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ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA

CENTRO CORDEIRO DE FARIAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SEGURANÇA
INTERNACIONAL E DEFESA

ALLAN DOMINGOS PEREIRA DE ANDRADE

A relação entre o Orçamento Militar e a Inovação da Base


Industrial de Defesa no Brasil (2000 – 2014)

Rio de Janeiro, RJ
2020
ALLAN DOMINGOS PEREIRA DE ANDRADE

A RELAÇÃO ENTRE O ORÇAMENTO MILITAR E A


INOVAÇÃO DA BASE INDUSTRIAL DE DEFESA NO BRASIL
(2000 – 2014)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Segurança Internacional e Defesa da
Escola Superior de Guerra, como requisito à obtenção
do título de Mestre em Segurança Internacional e
Defesa.

Orientador(a): Prof. Dra. Ariela Diniz Cordeiro Leske

Rio de Janeiro, RJ
2020
C2021ESG
Este trabalho, nos termos de legislação
que resguarda os direitos autorais, é
considerado propriedade da ESCOLA
SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É
permitida a transcrição parcial de textos do
trabalho, ou mencioná-los, para
comentários e citações, desde que sem
propósitos comerciais e que seja feita a
referência bibliográfica completa.
Os conceitos expressos neste trabalho são
de responsabilidade do autor e não
expressam qualquer orientação
institucional da ESG.

ALLAN DOMINGOS PEREIRA DE ANDRADE

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

A554r Andrade, Allan Domingos Pereira de

A relação entre orçamento militar e a inovação da Base Industrial de


Defesa no Brasil (2000-2014) / Allan Domingos Pereira de Andrade. - Rio
de Janeiro: ESG, 2021.
127 f.

Orientador: Profa. Dra. Ariela Diniz Cordeiro Leske


Dissertação de Conclusão de Curso - Dissertação apresentada ao
Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à
obtenção do diploma do Curso de Mestrado Acadêmico da Pós-Graduação
em Segurança Internacional e Defesa (2019).

1. Brasil – Defesa. 2. Brasil – Política militar. 3. Inovação. I. Título.

CDD – 355.033081

Elaborada pelo bibliotecário Antonio Rocha Freire Milhomens – CRB-7/5917


ALLAN DOMINGOS PEREIRA DE ANDRADE

A relação entre o Orçamento Militar e a Inovação da Base Industrial de Defesa


no Brasil (2000 – 2014)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Segurança Internacional e Defesa da
Escola Superior de Guerra, como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre em Segurança
Internacional e Defesa.

Rio de Janeiro, 24 de setembro de 2020.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________
Prof. Dra. Ariela Diniz Cordeiro Leske
ESG

_____________________________________________
Prof. Dr. Danilo Marcondes de Souza Neto
ESG

______________________________________________
Prof. Dra. Patricia de Oliveira Matos
UNIFA

Rio de Janeiro, RJ
2020
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço a minha família. Sem seu suporte moral e


financeiro nada disto seria simplesmente possível. Agradeço aos conselhos de meu
pai, ao carinho e alegria de minha mãe, e as conversas descontraídas com minha irmã
e meu cunhado.
Agradeço a minha orientadora, Ariela Leske, pelos conselhos e pela
sinceridade. Sem ela a presente pesquisa nada mais seria que um conjunto de
retalhos perdidos entre si.
Agradeço a meus amigos e companheiros acadêmicos. Marcel Rocha pelo
apoio na interpretação quantitativa da pesquisa e Charles Hora pela paciente leitura
acompanhada de suas anotações providenciais.
Agradeço a minha companheira, Clarice Saraiva, por toda paciência e afeto.
Sua presença tornou impossível pensar em desistir. A importância de sua família é
igualmente imensurável.
Agradeço a Escola Superior de Guerra por gerar esta oportunidade ímpar,
acolher este estudante e possibilitar os meios necessários para a perseguição deste
projeto. Participar do mestrado foi uma honra, e levarei para sempre no peito o
conhecimento e as amizades que ali conquistei.
Por fim, agradeço a Deus.
A diplomacia sem as armas é como a música sem os instrumentos

Otto Von Bismarck


RESUMO

A interseção entre Defesa Nacional e Desenvolvimento está atrelada a um conjunto


de características da Indústria de defesa, dentre as quais destaca-se a capacidade de
inovação das firmas. As firmas de defesa competem em um ambiente altamente
inovativo e tecnologicamente sofisticado (BLOM, CASTELLACI; FELVODEN, 2013),
em função das demandas das Forças Armadas (FREEMAN; SOETE, 2008).
Implicando assim, para a inovação seja essencial para as empresas do setor
(DAGNINO, 2010) e fundamental para um país alcançar capacidades militares
superiores (SEMPERE, 2015). Nesse sentido, a aquisição de defesa pode afetar o
investimento em P&D das firmas diretamente, assim como pode afetar o
desenvolvimento de novas tecnologias (MOWERY, 2010). A partir dos dados
orçamentários do Ministério da Defesa e da Pesquisa de Inovação tecnológica
(PINTEC), investiga-se a influência dos gastos militares no investimento em inovação
de empresas da Base Industrial de Defesa (BID) brasileira. Para tanto, faz-se uso de
ferramentas estatísticas como a correlação, a regressão linear simples e a regressão
logarítmica. O estudo conclui que embora constatada a presença de uma correlação
forte entre as variáveis, não foram encontradas evidências estatísticas de uma relação
linear. Todavia, o modelo logarítmico indicou que é possível que os gastos militares
no Brasil exerçam uma influência positiva sobre o investimento em inovação nas
empresas selecionadas.

Palavras-chave: 1. Indústria de Defesa. 2. Inovação. 3. Gastos Militares. 4. Base


Industrial de Defesa.
ABSTRACT

The intersection of National Defense and Development is linked to a set of


characteristics of the defense industry, among which firms’ capability for innovation
stands out. Defense firms compete in a highly innovative and technologically
sophisticated environment (BLOM, CASTELLACI; FELVODEN, 2013), due to
demands of the Armed Forces (FREEMAN; SOETE, 2008). It implies that innovation
is essential for companies of this sector (DAGNINO, 2010) and essential for a country
to achieve superior military resources (SEMPERE, 2015). In this sense, Defense
Acquisition can directly affect firms' R&D investment, as well as affect the development
of new technologies (MOWERY, 2010). This study concerns to what extent military
spending influences investment in innovation of Brazilian Defense Industry, based on
government data of the Ministry of Defense and Technological Innovation Research
(PINTEC). To do so, statistical tools such as correlation, simple linear regression, and
logarithmic regression are used. The study concludes, despite strong correlation
among variables, that no statistical evidence of linear relation was found. However, the
logarithmic model indicated that military spending in Brazil may influence positively on
investment in innovation of this study's sample.

Keywords: 1. Defense Industry. 2. Innovation. 3. Military Expenditure. 4. Defense


Industrial Base
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Iceberg científico-tecnológico ou BID (AMARANTE, 2012, p. 12) .... 27

Figura 2 - Tecido Industrial (SARAIVA, 1993) .................................................. 28

Gráfico 1 - Natureza dos Gastos Militares – Estados Unidos 2000 - 2014....... 57

Gráfico 2 - Média dos Gastos Militares por natureza – Estados Unidos 2000 - 2014
......................................................................................................................... 59

Gráfico 3 - Natureza dos Gastos Militares – Reino Unido 2000 - 2014 ............ 62

Gráfico 4 - Média dos Gastos Militares por natureza – Reino Unido 2000 - 201464

Gráfico 5 - Natureza dos Gastos Militares – França 2000 - 2014..................... 66

Gráfico 6 - Média dos Gastos Militares por natureza – França 2000 - 2014 .... 68

Gráfico 7 - Gastos Militares (dólar a valores correntes) de 2000 a 2014: EUA, França
e Reino Unido................................................................................................... 69

Gráfico 8 - Gastos Militares (% do PIB) de 2000 a 2014: EUA, Reino Unido e França
......................................................................................................................... 70

Gráfico 9 - Gastos Militares (% do gasto total do governo) de 2000 a 2014: EUA, Reino
Unido e França ................................................................................................. 71

Gráfico 10 - Participação Percentual de Despesas com Pessoal nos Gastos Militares


entre 2000 e 2014: EUA, Reino Unido e França .............................................. 72

Gráfico 11 - Participação Percentual de Despesas com Equipamentos nos Gastos


Militares entre 2000 e 2014: EUA, Reino Unido e França ................................ 73

Gráfico 12 - Participação Percentual de Despesa com Infraestrutura nos Gastos


Militares entre 2000 e 2014: EUA, Reino Unido e França ................................ 74

Gráfico 13 - Participação Percentual de Despesas Diversas nos Gastos Militares entre


2000 e 2014: EUA, Reino Unido e França ....................................................... 75
Gráfico 14 - Orçamento do Ministério da Defesa dividido Percentualmente por Grupo
de Natureza de Despesa entre 2000 e 2014 .................................................... 85

Gráfico 15 - Média Percentual dos Gastos do Ministério da Defesa por Grupo de


natureza de Despesa entre 2000 e 2014 ......................................................... 86

Gráfico 16 - Gastos do Ministério da Defesa com EMP, MdC e Sub_ID entre 2000 e
2014 em bilhões de reais ................................................................................. 91

Gráfico 17 - Classificação da despesa com material de consumo nos grupos outras


despesas correntes ou investimentos entre 2000 e 2014 ................................ 93

Gráfico 18 - Despesa Anual a nível de subelementos selecionada a partir de sua


relação com a Indústria de Defesa (2000 e 2014) em bilhões de reais ............ 94

Gráfico 19 - Participação Percentual de subelementos da despesa relacionados a


Indústria de Defesa agrupados por tipo entre 2000 e 2014.............................. 97

Gráfico 20 - Gráfico de Dispersão com linha de tendência: Gastos Militares x


Investimento em Inovação na BID (2000 – 2014) .......................................... 105

Gráfico 21 - Reta de Regressão Ajustada: Gastos Militares x Investimento em


Inovação na BID (2000 – 2014)...................................................................... 107

Gráfico 22 - Regressão não linear semilogarítmica: Gastos Militares x Investimento


em Inovação na BID (2000 – 2014)................................................................ 111
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Os Gastos Militares dos Estados Unidos 2000 – 2014...................... 56

Tabela 2 Os Gastos Militares com pessoal dos Estados Unidos 2000 – 2014. 58

Tabela 3 Os Gastos Militares do Reino Unido 2000 – 2014 ............................. 61

Tabela 4 Os Gastos Militares com pessoal do Reino Unido 2000 – 2014 ........ 63

Tabela 5 Os Gastos Militares da França 2000 – 2014 ..................................... 65

Tabela 6 Os Gastos Militares com pessoal da França 2000 – 2014 ................ 67

Tabela 7 Total do PIB, Orçamento da União e Orçamento do Ministério da Defesa


(2000 – 2014) ................................................................................................... 81

Tabela 8 Participação Percentual do Orçamento do Ministério da Defesa em relação


ao PIB e ao Orçamento Geral da União (2000 – 2014) .................................... 82

Tabela 9 Orçamento do Ministério da Defesa por Grupo de natureza de despesa (2000


– 2014) em bilhões de reais ............................................................................. 84

Tabela 10 Os Gastos totais do Ministério da Defesa com e sem despesa de pessoal


de 2000 a 2014 em bilhões de reais ................................................................ 87

Tabela 11 Valor anual de Investimento do MD em relação ao total anual das despesas


do MD (2000 – 2014)........................................................................................ 89

Tabela 12 Valores empenhados anualmente pelo Ministério da Defesa com EMP, MdC
e Sub_ID e a participação percentual entre 2000 e 2014................................. 90

Tabela 13 Participação percentual de EMP, MdC e Sub_ID no Orçamento do


Ministério da Defesa quando excluídas as despesas com pessoal e encargos (2000 –
2014) ................................................................................................................ 92

Tabela 14 Participação Percentual de subelementos da despesa relacionados a


Indústria de Defesa no Orçamento do Ministério da Defesa (2000 – 2014) ..... 96
Tabela 15 Gastos Militares x Investimento em Inovação na BID (2000 – 2014)101

Tabela 16 Índice de Intensidade para a Correlação Linear ........................... 102

Tabela 17 Quadro Resumo dos Resultados da Regressão GM.................... 108

Tabela 18 Quadro resumo dos resultados das Regressões: Investimento MD, EMP e
Sub_ID ........................................................................................................... 109

Tabela 19 Quadro Resumo dos Resultados da Regressão Ln(GM) .............. 111

Tabela 20 Quadro Resumo do Teste de White .............................................. 113


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIMDE - Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança


ACDA - Arms Control and Disarmament Agency
ANOVA - Análise de Variância
BID - Base Industrial de Defesa
CIM - Complexo-Industrial-Militar
CNAE - Classificação Nacional de Atividades Econômicas
COD - Ciclo Orçamentário da Defesa
DoD - Departamento de Defesa americano
EMP - Equipamento e Material Permanente
END - Estratégia Nacional de Defesa
ENG - Reino Unido
EUA - Estados Unidos da América
FMI - Fundo Monetário Internacional
FRA - França
GM - Gastos Militares
GND - Grupo de Natureza de Despesa
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ID - Indústria de Defesa
IDH - Índice de Desenvolvimento Humano
IISS - International Institute for Strategic Studies
IPCA - Índice de Preços do Consumidor
IPC – FMI - Índice de Preços do Consumidor do Fundo Monetário Internacional
LAI - Lei de Acesso à Informação
MD - Ministério da Defesa
MdC - Material de Consumo
MQO - Mínimos Quadrados Ordinários
OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OGU - Orçamento Geral da União
OIT - Organização Internacional do Trabalho
OMC - Organização Mundial do Comércio
OTAN - Organização do Tratado do Atlântico Norte
PEA - População Economicamente Ativa
P&D - Pesquisa e Desenvolvimento
PED - Produto Estratégico de Defesa
PFA - Pessoal Forças Armadas
PIB - Produto Interno Bruto
PINTEC - Pesquisa de Inovação
PND - Política Nacional de Defesa
PNID - Política Nacional de Industria de Defesa
PPBS - Planning-Programing and Budgeting System
PRODE - Produto de Defesa
RETID - Regime Especial de Tributação para a Indústria de Defesa
RLS - Regressão Linear Simples
SIPRI - Stockholm International Peace Research Institute
SPSS - Statistical Package for the Social Sciences
Sub_ID - Subelementos de despesa relacionados a função fim Defesa Nacional
TIC - Tecnologia da Informação e Comunicação
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................. 15
1.1 Problema de pesquisa ................................................................... 18
1.2 Objetivo geral.................................................................................. 18
1.3 Objetivos específicos ..................................................................... 18
1.4 Delimitação do estudo ................................................................... 18
1.5 Relevância do estudo ..................................................................... 19
1.6 Metodologia de pesquisa ............................................................... 20
1.7 Hipótese .......................................................................................... 22
1.8 Organização da pesquisa .............................................................. 23
2. DEFESA NACIONAL E INOVAÇÃO ................................................ 24
2.1 Teoria e perspectivas relacionadas à BID ..................................... 24
2.2 A inovação sob a perspectiva neoschumpeteriana ..................... 31
2.3 A inovação na área de defesa ........................................................ 34
2.4 A relação entre gastos militares e inovação ................................. 39
2.5 Conclusão do capítulo .................................................................... 44
3. OS GASTOS MILITARES NO BRASIL E NO MUNDO .................... 46
3.1 Defesa nacional como bem público ............................................... 46
3.2 Os gastos militares nos países desenvolvidos ............................ 50
3.2.1 A Construção de Indicadores de Análise ........................................... 51
3.2.2 Estados Unidos ................................................................................. 55
3.2.3 Reino Unido ....................................................................................... 60
3.2.4 França ............................................................................................... 64
3.3 Análise dos gastos militares no Brasil .......................................... 77
3.3.1 A Construção de Indicadores de Análise ........................................... 77
3.3.2 O Orçamento de Defesa do Brasil ..................................................... 80
3.4 Conclusão do capítulo .................................................................... 98
4. O IMPACTO DO ORÇAMENTO MILITAR NA BID BRASILEIRA .. 100
4.1 Modelo e dados ............................................................................. 100
4.2 Diagrama de dispersão e correlação ........................................... 104
4.3 Regressão linear simples ............................................................. 106
4.4 Conclusão do capítulo .................................................................. 111
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................ 115
REFERÊNCIAS ............................................................................... 117
1 INTRODUÇÃO

O século XX presenciou a catalisação do progresso científico ao longo de suas


décadas. Fora nesse mesmo período histórico que a condição humana conhecera
duas guerras mundiais e uma guerra indireta, sob o escrutínio de um mundo bipolar.
Keegan (1996) é cirúrgico em seu diagnóstico sobre a competição acirrada pelo
método mais destrutivo frente ao inimigo: “a Primeira Guerra Mundial resolveu-se
finalmente não pela descoberta ou aplicação de uma nova técnica militar, mas pelo
incansável desgaste dos efetivos pela produção industrial” (KEEGAN, 1995, p.326).
Para esquivar-se das metralhadoras, fizeram-se trincheiras, para furá-las produziu-se
tanques, que devido a sua ineficiência foram ultrapassados pelo poder aéreo, este
sim, capaz de minar a moral civil e capacidade produtiva do adversário.

Após vinte anos de crise, a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) mostrar-
se-ia ainda mais destrutiva graças aos avanços tecnológicos e inovativos utilizados
para expressar o tanatos1 freudiano - o instinto agressivo e destrutivo do ser humano.
Neste contexto, o ganho de eficiência produtiva é acalentado pelo surgimento de
tecnologias de base científica e da introdução, difusão e melhorias de produtos e
processos (FREEMAN; SOETE, 2008, p.541).

As ciências já haviam se tornado importante na época da Primeira Guerra


Mundial – mais importantes do que a maioria das pessoas chegou a perceber
naquele tempo -, mas foram o Projeto Manhattan e seus resultados em
Hiroshima que, realmente, impressionaram as pessoas ao redor do mundo
sobre seu poder e, particularmente, como parecia, sobre o poder da Grande
Ciência (Big Science). Muitos outros desenvolvimentos em ambos os lados
do conflito, como radar, computadores, foguetes e explosivos, foram
resultados de grandes projetos de P&D que mobilizaram tanto os governos
quanto engenheiros e cientistas industriais e acadêmicos. (FREEMAN;
SOETE, 2008, p. 512)

1
Sigmund Freud, impactado pelas causas e consequências da Primeira Guerra Mundial, publica a obra
intitulada Além do Princípio do Prazer onde o autor argumenta sobre a existência de um instinto nos
homens que vá além da libido, o instinto agressivo de morte – afirma que há uma necessidade primária
de autodestruição que deve ser controlada. Nesta obra, postula a teoria de Eros e Tanatos. Na qual o
último seria o instinto agressivo e destrutivo sendo caracterizado como parte instintiva do ser humano,
ao tempo que Eros seria o instinto construtivo.
15
A tecnologia enquanto materialização do conhecimento, métodos, recursos e
inovação, pode ser um dos mais importantes componentes do “bloco construtor” para
a produção do poder nacional (TELLIS et al., 2000; KEEGAN, 1995). O foco em
tecnologia diz respeito ao entendimento da habilidade de um país em produzir as mais
sofisticadas “tecnologias críticas”2 . Quem dominar os ciclos de inovação nestas áreas
é provavelmente um competidor tanto na economia internacional como na capacidade
tecnológica de produzir instrumentos de coerção a ser utilizados na política
internacional.

A Defesa Nacional3, enquanto verbo, exprime a ação promovida pelas Forças


Armadas strictu sensu para o alcance ou manutenção de um estado de segurança 4.
Ação, a qual, para ser efetiva, demanda pré-requisitos tecnológicos, evidenciando o
papel da tecnologia, sobretudo, da tecnologia inovadora, para o incremento da
capacidade de Defesa Nacional frente a contextos possíveis e futuros, que quando
negligenciados, põem em risco eficiência e efetividade ao limitar o alcance da
capacidade operacional (HARTLEY, 2013). Os governos são responsáveis pela
destinação de recursos para defesa, sendo seu apoio um fator chave no
desenvolvimento de novos projetos inovadores e na busca oportunidades de
cooperação em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) (ACOSTA et al., 2018).

Desde o fim da guerra fria, observa-se significativa redução nos orçamentos de


defesa, em particular nos Estados Unidos e países europeus (HARTLEY; SANDLER,
2005; MALLIK, 2004). Nesse novo contexto, as aquisições foram afetadas e as Forças
Armadas deixam de ser o principal cliente de muitas empresas da área de defesa, as
empresas passam a focar no mercado comercial (MOLAS-GALLART, 2008; BELLAIS,
2013). Entretanto, desde 2001 e a instauração da “Guerra ao Terror” verificou-se uma

2
Entende-se por “tecnologias críticas” as apresentadas no relatório – National Critical Technologies
Panel – feito pelo U.S. Department of Commerce, em que são identificadas 22 (vinte e duas) tecnologias
críticas vitais para a competitividade econômica e defesa.
3
Defesa Nacional é o conjunto de medidas e ações do Estado, com ênfase na expressão militar, para
a defesa do território, da soberania e dos interesses nacionais contra ameaças preponderantemente
externas,
potenciais ou manifestas. (BRASIL, 2016, p. 15)
4
“É a condição que permite ao País preservar sua soberania e integridade territorial, promover seus
interesses nacionais, livre de pressões e ameaças, e garantir aos cidadãos o exercício de seus direitos
e deveres constitucionais” (BRASIL, 2016, p.15)
16
nova trajetória de rápida aceleração dos gastos no setor de defesa mundial liderada,
sobretudo, pelos Estados Unidos (SILVA FILHO; MORAES, 2012).

No Brasil, há considerável debate sobre alocação de recursos para defesa


(MATOS, 2010; DO NASCIMENTO, 2011; SILVA; TAMER, 2013; BRUSTOLIN, 2014;
MATOS, et al., 2017), em particular, sobre o montante destinado ao pessoal, que
corresponde a mais de 70% (MATOS, 2010; ALMEIDA, 2015). Em paralelo, o
percentual destinado para investimento não chega a 10% do total. Os projetos
estratégicos e as aquisições de equipamentos ficam comprometidos e podem gerar
dificuldades para as empresas envolvidas (LESKE, 2015). Assim, não surpreende que
os dados apresentados no Mapeamento da Base Industrial de Defesa indiquem que
parte significativa das empresas da área possuam como principal mercado
consumidor o segmento civil (NEGRETE et al., 2016).

Dessa forma, o orçamento de defesa com baixa destinação para investimentos


tem como resultado em uma BID com baixo foco na produção de produtos de defesa.
É diante dessa dinâmica orçamentária e industrial que surge a preocupação sobre o
processo inovativo na área de Defesa. Há espaço para inovações tecnológicas
relevantes em um contexto de baixo nível relativo de investimento? Seriam as
empresas estimuladas a promover inovações para fins militares? O orçamento da
Defesa Nacional pode ter alguma relação com a inovação na BID?

Esses questionamentos estimulam e norteiam a presente pesquisa. Aqui,


visualiza-se a alocação orçamentária como indicador para a análise da eficiência dos
gastos em Defesa e sobre os seus possíveis impactos na inovação. Especificamente,
tem-se como objetivo deste trabalho inferir a influência dos gastos militares sobre a
inovação da Base Industrial de Defesa brasileira. Dados os aspectos concernentes a
pesquisa, almeja-se a contribuição sobre a inovação na área de economia de defesa,
a partir da perspectiva neoschumpeteriana. Em termos metodológicos, é adotada uma
abordagem quantitativa, com a análise dos dados sobre o orçamento do Ministério da
Defesa, e sua influência na inovação das empresas que fornecem produtos de defesa
no país.

Na sequência, após essa introdução, serão apresentados o problema de


pesquisa, o objetivo geral e os objetivos específicos, seguidos por justificativa,

17
hipótese, e a apresentação da metodologia que descreverá procedimento adotado. E,
por fim, será apresentada a organização do trabalho.

1.1 Problema de pesquisa

A presente pesquisa versa sobre o orçamento de Defesa brasileiro e sua


capacidade de impactar na produção inovativa da Base Industrial de Defesa (BID). De
tal modo, tem-se como problema de pesquisa: O orçamento para defesa no Brasil é
capaz de induzir a Inovação da BID? Qual o impacto do gasto orçamentário de defesa
brasileiro para com a inovação da Base Industrial de Defesa?

1.2 Objetivo geral

A presente pesquisa apresenta como objetivo principal analisar a possível


relação entre o orçamento do Ministério da Defesa (MD) e o processo inovativo
realizado pelas empresas ligadas à BID. Para tanto, calcula-se estatisticamente a
possível correlação, Regressão Linear Simples e Regressão não linear logarítmica
entre gastos militares no Brasil e o Investimento em inovação na BID.

1.3 Objetivos específicos

Dentre seus objetivos específicos, encontram-se:

I. Descrever o processo inovativo na área de Defesa Nacional;


II. Descrever e analisar o Orçamento de Defesa de Países da OTAN;
III. Descrever e analisar a alocação orçamento de Defesa Brasileiro; e
IV. Investigar estatisticamente a relação entre os gastos militares
brasileiros e o Investimento em inovação na BID.

1.4 Delimitação do estudo

18
O arco temporal justifica-se dada a instituição do Ministério da Defesa como
órgão da Administração Pública Federal apenas em 1999, tal qual, opta-se por uma
análise que se inicie no ano 2000 por constituir o primeiro orçamento anual no qual se
fez presente desde o início. Analogamente, define-se o ano orçamentário de 2014
como ponto final da pesquisa. Quanto aos dados sobre a inovação na Base Industrial
de Defesa utilizar-se-á dados sobre Inovação disponibilizados pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) por meio da Pesquisa Industrial de Inovação
Tecnológica – PINTEC, entre 2000 e 2014.

1.5 Relevância do estudo

A presente pesquisa alinha-se com os anseios proclamados nos documentos


oficiais de Defesa, em especial a Política Nacional de Defesa (PND) e a Estratégia
Nacional de Defesa (END), ambas de 2016, publicados pelo Governo Federal
Brasileiro nos quais propugnam pelo fortalecimento da Base Industrial Brasileira, o elo
entre Defesa e Desenvolvimento e o uso do poder de compra do Estado para
impulsionar a indústria nacional (BRASIL, 2016).

A PND, enquanto uma das orientações, ressalta a relevância da conjunção dos


setores governamental, industrial e acadêmico para a produção científica e
tecnológica para a inovação, a fim de contribuir no domínio de tecnologias nacionais
em apoio às necessidades de produtos de defesa (BRASIL, 2016). O desenvolvimento
da indústria nacional de defesa constitui um dos objetivos da política e consta como
uma das vulnerabilidades que a atual estrutura de defesa do país precisa superar em
relação a desatualização tecnológica e a dependência de produtos de defesa
estrangeiros (BRASIL, 2016).

A END tem como uma das suas principais diretrizes a reorganização da BID
em que a defesa do Brasil depende de sua capacidade produtiva e criativa. Nela,
destaca-se o peso da Ciência, Tecnologia e Inovação para a Defesa Nacional a fim
chegar no fomento da pesquisa e desenvolvimento de produtos e sistemas militares e
civis que “compatibilizem as prioridades científico-tecnológicas com as necessidades
de defesa” (BRASIL, 2016, p. 138).

19
Nesse sentido, a presente pesquisa corrobora para os anseios de políticas
públicas de Defesa Nacional. Ademais, com a conclusão do estudo, espera-se
corroborar para a produção de novos estudos acadêmicos, além de motivar a
aproximação de abordagens quantitativas na área de Defesa Nacional no Brasil.

1.6 Metodologia de pesquisa

Do ponto de vista metodológico, a presente pesquisa destina-se a uma análise


quantitativa e apresenta aspectos descritivos e inferenciais. Faz-se uso de métodos
estatísticos a partir de dados orçamentários disponibilizados pelo Governo Federal
brasileiro5 e dados disponibilizados pelo IBGE por meio da Pesquisa Industrial de
Inovação Tecnológica (PINTEC) entre 2000 e 2014.

A partir de dados orçamentários do Ministério da Defesa acessíveis via Lei de


Acesso à Informação (LAI) e demais mecanismos de publicidade do governo
brasileiro, tais como o Portal de Acesso à Informação, foi construída a série
orçamentária de Defesa. Por conseguinte, indicadores são construídos a partir da
extração de dados dos orçamentários anuais entre 2000 - 2014 auxiliar a análise da
trajetória orçamentária do MD. Ademais, a fim de suportar o modelo proposto, fez-se
uso de métodos de estatística descritiva para sumarizar o comportamento dos dados
e possibilitar a construção de gráficos.

A fim de mensurar a sensibilidade da relação entre gastos militares e inovação,


abarca-se a série temporal do orçamento de defesa com observações a partir de
dados das firmas de defesa que participaram da PINTEC dos anos 2000, 2003, 2005,
2008, 2011. As firmas ou empresas de defesa são os sujeitos do modelo. Isto é, a
amostra, a qual, objetiva-se observar o comportamento ao longo do tempo. Para fins
de análise, as firmas de defesa, até então divididas em oito segmentos6 de acordo

5
O Orçamento de Defesa brasileiro, institucionalizado e centralizado por meio do orçamento do
Ministério da Defesa, apresenta características e particularidades que devem ser resguardadas para
fins de análise. Sobremaneira, os dados orçamentários são em sua maioria abertos. Entretanto, para a
obtenção de dados em maior nível descritivo, dada a necessária a utilização de números mais
específicos, fez-se uso da Lei de Acesso à Informação para solicitação de informações adicionais.
6
Armas e Munições Leves e Pesadas e Explosivos, Sistemas Eletrônicos e Sistemas de Comando e
Controle, Plataforma Naval Militar, Propulsão Nuclear, Plataforma Terrestre Militar, Plataforma
Aeronáutica Militar, Sistemas Espaciais voltados para Defesa e Equipamentos de Uso Individual.
20
com o realizado pelo Mapeamento da base industrial de defesa (NEGRETE et al,
2016), tiveram seus valores acumulados em uma única variável. Assim, tem-se o valor
total investido em inovação na BID durante os anos de 2000, 2003, 2005, 2008, 2011
e 20147.

A partir dos resultados da Pesquisa de Inovação promovida pelo IBGE, extraiu-


se uma amostra com empresas relacionadas a Indústria de Defesa. Cada ano-base
da pesquisa (2000, 2003, 2005, 2008, 2011, 2014) conta com um conjunto diferente
de empresas entrevistadas. Os dados de 2000 a 2011 utilizam a amostra de empresas
utilizadas no mapeamento da base industrial de defesa brasileira (NEGRETE et al.,
2016). Os dados de 2014 referem-se a uma amostra menor, incluindo apenas os
segmentos de Armas e Munições Leves e Pesadas e Explosivos, Poder Aéreo Militar
e Poder Naval Militar. A referida amostra foi solicitada ao IBGE pelo Laboratório de
Estudos de Defesa. Assim, as firmas são consideradas um conjunto não homogêneo
que se dedica parcialmente a produção de produtos militares.

Quanto ao método de análise, optou-se pela análise de correlação linear e


Regressão Linear Simples. Objetiva-se averiguar a existência de uma relação entre
Gastos militares e investimentos na BID e calcular o impacto do orçamento do MD no
total investido em inovação a partir da análise da Regressão Linear simples. Calcula-
se estatisticamente por meio de uma análise a correlação 8 entre duas variáveis:
gastos militares (variável X) e Inovação BID (variável Y). A partir de uma análise do
orçamento sob a prisma da inovação objetiva-se a verificação de uma relação, seja
positiva ou negativa, forte ou fraca, entre as duas variáveis dadas (Gastos Militares x
Inovação BID).

Dado que correlação não implica necessariamente causalidade, calcula-se a


Regressão Linear Simples entre as variáveis para estimar o impacto da variável
independente X sobre variável dependente Y. Assim, responde-se a interrogação

7
A despeito da publicação de novas edições da PINTEC, os dados não estavam oportunamente
disponíveis para serem utilizados na presente pesquisa. Acredita-se que com a referida metodologia
seja possível a replicação da pesquisa a partir de um maior conjunto de dados futuramente.
8
A correlação busca medir a força ou associação entre duas variáveis. O coeficiente de correlação de
Pearson (r), normalizado e em módulo, terá um valor que varia entre 0 e 1, sendo positiva, quando
proporcional, ou negativa, quando inversamente proporcional. A partir do coeficiente de correlação de
Pearson mede-se a força de determinado relacionamento linear e por meio de seu resultado pode-se
determinar a viabilidade da utilização de um modelo linear para a modelagem do fenômeno.

21
sobre quanto o aumento de 1 (uma) unidade monetária no Gastos militares impacta
quantitativamente no investimento em inovação nas indústrias relacionadas a defesa.
Não obstante, aprofunda-se a investigação do objeto ao calcular regressões lineares
simples por meio de variáveis independentes alternativas, tal como despesas com
investimentos do Ministério da Defesa, gastos com Equipamentos e Material
Permanente e despesas que a nível de subelementos sejam relacionados à Indústria
de Defesa.

Por fim, investiga-se a possibilidade de existir uma relação de caráter não linear
entre os gastos militares no Brasil e os investimentos em inovação na BID. Para tanto,
optou-se por um modelo logarítmico, o qual evidencia uma variação absoluta de Y
dada uma variação percentual de X. Assim, ter-se-ia o valor monetário de influência
nos gastos em investimento em inovação na BID, a partir de um aumento ou
decréscimo no orçamento do MD.

A fim de buscar evidencias estatísticas de que o resultado da amostra


comprova a existência do relacionamento entre as variáveis e a influência dos gastos
militares no investimento em inovação na BID, destacam-se entre os fatores de
influência a serem analisados: R e R ajustado; Teste F e Teste t; e o teste de
2 2

significância dos coeficientes;

A revisão bibliográfica apoia-se no arcabouço neoschumpeteriano para a


contextualização do conceito de inovação alinhada a contribuição teórica de autores
do proeminente campo da Economia da Defesa, dedicados ao estudo dos gastos
militares. Por fim, acredita-se, que com a aferição cruzada dos dados agrupados,
obter-se-á uma notação do comportamento das firmas inovativas ao longo do tempo
no Brasil.

1.7 Hipótese

A hipótese central é de que o Orçamento de Defesa (VI) pode influenciar


Inovação na BID (VD). O Orçamento como variável independente - fenômeno causal
da hipótese – ocasionando em Inovação, uma consequência lógica da primeira.
Basicamente, o Orçamento existe independente da inovação, mas a recíproca não

22
seria verdadeira, à medida que, as inovações aqui estudadas teriam correlação direta
com o segmento econômico hora em voga.

1.8 Organização da pesquisa

A presente dissertação foi dividida em 6 (seis) capítulos. A introdução destina-


se a demarcar aspectos metodológicos da dissertação.

O segundo capítulo destina-se ao estudo da Inovação e da Defesa Nacional e


objetiva entender a inovação e o processo inovativo na área de Defesa Nacional. Para
tanto, inicialmente parte-se da revisão teórica sobre a inovação e sua relação para
com o desenvolvimento econômico sob a perspectiva teórica neoschumpeteriana. Em
seguida, será revisada a literatura sobre inovação na área de Defesa, focando em
evidências empíricas e teóricas apresentadas pela revisão bibliográfica. Por fim,
investiga-se processo inovativo das empresas que atuam na área de Defesa e seus
aspectos mercadológicos.

O terceiro capítulo versa sobre os aspectos concernentes aos gastos militares,


para tanto apresenta os caracteres do orçamento de defesa no Brasil e no mundo.
Primeiramente evidencia-se orçamento como instrumento de análise para a eficiência
dos gastos e do impacto da inovação em Defesa. Em seguida, analisa-se os gastos
militares de Estados Unidos, Reino Unido e França, a fim de identificar suas principais
características. Ao tempo, que a parte final do capítulo se destina a analisar a natureza
dos gastos militares no Brasil a partir de dados orçamentários do Ministério da Defesa
brasileiro.

O quarto capítulo traz o objetivo precípuo da pesquisa ao apresentar a relação


entre orçamento militar com a inovação da BID brasileira. Logo, calcula-se a
correlação entre Gastos militares e inovação na BID e o impacto do orçamento do MD
nos investimentos de inovação a partir da análise de regressão, linear e não linear.
Por fim, tem-se o quinto capítulo destinado a conclusão geral da dissertação, seguido
pela capitulação das referências bibliográficas.

23
2 DEFESA NACIONAL, BID E INOVAÇÃO

O atual capítulo disserta sobre os conceitos e implicações da Defesa Nacional


e da Inovação. Quanto à Defesa, analisa-se sua concepção industrial - o braço
material de sua funcionalidade -, dando ênfase a necessidade da formalização
conceitual e suas consequências lógicas e metodológicas. Em seguida, explora-se o
arcabouço conceitual neoschumpeteriano para fundar a base de uma discussão sobre
a inovação na Indústria de Defesa, elaborada na seção que se segue. Por fim,
destaca-se a questão dos gastos militares para com a inovação na BID, seguido por
uma seção destinada a conclusão do capítulo.

2.1 Teoria e perspectivas relacionadas à BID

A indústria de Defesa (ID), apesar de dotada de características marcantes que


a diferenciam de outros mercados, caracteriza-se por uma falta de consenso quanto à
terminologia a ser empregada, dando a origem a uma multiplicidade de conceitos
similares, mas não equivalentes. Assim, a Base Industrial de Defesa (BID) pode ser
vista sob a ótica analítica - no sentido da semântica que o termo suporta e suas
implicações metodológicas – e sob a ótica descritiva - na medida em que se explicita
e se explica suas características e singularidades.

A BID, quanto conceito analítico, abarca as empresas fornecedoras de


equipamentos militares e relacionados a Defesa Nacional para o Ministério da Defesa
(DUNNE, 1995). Ao considerar a relação entre produtos da BID e ação militar, DUNNE
(1995) adota um conceito de BID - de certa forma amplo - ao incluir sistemas de armas
independente do porte, produtos estratégicos ainda que não letais e diversos produtos
para consumo militar. A partir desta taxonomia, pode-se enquadrar em um mesmo
conjunto produtos como alimentos, roupas, combustíveis até sistemas de armas.

No Brasil, o conceito de Base Industrial de Defesa é legitimado por meio dos


documentos correlatos à Política de Defesa no Brasil, sendo institucionalizado em
2005 na Política Nacional de Indústria de Defesa9 (PNID). A posteriori, o conceito de

9
A PNID, publicada na Portaria Normativa nº 899 de 19/07/2005 / MD - Ministério da Defesa, objetiva
fortalecer a BID, e para tanto, traz objetivos específicos e orientações. Ademais, o documento formula
definições para BID e PED.
24
BID foi definido na END como sendo:

Formada pelo conjunto integrado de empresas públicas e privadas, e de


organizações civis e militares, que realizem ou conduzam pesquisa, projeto,
desenvolvimento, industrialização, produção, reparo, conservação, revisão,
conversão, modernização ou manutenção de produtos de defesa (Prode) no
País (BRASIL, 2016, p. 8).

Indo além, a END faz menção à Lei 12.598, de 21 de março de 2012, conhecida
como “Lei da BID”, cuja finalidade concentra-se na determinação de normas especiais
para as compras, contratações e desenvolvimento de produtos e sistemas de defesa,
bem como dispõe sobre regras de incentivo à área estratégica de Defesa (BRASIL,
2016). Nesta mesma lei, é formalizado o Regime Especial de Tributação para a
Indústria de Defesa (RETID), formulado o conceito de Produto de Defesa10 (PRODE)
e reafirmado o conceito de Produto Estratégico de Defesa11 (PED).

Embora possa parecer satisfatória quanto ao conceito ideal de indústria de


defesa, operacionalizar este conceito pode se tornar um desafio (DUNNE, 1995). As
empresas que integram a BID não se limitam a setores específicos, não podendo
assim, ser classificadas a partir de uma taxonomia setorial, como por exemplo, a
Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) produzida pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (TURCHI et al., 2010). Determinada
empresa, independente do nicho a qual seja classificada economicamente, pode vir a
ser denominada como empresa de defesa. O ponto em comum que as une sob o
guarda-chuva conceitual da BID é a produção finalística, ainda que não prioritária ou
exclusiva, de produtos de defesa. Consequentemente, as firmas apresentam
diferentes níveis de dependência e importância para a BID. Dependência no sentido
de quanto sua receita depende das vendas concernentes a produtos de defesa e

10
“todo bem, serviço, obra ou informação, inclusive armamentos, munições, meios de transporte e de
comunicações, fardamentos e materiais de uso individual e coletivo utilizados nas atividades finalísticas
de defesa, com exceção daqueles de uso administrativo” (BRASIL, 2012).
11
“todo Prode que, pelo conteúdo tecnológico, pela dificuldade de obtenção ou pela
imprescindibilidade, seja de interesse estratégico para a defesa nacional, tais como: a) recursos bélicos
navais, terrestres e aeroespaciais; b) serviços técnicos especializados na área de projetos, pesquisas
e desenvolvimento científico e tecnológico; c) equipamentos e serviços técnicos especializados para
as áreas de informação e de inteligência” (BRASIL, 2012);

25
importância no contexto de sua produção de sistemas de armas que integram o
emprego das Forças Armadas (DUNNE, 1995).

Do ponto de vista político-econômico, a definição do conceito de BID pode vir a


impactar nos resultados de políticas públicas. Não obstante a indisponibilidade de
dados e ausência de transparência quando se discute Defesa Nacional e sua indústria
(DUNNE, 1995; HARTLEY, 2006), tem-se que diferentes conceitos levam a diferentes
seleções de empresas e, consequentemente, a diferentes resultados. De modo que a
utilização de um conceito amplo pode enviesar a amostra. A escolha do conceito,
estreito ou largo, acaba por determina a base de dados disponíveis e utilizadas,
alterando o escopo de mensuração do estudo.

O dilema persiste na medida em que, por exemplo, os bancos de dados


disponibilizados pelo Stockholm Internacional Peace Research (SIPRI) não incluem
observações quanto a armas de pequeno porte. Esta lacuna, pode ser preenchida por
meio da utilização de bancos de dados específicos do instituto Arms Control e
Disarmament Agency (ACDA). No âmbito nacional, a problemática se perpetua, ao
tempo que a Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança
(ABIMDE) inclui empresas de Segurança Pública ao escopo de sua organização. Uma
opção válida para quantificar a aquisição de defesa seria a utilização do histórico de
compras do Ministério da Defesa (GARCÍA-ESTÉVEZ; TRUJILLO-BAUTE, 2014;
SQUEFF, 2015).

Assim, derivado da multiplicidade de conceitos referentes ao mesmo objeto, o


próprio termo “material de emprego militar” também é demasiadamente abrangente,
uma vez que pode adicionar a produção de uniformes e calçados, diluindo o aspecto
tecnológico que lhe é atribuído (PROENÇA JUNIOR, 1993). Ao mesmo tempo, pontua-
se que o próprio termo Indústria de Defesa pode ser caracterizado como eufemístico,
no sentido de suavização frente ao adjetivo bélico comumente atrelado à indústria em
questão, sendo mais passível de utilização dentro de um contexto político (PROENÇA
JUNIOR, 1993).

Partindo de uma perspectiva particular sobre a BID, Amarante (2012) propõe a


ideia do iceberg científico-tecnológico militar que corresponde a uma estrutura
formada por várias instituições e empresas, que apesar de suas especialidades
diversas e do atrito inerente quando houver o contato, precisam operar de forma
26
harmoniosa a fim da consecução do produto de defesa. Para o autor, somente a
infraestrutura de Ciência, Tecnologia e Inovação possui condições de estabelecer a
capacitação nacional de abastecimento de produtos e serviços militares. Sendo assim,
apresenta sua preferência pelo conceito de BID em detrimento ao conceito de Indústria
de Defesa, sendo este, apenas um elemento do conjunto representado pela BID.

No iceberg científico-tecnológico militar, deslumbra-se que o topo da pirâmide


é reservado aos produtos e serviços tecnológicos disponíveis para a defesa nacional.
Ao tempo, que todas as outras cinco camadas respectivamente abaixo formam a BID,
formada por instituições e empresas. Quanto mais próxima da base do iceberg
determinada instituição estiver, mais científico será seu trabalho, comportamento
inverso é atrelado às instituições que se distanciam da base, e possuem um maior
conteúdo tecnológico em seus trabalhos.

Figura 1. Iceberg científico-tecnológico ou BID (AMARANTE, 2012, p. 12)

A abordagem conceitual de Amarante (2012) mescla o conceito de BID com o


conceito de complexo-industrial-Militar (CIM). O CIM pressupõe um conjunto de atores
organizados que fomentam o aumento de gastos militares baseado em ameaças
externas, mas pensando no benefício próprio. Nesse contexto, as companhias que
integram a BID seriam ativos participantes na determinação do nível de gasto em
defesa, possuindo capacidade de afetar a política de defesa. consequentemente,

27
limita a capacidade tecnológica militar aos contornos da primeira (DUNNE, 1995;
COOK, 1975). No mesmo sentido segue o arcabouço legal pátrio, o qual normaliza
um conceito de BID que se aproxima da ideia de complexo de defesa ou sistema de
defesa.

Saraiva (1993) defende uma análise que seja mais rigorosa a fim de identificar
e delimitar a precisa dimensão da produção industrial destinada ao mercado militar.
Sendo assim, propõe um modelo para discussão sobre a forma de inserção no tecido
industrial das empresas envolvidas de alguma forma na produção de material bélico.
O autor está interessado na classificação do tecido industrial em função de sua
dependência – total ou parcial - ou independência para com setor militar.

No esquema o tecido industrial é dividido em três categorias: A, B e C. A


primeira seria constituída por fabricantes de armas, independentemente do tamanho.
A categoria “B” absorve as indústrias de fabricação de componentes e subsistemas
para a categoria “A” e produz equipamentos e matérias que não necessariamente são
classificados como militares. Por fim, a categoria “C” destina-se às indústrias que já
fabricaram armas ou que podem vir a fabricar sem a necessidade de grandes
investimentos. Essas empresas podem ser encaradas como o “potencial militar
nacional”.

Figura 2. Tecido Industrial (SARAIVA, 1993)

28
A dificuldade na classificação das indústrias decorre do fato que as fronteiras
entre as empresas está cada vez menos clara e com limites mais flexíveis (SARAIVA,
1993). Sendo assim, Saraiva (1993) descarta a indústria de defesa como um setor
industrial propriamente dito, mas sim, como um conjunto não-homogêneo, composto
por setores de atividades econômicas diversas. Indo além, ao caracterizar como uma
linha tênue a divisão entre a indústria de defesa e a indústria para o mercado civil dada
a capacidade de compartilhamento industrial. Nesse sentido, para a prospecção de
um conceito descritivo de BID, circulam-se as características inerentes ao mercado de
defesa e às firmas que o compõem, expondo-se mecanismos singulares de oferta e
demanda e o imperativo tecnológico.

O lado da demanda de produtos de defesa define-se praticamente apenas por


compras governamentais – o Estado como principal comprador – o que vem a
caracterizar o mercado como monopsônico (FERREIRA; SARTI, 2011). Ao tempo que
pelo lado da oferta observam-se as grandes empresas de defesa, que são, em sua
quase totalidade, conglomerados norte-americanos, compondo a caracterização do
setor por possuir uma estrutura oligopolizada, formada por grupos econômicos que na
maior parte das vezes “pratica a estratégia de diversificar suas atividades, valendo-se
da aplicação dual de muitas tecnologias como forma de ampliar seus mercados”
(FILHO et al., 2013, p.375).

Logo, percebe-se que este mercado está longe de uma situação de


concorrência perfeita: ele é, ao mesmo tempo um monopólio/oligopólio e um
monopsônio, visto que o Estado é o único comprador dos equipamentos.
Então, a interação entre demanda e oferta não ocorre via “mão invisível”, mas
através de um intrincado processo de negociação e barganha, que ao seu
final reflete o poder relativo de ambas as partes. Tanto o governo usa seu
poder de compra como monopsonista quanto as firmas utilizam as
assimetrias de informação sobre os seus custos a seu favor, visto que estes
são de difícil estimação. (TURCHI et al., 2010)

Na Indústria de defesa, o investimento tem grande risco dada a prevalência


de um único comprador e às incertezas na demanda. Sendo assim, durante muito
tempo foi comum o apoio governamental para compensação desse risco
(COMDEFESA, 2011). O mercado externo costuma ser apontado como uma
alternativa, marcado pela massiva presença de Estados Nacionais, que possibilitaria
a indústria local ganhe escala e qualidade através da exploração de novos mercados.

29
Entretanto, para tal feito, a atualização tecnológica dos produtos é fundamental
(FILHO et al., 2013).

As exportações são uma opção ao promover a venda para as Forças Armadas


de outros países, diminuindo a dependência da firma frente a demanda de sua nação
de origem. Ademais, empresas que exportam mais acabam por investir mais em P&D
(PIVA; VIVARELLI, 2007; DASCH et al., 2008) e as particularidades e modificações
no produto exigidas pelo usuário final influem no esforço inovativo da firma (VON
HIPPEL, 2007). Entretanto, ainda assim, as firmas ficam subordinadas a fatores
políticos, sendo necessária autorização para a negociação e efetivação do negócio
(ÁVILA, 2009; MAGALHÃES, 2016). Ainda assim, as exportações em defesa
relacionam-se com o Estado de origem da firma, uma vez que vendas internacionais
são normalmente antecedidas por encomendas no âmbito doméstico (FERREIRA;
SARTI, 2011).

Para além da exportação12, o comportamento atual das empresas ligadas a


BID demonstra que as vendas para segmentos comerciais civis ou de segurança já
superam a parcela proporcional de vendas à Defesa (NEGRETE et al., 2016). Nesse
sentido, as exportações não são a única opção mercadológica. De modo que a maioria
das empresas que compõem a BID não atuam apenas no mercado de defesa, tendo
inclusive, majoritariamente, o mercado civil como a origem da maior parte de suas
rendas.

De tal maneira, torna-se evidente a prevalência de um mercado fortemente


influenciado por compras governamentais e exportações, alinhadas a competitividade
acirrada dada a internacionalização do mercado (BRASIL, 2016). Nesse contexto, o
potencial inovador emerge como característica essencial para a sobrevivência da
firma, ao agregar valor a seu produto e incrementar sua produtividade e o Estado tem
papel fundamental ao proporcionar suporte político, financeiro e técnico (FERREIRA;
SARTI, 2011).

12
Uma das características do setor é sua condição de indisponibilidade para com as regras da
Organização Mundial do Comércio (OMC) no que concerne à política comercial praticada pelos países
(FILHO et al., 2013). Tal indisponibilidade encontra-se no artigo XXI do Acordo Geral de Tarifas e
comércio, que traz em seu corpo as denominadas “exceções de segurança”. A neutralidade do
comercio internacional de equipamentos militares frente a OMC deriva do fato de que a demanda dos
equipamentos observa as regras do jogo geopolítico em detrimento aos ditames do mercado
(FERREIRA; SARTI, 2011).
30
Na presente pesquisa, opta-se pela utilização do conceito de BID conforme
adotada no Mapeamento da Base Industrial de Defesa (NEGRETE et al., 2016), no
qual analisa-se apenas empresas diretamente vinculadas a produção e
desenvolvimento de bens e serviços militares 13, excluindo-se da análise empresas
fornecedoras de suprimentos ou itens civis ainda que fornecidos às Forças Armadas.

2.2 A inovação sob a perspectiva neoschumpeteriana

A inovação, na percepção de Schumpeter (1982), é um processo de destruição


criativa, a partir do qual novas tecnologias podem suplantar tecnologias anteriores,
gerando novas ondas inovadoras capazes de alavancar a produtividade do capital e
do trabalho. A destruição criativa resulta na substituição de velhos métodos por novos,
em um processo de constante busca pela inovação a fim de aumentar a assimetria
entre firmas e obter-se lucro, mais precisamente os “lucros de monopólio”, frente à
concorrentes defasadas.
Uma vez na fronteira inovativa, dada a natureza singular e qualitativamente
melhor do produto ou processo do empresário inovador frente aos concorrentes, o
empresário obtém “lucros de monopólio” os quais são reduzidos gradualmente à
medida que é copiado por outros empresários (SCHUMPETER, 1982). Assim,
Schumpeter (1942) nega o mercado de concorrência perfeita e o mecanismo de
competição via preços, enxergando positivamente o monopólio temporário devido sua
capacidade de acumular capital para induzir o processo inovativo.
Para Schumpeter (1982) o progresso técnico é figura central do
desenvolvimento econômico, de tal modo que, torna-se fundamental para entender o
capitalismo enquanto sistema dinâmico e evolutivo. O progresso técnico apresenta
uma natureza descontínua e estaria diretamente ligado aos ciclos econômicos, em
que as próprias crises econômicas teriam origem e explicação na inovação
tecnológica. Uma crise recessiva evidenciaria o esgotamento do modelo produtivo ou
a obsolescência do processo produtivo, exigindo-se, assim, a superação dele. De tal

13
Bens militares são equipamentos desenvolvidos especificamente para fins militares e as tecnologias
relacionadas, e não incluem bens de uso geral, como gasolina, eletricidade, computadores de escritório
e uniformes. Serviços militares são também de uso militar específico, incluindo serviços técnicos;
serviços relacionados à operação das forças armadas; e segurança armada em zonas de conflito. Tal
categoria não inclui a provisão, em tempos de paz, de serviços puramente civis, como assistência
médica, limpeza e transporte (Definição do SIPRI).
31
forma, o desenvolvimento econômico ocorre em ciclos econômicos ligados às
mudanças no processo produtivo e por isso deve ser endógeno para ser válido.

O encontro de empresário inovador, inovação e crédito forma a tríade


conceitual básica para o desenvolvimento econômico. As empresas, ao comporem
um todo heterogêneo, buscam a inovação a fim de destacar-se, seja pelo
conhecimento acumulado, seja pela própria capacidade de absorção de conhecimento
(SCHUMPETER, 1982). O processo é levado a cabo pelo empresário inovador via
crédito disponibilizado pelo sistema financeiro com qual adquire poder de compra para
investir nos meios de produção e gerar inovação.
A inovação evidencia-se como o canal para o desenvolvimento econômico,
assim, “a inovação de produtos tinha implicações fundamentais tanto para se entender
a natureza do capitalismo enquanto força histórica como para a compreensão da
natureza do processo competitivo” (ROSEMBERG, 1978, p.20). Nesse sentido, o
desenvolvimento é visto como a mudança estrutural do sistema econômico fruto do
processo inovativo. O capitalismo ganharia impulso com as inovações – seja ela um
novo produto, método ou mercado.

A inovação pode ser vista como uma externalidade positiva, e poderá ser
radical, quando apresentar mudanças drásticas transformando mercados, ou
incremental, quando advir de imitações, adaptações e aperfeiçoamentos de produtos
e processos já existentes (FREEMAN; SOETE, 2008). O produto da pesquisa
incremental se mostra mais frequente, em função do seu peso no P&D industrial de
laboratório de empresas ou até mesmo no chão de fábrica. A taxonomia da inovação
não altera seu valor, à medida que ambas as modalidades possuem sua importância
e o verdadeiro foco está na intensidade da inovação.
A nível de firma, a empresas não necessariamente precisam investir em P&D
formal ou inovar por si só, o que de fato determinará sua sobrevivência é a adoção da
estratégia tecnológica correta. Para tanto, Freeman e Soete (2006) apontam seis
opções de estratégias tecnológicas inovativas passivas de serem adotadas pelas
firmas: a) estratégia ofensiva – fortes investimentos em pesquisa a fim de aproveitar
janelas de oportunidade; b) estratégia defensiva – a despeito dos investimentos em
P&D hesitam em inovar; c) estratégia imitativa – as empresas copiam e produzem
uma inovação retardada sem grandes modificações; d) estratégia dependente – a
inovação origina-se da demanda externa devido a solicitações de clientes ou de firmas
32
mais fortes; e) estratégia tradicional - características de baixa concorrência e baixa
demanda inovativa acompanhada por baixos investimentos em pesquisa; e f)
estratégia oportunista – empresas adotam estratégia de nicho ao atuar sob
oportunidades de mercado que não necessitem de grandes capacidades de P&D.
Usando ideias da biologia para adicionar o fator tecnológico à teoria da firma,
Nelson e Winter (1982) expõem o dinamismo no qual a firma se insere, partindo dos
conceitos de rotina, busca e seleção. A metáfora evolucionista sugere que a firma
busca introduzir mudanças em sua rotina a fim de sobreviver e prosperar no ambiente
de seleção de mercado. A inovação seria a mutação do gene visando sua
sobrevivência no ambiente - o mercado onde atua. A partir de mecanismos de seleção
natural pelo mercado, as firmas com rotinas mais eficientes possuirão maior
lucratividade e maior parcela de mercado (NELSON; WINTER, 1982).
Os pressupostos schumpeterianos de instabilidade do mercado buscam no
plano microeconômico a construção de uma análise a nível de firma para explicar o
fenômeno da inovação, e consequentemente, o desenvolvimento. Sob essa
perspectiva a tecnologia não seria um bem público disponível para todos, mas sim
que a interação entre firmas e indivíduos seria a responsável pela transmissão de
conhecimento e técnicas. Opõe-se, portanto, a visão neoclássica do progresso técnico
na qual a tecnologia, por ser um bem público, estaria livremente disponível para
empresas e indivíduos.
DOSI (2006) identifica a inovação como a solução de um problema através do
aprendizado acumulado pela firma e elabora os conceitos de paradigma tecnológico
e trajetória tecnológica. O conceito de Paradigma tecnológico está relacionado a
produção de conhecimento tecnológico, entendido como padrão ou modelo de
solução de problemas. Ademais, tem-se o conceito de Path dependence ou
dependência da trajetória, o qual evidencia o processo de P&D como um
procedimento consecutivo e consequente, onde o produto gerado por um estágio da
pesquisa torna-se insumo para novos passos. Assim, entende-se a trajetória
tecnológica como o direcionamento possível para o progresso tecnológico,
envolvendo assim, a eliminação de tecnologias anteriores e rivais (DOSI, 2006).
Para além da ideia de paradigma tecnológico, tem-se a ideia de paradigma
tecno-econômico introduzida por Perez (2001). Esta apresenta um caráter mais
sistêmico, apresentando maior abrangência ao inserir o contexto socioinstitucional e

33
pode ser entendido como o roteiro para agentes que buscam maior eficiência
produtiva. A nível tecnológico, sublinha-se o impacto cumulativo de numerosas
modificações, adaptações e melhoramentos técnicos e sua consequente influência
sobre o ritmo de adoção de uma inovação, ademais, acrescenta-se que a indústria de
bens de capital possui papel fundamental neste processo (ROSEMBERG, 2006).
Assim:

O processo de difusão, via de regra, depende de uma sequência de


melhoramentos nas características de desempenho de uma invenção, de sua
modificação e adaptação graduais para adequar-se às necessidades ou
demandas específicas de vários nichos de mercado e da disponibilidade e
introdução de outros insumos complementares que tornam mais útil uma
invenção original (ROSEMBERG, 2006, p. 44)

O progresso técnico é visto como elemento chave do processo evolucionário


da firma e do mercado. A difusão de inovações é parte dos movimentos cíclicos da
economia mundial. A perspectiva pode ser capaz de retratar com mais fidelidade os
aspectos de concorrência e competição no mercado, indo além da perspectiva via
preços. Assim, possibilita-se entender o conhecimento como o insumo básico da
indústria e a aprendizagem como o mecanismo necessário para rotina das firmas a
fim de gerar a verdadeira mutação: a inovação no processo produtivo.
Portanto, visualizar a inovação como elemento endógeno e dependente de seu
ambiente institucional desperta o olhar para o entendimento de que a ocorrência do
fenômeno inovação depende da comutação e harmonização de fatores diversos para
alavancar o crescimento econômico e ser mais que uma invenção.

2.3 A inovação na área de defesa

A interseção entre defesa e desenvolvimento está atrelada a um conjunto de


características da Indústria de defesa, dentre as quais destaca-se a capacidade de
inovação das firmas. As firmas de defesa competem em um ambiente altamente
inovativo e tecnologicamente sofisticado (BLOM, CASTELLACI; FELVODEN, 2013),
em função das demandas das Forças Armadas (FREEMAN; SOETE, 2008), de modo
que a capacidade de inovação é uma qualidade necessária para uma empresa do
setor (DAGNINO, 2010) e fundamental para um país alcançar capacidades militares
superiores (SEMPERE, 2015).

34
Assim, destacam-se a competição militar, diferenciação e complexidade do
produto como as três características dos bens de defesa que possuem forte impacto
sobre a inovação (SEMPERE, 2015): a Competição demanda equipamentos
tecnológicos perto da fronteira do estado da arte; a Diferenciação exige que o produto
de defesa seja quase sempre feito por encomenda para se enquadrar nas
preferências e singularidades das Forças Armadas do país que as utilizará; e a
complexidade a qual se intensifica a cada geração de equipamentos que é
modernizada, em que a tecnológica leva à constante reprodução de subsistemas,
componentes e interfaces novos.

Acosta et al (2017), ao estudarem as 100 maiores firmas de defesa segundo o


SIPRI e comparar suas produções de patentes, puderam afirmar quanto a prevalência
de uma relação direta entre o tamanho da firma e sua capacidade de produzir patentes
civis, relação não observável diretamente quanto a produção de patentes militares.
Nesse sentido, torna-se imperativo salientar que o fato de uma tecnologia militar
patenteada pertencer a um governo, departamento, instituto de pesquisa ou empresa
não é determinante na existência de citações civis posteriores (ACOSTA;
CORONADO; MARÍN, 2011). Dessa mesma forma, não se observam evidências em
apoio a qualquer alegação de que as tecnologias militares atribuídas às agências
governamentais se disseminam mais lentamente do que aquelas produzidas pelas
firmas privadas (SCHMID, 2018).

Mais importante do que a tamanho e habilidade tecnológica da firma de origem


da patente militar é a experiência tecnológica da entidade que utilizará essa tecnologia
transposta para uso dual (ACOSTA; CORONADO; MARÍN, 2011). As firmas
engajadas no aproveitamento da tecnologia dual são as que possuem as maiores
vendas militares, largo quantitativo de funcionários e de patentes frente as firmas que
não aplicam o conceito (ACOSTA et al., 2017). Sendo que os investimentos em P&D
das firmas de defesa, seja a curto ou longo prazo, são influenciados
proporcionalmente pelo nível de relacionamento em termos de contratos com o
governo (GARCÍA-ESTÉVEZ; TRUJILLO-BAUTE, 2014). Assim, contratos de defesa
podem vir a afetar o investimento em P&D das firmas, e em última instância, afetar o
desenvolvimento de novas tecnologias (MOWREY, 2010).

35
Esse entendimento, acredita-se, corrobora para a conformação de
conglomerados e grandes empresas multinacionais que dominam o setor de defesa.
Dado seu acúmulo de conhecimento e de capital, são capazes de dispensar maiores
investimentos em P&D e, consequentemente, maiores fatias de mercado (ACOSTA et
al., 2017). Nesse sentido, ganha relevo a figura dos integradores de sistemas -
empresas às quais transmite-se os encargos e benefícios da gestão de projetos, antes
a cargo das agências de defesa do governo. Como consequência, embora haja
impacto positivo advindo do desenvolvimento interinstitucional a partir de uma
perspectiva centrada em redes, tais como aprimoramento da segurança e resguardo
de tecnologias relevantes, eles também são susceptíveis a ter um efeito adverso sobre
a variedade de novos produtos de defesa disponíveis devido construção de barreiras
à entrada de novas empresas fornecedoras (ZERVOS; SWANN, 2009).

O desempenho em inovação dos países da Organização para a Cooperação e


Desenvolvimento Econômico (OCDE) foi medido por MALIK (2018), a partir da relação
dos gastos militares e a produção de patentes, artigos e exportações. O autor conclui
que os gastos se correlacionam positivamente com a produtividade nacional em
artigos e com a exportação de produtos de alta tecnologia, mas não estão
correlacionados com a produção de patentes. Para o autor, a análise sugere que a
publicação de artigos flui para exportações de alta tecnologia independentemente do
gasto militar, ao tempo que o conhecimento patenteado efetivamente flui para as
exportações com o investimento em defesa.

A partir da perspectiva da cultura de direitos de propriedade intelectual, Bellais


e Guichard (2006) analisam as dificuldades e falhas nas políticas de spin-off, ou da
ausência dela, no setor de defesa. Ao enxergarem o Spin-off como uma forma de
transferência de tecnologia, mais do que boas intenções em cooperar, faz-se
necessária uma política de direitos de propriedade intelectual. A ausência de uma
cultura de direitos de propriedade dificulta a alocação da tecnologia de defesa para o
setor civil. A propriedade intelectual em Defesa é um assunto complexo. Muitas
empresas preferem o segredo industrial à segurança legal proporcionada pelas
patentes. Dessa forma, as patentes podem ser ineficientes enquanto indicadores da
inovação nessa área (BELLAIS; GUICHARD, 2006).

36
Ainda que frequentemente destacado, o spin-off - difusão da tecnologia militar
para a sociedade civil - não é o propósito primário da inovação no setor da defesa.
Esta carrega como propósito central a elevação da capacidade militar. Sua
reutilização adaptada por e para mercado e sociedade é uma externalidade de caráter
secundário. Tanto a tecnologia quanto qualquer investimento P&D para a consecução
de inovações militares deriva da intenção quanto a agregação de valor à atividade fim
de defesa.

A tecnologia empregada na produção de um PRODE, e principalmente, de um


PED comumente é reconhecida como de alta capacidade, sendo a última geração de
determinado produto pertencente à fronteira tecnológica. Por sua vez, o Spin-off14 ou
transbordamento é uma característica comumente atrelada a Indústria de Defesa,
originado em sua capacidade de transbordamento de tecnologias militares para
aplicações civis (DAGNINO, 2008). Paralelamente, tem-se a dualidade tecnológica
empregada na produção de um produto de defesa, ou seja, a ideia de que a tecnologia
que determinada indústria possui é capaz de produzir produtos tanto de uso civil como
militar (DAGNINO, 2010), ampliando o escopo de atuação comercial das firmas.
Entretanto, ainda que a diversificação produtiva reduza a dependência de compras
governamentais, acaba por reforçar a necessidade de as empresas serem
tecnologicamente competitivas. (LESKE, 2015).

A capacitação tecnológica necessária para uma empresa atuar no setor


implica exigência de investimento em P&D, assim, criam-se barreiras dificultando a
entrada de novas empresas (DUNNE, 1995; ROGERSEN, 1995). Ademais, o caráter
tecnológico e o conhecimento acumulado expõem a tecnologia militar a possibilidade
de cerceamento tecnológico (LONGO, 2007). Por fim, igualmente derivados do
conhecimento e da tecnologia empregados na tecnologia de defesa, sublinha-se a
criação direta e indireta de empregos qualificados (BRASIL, 2016), sendo o capital
humano um fator preponderante para identificar aspectos inovativos em firmas. Outro
fator de destaca é sua contribuição para com a balança comercial, tendo em vista as
exportações de um produto de alto valor agregado(BRASIL, 2016).

O conceito de Tecnologia dual difere-se do conceito de Spin-off. O primeiro se

14
“[...] um efeito de transbordamento ou ‘espirramento’ dos resultados tecnológicos e econômicos
desencadeados pelo gasto militar no setor da defesa para o setor civil da economia” (DAGNINO, 2008,
p. 115).
37
refere a uma convergência de nível de produção e tecnologia entre os setores civil-
militar para maior eficiência dos meios, enquanto o segundo refere-se ao
transbordamento de tecnologias entre os setores (DAGNINO, 2008). O Spin-off 15 seria
um movimento natural, que ocorre quando determinado segmento econômico produz
mais conhecimento que outro (SEMPERE, 2016). Consecutivamente, uma das mais
alardeadas características da indústria de defesa é a tecnologia dual empregada na
produção de um produto de defesa, ou seja, a ideia de que a tecnologia detida por
determinada indústria é capaz de produzir produtos tanto de uso civil como militar
(DAGNINO, 2010).

Alerta-se quanto a difícil taxonomia da tecnologia dual a despeito de seu


funcionamento bidirecional, ou seja, pode advir tanto do setor militar para o civil,
quanto do civil para o militar uma vez que não necessariamente toda e qualquer
tecnologia será dual (MOLAS-GALLART, 1998). O uso de tecnologia dual ajuda as
firmas de defesa a melhorar a percepção da sociedade para suas atividades, uma vez
que passam a ser vistas como produtoras de tecnologia e não apenas como
fornecedoras de armas (ACOSTA et al., 2018).

Entretanto, prevalece o entendimento de que, em termos quantitativos, não


haveria diferença estatisticamente significativa nas taxas de difusão tecnológica entre
os setores civis e militares (SCHMID, 2018). Ou seja, a despeito de suas
características particulares, a disseminação do conhecimento produzido em defesa
transmite-se tal qual outros setores civis.

Com o fim da Guerra Fria, o paradigma do Spin-off 16 (ALIC et al., 1992) perde
em capacidade argumentativa frente a seu revés, o Spin-in17, o que indica a crescente
influência da P&D do setor civil no desenvolvimento de produtos de defesa (SPEAR;
COOPER, 2010; LESKE, 2018). Paralelamente, expõe-se uma nova conjectura de
restrição orçamentária e seu consequente impacto no processo inovativo, em que se
reduz a participação de produtos de defesa na receita das firmas frente a área civil,
fato que conduz a um processo inovativo iniciado em âmbito civil e posteriormente

15
O Spin-off ou transbordamento é uma característica comumente atrelada a Indústria de Defesa,
originado em sua capacidade de transbordamento de tecnologias militares para aplicações civis.
16
Ideia de transbordamento de tecnologia militar para o ambiente civil.
17
Ideia de transbordamento de tecnologia civil para o ambiente militar.

38
influenciando melhoramentos tecnológicos na ambiência militar, invertendo assim, a
ordem de transbordamento tecnológico (LESKE, 2018).

2.4 A relação entre gastos militares e inovação

A importância da inovação para a defesa apresenta-se formalmente nos


documentos como a PND e a END. Essa importância também consta no RETID em
que o atributo da inovação nas compras, contratações e desenvolvimento de produtos
e sistemas de defesa confere benefícios tributários aos produtos inovativos.

A relação entre Defesa e inovação tem sido foco de atenção na literatura


especializada. Nesse sentido, ganha relevo análises que privilegiam a forma como a
P&D militar e as aquisições influem no desenvolvimento tecnológico (MOWERY, 2010;
LONGO; MOREIRA, 2013). A P&D militar e a aquisição de defesa afetam a inovação
por meio de três canais (MOWERY, 2010):

a) O financiamento de investimentos P&D para áreas de conhecimento inovativos


que impactem tanto a aplicação civil quanto a militar e a interação com
universidades para intensificação da produção em pesquisa básica e aplicada;
b) Spin-off (tema já tratado na seção anterior); significante nas fases iniciais de
desenvolvimento de uma tecnologia, dada a sobreposição de aplicações tanto
civil quanto militar. À medida que a tecnologia ganha maturidade, aprofunda-se
a divergência quanto aos requisitos tecnológicos e os benefícios do spin-off
declinam.
c) A Aquisição de defesa pode afetar o investimento em P&D das firmas
diretamente, assim como pode afetar o desenvolvimento de novas tecnologias.
As compras governamentais historicamente permitem aos inovadores um
impacto na redução de preços graças a ganhos de escala aliado ao aumento
da confiabilidade do produto, além de propiciar o aprendizado em versões
iniciais das tecnologias.

A indústria da guerra frequentemente está vinculada ao desenvolvimento de


tecnologias que utilizamos cotidianamente. Da mesma forma, a indústria obteve
sucesso na introdução da tecnologia evolutiva para além das peculiaridades da
39
guerra. Por isso, acredita-se que as guerras tiveram um papel relevante no
crescimento econômico de alguns países desenvolvidos. Entretanto, a ausência da
guerra ou sua ameaça leva a perda de apoio para desenvolver tecnologia
autenticamente revolucionária. É neste contexto que os recursos deixam de ser
destinados em abundância (MURRAY, 2001; RUTTAN, 2006).

Nos tempos de paz, o movimento militar caracteriza-se pelo aprendizado com


as guerras passadas em preparação para o futuro. Sendo assim, na cultura das
organizações militares, caracterizada como fundamental para construção de um
ambiente propício ao debate, estudo e experimentação na preparação para a guerra
(MURRAY, 2001).

O conceito de inovação militar abarca três componentes essenciais: a) a


inovação muda a maneira pela qual as formações militares funcionam no campo de
ação; b) a inovação é significativa em escala e escopo; e c) a inovação é tacitamente
equacionada com uma maior eficácia militar (GRISSON, 2006).

A inovação militar desperta-se como um conjunto maior o qual abarca e pode


ser influenciado pela inovação em tecnologias militares. A competição militar demanda
equipamentos com precisão rigorosa, confiabilidade, qualidade, segurança ou
interoperabilidade de modo que a imperativa necessidade de provimento de
segurança e defesa, foi capaz de impulsionar avanços tecnológicos tanto em produtos
quanto processos (LONGO; MOREIRA, 2013). Longo (2007) define tecnologia militar
como:

[...] o agregado organizado de todos os conhecimentos – científicos,


empíricos, intuitivos –, além de habilidades, experiências e organização,
requeridos para produzir, disponibilizar e empregar bens e serviços para fins
bélicos, incluindo tanto conhecimentos teóricos como práticos, meios físicos,
técnicas, métodos e procedimentos produtivos, gerenciais e organizacionais,
entre outros. (LONGO, 2007, p. 120)

A inovação por si só, entretanto, não é um produto que pode ser comprado. Em
última instância, ela seria um resultado maior do processo de aquisições a partir da
busca por melhorias de performance e capacidade dos produtos de defesa. Sendo
assim, a participação direta do Estado nos custos de P&D com as empresas é um
incentivo para resultar em inovação (ROGERSON, 1995).

40
A P&D em defesa representa um caminho chave pelo qual os governos do
mundo moldam a inovação, em especial o dos Estados Unidos (EUA), mas também
os exemplos da França e do Reino Unido. O montante destinado ao P&D em defesa,
embora não tenham objetivos puramente econômicos, é a mais importante política
industrial usada pelo governo federal para afetar tanto a velocidade quanto a direção
da inovação na economia estadunidense (MORETTI; STEINWENDER; REENEN,
2016).

Durante a Guerra Fria, observa-se, principalmente, a influência do capital


financeiro que possui largos investimentos no setor de defesa e na corrida
armamentista fomentada pela indústria norte-americana (COOK, 1975). Tamanha sua
grandeza, a P&D de tecnologia patrocinada pelo governo desempenhou papel
fundamental no desenvolvimento de quase todas as tecnologias de uso geral em que
os Estados Unidos eram competitivos internacionalmente, de forma que o
desenvolvimento comercial seria substantivamente retardado se não fosse o estímulo
decorrente de aquisições militares e relacionadas à defesa (RUTTAN, 2006).

O aspecto principal, no chamado Sistema Nacional de Inovação18 dos Estados


Unidos, é sua grande discrepância em quantidade de investimento em P&D para com
os demais países, mesmo em comparação com os membros da OCDED. As origens
desse investimento decorrem, inicialmente, de um robusto orçamento nacional e
federal em que gastos privados e públicos foram combinados. As indústrias privadas
chegaram a receber aproximadamente a metade destes recursos federais. É a partir
do final da Segunda Guerra Mundial que os investimentos com a P&D militar
cresceram significantemente (MOWERY, 2010) e ocorre progressivamente o aumento
de investimentos em pesquisa universitária bancada por patrocínio federal
(MOWERY; ROSENBERG, 1993, p. 23-51).

Dominante desde a segunda guerra mundial, a tecnologia de defesa, baseada


na alta tecnologia de sistemas de armas e modernização de capacidades, tem como
consequência o aumento no custo de armas ao longo do tempo (SPEAR; COOPER,
2010, p. 398). Assim, a expressão Malthusianismo militar (SCHEETZ, 2004) explicita

18
[...] “é o conjunto de instituições cujas interações determinam o desempenho inovativo das empresas
nacionais” (NELSON, 1993, p. 4).

41
o descompasso crescente entre custo de armas e a capacidade orçamentária em
Defesa, a qual apresenta tendência de queda em oposição aos custos de
manutenção de equipamentos (HARTLEY, 1998).
Em síntese, a excessiva especificidade da demanda por parte das Forças
Armadas alinhada ao aumento de custo devido a extrapolação do prazo são os dois
problemas centrais dos sistemas de defesa. (SUMAN, 2013). De modo que se observa
que as atuais abordagens de planejamento militar falham na articulação entre
demandas de capacidades militares e capacidades orçamentárias (RAZA, 2002)

Classicamente caracterizado pelo dilema “Guns or Butter”, o conceito de trade-


off explicita os dilemas enfrentados por Estado e sociedade. Assim, emerge o impasse
entre necessidades ilimitadas e recursos limitados. Objetivamente, quanto maiores os
gastos em Defesa Nacional, menos recursos poderão ser gastos com bens pessoais
que visem o aumento do padrão de vida (MANKIW, 2001). Por conseguinte, dadas as
limitações do orçamento de defesa, aos comandantes incumbe combinar
eficientemente recursos que devem ser alocados entre equipamento ou pessoal,
assim como entre as Forças ou tipo de armamento, se convencional ou nuclear a fim
de produzir segurança (HARTLEY, 2011).

Pode-se sublinhar três fatores preponderantes para o dinamismo na aquisição


de defesa de um dado país, são eles: a) ação-reação - competição de capacidade
militar entre adversários ; b) domésticos - influência de contextos políticos,
burocráticos e econômicos no sistema de aquisição de defesa ;e c) imperativo
tecnológico - destaca que a capacidade militar desloca-se junto à fronteira científico-
tecnológica (SPEAR; COOPER, 2010).

As aquisições de produtos de defesa por parte do Estado determinam o


pontapé inicial aos incentivos para o seu desenvolvimento e produção. Mesmo assim,
os problemas de incentivo entre o governo e as empresas de defesa perduram.
Rogerson (1995) identifica quatro destes problemas: P&D, em que a constante busca
por melhorias na performance e capacidades através de avanços tecnológicos;
Incerteza, que advém das dificuldades tecnológicas de desenvolvimento e acerca do
receio de descontinuação de suas compras; a economias de escala na produção, que
não caracterizam este mercado, uma vez que seus produtos são obtidos em menores
e específicas quantidades, impossibilitando a redução de custos marginais; e mercado

42
monopsônico, em que o estado é o principal ou o único comprador. O mercado
monopsônico tem um impacto negativo com relação às atividades de P&D nas
empresas uma vez que elas se preocupam com a possibilidade de não recuperação
de seu investimento próprio caso o estado não se interesse.

Quanto a relação entre investimento em Defesa Nacional e sua relação para


com o crescimento nacional, prevalece na literatura especializada uma divergência
quanto a capacidade de gastos militares gerarem crescimento econômico, alterando-
se o diagnóstico - positivo, negativo ou nulo -, a partir das diferentes correntes teóricas
e consequentes modelos de análise. Assim, para mensurar essa relação cada caso
deve ser tratado individualmente (SANDLER; HARTLEY, 1995; DUNNE, 2003)

Em países desenvolvidos, externalidades positivas advindas do investimento


em defesa tendem a ser mais visíveis (KATOCH, 2006). De modo que em países
menos desenvolvidos, os efeitos positivos do gasto em Defesa dependem da
existência de setores econômicos capazes de alavancar os potenciais benefícios
(SANDLER; HARTLEY, 1995). Concomitantemente, não existe qualquer certeza de
que maiores gastos em Defesa resultem em desenvolvimento ou evolução tecnológica
(BRAUER, 2003; HARTLEY, 2007).

Sempere (2016) considera que os feitos negativos causados pelos gastos com
Defesa, advém de um possível esgotamento de recursos para com outras
necessidades públicas tais como educação pública, saúde, infraestruturas, poupança
ou consumo privado. Para Ruttan, (2006) indubitavelmente, “os avanços no
conhecimento científico e técnico e na tecnologia comercial induzida pela demanda
por tecnologia de defesa e relacionada à defesa no passado importam custos de
oportunidade muito pesados na economia dos EUA” (RUTTAN, 2006, p. 185).

Ao realizarem uma análise da diferença entre gastos militares e gastos de P&D


de 76 (setenta e seis) países e sua relação com o Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) e o Produto Interno Bruto (PIB), Biswas et al (2018) identificaram que o IDH
apresenta uma relação bidirecional e positiva com maiores investimentos em P&D.
Ademais, concluíram que gastos nacionais em P&D contribuem para o capital
humano, que em troca contribui para o desenvolvimento público ao longo dos anos,
diferente dos gastos militares que somente contribuem marginalmente para o PIB e
não contribuem para o IDH.
43
O fim do século XX leva a uma diferente estrutura antes observada RUTTAN
(2006) onde os investimentos em P&D militar e relacionados a defesa já não sejam
tão efetivos na produção de inovação quanto o foram ao longo do século, de tal
maneira:

A racionalização dos processos envolvidos na alocação de recursos para


P&D em defesa e compras relacionadas à defesa, combinada com mudanças
na estrutura da base industrial relacionada à defesa, impôs sérias restrições
à capacidade de P&D militar e compras relacionadas à defesa continuar a
desempenhar um papel dinâmico como fonte de novas tecnologias
comerciais de uso geral. (RUTTAN, 2006, p. 184)

A solução ótima seria o aumento da parcela orçamentária destinada à defesa.


Tal ponto é levantado na literatura que clama por aumento do gasto em defesa em
relação ao PIB. Entretanto, a condição de restrição orçamentária do governo exige
que o aumento das despesas militares seja financiado pelo corte de outras despesas
públicas, ou pelo aumento dos impostos, ou aumento do endividamento ou expansão
da oferta monetária (DUNNE et al., 2005).

Assim, prevalece na literatura uma divergência quanto aos benefícios


econômicos dos gastos militares, devendo cada caso ser estudado singularmente.
Nesse sentido, aprofunda-se o estudo sobre os gastos militares no Brasil a fim de
medir seus caracteres quantitativos e qualitativos.

Dentre os óbices à consecução de um sistema setorial de inovação voltado ao


atendimento às demandas materiais de defesa no Brasil, destaca-se a ausência de
uma agência de fomento para o setor de defesa, o necessário aprimoramento do
sistema de aquisição de defesa, e a desconfiança mútua entre empresas de defesa e
governo (LONGO; MOREIRA, 2013). Outra opção, sugere a criação de prêmios para
firmas inovadoras em defesa, seja através de contratos de exclusividade ou de
descontos fiscais a fim de minimizar custos e incentivar a P&D (ROGERSON, 1995).

2.5 Considerações sobre o capítulo

Ao fim do presente capítulo, a revisão bibliográfica efetuada permite conduzir a


compreensão do relacionamento entre Industria de defesa, inovação e gastos
militares, os objetos principais deste estudo. Em suma, a Indústria de Defesa emerge
44
como um núcleo de difusão tecnológica, estando vinculada a avanços inovativos ao
longo do século XX até os presentes dias, ainda que em dimensões amenizadas. A
despeito da dificuldade de conceitualizar esta indústria e identificar as firmas que a
compõem, dentre suas características essenciais destaca-se a capacidade inovativa.
Por outro lado, os gastos militares destacam-se como um objeto a ser compreendido
e analisado, dado que a Indústria de Defesa existe em função destes gastos. Desta
forma, tem-se uma tríade de objetos científicos sob análise bibliográfica demonstra a
existência de uma relação. Nesse sentido, os próximos capítulos destinam-se a
vinculação dos eixos temáticos Defesa Nacional e inovação a partir de uma
abordagem quantitativa, explorando análises descritivas e inferenciais.

45
3 OS GASTOS MILITARES NO BRASIL E NO MUNDO

O terceiro capítulo aborda os gastos militares no Brasil e no Mundo. Primeiro,


são discutidas as implicações de se entender a Defesa Nacional como um bem
público, sobretudo, para com sua participação e previsão dos gastos militares no
orçamento de qualquer nação. Depois, são capturadas e evidenciadas experiências
orçamentárias de outros países (EUA, Inglaterra e França). Em seguida, tendo o
orçamento como instrumento de análise para a eficiência dos gastos militares, analisa-
se a natureza dos gastos militares no Brasil por meio de dados do orçamento do
Ministério da Defesa brasileiro e da utilização de ferramentas de análises estatísticas.

3.1 Defesa nacional como bem público

Prevalece na literatura econômica e de Finanças Públicas a visualização da


Defesa Nacional enquanto bem público (ALMEIDA, 2010) atribuindo-lhe, assim,
caracteres de não exclusão e não rivalidade. Não excludente à medida que abarca a
totalidade dos indivíduos, sendo sua exclusão impossível ou não desejável, dado que
sua oferta atinge a população como um todo. E não rival, uma vez que, o custo
marginal do fornecimento do bem para novos indivíduos tende a zero, dado que a
oferta e consequente usufruto do bem por uma pessoa não retira o direito de que outra
pessoa também o utilize.

Concomitantemente, a partir do momento em que Defesa Nacional é entendida


como um Bem público, a Defesa emerge como uma despesa necessária e privativa
do Estado. Nesse sentido, incumbe ao Estado provê-la, dada sua impossibilidade ou
inviabilidade econômica de provimento pelo mercado. Assim, a Defesa Nacional pode
ser compreendida como indispensável para a sociedade, ao mesmo tempo em que é
custeada com valores públicos pela própria sociedade.

Ainda que primária, a demanda por segurança e defesa foi diluída em razão do
comportamento de free-rider (carona) e do anseio as despesas sociais, como a
educação e a saúde, serem mais demandadas pela população do que as despesas
de defesa (PÉREZ-FORNIÉS; CÁMARA; DOLORES, 2014, p.7-8). Assim

46
compreende-se a existência de um dilema entre grupos de despesa, o que torna difícil
justificar despesas militares para a sociedade, gerando uma situação, na qual, sob a
perspectiva política, tem-se incentivos para diminuir os gastos com defesa e
maximizar o eleitorado (PÉREZ-FORNIÉS; CÁMARA; DOLORES, 2014, p.7-8).

Do ponto de vista político, os governos determinam a direção da defesa e da


tecnologia civil por meio de sua despesa pública, sendo seu apoio um fator chave no
desenvolvimento de novos projetos inovadores para buscar oportunidades de
cooperação em P&D (ACOSTA et al., 2018). Os governos, via poder de compra,
podem moldar a inovação diretamente – ao auxiliar as empresas na recuperação dos
custos de P&D - e, indiretamente, uma vez que como consumidor principal, o governo
teria capacidade de influenciar a difusão de inovações (SERRÃO, 2017).

Primária ou diretamente, todo gasto deve ser realizado a fim de fornecer Defesa
Nacional por meio da geração de capacidade para as Forças Armadas, ao tempo que
o objetivo secundário, ou indireto, preocupa-se com o impacto econômico do gasto
sobre a sociedade. Ainda que não seja seu objetivo primordial, de fato, a busca pelo
melhor desempenho econômico deve minimizar o fardo do gasto militar (HARTLEY,
2013). Neste sentido, ganha relevo o estudo dos gastos em defesa como indutores do
desenvolvimento econômico (HARTLEY, 2013) e a análise sobre uso de tecnologias
duais na busca por um retorno adicional que vá além do objetivo fim da defesa
nacional para os gastos com P&D militar (ACOSTA et al., 2018).

O orçamento pode ser visualizado como instrumento fundamental tanto da ação


quanto do controle governamental, em especial ao que se refere a Defesa Nacional,
sendo passível de avaliação a partir dos princípios e conceitos orçamentários gerais
(ALMEIDA, 2002). Dessa forma, o acúmulo dos quadros orçamentários a longo prazo
pode instrumentalizar a análise do planejamento governamental para o setor (MATOS,
2010). Assim, ganha relevo a preocupação com a desconexão entre o discurso político
e o planejamento orçamentário, as lacunas na interseção entre os gastos militares e
as ações diplomáticas e de inteligência e a tímida presença do tema em documentos
estratégicos de médio e longo prazo do Governo Federal (PEDERIVA, 2004).

O Orçamento de Defesa brasileiro institucionalizado e centralizado por meio do


orçamento do Ministério da Defesa apresenta características e particularidades que

47
devem ser resguardadas para fins de análise que dão origem ao Ciclo Orçamentário
da Defesa (COD). Dada a arquitetura institucional do MD, o COD envolve-se em
particularidades, dentre as quais destaca-se a realização das fases consolidação e
execução por diferentes atores institucionais. Ao tempo que em outros Ministérios a
elaboração e execução orçamentárias são realizadas pelo mesmo órgão, em Defesa,
a elaboração compete aos Comandos das Forças Singulares, uma vez que a
consolidação compete ao MD e a execução é novamente empreendida sob a
competência de cada uma das Forças Armadas, individualmente. Assim, cabe ao MD
definir prioridades, o qual “deverá atuar sobre as propostas consolidadas das Forças,
pelo que poderá dispor de visão ampla das necessidades militares e exercer o seu
papel central de mediador e articulador” (ALMEIDA, 2002, p. 60).

Assinala-se a necessidade de ressalvas quanto a capacidade de colher


informações a partir do orçamento. Uma vez que, de fato, o orçamento focaliza as
características financeiras, avaliando entradas (inputs) e processos com mais eficácia
do que saídas (outputs) e dos impactos sociais (outcomes), de modo que “saber
quanto dinheiro foi comprometido não indica o nível de satisfação, de disciplina, de
saúde ou de segurança da tropa. Tampouco aponta para a existência de suprimentos
adequados” (PEDERIVA, 2004, p.130-131). Assim, por conseguinte, para fins da
presente pesquisa, visualiza-se o orçamento como instrumento de análise para a
eficiência dos gastos em Defesa e, também, como meio para compreensão da
maneira como os gastos militares impactam na inovação.

Em síntese, o orçamento pode ser conceituado como “o instrumento de


planejamento de qualquer entidade, pública ou privada, e representa o fluxo de
ingressos e aplicação de recursos em determinado período” (MCASP, p.67). O
orçamento público é o principal documento de política públicas de um governo
(ABRÚCIO; LOUREIRO, 2004, p. 14), no qual são previstas e autorizadas despesas
destinadas ao funcionamento dos serviços públicos (BALEEIRO, 2006, p.411), sendo
verdadeiro instrumento de curto prazo que operacionaliza “os programas setoriais e
regionais de médio prazo, os quais, por sua vez, cumprem o marco fixado pelos planos
nacionais em que estão definidos os grandes objetivos e metas, os projetos
estratégicos e as políticas básicas” (GIACOMONI, 2010, p.225). Nesse sentido, o

48
orçamento abarca todas as receitas e todas as despesas de determinado ente. No
caso, nosso interesse recai sobre a União e seus gastos com Defesa Nacional.

No que se refere à despesa pública, esta pode ser entendida como “o conjunto
de dispêndios realizados pelos entes públicos para custear os serviços públicos
prestados à sociedade” (MCASP, p.67) ou para a realização de investimentos, sendo
dessa forma um elemento diretamente relacionado à mensuração do desempenho. A
despeito de seu ponto de vista patrimonial19, despesa pública “strictu sensu” refere-se
apenas às despesas orçamentárias20. Dessa forma, sob o ponto de vista
orçamentário, são consideradas despesas realizadas as despesas empenhadas 21 no
exercício, assim, uma despesa será considerada como pertencente ao exercício
financeiro22 em que foi empenhada ainda que liquidada e paga em exercícios
posteriores. Para tais despesas, é imprescindível a autorização legislativa. Por sua
vez, o empenho23, quanto estágio da despesa, é o ato emanado de autoridade
competente que cria para o Estado obrigação de pagamento pendente ou não de
implemento de condição. É indispensável, e importa deduzir seu valor de dotação
adequada à despesa a realizar, por força do compromisso assumido.

Dada a riqueza de detalhes e a larga escala de abrangência, o orçamento torna-


se um instrumento de análise disponibilizado à sociedade. Entretanto, orçamentos de
governos soberanos e de seus respectivos Ministérios da Defesa não são livremente
disponibilizados. Para preencher essa lacuna, a título de exemplo, o SIPRI usa o PIB
como mensurador básico para suas análises comparativas. No caso brasileiro, tem-
se a possibilidade de utilização do orçamento como instrumento de análise dos gastos
militares.

O modelo orçamentário brasileiro apresenta uma classificação por natureza de


despesa na qual o gasto total orçamentário é dividido em 6 grupos de Despesa:

19
Despesas são decréscimos nos benefícios econômicos durante o período contábil, sob a forma da
saída de recursos ou da redução de ativos ou assunção de passivos, que resultam em decréscimo do
patrimônio líquido, e que não estejam relacionados com distribuições aos detentores dos instrumentos
patrimoniais (CPC 00).
20
Despesa Orçamentária é o fluxo que deriva da utilização de crédito consignado no orçamento da
entidade, podendo ou não diminuir a situação líquida patrimonial.
21
Art. 35 da lei 4.320/1964.
22
1 de janeiro a 31 de dezembro.
23
São termos sinônimos de despesas empenhadas: Despesas orçadas; despesas realizadas;
despesas executadas.
49
Pessoal e Encargos Sociais (GND 1); Juros e Encargos da Dívida (GND 2); Outras
Despesas Correntes (GND 3); Investimentos (GND 4); Inversões Financeiras (GND
5); e Amortização da Dívida (GND 6). Ao tempo que o GND é um agregador de
elementos de despesa com as mesmas características quanto ao objeto do gasto, o
elemento da despesa tem por finalidade identificar os objetos de gasto. Por sua vez,
subelemento é um desdobramento facultativo da despesa, que detalha o elemento da
despesa.

A partir da classificação por natureza de despesa, tem-se o total com


investimentos – Grupo de natureza de Despesa (GND 4), dentro do qual, encontra-se
a montante realizado com despesas em Equipamentos e material permanente. Por
sua vez, o elemento material de consumo aparece tanto no Grupo de natureza de
despesa denominado Outras Despesas Correntes (GND 3) quanto no Investimentos
(GND 4). Assim, trabalha-se com os valores anuais resultantes do somatório do gasto
em material de consumo em ambas as instâncias. Com relação à amostragem
despesa anual a nível de subelementos, foram selecionados gastos militares
específicos24 produzidos com o fim militar baseado no conceito de BID debatido no
primeiro capítulo. De tal modo, objetiva-se a seleção de uma amostra composta
rigidamente apenas por itens que tenham sua demanda atendida via Indústria de
Defesa.

3.2 Os gastos militares nos países desenvolvidos

A presente seção busca captar a trajetória orçamentária de países


desenvolvidos, para tanto foram selecionados três países: Estados Unidos (EUA),
Reino Unido (ENG) e França (FRA). A fim de melhor entender e analisar o gasto militar

24
Explosivos, munições, armamentos, material para manutenção de bens móveis, material de manobra
e patrulhamento, material de proteção e segurança, material para comunicações, material para
produção industrial, sobressalentes de armamento, suprimento de proteção ao voo, material para
manutenção de veículos, aeronaves, aparelhos e equipamentos de comunicação, máquinas e
equipamentos de natureza industrial, embarcações, material de TIC (permanente), veículos diversos,
carros de combate, veículos de tração mecânica, equipamentos, peças e acessórios aeronáuticos,
equipamentos, peças e acessórios de proteção ao voo, acessórios para veículos, equipamentos de
mergulho e salvamento, equipamentos, peças e acessórios marítimos, equipamentos e sistema de
proteção e vigilância ambiental, material de consumo de uso duradouro, equipamentos sobressalentes
de maquinas motorizadas de navios da esquadra, outros materiais permanentes e equipamento e
material sigiloso e reservado.
50
de países do norte, mensurou-se o gasto militar em razão do PIB e do gasto total do
governo entre 2000 – 2014, destrinchando-os em razão de sua natureza. Para tanto,
foram utilizados dados Banco Mundial, Stockholm International Peace Research
Institute (SIPRI), International Institute for Strategic Studies (IISS), Organização do
Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

3.2.1 A Construção de Indicadores de Análise

Para a compreensão e análise dos gastos militares nos países desenvolvidos


foram utilizados dados advindos do SIPRI, Banco Mundial, IISS e OTAN.
Basicamente, o Banco Mundial utiliza a base de dados do SIPRI como referência e os
valores correntes são atualizados pela taxa de inflação anual de preços do consumidor
disponibilizada pelo FMI. Adicionalmente, captura-se de relatórios publicados pela
OTAN, gastos de defesa categorizados referente a seus aliados.

A definição conceitual de gastos militares utilizado pelo SIPRI para formar seu
banco de dados é extensa e inclui gastos correntes e de capital das Forças Armadas
(inclusive operações de manutenção da paz), ministérios da defesa e outras agências
governamentais engajadas em projetos de defesa, forças paramilitares quando
treinadas, equipadas e disponíveis para operações militares, e atividades espaciais
militares.

Deste escopo, devem estar incluídas todos os gastos com pessoal, seja civil ou
militar, inclusive aposentadorias e direitos previdenciários e sociais, gastos com
operações e manutenção, aquisição, P&D militar, construções militares e ajuda militar
enviada ao exterior. Por outro lado, estão excluídos gastos militares relativos à defesa
civil e os gastos correntes derivados de atividades militares anteriores, como
benefícios a veteranos, desmobilização, conversão de instalações de produção de
armas e destruição de armas.

Evidentemente a aplicação prática do conceito do SIPRI esbarra em limitações


práticas. Sua atualização anual baseada em fontes abertas, pode ser limitada pela
ausência de publicidade dos dados ou a incapacidade de determinar as despesas

51
embutidas ou não no orçamento. Ainda assim, o SIPRI prioriza a garantia de dados
de cada país que sejam comparáveis ao longo do tempo.

A OTAN disponibiliza anualmente os dados sobre as despesas de despesa de


seus países-membros. Para tanto, os ministérios da Defesa reportam os dados a
serem agregados e publicados a partir de definições padronizadas sobre o gasto em
defesa. Uma das particularidades dos dados disponibilizados pela OTAN é sua
classificação dos gastos em defesa por categorias:

a) Pessoal - incluem os pagamentos, subsídios e contribuições previdenciárias


com pessoal civil e militar, e as pensões de aposentados;
b) equipamentos - incluem despesas com grandes equipamentos (sistemas de
mísseis, mísseis convencionais, armas nucleares, aeronaves, artilharia,
veículos de combate, equipamento de engenharia, armas e armas pequenas,
veículos de transporte, navios e embarcações de pequeno forte, equipamento
eletrônico e de comunicação), bem como com pesquisa e desenvolvimento dos
mesmos;
c) infraestrutura - incluem construções militares nacionais e infraestrutura
comum da OTAN (despesas como nação anfitriã, pagamentos para outras
nações, receitas de outras nações, terrenos e serviços públicos); e
d) outros - incluem despesas de operação e manutenção (munições e explosivos
não nucleares, derivados de petróleo, peças de reposição, outros
equipamentos e suprimentos, aluguéis, outras operações e manutenção),
outras despesas de P&D e despesas não alocadas nas categorias acima
mencionadas.

Os dados sobre despesas de defesa disponibilizados anualmente pela OTAN


utilizam uma metodologia própria de classificação. Assim, cabe salientar que os
números podem ser diferentes dos divulgados pela mídia, por autoridades nacionais
e peças orçamentárias e, principalmente, diferentes dos apresentados pelo SIPRI.
Entretanto, ainda assim, pode-se afirmar que o conceito de despesa da OTAN
aproxima-se do conceito de empenho apresentado anteriormente, uma vez que os
valores representam pagamentos efetuados ou ainda por ser efetuados, durante o

52
curso do exercício, por seus governos nacionais para atender às necessidades de
suas forças armadas.

Em relação às despesas com equipamentos em percentagem das despesas de


defesa, a orientação da OTAN é de que no mínimo 20% dos gastos do Orçamento de
defesa sejam com equipamentos. Por sua vez, em relação às despesas de defesa
em proporção do PIB, a orientação da OTAN é de que no mínimo 2% do PIB seja
destino ao Orçamento de defesa. Entretanto, essas diretrizes não possuem caráter
vinculativo, sendo uma orientação no sentido de diminuir o desequilíbrio de
participações orçamentárias na instituição. Ademais, tais diretrizes remetem
inicialmente ao ano de 2014, extrapolando assim, o tempo amostral sob escrutínio no
presente estudo.

Para maior compreensão dos gastos com pessoal, foram anexados à amostra
os dados disponibilizados pela IISS referentes aos quantitativos totais de Pessoal das
Forças Armadas (PFA). Para tanto, foi considerado como membros das Forças
Armadas o pessoal militar ativo, incluindo forças paramilitares, caso seu treinamento,
organização, equipamento e controle sugerirem que podem ser usados para apoiar
ou substituir as Forças Armadas. O pessoal das forças armadas é o pessoal militar
ativo, incluindo forças paramilitares, se o treinamento, organização, equipamento e
controle sugerirem que eles podem ser usados para apoiar ou substituir
A partir dos dados coletados do Banco Mundial, do SIPRI e da OTAN,
formalizam-se os seguintes Indicadores de Defesa:

a) defesa/PIB – gastos militares em razão do PIB;


b) Defesa/ Gastos governamentais – gastos militares em relação ao gasto
total governamental;
c) Pessoal/ Defesa – representa o valor percentual dos gastos com pessoal
no gasto total de defesa;
d) Equipamentos/ Defesa - representa o valor percentual dos gastos com
equipamentos no gasto total de defesa;
e) Infraestrutura/ Defesa - representa o valor percentual dos gastos com
infraestrutura no gasto total de defesa;

53
f) Outros/ Defesa - representa o valor percentual dos gastos outras
despesas no gasto total de defesa;
g) Pessoal das Forças Armadas (PFA)/ População Economicamente
Ativa (PEA) – apresenta a participação das Forças Armadas em relação
a população economicamente ativa; e
h) Equipamentos/Pessoal – apresenta o custo anual com equipamentos por
integrante das Forças Armadas.

Os Gastos militares são medidos em valores absolutos, apresentados


originariamente em valor total de dólares correntes, sendo apresentados com valores
em dólares americanos atualizados a preços de 2014 pelo Índice de Preços do
Consumidor do Fundo Monetário Internacional (IPC – FMI). Assim, para fins analíticos,
calcula-se o parâmetro defesa/PIB, o fardo militar25, o qual representa
percentualmente o custo econômico de uma nação frente a toda riqueza gerada no
período de um ano, de acordo com o calendário gregoriano. Por sua vez, quantifica-
se o indicador Defesa/Gastos Governamentais, assim formaliza-se a real participação
dos Gastos militares em relação ao orçamento do Governo Central do País,
evidenciando seu peso sobre as contas públicas de acordo com o ano-calendário
fiscal.

Os quatro seguintes indicadores estão disponibilizados referindo-se somente


aos aliados da OTAN. Assim, para aplicabilidade dessa taxonomia ao contexto de
países não pertencentes a OTAN, demanda-se um esforço analítico para reagrupar
despesas nos moldes previstos pela classificação utilizada pela OTAN, fator muitas
vezes limitado pela publicidade de dados, ou a falta dela. Por sua vez, o indicador
Pessoal das Forças Armadas/ População Economicamente Ativa expressa a
composição numérica das Forças Armadas em relação a força de trabalho total do
país. Nesse sentido, a expressão força de trabalho total refere-se ao conceito de
população economicamente ativa da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Por fim, o último indicador estima o valor médio unitário gasto com
equipamentos para cada membro integrante das Forças Armadas como

25
Tradução do autor para a expressão Defense Burden.
54
disponibilizado pelo IISS. Para tanto, a partir do percentual gasto com equipamento
de cada país, extrai-se seu valor em dólares por meio dos gastos totais e
posteriormente divide-se o resultado pelo número de componentes das Forças
Armadas respectivas. Assim, objetiva-se uma maior compreensão do gasto em defesa
destinados a equipamentos e pessoal proporcionalmente.

3.2.2 Estados Unidos

Os Estados Unidos entram no século XXI como uma das maiores potências
militares da atualidade. De acordo com dados fornecidos pelo Instituto de Pesquisas
da Paz de Estocolmo- SIPRI, os EUA são responsáveis por cerca de 60% das armas
consumidas no mundo e são responsáveis por 50% da soma de todos os orçamentos
militares do mundo. Um poder militar como este não surge da inércia. A capacidade
Bélica-militar norte-americana dos dias atuais é reflexo de um longo caminho,
percorrido por um Estado que até o início do século XX era considerada uma
“democracia isolacionista e amante da paz” (COOK, 1975).

Os anos 2000s foram palco da “guerra ao terror” levada a cabo pelos Estados
Unidos. Durante o interstício em análise os Estados Unidos capitanearam a Guerra
ao Terror, sendo protagonistas na entrada no Afeganistão em 2001 e a invasão do
Iraque em 2003. Conflitos estes, que se prolongaram ou se ramificaram em novos
conflitos ao longo da década e de sua consequente. Nesse sentido, o envolvimento
em conflitos armados e a participação efetiva das Forças Armadas norte-americanas
corrobora para o entendimento que o aumento do gasto militar em relação ao PIB
pode ser explicado por meio da presença de ameaças (AIZENMAN; GLICK, 2006).

A partir da tabela 1 é possível assimilar a dimensão dos gastos militares norte-


americanos em valores absolutos, frente a sua economia e frente aos gastos
governamentais entre 2000 e 2014.

Em média, 3,84% do PIB foi destinado aos gastos militares. O auge em gastos
é atingido em 2010, quando 4,66% da economia dos Estados Unidos é orientado aos
gastos militares em contraposição ao menor valor de 2,93% ainda em 2000. Assim,

55
em números absolutos, o valor médio dos gastos militares norte-americanos
ultrapassa o valor de 600 bilhões de dólares anuais. Tais números comumente
posicionam os EUA como primeiro colocado no ranking de gastos militares global.

Tabela 1. Os Gastos Militares dos Estados Unidos 2000 – 2014


Ano em bilhões de dólares % do PIB % dos gastos do
Governo
2000 414.906.157.150,86 2,93 -
2001 418.382.365.677,01 2,94 9,15
2002 469.698.880.211,54 3,25 9,84
2003 534.438.619.691,91 3,61 10,80
2004 582.366.293.058,86 3,79 11,40
2005 610.095.906.075,43 3,86 11,50
2006 619.726.297.233,24 3,82 11,45
2007 635.704.320.439,95 3,85 11,25
2008 682.992.962.540,68 4,22 11,42
2009 737.365.479.520,29 4,63 11,25
2010 757.899.396.880,62 4,66 11,75
2011 748.964.963.301,52 4,58 11,85
2012 706.172.527.200,00 4,23 11,44
2013 649.939.264.000,00 3,81 10,73
2014 609.914.000.000,00 3,48 9,96
Fonte: Autoria própria, a partir de dados do Banco Mundial e do SIPRI26
Valores em dólares americanos atualizados a preços de 2014 pelo IPC - FMI

As despesas com o PIB são um bom indicador da vontade de agir em todo o


espectro de segurança e influência (ABEN; FONTANEL, 2019). No caso norte-
americano, mudanças no volume de gastos em defesa possuem impactos
macroeconômicos potencialmente importantes (RAMEY, 2011) ainda que gastos com
defesa provoquem um baixo efeito de substituição no consumo agregado (PIERONI,
2009). Neste sentido, a ação reflete-se nos números, no qual mudanças no gasto de
defesa são observáveis no caso americano por corresponderem diretamente a
períodos de conflito (MALIZARD, 2015).

26
O percentual dos gastos militares no total dos gastos do governo dos EUA não se encontra disponível
tanto no site do Banco Mundial quanto no site do SIPRI.
56
Em um primeiro momento, a crise econômica de 2008 parece não interferir no
investimento de defesa norte-americano, uma vez que a participação dos gastos
militares nos gastos governamentais, oscila entre 9,15% (2001) e 11,85% (2011),
permanecendo acima de 11% entre os anos de 2004 e 2012. No entanto, destaca-se
que a partir de 2011, a trajetória americana inicia uma diminuição nos dispêndios
militares tanto em valores absolutos quanto em valores proporcionais. Assim, cabe
investigar a natureza dos gastos militares norte-americanos para saber como a
ampliação nos gastos de defesa foi utilizada dentro das Forças Armadas, se fora
utilizada para gastos com pessoal, ou equipamentos ou infraestrutura ou gastos de
outras naturezas.

Gráfico 1. Natureza dos Gastos Militares – Estados Unidos 2000 - 2014

100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Pessoal equipamentos infraestrutura outros

Fonte: Autoria própria, a partir de dados da OTAN

Ainda na década de 1960, sob a liderança de Robert Macnamara, o


Departamento de Defesa americano (DoD) implementou o Planning-Programing and
Budgeting System (PPBS) criado pela Rand Corporation em 1954. Tendo como ponto
de partida o orçamento, foram idealizados programas e projetos compartilhados pelas
Forças, de maneira a romper o isolamento entre as forças singulares e aumentar a
Integração harmônica e coerente entre si (ALVES, 2000). Do gráfico 1 notabiliza-se
que entre os anos de 2008 e 2010 observa-se um aumento no gasto de pessoal em
contraposição a uma redução nos gastos qualificados como outros. De modo que os
57
anos de 2009 e 2010 representam os anos com maior participação do grupo pessoal
no orçamento como um todo.

Tabela 2. Os Gastos Militares com pessoal dos Estados Unidos 2000 – 2014

Pessoal Forças PFA/ PEA em Equipamentos/Pessoal em


Ano Armadas (Total) percentual dólares
2000 1.454.800 1 53.902,44
2001 1.420.700 1 57.131,12
2002 1.467.000 1 61.153,71
2003 1.480.000 1 74.026,97
2004 1.473.000 1 82.630,38
2005 1.546.000 1 84.055,90
2006 1.498.000 1 94.324,16
2007 1.555.000 1 87.486,00
2008 1.540.000 1 93.135,40
2009 1.563.996 1 127.294,88
2010 1.569.417 1 145.841,17
2011 1.520.100 1 138.943,57
2012 1.492.200 0,9 144.812,22
2013 1.433.150 0,9 129.702,15
2014 1.381.250 0,9 109.066,97
Fonte: Autoria própria, a partir de dados do Banco Mundial e do IISS
Valores em dólares americanos atualizados a preços de 2014 pelo IPC - FMI

Entretanto, a análise combinada com a tabela 2 evidencia que o aumento no


custeio de pessoal não refletiu um aumento quantitativo no Pessoal das Forças
Armadas. Tal observação corrobora para o entendimento de que os gastos com
pessoal militar cresceram mais rápido que a taxa média geral da inflação e dos
salários do setor privado (GOLDBERG, 2020). Concomitantemente, a relação dólares
por pessoal acaba disparando em 2009, o que mostra uma qualidade do indicador ao
evidenciar a manutenção ou aumento dos gastos com equipamentos por cada
integrante da defesa.

A despeito dos conflitos militares de que tenham participado durante a primeira


década dos anos 2000s, é possível afirmar que há uma variação percentualmente
pequena no quantitativo regimental das Forças Armadas americanas. Em números
absolutos essa percepção reflete-se no fato de que, em média, 1% da população
58
economicamente ativa norte-americana trabalha para as Forças Armadas, de maneira
que a partir de 2012 percebe-se o decréscimo para 0,9%.

Ao longo da série, podem ser observados anos que apresentam acréscimo


acima da média. Em 2001, tem-se um aumento de 3,3% em relação ao contingente
do ano anterior, assim como 5,0% em 2004 e 3,8% em 2008. Por outro lado, em 2013
e 2014 é possível assimilar um cenário de desmobilização, evidenciado por reduções,
respectivamente, de 4 % e 3,6%. De certa forma, pode-se caracterizar os anos
restantes como de pequenos ajustes quando comparados aos anos de maior
mobilização e desmobilização. Assim, a escala de mobilização e desmobilização,
ainda que intimamente conectada aos conflitos emergentes, evidencia sua
flexibilidade no caso norte-americano.

Gráfico 2. Média dos Gastos Militares por natureza – Estados Unidos 2000 -
2014

37%
37%

1%

25%

Pessoal equipamentos infraestrutura outros

Fonte: Autoria própria, a partir de dados da OTAN

O gráfico 2 ilustra o comportamento orçamentário médio norte-americano em


defesa e revela que o grupo Pessoal e o grupo outros totalizam a soma de 74% dos
gastos militares totais. Ao tempo que o restante é destinado quase em sua totalidade
aos gastos com equipamentos, que equivalem em média a 25% do gasto militar norte-
americano. Sendo apenas 1% destinado a gastos com infraestrutura. Maiores

59
conclusões podem ser tomadas quando comparadas aos orçamentos dos países em
análise.

3.2.3 Reino Unido

O Reino Unido apresenta um registro de uma série de reformas


contínuas visando otimizar seu sistema de aquisição de defesa (GRAY, 2009;
SUMAN, 2013). O sistema de aquisição exerce papel estratégico ao lidar a com uma
fatia significante dos recursos do orçamento de defesa anual dos países. No caso do
Reino Unido, essa fatia significante gira em torno dos 40% do seu orçamento (GRAY,
2009). A título de exemplo, tem-se o National Defence Industries Council, uma espécie
de fórum no qual Ministério da Defesa e Indústria se reúnem para discutir questões
importantes e desenvolver políticas e práticas através de uma série de atividades
conjuntas. Instituições como esta, evidenciam o aspecto de engajamento precoce da
Indústria gerando maior realismo (SUMAN, 2013). Assim, a política de aquisição de
defesa do Reino Unido “assume a continuação da corrida a novas armas
relativamente ao plano técnico e à contínua ênfase atribuída à superioridade
tecnológica” (HARTLEY, 1998, p.19).

Dentro do contexto da OTAN, ainda o início da década de 2000, o Reino Unido


participou da coalizão de invasão do Iraque (2003), da ulterior Guerra do Iraque (2003
– 2011) e da paralela Guerra do Afeganistão (2001 – 2014). Ademais, tem-se a
participação na intervenção militar na Líbia em 2011. O fato de um Estado pertencer
a uma aliança militar, no caso a OTAN, impacta positivamente sua economia na
medida em que gera externalidades positivas relacionadas à segurança e
estabilidade. Entretanto, esse efeito positivo parece ser maior em países que gastem
abaixo da linha orientadora, apresentando impacto menor para países que possuam
gastos mais altos como os Estados Unidos. (UTRERO-GONZÁLEZ; HROMCOVÁ;
CALLADO-MUÑOZ, 2019).

Outrossim, o nível de desenvolvimento econômico pode ter influência sobre os


efeitos dos gastos nacionais com defesa no crescimento econômico. (ALPTEKIN;
LEVINE, 2012). Assim, seguem-se as cifras da economia britânica e sua parcela
destinada aos gastos militares.

60
Tabela 3. Os Gastos Militares do Reino Unido 2000 – 2014

Ano em dólares correntes % do PIB % dos gastos do


Governo
2000 48.536.291.045,73 2,14 6,33
2001 48.065.666.074,85 2,17 6,28
2002 53.260.561.938,33 2,24 6,29
2003 62.171.411.524,21 2,30 6,24
2004 70.561.149.190,23 2,25 5,96
2005 70.622.466.701,18 2,18 5,72
2006 71.952.958.631,14 2,13 5,62
2007 80.739.521.944,87 2,14 5,63
2008 77.500.876.567,08 2,26 5,58
2009 66.928.547.462,28 2,42 5,49
2010 64.978.654.944,66 2,37 5,32
2011 64.522.449.832,44 2,29 5,29
2012 60.916.791.952,26 2,19 5,05
2013 57.714.685.982,10 2,07 4,98
2014 59.182.858.554,26 1,95 4,81
Fonte: Autoria própria, a partir de dados do Banco Mundial e do SIPRI
Valores em dólares americanos atualizados a preços de 2014 pelo IPC - FMI

A queda nos gastos militares reflete-se nos três indicadores utilizados para
análise. Em números absolutos, desde o 2007 – ano de maior cifra orçamentária -, os
gastos diminuem de modo que em 2014 atingem valores parecidos com os de uma
década antes. Em termos de PIB, de 2009 a 2014, a participação nos gastos militares
cai de 2,42% para 1,95%. Assim como, em 2000, o governo britânico acumulava
dispêndios militares na ordem de 6,33% de seu orçamento geral, quedas sucessivas
e anuais, levam ao valor de 4,81% no ano de 2014. Em síntese, pode-se afirmar que
ao longo dos 15 anos de análise é possível afirmar que o gasto público em defesa no
Reino Unido caiu em, dando espaço para outros tipos de despesa pública não –
militares.

61
Gráfico 3. Natureza dos Gastos Militares – Reino Unido 2000 - 2014

100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Pessoal equipamentos infraestrutura outros

Fonte: Autoria própria, a partir de dados da OTAN

O comportamento orçamentário dos gastos militares britânicos pode ser


considerado como estável dada a pouca mudança no equilíbrio entre categorias de
despesas. A despeito dos movimentos ascendentes e descentes do gasto militar total
britânico, nenhuma categoria de gasto parece sofrer ou ser beneficiada sozinha das
oscilações orçamentárias. Assim, a manutenção do equilíbrio das categorias de
gastos corrobora ao entendimento de um arranjo orçamentário que trata suas
despesas de forma mais isonômica.
A tabela 4 evidencia que o Reino Unido tem reduzido seu contingente
operacional anualmente. Por conseguinte, a redução gradativa do pessoal total das
Forças Armadas reflete-se na parcela da PEA envolvida em atividades militares, no
qual observa-se uma redução.

Entretanto, a intepretação conjunta com o gráfico 3 demonstra que esta


redução quantitativa não parece afetar o valor proporcional do orçamento inglês
destinado ao pagamento de pessoal. Quando em perspectiva, o último ano da amostra
(2014) apresenta o menor contingente operacional (154.700) à medida que apresenta
a maior participação da categoria de pessoal frente ao orçamento (42,3%).

62
Tabela 4. Os Gastos Militares com pessoal do Reino Unido 2000 – 2014
Pessoal Forças
Armadas PFA/ PEA em Equipamentos/Pessoal em
Ano (Total) percentual dólares
2000 212.500 0,7 58.700,36
2001 211.400 0,7 54.795,77
2002 210.400 0,7 59.994,07
2003 212.600 0,7 66.090,02
2004 205.000 0,7 78.477,77
2005 217.000 0,7 75.178,75
2006 181.000 0,6 85.071,45
2007 160.000 0,5 114.044,57
2008 160.000 0,5 108.985,61
2009 178.470 0,6 82.127,82
2010 174.020 0,5 91.482,42
2011 165.650 0,5 85.692,36
2012 169.150 0,5 70.226,28
2013 159.150 0,5 79.418,89
2014 154.700 0,5 77.278,20
Fonte: Autoria própria, a partir de dados do Banco Mundial e do IISS
Valores em dólares americanos atualizados a preços de 2014 pelo IPC - FMI

Assim, observa-se que a despeito da queda do contingente militar não se


observou uma melhora no gasto percentual com pessoal no mesmo período. Por sua
vez, no quesito equipamentos por pessoal o orçamento de defesa britânico apresenta
um caráter volátil, variando anualmente. Nessa ordem, o indicador parece ser mais
afetado por mudanças no gasto destinado aos equipamentos do que com os gastos
de pessoal.

A partir dos gastos militares anuais do Reino Unido é possível obter uma
síntese do padrão orçamentário que possibilita visualizar que, os gastos com pessoal
(39%) são a principal despesa seguidos de perto pela categoria outros (37%),
apresentando uma aguda desproporção quando em perspectiva do padrão norte-
americano. Apresentam um gasto maior em infraestrutura (2%) e consequentemente
gastam proporcionalmente 3% menos que os americanos em equipamentos.

63
Gráfico 4. Média dos Gastos Militares por natureza – Reino Unido 2000 - 2014

37% 39%

2%
22%

Pessoal equipamentos infraestrutura outros

Fonte: Autoria própria, a partir de dados da OTAN

3.2.4 França

Ainda que observada uma postura de que democracias possuam menores


gastos militares (BLUM, 2017), a França gasta boa parte de seu orçamento com
equipamentos quando comparado com outros países (SMITH, 2009). O investimento
Público Francês tem forte presença do gasto em Defesa. Sua indústria de defesa
supre a demanda quase total das Forças Armadas Francesas, sendo uma pequena
parcela suprida por importações. A alta produção interna alinhada ao baixo nível de
importações faz com que o setor de defesa apresente um balanço comercial positivo
das exportações frente as importações. (MALIZARD, 2015). Ademais, as empresas
francesas de defesa se mobilizam e reimplantam habilidades tecnológicas de forma
proativa, frente às restrições macroeconômicas e cortes orçamentários, com o objetivo
de permanecerem atores-chaves (BELIN, 2018)

A despeito de sua não participação em conflitos armados diretamente, tanto


França quanto Reino Unido participaram ativamente de operações de Peacekepping.
Inserida no contexto da OTAN, a França participou ativamente no combate à pirataria
no chifre da África e no fechamento do espaço aéreo líbio. Dado o baixo envolvimento

64
francês em guerras no período estudado, o conceito de custo de oportunidade ganha
relevo (MALIZARD, 2015).

No caso francês, resultados empíricos demonstram que os gastos militares


ocasionariam um efeito Crowd Out no investimento privado. Entretanto, os efeitos de
despesas não relacionadas a equipamentos - em maior parte salários e em menor
contribuição fração comida, combustível e outros itens de consumo -, que gerariam o
efeito crownd out27 no investimento privado. Por outro lado, os gastos com
equipamentos ocasionam em crownd-in, nesse sentido, equipamento militar e o
investimento privado seriam complementares (MALIZARD, 2015).

A seguir, a tabela 5 apresenta a proporção dos gastos militares franceses frente


ao todo de sua economia e gasto governamental:

Tabela 5. Os Gastos Militares da França 2000 – 2014


Ano em bilhões dólares % do PIB % dos gastos do
Governo
2000 43.178.852.129,05 2,48 4,81
2001 41.741.026.672,47 2,42 4,67
2002 44.812.330.951,50 2,44 4,61
2003 55.305.914.705,37 2,49 4,68
2004 62.410.274.191,36 2,51 4,73
2005 61.133.064.621,98 2,41 4,52
2006 61.815.717.509,75 2,35 4,45
2007 67.626.561.677,56 2,28 4,34
2008 71.385.008.613,18 2,26 4,24
2009 72.258.553.369,22 2,49 4,35
2010 65.630.554.941,81 2,34 4,11
2011 67.082.463.309,10 2,26 4,01
2012 60.999.318.380,97 2,24 3,92
2013 62.791.601.773,33 2,22 3,88
2014 63.613.569.143,46 2,23 3,90
Fonte: Autoria própria, a partir de dados do Banco Mundial e do SIPRI
Valores em dólares americanos atualizados a preços de 2014 pelo IPC - FMI

27
“A visão econômica tradicional destaca que o aumento das despesas do governo reduziria o
investimento privado, provocando, assim, o efeito deslocamento ou crowding-out. Em linhas gerais, o
maior gasto governamental, seja ele financiado com impostos ou com a dívida pública, aumenta a
demanda por bens e serviços, elevando as taxas de juros, o que torna o capital mais caro e encarece
o investimento privado. Contudo, esse efeito pode ser complementar (crowding-in) quando os recursos
da economia estão ociosos ou mal-empregados” (FERNANDEZ, et al, 2017).
65
Ainda que afirmável, a queda na participação da Defesa frente ao PIB é, na
verdade, bastante flexível. Em verdade, a participação dos gastos militares franceses
frente o PIB varia entre 2,2% e 2,5%, sem qualquer padrão aparente. Por outro lado,
a participação percentual dos gastos militares nos gastos do governo apresenta um
padrão de queda gradativa. Desde o ano 2000, quando 4,8% dos gastos do governo
destinavam-se à defesa, tem-se um quadro de reduções da dimensão de modo que
em dez anos os gastos militares passariam a situar-se abaixo dos 4% do total dos
dispêndios governamentais.

Observa-se que o ano da crise financeira internacional e o subsequente ano de


2009 são os com maiores gastos militares franceses em relação à amostra em análise.
Porquanto, como resposta à crise financeira de 2008, o Estado Francês estimulou a
Indústria de Defesa Nacional, expandindo gastos militares a fim de incentivar a
demanda interna (MALIZARD, 2015). De modo que, os anos de 2008 e 2009 são os
únicos anos em que o gasto francês ultrapassa os 70 bilhões de dólares.

Gráfico 5. Natureza dos Gastos Militares – França 2000 - 2014

100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Pessoal equipamentos infraestrutura outros

Fonte: Autoria própria, a partir de dados da OTAN

Ao ilustrar a distribuição de despesas por grupos, o gráfico 5 possibilita


observar a queda na participação orçamentária de gastos com pessoal. Entre 2000 e
2008 os gastos com pessoal sempre se mantiveram acima de 57%. A partir de 2009,
66
o gasto com pessoal situa-se e mantêm-se abaixo dos 50% do gasto total
orçamentário. Para compreendermos melhor essa mudança na trajetória de gastos
com pessoal, focalizamos esse tópico na Tabela 5.

Ainda após 2009, a fotografia orçamentária permite notar que houve um


aumento na participação dos gastos com equipamentos frente ao orçamento total.
Concomitantemente, ainda que em menor grau, observa-se um aumento na proporção
orçamentária destinada a despesa com outros. Assim, uma hipótese a ser levantada
é a relação entre a redução dos gastos com pessoal na aquisição de equipamentos.

Tabela 6. Os Gastos Militares com pessoal da França 2000 – 2014


Pessoal Forças
Armadas PFA/ PEA em Equipamentos/Pessoal em
Ano (Total) percentual dólares
2000 389.400 1,4 20.957,38
2001 374.400 1,4 21.628,63
2002 361.800 1,3 23.657,15
2003 360.400 1,3 31.458,69
2004 358.000 1,3 36.435,05
2005 359.000 1,2 36.271,15
2006 354.000 1,2 39.813,51
2007 353.000 1,2 40.997,41
2008 353.000 1,2 42.467,00
2009 341.967 1,2 57.051,73
2010 341.967 1,1 57.960,06
2011 332.250 1,1 56.936,81
2012 325.600 1,1 57.327,37
2013 318.400 1,1 56.402,00
2014 312.350 1 50.304,31
Fonte: Autoria própria, a partir de dados do Banco Mundial e do IISS
Valores em dólares americanos atualizados a preços de 2014 pelo IPC - FMI

De fato, nos 15 (quinze) anos de amostra observa-se que a composição das


Forças Armadas Francesas fora gradativa e anualmente reduzida. De modo que a
diferença entre os quantitativos iniciais e finais, respectivamente o maior e o menor
volume de pessoal, equivale a 77 mil integrantes. Naturalmente, essa redução de

67
contingente operacional reflete-se na parcela da população economicamente ativa
dedica a atividades militares. Ainda em 2000, 1,4% da PEA integrava as Forças
Armadas, de modo que, em 2014, o indicador chega ao valor de 1%. Em 15 anos,
observa-se uma redução de 77.050 pessoas integrando as Forças Armadas
Francesas em números absolutos, ou em termos percentuais uma redução de 19,8%.

Assim, observa-se um alinhamento de trajetórias descendentes, tanto no


conjunto de pessoas que integram a defesa francesa, quanto no gasto destinado aos
mesmos, refletindo-se no tamanho da parcela orçamentária destinada às despesas
com pessoal. Paralelamente, tem-se que ao diminuir o contingente e seu respectivo
gasto total, a França alavanca o gasto individual de equipamento por pessoal. O
comportamento no indicador demonstra a eficácia da política de redução de pessoal
concomitante ao aumento no investimento com equipamentos. À medida que reduz
suas despesas com pessoal, as despesas com equipamentos aumentam sua
representatividade orçamentária.

Esse entendimento corrobora para a mudança de perfil nos gastos de defesa


observada no gráfico 5. Assim, a França emerge como exemplo de um caso prático
de melhora qualitativa da proporção orçamentária de suas despesas.

Gráfico 6. Média dos Gastos Militares por natureza – França 2000 - 2014

18%

4%

55%

23%

Pessoal equipamentos infraestrutura outros

Fonte: Autoria própria, a partir de dados da OTAN

68
A distribuição média de gastos militares franceses por grupos revela que mais
da metade do orçamento de defesa destina-se às despesas com pessoal. Ainda que
com a mudança comportamental no gasto com pessoal, em média, 55% do orçamento
foi destinado a esse grupo de despesa, valor participativo médio mais alto do que os
números encontrados para os Estados Unidos (37%) e para o Reino Unido (39%).
Entretanto, devido a mudança no perfil orçamentário francês desde 2009, o gráfico 6
talvez não represente a realidade com êxito.

Os três países destacados são democracias e membros ativos da OTAN,


apresentam parte de seus respectivos orçamentos governamentais destinados ao
gasto com equipamentos militares. A despeito das similaridades, tem-se uma
desigualdade em termos de dimensão de valor de PIB, dimensão geográfica e outros.
Essas divergências foram estreitadas na medida do possível, via escolha dos
indicadores utilizados. Sempre que possível valores absolutos foram representados
percentualmente. Assim, a partir dos dados previamente informados é possível a
construção de tabelas e gráficos comparativos exibidos e discutidos abaixo.

Gráfico 7. Gastos Militares (dólar a valores correntes) de 2000 a 2014: EUA,


França e Reino Unido

900.000.000.000,00
800.000.000.000,00
700.000.000.000,00
600.000.000.000,00
500.000.000.000,00
400.000.000.000,00
300.000.000.000,00
200.000.000.000,00
100.000.000.000,00
0,00

Estados Unidos Reino Unido França

Fonte: Autoria própria, a partir de dados do Banco Mundial e do SIPRI


Valores em dólares americanos atualizados a preços de 2014 pelo IPC - FMI

69
O gráfico 7 ilustra a magnitude dos gastos norte-americanos frente aos gastos
britânicos e franceses. A desproporção do montante total de dólares depreendidos em
atividades de cunho militar pelos americanos frente aos gastos Franceses e britânicos
torna-se problemática no contexto da OTAN. Nos últimos anos, os Estados Unidos
lançaram uma política ativa de pressionar os países membros da OTAN a gastar mais
de defesa para combater o efeito carona (Free-rider). Assim, países como França e
Reino Unido, que apresentam os maiores gastos militares dentro do contexto europeu
da OTAN. Dessa forma, tem-se uma nova política de entrada de novos países-
membros condicionada ao gasto mínimo de 2% do PIB em defesa e, naturalmente,
uma alavancagem nos gastos globais e regionais em defesa. Isto posto, a
expressividade do valor em números absolutos em dólares correntes e sua
concorrente dimensão de desigualdade, tornam a comparação por proporções
percentuais de participação a atividade mais razoável cientificamente.

Gráfico 8. Gastos Militares (% do PIB) de 2000 a 2014: EUA, Reino Unido e


França

5,00
4,50
4,00
3,50
3,00
2,50
2,00
1,50
1,00
0,50
0,00
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Estados Unidos Reino Unido França

Fonte: Autoria própria, a partir de dados do Banco Mundial e do SIPRI

Destaca-se a similaridade dos gastos militares do Reino Unido e da França.


Entre 2000 e 2007 os gastos proporcionais do Reino Unido mantinham-se acima dos
Franceses. Entretanto, a partir de 2008 equiparam-se até que em 2012 os gastos
Franceses superam os gastos do Reino Unido e assim se mantêm. Por sua vez, os

70
gastos norte-americanos, historicamente superiores, distanciam-se dos gastos
britânicos e franceses ao longo da reta. Desde 2003, os gastos situam-se na
proporção de 3,5% do PIB

A partir de dados de investimento em defesa, PIB e formação bruta de capital


fixo, pode-se realizar o teste de causalidade de Granger para analisar o impacto do
investimento em defesa na economia (HALFELD; MARTELOTTE; PINTO, 2019). Para
os EUA, o teste evidenciou que a formação bruta de capital fixo causa investimento
em defesa. Quanto ao Reino Unido, foi identificada uma bicausalidade entre
investimento em defesa e formação bruta de capital fixo. No caso francês, mostrou-se
uma ausência de causalidade “entre investimento em defesa e PIB assim como entre
investimento em defesa e formação bruta de capital fixo” (HALFELD; MARTELOTTE;
PINTO, 2019).

Gráfico 9. Gastos Militares (% do gasto total do governo) de 2000 a 2014: EUA,


Reino Unido e França

14

12

10

0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Estados Unidos Reino Unido França

Fonte: Autoria própria, a partir de dados do Banco Mundial e do SIPRI

Desde 2002, os gastos militares norte-americanos situaram-se em um patamar


superior a 10% dos gastos governamentais. Alavancados, sobremaneira, pela guerra
ao terror e conflitos regionalizados no Oriente Médio e Ásia Central. Em 2014 os
71
gastos governamentais em defesa aproximam-se ao nível de 2011, suscitando
perguntas quanto a continuidade da chamada “Guerra ao Terror”.

Destacam-se movimentos síncronos entre Reino Unido e França. O Gráfico 9


parece indicar um alinhamento à nível estratégico entre França e Reino Unido, dadas
suas trajetórias coordenadas em lenta e constante queda. Os números abrem espaço
para um estudo sobre a recente diplomacia de defesa entre os dois países.

A França é indicada na literatura por gastos governamentais mais altos, quando


na área de defesa na verdade apresenta valores proporcionalmente menores que
seus concorrentes. Assim, talvez haja uma pré-disposição doutrinária em afirmar que
maiores gastos públicos necessariamente indiquem maiores gastos em defesa, o qual
não seria o caso da França. Estados Unidos e Reino Unido, por serem considerados
economias mais liberais, gastam menos em termos de gerais de gastos públicos, mas
quando gastam, gastam mais em defesa do que em países julgados como
intervencionistas econômicos.

Gráfico 10. Participação Percentual de Despesas com Pessoal nos Gastos


Militares entre 2000 e 2014: EUA, Reino Unido e França

70

60

50

40

30

20

10

0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Estados Unidos Reino Unido França

Fonte: Autoria própria, a partir de dados da OTAN

Com relação aos gastos com pessoal, é possível sumarizar o comportamento


das curvas orçamentárias como estáveis no curto prazo. Assim, são observados
poucos deslocamentos decorrentes da manutenção do gasto. A despeito de sua
72
estabilidade, são observáveis dois movimentos agudos no caso da França e dos
Estados Unidos. Em suma, a amostra dos países em estudo demonstra que,
proporcionalmente, a França apresenta os maiores gastos com pessoal e que o
cenário pós 2008, ano da crise financeira mundial, apresenta as principais variações.

Embora sempre liderando a comparação de gastos percentual de pessoal, o


nivelamento estrutural francês do ano de 2009, estabiliza os gastos com pessoal a um
novo patamar, menor frente ao anterior. Ademais, em termos de número de
integrantes da defesa, Reino Unido e França possuem um perfil comum de redução
gradativa e anual de integrantes das Forças Armadas, ainda que essas reduções não
se reflitam nos gastos com pessoal no caso inglês.

Ainda que o Reino Unido assuma uma postura mais niveladora, seguida por
pequenos acréscimos e decréscimos, que mantenham os gastos em equilíbrio, no
último ano da amostra o Reino Unido apresenta sua maior proporção de gastos com
pessoal (42,3%). Por sua vez, entre 2008 e 2011 os Estados Unidos alavancam seu
gasto com pessoas e demonstram a capacidade de expansão temporária e retração
subsequente, voltando os gastos aos níveis anteriormente observados.

Gráfico 11. Participação Percentual de Despesas com Equipamentos nos


Gastos Militares entre 2000 e 2014: EUA, Reino Unido e França

35

30

25

20

15

10

0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Estados Unidos Reino Unido França

Fonte: Autoria própria, a partir de dados da OTAN

73
Comparativamente, os países em estudo apresentam gastos com
equipamentos, são relativamente próximos, concentram-se entre 20% e 30% do
orçamento, e flutuantes de ano para ano, afastando-se do engessamento visualizado
nos gastos com pessoal. Assim, os números coadunam que gastos com
equipamentos são mais flutuantes com o tempo do que gastos com não equipamentos
(MALIZARD, 2015), podendo haver uma relação de causalidade dado que a
estabilidade dos gastos com não equipamentos, consequentemente corroboram para
que flutuações nos gastos totais com defesa sejam refletidas nos gastos com
equipamentos (LELIÈVRE, 1996).

De 2001 a 2008 a liderança coube aos americanos. O período coincide,


respectivamente, com o início da guerra ao terror e ao baque provocado pela crise
financeira. Por conseguinte, entre 2009 e 2013 a França passa a gastar mais que os
Estados Unidos em termos proporcionais. Em relação ao Reino Unido, nota-se uma
pequena retração nos gastos britânicos pós-2010 em oposição a alavancagem dos
gastos franceses.

Gráfico 12. Participação Percentual de Despesa com Infraestrutura nos Gastos


Militares entre 2000 e 2014: EUA, Reino Unido e França

0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Estados Unidos Reino Unido França

Fonte: Autoria própria, a partir de dados da OTAN

Em relação aos gastos com Infraestrutura, o gráfico 12 é capaz de exibir a


volatilidade deste tipo de gasto. De forma que o maior valor é o gasto pela França em
74
2004 com 5,4% e o menor valor é britânico de 0,4% em 2005. Assim, o gasto com
infraestrutura parece exposto a grandes flutuações, podendo ser alavancado ou
reduzido drasticamente de um ano para outro.

Em síntese, prevalece entre os países em análise um perfil de baixo gasto com


Infraestrutura. Em termos de gastos proporcionais, a França destaca-se como o país
que apresenta em média maiores gastos com infraestrutura com 4%, os Estados
Unidos com uma média de 1%, o Reino Unido em média 2%. Em números absolutos
a liderança recai sob os EUA, seguido pela França e Reino Unido.

Gráfico 13. Participação Percentual de Despesas Diversas nos Gastos Militares


entre 2000 e 2014: EUA, Reino Unido e França

45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Estados Unidos Reino Unido França

Fonte: Autoria própria, a partir de dados da OTAN

A despeito da generalidade do indicador, ao concentrar diversos tipos de


despesas sob o mesmo rótulo, infere-se o peso de despesas não militares, ou seja,
não necessariamente vinculadas à atividade fim, como por exemplo atividades
administrativas.
Dentre os países em análise, a França gasta menos que os concorrentes na
categoria outras despesas, sendo muitas vezes o gasto proporcional do Reino Unido
o dobro do francês. No caso inglês, com a ressalva do ano 2000, os gastos com
despesas diversas se mantiveram em um raio aproximado, entre 35-40% de seu
orçamento de defesa.

75
Para os Estados Unidos, o arco temporal de 2008 a 2010, apresenta uma
redução no gasto com outros. Importante notar, a concomitância desta redução com
o aumento no gasto com pessoal no mesmo período. Essa transposição de gastos
entre categorias revela um pico orçamentário de 3 (três) anos de duração, no qual,
após seu fim retoma a trajetória e valores semelhantes aos apresentados antes de
2008.

Em síntese, destacam-se para discussões comparativas a alocação de


recursos para pessoal e equipamentos. Os gastos com pessoal, ao incorporarem não
apenas os membros ativos das Forças Armadas, mas também civis, funções
administrativas e aposentados expõem o peso financeiro do fator humano para a
Defesa Nacional. Nesse quesito, os Estados Unidos apresentam os dados mais
voláteis, que podem ser interpretados dentro do contexto de mobilização e
desmobilização para os conflitos dos quais participaram no período. Por sua vez, tanto
Reino Unido quanto França, menos protagonistas em termos de empreitadas
militares, apresentaram um comportamento de redução constante do quantitativo de
pessoal ao longo do tempo. Entretanto, apenas a França conseguiu com que a
redução do quantitativo humano dedicado à Defesa Nacional fosse refletida em uma
redução dos gastos com pessoal.

Ademais, dentro do contexto dos gastos com equipamentos, em média os


Estados Unidos são o que mais gastam, seguidos pela França e logo depois o Reino
Unido. Observa-se uma similitude nas proporções orçamentárias ainda que os
números brutos sejam afetados pelo outlier28 americano. Desde 2008, a França
apresentou uma melhora no seu quadro orçamentário ao diminuir os gastos com
pessoal e concomitantemente impulsionar os gastos com equipamentos. Por outro
lado, o Reino Unido apresenta uma queda lenta e gradual de suas despesas com
Defesa Nacional, incorporadas sobretudo, nos gastos com equipamentos.

28
Valores discrepantes, atípicos, que chamam a atenção frente ao restante da amostra ou população.
76
3.3 Análise dos gastos militares no brasil

A presente seção destina-se a compreensão e análise do orçamento de Defesa


no Brasil ao longo dos anos. Para tanto, primeiramente evidencia-se orçamento como
indicador de análise para a eficiência dos gastos e do impacto da inovação em Defesa.
Em seguida, a partir de dados orçamentários do Ministério da Defesa brasileiro
analisa-se a natureza dos gastos militares no Brasil. Com este fim, construiu-se uma
série temporal dos gastos militares do Brasil alinhado a análises quantitativas
descritivas, destrinchando-se aspectos e particularidades do orçamento de defesa
brasileiro. Paralelamente, a título de comparação, dá-se início a uma revisão de
ensaios, artigos e pesquisas destinadas ao contexto orçamentário do Ministério da
Defesa nas últimas duas décadas.

3.3.1 Os Indicadores de Análise

Os indicadores são construídos a partir da extração de dados dos


orçamentários anuais entre 2000 - 2014 e objetivam auxiliar a análise da trajetória
orçamentária do MD29. A partir da construção de sua série histórica 2000 – 2014, tem-
se o agrupamento de cinco conjuntos amostrais a serem analisados:

a) Orçamento total MD;


b) Orçamento Geral da União (OGU);
c) Produto Interno Bruto30;
d) Gastos com Investimentos31 MD;
e) Orçamento total excluídos os gastos com pessoas e encargos sociais32.

29
Os dados foram obtidos ou solicitados via Portal da Transparência do Governo Federal.
30
Os dados foram disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
31
Despesas orçamentárias com softwares e com o planejamento e a execução de obras, inclusive com
a aquisição de imóveis considerados necessários à realização destas últimas, e com a aquisição de
instalações, equipamentos e material permanente” (BRASIL, 2001).
32
Despesas orçamentárias com pessoal ativo, inativo e pensionistas, relativas a mandatos
eletivos, cargos, funções ou empregos, civis, militares e de membros de Poder, com quaisquer espécies
remuneratórias, tais como vencimentos e vantagens, fixas e variáveis, subsídios, proventos da
aposentadoria, reformas e pensões, inclusive adicionais, gratificações, horas extras e vantagens
pessoais de qualquer natureza, bem como encargos sociais e contribuições recolhidas pelo ente
77
Paralelamente, são produzidas três amostras a partir dos gastos com
Investimentos e outras despesas correntes.

a) Gasto anual com Equipamentos e material permanente33 do MD;


b) Gasto anual com material de consumo34;
c) despesa anual a nível de subelementos selecionada dada sua relação com a
ID

A amostra despesa anual a nível de subelementos selecionada, dada sua


relação com a ID (Sub_ID), constitui-se de uma amostragem realizada pelo autor a
partir dos dados orçamentários de defesa brasileiros. Quando analisados a nível de
subelementos de despesas, foram extraídas despesas que sejam estritamente
destinadas a gastos com a função fim Defesa Nacional, seja este gasto classificado
como investimento ou despesa corrente, seja classificado como Equipamento e
Material Permanente ou como material de consumo. O acúmulo do valor total, a partir

às entidades de previdência, conforme estabelece o caput do art. 18 da Lei Complementar 101, de


2000. (BRASIL, 2001)
33
Segundo o Manual Técnico de Orçamento (BRASIL, 2020): Equipamentos e Material
Permanente são “despesas orçamentárias com aquisição de aeronaves; aparelhos de medição;
aparelhos e equipamentos de comunicação; aparelhos, equipamentos e utensílios médico,
odontológico, laboratorial e hospitalar; aparelhos e equipamentos para esporte e diversões; aparelhos
e utensílios domésticos; armamentos; coleções e materiais bibliográficos; embarcações, equipamentos
de manobra e patrulhamento; equipamentos de proteção, segurança, socorro e sobrevivência;
instrumentos musicais e artísticos; máquinas, aparelhos e equipamentos de uso industrial; máquinas,
aparelhos e equipamentos gráficos e equipamentos diversos; máquinas, aparelhos e utensílios de
escritório; máquinas, ferramentas e utensílios de oficina; máquinas, tratores e equipamentos agrícolas,
rodoviários e de movimentação de carga; mobiliário em geral; obras de arte e peças para museu;
semoventes; veículos diversos; veículos ferroviários; veículos rodoviários; outros materiais
permanentes”.
34
Segundo o Manual Técnico de Orçamento (BRASIL, 2020): Material de Consumo são “despesas
orçamentárias com álcool automotivo; gasolina automotiva; diesel automotivo; lubrificantes
automotivos; combustível e lubrificantes de aviação; gás engarrafado; outros combustíveis e
lubrificantes; material biológico, farmacológico e laboratorial; animais para estudo, corte ou abate;
alimentos para animais; material de coudelaria ou de uso zootécnico; sementes e mudas de plantas;
gêneros de alimentação; material de construção para reparos em imóveis; material de manobra e
patrulhamento; material de proteção, segurança, socorro e sobrevivência; material de expediente;
material de cama e mesa, copa e cozinha, e produtos de higienização; material gráfico e de
processamento de dados; aquisição de disquete; pen-drive; material para esportes e diversões;
material para fotografia e filmagem; material para instalação elétrica e eletrônica; material para
manutenção, reposição e aplicação; material odontológico, hospitalar e ambulatorial; material químico;
material para telecomunicações; vestuário, uniformes, fardamento, tecidos e aviamentos; material de
acondicionamento e embalagem; suprimento de proteção ao voo; suprimento de aviação;
sobressalentes de máquinas e motores de navios e esquadra; explosivos e munições; bandeiras,
flâmulas e insígnias e outros materiais de uso não-duradouro”.
78
de suas parcelas anuais, assim como o nome de cada despesa extraída poderá ser
visto na tabela 10.
Para a mensuração do indicador Sub_ID foram selecionadas e extraídas as
despesas anuais com equipamento e material sigiloso e reservado, equipamentos de
mergulho e salvamento, material de consumo de uso duradouro, armamentos -
operações intra-orçamentárias, outros materiais permanentes, acessórios para
veículos, equipamentos, peças e acessórios marítimos, material para comunicações,
material de manobra e patrulhamento, equipamentos de manobra e patrulhamento,
equipamentos sobressalentes de máquinas e motores de navios da esquadra,
sobressalentes de armamento, máquinas e equipamentos de natureza industrial,
material para manutenção de bens móveis, sobressalentes de máquinas e motores
navios da esquadra, equipamento de proteção, segurança e socorro, carros de
combate, material de proteção e segurança, veículos diversos, sobressalentes de
máquinas motores navios e embarcações, suprimento de proteção ao voo,
armamentos, equipamentos, peças e acessórios aeronáuticos, equipamentos, peças
e acessórios de proteção ao voo, aparelhos e equipamentos de comunicação, material
para manutenção de veículos, material para produção industrial, equipamentos e
sistema de proteção e vigilância ambiental, explosivos e munições, veículos de tração
mecânica, material de TIC (permanente), munições, embarcações, suprimento de
aviação, aeronaves.

Para fins de análise e comparação do comportamento orçamentário da Defesa


ao longo do tempo e sua participação no Orçamento da União e na Economia
Brasileira, faz-se o uso dos seguintes indicadores:

a) Orçamento de Defesa/ Orçamento Geral da União;


b) Orçamento de Defesa/ Produto Interno Bruto;
c) Investimento da defesa/ orçamento de Defesa.

A partir do orçamento total do MD, recorta-se a destinação do gasto referente


aos gastos específicos com equipamentos, material permanente e de consumo, dado
origem aos seguintes indicadores:

a) Gasto anual com Equipamentos e Material permanente do MD/ Orçamento total


MD;

79
b) Gasto anual com material de consumo do MD/ Orçamento total MD; e
c) despesa anual a nível de subelementos selecionada dada sua relação com a
ID/ Orçamento total MD.

Por fim é realizado um corte especial para levantamento estatístico do


orçamento a partir da perspectiva dos gastos com pessoal. Logo, frente ao Orçamento
do Ministério da Defesa excluídas as despesas com pessoal e encargos sociais, são
produzidos os seguintes índices:

a) Gasto anual com Equipamentos e Material permanente do MD/ orçamento MD


excluídas despesas com pessoal e encargos sociais;
b) Gasto anual com material de consumo do MD/ orçamento MD excluídas
despesas com pessoal e encargos sociais; e
c) despesa anual, a nível de subelementos, selecionada dada sua relação com a
ID/ orçamento MD excluídas despesas com pessoal e encargos sociais.

3.3.2 O Orçamento de Defesa do Brasil

A tabela a seguir exibe os dados brutos do Orçamento de defesa brasileiro


entre os anos de 2000 e 2014:

A partir dos dados brutos, podem ser obtidas métricas que facilitem o
entendimento dos dados. Quando comparados primeiro e último ano da série,
observa-se que em 15 anos o PIB brasileiro dobrou em valores absolutos, ao tempo
que o orçamento da União cresceu 45% e orçamento da Defesa cresceu 54%.
Concomitantemente, quando acumulados os crescimentos anuais, o PIB cresceu
71%, o Orçamento da União 43% e o da Defesa 48%. Assim, o PIB brasileiro cresce
a uma média de 5% ao ano (a. a), tanto orçamento da União quanto orçamento da
Defesa crescem a uma média de 3% a.a.

Ainda em 2001, o orçamento de defesa apresentou um crescimento de 14%


frente ao ano anterior. Ademais, os anos de 2005, 2009, 2010 apresentaram
crescimento de 10% frente ao ano anterior. O Orçamento de defesa só foi reduzido
formalmente em 2003, em 16% frente ao ano anterior, e em 2011, com uma redução
de 3% em relação ao ano passado.

80
Tabela 7. Total do PIB, Orçamento da União e Orçamento do Ministério da
Defesa (2000 – 2014)
Ano PIB (em trilhões de Orçamento União (em trilhões Orçamento MD (em
reais) de reais) bilhões de reais)
2000 2.891.590.178.123 1.486.396.062.913,34 49.909,02
2001 2.946.894.250.271 1.351.512.045.760,59 57.098,87
2002 2.963.150.918.243 1.343.317.606.427,22 56.079,43
2003 3.128.322.809.908 1.588.710.990.467,77 46.940,41
2004 3.313.189.105.835 1.536.949.637.644,51 48.254,16
2005 3.475.615.055.100 1.772.227.175.858,31 52.875,32
2006 3.740.637.846.994 1.823.656.436.361,53 55.239,17
2007 4.042.859.215.694 1.732.158.735.163,86 59.101,33
2008 4.364.300.458.838 1.677.599.922.376,12 62.621,57
2009 4.484.316.049.726 1.796.034.213.521,53 68.602,91
2010 4.936.334.113.279 1.800.779.085.598,07 75.524,44
2011 5.220.167.825.174 1.877.942.050.129,92 73.552,02
2012 5.426.178.235.456 1.929.776.230.730,97 74.808,13
2013 5.673.375.777.900 1.774.557.498.812,13 75.424,47
2014 5.778.953.000.000 2.159.760.401.879,21 76.874,20
Fonte: Autoria própria, a partir de dados do IBGE e do Portal da Informação. Valores em
reais atualizados a preços de 2014 pelo IPCA.

Em síntese, pode-se afirmar que o PIB cresce em escala maior que o


orçamento da União e da Defesa, ao mesmo tempo em que se observa um
crescimento equilibrado entre Orçamento da União e da Defesa, o qual tende
levemente para uma vantagem da defesa frente à União. De forma que se pode
afirmar que a execução orçamentária da defesa apresenta um perfil de evolução
diferente do perfil do OGU (NASCIMENTO, 2011).

A partir da tabela com os dados brutos é possível analisar a proporção de


participação da Defesa no Orçamento Geral da União e no PIB brasileiro.

A década de 2000 fora marcante para o crescimento e desenvolvimento da


economia brasileira. Ainda que a primeira metade da década fosse marcada por um
desempenho abaixo do esperado, de 2004 a 2010 o Brasil experienciou taxas de
inflação abaixo da meta, de modo que desde 2006 observa-se uma melhora no
desempenho econômico brasileiro (SERRANO; SUMMA, 2011). Nem mesmo a crise
financeira de 2008 impediu o crescimento do PIB. A melhora no quadro econômico
parece refletir-se na Defesa Nacional.

81
Tabela 8. Participação Percentual do Orçamento do Ministério da Defesa em
relação ao PIB e ao Orçamento Geral da União (2000 – 2014)
Ano MD/PIB % MD/OGU %
2000 1,73 3,36
2001 1,94 4,22
2002 1,89 4,17
2003 1,50 2,95
2004 1,46 3,14
2005 1,52 2,98
2006 1,48 3,03
2007 1,46 3,41
2008 1,43 3,73
2009 1,53 3,82
2010 1,53 4,19
2011 1,41 3,92
2012 1,38 3,88
2013 1,33 4,25
2014 1,33 3,56
Fonte: Autoria própria, a partir de dados do IBGE e do Portal da Informação. Valores em
reais atualizados a preços de 2014 pelo IPCA.

Entre os anos 2000 e 2014, a partir do total empenhado, tem-se que o


Orçamento do Ministério da Defesa representou em média 3,64 % do Orçamento
Geral da União (OGU). Ao tempo que frente ao PIB brasileiro, o Orçamento de Defesa
representou a parcela de 1,5% em média. O exercício financeiro de 2003 apresenta
o menor valor destinado ao MD, apenas 2,95% de todo o gasto da União e 1,33% do
PIB, uma redução de 16% frente ao ano anterior. Em contraposição, o ano recorde de
2013 no qual 4,25% do OGU e 1,94% do PIB foi gasto pela pasta de Defesa.

Com o crescimento do PIB e o crescimento em menor escala do orçamento da


defesa, consequentemente os gastos militares brasileiros reduzem sua participação
na economia brasileira. Assim, caso tome-se o ano de 2008 como referência, pode-
se afirmar que houve uma redução do gasto em Defesa Nacional em relação ao PIB
do período anterior (2000 – 2007) frente ao período posterior (2008 – 2014).

Não obstante, quando comparado com outros países da América do Sul e dos
BRICS, o Brasil possui um gasto com Defesa proporcionalmente menor em relação
ao PIB (BRUSTOLIN, 2014; MATOS, et al., 2017, p. 211) ao mesmo tempo que o país
contribui com mais da metade do gasto regional Sul-americana em defesa (ALMEIDA,

82
2015). Tal qual, prevalece o entendimento de que não exista qualquer correlação entre
o PIB e o respectivo gasto de defesa dos países da América do Sul, no sentido de que
um aumento no PIB não provocaria um aumento nos gastos com defesa (ALMEIDA,
2015).

A partir de uma análise do orçamento nacional com relação aos gastos de


defesa, o recorte histórico do orçamento do MD entre 2000 – 2010 permite enxergar
a crescente, ainda que oscilante, participação da Defesa frente ao OGU, a qual estaria
relacionada ao fato que o aumento nos gastos encontra origem nos projetos de
recomposição de equipamentos das forças armadas (DO NASCIMENTO, 2011, p. 45).
Quando se analisa o orçamento de defesa frente ao orçamento da União, percebe-se
um crescimento de participação no período 2008 – 2014 frente ao período anterior, de
modo que Ministério da Defesa figurou como terceiro maior orçamento entre 2008 e
2010 entre os órgãos executores da União e como quarto maior entre 2011 – 2013
(BRUSTOLIN, 2014, p.43). Ainda assim, sobre o período entre 2001 – 2007, prevalece
o entendimento de que haveria uma tendência mundial de redução de participação
dos gastos com defesa na participação total das contas nacionais (REISS, 2012, p.
44), fato que corrobora para desconstruir o falso entendimento de que haveria um
descaso orçamentário com a área.

Em síntese, no período situado entre 2000 e 2014, ainda que o orçamento de


defesa tenha apresentado um crescimento real, observa-se que frente ao PIB a
participação da defesa cai, ao tempo que frente ao Orçamento Geral da União sua
participação é ampliada. Com efeito, levanta-se a hipótese de que o problema
encontra-se na distribuição dos gastos de defesa que devido a características
marcantes, - em particular, a excessivamente alta relação entre gastos com pessoal
e gastos totais em Defesa - pode influenciar uma percepção de indisponibilidade de
recursos (REISS, 2012, p. 53). De modo que, o orçamento bruto do MD pode não
servir como parâmetro para captar o peso do setor defesa nacional na estrutura de
gastos do governo federal, “uma vez que a maior parte dos recursos é destinada para
itens que não se enquadram como atividades típicas de defesa” (MATOS, 2010, p.
456). Assim, torna-se imperativo analisar a alocação dos gastos de defesa em sua
distribuição por grupos de natureza de despesa dentro do orçamento.

83
Tabela 9. Orçamento do Ministério da Defesa por Grupo de natureza de
despesa (2000 – 2014) em bilhões de reais
Ano Pessoal e Juros e Outras Investimentos Inversões Amortização
Encargos Encargos Despesas Financeiras da Dívida
Sociais da Dívida Correntes
2000 36.461,14 777,46 6.013,03 4.138,00 0,24 2.518,07
2001 41.936,34 873,71 6.682,14 4.360,00 45,91 3.198,51
2002 42.459,13 1.258,08 5.304,58 3.355,00 3,98 3.697,00
2003 38.443,25 838,92 5.087,41 1.598,00 22,58 948,18
2004 38.267,97 695,89 5.957,73 2.621,00 3,05 707,91
2005 39.801,56 2.111,39 6.747,60 3.069,00 4,48 1.139,92
2006 44.280,17 524,74 6.516,25 2.727,00 79,49 1.109,87
2007 45.676,92 264,99 7.037,31 3.966,00 905,39 1.250,04
2008 49.580,19 79,29 7.765,72 4.779,00 113,68 301,73
2009 53.013,47 444,79 8.452,56 6.455,00 5,38 230,74
2010 55.448,80 131,86 9.278,79 10.468,00 4,45 191,31
2011 55.404,69 269,93 9.648,00 7.787,00 4,29 436,69
2012 53.273,75 264,50 9.248,85 11.307,00 21,07 692,08
2013 54.547,68 339,34 9.977,85 9.530,00 6,07 1.022,60
2014 55.591,80 386,80 11.196,80 8.258,00 97,70 1.342,90
Fonte: Autoria própria, a partir de dados do IBGE e do Portal da Informação. Valores em
reais atualizados a preços de 2014 pelo IPCA.

A tabela acima descreve os gastos realizados em Defesa Nacional via MD


descrevendo-os a partir do Grupo de Natureza de Despesa a qual pertencem. De
forma ilustrativa, o gráfico abaixo apresenta a composição orçamentária anual do MD
dividido nos seis grupos possíveis.

A partir dos dados, infere-se que os gastos com pessoal, ainda que sofram
pequenas flutuações, mantiveram-se sempre acima da linha dos 70% do orçamento,
alçando a marca de 80% nos anos de 2004 e 2006. Podendo ser caracterizado como
um gasto fixo e pouco flexível. Em oposição, os investimentos variam anualmente,
demonstrando-se como o grupo de despesas mais volátil. Sublinha-se que, ao longo
do período em estudo, observa-se uma redução gradativa no quantum destinado a
amortização da dívida, assim como para Juros e Encargos da Dívida.

84
Gráfico 14. Orçamento do Ministério da Defesa dividido Percentualmente por
Grupo de Natureza de Despesa entre 2000 e 2014

100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Pessoal e Encargos Sociais Juros e Encargos da Dívida


Outras Despesas Correntes Investimentos
Inversões Financeiras Amortização da Dívida

Fonte: Autoria própria, a partir de dados do Portal da Informação. Valores em reais


atualizados a preços de 2014 pelo IPCA.

A realidade orçamentária da Defesa brasileira, alinhada a relação de gastos em


Defesa com o PIB e o OGU, provocam modificações na estrutura da despesa “na
tentativa de manter os níveis de investimentos necessários ao preparo e emprego das
Forças Armadas” (SILVA; TAMER, 2013, p.331). Dentre as modificações, encontra-
se a expansão dos gastos com pessoal em detrimento dos gastos em Investimento e
despesas correntes. A partir da análise crítica acerca da aplicação orçamentária, para
além dos elevados gastos de pessoal, sublinha-se o fato de que gastos com custeio
serem maiores do que gastos com investimento, a despeito da redução gradual dos
gastos com dívidas (BRUSTOLIN, 2014). A fim de capturar um panorama estático do
orçamento do MD, pode-se encontrar o gasto médio de cada grupo de despesa frente
aos gastos totais. O Gráfico abaixo evidencia esta relação:

85
Gráfico 15. Média Percentual dos Gastos do Ministério da Defesa por Grupo de
natureza de Despesa entre 2000 e 2014

0,15% 2,18%
8,55%

12,21%

76%
1,10%

Pessoal e Encargos Sociais Juros e Encargos da Dívida


Outras Despesas Correntes Investimentos
Inversões Financeiras Amortização da Dívida

Fonte: Autoria própria, a partir de dados do Portal da Informação.

Sob a perspectiva dos grupos de despesa, o gasto com Pessoal e encargos


sociais destaca-se por representar em média 76% do gasto total ao longo do período
em estudo. Totalizando assim cerca de 3/4 do orçamento de Defesa brasileiro. Por
outro lado, observa-se que, em média, os gastos com outras despesas correntes
(12,21%) foram superiores à média de gastos com Investimentos (8,55%). A partir da
análise dos dados, é perceptível uma alta parcela destinadas ao gasto com pessoal.
Assim, a tabela a seguir apresenta o valor bruto do gasto militar brasileiro, seguido
pelo seu valor figurado, no qual projeta-se o gasto total caso fossem excluídos gastos
com pessoal e outros encargos sociais.

No ano de 2003 - ano financeiro o qual apenas 18,1 % do orçamento foi gasto
em despesas que não as de pessoal - observa-se o mais baixo valor. Ao tempo em
que no ano de 2012 tem-se o recorde de 28,79 % do orçamento sendo destinado a
outras despesas que não as de pessoal. Por consequência, obtêm-se o resultado de
uma variação em termos de amplitude de 10,68%. Assim, em média, entre os anos
de 2000 e 2014, apenas 24% do orçamento foi utilizado com despesas que não
fossem destinadas a pessoal e encargos sociais. Ou seja, menos de 1/4 do orçamento
de defesa seria destinado a gastos que não fossem de pessoal.

86
A questão dos gastos com pessoal demonstra-se como um ponto sensível na
discussão dos gastos militares no Brasil. Tal ponto é assinalado pela literatura
especializada e o presente resultado vai ao encontro dos mesmos (MATOS, 2010; DO
NASCIMENTO, 2011; SILVA; TAMER, 2013; BRUSTOLIN, 2014; MATOS, et al.,
2017). Sobremaneira, há um consenso quanto ao grande peso percentual e sua
constância ao longo prazo do gasto com pessoal no orçamento do Ministério da
Defesa, de modo que:

[...] grande parte dos recursos alocados para essa área é destinada menos à
ampliação da capacidade dissuasória do país e mais com os inativos, à
manutenção do quadro de pessoal dos Comandos ou ao funcionamento
administrativo dos órgãos a eles relacionados (DO NASCIMENTO, 2011, p.
49).

Tabela 10. Os Gastos totais do Ministério da Defesa com e sem despesa de


pessoal de 2000 a 2014 em bilhões de reais
Ano Despesa total MD Total excluído
Pessoal
2000 49.909,02 13.447,88
2001 57.098,87 15.162,53
2002 56.079,43 13.620,30
2003 46.940,41 8.497,16
2004 48.254,16 9.986,19
2005 52.875,32 13.073,76
2006 55.239,17 10.959,00
2007 59.101,33 13.424,41
2008 62.621,57 13.041,38
2009 68.602,91 15.589,44
2010 75.524,44 20.075,64
2011 73.552,02 18.147,33
2012 74.808,13 21.534,38
2013 75.424,47 20.876,79
2014 76.874,20 21.282,40
Fonte: Autoria própria, a partir de dados do Portal da Informação. Valores em reais atualizados a
preços de 2014 pelo IPCA

Prevalecem dificuldades na execução de investimento em Defesa Nacional no


Brasil na medida em que se observa uma estrutura orçamentária desequilibrada
decorrente do alto índice de gasto com pessoal (MATOS, 2010). De modo que existe
igualmente forte correlação entre um aumento nos gastos do MD com aumento de
gastos de pessoal. Ou seja, não seria aconselhável um aumento do valor orçado para
87
o MD uma vez que este seria gasto provavelmente com pessoal, pasta já excessiva
do órgão (ALMEIDA, 2015).

Assim, nota-se um histórico de baixo investimento em material de defesa,


oscilação orçamentária e dificuldades inerentes ao planejamento de longo prazo
(conforme observado por vários autores anteriormente) (LONGO; MOREIRA, 2013).
Ademais, sublinha-se a prevalência de gastos excessivos com pessoal e altos gastos
de custeio frente aos gastos de investimento, de modo que a contraposição de gastos
com investimento e gastos de pessoal expõe deficiências estruturais do orçamento de
defesa brasileiro (ALMEIDA, 2015). O peso do aparelho burocrático e de suporte
evidencia-se por meio da observação de maiores gastos com função não fim do que
a fim de Defesa Nacional.

Paralelamente aos gastos com pessoal, há a parcela orçamentária destinada


aos investimentos. Assim, ao promover uma fotografia do quadro orçamentário da
defesa brasileira, pode-se sublinhar a parcela destinada a Investimentos no MD (GND
4). Na tabela abaixo, verifica-se o valor total empenhado anualmente acompanhado
da porcentagem anual de investimentos frente ao total empenhado pelo Ministério da
Defesa.

Em média, entre os anos de 2000 e 2014, apenas 9% do orçamento realizado


foi destinado a Investimentos. De modo que apenas em 2010, o investimento rompe
a barreira de 10% do orçamento total, mantendo-se acima desta barreira até o fim da
amostra, chegando ao seu ponto alto em 2012, com o valor recorde de 15% do total,
com especial atenção aos anos de 2010 e 2012, nos quais o gasto com investimento
superou as despesas com outras despesas correntes. Esse novo comportamento
orçamentário pode ser assimilado com a publicação da END ainda em 2008. O
documento, ao dispor sobre novas diretrizes estratégicas para a Defesa Nacional e
soldar projetos estratégicos no âmbito das Forças, instrumentaliza a demanda por
recursos financeiros para sua consecução.

Por outro lado, em 2003, seu nível mais baixo foi atingido, quando apenas 3%
do orçamento de defesa foi destinado a Investimentos. De fato, como observado nas
tabelas 05 e 06, em 2003, o orçamento de Defesa perdera representatividade frente
ao PIB e ao OGU, de modo que quando comparado com o ano anterior, o orçamento
encolheu em 16%. A redução orçamentária total, por sua vez, distribui-se pelos grupos
88
de natureza de despesa, de modo que o valor destinado a investimentos apresenta
um corte de 52% em relação ao ano anterior. Entretanto, neste mesmo ano, dentre
os grupos de natureza de despesa, apenas as inversões financeiras aumentaram sua
participação.

Tabela 11. Valor anual de Investimento do MD em relação ao total anual das


despesas do MD (2000 – 2014)
Ano Investimento MD Investimento
%
2000 4.138.105.122,00 8
2001 4.360.692.612,00 8
2002 3.355.666.357,00 6
2003 1.598.805.221,00 3
2004 2.621.441.606,00 5
2005 3.069.566.067,00 6
2006 2.727.718.234,00 5
2007 3.966.672.063,00 7
2008 4.779.983.609,00 8
2009 6.455.294.525,00 9
2010 10.468.844.869,00 14
2011 7.787.820.106,00 11
2012 11.307.073.715,00 15
2013 9.530.079.601,00 13
2014 8.258.000.000,00 13
Fonte: Autoria própria, a partir de dados do IBGE e do Portal da Informação. Valores em
reais atualizados a preços de 2014 pelo IPCA.

Logo, quando comparados o menor valor investido (2003) com o ano recorde
de investimento (2012), expõe-se a volatilidade dos investimentos em defesa, dada
sua amplitude de 12% em um lapso temporal de 15 anos. O alto grau de variação dos
gastos com investimentos pode ser prejudicial para o planejamento estratégico de
longo prazo, uma vez que deste ponto de vista, o planejamento influencia a dinâmica
por meio da demanda (MATOS, 2010). O Orçamento quanto instrumento de
planejamento estatal sinaliza ao mercado suas necessidades futuras e correntes, de
modo que a imprevisibilidade dos gastos em investimento pode desprestigiar a ação
do mercado. Ademais, caráter rígido dos gastos com pessoal parece influenciar na
dinâmica do investimento, uma vez que numa eventual restrição de recursos este
último seria cortado em favor do primeiro.
89
A partir do gasto total do MD, incluindo as despesas com investimento, é
possível precisar a parcela dedicada a gastos com de Equipamentos e Material
Permanente (EMP), Material de Consumo (MdC) e Subelementos de despesa
relacionados a função fim Defesa Nacional (Sub_ID). A tabela abaixo apresenta os
valores brutos e percentuais anuais gastos com EMP, MdC e Sub_ID frente ao
Orçamento global do Ministério da Defesa. Assim, a partir da análise dos dados e
identifica-se a importância orçamentária dos itens em questão, realiza-se sua
proporcionalidade frente ao Orçamento total do MD.

Tabela 12. Valores empenhados anualmente pelo Ministério da Defesa com


EMP, MdC e Sub_ID e a participação percentual entre 2000 e 2014

Ano EMP MdC Sub_ID EMP % MdC % Sub_ID %


2000 2.423.961.763,00 2.919.096.809,00 1.932.983.580,00 4,86 5,85 3,87
2001 2.090.716.334,00 3.909.882.167,00 2.103.858.695,00 3,66 6,85 3,68
2002 1.623.775.001,00 2.835.009.464,00 2.662.388.234,00 2,9 5,06 4,75
2003 765.570.490,90 2.543.364.567,00 1.393.997.729,00 1,63 5,42 2,97
2004 1.294.591.947,00 3.373.229.762,00 910.806.684,50 2,68 6,99 1,89
2005 1.109.437.054,00 3.130.123.375,00 1.131.659.030,00 2,1 5,92 2,14
2006 926.973.035,60 2.821.423.132,00 1.037.034.184,00 1,68 5,11 1,88
2007 1.314.278.528,00 3.206.519.129,00 1.891.843.003,00 2,22 5,43 3,2
2008 1.910.181.616,00 3.556.832.713,00 2.678.743.421,00 3,05 5,68 4,28
2009 2.427.958.368,00 3.538.983.967,00 3.199.698.985,00 3,54 5,16 4,66
2010 3.208.559.653,00 4.060.946.567,00 3.791.255.778,00 4,25 5,38 5,02
2011 2.164.490.735,00 4.757.243.349,00 3.684.460.204,00 2,94 6,47 5,01
2012 3.261.151.219,00 4.221.060.588,00 4.310.622.354,00 4,36 5,64 5,76
2013 2.904.381.471,00 4.302.478.747,00 3.918.342.138,00 3,85 5,7 5,2
2014 2.951.184.931,00 4.031.550.926,00 3.746.752.063,00 3,84 5,24 4,87
Fonte: Autoria própria, a partir de dados do IBGE e do Portal da Informação. Valores em
reais atualizados a preços de 2014 pelo IPCA.

A construção da série histórica do orçamento de Defesa acompanhada ano a


ano, permite inferir que em média, apenas 3% do gasto do MD foram com
Equipamentos e material permanente, apenas 6% do gasto do MD foi destino a
material de consumo e somente 4% do gasto do MD foi relacionado com despesas
relacionadas a Indústria de Defesa.

Ao tomar como base para comparação o valor anual empenhado total do MD


mostra que os gastos com material de consumo, em média, maiores que do que

90
material de emprego militar. Sob a perspectiva do Gasto anual com Equipamentos e
Material permanente do MD, evidencia-se que dos gastos totais, em média, 3,17% do
valor anual foi utilizado na aquisição de Equipamentos e Material permanente. Por sua
vez, 5,73% dos gastos do MD foram destinados a materiais de consumo. O gráfico
abaixo demonstra o comportamento oscilante desses três indicadores ao longo da
quinzena temporal em análise:

Para fins de análise, as interseções entre as retas são os pontos mais


importantes. Assim, o ano de 2012 destaca-se por ser o único momento em que a reta
Sub_ID transpõe a reta de material de consumo. Pode-se destacar como um momento
importante pois seria o único momento da amostra onde o total gasto com itens de
defesa supera o quantitativo de material de consumo.

Gráfico 16. Gastos do Ministério da Defesa com EMP, MdC e Sub_ID entre 2000
e 2014 em bilhões de reais

$5.000.000.000,00
$4.500.000.000,00
$4.000.000.000,00
$3.500.000.000,00
$3.000.000.000,00
$2.500.000.000,00
$2.000.000.000,00
$1.500.000.000,00
$1.000.000.000,00
$500.000.000,00
$-
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

EMP MdC Sub_ID

Fonte: Autoria própria, a partir de dados do Portal da Informação. Valores em reais atualizados a
preços de 2014 pelo IPCA

Nos anos 2000 e 2004 o valor gasto em Equipamentos e Material Permanente


superou os gastos com Subelementos de Defesa. Este fato abre espaço para
questionar a condição de gastos em EMP como funcional para a análise da qualidade
do gasto em defesa, uma vez que, esta categoria poderia estar inflada por gastos não
diretamente relacionadas a função Defesa Nacional.

91
Entretanto, percebe-se um evidente desequilíbrio qualitativo no ano de 2011.
Neste exercício tem-se um forte aumento no gasto com material de consumo em
detrimento da queda acentuada nas despesas com Equipamento e Material
Permanente. Concomitantemente, tem-se uma queda relativa, ainda que pouco
significante, nos gastos com despesa anual a nível de subelementos selecionadas
dada sua relação com a ID.

A ausência de ponto de cruzamento entre as retas EMP e MdC demonstra a


superioridade relativa da segunda frente a primeira em termos monetários. Assim, de
forma categórica, pode-se afirmar que os gastos com materiais de consumo entre
2000 e 2014 foram anualmente superiores aos gastos com Equipamentos e material
permanente.

Dada a elevada participação de despesas com pessoal no todo orçamentário


da defesa no Brasil, é possível o exercício teórico de reestimar os valores gastos com
EMP, MdC e Sub_ID em um cenário onde as despesas de pessoal fossem excluídas
da pauta. A tabela abaixo assim o faz:

Tabela 13. Participação percentual de EMP, MdC e Sub_ID no Orçamento do


Ministério da Defesa quando excluídas as despesas com pessoal e encargos
(2000 – 2014)
Ano EMP % MdC % Sub_ID %
2000 18,03 21,71 14,38
2001 13,79 25,79 13,88
2002 11,92 20,82 19,55
2003 9,01 29,93 16,41
2004 12,97 33,78 9,12
2005 8,49 23,94 8,66
2006 8,46 25,75 9,46
2007 9,79 23,89 14,09
2008 14,65 27,28 20,54
2009 15,57 22,70 20,52
2010 15,98 20,23 18,89
2011 11,93 26,21 20,30
2012 15,14 19,60 20,02
2013 13,91 20,61 18,77
2014 13,87 18,94 17,61
Fonte: Autoria própria, a partir de dados do Portal da Informação.

92
Supondo que os gastos com pessoal sejam nulos, a importância dos itens é
extremada a partir desta nova tabela hipotética. Em média, os valores tornam-se
quatro vezes maior do que quando estimados a partir do orçamento total com pessoal,
alcançando 5,5 vezes suas respectivas participações relativas no ano de 2003.

Cabe salientar que todos gastos com Equipamento e Material permanente são
caracterizados como Investimentos (GND 4). Entretanto, dada a natureza do objeto,
determinada despesa com material de consumo pode ser classificada tanto como
Outras Despesas Correntes (GND 3) ou como Investimentos. Por meio do gráfico
abaixo, visualiza-se que grande parte do material de consumo é classificada como
outras despesas correntes, em média 84%.

Gráfico 17. Classificação da despesa com material de consumo nos grupos


outras despesas correntes ou investimentos entre 2000 e 2014

100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Outras Despesas Correntes Investimentos

Fonte: Autoria própria, a partir de dados do Portal da Informação

Para a construção do indicador de despesa anual a nível de subelementos


selecionadas dada sua relação com a função fim Defesa Nacional (Sub_ID) foram
analisados a nível de subelementos os gastos com material de consumo e material de
equipamentos e material permanente. Em seguida, uma vez desagregados foram
selecionados os subelementos relacionados diretamente com a atividade originária da
Indústria de Defesa.

93
Quando sob a perspectiva de despesa anual a nível de subelementos
selecionadas dada sua relação com a Indústria de Defesa, observa-se a possibilidade
de mensurar quantitativamente quanto do orçamento do MD destina-se a aquisição
de meios para sua atividade fim. De fato, por meio deste indicador, acredita-se ser
possível assinalar exclusivamente os gastos estritamente caracterizados como
militares. Ademais, o conceito é capaz de minimizar a nebulosidade conceitual de
categorias como material de consumo e investimentos, os quais incluem em seus
montantes gastos destinados a atividades diversas as de caráter estritamente militar.

A tabela abaixo destaca o indicador Sub_ID a partir de seu total acumulado


anualmente ao longo da linha temporal em investigação.

Gráfico 18. Despesa Anual a nível de subelementos selecionada a partir de sua


relação com a Indústria de Defesa (2000 e 2014) em bilhões de reais

$5.000.000.000,00

$4.500.000.000,00

$4.000.000.000,00

$3.500.000.000,00

$3.000.000.000,00

$2.500.000.000,00

$2.000.000.000,00

$1.500.000.000,00

$1.000.000.000,00

$500.000.000,00

$-
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Fonte: Autoria própria, a partir de dados do Portal da Informação. Valores em reais atualizados a
preços de 2014 pelo IPCA

A partir da tabela acima, depreende-se volatilidade nos gastos estritamente


caracterizados como militares. Em 2004, tem-se seu mais baixo valor, no qual menos
de 1 (um) bilhão foi efetivamente gasto. Em contraposição, no ano de 2012, tem-se o
mais alto valor da série, quatro vezes maior que o valor empenhado oito anos antes.

94
Ainda em 2002, percebe-se o início de um declínio no gasto considerado
estritamente militar de modo que entre os anos de 2004 e 2006, o gasto militar
brasileiro atinge seus menores patamares no período analisado. A despeito de ser o
segundo menor valor da série, a partir do exercício de 2006 dá-se início a uma
alavancagem anual crescente de valores de modo que, a partir de 2010, apesar de
flutuações conseguintes, observa-se uma manutenção em patamar inédito de
despesas relacionadas a Indústria de Defesa.

A tabela a seguir apresenta em ordem crescente de representatividade total, os


subelementos da despesa relacionados a Industria de Defesa seguidos pela sua
porcentagem de participação no orçamento do Ministério da Defesa no espaço
temporal entre 2000 – 2014. Ao apresentar todos os subelementos pinçados dada sua
conexão com a Indústria de Defesa, a tabela 11 sintetiza o consumo anual acumulado
durante 15 (quinze) anos e possibilita visualizar um perfil heterogêneo de aquisições
em defesa.

A tabela apresenta o gasto com subelemento de despesa centralizado no MD,


ou seja, independe da Força (Aeronáutica, Exército ou Marinha) a qual foi responsável
direta pela despesa. Assim, a classificação genérica apresentada afasta-se de uma
abordagem mais tradicional onde os gastos são visualizados e divididos por Força
Militar. A partir desta abordagem pretende-se uma visão holística afastando
fragmentações e proporcionando um olhar sistémico sobre o gasto em defesa.

Destarte, pode-se notar que gastos com Tecnologia da Informação e


Comunicação (TIC) superam gastos que podem ser considerados como tradicionais,
tais como explosivos e carros de combate. Ademais, a alta proporcionalidade atingida
por gastos com aeronaves pode demonstrar que seus custos impactam na fatia
destinada a outros projetos, dada sua alta absorção de recursos.

95
Tabela 14. Participação Percentual de subelementos da despesa relacionados
a Indústria de Defesa no Orçamento do Ministério da Defesa (2000 – 2014)
Subelemento da despesa %
Equipamento e material sigiloso e reservado 0,00
Equipamentos de mergulho e salvamento 0,05
Material de consumo de uso duradouro 0,07
Armamentos - operações intra-orçamentárias 0,09
Outros materiais permanentes 0,12
Acessórios para veículos 0,13
Equipamentos, peças e acessórios marítimos 0,35
Material para comunicações 0,68
Material de manobra e patrulhamento 0,73
Equipamentos de manobra e patrulhamento 0,73
Equip.sob.de maq.motor.de navios da esquadra 0,78
Sobressalentes de armamento 0,86
Máquinas e equipamentos de natureza industrial 0,88
Material para manutenção de bens móveis 0,97
Sobressalentes de máquinas e motores navios da 1,02
esquadra
Equipamento de proteção, segurança e socorro 1,06
Carros de combate 1,08
Material de proteção e segurança 1,10
Veículos diversos 1,20
Sobressalentes de Máquinas motores navios e 1,93
embarcações
Suprimento de proteção ao voo 2,02
Armamentos 2,09
Equipamentos, peças e acessórios aeronáuticos 2,87
Equipamentos, peças e aces.de proteção ao voo 2,99
Aparelhos e equipamentos de comunicação 3,08
Material p/ manutenção de veículos 3,20
Material para produção industrial 3,47
Equipamentos e sistema de prot. Vig. Ambiental 4,04
Explosivos e munições 4,31
Veículos de tração mecânica 4,89
Material de TIC (permanente) 5,05
Munições 5,55
Embarcações 6,35
Suprimento de aviação 14,38
Aeronaves 21,88
Total Geral 100
Fonte: Autoria própria, a partir de dados do Portal da Informação.

96
A partir da tabela, pode-se extrair que dentre os gastos, apesar de as aeronaves
representarem 22% do total, dada a correlação dos gastos com certas atividades
adjacentes ao voo, eleva-se o valor ao total de 44,15% de participação. Assim como,
embarcações e sobressalentes de navios, esquadras e embarcações juntos
correspondem a 10,42% do total. Por sua vez, caso seja somado o gasto total com
armamentos, explosivos, munições e sobressalentes tem-se o valor de 12,8% do todo.
E veículos, tratados genericamente como veículos diversos, de tração, e de combate
e acessórios correspondentes, tem-se o valor de 10,49%.

O gráfico abaixo sintetiza o agrupamento das despesas sob uma ótica do fim
prático a que se destina:

Gráfico 19. Participação Percentual de subelementos da despesa relacionados


a Indústria de Defesa agrupados por tipo entre 2000 e 2014

9,18%
10,42%

12,90%
10,49%

12,85%

44,15%

Embarcações Carros Aeronaves Comunicação Armamentos Outros

Fonte: Autoria própria, a partir de dados do Portal da Informação.

Em síntese, percebe-se que cumulativamente os gastos com carros,


embarcações, comunicação e armamentos são proporcionais e mantêm um equilíbrio
entre si. Por outro lado, os gastos com aviação são desproporcionais ao todo.
Infelizmente, uma especulação quanto aos reais motivos deste perfil, extrapola as
fronteiras da presente pesquisa.

97
3.4 Considerações sobre o capítulo

A partir dos dados brutos obtidos de fontes diversas (OTAN, Banco Mundial,
FMI, LAI), formulou-se tabelas e construiu-se indicadores de análise que
possibilitaram a análise descritiva dos orçamentos militares de Estados Unidos, Reino
Unido, França e Brasil. Destarte, é fundamental ressaltar a desproporção de qualquer
comparação a nível de valores brutos. Não obstante, as análises realizadas são
puramente orçamentárias, sendo praticamente desvinculadas de qualquer contexto
geopolíticos das nações em estudo, de modo apenas, que o contexto orçamentário
pode ser considerado um espelho do cenário geopolítico vivido pelos Estados. Dada
as diferentes origens dos dados disponibilizados, qualquer comparação com entre os
gastos de EUA, ENG e FRA com os gastos do Brasil, deve ser cautelosa. A conduta
de promover a implementação de indicadores tenta viabilizar discussões neste nível.

De fato, pode-se observar que os gastos militares no Brasil sofrem com o alto
gasto de pessoal (em média 76%) quando comparado com as nações da OTAN (EUA:
37%, ENG: 39%, FRA:55%). Por outro lado, a França emerge como um exemplo bem
sucedido de país que conseguiu diminuir os gastos com pessoal e paralelamente
incrementar os gastos com equipamento. Concomitante, os Estados Unidos surgem
como exemplo de mobilização e desmobilização de capital humano, tornando os
gastos com esse fator mais fluido e, portanto, menos estáticos. Essas características
são ambicionadas à medida que possibilitam o melhor rearranjo orçamentário como
um todo, ao melhor redistribuir gastos em Defesa Nacional.

Faz-se necessário focalizar e analisar os gastos com pessoal na estrutura


orçamentária do MD. Sua magnitude fora assinalada anteriormente, e precisa ser
analisada com maior vigor para a compreensão do peso dos Recursos Humanos na
Defesa Nacional. O peso relativo dos gastos com pessoal justifica a implementação
de novos estudos que coloquem em foco apenas essa espécie de despesa com o
objetivo de nivelar seu volume para Defesa.

O Brasil apresenta valores baixos nos gastos com equipamentos quando


comparado com a amostra selecionada de países da OTAN (EUA: 25%, ENG: 22%,
FRA:23%). Desde já comparações são dificultadas, uma vez que na atual estrutura
orçamentária brasileira não existe conceito que comporte sob seu guarda-chuva

98
apenas equipamentos militares. Tentou-se contornar essa problemática a partir da
utilização de três amostras diferentes de despesas: Investimentos (GND 4), EMP,
Sub_ID para os quais o Brasil apresentou gastos médios proporcionais de 8,55%, 3%
e 4%, respectivamente.

Os investimentos realizados pelo MD agrupados no Grupo de Natureza de


Despesas 4 (quatro) comportam alto nível de generalidade, abarcando os mais
diversos tipos de despesa, inclusive despesas com material de consumo. O mesmo
padrão pode ser assinalado pelo conceito de EMP, que acaba inflado com despesas
de natureza não militar. Nesse sentido, o indicador Sub_ID tentou implementar uma
visão próxima da realidade do que seria estritamente gastos militar.

Observou-se que os gastos com investimentos são voláteis e são inferiores aos
gastos com pessoal e gastos com consumo (6%). O alto gasto com material de
consumo contrasta com os gastos com investimentos, entretanto, cabe assinalar que
muitos dos gastos com material de consumo são relacionados a atividade fim de
Defesa Nacional, ao invés de simples gastos administrativos. Entretanto, ainda que
com a utilização do indicador Sub_ID, ainda, os gastos com equipamentos podem ser
considerados pequenos, quando não menores que os visualizados com investimento
ou material de consumo.

Dada a observável estabilidade longitudinal do Orçamento de Defesa, seja


frente ao PIB ou ao Orçamento Geral da União, proporciona-se o argumento de que
mudanças qualitativas internas são mais urgentes e corrobora-se o argumento de que
apenas aumentar o orçamento não necessariamente implicariam em maior qualidade
de gasto. Não obstante, o ano de 2008 pode representar um momento de mudança.
Desde o lançamento da END, observou-se pequenas mudanças no comportamento
orçamentário do Ministério da Defesa. A defesa passou a receber uma maior
participação no Orçamento da União ainda que frente a Economia Brasileira como um
todo tenha sofrido uma queda de participação.

Por fim, cabe sublinhar que o escopo do presente estudo se limita a estatura
temporal do ano de 2014. Esta decisão metodológica, explicada sobretudo pela
disponibilidade de dados, pode influenciar no peso dos resultados obtidos. Isto
porque, desde 2014, o contexto político e econômico brasileiro sofrera mudanças
substanciais em seu equilíbrio.
99
4 O IMPACTO DO ORÇAMENTO MILITAR NA INOVAÇÃO DA BID

O presente capítulo destina-se a estudar a relação entre investimentos em


inovação na BID e os gastos militares brasileiros. Em síntese, quer-se analisar a
influência dos gastos militares na inovação das empresas da BID. Para tanto, em um
primeiro momento, constrói-se o diagrama de dispersão e calcula-se a correlação
entre as variáveis. Em seguida, é realizada uma Regressão Linear Simples. Ao fim,
tem-se uma síntese do estudo, e as considerações finais.

4.1 Modelo e dados

O Gasto militar brasileiro, a variável independente do modelo35, é mensurado a


partir do valor empenhado anualmente no Orçamento do Ministério da Defesa,
conforme apresentado na seção anterior. Por sua vez, os investimentos em inovação
na BID, a variável dependente do modelo, possuem valores extraídos da Pesquisa de
Inovação dirigida pelo IBGE, a partir do conjunto amostral de empresas previamente
definidas36. De forma quantitativa, quer-se analisar a influência da variável
independente - gastos militares brasileiros – sobre o comportamento da variável
dependente - o investimento em inovação na BID.

Assim, com base na amostra extraída, objetiva-se responder ao problema:


existe relação entre o orçamento do Ministério da Defesa e a Inovação na Indústria de
Defesa Brasileira? Qual a força deste relacionamento, e seus valores estimados para
seus parâmetros? Portanto, a partir da extração de dados das edições da PINTEC
alinhados aos dados orçamentários brasileiros em defesa, investiga-se a existência
de uma relação linear entre os fenômenos em apreço, a fim de mensurar quanto a

35
variável preditora, dependente ou explicativa.
36
A partir dos resultados da Pesquisa de Inovação promovida pelo IBGE, extraiu-se uma amostra com
empresas relacionadas a Indústria de Defesa. Cada ano-base da pesquisa (2000, 2003, 2005, 2008,
2011, 2014) conta com um conjunto diferente de empresas entrevistadas. Os dados de 2000 a 2011
utilizam a amostra de empresas utilizadas no mapeamento da base industrial de defesa brasileira
(NEGRETE et al., 2016). Os dados de 2014 referem-se a uma amostra menor, incluindo apenas os
segmentos de armas e munições leves, pesadas e explosivos, Poder Aéreo Militar e Poder Naval
Militar. A referida amostra foi solicitada ao IBGE pelo Laboratório de Estudos de Defesa. Assim, as
firmas são consideradas um conjunto não homogêneo que se dedica parcialmente a produção de
produtos militares.

100
variação no comportamento dos gastos militares impacta na variação do investimento
em inovação na BID.

O tempo amostral encobre o período de 2000 a 2014, do qual, foram


selecionados anos específicos, de acordo com a disponibilidade dos dados. Assim,
para a implementação dos exercícios estatísticos foram utilizados apenas os anos de
publicação da PINTEC: 2000, 2003, 2005, 2008, 2011 e 2014. Embora houvesse
disponibilidade de dados orçamentários que para todo o período entre 2000 e 2014,
fora necessária restrição substantiva da amostra. A PINTEC utiliza variáveis contínuas
- como por exemplo o investimento em inovação – que se referem apenas ao ano
base da pesquisa, e não ao período coberto por elas – comumente uma pesquisa
trienal. Por meio deste exercício de síntese dos dados, foi possível a obtenção de uma
amostra que possuísse o gasto militar brasileiro e o correspondente gasto com
inovação na BID para os respectivos anos de 2000, 2003, 2005, 2008, 2011 e 2014.

Tabela 15. Gastos Militares x Investimento em Inovação na BID (2000 – 2014)


Ano Gastos militares VI (X) Investimento em Inovação VD (Y)
2000 R$ 20.696,40 R$ 1.037.287,00
2003 R$ 25.777,80 R$ 3.311.823,00
2005 R$ 33.021,60 R$ 4.105.234,00
2008 R$ 44.621,30 R$ 5.443.568,00
2011 R$ 61.663,10 R$ 5.345.011,00
2014 R$ 76.874,20 R$ 5.256.250,80
Fonte: Autoria própria, a partir de dados do Portal da Informação e da PINTEC

A primeira coluna da tabela apresenta os anos utilizados como base para as


investigações do capítulo. A segunda coluna exibe os gastos militares brasileiros
como são mensurados por meio do orçamento do Ministério da Defesa, em bilhões de
reais. A terceira coluna apresenta os valores referentes ao Investimento anual das
Empresas da BID, dados da PINTEC em milhões. Optou-se por trabalhar com os
valores correntes da amostra.

A partir da amostra selecionada, tem-se 6 (seis) sujeitos experimentais para


cada variável, ao todo, 12 (doze) observações. O número de observações deve ser,
no mínimo, maior que o número de parâmetros para estimação (GUJARATI e
PORTER, 2011). A partir de 3 (três) observações já é possível calcular uma reta de
101
regressão, ainda que um baixo espaço amostral possa interferir no valor do intercepto
da regressão (FÁVARO, 2016). Assim, a carência de um maior número de
observações pode influenciar negativamente no modelo. Os dados descritivos
fornecem a média e o desvio padrão da amostra. Inovação na BID apresenta média
de R$ 4.083.195,63 e desvio padrão de 1714170,951. Ao tempo que o empenho total
em defesa brasileiro possui média de R$ 43.775,73 e desvio padrão de 21855,95562.

Para calcular a correlação usa-se o coeficiente de correlação de Pearson


também denominado coeficiente de correlação linear ou r de Pearson. O Coeficiente
de correlação (r) mede a força ou grau de associação linear de duas variáveis e varia
entre -1 e 1, no qual, valores positivos indicam relação direta e valores negativos
indicam relação inversa (GUJARATI e PORTER, 2011). A seguir, a fórmula do
coeficiente de Pearson:

𝑟 = ___∑𝑥. 𝑦___
√(Ʃ𝑥²). (Ʃ𝑦²)

Sendo, x = X - Ẋ e y = Y - Ẏ; onde X = valores da variável independente; Ẋ =


valor médio da variável independente; Y = valores da variável dependente; e Ẏ = valor
médio da variável dependente (PARDINAS, 1999, p. 146).

Tabela 16. Índice de Intensidade para a Correlação Linear


Coeficiente de correlação linear definição
0,00 a 0,19 correlação bem fraca
0,20 a 0,39 correlação fraca
0,40 a 0, 69 correlação moderada
0,70 a 0,89 correlação forte
0,90 a 1,00 correlação muito forte
Fonte: DEVORE (2006)

Por meio de uma equação, calcula-se a reta, modulam-se os dados e obtêm-


se suas propriedades. A Regressão Linear Simples (RLS) possui duas variáveis, na
qual a variável dependente é expressa como uma função linear de uma variável
explanatória, de forma que se busca “estimar ou prever o valor médio de uma variável
com base nos valores fixos de outras variáveis” (GUJARATI e PORTER, 2011, p.41).

102
Nesse sentido, destaca-se a aplicabilidade de modelos de regressão para
avaliação de políticas públicas, como ferramenta para a realização de inferências,
sobretudo, causais (CHEIN, 2019). Logo, caso o modelo obtido não refute a hipótese
ou teoria considerada, será possível sua utilização para prever valores futuros da
variável dependente, com base em valores futuros conhecidos ou esperados da
variável independente (GUJARATI e PORTER, 2011).

Assim, tem-se a seguinte equação:


𝑌 = 𝛼 + 𝛽𝑥 + 𝜀

Onde, “Y” variável dependente ou de resposta e “X” variável independente ou


explicativa, no sentido que y depende de x. Por sua vez, os parâmetros α e β,
representam respectivamente o intercepto e o coeficiente angular da equação da reta
(HOFFMANN, 2016, p.44). Onde α, uma constante, representa o ponto em que a reta
cruza o eixo das ordenadas e β evidencia a relação entre as variáveis, que pode ser
positiva ou negativa. Logo, se β < 0 a reta será negativamente inclinada, se β > 0
então será positivamente inclinada. Para a obtenção de α e β utiliza-se o método dos
Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) (AZEVEDO, 2016).

O ε representa o erro, ou os desvios das observações em relação à média. Na


realidade, ocorre que variáveis exógenas ao modelo podem afetá-lo. Por exemplo,
pode-se citar características conjunturais ou elementares à amostra. Assim, o erro
tenta mensurar efeitos imprevisíveis.

A RLS é dita linear, pois a curva de regressão, dadas as variáveis, apresenta o


formato de uma reta (GUJARATI e PORTER, 2011), derivada do fato que a variável
explicativa tem expoente igual a 1. Por sua vez, é dita simples à medida em que
apenas uma variável explicativa é utilizada na equação, em contraposição a modelos
multivariados, que possuem duas ou mais variáveis explicativas (GUJARATI e
PORTER, 2011).

A ausência de relação linear não necessariamente implica ausência de relação


entre as variáveis. É possível que para a descrição da relação entre as variáveis seja
mais adequada a adoção de uma função não linear. São exemplos de regressões não
lineares: a função exponencial, de potência, logarítmica ou polinomial com ordem
maior que 1. Nesse sentido, a partir da mesma amostragem de dados, investiga-se a
103
possibilidade de significância de modelos não lineares, e aplica-se uma regressão
logarítmica.

Para a regressão logarítmica, tem-se uma regressão semilogarítmica à direita,


na qual o parâmetro β representa o efeito marginal da variação de logaritmo natural
de X sobre a variável Y (FÁVERO, 2016, p.125). Também chamado de Modelo lin-log,
sua interpretação evidencia que uma variação absoluta de Y dada uma variação
percentual de X (GUJARATI e PORTER, 2011, p.182).

Consequentemente, tem-se a equação abaixo:

𝑌 = 𝛼 + 𝛽. 𝐿𝑛(𝑥) + 𝜀

4.2 Diagrama de dispersão e correlação

A fim de detectar a correlação entre gastos militares e inovação no Brasil,


produz-se uma análise inferencial por meio do coeficiente de Pearson e sua
representação gráfica a fim de evidenciar o caráter linear da relação. Por meio do
gráfico de dispersão, investiga-se a existência de uma relação linear entre as variáveis
em apreço. Por convenção, no eixo y, eixo das ordenadas, tem-se a variável
dependente, isto é, investimento em inovação. No eixo x, eixo das abcissas, variável
independente, isto é, gastos militares. As coordenadas são dadas por pontos par a
par de acordo com o ano dos dados, apresentados na tabela 15.

O gráfico de dispersão ou scatterplot possibilita uma representação visual das


observações presentes na tabela 15, tal qual um plano cartesiano, de modo que
possibilita a investigação quanto ao melhor modelo a ser utilizado. Sendo assim, a
partir da observação do gráfico questiona-se quanto a possibilidade de uma reta
cruzar o mesmo de forma que transpasse a assimetria dos pontos. Dado que a
possibilidade de traçar uma reta que corte o quadro de pontos evidencia a chance de
haver uma relação linear entre as variáveis.

O gráfico dessa relação possibilita visualizar a relação entre investimentos na


BID e os Gastos Militares brasileiros, de forma que com dificuldades, é possível
imaginar uma linha, que demonstre a tendência linear dos dados. Consequentemente,

104
os dados não parecem tão ajustados a reta. Da interpretação dos gráficos, a reta
positivamente inclinada evidencia a associação positiva entre as variáveis em análise.

Gráfico 20. Gráfico de Dispersão com linha de tendência: Gastos


Militares x Investimento em Inovação na BID (2000 – 2014)
$7.000.000,00
Investimento em Inovação na BID, em

$6.000.000,00
milhões de reais

$5.000.000,00

$4.000.000,00

$3.000.000,00

$2.000.000,00

$1.000.000,00
R$ 20.000,00 R$ 30.000,00 R$ 40.000,00 R$ 50.000,00 R$ 60.000,00 R$ 70.000,00 R$ 80.000,00
Gastos militares brasileiros, em bilhões de reais

Fonte: Autoria própria, a partir de dados do Portal da Informação e da PINTEC

Constatada a possibilidade de os dados seguirem uma tendência linear, utiliza-


se o coeficiente de Pearson para verificar a existência de correlação entre as variáveis.
Medir a Correlação significa mensurar a associação entre duas variáveis quantitativas
(HOFFMANN, 2016). Na correlação, assumimos que os valores de uma variável
independem dos valores da outra variável, assim não existe relação de dependência
entre as variáveis. Em consequência qualquer das variáveis pode estar no eixo X ou
Y, caracterizando-os como alternáveis (HOFFMANN, 2016).

A partir da utilização de software SPSS, encontra-se a correlação paramétrica


no valor de 0,782. Quando comparado com a tabela 16 o valor encontrado
corresponde a uma correlação forte. Logo, há evidências da existência de correlação
entre Gastos militares brasileiros e os investimentos em inovação na BID.

Entretanto, algumas ressalvas devem ser feitas quanto aos resultados


encontrados. Primeiramente, dada a natureza interpretativa da correlação linear,
inexiste diferença entre ler correlação entre Gastos militares e Investimento em
105
inovação ou ler correlação entre Investimento em inovação e Gastos militares.
Diferente da Regressão linear, como veremos a seguir. Ademais, cabe citar a máxima
“correlação não implica causalidade”. Nesse sentido, com os dados e evidências até
agora apresentados não é possível afirmar que os gastos militares influenciam
investimentos em inovação na BID. Mas, tão somente, que existe uma relação na qual
quando uma variável aumenta, observa-se comportamento semelhante na outra
variável.

Embora visualizada a presença de uma relação entre a Inovação na Indústria


de Defesa brasileira e o orçamento do Ministério da Defesa, somente isso não é
suficiente. É preciso saber como e em qual grau os gastos militares brasileiros
impactam a Inovação na Indústria de Defesa brasileira. Para isso, a próxima seção
destina a aplicação do modelo econométrico de regressão linear simples.

4.3 Regressão linear simples e regressão não linear logarítmica

A partir dos dados orçamentários do Ministério da Defesa brasileiro e dos dados


sobre inovação na BID capturados pela PINTEC, pretende-se analisar se o incremento
de “uma unidade” nos gastos militares causa um aumento na Inovação. Assim, tem-
se o seguinte modelo para o problema:

Investimento em inovação = 𝑓(𝐺𝑀)

Por conseguinte, a equação, ou modelo de regressão simples:

Investimento i = 𝛼 + 𝛽. 𝐺𝑀 i + 𝜀 i

A partir dos dados coletados, exibidos na Tabela. 15, aplica-se o MQO para
encontrar as estimativas dos parâmetros. Desse modo, caso seja estatisticamente
significante, ter-se-ia o seguinte modelo:

𝐼𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡î𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜i = 1398257,84 + 61,33. 𝐺𝑀 i

106
Assim, o aumento de 1 unidade monetária nos GM, elevaria os investimentos
em inovação na BID em 61,33. Graficamente, tem-se a seguinte regressão:

Gráfico 21. Reta de Regressão Ajustada: Gastos Militares x Investimento em


Inovação na BID (2000 – 2014)
7
Investimento em Inovação na BID,

6
em milhões de reais

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Gastos Militares brasileiros, em bilhões de reais

Fonte: Autoria própria, a partir de dados do Portal da Informação e da PINTEC

O coeficiente de determinação37, apresenta um valor de 0,612 ou 61,2%. O R 2


evidencia a proporção do modelo explicado pela variável independente, ou seja, a
proporção com que os gastos militares explicam o Investimento em Inovação na BID.
Assim, os gastos militares seriam capazes de explicar 61,2% da variação dos valores
investidos em inovação na BID. Partindo do fato de que o modelo apresenta apenas
uma variável explicativa, o valor de R2 pode ser considerado satisfatório

Por sua vez, a significância de F38 apresenta P-Valor corresponde a 0,66, logo
maior que 0,5, o que implica na ausência de significância estatística do modelo

37
R2 ou coeficiente de ajuste analisa a capacidade explicativa do modelo. O R2 captura a relação
entre as variáveis utilizadas, ao apresentar quanto do comportamento da variável Y é explicado pelo
comportamento de variação da variável X (FÁVERO et al, 2009). Seu valor percentual varia de 0 a 1,
de forma que quanto mais próximo de 1, melhor será a qualidade dos resultados. Assinala-se que o R2
não determina a significância do modelo ou mesmo constitui evidência de causalidade (FÁVERO et al,
2009).
38
Na interpretação tabela ANOVA, a hipótese nula (H0: 𝛽 = 0) é de que no ajuste do modelo com
coeficiente estatisticamente igual a zero, a variável explicativa não influencia o comportamento da
variável dependente. Por outro lado, a Hipótese alternativa (H1: 𝛽 ≠ 0) declara que a variável
independente é estatisticamente significante para explicar a variável resposta, e assim, tem-se “um
107
regredido. Nesse sentido, para o presente estudo prevalece H 0, portanto, os gastos
militares no modelo não explicariam o investimento em inovação na BID brasileira.
Assim, pode-se concluir que o modelo não é relevante.

Tabela 17. Quadro Resumo dos Resultados da Regressão GM


Gastos
Intercepto Militares
Coeficientes 1398257,842 61,33393062
Valor p 0,30013529 0,066095692
Teste t 1,184564 2,505765
Correlação 0,78157
R2 0,611551355
R2 Ajustado 0,514439194
Erro padrão 1194471,915
F de significação 0,066095692
Fonte: Autoria própria

A análise dos coeficientes da equação apresenta evidências estatísticas sobre


a significância estatística de cada um dos parâmetros, por meio do teste t. O
coeficiente angular, o 𝛽 estimado da equação, possui valor de 61,33. O parâmetro
obtido apresenta p-valor de 0,06, logo p > 0,05. Assim, o parâmetro se mostra não
significativo, reforçando a não significância estatisticamente do modelo.

Assim, apesar da correlação de Pearson ser considerada forte e do coeficiente


de ajuste no valor de 61,2%, o modelo de regressão linear simples não se mostrou
estatisticamente significativo. Logo, de acordo com os testes realizados, não há
indícios de que os gastos militares no Brasil influenciem a inovação nas empresas
relacionadas à Defesa.

Alternativamente, foram testadas hipóteses do modelo a partir de variáveis


regressoras diferentes. Foram selecionadas amostras Investimentos do MD, EMP e
Sub_ID39 referentes aos anos 2000, 2003, 2005, 2008, 2011 e 2014. O método de

modelo de regressão estatisticamente significante para fins de previsão” (FÁVERO, 2016) ajuste do
modelo sem o previsor diverge do ajuste do modelo com o previsor. Assim, a partir dos resultados
obtidos, caso F de significância > 0,05, aceita-se a hipótese nula, ao tempo que, quando F de
significância < 0,05, rejeita-se hipótese nula e aceita-se a hipótese alternativa.
39
Essas amostras foram extensamente abordadas no capítulo 3.
108
RLS realizado anteriormente que possuiu GM como variável independente foi
repetido, a única mudança foi a substituição da variável regressora pelas variáveis
amostras Investimentos do MD, EMP e Sub_ID. A partir da síntese das saídas do
SPSS, produziu-se o seguinte quadro resumo:

Tabela 18. Quadro resumo dos resultados das Regressões: Investimento MD,
EMP e Sub_ID

Investimento MD EMP Sub_ID


Parâmetros 𝛼 𝛽 𝛼 𝛽 𝛼 𝛽
Coeficientes 2644030 0 1267909 0,001 2424676 0,001
Valor p 0,06 0,156 0,101 0,269 0,77 0,125
teste t 2,608 1,745 2,126 1,281 2,367 1,937
Correlação 0,657 0,539 0,696
R2 0,432 0,291 0,484
2
R Ajustado 0,29 0,114 0,355
Erro Padrão 1444083,566 1613811,378 1376724,621
F de
significação 0,156 0,269 0,125
Fonte: Autoria própria

As três amostras apresentaram uma correlação moderada para com os


investimentos em inovação na BID (0,657, 0,539 e 0,696). Nesse sentido, as
regressões alternativas não se diferenciam da regressão inicial do modelo GM, a qual
apresentou uma relação forte. Por sua vez, o coeficiente de determinação das
variáveis alternativas em análise apresentou a variável Sub_ID (4,84) como a de maior
capacidade explicativa frente à Investimento MD (0,432) e à EMP (0,114). Entretanto,
todos os F de significação foram maiores que 0,05 e, portanto, não significativos
(0,156, 0,269, 0,125). O mesmo comportamento foi observado no valor P dos
parâmetros estimados, todos maiores que 0,05 e, consequentemente, não
significantes.

A despeito da não significância das variáveis alternativas testadas, o indicador


Sub_ID apresentou melhor resultado comparativo entre as três variáveis. Apresentou
a maior correlação (0,696) e o maior coeficiente de determinação (0,484) além do
menor de F de significação (0,125). Neste sentido, o indicador Sub_ID foi capaz de
expressar com maior eficácia a relação com os investimentos em inovação na BID
109
dentre as três variáveis alternativas. Entretanto, seu desempenho ainda foi menor do
que a variável do modelo GM, o qual apresentou correlação de 0,782, determinação
de 0,611 e significância de 0,066.

Dada a não significância dos modelos lineares propostos, a fim de encontrar


um modelo que melhor se ajuste aos dados dispostos, investiga-se a possibilidade de
uma relação não linear entre os gastos militares no Brasil e o investimento em
inovação na BID. Nesse sentido, opta-se por investigar a aplicabilidade de um modelo
de regressão não linear de natureza logarítmica para a variável independente GM. A
partir do mesmo modelo para o problema, aprofunda-se a análise da regressão por
meio da equação, ou modelo de regressão lin-log:

Investimento i = 𝛼 + 𝛽. 𝐿𝑛(𝐺𝑀 i) + 𝜀i

A partir dos dados coletados e apresentados ainda na tabela 15, calcula-se o


log natural de GM e utiliza-se o MQO para a estimação dos coeficientes.

Os parâmetros regredidos em Ln se mostram estatisticamente significativos à


5%, onde 𝛼 possui significância de 0,035 e 𝛽 de 0,023. Logo, ambos os coeficientes
possuem P-Valor menor que 0,05 e consequentemente. Uma vez determinados os
coeficientes, tem-se a seguinte equação:

𝐼𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡î𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜i = -27144238,646 + 29511309,983. 𝐿𝑛(𝐺𝑀 i)

Interpretando o modelo, entende-se que o parâmetro 𝛽 de valor aproximado de


29511309 significa que um aumento de 1%, em média, nos gastos militares tem efeito
positivo nos gastos com investimentos na inovação da BID, no caso das empresas
contidas na amostra. Graficamente, produz-se a seguinte curva de regressão:

110
Gráfico 22. Regressão não linear semilogarítmica: Gastos Militares x
Investimento em Inovação na BID (2000 – 2014)

Investimento em inovação na 7
BID, em milhões de reais
6

3
y = 29511309,983 ln(x) - 27144238,646
2
R² = 0,7639
1

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Gastos militares brasileiros, em milhões de reais

Fonte: Autoria própria

O coeficiente de determinação, apresenta um valor de 0,764 ou 76,4 %. Assim,


o modelo lin-log GM possui valor preditivo maior que o modelo linear GM (61,2 %). O
modelo em Ln também se mostra estatisticamente significativamente, com o P-Valor
de F correspondente a 0,023, abaixo de 0,05.

Tabela 19. Quadro Resumo dos Resultados da Regressão Ln(GM)

Ln (Gastos
Intercepto Militares)
Coeficientes -27144237,54 2951309,875
Valor p 0,035378367 0,022803682
Teste t -3,12443 3,597755
Correlação 0,874028603
R2 0,764
R2 Ajustado 0,705
Erro padrão 931179,052
F de significação 0,023
Fonte: Autoria própria

Assim, o modelo logarítmico Ln (GM), possui parâmetro β no valor de


29511309,983, o qual representa o efeito marginal da variação no logaritmo natural
dos gastos militares sobre a variável investimentos em inovação na BID. Para verificar
111
a autocorrelação dos resíduos será utilizado o teste de Durbin-Watson e a
heterocedasticidade será verificada a partir do teste de White. Como o modelo
apresenta apenas uma variável regressora não há necessidade de testar a
multicolinariedade40.

O teste de Durbin-Watson serve para constatar a ausência de autocorrelação


entre os resíduos41, ou seja, aferir a presença de resíduos independentes, ainda que
somente válido para verificar a autocorrelação da primeira ordem dos termos do erro
(FÁVERO, 2016). O teste realizado via SPSS apresentou o valor 1,300. Ao recorrer a
tabela de distribuição de Durbin-Watson visualiza-se que para uma amostra de 6
elementos com 2 parâmetros, para um nível de significância de 𝛼 = 5%, dL = 0,610 e
dU = 1,400. Logo, dL = 0,610 < 1,177 < 1,400 = 4 dU, portanto, o resultado do teste é
inconclusivo.

O modelo de regressão apresenta como um de seus pressupostos a


homocedasticidade, isto é, os resíduos não devem apresentar correlação com a
variável independente (FÁVERO, 2016, p. 90). Seu revés, a heterocedasticidade
indica que a variância dos erros não é constante. O teste de White consiste em criar
uma regressão auxiliar a partir dos quadrados dos desvios da regressão principal do
modelo. Concomitantemente, são adicionadas variáveis independentes a partir do
quadrado da variável regressora original. Ademais, realiza-se o cálculo de uma
Distribuição Qui-quadrado de probabilidades 5 (cinco) e 1% a partir dos graus de
liberdade da regressão auxiliar.

No teste, a H0 = variância dos erros é constante (homocedasticidade), logo nR2


< 𝑥 2 , ao tempo que H1 = variância dos erros não é constante (heterocedasticia) logo,
nR2 < 𝑥 2 . A partir do teste realizado, tem-se que nR2 (1,55) é menor que o 𝑥 2 (5,99)
com probabilidade a 5%, logo a hipótese nula é verdadeira. Assim, o modelo não
possui heterocedasticia e, portanto, possui desvios homocedásticos.

40
Existência de correlação entre as variáveis independentes do modelo.
41
resíduo é a diferença entre o valor previsto e o valor observado, a distância do ponto até a reta
prevista no modelo.
112
Tabela 20. Quadro Resumo do Teste de White

graus de
liberdade 2
𝑥 2 (1%) 9,2103404
𝑥 2 (5%) 5,9914645
Observações
(n) 6
R2 0,2586081
nR2 1,551649
Fonte: Autoria própria

4.4 Considerações sobre o capítulo

Para visualizar a relação entre gastos investidos em inovação e os gastos


militares efetivou-se um estudo da correlação e regressão entre as variáveis e sua
consequente ilustração gráfica por meio do diagrama de dispersão. Constatou-se a
presença de uma correlação forte, o que implica afirmar que os dados se movimentam
no mesmo sentido e ao mesmo tempo que o gráfico de dispersão abriu leque para a
busca de uma relação linear.

A regressão fornece estimativas para os coeficientes da regressão, entretanto


os resultados indicam que o modelo proposto não possui relevância estatística. Logo,
não é possível afirmar que os gastos militares influenciam na inovação das empresas
selecionadas, uma vez que a regressão Linear simples mostrou que os gastos do
Ministério da Defesa não capazes de influenciar os gastos em inovação na BID [F
(1,4) = 6,298, p > 0,05; R2 = 0, 612].

No intuito de tentar ampliar a análise de testes foram testadas hipóteses


alternativas a partir de amostras de Investimentos do MD (GND 4), EMP e Sub_ID
referentes aos anos de 2000, 2003, 2005, 2008, 2011 e 2014. Foram realizadas
variações do modelo principal, a partir da substituição da variável independente GM
pelos novos recortes amostrais. Apesar dos coeficientes de correlação e
determinação satisfatórios, os resultados tanto para coeficientes quanto para o F de
significação deram resultados não significativos estatisticamente (P- valor > 0,05).
Assim, nenhum dos modelos alternativos pode ser considerado válido.

113
Por fim, optou-se por investigar a existência de uma relação não linear entre os
gastos militares e o investimento em inovação na BID. Para tanto, fez-se o uso de um
modelo logarítmico, também chamado de lin-log ou semilogarítmica à direita. O
modelo apresentou coeficiente de determinação de 76,4% e apresentou tanto o F de
significação quanto o parâmetro como significantes. A interpretação do modelo leva
ao entendimento de que um aumento de 1%, em média, nos gastos militares pode
influenciar positivamente os gastos com investimentos na inovação da BID.

Dentre os fatores que podem ter influenciado nas limitações do estudo


encontra-se o baixo espaço amostral, mais especificamente quanto quantidade de
dados sobre a inovação. Na PINTEC, variáveis contínuas referem-se apenas ao ano
base da pesquisa, e não ao período coberto por elas. Consequentemente, só foi
possível a utilização de poucos anos para análise, como resultado, tem-se uma
amostra pequena.

114
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O arcabouço de ideias e discussões apresentadas nesta dissertação explorou


a dinâmica entre a Indústria de Defesa e a Inovação, e assim, evidenciou o papel do
orçamente militar como intermediário nesta relação. Logo, buscou-se evidências
estatísticas de que existisse uma relação de causalidade entre orçamento do
Ministério de Defesa brasileiro e os investimentos em inovação na BID, no sentido de
que os gastos militares impactariam na inovação em defesa.

Para além da dificuldade de se colocar sob um mesmo guarda-chuva teórico


as empresas que integram a BID e as características que a compõe, destacou-se o
mercado de defesa como influenciado por exportações, compras governamentais e,
em especial para o caso brasileiro, o fato de ter o mercado civil como seu principal
consumidor (NEGRETE et al., 2016). Em especial, a capacidade inovativa revela-se
um elemento circunstancial e essencial para uma firma de defesa sobreviva a um
ambiente altamente competitivo (BLOM, CASTELLACI; FELVODEN, 2013;
DAGNINO, 2010). Nessa área, a demanda das Forças Armadas é vista com potencial
para impulsionar a busca por novas tecnologias, a fim de alavancar a capacidade
militar (FREEMAN; SOETE, 2008; SEMPERE, 2015)

As proposições teóricas apresentadas sugeriram que os gastos militares


influenciariam a inovação, destacando-se a aquisição de defesa como forma de afetar
o desenvolvimento de novas tecnologias na área (MOWERY, 2010). Entretanto,
segundo os testes realizados, aparentemente, no Brasil o orçamento do MD não
influencia diretamente a inovação das empresas que fornecem produtos militares.
Como raiz do problema, para além das limitações do modelo metodológico, pode estar
a distribuição dos Gastos do MD, com baixíssima aplicação em investimento. O
orçamento de defesa com baixa destinação para investimentos tem como resultado
uma BID com baixo foco na produção de produtos de defesa.

Não obstante, dentre os resultados da pesquisa, tem-se evidências estatísticas


que vão de encontro ao argumento de que a ausência da guerra ou sua ameaça leva
a perda de apoio para desenvolver tecnologia, dada a carência na destinação de
recursos financeiros para gastos militares (MURRAY, 2001; RUTTAN, 2006). Quando
se tem em perspectiva o passado recente brasileiro, evidencia-se que mesmo na
115
ausência de conflitos externos, em 15 (quinze) anos o orçamento de defesa cresceu
48%, enquanto o orçamento da União cresceu 43%. Logo, a defesa crescera mais
que a União e, ainda assim, a inovação da BID não é afetada diretamente pelos gastos
militares, sob perspectiva linear.

De forma descritiva, analisou-se os gastos militares de Estados Unidos, Reino


Unido, França e Brasil. Os resultados evidenciaram que o Brasil apresenta um perfil
diferente do perfil dos países da OTAN, dado o fato de que a natureza do seu gasto
militar enfatiza o fator humano em detrimento dos investimentos em tecnologia. Esse
fato é determinante para o estudo em questão, dado que pode ser um dos fatores de
influência para o resultado obtido nos estudos estatísticos inferenciais.

O gasto militar brasileiro encontra-se em dissonância com o padrão médio


orçamentário dos países líderes da OTAN. O gasto com pessoal está em
descompasso avançado (em média, 76%) enquanto Estados Unidos, Reino Unido e
França acumulam, respectivamente, 37%, 39% e 55%. Outrossim, em média, os
investimentos brasileiros na pasta de defesa representam 8,55% do gasto total. Ao
tempo que quando somados os gastos com equipamentos e infraestrutura, as nações
da OTAN apresentam cifras média de representação de 26% (EUA), 24% (ENG), 27%
(FRA). Nesse sentido, a forma como os recursos são alocados pode conter
implicações diretas sobre o resultado do estudo, de modo que passa a ser provável
que países com maior gasto em equipamentos possuam resultados favoráveis para a
inovação.

Em seguida foram calculadas a correlação e regressão do investimento em


inovação na BID causado pelos gastos militares do Brasil. Para aplicação do
procedimento, o Brasil foi o objeto de estudo, visto que os dados produzidos pelo IBGE
e publicados na PINTEC possibilitaram mensurar o valor monetário investido em
inovação na BID nos anos de 2000, 2003, 2005, 2008, 2011 e 2014. Por sua vez os
gastos militares do Brasil, foram acessados por meio da LAI, na qual obteve-se o
orçamento de Defesa em seu montante total e dividido por grupos de natureza de
despesa.

A aplicação dos procedimentos estatísticos mostrou forte correlação, por meio


do coeficiente de correlação. Contudo, a regressão linear simples resultou em
coeficientes não significativos estatisticamente. Logo, não é possível afirmar que os
116
gastos militares influenciam no investimento em inovação na BID no Brasil, de forma
linear. De outra forma, não foram obtidas evidências estatísticas de que exista uma
relação linear entre o orçamento do MD e a inovação na BID, assim como não foram
encontrados indícios de causalidade estatisticamente significantes. As regressões
foram refeitas adotando como variáveis independentes as categorias de Investimentos
do Ministério da Defesa, os gastos em Equipamento e Material Permanente e
subelementos de despesa relacionados a Indústria de Defesa. Porém, o modelo
resultou em testes sem significância estatística. Corroborando-se para a ausência de
evidências de que exista uma relação linear entre as variáveis em análise.

Alternativamente, o modelo em formato logarítmico apresentou coeficientes


estatisticamente significativos. O parâmetro desse modelo representa o efeito
marginal da variação de Ln(GM) sobre os investimentos em inovação, de forma que
uma variação percentual nos gastos militares implica em uma variação absoluta no
investimento em inovação na BID. Resumidamente, o modelo explica que um
aumento de 1%, em média, nos gastos militares corrobora para o aumento nas
despesas com investimentos na inovação da BID.

Assim, apesar do orçamento do Ministério da Defesa ser fortemente destinado


a gastos com pessoal e da falta de relação linear entre as variáveis, parece haver
algum impacto positivo destes sobre a inovação das empresas que fornecem produtos
de defesa no Brasil. Contudo, esses resultados ainda precisam ser vistos com alguma
cautela, dado que a base de dados disponível ainda é muito curta para possibilitar
implicações mais robustas. Ademais, cabe ressaltar que a vasta literatura sobre
inovação estabelece vários fatores que determinariam a inovação. Porém, essa
discussão foge ao escopo da pesquisa atual, cabendo seu aprofundamento em
pesquisas futuras.

Dentre as possibilidades para o aprimoramento do modelo, sublinha-se a


viabilidade de adicionar variáveis preditoras, tendo-se assim, uma regressão múltipla.
O processo inovativo é complexo e é influenciado por diferentes variáveis, como por
exemplo: o registro de Patentes, a publicação de artigos, valores de exportação,
número de profissionais, ou até mesmo a Receita líquida de Vendas. Com destaque
para esta última, uma variável contínua que apresenta valores registrados pela
PINTEC. Entretanto, o objetivo da pesquisa é avaliar a relação entre GM e inovação,

117
e não os fatores que determinam a inovação, logo contorno bibliográfico do presente
estudo não permite extrapolações nesse sentido. Portanto, evidencia-se a
possibilidade de futuros trabalhos ampliarem o leque de análises frente ao aqui
proposto.

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