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ROGÉRIO MATOS DOS SANTOS

PROJETO ESTRATÉGICO GUARANI: uma análise sobre a


situação atual e os impactos da conjuntura no seu prosseguimento

Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia


apresentada ao Departamento de Estudos da
Escola Superior de Guerra como requisito à
obtenção do diploma do Curso de Altos
Estudos de Política e Estratégia.

Orientador: Cel Alexandre Guimarães Reis.

Rio de Janeiro
2015
C2015 ESG
Este trabalho, nos termos de legislação
que resguarda os direitos autorais, é
considerado propriedade da ESCOLA
SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É
permitido a transcrição parcial de textos
do trabalho, ou mencioná-los, para
comentários e citações, desde que sem
propósitos comerciais e que seja feita a
referência bibliográfica completa.
Os conceitos expressos neste trabalho
são de responsabilidade do autor e não
expressam qualquer orientação
institucional da ESG

_________________________________
Rogério Matos dos Santos

Biblioteca General Cordeiro de Farias

Santos, Rogério Matos dos.


Projeto Estratégico Guarani: uma análise sobre a situação atual e
os impactos da conjuntura no seu prosseguimento/Coronel Rogério
Matos dos Santos. - Rio de Janeiro: ESG, 2015.

49 f.: il.

Orientador: Coronel Alexandre Guimarães Reis.


Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao
Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como
requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de
Política e Estratégia (CAEPE), 2015.

1. Projeto Estratégico Guarani. 2. Soberania. 3. Base Industrial


de Defesa. I.Título.
À minha amada e dedicada esposa
Adriana pelo amor, carinho, apoio, ajuda
e compreensão evidenciados durante a
realização deste trabalho além da
abnegação na criação de nosso primeiro
filho e cuidado com seus pais.

Aos meus amados filhos Thiago e


Mateus pelo amor, afeto e carinho pelo
pai, mesmo não tendo recebido todo o
tempo de atenção e dedicação que
merecem.
AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, professores, instrutores e chefes de todas as épocas por


terem sido responsáveis por parte considerável da minha formação e do meu
aprendizado.
Ao Coronel Alexandre Guimarães Reis, orientador desse trabalho, pela
paciência, orientações, sugestões e liberdade a mim dispensadas ao longo do
caminho que levou à conclusão da monografia.
Aos amigos Coronel Engenheiro Militar ARMANDO MORADO FERREIRA,
ex Gerente Técnico do Projeto Estratégico Guarani e Coronel Cavalaria Taylor de
Carvalho Neto, atual Supervisor do Projeto Estratégico do Exército Guarani por suas
valiosas e inestimáveis contribuições durante todas as fases desse trabalho.
Ao Corpo Docente e ao Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra
pelos ensinamentos e pelo trabalho diário que permitiu aos Estagiários da TURMA
DESTINOS DO BRASIL realizar o CAEPE nas melhores condições possíveis.
Aos estagiários da melhor Turma do CAEPE de todos os tempos – TURMA
DESTINOS DO BRASIL - pelo convívio harmonioso de todas as horas e pelas
contribuições na elaboração da obra.
RESUMO

O Brasil já foi um grande produtor e exportador de Material de Emprego Militar


(MEM). Fruto de um Projeto de Estado, apoiado pelas Forças Armadas, as
empresas brasileiras que integravam a Base Industrial de Defesa (BID), como a
AVIBRAS, ENGESA e EMBRAER, fabricavam e vendiam produtos de alto valor
agregado. Tais empresas atingiram o seu ápice de suas produções no período entre
o final dos anos 1970 e até o final dos anos 1980. Porém aspectos conjunturais,
tanto internos quanto externos, contribuíram para o desmantelamento da BID, no
início dos anos 1990. A partir daí, o Brasil passou a comprar seus MEM no mercado
internacional. Em meados de 2006, o Exército Brasileiro iniciou o projeto da Nova
Família de Blindados sobre Rodas (NFBR), chamado de Projeto Guarani, com o
objetivo de substituir as viaturas blindadas até hoje em uso a mais de 40 anos e já
obsoletas. Tal projeto está em andamento e tem previsão de vigência até 2045.
Neste trabalho, o autor apresentar o histórico do projeto e sua situação atual,
analisando os aspectos que o levaram a promover o renascimento da industria de
blindados no país. Após isso, analisa-se a conjuntura nacional e a internacional,
como forma de entender os possíveis óbices ao prosseguimento do Projeto Guarani.
Como conclusão, correlaciona-se o momento atual com o vivido antes do
desmantelamento, ocorrido início dos anos 1990, indicando as similaridades entre o
passado e o momento atual, com foco em apontar caminhos possíveis a serem
trilhados para assegurar o prosseguimento do projeto.

Palavras chave: Projeto Estratégico Guarani. Nova Família de Blindados sobre


Rodas. Base Industrial de Defesa.
ABSTRACT

Brazil was the a major producer and exporter of rockets, tanks, aircraft, weapons and
ammunition. Result of planning, supported by the Armed Forces, Brazilian companies
that were part of the Defense Industrial Base (IDB), as AVIBRAS, ENGESA and
EMBRAER, manufactured and sold high value-added products. Such companies
reached their peak of their production in the period between the late 1970s and the
late 1980s. But conjunctural aspects, both internal and external, have contributed to
the dismantling of the IDB in the early 1990s. Since then, Brazil has to buy their MEM
in the international market. In mid-2006, the Brazilian Army initiated the project of
New Armored Family on Wheels (NFBR), called the Guarani Project, aiming to
replace the armored today in use for over 40 years and already obsolete. This project
is in progress and is expected to be effective until 2045. In this paper, the author
present the history of the project and its current situation, analyzing the aspects that
led him to promote the revival of the armored industry in the country. After that, it
analyzes the national and international situation, in order to understand the possible
obstacles to the continuation of the Guarani Project. In conclusion, it correlates the
current time with the lived before dismantling, occurred early 1990s, indicating the
similarities between the past and the present, focusing on pointing out possible paths
to be followed to ensure the project's continuation.

Keywords: Strategic Project Guarani. New Armored Family on Wheels. Defense


Industrial Base.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 Cronograma de produção da VBTP-MR ..........................................22


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIMDE Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e


Segurança
BID Base Industrial de Defesa
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
BRICS Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul
Bda Inf Mec Brigada de Infantaria Mecanizada
CREDEN Câmara de Relações Exteriores e de Defesa Nacional
CIBld Centro de Instrução de Blindados
CAEx Centro de Avaliação do Exército
Ch EME Chefe do Estado Maior do Exército
C&T Ciência e Tecnologia
2
C Comando e Controle
COLog Comando Logístico
COTer Comando de Operações Terrestres
Cia Fuz Mec Companhia de Fuzileiros Mecanizada
CONDOP Condicionantes Operacionais e Doutrinárias
DCT Departamento de Ciência e Tecnologia
DPDN Documento de Política de Defesa Nacional
EPEx Escritório de Projetos do Exército
EB Exército Brasileiro
EME Estado Maior do Exército
EMFA Estado Maior das Forças Armadas
END Estratégia Nacional de Defesa
EUA Estados Unidos da América
FA Forças Armadas
FINEP Financiadora de Estudos e Projetos
FRF Fundação Roberto Franco
GLO Garantia da Lei e da Ordem
GU Grande Unidade
IPCA Índice de Preços ao Consumidor Amplo
IND Indústria Nacional de Defesa
LBDN Livro Branco de Defesa Nacional
LED Lote de Experimentação Doutrinária
MEM Material de Emprego Militar
MD Ministério da Defesa
NFBR Nova Família de Blindados de Rodas
OECD Organization for European Economic Cooperation
OIG Organizações Internacionais Governamentais
ONG Organizações Não-Governamentais
Pel Fuz Mec Pelotão de Fuzileiros Mecanizado
P&D Pesquisa & Desenvolvimento
PEE Projetos Estratégicos do Exército
PN Poder Nacional
PDN Política de Defesa Nacional
PMD Política Militar de Defesa
PNID Política Nacional das Indústrias de Defesa
PND Política Nacional de Defesa
PRODE Produto de Defesa
PIB Produto Interno Bruto
PAC Defesa Programa de Aceleração do Crescimento de Defesa
PROTEGER Proteção de Estruturas Estratégicas Terrestres
1ª RD 1ª Reunião Decisória
RDEsp Reunião Decisória Especial
VBR-LR Viatura Blindada de Reconhecimento Leve de Rodas
VBR-MR Viatura Blindada de Reconhecimento Média de Rodas
VBTP-MR Viatura Blindada de Transporte de Pessoal Média de Rodas
SAE Secretaria de Assuntos Estratégicos
SCTEx Sistema de C&T do Exército
SISFRON Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras
SIPRI Stockholm International Peace Research Institute
SCh Subchefia
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 10
1.1 PROBLEMA .................................................................................................. 14
1.2 OBJETIVOS ................................................................................................. 14
1.3 HIPÓTESE ................................................................................................... 15
1.4 VARIÁVEIS ................................................................................................... 15
1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ....................................................................... 16
1.6 RELEVÂNCIA DO ESTUDO ......................................................................... 16

2 METODOLOGIA........................................................................................... 17

3 O PROJETO DA NOVA FAMÍLIA DE BLINDADOS SOBRE RODAS ........ 18


3.1 ORIGEM ...................................................................................................... 18
3.2 IMPLEMENTAÇÃO....................................................................................... 19
3.2.1 Escolha da empresa parceira e assinatura de convênio e contratos .... 20
3.2.2 Desenvolvimento do protótipo, fabricação do lote piloto e avaliações. 22
3.2.3 A Experimentação Doutrinária e outras demandas do Projeto NFBR ... 24
3.2.4 Instalação da fábrica da IVECO ................................................................. 26
3.3 SITUAÇÃO ATUAL ....................................................................................... 26

4 ANÁLISE DA CONJUNTURA ...................................................................... 30


4.1 CONJUNTURA NACIONAL .......................................................................... 30
4.1.1 A conjuntura Política e o papel do Ministério da Defesa ........................ 31
4.1.2 Conjuntura Econômica .............................................................................. 36
4.1.3 Situação econômica atual .......................................................................... 37
4.1.4 Projeção da situação econômica para 2016 ............................................. 40
4.2 CONJUNTURA INTERNACIONAL ............................................................... 41

5 CONCLUSÃO............................................................................................... 44
REFERÊNCIAS ............................................................................................ 48
ANEXO A – DISTRIBUIÇÃO DOS VBTP-MR ............................................. 50
10

1 INTRODUÇÃO

Em 1989, com a queda do muro de Berlim simbolizando o fim da Guerra


Fria, caracterizou-se o início de uma nova fase no sistema internacional de poder.
Com o fim da bipolaridade, acreditou-se no surgimento de uma nova ordem liberal e
democrática proporcionada pela Pax americana. Será que estamos vivendo essa
nova ordem? De acordo com Christopher Layne1, os EUA perderam espaço com o
surgimento de novos atores globais e hoje o mundo é multipolar.
Segundo a Política Nacional de Defesa (PND, p. 17), o mundo vive desafios
mais complexos do que os enfrentados durante o período de confrontação
ideológica bipolar.
Tais desafios são oriundos do surgimento de novos temas como meio
ambiente, imigração, saúde, direitos humanos, comércio e tecnologia,
incrementando a atuaçãodos atores não estatais, as Organizações Internacionais
Governamentais (OIG) e as Não-Governamentais (ONG). Além de tudo isso, o
narcotráfico, os crimes transfronteiriços e o fundamentalismo islâmico também
integram a lista de “novas ameaças”.
Confirmando o acima citado, MAGNOLI (2004) afirmou que os desafios
vividos são muito mais complexos e imprevisíveis, assuntos como meio ambiente,
terrorismo, fome e energia, entre outros, passaram a fazer parte da agenda global.
Segundo a REVISTA VERDE OLIVA sobre cenários:

Diante de um futuro cada vez menos previsível, lidar com a incerteza


passou a ser um desafio. O ambiente de indefinição agrava-se quando não
há um oponente claramente definido que motive a sociedade para assuntos
de Defesa. O combate ao terrorismo, a proteção da sociedade contra as
armas de destruição em massa, à participação em missões de manutenção
da paz sob a égide de organismos internacionais e o controle de
contingentes populacionais ou de recursos escassos (energia, água ou
alimentos) tornaram--se vertentes inequívocas de possibilidade de emprego
do aparato militar em defesa do Estado brasileiro. (BRASIL, 2015 p.16).

A Política Nacional de Defesa, destaca que, neste século, poderão ser


intensificadas disputas por áreas marítimas, pelo domínio aeroespacial e por fontes
de água doce, de alimentos e de energia, cada vez mais escassas (PND, p. 17).

1
Disponível em http://www.theatlantic.com/international/archive/2012/04/the-end-of-pax-americana-
how-western-decline-became-inevitable/256388/. Acessado em 23 de agosto de 2015.
11

A defesa externa e a soberania do Brasil são garantidas pelo emprego da


Marinha, Exército e Força Aérea de forma integrada, bem estruturada e atualizada,
tanto operacionalmente quanto tecnologicamente.
Cada nação almeja aparelhar as suas Forças Armadas (FA) com os mais
variados Materiais de Emprego Militar (MEM) suficientes e necessários ao
cumprimento de suas missões: armas, munições, eletrônicos, fardamentos,
equipamentos, viaturas, carros de combate, mísseis e foguetes, dentre outros tantos.
Como atender tal demanda?
Há Nações que desenvolvem e produzem os MEM necessários para suas
FA. Outras, por diferentes motivos, optam por adquirir no mercado internacional.
Porém parte significativa das Nações procura o equilíbrio entre a produção e a
aquisição.
O Brasil, ao longo da história, estabeleceu e desenvolveu um setor da
indústria voltado para a produção de MEM. Para tal, se fez (e se faz) necessária
uma política com consequentes estratégias de implantação.
A Política de Defesa Nacional (PDN), 2005, e a PND, 2012, priorizaram a
Estratégia de Dissuasão. Segundo tais documentos, a dissuasão é a estratégia mais
viável para a resolução de conflitos em tempos de paz, seja na defesa externa ou na
interna. Para tal, segundo HARNISCH (2009, p.18) tornam-se necessários a
compreensão e desenvolvimento do Poder Nacional (PN) de forma abrangente no
campo militar e em estreita associação aos demais campos econômico, político,
psicossocial e científico e tecnológico.
Neste conceito de desenvolvimento do PN, reside a importância estratégica
da indústria de defesa para o Brasil, pois associa as FA – campo militar, o segmento
nacional produtor de MEM – expressão econômica, os centros de pesquisa em
Ciência e Tecnologia (C&T) – campo da C&T, a sociedade de forma geral –
expressão psicossocial – e o governo, expressão política.
Completamente integrado com a PND, com a Estratégia Nacional de Defesa
(END) e com a Política Nacional das Indústrias de Defesa (PNID), o Exército
Brasileiro (EB) iniciou, em meados de 2006, o desenvolvimento do projeto da Nova
Família de Blindados sobre Rodas (NFBR), chamado de "Projeto Guarani".
“O Projeto Guarani tem por objetivo transformar as Organizações Militares
de Infantaria Motorizada em Mecanizada e modernizar as Organizações Militares de
Cavalaria Mecanizada”. (BRASIL, 2012). Tais ações dotarão o EB de meios para
12

incrementar a dissuasão e a defesa do território nacional, atendendo a determinação


constante da END e trazendo novas oportunidades de desenvolvimento tecnológico
e industrial à Base Industrial de Defesa (BID) nacional.
Segundo BOABAID (2014, p. 72), a execução do projeto Guarani possibilitou
o início de uma nova era na história da indústria de defesa no Brasil. A concepção e
o desenvolvimento da NFBR, materializada pela produção da primeira versão - a
Viatura Blindada de Transporte de Pessoal – Média de Rodas (VBTP-MR), foram os
responsáveis pelo ressurgimento da indústria de blindados no Brasil.
“Estratégia nacional de defesa é inseparável de estratégia nacional de
desenvolvimento. Esta motiva aquela. Aquela fornece escudo para esta. Cada uma
reforça as razões da outra” (END, p. 43).
O Brasil já foi um grande exportador de MEM. Nos anos de 1970, implantou
e desenvolveu, na região de São José dos Campos, um parque industrial do setor
de Defesa. Conforme FERNANDES (2013, p. 51), na década de 1980, figurou como
um dos maiores exportadores de MEM do mundo.
Com política de incentivo governo, voltada à Pesquisa & Desenvolvimento
(P&D) e com a participação das Forças Armadas, empresas como a ENGESA e a
AVIBRÁS desenvolveram produtos (tanques, veículos de transporte, sistemas de
lançamento de mísseis de pequeno porte e etc) de média sofisticação adaptados às
condições e à capacidade de pagamento de países do Oriente Médio, América
Latina, África e do próprio Brasil, contribuindo para a redução da dependência
externa do País.
Contudo aspectos da conjuntura interna e externa geraram uma crise
fulminante no setor. A grande oferta de material de defesa do leste europeu, após o
final da Guerra Fria, aliada à falta de uma visão estratégica de Defesa na área
industrial e os problemas econômicos surgidos naquele período desestruturaram a
BID em poucos anos e quase a desintegraram. Com isso, houve um retrocesso e um
aumento do hiato tecnológico entre os materiais empregados pelas FA brasileiras e
os utilizados pelos países mais desenvolvidos.
Na conjuntura internacional, os gastos militares globais apresentam ligeira
redução nos últimos três anos. Tal fato é reflexo direto dos cortes dos EUA, fruto da
desocupação do Iraque e redução dos efetivos no Afeganistão. Tal redução é
também observada na Europa Ocidental, fruto da crise econômica. Entre os países
13

em desenvolvimento, em particular o bloco formado pelo Brasil, Rússia, Índia, China


e África do Sul (BRICS), os gastos militares estão em ascensão2.
Segundo o SIPRI Military Expenditure Database3, na América do Sul, o
Paraguai, a Colômbia, a Argentina e o Equador registraram significativos aumentos
nos gastos militares de 2010 a 2014. A Venezuela, entre 2011 e 2013, duplicou seu
orçamento de defesa. O Peru, por sua vez, vem incrementando gradualmente seus
gastos de defesa no marco de um plano quinquenal lançado em 20124. Os gastos
chilenos mantiveram-se no mesmo patamar ao longo dos últimos três anos,
enquanto a Bolívia registrou leve incremento. Em contraste com todos os outros
países, o Brasil reduziu os gastos militares em 3,9% em 2014.
A atual situação econômica do Brasil não é muito favorável. O Professor
Reinaldo Gonçalves – Universidade Federal Rio de Janeiro – afirma que o Brasil vive
a segunda pior fase da história econômica. Os principais indicadores
macroeconômicos que atestam a difícil situação do País são os seguintes: dívida
pública superior a 1,6 trilhões de dólares, o insignificante crescimento econômico em
2014, a desvalorização do Real e a elevada taxa de inflação.
O atual Presidente do Conselho de Comércio Exterior da Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo, Rubens Barbosa, salientou que o Orçamento
Geral da União atribui à Defesa apenas 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB), valor
muito abaixo das necessidades das FA. Acrescenta que o forte contingenciamento
em 2015 trará sérios prejuízos, podendo comprometer inclusive os projetos
estratégicos.
Historicamente, o contingenciamento de verbas por parte do governo
sempre foi uma ameaça de interrupção no cronograma de desenvolvimento dos
projetos de grande vulto na área de defesa. Segundo CARRILHO (2013, p. 39), o
Projeto Guarani foi incluído no Programa de Aceleração do Crescimento de Defesa
(PAC Defesa) na tentativa de assegurar o aporte de recursos. Porém tal inclusão
garantiu a aquisição de apenas 46 (quarenta e seis) unidades e a previsão são mais
de 2000 (dois mil). Há como garantir tal demanda?

2
SIPRI, World Military Expenditures 2014. Disponível em www.sipri.org. Acessado em 05 de abril de
2015
3
SIPRI, World Military Expenditures 2014. Disponível em www.sipri.org. Acessado em 15 de agosto
de 2015
4
http://www.infodefensa.com/latam/2013/09/19/noticia-peru-incrementara-el-gasto-en-defensa-en-un-
1338- hasta-2018.html. Acessado em 05 de abril de 2015
14

O governo federal, em maio de 2015, decidiu cortar 69,946 bilhões de reais


do Orçamento Geral da União de 2015 como parte do ajuste fiscal para equilibrar as
contas públicas do país. O objetivo era atingir a meta de superávit primário de 1,2%
do PIB. Nem mesmo o PAC Defesa ficou isento de contingenciamento. Em julho, o
governo revisou e reduziu a meta do superávit primário para 0,15% do PIB5 e
também estabeleceu novo corte de 8 bilhões de reais do Orçamento Geral da União
de 2015.
Desse modo, por meio de pesquisa bibliográfica descritiva e documental,
utilizando-se também da técnica de entrevistas, este trabalho busca avaliar os
possíveis óbices que a conjuntura interna e a externa podem apresentar ao
desenvolvimento do Projeto Guarani.

1.1 PROBLEMA

A BID já elevou o Brasil a uma posição de destaque entre os principais


exportadores mundiais de armamentos, nas décadas de 70 e 80. Fruto de aspectos
conjunturais e de uma falta de visão estratégica por parte de diferentes entes da
Nação, a BID desestruturou-se e, desde então, o país passou a adquirir parte
considerável dos MEM no mercado internacional.
O Projeto Guarani é um dos sete Projetos Estratégicos Indutores da
Transformação do Exército. A execução de tal projeto marcou o renascimento da
indústria de blindados no Brasil.
A conjuntura atual, tanto interna quanto externa, impõe medidas restritivas
ao desenvolvimento do Brasil, obrigando o governo a adotar, dentre outras ações,
cortes orçamentários e alterações em políticas diversas.
Deste quadro surgiu a situação problema: as mudanças na conjuntura
nacional e internacional podem tornar-se óbices para o prosseguimento do Projeto
Guarani?

1.2 OBJETIVOS

5
Disponível em http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/05/entenda-medidas-do-ajuste-fiscal.html.
Acessado em 15 de agosto de 2015
15

Objetivo geral - analisar o Projeto Guarani, a conjuntura nacional e


internacional, desde a edição da PDN em 2012, concluindo sobre as possibilidades
de sucesso do referido Projeto.
Objetivos específicos:
a) Quais as principais causas do declínio da Indústria Nacional de Defesa
(IND) nas décadas de 1980 e 1990?
b) Como se processaram a implantação e o desenvolvimento do Projeto
Estratégico Guarani?
c) Qual a atual fase do Projeto e quais as próximas fases?
d) Quais mudanças ocorridas na conjuntura nacional após a edição da
PDN, em 2012, podem afetar o sucesso do Projeto Guarani?
e) Quais mudanças ocorridas na conjuntura internacional após a edição
da PDN, em 2012, podem afetar o sucesso do Projeto Guarani?
f) Quais efeitos tais mudanças produziriam no sentido de afetar a
continuidade do Projeto?

1.3 HIPÓTESE

A hipótese que a pesquisa pretende estudar é que há evidências que


comprovem que as mudanças conjunturais têm potencial para dificultar o
prosseguimento do Projeto Guarani.

1.4 VARIÁVEIS

Considerando o título deste trabalho "PROJETO ESTRATÉGICO GUARANI:


uma análise sobre a situação atual e o impacto da conjuntura no seu
prosseguimento", serão apresentadas como variáveis:
- Variável independente – é o projeto estratégico em si;
- Variável dependente – impacto da conjuntura no seu prosseguimento;
- Variáveis intervenientes: cenário econômico, continuidade do aporte
financeiro ao projeto, possibilidade de alterações contratuais, reajustes na
estratégia, possibilidade de vendas externas, interferências externas, restrições de
acesso a tecnologias e equipamentos.
16

1.5 DELIMITAÇÕES DO ESTUDO

Questionaram-se quais os reflexos que o projeto da nova família de


blindados teve ou terá sobre a indústria de materiais de defesa no Brasil a partir de
2009 até 2016.
Este trabalho tem por objetivo analisar o Projeto Guarani, sua concepção
inovadora, as fases já concluídas, a atual e as futuras no horizonte até 2020.
Quanto à análise da conjuntura serão correlacionados os aspectos
econômicos, o papel estratégico do governo e as interferências externas do
ambiente interno e externo das décadas de 1980 e 1990 (desestruturação da BID) e
o mais recente desde 2012 a 2016 e uma projeção até 2020.

1.6 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

A análise é importante e tem potencial para apontar fatores cruciais para o


prosseguimento do Projeto Guarani, um dos vetores do Processo de Transformação
do Exército Brasileiro. Contribuirá assim para seu sucesso e a consequente
continuidade ao fomento da BID, considerando sua importância dentro da estrutura
econômica do Brasil, além do caráter estratégico decorrente da produção dos
equipamentos de defesa do País e o domínio de tecnologias sensíveis.
O fortalecimento da BID é fundamental para o Brasil, uma jovem nação com
enorme potencial, que almeja sua ascensão no competitivo jogo geopolítico e
econômico internacional.
Além disso, este trabalho servirá de subsídio para pesquisas futuras; como
parâmetro para análises de viabilidade,evitando a interrupção em projetos de longa
duração e estabelecendo uma nova visão sobre o papel fomentador do governo na
BID.
17

2 METODOLOGIA

A pesquisa iniciar-se-á pelo levantamento das principais causas do declínio


da BID. Tal levantamento será realizado em trabalhos ou em revistas especializadas
sobre o assunto. Além disso, e se necessário, buscar-se-á relatos e análises de
documentos.
A seguir, proceder-se-á a um levantamento bibliográfico e documental e/ou
por meio de entrevistas, com o propósito de se ter desvelado o contexto e o
processo sob o qual e pelo qual, respectivamente, concebeu-se o Projeto
Estratégico, qual sua fase atual e as próximas a serem executadas a curto e médio
prazos. As principais fontes de consulta serão documentos do Estado Maior do
Exército (EME), do Escritório de Projetos (EPEx), do Departamento de Ciência e
Tecnologia (DCT) do Exército, assim como entrevista com os militares que estão
diretamente envolvidos com a condução do Projeto Guarani.
Prosseguir-se-á examinando-se as conjunturas nacional e internacional, em
particular as ações e/ou omissões do Governo que podem afetar o sucesso do
Projeto Guarani. Tal exame dar-se-á na literatura geral (livros, manuais, revistas e
publicações especializadas, jornais, artigos, palestras, internet, teses e
dissertações).
Por fim, analisar-se-ão os efeitos das ações e/ou omissões do Governo que
podem afetar a continuidade do Projeto Guarani.
18

3 O PROJETO DA NOVA FAMÍLIA DE BLINDADOS SOBRE RODAS (NFBR)

Segundo o Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN), o Projeto Guarani


consiste na implantação da NFBR do Exército Brasileiro:

[...] concebidapara dotar as unidades mecanizadas denovos blindados que


incorporam as maisrecentes tendências e evoluções tecnológicas.No
contexto da Estratégia Nacionalde Defesa, o projeto contribui para a
aquisiçãode novas capacitações, fortalecendoa indústria brasileira com a
obtenção detecnologia dual (LBDN, 2012, p.198).

O Projeto GUARANI, alinhado com os objetivosda Estratégia Nacional de


Defesa, em sinergia com os demais Projetos Estratégicos do Exército (PEE),
contribui diretamente para o Processo de Transformação do Exército. O Processo de
Transformação teve início com a percepção da necessidade de o EB tornar-se capaz
de proporcionar ao Brasil o respaldo necessário para enfrentar os novos desafios no
cenário internacional.

3.1 ORIGEM

No início dos anos 90, o EB iniciou estudos para o desenvolvimento de uma


nova família de blindados que substituísse a Viatura Blindada de Reconhecimento
Cascavel e a Viatura Blindada de Transporte de Pessoal Urutu.
A Diretriz de Implantação do PEE Guarani, publicada no Boletim do Exército
nº 34 de 22 de agosto de 2013, afirma que as Condicionantes Operacionais e
Doutrinárias (CONDOP) da NFBR foram aprovadas em setembro de 1998 (BRASIL,
2013).
A 1ª Reunião Decisória (1ª RD) da NFBR ocorreu no dia 03 de março de
2006, presidida pelo Chefe do Estado Maior do Exército (Ch EME) e contou com a
presença dos demais responsáveis pelos órgãos envolvidos: DCT, Comando
Logístico (COLog), 3ª, 4ª e 6ª Subchefias do EME (3ª SCh, 4ª SCh, 6ª SCh) e
Comando de Operações Terrestres (COTer). O conceito e o projeto básico da VBTP-
MR foram apresentados e, após analisados todos os fatores, o parecer do EME foi
favorável à continuidade do projeto.
Decidiu-se também que o Sistema de C&T do Exército (SCTEx) seria
responsável pelo desenvolvimentodo Projeto da NFBR em parceria com empresa
19

nacional ou consórcio por meio de realização de contrato, preferencialmente por


dispensa de licitação. Naquela reunião, conforme está escrito na Ata, o Projeto da
NFBR passou a ser o de desenvolvimento prioritário para o EB.
Deliberou-se, também, que a nova viatura deveria ser MEM Tipo “A”.
Segundo as Instruções Gerais para o Modelo Administrativo do Ciclo de Vida dos
Materiais de Emprego Militar (IG 20-12):

MEM Tipo A é um material novo a ser pesquisado e/ou desenvolvido, no


país ou no exterior, pelo Exército ou por empresa nacional ou por empresa
estrangeira ou por conjunto dessas organizações, mediante convênios,
contratos ou acordos de cooperação com o Exército”. (BRASIL, 1994, p.3).

Segundo as orientações do Alto Comando do Exército e emanadas na 1ª


RD, todas as fases do projeto deveriam ser concebidas de modo a buscar a
integração com os demais PEE, em particular com o Projeto do Sistema Integrado
de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON) e do Sistema Integrado de Proteção de
Estruturas Estratégicas Terrestres (PROTEGER) e, na medida do possível, buscar a
integração com as demais Forças.

3.2 IMPLEMENTAÇÃO

Sobre a implementação, Paulo Cezar Gomes Carrilho destaca que:

O projeto teve como base os elementos de definição de um PRODE, a


saber: Condicionantes Doutrinárias e Operacionais, Requisitos Operacionais
Básicos, Requisitos Operacionais Técnicos, Anteprojeto e Estudo de
Viabilidade Técnica e Econômica (CARRILHO, 2014, p.22).

Atendendo às condicionantes operacionais, a NFBR terá 02 (dois) modelos


básicos, cuja principal diferença será o tipo de “chassi”. Isso originou duas
subfamílias:
- LEVE: tipo 4x4, de elevada mobilidade em estradas e boa mobilidade
através do campo, baixa silhueta, a partir do qual serão desenvolvidos os diversos
tipos de viaturas leves integrantes da subfamília;
- MÉDIA: tipo 6x6 e 8x8, com boa mobilidade através do campo, baixa
silhueta, a partir do qual serão desenvolvidos os diversos tipos de viaturas médias
integrantes da subfamília.
20

O Projeto NFBR seguiu três fases: elaboração do projeto da VBTP-MR, a


construção de um protótipo e sua avaliação e, após a aprovação, a produção do lote
piloto e sua posterior avaliação. A previsão inicial foi a fabricação de um protótipo e
de 16 (dezesseis) viaturas para o lote-piloto. O prazo para a fabricação e a avaliação
do protótipo e do lote piloto foi de 04 (quatro) anos - de janeiro de 2008 a dezembro
de 2012.
Em 2012, o EME criou EPEx com a missão de gerenciar o Projeto NFBR e
os demais PEE. O EME decidiu pela criação do EPEx tendo em vista a amplitude do
projeto NFBR, seu impacto na Força Terrestre, os vultosos recursos envolvidos e
longos prazos de execução e aplicação.

3.2.1 Escolha da empresa parceira e assinatura de convênio e contratos

No âmbito do Exército, nas décadas de 80 e 90, a maioria das tentativas de


realização de projetos não logrou êxito, em particular as relacionadas com o
desenvolvimento de Produto de Defesa (PRODE). As causas são as mais variadas,
porém, para fins deste trabalho, destaca-se a falta de recursos no orçamento do EB.
No caso da NFBR, além do problema do recurso, havia também outros
obstáculos a serem superados: falta de pessoal qualificado para um projeto tão
complexo, falta de equipamentos e laboratórios, falta de tempo, dentre outros. Para
se evitar mais um insucesso, o DCT decidiu contratar uma empresa para o
desenvolvimento do projeto. O objeto do contrato foi a elaboração de protótipo e
lote-piloto.
Segundo CARRILHO, o método utilizado pelo DCT foi o mais acertado e
demonstrou absoluto profissionalismo:

O DCT mudou o enfoque dado ao desenvolvimento de um PRODE e


passou a exercer um papel de grande gerente (técnico, financeiro e
administrativo), não se esquecendo de itens como a capacitação de
recursos humanos, prioritariamente engenheiros militares, bem como o
domínio de tecnologias críticas. [...] elaborou um criterioso processo para se
escolher a empresa que seria responsável pela execução da tarefa de
desenvolver e fabricar o protótipo e o lote-piloto (CARRILHO, 2014, p. 30).

O primeiro obstáculo superado foi o do aporte financeiro. Como solução, o


DCT assinou um convênio com a Financiadora de Estudos e Projetos (BRASIL,
21

2008). O convênio possibilitou a transferência de recursos financeiros para a


execução do Projeto VBTP-MR.
A Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP)6 ficou responsável em aportar
R$ 10.445.852,24 (dez milhões, quatrocentos e quarenta e cinco mil, oitocentos e
cinquenta e dois reais e vinte e quatro centavos). Já o Comando do Exército, por
meio da Fundação Roberto Franco, aportou um total de R$ 15.000.000,00 (quinze
milhões de reais).
Outro problema superado foi a Lei de Licitações e Contratos. Tal legislação
determina como serviços e bens devem ser adquiridos por todos os agentes
públicos. A elaboração e tramitação de um processo licitatório para a contratação de
uma empresa para o desenvolvimento do projeto da NFBR seriam de difícil
execução. Por isso, após solicitação do DCT, o Gabinete do Comandante do
Exército, pelo Despacho nº 001/2007, de 19 de março de 2007, deu parecer
favorável à dispensa de licitação por alta complexidade e interesse da Defesa
Nacional para aquisição de bens e contratação de serviços, produzidos ou prestados
no País, para atender ao projeto da VBTP-MR. Tal despacho foi introduzido como
inciso XXVIII (originalmente XXVII) do Art. 24 da citada Lei.
Superado o obstáculo financeiro, o primeiro aporte de recursos aconteceu
ainda em 2006 e, aliado à dispensa de licitação, possibilitou o início do processo
seletivo para escolha da empresa que produziria o protótipo e o lote-piloto.
A escolha da empresa foi de capital importância para o sucesso do projeto.
O DCT lançou o edital para empresas nacionais e estrangeiras participarem do
processo de escolha, o qual transcorreu durante o ano de 2007. O modelo a ser
seguido para a obtenção da viatura seria aquele que combinasse a possibilidade de
fomento pela FINEP e pelo Exército para o desenvolvimento do protótipo e a
fabricação do lote piloto e, ainda,a viabilidade econômica para a empresa parceira.
Em dezembro de 2007, a FIAT SA foi escolhida como parceira do Exército. A
escolha foi a mais adequada, pois a FIAT, na Itália, é a projetista e fabricante de
diversos veículos blindados, dentre eles o blindado CENTAURO B1 do Exército
Italiano, em parceria com a OTO Melara, do Grupo Finmeccanica.

6
FINEP é uma empresa pública brasileira de fomento à ciência, tecnologia e inovação em empresas,
universidades, institutos tecnológicos e outras instituições públicas ou privadas. É vinculada ao
Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação.
22

A FIAT SA é uma das maiores indústrias de veículos instaladas no Brasil.


Isso possibilitou negociar junto aos seus fornecedores a disponibilização de
componentes a preço acessível. Todos os fornecedores, mesmo sem interesse na
área militar, foram convencidos a fornecer componentes segundo as especificações
da FIAT SA, pois não desejavam deixar de trabalhar para uma indústria tão sólida.
Tal fato traduziu-se em uma economia para projeto e tornou-se outra grande
vantagem da escolha da FIAT SA.
A FIAT SA designou sua divisão IVECO Veículos de Defesa do Brasil para a
assinatura do contrato de desenvolvimento da VBTP-MR, com base no Projeto
Básico e a fabricação do lote-piloto. O custo total foi de R$ 32.722.231,00 (trinta e
dois milhões, setecentos e vinte e dois mil, duzentos e trinta e um reais). O contrato
foi assinado em 22 de dezembro de 2007.
De acordo com o contrato, os direitos de propriedade intelectual adquiridos
são exclusivos do EB, porém a IVECO está licenciada à produção e comercialização
no Brasil e no exterior dos bens relativos aos direitos mencionados acima por 20
anos.
Com o aporte de recursos da FINEP, escolhida a FIAT SA e assinado o
contrato com definição de responsabilidades e obrigações, partiu-se para a próxima
fase - desenvolvimento do protótipo.

3.2.2 Desenvolvimento do protótipo, fabricação do lote piloto e avaliações

Segundo informação da Gerência do Projeto, o cronograma de produção da


VBTP-MR pode ser observado na figura abaixo:

Figura 01- Cronograma de produção da VBTP-MR.


Fonte: Gerência do Projeto P&D da Família de Blindados Guarani, 2014.
23

O desenvolvimento do protótipo se deu em um período de seis anos,


abrangendo: a elaboração do plano de gestão, a revisão do projeto preliminar, o
projeto executivo do produto e do processo de fabricação, a fabricação do protótipo,
os testes de engenharia, a avaliação técnica e operacional e a elaboração do pacote
de dados técnicos.
O primeiro protótipo do VBTP-MR foi desenvolvido no Brasil por uma equipe
de engenheiros militares do Exército Brasileiro e da IVECO, além de especialistas da
Comau, empresa de engenharia automotiva do Grupo FIAT, num total de 30
pessoas.
Os engenheiros brasileiros realizaram treinamento especial na IVECO
Defence Vehicles, na Itália, uma divisão internacional da IVECO que projeta e
produz diversos veículos militares, incluindo modelos similares ao VBTP-MR.
Tal treinamento possibilitou um enorme ganho para o SCTEx. Foram
adquiridos conhecimentos específicos nas áreas de engenharia, qualidade, logística,
compras, tecnologia, funilaria, montagem e pós-venda. Toda a experiência adquirida
ao longo de tal processo foi incorporada como capital intelectual e poderá ser
utilizada futuramente. Um exemplo da experiência adquirida pode ser comprovada
com o trabalho dos técnicos em solda de aço balístico da carroçaria do modelo. .As
carcaças do protótipo e de outras duas viaturas foram soldadas na Itália para
capacitação dos soldadores brasileiros.
Em 2009, na Exposição Latin America Air & Defence (LAAD, sigla em
inglês), a IVECO apresentou um modelo em tamanho original do Guarani.
No dia 04 de abril de 2011, A IVECO anunciou oficialmente ao governador
de Minas Gerais, Antonio Anastasia, sua nova unidade de negócios, a IVECO
Veículos de Defesa, em evento realizado no Centro Administrativo do Governo do
Estado e que teve a participação do Comandante do Exército Brasileiro, General
Enzo Peri, dentre outras autoridades civis e militares. O projeto de implantação de
uma unidade de veículos blindados, na fábrica da IVECO em Sete Lagoas, previu
investimentos da ordem de R$ 75 milhões, com a geração de 350 empregos diretos.
Na cerimônia acima, foi apresentado também o primeiro protótipo do VBTP-
MR, batizado “Guarani”. Após isso, seguiu para o Rio de Janeiro eficouexposto na
Latin America Air & Defence (LAAD), entre 12 a 15 de abril de 2011.
Durante a LAAD 2011, o “Guarani” foi visitado pelo Senhor Arturo Puricelli,
Ministro da Defesa da Argentina, o qual demonstrou interesse de seu país em
24

participar do projeto. Abriu-se a primeira possibilidade de exportação do novo


blindado.
Após a LAAD 2011, o protótipo seguiu para Brasília. Foi apresentado à
Presidente Dilma Rousseff durante as cerimônias do Dia do Exército,em 19 de abril,
e retornou à fábrica para a avaliação de engenharia.
Em julho de 2011, o protótipo começou a ser avaliado pelo Centro de
Avaliação do Exército (CAEx), órgão do SCTEx, no Rio de Janeiro. Tal avaliação
observou critérios técnicos e operacionais e contou com suporte da IVECO. O
processo foi longo e foram necessários vários ajustes e mudanças até a sua
aprovação final.
Após tal aprovação, começou a produção do lote piloto de 16 viaturas. Em
abril de 2012, aconteceu a Reunião Decisória Especial (RDEsp). O Alto Comando do
Exército decidiu que seria realizada uma Experimentação Doutrinária da VBTP-MR.
Tal experimentação aconteceria ainda na fase de P&D do Ciclo de Vida da viatura. A
15ª Brigada de Infantaria Mecanizada, com sede em Cascavel-PR e o Centro de
Instrução de Blindados (CIBld), localizado em Santa Maria, foram escolhidos para tal
experimentação. Obedecendo àquantidade de dotação de uma Brigada de Infantaria
Mecanizada, o Lote de Experimentação Doutrinária (LED) foi estipulado em 112
(cento e doze) VBTP-MR. Sendo assim, o total de viaturas a serem fabricadas
passou para 128 (cento e vinte e oito), uma vez que o lote piloto de 16 (dezesseis)
viaturas foi incorporado ao lote de experimentação.

3.2.3 A Experimentação Doutrinária e outras demandas do Projeto NFBR

Paralelamente ao desenvolvimento da VBTP-MR, o EME planejou, ainda em


2010, a inserção do novo MEM e todos seus desdobramentos operacionais e
logísticos. Segundo Revista VERDE OLIVA:

Ainda em 2010, o EME aprovou as diretrizes para a implantação, em caráter


experimental, da Base Doutrinária da Brigada de Infantaria Mecanizada e do
Batalhão de Infantaria Mecanizado. Em consequência, o então 33º Batalhão
de Infantaria Motorizado (33º Btl Inf Mtz), sediado em Cascavel (PR), foi
designado para ser a organização militar (OM) responsável pela execução
de todas as atividades inerentes à experimentação doutrinária, iniciadas
com o Pelotão de Fuzileiros Mecanizado (Pel Fuz Mec), a partir de 2012
(BRASIL, 2015, p.31).
25

Tal experimentação iniciou-se em 2012 com atividades relacionadas ao


escalão Pelotão de Fuzileiros Mecanizado (Pel Fuz Mec) e, prosseguiu em 2013,
com o escalão Companhia de Fuzileiros Mecanizada (Cia Fuz Mec).
Foram realizadas várias atividades, dentre outras estágio de formação de
motoristas de VBTP Urutu, exercício de Marcha para o Combate e Ataque
Coordenado, defesa móvel e exercício de emprego em Operações de Garantia da
Lei e da Ordem (GLO). A execução dessas atividades permitiu que fossem
respondidos os Garantia da Lei e da Ordem (GLO), estabelecidos pelo EME. Além
disso, foram levantados dados e informações relevantes para a elaboração das
propostas iniciais do Quadro de Cargos do Batalhão e do Programa Padrão de
Qualificação do Cabo e do Soldado Fuzileiro Mecanizado.
No ano 2013, iniciaram as obras de adequação ao Projeto da Infantaria
Mecanizada na área do aquartelamento do 33º Batalhão de Infantaria Motorizado.
Durante os anos de 2013 e 2014, intensificaram-se os trabalhos de
desenvolvimento da capacitação de pessoal e do suporte logístico integrado, em
estreita colaboração com o CIBld e efetiva participação da IVECO, possibilitando a
formação de motoristas, comandantes de carro, mecânicos e demais profissionais
que tornarão possível preparar a infantaria mecanizada. Tal preparação ora se
consolida no CIBld e se multiplica no âmbito da 15ª Bda Inf Mec.
Com relação à logística, a utilização das VBTP-MR experimentais está
coberta por um pacote que contempla a utilização de cada viatura por 22.500 km ou
1.000 horas, até julho de 2017, e que abrange, também, o desenvolvimento da
capacidade de manutenção do sistema logístico da tropa em 1º e 2º escalões e de
diagnose em 3º escalão.
A Diretoria de Material, após adoção final da viatura e definição das
quantidades nas diversas versões e configurações, com base nas informações
obtidas, estabelecerá o Sistema Logístico Integrado (SLI).
Os elementos essenciais à implantação do SLI são: a manutenção planejada
preventiva, a manutenção corretiva, o treinamento do pessoal de apoio logístico, os
dados e informações técnicas de caráter logístico, os equipamentos de apoio, os
componentes e recursos computacionais, os sobressalentes e itens de reparo e a
manutenção contratual. Esses elementos visam a garantir que o apoio logístico seja
planejado, obtido e gerenciado como um todo, a fim de se obter o índice desejável
de disponibilidade do material e a máxima eficácia do custo otimizado.
26

3.2.4 instalação da fábrica da IVECO

Em 7 de agosto de 2012, o Exército Brasileiro fez a primeira encomenda


para aquisição de 86 (oitenta e seis) VBTP-MR. Tal encomenda representou o início
da produção do blindado.
Por sua iniciativa, mas em consonância com os objetivos do Projeto de P&D,
a IVECO decidiu implantar uma fábrica dedicada exclusivamente à fabricação dos
blindados. Tal assunto foi tratado em edição da Revista VERDE-OLIVA de abril de
2014, cujo preâmbulo sintetiza o feito:

A inauguração da fábrica IVECO, em Sete Lagoas (MG), torna realidade o


sonho do Exército Brasileiro de desenvolver e produzir uma NFBR com
todas as suas versões, o que leva, cada vez mais, à maior adequação ao
Processo de Transformação da Força Terrestre e contribui para o
crescimento da indústria nacional de defesa (BRASIL, 2014, p.67).

A IVECO contou com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento


Econômico e Social (BNDES). A inauguração ocorreu no dia 13 de junho de 2013. A
capacidade produtiva é de 140 (cento e quarenta) unidades por ano, com
possibilidade de alcançar 200 (duzentos) conforme a demanda. Nesta fábrica foram
produzidas as VBTP-MR do lote-piloto, sendo 04 (quatro) com a mesma
configuração que o Protótipo em uma linha de produção provisória e as outras 12
(doze) restantes na nova linha de produção com correções e melhorias.
O EME, por meio do DCT, vem atualizando as características da NFBR e
aprovou, em agosto de 2013, as novas condicionantes doutrinárias e operacionais
(CONDOP) nº 003/2013.

3.3 SITUAÇÃO ATUAL

A Subfamília Média da Família de Blindados Guarani prevê outras


configurações, além da VBTP-MR, a serem desenvolvidas conforme planos do EME:
reconhecimento; morteiro; central diretora de tiro; socorro; oficina; comunicações;
posto de comando; ambulância; engenharia; desminagem; lançadora de pontes;
defesa antiaérea; defesa química, biológica, radiológica e nuclear e escola.
Além disso, cabe ressaltar que o Projeto NFBR abrange vários subprojetos.
O SLI e a demanda por adaptação de infraestrutura foram mencionados acima.
27

Porém há muitos outros que impactarão em diferentes setores do Exército. Por


exemplo, há a demanda por simuladores para a capacitação de pessoal,
desenvolvimento de software de comando e controle (C2), dentre outros.
Até o presente momento, já foram fabricadas 188 (cento e oitenta e oito)
VBTP-MR 6x6. O Anexo A mostra a distribuição deste total.
Recentemente, por determinação do EME, o EPEx concluiu um estudo sobre
a demanda de unidades da VBTP-MR. O Foco do estudo foi visualizar, dentro do
enfoque de capacidades, quais Grandes Unidades (GU) de Infantaria e Cavalaria
necessitam ser transformadas e modernizadas, respectivamente. Na estimativa
anterior de 20447 viaturas, todas as GU de Infantaria seriam transformadas.
Concluiu-se que serão necessárias VBTP-MR para transformar 04 (quatro) GU e 03
(três) Subunidades de Infantaria e modernizar todas as GU de Cavalaria
Mecanizadas. Sendo assim, a demanda foi reduzida para 1200 (um mil e duzentas)
VBTP-MR, além das 188 (cento e oitenta e oito) já fabricadas.
Segundo o Cel Taylor de Carvalho Neto8, atual supervisor do PEE Guarani,
a IVECO já concordou com tal redução e, além disso, o prazo de aquisição foi
estendido até 2045. Para firmar tais alterações, em breve será assinado um Termo
Aditivo. Além disso, foi acordado que o EB adotará a VBTP-MR como seu blindado
oficial. Tal adoção possibilitará a IVECO atender à legislação italiana e comercializá-
lo no exterior. Adoção oficial do Guarani foi decidida em uma Reunião Decisória9
ocorrida em 05 de junho de 2015. O Chile, o Iraque, a Arábia Saudita e o Líbano já
demonstraram interesse em adquirir a VBTP.
No tocante ao desenvolvimento da subfamília leve 4x4, os Requisitos
Operacionais Básicos das várias versões já foram definidos. Esse processo teve
início com uma pré-qualificação em apreciação técnica, a cargo do CAEx, com
requisitos estabelecidos pelo EME. A nomenclatura da subfamília será Viatura
Blindada Multitarefa Leve de Rodas (VBMT-LR).
No ano de 2013, foi realizada a 1ª RD para a Subfamília Leve, sendo
decidido que o processo de obtenção será a nacionalização, a ser conduzido pelo
DCT, por intermédio da Gerência de P&D da Família de Blindados Guarani. O

7
Conforme Contrato nº 3/2009.
8
Entrevista com o Coronel Taylor de Carvalho Neto, atual Supervisor do PEE Guarani concedida em
22 de julho de 2015.
9Participaram da Reunião Gen Farias (COLog), Gen Etchegoyen (EME) e Gen Juarez (DCT)
28

modelo de inovaçãoda VBTP-MR será adaptado para as peculiaridades da


Subfamília Leve.
Segundo o Cel Taylor de Carvalho Neto10, atual supervisor do PEE Guarani,
o EB tem uma demanda de cerca de 1500 viaturas blindadas 4x4. Porém há uma
demanda urgente por 156 (cento e cinquenta e seis) unidades desse tipo de viatura.
A experiência adquirida na última operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO)
realizada no Rio de Janeiro (Operação São Francismo) demonstrou que os militares
ficaram expostos aos tiros quando realizaram patrulhamento motorizado com
viaturas Maruá. Além disso, será necessário este tipo de viatura para as futuras
missões de paz que o Brasil deve participar (Líbano e Congo, possivelmente).
Em função da demanda urgente citada acima, por determinação do
Comandante do Exército, o DCT conduziu processo licitatório para aquisição de 156
(cento e cinquenta e seis) viaturas blindadas 4x4. Participaram da licitação a AM
General (EUA), a IVECO (ITA) e a Renaut – AVIBRAS (BRA). A IVECO e a Renaut –
AVIBRAS apresentaram os veículos com as características que melhor atendem aos
requisitos estabelecidos pelo DCT. A próxima fase será a convocação das empresas
para que apresentem as propostas (valor).
O desenvolvimento da Viatura Blindada de Reconhecimento Média de
Rodas (VBR-MR), em configuração 8x8, partirá da plataforma base da VBTP-MR e
também seguirá o mesmo modelo de inovaçãoda VBTP-MR que será adaptado para
as peculiaridades da subfamília. Os estudos sobre a subfamília média 8x8 estão em
fase inicial. Primeiro serão definidos a torre e os sistemas de armas para depois se
decidir sobre os requisitos da plataforma veicular que melhor promova a integração
de todos os sistemas. Tal plataforma terá proteção blindada contra armas de maior
calibre. O sistema de armas será de calibre 105 mm. Além disso, incorporará novas
tecnologias que já equipam os blindados pesados sobre lagartas mais modernos.
Segundo o Cel Taylor do EME, o início do projeto será em 2016 e o protótipo deve
ser entregue em 2020. O EB tem uma demanda atual de 396 (trezentos e noventa e
seis) unidades.
A concepção e o desenvolvimento da NFBR, materializada pela produção da
VBTP-MR, marcaram o início de um novo ciclo para a indústria nacional de defesa.
A execução do projeto Guarani foi responsável pelo renascimento da indústria de

10
Entrevista com o Coronel Taylor de Carvalho Neto, atual Supervisor do PEE Guarani concedida em
22 de julho de 2015.
29

blindados sobre rodas e a inauguração da fábrica da IVECO Veículos de Defesa, em


Sete Lagoas, marcou este renascimento. Porém é necessária a garantia de recursos
para que o projeto continue em execução. Desta forma, evitar-se-á uma nova
“morte” da construção de blindados no Brasil.
30

4 ANÁLISE DA CONJUNTURA

4.1 CONJUNTURA NACIONAL

Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e


Segurança (ABIMDE 2013), nas décadas de 1970 e 1980, o Brasil possuía uma
indústria destinada à fabricação de materiais de emprego militar com grande
capacidade produtiva, tendo o seu período de máxima expansão no início dos anos
1980.
Ao longo das décadas de 1970 e 1980, a Indústria BID muito contribuiu com
o desenvolvimento nacional. Isso aconteceu graças a uma parceria entre o governo
brasileiro e a iniciativa privada investindo em P&D. O resultado foi o crescimento da
Indústria de Defesa e o desenvolvimento do país.
As relações entre desenvolvimento militar e desenvolvimento científico e
tecnológico são muito antigas – em 212 A.C. Arquimedes desenhou máquinas de
guerra para a defesa de Siracusa contra os romanos. Na era moderna, a Primeira
Guerra Mundial foi chamada a “guerra dos químicos” e a Segunda, a “guerra dos
físicos”. Esta última, principalmente através do programa nuclear, definiu o formato
de grandes projetos científicos, tecnológicos e industriais – a “Big Science”. A própria
Guerra Fria consolidou a articulação entre os sistemas militar, industrial e científico e
tecnológico.
No auge da BID, o Brasil alcançou a quinta posição entre as indústrias de
defesa do mundo, exportando cerca de US$ 2 bilhões por ano em carros de
combate, aviões, mísseis e armas leves. Para exemplificar tal volume e
diversificação de produção, mais de 90% dos equipamentos do EB eram de origem
nacional.
Ao final dadécada de 1980 e início da década de 1990, fatores geopolíticos e
econômicos tornaram-se obstáculos para as empresas da Indústria de Defesa.
Esses, dentre outros motivos, levaram o governo a reduzir os investimentos nas FA
e não foi possível manter o nível de aquisições de MEM. As FA tentaram, mas não
conseguiram manter a continuidade de produção em série, como vinha acontecendo
desde o início do regime militar. Não houve fôlego suficiente para resistir às variáveis
políticas internas e externas.
31

O fato acima mencionado atingiu as quatro grandes empresas fabricantes de


MEM, a ENGESA (blindados e demais viaturas), a EMBRAER (aviões), a AVIBRÁS
(foguetes) e a IMBEL (armas e munições), com reflexos negativos para suas
principais fornecedoras. A falta de pedidos provocou o fechamento de mais de 30
empresas de médio porte do setor.
Nos últimos cinco anos aconteceram, anualmente, restrições orçamentárias
que reduziram os recursos inicialmente destinados às FA. É marcante entre os
políticos brasileiros a falta de conscientização da importância da BID para o
desenvolvimento do País. Países mais desenvolvidos para defender seus interesses
normalmente utilizam ações coercitivas em prol de suas empresas e tornam a
concorrência desigual. Tal conjuntura guarda características muito parecidas com o
final dos anos 80 e início do anos 90 e tem potencial para, mais uma vez, tornar-se
um obstáculo e dificultar o prosseguimento do Projeto da NFBR.

4.1.1 A conjuntura Política e o papel do Ministério da Defesa

O Brasil, no início dos anos de 1990, enfrentou problemas internos como o


fim do regime militar e o consequente retorno dos civis ao controle do país, a crise
da Década Perdida, a elevada dívida externa, a desaceleração e a estagnação do
crescimento. Tais problemas obrigaram o governo a corrigir rumos em diferentes
setores do país, adaptando-se à nova realidade.
No tocante ao setor estratégico, o governo mudou sua postura da defesa
nacional. O setor estratégico estava associado ao regime militar, isso precisava ser
quebrado. Para tal as preocupações de segurança nacional foram redirecionadas ao
vetor “pacífico”. Por isso, o governo reduziu os investimentos nas FA e no programa
nuclear e assinou o Tratado de Não Proliferação Nuclear. Além disso, foi criado o
Ministério da Defesa para promover a aproximação entre a sociedade civil e as
Forças Armadas.
Passados 27 (vinte e sete) anos, está nítido que a adoção do viés pacífico
não se mostrou eficiente, pois novas ameaças surgiram e as antigas ameaças nunca
se dissiparam. Estrategicamente o Brasil está inseguro. Será que a sociedade tem
consciência disso?
No que concerne à segurança, o país possui vulnerabilidades em todas as
dimensões. Destaca-se a baixa capacidade de projeção nacional e a permeabilidade
32

das fronteiras aos riscos: migração, tráfico de drogas e armas, pirataria, lavagem de
dinheiro, terrorismo, crime organizado, degradação ambiental e a instabilidade
política de seus vizinhos sul-americanos. Duas fronteiras são as mais vulneráveis: o
Cone Sul, na região da tríplice fronteira Brasil-Paraguai-Argentina, e a Amazônia. Na
palestra para o Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia, em maio de 2015, o
titular da Delegacia da Polícia Federal de Foz do Iguaçu disse que não há um
controle sistemático do fluxo de pessoas e mercadorias na fronteira entre o Paraguai
e o Brasil.
Avaliando a segurança humana, o Brasil também possui muitos problemas,
afetando outra dimensão de segurança, a da segurança pública. Dada a ausência do
Estado, problemas de governança, baixo crescimento, perda de controle dos setores
estratégicos (defesa, energia, transportes e telecomunicações), a não atenção
continuada ao setor social, houve um aumento da violência urbana, da miséria e
exclusão. Esta fragmentação afeta a projeção internacional. Sistematicamente, as
FA tem sido empregadas para em operações de GLO, cujo objetivo em síntese é a
garantia da segurança pública.
Segurança interna e externa são interdependentes, reforçando-se e/ou
anulando-se mutuamente.
O Brasil está entre os cinco maiores países possuidores de riquezas naturais
ou construídas do planeta. Para garantir a sua preservação e proteção, há que se
desenvolver conveniente e adequadamente a sua capacidade de defesa. A extração
de petróleo da plataforma continental proporcionou a autosuficiência do Brasil. É da
“Amazônia Azul” que provém cerca de 89% do petróleo nacional, mais de 1,5 milhão
de barris/dia, gerando recursos de mais de US$ 3 bilhões mensais. Além de possuir
outras riquezas minerais e marinhas, nossa costa cobre cerca de 8 mil km de
extensão.
A maioria das reservas indígenas estão localizadas exatamente sobre ricos
depósitos minerais, principalmente na Amazônia Brasileira; sendo que, muitas delas
fazem fronteira com países vizinhos. O Brasil possui inúmeras riquezas naturais,
entre outras cerca de 98% das reservas de Nióbio conhecidas, a sexta maior reserva
do mundo de urânio, um dos maiores lençóis freáticos de água potável do mundo, o
Aquífero Guarani, etc.
Fazemos parte do grupo dos países com grande potencial de
desenvolvimento, os chamados BRICS. Deste grupo, é o Brasil que tem a maior
33

reserva florestal e de água doce do planeta e o único que não possui tecnologia
nuclear para sua defesa. Diante de tamanho patrimônio a ser defendido, será que o
Estado Brasileiro pode prescindir de uma Indústria Nacional de Defesa vigorosa e de
suas Forças Armadas bem equipadas e adestradas?
Desde a Proclamação da República até a criação do Ministério da Defesa
(MD) em 1999, a Política de Defesa não estava centralizada em um único Órgão.
Além dos Ministérios da Marinha, Exército e da Aeronáutica, havia também a Casa
Militar e o Estado Maior das Forças Armadas (EMFA). Todos tinham atribuições
diretas ou indiretas com a política de defesa nacional.
Uma das primeiras tentativas do Estado Brasileiro em legislar sobre a
Política de Defesa, de forma centralizada, foi a criação da Câmara de Relações
Exteriores e de Defesa Nacional (CREDEN) no Conselho de Governo em maio de
1996. A CREDEN reuniu os Ministérios das Relações Exteriores, de Justiça, da
Marinha, da Aeronáutica, o Estado Maior das Forças Armadas, a Casa Civil, a Casa
Militar e a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE). A recém criada Câmara
divulgou, em setembro do mesmo ano, a PDN que buscou instituir um consenso
sobre o planejamento da Defesa, bem como centralizar a administração da Defesa
no Brasil.
Na década de 1990, o gerenciamentodo assunto defesa ainda estava
pulverizado em diferentes órgãos do Estado. Por isso, legislar sobre o assunto era
extremamente difícil. O Poder Executivo viu a necessidade de uma reforma, a qual
se pautou nas ideias de aperfeiçoamento do sistema de defesa nacional, formalizar
uma política de defesa sustentável e integrar as três Forças Armadas, racionalizando
as suas atividades. Além desses, também compuseram os objetivos desta reforma,
uma maior articulação entre civis e militares e, também, entre as Forças Armadas e
o Itamaraty.
Diante de tal quadro, o MD foi instituído em 10 de junho de 1999, ainda no
governo de Fernando Henrique Cardoso, por meio da Lei Complementar n° 97, de
09 de junho de 1999, com a finalidade de estabelecer políticas ligadas à defesa e à
segurança do país.
O PDN de 1996 ficou muito aquém das expectativas de especialistas e
estudiosos do tema. Estes esperavam algumas definições e limitações mais claras –
particularmente em relação aos conceitos de “Defesa” e “Segurança” e ao emprego
das FA – nem cumpriu os objetivos norteadores da revisão da Defesa do Brasil,
34

gerando discussões que perduraram até o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da
Silva como Presidente do Brasil.
Ao longo de 2004, o MD promoveu rodadas de interessantes e intensos
debates sobre segurança e Defesa, no Centro General Ernani Ayrosa, em Itaipava-
RJ. A tentativa do Ministro da Defesa, José Viegas Filho, era levar o tema para a
agenda pública. Apesar do esforço, o assunto defesa permaneceu afastado da
agenda pública e tal fato dificultava a reflexão sobre missão e emprego das Forças
Armadas, além decontribuir para a falta de cultura da Defesa na sociedade.
Assim, em 30 de junho de 2005, pelo Decreto nº 5.484, foi aprovada a nova
PDN, o documento de mais alto nível do planejamento de defesa, tendo por
finalidade estabelecer objetivos e diretrizes para o preparo e o emprego da
capacitação nacional, com envolvimento dos setores militar e civil, em todas as
esferas do Poder Nacional.
O afastamento da sociedade do assunto defesa começou a reverter sua
tendência durante a gestão de Nelson Jobim à frente do MD. Fruto de seu trabalho,
o presidente Lula aprovou a Estratégia Nacional de Defesa em 18 de dezembro de
2008. A END aproximou o assunto da sociedade e o trouxe para a agenda pública.
A Câmara aprovou em 12 de setembro de 2013, o Projeto de Decreto
Legislativo 818/13, o qual contém os textos atualizados da PND e da END. Aprovou
também a primeira edição do Livro Branco de Defesa Nacional. Os documentos
foram encaminhados ao Congresso pelo Executivo ainda em 2012, atendendo ao
que estabelece a Lei Complementar 97/99, segundo a qual os três documentos
devem ser enviados ao Legislativo a cada quatro anos, com suas respectivas
atualizações. O texto já havia sido aprovado pelo Senado e foi promulgado.
A PND fixa os objetivos da Defesa Nacional e orienta o Estado sobre o que
fazer para alcançá-los. A END, por sua vez, estabelece como fazer o que foi definido
pela Política. Os documentos pavimentam o caminho para a construção da Defesa
que o Brasil almeja. Uma Defesa moderna, fundada em princípios democráticos,
capaz de atender às necessidades de uma nação repleta de riquezas e inserida num
mundo turbulento e imprevisível como o atual.
A reedição da PND e da END procurou conscientizar a sociedade brasileira
sobre a importância do tema para o País. A Defesa não deve ser assunto apenas
dos militares ou do governo; deve ser uma preocupação de toda a sociedade.
35

Além da PND, da END e do LBDN, o MD aprovou várias documentos


voltados para o incremento da Defesa Nacional: em 2002, a Política e as Diretrizes
de Compensação Comercial, Industrial e Tecnológica do MD; em 2005, a Política
Nacional da Indústria de Defesa (PNID); em 2005, a Política Militar de Defesa
(PMD). Sobre a PNID, BOABAID afirma:

A Política Nacional da Indústria de Defesa (PNID) estabelecida pela portaria


normativa nº 899 do Ministério da Defesa, de 19 de julho de 2005, e a
Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) de 2008, visam revitalizar um
setor industrial que se encontra em crise aguda desde a segunda metade
dos anos 90 e tem como objetivo maior o fortalecimento da Base Industrial
de Defesa (BID), buscando a diminuição progressiva da dependência
externa em produtos estratégicos de defesa (PED), desenvolvendo-os e
produzindo-os internamente (BOABAID, 2014 p. 31).

O mundo do Século XXI vive desafios mais complexos do que os outros


períodos da história da humanidade. Inserido no contexto mundial, para preservar a
soberania e os interesses nacionais, é essencial estruturar a Defesa Nacional de
modo compatível com a estatura político-estratégica do País. Tal tarefa cabe ao MD
e sua missão precisar ser cumprida, até mesmo para provar sua utilidade. Os
desafios são enormes, a começar pelos domésticos, como a conscientização de
elites políticas quanto à necessidade de serem feitos investimentos em Defesa, em
um novo momento com crescentes desafios e ameaças globais.
O MD, principal articulador da Política de Defesa, vem se esforçando para
que a defesa venha a ser tornar uma preocupação de toda a sociedade e, desta
forma, garantir a destinação de uma maior fatia do PIB no custeio e
desenvolvimento.
A atual presidente da CREDEN, Deputada Jô Moraes (PCdoB–MG),
destacou, em discurso no plenário, em 22 de abril de 2015, que não pode haver
corte no orçamento para os projetos estratégicos desenvolvidos pelas FA: Segundo
ela:

O mundo está permeado de enfrentamentos radicais e de ações de


intolerância. O Brasil precisa estar pronto para defender sua política de paz
preparando-se para a dissuasão. A sociedade tem que se apoderar do
debate e da construção de uma Política Nacional de Defesa moderna e
11
democrática .

11
Disponível em http://www.vermelho.org.br/noticia/262719-1 Acessado em 24 de julho de 2015.
36

4.1.2 Conjuntura Econômica

O Brasil, no início dos anos de 1990, enfrentou problemas internos como o


fim do regime militar e o consequente retorno dos civis ao controle do país, a crise
da Década Perdida, a dívida externa, a desaceleração e a estagnação do
crescimento. Tais problemas obrigaram o governo a corrigir rumos em diferentes
setores do país, adaptando-se à nova realidade.
No setor sócio-econômico, a “limpeza de agenda”, para atingir credibilidade
e responsabilidade trazendo benefícios, aderiu ao neoliberalismo do Consenso de
Washington de reforma do Estado (privatização, abertura comercial,
desregulamentação, liberalização financeira). Em resumo, o Estado deixou de ser o
principal condutor dos processos, o que gerou um vácuo de ação e poder. Segundo
o Professor Reginaldo Gonçalves, esse foi um dos principais erros econômicos que
tornou o Brasil um país vulnerável, tema de seu livro “Desenvolvimento às avessas”.
O Brasil praticamente retornou à condição de exportador de produtos primários.
Além dessa vulnerabilidade, a opção do governo gerou efeitos opostos aos
desejados: ao invés de dividendos, perda de poder de barganha e marginalização.
Ainda que o Brasil nunca tenha sido uma grande potência militar, sua capacidade de
defensiva havia sido bem construída, porém foi abandonada.
Tal abandono foi calcado em uma premissa defensiva da baixa percepção
de ameaças e da tradição diplomática e geopolítica do país. Abandonou-se a
expansão das FA. Priorizou-se a proteção das fronteiras, a ocupação nacional e o
desenvolvimento, sustentadas na lógica clássica do direito internacional, não-
confrontação e respeito à soberania. Outro pilar abandonado foi o da capacitação
tecnológica de ponta, encerrando experiências bem sucedidas na indústria de
defesa, como a ENGESA e a AVIBRÁS, no projeto de substituição de importações e
limitando a área nuclear. Tais conhecimentos foram perdidos e resgatá-los é tarefa
quase impossível.
A falta de Projeto de Estado, sintetizada nos fatos acima mencionados, seria
uma das principais causas da péssima situação econômica do país.
Durante a crise econômica de 2008, a General Motors, uma das muitas
multinacionais americana, que fabrica automóvel foi seriamente afetada e quase
decretou falência. Para evitar isso, o Estado Americano a socorreu com a injeção de
centenas de milhões de dolares. Porque os EUA, país por excelência adepto da não
37

intervenção do estado, salvou uma empresa privada? A resposta é simples: o povo


americano a enxerga como uma empresa estratégica para a economia americana.
Segundo reportagem publicada em 05 de setembro de 2002, no Estadão12:

O governo federal quer restabelecer a boa posição da indústria brasileira de


equipamentos militares de defesa no portifólio das exportações de produtos
nacionais manufaturados. Nos anos 80 o segmento manteve cadência anual
superior a U$ 1,5 bilhão em vendas internacionais, mas foi vitimado a partir
dos anos 1990 pela combinação negativa de má gestão das principais
corporações envolvidas, retração do mercado internacional e absoluta
incompetência dos governos dos presidentes Fernando Collor de Melo
(PRN), Itamar Franco (PMDB) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Em 1993, a ENGESA decretou falência. A ENGESA foi uma empresa


fundada em 1958 por um grupo de engenheiros recém-formados. A empresa, nos
primeiros anos, se dedicou à fabricação de equipamentos para a prospecção,
produção e refino de petróleo. Porém migrou para a fabricação de armamentos e
vendeu equipamentos para países do Oriente Médio e da África. A ENGESA
absorveu a capacidade de P&D da área militar e criou os produtos que foram
exportados para um total de 18 países, tais como o caminhão EE-25, o blindado EE-
9 Cascavel e o blindado EE-11 Urutu.
Porém a evolução político-econômica nacional não contemplou a indústria
bélica com a prioridade dos períodos passados e, fruto de novos rumos tomados
pelo mundo pós-guerra fria e pós-guerra do Golfo (1991), e a despeito da sua
importância estratégica, ocorreu um verdadeiro desmantelamento de grande parte
não apenas da ENGESA como de outras fábricas de material de emprego militar,
deixando as necessidades bélicas da nação brasileira à mercê dos conglomerados
fabris internacionais.

4.1.3 Situação econômica atual

A situação econômica do país não é boa. Vivemos o segundo pior momento


de nossa história econômica. A cada semana, uma nova análise e a percepção é
cada vez mais assustadora. A estimativa do mercado para a inflação em 2015
chegou a 9,04%, segundo Relatório Focus13do Banco Central divulgado em 03 de

12
Disponível em http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-esta-de-volta-ao-mercado-de-
armas. Acessado em 13/07/13
13
Disponível em http://www.bcb.gov.br/?FOCUSRELMERC. Acessado em 07 de julho de /2015
38

julho de 2015. Na semana anterior, a previsão era de que o Índice de Preços ao


Consumidor Amplo (IPCA) fechasse o ano em 9%. Foi a 12ª semana seguida de alta
nesse indicador. Se confirmada a estimativa para o IPCA, a inflação de 2015 atingirá
o maior patamar desde 2003, quando ficou em 9,3%. O próprio Banco Central
admitiu que o IPCA deve ficar em 9% este ano, estourando a meta do governo, que
é de até 6,5%. Com isso, a inflação deverá superar o teto do sistema de metas em
2015, algo que não acontece desde 2003.
Segundo o mesmo Relatório Focus acima, os economistas do mercado
financeiro reduziram, ainda mais a previsão do PIB para uma retração de 1,50%
neste ano. Foi a sétima queda seguida deste indicador. Até então a estimativa do
mercado era de um recuo de 1,49%. Se confirmado, será o pior resultado em 25
anos, ou seja, desde 1990 – quando foi registrada uma queda de 4,35%.
Com relação à taxa básica de juros da economia, o Banco Central a elevou
em 14,25% em 29 de julho de 2015, conforme anunciou o Comitê de Política
Monetária. Foi a sétima elevação seguida da taxa Selic, que atingiu o maior patamar
desde julho de 2006, ou seja, em nove anos - quando estava em 14,75% ao ano.
Desde então está mantida nos mesmos 14,25%.
A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para tentar conter
pressões inflacionárias. Pelo sistema de metas de inflação brasileiro, o BC tem de
calibrar os juros para atingir objetivos pré-determinados. As taxas mais altas tendem
a reduzir o consumo e o crédito, o que pode contribuir para o controle dos preços.
Na edição do relatório Focus de 11 de setembro, a projeção do mercado
financeiro para a taxa de câmbio no fim de 2015 subiu para R$ 3,70 por dólar. A
projeção para o resultado da balança comercial (resultado do total de exportações
menos as importações) em 2015 subiu para US$ 8 bilhões para US$ 10 bilhões de
resultado positivo. Para este ano, a projeção de entrada de investimentos
estrangeiros diretos no Brasil recuou de US$ 65,7 bilhões para US$ 64,9 bilhões.
Percebe-se que a situação econômica atual do país é péssima. Todos os
indicadores econômicos citados acima corroboram para tal assertiva. Segundo o
Professor Reinaldo Gonçalves não há crescimento em ambiente inflacionário. Tanto
em 2015, quanto em 2016, o IPCA estará acima do plano de metas do governo que
é de 4,5% ao ano. Por isso, o governo federal divulgou, em maio deste ano, as
metas a serem atingidas com o plano ajuste fiscal - que é a tentativa de controlar as
suas contas e voltar a crescer.
39

Para tentar salvar as finanças do governo em 2015, o Ministro da Fazenda,


Joaquim Levy, prometeu arrumar as contas públicas até o fim do ano. Criou a meta
de superávit primário de 1,2%do PIB, que equivalia a uma economia de R$ 66,3
bilhões no fim do ano passado, para pagar os juros da dívida pública. Para alcançar
tal objetivo, estabeleceu um ajuste fiscal. O ajuste fiscal consiste em duas ações:
cortar despesas do governo e elevar a arrecadação – pelo aumento de impostos e
outras receitas.
O governo anunciou no dia 22 de maio o bloqueio de R$ 69,9 bilhões em
gastos no orçamento de 2015, maior contingenciamento de recursos da história, em
termos nominais. Desse total, 67% estão concentrados nos investimentos e nas
emendas parlamentares.
Passados exatos 03 (três) meses, o governo anunciou no dia 22 de julho
que decidiu revisar a meta de economia para pagar os juros da dívida – o chamado
superávit primário – para R$ 8,747 bilhões em 2015, o equivalente a 0,15% do PIB,
ante previsão anterior de R$ 66,3 bilhões (1,19% do PIB). Foi anunciado também um
corte adicional de R$ 8,6 bilhões no Orçamento de 2015, totalizando um
contingenciamento acumulado de R$ 79,4 bilhões nos gastos entre todos os
poderes no ano.
Fruto do primeiro corte, o MD terá um orçamento de R$ 17,028 bilhões para
2015 em custeio e investimento. O contingenciamento foi de R$ 5,617 bilhões
(24,8%) em relação ao fixado na Lei Orçamentária Anual que era de R$ 22,645
bilhões. Em função disso, o EB planejou-se para um investimento anual de R$ 200
milhões no Projeto NFBR, mas teve que adaptar-se para recursos de cerca de R$
120 milhões. Para tanto, negociou com a IVECO e conseguiu evitar o fechamento da
fábrica que fora anunciado pelo Diretor of Bus and Defence Vehicles Divisions da
Iveco Latin America, Humberto Marchioni Spinetti14 .
Para evitar o fechamento da fábrica e garantir o prosseguimento do Projeto
NFBR, o Exército comprometeu-se em adquirir 60 unidades/ano (anteriormente
seriam 100), estendeu o prazo de aquisição para 2045 (anterior era 2035), assim
como adotou a VBTP-MR como um veículo blindado oficial. Tal ação possibilitará a
IVECO comercializá-lo no exterior.

14
Disponível em http://www.defesanet.com.br/bid/noticia/19226/Cortes-no-Orcamento-ameacam-a-
linha-de-blindados-da-Iveco-e-atividade-militar-da-Embraer/ Acessado em 24 de julho 2015
40

Porém ainda não há garantias de que tais medidas serão suficientes para
assegurar o prosseguimento do Projeto NFBR. A conjuntura é muito dinâmica e
novas ameaças podem surgir. O fraco desempenho econômico do país e os
cenários para 2016 e 2017 são ameaças em potencial.

4.1.4 Projeção da situação econômica para 2016

Na última edição do Relatório Focus, de 11 de setembro de 2015, a


estimativa do mercado para a inflação em 2016 é 5,84%. Tal previsão foi divulgada
pelo Banco Central. Com relação ao PIB, a previsão é de alta do PIB de 0,8%. O PIB
é a soma de todos os bens e serviços feitos em território brasileiro,
independentemente da nacionalidade de quem os produz, e serve para medir o
comportamento da economia brasileira.
Com relação ao resultado da balança comercial para 2016, a previsão de
superávit subiu de US$ 9,95 bilhões para US$ 10 bilhões. No tocante à taxa de
câmbio para o término de 2016, a previsão dos analistas avançou para R$ 3,75 por
dólar.
O governo enviou ao Congresso o orçamento para 2016. Em tal orçamento
há um déficit R$ 30,5 bilhões. Na noite de 14 de setembro de 2015, o governo
anunciou um corte em seus gastos entre R$ 25 bilhões e R$ 26 bilhões, além do
aumento de impostos, como o IOF, e a proposta de recriação da Contribuição
Provisória de Movimentação Financeira, com alíquota de 0,2 % para cumprir a meta
de 0,7% do PIB em 2016. Tal proposta depende de aprovação do Congresso, mas
demonstra que o governo além da falta de governabilidade terá muita dificuldade na
condução da política econômica. Além disso, a equipe econômica estuda realizar um
esforço para redução de incentivos fiscais e subsídios e, também, redirecionar a
contribuição do Sistema S (Senai e Sesi) para a cobrir o rombo na previdência.
Enfim, as projeções econômicas para 2016 não são animadoras. Há
previsão de piora em todos os indicadores macroeconômicos. Isso não nos faz
concluir que há grande possibilidade do ajuste fiscal continuar sendo o remédio a ser
aplicado para a solução dos problemas. Caso tal ajuste reduza ainda mais os
recursos para o investimento, será muito difícil conseguir manter o acordo firmado
com a IVECO e, desta forma, garantir o prosseguimento do Projeto NFBR.
41

4.2 CONJUNTURA INTERNACIONAL

O Brasil poderia estar produzindo, em suas versões mais atualizadas, um


dos mais modernos carros de combate do mundo. Porém uma ação diplomática do
governo americano, em 1989, no processo de venda de carros de combate (CC)
para a Arábia Saudita, fez com que o blindado o M-1A1 Abrams fosse escolhido,
apesar do CC Osório tê-lo superado. O contrato de expressivos U$ 7,2 bilhões foi
fechado com a General Dynamics, fabricante do carro de combate.
A Arábia Saudita testou quatro carros de combate. As provas de
desempenho aconteceram durante uma semana nas areias do deserto sob
condições climáticas adversas (temperaturas acima de 50º Celsius). De acordo com
PAIVA (2013) “o CC Osório, fabricado pela ENGESA, superou em todos os aspectos
os M-1A1 Abrams (americano), o Challenger (inglês) e o AMX-40 (francês).”
Sobre essa passagem, o Jornal O Estado de São Paulo, de 10/12/2002, tem
o registro de um engenheiro de armamentos, ex-executivo da ENGESA, que disse:
“Nesse momento as luzes de emergência se acenderam no governo americano15” e
este pressionou imediatamente.
No final desse episódio, a Arábia Saudita comprou 702 blindados M-1A1
Abrams da General Dynamics. A ENGESA havia apostado suas últimas fichas no
desenvolvimento do CC Osório e a assinatura do contrato com a Arábia Saudita
chegou a ser marcada para duas oportunidades. A ENGESA decretou falência.
A partir de 1996, o Brasil comprou 87 CC Leopard 1A1 da Bélgica, 91 M-60
A3 TTS dos EUA, estes últimos sem condições de tráfego pelas pontes que cruzam
o interior do pampa gaúcho, onde estão as unidades de cavalaria que usam os CC.
Sobre a importância da ação do Estado na questão da defesa, o Jornal
Estado de São Paulo, em matéria16 de 05 de setembro de 2002, afirmou que o
engenheiro José Luiz Whitaker Ribeiro, ex-presidente da ENGESA, disse que:

As transações são feitas no mais alto nível do poder,sentam-se nas mesas


de negociação governantes e seu primeiro escalão financeiro [...] depois de
vender armas para um determinado exército nacional, fica muito mais fácil
oferecer ao presidente do governo-cliente o fornecimento de serviços de
engenharia, alimentos, automóveis ou qualquer outra coisa.

15
Disponível em http://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2013/08/28/blindados-uma-
autossuficiencia-abortada . Acessado em 26 de julho de 2015
16
Disponível em http://economia.estadao.com.br/noticias/geral, brasil-esta-de-volta-ao-mercado-de-
armas,20020905p37101. Acessado em 26 de julho de 2015
42

O Comércio mundial de armas, em 2014, movimentou cerca de U$ 1711


bilhões de dólares, segundo o Stockholm International Peace Research Institute
(SIPRI). Os EUA são os maiores exportadores mundiais com 31% do mercado,
seguidos de Rússia e China.
Outro episódio que demonstra a interferência e a concorrência internacional
é o caso da venda da VBTP-MR para o Exército Argentino. Durante a LAAD 2011, o
Guaranifoi visitado pelo Senhor Arturo Puricelli, Ministro da Defesa da Argentina, o
qual demonstrou interesse de seu país em participar do projeto. Tal interesse
desencadeou trocas de visitas, ao longo de 2011, entre os Ministros da Defesa da
Argentina e do Brasil com o objetivo de costurar a participação da Argentina no
projeto. Porém a demanda da Argentina era de uma viatura 8x8, mas isso não
impediu que o “Ejército Argentino” solicitasse, de forma emergencial, 14 (catorze)
viaturas para equipar a unidade binacional Argentina-Chile, Brigada de Paz “Cruz del
Sur”. Para tal o Exército Brasileiro cederia sua preferência nas primeiras viaturas do
lote de experimentação. A negociação avançou, porém não foi concluída, apesar do
esforço do Ministério da Defesa do Brasil. A aquisição não se concretizou. A
Argentina comprou blindados chineses.
Os governos investem em setores estratégicos para assegurar a sua
soberania. Como demonstração do suporte fornecido pelos países desenvolvidos, os
valores dos investimentos federais nos setores de Defesa, Aeronáutico e Espacial
vão de alguns bilhões de dólares, no caso dos países europeus e dos EUA, segundo
dados da Organization for European Economic Cooperation (OECD). No contexto
espacial, o Brasil gasta apenas US$ 50 milhões. A Deputada Jô Moraes, em
discurso para o plenário da Câmara dos Deputados, no dia 22 de abril de 2015,
afirmou que “entre os países dos BRICS, o Brasil tem o menor orçamento de Defesa
em relação ao PIB. A média do grupo é de 2,3% do PIB, enquanto os investimentos
brasileiros giram em torno de 1,5%”.
O esforço de investimento de governos em P&D tem como objetivo a
aquisição e manutenção do Poder por meio do domínio tecnológico completo, desde
a concepção até a operacionalização dos meios. Considerando que os produtos dos
setores de Defesa e Aeroespacial, pela evolução tecnológica exigida, não se acham
disponíveis "na prateleira" pois são baseados em especificações e requisitos, é
fundamental garantir seu completo desenvolvimento. O país que não possui
43

autosuficiência tecnológica e adquire seus materiais no exterior, paga pela execução


do incremento tecnológico no outro país, ajudando, assim, a consolidar o Poder
alheio, contribuindo para gerar empregos qualificados e abrir novos mercados além
fronteiras. Em termos de geração de empregos, estudos publicados pelo
Departamento de Comércio dos EUA indicam que uma exportação de US$ 1 bilhão
na área aeroespacial gera 15.000 empregos.
Os Estados com pretensão de liderança política e econômica aplicam
barreiras protecionistas e de concessão de incentivos para seus setores
estratégicos. Ciência e Tecnologia se desenvolvem atreladas ao parque industrial e
o país que não tiver capacidade ou interesse na absorção da inteligência de seus
próprios recursos humanos assistirá tal desperdício migrar para os Estados
desenvolvidos, sendo apenas exportadores de produtos primários, caracterizados
pelo baixo valor agregado, perenizando, assim, a dependência. Tal fato já está
acontecendo no Brasil.
A ABIMDE indicou os ganhos com a venda de matérias sem valor agregado
e aquelas com alto valor agregado, partindo da mineração (ferro) a US$ 0,02/Kg e
produtos agrícolas a US$ 0,30, até produtos de defesa, como foguetes, a US$
200,00/Kg, ou ainda, mísseis e telefones celulares a US$ 2.000,00/Kg, comprovando
a nossa necessidade de investimento sem tecnologia e em produtos de alto valor
agregado.
O Barão do Rio Branco, em discurso pronunciado em 15 de outubro de
1911, quando da inauguração de seu retrato no Clube Militar do Rio de Janeiro, ao
falar sobre defesa nacional afirmou17:

Os povos que, a exemplo do Celeste Império, desdenham das virtudes


militares e se não preparam para a eficaz defesa de seu território, dos seus
direitos e da sua honra, expõem-se às investidas dos mais fortes e aos
danos e humilhações consequentes da derrota. (Obras do Barão do Rio-
Branco: Vol.IX Discursos, p.317).

17
Disponível em http://funag.gov.br/loja/download/978-
Obras_do_Barao_do_Rio_Branco_IX_discursos.pdf. Acessado em 25 de julho de 2015.
44

5 CONCLUSÃO

O presente trabalho, como exposto na introdução, teve como objetivo


analisar a conjuntura nacional e internacional identificando os possíveis impactos
sobre o prosseguimento do Projeto NFBR – o Projeto Guarani. Cabe ressaltar que o
Projeto GUARANI tem por objetivo transformar quatro Brigadas de Infantaria
Motorizada em Mecanizada e modernizar todas as Brigadas de Cavalaria
Mecanizada. Para isso, estão sendo desenvolvidas novas famílias de Viaturas
Blindadas de Rodas a fim de dotar a Força Terrestre de meios para incrementar a
dissuasão e a defesa do território nacional. Serão viaturas médias (6x6 e 8x8) e
leves.
A VBTP-MR 6x6 foi escolhida para ser a primeira da família a ser
desenvolvida. O projeto ficou a cargo do DCT que decidiu contratar uma empresa
para o desenvolvimento do protótipo. A empresa contratada foi a FIAT SA, a qual
designou a sua divisão IVECO para tal tarefa. O início dos trabalhos foi no ano de
2006. Atualmente já foram fabricadas 188 (cento e oitenta e oito) unidades da VBTP-
MR. Além dessas, outras 1200 (hum mil e duzentas) serão fabricadas.
Os estudos sobre a subfamília média na versão 8x8 (VBR-MR) estão em
fase de elaboração dos Requisitos Operacionais Básicos. Já foi escolhido o sistema
de armas 105 mm e alguns poucos detalhes. O EB tem uma demanda de 396
(trezentos e noventa e seis) unidades.
O desenvolvimento da subfamília leve 4x4 está mais adiantado do que a
VBR-MR 8x8. Os Requisitos Operacionais Básicos das várias versões já foram
definidos. Esse processo teve início com uma pré-qualificação em apreciação
técnica, a cargo do CAEx, com requisitos estabelecidos pelo EME. A demanda por
este tipo de viatura é maior do que as outras da NFBR - serão necessárias cerca de
1500 (hum mil e quinhentas) unidades.
Além do projeto de desenvolvimento e fabricação das plataformas, existem
vários subprojetos já em execução ou prestes a serem iniciados, tanto os
relacionados com sistemas do blindado quanto os que viabilizarão a preparação do
EB para recebê-los. São projetos de Infraestrutura, Doutrina, Desenvolvimento de
Software, Pesquisa e Desenvolvimento, Suporte Logístico Integrado (SLI),
Nacionalização da Munição, Recursos Humanos, Comando e Controle, Simulação,
Gestão Orçamentária, Gestão de Contratos e Meio Ambiente que perdurarão até
45

2045. Como parâmetro, os blindados URUTU e CASCAVEL estão em uso no EB há


mais de 40 anos. Enfim, o Projeto da NFBR é bastante amplo e complexo. Sua
execução, por ter tal amplitude, além de contribuir para o crescimento da indústria
nacional de defesa, criará condições para que o Exército Brasileiro possa, cada vez
mais, adequar-se às exigências decorrentes do Processo de Transformação.
A indústria nacional de defesa, onde o Projeto Guarani está inserido, é um
setor estratégico diretamente relacionado com a soberania e o desenvolvimento. Ao
longo da história, passou por períodos de diversas dificuldades, entremeados por
pequenos momentos de bons resultados, tendo seu período áureo ocorrido entre a
década de 1970 até o início da década de 1990.
O Brasil já foi um grande exportador de armas convencionais, mas,
atualmente, não pertence mais a esse grupo. Hoje praticamente é composto pelos
países do G8. O mercado mundial movimentou, em 2014, aproximadamente 1,7
trilhões de dólares. Esse declínio da indústria nacional de defesa, motivado por
diversos fatores apresentados neste trabalho, acabou por colocar o Brasil como um
país dependente dos produtos de alta tecnologia do mercado internacional.
A partir da década de 1990, a indústria nacional de defesa entrou em
declínio e até os dias atuais passa por sérias dificuldades para sua sobrevivência.
Dentre as causas que levaram a indústria nacional de defesa ao declínio, destacam-
se, de um lado, as relacionadas com a situação econômica e as prioridades do
governo e, do outro lado, as relacionadas com fatores externos.
Infelizmente, algumas das causas permanecem presentes na conjuntura
atual e, ainda hoje, dificultam o desenvolvimento do setor BID: os altos custos
envolvidos na P&D de novos produtos; a baixa demanda do mercado interno, fruto
dos baixos orçamentos das Forças Armadas nos últimos anos; a existência de
barreiras interpostas pelos países mais desenvolvidos, dificultando ou mesmo
impedindo o acesso a tecnologias de emprego militar e o defasado nível tecnológico
da maioria dos equipamentos das FA com obsolescência elevada.
Tal conjuntura quase interrompeu o prosseguimento do Projeto Guarani. O
primeiro ajuste fiscal do governo, anunciado em maio de 2015, cortou os recursos
destinados ao MD na Lei Orçamentária Anual 2015. Tal corte afetou principalmente
as atividades de investimento e inviabilizou a manutenção das condições iniciais
contratuais do Projeto Guarani. A IVECO anunciou o fechamento da fábrica ainda
em maio de 2015. Porém o EME conseguiu negociar, diminuindo o número de
46

unidades a serem compradas e estendeu o prazo de vigência do contrato até 2045.


Foi assinado um Termo Aditivo e a IVECO comprometeu-se em prosseguir com a
fabricação.
Pelo exposto acima, a hipótese deste trabalho já foi confirmada. Aspectos
econômicos da conjuntura interna quase impediram o prosseguimento do Projeto. A
conjuntura é dinâmica, isto nos leva a refletir que ainda é possível um agravamento
da situação econômica em futuro próximo ou até mesmo outro aspecto possa surgir.
As previsões econômicas para 2016 não são favoráveis. É possível que o
aperto da torneira de gastos públicos tenha que ser ainda maior que o de 2015.
Caso este cenário venha a se concretizar, é possível que outro corte de recursos
possa inviabilizar o prosseguimento do Projeto Guarani.
A Política e a Estratégia Nacional de Defesa são um marco histórico para
política de defesa do país, já que pretendem que a defesa possa ser discutida em
âmbito nacional. Ao mesmo tempo fazem a previsão de crescimento da indústria de
defesa com aporte financeiro e incentivam a pesquisa para o desenvolvimento no
campo científico e tecnológico.
Fruto de trabalho do Ministério da Defesa, a legislação, relacionada com a
indústria nacional de defesa evoluiu proporcionando sustentação às iniciativas para
o seu desenvolvimento dessa Indústria Nacional, para a nacionalização de produtos
e serviços e a diminuição da dependência externa brasileira.
A aplicação desta legislação tem grande potencial para alavancar a área de
C&T do EB. Constata-se, portanto, que o MD vem buscando, mesmo que de forma
incipiente, desempenhar seu papel como indutor de P&D, produção e inovação no
setor industrial de defesa. Porém, ao longo dos últimos cinco anos, dois dos
principais obstáculos têm sido a ausência da prioridade do governo e a falta de uma
maior conscientização da sociedade a respeito da importância da defesa do imenso
patrimônio que o Brasil possui.
Portanto, o que fazer para aumentar a capacidade militar das Forças
Armadas diante de um quadro de ausência de prioridade governamental para ações
de defesa? Quadro esse que é sustentado pela debilidade da mentalidade de defesa
brasileira.
Nesse ponto, depara-se com um grande obstáculo político: como aumentar a
participação das Forças Armadas no Orçamento Geral da União? Com certeza, a
disputa por maiores fatias do orçamento requer ação política. Tal tarefa é complexa
47

e difícil além de requerer firme liderança estratégica com visão de antecipação aos
fatos. A situação exige que as FA mostrem o seu indispensável e intransferível papel
na defesa nacional. Faz-se necessário, também, convencer personalidades
influentes do processo decisório e opinião pública que a defesa nacional necessita
de atualização permanente do aparelhamento das Forças Armadas, com ênfase no
apoio à ciência e tecnologia para o desenvolvimento da indústria nacional de defesa.
Visa-se, com isso, à redução da dependência tecnológica e à superação das
restrições unilaterais de acesso a tecnologias sensíveis.
48

REFERÊNCIAS

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2013.
______. Ministério da Defesa. Política Nacional da Indústria de Defesa
(PNID).Brasília: Ministério da Defesa, 2005.

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ed. Brasília. 2010.

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a Diretriz de elaboração do Projeto de Força no Exército Brasileiro. Boletim do
Exército. Brasília, 25, fev. 2011.

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Aprova o Modelo Administrativo do Ciclo de Vida dos Materiais de Emprego
Militar (IG 20-12). Brasília, 13, jun 1994.

______. Estado-Maior do Exército. Portaria nº 165, de 15 de agosto de 2013.


Aprova a Diretriz de implantação do Projeto Estratégico do Exército Guarani.
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______. Gabinete Comandante do Exército. Despacho– Gab Cmt EB nº 001/2007,


de 19 de março de 2007. Parecer sobre Dispensa de Licitação do Projeto Viatura
Blindada de Transporte dePessoal Média de Rodas - Projeto VBTP-MR. Brasília,
23, mar 2013.

______. Ministério da Defesa. Comando do Exército. Estado-Maior do Exército. 1ª


Reunião Decisória. Brasília, DF, 2006.

______ Reunião Decisória Especial. Brasília, DF, 2012.

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Tecnologia. Contrato nº 01/2007 - FRF: entre FRF e FIAT Automóveis S.A. –
Divisão Iveco Fiat Brasil. Brasília, DF, 2006.

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acesso em: 17 maio. 2015.
49

______. Decreto no 6.703, de 18 de dezembro de 2008. Aprova a Estratégia


Nacional de Defesa, e dá outras providências Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6703.htm>.
Acesso em: 17 maio 2015.

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GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 Ed. São Paulo: Atlas,
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aberta/noticias/2013/08/28/blindados-uma-autossuficiencia-abortada. Acesso em: 28
jul . 2015.
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ANEXO A – DISTRIBUIÇÃO DAS VBTP-MR

OM Guarnição Quantidade
CIBld Santa Maria - RS 04
33º BI Mec Cascavel - PR 32
34º BI Mec Foz do Iguaçu - PR 13
30º BI Mec Apucarana - PR 13
16º Esq C Mec Francisco Beltrão - PR 04
11º R C Mec Ponta Porã - MS 12
17º R C Mec Amambaí - MS 12
57º BI Mtz Rio de Janeiro - RJ 13
1º BI Mtz Rio de Janeiro - RJ 13
2º BI Mtz Rio de Janeiro - RJ 13
36º BI Mtz Uberlândia - MG 32
3º Esq C Mec Brasília - DF 04
10º R C Mec Bela Vista - MS 12
41º Bi Mtz Jataí - GO 11

Fonte: Gerência do Projeto P&D da Família de Blindados Guarani, 2015.

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