, em março de
2017, cassou alguns poderes do Legislativo venezuelano e os tomou para si. A justificativa
era, segundo Leonardo Coutinho, que o Congresso, de maioria opositora, estava em estado de
“desacato” por ter ativado dias antes o respaldo à ativação da carta democrática da OEA
contra a Venezuela (COUTINHO, 2018, p. 161).
A conduta tirânica do TSJ venezuelano potencializa e permite que o poder do ditador
momentâneo seja praticamente ilimitado, impondo gravíssimas consequências ao povo que,
por sua vez, não tem a quem recorrer (FONTES, 2020).
Rafael Fontes destaca que, além do histórico controle de armas da Venezuela, o
regime de Hugo Chávez, por meio de lei assinada por Diosdado Cabello, implantou a total
proibição de venda de armas e munições. O ideal tirânico de impedir armas nas mãos do povo
estava completo, e com a assessoria e participação entusiástica da fundação brasileira Viva
Rio (FONTES, 2020).
O desarmamento da população e a subsequente escalada da tirania não é novidade na
história.
Fabrício Rebelo elenca alguns casos históricos em que o desarmamento da população
foi utilizado como meio para impor o totalitarismo:

A deposição de armas para submissão dos senhores feudais ao Xogunato, no Japão


Feudal; a proibição às armas pelos judeus por Hitler, na Alemanha nazista e nos
países por ele invadidos; as restrições bélicas pseudopacifistas de Mussolini, na
Itália fascista; o banimento às armas na eternamente revolucionária Cuba foram,
todos exemplos diretos de como populações desarmadas sempre sucumbiram mais
facilmente ao jugo de regimes autoritários. (REBELO, 2019, p. 37)

Como bem destacado pelo justice Antonin Scalia, no precedente “District of


Columbia v. Heller”:
4

O direito de portar armas tem sido sempre o privilégio distinto dos homens livres.
Além de qualquer necessidade de autoproteção para a pessoa, ele representa, entre
todas as nações o poder, juntamente com o exercício de certa jurisdição. Não seria
necessário que o direito de portar armas fosse concedido pela Constituição, pois ele
sempre existiu (DISTRICT of Columbia
v. Heller : 554 U.S. 570 (2008), tradução nossa)

A proteção da vida e em especial da liberdade é o verdadeiro núcleo essencial do


direito de portar armas. Todos os demais direitos não podem violar tal premissa e a ela devem
ser acrescentados.
Dessa forma, o direito do indivíduo de possuir e portar armas garante o mais efetivo
meio de igualar forças e constranger, não só criminosos comuns, mas aqueles que se utilizam
do Estado para impor suas vontades mais autoritárias.

5 POLÍTICAS PÚBLICAS
5.1 Resultados do controle de armamento – mais armas significam mais
crimes?

Contra a posse e o uso de armas de fogo, argumenta-se que, na verdade, as armas são
causadoras de violência, e que retirar o excesso de armas em circulação, legais ou ilegais,
reduz os homicídios entre cidadãos comuns, suicídios, acidentes, e, principalmente, roubos de
armas residenciais que, segundo alegam, é uma das maiores fontes de armamento da
criminalidade (BANDEIRA, 2019, p, 95)
Tal tipo de argumentação encontra eco nas mais altas esferas de poder do Brasil,
como se extrai da decisão cautelar tomada pela Ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal
Federal, nos autos da Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 6675, que determinou a
suspensão de certos dispositivos dos Decretos Presidenciais nº 10.627/2021, nº 10.628/2021, e
nº 10.629/2021, ao sustentar que

[...] [a] comunidade científica, [...], com base em estudos independentes, nacionais e
internacionais, reconhece a existência de uma correlação inequívoca entre o
aumento da violência e a circulação de armas de fogo. (BRASIL. SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL, 2021a)

A ideia de que o aumento do número de armas legalizadas na população gera o


aumento da violência é pauta no parlamento brasileiro, que colocou em discussão a
necessidade de suspender os decretos presidenciais que desburocratizaram, em
4

certa medida, o processo de aquisição e posse de armas de fogo, conforme consta da proposta
no Senado Federal de Projeto de Decreto Legislativo n° 74, de 2021, que tem a seguinte
ementa:

Susta o Decreto 10.629, de 12 de fevereiro de 2021, que altera o Decreto nº 9.846,


de 25 de junho de 2019, que regulamenta a Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de
2003, para dispor sobre o registro, o cadastro, e a aquisição de armas e de munições
por caçadores, colecionadores e atiradores. (BRASIL. SENADO FEDERAL., 2021)

Interessante notar que muito desses argumentos focam no instrumento utilizado para
a prática do delito e não na pessoa do criminoso, além de não fazerem distinção entre armas
legalizadas e armas provenientes de ilícitos, em especial daquelas provenientes do tráfico de
armas.
Os pesquisadores Fabrício Rebelo e Bene Barbosa, por sua vez, apresentam como
contraponto à política de desarmamento dados estatísticos que comprovam a inexistência de
vinculação do número de armas registradas e o incremento, pois no período em que o Brasil
teve a maior quantidade de armas registradas os homicídios alcançaram o seu menor patamar,
além de colocar em risco o exercício da legítima defesa (REBELO, 2020) (BARBOSA, 2020,
p. 265).
A análise dos dados da violência com o número de homicídios por arma de fogo é
relevante para aferir a eficácia da política de controle de armas, assim como verificar se a
restrição ao acesso a armas legalizadas à população tem relação com o aumento da
criminalidade no Brasil.
Cabe colacionar o Mapa da Violência fornecido pelo Ipea - Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada, nos seguintes termos:

Figura 2 - evolução de homicídios no Brasil entre 2004 e 2014


5

Fonte: Atlas da Violência IPEA 2016.

Conforme o Atlas da Violência de 2016 do IPEA, em 2004, primeiro ano de vigência


do Estatuto do Desarmamento, o Brasil registrava taxas expressivas de homicídios. Nesse
mesmo ano, com base nos dados apresentados pelo Mapa da Violência, chegamos a um índice
de 26,9 homicídios para cada 100 mil habitantes.
Contudo, ao compararmos os índices apresentados no ano de 2004 com os de 1994,
10 anos antes da entrada em vigor do Estatuto do Desarmamento, os números de homicídios
para cada 100 mil habitantes chegavam a 21,4, conforme dados abaixo coletados pelo Ipea -
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada:

Figura 3 – Evolução do número de homicídios por 100 mil habitantes de 1980 a 2016

Fonte: INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, [s.d.]


Tabela 5 - Número de homicídios por 100 mil habitantes no Brasil de 1980 a 2004

Taxa de Homicídios (a cada 100 mil habitantes)


Período Valor
1980 11,69
1981 12,56
1982 12,57
1983 13,77
1984 15,32
1985 15
1986 15,26
1987 16,89
1988 16,78
1989 20,3
5

1990 22,22
1991 20,94
1992 19,21
1993 20,2
1994 21,23
1995 23,84
1996 24,78
1997 25,39
1998 25,94
1999 26,2
2000 27,35
2001 27,86
2002 28,53
2003 29,14
2004 26,94
2005 26,13
2006 26,61
2007 26,2
2008 26,72
2009 27,18
2010 27,8
2011 27,45
2012 29,41
2013 28,55
2014 29,82
2015 28,89
2016 30,33
2017 31,59
Fonte: INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, [s.d.]

É possível perceber que, mesmo com medidas restritivas e campanhas que


dificultavam cada vez mais o acesso às armas legalizadas aos brasileiros, os índices de
homicídios no Brasil continuaram crescendo.
Nos anos seguintes à vigência do chamado Estatuto do Desarmamento é possível
notar uma pequena oscilação nos registros de homicídios cometidos a cada 100 mil
habitantes.
A taxa de homicídios baixou de maneira pouco considerável, mas logo em seguida os
índices subiram, com números um pouco mais significativos, até que a
5

partir do ano de 2008 os índices de homicídios no Brasil cresceram de maneira


preocupante, passando a acompanhar uma linha ascendente, com poucas oscilações, até
chegarem aos maiores índices de mortes registrados em todo o território nacional.
A esse respeito, Fabrício Rebelo aponta que, nos anos de 2004 a 2012, após a entrada
em vigor do Estatuto do Desarmamento, o número total de homicídios no país aumentou
16,46% (de 48.374 para 56.337), e os homicídios com arma de fogo registraram incremento
de 17,23% no mesmo período (de 34.187 para 40.077) – acima, portanto, do aumento geral de
crimes de morte (REBELO, 2019, p. 218).
No ano de 2018, o Brasil registrou 57.341 mortes violentas intencionais, tendo, no
ano de 2017, chegado ao impressionante número de 64.021 mortes (NÚMERO de mortes
violentas no país caiu 10,43% de 2017 para 2018, 2019).
Cabe notar que esses números são dignos de uma guerra, uma vez que, durante todo
o envolvimento dos Estados Unidos da América na Guerra do Vietnam, de 1964 a 1973,
estima-se que morreram cerca de 58 mil soldados americanos (KOKOTOWSK, 2020). Isso
significa que, por ano, há quase o equivalente a uma Guerra do Vietnam em número de mortes
por crimes violentos no Brasil.
Apesar de continuarem altos, os registros de homicídios vêm caindo nos últimos
anos.
Fabrício Rebelo aponta que, oficialmente, foram registrados no Brasil, em 2019,
43.033 homicídios, sendo este o menor número desde 1999, quando o cômputo ficou em
42.914. Em relação a 2018, quando o total ficou em 55.914, a queda percentual definitiva foi
de 21,25%. É a maior variação negativa de toda a série histórica, apurada desde 1980 - há
quarenta anos, portanto (REBELO, 2020).

Figura 4 - Taxa total de homicídios e homicídios com arma de fogo de 1999 a 2019.
5

Fonte: REBELO, 2020.

Interessante o dado constante do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2021,


no sentido de que houve um significativo aumento do número de armas legalmente
registradas na Polícia Federal, tendo no ano de 2020 chegado a 1.279.491 armas registradas
no Sistema Nacional de Armas – SINARM, da seguinte forma:

Figura 5 - Número de armas registradas na Polícia Federal nos anos de 2017, 2019 e 2020.

Fonte: BUENO et al., 2021.

No referido Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2021 consta o total de armas


registradas perante o Exército Brasileiro em 2020 chegou à marca de 1.157.476, somando
Militares do Exército, Policiais e Bombeiros Militares, e também caçadores, atiradores e
colecionadores (CAC), conforme consta da figura abaixo:
5

Figura 6 - Registros de armas de fogo por categoria.

Fonte: BUENO et al., 2021.

Ainda segundo dados atualizados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de


2021, o número de armas registradas somadas no Exército Brasileiro e na Polícia Federal
somavam 2.077.126, nos seguintes termos:

Figura 7 - Registros de arma de fogo no Exército e na Polícia Federal em 2020.

Fonte: BUENO et al., 2021.

Conforme dados da Polícia Federal consolidados pela página Brasil em Mapas, a


maior taxa de armas registradas se encontra no Distrito Federal (mais de
5

750 armas por 100 mil habitantes). Entre as menores taxas de armas registradas, o Estado de
São Paulo tem menos de 150 armas por 100 mil habitantes. Em valores absolutos o maior
número está no Rio Grande do Sul (57,7 mil), e o menor em Tocantins, com cerca de 477
(BRASIL EM MAPAS, 2021), conforme figura abaixo:

Figura 8 - Armas registradas por estados no Brasil desde 2009 a 2020.

Fonte: BRASIL EM MAPAS, 2021.

Não obstante o aumento expressivo do número de armas registradas, não ficou


demonstrado que haja uma correlação direta entre tal aumento e o número de homicídios por
arma de fogo.
Destaco que, entre 2017 e 2019, houve um aumento de 65,6% nos registros civis de
armas de fogo na Polícia Federal (SINARM), acompanhado de uma redução de 30,93% no
total de homicídios e de 35,12% nos específicos homicídios cometidos com uso de armas
desta natureza, conforme explica Fabrício Rebelo, no gráfico por ele elaborado da seguinte
forma:

Figura 9 - Registro de armas na Polícia Federal (SINARM) e registro de homicídios.


5

(Obs. Homicídios: eixo à esquerda; Registros de Armas (SINARM): eixo à direita) Fonte:
REBELO, 2020.

Desse modo, não há como se afirmar categoricamente que o aumento de armas


legalizadas ocasiona necessariamente o aumento do número de crimes violentos, em especial
os de homicídio.
Pelo contrário, há a constatação de que o maior número de armas legalizadas em
áreas rurais, por exemplo, está levando a uma diminuição das invasões de terra e de outros
crimes no campo, conforme reportagem da emissora Band, do dia 25 de maio de 2021, que
estampou em sua chamada: “Posse de arma ajuda a diminuir roubos no campo” (BAND
JORNALISMO, 2021).

Figura 10 - Captura de tela: Posse de armas ajuda a diminuir roubos no campo.

Fonte: BAND JORNALISMO, 2021.


5

A referida reportagem destaca que a possibilidade de os produtores rurais possuírem


armas legais em suas propriedades gerou a diminuição em mais da metade dos roubos no
campo, já que as forças de segurança não chegavam a tempo de reprimir os crimes.
Com o aumento de armas legalmente registradas, o número de roubos em
propriedades rurais no Estado de Goiás foi reduzido, conforme levantamento da Secretaria de
Segurança Pública daquele Estado:

Figura 11 - Roubos em propriedades rurais em Goiás

Número de ocorrências por ano

Fonte: SESTREM, Gabriel, 2021.

Na reportagem da Band Jornalismo foi destacado que polícia e autodefesa caminham


juntas e se completam, conforme a opinião do Secretário de Segurança Pública de Goiás, Sr.
Rodney Miranda, que se manifestou contra o desarmamento do cidadão comum e cumpridor
das leis, por não haver registro de mau uso da arma fora dos casos de legítima defesa do
cidadão, nos seguintes termos:

Secretário de Segurança Pública de Goiás: Tem muita gente que defende o


desarmamento da população de bem dizendo que a arma na mão do produtor rural,
por exemplo, vai trazer mais problema do que solução. Nós não temos registro!
Temos registro, praticamente nenhum registro, de produtor fazendo mau uso da
arma senão em defesa própria. (BAND JORNALISMO, 2021)

A opinião do Secretário de Segurança Pública de Goiás não difere do levantamento


constante no Anuário de Segurança Pública de 2021 sobre a opinião da maioria dos
profissionais de segurança pública em relação ao armamento da população.
Segundo o estudo, a minoria de policiais é favorável à posse e porte de armas para todos
na população, sem limites de qualquer natureza (10,4%). Por outro lado, é também uma minoria
(16%) que defende a proibição e porte de todas as armas de fogo. A grande maioria dos
entrevistados (73,6%) defende uma postura que permita
5

o porte e a posse, mas com limites previstos na legislação. Nem a liberação completa, nem a
restrição total (BUENO et al., 2021).

Figura 12 - Opinião dos policiais e profissionais de segurança pública sobre o acesso a arma de fogo.

Fonte: BUENO et al., 2021

Interessante informação do Anuário de Segurança Pública de 2021, e acima


colacionada, é que a maioria dos profissionais de segurança que se declararam vítimas de
projétil de arma de fogo, ou seja, que foram feridos em atividade, são em sua maioria
favoráveis ao porte e à posse de armas de fogo para a população com restrições legais
(73,2%), ou pela liberação ampla ao acesso do armamento (17,4%), com a minoria de 9,4%
pela proibição total.
Outro ponto que merece ser analisado é a argumentação de que a maioria das armas
que caem nas mãos de criminosos foram originariamente adquiridas legalmente por cidadãos
ou por empresas particulares de vigilância, e que tal fato ressaltaria a importância do controle
ainda mais restrito do acesso ao armamento.
Tal entendimento foi consignado na decisão liminar da Ministra Rosa Weber, do
Supremo Tribunal Federal, na mencionada Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 6675, no
sentido de que as armas adquiridas legalmente acabam sendo desviadas para o crime por meio
de furto, roubo ou, ainda, pela criação de um mercado secundário clandestino de revenda de
armas pelos proprietários originais, e que a maioria das armas de fogo utilizadas no crime
foram produzidas no Brasil.
Esse tipo de informação merece ser muito bem analisada e contrastada com outras
pesquisas e constatações.
5

Informam Flávio Quintela e Bene Barbosa que “de acordo com uma pesquisa
extensa, realizada com apoio de organizações desarmamentistas como a Viva Rio, apenas
25,6% das armas apreendidas com criminosos, entre 1951 e 2003, eram armas legalmente
registradas que foram roubadas” (QUINTELA; BARBOSA, 2015, p. 68), ao passo que
“outros trabalhos feitos por órgãos estaduais de polícia resultam em números ligeiramente
menores, da ordem de 22%” (QUINTELA; BARBOSA, 2015,
p. 69). Ou seja, aproximadamente 75% das armas dos criminosos são ilícitas desde a sua
origem.
Não se pode olvidar o lucrativo mercado de tráfico de armas, conforme consta do
relatório anual (Annual Report) do ano de 2014 do Escritório das Nações Unidas para
Drogas e Crimes (UNODC), que destacou que o uso indevido, a fabricação e o tráfico de
armas de fogo ilícitas estão frequentemente ligados às mesmas organizações criminosas e
redes que as Nações Unidas trabalham para combater em outras áreas; com diferentes formas
de criminalidade frequentemente interligadas, os mesmos grupos que traficam pessoas e
drogas são aqueles envolvidos na movimentação de armas ilícitas (UNITED NATIONS
OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2014, p. 48, tradução nossa).
As armas ilícitas, ainda conforme relatório do UNODC, atuam como facilitadores de
crimes violentos, servindo de ferramentas de opressão e como mercadoria lucrativa do tráfico,
que serve para alimentar conflitos armados, crimes e insegurança (UNITED NATIONS
OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2014, p. 49,
tradução nossa).
O crime organizado, em especial o tráfico de drogas, tem íntima relação com o
comércio clandestino de armas, que causa violência e insegurança nas grandes cidades com o
enfraquecimento das leis e das instituições. Os grupos de narcotraficantes possuem suas
próprias tropas com armamentos extremamente modernos.
O Brasil é um mercado consumidor aquecido de armas ilícitas pela criminalidade
organizada, segundo consta da matéria do dia 25 de abril de 2021, assinada pelo Delegado da
Polícia Federal Victor Poubel, publicada no Jornal Extra, nos seguintes termos:

Os armamentos pesados continuam ingressando facilmente no país


para equipar as facções ligadas ao tráfico de drogas e milícias,
estando as forças policiais, apesar de todo o esforço, um passo
atrás.
6

Necessitam de alto poder de fogo para proteção de suas bases, em sua maioria
localizadas em comunidades carentes, seja por causa das investidas policiais ou dos
ataques de quadrilhas rivais, bem como para apoiar a execução dos seus crimes e
incutir medo naqueles que se meterem no seu caminho.
O fuzil custa caro, em torno de R$ 60 mil no mercado paralelo, e a bandidagem paga
para formar o seu arsenal. Já faz tempo que os camburões conseguiam entrar nas
comunidades do Rio de Janeiro sem problemas. Hoje só com veículos blindados
para assegurar a integridade física dos policiais e a boa execução das operações. A
fartura de armas é tão grande que fizeram disso também um negócio, cobrando
aluguel dos ladrões de cargas e assaltantes em geral que usam em suas ações.
Ressalto que a bandidagem não tem arma legal, muitas entram pelas
fronteiras do país burlando as barreiras de fiscalização, lembrando que não
somos produtores de armas de grosso calibre. Elas adentram em solo
pátrio por ar, terra e mar, das mais variadas formas e dissimuladas,
aproveitando-se da imensidão das nossas fronteiras, cruzando
Estados, Municípios, passando pelas ruas dos bairros até terminar nas
favelas. Assim, a responsabilidade pela fiscalização é compartilhada, já que a
segurança pública é feita por camadas, não cabendo a atribuição de culpa a quem
quer que seja, mas sim a certeza que o trabalho deve melhorar. (g.n.) (POUBEL,
2021) .

Nesse contexto, a criminalidade organizada sabe como fazer sua atividade progredir
e render cada vez mais lucros. Um “negócio” utilizado pelos criminosos é o “aluguel de
armas de fogo”, pelo qual criminosos buscam o armamento ilícito com fornecedores
clandestinos para viabilizar a prática de crimes de latrocínio, assaltos e homicídios
relacionados ao tráfico de drogas (SISNANDO, 2015).
Trata-se de um expediente muito sofisticado utilizado pelas facções criminosas que
operam nas mais variadas regiões do país, dentre elas o temido Primeiro Comando da Capital
– PCC, que criou um serviço de logística para o empréstimo ou aluguel de armas, munição e
veículos para o cometimento dos mais variados delitos (CODAZZI, 2017).
Na esteira do apurado pelo Escritório das Nações Unidas para as Drogas e Crimes,
nenhuma região do mundo está isenta das consequências dramáticas da violência das armas de
fogo ilícitas, que cobre todo o espectro da segurança humana: de conflitos de grande escala
em que essas armas são responsáveis pela maioria das mortes, sejam nas ruas, nas gangues, na
violência doméstica, e de crimes em que as armas de fogo ilícitas representam uma ameaça
grave à vida humana e à segurança da comunidade (UNITED NATIONS OFFICE ON
DRUGS AND CRIME, 2014, p. 49,
tradução nossa).
No relatório constante do Global Study on Homicides de 2011, do UNODC, é
destacado que sob uma perspectiva global, a diferença entre as estimativas de
6

proprietários de armas de fogo (centenas de milhões) e o número anual de homicídios


(centenas de milhares) indica que a esmagadora maioria das armas dos cidadãos não é
utilizada nestes crimes (MENEZES, 2020, p. 67).
Os criminosos, dessa forma, não necessitam do mercado regular para adquirirem
armamento, que será usado para a prática dos mais diversos delitos. As políticas de restrição
ao armamento pela população acabam por atingir apenas o cidadão cumpridor das leis, sendo
ineficazes para o combate à criminalidade.
Essa também foi a constatação do UNODC no relatório constante do Global Study
on Homicide, do ano de 2011, ao afirmar que o aumento de homicídios está relacionado não
à disponibilidade das armas de fogo, mas ao emprego delas pelo crime organizado
(MENEZES, 2020, p. 66), conforme a seguinte passagem:

Armas de fogo, sem dúvida, aumentam os homicídios em certas regiões e onde são
utilizadas por membros de grupos criminosos organizados, que são frequentemente
aqueles que puxam o gatilho. (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND
CRIME, 2011, p. 10, tradução nossa)

Desse modo, não faz sentido a argumentação que se volta unicamente contra as
armas de fogo, e não contra aqueles que fazem uso indevido delas, uma vez que os crimes são
necessariamente fruto de ações humanas, devendo o foco das ações estatais serem voltados
para o agente causador do ilícito, e não contra o instrumento utilizado por ele.
Provavelmente a principal conclusão do relatório da UNODC, de 2011, tenha sido,
conforme Alex Menezes, que não foi possível identificar uma relação causal entre a
disponibilidade de armas legalizadas e a prática de crimes com elas.
A ineficácia da política de desarmamento não é uma constatação nova, e foi
reconhecida por Cesare Beccaria, em seu livro "Dos Delitos e Das Penas", de 1764, que
deixou clara a pouca utilidade de leis que retiram o direito ao cidadão honesto de possuir e
portar armas para legítima defesa, conforme excerto que merece ser colacionado:

Podem considerar-se igualmente como contrárias ao fim de utilidade as leis que


proíbem o porte de armas, pois só desarmam o cidadão pacífico, ao passo que
deixam o ferro nas mãos do celerado, bastante acostumado a violar as convenções
mais sagradas para respeitar as que são apenas arbitrárias.
Tais leis só servem para multiplicar os assassínios, entregam o cidadão sem defesa
aos golpes do celerado, que fere com mais audácia um homem
6

desarmado; favorecem o bandido que ataca, em detrimento do homem honesto que é


atacado.
Essas leis são simplesmente o ruído das impressões tumultuosas que produzem
certos fatos particulares; não podem ser o resultado de combinações sábias que
pesam numa mesma balança os males e os bens; não é para prevenir os delitos, mas
pelo vil sentimento do medo, que se fazem tais leis. (BECCARIA, 2021, p. 104)

Note-se que, desde o século XVIII, as políticas de desarmamento já eram fortemente


criticadas pela sua ineficácia e por facilitar a atuação dos criminosos!
Resta indagar quem, afinal, é atingido pelas leis de desarmamento civil, em especial
a Lei 10.826, de 2003, o chamado Estatuto do Desarmamento? Alex Menezes responde de
forma enfática: os donos de armas legais, que correspondem a 5 a 7% da população e que
nada têm a ver com criminalidade que avança em nossa sociedade (MENEZES, 2020, p. 71).
O criminoso ao saber que eventuais vítimas estarão em regra desarmadas, ficará cada
vez mais ousado, uma vez que não haverá o efeito dissuasório da reação armada.

5.2 Resultados do controle de armamento – mais armas significam mais


acidentes domésticos?

A prevenção aos acidentes domésticos é um dos argumentos apresentados para a


restrição ao acesso do armamento, com a justificativa de que as armas são causadoras de
acidentes, em especial com as crianças.
Contudo, conforme estudo elaborado pela ONG Criança Segura Brasil, que analisou
os dados do DATASUS, do Ministério da Saúde, os acidentes que são as principais causas de
mortes de crianças de 1 a 14 anos foram listados da seguinte forma:
Tabela 6 - Acidentes com crianças de 0 a 14 anos entre 2016 e 2019

Tipo de acidente Faixa etária 2.016 2.017 2.018 2.019


Total 12.288 11.852 11.037 10.832
Menor de 1 ano 326 367 323 290
1 a 4 anos 2.028 2.011 1.888 1.838
Trânsito 5 a 9 anos 4.024 3.727 3.522 3.627
10 a 14 anos 5.910 5.747 5.304 5.077
Total 232 210 217 189
Menor de 1 ano 13 17 11 10
1 a 4 anos 110 108 112 129
Afogamento 5 a 9 anos 48 38 49 27
10 a 14 anos 61 47 45 23
Total 470 505 477 479
Menor de 1 ano 36 46 43 56
1 a 4 anos 266 283 278 264
Sufocação 5 a 9 anos 121 134 115 122
6

10 a 14 anos 47 42 41 37
Total 3.213 3.157 3.506 3.876
Menor de 1 ano 128 113 139 179
1 a 4 anos 1.148 1.145 1.317 1.390
Intoxicações
5 a 9 anos 896 910 1.066 1.093
10 a 14 anos 1.041 989 984 1.214
Total 21.390 20.535 20.605 21.023
Menor de 1 ano 941 978 1.103 1.334
2 a 4 anos 6.026 6.086 6.038 6.128
Queimaduras
5 a 9 anos 7.133 6.517 6.652 6.766
10 a 14 anos 7.290 6.954 6.812 6.795
Total 133 151 118 85
Menor de 1 ano 4 8 5 1
1 a 4 anos 7 18 14 16
Armas de fogo
5 a 9 anos 24 18 15 13
10 a 14 anos 98 107 84 55
Total 54.258 51.316 51.374 52.613
Menor de 1 ano 2.483 2.535 2.701 2.768
2 a 4 anos 11.310 10.813 11.037 11.403
Quedas
5 a 9 anos 20.265 18.960 18.703 19.840
10 a 14 anos 20.200 19.008 18.933 18.602
Total 25.593 26.854 24.221 23.546
Menor de 1 ano 1.217 1.308 985 1.057
1 a 4 anos 6.987 7.408 6.726 6.593
Outros
5 a 9 anos 8.313 8.846 8.073 8.001
10 a 14 anos 9.076 9.292 8.437 7.895
Total 117.577 113.358 111.555 112.643
Menor de 1 ano 5.148 5.205 5.310 5.695
1 a 4 anos 27.882 27.553 27.410 27.761
Total
5 a 9 anos 40.824 38.711 38.195 39.489
10 a 14 anos 43.723 41.755 40.640 39.698

Fonte: ENTENDA os acidentes [s.d.], g.n.

As armas de fogo representam parcela diminuta dos casos de acidentes, havendo


muito mais chances de uma criança se acidentar com uma queda ou um afogamento, ou
mesmo em um acidente de trânsito, do que com um disparo de arma e fogo.
O número de acidentes com armas de fogo além de representar a parcela inferior
dos acidentes com crianças, também vem diminuindo com o passar dos anos.
Desse modo, não há base estatística para afirmar que são as armas de fogo as
causadoras de acidentes com crianças.

5.3 As consequências da falha do estado em garantir a segurança pública e o


impacto na esfera individual – o fortalecimento do Estado de Direito.

Segundo consta da decisão liminar da Ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal


Federal, prolatada nos altos da Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 6675, o respeito à vida
apresenta dois aspectos, um positivo e outro negativo, exigindo do Estado que se abstenha de
atentar contra a existência humana, e que atue contra a exposição das pessoas a atitudes
criminosas, nos seguintes termos:
6

O direito à vida, sob o aspecto negativo, determina ao Estado que se abstenha


de atentar contra a existência humana. Proíbe a adoção de políticas públicas que
promovam o genocídio, a prática da chacina por milícias policiais, a adoção da pena
de morte.
Em sua dimensão positiva, o direito à vida impõe ao Estado o dever de atuar
rigorosamente contra a exposição de mulheres, homens e pessoas transgênero ao
risco de morte, oferecendo condições para que as ruas em que circulam, as
residências onde habitam e as comunidades onde convivem estejam livres da
violência, da brutalidade, da bala perdida e do tiro encomendado. (grifos originais)
(BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, 2021a)

Não obstante a previsão de deveres do Estado em relação à vida e segurança da


população, a impunidade foi destacada por Ilona Szabó e Melina Risso como fator que
contribui para o aumento da violência, salientando, as autoras, que a taxa de condenação por
homicídio é extremamente baixa, e que sem investigação e esclarecimento capazes de
identificar os autores dos crimes e produzir provas consistentes, o Brasil continuará com altos
índices de impunidade, incentivando comportamentos socialmente nocivos (SZABÓ; RISSO,
2018, p. 18)
Esse entendimento também ficou registrado no Estudo Global de Homicídios
(Global Study on Homicide) do Escritório das Nações Unidas para Crimes e Drogas
(United Nations Office on Drugs and Crime - UNODC) do ano de 2019, que concluiu que
o único meio de obter uma redução das taxas de homicídios de forma sustentável e duradoura
é combatendo a impunidade, promovendo a aplicação da lei penal, e investindo em educação
(UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2019,
p. 36, tradução nossa).
Pelo relatório do UNODC acima mencionado, uma maneira de mensurar a
impunidade dos homicídios, é comparar a taxa de homicídios com o número de
condenações por esse crime. A diferença entre as altas taxas de homicídios e o baixo número
de condenações em 2016 foi mais ampla nas Américas, que teve uma média de 24
condenações por 100 vítimas. Na Europa foram 53 condenações por 100 vítimas e na
Ásia foram 47. Entre 2007 e 2016, em 43 países com dados disponíveis, o número de
pessoas condenadas por 100 homicídios diminuiu de 47 para 39 (UNITED NATIONS
OFFICE ON DRUGS AND CRIME, op. cit, p. 31, tradução nossa). Infelizmente, o Brasil
possui níveis de impunidade extremamente elevados,
sem que haja uma resposta efetiva do Estado brasileiro à violação da lei, não garantindo
a segurança da população.
Dos crimes contra a vida cometidos no Brasil, somente são identificados seus autores
em 8% dos casos, restando uma soma expressiva de inquéritos de crimes
6

violentos inconclusos (BRUM, 2018). Isso significa que a chance de um homicida nunca ser
identificado é de cerca de 92%.
Esses dados são apenas sobre a identificação do autor do crime, e não sobre a
conclusão do inquérito e muito menos das prisões.
Abstraindo a rara identificação dos autores do homicídio, na hipótese de serem
identificados e confirmada a autoria do crime, o tempo do processo criminal e o de
cumprimento da pena a ser aplicada aos criminosos não geram um cenário animador.
Supondo que os autores sejam todos maiores de idade, o crime será julgado perante o
tribunal do júri.
No tribunal do júri o procedimento é bem mais longo, sendo constituído de duas
fases: (i) a primeira é a pronúncia ou fase de formação da culpa, pela qual o juiz decide se há
elementos mínimos do cometimento de um crime doloso contra a vida, e autoriza o
encaminhamento para julgamento no plenário do júri (arts. 406 a 412, Código de Processo
Penal); (ii) a segunda é o plenário, que é a sessão realizada perante o conselho de sentença
(sete jurados), com debates orais entre acusação e defesa, em que há o efetivo julgamento da
acusação do crime doloso contra a vida (art. 422, Código de Processo Penal).
Seguindo o rito do júri em todas as suas fases, considerando os prazos legais, e sendo
muito otimista, o tempo médio de cada fase é de cerca de 10 meses, levando, assim, quase 2
anos para o encerramento do processo em 1a instância.
Os dados divulgados pelo Conselho Nacional de Justiça no Diagnóstico das Ações
Penais de Competência do Tribunal do Júri, mostram a dura realidade do processo dos crimes
contra vida, com uma tramitação que leva muitos anos:

Os processos que já foram baixados tiveram um tempo de duração de


aproximadamente seis anos; enquanto os casos pendentes tramitam, em média, há
sete anos. O maior tempo de duração dos processos está em São Paulo, com média
dos casos baixados de treze anos e 80% dos casos tramitando há mais de oito anos.
Em seguida, tem-se o Rio de Janeiro, Mato Grosso, Pernambuco, Espírito Santo,
Bahia e Alagoas - todos com média de duração superior a nove anos. (BRASIL.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2019, p. 18)

Quanto ao tempo de cumprimento de pena para os condenados, este também pode


gerar frustração.
6

No caso de condenados por crimes hediondos, o apenado primário tem o direito à


progressão de regime com o cumprimento de 2/5 da pena; já para os reincidentes, é preciso
cumprir 3/5 da pena para a progressão de regime (§ 2º do artigo 2º da Lei 8.072, de 1990 - Lei
de crimes hediondos).
Lembremos do célebre caso Suzane Von Richthofen, em que houve a condenação a
39 anos no regime fechado por duplo homicídio qualificado pela morte de seus pais, estando,
porém, desde 2015 no regime semiaberto, com direito a saídas no dia das mães e dos pais
(SUZANE von Richthofen recupera direito de sair da prisão no Dia das Mães, 2019).
Registre-se, ainda, o lamentável caso do jornalista Pimenta Neves, que matou a
também jornalista Sandra Gomide no ano de 2000 com tiros pelas costas, tendo sido
condenado a 15 anos de prisão, mas demorou mais de 10 anos para vir a ser finalmente preso
pelo crime que cometeu, e passou a cumprir a pena em casa no regime aberto (JORNALISTA
Pimenta Neves passa para regime aberto, 2016).
Por outro lado, se um dos autores for menor, a resposta estatal será a internação, que
faz as vezes de medida privativa de liberdade, tendo duração de, no mínimo seis meses e, no
máximo, três anos (art. 121, §§ 2o e 3o da Lei 8.069, de 1990
- Estatuto da Criança e do Adolescência).
Note-se que os dados estatísticos dos homicídios e da resposta do sistema de
aplicação da lei penal demonstram que o Estado brasileiro, em todas as suas funções, falha
gravemente em zelar pela incolumidade e vida dos brasileiros.
Além das falhas crônicas em garantir a segurança pública pelo Estado, a história
recente registra casos em que as forças policiais paralisaram as suas atividades, o que trouxe
caos e pânico na população.
Em fevereiro de 2020, os Policiais Militares do Ceará resolveram se amotinar e
paralisar as atividades de segurança pública. Durante os 13 dias da “greve”, houve
312 homicídios, uma média de 26 por dia (BRASIL tem aumento de 5% nos assassinatos em
2020, ano marcado pela pandemia do novo coronavírus; alta é puxada pela região Nordeste,
2021).
Situação semelhante aconteceu no estado do Espírito Santo em fevereiro de 2017,
que, após 4 dias de motim dos Policiais Militares, segundo noticiou o portal R7, “o caos
tomou conta das ruas de Vitória, no Espírito Santo. Os moradores não saem mais de suas
casas e os criminosos aproveitam para roubar o comércio e carros. Até
6

o momento, já foram registradas 75 mortes” (VITÓRIA registra 75 mortes em quatro dias de


greve dos PMs e assusta população, 2017).
Fato curioso ocorrido durante o motim dos Policiais Militares do Espírito Santo foi
que a única loja que se atreveu a abrir durante esse período era especializada na venda de
armas de fogo e de defesa pessoal (NA greve da PM no Espírito Santo, loja de arma é a única
aberta em bairro, 2017).
Sobre a falha do Estado em proporcionar a proteção para a população contra
criminosos, um caso emblemático é o do homicida e estuprador em série Lázaro Barbosa, que
durante os meses de abril e junho de 2021 aterrorizou a região do entorno do Distrito Federal
e de Goiás, praticando sequestros, homicídios, mobilizando forte aparato policial.
A série de crimes de Lázaro foi catalogada pelo site G1, nos seguintes termos:

 8 março de 2018: Lázaro Barbosa foi preso em Águas Lindas


de Goiás, mas fugiu em 23 de julho e estava foragido. O G1 solicitou informações
sobre essa prisão e aguarda resposta;
 Foi condenado por um homicídio na Bahia (sem data
informada);
 Lázaro era procurado por crimes de roubo, estupro e porte ilegal
de arma de fogo no DF e em chácaras de Goiás;
 8 de abril de 2020: À época, o suspeito foi indiciado pelos
crimes de roubo mediante restrição da liberdade das vítimas e emprego de arma
branca e por tentativa de latrocínio. Ele invadiu uma chácara em Santo Antônio do
Descoberto, em Goiás, e golpeou um idoso com um machado;
 26 de abril de 2021: Ele é suspeito de invadir uma casa no Sol
Nascente (DF), quando trancou pai e filho no quarto e levou a mulher para o
matagal, onde a estuprou;
 17 de maio de 2021: Segundo a polícia, ele fez uma família
refém na mesma região ameaçando as vítimas com faca e arma de fogo. Nesse
crime, ele mandou as pessoas ficarem nuas e, das 19h até meia-noite, prendeu os
homens no quarto e as mulheres ficaram servindo jantar para ele;
 9 de junho de 2021: Lázaro é suspeito de invadir uma chácara
no Incra 9, em Ceilândia (DF), onde matado a tiros e a facadas um casal e dois
filhos;
 9 de junho de 2021: Roubou uma chácara em Ceilândia após
o assassinato da família. Ele teria rendido o caseiro, o dono da propriedade e a filha
dele;
 12 de junho de 2021: Lázaro fugiu para Cocalzinho de Goiás
logo em seguida. Ele atirou em quatro pessoas, invadiu fazendas e colocou fogo em
uma casa ao fugir da polícia;
 13 de junho de 2021: Furtou um carro e o abandonou na BR-
070 dando sequência à fuga para uma mata. (OLIVEIRA, 2021)

Durante sua odisseia de crimes, o criminoso Lázaro foi confrontado em pelo menos
uma situação por um cidadão armado, que conseguiu afugentá-lo (DIOGO, 2021).
6

O desfecho trágico de Lázaro se deu com sua morte após confronto com policiais
militares de Goiás, no dia 28 de junho de 2021, em Águas Lindas de Goiás, Estado de Goiás
(LÁZARO Barbosa é capturado e morto em Goiás, 2021).
Todas essas constatações demonstram que o Estado brasileiro falha em
providenciar segurança para os indivíduos contra criminosos, e que políticas de
segurança pública voltadas no mero desarmamento da população serve apenas para expor
ainda mais as vítimas, sem que haja uma melhora na segurança da população.
Não obstante a notória falha do Estado em garantir a segurança e proteção dos
indivíduos, as vítimas de crimes praticados por fugitivos do sistema prisional não são
indenizadas pela omissão estatal, ao argumento de que não há nexo causal direto entre o
momento da fuga e a conduta praticada pelo foragido, conforme entendimento do Supremo
Tribunal Federal (BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. 2020).
Tal entendimento jurisprudencial só reforça a ideia de que a segurança de cada
indivíduo não é da responsabilidade do Estado.
Com a ineficácia da aplicação da lei penal para garantir a segurança dos brasileiros,
com criminosos impunes soltos, restou ao cidadão brasileiro, relegado à insegurança e ao
desamparo, recorrer, quando pode, a cercas elétricas, muros, grades, arames farpados,
seguros, seguranças particulares, blindagem veicular, num nível de que seria impensável ao
cidadão médio norte-americano, mas que, como bem pontua Alex Menezes, se tornou lugar
comum para os brasileiros (MENEZES, 2020, p. 71).
Reforçar o Estado de Direito (Rule of Law) com a aplicação da lei é considerado
pela Organização das Nações Unidas o ponto central para reduzir os níveis de homicídios
(UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2019, p. 31).
Com efeito, o Estado de Direito significa que todos são governados por leis
publicamente promulgadas, igualmente fiscalizadas e aplicadas por um judiciário
independente e imparcial, sendo elas consistentes com os padrões e normas internacionais de
direitos humanos (MENEZES, 2020, p. 70).
O principal indicador de um Estado de Direito forte, conforme o mencionado
relatório Global Study on Homicide do ano de 2019, é o desenvolvimento de um judiciário
independente, que pode ajudar a aumentar a legitimidade das instituições governamentais,
fornecendo mecanismos de resolução de disputas que desencorajam o recurso à violência e
tranquilize os cidadãos de que seus direitos
6

individuais serão protegidos. Nos países em desenvolvimento, em que uma parte substancial
da população é empobrecida, um sistema de justiça criminal que funcione também é essencial
para proteger os pobres da violência (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND
CRIME, 2019, p. 31, tradução nossa).
As medidas de fortalecimento do Estado de Direito não excluem nem se contrapõem
ao direito do indivíduo poder exercer o seu direito de autodefesa, segundo a lição precisa do
professor Celso Antônio Bandeira de Mello:

Em face da Lei Magna do País, o cidadão jamais poderá ser proibido de tentar
defender sua vida, seu patrimônio, sua honra, sua dignidade ou a incolumidade
física de sua mulher e filhos a fim de impedir que sejam atemorizados, agredidos,
eventualmente vilipendiados e assassinados, desde que se valha de meios
proporcionais aos utilizados por quem busque submetê-los a estes sofrimentos,
humilhações ou eliminação de suas existências. (MELLO, 2005)

Dessa forma, mais do que simplesmente focar em desarmar o cidadão comum e


cumpridor da lei, a redução dos índices de criminalidade está mais ligada ao fortalecimento do
sistema de justiça criminal, com a certeza da aplicação da pena para aqueles que cometam
crimes, de forma independente e imparcial.

6 CONCLUSÕES

O presente trabalho teve como ponto de partida a questão do controle do


armamento pelo Estado, com ênfase na segurança pública e no direito natural de as pessoas
se preservarem, com destaque para percepção da ineficiência de políticas desarmamentistas.
A percepção foi corroborada a partir do aprofundamento de estudos que demonstram, a partir
de bases estatísticas, de pesquisas de publicações especializadas e de notícias jornalísticas, a
ausência de relação entre o aumento de armas legalmente registradas com o aumento dos
crimes violentos por armas de fogo. O levantamento histórico da legislação sobre controle de
armamento, desde quando o Brasil era colônia de Portugal até os dias atuais, demonstrou que
o acesso ao armamento sempre foi um privilégio para algumas autoridades estatais e
estamentos sociais. Também foi apontado que o desarmamento civil pode vir a ser
um instrumento de controle social por governantes com pretensões autoritárias.
Comparando a experiência do controle de armamento nos Estados Unidos da
América, Reino Unido e Suíça, foi possível aferir que não há uma relação direta entre
7

a disponibilização de armas legalizadas para população e o aumento da taxa de homicídios ou


no aumento de acidentes domésticos.
O fato de o Estado deter o monopólio da violência não anula o direito dos indivíduos
de se defenderem, com os meios disponíveis, para impedir ou cessar a injusta agressão contra
ele. A liberdade do indivíduo merece ser considerada como um direito fundamental, e dentro
dessa liberdade há o direito do acesso às armas para o exercício da autodefesa.
Apesar de não haver uma previsão na Constituição do Brasil de 1988 nos mesmos
moldes da 2ª Emenda à Constituição dos Estados Unidos da América, é possível extrair do
texto constitucional brasileiro o direito natural do cidadão utilizar todos os meios cabíveis
para a legítima defesa de seus direitos, sem que haja uma exclusividade do Estado para tanto.
A legislação estatal que dificulte ou mesmo impeça o acesso às armas de fogo pelo
cidadão viola o direito fundamental do indivíduo de preservar a própria vida e a de terceiros
próximos. Não há amparo na Constituição do Brasil de 1988 à postura estatal de retirar dos
indivíduos o acesso aos meios necessários para a exercer a legítima defesa.
Pelas análises realizadas no decorrer do trabalho, é possível afirmar que um controle
de armas rigoroso sobre a população civil pode vir a criar um ambiente propício para a ação
de criminosos, os quais passam a ter maior tranquilidade para a sua ação criminosa.
O controle ao acesso às armas de fogo possui relação não apenas com a violência
cotidiana, mas com a possibilidade do totalitarismo estatal, ferindo a liberdade dos indivíduos.
Estados que possuem, historicamente, acesso facilitado às armas, como são os Estados Unidos
da América, conseguem proteger os direitos de seus cidadãos contra uma possível tirania
estatal.
A Lei 10.826, de 2003, conhecida como Estatuto do Desarmamento, promulgada
com a promessa de garantir segurança a todos ao focar do controle ao armamento pela
população, acabou, na verdade, dificultando o acesso a um meio eficaz para o legítimo
exercício da autodefesa, violando o direito natural que cada indivíduo tem de zelar pela
preservação de sua própria vida.
Apesar do aumento expressivo do número de armas registradas nos últimos anos, em
especial em 2019 e 2020, não há demonstração pelas estatísticas colhidas
7

que haja uma correlação direta entre tal aumento e o número de homicídios por arma de fogo.
Ficou evidente pelo levantamento feito no presente trabalho que o Estado brasileiro
falha em prover segurança para os indivíduos contra criminosos, e que políticas de segurança
pública voltadas para o mero desarmamento da população servem apenas para expor ainda
mais as vítimas, sem surtir efeito significativo no nível de segurança da população.
Conforme apurado no presente trabalho, os criminosos não são atingidos pelas leis de
desarmamento civil, mas sim os donos de armas legais, que nada têm a ver com criminalidade
que avança em nossa sociedade.
O crime organizado, em especial o tráfico de drogas, possui íntima relação com o
comércio clandestino de armas de fogo, que causa violência e insegurança nas cidades e até
no campo, com o enfraquecimento das leis e das instituições. Os grupos de narcotraficantes
possuem suas próprias tropas com armamentos extremamente modernos, que passam ao largo
de qualquer controle estatal.
O foco das ações estatais para prevenir o aumento da criminalidade deve ser voltado
para os agentes causadores dos ilícitos, uma vez que as condutas ilícitas são necessariamente
condutas humanas, e não responsabilizar as armas de fogo como se fossem seres com vontade
própria.
O meio mais eficiente para a redução dos índices de criminalidade é o fortalecimento
do sistema de justiça criminal, com a certeza da aplicação da pena para aqueles que cometam
crimes, de forma independente e imparcial, com o reforço do Estado de Direito (Rule of
Law), sendo ineficaz desarmar o cidadão comum e cumpridor da lei com o propósito de
redução de crimes violentos.
As medidas de fortalecimento do Estado de Direito, todavia, não excluem nem se
contrapõem ao direito de o indivíduo poder exercer o seu direito de autodefesa pelos meios
necessários, até mesmo pelo uso de arma de fogo contra seu agressor, uma vez que o Estado
não responde pela segurança pessoal dos indivíduos.
Mais armas legalizadas nas mãos de pessoas honestas e cumpridoras das leis não
importa em aumento dos crimes violentos.
A proteção da própria vida e da liberdade é o verdadeiro núcleo essencial do direito
de possuir e portar armas legalizadas pelo indivíduo.
7

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