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Rio de Janeiro, RJ
2020
ALLAN DOMINGOS PEREIRA DE ANDRADE
Rio de Janeiro, RJ
2020
C2021ESG
Este trabalho, nos termos de legislação
que resguarda os direitos autorais, é
considerado propriedade da ESCOLA
SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É
permitida a transcrição parcial de textos do
trabalho, ou mencioná-los, para
comentários e citações, desde que sem
propósitos comerciais e que seja feita a
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Os conceitos expressos neste trabalho são
de responsabilidade do autor e não
expressam qualquer orientação
institucional da ESG.
CDD – 355.033081
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________
Prof. Dra. Ariela Diniz Cordeiro Leske
ESG
_____________________________________________
Prof. Dr. Danilo Marcondes de Souza Neto
ESG
______________________________________________
Prof. Dra. Patricia de Oliveira Matos
UNIFA
Rio de Janeiro, RJ
2020
AGRADECIMENTOS
Gráfico 2 - Média dos Gastos Militares por natureza – Estados Unidos 2000 - 2014
......................................................................................................................... 59
Gráfico 3 - Natureza dos Gastos Militares – Reino Unido 2000 - 2014 ............ 62
Gráfico 4 - Média dos Gastos Militares por natureza – Reino Unido 2000 - 201464
Gráfico 6 - Média dos Gastos Militares por natureza – França 2000 - 2014 .... 68
Gráfico 7 - Gastos Militares (dólar a valores correntes) de 2000 a 2014: EUA, França
e Reino Unido................................................................................................... 69
Gráfico 8 - Gastos Militares (% do PIB) de 2000 a 2014: EUA, Reino Unido e França
......................................................................................................................... 70
Gráfico 9 - Gastos Militares (% do gasto total do governo) de 2000 a 2014: EUA, Reino
Unido e França ................................................................................................. 71
Gráfico 16 - Gastos do Ministério da Defesa com EMP, MdC e Sub_ID entre 2000 e
2014 em bilhões de reais ................................................................................. 91
Tabela 2 Os Gastos Militares com pessoal dos Estados Unidos 2000 – 2014. 58
Tabela 4 Os Gastos Militares com pessoal do Reino Unido 2000 – 2014 ........ 63
Tabela 12 Valores empenhados anualmente pelo Ministério da Defesa com EMP, MdC
e Sub_ID e a participação percentual entre 2000 e 2014................................. 90
Tabela 18 Quadro resumo dos resultados das Regressões: Investimento MD, EMP e
Sub_ID ........................................................................................................... 109
1. INTRODUÇÃO ................................................................................. 15
1.1 Problema de pesquisa ................................................................... 18
1.2 Objetivo geral.................................................................................. 18
1.3 Objetivos específicos ..................................................................... 18
1.4 Delimitação do estudo ................................................................... 18
1.5 Relevância do estudo ..................................................................... 19
1.6 Metodologia de pesquisa ............................................................... 20
1.7 Hipótese .......................................................................................... 22
1.8 Organização da pesquisa .............................................................. 23
2. DEFESA NACIONAL E INOVAÇÃO ................................................ 24
2.1 Teoria e perspectivas relacionadas à BID ..................................... 24
2.2 A inovação sob a perspectiva neoschumpeteriana ..................... 31
2.3 A inovação na área de defesa ........................................................ 34
2.4 A relação entre gastos militares e inovação ................................. 39
2.5 Conclusão do capítulo .................................................................... 44
3. OS GASTOS MILITARES NO BRASIL E NO MUNDO .................... 46
3.1 Defesa nacional como bem público ............................................... 46
3.2 Os gastos militares nos países desenvolvidos ............................ 50
3.2.1 A Construção de Indicadores de Análise ........................................... 51
3.2.2 Estados Unidos ................................................................................. 55
3.2.3 Reino Unido ....................................................................................... 60
3.2.4 França ............................................................................................... 64
3.3 Análise dos gastos militares no Brasil .......................................... 77
3.3.1 A Construção de Indicadores de Análise ........................................... 77
3.3.2 O Orçamento de Defesa do Brasil ..................................................... 80
3.4 Conclusão do capítulo .................................................................... 98
4. O IMPACTO DO ORÇAMENTO MILITAR NA BID BRASILEIRA .. 100
4.1 Modelo e dados ............................................................................. 100
4.2 Diagrama de dispersão e correlação ........................................... 104
4.3 Regressão linear simples ............................................................. 106
4.4 Conclusão do capítulo .................................................................. 111
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................ 115
REFERÊNCIAS ............................................................................... 117
1 INTRODUÇÃO
Após vinte anos de crise, a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) mostrar-
se-ia ainda mais destrutiva graças aos avanços tecnológicos e inovativos utilizados
para expressar o tanatos1 freudiano - o instinto agressivo e destrutivo do ser humano.
Neste contexto, o ganho de eficiência produtiva é acalentado pelo surgimento de
tecnologias de base científica e da introdução, difusão e melhorias de produtos e
processos (FREEMAN; SOETE, 2008, p.541).
1
Sigmund Freud, impactado pelas causas e consequências da Primeira Guerra Mundial, publica a obra
intitulada Além do Princípio do Prazer onde o autor argumenta sobre a existência de um instinto nos
homens que vá além da libido, o instinto agressivo de morte – afirma que há uma necessidade primária
de autodestruição que deve ser controlada. Nesta obra, postula a teoria de Eros e Tanatos. Na qual o
último seria o instinto agressivo e destrutivo sendo caracterizado como parte instintiva do ser humano,
ao tempo que Eros seria o instinto construtivo.
15
A tecnologia enquanto materialização do conhecimento, métodos, recursos e
inovação, pode ser um dos mais importantes componentes do “bloco construtor” para
a produção do poder nacional (TELLIS et al., 2000; KEEGAN, 1995). O foco em
tecnologia diz respeito ao entendimento da habilidade de um país em produzir as mais
sofisticadas “tecnologias críticas”2 . Quem dominar os ciclos de inovação nestas áreas
é provavelmente um competidor tanto na economia internacional como na capacidade
tecnológica de produzir instrumentos de coerção a ser utilizados na política
internacional.
2
Entende-se por “tecnologias críticas” as apresentadas no relatório – National Critical Technologies
Panel – feito pelo U.S. Department of Commerce, em que são identificadas 22 (vinte e duas) tecnologias
críticas vitais para a competitividade econômica e defesa.
3
Defesa Nacional é o conjunto de medidas e ações do Estado, com ênfase na expressão militar, para
a defesa do território, da soberania e dos interesses nacionais contra ameaças preponderantemente
externas,
potenciais ou manifestas. (BRASIL, 2016, p. 15)
4
“É a condição que permite ao País preservar sua soberania e integridade territorial, promover seus
interesses nacionais, livre de pressões e ameaças, e garantir aos cidadãos o exercício de seus direitos
e deveres constitucionais” (BRASIL, 2016, p.15)
16
nova trajetória de rápida aceleração dos gastos no setor de defesa mundial liderada,
sobretudo, pelos Estados Unidos (SILVA FILHO; MORAES, 2012).
17
hipótese, e a apresentação da metodologia que descreverá procedimento adotado. E,
por fim, será apresentada a organização do trabalho.
18
O arco temporal justifica-se dada a instituição do Ministério da Defesa como
órgão da Administração Pública Federal apenas em 1999, tal qual, opta-se por uma
análise que se inicie no ano 2000 por constituir o primeiro orçamento anual no qual se
fez presente desde o início. Analogamente, define-se o ano orçamentário de 2014
como ponto final da pesquisa. Quanto aos dados sobre a inovação na Base Industrial
de Defesa utilizar-se-á dados sobre Inovação disponibilizados pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) por meio da Pesquisa Industrial de Inovação
Tecnológica – PINTEC, entre 2000 e 2014.
A END tem como uma das suas principais diretrizes a reorganização da BID
em que a defesa do Brasil depende de sua capacidade produtiva e criativa. Nela,
destaca-se o peso da Ciência, Tecnologia e Inovação para a Defesa Nacional a fim
chegar no fomento da pesquisa e desenvolvimento de produtos e sistemas militares e
civis que “compatibilizem as prioridades científico-tecnológicas com as necessidades
de defesa” (BRASIL, 2016, p. 138).
19
Nesse sentido, a presente pesquisa corrobora para os anseios de políticas
públicas de Defesa Nacional. Ademais, com a conclusão do estudo, espera-se
corroborar para a produção de novos estudos acadêmicos, além de motivar a
aproximação de abordagens quantitativas na área de Defesa Nacional no Brasil.
5
O Orçamento de Defesa brasileiro, institucionalizado e centralizado por meio do orçamento do
Ministério da Defesa, apresenta características e particularidades que devem ser resguardadas para
fins de análise. Sobremaneira, os dados orçamentários são em sua maioria abertos. Entretanto, para a
obtenção de dados em maior nível descritivo, dada a necessária a utilização de números mais
específicos, fez-se uso da Lei de Acesso à Informação para solicitação de informações adicionais.
6
Armas e Munições Leves e Pesadas e Explosivos, Sistemas Eletrônicos e Sistemas de Comando e
Controle, Plataforma Naval Militar, Propulsão Nuclear, Plataforma Terrestre Militar, Plataforma
Aeronáutica Militar, Sistemas Espaciais voltados para Defesa e Equipamentos de Uso Individual.
20
com o realizado pelo Mapeamento da base industrial de defesa (NEGRETE et al,
2016), tiveram seus valores acumulados em uma única variável. Assim, tem-se o valor
total investido em inovação na BID durante os anos de 2000, 2003, 2005, 2008, 2011
e 20147.
7
A despeito da publicação de novas edições da PINTEC, os dados não estavam oportunamente
disponíveis para serem utilizados na presente pesquisa. Acredita-se que com a referida metodologia
seja possível a replicação da pesquisa a partir de um maior conjunto de dados futuramente.
8
A correlação busca medir a força ou associação entre duas variáveis. O coeficiente de correlação de
Pearson (r), normalizado e em módulo, terá um valor que varia entre 0 e 1, sendo positiva, quando
proporcional, ou negativa, quando inversamente proporcional. A partir do coeficiente de correlação de
Pearson mede-se a força de determinado relacionamento linear e por meio de seu resultado pode-se
determinar a viabilidade da utilização de um modelo linear para a modelagem do fenômeno.
21
sobre quanto o aumento de 1 (uma) unidade monetária no Gastos militares impacta
quantitativamente no investimento em inovação nas indústrias relacionadas a defesa.
Não obstante, aprofunda-se a investigação do objeto ao calcular regressões lineares
simples por meio de variáveis independentes alternativas, tal como despesas com
investimentos do Ministério da Defesa, gastos com Equipamentos e Material
Permanente e despesas que a nível de subelementos sejam relacionados à Indústria
de Defesa.
Por fim, investiga-se a possibilidade de existir uma relação de caráter não linear
entre os gastos militares no Brasil e os investimentos em inovação na BID. Para tanto,
optou-se por um modelo logarítmico, o qual evidencia uma variação absoluta de Y
dada uma variação percentual de X. Assim, ter-se-ia o valor monetário de influência
nos gastos em investimento em inovação na BID, a partir de um aumento ou
decréscimo no orçamento do MD.
1.7 Hipótese
22
seria verdadeira, à medida que, as inovações aqui estudadas teriam correlação direta
com o segmento econômico hora em voga.
23
2 DEFESA NACIONAL, BID E INOVAÇÃO
9
A PNID, publicada na Portaria Normativa nº 899 de 19/07/2005 / MD - Ministério da Defesa, objetiva
fortalecer a BID, e para tanto, traz objetivos específicos e orientações. Ademais, o documento formula
definições para BID e PED.
24
BID foi definido na END como sendo:
Indo além, a END faz menção à Lei 12.598, de 21 de março de 2012, conhecida
como “Lei da BID”, cuja finalidade concentra-se na determinação de normas especiais
para as compras, contratações e desenvolvimento de produtos e sistemas de defesa,
bem como dispõe sobre regras de incentivo à área estratégica de Defesa (BRASIL,
2016). Nesta mesma lei, é formalizado o Regime Especial de Tributação para a
Indústria de Defesa (RETID), formulado o conceito de Produto de Defesa10 (PRODE)
e reafirmado o conceito de Produto Estratégico de Defesa11 (PED).
10
“todo bem, serviço, obra ou informação, inclusive armamentos, munições, meios de transporte e de
comunicações, fardamentos e materiais de uso individual e coletivo utilizados nas atividades finalísticas
de defesa, com exceção daqueles de uso administrativo” (BRASIL, 2012).
11
“todo Prode que, pelo conteúdo tecnológico, pela dificuldade de obtenção ou pela
imprescindibilidade, seja de interesse estratégico para a defesa nacional, tais como: a) recursos bélicos
navais, terrestres e aeroespaciais; b) serviços técnicos especializados na área de projetos, pesquisas
e desenvolvimento científico e tecnológico; c) equipamentos e serviços técnicos especializados para
as áreas de informação e de inteligência” (BRASIL, 2012);
25
importância no contexto de sua produção de sistemas de armas que integram o
emprego das Forças Armadas (DUNNE, 1995).
27
limita a capacidade tecnológica militar aos contornos da primeira (DUNNE, 1995;
COOK, 1975). No mesmo sentido segue o arcabouço legal pátrio, o qual normaliza
um conceito de BID que se aproxima da ideia de complexo de defesa ou sistema de
defesa.
Saraiva (1993) defende uma análise que seja mais rigorosa a fim de identificar
e delimitar a precisa dimensão da produção industrial destinada ao mercado militar.
Sendo assim, propõe um modelo para discussão sobre a forma de inserção no tecido
industrial das empresas envolvidas de alguma forma na produção de material bélico.
O autor está interessado na classificação do tecido industrial em função de sua
dependência – total ou parcial - ou independência para com setor militar.
28
A dificuldade na classificação das indústrias decorre do fato que as fronteiras
entre as empresas está cada vez menos clara e com limites mais flexíveis (SARAIVA,
1993). Sendo assim, Saraiva (1993) descarta a indústria de defesa como um setor
industrial propriamente dito, mas sim, como um conjunto não-homogêneo, composto
por setores de atividades econômicas diversas. Indo além, ao caracterizar como uma
linha tênue a divisão entre a indústria de defesa e a indústria para o mercado civil dada
a capacidade de compartilhamento industrial. Nesse sentido, para a prospecção de
um conceito descritivo de BID, circulam-se as características inerentes ao mercado de
defesa e às firmas que o compõem, expondo-se mecanismos singulares de oferta e
demanda e o imperativo tecnológico.
29
Entretanto, para tal feito, a atualização tecnológica dos produtos é fundamental
(FILHO et al., 2013).
12
Uma das características do setor é sua condição de indisponibilidade para com as regras da
Organização Mundial do Comércio (OMC) no que concerne à política comercial praticada pelos países
(FILHO et al., 2013). Tal indisponibilidade encontra-se no artigo XXI do Acordo Geral de Tarifas e
comércio, que traz em seu corpo as denominadas “exceções de segurança”. A neutralidade do
comercio internacional de equipamentos militares frente a OMC deriva do fato de que a demanda dos
equipamentos observa as regras do jogo geopolítico em detrimento aos ditames do mercado
(FERREIRA; SARTI, 2011).
30
Na presente pesquisa, opta-se pela utilização do conceito de BID conforme
adotada no Mapeamento da Base Industrial de Defesa (NEGRETE et al., 2016), no
qual analisa-se apenas empresas diretamente vinculadas a produção e
desenvolvimento de bens e serviços militares 13, excluindo-se da análise empresas
fornecedoras de suprimentos ou itens civis ainda que fornecidos às Forças Armadas.
13
Bens militares são equipamentos desenvolvidos especificamente para fins militares e as tecnologias
relacionadas, e não incluem bens de uso geral, como gasolina, eletricidade, computadores de escritório
e uniformes. Serviços militares são também de uso militar específico, incluindo serviços técnicos;
serviços relacionados à operação das forças armadas; e segurança armada em zonas de conflito. Tal
categoria não inclui a provisão, em tempos de paz, de serviços puramente civis, como assistência
médica, limpeza e transporte (Definição do SIPRI).
31
forma, o desenvolvimento econômico ocorre em ciclos econômicos ligados às
mudanças no processo produtivo e por isso deve ser endógeno para ser válido.
A inovação pode ser vista como uma externalidade positiva, e poderá ser
radical, quando apresentar mudanças drásticas transformando mercados, ou
incremental, quando advir de imitações, adaptações e aperfeiçoamentos de produtos
e processos já existentes (FREEMAN; SOETE, 2008). O produto da pesquisa
incremental se mostra mais frequente, em função do seu peso no P&D industrial de
laboratório de empresas ou até mesmo no chão de fábrica. A taxonomia da inovação
não altera seu valor, à medida que ambas as modalidades possuem sua importância
e o verdadeiro foco está na intensidade da inovação.
A nível de firma, a empresas não necessariamente precisam investir em P&D
formal ou inovar por si só, o que de fato determinará sua sobrevivência é a adoção da
estratégia tecnológica correta. Para tanto, Freeman e Soete (2006) apontam seis
opções de estratégias tecnológicas inovativas passivas de serem adotadas pelas
firmas: a) estratégia ofensiva – fortes investimentos em pesquisa a fim de aproveitar
janelas de oportunidade; b) estratégia defensiva – a despeito dos investimentos em
P&D hesitam em inovar; c) estratégia imitativa – as empresas copiam e produzem
uma inovação retardada sem grandes modificações; d) estratégia dependente – a
inovação origina-se da demanda externa devido a solicitações de clientes ou de firmas
32
mais fortes; e) estratégia tradicional - características de baixa concorrência e baixa
demanda inovativa acompanhada por baixos investimentos em pesquisa; e f)
estratégia oportunista – empresas adotam estratégia de nicho ao atuar sob
oportunidades de mercado que não necessitem de grandes capacidades de P&D.
Usando ideias da biologia para adicionar o fator tecnológico à teoria da firma,
Nelson e Winter (1982) expõem o dinamismo no qual a firma se insere, partindo dos
conceitos de rotina, busca e seleção. A metáfora evolucionista sugere que a firma
busca introduzir mudanças em sua rotina a fim de sobreviver e prosperar no ambiente
de seleção de mercado. A inovação seria a mutação do gene visando sua
sobrevivência no ambiente - o mercado onde atua. A partir de mecanismos de seleção
natural pelo mercado, as firmas com rotinas mais eficientes possuirão maior
lucratividade e maior parcela de mercado (NELSON; WINTER, 1982).
Os pressupostos schumpeterianos de instabilidade do mercado buscam no
plano microeconômico a construção de uma análise a nível de firma para explicar o
fenômeno da inovação, e consequentemente, o desenvolvimento. Sob essa
perspectiva a tecnologia não seria um bem público disponível para todos, mas sim
que a interação entre firmas e indivíduos seria a responsável pela transmissão de
conhecimento e técnicas. Opõe-se, portanto, a visão neoclássica do progresso técnico
na qual a tecnologia, por ser um bem público, estaria livremente disponível para
empresas e indivíduos.
DOSI (2006) identifica a inovação como a solução de um problema através do
aprendizado acumulado pela firma e elabora os conceitos de paradigma tecnológico
e trajetória tecnológica. O conceito de Paradigma tecnológico está relacionado a
produção de conhecimento tecnológico, entendido como padrão ou modelo de
solução de problemas. Ademais, tem-se o conceito de Path dependence ou
dependência da trajetória, o qual evidencia o processo de P&D como um
procedimento consecutivo e consequente, onde o produto gerado por um estágio da
pesquisa torna-se insumo para novos passos. Assim, entende-se a trajetória
tecnológica como o direcionamento possível para o progresso tecnológico,
envolvendo assim, a eliminação de tecnologias anteriores e rivais (DOSI, 2006).
Para além da ideia de paradigma tecnológico, tem-se a ideia de paradigma
tecno-econômico introduzida por Perez (2001). Esta apresenta um caráter mais
sistêmico, apresentando maior abrangência ao inserir o contexto socioinstitucional e
33
pode ser entendido como o roteiro para agentes que buscam maior eficiência
produtiva. A nível tecnológico, sublinha-se o impacto cumulativo de numerosas
modificações, adaptações e melhoramentos técnicos e sua consequente influência
sobre o ritmo de adoção de uma inovação, ademais, acrescenta-se que a indústria de
bens de capital possui papel fundamental neste processo (ROSEMBERG, 2006).
Assim:
34
Assim, destacam-se a competição militar, diferenciação e complexidade do
produto como as três características dos bens de defesa que possuem forte impacto
sobre a inovação (SEMPERE, 2015): a Competição demanda equipamentos
tecnológicos perto da fronteira do estado da arte; a Diferenciação exige que o produto
de defesa seja quase sempre feito por encomenda para se enquadrar nas
preferências e singularidades das Forças Armadas do país que as utilizará; e a
complexidade a qual se intensifica a cada geração de equipamentos que é
modernizada, em que a tecnológica leva à constante reprodução de subsistemas,
componentes e interfaces novos.
35
Esse entendimento, acredita-se, corrobora para a conformação de
conglomerados e grandes empresas multinacionais que dominam o setor de defesa.
Dado seu acúmulo de conhecimento e de capital, são capazes de dispensar maiores
investimentos em P&D e, consequentemente, maiores fatias de mercado (ACOSTA et
al., 2017). Nesse sentido, ganha relevo a figura dos integradores de sistemas -
empresas às quais transmite-se os encargos e benefícios da gestão de projetos, antes
a cargo das agências de defesa do governo. Como consequência, embora haja
impacto positivo advindo do desenvolvimento interinstitucional a partir de uma
perspectiva centrada em redes, tais como aprimoramento da segurança e resguardo
de tecnologias relevantes, eles também são susceptíveis a ter um efeito adverso sobre
a variedade de novos produtos de defesa disponíveis devido construção de barreiras
à entrada de novas empresas fornecedoras (ZERVOS; SWANN, 2009).
36
Ainda que frequentemente destacado, o spin-off - difusão da tecnologia militar
para a sociedade civil - não é o propósito primário da inovação no setor da defesa.
Esta carrega como propósito central a elevação da capacidade militar. Sua
reutilização adaptada por e para mercado e sociedade é uma externalidade de caráter
secundário. Tanto a tecnologia quanto qualquer investimento P&D para a consecução
de inovações militares deriva da intenção quanto a agregação de valor à atividade fim
de defesa.
14
“[...] um efeito de transbordamento ou ‘espirramento’ dos resultados tecnológicos e econômicos
desencadeados pelo gasto militar no setor da defesa para o setor civil da economia” (DAGNINO, 2008,
p. 115).
37
refere a uma convergência de nível de produção e tecnologia entre os setores civil-
militar para maior eficiência dos meios, enquanto o segundo refere-se ao
transbordamento de tecnologias entre os setores (DAGNINO, 2008). O Spin-off 15 seria
um movimento natural, que ocorre quando determinado segmento econômico produz
mais conhecimento que outro (SEMPERE, 2016). Consecutivamente, uma das mais
alardeadas características da indústria de defesa é a tecnologia dual empregada na
produção de um produto de defesa, ou seja, a ideia de que a tecnologia detida por
determinada indústria é capaz de produzir produtos tanto de uso civil como militar
(DAGNINO, 2010).
Com o fim da Guerra Fria, o paradigma do Spin-off 16 (ALIC et al., 1992) perde
em capacidade argumentativa frente a seu revés, o Spin-in17, o que indica a crescente
influência da P&D do setor civil no desenvolvimento de produtos de defesa (SPEAR;
COOPER, 2010; LESKE, 2018). Paralelamente, expõe-se uma nova conjectura de
restrição orçamentária e seu consequente impacto no processo inovativo, em que se
reduz a participação de produtos de defesa na receita das firmas frente a área civil,
fato que conduz a um processo inovativo iniciado em âmbito civil e posteriormente
15
O Spin-off ou transbordamento é uma característica comumente atrelada a Indústria de Defesa,
originado em sua capacidade de transbordamento de tecnologias militares para aplicações civis.
16
Ideia de transbordamento de tecnologia militar para o ambiente civil.
17
Ideia de transbordamento de tecnologia civil para o ambiente militar.
38
influenciando melhoramentos tecnológicos na ambiência militar, invertendo assim, a
ordem de transbordamento tecnológico (LESKE, 2018).
A inovação por si só, entretanto, não é um produto que pode ser comprado. Em
última instância, ela seria um resultado maior do processo de aquisições a partir da
busca por melhorias de performance e capacidade dos produtos de defesa. Sendo
assim, a participação direta do Estado nos custos de P&D com as empresas é um
incentivo para resultar em inovação (ROGERSON, 1995).
40
A P&D em defesa representa um caminho chave pelo qual os governos do
mundo moldam a inovação, em especial o dos Estados Unidos (EUA), mas também
os exemplos da França e do Reino Unido. O montante destinado ao P&D em defesa,
embora não tenham objetivos puramente econômicos, é a mais importante política
industrial usada pelo governo federal para afetar tanto a velocidade quanto a direção
da inovação na economia estadunidense (MORETTI; STEINWENDER; REENEN,
2016).
18
[...] “é o conjunto de instituições cujas interações determinam o desempenho inovativo das empresas
nacionais” (NELSON, 1993, p. 4).
41
o descompasso crescente entre custo de armas e a capacidade orçamentária em
Defesa, a qual apresenta tendência de queda em oposição aos custos de
manutenção de equipamentos (HARTLEY, 1998).
Em síntese, a excessiva especificidade da demanda por parte das Forças
Armadas alinhada ao aumento de custo devido a extrapolação do prazo são os dois
problemas centrais dos sistemas de defesa. (SUMAN, 2013). De modo que se observa
que as atuais abordagens de planejamento militar falham na articulação entre
demandas de capacidades militares e capacidades orçamentárias (RAZA, 2002)
42
monopsônico, em que o estado é o principal ou o único comprador. O mercado
monopsônico tem um impacto negativo com relação às atividades de P&D nas
empresas uma vez que elas se preocupam com a possibilidade de não recuperação
de seu investimento próprio caso o estado não se interesse.
Sempere (2016) considera que os feitos negativos causados pelos gastos com
Defesa, advém de um possível esgotamento de recursos para com outras
necessidades públicas tais como educação pública, saúde, infraestruturas, poupança
ou consumo privado. Para Ruttan, (2006) indubitavelmente, “os avanços no
conhecimento científico e técnico e na tecnologia comercial induzida pela demanda
por tecnologia de defesa e relacionada à defesa no passado importam custos de
oportunidade muito pesados na economia dos EUA” (RUTTAN, 2006, p. 185).
45
3 OS GASTOS MILITARES NO BRASIL E NO MUNDO
Ainda que primária, a demanda por segurança e defesa foi diluída em razão do
comportamento de free-rider (carona) e do anseio as despesas sociais, como a
educação e a saúde, serem mais demandadas pela população do que as despesas
de defesa (PÉREZ-FORNIÉS; CÁMARA; DOLORES, 2014, p.7-8). Assim
46
compreende-se a existência de um dilema entre grupos de despesa, o que torna difícil
justificar despesas militares para a sociedade, gerando uma situação, na qual, sob a
perspectiva política, tem-se incentivos para diminuir os gastos com defesa e
maximizar o eleitorado (PÉREZ-FORNIÉS; CÁMARA; DOLORES, 2014, p.7-8).
Primária ou diretamente, todo gasto deve ser realizado a fim de fornecer Defesa
Nacional por meio da geração de capacidade para as Forças Armadas, ao tempo que
o objetivo secundário, ou indireto, preocupa-se com o impacto econômico do gasto
sobre a sociedade. Ainda que não seja seu objetivo primordial, de fato, a busca pelo
melhor desempenho econômico deve minimizar o fardo do gasto militar (HARTLEY,
2013). Neste sentido, ganha relevo o estudo dos gastos em defesa como indutores do
desenvolvimento econômico (HARTLEY, 2013) e a análise sobre uso de tecnologias
duais na busca por um retorno adicional que vá além do objetivo fim da defesa
nacional para os gastos com P&D militar (ACOSTA et al., 2018).
47
devem ser resguardadas para fins de análise que dão origem ao Ciclo Orçamentário
da Defesa (COD). Dada a arquitetura institucional do MD, o COD envolve-se em
particularidades, dentre as quais destaca-se a realização das fases consolidação e
execução por diferentes atores institucionais. Ao tempo que em outros Ministérios a
elaboração e execução orçamentárias são realizadas pelo mesmo órgão, em Defesa,
a elaboração compete aos Comandos das Forças Singulares, uma vez que a
consolidação compete ao MD e a execução é novamente empreendida sob a
competência de cada uma das Forças Armadas, individualmente. Assim, cabe ao MD
definir prioridades, o qual “deverá atuar sobre as propostas consolidadas das Forças,
pelo que poderá dispor de visão ampla das necessidades militares e exercer o seu
papel central de mediador e articulador” (ALMEIDA, 2002, p. 60).
48
orçamento abarca todas as receitas e todas as despesas de determinado ente. No
caso, nosso interesse recai sobre a União e seus gastos com Defesa Nacional.
No que se refere à despesa pública, esta pode ser entendida como “o conjunto
de dispêndios realizados pelos entes públicos para custear os serviços públicos
prestados à sociedade” (MCASP, p.67) ou para a realização de investimentos, sendo
dessa forma um elemento diretamente relacionado à mensuração do desempenho. A
despeito de seu ponto de vista patrimonial19, despesa pública “strictu sensu” refere-se
apenas às despesas orçamentárias20. Dessa forma, sob o ponto de vista
orçamentário, são consideradas despesas realizadas as despesas empenhadas 21 no
exercício, assim, uma despesa será considerada como pertencente ao exercício
financeiro22 em que foi empenhada ainda que liquidada e paga em exercícios
posteriores. Para tais despesas, é imprescindível a autorização legislativa. Por sua
vez, o empenho23, quanto estágio da despesa, é o ato emanado de autoridade
competente que cria para o Estado obrigação de pagamento pendente ou não de
implemento de condição. É indispensável, e importa deduzir seu valor de dotação
adequada à despesa a realizar, por força do compromisso assumido.
19
Despesas são decréscimos nos benefícios econômicos durante o período contábil, sob a forma da
saída de recursos ou da redução de ativos ou assunção de passivos, que resultam em decréscimo do
patrimônio líquido, e que não estejam relacionados com distribuições aos detentores dos instrumentos
patrimoniais (CPC 00).
20
Despesa Orçamentária é o fluxo que deriva da utilização de crédito consignado no orçamento da
entidade, podendo ou não diminuir a situação líquida patrimonial.
21
Art. 35 da lei 4.320/1964.
22
1 de janeiro a 31 de dezembro.
23
São termos sinônimos de despesas empenhadas: Despesas orçadas; despesas realizadas;
despesas executadas.
49
Pessoal e Encargos Sociais (GND 1); Juros e Encargos da Dívida (GND 2); Outras
Despesas Correntes (GND 3); Investimentos (GND 4); Inversões Financeiras (GND
5); e Amortização da Dívida (GND 6). Ao tempo que o GND é um agregador de
elementos de despesa com as mesmas características quanto ao objeto do gasto, o
elemento da despesa tem por finalidade identificar os objetos de gasto. Por sua vez,
subelemento é um desdobramento facultativo da despesa, que detalha o elemento da
despesa.
24
Explosivos, munições, armamentos, material para manutenção de bens móveis, material de manobra
e patrulhamento, material de proteção e segurança, material para comunicações, material para
produção industrial, sobressalentes de armamento, suprimento de proteção ao voo, material para
manutenção de veículos, aeronaves, aparelhos e equipamentos de comunicação, máquinas e
equipamentos de natureza industrial, embarcações, material de TIC (permanente), veículos diversos,
carros de combate, veículos de tração mecânica, equipamentos, peças e acessórios aeronáuticos,
equipamentos, peças e acessórios de proteção ao voo, acessórios para veículos, equipamentos de
mergulho e salvamento, equipamentos, peças e acessórios marítimos, equipamentos e sistema de
proteção e vigilância ambiental, material de consumo de uso duradouro, equipamentos sobressalentes
de maquinas motorizadas de navios da esquadra, outros materiais permanentes e equipamento e
material sigiloso e reservado.
50
de países do norte, mensurou-se o gasto militar em razão do PIB e do gasto total do
governo entre 2000 – 2014, destrinchando-os em razão de sua natureza. Para tanto,
foram utilizados dados Banco Mundial, Stockholm International Peace Research
Institute (SIPRI), International Institute for Strategic Studies (IISS), Organização do
Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
A definição conceitual de gastos militares utilizado pelo SIPRI para formar seu
banco de dados é extensa e inclui gastos correntes e de capital das Forças Armadas
(inclusive operações de manutenção da paz), ministérios da defesa e outras agências
governamentais engajadas em projetos de defesa, forças paramilitares quando
treinadas, equipadas e disponíveis para operações militares, e atividades espaciais
militares.
Deste escopo, devem estar incluídas todos os gastos com pessoal, seja civil ou
militar, inclusive aposentadorias e direitos previdenciários e sociais, gastos com
operações e manutenção, aquisição, P&D militar, construções militares e ajuda militar
enviada ao exterior. Por outro lado, estão excluídos gastos militares relativos à defesa
civil e os gastos correntes derivados de atividades militares anteriores, como
benefícios a veteranos, desmobilização, conversão de instalações de produção de
armas e destruição de armas.
51
embutidas ou não no orçamento. Ainda assim, o SIPRI prioriza a garantia de dados
de cada país que sejam comparáveis ao longo do tempo.
52
curso do exercício, por seus governos nacionais para atender às necessidades de
suas forças armadas.
Para maior compreensão dos gastos com pessoal, foram anexados à amostra
os dados disponibilizados pela IISS referentes aos quantitativos totais de Pessoal das
Forças Armadas (PFA). Para tanto, foi considerado como membros das Forças
Armadas o pessoal militar ativo, incluindo forças paramilitares, caso seu treinamento,
organização, equipamento e controle sugerirem que podem ser usados para apoiar
ou substituir as Forças Armadas. O pessoal das forças armadas é o pessoal militar
ativo, incluindo forças paramilitares, se o treinamento, organização, equipamento e
controle sugerirem que eles podem ser usados para apoiar ou substituir
A partir dos dados coletados do Banco Mundial, do SIPRI e da OTAN,
formalizam-se os seguintes Indicadores de Defesa:
53
f) Outros/ Defesa - representa o valor percentual dos gastos outras
despesas no gasto total de defesa;
g) Pessoal das Forças Armadas (PFA)/ População Economicamente
Ativa (PEA) – apresenta a participação das Forças Armadas em relação
a população economicamente ativa; e
h) Equipamentos/Pessoal – apresenta o custo anual com equipamentos por
integrante das Forças Armadas.
Por fim, o último indicador estima o valor médio unitário gasto com
equipamentos para cada membro integrante das Forças Armadas como
25
Tradução do autor para a expressão Defense Burden.
54
disponibilizado pelo IISS. Para tanto, a partir do percentual gasto com equipamento
de cada país, extrai-se seu valor em dólares por meio dos gastos totais e
posteriormente divide-se o resultado pelo número de componentes das Forças
Armadas respectivas. Assim, objetiva-se uma maior compreensão do gasto em defesa
destinados a equipamentos e pessoal proporcionalmente.
Os Estados Unidos entram no século XXI como uma das maiores potências
militares da atualidade. De acordo com dados fornecidos pelo Instituto de Pesquisas
da Paz de Estocolmo- SIPRI, os EUA são responsáveis por cerca de 60% das armas
consumidas no mundo e são responsáveis por 50% da soma de todos os orçamentos
militares do mundo. Um poder militar como este não surge da inércia. A capacidade
Bélica-militar norte-americana dos dias atuais é reflexo de um longo caminho,
percorrido por um Estado que até o início do século XX era considerada uma
“democracia isolacionista e amante da paz” (COOK, 1975).
Os anos 2000s foram palco da “guerra ao terror” levada a cabo pelos Estados
Unidos. Durante o interstício em análise os Estados Unidos capitanearam a Guerra
ao Terror, sendo protagonistas na entrada no Afeganistão em 2001 e a invasão do
Iraque em 2003. Conflitos estes, que se prolongaram ou se ramificaram em novos
conflitos ao longo da década e de sua consequente. Nesse sentido, o envolvimento
em conflitos armados e a participação efetiva das Forças Armadas norte-americanas
corrobora para o entendimento que o aumento do gasto militar em relação ao PIB
pode ser explicado por meio da presença de ameaças (AIZENMAN; GLICK, 2006).
Em média, 3,84% do PIB foi destinado aos gastos militares. O auge em gastos
é atingido em 2010, quando 4,66% da economia dos Estados Unidos é orientado aos
gastos militares em contraposição ao menor valor de 2,93% ainda em 2000. Assim,
55
em números absolutos, o valor médio dos gastos militares norte-americanos
ultrapassa o valor de 600 bilhões de dólares anuais. Tais números comumente
posicionam os EUA como primeiro colocado no ranking de gastos militares global.
26
O percentual dos gastos militares no total dos gastos do governo dos EUA não se encontra disponível
tanto no site do Banco Mundial quanto no site do SIPRI.
56
Em um primeiro momento, a crise econômica de 2008 parece não interferir no
investimento de defesa norte-americano, uma vez que a participação dos gastos
militares nos gastos governamentais, oscila entre 9,15% (2001) e 11,85% (2011),
permanecendo acima de 11% entre os anos de 2004 e 2012. No entanto, destaca-se
que a partir de 2011, a trajetória americana inicia uma diminuição nos dispêndios
militares tanto em valores absolutos quanto em valores proporcionais. Assim, cabe
investigar a natureza dos gastos militares norte-americanos para saber como a
ampliação nos gastos de defesa foi utilizada dentro das Forças Armadas, se fora
utilizada para gastos com pessoal, ou equipamentos ou infraestrutura ou gastos de
outras naturezas.
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Tabela 2. Os Gastos Militares com pessoal dos Estados Unidos 2000 – 2014
Gráfico 2. Média dos Gastos Militares por natureza – Estados Unidos 2000 -
2014
37%
37%
1%
25%
59
conclusões podem ser tomadas quando comparadas aos orçamentos dos países em
análise.
60
Tabela 3. Os Gastos Militares do Reino Unido 2000 – 2014
A queda nos gastos militares reflete-se nos três indicadores utilizados para
análise. Em números absolutos, desde o 2007 – ano de maior cifra orçamentária -, os
gastos diminuem de modo que em 2014 atingem valores parecidos com os de uma
década antes. Em termos de PIB, de 2009 a 2014, a participação nos gastos militares
cai de 2,42% para 1,95%. Assim como, em 2000, o governo britânico acumulava
dispêndios militares na ordem de 6,33% de seu orçamento geral, quedas sucessivas
e anuais, levam ao valor de 4,81% no ano de 2014. Em síntese, pode-se afirmar que
ao longo dos 15 anos de análise é possível afirmar que o gasto público em defesa no
Reino Unido caiu em, dando espaço para outros tipos de despesa pública não –
militares.
61
Gráfico 3. Natureza dos Gastos Militares – Reino Unido 2000 - 2014
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
62
Tabela 4. Os Gastos Militares com pessoal do Reino Unido 2000 – 2014
Pessoal Forças
Armadas PFA/ PEA em Equipamentos/Pessoal em
Ano (Total) percentual dólares
2000 212.500 0,7 58.700,36
2001 211.400 0,7 54.795,77
2002 210.400 0,7 59.994,07
2003 212.600 0,7 66.090,02
2004 205.000 0,7 78.477,77
2005 217.000 0,7 75.178,75
2006 181.000 0,6 85.071,45
2007 160.000 0,5 114.044,57
2008 160.000 0,5 108.985,61
2009 178.470 0,6 82.127,82
2010 174.020 0,5 91.482,42
2011 165.650 0,5 85.692,36
2012 169.150 0,5 70.226,28
2013 159.150 0,5 79.418,89
2014 154.700 0,5 77.278,20
Fonte: Autoria própria, a partir de dados do Banco Mundial e do IISS
Valores em dólares americanos atualizados a preços de 2014 pelo IPC - FMI
A partir dos gastos militares anuais do Reino Unido é possível obter uma
síntese do padrão orçamentário que possibilita visualizar que, os gastos com pessoal
(39%) são a principal despesa seguidos de perto pela categoria outros (37%),
apresentando uma aguda desproporção quando em perspectiva do padrão norte-
americano. Apresentam um gasto maior em infraestrutura (2%) e consequentemente
gastam proporcionalmente 3% menos que os americanos em equipamentos.
63
Gráfico 4. Média dos Gastos Militares por natureza – Reino Unido 2000 - 2014
37% 39%
2%
22%
3.2.4 França
64
francês em guerras no período estudado, o conceito de custo de oportunidade ganha
relevo (MALIZARD, 2015).
27
“A visão econômica tradicional destaca que o aumento das despesas do governo reduziria o
investimento privado, provocando, assim, o efeito deslocamento ou crowding-out. Em linhas gerais, o
maior gasto governamental, seja ele financiado com impostos ou com a dívida pública, aumenta a
demanda por bens e serviços, elevando as taxas de juros, o que torna o capital mais caro e encarece
o investimento privado. Contudo, esse efeito pode ser complementar (crowding-in) quando os recursos
da economia estão ociosos ou mal-empregados” (FERNANDEZ, et al, 2017).
65
Ainda que afirmável, a queda na participação da Defesa frente ao PIB é, na
verdade, bastante flexível. Em verdade, a participação dos gastos militares franceses
frente o PIB varia entre 2,2% e 2,5%, sem qualquer padrão aparente. Por outro lado,
a participação percentual dos gastos militares nos gastos do governo apresenta um
padrão de queda gradativa. Desde o ano 2000, quando 4,8% dos gastos do governo
destinavam-se à defesa, tem-se um quadro de reduções da dimensão de modo que
em dez anos os gastos militares passariam a situar-se abaixo dos 4% do total dos
dispêndios governamentais.
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
67
contingente operacional reflete-se na parcela da população economicamente ativa
dedica a atividades militares. Ainda em 2000, 1,4% da PEA integrava as Forças
Armadas, de modo que, em 2014, o indicador chega ao valor de 1%. Em 15 anos,
observa-se uma redução de 77.050 pessoas integrando as Forças Armadas
Francesas em números absolutos, ou em termos percentuais uma redução de 19,8%.
Gráfico 6. Média dos Gastos Militares por natureza – França 2000 - 2014
18%
4%
55%
23%
68
A distribuição média de gastos militares franceses por grupos revela que mais
da metade do orçamento de defesa destina-se às despesas com pessoal. Ainda que
com a mudança comportamental no gasto com pessoal, em média, 55% do orçamento
foi destinado a esse grupo de despesa, valor participativo médio mais alto do que os
números encontrados para os Estados Unidos (37%) e para o Reino Unido (39%).
Entretanto, devido a mudança no perfil orçamentário francês desde 2009, o gráfico 6
talvez não represente a realidade com êxito.
900.000.000.000,00
800.000.000.000,00
700.000.000.000,00
600.000.000.000,00
500.000.000.000,00
400.000.000.000,00
300.000.000.000,00
200.000.000.000,00
100.000.000.000,00
0,00
69
O gráfico 7 ilustra a magnitude dos gastos norte-americanos frente aos gastos
britânicos e franceses. A desproporção do montante total de dólares depreendidos em
atividades de cunho militar pelos americanos frente aos gastos Franceses e britânicos
torna-se problemática no contexto da OTAN. Nos últimos anos, os Estados Unidos
lançaram uma política ativa de pressionar os países membros da OTAN a gastar mais
de defesa para combater o efeito carona (Free-rider). Assim, países como França e
Reino Unido, que apresentam os maiores gastos militares dentro do contexto europeu
da OTAN. Dessa forma, tem-se uma nova política de entrada de novos países-
membros condicionada ao gasto mínimo de 2% do PIB em defesa e, naturalmente,
uma alavancagem nos gastos globais e regionais em defesa. Isto posto, a
expressividade do valor em números absolutos em dólares correntes e sua
concorrente dimensão de desigualdade, tornam a comparação por proporções
percentuais de participação a atividade mais razoável cientificamente.
5,00
4,50
4,00
3,50
3,00
2,50
2,00
1,50
1,00
0,50
0,00
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
70
gastos norte-americanos, historicamente superiores, distanciam-se dos gastos
britânicos e franceses ao longo da reta. Desde 2003, os gastos situam-se na
proporção de 3,5% do PIB
14
12
10
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
70
60
50
40
30
20
10
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Ainda que o Reino Unido assuma uma postura mais niveladora, seguida por
pequenos acréscimos e decréscimos, que mantenham os gastos em equilíbrio, no
último ano da amostra o Reino Unido apresenta sua maior proporção de gastos com
pessoal (42,3%). Por sua vez, entre 2008 e 2011 os Estados Unidos alavancam seu
gasto com pessoas e demonstram a capacidade de expansão temporária e retração
subsequente, voltando os gastos aos níveis anteriormente observados.
35
30
25
20
15
10
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
73
Comparativamente, os países em estudo apresentam gastos com
equipamentos, são relativamente próximos, concentram-se entre 20% e 30% do
orçamento, e flutuantes de ano para ano, afastando-se do engessamento visualizado
nos gastos com pessoal. Assim, os números coadunam que gastos com
equipamentos são mais flutuantes com o tempo do que gastos com não equipamentos
(MALIZARD, 2015), podendo haver uma relação de causalidade dado que a
estabilidade dos gastos com não equipamentos, consequentemente corroboram para
que flutuações nos gastos totais com defesa sejam refletidas nos gastos com
equipamentos (LELIÈVRE, 1996).
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
75
Para os Estados Unidos, o arco temporal de 2008 a 2010, apresenta uma
redução no gasto com outros. Importante notar, a concomitância desta redução com
o aumento no gasto com pessoal no mesmo período. Essa transposição de gastos
entre categorias revela um pico orçamentário de 3 (três) anos de duração, no qual,
após seu fim retoma a trajetória e valores semelhantes aos apresentados antes de
2008.
28
Valores discrepantes, atípicos, que chamam a atenção frente ao restante da amostra ou população.
76
3.3 Análise dos gastos militares no brasil
29
Os dados foram obtidos ou solicitados via Portal da Transparência do Governo Federal.
30
Os dados foram disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
31
Despesas orçamentárias com softwares e com o planejamento e a execução de obras, inclusive com
a aquisição de imóveis considerados necessários à realização destas últimas, e com a aquisição de
instalações, equipamentos e material permanente” (BRASIL, 2001).
32
Despesas orçamentárias com pessoal ativo, inativo e pensionistas, relativas a mandatos
eletivos, cargos, funções ou empregos, civis, militares e de membros de Poder, com quaisquer espécies
remuneratórias, tais como vencimentos e vantagens, fixas e variáveis, subsídios, proventos da
aposentadoria, reformas e pensões, inclusive adicionais, gratificações, horas extras e vantagens
pessoais de qualquer natureza, bem como encargos sociais e contribuições recolhidas pelo ente
77
Paralelamente, são produzidas três amostras a partir dos gastos com
Investimentos e outras despesas correntes.
79
b) Gasto anual com material de consumo do MD/ Orçamento total MD; e
c) despesa anual a nível de subelementos selecionada dada sua relação com a
ID/ Orçamento total MD.
A partir dos dados brutos, podem ser obtidas métricas que facilitem o
entendimento dos dados. Quando comparados primeiro e último ano da série,
observa-se que em 15 anos o PIB brasileiro dobrou em valores absolutos, ao tempo
que o orçamento da União cresceu 45% e orçamento da Defesa cresceu 54%.
Concomitantemente, quando acumulados os crescimentos anuais, o PIB cresceu
71%, o Orçamento da União 43% e o da Defesa 48%. Assim, o PIB brasileiro cresce
a uma média de 5% ao ano (a. a), tanto orçamento da União quanto orçamento da
Defesa crescem a uma média de 3% a.a.
80
Tabela 7. Total do PIB, Orçamento da União e Orçamento do Ministério da
Defesa (2000 – 2014)
Ano PIB (em trilhões de Orçamento União (em trilhões Orçamento MD (em
reais) de reais) bilhões de reais)
2000 2.891.590.178.123 1.486.396.062.913,34 49.909,02
2001 2.946.894.250.271 1.351.512.045.760,59 57.098,87
2002 2.963.150.918.243 1.343.317.606.427,22 56.079,43
2003 3.128.322.809.908 1.588.710.990.467,77 46.940,41
2004 3.313.189.105.835 1.536.949.637.644,51 48.254,16
2005 3.475.615.055.100 1.772.227.175.858,31 52.875,32
2006 3.740.637.846.994 1.823.656.436.361,53 55.239,17
2007 4.042.859.215.694 1.732.158.735.163,86 59.101,33
2008 4.364.300.458.838 1.677.599.922.376,12 62.621,57
2009 4.484.316.049.726 1.796.034.213.521,53 68.602,91
2010 4.936.334.113.279 1.800.779.085.598,07 75.524,44
2011 5.220.167.825.174 1.877.942.050.129,92 73.552,02
2012 5.426.178.235.456 1.929.776.230.730,97 74.808,13
2013 5.673.375.777.900 1.774.557.498.812,13 75.424,47
2014 5.778.953.000.000 2.159.760.401.879,21 76.874,20
Fonte: Autoria própria, a partir de dados do IBGE e do Portal da Informação. Valores em
reais atualizados a preços de 2014 pelo IPCA.
81
Tabela 8. Participação Percentual do Orçamento do Ministério da Defesa em
relação ao PIB e ao Orçamento Geral da União (2000 – 2014)
Ano MD/PIB % MD/OGU %
2000 1,73 3,36
2001 1,94 4,22
2002 1,89 4,17
2003 1,50 2,95
2004 1,46 3,14
2005 1,52 2,98
2006 1,48 3,03
2007 1,46 3,41
2008 1,43 3,73
2009 1,53 3,82
2010 1,53 4,19
2011 1,41 3,92
2012 1,38 3,88
2013 1,33 4,25
2014 1,33 3,56
Fonte: Autoria própria, a partir de dados do IBGE e do Portal da Informação. Valores em
reais atualizados a preços de 2014 pelo IPCA.
Não obstante, quando comparado com outros países da América do Sul e dos
BRICS, o Brasil possui um gasto com Defesa proporcionalmente menor em relação
ao PIB (BRUSTOLIN, 2014; MATOS, et al., 2017, p. 211) ao mesmo tempo que o país
contribui com mais da metade do gasto regional Sul-americana em defesa (ALMEIDA,
82
2015). Tal qual, prevalece o entendimento de que não exista qualquer correlação entre
o PIB e o respectivo gasto de defesa dos países da América do Sul, no sentido de que
um aumento no PIB não provocaria um aumento nos gastos com defesa (ALMEIDA,
2015).
83
Tabela 9. Orçamento do Ministério da Defesa por Grupo de natureza de
despesa (2000 – 2014) em bilhões de reais
Ano Pessoal e Juros e Outras Investimentos Inversões Amortização
Encargos Encargos Despesas Financeiras da Dívida
Sociais da Dívida Correntes
2000 36.461,14 777,46 6.013,03 4.138,00 0,24 2.518,07
2001 41.936,34 873,71 6.682,14 4.360,00 45,91 3.198,51
2002 42.459,13 1.258,08 5.304,58 3.355,00 3,98 3.697,00
2003 38.443,25 838,92 5.087,41 1.598,00 22,58 948,18
2004 38.267,97 695,89 5.957,73 2.621,00 3,05 707,91
2005 39.801,56 2.111,39 6.747,60 3.069,00 4,48 1.139,92
2006 44.280,17 524,74 6.516,25 2.727,00 79,49 1.109,87
2007 45.676,92 264,99 7.037,31 3.966,00 905,39 1.250,04
2008 49.580,19 79,29 7.765,72 4.779,00 113,68 301,73
2009 53.013,47 444,79 8.452,56 6.455,00 5,38 230,74
2010 55.448,80 131,86 9.278,79 10.468,00 4,45 191,31
2011 55.404,69 269,93 9.648,00 7.787,00 4,29 436,69
2012 53.273,75 264,50 9.248,85 11.307,00 21,07 692,08
2013 54.547,68 339,34 9.977,85 9.530,00 6,07 1.022,60
2014 55.591,80 386,80 11.196,80 8.258,00 97,70 1.342,90
Fonte: Autoria própria, a partir de dados do IBGE e do Portal da Informação. Valores em
reais atualizados a preços de 2014 pelo IPCA.
A partir dos dados, infere-se que os gastos com pessoal, ainda que sofram
pequenas flutuações, mantiveram-se sempre acima da linha dos 70% do orçamento,
alçando a marca de 80% nos anos de 2004 e 2006. Podendo ser caracterizado como
um gasto fixo e pouco flexível. Em oposição, os investimentos variam anualmente,
demonstrando-se como o grupo de despesas mais volátil. Sublinha-se que, ao longo
do período em estudo, observa-se uma redução gradativa no quantum destinado a
amortização da dívida, assim como para Juros e Encargos da Dívida.
84
Gráfico 14. Orçamento do Ministério da Defesa dividido Percentualmente por
Grupo de Natureza de Despesa entre 2000 e 2014
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
85
Gráfico 15. Média Percentual dos Gastos do Ministério da Defesa por Grupo de
natureza de Despesa entre 2000 e 2014
0,15% 2,18%
8,55%
12,21%
76%
1,10%
No ano de 2003 - ano financeiro o qual apenas 18,1 % do orçamento foi gasto
em despesas que não as de pessoal - observa-se o mais baixo valor. Ao tempo em
que no ano de 2012 tem-se o recorde de 28,79 % do orçamento sendo destinado a
outras despesas que não as de pessoal. Por consequência, obtêm-se o resultado de
uma variação em termos de amplitude de 10,68%. Assim, em média, entre os anos
de 2000 e 2014, apenas 24% do orçamento foi utilizado com despesas que não
fossem destinadas a pessoal e encargos sociais. Ou seja, menos de 1/4 do orçamento
de defesa seria destinado a gastos que não fossem de pessoal.
86
A questão dos gastos com pessoal demonstra-se como um ponto sensível na
discussão dos gastos militares no Brasil. Tal ponto é assinalado pela literatura
especializada e o presente resultado vai ao encontro dos mesmos (MATOS, 2010; DO
NASCIMENTO, 2011; SILVA; TAMER, 2013; BRUSTOLIN, 2014; MATOS, et al.,
2017). Sobremaneira, há um consenso quanto ao grande peso percentual e sua
constância ao longo prazo do gasto com pessoal no orçamento do Ministério da
Defesa, de modo que:
[...] grande parte dos recursos alocados para essa área é destinada menos à
ampliação da capacidade dissuasória do país e mais com os inativos, à
manutenção do quadro de pessoal dos Comandos ou ao funcionamento
administrativo dos órgãos a eles relacionados (DO NASCIMENTO, 2011, p.
49).
Por outro lado, em 2003, seu nível mais baixo foi atingido, quando apenas 3%
do orçamento de defesa foi destinado a Investimentos. De fato, como observado nas
tabelas 05 e 06, em 2003, o orçamento de Defesa perdera representatividade frente
ao PIB e ao OGU, de modo que quando comparado com o ano anterior, o orçamento
encolheu em 16%. A redução orçamentária total, por sua vez, distribui-se pelos grupos
88
de natureza de despesa, de modo que o valor destinado a investimentos apresenta
um corte de 52% em relação ao ano anterior. Entretanto, neste mesmo ano, dentre
os grupos de natureza de despesa, apenas as inversões financeiras aumentaram sua
participação.
Logo, quando comparados o menor valor investido (2003) com o ano recorde
de investimento (2012), expõe-se a volatilidade dos investimentos em defesa, dada
sua amplitude de 12% em um lapso temporal de 15 anos. O alto grau de variação dos
gastos com investimentos pode ser prejudicial para o planejamento estratégico de
longo prazo, uma vez que deste ponto de vista, o planejamento influencia a dinâmica
por meio da demanda (MATOS, 2010). O Orçamento quanto instrumento de
planejamento estatal sinaliza ao mercado suas necessidades futuras e correntes, de
modo que a imprevisibilidade dos gastos em investimento pode desprestigiar a ação
do mercado. Ademais, caráter rígido dos gastos com pessoal parece influenciar na
dinâmica do investimento, uma vez que numa eventual restrição de recursos este
último seria cortado em favor do primeiro.
89
A partir do gasto total do MD, incluindo as despesas com investimento, é
possível precisar a parcela dedicada a gastos com de Equipamentos e Material
Permanente (EMP), Material de Consumo (MdC) e Subelementos de despesa
relacionados a função fim Defesa Nacional (Sub_ID). A tabela abaixo apresenta os
valores brutos e percentuais anuais gastos com EMP, MdC e Sub_ID frente ao
Orçamento global do Ministério da Defesa. Assim, a partir da análise dos dados e
identifica-se a importância orçamentária dos itens em questão, realiza-se sua
proporcionalidade frente ao Orçamento total do MD.
90
material de emprego militar. Sob a perspectiva do Gasto anual com Equipamentos e
Material permanente do MD, evidencia-se que dos gastos totais, em média, 3,17% do
valor anual foi utilizado na aquisição de Equipamentos e Material permanente. Por sua
vez, 5,73% dos gastos do MD foram destinados a materiais de consumo. O gráfico
abaixo demonstra o comportamento oscilante desses três indicadores ao longo da
quinzena temporal em análise:
Gráfico 16. Gastos do Ministério da Defesa com EMP, MdC e Sub_ID entre 2000
e 2014 em bilhões de reais
$5.000.000.000,00
$4.500.000.000,00
$4.000.000.000,00
$3.500.000.000,00
$3.000.000.000,00
$2.500.000.000,00
$2.000.000.000,00
$1.500.000.000,00
$1.000.000.000,00
$500.000.000,00
$-
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Fonte: Autoria própria, a partir de dados do Portal da Informação. Valores em reais atualizados a
preços de 2014 pelo IPCA
91
Entretanto, percebe-se um evidente desequilíbrio qualitativo no ano de 2011.
Neste exercício tem-se um forte aumento no gasto com material de consumo em
detrimento da queda acentuada nas despesas com Equipamento e Material
Permanente. Concomitantemente, tem-se uma queda relativa, ainda que pouco
significante, nos gastos com despesa anual a nível de subelementos selecionadas
dada sua relação com a ID.
92
Supondo que os gastos com pessoal sejam nulos, a importância dos itens é
extremada a partir desta nova tabela hipotética. Em média, os valores tornam-se
quatro vezes maior do que quando estimados a partir do orçamento total com pessoal,
alcançando 5,5 vezes suas respectivas participações relativas no ano de 2003.
Cabe salientar que todos gastos com Equipamento e Material permanente são
caracterizados como Investimentos (GND 4). Entretanto, dada a natureza do objeto,
determinada despesa com material de consumo pode ser classificada tanto como
Outras Despesas Correntes (GND 3) ou como Investimentos. Por meio do gráfico
abaixo, visualiza-se que grande parte do material de consumo é classificada como
outras despesas correntes, em média 84%.
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
93
Quando sob a perspectiva de despesa anual a nível de subelementos
selecionadas dada sua relação com a Indústria de Defesa, observa-se a possibilidade
de mensurar quantitativamente quanto do orçamento do MD destina-se a aquisição
de meios para sua atividade fim. De fato, por meio deste indicador, acredita-se ser
possível assinalar exclusivamente os gastos estritamente caracterizados como
militares. Ademais, o conceito é capaz de minimizar a nebulosidade conceitual de
categorias como material de consumo e investimentos, os quais incluem em seus
montantes gastos destinados a atividades diversas as de caráter estritamente militar.
$5.000.000.000,00
$4.500.000.000,00
$4.000.000.000,00
$3.500.000.000,00
$3.000.000.000,00
$2.500.000.000,00
$2.000.000.000,00
$1.500.000.000,00
$1.000.000.000,00
$500.000.000,00
$-
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Fonte: Autoria própria, a partir de dados do Portal da Informação. Valores em reais atualizados a
preços de 2014 pelo IPCA
94
Ainda em 2002, percebe-se o início de um declínio no gasto considerado
estritamente militar de modo que entre os anos de 2004 e 2006, o gasto militar
brasileiro atinge seus menores patamares no período analisado. A despeito de ser o
segundo menor valor da série, a partir do exercício de 2006 dá-se início a uma
alavancagem anual crescente de valores de modo que, a partir de 2010, apesar de
flutuações conseguintes, observa-se uma manutenção em patamar inédito de
despesas relacionadas a Indústria de Defesa.
95
Tabela 14. Participação Percentual de subelementos da despesa relacionados
a Indústria de Defesa no Orçamento do Ministério da Defesa (2000 – 2014)
Subelemento da despesa %
Equipamento e material sigiloso e reservado 0,00
Equipamentos de mergulho e salvamento 0,05
Material de consumo de uso duradouro 0,07
Armamentos - operações intra-orçamentárias 0,09
Outros materiais permanentes 0,12
Acessórios para veículos 0,13
Equipamentos, peças e acessórios marítimos 0,35
Material para comunicações 0,68
Material de manobra e patrulhamento 0,73
Equipamentos de manobra e patrulhamento 0,73
Equip.sob.de maq.motor.de navios da esquadra 0,78
Sobressalentes de armamento 0,86
Máquinas e equipamentos de natureza industrial 0,88
Material para manutenção de bens móveis 0,97
Sobressalentes de máquinas e motores navios da 1,02
esquadra
Equipamento de proteção, segurança e socorro 1,06
Carros de combate 1,08
Material de proteção e segurança 1,10
Veículos diversos 1,20
Sobressalentes de Máquinas motores navios e 1,93
embarcações
Suprimento de proteção ao voo 2,02
Armamentos 2,09
Equipamentos, peças e acessórios aeronáuticos 2,87
Equipamentos, peças e aces.de proteção ao voo 2,99
Aparelhos e equipamentos de comunicação 3,08
Material p/ manutenção de veículos 3,20
Material para produção industrial 3,47
Equipamentos e sistema de prot. Vig. Ambiental 4,04
Explosivos e munições 4,31
Veículos de tração mecânica 4,89
Material de TIC (permanente) 5,05
Munições 5,55
Embarcações 6,35
Suprimento de aviação 14,38
Aeronaves 21,88
Total Geral 100
Fonte: Autoria própria, a partir de dados do Portal da Informação.
96
A partir da tabela, pode-se extrair que dentre os gastos, apesar de as aeronaves
representarem 22% do total, dada a correlação dos gastos com certas atividades
adjacentes ao voo, eleva-se o valor ao total de 44,15% de participação. Assim como,
embarcações e sobressalentes de navios, esquadras e embarcações juntos
correspondem a 10,42% do total. Por sua vez, caso seja somado o gasto total com
armamentos, explosivos, munições e sobressalentes tem-se o valor de 12,8% do todo.
E veículos, tratados genericamente como veículos diversos, de tração, e de combate
e acessórios correspondentes, tem-se o valor de 10,49%.
O gráfico abaixo sintetiza o agrupamento das despesas sob uma ótica do fim
prático a que se destina:
9,18%
10,42%
12,90%
10,49%
12,85%
44,15%
97
3.4 Considerações sobre o capítulo
A partir dos dados brutos obtidos de fontes diversas (OTAN, Banco Mundial,
FMI, LAI), formulou-se tabelas e construiu-se indicadores de análise que
possibilitaram a análise descritiva dos orçamentos militares de Estados Unidos, Reino
Unido, França e Brasil. Destarte, é fundamental ressaltar a desproporção de qualquer
comparação a nível de valores brutos. Não obstante, as análises realizadas são
puramente orçamentárias, sendo praticamente desvinculadas de qualquer contexto
geopolíticos das nações em estudo, de modo apenas, que o contexto orçamentário
pode ser considerado um espelho do cenário geopolítico vivido pelos Estados. Dada
as diferentes origens dos dados disponibilizados, qualquer comparação com entre os
gastos de EUA, ENG e FRA com os gastos do Brasil, deve ser cautelosa. A conduta
de promover a implementação de indicadores tenta viabilizar discussões neste nível.
De fato, pode-se observar que os gastos militares no Brasil sofrem com o alto
gasto de pessoal (em média 76%) quando comparado com as nações da OTAN (EUA:
37%, ENG: 39%, FRA:55%). Por outro lado, a França emerge como um exemplo bem
sucedido de país que conseguiu diminuir os gastos com pessoal e paralelamente
incrementar os gastos com equipamento. Concomitante, os Estados Unidos surgem
como exemplo de mobilização e desmobilização de capital humano, tornando os
gastos com esse fator mais fluido e, portanto, menos estáticos. Essas características
são ambicionadas à medida que possibilitam o melhor rearranjo orçamentário como
um todo, ao melhor redistribuir gastos em Defesa Nacional.
98
apenas equipamentos militares. Tentou-se contornar essa problemática a partir da
utilização de três amostras diferentes de despesas: Investimentos (GND 4), EMP,
Sub_ID para os quais o Brasil apresentou gastos médios proporcionais de 8,55%, 3%
e 4%, respectivamente.
Observou-se que os gastos com investimentos são voláteis e são inferiores aos
gastos com pessoal e gastos com consumo (6%). O alto gasto com material de
consumo contrasta com os gastos com investimentos, entretanto, cabe assinalar que
muitos dos gastos com material de consumo são relacionados a atividade fim de
Defesa Nacional, ao invés de simples gastos administrativos. Entretanto, ainda que
com a utilização do indicador Sub_ID, ainda, os gastos com equipamentos podem ser
considerados pequenos, quando não menores que os visualizados com investimento
ou material de consumo.
Por fim, cabe sublinhar que o escopo do presente estudo se limita a estatura
temporal do ano de 2014. Esta decisão metodológica, explicada sobretudo pela
disponibilidade de dados, pode influenciar no peso dos resultados obtidos. Isto
porque, desde 2014, o contexto político e econômico brasileiro sofrera mudanças
substanciais em seu equilíbrio.
99
4 O IMPACTO DO ORÇAMENTO MILITAR NA INOVAÇÃO DA BID
35
variável preditora, dependente ou explicativa.
36
A partir dos resultados da Pesquisa de Inovação promovida pelo IBGE, extraiu-se uma amostra com
empresas relacionadas a Indústria de Defesa. Cada ano-base da pesquisa (2000, 2003, 2005, 2008,
2011, 2014) conta com um conjunto diferente de empresas entrevistadas. Os dados de 2000 a 2011
utilizam a amostra de empresas utilizadas no mapeamento da base industrial de defesa brasileira
(NEGRETE et al., 2016). Os dados de 2014 referem-se a uma amostra menor, incluindo apenas os
segmentos de armas e munições leves, pesadas e explosivos, Poder Aéreo Militar e Poder Naval
Militar. A referida amostra foi solicitada ao IBGE pelo Laboratório de Estudos de Defesa. Assim, as
firmas são consideradas um conjunto não homogêneo que se dedica parcialmente a produção de
produtos militares.
100
variação no comportamento dos gastos militares impacta na variação do investimento
em inovação na BID.
𝑟 = ___∑𝑥. 𝑦___
√(Ʃ𝑥²). (Ʃ𝑦²)
102
Nesse sentido, destaca-se a aplicabilidade de modelos de regressão para
avaliação de políticas públicas, como ferramenta para a realização de inferências,
sobretudo, causais (CHEIN, 2019). Logo, caso o modelo obtido não refute a hipótese
ou teoria considerada, será possível sua utilização para prever valores futuros da
variável dependente, com base em valores futuros conhecidos ou esperados da
variável independente (GUJARATI e PORTER, 2011).
𝑌 = 𝛼 + 𝛽. 𝐿𝑛(𝑥) + 𝜀
104
os dados não parecem tão ajustados a reta. Da interpretação dos gráficos, a reta
positivamente inclinada evidencia a associação positiva entre as variáveis em análise.
$6.000.000,00
milhões de reais
$5.000.000,00
$4.000.000,00
$3.000.000,00
$2.000.000,00
$1.000.000,00
R$ 20.000,00 R$ 30.000,00 R$ 40.000,00 R$ 50.000,00 R$ 60.000,00 R$ 70.000,00 R$ 80.000,00
Gastos militares brasileiros, em bilhões de reais
Investimento i = 𝛼 + 𝛽. 𝐺𝑀 i + 𝜀 i
A partir dos dados coletados, exibidos na Tabela. 15, aplica-se o MQO para
encontrar as estimativas dos parâmetros. Desse modo, caso seja estatisticamente
significante, ter-se-ia o seguinte modelo:
106
Assim, o aumento de 1 unidade monetária nos GM, elevaria os investimentos
em inovação na BID em 61,33. Graficamente, tem-se a seguinte regressão:
6
em milhões de reais
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Gastos Militares brasileiros, em bilhões de reais
Por sua vez, a significância de F38 apresenta P-Valor corresponde a 0,66, logo
maior que 0,5, o que implica na ausência de significância estatística do modelo
37
R2 ou coeficiente de ajuste analisa a capacidade explicativa do modelo. O R2 captura a relação
entre as variáveis utilizadas, ao apresentar quanto do comportamento da variável Y é explicado pelo
comportamento de variação da variável X (FÁVERO et al, 2009). Seu valor percentual varia de 0 a 1,
de forma que quanto mais próximo de 1, melhor será a qualidade dos resultados. Assinala-se que o R2
não determina a significância do modelo ou mesmo constitui evidência de causalidade (FÁVERO et al,
2009).
38
Na interpretação tabela ANOVA, a hipótese nula (H0: 𝛽 = 0) é de que no ajuste do modelo com
coeficiente estatisticamente igual a zero, a variável explicativa não influencia o comportamento da
variável dependente. Por outro lado, a Hipótese alternativa (H1: 𝛽 ≠ 0) declara que a variável
independente é estatisticamente significante para explicar a variável resposta, e assim, tem-se “um
107
regredido. Nesse sentido, para o presente estudo prevalece H 0, portanto, os gastos
militares no modelo não explicariam o investimento em inovação na BID brasileira.
Assim, pode-se concluir que o modelo não é relevante.
modelo de regressão estatisticamente significante para fins de previsão” (FÁVERO, 2016) ajuste do
modelo sem o previsor diverge do ajuste do modelo com o previsor. Assim, a partir dos resultados
obtidos, caso F de significância > 0,05, aceita-se a hipótese nula, ao tempo que, quando F de
significância < 0,05, rejeita-se hipótese nula e aceita-se a hipótese alternativa.
39
Essas amostras foram extensamente abordadas no capítulo 3.
108
RLS realizado anteriormente que possuiu GM como variável independente foi
repetido, a única mudança foi a substituição da variável regressora pelas variáveis
amostras Investimentos do MD, EMP e Sub_ID. A partir da síntese das saídas do
SPSS, produziu-se o seguinte quadro resumo:
Tabela 18. Quadro resumo dos resultados das Regressões: Investimento MD,
EMP e Sub_ID
Investimento i = 𝛼 + 𝛽. 𝐿𝑛(𝐺𝑀 i) + 𝜀i
110
Gráfico 22. Regressão não linear semilogarítmica: Gastos Militares x
Investimento em Inovação na BID (2000 – 2014)
Investimento em inovação na 7
BID, em milhões de reais
6
3
y = 29511309,983 ln(x) - 27144238,646
2
R² = 0,7639
1
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Gastos militares brasileiros, em milhões de reais
Ln (Gastos
Intercepto Militares)
Coeficientes -27144237,54 2951309,875
Valor p 0,035378367 0,022803682
Teste t -3,12443 3,597755
Correlação 0,874028603
R2 0,764
R2 Ajustado 0,705
Erro padrão 931179,052
F de significação 0,023
Fonte: Autoria própria
40
Existência de correlação entre as variáveis independentes do modelo.
41
resíduo é a diferença entre o valor previsto e o valor observado, a distância do ponto até a reta
prevista no modelo.
112
Tabela 20. Quadro Resumo do Teste de White
graus de
liberdade 2
𝑥 2 (1%) 9,2103404
𝑥 2 (5%) 5,9914645
Observações
(n) 6
R2 0,2586081
nR2 1,551649
Fonte: Autoria própria
113
Por fim, optou-se por investigar a existência de uma relação não linear entre os
gastos militares e o investimento em inovação na BID. Para tanto, fez-se o uso de um
modelo logarítmico, também chamado de lin-log ou semilogarítmica à direita. O
modelo apresentou coeficiente de determinação de 76,4% e apresentou tanto o F de
significação quanto o parâmetro como significantes. A interpretação do modelo leva
ao entendimento de que um aumento de 1%, em média, nos gastos militares pode
influenciar positivamente os gastos com investimentos na inovação da BID.
114
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
117
e não os fatores que determinam a inovação, logo contorno bibliográfico do presente
estudo não permite extrapolações nesse sentido. Portanto, evidencia-se a
possibilidade de futuros trabalhos ampliarem o leque de análises frente ao aqui
proposto.
118
REFERÊNCIAS
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analysis. European Journal of Political Economy, v. 28, n. 4, p. 636-650, 2012.
AMARANTE, José Carlos Albano do. A Base Industrial de Defesa Brasileira. Texto
para discussão. Rio de Janeiro: Ipea, 2012.
119
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Material de Emprego Militar (PNEMEM) e o comércio internacional de armas: um
estudo de caso. Tempo, Niterói, v. 15, n. 30, p. 221-241. 2011.
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EDUFRN, 2016.
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