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GUILHERME ANTÔNIO MATOS RODRIGUES

O FORTALECIMENTO DA BASE INDUSTRIAL DE


DEFESA E AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS
BRASILEIRAS

Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia


apresentada ao Departamento de Estudos da
Escola Superior de Guerra como requisito à
obtenção do diploma do Curso de Altos
Estudos de Política e Estratégia

Orientador: Eng. Ricardo Luiz Guimarães de


Azevedo

Rio de Janeiro
2020
I

C2020ESG
Este trabalho, nos termos de legislação
que resguarda os direitos autorais, é
considerado propriedade da ESCOLA
SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É
permitida a transcrição parcial de textos
do trabalho, ou mencioná-los, para
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propósitos comerciais e que seja feita a
referência bibliográfica completa.
Os conceitos expressos neste trabalho
são de responsabilidade do autor e não
expressam qualquer orientação
institucional da ESG.

_______________________________
GUILHERME ANTÔNIO MATOS RODRIGUES

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

R696f Rodrigues, Guilherme Antônio Matos


O fortalecimento da Base Industrial de Defesa e as políticas
educacionais brasileiras / Coronel Guilherme Antônio Matos Rodrigues -
Rio de Janeiro: ESG, 2020.

89 f.

Orientador: Eng. Ricardo Luiz Guimarães de Azevedo.

Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao


Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à
obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia
(CAEPE), 2020.

1. Base Industrial de Defesa (BID). 2. Expressão Científica e


Tecnológica. 3. Instituições Científicas e Tecnológicas. 4. Inovação. 5.
Políticas Educacionais. I. Título.

CDD – 355.260981

Elaborada pela bibliotecária Patricia Imbroizi Ajus – CRB-7/3716


R696f Rodrigues, Guilherme Antônio Matos
O fortalecimento da Base Industrial de Defesa e as políticas
educacionais brasileiras / Coronel Guilherme Antônio Matos Rodrigues. -
Rio de Janeiro: ESG, 2020.

77 f.

Orientador: Eng. Ricardo Luiz Guimarães de Azevedo.


II

À minha esposa, Gladis, e aos meus


filhos, Leonardo, Carla, Carolina,
Matheus e Gabriel, pela dedicação,
apoio, compreensão e incentivo
durante toda a minha caminhada.
III

AGRADECIMENTOS

Gostaria, primeiramente de agradecer a minha família, que sempre me


apoiou nas horas mais difíceis, desde o início da minha jornada na Força Aérea
Brasileira.
Ao meu orientador, Eng. Ricardo Luiz Guimarães de Azevedo, por ter me
aceitado como orientando, pelos seus conselhos, ensinamentos, pela serenidade
e pelo incentivo demonstrados durante o transcorrer deste trabalho.
Ao Comandante Lameiras, pela atenção, disponibilidade e respeito
dispensados a mim, desde a minha chegada na Escola Superior de Guerra.
À Comandante Patricia Ajus, em nome de quem estendo os meus
agradecimentos a todos os Oficiais e funcionários civis que trabalham na Biblioteca
da ESG, pela disponibilidade e eficiência com que trataram todas as minhas
demandas.
Inominadamente, a todos os integrantes do Corpo Docente da Escola
Superior de Guerra, pelos inúmeros incentivos recebidos ao longo do ano de 2020.
A todos os meus colegas da Turma Antártica – Novos Horizontes,
estagiários do CAEPE 2020, pelo respeito, amizade e consideração que pautaram
o nosso convívio e pelos ensinamentos que contribuíram para o meu
engrandecimento profissional e pessoal.
Por fim, a Deus, pelas bênçãos recebidas durante a caminhada.
IV

RESUMO

Este trabalho estuda as características da Base Industrial de Defesa brasileira e


aponta os principais óbices para o seu fortalecimento, a basear pela situação da
expressão científica e tecnológica do Poder Nacional na atualidade e, mais
especificamente, pelas políticas educacionais adotadas nos últimos anos, com
reflexo nas duas primeiras décadas do século XXI. Inicialmente, a Base Industrial
de Defesa será caracterizada por meio de seu histórico, dos dados de suas
exportações e dos gastos militares até a atualidade. Adicionalmente, serão
discutidas as principais políticas públicas do setor, a influência da teoria realista
na Política Nacional de Defesa e o desafio da desnacionalização. Em seguida,
será analisada a expressão científica e tecnológica do Poder Nacional que suporta
a Base Industrial de Defesa, por meio dos recursos naturais, das instituições
científicas e tecnológicas do País - com especial atenção às suas infraestruturas
e com destaque para os aspectos ligados à inovação - e dos recursos humanos,
incluídos os gastos com Ciência, Tecnologia e Inovação. Por fim, serão estudadas
as características da educação brasileira, esta entendida como a grande indutora
e um dos principais fatores para o desenvolvimento da Expressão Científica e
Tecnológica do Poder Nacional e, por consequência, da Base Industrial de Defesa.
Essas características serão divididas em termos das políticas educacionais
vigentes na atualidade e dos resultados obtidos por meio da análise dos
indicadores de qualidade. Por fim, serão apresentadas as principais causas para
o colapso educacional brasileiro dos últimos 20 anos.
Palavras-chave: Base Industrial de Defesa. Expressão Científica e Tecnológica.
Instituições Científicas e Tecnológicas. Inovação. Políticas Educacionais.
V

ABSTRACT

This study presents the features of the Brazilian Defense Industrial Base and points
out the main issues to its strengthening based on the current situation of scientific
and technological expression of the National Power and, more specifically, on the
educational policies adopted in recent years, with reflection in the first two decades
of the 21st century. Initially, the Industrial Defense Base will be analyzed through
its history, trade data and military expenditures from 2001 on. In addition, it will be
discussed the main public policies of defense industry, the influence of realistic
theory on the National Defense Policy and the challenge of industrial
denationalization. Then, the scientific and technological expression of the National
Power that supports the Industrial Defense Base will be studied, through natural
resources, from the country's scientific and technological institutions with special
attention to their infrastructures and with emphasis on aspects related to innovation
and human resources, including Science, Technology and Innovation expenditure.
Finally, it will be studied the features of Brazilian education, as the great inducer
and one of the main factors for the development of the Scientific and Technological
Expression of the National Power and, consequently, of the Industrial Defense
Base. These features will be splitted into the current educational policies and the
results obtained through the analysis of quality indicators. Finally, it will be shown
the main causes for the Brazilian educational collapse in the last 20 years.
Keywords: Industrial Defense Base. Scientific and Technological Expression.
Scientific and Technological Institutions. Innovation. Educational Policies.
VI

LISTA DE ACRÔNIMOS

ABINDE Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de


Defesa e Segurança

AEB Agência Espacial Brasileira

AED Ação Estratégica de Defesa

ANATEL Agência Nacional de Telecomunicações

BID Base Industrial de Defesa

BNCC Base Nacional Comum Curricular

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível


Superior

CBC Companhia Brasileira de Cartuchos

CBPF Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas

CCT Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia

CEE Conselho Estadual de Educação

CEITEC Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada

CEMADEN Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de


Desastres Naturais

C&T Ciência e Tecnologia

CETEM Centro de Tecnologia Mineral

CETENE Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste

CF Constituição Federal

CGAI Coordenação-Geral de Gestão Institucional

CGEE Centro de Gestão e Estudos Estratégicos

CGGI/DGE/SEXEC Coordenação Geral de Gestão, Inovação e


Indicadores/Diretoria de Gestão Estratégica/Secretaria-Executiva
do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
VII

CNEN Comissão Nacional de Energia Nuclear

CNPEM Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e


Tecnológico

COIND Coordenação de Indicadores e Informação

CONCEA Conselho Nacional de Controle de Experimentação


Animal

CTA Centro Técnico de Aeronáutica

CTEx Centro Tecnológico do Exército

CT&I Ciência, Tecnologia e Inovação

CTI Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer

CTNBio Comissão Técnica Nacional de Biossegurança

DGP Diretório dos Grupos de Pesquisa (CNPq)

DGI/SEXEC Departamento de Governança Institucional/Secretaria-


Executiva do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

DCT Departamento de Ciência e Tecnologia (Exército


Brasileiro)

EB Exército Brasileiro

EED Empresa Estratégica de Defesa

EMBRAER Empresa Brasileira de Aeronáutica

EMBRAPII Associação Brasileira de Pesquisa e Inovação


Industrial

ENCTI Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação

END Estratégia Nacional de Defesa

ENEM Exame Nacional do Ensino Médio

ENGESA Engenheiros Especializados S/A


VIII

ESG Escola Superior de Guerra

FAP Fundação Estadual de Amparo

FINEP Financiadora de Estudos e Projetos

GII Global Innovation Index

GPS Global Positioning System

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBICT Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e


Tecnologia

IDSM Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

IMBEL Indústria de Material Bélico do Brasil

IME Instituto Militar de Engenharia

IMPA Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada

INCT Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas


Educacionais Anísio Teixeira

INMA Instituto Nacional da Mata Atlântica

INPA Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

INSA Instituto Nacional do Semiárido

INT Instituto Nacional de Tecnologia

IPCA Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo

ITA Instituto Tecnológico de Aeronáutica

Ipea Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IPqM Instituto de Pesquisas da Marinha

LBDN Livro Branco de Defesa Nacional

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional


IX

LNA Laboratório Nacional de Astrofísica

LNCC Laboratório Nacional de Computação Científica

MAST Museu de Astronomia e Ciências Afins

MCTI Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

MD Ministério da Defesa

MEC Ministério da Educação

MEM Material de Emprego Militar

MPEG Museu Paraense Emílio Goeldi

OECD Organisation for Economic Co-operation and


Development

ON Observatório Nacional

OND Objetivo Nacional de Defesa

PAED Plano de Articulação e Equipamento de Defesa

PED Produto Estratégico de Defesa

P&D Pesquisa e Desenvolvimento

PIB Produto Interno Bruto

Pintec Pesquisa de Inovação Tecnológica

PISA The Program for Student Assessment

PNE Plano Nacional de Educação

PND Política Nacional de Defesa

PNID Política Nacional de Indústria de Defesa

PRODE Produto de Defesa

PRODE/SD Produtos, Serviços e Sistemas de Defesa

PROTEC Pró-inovação na Indústria Brasileira

RETID Regime Especial Tributário para a Indústria de Defesa

RNP Rede Nacional de Ensino e Pesquisa


X

SD Sistema de Defesa

SEB Secretaria de Educação Básica do MEC

SEE Secretaria Estadual de Educação

SEPROD Secretaria de Produtos de Defesa (Ministério da


Defesa)

SIOP Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento do


Governo Federal

SIPRI Stockholm International Peace Research Institute

SNCTI Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação

TELEBRAS Telecomunicações Brasileiras S. A.

TI Tecnologia da Informação

UnB Universidade de Brasília

UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural


Organization

URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas


XI

SUMÁRIO

Sumário

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 13

1.1 APRESENTAÇÃO DO TRABALHO ....................................................... 14

1.2 DELIMITAÇÃO DO ASSUNTO .............................................................. 16

1.3 RELEVÂNCIA E JUSTIFICATIVA DO ESTUDO .................................... 17

1.4 REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................... 18

1.5 METODOLOGIA..................................................................................... 18

1.6 DIVISÃO DO TRABALHO ...................................................................... 19

2 A BASE INDUSTRIAL DE DEFESA BRASILEIRA ....................................... 20

2.1 BREVE HISTÓRICO .............................................................................. 20

2.1.1 Ciclo das Fábricas Militares (1889-1945)......................................... 22

2.1.2 Ciclo da Pesquisa e Desenvolvimento (1946-1964) ........................ 24

2.1.3 Apogeu da Indústria de Defesa (1965-1990) ................................... 25

2.1.4 O declínio da BID (1991-2000) ........................................................ 28

2.1.5 Cenário das últimas décadas da BID (2001-2020) .......................... 30

2.2 CARACTERÍSTICAS DA BID NA ATUALIDADE ................................... 32

2.3 POLÍTICAS PÚBLICAS E GASTOS GOVERNAMENTAIS NO SETOR 37

2.3.1 As políticas públicas aplicadas ao setor de defesa .......................... 38

2.3.2 Os gastos governamentais no setor nas últimas décadas ............... 43

3 A EXPRESSÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DO PODER NACIONAL . 51

3.1 OS RECURSOS NATURAIS BRASILEIROS ......................................... 51

3.2 INSTITUIÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS E INOVAÇÃO ....... 52

3.3 OS RECURSOS HUMANOS E OS GASTOS COM CT&I ...................... 59

4 AS CARACTERÍSTICAS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL ............................... 67


XII

4.1 AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS........................................................... 67

4.2 OS RESULTADOS DOS INDICADORES DE QUALIDADE ................... 69

4.3 PROVÁVEIS CAUSAS DO COLAPSO EDUCACIONAL ....................... 74

5 CONCLUSÃO............................................................................................... 78

REFERÊNCIAS 84
13

1 INTRODUÇÃO

D
urante o século XX, o Brasil, em que pese sua participação na
Segunda Guerra Mundial, se manteve distante dos principais
conflitos que tiveram como pano de fundo as disputas geopolíticas
pela supremacia mundial entre os Estados Unidos e a extinta União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS). A América do Sul como um todo também não foi
abalada pelas guerras de independência que afetaram as colônias africanas e
asiáticas, bem como os países centrais da Europa. Até para resolver seus
problemas fronteiriços e consolidar o seu território, o Brasil preferiu se utilizar de
meios predominantemente diplomáticos.
Nesse ambiente de aparente ausência de ameaças, os assuntos ligados à
defesa nacional deixaram de ter a devida prioridade na agenda política nacional por
cerca de duas décadas. Por isso, as discussões relativas à segurança e à defesa
externa do País ficaram restritas ao estamento militar, no âmbito das Forças
Armadas, especialmente após o fim dos governos militares (1985).
Brick (2016) defende que o Brasil já atingiu um patamar de grandeza e de
inserção na ordem mundial que é incompatível com esse desinteresse e cita Pesce
(2001) para sintetizar essa realidade: “o Brasil é um gigante territorial, demográfico
e econômico e um anão político e militar” (PESCE apud BRICK, 2016, p. 303).
A mudança dessa situação de falta de prioridade nos assuntos de Defesa
só veio a ocorrer com a aprovação da Política Nacional de Defesa (PND), em 1996,
e, depois, com a criação do Ministério da Defesa (MD), em 1999, durante o governo
do Presidente Fernando Henrique Cardoso.
A Política Nacional de Defesa (PND), denominada de “Política de Defesa
Nacional” (PDN) em 1996, tinha o objetivo de voltar os olhos da sociedade brasileira
para a defesa da Pátria, iniciativa que visava fazer frente às ameaças identificadas
no cenário internacional da época (BRASIL, 2016a). Sob esse ponto de vista, a PND
pode ser considerada um marco inicial em relação aos assuntos ligados à Defesa
Nacional do País.
Após a criação do Ministério da Defesa, a PDN sofreu a primeira atualização
(2005) e foi complementada pela Estratégia Nacional de Defesa (END). Em 2012,
ambas foram novamente atualizadas, e a Política passou a ser designada de PND
(BRASIL, 2016a).
14

Após mais de 20 anos do primeiro documento de defesa do País, tanto a


PND como a END foram revisadas em 2020, a fim de adequá-las aos atuais
cenários de defesa nacionais e internacionais. Entretanto, neste trabalho, usaremos
a versão de 2016, tanto para a PND como para a END.

1.1 APRESENTAÇÃO DO TRABALHO

Partindo-se da certeza de que o maior ativo para a consecução da


autonomia produtiva e tecnológica na área de defesa e, por consequência, do
desenvolvimento sustentável da Base Industrial de Defesa seja a qualidade técnica
do capital humano, o objetivo deste trabalho é verificar se as políticas educacionais
brasileiras para o desenvolvimento da área de ciência, tecnologia e inovação (CT&I)
têm se refletido no fortalecimento da Base Industrial de Defesa (BID) nos últimos 20
anos.
Para que esse objetivo seja alcançado, pretende-se:
• Levantar as principais características da Base Industrial de Defesa brasileira;
• Estudar a expressão científica e tecnológica do Poder Nacional e verificar a
sua contribuição para o fortalecimento da BID; e
• Correlacionar as políticas educacionais adotadas com o desenvolvimento da
expressão Científica e Tecnológica do Poder Nacional.

Conforme definição contida no Glossário das Forças Armadas MD35-G-01


(BRASIL, 2015):
“A PND expressa os objetivos a serem alcançados com vistas a assegurar
a Defesa Nacional, conceituada como o conjunto de atitudes, medidas e
ações do Estado, com ênfase na expressão militar, para a defesa do
território, da soberania e dos interesses nacionais contra ameaças
preponderantemente externas, potenciais ou manifestas”.

Dentro dos Objetivos Nacionais de Defesa (subtítulo 4.2), a PND lista, em


seu item VII, a “promoção da autonomia produtiva e tecnológica na área de defesa”
que significa:
“...manter e estimular a pesquisa e buscar o desenvolvimento de
tecnologias autóctones, sobretudo no que se refere a tecnologias críticas,
bem como o intercâmbio com outras nações detentoras de conhecimentos
de interesse do País. Refere-se, adicionalmente, à qualificação do capital
humano, assim como ao desenvolvimento da Base Industrial de Defesa e
de produtos de emprego dual (civil e militar), além da geração de empregos
e renda” (BRASIL, 2016a).
15

Nesse objetivo, percebe-se claramente a necessidade de estimular a


Pesquisa e o Desenvolvimento (P&D), de qualificar tecnicamente o capital humano
e de desenvolver a Base Industrial de Defesa.
Já a Estratégia Nacional de Defesa (END) destaca as Capacidades
Nacionais de Defesa, compostas por diferentes parcelas do Poder Nacional, dentre
as quais situa-se a Capacidade de Mobilização, a qual objetiva incrementar a
eficácia do emprego da expressão militar. “Nesse contexto, a defesa do Brasil exige
o permanente fortalecimento de sua Base Industrial de Defesa – BID, ...” (BRASIL,
2016b).
Além disso, é importante ressaltar que, alinhadas ao Objetivo Nacional de
Defesa no 7, OND-7 – Promoção da autonomia produtiva e tecnológica na área de
defesa – existem duas Estratégias de Defesa, a ED-15 e a ED-16, cada uma delas
com implicações diretas na Base Industrial de Defesa (BID), por meio de Ações
Estratégicas de Defesa1, as quais serão enumeradas a seguir (BRASIL, 2016b):

❖ ED-15 Promoção da sustentabilidade da cadeia produtiva da Base


Industrial de Defesa
AED-57: Aprimorar os regimes legal, regulatório e tributário especiais para
a Base Industrial de Defesa.
AED-58: Estabelecer planos de carga para atendimento do Plano de
Articulação e de Equipamento de Defesa – PAED e para sustentação da Base
Industrial de Defesa.
AED-60: Aprimorar os mecanismos de financiamento para a Base Industrial
de Defesa.
AED-61: Estender as prerrogativas da Base Industrial de Defesa para os
produtos ou sistemas destinados à segurança pública.
AED-62: Promover as exportações da Base Industrial de Defesa.
AED-63: Promover o aumento de conteúdo local nos produtos da Base
Industrial de Defesa.
AED-65: Promover a coordenação dos processos de certificação de
produtos, serviços e Sistemas de Defesa – PRODE/SD, concernentes à Base
Industrial de Defesa.

❖ ED- 16 Fortalecimento da Área de Ciência e Tecnologia de Defesa


AED-73: Promover a formação em ciências básica e aplicada, privilegiando-
se a aproximação da produção científica com as atividades relativas ao
desenvolvimento de análises estratégicas, ao desenvolvimento tecnológico da Base
1O conceito de “estratégia” pressupõe uma ação, motivo pelo qual a expressão “ações estratégicas”
se trata de uma redundância.
16

Industrial de Defesa e ao aprimoramento dos instrumentos de gestão e


aperfeiçoamento de doutrinas operacionais.
AED-74: Promover a integração do Setor de Defesa nas áreas de
metrologia, normalização e de certificação de produtos, serviços e Sistemas de
Defesa – PRODE/SD, concernentes à Base Industrial de Defesa.

Está claro em ambos os diplomas que o constante fortalecimento da Base


Industrial de Defesa é exigido pela Defesa Nacional e que esse fortalecimento deve
ser imperiosamente sustentável, conforme estabelecido no Objetivo Nacional de
Defesa no 7.

1.2 DELIMITAÇÃO DO ASSUNTO

Este trabalho discutirá como as políticas educacionais adotadas nos últimos


20 anos incentivaram o progresso tecnológico do país, e em que medida esse
progresso ajudou no fortalecimento da Base Industrial de Defesa. A partir do
histórico do desenvolvimento inicial da indústria de defesa no Brasil, passará a
analisar as diretrizes contidas na PND para o preparo das capacidades nacionais
civis e militares, bem como as ações estratégicas de como persegui-las (END).
Serão utilizados conceitos da Teoria Realista das Relações Internacionais para
justificar as diretrizes contidas na PND e na END. Também serão discutidos o
impacto do incentivo dos gastos com defesa, em especial da Pesquisa e
Desenvolvimento (P&D) militar, no crescimento econômico e no desenvolvimento
científico e tecnológico (SERRÃO, 2017).
Depois, fará uma caracterização da infraestrutura científica e tecnológica
utilizada pela defesa no Brasil (DE NIGRI e SCHEFF, 2016) e uma análise da
produção científica brasileira para mostrar os resultados do progresso tecnológico
obtidos até o presente, a qual ajuda a fortalecer a Base Industrial de Defesa.
Por fim, passará a analisar as políticas educacionais do país do ponto de
vista qualitativo e quantitativo e as consequências dessa política para o
fortalecimento da expressão científica e tecnológica do Poder Nacional.
Apesar de importante, não será explorado, no mesmo nível de
profundidade, outro pilar para o aprimoramento da Base Industrial de Defesa, o qual
poderá fazer parte das discussões sobre as políticas educacionais de uma forma
17

acessória: a disponibilidade de capital que viabilize o investimento e a


competitividade das empresas de defesa.

1.3 RELEVÂNCIA E JUSTIFICATIVA DO ESTUDO

A relevância do estudo consiste na explicação das principais causas da


dificuldade encontrada pelo Brasil para a promoção do desenvolvimento tecnológico
nacional e sustentável, condição estratégica para o fortalecimento da Base
Industrial de Defesa.
A Política Nacional de Defesa (Brasil, 2016a) colocou em seu objetivo no VII
a “Promoção da autonomia produtiva e tecnológica na área de Defesa”, o que
“significa manter e estimular a pesquisa e buscar o desenvolvimento de tecnologias
autóctones, sobretudo no que se refere a tecnologias críticas, bem como o
intercâmbio com outras nações detentoras de conhecimento de interesse do País”.
Esse objetivo refere-se também “à qualificação do capital humano, assim como ao
desenvolvimento da Base Industrial de Defesa e de produtos de emprego dual (civil
e militar), além da geração de empregos e renda.”
Por outro lado, a Estratégia Nacional de Defesa (Brasil, 2016b), escreve
que:
O fomento a uma indústria nacional de defesa é, também, um incentivo ao
crescimento econômico de um país, na medida em que gera empregos
diretos e indiretos e desenvolve produtos que serão úteis ao setor civil.
Assim, investir em defesa significa garantir a soberania, promover o
desenvolvimento científico e tecnológico e estimular o crescimento do
País.

Em outras palavras, a END diz que uma das formas de promover o


desenvolvimento nacional é o fomento à indústria nacional de defesa.
A END também defende que o aprimoramento das competências
tecnológicas nacionais no campo da defesa resulta do desenvolvimento da
infraestrutura de ciência e tecnologia (C&T), bem como da formação de recursos
humanos.
Por isso, o trabalho pretende focar na formação dos recursos humanos e
na infraestrutura de C&T para fazer uma análise de suas respectivas adequações,
com o objetivo de apontar um caminho para superar os obstáculos que dificultam o
18

fortalecimento da Base Industrial de Defesa, e contribuir, assim, para os estudos da


ESG no campo do Desenvolvimento Nacional.

1.4 REFERENCIAL TEÓRICO

Como referencial teórico, serão apresentados conceitos da Teoria Realista


das Relações Internacionais desenvolvidos por Kenneth Waltz (1979) para justificar
o fortalecimento da Base Industrial de Defesa, objetivo muito explorado tanto na
Política Nacional de Defesa como na Estratégia Nacional de Defesa.
A análise das políticas educacionais do país do ponto de vista qualitativo e
quantitativo será realizada tomando-se como base os dados disponíveis na
literatura e em sites como o do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI),
do Ministério da Educação (MEC), do INEP e de outras fontes oficiais.
Para a caracterização da infraestrutura científica e tecnológica utilizada pela
defesa no Brasil serão utilizados a doutrina e o conceito de Expressão Científica e
Tecnológica do Poder Nacional (BRASIL, 2019), bem como o trabalho de Fernanda
De Nigri (2016) e outras Notas Técnicas do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea). Para a análise da produção científica brasileira serão utilizados
dados do site do MCTI, do MEC, dados da Base Scopus etc.

1.5 METODOLOGIA

Os dados utilizados para a elaboração da monografia serão obtidos de duas


fontes: dos trabalhos disponíveis na própria literatura e de sites oficiais como o
SIPRI (SIPRI, 2017) e o Ipea, para os dados relativos à área de Defesa; como o
Ministério da Educação (MEC), o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (INEP), o The Program for International Student
Assessment (PISA), para os dados relativos à educação; como o MCTI, o MEC,
dados da Base Scopus, para os dados relativos à área científica e tecnológica. Os
dados são acessíveis, foram testados e há viabilidade para a sua análise.
Naturalmente, a quantidade de dados disponível necessita ser filtrada devido ao
tempo disponível para proceder a sua análise.
19

Quanto aos fins, a pesquisa pretende ser descritivo-explicativa. Quanto aos


meios de investigação, ela pretende ser predominantemente documental e
bibliográfica (VERGARA, 2007).

1.6 DIVISÃO DO TRABALHO

Inicialmente, o trabalho tratará da Base Industrial de Defesa (BID).


Começará com o histórico do desenvolvimento da BID desde o período colonial,
descreverá os principais marcos no período após a proclamação da República e no
período do regime militar. Em seguida, serão explorados com um pouco mais de
detalhes os períodos que marcam o apogeu e o declínio da Indústria de Defesa, no
final do ano de 2000, para depois entrar no cenário das duas últimas décadas.
Depois, serão exploradas as principais características da BID de uma forma geral,
antes de discutir uma pesquisa sobre algumas características selecionadas do
setor, assim como a percepção dos empresários brasileiros acerca das condições
presentes e futuras para o desenvolvimento da BID nacional. Ao fim do 2º capítulo,
serão discutidas as principais políticas públicas das duas últimas décadas e a
tendência de desnacionalização da BID.
No capítulo 3, a expressão científica e tecnológica do Poder Nacional será
estudada através dos seus 3 fundamentos: os recursos naturais, as instituições de
C&T brasileiras, momento no qual serão discutidos aspectos relativos à inovação
no Brasil, e, por fim os recursos humanos e os gastos governamentais destinados
à CT&I nas duas últimas décadas.
Em seguida, no capítulo 4, serão apresentadas as principais características
da educação no Brasil por meio das políticas públicas implementadas e através dos
resultados alcançados no período 2000-2019, com foco nos indicadores de
qualidade. Logo após essa caracterização, serão apresentadas algumas das
prováveis causas para a situação de colapso educacional pela qual passa o ensino
fundamental na escola pública.
Por fim, no capítulo 5, serão apresentadas as considerações finais a título
de conclusão.
2 A BASE INDUSTRIAL DE DEFESA BRASILEIRA

S
ão vários os conceitos de Base Industrial de Defesa encontrados
na literatura. Neste capítulo, dois deles serão utilizados. O primeiro,
do Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI), pelo
fato de que esse instituto é a principal fonte de dados sobre o comércio das armas
convencionais, de 1950 até o corrente ano, utilizadas neste trabalho. É um recurso
exclusivo para pesquisadores, formuladores de políticas e analistas, para a mídia e
a sociedade civil interessados em monitorar e medir o comércio internacional das
principais armas convencionais (SIPRI, 2020). Para o SIPRI, a Base Industrial de
Defesa é formada por empresas fornecedoras de bens e serviços militares. Os bens
são definidos como equipamentos especificamente desenvolvidos para fins
militares e as tecnologias relacionadas, e não incluem bens de uso geral, como
gasolina, eletricidade, computadores etc. Os serviços militares são também de uso
militar específico e incluem serviços técnicos e outros relacionados às operações
das forças armadas.
O segundo conceito é proveniente da Política Nacional de Defesa (PND) e
será utilizado na seção 2.2 deste capítulo, em uma pesquisa que identificou algumas
características selecionadas do setor. Desse modo, para a PND, a Base Industrial
de Defesa é composta pelo conjunto de organizações estatais ou privadas, civis e
militares, que executam pesquisas, projetos, desenvolvimento, produção,
conservação, revisão, conversão, modernização ou manutenção de produtos de
defesa, no País (BRASIL, 2016a). É importante notar que essa definição é bem mais
abrangente que aquela adotada pelo SIPRI.

2.1 BREVE HISTÓRICO

A história da Base Industrial de Defesa brasileira começou no século XVIII,


em 1762, com o estabelecimento da Casa do Trem de Artilharia na cidade do Rio
de Janeiro. Dois anos mais tarde, ela passou a se chamar Arsenal do Trem e seu
objetivo era realizar as manutenções e fundições de materiais bélicos na região do
Cone Sul da Colônia. Em 1763, foi criado o Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro
com o objetivo de fortalecer militarmente o Brasil, já que sua principal função era
realizar a manutenção dos navios da Esquadra Real (ANDRADE, 2016).
21

As atividades industriais ligadas ao setor de defesa foram levadas a um


novo patamar após a chegada de D. João VI ao Brasil.
Karina Brotherhood descreve as mudanças pelas quais passou o Arsenal
de Marinha após a chegada do Príncipe Regente D. João ao Rio de Janeiro:
“A chegada ao Rio de Janeiro do Príncipe Regente D. João e da Rainha
D. Maria I, fugindo das guerras napoleônicas na Europa, foi um ponto de
inflexão na história do Arsenal de Marinha. A cidade do Rio de Janeiro
tornou-se a sede do governo português, o que gerou um surto de
progresso em vários setores da sociedade colonial. Apesar de o Arsenal
não ter sido uma das instalações privilegiadas com essas mudanças,
principalmente por estar decadente o poderio da Marinha portuguesa, sua
capacidade foi ampliada para poder apoiar a Esquadra e os navios
estrangeiros, já que o fluxo aumentou consideravelmente em virtude da
abertura dos portos brasileiros ao comércio com outras nações”
(BROTHERHOOD, 2006).

Ainda em 1808, foi criada a Fábrica Real de Pólvora da Lagoa Rodrigo de


Freitas, a qual foi transferida para o Distrito de Estrela, em Raiz da Serra de
Petrópolis, em 1824, sob a denominação de Real Fábrica de Pólvora da Estrela. Em
1939 passou a se chamar Fábrica da Estrela para, em 1975, se transformar em uma
das plantas da empresa estatal Indústria de Material Bélico do Brasil – IMBEL
(DELLAGNEZZE apud ANDRADE, 2016).
Brotherhood (2006) explica as preocupações do Imperador, com
consequências para a Base Industrial de Defesa, nos primeiros anos após a
independência:
“Com a independência do Brasil, o primeiro governo encontrou a difícil
tarefa de unificar o extenso território brasileiro, em cujo litoral encontravam-
se os principais centros urbanos, ou seja, era emergencial que o Estado
possuísse uma Esquadra e estabelecimentos de apoio para manter a
unidade nacional. Era preciso, além da esquadra, possuir a capacidade de
reparar os navios existentes e construir outros”.

Assim, outros eventos importantes para a Indústria de Defesa que


aconteceram no período de 1762 a 1889, foram:
• A transformação do Arsenal do Trem em Arsenal de Guerra do Rio,
cuja finalidade era fabricar armas, munições e materiais bélicos para
as Forças Armadas;
• A criação do Arsenal de Guerra de Porto Alegre, após a
Independência (1828), cuja finalidade era dar o apoio logístico às
operações militares na região sul (AMARANTE, 2004).
É importante salientar ainda as transformações pelas quais passou o
Ministério da Marinha nesse período, já que a mudança da família real portuguesa
22

para o Brasil trouxe também a Marinha portuguesa a reboque e seus aditivos, os


quais permaneceram no Brasil mesmo após o retorno de D. João VI a Portugal
(BROTHERHOOD, 2006).
Amarante (2004) dá a essa primeira fase do desenvolvimento da BID o
nome de “Ciclo dos Arsenais”.
Após a proclamação da República, muitos militares se envolveram na
política partidária, elegendo-se para mandatos no Congresso ou ocupando cargos
de alto escalão no governo, fato esse que não representou nenhum benefício à
defesa nacional, a qual continuou a receber um tratamento desatento por parte do
Estado (DRUMONT 2014).
A partir do final do século XIX e durante o século XX, a Base Industrial de
Defesa tem o seu desenvolvimento iniciado, passa por grandes modificações até
atingir o seu ápice na década de 80, para depois entrar em declínio, a partir de 1990.
Amarante (2004) divide essa evolução em mais duas fases até os dias atuais.
Preferiu-se adotar, neste trabalho, a divisão proposta por Andrade (2016).

2.1.1 Ciclo das Fábricas Militares (1889-1945)

O desgaste das tropas e dos equipamentos militares ocasionados pela


Guerra do Paraguai deu origem a “um inusitado interesse no reequipamento do
Exército e da Marinha”, após a proclamação da República. A política de defesa era,
à época, a importação dos equipamentos bélicos necessários e a implementação
da manutenção desses equipamentos nos arsenais existentes no país
(AMARANTE, 2004).
Nessa fase foram criadas a Fábrica de Realengo, em 1898, destinada a
produzir munição de pequeno calibre, que continuou funcionando até 1978, quando,
então, foi desativada; e a Fábrica de Piquete, em 1909, primeira indústria de pólvora
do Brasil, importante por permitir ao Exército garantir seu suprimento sem a
necessidade de importação. Hoje, ela se chama Fábrica Presidente Vargas, uma
das unidades de produção da IMBEL (Dellagnezze apud Andrade, 2016).
Outras fábricas privadas de armamentos e munições surgiram no período
por iniciativa de imigrantes de origem europeia, tais como a Boito, a Rossi e a
Fábrica Nacional de Cartuchos, denominada hoje de Companhia Brasileira de
Cartuchos – CBC (PIM apud ANDRADE, 2016).
23

Amarante (2004) ressalta a grande instabilidade política característica dos


primeiros anos da República e, por isso, os governos do período estiveram mais
preocupados com a segurança interna, motivo pelo qual a política de reequipamento
das Forças Armadas ficou congelada a partir da 1ª Guerra Mundial, quando as
importações de armamento foram interrompidas.
Drumond (2014) ressalta que:
“Na modernização da atividade militar, incentivar a indústria de defesa
nacional privada para desenvolver e produzir equipamentos no mesmo
nível de materiais semelhantes estrangeiros fazia parte do ideário do
Tenentismo, o movimento que se gestou e eclodiu nos anos de 1920.
Esses ideais, no entanto, não encontravam respaldo no comando militar e
muito menos no governo. Como incentivar o parque nacional se os
equipamentos disponíveis vinham do exterior?”

E completa que
“Quando Vargas assumiu o poder, as ideias do movimento tenentista de
reformar o Estado coincidiram com os planos do caudilho gaúcho, que
acreditava que o melhor caminho para reformar o país e garantir os
benefícios que planejava para a sociedade seria através do autoritarismo.
Para ele a democracia era frágil e os interesses políticos e pessoais
travavam o desenvolvimento nacional”.

Desse modo, após a revolução de 1930, o Exército passou a pensar em


montar um parque fabril que o tornasse um pouco mais independente de
importação. Foi então fundada a Fábrica de Andaraí, em 1932, destinada à
fabricação de granadas de artilharia e de morteiros (AMARANTE, 2004).
Em 1933 foram fundadas a fábrica de Curitiba, destinada à produção de
viaturas, cozinhas de campanha, equipamentos para a transposição de cursos de
água e reboques; a fábrica de Itajubá – que hoje pertence à IMBEL – destinada à
produção de armamento leve; a fábrica de Juiz de Fora – também pertencente à
IMBEL – destinada à fabricação de munições de grosso calibre; e a fábrica de
Bonsucesso, destinada à fabricação de máscaras contra gases, produtos químicos
fumígenos e de gases para a guerra (AMARANTE, 2004).
Em 1939 foram fundadas a fábrica de Material de Comunicações – que
atualmente pertence à IMBEL – destinada a produzir telefones, centrais telefônicas,
rádios de campanha e cabos telefônicos; e a Taurus, em Porto Alegre, destinada a
produzir armas curtas (ANDRADE, 2016).
Essa segunda fase da Base Industrial de Defesa brasileira foi caracterizada
pelo fato de que todo o parque industrial se baseava em tecnologias estrangeiras
adquiridas ou utilizadas sob licença. O País não tinha infraestrutura industrial para
24

fabricar materiais pesados de emprego militar, como canhões e viaturas blindadas,


que só foi viabilizada após a implantação da Companhia Siderúrgica Nacional
(CSN), em 1945.

2.1.2 Ciclo da Pesquisa e Desenvolvimento (1946-1964)

O desenvolvimento da Base Industrial de Defesa brasileira, após o término


da 2ª Guerra Mundial, foi freado pelo grande aumento das importações de
equipamentos militares vendidos a custos reduzidos e com facilidades extras de
suprimento e manutenção (sobras de guerra) devido a um acordo de cooperação
militar assinado com os Estados Unidos da América. Por outro lado, a elite militar
brasileira havia percebido a importância da Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para
a elevação da capacidade tecnológica do País, tão necessária ao fortalecimento da
BID.
Por isso, Andrade (2016) constatou nessa época “que houve uma
intensificação das atividades de P&D voltadas ao setor de defesa”, já que essas
atividades passaram a ser vistas como prioridade pelas Forças Armadas brasileiras.
É dessa época a criação do complexo que, mais tarde, viria a ser chamado
de Centro Tecnológico do Exército – CTEx (1952), do Centro Técnico Aeroespacial
(CTA), da Força Aérea (1947), e do Instituto de Pesquisas da Marinha – IPqM
(1959).
As pesquisas desenvolvidas por esses centros, ajudadas pelo
fortalecimento das atividades industriais no Brasil, contribuíram para criar a
infraestrutura necessária à expansão produtiva da BID nos anos 80, durante o
governo militar.
No mesmo período, para dar suporte de recursos humanos aos Institutos
de P&D militares, as Forças Armadas criaram instituições de ensino superior com o
objetivo de formar engenheiros nas áreas relevantes para o setor militar. Assim,
foram criados o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), subordinado ao CTA, e
o Instituto Militar de Engenharia (IME), subordinado ao Departamento de Ciência e
Tecnologia (DCT) do EB, os quais ajudaram no fomento industrial e na Base
Industrial de Defesa.
Ressalta-se a contribuição da Escola Superior de Guerra (ESG) para a
disseminação, no âmbito dos altos escalões das Forças Armadas, do “entendimento
25

da segurança nacional em que as dimensões econômica e militar seriam tidas não


somente como fundamentais, mas interdependentes. A visão da ESG atribuía
especial importância à industrialização da economia e à criação de uma BID capaz
de produzir autonomamente os equipamentos necessários para a defesa nacional”
(ANDRADE, 2016).
Criada em 1949, a ESG “é um Instituto de Altos Estudos de Política,
Estratégia e Defesa, integrante da estrutura do Ministério da Defesa, e destina-se a
desenvolver e consolidar os conhecimentos necessários ao exercício de funções de
direção e assessoramento superior para o planejamento da Defesa Nacional, nela
incluídos os aspectos fundamentais da Segurança e do Desenvolvimento” (BRASIL,
2020a).
Segundo Andrade (2016), as ideias defendidas na ESG exerceram pouca
influência nos governos que se seguiram à sua criação.
Nas eleições de 1950, Vargas retornou ao poder, a industrialização do país
sofreu um novo impulso, mas a Base Industrial de Defesa não foi beneficiada.
“Em meio a discórdias políticas, inflação alta, balança de pagamentos
desequilibrada pela pouca perspectiva de crescimento econômico, Vargas
viu o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), sua
criação, atuar de modo relevante para fomentar a industrialização do país.
A indústria de equipamentos de defesa privada, porém, ficou de fora desse
planejamento, enquanto a que estava nas mãos do Estado, produzindo
munições e explosivos, definhava. Na Marinha, a produção de navios
também se paralisou” (DRUMOND, 2014, p. 71).

2.1.3 Apogeu da Indústria de Defesa (1965-1990)

A partir do regime militar de 1964, o governo brasileiro, influenciado pelas


ideias defendidas pela ESG desde a sua criação2, passou a estimular a criação de
um complexo industrial que favorecia o desenvolvimento da Base Industrial de
Defesa (BID), a qual, por sua vez, estimulava o complexo industrial brasileiro. A
política de incentivo à BID teve como principais pilares o potencial industrial
desenvolvido nos anos 40-60, a formação de recursos humanos especializados, a

2 De fato, o binômio "segurança e desenvolvimento" é consagrado com sua inclusão no artigo 7 o da


Lei da Reforma Administrativa, buscando não apenas a transformação do Brasil em um país
industrializado, com capacidade militar e reconhecimento internacional, mas também a estabilidade
interna necessária, depois que foi perturbada pelos movimentos de guerrilha - considerando, no
quadro global da Guerra Fria, as infiltrações soviéticas (PIM, 2007, p. 7, tradução nossa).
26

partir dos anos 50, e a intensificação das atividades de P&D voltadas ao setor de
defesa nos anos 60-70.
Nessa época, a BID cresceu muito nos períodos 74-78 e 81-84, conforme
mostrado na Figura 1, e atingiu o seu ápice no ano de 1984, quando as exportações
de armamentos atingiram o valor de US$ 267 milhões, de acordo com os dados
obtidos do SIPRI (2017a).

300
Exportações brasileiras de armamentos (1971-2000)

250
VALOR (US$ milhões)

200

150

100

50

0
1970

1972

1974

1976

1978

1980

1982

1984

1986

1988

1990

1992

1994

1996

1998

2000
Ano
Fig. 1: Exportações brasileiras da BID no período 1971-2000
Obs.: Os valores foram estimados em dólares de 1990.
O valor 0 indica que as exportações foram inferiores a US$ 0,5 M

Fonte: SIPRI (2017a)


Elaboração do autor

Alguns autores (PIM, 2007, p.9)3 defendem que o crescimento


experimentado pela BID no início da década de 80 fizeram com que o País, que não
exportava nenhum material de defesa no início da década de 1970, se tornasse o
quinto maior exportador mundial e que os valores elevados dessa exportação
duraram toda a década de 80.
Conforme mostra a tabela 1, com os dados extraídos do SIPRI (2017b),
pode ser verificado que a melhor colocação do Brasil, no ranking dos maiores
exportadores mundiais de armamentos, foi a 12ª posição, alcançada no ano de
1984. Ademais, o Brasil nunca conseguiu ser, até mesmo no auge da sua indústria

3 “Teniendo en cuenta que en 1970 Brasil no tenía prácticamente exportación alguna en este sector,
resulta sorprendente, que apenas una década después, este país fuese el quinto mayor exportador
a nivel mundial y el primero entre los países en vías de desarrollo”.
27

bélica, um grande exportador de material de defesa, conforme defende Andrade


(2016) e Pim (2007), pois suas exportações no setor nunca representaram um valor
maior que 0,6% do valor mundial, conforme mostra a Tabela 1.

Tabela 1: Ranking dos maiores exportadores de armamento mundiais em 1984


Rank País Vendas % do total
(US$ milhões)
1 União Soviética 14001 33,7%
2 Estados Unidos 11887 28,6%
3 França 3008 7,2%
4 Alemanha 2799 6,7%
5 Reino Unido 2552 6,1%
6 China 1929 4,6%
7 Itália 1258 3,0%
8 Tchecoslováquia 1093 2,6%
9 Suíça 512 1,2%
10 Holanda 366 0,9%
11 Israel 281 0,7%
12 Brasil 267 0,6%
Outros 1586 3,8%
Obs.: Os valores foram estimados em dólares de 1990.
Fonte: SIPRI (2017b)
Elaboração do autor

As explicações para o crescimento da BID brasileira variam. Segundo


Conca (1997), ela resultou da combinação entre um mercado internacional
favorável e políticas públicas adequadas. O governo militar favoreceu a BID
brasileira por meio do financiamento de recursos para o setor, da garantia de um
mercado interno relativamente estável por determinado tempo, das políticas de
incentivo à exportação e de subsídios às principais indústrias de defesa (CONCA
apud ANDRADE, 2016).
No âmbito do mercado internacional, no período entre os anos de 1970 e
1980, apareceu um nicho para sistemas de armas de médio nível tecnológico
combinado com uma expansão da demanda por materiais de emprego militar, fato
esse bem percebido e aproveitado pela BID brasileira. Além disso, houve a
facilidade de obtenção de financiamento externo, utilizado pelas empresas para
desenvolver seus projetos e incrementar sua produção (CONCA apud ANDRADE,
2016).
28

Andrade (2016) explica que a dimensão alcançada pela BID não pode ser
precisamente quantificada, devido ao sigilo envolvido no setor e aos números
oficiais pouco confiáveis.
A espinha dorsal dessa indústria de defesa foi formada pelas maiores
empresas do setor (PIM, 2007), localizadas na cidade de São José dos Campos:
a) Engenheiros Especializados S/A (ENGESA), empresa privada voltada
para a produção de blindados; b) Empresa Brasileira de Aeronáutica (EMBRAER),
empresa de controle estatal à época, voltada para a produção de aeronaves; e c)
AVIBRAS Indústria Aeroespacial, empresa privada voltada para a produção de
foguetes de artilharia e veículos de sondagem, atuando em parceria com o CTA.
Considerando-se os dados da Tabela 2, nota-se que 99% das exportações
da BID brasileira nos anos 80 (aeronaves, veículos blindados e foguetes de
artilharia) eram produtos pertencentes à EMBRAER, ENGESA e AVIBRAS,
respectivamente.

Tabela 2: Exportações brasileiras de armamentos por setor no período 1980-1989


Exportações no Período de 1980 a 1989 (US$ milhões)
SETOR
80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 Total
Aircraft 44 7 53 53 60 41 71 157 141 43 669
Armoured 112 55 69 143 201 126 37 32 21 0 795
vehicle
Artillery 0 0 0 0 6 21 18 3 22 4 73

Ships 0 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10

TOTAL 156 62 122 196 267 197 126 191 183 47 1546

Obs.: Os valores foram estimados em dólares de 1990.


Fonte: SIPRI (2017a)
Elaboração do autor

2.1.4 O declínio da BID (1991-2000)

No início dos anos 90, a BID brasileira, que ainda tentava se consolidar,
entrou em uma crise com sérias consequências até os dias atuais. Ao final da
década de 90, no ano de 2000, apenas a EMBRAER conseguiu se manter
competitiva no mercado, após a sua privatização em 1994. A AVIBRAS, apesar de
ter sido a terceira maior exportadora na década de 80, permaneceu por mais de seis
29

anos sem exportar materiais de defesa. A ENGESA, maior exportadora na década


anterior, foi à falência em 1993.
As causas da crise são motivo de debate na literatura. Alguns autores
defendem o fim da guerra travada entre o Irã e o Iraque como o principal motivo.
Outros atribuem causas diversas, tais como o início da globalização, a expansão do
neoliberalismo, a queda do muro de Berlim, a redução das tarifas após a abertura
comercial, o que levou as Forças Armadas dos países do Oriente Médio a reduzirem
suas compras de materiais de defesa brasileiros (ANDRADE, 2016).
Dagnino (2010) nega as causas diversas do fim da Guerra Irã-Iraque, já que
as Forças Armadas brasileiras não seriam capazes de comprar o suficiente para
evitar a crise. Já naquela época, as Forças Armadas importavam produtos de
defesa de alto nível tecnológico, o que não era oferecido pela BID brasileira, pois
ela tinha uma enorme dificuldade de colocar no mercado os produtos de elevado
nível tecnológico demandados por seus tradicionais compradores, devido à falta de
capacitação tecnológica para o seu desenvolvimento e produção.

Gastos militares anuais brasileiros (1988-2000)

15000
VALOR (US$ milhões)

10000

5000

0
1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000
Ano

Fig. 2: Gastos militares anuais brasileiros no período 1988-2000


Obs.: Os valores foram estimados em dólares de 2018.

Fonte: SIPRI (2017c)


Elaboração do autor

Pelo gráfico mostrado na Figura 2, nota-se que os gastos militares ficaram


entre 12,5 e 17,5 bilhões de dólares no período entre 1988 e 2000, com exceção do
30

triênio 91-93, no qual os gastos variaram entre 8,6 e 11,8 bilhões de dólares. Na
verdade, a partir de 1992, os gastos militares se elevaram, saindo de 8,6 bilhões
em 1992 e chegando a 17,5 bilhões no ano 2000, o que demonstra que não houve
influência dos orçamentos militares na crise da BID que se iniciou em 1988.
Uma boa explicação para o declínio da BID no Brasil foi o fato de que ela
era extremamente dependente do mercado externo, principalmente do Oriente
Médio, e o mercado de defesa sofreu uma forte contração no mundo após o fim da
Guerra Fria. Segundo dados do SIPRI (2017a), as exportações da BID brasileira
saíram do patamar de US$ 267 milhões em 1984 para o valor de US$ 16 milhões
em 1998 (Fig. 1).

2.1.5 Cenário das últimas décadas da BID (2001-2020)

A partir da primeira década do século XXI, a BID brasileira mostrou alguns


indicadores de uma relativa melhora, com a expansão das empresas que atuavam
na área e um acanhado aumento das exportações de material de defesa.
Quanto às exportações, elas voltaram a crescer devido ao aumento dos
gastos militares de países em desenvolvimento em várias partes do mundo,
especialmente países como Colômbia, Equador e Chile, na América Latina, que
foram os principais compradores de materiais de emprego militar (MEM) produzidos
no Brasil no período entre 2000 e 2010.
O principal produto exportado foram as aeronaves da Embraer, com
destaque para o avião Super Tucano (MORAIS, 2012).
Destacou-se no período o fato de que, em outubro de 2014, a EMBRAER
apresentou o protótipo da nova aeronave de transporte multimissão KC-390,
desenvolvida em parceria com o Comando da Aeronáutica. A primeira aeronave de
série foi entregue à Força Aérea Brasileira em outubro de 2019.
O gráfico da Figura 3 mostra essa tendência de aumento das exportações,
as quais foram predominantemente de aeronaves, que representaram 85% do total
exportado entre os anos de 2001 a 2019.
31

Exportações brasileiras de armamentos (2001-2019)


160

140

120
VALOR (US$ milhões)
100

80

60

40

20

0
2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018 2020

Ano

Fig. 3: Exportações brasileiras de armamentos no período 2001-2019


Obs.: Os valores foram estimados em dólares de 2018.
O valor 0 indica que as exportações foram inferiores a US$ 0,5 M

Fonte: SIPRI (2017a)


Elaboração do autor

O segundo lugar das exportações ficou com a AVIBRAS, com a venda de


veículos, Sistemas de Artilharia Astros II e radares, os quais representaram 7,8%
do total exportado no período. O restante das exportações (7,2%) correspondeu à
venda de mísseis por parte da Mectron (Odebrecht Defesa), que foi à falência em
2017, e à venda de produtos de segunda mão (MORAES, 2012).
Cabe ressaltar que, nesse período, as exportações brasileiras de produtos
de defesa tiveram uma média anual de US$ 41 milhões (Fig. 3), 38% menor que a
média do período 1971-2000, que foi de US$ 66 milhões (Fig. 1), o que demonstra
a pequena expressão da indústria de defesa do País.
Outro ponto a se observar é o desvio padrão das exportações em ambos os
períodos: 73 milhões no período 1971-2000 e 38 milhões no período posterior, de
2001 a 2019, o que mostra a falta de constância das exportações da BID brasileira
desde 1971 e que também explica a sua vulnerabilidade às demandas externas, já
que seus produtos não foram demandados pelas Forças Armadas brasileiras ao
longo dos anos, com exceção das aeronaves militares produzidas pela EMBRAER.
Alia-se a esses dois problemas a pequena diversidade da pauta de
exportações da BID brasileira, que, no período de 1971-2000 era dominada pelas
32

empresas EMBRAER, ENGESA e AVIBRAS e que, nas duas últimas décadas,


passou a ter apenas a EMBRAER como protagonista (85% das exportações), com
a venda de suas aeronaves militares (Tabela 3)4.

Tabela 3: Exportações brasileiras de armamentos por setor no período 2001-2019


Exportações no Período de 2001 a 2010 (US$ milhões)
SETOR
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Aircraft 36 1 44 53 92 33 126
Armoured 2
vehicle
Artillery 17 17

Missiles
Ships 10 0 0 11

TOTAL 19 46 1 44 53 92 43 143

Exportações no Período de 2011 a 2019 (US$ milhões)


SETOR
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 TOTAL
Aircraft 31 32 26 20 18 106 26 93 10 746
Armoured 6 7 15
vehicle
Artillery 17 17 68

Missiles 1 5 5 6 5 5 27

Ships 21

TOTAL 31 33 31 42 41 111 37 100 10 877

Obs.: Os valores foram estimados em dólares de 2018.


Fonte: SIPRI (2017c)
Elaboração do autor

2.2 CARACTERÍSTICAS DA BID NA ATUALIDADE

É sabido que o mercado da BID apresenta imperfeições em matéria de


concorrência, pois há uma grande quantidade de barreiras à entrada de um novo
player. De forma geral, os produtos produzidos pela BID são de alto conteúdo

4O SIPRI considerou, em 2020, ano da pesquisa para a obtenção dos dados deste trabalho, os
seguintes Sistemas de Armas para os dados relativos ao comércio de armamentos: as aeronaves
militares, os sistemas de defesa antiaérea, os sistemas de artilharia, os veículos blindados, os
motores, os sensores, os mísseis, os satélites de uso militar e os navios de guerra. Por isso, pode
haver discrepâncias entre os seus dados e dados provenientes de fontes que utilizam outras
metodologias, especialmente se forem considerados os produtos exportados pela Base Industrial de
Defesa brasileira.
33

tecnológico, e a produção possui encadeamentos e possíveis efeitos de


transbordamento tecnológico (spin-off/spin-on). Por isso, muitos países, incluindo o
Brasil, consideram as compras militares uma oportunidade de acesso tecnológico,
comumente obtido nos contratos de aquisição por meio de cláusulas que garantem
a transferência de conhecimento e tecnologia, os chamados “Acordos de Offset”.
Exemplo disso é o contrato de aquisição de 36 caças suecos para a Força Aérea
Brasileira. Por essas razões, o comércio de Materiais de Emprego Militar (MEM) é
muito restrito e regulado, e as compras governamentais são decididas não somente
por questões técnicas e financeiras, mas também por aspectos de interesse
geopolítico (ARAÚJO, 2010).
Um dos benefícios de uma BID competitiva para um país refere-se aos
aspectos da sua soberania, por meio da independência para o exercício da função
Defesa Nacional, assegurando rápida capacidade de mobilização e resposta.
Adicionalmente, a manutenção da competitividade pressupõe um plano de
aquisições para a BID, ou seja, um programa de compras periódicas e previsíveis
que garantam um nível mínimo de atividade.
Em segundo lugar, um país que possui uma BID capaz de atender às
demandas de suas Forças Armadas se liberta dos preços de monopólio
internacionais, que englobam os custos do contrato de aquisição e os custos do
contrato logístico do ciclo de vida do produto, que envolvem manutenção, reparo,
aquisição de spare parts, entre outros, os quais, em geral, são bem maiores que os
custos de aquisição (Fig. 4).
Por último, a BID pode trazer benefícios econômicos, os quais podem
significar em empregos na área tecnológica e no saldo do balanço de pagamentos,
especialmente no caso de países em desenvolvimento (SANDLER e HARTLEY
apud ARAÚJO, 2010). Entretanto, ela não tem, geralmente, grande participação no
PIB dos países, com exceção dos países que formavam a antiga União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas, mas sua mão-de-obra é muito qualificada.
34

Fig. 4: Ciclo de vida dos Materiais de Emprego Militar (MEM)

Fonte: Acquisition Logistics Guide. 3rd edition, p. 13-6, 1997.


Adaptação e tradução do autor

Por estar a maioria de seus produtos no limiar da tecnologia disponível, há


diversos casos que podem ser considerados como externalidades (spin-off) de
inovações para o setor civil, como, por exemplo, o uso do GPS e da internet. Essas
externalidades podem se configurar de uma forma indireta, como no caso brasileiro,
em que os institutos militares de pesquisa assumiram uma importância fundamental
na formação de recursos humanos, não somente aproveitados pelas Forças
Armadas, mas também por setores os mais diversos da economia. Esse é o caso
da EMBRAER, que muito se utilizou da mão-de-obra formada pelo Instituto
Tecnológico de Aeronáutica (ITA) desde a sua criação.
A decisão de se investir no fortalecimento da BID ou no desenvolvimento
de tecnologias para uso militar é política e ela implica em realocar recursos de outra
área cujo retorno social poderia ser bem maior. A polêmica sobre se os gastos
militares induzem o desenvolvimento econômico é antiga e será abordada no
próximo item. Por ora, é importante pontuar que nenhum país investiu em sua BID
com o intuito de auferir benefícios econômicos, mas sim por uma questão de
soberania e independência de fornecedores externos. As possíveis exportações e
efeitos de transbordamento de tecnologia são efeitos posteriores à decisão de se
fortalecer a BID (DAGNINO e CAMPOS FILHO apud ARAÚJO, 2010).
Assim como qualquer bem, o mercado de defesa possui o lado da demanda
e o da oferta.
35

O lado da demanda é caracterizado pelo sentimento de necessidade que


cada país possui em relação ao bem público defesa, e o governo é o principal
comprador, o qual determina o tamanho e a propriedade de sua BID, fornece
subsídios e controla os lucros das empresas de defesa.
Já o lado da oferta é determinado por poucas empresas no mercado
mundial, que precisam trabalhar na fronteira do conhecimento científico e
tecnológico para se manterem competitivas. O volume de encomendas é um dos
principais determinantes para os custos unitários dos produtos da BID, pois uma
produção maior permite que os custos fixos da Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)
e das curvas de aprendizado associadas à produção sejam distribuídos por uma
quantidade maior de itens produzidos.
No Brasil, a Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e
Segurança (ABIMDE) é uma das principais fontes de dados da BID, e seu site
possui 194 empresas associadas, dentre as quais 85 são classificadas como
Empresas Estratégicas de Defesa e 20 como Empresas de Defesa (ABIMDE, 2018).
Algumas dessas empresas são subsidiárias ou representantes comerciais de
grandes empresas de Defesa multinacionais.
Segundo Frederico Aguiar, presidente da ABIMDE, “a BID é responsável
por mais de 60 mil empregos diretos e outros 240 mil empregos indiretos”. Essas
indústrias “são responsáveis por 4% do PIB (Produto Interno Bruto) do país e
exportam mais de R$ 4,7 bilhões” (AGUIAR, 2018).
Uma nota técnica publicada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), em 2013, na qualidade de órgão governamental de planejamento e pesquisa,
teve o objetivo de identificar algumas características selecionadas do setor, assim
como a percepção dos empresários brasileiros acerca das condições presentes e
futuras para o desenvolvimento da BID nacional (SILVA FILHO, 2013).
No total, 53 empresas responderam o questionário em sua totalidade, 13
responderam parcialmente e 139 não responderam.
Os resultados da pesquisa mostraram que apenas 9,4% das empresas
relataram depender apenas do mercado de defesa, o que confirma o fato de que a
BID brasileira não conseguiria sobreviver fornecendo apenas produtos de defesa
para o governo.
Segundo as respostas, 56,6% das empresas não fornecem para órgãos de
segurança pública e, deste segmento, apenas 13,2% tem neste mercado uma
36

contribuição superior a 20% de seu faturamento. Adicionalmente, em média, apenas


8,4% do faturamento das empresas provém deste segmento. Para os respondentes,
portanto, esse mercado é secundário no Brasil.
Em relação à mão-de-obra, os resultados das respostas mostraram que
grande parte das empresas (67,9%) considerou “difícil ou muito difícil” obter mão-
de-obra especializada e em quantidade suficiente para as suas atividades, e apenas
3,8% reportaram facilidade neste sentido. Isso demonstra que a BID brasileira não
consegue concorrer com outros setores da economia na atração de recursos
humanos qualificados para as suas atividades.
Em relação à origem dos recursos usados para financiamento da produção,
o estudo apontou, para a maioria das empresas, o uso de recursos próprios, em
detrimento de fontes externas de financiamento. 59,8% das respostas foram os
recursos próprios; 14,9% foram o empréstimo bancário; 10,9% foram o
financiamento da empresa controladora e 9,1% responderam que foi o pré-
pagamento realizado por compradores.
Em relação às atividades mais importantes para a sustentação da empresa
na área de defesa, a venda de produtos ficou em primeiro lugar com 60,8% das
respostas. Em seguida, ficaram os serviços de manutenção, com 17,7%. Os
serviços de modernização de equipamentos ficaram em terceiro lugar com 7,4%
das respostas, e, por último, outros serviços, com 11,7% das respostas.
Quanto à dependência das empresas de insumos importados, cerca de 11%
das firmas responderam não precisar de qualquer insumo importado na sua
produção. A maior frequência ficou concentrada, entretanto, na faixa de até 20% de
insumos importados utilizados (28,3% das respostas). Mais de 20% das empresas
responderam que mais de 60% dos seus insumos são de origem externa.
Quanto ao percentual de faturamento das empresas de defesa, para o
período de 2007 a 2011, dedicado à pesquisa e desenvolvimento (P&D), em 2007,
14,7%, na média, foi aplicado em P&D. Esse percentual subiu para 16,3% em 2008,
caiu para 16% em 2009, voltou a subir para 16,2% em 2010 e chegou a 18% em
2011.
Em relação à origem dos recursos para P&D, assim como no caso da
produção, os recursos próprios foram os mais frequentemente utilizados (56,5%,
em média). Para algumas empresas, percentual razoável foi decorrente de aporte
de recursos da Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP (15,5%). O terceiro
37

lugar ficou com o pré-pagamento realizado pelo contratante (13,1% em média),


seguido do financiamento da empresa controladora (9,6% em média).
Quanto à introdução de novos produtos no período entre 2007 e 2011,
47,2% das empresas haviam introduzido um produto novo ou significativamente
aperfeiçoado para o mercado nacional, enquanto 22,6% o fizeram em relação ao
mercado mundial. Em torno de 11% das empresas introduziram produto novo ou
significativamente aperfeiçoado para a empresa, mas que já existia no mercado
nacional.
Em relação à inovação de processo, o melhor resultado foi a introdução de
processo novo ou aperfeiçoado para o mercado nacional (32,1%). Inovações de
processo para o mercado mundial foram relatadas por 17% das empresas.
Quanto às vantagens percebidas em parcerias com universidades e centros
de pesquisa, foi apontado como benefício principal o acesso a conhecimento técnico
para inovação e a pesquisadores (56,6% das respostas). Em segundo lugar, ficou
o acesso a linhas de financiamento à pesquisa de governos (federal/estadual), com
20,8% das respostas.
No ano de 2012, foi publicada a Lei n o 12.598, a qual criou o Regime
Especial Tributário para a Indústria de Defesa (RETID). Quanto à avaliação do
impacto do RETID ao longo dos dez anos seguintes, as respostas indicaram
perspectivas positivas à época. Dos respondentes, 51% afirmaram que a lei seria
extremamente ou muito benéfica, ao passo que 20,7% responderam que a lei seria
pouco ou nada benéfica.
Em relação à parcela das receitas anuais que tinha sido obtida por meio de
exportações, no período compreendido entre 2007 e 2011, o percentual se manteve
num patamar baixo ao longo de todo o período, jamais alcançando a marca de 10%
do faturamento anual das empresas.
Em 2007, o percentual foi de 6,0%; em 2008, 8,9%; em 2009, o percentual
ficou em 7,9%; em 2010 foi de 8,1% e em 2011, foi de 7,1%, o que demonstra a
pouca competitividade da BID brasileira no mercado de defesa mundial.

2.3 POLÍTICAS PÚBLICAS E GASTOS GOVERNAMENTAIS NO SETOR

Após a criação do Ministério da Defesa em 1999, houve a preocupação por


parte do governo brasileiro de elevar a relevância dos assuntos ligados à defesa
38

nacional na pauta das políticas públicas dos últimos 20 anos. Como consequência
dessa relevância, o governo federal aprovou a publicação de alguns documentos
de suma importância para o fortalecimento da Base Industrial de Defesa (BID).
Dentre esses documentos podem ser elencadas a Política Nacional de
Indústria de Defesa (PNID), de 2005, a Política Nacional de Defesa (PND), de 2016,
e sua atualização, de 2020, a Estratégia Nacional de Defesa (END), de 2016, e sua
atualização de 2020, e o Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN), de 2016, e sua
atualização de 2020.
Outro documento que procura dar importância à Base Industrial de Defesa
(BID) é a Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI), a qual
estabelece políticas públicas voltadas à CT&I e à indústria nacional.

2.3.1 As políticas públicas aplicadas ao setor de defesa

A PNID, que sucedeu a aprovação da Política de Defesa Nacional (PDN)


em junho de 2005, foi uma das políticas pioneiras a dar ênfase à indústria de defesa.
Seu objetivo geral é o fortalecimento da BID (Art. 3o da Portaria Normativa 899/MD).
Destacam-se, ainda, seus objetivos específicos ligados à indústria de defesa: “i) a
conscientização da sociedade em geral quanto à necessidade de o País dispor de
uma forte BID; ii) a diminuição progressiva da dependência externa de produtos
estratégicos de defesa, desenvolvendo-os e produzindo-os internamente; iii) a
redução da carga tributária incidente sobre a BID, com especial atenção às
distorções relativas aos produtos importados; iv) a ampliação da capacidade de
aquisição de produtos estratégicos de defesa da indústria nacional pelas Forças
Armadas; v) a melhoria da qualidade tecnológica dos produtos estratégicos de
defesa; vi) o aumento da competitividade da BID brasileira para expandir as
exportações; e vii) a melhoria da capacidade de mobilização industrial na BID”
(BRASIL, 2005).
Além disso, a PNID foi o primeiro documento a apresentar uma definição
para a Base Industrial de Defesa (BID): “o conjunto das empresas estatais e
privadas, bem como organizações civis e militares, que participem de uma ou mais
etapas de pesquisa, desenvolvimento, produção, distribuição e manutenção de
produtos estratégicos de defesa” (BRASIL, 2005).
39

A definição da BID foi retomada na Estratégia Nacional de Defesa (END),


no item 3.1, que trata do Poder Nacional e das Capacidades Nacionais de Defesa
(BRASIL, 2016b).
Uma segunda medida importante para o setor de defesa foi a promulgação
da Lei no 12.598, de 21 de março de 2012, que estabeleceu “normas especiais para
as compras, as contratações e o desenvolvimento de produtos e de sistemas de
defesa e dispôs sobre regras de incentivo à área estratégica de defesa”. (BRASIL,
2012). Adicionalmente, ela criou definições como “Produto de Defesa”5 (PRODE),
“Produto Estratégico de Defesa” (PED)6, “Sistema de Defesa” (SD)7, “Empresa
Estratégica de Defesa” (EED)8, as quais foram utilizadas para estabelecer
incentivos fiscais às empresas da BID, com a finalidade de desonerar as empresas
brasileiras do setor, facilitar a compra de Material de Emprego Militar pelas Forças
Armadas e incentivar a exportação de produtos de defesa de fabricação nacional
(BRASIL, 2012).
A terceira medida de importância destacada foi a publicação da Estratégia
Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI 2016/2022), a qual estabelece
o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI), “que consiste na
interação de todas as instituições, processos e instrumentos necessários para a

5 “Todo bem, serviço, obra ou informação, inclusive armamentos, munições, meios de transporte e
de comunicações, fardamentos e materiais de uso individual e coletivo utilizados nas atividades
finalísticas de defesa, com exceção daqueles de uso administrativo” (BRASIL, 2012).
6 “Todo PRODE que, pelo conteúdo tecnológico, pela dificuldade de obtenção ou pela
imprescindibilidade, seja de interesse estratégico para a defesa nacional, tais como recursos bélicos
navais, terrestres e aeroespaciais; serviços técnicos especializados na área de projetos, pesquisas
e desenvolvimento científico e tecnológico; equipamentos e serviços técnicos especializados para
as áreas de informação e de inteligência” (BRASIL, 2012).
7 “Conjunto inter-relacionado ou interativo de PRODE que atenda a uma finalidade específica”
(BRASIL, 2012).
8 “Toda pessoa jurídica credenciada pelo Ministério da Defesa mediante o atendimento cumulativo
das seguintes condições: a) ter como finalidade, em seu objeto social, a realização ou condução de
atividades de pesquisa, projeto, desenvolvimento, industrialização, prestação dos serviços referidos
no art. 10, produção, reparo, conservação, revisão, conversão, modernização ou manutenção de
PED no País, incluídas a venda e a revenda somente quando integradas às atividades industriais
supracitadas; b) ter no País a sede, a sua administração e o estabelecimento industrial, equiparado
a industrial ou prestador de serviço; c) dispor, no País, de comprovado conhecimento científico ou
tecnológico próprio ou complementado por acordos de parceria com Instituição Científica e
Tecnológica para realização de atividades conjuntas de pesquisa científica e tecnológica e
desenvolvimento de tecnologia, produto ou processo, relacionado à atividade desenvolvida,
observado o disposto no inciso X do caput; d) assegurar, em seus atos constitutivos ou nos atos de
seu controlador direto ou indireto, que o conjunto de sócios ou acionistas e grupos de sócios ou
acionistas estrangeiros não possam exercer em cada assembleia geral número de votos superior a
2/3 (dois terços) do total de votos que puderem ser exercidos pelos acionistas brasileiros presentes;
e e) assegurar a continuidade produtiva no País” (BRASIL, 2012).
40

promoção da inovação por meio do desenvolvimento científico e tecnológico”


(BRASIL, 2018). Destaca-se, assim, a sua proposta de “instauração de um
paradigma de inovação colaborativa no Brasil, estimulando o estreitamento das
relações entre Universidade e Empresa e a interação entre os mais diferentes
componentes do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação – SNCTI”.
A ENCTI possui onze temas em CT&I tidos como estratégicos para o
desenvolvimento, autonomia e soberania nacional. Um desses temas e suas
estratégias associadas referem-se às áreas aeroespaciais e de defesa, cujo objetivo
é “promover a capacidade do País para, segundo conveniência e critérios próprios,
utilizar os recursos e técnicas aeroespaciais na solução de problemas nacionais e
em benefício da sociedade brasileira, bem como fomentar a pesquisa e o
desenvolvimento de produtos e sistemas militares e civis que compatibilizem as
prioridades científico-tecnológicas com as necessidades de defesa” (BRASIL,
2018).
Outra das medidas mais importantes para o setor de defesa foi a edição do
Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN), viabilizado com a edição da Lei
Complementar no 136, de 25 de agosto de 2010 (alterou a Lei Complementar n o
95/1999). Nele se encontra o Plano de Articulação e Equipamento de Defesa
(PAED), o qual prevê os principais projetos estratégicos que se encontram em
desenvolvimento no âmbito das três Forças Armadas.
“O PAED consolida os projetos estratégicos das Forças Armadas que visam
atender às demandas de articulação e de equipamento necessárias para o
cumprimento de sua destinação constitucional, conforme preconizado na Estratégia
Nacional de Defesa (END)” (BRASIL, 2016c).
A principal política pública na área de defesa foi a aprovação da Política
Nacional de Defesa (PND) e da Estratégia Nacional de Defesa (END), as quais são
atualizadas em um ciclo de 4 anos, a fim de adequá-las às novas circunstâncias
nacionais e internacionais. Adicionalmente, foi propiciada a participação do Poder
Legislativo no processo de reformulação desses documentos.
Não será promovida uma nova discussão sobre o conteúdo desses
documentos naquilo que se referem à Base Industrial de Defesa, pois isso já foi feito
na “Apresentação do Trabalho”. Discutir-se-ão, agora, os fundamentos teóricos de
ambos.
41

2.3.1.1 A influência da teoria realista na PND

Na teoria realista das Relações Internacionais, as interações entre os


estados são definidas pela condição anárquica da política internacional e pela
desigual distribuição de poder entre eles, os quais são os principais atores do
sistema e os detentores do poder. Na ausência de uma entidade superior
internacional, os estados vivem em uma luta constante pelo poder, que começa com
a sua própria sobrevivência.
Nesse sentido, a guerra e a conquista territorial são sempre uma opção, o
que faz da manutenção da segurança e da independência territorial hipóteses de
ameaça constantes (MENDES, 2019).
“O Realismo afirma-se, então, como uma explicação convincente de um
mundo dominado pela competição e pelo conflito. Inspirado na visão de
clássicos tais como Tucídides, Maquiavel, Hobbes e Rousseau, os autores
realistas, como por exemplo Kenneth Waltz, interpretam a política
internacional como uma luta sem fim pelo poder, com raízes na própria
natureza humana” (Mello, 1999).

Em relação à Política Nacional de Defesa, o item 2, “O Contexto da PND”


está repleto de influências da teoria realista, notadamente os itens 2.1.5 (projeção
do País no concerto das nações), 2.2.7 (relações de força na interação estatal),
2.2.10 (ações no sentido de garantir sua soberania), 2.2.11 (defrontação com
antagonismos), 2.2.14 (atenção demandada nas fronteiras), 2.3.1 (maior influência
internacional), 2.3.2 (guerra híbrida), 2.3.7 (aumento de sua influência política em
nível global), 2.3.10 (conflitos com o uso da força) e 2.3.12 (incremento do Poder
Nacional).

2.3.1.2 O desafio da desnacionalização

Não há dúvidas que a tendência de desnacionalização do parque industrial


brasileiro também atingiu a Base Industrial de Defesa (BID), devido às profundas
transformações econômicas sofridas pela ordem econômica mundial, em um
movimento conhecido como “Globalização”.
“A Globalização deriva dos níveis de acumulação que o capitalismo, nos
países centrais, alcançou após anos de crescimento acelerado” (FONSECA
JÚNIOR, 2017). Os principais efeitos observáveis foram o crescimento dos fluxos
de capital, o aumento da concorrência entre as multinacionais e a integração das
42

economias nacionais, os quais afetaram as estruturas financeiras, produtivas,


comerciais e tecnológicas das relações econômicas mundiais (GONÇALVES apud
FONSECA JÚNIOR, 2017).
No Brasil, a globalização ganhou importância na década de 90, devido às
circunstâncias de vulnerabilidade externa causada pelos déficits comerciais e do
balanço de pagamentos, aliadas ao cenário de queda acentuada dos orçamentos
militares no mundo, após o fim da Guerra Fria.
Andrade e Franco definem “desnacionalização” como “a alienação de
capital e de tecnologias das empresas nacionais do setor para competidores
estrangeiros, com prejuízo para a efetividade das políticas públicas do setor”
(GONÇALVES apud FONSECA JÚNIOR, 2017).
Fruto desse movimento, algumas empresas da BID foram à falência ou
tiveram seu controle transferido para uma empresa transnacional, apesar das
iniciativas públicas tomadas pelo governo brasileiro em sentido contrário.
Exemplos de desnacionalização da BID não faltam: a Iveco, fabricante dos
blindados Guarani, fabrica apenas 60% das peças no Brasil; a Aeroeletrônica e a
Ares Aeroespaciale Defesa, renomeadas após a aquisição como AEL Sistemas,
foram adquiridas em 2001 e 2010, respectivamente, pela ELBIT, empresa de
Defesa israelense; e o grupo Thales, francês, adquiriu 100% do controle da
brasileira Omnisys (SANTAYANA apud FONSECA JÚNIOR, 2017).
Algumas políticas públicas foram implementadas no sentido de evitar a
desnacionalização da BID, entre elas a criação do Ministério da Defesa, em 1999,
cuja missão é, entre outras, “coordenar o esforço integrado de defesa”. Essa
coordenação deveria incluir o desenvolvimento, o incentivo e o fortalecimento da
BID.
Além da criação e das atualizações da PND e da END, como já citado
anteriormente, outra medida do governo brasileiro no sentido de impedir a
desnacionalização foi a criação, em 2010, da Secretaria de Produtos de Defesa
(SEPROD) no Ministério da Defesa, cuja competência, entre outras, é a de propor
os fundamentos para a formulação e atualização da Política Nacional da Indústria
de Defesa (PNID), também já comentada neste trabalho.
Outra estratégia importante no sentido de evitar a desnacionalização é a
“dualização” da BID, que pode ser feita pelos processos de spin-off ou de spin-on.
Em ambos os processos, pode-se garantir uma lucratividade maior às empresas
43

que compõem a BID, quando elas conseguem entrar com seus produtos no
mercado civil (spin-off) ou quando tecnologias desenvolvidas no meio civil são
aproveitadas no desenvolvimento de seus produtos (spin-on) (ANDRADE, 2015).
Um exemplo de sucesso na dualização da BID é a EMBRAER.
Amarante (2004) defende a ideia de que, mesmo com a utilização de
tecnologias duais, a dependência de um único cliente – o Estado – não é
economicamente viável para a BID brasileira.
Uma quarta alternativa para melhorar a autonomia tecnológica da BID é
considerar a importância das parcerias externas, uma vez que é muito difícil ter uma
indústria de defesa completamente autônoma no cenário atual. Por meio dessas
parcerias, é possível aprimorar o nível tecnológico da BID através de instrumentos
como a “transferência de tecnologia e os “Acordos de offset”. Exemplos bem
sucedidos são o desenvolvimento em conjunto com a África do Sul do Projeto A-
Darter – míssil ar-ar de curto alcance e de 5ª geração, o desenvolvimento do Projeto
F-X2 pela empresa sueca SAAB e o PROSUB, programa de desenvolvimento dos
novos submarinos da Marinha do Brasil.
“Embora já tenha tido um papel ativo como exportador de armas, o Brasil,
mesmo no momento atual de revitalização de sua indústria de defesa,
possui uma estrutura pouca adequada à promoção das exportações de
material de defesa, reduzindo a potencialidade das vendas externas”
(MORAIS apud ANDRADE, 2015).

2.3.2 Os gastos governamentais no setor nas últimas décadas

Os gastos governamentais em defesa são um importante parâmetro para a


demanda da Base Industrial de Defesa, pois os bens e serviços produzidos pela
indústria de defesa são, na maior parte das vezes, Materiais de Emprego Militar
(MEM) voltados para o consumo das Forças Armadas e das forças de Segurança
Pública. Por isso, é importante analisar os gastos com defesa do governo brasileiro,
bem como a parcela desses gastos destinada à BID nacional.
O gráfico da Fig. 5 mostra os gastos brasileiros com defesa entre os anos
de 2001 e 2019. Nos anos de 2001 e 2002, esses gastos permaneceram perto dos
20 bilhões de dólares. Em 2003, o gasto caiu para 16 bilhões e, depois disso, os
gastos foram subindo de ano a ano até chegar, em 2010, a 26,4 bilhões de dólares,
acompanhando o crescimento do PIB brasileiro no período.
44

30 Gastos militares anuais brasileiros (2001-2019)

25
Valor (US$ bilhões)

20

15

10

0
2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018 2020

Ano

Fig. 5: Gastos militares anuais brasileiros no período 2001-2019


Obs.: Os valores foram estimados em dólares de 2018.

Fonte: SIPRI (2017c)


Elaboração do autor

De 2010 a 2016, os gastos militares se mantiveram quase constantes,


variando entre 24,8 bilhões (2016) e 26,8 bilhões (2014). Em 2018, o gasto com
defesa pulou para 28,2 bilhões de dólares, e, em 2019, caiu para 26,9 bilhões.
No gráfico da Fig. 6, é possível verificar que, em relação ao Produto Interno
Bruto (PIB), o gasto com defesa caiu de 2% para 1,5% entre 2001 e 2003. Depois
disso, ele se manteve praticamente constante no período de 2003 a 2017, no
patamar de 1,5%, à exceção de 2008, 2011, 2012 (que foram de 1,4%), e de 2013
e 2014 (que se mantiveram em 1,3%).
Essa é a explicação do porquê os gastos militares cresceram em valor
absoluto no período de 2003 a 2010: eles se beneficiaram do crescimento do PIB
brasileiro no período.
A partir de 2011, os gastos se mantiveram entre 1,3% e 1,5%, praticamente
constante, mas o PIB brasileiro não cresceu no mesmo ritmo que havia crescido na
década anterior e, por isso, esses gastos se mantiveram entre 24,8 e 28,2 bilhões
de dólares anuais.
Os dados apresentados na Fig. 7 mostram que, em relação ao percentual
dos gastos do governo federal, nos anos de 2001 e 2002, os gastos militares
45

representaram os maiores valores do período considerado (2001-2018), coincidindo


com os maiores valores gastos com defesa em relação ao PIB.

Gastos militares brasileiros em relação ao PIB (2001-2019)

2
Valor (em % do PIB)

0
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
Ano

Fig. 6: Gastos militares brasileiros em relação ao PIB (2001-2019)

Fonte: SIPRI (2017c)


Elaboração do autor

De 2003 a 2018, os gastos com defesa em relação ao percentual de gastos


do governo federal permaneceram praticamente constantes, entre 4,1% e 3,4%. No
período entre 2003 e 2009, houve um aumento moderado ano a ano, saindo do
patamar de 3,7% e chegando ao valor de 4,1% em 2009. A partir desse ano, houve
um decréscimo gradual desse percentual até se atingir o valor de 3,4% em 2016.
A partir daí, houve um aumento de 0,5% nos gastos com defesa do governo,
e foi atingido o valor de 3,9% em 2018, último ano de disponibilidade desse tipo de
dado pelo Banco Mundial.
Apesar do aumento nominal dos valores no gasto com defesa no período
de 2001 a 2019, esse resultado deve ser contextualizado. Com exceção dos anos
2001 e 2002, esses mesmos gastos, tomados em relação ao PIB, se mantiveram
praticamente constantes ao longo das duas primeiras décadas do século XXI. O
mesmo aconteceu em relação ao percentual de gasto com defesa em relação aos
gastos do governo federal como um todo, que cresceu um pouco entre os anos de
2003 e 2009, mas que voltou a cair no período 2009 a 2016.
46

Os valores destinados ao setor de defesa acompanharam o desempenho


do PIB no período considerado, sem alterar significativamente a sua fatia no “bolo”
do orçamento federal.

Gastos brasileiros com Defesa (2001-2018)


6
(em % dos gastos do governo federal)
Valor (em % dos gastos do governo federal

0
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
Ano

Fig. 7: Gastos militares brasileiros (2001-2019)


(Em % dos gastos do governo federal)
Fonte: Banco Mundial. World Development Indicators. Disponível em:
https://data.worldbank.org/indicator/MS.MIL.XPND.CN?end=2018&name_desc=false&
start=2001&view=chart (Banco Mundial, 2020)
Elaboração do autor

É importante, também, situar a dimensão dos gastos com defesa do Brasil


no contexto mundial. Para isso, a tabela 4 mostra os gastos militares dos 17 países
com maior investimento no setor de defesa em termos absolutos (coluna 3). Além
disso, a tabela mostra os gastos em relação ao PIB (coluna 4) e também em relação
aos gastos governamentais do governo federal (coluna 5).
O Brasil teve, em 2019, o 11o maior orçamento militar do mundo, com o total
de US$ 26,95 bilhões. Entretanto, o gasto brasileiro em relação ao PIB foi de apenas
1,5%, valor que se destoa da média de gastos em relação ao PIB dos primeiros dez
países, com exceção da Alemanha (1,3%) e do Japão (0,9%). O mesmo acontece
com os gastos militares em relação ao orçamento do governo federal. O Brasil
destinou apenas 3,9% do orçamento federal ao setor de defesa em 2019, fazendo
com que o percentual dos gastos em defesa em relação ao orçamento do governo
federal seja muito aquém das principais potências militares do mundo.
47

Ao analisar um pouco mais os dados da Tabela 4, é possível ser verificada


a divisão das potências militares em cinco blocos ou categorias: A primeira é
formada pelas superpotências da atualidade, Estados Unidos e China, os quais
investem em defesa mais do que o triplo do 3o colocado9.

Tabela 4: Os maiores gastos mundiais com Defesa (2019)


Rank País Gastos (US$ milhões) % PIB % gastos governamentais
1 Estados Unidos 731.751 3,4% 9,0%
2 China* 261.082 1,9% 5,5%
3 Índia 71.125 2,4% 8,7%
4 Rússia 65.103 3,9% 11,4%
5 Arábia Saudita* 61.867 8,0% 24,6%
6 França 50.119 1,9% 4,1%
7 Alemanha 49.277 1,3% 2,8%
8 Reino Unido** 48.650 1,7% 4,6%
9 Japão 47.609 0,9% 2,5%
10 Coréia do Sul 43.891 2,7% 12,4%
11 Brasil 26.946 1,5% 3,9%
12 Itália 26.790 1,4% 2,8%
13 Austrália 25.912 1,8% 5,1%
14 Canadá 22.198 1,3% 3,1%
15 Israel 20.465 5,3% 11,1%
16 Turquia 20.448 2,7% 7,1%
17 Espanha 17.177 1,2% 3,1%

* indicativo de dados estimados


** indicativo de dados incertos
Fonte: SIPRI (2017c) e Banco Mundial (2020).
Obs. 1: Os valores foram estimados em dólares de 2018.
Obs. 2: Os gastos com defesa em termos absolutos e em relação ao PIB foram extraídos do
SIPRI, e os gastos em relação ao orçamento federal foram obtidos do Banco Mundial.
Elaboração do autor

A segunda categoria é formada pelos países que investem entre 60 e 75


bilhões de dólares anuais em defesa, formada pela Índia, Rússia e Arábia Saudita.
O grande destaque desse bloco é a Índia, que passou da 10ª colocação em 2001,
com 30 bilhões de dólares anuais investidos em defesa, para a 3ª colocação em
2019.
A terceira categoria é formada pelas potências militares da Europa
Ocidental e da Ásia: França, Alemanha, Reino Unido, Japão e Coréia do Sul, as
quais investem entre 40 e 51 bilhões de dólares anuais em defesa.

9Na realidade, os Estados Unidos investem em defesa mais do que dez vezes o valor do 3º colocado,
a Índia, e seu orçamento no setor é mais do que o dobro do orçamento chinês.
48

A quarta categoria é formada pelos países que investem entre 20 e 35


bilhões de dólares anuais em defesa. O Brasil foi o país que mais investiu em defesa
desse bloco em 2019, que ainda tem Itália, Austrália, Canadá, Israel e Turquia. A
grande surpresa desse bloco foi Israel, que há pouco entrou para a lista dos 15
países com maiores investimentos em defesa no mundo.
O último bloco é formado pelos países que investem menos de 20 bilhões
de dólares anuais em defesa e é encabeçado pela Espanha.
É interessante perceber o deslocamento do importante centro de poder
militar, ora existente na Europa Ocidental, para a Ásia, com a inserção da China e
da Índia nos três maiores orçamentos militares mundiais, a manutenção da Rússia
como a 2ª maior potência militar do planeta e o crescimento consistente dos
orçamentos militares da Coréia do Sul.
Adicionalmente, ressalta-se que nem todos os gastos militares do governo
brasileiro significam uma demanda direta para a Base Industrial de Defesa (BID) do
Brasil, pois a despesa anual do Ministério da Defesa inclui todas as despesas
relacionadas às Forças Armadas, as quais incluem os seguintes grupos: gastos com
pessoal e encargos sociais, juros e encargos da dívida, despesas correntes
(despesas de custeio), investimentos, inversões financeiras10, amortização da
dívida e as reservas de contingência.
Apenas o grupo de despesa classificado como “investimentos” podem
significar uma demanda para a BID, já que nesse grupo estão incluídas, além das
aquisições (procurement) que demandam a BID, outras despesas relacionadas às
construções de infraestrutura para os quartéis do Exército, as bases navais e as
bases aéreas, aquisições diversas de Materiais de Emprego Militar (MEM), como
compras de equipamentos de Tecnologia da Informação (TI), veículos comuns etc.
A Fig. 8 apresenta, em forma de gráfico, a aplicação dos recursos
destinados ao MD na última década (2011-2020).

10 “Classificam-se como Inversões Financeiras as dotações destinadas a:


I - aquisição de imóveis, ou de bens de capital já em utilização;
II - aquisição de títulos representativos do capital de empresas ou entidades de qualquer espécie, já
constituídas, quando a operação não importe aumento do capital;
III - constituição ou aumento do capital de entidades ou empresas que visem a objetivos comerciais
ou financeiros, inclusive operações bancárias ou de seguros (BRASIL, 1964)”.
49

1. Despesas com pessoal


2. Juros da dívida
90000
3. Despesas correntes (custeio)
80000 4. Investimentos
5. Inversões financeiras
70000 6. Amortização dívida

VALOR (R$ milhões) 60000


7. Reserva de contingência

50000

40000

30000

20000

10000

0
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
Ano

2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019


1.Desp Pessoal 17.441 17.729 19.229 20.414 22.887 43.576 47.815 51.894 55.425
2. Juros Dívida 882 895 1.057 1.244 690 514 451 522 653
3. Desp correntes 7.252 7.193 8.341 10.005 9.464 9.259 9.823 10.144 10.786
4. Investimentos 7.388 13.786 9.801 9.597 10.978 7.188 8.683 8.387 8.025
5. Inversões financ 6 22 7 107 331 134 551 2.892 7.163
6. Amortiz dívida 567 834 1.288 2.007 2.342 1.792 1.393 1.566 1.713
9. Reserva conting 145 360 506 87 120 338 326 1.221 1.370
Fig. 8: Aplicação do orçamento de Defesa do Brasil (2011-2020)
Fonte: Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento do Governo Federal (SIOP)
Elaboração do autor

Em 2011, o orçamento total de Defesa brasileiro foi de R$ 33,681 bilhões,


no qual as despesas com pagamento de pessoal representaram 51,8% do
orçamento, as despesas correntes, 21,5% do orçamento e os investimentos
responderam por 21,9% do orçamento.
Em 2019, o orçamento total de Defesa brasileiro foi de R$ 85,133 bilhões,
no qual as despesas com pagamento de pessoal e encargos sociais representaram
65,5% do orçamento, as despesas correntes (custeio) foram 12,7% do orçamento
e os investimentos responderam por apenas 9,4% do orçamento, ou seja, o que
aconteceu na última década foi o aumento das despesas com o pagamento de
pessoal em quase 14%, enquanto as despesas de custeio diminuíram 8,8% e os
investimentos, por sua vez, tiveram uma redução de 12,5%.
Se considerarmos os dados do orçamento de defesa entre os anos de 2001
e 2020, chegamos ao resultado de aumento das despesas com o pagamento de
pessoal em 19,9%, diminuição das despesas de custeio em 6,7% e redução dos
investimentos em 5,9%.
50

A diminuição do percentual de investimentos no orçamento de defesa do


Brasil é um dos principais fatores que pressionam a demanda do governo federal
por encomendas da Base Industrial de Defesa (BID) e acabam por prejudicar o ritmo
de fortalecimento das indústrias de defesa do País.
Por outro lado, a BID também é pressionada por haver pouca
disponibilidade de mão-de-obra especializada e suficiente para as atividades
realizadas na área de defesa no mercado brasileiro, conforme discutido na seção
2.2 deste trabalho (p. 31).
Outra questão a ser discutida ao se chegar no final deste capítulo é se os
investimentos aplicados na Base Industrial de Defesa consistem na melhor forma
de impulsionar o desenvolvimento do país.
Para Serrão (2017), apesar do trinômio “defesa-inovação-desenvolvimento”
estar presente nos documentos orientadores da Defesa Nacional (PND, END e
LBDN), a revisão dos estudos empíricos presentes na literatura e realizada em seu
trabalho mostrou a ausência de coerência nos resultados de modo a embasar, sem
nenhuma dúvida, essa associação.
Conforme demonstrado em seu trabalho, os resultados obtidos foram
dependentes dos pressupostos teóricos e dos indicadores usados na construção
dos modelos, o que torna difícil a avaliação de suas conclusões.
“Cabe lembrar que, devido ao caráter de bem público da defesa nacional,
dificilmente o mercado sozinho irá suprir as necessidades de defesa de
uma nação. Justifica-se, portanto, investimento governamental para
assegurar o provimento de defesa, independente da sua relação com
crescimento econômico ou inovação” (SERRÃO, 2017).

Brick (2020) também afirma que a indústria de defesa não existe por
motivações econômicas e, sim, estratégicas, assim como as próprias Forças
Armadas, sendo parte de um sistema que não se confunde com as Forças Armadas
e que contribui tanto para a defesa quanto para o desenvolvimento.
No próximo capítulo, será analisada a Expressão Científica e Tecnológica
do Poder Nacional, um dos tripés de fundamental importância para o fortalecimento
da Base Industrial de Defesa (BID) brasileira.
3 A EXPRESSÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DO PODER NACIONAL

F
oi discutido, no capítulo anterior, que a Indústria de Defesa, se
competitiva e autônoma, fabrica Materiais de Emprego Militar no
limiar da tecnologia disponível. Por isso, é consenso na literatura
que a Ciência e a Tecnologia nacionais desempenham um papel fundamental e
insubstituível para o fortalecimento da Base Industrial Brasileira (BID).
A expressão Científica e Tecnológica do Poder Nacional é formada pelos
recursos humanos, financeiros e materiais nas atividades relacionadas à criação, à
difusão, à aplicação ao caso concreto dos conhecimentos científicos e tecnológicos,
bem como à gestão desses conhecimentos. Compreende, portanto, a capacitação
nacional em Ciência e Tecnologia.
Segundo a doutrina da Escola Superior de Guerra (ESG), a Expressão
Científica e Tecnológica do Poder Nacional é:
“a manifestação do conjunto de homens e meios de que a Nação dispõe
nos campos da ciência e da tecnologia que contribui para alcançar os
Objetivos Nacionais” (BRASIL, 2019).

Sendo os fundamentos os elementos básicos pelos quais o Poder Nacional


se expressa, é intuitivo deduzir que eles podem ser divididos, para o caso da
Expressão Científica e Tecnológica, nos Recursos Humanos, Naturais e Materiais
e nas Instituições Científicas e Tecnológicas.
Dessa forma, para que a expressão científica e tecnológica brasileira possa
ser caracterizada e compreendida didaticamente, é necessário dividi-la nos seus
elementos básicos.

3.1 OS RECURSOS NATURAIS BRASILEIROS

O Brasil é conhecido mundialmente por sua abundância de recursos


materiais, “que compreendem todos os elementos que constituem o nosso universo
natural e seus fenômenos, no que diz respeito à expressão científica e tecnológica”
(BRASIL, 2019).
Essa abundância se traduz como um dos maiores recursos naturais hídricos
do planeta e em recursos minerais invejáveis, comparáveis apenas com países
como a Rússia, os Estados Unidos, o Canadá, a China e a Austrália.
52

Sob o solo brasileiro, podem ser encontrados a maioria dos minerais


estratégicos para a indústria, tais como o ferro, o cobre, a argila, o granito, o
manganês, o nióbio, os nitratos etc.
Além disso, o País situa-se numa posição privilegiada em relação aos seus
recursos energéticos, que são muito diversificados: petróleo, carvão, urânio, energia
solar, gás natural, etanol etc.
Dessa forma, os recursos naturais e materiais brasileiros não se constituem
em um óbice para o fortalecimento da expressão científica e tecnológica do Poder
Nacional.

3.2 INSTITUIÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS E INOVAÇÃO

Muito da infraestrutura Científica e Tecnológica no Brasil está ligada ao


Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o qual possui, dentre outras
atribuições, a missão de “estabelecer as políticas nacionais de pesquisa científica e
tecnológica e de incentivo à inovação”, bem como realizar a “articulação com os
Governos dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, com a sociedade civil
e com órgãos do Governo federal para estabelecimento de diretrizes para as
políticas nacionais de ciência, tecnologia e inovação” (BRASIL, 2020b).
A rede do MCTI abriga 4 agências, 3 conselhos, 4 empresas públicas, 101
Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT), distribuídos em 8 áreas de
conhecimento, 6 “organizações sociais” e 16 unidades de pesquisa.
As agências pertencentes ao MCTI são:
• Agência Espacial Brasileira (AEB);
• Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL);
• Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN);
• Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), cuja missão é fomentar a Ciência, Tecnologia e Inovação e
atuar na formulação de suas políticas, contribuindo para o avanço
das fronteiras do conhecimento, o desenvolvimento sustentável e a
soberania nacional.
Os Conselhos do MCTI “são espaços públicos cuja finalidade é permitir a
participação da sociedade na formulação e no acompanhamento e controle das
políticas públicas”, previstos na Constituição Federal (BRASIL, 1988):
53

• Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal


(CONCEA);
• Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio);
• Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT), o qual “trabalha
na perspectiva de tornar a ciência, tecnologia e inovação um dos
eixos estruturantes do desenvolvimento econômico e social do País”.
O MCTI possui também 4 empresas públicas: CEITEC S. A., que atua no
segmento de semicondutores; os Correios; a TELEBRAS; e a FINEP que é uma
empresa cuja missão é “promover o desenvolvimento econômico e social do Brasil
por meio do fomento público à Ciência, Tecnologia e Inovação em empresas,
universidades, institutos tecnológicos e outras instituições públicas ou privadas”.
Os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT), cuja missão é
“mobilizar e agregar, de forma articulada, os grupos de excelência em áreas de
fronteira da ciência e em áreas estratégicas para o desenvolvimento sustentável do
País”, atuam na pesquisa científica básica e na pesquisa científica e tecnológica de
ponta em oito áreas de atuação dos Institutos: agrária, de energia, de engenharia e
Tecnologia da Informação, de ciências exatas e naturais, de ciências humanas e
sociais, de ecologia e meio ambiente, de nanotecnologia e de saúde.
As chamadas “Organizações Sociais” são compostas por 6 instituições:
• Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), cuja missão é
“subsidiar processos de tomada de decisão em temas relacionados
à ciência, tecnologia e inovação, por meio de estudos em prospecção
e avaliação estratégica baseados em ampla articulação com
especialistas e instituições do SNCTI;
• Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM);
• Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA);
• Associação Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial
(EMBRAPII), cuja missão é “promover e incentivar a realização de
projetos empresariais de pesquisa, desenvolvimento e inovação
voltados para setores industriais por meio de cooperação com
instituições de pesquisa tecnológica”.
• Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM);
54

• Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), cuja missão é


“promover o uso inovador de redes avançadas”.
Por último, as Unidades de Pesquisa do MCTI, às quais competem a
geração, aplicação e disseminação de conhecimentos, bem como o
desenvolvimento de tecnologias e a promoção da inovação em suas respectivas
áreas de atuação: CBPF, CEMADEN, CETEM, CETENE, CTI, IBICT, INPA, INPE,
INSA, INT, LNA, LNCC, MAST, MPEG, ON e INMA.
À primeira vista, pode ser notada a grande pulverização dos órgãos que
cuidam do fomento às atividades de Ciência, Tecnologia e Inovação dentro do
MCTI. Como exemplo, podem ser citados os vários órgãos da estrutura
organizacional do MCTI cuja missão é fomentar a Ciência, Tecnologia e Inovação
(CT&I): o CNPq, o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT), a FINEP, o
Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e a EMBRAPII.
Essa realidade institucional leva a uma dispersão de responsabilidade e de
autoridade sobre o mesmo problema e ainda faz com que cada responsável detenha
quantidade de recursos insuficiente para resolvê-lo, embora a quantidade total de
recursos possa ser suficiente (BRICK, 2020).
De Nigri e Scheff (2016) apresentaram os principais resultados do
Mapeamento de Infraestrutura de Pesquisa realizado em 2013 pelo Ipea, pelo CNPq
e pelo MCTI. Esse mapeamento coletou informações sobre cerca de 2 mil
infraestruturas de pesquisa e produção tecnológica em mais de 130 instituições de
pesquisa no País, a maior parte delas pertencentes às estruturas universitárias.
“Produzir C&T de alto nível requer, além de capital humano, instituições e
infraestruturas capazes de abrigar novos talentos e de dar vazão à sua
criatividade. Não parece razoável supor que um pesquisador, por melhor
que seja, consiga desenvolver pesquisa de fronteira isoladamente em seu
laboratório, ou utilizando equipamentos obsoletos. Também não é razoável
imaginar que esse pesquisador terá relevo internacional – especialmente
em um sistema altamente competitivo – se não puder contar com uma
estrutura profissional de pesquisa” (DE NIGRI e SCHEFF, 2016).

A pesquisa mostrou que o Brasil tem pouquíssimas instituições com uma


estrutura adequada para a pesquisa. A grande maioria delas é formada de
pequenos laboratórios dentro das universidades. Nelas trabalham, em média,
apenas quatro pesquisadores, e os equipamentos de pesquisa, em cerca de 90%
dos casos, custam menos de R$ 2 milhões. Esse estudo mostrou também que
existem apenas 10 infraestruturas onde foram investidos mais de R$ 30 milhões,
somados os equipamentos e as instalações físicas. Um desses exemplos é o
55

Laboratório Nacional de Luz Sincrotron, vinculado ao Centro Nacional de Pesquisa


em Energia e Materiais (CNPEM), uma das 6 “Organizações Sociais” acima citadas.
Por isso, apenas 13% das respostas informaram que seu laboratório é
compatível com as melhores infraestruturas existentes no exterior, e a maioria das
respostas admite a grande diferença entre estas e as condições do seu local de
trabalho, apesar do aumento dos investimentos realizados na década 2001-2010.
Mais da metade dos laboratórios foi criada na primeira década deste século, e boa
parte deles tinha realizado bons investimentos no período 2009-2013 (De NIGRI e
SCHEFF, 2016).
Entre as agências que financiam a pesquisa nestes laboratórios, o CNPq e
as Fundações Estaduais de Amparo (FAP) são as principais em termos de
capilaridade. Em relação ao montante de recursos alocados, entretanto,
sobressaem-se a PETROBRAS e a FINEP, além do orçamento da instituição à qual
o laboratório está subordinado.
Um dado inesperado foi o fato de que o financiamento desses laboratórios
conta com uma parcela maior que 7% de suas receitas provenientes de outras
empresas privadas, valores compatíveis com o encontrado nas universidades
estaduais paulistas (BRITO CRUZ apud De NIGRI e SCHEFF, 2016).
Adicionalmente, foi levantado na pesquisa que 43% dos laboratórios prestam
serviços para empresas privadas.
Nesta pesquisa, ficou evidente que a interação universidade-empresa não
é fraca no Brasil, mas que existem outros problemas estruturais mais relevantes no
sistema de C&T brasileiro, o que significa a necessidade de rever a política de
alocação de recursos para as instituições de C&T. Por muito tempo, priorizou-se a
fragmentação de recursos, o que pode ter criado um sistema de tal forma capilar
que se tornou pouco competitivo (De NIGRI e SCHEFF, 2016).
A situação da infraestrutura de CT&I não é diferente na área de Defesa.
Com a mesma base de 1760 infraestruturas identificadas na coleta de dados de
2013, realizou-se nova análise baseada apenas nos laboratórios e instituições de
pesquisa e desenvolvimento vinculados ao Ministério da Defesa (MD).
Foram selecionadas 44 infraestruturas, todas classificadas como
laboratórios e localizadas na região Sudeste.
Com respeito às áreas do conhecimento, quase 80% dos responsáveis
pelos laboratórios responderam que eram infraestruturas dedicadas à pesquisa e
56

desenvolvimento na área de engenharia, seguida pelas ciências exatas e pelas


ciências da terra, o que é consistente com as áreas mais ligadas aos conhecimentos
necessários ao desenvolvimento tecnológico na área de defesa.
Em relação aos recursos humanos, 145 pessoas eram da área de apoio
técnico e administrativo dos laboratórios, enquanto 170 eram pesquisadores
dedicados às atividades finalísticas, o que leva a uma média de pouco menos de
quatro pesquisadores por laboratório, muito aquém da média observada nos
laboratórios dedicados à pesquisa em defesa de países como Reino Unido, Estados
Unidos, Espanha, França, Suécia e China. Isso é um dos indicativos da falta de
pesquisadores no Brasil que trabalham com pesquisa e desenvolvimento para a
Base Industrial de Defesa (BID) (SCHEFF, 2016).
Uma distinção dos resultados obtidos para os laboratórios que atuam para
a área de Defesa foi a dedicação mais intensa dos pesquisadores às atividades fins
do laboratório: 65% dos pesquisadores dedicam mais de 30 horas por semana
frente aos 54% de pesquisadores na amostra ampla. Outra característica desses
laboratórios é a maior dedicação às atividades de pesquisa e produção de
tecnologias em intensidade bem maior que a prestação de serviços, ensino e
extensão (SCHEFF, 2016).
Além disso, 86% dos laboratórios responderam que prestavam algum tipo
de serviço, e 61% prestavam serviços a empresas. Ressalta-se que a queda
observada nesse grupo de laboratórios foi bem menor que a observada na amostra
ampla, em que a porcentagem caiu de 69% para 43%. Essa porcentagem, além de
ser mais alta que a média nacional, é também superior à observada em setores
dentro dos quais há uma maior interação entre a pesquisa científica e a atividade
produtiva, como é o caso do setor de petróleo e gás, uma indicação positiva sobre
o potencial de aproveitamento da infraestrutura científica e tecnológica do setor pela
BID nacional (SCHEFF, 2016).
Em relação aos custos operacionais, mais de 50% dos respondentes
associaram seus custos às duas categorias de menor valor (até R$ 50 mil/ano e
entre R$ 50 mil e R$ 100 mil/ano). Em relação às receitas, 50% dos responsáveis
não informaram qualquer estimativa, enquanto apenas 10 laboratórios informaram
ter recebido, em 2012, receitas superiores a R$ 500 mil.
57

Adicionalmente, 25% dos laboratórios responderam que todos os seus


equipamentos não ultrapassavam o valor de R$ 100 mil, e 12 infraestruturas
informaram possuir um patrimônio de equipamentos superior a R$ 1 milhão.
Em relação ao valor da infraestrutura, a maioria das respostas (55%) ficou
na faixa mais baixa entre as opções (até R$ 500 mil).
Finalmente, em relação à capacidade técnica de sua infraestrutura, apenas
7% dos respondentes avaliaram as infraestruturas como “avançadas e compatíveis
com as observadas nas melhores infraestruturas do gênero no exterior”, dado
preocupante para a aspiração nacional de “promover a autonomia produtiva e
tecnológica na área de defesa”, objetivo no 7 dos “Objetivos Nacionais de Defesa”
(BRASIL, 2016a).
Dessa maneira, os laboratórios nacionais dedicados à pesquisa e
desenvolvimento de tecnologias aplicáveis ao setor de defesa não são do porte
adequado à produção de tecnologia de ponta, quando comparados aos melhores
laboratórios do gênero no exterior, o que representa um grande óbice para a Base
Industrial de Defesa (BID) brasileira.
Em reportagem do portal “PROTEC – Pró-inovação na Indústria Brasileira”,
em 28 de abril de 2015, o Diretor-Geral da PROTEC, Sr. Roberto Nicolsky, afirmou
que o déficit tecnológico brasileiro cresceu 80% em apenas seis anos. Em 2014, o
déficit tecnológico brasileiro alcançou o valor de US$ 90,3 bilhões, um crescimento
de R$ 40,2 bilhões em comparação ao déficit de US$ 50,1 bilhões em 2008, o ano
em que a PROTEC começou a acompanhar esse comportamento da economia
brasileira (PROTEC, 2015). O déficit tecnológico representa o “montante da nossa
exportação em produtos de alto conteúdo tecnológico (aeronaves, fármacos e
medicamentos, materiais de escritório e informática, instrumentos médicos e
equipamentos de telecomunicações) e de médio alto (máquinas e equipamentos
elétricos, ferroviários e mecânicos, automóveis e produtos químicos), comparada
com a importação dos mesmos itens” (PROTEC, 2015).
Sendo a inovação um dos principais fatores que mais impactam as
instituições científicas e tecnológicas, “as estratégias de Desenvolvimento e de
Defesa dependem cada vez mais de inovações” (GALDINO apud SCHONS et al,
2020).
“De fato, em um mundo globalizado, pautado pela grande competitividade
e no qual emergem novas e desafiadoras ameaças assimétricas, a
inovação torna-se fundamental para o aumento da produtividade, do
58

crescimento econômico e da autonomia em áreas sensíveis à Defesa


Nacional” (SCHONS et al, 2020).

Nos dias atuais, são vários os exemplos de spin-in, nos quais inovações
geradas e pensadas para o mercado civil são adaptadas e integradas a sistemas
de defesa para gerar novas capacidades militares (LESKE, 2018).
Devido a esses exemplos, faz-se imperioso haver um aumento de sinergia
entre os institutos civis e militares produtores de tecnologia, por meio da pesquisa
e desenvolvimento (P&D), com a finalidade de fomentar o desenvolvimento
tecnológico autônomo e os índices de inovação, bem como orientar as políticas
públicas no setor de defesa.
Apesar das várias políticas públicas implementadas nas duas últimas
décadas nas áreas de defesa e inovação, a capacidade brasileira para inovar ainda
é muito pequena, segundo os indicadores do Global Innovation Index (GII).11
O Índice Global de Inovação (GII), segundo a metodologia adotada pela
Johnson Cornell University, INSEAD – The Business School for the World e pela
WIPO, World Intellectual Property Organization, é subdividida em dois subitens: os
insumos e os produtos de inovação.
O gráfico da Fig. 9 mostra a evolução do Índice Global de Inovação, bem
como os subitens – insumos e produtos de inovação no período 2015-2020.
Nele pode ser observada a lenta piora do Brasil nos últimos seis anos:
passou de um GII de 34,95 em 2015 para 31,94 em 2020, não obstante a leve
melhora no período 2017-2019. Em termos de colocação no ranking mundial, o
Brasil passou da 70ª posição no ranking mundial (2015) para a 62ª em 2020.
Entre os países com renda média superior, o Brasil saiu da 19ª colocação
em 2015 para a 16ª posição em 2020. Na América Latina, o Brasil era, em 2015, o
8º colocado e, em 2020, assumiu o 4º lugar.
Em relação aos insumos da inovação, o Brasil obteve os melhores
desempenhos: saiu da 65ª colocação mundial e 8ª na América Latina para a 59ª
posição mundial e 4ª posição na América Latina. Já nos produtos da inovação, o
Brasil tem o seu pior desempenho: detinha a 74ª posição mundial em 2015 e passou
a ocupar a 64ª posição em 2020. Esses resultados atestam a condição precária em

11 O Relatório “Global Innovation Index” da Cornell INSEAD WIPO 2020 está disponível em:
https://www.globalinnovationindex.org/Home. Acesso em: 16 ago. 2020.
59

que se encontra o Brasil em termos de inovação, especialmente para um país que


está entre as dez principais economias do mundo.
“Nos países em desenvolvimento e de industrialização tardia, que não
dominam as tecnologias sensíveis, o processo de inovação é lento. Esse
processo torna-se crítico quando o SNI é ineficiente, como no caso do
Brasil. Nesse contexto as políticas de longo prazo são imprescindíveis.
Diversos países, como Israel, Coreia do Sul e Finlândia, empreenderam
políticas de longo prazo e se tornaram verdadeiros campeões da inovação,
do crescimento econômico e do desenvolvimento social” (SCHONS et al,
2020).

Índice global de Inovação


50 Insumos de Inovação
Produtos de Inovação

40

30

20

10

0
2015 2016 2017 2018 2019 2020

POSIÇÃO 2015 2016 2017 2018 2019 2020


1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3
Índice Global 70 19 8 69 17 7 69 18 7 64 15 6 66 16 5 62 16 4
Insumos de Inovação 65 20 8 58 12 5 60 16 6 58 14 4 60 15 5 59 16 4
Produtos de Inovação 74 21 8 79 20 7 80 22 9 70 16 6 67 15 5 64 18 4
Fig. 9: Índice Global de Inovação, Insumos e Produtos (2015-2020)
Obs.: 1 – Posição do Brasil no mundo
2 – Posição do Brasil entre os países com renda média superior
3 – Posição do Brasil na região da América Latina
Fonte: Relatórios do Global Innovation Index (2015-2020)
Elaboração do autor

3.3 OS RECURSOS HUMANOS E OS GASTOS COM CT&I

Os recursos humanos são constituídos pelas pessoas que se envolvem nas


atividades inerentes à ciência, tecnologia e inovação e cuja disponibilidade
condiciona a geração, a transferência, a aplicação e a gestão eficiente e eficaz dos
conhecimentos científicos e tecnológicos, tão necessários ao crescimento
econômico e ao desenvolvimento sustentável do País (BRASIL, 2019).
60

Nas últimas duas décadas, o Brasil assistiu ao crescimento dos


pesquisadores envolvidos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e também dos
investimentos em Ciência e Tecnologia. De acordo com os indicadores do Ministério
da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o Brasil passou de 104.285
pesquisadores em 2000 para 316.822 em 2014, contados os setores do Governo,
do Ensino Superior, Empresarial e o Privado sem fins lucrativos12.
Uma das consequências desse incremento foi o grande aumento da
produção científica brasileira em número de artigos publicados, conforme mostra a
Fig. 10.

90000 Produção Científica Brasileira

80430
80000 77885

73821
69927
70000
65993
64408
60689
Número de Artigos

60000 57757

52379

50000 48433
45057

40797
40000
35552
32953

30000
26247
23446
20894
20000 18829
16295
15242

10000

0
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019

Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
%* 1,2 1,2 1,3 1,4 1,4 1,4 1,7 1,8 1,9 2,0 2,1 2,1 2,2 2,3 2,3 2,4 2,5 2,5 2,6 2,6

Fig. 10: Artigos brasileiros indexados pela Scopus e % em relação ao mundo


Obs.: * Percentual de artigos publicados em relação ao resto do mundo

Fonte: SCImago. (2007). SJR SCImago Journal & Country Rank. Acesso em 16/07/2020,
https://www.scimagojr.com/countrysearch.php?country=br
Elaboração dos dados: Coordenação-Geral de Gestão Institucional (CGAI) - DGI/SEXEC -
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI)
Notas: 1 - São incluídos documentos passíveis de citação - "Citable Documents"
2 - Dados atualizados em função da indexação de novos documentos na base Scopus

12 Fontes: para o setor empresarial: Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec), do Instituto


Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, extração especial; para estudantes de doutorado:
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC) -
http://ged.capes.gov.br e para o restante: Diretório dos Grupos de Pesquisa (DGP), do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, extração especial.
61

O número de artigos mais do que quintuplicou nos últimos 20 anos, e o


percentual de artigos científicos brasileiros em relação ao mundo passou de 1,18%
em 2000 para 2,60% em 2019.
Entretanto, esse crescimento não foi acompanhado por um dos indicadores
que mede a qualidade dos trabalhos acadêmicos: o número de citações.

Tabela 5: Citações de artigos brasileiros, da América Latina e do mundo


publicados em periódicos científicos indexados pela Scopus, 1996-2019
Scopus(1,2)
% do Brasil em % do Brasil em
Ano Brasil América Latina Mundo relação à América relação ao Mundo
Latina
1996 177.184 471.883 34.300.170 37,5 0,52
1997 211.870 561.844 37.073.530 37,7 0,57
1998 267.482 667.920 40.194.765 40,0 0,67
1999 297.407 726.289 41.989.856 40,9 0,71
2000 374.945 830.226 46.830.469 45,2 0,80
2001 372.023 844.579 47.330.380 44,0 0,79
2002 455.046 969.841 49.915.436 46,9 0,91
2003 488.273 1.087.040 54.424.093 44,9 0,90
2004 555.932 1.184.133 57.590.459 46,9 0,97
2005 622.687 1.280.715 60.002.104 48,6 1,04
2006 668.545 1.356.692 60.393.767 49,3 1,11
2007 714.972 1.413.917 61.127.401 50,6 1,17
2008 783.491 1.514.459 61.643.487 51,7 1,27
2009 777.294 1.530.808 62.693.189 50,8 1,24
2010 761.054 1.479.293 62.184.487 51,4 1,22
2011 764.079 1.452.385 59.904.741 52,6 1,28
2012 762.629 1.448.671 59.252.969 52,6 1,29
2013 728.612 1.358.098 54.607.603 53,6 1,33
2014 669.789 1.255.779 49.911.248 53,3 1,34
2015 616.442 1.117.130 44.037.325 55,2 1,40
2016(3) 529.956 937.954 35.973.127 56,5 1,47
2017(3) 377.940 676.256 25.949.058 55,9 1,46
2018(3) 200.861 372.280 14.242.280 54,0 1,41
2019(3) 45.929 87.234 3.411.558 52,7 1,35
Fonte: SCImago. (2007). SJR SCImago Journal & Country Rank. Acesso em 17/07/2020,
https://www.scimagojr.com/countrysearch.php?country=br
Elaboração dos dados: Coordenação-Geral de Gestão Institucional (CGAI) - DGI/SEXEC -
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI)
Notas: 1 - Citações em todo período para os documentos publicados no ano
2 - Dados atualizados em função da indexação de novos documentos na base
Scopus.
3 - Valores preliminares publicados pelo SCImago Journal & Country Rank.

Na tabela 5, acima, são mostradas o número de citações e o percentual das


citações brasileiras em relação à América Latina e em relação ao mundo.
Enquanto o número de artigos científicos cresceu mais de cinco vezes, as
citações no período de 2000-2019 aumentaram 69%, o que demonstra que a
qualidade da produção científica brasileira representa um gargalo para o
fortalecimento da expressão científica e tecnológica do Poder Nacional.
62

Em 2019, o Brasil produziu 80.430 artigos científicos indexados pela base


Scopus e foi citado 45.929, o que representa que as citações feitas de todos os
trabalhos anteriores foram 57% do número de artigos publicados em 2019.
Já a Coreia do Sul produziu 86.242 artigos científicos indexados pela
mesma base e foi citada 66.127, o que representa que as citações feitas de todos
os trabalhos coreanos anteriores foram 77% do número de artigos publicados em
2019, para um país que tem um Produto Interno Bruto (PIB) pouco menor que o
Brasil e um quarto da população brasileira.
Em reportagem do Jornal Folha de São Paulo, de 16/10/2017 (MORAES,
2017), o biólogo da Universidade de Brasília (UnB) Marcelo Hermes-Lima fez um
levantamento a partir da base de dados Scimago e mostrou que o salto da produção
científica brasileira veio acompanhado de uma diminuição de seu impacto
internacional, isto é, de sua qualidade.
Para Lima, a explicação para o aumento das publicações científicas e a
redução da qualidade, que se acentuou a partir de 2005, foi a política ditada pela
Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), em um
contexto com muitos recursos financeiros e muita pressão para publicar. Os cursos
de pós-graduações se expandiram, e se exigiu dos estudantes que publicassem
muitos artigos para poderem defender seus doutorados. A cobrança por resultados
inviabilizou a produção de trabalhos de qualidade.
Um outro aspecto que também impacta a expressão científica e tecnológica
do Brasil é o perfil da produção científica. Apesar do aumento da produção científica
brasileira, que passou de 1,18% da produção mundial em 2000 para 2,6% da
produção mundial em 2019, ele não foi proporcional em todas as áreas do
conhecimento.
As áreas de “Ciências biológicas e agrárias”, “Bioquímica, genética e
biologia molecular”, “Odontologia”, “Meio Ambiente”, “Profissões da Saúde”,
“Imunologia e Microbiologia”, “Medicina”, “Multidisciplinar”, “Neurociência”,
“Enfermagem”, “Farmacologia, toxicologia e farmacêutica” e “Veterinária” foram as
áreas que tiveram um crescimento de produção científica acima da média brasileira
em 2019.
As áreas de “Psicologia”, “Física e Astronomia”, “Ciência dos Materiais”,
“Engenharias”, “Economia, Econometria e Finanças”, “Ciências da Computação”,
“Negócios, Administração e Contabilidade” e “Artes e Ciências Humanas” tiveram
63

um crescimento abaixo da média brasileira. O destaque negativo foram as áreas de


“Ciências da Computação”, com crescimento de 1,9% em 2019, de “Ciências dos
Materiais”, com crescimento de 1,6%, “Física e Astronomia”, com crescimento de
1,9%, e “Engenharias”, com o menor crescimento em 2019 (1,5%). Essas são as
áreas que mais afetam a pesquisa e o desenvolvimento dos Produtos de Defesa
(PRODE) e, como consequência, a Base Industrial de Defesa (BID).
Essa situação está retratada no gráfico da Fig. 11, com destaque para as áreas com
maior produção científica (Odontologia) e com menor produção científica
(Engenharias e Ciência dos Materiais).

Ciências biológicas e agrárias


Perfil da produção científica (2019)

Veterinária 0,14 Artes e ciências humanas


Ciências sociais Bioquímica, genética e biologia molecular
0,12
Psicologia Negócios, administração e contabilidade
0,10
Física e astronomia 0,08 Engenharia química

0,06
Farmacologia, toxicologia e farmacêutica Química
0,04

Enfermagem 0,02 Ciência da computação


0,00
Neurociência Ciência da decisão

Multidisciplinar Odontologia

Medicina Ciência da Terra

Matemática Economia, econometria e finanças

Ciência dos materiais Energia


Imunologia e microbiologia Engenharias
Profissões de saúde Meio ambiente

Fig. 11: Perfil da produção científica brasileira em 2019


(Percentual de artigos publicados em relação ao resto do mundo)

Fonte: SCImago. (2007). SJR SCImago Journal & Country Rank. Acesso em 16/07/2020,
https://www.scimagojr.com/countrysearch.php?country=br
Elaboração dos dados: Coordenação-Geral de Gestão Institucional (CGAI) - DGI/SEXEC -
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI)
Notas: 1 - São incluídos documentos passíveis de citação - "Citable Documents"
2 - Dados atualizados em função da indexação de novos documentos na base Scopus
Elaboração do autor

Um dos motivos pelos quais a produção científica na área das engenharias


tem o pior desempenho entre todas as outras áreas é o fato de que, há pouco tempo,
o número de engenheiros formados era muito baixo (DE NIGRI, 2018). Em 2010, o
Brasil formou 57.615 engenheiros e, em 2018, esse número se elevou para 155.494
engenheiros, mais de duas vezes e meia o número de graduados em 2010 e que
64

representa 15,7% do total de concluintes de todos os cursos superiores no Brasil


(BRASIL, 2020b). Para efeito de comparação, o número de engenheiros para cada
10 mil habitantes na Coreia do Sul é 19.
Apesar do forte aumento do número de engenheiros formados entre o
período 2010-2018, isso não significou o aumento da produção científica nas áreas
de engenharia, o que põe em xeque se a qualidade da formação do engenheiro se
manteve no mesmo patamar de 2010.
Uma outra característica dos recursos humanos que trabalham com CT&I a
ser observada é o número de pesquisadores por milhão de habitantes. No Brasil,
esse número é da ordem de 700 para cada milhão de habitantes, quantidade muito
aquém dos países desenvolvidos, onde esse número chega a 4 mil (DE NIGRI,
2018).
A Tabela 5 mostra o total de recursos humanos envolvidos em pesquisa e
desenvolvimento para cada mil pessoas ocupadas, que é proporcional ao número
de pesquisadores por milhão de habitantes, de cinco países selecionados. Ela
comprova que o Brasil, entre os países de renda alta e média superior, é um país
com um dos menores índices de pesquisadores a cada mil pessoas ocupadas,
comparável apenas com a Argentina.

Tabela 5: Total de pessoas (pesquisadores e pessoal de apoio) envolvidos em


pesquisa e desenvolvimento (P&D), em equivalência de tempo integral, para cada mil
pessoas ocupadas, de países selecionados (2000-2017)
País 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Alemanha 12,1 12,1 12,1 12,1 12,0 12,1 12,3 12,6 12,8 13,1 13,4 13,8 14,1 13,9 14,2 14,9 15,1 15,5
Argentina 10,7 2,7 11,5 2,7 12,0 2,9 12,4 3,2 12,8 3,5 13,3 4,0 4,1 4,2 4,3 4,3 4,4 -
Brasil - 1,5 1,5 1,7 1,9 2,0 2,1 2,2 2,3 2,5 - 3,0 3,1 3,3 3,4 - - -
Coreia 6,5 7,7 7,8 8,4 8,6 9,4 10,3 11,5 12,5 13,1 14,1 14,9 16,0 16,0 16,8 17,0 17,1 17,7
França 12,8 12,8 13,0 13,1 13,4 13,3 13,7 13,9 14,1 14,5 14,8 14,9 15,1 15,3 15,5 15,6 - 15,6

Fonte: Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD), Main Science and
Technology Indicators, 2019/1 e Brasil: Coordenação de Indicadores e Informação (COIND) -
CGGI/DGE/SEXEC - Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC)

Elaboração: Coordenação de Indicadores e Informação (COIND) - CGGI/DGE/SEXEC - MCTI

Em 2014, ano de melhor desempenho do Brasil, ele possuía o índice de 3,4


pesquisadores e pessoal de apoio a cada mil pessoas ocupadas. Na Alemanha e
na França, este índice foi, no mesmo ano, de 14,2 e 15,5, respectivamente. Na
Coreia este índice era de 6,5 no ano 2000 e chegou a 17,7 em 2017.
65

Também é importante observar que esse índice cresceu muito lentamente


nas duas últimas décadas, ao passar de 1,5 em 2001 para 3,4 em 2014, não
obstante o número de concluintes do ensino superior ter sido multiplicado por quase
três vezes. De fato, como sinaliza De Nigri (2018), “a demanda por trabalhadores
altamente qualificados não parece estar crescendo na economia brasileira”, [...].
A consequência dessa falta de demanda por cientistas qualificados é o fato
de que o Brasil, atualmente, é um País exportador de cérebros, como mostra a
reportagem da Folha de São Paulo, de 29 de julho de 2020 (BARBOSA, 2020).
Em relação ao perfil dos gastos governamentais em CT&I, o Brasil aplicou,
no máximo, 1,6% da dotação orçamentária governamental na área de defesa entre
os anos de 2000 a 2013. Esse perfil destoa do perfil dos países selecionados na
Tabela 6 e impacta o fortalecimento da Base Industrial de Defesa (BID), visto que a
indústria de defesa é muito dependente da produção de novas tecnologias e de
inovação, conforme discutido no capítulo 2.

Tabela 6: Percentual da dotação orçamentária governamental em pesquisa e


desenvolvimento dos setores Civil e Defesa de países selecionados, 2000-2017
País Setor 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Civil 92,2 92,6 94,5 93,5 94,2 94,2 93,5 94,0 94,0 94,6 95,0 96,1 96,1 96,3 96,2 96,9 97,3 96,2
Alemanha
Defesa 7,8 7,4 5,5 6,5 5,8 5,8 6,5 6,0 6,0 5,4 5,0 3,9 3,9 3,7 3,8 3,1 2,7 3,8
Civil 99,0 99,0 99,0 99,5 99,5 99,6 99,5 99,5 99,5 99,2 98,7 98,4 98,6 - - - - -
Argentina
Defesa 1,0 1,0 1,0 0,5 0,5 0,4 0,5 0,5 0,5 0,8 1,3 1,6 1,4 - - - - -
Civil 98,4 98,4 98,9 99,0 98,8 98,8 99,4 99,5 99,4 99,1 99,3 99,3 99,0 99,0 - - - -
Brasil
Defesa 1,6 1,6 1,1 1,0 1,2 1,2 0,6 0,5 0,6 0,9 0,7 0,7 1,0 1,0 - - - -
Civil 79,5 84,2 84,8 85,7 87,4 87,6 88,3 86,7 85,7 86,8 86,7 86,2 85,2 85,2 86,5 86,5 86,0 85,0
Coréia
Defesa 20,5 15,8 15,2 14,3 12,6 12,4 11,7 13,3 14,3 13,2 13,3 13,8 14,8 14,8 13,5 13,5 14,0 15,0
Civil 78,6 77,2 77,0 77,1 77,8 79,2 72,1 71,2 78,7 78,2 85,3 93,2 92,9 93,7 93,4 92,8 93,6 92,5
França
Defesa 21,4 22,8 23,0 22,9 22,2 20,8 27,9 28,8 21,3 21,8 14,7 6,8 7,1 6,3 6,6 7,2 6,4 7,5

Fonte: Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD), Main Science and
Technology Indicators, 2019/1 e Brasil: Coordenação de Indicadores e Informação (COIND) -
CGGI/DGE/SEXEC - Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC)

Elaboração: Coordenação de Indicadores e Informação (COIND) - CGGI/DGE/SEXEC-MCTI

Adicionalmente, na maioria das potências militares o financiamento da


pesquisa e desenvolvimento de novos produtos no setor de defesa é feito pelo
governo.
Uma outra questão importante a ser discutida são os dispêndios nacionais
em pesquisa e desenvolvimento por pesquisador em equivalência de tempo
integral. No ano de 2000, esses gastos no Brasil foram de 322 mil dólares, o maior
entre os países selecionados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
66

(MCTI) e um dos maiores do mundo. No mesmo ano, os gastos da Coreia do Sul


foram de 171 mil dólares, dos Estados Unidos, 273,6 mil dólares, da França, 193,4
mil dólares e da Alemanha, 209 mil dólares.
Sob esse ponto de vista, o Brasil é um dos países do mundo que mais
investem em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Isso mostra que não é apenas
com dinheiro que se resolvem os grandes problemas na área de Ciência, Tecnologia
e Inovação no Brasil. Os gastos com P&D brasileiros por pesquisador foram os mais
altos dentre os países selecionados na Tabela 7, perdendo apenas para os gastos
da Alemanha no período 2004-2014.

Tabela 7: Dispêndios nacionais em pesquisa e desenvolvimento por pesquisador (em


equivalência de tempo integral) de países selecionados, 2000-2017 (mil US$
correntes de PPC1)
País 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Alemanha 209,0 212,5 220,6 226,9 232,8 235,3 248,4 252,3 268,2 260,7 265,1 282,9 285,1 290,3 311,3 294,2 300,1 314,6
Argentina 67,2 65,4 53,6 59,5 66,1 71,5 77,7 80,2 81,1 94,4 92,3 95,0 104,3 105,1 97,6 103,2 86,6 95,9
Brasil 322,0 291,9 242,8 230,2 208,6 216,7 212,1 244,8 254,8 237,6 242,1 232,7 221,6 229,8 234,3 - - -
Coréia 171,0 155,9 158,6 159,2 178,8 170,3 177,0 183,1 185,9 188,4 197,5 202,1 205,5 212,0 211,6 215,8 222,7 237,5
França 193,4 203,4 205,6 192,6 188,4 195,2 201,0 199,1 204,5 211,8 208,8 215,1 212,8 219,8 222,9 222,0 - 224,1

Fonte: Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD), Main Science and
Technology Indicators, 2019/1 e Brasil: Coordenação de Indicadores e Informação (COIND) -
CGGI/DGE/SEXEC - Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC)
Nota: 1) PPC – Paridade do Poder de Compra

Elaboração: Coordenação de Indicadores e Informação (COIND) - CGGI/DGE/SEXEC - MCTI

O que se observou posteriormente foi que esses altos investimentos


governamentais em P&D foram caindo até o valor de 234 mil dólares em 2014, valor
ainda muito alto para os padrões internacionais, e não trouxeram melhorias
significativas para o Brasil na área de CT&I.
Falando de outra maneira, os problemas brasileiros na área de Ciência,
Tecnologia e Inovação não serão resolvidos apenas com o aumento de recursos
destinados à área. Outros problemas estruturais apontados na literatura precisam
ser melhorados, tais como o número insuficiente de pesquisadores e a sua baixa
demanda, a baixa internacionalização da ciência e tecnologia, a baixa conectividade
das universidades e centros de P&D com o resto do mundo, o baixo número de
laboratórios e centros de pesquisa multidisciplinares e de grande porte, a falta de
clareza sobre a finalidade do investimento público em P&D e, principalmente, a
baixa qualidade do ensino básico (médio e fundamental) (DE NIGRI, 2018).
67

4 AS CARACTERÍSTICAS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

A
origem da palavra educação (ex-ducere) é proveniente da vontade
de descobrir o mundo. Ela é formada pelo prefixo ex, que significa
exterior, e pela palavra ducere, que significa conduzir. Por isso,
essa expressão latina “designa a jornada da nossa vida interior para a descoberta
da realidade que nos cerca”.
Para Paro (2014), “a educação consiste na apropriação da cultura...”,
“envolve conhecimentos, informações, valores, crença, ciência, arte, tecnologia,
filosofia, direito, costumes, tudo enfim que o homem produz em sua transcendência
da natureza”.
Por isso, a educação representa um dos principais fatores e a grande
indutora para o desenvolvimento da Expressão Científica e Tecnológica do Poder
Nacional e, por consequência, da Base Industrial de Defesa.
No Brasil, a educação obrigatória passou a ser lei desde a Constituição de
1934. Na Constituição Federal (CF) de 1988, o artigo 205 estatui:
“Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao
pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1988).

4.1 AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS

Outros artigos importantes na Constituição Federal (CF) e que estabelecem


as políticas educacionais no nível federal, estadual e municipal são:
• Art. 206, que estabelece os princípios com base nos quais o ensino
será ministrado;
• Art. 210, que obriga a fixação de conteúdos mínimos para o ensino
fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e
respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais, a
chamada Base Nacional Comum Curricular (BNCC);
• Art. 214, que obriga o estabelecimento do Plano Nacional de
Educação (PNE), de duração decenal, com o objetivo de articular o
Sistema Nacional de Educação em regime de colaboração e de
definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação
68

para assegurar a manutenção e o desenvolvimento de ensino em


seus diversos níveis.
A mais importante lei sobre a educação no Brasil é a Lei de Diretrizes e
Bases (LDB) da Educação Nacional (Lei no 9.394/1996). Além de estabelecer as
diretrizes e bases da educação nacional, foi criada para garantir o direito a toda a
população de ter acesso à educação gratuita e de qualidade, para valorizar os
profissionais da educação e estabelecer os deveres da União, dos Estados e dos
Municípios com a educação pública. Com ela, toda a educação brasileira passou a
ser regulamentada pelo Ministério da Educação (MEC). Dessa maneira, a gestão
da educação do País no nível estadual é feita pela Secretaria de Educação Básica
(SEB),13 pelas Secretarias Estaduais de Educação (SEE) e pelos Conselhos
Estaduais de Educação (CEE), os quais atuam como órgão normativo, deliberativo
e consultivo do sistema educacional público e privado dos estados da federação.
Já no nível municipal, a gestão é feita pelas Secretarias Municipais de
Ensino e pelos Conselhos Municipais de Ensino dos diversos municípios brasileiros.
É importante ser ressaltado que o artigo 87 da LDB instituiu a “Década da
Educação” a se iniciar em um ano a partir da publicação da lei, e seu §1º estabelece
que a União, no prazo de um ano a partir da publicação da Lei, encaminhará, ao
Congresso Nacional, o Plano Nacional de Educação, com diretrizes e metas para
os dez anos seguintes, em sintonia com a Declaração Mundial sobre Educação para
Todos14 (UNESCO).
Segundo Libâneo (2016), documentos como essa declaração e as
orientações políticas e técnicas do Banco Mundial vêm servindo de referência para
as políticas educacionais do Brasil. Nesse contexto, instituiu-se um padrão universal

13 “A Secretaria de Educação Básica (SEB) do MEC atua na formulação de políticas para a educação
infantil, o ensino fundamental e o ensino médio. Em articulação com os sistemas de ensino e
participação social, também planeja, orienta e coordena a implementação dessas políticas por meio
da cooperação didático-pedagógica, tecnológica, técnica e financeira. As ações desenvolvidas visam
à melhoria da qualidade das aprendizagens e da valorização e qualificação dos docentes, com o
objetivo de garantir a igualdade de condições para acesso e permanência na educação básica em
consonância com o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para
o trabalho. Os programas e ações seguem os objetivos estratégicos do Compromisso Nacional pela
Educação Básica, iniciativa anunciada em julho de 2019 pelo MEC, em parceria com o Conselho
Nacional de Secretários de Educação (Consed) e a União Nacional dos Dirigentes Municipais de
Educação (Udime), com o objetivo de tornar o Brasil referência em educação básica na América
Latina até 2030” (BRASIL, 2020c).
14 Aprovada pela Conferência Mundial sobre Educação para Todos, em Jomtien, Tailândia, de 5 a 9

de março de 1990.
69

de políticas para a educação baseado em indicadores e metas mensuráveis com a


finalidade de controlar os sistemas de ensino nacionais.
Essas políticas foram baseadas em dois pilares:
• Políticas educacionais contendo estratégias em relação às políticas
sociais, objetivando o alívio da pobreza; e
• Redução da escola para o atendimento a conteúdos mínimos de
aprendizagem atreladas a demandas de preparação para o trabalho.
“São, pois, suficientes os indícios de que as políticas educacionais
formuladas por organismos internacionais desde 1990 presidem as
políticas para a escola em nosso país, havendo razões para suspeitar que
elas vêm afetando negativamente o funcionamento interno das escolas e
o trabalho pedagógico-didático dos professores. Ficando a educação
escolar restrita a objetivos de solução de problemas sociais e econômicos
e a critérios do mercado, compromete-se seu papel em relação a suas
finalidades prioritárias de ensinar conteúdos e promover o
desenvolvimento das capacidades intelectuais dos alunos. Desse modo,
tais políticas levam ao empobrecimento da escola e aos baixos índices de
desempenho dos alunos e, nessa medida, atuam na exclusão social dos
alunos na escola, antes mesmo da exclusão social promovida na
sociedade.” (LIBÂNEO, 2016).

4.2 OS RESULTADOS DOS INDICADORES DE QUALIDADE

A preocupação com a oferta de um ensino básico (infantil, fundamental e


médio) que atendesse a toda a população começou muito tarde no Brasil. Durante
90% do século passado, a rede pública de ensino era insuficiente para atender à
demanda por educação, e isso só foi superado a partir de 1990, há
aproximadamente trinta anos.
Vencido o problema de oferta, a preocupação se volta para a qualidade do
ensino nos dias atuais. A qualidade da educação brasileira é muito baixa,
principalmente na rede pública, que respondeu por 88% de todas as matrículas no
ensino médio e 80% do ensino fundamental e infantil em 2018.
Nos resultados do PISA 2018, os alunos no Brasil pontuaram abaixo da
média da OCDE em leitura, matemática e ciências. Apenas 2% dos alunos tiveram
os níveis mais altos de proficiência (nível 5 ou 6) em pelo menos uma matéria (média
OCDE: 16%) e 43% dos alunos pontuaram abaixo do nível mínimo de proficiência
(nível 2) em todas as três disciplinas (média OCDE: 13%).
Além disso, o desempenho médio em matemática melhorou entre 2003 e
2018, mas a maioria das melhorias ocorreu nos primeiros ciclos do PISA. Depois de
70

2009, o desempenho médio não mudou significativamente em matemática, assim


como em leitura e em ciências.
A Figura 12 mostra o resultado do PISA 2018 de 77 países por ordem
decrescente de desempenho na prova de “leitura”.

Fig. 12: Resultados do exame PISA 2018 de desempenho estudantil


Fonte: OECD, 2018-2019

O Brasil aparece na 66ª posição do ranking, pois obteve 400,3 pontos no


desempenho médio em leitura. Em matemática, o desempenho dos estudantes
brasileiros foi o pior, e o Brasil se colocou na 70ª posição, com 384 pontos. Já em
ciências, o desempenho brasileiro o posicionou na 65ª posição, com 404 pontos.
A situação da evasão escolar é ainda pior, conforme mostrado na Fig. 13.
O Brasil tinha, em 2015, um percentual de 53% de pessoas na faixa etária de 25 a
64 anos que não haviam completado o ensino médio, ao passo que a média da
OCDE era de 22%. Além disso, o Brasil se situa acima da reta que traça a
proporcionalidade entre o percentual de pessoas da população na faixa de 25-64
anos que não haviam completado o ensino médio e o índice de desigualdade de
renda P90/P10, conforme explicação dada na legenda da Fig. 13.
71

P90/P10 decile ratio


11
10 Costa Rica
9
Brazil
8

7 Chile Mexico
United States
Increasing inequality

6 Lithuania Greece Spain


Israel
Estonia Turkey
OECD average
5 Latvia United Kingdom Australia Portugal
Canada Italy
Germany
Hungary New Zealand
4 Poland
Korea IrelandFrance Belgium
Switzerland
AustriaLuxembourg
3 Iceland
Czech Republic Finland Slovenia Norway
2 Slovak Republic Sweden Denmark

1 R² = 0,4106
0
0 10 20 30 40 50 60 70
Population without upper secondary

Fig. 13: Porcentagem de pessoas na faixa 25-64 anos sem ter completado o
ensino médio e a desigualdade de renda (2015)
Obs.: Desigualdade de renda medida como a razão P90/P10
Nota: A proporção do decil P90 / P10 é a proporção do valor do limite superior do nono decil (ou
seja, os 10% das pessoas com renda mais alta) para o valor do limite superior do primeiro decil
(os 10% das pessoas com renda mais baixa). A distribuição de renda é medida em relação ao
rendimento disponível da população de 18 a 65 anos.
Fonte: OECD (2018), Education at a Glance Database and OECD Income Distribution database
(IDD), http://stats.oecd.org. See Source section for more information and Annex 3 for notes
(http://dx.doi.org/10.1787/eag-2018-36-en).

Para o Brasil, o índice de desigualdade foi de 8,5, enquanto a média dos


países da OCDE foi de 4,36. Isso significa que o Brasil possuía um índice de
desigualdade bem maior que a proporcionalidade observada na maioria dos países
em relação ao percentual da população que não havia completado o 2º grau de
ensino.
Em relação aos investimentos governamentais na educação, o Brasil gasta
por volta de 6% do PIB, um valor superior à média dos países da OCDE (5,5%) e
de países como Argentina (5,3%), Colômbia (4,7%), Chile (4,8%), México (5,3%) e
Estados Unidos (5,4%).
A Tabela 8 mostra a evolução dos investimentos públicos em educação em
relação ao Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil, no período 2000-2017. Os gastos
subiram ao longo dos últimos 18 anos, ao sair de um valor de 4,6% do PIB em 2000
para 6,3% do PIB em 2017.
72

Entretanto, ao contrário do esperado, esse aumento do gasto não tem


proporcionado a melhora do desempenho escolar e nem tampouco uma queda dos
níveis de evasão escolar na mesma proporção do aumento dos investimentos.

Tabela 8: Estimativa do Percentual do Investimento Público Total em Educação


em Relação ao Produto Interno Bruto (PIB), por Nível de Ensino - Brasil 2000-
2017
Percentual do Investimento Público Total em relação ao PIB (%)

Níveis de Ensino
Ano
Todos os Ensino Fundamental
Níveis de
Educação Educação Ensino Educação
Ensino Da 1ª a 4ª Da 5ª a 8ª
Básica Infantil Médio Superior
séries ou séries ou
Anos Iniciais Anos Finais
2000 4,6 3,7 0,4 1,5 1,2 0,6 0,9
2001 4,7 3,8 0,4 1,4 1,3 0,7 0,9
2002 4,7 3,8 0,3 1,6 1,3 0,5 0,9
2003 4,6 3,7 0,4 1,5 1,2 0,6 0,9
2004 4,5 3,7 0,4 1,5 1,2 0,5 0,8
2005 4,5 3,6 0,4 1,5 1,2 0,5 0,9
2006 4,9 4,1 0,4 1,6 1,5 0,6 0,8
2007 5,1 4,2 0,4 1,6 1,5 0,7 0,9
2008 5,3 4,4 0,4 1,7 1,6 0,7 0,9
2009 5,6 4,7 0,4 1,8 1,7 0,8 0,9
2010 5,6 4,7 0,4 1,8 1,7 0,8 0,9
2011 5,8 4,8 0,5 1,7 1,6 1,0 1,0
2012 5,9 4,9 0,6 1,7 1,5 1,1 1,0
2013 6,0 4,9 0,6 1,6 1,5 1,1 1,1
2014 6,0 4,9 0,7 1,6 1,5 1,1 1,1
2015 6,2 4,9 0,7 1,6 1,4 1,1 1,3
2016 6,3 4,9 0,7 1,6 1,4 1,2 1,4
2017 6,3 4,8 0,7 1,6 1,3 1,2 1,5

Fonte: Inep/MEC
Elaboração: Deed/Inep.

Tomando o ano de 2014 como exemplo, o gasto com o aluno do ensino


fundamental foi por volta de US$ 3.800 dólares por ano, ao passo que a média dos
países da OCDE foi de US$ 9.400 dólares por aluno, um percentual 147% maior.
A Tabela 9 mostra o gasto em Reais (R$) por aluno em cada nível de ensino
no período entre 2000 e 2017.
73

Tabela 9: Estimativa do Investimento Público Direto em Educação por Estudante,


com Valores Atualizados para 2016 pelo Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA); e a Proporção do Investimento Público por Estudante
da Educação Superior sobre o Investimento Público por Estudante da Educação
Básica, por Nível de Ensino 2000-2017
Investimento Público Direto por Estudante
R$1,00

Níveis de Ensino Proporção


da
Ano Educação
Todos os Ensino Fundamental
Níveis de Superior
Educação Educação Ensino Ensino sobre a
Ensino De 1ª a 4ª De 5ª a 8ª
Básica Infantil Médio Superior Educação
séries ou séries ou
Anos Iniciais Anos Finais Básica

2000 2.831 2.357 2.973 2.259 2.367 2.274 25.845 11,0


2001 2.926 2.439 2.653 2.235 2.579 2.557 25.539 10,5
2002 2.903 2.405 2.484 2.633 2.484 1.723 23.653 9,8
2003 2.852 2.395 2.832 2.528 2.395 1.911 20.669 8,6
2004 3.024 2.586 2.850 2.889 2.670 1.745 19.567 7,6
2005 3.221 2.730 2.650 3.095 2.880 1.850 21.083 7,7
2006 3.832 3.329 2.896 3.467 3.785 2.571 21.826 6,6
2007 4.475 3.897 3.510 4.075 4.301 3.119 23.062 5,9
2008 5.066 4.475 3.750 4.695 5.007 3.609 21.317 4,8
2009 5.572 4.899 3.756 5.297 5.530 3.805 23.941 4,9
2010 6.411 5.636 4.612 6.055 6.067 4.794 25.448 4,5
2011 7.013 6.109 5.458 6.267 6.284 5.941 27.113 4,4
2012 7.470 6.627 6.434 6.748 6.483 6.760 24.626 3,7
2013 7.993 7.081 7.003 7.112 7.034 7.147 27.554 3,9
2014 8.076 7.188 7.119 7.159 7.177 7.292 26.491 3,7
2015 7.959 6.982 7.051 6.880 6.862 7.262 25.403 3,6
2016 7.922 6.908 6.687 6.934 6.641 7.371 25.627 3,7
2017 8.043 6.823 6.239 6.877 6.562 7.496 28.640 4,2

Fonte: Inep/MEC
Elaboração: Deed/Inep.

Em relação aos gastos por níveis de ensino, o aumento de 37% do


orçamento da educação ao longo desses anos representou um aumento de 30%
nos investimentos da educação básica e 67% nos investimentos da educação
superior, haja vista a explosão de matrículas nos cursos superiores, que passou de
2.694.245 em 2000 para 6.394.244 em 2018 (BRASIL, 2020b).
Do ensino fundamental ao ensino superior, os países da OCDE gastaram
em 2014 US$ 10.759 por aluno, enquanto o Brasil gastou US$ 5.610, um valor que
representou 52% do que a média dos países da OCDE gastou no ano, como
mostrado na Tabela 9.
74

O problema é que o dispêndio brasileiro com o ensino fundamental não


representa os 52% dos US$ 5.610 que o Brasil gasta, em média, por aluno, do
ensino fundamental ao ensino superior, pois este último é mais bem aquinhoado do
que o ensino fundamental. No Brasil, o gasto por aluno no ensino superior em 2014
foi de US$ 11.666, mais do que o dobro do gasto por aluno no ensino fundamental.
Além da baixa qualidade do ensino no Brasil, vive-se um outro problema
grave: a baixa qualidade da infraestrutura nas escolas da educação básica. A figura
14 mostra um resumo das condições de infraestrutura nas escolas de ensino básico.

Fig. 14: Infraestrutura das unidades de ensino básico no Brasil (2014)


Fonte: G1 Educação. Disponível em http://especiais.g1.globo.com/educacao/2015/censo-
escolar-2014/o-raio-x-das-escolas-do-pais.html
Elaboração: Lemann/Meritt

Segundo Thiago Alves, pesquisador da Universidade Federal do Paraná e


entrevistado da reportagem do G1, a falta de indicadores que vinculem o rendimento
acadêmico à qualidade da infraestrutura escolar é usada por gestores e secretários
para a falta de investimentos nas reformas físicas (REIS, 2015).
A qualidade da educação depende de vários fatores e agentes, tais como o
financiamento governamental, a infraestrutura predial e material, os professores e
demais profissionais da educação, bem como do grau de coordenação entre os
diversos atores do sistema de ensino (TAFNER, 2018).
Ao analisar os indicadores de qualidade da educação no Brasil, ficou claro
que os gastos governamentais não são o gargalo para a melhoria de qualidade do
sistema educacional.
4.3 PROVÁVEIS CAUSAS DO COLAPSO EDUCACIONAL
75

São várias as causas do colapso educacional no Brasil. Como não é


possível discuti-las uma a uma neste trabalho, foram selecionadas apenas três para
a análise, a qual terá como foco a qualidade da educação básica (em especial do
ensino fundamental), por conta do entendimento de que é na educação básica que
se concentra a origem da maior parte dos problemas de qualidade da educação, e
é ela que possui a maior capacidade de impactar a aprendizagem no ensino médio
e superior.
A primeira causa a ser analisada diz respeito ao método de alfabetização
utilizado em grande parte das escolas de ensino fundamental.
O método mais utilizado no Brasil baseia-se na filosofia construtivista, com
influência da alfabetização ativista proposta por Paulo Freire. Métodos similares ao
letramento ou o chamado método global defendem que a alfabetização deve
priorizar o sentido e o contexto das frases e textos inteiros e, por isso, alfabetizam
diretamente por meio dos significados, interpretações e críticas, com a proposta de
facilitar o aprendizado.
Os métodos tradicionais como o fônico e o silábico, ao contrário,
consideram que, antes de capturar os significados e contextos, o aluno deve
aprender primeiro as unidades linguísticas para a formação da palavra, que são os
fonemas e as sílabas (Pátria Educadora, 2020). Não é à toa que, nas gramáticas da
língua portuguesa, existam capítulos dedicados ao estudo da fonética, da ortografia
e da separação silábica. Não podemos esquecer que o Português é uma língua
fonética, uma palavra é pronunciada da mesma maneira como ela é escrita.
Devemos saber que as evidências (Cologon, Cupples e Wyver, 2011; Ehri,
Nunes, Stahl e Willows, 2001; Liberman e Liberman, 1991; Rayner,
Foorman, Perfetti, Pesetsky e Seidenberg, 2001) apoiam o método fônico,
não o global, como rota privilegiada para a alfabetização de crianças sem
patologias, mas, sobretudo, para crianças com dificuldades de
alfabetização, principalmente a dislexia. A condição neurológica das
crianças disléxicas lhes dificulta a passagem da rota fonológica à rota
léxica. Eliminar a rota fonológica para esses alunos os priva de recursos
que podem servir-lhes como estratégias para a aprendizagem (L’ECUYER,
2019).

Desse modo, existem vários estudos na literatura pedagógica que validam


o método fônico, ao passo que métodos como o global ou o semi-global, que
buscam associar palavras a significados, são alvos de duras críticas. Com o tempo,
a ineficácia desse método foi comprovada. A prova definitiva veio após a avaliação
dos resultados. No final do ciclo escolar, crianças que foram alfabetizadas por meio
76

do sentido das palavras obtiveram péssimos resultados quando comparadas aos


alunos alfabetizados pelos métodos tradicionais.
Entretanto, variações do método global e a filosofia construtivista ainda
persistem no Brasil, sob o nome de letramento, com um trágico resultado: o
componente fônico foi deixado em segundo plano, e a prioridade na alfabetização
ficou para o letramento, palavra que aparece várias vezes na Base Nacional Comum
Curricular (BNCC).
A segunda causa para a baixa qualidade do ensino a ser analisada é a
prioridade dos gastos em educação no Brasil que é dada para o ensino superior.
Como mostrado na Tabela 9 do título anterior, o gasto por aluno no ensino superior
foi de 4,2 vezes o gasto por aluno no ensino fundamental em 2017, e essa proporção
já foi de 11 vezes, no ano 2000.
Conforme mostram os dados da Tabela 8, em 2017, a educação superior
consumiu um valor equivalente a 1,5% do PIB brasileiro, ao passo que o ensino
médio gastou 1,2% do PIB.
Em nenhum país desenvolvido do mundo, encontramos tamanha distorção.
Para efeito de comparação, em 2014 o Brasil gastou, dos anos finais do ensino
fundamental ao ensino médio, a quantia de US$ 3.837 por aluno, o que representou
38% do que gastou a média dos países da OCDE. Já no ensino superior, o País
gastou US$ 11.666 por aluno, o que representou 72% do que gastou a média dos
países da OCDE. Isso significa, tomando como referência os investimentos da
média dos países da OCDE em educação, que o Brasil gasta 34% a mais com a
educação superior que países ricos como o Reino Unido, a Alemanha, o Japão, a
Finlândia e a Austrália.
Em seu relatório econômico para o Brasil emitido em 201815, a OCDE
recomendou ao Brasil que passasse a gastar menos com o ensino superior:
“A mudança de gastos do ensino superior para os níveis de ensino pré-
primário, fundamental e médio da educação aumentaria simultaneamente
a progressividade e a eficiência. O ensino superior público gratuito tende a
beneficiar alunos de famílias de alta renda, já que os graduados de escolas
particulares tendem a pontuar melhor nos exames vestibulares. Por outro
lado, o investimento na educação infantil diminui a probabilidade de alunos
desfavorecidos abandonarem o sistema educacional no futuro (OCDE,
2016p). Ao alocar espaços escassos na educação infantil, deve ser dada
preferência a famílias de baixa renda e mães solteiras, pois isso seria
permitir que mais mulheres participassem do mercado de trabalho. Apenas
15% das famílias pobres, com crianças menores de 3 anos, têm acesso a

15 OECD ECONOMIC SURVEYS: BRAZIL 2018 © OECD 2018


77

creches, em comparação com 40% das famílias mais ricas (Banco


Mundial, 2016). Embora tenha diminuído nos últimos anos, ainda há uma
lacuna substancial nas realizações educacionais entre brancos e
afrodescendentes (Banco Mundial, 2016)” (OCDE, 2018) [Tradução
nossa].

Por fim, será analisada a terceira causa que também muito contribui para a
baixa qualidade do ensino: a desvalorização dos professores e dos profissionais da
educação. Para reverter essa tendência, é necessário implementar uma política de
remuneração adequada para os profissionais da educação, baseada no mérito e na
produtividade, com ênfase nos resultados.
O Brasil é um dos países cujos professores recebem os piores salários, de
acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE). Em seu relatório divulgado no dia 8 de setembro de 2020, o salário de um
professor do ensino médio é cerca de metade da média dos países ricos e é menor
até do que um professor no Chile. A melhora da remuneração dos professores pode
ser uma estratégia para tornar a carreira mais atrativa para novos profissionais
(FAVERO, 2020).
Entretanto, temos que levar em conta que na maioria dos órgãos públicos,
sejam eles federais, estaduais ou municipais a remuneração dos profissionais da
educação não está associada à sua produtividade. Dessa forma, ótimos e péssimos
professores, preparados ou despreparados, todos ganham a mesma remuneração,
situação que se configura como um desincentivo grave para a carreira.
Outra situação nesse mesmo contexto é o fato de que grande parte dos
alunos dos cursos de Pedagogia no Brasil tem obtido notas no Enem16 menores que
a da média nacional. João Batista Araújo e Oliveira, presidente do Instituto Alfa e
Beto e o entrevistado de uma reportagem do jornal Gazeta do Povo, defendeu que
é necessário “selecionar pessoas de mais talento e bagagem intelectual para a
carreira de professor” (BARONI, 2019).
Por tudo isso, é muito importante que as escolas adotem critérios para uma
avaliação regular dos professores, além de fixar metas e objetivos a serem
atingidos.

16 Exame Nacional do Ensino Médio.


78

5 CONCLUSÃO

F
icou demonstrado que a educação representa um dos principais
fatores para o desenvolvimento da Expressão Científica e
Tecnológica do Poder Nacional e, por consequência, da Base
Industrial de Defesa.
Percebeu-se que documentos como a Declaração Mundial sobre Educação
para Todos (UNESCO) em conjunto com as orientações políticas e técnicas do
Banco Mundial vêm servindo de referência para as políticas educacionais do Brasil,
as quais se baseiam nas políticas sociais para o alívio da pobreza e na redução da
escola para o atendimento a conteúdos mínimos de aprendizagem atreladas a
demandas de preparação para o trabalho.
Vencido o problema da oferta de um ensino básico (infantil, fundamental e
médio) que atendesse a toda a população, a preocupação se volta para a qualidade
do ensino atualmente, que é muito baixa principalmente na rede pública. O Brasil
aparece na 66ª posição do ranking PISA 2018, de um total de 77 países. A situação
da evasão escolar é ainda pior: O Brasil tinha, em 2015, um percentual de 53% de
pessoas na faixa etária de 25 a 64 anos que não haviam completado o ensino
médio.
O Brasil gasta por volta de 6% do PIB com a pasta da educação, um valor
superior à média dos países da OCDE (5,5%), e esses gastos subiram muito nos
últimos 18 anos. Entretanto, ao contrário do esperado, esse aumento de gasto não
tem proporcionado a melhora do desempenho escolar e nem tampouco uma queda
dos níveis de evasão na mesma proporção do aumento dos investimentos.
Além da baixa qualidade do ensino no Brasil, vive-se um outro problema
grave: a baixa qualidade da infraestrutura nas escolas da educação básica.
A qualidade da educação depende de vários fatores e agentes, tais como o
financiamento governamental, a infraestrutura predial e material, os professores e
demais profissionais da educação, bem como do grau de coordenação entre os
diversos atores do sistema de ensino.
Ao analisar os indicadores de qualidade da educação no Brasil, ficou claro
que os gastos governamentais não são o gargalo para a melhoria de qualidade do
sistema educacional.
79

A primeira causa levantada para a baixa qualidade da educação vem do


método mais utilizado no Brasil para a alfabetização: o método global ou sua versão
mais moderna, o letramento, que é baseado na filosofia construtivista, com
influência da alfabetização ativista proposta por Paulo Freire, e cuja ineficácia foi
comprovada cientificamente. A maioria dos países do mundo se utilizam dos
métodos tradicionais, como o fônico e o silábico, como rota privilegiada para a
alfabetização das crianças.
A segunda causa para a baixa qualidade do ensino é a prioridade dos
gastos em educação dada para o ensino superior. Em 2017, o gasto por aluno no
ensino superior foi de 4,2 vezes o gasto por aluno no ensino fundamental, e essa
proporção já foi de 11 vezes, no ano 2000.
Em nenhum país desenvolvido do mundo, encontra-se tamanha distorção,
e, em 2018, em seu relatório econômico, a OCDE recomendou que o Brasil
passasse a gastar menos com o ensino superior.
Por último, a terceira causa que muito contribui para a baixa qualidade do
ensino é a desvalorização dos professores e dos profissionais da educação, o que
torna a carreira muito pouco atrativa para os melhores alunos.
Para reverter esse quadro, é necessário implementar uma política de
remuneração adequada para os profissionais da educação, baseada no mérito e na
produtividade, com ênfase nos resultados, mas levando-se em conta que na maioria
dos órgãos públicos, sejam eles federais, estaduais ou municipais a remuneração
dos profissionais da educação não está associada à sua produtividade.
Diante da situação catastrófica que vive a educação no Brasil, não há como
negar os impactos negativos da baixa qualidade do ensino e do baixo desempenho
dos alunos na expressão científica e tecnológica do Poder Nacional.
Um dos fatores da expressão científica e tecnológica são as instituições,
que têm no MCTI a missão de estabelecer as políticas nacionais de pesquisa
científica e tecnológica e de incentivo à inovação.
Dentro deste trabalho, foi evidenciada a pulverização de órgãos
governamentais que, por exemplo, cuidam do fomento às atividades de CT&I, o que
leva a uma dispersão de responsabilidade e de autoridade sobre o mesmo problema
e ainda faz com que cada responsável detenha quantidade de recursos insuficiente
para resolvê-lo.
80

Os resultados do mapeamento de infraestrutura de pesquisa realizado em


2013 pelo Ipea/CNPq/MCTI mostraram que o Brasil tem pouquíssimas instituições
com uma estrutura adequada para a pesquisa, e a grande maioria delas é formada
de pequenos laboratórios dentro das universidades. Ficou evidente que a interação
universidade-empresa não é fraca no Brasil, mas que existem outros problemas
estruturais mais relevantes no sistema de C&T brasileiro, o que significa a
necessidade de rever a política de alocação de recursos para as instituições de
C&T. Por muito tempo, priorizou-se a fragmentação de recursos, o que pode ter
criado um sistema de tal forma capilar que se tornou pouco competitivo.
A situação da infraestrutura de CT&I não é diferente na área de Defesa. Os
laboratórios nacionais dedicados à pesquisa e desenvolvimento de tecnologias
aplicáveis ao setor de defesa não são do porte adequado à produção de tecnologia
de ponta, quando comparados aos melhores laboratórios do gênero no exterior, o
que representa um grande óbice para a BID brasileira.
Apesar das várias políticas públicas implementadas nas duas últimas
décadas nas áreas de defesa e inovação, a capacidade brasileira para inovar ainda
é muito pequena, segundo os indicadores do Global Innovation Index (GII).
O segundo fator da expressão científica e tecnológica são os recursos
humanos. Nas últimas duas décadas, o Brasil assistiu ao crescimento dos
pesquisadores envolvidos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e também dos
investimentos em Ciência e Tecnologia. Uma das consequências desse incremento
foi o grande aumento da produção científica brasileira, o qual não foi acompanhado
pela qualidade dos trabalhos acadêmicos.
Ficou demonstrado, assim, que a qualidade da produção científica brasileira
representa um gargalo para o fortalecimento da expressão científica e tecnológica
do Poder Nacional. Outro aspecto que também impacta a expressão científica e
tecnológica do Brasil é o perfil da produção científica, já que as “Engenharias” e a
“Ciência dos Materiais” são as áreas mais afetadas com o baixo crescimento da
produção científica.
Adicionalmente, o Brasil, entre os países de renda alta e média superior, é
um país com um dos menores índices de pesquisadores a cada mil pessoas
ocupadas, comparável apenas com a Argentina. A consequência dessa falta de
demanda por cientistas qualificados é o fato de que o País, atualmente, é um
exportador de “cérebros”.
81

Em relação ao perfil dos gastos governamentais em CT&I, o Brasil aplicou,


no máximo, 1,6% da dotação orçamentária governamental na área de defesa entre
os anos de 2000 a 2013. Esse perfil destoa do perfil dos países da Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e também impacta o
fortalecimento da Base Industrial de Defesa (BID), visto que a indústria de defesa é
muito dependente da produção de novas tecnologias e de inovação.
Paradoxalmente, o Brasil é um dos países do mundo que mais investem em
Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), se forem considerados os investimentos
aplicados por pesquisador, o que demonstra que os maiores problemas na área de
Ciência, Tecnologia e Inovação não são os gastos governamentais.
Outros problemas estruturais apontados na literatura precisam ser
melhorados, tais como o número insuficiente de pesquisadores e a sua baixa
demanda, a baixa internacionalização da ciência e tecnologia, a baixa conectividade
das universidades e centros de P&D com o resto do mundo, o baixo número de
laboratórios e centros de pesquisa multidisciplinares e de grande porte, a falta de
clareza sobre a finalidade do investimento público em P&D e, principalmente, a
baixa qualidade do ensino básico. Por isso, o Brasil é um anão científico aos olhos
do mundo, e a Base Industrial de Defesa é um dos setores que mais sofre com a
magnitude da expressão científica e tecnológica do Poder Brasileiro.
A história da BID brasileira começou em 1762, ainda no Brasil colônia, com
a fundação da Casa do Trem de Artilharia na cidade do Rio de Janeiro, fase
denominada “Ciclo dos Arsenais”, que se encerra com a “Proclamação da
República.
A partir do final do século XIX e até 1945, a Base Industrial de Defesa tem
o seu desenvolvimento iniciado (“Ciclo das Fábricas Militares”). Em 1946, após a
implantação da CSN, inicia-se o “Ciclo da Pesquisa e Desenvolvimento”, quando a
elite militar brasileira percebe a importância da Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)
para a elevação da capacidade tecnológica do País, tão necessária ao
fortalecimento da BID. Ela dura até 1964, quando se inicia o regime militar no Brasil.
O período de 1965 a 1990 foi classificado como o “Apogeu da BID”. Nele, o
governo brasileiro passou a estimular a criação de um complexo industrial que
favorecia o desenvolvimento da Base Industrial de Defesa (BID), a qual, por sua
vez, estimulava o complexo industrial brasileiro. A BID atinge o seu ápice no ano de
1984, mas, a partir de 1991, começa a entrar em declínio, devido à sua
82

incapacidade de se adaptar ao novo contexto mundial com o fim da Guerra Fria.


Neste período, revelou-se a fragilidade da expressão científica e tecnológica
brasileira à época, já que a BID não tinha conseguido oferecer produtos de alta
complexidade tecnológica para competir no mercado de defesa mundial. Essa fase
marca o “Declínio da BID” e dura até 2000.
A partir da primeira década do século XXI, a BID brasileira mostrou alguns
indicadores de uma relativa melhora e um acanhado aumento das exportações de
material de defesa. Essa fase é marcada pela pequena diversidade da pauta de
exportações, que, no período de 1971-2000 era dominada pelas empresas
EMBRAER, ENGESA e AVIBRAS e que, agora, passou a ter apenas a EMBRAER
como protagonista (85% das exportações), com a venda de suas aeronaves
militares.
Uma nota técnica publicada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), em 2013, teve o objetivo de identificar algumas características selecionadas
do setor, assim como a percepção dos empresários brasileiros acerca das
condições presentes e futuras para o desenvolvimento da BID nacional. Os
resultados mais importantes mostraram que apenas 9,4% das empresas relataram
depender apenas do mercado de defesa; grande parte das empresas (67,9%)
considerou “difícil ou muito difícil” obter mão-de-obra especializada e em quantidade
suficiente para as suas atividades; a maioria das empresas usa recursos próprios
para o financiamento da produção; em relação à inovação de processo, o melhor
resultado foi a introdução de processo novo ou aperfeiçoado para o mercado
nacional (32,1%); que a parcela das receitas anuais das empresas obtida por meio
de exportações era muito baixa, jamais alcançando a marca de 10%.
Após a criação do Ministério da Defesa em 1999, houve a preocupação de
elevar a relevância dos assuntos ligados à defesa nacional na pauta das políticas
públicas dos últimos 20 anos. A principal política pública na área de defesa foi a
aprovação da Política Nacional de Defesa (PND) e da Estratégia Nacional de
Defesa (END), as quais são atualizadas em um ciclo de 4 anos, a fim de adequá-
las às novas circunstâncias nacionais e internacionais.
Os gastos governamentais em defesa são um importante parâmetro para a
demanda da Base Industrial de Defesa, pois os bens e serviços produzidos pela
indústria de defesa são, na maior parte das vezes, Materiais de Emprego Militar
83

(MEM) voltados para o consumo das Forças Armadas e das forças de Segurança
Pública.
Os valores destinados ao setor de defesa acompanharam o desempenho
do PIB no período 2001-2019, sem alterar significativamente a sua fatia no “bolo”
do orçamento federal.
O Brasil teve, em 2019, o 11o maior orçamento militar do mundo, com o total
de US$ 26,95 bilhões. Entretanto, o gasto brasileiro em relação ao PIB foi de apenas
1,5%, valor que se destoa da média de gastos em relação ao PIB dos dez primeiros
orçamentos de defesa mundiais, com exceção da Alemanha (1,3%) e do Japão
(0,9%). O mesmo acontece com os gastos militares em relação ao orçamento do
governo federal.
Adicionalmente, ressalta-se que nem todos os gastos militares do governo
brasileiro significam uma demanda direta para a Base Industrial de Defesa (BID) do
Brasil.
Apenas o grupo de despesa classificado como “investimentos” podem
significar uma demanda para a BID, já que nesse grupo estão incluídas, além das
aquisições (procurement) que demandam a BID, outras despesas relacionadas às
construções de infraestrutura para os quartéis do Exército, as bases navais e as
bases aéreas, aquisições diversas de Materiais de Emprego Militar (MEM), como
compras de equipamentos de Tecnologia da Informação (TI), veículos comuns etc.
A diminuição do percentual de investimentos no orçamento de defesa do
Brasil é um dos principais fatores que pressionam a demanda do governo federal
por encomendas da Base Industrial de Defesa (BID) e acabam por prejudicar o ritmo
de fortalecimento das indústrias de defesa do País.
Por outro lado, a BID também é pressionada por haver pouca
disponibilidade de mão-de-obra especializada e suficiente para as atividades
realizadas na área de defesa no mercado brasileiro.
Fica assim demonstrado que os problemas educacionais brasileiros
representam um grande óbice para o desenvolvimento sustentável da expressão
científica e tecnológica do Poder Nacional, sem o qual a Base Industrial de Defesa
brasileira não poderá ser fortalecida de forma autônoma sem o comprometimento
da soberania do País.
84

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