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.

Álgebra
POTI/TOPMAT UFPR
Nível 2

3ª edição
2024
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA
PROGRAMA DE FORMAÇÃO EM
MATEMÁTICA OLÍMPICA

Coordenador Geral: Prof. Dr. José Carlos Corrêa Eidam


Coordenadores: Fernanda de Oliveira de Jesus
Leonardo Knelsen
Mahmut Telles Cansiz
Site: http://poti.ufpr.br/
E-mail: poti@ufpr.br
Capa: Luciana Laroca
Impressão: Imprensa UFPR

Curitiba, janeiro de 2024.


Apresentação

Prezado Estudante,

É com grande satisfação que apresentamos a terceira edição do


material de treinamento do POTI/TOPMAT - Programa de Forma-
ção em Matemática Olímpica da Universidade Federal do Paraná
(UFPR).
O POTI/TOPMAT, que conta com o apoio do Instituto Nacional
de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), do Departamento de Mate-
mática da UFPR (DMAT/UFPR) e da Pró-Reitoria de Graduação
da UFPR (PROGRAD/UFPR), envolvendo docentes do DMAT e
alunos de graduação e pós-graduação da UFPR, é um projeto que
visa fornecer embasamento teórico e prático para os estudantes de
Ensino Fundamental e Médio que desejam se aprofundar nos inte-
ressantes temas abordados nas olimpíadas matemáticas nacionais.
Este projeto constitui-se em uma experiência única para todos os
envolvidos e também oportuniza a aproximação e interlocução da
Universidade com a Educação Básica.
A iniciativa do projeto POTI, capitaneada pelo IMPA em todo o
território nacional, teve seu início na UFPR em 2016 e, desde então,
nosso polo, sediado no campus Centro Politécnico da UFPR, em
Curitiba, tem crescido bastante e impactado positivamente todos os
envolvidos. Em particular, envolve de forma intensa os estudantes
de graduação da UFPR, especialmente do Curso de Matemática, que
atuam como professores e monitores das disciplinas do programa.
O programa TOPMAT iniciou em 2019, com o intuito de pro-
duzir material de formação adequado para treinamento em mate-
mática olímpica. A princípio, o material inicial foi produzido para
formação de professores e posteriormente passamos ao trabalho de
redação do material de formação para os alunos. Este material foi
sendo aperfeiçoado ao longo do tempo, a partir da experiência di-
dática dos estudantes, e o resultado é o que temos hoje em mãos.
Em resumo, o presente material foi desenvolvido pelos professores
atuantes no programa e servirá como base para todas as atividades
desenvolvidas durante o treinamento.
Por fim, gostaria de agradecer de forma expressiva aos estudantes
de graduação da UFPR envolvidos neste projeto pelo afinco e esmero
na realização deste árduo trabalho. Sem a participação de cada um
deles, este projeto não seria possível.

Bons estudos!

Prof. Dr. José Carlos Eidam


Coordenador do POTI/TOPMAT - 2024
Departamento de Matemática - UFPR
Janeiro de 2024

4
Sumário

Apresentação 3

Introdução 9

1 Expressões Algébricas 11
1.1 Introdução e definições . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.2 Propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.3 Manipulação de expressões . . . . . . . . . . . . . . 16
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

2 Produtos Notáveis e Fatoração 27


2.1 Produtos notáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.2 Fatoração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.2.1 Trinômio quadrado perfeito . . . . . . . . . . 32
2.2.2 Cubo perfeito . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.2.3 Completando quadrados . . . . . . . . . . . . 32
2.2.4 Diferença de dois quadrados . . . . . . . . . . 33
2.2.5 Soma ou diferença de dois cubos . . . . . . . 33
2.2.6 Termo em evidência . . . . . . . . . . . . . . 33
2.2.7 Agrupamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

3 Equações 43
3.1 Elementos de uma equação . . . . . . . . . . . . . . 44
3.2 Equações explícitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

5
3.2.1 Manipulação algébrica . . . . . . . . . . . . . 45
3.2.2 Substituição de variáveis . . . . . . . . . . . . 47
3.3 Equações implícitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
3.3.1 Fórmula de Bhaskara . . . . . . . . . . . . . 49
3.3.2 Relações de Girard . . . . . . . . . . . . . . . 50
3.3.3 Resolução por fatoração . . . . . . . . . . . . 51
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

4 Inequações 63
4.1 Definições iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
4.2 Propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.2.1 Reflexividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.2.2 Anti-simetria . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.2.3 Transitividade . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.2.4 Aditiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.2.5 Cancelamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.2.6 Multiplicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
4.2.7 Relações com o quadrado . . . . . . . . . . . 67
4.3 Intervalos reais e interpretação gráfica . . . . . . . . 68
4.4 Métodos de resolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
4.4.1 Manipulação algébrica . . . . . . . . . . . . . 70
4.4.2 Inequações com fatorial e potência . . . . . . 71
4.4.3 Inequação produto e quociente . . . . . . . . 72
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

5 Sequências I 79
5.1 Sequências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
5.1.1 Fórmulas posicionais e recorrências . . . . . . 80
5.2 Progressões Aritméticas . . . . . . . . . . . . . . . . 82

6 Sequências II 97
6.1 Progressões Geométricas . . . . . . . . . . . . . . . . 97
6.2 Recorrências lineares de primeira ordem . . . . . . . 104

7 Indução 115
7.1 Método Indutivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115

6
8 Binômio de Newton 131
8.1 Somatórios e Produtórios . . . . . . . . . . . . . . . 131
8.2 Fórmula do Binômio de Newton . . . . . . . . . . . . 133
8.3 Triângulo de Pascal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137

Referências Bibliográficas 147

7
8
Introdução

Este livro apresenta um modo especial de se fazer Matemática.


O conteúdo é basicamente o mesmo que você vê na escola, mas em
uma abordagem mais aprofundada e, por vezes, acompanhada de
algum formalismo que provavelmente será uma novidade para você.
No entanto, o principal propósito não é expor conteúdos, mas de
conduzi-lo num treinamento em Matemática Olímpica.
Mas... Em que consiste essa tal Matemática?
Do ponto de vista do conteúdo, tudo o que você precisa para re-
solver problemas de olimpíadas de Matemática está disponível nos
livros didáticos escolares ou, mais raramente, em livros mais avan-
çados. Todavia, saber todos esses conteúdos, com suas fórmulas,
teoremas e proposições, não garante de forma alguma o sucesso na
resolução dos problemas. Mesmo os seus professores na escola e tam-
bém nós, graduandos em Matemática e de outros cursos de Exatas,
frequentemente ficamos travados diante de uma questão de olim-
píada, sem que todo o nosso conhecimento matemático possa nos
prestar qualquer auxílio. Ou seja, estar bem informado nunca é o
suficiente por aqui.
De modo geral, para se preparar para o enfrentamento de pro-
blemas matemáticos, nada melhor que... enfrentar problemas mate-
máticos!
O que torna a matemática olímpica especial não é um conjunto
de conhecimentos, mas o modo de lidar com eles, forçando o estu-
dante a relacionar conteúdos entre si, mudar um ponto de vista que
lhe era muito familiar e buscar estratégias de resolução. Problemas
olímpicos lhe arrancam daquele comodismo do tipo “eu já sei, já
estudei isso”. Aqui, você já sabe tudo o que precisa saber, mas não
sairá do lugar se não se arriscar em caminhos de raciocínio não ha-
bituais. E essa descrição não está aqui para desestimulá-lo. Pelo
contrário, queremos mostrar que problemas olímpicos são instigan-
tes justamente porque são difíceis e inesperados. Afinal de contas,
resolver problemas olímpicos é como um jogo – e você sabe como
jogos podem ser desafiadores, não é mesmo?
É por conta desse espírito de Matemática Olímpica que opta-
mos por incluir no material muitos problemas – retirados de di-
versas olimpíadas e livros ou elaborados por nós mesmos. Este é
essencialmente um livro de treinamento e enfrentamento de proble-
mas matemáticos, não de exposição de conteúdos. Os conteúdos
(tanto aqueles que você já tem na escola quanto alguns novos que
lhe apresentaremos) só serão introduzidos na medida em que forem
necessários para resolver as questões. Nós o ajudaremos com exem-
plos, modelos de estratégias de resolução, dicas de organização do
raciocínio, entre outras coisas. Porém, o mais importante é que
você – por conta própria – faça muitos exercícios, mesmo aqueles
que estão resolvidos. E lembre-se sempre do ditado: a prática leva
à perfeição.

Equipe POTI/TOPMAT
Nível 2
2024

10
Aula 1

Expressões Algébricas

Matemática, a disciplina dos números. Sem dúvida, nós faze-


mos muitas contas. Contudo, veremos ao longo de Álgebra que, em
geral, elas não são compostas apenas por números. Aliás, em um
primeiro olhar, o que menos aparece nas páginas de nossas aulas são
números. Mas não se deixe enganar: eles estão ali nas expressões
algébricas, ocultos de nós por meio de incógnitas. O que é tudo
isso? Tentaremos responder ao longo das próximas páginas.

1.1 Introdução e definições

Exemplo 1.1. Pense em um número de 0 a 9, depois some a ele o


número 5, em seguida multiplique o resultado por 12, então subtraia
18, divida por 3, some 26, multiplique por 5, some 2, e por fim, divida
por 2.

11
12 POTI/TOPMAT

Se você escolheu 0, certamente chegou em 101. Se escolheu 1,


deve ter chegado em 111. Se escolheu 2, suas contas resultaram em
121, e assim sucessivamente, até 191, caso você tenha escolhido o
número 9. Mas será mesmo que isso é verdade? Bem, vamos checar:

De fato, verifica! Coincidência? Eu acho que não! Mas como


poderíamos mostrar que isso é verdade (para todo número de 0 a 9)
sem fazer caso a caso? Isto é, como podemos confirmar que isso é
verdade para todos os números de 0 a 9 simultaneamente, ao invés
de provar individualmente para cada número?
Para isso, usamos outro símbolo para representar nosso número.
No início, pode parecer meio estranho ver expressões como x + 2 ou
x2 , mas não há nada de novo por aqui; os termos anteriores querem
nos dizer que devemos somar 2 ao número que estamos trabalhando
(no caso de x + 2), ou que devemos elevá-lo ao quadrado (em x2 ). O
uso da incógnita x (também chamada de variável) é meramente
Aula 1 - Expressões Algébricas 13

pelo fato de não estarmos usando um valor específico para o número,


mas sim trabalhando genericamente, de modo que não podemos
substituir por um número na expressão. Logo, utilizamos uma letra.
Quando envolvem incógnitas, as expressões aritméticas são cha-
madas de expressões algébricas. É bom saber também que uma
expressão algébrica pode ter mais de uma incógnita. Ou seja, nada
impede que as expressões contenham mais de uma variável simulta-
neamente, como em x2 +2y ou em abc+1. Note também que quando
temos o produto entre várias incógnitas, ou entre uma incógnita e
um número, nós podemos esconder o sinal de multiplicação. Desta
forma, temos que 2y = 2 · y e abc = a · b · c.
O uso das expressões algébricas para representar genericamente
um número nos permite fazer cálculos para vários casos ao mesmo
tempo, já que não especificamos inicialmente quem é a incógnita.
Veja o caso dessa mágica que fizemos agora há pouco. Ao dizer-
mos que a variável escolhida por você é x, um número entre 0 e 9,
podemos escrever as regras como a seguinte expressão algébrica:
5{[12(x + 5) − 18] ÷ 3 + 26} + 2
2
Essa é uma expressão um pouco grande, não é mesmo? Tente
chegar nela você mesmo: consulte novamente o enunciado do Exem-
plo 1.1 e vá fazendo passo a passo. Veja que você escolheu o número
x. Se somou 5 a ele, então agora você tem x + 5. Se multiplicou
este resultado por 12, então você fica com 12(x + 5), e assim vai.
Agora vamos fazer continhas com essa expressão, como por exem-
plo multiplicações distributivas e somas, de forma a simplificá-la.
Indicaremos em itálico as contas que estão sendo feitas a cada passo.

5{[12(x + 5) − 18] ÷ 3 + 26} + 2


2
5{[12x + 60 - 18] ÷ 3 + 26} + 2
=
2
5{[12x + 42] ÷ 3 + 26} + 2
=
2
14 POTI/TOPMAT

5{12x÷3 + 42÷3 + 26} + 2


=
2
5{4x + 14 + 26} + 2
=
2
5{4x + 40} + 2
=
2
5 · 4x + 5 · 40 + 2
=
2
20x + 200 + 2
=
2
20x 200 2
= + +
2 2 2

= 10x + 100 + 1 = 100 + 10x + 1


Note que 10x = 0 para x = 0, 10x = 50 para x = 5, e 10x =
90 para x = 9. Veja também que nossa expressão resultou em
100 + 10x + 1. Como x está entre 0 e 9, sabemos que 10x não
ultrapassa 100. Então as continhas deram exatamente um número
em sua forma decimal! Por exemplo: O número 153 pode ser escrito
como 100 · 1 + 10 · 5 + 3. Assim, concluímos que o número resultante
da expressão é da forma:

1(Número Escolhido)1
Ou seja, com 1 na casa das centenas e 1 na casa das unidades. E
no meio, na casa das dezenas, temos exatamente x, o número entre
0 e 9 que for escolhido.
Em outros casos, a incógnita x serve para quando estamos pro-
curando um certo valor. Por exemplo: Qual é o número que mul-
tiplicado por 4 resulta em 12? Representamos isso por 4x = 12, e
encontramos x dividindo 12 por 4. Para encontrar esse (e outros)
x precisamos de propriedades de manipulação algébrica, que
veremos a seguir.
Aula 1 - Expressões Algébricas 15

1.2 Propriedades

O que vamos fazer a seguir pode parecer um pouco óbvio, visto


que você já domina essas propriedades, como somas e multiplicações.
Mas isso é o que chamamos de generalização, uma grande parte não
só da Álgebra, como da Matemática como um todo. É importante
que tenhamos familiaridade com esse tipo de notação, pois essas
ferramentas ajudarão em todas as disciplinas do curso.
Por vezes é difícil entender o que uma expressão ou propriedade
escrita de forma generalizada quer dizer. Nesse caso, tente subs-
tituir cada uma das letras por números reais, para entender como
elas funcionam. Depois, você já sabe que elas valem para qualquer
número!

Soma de números reais


• (Comutatividade) a + b = b + a
• (Associatividade) (a + b) + c = a + (b + c)
Produto entre números reais
• (Comutatividade) a · b = b · a
Potenciação
• an · am = an+n
• an ÷ am = an−m
• (an )m = an·m
• a−n = a1n
Radiciação
√ 1
• √n
a = an

• n am √ = ( n√a)m

• nanb= √
n
ab

• b n a = n abn
Outras propriedades
• −a = (−1) · a
• Se a · b = 0 então a = 0 ou b = 0
• (Distributividade) a(b + c) = ab + ac
16 POTI/TOPMAT

Deste ponto até o final da nossa disciplina, utilizaremos frequen-


temente essas propriedades para manipularmos expressões. Não há
motivos para se assustar com isso: assim como buscávamos redu-
zir uma expressão aritmética em um único número, estamos apenas
procurando outras formas de escrever uma expressão algébrica rece-
bida. Em geral, tentamos simplificá-la ou rearranjá-la de forma que
alguns termos convenientes apareçam para nós. Tudo pode parecer
meio confuso agora, mas ao longo das aulas e fazendo exercícios você
entenderá o propósito.

1.3 Manipulação de expressões


Podemos usar diversas ferramentas para simplificarmos expres-
sões. Uma delas é a combinação de termos semelhantes. Mas
primeiro precisamos saber o que são termos semelhantes.

Chamamos de termos semelhantes aqueles que possuem as mes-


mas variáveis ou nenhuma variável.

Exemplo 1.2. 4x é semelhante a 6x e −ab é semelhante a 11ab,


mas 4x não é semelhante a 4a.
Cuidado! Para que termos sejam semelhantes eles precisam ter a
mesma variável e o mesmo expoente. Ou seja: x2 não é semelhante
a x.
Exemplo 1.3. Observe a combinação de termos semelhantes a se-
guir:

2x + 4 + x + 7 − 4x
= (2x + x − 4x)(+4 + 7)
= −x + 11

Outra ferramenta que usamos para manipular expressões é pro-


priedade distributiva. Na expressão abaixo, o 3 multiplica tanto
Aula 1 - Expressões Algébricas 17

o x quanto o 5.
3(x + 5) = 3x + 15.
As expressões em suas diferentes versões (mais simplificada, ou mais
complicada) são chamadas de expressões algébricas equivalen-
tes. Por exemplo,

2(x + 6y + 12 − 2x + 4) e − 2x + 12y + 32

são equivalentes, pois basta simplificar a primeira expressão que você


chegará na segunda. Agora que já conhecemos o conceito de mani-
pulação algébrica, podemos exibir qualquer expressão de diferentes
formas.
Exemplo 1.4. Mostre que as figuras A e B têm mesma área.

a a+b

B a−b
a A

b
Figura 1.1: Figuras A e B

Solução. Para tornar mais claro, vamos supor que o comprimento


a vale 3 e que o comprimento b vale 1. Então a figura A é obtida
retirando um quadrado de lado 1 de um quadrado de lado 3. Então,
a área da figura A é a área do quadrado maior (32 = 9), descontada
a área do quadrado menor (12 = 1) e portanto vale 9 − 1 = 8. Já a
figura B é um retângulo de lados 3 − 1 e 3 + 1, ou seja, 2 e 4. Logo,
sua área é 2 · 4 = 8, e assim concluímos que para estas medidas de
a e b, as áreas são iguais.
18 POTI/TOPMAT

Agora, mostraremos que isso vale para qualquer escolha de


a e b. Utilizando o mesmo pensamento, a figura A é uma figura
obtida retirando um quadrado de lado b de um quadrado de lado a,
então essa figura tem área a2 − b2 . A figura B é um retângulo de
lados a + b e a − b, e portanto tem área (a + b)(a − b).
Resta apenas verificar se (a + b)(a − b) e a2 − b2 são expressões
algébricas equivalentes, ou melhor, se são iguais1 . Expandindo (a +
b)(a − b) usando a distributividade duas vezes, obtemos:

(a + b)(a − b) = a(a − b) + b(a − b) = a2 − 


+
ab  − b2 = a2 − b2 .
ba

Assim, as duas figuras de fato têm a mesma área para quaisquer


lados a e b. □
Exemplo 1.5. Simplifique a expressão (13x2 y 3 + 2)2 .
Solução.

(13x2 y 3 + 2)2
   
= 13x2 y 3 + 2 · 13x2 y 3 + 2
= 13x2 y 3 · 13x2 y 3 + 13x2 y 3 · 2 + 2 · 13x2 y 3 + 2 · 2
 2
= 13x2 y 3 + 2 · 26x2 y 3 + 22
 
= 132 x4 y 6 + 52x2 y 3 + 4
= 169 x4 y 6 + 52x2 y 3 + 4


As ferramentas que vimos nessa aula já facilitam muito a reso-
lução dessas questões. Mas, será que há um jeito ainda mais fácil
ainda de manipular essa expressão? Pense sobre isso até nossa pró-
xima aula.

1
Essa igualdade é realmente “notável” e você a verá novamente na Aula 2.
Aula 1 - Expressões Algébricas 19

Exercício resolvido

Exemplo 1.6. Calcule as expressões abaixo:

1 3 1 1
(a) + (b) + .
x 2 x y

Solução. No item (a), precisamos deixar as duas parcelas da soma


em denominador comum, como nas frações envolvendo números.
Vamos seguir o raciocínio: se temos a fração 52 , então sabemos
que 15
6 = 2 , pois:
5

15 ÷ 3 5 5 × 3 15
= ou = .
6÷3 2 2×3 6

Do mesmo modo, podemos fazer isso com x. Ou seja, 32 = 3x 2x , pois


obtemos 3x2x multiplicando 3
2 por x no numerador e denominador.
Devemos encontrar um denominador comum para a soma x1 + 32 .
Precisamos então de um múltiplo de x e um múltiplo de 2. Logo,
um candidato seria 2x. Como já sabemos, 23 = 3x 2x . Além disso,
multiplicando o numerador e o denominador de x por 2, obtemos
1

2x . Portanto:
2

1 3 2 3x 2 + 3x
+ = + = .
x 2 2x 2x 2x
No item (b) basta achar um denominador comum para a soma
1
x + y1 , que pode ser xy. Logo, multiplicando o numerador e deno-
minador da primeira parcela por y, e o numerador e denominador
da segunda parcela por x, teremos:

1 1 y x y+x
+ = + = .
x y xy xy xy


20 POTI/TOPMAT

Exercícios Propostos
1. (OBMEP 2018) Qual é o valor da expressão
2424242 − 1212122
?
242424 × 121212
2. Calcule as expressões abaixo:
• 127 × 2018 + 127 × 2019 + 127 × 2020.
• 172731723821 × 18237493 − 72731723821 × 18237493
• 9437267255 × 6422542 − 9437267255 × 6422541
3. Deixe as expressões abaixo na forma expandida:

• (x + 1)2 • (x + 5)2
• (2x + 1)2 • (x + y)2

4. (OBMEP 2019 - adaptado) Um número é dito TOP se pos-


sui 5 algarismos e quando o produto do 1◦ e do 5◦ é a soma
do 2◦ , 3◦ e 4◦ . Por exemplo, 12.338 é TOP, pois possui 5 al-
garismos e 1 · 8 = 2 + 3 + 3.
Qual é o valor do dígito a para que 23.4a8 seja TOP?
5. Quanto é 26 + 26 + 26 + 26 − 44 ?
6. (OBMEP 2014) Qual número é maior, 2300 ou 3200 ? Bem,
calcular explicitamente tais números é algo bem difícil, mesmo
com a ajuda de uma calculadora ou de um computador. En-
tretanto, podemos descobrir sem calculá-los explicitamente!
Observe:
2300 = 23·100 = (23 )100 = 8100 ,

e observe também que


3200 = 32·100 = (32 )100 = 9100 .

Como 8100 é maior que 9100 , concluímos que 2300 é maior que
3200 .
Aula 1 - Expressões Algébricas 21

(a) Qual número é maior, 240 ou 328 ?


(b) Qual número é maior, 3111 ou 1714 ?

7. (OPRM 2016 - adaptado) Considere os números X = 2700 ,


Y = 11200 e Z = 5300 . Qual é o maior e o menor número entre
X, Y e Z?

8. Na igualdade abaixo, a, b e c são números inteiros positivos.


Qual é o valor de c?

10 1
=a+ .
7 1
b+
c

9. Qual é o valor da expressão abaixo?


−1 × 2 + 2 × 3 − 3 × 4 + 4 × 5 − . . . − 49 × 50 + 50 × 51
1 + 2 + 3 + . . . + 25

10. (OBMEP 2019 - adaptado) A calculadora de Dario tem uma


tecla especial. Se um número n diferente de 2 está no visor e ele
aperta a tecla especial, aparece o número n−2 2n
. Por exemplo,
se o número 3 está no visor, ao apertar a tecla especial, aparece
o número 6, pois 3−2
2×3
= 6.

(a) Se o número 6 está no visor, qual é o número que apare-


cerá se a tecla especial for apertada?
(b) Explique por que, ao apertar duas vezes a tecla especial,
Dario sempre obtém o número que estava inicialmente no
visor.

É interessante entender o exercício resolvido 1.6 antes de re-


solver este problema.

11. (OBM 2006) Efetuando as operações indicadas na expressão

22007 + 22005
!
× 2006
22006 + 22004
22 POTI/TOPMAT

obtemos um número de quatro algarismos. Qual é a soma dos


algarismos desse número?

12. (OBMEP 2019) Inicialmente, o número 1 e dois números


positivos x e y estão escritos em um quadro negro. Em cada
movimento, um jogador pode escolher dois números sobre o
quadro, não necessariamente distintos, e escrever a sua soma
ou a sua diferença no quadro. Também podemos escolher um
número não nulo no quadro e escrever o seu inverso. Após um
número finito de movimentos, descreva como podemos obter
os seguintes números:

(a) x2
(b) xy.

É interessante entender o problema resolvido 1.6 antes de re-


solver este exercício.

Dicas para os exercícios propostos

1. Perceba que 2 × 121212 = 242424. Em seguida, use essa igual-


dade na expressão para então simplificar.

2. Use a propriedade distributiva.

3. Use a propriedade distributiva duas vezes.

4. Para que 23.4a8 seja TOP devemos ter 3+4+a = 2·8. Encon-
tre o a correspondente para que a igualdade seja verdadeira.

5. Note que 1 · 26 = 26 . Em seguida use a propriedade distribu-


tiva.

6. Para o item (a) adapte o argumento do enunciado mostrando


que 240 < 814 . Para o item (b) utilize que 31 < 2 · 17 e
24 = 16 < 17.
Aula 1 - Expressões Algébricas 23

7. Deixe todos os números na forma de potência de 100 e compare


os números.

8. Tente fazer a divisão com resto de 10 por 7 e simplifique. Mais


10 7+3 3 1
precisamente = = 1 + = 1 + . Repita os passos
7 7 7 7
3
para encontrar c.

9. Use a distributiva para agrupar os termos com sinal de − e


o com sinal + em seguida. Por exemplo, −1 × 2 + 2 × 3 =
2 × (−1 + 3) = 2 × 2.

10. (a) É só trocar 6 por n na expressão e simplificar o número;


(b) Perceba que se pegamos um número n diferente de 2, aper-
2n
tando uma vez o botão teremos a sequência n → e aper-
! n−2
2n
2
2n n−2
tando novamente teremos → . Fazendo as
n−2 2n
−2
n−2
simplificações deste último número, veremos que este é igual
ao n inicial;

11. Note que 22007 = 22005+2 = 22005 · 22 . Mostre também que


22006 = 22004 · 22 . Use a distributiva no numerador com o
número 22005 e no denominador com o número 22004 .
1 x+1 x
12. (a) Use que 1 + = , descubra quanto vale x −
x x x+1
e o inverso deste número; (b) Use a igualdade (x + y)2 =
x2 + 2xy + y 2 para mostrar que é possível obter xy.
24 POTI/TOPMAT

Exercícios Adicionais
Tente resolver esses exercícios sozinho(a), e caso necessário, peça
ajuda ou tire dúvidas com o(a) professor(a)!

Exercício 1.1. Mersenne e Ferrier são amigos e estavam conver-


sando sobre sua família. Mersenne disse: “eu tenho 51 primos!”, e
foi respondido por Ferrier com: “eu só tenho um, mas ele é enorme”.
Assim como toda pessoa normal faria, eles começaram a formular
expressões aritméticas com esses valores recém-descobertos.

(a) Considerando as informações dadas anteriormente, informe o


valor resultante após a seguinte lista de operações:

• some o dobro de primos de Ferrier com a quantidade de


primos de Mersenne;
• dobre o valor obtido;
• com este valor, some a diferença entre o número de primos
de Mersenne e de primos de Ferrier;
• por fim, divida o número resultante pela soma da quan-
tidade de primos de ambos.

(b) Forneça a expressão algébrica equivalente aos comandos da


lista anterior. Convencione chamar de M a quantidade de
primos de Mersenne e F a quantidade de primos de Ferrier.
Deixe a expressão da forma como ela é lida na lista, ou seja,
não a desenvolva. (Por exemplo: não escreva “o dobro da
diferença entre a quantidade de primos de Mersenne e Ferrier”
como 2M − 2F , e sim como 2(M − F )).

(c) Desenvolva a expressão do item anterior e mostre que o resul-


tado é sempre 3, independentemente da quantidade de primos
de Mersenne e Ferrier.

Exercício 1.2. Mostre que a expressão x+5


2 + y é equivalente à
6 (−y + 5x − 5 + 20 − 2x + 7y).
1
Aula 1 - Expressões Algébricas 25

Exercício 1.3. Definamos a operação a ⊗ b como sendo ab . Por


exemplo, 2 ⊗ 3 = 8. Determine o valor de:

2 ⊗ (2 ⊗ (2 ⊗ 2))
.
((2 ⊗ 2) ⊗ 2) ⊗ 2)

Exercício 1.4 (Adaptado de PUC-MG). Se 2n = 7 e p = 15 quanto


vale 22n+p−3 ?
Exercício 1.5 (Desafio). O que acontece se multiplicarmos o nú-
mero:
1 q 10 2 5
{[( √ + [(32 − 5) · 5 + (−2)3 x + (−2)2 x + 22 x])− √ ]· √ · q√ }
5 5 5x 16x2

por x?
26 POTI/TOPMAT
Aula 2

Produtos Notáveis e
Fatoração

Na aula anterior, começamos a utilizar incógnitas para repre-


sentar uma situação genérica. Contudo, pudemos perceber como é
muito mais complexo resolver uma expressão algébrica (isto é, envol-
vendo variáveis) do que uma expressão aritmética (composta apenas
por números). Por mais que as propriedades que utilizamos para a
resolução sejam simples, muitas vezes o trabalho se torna repetitivo,
ou precisamos reconhecer padrões que não são nada imediatos.
Aí é que entram os produtos notáveis e a fatoração. Estas
são ferramentas que nos ajudarão a ter certos insights e pouparão
muito trabalho braçal. Pode ser um pouco chato decorar estas ex-
pressões no início; contudo, garantimos a você que valerá a pena,
pois produtos notáveis aparecerão não só no POTI, mas em olim-
píadas e na escola também.
Vamos lá?

2.1 Produtos notáveis


Não há nada melhor para nos incentivar a aprender alguma téc-
nica nova do que um exercício que não saibamos resolver sem ela.
Veja a sequência de exemplos a seguir.

27
28 POTI/TOPMAT

Exemplo 2.1. Pegue um número qualquer e eleve-o ao quadrado.


Se por exemplo você escolher o número 13, terá 132 = 13 · 13 = 169.
Agora tome o sucessor daquele número qualquer e eleve ao quadrado,
neste caso o 14. Você provavelmente pensará na resolução mais
óbvia que é 142 = 14 · 14 = 196, mas tente pensar em uma forma de
escrever o quadrado do sucessor em função do número inicial.

Solução. Naturalmente, 142 = 132 +2·13+1. Brincadeiras a parte,


sabemos bem que não há nada de natural nisso. Como podemos
chegar nessa expressão de uma forma mais intuitiva?
Sabemos que podemos escrever o número 14 em função de 13
como (13 + 1), e com base nisso podemos elevá-lo ao quadrado:
(13 + 1)2 . Utilizando a propriedade distributiva, temos:

(13 + 1)2 = (13 + 1)(13 + 1)


= (13 · 13 + 13 · 1 + 1 · 13 + 1 · 1)
= 132 + 2 · 13 + 12


Agora, como podemos generalizar essa conta? Utilizando os con-
ceitos que vimos na Aula 1, vamos atribuir uma variável para esse
número genérico. Chamando-o de n, conseguimos escrever o suces-
sor de qualquer número como n + 1. Então, pede-se:

Exemplo 2.2. Escreva (n + 1)2 em função de seu antecessor, isto


é, n.

Solução. Se elevarmos o sucessor ao quadrado, teremos:

(n + 1)2 = (n + 1)(n + 1)
=n·n+n·1+1·n+1·1
= n2 + 2 · 1 · n + 1

Note que no caso particular do exemplo anterior, onde n = 13,


encontramos de volta 142 = (13 + 1)2 = 132 + 2 · 13 + 1. □
Aula 2 - Produtos Notáveis e Fatoração 29

Até agora, vimos como encontrar, dado um sucessor genérico


elevado ao quadrado, uma expressão que é dada em função do valor
original. Será que podemos generalizar ainda mais? Existe uma
expressão que sempre vai resultar no quadrado de uma soma?
Definamos uma soma qualquer de um número a com b, ou seja
(a + b), e elevemos tal expressão ao quadrado: (a + b)2 . Temos,
portanto:
(a + b)2 = (a + b)(a + b)
=a·b+a·b+b·a+b·b
= a2 + 2 · a · b + b2
Este é o produto notável que chamamos de quadrado da soma
de dois termos1 . É usual encontrá-lo na sua versão por extenso: o
quadrado da soma de termos é igual ao quadrado do primeiro termo,
mais duas vezes o primeiro vezes o segundo termo, mais o quadrado
do segundo termo.
Os produtos notáveis são uma série de expressões iguais a esta,
que notavelmente aparecem em muitas de nossas manipulações. As-
sim, preferimos decorá-los para não ter de aplicar a distributiva toda
vez que algum deles aparece. A lista das expressões mais recorrentes
é apresentada na sequência.

Lista de produtos notáveis.

Quadrado de uma soma de dois termos:

(a + b)2 = a2 + 2ab + b2

Quadrado de uma diferença de dois termos:

(a − b)2 = a2 − 2ab + b2
1
Você consegue estabelecer alguma relação entre a versão expandida de (x+y)2 e
(x+y)3 ? Será que existe alguma relação com (x+y)4 ? Será possível estabelecer
uma outra maneira de encontrar sua forma expandida sem precisar abrir o
produto manualmente ou decorar a fórmula?
Pense sobre isso. Quem sabe um dia não voltamos nesse assunto?
30 POTI/TOPMAT

Produto da soma pela diferença:

(a + b) · (a − b) = a2 − b2

Quadrado de uma soma de três termos:

(a + b + c)2 = a2 + b2 + c2 + 2(ab + ac + bc)

Cubo de uma soma:

(a + b)3 = a3 + 3a2 b + 3b2 a + b3

Cubo de uma diferença:

(a − b)3 = a3 − 3a2 b + 3b2 a − b3

Soma de dois cubos:

(a + b) · (a2 − ab + b2 ) = a3 + b3

Diferença de dois cubos:

(a − b) · (a2 + ab + b2 ) = a3 − b3

Observe que, em todas as expressões, temos uma versão “simpli-


ficada” à direita da igualdade, e uma versão expandida à esquerda.
Todas elas são demonstradas da mesma forma que fizemos para a
soma de dois termos: aplicamos a propriedade distributiva que vi-
mos na Aula 1 na multiplicação do lado esquerdo, e desenvolvemos
a expressão até chegar na que encontramos do lado direito. Re-
comendamos fortemente que você demonstre todas as outras, para
praticar manipulação algébrica e ajudar a decorar as expressões.
Contudo, sabemos que você provavelmente deve estar pensando
agora: “mas para que eu preciso me dar ao trabalho de decorar, se é
possível sempre chegar nessas expressões por meio de manipulação
algébrica?” Esta é uma dúvida comum e muito válida. Pode parecer
que vai lhe dar menos trabalho expandir toda vez do que decorar
Aula 2 - Produtos Notáveis e Fatoração 31

todas aquelas expressões. Mas acreditamos que o próximo exemplo


lhe fará mudar de ideia.

Exemplo 2.3. Se o quadrado de um número pode ser escrito como


9k 2 + 12k + 4 o que podemos afirmar sobre o sucessor do número?

Solução. Primeiramente, vamos entender o enunciado. Nos foi


dado o valor de um número n ao quadrado, ou seja n2 , e quere-
mos obter alguma informação sobre o sucessor do número, n + 1.
Podemos começar calculando n usando a expressão que nos foi
dada. Note que o primeiro e o terceiro termos são quadrados per-
feitos, pois 9k 2 = (3k)2 e 4 = 22 . Fazemos então:
n2 = 9k 2 + 12k + 4
= (3k)2 + 12k + 22
= (3k + 2)2
Como segue que n = 3k + 2, para encontrar alguma informação
sobre o sucessor, somamos 1:
n + 1 = (3k + 2) + 1 = 3k + 3 = 3(k + 1)
Perceba que ao colocarmos 3 em evidência, descobrimos que o su-
cessor, n + 1, é um múltiplo de 3. □
Agora, perguntamos: você notou de imediato que 9k 2 +12k+4 =
(3k + 2)2 ? O que queremos lhe mostrar é que a parte difícil não é
expandir um produto notável, e sim reconhecer a forma expandida
como um. No caso desse exemplo, é fácil obter 9k 2 +12k+4 aplicando
a distributiva em (3k + 2)2 , mas é difícil notar o caminho contrário.
Para isso, não há atalhos; todos os produtos notáveis precisam estar
na ponta do lápis - e da mente também.

2.2 Fatoração
O Exemplo 2.3 foi um caso de fatoração, onde reconhecemos o
quadrado de uma soma em sua forma expandida. A técnica que usa-
mos não é um ponto fora da curva; aliás, é bem comum precisarmos
32 POTI/TOPMAT

agrupar termos e identificar produtos notáveis em nossas expressões.


É importante que sejamos hábeis em lidar com a igualdade nos dois
sentidos.
Não são raras as vezes que temos expressões complexas que po-
dem ser reescritas de forma mais simples. Veremos na sequência
algumas técnicas de fatoração que nos serão úteis.

2.2.1 Trinômio quadrado perfeito


Esse é o inverso do produto notável quadrado de uma soma ou de
uma diferença. Chamamos de trinômio quadrado perfeito uma
expressão de três termos, onde dois deles são positivos e quadrados
perfeitos, e o outro termo deve ser o dobro do produto dos dois
primeiros. É usualmente escrito como a2 ± 2ab + b2 , e sua forma
fatorada é (a ± b)2 .
Exemplo 2.4. O trinômio 9k 2 + 12k + 4 é um trinômio quadrado
perfeito, pois 9k 2 = (3k)2 , 4 = 22 , e 12k = 2 · 3k · 2, possuindo
forma fatorada (3k + 2)2 . Da mesma forma, 9k 2 − 12k + 4 também
é trinômio quadrado perfeito e pode ser fatorado como (3k − 2)2 .

2.2.2 Cubo perfeito


É o mesmo caso do exemplo anterior, mas ao invés de identificar-
mos uma expressão que resulta no quadrado de uma soma/diferença,
buscamos o cubo de uma soma/diferença. Assim, precisamos reco-
nhecer as expressões:
a3 + 3a2 b + 3b2 a + b3 = (a + b)3 ,
a3 − 3a2 b + 3b2 a − b3 = (a − b)3 .

2.2.3 Completando quadrados


Algumas vezes, temos algo que quase forma um trinômio qua-
drado perfeito, mas que falta um termo, ou ele é levemente diferente
do que ele deveria ser.
Nestes casos, manipulamos a expressão para fazer aparecer o
termo correto para completar o trinômio.
Aula 2 - Produtos Notáveis e Fatoração 33

Exemplo 2.5. Escreva x2 + 6x + 18 como uma soma de dois qua-


drados.
Solução. Note que x2 é um quadrado perfeito. Se reescrevermos a
expressão como x2 + 6x + 9 + 9, temos que os primeiros três termos
formam um trinômio quadrado perfeito. Assim, temos

x2 + 6x + 9 + 9 = (x + 3)2 + 9.

2.2.4 Diferença de dois quadrados


Como o próprio nome sugere, é quando temos uma subtração
entre dois termos que podem ser escritos como quadrados perfeitos.
A sua forma fatorada é a mesma apresentada na lista de produtos
notáveis, o produto de uma soma por uma diferença:

a2 − b2 = (a + b)(a − b)

Exemplo 2.6. Fatore 9x2 − y 2 .


Solução. Aplicando a fórmula apresentada, temos que 9x2 − y 2 =
(3x + y)(3x − y) □

2.2.5 Soma ou diferença de dois cubos


É a aplicação direta das fórmulas apresentadas na tabela de pro-
dutos notáveis:

(a + b) · (a2 − ab + b2 ) = a3 + b3
(a − b) · (a2 + ab + b2 ) = a3 − b3

2.2.6 Termo em evidência


Quando fatoramos por evidência, fazemos o caminho inverso da
propriedade distributiva. Em resumo, buscamos o que foi distri-
buído no produto.
34 POTI/TOPMAT

Por exemplo, temos que x(2x + 1) = 2x2 + x. Agora, olhando


apenas 2x2 + x, podemos notar que x é um termo em comum entre
2x2 e x. Então, tiramos em evidência o termo em comum da
soma, colocando os termos restantes entre parênteses:
2x2 + x = 2x · x + 1 · x = x(2x + 1)

2.2.7 Agrupamento
Seguindo na linha de pensamento de encontrar termos repetidos,
temos a fatoração por agrupamento, que pode ser vista como uma
fatoração por evidência evoluída. Nela, tiramos em evidência termos
compostos, e muitas vezes aplicamos múltiplas vezes a fatoração por
evidência.
Exemplo 2.7. Fatore 2x2 + 6xy + x + 3y.
Solução. Primeiro, observe que 2x2 + 6xy e x + 3y são muito pa-
recidos, com a diferença que a primeira expressão está multiplicada
por 2x. Então, podemos tirar 2x em evidência e escrever
2x2 + 6xy = 2x(x + 3y).
Voltando a expressão original, agora temos:
2x(x + 3y) + x + 3y.
Assim, tirando desta vez x + 3y em evidência obtemos:
2x(x + 3y) + x + 3y = 2x(x + 3y) + 1 · (x + 3y)
= (2x + 1)(x + 3y).

Exercícios resolvidos

Exemplo 2.8. Encontre um valor de modo que a igualdade a seguir


seja verdadeira:
56x3 − 84x2 + 42x − 7 = 0.
Aula 2 - Produtos Notáveis e Fatoração 35

Solução. Quando lemos uma questão assim pela primeira vez, pode
parecer muito complicado de resolver. Mas não é pra tanto. Nosso
curso de álgebra serve, dentre outros motivos, para justamente nos
dar ferramentas para facilitar essas resoluções.
Nesse exemplo, podemos usar a fatoração. Observe que todos os
coeficientes são múltiplos de 7, então vamos tirá-lo em evidência:

56x3 − 84x2 + 42x − 7 = 0


7 · 8x3 − 7 · 12x2 + 7 · 6x − 7 · 1 = 0
7 · (8x3 − 12x2 + 6x − 1) = 0

Chegamos aqui em um produto de dois fatores que é igual a zero.


Você já sabe, a partir das propriedades enunciadas na Aula 1, que
o produto de dois números será igual a 0 somente quando um deles
é igual a 0. De maneira algébrica,

se a · b = 0, necessariamente a = 0 ou b = 0.

Obviamente 7 ̸= 0, então:

8x3 − 12x2 + 6x − 1 = 0.

Aqui, devemos reconhecer o produto notável cubo da diferença.


Por isso é tão importante treinarmos, pois nem sempre ele aparecerá
de maneira simples. Aqui, por exemplo, não está tão óbvio, certo?
Vamos manipular para que seja mais fácil sua visualização:

8x3 − 12x2 + 6x − 1 = 23 x3 − 3 · 22 x2 + 3 · 2x − 1 = 0.

Podemos identificar que o segundo termo do produto notável será 1


e terá sinal negativo. Manipulando um pouco mais a expressão:

(2x)3 − 3 · (2x)2 · 1 + 3 · 2x · 12 − 13 = 0

de onde, aplicando a fórmula do produto notável, segue que:

(2x − 1)3 = 0.
36 POTI/TOPMAT

Perceba que o único numero que podemos elevar ao cubo e obter


como resultado 0, é o próprio 0. Ou seja,

2x − 1 = 0

Assim, o único valor possível para x será:


1
2x − 1 = 0 ⇒ 2x = 1 ⇒ x = .
2

Exemplo 2.9. Calcule os inteiros m e n que satisfazem m2 − n2 =
2019.
Solução. Podemos fatorar 2019 = 3·673 e m2 −n2 = (m−n)(m+n).
Como m − n e m + n são inteiros, temos os seguintes valores para
m − n e m + n:
m−n m+n
1 2019
3 673
673 3
2019 1
−1 −2019
−3 −673
−673 −3
−2019 −1
Existem então as seguintes possibilidades:

• Se m−n = 1 e m+n = 2019, então somando as duas equações,


temos 2m = 2020, portanto m = 1010 e substituindo m em
alguma das duas equações iniciais obtemos n = 1009.

Utilizando os mesmos processos de encontrar m e n para os casos


restantes, temos:

• Se m − n = 3 e m + n = 673 ⇒ m = 338 e n = 335.

• Se m − n = 2019 e m + n = 1 ⇒ m = 1010 e n = −1009.


Aula 2 - Produtos Notáveis e Fatoração 37

• Se m − n = 673 e m + n = 3 ⇒ m = 338 e n = −335.

• Se m − n = −1 e m + n = −2019 ⇒ m = −1010 e n = −1009.

• Se m − n = −3 e m + n = −673 ⇒ m = −338 e n = −337.

• Se m − n = −2019 e m + n = −1 ⇒ m = −1010 e n = 1009.

• Se m − n = −673 e m + n = −3 ⇒ m = −338 e n = 335.

Portanto, as possibilidades para m e n são:

m n
1010 1009
338 335
1010 −1009
338 −335
−1010 −1009
−338 −337
−1010 1009
−338 335

38 POTI/TOPMAT

Exercícios Propostos
1. Simplifique os polinômios abaixo:

• (xy + 2yz)(x2 + 2) • (x + y)2 − (x − y)2


• x(x + y) − x2 • (a5 b2 + b)ab

2. Simplifique as frações apresentadas a seguir:

x2 y + 2y x2 − y 2
• •
x2 + 2 x−y
x7 y 3 z 4 + xy 4 z 3 x2 + 2x + 1
• •
xyz 3 x+1

3. Encontre as soluções reais das equações completando qua-


drados ou fatorando:

• 2x2 + 4x − 10 = 0. • x2 − 19 = 0.
• 3x2 + 2x + 6 = 0. • x2 + 25 = 0.
• x2 + 2x = 0.
• x2 − 25 = 0.
• x2 − 13x = 0.
• x2 + 4x + 25 = 0. • (x − 2019)(x + 2020) = 0.
• 4x2 + 3x + 1 = 0. • (x − a)(x − b) = 0.

4. (OBM 2016) Encontre o valor da expressão:

20153 − 13
.
1 + 20152 + 20162
É interessante substituir x = 2015.

5. (OPRM 2016) Se x + y = 1 e x2 + y 2 = 2, quanto que dá


+ y3?
x3
q √ √ √
6. Mostre que 5 + 2 6 pode ser escrito da forma a + b
com a e b inteiros. Que números são a e b?
Aula 2 - Produtos Notáveis e Fatoração 39

7. (OBM 2012) Dados os reais não nulos a e b, sabe-se que:

1 1 a−4
+ = e ab = 4024.
a b 2012
Qual o valor de a − b?

8. Se a2 + b2 = 1, então encontre todos os possíveis valores de

1 − 3(ab)2
.
a6 + b6

9. (OPRM 2017) Quantas soluções inteiras, isto é, quantos pa-


res ordenados (x, y) de números inteiros, satisfazem a equação
5x2 + 5y 2 + 6x + 2y = 98? É interessante multiplicar por 5,
completar um quadrado em x e outro em y.

10. (URSS) Sejam a, b e c dois a dois distintos. Mostre que o


número:
a2 (c − b) + b2 (a − c) + c2 (b − a)
é diferente de zero.

11. Se a e b são números positivos, a = b(a + b) e b = a(a + b),


quanto vale a + b?

12. (OBM 2012) Considere os números reais a e b tais que (a +


b)(a + 1)(b + 1) = 2 e a3 + b3 = 1. Encontre o valor de a + b

Dicas para os Exercícios Propostos

1. Utilize a propriedade distributiva.

2. Fatore a mesma expressão do denominador no numerador. Por


x + xy x(1 + y)
exemplo, = = (1 + y).
x x
3. Siga os exemplos:
40 POTI/TOPMAT

i.
5
3x2 + 5x + 1 = 0 ⇔ x2 + ·x+1=0
3
5 1 5 1
⇔ x2 + 2 · · x + = 0 ⇔ x2 + 2 · · x = −
6 3 6 3
Mas:
5 5 25
 2
x+ = x2 + 2 ·
·x+
6 6 36
1 25 −12 + 25 13
=− + = = .
3 36 36 36
q q
Logo, x + 5
6 = 13
36 ou x + 5
6 =− 36 .
13

ii.

x2 − 64 = 0 ⇔ x2 − 82 = 0 ⇔ (x − 8)(x + 8) = 0

⇔ x − 8 = 0 ou x + 8 = 0 ⇔ x = 8 ou x = −8.
4. Faça a substituição sugerida. Em seguida utilize os produtos
notáveis para simplificar a expressão.
5. Utilize os produtos notáveis de quadrados e cubos.
√ √ √
6. Mostre que 5 + 2 6 é da forma ( a + b)2 . Note que √ deve-

remos ter a · b = 6 e a + b = 5, se expandirmos ( a + b)2 .
7. Deixe o lado esquerdo em denominador comum ab.
8. Utilize a soma dos cubos para fatorar a6 + b6 = (a2 )3 + (b2 )3 .
Em seguida calcule (a2 + b2 )2 e relacione essa expressão com
a expressão a4 − a2 b2 + b4 .
9. Multiplicando por 5 e completando quadrados, mostre que
(5x + 3)2 + (5y + 1)2 = 500. Encontre os quadrados que so-
mados dão 500 e verifique quais (5x + 3)2 e (5y + 1)2 podem
satisfazer.
10. Expanda as duas últimas parcelas e fatore c − b na expressão.
Em seguida utilize a identidade (a−b)(a−c) = a2 −(b+c)a+bc.
Aula 2 - Produtos Notáveis e Fatoração 41

11. Some as duas igualdades e descobra quanto vale a + b. É


importante usar o fato que a e b são positivos.

12. Use o produto notável (a + b + c)3 = a3 + b3 + c3 + 3(a + b)(a +


c)(b + c). Utilize um c específico de modo a poder utilizar as
equações do enunciado.

Exercícios Adicionais
Tente resolver esses exercícios sozinho(a), e caso necessário, peça
ajuda ou tire dúvidas com o(a) professor(a)!

Exercício 2.1. Carla fará aniversário mês que vem e percebeu que
sua idade será igual ao produto da soma pela diferença da idade de
suas filhas, Ana e Bianca. Sabendo que Ana é 4 anos mais nova que
Bianca:

(a) Escreva a expressão que representa a idade que Carla fará, em


função da idade de Bianca.

(b) A idade que Carla fará é par ou ímpar? Justifique com base
na resposta do item anterior.

(c) Se Bianca tem 5 anos, quantos anos fará Carla?

Exercício 2.2. Fatore completando quadrados sem alterar o va-


lor das expressões:

(a) 49x2 + 84x + 49

(b) x2 − 2x − 1

(c) 4x + 4x2 + 42

(d) 3x(3x + 2)
42 POTI/TOPMAT

Exercício 2.3. As seguintes expressões foram obtidas realizando-se


pequenas manipulações nos produtos notáveis apresentados na aula.
Você consegue reconhecê-los?

(a) (a − b)((a + b)2 − ab)

(b) (a + b)((a − b)2 + ab)

(c) ((a − b)(a + b) + 2b(a + b))

Exercício 2.4. Se (a + b)2 = a2 − b2 + X qual é o valor de X em


função de a e b?
Exercício 2.5. Para a = 202021, encontre o valor de x, onde:

a2 − 1 a2 + 2a + 1
x= −
a−1 a+1
Exercício 2.6 (Desafio). Simplifique a expressão a seguir, sabendo
que a − b = 1, e a e b são diferentes de zero:

a4 − ab3 + a4 b − ab4 − a3 b + b4
.
a4 + a2 b2 + b4
Resposta: 1.
Aula 3

Equações

Finalmente, vamos falar das equações. Você provavelmente já


viu esse conteúdo na escola, e agora vamos estudá-lo aqui no POTI.
Parte essencial da matemática, é clichê falar isso, mas sim, esse
conteúdo usamos no nosso dia a dia: na resolução de problemas, na
hora de dar o troco, calcular o tempo de um trajeto, dividir a conta;
utilizamos equações.
Por consequência, o tópico é importante nas olimpíadas também.
Elas podem aparecer prontinhas, ou escondidas no enunciado. Tra-
duzir os problemas para linguagem algébrica, as operações, o que
fazer com valores que não conhecemos - tudo isso é aplicado aqui.
Mas o que é uma equação? O que queremos fazer com ela?
Bom, uma equação é basicamente uma igualdade entre duas ex-
pressões algébricas (tendo uma ou mais incógnitas). Usamos ela
para resolver problemas, geralmente determinando algum valor des-
conhecido que é de nosso interesse.
Veja, por exemplo, que

2x = y + 1 e a + b + c + d + . . . + y + z = 0

são equações. Não importa quantas são as incógnitas ou o grau que


elas aparecem.
Perceba que o sinal de igual (=) é parte fundamental da equação.

43
44 POTI/TOPMAT

Sem ele, ela não existe.1 Dessa forma, é muito importante não o
utilizarmos, e de maneira correta.
Veja agora exemplos de expressões que não são consideradas
equações:
• 4 = 3 + 1, pois não possui incógnitas;
• 5 ≤ 3x, pois é uma inequação; e
• 3x + 4 − y, pois não temos uma relação de igualdade.

3.1 Elementos de uma equação


Vamos relembrar alguns conceitos que definimos na Aula 1. Dada
uma equação 4x2 + 3x = 7, podemos perceber que:
• é uma equação de grau 2, pois o maior expoente de x é 2;
• os coeficientes são o 4 e o 3, números que multiplicam as in-
cógnitas (nesse caso, potências de x);
• o termo independente é o 7, pois ele não multiplica nenhuma
incógnita.
Considere a equação x2 + 2x = 1. Intuitivamente, pode parecer
que quando nenhum número aparece ao lado de x2 o seu coeficiente
é 0. Mas na verdade, o coeficiente de x2 é 1, pois existe um 1
“invisível” multiplicando o x2 .
Por último, neste caso genérico:
ax3 + bx2 + cx + d = 0,
• a, b, c são os coeficientes,
• d é o termo independente,
• a equação é de terceiro grau,
• e x é o valor que não conhecemos.
1
Contudo, é possível definir outras relações que não a igualdade. Na Aula 4, por
exemplo, você estudará as inequações.
Aula 3 - Equações 45

3.2 Equações explícitas


Antes de mais nada, podemos notar que as equações são dife-
rentes entre si. Veja, por exemplo, que x3 + y 3 = 6xy e x2 − 3 = 6
possuem estruturas diferentes. Por consequência, elas possuem téc-
nicas de resolução distintas. Mas o que as diferencia? Além da
primeira equação assustar muito mais que a segunda, ela é uma
equação implícita, ao contrário da outra, que é explícita.
Por ora, vamos focar em técnicas que nos permitem resolver o se-
gundo caso. Mais adiante, ainda nessa aula, voltaremos ao primeiro
caso, em que há x e y.
Para resolvermos uma equação explícita, fazemos manipulações
algébricas com a finalidade de encontrar o valor da nossa incógnita.
Mas essas operações não podem ser realizadas de qualquer maneira;
elas precisam seguir um equilíbrio, para que não alteremos a nossa
igualdade. Desta forma, tudo que é feito de um lado da equação,
também deve ser feito de outro, assim como em uma balança de
pratos.
Exemplo 3.1. A equação x2 − 3 = 6 pode ser resolvida da seguinte
forma:

x2 − 3 = 6
x2 − 3 + 3 = 6 + 3
x2
−3+3
= 6+3
x2 = 9
√ √
x2 = 9
√ √
 x2 = 9
x = ±3.

3.2.1 Manipulação algébrica


Para não cometer erros na hora de manipular equações, é im-
portante que estejamos habituados com alguns conceitos, como as
operações inversas, elemento neutro e elemento oposto. Tudo isso,
46 POTI/TOPMAT

em conjunto com as propriedades matemáticas vistas na Aula 1 se-


rão de suma importância.

Soma e subtração
Podemos somar ou subtrair valores de ambos os lados da equa-
ção, sem alterar seu resultado:

x3 + 7x − 5 = x3 − 6x + 10
x3 + 7x − 5 + 8 = x3 − 6x + 10 + 8
x3 + 7x + 3 = x3 − 6x + 18.

Produto
Podemos multiplicar ou dividir valores de ambos os lados da
equação sem alterar seu resultado:

x2 + 2x = 2x2 + x + 3
3 · (x2 + 2x) = 3 · (2x2 + x + 3)
3x2 + 6x = 6x2 + 3x + 9.

Divisão (não por zero)


Todo número dividido por ele mesmo é 1, correto? A resposta
curta é: não. Mas suponhamos que seja. Então, podemos dizer que
0 que será 1. Assim, assuma as seguintes afirmações:
0

1·0=0 e 2·0=0

Já que ambas são iguais a zero, então podemos igualar as duas


equações, obtendo:

1·0=2·0
Dividindo por 0 em ambos os lados da equação:
0 0
1· =2·
0 0
Aula 3 - Equações 47

E como supomos que 0


0 = 1, então...

1·1=2·1

1=2
Parece que a nossa afirmação realmente não estava certa, afinal.
Sempre que dividimos algo por 0 chegaremos em uma indetermi-
nação, ou seja, algo que matematicamente não é verdade. E desta
forma não podemos nem ao mesmo dizer que existe um valor para
0.
0

Por outro lado, podemos dividir ambos os lados da igualdade


por qualquer valor que não seja zero, sem alterar seu resultado.
Continuando o exemplo anterior,

3x2 + 6x = 6x2 + 3x + 9
(3x2 + 6x) ÷ 3 = (6x2 + 3x + 9) ÷ 3
x2 + 2x = 2x2 + x + 3.

3.2.2 Substituição de variáveis


Uma forma muito comum de se resolver uma equação de qual-
quer grau é transformando ela em uma equação equivalente, desde
que nessa “nova” equação nós consigamos aplicar as propriedades
conhecidas e realizar manipulações para encontrar o valor da incóg-
nita.
Observe a equação a seguir, dados x e y inteiros:
√ √ √
4x + y + 4 xy − 28 x − 14 y + 48 = 0.

Podemos reescrevê-la evidenciando seus produtos notáveis:


√ √ √ √
(2 x + y)2 − 14(2 x + y) + 48 = 0.

A estrutura dessa equação lembra muito uma equação quadrática,


√ √
não é mesmo? Assim, substituindo (2 x + y) por t:
√ √
(2 x + y) = t
48 POTI/TOPMAT

√ √
(2 x + y)2 = t2

obtemos:
t2 − 14t + 48 = 0.

Agora basta aplicar a forma de resolução de sua preferência


(veremos as formas de resolver ainda nessa aula), e encontrar os
valores de 6 e 8 para t, que representam as soluções da equação
t2 − 14t + 48 = 0.
Mas neste momento, precisamos nos atentar para o fato de que
√ √
buscávamos o valor de x e y, e não t. Como t = (2 x + y), e
temos que t pode ser 6 ou 8, e queremos apenas respostas em que
x e y sejam números inteiros, então o que precisamos fazer é testar
√ √
números em que as raízes x e y são exatas.

i. x = 0 e y = 36;

ii. x = 1 e y = 16;

iii. x = 4 e y = 4;

iv. x = 9 e y = 0;

v. x = 0 e y = 64;

vi. x = 1 e y = 36;

vii. x = 4 e y = 16;

viii. x = 9 e y = 4;

ix. x = 16 e y = 0.

√ √
Perceba que as quatro primeiras satisfazem 6 = 2 x + y, e as
√ √
cinco restantes satisfazem 8 = 2 x + y (Confira!)
Aula 3 - Equações 49

3.3 Equações implícitas


Como acabamos de ver, podemos utilizar as propriedades que
enunciamos nas aulas anteriores para isolar uma incógnita e assim
determinar seu valor. Contudo, como você já deve estar imaginando,
não será tão fácil assim nas olimpíadas. Tente, por exemplo, isolar
o x no exemplo a seguir:

x3 + x = 0.

Você poderia argumentar que uma forma de isolar x é escrevendo


a equação na forma:
x = −x3 .
Entretanto, perceba que o valor de x ainda depende de x (que está
sendo procurado). Dizemos nesse caso que o valor de x está sendo
fornecido de forma implícita, isto é, que ele é função dele mesmo.
Utilizando esta mesma nomenclatura, quando não é possível isolar
uma incógnita em uma equação estudada, a equação toda é chamada
de implícita.
Desta forma, precisamos de outras técnicas para nos auxiliar a
resolver tais problemas. Aliás, você provavelmente já conhece uma
das mais famosas.

3.3.1 Fórmula de Bhaskara


Quando temos uma equação do segundo grau:

ax2 + bx + c = 0,

onde a, b e c são números reais, as soluções são dadas pela Fórmula


de Bhaskara: √
−b ± ∆
x= . (3.1)
2a
A letra grega delta é calculada como ∆ = b2 − 4ac e é chamado
de discriminante da equação. Este valor é muito importante, pois
está relacionado com a natureza da solução:
50 POTI/TOPMAT

• quando ∆ é positivo, a equação possui duas soluções reais e


distintas;

• quando ∆ é zero, a equação possui duas soluções reais e iguais;

• quando ∆ é negativo, a equação não possui solução real.2

Exemplo 3.2. Encontre o valor de x que satisfaz a equação:

x2 + 5x − 6 = 0.

Solução. Note que na equação estudada, temos a = 1, b = 5 e


c = −6. Assim, tem-se:

∆ = 52 − 4 · 1 · (−6) = 25 + 24 = 49.

Como o discriminante é positivo, a equação possui duas soluções


reais e distintas. Aplicando tais valores na fórmula de Bhaskara:

−5 ± 49 −5 ± 7
x= = ,
2·1 2
isto é,
−5 + 7 −5 − 7
x1 = = 1, e x2 = = −6.
2 2

3.3.2 Relações de Girard


Quando temos uma equação com um polinômio de grau n, po-
demos relacionar suas raízes com seus coeficientes. Nesta aula, par-
ticularmente, comentaremos apenas das relações com equações de
segundo grau.
Se x1 e x2 são as raízes de ax2 + bx + c = 0, podemos afirmar
que:
b c
x1 + x2 = − e x1 · x2 =
a a
2
Mas isso não significa que ela não possua solução! Você estudará futuramente,
no ensino médio, que neste caso a equação possui raízes complexas.
Aula 3 - Equações 51

Exemplo 3.3. No exemplo anterior (x2 + 5x − 6 = 0), obtivemos


x1 = −6 e x2 = 1. Note que x1 + x2 = −6 + 1 = −5 = − ab e
x1 x2 = (−6) · 1 = −6 = ac .

3.3.3 Resolução por fatoração


Outra técnica que já utilizamos nas aulas anteriores é baseada
na propriedade “se ab = 0 então a ou b é zero” (para um produto
ser nulo, pelo menos um de seus fatores deve ser zero). Dessa forma,
podemos utilizar nossos conhecimentos de fatoração para escrever as
expressões, manipuladas de forma a poder aplicar tal propriedade.
Exemplo 3.4. Encontre a solução da equação x3 + 3x2 + 3x = 0.
Solução. Colocando o x em evidência:

x(x2 + 3x + 3) = 0.

Daí, segue que x = 0 e/ou x2 +3x+3 = 0 (que não possui raízes reais,
pois o discriminante desta equação do segundo grau é negativo).
Então, x = 0 é a única raiz real.
Outra forma de resolver essa equação seria completando cubos,
isto é, utilizando a fatoração do produto notável:

x3 + 3x2 + 3x = 0
x3 + 3x2 + 3x + 1 − 1 = 0
(x + 1)3 − 1 = 0.

Como (x + 1)3 − 1 = 0, segue que (x + 1)3 = 1. Mas o único número


real que elevado ao cubo é 1 é o próprio 1. Ou seja, x + 1 = 1, e,
portanto, x = 0 é a raiz real procurada. □
52 POTI/TOPMAT

Exercícios resolvidos

Exemplo 3.5. (Portal da OBMEP) Henrique e Mariana estão usando


uma balança de farmácia com ponteiro para pesar suas mochilas.
Quando pesadas separadamente, a balança mostra 3 kg e 2 kg.
Quando são pesadas juntas, a balança mostra 6 kg.
— Isso não pode estar certo! - disse Mariana. - Dois mais três não
é igual a seis.
Então, Henrique tira as duas mochilas e fala:
— Veja! O ponteiro da balança não está no zero! Ela está com
defeito!
Quanto as mochilas pesavam de fato?
Solução. Essa situação ocorreu pois a balança marca um peso de
x quilos quando não há nada sobre ela (ao invés de marcar 0 quilos,
como deve-se esperar de uma balança calibrada). A balança adiciona
um valor x no peso real do que está sendo pesado. O peso de cada
mochila é igual ao peso que apareceu, menos o valor do erro. Assim,
o valor correto para o peso de cada mochila em separado deve ser
2 − x e 3 − x, respectivamente.
Por outro lado, ao serem pesadas juntas, o valor correto que a
balança deve marcar é

(2 − x) + (3 − x) = 5 − 2x.
| {z } | {z }
peso mochila 1 peso mochila 2

Porém, ela sempre acrescenta um valor x ao o que está sendo pesado,


que nesse caso resulta em 6, de forma que temos:

(5 − 2x) + x = 6
5−x=6
x=5−6
x = −1.

Se substituirmos esse valor nas fórmulas que tínhamos encontrado,

2 − (−1) = 2 + 1 = 3,
Aula 3 - Equações 53

3 − (−1) = 3 + 1 = 4.
Descobrimos então o peso de verdade das mochilas, 3 kg e 4 kg
respectivamente. □
Exemplo 3.6. Encontre o valor de x2 , dado que 1 − 4
x + 4
x2
= 0.
Solução. Denotemos y = x.
2
Então, y2 = 4
x2
, e consequentemente:

4 4
1− + = 1 − 2y + y 2 = 0.
x x2
Fatorando-se com produtos notáveis, temos:

(1 − y)2 = 0 ⇒ 1 − y = 0 ⇒ y = 1.

E como denotamos y = x2 , então encontramos x2 = 1, como o enun-


ciado pedia.
Perceba que a equação 1 − 2y + y 2 = 0 também poderia ter
sido resolvida utilizando Bháskara, e nesse caso, o discriminante da
equação é igual a 0.

Exemplo 3.7. (OPRM 2017) O número em cada caixa é o produto
dos números nas duas caixas imediatamente abaixo dela. Neste caso,
qual é o valor de xy?

80

2 x y 5
54 POTI/TOPMAT

Solução. Com a regra de preenchimento fornecida pelo enunciado,


podemos completar essas caixas da seguinte maneira:

80

2x2 y 5xy 2

2x xy 5y

2 x y 5

Segue que 80 = (2x2 y)(5xy 2 ) = 10x3 y 3 , logo x3 y 3 = (xy)3 = 8.


Extraindo a raiz cúbica dos dois lados da equação, temos que

xy = 8 = 2.
3


Exemplo 3.8. (OBMEP 2018) Marcos comprou 21 litros de tinta.
Ele usou água para diluir essa tinta até que a quantidade de água
acrescentada fosse 30% do total da mistura. Quantos litros de água
ele usou?
Solução. Vamos chamar de x a quantidade de água que foi acres-
centada à mistura. Note que, então, x + 21 é o volume total.
Como 30% da mistura é igual a 100 30
(x + 21), esta deve ser a
quantidade de água x acrescida. Então, chegamos na equação:
30
x= (x + 21)
100
100x = 30(x + 21)
100x = 30x + 630
100x − 30x = 630
70x = 630.

Portanto, x = 630
70 = 9. □
Aula 3 - Equações 55

Exemplo 3.9. (Portal da OBMEP) Diminuindo-se seis anos da


idade de minha filha, obtêm-se os 53 de sua idade. Determine a
idade de minha filha.
Solução. Vamos chamar a idade da filha de x e escrever algebrica-
mente o que nos foi passado:
3
x−6= · x.
5
Assim, basta resolvermos:
3
x−6= x
5
3
x− x=6
5
2
x=6
5
2x = 6 · 5
30
x=
2
x = 15.

Logo, a idade da filha é 15 anos. □


Exemplo 3.10. As duas soluções da equação x2 − 5x + 6 = 0 são
inteiras. Quais são elas?
Solução. Vamos resolver a questão utilizando as relações de Girard.
Primeiramente, precisamos identificar os valores de a, b e c.
a = 1 , b = −5 e c = 6.
Partindo para os cálculos, vamos começar pelo produto:
c 6
x1 · x2 = = = 6.
a 1
Quais são as possíveis fatorações de seis? Temos: 6 e 1, 2 e 3, -1 e
-6, -2 e -3. Avaliaremos agora para quais pares a segunda relação dá
certo:
b −(−5)
x1 + x2 = − = = 5.
a 1
56 POTI/TOPMAT

Observe que o único par que satisfaz a relação é 2 e 3.


Poderíamos obviamente ter resolvido essa equação usando a fór-
mula de Bhaskara:

−b ± b2 − 4ac
x=
2a p
−(−5) ± (−5)2 − 4 · 1 · 6
=
√ 2·1
5 ± 25 − 24
=
√2
5± 1
= ,
2
obtendo assim duas soluções:

5− 1 5−1 4
x1 = = = = 2,
2 2 2

5+ 1 5+1 6
x2 = = = = 3.
2 2 2

Aula 3 - Equações 57

Exercícios Propostos
1. (OBMEP 2015) A figura representa um conjunto de pesos
suspensos em equilíbrio. Se o círculo pesa 40 g, quanto pesa o
retângulo?
Observação: desconsidere o peso das barras horizontais e dos
fios.

2. (OBM) Observe que:


32 + 42 = 52 ,
32 + 42 + 122 = 132 ,
32 + 42 + 122 + 842 = 852 .
Qual é o menor valor possível para a soma x + y, com x e y
inteiros positivos, tais que:
32 + 42 + 122 + 842 + x2 = y 2 ?

3. (EUA) Se x e y são números reais não nulos tais que x =


1 1
1 + e y = 1 + . Mostre que x = y.
y x
4. (OBM 2014)3 Considere o trinômio do segundo grau p(x) =
3
Essa é uma forma de expressar uma função. Em síntese, uma função é uma
regra para encontrarmos um número p(x) em função da variável x.
Devemos ter alguns cuidados ao resolver essa questão: cada valor de x para o
qual a função é verdadeira resulta em um único valor de p(x); A função com-
posta, conforme pode-se observar no exercício por p(p(x)), é quando pegamos
o resultado da regra e a repetimos, mas agora nosso resultado será o valor de
x.
58 POTI/TOPMAT

x2 − x + 1.

(a) Determine o número de soluções reais e distintas da equa-


ção p(x2 ) = x2 , isto é, (x2 )2 − (x2 ) + 1 = x2 .
(b) Determine o número de soluções reais distintas da equa-
ção p(p(x)) = p(x).

5. Encontre todos os naturais m e n tais que m+n+mn = 120.

6. (URSS) Sejam a, b e c racionais distintos. Mostre que

1 1 1
+ +
(b − c)2 (c − a)2 (a − b)2

é o quadrado de um racional. Substitua alguns números inte-


ressantes nos lugar de x, y e z na identidade x2 + y 2 + z 2 =
(x + y + z)2 − 2(xy + xz + yz). É bom entender o problema
resolvido 1.6 para resolver o problema.

7. Encontre os x que satisfazem a igualdade x4 + 2x2 = 0.


Quais satisfazem x4 + 2x2 + 1 = 0?

8. Prove que se (a + b)2 + (b + c)2 + (c + d)2 = 4(ab + bc + cd),


então a = b = c = d.

9. (OBM 2014) Cantor faz uma viagem eterna de carro por


uma estrada infinita partindo do quilômetro zero. Sempre que
Cantor completa uma quantidade inteira de quilômetros roda-
dos ele faz uma parada. Sempre que a parada se dá sobre um
número de quilômetros da forma 6k + 2, onde k é um inteiro,
ele come um chocolate do tipo 1 exatamente uma vez. Sempre
que a parada se dá sobre um número da forma 4t + 1,onde t é
um inteiro, ele come um chocolate de tipo 2 exatamente uma
vez. Sabe-se que a cada a quilômetros, ele come o chocolate
do tipo 3 exatamente uma vez. Sabe-se também que a cada b
quilômetros, ele come um chocolate do tipo 4 exatamente uma
vez e, finalmente; a cada c quilômetros, ele come um chocolate
Aula 3 - Equações 59

do tipo 5 exatamente uma vez. Só existem 5 tipos de choco-


lates e, em cada parada, ele come exatamente um dos cinco
tipos de chocolate.

(a) No momento em que Cantor parar no quilômetro 2016,


quantos chocolates do tipo 1 ele terá comido? E quantos
chocolates do tipo 2?
(b) Sabendo que o produto dos números a, b e c é 144, de-
termine o valor de ab + bc + ac.

10. (Croácia) Encontre as soluções inteiras da equação


√ √ √
4x + y + 4 xy − 28 x − 14 y + 48 = 0.

11. (IMO 1959) Para quais x reais vale a seguinte equação:


q √ q √
x + 2x − 1 + x − 2x − 1 = a,

quando (a) a = 2 (b) a = 1 (c) a = 2?

12. (OBM 2010) Sejam r e s números inteiros. Sabe-se que a


equação do segundo grau:

x2 − (r + s)x + rs + 2010 = 0

tem duas soluções inteiras. Quantos são os possíveis valores


de |r − s|? 4

Dicas para os Exercícios Propostos

1. Comece pelos pesos mais baixos.


4
Mas o que é |r − s|? O |x|, também chamado de módulo de x, é um conceito
de valor absoluto. O que acontece é o seguinte: o valor absoluto associa todo
número x à um número não-negativo e segue 2 regras básicas:
|x| = x, se e somente se, x ≥ 0
|x| = −x, se e somente se, x < 0
60 POTI/TOPMAT

2. Reescreva a equação exibindo o produto notável e fatore 852


de forma a obter 52 · 172 . Observe que para x e y positivos
temos y − x < y + x, encontre os valores possíveis para x + y
e encontre o menor.

3. Manipule o lado direito das equações dadas.

4. Resolva primeiro a equação p(y) = y. Em seguida, substitua


y pelo valor adequado para simplificar a solução de cada um
dos itens.

5. Calcule a expressão (m + 1)(n + 1) e usando a equação m +


n + mn = 120 encontre os possíveis valores de m + 1 e n + 1.
1 1 1
6. Substitua x = ,y= ez= na identidade.
b−c c−a a−b
7. Substitua y = x2 e recaia nas equações y 2 + 2y = 0 e y 2 +
2y + 1 = 0 e resolva. Após isso verifique quais soluções x pode
satisfazer.

8. Note que subtraindo c2 e 2bc dos dois lados da equação, ob-


temos a2 − c2 b = 2ab − 2bc. Utilize o produto notável para
chegar em (a + c)(a − c) = 2b(a − c). Neste momento pode-se
dividir em dois casos: (i) a − c = 0 ou (ii) a − c ̸= 0. Se o
caso for (i) então a = c. Se o caso for (ii) então a + c = 2b. A
partir daqui vamos precisar de combinatória para verificar os
casos e o número de possibilidades.

9. Perceba que no quilômetro 2016, Cantor terá comido exata-


mente 2016 chocolates. Decomponha tal número como soma
de cada um dos 5 tipos.
√ √
10. Substitua a = x e b = y. Escreva os três primeiros termos
como um quadrado (completar quadrado). Depois, resolva a
equação restante e analise caso a caso.

11. Mostre que a2 = 2x+2 x2 − 2x + 1 e utilize que (x − 1)2 =
p

x − 1 se x ≥ 1 e (x − 1)2 = 1 − x se x < 1. Em seguida,


p
Aula 3 - Equações 61

encontre x nos casos em que x ≥ 1 e que x < 1. Perceba que


devemos ter também que x ≥ 12 para podermos extrair a raíz
quadrada de 2x − 1.

12. Lembre se que as soluções de uma equação de segundo grau,


ax2 + bx + c = 0, é dada por
√ √
−b+ ∆ −b− ∆
x= ou x = , onde ∆ = b2 − 4ac .
2a 2a
O que concluir a partir do valor de ∆ ?

Exercícios Adicionais
Tente resolver esses exercícios sozinho(a), e caso necessário, peça
ajuda ou tire dúvidas com o(a) professor(a)!

Exercício 3.1. Considere a equação:

x2 − 112x + 11c = 0.

a) Se 2 é uma das soluções da equação, qual é o valor de c?

b) Qual é o grau da equação?

c) Para o valor de c encontrado no item (a), a equação possui


outra raiz? Se sim, qual?

Exercício 3.2. (Portal da OBMEP) Quando os gêmeos Anderson


e Ricardo nasceram, Maitê tinha 7 anos. Qual a idade dos gêmeos,
se hoje a soma das idades dos três irmãos é 34 anos?
Exercício 3.3. Resolva as equações, quando possível, e destaque
quais são seus coeficientes, seu termo independente e o seu grau:

(a) 3x + 15 = 2x + 18
   
(b) 1
2
2x
3 + 1
4 = 1
3
1
2 −x
62 POTI/TOPMAT

(c) n − 8−n
5 =7− 8−n
5

(d) −24 x3 + 8x2 y − y 2 x = 0.

Exercício 3.4. (Portal da OBMEP) Determine um número cujo


dobro de seu antecessor menos 3 é igual a 25.
Exercício 3.5. (Portal da OBMEP) A soma de quatro números
naturais consecutivos é 62. Determine esses números.
Exercício 3.6. (Portal da OBMEP) A soma dos três algarismos
de um número é 19. O algarismo das dezenas é o quádruplo do
algarismo das centenas, e o algarismo das unidades é o consecutivo
do algarismo das dezenas. Qual é esse número?
Exercício 3.7. (Desafio) Se x5 = 1, quais são os valores possíveis
para y?
x x2 x3 x4
y= + + +
1 + x2 1 + x4 1 + x 1 + x3
Aula 4

Inequações

As desigualdades estabelecem uma relação de ordem e as conhe-


cemos bem, pois no nosso dia a dia utilizamos sentenças comparati-
vas como “Maria é mais alta que Ana”. Mas como é que expressamos
tais relações na Matemática? Observe outros exemplos com a Ana
e com a Maria, denotando por A a altura de Ana e por M a altura
de Maria.

• Maria e Ana possuem a mesma altura:

M =A

• Maria é 4 centímetros mais alta que Ana:

M =A+4

• Maria é mais alta que Ana:

M ≥A

• Ana é mais baixa que Maria:

A≤M

63
64 POTI/TOPMAT

Veja que nos dois primeiros exemplos, sabemos exatamente quão


mais alta Maria é em relação à Ana. Mas nas duas desigualdades, sa-
bemos que Maria é mais alta, mas não sabemos exatamente quanto.
Neste momento podemos observar uma diferença entre as ine-
quações e as equações, já que uma equação possui uma resposta cer-
teira, enquanto a inequação tem um leque de possibilidades maior.
Observe que em uma equação do tipo x = 3, x é única e exclusiva-
mente 3. Se temos por exemplo x ≥ 3 (lê-se x é maior ou igual a 3),
o 3 continua sendo resposta, mas o 4 também vale, o 5, o 6, etc. Se
não limitarmos nosso conjunto solução teremos infinitas possibilida-
des. E resolver uma inequação significa encontrar todos os valores
que satisfazem a desigualdade.
Esse conceito é amplamente abordado em olimpíadas, e por isso,
precisamos estar preparados. Nesta aula iremos abordar conteúdos
necessários para realizar essas questões.

4.1 Definições iniciais


Uma inequação é uma expressão algébrica da forma:

• A > B , lê-se A maior que B.

• A ≥ B , lê-se A maior ou igual que B.

• A < B , lê-se A menor que B.

• A ≤ B , lê-se A menor ou igual que B.

Dados x e y reais, podemos compará-los de modo que sempre x = y


ou x ̸= y 1 . Contudo, quando temos x ̸= y, dividimos em dois
caso: x > y ou x < y. Esta é a relação de ordem conhecida como
tricotomia: para x e y quaisquer, um, e apenas um, dos casos
ocorre:
x < y, x = y, ou x > y.
1
Lê-se x é diferente de y.
Aula 4 - Inequações 65

Por exemplo, 2 é apenas igual a 2, não temos 2 > 2 ou 2 < 2. Da


mesma forma, −5 < 7, e as outras duas possibilidades (−5 = 7 e
−5 > 7) estão incorretas.

4.2 Propriedades
Agora veremos como podemos manipular nossas inequações. As-
sim como nas equações, muitas vezes precisamos reescrever a expres-
são que temos no enunciado para conseguir solucionar o problema.
Contudo, cuidado: nem todas as proposições que vimos ante-
riormente são válidas aqui. Vejamos o que é novidade e o que é
igual ao que estudamos na Aula 3.
E a cada propriedade, substitua valores reais para as incógnitas,
para conseguir visualizar exemplos em que as propriedades fazem
sentido.

4.2.1 Reflexividade
Todo número é maior ou igual a ele mesmo.

x≥x

4.2.2 Anti-simetria
Quando temos dois números quaisquer a e b, então ou a é maior
ou igual a b, ou a é menor ou igual a b. A única forma das duas
opções ocorrerem simultaneamente é que os valores sejam iguais:

a ≥ b, b ≥ a =⇒ a = b

Tome cuidado, pois no caso da desigualdade estrita (a > b e a < b),


isso não seria possível.

4.2.3 Transitividade
Essa propriedade envolve 3 números reais quaisquer: x, y e z. Se
x é maior ou igual que y, que por sua vez é maior que um terceiro
66 POTI/TOPMAT

valor z, então certamente x também é maior que z. Matematica-


mente:
x ≥ y > z =⇒ x > z

4.2.4 Aditiva
Assim como em uma igualdade, podemos somar/subtrair qual-
quer valor real aos dois lados da inequação sem alterar a relação.

x ≥ y ⇐⇒ x + z ≥ y + z

e
x ≥ y ⇐⇒ x − z ≥ y − z
Alternativamente, quando temos duas inequações a ≥ b e c ≥ d,
preservamos a desigualdade somando o maior com o maior e o menor
com o menor:
a + c ≥ b + d.

4.2.5 Cancelamento
Este é o caso que gera mais erros quando estamos manipulando
desigualdades. Veja o seguinte exemplo:

−8 ≤ −6
(−2)

 · 4 ≤ (−2)


· 3

4≤3

o que é uma contradição.


Por outro lado, a regra do cancelamento funciona perfeitamente
aqui:

−8 ≤ −6
2 · (−4) ≤ 2 · (−3)
−4 ≤ −3

Mas por quê?


Aula 4 - Inequações 67

Basicamente, quando “cortamos” um termo negativo, precisa-


mos inverter o sinal da inequação para que ela continue correta.
Veja que no primeiro exemplo, se tivéssemos invertido o sinal, fica-
ríamos com 4 ≥ 3, o que é verdade.
Já no segundo caso, o número que cortamos era positivo, então
não há necessidade de inverter o sinal: a inequação −4 ≤ −3 está
correta.

Quando cancelamos valores negativos, devemos inverter o sentido


da inequação. Quando cancelamos valores positivos, não é neces-
sário inverter o sentido.

4.2.6 Multiplicação
Pensando na propriedade anterior, já sabemos que devemos to-
mar cuidado com o sinal. Na realidade, a regra é basicamente a
mesma:

Quando multiplicamos a inequação em ambos os lados por um va-


lor negativo, devemos inverter o sentido da inequação. Quando
multiplicamos por um valor positivo, não é necessário inverter o
sentido.

Para ver isso na prática, volte ao exemplo −8 ≤ −6 da página


anterior. Em vez de “cortar” o (−2) em ambos os lados, imagine
que estamos multiplicando por − 12 em ambos os lados.

4.2.7 Relações com o quadrado


Uma desigualdade que aparece bastante na Matemática é esta:

x2 ≥ 0.
E naturalmente vem a pergunta: para quais valores de x essa
desigualdade vale?
68 POTI/TOPMAT

Resposta: para todos os x reais! Pense no seguinte: se um


número é positivo, então o quadrado dele também será positivo.
Por exemplo, 2 é positivo, e 22 = 4 também. Agora, se um numero
é negativo... então o quadrado dele será positivo! Por exemplo,
(−2) é negativo, mas (−2)2 = (−2)(−2) = 4, pela regra dos sinais
da multiplicação.
Então o que a desigualdade x2 ≥ 0 está querendo nos dizer é que
todo número real elevado ao quadrado é maior ou igual a 0.
Mas podemos fazer mais. Quando elevamos um número ao qua-
drado, temos a sensação que o estamos aumentando. Pois veja só:
22 = 4, 42 = 16, 162 = 256. Assim, suspeitamos que elevar ao qua-
drado sempre deixa o número maior do que ele é. Mas espera...
rapidamente vemos que 02 = 0 e 12 = 1. Seriam essas as únicas
exceções?
A resposta é não. Veja, por exemplo, que (0, 1)2 = (0, 1)(0, 1) =
0, 01. Elevamos o 0, 1 ao quadrado e ele diminuiu!
Sempre que um número positivo estiver entre 0 e 1, seu quadrado
é menor que ele mesmo. Traduzindo para linguagem matemática:

0 ≤ x ≤ 1 =⇒ x2 ≤ x.

Já quando x é maior que 1, o número x2 é maior que o valor original.

x ≥ 1 =⇒ x2 ≥ x

Por fim, perceba que utilizamos notações como 0 ≤ x ≤ 1 e


x ≥ 1. Elas são chamadas de intervalos. Vamos então estudar
um pouco sobre intervalos reais, e como interpretar graficamente os
resultados que apresentamos até agora.

4.3 Intervalos reais e interpretação gráfica


Nosso objetivo aqui é visualizar graficamente o que uma ine-
quação representa. Primeiro, vamos nos familiarizar com a reta
numérica:
Aula 4 - Inequações 69

Sobre essa reta estão todos os números reais, sejam eles positivos,
negativos ou nulo (o zero). Veja, por exemplo, o ponto a = 2:

Quando relaxamos essa igualdade, permitindo que o valor a seja


igual ou maior do que 2, a representação do conjunto solução dessa
inequação (isto é, todos os valores da reta que satisfazem a desigual-
dade) passa a ser um intervalo.

Um intervalo [a, b] é o conjunto de todos os valores reais que este-


jam entre a e b, em que a e b são chamados de extremos do inter-
valo. Quando denotado com colchetes, os extremos pertencem ao
conjunto. Neste caso, o intervalo é chamado de fechado. Quando
denotado com parênteses (a, b), os extremos não fazem parte do in-
tervalo. Ao contrário do caso anterior, o intervalo é chamado de
aberto.

Contudo, você já deve ter notado que um intervalo tem tudo a


ver com inequações. O conjunto [2, 8], por exemplo, é o conjunto
dos valores x tais que 2 ≤ x ≤ 8 (valores maiores ou iguais a 2 e
menores ou iguais 8). A representação gráfica do conjunto solução
desta inequação (ou equivalentemente, desde intervalo) são todos os
valores entre 2 e 8 na reta numérica.
70 POTI/TOPMAT

Figura 4.1: Intervalo [2, 8].

Observe que o ponto a = 2 e b = 8 são representados preenchi-


dos, mostrando que eles pertencem ao intervalo. Por outro lado, o
conjunto aberto (a, b) possui os extremos representados com pontos
abertos.2

Figura 4.2: Intervalo (2, 8).

4.4 Métodos de resolução


4.4.1 Manipulação algébrica
Assim como vimos nas propriedades, muitas situações são pare-
cidas nas inequações e nas equações. Assim, geralmente a primeira
forma que tentamos resolver uma inequação é fazendo uso das ma-
nipulações algébricas. Veja o exemplo abaixo:

3x − 12 < 0
3x < 12
12
x<
3
x<4
2
Perceba que podemos utilizar as duas notações simultaneamente. O intervalo
(2, 8], por exemplo, é o conjunto dos números que são estritamente maiores
do que 2, mas menores ou iguais a 8. Neste caso, o conjunto é chamado de
semiaberto ou semifechado.
Aula 4 - Inequações 71

Não esqueça que multiplicar uma inequação por um valor


negativo inverte o sentido da inequação, como neste exemplo
bem semelhante ao anterior:
−3x − 12 < 0
−3x < 12
12
x>
−3
x > −4
Para treinar, represente os intervalos x < 4 e x > −4 na reta
numérica.

4.4.2 Inequações com fatorial e potência


Muitas vezes nos deparamos com questões em que o enunciado
nos dá dois números, e pergunta “qual é o maior?”. O uso das
propriedades é de extrema importância a resolução desse tipo de
exercício. Por exemplo: como sabemos que 23 < 24 ? Podemos
resolver esse facilmente, mas e se fosse algo como: qual é maior 453
ou 544 ?
Para elaboramos o pensamento para a resposta da segunda ques-
tão, vamos resolver a que foi proposta primeiro. Podemos reescrever
a expressão 23 < 24 sendo 23 < 23 · 2, e dado um número positivo
sabemos que o dobro dele é sempre maior que ele. Portanto, a afir-
mação 23 < 24 verifica!
Agora, descobriremos qual é o maior: 453 ou 544 . Para resolver
essa questão podemos usar diversas propriedades das desigualdades:
1. Mudança de bases: como 4 pode ser escrito como 22 , temos:
453 = (22 )53 = 2106
Mas ainda não podemos afirmar com certeza se 2106 é maior
ou menor que 544 . Para reformularmos as potências, fazemos
um processo de decomposição: 106 = 7·15+1 e 44 = 3·14+2.
Usando as propriedades de potência, obtemos:
2106 = 27·15+1 = (27 )15 · 2 = (128)15 · 2 = 12814 · 128 · 2
72 POTI/TOPMAT

544 = 53·14+2 = (53 )14 · 52 = (125)14 · 52 = 12514 · 25

2. Comparar as potências: sabemos que se a > b e x > y, temos


necessariamente x·a > y·b, quando todos os valores envolvidos
são positivos. Assim, podemos dizer que: 12814 > 12514 e
256 > 25, logo 453 > 544 .

4.4.3 Inequação produto e quociente


Como vimos na Aula 2, podemos reescrever diversas expressões
completando quadrados, fatorando, colocando em evidência, etc.
Essas formas de escrita para uma inequação abrem possibilidade
para uma forma de resolução: o quadro de sinais. Essa é uma alter-
nativa para resolver inequações em que analisamos separadamente
o sinal de cada expressão e então realizamos o jogo de sinais. Vamos
fazer um exemplo para entender melhor do que se trata.
x+4
Exemplo 4.1. Resolva a inequação > 0.
2x − 10
Solução. Podemos chamar o numerador de f (x) = x + 4 e o deno-
minador de g(x) = 2x−10. Analisando o sinal de f (x), queremos sa-
ber quando a expressão é positiva. Ou seja, queremos saber quando
x + 4 > 0. Somando −4 em ambos os lados, temos que x > −4.
Ou seja, a partir de x = −4, todos os valores de f (x) são positivos.
Da mesma forma, vemos que antes de x = −4 temos apenas valores
negativos para f (x). Representando graficamente, temos:
Aula 4 - Inequações 73

Analogamente, analisando o sinal de g(x) temos que este será


positivo quando 2x − 10 > 0. Somando 10 a ambos os lados e depois
dividindo ambos os lados por 2, encontramos x > 5. Representando
graficamente, temos:

Podemos agrupar essas informações em um quadro de sinais, de


forma que:

Perceba que ao dividir f (x) por g(x) estamos fazendo a regra de


sinais: por exemplo, antes de −4 temos que os números em f (x) e
g(x) são negativos. E pela regra de sinais, a divisão de dois negativos
deve resultar em um positivo (exemplo: −3 −2
= 6).
Agora voltando ao enunciado: o exercício pedia que resolvêsse-
mos 2x−10
x+4
> 0. Basta então olhar para a tabela de sinais e coletar
f (x)
os casos em que g(x) é positivo.
74 POTI/TOPMAT

Assim, os valores de x que satisfazem a inequação são os menores


que −4 e os maiores que 5. Representando esta resposta matemati-
camente:

x ≤ −4 e x ≥ 5
ou, utilizando intervalos:

[−∞, −4] ∪ [5, +∞]

Ambas as formas acima estão corretas para representar o resul-


tado.
E esta é a solução. Veja que não foi necessário fazer contas ab-
surdas: apenas manipulamos algumas desigualdades e organizamos
as informações no quadro de sinais. □

Exercícios resolvidos

Exemplo 4.2. Vamos comparar os números reais a seguir:

140 √
, 2, − 7 e 10.
99
Solução. Como −7 é um número negativo √ e todos os outros são
positivos, então ele é menor que 140 , 2 e 10. Também temos que
√ 99 √
140
= 1, 414141 . . . e 2 = 1, 414213 . . ., logo 140
< 1, 4142 < 2.
99 √ 99
Além disso, 2 < 1, 4143 < 10. Portanto,

140 √
−7 < < 2 < 10.
99

Exemplo 4.3. Mostre que para qualquer número real a, temos que
a2 + 1 ̸= 0.
Aula 4 - Inequações 75

Solução. Temos que a2 ≥ 0, pois como vimos anteriormente, todo


número real elevado ao quadrado é maior ou igual a 0. Assim, vamos
somar 1 a ambos os lados dessa inequação. Ficamos com a2 + 1 ≥ 1.
Como a2 + 1 ≥ 1, então temos certeza que a2 + 1 ̸= 0, já que
0 < 1. □
Exemplo 4.4. Mostre que 2100 + 3100 < 4100 .
Solução. De fato:

2100 + 3100 < 3100 + 3100 = 2 · 3100

Temos que 2 · 33 = 54 < 64 = 43 e 397 < 497 . Logo:

2 · 3100 = 2 · 33 · 397 < 43 · 497 = 4100 .

Exercícios Propostos
1 1 1 1 1 1 1
1. Mostre que − + − + ... − + > .
2 3 4 5 99 100 5
2. (OBMEP 2014) Qual número é maior, 2300 ou 3200 ? Bem,
calcular explicitamente tais números é algo bem difícil, mesmo
com a ajuda de uma calculadora ou de um computador. En-
tretanto, podemos descobrir sem calculá-los explicitamente!
Observe:
2300 = 23·100 = (23 )100 = 8100 ,

e observe também que

3200 = 32·100 = (32 )100 = 9100 .

Como 8100 < 9100 , concluímos que 2300 < 3200 .

(a) Qual número é maior, 240 ou 328 ?


76 POTI/TOPMAT

(b) Qual número é maior, 3111 ou 1714 ?

3. (OPRM 2016 - adaptado) Considere os números X = 2700 ,


Y = 11200 e Z = 5300 . Qual é o maior e o menor número entre
X, Y e Z?

4. Uma propriedade interessante dos números inteiros é que


não há um número inteiro entre dois inteiros consecutivos.

(a) Mostre que π 2 não é um inteiro.


(b) Explique porque nenhum inteiro n com 121 < n < 144 é
o quadrado perfeito, ou seja, n = k 2 para algum inteiro
positivo k.

5. Dados os reais x e y mostre que x2 + y 2 ≥ 0 e x2 + y 2 = 0


somente quando x = 0 e y = 0. Use o fato que o quadrado de
um número real é sempre não negativo.

6. (Polônia - adaptada) Para a e b positivos, mostre que:

4(a3 + b3 ) ≥ (a + b)3 .

Isso é o mesmo que mostrar que 4(a3 + b3 ) − (a + b)3 ≥ 0.

7. Mostre que x2 +y 2 +z 2 ≥ xy +xz +yz para quaisquer x, y, z


reais.

8. (Polônia) Para inteiros positivos a ≤ b, faça o que se pede:

(a) Mostre que b3 < b3 + 6ab + 1 < (b + 2)3 .


(b) Encontre os a e b tais que a3 + 6ab + 1 e b3 + 6ab + 1 são
ambos cubos perfeitos.

É interessante ver o exercício 4 antes, para ajudar na solução.

9. (Canadá) Para cada n natural, mostre que n(n + 1)(n +


2)(n+3) não é um quadrado perfeito (quadrado de um inteiro).
Aula 4 - Inequações 77

Dicas para os Problemas Propostos


1. Compare 1
2 − 1
3 + 1
4 − 1
5 com 5.
1
Verifique o sinal da parcela
restante.
2. Para o item (a) adapte o argumento do enunciado mostrando
que 240 < 814 . Para o item (b) utilize que 31 < 2 · 17 e
24 = 16 < 17.
3. Deixe todos os números na forma de potência de 100 e compare
os números.
4. (a) Use que 3 < π < 3, 15 e faça as devidas multiplicações da
desigualdade 3 < π para obter que 32 < 3π e 3π < π 2 . De
modo análogo, mostre que π 2 < (3, 15)2 . Com isso mostre que
9 < π 2 < 10; (b) Perceba que caso n = k 2 , então 112 < k 2 <
122 . Aqui usamos o fato que se a e b são positivos e a2 < b2 ,
então a < b. Com isso chegue em uma contradição e conclua
que n não é um quadrado perfeito.
5. Para a igualdade, mostre que se x ̸= 0 ou y ̸= 0, então x2 +y 2 >
0 e portanto para valer a igualdade devemos ter x = 0 e y = 0.
6. Utilize o cubo da soma e reduza o problema à desigualdade
a3 + b3 − a2 b − ab2 ≥ 0.
(x − y)2 (x − z)2 (y − z)2
7. Note que + + ≥ 0.
2 2 2
8. No item (a) mostre que (b + 2)3 − b3 − 6ab − 1 > 0. Para o
item (b) encontre o único valor possível para que b3 + 6ab + 1
seja um cubo perfeito e assim obtem-se b dependendo de a.
Substitua esta expressão em a3 + 6ab + 1. Em seguida mostre
que a3 < a3 + 6ab + 1 < (a + 4)3 nessas condições. Por fim
encontre os valores possíveis de a e b.
9. Mostre que n(n + 1)(n + 2)(n + 3) está entre o quadrado de
dois inteiros consecutivos, mais precisamente mostre que n(n+
1)(n + 2)(n + 3) = (n2 + 3n + 1)2 − 1.
78 POTI/TOPMAT
Aula 5

Sequências I

Nas olímpiadas de matemática, são comuns os problemas nos


quais se faz necessário trabalhar com sequências numéricas. Nor-
malmente, são problemas que tendem a intimidar os alunos, já que
este não é um conteúdo tão trabalhado no Ensino Fundamental.
Assim, o objetivo desta aula é desmistificar este tema, mostrando
técnicas que podem ser utilizadas na resolução desses problemas.

5.1 Sequências
Uma sequência de números reais é uma lista ordenada de núme-
ros reais, que pode ser infinita ou finita. Uma sequência infinita
é representada por (an ) = (a1 , a2 , a3 , . . .), na qual representamos
quem é o primeiro número da sequência por a1 , o segundo por a2 ,
e assim sucessivamente. Já uma sequência finita com N termos é
representada por (an ) = (a1 , a2 , . . . , aN ). Neste caso, aN denota o
último termo da sequência. Dizemos que ak é o k-ésimo termo da
sequência em ambos os casos.
Diremos que duas sequências são iguais apenas se possuírem os
mesmos números na mesma ordem. Por exemplo,

(1, −1, 1, −1, . . .) ̸= (−1, 1, −1, 1, . . .),

pois apesar de ambas as sequências infinitas serem compostas pelos

79
80 POTI/TOPMAT

mesmos valores, a ordem destes é diferente, logo, as sequências são


distintas.
Exemplo 5.1. (OBM - Adaptado) Considere a sequência oscilante:

(1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 0, 1, 2, 3, 4, . . .).

Determine o 2003◦ termo desta sequência.


Solução. Ao trabalharmos com sequências, o primeiro passo é iden-
tificar o padrão, ou seja, o comportamento da sequência. Note que
nesta sequência a cada 8 elementos, seus números se repetem. Esse
é o padrão dessa sequência. Esse padrão justifica a classificação da
sequência como oscilante, já que ela sempre será preenchida pelos
mesmos valores e seguindo a mesma ordem.
Observe que para esta sequência podemos interpretar que cada
elemento com n ≥ 1 tem o mesmo valor que o resto de n na divisão
por 8. Por exemplo, 20 deixa resto 4 na divisão por 8 e a20 = a4 = 4.
Assim, como o resto da divisão de 2003 por 8 é 3, podemos
concluir que a2003 = a3 = 3. □

5.1.1 Fórmulas posicionais e recorrências


Grande parte das sequências com as quais iremos nos deparar
seguem um padrão, assim como a sequência do exemplo anterior.
Encontrá-lo é um dos nossos desafios.
Por essa razão, iremos discorrer sobre algumas sequências que
são recorrentes nas olímpiadas e cujo padrão pode ser determinado
por uma lei de formação. Quando a fórmula está associada com
a posição do termo da sequência dizemos que a sequência é defi-
nida por uma fórmula posicional. Neste caso, a sequência (an ) é
determinada por uma fórmula que depende de n.
Exemplo 5.2. A sequência (an ) dos quadrados perfeitos é
(12 , 22 , 32 , . . .). Note que a1 = 12 , a2 = 22 e a3 = 32 . Assim, pode-
mos concluir que a sequência dos quadrados perfeitos é determinada
pela seguinte fórmula posicional:

an = n2 , para n ≥ 1 inteiro.
Aula 5 - Sequências I 81


Exemplo 5.3. Os números naturais podem ser expressos através
da sequência (1, 2, 3, 4, 5, . . .). Observe que esta é uma sequência
infinita determinada pela fórmula posicional an = n (n ≥ 1 inteiro),
já que a1 = 1, a2 = 2, e assim sucessivamente. □
Para sequências determinadas por uma fórmula posicional, é co-
mum denotar o primeiro termo a partir de zero. Assim, a sequência
tem a forma (a0 , a1 , a2 , . . .). Logo, neste caso, podemos reescrever
a fórmula posicional da sequência do Exemplo 5.3 como an = n + 1
para n ≥ 0 inteiro.
A lei de formação de uma sequência também pode ser deter-
minada através de uma relação entre os seus termos. Neste caso,
quando um termo qualquer de uma sequência é determinado por
termos anteriores a ele, dizemos que esta lei de formação representa
uma relação de recorrência.
Exemplo 5.4. Observe a sequência Fn = (1, 1, 2, 3, 5, 8, 13..). Note
que 2 = 1 + 1, 3 = 2 + 1, 5 = 3 + 2 e assim sucessivamente para
todos os termos da sequência. Ou seja, todos os termos com n ≥ 3
são determinados pela soma dos dois termos anteriores a ele. Sendo
assim, esta é uma relação de recorrência que pode ser expressa por:

Fn = Fn−1 + Fn−2 , n ≥ 3 inteiro .


Essa sequência é muito famosa na matemática e é conhecida
como sequência de Fibonacci 1 , batizada em homenagem ao mate-
mático que a enunciou. Essa sequência possui diversas aplicações.
Veja abaixo uma delas que ilustra como a sequência de Fibonacci
pode ser relacionada com o crescimento dos galhos de uma árvore.

1
Leonardo Bonacci, matemático italiano conhecido como Fibonacci.
82 POTI/TOPMAT

Figura 5.1: Sequência de Fibonacci no crescimento de uma árvore.


Fonte: Retirado de GASROCKET.

Exemplo 5.5. Observe a sequência (5, 9, 13, 17, 21, 25). Note que
9 = 5 + 4, logo, a2 = a1 + 4; e 13 = 9 + 4, ou seja, a3 = a2 + 4;
e assim sucessivamente para todos os seus termos. Sendo assim, a
sequência é determinada pela relação de recorrência:

an = an−1 + 4, para todo n inteiro tal que 2 ≤ n ≤ 6,

sendo a1 = 5. □
A relação de recorrência representada no exemplo anterior é
também classificada como progressão aritmética. Esse tipo de
recorrência é muito importante na Matemática e frequentemente é
abordada em problemas de olímpiada.

5.2 Progressões Aritméticas


Como vimos anteriormente, uma progressão aritmética é uma
sequência que possui uma relação de recorrência entre seus termos.
Esta relação deve possuir uma particularidade: a diferença entre dois
termos consecutivos é sempre constante. Note que, no exemplo
Aula 5 - Sequências I 83

anterior, a diferença entre dois termos consecutivos era sempre igual


a 4. Sendo assim, formalmente, uma progressão aritmética pode ser
definida da seguinte maneira:

Definição 5.1. Uma sequência (an ) de números reais é uma pro-


gressão aritmética (abreviadamente PA) se existir um número
real r tal que a recorrência:

an+1 = an + r

seja satisfeita para todo inteiro n ≥ 1. Nesse caso dizemos que r é a


razão da PA.

Exemplo 5.6. As sequências (5, 8, 11, . . .) e (7, 5, 3, 1, . . .) são pro-


gressões aritméticas de razões 3 e −2, respectivamente.

Vamos resolver um exemplo envolvendo uma PA.
Exemplo 5.7. Uma fábrica de automóveis produziu 400 veículos
em janeiro e a cada mês a produção aumenta em 30 veículos. Quan-
tos veículos produziu em junho?
Solução. A cada mês, a produção aumenta a uma taxa constante
r, neste caso igual a 30. Logo, podemos descrever o aumento da
produção de caminhões como uma PA. Observe que ao chamarmos
janeiro de a1 , fevereiro de a2 e assim, sucessivamente até junho,
teremos a seguinte sequência:

(a1 , a2 , a3 , a4 , a5 , a6 ).

Como a razão é r, pela definição, temos:

a2 = a1 + r e a3 = a2 + r = (a1 + r) + r = a1 + 2r.

Assim, podemos concluir que:

a6 = a5 + r = a4 + 2r = a3 + 3r = a2 + 4r = a1 + 5r.
84 POTI/TOPMAT

Logo, como a1 = 400 e r = 30, temos que:

a6 = 400 + 5 · 30 = 550.

Sendo assim, foram produzidos 550 caminhões em junho. □


A relação que utilizamos no exemplo anterior é conhecida como
termo geral de uma PA, que nos permite relacionar os seus diferentes
elementos (não necessariamente consecutivos).
A seguir, será demonstrado como encontrar a fórmula do termo
geral de uma PA. Preste muita atenção no raciocínio utilizado. Ao
trabalhar com sequências, muitas vezes faremos uso de um processo
análogo a esse. Além disso, é importante entender como se encon-
tra a fórmula do termo geral, visto que as olímpiadas não fornecem
formulário.

O termo geral de uma PA é expresso por:

an = a1 + (n − 1)r.

para todo n ≥ 1.

Demonstração. Considere a seguinte sequência:

(a1 , a2 , a3 , a4 , a5 , a6 , . . . an ).

O diagrama:
+r +r +r +r +r
a1 −→ a2 −→ a3 −→ · · · −→ an−1 −→ an

deixa claro que, para chegar a an a partir de a1 , são necessários


n − 1 passos, onde cada passo se resume a somar r a um termo.
Logo, para obter an , temos de somar, ao todo, (n − 1)r e a1 , de
maneira que o termo geral de uma PA é:

an = a1 + (n − 1)r.


Aula 5 - Sequências I 85

Observação: A demonstração possui ainda mais um passo, que


envolve o método indutivo que será apresentado na Aula 7.
Por meio de um raciocínio análogo, podemos inferir que:

an = ak + (n − k)r,

desde que n, k ≥ 0 e k < n. Assim, de forma geral:

O termo geral de uma PA é dado por:

an = ak + (n − k)r,

desde que n, k ≥ 0 e k < n.

Exemplo 5.8. Em uma progressão aritmética, o quinto termo vale


30 e o vigésimo termo vale 60. Quanto vale o oitavo termo dessa
progressão?
Solução. Note que a5 = 30 e a20 = 60. Podemos relacionar os ter-
mos de uma PA, através da fórmula vista anteriormente. Contudo,
para isso, precisamos saber qual é a sua razão. Vamos encontrá-la
relacionando a5 e a20 da seguinte maneira:

a20 − a5
a20 = a5 + (20 − 5)r =⇒ a20 = a5 + 15r =⇒ r = .
15
Substituindo os valores dados pelo enunciado (a5 = 30 e a20 = 60),
podemos concluir que:

60 − 30
r= =⇒ r = 2.
15
Assim, a razão da PA é 2. Agora, podemos utilizar a5 e r para
encontrar o a8 :

a8 = a5 + (8 − 5)r = a5 + 3r = 30 + 3 · 2 = 36.

Portanto, o oitavo termo dessa progressão aritmética é o 36.


86 POTI/TOPMAT


Exemplo 5.9. Verifique se as triplas de números são parte de uma
PA:

1 3 5
!
(a) (1, 2, 4)
(b) , , .
2 2 2

Solução. Suponha que (a, b, c) são termos de uma PA, nesta ordem.
Segue da definição de uma PA que a diferença entre seus termos deve
ser constante. Se (a, b, c) é uma PA, então, b − a = r e c − b = r,
para uma razão r. Assim,
a+c
b − a = c − b ⇔ 2b = a + c ⇔ b = .
2
Portanto (a, b, c) são parte de uma progressão aritmética somente
a+c
quando b = . Então, nos itens:
2
1+4 5
(a) Temos que = . Logo (1, 2, 4) não é parte de uma PA.
2 2
1 5
+ 3 1 3 5
!
(b) Temos que 2 2 = . Logo , , é parte de uma PA.
2 2 2 2 2


Exemplo 5.10. Calcule a soma S = 1 + 2 + 3 + 4 + . . . + 97 + 98 +
99 + 100.
Solução. Note que há 100 parcelas nessa soma.
Perceba também que 1 + 100 = 2 + 99 = 3 + 98 = 4 + 97 = 101
e se somarmos as parcelas com a mesma distância dos extremos,
ainda obteremos 101.
Então, vamos escrever a soma na mesma ordem das parcelas e
na ordem contrária, ou seja:
S = 1 + 2 + 3 + 4 + . . . + 97 + 98 + 99 + 100
S = 100 + 99 + 98 + 97 + . . . + 4 + 3 + 2 + 1
Aula 5 - Sequências I 87

Somando as duas equações na mesma ordem dos termos, teremos:

2S = (1 + 100) + (2 + 99) + (3 + 98) + (4 + 97)


+ . . . + (97 + 4) + (98 + 3) + (99 + 2) + (100 + 1)

Como cada parcela entre parênteses é igual a 101 e há 100 parcelas


entre parênteses, temos então:

10100
2S = 100 · 101 = 10100 ⇒ S = = 5050.
2

O raciocínio que utilizamos acima pode ser aplicado para de-
monstrar a soma dos n primeiros termos de uma PA qualquer.

A soma dos n primeiros termos de uma PA é dada por:

(a1 + an )n
Sn = a1 + a2 + . . . + an−1 + an = .
2

Demonstração. Considere a seguinte sequência:

(a1 , a2 , a3 , a4 , a5 , a6 , . . . an ).

A partir do diagrama:
+r +r +r −r −r −r
a1 −→ a2 −→ a3 −→ . . . ←− an−2 ←− an−1 ←− an

concluímos que:

a1 + an = (a2 − r) + (an−1 + r) = a2 + an−1

a2 + an−1 = (a3 − r) + (an−2 + r) = a3 + an−2


..
.
Logo, sendo S = a1 + a2 + . . . + an , temos:
88 POTI/TOPMAT

2S = 2(a1 + a2 + a3 . . . an−2 + an−1 + an )


= (a1 + an ) + (a2 + an−1 ) + (a3 + an−2 ) + . . . + (an + a1 )
= (a1 + an ) + (a1 + an ) + (a1 + an ) + . . . + (a1 + an )
| {z }
n parcelas
n(a1 + an )
= n(a1 + an ) =⇒ Sn = .
2

Observação: A demonstração possui ainda mais um passo, que
envolve o método indutivo que será apresentado na Aula 7.

Problemas Resolvidos
1. (ITA) Prove que se uma PA é tal que a soma dos seus n pri-
meiros termos é igual a n+1 vezes a metade do n-ésimo termo,
então a razão é r = a1 .
Solução. Segundo o enunciado a soma dos n primeiros termos
da sequência é Sn , então:
an
Sn = (n + 1)
.
2
Como vimos anteriormente, a soma dos n termos de uma PA
pode ser expressa por:
(a1 + an )n
Sn = .
2
Portanto, as duas fórmulas para o Sn devem levar ao mesmo
resultado. Logo:
an (a1 + an )n
(n + 1)= .
2 2
Multiplicando ambos os lados por 2 e aplicando a distributiva
encontramos:
an · n + an = a1 · n + an · n
Aula 5 - Sequências I 89

=⇒ an = a1 · n.

Como se trata de uma PA, pela fórmula do termo geral, temos


que:
an = a1 + (n − 1) · r.
Assim, igualando as duas fórmulas que temos para o an e iso-
lando r, encontramos:

a1 + (n − 1) · r = a1 · n

=⇒ (n − 1) · r = a1 · n − a1 =⇒ (n − 1) · r = a1 · (n − 1)
a1 (n − 1)
=⇒ r = =⇒ r = a1 .
(n − 1)
Assim, concluímos que r = a1 . □

2. Seja (an ) uma progressão aritmética não constante tal que


a2n + a2n−1 + . . . + an+1
a1 = 1 e é uma constante c, inde-
an + an−1 + . . . + a1
pendente o n escolhido. Encontre a15 .
Solução. Pela fórmula das somas de termos de uma PA tere-
mos que:

(a2n + an+1 )n
a2n + a2n−1 + . . . + an+1 =
2

(an + a1 )n
e an + an−1 + . . . + a1 = .
2
Logo, se r é a razão da PA, então:

a2n + a2n−1 + . . . + an+1 a2n + an+1


c= =
an + an−1 + . . . + a1 an + a1

a1 + (2n − 1)r + a1 + nr 2a1 + (3n − 1)r


= = .
a1 + (n − 1)r + a1 2a1 + (n − 1)r
90 POTI/TOPMAT

Usando que a1 = 1, teremos que:

2 + (3n − 1)r
c= ⇒ 2c + c(n − 1)r = 2 + (3n − 1)r
2 + (n − 1)r

⇒ 2c − 2 = [3n − 1 − c(n − 1)]r.

2c − 2 2(c − 1)
Como a razão r = = é
3n − 1 − c(n − 1) (3 − c)n + c − 1
constante, então r não pode depender de n. Para que isso
aconteça, devemos ter 3 − c = 0 ⇒ c = 3.
Logo,
2(3 − 1)
r= = 2.
(3 − 3)n + 3 − 1

Então a15 = a1 + (15 − 1)r = 1 + 14 · 2 = 29.



Aula 5 - Sequências I 91

Exercícios Propostos

1. Encontre uma fórmula em termos da !posição n para as


1 2 3
sequências (1, −2, 3, −4, . . .) e , , ,... .
2 3 4
Dica: Por exemplo, (1, −1, 1, −1, . . .) pode ser escrito como
xn = (−1)n+1 e (1, 2, 3, 4, . . .) yn = n.

2. Para a sequência definida por an = 2an−1 +an−2 para n ≥ 3


e a1 = a2 = 1, determine o valor de a6 .
Dica: Calcule os termos até obter a6 .

3. Para a sequência definida por an = 2an−1 para n ≥ 2 e


a1 = 2, determine o valor de an .
Dica: Note que a1 = 2, a2 = 22 . Mostre que na verdade
an = 2n para cada n.

4. (1 FASE OBMEP - 2019) Observe a sequência de figuras


abaixo, todas elass com a forma da letra Y. Seguindo este
padrão, quantas bolinhas terá a 15º figura?

Figura 5.2: Legenda

5. Um bem, cujo valor hoje é de R$ 16000,00, desvaloriza-se


de tal forma que seu valor daqui a 4 anos será de R$ 2000,00.
Supondo que a cada ano devemos subtrair uma mesma quan-
tidade, qual será o valor do bem daqui a 3 anos?
92 POTI/TOPMAT

Dica: Considere an o valor do bem em n meses. Temos que


a0 = 16000 e a4 = 2000. Calcule a razão e em seguida o valor
do bem em 3 anos.
6. Encontre o valor de a2 + a4 + a6 + . . . + a98 se a1 , a2 , a3 , é
uma P.A. de razão 1 e a1 + a2 + a3 + . . . + a97 + a98 = 137.
Dica: Como a P. A. tem razão 1, teremos a1 = a2 − 1, a3 =
a4 − 1, . . ., a97 = a98 − 1. Utilize isso na segunda soma.
7. Considere a sequência oscilante (1, 3, 4, 5, 4, 3, 1, 3, 4, 5, 4, 3, . . .).
Calcule o termo 2014.
Dica: Os termos da sequência se repetem a cada 6 elementos.
Com isso encontre a relação do termo 2014 com o resto da
divisão deste número por 6.
8. Um jardineiro tem que regar 60 roseiras plantadas ao longo
de uma vereda retilínea distando 1m uma da outra. Ele enche
seu regador, a 15m da primeira roseira, e, a cada viagem,
rega 3 roseiras. Começando e terminando na fonte, qual é o
percurso total que ele terá que caminhar até regar todas as
roseiras?
Dica: Calcule separadamente o quanto ele andou na frente do
canteiro e o quanto ele andou fora dos canteiros.
9. (OBM 2002) O primeiro número de uma seqüência é 7. O
próximo é obtido da seguinte maneira: Calculamos o quadrado
do número anterior 72 = 49 e a seguir efetuamos a soma de
seus algarismos e adicionamos 1, isto é, o segundo número é
4 + 9 + 1 = 14. Repetimos este processo, obtendo 142 = 196
e o terceiro número da seqüência é 1 + 9 + 6 + 1 = 17 e assim
sucessivamente. Qual o 2002◦ elemento desta sequência?
Dica: Verifique alguns dos primeiros termos da sequência e
verifique também se há uma repetição na sequência.
10. (EUA) Os quatro primeiros termos de uma progressão arit-
mética são p, 9, 3p − q, 3p + q. Qual é o 2010◦ termo dessa
sequência?
Aula 5 - Sequências I 93

Dica: Use o critério para decidir se uma tripla é parte de uma


P. A. para encontrar p, q e consequentemente a razão da PA.
11. (EUA) A soma dos n primeiros termos de uma PA é 153 e a
razão é 2. Se o primeiro termo é um inteiro e n > 1, determine
o número de valores possíveis de n.
Dica: Deixe a soma dos n primeiros termos em termos de n e a
a1 . Por fim mostre que (a1 +(n−1))n = 153, n e (a1 +(n−1))
dividem 153.
12. Seja (an ) uma sequência dada por a1 = 1 e
an−1
an = ,
1 + 2an−1
para n ≥ 2. Calcule an em termos de n.
1
Dica: Perceba que a sequência bn = é uma PA.
an
13. Seja (an ) uma PA. de razão r e considere a sequência (bn )
dada por bn = a2n+1 − a2n . Decida se (bn ) é uma P. A. ou não
e caso seja dar a razão da PA.
Dica: Use a identidade a2 −b2 = (a−b)(a+b) e veja se bn −bn−1
é sempre o mesmo valor para cada n ≥ 2.
14. (OBM 2007) Qual dos inteiros positivos abaixo satisfaz a
seguinte equação:
4 5 6 n4 − 6 n4 − 5 n4 − 4
+ + . . . + + + = 309?
n4 n4 n4 n4 n4 n4
Dica: Utilize a fórmula da soma dos termos de uma PA.
15. Calcule a expressão

S = 12 − 22 + 32 − 42 + 52 − 62 + 72 + . . . − 19982 + 19992 .

Dica: Utilize o produto notável a2 − b2 = (a − b)(a + b) para


rearranjar S como soma de termos de uma PA. de razão 4.
94 POTI/TOPMAT

16. (OBM 2004) Dizemos que um número natural é teimoso se


ao ser elevado a qualquer expoente inteiro positivo, termina
com o mesmo algarismo. Por exemplo, 10 é teimoso, pois,
102 , 103 , 104 , . . . são números que também terminam em zero.
Quantos números naturais teimosos de três algarismos exis-
tem?
Dica: Tente agrupar os números teimosos de três algarismos
em PA.’s distintas. Mais precisamente encontre uma condição
sobre o último algarismo para o número ser teimoso e agrupe
os números teimosos em PA.’s.
17. (Banco de questões OBMEP 2019) As sequências de Jaime:
Jaime adora somar sequências de números inteiros consecuti-
vos. a) Qual o resultado encontrado por jaime, quando ele
soma os 2019 primeiros números inteiros positivos?
b) Jaime soma 100 números inteiros consecutivos e encontra
17050. Qual é o menor dos números desta sequência?
c) Ao somar 180 números em sequência, Jaime encontrou como
resultado 3690. Qual é o menor deles?
d) Jaime somou 100 números positivos consecutivos, mas co-
meteu um equívoco, trocando um deles pelo seu quadrado,
obtendo assim, 7500. Qual número foi somado ao quadrado?
18. (Banco de questões OBMEP 2017). Uma sequência de nú-
meros reais xn é uma lista ordenada de reais em que o primeiro
número da lista é o termo x1 , o segundo termo é o x2 e as-
sim por diante. Por exemplo, a sequência usual dos números
inteiros positivos pode seer descrita como xn = n para todo
inteiro positivo n. Algumas sequências podem ser definidas
por equações de recorrências, em que um termo é definido em
função dos seus anteriores.
Por exemplo, a sequência dos inteiros positivos poderia ser
definida por x1 = 1 e xn = xn−1 + 1 para todo inteiro positivo
n ≥ 2. Desse modo, poderíamos calcular x2 = 1 + 1 = 2,
x3 = 2 + 1 = 3 e assim por diante.
Aula 5 - Sequências I 95

a) Calcule x2 , x3 e x4 .
b) Verifique que a sequência é estritamente crescente, ou seja,
que xn > xn−1 para todo inteiro positivo n.
c) Perceba que a sequência parece crescer muito poucoo. Após
calcular alguns termos iniciais, poderíamos suspeitar que ne-
nhum termo excede 2016, mas de fato vamos provar que exis-
tem termos maiores que 2016. Para isso, vamos usar a sequên-
cia auxiliar yn = x3n . Prove que yn > Yn−1 +3 para todo n ≥ 2.
d)Prove que existe um número N tal que xN > 2016.

19. Suponha que (a, b, c) e (a2 , b2 , c2 ) são uma PA. Mostre que
a = b = c.
Dica: Use que a + c = 2b e a2 + c2 = 2b2 . Com isso mostre
que a2 + 2ac + c2 = 4b2 , logo a2 + 2ac + c2 = 2a2 + 2c2 .

20. Três números em PA. são tais que seu produto é igual ao
quadrado da sua soma. Sabendo-se que são inteiros, positivos,
distintos e sua soma é menor que 40, podemos dizer que a
soma desses três números é?
Dica: Três termos de uma PA podem ser escritos da forma
(a − r, a, a + r). Mostre que para que seja possível encontrar
três números reais positivos e distintos em PA tais que seu
produto é igual ao quadrado da sua soma é necessário que
(a2 − r2 )a = 9a2 e disso com conclua que a sua soma é maior
que 27, ou equivalentemente, que a > 9. Para a condição que
os termos sejam inteiros é necessário verificar que a soma é
multiplo de três e testar as somas inteiras possíveis entre 27 e
40.
96 POTI/TOPMAT
Aula 6

Sequências II

Nessa aula vamos continuar o nosso estudo sobre recorrências.


Dentre as relações que serão estudadas, atente-se à progressão geo-
métrica, que é de grande importância para nós e muito utilizada em
várias áreas da matemática.

6.1 Progressões Geométricas


Uma progressão geométrica é uma relação de recorrência, assim
como a progressão aritmética, vista na aula anterior. Logo, cada
um de seus termos pode ser definido em função dos anteriores.
Exemplo 6.1. A população de uma cidade é de aproximadamente
120000. Se a população desta cidade aumenta em 50% a cada ano,
qual será a população depois de 5 anos?
Solução. Vamos tentar analisar o problema como uma sequência.
Nesse caso, podemos interpretar a população a cada ano como um
termo da sequência:

(a0 , a1 , a2 , a3 , a4 , a5 )

cujo termo inicial é a0 = 120000. Segundo o enunciado, para en-


contrar o valor do próximo ano, que será o a1 da nossa sequência,

97
98 POTI/TOPMAT

temos:
120000
a1 = 120000 + = 180000.
2
Poderíamos seguir o mesmo raciocínio com cada termo até chegar
ao a5 , que representa a população depois de 5 anos. Porém, este
método é muito trabalhoso e não seria eficaz caso fosse pedido a
população depois de 10 anos, por exemplo. Assim, vamos analisar
algebricamente como cada termo é definido. Segundo o enunciado,
podemos reescrever a1 e a2 como:

120000 a0 3a0
a1 = 120000 + = a0 + =
2 2 2
a1 3a1
a2 = a1 + = .
2 2
3a0
Como a1 = podemos reescrever a2 como
2
!2
3 3a0 3
a2 = · = · a0 .
2 2 2

Note que podemos seguir o mesmo raciocínio, assim


!2 !3
3 3 3
a3 = · · a0 = · a0 .
2 2 2
!3 !4
3 3 3
a4 = · · a0 = · a0 .
2 2 2
!4 !5
3 3 3
a5 = · · a0 = · a0 .
2 2 2
Portanto,
!5
3
a5 = · 120000 = 911250.
2
Sendo assim, a população depois de 5 anos é de 911250 habitantes.

Aula 6 - Sequências II 99

Em um primeiro momento, analisar algebricamente (ou seja, sem


substituir os valores) pode não ser tão simples. Porém, ao fazer exer-
cícios mais complexos vocês verão que não é possível resolvê-los sem
fazer esta análise. Por esta razão, é muito importante desenvolver
esta habilidade.
A recorrência do exemplo anterior é definida pela seguinte rela-
ção de recorrência:

3
an = · an−1 , para n ≥ 2.
2
Ou seja, cada termo da sequência é igual a 23 do termo anterior a
ele. A sequência deste exemplo é uma progressão geométrica.
As progressões geométricas possuem muitas propriedades inte-
ressantes, para entendê-las e utilizá-las precisamos, primeiramente,
definir o que é uma progressão geométrica.

Definição 6.1. Uma sequência (an ) de números reais é uma Pro-


gressão Geométrica (abreviamos PG) se existir um número tal
que a recorrência:
an+1 = q · an
seja satisfeita para todo n ≥ 1. Neste caso, dizemos que q é a razão
da PG.

Note que no exemplo anterior estavamos trabalhando com uma PG


de razão 23 .
Exemplo 6.2. As sequências (1, 2, 4, 8, 16, 32, . . .), (5, 5, 5, 5, . . .),
(3, −6, 12, −24, 48, −96, . . .), e (12, 0, 0, 0, 0, 0, . . .) são progressões ge-
ométricas com razões 2, −2, 1 e 0, respectivamente.
Observe que a partir da definição de PG, podemos concluir que
é válida a seguinte relação entre seus termos:

a2 a3 a4 an+1
= = = ... = = q.
a1 a2 a3 an
Exemplo 6.3. Verifique se as triplas são parte de uma PG:
100 POTI/TOPMAT

(a) (1, −2, 4) (c) (5, 2, −1)

(b) (5, 35, 245) (d) (−2, 6, −18).

Solução. Suponha que (a, b, c) são todos diferentes de 0 e formam


termos de uma PG, nesta ordem. Assim, pela relação que vimos
anteriormente:
c b
= = q,
b a
sendo q a razão da PG. Como a relação anterior é válida, temos que:

b c
= ⇔ b2 = ac.
a b
Portanto (a, b, c) é uma PG somente quando b2 = ac.
Então, nos itens:

(a) Temos que 1 · 4 = 4 = (c) Temos que 5 · (−1) = −5 ̸=


(−2)2 . Logo (1, −2, 4) são 4 = 22 . Logo (5, 2, −1) não
termos de uma P. G. são termos de uma P. G.

(b) Temos que 5·245 = 1225 = (d) Temos que (−2) · (−18) =
352 . Logo (5, 35, 245) é 36 = 62 . Logo (−2, 6, −18)
parte de uma P. G. são termos de uma P. G.


De modo análogo a como trabalhamos com as PA’s, podemos
encontrar uma fórmula para o termo geral de uma PG.

O termo geral de uma PG é expresso por:

an = a1 · q n−1 ,

para todo n ≥ 1.

Observe que com essa relação, poderíamos ter resolvido o pri-


meiro exemplo da aula muito rapidamente. O nosso objetivo aqui
Aula 6 - Sequências II 101

não é que você decore fórmulas e sim entenda como podemos encontrá-
las. A seguir daremos uma ideia de como demonstrar a fórmula
anterior.
Demonstração. A demonstração dessa fórmula é muito similar a
feita para as PA’s. O diagrama
·q ·q ·q ·q ·q
a1 −→ a2 −→ a3 −→ . . . −→ an−1 −→ an

deixa claro que, para chegar a an , a partir de a1 , são necessários


n − 1 passos, onde cada passo se resume a multiplicar um termo por
q. Logo, temos de multiplicar a1 por q um total de n − 1 vezes, e
daí obtemos a fórmula do termo geral:

an = a1 · q · q · · · q = a1 · q n−1 .
| {z }
n−1 termos


Observação: A demonstração possui ainda mais um passo, que
envolve o método indutivo que será apresentado na Aula 7.
Utilizando um raciocínio análogo ao da demonstração acima, é
possível encontrar uma relação mais geral para o termo geral da PG.

O termo geral de uma PG é expresso por:

an = ak · q n−k ,

para todo n, k ≥ 0 e k < n.

A demonstração é análoga à anterior.


É muito importante entender o processo acima, pois ele pode ser
aplicado na resolução de muitos problemas envolvendo sequências.
Também, em muitos exercícios é necessário somar os termos de
uma sequência. Para uma PG, também temos uma fórmula para
somar os seus n primeiros termos.
102 POTI/TOPMAT

A soma dos n primeiros termos de uma PG é dada por:

a1 (q n − 1) an+1 − a1
Sn = = .
q−1 q−1

Demonstração. Denote por Sn a soma desejada,


Sn = a1 + a2 + . . . + an .
Multiplicando os dos lados da igualdade por q, obtemos:
qSn = q(a1 + a2 + . . . + an−1 + an )
= qa1 + qa2 + . . . qan−1 + qan
= a2 + a3 + . . . an + an+1 .
Portanto,
(q − 1)Sn = qSn − Sn
= (a2 + a3 + . . . an + an+1 ) − (a1 + a2 + . . . an )
= (a2 + a3 + . . . an ) + an+1 − a1 − (a2 + . . . an )
= an+1 − a1 ,
onde, na última passagem, cancelamos as duas ocorrências da par-
cela a2 + a3 + . . . + an . Basta agora dividir ambos os membros da
igualdade
(q − 1)Sn = an+1 − a1
por q − 1. Assim, obtemos:
an+1 − a1 a1 (q n − 1)
Sn = = .
q−1 q−1

Observação: A demonstração possui ainda mais um passo, que
envolve o método indutivo que será apresentado na Aula 7.
Vamos agora resolver dois problemas envolvendo PG utilizando
as relações que acabamos de conhecer: o termo geral de uma PG e
a soma dos n primeiros termos de uma PG.
Aula 6 - Sequências II 103

Exemplo 6.4. Considere uma PG com a1 = 4, razão q = 2 e


an = 1024. Qual é o valor de n?
Solução. Para solucionar este problema, podemos utilizar a fór-
mula do termo geral para encontrar o valor de n. A fórmula do
termo geral é:
an = a1 · q n−1 .
Assim, substituindo os dados do enunciado segue que:

4 · 2n−1 = 1024.

Do lado esquerdo da igualdade, temos que 22 = 4 e 2n−1 = 2n ·2−1 =


2n
2 . Assim:
2n
4 · 2n−1 = 22 · = 2 · 2n .
2
Agora temos a seguinte igualdade:

2 · 2n = 1024.

Dividindo ambos os lados por 2 obtemos: 2n = 512. Para encontrar


o valor de n devemos reescrever 512 em termos de 2. Fatorando 512
encontramos 29 = 512. Portanto,

2n = 512 ⇔ 2n = 29 ⇔ n = 9.

Logo, n = 9. □
Exemplo 6.5. Qual é o valor da seguinte soma de potências de 2?

S = 20 + 21 + 22 + 23 + 24 + . . . + 22020 .

Solução. Podemos interpretar cada termo da soma acima como um


termo de uma PG com a1 = 1 = 20 e razão q = 2. Logo, utilizando
a fórmula do termo geral, cada termo é definido por:

an = 1 · 2n−1 .

Assim, note que a2021 = 22020 . Portanto, a soma das potências


de 2 equivale a soma dos 2021 primeiros termos da sequência que
104 POTI/TOPMAT

definimos. Logo, como a soma dos n primeiros termos de uma PG


é dada por:
a1 (q n − 1)
Sn = ,
q−1
e temos a1 = 1, q = 2 e n = 2021 podemos expressar a soma como:
22021 − 1
S2021 = 1 · = 22021 − 1.
2−1
Sendo assim,
S = 20 + 21 + 22 + 23 + 24 + . . . 22020 = 22021 − 1.

6.2 Recorrências lineares de primeira ordem


Até agora, trabalhamos apenas com as progressões aritméticas
e geométricas. Contudo, existem outros tipos de sequências que
podem aparecer nas olímpiadas. Como visto anteriormente, uma
recorrência é uma sequência na qual podemos determinar um termo
em função dos anteriores. Por exemplo, toda PA e PG são recorrên-
cias. Porém existem outros tipos de recorrências. De modo geral,
uma recorrência pode ser classificada como linear ou não linear.
Exemplo 6.6. A recorrência definida por an+1 = 2 + an é uma
recorrência linear. Já a recorrência definida por an+1 = (an )2 não
é linear, pois ela possui um termo elevado ao quadrado.
Focaremos nas recorrências lineares. Estas ainda podem ser clas-
sificadas em função de sua ordem. Diremos que ela é de primeira
ordem quando expressa por an+1 e an . Assim, PA e PG são exem-
plos de recorrências lineares de primeira ordem.
Em grande parte das questões que abordam recorrências, além
de descobrir como se relacionam an+1 e an , é necessário encontrar
uma fórmula para o termo geral da sequência (ou seja, uma fórmula
que relaciona an e n). Como vocês verão a seguir, na grande maioria
dos casos, podemos descrever uma recorrência utilizando as duas
sequências que já conhecemos, PA e PG.
Aula 6 - Sequências II 105

Exemplo 6.7. Considere a sequência (ak )k≥1 , dada por a1 = 1 e

ak
ak+1 =
1 + 2ak

para todo inteiro k ≥ 1 inteiro. Calcule ak em função de k.


Solução. Sempre que formos trabalhar com sequências, é muito
importante calcular os primeiros termos da sequência para entender
qual é o seu padrão. Segundo o enunciado, para k = 1:

a1 1 1
a1+1 = a2 = = = ,
1 + 2a1 1 + 2 · 1 3

já que a1 = 1. Quando k = 2 temos:

1 1
a2 3 1 3 1
a2+1 = a3 = = = 3= · = .
1 + 2a2 1 5 3 5 5
1+2·
3 3
Quando k = 3 temos:

1 1
a3 5 1 5 1
a3+1 = a4 = = = 5= · = .
1 + 2a3 1 7 5 7 7
1+2·
5 5

Logo,
1 1 1
!
(ak )k≥1 = , , ,... .
1 3 5
Observe que os denominadores de cada termo da sequência, aumen-
tam como em uma PA de termo inicial 1 e razão 2. Assim, podemos
1
dizer que ak = , sendo bk uma PA de b1 = 1 e r = 2. Observe
bk
que:
bk = (1, 3, 5, 7, . . .).
106 POTI/TOPMAT

Assim, pela fórmula do termo geral de uma PA que vimos na aula


anterior, segue que:

bk = b1 + (k − 1) · r = 1 + (k − 1) · 2 = 2k − 1.

Logo, agora podemos escrever ak em função de k. Assim,

1 1
ak = = .
bk 2k − 1

O que fizemos anteriormente foi escrever a sequência ak em fun-
ção de uma outra sequência, a sequência bk , que por ser uma PA já
sabíamos como trabalhar. Escrever uma sequência em função de ou-
tra que conhecemos, como uma PA ou PG, é muito útil na resolução
de exercícios.

Problemas Resolvidos
1. Se (a, b, c) formam, nessa ordem, uma PA e uma PG, então
mostre que a = b = c. Logo, uma sequência só é simultane-
mante uma PA e uma PG se ela for constante.
Solução. Sabemos que se (a, b, c) é parte de uma PA, então

a+c
b= .
2
Ademais, como (a, b, c) também faz parte de um PG, temos
que b2 = ac. Logo, combinando as duas relações entre os
termos encontrados segue que:
!2
(a + c) (a + c)2
b2 = ac ⇔ = ac ⇔ = ac
2 4

a2 + 2ac + c2
⇒ = ac ⇒ a2 + 2ac + c2 = 4ac
4
⇒ a2 − 2ac + c2 = 0.
Aula 6 - Sequências II 107

Portanto (a − c)2 = 0, e isso só acontece quando a = c. Neste


caso, teremos que
a + c a + a 2a
b= = = = a.
2 2 2
Portanto, a = b = c, ou seja, a sequência é constante. □
2. (OBMEP) Renata montou uma sequência de triângulos com
palitos de fósforo, seguindo o padrão indicado na figura. Um
desses triângulos foi construído com 135 palitos de fósforo.
Quantos palitos formam o lado desse triângulo?

Figura 6.1

Solução. Contando o número de palitos das três figuras re-


presentadas acima, podemos montar a sequência (3, 9, 18, . . .).
Analisando esta sequência, notamos que a1 = 3, a2 = 9 e
a3 = 18. Segundo o enunciado, Renata vai continuar seguindo
este padrão para construir novas figuras. A pergunta agora é,
qual é este padrão?
Analisando os termos a1 , a2 e a3 , podemos buscar uma relação
entre eles. Assim, encontramos:

a2 = a1 + 6 = a1 + 3 · 2,

a3 = a2 + 9 = a2 + 3 · 3.

Como o enunciado diz que a sequência sempre segue o mesmo


padrão, podemos dizer que:

an = an−1 + 3n.
108 POTI/TOPMAT

Sendo an o número de palitos utilizados na construção da e-


nésima figura.
Segundo a relação encontrada, estamos trabalhando com uma
recorrência. Assim, podemos escrever an em função de n ape-
nas, ou seja, nosso desafio agora é substituir o an−1 por uma
relação envolvendo n. Observe que, utilizando o que sabemos
sobre a1 , a2 e a3 , podemos reescrever a3 como:

a3 = a2 + 3 · 3 = a1 + 3 · 2 + 3 · 3 = 3 + 3 · 2 + 3 · 3 = 3 · (1 + 2 + 3).

Assim, como o padrão é o mesmo, podemos reescrever an


como:

an = an−1 + 3n = 3(1 + 2 + 3 + . . . + n).

Veja que podemos expressar cada termo da soma 1 + 2 + 3 +


. . . + n como termos de uma sequência bn . Nesse caso,

bn = (1, 2, 3, . . . , n).

Note que bn é uma PA com b1 = 1, razão, r = 1 e bn = n, ∀n ≥


1. Assim, como a soma dos n termos de uma PA é expressa
por Sn = n(b12+bn ) , podemos reescrever an como:

3n(n + 1)
an = 3 · Sn = .
2
Portanto, como o lado do triângulo equivale ao índice do termo
da sequência (a1 representa o triângulo de lado 1, e assim
sucessivamente) para saber o lado do triângulo construído com
135 palitos, substituímos 135 no valor de an e resolvemos a
equação do 2º grau para encontrar o valor de n. Logo,

3n(n + 1)
= 135 =⇒ 3n(n + 1) = 270
2
=⇒ n(n + 1) = 90 =⇒ n2 + n − 90 = 0.
Aula 6 - Sequências II 109

Aplicando Bhaskara,

− 1 ± 12 + 40 − 1 ± 19
n= = =⇒ n = −10 ou n = 9.
2 2
Como o lado de um triângulo deve ser um valor positivo con-
cluímos que n = 9. Assim, o triângulo formado com 135 pali-
tos possui 9 palitos formando o seu lado. □

3. Calcule o valor da soma

2 · 1 + 7 · 3 + 12 · 32 + 17 · 33 + . . . 497 · 399 + 502 · 3100 ,

onde, da esquerda para a direita, a k-ésima parcela é igual


ao produto do k-ésimo termo da PA (2, 7, 12, . . . , 502) pelo
k-ésimo termo da PG (1, 3, 32 , 33 , . . . , 3100 ).
Solução. Primeiramente vamos denotar:

S = 2 · 1 + 7 · 3 + 12 · 32 + 17 · 33 + . . . 497 · 399 + 502 · 3100 .

Agora, para que todos os termos da soma acima sejam múlti-


plos de 3, vamos multiplicar S por 3. Assim,

3S = 2 · 3 + 7 · 32 + 12 · 33 + 17 · 34 + . . . 497 · 3100 + 502 · 3101

Agora, podemos subtrair 3S de S:

2S = 3S − S

= 502 · 3101 + (497 − 502) · 3100 + . . . + (7 − 12)32 + (2 − 7) · 3 − 2


Note que, com exceção de 502 · 3101 e 2, todos os outros termos
podem ser agrupados. Veja que em cada um desses termos
teremos o fator −5, já que 497 − 502 = 7 − 12 = 2 − 7 = −5 e
esta relação é válida para todos os termos. Portanto, podemos
reescrever 2S como:

2S = (502 · 3101 − 2) − 5(3 + 32 + 33 + 34 + . . . 3100 ).


110 POTI/TOPMAT

Observe que cada elemento da soma 3 + 32 + 33 + 34 + . . . 3100


é elemento da PG de razão 3:

(3, 32 , 33 , 34 , . . . 3100 ).

Como a soma dos termos de uma PG é expressa por:

qn − 1
Sn = a1 · ,
q−1
podemos reescrever a soma acima como:

(3100 − 1)
3 + 32 + 33 + 34 + . . . + 3100 = 3 · .
2
Portanto, podemos reescrever 2S como:

5
2S = (502 · 3101 − 2) − (3101 − 3)
2
1
=⇒ S = (999 · 3101 + 11).
4
Logo, a soma S é expressa por:

1
S = (999 · 3101 + 11).
4

Aula 6 - Sequências II 111

Exercícios Propostos

1. Encontre o termo n tal que a P. G. com a1 = 3 e razão 2 e


an = 96.
√ √ √
2. Mostre que as triplas ( 2, 3, 5) e (2, 3, 5) não formam
uma P. G.

3. Um bem, cujo valor hoje é de R$ 16000,00, desvaloriza-se


de tal forma que seu valor daqui a 3 anos será de R$ 2000,00.
Supondo que a cada ano devemos multiplicar por uma mesma
quantidade, qual será o valor do bem daqui a 4 anos?

4. (EUA) O 5◦ e o 8◦ termos de uma progressão geométrica de


números reais são 7! e 8!, respectivamente. Qual é o 1◦ termo?

5. Seja (an ) uma progressão geométrica tal que a5 − a3 = 36 e


a4 − a2 = 18, encontre a3 .

6. Uma pessoa, começando com R$ 64,00, faz seis apostas


consecutivas, em cada uma das quais arrisca perder ou ganhar
a metade do que possui na ocasião. Se ela ganha três e perde
três dessas apostas, é possível que no final das apostas ela
tenha mais do que R$ 64,00?

7. Usando quadrados de lado 1 formam-se as figuras abaixo


em cada etapa, seguindo o padrão do desenho. Determine a
última etapa na qual se utilizam menos de 2018 quadrados.
112 POTI/TOPMAT

8. Calcule, em função de n, o nº termo da sequência (ak )k≥1


dada por a1 = 2 e ak+1 = 2ak − 1 para todo inteiro k ≥ 1

9. Sejam a, b e c números reais não-nulos, com a ̸= c, tais que


a a2 + b2
= 2 . Prove que a, b e c formam uma P. G.
c c + b2
10. Sabendo-se que em uma P.G. a2 + a4 = 60 e a3 + a5 = 180,
calcule a6 .

11. (OPRM 2017) Denis pegou uma caixa de palitos,todos com


o mesmo comprimento, e construiu os hexágonos de lado 1 e
de lado 2 da figura ao abaixo. a) De quantos palitos Denis

Figura 6.2

precisaria para construir o hexágono de lado 3?


b) De quantos palitos Denis precisaria para construir o hexá-
gono de lado 9?
c) De quantos palitos Denis precisaria para construir um he-
xágono de lado n? (dê a resposta em função de n)?

12. A soma de três números em progressão geométrica é 19.


Subtaindo-se 1 ao primeiro, eles passam a formar uma pro-
gressão aritmética. Calcule-os.

13. Calcule a soma

1 3 5 99
S= + 2 + 3 + . . . + 50 .
2 2 2 2
Aula 6 - Sequências II 113

14. Considere a sequência (an ) que satisfaz a1 = 1 e ak+1 =


3ak − 1, para cada k ≥ 1.
Faça os seguintes itens:
1
a)Se bn = an − , prove que bk+1 = 3bk para k ≥ 1.
2
b)Escreva os 5 primeiros termos de (bn )n≥1 e obtenha, em
seguida, a fórmula posicional de bn
c)Obtenha uma fórmula posicional para an

15. (OCM) Determine a soma dos n primeiros termos da sequên-


cia:  
1, 1 + 2, 1 + 2 + 22 , 1 + 2 + 22 + 23 , . . . .

16. Mostre que se (a, b, c) é parte de uma P. G. não constante,


então para r ̸= 0 temos que (a + r, b + r, c + r) não é uma P.
G.

17. (EUA) Suponha que x, y, z estejam em P.G. de razão q e


x ̸= y. Se x, 2y, 3z estão em P.A., determine o valor de q.

18. (OBMEP - BQ 2016) A sequência de Fibonacci começa com


F0 = 0, F1 = 1 e, a partir do segundo termo, cada novo termo
é obtido somando-se os dois anteriores, ou seja,

Fn+2 = Fn+1 + Fn para n ≥ 0

Assim, os termos da sequência de Fibonacci são:

F0 F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7 F8 F9 F1 0 F1 1 F1 2

0 1 1 2 3 5 8 13 21 34 55 89 144

a) verifique que Fn+3 < 5Fn para todo n ≥ 3


b) Seja n um inteiro positivo. Mostre que entre potências
consecutivas de n existe no máximo n números de Fibonacci.
114 POTI/TOPMAT

19. Determine três números em progressão geométrica, conhe-


cendo sua soma 19 e a soma de seus quadrados 133.

20. (EUA) Numa P.G. de 2n termos, a soma dos termos de


ordem par é P e a soma dos termos de ordem ímpar é I.
Calcule o 1◦ termo e a razão.
Aula 7

Indução

Você já deve ter percebido que na Matemática usamos diversas


fórmulas, proposições e teoremas. Porém, você já se perguntou como
sabemos se, de fato, uma fórmula funcionará para qualquer número?
Bom, os números são infinitos. Logo, é impossível testarmos
uma proposição para cada um deles. Por isso, usamos as Demons-
trações Matemáticas para prová-las. Existem várias maneiras de
demonstrar que uma proposição é válida. Uma delas é utilizando
o Método de Indução que é o tópico de estudo desta aula. Este
método é muito importante, e certamente você irá usá-lo ao longo
de seus estudos nas mais diversas áreas da Matemática.

7.1 Método Indutivo


A ideia por trás do método indutivo é muito similar a ideia de
uma série de dominós caindo. Ao derrubar o primeiro dominó, que
quando cai, derruba o segundo, que quando cai, derruba o terceiro,
e assim sucessivamente até o último dominó. No contexto da indu-
ção, cada dominó representa uma condição que deve ser verificada.
Assim, conseguimos provar que uma proposição vale para todos os
números naturais.
Para compreender como o método funciona, considere um con-
junto A contido nos naturais (A ⊂ N), tal que 1 ∈ A. Além disso,

115
116 POTI/TOPMAT

considere que esse conjunto possui a seguinte propriedade: se r ∈ A,


então r + 1 ∈ A. Ou seja, se 1 está em A, então 2 = (1 + 1) também
está em A. Do mesmo modo, 3 = (2 + 1) também está em A, e
assim sucessivamente. Portanto, podemos concluir que A = N. O
raciocínio acima está formalizado no axioma abaixo.
Axioma. Seja A ⊂ N um conjunto satisfazendo as seguintes condi-
ções:

1. 1 ∈ A.

2. Se r ∈ A, então, r + 1 ∈ A.

Então, A = N.
Este axioma é conhecido como primeiro princípio da indu-
ção, e vamos utilizá-lo para demonstrar que uma proposição é válida
para todos os números naturais.
Vamos definir agora um outro conjunto, I, similar a A:

I = {r ∈ N; P (r) é verdadeira},

sendo P (r) uma proposição sobre o número natural r. Veja que se


P (r) for verdadeira para todo valor de r ∈ N, então I = N. Para
provar que P (r) é válida para todos os naturais, podemos utilizar o
mesmo raciocínio do axioma anterior. Nesse caso, nosso conjunto I
deve ter as seguintes propriedades:

• 1 ∈ I.

• Se r ∈ I, então, r + 1 ∈ I.

Assim, como I = {r ∈ N; P (r) é verdadeira}, basta mostrar que:

1. P (1) é verdadeira.

2. Se P (r) é verdadeira, então P (r + 1) é verdadeira.

A partir deste raciocínio podemos determinar um passo a passo


para aplicar o método indutivo.
Aula 7 - Indução 117

Método Indutivo

Seja P (n) uma proposição sobre n. Então, temos P (n) verdadeira


para todo n ∈ N, se e só se as duas condições a seguir forem satis-
feitas:

1. Base de Indução: P (1) é verdadeira.

2. Passo Indutivo: sempre que P (r) é verdadeira, segue que


P (r + 1) é verdadeira, sendo r ∈ N. Assumir que P (r) é
verdadeira é a hipótese de indução.

Utilizando a nossa analogia da indução representando a queda


de uma série de dominós, o primeiro passo (base da indução)
representa o primeiro dominó que cai e leva os outros a queda. Já,
o segundo passo, o passo indutivo, vai nos garantir que nessa
sequência de dominós, não haverão "buracos" na cadeia que impeçam
que um dominó derrube o seu sucessor.
Vamos ver um exemplo para entender melhor como aplicar este
método.
Exemplo 7.1. Vamos relembrar uma fórmula que vimos na Aula
5, de Progressões Aritméticas. Nesta aula, vimos que podemos ex-
pressar a soma dos números naturais como:

n(n + 1)
1 + 2 + 3 + ... + n = .
2
Vamos demonstrar esta fórmula utilizando o princípio da indução.
Solução. Seja P (n) = n(n+1)
2 , a propriedade que queremos provar
ser válida para todos os naturais. Então a base da indução é:

1(1 + 1)
P (1) = =1
2
Logo, P (1) é verdadeira. Vamos agora provar o passo indutivo.
Ele consiste em assumir que P (r) é verdadeira, seja r qualquer valor
natural, e a partir disso provar que P (r + 1) é verdadeira. Neste
118 POTI/TOPMAT

caso, P (r) é:
r(r + 1)
1 + 2 + 3 + ... + r = ,
2
e P (r + 1) é:

(r + 1)(r + 2)
1 + 2 + 3 + ... + r + r + 1 = .
2
Logo, para provarmos essa fórmula precisamos a partir de P (r) che-
gar em P (r + 1), fazendo o uso de manipulações algébricas. Como
podemos fazer isso? Neste caso, como se trata de uma igualdade,
podemos somar r + 1 dos dois lados de P (r) sem que a igualdade se
altere:
r(r + 1)
1 + 2 + 3 + ... + r + r + 1 = + r + 1.
2
Assim, do lado direito da igualdade, temos:

r(r + 1) r(r + 1) + 2(r + 1)


+ (r + 1) = .
2 2
Colocando (r + 1) em evidência:

r(r + 1) + 2(r + 1) (r + 1)(r + 2)


= .
2 2
Logo,
(r + 1)(r + 2)
1 + 2 + 3 + ... + r + r + 1 = .
2
Portanto, provamos que P (r + 1) é válida a partir de P (r). Dessa
forma, P (n) é válida para todo n ∈ N, já que cumprimos as duas
condições do método indutivo. □
Aula 7 - Indução 119

Exemplo 7.2. Prove, por indução, a seguinte proposição:


A soma dos n primeiros números ímpares é igual a n2 .
Solução. Note que podemos escrever o n-ésimo número ímpar, de
maneira algébrica, como 2n − 1. Por exemplo, o 3o numero ímpar é
2 · 3 − 1 = 6 − 1 = 5. Escrevemos então:

P (n) : 1 + 3 + 5 + ... + (2n − 1) = n2 .

Começamos pelo primeiro passo, verificando se P(1) é verdadeira


(base da indução). De fato, a igualdade:

(2 · 1 − 1) = 12 ,

é verdadeira, pois:

(2 · 1 − 1) = 12 =⇒ 2 − 1 = 1 =⇒ 1 = 1.

Agora verificaremos o passo indutivo. Se a proposição P (r)


for válida para algum r, então ela será valida para o seu sucessor.
Ou seja, P (r + 1) também será válida. Fazendo isso de maneira
algébrica, sairemos de:

P (r) : 1 + 3 + 5 + ... + (2r − 1) = r2 ,

e queremos chegar em:

P (r + 1) : 1 + 3 + 5 + ... + (2r − 1) + (2(r + 1) − 1) = (r + 1)2 .

Como podemos fazer isso? Note que, se somarmos (2(r + 1) − 1) nos


dois lados de P (r), a igualdade não se altera, então:

1 + 3 + 5 + ... + (2r − 1) + (2(r + 1) − 1) = r2 + (2(r + 1) − 1)

=⇒ 1 + 3 + 5 + ... + (2r − 1) + (2(r + 1) − 1) = r2 + (2r + 2 − 1)


=⇒ 1 + 3 + 5 + ... + (2r − 1) + (2(r + 1) − 1) = r2 + 2r + 1.
Identificando o produto notável,

=⇒ 1 + 3 + 5 + ... + (2r − 1) + (2(r + 1) − 1) = (r + 1)2 ,


120 POTI/TOPMAT

como queriamos mostrar. Portanto, provamos que P (r + 1) é válida


a partir de P (r). Logo, P (n) é válida para todo n ∈ N, já que
cumprimos as duas condições do princípio de indução.

Na aplicação do método indutivo é muito importante cumprir as
duas condições estabelecidas. Os exemplos abaixo mostram como o
descumprimento de qualquer uma das duas condições leva a conclu-
sões equivocadas.
Exemplo 7.3. Prove por indução a igualdade P (n) = 1 + 3 + . . . +
(2n − 1) = n2 + 1.
Solução. Supondo que P (r) é verdadeira, para algum r, temos:

P (r) = 1 + 3 + . . . + (2r − 1) = r2 + 1.

Somando 2(r + 1) − 1 em ambos os lados:

1 + 3 + 5 + . . . + 2r − 1 + 2(r + 1) − 1 = r2 + 1 + 2r + 1 = (r + 1)2 + 1.

Portanto, a implicação P (r) =⇒ P (r + 1) é verdadeira para todo


r ∈ N. Porém, perceba que quando aplicamos a proposição, "tira-
rando a prova", chegamos em algo falso, por exemplo:

P (3) : 1 + 3 + (2 · 3 − 1) = 32 + 1 =⇒ 1 + 3 + 5 = 9 + 1 =⇒ 9 ̸= 10

Por que isso acontece? Relendo a solução, perceba que não provamos
a base de indução. Ou seja, P (n) é falsa para todo n, já que a
base da indução é falsa:

P (1) : 1 ̸= 12 + 1 =⇒ 1 ̸= 2.

Logo, esta demonstração está errada.



No Exemplo 7.5 vocês verão que nem sempre o método indutivo
começa provando que P (1) é válida. No entanto, para que o método
funcione é necessário utilizar um valor como base da indução a partir
do qual será aplicado o método.
Aula 7 - Indução 121

Exemplo 7.4. É verdade que o número n2 +n+41 é primo qualquer


que seja o número natural n?
Solução. A resposta é não! Apesar da base da indução ser válida,
já que, assumindo P (n) = n2 + n + 41:

P (1) = 12 + 1 + 41 = 43,

e 43 é primo. Não conseguimos provar o passo indutivo. Note que


P (r) verdadeira não implica que P (r + 1) também seja verdadeira.
Isso faz sentido, visto que essa fórmula é válida apenas para os nú-
meros de 1 a 39. Veja que para n = 40:

P (40) = 402 + 40 + 41 = 1681,

Como 1681 = 412 , 1681 não é primo. Veja também que para n = 41 :

P (41) = 412 + 41 + 41 = 1763,

Como 1763 = 41 · 43, logo 1763 não é primo. Por essa razão, sempre
preste muita atenção na aplicação do passo indutivo.

Também podemos aplicar o método da indução para provar de-
sigualdades, tomando sempre os cuidados que você já conhece.
Exemplo 7.5. Quando a proposição 2n < n! é verdadeira?
Solução. Começamos testando essa desigualdade para alguns valo-
res de n:

• Se n = 1, 21 > 1! =⇒ 2 > 1;

• Se n = 2, 22 > 2! =⇒ 4 > 2;

• Se n = 3, 23 > 3! =⇒ 8 > 6;

• Se n = 4, 24 < 4! =⇒ 16 < 24;

• Se n = 5, 25 < 5! =⇒ 32 < 120.


122 POTI/TOPMAT

Note que a proposição do enunciado só é verdadeira a partir do nú-


mero 4, então faremos a base da indução tomando n = 4.
Base da indução: Tomando n = 4, temos 24 = 16 < 4! = 24. Ou
seja, a proposição é verdadeira para n = 4.
Agora, vamos passar para o passo de indução: suponha que 2r < r!
seja verdadeira para algum r natural maior que 4. Queremos mos-
trar que 2r+1 < (r + 1)! também será verdadeira.
Passo indutivo: Suponha que 2r < r! seja verdadeira. Multipli-
cando os dois lados da desigualdade por (r + 1), temos:

2r < r! =⇒ 2r · (r + 1) < r! · (r + 1) =⇒ 2r · (r + 1) < (r + 1)!.

Como r ≥ 4, sabemos que 2 < r + 1, então,

2 < r + 1 =⇒ 2r · 2 < 2r · (r + 1) =⇒ 2r+1 < 2r · (r + 1).

Com as duas desigualdades que obtemos, chegamos em

2r+1 < 2r · (r + 1) < (r + 1)! =⇒ 2r+1 < (r + 1)!,

que era o que queríamos mostrar. Assim, mostramos que a proposi-


ção do exemplo é verdadeira para qualquer n natural maior ou igual
a 4. □
Neste exemplo, vimos que, nem sempre a base será calculada
como P (1). Podemos então reescrever o método indutivo de forma
mais geral.

Método Indutivo

Seja a ∈ N e P (n) uma proposição sobre n, temos P (n) verdadeira


para todo n ≥ a, para n ∈ N, se e só se as duas condições a seguir
forem satisfeitas:
1. Base de Indução: P (a) é verdadeira.

2. Passo Indutivo: sempre que P (r) é verdadeira, segue que


P (r + 1) é verdadeira. Assumir que P (r) é verdadeira é a
hipótese de indução.
Aula 7 - Indução 123

Utilizando indução, é possível também demonstrar algumas re-


lações de divisibilidade.
Exemplo 7.6. Prove, utilizando indução, que 4n +15n−1 é divisível
por 9, para todo n ≥ 1 natural.
Solução. Vamos primeiro verificar a base da indução. Seja
P (n) = 4n + 15n − 1, então:
P (1) = 41 + 15 · 1 − 1 = 18,
que é divisível por 9, logo a base da indução é válida.
Vamos agora provar o passo indutivo. Assumindo que
P (r) = 4r + 15r − 1 = 9a
é verdadeiro (utilizamos 9a para representar um múltiplo qualquer
de 9), queremos mostrar que:
P (r + 1) = 4r+1 + 15(r + 1) − 1
é divisível por 9. Para fazer isso, vamos primeiro multiplicar ambos
os lados de P (r) por 4, obtendo:
4 · 4r + 4 · 15r − 4 · 1 = 4 · 9a
=⇒ 4r+1 + 15r + 3 · 15r − 4 = 4 · 9a
=⇒ 4r+1 + 15r − 4 = 4 · 9a − 3 · 15r
Somando 18 em ambos os lados:
=⇒ 4r+1 + 15r − 4 + 18 = 4 · 9a − 3 · 15r + 18
=⇒ 4r+1 + 15r + 14 = 9(4a − 5r + 2)
Podemos reescrever 14 como 15 − 1, assim:
=⇒ 4r+1 + 15r + 15 − 1 = 9(4a − 5r + 2)
=⇒ 4r+1 + 15(r + 1) − 1 = 9(4a − 5r + 2)
Como 9(4a − 5r + 2) é divisível por 9, provamos que P (r + 1) é
verdadeiro se P (r) é válido. Logo, como provamos o passo indutivo,
concluímos, por indução, que 4r + 15r − 1 é divisível por 9, para
todo n ≥ 1 natural. □
124 POTI/TOPMAT

Além disso, podemos utilizar indução para provar algumas fór-


mulas vistas em combinatória.
Exemplo 7.7. Prove que existem n! = n · (n − 1) · · · · · 2 · 1 maneiras
distintas de se ordenar um conjunto com n elementos.
Solução. Aqui também poderíamos provar usando permutações,
conteúdo de combinatória que vocês viram no capitulo 3 da apostila.
Utilizando o método indutivo, primeiro iremos garantir a base da
indução.
Base da indução: vamos testar essa proposição para os pri-
meiros valores de n:
• Um conjunto de 1 elemento, por exemplo a, pode ser ordenado
de apenas uma maneira, 1! = 1: (a)
• Um conjunto de 2 elementos, por exemplo a, b, pode ser orde-
nado de 2 maneiras diferentes, 2! = 2: (a, b) ou (b, a).
Como a base é satisfeita, vamos partir para o passo indutivo.
Passo indutivo: supondo que um conjunto de r elementos
possa ser organizado de r! maneiras diferentes (hipótese de indu-
ção), queremos mostrar que um conjunto de r + 1 elementos será
organizado de (r + 1)!.
Considere esse conjunto de r elementos, se adicionarmos um
"novo" elemento A, teremos um conjunto de r + 1 elementos. Note
que se A estiver na primeira posição, podemos trocar de lugar os
outros elementos r! vezes, pela hipótese de indução. Se A estiver
na segunda posição, também. Ou seja, para cada posição diferente
deste elemento A podemos organizar o conjunto de r! maneiras di-
ferentes.
Note que esse elemento A pode ter (r + 1) posições dentro do
nosso conjunto de (r + 1) elementos (1ž, 2ž,3ž, 4ž,...,rž,(r + 1)ž).
Vamos então multiplicar o número de posições pelas diferentes po-
siibilidades em cada uma delas.
r! · (r + 1) =⇒ 1 · 2 · 3 · ... · (r − 1) · r · (r + 1) =⇒ (r + 1)!
Mostramos então que um conjunto de r + 1 elementos pode ser
ordenado de (r + 1)! maneiras, provando o enunciado proposto. □
Aula 7 - Indução 125

Problemas Resolvidos

1. Suponha um campeonato de futebol com n times onde todos


jogam contra todos uma única vez. Prove, por indução, que o
n(n − 1)
número total de jogos é .
2
Solução. Podemos resolver esse exercicio usando alguns con-
ceitos de combinatória, vistos no capítulo 4. Mas, podemos
também usar a indução para provar este resultado.
Começando pela base da indução, o número mínimo de times
necessários para que um jogo aconteça é 2. Tomando n = 2,

n(n − 1) 2(2 − 1) 2·1


= = = 1.
2 2 2
De fato com apenas 1 jogo esses 2 times já teriam jogado entre
si. Fica satisfeita a base de indução. Vamos agora ao passo
indutivo.
r(r − 1)
Suponha que r times já jogaram entre si em jogos.
2
Se, de última hora fosse acrescentado um time a esse campe-
onato, onde todos os outros r times já tivessem jogado entre
si, teríamos ainda mais r jogos, pois esse novo time teria que
jogar com cada um de seus adversários. Para saber o total de
r(r − 1)
!
jogos, podemos somar os jogos que já aconteceram
2
com os jogos que ainda vão acontecer (r):

r(r − 1) r(r − 1) 2r (r − 1) · r + 2 · r
+r = + =
2 2 2 2

(r − 1 + 2) · r (r + 1) · r (r + 1) · ((r + 1) − 1)
= = =
2 2 2
Note que chegamos na mesma proposição do enunciado, agora
para k + 1. Assim, demonstramos por indução que a fórmula
é válida. □
126 POTI/TOPMAT

2. (OBM) Sejam (xk )k≥1 e (yk )k≥1 sequências de números reais


tais que, para todo n natural, temos xn+1 = x3n −3xn e yn+1 =
yn3 − 3yn . Se x21 = y1 + 2, mostre que x2n = yn + 2 para todo n
natural.
Solução. O enunciado já nos garante a base da indução, já
que: x21 = y1 + 2. Resta agora provarmos o passo indutivo.
Segundo o enunciado xn+1 = x3n −3xn , assim podemos escrever
x2k+1 como:

x2k+1 = (x3k − 3xk )2 = x6k − 6x4k + 9x2k .

Utilizando a hipótese de indução x2k = yk + 2, temos:

= (yk + 2)3 − 6(yk + 2)2 + 9(yk + 2)

= yk3 − 3yk + 2 = yk+1 + 2

Logo, provamos que x2k+1 = yk+1 + 2 é verdadeiro a partir de


x2k = yk + 2. Assim provamos que x2n = yn + 2 é válido para
todo n natural. □

3. (OBM) Para cada inteiro n > 2, mostre que existem n naturais


dois a dois distintos tais que a soma de seus inversos é igual a
1.
Solução. Faremos indução sobre n ≥ 3. Para verificar o caso
inicial, basta notar que:

1 1 1
+ + = 1.
2 3 6
Suponhamos, por hipótese de indução, que para um certo r ≥
3 natural existam naturais x1 < x2 < . . . < xr , tais que:

1 1 1
+ + ... + = 1.
x1 x2 xr

Precisamos agora provar, a partir da relação acima, que o


mesmo é válido para r + 1 termos. Multiplicando ambos os
Aula 7 - Indução 127

1
lados da relação acima por encontramos:
2
1 1 1 1
+ + ... + = .
2x1 2x2 2xr 2

Somando 1
2 em ambos os lados:

1 1 1 1
+ + + ... + = 1.
2 2x1 2x2 2xr
Agora, desde que 2 < 2x1 < 2x2 < . . . < 2xr , já que x1 > 1,
obtivemos k + 1 naturais dois a dois distintos com soma dos
inversos iguais a 1, completando assim o passo indutivo. □
4. (Rússia) Seja n um inteiro positivo ímpar. Em um campo
aberto, n crianças estão de tal modo posicionadas que, para
cada uma delas, as distâncias às outras n−1 crianças são todas
distintas. Cada criança tem uma pistola d’água e, ao som de
um apito, atira na criança mais próxima de si. Mostre que
uma das crianças permanecerá enxuta.
Solução. Consideremos, primeiramente, o caso n = 3. Sejam
A, B e C as crianças suponha, sem perda de generalidade, que
AB < BC < CA (Sendo AB a distância entre a criança A
e B). Nesse caso, A atira em B e B em A, de modo que C
fica enxuta. Suponha agora, por hipótese de indução, que com
n = 2r − 1 crianças, onde r > 1 é inteiro, ao menos uma delas
sempre fica enxuta. Consideremos 2r + 1 crianças, posiciona-
das de modo a satisfazer as condições do enunciado. Como as
distâncias entre os pares de crianças são duas a duas distintas,
existem duas crianças A e B tais que a distância de A a B é
a menor de todas. Assim, A atira em B e vice-versa. Descar-
tando as crianças A e B, restam 2r − 1 crianças satisfazendo
as condições do enunciado. Há agora duas possibilidades:
• Uma delas atira em A ou B: nesse caso, no máximo 2r−2
tiros foram disparados em direção a alguma das 2r − 1
crianças e, assim, ao menos uma delas fica enxuta.
128 POTI/TOPMAT

• Nenhuma das 2r − 1 crianças restantes atira em A ou


B: pela hipótese de indução, ao menos uma delas fica
enxuta.

Exercícios Propostos

1. Prove, utilizando indução, que para qualquer natural n ≥ 1


temos:
n(n + 1)(2n + 1)
12 + 22 + 32 + ... + n2 = .
6

2. Prove, utilizando indução, que para qualquer natural n ≥ 1


temos:

13 + 23 + 33 + ... + n3 = (1 + 2 + 3 + ... + n)2 .

3. Prove, utilizando indução, que para qualquer natural n ≥ 1


temos: !2
n(n + 1)
1 + 2 + 3 + ... + n =
3 3 3 3
2

4. Prove, utilizando indução, que para qualquer natural n ≥ 1


temos:
n(n − 1)(n + 1)
1 · 2 + 2 · 3 + 3 · 4 + ... + (n − 1) · n = .
3

5. Prove, utilizando indução, que para qualquer natural n ≥ 1


temos:
12 + 22 + 32 + ... + n2 ≤ n3 .

6. Prove, utilizando indução, que para qualquer natural n ≥ 1


temos:
1 1 1
+ 2 + ... + n ≥ 1
2 2 2
Aula 7 - Indução 129

7. Prove, utilizando indução, que para qualquer natural n ≥ 1


temos que n3 − n é divisível por 6.

8. Prove, utilizando indução, que para qualquer natural n ≥ 1


temos que 2n+1 + 32n−1 é divisível por 7.

9. Prove, utilizando indução, que para qualquer natural n ≥ 1


temos que 2n > n.

10. 10n + 1 seja divisivel por 3 para algum n

11. Mostre que

1 1 1 1 1 1 1 1
1− + − +...+ − = + +...+ .
2 3 4 2n − 1 2n n + 1 n + 2 2n

12. Mostre que

1 1 1 n
+ + ... + = .
1·2 2·3 (n − 1)n n − 1

13. Prove que para cada n ≥ 8, n centavos podem ser pagos


utilizando moedas de 3 e 5 centavos (imaginando que existam
moedas de 3 centavos).

14. (França.) Seja (ak )k≥1 uma sequência de reais positivos tal
que a1 = 1 e

a31 + a32 + . . . + a3n = (a1 + a2 + . . . + an )2

para todo n ≥ 1. Prove que an = n para todo n ≥ 1.

15. Demonstre, utilizando indução, que se x + 1 ≥ 0 então


(1 + x)n ≥ 1 + nx.

16. Seja (xn )n≥0 uma sequência de reais não nulos satisfazendo,
para todo n ∈ N, a recorrência x2n − xn−1 xn+1 = 1. Prove que
existe um número real α tal que xn+1 = αxn − xn−1 para cada
n ∈ N.
130 POTI/TOPMAT

17. Mostre que a sequencia de Fibonacci satisfaz às seguintes


identidades:
(a)a1 + a2 + ... + an = an+2 − 1
(b)a2 + a4 + ... + a2n = a2n+1 − 1
(c)a1 + a3 + ... + a2n−1 = a2n

18. Prove, por indução, a seguinte proposição: Dado um seg-


mento unitário, para todo natural n ≥ 2 pode-se construir
com apenas regua e compasso um segmento de comprimento

n. (Sugestão: utilize o teorema de Pitágoras.)

19. (Torre de Hanói) O brinquedo abaixo tem três pinos presos


em uma base com n anéis em um dos pinos. Os anéis estão
arrumados por tamanho, com o maior em baixo de todos. É
permitido mover o anel de cima (o menor) em qualquer pino
para outro pino, mas você não pode colocar um anel maior em
cima de um menor. Sabendo disso, prove que:
É possível fazer isso com 2n − 1 movimentos;
Não é possível fazer isto com menos movimentos.
1
20. Considere sequência definida como x1 = 1 e xn+1 = ·(xn +
2
2 3
) para n ≥ 1. Mostre que 1 ≤ xn ≤ para todo n ≥ 1.
xn 2
Aula 8

Binômio de Newton

Na Aula 2 de Álgebra estudamos os produtos notáveis, que são


polinômios recorrentes e utéis na resolução de problemas e simpli-
ficação de expressões. Dentre eles, vimos que podemos expressar o
quadrado de uma soma como: (a + b)2 = a2 + 2ab + b2 e o cubo de
uma soma como: (a + b)3 = a3 + 3a2 b + 3ab2 + b3 .
Porém, e se quiséssemos desenvolver (a + b)4 ? Como poderíamos
proceder? Como não vimos nenhuma relação para esse caso, só nos
restaria desenvolver: (a + b)4 = (a + b)2 · (a + b)2 .
No entanto, existe uma forma mais elegante e prática de fazer
isso: utilizando a técnica do Binômio de Newton. Com ele, conse-
guiremos desenvolver qualquer expressão da forma (a + b)n . Porém,
antes de analisarmos essa ferramenta vamos conhecer/relembrar al-
guns símbolos matemáticos.

8.1 Somatórios e Produtórios


O primeiro símbolo que vamos ver é o (que se lê sigma).
P

Este símbolo é utilizado para representar um somatório, que é,


basicamente, uma série de somas.

131
132 POTI/TOPMAT

Exemplo 8.1. Podemos representar a soma dos números de 1 a 10,


utilizando essa notação, como:
10
j = 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + 7 + 8 + 9 + 10.
X

j=1

O valor dentro do somatório, no caso do exemplo acima j, repre-


senta o valor que queremos somar repetidas vezes. O valor abaixo
do somatório indica o índice inicial da soma e o valor acima do
somatório indica o índice final.
Podemos, por exemplo, utilizar essa notação para representar a
soma dos termos de uma sequência.
Exemplo 8.2. Seja (an )n≥1 uma sequência podemos representar a
soma de seus 15 primeiros termos como:
15
aj = a1 + a2 + a3 + . . . + a13 + a14 + a15 .
X

j=1

A notação de somatório também é útil na representação de so-


mas telescópicas. Estas são somas em que os termos do meio se
cancelam. Como na soma abaixo:

(a2 − a1 ) + (a3 − a2 ) + (a4 − a3 ) + . . . + (an−1 − an−2 ) + (an − an−1 )

= −a1 + a2 − a2 + a3 − a3 + a4 − . . . + an−2 − an−2 + an−1 − an−1 + an

= −a1 +
a2 2 +
−a a3 3 +
−a − . . .+(
a4
 an−2 n−2 +(
((−(a(
(
n−1 +an
((−(a(
an−1 (

= −a1 + an = an − a1 .
Assim, podemos representar essa soma pelo seguinte somátorio:
n−1
(aj+1 − aj ) = an − a1 .
X

j=1

A fórmula acima é válida para qualquer soma telescópica.


Aula 8 - Binômio de Newton 133

Exemplo 8.3. Calcule a soma abaixo:


1 1 1 1 1
! ! !
1− + − + ... − .
2 2 3 99 100
Solução. Podemos representar essa soma pelo seguinte somatório:
99
1 1
!
X
− .
j=1
n n+1

Veja que se trata de uma soma telescópica, logo:


99
1 1 1 99
!
=− +1=
X
− .
j=1
n n+1 100 100

8.2 Fórmula do Binômio de Newton


Antes de trabalharmos com o Binômio de Newton precisamos
relembrar o conceito de número binomial, também conhecido como
“Combinação de n elementos tomados k a k”, visto anteriormente
em Combinatória.

Definição 8.1. Dados dois inteiros n e k, com 0 ≤ k ≤ n, definimos


o número binomial nk por:


!
n n!
= .
k k!(n − k)!

Exemplo 8.4.
4 4! 4!
!
= = = 4.
1 1!(4 − 1)! 1!3!
Utilizando a definição de número binomial conseguimos estabe-
lecer a seguinte relação entre os números binomiais:
134 POTI/TOPMAT

(Relação de Stiefel) Se n e k são inteiros tais que 0 ≤ k < n,


então:
n−1 n−1
! ! !
n
= + .
k k k−1

Demonstração. Basta desenvolvermos o lado direito da igualdade:


n−1 n−1 (n − 1)! (n − 1)!
! !
+ = +
k k−1 k!(n − 1 − k)! (k − 1)!(n − k)!

(n − 1)! 1 1
!
= +
(k − 1)!(n − 1 − k)! k n − k
(n − 1)! n
= ·
(k − 1)!(n − 1 − k)! k(n − k)
!
n! n
= = .
k!(n − k)! k

Esse resultado será muito útil quando estudarmos o triângulo de
Pascal.

Agora que definimos o que é um número binomial, vamos traba-


lhar com o Binômio de Newton.

Teorema 8.1. (Binômio de Newton) Seja n ∈ N. Tem-se que:

(a + b)n = n n
+ n n−1
b + n2 an−2 b2 +... + n  n−1
+ n n

0 a 1 a n−1 ab n b

=⇒ (a + b)n = an + n n−1
b + n2 an−2 b2 +...+ n  n−1
+ bn .

1 a n−1 ab

Utilizando a notação de somatório:


n
!
n
(a + b) =
X
n
an−j bj .
j=0
j
Aula 8 - Binômio de Newton 135

Nesse material não será abordada a demonstração dessa fórmula.


No entanto, ela pode ser demonstrada utilizando indução, tema da
aula anterior.
A lógica por trás do Binômio de Newton também pode ser ob-
servada utilizando conceitos de combinatória. Basicamente, a ideia
central consiste em realizar n multiplicações utilizando os termos
a e b. Por exemplo, para (a + b)2 , n = 2, logo, temos as seguin-
tes possibilidades de realizar duas multiplicações utilizando a e b:
a2 = a · a, ab, ba e b2 = b · b. Como ab = ba, a quantidade de
vezes que cada um desses termos aparece é: 1 para o a2 , 2 para o
ab e 1 para o b2 . Assim, concluimos que (a + b)2 = a2 + 2ab + b2 .
Generalizando esse raciocínio chegamos na fórmula do binômio de
Newton. Com ela é muito mais simples calcular expressões da forma
(x + y)n .
Exemplo 8.5. Desenvolva a expressão (a + b)4 usando o Teorema
8.1.
Solução.

4 3 4 2 2 4
! ! !
(a + b)4 = a4 + a b+ a b + ab3 + b4
1 2 3

= a4 + 4a3 b + 6a2 b2 + 4ab3 + b4 .


Exemplo 8.6. Desenvolva a expressão (x − y)5 .
Solução. Note que (x − y)5 = (x + (−y))5 . Assim, aplicando a
fórmula do binômio de Newton:

5 4 5 3 5 2 5
! ! ! !
=x +
5
x (−y)+ x (−y)2 + x (−y)3 + x(−y)4 +(−y)5
1 2 3 4

= x5 − 5x4 y + 10x3 y 2 − 10x2 y 3 + 5xy 4 − y 5 .


Exemplo 8.7. Desenvolva a expressão (2x + 3y + 2z)3 .
136 POTI/TOPMAT

Solução. Note que (2x + 3y + 2z)3 = (2x + (3y + 2z))3 . Logo,


aplicando a fórmula do binômio de Newton:

3 3
! !
(2x+(3y+2z)) = (2x) +
3
(2x)2 ·(3y+2z)+
3
2x·(3y+2z)2 +(3y+2z)3
1 2

= 8x3 + 3 · 4 · x2 (3y + 2z) + 3 · 2x(3y + 2z)2 + (3x + 2y)3 .


Podemos calcular (3y + 2z)2 e (3y + 2z)3 utilizando a fórmula
do binômio de Newton:
2
!
(3y + 2z) = (3y) +
2
· 3y · 2z + (2z)2 = 9y 2 + 12yz + 4z 2 .
2
1

3 3
! !
(3y + 2z)3 = (3y)3 + (3y)2 · 2z + · (3y) · (2z)2 + (2z)3
1 2
= 27y 3 + 54y 2 z + 36yz 2 + 8z 3 .
Sendo assim:

(2x + (3y + 2z))3 = 8x3 + 36x2 y + 24x2 z + 6x(9y 2 + 12yz + 4z 2 )

+(27y 3 + 54y 2 z + 36yz 2 + 8z 3 )


= 8x3 +36x2 y+24x2 z+54xy 2 +72xyz+24xz 2 +27y 3 +54y 2 z+36yz 2 +8z 3 .

Sobre a soma dos coeficientes de um binômio, assim como em
um polinômio qualquer, basta tomarmos 1 como valor das incógni-
tas.
Por exemplo, para p(x) : 8x5 + x3 + 7x2 + 6x + 2, somando os
coeficientes, 8 + 1 + 7 + 6 + 2 = 24, temos o mesmo resultado que
fazendo p(1) : 8 · 15 + 13 + 7 · 12 + 6 · 1 + 2 = 24.
Podemos fazer o mesmo com binômios. Por exemplo, a soma dos
coeficientes de (4x + y)7 é:

(4x + y)7 =⇒ (4 · 1 + 1)7 = 57 .

Acerca da fórmula do binômio de Newton é muito importante


prestar atenção nos seguintes pontos:
Aula 8 - Binômio de Newton 137

• Observe que em cada termo do desenvolvimento do binômio


genérico (a+b)n a soma das potências de a e b sempre equivale
a n.

• Considerando ainda (a + b)n , a potência do segundo termo,


nesse caso b, nos fornece uma indicação de qual é o coeficiente
associado ao termo. Se o valor da potência for x, então o
coeficiente será dado por nx . Por exemplo, se tivermos (a+b)3
o termo ab2 terá coeficiente 32 = 3. Caso não tenha ficado


claro, desenvolva o binômio e veja que chegará nesse valor para


o coeficiente de ab2 .

• O termo geral do binômio (a + b)n é expresso por:


!
n n−j j
Tj = a b .
j

Saber trabalhar com o termo geral é muito útil em exercícios


que pedem para encontrar o coeficiente de algum termo espe-
cífico.

8.3 Triângulo de Pascal


O Triângulo de Pascal é uma tabela formada com os números
binomiais. Ele facilita o cálculo dos coeficientes de um Binômio de
Newton, pois cada linha n do triângulo possui os coeficientes de
(x + y)n .

Veja a representação do Triângulo de Pascal na próxima página.


138 POTI/TOPMAT

Triângulo de Pascal


0
0
1 1
0 1
2 2 2
0 1 2
3 3 3 3
0 1 2 3
4 4 4 4 4
0 1 2 3 4
5 5 5 5 5 5
0 1 2 3 4 5
6 6 6 6 6 6 6
0 1 2 3 4 5 6
7 7 7 7 7 7 7 7
0 1 2 3 4 5 6 7
.. .. .. .. .. .. ..
. . . . . . .

Exemplo 8.8. O coeficientes de (x + y)5 são:


Solução. Aplicando a fórmula do binômio de Newton:

5 5 5 4 5 3 2 5 2 3 5 5 5
! ! ! ! ! !
(x+y)5 = x x y+ x y + x y + xy 4 + y .
0 1 2 3 4 5


Note que os coeficientes da expressão acima são os mesmos ter-
mos que aparecem na linha 5 do triângulo de Pascal.
As linhas do triângulo de Pascal possuem uma propriedade muito
interessante quanto a soma dos seus termos. A soma de cada linha
n do triângulo equivale a 2n .

Teorema 8.2. Para todo n ∈ N, temos que:


! ! !
n n n
+ + ... + = 2n .
0 1 n

Este teorema é conhecido como teorema das linhas.

Demonstração. Note que 2n = (1 + 1)n . Aplicando a fórmula do


Aula 8 - Binômio de Newton 139

Binômio de Newton no termo do lado direito:


! ! !
n n n
(1 + 1) = n
+ + ... + .
0 1 n

Calculando os valores de cada linha do triângulo de Pascal con-
seguimos observar algumas outras propriedades interessantes.

Triângulo de Pascal
1
1 1
1 2 1
1 3 3 1
1 4 6 4 1
1 5 10 10 5 1
1 6 15 20 15 6 1
1 7 21 35 35 21 7 1
.. .. .. .. .. ..
. . . . . .

Note que os termos das extremidades de cada linha são sempre


1. Isso ocorre, pois para qualquer n ∈ N, n0 = nn = 1. Essa pro-


priedade decorre da própria definição de número binomial. Observe


também que o triângulo é simétrico quanto aos termos a partir do
termo central. Isto é decorrente da seguinte propriedade dos núme-
ros binomiais:

Para 0 ≤ k ≤ n, temos que:


! !
n n
= .
k n−k

Demonstração. Desenvolvendo o lado direito:


!
n n! n!
= =
n−k (n − k)!(n − (n − k))! (n − k)!k!
140 POTI/TOPMAT

!
n! n
= = .
k!(n − k)! k

Pela proposição acima 1=
4 4
3 , = 5
1 =
5
4 ,
5
2 3 ,
e assim
5

suscessivamente. Além disso, pela relação de Relação de Stiefel


podemos expressar os termos de uma linha a partir dos termos an-
teriores a ela, somando os dois termos acima do novo termo. Por
exemplo, na sexta linha, veja que: 6 = 1 + 5, 15 = 5 + 10 e assim
suscessivamente.
Veja abaixo a relação entre o Binômio e o Triângulo de Pascal.
Em muitos casos, pode ser muito mais simples utilizar o triângulo
para encontrar os coeficientes ao invés de calcular os números bino-
miais.

Binômio Triângulo de Pascal


(a + b)0 = 1 1
(a + b)1 = 1 · a + 1 · b 1 1
(a + b)2 = 1 · a2 + 2 · ab + 1 · b2 1 2 1
(a+b)3 = 1·a3 +3·a2 b+3·ab2 +1·b3 1 3 3 1
.. .. .. .. .. ..
. . . . . .

Há também, uma outra forma de calcular os coeficientes de um


binômio de forma simplificada. Para aplicá-la, precisamos antes
enunciar a propriedade abaixo.

Para k e n inteiros tais que 0 ≤ k < n, vale que:


! !
n n−k n
= .
k+1 k+1 k

Demonstração. Note que:


!
n n! n!(n − k)
= =
k+1 (k + 1)!(n − k − 1)! (k + 1) · k! · (n − k) · (n − k − 1)!
Aula 8 - Binômio de Newton 141

!
n−k n! n−k n
= = .
k + 1 k!(n − k)! k + 1 k

Exemplo 8.9. Os coeficientes de são (a + b)4 e 4 4 4 4
0 , 1 , 2 , 3 4 .
4

Sabemos que 0 = 4 = 1. Utilizando a relação anterior podemos


4 4

escrever os outros termos como:


4 4 4
! !
= · = 4,
1 1 0

4 3 4 3
! !
= · = · 4 = 6,
2 2 1 2

4 2 4 2
! !
= · = · 6 = 4.
3 3 2 3
Utilizando a simetria do Triângulo de Pascal, poderíamos con-
cluir que 41 = 43 , sendo necessário apenas calcular 41 e 42 para
   

conhecer todos os termos.

Problemas Resolvidos

1. (OBM - adaptado) Faça os seguintes itens:

(a) Para cada k natural, escreva (k + 1)2 + k 2 + k 2 (k + 1)2


como um quadrado perfeito.
(b) Use o item anterior e somas telescópicas para calcular o
valor da soma:
s
99
1 1
+ + 1.
X

k=1
k 2 (k + 1)2

Solução. Para o item (a), veja que:

(k + 1)2 + k 2 + k 2 (k + 1)2 = k 2 + 2k + 1 + k 2 + k 2 (k 2 + 2k + 1)

= 2k 2 + 2k + 1 + k 4 + 2k 3 + k 2 = k 4 + 2k 3 + 3k 2 + 2k + 1
142 POTI/TOPMAT

= (k 2 + k + 1)2 .

Para o item (b), podemos simplificar o termo dentro do soma-


tório, utilizando a relação que encontramos no item (a):
s s
1 1 (k + 1)2 + k 2 + k 2 (k + 1)2
+ +1=
k 2 (k + 1)2 k 2 (k + 1)2
s
(k 2 + k + 1) k 2 + k + 1
= = .
k 2 (k + 1)2 k(k + 1)
Para utilizar a propriedade das somas telescópicas podemos
reescrever o termo que encontramos como:

k2 + k + 1 1 1 1
=1+ =1+ − .
k(k + 1) k(k + 1) k k+1

Agora, utilizando a propridedade das somas telescópicas:


s
99
1 1 99
1 1
!
+ + 1 = 1+ −
X X

k=1
k 2 (k + 1) 2
k=1
k k+1

1 10000 − 1 9999
= 99 − +1= = .
100 100 100

2. Mostre que (1, 1)n ≤ 200 (n + 19n + 200).


1 2

Solução. Como (1, 1)n = (1 + 10 ) . Assim,


1 n
utilizando a fór-
mula do binômio de newton, podemos desenvolver essa expres-
são como:
!n !n
1 1 1
! !
n n
1+ =1+ · + · 100 + . . . + .
10 1 10 2 10

Sabendo que: !
n n!
= = n,
1 1!(n − 1)!
Aula 8 - Binômio de Newton 143

n(n − 1)
!
n n!
= = .
2 2!(n − 2)! 2
Analisando apenas os três primeiros coeficientes de (1 + 10 ) :
1 n

!n
1 n n(n − 1)
1+ =1+ +
10 10 2 · 100

n n2 − n 200 + 19n + n2
=1+ + = .
10 200 200
Como analisamos apenas os três primeiros coeficientes da ex-
pressão e todos os termos são positivos já que 1 e 10
1
são posi-
tivos, podemos concluir que:

1
(1, 1)n ≤ · (n2 + 19n + 200).
200
Portanto, mostramos que a desigualdade é válida. □

3. (Baltic Way). Sejam a, b, c e d núneros reais tais que a2 + b2 +


(a + b)2 = c2 + d2 + (c + d)2 . Prove que a4 + b4 + (a + b)4 =
c4 + d4 + (c + d)4 .
Solução. Vamos desenvolver a2 + b2 + (a + b)2 = c2 + d2 +
(c + d)2 .:

a2 + b2 + a2 + 2ab + b2 = c2 + d2 + c2 + 2cd + d2

=⇒ 2a2 + 2b2 + 2ab = 2c2 + 2d2 + 2cd


=⇒ a2 + b2 + 2ab = c2 + d2 + cd.

Utilizando a fórmula do binômio de Newton encontramos:

(a + b)4 = a4 + 4a3 b + 6a2 b2 + 4ab3 + b4 ,

(c + d)4 = c4 + 4c3 d + 6c2 d2 + 4cd3 + d4 .

Assim, a4 + b4 + (a + b)4 = c4 + d4 + (c + d)4 , equivale a:

a4 +b4 +a4 +4a3 b+6a2 b2 +4ab3 +b4 = c4 +d4 +c4 +4c3 d+6c2 d2 +4cd3 +d4
144 POTI/TOPMAT

=⇒ a4 +b4 +2a3 b+3a2 b2 +2ab3 = c4 +d4 +2c3 d+3c2 d2 +2cd3 .

Veja que podemos expressar ambos os lados por:

a4 + b4 + 2a3 b + 3a2 b2 + 2ab3 = (a2 + b2 + ab)2 ,

c4 + d4 + 2c3 d + 3c2 d2 + 2cd3 = (c2 + d2 + cd)2 .

Logo, encontramos que:

(a2 + b2 + ab)2 = (c2 + d2 + cd)2

=⇒ a2 + b2 + ab = c2 + d2 + cd.
O que é verdadeiro, já que essa informação nos foi dada no
enunciado. Portanto, provamos a proposição do enunciado.

Problemas Propostos

1. Escreva as seguintes somas utilizando a notação de soma-


tório:
a) 1
1 + 1
2 + 1
3 + ... + 1
20 .
b) 12 + 22 + 32 + 42 + . . . + 1002 .
c) 2 + 4 + 6 + 8 + . . . + 20.
d) 1 + 3 + 5 + 7 + . . . + 25.

2. Desenvolva as seguintes expressões utilizando a fórmula do


binômio de Newton:
a) (a + b)6 .
b) (x − y)4 .
c) (2x + 3y)7 .
d) (5x − 4y)5 .
e) (x + y + z)3 .
Aula 8 - Binômio de Newton 145

3. Mostre que, para n e k inteiros tais que 0 ≤ k ≤ n, vale a


identidade:
n+1 n+1 n
! !
= .
k+1 k+1 k

4. Determine o coeficiente de:


a) x3 y no desenvolvimento de (x + y)4 .
b) ab4 no desenvolvimento de (a + b)5 .
c) x3 no desenvolvimento de (5x + 2)5 .

5. Determine o coeficiente independente de x no desenvolvi-


mento dos seguintes binômios:
 4
a) x + 1
x .
 6
b) x + 3
x .
!6
4
c) x2 + .
x

6. √Quantos
√ 50termos racionais aparecem no desenvolvimento de
( 2 + 5)

7. Sendo 1024 a soma dos coeficientes do desenvolvimento de


(3x + 1)m , calcule m.

8. Calcular a e b sabendo que (a + b)3 = 64 e que:

5 4 5 3 2 5 2 3 5
! ! ! !
a5 − a b+ a b − a b + ab4 − b5 = −32
1 2 3 4

9. Qual o coeficiente de x3 y 4 z 2 no desenvolvimento de (x + y +


z + w)10 ?

10. (ITA) A respeito das combinações an = 2n n e bn = n−1 ,


2n
 

temos que, para cada n = 1, 2, . . ., a diferença an − bn equivale


a que fração de an ?
146 POTI/TOPMAT

n2 −n
11. Se n−1
5 + n−1
6 = 2 , determine o valor de n.

12. Calcule o valor da soma:


100 100
X
k
.
k=0
2k

13. (OCM.) Calcule, sem efetuar diretamente os cálculos, o va-


lor da soma:
1 1 1 1 1 1
+ + + + + .
10! 3!8! 5!6! 7!4! 9!2! 11!

14. Encontre o menor n ∈ N para o qual haja algum termo



independente de x no desenvolvimento binomial de (x x +
1 n
) . Para este n, calcule o seu respectivo termo idependente.
x4
15. Encontre o termo máximo do desenvolvimento de (1 + 31 )65

16. Para cada n ∈ N, calcule o valor da soma:


! ! ! !
n n n n
+2 +3 + ... + n .
1 2 3 n

17. No desenvolvimento de x(1 + x)n , dividimos o coeficiente de


cada termo pelo expoente de x no termo. Prove que a soma
2n+1 − 1
de todos esses números é igual a .
n
18. (OBM) Seja (Fk )k≥1 a sequência de Fibonacci dada por
F1 = 1, F2 = 1 e Fk+2 = Fk+1 + Fk , para todo k ≥ 1 inteiro.
n
Fk+1
Calcule, em função de n, o valor da soma
P
Fk Fk+2 .
k=1
Referências Bibliográficas
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ticos, A Experiência Russa. Rio de Janeiro, RJ: IMPA, 2012.
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picos de Treinamento. Disponível na Internet.
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P.; FERNANDEZ, P. Análise Combinatória e Probabilidade.
Rio de Janeiro, RJ: SBM, 1991.
4. PÁRENTE, Ulisses. Módulo Sistemas de Equações do 1º Grau.
Portal da Matemática OBMEP. Disponível na Internet.
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dulo “O Plano Cartesiano e Sistemas de Equações”. Portal da
Matemática OBMEP. Disponível na Internet.
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4ª Ed. Reform. São Paulo, SP: Atual, 2003.
7. GUEZ, Priscilla. Módulo Inequações Mistas e Sistemas. Portal
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9. MUNIZ NETO, A. C. Tópicos de Matemática Elementar: Com-
binatória. 2ª Ed. Rio de Janeiro, RJ: SBM, 2016.
10. SHINE, C. Curso de Combinatória – Nível 3, Polos Olímpicos
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