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ADEMAR STOCKER

EXTRADIÇÃO:
importância da extradição no contexto das relações internacionais

Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia


apresentada ao Departamento de Estudos da
Escola Superior de Guerra como requisito à
obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos
de Política e Estratégia.

Orientador: CMG RM1 Francisco José de Matos.

Rio de Janeiro
2013
C2013 ESG
Este trabalho, nos termos de legislação
que resguarda os direitos autorais, é
considerado propriedade da ESCOLA
SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É
permitido a transcrição parcial de textos
do trabalho, ou mencioná-los, para
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referência bibliográfica completa.
Os conceitos expressos neste trabalho
são de responsabilidade do autor e não
expressam qualquer orientação
institucional da ESG

_________________________________
Assinatura do autor

Biblioteca General Cordeiro de Farias

Stocker, Ademar.
Extradição: importância da extradição no contexto das relações
internacionais / Delegado de Polícia Federal Ademar Stocker. - Rio de
Janeiro : RJ, 2013.

55 f.

Orientador: CMG RM1 Francisco José de Matos.


Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao
Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como
requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política
e Estratégia (CAEPE), 2013.

1. Extradição. 2. Relações Internacionais. 3. Análise política do caso


Cesare Battisti. 4. Análise política do caso Edward Snowden. I. Título
A todos os servidores da Policia Federal do
Estado de Santa Catarina, cuja
Superintendência Regional tive o privilégio
de comandar por quase 04 (quatro anos),
sempre recebendo respeito e, ultimamente,
incentivo para prosseguir nessa nova
jornada de participar do CAEPE 2013.
A minha gratidão especial a Renilda Milke
Stocker (esposa); meus filhos Paulo
Roberto Stocker e Simone Stocker e ainda a
Marina dos Santos Ribeiro que me
auxiliaram na coletânea de material,
compilação de dados e digitalização do
trabalho, enquanto me mantinha
"debruçado" nos estudos dedicados as
atividades da ESG.
AGRADECIMENTOS

A minha primeira professora Florisa Copetti, que me ensinou a ler e a


escrever, numa humilde Escola de madeira chamada Julio de Castilho, localizada lá
no interior de Santo Ângelo, RS.
Aos demais Mestres que contribuíram na minha formação primária;
secundária no Colégio Marista de Santo Ângelo; na Faculdade de Direito de Santo
Ângelo; nos cursos de Formação de agente da Policia Federal, Turma "A" de 1980;
formação de Delegado da Policia Federal Turma "B", 1983, ambos na Academia
Nacional de Policia/ Brasília.
Aos estagiários do CAEPE, pelo convívio harmonioso de todas as horas.
Ao Corpo Permanente da ESG pelos ensinamentos e orientações que me
fizeram refletir cada vez mais sobre a importância de se estudar o Brasil com
responsabilidade implícita de ter que melhorar.
Temos força, temos garra e um amor
pela fronteira. Da Turma “Força Brasil”
viva a Pátria brasileira.

Ademar Stocker.
RESUMO

Este Trabalho de Conclusão de Curso aborda a Extradição como um dos


mecanismos mais importantes na persecução penal além-fronteiras. O objetivo deste
estudo é demonstrar como se instrui um processo de extradição, seja ele ativo ou
passivo. O papel do Ministério das Relações Exteriores, Supremo Tribunal Federal,
Ministério da Justiça, Conselho Nacional de Refugiados – CONARE, INTERPOL,
Acordos Internacionais, Vedações, Casos Especiais, Extradição Voluntária,
Simplificada, Refugiados, Extradição de Brasileiros, Portugueses e Entrega do
Extraditando. Justificativa da Extradição. Objetivo Específico. O porquê da
necessidade de agilização dos processos. Cumprimento dos Acordos Internacionais.
Por fim, uma análise do caso prático envolvendo o Italiano Cesare Battisti. A decisão
do Supremo Tribunal Federal concedendo a Extradição. O posicionamento do
Ministério da Justiça e do governo Federal em negar a extradição e conceder o asilo
político ao alienígena. A não vinculação da decisão do STF ao posicionamento do
Poder Executivo. Análises críticas do caso Edward Snowden.

Palavras chave: Extradição. Relações Internacionais. Análise política do caso


Cesare Battisti. Análise política do caso Edward Snowden.
RESUMEN

Esta monografía analiza extradición como uno de los mecanismos más importantes
en el proceso penal a través de fronteras. El objetivo de este estudio es demostrar
cómo procesar la extradición manda una, ya sea activa o pasiva. El papel de la Corte
Suprema, Ministerio de justicia, el Ministerio de relaciones exteriores, el Consejo
Nacional para los refugiados CONARE, INTERPOL, acuerdos internacionales,
sellos, casos especiales, voluntaria, extradición simplificada, los refugiados, entrega
de extradición del brasileño, Portugués y Extraditando. Justificación de la extradición.
Objetivo específico. ¿Por qué la necesidad de racionalización de los procesos.
Cumplimiento de acuerdos internacionales. Finalmente, un análisis de caso estudio
que implica la Cicinho italiano Battisti. La decisión de la Corte Suprema concede la
extradición. La posición del Ministerio de justicia y el Gobierno Federal al negar la
extradición y la concesión de asilo a los extranjeros La Unión de la decisión de la
Corte Suprema de Justicia no de posicionamiento del poder ejecutivo. Análisis crítico
de los caso Edward Snowden.

Palabras clave: Extradición. Relaciones Internacionales. Análisis político del caso


Cesare Battisti. Análisis político del caso Edward Snowden
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 9
2 EXTRADIÇÃO ................................................................................................ 11
2.1 CONCEITOS E PRINCÍPIOS ......................................................................... 11
2.1.1 Conceitos ...................................................................................................... 11
2.1.2 Princípios ...................................................................................................... 12
2.2 INSTITUTOS DISTINTOS: EXTRADIÇÃO, EXPULSÃO E DEPORTAÇÃO ... 14
2.2.1 Expulsão ........................................................................................................ 14
2.2.2 Repatriação e deportação ............................................................................ 15
2.3 EXTRADIÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE PESSOAS CONDENADAS ............ 16
2.4 CLASSIFICAÇÃO DA EXTRADIÇÃO ............................................................. 17
2.5 AUTORIDADE CENTRAL BRASILEIRA: O PAPEL DA SECRETARIA
NACIONAL DE JUSTIÇA, DO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA............................. 18
2.6 CONTROLE DE LEGALIDADE: O PAPEL DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL ....................................................................................................... 19
2.7 TRÂMITE DOS PROCESSOS DE EXTRADIÇÃO NO BRASIL ..................... 20
2.7.1 Processamento dos pedidos de extradição ativa ...................................... 21
2.7.2 Processamento dos pedidos de extradição passiva ................................. 22
2.8 CONCORRÊNCIA DE PEDIDOS ................................................................... 23
2.9 DOCUMENTOS JUSTIFICATIVOS E FORMALIZADORES DO PEDIDO
DE EXTRADIÇÃO .......................................................................................... 24
2.10 INFORMAÇÕES E DILIGÊNCIAS COMPLEMENTARES .............................. 24
2.11 ENTREGA DE EXTRADITANDO: REQUISITOS DE PROCEDIMENTOS ..... 25
2.12 EXTRADITANDO QUE RESPONDE A PROCESSO PENAL PERANTE A
JUSTIÇA BRASILEIRA ................................................................................... 26
2.13 EXTRADIÇÃO VOLUNTÁRIA ......................................................................... 27
2.14 EXTRADIÇÃO TEMPORÁRIA ........................................................................ 28
2.15 EXTRADIÇÃO SIMPLIFICADA ..................................................................... 28
2.16 EXTRADIÇÃO DE REFUGIADOS .................................................................. 29
2.17 EXTRADIÇÃO DE BRASILEIROS .................................................................. 31
2.18 EXTRADIÇÃO DE PORTUGUESES .............................................................. 32
2.19 TRÂNSITO DE EXTRADITANDO PELO TERRITÓRIO NACIONAL .............. 32
2.20 CONTAGEM DE PRAZOS ............................................................................. 33
3 ANÁLISE DO PROCESSO DE EXTRADIÇÃO DO ITALIANO CESARE
BATTISTI........................................................................................................ 34
3.1 CONHECIMENTO DO CASO ......................................................................... 34
3.2 ANÁLISE CRÍTICA DA DECISÃO .................................................................. 39
3.3 ANÁLISE CRÍTICA DO CASO EDWARD SNOWDEN ................................... 42
4 CONCLUSÃO. ................................................................................................ 44
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 47
ANEXO A - LEGISLAÇÃO ............................................................................. 49
9

1 INTRODUÇÃO

No mundo globalizado em que vivemos, as relações internacionais tendem a


se intensificar cada vez mais. As avançadas tecnologias de informação e
comunicação, propulsionadas por intermédio da informatização, são um exemplo
dessa realidade.
Alguns importantes fatores auferidos ao longo dos últimos anos, tais como a
diversidade dos meios de comunicação, bem como a evolução significativa dos
meios de transporte, deixam o mundo integrado em questão de horas, minutos e até
segundos.
A consequência disso, muito embora possa parecer positiva, por
proporcionar uma interação cultural entre os diversos países, apresenta, de forma
paralela, um malefício incontrolável, presenciado em noticiários ao redor de todo o
mundo: os delitos transnacionais.
A criminalidade transnacional cresceu de forma vertiginosa. Dentre os
principais delitos, podem-se citar, entre outros, o tráfico internacional de drogas, de
armas, de seres humanos, assim como a lavagem de dinheiro, causando temor aos
povos de todos os cantos do mundo. A partir desse contexto, os Estados devem se
aprimorar de forma equânime, a fim de apresentar uma resposta ágil e eficiente à
população mundial.
Nos últimos dez anos, a Polícia Federal brasileira vem investindo em
treinamentos especializados, expandindo-se para outros países, visando, com isso,
combater e dirimir esse problema mundial.
Uma das providências adotadas foi a criação de Adidâncias Policiais em
países como a Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Colômbia, Venezuela, México,
Suriname, Estados Unidos e Canadá (nas Américas); Portugal, Itália, França,
Espanha, Inglaterra (na Europa) e, ainda em Pretória (África do Sul) e Tókio (no
Japão), todas essas com a missão de auxiliar o combate à criminalidade
internacional.
Paralelamente a isso, um dos meios jurídicos eficaz para fazer frente a essa
delinquência moderna e retirar do meio social o criminoso homiziado é o "Processo
de Extradição", em suas modalidades ativa e passiva, para fins instrutórios ou
executórios.
10

A partir desse contexto, propõe-se no presente trabalho, além de apresentar


os procedimentos, documentos e normas referentes à execução de um Processo de
Extradição, fazer uma breve análise jurídica e política sobre o caso do italiano
Cesare Battisti, expondo as causas da decisão governamental em não conceder a
extradição deste, contrariando a decisão exarada pelo Supremo Tribunal Federal
(STF), no Processo de Extradição nº 1.085.
Merece destaque ainda uma análise do posicionamento do Ministério das
Relações Exteriores do Brasil em Moscou, embaixador Tovar da Silva Nunes, no que
se refere ao pedido de asilo para o ex-técnico da CIA (Central de Intelligence
Agency) Edward Snoweden, informando que sequer tem intenção de responder à
solicitação, como também de não divulgar os motivos da decisão.
Nesse contexto, objetiva-se aproximar mais o entendimento sobre a teoria
das Relações Internacionais (RI), fazendo com que a pesquisa fique além da
discussão das normas de Direito Internacional e o funcionamento das Cortes
Internacionais de Justiça, apontando mais precisamente para os reflexos políticos
gerados após a aludida decisão. Visa, sobretudo, demonstrar temas da política
brasileira e da propalada intenção do Brasil em aumentar, de forma mais
contundente, sua participação nos diversos fóruns de decisão mundial (assento
permanente no Conselho das Nações Unidas).
Em razão do conhecimento prático obtido nos últimos anos, bem como em
razão de suas consequências positivas, este é o tema escolhido para apresentar no
Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia - CAEPE, na Escola Superior de
Guerra, ano de 2013, de modo a expandir sua importância frente ao cenário mundial
e na relação com os demais países, do qual passamos a relatar.
11

2 DA EXTRADIÇÃO

2.1 CONCEITOS E PRINCÍPIOS

Com o intuito de melhor apresentar o conteúdo exposto no presente trabalho


é de suma importância que sejam ilustrados alguns tópicos conceituais, de forma a
elucidar o tema a ser trabalhado.

2.1.1 Conceito

Com relação ao instituto da extradição, observa-se que, conforme os


ensinamentos de Francisco Rezek, trata-se da entrega de uma pessoa, de um
Estado a outro, a qual deva responder a processo penal ou sujeitar-se ao
cumprimento de uma pena por crime de certa gravidade1.
No mesmo sentido, complementa Hildebrando Accioly que o termo “crimes de
certa gravidade” exclui a possibilidade de extradição pelo cometimento de
contravenções penais, uma vez que são dotadas de ínfimo potencial lesivo, não
justificando a aplicação de tal instituto2.
Ademais, salienta o autor que a extradição, via de regra, efetiva-se entre
países que possuem tratados bi ou multilaterais, os quais os vinculem 3. Nesse
ínterim, entende-se necessária a inserção, em anexo, de toda a legislação vinculada
ao tema, iniciando pela “legislação” vigente no Brasil, seguindo com a indicação dos
“acordos de extradição em vigor”, além dos “acordos de extradição aprovados pelo
Congresso, pendentes de ratificação e/ou promulgação”, finalizando com os
“Acordos de extradição em tramitação legislativa; assinados, pendentes de
ratificação; e em negociação”, para que o leitor possa ter acesso às peculiaridades
de cada acordo que o Brasil possui em relação às demais nações espalhadas pelo
mundo.

1 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar. 11. ed. rev. e atual. - São
Paulo: Saraiva 2008, p. 197.
2 ACCIOLY, Hildebrando; Silva, G. E. do Nascimento e; CASELLA, Paulo Borba. Manual de Direito
Internacional Público. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 541.
3 Ibidem. p. 541.
12

Observa-se, ainda, que o fato de os países não possuírem tratados entre si,
não impede que o instituto da extradição se efetive. Isso, porque, segundo Valerio
de Oliveira Mazzuoli, a ausência de tratado não prejudica essa cooperação entre os
Estados, com base na reciprocidade, desde que, não se oponha à legislação do
Estado requerido4.
Nessa senda, o referido autor preleciona que a extradição trata-se de uma
“medida de cooperação internacional na repressão ao crime que visa à boa
administração da justiça penal”. A partir disso, observa-se que esse instituto trata-se
de um dos meios mais eficientes e eficazes de cooperação jurídica internacional,
pois, além de objetivar a assistência jurídica mútua entre os países em matéria
penal, o “jus persequendi como o jus puniendi do Estado requerente estariam
totalmente esvaziados”5.
Imprescindível se faz destacar a legislação atinente ao presente instituto, a
qual se encontra disposta no art. 5º, incs. LI e LII, da Constituição Federal de 1988,
regulamentados pela Lei nº 6.815/80 (Estatuto do Estrangeiro), que define a situação
jurídica do estrangeiro no Brasil, bem como os compromissos internacionais
firmados com vistas ao combate à impunidade; e, no Decreto nº 86.715, de 1981.
A partir da conceituação básica do instituto da extradição, necessário para o
entendimento do presente estudo, discorre-se acerca de outros elementos afetos ao
tema em discussão, os quais se tornam pertinentes ao esclarecimento do assunto.

2.1.2 Princípios

Primeiramente, imperioso se faz analisar os três princípios relacionados à


extradição, quais sejam: princípio da especialidade, da dupla incriminação e o non
bis in idem, os quais, juntamente com a legislação, doutrina e jurisprudência,
regulam o instituto extradicional.
Com relação ao princípio da especialidade, conforme Manual de Extradição,
elaborado pela Secretaria Nacional de Justiça, observa-se que se trata de um
princípio fundamental ao referido instituto. Por este, entende-se que a pessoa
extraditada não pode ser condenada ou julgada no país requerente por crime

4 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 4. ed. rev., atual. e ampl.
São Paulo: Editora: Revista dos Tribunais, 2010, p. 673.
5 Ibidem, p. 673-674.
13

diverso daquele objeto do pedido de extradição, ainda que o extraditando consinta


em ser julgado no país de origem. Pode, entretanto, o país requerente solicitar a
ampliação ou extensão do pedido, bem como a extradição supletiva6.
Ainda, outro afeto à extradição é o da dupla incriminação consistindo na
necessidade de que o fato criminoso seja penalmente punível em ambos os países.
Trata-se, segundo Camila Tagliani Carneiro, de “uma garantia essencial ao direito de
liberdade”7. Alerta a autora que tal princípio consta expressamente descrito no art.
77, inc. II, da Lei nº 6.815/808.
Observa-se que esse princípio se alinha ao da legalidade, instrumento
basilar do Direito Penal brasileiro, o qual se traduz na ideia de que não há crime sem
lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal9.
Com relação ao terceiro princípio, qual seja, o non bis in idem, entende-se
que, quando o fato delituoso estiver sendo processado pelo Estado requerido ou até
mesmo tenha sido julgado, o Estado requerente não poderá fazer pedido baseado
no mesmo fato, salvo se provar existência de erro formal ou material, o qual dará
ensejo a novo requerimento. Poderá, entretanto, requerer a extradição se o pedido
for baseado em outro fato delituoso cometido pelo extraditando10.
Por fim, destaca-se que os princípios acima referidos estão interligados com
o “Sistema de Contenciosidade Limitada”, o qual implica em restrições à Suprema
Corte, pois a impede de reexaminar as provas ou o mérito da acusação ou
condenação proveniente da autoridade competente do Estado estrangeiro. Contudo,
tal sistema não impede que o Supremo Tribunal Federal analise aspectos formais
relativos ao processo criminal que embasa o pedido de extradição11.

6 BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça (SNJ). Manual de Extradição – Brasília: Secretaria


Nacional de Justiça (SNJ), Departamento de Estrangeiros, 2012, p. 16.
7 CARNEIRO, Camila Tagliani. A extradição no ordenamento jurídico brasileiro. – São Paulo:
Memória Jurídica Editora, 2002, p. 48.
8 Art. 77. Não se concederá a extradição quando: (...) II - o fato que motivar o pedido não for
considerado crime no Brasil ou no Estado requerente; (...).
9 Código Penal, Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia
cominação legal.
10 CARNEIRO, Camila Tagliani. A extradição no ordenamento jurídico brasileiro. – São Paulo:
Memória Jurídica Editora, 2002, p. 49.
11 BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça (SNJ). Manual de Extradição – Brasília : Secretaria
Nacional de Justiça (SNJ), Departamento de Estrangeiros, 2012, p. 18.
14

2.2 INSTITUTOS DISTINTOS: EXTRADIÇÃO, EXPULSÃO E DEPORTAÇÃO

Para melhor esclarecimento do presente trabalho, torna-se imprescindível


distinguir os institutos denominados “Medidas Compulsórias”, os quais estão
regulamentados pela Lei nº 6.815/90, conhecida como Estatuto do Estrangeiro.
Salienta-se que os três institutos se tratam de “modalidades de retirada
forçada do estrangeiro do Território Nacional, sendo independentes e peculiares.”12.
Imperioso se faz, inicialmente, analisar, de forma sumária, a distinção de tais
institutos, conforme a lição de Francisco Xavier da Silva Guimarães, o qual explica
que:
Enquanto a deportação se dirige às hipóteses de entrada ou estada
irregular, a expulsão se volta contra o estrangeiro nocivo ou indesejável ao
convívio social, sendo a extradição a forma processual admitida, de
colaboração internacional, para fazer com que um infrator da lei penal,
refugiado em um país, se apresente ao juízo competente de outro país onde
o crime foi cometido13.

2.2.1 Expulsão

Quanto ao instituto da expulsão, previsto no art. 65 do Estatuto do


Estrangeiro14, consiste em “um modo coativo de retirar o estrangeiro do território
nacional por delito ou infração ou atos que o tornem inconvenientes.”15.
O seu procedimento não exige requerimento de país estrangeiro. O
Ministério da Justiça instaurará inquérito para determinar a expulsão do estrangeiro.
Caberá exclusivamente ao Presidente da República resolver sobre a sua saída
forçada ou sua revogação. A ilegalidade do procedimento pode ser controlada por
meio de habeas corpus, a ser ajuizada perante o Supremo Tribunal Federal16.

12 BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça (SNJ). Manual de Extradição – Brasília: Secretaria


Nacional de Justiça (SNJ), Departamento de Estrangeiros, 2012. p. 18.
13 SILVA. apud BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça (SNJ). Manual de Extradição – Brasília:
Secretaria Nacional de Justiça (SNJ), Departamento de Estrangeiros, 2012. p. 18.
14 Art. 65. É passível de expulsão o estrangeiro que, de qualquer forma, atentar contra a segurança
nacional, a ordem política ou social, a tranqüilidade ou moralidade pública e a economia popular,
ou cujo procedimento o torne nocivo à conveniência e aos interesses nacionais.
15 SILVA. José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 26. ed. rev., atual. nos termos da
Reforma Constitucional (até a Emenda Constitucional n. 48, de 10.8.2005). – São Paulo: Malheiros
Editores. p. 342.
16 MORAES. Alexandre de. Direito Constitucional. 25. ed. – São Paulo : Atlas. 2010. p. 102 – 103.
15

Destaca-se que a expulsão não será procedida nas hipóteses de: extradição
inadmitida pela lei brasileira; o(a) estrangeiro(a) possuir relação conjugal com
brasileiro(a) do(a) qual não esteja divorciado ou separado de fato ou de direito e,
desde que, o casamento tenha sido celebrado a mais de cinco anos; se o
estrangeiro tiver filho brasileiro que, comprovadamente, estiver sob sua guarda ou
dependência econômica17.
Salienta-se que a expulsão gera, como consequência, a impossibilidade de o
expulso reingressar no território nacional enquanto vigente o decreto de expulsão,
sob pena de cometer o crime previsto no art. 338, CP (reingresso de estrangeiro
expulso)18 de competência da Justiça Federal, nos termos do art. 109, inc. X, da
Constituição Federal19.

2.2.2 Repatriação e deportação

A deportação é a exclusão do estrangeiro do território nacional motivada


pela sua entrada ou permanência aqui irregularmente20. Esse instituto possui
previsão legal no art. 57, do Estatuto do Estrangeiro, o qual dispõe que “Nos casos
de entrada ou estada irregular de estrangeiro, se este não se retirar voluntariamente
do território nacional no prazo fixado em Regulamento, será promovida sua
deportação.”
Alguns exemplos citados pela doutrina das hipóteses que geram a
deportação são a “expiração do prazo de permanência, desempenho de atividade
vedada, como trabalho, etc.”21.
Essa exclusão do estrangeiro, por iniciativa local, efetiva-se por meio de uma
notificação, dando-lhe prazo para sua saída do território nacional. Caso contrário,

17 MORAES. Alexandre de. Direito Constitucional. 25. ed. – São Paulo : Atlas. 2010. p. 104.
18 ACCIOLY, Hildebrando; Silva, G. E. do Nascimento e; CASELLA, Paulo Borba. Manual de Direito
Internacional Público. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 546.
19 Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) X - os crimes de ingresso ou
permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o "exequatur", e de
sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a
respectiva opção, e à naturalização; (...)
20 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar. 11. ed. rev. e atual. - São
Paulo: Saraiva 2008, p. 195.
21 ACCIOLY, Hildebrando; Silva, G. E. do Nascimento e; CASELLA, Paulo Borba. Manual de Direito
Internacional Público. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 546.
16

poderá ser preso para fins de deportação. É importante ressaltar que esta medida
deve ser ordenada por autoridade judicial, uma vez que não se admite mais a figura
da prisão administrativa, após a Constituição de 198822.
A causa da deportação, portanto, é o não cumprimento dos requisitos legais
para a permanência no país, não possuindo ligação com a prática de crimes.
Enquanto não for efetivada sua deportação, o indivíduo poderá ser levado a prisão
pelo prazo de 60 (sessenta) dias, por ordem de um Juiz Federal, não mais se
aplicando a regra do art. 61 do Estatuto do Estrangeiro, o qual incumbia ao Ministro
da Justiça tal competência. Entende a doutrina, portanto, que tal regra não foi
recepcionada pela Constituição de 1988, em face do art. 5º, LXI, da Carta Magna23.
Importante explicitar o instituto da repatriação, o qual “ocorre quando um
estrangeiro sem autorização é impedido de ingressar no Brasil, ainda na área de
controle migratório do porto, aeroporto ou da fronteira”24. Portanto, esse não pode
ser confundido com a deportação, uma vez que não há o ingresso efetivo do
estrangeiro no território nacional.
Observa-se que somente após ressarcimento de eventuais gastos, que a
União obteve com a deportação ou repatriação e o aceite da multa estabelecida, o
retorno do estrangeiro ao Brasil será permitido, se for o caso25.

2.3 EXTRADIÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE PESSOAS CONDENADAS

Necessário se faz, para melhor elucidação da presente monografia,


diferenciar dois institutos que muito facilmente podem ser confundidos, quais sejam:
a extradição e a transferência de pessoas condenadas.
A extradição, como anteriormente referido, trata da entrega a um país
estrangeiro de pessoa reclamada para que responda a processo-crime ou cumpra
uma pena26.

22 ACCIOLY, Hildebrando; Silva, G. E. do Nascimento e; CASELLA, Paulo Borba. Manual de Direito


Internacional Público. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 546.
23 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 4. ed. rev., atual. e
ampl. São Paulo: Editora: Revista dos Tribunais, 2010, p. 728.
24 BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça (SNJ). Manual de Extradição – Brasília: Secretaria
Nacional de Justiça (SNJ), Departamento de Estrangeiros, 2012. p. 20.
25 Ibidem.
26 Ibidem.
17

A transferência de pessoas condenadas, por sua vez, busca facilitar o


cumprimento da pena em estabelecimentos prisionais nos países de origem da
pessoa condenada, visando uma aproximação de sua família e seu ambiente social
e cultural, estando tal instituto revestido sobre um caráter eminentemente
humanitário27.
Ainda, observa-se que a vantagem desse instituto torna-se muito relevante
para o próprio condenado, pois inibe as possibilidades de discriminações que ele
possa sofrer dentro dos estabelecimentos prisionais28.
No Brasil, tal transferência somente se realiza quando existir a celebração
de Tratado, os quais deverão indicar as pessoas responsáveis pelo andamento e
concordância dos pedidos de transferência, sendo que, no território brasileiro, a
autoridade competente é a Secretaria Nacional de Justiça29.

2.4 CLASSIFICAÇÃO DA EXTRADIÇÃO

Cabe destacar que existem diversas classificações quanto ao instituto da


extradição. No entanto, entende-se pertinente diferenciar as principais modalidades,
quais sejam: ativa e passiva; instrutória e executória.
Com relação à extradição ativa, esta ocorre quando o nosso Estado requer a
outro país a extradição de criminoso foragido da justiça brasileira. Segundo o
entendimento de Florisbal de Souza Del’Olmo, tal instituto é raramente utilizado pelo
Governo brasileiro, uma vez que não há interesse em repatriar delinquentes
nacionais evadidos do país30.
A extradição passiva, por sua vez, ocorre quando um país estrangeiro
solicita ao Brasil a entrega de um indivíduo foragido que se encontra em nosso
território. Salienta-se que esta deve ser sempre requerida, não havendo extradição
espontânea ou ex officio31.

27 Disponível em: http://portal.mj.gov.br. Acesso em 30/10/2013.


28 Disponível em: http://portal.mj.gov.br. Acesso em 30/10/2013.
29 Ibidem.
30 DEL’OLMO, Florisbal de Souza. A extradição no alvorecer do século XXI. – Rio de Janeiro:
Renovar, 2007, p. 47.
31 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 6. ed. rev., atual. e
ampl. São Paulo: Editora: Revista dos Tribunais, 2012, p. 739.
18

Já a modalidade de extradição instrutória ou processual é exercida quando o


Estado requerente solicita a entrega do fugitivo para fins de julgamento no seu país
de origem, ou seja, nesse caso o processo está em curso no país solicitante32.
Por fim, a modalidade de extradição executória ou executiva tem por fito
fazer com que o extraditando cumpra pena já imposta no país de origem33.

2.5 AUTORIDADE CENTRAL BRASILEIRA: O PAPEL DA SECRETARIA


NACIONAL DE JUSTIÇA, DO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA

Sabe-se, em suma, que o procedimento extradicional divide-se em três


fases: administrativa, sob responsabilidade do Poder Executivo; judiciária (exame
pelo STF); outra fase novamente administrativa, a qual se procede a entrega do
extraditando ao país requerente ou comunica-se esse Estado, em caso de decisão
negativa.
Entretanto, este item, interliga-se com a fase administrativa primária, onde,
de acordo com o Manual de Extradição, a autoridade central em matéria de
extradição é a Secretaria Nacional de Justiça, do Ministério da Justiça, através do
Departamento de Estrangeiros, a qual compete à admissibilidade ou não do pedido
de extradição34.
Nesse momento, imprescindível lançar algumas das funções realizadas pela
Secretaria Nacional de Justiça, quais sejam

(...) providenciar o recebimento e envio de documentos; examinar a


viabilidade dos pedidos de extradição, procedendo ao juízo da
admissibilidade nos termos dos Acordos ou da legislação interna; adotar as
medidas necessárias visando agilizar da tramitação de pedido de extradição
até sua finalização; otimizar as eventuais diligências; assessorar as
autoridades competentes; autorizar a entrega e o trânsito de extraditandos,
entre outros35.

Entretanto, conforme ilustra Valerio de Oliveira Mazzuoli, o pedido inicial


inicia-se com o requerimento apresentado ao Ministério das Relações Exteriores que

32 DEL’OLMO, Florisbal de Souza. A extradição no alvorecer do século XXI. – Rio de Janeiro:


Renovar, 2007, p. 48.
33 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 6. ed. rev., atual. e
ampl. São Paulo: Editora: Revista dos Tribunais, 2012, p. 739.
34 BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça (SNJ). Manual de Extradição – Brasília: Secretaria
Nacional de Justiça (SNJ), Departamento de Estrangeiros, 2012. p. 21.
35 Ibidem.
19

o transmite à Divisão de Medidas Compulsórias do Ministério da Justiça. Admitindo o


pedido, este é encaminhado ao Supremo Tribunal Federal, por meio de Aviso
Ministerial36.

2.6 CONTROLE DE LEGALIDADE: O PAPEL DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Quanto ao pedido extradicional, sabe-se que seu processamento ocorre


junto ao Supremo Tribunal Federal, conforme o art. 102, inc. I, alínea “g”, da
Constituição Federal, o qual detém competência originária para o julgamento de tal
pedido.
No que tange ao papel exercido pela Suprema Corte, imperioso se faz a
transcrição do ensinamento de Valerio de Oliveria Mazzuoli, o qual afirma que

Não pode o Supremo, no julgamento do pedido extradicional, decidir sobre


o mérito do processo que corre contra o extraditando no exterior. O que o
STF analisa é somente a legalidade e procedência do pedido, sendo-lhe
vedado decidir sobre o acerto ou o desacerto da Justiça estrangeira ou
emitir juízo de valor sobre eventuais falhas ou vícios que porventura
maculem o processo em trâmite no Estado de origem37.

Complementando a presente ideia, interessante se faz acrescentar o


entendimento de Alexandre de Moraes, o qual ensina que

O sistema extradicional vigente no direito brasileiro qualifica-se como


sistema de controle limitado, com predominância da atividade jurisdicional,
que permite ao Supremo Tribunal Federal exercer fiscalização concernente
à legalidade extrínseca do pedido de extradição formulado pelo Estado
estrangeiro, mas não no tocante ao mérito, salvo, excepcionalmente, na
análise da ocorrência de prescrição penal, da observância do princípio da
dupla tipicidade ou da configuração eventualmente política do delito
imputado ao extraditando, ou ainda, na possibilidade de análise da
comprovada participação do brasileiro naturalizado em tráfico ilícito de
entorpecentes38.

Além disso, salienta-se, quanto à natureza da decisão autorizatória do


Supremo Tribunal Federal, que esta representa um ato declaratório, ou seja, sua

36 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 6. ed. rev., atual. e
ampl. São Paulo: Editora: Revista dos Tribunais, 2012, p. 743.
37 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 6. ed. rev., atual. e
ampl. São Paulo: Editora: Revista dos Tribunais, 2012, p. 747.
38 MORAES. Alexandre de. Direito Constitucional. 25. ed. – São Paulo : Atlas. 2010. p. 101.
20

decisão apenas autoriza o Presidente da República a efetivar a entrega. Caso haja


uma manifestação indeferindo o pedido extradicional, traduz-se em ato constitutivo
negativo, quando então o Chefe do Executivo não poderá autorizar sua extradição 39.
Destaca-se, por fim, que se há tratado anterior ao pedido, não há que se
falar nessa discricionariedade concedida ao Presidente da República “vez que este
já concordou com a entrega quando da assunção do acordo diplomático preexistente
ou da promulgação do tratado assinado.”. Ressalta-se, porém, a possibilidade que o
tratado preveja exceções ao deferimento de entrega, quando, então, o Chefe de
Estado terá uma margem de apreciação sobre determinada questão de fato 40.

2.7 TRÂMITE DOS PROCESSOS DE EXTRADIÇÃO NO BRASIL

Neste momento é importante que se conheça o processamento do instituto


extradicional na sua modalidade ativa e passiva, destacando, para tanto, suas
peculiaridades.
Primeiramente, analisar-se-á o pedido na modalidade ativa, ou seja, aquela
em que o Brasil solicita a entrega do criminoso ao Estado estrangeiro para,
posteriormente, avaliar a modalidade passiva, na qual nosso país recebe o pedido
de extradição de estrangeiro, foragido no Brasil.
No entanto, torna-se essencial, antes da análise em concreto, destacar que
ao ser formulado o pedido de extradição, seja na forma passiva ou ativa, ou até
mesmo o pedido de prisão preventiva, o Estado solicitante pode requerer algumas
diligências do Estado solicitado, quais sejam: a apreensão, retenção ou outras
medidas cautelares análogas, de bens que forem encontrados em poder do foragido
e que tenham vínculo com o crime pelo qual a extradição é solicitada, desde que
este seja formulado com indicação exata dos bens, bem como o motivo pelo qual se
acredita tratar de bens ou objetos interligados com a prática criminosa41.

39 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 6. ed. rev., atual. e
ampl. São Paulo: Editora: Revista dos Tribunais, 2012, p. 745.
40 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 6. ed. rev., atual. e
ampl. São Paulo: Editora: Revista dos Tribunais, 2012, p. 745.
41 BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça (SNJ). Manual de Extradição – Brasília: Secretaria
Nacional de Justiça (SNJ), Departamento de Estrangeiros, 2012. p. 23.
21

2.7.1 Processamento dos pedidos de extradição ativa

A hipótese de o Governo brasileiro solicitar a extradição de um criminoso


foragido da Justiça brasileira em outro país denomina-se extradição ativa.
Conforme anteriormente referido, o Brasil não possui grande interesse em
proceder à extradição ativa, uma vez que não se torna importante para o país
repatriar um criminoso foragido, razão pela qual não há muitos casos práticos a
serem ilustrados, bem como o seu processamento é pouco trabalhado pela doutrina.
Entretanto, faz-se imprescindível, para melhor compreensão do tema,
explicitar como se perfectibiliza o processo extradicional em sua forma ativa. Senão,
vejamos.
Primeiramente, o Poder Judiciário encaminhará o pedido ao Departamento
de Estrangeiros, da Secretaria Nacional de Justiça, o qual analisará a
admissibilidade do pedido. Caso seja admitido, esse será encaminhado ao Ministério
das Relações Exteriores, que o enviará ao Governo estrangeiro, por meio da missão
diplomática brasileira acreditada no país onde se encontre o indivíduo a ser
perseguido42.
Com relação à prisão preventiva, cabe salientar que esta poderá ser
determinada antes da formalização do pedido de extradição, visando evitar a fuga do
indivíduo do Estado onde se encontre. Nesta hipótese, o Brasil, após a prisão, será
notificado para apresentar documentos que justifiquem o processo extradicional.
Ressalta-se que o pedido de prisão é requerido, atualmente, por meio da
INTERPOL43.
Por fim, destaca-se que o Brasil, no caso de extradição ativa, é o
responsável pela retirada do extraditando do território estrangeiro, no prazo
determinado no acordo. Além disso, essa remoção pode ser diferida por razões de
saúde ou, ainda, se o extraditando estiver respondendo por processo criminal por
crime cometido naquele local44.

42 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 6. ed. rev., atual. e
ampl. São Paulo: Editora: Revista dos Tribunais, 2012, p. 743.
43 BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça (SNJ). Manual de Extradição – Brasília: Secretaria
Nacional de Justiça (SNJ), Departamento de Estrangeiros, 2012. p. 24.
44 Ibidem.
22

2.7.2 Processamento dos pedidos de extradição passiva

Com relação ao procedimento extradicional passivo, este passa pelos mesmos


trâmites do procedimento ativo, no entanto, em sentido inverso, como será explicado.
Nesta hipótese, o Governo brasileiro é quem recebe o pedido de extradição
de estrangeiro que cometeu algum crime e está foragido em nosso país. Esse
pedido é enviado, primeiramente, ao Ministério das Relações Exteriores ou, até
mesmo, pode vir diretamente da Autoridade Central do Estado requerente 45.
Admitido o pedido, nos termos do tratado de extradição respectivo, bem
como pelo Estatuto do Estrangeiro, esse será encaminhado ao Supremo Tribunal
Federal, por meio de Aviso Ministerial, ao qual competirá analisar apenas a
legalidade e a procedência do pedido, não cabendo avaliar o mérito do caso. Além
disso, incumbe ao referido órgão ordenar a imediata decretação de prisão
preventiva, sendo esta, inclusive, condição de seguimento do processo 46.
A partir disso, cabe trazer à baila a transcrição das lições de Alexandre de
Moraes sobre as opções que serão tomadas pelo Poder Executivo diante à decisão
da Suprema Corte

Findo o procedimento extradicional, se a decisão do Supremo Tribunal


Federal, após a análise das hipóteses materiais e requisitos formais, for
contrária à extradição, vinculará o Presidente da República, ficando vedada
a extradição. Se, no entanto, a decisão for favorável, o Chefe do Poder
Executivo, discricionariamente, determinará ou não a extradição, pois não
pode ser obrigado a concordar com o pedido de extradição mesmo que,
legalmente, correto e deferido pelo STF, uma vez que o deferimento ou
recusa do pedido de extradição é direito inerente à soberania 47.

Segundo o Manual de Extradição, tomando-se por base o art. 6748 c/c o art.
8949 da Lei nº 6.815/80, não havendo pendências com a Justiça brasileira, a

45 BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça (SNJ). Manual de Extradição – Brasília: Secretaria


Nacional de Justiça (SNJ), Departamento de Estrangeiros, 2012. p. 24.
46 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 6. ed. rev., atual. e
ampl. São Paulo: Editora: Revista dos Tribunais, 2012, p. 743.
47 MORAES. Alexandre de. Direito Constitucional. 25. ed. – São Paulo: Atlas. 2010. p. 99.
48 Art. 67. Desde que conveniente ao interesse nacional, a expulsão do estrangeiro poderá efetivar-
se, ainda que haja processo ou tenha ocorrido condenação.
49 Art. 89. Quando o extraditando estiver sendo processado, ou tiver sido condenado, no Brasil, por
crime punível com pena privativa de liberdade, a extradição será executada somente depois da
conclusão do processo ou do cumprimento da pena, ressalvado, entretanto, o disposto no artigo
67.
23

Autoridade Central comunicará ao Estado requerente para que efetue a retirada do


extraditando do território nacional no prazo fixado no acordo ou em 60 (sessenta)
dias, nos termos do art. 8650, da referida Lei. Além disso, caso o extraditando não
seja retirado do país, o indivíduo será posto em liberdade, não sendo obrigado o
Brasil a detê-lo em razão do mesmo pedido51.

2.8 CONCORRÊNCIA DE PEDIDOS

Por concorrência de pedidos, entende-se tratar da hipótese em que dois ou


mais países solicitam a entrega do foragido, com base no mesmo fato.
Nesta situação, a doutrina dispõe três maneiras distintas para resolver a
controvérsia, quais sejam: (a) extraditá-lo para o seu Estado patrial (se este o
requereu); (b) extraditá-lo para o país onde a infração foi cometida ou teve seus
interesses atingidos; (c) deixar ao arbítrio exclusivo do Estado requerente52.
No caso do Brasil, segundo o Manual de Extradição53, tal situação se resolve
de acordo com o art. 79, da Lei nº 6.815/80, abaixo colacionado

Art. 79. Quando mais de um Estado requerer a extradição da mesma


pessoa, pelo mesmo fato, terá preferência o pedido daquele em cujo
território a infração foi cometida.
§ 1º Tratando-se de crimes diversos, terão preferência, sucessivamente:
I - o Estado requerente em cujo território haja sido cometido o crime mais
grave, segundo a lei brasileira;
II - o que em primeiro lugar houver pedido a entrega do extraditando, se a
gravidade dos crimes for idêntica; e
III - o Estado de origem, ou, na sua falta, o domiciliar do extraditando, se os
pedidos forem simultâneos.
§ 2º Nos casos não previstos decidirá sobre a preferência o Governo
brasileiro.
§ 3º Havendo tratado ou convenção com algum dos Estados requerentes,
prevalecerão suas normas no que disserem respeito à preferência de que
trata este artigo.

50 Art. 86. Concedida a extradição, será o fato comunicado através do Ministério das Relações
Exteriores à Missão Diplomática do Estado requerente que, no prazo de sessenta dias da
comunicação, deverá retirar o extraditando do território nacional.
51 BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça (SNJ). Manual de Extradição – Brasília: Secretaria
Nacional de Justiça (SNJ), Departamento de Estrangeiros, 2012. p. 26.
52 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 6. ed. rev., atual. e
ampl. São Paulo: Editora: Revista dos Tribunais, 2012, p. 747.
53 BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça (SNJ). Manual de Extradição – Brasília: Secretaria
Nacional de Justiça (SNJ), Departamento de Estrangeiros, 2012. p. 26-27.
24

2.9 DOCUMENTOS JUSTIFICATIVOS E FORMALIZADORES DO PEDIDO DE


EXTRADIÇÃO

Para fins de maior conhecimento prático sobre o assunto, interessante se faz


indicar os documentos necessários para a propositura do pedido de extradição, os
quais podem variar de acordo com a legislação interna de cada país.
No caso do Brasil, o pedido deve ser instruído com os seguintes documentos:

- Todos os dados que possibilite a identificação do indivíduo procurado, a


exemplo de fotografias e individuais datiloscópicas, bem assim a indicação
sobre possível localização no Brasil;
- Cópia autenticada ou certidão da sentença condenatória ou, no caso de
extradição instrutória, cópia da sentença de pronúncia ou da decisão que
decretou a prisão preventiva, proferida por autoridade competente,
contendo indicações precisas sobre o local, data, natureza e
circunstâncias do fato criminoso;
- Cópia do mandado de prisão expedido em desfavor do nominado; e
- Cópia dos textos legais aplicáveis ao crime, à pena, e à sua prescrição54.

No caso de extradição ativa, o pedido deve ser dirigido ao Excelentíssimo


Senhor Ministro de Estado e Justiça, instruído com informações capazes de auxiliar
na identificação e localização do extraditando, além dos documentos já citados
anteriormente55.
Ademais, em caso de urgência, o pedido de prisão pode ser instruído, no mínimo,
com cópia do mandado de prisão, seguido da legislação aplicável ao crime, à pena,
bem como à prescrição. Por fim, salienta-se que o pedido deverá estar acompanhado
da respectiva tradução no idioma do país requerido, salvo disposição em contrário56.

2.10 INFORMAÇÕES E DILIGÊNCIAS COMPLEMENTARES

A fim de complementar o entendimento do presente instituto, resta salientar


que, consoante o Manual de Extradição, o país requerente, ao formular o pedido
extradicional, pode requerer, a qualquer momento, informações que considerar
necessárias acerca do processo de extradição57.

54 BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça (SNJ). Manual de Extradição – Brasília: Secretaria


Nacional de Justiça (SNJ), Departamento de Estrangeiros, 2012. p. 27-28.
55 Ibidem, p. 28.
56 Ibidem.
57 Ibidem.
25

Da mesma forma, conforme dispõe o referido diploma, o Estado requerido


poderá solicitar informações, bem como diligências ao Estado requerente, fixando-
lhe prazo para o seu cumprimento, sob pena de arquivamento do feito, lastreado na
falta de interesse58.
Salienta-se, nesse contexto, que todos os atos processuais serão
comunicados ao Estado requerente, tais como decisões, requerimento de
diligências, transferência de estabelecimento prisional, entre outras59.

2.11 ENTREGA DE EXTRADITANDO: REQUISITOS DE PROCEDIMENTOS

Caso haja a negativa da extradição pela corte, o indivíduo será posto em


liberdade, sendo que o Executivo deverá comunicar tal fato ao Estado requerente,
não podendo este solicitar novo pedido com base no mesmo fato60.
No entanto, em caso de deferimento, a entrega do extraditando deverá ser
efetivada no prazo de 60 (sessenta) dias após a comunicação ao Estado requerente,
conforme anteriormente referido61.
Paralelamente a isso, impõem-se ao Estado requerente as seguintes
exigências previstas no art. 91, do Estatuto do Estrangeiro, a qual se faz necessária
sua transcrição

Art. 91. Não será efetivada a entrega sem que o Estado requerente assuma
o compromisso:
I - de não ser o extraditando preso nem processado por fatos anteriores ao
pedido;
II - de computar o tempo de prisão que, no Brasil, foi imposta por força da
extradição;
III - de comutar em pena privativa de liberdade a pena corporal ou de morte,
ressalvados, quanto à última, os casos em que a lei brasileira permitir a sua
aplicação;
IV - de não ser o extraditando entregue, sem consentimento do Brasil, a
outro Estado que o reclame; e
V - de não considerar qualquer motivo político, para agravar a pena.

58 Ibidem.
59 Ibidem.
60 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar. 12. ed. rev. e atual. - São
Paulo: Saraiva 2010, p. 212.
61 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 6. ed. rev., atual. e
ampl. São Paulo: Editora: Revista dos Tribunais, 2012, p. 748.
26

Destaca-se que tais compromissos são imprescindíveis para a efetivação da


entrega ao Estado requerente62.

2.12 EXTRADITANDO QUE RESPONDE A PROCESSO PENAL PERANTE A


JUSTIÇA BRASILEIRA

Depois de estudadas as hipóteses de extradição, bem como o seu


procedimento, necessário se faz analisar a hipótese de o extraditando estiver
respondendo a processo penal perante a Justiça brasileira. Trata-se de uma
situação peculiar que pode ocorrer durante o procedimento extradicional.
Esta conjectura está prevista no art. 89, da Lei nº 6.815/80, o qual dispõe
que
Quando o extraditando estiver sendo processado, ou tiver sido condenado,
no Brasil, por crime punível com pena privativa de liberdade, a extradição
será executada somente depois da conclusão do processo ou do
cumprimento da pena, ressalvado, entretanto, o disposto no artigo 67.

Observa-se que o artigo citado refere-se a uma exceção prevista no art. 67,
do mesmo diploma legal, o qual dispõe que

Art. 67. Desde que conveniente ao interesse nacional, a expulsão do


estrangeiro poderá efetivar-se, ainda que haja processo ou tenha ocorrido
condenação.

Dessa forma, entende-se que o Ministério da Justiça somente poderá


entregar o estrangeiro ao país solicitante de forma excepcional, como, por exemplo,
por motivos humanitários, como no caso de doença terminal ou, se o crime cometido
no exterior for de maior gravidade. Ainda, pode-se utilizar como exemplo da hipótese
de o crime praticado no Brasil for de menor gravidade, no caso de uso de documento
falso com a finalidade de ocultar-se perante às autoridades63.
Considerando que os institutos da progressão de regime, bem como o
livramento condicional têm por fito a reinserção social, constituem-se, nesse caso,
em mais uma possibilidade de entrega do indivíduo ao Governo estrangeiro, uma
vez que concedidos tais benefícios, esses não atingiriam sua finalidade64.

62 Ibidem.
63 BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça (SNJ). Manual de Extradição – Brasília: Secretaria
Nacional de Justiça (SNJ), Departamento de Estrangeiros, 2012. p. 35.
64 Ibidem.
27

Após o cumprimento da pena, com a respectiva extinção da punibilidade, o


indivíduo poderá ser concomitantemente ser submetido ao processo de extradição,
bem como o de expulsão, o que impedirá, nesse último caso, o seu retorno ao
Brasil65.

2.13 EXTRADIÇÃO VOLUNTÁRIA

O instituto da extradição voluntária trata sobre a possibilidade de o


extraditando pronunciar-se expressamente pela concordância em sua extradição, ou
seja, anui em ser entregue ao Estado requerente. Nesta hipótese, será informado
sobre seus direitos. Salienta-se que, independentemente de a modalidade ser
voluntária, a autoridade competente não deixará de efetuar o controle de legalidade
do pedido66.
Destaca-se que a principal vantagem do procedimento voluntário é a
redução da morosidade, eis que a pessoa é colocada imediatamente à disposição
do Estado requerente, sem necessidade de publicação de Acórdão que deferiu a
extradição e da abertura de prazo para interposição de Embargos Declaratórios67.
Existe, atualmente, um Projeto de Lei (PL) nº 5.655/2009, em trâmite no
Congresso Nacional, que trará inovações quanto a este instituto. Primeiramente, ele
irá expressamente reconhecer a extradição voluntária. Posteriormente, ele regulará
seu procedimento formal de maneira mais célere, acarretando em um prazo
consideravelmente reduzido para a entrega do extraditando. Observa-se que, a
Suprema Corte manterá sua atuação, pois apreciará o consentimento do
extraditando68.
Embora se trate de um procedimento aparentemente benéfico, não se
encontrou alusão acerca da possibilidade de vedação de sua concessão, no caso de
inobservância dos direitos e garantias do extraditando, no que tange a sua pena,
ainda que haja o consentimento deste, acarretando, via de consequência, em uma
possível irregularidade desse instituto.

65 Ibidem. p. 35-36.
66 BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça (SNJ). Manual de Extradição – Brasília: Secretaria
Nacional de Justiça (SNJ), Departamento de Estrangeiros, 2012, p. 36-37.
67 Ibidem.
68 Ibidem.
28

Por fim, salienta-se que a autorização de extradição voluntária será relativa,


pois não será efetivada a entrega no caso de, por exemplo, o extraditando estiver
respondendo a processo ou estiver cumprindo pena por crime praticado no Brasil 69.

2.14 EXTRADIÇÃO TEMPORÁRIA

Em relação à extradição temporária, constata-se que se trata de um simples


procedimento em que, diante de acordos bilaterais, realizados com países como
Austrália, França, Itália e Portugal, é concedida temporariamente a entrega do
indivíduo ao Estado requerente, com o compromisso de devolvê-lo, após a
realização de determinado ato processual70.
Entenda-se, portanto, que a extradição temporária tem por finalidade a
entrega temporária do extraditando para que este seja submetido ao exercício de
atos reputados urgentes, bem como aqueles em que sua presença se torne
imprescindível. Dessa forma, assim que concluídas as diligências necessárias, será
devolvido ao país processante, para que seja concluído o seu julgamento. Ressalta-
se, nesse sentido, que o tempo que o indivíduo ficar preso no país ao qual foi
encaminhado, será computado para fins de desconto na pena imposta no país
requerido71.

2.15 EXTRADIÇÃO SIMPLIFICADA

A extradição simplificada consiste em um Acordo assinado entre Brasil,


Argentina, Espanha e Portugal, o qual se encontra pendente de aprovação
legislativa, no Brasil, para fins de posterior ratificação. O seu conteúdo prevê um
procedimento mais célere no que tange ao processo extradicional, buscando uma
agilização no procedimento, bem como simplificando as regras já existentes72.
Destaca-se entre as principais diferenças a criação de um modelo de
requerimento, para fins de extradição, o qual implicará a uniformização das

69 Ibidem.
70 BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça (SNJ). Manual de Extradição – Brasília: Secretaria
Nacional de Justiça (SNJ), Departamento de Estrangeiros, 2012, p. 37.
71 Ibidem.
72 Ibidem, p. 37-38.
29

solicitações, facilitando sua compreensão, bem como evitará a inadequação dos


pedidos. Ademais, tal acordo prevê a possibilidade de requerimento de prisão
preventiva por qualquer meio eletrônico, a ser efetuado diretamente às Autoridades
Centrais, o que tornará o seu processamento mais ágil73.
Por fim, insta salientar que o consentimento do indivíduo no processamento
da extradição acarretará uma diminuição do lapso temporal, sem prejuízo da
proteção dos direitos humanos. Além disso, consta a possibilidade de extradição
temporária, com a redução para 30 dias da retirada do extraditando, podendo este
ser prorrogado por mais 15 dias74.

2.16 EXTRADIÇÃO DE REFUGIADOS

Para fins de esclarecimento do presente item, imprescindível se faz a


conceituação do que vem a ser o refúgio, tratando de sua distinção com outro
instituto, qual seja, o asilo.
Inicialmente, o refúgio distingue-se do asilo pelo fato de ter suas normas
elaboradas pelo Alto Comissariado das Nações Unidas (ACNUR), organização
ligada às Nações Unidas, enquanto o asilo é regulado por tratados multilaterais
bastante específicos de caráter regional. Ademais, distinguem-se os institutos, uma
vez que o refúgio tem natureza claramente humanitária, bastando um fundado temor
de perseguição para sua concessão, enquanto o asilo envolve questões tipicamente
políticas, sendo necessária a comprovação de uma perseguição concreta, tratando-
se de medida discricionária do Estado75.
Além disso, pertinente se faz a distinção quanto à regulamentação pelo
direito brasileiro. O asilo possui referência expressa na Constituição Federal, no
Estatuto do Estrangeiro e no seu Regulamento; já o refúgio é tratado exclusivamente
na Lei 9.474/9776.

73 Ibidem, p. 37-38.
74 BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça (SNJ). Manual de Extradição – Brasília: Secretaria
Nacional de Justiça (SNJ), Departamento de Estrangeiros, 2012, p. 37-38.
75 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 6. ed. rev., atual. e
ampl. São Paulo: Editora: Revista dos Tribunais, 2012, p. 760-761.
76 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 6. ed. rev., atual. e
ampl. São Paulo: Editora: Revista dos Tribunais, 2012, p. 760-761.
30

No plano internacional, nos termos da Convenção de 1951, art. 1º, A, § 2º,


relativa ao Estatuto dos Refugiados, o termo “refugiado” é aplicável aqueles

Que, em conseqüência dos acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro


de 1951 e temendo ser perseguida por motivos de raça, religião,
nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do país
de sua nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer
valer-se da proteção desse país, ou que, se não tem nacionalidade e se
encontra fora do país no qual tinha sua residência habitual em
conseqüência de tais acontecimentos, não pode ou, devido ao referido
temor, não quer voltar a ele.

No plano interno, a Lei 9.474/97, a qual determina a implantação da


Convenção de 1951, em seu art. 1º, incs. I a III, considera refugiado todo o indivíduo
que

Art. 1º Será reconhecido como refugiado todo indivíduo que:


I - devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça,
religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora
de seu país de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à
proteção de tal país;
II - não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve
sua residência habitual, não possa ou não queira regressar a ele, em função
das circunstâncias descritas no inciso anterior;
III - devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é
obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro
país.

A partir do conhecimento das circunstâncias mencionadas, o estrangeiro


poderá explicitar sua vontade de ser acolhido como refugiado, independentemente
de sua situação migratória. No Brasil, o órgão competente para analisar o pedido é o
Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), vinculado ao Ministério da Justiça.
Logo, havendo decisão negativa da concessão de refúgio, caberá recurso ao
Ministro da Justiça77.
Em admitindo o estrangeiro na condição de refugiado, a ele serão dados
todas as garantias previstas no Estatuto dos Refugiados de 1951. Um dos efeitos
mais importantes, previsto inclusive na Lei 9.474/97 (arts. 33 e 34), é o impedimento
ou suspensão do prosseguimento de qualquer pedido de extradição, baseado nos
fatos que concederam a concessão do refúgio78.

77 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 6. ed. rev., atual. e
ampl. São Paulo: Editora: Revista dos Tribunais, 2012, p. 764.
78 Ibidem, p. 765.
31

Nada obsta, porém, que o Supremo Tribunal Federal declare nula a decisão
do Ministro da Justiça, diante de uma decisão atinente ao controle da legalidade,
caso em que poderá dar seguimento a análise do pedido extradicional79.

2.17 EXTRADIÇÃO DE BRASILEIROS

É oportuno o conhecimento de que a Constituição Federal brasileira veda


expressamente a extradição de brasileiros natos, nos termos do art.5º, inciso LI

Art. 5º (…):
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de
crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado
envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da
lei;

Diante disso, observa-se que existem algumas exceções no que tange a


brasileiro naturalizado, havendo, portanto, um tratamento diferenciado com relação a
esses. Uma delas é o cometimento de qualquer crime comum, também tipificado na
legislação brasileira, antes da concessão de sua naturalização; a segunda, é o caso
de comprovação do seu envolvimento com o tráfico ilícito de entorpecentes, até
mesmo depois da naturalização, podendo, dessa forma, ser extraditado tanto para
responder a processo criminal quanto para cumprir pena no seu país80.
Isso não quer dizer que brasileiro nato que cometa crime em um
determinado país fique impune. Neste caso, o país lesado ou agredido, poderá pedir
a persecução penal aqui no Brasil caso o crime imputado também seja tipificado no
nosso solo pátrio81.
Nesse caso, o Ministério da Justiça, através da Secretaria Nacional de
Justiça tomará as providências junto ao Procurador Geral da República para que
este adote as providências no sentido de promover as denúncias do acusado
mediante a justiça brasileira82.

79 Ibidem, p. 766.
80 MORAES. Alexandre de. Direito Constitucional. 25. ed. – São Paulo : Atlas. 2010. p. 93-95.
81 BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça (SNJ). Manual de Extradição – Brasília: Secretaria
Nacional de Justiça (SNJ), Departamento de Estrangeiros, 2012. p. 43.
82 Ibidem, p. 44.
32

Ressalta-se, porém, que o Brasil não homologa sentença penal condenatória


estrangeira, até mesmo por representar ato representativo de sua soberania.
Contudo, excepciona-se essa regra para fins de atribuição de outros efeitos, como a
constituição de um título executivo judicial, para fins de obrigar o condenado à
reparação de dano e a outros efeitos civis ou para sujeitá-lo a medida de segurança,
nos termos do art. 9º, do Código Penal Brasileiro83.

2.18 EXTRADIÇÃO DE PORTUGUESES

Devido à atribuição dos direitos inerentes aos brasileiros concedidos aos


portugueses, ressalvados os casos previstos na Constituição Federal, a partir da
Convenção sobre Igualdade e Deveres (Decreto nº 70.391 de 12/04/1972, art. 9),
bem como do Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta, estabelecidos entre
Brasil e Portugal (Decreto nº 3.927 de 19/09/2001 - art. 78, a linha "f" art. 18), ficou
deliberado que os portugueses não poderão ser extraditados, salvo se for para seu
país de origem, ou seja, somente para Portugal84.
Exemplifica-se, portanto, no sentido de que se um português vier a cometer
um crime na Argentina, e este venha a se homiziar no Brasil, não poderá ser
extraditado para aquele país. Diferentemente da situação em que o crime cometido
seja em Portugal, quando, então, poderá ser extraditado para seu país de origem.

2.19 TRÂNSITO DE EXTRADITANDO PELO TERRITÓRIO NACIONAL

Cabe, nesse item, a informação de que, havendo a necessidade de que um


extraditando passe pelo território nacional, a fim de chegar no país de destino, o
trânsito será regulado na forma do Acordo celebrado entre o Brasil e o país
solicitante. Em não havendo acordo, observam-se as regras da Lei 6.815/8085.
No último caso, não há necessidade de qualquer formalidade judiciária, uma
vez que será efetuada mediante simples solicitação, acompanhada de original ou

83 MASSON, Cleber Rogério. Direito Penal Esquematizado – Parte geral – vol. 1 – 3ª ed. rev.,
atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense ; São Paulo : Método, 2010, p. 148-149.
84 BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça (SNJ). Manual de Extradição – Brasília: Secretaria
Nacional de Justiça (SNJ), Departamento de Estrangeiros, 2012, p. 46.
85 Ibidem, p. 46-47.
33

cópia autêntica do documento, o qual será traduzido para o idioma português. Da


mesma forma, em não havendo previsão de aterrissagem, não será preciso solicitar
o trânsito de extraditando86.
Salienta-se, por derradeiro, que cabe ao Diretor do Departamento de
Estrangeiros, da Secretaria Nacional de Justiça, autorizar o trânsito do extraditando
ao Estado estrangeiro, nos termos da delegação de competência prevista na
Portaria MJ nº 68, de 17 de janeiro de 200687.

2.20 CONTAGEM DE PRAZOS

Enfim, para melhor conhecimento acerca do assunto ora tratado, necessário


se faz a compreensão de como se efetua a contagem dos prazos nos procedimentos
administrativos de extradição, encontrando sua regulamentação disposta na Portaria
Deest nº 0888.
A referida portaria prevê que a contagem inicia-se no primeiro dia útil
seguinte à data em que o Estado requerente for cientificado da decisão ou da
diligência mencionada. Além disso, a data de vencimento prorroga-se,
automaticamente, quando não houver expediente ou este se encerrar antes do
horário normal, ressalvada disposição diversa prevista em Acordo89.

86 Ibidem, p. 47.
87 Ibidem.
88 BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça (SNJ). Manual de Extradição – Brasília: Secretaria
Nacional de Justiça (SNJ), Departamento de Estrangeiros, 2012, p. 47.
89 Ibidem.
34

3 ANÁLISE DO PROCESSO DE EXTRADIÇÃO DO ITALIANO CESARE BATTISTI

Neste tópico do trabalho, cabe por fim analisar o processo de extradição do


italiano Cesare Battisti. Primeiramente, será apontado um breve relato do caso, para
fins de melhor conhecimento sobre o processo em questão. Posteriormente, haverá
a análise política e jurídica do tema, concatenando com os ensinamentos
ministrados na Escola Superior de Guerra, a fim de que seja explorado o conteúdo
ministrado ao longo do curso.

3.1 CONHECIMENTO DO CASO

Em consonância com o acima exposto, ilustra-se, a partir de então, o caso


do italiano Cesare Battisti, para fins de melhor didática sobre o tema.
O Supremo Tribunal Federal, ao julgar o caso, entendeu que o alienígena se
envolveu em organização criminosa e foi responsável pelo cometimento de 04
(quatro) homicídios de natureza grave. Não reconheceu, entretanto, a natureza
política nas ações, mas sim tão somente de crimes comuns, tornando insubsistente
a Concessão de Refúgio, outrora requerido. Determinou, portanto, a imediata
entrega do extraditando às autoridades italianas, com base no pedido efetuado.
Já o então Ministro da Justiça Tarso Genro fundamentou sua decisão, de
modo contraditório (p. 2.962 dos autos do processo de extradição nº 1085) quando
assim se manifestou:

Por motivos políticos o Recorrente envolveu-se em organizações ilegais


criminalmente perseguidas no estado requerente. Por motivos políticos foi
abrigado na França e também por motivos políticos, originários de decisão
política do Estado Francês, decidiu, mais tarde, voltar a fugir. Enxergou o
Recorrente, ainda, razões políticas para os reiterados pedidos de extradição
Itália-França, bem como para a concessão da extradição, que, conforme o
Recorrente estaria vinculado à situação eleitoral francesa. O elemento
subjetivo do “fundado temor de perseguição” necessário para o
reconhecimento da condição de refugiado está, portanto, claramente
configurado. À luz do que foi brevemente relatado, percebe-se do conteúdo
das acusações de violação da ordem jurídica italiana e das movimentações
políticas que ora deram estabilidade, ora movimentação e preocupação ao
Recorrente, o elemento subjetivo, baseado em fatos objetivos, do “fundado
temor de perseguição”, necessário para o reconhecimento da condição de
refugiado.
35

Os fatos referentes ao caso do italiano Cesare Battisti estão relatados no


acórdão proferido pelo Min. Cezar Peluso, nos autos do Processo de Extradição nº
1085, antes de esse assumir a Presidência do STF. O Min. Gilmar Mendes passou a
ser o relator do caso, em razão da alteração do Regimento Interno do STF em que
passava a execução e o cumprimento das decisões transitadas em julgado ao
Relator.
A prisão de Battisti foi decretada pelo Min. Celso de Mello, então relator do
processo extradicional, em 1º de março de 2007, com base na Lei nº 6.815/80 e no
Tratado Bilateral de Extradição firmado entre Brasil e Itália.
A extradição foi julgada definitivamente, em Sessão Plenária, em 16 de
dezembro de 2009. Entre os pedidos, foi julgado:
 prejudicado o pedido de mandado de segurança, por reconhecer a
ilegalidade do ato de concessão de status de refugiado concedido pelo
Ministro da Justiça ao Extraditando, em razão de que não havia
correspondência entre os motivos declarados e o suporte fático legal
invocado como causa autorizadora da concessão de refúgio. Ademais,
a decisão administrativa baseada em motivação formal de justo receio
de perseguição política se mostrou inconsistente, em razão da
ausência absoluta de prova de risco atual de perseguição.
 deferido o pedido de extradição.
 por maioria, reconhecido que a decisão de deferimento de extradição
não vincula o Presidente da República, nos termos dos votos dos Min.
Joaquim Barbosa, Cármem Lúcia, Carlos Britto, Marco Aurélio e Eros
Grau.

Nesse contexto, foi salientado ao Governo italiano, no pedido de extradição,


que a decisão não vinculava o Presidente da República. Reconheceu o Min. Gilmar
Mendes a discricionariedade do Presidente da República quanto à execução da
decisão que deferiu o pedido extradicional, estando essa discricionariedade
delimitada no Tratado pactuado com a Itália.
A decisão foi proferida em 16 de abril de 2010. Transitou em julgado em 23 de
abril de 2010. Encaminhado aos Ministros da Justiça e das Relações Exteriores. O
Presidente não tomou nenhuma medida de imediato justificando pela necessidade
36

de uma análise mais profunda e detida da decisão do STF, bem como do Tratado
entre Brasil e Itália.
Em 31 de dezembro de 2010, o Presidente negou o pedido de extradição,
com fundamento exarado pela Advocacia Geral da União - AGU, concluindo que no
tratado havia disposição no sentido de que existiam ponderáveis razões para que o
extraditando fosse submetido a agravamento da situação, em razão de seu passado,
marcado por atividade política de intensa relevância.
Em razão da decisão, os patronos do extraditando, entre eles o Dr. Luis
Roberto Barroso, formularam o pedido de expedição de alvará de soltura. No mesmo
dia, 04 de novembro de 2011, a República Italiana protocolou pedido pela
impugnação do pedido de soltura, alegando a competência exclusiva do Plenário do
STF decidir sobre a revogação da prisão, bem como se a decisão do Presidente está
de acordo com o acórdão proferido pelo STF. Alegou, ainda, sobre a possibilidade
de fuga do mesmo, eis que, anteriormente, havia fugido da Itália para França, onde
estava em liberdade condicional, respondendo processo na Corte da França, em
que já haviam decidido pela sua extradição, momento em que fugiu novamente para
o Brasil.
Em 06 de janeiro de 2011, o Min. Cezar Peluso indeferiu os pedidos, em
razão da troca da Presidência do STF, além de outros argumentos. O novo relator
pediu parecer ao Procurador da República, o qual ensejou um novo pedido de
reapreciação do relaxamento da prisão, em razão da injustificável manutenção do
extraditando em prisão preventiva. Foi indeferido o pedido e colocado para pauta de
julgamento pelo Plenário do STF, no dia 23 de maio de 2011.
No voto do Min. Gilmar Mendes foi analisada a natureza jurídica da decisão
do Presidente quanto à negativa da extradição. Foi denominada de “terceira fase do
processo de extradição”, em que se questiona se a decisão do Presidente é
autônoma em relação à decisão do STF.
A extradição, segundo o Ministro, é a entrega que um Estado faz a outro de
um indivíduo condenado criminalmente. Trata-se de relação de direito internacional
entre Estados soberanos para o fim de cooperação em matéria de repressão ao
crime. Tem como representantes os chefes de governo de cada Estado e é
materializada com base em tratados internacionais ou, na falta deste, em promessa
de reciprocidade.
37

Em uma abordagem histórica, é explicado como surgiu a fase jurisdicional no


processo extradicional. Foi consagrada na Constituição Federal de 1934 e teve
importante função em garantir os direitos do indivíduo extraditando.
O pedido é feito em três fases: o primeiro é realizado pela via diplomática, do
pedido do Governo Estrangeiro ao Governo Brasileiro. Compete ao Ministro das
Relações Exteriores receber o pedido e remetê-lo ao Ministro da Justiça que decidirá
se envia ao STF, para instaurar a segunda fase (judicial).
Na fase judicial, o STF não analisa o mérito do caso, cabendo tão somente o
controle de legalidade do processo extradicional.
Na terceira fase, argumenta-se se, aqui, termina o papel do STF.
Evidentemente que não, tendo em vista que o extraditando continua sob a custódia
deste tribunal e somente este pode determinar sua soltura.
A partir de 2010, compete ao relator examinar pedidos de incidentes ocorridos
na fase de execução como, por exemplo, o pedido de habeas corpus.
Quanto ao papel do Poder Executivo na terceira fase do processo
extradicional, entende-se que a decisão do STF é meramente autorizativa, ficando à
discricionariedade do Poder Executivo decidir acerca da entrega do estrangeiro,
avaliadas as condições fixadas em acordos bilaterais, podendo optar pela
postergação da entrega ao término do processo ou do cumprimento de pena ou
proceder a imediata colocação do extraditando a disposição do Estado requerente, a
seu prudente critério, caso vislumbre o melhor interesse nacional.
Esse é o entendimento do STF, em diversos casos, entre eles na Ext. nº
1.114, a Min. Cármem Lúcia afirma que “o Supremo Tribunal limita-se a analisar a
legalidade e a procedência do pedido de extradição: indeferido o pedido, deixa-se de
constituir o título jurídico sem o qual o Presidente da República não pode efetivar a
extradição; se deferida, a entrega do súdito ao Estado requerente fica a critério
discricionário do Presidente da República”.
Portanto, a fundamentação está centrada no argumento de que, na fase
judicial, cabe ao Supremo analisar a legalidade e a procedência do pedido
extradicional.
Entretanto, há uma exceção a esse entendimento, que se dá no caso em que
existe um acordo bilateral entre os Estados, no qual se dispunham a entregar os
seus súditos, caso haja decisão da Suprema Corte neste sentido. Portanto, nestes
casos, a decisão da Suprema Corte vincula o Chefe do Executivo.
38

Contudo, no caso Battisti, houve divergência no entendimento, sendo que,


apesar de haver acordo de reciprocidade entre Brasil e Itália, por maioria, entendeu-
se que se trata de decisão discricionária do Presidente da República, cabendo ao
STF analisar tão somente a legalidade do ato.
Isso porque, conforme o teor do tratado entre Brasil e Itália, uma das
cláusulas em que se prevê a proibição da entrega do extraditando, prescreve que a
parte requerida pode negar a extradição quando houver “razões ponderáveis” que a
pessoa sofrerá atos de perseguição ou discriminação de vários gêneros.
O termo “razões ponderáveis” retrata um conceito jurídico indeterminado que
deve ser avaliado de acordo com o contexto fático e jurídico da situação em que se
encontra.
O ponto em que se criticou a decisão do Presidente deu-se ao fato de que a
Itália, por ser um país democrático e estável, certamente respeitaria os direitos
fundamentais do extraditando, não havendo razões ponderáveis para que se
negasse o ato de extradição.
As razões do Presidente acerca da negativa da extradição foram
apresentadas no Parecer elaborado pela AGU, dentre as quais se seguem:
agravamento da situação pessoal do extraditando, bem como a preocupação com o
contexto político que o aguarda no país requerente.
Tais motivos foram os mesmos apresentados pelo Ministro da Justiça por
ocasião da concessão de refúgio ao extraditando. A fundamentação se pautava no
fato de que o extraditando teria se envolvido em organizações ilegais e criminosas
por motivos políticos.
Tal argumento foi refutado pelo STF, em razão do entendimento de que se
trata de crimes comuns e não de crimes políticos, bem como por tornar insubsistente
a concessão do refúgio, por não vislumbrar qualquer temor de perseguição política
no que toca ao ato concessivo de refúgio.
A crítica apresentada pelo STF se dá em razão da contrariedade da decisão
apresentada pelo Presidente, visto que, na negativa da concessão da extradição,
foram utilizados os mesmos argumentos do não acolhimento do pedido de refúgio
apresentado pelo Ministro da Justiça. Não seria plausível admitir que as razões para
a concessão do refúgio são inadequadas, enquanto para a concessão da extradição
são lícitas.
39

Ademais, não há o que diferenciar ambas as decisões, visto que os dois


diplomas (Lei que trata sobre o Refúgio e o Tratado entre Brasil e Itália) têm
conteúdos similares. Também não se distinguem as autoridades que proferiram as
decisões, eis que os Ministros, no atual sistema, são auxiliares do Presidente da
República.

3.2 ANÁLISE CRÍTICA DA DECISÃO

Nesse ponto, merece destaque as opiniões antagônicas dos renomados


juristas Francisco Rezek e Luis Roberto Barroso acerca do assunto.
Primeiramente, Francisco Rezek, ao criticar a decisão tomada pelo então
Presidente Lula no que tange o ato de não entrega do ex-ativista italiano ao seu país
de origem, inferiu que tal ato “descumpriu os preceitos jurídicos da diplomacia
internacional”90.
Explica o jurista que o Presidente negou a extradição de Cesare Battisti, com
base no parecer exarado pela Advocacia Geral da União, o qual referia que cabia ao
Supremo Tribunal Federal tão-somente examinar a legalidade e a procedência do
pedido, funcionando este apenas como um órgão consultivo do Poder Executivo.
Dessa forma, criticou com veemência a decisão tomada pelo Chefe do
Poder Executivo, afirmando que o entendimento expedido pela AGU caberia
somente para os casos em que não haja um tratado prévio sobre o assunto. Nesse
sentido, explicitou que, em 1989, Brasil e Itália assinaram um Tratado de Extradição,
os quais se comprometeram a devolver um ao outro “as pessoas que se encontrem
em seu território e que sejam procuradas pelas autoridades judiciais da parte
requerente”.
A partir disso, o especialista afirma que a decisão levou o Presidente a
incorrer em um “erro jurídico clamoroso” ao descumprir um acordo internacional.
Complementou, ainda, no sentido de que mesmo que não houvesse tratado entre os
países, ao tomar uma decisão contra a mais alta corte do Judiciário incidiu numa
ruptura com nossa tradição diplomática.

90 Comentários retirados do site: Blog do Daniel Ravena: O caso Battisti e a opinião de Francisco
Rezek. Acessado em 20/05/2013.
40

Ademais, critica o argumento do Presidente quando afirmara que era


soberano para tomar aquela decisão, ponderando que o verdadeiro gesto soberano
foi quando o Brasil assinou um tratado com a Itália, devendo este ser respeitado.
Quanto à discussão de se tratar ou não de crime político ou comum, haver
perseguição política ou não, aduz o jurista que tal discussão foi amplamente
debatida pelo Supremo Tribunal Federal, sendo uma das mais longas de sua
história, dando razão às acaloradas críticas exaradas pelo Governo italiano.
Outro argumento criticado pelo especialista foi a justificativa na qual a AGU
se manifestava contrariamente pela extradição em razão da idade do italiano, pelo
fato deste contar com cinqüenta anos de idade e receberia uma pena de 30 anos,
considerando que se trataria de uma pena de prisão perpétua. Entretanto, conforme
aludiu Rezek, já houve concessão pela extradição de septuagenário, não cabendo
tal justificativa.
Por fim, relata o jurista que caberia ao governo italiano recorrer da decisão
brasileira a cortes internacionais, uma vez que foi vítima de um ilícito internacional,
podendo ainda vir a assumir represálias.
Em um segundo momento, cabe referir a crítica efetuada por Luís
RobertoBarroso91, quando então atuou como advogado de Cesare Battisti.
Entende o jurista que a referida decisão teve repercussão política, uma vez
que outros países, como Inglaterra e Japão já haviam recusado a entregar ativistas
no mesmo período. Além disso, afirma que havia interesse em que se
desacreditasse uma decisão do então Ministro da Justiça, endossada pelo
Presidente da República. E, por fim, aduz que há um desinteresse pela sociedade
em geral, sendo indiferente à entrega do italiano ao seu país de origem.
Entretanto, alude com veemência no sentido de que se trata de uma pessoa
e que, por isso, devem ser analisados alguns aspectos que não foram amplamente
divulgados.
Afirma, primeiramente, que a decisão do Ministro da Justiça pela concessão
do Refúgio foi corroborada pelo parecer do então Procurador-Geral da República, à
época Dr. Antônio Fernando de Souza, entendendo pela validade dessa decisão,
com a consequente extinção do processo de extradição.

91 BARROSO, Luís Roberto. O último perseguido. Disponível em:


<http://www.luisrobertobarroso.com.br/wp-content/themes/LRB/pdf/o_ultimo_perseguido.pdf>.
Acesso em: 20 maio 2013.
41

Posteriormente, alude que no dia do julgamento do italiano no STF, o então


Procurador-Geral da República, Dr. Roberto Gurgel, também se manifestou pelo fim
do processo de extradição.
Ademais, relata o jurista que os Ministros Joaquim Barbosa, acompanhado
por Eros Grau e Carmem Lúcia, votaram a favor da validade do Refúgio, bem como
pela extinção do então processo. Aduz que o Ministro referiu ser indevida a prisão
do italiano, assim como houve queixa por parte em relação à “arrogância” da
atuação da Itália e da “insistência inapropriada” do embaixador italiano nas gestões
junto ao STF.
A corroborar com seu posicionamento, salienta, ainda, que não foi divulgada
a opinião de três dos maiores juristas brasileiros – os professores Paulo Bonavides,
José Afonso da Silva e Dalmo Dallari – os quais defenderam a concessão do refúgio
ao italiano Cesare Battisti.
Uma interessante informação trazida por Luís Roberto Barroso é o fato de
que o italiano, ao ser acusado por quatro homicídios na Itália, foi condenado em um
julgamento coletivo, com mais de vinte réus, o qual compareceu e se defendeu, não
sendo acusado por qualquer das mortes.
Posteriormente, após estar refugiado na França, foi julgado pela segunda
vez, à revelia, sem ter comparecido para se defender das acusações. Refere que,
neste julgamento, a única prova relevante foi uma delação premiada de um
arrependido, acusado pelos crimes de homicídio. Ademais, a referida decisão fala
mais de trinta vezes em crime político voltado para a subversão da ordem.
Entende o jurista que diante deste caso, a Constituição brasileira proíbe
expressamente a extradição, afirmando, inclusive, que houve a proposta do italiano
ao seu país de origem, que fosse realizado um novo julgamento, livre de
contaminação política, sem, contudo, obter alguma resposta.
Por fim, relata Barroso que a existência de empate no julgamento revela, no
mínimo, a existência de dúvida razoável, argüindo pela sua permanência no país,
uma vez que já se passam trinta anos do fato ocorrido, levando uma vida pacífica
até o momento. Ademais, menciona que não há precedente de corte constitucional
ou tribunal supremo relevante que tenha anulado a concessão de um refúgio.
42

3.3 ANÁLISE CRÍTICA DO CASO EDWARD SNOWDEN

Outro fato de destaque mundial, no que tange as relações internacionais


envolvendo pessoas, é o caso do americano Edward Snowden, ex-técnico da CIA,
responsável pelo vazamento de vasto material sobre os métodos de espionagem
americanos.
As denúncias sobre a espionagem do governo americano ameaçaram abalar
de fato as relações comerciais dos Estados Unidos, com tradicionais aliados. No dia
27 de junho de 2013, foi a vez dos países da União Européia (U.E.) reagirem com
indignação a novas acusações sobre o alcance da vigilância americana.
O presidente francês François Hollande ameaçou não assinar um amplo
acordo econômico da União Européia com os Estados Unidos até o governo
americano garantir que seus aliados não serão mais espionados.
A reação veio um dia depois que dados confidenciais divulgados por
Snowden, publicados no jornal britânico “Guardian”, indicando que o governo
americano espionou ao menos trinta e oito embaixadas ou missões diplomáticas de
países aliados, citando-se, entre eles, França, Alemanha, Itália, Grécia, México,
Japão, Coréia do Sul e Turquia.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, admitiu a possibilidade de aceitar
Snowden no país, impondo-lhe algumas restrições, dentre as quais: que ‘ele’
interrompa seu trabalho dirigido a prejudicar “os nossos parceiros americanos”.
Em entrevista disse que não vai extraditá-lo para os Estados Unidos, por não
manter acordo de extradição com aquele país. Snowden até então está na área de
trânsito do aeroporto de Moscou, local para onde fugiu após passar por Hong Kong.
Já havia pedido asilo a vinte e um países, dentre os quais o Brasil.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, embaixador
Tovar da Silva Nunes, informou, em 02 de julho de 2013, que o governo brasileiro
recebeu a carta com o pedido de asilo para o ex-técnico da CIA, mas afirmou não ter
a intenção de responder à solicitação. Em declaração ao jornal “O Globo” 92, o
Ministério afirmou que a Diplomacia Brasileira não pretende divulgar os motivos da
decisão, mas que o anúncio não pode ser interpretado como uma rejeição.

92 O Globo. Brasil rejeita pedido de asilo de Snowden. Disponível em:


<http://oglobo.globo.com/mundo/brasil-rejeita-pedido-de-asilo-de-snowden-8881210>. Acesso em:
02 jul. 2013.
43

As opções de refúgio para o ex-técnico da CIA diminuem, com ao menos


sete países afirmando que a solicitação tem que ser presencial, oito sem dar uma
resposta oficial e a Índia rejeitando claramente ao pedido.
De qualquer forma, este jovem deve ser protegido, pois está sendo
perseguido pelos Estados Unidos. O fato de não ter cometido crime algum gera
dúvidas sobre o motivo pelo qual nenhum país o concede asilo. Pelo contrário, ele
está fazendo tudo para prevenir guerras, para evitar ações ilegais contra o restante
do mundo. O italiano Cesare Battisti, entretanto, é acusado de ter assassinado
quatro pessoas e recebeu as benesses do governo brasileiro e encontra-se livre.
Conclui-se, portanto, que, conforme diz o ditado, “nem tudo são flores”, uma vez que
sempre prevalecerão os interesses políticos e econômicos, curvando-se
praticamente todos os países à supremacia americana, inclusive o Brasil.
Há de se enfatizar, entretanto, que uma coisa é certa, a história nos mostrou
que todos os Impérios caíram a partir de ações promovidas por grandes líderes,
apoiados por povos oprimidos. Quiçá, um dia, chegarmos lá. Destaca-se, nesse
ínterim, as recentes manifestações do povo brasileiro, as quais demonstram um sinal
de mudança, servindo de modelo ao combate das inconformidades que abalam o
cenário mundial.
44

4 CONCLUSÃO

O processo de extradição, conforme exposto ao longo do trabalho, trata-se,


geralmente, de um ato simples, gerido por acordos internacionais, firmados entre o
Brasil e diversos países do mundo.
Na maioria das vezes, os atos de entrega desses criminosos de um país
para outro, a fim de que possam ser processados ou, se condenados, venham a
cumprir pena, são meramente burocráticos e anônimos, sequer percebidos pela
população brasileira. Porém, existem casos que geram repercussão internacional,
como foi o caso do italiano Cesare Battisti, objeto exemplificado no nosso trabalho.
A ação do Governo brasileiro, em não dar cumprimento à decisão do
Supremo Tribunal Federal, evidentemente “mexeu” com o ordenamento jurídico
nacional, tendo em vista que, pela primeira vez, uma ordem judicial favorável à
concessão da extradição não foi cumprida pelo Poder Executivo.
Criou-se, aqui, um marco histórico, onde, de certa forma, a harmonia dos
poderes ficou estremecida. Contudo, a própria Suprema Corte declinou entendendo
que sua decisão não teria o poder de vincular a decisão do Presidente da República,
em razão de que sua competência limitar-se-ia a aspectos meramente legais,
ficando a cargo do Chefe do Executivo executar ou não a decisão judicial, que, por
sua vez, foi contrária àquela exarada pelo Judiciário. Isso, portanto, demonstrou
claramente um equilíbrio entre os poderes, ilustrado, neste caso em especial, com a
independência dos poderes, peça fundamental para a manutenção da democracia.
A República Federativa do Brasil, como Estado Soberano, sempre teve o
costume de cumprir os acordos internacionais. Em razão disso, em relação às
relações internacionais, hoje vem cumprindo um dos seus princípios fundamentais,
qual seja a defesa da paz, tendo, por via de consequência, um dos maiores
relacionamentos diplomáticos do mundo, inclusive com países como o Líbano.
Nossas relações estão colhendo frutos até mesmo com países africanos,
continente no qual se encontra em ascensão econômica nos últimos anos,
demonstrando, desse modo, sua integração com diversos Estados ao redor do
mundo.
No tocante ao caso do italiano Cesare Battisti, referindo-se mais
precisamente à relação da República Federativa do Brasil com o Estado italiano,
pôde se observar, diante do entendimento ora esposado no presente trabalho, a
45

presença de dois posicionamentos antagônicos: de um lado, o posicionamento


adotado pelo ex-ministro do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Internacional de
Haia, Dr. Francisco Rezek, e de outro, o recém-nomeado ministro da referida Casa,
o jurista Luiz Roberto Barroso.
Rezek foi enfático em concordar com a posição do STF em conceder a
extradição de Battisti, tendo um posicionamento mais técnico, seguindo a normativa
a qual rege as relações internacionais, de modo a se posicionar pelo cumprimento
do Tratado firmado com a Itália.
Luis Roberto Barroso, por sua vez, adotou a mesma linha do ex-ministro da
Justiça, Tarso Genro, posicionando-se pela concessão de refúgio ao alienígena, por
entender que os crimes por ele cometidos tinham conotação política. O referido
jurista que era, à época, advogado de Battisti, não tinha outra opção senão defendê-
lo, com o intuito de mantê-lo no Brasil, na condição de refugiado político. Em razão
disso, parece que o fato de o defensor ter seguido a mesma doutrina governamental
no caso, deve ter, sobremaneira, influenciado para a sua recente indicação ao cargo
de Ministro do Supremo Tribunal Federal.
De outra banda, a decisão tomada pelo governo brasileiro, concedendo
refúgio a Cesare Battisti, pode ter sido um fator prejudicial em relação ao fato de o
Brasil visar um cargo de membro permanente das Nações Unidas. Isso se justifica
em razão de que, ao descumprir um Tratado Internacional perante o governo
italiano, perdeu-se muita credibilidade diante da comunidade internacional.
Nesse ínterim, afirma-se que diplomacia política governamental é
necessária, porém tem limites. Hoje, no Brasil, temos um criminoso acusado do
cometimento de quatro homicídios andando livremente pelas ruas, protegido por
uma decisão política governamental, desprezando a decisão jurídica da mais alta
corte do país, o que demonstra, por certo, uma desarmonia entre os poderes. Isso
poderá acarretar, em um futuro próximo, reflexos negativos ao país, diante de suas
relações internacionais.
Portanto, o objetivo do presente trabalho foi inovar e deixar para a Escola
Superior de Guerra – ESG – uma noção sobre o tema Extradição, abordando alguns
aspectos jurídicos e políticos que podem se desencadear com as decisões tomadas
pelas mais altas patentes dos poderes da República Federativa do Brasil. No caso,
foi apresentada a decisão do italiano Cesare Battisti, como base para ilustrar as
divergências políticas que podem advir de um processo de extradição, repercutindo
46

internacionalmente nas relações do país perante as demais comunidades ao redor


do mundo.
Por outro lado a mesma consideração deve-se ao episódio envolvendo o ex-
técnico da CIA, Edward Snowden. Praticamente todos os países repudiaram as
ações de espionagens promovidas pelo governo americano.
Como já referenciamos, o presidente da França ameaçou com bloqueios
econômicos àquele país caso continue praticando ações de espionagem.
Com relação ao Brasil, entende-se que faltou às autoridades brasileiras um
pouco mais de diplomacia governamental quando não analisou o pedido de refúgio-
asilo do referido americano e nem sequer, fundamentou a decisão, posicionamento
este que foi opostamente adotado com relação a não concessão de extradição do
italiano Cesare Battisti.
Esperamos desse modo, ter atendido os objetivos impostos pelo
Regramento Interno da ESG e, com isso, ter contribuído no aprimoramento dos
estudos que norteiam os caminhos dessa Escola, qual seja, “Estudar os Destinos do
Brasil”, contribuindo, sobremaneira, com a importância da extradição no contexto
das relações internacionais.
47

REFERÊNCIAS

ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G. E do Nascimento e; CASELLA, Paulo Borba.


Manual de Direito Internacional Público. 20. Ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

BARROSO, Luís Roberto. O último perseguido. Disponível em:


<http://www.luisrobertobarroso.com.br/wp-
content/themes/LRB/pdf/o_ultimo_perseguido.pdf>. Acesso em: 20 maio 2013.

BRASIL. Constituição Federal (at. 5º). Constituição da República Federativa do


Brasil. In: MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. SECRETARIA NACIONAL DE JUSTIÇA.
DEPARTAMENTO DE ESTRANGEIROS. Manual de extradição. Brasília, DF, 2012.

______. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional. Departamento de Estrangeiros.


Manual de Extradição. Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980. Define a situação
jurídica de estrangeiros no Brasil, cria o Conselho Nacional de Imigração. Brasília,
DF, 2012. P. 59.

_______. Secretaria Nacional de Justiça. Manual de extradição. Brasília: Secretaria


Nacional de Justiça, Departamento de Estrangeiros: 2012.

_______. Brasil rejeita pedido de asilo de Snowden. O Globo, Rio de Janeiro.


Disponível em: <http://oglobo.globo.com/mundo/brasil-rejeita-pedido-de-asilo-de-
snowden-8881210>. Acesso em: 2 jul. 2013.

CARNEIRO, Camila Tagliani. A extradição no ordenamento jurídico brasileiro. –


São Paulo : Memória Jurídica Editora, 2002.

DEL’OLMO, Florisbal de Souza. A extradição no alvorecer do século XXI. – Rio


de Janeiro: Renovar, 2007.

ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (Brasil). Manual para elaboração do Trabalho


de Conclusão de Curso: monografia. Rio de Janeiro, 2012.

MASSON, Cleber Rogério. Direito Penal Esquematizado – Parte geral – vol. 1 – 3ª


ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro : Forense ; São Paulo : Método, 2010.

MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 4. ed. rev.,


atual. e ampl. São Paulo: Editora: Revista dos Tribunais, 2010.

MORAES. Alexandre de. Direito Constitucional. 25. ed. – São Paulo : Atlas. 2010.

RAVENA, Daniel. Blog do Ravena. O caso Battisti e a opinião de Francisco Rezek.


Acesso em 20 maio 2013.

REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar 11. ed. rev. e
atual. São Paulo: Saraiva, 2008.

SILVA, Guimarães Francisco Xavier da. Medidas compulsórias, a deportação, a


expulsão e a extradição. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
48

SILVA. José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 26. ed. rev., atual.
nos termos da Reforma Constitucional (até a Emenda Constitucional n. 48, de
10.8.2005). – São Paulo: Malheiros Editores.
49

ANEXO A: LEGISLAÇÃO

Constituição Federal (art. 5º);

Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980 - Define a situação jurídica do estrangeiro no


Brasil, cria o Conselho Nacional de Imigração;

Decreto nº 86.715, de 10 de dezembro de 1981 - Regulamenta a Lei nº 6.815, de


19 de agosto de 1980, que define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil, cria o
Conselho Nacional de Imigração e dá outras providências

Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997 - Define mecanismos para a implementação


do Estatuto dos Refugiados de 1951e determina outras providências;

Portaria MJ nº 1.443, de 12 de setembro de 2006 - Aprova o Regimento Interno da


Secretaria Nacional de Justiça;

Portaria MJ nº 68, de 17 de janeiro de 2006– Delega competência ao Diretor do


Departamento de Estrangeiros, da Secretaria Nacional de Justiça, para autorizar
trânsito pelo território nacional de pessoas extraditadas por Estados estrangeiros;

Portaria MJ nº 737, de 16 de dezembro de 1988– Altera a Portaria nº 557, de 04


de outubro de 1988 e estabelece procedimento a ser adotado em relação à prisão
para fins de extradição de que tratam os artigos 81 e 82, da Lei n°6.815, de 19 de
agosto de 1980, alterada pela Lei n° 6.964, de 09 de dezembro de 1981;

Decreto nº 3.447, de 5 de maio de 2000– Delega competência ao Ministro de


Estado da Justiça para resolver sobre a expulsão de estrangeiro do País e sua
revogação, na forma do art. 66, da Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980,
republicada por determinação do art. 11, da Lei nº 6.964,de 9 de dezembro de 1981;
50

ACORDOS DE EXTRADIÇÃO EM VIGOR:

ARGENTINA - Tratado de Extradição entre o Brasil e a Argentina - Assinado em 15


de novembro de 1961, promulgado pelo Decreto nº 62.979, de 11 de julho de1968, e
publicado no Diário Oficial de 15 de julho de 1968;

AUSTRÁLIA - Tratado sobre Extradição, celebrado entre o Governo da República


Federativa do Brasil e o Governo da Austrália - Assinado em 22 de agosto de 1994,
promulgado pelo Decreto nº 2.010, de 25 de setembro de 1996, e publicado no
Diário Oficial de 24 de setembro de 1996;

BÉLGICA - Tratado de Extradição entre o Brasil e a Bélgica - Assinado em 6 de


maio de 1953, promulgado pelo Decreto nº 41.909, de 29 de julho de 1957, e
publicado no Diário Oficial de 1º de agosto de 1957. Acordo complementar
estendendo a aplicação do Tratado de Extradição ao Tráfico Ilícito de Drogas,
assinado no Rio de Janeiro, por troca denotas de 22 de abril e 8 de maio de 1958;

BOLÍVIA - Tratado de Extradição entre o Brasil e a Bolívia- Assinado em 25 de


fevereiro de 1938, promulgado pelo Decreto nº 9.920, de 8 de julho de 1942,
publicado no Diário Oficial de 10 de julho de 1942;

CHILE - Tratado de Extradição entre o Brasil e o Chile - Assinado em 8 de novembro


de 1935, promulgado pelo Decreto nº 1.888, de 17 de agosto de 1937, e publicado
no Diário Oficial de 20 de julho de 1937;

COLÔMBIA - Tratado de Extradição entre o Brasil e a Colômbia - Assinado em 28


de dezembro de 1938, promulgado pelo Decreto nº 6.330, de 25 de setembro
de1940, e publicado no Diário Oficial de 27 de setembro de 1940;

EQUADOR - Tratado de Extradição entre o Brasil e o Equador - Assinado em 4 de


março de 1937, promulgado pelo Decreto nº 2.950, de 8 de agosto de 1938, e
publicado no Diário Oficial de 11 de agosto de 1938;
51

ESPANHA - Tratado de Extradição, entre a República Federativa do Brasil e o Reino


da Espanha - Assinado em 2 de fevereiro de 1988, promulgado pelo Decreto nº
99.340, de 22 de junho de 1990, e publicado no Diário Oficial de 25de junho de
1990;

ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA - Tratado de Extradição com os Estados Unidos


da América e respectivo Protocolo Adicional - Assinado em 13 de janeiro de 1961,
promulgado pelo Decreto nº 55.750, de 11 de fevereiro de 1965, e publicado no
Diário Oficial de 15 de fevereiro de 1965; e Protocolo Adicional ao Tratado de
Extradição, assinado aos18 de junho de 1962;

FRANÇA - Tratado de Extradição entre o Governo da República Federativa do Brasil


e o Governo da República Francesa - Assinado em 28 de maio de 1996, promulgado
pelo Decreto nº 5.258, de 27 de outubro de 2004, e publicado no Diário Oficial de 28
de outubro de 2004;

ITÁLIA - Tratado de Extradição, entre a República Federativa do Brasil e a


República Italiana - Assinado em 17 de outubro de 1989, promulgado pelo Decreto
nº 863, de 9 de julho de1993, e publicado no Diário Oficial de 12 de julho de 1993;

LITUÂNIA - Tratado de Extradição entre o Brasil e a Lituânia- Assinado em 28 de


setembro de 1937, promulgado pelo Decreto nº 4.528, de 16 de agosto de 1939, e
publicado no Diário Oficial de 16 de agosto de 1939;

MERCOSUL - Acordo de Extradição entre os Estados Parte do Mercosul - Em vigor


para o Brasil, o Paraguai e o Uruguai.Assinado em 10 de dezembro de 1998,
promulgado pelo Decreto nº 4.975, de 30 de janeiro de 2004, e publicado noDiário
Oficial de 2 de fevereiro de 2004;

MERCOSUL e ASSOCIADOS - Acordo de Extradição entre os Estados Parte do


Mercosul e a República da Bolívia e a República do Chile - Em vigor para o Brasil, o
Paraguai, o Uruguai, a Bolívia e o Chile. Assinado em 10 de dezembro de 1998,
promulgado pelo Decreto nº 5.867, de 03 de agosto de 2006, e publicado no Diário
Oficial de 04 de agosto de 2006;
52

MÉXICO - Tratado de Extradição entre o Brasil e o México e o respectivo Protocolo


Adicional - Assinado em 28 de dezembro de 1933, promulgado pelo Decreto nº
2.535, de22 de março de 1938. Protocolo Adicional assinado em 18de setembro de
1935, promulgado pelo Decreto nº 2.535, de 22 de março de 1938, e publicado no
Diário Oficial de 2de abril de 1938;

PARAGUAI - Tratado de Extradição de Criminosos entre o Brasil e o Paraguai -


Assinado em 24 de fevereiro de 1922, promulgado pelo Decreto nº 16.925, de 27 de
maio de1925, e publicado no Diário Oficial de 30 de maio de 1925;

PERU - Tratado de Extradição entre a República Federativa do Brasil e a República


do Peru - Assinado em 25 de agosto de 2003, promulgado pelo Decreto nº 5.853 de
19 de julho de 2006, e publicado no Diário Oficial de 20 de julho de 2006;

PORTUGAL - Tratado de Extradição entre o Governo da República Federativa do


Brasil e o Governo da República Portuguesa - Assinado em 7 de maio de 1991,
promulgado pelo Decreto nº 1.325, de 2 de dezembro de 1994, e publicado no Diário
Oficial de 5 de dezembro de 1994;

REINO UNIDO DA GRÃ-BRETANHA E IRLANDA DO NORTE- Tratado de


Extradição, celebrado entre o Governo da República Federativa do Brasil e o
Governo do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte - Assinado em 18 de
julho de 1995, promulgado pelo Decreto nº 2.347, de 10de outubro de 1997, e
publicado no Diário Oficial de 13 de outubro de 1997;

REPÚBLICA DA CORÉIA - Tratado de Extradição entre a República Federativa do


Brasil e a República da Coréia - Assinado em 1º de setembro de 1995, promulgado
pelo Decreto nº 4.152, de 7 de março de 2002, e publicado no Diário Oficial de 8 de
março de 2002;
REPÚBLICA DOMINICANA - Tratado de Extradição entre o Governo da República
Federativa do Brasil e o Governo da República Dominicana - Assinado em 17 de
novembro de2003, promulgado pelo Decreto nº 6.738, de 12 de janeiro de 2009, e
publicado no Diário Oficial de 13 de janeiro de2009;
53

ROMÊNIA - Tratado de Extradição entre a República Federativa do Brasil e a


Romênia - Assinado em 12 de agosto de 2003, promulgado pelo Decreto nº 6.512,
de 21de julho de 2008, e publicado no Diário Oficial de 22 de julho de 2008;

RÚSSIA - Tratado de Extradição entre a República Federativa do Brasil e a


Federação da Rússia - Assinado em 14 de janeiro de 2002, promulgado pelo
Decreto nº 6.056, de 6de março de 2007, e publicado no Diário Oficial de 7 de março
de 2007;

SUÍÇA - Tratado de Extradição entre o Brasil e a Suíça - Assinado em 23 de julho de


1932, promulgado pelo Decreto nº 23.997, de 13 de março de 1934, e publicado no
Diário Oficial de 16 de março de 1934;

UCRÂNIA - Tratado de Extradição entre a República Federativa do Brasil e a


Ucrânia - Assinado em 21 de outubro de 2003, promulgado pelo Decreto nº 5.938,
de 19de outubro de 2006, e publicado no Diário Oficial de 20 de outubro de 2006;

URUGUAI - Tratado de Extradição de Criminoso, entre a República dos Estados


Unidos do Brasil e a República Oriental do Uruguai - Assinado em 27 de dezembro
de1916, promulgado pelo Decreto nº 13.414, de 15 de janeiro de 1919, e publicado
no Diário Oficial de 18 de janeiro de1919. Protocolo Adicional assinado em 7 de
dezembro de 1921 e promulgado pelo Decreto nº 17.572, de 30 de novembro de
1926;

VENEZUELA - Tratado de Extradição entre o Brasil e a Venezuela - Assinado em 7


de dezembro de 1938,promulgado pelo Decreto nº 5.362, de 12 de março de1940, e
publicado no Diário Oficial de 15 de março de 1940;

CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS CONTRA O CRIME ORGANIZADO


TRANSNACIONAL (“CONVENÇÃO DE PALERMO”) – Adotada em 15 de
novembro de 2000, ratificada pelo Brasil em 29 de janeiro de 2004, promulgada pelo
Decreto nº 5.015, de 12 de março de 2004 e publicada no Diário Oficial de 15 de
março de 2004;
54

ACORDOS DE EXTRADIÇÃO APROVADOS PELO CONGRESSO, PENDENTES


DE RATIFICAÇÃO E/OU PROMULGAÇÃO

ANGOLA - Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo


da República de Angola sobre Extradição, assinado em Brasília, em 3 de maio de
2005,aprovado pelo Decreto Legislativo nº 04/2008;

CANADÁ - Tratado de Extradição, celebrado entre o Governo da República


Federativa do Brasil e o Governo do Canadá, em Brasília, em 27 de janeiro de 1995,
aprovado pelo Decreto Legislativo nº 360/2007;

CPLP - Convenção de Extradição entre os Estados Membros da Comunidade dos


Países de Língua Portuguesa, assinada na Cidade de Praia, em 23 de novembro de
2005, aprovada pelo Decreto Legislativo nº 45/2009;

GUATEMALA - Tratado de Extradição entre o Governo da República Federativa do


Brasil e o Governo da República da Guatemala, celebrado em Brasília, em 20 de
agosto de2004, aprovado pelo Decreto Legislativo nº 301/2007;

LÍBANO - Tratado de Extradição entre o Governo da República Federativa do Brasil


e o Governo da República Libanesa, celebrado em Beirute, em 4 de outubro de
2002,aprovado pelo Decreto Legislativo nº 348/2008;

MOÇAMBIQUE - Acordo de Extradição entre a República Federativa do Brasil e a


República de Moçambique, assinado em Maputo, em 6 de julho de 2007, aprovado
pelo Decreto Legislativo nº 894/2009;

PANAMÁ - Tratado de Extradição entre a República Federativa do Brasil e a


República do Panamá, assinado na Cidade do Panamá, em 10 de agosto de 2007,
aprovado pelo Decreto Legislativo nº 281/2010;

SURINAME - Tratado sobre Extradição entre o Governo da República Federativa do


Brasil e o Governo da República do Suriname, celebrado em Paramaribo, em 21 de
dezembro de 2004, aprovado pelo Decreto Legislativo nº 655/2010.
55

ACORDOS DE EXTRADIÇÃO EM TRAMITAÇÃO LEGISLATIVA; ASSINADOS,


PENDENTES DE RATIFICAÇÃO; E EM NEGOCIAÇÃO

EXTRADIÇÃO SIMPLIFICADA - Acordo sobre Extradição Simplificada entre a


República Argentina, a República Federativa do Brasil, o Reino da Espanha e a
República Portuguesa – Assinado em 03 de novembro de 2010, na cidade de
Santiago de Compostela, Espanha (pendente de encaminhamento à aprovação
legislativa);

MANDADO MERCOSUL DE CAPTURA - Acordo sobre Mandado Mercosul de


Captura e Procedimentos de Entrega entre os Estados Partes do Mercosul e
Estados Associados – Aprovado pela Decisão CMC nº 48/10 (pendente de
encaminhamento à aprovação legislativa).

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