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EDUARDO NETTO DOS REIS

A SEGURANÇA INTERNACIONAL E O TERRORISMO:


REFLEXOS PARA O BRASIL.

Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia


apresentada ao Departamento de Estudos da
Escola Superior de Guerra como requisito à
obtenção do diploma do Curso de Altos
Estudos de Política e Estratégia.

Orientador: Cel EB (R/1) Mauro Barbosa


Ferreira Esteves.

Rio de Janeiro
2017
C2017 ESG
Este trabalho, nos termos de legislação
que resguarda os direitos autorais, é
considerado propriedade da ESCOLA
SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É
permitida a transcrição parcial de textos do
trabalho, ou mencioná-los, para
comentários e citações, desde que sem
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referência bibliográfica completa.
Os conceitos expressos neste trabalho são
de responsabilidade do autor e não
expressam qualquer orientação
institucional da ESG

_________________________________
Eduardo Netto dos Reis

Biblioteca General Cordeiro de Farias

Reis, Eduardo Netto dos.


A Segurança Internacional e o terrorismo: reflexos para o Brasil. /
Cel Art EB Eduardo Netto dos Reis - Rio de Janeiro: ESG, 2017.

64 f.: il.

Orientador: Cel EB R/1 Mauro Barbosa Ferreira Esteves.


Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao
Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como
requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política
e Estratégia (CAEPE), 2017.

1. Terrorismo. 2. Segurança Internacional. 3. Marco legal


brasileiro. 4. Segurança e Defesa. 5. Política Nacional de Defesa. 4.
Estratégia Nacional de Defesa. Título.
A todos da família que durante o meu
período de formação contribuíram com
ensinamentos e incentivos.
A minha gratidão, em especial aos meus
filhos Pérola, Helena e Gabriel e minha
querida esposa Adriana, pela
compreensão, como resposta aos
momentos de minhas ausências e
omissões, em dedicação às atividades da
ESG.
AGRADECIMENTOS

Aos meus professores de todas as épocas por terem sido responsáveis por
parte considerável da minha formação e do meu aprendizado.
Aos estagiários da Turma Ordem e Progresso do CAEPE pelo convívio
harmonioso de todas as horas.
Ao Corpo Permanente da ESG pelos ensinamentos e orientações que me
fizeram refletir, cada vez mais, sobre a importância de se estudar o Brasil com a
responsabilidade implícita de ter que melhorar.
Ao meu orientador, Cel Esteves, pela ajuda em todas as fases de execução
desse trabalho.
Aos meus pais queridos, Antônio e Izabel, pelo exemplo de caráter e pela
educação que moldaram minha personalidade.
“Terroristas não saqueiam para
possuir, nem matam para saquear.
Matam para punir e purificar através
do sangue. ”

Umberto Eco
RESUMO

Esta monografia aborda o Terrorismo como um dos fenômenos mais preocupantes


para a Segurança Internacional. O objetivo deste estudo é analisar os conceitos de
terrorismo por atores e organismos internacionais comparando-os com a percepção e
a legislação brasileira para concluir sobre reflexos para a Segurança e Defesa. A
metodologia empregada comportou uma pesquisa bibliográfica e explicativa, valendo-
se de obras de autores consagrados, monografias da Escola Superior de Guerra
(ESG) e de consulta a artigos científicos ostensivos sobre terrorismo e segurança
internacional em sites especializados na internet. Também focalizou o trato do assunto
previsto nas normas legais brasileiras, em especial a Lei nº 13.260, de 16 de março
de 2016 (Lei Antiterrorismo), a Política Nacional de Defesa, a Estratégia Nacional de
Defesa e o Livro Branco de Defesa. O trabalho limitou-se à análise dos conceitos,
políticas e estratégias antiterrorismo preconizados pela Segurança Internacional e
pelo Brasil e ficou restrito à percepção pelo Sistema Internacional do chamado “Novo
terrorismo”, cujo marco representativo foi o atentado terrorista de 11 de setembro de
2001. A conclusão apresenta reflexos para a Segurança e Defesa do País a partir da
comparação da percepção e legislação brasileira com a do Sistema Internacional.
Palavras chave: Terrorismo. Segurança Internacional. Marco legal brasileiro.
Segurança e Defesa. Política Nacional de Defesa. Estratégia Nacional de Defesa.
ABSTRACT

This monograph approaches Terrorism as one of the most worrisome phenomena for
International Security. The objective of this study is to analyze the concepts of terrorism
by actors and international organizations comparing them with the perception and the
Brazilian legislation to conclude on reflexes for Security and Defense. The
methodology used included a bibliographical and explanatory research, using works
by consecrated authors, monographs of the Higher School of War (ESG) and
consultation of ostensible scientific articles on terrorism and international security on
specialized websites. It also focused on the treatment of the subject set forth in
Brazilian legal norms, especially Law 13,260 of March 16, 2016 (Antiterrorism Law),
the National Defense Policy, the National Defense Strategy and the White Defense
Paper. The work was limited to the analysis of antiterrorism concepts, policies and
strategies advocated by International Security and Brazil and was restricted to the
perception by the International System of the so-called "New Terrorism", whose
representative mark was the terrorist attack of September 11, 2001. The conclusion
presents reflexes for the Security and Defense of the country from the comparison of
perception and Brazilian legislation with that of the International System.
Keywords: Terrorism. International Security. Brazilian legal framework. Security and
Defense. National Defense Policy. National Defense Strategy.
LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 Atentados terroristas da 1ª onda……………………………......... 17

QUADRO 2 Principais grupos terroristas da 1ª onda..................................... 17

QUADRO 3 Principais grupos terroristas da 2ª onda..................................... 19

QUADRO 4 Principais grupos terroristas da 3ª onda..................................... 20

QUADRO 5 Principais grupos terroristas da 4ª onda..................................... 25

QUADRO 6 Modelos de respostas aos atentados......................................... 27

QUADRO 7 Visão geral de ataques falhos, frustrados e completados em


2016, por país e motivação......................................................... 36
QUADRO 8 Prisões por países e motivações................................................ 37

QUADRO 9 Vulnerabilidades.......................................................................... 49

QUADRO 10 A expansão do Islã no Brasil...................................................... 50


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIN Agência Brasileira de Inteligência


ADM Arma de destruição em massa
BRICS Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul
CS/ONU Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas
EAE Estratégia Antiterrorista Europeia
EES Estratégia Europeia de Segurança
END Estratégia Nacional de Defesa
ESG Escola Superior de Guerra
ESI Estudos de Segurança Internacional
EUA Estados Unidos da América
FARC Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia
FBI Federal Bureau of Investigation
GLO Garantia da Lei e da Ordem
GSIPR Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República
ISIS Estado Islâmico da Síria e do Iraque
MD Ministério da Defesa
MST Movimento dos trabalhadores sem terra
MTST Movimento dos trabalhadores sem teto
OLP Organização para Libertação da Palestina
ONU Organização das Nações Unidas
OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte
PESC Política Externa e de Segurança Comum
PF Polícia Federal
PND Política Nacional de Defesa
PNI Política Nacional de Inteligência
SI Sistema Internacional
SISBIN Sistema Brasileiro de Inteligência
UE União Europeia
URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
1ª GM Primeira Guerra Mundial
2ª GM Segunda Guerra Mundial
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 10
2 O TERRORISMO ................................................................................ 12
2.1 CONCEITOS........................................................................................ 12
2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA..................................................................... 14
2.2.1 A primeira onda.................................................................................. 16
2.2.2 A segunda onda................................................................................. 18
2.2.3 A terceira onda................................................................................... 19
2.2.4 A quarta onda..................................................................................... 22
2.3 CARACTERÍSTICAS DO NOVO TERRORISMO................................ 25
2.4 PREVENÇÃO E RESPOSTA AO TERRORISMO................................ 26
3 A SEGURANÇA INTERNACIONAL ................................................... 28
3.1 TEORIAS DE SEGURANÇA INTERNACIONAL................................. 29
3.2 A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS........................................ 32
3.3 A UNIÃO EUROPÉIA........................................................................... 34
3.4 OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA................................................ 40
3.5 ASPECTOS COMUNS DAS ESTRATÉGIAS ANTITERROR.............. 45
4 O BRASIL E O TERRORISMO........................................................... 46
4.1 A EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE ENFRENTA-
MENTO AO TERROR......................................................................... 46
4.2 O MARCO LEGAL VIGENTE.............................................................. 47
4.3 LACUNA DA LEGISLAÇÃO................................................................ 48
4.4 VULNERABILIDADES DO BRASIL .................................................... 49
4.5 A PERCEPÇÃO BRASILEIRA............................................................. 51
4.6 A POLÍTICA E A ESTRATÉGIA NACIONAIS DE DEFESA................ 54
4.7 REFLEXOS POSSÍVEIS PARA AS EXPRESSÕES DO PODER
NACIONAL........................................................................................... 57
5 CONCLUSÃO...................................................................................... 58
REFERÊNCIAS.................................................................................... 61
10

1 INTRODUÇÃO

O terrorismo fundamentalista islâmico tem causado muita apreensão na


Segurança Internacional em virtude de seus atos violentos e do pânico disseminado
nas últimas décadas.
A ocorrência de atentados terroristas dessa natureza tem a clara intenção de
desafiar países opositores e de difundir a ideologia do fundamentalismo islâmico
baseada no desprezo e na destruição da sociedade ocidental.
Esse tipo de terrorismo encontra-se muito longe de destruir um Estado, mas
tem a capacidade de abalar as suas expressões do poder.
Muito embora o terrorismo não seja a maior causa de mortes pelo mundo,
cada ataque terrorista promove o medo e a instabilidade nos locais de ataque, além
de efeitos devastadores como vidas perdidas, como a revolta que toma conta dos
cidadãos e, até mesmo, reflexos na economia do país.
O atentado de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos da América
(EUA), executado pela Al-Qaeda (A Base) de Osama Bin Laden, foi um marco desse
fenômeno e, desde então, outras ações terroristas de cunho fundamentalista islâmico,
como as patrocinadas pelo Daesh1, surgiram nos países europeus. Os reflexos desses
atentados repercutem pelo mundo e nos alerta para a importância da prevenção dessa
ameaça pela Segurança Internacional.
A busca do Brasil pelo desenvolvimento e pela maior inserção no cenário
mundial é um processo que modificaria nosso status quo nas Relações Internacionais
podendo atrair o ressentimento ou ódio de grupos terroristas fundamentalistas
islâmicos contrários aos nossos interesses.
É factível, portanto, que essa ameaça tenda a aumentar na medida em que
se incremente a participação do nosso país no concerto das nações, tornando sua
prevenção e combate um tema cada vez mais relevante na nossa estratégia de
Segurança e Defesa.
A questão que se espera responder ao final deste trabalho é: em que medida
a estratégia de enfrentamento ao terrorismo pelo Estado brasileiro se encontra
adequadamente preparada?
Dessa forma, a abordagem do tema terá como objetivo analisar as

1Daesh (Estado Islâmico), de origem sunita, surgiu por volta do ano de 1993 e ganhou notoriedade
como grupo insurgente contra os EUA e seus aliados na invasão do Iraque em 2003.
11

percepções e estratégias de enfrentamento ao terrorismo por atores e organismos


significativos da Segurança Internacional comparando-os com a percepção e as ações
antiterrorismo do Estado brasileiro e identificar possíveis reflexos para o País.
Nessa perspectiva, em um primeiro momento será conceituada a Segurança
Internacional segundo a Escola de Copenhague, a evolução do terrorismo até o
modelo fundamentalista islâmico, e as estratégias antiterroristas da Organização das
Nações Unidas (ONU), da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos da América
(EUA). Ao longo do trabalho, buscar-se-á descrever a evolução da nossa legislação e
da nossa estrutura de enfrentamento ao terror; comparar aquelas estratégias com a
postura brasileira; e destacar possíveis reflexos para as expressões do poder
nacional.
A metodologia empregada baseou-se em uma pesquisa bibliográfica e
explicativa, valendo-se de obras de autores consagrados, monografias da Escola
Superior de Guerra (ESG) e de consulta a artigos científicos sobre terrorismo e
segurança internacional em sites especializados na rede mundial de computadores.
Os dados disponíveis nessas fontes são acessíveis, ostensivos e passíveis de
tratamento e interpretação para a solução da questão deste trabalho.
O estudo ficará restrito à percepção pela Segurança Internacional do
chamado “Novo terrorismo”, de natureza fundamentalista islâmico, cujo marco
representativo foi o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, nos Estados
Unidos da América.
Por se tratar de um assunto de amplo espectro, este trabalho limitar-se-á à
análise dos conceitos, políticas e estratégias antiterrorismo preconizados pela
Organização das Nações Unidas (ONU), pela União Europeia (UE), pelos Estados
Unidos da América (EUA) e pelo Brasil.
Destarte, a apresentação do tema será abordada em cinco capítulos, sendo
iniciado por esta breve introdução. No capitulo dois serão apresentados os conceitos
e a evolução histórica do terrorismo. No capítulo três, serão descritas as definições,
as percepções e as estratégias de alguns atores da Segurança Internacional acerca
do fenômeno. A seguir será apresentado um diagnóstico atual da estrutura brasileira
de enfrentamento ao terror e, por fim, será encerrada com uma conclusão do estudo.
12

2 TERRORISMO

O terrorismo é um evento frequente nos noticiários internacionais, porém,


conceituá-lo é muito difícil pois não há um consenso universal entre os 193 países da
Organização das Nações Unidas (ONU).
Woloszyn (2009, p. 67) afirma que há mais de 160 definições para o terrorismo
por conta de sua constante evolução e diversidade de consequências.
Vejamos, a seguir, alguns conceitos elaborados acerca desse fenômeno.

2.1 CONCEITOS

Segundo o historiador Walter Laqueur (1977, apud GONÇALVES e REIS,


2017, p. 6), define-se terrorismo como a contribuição para o uso ilegítimo da força de
modo a alcançar um objetivo político, quando pessoas inocentes são os alvos.
Entretanto, percepções diferentes, influenciadas por ideologias, religiões,
questões culturais e econômicas, podem tornar o terrorismo uma forma legítima e
justa de luta para um certo estado ao passo que para outro não passa de uma forma
violenta e covarde de se atingir um fim político.
De acordo com Woloszyn (2009, p. 23), o terrorismo é:

...um fenômeno histórico que sempre existiu e provavelmente sempre vai


existir. Empregado como a última esperança do mais fraco, o recurso que
pode impedir o mais débil a ganhar o combate contra o forte, mas também
como instrumento de poder de governos e organizações, tem-se manifestado
sob diferentes formas ao longo dos séculos, e junto a distintos povos e
regiões.

Whittaker (2005, apud MESQUITA 2012, p. 17, grifo nosso), cita o discurso de
Yasser Arafat, então líder da Organização para Libertação da Palestina (OLP), na
Assembléia Geral da ONU, em novembro de 1974, que dá o tom da complexidade da
percepção do terrorismo pelas pessoas:

[...] a diferença entre revolucionário e terrorista está no motivo pelo qual


cada um deles luta. Isso porque quem quer que assuma posição por uma
causa justa e batalhe pela liberdade e pela libertação de sua terra do jugo
de invasores, assentadores e colonizadores não pode de modo algum ser
chamado de terrorista.

Sinai (2008, apud GONÇALVES e REIS, 2017, p. 6, grifo nosso) destaca que:
13

[...] a definição de terrorismo é um dos aspectos mais ambíguos dos estudos


de terrorismo, uma vez que “ não há uma definição universalmente aceita
que possa diferenciar ataques contra civis não combatentes ou alvos
militares, tampouco que leve em conta as últimas tendências nas práticas
terroristas ou em seus objetivos”

O Glossário das Forças Armadas do Brasil (BRASIL, 2015, p. 267) define o


terrorismo como:
Forma de ação que consiste no emprego da violência física ou psicológica,
de forma premeditada, por indivíduos ou grupos adversos, apoiados ou não
por Estados, com o intuito de coagir um governo, uma autoridade, um
indivíduo, um grupo ou mesmo toda a população a adotar determinado
comportamento, e pode ser motivado por razões políticas, ideológicas,
econômicas, ambientais, religiosas ou psicossociais.

A ONU, por meio da Resolução nº 49/60 de sua Assembléia Geral - Medidas


para eliminar o terrorismo internacional - de 9 de dezembro de 1994, apresentou a
seguinte aproximação para o conceito de terrorismo (p. 4, tradução nossa):

Os atos criminosos destinados a provocar um estado de terror no grande


público, num grupo de pessoas ou determinadas pessoas para fins políticos
são, em qualquer circunstância, injustificáveis, quaisquer que sejam as
considerações de ordem política, filosófica, ideológica, racial, étnica, religiosa
ou qualquer outra natureza que possa ser invocada para justificá-los;

Segundo Gonçalves e Reis (2017, p. 8 e 9) a ideia de ações violentas contra


alvos de qualquer natureza para intimidar populações ou forçar autoridades a agir ou
deixar de agir, presente na resolução anterior, caracteriza o terrorismo do século XXI.
A UE define terrorismo através da Decisão-Quadro do Conselho Europeu, de
13 de junho de 2002, como apresentado por Noivo e Seabra (2010, p. 38):

[...] o Conselho Europeu conseguiu alcançar um feito significativo, ao chegar


a acordo quanto a uma definição unânime de terrorismo, que passava assim
a englobar todas as infracções “susceptíveis de afetar gravemente um país
ou uma organização internacional” com o propósito de “intimidar gravemente
uma população”, “constranger indevidamente os poderes públicos ou uma
organização internacional a praticar ou a abster-se de praticar qualquer ato”
ou “desestabilizar gravemente ou destruir as estruturas fundamentais
políticas, constitucionais, económicas ou sociais de um país ou de uma
organização internacional”.

Os EUA possuem definições variadas, conforme a percepção de alguns


órgãos de segurança. Conforme Woloszyn (2009, p. 70) as definições segundo o
Código de Leis Criminais e o FBI são as seguintes:
14

No Código de Leis Criminais, é definido como sendo uma violência


criminosa com o propósito de intimidar e coagir a população civil, influir em
políticas do governo por intimidações e coerções e, afetar a conduta do
governo por meio de assassinatos e sequestros. Engloba a utilização de
armas de destruição em massa que atinjam norte-americanos ou bens dos
EUA em seu próprio território ou no estrangeiro.
Para Holmes e Burke (1994), membros do Federal Bureau of Investigation
(FBI), terrorismo é o uso ilegal da força ou violência, física e psicológica,
contra pessoas e propriedades, com o propósito de intimidar ou coagir um
governo, a população civil ou segmento da sociedade, a fim de alcançar
objetivos políticos ou sociais.

Em que pese a falta de consenso acerca da definição do fenômeno terrorismo


no sistema internacional de nações, a sua recorrência vem sendo constantemente
condenada no âmbito da ONU e em outros fóruns multilaterais de segurança regional
e global, dos quais o Brasil tem efetiva participação.

2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

O terrorismo é um fenômeno muito antigo da sociedade e conhecido desde o


século I, quando um grupo de zelotas judeus, combatentes da ocupação romana da
Judeia, denominados sicários2 executaram muitos soldados, causando forte
represália de Roma, como a destruição de Jerusalém, no ano 70 d.C., e a expulsão
dos judeus da Palestina.
No século XI, no Oriente Médio, os Ismailis-Nizari3, muçulmanos xiitas,
praticavam atentados contra líderes militares e políticos, preferencialmente cristãos e
muçulmanos contrários a sua fé, e empregavam, quando necessárias, técnicas de
vigilância e disfarce para matá-los.
Na época das Cruzadas do século XII, táticas de terror foram praticadas pelos
cavaleiros na queima e destruição das cidades muçulmanas, bem como nos estupros
e nas execuções sumárias, como no cerco de Ma'arrat al-Numan4.
A Revolução Francesa, em 1789, foi um marco para o terrorismo. A ruptura
radical do modelo monárquico absolutista pelo democrático utilizou o terror como
instrumento de consolidação. Robespierre, a mando do estado francês, estabeleceu
o régime de la terreur 5 e executou cerca de 12 mil opositores na guilhotina.
Diferentemente dos eventos históricos anteriores, nos quais o terrorismo era

2 Sicários: nome originado da adaga “sicae” por eles utilizada


3 Ismailis-Nizari ou Ordem dos Assassinos, do árabe Hashashin.
4 Localizada na Síria e foi palco do massacre de 20 mil habitantes em 12 de dezembro de 1098.
5 Reinado do terror, de setembro de 1792 a julho de 1794.
15

executado por pequenos grupos organizados em torno de uma causa, a Revolução


Francesa foi o primórdio do chamado “terrorismo de estado”.
O século XIX marcou o surgimento de grupos anarquistas, contrários ao
desemprego e à exclusão social promovidos pela recente Revolução Industrial e a
favor de uma insurreição internacional.
Com base na obra “Das Mord” do alemão Karl Heizen (1809-1880), os
anarquistas realizaram atos de terror como sequestros, assassinatos e atentados à
bomba. Os russos Mikhail Bakunin (1814-1876), Piotr Kropotkin (1842-1921) e Sergey
Nechayev (1847-1882) foram os maiores expoentes dessas práticas.
O Movimento Comunista, inspirado na obra de Karl Marx (1818-1883), por sua
vez, se apropriou da violência como instrumento legítimo na luta de classes para a
instauração da ditadura do proletariado.
No alvorecer do século XX, assistiu-se a um recrudescimento de atentados
terroristas de cunho anarquista e nacionalista, como o ocorrido contra o herdeiro do
Império Austro-húngaro, Arquiduque Francisco Ferdinando, em 28 de junho de 1914,
pela organização Mão Negra (nacionalista), que deu origem à Primeira Guerra
Mundial (1ª GM).
A Revolução Russa de 1917 implantou o primeiro estado comunista que
passou a inspirar, apoiar e financiar grupos terroristas alinhados ideologicamente.
Após a 2ª GM, as potências europeias, enfraquecidas pelos anos de guerra,
passaram a sofrer atentados de grupos nacionalistas nas colônias da África e Ásia.
Os anos de 1970 foram palco de ações terroristas promovidas por árabes da
OLP contra Israel, em defesa dos palestinos, em países europeus. Um marco dessa
época foi o atentado das Olimpíadas de Munique6, em 1972, cometido pelo grupo
terrorista palestino denominado Setembro Negro.
Na década seguinte, inspirados pela Revolução Islâmica do Irã, surgiram
grupos terroristas de cunho religioso como o Hezbollah (Partido de Deus), do Líbano,
e o Hamas (Entusiasmo), da Palestina, que promoveram ataques contra os
israelenses, militares e civis, e popularizaram os chamados “atentados suicidas”.
O fim do século XX assistiu a fragmentação da URSS, o consequente término
da bipolarização com os EUA, a queda do muro de Berlim, a ascensão do neo-
liberalismo, a globalização e a criação da rede mundial de computadores (internet).

6Atentado no qual onze integrantes da seleção olímpica de Israel foram sequestrados e mortos em
uma tentativa fracassada de troca por cerca de 234 detentos palestinos presos em Israel.
16

A chamada Primavera Árabe foi outro marco transformador recente na


sociedade. Ela teve início no final do ano de 2010, em países do norte da África e do
Oriente Médio, entre os quais a Tunísia, a Líbia, o Egito, a Argélia, a Síria, o Bahrein,
o Marrocos, o Iêmen, a Jordânia e o Omã, surgindo como uma onda de protestos e
revoluções em que a população foi às ruas para derrubar ditadores ou reivindicar
melhores condições sociais de vida. Na Síria, em especial, evoluiu para uma Guerra
Civil que se estende até hoje.
Nesse ambiente de mudanças complexas, em tão curto período de tempo,
floresceu o terrorismo fundamentalista islâmico. Grupos como a Al-Qaeda e o Daesh,
repudiando toda forma de expressão da sociedade ocidental em detrimento de uma
nova sociedade inspirada no Corão7, promoveram, desde então, atos terroristas
significativos.
Segundo David Rapoport (2006, apud GONÇALVES e REIS, 2017, p. 25) há
quatro ondas de terrorismo internacional, ou sejam, ciclos caracterizados por fases de
expansão e de contração. Cada onda teve características próprias, estratégias e
táticas distintas, simpatizantes e apoiadores, grupos mais proeminentes do que outros
e com duração média de trinta ou quarenta anos. Vejamos cada uma delas a seguir.

2.2.1 A primeira onda

A primeira onda, segundo Rapoport foi a “Anarquista”, do final do século XIX,


na Rússia, com doutrina e estratégia propostas pelos escritores russos Mikhail
Bakunin, Piotr Kropotkin e Sergey Nechayev, presente até os anos de 1920. Tal onda
englobou a violência praticada por anarquistas, revolucionários russos e nacionalistas.
Sua origem está ligada aos movimentos de resistência às transformações
econômicas, sociais e políticas da Rússia czarista após as guerras napoleônicas, um
regime alvo de reações populares e de grupos recém-formados na era pós-servidão.
Em 1881, a organização revolucionária Narodnaya Volya (Liberdade do povo)
matou o czar Alexandre II (1818-1881) como forma de acelerar a queda da monarquia
e foi perseguida pelo Estado e muitos de seus seguidores acabaram presos e
executados.
No início de 1900, outra organização, o Partido Socialista Revolucionário,

7Alcorão ou Corão é o livro sagrado do Islã. Os muçulmanos creem que o Alcorão é a palavra literal
de Deus (Alá) revelada ao profeta Maomé (Muhammad) ao longo de um período de vinte e três anos.
17

mais violento do que a Narodnaya, promoveu o terror na Rússia para estimular o início
de uma revolta popular socialista que derrubasse o Czar Nicolau II (1868-1918).
O Partido Operário Social - Democrata de Lenin, em que pese discordar dos
assassinatos individuais dos socialistas, fez uso do terror por meio de expropriações
proletárias e outras ações que angariassem fundos para a revolução comunista.
Segundo Gonçalves e Reis (2017, p. 30), essas práticas acabariam
constituindo doutrina a ser empregada por organizações revolucionárias em todo o
mundo, como os movimentos de luta armada no Brasil, nas décadas de 1960 e 1970.
Os anarquistas usavam o terror para a destruição rápida e brusca do Estado
e, assim, implantar o comunismo. Para obter seu fim, eles elegiam líderes de governo
e seus representantes de vários países como alvos, utilizando-se de assassinatos
individuais e explosão de bombas em evento público, como se vê no Quadro nº 1:

Quadro 1 – Atentados terroristas da 1ª onda


Autoridade / Instituição / Evento País Ação Ano
Câmara dos Deputados de Paris Explosão de Bomba 1893
França
Presidente Sadi Carnot 1894
Imperatriz Elizabeth Áustria 1898
1º Ministro Antonio Cánovas del Castillo Espanha 1897
Assassinato
Rei Umberto I Itália 1900
Presidente William McKinley Estados Unidos 1901
Rei Carlos I e seu herdeiro Luís Felipe Portugal 1908
Jornal Los Angeles Times Estados Unidos Explosão de Bomba 1910
Fonte: o autor (2017)

Os grupos nacionalistas, por sua vez, defendiam a independência e a


autodeterminação dos povos na Europa permeada por grandes impérios multiétnicos,
como o Austro-húngaro, o Turco-otomano e o Reino Unido. Faziam uso de atentados,
de sequestros e de outras ações violentas pela causa como se observa a seguir:

Quadro 2 – Principais grupos terroristas da 1ª onda


Grupos nacionalistas País de origem Causa da Independência da Império
Fenianos Estados Unidos - 1831 Irlanda Reino Unido
Federação Turco-
Armênia - 1890 Armênia
Revolucionária Armena otomano
Bósnia-Herzegovina e criação Austro-
Mão Negra Sérvia - 1910
do reino eslavo húngaro
Fonte: o autor (2017)

Segundo Rapoport (2006, apud GONÇALVES e REIS, 2017, p.32 e 33), as


características dessa onda podem ser assim enunciadas: forte influência
revolucionária; uso dos meios de comunicação e de propaganda para promover a
18

causa revolucionária; e o terrorismo como meio mais rápido e efetivo para destruir a
ordem convencional.

2.2.2 A segunda onda

Esta fase, com início após a 1ª GM e estendendo-se até os anos de 1960,


teve como motivação as lutas de independência colonial contra as metrópoles
europeias, nos chamados movimentos de libertação nacional.
As técnicas de guerrilha foram amplamente empregadas pelas organizações
terroristas para se opor às forças de repressão (exércitos imperialistas).
Os atentados podiam ocorrer tanto em solo colonial ou nas capitais europeias,
como forma de disseminar sua causa para todos os segmentos sociais envolvidos.
Segundo Rapoport (2006, apud GONÇALVES e REIS, 2017, p. 34), a
percepção dos grupos revoltosos como “terroristas” mudou para “combatentes da
liberdade”, ao passo que os representantes governamentais eram considerados os
verdadeiros “opressores terroristas” das populações nativas.
Conforme Gonçalves e Reis (2017, p.34) o termo “terrorista” denotava um
sentimento tão negativo que os “combatentes da liberdade” buscavam se afastar
desse rótulo até mesmo para conferir aos seus atos uma causa justa, sendo tal
técnica, também usada na terceira onda por algumas organizações.
Muitos países no Oriente Médio, na África e na Ásia conseguiram sua
independência por meio do terrorismo da segunda onda.
As organizações terroristas da 2ª onda, segundo Gonçalves e Reis (2017, p.
42) possuíam características distintas da daquelas da primeira onda, tais como:
- A substituição do termo “terrorista” pela expressão “combatentes da
liberdade” para angariar a simpatia das populações nativas e justificar os atos de terror
em nome da nobre causa da independência e autodeterminação;
- Financiamento externo de colonos ou de Estados solidários à causa;
- Assassinatos sistemáticos de policiais, considerados representantes do
estado opressor; e
- Ingerência das superpotências da Guerra Fria, URSS e EUA, em alguns
conflitos de independência.
O quadro a seguir apresenta algumas organizações terroristas dessa onda:
19

Quadro 3 - Principais grupos terroristas da 2ª onda


Grupo/ País/ Ano Causa Técnicas
Irish Republican Army Libertação da Irlanda e Irlanda Atentados a bomba contra população
(IRA) Irlanda - 1921 do Norte do Reino Unido protestante, civis e militares
Irmandade Muçulmana Libertação do Egito do Reino Atos de terror contra os britânicos no
Egito - 1928 Unido Egito
Viet Mihn Independência da Indochina da Assassinatos de lideranças e de
China - 1941 França agentes públicos; e guerrilha rural
Mau Mau Independência do Quênia do Ataques contra colonos ingleses e
Quênia - 1952 Reino Unido outras etnias colaboradoras
Irgun Criação de Israel na Palestina, Ações de represália e atentados
Palestina - 1931 sob domínio do Reino Unido contra militares britânicos e civis
Libertação da Palestina e Guerrilha para ataques a cidadãos
OLP - Palestina - 1964
contenção do sionismo israelenses
Fonte: o autor (2017)

2.2.3 A terceira onda

A terceira onda do terrorismo surgiu nos anos 1960, conforme Rapoport.


A disputa ideológica entre comunismo e capitalismo acirrou as manifestações
sociais, especialmente no seio dos operários e estudantes, levando-os para a luta
armada, sob o manto de novos grupos terroristas de esquerda nessa década.
O exemplo vitorioso da guerrilha comunista na Guerra do Vietnã8 contra os
EUA inspirou a proliferação de muitos grupos terroristas na Europa e na América
Latina, lutando contra o modelo capitalista, movimento que ficou conhecido como a
“nova onda de esquerda”.
As principais características dos grupos terroristas desse período foram:
- Predominância da luta pela implantação da ideologia de esquerda,
acrescida, eventualmente de discursos nacionalistas e separatistas;
- Patrocínio da URSS aos grupos terroristas de viés esquerdista;
- Incremento da participação e da liderança feminina de grupos terroristas,
como por exemplo, a da ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff, integrante dos
grupos terroristas Comando de Libertação Nacional (COLINA) e Vanguarda
Revolucionária Palmares (VAR – Palmares), ambos de esquerda;
- Realização de ações de caráter midiático para propagar seus ideais e suas
respectivas organizações;
- Intensa execução de sequestros de autoridades e de aviões; e
- Emprego de técnicas de guerrilha urbana e rural.

8A Guerra do Vietnã foi um conflito armado que começou no ano de 1959 e terminou em 1975. As
batalhas ocorreram nos territórios do Vietnã do Norte, Vietnã do Sul, Laos e Camboja.
20

Os grupos terroristas mais relevantes dessa época estão apresentados abaixo


com seus respectivos países de origem:

Quadro 4 - Principais grupos terroristas da 3ª onda


Exemplos de Grupos terroristas País Causa
Alemanha
Baader- Meinhof
Ocidental
Exército Vermelho Japonês Japão
Brigadas Vermelhas Itália
Frente Sandinista de Libertação Nacional Nicarágua
1. Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia
(FARC);
Colômbia
2. Movimento 19 de abril (M-19); e
3. Exército de Libertação Nacional (ELN).
1. Sendero Luminoso; e
Peru
2. Tupac Amaru. Comunista
Montoneros. Argentina
Tupamaros. Uruguai
1. ALN - Ação Libertadora Nacional;
2. MR-8 - Movimento Revolucionário 8 de Outubro;
3. VPR -Vanguarda Popular Revolucionária;
4. AP - Ação Popular; Brasil
5. POLOP - Política Operária;
6. VAR - Palmares;
7. COLINA - Comando de Libertação Nacional; e
8. PC do B - Partido Comunista do Brasil.
Euskadi Ta Askatasuna (ETA) Espanha e França Comunista Separatista
Fonte: o autor (2017)

Conforme Gonçalves e Reis (2017, p. 47), as ações terroristas no Brasil, no


período se comportaram da seguinte forma:

No Brasil, sobretudo durante o período militar (1964-1985), proliferaram


grupos de esquerda que recorreram a atos de terror em sua luta contra o
regime. Esses grupos desencadearam ações como assaltos, roubos a banco
(desenvolvendo inclusive toda uma técnica para ataques a instituições
bancárias), sequestros, explosões de carros-bombas e assassinatos,
geralmente com treinamento e orientação de agentes estrangeiros, e sob a
justificativa de que estavam a lutar contra o regime militar e com o objetivo de
promover a revolução e estabelecer no Brasil um Estado comunista (nos
moldes das ditaduras cubana, chinesa, albanesa e soviética).

Com o enfraquecimento do fervor ideológico de esquerda e o fim do


financiamento soviético muitas dessas organizações foram extintas. Outras, em
especial na América do Sul, como as FARC, em processo de pacificação desde 2012,
e o Sendero Luminoso associaram-se aos cartéis de produção de cocaína como forma
de se manterem ativas.
Esse fato agravou a segurança pública sul-americana com reflexos no crime
21

organizado brasileiro, marcado nos últimos anos por uma disputa de espaço9 no
mercado distribuidor de drogas entre facções criminosas da Família do Norte10 (FDN),
Primeiro Comando da Capital11 (PCC) e Comando Vermelho12 (CV).
Segundo o Ministério da Defesa, o agravamento da Segurança Pública no
Brasil, desde 2010, ocasionou 29 operações de Garantia da Lei e da Ordem 13 (GLO),
sendo que 10 delas foram no Estado do Rio de Janeiro, berço do Comando Vermelho.
Alguns episódios recentes, ligados ao crime organizado, desencadearam
operações de GLO, tais como:
- A Operação Varredura, iniciada em janeiro de 2017, tendo como objetivo a
busca de armas, celulares e drogas nos presídios estaduais do Amazonas (AM), de
Rondônia, (RO), de Roraima (RR), do Rio Grande do Norte (RN) e do Mato Grosso
do Sul (MS). Pelo menos três dos presídios vistoriados foram palco de barbáries neste
início de ano, decorrentes da disputa pelo controle do tráfico de drogas na Região
Norte, entre o PCC e a FDN, como a penitenciária de Alcaçuz, em Natal, a de Monte
Cristo, em Roraima, e o complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj) de Manaus; e
- A Operação Segurança e Paz, no Estado do Rio de Janeiro, deflagrada em
28 de julho de 2017, com o emprego de 8.500 militares das Forças Armadas em ações
de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) que atuarão em conjunto com outros agentes
de segurança pública federal, estadual e municipal para conter a criminalidade.
Como se denota, o reflexo da conexão FARC e Sendero Luminoso com as
organizações criminosas brasileiras suscitaram o emprego frequente e vulgarizado
das Forças Armadas, notadamente vocacionadas para a Defesa, em operações
voltadas para incrementar a Segurança Pública.

9 As facções Comando Vermelho e Primeiro Comando da Capital, aliadas há quase duas décadas,
romperam sua união em 2016, por disputa de território nas fronteiras do Brasil com Paraguai, Bolívia e
Colômbia, que ocasionou numa rebelião nos presídios em Rondônia e Roraima.
10 A FDN é uma organização criminosa criada no Estado do Amazonas como reação ao controle

exercido pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) nas atividades do tráfico de drogas.
11 O PCC é uma organização criminosa criada no Estado de São Paulo que coman-

da rebeliões, assaltos, sequestros, assassinatos e narcotráfico. Atua principalmente em São Paulo,


mas também está presente em 22 dos 27 estados brasileiros, além de países como Bolívia e Paraguai.
12 O CV é uma das maiores organizações criminosas do Brasil. Foi criada em 1979, na prisão Cândido

Mendes, na Ilha Grande/RJ, a partir da união de presos comuns, de presos políticos e de militantes de
grupos armados.
13 O emprego das Forças Armadas em operações de GLO tem por objetivo a preservação da ordem

pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, em situações de esgotamento dos


instrumentos a isso previstos no artigo 144 da Constituição ou em outras em que se presuma ser
possível a perturbação da ordem.
22

2.2.4 A quarta onda

O ano de 1979 é considerado o marco histórico para o início da 4ª onda do


terrorismo em virtude de três grandes eventos de repercussão no mundo muçulmano:
- A Revolução Islâmica no Irã, na qual a ascensão do aiatolá Khomeini
viabilizou a transformação do País em um estado islâmico radical xiita para patrocinar
a expansão mundial do fundamentalismo muçulmano. Para tanto, definiram os EUA e
Israel como suas maiores ameaças e apoiavam atos terroristas em países inimigos;
- O ataque à Grande Mesquita de Meca, na Arábia Saudita que foi realizado
por muçulmanos radicais que buscavam a deposição da família Saud do poder e o
estabelecimento de um regime mais rigoroso na Arábia. O trágico desfecho da crise
ocasionou a morte dos terroristas e de centenas de peregrinos, forçando o governo a
adotar normas religiosas mais severas para conter a fúria desses muçulmanos. Tal
solução estimulou, também, outros grupos fundamentalistas a praticarem atos
terroristas para impor suas exigências; e
- A invasão do Afeganistão pela URSS que fortaleceu o papel dos mujahedins
(guerreiros santos), do ramo sunita, apoiados pelos EUA e combatentes insurgentes
contra o invasor soviético, que dava suporte ao Governo da República Democrática
do Afeganistão (socialista). Vencida a guerra, em 1989, muitos combatentes afegãos
se tornaram jihadistas (lutadores) e empreenderam a Jihad (Guerra Santa) para
combater a cultura ocidental e implantar uma sociedade baseada na Sharia14.
O fundamentalismo islâmico, sistema de governo que prevê a coordenação
de todos os aspectos sociais através da Sharia, ganhou forte impulso com esses
eventos, tornando-se uma causa legítima para muitos grupos terroristas.
A Irmandade Muçulmana é o principal movimento religioso islâmico com
origem no ano de 1928, no Egito. Difunde a mensagem do estabelecimento de um
estado islâmico unificado que abrigaria toda a nação muçulmana e estimula o
emprego da força para destruir qualquer sociedade não-islâmica.
O Hamas ou Movimento de Resistência Islâmico, fundado em 1987, por
integrantes da Irmandade Muçulmana Palestina, surgiu como movimento armado
contra a ocupação israelense e foi o pioneiro do ataque terrorista com homem-bomba.
O Hezbollah ou Partido de Deus surgiu em 1982 por clérigos xiitas para

14 Conjunto de leis islâmicas baseadas no Alcorão que ditam o comportamento dos muçulmanos.
23

expulsar o exército israelense do sul do Líbano e criar um estado islâmico no local.


A Al Qaeda foi o grupo mais significativo dessa onda em virtude do ataque de
11 de setembro de 2001 aos EUA. O seu modelo de sucesso passou a inspirar grupos
como o Daesh e o Boko Haram, que têm como objetivos a expulsão dos EUA e seus
aliados do Oriente Médio; a criação de um califado pan-islâmico; e a adoção do
fundamentalismo islâmico por todas as sociedades muçulmanas.
Para Gonçalves e Reis (2017, p. 52), a inovação da Al Qaeda está em:
- Ser uma organização sem uma hierarquia vertical;
- Contar com uma rede mundial de colaboradores;
- Atuar em pequenas células;
- Pregar uma Jihad contra os EUA e seus aliados de forma global; e
- Não ter um sistema de controle, desejando inclusive fazer uso de armas de
destruição em massa (ADM) de forma indiscriminada.
O Daesh (Estado Islâmico), de origem sunita, surgiu por volta do ano de 1993
e ganhou notoriedade como grupo insurgente contra os EUA e seus aliados na
invasão do Iraque em 2003. Inspirado na Al Qaeda, rompeu sua ligação com Osama
Bin Laden e mudou seu nome para Al Qaeda do Iraque (AQI). Em 2006, juntou-se a
outros grupos sunitas passando a adotar os sucessivos nomes de “Conselho Shura
Mujahideen” (CSM em janeiro de 2006), de “Coalizão Mutayibeen” e de “Estado
Islâmico do Iraque” (ambos em outubro de 2006).
Em 2013, em pleno conflito sírio15, o grupo alterou sua denominação para
“Estado Islâmico do Iraque e do Levante”, fruto da sua intenção em expandir seu
território para as regiões do Levante (áreas nos territórios da Síria, Israel, Jordânia,
Palestina e Líbano).
A partir da consolidação de um califado islâmico em áreas do interior da Síria
e do Iraque, em junho de 2014, assumiu a denominação de Estado Islâmico da Síria
e do Iraque (ISIS) ou simplesmente Estado Islâmico.
O Daesh destaca-se pelas seguintes características:
- Planejamento estratégico: aproveita-se da fraqueza da Síria e do Iraque,
bem como da inércia inicial das grandes potências mundiais na crise síria para

15A Guerra Civil Síria é um conflito interno em andamento na Síria, que começou como uma série de
grandes protestos populares em 26 de janeiro de 2011 e progrediu para uma violenta revolta
armada em 15 de março de 2011, influenciados por outros protestos simultâneos no mundo árabe que
busca derrubar o presidente Bashar al-Assad e implantar uma democracia.
24

conquistar territórios fronteiriços entre esses dois países.


- Inovação: estabeleceu um “novo estado”, constituído pela população e
territórios conquistados, fato inédito para um grupo terrorista.
- Flexibilidade de ações: executa combates de guerrilha e convencional,
contando para este último, com efetivo significativo de combatentes e armamentos
pesados como carros de combate e artilharia.
- Modernidade: emprega as mídias sociais como youtube e facebook como
instrumento de disseminação da causa, de recrutamento e de propaganda do próprio
grupo em escala mundial direcionando suas campanhas para o público jovem.
- Financiamento eficiente: obtém recursos de simpatizantes e estados
estrangeiros, bem como da venda de petróleo no mercado negro.
- Maximização da violência: faz uso de extrema crueldade para intimidar seus
inimigos, desencorajando-os a continuar lutando. Expõe, frequentemente, a execução
dos combatentes capturados em vídeos na rede mundial de computadores.
- Recrutamento global: acolhe simpatizantes oriundos de várias partes do
mundo para combater pela causa.
- Ações descentralizadas: incentiva a realização de atentados terroristas por
lobos solitários16 em seus países de origem.
- Doutrinação ideológica intensa: promove a doutrinação de simpatizantes
pela rede mundial de computadores e por escolas para crianças nos países invadidos.
O Boko Haram, cuja tradução é “a educação não-islâmica é um pecado”, é
um grupo terrorista fundamentalista islâmico do interior da África que recebeu
treinamento da Al-Qaeda do Magreb e atua no norte da Nigéria e seus países vizinhos,
desde 2002, com o objetivo transformá-la em um pais regido pela Sharia.
A população cristã do pais é vítima da extrema violência do grupo,
caracterizada por assassinatos em massa, sequestro e estupro de mulheres e
atentados na porção sul do pais (maioria cristã).
O grupo tornou-se mundialmente famoso em 2014, quando sequestrou cerca
de 276 meninas estudantes, utilizou-as como escravas sexuais e se declarou leal ao
Estado Islâmico em uma demonstração de aceitação do know-how operacional desse
grupo terrorista. No momento, suas ações permanecem restritas ao território nigeriano
e vizinhos.

16 O termo "lobo solitário" é usado pelas agências americanas de aplicação da lei e a mídia para se
referir a indivíduos que executam violentos atos de terrorismo fora de uma estrutura de comando.
25

Os principais grupos terroristas dessa onda estão caracterizados a seguir:

Quadro 5 - Principais grupos terroristas da 4ª onda


Organização/ pais de origem/ ano de criação Causa
Hezbollah - Líbano - 1982
Hamas - Faixa de Gaza – 1987
Al-qaeda (A base) - Afeganistão – 1988 Fundamentalismo islâmico e pan-islamismo.
Daesh (Estado Islâmico) - Iraque – 2006
Boko Haram - Nigéria – 2002
Fonte: o autor (2017)

2.3 CARACTERÍSTICAS DO NOVO TERRORISMO

O “novo terrorismo”, assim considerado a partir do atentado do 11 de


setembro de 2001, tem aspectos muito distintos das três primeiras ondas de Rapoport.
Além de características já enunciadas para o grupo terrorista Daesh, segundo
Aguilar (2016), pode-se destacar a liberdade que os grupos têm para realizar
atentados e a participação de autores sem nenhum histórico de violência:

Com o Estado Islâmico (EI), surgiram duas novas e perigosas características.


A primeira, a liberdade que os membros do grupo têm de realizar atentados,
individualmente ou em pequenos grupos, contra alvos em qualquer lugar do
mundo considerados ‘inimigos’ do mundo islâmico. Os atentados de Paris no
ano passado e de Bruxelas neste ano foram praticados por indivíduos que
estiveram combatendo como membros do Estado Islâmico. Com as ações
militares na Síria e no Iraque, o enfraquecimento e a possível derrota do EI
provavelmente resultará na ‘migração’ ou retorno de membros do grupo –
popularmente chamados de ‘jihadistas’ – a diversos países do Ocidente, parte
deles propensos a realizarem ataques. Em consequência, a incidência desse
tipo de ato terrorista deve aumentar. A segunda, ainda mais difícil de ser
prevenida e combatida, diz respeito a pessoas que nunca fizeram parte das
organizações terroristas, mas que nutrem por elas uma simpatia tão forte que,
quando conjugada com outros motivos, tornam esses indivíduos propensos a
realizar atentados.

Gonçalves e Reis (2017, p.60 e 61) destacam as seguintes características:


- Surgimento de novos grupos terroristas e cópia do modus operandi da Al
Qaeda como se fosse um sistema de franquias;
- Organização de estados embrionários nos territórios conquistados como na
Síria e Iraque pelo Daesh e no norte da Nigéria pelo Boko Haram;
- A ação dos lobos solitários em atentados na Europa e nos EUA;
- O uso de meios criativos nas ações terroristas como caminhões e aviões;
- Uso das mídias sociais para propaganda do grupo; e
- Associação de organizações criminosas com terroristas para transferência
26

de know how de técnicas terroristas por financiamento de ações.


Uma dificuldade a mais para os Estados consiste na desradicalização de
terroristas fundamentalistas islâmicos, uma tarefa árdua, pois o terrorista de base
religiosa é muito engajado.
Cabe salientar que as ações terroristas afetam, por vezes, mais de uma
expressão do poder nacional de um pais, como se viu, por exemplo, com a Guerra ao
Terror dos EUA no Iraque e no Afeganistão (expressão militar e econômica); a redução
do turismo em países europeus palcos de atentados (econômico), no controle dos
campos de petróleo do Iraque e da Síria pelo Daesh (econômico), da fuga de sírios
desse mesmo grupo (psicossocial) e na entrada de massas de refugiados sírios na
Europa (psicossocial e político).
O “novo terrorismo” apresenta um grande desafio para a Segurança
Internacional uma vez que sua nova “face” é de difícil prevenção e repressão.
Os estados e organismos internacionais devem estar atentos à dinâmica
desse fenômeno para se reinventarem no combate ao mesmo.

2.4 PREVENÇÃO E RESPOSTA AO TERRORISMO

O atentado terrorista pode ser analisado temporalmente em três fases: a


anterior ao atentado; o atentado propriamente dito; e a posterior ao ato ocorrido.
As ações de enfrentamento ao terror se concentram na primeira e na última
etapas, com ações antiterroristas e ações contraterroristas, respectivamente.
Segundo o Glossário das Forças Armadas (2015, p. 74), enquanto o
antiterrorismo se fundamenta na ação de proteção caracterizada pela presença
ostensiva, de caráter eminentemente preventivo, o contraterrorismo demanda a
execução de ações diretas de contato, eminentemente repressivas/retaliatórias, com
as organizações terroristas em presença.
Segundo Gonçalves e Reis (2017, p.144 e 145), em uma escala de violência
na qual o crime comum seja uma manifestação de grau normal e a guerra seja uma
manifestação extrema de violência, o atentado terrorista seria uma manifestação
intermediária.
Com base nessa escala, os autores apresentam três modelos de respostas
aos atentados, a partir da relação entre o grau de violência do incidente com o
emprego de forças de segurança e/ou forças armadas:
27

Quadro 6 – Modelos de resposta aos atentados


Incidente Mecanismo de resposta Modelo
Crime Emprego das forças de segurança Da justiça criminal
Atentado Emprego das forças armadas ou forças de segurança ou ambas Misto
Guerra Emprego das forças armadas Da guerra
Fonte: adaptado de Gonçalves e Reis (2017, p.145)

Conforme esses autores os modelos foram criados conforme a percepção da


ameaça por cada Estado e podem ser entendidos assim:
- Modelo da justiça criminal: é mais comumente utilizado por países com
problemas domésticos, sem consequências que extravasem as suas fronteiras, nem
ameacem a segurança nacional de forma desmedida, como adotado no Brasil, com a
Lei nº 13.260, de 16 de março de 2016, e inaugurada com a Operação Hashtag17 da
Polícia Federal em 2016.
- Modelo da guerra: é mais usual por nações de grande projeção, vítimas do
terrorismo internacional, ou onde haja violação severa à segurança nacional, como as
ações dos EUA no Afeganistão e no Iraque após o atentado de 11/09/01.
- Modelo misto: seu emprego varia tanto no tempo quanto em razão da
intensidade da ameaça terrorista e, ainda, conforme a orientação política do governo,
como na França, após os atentados de 2015 (Charlie Hebdo, Bataclan, etc.) e de 2016
(Nice), onde as forças armadas e de segurança atuaram lado a lado, amparadas pelo
dispositivo do estado de emergência ou de exceção. Segundo Ferret (2017),
administrador civil do Ministério das Forças Armadas da França, o terrorismo continua
sendo uma ameaça importante e continuada para o País, especialmente a Al Qaeda
e o Daesh, provocando, como consequência, a alocação de 10.000 militares das
Forças Armadas para reforçar a segurança do território francês por prazo
indeterminado. Afirmou, também, que a Alemanha, outro importante membro da União
Europeia, tem a mesma prioridade de Segurança e Defesa da França.

17Foi uma investigação da Polícia Federal do Brasil, deflagrada às vésperas da Rio 2016 contra uma
suposta célula do grupo terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante no Brasil.
28

3. A SEGURANÇA INTERNACIONAL

A Segurança Internacional é um campo de estudo das Relações


Internacionais. Segundo Rudzit (2005, p. 304), pode ser conceituada como a proteção
contra ameaças externas aos interesses vitais e aos valores básicos de um Estado.
O assunto ganhou maior interesse após o atentado de 11 de setembro de
2001, conforme Rudzit (2005, p. 297):

O tema de segurança internacional voltou a ser destaque tanto na mídia,


quanto nos trabalhos acadêmicos. É senso comum que durante os anos da
Guerra Fria esse enfoque foi central para as Relações Internacionais (RI),
mas, com o desaparecimento desse conflito no final da década de 1980 e
início da década de 1990, o enfoque desse campo de pesquisa mudou para
a economia. Os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 mudaram
novamente as percepções, e não se pode restringir essa nova realidade
somente aos Estados Unidos.

Segundo Rudzit (2005, p. 298), com esse atentado, o uso da força nas
relações internacionais tornou-se imperiosa e citou os exemplos do ataque ao
Afeganistão em 2002 e, principalmente, no Iraque em 2003.
A expressão militar (força) do poder nacional, sob a forma de Segurança e
Defesa, passou a ter a seguinte relevância, segundo Rudzit (2005, p. 298, grifo nosso):

A importância da compreensão sobre o uso da força em relações interna-


cionais voltou a ter papel central. Essa aplicação do instrumento militar não
está dissociada de outras políticas, tendo em vista que uma política de defesa
de um Estado, em qualquer país do globo, pode ser explicada como decidida
e executada dentro de uma estrutura composta por dois processos políticos,
um externo e outro interno. O primeiro processo tem uma característica
interestatal, e abarca a barganha e a negociação entre as nações por
vantagens, nas quais a força ou a ameaça do seu uso é a medida básica
de troca. O segundo processo é intra-estatal, o que significa o envolvimento
das instituições que têm papel na definição das políticas de segurança
nacional e de defesa e todos os aspectos da política interna de um Estado
(Kolodziej e Harhavy, 1982, p. 15). Mas o que vem a ser segurança?

Os Estudos sobre Segurança Internacional (ESI) surgiram no século XX com


os seguintes objetivos, conforme Buzan e Hansen (2012, p. 87, grifo nosso):

Os estudos de Segurança Internacional surgiram após a segunda Guerra


Mundial como uma forma de debate sobre as ameaças contra os Estados,
buscando uma forma de como se dá a proteção destes. Os estudos de
Segurança Internacional podem variar em relação ao tempo e o lugar.
Não há uma composição objetiva do que realmente seja os ESI, o que leva
consequentemente a diferentes perspectivas do que são estes estudos.
29

Em 1985, foi criado o Copenhagen Peace Research Institute (COPRI) –


Instituto de Pesquisa da Paz de Copenhague, também conhecido como Escola de
Copenhague, que se especializou nos estudos da paz e se tornou referência no tema
de Segurança Internacional.
Segundo Tanno (2002, p. 50), a perspectiva teórica dessa Escola pode ser
caracterizada como abrangente, por sustentar que as ameaças à segurança se
originam não apenas da esfera militar, mas também das esferas política, econômica,
ambiental e societal. Partindo-se dessa ampla interpretação, destaca-se o terrorismo
como uma ameaça atual e preocupante à Segurança Internacional.
Conforme Rudzit e Nogami (2009, p. 6), na esfera nacional, a Segurança
somente pode ser entendida como um problema político quando se tem uma ideia
razoavelmente clara sobre a natureza de uma ameaça e as vulnerabilidades do objeto
ao qual as ameaças são dirigidas.
É papel político de todo Estado identificar as ameaças internas e externas aos
seus interesses, bem como minimizar as suas vulnerabilidades para criar um ambiente
favorável ao desenvolvimento de seu país.
Executa tais ações por intermédio de uma Inteligência Estratégica capacitada
e atuante, assim definida pelo Manual Básico da Escola Superior de Guerra (2013):

A Atividade de Inteligência Estratégica é o exercício permanente de ações


direcionadas à obtenção de dados e à avaliação de situações relativas a
óbices que venham impedir ou dificultar a conquista ou a manutenção dos
Objetivos Nacionais.

3.1 TEORIAS DE SEGURANÇA INTERNACIONAL

A Segurança Internacional pode ser explicada por duas teorias principais:


- A Idealista, segundo a qual, ao se diminuírem as ameaças externas de cada
Estado (fase da segurança nacional), reduzem-se, por conseguinte, as ameaças ao
Sistema Internacional como um todo. Dessa forma, a Segurança Internacional
derivaria de um “equilíbrio de paz” entre todos; e
- A Realista, segundo a qual, a Segurança está vinculada ao “poder”, ou seja,
o Estado mais poderoso do Sistema Internacional garantiria a sua própria segurança.
Essa última, baseia-se na capacidade de poder de cada Estado e ganhou
impulso na Segurança Internacional após a 2ª GM, notadamente no período da Guerra
30

Fria. Poderia ser caracterizada pela proeminência dos vetores militar, estratégico e
nacionalista dos Estados, conforme o pensamento de Tanno (2003, p. 50, grifo nosso):

Iniciaram-se, então, discussões visando a redefinir os limites teóricos da área


de segurança. O movimento de renovação teórica surgiu por meio do debate
sobre a redefinição do conceito de segurança utilizado em relações
internacionais. A análise aprofundada sobre o conceito de segurança
demonstrava que sua utilização e significado encontravam-se imbuídos pelas
premissas realistas, que associavam segurança exclusivamente ao
Estado e aos aspectos militares e estratégicos.

Segundo Booth (1995, apud TANNO, 2003, p. 50, grifo nosso), com o fim da
Guerra Fria, a comunidade internacional questionou a fragilidade da teoria realista ao
não prever a queda soviética e envidou esforços na elaboração de três novas
vertentes teóricas que pudessem retratar a Segurança Internacional, surgindo, a partir
de então, as vertentes tradicionalista, abrangente e crítica.
Segundo Walt (1991, apud TANNO, 2003, p. 50), a vertente tradicionalista,
consonante com as premissas teóricas realistas, defende que os estudos da área se
restrinjam às questões militares e que resguarde o Estado como base de análise.
Conforme Buzan (1991, apud TANNO, 2003, p. 50), a vertente abrangente
sustenta que os estudos de segurança devem incorporar tanto as ameaças militares
quanto aquelas advindas das áreas política, econômica, ambiental e societal.
E por fim, para Booth ((1995, apud TANNO, 2003, p. 50), a vertente crítica,
associada aos trabalhos da Escola de Frankfurt18, propõe que as pesquisas de
segurança devam colaborar para a emancipação humana, salientando outros valores
como a igualdade e a liberdade, além da segurança.
As vertentes tradicionalista e abrangente são mais comumente aceitas e,
segundo Rudzit e Nogami (2009, p. 6), em que pesem interpretações distintas, ambas
definem o conceito de ameaça em termos de ser externo ou vindo de fora, isto é, de
fora da unidade de análise mais aceita em Relações Internacionais, ou seja, o Estado.
A Escola de Copenhague, berço da vertente abrangente, impregnada pelo
pensamento eminentemente europeu, até mesmo por ter sido palco de grandes
tensões da Guerra Fria, estava mais focada na obtenção da paz do que suas
congêneres escolas americanas, voltadas para o poder. Ela possibilitou que seus

18Escola fundada em 1923 e composta por marxistas dissidentes e agregados do Instituto para
Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt.
31

insights, originalmente suscitados pelo contexto da segurança continental, pudessem


ser aplicados na análise de dinâmicas de segurança em outras realidades.
A teoria abrangente da Escola de Copenhague erigiu uma percepção de que
agendas e questões de segurança são construídas após a análise detalhada das
ameaças aos setores político, econômico, societal, ambiental e militar.
Os adeptos da Escola de Copenhague, como Buzan, foram críticos à Teoria
do Equilíbrio do Poder da Escola Realista, baseada predominantemente na vertente
do poder militar.
Especificamente, no caso da ameaça terrorista, esta não poderia ser
analisada sob a ótica do desequilíbrio do poder bélico do Estado contra a organização
terrorista simplesmente porque são atores muito distintos funcionalmente.
Conforme Suarez (2012, p. 377, grifo nosso) temos que:

A condição que resulta da aplicação da teoria de equilíbrio de poder, tendo o


terrorismo como contraponto, é que ela é inoperante, posto que um ator
estatal, ao ampliar suas capacidades bélicas, não introduz um desequilíbrio
em relação ao grupo terrorista. Logo, o investimento em armamentos ou
mesmo a declaração de guerra feita pelos Estados Unidos da América
(guerra global contra o terrorismo), se pensados sob a luz dos limites
teóricos do neorrealismo, mostram todo o anacronismo e ineficiência
dessa corrente para o estudo de um fenômeno como o terrorismo.

Conforme Rudzit e Nogami (2009, p. 9, grifo nosso), a ampliação do conceito


de Segurança foi defendida por outros autores:

Autores como Caroline Thomas e Jessica Mathews propuseram a ampliação


desse conceito para passar a integrar a nova realidade do mundo. Thomas
afirma que a segurança não se referia somente à dimensão militar, mas
a uma maior, que englobasse toda a existência do Estado, como a
procura por segurança interna através da construção do Estado (nation-
building), por sistemas seguros de alimentação, saúde, comércio e moeda –
uma visão diferente de formação do Estado, já que nesta percepção, são os
governos que moldam a realidade por meio de suas políticas setoriais.

Uma das principais contribuições da Escola de Copenhague foi a introdução


do conceito de “Securitização”, qual seja o processo político de enquadramento e de
redefinição das ameças vistas sob o enfoque dos setores político, econômico, societal,
ambiental e militar, conforme Buzan (2006, p. 1.102, apud SUAREZ, 2012, p. 382):

Nesse sentido, adotamos a definição mais precisa de como a questão do


terrorismo contemporâneo é abordada, isto é, a partir da ideia de
securitização. Analisando a questão, estabeleço uma diferenciação entre
uma análise em segurança de cunho materialista sobre uma ameaça (quando
32

algo ameaça ou não e em qual nível essa se dá) e a denomi-


nada securitização (a qual permite que algo seja construído com o significado
de uma ameaça, a partir do momento em que esse sentido é aceito por uma
ampla ou uma qualificada audiência.

A noção de setores é fundamental para o estudo, pois o processo de


securitização do terrorismo implica na sua análise por diversas áreas.
Portanto, grupos terroristas devem ser analisados pelos Estados e
organismos internacionais sob o viés abrangente da Segurança Internacional por
afetarem os setores militar, político, societal, econômico e ambiental.
A seguir, serão discorridas as percepções e os mecanismos de importantes
atores do Sistema Internacional, como a ONU, a UE e os EUA no enfrentamento ao
terrorismo.

3.2 A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

A Organização das Nações Unidas utiliza-se da Assembléia Geral e do


Conselho de Segurança para orientar os esforços contra o terrorismo pelos seus
estados membros.
A Assembléia Geral elaborou dezoito instrumentos jurídicos, desde os anos
de 1960, sendo doze convenções e seis protocolos complementares. Por meio desses
dispositivos legais, os países participantes comprometem-se a coordenar de forma
efetiva as ações de contraterrorismo e a elaborar normas jurídicas específicas.
Muitas convenções surgiram como contraponto a atentados terroristas que
impactaram a Segurança Internacional, como por exemplo a Convenção sobre a
marcação de explosivos plásticos para efeitos de detecção (1991) motivada pela
queda do Boeing 747 da empresa aérea Pan Am em Lockerbie, Escócia, em 1998.
Por sua vez, o Conselho de Segurança da ONU (CS/ONU) aprovou
resoluções indutoras de ações mais práticas pelos Estados-Membros, como a
Resolução nº 1.566, de 8 de outubro de 2004, sobre ameaças à paz e à segurança
internacionais causadas por atos terroristas, apresentando a seguinte percepção do
terrorismo:

...atos criminosos, inclusive contra civis, cometidos com a intenção de causar


morte ou lesões corporais graves, ou tomar reféns, com a finalidade de
provocar um estado de terror no público em geral ou em um grupo de pessoas
ou pessoas particulares, intimidar uma população ou obrigar um governo ou
uma organização internacional para fazer ou abster-se de fazer qualquer ato,
33

o que constitui ofensas abrangidas pelo âmbito e conforme definido nas


convenções internacionais e protocolos relacionados ao terrorismo, não são,
em nenhuma circunstância, justificáveis por considerações políticas,
filosóficas, ideológicas, raciais, étnicas, religiosas ou outra natureza
semelhante, e exorta todos os Estados a evitar tais atos e, se não impedido
de garantir que tais atos sejam punidos com penalidades consistentes com
sua natureza grave;

Nessa resolução, a ONU delineia os elementos gerais do terrorismo sem


firmar uma definição universal para seus estados-membros. Essa falha é um enorme
empecilho para o avanço das Nações Unidas no combate ao terror em virtude da falta
de entendimento acerca do tema pela comunidade internacional. Segundo Gonçalves
e Reis (2017, p. 91), a ONU não possui uma Convenção Internacional sobre
terrorismo, e uma das dificuldades está justamente em encontrar consenso sobre uma
definição do fenômeno.
Em 2005, a Assembleia Geral da ONU apresentou o “Relatório do Grupo de
Alto Nível sobre Ameaças, Desafios e Mudança”, com identificação de ameaças e
propostas para transformar o pensamento e as ações das Nações Unidas e suas
instituições diante dos desafios que se vislumbravam no início do século XXI.
O Relatório identificou seis ameças: a guerra entre Estados; a violência no
interior dos Estados (guerras civis, violações maciças dos direitos humanos, etc.); a
pobreza, as doenças infecciosas e a degradação do ambiente; as armas nucleares,
radiológicas, químicas e biológicas; o terrorismo; e o crime transnacional organizado.
Como resultado prático desse Relatório, a Assembléia Geral por consenso,
em setembro de 2006, lançou a “Estratégia Global da ONU contra o terrorismo”,
primeira abordagem estratégica e operacional comum ao conjunto dos 193 Estados-
membros da ONU, com a determinação de ocorrer revisões periódicas bienais.
Essa Estratégia indicou quatro passos chaves para enfraquecer o terrorismo:
a. Abordar as condições que ajudam a propagar o terrorismo;
b. Prevenir e combater o terrorismo;
c. Reforçar a capacidade dos estados e fortalecer o papel da ONU; e
d. Garantir os direitos humanos e o estado de direito.
A aprovação da Estratégia pelo consenso da Assembléia Geral foi
considerada uma vitória pois deslocou os debates sobre o terrorismo do Conselho de
Segurança (eminentemente militar e de baixa representatividade, pois emana decisão
de seus 15 membros apenas), para um ambiente mais abrangente e permeado por
outras agências da ONU focadas nas demais expressões do poder nacional (político,
34

psicossocial, econômico e científico-tecnológico).


Entretanto, apesar do ganho obtido com a perspectiva ampliada pela
Assembléia Geral, alguns estados-membros expuseram reservas ao documento pelo
fato de considerá-lo passível de algumas ambiguidades e interpretações equivocadas
por não ter definido o termo "terrorismo", por não ter diferenciado os atos que alguns
grupos realizam em territórios ocupados, e por não ter mencionado o "terrorismo de
Estado".
O terrorismo é percebido pela ONU, conforme a intensidade da ameaça ao
Estado como um ataque armado, possibilitando a legítima defesa prevista no Art. 51
da Carta da ONU. Também, ao reconhecê-lo como uma ameaça à paz e à seguran-
ça internacional, conforme o Art. 39 da Carta da ONU, assegura a obrigatoriedade da
mesma percepção da gravidade da ameaça por todos os demais estados-membros.
O combate ao terror, nesse caso, pode assumir o modelo de guerra com o
emprego das forças armadas contra organizações terroristas.
Um exemplo desse emprego se deu com a Resolução nº 2.359, de 2017 do
Conselho de Segurança, que criou a força-tarefa conjunta do Grupo dos Cinco (G5) -
Burkina Faso, Chade, Mali, Mauritânia e Níger – caracterizada por uma força conjunta
de segurança que terá a árdua tarefa de combater o crime organizado e o terrorismo
praticado pelo Estado Islâmico e seus afiliados na região do Sahel, na África.

3.3 A UNIÃO EUROPEIA

A União Europeia surgiu com o Tratado de Maastricht, em fevereiro de 1992,


e traduz a evolução dos vários blocos econômicos que tiveram origem após a 2ª GM,
tais como o Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo -1944), a Comunidade Europeia
do Carvão e do Aço (CECA-1952) e a Comunidade Econômica Europeia (CEE-1957).
A UE é composta por 28 Estados-Membros, contendo 500 milhões de
habitantes e detém 25% do PIB mundial. Atualmente, é um bloco muito além do
econômico, com outras preocupações sensíveis nos campos político, militar,
psicossocial e da ciência e tecnologia.
Segundo o Global Terrorism Index 2016 (Índice Global Terrorismo), em uma
escala de 0 (zero) - possibilidade nula de ataque terrorista até 10 (dez) - altíssima
possibilidade, alguns países da UE se encontram com índices medianos como a
França (5,60); a Alemanha (4,30); e a Suécia (3,90).
35

Além disso, segundo o Military Strength Ranking 2017 (ranking de força


militar) do site Global Fire Power, há dois países da UE entre as dez maiores potências
militares do mundo: França (5º) e Alemanha (9º).
O Tratado de Maastricht estabeleceu a Política Externa e de Segurança
Comum (PESC) e segundo Martin (2015, p. 25), essa Política promoveu a migração
da “branda atuação da diplomacia europeia” para a “dura atuação da força militar” na
área de Segurança e Defesa da UE com a adoção de três categorias de missões
(chamadas de missões de Petersberg): humanitárias e de evacuação; de manutenção
da paz; e missões de forças de combate para a gestão de crises, incluindo o
restabelecimento da paz.
De acordo com Martin (2015, p.27), desde a operacionalização da PESC, a
UE participou em mais de 20 missões civis e operações militares em 4 continentes
diferentes, em uma clara demonstração de sua vontade de incrementar sua capaci-
dade do poderio militar, para assumir mais responsabilidades internacionais e se
tornar um ator global no âmbito da segurança externa, em conjunto com os EUA.
Após o atentado de 11/09/01, a percepção de Segurança da UE também
sofreu alterações, reforçando a necessidade de mudança do enfoque da Organização
do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)19 de prevenção de uma invasão soviética para
um enfoque voltado para novas ameças e riscos do século XXI. No contexto desse
cenário, a primeira linha de defesa há de muitas vezes situar-se no exterior. As novas
ameaças são dinâmicas e os riscos de proliferação aumentam com o passar do tempo
e se nada for feito, as redes terroristas tornar-se-ão cada vez mais perigosas.
A Europa é simultaneamente um alvo e uma base para o terrorismo. Há países
que foram designados como alvo e sofreram atentados. Bases logísticas de células
da Al Qaeda foram descobertas na Itália, na Alemanha, na Espanha e na Bélgica, o
que torna indispensável uma atuação concertada a nível europeu.
Segundo o “EU Terrorism Situation and Trend Report 2017” (Relatório de
ameaças e situação de terrorismo da União Europeia 2017), ocorreram 142 ataques
terroristas em oito países da Europa em 2016. Esse valor significou uma queda de
33% em comparação ao contabilizado no ano de 2015 (211), vitimou 379 pessoas e
causou 142 mortes.

19Aliança político-militar criada em 1949, que reúne países ocidentais e capitalistas, liderados pelos
EUA como contraponto à ameaça do Pacto de Varsóvia, liderado pela URSS.
36

O quadro a seguir apresenta as motivações dos atentados terroristas de 2016


nos respectivos países de sua ocorrência:

Quadro 7 - Visão geral de ataques falhos, frustrados ou completados em 2016, por país e motivação

Fonte: EU Terrorism Situation and Trend Report 2017, p. 49

Desse relatório extraímos algumas das conclusões:


a. Para a maioria dos ataques, a motivação foi o separatismo (99).
b. A Itália, a Grécia e a Espanha juntos relataram 27 ataques terroristas por
grupos de esquerda e anarquistas.
c. Os países que informaram ataques terroristas ligados ao terrorismo
separatista foram o Reino Unido (76), a França (18) e a Espanha (5).
d. Os 13 ataques classificados como terrorismo de inspiração religiosa
ocorreram na França (5), na Bélgica (4) e na Alemanha (4). Esta categoria causou o
maior número de vítimas (374 de 379) e de mortes (135 de 142).
O mesmo relatório afirma que, em 2016, 1.002 pessoas foram presas por
delitos relacionados ao terrorismo em 17 estados membros da UE, uma diminuição
de 7% em relação a 2015. A maioria das detenções foram registradas na França (456),
no Reino Unido (149) e na Espanha (120). Houve uma diminuição de 50% no número
de indivíduos presos pelo terrorismo separatista e um aumento contínuo pelo terceiro
ano consecutivo dos detidos por terrorismo de inspiração religiosa, de 395 em 2014,
para 687 em 2015 e 718 em 2016, como se verifica adiante:
37

Quadro 8 – Prisões por paises e motivações

Fonte: EU Terrorism Situation and Trend Report 2017, p. 50

A maioria dos países registrou uma diminuição ou um número similar de


prisões em 2016, exceto a França, onde este número continuou a aumentar, passando
de 238 em 2014, para 424 em 2015, e para 456 em 2016 e a Bélgica de 61 para 65,
mas ainda abaixo do nível de 2014 (72).
Outras conclusões desse relatório, registrados no Quadro nº 8, foram:
a. O número de cidadãos da UE, entre os detidos, diminuiu 25% em 2016 em
comparação com 2015, passando de 592 em 2015 para 437 no ano seguinte.
b. As prisões por terrorismo de inspiração religiosa continuam a representar a
maior proporção das detenções totais na UE.
c. As prisões para terrorismo etno-nacionalista e separatista caiu de 168 em
2015 para 84 em 2016.
d. O número de indivíduos detidos por crimes de terrorismo anarquistas e de
esquerda diminuiu de 67 em 2015 para 31 em 2016.
e. O número de prisões para o terrorismo de direita em 2016 (12) ficou
bastante estável em comparação com 2015 (11).
De acordo com Martin (2015, p. 26), o atentado de 11 de setembro de 2001
levantou a necessidade da UE mudar sua postura de Defesa tradicional de parceiro
38

reativo por um novo modelo que apresentasse respostas proativas e autossuficientes


aos conflitos internacionais e às ameaças e riscos assimétricos.
A coalizão liderada pelos EUA, na Operação Enduring Freedom (liberdade
duradoura), em 2001, no Afeganistão, contou com a presença de países da UE
tutelados pelo entendimento do direito de legítima defesa consagrado pela ONU.
No entanto, o passo seguinte com a invasão do Iraque, em 2003, provocou
uma ruptura na UE. De acordo com Martin (2015, p.39), ao se analisar a negativa da
UE em participar da invasão do Iraque, em 2003, uma extensão da “Guerra ao Terror”
norte-americana (sob o véu da posse de ADM por Saddam Hussein), em virtude de
diferenças de posicionamento de seus países membros e da falta de uma estratégia
única do bloco, concluiu-se que a Europa devia ir além dos seus interesses nacionais
e estar pronta para compartilhar a responsabilidade pela segurança mundial e a
construção de um mundo melhor.
Em decorrência dessa necessidade, foi elaborada a Estratégia Europeia de
Segurança (EES) durante a Cimeira do Conselho de Bruxelas, em 2003, que
promoveu a uniformidade de pensamento de seus estados membros acerca das
novas ameaças à Segurança do bloco europeu.
Na EES foram identificadas cinco ameaças que poderiam afetar os interesses
europeus: o terrorismo; a proliferação de Armas de Destruição em Massa (ADM); os
conflitos regionais; o fracasso dos estados; e o crime organizado, o que mostra o
terrorismo como uma das maiores ameaças a existência do bloco.
Assim sendo, a UE promulgou a Estratégia Antiterrorista Europeia (EAE),
também no ano de 2005, que ressaltava o rigoroso respeito aos direitos humanos e
ao direito internacional e sugeria a adoção de ações básicas para enfrentar o terror
por cada estado membro, cabendo à UE a coordenação de esforços quando
necessária entre os países.
As ações propostas pela Estratégia Antiterror Europeia compreendem:
a. Prevenir a radicalização e o recrutamento de novos simpatizantes, cujo
objetivo, conforme Seabra (2010, p.42), é isolar política e socialmente os elementos
radicais, procurando que os moderados sejam a maioria e que se integrem nas
sociedades onde se encontram através da promoção da igualdade de oportunidades
e procurando que as associações culturais e organizações religiosas muçulmanas
participem ativamente na denúncia e isolamento de indivíduos extremistas;
b. Proteger a UE através da otimização da cooperação dos países membros
39

na troca de dados;
c. Perseguir todo indício de planejamento de atentado terrorista. Por meio da
criação de obstáculos a redes terroristas, impedindo o financiamento e a obtenção de
meios materiais para sua execução e entregando os suspeitos às autoridades; e
d. Responder aos atentados terroristas com capacidade militar e mecanismos
de proteção civil compatíveis às ameaças.
O Tratado de Lisboa (2009) sucedeu o Tratado de Maastricht e expôs a
necessidade de transformação da percepção de Segurança da UE.
Segundo Martin (2015, p.39), os desafios de segurança e os seus impactos
exigem da UE políticas mais unidas e coerentes. Assim, o fardo será dividido entre os
estados membros, com os EUA e outras potências emergentes, nomeadamente os
BRICS, facilitando a abordagem de questões de segurança globais e regionais.
Conforme Seabra (2010, p.41), o Tratado de Lisboa inova no que diz respeito
à “comunitarização” do terrorismo (espécie de responsabilidade solidariedade entre
seus estados membros):

Outra grande novidade do Tratado de Lisboa de 2009 é a inclusão de uma


‘inovadora’ cláusula de solidariedade entre todos os países do espaço
comunitário, inteiramente decalcada do Tratado Constitucional. Se um
Estado-membro for “alvo de um ataque terrorista ou vítima de uma catástrofe
natural ou de origem humana”, a União poderá mobilizar todos os
instrumentos ao seu dispor, incluindo meios militares, para “prevenir a
ameaça terrorista no território dos Estados-membros, proteger as instituições
democráticas e a população civil de um eventual ataque terrorista ou prestar
assistência a um Estado-membro no seu território, a pedido das suas
autoridades políticas, em caso de ataque terrorista”.

A situação atual do combate ao terror na Europa é o retrato de anos de luta


de seus países membros contra organizações terroristas endógenas, presentes nas
várias ondas de terrorismo. Foram anos de combate realizados individualmente por
cada estado membro, como as Brigadas Vermelhas na Itália.
A ameaça global do novo terrorismo jihadista, na Europa, requer ações
conjuntas de todos os países da UE. Em que pese as distorções estruturais e os
distintos níveis de percepção das ameaças de seus membros há um grande esforço
no sentido de que o bloco deva combatê-la da mesma forma.
A diversidade de povos na UE promove múltiplas percepções sobre o
radicalismo islâmico e Seabra (2010, p.42) cita que a dificuldade para interpretá-lo
ficou bastante claro nos debates que surgiram após as caricaturas de Maomé na
40

Dinamarca em 2006, na proibição do uso de niqab e da burka na França e no


referendo à construção de minaretes em mesquitas na Suíça, ambos em 2010.
Embora o Tratado de Lisboa tenha promovido a “comunitarização” há muito
por se fazer para alguns países da UE. Segundo Seabra (2010, p.41), países como a
Alemanha e Espanha dispõem de mecanismos e órgãos de enfrentamento ao
terrorismo não existentes em países como Hungria, Portugal e República Checa.
A UE tem um papel de promover a cooperação interestatal e o combate efetivo
ao terrorismo é responsabilidade de cada estado membro com seus meios e conforme
a sua percepção de ameaça do evento. Para a UE, os pontos chaves são proporcionar
mecanismos de prevenção e de proteção aos seus cidadãos e suas infraestruturas.
Segundo Seabra (2010, p. 41), a necessidade de melhorar a cooperação
intergovernamental em matérias de antiterrorismo decorre assim da consciência
generalizada de um flagelo endémico com consequências comuns a todos.

3.4 OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

Segundo o Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América, o


terrorismo é o uso calculado da violência ou da ameaça de sua utilização para insuflar
medo, com a intenção de coagir ou intimidar governos ou sociedades, a fim de
conseguir objetivos geralmente políticos, religiosos ou ideológicos.
A percepção do terrorismo como ameaça ao seu estilo de vida, seus princípios
e valores fundamentais foi potencializada pelo atentado de 11 de setembro de 2001,
na qual foram mortas aproximadamente 3.000 pessoas em seu território.
Dias após esse atentado, o Congresso norte-americano aprovou o Patriot Act
(Ato Patriótico) e a Resolução denominada “Autorização para o Uso de Força Militar”.
A Lei do “Ato Patriótico” foi aprovada para conceder às autoridades o respaldo
legal para conduzir a vigilância eletrônica, escutas telefônicas, rastreio financeiro e
permitir que o presidente confisque as propriedades de pessoas envolvidas em
ataques contra os EUA. Em 2005, a Lei sofreu uma revisão sem grandes alterações
e foi renovada até o ano de 2015, quando em junho, o Presidente Barack Obama
aprovou uma lei substituta, o USA Freedom Act20 (Ato da Liberdade).

20Lei que renovou algumas medidas da lei anterior, porém excluiu o programa de metadados e
desautorizou a posse de registros telefônicos pelo Estado.
41

Dessa forma, verifica-se que o terrorismo estava com uma elevada percepção
de ameaça pelos dois últimos mandatários e pelo Congresso norte-americanos, no
período de 2001 a 2016.
O texto da Resolução de “Autorização para o Uso de Força Militar” deu plenos
poderes ao Presidente norte-americano para empregar “toda a força necessária e
apropriada contra as nações, organizações, ou pessoas que ele determine que
tenham planejado, autorizado, realizado ou auxiliado os ataques terroristas ocorridos
no dia 11/09/01, ou abrigado tais organizações ou pessoas, para prevenir quaisquer
atos futuros de terrorismo internacional contra os EUA por tais nações, organizações
ou pessoas”.
A partir de então, o uso de seu aparato militar tem sido a tônica da Estratégia
de Segurança Nacional para prevenir ameaças terroristas.
Entretanto, segundo o Artigo 2º da Carta das Organizações das Nações
Unidas, havia restrições quanto ao uso da força para solução de conflitos, pois feriam
os princípios de integridade territorial ou a dependência política de qualquer Estado:

4. Todos os Membros deverão evitar em suas relações internacionais a


ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a dependência
política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação incompatível com os
Propósitos das Nações Unidas.

Para se antecipar a qualquer questionamento futuro no campo da Segurança


Internacional, os EUA empregaram sua habilidosa diplomacia junto aos organismos
internacionais como a ONU e a OTAN, para enquadrar o terrorismo internacional como
ameaça à paz e à segurança internacional, suscetível do emprego do uso da força.
Esse reconhecimento foi fundamental para legitimar a sua primeira ação de
“Guerra Global ao terror”, com a invasão do Afeganistão, em 2001, durante a
Operação Enduring Freedom, para combater os talibãs apoiadores da Al Qaeda.
Para obter esse aval, os EUA conseguiram a aprovação da Resolução nº
1368, do Conselho de Segurança da ONU (CS/ONU), de 12 de setembro de 2001,
que qualificou apropriadamente o atentado com os requisitos abaixo desejáveis para
se justificar o uso da força:
a. Equiparar o “ataque terrorista” ao “ataque armado”, permitindo, de acordo
com o artigo 51 da Carta da ONU, o direito de legítima defesa individual ou coletiva
dos EUA; e
b. Caracterizar o atentado como uma “ameaça à paz e segurança internacio-
42

nais” para assegurar, conforme o artigo 39 da Carta da ONU, a obrigatoriedade da


mesma percepção da gravidade da ameaça por todos os estados-membros.
Portanto, segundo Souza (2008, p. 115), a Resolução poderia ser lida como
uma autorização do CS para que os EUA usassem da força armada em legítima
defesa “até que o Conselho de Segurança tenha tomado as medidas necessárias para
a manutenção da paz e da segurança internacionais” (art. 51 da Carta da ONU). A
Resolução nº 1.368, em suma, representaria a chancela do sistema de segurança
coletiva da ONU para uma eventual ação militar norte-americana justificadamente
classificada como uma resposta ao ataque terrorista sofrido.
Alguns dias depois, foi aprovada a Resolução nº 1.373 do CS/ONU que
estabelecia a obrigatoriedade de que Estados deveriam se abster nas suas relações
internacionais da ameaça ou uso da força contra a integridade territorial ou
independência política de qualquer Estado, ou de qualquer outra forma inconsistente
com os propósitos das Nações Unidas. Desse modo os EUA direcionavam suas ações
diplomáticas contra o Afeganistão, país de homizio de terroristas da Al Qaeda.
No entendimento de Souza (2008, p. 116), a Resolução nº 1.373 endossou o
entendimento de que um Estado (Afeganistão) que organiza, instiga, auxilia ou
participa de atos terroristas em outro Estado ou permite, em seu território, atividades
organizadas com o intuito de promover o cometimento desses atos está violando o
princípio que proíbe a ameaça ou uso da força armada. Em consequência, o Estado
vitimado (EUA) desse ataque terrorista teria o direito de empregar a força armada em
legítima defesa individual ou coletiva.
Consolidado o suporte legal da ONU para suas ações de retaliação, os EUA
partiram para angariar o apoio da União Europeia, valendo-se do arcabouço jurídico
da OTAN, aliança militar firmada pelo Tratado de Washington de agosto de 1949.
O Tratado reconheceu no atentado de 11/09/01, a conexão entre o seu artigo
5º, que afirma que um ataque armado contra um ou mais países membros será
considerado uma agressão contra todos, e o artigo 51, da Carta da ONU, alegado
pelos EUA, e dessa forma, colocou-se à disposição norte-americana para uma ação
militar conjunta contra o Afeganistão.
A política externa norte-americana sempre foi muito individualista na busca de
seus objetivos e a coordenação dessa ação com organismos internacionais (ONU e
OTAN) nem sempre foi a regra.
A segunda ação militar da “Guerra ao Terror”, do Governo republicano e
43

conservador de George W. Bush, foi a invasão do Iraque, em 2003, na Operation Iraqi


Freedom (Operação Iraque Livre).
Segundo Heisbourg (2003, apud TORRES, 2015, p. 3), o presidente George
W. Bush, em 29 de janeiro de 2002, durante o Discurso sobre o Estado da União,
antecipou a principal ideia da Estratégia de Defesa Nacional dos EUA - 2002:

“Temos de impedir que terroristas e regimes que buscam armas químicas,


biológicas ou nucleares de ameaçar os Estados Unidos e do mundo. Mas
alguns governos ficarão tímidos frente ao terror. Mas não se enganem: se
eles não agirem, a América irá”

No entanto, embora contasse com o apoio de uma coligação de países, entre


eles, o Reino Unido, Espanha, Itália, Portugal, Dinamarca e Polônia, a ação não
possuía o mesmo respaldo daquela do Afeganistão, qual seja, a alegação da “legítima
defesa” prevista nos tratados e resoluções internacionais para realizar ataques
preventivos contra o suposto apoio ao terrorismo ou a suposta posse de ADM. A ação
no Iraque sofreu críticas da comunidade internacional, sendo condenada pela ONU.
Segundo Reisman (1999, apud SOUZA, 2008, p. 118), os EUA possuem
capacidade militar suficiente para retaliar um ataque sofrido em qualquer lugar do
mundo, mas não estão dispostos a dependerem totalmente de instituições
internacionais na resposta ao terrorismo, muito em razão de que os seus Estados
membros têm revelado uma atitude ambígua a respeito do terrorismo frequentemente.
Conforme Aguilar (2011), apesar de países como os EUA advogarem o uso
unilateral da força e de todos os meios autorizados pelo Presidente e pelo Congresso
para conter o terrorismo no país e no exterior, face à complexidade de ambas as
atividades de combate, ao caráter transnacional de algumas organizações terroristas
e à ligação entre elas e outras organizações criminosas internacionais, há um
consenso de que o Estado nacional isoladamente não tem capacidade de combater
com eficiência e eficácia esse fenômeno. Nesse contexto, os Estados nacionais,
organizações e instituições internacionais discutiram, aprovaram e colocaram em
prática uma série de instrumentos para prevenir, conter e combater o terrorismo.
Nessa direção, a Estratégia de Segurança Nacional dos EUA, de 2015,
aprovada pelo Governo de Barack Obama, propôs o afastamento do modelo de guerra
terrestre dispendiosa e em larga escala no Iraque e no Afeganistão, nos quais os EUA
carregavam um enorme fardo. Em vez disso, buscou-se uma abordagem mais
sustentável que priorizasse as operações antiterror direcionadas, ações coletivas com
44

parceiros responsáveis e maiores esforços para evitar o crescimento do extremismo


violento e da radicalização que impulsionam o aumento das ameaças.
Algumas ideias contidas nessa recente Estratégia são importantes para
compreender a nova perceção americana sobre o combate ao terror:
a. A liderança americana permanecerá essencial para interromper o fluxo sem
precedentes de combatentes terroristas estrangeiros oriundos de zonas de conflito ou
que para lá se dirijam;
b. Abordar as condições subjacentes que podem ajudar a promover o
extremismo violento, como pobreza, desigualdade e a repressão;
c. Ajudar a construir a capacidade dos estados e comunidades mais
vulneráveis para derrotar os terroristas localmente;
d. Treinar e equipar os parceiros locais e prestar apoio operacional para
ganhar terreno contra grupos terroristas;
e. Rejeitar a mentira de que os EUA e seus aliados estão em guerra com o
Islã;
f. Agir dentro das normas legais;
g. Deter, interrogar e perseguir terroristas fora de áreas de hostilidades ativas
através de aplicação da lei;
h. Tomar as medidas decisivas quanto à captura ou ações para interromper a
ameaça não são viáveis. Sempre fazer isso de forma legal, discriminatória,
proporcional e vinculada por responsabilidade rigorosa e supervisão forte;
i. Os EUA, e não os nossos adversários, definirão a natureza e o alcance
desta luta, para que não nos defina;
j. Trabalhar com a OTAN e outros parceiros para treinar, aconselhar e auxiliar
a Força Nacional de Segurança do Afeganistão para que o novo governo assuma a
responsabilidade pela segurança e bem-estar;
k. Empregar nossas capacidades militares junto aos aliados locais para deter
o avanço do ISIS e para degradar suas capacidades tanto no Iraque como na Síria; e
l. Trabalhar com nossos parceiros para treinar e equipar uma oposição
moderada da Síria para fornecer um contrapeso aos terroristas e a brutalidade do
regime de Assad21.

21 O regime do Presidente Bashar al-Assad faz guerra em duas frentes: uma contra os insurgentes
sírios que querem a sua derrubada e outra contra o Daesh, que se aproveita da fragilidade do Estado
para ocupar o território sírio para criar um califado. Tem sido extremamente violento contra ambos.
45

Atualmente, segundo o Índice Global de Terrorismo 2016, os EUA estão na


36ª/163 posição com um grau de 4,87, considerado mediano.
Em suma, a nova percepção do terrorismo como ameaça aos interesses e
ativos norte-americanos pelo mundo fez com que os EUA mudassem sua postura de
enfrentamento individualista para adoção, nos últimos anos, de medidas coletivas de
caráter universal, regional e por parte dos EUA, no esforço global antiterrorismo.
O emprego do seu poderio militar e econômico no combate ao terror não tem
limites. O país tem sua própria estratégia de enfrentamento ao terror e a capacidade
de influenciar o posicionamento de atores internacionais quanto ao assunto.

3.5 ASPECTOS COMUNS DAS ESTRATÉGIAS ANTITERROR

Ao se observar a Estratégia Global da ONU contra o terrorismo, a Estratégia


Antiterrorista Europeia e a Estratégia de Segurança Nacional dos EUA, há um claro
consenso desses atores globais no sentido de ir além do exclusivo emprego militar,
combater as causas sociais e econômicas que alimentam o fenômeno do terrorismo,
de prevenir o recrutamento de simpatizantes e a propagação de suas ideais radicais,
de assegurar os Direitos Humanos e o Estado de Direito nesse enfrentamento, e de
empregar a força necessária para aniquilar esse mal.
A melhor síntese desse consenso encontra-se nos quatro pilares europeus de
combate ao terror: prevenir, proteger, perseguir e responder.
Pode-se inferir que os principais organismos e atores internacionais da
Segurança Internacional assimilaram os conceitos da Teoria Abrangente da Escola
de Copenhague na medida em que abordam o tema do terrorismo por meio de uma
análise multifocal que transcende o campo militar, buscando soluções para o
problema em outras áreas como a política, a econômica e a psicossocial.
Além disso, nota-se que os EUA e a UE, por estarem mais sensíveis a essa
ameaça, mantém suas estratégias de combate ao terror em um elevado grau de
importância para sua Segurança e Defesa, como forma de se antecipar às ações
inopinadas do terrorismo fundamentalista islâmico.
46

4. O BRASIL E O TERRORISMO

Conforme Mesquita (2012, p. 47), o Brasil, a priori, não apresenta motivações


favoráveis ao interesse de organizações terroristas:

O país é tolerante frente à grande diversidade racial, cultural e religiosa


presente em seu território; possui como política a não intervenção em
assuntos de outros Estados; defende e exercita a política de solução pacífica
de controvérsias; e está afastado geograficamente dos focos de tensão,
origem da causa terrorista.

Entretanto, o terrorismo fundamentalista islâmico tem plena disposição para


causar atentados indiscriminados contra seus inimigos e delegações internacionais
em qualquer parte do mundo.
Tais atentados podem ocorrer contra esses alvos, quando em passagem pelo
Brasil, por meio de ações diretas sobre os mesmos ou de ações indiretas, contra
nossas infraestruturas críticas, como nos sucessivos eventos internacionais em que
fomos sede como a Copa do Mundo de futebol de 2014 e as Olimpíadas do Rio 2016,
mais recentemente.
Veremos, a seguir, a evolução da legislação brasileira antiterrorismo, a
percepção do brasileiro sobre o tema, o estágio em que se encontram nossa política
e estratégia de defesa e possíveis reflexos para as expressões do poder nacional.

4.1 A EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE ENFRENTAMENTO AO


TERROR

No campo da Segurança Internacional, o Brasil é signatário da maior parte


dos tratados e resoluções contra o terrorismo aprovadas pela Assembléia Geral e
Conselho de Segurança da ONU, demonstrando sua disposição em recepcionar as
diretrizes universais. Segundo Gonçalves e Reis (2017, p.88), nosso país é signatário
de 13 dos 18 instrumentos internacionais referentes ao terrorismo já celebrados no
âmbito da ONU.
A Constituição Federal (CF-1988) repudia o terrorismo no Art 4º e o considera
crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia conforme o inciso XLIII do Art. 5º.
A Lei nº 7.170, de 14/12/1983 - Lei de Segurança Nacional, faz menção ao
terrorismo de forma superficial, sem apresentar os elementos tipificadores do crime:
47

Art. 20 - ...praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo...


Pena: reclusão, de 3 a 10 anos.
Parágrafo único - Se do fato resulta lesão corporal grave, a pena aumenta-se
até o dobro; se resulta morte, aumenta-se até o triplo.

A Lei nº 8.072, de 25/07/1990 - Lei dos crimes hediondos, equipara o


terrorismo aos crimes hediondos, portanto sujeito à impossibilidade de anistia, graça,
indulto e de livramento sob fiança, entre outros.
A Lei nº 12.850, de 2/08/2013 - Lei das organizações criminosas possibilita o
tratamento idêntico entre grupos terroristas e organizações criminosas.
Em comum, as três leis são vagas em relação ao terrorismo uma vez que não
existia àquela época um conceito legal brasileiro do fenômeno.

4.2 O MARCO LEGAL VIGENTE

A entrada em vigor da Lei nº 13.260, de 16 de março de 2016, foi um ponto


de inflexão para alterar a percepção do brasileiro sobre o tema e diminuir a lacuna
entre as resoluções do Conselho de Segurança da ONU (de caráter obrigatório para
implantação e execução) e a nossa legislação de prevenção e combate ao terrorismo.
A legislação contempla várias ações ligadas ao atentado, que vão desde as
fases de preparação, de financiamento e obtenção de recursos até a de execução
propriamente e regulamentou o disposto no inciso XLIII do art. 5o da CF, disciplinando
o terrorismo, tratando de disposições investigatórias e processuais e reformulando o
conceito de organização terrorista:

Art. 2o O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos


previstos neste artigo, por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito
de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar
terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz
pública ou a incolumidade pública.
§ 1o São atos de terrorismo:
I - usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo
explosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos, químicos,
nucleares ou outros meios capazes de causar danos ou promover destruição
em massa;
II – (VETADO);
III - (VETADO);
IV - sabotar o funcionamento ou apoderar-se, com violência, grave ameaça a
pessoa ou servindo-se de mecanismos cibernéticos, do controle total ou
parcial, ainda que de modo temporário, de meio de comunicação ou de
transporte, de portos, aeroportos, estações ferroviárias ou rodoviárias,
hospitais, casas de saúde, escolas, estádios esportivos, instalações públicas
ou locais onde funcionem serviços públicos essenciais, instalações de
geração ou transmissão de energia, instalações militares, instalações de
48

exploração, refino e processamento de petróleo e gás e instituições bancárias


e sua rede de atendimento;
V - atentar contra a vida ou a integridade física de pessoa:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos, além das sanções correspondentes à
ameaça ou à violência.
§ 2o O disposto neste artigo não se aplica à conduta individual ou coletiva de
pessoas em manifestações políticas, movimentos sociais, sindicais,
religiosos, de classe ou de categoria profissional, direcionados por propósitos
sociais ou reivindicatórios, visando a contestar, criticar, protestar ou apoiar,
com o objetivo de defender direitos, garantias e liberdades constitucionais,
sem prejuízo da tipificação penal contida em lei.

4.3 LACUNA DA LEGISLAÇÃO

Em que pese a pressão internacional e a urgência da aprovação dessa lei


para resguardar os agentes de Segurança e Defesa durante o evento das Olimpíadas
do Rio 2016, não houve um consenso entre os estudiosos sobre a conceituação de
organizações tidas como terroristas.
O Correio Braziliense (2016) publicou a seguinte opinião do especialista
Joanisval Brito Gonçalves, em 18 de julho de 2016, sobre a Lei nº 13.260:

A nossa lei não alcança o terrorismo político, que é aquele que está vinculado
a ações de partidos e de movimentos sociais. Se alguém vinculado a
movimentos sociais explode um carro-bomba, por exemplo, não é
considerado terrorismo.

A referida Lei foi promulgada pelo governo da presidente Dilma, guerrilheira


de esquerda no passado e representante de partidos políticos de ideologia socialista,
fatos estes que isentaram os movimentos sociais e partidários do alcance da lei.
Os movimentos sociais como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
(MST) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) praticam atos violentos
que seriam facilmente considerados terroristas em outros países, mas não o são em
nosso território, em virtude de serem relevantes na base de sustentação do governo,
sendo, portanto, excluídos da esfera penal da referida lei, conforme o § 2o do Art 2º.
Apesar dessa lacuna, o dispositivo legal em vigor permitiu que brasileiros
ligados ao extremismo islâmico fossem presos dias antes do início das Olimpíadas do
Rio 2016, conforme citado por Visacro (2017, p. 103):

Então, em 21 de julho, a Divisão de Antiterrorismo da Polícia Federal lançou


o primeiro estágio da Operação Hashtag, com o propósito de desmantelar
uma rede de indivíduos autointitulados como "Defensores da Sharia". Além
de apoiarem o Estado islâmico, os membros do grupo claramente
49

demonstravam nas mídias sociais que pretendiam realizar um ataque durante


as Olimpíadas. Ao todo, dezesseis pessoas foram detidas pela Polícia
Federal em diferentes locais em todo o território nacional.

Nesse caso, todos foram presos por realizarem “atos preparatórios de


terrorismo” no Brasil, em conformidade com os artigos 3º e 5º da Lei nº 13.260:

Art. 3o Promover, constituir, integrar ou prestar auxílio, pessoalmente ou por


interposta pessoa, a organização terrorista:
Pena - reclusão, de cinco a oito anos, e multa.
Art. 5o Realizar atos preparatórios de terrorismo com o propósito
inequívoco de consumar tal delito:
Pena - a correspondente ao delito consumado, diminuída de um quarto até a
metade.

4.4 VULNERABILIDADES DO BRASIL

Segundo Woloszyn (2009, p.101), nosso país possui as seguintes


vulnerabilidades estruturais e conjunturais que facilitam a ocorrência do terrorismo:

Quadro 9 – Vulnerabilidades
Estruturais 17,5 mil Km de fronteiras terrestres, com 9 tríplices fronteiras e 8 mil Km de fronteiras
marítimas
Grandes vazios territoriais sem fiscalização e controle, resultado da concentração
demográfica na faixa litorânea do país.
Falta de um plano de emergência nacional contra os terroristas.
Conjunturais As deficiências no controle de entrada, permanência e saída de estrangeiros em território
nacional.
Deficiências de efetivo e equipamentos nas Forças Armadas e na Policia Federal.
Fonte: adaptado de Woloszyn (2009)

Woloszyn (2009, p.101) destaca que as tríplices fronteiras Brasil-Colômbia-


Venezuela e Brasil-Colômbia-Peru são motivo de especial atenção pelos constantes
deslocamentos do grupo conhecido como Forças Armadas Revolucionárias da
Colômbia (FARC), que poderão utilizar-se do território brasileiro (região da floresta
amazônica) para a montagem de bases de guerrilha contra o Exército Colombiano e
Forças Militares dos EUA envolvidas no Plano Colômbia. Apresenta também o receio
da aproximação das FARC com organizações criminosas como o PCC e com o MST.
Segundo Woloszyn (2009, p. 102), no caso da tríplice fronteira Brasil-
Argentina-Paraguai, a cidade de Foz do Iguaçu mostra-se sensível já que abriga cerca
de 25 mil imigrantes de origem árabe-palestina, podendo existir simpatizantes e
militantes de organizações extremistas islâmicas ou palestinas radicais. Para esse
autor, temos que:
50

De outra forma, pode-se constatar estatisticamente um aumento no número


de imigrantes de origem árabe-palestina em diversos estados brasileiros.
Dados do Departamento de Polícia Federal indicam que existem no pais uma
população de 9 milhões de árabes (grande parte sírio-libaneses). Somente
na cidade de São Paulo vivem 1,5 milhões, seguido do Paraná (Foz do
Iguaçu/Ciudad del Este) com aproximadamente 15 mil pessoas, Rio Grande
do Sul com sete mil e Pará com colônia de cerca de 300 pessoas.

A expansão do Islamismo no país é outro item relevante na análise do


terrorismo. O Quadro nº 10 apresenta alguns indicadores a esse respeito:

Quadro 10: A expansão do Islã no Brasil

Fonte: Cardoso (2016)

Segundo Cardoso (2016), há cerca de 1,5 milhão de adeptos e o aumento disso é


impulsionado pela multiplicação do número de mesquitas, de 70 para 115, em 10 anos;
pela maior quantidade de sheiks que falam português (facilita o recrutamento); e pela
proliferação de centros de estudo islâmico (dissemina a religião), de 33 (1983) para 94
(2016). O mesmo autor cita a capacidade de penetração do Islamismo em comunidades
vulneráveis como a existência de uma mussala (sala de reuniões) na favela Cultura Física,
em Embu das Artes, periferia de São Paulo, que recebe visitantes em suas reuniões.
Segundo Messeder (2011, Apud MESQUITA, 2012, p. 49), outras vulnerabili-
51

dades do nosso Estado favorecem a ocorrência de eventos do tipo terrorismo no país:

[...] a dificuldade da atuação dos terroristas na Europa e nos EUA em função


da maior rigidez das medidas antiterroristas nessas áreas; a tendência de
aplicação da estratégia de ação indireta, atacando alvos em países
periféricos; a percepção da dificuldade de implementação eficaz de medidas
de segurança no Brasil; a facilidade de ingresso no território nacional; o
encorajamento pela impunidade dos autores dos atentados na Argentina; a
ausência de discriminação política, étnica e religiosa; a existência de
comunidades árabes e muçulmanas no Paraná, São Paulo e Rio Grande do
Sul; a inexperiência na prevenção e no combate ao terrorismo (pois o país
nunca foi alvo de atentados do terrorismo internacional); a possibilidade de
existência de células adormecidas; e a falta de uma estrutura de nível
nacional que coordene controle e execute medidas de prevenção e de
combate ao terrorismo.

Mesquita (2012, p. 49) relata que a inexistência de uma estrutura nacional


coordenadora das ações de combate ao terrorismo foi a motivação da criação, em
2009, no âmbito do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República
(GSI-PR), do Núcleo do Centro de Coordenação das Atividades de Prevenção e
Combate ao Terrorismo (CPCT). Seu surgimento objetivava ampliar a capacidade do
Estado brasileiro de se contrapor de modo eficaz a essa forma de crime, dando
mostras da alta prioridade dada à questão da prevenção da potencial ameaça do
terrorismo internacional no Brasil. Para Buzanelli (2010, apud MESQUITA, 2012, p.51)
o CPCT tinha como objetivos:

acompanhar os assuntos referentes ao terrorismo; promover estudos e outras


iniciativas destinadas a ampliar o conhecimento sobre o fenômeno; receber
subsídios para a avaliação de risco terrorista; estudar e propor subsídios para
a CREDEN, visando a elaboração de políticas; promover a integração e
articulação dos órgãos com interesse na questão; e sobretudo, diminuir o
tempo de reação face a possíveis incidentes, criando Comitês de Resposta à
Emergência Terrorista (CRET) para melhor articular a ação do Estado.

No entanto, conforme Mesquita (2012, p.51) por questões que fogem ao


entendimento dos estudiosos do tema, em janeiro de 2011, este importante órgão foi
desativado por determinação do recém empossado governo, da Presidente Dilma.

4.5 A PERCEPÇÃO BRASILEIRA

As ocorrências frequentes de atentados terroristas pelo mundo afora parecem


uma realidade improvável para a rotina dos brasileiros, propiciando uma baixa
percepção dessa ameaça pela nossa sociedade, entretanto, mesmo distante dos
52

principais palcos e alvos terroristas, nada impede que atores hostis desencadeiem
ações contra nossos ativos.
Segundo o Índice Global de Terrorismo, o Brasil ocupa a 80ª/163 posição
mundial, com um grau de possibilidade de 1,74, considerado “muito baixo”.
De acordo com Smith (2000, apud WOLOSZYN, 2009, p. 83), as fases dos
atentados são a:
1. Preparatória: caracterizada pelo recrutamento, treinamento, arrecadação
de fundos, e aquisição de equipamentos;
2. De crise: execução do ataque; e
3. De consequências: após o ataque e serve para avaliação da ação e retirada
do grupo do local.
Portanto, ao se constatar que o Terrorismo preexiste muito antes do atentado
propriamente dito, ele pode estar mais perto da realidade brasileira do que se pensa.
A existência de uma grande comunidade de muçulmanos na Tríplice Fronteira
do Brasil, Argentina e Paraguai e a possibilidade desse público dar suporte financeiro
e homizio a indivíduos ligados ao terrorismo é uma preocupação real para nosso país.
Além dessa região, podemos encontrar pessoas ligadas ao terrorismo em outras
regiões, devido à existência de várias comunidades árabes e ao crescimento do
número de nativos convertidos ao Islamismo.
Nesse sentido, Lasmar (2015, p. 51) cita o resultado da Operação Panorama,
de 2005, da Polícia Federal (PF), para ilustrar a presença desses indivíduos e o grau
de dispersão dos mesmos pelo território nacional:

Embora a Tríplice Fronteira seja a região alvo da maioria das pesquisas


acadêmicas sobre o assunto, a evidência empírica aponta para um problema
que vai muito além da região. Entre exemplos de ações da Polícia Federal
ligadas à questão do terrorismo internacional no Brasil, fora da Tríplice
Fronteira, podemos citar a Operação Panorama que teve lugar no Paraná e
Mato Grosso em 2005. Na ocasião, foram emitidos 28 mandatos de prisão e
19 extremistas liderados pelo libanês Jihad Chaim Baalbaki e pelo jordaniano
Sael Basheer Yhaya Najib Atari foram presos: nove em Foz do Iguaçu, quatro
em Curitiba, quatro em Paranaguá, um em Matinhos e um em Cuiabá.

Além disso, há outros fatores, dos mais diferentes vieses, favoráveis à


propagação de concepções terroristas no Brasil tais como as disparidades sociais
(educação deficiente e pobreza extrema) que facilitam o recrutamento pelos ideais de
igualdade social e salvação divina preconizados pelo Islã; a existência de
organizações criminosas de âmbito regional que possam buscar know how com
53

terroristas para seus delitos; a proximidade dos grupos terroristas das FARC na
Colômbia e do Sendero Luminoso no Peru, com perspectivas de associação ao crime
organizado como forma de sobrevivência; a atuação de movimentos sociais e partidos
radicais de esquerda; e a existência de políticos com renomado histórico terrorista.
E a pergunta que se faz é por que o terrorismo tem uma baixa percepção pela
sociedade brasileira?
Uma resposta plausível é a que o governo brasileiro baseia sua percepção no
fato de que não ocorreram atos terroristas no território nacional nos últimos 30 anos,
desde as tentativas de tomada do poder por grupos terroristas de esquerda. Esquece-
se, entretanto, de que qualquer ato preparatório consumado já é terrorismo.
Ademais, outra explicação se refere a uma clara postura de “negacionismo”
do governo, ou seja, negar veementemente a ocorrência do terrorismo no Brasil, muito
embora os eventos supracitados evidenciem o contrário.
O discurso negativo da existência de atividades ligadas ao terrorismo pode
ser explicado por vários argumentos segundo Lasmar (2015, p. 55, grifo nosso):

Outro argumento constantemente aventado alega que o reconhecimento da


existência de atividades terroristas em território brasileiro pode vir a afetar o
turismo internacional no Brasil. Outras autoridades chegam mesmo a
alegar que a existência de um corpo normativo de combate ao terrorismo ou
o reconhecimento de sua existência levariam a uma construção de uma
imagem de alinhamento brasileiro com a política externa estadunidense
da Guerra Global Contra o Terror (American Embassy in Brasilia 2008, p.
2). Esse alinhamento, por sua vez, poderia ser visto como uma política
externa e interna provocativa que poderia atrair problemas políticos e de
segurança para o Brasil (American Embassy in Brasilia 2009b).
... um outro importante argumento aventa o medo de que a criação de um
corpo normativo sobre o assunto venha a atrair o terrorismo para o
Brasil.
...por fim, não podemos deixar de mencionar que vários políticos da alta
cúpula governamental estiveram envolvidos em atividades ou grupos que
se utilizaram da violência política durante a ditadura militar brasileira a
fim de combatê-la.

A baixa pontuação brasileira no Índice Global de Terrorismo, a percepção


equivocada da sociedade e o negacionismo estatal justificam, de certa forma, a não
priorização do tema na pauta de debate nacional, a lentidão na aprovação de marcos
legais e o desinteresse na criação de uma estrutura permanente de prevenção.
A política externa brasileira, de viés ideológico de esquerda até 2016,
apresentou contradições ao não reconhecer as FARC, o Hamas e o Hezbollah como
grupos terroristas e recebeu críticas da comunidade internacional e da ONU por essa
postura. Além disso, estreitou relações institucionais com o Irã, pais integrante do Eixo
54

do Mal22 e patrocinador do terrorismo mundial conforme o Country Reports on


Terrorism 2016 (Relatórios dos países sobre terrorismo).
Outra situação polêmica foi a negativa do governo em extraditar o Sr Cesare
Batistti, terrorista de esquerda italiano dos anos 1970. Em uma decisão de natureza
ideológica, o então Presidente Luís Inácio Lula da Silva não concedeu a sua
extradição para Itália, previamente autorizada pelo Supremo Tribunal Federal.

4.6 A POLÍTICA E A ESTRATÉGIA NACIONAIS DE DEFESA

A Política Nacional de Defesa (PND) é o documento condicionante de mais


alto nível do planejamento de ações destinadas à Defesa, cuja coordenação cabe ao
Ministério da Defesa (MD). A PND volta-se essencialmente para ameaças externas e
estabelece os objetivos nacionais e as orientações para o preparo e o emprego dos
setores militar e civil em todas as esferas do Poder Nacional, em prol do País.
Segundo a PND (2012, p.15), os conceitos de Segurança e Defesa são:

I. Segurança é a condição que permite ao País preservar sua soberania e


integridade territorial, promover seus interesses nacionais, livre de pressões
e ameaças, e garantir aos cidadãos o exercício de seus direitos e deveres
constitucionais; e
II. Defesa Nacional é o conjunto de medidas e ações do Estado, com ênfase
no campo militar, para a defesa do território, da soberania e dos interesses
nacionais contra ameaças preponderantemente externas, potenciais ou
manifestas.

Quanto ao terrorismo, a PND (2012, p.25) destaca que:

5.8. A Constituição tem como um de seus princípios, nas relações


internacionais, o repúdio ao terrorismo. O Brasil considera que o terrorismo
internacional constitui risco à paz e à segurança mundiais. Condena
enfaticamente suas ações e implementa as resoluções pertinentes da
Organização das Nações Unidas (ONU), reconhecendo a necessidade de
que as nações trabalhem em conjunto no sentido de prevenir e combater as
ameaças terroristas.

A PND (2012, p. 8) também salienta que, gradualmente, ampliou-se o conceito


de segurança, abrangendo os campos político, militar, econômico, psicossocial,
científico-tecnológico, ambiental e outros. Preservar a segurança requer medidas de
largo espectro, envolvendo, além da defesa externa, a defesa civil, a segurança

22“Eixo do mal” foi uma expressão adotada pelo presidente George W. Bush para se referir ao Irã, à
Coréia do Norte e ao Iraque, considerados países hostis dos EUA e apoiadores do terrorismo.
55

pública e as políticas econômica, social, educacional, científico-tecnológica,


ambiental, de saúde, industrial. Enfim, várias ações, muitas das quais não implicam
qualquer envolvimento das Forças Armadas.
A Estratégia Nacional de Defesa, END (2012, p. 134) estabeleceu a ação
estratégica de “prevenção de atos terroristas e de atentados massivos aos Direitos
Humanos, bem como a condução de operações contraterrorismo, a cargo dos
Ministérios da Defesa e da Justiça e do Gabinete de Segurança Institucional da
Presidência da República como forma de incrementar a Segurança Nacional”.
A END faz uma breve alusão ao terrorismo como ameaça, estabelecendo a
sua prevenção e o seu combate como objetivo, mas não aprofunda a discussão. Esta
ação estratégica foi evidenciada tanto na preparação, como na prontidão durante a
realização das Olimpíadas do Rio 2016, conforme relato do site Brasil2016.gov:

O Comando de Operações Especiais do Exército Brasileiro (CoOpEsp)


realiza, até esta sexta-feira (13.11), treinamento conjunto com as Forças
Armadas para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos 2016. A atividade integra
as unidades de Operações Especiais da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica, e tem como tema o combate urbano e ações contraterrorismo...
Além das Forças Armadas, integrantes da Força Nacional e da Policia
Rodoviária Federal também participam do treinamento.

Segundo Visacro (2017, p. 97), no nível da administração federal brasileira, o


Ministério da Justiça supervisiona o Departamento de Polícia Federal (PF), a Polícia
Rodoviária Federal e a pequena Força Nacional de Segurança Pública, formada com
oficiais da polícia "militar" de nível estadual. A Agência Brasileira de Inteligência
(ABIN), o órgão central do Sistema de Inteligência do Brasil (SISBIN), é subordinada
ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência. Finalmente, as três Forças
Armadas operam sob os auspícios do MD.
A Polícia Federal (PF) é o órgão responsável pelo enfrentamento ao
terrorismo no País, valendo-se de sua Divisão de Antiterrorismo.
A ABIN possui o Departamento de Contraterrorismo que reúne dados e
produz conhecimentos para assessorar a presidência da república e cooperar com os
demais órgãos do SISBIN para se antecipar à ameaça ao Estado brasileiro e à
sociedade.
A Política Nacional de Inteligência (PNI) estabelece que a prevenção e o
combate a ações terroristas e a seu financiamento, visando a evitar que ocorram em
território nacional ou que este seja utilizado para a prática daquelas ações em outros
56

países, somente serão possíveis se realizados de forma coordenada e compartilhada


entre os serviços de Inteligência nacionais e internacionais e, em âmbito interno, em
parceria com os demais órgãos envolvidos nas áreas de Segurança e Defesa.
Entretanto, prevalece no País, as medidas de caráter preventivo a cargo da
PF e da ABIN, sem uma integração na área de Inteligência com as demais estruturas
de Segurança e Defesa.
A participação de elementos especializados das Forças Armadas e das
Forças Auxiliares ocorre esporadicamente em situações de exceção ou em grandes
eventos como os Jogos Olímpicos de 2016, atuando no vetor de contraterrorismo.
A Lei do Ato Olímpico nº 12.035, de 1º de outubro de 2009, sancionou o
compromisso internacional assumido pelo País para garantir a segurança dos Jogos
Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016. Essa lei proveu os instrumentos jurídicos
específicos para justificar o emprego das Forças Armadas nesses eventos e foi uma
solução criativa brasileira para garantir a sua participação na atividade de Segurança
ao lado do Ministério da Justiça e da ABIN.
Naquela oportunidade, o MD criou o Comando Conjunto de Prevenção e
Combate ao Terrorismo (CCPCT), em Goiânia (GO), uma estrutura conjunta que
agrupou todas as capacidades de contraterror das três forças. Durante os jogos, o
Comando foi desdobrado nas cidades sedes para coordenar suas ações com os
órgãos de Segurança Pública e com a Defesa Civil locais.
Os Jogos Olímpicos do Rio possibilitaram, na esfera federal, uma articulação
única entre os setores de Defesa Nacional, da Segurança Pública e da Atividade de
Inteligência por meios dos Grupos de Trabalho Terrorismo (GT) e pela criação do
Comitê Integrado de Enfrentamento ao Terrorismo (CIET). Esse Comitê seria o
embrião de um centro permanente de combate ao terrorismo que deveria ser criado
após as Olimpíadas, o que não ocorreu de fato.
A experiência antiterrorista obtida pelo País na Rio 2016 deve ser vista como
uma referência para futuras ameaças possíveis ao Estado brasileiro.
Apesar dessas iniciativas, ainda não há claramente aprovada uma estratégia
própria de enfrentamento ao terror, à semelhança das existentes na UE, nos EUA e
na ONU, que seja abrangente nos aspectos de prevenir, proteger, perseguir e
responder às ameaças terroristas. Da mesma forma não há amparo legal para o
emprego permanente das Forças Armadas no enfrentamento ao terror e nem um
comando unificado para as ações dos vários órgãos de Segurança e Defesa.
57

4.7 REFLEXOS POSSÍVEIS PARA AS EXPRESSÕES DO PODER NACIONAL

Acredita-se que nosso status quo de enfrentamento ao terrorismo pode


suscitar a adoção de medidas de ajustes em algumas expressões do poder nacional
para fortalecer a Segurança e Defesa frente a essa ameaça, como se propõe a seguir:
- No campo político:
a. Realinhar a diplomacia nacional ao pensamento de enfrentamento ao terror
preconizado pela ONU e pelos EUA, reconhecendo o Hamas, o Hezbollah e as FARC
como grupos terroristas e repensando nossa aproximação com países patrocinadores
do terrorismo internacional como o Irã;
b. Combater a impregnação ideológica de esquerda, historicamente ligada ao
terrorismo da 3ª onda, nas ações governamentais;
c. Aprovar uma estratégia nacional de enfrentamento ao terrorismo que
oriente as ações do Estado brasileiro de forma holística e em todas as suas fases,
desde a prevenção até o seu combate; e
d. Promover maior integração entre as várias agências de inteligência do País.
- No campo psicossocial:
a. Impedir que organizações criminosas nacionais se associem a
organizações terroristas como o Hamas, o Hezbollah, as FARC e Sendero Luminoso;
b. Aprovar uma lei antiterrorismo mais abrangente, capaz de enquadrar os
movimentos sociais e partidários que promovem atos de terror; e
c. Investir na educação e na erradicação da miséria, como ações preventivas
à sensibilização e ao recrutamento pela mensagem do fundamentalismo islâmico.
- No campo militar:
a. Criar uma estrutura nacional, permanente e integrada, de prevenção ao
terrorismo composta por representantes das áreas de Inteligência, de Segurança e de
Defesa; e
b. Adestrar ininterruptamente equipes de combate ao terrorismo em virtude da
imprevisibilidade de sua ocorrência.
- No campo econômico:
a. Incrementar os mecanismos de identificação e suspensão de transações
financeiras em nosso País que subsidiem organizações terroristas; e
b. Aprimorar a qualidade de vida da população mais vulnerável à cooptação
por movimentos radicais islâmicos.
58

5. CONCLUSÃO

O terrorismo fundamentalista islâmico é uma ameaça atual à paz, segundo o


entendimento uníssono da Segurança Internacional. É um tema dinâmico e merecedor
de constante estudo que, por hora, nos permite apresentar a seguinte conclusão.
A vertente teórica abrangente da Escola de Copenhague, focada na obtenção
da paz entre os Estados, está presente nos tratados e resoluções da ONU e da UE,
ao propor estratégias globais para o combate ao terrorismo que utilizem uma análise
holística, incluídos aí, os aspectos militar, econômico, psicossocial e político.
O Brasil é um Estado signatário das resoluções da ONU e, ao adotar todas as
medidas contra o terrorismo, consequentemente alinha-se ao pensamento dessa
Escola no enfrentamento da ameaça à paz pelo terrorismo de forma mais abrangente.
Nosso País, no entanto, ainda não implementou medidas mais amplas em
virtude do baixo envolvimento do governo e da baixa percepção dessa ameaça pela
nossa sociedade, decorrentes do nosso negacionismo estatal e da não ocorrência do
atentado propriamente dito, em que pese a identificação de atos preparatórios.
Há uma grande dificuldade na definição de políticas de enfrentamento ao
terror graças à incapacidade dos organismos internacionais e dos Estados de
estabelecerem um conceito universalmente aceito do terrorismo. Esse vício, na
origem dos debates, contamina os esforços e entendimentos mundo afora para a
solução do problema.
Consoante com essa problemática conceitual, em nosso próprio País, a Lei nº
13.260, Lei Antiterrorismo, teve o mérito parcial de apresentar uma tipificação do crime
de terrorismo e assim resguardar o trabalho dos órgãos de segurança e defesa do
País durante as Olimpíadas do Rio 2016. Se por um lado atendeu às expectativas da
Segurança Internacional, por outro recebeu críticas por ter omitido as ações violentas
praticadas por movimentos sociais e partidos políticos.
A ideologia de esquerda dos últimos mandatários do País causou reflexos
prejudiciais a nossa credibilidade internacional por meio de decisão contraditória na
não extradição de terrorista internacional, de aproximação com o Irã e de tolerância
com organizações como o Hezbollah, as FARC e o Hamas.
Os Estados Unidos da América, desde o início da Guerra ao Terror (2001), e
apesar das críticas internacionais da invasão do Iraque em 2003 e da mudança da
estratégia militar do governo Obama, insistem no emprego do “modelo da guerra” para
59

responder à gravidade da ameaça terrorista fundamentalista islâmica.


A União Europeia compreende que a percepção da gravidade da ameaça
terrorista por cada estado membro é a premissa que ditará o modelo de mecanismo
de combate, admitindo-se o modelo militar, da justiça criminal ou o misto.
No Brasil, com a Lei Antiterrorismo, adota-se o modelo de justiça criminal,
embora, em caso de excepcionalidade, admita-se o modelo da guerra, como no
emprego das tropas especiais contraterror das Forças Armadas nos grandes eventos.
Como se observou, se no cenário nacional há uma prevalência dos setores
policial e militar no combate ao terror, por outro lado inexiste uma política de
prevenção ao recrutamento de simpatizantes ao terrorismo fundamentalista, como na
UE. Isso é um indicador preocupante, pois como vimos com a apreensão de nacionais
na Operação Hastag, com a expansão das comunidades árabes pelo País e com a
infiltração do Islamismo em comunidades carentes há um risco de brasileiros serem
cooptados pelo extremismo religioso.
Os países da União Europeia e os Estados Unidos da América continuam
como palcos ou alvos de atentados terroristas fundamentalistas, como demonstram
os seus respectivos graus do Global Terrorism Index 2016, levando tais sociedades a
conviverem com a iminência constante de um novo atentado, fato este que ressalta a
importância por ações e mecanismos de prevenção e combate ao terror, que estão
muito bem definidos nas suas respectivas Estratégia Antiterrorista Europeia e
Estratégia de Segurança Nacional.
No Brasil, embora não esteja consolidada e aprovada uma Estratégia
Nacional de Enfrentamento ao Terror, há de se reconhecer os avanços nessa área,
através de iniciativas tais como a aprovação da Lei Antiterrorismo, a atuação dos
órgãos de Defesa e Segurança sob o manto do Comando Conjunto de Prevenção e
Combate ao Terrorismo (CCPCT) durante as Olimpíadas do Rio 2016, os produtos
elaborados pelos Grupos de Trabalho Terrorismo (GT) e a criação do Comitê
Integrado de Enfrentamento ao Terrorismo (CIET).
O legado desse evento para a Segurança e Defesa pode ser traduzido como
uma maior integração e uma melhor capacitação dos órgãos federais e estaduais nas
ações antiterrorista e contraterrorista, como não ocorrera em nenhum momento
anterior.
Espera-se que a experiência do Comitê Integrado de Enfrentamento ao
Terrorismo (CIET) permita a sua evolução para uma estrutura permanente para o bem
60

do país, assim como represente uma clara e positiva mensagem à Segurança


Internacional do compromisso brasileiro em combater essa ameaça, no entanto isso
não foi feito até então.
Por fim, pode-se concluir que a estratégia de enfrentamento ao terrorismo pelo
Estado brasileiro está parcialmente preparada, uma vez que os esforços pontuais para
atender um grande evento, como as Olimpíadas do Rio 2016, não tiveram a
necessária continuidade para aprimorar e consolidar as estruturas existentes.
61

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