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Cálculo Diferencial e

Integral de uma Variável


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Cálculo Diferencial e
Integral de uma Variável
Renan Edgard Brito de Lima
Professor do Departamento de Matemática
do Instituto Tecnológico da Aeronáutica - ITA

Os vídeos deste livro estão organizados na página do QR code acima.


À minha esposa, Mary.
À minha filha, Elisabeth.
Aos meus pais, Jorge e Fátima.
Sumário

Prefácio x
Objetivos Didáticos do Autor com o Livro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xi
Para o Professor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xii
Sobre os Capítulos do Livro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xiii
A Visão do Autor sobre as Demonstrações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xiv

I Motivação para o Cálculo 1


1 Introdução ao Cálculo 2
1.1 O que é o Cálculo? Uma Introdução via Física Mecânica . . . . . . . 2
1.2 Revisão de Função . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3 Gráficos de Funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.4 Função Composta e Translação Horizontal de Gráficos . . . . . . . . 16
1.5 Esboço de Gráficos usando Física . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2 Introdução ao Cálculo Integral 26
2.1 Arquimedes e o Cálculo de Área . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.2 A Visão da Física do Conceito de Integral . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.3 Integrais de Polinômios e o Cálculo de Área . . . . . . . . . . . . . . . 36
Apêndice do Capítulo 2 44
2.A Fermat e o Cálculo de Áreas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

II Cálculo Diferencial 47
3 Noções de Limite e de Derivada 48
3.1 Introdução dos Conceitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.2 Noção Intuitiva de Limites e as suas Propriedades . . . . . . . . . . . 49
3.3 Limites Laterais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
3.4 Retas Assíntotas e Limites Infinitos e no Infinito . . . . . . . . . . . . 61
3.5 Derivada e as Primeiras Fórmulas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
3.6 Regra de L’Hospital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
4 Derivadas 80
4.1 Introdução sobre Derivadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
4.2 A Interpretação Geométrica de Derivada . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
4.3 Regras de Derivação e Derivada da Função Inversa . . . . . . . . . . 87
4.4 Gráficos de Funções e Pontos Críticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
4.5 Problemas de Otimização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
4.6 Taxas Relacionadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
4.7 A Segunda Derivada e a Concavidade do Gráfico . . . . . . . . . . . . 111
5 Funções Transcendentais 116
5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
5.2 Revisão de Trigonometria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
5.3 Derivada das Funções Trigonométricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
5.4 A Função Exponencial e o Número de Euler . . . . . . . . . . . . . . . 135
5.5 A Função Logaritmo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143
5.6 Derivada das Funções Exponencial e Logaritmo . . . . . . . . . . . . 149
5.7 Regra de L’Hospital e Gráfico de Funções . . . . . . . . . . . . . . . . . 152
6 Discussão Qualitativa do Cálculo 160
6.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 160
6.2 O Conceito de Continuidade e o Método de Newton . . . . . . . . . . 161
6.3 Teorema de Weierstrass e o Teorema do Valor Médio . . . . . . . . . . 170
6.4 Aplicação de Derivadas para Desigualdades . . . . . . . . . . . . . . . 177
6.5 Diferenciabilidade e o Polinômio de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . 183

III Cálculo Integral 193


7 Integrais 194
7.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194
7.2 Revisão de Cálculo Diferencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195
7.3 Teorema Fundamental do Cálculo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201
7.4 Primitivas Imediatas e a Técnica de Substituição . . . . . . . . . . . . 205
7.5 Integração por Partes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 211
7.6 Integração de Funções Trigonométricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 215
7.7 Soma de Riemann e Aplicações na Geometria . . . . . . . . . . . . . . 221
7.8 Aplicações de Integral na Física . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 230
7.9 Integrais Impróprias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 241
8 Discussão mais Avançada de Integrais 251
8.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251
8.2 Definição de Funções por meio de Integrais . . . . . . . . . . . . . . . 253
8.3 Frações Parciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 261
8.4 Substituições Especiais e as Funções Hiperbólicas . . . . . . . . . . . 269
8.5 O Teorema de Liouville para Funções Elementares . . . . . . . . . . . 277

IV Introdução à Análise na Reta 286


9 Um pequeno convite à Análise 287
9.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 287
9.2 Definição Formal de Limites e de Continuidade . . . . . . . . . . . . . 289
9.3 O Teorema do Confronto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 300
9.4 Intervalos Encaixantes e o Axioma do Supremo . . . . . . . . . . . . . 305
9.5 Integral - o Método de Darboux . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 311
9.6 Continuidade Uniforme e Integrabilidade por Riemann . . . . . . . . 321
Apêndice: As Demonstrações do Cálculo Diferencial 328
A.1 Objetivos do Apêndice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 328
A.2 Resultados Estruturantes da Reta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 329
A.3 Propriedades de Limites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 332
A.4 Propriedade de Funções Contínuas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 345
A.5 Reconhecendo Funções Contínuas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 351
A.6 Regras de Derivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 355
A.7 Fórmula de Derivadas das Funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 361
A.8 Teoremas Qualitativos de Derivadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 371
Índice Remissivo 380
Prefácio

Estrutura do Livro e do ebook

O livro foi originalmente projetado para ser um e-book, em que é possível ter uma
leitura confortável em tablets, computadores e celulares. Mas com o tempo veio a ideia
da criação do QR code abaixo que encaminha para uma lista de vídeos no youtube:

Figura 1: QR code que direciona para todos os vídeos deste livro no Youtube.

Este livro conta com 221 videoaulas, produzidas pelo próprio autor, que complemen-
tam a explicação. Tais vídeos estão disponíveis no canal do youtube www.youtube.com/
c/MatematicaUniversitariaProfRenan. Este canal do Youtube contém mais de 1.100 ví-
deos de vários assuntos de matemática a nível universitário.
Quem baixou o e-book, sinta-se à vontade em imprimir o livro para uso próprio, mas
deixo claro que não está permitido a venda. Para aqueles que imprimiram, peço para
que, após o uso, repasse adiante para um estudante mais novo de graça ou repasse a um
preço simbólico de uns 5 reais. Sinta-se também à vontade em distribuir o e-book para
seus colegas ou a seus alunos.
É possível adquirir a versão impressa em https://clubedeautores.com.br/livros/
autores/renan-lima. Está disponível as versões colorida e preto e branco. Os recursos
obtidos por estas vendas serão utilizados para compra de equipamentos para aumento
de qualidade das videoaulas no canal do youtube. Quem adquiriu a versão impressa,
envia um email para matematicauniversitariarenan@gmail.com de título @LivrosRenan,
que envia automaticamente o link do drive dos meus e-books.
Sugiro dar uma olhada em sites como Amazon, Submarino e mercado livre para com-
pra do livro físico. Algumas vezes aparece uma boa promoção e, neste caso, recebo 20%
do valor da venda. Provavelmente, nestes sites, terão apenas a versão preto e branco.
Quem lida com a logística do livro físico é o Clube de Autores e eu apenas autorizo a
disponibilização do livro nestes sites.
Quem gostou do livro, peço que dê o máximo de estrelas e faça um elogio e/ou co-
mentário. Isso me ajuda muito no marketing.
Caso deseje ajudar financeiramente o projeto, abri a possibilidade de ser membro do
clube dos canais via uma assinatura mensal, cancelável a qualquer momento por parte do
usuário. No momento, temos a opção de R$ 5,00, R$ 7,00 e R$ 15,00 por mês. Pretendo,
para os membros básicos do canal, postar alguns vídeos exclusivos, soluções de exercícios
do(s) meu(s) livro(s). Os membros intermediário e avançados terão maior interatividade
comigo.
O motivo de construir um solucionário em uma área paga (e barata) é por achar im-
portante que o estudante tente resolver o exercício e, acredito que, deixar a solução dis-
ponível gratuitamente pode desestimular o estudante a tentar resolvê-los.
Por outro lado, há um grande número de bons estudantes que gostariam de ter um
solucionário para conferir um pouco a escrita e, quem sabe, ter alguma nova solução.
Neste sentido, acredito que R$ 5,00 em um mês ou dois meses é um valor razoavelmente
baixo e este valor é uma mensagem com mais ênfase de tentar resolver o exercício antes
de olhar a solução.

Objetivos Didáticos do Autor com o Livro

Tomei a decisão de colocar, em cada seção, poucos exercícios para que o estudante
não fique muito tempo preso em um determinado assunto. Acredito que, futuramente,
pode-se acrescentar exercícios por outras mídias, tais como um site específico ou pode-se
utilizar as listas de exercícios de uma faculdade. Pelo mesmo motivo, evitei colocar desa-
fios nos capítulos iniciais e preferi que os exercícios sejam um guia para que o estudante
desenvolva a lógica matemática esperada da seção.
Atualmente, a computação conseguiu mapear todo o conteúdo de cálculo diferencial.
Temos softwares que encontram as derivadas das funções, com o passo a passo da reso-
lução, fazem vários gráficos coloridos e encontram estimativas numéricas. É importante
que o estudante utilize estas ferramentas para o aprendizado, mas que não dependa to-
talmente delas, pois várias disciplinas de Engenharia, Economia, Física precisam que o
estudante detenha a lógica do cálculo para o entendimento de vários conceitos.
Ficar decorando fórmulas sem entender a lógica e o conceito das disciplinas basilares
é, na minha visão, um dos vários motivos de o estudante ter dificuldades em disciplinas
de semestres mais avançados. Além disso, no mundo, está havendo grandes transforma-
ções tecnológicas em que não é possível saber qual é o emprego do futuro e, portanto,
será necessário grande capacidade de adaptação e profissionalização. Quanto maior co-
nhecimento das disciplinas basilares, menor será o gasto de energia para aprendizado de
assuntos mais avançados.
Por outro lado, resolver tudo a mão não é a melhor estratégia. Lembre-se que em
várias áreas de pesquisa matemática, de física e de engenharia, o uso do computador é
praticamente indispensável. Além disso, no setor privado, espera-se domínio de softwa-
res e dificilmente as contas serão feitas na mão. Eu mesmo utilizo softwares para verificar
se não houve inconsistências nas contas.
Espero que este livro ajude o estudante a encontrar o equilíbrio entre o uso de softwa-
res e do desenvolvimento lógico do cálculo.
Renan Brito de Lima
Professor do Departamento de Matemática
Instituto Tecnológico da Aeronáutica
Para o Professor

Vários cursos de engenharia possuem as disciplinas de cálculo e de física mecânica na


grade horária do primeiro semestre. Tenho a impressão que estas duas disciplinas foram
projetadas para serem interdependentes, uma complementando a outra, mas, na prática,
as duas pouco se conversam. Por exemplo, enquanto, na física, é passada o conceito
de velocidade instantânea na primeira semana; no cálculo, é mencionado após 1 mês de
curso.
A primeira proposta deste livro é ser uma ponte entre os cursos de física e de cálculo.
Por exemplo, fazemos o esboço de gráficos de polinômios de ordem superior utilizando
o conceito de velocidade instantânea da física na página 21, em que usamos muitas ideias
de Fermat.
A segunda proposta do livro é uma reordenação da ordem de exposição para alcançar
os estudantes que não tiveram uma boa base do ensino médio, especialmente para aque-
les que têm dificuldades em manipulação de fórmulas trigonométricas, de exponenciais
e de logaritmícas. Por este motivo, o livro trata destas funções apenas no capítulo 5.
Quanto à segunda proposta, a universidade tem condições de abrir disciplinas de
matemática básica e, nesta disciplina, fazer revisão das funções trigonométricas, expo-
nenciais e logarítmicas. Neste sentido, postergar a aparição destas funções no cálculo
pode tornar as disciplinas de matemática básica e de cálculo interdependentes.
Para o estudante, acredito que o cálculo seja uma grande floresta a ser explorada e, a
1
meu ver, a discussão se a função y = é contínua ou não em x0 = 0 é ficar prestando
x
atenção em uma formiga andando em uma árvore. Neste sentido, foi decidido fazer uma
discussão mais apropriada do conceito de continuidade apenas no capítulo 6, após os
estudantes terem explorado a floresta. Além disso, aprendemos finalmente o teorema
do valor intermediário e já podemos explorar o método de Newton. Sugerimos que os
professores usem softwares para isso, especialmente o Geogebra. Caso se sinta motivado,
dado uma função algébrica específica, peça para o estudante "programar" o método de
Newton em uma planilha excel para que o estudante possa explorar a ideia de iteração.
A definição de limites por (ε, δ) é um conceito muito fino para ser dado no início da
disciplina. Dependendo se o curso dos seus estudantes forem de Engenharia, de Física,
de Matemática, etc, sugiro refletir entre não mencionar este conceito ou postergar como
o último tópico do curso. Por isso, este tópico foi colocado no capítulo 9.
O capítulo 8 contém tópicos de integração mais avançados e tenho minhas dúvidas da
necessidade de estar na ementa de uma disciplina de cálculo. Neste capítulo, foi colocado
as técnicas de frações parciais e de substituições especiais. Frações parciais tem alguma
aplicabilidade na química, mas precisa resolver uma EDO via separação de variáveis; as
substituições trigonométricas (ou trigonométricas hiperbólicas) costumam aparecer em
integrações de um curso de física elétrica. Considero estas duas técnicas muito específicas
e tenho a convicção de que os professores de física e de química já usam o computador
para resolver estas integrais.
Além disso, neste capítulo, há duas seções interessantes, a saber, a seção 8.2 e a seção
8.5. A primeira discute sobre funções definidas por integrais, em que faço um pequeno
1
compilado histórico da área sob a curva da função y = , para x ∈ (0, +∞) e também
x
trabalha um pouco com a função gama. A segunda seção fala um pouco sobre o teorema
de Liouville para funções elementares e menciono sobre o método de Risch, que é um
algoritmo de tomada de decisão se uma determinada função possui (ou não) primitiva
elementar e fornece a resposta final. A implementação deste método é usada em vários
aplicativos como Wolfram, Maple e Sage. Pode ser interessante abrir uma discussão sobre
isso em aula (sem, necessariamente, cobrar em uma avaliação).

Sobre os Capítulos do Livro

O livro é dividido em quatro partes. A parte I é formada por dois capítulos que tem
como objetivo a motivação dos conceitos de cálculo e está bastante interdisciplinar com
os conceitos de física mecânica. Nestes dois capítulos, trabalhei apenas com polinômios
e, com o conceito de velocidade instantânea, encontramos a derivada de polinômios e
também a sua integração. Tomei a liberdade de adicionar um apêndice no capítulo 2
para demonstrar, com as ideias de Fermat, o cálculo de integrais de polinômios.
A parte II do livro é composta por 4 capítulos (capítulos 3 até capítulo 6) e é voltada
para o cálculo diferencial. O formato de escrita dos capítulos da parte II é um formato es-
tilo bumerangue. Em um primeiro capítulo, introduzimos o conceito que queremos apren-
der com uma linguagem informal. No capítulo seguinte, voltamos para o assunto na
parte inicial, em que falamos com mais formalidade e também com mais profundidade.
Seria o equivalente a cenas dos episódios anteriores de uma série de televisão, em que há
um pequeno compilado sobre o que é realmente importante para o capítulo e, no novo
capítulo, há um desenvolvimento da trama e, no final, aparece uma informação nova.
No capítulo 3, introduzimos o conceito de limites e trabalhamos apenas em funções
ditas algébricas, isto é, funções que, na prática, possuem algoritmos de divisão e de fa-
toração. Falamos da definição de derivada e calculamos algumas fórmulas e, na última
seção, aplicamos esse novo conceito falando da regra de L’Hospital.
Após o capítulo 3, o leitor pode escolher entre a leitura do capítulo 4 ou o início do
capítulo 5. No capítulo 4, são explicadas o significado geométrico de derivadas, algumas
aplicações na área de Otimização e alguns exercícios de modelagem com as taxas relaci-
onadas. Além disso, é explicado todas as regras de derivação, assim como o esboço de
gráficos com concavidade. Já no capítulo 5, aplicamos os conceitos aprendidos no cálculo
para funções trigonométricas, exponenciais e logarítmicas. Fazemos uma revisão de cada
uma das funções e explicamos quais os limites fundamentais desejamos calcular. Note
que aparecem demonstrações com mais frequência nesses dois capítulos.
No capítulo 6, introduzimos, finalmente, o conceito de continuidade, em que falamos
do teorema do valor intermediário e do método de Newton para encontrar as raízes de
uma função de uma variável. Enunciamos os teoremas de Weierstrass e o teorema do
valor médio com sua devida interpretação geométrica. Além disso, foram feitas diversas
aplicações, do ponto de vista teórico, do teorema do valor médio, tais como a demonstra-
ção de um dos casos da regra de L’Hospital e demonstramos também sobre os intervalos
de crescimento e decrescimento de uma função derivável. Além disso, introduzimos o
conceito de diferenciabilidade em que se demonstra todas as regras de derivação e de
polinômio de Taylor com aplicações numéricas tais como estimativas com várias casas
decimais para π e para o número de Euler. Como consequência destas estimativas, pro-
vamos que o número de Euler é irracional.
A parte III é composta por dois capítulos e é voltada para o cálculo integral. No capí-
tulo 7, estudamos a teoria de integração, agora supondo que o estudante tenha bagagem
do cálculo diferencial. Na seção 7.2, fazemos um pequeno compilado de cálculo diferen-
cial que iremos precisar para a integração. No capítulo 8, discutimos alguns tópicos mais
específicos de integração, como as técnicas de frações parciais e as substituições especi-
ais, tais como trigonométricas e a substituição universal. Discutimos funções definidas
xiv Matemática Universitária

por integrais e finalizamos o capítulo com uma seção voltada para o teorema de Liouville
para funções elementares.
A parte IV é um convite ao estudo da análise real. Ela é formada por um capítulo e o
apêndice.
No capítulo 9, definimos formalmente o conceito de limite. Provamos todas as pro-
priedades de limites e, na última seção, introduzimos as duas possíveis caracterizações
de R, a saber, a propriedade dos intervalos encaixantes e a propriedade da existência do
supremo de um conjunto limitado, também conhecida como o axioma do supremo . Estas
caracterizações nos permitem demonstrar os teoremas do valor intermediário e de Wei-
erstrass. As duas últimas seções deste capítulo são voltadas para a construção formal da
teoria de integração com os métodos de Darboux e o método de Riemann e, provamos,
para funções contínuas, a equivalência das duas definições. Um dos resultados técnicos
provado na última seção é a continuidade uniforme, que nos permite demonstrar que
toda função contínua é integrável.

A Visão do Autor sobre as Demonstrações

Pela minha formação matemática, gosto muito de aprender e saber cada demonstra-
ção de cada resultado que utilizo na graduação. Apesar de ter todas as demonstrações
utilizadas no cálculo de cabeça, dedico uma boa parte do meu tempo em procurar de-
monstrações mais palatáveis e elegantes para os alunos de graduação.
Por outro lado, acredito que um número excessivo de demonstrações no meio de um
texto polui demais o objetivo principal do capítulo e, para fins didáticos, destaquei no
corpo principal do texto as demonstrações que julgo mais importantes para um estudante
de Cálculo em aprendizagem.
Pela minha observação como Professor, a grande maioria dos estudantes ingressantes
em uma faculdade de exatas não aprecia ainda uma demonstração no primeiro contato
com a matéria. Ele precisa entender a ideia do conteúdo, fazer alguns exercícios, acres-
centar algumas motivações e, finalmente, começa a se interessar em entender a demons-
tração.
Por exemplo, acredito que a demonstração da regra do produto da derivada não é
interessante para o estudante que está com o primeiro contato com a regra. Ele precisa
aprender a aplicar a fórmula diversas vezes, se convencer que vale esta regra da deriva-
ção e, por isso, a demonstração não se encontra na parte principal do texto. Por outro
lado, uma demonstração que acho valer a pena destacar, devido ao apelo geométrico da
função, é o limite fundamental das funções trigonométricas e, portanto, esta demonstra-
ção se encontra no corpo principal no texto.
É difícil escrever um livro de matemática que esteja rigorosamente correto e didati-
camente agradável para aprender e, por este motivo, tive a ideia de deixar as demons-
trações nas videoaulas e, para quem gosta de lê-las, deixei no apêndice do livro, com
a devida organização. No apêndice, priorizei a ordenação lógica dos resultados ao in-
vés de uma ordenação didática, podendo ser vista como uma pequena enciclopédia para
consultas.
Além disso, no final das demonstrações, encontra-se um link para voltar a uma pá-
gina. Para o leitor que esteja com dificuldades, mas deseja entender uma demonstração
específica, pode ser interessante ler em uma vizinhança da página sugerida do link.
Sobre as demonstrações do cálculo integral, a grande maioria dos resultados são bas-
tante técnicos e, acredito, que não se encaixaria bem no apêndice. Neste sentido, as seções
9.5 e 9.6 cumprem bem as demonstrações da parte do cálculo integral.
Parte I

Motivação para o Cálculo

1
C APÍTULO

1 Introdução ao Cálculo

1.1 O que é o Cálculo? Uma Introdução via Física Mecânica

Considere um carro se movendo ao longo de uma linha reta durante um intervalo de


0 a 60 segundos, marcados em um cronômetro. O motorista do veículo, neste intervalo,
está acelerando o carro de modo que o velocímetro marca 72 km/h no instante t = 30 s.
Convertendo para o Sistema Internacional de Medidas, o velocímetro marca 20 m/s.
Considere um observador externo e um referencial na origem do movimento O, de
modo que o veículo se mova na direção horizontal, no sentido para a direita. Orientamos a
reta de modo que à direita de O seja positivo e à esquerda de O seja negativo (ver figura
1.1). Do ponto de vista prático, supomos que temos um milhão de fotos do veículo,
formando um vídeo, em que mapeia com precisão a posição do veículo no tempo exato e
desejamos calcular a sua velocidade no instante em que t = 30, baseado apenas no vídeo
(e em aparelhos de medida), como estimaríamos a velocidade?
Mais precisamente, seja s(t) a função posição encontrada pelo vídeo no instante t em
relação ao ponto de referência O. Então, como o observador externo estimaria a veloci-
dade marcada no velocímetro no instante t = 30, baseado apenas na função posição?
t = 0s 10s t = 20s t = 30s t = 40s
b b b b b

O
s(30)

Figura 1.1: Neste referencial, a partícula se move apenas na horizontal.

Como estamos nos concentrando no instante t = 30, considere ∆t = t − 30. A veloci-


dade média do carro de 30 até 30 + ∆t é dada pela divisão
s(30 + ∆t) − s(30)
vm (∆t) = .
∆t
Uma tentativa para encontrar a velocidade marcada no velocímetro seria calcular
vm (∆t) para vários valores de ∆t cada vez menores. Por exemplo, calcularíamos vm (∆t)
para ∆t = 1, depois para ∆t = 0, 1, para ∆t = 0, 001, etc, e verificaríamos se vm (∆t) se
aproximaria para algum número. À medida que o intervalo de tempo diminua, espera-se
que o valor de vm (∆t) se estabilize para um número arbitrariamente próximo ao marcado
pelo velocímetro do carro.
Fisicamente, quando o intervalo de tempo ∆t vai para zero, o mesmo acontece com
a distância percorrida. Em outras palavras, tanto o numerador quanto o denominador
0
da expressão de vm (t) vão para 0. Esta situação é conhecida como indeterminação .
0
Deixamos claro que em nenhum momento iremos dividir 0 por 0, isto sempre será uma
operação ilegal! Estamos olhando para a expressão de vm (∆t) e se o numerador se apro-
xima de 0, vinte vezes mais rápido que o denominador, o resultado do processo de limite
é 20.
Renan Lima 3

Por exemplo, considere a função posição

t2
s(t) = + 10t.
6
Esta equação nos informa que o movimento da partícula é uniformemente acelerado com
1
s0 = 0, v0 = 10 m/s e a = m/s2 . É conhecido na física que a equação da velocidade é
3
t
dada por v(t) = v0 + at = 10 + e, em particular, v(30) = 20 m/s.
3
Pela ideia de calcular a velocidade média com o intervalo de tempo ∆t ficando pe-
queno, temos

(30 + ∆t)2 ∆t2


+ 10(30 + ∆t) − 450 + 20∆t
vm (∆t) = 6 = 6 .
∆t ∆t

Note que, pela expressão acima, estamos proibidos de substituir ∆t por 0, mas, vale
 
∆t
∆t + 20
6 ∆t
vm (∆t) = = + 20, para ∆t 6= 0.
∆t 6

Estamos agora permitidos a fazer ∆t = 0 e, portanto, vm (0) = 20 m/s. Veremos ao


longo do livro como formalizar esta conta, utilizando uma nova operação que será co-
nhecida como Limite. É importante ressaltar que esta mesma lógica é válida para polinô-
mios de terceiro grau, de quarto grau e de graus superiores, mas é necessário um cuidado
maior para funções trigonométricas.
O processo de limite que passa da função posição para a função velocidade é deno-
minado Derivada. Veremos, ao longo do livro, que a função velocidade instantânea é
definida por
s(t + ∆t) − s(t)
v(t) = lim .
∆t→0 ∆t

Analogamente, podemos definir o conceito de aceleração instantânea a(t) por

v(t + ∆t) − v(t)


a(t) = lim .
∆t→0 ∆t

Para fins práticos, é também interessante o caminho inverso: se conhecermos a função


velocidade instantânea da partícula e sua posição inicial, queremos descrever a função
posição. Este processo é conhecido como Integração. A figura 1.2 nos fornece um resumo
sobre o processo.

Derivar Derivar
Posição Velocidade Aceleração
Integrar Integrar

Figura 1.2: Diagrama da posição, velocidade e aceleração.


4 Matemática Universitária

1.2 Revisão de Função

Desenvolveremos a explicação do conceito de função baseado nos 4 exemplos abaixo.


Faremos uma breve revisão de plano cartesiano e de gráfico de uma função.

Definição 1.2.1: Definição de Função Real

Seja D um subconjunto dos números reais. Uma função definida em D é uma fór-
mula, regra ou lei de correspondência que designa cada número real x ∈ D a um
único número real y. O conjunto D é chamado de domínio da função.

Exemplo 1.2.2:
1. A regra que para cada número real, dobramos o seu valor.

2. A regra que designa o raio do círculo à sua área.


x
3. A regra que designa cada número real x, com x 6= ±1, à expressão .
x2 −1
4. A regra que designa cada número real α ao seu quadrado α2 .

A regra do primeiro exemplo diz que para cada x ∈ R associamos o valor y = 2x.
Enquanto no segundo exemplo, associamos para cada raio x do círculo à sua área corres-
pondente πx2 ; aClém disso, devido à sua natureza geométrica, trabalhamos apenas com
o conjunto dos números positivos e é interessante usar a letra r ao invés de x. Uma no-
tação mais amigável seria para cada raio r, associamos à área do círculo correspondente
πr2 .
Usualmente, a função é denotada por uma letra, sendo a letra f a nossa preferida. Mas
podemos usar várias outras como g, h, z, inclusive letras gregas como θ ou Γ. Podemos
também usar mais de uma letra como é o caso de sen para a função seno.
Se f é uma função, então o número que f designa para o número real x dado é deno-
tado por f (x). As funções do exemplo acima serão denotadas por f, A, g e θ.

1. f (x) = 2x para todo x ∈ R.


2. A(r) = πr2 para todo r > 0.
x
3. g(x) = , se x ∈ R − {−1, 1}.
x2 −1
4. θ(α) = α2 para todo α ∈ R.

Muitas vezes omitimos, na escrita, o domínio da função. No exemplo 1, poderíamos


escrever apenas f (x) = 2x e omitir o trecho para todo x ∈ R. No exemplo 2, devido à
natureza geométrica da função é comum omitirmos que r é positivo. Se formos muito
rigorosos com a notação matemática, está errado omitir o domínio. Por outro lado, não
achamos que é de bom tom escrever seja `, com ` > 0, o lado do quadrado inscrito na circun-
ferência de raio r, com r > 0.
x
No exemplo 3, é comum escrevermos apenas g(x) = 2 . Como a expressão algé-
x −1
brica de g não faz sentido nos pontos em que x = 1 ou x = −1, fica entendido, implicita-
mente, que o domínio da g é R − {−1, 1}.
Renan Lima 5

A menos que esteja especificado ao contrário, o domínio de uma função é compre-


endido como sendo o maior subconjunto dos reais em que a expressão algébrica faça
sentido.

Reforçamos que não aplicamos a convenção acima no exemplo 2. Sugerimos assis-


tir à nossa videoaula [Revisão] - Domínio e Contradomínio de uma Função para mais
exemplos com domínio da função e entendermos melhor a convenção acima.
Vamos agora estudar com mais detalhe o exemplo 4. Trabalharemos com a notação
f (x) = x2 .
Devemos ter em mente que, ao menos teoricamente, para cada x no seu domínio,
devemos ser capazes de calcular, sem nenhuma ambiguidade, o valor de f (x). Façamos
então uma pequena tabela atribuindo vários valores de x e encontrando seus respectivos
valores para f (x):

x f (x) = x2
0 0
1 1
-1
√ 1
2 2
−2 4
2 4

Temos então uma lista (infinita) de pares ordenados



(0, 0), (1, 1), (−1, 1), ( 2, 2), (−2, 4), (2, 4), . . . (1.1)

Para uma melhor visualização do que está ocorrendo e também para resolvermos o
problema da lista infinita de pares ordenados, marcamos os pontos da lista acima no
plano cartesiano (ver figura 1.3). Sugerimos que assista à nossa videoaula [Revisão] -
Plano Cartesiano.
y

b
4 b

2 b

b
1 b

b
√ x
−2 −1 1 2 2
−1

Figura 1.3: Os pontos no plano cartesiano.

A lista completa seria o subconjunto do plano R2 dada por {(x, x2 )/x ∈ R}. Devido
à notação padrão do par ordenado ser (x, y), é comum também escrevermos y = x2 ao
invés de f (x) = x2 . Se marcarmos todos os pares ordenados gerados pela equação y = x2 ,
temos uma curva chamada de parábola (Ver figura 1.4).
6 Matemática Universitária

b
4 b

2 b

b
1 b

b
x
−2 −1 1 2
−1

Figura 1.4: O gráfico da função y = x2 .

Quando queremos ser específicos sobre os valores que x pode assumir numa equação
algébrica definida pela função f , explicitamos o domínio D ⊆ R. Utilizamos a notação
f : D → R.

É importante ressaltar que se os domínios de duas funções são diferentes, então as


funções são diferentes, mesmo que ambas tenham a mesma expressão algébrica.

Façamos alguns exemplos com a função y = x2 , com restrições do domínio:

1. Seja f : [0, 2] → R dada por f (x) = x2 , então x ∈ [0, 2] e seu gráfico é a figura 1.5.
2. Seja g : [−2, 1) → R dada por g(x) = x2 , daí x ∈ [−2, 1) e seu gráfico é a figura 1.6.
y y

4 b
4

3 3

2 2

1 1 b

x x
−2 −1 1 2 −2 −1 1 2
−1 −1

Figura 1.5: Gráfico da f . Figura 1.6: Gráfico da g.

3. Seja h : (−2, 0) ∪ (1, 2] → R dada por h(x) = x2 , então seu gráfico é a figura 1.7.
4. Seja i : [−2, −1] ∪ {1} → R dada por h(x) = x2 , então seu gráfico é a figura 1.8.
y y

4 b b
4

3 3

2 2

1 b
1 b

x x
−2 −1 1 2 −2 −1 1 2
−1 −1

Figura 1.7: Gráfico da h. Figura 1.8: Gráfico da i.


Renan Lima 7

Para melhor compreensão, sugerimos assistir à videoaula [Revisão] - Gráfico de uma


Função. Caso tenha dificuldades com esta aula, temos uma videoaula mais básica Equa-
ção da Reta.
De forma geral, dada uma função f : D → R arbitrária, então associamos a uma lista
de pares ordenados. Esta lista de pares ordenados é conjunto Gf = {(x, f (x))/x ∈ D}.
Reciprocamente, é possível determinar o domínio da função apenas olhando o seu
gráfico. Por exemplo, se considerarmos a projeção vertical no eixo x da curva azul da
figura 1.8, encontramos o conjunto D = [−2, −1]∪{1}. Mais ainda, para cada x ∈ D existe
um único y ∈ R tal que (x, y) está na curva do gráfico. Em outras palavras, conhecer o
gráfico é equivalente a conhecer, ao menos teoricamente, a sua função, ver figura 1.9

y
y

b b

x b x
−2 −1 1 2 x

(a) Sobre o eixo x, destacamos um


(b) As retas verticais que passam em
segmento de reta e um ponto que é o
D tocam uma única vez o gráfico.
domínio da função.

Figura 1.9: Conhecer o gráfico é equivalente a conhecer a função.

Mas nem toda lista de pares ordenados é gerada por uma função: não pode aparecer,
na mesma lista, os pares (1, 2) e (1, 3), por exemplo. Para que uma lista de pares ordena-
dos tenha sido gerada por uma função é necessário e suficiente que o primeiro número
do par ordenado apareça uma única vez na lista. Geometricamente, este é o famoso teste
da reta vertical.
y

Figura 1.10: Curva que não é gráfico de função.


8 Matemática Universitária

Exercícios

1. Determine o domínio das funções abaixo.


√ √
a) f (x) = 2 − x b) f (x) = 3 3x − 2

1 1
c) f (x) = d) f (x) = √
x2
− 5x + 6 x2 − 5x + 6
√ √
1−x x
e) f (x) = √ f) f (x) = √
5
2
x − 2x − 8 2
x −1

2. Exprima a lei de formação da função.

a) A área A de um quadrado em função do seu lado `.


b) A área S do triângulo equilátero em função do seu lado `.
c) Um dos catetos de um triângulo retângulo mede 1cm. Exprima a medida do
cateto c em função da medida da hipotenusa h.
d) A área S do círculo em função do comprimento da circunferência x.
e) A diagonal D do cubo em função da medida da aresta a.
f) O volume V do cubo em função da medida da aresta a.

3. Esboce no plano cartesiano xy a região pedida abaixo.


a) x = 3 b) y = −1 c) 0 ≤ x ≤ 2 e y ≥ 1
d) −1 < x ≤ 2 e) −2 < y ≤ 3 f) 2 < x ≤ 3 e y = 1

4. Discuta se as funções f e g são iguais ou diferentes, justificando.

a) f (x) = x2 − 4 e g(x) = (x + 2)(x − 2)



b) f (x) = x e g(x) = x2

c) f (x) = x e g(x) = ( x)2
x2
d) f (x) = e g(x) = x.
x
x3 + x
e) f (x) = 2 e g(x) = x
x +1
1 1 1
f) f (x) = − e g(x) =
x−1 x x(x − 1)

3
g) f (x) = x3 e g(x) = x
Renan Lima 9

Respostas

Exercício 1
a) (−∞, 2] b) R
c) {x ∈ R/ x 6= 2 e x 6= 3} d) (−∞, 2) ∪ (3, +∞)
e) (−∞, −2) f) [0, 1) ∪ (1, +∞)

Exercício 2

`2 3 √
a) A(`) = `2 b) S(`) = c) c(h) = h2 − 1
4
x2 √
d) A(x) = e) D(a) = a 3 f) V (a) = a3

Exercício 3
y y y

3 3 3

2 2 2

a) 1 b) 1 c) 1

x x x
−2 −1 1 2 3 −2 −1 1 2 3 −2 −1 1 2 3
−1 −1 −1

−2 −2 −2

y y y

3 3 3

2 2 2

d) 1 e) 1 f) 1

x x x
−2 −1 1 2 3 −2 −1 1 2 3 −2 −1 1 2 3
−1 −1 −1

−2 −2 −2

Exercício 4

a) São iguais.

b) São diferentes, pois f (−1) = −1 e g(−1) = 1.

c) São diferentes, pois f está definida em todos os reais e g apenas em [0, +∞).

d) São diferentes, pois f não está bem definida em x = 0 e g(0) = 0.

e) São iguais.

f) São iguais.

g) São iguais.
10 Matemática Universitária

1.3 Gráficos de Funções

Nesta seção, faremos vários exemplos e esboçaremos os seus respectivos gráficos de


forma intuitiva. Comecemos com a definição de gráfico de uma função.

Definição 1.3.1: Gráfico de Função

O gráfico da função f : D → R é o lugar geométrico do plano cartesiano correspon-


dente ao conjunto {(x, f (x)), x ∈ D}.

Exemplo 1.3.2: Considere a função constante y(x) = 1. Temos então os seguintes pares
ordenados:  
1
(0, 1), , 1 , (1, 1), (−1, 1), (−2, 1), . . .
2
No plano cartesiano abaixo, marcamos todos os pares ordenados citados acima e tam-
bém traçamos o gráfico da função f .
y

b b
1 b b b

x
−2 −1 1 2
−1

Figura 1.11: Gráfico da função constante y(x) = 1.

Lembremos que o gráfico da função afim f (x) = ax + b é uma reta. Para esboçar o
seu gráfico, marcamos os dois pontos (x1 , f (x1 )) e (x2 , f (x2 )), com x1 < x2 , no plano
cartesiano e traçamos a única reta que passa por estes dois pontos. Sugerimos assistir à
videoaula Equação da Reta.
x
Exemplo 1.3.3: Considere a função afim f (x) = − 1. Temos então os seguintes pares
2
ordenados      
3 1 3 1
−1, − , (0, −1), ,− , 1, − , (2, 0), . . .
2 2 4 2
No plano cartesiano abaixo, marcamos todos os pares ordenados citados acima e tam-
bém traçamos o gráfico da função f .
y

b
x
−2 −1 1
b 2
b
b
−1
b

−2

x
Figura 1.12: Gráfico de f (x) = − 1.
2
Renan Lima 11

Exemplo 1.3.4: Considere a função afim g(x) = −x + 1. Temos os seguintes pares


ordenados  
1 1
(−1, 2), (0, 1), , , (1, 0), (2, −1), . . .
2 2
Marcamos na figura abaixo os pares ordenados acima de vermelho e o seu gráfico em
azul.
y

b
2

1 b

b
x
−2 −1 1 2
b
−1

Figura 1.13: Gráfico de g(x) = −x + 1.

Exemplo 1.3.5: Considere a função


( x
− 1, x < −1,
h(x) = 2
−x + 1, x ≥ −1.

Note que a função h(x) se comporta igual a f no exemplo 1.3.3 quando x < −1 e
igual a g do exemplo 1.3.4 quando x ≥ −1. As figuras abaixo mostram o processo
para construir o gráfico da função h. A função h é a parte azul dos gráficos de f e g
esboçados abaixo. Quem não lembrar das convenções de bola aberta e bola fechada,
sugerimos assistir à nossa videoaula [Revisão] - Plano Cartesiano.

y y y

3 3 3

2 2 2

1 1 1

x x x
−3 −2 −1 1 2 3 −3 −2 −1 1 2 3 −3 −2 −1 1 2 3
−1 −1 −1

−2 −2 −2

−3 −3 −3

(a) Gráfico da f . (b) Gráfico da g. (c) Gráfico da h.

Figura 1.14: Como construir o gráfico da função definida por partes.

Exemplo 1.3.6: Considere a função y(x) = n, onde n é o menor inteiro satisfazendo


n ≥ x. Por exemplo, y(2) = 2, y(3, 1) = 4 e y(−3, 1) = −3. Essa função é conhecida
como função teto. Note que

 −2, se − 3 < x ≤ −2,

 −1, se − 2 < x ≤ −1,


y(x) = 0, se − 1 < x ≤ 0, .
 1, se 0 < x ≤ 1,



2, se 1 < x ≤ 2, etc

12 Matemática Universitária

Em posse dessas informações, já é possível traçarmos o seu gráfico.


y

x
−4 −3 −2 −1 1 2 3
−1

−2

−3

Figura 1.15: Gráfico da função teto.

Exemplo 1.3.7: Considere a função



1, se x é irracional,
θ(x) =
2, se x é racional.

À primeira vista, pode parecer que não é uma função, mas dado um x, temos como sa-
ber, a priori se x é racional ou irracional. Logo temos o valor de θ(x). Mas é impossível
esboçar o seu gráfico com precisão.

−4 −3 −2 −1 1 2 3
−1

Figura 1.16: Gráfico da função que quebra racional e irracional.


Exemplo 1.3.8: Considere a função y = x. Temos que o seu domínio é [0, +∞). Note

que y = x é equivalente à equação y 2 = x, y ≥ 0. A equação y 2 = x define a parábola,

mas deitada ao longo do eixo x, e, portanto, o gráfico de y = x é a parábola y 2 = x,
restrito à y ≥ 0.

y y y

4 2 4
y = x2 y=x

3 1 3

2 x 2
1 2 3 4 √
y= x
1 −1 1

x −2 x
−2 −1 1 2 1 2 3 4
(a) A parábola y = x2 . (b) A parábola y 2 = x. (c) Simetria com y = x.

Figura 1.17: Gráfico da função y = x.
Renan Lima 13

1 1
Exemplo 1.3.9: Considere g1 (x) = e g2 (x) = 2 . Vemos que os domínios de g1 e de
x x
g2 são R − {0}. Quando x é positivo, g1 e g2 são positivo. Cada vez que x aumenta,
g1 (x) e g2 (x) diminuem. À medida que o valor de x fica muito grande, os valores de
g1 (x) e g2 (x) se aproximam de 0. Ficando tão próximo de 0 quanto se queira. Se x fica
muito próximo de 0 à direita, g1 (x) e g2 (x) fica tão grande quanto se queira. Quando
x < 0, temos que g1 (x) < 0, mas g2 (x) > 0. No caso, g1 (x) é função ímpar e g2 (x) é
função par. A figura 1.18 nos apresenta uma visão geométrica do que foi falado acima.
y y

1 1 1
     
4 b
,4 − ,4 4 b b
,4
4 2 2

3 3

2 b
2

1 b (1, 1) (−1, 1) b
1 b (1, 1)
1
 
1 1
   
4, 4,
b
b
4 −4,
16 b b 16
b b

b
x x
−4 −3 b
−2 −1 1 2 3 4 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4
b
−1 −1
(−1, −1)

b
−2 −2

−3 −3

b
−4 −4

1 1
(a) Gráfico de g1 (x) = . (b) Gráfico de g2 (x) = .
x x2
Figura 1.18: Gráficos das funções gn (x) = x−n para n = 1 e n = 2.

Terminamos a seção com exemplos de translações verticais de gráficos. Sugerimos as-


sistir à nossa videoaula Translação Vertical de Gráficos para entender os exemplos abaixo.

Exemplo 1.3.10: Considere as funções f (x) = x2 + 1, g(x) = x2 e h(x) = x2 − 2. O


gráfico de f (x) é obtido por uma translação vertical de uma unidade do gráfico da g
para cima, enquanto o de h(x) é obtido pela translação vertical de duas unidades da g
para baixo.
y

3
1

2
1
f (x) = x2 + 1
x g(x) = x2
−2 −1 1 h(x) = x2 − 2
−1

−2

Figura 1.19: Parábolas transladadas verticalmente.


14 Matemática Universitária

Exemplo 1.3.11: Considere a função


1−x
f (x) = .
x
Para esboçarmos o gráfico desta função, o truque é separar o numerador em duas
partes. Este truque será bastante utilizado ao longo da graduação.

1−x
f (x) =
x
1 x
= −
x x
1
= − 1.
x
1
Devemos, portanto, transladar o gráfico de y = (ver exemplo 1.3.9) uma unidade
x
para baixo.
y

x
−4 −3 −2 −1 1 2 3 4
−1

−2

−3

−4

1−x
Figura 1.20: Gráfico de f (x) = .
x
Renan Lima 15

Exercícios

1. Esboce o gráfico das funções abaixo.


a) f (x) = 2x − 1 b) f (x) = x − 1
c) f (x) = 2 − 3x d) f (x) = x2 + 3
e) f (x) = 4x2 f) f (x) = −3x2 + 2
1 1
g) f (x) = h) f (x) = +3
x3 x
1 − 2x2 √
i) f (x) = j) f (x) = − x
x2
1 2
k) f (x) = l) f (x) =
x−1 (x + 1)2

 x2 − 1, se x ≤ 2
( 
2x + 1, se x < 1
m) f (x) = n) f (x) = 2
x + 1, se x ≥ 1 − x + 5, se x > 2
2

( 1
−x2 , se x < 0  , se x ≤ −1
o) f (x) = p) f (x) = x
x2 , se x ≥ 0 x + 1, se x > −1

Respostas

Exercício 1
Verifique os seus esboços pelo aplicativo no Cálculadora Gráfica do Geogebra. Sugerimos
ter o aplicativo no celular e no PC. Colocaremos os 4 primeiros e os 4 últimos itens.
y y y y

a) x b) x c) x d)

y y

m) n)
x x

y
y

o) x p)
x
16 Matemática Universitária

1.4 Função Composta e Translação Horizontal de Gráficos

Considere duas funções f : Df → R e g : Dg → R. Para existir a composição g ◦ f ,


devemos ter que Im f ⊆ Dg , isto é, para cada x ∈ Df , então f (x) ∈ Dg . A condição
f (x) ∈ Dg nos permite aplicar g(f (x)). Sugerimos assistir à nossa videoaula [Revisão] -
Composição de Funções para continuar.

Definição 1.4.1: Composição de Funções

Dados f e g como acima, a composição de f com g é a função

g ◦ f : Df → R
x 7→ g(f (x)).

Na prática, compomos as duas funções primeiro e depois olhamos o domínio.



Exemplo 1.4.2: Seja f (x) = x2 + 1 e g(x) = x, então
p
g ◦ f (x) = g(x2 + 1) = x2 + 1.

O domínio de g ◦ f é o conjunto {x ∈ R/x2 + 1 ≥ 0} = R.



Exemplo 1.4.3: Sejam f (x) = 1 − x e g(x) = x, então

g ◦ f (x) = g(1 − x) = 1 − x e
√ √
f ◦ g(x) = f ( x) = 1 − x.

O domínio de g ◦ f é o conjunto {x ∈ R/1 − x ≥ 0} = (−∞, 1] e o domínio de f ◦ g é


[0, +∞).

1
Exemplo 1.4.4: Sejam f (x) = x3 + 1, g(x) = − 1 e h(x) = 2x + 3. Vamos encontrar
x
(h ◦ g) ◦ f (x) e h ◦ (g ◦ f )(x) e verificaremos que ambas dão a mesma expressão. Para
a expressão (h ◦ g) ◦ f (x), façamos y = f (x). Daí
   
1 1 2 2
h ◦ g(y) = h −1 =2 − 1 + 3 = − 2 + 3 = + 1, logo
y y y y
2 2 x3 + 3
(h ◦ g) ◦ f (x) = (h ◦ g)(f (x)) = +1= 3 +1= 3 .
f (x) x +1 x +1

Vamos agora encontrar a expressão de h ◦ (g ◦ f )(x).

1 −x3
g ◦ f (x) = g(f (x)) = g(x3 + 1) = 3 −1= 3 , logo
x +1 x +1
−x3 −x3 x3 + 3
   
h ◦ (g ◦ f )(x) = h = 2 + 3 = .
x3 + 1 x3 + 1 x3 + 1

Deixamos então em destaque duas observações.

1. Em geral, f ◦ g 6= g ◦ f . Quando f ◦ g = g ◦ f , dizemos que f e g comutam. Um


exemplo é a função f (x) = x + 1 e g(x) = x + 3, temos f ◦ g(x) = g ◦ f (x) = x + 4.
Renan Lima 17

2. Sempre vale h◦(g ◦f ) = (h◦g)◦f , ou seja, a composição de funções é uma operação


que possui a propriedade associativa. Deixamos um diagrama, que explica como
demonstra tal propriedade.

g◦f f (x) = y
h
g(y) = z
x y z w h(z) = w
f g h g ◦ f (x) = z
f h◦g h ◦ g(y) = w

Finalizamos esta seção com exemplos de construção de gráficos via translação hori-
zontal. Sugerimos assistir à videoaula Translação Horizontal de Gráficos.
Exemplo 1.4.5: Considere f (x) = (x − 1)2 = x2 − 2x + 1, g(x) = x2 e h(x) = (x + 2)2 . O
gráfico de f é obtida através de uma translação à direita de uma unidade da parábola
g(x) = x2 , enquanto o gráfico de h é obtido pela g por uma translação à esquerda em
duas unidades.
2 1

2 f (x) = (x − 1)2
g(x) = x2
1 h(x) = (x + 2)2

x
−4 −3 −2 −1 1 2 3

Figura 1.21: Gráfico de parábolas transladadas horizontalmente.

1
Exemplo 1.4.6: O gráfico da função g(x) = é obtida via translação horizontal de
x−2
1
duas unidades à direita do gráfico f (x) = .
x
y

x
−4 −3 −2 −1 1 2 3 4
−1

1
−2 f (x) =
x
1
−3 g(x) =
x−2
−4

1
Figura 1.22: Gráfico de g(x) = .
x−2
18 Matemática Universitária

x−1
Exemplo 1.4.7: Considere a função h(x) = . O truque é somar e subtrair 1 no
x−2
numerador.
x−1
h(x) =
x−2
x−2+1
=
x−2
x−2 1
= +
x−2 x−2
1
=1+ .
x−2
Caso o leitor considere isso uma mágica, sugerimos fazer a substituição x − 2 = u, isto
é, u = x + 2.
x−1 u+2−1
h(x) = =
x−2 u+2−2
u+1 u 1
= = +
u u u
1 1
=1+ =1+ .
u x−2
Logo o gráfico de h é obtido pelo gráfico da g do exemplo 1.4.6 transladando 1 unidade
para cima.
y

x
−2 −1 1 2 3 4 5 6
−1

1
−2 g(x) =
x−2
1
−3 h(x) = +1
x−2

−4

x−1
Figura 1.23: Gráfico de h(x) = .
x−2
Renan Lima 19

Exercícios

1
1. Considere f (x) = x2 + 1, g(x) = 2x − 3 e h(x) = . Encontre as expressões.
x

a) f ◦ g(x) b) g ◦ f (x) c) f ◦ f (x)


d) h ◦ h(x) e) h ◦ f (x) f) f ◦ g ◦ h(x)
g) h ◦ f ◦ g(x) h) h ◦ h ◦ f (x) i) h ◦ f ◦ h(x)

2. Esboce os gráficos utilizando a ideia de translações horizontas e verticais.


√ 1
a) f (x) = (x − 2)2 b) f (x) = x − 1 c) f (x) =
x+1
(x + 2) 2 √ x+3
d) f (x) = −3 e) f (x) = x + 1 − 1 f) f (x) =
2 x+1

3. O objetivo este exercício é estudar a equação quadrática y = ax2 +bx+c, com a 6= 0,


utilizando a técnica de completar quadrado.

a) Esboce o gráfico de f (x) = ax2 para diversos valores de a fixado, com a 6= 0.

b 2 b2
 
2
b) Mostre a relação ax + bx = a x + − e conclua que
2a 4a

b 2 ∆
 
2
y = ax + bx + c = a x + − , onde ∆ = b2 − 4ac.
2a 4a

c) Conclua que a parábola y = ax2 2


 +bx+c é uma
 translação do gráfico de f (x) = ax ,
b ∆
com o vértice nas coordenadas − , − .
2a 4a

d) Se ∆ > 0, mostre que as raízes da equação quadrática y = ax2 + bx + c são



−b ± ∆
.
2a
20 Matemática Universitária

Respostas

Exercício 1
a) 4x2 − 12x + 10 b) 2x2 − 1 c) x4 + 2x2 + 2
1 4 − 12x + 10x2
d) x e) 2
f)
x +1 x2
1 x2
g) h) x2 + 1 i) 2
4x2 − 12x + 10 x +1

Exercício 2
Verifique os seus esboços pelo aplicativo no Cálculadora Gráfica do Geogebra. Sugerimos
ter o aplicativo no celular e no PC. Colocamos os esboços aqui.
y
y

a) b) c) x

d) x
e) f)
x
x
Renan Lima 21

1.5 Esboço de Gráficos usando Física

O objetivo desta seção é dar um pouco de intuição e motivação para entendermos


melhor as ideias do cálculo. Faremos o esboço de gráficos usando conceitos de física
vistos na introdução deste capítulo. Não será uma seção matematicamente formal.
Recomendamos assistir à nossa videoaula Motivação Física para o Conceito de Deri-
vada. Nesta aula, construímos o gráfico da parábola y = x2 + 4x + 5 com argumentos
de física mecânica. A ideia apresentada no vídeo será retomada futuramente, mas em
termos de derivadas e intervalos de crescimento e decrescimento. Avisamos ao leitor que
também é possível esboçar o gráfico desta função percebendo que y = x2 + 4x + 5 =
(x + 2)2 + 1 e o gráfico é obtido da parábola y = x2 transladando 2 unidades à esquerda e
1 unidade para cima. Esta percepção é uma técnica conhecida como completar quadrado.
Omitiremos uma explicação detalhada desta técnica, pois não iremos utilizá-la.
Dada uma função f : R → R, definimos a taxa de variação média de f no intervalo x
até x + h por
f (x + h) − f (x)
vh (x) = .
h
Quando f é polinomial, podemos sumir com o h no denominador e, com isso, é possível
calcular a taxa de variação instantânea substituindo h por 0. Usaremos a notação v(x)
para a taxa de variação instantânea de f no ponto x.
Exemplo 1.5.1: Considere a função f (x) = x2 . A taxa de variação média vh (1) é dada
por

f (1 + h) − f (1) (1 + h)2 − 1 1 + 2h + h2 − 1
vh (1) = = =
h h h
2h + h2 h(2 + h)
= = = 2 + h.
h h
Substituindo h por 0, encontramos a taxa de variação instantânea v(1) = 2.
Mais ainda, se quisermos encontrar vh (x), temos

f (x + h) − f (x) (x + h)2 − x2 x2 + 2xh + h2 − x2


vh (x) = = =
h h h
2xh + h2 h(2x + h)
= = = 2x + h.
h h
e concluímos que v(x) = 2x.
Sugerimos que reinterprete s(t) = t2 e, utilizando as fórmulas de física, encontre a
fórmula da velocidade instantânea.

Exemplo 1.5.2: Considere a função g(x) = x2 − 2x + 3. A variação média vh (x) é dada


por:

g(x + h) − g(x) (x + h)2 − 2(x + h) + 3 − (x2 − 2x + 3)


vh (x) = =
h h
x2 + 2xh + h2 − 2x − 2h + 3 − x2 + 2x − 3
=
h
2xh + h2 − 2h h(2x + h − 2)
= = = 2x + h − 2.
h h
Logo sua variação instantânea é v(x) = 2x − 2.
22 Matemática Universitária

Exemplo 1.5.3: Considere a função f (x) = x3 −3x+1. Para encontrar v(x) utilizaremos
o produto notável
(x + h)3 = x3 + 3x2 h + 3xh2 + h3 .
Daí,

f (x + h) − f (x) (x + h)3 − 3(x + h) + 1 − (x3 − 3x + 1)


vh (x) = =
h h
x + 3x h + 3xh + h − 3x − 3h + 1 − x3 + 3x − 1
3 2 2 3
=
h
2 2 3
3x h + 3xh + h − 3h h(3x2 + 3xh + h2 − 3)
= = = 3x2 + 3xh + h2 − 3.
h h
Logo sua variação instantânea é v(x) = 3x2 − 3 = 3(x2 − 1).

Definição 1.5.4: Taxa de Variação

Seja f : R → R um polinômio. A taxa de variação média de f no intervalo x até x + h


por
f (x + h) − f (x)
vh (x) = .
h
Como vh (x) é polinomial em h, a taxa de variação instantânea no instante x é dada
por
v(x) = v0 (x).
A função v : R → R é chamada de função de variação instantânea da f . Algumas
vezes, também usaremos a notação vf .

Teorema 1.5.5: Intervalo de Crescimento e de Decrescimento

Sejam f : R → R polinômio e v a função de variação instantânea de f . Então


1. Se v(x) > 0 no intervalo (a, b), então f é crescente em (a, b).

2. Se v(x) < 0 no intervalo (a, b), então f é decrescente em (a, b).

Exemplo 1.5.6: Considere a função g(x) = x2 −2x+3. Perceba que g(x) = (x−1)2 +2 e
portanto o gráfico da g é obtido pelo gráfico da f (x) = x2 transladando 1 para a direita
e 2 para cima. Em outras palavras, o vértice da parábola se encontra no ponto (1, 2).
Façamos o gráfico de outra forma.
Vimos no Exemplo 1.5.2 que v(x) = 2x − 2.
Note que v(x) = 0 se e somente se x = 1 e o estudo do sinal de v(x) e seus respectivos
intervalos de crescimento e decrescimento da g se encontram nos diagramas abaixo.

+ v
1

g
1
Renan Lima 23

Como g(1) = 2 e pelo estudo dos intervalos de crescimento e decrescimento de g,


concluímos que o gráfico da função g é dado abaixo.
y

2 b

x
−2 −1 1 2

Figura 1.24: Gráfico de g(x) = x2 − 2x + 3.

Exemplo 1.5.7: Considere a função f (x) = x3 − 3x + 1. Vimos no Exemplo 1.5.3 que


v(x) = 3(x2 − 1).
Note que as raízes de v(x) são 1 e −1. O estudo de sinal e o intervalo de crescimento e
decrescimento são dados nos diagramas abaixo.

+ +
v
-1 1

f
-1 1

Note que a f (1) = −1 e f (−1) = 3 e pelo jogo de setas que fizemos acima, temos a
seguinte informação sobre o seu gráfico:
y
Máximo local
b
3

x
−2 −1 1 2
b
−1

Mı́nimo local
−2

Observe que devemos unir os dois pedaços de gráficos obedecendo os intervalos de


crescimento e decrescimento da f . Para terminar o esboço do gráfico,faremos um es-
tudo mais adequado para x > 1 e x < −1, com x suficientemente grande. O truque é
colocar x3 em evidência da função f
 
3 1
f (x) = x3 1 − 2 + 3 .
x x
24 Matemática Universitária

E o termo dentro dos parênteses fica muito próximo de 1 quando x é muito grande,
logo o gráfico de f (x) é parecido com x3 quando x é muito grande. Coletando todas
as informações e, notando que f (0) = 1, o seu gráfico é
y
Máximo local
b
3

x
−2 −1 1 2
b
−1

Mı́nimo local
−2

Figura 1.25: O gráfico de f (x) = x3 − 3x + 1.

Pelo gráfico, o polinômio f (x) = x3 − 3x + 1 possui exatamente 3 raízes reais, sendo


uma delas no intervalo (0, 1), a outra no intervalo (1, 2) e a terceira raiz está no intervalo
(−2, −1). Se precisarmos desta análise das raízes, é importante que tenha calculado que
f (2) = 3 e f (−2) = −1. No capítulo 6, apresentaremos métodos melhores para estimar
raízes de um polinômio.
Finalizamos esta seção com algumas propriedades de variação instantânea para dei-
xar claro que é possível calcular rapidamente com algumas fórmulas.

Teorema 1.5.8: Fórmulas de Variação Instantânea

Sejam f e g polinômios e k ∈ R uma constante, então

1. vf +g = vf + vg .

2. vkf = kvf .

Vale ainda as seguintes fórmulas, conhecida como a regra do tombo.


1. f (x) = xn , então vf (x) = nxn−1 para todo n ∈ N.

2. f (x) = k é a função constante, então vf (x) = 0.

Demonstração:
A demonstração se encontra em Demonstração da Derivada da Soma e Demonstração da
Derivada de xn para n ∈ N, em que utilizamos a notação de derivada f 0 ao invés de vf .

Para alguns exemplos, assista à videoaula Derivada da Soma e Derivada de Polinômios.


Exemplo 1.5.9:
1. Se f (x) = x, então v(x) = 1. 4. Se f (x) = 3x2 , então v(x) = 6x.

2. Se f (x) = kx, então v(x) = k. 5. Se f (x) = x3 , então v(x) = 3x2 .

3. Se f (x) = x2 , então v(x) = 2x. 6. Se f (x) = 3x2 − 6x + 7, então v(x) = 6x − 6.


Renan Lima 25

Exercícios

1. Encontre a função variação instantânea da função f .

a) f (x) = 2x − 3 b) f (x) = x2 + 3x − 2
c) f (x) = x3 − 2x + 1 d) f (x) = 3x2 − 5x + 2
e) f (x) = 3x3 − 4x2 − 5x + 1 f) f (x) = (x2 + 4)(x − 3)

2. Esboce o gráfico das funções abaixo utilizando as ideias introduzidas nesta seção.

a) f (x) = x2 − 3x + 2 b) f (x) = −x2 + 4x − 1


c) f (x) = x3 + 3x + 1 d) f (x) = 3x3 − 3x
(x − 1)2 (x − 2)(x − 3)
e) f (x) = x4 + 4x f) f (x) =
2

Repostas

Exercício 1
a) v(x) = 2 b) v(x) = 2x + 3
c) v(x) = 3x2 − 2 d) v(x) = 6x − 5
e) v(x) = 9x2 − 8x − 5 f) v(x) = 3x2 − 6x + 4

Exercício 2
Verifique os seus esboços pelo aplicativo no Cálculadora Gráfica do Geogebra. Sugerimos
ter o aplicativo no celular e no PC.
y

a) b) x

y
y

x
c) x d)
C APÍTULO

2 Introdução ao Cálculo Integral

2.1 Arquimedes e o Cálculo de Área

O problema do cálculo das áreas foi objeto de estudo de grande interesse pelos Gregos
antigos. Eles sabiam trabalhar com o cálculo de área de polígonos e círculos, mas era
considerado insolúvel o cálculo de área de outras figuras, tais como regiões parabólicas.
y

Figura 2.1: Arquimedes foi capaz de cálcular esta área com o método da exaustão.

Com a técnica conhecida como método da exaustão, Arquimedes foi capaz de calcular
algumas regiões mais gerais, mas por quase 2000 anos, este método era um ato isolado
desse grande gênio. Uma das aplicações mais conhecidas é a estimativa do número π.
Arquimedes notou que o comprimento do círculo era um valor entre o perímetro do
polígono regular inscrito e do polígono regular circunscrito ao círculo e, quanto maior o
número de lados, melhor seria a estimativa de π.

(a) 4 lados inscrito (b) 6 lados (c) 12 lados (d) 24 lados

Figura 2.2: A área do polígono inscrito se aproxima da área do círculo.

Nesse caso acima, Arquimedes não trabalhou com áreas e, sim, com perímetros. Ele
utilizou fórmulas de perímetro conhecidas na época, calculou o perímetro dos polígonos
inscritos e circunscritos de 96 lados e chegou à notável aproximação
223 22
<π< .
71 7
Usando uma calculadora para efetuar as duas divisões, encontramos as duas primeiras
casas decimais de π, a saber π ' 3, 14. A princípio, pode parecer que teríamos uma
Renan Lima 27

aproximação com mais casas decimais, mas o nosso olho não consegue ver a diferença de
um centésimo da área. Por exemplo, na figura 2.2 letra (d), há 24 espaços em branco que,
quando somadas suas áreas, e supondo o raio 1 cm, nos fornece um valor de 0, 03 cm2 .
Pegue este valor e divida por 24 e é por isso que nosso olho não consegue perceber a
diferença. Ao leitor que estiver com a versão e-book, sugerimos dar um grande zoom
para ver o espaçamento.
Além da aproximação de π, Arquimedes encontrou a área da região delimitada pela
parábola e a reta secante (ver figura 2.1).
Em torno de 1630, com o surgimento da geometria analítica, a comunidade científica
europeia, com destaque para Fermat e Pascal, continuaram o desenvolvimento do mé-
todo da exaustão a partir de onde Arquimedes parou. Fermat encontrou um argumento
elegante para calcular a área da região delimitada pelo gráfico y = xn e as retas x = 0 e
x = b, com b arbitrário (ver figura 2.3). A forma com que Fermat calculou esta área é feita
no apêndice deste capítulo.
y
y = xn

x
b

Figura 2.3: Área calculada por Fermat com um método bastante elegante.

Houve, no período de 1630 até 1680, muitas ideias pontuais para o cálculo de área
das mais diversas figuras. Coube a Leibniz e a Newton a tarefa de recolher e unificar
estas ideias em uma teoria. O principal resultado é o que hoje chamamos de o teorema
fundamental do cálculo, que afirma que se uma área pode ser computada pelo método da
exaustão, então pode ser computada usando o processo de antiderivação ou, com o nome
mais conhecido, integração. Este teorema é um dos pilares da Teoria do Cálculo.
Houve, literalmente, uma guerra entre Newton e Leibniz sobre quem seria o grande
inventor do Cálculo, com graves acusações de plágio. Atualmente, após muita inves-
tigação dos manuscritos, é de consenso entre os historiadores que não houve plágio e,
portanto, o Cálculo tem dois pais. Newton foi quem descobriu o Cálculo primeiro, mas
Leibniz foi o primeiro a publicar os resultados.
28 Matemática Universitária

2.2 A Visão da Física do Conceito de Integral

Sugerimos a nossa videoaula Introdução com Física ao Conceito de Integral. Con-


vidamos o leitor a assistir duas vezes a esta aula, a primeira antes de começar a leitura
desta seção e a segunda após terminar a leitura, pois as ideias apresentadas no vídeo são
muito importantes, mas exigem um tempo de reflexão.
Antes de falarmos do conceito de integral, faremos uma breve explicação da notação
sigma para somatórios. Dados números a1 , · · · , an , a sua soma é denotada por
n
X
ai = a1 + a2 + . . . + an .
i=1

A letra grega Σ (sigma maiúsculo) corresponde à nossa letra S. A notação acima se lê: o
somatório de i = 1 até n de ai . A letra i é chamada de índice do somatório, mas é apenas
uma letra auxiliar e pode-se usar qualquer outra letra. Por exemplo, a soma 1 + 2 + 3 + 4
pode ser representada pela notação sigma nas seguintes formas:
4
X 4
X
i ou k.
i=1 k=1

Vamos fazer alguns exemplos e esperamos que o leitor entenda o padrão.


7
X
i2 = 12 + 22 + 32 + 42 + 52 + 62 + 72 ,
i=1
4
X 4
X
2 2 2 2 2
(k + 1) = 2 + 3 + 4 + 5 = (i + 1)2 ,
k=1 i=1
4
X k 1 2 3 4
= + + + ,
k+1 2 3 4 5
k=1
5
X
(−1)i = −1 + 1 − 1 + 1 − 1,
i=1
X5
(−1)i+1 = 1 − 1 + 1 − 1 + 1.
i=1

Não há necessidade de o índice começar pelo 1, por exemplo:


5
X 4
X
2 2 2 2 2
k =2 +3 +4 +5 = (k + 1)2 .
k=2 k=1

Voltando para o conceito de integral, considere um motorista dirigindo o carro em


linha reta e que este tenha apenas acesso ao velocímetro. Suponha que o carro parta da
posição de repouso, acelere até um certo ponto e depois desacelere até parar. Desejamos
encontrar um procedimento para calcular a distância percorrida pelo veículo, supondo
que temos um mapeamento preciso da velocidade em cada instante t em 0 a 60 segundos.
Para fixar as ideias, suponha que colocamos um sensor no velocímetro e que a função
t(60 − t)
que modela a velocidade do veículo é dada por v(t) = , em que t é dado em
30
segundos e v é dada por m/s. Observe que o veículo não anda em movimento uniforme
Renan Lima 29

e nem em movimento uniformemente variado como estamos acostumados no ensino


médio.
v(m/s)

30 ~v
s0 st f
b b

∆s
t(s)
30 60 Figura 2.5: O veículo anda para a direita.
t(60 − t)
Figura 2.4: Gráfico da função v(t) = .
30

Para resolvermos um problema dessa natureza, começamos com os casos mais sim-
ples e, aos poucos, complexificamos o problema. Suponha que o movimento do carro seja
uniforme, isto é, com velocidade instantânea constante v. A distância percorrida ∆st0 →tf
no intervalo de t0 a tf é dada por
s(tf ) − s(t0 ) = ∆st0 →tf = v(tf − t0 ) = v∆t.
Considere o referencial conforme a figura 2.5. Se v > 0, então s(tf ) se encontra à direita
de s(t0 ); se v < 0, então s(tf ) está à esquerda de s(t0 ). A expressão |v|∆t é a área do
retângulo de altura |v| e base de tamanho ∆t.

v(m/s) v(m/s)

v tf
t0
t(s)
t(s)
t0 tf
v

s(t0 ) s(tf ) s(tf ) s(t0 )

∆s > 0 ∆s < 0
(a) Caso v > 0. (b) Caso v < 0.

Figura 2.6: Estudo de casos pela fórmula ∆s = v∆t e a sua relação com a área sob o gráfico.

Supomos agora que o carro anda em movimento uniforme com velocidade v1 nos
instantes t0 até t1 e, no instante t1 , ganha um impulso, de modo que de t1 até tf , tenha
velocidade constante v2 . A distância percorrida é dada por
∆st0 →tf = ∆st0 →t1 + ∆st1 →tf = v1 ∆t1 + v2 ∆t2 ,
em que ∆t1 = t1 − t0 e ∆t2 = tf − t1 . Note que se v1 > 0 e v2 > 0, então ∆st0 →tf é a área
da região entre o gráfico da velocidade e o eixo t, com t0 ≤ t ≤ tf .
v(m/s)

v2

v1

t(s)
t0 t1 tf

Figura 2.7: Movimento subdividido em dois movimentos retilíneos uniformes.


30 Matemática Universitária

Supomos agora que o carro anda em movimento uniforme em 3 partes distintas do


trecho, com velocidade v1 entre t0 e t1 ; v2 entre t1 e t2 ; v3 entre t2 e tf . A distância
percorrida é dada por
∆st0 →tf = ∆st0 →t1 + ∆st1 →t2 + ∆st2 →tf = v1 ∆t1 + v2 ∆t2 + v3 ∆t3 ,
em que ∆t1 = t1 − t0 , ∆t2 = t2 − t1 e ∆t3 = tf − t2 . A distância percorrida é a área da
região entre o gráfico da velocidade (caso v1 , v2 , v3 > 0) e o eixo t, com t0 ≤ t ≤ tf .
v(m/s)

v2

v1
v3
t(s)
t0 t1 t2 tf

Figura 2.8: Movimento subdividido em três movimentos retilíneos uniformes.

Consideremos agora um movimento não uniforme, em que v é uma função qualquer


de t. Para fixar as ideias, vamos supor que v(t) ≥ 0. Imaginemos o intervalo [t0 , tf ]
subdividido em um grande número de pequenos intervalos [t0 , t1 ], [t1 , t2 ], · · · , [tn−1 , tf ].
Por exemplo, se n = 3, dividimos o intervalo [t0 , tf ] em 3 subintervalos.
Em cada um dos intervalos [ti , ti+1 ], escolhemos ci , tal que v(ci ) seja o representante
marcado no velocímetro do carro. Daí, ∆sti−1 →ti ' v(ci )∆ti , em que ∆ti = ti − ti−1 , e,
portanto,
∆st0 →tf = ∆st0 →t1 + ∆st1 →t2 + ∆st2 →t3 + . . . + ∆stn−1 →tf
' v(c1 ) ∆t1 + v(c2 )∆t2 + v(c3 )∆t3 + . . . + v(cn )∆tn .

v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s)
t0 tf t0 t1 tf
(a) Gráfico genérico de v(t). (b) Caso tf = t2 .
v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s)
t0 t1 t2 tf t0 t1 t2 t3 tf
(c) Caso tf = t3 . (d) Caso tf = t4 .

Figura 2.9: A soma das áreas do retângulo para o caso que escolhemos ci = ti .
Renan Lima 31

Passando para a notação sigma, temos


n
X
∆st0 →tf ' v(ci )∆ti .
i=1

Se os subintervalos [ti−1 , ti ] forem suficientemente pequenos, podemos supor que a


velocidade do carro seja constante em cada um dos seus pontos. Isto significa que, se
olharmos o velocímetro por menos de um segundo, parece que o velocímetro está parado.
Matematicamente, à medida que as subdivisões ∆ti ficam menores, mais preciso será
o valor do deslocamento total e espera-se, pelo método de exaustão, que o somatório
convirja para o valor real do deslocamento total.

v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s)
tf tf
(a) Divisão em 8 pedaços iguais. (b) Divisão em 16 pedaços iguais.
v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s)
tf tf
(c) Divisão em 32 pedaços iguais. (d) Divisão em 64 pedaços iguais.

Figura 2.10: A soma das áreas dos retângulos se confunde com a área sob o gráfico se as medidas dos
subintervalos [ti−1 , ti ] forem "pequenas suficiente".

Utilizaremos, portanto, a seguinte notação, criada por Leibniz,


Z tf
s(tf ) − s(t0 ) = ∆st0 →tf = v(t)dt.
t0
R
O símbolo de integral é uma deformação do S de soma.
t(60 − t)
Voltemos ao nosso exemplo inicial v(t) = . As figuras abaixo mostram o
30
n
X
comportamento da expressão v(ci )∆ti conforme ∆ti for diminuindo, em que o ci é o
i=1
ponto médio do intervalo [ti−i , ti ].
32 Matemática Universitária

v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s)
t0 t1 t2 60 t0 t1 t2 t3 60
c1 c2 c3 c1 c2 c3 c4
(a) Divisão em 3 pedaços iguais (b) Divisão em 4 pedaços iguais
v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s)
t0 t1 t2 t3 t4 t5 t6 t7
60 60
c1 c2 c3 c4 c5 c6 c7 c8
(c) Divisão em 8 pedaços iguais (d) Divisão em 64 pedaço iguais

Figura 2.11: Escolhemos ci como sendo o ponto médio do intervalo [ti−1 , ti ].

Geometricamente, significa que o deslocamento total é a área da região delimitada


pelo gráfico de v, o eixo t e as retas t = t0 e t = tf . Veremos no exemplo 2.3.12 que a
resposta é 1.200 m.
No caso de a velocidade ficar negativa em um intervalo, podemos pensar que o veí-
culo está andando de marcha-ré, mas independentemente, vale a fórmula
Z tf
s(tf ) − s(t0 ) = v(t)dt.
t0
v(m/s)

Geometricamente, a integral calcula a di-


ferença entre a área de cima e a área de baixo.
tf
t(s)
A área, geometricamente falando, é sem-
pre um número positivo. A integral só
tem a interpretação geométrica de área se
a função v(t) satisfaz v(t) ≥ 0 para todo
t ∈ [t0 , tf ].

Para frente Para frente


marcha-ré marcha-ré

Pela mesma lógica, temos a seguinte relação entre a aceleração e a velocidade


Z tf
v(tf ) − v(t0 ) = a(t)dt.
t0

Uma pequena aplicação dessas ideias é resolver um exercício com movimento retilí-
neo uniformemente variado (sem aplicação de fórmula).
Renan Lima 33

Exemplo 2.2.1: Suponha que um carro, partindo do repouso, se desloca com aceleração
constante de 2 m/s2 no intervalo 0 a 10 segundos. Qual é o deslocamento total?
Lembremos que um veículo partir do repouso significa que v0 = 0. Lembremos a
fórmula aprendida no ensino médio de movimento retilíneo uniformemente acelerado

at2
s(t) = s0 + v0 t + = s0 + t2 .
2
Fazendo t = 10, temos que ∆s = s(10) − s0 = 100 metros. Vamos encontrar a mesma
resposta, mas aplicando as ideias desta seção.
Como a(t) > 0, temos que ∆v0→t é a área da região delimitada pelo gráfico de a(t) (em
relação ao tempo) e pelas retas "t = 0", "t = t" e o eixo t.
a(m/s2 )

t(s)
t 10
Figura 2.12: Gráfico da aceleração com o tempo.

Daí, chegamos à fórmula ∆v0→t = 2t.


Como ∆v0→t = v(t) − v0 e v0 = 0, temos v(t) = 2t. Como v(t) ≥ 0 para todo t ∈ [0, 10],
temos que ∆s0→10 é a área da região delimitada pelo gráfico de v(t), o eixo t e as retas
t = 0 e t = 10.
v(m/s)

20

t(s)
10
Figura 2.13: A reta v(t) = 2t.

b×h 10 × 20
Temos, portanto, que ∆s0→10 = = = 100 metros.
2 2
34 Matemática Universitária

Exercícios

1. Encontre o valor da soma de cada um dos itens abaixo.

5
X 6
X 100
X
2 j
a) i b) 2 c) 3
i=1 j=1 k=1

10
X 151
X 100
X
n
(−1)k 1 + (−1)k

d) (−1) e) f)
n=1 k=1 k=1

4
X 8
X 10
X
g) kk h) i2 i) (−2)n−2
k=1 i=3 n=5

2. Passe os somatórios abaixo para a notação sigma.

a) 1 + 3 + 5 + 7 + 9 + 11 b) 1 − 3 + 5 − 7 + 9 − 11

c) 23 + 33 + 43 + 53 + . . . + 203 d) 24 + 25 + 26 + . . . + 215

1 1 1 1 1 3 5 7 9 11
e) + + + ... + f) + + + + +
2 3 4 10 1 2 3 4 5 6
1 1 1 1 1
g) − + − + h) 32 − 42 + 52 − 62 + 72 − 82
2 4 6 8 10

3. Suponha que um carro com velocidade de 10 m/s acelera por 5 segundos com ace-
leração constante de 3 m/s2 . Qual o deslocamento total neste intervalo?

4. Suponha que uma particula parte do repouso e com aceleração dada, no SI, pela
equação a(t) = 2t + 3. Encontre a velocidade da partícula no instante em que t = 5
segundos.
Renan Lima 35

Respostas

Exercício 1

a) 55 b) 126 c) 300

d) 0 e) −1 f) 100

g) 288 h) 199 i) 168

Exercício 2

Nesta questão, há várias soluções possíveis. Vamos apresentar duas delas em cada item.
6
X 5
X
a) (2k − 1) ou (2k + 1)
k=1 k=0

6
X 5
X
b) (−1)k+1 (2k − 1) ou (−1)k (2k + 1)
k=1 k=0

19
X 20
X
3
c) (n + 1) ou n3
n=1 n=2

12
X 15
X
d) 2n+3 ou 2n
n=1 n=4

9 10
X 1 X1
e) ou
i+1 i
i=1 i=2

6 5
X 2i − 1 X 2i + 1
f) ou
i i+1
i=1 i=0

5 6
X (−1)j+1 X (−1)j
g) ou
2j (2j − 2)
j=1 j=2

5
X 6
X
h) (−1)j (j + 3)2 ou (−1)j+1 (j + 2)2
j=0 j=1

Exercício 3
∆s = 87, 5 m

Exercício 4
v(5) = 40 m/s
36 Matemática Universitária

2.3 Integrais de Polinômios e o Cálculo de Área

Vimos na seção anterior uma motivação com a física para o cálculo de integrais e
Z b
introduzimos a notação de Leibniz f (t)dt. Neste caso, a variável t é apenas uma letra
a
auxiliar e pode ser mudada por qualquer outra letra:
Z b Z b Z b
f (t) dt = f (x) dx = f (u) du.
a a a

O objetivo desta seção é resolver algumas integrais polinomiais de forma rápida.

Teorema 2.3.1: Fórmulas Básicas

Sejam f, g : [a, b] → R funções polinomiais, então

Z b 
Z b Z b
1. f (x) + g(x) dx = f (x) dx + g(x) dx.
a a a
Z b 
Z b Z b
2. f (x) − g(x) dx = f (x) dx − g(x) dx.
a a a
Z b Z b
3. kf (x) dx = k f (x) dx, em que k ∈ R.
a a
Z b
4. k dx = k(b − a).
a
b
bn+1 − an+1
Z
5. xn dx = , em que n ∈ N.
a n+1

Demonstração:
As provas dos itens 1, 2, 3 e 4 serão feitas com o devido rigor no capítulo 8. Para o leitor
se convencer da validade, verifique, por exemplo, para o item 3 que
n
X n
X
kf (ci )∆xi = k f (ci )∆xi .
i=1 i=1

A demonstração (feita por Fermat) do item 5 se encontra no apêndice deste capítulo.

b
b
xn+1 bn+1 an+1
Z
n .
Para organização, no item 5, escrevemos x dx = = −
a n+1 n+1 n+1
a
Z 2
Exemplo 2.3.2: Vamos calcular 2x2 dx.
1
 
2
2 2
x3 23 13
Z Z    
7 14
2x2 dx = 2 x2 dx = 2  =2 − =2 = .
1 1 3 3 3 3 3
1
Renan Lima 37

Z 5
x2 − x dx.

Exemplo 2.3.3: Vamos calcular
0
Z 5 Z 5 Z 5
2 2

x − x dx = x dx − x dx
0 0 0
5 5
x3 x2 53 03 52 02
   
= − = − − −
3 2 3 3 2 2
0 0
125 25 175
= − = .
3 2 6

Definição 2.3.4: Primitivas de Polinômios

Seja f : R → R polinômio. Dizemos que o polinômio F é primitiva de f se para todo


a, b ∈ R, tem-se
Z b
f (x) dx = F (b) − F (a).
a

xn+1
Exemplo 2.3.5: O polinômio F (x) = é uma primitiva de f (x) = xn .
n+1
xn+1
O polinômio G(x) = +1 é também primitiva de f , pois G(b)−G(a) = F (b)−F (a).
n+1
xn+1
Mais geralmente, todo o polinômio da forma + C, com C ∈ R é primitiva de f .
n+1

Exemplo 2.3.6: O polinômio F (x) = x é primitiva do polinômio constante f (x) = 1.


Todo polinômio da forma x + C é primitiva da f .

Exemplo 2.3.7: A função F (x) = x3 é primitiva da função f (x) = 3x2 . Todo polinômio
da forma x3 + C, com C ∈ R é primitiva de f .

Teorema 2.3.8: Propriedade das Primitivas

Sejam f, g polinômios e F, G as primitivas de f e g, respectivamente. Então

1. F + G é primitiva de f + g. 2. kF é primitiva de kf , onde k ∈ R.

Demonstração:
Z b 
1. Seja H(x) = F (x)+G(x), Queremos provar que f (x)+g(x) dx = H(b)−H(a).
a
Z b 
Z b Z b
f (x) + g(x) dx = f (x) dx + g(x) dx
a a a
= F (b) − F (a) + G(b) − G(a) = H(b) − H(a).

2. Seja H(x) = kF (x), então


Z b Z b
kf (x) dx = k f (x) dx = k(F (b) − F (a)) = H(b) − H(a).
a a
38 Matemática Universitária

x3 x2
Exemplo 2.3.9: Todo polinômio da forma F (x) = − + C, com C ∈ R, é primitiva
3 2
de f (x) = x2 − x, feita no exemplo 2.3.3 (verifique!).

É possível mostrar que se F (x) é uma primitiva da f , então todas as primitivas de f


são da forma F (x) +ZC, com C ∈ R. Veremos no capítulo 7 a demonstração desse fato.
Usaremos a notação f (x) dx para representar todas as primitivas de f e a chamamos
de integral indefinida de f . Em outras palavras, temos
Z
f (x) dx = F (x) + C.

O teorema 2.3.8 diz que vale


Z Z Z

f (x) + g(x) dx = f (x) dx + g(x) dx.

Este resultado pode ser generalizado para um número finito de termos, isto é, dados
f , g e h, temos que
Z Z Z Z

f (x) + g(x) + h(x) dx = f (x) dx + g(x) dx + h(x) dx.

Z b
Chamamos f (x) dx de integral definida de f .
a

Recomendamos a nossa videoaula Primeiros Exemplos de Primitivas - Polinômios.


Neste vídeo, fazemos 4 exemplos de integração com polinômios, em que vamos naturali-
zando o teorema 2.3.8. Colocaremos alguns exemplos para que o leitor observe o padrão.
Exemplo 2.3.10:
xn+1
Z
1. xn dx = + C.
n+1
x4 x3
Z
x3 + x2 dx =

2. + + C.
4 3
x5 x4 x3
Z
5x4 − 4x3 + 3x2 dx = 5 · + C = x5 − x4 + x3 + C.

3. −4· +3·
5 4 3
x4 x3 x4
Z
2x3 − 6x2 dx = 2 · − 2x3 + C.

4. −6· +C =
4 3 2

Como já dito no começo desta seção, quando colocamos os limites da integração, a


variável da função não tem importância, isto é,
Z b Z b Z b
f (t)dt = f (x)dx = f (u)du.
a a a

Para integrais indefinidas, devemos manter a variável de integração.

t3
Z Z
4u3 − 3u2 + 2 du = u4 − u3 + 2u + C,
2
 2

1. t − 2t dt = − t + C, 2.
3
2v 5
Z
2v 4 − 6v 2 + 6v − 1 dv = − 2v 3 + 3v 2 − v + C.

3.
5
Renan Lima 39

O próximo exemplo é feito na videoaula Aplicação de Integral - Movimento Retilíneo.


Exemplo 2.3.11: Considere uma partícula andando em movimento retilíneo uniforme-
mente variado com s(0) = s0 , v(0) = v0 e aceleração constante a. Temos que v(t) é
primitiva de a. Por outro lado, sabemos que
Z
a dt = at + C.

Logo v(t) = at + C para algum C. Fazendo t = 0, temos que v0 = v(0) = a.0 + C = C


e isso mostra que
v(t) = v0 + at.
t2
Z

Integrando novamente, temos que v0 + at dt = v0 t + a · + C.
2
at2
Daí, s(t) = C + v0 t + para algum C ∈ R. Fazendo t = 0, temos que C = s0 . Logo
2
at2
s(t) = s0 + v0 t + .
2

Exemplo 2.3.12: Suponha que a velocidade do veículo no intervalo de [0, 60] seja dada
t(60 − t)
pela função v(t) = , em que t é medido em segundos e v é medida em m/s. O
30
deslocamento total é dado por
60 60 60
t(60 − t)
Z Z Z
1
∆s = v(t) dt = dt = (60t − t2 ) dt
0 0 30 30 0

60
t2 t3 602 603
   
1 1
= 60 · − = 60 · −
30 2 3 30 2 3
0

603
   
1 1 12
= − = 2 × 60 = 1200.
30 2 3 6

Logo o veículo se deslocou 1.200 metros.

n
X
Vimos na seção 2.2 que dado f : [a, b] → R, trabalhamos com a soma f (ci )∆xi ,
i=1
onde {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} é uma partição de [a, b] em n pedaços e ∆xi = xi − xi−1 .
Se para todo i, o tamanho ∆xi for cada vez menor, esperamos que o somatório convirja
Z b
para um valor real que denotamos por f (x) dx. Mais ainda, se f (x) ≥ 0 para todo
a
x ∈ [a, b], então f (ci )∆xi é a área do retângulo de base ∆xi e altura f (ci ) e a soma destas
áreas converge para a área da região delimitada pelo gráfico de f , o eixo x e as retas x = a
e x = b.
v(m/s) v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s) t(s)

Figura 2.14: A soma das áreas dos retângulos.


40 Matemática Universitária

O interessante da notação de Leibniz é que f (x) pode ser pensada como altura do
retângulo, enquanto dx como a medida da base, esta medida pode ser interpretada como
distância infinitesimal, que significa que é tão pequena quanto se queira.

Sugerimos a nossa videoaula Exemplos de Cálculo de Área. Avisamos que este vídeo
tem um pequeno erro no terceiro exemplo. Consegue encontrar o erro?
Exemplo 2.3.13: Vamos encontrar a área da região delimitada pela parábola y = x2 , o
eixo x e as retas x = 1 e x = 3.
y y

y = x2

x2
x x
1 3 1 dx 3
(a) Esboço da região. (b) Retângulo de "base infinitesimal".

Figura 2.15: A região e o pensamento do retângulo.

É importante imaginarmos o retângulo com base infinitesimal. Vemos que a altura é x2


e a base é dx. Temos que a área é dada por
3
3
x3 33 1
Z
2 26
x dx = = − = .
1 3 3 3 3
1

Exemplo 2.3.14: Vamos encontrar a área da região delimitada pela parábola y = x2 e


pela reta y = 4.
y y
y=4 y=4 dx
4 − x2

y = x2 y = x2

x x
−2 2 −2 2
(a) Esboço da região. (b) O retângulo tem altura 4 − x2 .

Figura 2.16: A região de integração e o pensamento do retângulo infinitesimal.

Observe na figura que a altura do retângulo é sempre a parte de cima subtraída da parte
de baixo, então a altura é dada por 4 − x2 e a base é dx. Para encontrar os limites de
integração, precisamos encontrar os pontos de interseção da parábola y = x2 e a reta
y = 4 e, para isso, basta igualar as duas expressões: y = x2 = 4, e daí, x = ±2. Logo a
área da região é dada por
2
2
x3
     
−8
Z
2
 8 32
4−x dx = 4x − = 8− − −8 − = .
−2 3 3 3 3
−2
Renan Lima 41

Exemplo 2.3.15: Vamos determinar a área da região delimitada pela curva y = x3 e


pela reta y = x restrita ao 1º quadrante.
y y

dx

x − x3
y=x

−1 y = x3 −1
x x
1 x 1

(a) Esboço da região. (b) O retângulo tem altura x − x3 .

Figura 2.17: A região de integração e o pensamento do retângulo infinitesimal.

Observe que a altura do retângulo é x − x3 e o lado é dx. Para encontrar os limites de


integração, basta igualar x = x3 . Temos então que

x3 − x = 0 ⇒ x(x2 − 1) = 0.

As raízes são, portanto, x = 0, x = 1 e x = −1. Como x ≥ 0, vemos que os limites de


integração são x = 0 e x = 1. Temos que a área é
1
1
x2 x4 12 14 02 04
Z      
3 1
(x − x ) dx = − = − − − = .
0 2 4 2 4 2 4 4
0

Exemplo 2.3.16: Vamos encontrar a área da região delimitada pelo eixo x e a parábola
y = x2 − 1.
y y

dx
x x
1 1
1 − x2

−1 −1

y = x2 − 1 y = x2 − 1

−1 −1
(a) Esboço da região. (b) O retângulo tem altura x2 − 1.

Figura 2.18: A região de integração e o pensamento do retângulo infinitesimal.

Pela figura, observe que o eixo x está acima da parábola e a equação desta reta é dada
por y = 0. Logo, a função de cima é y = 0, a função de baixo é y = x2 − 1 e x varia de
−1 até 1. Temos, portanto,

1 1 1
x3
Z Z 
2 2
 
0 − (x − 1) dx = 1 − x dx = x −
−1 −1 3
−1
3
   
1 (−1) 2 2 4
= 1− − −1 − = + = .
3 3 3 3 3
42 Matemática Universitária

Exercícios

1. Resolva cada uma das integrais definidas.


Z 3 Z 1 Z 4
2
a) 2x dx b) (4x3 + 2x + 3) dx c) (2x2 + 3x) dx
1 0 0
Z 4 Z 2 Z 2
d) (x3 − 2x) dx e) (v 4 − 2v + 1) dv f) (2x + 1)2 dx
2 1 −1
Z −1 Z 1 Z 3
2 2 5 3
g) (t + 1) dt h) (x − 2x + 3x) dx i) (u + 1)3 du
−2 −1 −2

2. Resolva cada uma das integrais indefinidas abaixo.


Z Z
2
a) (5x + 7x + 1) dx b) (x3 − 3x2 − 5x + 2) dx
Z Z
5 4 3
c) (t − t + 2t − 1) dt d) (3t3 + 2)2 dt
Z Z
2 3
e) (u − 1) du f) (w + 1)(w2 − w + 1) dw

3. Uma partícula tem a equação da velocidade dada por v(t) = (t + 1)(t + 2)(t + 3),
em que t é dado em segundos e v em m/s.
a) Encontre o deslocamento total da partícula de t = 0 até t = 4 segundos.
b) Encontre o deslocamento total da partícula de t = 1 até t = 3 segundos.
c) Suponha que a posição inicial da partícula seja s0 = 5 m. Encontre a equação
geral do movimento da partícula.

4. Uma partícula tem a equação da aceleração dada por a(t) = 6t − 4. Sabendo que
v0 = 2 e s0 = 1, encontre a equação posição. Todas as unidades estão em SI (Sistema
Internacional - metros, segundos, etc).

5. Encontre a área das regiões descritas em cada um dos itens abaixo.

a) Região delimitada pelas retas y = 0, x = 2, x = 3 e pela parábola y = 3x2 .

b) Região delimitada pelas retas y = 2x, y = −1 e x = 1.

c) Região delimitada pela parábola y = 2x2 + 1 e pela reta y = 3.

d) Região delimitada pela parábola y = x2 − 4x e o eixo x.

e) Região delimitada pelas parábolas y = x2 − 4 e y = −2x2 + 8

f) Região delimitada pela cúbica y = x3 e pelas retas x = 0, x = 1 e y = −1.


Renan Lima 43

Respostas

Sugerimos o Geogebra CAS Calculator, disponível para android, mas também pode ser
acessado em https://www.geogebra.org/cas?lang=pt.
Exercício 1
52 200
a) b) 5 c)
3 3
21
d) 48 e) f) 21
5
178 255
g) h) 0 i)
15 4

Exercício 2
5x3 7x2 x4 5x2
a) + +x+C b) − x3 − + 2x + C
3 2 4 2
t6 t5 t4 9t7
c) − + −t+C d) + 3t4 + 4t + C
6 5 2 7
u7 3u5 w4
e) − + u3 − u + C f) +w+C
7 5 4

Exercício 3

a) s0→4 = 304 m

b) s1→3 = 128 m
t4 11t2
c) s(t) = + 2t3 + + 6t + 5
4 2

Exercício 4

s(t) = 1 + 2t − 2t2 + t3
Exercício 5
9 8
a) 19 u.a. b) u.a. c) u.a.
4 3
32 5
d) u.a. e) 32 u.a. f) u.a.
3 4
Apêndice do Capítulo 2

44
Renan Lima 45

2.A Fermat e o Cálculo de Áreas

Esta seção pode ser melhor apreciada pelo leitor como uma segunda leitura e dei-
xamos como um apêndice do capítulo. Nesta seção, vamos mostrar que vale a fórmula
Z b
bk+1 ak+1
xk = − com as ideias de Fermat. Para termos uma visão histórica, Fermat
a k+1 k+1
nasceu em 1607 e faleceu em 1667, enquanto Newton nasceu em 1642 e criou o cálculo aos
24 anos de idade, em 1667.
O trabalho de Fermat foi tão impressionante, que muitos historiadores consideram
que Fermat foi o pai da Geometria Analítica (ao invés de Descartes) e também o verda-
deiro criador do cálculo. Apesar do incrível trabalho e de ter tido várias ideias fascinantes,
Fermat não percebeu o teorema fundamental do cálculo, que foi descoberto, independente-
mente por Leibniz e Newton.
A fórmula acima foi provada, historicamente, caso a caso com o valor de k especifi-
cado. O caso k = 1 é a conhecida área do triângulo, enquanto o caso k = 2 foi provado
por Arquimedes, com o método da exaustão. Cavalieri conseguiu demonstrá-la para os
casos k = 3 até k = 9, mas era um método geométrico extremamente trabalhoso que
falhou para o caso k = 10. Pascal demonstrou o caso geral.
Fermat conseguiu simplificar a demonstração desta fórmula, utilizando apenas pro-
gressões geométricas. Vamos a esta demonstração interessante em que começamos fa-
zendo o caso em que a = 0.
Fixe um valor r tal que 0 < r < 1 e divida o intervalo (0, b] em infinitos subintervalos
da forma [rb, b], [r2 b, rb], . . . , [rn b, rn−1 b], . . .. Em cada subintervalo In = [rn b, rn−1 b], seja
Rn a área do retângulo de base In e altura (rn b)k . As figuras abaixo mostram como a
serão feitas as aproximações da área por retângulos para vários valores da razão.

v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s)
b R3R2 R1
b
(a) r = 0, 5 (b) r = 0, 7

v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s)
b b
(c) r = 0, 9 (d) r = 0, 95

Figura 2.19: A soma das áreas dos retângulos se aproximam à medida que r se aproxima de 1.
46 Matemática Universitária

Para cada n, a área do retângulo Rn é dada pela expressão


   
n−1 n kn k n 1 kn k k+1 1 − r
Rn = (r b − r b)r b = br −1 r b =b (rk+1 )n .
r r

Temos, portanto,
 
k+1 1−r
R1 + R2 + . . . + Rn + . . . = b [1 + rk+1 + (rk+1 )2 + . . . + (rk+1 )n + . . .]
r

1
Lembrando a fórmula da soma infinita (1 + q + q 2 + . . . + q n + . . .) = , se −1 < q < 1
1−q
e substituindo q por rk+1 , temos

bk+1 (1 − r)
R1 + R2 + . . . + Rn + . . . =
r(1 − rk+1 )

A soma finita de uma progressão geométrica é dada por

rk+1 − 1 1 − rk+1
1 + r + r2 + . . . + rk = = ,
r−1 1−r
daí, temos que

bk+1
R1 + R2 + . . . + Rn + . . . = .
r + r2 + r3 + r4 + . . . + rk+1

À medida que r se aproxima de 1, a soma das áreas dos retângulos se aproxima me-
lhor da área da região abaixo do gráfico de f (x) = xk de x = 0 até x = b e, portanto, é
razoável esperar que se substituirmos r = 1 na expressão da soma da área, então
b
bk+1 bk+1
Z
xk dx = = .
0 1 + 12 + 13 + 14 + . . . + 1k+1 k+1

A fórmula do item 5 do teorema 2.3.8 pode ser deduzida por interpretação geomé-
trica. Por exemplo se 0 < a < b, temos que
b b a
bk+1 ak+1
Z Z Z
k k
x dx = x dx − xk dx = − .
a 0 0 k+1 k+1

O caso a < 0, deixamos como exercício ao leitor. Será necessário separar os casos em que
k é par e k é impar.

É importante observar que, com as devidas modificações, a demonstração de Fermat


funciona para os casos em que k ∈ Q e k 6= −1.
Z
1
O caso k = −1 não funciona e o estudo da integral dx foi a principal motivação
x
de estudar função logaritmo do ponto de vista do cálculo.
Caso o leitor se indague se Fermat tinha percebido que a sua demonstração funcionava
para k ∈ Q e k 6= −1, a resposta é sim! Ele fez todos os casos em um único artigo!
Parte II

Cálculo Diferencial

47
C APÍTULO

3 Noções de Limite e de Derivada

3.1 Introdução dos Conceitos

Vimos no capítulo anterior que se desejamos encontrar a taxa de variação instantânea


de uma função f : R → R devemos considerar o quociente

f (x + h) − f (x)
h
para h suficientemente pequeno, mas sempre diferente de 0. Vimos ainda que para funções
polinomiais, após algumas manipulações algébricas, substituíamos h por 0.
Neste capítulo, introduziremos uma nova ferramenta matemática, conhecida como
Limite. Dados uma função f e um ponto p no domínio de f , a operação de limite em p
tem como objetivo entender o comportamento da função no ponto p, mas não olhando
para o ponto p em si, mas olhando para os valores de f (x) para x suficientemente próximos
de p. Mais precisamente, serão analisados os valores de f (x) e será visto se há alguma
estabilização nesses valores à medida que o x se aproxima de p. Caso o número se esta-
bilize, digamos para um número L, denotamos

lim f (x) = L.
x→p

Voltando ao nosso problema original, a taxa de variação de f em x é dada por

f (x + h) − f (x)
lim .
h→0 h

E chamamos, caso este limite exista, de derivada de f em x, denotado por f 0 (x).


O objetivo principal deste capítulo é entender o conceito de limite de forma intuitiva
e falar o mínimo necessário que o estudante de cálculo precisa para avançar. Faremos al-
gumas extensões dos conceitos de limites, como limites laterais, limites infinitos e limites
no infinito.
Depois de estudarmos os princípios básicos do conceito de limite, estudaremos uma
classe especial de limite que é a derivada. Aprenderemos a calcular a derivada de algu-
mas funções básicas. No final do capítulo, falaremos da regra de L’Hospital, que é um
resultado muito útil para calcular limites de forma bem simples e rápida.
Ao leitor, que se sente incomodado em trabalhar com a visão mais intuitiva de limi-
tes e gostaria de ver a sua definição formal e rigorosa, pode ler as primeiras seções do
capítulo 9. Finalizamos a seção recomendando o nosso vídeo Motivação Física para o
Conceito de Limites.
Renan Lima 49

3.2 Noção Intuitiva de Limites e as suas Propriedades

Nesta seção, entenderemos, informalmente, o conceito de limite, as suas proprieda-


des básicas e como calcular alguns deles. O leitor que tiver curiosidade sobre a definição
formal de limite, sugerimos ler o capítulo 9. Avisamos de antemão que a definição for-
mal de limite não ajuda na compreensão para o estudo do cálculo. Toda a explicação do
conceito informal de limite pode ser encontrado na nossa videoaula Noção Intuitiva de
Limites. Considere f : (a, b) − {x0 } → R uma função real e x0 ∈ (a, b).

Definição 3.2.1: Limites de forma intuitiva

Se os valores de f (x) ficam tão próximo quanto quisermos de L, desde que tomemos
valores de x0 suficientemente próximo de x0 , então escrevemos

lim f (x) = L.
x→x0

Mencionamos um resultado e aos poucos ele será melhor explicado.

Teorema 3.2.2: Unicidade do Limite

Se o limite existir, ele é único.

Para entendermos a sutileza deste conceito, vamos construir um exemplo onde o li-
mite não existe. Considere a função

1, se x > 0,
f (x) =
−1, se x < 0.

Façamos um esboço do gráfico e montemos uma tabela descrevendo o que acontece com
f (x) quando x se aproxima de 0.

y
x f (x) x f (x)

−1 −1 1 1
x −0, 1 −1 0, 1 1
−0, 1 −1 0, 1 1
−0, 01 −1 0, 01 1
−0, 001 −1 0, 001 1
x Tabela 3.1: Valores de f (x) próximos de x = 0.
Figura 3.1: Gráfico da função f (x) = .
|x|

Note que, pela tabela (ou pelo gráfico), quando x se aproxima de 0 mas com x < 0,
temos que f (x) = −1, enquanto se x aproxima de 0 mas com x > 0, temos que f (x) = 1.
Logo, temos dois candidatos para lim f (x). Como o limite, caso exista, é único, concluí-
x→0
mos que não existe o limite de f (x) quando x tende a 0. Em linguagem simbólica,

@ lim f (x).
x→0
50 Matemática Universitária

Sugerimos ao leitor se convencer o porquê de não existirem


1 1
lim e lim .
x→0 x x→0 x2

y y

x x

Figura 3.2: Exemplos onde os limites não existem.

Voltaremos mais tarde para o caso em que a função vai para o infinito.
Antes de começarmos de fato a calcular alguns limites, precisamos de algumas pro-
priedades que facilitarão a nossa vida. Recomendamos assistir à nossa videoaula Propri-
edades Básicas de Limites.

Teorema 3.2.3: Propriedades Básicas de Limites

Dado c ∈ R e sejam f e g funções definidas próximo de um ponto x0 satisfazendo


lim f (x) = L e lim g(x) = M , então
x→x0 x→x0


1. lim f (x) + g(x) = L + M ; f (x) L
x→x0 4. lim = , caso M 6= 0;
x→x0 g(x) M

2. lim f (x) − g(x) = L − M ; 5. lim c = c;
x→x0 x→x0

3. lim f (x) · g(x) = L · M ; 6. lim x = x0 .


x→x0 x→x0

Pelas propriedades 3 e 5, temos que, se lim f (x) = L e c ∈ R, então


x→x0

lim cf (x) = cL = c lim f (x).


x→x0 x→x0

Exemplo 3.2.4: Para calcular lim (x2 + 4), aplicamos o teorema 3.2.3 item 3:
x→3

lim x2 = lim x · lim x = 3 · 3 = 9.


x→3 x→3 x→3

Como lim 4 = 4, então, pelo item 1, temos


x→3

lim x2 + 4 = lim x2 + lim 4 = 9 + 4 = 13.


x→3 x→3 x→3

Repare que, na prática, apenas substituímos x por 3 na expressão x2 + 4.

x3 + 1
Exemplo 3.2.5: Vamos calcular lim .
x→2 x
A ideia é primeiro calcular lim (x3 + 1) = 9 e depois usar o item 4 do teorema 3.2.3,
x→2
Renan Lima 51

que diz que o limite da divisão é a divisão dos limites.

lim x3 = lim x2 · lim x = lim x · lim x · lim x = 2 · 2 · 2 = 23 = 8.


x→2 x→2 x→2 x→2 x→2 x→2

Daí,
lim (x3 + 1) = lim x3 + lim 1 = 8 + 1 = 9.
x→2 x→2 x→2

Finalmente,
x3 + 1 lim x3 + 1 9
x→2
lim = = .
x→2 x lim x 2
x→2

x3 + 1
Novamente, apenas substituímos x por 2 na expressão .
x

Aplicando sucessivamente as propriedades de limite, temos os seguintes resultados.


Exemplo 3.2.6: Suponha que f, g e h são funções tais que os seus limites existam
quando x tende a x0 , então
 
1. lim f (x) + 2g(x) − 3h(x) = lim f (x) + 2 lim g(x) − 3 lim h(x) .
x→x0 x→x0 x→x0 x→x0
 
2. lim f (x) · g(x) · h(x) = lim f (x) · lim g(x) · lim h(x).
x→x0 x→x0 x→x0 x→x0

 3
3
3. lim f (x) = lim f (x) .
x→x0 x→x0
 n
n
4. lim g(x) = lim g(x) , para todo n natural.
x→x0 x→x0

5. lim xn = xn0 .
x→x0

Corolário 3.2.7

Sejam f (x) = an xn + an−1 xn−1 + . . . + a0 e g(x) polinômios com g(x0 ) 6= 0, então

1. lim f (x) = f (x0 ).


x→x0

f (x) f (x0 )
2. lim = .
x→x0 g(x) g(x0 )

Demonstração:
Para o item (1), basta aplicar sucessivamente o teorema 3.2.3.

lim f (x) = lim (an xn + an−1 xn−1 + . . . + a0 )


x→x0 x→x0
= lim an xn + lim an−1 xn−1 + . . . + lim a0
x→x0 x→x0 x→x0
n n−1
= an lim x + an−1 lim x + . . . + lim a0
x→x0 x→x0 x→x0
n n−1
= an x0 + an−1 x0 + . . . + a0 = f (x0 ).
52 Matemática Universitária

A demonstração do item (2) é consequência do item (4) do teorema 3.2.3 e do fato que
g(x0 ) 6= 0.
lim f (x)
f (x) x→x0 f (x0 )
lim = = .
x→x0 g(x) lim g(x) g(x0 )
x→x0

Faremos, agora, alguns limites que exigirão um pouco mais de trabalho para calcular.
Para tal, é importante saber o algoritmo da divisão de polinômios que pode ser encon-
trado na seguinte videoaula [Revisão] - Divisão de Polinômios. No final desta videoaula,
é enunciado o teorema de D’Alembert:

Se f um polinômio de grau n satisfazendo f (x0 ) = 0, então existe um polinômio Q(x)


de grau n − 1 tal que f (x) = (x − x0 ) · Q(x).

Recordemos que a operação lim f (x) é para analisar o comportamento de f numa


x→x0
vizinhança de x0 , mas sem considerar o ponto x0 . Em particular, x 6= x0 .
x2 − 1
Exemplo 3.2.8: Calculemos lim .
x→1 x − 1
Primeiramente, não podemos utilizar que limite da divisão é a divisão dos limites pois
o denominador se anula em x = 1, logo precisamos trabalhar um pouco mais. Observe
que vale a seguinte igualdade

x2 − 1 (x + 1)(x − 1)
= = x + 1,
x−1 x−1
para todos os valores de x com x 6= 1. Como a operação de limites não se importa com
o que acontece com a f em x = 1, então

x2 − 1
lim = lim (x + 1).
x→1 x − 1 x→1

Concluímos que
x2 − 1
lim = 2.
x→1 x − 1

x3 − 8
Exemplo 3.2.9: Calculemos lim .
x→2 x2 − 4
0
Novamente, ao substituir por x = 2 aparece a expressão . Toda vez que aparece
0
esta expressão, dizemos que é uma indeterminação e precisamos, de alguma forma,
eliminá-la. Um dos caminhos é fazer algumas manipulações algébricas, mudando um
pouco a visão da função de modo que a indeterminação desapareça.
Como 2 é raiz do polinômio x3 − 8, pelo teorema de D’Alembert, existe um polinômio
Q(x) de grau 2 tal que x3 − 8 = (x − 2) · Q(x). Aplicando o algoritmo da divisão, vemos
que Q(x) = x2 + 2x + 4 e, daí, se x 6= 2, temos

x3 − 8 (x − 2)(x2 + 2x + 4) x2 + 2x + 4
= = .
x2 − 4 (x − 2)(x + 2) x+2

Daí,
x3 − 8 x2 + 2x + 4 22 + 2 · 2 + 4
lim = lim = = 3.
x→2 x2 − 4 x→2 x+2 2+2
Renan Lima 53

Para mais exemplos, recomendamos assistir à nossa videoaula Exercício de Limites -


Divisão de Dois Polinômios.
Outra técnica muito importante para manipulação de limites é a mudança linear de
variáveis. Ela é intuitivamente clara se interpretarmos que a função f (x − x0 ) é uma
translação horizontal do gráfico da f (ver seção 1.4).

Teorema 3.2.10: Mudança Linear de Variáveis

Seja f : (a, b) − {x0 } → R uma função real, então

lim f (x) = lim f (u + x0 ).


x→x0 u→0

x2 − 4
Exemplo 3.2.11: Calculemos lim .
x→2 x − 2

Considere u = x − 2, então, quando x → 2, temos que u → 0, daí, pelo teorema 3.2.10,


temos
x2 − 4 (u + 2)2 − 4 u2 + 4u
lim = lim = lim = lim (u + 4) = 4.
x→2 x − 2 u→0 u u→0 u u→0

x3 − 3x + 2
Exemplo 3.2.12: Calculemos lim .
x→1 x2 − 1
Façamos a mudança de variável u = x − 1, então temos que u → 0 e, daí,

x3 − 3x + 2 (u + 1)3 − 3(u + 1) + 2 u3 + 3u2 + 3u + 1 − 3u − 3 + 2


lim = lim = lim
x→1 x2 − 1 u→0 (u + 1)2 − 1 u→0 u2 + 2u
3
u + 3u 2 2
u + 3u
= lim = lim = 0.
u→0 u(u + 2) u→0 u + 2

Para o próximo conjunto de exemplos, precisaremos de mais um resultado.

Teorema 3.2.13: Limite da Raiz é a Raiz do Limite

Suponha que lim f (x) = L, então


x→x0
p
n

n
lim f (x) = L, se n é par e f (x) ≥ 0 para x próximo de x0 .
x→x0
p √
n
lim n f (x) = L se n é ímpar e L ∈ R.
x→x0

p
Exemplo 3.2.14: Calculemos o lim x2 + 3.
x→−3
2
Como lim (x + 3) = 12, pelo teorema 3.2.13, temos
x→−3
p √ √
lim x2 + 3 = 12 = 2 3.
x→−3

Sugerimos assistir a nossa videoaula [Revisão] - Produto Notável e Fatoração. Nela,


explicamos o principal procedimento para trabalhar com limites com raízes. Façamos
alguns exemplos.
54 Matemática Universitária


x−1
Exemplo 3.2.15: Calculemos lim .
x→1 x−1
0
Fazendo a substituição x = 1, vemos que recaímos na indeterminação . Devemos,
0
portanto, manipular a expressão acima para podermos calcular o limite. A ideia é
transformar a expressão acima em polinômios, multiplicando pelo conjugado
√ √ √
x−1 ( x − 1)( x + 1) x−1 1
= √ = √ =√ .
x−1 (x − 1)( x + 1) (x − 1)( x + 1) x+1

Daí, √
x−1 1 1
lim = lim √ = .
x→1 x−1 x→1 x+1 2

Para mais exemplos, sugerimos assistir à nossa videoaula Exercícios de Limites - Di-
visão de Raízes de Polinômios.
Sobre a função módulo, sugerimos a nossa videoaula [Revisão] - Função Módulo.
Além disso, destacamos a seguinte fórmula que os estudantes costumam errar.

a2 = |a|, ∀a ∈ R.

Corolário 3.2.16: Limite do Módulo é o Módulo do Limite

Se lim f (x) = L, então lim |f (x)| = |L|.


x→x0 x→x0

Demonstração:
(f (x))2 , lim (f (x))2 = L2 , então, pelo teorema 3.2.13,
p
Como |f (x)| =
x→x0
p √
lim |f (x)| = lim (f (x))2 = L2 = |L|.
x→x0 x→x0


 
2
Exemplo 3.2.17: Se desejamos calcular lim |x − 5x + 1| + x + 2 , basta substituir
x→2
x por 2. Logo, tal limite é
√ √
 
lim |x2 − 5x + 1| + x + 2 = |22 − 10 + 1| + 4 = 7.
x→2
Renan Lima 55

Exercícios

1. Calcule os seguintes limites.


x2 − 16
a) lim x3 b) lim
x→−3 x→4 x − 4

x4 − 1
c) lim |x2 − 3x − 7| d) lim
x→2 x→1 x2 − 1

x3 + 8 (x + 2)2 − 4
e) lim f) lim
x→−2 x2 − 4 x→0 (x + 1)2 − 1

x3 − 4x2 + 2x + 4 p
g) lim h) lim x2 − 4x + 5
x→2 x3 − 2x − 4 x→−3
√ √ √
x−3 x2 − x + 1 − x
i) lim j) lim
x→9 x − 9 x→1 x−1
√ √
x− 5 t2 − 7t + 3
k) lim √ √ l) lim
x→5 x + 5 − 10 t→4 t+5
r
3
3 x − 27 u50 − 1
m) lim n) lim
x→3 x−3 u→1 u101 − 1

1 1 1
−1 −
o) lim 1 + h p) lim x + h x
h→0 h h→0 h
f (x) f (x) − 3
2. Seja f : R → R uma função real que satisfaz lim = 2 e lim 2 = 7.
x→0 x x→1 x − 1
Calcule, caso exista lim f (x) e lim f (x).
x→0 x→1

3. Encontre um exemplo em que lim (f (x) +g(x)) exista, embora não existam lim f (x)
x→0 x→0
e lim g(x).
x→0

4. Encontre um exemplo em que lim (f (x)g(x)) exista, embora não existam lim f (x) e
x→0 x→0
lim g(x).
x→0

Respostas

Exercício 1

a) −27 b) 8 c) 9 d) 2
1 √
e) −3 f) 2 g) − h) 26
5
1 √
i) j) 0 k) 2 l) −1
6
50 1
m) 3 n) o) −1 p) −
101 x2

Exercício 2
f (x)
lim f (x) = 0. Dica: Use que f (x) = ·x lim f (x) = 3.
x→0 x x→1
56 Matemática Universitária

3.3 Limites Laterais

Na seção anterior, vimos, via uma construção de tabela e também pela interpretação
do gráfico que não existe lim f (x), onde f é definida por
x→0

1, se x > 0,
f (x) =
−1, se x < 0.

Nem sempre, a priori, teremos em mãos uma tabela fácil de montar e nem o seu gráfico.
Precisamos, portanto, de ferramentas matemáticas mais efetivas para demonstrar que tal
limite não existe. O conceito é conhecido como limites laterais e para entender bem a
definição, recomendamos assistir à nossa videoaula Limites Laterais - Introdução. Nesta
seção, as abordagens ainda serão informais.

Definição 3.3.1: Limites Laterais pela Direita e pela Esquerda

Se os valores de f (x) ficam tão próximo quanto quisermos de L, à medida que toma-
mos os valores de x suficientemente próximos de x0 , mas com x > x0 , escrevemos

lim f (x) = L.
x→x+
0

A notação acima significa que o limite de f (x) quando x tende a x0 pela direita tem
o valor L.

Se os valores de f (x) ficam tão próximo quanto quisermos de L, à medida que toma-
mos os valores de x suficientemente próximos de x0 , mas com x < x0 , escrevemos

lim f (x) = L.
x→x−
0

Pela definição intuitiva acima aplicada a f definida no início desta seção, temos que

lim f (x) = 1 e lim f (x) = −1.


x→0+ x→0−

O principal resultado sobre limites laterais é o seguinte

Teorema 3.3.2: Teorema dos Limites Laterais

Seja f : (a, b) − {x0 } → R uma função real.

1. Se lim f (x) = L, então


x→x0

lim f (x) = L e lim f (x) = L.


x→x+
0 x→x−
0

2. Se lim f (x) = L e lim f (x) = L, então


x→x+
0 x→x−
0

lim f (x) = L.
x→x0

Podemos reinterpretar o item (1) do teorema 3.3.2 da seguinte forma.


Renan Lima 57

Corolário 3.3.3

Se os limites laterais de f em x0 forem distintos ou um deles não existir, então

@ lim f (x).
x→x0

Exemplo 3.3.4: Considere novamente a função



1, se x > 0,
f (x) =
−1, se x < 0,

então não existe lim f (x), pois


x→0

lim f (x) = lim 1 pois x > 0


x→0+ x→0+
= lim 1 pelo teorema 3.3.2 item (1)
x→0
= 1.
Analogamente,

lim f (x) = lim −1 pois x < 0


x→0− x→0−
= lim −1 pelo teorema 3.3.2 item (1)
x→0
= −1.

Como os limites laterais de f são distintos, concluímos que

@ lim f (x).
x→0

Exemplo 3.3.5: Considere a função f : R → R definida por



 −x − 1, se x ≤ −2,
f (x) = x2 + 2x − 1 se − 2 < x < 1,

1+ x se x ≥ 1.

Teremos três tarefas neste exemplo.

1. Discutir a existência de lim f (x). Caso exista, calculá-lo.


x→−2

2. Discutir a existência de lim f (x). Caso exista, calculá-lo.


x→1

3. Esboçar o gráfico da f e interpretar os resultados.

Resolvendo o item 1, calculemos os dois limites laterais.

lim f (x) = lim (−x − 1), (x < −2) lim f (x) = lim (x2 + 2x − 1), (x > −2)
x→−2− x→−2− x→−2+ x→−2+

= 1. = −1.
58 Matemática Universitária

Como os limites laterais são distintos, concluímos que

@ lim f (x).
x→−2

Para resolver o item 2, calculemos os limites laterais


lim f (x) = lim (x2 + 2x − 1) pois x < 1 lim f (x) = lim (1 + x) pois x > 1
x→1− x→1− x→1+ x→1+
= 2. = 2.

Como os limites laterais existem e são iguais, concluímos que

lim f (x) = 2.
x→1

Para o item 3, esboçamos os gráficos das funções y = −x − 1, y = x2 + 2x − 1 e



y = 1 + x e destacamos em azul a parte que interessa da f .

y y y

2 2 2

1 1 1

x x x
−3 −2 −1 1 2 −3 −2 −1 1 2 −3 −2 −1 1 2
−1 −1 −1

−2 −2 −2


Figura 3.3: y = −x − 1. Figura 3.4: y = x2 + 2x − 1. Figura 3.5: y = 1 + x.

Finalmente, unindo a parte azul dos gráficos acima e marcando a bola aberta e fechada,
temos
y

x
−3 −2 −1 1 2 3
−1

−2
Figura 3.6: Gráfico da f .

Analisando o gráfico da f , verificamos que os limites laterais nos pontos x = −2 são


1 (pela esquerda) e −1 (pela direita). Em x = 1, verificamos que os limites laterais são
iguais e dão o valor 2. Note que limites laterais distintos representam um salto vertical
no gráfico da função.

Finalizamos a seção com exemplo da função teto, já vista no exemplo 1.3.6.


Renan Lima 59

Exemplo 3.3.6: Considere a função f (x) = n, onde n é o menor inteiro satisfazendo


n ≥ x. Essa função é conhecida como função teto. Observe que


 −2, se − 3 < x ≤ −2,
 −1, se − 2 < x ≤ −1,


f (x) = 0, se − 1 < x ≤ 0,
1, se 0 < x ≤ 1,




2, se 1 < x ≤ 2, etc.

Em posse dessas informações, já é possível traçarmos o seu gráfico.


y

x
−4 −3 −2 −1 1 2 3
−1

−2

−3

Figura 3.7: Gráfico da função teto.

Estudaremos o limite em dois pontos distintos. Um deles não inteiro e outro deles um
número inteiro.

3
lim f (x) = lim 1 = 1 pois f (x) = 1 para x próximo de .
3
x→ 4 3
x→ 4 4

Para o caso x = 1, devemos utilizar o recurso dos limites laterais.

lim f (x) = lim 1, pois x < 1 lim f (x) = lim 2, pois x > 1
x→1− x→1− x→1+ x→1+
= 1. = 2.

Concluímos, portanto, que não existe lim f (x).


x→1
60 Matemática Universitária

Exercícios

1. Calcule os limites laterais no ponto onde a função f quebra.


 x2 − 1, se x ≤ 2,
( 
2x − 3, se x < 1,
a) f (x) = b) f (x) = 2
x + 1, se x ≥ 1 − x + 5, se x > 2
2

( 1
x2 , se x < 0,  , se x ≤ −1,
c) f (x) = 2 d) f (x) = x
−x , se x ≥ 0 x + 1, se x > −1

2. Calcule os seguintes limites, caso existam. Se não existir, justifique sua resposta.
x2 x2 − x − 6
a) lim b) lim
x→0 |x| x→3 |x − 3|

x2 − x − 6 4 − |x|
c) lim d) lim
x→1 |x − 3| x→−4 4 + x

3. Para cada x ∈ R considere [[x]] o maior inteiro n tal que n ≤ x. A função é conhecida
como Função maior inteiro ou Função piso. Por exemplo, [[4, 3]] = 4, [[3]] = 3,
[[−2, 1]] = −3.
a) Mostre que lim [[x]] não existe.
x→4
b) Calcule lim
√ [[x]].
x→ 2

√ (x − [[x]]).
c) Calcule lim
x→ 2

d) Seja f (x) = [[x]] + [[−x]]. Mostre que lim f (x) existe mas é diferente de f (1).
x→1
e) Seja f (x) a Função teto, definida no exemplo 3.3.6. Mostre que [[x]] = −f (−x).

Respostas

Exercício 1

lim f (x) = −1 lim f (x) = 3


− −
a) x→1 b) x→2
lim f (x) = 2 lim f (x) = 3
x→1+ x→2+

lim f (x) = 0 lim f (x) = −1


x→0− x→1−
c) d)
lim f (x) = 0 lim f (x) = 0
x→0+ x→1+

Exercício 2
a) 0 b) Não existe c) −3 d) 1

Exercício 3

b) 1 c) 2−1
Renan Lima 61

3.4 Retas Assíntotas e Limites Infinitos e no Infinito

Ao esboçarmos o gráfico da cúbica y = x3 − 3x + 1, no exemplo 1.5.7, precisávamos


entender o seu comportamento para x suficientemente grande. Para isso, utilizamos um
pequeno truque de colocar x3 em evidência
 
3 3 1
y =x 1− 2 + 3
x x

e percebemos que a expressão dentro dos parênteses fica tão próximo de 1 à medida que
x fique suficientemente grande.
Nesta seção, introduziremos o símbolo do infinito ∞ e daremos um significado para
a seguinte escrita  
3 1
lim 1 − 2 + 3 = 1.
x→+∞ x x
Para entender bem os conceitos, recomendamos assistir às nossas videoaulas Limites no
Infinito - Assíntotas Horizontais e Limites no Menos Infinto - Assíntotas Horizontais.

Definição 3.4.1: Limite no Infinito e Limites no Menos Infinito

Seja f : [a, +∞) → R função, denotamos por

lim f (x) = L
x→+∞

se f (x) fica suficientemente próximo de L à medida que x fique tão grande quanto se
queira. A reta y = L é chamada de assíntota horizontal ao gráfico de f .

Dada uma função f : (−∞, b] → R, denotamos por

lim f (x) = M
x→−∞

se f (x) fica suficientemente próximo de M à medida que x fique tão negativo quanto
se queira. A reta y = M é chamada de assíntota horizontal ao gráfico de f .

O gráfico da função f : R → R admite, no máximo, duas assíntotas horizontais.

Teorema 3.4.2: Propriedades de Limites no Infinito

Sejam f, g : [a, ∞) → R funções satisfazendo lim f (x) = L e lim g(x) = M e


x→+∞ x→+∞
c ∈ R número real fixado, então
f (x) L
1. lim (f (x) + g(x)) = L + M. 4. lim = , caso M 6= 0.
x→+∞ x→+∞ g(x) M
2. lim (f (x) − g(x)) = L − M. 5. lim c = c.
x→+∞ x→+∞

3. lim f (x) · g(x) = L · M. 1


x→+∞ 6. lim = 0.
x→+∞ x

O mesmo vale se substituirmos +∞ por −∞.


62 Matemática Universitária

Exemplo 3.4.3:

1 1 1
1. lim = lim · lim = 0.
x→+∞ x2 x→+∞ x x→+∞ x
1
2. lim = 0 para todo n ∈ N.
x→+∞ xn
1
3. lim = 0 para todo n ∈ N.
x→−∞ xn

Para o cálculo de limites no infinito, utilizamos a técnica de colocar o termo de maior


grau em evidência, sugerimos também assistir à nossa videoaula Propriedades e Exem-
plos de Limites no Infinito.
1
Exemplo 3.4.4: Calculemos lim .
x→+∞ x3 − 3x + 1
 
3 3 1
Colocando o termo x3 em evidência, temos que x3 −3x+1 =x 1 − 2 + 3 . Como
x x
 
3 1
lim 1 − 2 + 3 = 1,
x→+∞ x x
temos que

1 1 1
lim   = lim 3 · lim   = 0.
x→+∞
3
3 1 x→+∞ x x→+∞ 3 1
x 1− 2 + 3 1− 2 + 3
x x x x

1
A reta y = 0 é (a única) assíntota horizontal ao gráfico de y = .
x3 − 3x + 1

x2 − 1
Exemplo 3.4.5: Calculemos lim .
x→−∞ x2 + 1
   
2 2 1 2 2 1
Como x − 1 = x 1 − 2 e x + 1 = x 1 + 2 , então
x x
 
2 1 1
x 1− 2 1−
x2 − 1 x x2 = 1.
lim 2 = lim  = lim
1

x→−∞ x + 1 x→−∞ 2 1 x→−∞
x 1+ 2 1+
x x2

x2 − 1
A reta y = 1 é (a única) assíntota horizontal ao gráfico de y = .
x2 + 1

Antes de continuarmos para o próximo exemplo, faremos algumas observações.



1. x2 = |x|.
√ √ √
2. Se a e b são positivos, então ab = a b.

3. Se x → +∞, então tomamos valores de x positivo e, daí, lim |x| = lim x.


x→+∞ x→+∞

4. Se x → −∞, então tomamos valores de x negativo e, daí, lim |x| = lim −x.
x→−∞ x→−∞
Renan Lima 63

√ √
x2 + 1 x2 + 1
Exemplo 3.4.6: Calculemos lim e lim .
x→−∞ x x→+∞ x

s   s  
2
1 1
√ x 1+ 2 √ x2 1+ 2
x2 + 1 x x2 + 1 x
lim = lim lim = lim
x→−∞ x x→−∞ x x→+∞ x x→+∞ x
√ √
r r
1 1
x2 1+ x2 1+
= lim x2 = lim x2
x→−∞ x x→+∞ x
r r
1 1
|x| 1 + |x| 1+
= lim x2 = lim x2
x→−∞ x x→+∞ x
r r
1 1
−x 1+ x 1+
= lim x2 = lim x2
x→−∞ x x→+∞ x
r r
1 1
= lim − 1 + = lim 1+
x→−∞ x2 x→+∞ x2
= −1. = 1.

x2 + 1
Logo as retas y = −1 e y = 1 são assíntotas horizontais ao gráfico de y = .
x

Além das assíntotas horizontais, há também o que chamamos de assíntotas verticais.


Por motivos técnicos, é interessante considerar os limites laterais.

Definição 3.4.7: Limites Infinitos - Visão Intuitiva

Considere uma função real f : (x0 , b) → R.

1. Escrevemos lim f (x) = +∞, se f (x) fica tão grande quanto se queira à medida
x→x+
0
que x se aproxima de x0 , com x > x0 .
A reta x = x0 é chamada de assíntota vertical ao gráfico de f .

2. Escrevemos lim f (x) = −∞, se f (x) fica tão negativo quanto se queira à me-
x→x+
0
dida que x se aproxima de x0 , com x > x0 .
A reta x = x0 é chamada de assíntota vertical ao gráfico de f .

As definições são análogas ao trabalharmos com limites laterais à esquerda.

Na videoaula Limites Infinitos e as Assíntotas Verticais, vimos que

1 1
lim = +∞ e lim = −∞.
x→0+ x x→0− x

Além disso, vale que

1 1
lim = +∞ e lim = +∞.
x→0+ x2 x→0− x2
64 Matemática Universitária

y y

x x

1 1
Figura 3.8: Gráficos da funções y = e y = 2.
x x

Definição 3.4.8: Limites Infinitos e no Infinito - Visão Intuitiva

Considere uma função real f : (a, +∞) → R.

1. Escrevemos lim f (x) = +∞, se f (x) fica tão grande quanto se queira à me-
x→+∞
dida que x fique tão grande quanto se queira.

2. Escrevemos lim f (x) = −∞, se f (x) fica tão negativo quanto se queira à
x→+∞
medida que x fique tão grande quanto se queira.

As definições são análogas ao trabalharmos com x → −∞.

Vamos enunciar, sem demonstração, as operações com infinito. Sugerimos, de ante-


mão, assistir à nossa videoaula Limites infinitos - Propriedades Básicas.

Teorema 3.4.9: Operações do Infinito

Sejam f, g, h : (x0 , b) → R funções tais que

lim f (x) = +∞, lim g(x) = +∞ e lim h(x) = L,


x→x+
0 x→x+
0 x→x+
0

então,
 
• lim f (x) + g(x) = +∞. • lim f (x) + h(x) = +∞.
x→x+
0 x→x+
0

 h(x)
• lim − f (x) = −∞. • lim = 0.
x→x+
0 x→x+
0
f (x)
(
• lim

f (x)g(x) = +∞.  +∞, se L > 0,
x→x+
• lim h(x)f (x) =
0 x→x+
0
−∞, se L < 0.
p p
3
• lim f (x) = +∞. • lim f (x) = +∞
x→x+
0 x→x+
0


Temos enunciados análogos se trocarmos x → x+
0 por x → x0 , x → +∞ ou x → −∞.

O teorema 3.4.9 afirma, em linguagem simbólica, que:


Renan Lima 65

• +∞ + ∞ = +∞. • +∞ + L = +∞.
• −(+∞) = −∞. L
• = 0.

• (+∞) · (+∞) = +∞.
(−∞) · (−∞) = +∞. • Se L > 0, então L · (+∞) = +∞.
(+∞) · (−∞) = −∞. Se L < 0, então L · (+∞) = −∞.
√ √
• +∞ = +∞. • 3 +∞ = +∞.
A igualdade (−∞) · (−∞) = +∞ se deve, na notação do teorema anterior, que

lim (−f (x)) · (−g(x)) = lim f (x) · g(x) = +∞.


x→x0 x→x0

Exemplo 3.4.10: Os exemplos abaixo são parecidos com os exemplos 3.2.6, mas, desta
vez, utilizaremos o teorema 3.4.9.

6. lim x3 = +∞.
1. lim x = +∞. x→+∞
x→+∞
7. lim x3 = −∞.
2. lim x = −∞. x→−∞
x→−∞

3
2 8. lim x = −∞.
3. lim x = +∞. x→−∞
x→+∞
 
2 3 3 3 1
4. lim x = +∞. 9. lim x −3x+1 = lim x 1− 2 + 3 = +∞.
x→−∞ x→+∞ x→+∞ x x

5. lim x = +∞.
 
3 3 3 1
x→+∞ 10. lim x −3x+1 = lim x 1− 2 + 3 = −∞.
x→−∞ x→−∞ x x

As operações abaixo são indeterminações, isto é, precisamos melhorar a expressão para


calcularmos o limite.

Lista de Indeterminações

±∞ 0
• +∞ − ∞ • • 0 · (+∞) e 0 · (−∞) •
±∞ 0

x3 + 2x − 1
Exemplo 3.4.11: Calculemos lim .
x→+∞ 1 − x2
A técnica é colocar o termo de maior grau em evidência, tanto do numerador, quanto
do denominador, logo
   
3 2 1 2 1
x 1+ 2 − 3 x 1+ 2 − 3
x3 + 2x − 1 x x x x
lim = lim = lim
2 1
 
x→+∞ 1−x x→+∞ 1 x→+∞
x2 −1 2
−1
x 2 x
2 1
 
1+ 2 − 3
= lim x 
 x x   = −∞,
x→+∞ 1
− 1
x2
   
2 1 1
pois lim 1 + 2 − 3 = 1 e lim − 1 = −1.
x→+∞ x x x→+∞ x2
66 Matemática Universitária

x3 + 2x − 1
Exemplo 3.4.12: Calculemos lim .
x→−∞ 1 − x2
É bem parecido com o exemplo anterior.

2 1
 
x3 + 2x − 1 1+ 2 − 3
lim = lim x
 x x 
 = +∞,
x→−∞ 1−x 2 x→−∞
 1
− 1
x2
   
2 1 1
pois lim 1 + 2 − 3 = 1 e lim − 1 = −1.
x→−∞ x x x→−∞ x2

Note que, pelos dois exemplos acima, devemos estar muito atentos ao sinal de posi-
tivo ou negativo. Para mais exemplos, sugerimos assistir às videoaulas.

1. Exemplos de Limites Infinitos - Divisão de Dois Polinômios.

2. Exemplos de Limites Infinitos com Raízes de Polinômios.

Enunciamos mais um resultado importante para o cálculo de limites infinitos.

Teorema 3.4.13

Sejam f, g : (x0 , b) → R tais que lim f (x) = 0 e lim g(x) = L, com L > 0, então
x→x+
0 x→x+
0

1. Se f (x) > 0 quando x > x0 e x próximo de x0 , então

g(x)
lim = +∞.
x→x+
0
f (x)

2. Se f (x) < 0 quando x > x0 e x próximo de x0 , então

g(x)
lim = −∞.
x→x+
0
f (x)


Temos enunciados análogos se trocarmos x → x+
0 por x → x0 , x → +∞ ou x → −∞.

1
Na prática, quando o limite for , devemos apenas estudar o sinal em uma vizinhança
0
do ponto em questão e, por isso, é importante trabalhar apenas com limites laterais. Su-
gerimos assistir à nossa videoaula, Exemplos de Limites Infinitos - Assíntotas Verticais.
1
Exemplo 3.4.14: Encontre as assíntotas horizontais e verticais de f (x) = .
x(x − 1)
Os pontos onde zeram o denominador são x = 0 e x = 1, então precisamos calcular os
seguintes limites.
• lim f (x) • lim f (x) • lim f (x)
x→−∞ x→0+ x→1−

• lim f (x) • lim f (x) • lim f (x)


x→+∞ x→0− x→1+
Renan Lima 67

Deixaremos a cargo do leitor verificar que lim f (x) = lim f (x) = 0, e, portanto,
x→+∞ x→−∞
y = 0 é a única assíntota horizontal ao gráfico da f .
1
Para o cálculo dos limites laterais de f em x = 0, observe que lim = −∞ e
x→0− x
1
lim = −1, portanto,
x→0− x − 1
 
1 1 1
lim = lim · = +∞.
x→0− x(x − 1) x→0− x x−1

1 1
Por outro lado, como lim = +∞ e lim = −1, então
x→0+ x x→0 + x − 1
 
1 1 1
lim = lim · = −∞.
x→0+ x(x − 1) x→0+ x x − 1

Em particular, x = 0 é assíntota vertical ao gráfico da f .


1 1 1
Em x = 1, temos que lim = −∞, lim = +∞ e lim = 1. Daí,
x−1
x→1− x→1 x − 1
+ x→1 x
 
1 1 1 1
lim = lim · = −∞ e lim = +∞.
x→1− x(x − 1) x→1− x − 1 x x→1+ x(x − 1)

Em particular, x = 1 é assíntota vertical ao gráfico da f .

Juntando todas as informações de limites, temos por enquanto a seguinte informação


do gráfico da f (repare que f é positiva para x muito negativo e para x suficientemente
grande).
y

Figura 3.9: Parte do gráfico da f .

1. +∞ e −∞ não são números, então, rigorosamente falando, lim f (x) = +∞ não


x→x+
0
existe. Para o limite existir, tem que ser valor real, que denotamos por L.

2. Embora, a rigor, o limite não exista, temos informações muito importantes sobre
o comportamento da função f e, portanto, é melhor escrever lim f (x) = +∞ ao
x→x+
0
invés de @ lim f (x).
x→x+
0
68 Matemática Universitária

Exercícios

1. Calcule os limites abaixo.


a) lim x3 + 5x − 1 b) lim x4 − 3x3 + 4 c) lim x4 + 2x − 5
x→+∞ x→+∞ x→−∞

d) lim 2x5 − x2 + 1 e) lim 2x − 3x5 + 1 f) lim 2 − 3x − 5x7


x→−∞ x→+∞ x→−∞

x2 + 1 x x4 − 3x + 1
g) lim h) lim i) lim
x→+∞ x2 3
x→+∞ x + 1 x→−∞ x3 + 5
√ √
x−1 2x2 + 1 5x2 + x + 3
j) lim k) lim l) lim
x→−∞ x + 1 x→−∞ 3x2 − 1 x→−∞ x+1
√ √
x5 − x2 − 1 3
x4 + 5x + 1 3
x4 + 5x + 1
m) lim n) lim o) lim
x→−∞ x3 + x2 + 1 x→+∞ x+1 x→−∞ x+1

2. Calcule os seguintes limites laterais.

x−1 3x x2 − 1
a) lim b) lim c) lim
x→2+ 4 − x2 x→−1− x+1 x→0− x2

x3 + 1 x2 − 3x − 5 1
d) lim e) lim f) lim
x→−1+ x2 − 1 x→4+ (x − 4)3 x→1− x(x − 1)(x − 2)

3. Encontre as assíntotas horizontais e verticais das funções abaixo.


1 1
a) f (x) = b) f (x) = 2
x x −1

x3 + 1 3x2 + 1
c) f (x) = d) f (x) =
x3 2x2 + 1

x2 3
x2 + 1
e) f (x) = f) f (x) =
(x − 1)(x − 2) x−1
x p
g) f (x) = √ h) f (x) = x − x2 + 1
2
x +1
p p
i) f (x) = 2x − x2 + 1 j) f (x) = x − x2 − 6x + 1
Renan Lima 69

Respostas

Exercício 1

a) +∞ b) +∞ c) +∞
d) −∞ e) −∞ f) +∞
g) 1 h) 0 i) −∞

j) 1 k) 0 l) − 5
m) +∞ n) +∞ o) −∞

Exercício 2

a) −∞ b) +∞ c) −∞
3
d) − e) −∞ f) +∞
2

Exercício 3

Horizontal: y = 0. Horizontal: y = 0.
a) b)
Vertical: x = 0. Verticais: x = 1 e x = −1.

3
Horizontal: y = 1. Horizontal: y = .
c) d) 2
Vertical: x = 0. Vertical: não tem.

Horizontal: y = 1. Horizontal: y = 0.
e) f)
Verticais: x = 1 e x = 2. Vertical: x = 1.

Horizontal: y = 1 e y = −1. Horizontal: y = 0.


g) h)
Vertical: não tem. Vertical: não tem.

Horizontal: não tem. Horizontal: y = 3.


i) j)
Vertical: não tem. Vertical: não tem.
70 Matemática Universitária

3.5 Derivada e as Primeiras Fórmulas

Na introdução do capítulo 1, vimos que a noção de derivadas é uma das principais


motivações para a criação (ou descoberta) do cálculo. Na seção 1.5, esboçamos gráficos
com a noção de derivadas com a nomenclatura de taxa de variação da função. Nesta
seção, daremos a definição e provaremos algumas fórmulas para calcular suas derivadas.

Definição 3.5.1: Derivada de uma Função

Sejam f : (a, b) → R função real e x0 ∈ (a, b). Dizemos que f é derivável em x0 se


existe
f (x0 + h) − f (x0 )
lim .
h→0 h
Caso o limite acima exista, denotamos por f 0 (x0 ). Uma definição alternativa de deri-
vada é através da mudança de variável h = x − x0 (ver teorema 3.2.10) e, portanto,

f (x) − f (x0 )
f 0 (x0 ) = lim .
x→x0 x − x0
Dizemos que f é uma função derivável se ela for derivável em todos os pontos do
seu domínio.

Antes de ler os exemplos abaixo, recomendamos assistir à nossa videoaula Função


Derivada para os exemplos mais básicos que ajudarão a entender melhor o conceito.
1
Exemplo 3.5.2: Encontremos a derivada da função f (x) = .
x
Primeiramente, lembremos que o domínio de f é R − {0} e, portanto, devemos traba-
lhar sempre com x 6= 0. Dado x 6= 0, temos

1 1
f (x + h) − f (x) −
lim = lim x + h x
h→0 h h→0 h
x − (x + h) 1
= lim ·
h→0 x(x + h) h
−h −1 1
= lim = lim = − 2.
h→0 x(x + h)h h→0 x(x + h) x

Exemplo 3.5.3: Para encontrarmos a derivada da função f (x) = x, devemos, primei-
ramente, analisar o domínio de f , que é [0, +∞). Portanto, devemos trabalhar sempre
com x ≥ 0.
Pela definição 3.5.1, trabalhamos apenas com intervalos abertos e, portanto, vamos se
restringir a x > 0. Então,
√ √ √ √
f (x + h) − f (x) x+h− x x+h+ x
lim = lim ·√ √
h→0 h h→0 h x+h+ x
x+h−x
= lim √ √ 
h→0 h x+h+ x
1 1
= lim √ √ = √ .
h→0 x+h+ x 2 x
Renan Lima 71

É possível definir o conceito de Derivadas Laterais e tentar calcular derivada da função



f (x) = x em x = 0. Neste caso, devemos trabalhar com limite lateral pela direita.

f (0 + h) − f (0) h 1
lim = lim = lim √ = +∞.
h→0 + h h→0 + h h→0+
h

Concluímos que f (x) = x não é derivável em x = 0.

Para continuarmos as contas, é interessante termos algumas propriedades em mãos.

Teorema 3.5.4

Sejam f e g deriváveis em x0 e c ∈ R, então

1. (f + g)0 (x0 ) = f 0 (x0 ) + g 0 (x0 ).

2. (f − g)0 (x0 ) = f 0 (x0 ) − g 0 (x0 ).

3. (cf )0 (x0 ) = cf 0 (x0 ).

Demonstração:
A demonstração se encontra na página 355.

Teorema 3.5.5: Derivada de Polinômios

1. Se f (x) = xn , com n ∈ {0, 1, 2, . . .}, então f 0 (x) = nxn−1 [conhecido como a


regra do tombo].

2. Se f (x) = an xn + an−1 xn−1 + . . . + a1 x + a0 , então

f 0 (x) = nan xn−1 + (n − 1)an−1 xn−2 + . . . + 2a2 x + a1 .

Demonstração:
1. A demonstração se encontra na página 361.

2. É aplicar sucessivamente os itens (1) e (3) do teorema 3.5.4.

f 0 (x) = (an xn + an−1 xn−1 + . . . + a1 x + a0 )0


= (an xn )0 + (an−1 xn−1 )0 + . . . + (a1 x)0 + (a0 )0
= an (xn )0 + an−1 (xn−1 )0 + . . . + a1 (x)0 + (a0 )0
= nan xn−1 + (n − 1)an−1 xn−2 + . . . + 2a2 x + a1 .

Sugerimos assistir à nossa videoaula Derivada da Soma e Derivada de Polinômios.


Exemplo 3.5.6: Calculemos uma série de exemplos para o leitor observar o padrão.

1. Se f (x) = x, então f 0 (x) = 1.

2. Se f (x) = kx, então f 0 (x) = k.


72 Matemática Universitária

3. Se f (x) = x2 , então f 0 (x) = 2x.

4. Se f (x) = x2 − 3x, então f 0 (x) = 2x − 3.

5. Se f (x) = x2 − 6x + 7, então f 0 (x) = 2x − 6.

6. Se f (x) = x3 , então f 0 (x) = 3x2 .

7. Se f (x) = x3 − 3x2 + x + 4, então f 0 (x) = 3x2 − 6x + 1.

8. Se f (x) = 3x4 − 6x3 + 2x + 1, então f 0 (x) = 12x3 − 18x2 + 2.

9. Se f (x) = 4x5 − 5x4 + 10x2 − 20x + 5, então f 0 (x) = 20x4 − 20x3 + 20x − 20.

Vamos colocar mais fórmulas à nossa disposição.

Teorema 3.5.7: Regra da Cadeia para Funções ao Quadrado e para o Inverso

Seja f função derivável em x0 , valem as seguintes fórmulas.

1. lim f (x0 + h) = f (x0 ).


h→0

2. Se g(x) = (f (x))2 , então g 0 (x0 ) = 2f (x0 )f 0 (x0 ).


1 f 0 (x0 )
3. Se g(x) = e f (x0 ) 6= 0, então g 0 (x0 ) = − .
f (x) (f (x0 ))2

Demonstração:
A demonstração se encontra na página 356.

Exemplo 3.5.8: Vamos derivar a função g(x) = (x3 +1)2 . Para tanto, tome f (x) = x3 +1
e temos que g(x) = [f (x)]2 , logo

g 0 (x) = 2f (x)f 0 (x) = 2(x3 + 1) · 3x2 = 6x2 (x3 + 1).

O método alternativo para derivar a função é expandir g(x) = x6 + 2x3 + 1 e, portanto,

g 0 (x) = 6x5 + 6x2 .

Exemplo 3.5.9: Para derivar a função g(x) = (x3 + 2x2 − x + 1)2 , considere a função
f (x) = x3 + 2x2 − x + 1 e, portanto, g(x) = [f (x)]2 . Daí,

g 0 (x) = 2f (x)f 0 (x) = 2(x3 + 2x2 − x + 1)(3x2 + 4x − 1).

Não há necessidade de expandir o polinômio.

1
Exemplo 3.5.10: Vamos derivar a função f (x) = do exemplo 3.4.14. Consi-
x(x − 1)
1
dere g(x) = x2 − x e f (x) = . Como g 0 (x) = 2x − 1, então
g(x)

g 0 (x) 1 − 2x
f 0 (x) = − 2
= .
(g(x)) (x(x − 1))2
Renan Lima 73

1
Para o próximo exemplo, precisaremos da identidade x−n = e da propriedade de
xn
n m
multiplicação de potências de mesma base x .x = x n+m . Para o leitor que precisa de
uma introdução do porquê desta propriedade, sugerimos a videoaula [Revisão] - Função
Exponencial - Definindo nos Inteiros.
1
Exemplo 3.5.11: Se f (x) = x−n = , com n ∈ N então
xn
(xn )0 nxn−1 n
f 0 (x) = − n 2
= − 2n
= −nxn−1−2n = −nx−n−1 = − n+1 .
(x ) x x

Neste exemplo, provamos a regra do tombo para todo n ∈ Z, isto é, se f (x) = xn e n ∈ Z,


então
f 0 (x) = nxn−1 .

Exemplo 3.5.12: A função f (x) = x−2 é derivável em x 6= 0 e utilizando a regra do


tombo, temos
f 0 (x) = −2x−2−1 = −2x−3 .

3 5
Exemplo 3.5.13: Considere a função f (x) = 8x2 + − 2 = 8x2 + 3x−1 − 5x−2 . A
x x
função f é derivável em todo x 6= 0 e, utilizando a regra do tombo, a sua derivada é

3 10
f 0 (x) = 16x − 3x−2 + 10x−3 = 16x − 2
+ 3.
x x

Teorema 3.5.14: Regra da Cadeia para Raiz Quadrada


p
Se f é derivável em x0 com f (x0 ) > 0, então g(x) = f (x) é derivável e vale

f 0 (x0 )
g 0 (x0 ) = p .
2 f (x0 )

Demonstração:
Dado x0 ∈ R com f (x0 ) > 0, então
p p p p
g(x0 + h) − g(x0 ) f (x0 + h) − f (x0 ) f (x0 + h) + f (x0 )
lim = lim ·p p
h→0 h h→0 h f (x0 + h) + f (x0 )
f (x0 + h) − f (x0 )
= lim p p 
h→0
h f (x0 + h) + f (x0 )
!
f (x0 + h) − f (x0 ) 1
= lim ·p p
h→0 h f (x0 + h) + f (x0 )
f 0 (x0 )
= p .
2 f (x0 )

√ (x)0 1
Exemplo 3.5.15: Seja g(x) = x. Temos que g 0 (x) = √ = √ para todo x 6= 0.
2 x 2 x
74 Matemática Universitária


Exemplo 3.5.16: Se g(x) = x2 + 1, então

(x2 + 1)0 2x x
g 0 (x) = √ = √ =√ .
2 x2 + 1 2 x2 + 1 x2 + 1
√ p
Exemplo 3.5.17: Se f (x) = x− x3 − 2x + 1, então

1 3x2 − 2
f 0 (x) = √ − √ .
2 x 2 x3 − 2x + 1

Para mais exemplos e fórmulas, sugerimos assistir à videoaula Exemplos de Deriva-


ção com a Regra da Cadeia. O tema da regra da cadeia será revisitado no capítulo 4.

Para entendermos o próximo exemplo, precisaremos da identidade n x = x1/n . Para
o leitor que precisa de uma pequena introdução do assunto, sugerimos a nossa videoaula
e [Revisão] - Função Exponencial - Definindo nos Racionais.

Exemplo 3.5.18: Vamos encontrar uma fórmula para a derivada de g(x) = 4 x para
√ p √ √
x > 0. p Para tanto, lembremos que 4 x = x e, tomando f (x) = x, temos que
g(x) = f (x). Temos, portanto,

1 1 1
g 0 (x) = f 0 (x) · p = √ · √ 4
2 f (x) 2 x 2 x
1 1 1
= x−1/2 · x−1/4 = x−3/4 = √ 4
.
4 4 4 x3

Finalizamos esta seção com um resumo das fórmulas de derivadas aprendidas. Ao


longo do livro, a tabela ficará mais completa.

Fórmulas de Derivadas Regras de Derivação

(xn )0 = nxn−1 , n ∈ Z (f + g)0 = f 0 + g 0

([f (x)]2 )0 = 2f 0 (x)f (x) (f − g)0 = f 0 − g 0


0
f 0 (x)

1
=− (cf )0 = cf 0 , onde c ∈ R
f (x) (f (x))2
f 0 (x)
( f (x))0 = p
p
2 f (x)
Renan Lima 75

Exercícios

1. Derive as funções abaixo.

a) f (x) = 2x + 3 b) f (x) = 3x2 − 2x + 1

c) f (x) = x3 − 2x + 1 d) f (x) = 3x3 − 8x2 + 4x + 1


1 1
e) g(x) = f) g(x) =
x5 x5 +1
−2 3
g) g(x) = h) g(x) =
2x3 + 7x + 1 x7
i) h(x) = (4x3 − 3x2 )2 j) h(x) = (5x4 − 6x3 + 3x2 )2
p p p
k) i(x) = x3 + 2 l) j(x) = x3 + 2x − 1 − x2 + 5x + 1

2. Usando a definição de derivada, calcule f 0 (x).


√ √
a) f (x) = x2 − 3x + 4 b) f (x) = x + 1 c) f (x) = x x + 1

3. Se f é derivável, com f (x) > 0, encontre a fórmula das derivadas das funções
abaixo, utilizando o teorema 3.5.7.
1 1
a) g(x) = p b) g(x) = c) g(x) = (f (x))4
f (x) f (x)2

4. Seja f uma função derivável. Mostre que a função g(x) = (f (x))3 é derivável e vale
g 0 (x) = 3(f (x))2 .f 0 (x)

Respostas

Exercício 1

a) 2 b) 6x − 2
c) 3x2 − 2 d) 9x2 − 16x + 4
5 5x4
e) − f) −
x6 (x5 + 1)2
2(6x2 + 7) 21
g) h) −
(2x3 + 7x + 1)2 x8
i) 2(4x3 − 3x2 )(12x2 − 6x) j) 2(5x4 − 6x3 + 3x2 )(20x3 − 18x2 + 6x)
3x2 3x2 + 2 2x + 5
k) √ l) √ − √
2 x3 + 2 2 x + 2x − 1 2 x2 + 5x + 1
3

Exercício 2
1 3x + 2
a) f 0 (x) = 2x − 3 b) f 0 (x) = √ c) f 0 (x) = √
2 x+1 2 x+1

Exercício 3
f 0 (x) 2f 0 (x)
a) g 0 (x) = − b) g 0 (x) = − c) g 0 (x) = 4[f (x)]3 f 0 (x)
(f (x))3
p
2f (x) f (x)
76 Matemática Universitária

3.6 Regra de L’Hospital

x2 − 4
Supomos que desejamos calcular lim . Mas, ao invés de fazermos contas, rein-
x→2 x − 2
terpretamos o problema da seguinte forma: considere f (x) = x2 −4, então, pela definição
de derivada, temos que

f (x) − f (2) x2 − 4
f 0 (2) = lim = lim .
x→2 x−2 x→2 x − 2

Como f 0 (x) = 2x, concluímos que o limite é f 0 (2) = 4.


x3 + 2x − 3
Exemplo 3.6.1: Vamos calcular lim com a mesma ideia acima.
x→1 x4 − 5x + 4
0
Note que é uma indeterminação do tipo . Tomamos f (x) = x3 + 2x − 3 e considere
0
g(x) = x4 − 5x + 4. Temos

f (x) − f (1) x3 + 2x − 3
f 0 (1) = lim = lim .
x→1 x−1 x→1 x−1
Por outro lado, f 0 (x) = 3x2 + 2 e, portanto, f 0 (1) = 5. Analogamente, temos que

x4 − 5x + 4
g 0 (1) = lim
x→1 x−1

e como g 0 (x) = 4x3 − 5, então g 0 (1) = −1.


1
Multiplicando o numerador e o denominador por , temos
x−1
 3   3 
x + 2x − 3 x + 2x − 3
lim
x3 + 2x − 3 x−1 x→1 x−1
lim 4 = lim  4 =  4
x→1 x − 5x + 4

x→1 x − 5x + 4 x − 5x + 4
lim
x−1 x→1 x−1
0
f (1)
= 0 = −5.
g (1)

Este fundamento é o que chamamos de regra de L’Hospital. Sugerimos assistir à


nossa videoaula Regra de L’Hospital - Enunciado e Exemplo.

Teorema 3.6.2: 1ª Regra de L’Hospital

Sejam f, g : (a, b) → R funções deriváveis e x0 ∈ (a, b) tais que f (x0 ) = g(x0 ) = 0 e


f 0 (x)
vale que g 0 (x) 6= 0 para x 6= x0 numa vizinhança de x0 . Se lim 0 existe ou vai
x→x0 g (x)
para o infinito, então
f (x) f 0 (x)
lim = lim 0 .
x→x0 g(x) x→x0 g (x)

O mesmo resultado vale se substituirmos as condições acimas para limites laterais e


também se substituirmos x0 por +∞ ou −∞.

O interessante da regra de L’Hospital é que podemos aplicá-la mesmo que g 0 (x0 ) = 0.


Renan Lima 77

x3 − 3x + 2
Exemplo 3.6.3: Calculemos lim .
x→1 x3 − 4x2 + 5x − 2
0
Observe que é uma indeterminação do tipo , logo estamos em condições de aplicar a
0
primeira regra de L’Hospital. Derivando em cima e embaixo, devemos calcular

3x2 − 3
lim .
x→1 3x2 − 8x + 5

0
Observe que ainda temos a indeterminação do tipo . Aplicando novamente a regra
0
de L’Hospital, temos
6x 6
lim = = −3.
x→1 6x − 8 −2
Concluímos então que
x3 − 3x + 2
lim = −3.
x→1 x3 − 4x2 + 5x − 2

Mesmo quando o resultado final do limite vai para o infinito, estamos em condições
de aplicar a regra de L’Hospital.
x2 + 3x + 2
Exemplo 3.6.4: Calculemos lim .
x→−2+ x3 + 3x2 − 4
0
Como é uma indeterminação do tipo , podemos aplicar a regra de L’Hospital e deve-
0
mos calcular o seguinte limite:

2x + 3
lim .
x→−2+ 3x2 + 6x
−1
É limite do tipo . Para resolvê-lo, devemos fazer um estudo do sinal da f (ver
0
teorema 3.4.13).
Para x > −2 mas com x próximo de −2, temos que o numerador 2x + 3 é negativo e o
denominador 3x2 + 6x = 3x(x + 2) é negativo. Logo

2x + 3
>0
3x2 + 6x
para x > −2 mas com x próximo de −2. Daí,

2x + 3
lim = +∞
x→−2+ 3x2 + 6x

e, pela regra de L’Hospital, temos que

x2 + 3x + 2
lim = +∞.
x→−2+ x3 + 3x2 − 4

Outro ponto importante é que a regra de L’Hospital não trabalha apenas com indeter-
0 ∞
minação do tipo . Ela funciona também para indeterminações do tipo ± . Em alguns
0 ∞
lugares, é conhecido como 2ª regra de L’Hospital e vamos enunciar sem uma demons-
tração.
78 Matemática Universitária

Teorema 3.6.5: 2ª Regra de L’Hospital

Sejam f, g : (x0 , b) → R funções deriváveis, tais que lim |f (x)| = lim |g(x)| = +∞
x→x+
0 x→x+
0
f 0 (x)
e que g 0 (x) 6= 0 para x 6= x0 numa vizinhança de x0 . Se lim existe ou vai para
x→x+
0
g 0 (x)
o infinito, então
f (x) f 0 (x)
lim = lim 0 .
x→x+
0
g(x) x→x+ 0
g (x)
O mesmo resultado vale para o limite lateral à esquerda e também e substituirmos x0
por +∞ ou −∞.

Vamos fazer um exemplo bem simples do resultado.


x2 + 3x + 2
Exemplo 3.6.6: Calculemos lim .
x→−∞ −2x2 + 5x − 2

Pode ser resolvido por duas aplicações sucessivas da regra de L’Hospital.

x2 + 3x + 2 L’H 2x + 3 L’H 2 1
lim 2
= lim = lim =− .
x→−∞ −2x + 5x − 2 x→−∞ −4x + 5 x→−∞ −4 2

É importante enfatizar que a regra de L’Hospital não resolve todas as indeterminações.



x2 + 1
Tente resolver lim .
x→+∞ x

Quando aprendermos a derivar as funções trigonométricas, exponenciais e logarítmi-


cas, veremos a verdadeira importância da regra de L’Hospital.
Renan Lima 79

Exercícios

1. Usando a regra de L’Hospital, se julgar necessário, calcule os seguintes limites.

x5 − 32 x4 − 81
a) lim b) lim
x→2 x − 2 x→3 3x2 − 2x − 21

x101 + 1 x3 − 6x + 4
c) lim d) lim
x→−1 x49 + 1 x→2+ (x − 2)2
√ √ √
x + 5 − 10 x2 + 4x − 3 − x − 1
e) lim f) lim √
x→5 x−5 x→2 x+2−2

x4 − 4x3 + 5x2 − 4x + 4 x2 + 3 − 2
g) lim h) lim √
x→2 x3 − 3x2 + 4 x→1 x−1

x5 + 3x + 4 4x2 + 3
i) lim j) lim √
x→−∞ x3 − 5x + 6 x→−∞ x2 + 5

Respostas

Exercício 1
27 101 1
a) 80 b) c) d) +∞ e) √
4 49 2 10
4 5
f) g) h) 1 i) +∞ j) 2
3 3
C APÍTULO

4 Derivadas

4.1 Introdução sobre Derivadas

Na introdução do capítulo 1 do livro, vimos que se uma partícula está em movimento


retilíneo, então podemos modelar, teoricamente falando, a sua função posição s = s(t) e
quando desejamos calcular a velocidade instantânea v(t) da partícula em função do tempo,
tivemos como expressão,
s(t + ∆t) − s(t)
v(t) = lim .
∆t→0 ∆t
Analogamente, a aceleração instantânea a(t) é dada por

v(t + ∆t) − v(t)


a(t) = lim .
∆t→0 ∆t

As fórmulas acima estão bem definidas desde que a partícula não sofra alguma coli-
são ou ganhe um impulso.
O conceito de derivada é muito mais poderoso que meramente calcular velocidade e
aceleração de uma partícula. Falando de forma mais ampla, a derivada é um processo
de limite que compara a variação de duas grandezas escalares distintas. Por exemplo, a
velocidade de um movimento retilíneo é uma grandeza escalar que compara a variação
entre a posição e o tempo, enquanto a aceleração é uma grandeza escalar que compara a
variação entre a velocidade e o tempo.
Podemos comparar muito mais grandezas e obtermos resultados interessantes de
forma sistemática e estruturada. Por exemplo, para cada r positivo, temos que a área
do círculo de raio r é dada por A(r) = πr2 . Se compararmos a variação da área do círculo
com a variação do raio, isto é, se derivarmos a função A(r) com respeito ao raio r, temos
que A0 (r) = 2πr, que coincide com o comprimento do círculo de raio r. Para entender-
mos a razão geométrica desta coincidência, considere ∆r uma pequena variação do raio e
defina a variação da área por ∆A = A(r + ∆r) − A(r).

r
C(r)

r + ∆r
∆r

C(r + ∆r)

Temos que ∆A é a coroa circular hachurada na figura acima. Imagine que cortemos a
coroa, de forma radial, a desenrolamos e a transformamos em um trapézio em que a base
menor é o comprimento do círculo de raio r e a base maior é o comprimento do círculo
de raio r + ∆r, que denotamos por C(r) e C(r + ∆r), respectivamente.
Renan Lima 81

À medida que ∆r diminui, o comprimento da base maior do trapézio se aproxima


com o da base menor e, no caso limite, o trapézio vira um retângulo de comprimento
C(r) + C(r + ∆r)
que é, aproximadamente, C(r). Logo ∆A ' C(r)∆r. Em outras pala-
2
vras, para ∆r suficientemente pequeno, temos

∆A
' C(r),
∆r
e, no caso limite, concluímos que

∆A
C(r) = lim .
∆r→0 ∆r

No caso geral, seja f : (a, b) → R função arbitrária. A taxa de variação de f em x é


dada por
f (x + ∆x) − f (x)
lim .
∆x→0 ∆x
E chamamos, caso este número exista, de derivada de f em x e usaremos a notação f 0 (x)
df
ou . No nosso exemplo da área do círculo A(r) e o seu comprimento C(r), temos que
dx
dA ∆A
= lim = C(r).
dr ∆r→0 ∆r

Um exemplo interessante na física é considerar uma barra linear não homogênea (isto
é, o material da barra é diferente em cada ponto). Sabemos que a densidade média d da
barra é a razão da massa m pelo seu comprimento L, isto é,
m
d= .
L

Da mesma forma que calculamos a velocidade média e transformamos em velocidade


instantânea via processo de limite, podemos definir a densidade pontual via comparação
entre a variação do comprimento do pedaço da barra ∆` e o seu respectivo pedaço de
∆m
massa ∆m. Mais precisamente, a densidade pontual é o limite com ∆` → 0, no
∆`
ponto que desejamos destacar.
Há inúmeras aplicações conceituais de derivadas na física, basta pensar em fórmulas
que envolvem razão de duas grandezas, mas, para aplicação mais prática, é necessário ter
em mãos o conceito de Integração e, mais futuramente, de Equações Diferenciais Ordinárias.
Por conta disso, neste capítulo, trabalharemos em uma vertente mais geométrica que
é o problema das tangentes ao gráfico de funções. Além disso, aprenderemos as fór-
mulas de derivação, tais como a regra da multiplicação, da divisão e a regra da cadeia;
aplicaremos em problemas de otimização e treinaremos um pouco de modelagem com
problemas que chamamos de taxas relacionadas.
As funções trigonométricas, logarítmicas e exponenciais serão feitas, com o devido
detalhe, no capítulo 5.
82 Matemática Universitária

4.2 A Interpretação Geométrica de Derivada

Até o momento, o conceito de derivada foi trabalhado com a interpretação via física
mecânica, em que reinterpretávamos a função como a equação de um movimento retilí-
neo e a derivada é uma ferramenta matemática para calcular a velocidade da partícula.
Nesta seção, vamos falar da interpretação geométrica da derivada, mais precisamente, ve-
rificaremos que a derivada é o coeficiente angular da reta tangente ao gráfico da função.

Sugerimos assistir à nossa videoaula [Revisão] - Equação da Reta. Esta videoaula


explica que se a equação da reta é dada por y = ax + b, então

∆y
a= ,
∆x

onde ∆y = y1 − y0 e ∆x = x1 − x0 e (x0 , y0 ) e (x1 , y1 ) são pontos da reta. Além disso,


vemos que a reta que passa por (x0 , y0 ) e tem coeficiente angular a é dada pela fórmula
y = y0 + a(x − x0 ). Caso tenha dificuldade em entender a aula anterior, sugerimos assistir
também à nossa videoaula mais básica Equação da Reta.

y y
∆x
y1 y1

∆y ∆y

y0 y0
∆x
x x
x0 x1 x0 x1

(a) Quando ∆y > 0. (b) Quando ∆y < 0.

Exemplo 4.2.1: A equação da reta que passa em (1, 2) e com coeficiente angular −3 é:

y = 2 + (−3)(x − 1) = 2 − 3x + 3 = −3x + 5.

Exemplo 4.2.2: Para encontrarmos a equação da reta que passa pelos pontos (1, 2) e
5
(5, 7), basta ver que ∆y = 5 e ∆x = 4, daí, a = (ver figura abaixo).
4
(5, 7)

(1, 2)
4

Utilizando a fórmula anterior, vemos que

5 5 3
y = 2 + (x − 1) = x + .
4 4 4

É um bom exercício verificar que a escolha do ponto (1, 2) ou do ponto (5, 7) dá origem
a mesma equação da reta, mais precisamente,

5 5
y = 2 + (x − 1) = 7 + (x − 5).
4 4
Renan Lima 83

Voltando à noção de derivadas, dada uma função y = f (x), vimos que


f (x0 + h) − f (x0 ) f (x0 + ∆x) − f (x0 ) ∆f
f 0 (x0 ) = lim = lim = lim .
h→0 h ∆x→0 ∆x ∆x→0 ∆x

Como escrevemos y = f (x), também é usual usar a escrita ∆y = ∆f e, por este


motivo, Leibniz introduziu a notação
dy ∆y
f 0 (x) = = lim
dx ∆x→0 ∆x
e pensava dy e dx como distâncias infinitesimais.

Há várias notações possíveis para a derivada da função y = f (x). Todas elas têm sua
importância dependendo do contexto.

dy d
, y 0 (x), f 0 (x), f, Df, Dx f, ẏ, f˙.
dx dx
Para o cálculo de uma variável, usamos a notação simplificada f 0 ou y 0 . Na física, apa-
recem com frequência as equações diferenciais ordinárias que dependem, normalmente,
da segunda derivada e, por conta disso, é usual utilizar a notação ÿ. Por exemplo, a
equação
mÿ + k ẏ − mg = 0
é a equação diferencial de um corpo em queda livre com resistência do ar e deve-se
achar a função y = y(t) que satisfaz a equação que depende das derivadas acima.
Veremos que a notação de Leibniz é muito boa para aplicar na regra da cadeia e facilita
muito em memorização de fórmulas. Veremos um pouco disso no curso de cálculo 1,
mas a notação de Leibniz é muito mais utilizada em cálculo de várias variáveis.

É importante salientar que o pensamento de distância infinitesimal é informal, isto é,


serve apenas para termos intuição das fórmulas e para ajudar na montagem de algu-
mas equações na física. Escrever em uma prova de matemática considerando o incre-
mento infinitesimal é errado.

Sugerimos assistir à nossa videoaulas Definição de Derivada e sua Interpretação Geomé-


trica e à videoaula Encontrando a Equação da Reta Tangente.
Considere o gráfico de uma função derivável em um intervalo y = f (x) e supomos
que desejamos encontrar a equação da reta tangente ao gráfico de f no ponto (x0 , y0 ), em
que y0 = f (x0 ) (ver figura abaixo). Como a reta tangente passa no ponto (x0 , y0 ), então
∆y
precisamos encontrar apenas o coeficiente angular, isto é, o valor de .
∆x
y

y0

x
x0

Figura 4.1: Reta tangente ao gráfico de f no ponto (x0 , y0 ).


84 Matemática Universitária

O método para encontrar a reta tangente é marcarmos o ponto (x0 + h, f (x0 + h)) e
achamos o coeficiente angular da reta que passa por (x0 , y0 ) e (x0 + h, f (x0 + h)). Nas
figuras abaixo, substituímos x0 + h por x.
y y

f (x)

f (x)

y0 y0

x x
x0 x x0 x
y y

f (x)
f (x)
y0 y0

x x
x0 x x0x

À medida que h vai se aproximando para 0 (equivalentemente, x vai se aproximando


de x0 ), a reta que passa por (x0 , f (x0 )) e (x0 + h, f (x0 + h)) vai se aproximando da reta
tangente ao gráfico da f . Note que para cada h o coeficiente angular da reta é

f (x0 + h) − f (x0 )
.
h
Fazendo h tender a 0, temos
f (x0 + h) − f (x0 )
lim = f 0 (x0 ).
h→0 h
Portanto, a interpretação geométrica da derivada é o coeficiente angular da reta tangente
ao gráfico de f e, juntando todas as informações adquiridas ao longo da seção, temos a
equação da reta tangente ao gráfico de f .

Equação da Reta Tangente

A equação da reta tangente ao gráfico da f no ponto (x0 , y0 ), com f (x0 ) = y0 , é

y = y0 + f 0 (x0 )(x − x0 ).

Exemplo 4.2.3: Para encontrarmos a reta tangente da função y = x3 − 2x + 1 no ponto


(2, 5) basta encontrar o coeficiente angular, isto é, precisamos encontrar y 0 (2).
Como y 0 (x) = 3x2 − 2, então y 0 (2) = 10 e a equação da reta que tem coeficiente angular
10 e passa pelo ponto (2, 5) é
y = 5 + 10(x − 2).
Renan Lima 85

Exemplo 4.2.4: Um bom exercício é encontrar todas as retas tangentes do gráfico da


21
função f (x) = 2x3 − x2 + 2 paralelas à reta 9x + y = 6.
2
Para resolver este problema, note que 9x + y = 6 é equivalente à equação

y = −9x + 6.

O exercício está pedindo para encontrar todas as retas tangentes ao gráfico de f cujo
coeficiente angular é −9. A derivada da f é f 0 (x) = 6x2 − 21x e devemos resolver a
equação f 0 (x) = −9. Daí,

6x2 − 21x = −9 ⇒
6x2 − 21x + 9 = 0 ⇒
2x2 − 7x + 3 = 0.

Utilizando a fórmula das equações quadráticas (que no Brasil, chamamos de fórmula


de Bháskara), temos √
7 ± 72 − 4 · 3 · 2 7±5
= .
4 4
1
As raízes são 3 e .
2
   
77 1 3 0 0 1
Como f (3) = − , f = − e f (3) = f = −9, então as equações são
2 2 8 2
 
77 3 1
y = − − 9(x − 3) e y =− −9 x− .
2 8 2

Sugerimos assistir à nossa videoaula Toda Função Derivável é Contínua. A videoaula


exibe um exemplo de função não derivável e fornece uma explicação física disso. Só para
efeito de nomenclatura com o vídeo, a função f é dita contínua em x0 se
lim f (x0 + h) = f (x0 ) ou, equivalentemente, lim f (x) = f (x0 ).
h→0 x→x0

Continuidade de função será definida e trabalhada no capítulo 6. Há várias formas


de uma função não ser derivável, mas vamos exibir duas delas.

1. Quando o gráfico de f salta em x0 (ver teorema 3.5.7 item (1)), isto é,


lim f (x0 + h) 6= lim f (x0 + h).
h→0− h→0+

2. Quando o gráfico de f possui um bico, isto é,


f (x0 + h) − f (x0 ) f (x0 + h) − f (x0 )
lim 6= lim .
h→0− h h→0 + h

y y

x x
x0 x0

Figura 4.2: f é descontínua em x0 . Figura 4.3: o gráfico da f faz um bico em x0 .


86 Matemática Universitária

Exercícios

1. Encontre a equação da reta tangente a função f no ponto x0 dado.

a) f (x) = x2 , x0 = 3 b) f (x) = x2 − 3x + 1, x0 = −1
1 1
c) f (x) = x7 − 3x4 − 3x + 1, x0 = 1 d) f (x) = , x0 =
x 2

1
2. Encontre o ponto de interseção da reta tangente ao gráfico de y = x − no ponto
x
(1,0) com o eixo y.

3. Encontre os pontos do gráfico f (x) = x3 − 2x2 + 1 que possuem reta tangente


paralelo à reta y = −x + 2.

4. Encontre a, b e c de modo que as parábolas y = x2 + ax + b e y = −2x2 + cx + 1


passem pelo ponto (1, 2) e possuem a mesma reta tangente em (1, 2).

5. Encontre as retas tangentes à parábola y = x2 − 2x + 3 que passam pelo ponto (4, 7).

x2 − ax + 3,

se x > 1
6. Determine a ∈ R de modo que a função f (x) = 3 2 2
x − a x + 2x + 3, se x ≤ 1
seja derivável em x = 1.

Respostas

Exercício 1
a) y = 9 + 6(x − 3) b) y = 5 − 5(x + 1)
 
1
c) y = −4 − 8(x − 1) d) y = 2 − 4 x −
2
Exercício 2
(0, −2).

Exercício 3
 
1 22
(1, 0) e , .
3 27
Exercício 4
a = −3, b = 4 e c = 3.
Exercício 5
y = 3 + 2(x − 2) e y = 27 + 10(x − 6).
Exercício 6
a = −1.
3
Talvez o estudante encontre também o valor a = . Use a Cálculadora Gráfica do Geo-
2
gebra e tente descobrir o porquê de ter que descartar este valor.
Renan Lima 87

4.3 Regras de Derivação e Derivada da Função Inversa

Vimos na seção 3.5 algumas fórmulas para derivadas tais como

1. (f ± g)0 (x) = f 0 (x) ± g 0 (x), onde f e g são deriváveis.

2. (cf )0 (x) = cf 0 (x), onde c ∈ R e f derivável.

3. Se f (x) = xn , onde n ∈ Z, então f 0 (x) = nxn−1 (regra do tombo).

4. Se g(x) = f 2 (x), então g 0 (x) = 2f (x) · f 0 (x) (regra da cadeia).


f 0 (x)
f (x), então g 0 (x) = p
p
5. Se g(x) = (regra da cadeia).
2 f (x)
1 f 0 (x)
6. Se g(x) = , então g 0 (x) = − (regra da cadeia).
f (x) (f (x))2

Com as fórmulas acima, podemos derivar polinômios e algumas expressões envol-


vendo raiz quadrada de polinômios, por exemplo. Nesta seção, vamos aumentar nosso
leque de regras de derivação, tais como vamos aprender a regra do produto, a regra da divi-
são e a regra da cadeia. Além delas, vamos aprender como derivar a inversa de uma função.

Com as novas regras, poderemos derivar frações de polinômios, a função f (x) = n x e
composições de funções raiz enésima com polinômios. Para começarmos, vamos falar
das regras do produto e da regra da divisão.

Teorema 4.3.1: Regra do Produto e da Divisão

Sejam f, g funções deriváveis em x0 , então

1. f · g é derivável em x0 e vale

(f · g)0 (x0 ) = f 0 (x0 )g(x0 ) + f (x0 )g 0 (x0 ).

f
2. Se g(x0 ) 6= 0, então é derivável em x0 e vale
g
 0
f f 0 (x0 )g(x0 ) − f (x0 )g 0 (x0 )
(x0 ) = .
g (g(x0 ))2

Demonstração:
A demonstração se encontra na página 357.

Recomendamos assistir à nossa videoaula Regra do Produto e Regra da Divisão para


a explicação da fórmula e alguns primeiros exemplos.

Exemplo 4.3.2: Para derivarmos a função f (x) = x x, vamos utilizar a regra do pro-
duto
√ √ 0 √ 1 3√
f 0 (x) = (x)0 · x + x · x = x+x· √ = x.
2 x 2
88 Matemática Universitária

x3 + 1
Exemplo 4.3.3: Vamos derivar a função y = √ .
x
√ 1
Tome f (x) = x3 + 1 e g(x) = x, então f 0 (x) = 3x2 e g 0 (x) = √ . Pela regra do
√ √ 2 x
quociente e, pelo fato que ( x)2 = x (Por que não ( x)2 = |x|?), temos

2√ x3 + 1
3x x − √
0 f 0 (x)g(x) − f (x)g 0 (x) 2 x
y (x) = =
(g(x))2 x

6x3 − (x3 + 1) 5x3 − 1


= √ = √ .
2x x 2x x

Exemplo 4.3.4: Vamos derivar a função y(x) = x2 x2 + 1.
√ x
Novamente, tomamos f (x) = x2 e g(x) = x2 + 1, daí f 0 (x) = 2x e g 0 (x) = √ .
2
x +1
Pela regra do produto, temos
p x
y 0 (x) = f 0 (x)g(x) + f (x)g 0 (x) = 2x x2 + 1 + x2 · √
2
x +1
2x(x2 + 1) + x3 3x3 + 2x
= √ = √ .
x2 + 1 x2 + 1

Teorema 4.3.5: Regra da Cadeia

Sejam f : (c, d) → R e g : (a, b) → (c, d) funções deriváveis, então a composição


h = f ◦ g : (a, b) → R é derivável e vale

h0 (x) = f 0 (g(x))g 0 (x).

Demonstração:
A demonstração será feita na seção 6.5 do capítulo 6.

Usando a notação de Leibniz, fazendo y = g(x) e z = f (y), então

dz dz dy
= · .
dx dy dx

Exemplo 4.3.6: Seja g(x) função derivável e tome h(x) = (g(x))2 . Vamos mostrar que
a notação de Leibniz é mais intuitiva. Tome y = g(x) e h(y) = y 2 , então

dh
= 2y.
dy

Pela regra da cadeia, temos

dh dh dy
= · = 2yg 0 (x) = 2g(x)g 0 (x).
dx dy dx

Que é a fórmula do item 4 do início desta seção.


Renan Lima 89

1
Exemplo 4.3.7: Seja g função derivável com g(x) 6= 0 para todo x e seja h(x) = .
g(x)
1
Tomamos y = g(x) e h(y) = , pela regra do tombo, temos que
y
dh 1
= − 2.
dy y

Pela regra da cadeia, temos

dh dh dy g 0 (x) g 0 (x)
= · =− 2 =− .
dx dy dx y (g(x))2

Que é a fórmula do item 6 do início desta seção.

Deixamos a cargo do leitor aplicar a regra da cadeia para deduzir que se g é derivável,
p dh g 0 (x)
g(x) 6= 0 e se h(x) = g(x), então = p .
dx 2 g(x)

Exemplo 4.3.8: Considere a função f (x) = (x2 + 3x + 1)3 e tome y = x2 + 3x + 1, então


f (x) = y 3 e pela regra da cadeia

df df dy
= · = 3y 2 (2x + 3) = 3(x2 + 3x + 1)2 (2x + 3).
dx dy dx

Não há necessidade em expandir o polinômio na fórmula de derivada encontrada.

Exemplo 4.3.9: Considere a função f (x) = x2 (x2 − 5x + 1)6 . Para derivar, precisaremos
da regra do produto e da regra da cadeia. Façamos y(x) = x2 −5x+1, então f (x) = x2 y 6
e, portanto,

dy
f 0 (x) = 2xy 6 + x2 (y 6 )0 = 2xy 6 + x2 · 6y 5 ·
dx
= 2x(x2 − 5x + 1)6 + 6x2 (x2 − 5x + 1)5 (2x − 5).

Se achar necessário, coloque em evidência a expressão 2x(x2 − 5x + 1)5 na expressão


da derivada.

f 0 (x) = 2x(x2 − 5x + 1)5 [x2 − 5x + 1 + 3x(2x − 5)]


= 2x(x2 − 5x + 1)5 (7x2 − 20x + 1).

Exemplo 4.3.10: Considere a função f (x) = (4x2 − 5x)3 (x2 + 3x + 2)2 . Façamos, então,
y(x) = 4x2 − 5x e z(x) = x2 + 3x + 2, então f (x) = y(x)3 z(x)2 e, portanto,

dy 2 dz
f 0 (x) = (y 3 )0 · z 2 + y 3 · (z 2 )0 = 3y 2 ·
· z + y 3 · 2z ·
dx dx
= 3y 2 (8x − 5)z 2 + 2y 3 z(2x + 3)
= 3(4x2 − 5x)2 (8x − 5)(x2 + 3x + 2)2 + 2(4x2 − 5x)3 (x2 + 3x + 2)(2x + 3).

Uma outra regra de derivação que vamos falar desta seção é a derivada da função in-
versa. Sugerimos assistir à nossa videoaula [Revisão] - Função Inversa.
Dado uma função f : (a, b) → (c, d) função bijetora e seja g : (c, d) → (a, b) a função
inversa da f . É conhecido que o gráfico de g e da f são simétricos em relação à reta y = x
90 Matemática Universitária

e, portanto, é esperado que se o gráfico da função f possui reta tangente, então o gráfico
da função g possui reta tangente.
y
g(x) y=x

f (x)

Exemplo 4.3.11: Seja f (x) = 2x + 3, a 6= 0. Sabemos que f é bijetora e seja g sua função
inversa. Uma forma para encontrar a expressão de g é substituir x por g(x), então

f ◦ g(x) = 2g(x) + 3.

Como f ◦ g(x) = x, temos que 2g(x) + 3 = x e, portanto,

x 3
g(x) = − .
2 2
1
O coeficiente angular da reta de f é 2, enquanto o coeficiente angular da g é .
2

Exemplo 4.3.12: No caso geral, da equação y = ax + b, a 6= 0. Para achar a inversa,


basta trocar o papel de x e y, isto é,

x = ay + b.

Isolando o y em função de x, temos

1 b
y= x− .
a a
1
Se o coeficente angular da reta é a, então o coeficiente angular da sua inversa é .
a

Exemplo 4.3.13: Seja a função f : [0, +∞) → [0, +∞) definida por f (x) = x2 , então o
gráfico da f passa pelo par ordenado (3, 9) e vale f 0 (3) = 6.

Se considerarmos a sua função inversa g(x) = x, temos que o gráfico da g passa pelo
1
par ordenado (9, 3) e vale g 0 (9) = .
6
Por outro lado, o par ordenado (0, 0) está nos gráficos da f e g; vale f 0 (0) = 0, mas não
existe g 0 (0). Aqui estamos usando a noção de derivadas laterais, ver a página 71.

Sugerimos assistir à nossa videoaula Derivada da Função Inversa para entender o


procedimento de como calcular a derivada da função inversa. No final desse vídeo, apa-
rece, para todo p ∈ R e x > 0, a seguinte igualdade

xp = ep ln x .

Esta igualdade será explorada no capítulo 5, quando estudarmos as funções exponenci-


ais e logarítmicas, então não precisa se preocupar, caso não entenda. Fica apenas como
curiosidade.
Renan Lima 91

Teorema 4.3.14: Derivada da Função Inversa

Seja f : (a, b) → (c, d) bijetora e g a função inversa da f . Se f é derivável em x0 com


f 0 (x0 ) 6= 0 e se f (x0 ) = y0 , então g é derivável em y0 e vale
1
g 0 (y0 ) = .
f 0 (x 0)

Demonstração:
A demonstração será feita na seção 6.5 do capítulo 6.

Note que y = f (x) se e somente se x = g(y). Em muitas ocasiões, é comum escrever


y = y(x) e, mantendo o raciocínio, podemos escrever x = x(y) para a inversa de y. Pela
notação de Leibniz, o teorema da função inversa diz que

dx 1
= .
dy dy
dx

Sugerimos assistir à nossa videoaula Exemplos de Derivação com a Regra da Cadeia


para melhor entendimento do próximo exemplo.

Exemplo 4.3.15: Vamos derivar a função y = g(x) = 4 x para x > 0. Como a função
f (x) = x4 é derivável, pelo teorema da função inversa, g é derivável para todo x 6= 0.
Para derivarmos y = g(x), sugerimos utilizar a regra da cadeia ao invés de utilizarmos
a fórmula que aparece no teorema da função inversa.

A expressão y = 4 x é equivalente à x = y 4 , com y = y(x). Derivamos a expressão
x = y 4 em relação a x, temos
dy
1 = 4y 3 .
dx
Logo
dy 1 1
= 3 = √ 4
.
dx 4y 4 x3

Para o caso geral da função y = n x = x1/n com n ∈ N, n ≥ 2, sugerimos assistir
à nossa videoaula Demonstração da Derivada de x1/n para n ∈ N. Nela mostramos que
vale a regra do tombo.
√ 1 dy 1 1 1
y= n
x = xn ⇒ = x( n −1) = √
n
.
dx n n xn−1

Exemplo 4.3.16: Para derivar a função y = 3 x3 − 1, tome z = x3 − 1 e, portanto,

y = 3 z e vale
dy 1 dz x2
= √ 3
= p .
dx 3 z 2 dx 3
(x3 − 1)2

Finalmente, na videoaula Demonstração da Derivada de xp para p ∈ Q, mostramos


que vale a regra do tombo para a função y = xp , onde p é um número racional fixado,
isto é, a derivada é y 0 (x) = pxp−1 , valendo y 0 (0) = 0 se p > 1 e y não é derivável em 0
para p < 1.
92 Matemática Universitária

Exemplo 4.3.17: Para derivarmos a função y = x8/5 , basta utilizar a regra do tombo
8
com p = ,
5
8 8x3/5
y 0 (x) = x(8/5)−1 = .
5 5

Finalizamos a seção fazendo um resumo das fórmulas de derivadas. Primeiramente,


observe que todas as funções estudadas até agora são soma, multiplicação, divisão e
composição de funções da forma f (x) = cxp , com p ∈ Q e c ∈ R. Na seção 5.3 teremos
mais fórmulas para a primeira coluna da tabela.

Fórmulas de Derivadas Regras de Derivação

(xp )0 = pxp−1 , p ∈ Q (f ± g)0 = f 0 ± g 0

(cf )0 = cf 0 , onde c ∈ R

(f · g)0 = f 0 · g + f · g 0
 0
f f 0 · g − f · g0
=
g g2

(f ◦ g)0 = (f 0 ◦ g) · g 0
1
(f −1 )0 =
f0 ◦ f −1
Renan Lima 93

Exercícios

1. Derive as funções abaixo.


x2 + 1
a) f (x) = (x2 + 2x + 3)(x3 − 5x + 1) b) f (x) =
x+1
2x + 3 x2 + 3x − 1
c) f (x) = d) f (x) =
5x + 4 x2 + 5

√ x
e) f (x) = x2 x + 1 f) f (x) =
x+1
(x2 + 3x + 1)2
g) f (x) = h) f (x) = x8/7
3x + 1

√ 3
x+1
q
i) f (x) = x + x2 x j) f (x) =
x−1

4
p
3 x
k) f (x) = (x6 + 1)5 l) f (x) = √
3
x
1
m) f (x) = √
4
n) f (x) = (x2 + 1)3 · (x2 − 1)4
x2 +1
(x2 + 1)3 x(x2 + 1)3
o) f (x) = p) f (x) =
(x2 − 1)4 (x2 − 1)4

Respostas

Exercício 1
x2 + 2x − 1
a) 5x4 + 8x3 − 6x2 − 18x − 13 b)
(x + 1)2

−7 −3x2 + 12x + 15
c) d)
(5x + 4)2 (x2 + 5)2

5x2 + 4x 1−x
e) √ f) √
2 x+1 2 x(x + 1)2

(x2 + 3x + 1)(9x2 + 13x + 3) 8x1/7


g) h)
(3x + 1)2 7

2 + 5x x −2x − 4
i) p √ j) p
4 x + x2 x 3(x − 1)2 3 (x + 1)2
p −1
k) 10x5 3
(x6 + 1)2 l)
12x13/12
−x
m) √ n) 2x(7x2 + 1)(x2 + 1)2 (x2 − 1)3
2(x2 + 1) 4 x2 + 1

−2x(x2 + 1)2 (x2 + 7) −(x2 + 1)2 (x4 + 14x2 + 1)


o) p)
(x2 − 1)5 (x2 − 1)5
94 Matemática Universitária

4.4 Gráficos de Funções e Pontos Críticos

Nesta seção, vamos aprender a esboçar gráficos utilizando apenas a primeira deri-
vada. Começaremos enunciando o resultado em que as derivadas nos fornecem a impor-
tantíssima informação dos intervalos de crescimento e decrescimento de f . Esse resultado
já foi utilizado na seção 1.5 e, como aplicação, esboçamos alguns gráficos de polinômios.
Sugerimos, portanto, além de reler a seção 1.5, assistir à nossa videoaula Intervalo de
Crescimento e Decrescimento.

Teorema 4.4.1: Intervalos de Crescimento e Decrescimento de uma Função

Seja f : [a, b] → R derivável no intervalo (a, b) e suponha que lim f (x) = f (a) e
x→a+
lim f (x) = f (b).
x→b−

1. Se f 0 (x) > 0 para todo x ∈ (a, b), então f é estritamente crescente em [a, b].

2. Se f 0 (x) < 0 para todo x ∈ (a, b), então f é estritamente decrescente em [a, b].

Demonstração:
A prova deste teorema será postergada para o capítulo 6, pois é necessário um dos resul-
tados mais importante do cálculo que é o teorema do valor médio (TVM).

Antes de continuar a seção, deixamos claro ao leitor que, dependendo do problema


do cálculo, pode ser interessante reconhecer a concavidade do gráfico. Ela aparece nos
estudos da segunda derivada (a aceleração) e será vista na seção 4.7.

y y

x x

Figura 4.4: Concavidade para baixo. Figura 4.5: Concavidade para cima.

Exemplo 4.4.2: Considere a função f (x) = x3 − 3x2 + 1.


A sua derivada é f 0 (x) = 3x2 − 6x = 3x(x − 2) e as raízes de f 0 (x) são 0 e 2. Fazendo
análise do sinal de f 0 e utilizando o teorema 4.4.1, temos então

+ +
f′
0 2

f
0 2

Como f (0) = 1 e f (2) = −3. Note que antes de x = 0, f é crescente e, imediatamente


Renan Lima 95

após x = 0, f está decrescendo. Da mesma forma, f é decrescente entre x = 0 e x = 2,


mas, imediatamente após x = 2, f está crescendo. Para esboçarmos a concavidade,
observe que  
3 3 1
f (x) = x 1 − + 3
x x
e, portanto, para x suficientemente grande f (x) se comporta próximo de x3 , temos,
portanto, a seguinte informação sobre o gráfico da f .
y

2
Máximo local
1 b

x
−1 1 2 3 4
−1

−2

b
−3

Mı́nimo local

Note que as informações acima nos fornecem todos os pontos onde o gráfico da f troca
o crescimento pelo decrescimento e vice-versa. Basta, então, ligar as curvas e teremos
o gráfico da f .
y

2
Máximo local
1 b

x
−1 1 2 3 4
−1

−2

b
−3

Mı́nimo local

No esboço do gráfico no exemplo anterior, precisamos encontrar os pontos x tais que


f 0 (x) = 0 para fazer o estudo do sinal de f 0 . Nele, encontramos dois pontos importantes,
que colocamos a legenda de ponto de máximo local e ponto de mínimo local. Os pontos
em que a derivada é nula são chamados de pontos críticos.
96 Matemática Universitária

Definição 4.4.3: Pontos Críticos

Dizemos que x0 é ponto crítico de f se f 0 (x0 ) = 0 ou se f 0 (x0 ) não existe.

Para esboço de gráfico mais complicado, recomendamos a videoaula Gráficos Usando


Apenas a Primeira Derivada. Deixamos registrado na tabela abaixo um conjunto de pro-
cedimentos para esboçar bem o gráfico usando apenas a primeira derivada.

Procedimento para Esboço de Gráfico

1. Encontre o domínio.

2. Calcule os limites nos extremantes do domínio, determinando as assíntotas hori-


zontais e verticais.

3. Calcule f 0 (x) e faça o estudo do sinal da f 0 .

4. Organize os intervalos de crescimento e decrescimento da f .

5. Esboce parte do gráfico nas partes importantes, tais como o gráfico se comporta
perto das assíntotas e também perto dos pontos críticos (lembrar do máximo
local e mínimo local).

6. Finalize o esboço do gráfico, unindo os pedaços de curva de forma suave.

1
Exemplo 4.4.4: Para esboçar o gráfico da função f (x) = , devemos encontrar
x(x − 1)
primeiramente as assíntotas horizontais e verticais de f (x).
Os pontos onde zeram o denominador são x = 0 e x = 1, então precisamos calcular os
seguintes limites.
• lim f (x) • lim f (x) • lim f (x)
x→−∞ x→0+ x→1−

• lim f (x) • lim f (x) • lim f (x)


x→+∞ x→0− x→1+

Deixaremos a cargo do leitor verificar que lim f (x) = lim f (x) = 0, e, portanto,
x→+∞ x→−∞
y = 0 é a única assíntota horizontal ao gráfico da f .
1
Para o cálculo dos limites laterais de f em x = 0, observe que lim = −∞ e
x→0− x
1
lim = −1, portanto,
x→0− x − 1

1 1 1
lim = lim · = +∞.
x→0− x(x − 1) x→0 x x − 1

1 1
Por outro lado, como lim = +∞ e lim = −1, então
x→0+ x x→0+ x − 1

1 1 1
lim = lim · = −∞.
x→0+ x(x − 1) x→0 x x − 1
+
Renan Lima 97

1 1 1
Em x = 1, temos que lim = −∞, lim = +∞ e lim = 1. Daí,
x→1− x−1 x→1+ x − 1 x→1 x

1 1 1 1
lim = lim · = −∞ e lim = +∞.
x→1− x(x − 1) x→1 x − 1 x
− x→1+ x(x − 1)

Juntando todas as informações de limites, temos por enquanto a seguinte informação


do gráfico da f (repare que f é positiva para x muito negativo e para x suficientemente
grande).
y

1 − 2x
Como a derivada de f é dada por f 0 (x) = , temos o seguinte estudo do sinal
[x(x − 1)]2
(é importante marcar os pontos onde zeram no denominador para evitar confusão).

+ + f ′ (x)
0 1 1
2

f (x)
0 1 1
2

Temos, então, a seguinte informação da função f .


y

Como coletamos todos os intervalos onde f cresce e decresce, o que precisamos agora
é unir estes pedaços de curvas para esboçar o gráfico de f .
98 Matemática Universitária

Figura 4.6: Gráfico de f (x).

Falaremos um pouco sobre classificação de pontos críticos. Veremos que o ponto crí-
tico nem sempre é máximo ou mínimo (local) da função. Neste último caso, será chamado
de ponto de inflexão.

Definição 4.4.5: Extremante Local

1. Dizemos que uma função tem um máximo local ou máximo relativo em x0 se


existir um intervalo aberto contendo x0 tal que f (x0 ) é o maior valor de f nesse
intervalo, isto é, f (x0 ) ≥ f (x) para todo x no intervalo.

2. Dizemos que f tem um mínimo local ou mínimo relativo em x0 se existir um


intervalo aberto contendo x0 tal que f (x0 ) é o menor valor de f nesse intervalo,
isto é, f (x0 ) ≤ f (x) para todo x no intervalo.

3. Se x0 é máximo local ou mínimo local de f , dizemos que x0 é extremante local


de f .

Equivalentemente, x0 é ponto de máximo local de f se existe um intervalo aberto I


contendo x0 tal que o f (x0 ) é o ponto mais alto do gráfico de f restrito ao intervalo I.
Analogamente, x0 é ponto de mínimo local de f se existe um intervalo aberto I contendo
x0 tal que o f (x0 ) é o ponto mais baixo do gráfico de f restrito ao intervalo I.

Teorema 4.4.6: Extremante Local Implica Ponto Crítico

Suponha que f é uma função derivável em x0 e que x0 é extremante local de f , então


f 0 (x0 ) = 0.

Demonstração:
A demonstração se encontra na página 371.

Recomendamos assistir à nossa videoaula Pontos Críticos de uma Função Derivável


para uma explicação expositiva.
Exemplo 4.4.7: A função y = x3 possui ponto crítico em x = 0 e tal ponto crítico não é
nem máximo local nem mínimo local.

Para classificar o ponto crítico, temos um teste bem eficaz, que é o estudo do sinal da
derivada.
Renan Lima 99

Teorema 4.4.8: Teste da Primeira Derivada

Seja f uma função derivável e x0 ponto crítico da f , então

1. Se f 0 (x0 ) > 0 para todo x < x0 suficientemente próximo de x0 e f 0 (x0 ) < 0 para
todo x > x0 suficientemente próximo de x0 , então x0 é um ponto de máximo
local.

2. Se f 0 (x0 ) < 0 para todo x < x0 suficientemente próximo de x0 e f 0 (x0 ) > 0 para
todo x > x0 suficientemente próximo de x0 , então x0 é um ponto de mínimo
local.

3. Se f 0 (x0 ) não muda de sinal em pontos próximos de x0 , então x0 é ponto de


inflexão de f .

Demonstração:
A demonstração se encontra na página 377.

Sugerimos assistir à nossa videoaula Exemplos de Classificação de Pontos Críticos


para a resolução de dois exemplos utilizando as ideias do teorema 4.4.8. Vamos fazer um
exemplo no texto.
Exemplo 4.4.9: Seja f (x) = x4 − 4x3 . Temos que f 0 (x) = 4(x3 − 3x2 ) e, portanto, os
únicos pontos críticos são x = 0 e x = 3. Temos o seguinte estudo do sinal.

+
f′
0 3

f
0 3

Concluímos, pelo teorema 4.4.8, que x = 0 é ponto de inflexão e x = 3 é ponto de


mínimo local.
Abaixo, fizemos um esboço do gráfico com a escala 10 vezes menor para o eixo y.
y

3
x

-27
100 Matemática Universitária

Exercícios

1. Esboce o gráfico das funções abaixo, levando em conta as assíntotas horizontais e


verticais.
x
a) f (x) = x3 − 12x + 7 b) f (x) =
(x − 1)2
1 1 1
c) f (x) = + 2 d) f (x) =
x x x2 − 5x + 6
x p
e) f (x) = 2 f) f (x) = x2 + 1
x +1

x2 + 1 1
g) f (x) = h) f (x) =
x (x2 − 1)2

2. Encontre e classifique os pontos críticos entre máximo local, mínimo local e ponto
de inflexão.
a) f (x) = x4 + 3 b) f (x) = −x4 + 8x2 + 1

c) f (x) = x4 − 4x3 d) f (x) = (x − 1)2 (x − 2) + 1

x−1
e) f (x) = (x + 1)3 (x − 1)2 f) f (x) =
(x + 1)3

Respostas

Exercício 1

Verifique os seus esboços pelo aplicativo no Cálculadora Gráfica do Geogebra. Sugerimos


ter o aplicativo no celular e no PC.

Exercício 2
x = −2, máximo local,
a) x = 0, mínimo local. b) x = 0, mínimo local,
x = 2, máximo local.

x = 1, máximo local,
x = 0, ponto de inflexão,
c) d) 5
x = 3, mínimo local. x = , mínimo local.
3
x = −1, ponto de inflexão,
1
e) x = , máximo local, f) x = 2, máximo local.
5
x = 1, mínimo local.
Renan Lima 101

4.5 Problemas de Otimização

Dentre as aplicações do cálculo estão aquelas em que busca os valores máximos e mí-
nimos das funções. Elas aparecem em muitos problemas práticos tais como maximizar
lucros, minimizar custos, minimizar tempo de deslocamento entre dois lugares, maximi-
zar o rendimento de uma produção e assim em diante. Estes problemas são conhecidos
como problemas de otimização.

Definição 4.5.1: Máximos Globais e Mínimos Globais

Considere a função f : D → R e dado x0 ∈ D.

1. Dizemos que x0 é ponto de máximo global de f se

f (x0 ) ≥ f (x), ∀x ∈ D.

2. Dizemos que x0 é ponto de mínimo global de f se

f (x0 ) ≤ f (x), ∀x ∈ D.

Um problema de otimização nada mais é que uma busca de máximos e mínimos glo-
bais de uma função modelada. Normalmente, a maior dificuldade é encontrar a função
que modele o problema e isto se aprende com interpretação, lógica e muitos exercícios.
Sugerimos assistir às videoaulas Problemas de Otimização - Exemplo 1 e Problemas de
Otimização - Exemplo 2.

Procedimento para Resolver Problemas de Otimização

1. Modele o problema, isto é, encontre a função e descreva seu domínio.

2. Encontre todos os pontos críticos, isto é, os pontos x0 tais que f 0 (x0 ) = 0.

3. Mostre que um dos pontos críticos é o ponto que otimiza o problema. Sugerimos
que faça o esboço do gráfico.

Exemplo 4.5.2: Vamos achar dois números positivos cuja soma é 6 e o produto seja o
máximo possível.
Sejam x e y dois números positivos cuja soma é 6, isto é,

x + y = 6.

Queremos encontrar x e y de tal modo que maximize a função produto

P = xy.

Como y = 6 − x, então desejamos maximizar a função

P (x) = x(6 − x) = 6x − x2 .
102 Matemática Universitária

Note que, pelo enunciado do problema, devemos ter necessariamente 0 < x < 6.
Neste caso, sabemos de antemão o gráfico.
y

x
3

Figura 4.7: Gráfico da função P (x) = 6x − x2 com 0 < x < 6.

Vemos, graficamente, que x = 3 é ponto de máximo global de P .


Dentre os dois números positivos cuja soma é 6, o que atinge o produto máximo é o
par 3 e 3.

Exemplo 4.5.3: Uma lata cilíndrica fechada feita de alumínio deve conter 250cm3 de
líquido. Qual o raio e a altura da lata de modo que se gaste menos alumínio possível,
assumindo que a espessura do alumínio seja desprezível.

Sejam r o raio e h a altura da lata, dada em centímetros. Como o volume do cilindro é


dado pela fórmula πr2 h, temos que

πr2 h = 250.

Daí,
250
h= .
πr2
Desejamos minimizar a área toda da lata. A área da base é dada por Ab = πr2 e a área
lateral é dada por AL = 2πrh. Como são duas bases (a parte de cima e a parte de baixo
da lata), então a área total é dada por:

A = AL + 2Ab = 2πrh + 2πr2 = 2π(rh + r2 ).

Escrevendo A em função do raio, temos


 
250 2
A(r) = 2π +r .
πr
Renan Lima 103

Derivando a função A(r), temos


 
0 250
A (r) = 2π − 2 + 2r .
πr

Resolvendo a equação A0 (r) = 0, temos


r
250 3 125 3 125 5
2r = 2 ⇒ r = ⇒ r= = √
3
.
πr π π π

E, portanto, h é dada por


√3
250 250 π 2 10
h= 2 = = √
3
.
πr 25π π

Falta provar que as dimensões encontradas são os valores que minimizam o problema.
Para isso, vamos utilizar a expressão da derivada A0 (r) e estudar o seu sinal.

2πr3 − 250
   
0 250
A (r) = 2π − 2 + 2r = 2π ,
πr πr2

que é uma fração de dois polinômios. Como o denominador de A0 (r) é positivo, o sinal
5
está totalmente determinado pelo numerador que tem como raiz √ 3
. Logo temos o
π
seguinte estudo do sinal.

+ A′
5

3
π

A
5

3
π

Como lim A(r) = +∞ e lim A(r) = +∞, podemos esboçar o gráfico de A(r)
r→0+ r→+∞

5

3
π

Figura 4.8: Gráfico da função A(r).

5
E vemos que, de fato, o ponto r = √ 3
é ponto de mínimo global. Logo as dimensões
π
5 10
da lata são r = √
3
' 3, 4139 e h = √3
' 6, 8279 centímetros.
π π

Sugerimos assistir à nossa videoaula Princípio de Fermat e a Lei de Snell. Deixamos


como exercício provar que o mínimo encontrado no vídeo é de fato o mínimo global.
104 Matemática Universitária

Finalizamos a seção com um exemplo para deduzir a fórmula de distância entre ponto
e reta utilizando os conceitos de cálculo.
Exemplo 4.5.4: Fixado um ponto P = (0, 0) e a reta r dada pela equação y = 1 − 2x,
vamos calcular a distância entre este ponto e a reta r.
Fixado
p (x, y) na reta r, temos que a distância entre o ponto (x, y) e a reta r é dada por
x + y 2 . Como y = 1 − 2x, temos que a distância de P ao ponto (x, y) é dada por
2

p p p
D(x) = x2 + y 2 = x2 + (1 − 2x)2 = 5x2 − 4x + 1.

D(x) b (x, y)

10x − 4
Temos que D0 (x) = √ e, portanto, D0 (x) = 0 se e somente se 10x − 4 = 0
2
2 5x − 4x + 1
2 2
e, portanto, x = . Esboçando o gráfico de D, vemos que o ponto x = é o ponto de
5 5
mínimo de D(x).

D(x)

2
O 5
 
2 1
Portanto, o ponto da reta y = 1 − 2x que está mais próximo da origem é , ea
5 5
  √
2 5
distância é dada por D = .
5 5
Renan Lima 105

Exercícios

1. Dentre todos os retângulos de perímetro 16 m, encontre o que tem a maior área.

2. Dentre todos os retângulos de área 16 m2 , encontre o que tem o menor perímetro.

3. Ache a maior área do retângulo com a base inferior sobre o eixo x e os vértices
superiores na parábola y = 12 − x2 .

4. Dentre todos os triângulos, contido no 1◦ quadrante, cujos três lados são formados
pelo eixo x, pela reta y = 2x e por uma reta que passa pelo ponto (2, 1), determine
os vértices daquele que tem a menor área.

5. Determine a razão entre a altura e o diâmetro da base do cilindro de máximo vo-


lume que pode ser inscrito numa esfera de raio 4.

6. Uma caixa retangular fechada com base quadrada e de volume 8 litros deve ser
feita de madeira. Qual deve ser as dimensões da caixa de modo que use a menor
quantidade de madeira possível?

7. Uma peça quadrada de papelão de 60 cm de lado deve ser transformada numa caixa
aberta em cima, retirando-se um pequeno quadrado de cada canto e dobrando-se
as abas para formar os lados. De que tamanho devemos cortar o quadrado de cada
canto para que o volume da caixa seja máximo?

x x
x x

8. Duas cidades A e B se encontram em margens opostas de um rio retilíneo de lar-


gura 60 m. Deseja-se construir um oleoduto passando pela cidade A e pela cidade
B. O custo por metro da construção do oleoduto é R$3.000/m sob água e R$1.500/m
sob a terra. Sabendo que a distância entre as duas cidades é 100 m, qual o com-
primento do oleoduto para que o custo seja menor possível? Quantos metros do
oleoduto deverá ficar submerso na água e quantos deverá ficar sob a terra?
A
b

09

B
80

9. Determine o ponto da parábola y = x2 mais próximo do ponto (6, 3).


106 Matemática Universitária

Respostas

Exercício 1

Quadrado de lado 4 m.

Exercício 2
Quadrado de lado 4 m.

Exercício 3
O retângulo tem dimensões 4 e 8 e tem, portanto, área 32.

Exercício 4
(0, 0), (3, 0) e (1, 2).

Exercício 5

2
.
2

Exercício 6
Cubo de aresta 2 m.

Exercício 7
Deve-se cortar 10 cm.

Exercício 8
√ √
Ficará (40 3) m submerso
√ na água e (80 − 20 3) m sob a terra, sendo, portanto, necessá-
rio comprar (80 + 20 3) m de oleoduto.

Exercício 9
(2, 4).
Renan Lima 107

4.6 Taxas Relacionadas

Taxas relacionadas são apenas um conjunto de problemas modelados em que se deve


montar a equação e, normalmente, deve-se derivar utilizando a regra da cadeia. Sugeri-
mos assistir às nossas videoaulas:

1. Taxas Relacionadas - Exemplo 1;

2. Taxas Relacionadas - Exemplo 2;

3. Taxas Relacionadas - Exemplo 3.

Façamos mais um exemplo.


Exemplo 4.6.1: Um tanque na forma de cone com o vértice para baixo mede 6 m de
altura e tem no topo um diâmetro de 6m. Bombeia-se água dentro do tanque a uma
taxa de π m3 /min. Encontre a taxa de variação com que o nível da água sobe quando
tem 4 m de profundidade.

Primeiramente, façamos um esboço do cone com água conforme feito na figura abaixo.

r
6
h

Sejam V (t), r(t) e h(t) o volume da água, o raio da superfície e a altura da água no ins-
tante t, respectivamente, em que t representa o minuto. É importante ressaltar que taxa
de variação significa velocidade da variação e dizer que a água está sendo bombeada
a uma taxa de π m3 /min significa que

dV
= π.
dt
dh
Desejamos encontrar o valor de , quando h = 4. Vamos relacionar os parâmetros.
dt
Utilizando semelhança de triângulos, temos que

h 6
= = 2.
r 3
h
E como queremos escrever V em função de h, tome r = . Por outro lado, o volume
2
V é dado por
πr2 h
V = .
3
108 Matemática Universitária

Logo,
πh3 (t)
V (t) = .
12
Derivando a expressão acima em relação à t, temos

dV πh2 dh
= · .
dt 4 dt
dV
Substituindo h = 4 e = π na expressão acima, temos
dt
dh 4
= 2 = 0, 25.
dt 4
Logo, a taxa de variação da altura h é 0, 25 m/min.

Terminamos a seção fazendo uma lista de como proceder para a resolução de proble-
mas de taxas relacionadas.

Procedimento para Resolver Problemas de Taxas Relacionadas

1. Leia o problema atenciosamente e faça um esboço (desenho). É importante que


esteja claro para o leitor o que o problema está pedindo.

2. Introduza notações, dando símbolos para todas as funções relevantes que vão
depender do tempo.

3. Faça a substituição numérica APENAS no final. Trabalhe apenas com funções


nesta etapa.

4. Após ter montado as equações chaves e eliminado algumas variáveis via substi-
tuição, derive com respeito a t, sempre usando a regra da cadeia.

5. Agora sim, faça a substituição numérica e encontre o valor desejado pelo pro-
blema.
Renan Lima 109

Exercícios

1. O lado do quadrado aumenta a uma taxa de 2 m/s. Qual é a taxa de crescimento


da área do quadrado quando o lado está medindo 3 m?

2. A base do retângulo aumenta a uma taxa de 10 m/s enquanto a altura diminui a


uma taxa de 6 m/s. Qual a taxa de variação da área, quando a base mede 15 m e a
altura mede 8 m? A área está aumentando ou diminuindo?

3. As arestas de um paralelepípedo estão aumentando a uma taxa de 1 m/s, 2 m/s e


3 m/s. Qual é a taxa de variação...
a) do volume do paralelepípedo quando os 3 lados medem 2 m?
b) da diagonal do paralelepípedo quando os 3 lados medem 3 m?

4. Uma bola de neve em formato esférico está derretendo a uma taxa constante de
10π cm3 /s. Qual a taxa de variação do raio da esfera no momento em que o raio é
5 cm?

5. Um tanque na forma de cone com o vértice para baixo mede 5 m de altura e tem no
topo um diâmetro de 20 m. Bombeia-se a água à taxa de 4 m3 por minuto. Ache a
taxa de variação com que o nível da água sobe quando tem 1 m de profundidade.

6. Um carro que viaja a 20 m/s numa estrada reta passa sob um balão de ar que está
subindo com velocidade constante de 10 m/s. Se o balão está a 300 m acima da
terra quando o carro está diretamente embaixo dele, com que velocidade a distância
entre o carro e o balão estará crescendo um minuto depois.

7. Dois resistores de resistência R1 e R2 estão conectados em paralelo. A unidade de


medida da resistência é ohms, símbolo Ω. Sabe-se que a resistência Req é dada pela
fórmula
1 1 1
= + .
Req R1 R2
Se R1 e R2 estão aumentando a uma taxa de 2 Ω/s e 8 Ω/s respectivamente, calcule
a taxa de variação de Req quando R1 = 20 Ω e R2 = 30 Ω.
110 Matemática Universitária

Respostas

Exercício 1
12 m2 /s.

Exercício 2
A área do retângulo está diminuindo a uma taxa de variação de 10 m2 /s no instante em
que a base é 8 e a altura é 15 metros.

Exercício 3
a) 24 m3 /s.

b) 2 3 m/s.

Exercício 4
0, 1 cm/s.

Exercício 5
1
m/min
π

Exercício 6
22 m/s. Dica: lembre de converter a unidade de minuto para segundo.

Exercício 7
2 Ω/s.
Renan Lima 111

4.7 A Segunda Derivada e a Concavidade do Gráfico

Nesta seção, falaremos sobre a concavidade de um gráfico, com ênfase na segunda


derivada. Lembremos na física mecânica que se s(t) é a função posição da partícula,
então a sua derivada s0 (t) é a função velocidade e a derivada da função velocidade é a
função aceleração da partícula, ou seja, a(t) = v 0 (t).
Neste sentido, dizemos que a função f : (a, b) → R é duas vezes derivável se a função
f 0 é derivável. Denotamos por f 00 (x) a segunda derivada. Como de costume, temos o
equivalente da notação de Leibniz para a segunda derivada da função y = f (x), que é
d2 y
.
dx2
A lógica desta notação é o seguinte. Se y é duas vezes derivável, então
d2 y
 
0 d dy 00 d dy
y (x) = (y) = e y (x) = = .
dx dx dx dx dx2
Funcionando como uma multiplicação de fração.
Para motivação do conceito de concavidade, sugerimos à nossa videoaula Introdução
com Física ao Conceito de Concavidade e façamos um desenho para entendermos o que
é concavidade para cima e concavidade para baixo.

y y

x x

Figura 4.9: Concavidade para baixo. Figura 4.10: Concavidade para cima.

Definição 4.7.1: Concavidade de Gráfico

Dizemos que o gráfico da função f : (a, b) → R tem concavidade para cima em (a, b)
se o gráfico de f fica acima das suas retas tangentes. Caso o gráfico da função fica
abaixo de suas retas tangentes, dizemos que f tem concavidade para baixo.

y y

x x

Figura 4.11: Gráfico abaixo da reta tangente. Figura 4.12: Gráfico acima da reta tangente.

Sugerimos assistir à nossa videoaula Concavidade e Ponto de Inflexão. Nessa video-


aula, é mencionado brevemente a desigualdade sen x ≤ x para x ≥ 0. Esta desigualdade
112 Matemática Universitária

será provada no capítulo 5, mas não é fundamental para o entendimento da aula. O


exemplo que possui nessa aula é muito instrutivo e explica como vamos proceder, prin-
cipalmente na construção de gráficos com concavidade.

Teorema 4.7.2: Teste da Concavidade

Seja f : (a, b) → R função duas vezes derivável.

1. Se f 00 (x) > 0 para todo x, o gráfico de f possui concavidade para cima.

2. Se f 00 (x) < 0 para todo x, o gráfico de f possui concavidade para baixo.

Demonstração:
A demonstração se encontra na página 378. Deixamos o leitor ciente que é uma demons-
tração que exige atenção, mas é possível entendê-la após algumas revisões.

Definição 4.7.3: Ponto de Inflexão

Dizemos que a função derivável f : (a, b) → R possui ponto de inflexão em x0 ∈ (a, b)


se a reta tangente ao gráfico de f em (x0 , f (x0 )) não está acima nem abaixo do gráfico
de f em uma vizinhança de x0 .

Figura 4.13: Ponto de Inflexão.

Temos um método algébrico de encontrar todos os pontos de inflexão.

Teorema 4.7.4: Ponto de Inflexão

Seja f : (a, b) → R duas vezes derivável e x0 ∈ (a, b) ponto de inflexão de f , então


f 00 (x0 ) = 0.

Demonstração:
A demonstração se encontra na página 378.

Sugerimos assistir às videoaulas Esboço de Gráficos com Concavidade - Exemplo 1 e


Esboço de Gráficos com Concavidade - Exemplo 2. Como dito nas videoaulas, o impor-
tante é a organização das informações.
Renan Lima 113

Procedimento para Esboço de Gráfico com Concavidade

1. Encontre o domínio e calcule os limites nos extremos do domínio, determinando


as assíntotas horizontais e verticais.

2. Calcule f 0 (x) e faça o estudo do sinal da f 0 e organize os intervalos de cresci-


mento e decrescimento da f .

3. Calcule f 00 (x) e faça estudo do sinal da f 00 e organize os intervalos de concavi-


dade para cima e concavidade para baixo de f .

4. Esboce parte do gráfico nas vizinhanças das regiões importantes; mais precisa-
mente, esboce o gráfico perto das assíntotas horizontais e verticais, perto dos
pontos críticos e perto dos pontos de inflexão.

5. Finalize o esboço do gráfico, unindo os pedaços de curva de forma suave, respei-


tando a concavidade do gráfico.

Antes de fazermos mais um esboço do gráfico, sugerimos assistir à nossa videoaula


Segunda Lei de Newton e o Cálculo. Esta aula nos fornece a nossa opinião onde está a
física e onde está a matemática, apesar de estar bem entrelaçado. No final dessa aula,
mencionamos que a derivada de ordem superior é utilizada em cálculo numérico em que
o principal conceito é o polinômio de Taylor. Veremos sobre este tema no capítulo 6.
1
Exemplo 4.7.5: Vamos esboçar o gráfico da função f (x) = .
+1 x3
Vemos que o domínio da f são todos os pontos em que o denominador não se anula,
isto é (−∞, −1) ∪ (−1, +∞). Olhando os limites nos extremos do domínio, temos

lim f (x) = 0, lim f (x) = −∞, lim f (x) = +∞, lim f (x) = 0.
x→−∞ x→−1− x→−1+ x→+∞

−3x2
Pela regra da cadeia, temos que f 0 (x) = . Fazendo o estudo do sinal da f 0 ,
(x3 + 1)2
vemos que o numerador −3x2 é sempre negativo e o denominador (x3 + 1)2 é sempre
positivo, logo f 0 (x) ≤ 0 para todo x no domínio de f .

f′
−1 0

f
−1 0

Usando as informações que calculamos até o momento, temos


y

x
114 Matemática Universitária

Resta agora as informações da segunda derivada. Pela regra da divisão, temos

(3x2 )0 (x3 + 1)2 − 3x2 [(x3 + 1)2 ]0


f 00 (x) = −
(x3 + 1)4
6x(x3 + 1)2 − 18x4 (x3 + 1)
=−
(x3 + 1)4
(x3 + 1) − 3x3
= −6x(x3 + 1)
(x3 + 1)4
1
= −6x(x3 + 1)(1 − 2x3 ) 3 .
(x + 1)4

Como (x3 + 1)4 ≥ 0 para todo x, o sinal de f 00 é o mesmo 3 3


rde −6x(x + 1)(1 − 2x ). Note
3 1
que as raízes deste polinômio são x = 0, x = −1 e x = . Logo, temos
2

+ +
r f ′′ (x)
−1 0 3 1
2

r f (x)
−1 0 3 1
2

Acrescentando os pontos em que há mudança de concavidade no gráfico, temos


y

Finalmente, unimos os pedaços de curvas suavemente.


y

1
Figura 4.14: Gráfico da função .
x3 + 1
Renan Lima 115

Exercícios

1. Esboce o gráfico das funções abaixo, levando em conta a concavidade, assíntotas


horizontais e verticais.
 
3 1 1
a) f (x) = x − 3x − 1 b) f (x) = 12 −
x x2
1 x2
c) f (x) = x − d) f (x) =
x (x − 1)2
2 √3

3
e) f (x) = x2 − f) f (x) = 10 x5 − 10 x2
x

Respostas

Exercício 1
Verifique suas soluções em Cálculadora Gráfica do Geogebra. Sugerimos ter o aplicativo
no celular e no PC.
Note que o gráfico da função da letra f) possui um bico em (0, 0).
C APÍTULO

5 Funções Transcendentais

5.1 Introdução

Nos capítulos anteriores, aprendemos a fazer cálculos com limites e também as regras
de derivação de funções conhecidas como funções algébricas, isto é, funções que são
geradas por polinômios com as operações de soma, subtração, multiplicação, divisão,
composição e raízes enésimas. Por exemplo, todas as funções abaixo são algébricas:

p x2 + 3x − 2 2
p
3 x+1
2
f (x) = x + 1, f (x) = 4
3
, f (x) = x − 3 + x − 1, f (x) = √ 3
.
x +2 x3 + 2
A vantagem de estudar funções dessa natureza é que podemos deduzir as fórmulas de
derivadas via manipulação de produtos notáveis e fatoração, isto é, todas as fórmulas de
derivadas podem ser encontradas via manipulações algébricas.
As funções que não são algébricas são ditas funções transcendentais. Como exem-
plos de funções transcendentais, temos as funções trigonométricas, exponenciais e loga-
rítmicas. Para entendermos melhor o contexto que estamos agora, considere a função
f (x) = sen x e suponha que desejamos encontrar a f 0 (0), isto é, queremos calcular

sen(0 + h) − sen 0 sen h


lim = lim .
h→0 h h→0 h

Veremos que não há manipulação algébrica que funcione para o limite acima e, portanto,
precisamos resolver o problema de outra forma. Em casos específicos de funções trans-
cendentais, é comum resolvê-las usando estimativas com funções já conhecidas. Por
exemplo, para h > 0, vamos trabalhar com uma interpretação geométrica das funções
senos e cossenos de forma mais precisa e provaremos a seguinte desigualdade

sen h ≤ h ≤ tan h.

Para a interpretação geométrica funcionar, temos que adequar corretamente a unidade de


comprimento com a unidade de ângulo! A unidade de medida de ângulo adequada para
o cálculo diferencial é o radiano. Depois de encontrarmos esta desigualdade, faremos
algumas manipulações algébricas e finalizaremos com uma ferramenta mais sofisticada
do conceito de limite, conhecida como o teorema do confronto.
Neste capítulo, faremos uma revisão detalhada das funções trigonométricas, expo-
nenciais e logarítmicas, indicando as principais fórmulas e faremos o aprofundamento
que julgamos necessário para o cálculo. Após a revisão, deduziremos suas respectivas
derivadas e aplicaremos todas as técnicas do cálculo aprendidas nos capítulos anteriores.
Renan Lima 117

5.2 Revisão de Trigonometria

Dedicaremos uma seção para a revisão básica de funções trigonométricas. Uma intro-
dução inicial pode ser vista em [Revisão] - Trigonometria. Nesta videoaula trabalhamos
ainda o ângulo em graus e apenas no intervalo (0, 90◦ ). Para trabalharmos em radianos
e para todos os ângulos reais, uma boa introdução do assunto pode ser encontrada na
nossa videoaula [Revisão] - Introdução às Funções Senos e Cossenos.
Embora a unidade mais comum para medir ângulos seja o grau, a unidade de medida
de ângulo para o cálculo diferencial é o radiano. Um radiano é o ângulo central definido
em um círculo de raio 1 por um arco de circunferência de comprimento 1.

1 rad

Como uma volta completa na circunferência é 360◦ , então o seu correspondente é


2π radianos. Meia volta na circunferência corresponde à 180◦ ou π radianos. Um terço

de volta na circunferência corresponde à 120◦ ou radianos e assim sucessivamente.
3
Utilizando regra de 3, temos
x rad − 2π
yº − 360◦ .
Portanto,
180 ◦
1 rad = ' 57, 295791◦
π
e também
π
1◦ = rad ' 0, 01745 rad .
180
De agora em diante, vamos omitir a palavra radiano. Utilizando a regra de três, che-
π π π π
gamos às seguintes fórmulas de ângulos notáveis: 90◦ = , 60◦ = , 30◦ = e 45◦ = .
2 3 6 4
Fixada a unidade de medida, precisamos definir as funções seno, cosseno e tangente
π
de forma clássica, então para 0 < θ < , considere o triângulo retângulo conforme a
2
figura abaixo. Temos

Cateto oposto a
sen θ = = ,
Hipotenusa c

cos θ =
Cateto adjacente b
= ,
a c
Hipotenusa c

Cateto oposto a θ
tg θ = = .
Cateto adjacente b
b
a b a
Por semelhança de triângulo, vemos que as razões , e dependem apenas do ân-
c c b
gulo θ e é interessante trabalhar com a hipotenusa de tamanho 1. Com estas observações
118 Matemática Universitária

e pelo teorema de Pitágoras, valem as seguintes identidades trigonométricas

sen2 θ + cos2 θ = 1,
sen θ 1
sen θ
tg θ = .
cos θ
θ

cos θ

O primeiro exemplo em que podemos encontrar explicitamente o valor do seno e


π
cosseno é o ângulo de 45◦ = . Este ângulo é notável pois é o único ângulo que permite
4
que o triângulo retângulo acima seja também isósceles. Logo,
π π
sen = cos .
4 4

Utilizando a relação sen2 θ + cos2 θ = 1, temos que


π π
sen2 + sen2 = 1.
4 4
π
Como sen > 0, concluímos da equação acima que
4

π π 2
sen = cos = .
4 4 2
E, portanto,
π
tg = 1.
4

Para o cálculo diferencial, é importante que o domínio das funções seno e cosseno
sejam todos os reais e precisamos falar do círculo trigonométrico. Recomendamos, por-
tanto, assistir à nossa videoaula [Revisão] - O Círculo Trigonométrico.
Considere a circunferência de raio unitário com centro na origem do plano xy. Ori-
entamos esta circunferência no sentido anti-horário em que θ = 0 corresponde ao ponto
(1, 0). Deixamos várias figuras exemplificando o significado de θ > 0 e θ < 0.

π π
4 2 π


2



2π 4
π −π

2

Além do sinal, estamos permitidos a dar mais de uma volta completa na circunferên-
9π π
cia. Por exemplo, corresponde à 2π + e significa que damos uma volta completa
4 4
π
na circunferência e andamos mais (ver figura abaixo). O mesmo vale se invertemos o
4
15π 7π
sentido, no exemplo da figura abaixo, temos que − = −2π − .
4 4
Renan Lima 119

9π 15π

4 4

Dado um ponto P = (x, y) na circunferência, então vale x2 + y 2 = 1 e existe um único


θ ∈ [0, 2π) correspondente ao arco AP , em que A = (1, 0). Por definição, temos que

y y

b
P = (x, y) P b

1 1 y
cos θ = x, y
θ
θ b A x b A x
x x
sen θ = y.

Os sinais algébricos das funções seno e cosseno dependem do quadrante em que está
o ponto P . Além disso, os ângulos θ e θ + 2π definem o mesmo ponto P , logo
sen(θ + 2π) = sen θ e cos(θ + 2π) = cos θ.
Note, em particular, que
π 3π
sen 0 = 0, sen = 1, sen π = 0 e sen = −1.
2 2
Além disso, temos que
π 3π
cos 0 = 1, cos = 0, cos π = −1 e cos = 0.
2 2
h πi
Mais ainda, vemos pelo círculo trigonométrico que a função seno cresce em 0, ,
    2
π 3π 3π
decresce em , e cresce novamente em , 2π .
2 2 2
y y y

θ θ
θ x x x

Figura 5.1: Função seno é crescente no primeiro quadrante.


y y y

θ θ θ
x x x

Figura 5.2: Função seno é decrescente no segundo quadrante.


120 Matemática Universitária

y y y

θ θ θ
x x x

Figura 5.3: Função seno é decrescente no terceiro quadrante (fica mais negativo).
y y y

θ θ
x x θ x

Figura 5.4: Função seno é crescente no quarto quadrante (fica “menos” negativo).

Deixamos como exercício analisar os intervalos de crescimento e decrescimento da


função cosseno. Além dos intervalos de crescimento e decrescimento, é importante ter
em mente que o seno é uma função ímpar e o cosseno é uma função par, isto é,
sen(−θ) = − sen θ e cos(−θ) = cos θ.

y y

θ
θ
x x
−θ
−θ

Figura 5.5: Explicação geométrica que a função seno é ímpar e a função cosseno é par.

Os gráficos são, portanto, dados nas figuras abaixo.


−2π −3π
2 −π −π
2
π
2 π 2 2π
−1

(a) Gráfico do seno


1


−2π −3π
2 −π −π
2
π
2 π 2 2π
−1

(b) Gráfico do cosseno


Figura 5.6: Gráficos das funções seno e cosseno.
Renan Lima 121

Uma das aplicações das ideias acima é a dedução da Lei dos cossenos para triângulos.
A Lei dos cossenos diz que vale a fórmula c2 = a2 + b2 − 2ab cos θ, em que a, b, c são os
comprimentos dos lados do triângulo e θ é o ângulo oposto ao lado de comprimento c.
B b

c
b
θ
b b
A
C a
Figura 5.7: Lei dos Cossenos: c2 = a2 + b2 − 2ab cos θ.

A prova desse resultado é feita acrescentando coordenadas e utilizando geometria analí-


tica.
y
(b cos θ, b sen θ)
c2 = (b cos θ − a)2 + (b sen θ)2 b

= b2 cos2 θ − 2ab cos θ + a2 + b2 sen2 θ


c
= b2 (cos2 θ + sen2 θ) + a2 − 2ab cos θ b
= a2 + b2 − 2ab cos θ. θ (a, 0)
b b
x
a

π
Uma consequência imediata é a possibilidade encontrar cos . Considere o triângulo
3
π
equilátero de lado 1. Temos que os ângulos internos são e, pela lei dos cossenos, temos
3

π B
12 = 12 + 12 − 2 cos b
3

e, portanto, 1 1
π 1 π
cos = . b
3 b
3 2
C 1 A
π
Utilizando o triângulo retângulo de hipotenusa 1 e um dos ângulos sendo , concluí-
3
mos que

√ π
π 3 π 1
sen = , sen = , 6
3 2 6 2

π 1 π 3 sen π3 1
cos = , cos = ,
3 2 6 2

π √ π 3 π
tg = 3, tg = .
3 6 3 3
1
cos π3 = 2

Além do seno e cosseno, é de suma importância a função tangente. Considere o cír-


culo trigonométrico x2 + y 2 = 1 e a a reta vertical x = 1. A reta e o círculo se interceptam
122 Matemática Universitária

no ponto (1, 0). Para cada P = (x, y) no círculo trigonométrico e θ o ângulo definido por
P no círculo, então tg θ (tangente θ) é o valor da ordenada definida pela interseção da
reta que passa por (0, 0) e P com a reta x = 1. Ver as figuras abaixos nos primeiros e
segundos quadrante.
y y

b
P tg θ
b
P

θ
θ x
x

tg θ

π
Note que não está definido no círculo trigonométrico o valor de tg θ para θ = e
2

θ= . Com semelhança de triângulo e uma simples análise de sinal, temos que
2
sen θ
tg θ = , ∀θ ∈ R e cos θ 6= 0.
cos θ
Além disso, vale que a função tangente é uma função ímpar, isto é,
tg(−θ) = − tg θ.
Utilizando algumas simetrias no círculo trigonométrico, é fácil ver que
tg(θ + π) = tg θ.
Seu gráfico é dado por
y

x

−3π
2 −π −π
2
π
2 π 2
−1

−2

−3

−4

π
Repare que o gráfico da função tangente possui assíntotas verticais em x = (2k + 1) ,
2
k ∈ Z e é bastante instrutivo utilizar o teorema 3.4.13 para provar algebricamente que
lim tg θ = +∞, lim tg θ = −∞.
θ→ π2 − θ→ π2 +

Para os objetivos deste livro, não é preciso a interpretação geométrica das outras fun-
ções trigonométricas via o círculo trigonométrico. Mas as suas fórmulas são muito im-
portantes, principalmente a função secante.
Renan Lima 123

1
1. sec θ é chamada de secante do ângulo θ e é definida por sec θ = .
cos θ
1
2. cossec θ é chamada de cossecante do ângulo θ e é definido por cossec θ = .
sen θ
cos θ
3. cotg θ é chamada de cotangente do ângulo θ e é definida por cotg θ = .
sen θ

1 sec θ
Existem várias relações com as funções acima tais como cotg θ = , tg θ = ,
tg θ cossec θ
mas uma relação que merece destaque, que será visto com mais detalhes na parte de
integrais, é
sec2 θ = tg2 θ + 1.
Para deduzi-la, basta dividir por cos2 θ e utilizar a identidade 1 = sen2 θ + cos2 θ.
Além delas, há uma série de relações trigonométricas envolvendo somas de arcos.
Para um bom resumo, sugerimos assistir à nossa videoaula [Revisão] - Funções Trigono-
métricas. Deixamos claro que as fórmulas importantes são

sen(−θ) = − sen θ,
cos(−θ) = cos θ,
cos(α + β) = cos α cos β − sen α sen β, (1)
sen(α + β) = sen α cos β + sen β cos α. (2)

Todas as outras fórmulas são deduzidas, em poucas linhas, a partir das 4 acima. Por
exemplo,

cos(α − β) = cos(α + (−β))


= cos α cos(−β) − sen α sen(−β)
= cos α cos β + sen α sen β. (3)

Analogamente,

sen(α − β) = sen α cos β − sen β cos α. (4)

Somando, por exemplo, as expressões (2) e (4), obtemos uma fórmula que transforma
a soma de senos em uma multiplicação. Pode-se fazer o mesmo com a expressão (1) e
(3). Tais fórmulas são conhecidas como fórmulas de prostaférese ou fórmulas de adição
e subtração.

sen(α + β) − sen(α − β) = 2 sen β cos α,


sen(α + β) + sen(α − β) = 2 sen α cos β,
cos(α + β) + cos(α − β) = 2 cos α cos β,
cos(α + β) − cos(α − β) = −2 sen α sen β.

Fazemos, então, a substituição α + β = p e α − β = q. Por exemplo, substituindo na


primeira fórmula de prostaférese, obtemos a seguinte identidade
   
p−q p+q
sen p − sen q = 2 sen cos .
2 2
A fórmula da tangente diz que
tg α + tg β
tg(α + β) = ,
1 − tg α · tg β
124 Matemática Universitária

desde que todos os termos acima estejam bem definidos (α, β, e α + β tem que ser todos
π
diferente de , por exemplo).
2
A demonstração dessa fórmula é feita via expansão das fórmulas de sen(α + β) e de
cos(α+β), dividindo o numerador e denominador por um termo adequado de modo que
apareçam apenas os termos da tangente. Mais precisamente

sen(α + β) sen α cos β + sen β cos α


tg(α + β) = =
cos(α + β) cos α cos β − sen α sen β

sen α cos β + sen β cos α sen α cos β sen β cos α


+
cos α cos β cos α cos β cos α cos β
= =
cos α cos β − sen α sen β cos α cos β sen α sen β

cos α cos β cos α cos β cos α cos β

tg α + tg β
= .
1 − tg α · tg β

Recordemos as 4 fórmulas

sen(−θ) = − sen θ,
cos(−θ) = cos θ,
cos(α + β) = cos α cos β − sen α sen β, (1)
sen(α + β) = sen α cos β + sen β cos α. (2)

Fazendo α = β = x, obtemos as identidades trigonométricas

cos 2x = cos2 x − sen2 x,


sen 2x = 2 sen x cos x.

Unindo as identidades cos 2x = cos2 x − sen2 x e cos2 x + sen2 x = 1, temos

cos 2x = cos2 x − sen2 x


= 2 cos2 x − 1
= 1 − 2 sen2 x.

Uma aplicação das fórmulas acima é a possibilidade de encontrar, de forma rápida, os


valores de cos 15◦ e sen 15◦ . Para tanto, basta tomar α = 45◦ e β = 30◦ e 15◦ = α − β. Para
manter a coerência com a notação do livro, vamos passar tudo em radianos.
π π π 
cos 15◦ = cos = cos −
12 4 6
π π π π
= cos · cos + sen · sen
4 6 4 6
√ √ √
2 3 2 1
= · + ·
2 2 2 2
√ √
6+ 2
= .
4
Analogamente,
√ √
π 6− 2
sen = .
12 4
Renan Lima 125

Finalizamos a seção demonstrando as identidades (1) e (2) acima. Primeiramente,


vamos provar a fórmula do cosseno. A demonstração pode ser encontrada na nossa
videoaula Dedução da Fórmula do Cosseno da Soma de Ângulos.
No círculo trigonométrico, considere os pontos P = (cos(−α), sen(−α)) = (cos α, − sen α)
e Q = (cos β, sen β).
y

Q = (cos β, sen β)

β
x
O −α

P = (cos α, −sen α)

Vamos encontrar o tamanho do segmento P Q de duas formas distintas: a primeira,


utilizando a lei dos cossenos no triângulo OP Q e a segunda forma via geometria analá-
tica, via coordenadas.
Façamos P Q = c. Utilizando a lei dos cossenos e sabendo que OP = 1 e OQ = 1,
temos
c2 = 12 + 12 − 2 · 1 · 1 cos(α + β) = 2 − 2 cos(α + β).
Por outro lado, usamos as identidades cos(−α) = cos α, sen(−α) = − sen α e calculamos
a distância de P Q via geometria analítica

c2 = (cos β − cos α)2 + (sen β + sen α)2


= cos2 β − 2 cos α cos β + cos2 α + sen2 β + 2 sen α sen β + sen2 α
= 2 − 2 cos α cos β + 2 sen α sen β.

Igualando os dois resultados para c2 , temos

2 − 2 cos(α + β) = 2 − 2 cos α cos β + 2 sen α sen β.

Organizando a equação acima, concluímos que

cos(α + β) = cos α cos β − sen α sen β.


π 
Para provar a fórmula de sen(α + β), basta utilizar a igualdade sen x = cos − x para
2
qualquer x.
π   π  
sen(α + β) = cos − (α + β) = cos −α −β
2
π  π 2 
= cos − α cos β + sen − α sen β
2 2
= sen α cos β + cos α sen β,
π  π 
onde a igualdade sen − α = cos α é consequência da relação sen x = cos −x
2 2
π
com x = − α.
2
126 Matemática Universitária

Exercícios

1. Converta de graus para radianos.


a) 20◦ b) 120◦ c) 220◦ d) 320◦ e) 420◦

f) 210◦ g) 900◦ h) 225◦ i) 150◦ j) 720◦

2. Converta de radianos para grau.


3π π π 5π 20π
a) b) c) d) e)
2 18 36 12 3

3. Encontre os valores do seno, cosseno e tangente de cada um dos ângulos abaixo.


3π 4π π −5π
a) b) c) − d) e) 15π
4 3 3 4
π 5π 11π 7π 7π
f) - g) h) i) j)
12 3 12 3 6

4. Mostre que sen 3x = 3 sen x − 4 sen3 x.

5. Mostre que cos 3x = 4 cos3 x − 3 cos x.

6. Encontre uma fórmula para cos 4x em função de cos x.

7. Vamos encontrar o valor de sen 18◦ , utilizando apenas trigonometria.


a) Escreva θ = 18◦ e observe que 5θ = 90◦ . Daí, 3θ = 90◦ − 2θ.
b) Temos que cos 3θ = cos(90◦ − 2θ) = sen 2θ. Expanda a expressão ao lado com as
fórmulas dos exercícios anteriores e coloque tudo em função de sen θ.
c) Chame x = sen θ e verifique que 4x2 + 2x − 1 = 0. Conclua, portanto, que

◦ −1 + 5
sen 18 = .
4

1+ 5
8. Mostre que cos 36◦ = .
4
Renan Lima 127

Respostas

Exercício 1
π 2π 11π 16π 7π
a) b) c) d) e)
9 3 9 9 3
7π 5π 5π
f) g) 5π h) i) j) 4π
6 4 6

Exercício 2
a) 270◦ b) 10◦ c) 5◦ d) 75◦ e) 1200◦

Exercício 3
  √ √

 
3π 2 4π 3
sen = sen =−  π 3
4 2 3 2 sen − =−
3 2
  √  
3π 2 4π 1  π 1
a) cos =− b) cos =− c) cos − =
4 2 3 2 3 2
   

 π √
3π 4π tg − =− 3
tg = −1 tg = 3 3
4 3

  √ √ √
5π 2 π 2− 6
sen −

= sen − =
4 2 sen (15π) = 0 12 4
  √  π  √2 + √6
5π 2
d) cos − =− e) cos (15π) = −1 f) cos − =
4 2 12 4
  tg (15π) = 0  π √

tg − = −1 tg − = 3−2
4 12

√  √ √
6− 2
 
5π 3 11π
sen =− sen =
3 2 124
    √ √
5π 1 11π 2+ 6
g) cos = h) cos =−
3 2 12 4
√ √
   
5π 11π
tg =− 3 tg = 3−2
3 12

√  
7π 1
 
7π 3 sen =−
sen = 6 2
3 2
    √
7π 1 7π 3
i) cos = j) cos =−
3 2 6 2


   
7π 7π 3
tg = 3 tg =
3 6 3

Exercício 6

cos 4x = 8 cos4 x − 8 cos2 x + 1


128 Matemática Universitária

5.3 Derivada das Funções Trigonométricas

Nesta seção, vamos deduzir as derivadas das funções trigonométricas. Mais precisa-
sen x
mente, vamos mostrar que lim = 1. Para tanto, precisaremos de uma técnica mais
x→0 x
sofisticada para o cálculo de limites, conhecida como o teorema do confronto. Sugerimos
o leitor a ter conhecimento dos resultados da seção 3.2 para poder avançar e, para uma
introdução deste teorema, sugerimos a videoaula Teorema do Confronto.

Teorema 5.3.1: Teorema do Confronto

Sejam f, g, h : (a, b) − {x0 } → R funções satisfazendo f (x) ≤ g(x) ≤ h(x) para todo
x ∈ (a, b) − {x0 }. Se
lim f (x) = lim h(x) = L,
x→x0 x→x0

então, lim g(x) existe e vale


x→x0
lim g(x) = L.
x→x0

Enunciados análogos podem ser obtidos para limites laterais e também ao substituir
por x → ±∞.

Demonstração:
A demonstração será feita na seção 9.3 do capítulo 9.

Corolário 5.3.2: Teorema do Confronto - Função Limitada

Seja f uma função limitada, isto é, existe M ∈ R tal que |f (x)| ≤ M para todo x no
domínio de f .
Seja g uma função satisfazendo lim g(x) = 0, então
x→x0

lim f (x)g(x) = 0.
x→x0

Demonstração:
A demonstração se encontra na página 342 e também na videoaula Demonstração do
Teorema do Confronto - Função Limitada.

Para exercícios do teorema do confronto, sugerimos a videoaula Teorema do Con-


sen x
fronto com Função Limitada. Provamos, na videoaula, que lim = 0. Logo, a
x→+∞ x
sen x
função possui assíntota horizontal (ver figura 5.8). Observe que o gráfico oscila
x
com algum amortecimento em torno do eixo x. É importante ressaltar que

@ lim sen x.
x→+∞

Geometricamente, o limite acima não existe pois o gráfico da função seno não possui
assíntota horizontal. Neste caso, há uma oscilação que não amortece à medida que x
cresce. Ainda não temos ferramentas formais para provar que o limite acima não exista.
Faremos a demonstração na seção 9.2 do capítulo 9.
Renan Lima 129

É ERRADO escrever
sen x 1
lim = lim sen x · lim .
x→+∞ x x→+∞ x→+∞ x

sen x
Para esboçar o gráfico f (x) = , observe que −1 ≤ sen x ≤ 1 , então, para x > 0,
x
1 1 1
temos − ≤ f (x) ≤ . Além disso, o gráfico da f toca o gráfico de y = em todos os
x x x
1
pontos em que sen x = 1. Da mesma forma, o gráfico da f toca o gráfico de y = − em
x
1
todos os pontos em que sen x = −1. Portanto, o gráfico oscila entre os gráficos de y =
x
1
e y = − . Será provado nesta seção que lim f (x) = 1. então o gráfico é dado por
x x→0

sen x
Figura 5.8: Gráfico da função f (x) = .
x

1
Exemplo 5.3.3: Para calcular lim x sen , basta usar o teorema do confronto para a
x→0 x
1
função limitada, isto é, como lim x = 0 e a função sen é uma função limitada, pois
x→0 x
1
| sen u| ≤ 1 para todo u, inclusive para a função u = , pelo Corolário 5.3.2, temos
x
1
lim x sen = 0.
x→0 x
Um esboço do gráfico é

1
Figura 5.9: Gráfico da função f (x) = x sen .
x
130 Matemática Universitária

1
Veremos no exemplo 5.7.5 que lim x sen = 1. Para calcular a derivada das funções
x→+∞ x
trigonométricas, precisamos mostrar que

sen x
lim = 1.
x→0 x

A demonstração deste resultado se encontra nas nossas videoaulas Demonstração da


Continuidade das Funções Seno e Cosseno e Demonstração do Limite Fundamental. De-
vido à sua importância, vamos colocar um pequeno esboço da demonstração neste texto.
Lembramos que uma função é dita contínua em x0 se lim f (x) = f (x0 ).
x→x0

Para x > 0, ver figura ao lado.


sen x
A área do triângulo OP R é .
2
y x
T A área do setor circular OP R é .
2
P tg x
tg x A área do triângulo ORT é .
2
sen x

sen x x tg x sen x
Logo ≤ ≤ . Dividindo por ,
x 2 2 2 2
x temos
O R x 1
1≤ ≤ .
1 sen x cos x
Na nossa videoaula, provamos que a função
cosseno é contínua. Logo lim cos x = 1.
x→0
Pelo teorema do confronto, temos que
x
lim = 1.
x→0+ sen x
Uma demonstração por escrito feita de forma mais detalhada do limite fundamental
se encontram nas páginas 352 e 362.

Teorema 5.3.4: Derivada das Funções Trigonométricas

As funções trigonométricas são deriváveis e vale

(sen x)0 = cos x,


(cos x)0 = − sen x,
(tg x)0 = sec2 x,
(sec x)0 = sec x · tg x,
(cotg x)0 = − cossec2 x,
(cossec x)0 = − cossec x · cotg x.

Demonstração:
As derivadas das funções tg, sec, cotg e cossec são feitas utilizando a regra da divisão
e podem ser encontrada na nossa videoaula Derivada das Funções Trigonométricas. A
demonstração também pode ser vista, por escrito, na página 364. Para encontrarmos a
derivada da função seno e cosseno, recomendamos a videoaula Demonstração da Deri-
vada do Seno e Cosseno. Também recomendamos a página 363.
Renan Lima 131

Para um outro ponto de vista da continuidade das funções trigonométricas e alguns


exercícios simples de limite fundamental, sugerimos assistir à nossa videoaula Limite
Fundamental. Para a dedução dessas fórmulas utilizando apenas a noção de física, suge-
rimos assistir à nossa videoaula Motivação com Física das Derivadas Trigonométricas.
Agora que temos as fórmulas das derivadas de funções trigonométricas, podemos
aplicar também as regras do produto, do quociente e a regra da cadeia para encontrar a
derivada das mais diversas funções. Neste sentido, sugerimos assistir às nossas videoau-
las Exemplos de Derivação com Funções Trigonométricas e Regra da Cadeia - Enunciado
e Exemplos para lembrar da regra da cadeia e também para derivar usando a regra do
produto e do quociente. Sugerimos assistir às videoaulas antes do próximo exemplo.
Exemplo 5.3.5: Considere a função f (x) = sen(x2 cos x). Para derivarmos, façamos
y = x2 cos x, portanto, f (x) = sen y e utilizamos a regra da cadeia.

df dy
= (cos y)
dx dx
= [cos(x cos x)] · (2x cos x − x2 sen x)
2

= (2x cos x − x2 sen x) · cos(x2 cos x).



Exemplo 5.3.6: Considere a função f (x) = x2 tg( x). Vamos utilizar a regra do pro-
duto e a regra da cadeia.

df √ √
= 2x tg( x) + x2 (tg( x))0
dx  2 √ 
√ 2 sec ( x)
= 2x tg( x) + x √ .
2 x
√ !
x2 + 1
Exemplo 5.3.7: Considere a função f (x) = sec . Para derivarmos, devemos
x3 + 1

x2 + 1
usar a regra da cadeia e a regra da divisão. Vamos chamar de y = , então
x3 + 1
f (x) = sec y e, portanto,

dy
f 0 (x) = sec y tg y ·
dx x p 
√ (x3 + 1) − 3x2 x2 + 1
 x2 + 1
= sec y tg y 

(x3 + 1)2

√ ! √ ! 
x2 + 1 x2 + 1 x(x3 + 1) − 3x2 (x2 + 1)

= sec · tg · √
x3 + 1 x3 + 1 (x3 + 1)2 x2 + 1
√ ! √ ! 
x2 + 1 x2 + 1 −2x4 − 3x2 + x

= sec · tg · √ .
x3 + 1 x3 + 1 (x3 + 1)2 x2 + 1

Terminamos a seção falando um pouco das funções trigonométricas inversas e cal-


cularemos as suas derivadas. Sugerimos, para revisão, a videoaula [Revisão] - Função
Inversa e vamos aplicar o conceito para funções trigonométricas inversas, conforme feito
na nossa videoaula [Revisão] - Funções Trigonométricas Inversas.
Na seção 4.3, vimos o teorema 4.3.14, que fala sobre a Fórmula de Derivada da Função
Inversa. Vamos enunciá-lo novamente, indicando uma página com a demonstração.
132 Matemática Universitária

Teorema 5.3.8: Derivada da Função Inversa

Seja f : (a, b) → (c, d) bijetora e g a função inversa da f . Se f é derivável em x0 com


f 0 (x0 ) 6= 0 e se f (x0 ) = y0 , então g é derivável em y0 e vale
1
g 0 (y0 ) = .
f 0 (x 0)

Demonstração:
A demonstração se encontra na página 360. Para a demonstração precisa, é necessário o
teorema 5.4.3, que será visto na seção seguinte.

Na prática, sugerimos que não aplique a fórmula, apenas utilize que é derivável e
inverta o papel de x e y, conforme feito na nossa videoaula Derivada das Funções Trigo-
nométricas Inversas. Por exemplo, no caso da função arco tangente
y = arctg x,
temos que a sua função inversa é tg y = x. Derivando tudo com respeito a x e aplicando
a regra da cadeia, temos
dy
sec2 y = 1.
dx
Utilizando a fórmula trigonométrica sec2 y = tg2 y + 1 e lembrando que tg y = x, temos
dy 1 1 1
= 2
= 2 = .
dx sec y 1 + tg y 1 + x2
1
Como faz sentido para todo x ∈ R, concluímos que y = arctg x é derivável em R
1 + x2
e temos a seguinte fórmula para sua derivada
1
(arctg x)0 = .
1 + x2

Teorema 5.3.9: Derivada das Funções Trigonométricas Inversas


 π π
A função arctg : R → − , é derivável e vale
2 2
1
(arctg x)0 = .
1 + x2
h π πi
A função arcsen : [−1, 1] → − , é derivável em (−1, 1) e vale
2 2
1
(arcsen x)0 = √ .
1 − x2

Demonstração:
A prova por escrito deste resultado se encontra na página 369.

Finalizamos a seção com dois exemplos com derivada de funções trigonométricas in-
versas mesclados com regras de derivação como do produto e da cadeia. O procedimento
é o mesmo.
Renan Lima 133

Exemplo 5.3.10: Para derivarmos a função y = x arcsen x, basta utilizar a regra do


produto.

y 0 (x) = (x)0 arcsen x + x · (arcsen x)0


x
= arcsen x + √ .
1 − x2

Exemplo 5.3.11: Para derivarmos a função f (x) = arctg(x3 ), utilizamos a regra da


cadeia, com y = x3 e f (y) = arctg y.

df df dy 1
= · = (3x2 )
dx dy dx 1 + y2
3x2 3x2
= 3 2
= .
1 + (x ) 1 + x6

A tabela abaixo nos fornece todas as fórmulas importantes que aprendemos até aqui.
Não sugerimos decorar a derivada da função cossecante e da função cotangente, pois não
aparecem com frequência.

Fórmulas de Derivadas Regras de Derivação

(xp )0 = pxp−1 , p ∈ Q (f + g)0 = f 0 + g 0

(sen x)0 = cos x (f − g)0 = f 0 − g 0

(cos x)0 = − sen x (cf )0 = cf 0 , onde c ∈ R

(tg x)0 = sec2 x (f · g)0 = f 0 · g + f · g 0


 0
f f 0 · g − f · g0
(sec x)0 = sec x tg x =
g g2
1
(arcsen x)0 = √ (f ◦ g)0 = (f 0 ◦ g) · g 0
1 − x2
1 1
(arctg x)0 = (f −1 )0 =
1 + x2 f 0 ◦ f −1
134 Matemática Universitária

Exercícios

1. Derive as expressões abaixo.



a) f (x) = x sen x b) f (x) = cos2 x c) f (x) = tg x

d) f (x) = tg(x + 1) e) f (x) = sec(2x) f) f (x) = sec( x)
sen x sen2 x
g) f (x) = h) f (x) = i) f (x) = (tg x − x)3
x+1 x

π
2. Encontre a equação da reta tangente ao gráfico da função y = cos x em x0 = .
4

1
3. Para x ∈ (0, π), mostre que (arccos x)0 = − √ .
1 − x2
 π 1
4. Mostre que, para x ∈ 0, , (arcsec x)0 = √ .
2 x x2 − 1

5. Calcule as derivadas das expressões abaixo.


a) f (x) = x2 arcsen x b) f (x) = (arcsen x)2 c) f (x) = x arcsen (x2 )

√ arctg x
d) f (x) = x3 arctg x e) f (x) = arcsen x f) f (x) =
x

Respostas

Exercício 1

sec2 x
a) sen x + x cos x b) −2 sen x cos x c) √
2 tg x
√ √
sec x · tg x
d) sec2 (x + 1) e) 2 sec(2x) tg(2x) f) √
2 x
x cos x + cos x − sen x x sen 2x − sen2 x
g) h) i) 3(tg x − x)2 tg2 x
(x + 1)2 x2

Exercício 2
√ √ 
2 2 π
y= − x−
2 2 4

Exercício 5
x2 2 arcsen x 2x2
a) 2x arcsen x + √ b) √ c) arcsen x2 + √
1 − x2 1 − x2 1 − x4
√ √
x3 1 x − 2(1 + x) x arctg x
d) 3x2 arctg x + e) √ f) √
1 + x2 2 x − x2 2(1 + x)x x
Renan Lima 135

5.4 A Função Exponencial e o Número de Euler

Historicamente, as funções logarítmicas surgiram antes das funções exponenciais,


mas, didaticamente, é melhor fazer o caminho inverso. Sugerimos de antemão assistir
à nossa videoaula [Revisão] - Função Exponencial - Definindo nos Inteiros.
A função exponencial é uma função da forma f (x) = ax , em que a > 0 e a 6= 1.
Para fixar as ideias, vamos supor que a > 1. Definimos que a1 = a, a2 = a · a, assim
sucessivamente, chegando à fórmula

an+1 = a · an ,

para todo n ∈ N. Essa lógica diz que a cada incremento de uma unidade no valor de n, o
valor de an+1 é obtido via multiplicação por a pelo número anterior an .
Além disso, vemos que cada vez que o valor de n decai uma unidade, então o valor
1
cai por um fator . Mais precisamente, vale a fórmula
a
an
an−1 = .
a
1 1
Por conta disso, define-se a0 = 1, a−1 = , a−2 = 2 e assim sucessivamente. Temos,
a a
1
portanto, a fórmula a−n = n . para todo n ∈ Z.
a
p
Torna-se um pouco mais abstrato para definir ax para x racional. Se x = , com p ∈ Z
q
e q > 0, define-se

ap/q = q ap .

É necessário tomar um cuidado com esta definição. Um dos principais problemas é que
2 4
a representação por frações de um número racional não é única, por exemplo, = e
3 6
teríamos que provar, essencialmente, a lei do corte

3

6
a2 = a4 .

Na nossa videoaula, [Revisão] - Função Exponencial - Definindo nos Racionais provamos


p r
este fato para a = 2. Vamos provar aqui o caso geral. Supomos que x = = . Então
q s
ps = rq e queremos provar que
√q

ap = s ar .

Tome x = q ap , temos

x= q
ap ⇐⇒ xq = ap ⇐⇒ xqs = (xq )s = (ap )s = aps = arq

⇐⇒ (xs )q = (ar )q ⇐⇒ xs = ar ⇐⇒ x = s ar .

Para estender a função exponencial para toda reta real é ainda mais sutil. Recomenda-
mos assistir à nossa videoaula Função Exponencial - Definindo nos Reais. A ideia é apro-
ximar x por números racionais via expansão por casas decimais, isto é x = a0 , a1 a2 a3 . . .,
em que a0 ∈ Z, an ∈ {0, . . . , 9}, encontrar os valores de aa0 , aa0 ,a1 , aa0 ,a1 a2 e ver se √tal
sequência converge para algum número. Na videoaula, trabalhamos para calcular 2 2 .
136 Matemática Universitária


Aqui no texto, vamos fazer aproximações sucessivas para o número 3 5. Lembremos que

5 = 2, 23606797 . . ., então a0 = 2, a1 = 2, a2 = 3, a3 = 6 e etc... Daí,

32 = 9
32,2 = 11, 211578457 . . .
32,23 = 11, 587250557 . . .
32,236 = 11, 66388222 . . .
32,2360 = 11, 66388222 . . .
32,23606 = 11, 66465109 . . .
32,236067 = 11, 664740795 . . .

e assim sucessivamente. Não é fácil provar, mas é fácil de intuir, que a sequência de
números acima vai se estabilizando.
Para o caso geral, para cada x ∈ R, está unicamente bem definido ax via aproximações
sucessivas de números racionais. Veremos a demonstração desta construção da função
exponencial no capítulo 9.
Para trabalharmos a função exponencial a nível do cálculo, recomendamos a nossa
videoaula Propriedades da Função Exponencial.
Pela construção da função exponencial, note que vale ax > 0 para todo x ∈ R, mas há
uma grande diferença no gráfico entre o caso a > 1 e o caso 0 < a < 1.

y y

1 x

f (x) = 2
1 x

f (x) = 2x g(x) = 3
g(x) = 3x

x x

Figura 5.10: Gráficos de y = ax , a > 1. Figura 5.11: Gráficos de y = ax , 0 < a < 1.

Em particular, se a > 1, vale

lim ax = 0 e lim ax = +∞.


x→−∞ x→+∞

Se 0 < a < 1, vale

lim ax = +∞ e lim ax = 0.
x→−∞ x→+∞

As Leis da Exponenciação

1
• ax+y = ax · ay , • a−x = ,
ax
• axy = (ax )y = (ay )x , • (a · b)x = ax · bx .

Acreditamos que a motivação principal para o estudo das funções exponenciais veio
de juros compostos na área de Economia. Graças a esta área que surge o famoso número
de Euler. Vamos explicar as ideias.
Renan Lima 137

Considere o caso hipotético de um investidor que conseguiu um investimento que


rende 100% ao ano e o investimento inicial foi no valor de R$ 100, 00. Isto significa que o
valor investido dobra a cada ano e, após 1 ano, o investidor terá R$ 200, 00. Após 2 anos,
o investidor terá R$ 400, 00.
Antes de continuar, faremos uma pausa para entender o porquê de ganhar o dobro
ao invés de R$ 100, 00 por ano.
Por exemplo, se o ganho fosse fixo com o valor de R$ 100, 00 ao ano, todo investidor
daria apenas o mínimo necessário para ter o resgate. Além disso, na aplicação hipotética
dita acima, o investidor está permitido a resgatar o dinheiro no ano seguinte e reinves-
tir os R$ 200, 00 para ganhar o dobro do capital. É importante para o banco e para o
investidor que o sistema esteja automatizado e, além disso, é interessante que o ganho
do investimento seja proporcional ao valor investido para que o banco receba o máximo
possível de capital de um investidor.
Matematicamente, para cada valor investido y, dobramos o valor para 2y após 1 ano.
Se denotarmos por y(n) o valor que o investidor tem após n anos, teríamos a fórmula

y(n + 1) = 2y(n).

Em nossa aplicação hipotética inicial, temos que

y(0) = 100,
y(1) = 2y(0) = 200,
y(2) = 2y(1) = 4y(0) = 400,
y(3) = 2y(2) = 8y(0) = 800.

E chegamos à fórmula final de


y(n) = 100 · 2n .
Colocando tudo em função da taxa de rendimento ι = 100% = 1, temos

y(n) = 100 · (1 + ι)n .

Lembremos que o significado numérico de % é dividir por 100, por exemplo,

10 25
10% = = 0, 1 e 25% = = 0, 25.
100 100
O interessante da fórmula y(n) = 100 · (1 + ι)n é podermos substituir ι por qualquer taxa.
Por exemplo, se a taxa ι é de 10% ao ano e se o investimento inicial é de 100 reais, então
após 1 ano, será resgatado

y(1) = 100 · (1 + 0, 1) = R$ 110, 00.

Se investíssemos 110 com taxa de 10% ao ano, então após 1 ano, teríamos

110 · 1, 1 = R$ 121, 00.

Portanto, se investíssemos R$ 100, 00 com taxa a 10% ao ano, teríamos, após 2 anos,

y(2) = R$ 121, 00 = [100 · (1 + 10%)] · (1 + 10%) = 100 · (1 + 10%)2 .

Concluímos que
y(n) = 100 · (1 + 10%)n .
138 Matemática Universitária

Voltemos a taxa de 100% ao ano, mas com investimento inicial de R$ 1, 00. A função
que modela o capital investido é y(n) = 2n , em que n ∈ N. Suponha que aconteça uma
emergência e, após seis meses, o investidor queira resgatar o dinheiro investido. É natural
que, nas negociações, se devolva um valor entre 1 e 2.
A intuição inicial é trabalhar com uma regra de 3, isto é, se em 1 ano o rendimento
seria de 1 real, então em 6 meses, o rendimento tem de ser 50 centavos e espera-se que o
retorno fique então
y(0, 5) = 1, 5.
Lembrem-se que estamos trabalhando com dinheiro e o investidor verificará se é mais
vantajoso trabalhar com investimento de 100% ao ano ou 50% a cada 6 meses e resgatar
após 1 ano. Se o investimento é a cada 6 meses, a taxa de 50% = 1/2, então a função que
modela é
y(x) = (1 + 50%)x .
onde x representa a quantidade de semestre. O valor de resgate após 1 ano é
y(2) = (1 + 50%)2 = (1, 5)2 = R$ 2, 25.
A lógica por trás deste valor é o seguinte... Imagine que cada 1 real é um organismo vivo
que tem a capacidade de construir uma outro organismo igual a si após 1 ano.

Só que a construção não é instantânea. Em 6 meses, ele consegue construir um semi-


organismo, que tem condições de ajudar na construção. Em outras palavras, após 6 me-
ses, o organismo conseguiu um ajudante, que tem um poder de construção proporcional
ao seu tamanho. Então, em 6 meses, ele acrescenta a metade de si.

Se ao invés de resgatar o R$ 1, 00 investido em 6 meses, o investidor resolvesse res-


gatar em 4 meses? É natural na mesa de negociações, dividir a taxa em 3 parcelas iguais
e a taxa ι = 1/3. Então, em 1 ano, o investidor irá resgatar
1 3 64
 
y(3) = 1 + = ' R$ 2, 37.
3 27
Continuando o raciocínio com taxa de retorno diário respeitando a regra de 3 isto é, se
um ano tem 365 dias então a taxa ι = 1/365, teríamos que o retorno após 1 ano seria
1 365
 
y(365) = 1 + .
365
Renan Lima 139

A princípio parece que o número acima seria bem grande, mas o seu valor é

y(365) ' R$ 2, 71.

Pode-se subdividir o dia em horas, que podem ser subdivididas em minutos e assim
sucessivamente. Fica, portanto, interessante calcular
1 n
 
lim 1+ .
n→+∞ n
Se pensarmos o tempo como um ente contínuo, é natural nos perguntarmos o valor de

1 t
 
lim 1 + .
t→+∞ t
Matematicamente, é necessário provar que o limite acima existe.

Teorema 5.4.1: Número de Euler

1 t
 
Existe lim 1 + .
t→+∞ t

Demonstração:
A demonstração se encontra nas páginas 365 e 366. A demonstração é bem técnica.

Definição 5.4.2: Número de Euler

O número de Euler, denotado por e, é

1 x
 
e = lim 1+ .
x→+∞ x

Sugerimos assistir à nossa videoaula Número de Euler. Na seção 6.5 do capítulo 6,


veremos um método numérico para encontrar o valor de e = 2, 71828 . . .. Além disso,
vamos provar que o número de Euler é irracional.
Há 3 modalidades de juros: juros simples, juros compostos e juros contínuos. Este
último é bastante utilizado o número de Euler e a taxa ι é a taxa de crescimento relativo
do capital investido. A taxa de crescimento absoluto é o crescimento infinitesimal do seu
capital em relação ao tempo e o valor de ι á taxa de crescimento absoluto dividido pelo
valor aplicado no instante considerado. Mais precisamente, se C(t) é o seu capital, temos
que C 0 (t) é a taxa de crescimento absoluto instantâneo (ou infinitesimal), enquanto
C 0 (t)
ι= .
C(t)
Em outras palavras,
C 0 (t) = ι · C(t).
A lógica da equação acima é que a velocidade do crescimento absoluto do capital é pro-
porcional ao valor que está aplicado. Tal crescimento também depende da taxa nego-
ciada. Veremos na seção 6.3 do capítulo 6 que a função que modela a equação acima é
C(t) = C0 eιt , onde C0 é o investimento inicial.
140 Matemática Universitária

O número de Euler tem várias outras propriedades interessantes para modelagens,


que, infelizmente, está fora do escopo do livro. Para melhor aproveitamento, são neces-
sárias noções de integral e de equações diferenciais ordinárias. Se considerarmos aplicar
as técnicas de cálculo diferencial em funções exponenciais, a base natural para função
exponencial é a base e. Finalizamos a seção falando da mudança de variáveis no limite.

Teorema 5.4.3: Mudança de Variáveis no Limite

Seja u : (a, b) → (c, d) uma função estritamente crescente (ou decrescente). Suponha
que lim u(x) = u0 .
x→x0
Seja f : (c, d) → R função tal que lim f (u) existe, então lim f (u(x)) existe e vale
u→u0 x→x0

lim f (u(x)) = lim f (u).


x→x0 u→u0

O mesmo enunciado é válido se trocarmos por limites laterais e limites no infinito.

Demonstração:
A demonstração será feita na seção 9.3 do capítulo 9.

O teorema diz que podemos fazer a mudança de variável de x por u. Sugerimos assis-
tir à nossa videoaula Mudança de Variáveis no Limite para uma introdução do assunto.
3 x
 
Exemplo 5.4.4: Desejamos calcular lim 1+ . Para tanto faça x = 3u e, por-
x→+∞ x
x
tanto, u = e quando x → +∞, temos u → +∞, daí
3
 3
3 x 3 3u 1 u
    
lim 1+ = lim 1+ = lim 1+
x→+∞ x u→+∞ 3u u→+∞ u
  u 3
1
= lim 1+ = e3 .
u→+∞ u

Sugerimos assistir à nossa videoaula Exercícios Envolvendo o Número de Euler. A


parte importante nesta videoaula é que provamos que

lim (1 + x)1/x = e.
x→0

Devido à importância deste resultado para a dedução da derivada, vamos demonstrá-lo.


Avisamos que tal demonstração pode ser encontrada na página 367.
1 x
 
Exemplo 5.4.5: Para calcularmos lim 1+ = e, tome u = −x − 1. Daí, quando
x→−∞ x
x → −∞, temos u → +∞ e, portanto,
 x  −u−1  −u−1
1 1 u
lim 1+ = lim 1− = lim
x→−∞ x u→+∞ u+1 u→+∞ u + 1
u+1
1 u+1
  
u+1
= lim = lim 1+
u→+∞ u u→+∞ u
 u  
1 1
= lim 1+ · 1+ = e · 1 = e.
u→+∞ u u
Renan Lima 141

Exemplo 5.4.6: Para mostramos que lim (1+x)1/x = e, se deve tomar bastante cuidado.
x→0
1
É natural pensarmos na mudança de variável x = e, quando x → 0, temos que
u
u → ±∞. Por este motivo, deve-se calcular os limites laterais x → 0+ e x → 0− .
1
Façamos o cálculo para x → 0+ . Então, fazendo u = , tem-se que u → +∞, daí,
x
utilizando a mudança de variáveis, temos

1 u
 
1/x
lim (1 + x) = lim 1+ = e.
x→0+ u→+∞ u

1
Analogamente, para x → 0− , façamos a mudança de variável u = . Temos que
x
u → −∞ daí, pelo exemplo anterior, temos

1 u
 
1/x
lim (1 + x) = lim 1+ = e.
x→0− u→−∞ u

Como lim (1 + x)1/x = lim (1 + x)1/x = e, concluímos que


x→0− x→0+

lim (1 + x)1/x = e.
x→0

Finalmente, esboçaremos o gráfico da função f (x) = ex e colocaremos um pequeno


resumo desta importante função.
y

Figura 5.12: gráfico da função f (x) = ex .

1
• ex+y = ex · ey , • e−x = ,
ex
• exy = (ex )y = (ey )x , • lim ex = ex0 para x0 ∈ R,
x→x0
x
• lim e = +∞,
x→+∞ • lim ex = 0.
x→−∞

A expressão lim ex = ex0 para todo x0 ∈ R nos diz que a função exponencial é
x→x0
contínua em R. Veremos melhor funções contínuas no capítulo 6.
142 Matemática Universitária

Exercícios

1. Simplifique a expressão sem utilizar calculadora.

a) 23 b) (−2)3 c) 2−3 d) (−2)−3


 4
2
e) (3)4 f) (−3)4 g) −34 h)
3

i) 43/2
3 15
j) 4−3/2 k) 9−0,5 l) 2

2. Expresse como uma potência de 4.

a) 1 b) 16 c) 2 d) 8
1 1 √
e) f) g) 3 16 h) 82/5
4 8

3. Calcule os limites, usando mudança de variáveis no limite.

5 x 1 x
   
a) lim 1+ b) lim 1+
x→+∞ x x→+∞ 3x
3 2x x + 7 x+3
   
c) lim 1+ d) lim
x→+∞ x x→+∞ x + 5

e) lim e1/x f) lim e1/x


x→+∞ x→−∞
1/x
g) lim e h) lim e1/x
x→0+ x→0−

Respostas

Exercício 1
1 1
a) 8 b) −8 c) d) −
8 8
16
e) 81 f) 81 g) −81 h)
81
1 1
i) 8 j) k) l) 32
8 3

Exercício 2

a) 40 b) 42 c) 41/2 d) 43/2
e) 4−1 f) 4−3/2 g) 42/3 h) 43/5

Exercício 3

a) e5 b) 3
e
c) e6 d) e2
e) 1 f) 1
g) +∞ h) 0
Renan Lima 143

5.5 A Função Logaritmo

Historicamente, a função logaritmo, inventada e idealizada por John Napier, nasceu


antes da função exponencial. O grande poder dos logaritmos é transformar multiplica-
ções e divisões em operações mais simples de adição e subtração.
Acredita-se que um dos grandes motivadores para a invenção dos logaritmos foi uti-
lizar a fórmula 2 cos α cos β = cos(α + β) + cos(α − β) para calcular multiplicação de
dois números grandes. Supomos, por exemplo, que desejamos encontrar a multiplicação
423, 50 por 35, 432. Utilizando a notação de radianos e utilizando uma tábua de cossenos,
vemos que

cos(1, 1334909) ' 0, 4235,


0, 35432
cos(1, 3926962) ' 0, 17716 = .
2

Tomemos α = 1, 1334909 e β = 1, 3926962. Temos que

α + β = 2, 5261871,
α − β = 0, 2592053.

Olhando novamente a tábua de cossenos, temos

cos(α + β) = −0, 81653939,


cos(α − β) = 0, 96659397.

Finalmente, utilizamos as fórmulas

423, 50 × 35, 432 = 0, 4235 × 0, 35432 × 105 = 2 × 0, 4235 × 0, 17716 · 105


= (2 cos α cos β) · 105 = (cos(α + β) + cos(α − β)) · 105
= (−0, 81653939 + 0, 96659397) · 105 = 0, 15005458 · 105
= 15.005, 458.

Se multiplicarmos diretamente, encontramos o valor de 15.005, 452.


O matemático alemão Johannes Werner usou este método para simplificar os cálculos
que aparecem na astronomia. Este método passou a ser usado em larga escala por mate-
máticos e astrônomos no fim do século XVII como um método que converte produtos e
divisão em somas e diferenças. O método ficou conhecido como método de prostaférese,
a partir de uma palavra grega que significa adição e subtração.
O interessante é que se lermos a história da matemática, a fórmula de prostaférese
é também conhecida como a fórmula de Werner e também é chamada de fórmula de
Brahe, em homenagem ao astrônomo dinarmaquês Tycho Brahe, que popularizou o uso
da metodologia.
Apesar de a influência inicial ser o método de prostaférese, a abordagem de Napier é
bem diferente. Ela se baseia em transformar os termos da progressão geométrica

a, a2 , a3 , . . . , an , . . .

em progressões aritméticas
1, 2, . . . , n, . . .
Não pretendemos entrar nos detalhes do desenvolvimento do trabalho de Napier. Foi
um extenso trabalho de 20 anos, em que ele não contava com a existência das funções
144 Matemática Universitária

exponenciais. Quando foi publicado o primeiro trabalho de Logaritmos, a base sugerida


era  
1
a= 1− 7 .
10
Em 1614, Napier publicou sua abordagem de logaritmos e despertou grande interesse da
comunidade acadêmica. Um dos grandes entusiastas foi o matemático Henry Briggs. Os
dois trabalharam juntos por um tempo e decidiram que a tábua desenvolvida por Napier
deveria ser trocada pela base 10. Napier já estava com a idade mais avançada nessa época
e não tinha mais energia suficiente para produzir uma nova tábua de Logaritmos e Briggs
puxou para si a responsabilidade do trabalho. Após 10 anos, Briggs publicou uma tábua
dos logaritmos dos números de 1 até 20.000 com 14 casas decimais de precisão.
Consegue imaginar como foi feito isso, sem a existência da função exponencial, sem
computadores e sem as noções de cálculo?
A invenção de Napier foi entusiasticamente adotada por toda a Europa, principal-
mente no ramo da Astronomia, em que as contas eram (e ainda são) astronômicas!
Em linguagem mais atual, define-se o logaritmo de x na base a como sendo o único y
satisfazendo ay = x. Mais precisamente,

loga x = y ⇐⇒ ay = x.

Para que toda a expressão não tenha ambiguidade e nem problemas com solução, preci-
samos da restrição a > 0 e a 6= 1 e que x > 0. Com as restrições de a, definimos portanto
a função logaritmo na base a.

loga : (0, +∞) → R


x 7→ loga x

Para a > 1, temos que a função logaritmo é crescente. Ela é a função inversa da função ex-
ponencial f (x) = ax . Para o leitor que não lembra da função inversa, sugerimos assistir à
nossa videoaula [Revisão] - Função Inversa. Além disso, será um excelente complemento
a nossa videoaula de revisão [Revisão] - Função Logaritmo.
Com a informação que o gráfico da função inversa é simétrico em relação à reta y = x,
fazemos o esboço para o caso a = 2.
y y=x

f (x) = log2 x
g(x) = 2x

Figura 5.13: gráfico da função f (x) = log2 x.


Renan Lima 145

Teorema 5.5.1: Propriedades Básicas de Logaritmos

Valem as seguintes fórmulas para os logaritmos.

1. aloga b = b;

2. loga (bc) = loga b + loga c;


 
b
3. loga = loga b − loga c;
c
4. loga (bc ) = c loga b;
logc b
5. loga b = .
logc a

Demonstração:
As demonstrações do item 1 e 2 foram feitas no vídeo de [Revisão] - Função Logaritmo.
Mas será refeito aqui no texto. Para fixarmos a notação, tome f (x) = loga x e g(x) = ax .

1. Como f é a inversa de g, então b = g(f (b)) = g(loga b) = aloga b .

2. Basta aplicar a função g(x) = ax nos dois lados. Temos que

a(loga b + loga c) = a(loga b) · a(loga c) = b · c = a(loga (bc)) .

Pela injetividade de g(x) = ax , temos o resultado loga (bc) = loga b + loga c.

3. Pelo item anterior, temos que


   
b b
· c = loga
loga b = loga + loga c.
c c
 
b
Portanto, temos a fórmula loga = loga b − loga c.
c
4. A mesma ideia do item 2. Aplique a função g(x) = ax em ambos os lados.
 c c
ac loga b = aloga b = bc = aloga b .

Pela injetividade da função g(x) = ax , temos o resultado loga (bc ) = c loga b.

5. Destaco que a parte final da nossa videoaula [Revisão] - Função Logaritmo faz uma
demonstração relativamente complicada desta propriedade. Deixamos esta impre-
cisão para alertar o leitor que organizar as ideias é um processo fundamental para
simplificar alguns argumentos.
Escreva x = loga b. Então, b = ax . Aplicando logc na última igualdade e utilizando
a propriedade do item 4, temos

logc b = logc ax = x logc a.

logc b
Como x = loga b e vale que x = , temos a demonstração do item 5.
loga c
146 Matemática Universitária

Graças à formula de mudança de base, basta mapear os valores do logaritmo para


uma única base fixada. Mais precisamente, se conhecermos os valores de log10 x para
todo x > 0, então conseguimos encontrar todos os valores de log37 x usando a fórmula
log10 x
log37 x = .
log10 37
Vamos fazer uma conta utilizando a seguinte igualdade vista no exemplo 5.4.6
lim (1 + x)1/x = e.
x→0
Aplicando loga nos dois lados e, aceitando o fato que podemos comutar a operação de
limite com a de logaritmo, temos:
 
loga e = loga lim (1 + x)1/x = lim loga (1 + x)1/x
x→0 x→0
1 loga (1 + x)
= lim loga (1 + x) = lim
x→0 x x→0 x
loga (1 + x) − loga 1
= lim .
x→0 x
Logo, a função f (x) = loga (1 + x) é derivável em x = 0 e vale que
f 0 (0) = loga e.
Utilizando mudança de variáveis no limite, não é difícil mostrar que a função f é derivá-
vel e vale a fórmula
loga e
f 0 (x) = .
1+x
Portanto, no cálculo, utilizamos como base do logaritmo o número de Euler.

Definição 5.5.2: Logaritmo Natural

Definimos o Logaritmo natural e denotamos por ln x como sendo a função

ln x = loge x.

Como e = 2, 71828 . . ., o gráfico da função logaritmo é dado na figura abaixo.


y y=x

f (x) = ln x
g(x) = ex

Figura 5.14: gráfico da função f (x) = ln x.


Renan Lima 147

Teorema 5.5.3: Propriedades Básicas de Logaritmos

A função ln : (0, +∞) → R satisfaz as seguintes propriedades.

1. lim ln x = +∞.
x→+∞

2. lim ln x = −∞.
x→0+

3. Vale que lim ln x = ln x0 para todo x0 ∈ (0, +∞).


x→x0

4. Seja f função tal que lim f (x) = L, L 6= 0, então lim ln f (x) = ln L.


x→x0 x→x0

5. Se f é uma função tal que lim f (x) = +∞, então lim ln f (x) = +∞.
x→x0 x→x0

Demonstração:
A demonstração destes resultados é feita no capítulo 9.

As propriedades 1 e 2 podem ser visualizadas diretamente pelo gráfico de y = ln x. A


propriedade 1 diz, em linguagem simbólica, que

ln +∞ = +∞.

A fórmula 4 diz que  


lim ln f (x) = ln lim f (x) .
x→x0 x→x0

Para complementar a explicação, recomendamos a nossa videoaula Propriedades da


Função Logaritmo.
148 Matemática Universitária

Exercícios

1. Encontre o valor da expressão.


a) log2 8 b) log4 8 c) log8 4 d) log16 32


   
1 1
e) log4 f) log25 g) log3 1 h) ln e
32 5

2. Encontre o domínio das funções abaixo.

a) f (x) = ln(x + 1) b) f (x) = ln(x2 − 1)


p
c) f (x) = ln |x2 − 1| d) f (x) = ln(x2 − 4)

3. Calcule os seguintes limites.

a) lim ln(x − 1) b) lim ln(2 − x) c) lim ln(x − 10)


x→1+ x→2− x→+∞
   
2x + 5 1
d) lim ln e) lim ln(x + 1) − ln x f) lim x ln 1 +
x→+∞ x+1 x→+∞ x→+∞ x
   
1 x+1
g) lim ln h) lim ln i) lim log0,5 (x)
x→+∞ x−1 x→−∞ 3 − x2 x→+∞

Respostas

Exercício 1
3 2 5
a) 3 b) c) d)
2 3 4
5 1 1
e) − f) − g) 0 h)
2 2 2

Exercício 2
a) (−1, +∞) b) (−∞, −1) ∪ (1, +∞)
√ √
c) R − {−1, 1} d) (−∞, − 5] ∪ [ 5, +∞)

Exercício 3
a) −∞ b) −∞ c) +∞
d) ln 2 e) 0 f) 1
g) −∞ h) −∞ i) −∞
Renan Lima 149

5.6 Derivada das Funções Exponencial e Logaritmo

Nas seções anteriores, criamos todos os alicerces necessários para encontrar as deriva-
das das funções exponenciais e logarítmicas. Ao contrário das funções trigonométricas,
as construções das funções exponenciais e logarítmicas são abstratas e, portanto, espera-
se que a dedução das derivadas seja apenas por conta. Foi muita sorte que estas funções
sejam deriváveis e com fórmulas bem razoáveis.

Teorema 5.6.1: Derivada das Funções Exponencial e Logaritmo

As funções ln x e ex são deriváveis e valem as fórmulas


1
(ln x)0 = e (ex )0 = ex .
x

Demonstração:
A demonstração deste resultado pode ser encontrada na página 368.

Para os primeiros exemplos, sugerimos assistir à nossa videoaula Derivada das Fun-
ções Exponenciais e Logarítmicas.
Exemplo 5.6.2: A derivada da função f (x) = x ln x é, pela regra do produto, dada por

f 0 (x) = (x)0 ln x + x · (ln x)0


1
= 1 · ln x + x · = ln x + 1.
x

Exemplo 5.6.3: Para derivarmos f (x) = log5 x, troquemos para base e via fórmula

ln x
f (x) = .
ln 5
Como ln 5 é um número real (não depende de x), temos que

1
f 0 (x) = .
x ln 5

Exemplo 5.6.4: Para derivarmos a função f (x) = 2x , passamos para base e


x
f (x) = eln 2 = ex ln 2 .

Para aplicarmos a regra da cadeia, façamos z = x ln 2 , então f (z) = ez e

df df dz
= · = ez · ln 2 = 2x (ln 2).
dx dz dx

Exemplo 5.6.5: Para derivarmos a função f (x) = xx , trabalhamos com o domínio


(0, +∞). É necessário
√ trabalharmos neste domínio devido a problemas de definir o
valor de f (− 2), por exemplo. Para uma discussão detalhada do domínio, sugerimos
assistir o final da videoaula [Revisão] - Função Exponencial - Definindo nos Racionais.
Devido ao domínio (0, +∞), vale a seguinte fórmula
x
f (x) = eln(x ) = ex ln x
150 Matemática Universitária

e podemos aplicar a regra da cadeia, fazendo z = x ln x e f (z) = ez .

df df dz
= ·
dx dz dx 
z 1
= e 1 · ln x + x · = xx (ln x + 1).
x

Exemplo 5.6.6: Dado p ∈ R, temos que f (x) = xp . Se trabalharmos com x > 0,


considere a igualdade f (x) = ep ln x . Temos que

0 p ln x
p pxp
f (x) = e = = pxp−1 .
x x
Para maiores detalhes da função f (x) = xp , com x ≤ 0, sugerimos ver a página 370.

Exemplo 5.6.7: Considere a função f (x) = (sen x)cos x . Pela explicação do exemplo
anterior, trabalhamos apenas no domínio onde sen x é positivo. Daí
cos x
(sen x)cos x = eln[(sen x) ] = ecos x[ln(sen x)] .

Daí, tomando z = cos x[ln(sen x)], temos

df df dz  cos x 
= · = ez − sen x ln(sen x) + cos x
dx dz dx sen
 x
2x

cos
= (sen x)cos x − sen x ln(sen x) + ·
sen x

Para ganhar um pouco mais de naturalidade na passagem eg(x) ln f (x) → f (x)g(x) ,


sugerimos a nossa videoaula Derivadas de Funções do tipo f (x)g(x) . Para reforço de re-
gras de derivação utilizando a regra da cadeia, com vários exemplos envolvendo funções
exponenciais, logarítmicas e trigonométricas, sugerimos assistir à nossa videoaula Exem-
plos Utilizando Regra da Cadeia. Para funções trigonométricas inversas, com regra da
cadeia, regra do produto e misturando com funções exponenciais e logarítmicas, sugeri-
mos à nossa videoaula Exemplos de Derivação com Funções Trigonométricas Inversas.

Fórmulas de Derivadas Regras de Derivação

(xp )0 = pxp−1 , p ∈ R (f + g)0 = f 0 + g 0


(sen x)0 = cos x
(f − g)0 = f 0 − g 0
(cos x)0 = − sen x
(tg x)0 = sec2 x
(cf )0 = cf 0 , onde c ∈ R
(sec x)0 = sec x tg x
1
(arcsen x)0 = √ (f · g)0 = f 0 · g + f · g 0
1 − x2
 0
1 f f 0 · g − f · g0
(arctg x)0 = =
1 + x2 g g2

(ex )0 = ex (f ◦ g)0 = (f 0 ◦ g) · g 0
1 1
(ln x)0 = (f −1 )0 =
x f 0 ◦ f −1
Renan Lima 151

Exercícios

1. Encontre a derivada das funções abaixo.


2
a) f (x) = e3x b) f (x) = ex c) f (x) = e1/x ln x

d) f (x) = esen x e) f (x) = ln 2x f) f (x) = ln sec x

g) f (x) = x ln(1 − xex ) h) f (x) = ln π i) f (x) = ln(sen ex )

j) f (x) = ln3 x l) f (x) = x ln2 (cos x)


p
k) f (x) = ln(x + 1)

m) f (x) = π x n) f (x) = π 3x+1 o) f (x) = π tg(x)

p) f (x) = x2x+1 q) f (x) = x(1/ ln x) r) f (x) = (ln x)sen x

Respostas

Exercício 1
2
a) 3e3x b) 2xex
e1/x · (x − ln x)
c) d) cos(x) · esen x
x2
1
e) f) tg x
x
xex + x2 ex
g) ln(1 − xex ) − h) 0
1 − xex
ex cos(ex ) 3 ln2 x
i) j)
sen(ex ) x
1
k) p l) ln2 (cos x) − 2x tg x · ln(cos x)
2(x + 1) ln(x + 1)
m) π x · ln π n) 3π 3x+1 · ln π
 
2x + 1
o) π tg x · sec2 x · ln π p) x 2x+1
2 ln x +
x
 sen x 
q) 0 r) (ln x)sen x · cos x · ln(ln x) +
x ln x
152 Matemática Universitária

5.7 Regra de L’Hospital e Gráfico de Funções

Nesta seção, vamos aplicar as fórmulas de derivadas aprendidas neste capítulo com
os teoremas aprendidos no cálculo diferencial para esboçar gráficos de funções. Um
passo intermediário necessário é calcular alguns limites para encontrar retas assíntotas.
As duas regras de L’Hospital, vistas na seção 3.6, serão muito importantes.

Teorema 5.7.1: 1ª Regra de L’Hospital

Sejam f, g : (a, b) → R funções deriváveis e x0 ∈ (a, b) tais que f (x0 ) = g(x0 ) = 0 e


f 0 (x)
vale que g 0 (x) 6= 0 para x 6= x0 numa vizinhança de x0 . Se lim 0 existe ou vai
x→x0 g (x)
para o infinito, então
f (x) f 0 (x)
lim = lim 0 .
x→x0 g(x) x→x0 g (x)

O mesmo resultado vale se substituirmos as condições acimas para limites laterais e


também se substituirmos x0 por +∞ ou −∞.

Teorema 5.7.2: 2ª Regra de L’Hospital

Sejam f, g : (x0 , b) → R funções deriváveis, tais que lim |f (x)| = lim |g(x)| = +∞
x→x+
0 x→x+
0
f 0 (x)
e que g 0 (x) 6= 0 para x 6= x0 numa vizinhança de x0 . Se lim existe ou vai para
x→x+
0
g 0 (x)
o infinito, então
f (x) f 0 (x)
lim = lim 0 .
x→x+
0
g(x) x→x+ 0
g (x)
O mesmo resultado vale se substituirmos x0 por +∞ ou −∞.

A videoaula introdutória desta regra é Regra de L’Hospital - Enunciado e Exem-


plo. Para os primeiros exemplos interessantes, sugerimos à nossa videoaula Regra de
L’Hospital - Exemplos Parte 1. Vamos reproduzir alguns desses exemplos.
ln x ln x
Exemplo 5.7.3: Vamos calcular lim e lim .
x→+∞ x x→0 + x

No primeiro caso, vemos que é indeterminação do tipo e, pela regra de L’Hospital,

ln x L’H (1/x)
lim = lim = 0.
x→+∞ x x→+∞ 1

No segundo caso, vemos que é do tipo − , que não é indeterminação! Portanto, não
0
podemos aplicar a regra de L’Hospital. Devemos fazer o estudo do sinal, conforme
explicado no vídeo Exemplos de Limites Infinitos - Assíntotas Verticais.
ln x
Como para x > 0 e x próximo de 0, temos que ln x < 0, então < 0. Logo
x
ln x
lim = −∞.
x→0+ x
Renan Lima 153

1
A ideia simbólica acima é que = +∞ e ln 0+ = −∞, logo, temos que
0+
ln 0+ −∞
+
= + = −∞ · (+∞) = −∞.
0 0

Na videoaula Gráfico Usando Apenas a Primeira Derivada, esboçamos o gráfico de


ln x
f (x) = . Um fato interessante é que esta função possui máximo global no ponto
x
ln e ln π
x = e. Em particular, > e, portanto,
e π
π ln e > e ln π ⇒
ln eπ > ln π e ⇒
eπ > π e .
E provamos essa desigualdade sem utilizar uma calculadora!
2 cos x − 2 − x2
Exemplo 5.7.4: Para calcular lim , verificamos que é uma indetermina-
x→0 x4
0
ção do tipo e aplicamos L’Hospital diversas vezes. É necesseário verificar que é uma
0
0
indeterminação do tipo em todos os passos feitos abaixo.
0
2 cos x − 2 − x2 L’H −2 sen x − 2x
lim = lim
x→0 x4 x→0 4x3
L’H −2 cos x − 2
= lim
x→0 12x2
L’H 2 sen x
= lim
x→0 24x
L’H 2 cos x 1
= lim = .
x→0 24 12

Para exemplos que exigem algumas manipulações algébricas antes de aplicar a regra
de L’Hospital, sugerimos assistir à nossa videoaula Regra de L’Hospital - Exemplos Parte
2. Façamos alguns exemplos.
 
1
Exemplo 5.7.5: Para calcular lim x sen , observe que é uma indeterminação do
x→+∞ x
tipo ∞ · 0. Vamos resolver este limite por dois caminhos distintos.

0
1. Utilizando a ideia apresentada na videoaula logo acima, transformamos em ,
0
 
1
  sen
1 x
lim x sen = lim
x→+∞ x x→+∞ 1
x
 
1 1
− 2 cos
L’H x x
= lim
x→+∞ 1
− 2
  x
1
= lim cos = cos 0 = 1.
x→+∞ x
154 Matemática Universitária

1
2. Considere a mudança de variável u = e vemos que x → +∞ corresponde à
x
u → 0+ , logo  
1 1
lim x sen = lim sen u = 1.
x→+∞ x u→0+ u

 
x 1
Exemplo 5.7.6: Vamos calcular lim − .
x→1 x − 1 ln x
   
x 1 x ln x − x + 1
lim − = lim
x→1 x − 1 ln x x→1 (x − 1) ln x

L’H ln x
= lim
x→1 x−1
ln x +
x
x ln x
= lim
x→1 x ln x + x − 1

L’H ln x + 1 1
= lim = .
x→1 ln x + 1 + 1 2

Para funções do tipo f (x)g(x) , onde pode aparecer indeterminações do tipo 00 , 1+∞
ou (+∞)0 , deve-se colocar tudo na base e, isto é, utilizamos a identidade.

f (x)g(x) = eg(x) ln f (x) .

Exemplo 5.7.7: Para calcular lim (1 + ex )1/x , utilizamos a fórmula


x→+∞

ln(1 + ex )
 
 
x
(1 + ex )1/x =e .

ln(1 + ex )
Devemos calcular lim = L e lembrar no final que a resposta é eL .
x→+∞ x
ln(1 + ex ) L’H ex
lim = lim
x→+∞ x x→+∞ 1 + ex
L’H ex
= lim x = 1.
x→+∞ e

Portanto, lim (1 + ex )1/x = e.


x→+∞

Apesar de ser uma ferramenta bem poderosa, nem sempre a regra L’Hospital é útil
para o cálculo de limites. Na nossa videoaula, Regra de L’Hospital - Quando Não Pode
Aplicar, exibimos um exemplo em que o limite existe, utilizando o teorema do confronto,
mas, se tentarmos resolver via regra de L’Hospital, diríamos que o limite não existe.

ex − e−x
Exemplo 5.7.8: Ao tentarmos calcular lim via regra de L’Hospital, teríamos
x→+∞ ex + e−x

ex − e−x ex + e−x ex − e−x


lim = lim = lim ··· .
x→+∞ ex + e−x x→+∞ ex − e−x x→+∞ ex + e−x
Renan Lima 155

1
Para resolver o problema, basta substituir e−x = na expressão acima, fazer as contas
ex
e concluir que
ex − e−x e2x − 1
x −x
= 2x .
e +e e +1
E, por uma aplicação direta da regra de L’Hospital, temos que o limite é 1.

Exemplo 5.7.9: Para calcular lim (x + sen x), deve-se levar em conta que
x→+∞

@ lim sen x,
x→+∞

e não podemos quebrar em limite da soma igual a soma dos limites. Devemos utilizar
o teorema do confronto. Vamos resolver de duas formas distintas.

1. Como −1 ≤ sen x ≤ 1, temos que x − 1 ≤ x + sen x ≤ x + 1. Além disso,

lim (x − 1) = lim (x + 1) = +∞.


x→+∞ x→+∞

Pelo teorema do confronto, lim (x + sen x) = +∞.


x→+∞
 sen x 
2. Colocando o x em evidência, temos x + sen x = x · 1 + e, pelo teorema do
x
confronto (função limitada e outra que vai para zero), temos que
sen x
lim = 0.
x→+∞ x
Logo  sen x 
lim (x + sen x) = lim x 1 + = +∞ · 1 = +∞.
x→+∞ x→+∞ x

Listamos abaixo todas as indeterminações possíveis.

Lista de Indeterminações

• +∞ − ∞;
• 0 · +∞ e 0 · (−∞);
+∞
• ;
+∞ 0
• ;
0
• 00 ;
• (∞)0 .
+∞
• 1 ;

Pelos exemplos anteriores, vimos que, com algumas manipulações algébricas, po-
0 ∞
demos transformá-las em indeterminações do tipo ou e depois resolvê-las com o
0 ∞
auxílio da regra de L’Hospital.

Conforme dito no início da seção, o cálculo dos limites acima é um passo interme-
diário para nos auxiliar no esboço do gráfico de funções. Esboço de gráficos com con-
cavidade foram estudadas na seção 4.7 do capítulo 4. Para relembrar de um exemplo
polinomial, sugerimos assistir à nossa videoaula Esboço de Gráficos com Concavidade -
Exemplo 1. Para um exemplo mais complicado, sugerimos relembrar a aula Esboço de
Gráficos com Concavidade - Exemplo 2.
156 Matemática Universitária

Para um exemplo mais próximo ao tema deste capítulo, a saber, f (x) = x ln2 x, suge-
rimos a nossa videoaula Esboço de Gráficos com Concavidade - Exemplo 3.

Procedimento para Esboço de Gráfico com Concavidade

1. Encontre o domínio e calcule os limites nos extremos do domínio, determinando


as assíntotas horizontais e verticais.

2. Calcule f 0 (x) e faça o estudo do sinal da f 0 .

3. Organize os intervalos de crescimento e decrescimento da f .

4. Calcule f 00 (x) e faça estudo do sinal da f 00 .

5. Organize os intervalos de concavidade para cima e concavidade para baixo de f .

6. Esboce parte do gráfico nas vizinhanças das regiões importantes; mais precisa-
mente, esboce o gráfico perto das assíntotas horizontais e verticais, perto dos
pontos críticos e perto dos pontos de inflexão.

7. Finalize o esboço do gráfico, unindo os pedaços de curva de forma suave, respei-


tando a concavidade do gráfico.

2
Exemplo 5.7.10: Para esboçar o gráfico da função f (x) = e−x , primeiramente, vemos
que o seu domínio é R. Precisamos apenas calcular os limites no infinito.
2
lim f (x) = “e−∞ ” = 0 e lim e−x = 0.
x→−∞ x→+∞

Logo y = 0 é assíntota horizontal ao gráfico de f .


2 2
Pela regra da cadeia, f 0 (x) = −2xe−x e, como e−x > 0 para todo x ∈ R, precisamos
apenas fazer o estudo no sinal da função −2x.

+ f′
0

f
0

2 2 2
Precisamos agora calcular f 00 . Temos que f 00 (x) = −2e−x + 4x2 e−x = (4x2 − 2)e−x
e, pelo mesmo argumento, o sinal de f 00 é o mesmo que 4x2 −√2. Note, então que,
2
f 00 (x) = 0 exatamente quando 4x2 − 2 = 0, isto é, quando x = ± .
2

+ +
√ √ f ′′
2 2

2 2

√ √ f
2 2

2 2
Renan Lima 157

Coloquemos estas informações no gráfico para podermos esboçar.


y

√ √ x
2 2
− 2 2

Precisamos, agora, unir estes pedaços, respeitando os intervalos de crescimento e de-


crescimento e lembrando que o gráfico não possui bicos.
y

√ √ x
2 2
− 2 2

2
Figura 5.15: Gráfico da função f (x) = e−x .

Exemplo 5.7.11: Para esboçarmos o gráfico da função f (x) = x + sen x, vemos que o
seu domínio é R e como x − 1 ≤ f (x) ≤ x + 1, temos, pelo teorema do confronto,

lim (x + sen x) = −∞, lim (x + sen x) = +∞.


x→−∞ x→+∞

Além disso, f 0 (x) = 1 + cos x. Pela expressão da f 0 e pelo fato de cos x ≥ −1 , temos
que f 0 (x) ≥ 0 para todo x. Se quisermos seguir o procedimento mais à risca, temos
que f 0 (x) = 0 apenas quando cos x = −1 e, portanto, x = π + 2kπ, com k ∈ Z. A
função é estritamente crescente e todos os pontos críticos é de inflexão.
Continuando o procedimento, temos que f 00 (x) = − sen x e f 00 (x) = 0 apenas quando
x = kπ, k ∈ Z. Juntando tudo, podemos esboçar o gráfico da f .
y y=x

x
1

Figura 5.16: Gráfico da função f (x) = x + sen x.

Observe que o gráfico da função f (x) = x + sen x oscila em relação à reta y = x.


158 Matemática Universitária

Exemplo 5.7.12: Façamos o esboço do gráfico da função f (x) = xx . Primeiramente, o


domínio de f é (0, +∞) e, por conta disso, temos a identidade xx = ex ln x .
Pela regra de L’Hospital, vemos que lim x ln x = 0 e, portanto, lim xx = 1. Além
x→0+ x→0+
disso, claramente temos lim xx = +∞. Para encontrarmos a sua derivada, basta
x→+∞
utilizar a regra da cadeia

f 0 (x) = (xx )0 = ex ln x (x ln x)0 = xx (ln x + 1).

O estudo do sinal de f 0 (x) é baseado apenas no estudo do sinal de ln x + 1. Note que

ln x + 1 = 0 ⇐⇒ ln x = −1 ⇐⇒ x = e−1 .

Fazendo o estudo do sinal de f 0 (x), temos

+ f′
1
e

f
1
e

Finalmente, para o cálculo da segunda derivada, temos pela regra do produto,

f 00 (x) = (xx )0 (ln x + 1) + xx · (ln x + 1)0


 
1
= xx (ln x + 1)2 + xx ·
x
 
x 2 1
= x (ln x + 1) +
x

1
Como (ln x + 1)2 ≥ 0 e > 0, por causa do domínio de f , temos que f 00 (x) > 0
x
para todo x. Logo o gráfico de f possui concavidade para cima. Juntando todas as
informações, podemos esboçar o gráfico de f (x) = xx .
y
f (x) = xx

Figura 5.17: Gráfico da função f (x) = xx .

Finalizamos a seção e o capítulo, sugerindo, novamente, assistir à nossa videoaula


Segunda Lei de Newton e o Cálculo.
Renan Lima 159

Exercícios

1. Calcule os seguintes limites


sen πx ln(ln x) x sen x + 2x2
a) lim b) lim c) lim
x→1 x − 1 x→+∞ ln x x→0 ex + e−x − 2

ex ln(1 + x2 ) cos πx + 1
d) lim e) lim f) lim
x→+∞ x5 x→0 x arctg x x→1 sen2 (2πx)

g) lim x2 ln x h) lim x2 e1/x i) lim (1 − cos x)x


x→0+ x→0+ x→0

ln x
j) lim (1 − x)− ln x k) lim l) lim (1 − cos x)1/ ln x
x→0+ x→1+ 2x −2 x→0+

2. Esboce o gráfico de f levando em conta domínio, assíntotas horizontais e verticais,


intervalos de crescimento e decrescimento, concavidade e pontos de inflexão.

a) f (x) = x − sen x b) f (x) = xex c) f (x) = xe−x


ex 2
d) f (x) = e1/x e) f (x) = f) f (x) = e−x
x
x ln x
g) f (x) = h) f (x) = (ln x)2 i) f (x) =
ln x x

Respostas

Exercício 1
a) −π b) 0 c) 3
1
d) +∞ e) 1 f)
8
g) 0 h) +∞ i) 1
1
j) 1 k) l) e2
2 ln 2

Exercício 2

Verifique os seus esboços pelo aplicativo no Cálculadora Gráfica do Geogebra. Sugerimos


ter o aplicativo no celular e no PC.
C APÍTULO

6 Discussão Qualitativa do Cálculo

6.1 Introdução

Ao longo do livro, nos preocupamos que o estudante veja aplicações do cálculo o


mais rápido possível. Nesta seção, vamos discutir com mais detalhes alguns resultados
que simplesmente foram citados.
O objetivo desta seção é colocar um pouco mais de formalidade em alguns concei-
tos. Veremos os 3 principais teoremas do cálculo diferencial que são: teorema do valor
intermediário, teorema de Weierstrass e o teorema do valor médio.
Nesta seção, haverá mais demonstrações e vamos solidificar um pouco mais os con-
ceitos que aprendemos ao longo do livro. São demonstrações que julguei interessantes e
que vale a pena compartilhar, mas são demonstrações que classifico a nível cálculo.
As demonstrações mais pesadas serão feitas no capítulo 9, em que convidamos o leitor
a uma introdução à Análise na reta.
As primeiras demonstrações interessantes se encontram na seção 6.3. Nela se encon-
tram os intervalos de crescimento e decrescimento, a 1ª regra de L’Hospital, além de
algumas aplicações na física, como a equação do movimento retilíneo uniformemente
variado, a equação do sistema massa-mola e a resolução de uma equação diferencial or-
dinária.
Além disso, veremos neste capítulo dois métodos numéricos. O método de Newton
é um método numérico sofisticado para encontrar os zeros de uma função com uma boa
quantidade de casas decimais (10 casas por exemplo) com poucas iterações. Veremos este
resultado na seção 6.2, após a explicação do teorema do valor intermediário.
O outro método numérico, que veremos na seção 6.5, é o polinômio de Taylor com o
resto de Lagrange. Este método tem como objetivo aproximar funções transcendentais
por polinômios específicos e que podemos estimar o erro desta aproximação com o resto
de Lagrange. É interessante que tenhamos uma calculadora (ou planilha) em mãos para
fazer estas contas.
Uma das aplicações do polinômio de Taylor é mostrar que o número de Euler é

1 1 1 1
e=1+1+ + + + ... + + ··· .
2! 3! 4! n!
E com a fórmula acima, é possível mostrar que o número de Euler é irracional.
Além da função exponencial, pode-se trabalhar com as funções senos, cossenos e logarít-
micas de forma imediata.
Renan Lima 161

6.2 O Conceito de Continuidade e o Método de Newton

Nesta seção, vamos falar um pouco do conceito de continuidade. Essencialmente, o


conceito de continuidade está relacionado se o gráfico da função possui saltos.

Definição 6.2.1: Continuidade

Dada uma função f : [a, b] → R.

1. f é contínua em x0 ∈ (a, b) se lim f (x) = f (x0 ).


x→x0

2. f é contínua em a se lim f (x) = f (a).


x→a+

3. f é contínua em b se lim f (x) = f (b).


x→b−

Dizemos que f é contínua se ela é contínua em todos os pontos do seu domínio.

Teorema 6.2.2: Propriedades Básicas de Funções Contínuas

Se f e g são funções contínuas, então

3. f · g é contínua.
1. f + g é contínua.
f
2. c · f é contínua, onde c ∈ R. 4. é contínua.
g

Demonstração:
A demonstração pode ser vista na página 345. Vamos reescreva-la aqui. Para os itens 1,
2 e 3 a prova é uma só. Dado x0 ∈ R no domínio de f e em g, então pelas propriedades
básicas de limites, temos

lim (f (x) + g(x)) = lim f (x) + lim g(x) = f (x0 ) + g(x0 ),


x→x0 x→x0 x→x0

lim c · f (x) = cf (x0 ),
x→x0

lim f (x) · g(x) = lim f (x) · lim g(x) = f (x0 ) · g(x0 ).
x→x0 x→x0 x→x0

f (x)
O item 4 tem uma tecnicalidade. Seja x0 ∈ R um ponto no domínio de , então, em
g(x)
particular, g(x0 ) 6= 0. Podemos então aplicar que limite da divisão é a divisão dos limites

f (x) f (x0 )
lim = .
x→x0 g(x) g(x0 )

1
Exemplo 6.2.3: A função f (x) = é uma função contínua, pois divisão de funções
x
contínuas é contínua. Note que x0 = 0 não pertence ao domínio de f .
162 Matemática Universitária

Para discutir se f é contínua ou não em um ponto x0 ∈ R é necessário que x0 esteja no


domínio de f . Sugerimos à videoaula Introdução ao Conceito de Continuidade

Exemplo 6.2.4: As funções polinomiais, trigonométricas, logarítmicas e exponenciais


são funções contínuas. Para quem precisar do argumento mais detalhado do assunto,
sugerimos à videoaula Propriedade das Funções Contínuas

Um outro resultado muito usado sobre funções contínuas é a regra da composta.

Teorema 6.2.5: Continuidade da Composta

Se f e g funções contínuas, então f ◦ g é contínua.

Demonstração:
A demonstração rigorosa deste resultado será feita na seção 9.2 do capítulo 9.

2
Exemplo 6.2.6: A função f (x) = ex cos x é contínua pois é composição e multiplicação
de funções contínuas.
A função f (x) = ln3 (x + sen(x2 + 1)) é contínua pelo mesmo princípio acima.

É possível brincar um pouco com a notação para funções contínuas e com isso jus-
tificar informalmente que composta de funções contínuas é contínua. Dizemos que f é
contínua em x0 se as operações f e lim comutam, mais precisamente,
x→x0
 
lim f (x) = f lim x .
x→x0 x→x0

Temos, portanto, a seguinte demonstração não-rigorosa do resultado


 
lim f (g(x)) = f lim g(x) = f (g(x0 )).
x→x0 x→x0

Teorema 6.2.7: Inversa de Função Contínua

Seja I e J intervalos e f : I → J função contínua, então f −1 : J → I é contínua.

Demonstração:
A demonstração será feita na seção 9.4 do capítulo 9.

Exemplo 6.2.8: A função y = n
x é contínua pois ela é a inversa de f (x) = xn .
h π πi
A função arcsen x é contínua pois a função sen : − , → [−1, 1] é contínua.
2 2

Para uma discussão mais didática sobre a continuidade da composta e da inversa, reco-
mendamos a videoaula Continuidade da Função Inversa e Continuidade da Composta.
Para um resumo final, recomendamos o vídeo Reconhecendo funções contínuas. Reco-
mendamos a página 354 para verificar como funciona a demonstração da continuidade
das funções.
A importância do conceito de continuidade é o teorema de Bolzano. Recomendamos
a videoaula Teorema de Bolzano e o Teorema do Valor Intermediário.
Renan Lima 163

Teorema 6.2.9: Teorema de Bolzano

Seja f : [a, b] → R contínua tal que f (a) · f (b) < 0. Então existe c ∈ (a, b) tal que

f (c) = 0.

Demonstração:
Esta demonstração será feita na seção 9.4 do capítulo 9.

Exemplo 6.2.10: Considere o polinômio f (x) = x3 − 5x − 3. Sem esboçar o gráfico,


calculamos f (n) alguns valores inteiros n em busca de uma raiz. Temos que f (0) = −3,
f (1) = −7, f (2) = −5, f (3) = 9. Pelo teorema de Bolzano, existe uma raiz c ∈ (2, 3).
Se quisermos ser um pouco mais preciso, com relação a c, calculamos f (2, 5) = 0, 125.
Pelo teorema de Bolzano, existe c ∈ (2; 2, 5). Como f (2, 4) = −1, 176, certamente
c ∈ (2, 4; 2, 5). Encontramos c com precisão de uma casa decimal.

Exemplo 6.2.11: Para mostrar que existe valor x tal  πque


 x π= cos x, considere a função
auxiliar f (x) = x−cos x. Temos que f (0) = −1 e f = . Pelo teorema de Bolzano,
 π 2 2
existe c ∈ 0, tal que f (c) = 0. Logo c = cos c. Basta agora trocar a notação c por x
2
e provamos que existe um x tal que x = cos x. Quem estiver curioso, x ' 0, 739085133.

Corolário 6.2.12

Seja f : [a, +∞) → R função contínua tal que f (a) < 0 e lim f (x) = +∞, então
x→+∞
existe c ∈ (a, +∞) tal que f (c) = 0.

Demonstração:
Como lim f (x) = +∞, existe b ∈ (a, +∞) tal que f (b) > 0. Pelo teorema de Bolzano,
x→+∞
existe c ∈ (a, b) tal que f (c) = 0.

Corolário 6.2.13

Seja f : R → R função contínua tal que lim f (x) = −∞ e lim f (x) = +∞, então
x→−∞ x→+∞
existe c ∈ R tal que f (c) = 0.

Demonstração:
A demonstração é deixada como exercício ao leitor. Para possível auxílio, recomendamos
a videoaula Todo Polinômio de Grau Ímpar Possui Raiz Real.

Exemplo 6.2.14: Considere o polinômio de grau ímpar p(x) = x2n+1 +a2n x2n +. . .+a0 .
Como lim p(x) = +∞ e lim p(x) = −∞, então p(x) possui ao menos uma raiz real.
x→+∞ x→−∞
164 Matemática Universitária

Teorema 6.2.15: Teorema do Valor Intermediário

Seja f : [a, b] → R contínua tal que f (a) < f (b). Seja d ∈ (f (a), f (b)), então existe um
c ∈ (a, b) tal que f (c) = d.

Demonstração:
A demonstração se encontra no nosso vídeo Demonstração do Teorema do Valor Inter-
mediário. Vamos reproduzi-la aqui.
Considere a função g(x) = f (x) − d. Temos que g é contínua, com g(a) = f (a) − d < 0 e
g(b) > 0. Pelo teorema de Bolzano, existe um c ∈ (a, b) tal que g(c) = 0. Isso mostra que
f (c) = d.

Agora que temos o resultado que garante a existência de uma raiz real, queremos
falar de um método numérico que ajuda muito no cálculo de raízes de funções e que tem
inúmeras aplicabilidades para calcular aproximações. O método é chamado de método
de Newton.
Considere f : (a, b) → R função derivável com f 0 (x) 6= 0 para todo x e supomos que
sabemos que existe c ∈ (a, b) tal que f (c) = 0. Queremos determinar este c com várias
casas decimais.
O método de Newton se procede da seguinte forma. Fixe x1 . Se f (x1 ) = 0, finaliza o
processo. Caso f (x1 ) 6= 0. Considere a reta tangente de f em x1 . Como f 0 (x1 ) 6= 0, esta
reta toca no eixo x em um ponto x2 . Se f (x2 ) = 0, finaliza o processo. Caso f (x2 ) 6= 0,
considere a reta tangente ao gráfico de f em x2 e seja x3 o corte desta reta com o eixo x.
Continuando o processo, podemos gerar uma sequência de valores x1 , x2 , . . . , xn , . . . que
geralmente converge para c.
y

x
x3 x2 x1

Figura 6.1: Ideia do método de Newton.

Encontrar a fórmula do processo acima é bem direta. Fixado x1 , a reta tangente ao


gráfico de f em x1 é dada pela equação y = f (x1 ) + f 0 (x1 )(x − x1 ). Como f 0 (x1 ) 6= 0,
existe x2 tal que o par ordenado (x2 , 0) está na reta. Logo 0 = f (x1 ) + f 0 (x1 )(x2 − x1 ).
Resolvendo em x2 , temos
f (x1 )
x2 = x1 − 0 .
f (x1 )
Procedendo da mesma forma, temos que
f (x2 )
x3 = x2 − .
f 0 (x2 )
Continuando o raciocínio, chegamos à fórmula do método de Newton.
Renan Lima 165

Método de Newton

f (xn )
xn+1 = xn − , n = 1, 2, 3, . . .
f 0 (xn )


Exemplo 6.2.16: Para encontrar o valor de 2, considere f (x) = x2 − 2 e queremos
encontrar o valor de x tal que f (x) = 0. Uma forma para deduzir a fórmula é chutar
um valor x1 , próximo do valor que desejamos, por exemplo, x1 = 2 e aplicamos a
fórmula do método de Newton. Sugerimos ao leitor o auxílio de uma calculadora
para as contas. Como f (xn ) = x2n − 2 e f 0 (xn ) = 2xn , temos

x2n − 2 x2 + 2
xn+1 = xn − = n .
2xn 2xn
Para n = 1, temos
x21 + 2 22 + 2
x2 = = = 1, 5.
2x1 4
Para n = 2, temos
x22 + 2 1, 52 + 2
x3 = = ' 1, 416666667.
2x2 3
Para n = 3, temos x4 ' 1, 4142156863 e, assim sucessivamente.

Exemplo 6.2.17: Neste exemplo, foi usado o software da Calculadora do Geogebra,


que também pode ser instalado em tablets ou celulares. Considere f (x) = x2 − 7.
x2 − 7
Então f 0 (x) = 2x e vale xn+1 = xn − n . Tomando o ponto inicial x1 = 1, temos os
2xn
seguintes valores.

x1 = 1
x2 = 4
x3 = 2, 875
x4 = 2, 654891304
x5 = 2, 645767044
x6 = 2, 645751311
x7 = 2, 645751311

f (x)
Na prática, definimos a função auxiliar g(x) = x − , tomamos xn+1 = g(xn ) e
f 0 (x)
analisamos o comportamento numérico da sequência xn até começar a se estabilizar.
Note que no formato escrito na figura acima, basta trocar a função f e temos, auto-
maticamente, os termos x1 , x2 e assim sucessivamente. Apesar de muitos softwares
já terem a opção utilizar método de Newton, é interessante que algumas contas sejam
implementadas para entender o seu funcionamento.
166 Matemática Universitária

Exemplo 6.2.18: Vamos utilizar o método de Newton para calcular a solução real de
x3 − x − 2 = 0. Com o auxílio de uma calculadora gráfica, façamos o esboço do gráfico
de f (x) = x3 − x − 2.
y

Vemos que a solução está no intervalo (1, 2). Podemos utilizar o chute inicial x1 = 2.
Utilizando a fórmula do método de Newton, temos

x3n − xn − 2
xn+1 = xn − .
3x2n − 1

Daí

x2 = 1, 6363636364,
x3 = 1, 5303920521,
x4 = 1, 5214414651,
x5 = 1, 5213797097,
x6 = 1, 5213797068,
x7 = 1, 5213797068.

Para o método de Newton ter chances de funcionar é importante que


• x1 esteja suficientemente próximo da raiz de f (x).

• f 00 (x) seja uma função contínua.

• f 0 (x) 6= 0 para x próximo da raiz de f .

1
Exemplo 6.2.19: Dado um número a > 0, algumas calculadoras calculam o valor de
a
1
via método de Newton com a função auxiliar f (x) = − a.
x
f (xn )
Utilizando a fórmula xn+1 = xn − 0 , temos que
f (xn )
1
−a
xn
xn+1 = xn −
1
− 2
xn
 
2 1
= xn + xn − a = xn (2 − axn ).
xn
Renan Lima 167

O interessante desta fórmula é que podemos efetuar divisão via aproximações suces-
sivas com soma e multiplicação. Por exemplo, se tomarmos a = 17, a fórmula de
recorrência é dada por
xn+1 = xn (2 − 17xn ).
É importante destacar que para método de Newton funcionar, deve-se escolher x1
1
suficientemente próximo de . Por exemplo, se tomarmos x1 = 0, 5, então
17
x2 = −3, 25,
x3 = −186, 0625

e esperamos que fique claro que não vale a pena continuar.


Tome então x1 = 0, 1, então

x2 = 0, 03,
x3 = 0, 0447,
x4 = 0, 5543247,
x5 = 0, 0586280416,
x6 = 0, 0588228797,
x7 = 0, 0588228794,
x8 = 0, 0588235294.

Finalizamos a seção com a definição intuitiva de a sequência convergir e explicamos


o porquê, com um pouco de abuso de notação, de que quando a sequência gerada pelo
método de Newton de uma função converge então tal número é raiz desta função.

Definição 6.2.20

Seja (xn )n∈N sequência de números reais. Dizemos que xn converge para uma valor
real L se xn fica suficientemente próximo de L à medida que n fique tão grande quanto
se queira. Usamos a seguinte notação

lim xn = L.
n→+∞

Se f : R → R é contínua e (xn ) é uma sequência convergente, então vale


 
lim f (xn ) = f lim xn .
n→+∞ n→+∞

Caso a sequência do método de Newton convirja, isto é, se lim xn = L para algum


n→+∞
L ∈ R, é fácil se convencer que lim xn+1 = L e, portanto,
n→+∞
 
f (xn ) f (xn )
L = lim xn+1 = lim xn − 0 = L − lim 0 .
n→+∞ n→∞ f (xn ) n→+∞ f (xn )

Concluímos daí que


f (L) = lim f (xn ) = 0.
n→+∞
168 Matemática Universitária

Exercícios

1. Encontre todos os pontos em R em que f é contínua.



a) f (x) = ex (x2 − 2x + 3) b) f (x) = 3 x − 4
x2 + 3x − 1 p
c) f (x) = d) f (x) = |x|3 − 2
x2 − 2x − 8
(
3x2 − 1, se x > 1,
2. Encontre o valor de L para que a função f (x) = seja contínua.
L, se x ≤ 1

3. Encontre os valores de a e b de modo que a função f abaixo seja contínua em R.


 2
 x − 3x + 4, se x ≤ −1,
f (x) = ax + b, se −1 < x ≤ 1,
 2
x − 7x + 2, se x > 1.

4. Mostre que a função f (x) = x − ln x − 2 possui uma raiz real em (e, 4).

5. Prove o corolário 6.2.13.



6. Encontre, pelo método de Newton, uma aproximação para 3 2.

7. Considere f (x) = 3 x. Verifique que o método de Newton não funciona para en-
contrar a raiz de f (x) se escolhermos x1 6= 0. Consegue observar, via o esboço do
gráfico da f , de o porquê de não funcionar?

8. Use o software para esboçar o gráfico das funções abaixo. Verifique que tem apenas
uma raiz real e encontre uma aproximação das 4 primeiras casas para a raiz real.
a) f (x) = x3 − 3x − 7 b) f (x) = x3 + 3x2 − 6 c) f (x) = x5 + 5x3 − 2

9. Encontre as 4 primeiras casas decimais de todas as raízes das funções abaixo.

a) f (x) = x2 − 3x − 19 b) f (x) = x4 − x2 − 4 c) f (x) = x5 − 5x3 − 2

10. Seja f (x) contínua em [0, 1] e tal que 0 ≤ f (x) ≤ 1 para todo x ∈ [0, 1]. Mostre que
existe ao menos um c ∈ [0, 1] tal que f (c) = c.
Renan Lima 169

Respostas

Exercício 1
√ √
a) R b) R c) R − {−2, 4} d) (−∞, − 3 2] ∪ [ 3 2, +∞)

Exercício 2
L=2

Exercício 3
a = −6 e b = 2

Exercício 6
√3
2 ' 1, 25992105

Exercício 8
a) 2, 425988 b) 1, 195823 c) 0, 713380

Exercício 9
a) −3, 109772; 6, 109772
b) −1, 600485; 1, 600485
c) −2, 193271; −0, 768317; 2, 273791
170 Matemática Universitária

6.3 Teorema de Weierstrass e o Teorema do Valor Médio

No cálculo diferencial, os teoremas estruturais mais importantes são o teorema do va-


lor intermediário, o teorema de Weierstrass e o teorema do valor médio. Quando dizemos
que são importantes é no sentido de que são os resultados que dizem que a teoria do cál-
culo é completa, que nos fornecem o embasamento matemático para que todas as contas,
todas as figuras e tudo que fazemos até o presente estejam justificados matematicamente.
Além disso, existe diferença filosófica entre o teorema do valor intermediário e o teo-
rema sobre a continuidade da composta. Por exemplo, após a definição de continuidade,
é natural perguntar se a composta de funções contínuas é contínua. Além disso, a de-
monstração deste resultado é uma consequência direta da definição. Por outro lado, o
teorema do valor intermediário, visto na seção anterior, é um resultado mais profundo,
que nos fornece precisão matemática de que funções contínuas não possuem saltos ver-
ticais no seu gráfico e, além disso, nos fornece uma informação valiosa que é que a reta
não possui buracos. Esta informação topológica é o que chamamos de propriedade dos
intervalos encaixantes. Para o leitor interessado, recomendamos nossa videoaula Pro-
priedade dos Intervalos Encaixantes. Este tema será trabalhado no capítulo 9.
Nesta seção, vamos estudar os dois teoremas estruturais do cálculo diferencial: o
teorema de Weierstrass e o teorema do valor médio, com ênfase bem maior no segundo
teorema.

Definição 6.3.1: Máximos Globais e Mínimos Globais

Considere a função f : [a, b] → R e seja x0 ∈ [a, b].

1. Dizemos que x0 é ponto de máximo global de f se f (x0 ) ≥ f (x), ∀x ∈ I.

2. Dizemos que x0 é ponto de mínimo global de f se f (x0 ) ≤ f (x), ∀x ∈ I.

Relembremos que um ponto x0 é ponto crítico da função f se f 0 (x0 ) = 0 ou não


existe f 0 (x0 ). Além disso, vimos no teorema 4.4.6 que se x0 é ponto de máximo global
ou mínimo global de f e se x0 está no interior do intervalo, isto é, x0 ∈ (a, b), então x0 é
ponto crítico de f .

Teorema 6.3.2: Teorema de Weierstrass

Seja f : [a, b] → R função contínua. Então f admite pontos de máximo e mínimo


global em [a, b]. Mais precisamente, existem xm , xM ∈ [a, b] tais que

f (xm ) ≤ f (x) ≤ f (xM ) para todo x ∈ [a, b].

Demonstração:
A demonstração será feita na seção 9.4 do capítulo 9.

É importantíssimo que o intervalo onde f esteja definida seja fechado e limitado. Re-
comendamos assistir à nossa videoaula Teorema de Weierstrass. Nesta aula, apresenta-
mos um exemplo de como achar o máximo e mínimo global de uma função deste estilo.
Renan Lima 171

Procedimento para Otimização Utilizando o Teorema de Weierstrass

• Verifique que a função f : [a, b] → R é contínua e o intervalo é limitado e fechado.

• Encontre todos os pontos críticos de f que estão em (a, b). Será um número finito.

• Calcule f (a), f (b) e f (c) para todo c ponto crítico de f .

• Verifique qual dos valores encontrados acima é maior e qual deles é o menor.

Procedimento para Otimização Recomendado pelo Autor

• Faça o esboço do gráfico. Ler a seção 4.5.

Em exemplos práticos, o teorema de Weierstrass não precisa ser utilizado, pois sem-
pre podemos esboçar o gráfico. Este teorema se torna valioso no campo teórico e ele nos
permite, dentre outros resultados, demonstrar o teorema do valor médio (TVM). Reco-
mendamos assistir à nossa videoaula Teorema do Valor Médio.
Nesta videoaula, explicamos o significado geométrico e o significado físico do TVM.
Antes de reproduzir esta videoaula no livro, vamos demonstrar este teorema. Começa-
remos provando um caso particular do TVM, conhecido como teorema de Rolle.

Teorema 6.3.3: Teorema de Rolle

Seja f : [a, b] → R contínua em [a, b] e derivável em (a, b). Se f (a) = f (b), então existe
c ∈ (a, b) tal que f 0 (c) = 0.

Demonstração:
A ideia da demonstração é utilizar o teorema de Weierstrass para garantir que f admite
máximo e mínimo global e, como f (a) = f (b), então, necessariamente, um dos extreman-
tes globais está em (a, b). Neste ponto, a derivada é 0.
Um detalhamento da demonstração acima se encontra na nossa videoaula Demonstração
do Teorema do Valor Médio e também na na página 372.

y y

f (c)
f (a) = f (b) b b

c
x
a b
f (a) = f (b) b b

x f (c)
a c b
(a) Máximo global no interior. (b) c não é necessariamente único.

Figura 6.2: Ilustrações do teorema de Rolle.

Como mencionado na própria videoaula, uma consequência direta do teorema de


Rolle é o teorema do valor médio.
172 Matemática Universitária

Teorema 6.3.4: Teorema do Valor Médio

Seja f : [a, b] → R contínua em [a, b] e derivável em (a, b). Então existe c ∈ (a, b) tal
que
f (b) − f (a)
f 0 (c) = .
b−a

Demonstração:
A demonstração se encontra na página 372.

Como o coeficiente angular da reta que passa pelos pontos (a, f (a)) e (b, f (b)) é dado
f (b) − f (a)
por (ver a videoaula Equação da Reta) e f 0 (c) é o coeficiente angular da reta
b−a
tangente ao gráfico de f no ponto (c, f (c)), o teorema do valor médio diz que existe um
ponto c ∈ (a, b) tal que a reta tangente ao gráfico de f em x = c é paralela à reta secante
que liga os pontos (a, f (a)) e (b, f (b)).
y

f (a) b

f (b) b

x
a c b

Uma das aplicações do teorema do valor médio é o intervalo de crescimento e decres-


cimento de uma função derivável.

Corolário 6.3.5: Intervalos de Crescimento e de Decrescimento

Seja f : [a, b] → R contínua em [a, b] e derivável em (a, b).

1. Se f 0 (x) > 0 para todo x ∈ (a, b), então f é estritamente crescente em [a, b].

2. Se f 0 (x) < 0 para todo x ∈ (a, b), então f é estritamente decrescente em [a, b].

Demonstração:
A demonstração deste resultado se encontra em Demonstração do Intervalo de Cresci-
mento e Decrescimento e na página 373. Vamos reproduzi-la aqui.

1. Dados x0 , y0 ∈ [a, b], com x0 < y0 . Pelo teorema do valor médio, existe c ∈ (x0 , y0 )
tal que
f (y0 ) − f (x0 ) = f 0 (c)(y0 − x0 ).
Como, por hipótese f 0 (c) > 0 e y0 − x0 > 0, concluímos que f (y0 ) − f (x0 ) > 0.

2. A demonstração é análoga ao item 1.

Outra consequência imediata do teorema do valor médio é o teorema da diferença cons-


tante.
Renan Lima 173

Corolário 6.3.6: Diferença Constante

Se f, g : [a, b] → R são funções contínuas em [a, b] e deriváveis em (a, b) tais que


f 0 (x) = g 0 (x) para todo x ∈ (a, b). Então existe c ∈ R tal que f (x) = g(x) + c para
todo x ∈ [a, b].
Em particular, se f 0 (x) = 0 para todo x ∈ (a, b), então f é constante em [a, b].

Demonstração:
A demonstração se encontra na página 373. Vamos reproduzi-la aqui. Provamos primeiro
o caso em que f 0 (x) = 0 para todo x ∈ (a, b).
Fixe x ∈ (a, b]. Pelo teorema do valor médio, existe cx ∈ (a, x) tal que

f (x) − f (a) = f 0 (cx )(x − a).

Por hipótese, f 0 (cx ) = 0 e, portanto, f (x) − f (a) = 0. Se escrevermos f (a) = c, provamos


que f (x) = c para todo x ∈ [a, b].

Considere a função auxiliar h(x) = f (x) − g(x). Temos que h0 (x) = 0 para todo x ∈ (a, b)
e, pelo resultado anterior, existe c ∈ R tal que h(x) = c para todo x ∈ [a, b]. Concluímos
daí que f (x) = g(x) + c para todo x ∈ [a, b].

Seja s : [t0 , tf ] → R a função que descreve a posição de uma partícula em movimento


retilíneo e que não sofra colisão ou impulso durante o intervalo considerado. A veloci-
dade média da partícula é dada por

s(tf ) − s(t0 )
vm = .
tf − t0

O teorema do valor médio diz que existe tc ∈ (t0 , tf ) tal que vm = s0 (tc ). Em outras
palavras, em algum momento a velocidade instantânea é igual a velocidade média. Suge-
rimos assistir à nossa videoaula Teorema do Valor Médio - MRUV. Devido a importância
desta aula, reproduziremos, resumidamente, o exemplo abaixo.
Exemplo 6.3.7: Suponha que uma partícula esteja em movimento retilíneo com ace-
leração constante a, posição inicial s0 e velocidade inicial v0 . Para encontrarmos a
equação do movimento, primeiramente, encontramos a velocidade v(t).
Considere a função auxiliar g(t) = at. Temos, por hipótese, que v 0 (t) = g 0 (t) = a e,
pelo corolário 6.3.6, existe c ∈ R tal que v(t) = at + c. Como v(0) = v0 , concluímos que
v(t) = v0 + at.
at2
Para encontrarmos a equação de s(t), considere a função auxiliar g(t) = v0 t + .
0 0
2
Temos que s (t) = v(t) = g (t) e, novamente, pelo corolário 6.3.6, existe c ∈ R tal que

at2
s(t) = v0 t + + c.
2
Como s(0) = s0 , concluímos que

at2
s(t) = s0 + v0 t + .
2
174 Matemática Universitária

Exemplo 6.3.8: Vimos na seção 5.4, na introdução do número de Euler, que apareceu
a equação diferencial C 0 (t) = ιC(t) , em que ι é a taxa de juros. Mencionamos que a
solução desta equação é C(t) = C0 eιt . Vamos provar este resultado. Façamos

C 0 (t) − ιC(t) = 0.

Multiplicando a equação acima por e−ιt , temos que

e−ιt C 0 (t) − e−ιt ιC(t) = 0.

Note que a parte esquerda da equação é (e−ιt C(t))0 . Pelo Corolário 6.3.6, concluímos
que existe k ∈ R tal que
e−ιt C(t) = k.
Logo C(t) = keιt e, como C(0) = C (custo inicial), concluímos, finalmente que
0

C(t) = C0 eιt .

Para um exemplo mais avançado, sugerimos a nossa videoaula Sistema Massa-mola.


Nesta aula, discutimos um pouco de física, energia e estudamos a equação diferencial
y 00 + y = 0, com y(0) = 1 e y 0 (0) = 0. Concluímos que a função y(x) = cos x.
Finalizamos esta seção provando a 1ª regra de L’Hospital. Para prová-la, precisamos
do teorema do quociente de Cauchy.

Teorema 6.3.9: Teorema do Quociente de Cauchy

Se f, g : [a, b] → R são funções contínuas em [a, b] e deriváveis em (a, b) tal que


g 0 (x) 6= 0 para todo x ∈ (a, b). Então existe c ∈ (a, b) tal que

f (b) − f (a) f 0 (c)


= 0 .
g(b) − g(a) g (c)

Demonstração:
A demonstração se encontra na página 374. Vamos reproduzi-la aqui.
Considere a função auxiliar

h(x) = (f (b) − f (a))g(x) − (g(b) − g(a))f (x).

Então, h é contínua em [a, b], derivável em (a, b) e vale h(a) = f (b)g(a) − g(b)f (a) = h(b).
Pelo teorema do valor médio 6.3.4, existe c ∈ (a, b) tal que h0 (c) = 0. Como

h0 (x) = (f (b) − f (a))g 0 (x) − (g(b) − g(a))f 0 (x),

então h0 (c) = 0 significa que

(f (b) − f (a))g 0 (c) = (g(b) − g(a))f 0 (c),

daí,
f (b) − f (a) f 0 (c)
= 0 .
g(b) − g(a) g (c)

Tomando g(x) = x, vemos que o teorema do quociente de Cauchy se torna o teorema


do valor médio.
Renan Lima 175

Teorema 6.3.10: 1ª Regra de L’Hospital

Sejam f, g : (a, b) → R funções deriváveis e x0 ∈ (a, b) tais que f (x0 ) = g(x0 ) = 0


f 0 (x)
e g 0 (x) 6= 0 para x 6= x0 numa vizinhança de x0 . Se lim 0 existe ou vai para o
x→x0 g (x)
infinito, então
f (x) f 0 (x)
lim = lim 0 .
x→x0 g(x) x→x0 g (x)

O mesmo resultado vale se substituirmos as condições acima para limites laterais e


também se substituirmos x0 por +∞ ou −∞.

Demonstração:
A demonstração pode ser vista no final da nossa videoaula Demonstração da 1ª Regra
de L’Hospital e também na página 375. Vamos reproduzi-la aqui.
Para cada x 6= x0 , temos, pelo teorema do quociente de Cauchy 6.3.9, que existe cx , com
0 < |cx − x0 | < |x − x0 | satisfazendo

f (x) f (x) − f (x0 ) f 0 (cx )


= = 0 .
g(x) g(x) − g(x0 ) g (cx )

f 0 (x)
Pelo teorema do confronto, como x → x0 , temos que cx → x0 . Como lim = L,
x→x0 g 0 (x)
temos,
f (x) f 0 (cx )
lim = lim 0 = L.
x→x0 g(x) x→x0 g (cx )
176 Matemática Universitária

Exercícios

1. Um automóvel percorre 10 km de uma estrada reta em 10 minutos. Prove que o


velocímetro do carro, em algum momento durante o percurso, apontou exatamente
para 60 km/h.

2. Calcule a taxa de variação média do volume de um cubo em relação ao compri-


mento das bases quando estas variam de 2 m para 3 m.

3. Se f, g são funções deriváveis em R satisfazendo f 0 (x) = g(x) e g 0 (x) = −f (x),


mostre que f 2 (x) + g 2 (x) é constante.

4. Seja f (x) = tg x. Verifique que f (0) = f (π) = 0, mas não existe c ∈ (a, π) tal que
f 0 (c) = 0. Por que este exemplo não viola o teorema de Rolle?

5. Mostre que se b2 − 3ac < 0, então a equação

ax3 + bx2 + cx + d = 0

possui exatamente uma única raiz real.

6. Seja f função derivável satisfazendo f 0 (x) = af (x) + b com a 6= 0. Mostre que existe
b
C ∈ R tal que f (x) = Ceax − .
a

1 n
 
7. Seja an = 1 + . Vamos mostrar que a sequência (an )n∈N é crescente e que
n
an < 4 via o seguinte procedimento.

a) Dados a, b ∈ R com 0 ≤ a < b. Mostre, utilizando o teorema do valor médio, que


bn+1 − an+1
< (n + 1)bn . Conclua que bn [(n + 1)a − nb] < an+1 .
b−a
1 1
b) Faça a = 1 + e b = 1 + e use o item anterior para mostrar que (an ) é
n+1 n
crescente.
1
c) Tome a = 1 e b = 1 + e mostre que a2n < 4. Conclua, usando o item anterior,
2n
que an < 4 para todo n.

8. Seja f função derivável, satisfazendo f (x + y) = f (x).f (y) e f 0 (0) = 1. Mostre que


f (x) = ex .

9. Se f, g : [a, b] → R são funções contínuas em [a, b] e deriváveis em (a, b) tais que


f (a) = g(a) e f (b) = g(b). Mostre que existe c ∈ (a, b) tal que f 0 (c) = g 0 (c).

Respostas

Exercício 2
19 m3 /m
Renan Lima 177

6.4 Aplicação de Derivadas para Desigualdades

Nesta seção, vamos falar de mais uma aplicação de derivadas que é a demonstração
de desigualdades que podem ser úteis para calcular algumas estimativas. Uma das apli-
cações desta seção é poder estimar numericamente valores das funções seno e cosseno
com quantas casas decimais desejar. O princípio da indução finita será importante.
Vimos na seção 5.3, uma demonstração geométrica da desigualdade sen x ≤ x para
todo x ≥ 0. Vamos fazer a demonstração utilizando derivadas. Considere a função

f (x) = sen x − x.

Temos que f (0) = 0 e f 0 (x) = cos x−1 ≤ 0. Pelo corolário 6.3.5, temos que f é decrescente
(na verdade, estritamente decrescente!) e, como f (0) = 0, temos que f (x) ≤ 0 para todo
x ≥ 0. Concluímos que sen x ≤ x para todo x ≥ 0.

Alguns leitores podem se sentir incomodados com o fato de que é necessário mostrar
a desigualdade para deduzir a derivada da função seno.
Sugerimos que não tenha este incômodo, pois é o mesmo que exigir que só pode uti-
lizar a regra de L’Hospital depois que saber a sua demonstração ou só poder utilizar
uma calculadora gráfica após saber programação.

Sugerimos assistir à videoaula Provando Desigualdades Usando Derivada - Parte 1.


Vamos reproduzir aqui uma parte da videoaula para explicar a importância do argu-
mento de indução.
Exemplo 6.4.1: Como a segunda derivada da função f (x) = ex é sempre positiva e a
reta tangente ao gráfico da f no ponto (0, 1) é dada pela equação y = 1 + x, temos, por
definição de concavidade, que o gráfico da f está acima da reta tangente, em particular,
vale ex ≥ 1 + x. Vamos fazer essa demonstração, utilizando intervalos de crescimento
e decrescimento.
Considere a função auxiliar g(x) = ex − 1 − x. Temos que g(0) = 0. Além disso,
g 0 (x) = ex − 1 e g 0 (x) = 0 ⇐⇒ x = 0. Façamos o estudo do sinal de g 0 .

+ g′
0

g
0

Concluímos que g(0) é ponto de mínimo global e, portanto, g(x) ≥ g(0) = 0 para todo
x ∈ R. Isso mostra que ex ≥ 1 + x para todo x ∈ R.

x2
Exemplo 6.4.2: Vamos mostrar que ex ≥ 1 + x + para todo x ≥ 0. Para tanto,
2
x2
considere a função auxiliar f (x) = ex − 1 − x − . Temos que f (0) = 0 e vale que
0 x
2 0
f (x) = e − 1 − x. Vimos, no exemplo anterior que f (x) ≥ 0 para todo x ≥ 0. Logo,
f é crescente. Concluímos que f (x) ≥ f (0) = 0, para todo x ≥ 0.
178 Matemática Universitária

x2 x3
Exemplo 6.4.3: Vamos mostrar que ex ≥ 1 + x + + para todo x ≥ 0. Para tanto,
2 6
x2 x3
considere a função h(x) = ex − 1 − x −− . Temos que h(0) = 0 e h0 (x) = f (x) do
2 6
exemplo anterior. Como f ≥ 0 para x ≥ 0, temos que h é crescente. Como h(0) = 0,
temos que h(x) ≥ 0 para todo x ≥ 0.

x2 x3 xn
É possível mostrar que ex ≥ 1+x+ + +. . .+ , onde n! = 1·2·3·. . .·(n−1)·n, mas,
2 6 n!
para uma escrita mais formalizada, precisamos entender um pouco sobre argumento de
indução.

Princípio da Indução Finita (PIF)

Seja P(n) um enunciado que descreve uma propriedade sobre um número natural n.
Supomos que o enunciado P(n) satisfaz duas propriedades.

1. P(n0 ) é uma verdade, isto é, vale a propriedade para n0 .

2. Se P(k) é uma verdade, então P(k + 1) é uma verdade para todo k ≥ n0 .

Então P(n) é verdadeiro para todo n ≥ n0

A ideia do PIF, sobretudo do item 2, é que , se P(n0 ) é verdade, então P(n0 +1) é verdade.
Como P(n0 + 1) é verdade, então P(n0 + 2) é verdade. Como P(n0 + 2) é verdade,
então P(n0 + 3) é verdade e assim sucessivamente (sem parar!). E concluímos que P(n)
é verdade para todo n ≥ n0 .
n(n + 1)
Exemplo 6.4.4: Vamos provar que vale 1 + 2 + 3 + . . . + n = para todo n ≥ 1.
2
n(n + 1)
Seja P(n) a propriedade que satisfaz a igualdade 1 + 2 + 3 + . . . + n = e
2
queremos provar que P(n) é uma verdade para todo n. Claramente P(1) é verdade,
1.(1 + 1)
pois, substituindo n por 1 na equação acima, temos 1 = . Supomos que P(k)
2
k(k + 1)
é verdade, isto é, 1 + 2 + 3 + . . . + k = , queremos provar que P(k + 1) é
2
(k + 1)((k + 1) + 1)
verdade, isto é, 1 + 2 + 3 + . . . + k + (k + 1) = . Vamos então fazer
2
as contas.
 
k(k + 1)
[1 + 2 + 3 + . . . + k] + (k + 1) = + (k + 1)
2
k 2 + k + 2k + 2
=
2
(k + 1)(k + 2)
= .
2
Pelo princípio da indução finita, temos que P(n) é verdadeiro para todo n ≥ 1.

n(n + 1)(2n + 1)
Exemplo 6.4.5: Vamos provar que 12 + 22 + . . . + n2 = .
6
Seja P(n) a propriedade acima. Temos por verificação direta que P(1) é verdade. Su-
Renan Lima 179

pomos, por indução, que P(k) é verdadeiro.


 
2 2 2 2 2 k(k + 1)(2k + 1)
[1 + 2 + 3 + . . . + k ] + (k + 1) = + (k + 1)2
6
 
k(2k + 1)
= (k + 1). +k+1
6
 2 
2k + k + 6k + 6
= (k + 1).
6
(2k + 3)(k + 2)
= (k + 1).
6
(k + 1)(k + 2)(2k + 3)
= .
6
n(n + 1)(2n + 1) (k + 1)(k + 2)(2k + 3)
Substituindo n por k + 1 na relação , temos .
6 6
Provamos com isso que P(k + 1) é verdadeiro.

Exemplo 6.4.6: Queremos provar que 2n ≤ n! para todo n ≥ 4.


Seja P(n) a propriedade acima, note que P(1), P(2) e P(3) são falsos. Por inspeção,
P(4) é verdadeiro. Por indução, supomos que P(k) é verdadeiro, k ≥ 4, então

2k+1 = 2.(2k ) ≤ 2.(k!) ≤ (k + 1)(k!) = (k + 1)!.

Logo P(k + 1) é verdadeiro. Mostramos então que 2n ≤ n! para todo n ≥ 4.

x2 xn
Exemplo 6.4.7: Vamos provar que ex ≥ 1 + x + ...+ para todo x ≥ 0 e para todo
2! n!
n ∈ N.
x2 xn
Seja P(n) a propriedade que diz que ex ≥ 1 + x + ... + para todo x ≥ 0. Por
x
2! n!
exemplo, P(1) significa que e ≥ 1 + x para todo x ≥ 0. Vemos que P(1) é verdadeiro
pelo exemplo 6.4.1. Supomos por indução que P(k) é verdadeiro, vamos provar que
P(k + 1) é verdadeiro. Considere a função auxiliar
x2 xk xk+1
 
x
f (x) = e − 1 + x + + ... + + .
2! k! (k + 1)!
x2 xk
 
0 x
Temos que f (0) = 0 e que f (x) = e − 1 + x + + ... + . Por hipótese de
2! k!
indução, temos que f 0 (x) ≥ 0 para todo x ≥ 0. Logo f é crescente e como f (0) = 0,
temos que f (x) ≥ 0 para todo x ≥ 0. Logo P(k + 1) é verdadeiro.

Sugerimos assistir à nossa videoaula Provando Desigualdades - Parte 2 - Estimando


x3
o Seno. Nessa vídeo aula, provamos a desigualdade x − ≤ sen x para todo x ≥ 0. Um
3!
x2
resultado parcial na demonstração dessa desigualdade foi provar que cos x ≥ 1 − .
2!
x 2 x 4
Exemplo 6.4.8: Vamos mostrar que cos x ≤ 1 − + para todo x ≥ 0. Para isso,
2 4!
considera a função auxiliar

x2 x4
 
f (x) = cos x − 1 − + .
2! 4!
180 Matemática Universitária

x3
Temos que f (0) = 0 e f 0 (x) = − sen x + x − ≤ 0 pelo resultado mostrado na
3!
videoaula. Logo f é decrescente e, portanto, f (x) ≤ 0.

x3 x5
Exemplo 6.4.9: Vamos provar que sen x ≤ x − + . Novamente, considere
3! 5!
x3 x5
 
f (x) = sen x − x − + .
3! 5!

x2 x4
 
0
Temos que f (x) = cos x− 1 − + . Pelo exemplo anterior, temos que f 0 (x) ≤ 0
2! 4!
e como f (0) = 0 e f é decrescente, então f (x) ≤ 0 para todo x ≥ 0.

x2 x4 x6
Exemplo 6.4.10: Vamos provar que cos x ≥ 1 − + − . Novamente, considere
2 4! 6!
x2 x4 x6
 
f (x) = cos x − 1 − + − .
2! 4! 6!

x3 x5
 
0
Temos que f (x) = − sen x + x − + . Pelo exemplo anterior, temos f 0 (x) ≥ 0
3! 5!
e como f (0) = 0 e f é crescente, então f (x) ≥ 0 para todo x ≥ 0.

O diagrama abaixo explica a lógica e nos ajuda a fazer o argumento de indução.

x2
sen x ≤ x 1− ≤ cos x
2!

x3 x2 x4
x− ≤ sen x cos x ≤ 1 − +
3! 2! 4!

x3 x5 x2 x4 x6
sen x ≤ x − + 1− + − ≤ cos x
3! 5! 2! 4! 6!

x3 x5 x7 x2 x4 x6 x8
x− + − ≤ sen x cos x ≤ 1 − + − +
3! 5! 7! 2! 4! 6! 8!

Deixamos como exercício o argumento por indução. Com a ideia de fazer n → +∞, é
possível concluir que

x3 x5 x2n+1
sen x = x − + − . . . + (−1)n + ...
3! 5! (2n + 1)!

x2 x4 x2n
cos x = 1 − + − . . . + (−1)n + ...
2! 4! (2n)!
Para a formalização da fórmula acima, é preciso de noções de séries numéricas que, infe-
lizmente, não é o escopo do livro. A ideia por trás da igualdade acima é que cada vez que
aumentamos o grau do polinômio, mais próximo da função original vamos estar. Como
as funções seno e cosseno são periódicas, é interessante nos restringirmos a [−π, π].
Renan Lima 181

y y

x x

(a) Grau 1. (b) Grau 3.


y y

x x

(c) Grau 5. (d) Grau 7.

Figura 6.3: Comparando o gráfico do seno (em azul) com os polinômios encontrados nos exemplos.

Finalizamos a seção calculando um valor aproximado de π. Sugerimos o uso de cal-


culadora conforme foi feito na seção 6.2 sobre método de Newton.
π 
Exemplo 6.4.11: Considere a função f (x) = cos x. Sabemos que cos = 0 e que
0
2
f (x) = sen x. Pelo fórmula do método de Newton,

f (xn ) cos x
xn+1 = xn − = xn + .
f 0 (xn ) sen x

Façamos a aproximação

x2 x4 x6 x8 x10
cos x ' 1 − + − + − ,
2! 4! 6! 8! 10!
x3 x5 x7 x9
sen x ' x − + − + .
3! 5! 7! 9!
π
Sabemos que ' 1, 57. Vamos então começar com x1 = 1, 5 e aplicarmos as fórmulas
2
acima. Temos, portanto,

x1 = 1, 5,
x2 = 1, 57214029,
x3 = 1, 57076343,
x4 = 1, 57079663,
x5 = 1, 57079584,
x6 = 1, 57079586.
π
Temos que ' 1, 57079586 e, portanto, π ' 3, 14159172. Verificando o resultado em
2
uma calculadora, temos que π ' 3, 14159265359. O que nos forneceu as 5 primeiras
casas decimais de π.
π
Era possível ter escolhido também o ângulo de e teríamos uma aproximação melhor.
4
Outra possibilidade é aumentar o grau do polinômio que foi aproximado as funções
seno e cosseno.
182 Matemática Universitária

Exercícios

1. Mostre, utilizando o princípio da indução finita, que as seguintes afirmações são


verdadeiras para todo n ∈ N.
n(n + 1)(n + 2)
a) 1 · 2 + 2 · 3 + . . . + n(n + 1) = b) n! ≤ nn
3

2. Dado dois números naturais a e b. Definimos max(a, b) o maior valor entre a e b. Por
exemplo, max(2, 4) = 4, max(7, 3) = 7, max(5, 5) = 5. Encontre o erro do seguinte
argumentação por indução.
P(n): Se a e b são dois números naturais tais que max(a, b) = n, então a = b.

P(1) é obviamente verdadeira. Supomos que P(k) é verdadeira.


Sejam a, b dois números quaisquer tais que max(a, b) = k + 1. Considere α = a − 1
e β = b − 1, então max(α, β) = k. Por hipótese de indução, temos que α = β e,
portanto, a = b. Logo P(k + 1) é verdadeira.

3. Considere f (x) = ln(1 − x).


a) Mostre que f (x) ≥ −x se x ∈ [0, 1).
x2
b) Mostre que f (x) ≥ −x − se x ∈ [0, 1).
2
x2 x3
c) Mostre que f (x) ≥ −x − − se x ∈ [0, 1).
2 3
x2 xn
d) Mostre, por indução, que f (x) ≥ −x − − ... − em que x ∈ [0, 1).
2 n

4. Considere f (x) = e−x .


a) Mostre que f (x) ≥ 1 − x, se x ≥ 0.
x2
b) Mostre que f (x) ≤ 1 − x + , se x ≥ 0.
2!
x2 x3
c) Mostre que f (x) ≥ 1 − x + − , se x ≥ 0.
2! 3!
d) Fazendo x = 1, conclua pelas desigualdades acima que 2 ≤ e ≤ 3.

5. Considere f (x) = ln(1 + x).


a) Mostre que f (x) ≤ x para todo x ≥ 0.
x2
b) Mostre que f (x) ≥ x − para todo x ≥ 0.
2
x2 x3
c) Mostre que f (x) ≤ x − + para todo x ≥ 0.
2 3
x2 x3 x4 x2n−1 x2n
d) Seja gn (x) = x − + − + ... + − . Mostre, por indução, que
2 3 4 2n − 1 2n

x2n+1
gn (x) ≤ f (x) ≤ gn (x) + para todo x ≥ 0.
2n + 1
Renan Lima 183

6.5 Diferenciabilidade e o Polinômio de Taylor

Nesta seção, falaremos um pouco sobre o conceito de Diferenciabilidade. Este con-


ceito é usado muitas vezes na física sob o nome variação infinitesimal. Este pensamento,
trabalhado em geral de forma intuitiva, é importante para se obter equações e fórmulas
de forma sistemática e rápida. Além disso, em modelagens, costuma-se utilizar com bas-
tante frequência a frase aproximação linear e deve-se tomar bastante cuidado com essas
aproximações. Recomendamos fortemente a nossa videoaula Motivação com Física ao
Conceito de Diferenciabilidade. Para uma explicação bem detalhada do conceito de Dife-
renciabilidade, sobre o significado reta tangente, sugerimos a nossa videoaula Definição
de Diferenciabilidade, que vamos definir agora.

Definição 6.5.1: Definição Temporária de Diferenciabilidade

Sejam f : I → R função e I intervalo aberto. Dizemos que f é diferenciável em x0 ∈ I


se existe a ∈ R tal que

f (x) − f (x0 ) − a(x − x0 )


lim = 0.
x→x0 x − x0

 
f (x) − f (x0 )
Note que, pela definição acima, temos que lim −a = 0 e, portanto,
x→x0 x − x0
podemos concluir que a = f 0 (x0 ). Em particular, f é derivável em x0 .

Teorema 6.5.2: Diferenciabilidade é Equivalente a Derivabilidade

Sejam f : I → R função, I intervalo aberto e x0 ∈ I. Então f é diferenciável em x0 se


e somente se f é derivável em x0 .

Demonstração:
A demonstração se encontra na videoaula Demonstração que Diferenciável é Equivalente
a Derivável e a parte escrita na página 358.

Definição 6.5.3: O Conceito de Diferenciabilidade

Sejam f : I → R função e I intervalo aberto, então f é diferenciável em x0 ∈ I se

f (x) − f (x0 ) − f 0 (x0 )(x − x0 )


lim = 0.
x→x0 x − x0

Dizer que f é diferenciável em x0 significa que f (x) ' f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ) e, por-
tanto, o gráfico de f se confunde com o gráfico da sua reta y = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ) em
uma vizinhança suficientemente pequena de x0 . Por se tratar de aproximação, significa
que existe um erro E(x) e a definição de diferenciabilidade diz que

E(x)
f (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ) + E(x), com lim = 0.
x→x0 x − x0
184 Matemática Universitária

Finalmente, considere a função

 E(x) ,

se x 6= x0 ,
σ(x) = x − x0

0, se x = x0 .

Temos, portanto, que σ é contínua em x0 e, podemos escrever

f (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ) + σ(x)(x − x0 ).

Façamos mais uma modificação, definimos ∆x = x − x0 e ∆f = f (x) − f (x0 ). Temos que

∆f ' f 0 (x0 )∆x.

E isso motiva a seguinte definição.

Definição 6.5.4: Diferencial de uma Função

Dado uma função f : I → R, a diferencial de f é dada por

df = f 0 (x) dx.

Exemplo 6.5.5: A diferencial da função f (x) = x2 é dada por df = 2x dx.


A diferencial da função x(t) = t3 + 1 é dada por dx = 3t2 dt.

A princípio, parece que apenas misturamos a notação de Leibniz com a de Newton


df
= f 0 (x) e multiplicamos por dx e parece que estamos apenas andando em círculos.
dx
Para entendermos o ganho, sugerimos assistir à nossa videoaula Intuição da Notação
de Diferencial de Leibniz. Com a noção de diferencial, as fórmulas de multiplicação e
da regra da cadeia ficam bastante intuitivas! Por exemplo, para a regra da cadeia, tome
y = f (x) e z = g ◦ f (x) = g(y). Temos que dy = f 0 (x)dx e, portanto,

dz = g 0 (y)dy = g 0 (y)f 0 (x)dx = g 0 (f (x))f 0 (x)dx.

Avisamos que o que está escrito acima não é uma demonstração matemática. Ela é
apenas um caminho para ganharmos intuição e prever uma fórmula. Para a demonstra-
ção formal, é necessário fazer as estimativas dos erros.

Teorema 6.5.6: Regra da Cadeia

Sejam f : (c, d) → R e g : (a, b) → (c, d) funções deriváveis, então a sua composição


h = f ◦ g : (a, b) → R é derivável e vale

h0 (x) = f 0 (g(x))g 0 (x).

Demonstração:
A demonstração se encontra na videoaula Demonstração da Regra da Cadeia e também
na página 359.
Renan Lima 185

Teorema 6.5.7: Derivada da Função Inversa

Seja f : (a, b) → (c, d) bijetora e g a função inversa da f . Se f é derivável em x0 com


1
f 0 (x0 ) 6= 0 e se f (x0 ) = y0 , então g é derivável em y0 e vale g 0 (y0 ) = 0 .
f (x0 )

Demonstração:
A demonstração se encontra na videoaula Demonstração da Derivada da Função Inversa
e na página 360. Vamos dar uma demonstração alternativa aqui.
Escreva y = f (x) e y0 = f (x0 ). Então, temos que ∆y = y − y0 = f 0 (x0 )∆x + σ(x)∆x. Daí,

g(y) − g(y0 ) = g(f (x)) − g(f (x0 )) = x − x0 = ∆x


∆y ∆y
= 0 = 0 ·
f (x0 ) + σ(x) f (x0 ) + σ(g(y))

Como σ(g(y)) é contínua em y0 e vale σ(g(y0 )) = σ(x0 ) = 0, temos que

g(y) − g(y0 ) 1 1
lim = lim 0 = 0 .
y→y0 y − y0 y→y 0 f (x0 ) + σ(x) f (x0 )

Teorema 6.5.8: Regra do Produto

Sejam f, g funções deriváveis em x0 , então f · g é derivável em x0 e vale

(f · g)0 (x0 ) = f 0 (x0 )g(x0 ) + f (x0 )g 0 (x0 ).

Demonstração:
A demonstração clássica se encontra na videoaula Demonstração da Regra do Produto.
Na página 357 temos uma outra demonstração. Faremos uma terceira demonstração.
Como f e g são diferenciáveis em x0 , podemos escrever

f (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 )∆x + σ1 (x)∆x,


g(x) = g(x0 ) + g 0 (x0 )∆x + σ2 (x)∆x,

em que as funções σ1 (x) e σ2 (x) são contínuas em x0 e vale σ1 (x0 ) = σ2 (x0 ) = 0.


Para organização da multiplicação, considere

σ(x) = [f 0 (x0 ) + σ1 (x)] · [g 0 (x0 ) + σ2 (x)]∆x.

Multiplicando as funções f (x) e g(x) com as identidades acima, temos

f (x)g(x) = (f (x0 ) + f 0 (x0 )∆x + σ1 (x)∆x).(g(x0 ) + g 0 (x0 )∆x + σ2 (x)∆x)


= f (x0 )g(x0 ) + (f 0 (x0 )g(x0 ) + f (x0 )g 0 (x0 ))∆x + σ(x)∆x.

Pela expressão de σ(x), concluímos que σ é uma função contínua e satisfaz σ(x0 ) = 0.
Isso mostra que f · g é diferenciável e vale

d(f · g) = (f 0 (x0 )g(x0 ) + f (x0 )g 0 (x0 ))dx.


186 Matemática Universitária

Do ponto de vista geométrico, o conceito de diferencial é a reta tangente. Do ponto de


computacional, ele nos fornece uma aproximação linear, isto é, confundimos o gráfico da
função com sua reta tangente, pelo menos localmente. Um pequeno exercício desta ideia
de aproximação linear pode ser encontrada na nossa videoaula Diferencial de uma Fun-
ção e Aproximação Linear. De agora em diante, refinaremos o conceito de aproximação
de função para polinômios de grau superior. Recomendamos a videoaula Derivadas de
Ordem Superior e Funções de Classe C k .

Definição 6.5.9: Funções de Classe C k

Seja f : I → R com I intervalo aberto.

1. Dizemos que f é de classe C 0 , se f é contínua.

2. Dizemos que f é de classe C k , k > 0, se a derivada k-ésima de f , denotada por


f (k) é contínua.

3. f é de classe C ∞ , se f é de classe C k para todo k ∈ N.

  
1
x2 sen , se x 6= 0,

Exemplo 6.5.10: Considere a função f (x) = x
0, se x = 0.

   
0 1 1
Para x 6= 0 temos que f (x) = 2x sen − cos . Note que não existe lim f 0 (x).
x x x→0

Para x = 0, devemos fazer na definição,


 
f (x) − f (0) 1
lim = lim x sen = 0.
x→0 x x→0 x

A última igualdade ocorre pelo teorema do confronto. Concluímos que f é uma função
diferenciável com f 0 (0) = 0, mas não é de classe C 1 .

Definição 6.5.11: Polinômio de Taylor e de Maclaurin

Sejam f : I → R função de classe C k e I um intervalo aberto. O polinômio de Taylor


de ordem k de f centrado em x0 é dado por

f 00 (x0 ) f (k) (x0 )


Pk (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ) + (x − x0 )2 + . . . + (x − x0 )k .
2! k!
O polinômio de Taylor centrado em x0 = 0 é chamado de polinômio de Maclaurin.

f 00 (0) 2 f (k) (0) k


Pk (x) = f (0) + f 0 (0)x + x + ... + x .
2 k!

A ideia da definição acima é que f (x) ' Pk (x) e, quanto maior o valor de k, melhor
é a sua aproximação. Sugerimos a videoaula Polinômio de Taylor e o Resto de Lagrange.
Na prática, quando devemos encontrar o polinômio de Taylor de ordem k de f (x) cen-
trado em x0 , costuma-se, para não sobrecarregar a notação, encontrar o polinômio de
Maclaurin de ordem k da função auxiliar f (x + x0 ).
Renan Lima 187

Exemplo 6.5.12: Considere a função f (x) = ex e calculamos o polinômio de Maclaurin


de f de ordem k.
Como f (n) (x) = ex para todo n, temos que f (0) = f 0 (0) = . . . f (k) (0) = 1. Logo o seu
polinômio de Maclaurin é dado por

x2 xk
Pk (x) = 1 + x + + ... + .
2! k!

Exemplo 6.5.13: Considere f (x) = sen x. Vamos encontrar o polinômio de Maclaurin


de f de ordem 7.

f (x) = sen x, f 0 (x) = cos x, f 00 (x) = − sen x, f 000 (x) = − cos x


f (4) (x) = sen x, f (5) (x) = cos x, f (6) (x) = − sen x, f (7) (x) = − cos x.

Temos que
f (0) = f 00 (0) = f (4) (0) = f (6) (0) = 0
f 0 (0) = f (5) (0) = 1 e f 000 (0) = f (7) (0) = −1.
Concluímos portanto que

x3 x5 x7
P7 (x) = x − + − .
3! 5! 7!

É muito importante termos mecanismos para medir o erro de uma aproximação. No


caso do polinômio de Taylor, temos o resto de Lagrange.

Teorema 6.5.14: Resto de Lagrange

Seja f : I → R função de classe C k+1 , I intervalo aberto e x0 ∈ I. Para cada x ∈ I,


existe cx nos intervalos aberto de extremos x e x0 tal que

f (k+1) (cx )
f (x) = Pk (x) + (x − x0 )k+1 ,
(k + 1)!

onde Pk (x) é o Polinômio de Taylor de ordem k centrado em x0 .

Demonstração:
A demonstração se encontra na página 379. Avisamos que a demonstração feita por es-
crito usa a hipótese, um pouco mais fraca, que f é (k+1)-vezes diferenciável.

Note que, como caso particular para k = 0, temos que P0 (k) = f (x0 ) e o teorema de
Lagrange se reduz ao teorema do valor médio 6.3.4, em que x0 = a e x = b.
Na prática, nunca encontramos o valor de cx , apenas colocamos um limitador. Por
exemplo, como f (k+1) é contínua em [x0 , x], então, pelo teorema de Weierstrass, existe M
tal que |f (k+1) (t)| ≤ M para todo t ∈ [x0 , x]. Para entendermos sobre o cálculo do erro,
recomendamos a nossa videoaula Resto de Lagrange de uma Aproximação Linear.
Uma das aplicações do polinômio de Taylor com o resto de Lagrange é fornecer um
algoritmo para encontrarmos a expansão por casas decimais do número de Euler. Esta
aplicação é feita na videoaula Estimando o Número de Euler com Polinômio de Taylor.
Vamos reproduzi-la aqui no próximo exemplo. Sugerimos estar com uma calculadora em
mãos.
188 Matemática Universitária

Exemplo 6.5.15: Considere f (x) = ex . Vimos no exemplo 6.5.12 que o seu polinômio
x2 xk
de Maclaurin é Pk (x) = 1 + x + + . . . + . Como f (k+1) (x) = ex , pelo teorema do
2! k!
resto de Lagrange, existe c ∈ (0, 1) tal que

ec
f (1) = Pk (1) + .
(k + 1)!

Como ec < e < 3 (e < 3 é demonstrado de forma direta, com binômio de Newton da
sequência an , ver página 365), temos que

3
0 < f (1) − Pk (1) < .
(k + 1)!

Façamos uma tabela, onde calculamos Pk (1) para cada k e uma estimativa do erro.

3
k Pk (1)
(k + 1)!
0 1 3
1 2 1, 5
2 2, 5 0, 5
3 2, 6666666667 0, 125
4 2, 7083333333 0, 025
5 2, 7166666667 0, 0041666667
6 2, 7180555556 0, 0005952381
7 2, 7182539683 0, 00007440

3
Como Pk (1) < f (1) < Pk (1) + para todo k ∈ N e como f (1) = e, olhando a
(k + 1)!
tabela para k = 1, temos que 2 < e < 2 + 1, 5 = 3, 5. Vamos desenvolver a tabela para
entendermos quantas casas decimais do número e foram encontradas.

3
k Pk (1) < e < Pk (1) +
(k + 1)!
0 1<e<4
1 2 < e < 3, 5
2 2, 5 < e < 3
3 2, 666667 < e < 2, 791667
4 2, 708333 < e < 2, 733333
5 2, 716667 < e < 2, 720833
6 2, 718056 < e < 2, 718651
7 2, 718254 < e < 2, 718328

Em particular, para n = 7, temos certeza que as 3 primeiras casas decimais do número


de Euler é 2, 718. A quarta casa não é possível saber, ainda, se é 2 ou 3 e, portanto, será
necessário valores maiores para n.

x2 x3 xn
Com pequenas adaptações, provamos que ex = 1 + x + + + ... + + ...
2! 3! n!

Para mais um exemplo, sugerimos a nossa videoaula Exemplo 2 com Resto de La-
grange. Uma aplicação da estimativa do exemplo acima é a demonstração que o número
de Euler é irracional.
Renan Lima 189

Teorema 6.5.16: Irracionalidade do Número de Euler

O número de Euler é irracional.

Demonstração:
p
Supomos que e fosse racional, então existe p, k ∈ N tal que e = . Como 2 < e < 3, temos
k
que k 6= 1. Por outro lado,
3
e − Pk (1) < .
(k + 1)!
1 1 1 p
Como Pk (1) = 1 + + + . . . + e e = , temos que k!(e − Pk (1)) ∈ N. Por outro lado,
2! 3! k! k
temos a seguinte desigualdade

3
0 < k!(e − Pk (1)) < ≤ 1.
k+1
O que nos leva a um absurdo, pois não existe número natural n satisfazendo 0 < n < 1.
Logo e não pode ser racional.

Teorema 6.5.17: Caracterização do Polinômio de Taylor

Seja f função de classe C k+1 e seja P (x) um polinômio de grau k tal que

f (x) − P (x)
lim = 0.
x→x0 (x − x0 )k

Então P (x) é o polinômio de Taylor de f de ordem k centrado em x0 .

Demonstração:
Faremos a demonstração para x0 = 0. Seja Pk (x) o polinômio de Maclaurin de ordem k
de f . Então, pelo teorema do resto de Lagrange 6.5.14, temos que

f (x) − Pk (x)
lim = 0.
x→0 xk
Daí, temos que

P (x) − Pk (x) [f (x) − Pk (x)] − [f (x) − P (x)]


lim k
= lim = 0.
x→0 x x→0 xk

Como P (x)−Pk (x) é um polinômio de grau no máximo k, podemos expandir a expressão


P (x) − Pk (x) = a0 + a1 x + a2 x2 + . . . + ak xk . O limite acima implica que P (0) − Pk (0) = 0
e, portanto, a0 = 0. Além disso, vale que

P (x) − Pk (x) (P (x) − Pk (x))xk−1


a1 = lim = lim = 0.
x→0 x x→0 xk
P (x) − Pk (x) (P (x) − Pk (x))xk−2
a2 = lim = lim = 0.
x→0 x2 x→0 xk
Continuando o raciocínio, temos a0 = a1 = . . . = ak = 0 e, portanto, P (x) = Pk (x).
190 Matemática Universitária

Este último resultado tem várias consequências interessantes, dentre elas.

Corolário 6.5.18

Seja f função de classe C ∞ e Pk (x) o polinômio de Maclaurin de ordem k. Então vale.

1. xn Pk (x) é o polinômio de Maclaurin de ordem n + k de xn f .

2. Pk (x2 ) é o polinômio de Maclaurin de ordem 2k de f (x2 ).

Demonstração:
f (x) − Pk (x)
Pelo teorema do resto de Lagrange, temos que lim = 0.
x→0 xk

xn f (x) − xn Pk (x) f (x) − Pk (x)


1. Como lim n+k
= lim = 0, então, pelo teorema 6.5.17,
x→0 x x→0 xk
temos que x Pk é o polinômio de Maclaurin de ordem n + k de xn f .
n

2. Façamos a mudança de variáveis de limite u = x2 . Observe que, quando x → 0+ ,


então u → 0+ e quando x → 0− , então u → 0+ , daí

f (x2 ) − Pk (x2 ) f (u) − Pk (u)


lim 2k
= lim = 0,
x→0+ x u→0+ uk
f (x2 ) − Pk (x2 ) f (u) − Pk (u)
lim 2k
= lim = 0.
x→0 − x u→0 + uk
Os limites acima mostram que o item 2 do corolário.

Exemplo 6.5.19: Como o polinômio de Maclaurin de ordem 4 de ex é dada por

x2 x3 x4
P (x) = 1 + x + + + ,
2 6 24
2
então o polinômio de Taylor de ordem 8 de ex é dada por

x4 x6 x8
Q(x) = P (x2 ) = 1 + x2 + + + .
2 6 24
Renan Lima 191

Exercícios

1. Sejam f, g funções de classe C ∞ e sejam Pk e Qk os polinômios de Maclaurin de


ordem k de f e g, respectivamente.
a) Mostre que Pk + Qk é o polinômio de Maclaurin de ordem k de f + g.
b) Mostre que Pk0 é o polinômio de Maclaurin de ordem k − 1 de f 0 .
c) Se a 6= 0, mostre que Pk (ax) é o polinômio de Maclaurin de ordem k de f (ax).

2. Encontre o polinômio de Maclaurin de ordem 5 das seguintes funções.


 
1+x
a) f (x) = ln(1 + x) b) g(x) = ln(1 − x) c) h(x) = ln
1−x
d) f (x) = ln(1 − x2 ) e) f (x) = e−x f) f (x) = e2x

3. Encontre o polinômio de Taylor de ordem 4 centrado em x0 = 1 de f (x) = ln x e


compare com o polinômio de Maclaurin de ordem 4 de g(x) = ln(1 + x).

4. Encontre, usando polinômio


  de Maclaurin com resto de Lagrange as 4 primeiras

casas decimais de sen .
9

5. Encontre o polinômio de Maclaurin de ordem 5 das seguintes funções.


a) f (x) = x2 ex b) f (x) = x3 e−x c) f (x) = (x2 + 1) sen x
1 1
d) f (x) = e) f (x) = f) f (x) = arctg x
1 + x2 1 − x2
2
g) f (x) = xe−2x h) f (x) = 3x ln(1 − x) i) f (x) = sen x3

6. Sejam f e g funções C ∞ e considere Pk e Qk os polinômios de Maclaurin de ordem


k de f e g, respectivamente. Escreva

Pk · Qk = Rk (x) + ak+1 xk+1 + . . . + a2k x2k

em que Rk é polinômio de grau k.


a) Mostre que Rk é o polinômio de Maclaurin de ordem k de f · g.
b) Exiba um exemplo em que Rk (x) + ak+1 xk+1 não é o polinômio de Maclaurin de
ordem k + 1 de f · g.

7. Use o exercício anterior e encontre o polinômio de Maclaurin de ordem 4 da função


ex sen x.
192 Matemática Universitária

Respostas

Exercício 2
x2 x3 x4 x5 x2 x3 x4 x5
a) x − + − + b) −x − − − −
2 3 4 5 2 3 4 5
2x 3 2x 5 x 4
c) 2x + + d) −x2 −
3 5 2
x2 x3 x4 x5 4x3 2x4 4x5
e) 1 − x + − + − f) 1 + 2x + 2x2 + + +
2 3! 4! 5! 3 3 15

Exercício 3
(x − 1)2 (x − 1)3 (x − 1)4
(x − 1) − + −
2 3 4

Exercício 4
0,6427

Exercício 5
x4 x5 x5 5x3 19x5
a) x2 + x3 + + b) x3 − x4 + c) x + −
2 6 2 6 120
x3 x5
d) 1 − x2 + x4 e) 1 + x2 + x4 f) x − +
3 5
3x3 3x5
g) x − 2x3 + 2x5 h) −3x2 − − x4 − i) x3
2 4

Exercício 7
x3
x + x2 +
3
Parte III

Cálculo Integral

193
C APÍTULO

7 Integrais

7.1 Introdução

Vimos no capítulo 2 que se tivermos o gráfico da função velocidade pelo tempo, en-
tão o cálculo da posição pode ser feita, essencialmente, por cálculo de áreas da região
delimitada entre o eixo t e o gráfico da função v. Devemos apenas tomar cuidado com
o sinal, dependendo se v(t) < 0 ou v(t) ≥ 0. Por outro lado, se uma partícula tem a
equação do movimento dada pela função s(t), então a equação da velocidade v(t) é dada
pela derivada de s(t). Mais precisamente, vale a fórmula

ds
v(t) = .
dt
ds
O interessante da notação de Leibniz é a possibilidade de pensar, informalmente,
dt
como fração e, portanto, a distância infinitesimal é dada por

ds = v(t) dt.

Mais ainda, a soma dos deslocamentos infinitesimais é dada por


Z tf
s(tf ) − s(t0 ) = ∆s = v(t) dt.
t0

Por conta deste raciocínio, fica bastante intuitivo que áreas podem ser calculadas via
processo de antiderivação. Este é o teorema fundamental do cálculo, percebido por Leibniz
e Newton, independentemente!
Quando aprendemos a calcular derivadas, vimos as regras de derivação, tais como a
regra do produto e a regra da cadeia. No cálculo integral, essas regras se transformam
em técnicas de integração. Por conta disso, na seção 7.2, faremos uma revisão do cálculo di-
ferencial, destacando as ideias e os resultados principais que utilizaremos para o cálculo
integral.
Na seção 7.3, veremos com detalhe o teorema fundamental do cálculo. A intuição
dada pela física é muito importante, mas também é importante entendermos quais são as
hipóteses exigidas da função a ser integrada.
Nas seções 7.4 e 7.5 , aprenderemos a calcular diversas integrais, começando com as
primitivas elementares, seguindo para as técnicas de substituição e de integração por
partes. A seção 7.6 é dedicada à integração, utilizando as duas técnicas.
Nas seções 7.7 e 7.8, faremos algumas aplicações de integrais tais como cálculo de
comprimento de arco, volume de sólido de revolução, cálculo de trabalho, massa e centro
de massa. Finalmente, na seção 7.9, estenderemos o conceito de integral e estudaremos
as chamadas integrais impróprias.
Renan Lima 195

7.2 Revisão de Cálculo Diferencial

Nesta seção, revisaremos os conceitos de cálculo diferencial. Começamos com con-


ceito de continuidade, que está relacionado com o fato do gráfico da função possuir saltos
verticais.

Definição 7.2.1: Continuidade

Dada uma função f : [a, b] → R.

1. f é contínua em x0 ∈ (a, b) se lim f (x) = f (x0 ).


x→x0

2. f é contínua em a se lim f (x) = f (a).


x→a+

3. f é contínua em b se lim f (x) = f (b).


x→b−

Dizemos que f é contínua se ela é contínua em todos os pontos do seu domínio.

Lista de funções contínuas

• Polinomiais • Exponenciais • Trigonométricas

• Raízes enésimas • Logarítmicas • Trigonométricas inversas.

Teorema 7.2.2: Propriedades básicas de funções contínuas

Se f e g são funções contínuas, então

3. f ◦ g é contínua.
1. f + g é contínua.
f
2. f · g é contínua. 4. é contínua.
g

2
Exemplo 7.2.3: A função h(x) = e−x é contínua pois é a composição das funções
f (x) = ex e g(x) = −x2 .
2
A função f (x) = ex cos x é contínua pois é composição e multiplicação de funções
contínuas.

1
Exemplo 7.2.4: A função f (x) = é uma função contínua, pois divisão de funções
x
contínuas é contínua. Note que x0 = 0 não pertence ao domínio de f .

Para discutir a continuidade de f em um ponto x0 ∈ R é necessário que x0 esteja no


domínio de f . Sugerimos a videoaula Introdução ao Conceito de Continuidade.

A importância do conceito de continuidade reside em dois teoremas, o teorema do


valor intermediário e o teorema de Weierstrass. Recomendamos a videoaula Teorema de
Bolzano e o Teorema do Valor Intermediário.
196 Matemática Universitária

Teorema 7.2.5: Teorema do Valor Intermediário e de Weierstrass

Seja f : [a, b] → R contínua.

1. (Teorema do Valor Intermediário) Fixe d pertencente ao intervalo aberto defi-


nido por f (a) e f (b), então existe c ∈ (a, b) tal que f (c) = d.

2. (Weierstrass) f admite pontos de máximo e mínimo global em [a, b]. Mais pre-
cisamente, existem xm , xM ∈ [a, b] tais que

f (xm ) ≤ f (x) ≤ f (xM ) para todo x ∈ [a, b].

Agora que sabemos que todas as funções elementares são contínuas, vamos trabalhar
com as funções derivadas. Dizemos que a função f é derivável em x0 se existe o limite
f (x0 + h) − f (x0 )
lim e, caso o limite exista, denotamos por f 0 (x0 ). Dizemos que f é
h→0 h
derivável se ela for derivável em todos os pontos do seu domínio.
Geometricamente, f : (a, b) → R é derivável se cada ponto (x0 , f (x0 )) do seu gráfico
possui reta tangente. Destacamos dois casos possíveis para que uma função não seja
derivável em x0 ∈ (a, b).

1. Quando o gráfico de f salta em x0 .

lim f (x0 + h) 6= lim f (x0 + h).


h→0− h→0+

2. Quando o gráfico de f possui um bico, isto é,

f (x0 + h) − f (x0 ) f (x0 + h) − f (x0 )


lim 6= lim .
h→0− h h→0 + h

y y

x x
x0 x0

Figura 7.1: f é descontínua em x0 . Figura 7.2: o gráfico da f faz um bico em x0 .

df
Dada uma função derivável f , a função derivada é denotada por . Esta notação foi
dx
introduzida por Leibniz por causa da seguinte expressão.

df ∆f f (x0 + ∆x) − f (x0 ) f (x0 + h) − f (x0 )


f 0 (x) = = lim = lim = lim .
dx ∆x→0 ∆x ∆x→0 ∆x h→0 h

Para problemas de modelagem de equação, é comum pensar df e dx como incrementos


infinitesimais. Recomendamos a nossa videoaula A Intuição da Notação de Leibniz.
A tabela abaixo contém um resumo das fórmulas de derivação.
Renan Lima 197

Fórmulas de Derivadas Regras de Derivação

(xp )0 = pxp−1 , p ∈ R (f + g)0 = f 0 + g 0


(sen x)0 = cos x
(f − g)0 = f 0 − g 0
(cos x)0 = − sen x
(tg x)0 = sec2 x
(cf )0 = cf 0 , onde c ∈ R
(sec x)0 = sec x tg x
(ex )0 = ex (f ◦ g)0 = (f 0 ◦ g) · g 0
1
(ln x)0 = (f · g)0 = f 0 · g + f · g 0
x
f 0 · g − g0 · f
 
1 f
(arctg x)0 = =
1 + x2 g g2

Com a tabela acima, podemos encontrar a derivada das mais diversas funções.
Exemplo 7.2.6: A primeira fórmula de derivação é a regra do tombo, (xp )0 = pxp−1 .
Recomendamos a videoaula Derivada da Soma e a Derivada de Polinômios.

1. Se f (x) = 5x = 5x1 , então f 0 (x) = 5x1−1 = 5x0 = 5.

2. Se f (x) = x2 , então f 0 (x) = 2x2−1 = 2x.

3. Se f (x) = x2 − 3x, então f 0 (x) = 2x − 3.

3x(3/2)−1 3x1/2
4. Se f (x) = x3/2 , então f 0 (x) = = .
2 2
√ 1 x−1/2 1
5. Se f (x) = x = x1/2 , então f 0 (x) = x(1/2)−1 = = √ .
2 2 2 x
!
1 5x2/3
6. Se f (x) = 5 − 3x5/3 = x−5 − 3x5/3 , então f 0 (x) = −5x−6 − 3 . Temos,
x 3
−5
portanto, f 0 (x) = 6 − 5x2/3 .
x
7. Se f (x) = xπ , então f 0 (x) = πxπ−1 .
1 √ √ √
8. Se f (x) = √ = x− 2, então f 0 (x) = − 2 x− 2−1 .
x 2

Exemplo 7.2.7: A derivada de f (x) = x3 ln x é, pela regra do produto, dada por

df
= (x3 )0 ln x + x3 · (ln x)0
dx
1
= 3x2 · ln x + x3 · = 3x2 ln x + x2 .
x

Exemplo 7.2.8: A derivada da função f (x) = ex sen x é, pela regra do produto,

df
= (ex )0 sen x + ex · (sen x)0
dx
= ex sen x + ex cos x.
198 Matemática Universitária

Para mais exemplos com a regra do produto, sugerimos assistir às nossas videoaulas
Exemplos de Derivação com Funções Trigonométricas e também Derivada das Funções
Exponenciais e Logarítmicas.
A regra do quociente não será necessária para a integração. A regra da cadeia costuma
ser a regra de derivação mais complicada para aprender, por isso, sugerimos a videoaula
Regra da Cadeia - Enunciado e Exemplos. Para exemplos que misturam regra da cadeia
e regra do produto, sugerimos a aula Exemplos utilizando a Regra da Cadeia e também
a aula Exemplos de Derivação com Funções Trigonométricas Inversas. Vamos fazer mais
alguns exemplos.
Exemplo 7.2.9: Considere a função f (x) = (x2 + 3x + 1)3 e tome y = x2 + 3x + 1, então
f (x) = y 3 e pela regra da cadeia

df df dy
= · = 3y 2 (2x + 3) = 3(x2 + 3x + 1)2 (2x + 3).
dx dy dx

Exemplo 7.2.10: Para derivarmos a função f (x) = arctg(x3 ), utilizamos a regra da


cadeia, com y = x3 e f (y) = arctg y.

df df dy 1 2 3x2 3x2
= · = · (3x ) = = .
dx dy dx 1 + y2 1 + (x3 )2 1 + x6
3
Exemplo 7.2.11: Para derivarmos a função f (x) = xe−x , vamos trabalhar com a regra
do produto e a regra da cadeia.

df 3 3 3 3
= (x)0 · e−x + x · (e−x )0 = e−x + x · (−3x2 e−x )
dx
3 3 3
= e−x − 3x3 e−x = (1 − 3x3 )e−x .

O teorema qualitativo para o conceito de derivadas é o teorema do valor médio.

Teorema 7.2.12: Teorema do Valor Médio

Seja f : [a, b] → R contínua em [a, b] e derivável em (a, b). Então existe c ∈ R tal que

f (b) − f (a)
f 0 (c) = .
b−a

Seja s : [t0 , tf ] → R a função que descreve a posição de uma partícula em movimento


retilíneo e que não sofre colisão ou impulso durante o intervalo considerado. A veloci-
dade média da partícula é dada por
s(tf ) − s(t0 )
vm = .
tf − t0

O teorema do valor médio diz que existe tc ∈ (t0 , tf ) tal que vm = s0 (tc ). Em outras
palavras, em algum momento a velocidade instantânea é igual à velocidade média.
Geometricamente, f 0 (c) é o coeficiente angular da reta tangente ao gráfico de f no
ponto (c, f (c)) e, conforme demonstrado pela videoaula Equação da Reta, o coeficiente
f (b) − f (a)
angular da reta que passa pelos pontos (a, f (a)) e (b, f (b)) é dado por . O
b−a
teorema do valor médio diz que existe um ponto c ∈ (a, b) tal que a reta tangente ao
gráfico de f em x = c é paralela à reta secante que liga os pontos (a, f (a)) e (b, f (b)).
Renan Lima 199

f (a) b

f (b) b

x
a c b

Figura 7.3: Reta tangente ao gráfico de f no ponto (x0 , y0 ).

Finalizamos a seção com uma consequência do teorema do valor médio que vamos
precisar para a integração.

Corolário 7.2.13: Diferença constante

Se f, g : [a, b] → R são funções contínuas em [a, b] e deriváveis em (a, b) tais que


f 0 (x) = g 0 (x) para todo x ∈ (a, b). Então existe C ∈ R tal que f (x) = g(x) + C para
todo x ∈ [a, b]. Em particular, se f 0 (x) = 0 para todo x ∈ (a, b), então f é constante
em [a, b].

Demonstração:
Considere a função auxiliar h(x) = f (x) − g(x). Temos que h é contínua em [a, b] e
h0 (x) = 0 para todo x ∈ (a, b).
Fixe x ∈ (a, b]. Pelo teorema do valor médio, existe cx ∈ (a, x) tal que

h(x) − h(a) = h0 (cx )(x − a) = 0.

portanto, h(x) = h(a). Se escrevermos h(a) = C, provamos que h(x) = C para todo
x ∈ [a, b] e, portanto, f (x) = g(x) + C.
200 Matemática Universitária

Exercícios

1. Derive cada uma das funções abaixo.



a) f (x) = x2 sen x b) f (x) = 3 3 x + 2x3 − 2

4 5
c) f (x) = −√ d) f (x) = tg x · ln x
x x

e) f (x) = ex sec x f) f (x) = xex sen x

g) f (x) = ex + e−x h) f (x) = (3x + 2)5

i) f (x) = (x2 + 8x + 1)7 j) f (x) = sen(ln x)



k) f (x) = cos( x) l) f (x) = cos4 (x)

3
n) f (x) = e x
2
m) f (x) = e−x


q p
3
o) f (x) = x + x p) f (x) = x3 + 1

q) f (x) = arctg(x2 ) r) f (x) = arctg( x)

2. Seja f : [a, b] → R contínua e sejam m e M o máximo e mínimo globais de f ,


respectivamente. Mostre que Im f = [m, M ], isto é, para todo d ∈ [m, M ], existe
c ∈ [a, b] tal que f (c) = d.

Respostas

Exercício 1
1
a) 2x sen x + x2 cos x b) √
3
+ 6x2
x2
4 5 tg x
c) − + √ d) sec2 x · ln x +
x2 2x x x
e) ex sec x(1 + tg x) f) ex (sen x + x sen x + x cos x)

g) ex − e−x h) 15(3x + 2)4


cos(ln x)
i) 14(x + 4)(x2 + 8x + 1)6 j)
x

sen x)
k) − √ l) −4 cos3 (x) sen x
2 x
√3
−x2 e x
m) −2xe n) √3
3 x2
x2
 
1 1
o) p √ · 1+ √ p) p
2 x+ x 2 x 3
(x3 + 1)2
2x 1
q) r) √
1 + x4 2 x(1 + x)
Renan Lima 201

7.3 Teorema Fundamental do Cálculo

Nesta seção, trataremos de um dos teoremas mais importantes: o teorema fundamen-


tal do cálculo.
Seja f : [a, b] → R função contínua. Definimos
Z a
f (t)dt = 0.
a
Z x
Para cada x ∈ [a, b], considere a função A(x) = f (t) dt. Temos que A(x) está bem
a
definida, isto é, para cada x ∈ [a, b], é possível determinar unicamente A(x). As figuras
abaixo mostram a função A(x) para diversos valores de x.
y y y
y = f (t) y = f (t) y = f (t)

A(x1 ) A(x2 ) A(b)

t t t
a x1 b a x2 b a b

Figura 7.4: O valor de A(x) coincide coma área sob a curva de y = f (t) se f (t) ≥ 0 para todo t.

y y y
y = f (t)
y = f (t) y = f (t)

área=A1 área=A1 área=A1

área=B área=A2

t x2 t t
a x1 b a b a b
área=A3

(a) A(x1 ) = A1 (b) A(x2 ) = A1 − B (c) A(b) = A1 − A2 + A3

Figura 7.5: O valor de A(x) é a área acima do eixo x menos a área de baixo.

Exemplo 7.3.1: Defina A(x) a área da região delimitada por y = 0, y = t e a reta t = x.


Na figura abaixo, vemos que A(x) é a área do triângulo de base x e altura x.

y=t Portanto, a função A(x) é dada por


x
x2
Z
A(x) = t dt = .
0 2
A(x)
t
x

Recomendamos a nossa videoaula Teorema Fundamental do Cálculo - Parte 1. A


aula faz um bom resumo do que pretendemos fazer ao longo do texto. Para termos
interpretação geométrica de área, vamos supor que f (t) ≥ 0 para todo t.
202 Matemática Universitária

Fixe x ∈ (a, b). A ideia pensada por Leibniz foi considerar dx como incremento infini-
tesimal e considerar o retângulo cuja base é o intervalo [x, x + dx] e altura f (x).
y y
y = f (t) y = f (t)

f (x)
A(x)
dA

t t
a x b a xdx b

Figura 7.6: Interpretação geométrica que Leibniz teve para o teorema fundamental do cálculo.

Considere dA a variação da área. Como a distância é infinitesimal, podemos conside-


rar f (t) constante igual à f (x) no intervalo [x, x + dx] e, portanto dA = f (x)dx. Com este
dA
pensamento, vemos que = f (x).
dx
Embora a ideia do parágrafo anterior esteja correta, há algumas imprecisões na ar-
gumentação. Por exemplo, o leitor, se estiver desatento, não percebe que foi utilizada a
continuidade da função f .

Teorema 7.3.2: 1º Teorema Fundamental do Cálculo


Z x
Seja f : [a, b] → R contínua e defina A : [a, b] → R por A(x) = f (t) dt. Então A(x)
a
dA
é derivável e vale = f (x).
dx

Demonstração:
A demonstração deste resultado pode ser encontrada em Demonstração do Teorema Fun-
damental do Cálculo. Avisamos que a demonstração acima utiliza um resultado técnico
que pode ser vista na nossa videoaula Teorema do Valor Médio para Integrais.

Definição 7.3.3: Primitiva de uma Função

Seja f uma função contínua. Dizemos que F é primitiva de f , se F 0 (x) = f (x) para
todo x no domínio de f .

A definição acima é muito útil por conta do 2º teorema fundamental do cálculo e,


portanto, recomendamos a nossa videoaula 2◦ Teorema Fundamental do Cálculo.

Teorema 7.3.4: 2º Teorema Fundamental do Cálculo

Se f é contínua em [a, b] e se F é qualquer primitiva de f , então


Z b
f (x) dx = F (b) − F (a).
a
Renan Lima 203

Demonstração:
Z x
Seja A(x) = f (t) dt. Pelo 1º teorema fundamental do cálculo, temos que A(x) é primi-
a
tiva de f . Como F também é primitiva de f , temos que F 0 (x) = A0 (x) para todo x ∈ (a, b)
e, pelo corolário 7.2.13, existe C ∈ R tal que F (x) = A(x) + C. Logo
Z b
F (b) − F (a) = (A(b) + C) − (A(a) + C) = A(b) = f (t) dt.
a

Exemplo 7.3.5: Temos que sen x é primitiva de cos x e, portanto,


y
π
y = cos x
Z π 2
2
cos x dx = sen x x
π
0
0 2
π
sen − sen 0 = 1.
2
Figura 7.7: Área calculada no exemplo.

Finalizamos a seção calculando algumas derivadas de funções definidas por integral.


Primeiramente, Recomendamos a nossa videoaula Derivando uma Função dada por In-
tegral.
Z x2
2
Exemplo 7.3.6: Considere A(x) = e−t dt. Para calcular a expressão A0 (x), deve-
0
mos utilizar o teorema fundamental do cálculo e a regra da cadeia.
2 2
Seja F (x) primitiva de e−x . Temos que F 0 (x) = e−x . Pelo 2º teorema fundamental do
cálculo, temos que
Z x2
2
A(x) = e−t dt = F (x2 ) − F (0).
0

Logo, fazendo y = x2 , temos, pela regra da cadeia,

dF dy 2 2 2
A0 (x) = · = e−y .2x = e−(x ) 2x.
dy dx
4
Arrumando as contas, temos que A0 (x) = 2xe−x .

p Z x3 √
Exemplo 7.3.7: Seja A(x) = 1 − t2 dt e seja F (x) a primitiva de 1 − x2 , isto é,
√ x2
F 0 (x) = 1 − x2 . Pelo 2º teorema fundamental do cálculo,

A(x) = F (x3 ) − F (x2 ).

Se tomarmos y = x3 e z = x2 , então, pela regra da cadeia, concluímos que

dF dy dF dz p p
A0 (x) = · − · = 1 − y 2 .2x − 1 − z 2 .3x2
dy dx dz dx
p p
= 2x 1 − x4 − 3x2 1 − x6 .
204 Matemática Universitária

Exercícios

1. Derive cada uma das funções abaixo.


Z x Z x
a) A(x) = e−t dt b) A(x) = sen(t2 ) dt
2 π
Z 1+x2   Z x
1 2
c) A(x) = sen dt d) A(x) = tet dt
1 t −x
Z x+1 p Z cos x
1
e) A(x) = √
1 + t2 dt f) A(x) = dt
x sen x 1 − t2
Z x √ Z x
2
g) A(x) = x · (tg t) dt h) A(x) = e−t dt
0 −x

Respostas

Exercício 1

a) A0 (x) = e−x b) A0 (x) = sen(x2 )


 
0 1
c) A (x) = 2x sen d) A0 (x) = 0
1 + x2

0
p 1+x
2
e) A (x) = x + 2x + 2 − √ f) A0 (x) = − sec x − cossec x
2 x

Z x √ 2
g) A0 (x) = x tg( x) + (tg t) dt h) A0 (x) = 2e−x
0
Renan Lima 205

7.4 Primitivas Imediatas e a Técnica de Substituição

Na seção 7.3, vimos o teorema fundamental do cálculo, que estabelece uma conexão
entre o processo de antiderivação e o processo de cálculo de área. A função resultante da
antiderivação é chamada de primitiva. Mais ainda, fixada uma função f contínua e se F
é uma primitiva de f , então todas primitivas são da forma F (x) + C com C ∈ R.
Z
Escrevemos f (x) dx para representar todas as primitivas de f e recomendamos a
videoaula Primitivas Imediatas para introdução do assunto.
x2
Z
Exemplo 7.4.1: Temos que x dx = + C.
2
Z
Como (e ) = e , temos que ex dx = ex + C.
x 0 x

Para as integrais definidas, a variável da função não tem importância, isto é,


Z b Z b Z b
f (t) dt = f (x) dx = f (u) du.
a a a

Quando trabalhamos com integral indefinida, devemos manter a variável de integração.


Exemplo 7.4.2:
Z
3t2 − 2t dt = t3 − t2 + C.

1.
Z
4u3 − 3u2 + 2 du = u4 − u3 + 2u + C.

2.
Z
3. ev dv = ev + C.

Tabela de Primitivas Imediatas

xp+1
Z Z
p 1
x dx = + C, se p ∈ R e p 6= −1 dx = ln |x| + C
p+1 x
Z Z
1
dx = arctg x + C ex dx = ex + C
1 + x2
Z Z
sen x dx = − cos x + C cos x dx = sen x + C
Z Z
2
sec x dx = tg x + C sec x tg x dx = sec x + C

Sugerimos a videoaula Primeiros Exemplos de Primitivas - Polinômios.



Z
1
Exemplo 7.4.3: Vamos calcular x dx. Trabalharemos com p = na tabela acima.
2

√ x(1/2)+1 x3/2 2x3/2


Z Z
x dx = x1/2 dx = +C = +C = + C.
(1/2) + 1 3/2 3

Destacamos duas propriedades para integrais indefinidas (ver seção 2.2).


206 Matemática Universitária

Z Z Z
1. f (x) + g(x) dx = f (x) dx + g(x) dx.

Z Z
2. kf (x) dx = k f (x) dx, em que k ∈ R.

Para os próximos exemplos, sugerimos a videoaula Primitivas não tão Imediatas.

x2 + 1
Z
Exemplo 7.4.4: Vamos calcular dx. Note que o integrando não está na tabela
x
acima e, portanto, precisamos modificar a expressão. O truque é separar o numerador,
isto é,
x2 + 1 x2 1 1
= + =x+ .
x x x x
1
Note que as funções f (x) = x e g(x) = estão na tabela acima e, portanto,
x
Z 2
x2
Z  
x +1 1
dx = x+ dx = + ln |x| + C.
x x 2

Z
1
O leitor pode está se perguntando o porquê dx = ln |x| + C ao invés de ln x + C.
x
1
O motivo é que o domínio de ln x é (0, +∞), enquanto o domínio de é R − {0}. Por
x
exemplo, se o resultado da integral fosse ln x, teríamos
−1
Z −1
1
dx = ln x = ln(−1) − ln(−2).
−2 x
−2

Isso é um absurdo!
d ln(−x) 1 1
Note que para x < 0, temos, pela regra da cadeia, = · (−1) = .
dx −x x

Z
Exemplo 7.4.5: Vamos calcular a integral tg2 x dx. Para tanto, precisamos aplicar a
fórmula tg2 x = sec2 x − 1. Esta fórmula é específica e pode ser interessante pensar na
seguinte lógica
sen2 x 1 − cos2 x 1 cos2 x
tg2 x = = = − .
cos2 x cos2 x cos2 x cos2 x
1
Como sec2 x = , temos que tg2 x = sec2 x − 1 e, portanto,
cos2 x
Z Z Z Z
tg2 x dx = (sec2 x − 1) dx = sec2 x dx − 1 dx = tg x − x + C.

Vimos na seção 7.2 a regra da cadeia (f ◦ g(x))0 = f 0 (g(x)) · g 0 (x), e temos, portanto, a
seguinte fórmula
Z Z
0 0
f (g(x)).g (x) dx = (f ◦ g(x))0 dx = f ◦ g(x) + C.
Renan Lima 207

A fórmula acima se chama técnica da substituição e a forma que operamos é a seguinte:


Faça a substuição u = g(x), então du = g 0 (x) dx, escreva a igualdade
Z Z
f (g(x)).g (x) dx = f 0 (u) du
0 0

e integramos em relação à variável u. No final, devemos voltar para a variável x. Reco-


mendamos assistir à nossa videoaula Introdução à Técnica de Integração por Substituição
para entender o procedimento.
Z
Exemplo 7.4.6: Vamos calcular e2x dx.
du
Façamos u = 2x, então du = 2 dx, ou seja, dx = e, daí, temos
2
e2x
Z Z Z
2x u du 1 1
e dx = e = eu du = eu + C = + C.
2 2 2 2
Z
Exemplo 7.4.7: Para calcular x cos(x2 ) dx, façamos u = x2 , então du = 2x dx, daí,
du
temos que = x dx e, portanto,
2
sen(x2 )
Z Z Z
2 2
 du sen u
x cos(x ) dx = cos(x ) x dx = cos u = +C = + C.
2 2 2
Z
ln x 1
Exemplo 7.4.8: Para calcular a integral dx, façamos u = ln x. Temos du = dx
x x
e, daí
u2 (ln x)2
Z Z Z
ln x 1
dx = ln x · dx = u du = +C = + C.
x x 2 2

Exemplo 7.4.9: Para integrarmos a função f (x) = 2x , devemos passar, primeiramente,


para a base e, isto é, 2x = ex ln 2 . Fazendo a substituição u = x ln 2, temos du = (ln 2) dx.
Daí,
eu 2x
Z Z
du
2x dx = eu · = +C = + C.
ln 2 ln 2 ln 2

Recomendamos a videoaula Fazendo Substituição Linear para Resolver Integrais e


também Exemplos de Resolução de Integrais por Substituição.
Z
Exemplo 7.4.10: Vamos calcular tg x dx. Note que, a princípio, não temos nenhuma
sen x
substituição óbvia e, portanto, é interessante utilizar a fórmula tg x = . Façamos
cos x
u = cos x, então du = − sen x dx e, portanto,
Z Z Z
1 1
tg x dx = · sen x dx = − du = − ln |u| + C = − ln | cos x| + C.
cos x u
1
Como vale a fórmula ln(a−1 ) = − ln a e | cos x|−1 = = | sec x|, podemos tam-
| cos x|
bém escrever Z
tg x = ln | sec x| + C.
208 Matemática Universitária

Teorema 7.4.11: Técnica da Substituição para Integrais Definidas

dg
Suponha que f e g 0 (x) = sejam contínuas, então
dx
Z b Z g(b)
0
f (g(x))g (x) dx = f (u) du.
a g(a)

Demonstração:
Seja F a primitiva de f , então F (g(x)) é a primitiva de f (g(x)).g 0 (x), daí, pelo 2º teorema
fundamental do cálculo, temos
b g(b)
Z b Z g(b)
0
f (g(x))g (x) dx = F (g(x)) = F (g(b)) − F (g(a)) = F (u) = f (u) du.
a g(a)
a g(a)

Z 5√
Exemplo 7.4.12: Vamos calcular 3x + 1 dx.
0
1
Façamos u = 3x + 1, então du = 3 dx e dx = du. Note que, quando x = 0, temos que
3
u = 1 e, quando x = 5, temos que u = 16. Daí,
Z 5√ Z 16 √ Z 16
1 1
3x + 1 dx = u · du = u1/2 du
0 1 3 3 1

16 16
1 u3/2 2
= · = u3/2
3 3 9
1 1
2
2  2
= 163/2 − 13/2 = · 63 = 14.
9 9
5√ Z
Exemplo 7.4.13: No exemplo anterior, 3x + 1 dx é possível resolver primeira-
0

Z
mente a integral indefinida 3x + 1 dx e, depois colocamos os limites de integração.

Façamos u = 3x + 1, temos que du = 3 dx e, portanto,


√ √ 1
Z Z Z
1
3x + 1 dx = u · du = u1/2 du
3 3

1 u3/2 2 2
= · = u3/2 = (3x + 1)3/2 .
3 3 9 9
2
Daí, temos que
5
Z 5√
2
3x + 1 dx = (3x + 1)3/2
0 9
0
2  3/2 3/2
 2
= 16 − 1 = · 63 = 14.
9 9
Renan Lima 209

Exercícios

1. Integre cada uma das funções abaixo.


Z √ Z
7 1
a) x3 dx b) √
3
dx
x
√ √
Z   Z
1
c) x+ 2 dx d) x(1 + x) dx
x

x2 + 3x − 1 1 + cos2 t
Z Z
e) dx f) dt
x3 cos2 t
2. Calcule cada uma das integrais definidas.
Z 5 Z −2
1 1
a) dx b) dx
4 x −3 x
4 π/4
1 + cos2 t
Z Z
1+x
c) √ d) dt
1 x 0 cos2 t
π/4 π/4
1 + cos2 x 1 + sen2 t
Z Z
e) dx f) dt
0 cos2 x 0 cos2 t
3. Determine as integrais indefinidas. Use a técnica da substituição se achar necessá-
rio.

ln2 x
Z Z
a) dx b) cos(2x) dx
x
Z Z p
3x+1
c) e dx d) x 1 − x2 dx
Z √ Z
sen x
e) √ dx f) x(1 + x)100 dx
x
Z Z
1 x
g) dx h) dx
4 + x2 1 + x2
Z Z
x 1
i) dx j) dx
1 + x4 x2 + 2x + 2
Z Z
k) 3x dx l) 3x ex dx

ex
Z Z
2
m) x tg(x ) dx n) dx
1 + e2x
210 Matemática Universitária

Respostas

Exercício 1

3√
7
7 x10 3
a) +C b) x2 + C
10 2
√ √
2 x3 1 2x x(3x + 5)
c) − +C d) +C
3 x 15
3 1
e) ln |x| − + 2 +C f) tg t + t + C
x 2x

Exercício 2
   
5 2
a) ln b) ln
4 3
20 4+π
c) d)
3 4
4+π 8−π
e) f)
4 4

Exercício 3
(ln x)3 sen(2x)
a) +C b) +C
3 2
p
e3x+1 (1 − x2 )3
c) +C d) − +C
3 3
√ (x + 1)102 (x + 1)101
e) −2 cos( x) + C f) − +C
102 101
1 x ln(1 + x2 )
g) · arctg +C h) +C
2 2 2
arctg(x2 )
i) +C j) arctg(x + 1) + C
2
3x 3x ex
k) +C l) +C
ln 3 1 + ln 3
ln | sec(x2 )|
m) +C n) arctg(ex ) + C
2
Renan Lima 211

7.5 Integração por Partes


Vimos na seção anterior que o processo inverso da regra da cadeia é chamada de
técnica da substituição. Nesta seção, vamos estudar o processo inverso da regra do produto
de derivadas, que chamamos de integração por partes.
A ideia da dedução da fórmula é bem simples! Se f, g : [a, b] → R são funções de
classe C 1 , isto é, possuem derivadas contínuas, então a regra do produto diz que

(f · g)0 (x) = f 0 (x) · g(x) + f (x) · g 0 (x).

Observando que f · g é primitiva de (f · g)0 e integrando a igualdade acima, temos


b
Z b Z b
0 0 0
[f (x) · g(x) + f (x) · g (x)] dx = (f · g) (x) dx = f (x)g(x) .
a a
a

Organizando a expressão acima, temos


Z b b Z b
f (x) · g 0 (x) dx = f (x)g(x) − f 0 (x) · g(x) dx.
a a
a

Teorema 7.5.1: Integração por Partes

Sejam f, g funções de classe C 1 , então


Z Z
f (x)g (x) dx = f (x).g(x) − f 0 (x)g(x) dx.
0

Recomendamos a nossa videoaula Introdução a Integração por Partes para verificar


os primeiros exemplos e entender como funcionam as contas.

Se escrevermos u = f (x), v = g(x) e utilizarmos a notação de diferencial du = f 0 (x) dx


e dv = g 0 (x) dx, então a fórmula acima fica
Z Z
u dv = uv − v du.

Z
Exemplo 7.5.2: Para integrar xex dx, devemos utilizar integração por partes. Faça-
mos u = x e dv = ex , temos que
Z u dv u v Z v du
u = x ⇒ du = dx, Daí, x ex dx = x ex − ex dx
v = ex ⇒ dv = ex dx.
= xex − ex + C.

Ao aplicar a integração por partes, deve-se checar que a nova integral seja mais fácil de
resolver que o primeiro caso. No exemplo anterior, se escolhêssemos u = ex e dv = x,
teríamos
v v
u dv u du
u= ex ⇒ du = ex dx, x2 x2 x
Z Z
x x
x2 e x dx = e − e dx.
v= ⇒ dv = xdx. 2 2
2
Neste caso, a nova integral é mais complicada de calcular que a primeira.
212 Matemática Universitária

Z
Exemplo 7.5.3: Vamos calcular x2 cos x dx. Vamos utilizar integração por partes.

Z u dv u v v du
u = x2 ⇒ du = 2x dx,
Z
2 2
x cos x dx = x sen x − sen x · 2x dx.
v = sen x ⇒ dv = cos x dx.
Z
Note que 2x sen x dx não é primitiva elementar, mas aparenta ser uma integral mais
fácil de resolver. Vamos utilizar integração por partes de novo.

Z u dv u v Z v du
u = 2x ⇒ du = 2 dx,
2x sen x dx = 2x (− cos x ) − (− cos x) · 2 dx.
v = − cos x ⇒ dv = sen x dx.
Organizando as contas, temos
Z Z
2x sen x dx = −2x cos x + 2 cos x dx = −2x cos x + 2 sen x + C.

Finalmente, temos que


Z Z 
2 2
x cos x dx = x sen x − 2x sen x dx Note o parênteses

= x2 sen x − (−2x cos x + 2 sen x + C) para não errar o sinal


2
= x sen x + 2x cos x − 2 sen x − C.

A resposta acima está correta, mas, para manter o padrão, pode-se trocar −C por +C.
Z
x2 cos x dx = x2 sen x + 2x cos x − 2 sen x + C.

Z
Exemplo 7.5.4: Para calcular x2 ln x dx, vamos utilizar integração por partes.

1 v v du
u = ln x ⇒ du = dx, u dv u
x3 x3
Z Z
x 1
ln x x2 dx = ln x · − · dx.
x3 3 3 x
v= ⇒ dv = x2 dx.
3

x3 x2 x3 ln x x3
Z Z
Logo x2 ln x dx = ln x − dx = − + C.
3 3 3 9

Para mais exemplos, recomendamos a videoaula Exemplos de Integração por Partes.


Z
Exemplo 7.5.5: Vamos calcular arctg x dx. A ideia é derivar arctg x.
du
1 u dv u v Z v
u = arctg x ⇒ du = dx,
Z
1
1 + x2 arctg x dx = arctg x · x − x· dx.
1 + x2
v=x ⇒ dv = dx.
Z
x
Para a integral dx, usamos a substituição u = 1 + x2 e, portanto, du = 2x dx.
1 + x2
Daí,
ln |u| ln(1 + x2 )
Z Z
x 1
dx = du = + C = + C.
1 + x2 2u 2 2
Renan Lima 213

É interessante notar que 1 + x2 > 0 para todo x e, por isso, |1 + x2 | = 1 + x2 . Logo

ln(1 + x2 )
Z Z
x
arctg x dx = x arctg x − dx = x arctg x − − C.
1 + x2 2
A resposta acima está correta, mas é comum colocar como resposta final

ln(1 + x2 )
Z
arctg x dx = x arctg x − + C.
2

O último estilo de exemplo é quando a nova integral é parecida com o primeiro.


Z
Exemplo 7.5.6: Vamos calcular e2x sen x dx com a integração por partes.

u dv u v v du
u = e2x ⇒ du = 2e2x dx, Z Z
2x 2x 2x
e sen x dx = e · (− cos x) − (− cos x) · 2e dx.
v = − cos x ⇒ dv = sen x dx.

Z Z
2x 2x
Melhorando a expressão acima, temos e sen x dx = −e cos x + 2 e2x cos x dx.
Vamos utilizar integração por partes de novo.

u dv u v v du
u = e2x ⇒ du = 2e2x dx, Z Z
2x 2x 2x
e cos x dx = e · sen x − sen x · 2e dx.
v = sen x ⇒ dv = cos x dx.

Z
Para facilitar a visualização, denote I = e2x sen x dx. Temos então

Z Z 
2x 2x 2x
I= e sen x dx = −e cos x + 2 cos x dx e

= −e2x cos x + 2 e2x sen x − 2I = −e2x cos x + 2e2x sen x − 4I




Logo I = −e2x cos x + 2e2x sen x − 4I. Isolando o I, temos

5I = −e2x cos x + 2e2x sen x.

−e2x cos x + 2e2x sen x


E, portanto, I = + C.
5
Z
ln x
Exemplo 7.5.7: Vimos no exemplo 7.4.8 como calcular dx usando a substituição
x
u = ln x. Vamos resolvê-la utilizando integração por partes.
1 dv du
u = ln x ⇒ du = dx, Z u u v Z v
x 1 1
1 ln x dx = ln x · ln x − ln x · dx
v = ln x ⇒ dv = dx. x x
x
Z
ln x
Façamos I = dx e, portanto, I = ln2 x − I. Isolando o I e não esquecendo de
x
colocarmos +C na resposta final, concluímos que

ln2 x
Z
ln x
dx = I = + C.
x 2
214 Matemática Universitária

Exercícios

1. Integre cada uma das funções a seguir.


Z Z
a) x cos x dx b) x2 cos x dx
Z Z
c) x sen(2x) dx d) ln(1 + x) dx
Z Z
e) ln(3x + 2) dx f) (ln x)2 dx
Z Z
x
g) e cos x dx h) e3x sen x dx
Z Z
3x
i) e sen 2x dx j) xex cos x dx


Z Z
x
k) cos(ln x) dx l) e dx

2. Calcule as integrais definidas.

2
1 e Z π
4 cos √x dx
Z Z
a) xe−x dx b) ln x dx c)
0 1 0

Z 1 Z π Z e2
d) x2 arctg x dx e) 3 cos(3x) · cos(4x) dx f) (ln x)3 dx
0 0 1

Respostas

Exercício 1

a) x sen x + cos x + C b) (x2 − 2) sen x + 2x cos x + C


sen(2x) − 2x cos(2x)
c) +C d) (x + 1) ln(1 + x) − x + C
4
(3x + 2) ln(3x + 2)
e) −x+C f) x((ln x)2 − 2 ln x + 2) + C
3
ex sen x + ex cos x 3e3x sen x − e3x cos x
g) +C h) +C
2 10
3e3x sen(2x) − 2e3x cos(2x) (x − 1)ex sen x + xex cos x
i) +C j) +C
13 2
x sen(ln x) + x cos(ln x) √ √
k) +C l) 2( x − 1)e x + C
2

Exercício 2
e−2
a) b) 1 c) π − 2
e

π − 2 + 2 ln 2 2 3
d) e) f) 6 + 2e2
12 7
Renan Lima 215

7.6 Integração de Funções Trigonométricas

Como as funções trigonométricas possuem muitas fórmulas de simetrias, é natural


que, ao integrarmos funções que sejam multiplicação de funções trigonométricas, exis-
tirem várias formas de se resolver a integral. Para relembrarmos de algumas fórmulas,
sugerimos a nossa videoaula [Revisão] - Fórmulas Trigonométricas.

Fórmulas Trigonométricas com Senos e Cossenos

sen(α ± β) = sen α cos β ± sen β cos α cos(α ± β) = cos α cos β ∓ sen α sen β

sen 2x = 2 sen x cos x cos 2x = 2 cos2 x − 1 = 1 − 2 sen2 x

(sen kx)0 = k cos kx (cos kx)0 = −k sen kx


Z Z
cos(kx) sen(kx)
sen(kx) dx = − +C cos(kx) dx = +C
k k

sen(α + β) + sen(α − β) = 2 sen α cos β cos(α + β) + cos(α − β) = 2 cos α cos β

sen(α + β) − sen(α − β) = 2 sen β cos α cos(α + β) − cos(α − β) = −2 sen α sen β

Sugerimos que as fórmulas de prostaférese sempre sejam deduzidas, pois são fórmu-
las fáceis de se errar o sinal. Por exemplo, no primeiro quadro, temos duas fórmulas
compactadas, a saber

sen(α + β) = sen α cos β + sen β cos α, (1)


sen(α − β) = sen α cos β − sen β cos α. (2)

Somando as equações (1) e (2), temos que

sen(α + β) + sen(α − β) = 2 sen α cos β.

Da mesma forma, subtraindo as equações (1) e (2), temos

sen(α + β) − sen(α − β) = 2 sen β cos α.

Para resolução de várias integrais, recomendamos a videoaula Integração de Funções


Trigonométricas - Senos e Cossenos. Vamos resolver alguns exemplos para entendermos
o procedimento.
Z
Exemplo 7.6.1: Vamos calcular cos3 x dx.

Escreva cos3 x = cos2 x · cos x = (1 − sen2 ) · cos x e faça a substituição u = sen x, então
du = cos x dx. Daí,
Z Z Z
cos x dx = (1 − sen x) cos x dx = (1 − u2 ) du
3 2

u3 sen3 x
=u− + C = sen x − + C.
3 3
216 Matemática Universitária

Avisamos que é possível calcular a integral acima por partes. Mais precisamente,

u = cos2 x ⇒ du = −2 sen x cos x dx,

v = sen x ⇒ dv = cos x dx.

Z u dv u v Z v du
2 2
cos x cos xdx = cos x · sen x − sen x · (−2 sen x cos x) dx
Z
= cos2 x · sen x + 2 sen2 x cos x dx.

Façamos I = cos3 x e utilizamos a fórmula sen2 x = 1 − cos2 x, temos que


Z Z
2 2 2
I = cos x · sen x + 2 (1 − cos x) cos x dx = cos x · sen x + 2 cos x dx − 2I.

Concluímos daí que Z


2
3I = cos x · sen x + 2 cos x dx.

Isso mostra que


cos2 x · sen x 2 sen x
I= + + C.
3 3

Exemplo 7.6.2: Dado n ≥ 2, a fórmula de recorrência das integrais de potências de


seno é dada pela seguinte fórmula

(sen x)n−1 cos x n − 1


Z Z
n
sen x dx = − + (sen x)n−2 dx.
n n
A demonstração deste resultado é via integração por partes.

u = senn−1 x ⇒ du = (n − 1)(sen x)n−2 cos x dx,

v = − cos x ⇒ dv = sen x dx.

Z u dv u v Z v du
n−1 n−1
sen x sen x dx = sen x · (− cos x) −(− cos x) · (n − 1)(sen x)n−2 cos x dx
Z
n−1
= −(sen x) · cos x + (n − 1) (sen x)n−2 cos2 x dx.
Z
Daí, utilizando que cos2 x =1− sen2 x e escrevendo In = senn x dx, temos

In = −(sen x)n−1 cos x + (n − 1)(In−2 − In ).

Reorganizando as contas acima, temos que

nIn = −(sen x)n−1 cos x + (n − 1)In−2 .

Concluímos que

(sen x)n−1 cos x n − 1


Z
In = − + (sen x)n−2 dx.
n n
Renan Lima 217

Z
Exemplo 7.6.3: Para calcular a integral de sen2 x dx, basta utilizar a fórmula acima
para n = 2. Temos, portanto,

− sen x cos x 1
Z Z
2
sen x dx = + 1 dx
2 2
− sen x cos x + x
= + C.
2

Um método alternativo para a resolução da integral deste exemplo é utilizar a fórmula


1 − cos 2x
cos 2x = 1 − 2 sen2 x e, portanto, sen2 x = . Daí,
2
Z Z  
1 cos 2x x sen 2x
sen2 x dx = − dx = − + C.
2 2 2 4
Z
Exemplo 7.6.4: Vamos calcular sen6 x dx, com a fórmula de recorrência acima.

(sen x)5 cos x 5


Z Z
6
sen x dx = − + sen4 x dx
6 6
(sen x)5 cos x 5 (sen x)3 cos x 3
 Z 
=− + − + (sen2 x) dx
6 6 4 4
5 3
sen x cos x 5 sen x cos x 5
Z
=− − + sen2 x dx
6 24 8
sen5 x cos x 5 sen3 x cos x 5 sen x cos x 5x
=− − − + + C.
6 24 16 16
Z
Exemplo 7.6.5: Para integrarmos sen(5x) cos(4x) dx, utilizamos a fórmula de pros-
sen(9x) + sen(x)
taférese que diz que sen(5x) cos(4x) = . Daí, temos
2
Z Z  
sen(9x) + (sen x)
sen(5x) cos(4x) dx = dx
2
 
1 cos 9x cos 9x cos x
= − − cos x + C = − − + C.
2 9 18 2

Também é possívelZ resolvermos a integral acima utilizando partes, nos mesmos mol-
des que a integral e2x sen x dx, vista no exemplo 7.5.6.

Outras integrais com bastante simetrias são do tipo tg x e sec x. Sugerimos decorar as
seguintes fórmulas:

sec2 x = 1 + tg2 x,
Z
sec2 x dx = tg x + C,
Z
sec x dx = ln | sec x + tg x| + C.

Recomendamos as videoaulas Integrais de Funções Trigonométricas - Função Secante


e Integrais de Funções Trigonométricas - Função Tangente para entender melhor
Z os pro-
cedimentos adotados. Na videoaula, explicamos a dedução da fórmula de sec x dx.
218 Matemática Universitária

Z
Exemplo 7.6.6: Considere secn x dx com n > 2. Temos que

u = secn−2 x ⇒ du = (n − 2)(sec x)n−3 · (sec x · tg x) dx,

v = tg x ⇒ dv = sec2 x dx.

Z u dv u v Z v du
n−2 2 n−2
sec x sec x dx = sec tg x · (n − 2)(sec x)n−2 · tg x dx
x · tg x −
Z
= (sec x)n−2 · tg x − (n − 2) (sec x)n−2 · tg2 x dx.
Z
Daí, utilizando que tg2 x = sec2 x − 1 e escrevendo In = secn x dx, temos

In = (sec x)n−2 · tg x − (n − 2)(In − In−2 ).

Reorganizando as contas acima, temos que

(n − 1)In = (sec x)n−2 · tg x + (n − 2)In−2 .

Concluímos que

(sec x)n−2 · tg x n − 2
Z
In = + (sec x)n−2 dx.
n−1 n−1
Z
Exemplo 7.6.7: Para resolvermos sec3 x dx, vamos utilizar fórmula de recorrência
acima para n = 3,

sec x · tg x 1
Z Z
sec3 x dx = + sec x dx
2 2
sec x · tg x 1
= + ln | sec x + tg x| + C.
2 2
Z
Exemplo 7.6.8: Vamos resolver sec4 x dx de duas formas distintas; a primeira forma
é utilizarmos a fórmula de recorrência acima para n = 4,

sec2 x · tg x 2
Z Z
4
sec x dx = + sec2 x dx
3 3
sec2 x · tg x 2 tg x
= + + C.
3 3
A segunda resolução é utilizar a igualdade sec2 x = tg2 x + 1 e fazer a substituição
u = tg x, daí, du = sec2 x dx e, portanto,
Z Z Z
sec4 x dx = sec2 x sec2 xdx = (tg2 x + 1) · sec2 x dx

u3 tg3 x
Z
u2 + 1 du =

= +u+C = + tg x + C.
3 3

Finalmente, para integrar as funções em que aparecem tangentes, em geral, utiliza-


sen x
mos uma das transformações tg x = ou tg2 x = sec2 x − 1.
cos x
Renan Lima 219

Z Z
Exemplo 7.6.9: No exemplo 7.4.10, fizemos tg x dx. Vamos agora fazer tg3 x dx.

sen3 x sen2 x
Z Z Z
3
tg x dx = dx = sen x dx
cos3 x cos3 x
1 − cos2 x
Z
= · sen x dx.
cos3 x
Façamos a substituição u = cos x e, portanto, du = − sen x dx. Daí,

1 − u2
Z 2
u −1
Z Z
3
tg x dx = 3
(−du) = du
u u3
Z  
1 1 1
= − 3 du = ln |u| + 2 + C
u u 2u
1 sec2 x
= ln | cos x| + + C = ln | cos x| + + C.
2 cos2 x 2
Z
A dedução da fórmula de recorrência de tgn x dx é um pouco mais simples quando
comparada com as fórmulas de recorrência das potências de seno e das potências de
secante.
Z
Exemplo 7.6.10: Seja In = tgn x dx, em que n ≥ 2. Temos, portanto,
Z Z Z
n n−2 2
In = tg x dx = tg x · tg x d = tgn−2 x · (sec2 x − 1) dx
Z Z
n−2 2
= tg x sec x dx − tgn−2 x dx
Z
= tgn−2 x sec2 x dx − In−2 .

Para resolvermos a integral que falta, façamos u = tg x, então du = sec2 x dx. Daí,

un−1
Z Z
tgn−2 x sec2 x dx = un−2 du = +C
n−1
tgn−1 x
= + C.
n−1
Concluimos, portanto, a fórmula de recorrência

tgn−1 x
Z Z
n
tg x dx = − tgn−2 x dx.
n−1
220 Matemática Universitária

Exercícios

1. Calcule as integrais das funções trigonométricas abaixo.


Z Z
2
a) sen (3x) dx b) cos4 x dx
Z Z
2
c) cos x sen x dx d) sen2 x cos2 x dx
Z Z
2
e) cos 2x sen x dx f) sen5 x cos4 x dx
Z Z
g) tg2 x sec x dx h) tg x sec2 x dx
Z Z
sec x
i) tg3 x sec2 x dx j) dx
tg2 x

2. Mostre a seguinte fórmula de recorrência para os cossenos

cosn−1 x · sen x n − 1
Z Z
cosn x dx = + cosn−2 x dx.
n n

3. Sejam m, n números inteiros não nulos, mostre as seguintes igualdades.


Z π
a) cos(mx) · cos(nx) dx = 0, se n 6= m.
−π
Z π
b) sen(mx) · sen(nx) dx = 0, se n 6= m.
−π
Z π
c) cos(mx) · cos(nx) dx = π, se n = m.
−π
Z π
d) sen(mx) · sen(nx) dx = π, se n = m.
−π
Z π
e) sen(mx) · cos(nx) dx = 0, para todo n, m ∈ N.
−π

Respostas

Exercício 1
x sen(6x) 3x sen(2x) sen(4x)
a) − +C b) + + +C
2 12 8 4 32
(sen x)3 x sen(4x)
c) +C d) − +C
3 8 32
−x sen(2x) sen(4x) (cos x)9 2(cos x)7 (cos x)5
e) + − +C f) − + − +C
4 4 16 9 7 5
(sec x) tg x − ln | sec x + tg x| (tg x)2
g) +C h) +C
2 2
(tg x)4
i) +C j) − cossec(x) + C
4
Renan Lima 221

7.7 Soma de Riemann e Aplicações na Geometria

Vimos na seção 2.2 a importante soma de áreas de retângulos de bases infinitesimais


para o cálculo de área em regiões mais gerais. Esse pensamento foi simplesmente revolu-
cionário e algumas adaptações dessa ideia geram aplicações muito interessantes. Come-
çamos, portanto, revisitando a soma de áreas de retângulos e a formulação de Riemann
para uma função integrável.
Considere f : [a, b] → R uma função real limitada, isto é, o gráfico de f está contido
em algum retângulo. Dividimos o intervalo [a, b] em n pedaços iguais. Mais precisa-
mente, considere uma partição

P = {x0 = a, x1 , x2 , · · · , xn−1 , xn = b}

i
de n + 1 pontos, com xi = a + (b − a) para i = 0, 1, 2, . . . , n. Para cada i, escolha
n
ci ∈ [xi−1 , xi ] e tome ∆xi = xi+1 − xi . Finalmente, considere a soma
n
X (f (c1 ) + . . . + f (cn ))(b − a)
f (ci )∆xi = f (c1 )∆x1 + f (c2 )∆x2 + . . . + f (cn )∆xn = .
n
i=1

Definição 7.7.1: Integral de Riemann


n
X
Dizemos que f é integrável em [a, b] se lim f (ci )∆xi existe e possui o mesmo
n→+∞
i=1
valor independentemente da escolha de ci . Nesse caso, denotamos,
Z b n
X
f (x) dx = lim f (ci )∆xi .
a n→+∞
i=1

A definição de soma de Riemann é complicada e é bastante trabalhoso demonstrar,


via definição, se uma determinada função é integrável ou não. Discutiremos melhor essa
parte técnica na seção 9.6. Precisamos apenas de um resultado básico.

Teorema 7.7.2: Integrabilidade de Funções Contínuas

Toda função contínua em [a, b] é integrável.

Do ponto de vista teórico, é interessante permitir que os comprimentos ∆x1 , . . . ∆xn


não sejam necessariamente de mesmo tamanho. Caso exigíssemos o mesmo compri-
mento, teríamos dificuldades técnicas em demonstrar que
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx,
a a c

em que c é um ponto qualquer do intervalo (a, b). Lembremos que precisamos desse
resultado para o teorema fundamental do cálculo. Em contrapartida, com a flexibiliza-
ção do tamanho dos intervalos, a definição de soma de Riemann fica um pouco mais
sobrecarregada.
222 Matemática Universitária

A importância geométrica da soma de Riemann é que ela é uma excelente aproxima-


ção da área sob o gráfico de uma função à medida que o termo ∆x for suficientemente
pequeno. Além disso, as "medidas"f (x) e dx podem ser pensadasR como as medidas da
altura e da base, respectivamente, de um retângulo e o símbolo pode ser pensado como
um somatório. As figuras abaixo nos fornecem a ideia de aproximação da área.

y y y

y = f (x) y = f (x) y = f (x)

x x x

(a) Área que queremos calcular. (b) Subdivisão em 4 retângulos. (c) Subdivisão em 8 retângulos.
y y

y = f (x) y = f (x)

f (x)
x x
dx
(d) Subdivisão em 64 retângulos. (e) O retângulo infinitesimal.

Modificando um pouco a integral de Riemann, podemos ter aplicações geométricas


bem interessantes. Imagine um retângulo ABCD dentro do espaço e o rotacione em torno
do eixo AB. A figura gerada será um cilindro e é fácil calcular o seu volume. Para quem
tiver dificuldade em visualizar, sugerimos as figuras abaixo.

B B B B

A A A A

B B B

A A A

Figura 7.8: O retângulo ao ser rotacionado gera o cilindro de altura igual o segmento AB.
Renan Lima 223

Para uma exposição do cálculo de volume de sólidos de revolução, recomendamos a


videoaula Volume de Sólidos de Revolução - Método dos Discos Cilíndricos. Considere
uma função f : [a, b] → R contínua com f ≥ 0. Desejamos calcular o volume do sólido
de revolução do gráfico da f em torno do eixo x. Ver figuras abaixo.
y y

y = f (x) y = f (x)

x x

Figura 7.9: O sólido obtido pela revolução do gráfico de f .

Para encontrarmos o volume, considere o retângulo de base infinitesimal dx e altura


f (x). Rotacionando este retângulo em torno do eixo x, ele se transforma em um cilindro
de altura dx e raio f (x).
y y

y = f (x) y = f (x)
f (x)

f (x)

x x
dx

dx

Figura 7.10: O retângulo infinitesimal se transformando em cilindro.

Como o volume de um cilindro de altura h e raio r é dada por πr2 h, então o volume
do cilindro da figura acima é dada por πf (x)2 dx. A mesma ideia de soma de área de
retângulos para encontrar a área sob o gráfico funciona para a soma dos volumes dos
cilindros para encontrarmos o volume do sólido de revolução e não é difícil de concluir
Z b
que o volume do sólido de revolução é dado por π [f (x)]2 dx.
a

y y y

y = f (x) y = f (x) y = f (x)

x x x

(a) 4 cilindros (b) 12 cilindros (c) 20 cilindros


224 Matemática Universitária

Pensando em soma de Riemann, considere P = {x0 = a, x1 , · · · , xn−1 , xn = b} parti-


ção do intervalo [a, b] em n pedaços iguais e escolha ci = xi . Considere o cilindro obtido
pela revolução de um retângulo em torno do eixo x de largura ∆xi e altura f (ci ). Temos
que o volume deste cilindro é dado por π[f (ci )]2 ∆xi . Somando o volume de todos os
n
X
cilindros, temos que π [f (ci )]2 ∆xi . Pela mesma explicação dada acima, a soma de Ri-
i=1
emann acima converge para o volume do sólido de revolução do gráfico da f em torno
do eixo x e temos, portanto,
Z b
V =π [f (x)]2 dx.
a

Exemplo 7.7.3: Para calcularmos o volume V da região do interior da esfera de raio R,


lembremos, da geometria analítica, que a equação do círculo de centro (0, 0) e raio R é
dada pela equação x2 + 2 2
py = R . Em particular, a parte de cima do círculo é o gráfico
da função f (x) = y = R2 − x2 .
y y
p p
f (x) = R 2 − x2 f (x) = R 2 − x2

x x
−R R −R R

Figura 7.11: A esfera é gerada pela rotação do semicículo em torno do eixo x.

A esfera de raio R é o sólido de revolução do gráfico de f (x) em torno do eixo x e,


portanto,
Z R Z R
2
V =π [f (x)] dx = π (R2 − x2 ) dx
−R −R
R
x3 R3 R3 4πR3
     
2 3 3 .
=π R x− =π R − − −R + =
3 3 3 3
−R

Exemplo 7.7.4: O volume V do cone reto de altura h e raio da base r pode ser encon-
trado pela rotação da reta f (x) = ax com 0 ≤ x ≤ h, com um parâmetro a adequado,
de modo que o sólido obtido pela revolução do gráfico de f em torno do eixo x seja
um cone de altura h e base r.
y y
f (x) = ax f (x) = ax

ah = r ah = r

x x
h h

Figura 7.12: A geratriz do cone é a reta f (x) = ax.


Renan Lima 225

r
Deve-se exigir que f (h) = ah = r e, portanto, a = . O volume V do cone é dado por
h
h
h
r 2 x3 r 2 h3 πr2 h
Z  
rx 2
V =π dx = π =π = .
0 h 3h2 3h2 3
0

É possível fazer várias modificações do problema de volumes de sólido de revolução.


Para volumes de sólido de revolução em uma região entre dois gráficos, recomendamos
a videoaula Volume de Sólido de Revolução - Parte 2. Para a troca do eixo de rotação
para outras retas, sugerimos a videoaula Volume de Sólido de Revolução - Parte 3.
O cálculo de volume e de área não são as únicas aplicações geométricas de integral.
Seja f : [a, b] → R uma função de classe C 1 e desejamos encontrar o comprimento da
curva dada pelo gráfico da função f . Sugerimos a videoaula Comprimento de Arco.
y
y = f (x)

Figura 7.13: A curva que queremos encontrar o comprimento.

A ideia para encontrar o comprimento da curva é dividir a curva em pedaços peque-


nos e aproximamos estes pedaços por segmentos de retas e somamos os comprimentos
dos segmentos de reta. As figuras abaixo ilustram a ideia.

y y b
y
b

y = f (x) P1 y = f (x) P1 y = f (x)


b

P2
b b b

b
b b
P0 P0 b
P0 b

b
P2 P3
b
P2 b P5 P7
b P3
b
P7 P10
b

P1 P6 b

b P4 b b

P4 P5 P8
P3 b

P6 b

P9
x x x
x0 x1 x2 x3 x0 x1 x2 x3 x4 x5 x6 x 7 x0 x1 x2 x3 x4 x5 x6 x7 x8 x9 x10
(a) 3 segmentos. (b) 7 segmentos. (c) 10 segmentos.
y y
b b

b
b
y = f (x) y = f (x)
b
b

b
b b
b
b

b b
b
b
b b
b

b b

x x

(d) 20 segmentos. (e) 50 segmentos.

Figura 7.14: Em geral, softwares de plotagem de gráficos utilizam entre 50 a 500 segmentos.
226 Matemática Universitária

À medida que subdividimos em segmentos menores espera-se que as aproximações


fiquem cada vez mais precisas de modo que, em um processo limite, encontremos o com-
primento da curva.
Seja, portanto, P = {a = x0 , x1 , · · · , xn = b} uma partição de [a, b] em n pedaços
iguais. Sejam Pi = (xi , f (xi )) pontos do gráfico da curva. Temos que o comprimento
Ci = Pi−1 Pi é dado por
p p
Ci = (xi − xi−1 )2 + (f (xi ) − f (xi−1 ))2 = (∆xi )2 + (f (xi ) − f (xi−1 ))2 .
A soma dos comprimentos é dada por
n
X n p
X
Ci = (∆xi )2 + (f (xi ) − f (xi−1 )2 .
i=1 i=1

Para transformar a soma acima em uma soma de Riemann, utilizaremos o teorema do


valor médio 7.2.12 que diz que para cada i, existe ci ∈ (xi−1 , xi ) tal que
f (xi ) − f (xi−1 ) = f 0 (ci )(xi − xi−1 ) = f 0 (ci )∆xi .
Daí,
n
X n p
X n p
X
Ci = (∆xi )2 + (f 0 (ci )∆xi )2 = 1 + [f 0 (ci )]2 ∆xi .
i=1 i=1 i=1
Finalmente, o comprimento da curva é dado por
n p
X Z bp
C = lim 1 + f 0 (ci )2 ∆xi = 1 + [f 0 (x)]2 dx.
n→∞ a
i=1

Transformamos um problema de calcular comprimento em um problema de integração.


Em geral, é bastante complicado integrar a função e será necessário calcular a integral
por métodos numéricos. Por exemplo, se desejamos encontrar o comprimento do gráfico
do seno de x = 0 até x = 2π, devemos calcular a integral
Z 2π p
C= 1 + (cos x)2 dx.
0
Há métodos numéricos para integração muito mais eficazes que calcular via soma de
Riemann, então é um problema resolvível. Utilizando o software Geogebra, encontramos
o valor C ' 3, 8202.
Uma outra aplicação de integral é o cálculo da área lateral de uma superfície de re-
volução. Para encontrarmos a fórmula, precisamos de um resultado bem específico de
geometria espacial que se considerarmos o tronco circular reto de raio maior R, raio me-
(r + R)
nor r e segmento lateral L, então a sua área lateral é dada pela fórmula 2πL .
2

L
R


r

Figura 7.15: Tronco circular reto de segmento lateral L e de raios de tamanho r e R.


Renan Lima 227

A dedução desta fórmula de área lateral pode ser encontrada no final da videoaula
r+R
Área Lateral de Sólido de Revolução. O motivo de escrevermos r̄ = é que o seg-
2
mento r̄ é o raio do círculo do meio do tronco.
Seja f : [a, b] → R uma função de classe C 1 e seja S a superfície de revolução obtida
pelo rotação do gráfico de f em torno do eixo x. Desejamos encontrar a fórmula de área
lateral dessa superfície.
Faremos a aproximação do gráfico de f por segmentos Pi−1 Pi , conforme feito no com-
primento de arco e rotacionamos Pi−1 Pi , obtendo vários troncos circulares retos. Calcu-
laremos a soma das áreas laterais desses troncos.
y y
y = f (x)
b
b

P0 b P3
b

P2
P1

x x

(a) 3 segmentos. (b) Rotação de 3 segmentos.


y y y
b
y = f (x)
b P1 b
b

P0 b P7
b
P2 b P5
P4 b
P3
P6
x x x

(c) 7 segmentos. (d) Rotação de 7 segmentos. (e) Rotação de 20 segmentos.

Figura 7.16: Quanto mais segmentos traçados, melhor é a aproximação para a área lateral.

Seja, portanto, P = {a = x0 , x1 , · · · , xn = b} uma partição de [a, b] em n pedaços


iguais. Seja Pi = (xi , f (xi )) pontos do gráfico da curva. Vimos na dedução da fórmula
de comprimento de arco que existe ci ∈ (xi−1 , xi ) tal que o comprimento Li de Pi−1 Pi é
dado por p
Li = 1 + [f 0 (ci )]2 ∆xi .
f (xi−1 ) + f (xi )
A área lateral do tronco gerado pelo segmento Pi−1 Pi é dada por 2πLi
2
e, como f é contínua, pelo teorema do valor intermediário 7.2.5, existe di ∈ (xi−1 , xi ) tal
f (xi−1 ) + f (xi )
que f (di ) = . Finalmente, temos que a soma das áreas dos troncos é dada
2
por
n n
X f (xi−1 ) + f (xi ) X p
2πLi = 2π f (di ) 1 + [f 0 (ci )]2 ∆xi .
2
i=1 i=1

Apesar de a soma acima não ser uma soma de Riemann (pois há ci e di na soma
Z b p
acima), é razoável esperar que a soma acima convirja para 2π f (x) 1 + [f 0 (x)]2 dx.
a
228 Matemática Universitária

Infelizmente, há uma pequena imprecisão na parte do razoável e na verdade a área


lateral de uma superfície arbitrária tem que ser colocado como definição e depois verificar
se não há inconsistências com as fórmulas de áreas de superfícies conhecidas.

Definição 7.7.5: Área Lateral de Sólido de Revolução

Se f for uma função de classe C 1 e não-negativa em [a, b], então a área da superfície
de revolução gerada pela rotação do gráfico de f entre x = a e x = b em torno do
eixo x é dada por
Z b p
S = 2π f (x) 1 + [f 0 (x)]2 dx.
a

Exemplo 7.7.6: Vamos calcular a área da superfície da esfera


√ de raio R. Lembremos
que a superfície pode ser gerada pelo gráfico de f (x) = R − x2 em torno do eixo x.
2

x x2
Como f 0 (x) = − √ , temos que (f 0 (x))2 = 2 e, portanto,
R 2 − x2 R − x2

x2 R2 R2
1 + (f 0 (x))2 = 1 + = = .
R 2 − x2 R 2 − x2 f (x)2

Logo temos que


s
R R
R2
Z p Z
S = 2π 0 2
f (x) 1 + (f (x)) dx = 2π f (x) dx
−R −R f (x)2
Z R
= 2π R dx = 4πR2 .
−R

n
X p
É possível mostrar que a soma 2π f (di ) 1 + [f 0 (ci )]2 ∆xi converge para o mesmo
i=1
valor independentemente das escolhas de ci , di ∈ (xi−1 , xi ). Este resultado é demons-
trado no teorema 9.6.9. Mesmo mostrando este resultado, ainda sim, não é possível
deduzir com o devido rigor o conceito de área lateral e devemos se contentar com a
expressão é razoável.
Em cursos mais avançados de integral, é possível expor a área lateral de uma superfície
de revolução de forma rigorosa com o conceito de integral de superfície.

Finalizamos a seção recomendando dois vídeos Volume de Sólido - Método das Cas-
cas Cilíndricas e também Exemplos de Volumes de Sólidos de Revolução com Cascas
Cilíndricas.
Renan Lima 229

Exercícios

1. Calcule a área da região definida abaixo.


π
a) A região limitada pelos gráficos de f (x) = sen x e g(x) = cos x com 0 ≤ x ≤ .
4
b) A região limitada por f (x) = x3 − 2x2 + x + 2 e pela reta tangente ao gráfico da
função f em x = 0.

2. Calcule o volume do sólido de revolução em torno do eixo x das regiões abaixo.


a) Da região limitada por y = x2 e y = 0, com 1 ≤ x ≤ 2.
b) Da região limitada por y = sen x e y = 0, com 0 ≤ x ≤ π.
c) Da região limitada por y = x2 e y = 4.

d) y = x − 2 com 2 ≤ x ≤ 4 e y ≥ 0.
π
e) Da região limitada por f (x) = sen x, g(x) = cos x com 0 ≤ x ≤ .
4

ex + e−x
3. Calcule o comprimento de arco do gráfico de cosh x = com 0 ≤ x ≤ 2.
2

4. Calcule, utilizandos as fórmulas de integral desta seção, a área lateral do cone cir-
cular reto de raio r e altura h.

5. Calcule a área lateral do sólido de revolução obtido pela rotação em torno do eixo
x da região abaixo do gráfico de y = x3 , com 0 ≤ x ≤ 1.

Respostas

Exercício 1
√ 4
a) 2−1 b)
3
Exercício 2
31π π2 256π π
a) b) c) d) 2π e)
5 2 5 2
Exercício 3
e2 − e−2
2
Exercício 4
p
πr h2 + r2

Exercício 5

(10 10 − 1)π
27
230 Matemática Universitária

7.8 Aplicações de Integral na Física

Na seção 2.2, vimos uma aplicação de integral para descrever a equação do movi-
mento retilíneo e, em particular, vimos no exemplo 2.3.11 da seção 2.3 que a equação
at2
geral do movimento retilíneo uniformemente acelerado é dada por s(t) = s0 + v0 t + .
2
Veremos, nesta seção, outras aplicações e a importância em visualizar as somas infi-
nitesimais. Um dos conceitos bastante utilizado na física é o conceito de trabalho.

Definição 7.8.1: Trabalho

Se uma força constante de magnitude F for aplicada na direção e sentido do movi-


mento de um objeto e se este objeto se desloca uma distância d, definimos o trabalho
W realiza pela força sobre o objeto como sendo
W = F · d.
Se uma força constante de magnitude F for aplicada na mesma direção, mas em
sentido contrário ao movimento de um objeto e este objeto se desloca uma distância
d, definimos o trabalho W realizado pela força sobre o objeto como sendo
W = −F · d.

Como o sinal do trabalho depende se a força está freando ou acelerando o objeto é,


muitas vezes, interessante utilizar a linguagem vetorial.
~v ~v

F~ F~

(a) Trabalho W > 0 (b) Trabalho W < 0.

Figura 7.17: A força está acelerando o descolamento em (a) e freando em (b).

Em geral, a força não é constante e, neste sentido, precisamos estender o conceito de


trabalho para forças mais gerais. Pedimos para que o leitor tenha em mente a Lei de
Hooke: F~ = −kx · x̂ para força massa mola, em que o nosso referencial está centrado
no ponto de equilíbrio da mola. O sinal de negativo diz que a força da mola é sempre
restauradora, apontando sempre para o ponto de equilíbrio.

O
F~ x̂

O
x>0

F~

O
x<0
Figura 7.18: A força que a mola exerce sobre o bloco sempre aponta para o centro.
Renan Lima 231

Nesta seção, estudaremos o conceito de trabalho apenas para partículas em movi-


mento unidimensional. Para o cálculo de trabalho de partícula em movimento bidimen-
sional, é necessário o conhecimento de integral de linha que costuma ser ministrada em
cursos de cálculo mais avançados.

Definição 7.8.2: Forças Conservativas

Em um movimento unidimensional, dizemos que uma força F~ é conservativa, se ela


depende apenas da posição da partícula. Mais precisamente, se F~ (x) = F (x) · x̂

Com um referencial fixado (e portanto com um sistema de coordenadas), suponha


que um objeto seja submetido a uma força F~ (x) = F (x) · x̂. Suponha, para simplificar
as ideias, que F~ (x) aponta para a mesma direção e sentido do movimento e desejamos
calcular o trabalho W = Wa→b realizado por essa força sobre o objeto, quando este se
move de x = a até x = b.
Subdividiremos o intervalo [a, b] em pequenos pedaços de tal modo que a força apli-
cada a este objeto pode ser pensada como constante. Seja P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b}
partição de [a, b] em n pedaços iguais e seja ci ∈ (xi−1 , xi ) um representante de tal modo
que Wxi−1 →xi = F (ci )∆xi . Temos que

Wa→b = Wx0 →x1 + Wx1 →x2 + . . . + Wxn−2 →xn−1 + Wxn−1 →xn


Xn Xn
= Wxi−1 →xi = F (ci )∆xi .
i=1 i=1

Fazendo o limite, temos, portanto,


Z b
Wa→b = F (x) dx.
a

Exemplo 7.8.3: No nosso exemplo da figura de massa mola, o trabalho realizado pela
força F (x) = −kx · x̂ para deslocar de b até 0 é dado por
0
0
x2 kb2
Z
Wb→0 = −kx dx = −k · = .
b 2 2
b

O trabalho realizado por esta mesma força para deslocar de x = 0 até x = b é dado por
b
kb2
Z
W0→b = −kx dx = − .
0 2

Logo, temos que W0→b + Wb→0 = 0, como era de se esperar!

Exemplo 7.8.4: Pela 3ª Lei de Newton, temos que F~Res = m · ~a(t). No caso do movi-
mento unidimensional, que tem apenas a componente horizontal, temos que F~Res =
FRes · x̂.
Vamos calcular o trabalho realizado pela força resultante de uma partícula se movendo
em linha reta com equação do movimento s(t), s(t0 ) = a e s(tf ) = b e na integral
232 Matemática Universitária

abaixo, faremos a mudança de variável x = s(t), então dx = s0 (t) dt = v(t) dt. Daí,
Z b Z s(tf ) Z tf
0
W = FRes (x) dx = mv (t) dx = mv 0 (t)v(t) dt
a s(t0 ) t0
tf
v 2 (t) mvf2 mv02
=m = − .
2 2 2
t0

mv 2
Por causa da fórmula acima, definimos a energia cinética do trabalho por K = .
2
Sugerimos a videoaula Aplicação na Física - Trabalho e Energia.

Se a força for conservativa, o teorema fundamental do cálculo diz que F (x) possui
primitiva e, portanto, existe uma função U (x) tal que

dU (x)
= −F (x).
dx

A função U (x) se chama energia potencial da força conservativa F . O motivo do sinal


ficará claro nos exemplos abaixo.

Na Física, costuma-se escolher um referencial para o qual a energia potencial é 0. Por


exemplo, a energia potencial 0 da mola costuma ser o ponto de equilíbrio da mola.
Exemplo 7.8.5: A energia potencial da mola em x = b é dada por
b b
kb2
Z Z
−F (x) dx = kx dx = .
0 0 2

Uma das forças conhecidas é a força que a gravidade exerce sobre o nosso corpo

F (x) = −mg · ŷ,

em que g ' 9, 8 m/s2 é a constante gravitacional e m é a massa do corpo.


Exemplo 7.8.6: Se considerarmos que a energia potencial 0 é dada na altura 0, a energia
potencial de um objeto na altura h (e na mesma linha vertical) é dada por
Z h
mg dx = mgh.
0

O interessante de trabalharmos com a linguagem vetorial é que não precisamos ficar


analisando para onde está o movimento e, portanto, fica mais fácil calcular o trabalho.
Além disso, a linguagem vetorial é mais adequada para entendermos, matematicamente,
o porquê da força de atrito não ser conservativa, conforme o próximo exemplo.
Exemplo 7.8.7: A força de atrito é uma força bastante complicada e o modelo mais
simples é a fórmula F~at = ±µ|N | x̂, em que |N | é a magnitude da reação normal de
apoio e µ é uma constante que depende da superfície e também do objeto. Em geral,
este coeficiente µ é encontrado experimentalmente.
Neste modelo, a força de atrito, apesar da magnitude constante, não é uma força con-
servativa! O motivo disso é que o sinal depende da velocidade do objeto, isto é, se o
objeto estiver se movendo para a direita, então F~at = −µ|N | x̂. Se estiver se movendo
para a esquerda, então F~at = µ|N | x̂.
Renan Lima 233

A função U (x) é chamada de energia potencial da força F . Considere

mvf2
Kf = , Uf = U (b) = U (s(tf )),
2
mv02
K0 = , U0 = U (a) = U (s(t0 ))
2
Temos,

Z b Z b
Kf − K0 = FRes dx = F (x) dx = −(Uf − U0 ).
a a
Isto mostra que
Kf + Uf = K0 + U0 .
Definimos, portanto, a energia mecânica do movimento como a soma da energia cinética
com a energia potencial, isto é, E = K + U e o resultado acima diz que, se a força é
conservativa, então a energia mecânica no movimento unidimensional se conserva.
Uma outra aplicação interessante é o cálculo de massa e centro de massa de um sis-
tema de objetos. Sugerimos a nossa videoaula Massa e Centro de Massa.
Considere um fio bem fino não homogêneo de comprimento L, isto é, suponha que a
massa não está equitativamente distribuída ao longo do fio. Crie eixos de coordenadas,
de modo que o fio se encontre na posição horizontal e fique no intervalo [0, L], conforme
a figura abaixo.

x
0 L

Seja m(x) a massa do fio de [0, x]. A densidade linear do fio ρ(x) no ponto x é, por
definição,
m(x + ∆x) − m(x)
ρ(x) = lim .
∆x→0 ∆x
dm
Em notação de Leibniz, ρ = . Dizemos que o fio é homogêneo se a densidade linear
dx
for constante. Se a densidade linear do fio é ρ(x), a massa total M é dada pela fórmula
Z L
M= ρ(x) dx.
0

Exemplo 7.8.8: Um fio de comprimento L tem densidade linear constante λ, então a


sua massa é dada por
Z L
M= λ dx = λL.
0
Caso a densidade linear seja dada por ρ(x) = x, então a sua massa é dada por
L
L2
Z
M= x dx = ·
0 2

Para encontrar o centro de massa de um sistema de partículas, o caso mais simples é


uma alavanca com massa desprezível e suspensa por um suporte (ver figura abaixo) em
que colocamos dois objetos de massas distintas em cada extremidade da alavanca.
234 Matemática Universitária

d1
d2
m1
m2

Figura 7.19: Alavanca em equilíbrio com dois blocos de massa em cada extremidade.

Supondo que o suporte seja móvel, queremos encontrar o ponto exato em que a ala-
vanca fique em equilíbrio na horizontal. É conhecido do ensino médio que o suporte tem
que ser colocado em um ponto em que se deve satisfazer a fórmula
m1 d1 = m2 d2 .

Criando um sistema de coordenadas, suponha que as massas m1 e m2 estejam loca-


lizadas em c1 e c2 , respectivamente, e considere xG a coordenada x do centro de massa,
que também é conhecido como centro de gravidade. Temos, portanto,
m1 (xG − c1 ) = m2 (c2 − xG ),
m1 xG + m2 xG = m1 c1 + m2 c2 ,
m1 c1 + m2 c2
xG = .
m1 + m2

Suponha que temos dois blocos de massas m1 , m2 a uma distância d1 e d2 à esquerda


em relação ao suporte e um bloco de massa m3 a uma distância d3 à direita em relação ao
suporte, conforme figura abaixo.

d1
d3
d2
m1
m2 m3

A alavanca estará em equilíbrio se m1 d1 + m2 d2 = m3 d3 . Criando um sistema de


coordenadas, suponha que as massas m1 , m2 e m3 estejam localizadas em c1 , c2 e c3 , res-
pectivamente, e considere xG a coordenada x do centro de massa, então
m1 (xG − c1 ) + m2 (xG − c2 ) = m3 (c3 − xG ),
m1 xG + m2 xG + m3 xG = m1 c1 + m2 c2 + m3 c3 ,
m1 c1 + m2 c2 + m3 c3
xG = .
m1 + m2 + m3

Se tivermos n partículas com massas m1 , m2 , · · · , mn localizadas em c1 , c2 , · · · , cn e se


xG é o centro de massa, então com as mesmas contas do caso anterior, temos que
n
X
mi ci
i=1
xG = n
.
X
mi
i=1
Renan Lima 235

Suponha que temos uma distribuição contínua de massa. Por exemplo, suponha que
a barra da alavanca não tenha massa desprezível e desejamos encontrar o seu centro de
massa.
xG
c1 c2 c3 c4 c5

∆m1 ∆m2 ∆m3 ∆m4 ∆m5

dm
Seja m(x) a massa da alavanca do início da alavanca até o ponto x e seja ρ(x) =
dx
a densidade linear. Dividimos a alavanca em n pedaços iguais e cada pedaço tem massa
∆mi = ρ(ci )∆xi . Pelo que foi provado na parte anterior do texto, temos que
n
X n
X
ci ∆mi ci ρ(ci )∆xi
i=1 i=1
xG ' n = n
,
X X
∆mi ρ(ci )∆xi
i=1 i=1

daí, fazendo mais um processo de limite em que podemos supor que cada ∆xi fique
suficientemente pequeno, concluímos, portanto,
Z L
xρ(x) dx
0 .
xG = Z L
ρ(x) dx
0

Exemplo 7.8.9: Caso a densidade de uma corrente de comprimento L seja constante λ,


vimos no exemplo 7.8.8 que sua massa é dada por λL. Para encontrarmos o centro de
massa, podemos supor que a corrente esteja posta de tal modo que fique sobre o eixo
x no intervalo [0, L] e, portanto,
L L
λL2
Z Z
xρ(x) dx = λx dx = .
0 0 2

O seu centro de massa é


λL2
2 λL2 L
= = ,
λL 2λL 2
que é o resultado esperado! Isto é, o centro de massa se encontra na metade da cor-
rente!

Exemplo 7.8.10: Caso a função densidade de uma corrente de comprimento L seja


L2
dado por ρ(x) = x, vimos no exemplo 7.8.8 que sua massa é dada por . Para encon-
2
trarmos o centro de massa xG , calculamos, primeiramente, a integral
L L
L3
Z Z
xρ(x) dx = x2 dx = .
0 0 3
236 Matemática Universitária

Logo, temos que


L3
3 L3 2 2L
xG = = · 2 = .
L2 3 L 3
2

Exemplo 7.8.11: Considere um sistema de massas m1 , m2 e m3 , localizadas em x1 , x2 e


x3 , respectivamente. Considere M1 = m1 + m2 , seja CG o centro de massa do sistema
m1 e m2 . Seja xG o centro de massa do sistema m1 , m2 e m3 .
Vamos demonstrar que o centro de massa do sistema (M1 , CG ) e (m3 , x3 ) é xG . Em
outras palavras, é possível calcular o centro de massa do sistema (m1 , x1 ), (m2 , x2 ) e
(m3 , x3 ) via o sistema (M1 , CG ) e (m3 , x3 ).
Fisicamente, significa que os objetos de massa m1 e m2 são considerados como um
único objeto de massa M1 em que a massa está concentrada no ponto CG . Note que
CG e xG são dados pela fórmula
x1 m 1 + x2 m 2 x1 m1 + x2 m2
CG = = ,
m1 + m2 M1

x1 m1 + x2 m2 + x3 m3
xG = .
M1 + m3
Temos que o centro de massa do sistema M1 , m3 é dado por
x1 m1 + x2 m2
· M1 + x3 m3
CG M1 + x3 m3 M1
=
M1 + m3 M1 + m3
x1 m1 + x2 m2 + x3 m3
= = xG .
m1 + m2 + m3

Considere agora um sistema de partículas m1 , . . . , mn localizadas nas coordenadas


do plano (x1 , y1 ), (x2 , y2 ), · · · , (xn , yn ). O centro de massa CG = (xG , yG ) do sistema é
definido por
n
X n
X
xi mi yi m i
i=1 i=1
xG = n
, yG = n
.
X X
mi mi
i=1 i=1

Pretendemos estender as ideias do cálculo de centro de massa para regiões X do


plano com densidade constante. Quando a densidade é constante, o centro de massa é
chamado de centroide e também é conhecido como o centro geométrico.
Utilizaremos a intuição de que o centroide do retângulo é exatamente o centro do
retângulo. É possível demonstrar este resultado com a definição acima e passar para o
caso contínuo, mas acreditamos que o resultado é suficientemente intuitivo e que não
é tão difícil imaginar a sua demonstração. Em outras palavras, considere o retângulo
R = {(x, y) ∈ R2 / a ≤ x ≤ b, c ≤ y ≤ d}. O centroide (xG , yG ) é dado por
a+b c+d
xG = , yG = .
2 2
Sejam f, g : [a, b] → R em que f (x) ≤ g(x) para todo x ∈ [a, b] e seja X a região entre
os dois gráficos. Mais precisamente, X = {(x, y) ∈ R2 /a ≤ x ≤ b, f (x) ≤ y ≤ g(x)}.
Renan Lima 237

y y

y = g(x) y = g(x)

g(ci )

X b

f (ci )
y = f (x) y = f (x)
x x
xi−1 xi
(a) Região X. (b) Centroide do retângulo Ri .

Para encontrar o centroide, utilizaremos o princípio do exemplo 7.8.11, em que pode-


mos subdividir em regiões e calcular o centro de massa separadamente.
xi−1 + xi
Considere uma partição P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} e seja ci = o cen-
2
troide do intervalo [xi−1 , xi ]. Seja Ri o retângulo  [xi−1 , xi ] × [f (ci ), g(ci )]. O centroide
f (ci ) + g(ci )
do retângulo Ri é dado por ci , . A massa do retângulo Ri é dada por
 2
ρ · g(ci ) − f (ci ) ∆xi , em que ρ é a densidade (superficial) da região X. O centroide
(xn , yn ) da união dos retângulos R1 , · · · , Rn é
n n  
X  X f (ci ) + g(ci ) 
ci ρ · g(ci ) − f (ci ) ∆xi ρ · g(ci ) − f (ci ) ∆xi
2
i=1 i=1
xn = n
, yn = n
.
X  X 
ρ · g(ci ) − f (ci ) ∆xi ρ · g(ci ) − f (ci ) ∆xi
i=1 i=1

Finalmente, eliminando o ρ acima e fazendo o limite para n indo ao infinito, concluí-


mos que o centroide (xG , yG ) da região X é dado por
Z b Z b
1
[g(x)]2 − [f (x)]2 dx

x(g(x) − f (x)) dx
2
xG = Za b , yG = a
Z b
.
 
g(x) − f (x) dx g(x) − f (x) dx
a a
Z b 
Note que g(x) − f (x) dx é a área da região X.
a

Exemplo 7.8.12: Considere a região delimitada pela parábola y = x2 e pela reta y = 1.


Calcularemos as coordenadas do centroide.
y

x
−1 1

Figura 7.20: A região e o seu centroide.


238 Matemática Universitária

Os pontos de interseção da parábola e reta são (−1, 1) e (1, 1). A área é dada por
1
1
x3
Z
2 4
(1 − x ) dx = x − = .
−1 3 3
−1

Para encontrar o numerador de xG , devemos calcular a seguinte integral


1
1 1
x2 x4
Z Z
2 3
x(1 − x ) dx = (x − x ) dx = − = 0.
−1 −1 2 4
−1

Logo, xG = 0. Analogamente, para encontrar o numerador de yG , devemos calcular a


seguinte integral
1
1 1
x5
Z Z  
1 2 2 2 1 4 1 4
(1 − (x ) ) dx = (1 − x ) dx = x− = .
2 −1 2 −1 2 5 5
−1

Logo,
4/5 4 3 3
yG = = · = .
4/3 5 4 5
 
3
Logo, o centroide é 0, .
5
Renan Lima 239

Exercícios

1. Sabendo que uma força é dada por f (x) · x̂, calcule o trabalho realizado por essa
força, sabendo que a partícula se desloca de x = a até x = b dados em cada um dos
itens abaixo (considere as unidades no sistema internacional de medida).
a) f (x) = 2, a = 1, b = 3 b) f (x) = x2 , a = 6, b = 3
1
c) f (x) = ln x, a = 1, b = e d) f (x) = − , a = 2, b = 1
x2

2. Um corpo de massa m é lançado verticalmente. Suponha que a força resultante que


atua sobre o corpo é a gravitacional FRes = −g · ŷ, em que g é uma constante dada
por g ' 9, 8m/s2 . Sejam y(t) e v(t) a altura e a velocidade, respectivamente, do
corpo no instante t.

a) Mostre a relação de Torriceli [v(t)]2 = [v(0)]2 − 2g(y(t) − y(0)).

b) Calcule o maior valor possível de y(t) − y(0), em função da velocidade inicial.

3. Suponha que um fio esteja sobre o eixo x com 0 ≤ x ≤ 4 e que sua densidade linear
seja ρ(x) = x3 . Encontre a coordenada do centro de massa.

4. Encontre o centroide de cada uma das figuras abaixo.

a) X = {(x, y) ∈ R2 / 1 ≤ x ≤ 2 e 0 ≤ y ≤ x2 }

b) X = {(x, y) ∈ R2 / − 1 ≤ x ≤ 1, y ≥ 0 e x2 + y 2 ≤ 1}

c) X = {(x, y) ∈ R2 / 0 ≤ x ≤ 1, y ≥ 0 e x2 + y 2 ≤ 1}

d) X = {(x, y) ∈ R2 / x2 + y 2 ≤ 1}

5. Mostre que o centroide de um triângulo retângulo é o baricentro do triângulo.

6. Mostre que o centroide do triângulo qualquer é o baricentro do triângulo.

7. Sejam f, g : [a, b] → R contínuas e tais que f (x) ≤ g(x) para todo x ∈ [a, b]. Con-
sidere X = {(x, y) ∈ R2 / a ≤ x ≤ b, f (x) ≤ y ≤ g(x)}. O teorema de Pappus
afirma que o volume do sólido de revolução obtido pela rotação em torno do eixo x
do conjunto X é igual o produto da área de X pelo comprimento da circunferência
descrita pelo centro de massa de X. Demonstre o teorema de Pappus!

8. Calcule o volume do sólido obtido pela rotação do círculo x2 + (y − 2)2 = 1 em


torno do eixo x.
240 Matemática Universitária

Respostas

Exercício 1
a) 4J ( J = Joule, que corresponde o trabalho realizado por uma força de 1 Newton no
deslocamento de 1 metro.)
1
b) −63J c) 1J d) J
2

Exercício 2
(v(0))2
b)
2g

Exercício 3
16
a) xG =
5

Exercício 4
     
45 93 4 2 2
a) , b) 0, c) , d) (0, 0)
28 70 3π 3π 3π

Exercício 8

4π 2
Renan Lima 241

7.9 Integrais Impróprias

Na definição de integrais, consideramos a função do integrando contínua em um in-


tervalo fechado e limitado. Iremos estender a definição de integral para os seguintes
casos

• Funções com intervalo do tipo [a, +∞), (−∞, b] ou (−∞, +∞).

• Funções que não são limitadas.

A integral imprópria é uma extensão natural das integrais próprias e aparece natu-
ralmente na física e no estudo de probabilidade e estatística. Um exemplo na física é se
considerarmos a Lei da Gravitação Universal

mM
F~ = −G 2 · r̂.
r

Se calcularmos a energia potencial gravitacional da Terra sobre uma partícula de


massa m a uma distância r1 da Terra, que tem massa M , e, convencionando que a energia
potencial é 0 para todas as partículas a uma distância r0 da Terra, temos que
r1
Z r1
mM GmM GmM GmM
U (r1 ) = − −G · 2 dr = − = − .
r0 r r r0 r1
r0

Devido a natureza complicada de se escolher um referencial fixo para ser o nível 0,


GmM
costuma-se escolher o +∞ e, daí, temos U (r1 ) = − . Em outras palavras, foi calcu-
r1
lado que
Z r1 Z +∞
mM mM mM
− G 2 dr = G 2 dr = −G .
+∞ r r1 r r1
Há duas complicações teóricas omitidas neste texto. A primeira é que para as fórmulas
acimas estarem devidamente justificadas, precisa-se mostrar que as forças radiais são
conservativas. Isso faz parte de um curso de integrais de linha, que é normalmente
dado no terceiro período de uma graduação.
A segunda complicação é mostrar que a atração gravitacional da Terra sobre uma par-
tícula externa de massa m fornece o mesmo resultado se supormos que toda a massa
M da Terra estivesse concentrada no seu centro de massa.

Vimos na seção 7.7 que o comprimento de arco do gráfico de uma função f : [a, b] → R
de classe C 1 é dado por
Z bp
1 + [f 0 (x)]2 dx.
a

Se formos calcular, o comprimento do semicírculo de raio x2 +y 2 = 1 com y ≥ 0, devemos


√ −x
considerar a função f : [−1, 1] → R dada por f (x) = 1 − x2 e daí, f 0 (x) = √ ,
1 − x2
portanto,
Z 1r Z 1r
x2 1
1+ 2
dx = dx.
−1 1−x −1 1 − x2
1
O comprimento do semicírculo é a área do gráfico da função g(x) = √ .
1 − x2
242 Matemática Universitária

A integral acima é arcsen x e é considerada uma primitiva imediata. É possível, por-


tanto, mostrar que é igual π. Há algumas tecnicalidades na parte escrita, que será suprida
nesta seção. De qualquer forma, sugerimos a nossa videoaula Um Exemplo Natural de
Integrais Impróprias - Comprimento de Arco.
y

1
f (x) = √
1 − x2

x
−1 1

Figura 7.21: A área da região acima é π.

Definição 7.9.1: Integral Imprópria no Infinito

Seja f : [a, +∞) → R função integrável em [a, b] para todo b > a. Definimos
Z +∞ Z b
f (x) dx = lim f (x) dx.
a b→+∞ a

Se g : (−∞, b] → R função integrável para todo [a, b] com a < b. Definimos


Z b Z b
g(x) dx = lim g(x) dx.
−∞ a→−∞ a

Dizemos que a integral imprópria é convergente se os seus respectivos limites exis-


tem e são finitos. Caso contrário, dizemos que a integral é divergente.

Caso a função f : [a, +∞) → R seja positiva, então temos a interpretação geométrica
de área de uma região ilimitada. Apesar da região ser ilimitada, a área pode ser finita.
Vamos resolver alguns exemplos para entendermos a ideia.
Z +∞
dx
Exemplo 7.9.2: Vamos analisar . Temos que
1 x
Z +∞ Z b
1 dx
dx = lim
1 x b→+∞ 1 x

= lim (ln |b| − ln |1|) = +∞.


b→+∞
Z +∞
dx
Em particular, diverge.
1 x
y

1
f (x) =
x
x
1

Figura 7.22: A área da região é infinita.


Renan Lima 243

Z +∞
1
Exemplo 7.9.3: Vamos analisar dx. Temos que
1 x2
Z +∞ Z b
dx dx
= lim
1 x2 b→+∞ x2
1 
−1
= lim + 1 = 1.
b→+∞ b
Z +∞
1
Em particular, dx converge para o valor 1.
1 x2
y

1
f (x) =
x2
x
1

Figura 7.23: A área da região é finita.

Z 0
Exemplo 7.9.4: Vamos analisar cos x dx. Temos que
−∞
Z 0 Z 0
cos x dx = lim cos x dx = lim − sen a.
−∞ a→−∞ a a→−∞

Z 0
Como não existe lim − sen a, concluímos que cos x dx diverge.
a→−∞ −∞

Z +∞
1
Exemplo 7.9.5: Vamos analisar a convergência de dx para todo p ∈ R. Mais
1 xp
precisamente, vamos mostrar que

1

Z +∞
1 , se p > 1,
dx = p−1
1 xp
se p ≤ 1.

+∞,

O caso p = 1 foi visto no exemplo 7.9.2. Supomos que p 6= 1, então


b
+∞ b  
−1
Z Z
1 1 1 1
dx = lim dx = lim = lim − .
1 xp b→+∞ 1 x p b→+∞ (p − 1)xp−1 b→+∞ p − 1 (p − 1)bp−1
1

1
Finalmente, note que se p − 1 > 0, então lim = 0 e, portanto,
b→+∞ bp−1
 
1 1 1
lim − = .
b→+∞ p − 1 (p − 1)bp−1 p−1

1
Se p < 1, então lim = lim b1−p = +∞. Isso mostra que se p < 1, então
b→+∞ bp−1 b→+∞
 
1 1
lim − = +∞.
b→+∞ p − 1 (p − 1)bp−1
244 Matemática Universitária

Z +∞
A nomenclatura de integral imprópria se deve ao fato de que f (x) dx pode não
a
estar bem definida, necessitando de uma análise cuidadosa para discutir a sua existên-
cia ou, equivalentemente, a sua convergência.

Definição 7.9.6: Integral Imprópria com Integrando Não-Limitado

Seja f : (a, b] → R função contínua com lim f (x) = ±∞, definimos


x→a+
Z b Z b
f (x) dx = lim f (x) dx.
a ε→0+ a+ε

Se g : [a, b) → R função contínua com lim g(x) = ±∞, definimos


x→b−
Z b Z b−ε
g(x) dx = lim g(x) dx.
a ε→0+ a

Dizemos que a integral imprópria é convergente se os seus respectivos limites exis-


tem e são finitos. Caso contrário, dizemos que a integral imprópria é divergente.

Z 1
1
Exemplo 7.9.7: Vamos analisar dx. Temos que
0 x
Z 1 Z 1
1 1 
dx = lim dx = lim ln 1 − ln ε = +∞.
0 x ε→0+ ε x ε→0+
Z 1
1
Logo dx diverge.
0 x
Z 1
1
Exemplo 7.9.8: Vamos analisar √ dx. Temos que
0 x
1
Z 1 Z 1 √ √
1 1
√ dx = lim √ dx = lim 2 x = lim (2 − 2 ε) = 2.
0 x ε→0+ ε x ε→0+ ε→0+
ε
Z 1
1
Logo √ dx converge para 2.
0 x

y y

1
1 f (x) = √
f (x) = x
x
x x
1 1
(a) A área da região é infinita. (b) A área da região é finita.

Figura 7.24: Área pode ser finita ou infinita.


Renan Lima 245

Finalmente, destacamos uma última definição de integral imprópria e deixamos as


outras adaptações para o leitor.

Definição 7.9.9: Integral Imprópria

Se h : [a, c) ∪ (c, b] → R função contínua e ilimitada, definimos


Z b Z c Z c
h(x) dx = h(x) dx + h(x) dx,
a a b
Z b
onde cada uma das integrais são impróprias. Dizemos que h(x) dx converge se
a
cada uma das integrais da direita for finita.
Seja f : (a, +∞) → R função contínua com lim f (x) = ±∞. Definimos
x→a+
Z +∞ Z c Z +∞
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx, c ∈ (a, +∞).
a a c

Dizemos que a integral imprópria converge se as duas integrais correspondentes con-


vergirem, independentemente da escolha de c > a.
Se g : R → R contínua, definimos
Z +∞ Z c Z +∞
g(x) dx = g(x) dx + g(x) dx.
−∞ −∞ c

Dizemos que a integral imprópria converge, se as duas integrais correspondentes


convergirem, independentemente da escolha de c ∈ R.

Z +∞
1
Exemplo 7.9.10: Vamos analisar dx. Escolha c > 0, então
0 x2
Z +∞ Z c Z +∞
1 1 1
2
dx = 2
dx + dx.
0 x 0 x c x2

Temos que
c
c c  
−1
Z Z
1 1 1 1
dx = lim dx = lim = lim − = +∞.
0 x2 ε→0+ ε x2 ε→0 + x ε→0+ ε c
ε
Z +∞
1
Logo dx diverge.
0 x2
Z ∞
Exemplo 7.9.11: Vamos analisar x dx. Temos
−∞
Z +∞ Z 0 Z +∞
x dx = x dx + x dx.
−∞ −∞ 0
Z +∞ Z +∞
Como x dx = +∞, que diverge, concluímos que x dx diverge.
0 −∞
246 Matemática Universitária

Em vários problemas, é bastante complicado dizer se uma integral imprópria con-


verge ou diverge e, caso convirja, é mais complicado ainda encontrar o seu valor. O
critério da comparação é um resultado bastante útil para discutir a convergência de uma
integral sem precisar calculá-la.

Teorema 7.9.12: Critério da Comparação

Sejam f, g : [a, +∞) → R funções positivas, integráveis em [a, b] para todo b > a e
com f (x) ≤ g(x) para todo x ∈ [a, +∞).
Z +∞ Z +∞
• Se f (x) dx diverge, então g(x) dx diverge.
a a
Z +∞ Z +∞
• Se g(x) dx converge, então f (x) dx converge.
a a

Demonstração:
A demonstração pode ser vista na nossa videoaula Demonstração do Critério da Compa-
ração para Integrais Impróprias.

O teorema é bastante intuitivo se interpretarmos geometricamente o conceito de inte-


gral como área, como pode ser visto pela figura 7.25
y

g(x)
f (x)
x
a

Figura 7.25: Se a área da região pintada for finita, então a área da região tracejada é finita.
Se a área da região tracejada é infinita, então a área da região pintada é infinita.

Devemos verificar que as funções f e g são positivas. A parte complicada desse resul-
tado é encontrar a função que faz a comparação. Sugerimos a videoaula Introdução ao
Critério da Comparação para Integrais Impróprias. Para exemplos mais complicados, su-
gerimos a videoaula Exemplos para Critério de Comparação para Integrais Impróprias.
Z +∞
2 + sen x
Exemplo 7.9.13: Vamos analisar a convergência da integral dx. Lem-
1 x2
bremos que −1 ≤ sen x ≤ 1 e, portanto, 1 ≤ 2 + sen x ≤ 3 e, dividindo tudo por x2 ,
concluímos
1 2 + sen x 3
2
≤ 2
≤ 2.
x x x
Z +∞
3
Sabendo que 2
dx converge, então, para utilizar o critério da comparação, de-
1 x Z +∞
2 + sen x 3 2 + sen x
vemos tomar f (x) = 2
e g(x) = 2 e, portanto, converge.
x x 1 x2
Renan Lima 247

Z +∞
2 + cos x
Exemplo 7.9.14: Vamos analisar a convergência da integral dx. Lem-
1 x
bremos que −1 ≤ cos x ≤ 1 e, portanto, 1 ≤ 2 + cos x ≤ 3 e, dividindo tudo por x,
concluímos
1 2 + cos x 3
≤ ≤ .
x x x
Z +∞
1
Sabendo que dx diverge, então, para utilizar o critério da comparação, deve-
1 x Z +∞
1 2 + cos x 2 + cos x
mos tomar f (x) = e g(x) = e, portanto, diverge.
x x 1 x
Z +∞
2
Exemplo 7.9.15: Considere a integral f (x) = e−x dx. Como eu ≥ 1 + u > u para
0
1 1
todo u ≥ 0. Portanto, e−u = u ≤ para todo u ≥ 0 e, daí, fazendo u = x2 , temos,
e 1+u
2 1
e−x ≤ .
1 + x2
Sabemos que
Z +∞
1  π
2
dx = lim arctg(b) − arctg(0) = .
0 1+x b→+∞ 2

Há um teste bem simples para provar a divergência de uma integral imprópria.

Teorema 7.9.16: Teste de Divergência

Seja f : [a, +∞) → R integrável e suponha que lim f (x) = L tal que L 6= 0 ou
x→+∞
Z +∞
L = ±∞, então f (x) dx diverge.
a

Demonstração:
A demonstração pode ser vista na videoaula Demonstração do Teste da Divergência.
Vamos escrever o caso em que lim f (x) = +∞. Como f cresce indefinidamente, existe
x→+∞
Z +∞
um ponto c tal que f (x) > 1 para todo x ∈ [c, +∞). Como 1 dx = +∞, então, pelo
Z +∞ c

critério da comparação, f (x) dx diverge.


c

+∞
x−1 x−1
Z
Exemplo 7.9.17: A integral dx diverge pois lim = 1.
1 x−6 x→+∞ x − 6
Z +∞
1 1
A integral dx diverge, apesar de termos lim = 0.
1 x x→+∞ x

Para funções gerais, em que há uma oscilação do sinal, existe um teste muito útil que
é o teste do módulo. Sugerimos a videoaula Teste do Módulo para Integrais Impróprias.
248 Matemática Universitária

Teorema 7.9.18: Teste do Módulo


Z +∞ Z +∞
Seja f : [a, +∞) → R integrável tal que f (x) dx converge. Então f (x) dx
a a
converge.

Demonstração:
A demonstração se encontra na videoaula Demonstração do Teste do Módulo. Vamos
reproduzi-la aqui.
Z +∞
Como 0 ≤ f (x) + |f (x)| ≤ 2|f (x)| e 2 f (x) dx converge, então, pelo critério da
Z +∞ a

comparação, f (x) + |f (x)| dx converge. Daí,
a
Z +∞ Z +∞ 
Z +∞
f (x) dx = f (x) + |f (x)| dx − f (x) dx
a a a

converge, pois é a soma de integrais impróprias que convergem.


Z +∞
sen x
Exemplo 7.9.19: A integral imprópria dx converge, pois, para todo x ≥ 1,
1 x2
temos
sen x | sen x| 1
2
= 2
≤ 2.
x x x
+∞ Z +∞
| sen x|
Z
1
Como 2
dx converge, então, pelo critério da comparação, dx con-
1 x Z +∞ 1 x2
sen x
verge e, pelo teste do módulo, concluímos que dx converge.
1 x2

Finalizamos a seção com algumas observações.

Observações
Z +∞
• Tomando f (x) = sen(x2 ), é possível demonstrar que f (x) dx converge, em-
0
bora não exista lim f (x). Observe que, nas hipóteses do teorema 7.9.16, é exi-
x→+∞
gido que lim f (x) = L, podendo L ser finito ou infinito.
x→+∞
Z +∞
sen x
• É possível mostrar que se f (x) = , então f (x) dx é convergente, mas
x 1
Z +∞
f (x) dx é divergente. Logo, não existe uma espécie de recíproca do teo-
1
rema 7.9.18.

• É necessário utilizar a integração por partes para demonstrar as observações an-


teriores. Para o leitor que tiver curioso, sugerimos a videoaula Exemplos mais
Complicados de Integrais Impróprias.
Renan Lima 249

Exercícios

1. Discuta se as integrais abaixo convergem ou divergem e, caso convirjam, calcule o


seu valor.
Z +∞ Z 1 Z +∞
−3x dx dx
a) e dx b) 5/6
c)
1 0 x e x ln x
Z +∞ Z +∞ Z +∞
dx
d) 2
e) e−x sen x dx f) ex cos x dx
e x(ln x) 0 0

2. Seja f : [a, +∞) → R uma função contínua. O valor médio de f em [a, +∞) é
Z t
1
definido por lim f (x) dx.
t→+∞ t − a a

a) Encontre o valor médio de f (x) = cos x em [0, +∞).

b) Encontre o valor médio de f (x) = arctg x no intervalo de [0, +∞).


Z +∞
c) Se f (x) dx converge, mostre que o valor médio de f é 0.
a

Z +∞
d) Se f (x) dx diverge e lim f (x) = L, mostre que o valor médio de f é L.
a x→+∞

3. Discuta se as integrais abaixo convergem ou divergem.


Z +∞ Z ∞
dx 1
a) 4
b) √ dx
1 x +1 2 x3 − 1
Z +∞ Z +∞
2 + cos x 2 + cos x
c) 2
dx d) dx
1 x 0 x2

1
4. O trompete de Gabriel é formado pela rotação ao redor do eixo x do gráfico y = ,
x
com x ∈ [1, +∞). Mostre que a região delimitada pelo trompete tem volume finito,
mas área lateral infinita.
Conclusão: É fácil pintar a parte interna do trompete, basta encher de tinta, mas é
difícil pensar em um mecanismo para pintar a parte externa do trompete.

5. Sabendo que a transformada de Laplace da função f : [0, +∞) → R é definida por


Z +∞
F (s) = e−st f (t) dt, faça o que se pede em cada um dos itens abaixo.
0

k
a) Mostre que F (s) = é a transformada de Laplace da função constante f (x) = k.
s

b) Encontre a transformada de Laplace da funções f (t) = e3t , g(t) = t e h(t) = sen t.

c) Se existem M, k ∈ R tais que |f (t)| ≤ M ekt para todo t ≥ 0, então a integral


imprópria F (s) converge para todo s > k.
2
d) Mostre que não existe a transformada de Laplace de f (t) = et .
250 Matemática Universitária

Respostas

Exercício 1
1
a) b) 6 c) Diverge
3e3
1
d) 1 e) f) Diverge
2

Exercício 2
π
a) 0 b)
2

Exercício 3

a) Converge b) Converge

c) Converge d) Diverge

Exercício 4
1 1 1
b) F (s) = , G(s) = 2 e H(s) =
s−3 s 1 + s2
C APÍTULO

8 Discussão mais Avançada de Integrais

8.1 Introdução

No capítulo 7, houve uma discussão mais ampla de integração, que costumam ser
utilizadas com bastante frequência em cursos de engenharia, especialmente em discipli-
nas de física. As únicas exceções, com direito a uma boa discussão, seriam as aplicações
geométricas tais como volume de sólido de revolução e também o critério de comparação
para integrais impróprias.

As aplicações geométricas são muito interessantes pois o leitor é convidado a utilizar


as ideias de soma de Riemann. Tais ideias são muito utilizadas na física e na química com
uma linguagem ligeiramente específica para o assunto. Por exemplo, na seção 7.8, vimos
exatamente as mesmas ideias serem aplicadas para o cálculo de trabalho, massa e centro
de massa.

Talvez um pouco mais polêmico é o critério de comparação para integrais impróprias.


A ideia de encontrar uma função comparadora e de, certa forma, estudar a velocidade
1
de decaimento de uma função do estilo α quando x → +∞ para discutir se a integral
x
associada converge ou diverge são ideias idênticas para séries numéricas. Mais preci-
samente, observar, com certa intuição como as funções se comportam assintoticamente
é frequentemente utilizado em diversas áreas aplicadas. Além disto, o critério da com-
paração pode ser pensado como um dos resultados base para encontrar uma família de
funções que admitem a Transformada de Laplace, que é uma técnica de resolução de equa-
ções diferenciais muito utilizadas na Engenharia, com um bom destaque para a teoria do
controle.

O critério da comparação é mais polêmico pelo fato de que é possível encontrar uma
família de funções que admite Transformada de Laplace via uma exposição de uns 20
a 30 minutos, com a função comparadora específica. Na parte de séries numéricas, o
estudante é convidado a refletir assintotaticamente de forma bastante natural. Por esta
razão, o critério da comparação foi colocado, propositalmente, como o último assunto do
capítulo 7.

Finalmente, o objetivo deste capítulo é estudar assuntos mais específicos do cálculo


e que, provavelmente por tradição, estão na ementa da maioria dos cursos de cálculo
integral. A seção 8.2 estuda funções definidas por integrais e fazemos uma
Z xbreve digres-
dt
são histórica para reconstrução da função logaritmo definida por ln x = . Com as
1 t
mesmas ideias, estudaremos a função gama.

Nas seções 8.3 e 8.4, estudaremos técnicas específicas de integração, a saber, frações
parciais e algumas substituições especiais, tais como a substituição trigonométrica, a
substituição universal e a substituição por hiperbólicas. Essas técnicas aumentam a quan-
tidade de funções que conseguimos integrar, mas são muito mais específicas e, em geral,
menos utilizadas que a substituição (geral) e a integração por partes.
252 Matemática Universitária

A técnica de frações parciais é de natureza algébrica em que estuda funções racionais,


P (x)
isto é, funções do tipo f (x) = onde P e Q são polinômios. Essa teoria algébrica
Q(x)
é bastante utilizada na Transformada de Laplace e também faz parte de algoritmos de
computação simbólica para o cálculo de integração.
As substituições especiais, principalmente a trigonométrica, sãoZ técnicas que resol-
p
vem muitos problemas na física, em que aparece integrais do tipo R2 − x2 dx. Em
geral, os livros de física conseguem "esconder" tais integrais ao trabalhar diretamente
com coordenadas polares na modelagem do problema. Destacamos também a substitui-
ção hiperbólica pois ela é equivalente à substituição trigonométrica.
O uso de software deve ser estimulado para os alunos e, acredito, que seja interes-
sante introduzir alguns resultados matemáticos que fazem parte da base teórica para a
implementação e criação destes softwares. Por conta disso, a seção 8.5 é uma breve intro-
dução a integrais Liouvillianas, que é um dos resultados base para a implementação de
algoritmo simbólico para resolução de integrais.
Exemplos de softwares que resolvem simbolicamente as integrais, são Wolfram, Geo-
gebra, Sage e o pacote numpy do Python. Novamente, a técnica de frações parciais tem
um contexto interessante para esta implementação, especialmente o algoritmo de divisão
de polinômios.
As seções 9.5 e 9.6 apresentam o conceito de integral de forma rigorosa, com uma vi-
são voltadas a uma parte de um curso de análise real. Provamos, rigorosamente, todas as
propriedades de integrais e mostramos que toda função que contínua é integrável via Ri-
emann. Com tais resultados, demonstramos, com o devido rigor, o teorema fundamental
do cálculo.
Renan Lima 253

8.2 Definição de Funções por meio de Integrais

Seja f : R → R função contínua e fixe a ∈ R, podemos construir uma função F : R →


R dada por Z x
F (x) = f (t) dt.
a
Pelo teorema fundamental do cálculo, F é derivável e vale F 0 (x) = f (x). Veremos na
seção 8.5 que, com o processo de integração, é possível criar novas funções de natureza
diferente dos logaritmos, exponenciais, trigonométricas ou polinomiais, isto é, cria-se
uma função que não é elementar.
Nesta seção, vamos nos dedicar a dois tipos especiais de funções. A primeira delas
já é uma conhecida nossa, mas será estudada novamente do ponto de vista histórico. A
outra função é a que chamamos de função gama e será uma extensão da função fatorial.
Em um curso de cálculo diferencial, estudamos a função exponencial, definimos a
função logaritmo como a inversa da função exponencial e, para encontrar a fórmula de
1 x

derivadas, definimos o número de Euler e = lim 1+ , sendo que uma parte razo-
x→+∞ x
avelmente complicada é demonstrar que este limite existe. Este caminho de construção
do logaritmo como inversa da função exponencial é devido a Euler no seu livro Introduc-
tion to the Analysis of the Infinite em 1748.
Historicamente, a função logaritmo foi criada antes da função exponencial, via uma
construção abstrata por John Napier em 1614. Em 1649, Alfons de Sarasa, discípulo do
jesuíta Grégorie de Saint-Vincent, relacionou os logaritmos com a quadratura da hipér-
1
bole, em que mostrou que a área A(t) sob o gráfico da hipérbole y = , de x = 1 até x = t
x
satisfaz
A(st) = A(s) + A(t).

Devido a esta fórmula, Saint-Vincent nomeou tal função como logaritmo hiperbólico.
Apenas por curiosidade, Saint-Vincent resolveu o paradoxo de Zenão sobre a corrida
entre Aquiles e a Tartaruga, mostrando que os intervalos temporais formavam uma pro-
gressão geométrica de razão menor que 1 e, portanto, tinha soma finita.
Para situarmos historicamente o leitor, estamos em 1649 e a criação do cálculo por
Newton ocorreu em 1667, sendo que o grande divulgador, que popularizou o cálculo, foi
Leibniz em torno de 1680.
1
Em 1668, Mercator percebeu que pode ser visto como a soma limite de uma pro-
x
gressão geométrica com primeiro termo sendo 1 e razão −(x − 1), em outras palavras,
1 1
= = 1 − (x − 1) + (x − 1)2 − (x − 1)3 + . . . + (−1)n (x − 1)n + . . .
x 1 + (x − 1)
e o cálculo da área funciona bem no intervalo (0, 2), pois |x − 1| < 1. Com essa ideia,
ele utilizou a fórmula da área sob a curva de y = xn , já conhecida e deduzida de forma
brilhante por Fermat (ver seção 2.A) e concluiu que a área centrada a partir de t = 1 é
dada por uma série infinita

(t − 1)2 (t − 1)3 (t − 1)4 (t − 1)n+1


(t − 1) − + − + . . . + (−1)n + ...
2 3 4 n+1
E, com essa visão, ele percebeu que se t ∈ (0, 1), então o valor seria negativo e, portanto,
é interessante trabalhar com a área sob a hipérbole com sinal.
254 Matemática Universitária

Z t
1
Em notação atual, eles estudaram a função A(t) = dx. Euler estudou a função
1 x
e percebeu que o número e = 2, 71828... é o ponto que faz a área ser 1. Ele chamou o
logaritmo com esta base de logaritmo natural.
Um dos objetivos desta seção é, a partir da definição acima, provar todas as pro-
priedades básicas do logaritmo natural. Vamos também aceitar o fato que xr está bem
definida para todo x > 0 e r ∈ Q. Mais ainda, vamos considerar que sabemos derivar
tais funções. Para convencer o leitor que não é um grande pedido, recomendamos a vi-
deoaula [Revisão] - Funções Exponenciais - Parte 1 - Definindo nos Inteiros, a videoaula
[Revisão] - Funções Exponenciais - Parte 2 - Definindo nos Racionais e também Demons-
tração da Derivada de xρ , com ρ Racional.

Definição 8.2.1: Logaritmo Natural

O logaritmo natural de x, denotado por ln x é definido por


Z x
1
ln x = dt, x > 0.
1 t
Z x Z 1
1 1
Usaremos a convenção que se 0 < x < 1, então dt = − dt e que ln(1) = 0.
1 t x t

1
Como a função f (x) = é contínua em (0, +∞), então, pelo teorema fundamental do
x
1
cálculo, ln x é derivável e vale (ln x)0 = . Mais ainda, como (ln x)0 > 0, então ln x é uma
x
função estritamente crescente e, em particular, f é injetiva.
Z 1
1
Como ln 1 = dt = 0 e ln x é uma função crescente, então, em particular, ln x < 0
1 t
se 0 < x < 1 e ln x > 0 se x > 1.

Teorema 8.2.2: Propriedades Algébricas do Logaritmo

Sejam a, b > 0 e r ∈ Q, então valem as seguintes propriedades.

1. ln(a · b) = ln a + ln b,
b
2. ln = ln b − ln a,
a
3. ln ar = r ln a.

Demonstração:
1. Fixe a > 0 e considere a função f (x) = ln(ax), então, pela regra da cadeia, temos
que
1 1
f 0 (x) = ·a= .
ax x
1
Como f (x) e ln x são primitivas de , então existe C ∈ R tal que f (x) = ln x + C.
x
Daí, ln a = f (1) = ln 1 + C = C e, portanto, f (x) = ln x + ln a. Substituindo x por b,
temos a demonstração da propriedade.
Renan Lima 255

2. Pelo item 1, temos que ln(ax) − ln a = ln x para todo x ∈ (0, +∞). Basta, portanto,
b
substituir x = .
a
3. Considere f (x) = ln xr , então, pela regra da cadeia, temos

1 r
f 0 (x) = · rxr−1 = = r(ln x)0 .
xr x
Logo existe C > 0 tal que f (x) = r ln x + C. Como f (1) = ln 1r = 0, temos que
C = 0. O resultado segue substituindo x por a.

Teorema 8.2.3: Proriedades do Logaritmo

1. lim ln x = +∞,
x→+∞

2. lim ln x = −∞,
x→0+

3. A imagem de ln x é R.

Demonstração:
1. Como ln é crescente, basta mostrar que ln não é uma função limitada, isto é, para
todo M > 0, exibir um x > 0 tal que ln x > M .
Como ln 2 > 0, existe N ∈ N suficientemente grande tal que N · ln 2 > M . Tome
x = 2N , temos, portanto,

ln x = ln 2N = N · ln 2 > M.

Isso mostra que y = ln x não é uma função limitada.


1
2. Façamos a mudança de variável x = e quando x → 0+ , temos que t → +∞. Daí,
t
 
1
lim ln x = lim ln = lim (ln 1 − ln t) = lim (− ln t) = −∞.
x→0 + t→+∞ t t→+∞ t→+∞

3. Como ln x é contínua, pelos itens 1 e 2 e pelo teorema do valor intermediário, te-


mos que, para todo y ∈ R, existe x ∈ (0, +∞) tal que ln x = y. Para quem tiver
dificuldade em entender esta argumentação, sugerimos a videoaula Aplicação do
Teorema de Bolzano - Todo Polinômio Ímpar possui Raiz Real.

Definição 8.2.4: Número de Euler

O número de Euler, denotado por e, é o único número real que satisfaz ln e = 1.

O teorema 8.2.3 diz que a função ln : (0, +∞) → R é bijetiva. Considere, portanto, a
sua inversa exp : R → (0, +∞), que chamamos de função exponencial. Logo, vale que
ln(exp x) = x para todo x. Por conta disso, é natural escrever exp x = ex , pois

ln ex = x ln e = x · 1 = x.
256 Matemática Universitária

1
Como (ln x)0 = > 0, então, pelo teorema da função inversa, a função ex é derivável e,
x
pela regra da cadeia, temos
1 x 0
1 = (x)0 = (ln ex )0 = (e ) .
ex
Daí (ex )0 = ex .
Como ex é a inversa de ln x, temos também que eln x = x e, como temos a fórmula
ln ar = r ln a para todo r ∈ Q, temos que ar = er ln a . Podemos, finalmente, definir a
exponenciação de número real.

Definição 8.2.5: Função Exponencial

Seja a > 0 e r ∈ R, definimos ar por

ar = er ln a .

Deixaremos como exercício para o leitor a demonstração das propriedades algébricas da


função exponencial. Mais precisamente,
• ap aq = ap+q , • (ap )q = apq ,
ap
• = ap−q , • (ap ) · (bp ) = (ab)p .
aq

Para o leitor que estiver com dificuldades em demonstrar tais resultados, acreditamos
que a aula [Revisão] - Função Logaritmo possa ajudar. Nessa aula, provamos, por exem-
plo, a identidade ln(a.b) = ln a + ln b baseada na fórmula ea+b = ea · eb . Só pensar de
forma inversa.
Em particular, para todo r ∈ R, temos que a função f (x) = xr é derivável e vale
r r
(xr )0 = (er ln x )0 = er ln x · = xr · = rxr−1 .
x x

A mesma ideia vale para a função f (x) = ax . Temos que

(ax )0 = (ex ln a )0 = ex ln a · ln a = ax · (ln a).

Finalmente, pelo mesmo argumento, a função ax é injetiva e tem imagem (0, +∞)
e, portanto, é inversível. Definimos, então, loga x como a função inversa de ax . Em
particular, temos que loge x = ln x.
Esperamos que, com esta breve exposição, convencemos o leitor de que é possível
extrair propriedades e ter uma boa descrição de funções definidas por integrais. Para
encontrarmos valores, são necessários métodos numéricos com auxílio de softwares.
Uma função bastante utilizada em Probabilidade e Estatística é a função erro, deno-
tado por erf(x). Ela é definida por
Z x
2 2
erf(x) = √ e−t dt.
π 0

Ela é uma função crescente e limitada (ver exemplo 7.9.15). A parte mais complicada é
demonstrar que lim erf(x) = 1.
x→+∞
Renan Lima 257

−1

Figura 8.1: Gráfico da função erro.

Em estudos da difração das ondas de luz, Fresnel encontrou as seguintes funções


x
πt2
Z  
S(x) = sen dt,
0 2
Z x
πt2
 
C(x) = cos dt.
0 2

Estas funções, atualmente, são chamadas de funções seno e cosseno de Fresnel.

y y
S(x) C(x)

0.5 0.5

x x

−0.5 −0.5

(a) Função seno de Fresnel. (b) Função cosseno de Fresnel.

Figura 8.2: Gráfico das funções de Fresnel.

Não é necessário que a variável x esteja no intervalo de integração. Uma família de


funções bastante utilizada na área de sinais (telecomunicações) são as funções de Bes-
sel. Por exemplo, uma das representações possíveis para a função de Bessel de ordem 0,
denotado por J0 (x), é
1 π
Z

J0 (x) = cos x sen θ dθ.
π 0

y
1.0

0.5

x
−28 −24 −20 −16 −12 −8 −4 4 8 12 16 20 24

−0.5

Figura 8.3: Função de Bessel de ordem 0. A escala dos eixos estão diferentes.

Outra função bastante famosa definida por integrais é a função Gama Γ.


258 Matemática Universitária

Definição 8.2.6: Função Gama

A função Gama é definida por


Z +∞
Γ(t) = xt−1 e−x dx.
0

A função gama é definida via uma integral imprópria e, portanto, devemos tomar
muito cuidado com a sua análise. Recomendamos a videoaula Função Gama e a Exten-
são do Fatorial. Começamos encontrando uma região em que Γ está bem definida.

Teorema 8.2.7: Domínio da Função Gama

Para todo t > 0, a integral imprópria Γ(t) converge.

Demonstração:
Fixemos t > 0. Observe que se t < 1, então a função xt−1 e−x não é limitada próximo de
0 e, portanto, é interessante separarmos em duas integrais.
Z 1 Z +∞
Escrevemos Γ(t) = xt−1 e−x dx + xt−1 e−x dx. Para a primeira integral, observe
0 1
que e−x ≤ 1 para todo x ∈ [0, 1] e, portanto, xt−1 e−x ≤ xt−1 para x ∈ [0, 1]. Como,
1
1
xt
Z
t−1 1 1 1
x dx = lim = − lim εt = .
0 ε→0+ t t t ε→0+ t
ε

note que lim εt = 0, pois t > 0, então, pelo critério da comparação (ver teorema 7.9.12),
ε→0+
Z 1 Z 1
t−1 −x
x e dx converge. Note que se t ≥ 1, a integral xt−1 e−x dx é própria e, por-
0 0
tanto, um número real, não haveria necessidade de ter feito esta análise.
Para a segunda integral imprópria, não precisamos analisar o caso seja n ∈ N tal que
xn xt+1
n ≥ t + 1. Temos que xn ≥ xt+1 para todo x ≥ 0. Como ex ≥ ≥ , então
n! n!
1 n!
e−x = x ≤ t+1 . Daí,
e x
n!xt−1 n!
xt−1 e−x ≤ t+1 = 2 .
x x
Z +∞ Z +∞
n!
Como dx converge, então, pelo critério da comparação, xt−1 e−x dx con-
1 x2 1
verge. Como t > 0 é arbitrário, isso mostra que Γ(t) converge para t > 0.

Teorema 8.2.8

A função Gama é uma extensão do fatorial. Mais precisamente,

1. Vale Γ(t + 1) = t · Γ(t) para todo t > 0.

2. Γ(n + 1) = n! para todo n ∈ N ∪ {0}.


Renan Lima 259

Demonstração:
Z +∞ Z b
1. Observe que Γ(t + 1) = xt e−x dx = lim xt e−x . Integrando por partes,
0 b→+∞ 0
fazendo f (x) = xt , então f 0 (x) = txt−1 e g(x) = −e−x , com g 0 (x) = e−x , temos
b
Z b Z b Z b
t −x t −x
xe dx = −x e + txt−1 e−x dx = bt e−b + t · xt−1 e−x dx.
0 0 0
0

Tome n > t + 1, então, seguindo o procedimento da demonstração do teorema 8.2.7,


n!
note que |bt e−b | < , portanto, pelo Teorema do Confronto, lim |bt e−b | = 0 e, daí,
b b→+∞
lim bt e−b = 0. Concluímos que
b→+∞

Z b Z b
Γ(t + 1) = lim xt e−x dx = lim t xt−1 e−x dx = t · Γ(t).
b→+∞ 0 b→+∞ 0

Z +∞
2. Temos que Γ(1) = e−x dx = 1 = 0! e, utilizando a propriedade do item 1),
0
temos que Γ(n + 1) = n.Γ(n). Supomos, por indução que Γ(k + 1) = k!, temos que
Γ(k + 2) = (k + 1)Γ(k + 1) = (k + 1).k! = (k + 1)! e o item 3 está provado.

Teorema 8.2.9
  Z +∞
1 2
Vale a seguinte igualdade: Γ =2 e−x dx.
2 0

Demonstração:
Z +∞ −x

 
1 e 1
Como Γ = √ dx, basta fazer a substituição u = x, então du = √ dx.
2 0 x 2 x
Quando x → 0, temos que u → 0 e quando x → +∞, temos que u → +∞ e, daí,
  Z +∞ Z +∞
1 −x dx 2
Γ = 2e √ =2 e−u du.
2 0 2 x 0


 
1
Aceitando o fato de que lim erf(x) = 1, temos que Γ = π.
x→+∞ 2
Uma outra aplicação de Integral imprópria é a Transformada de Laplace. Dado uma fun-
ção f : [0, +∞) → R contínua e com mais algumas restrições, definimos a Transformada
de Laplace de f , denotado por L(f (t)) por
Z +∞
L(f (t))(s) = e−st f (t) dt.
0

Essa transformada é muito utilizado pela Engenharia para resolver um bom leque de
sistemas de equações diferenciais. Para o leitor que gostaria de ver como funciona o
procedimento, sugerimos a videoaula Aplicação de Integral Imprópria - Transformada
de Laplace.
260 Matemática Universitária

Exercícios

ln x
1. Mostre que para todo a > 0, a 6= 1 e x ∈ (0, +∞), temos que loga x = .
ln a

2. Utilizando o gráfico da função do seno√de Fresnel S(x), argumente que o máximo


global de S(x) é atingido quando x = 2.

Z π Z π
3. Mostre que vale a igualdade cos(x sen θ) dx = cos(x cos θ) dx.
0 0

Z 1
4. Mostre que Γ(t) = (− ln x)t−1 dx.
0


     
1 3 7
5. Utilizando que Γ = π, encontre o valor de Γ eΓ .
2 2 2

6. Seja A : (0, +∞) → R função derivável satisfazendo A(st) = A(s) + A(t) para todo
s, t > 0. Se A(x) não é a função nula, mostre que A(x) = loga x, para algum a > 0.

Respostas

Exercício 5
  √   √
3 π 7 15 π
Γ = eΓ =
2 2 2 8

Exercício 6

Dica: Derive em relação à t, encontrando uma nova equação entre s, t e A0 . Faça uma
escolha adequada para s.
Renan Lima 261

8.3 Frações Parciais

Nesta seção, discutiremos um procedimento algébrico que é conhecida como frações


parciais. Costuma-se usar essa técnica para a Transformada de Laplace, que é estudada
em cursos de Equações Diferenciais Ordinárias. Por exemplo, é fácil verificar que
1 1 1
= −
(x − 1)(x − 2) x−2 x−1
e, portanto,
Z Z  
dx 1 1
= − dx = ln |x − 1| − ln |x − 2| + C.
(x − 1)(x − 2) x−2 x−1
1
A questão é que se aparecer uma integral do tipo , é interessante buscar
(2x − 3)(3x − 2)
métodos para separar o denominador. Em outras palavras, queremos encontrar A, B ∈ R
tais que
1 A B 2 3
= + , para todo x 6= , .
(2x − 3)(3x − 2) 2x − 3 3x − 2 3 2

Desenvolvendo a expressão da direita da equação acima, temos que


1 (3x − 2)A + (2x − 3)B (3A + 2B)x + (−2A − 3B)
= = .
(2x − 3)(3x − 2) (3x − 2)(2x − 3) (3x − 2)(2x − 3)

Eliminando o denominador, queremos encontrar A, B ∈ R tais que


2 3
(3A + 2B)x + (−2A − 3B) = 1, para todo x 6= , .
3 2

Para os dois polinômios serem iguais, todos os coeficientes deve ser iguais e, portanto,

3A + 2B = 0,
−2A − 3B = 1.
Para quem tiver dificuldades em resolver sistemas lineares, recomendamos as vídeo-
aulas Sistema Linear 2x2 e também Fórmula da Inversa de Matriz 2x2. Resolvendo o
2 3
sistema, temos A = e B = − e, portanto,
5 5
1 2 3
= − .
(2x − 3)(3x − 2) 5(2x − 3) 5(3x − 2)
Concluímos que
Z Z  
dx 2 3
= − dx
(2x − 3)(3x − 2) 5(2x − 3) 5(3x − 2)

ln |2x − 3| − ln |3x − 2|
= + C.
5
Para as duas últimas integrais, é necessário fazer a substituição u = 2x − 3 e também
v = 3x − 2, deixamos os detalhes para o leitor.
Para uma introdução do assunto, sugerimos a nossa videoaula Introdução a Frações
Parciais. Alem dela, sugerimos a videoaula Frações Parciais - Fazendo as Contas mais
Rápidas, que será o tema desta seção. Dividiremos a técnica de frações parciais em 3
casos.
262 Matemática Universitária

Teorema 8.3.1: Frações Parciais - Caso Raízes Reais de Multiplicidade 1

Sejam α1 , . . . , αn números reais distintos, Q(x) = (x − α1 )(x − α2 ) · . . . · (x − αn ) e


P (x) polinômio com grau(P ) < grau(Q), então existem A1 , . . . , An tais que

P (x) A1 A2 An
= + + ... + .
(x − α1 ) · (x − α2 ) · . . . · (x − αn ) x − α1 x − α2 x − αn

Mais ainda, temos que


(x − αi )P (x)
Ai = lim para i = 1, · · · , n.
x→αi Q(x)
Z
dx
Exemplo 8.3.2: Vamos calcular . Como o grau do numerador é 0 e o
(2x − 3)(3x − 2)
do denominador é 2, podemos aplicar o teorema acima que diz que existem A, B ∈ R
tais que
1 A B
= + .
(2x − 3)(3x − 2) 3x − 2 2x − 3
1 3 1 2
Temos que A = lim = − e B = lim = . Concluímos que
x→ 23 2x − 3 5 x→ 2 3x − 2
3 5
Z  
−3
Z
dx 2
= + dx
(2x − 3)(3x − 2) 5(3x − 2) 5(2x − 3)

− ln |3x − 2| + ln |2x − 3|
= + C.
5

x2 − 3x + 1
Z
Exemplo 8.3.3: Considere dx. Como 2 = grau(P ) e 3 = grau(Q),
x(x − 1)(x − 2)
podemos aplicar o teorema 7.3.2, que diz que existem A, B, C ∈ R tais que

x2 − 3x + 1 A B C
= + + .
x(x − 1)(x − 2) x x−1 x−2
Temos que

x2 − 3x + 1 1
A = lim = ,
x→0 (x − 1)(x − 2) 2
x2 − 3x + 1
B = lim = 1,
x→1 x(x − 2)

x2 − 3x + 1 1
C = lim =− .
x→2 x(x − 1) 2

Daí, temos que

x2 − 3x + 1
Z Z  
1 1 1
dx = + − dx
x(x − 1)(x − 2) 2x x − 1 2(x − 2)

ln |x| ln |x − 2|
= + ln |x − 1| − + C.
2 2

Não esqueça de checar a hipótese de que grau(P ) < grau(Q).


Renan Lima 263

Teorema 8.3.4: Frações Parciais - Caso Raízes com Multiplicidade

Sejam α ∈ R e m > 0 inteiro. Suponha que Q(x) = (x − α)m .Q1 (x) com Q1 (α) 6= 0
e grau(P ) < grau(Q), então existem A1 , . . . , Am ∈ R e um polinômio P1 (x) com
grau(P1 ) < grau(Q1 ) tais que

P (x) P (x) A1 A2 Am P1 (x)


= = + + ... + + .
Q(x) (x − α)m Q1 (x) x − α (x − α)2 (x − α)m Q1 (x)

Mais ainda, temos que

(x − α)m P (x) P (α)


Am = lim = .
x→α Q(x) Q1 (α)

O resultado acima é um refinamento do teorema 8.3.1 para o caso m = 1. Sugerimos a


nossa videoaula Frações Parciais - Raízes com Multiplicidade
Z
2x + 3
Exemplo 8.3.5: Vamos calcular a integral dx. Note que o grau do
(x − 1)2 (x − 2)2
numerador é 1 e o grau do denominador é 4. Aplicando o teorema 8.3.4, existem
A, B ∈ R e um polinômio P1 (x) de grau ≤ 1 tais que

2x + 3 A B P1 (x)
2 2
= + 2
+ .
(x − 1) (x − 2) x − 1 (x − 1) (x − 2)2

Aplicando novamente o teorema 8.3.4, existem C, D ∈ R tais que

P1 (x) C D
2
= + .
(x − 2) x − 2 (x − 2)2

Juntando todas as informações, temos que

2x + 3 A B C D
2 2
= + 2
+ + .
(x − 1) (x − 2) x − 1 (x − 1) x − 2 (x − 2)2

É possível achar com rapidez os coeficientes de B e D, utilizando a fórmula do limite,

(x − 1)2 (2x + 3) 2x + 3
B = lim 2 2
= lim = 5,
x→1 (x − 1) (x − 2) x→1 (x − 2)2

(x − 2)2 (2x + 3) 2x + 3
D = lim 2 2
= lim = 7.
x→2 (x − 1) (x − 2) x→2 (x − 1)2

É possível encontrar A e C de várias formas. Uma delas é desenvolver o lado direito e


igualando os coeficientes como feito no início da seção

2x + 3 A(x − 1)(x − 2)2 + 5(x − 2)2 + C(x − 1)2 (x − 2) + 7(x − 1)2


= .
(x − 1)2 (x − 2)2 (x − 1)2 (x − 2)2

Outra forma é substituir vários valores para x, por exemplo, tomando x = 0 e x = 3,


encontrando o sistema
3 C 7
(x = 0) = −A + 5 − + ,
4 2 4
9 A 5
(x = 3) = + + C + 7.
4 2 4
264 Matemática Universitária

O terceiro método e que dá um pouco mais de segurança em fazermos as contas é


isolar o A e C, desenvolvendo a expressão de forma cuidadosa.

A C 2x + 3 5 7
+ = 2 2
− 2

x−1 x−2 (x − 1) (x − 2) (x − 1) (x − 2)2
2x + 3 − 5(x − 2)2 − 7(x − 1)2
=
(x − 1)2 (x − 2)2
2
−12x + 36x − 24
=
(x − 1)2 (x − 2)2
−12(x − 1)(x − 2) −12
= = .
(x − 1)2 (x − 2)2 (x − 1)(x − 2)

Estamos nas condições de aplicar o teorema 8.3.1 e, portanto,

−12 −12
A = lim = 12, C = lim = −12.
x→1 x−2 x→2 x−1
Daí,
2x + 3 12 5 12 7
2 2
= + 2
− + .
(x − 1) (x − 2) x − 1 (x − 1) x − 2 (x − 2)2
Finalmente, temos que
Z
2x + 3 5 7
2 2
dx = 12 ln |x − 1| − − 12 ln |x − 2| − + C.
(x − 1) (x − 2) x−1 x−2

Teorema 8.3.6: Frações parciais - Caso Raízes Complexas

Seja Q(x) = (x2 + ax + b)m · Q1 (x) em que as raízes de Q1 (x) são diferentes das raízes
de x2 + ax + b. Então existem A1 , B1 , A2 , B2 , · · · , Am , Bm ∈ R e um polinômio P1 (x)
com grau(P1 ) < grau(Q1 ) tais que

P (x) A1 x + B1 A2 x + B 2 Am x + Bm P1 (x)
= 2 + 2 +. . .+ 2 + .
(x2 m
+ ax + b) Q1 (x) x + ax + b (x + ax + b) 2 (x + ax + b)m Q1 (x)

Recomendamos a nossa videoaula Frações Parciais - Caso Raízes Complexas não-


Reais e para entender melhor as contas do próximo exemplo, sugerimos que assista ao
último exemplo da nossa videoaula Fazendo Substituição Linear para Resolver Integrais.
Z
dx
Exemplo 8.3.7: Vamos calcular 2
. Pelo teorema 8.3.6, temos que
x(x − 4x + 8)

1 A Bx + C
= + 2 ,
x(x2 − 4x + 8) x x − 4x + 8
x 1
em que A = lim = . Daí, temos
x→0 x(x2 − 4x + 8) 8

Bx + C 1 1 8 − (x2 − 4x + 8)
= − =
x2 − 4x + 8 2
x(x − 4x + 8) 8x 8x(x2 − 4x + 8)

−x2 + 4x −x + 4
= = .
8x(x2 − 4x + 8) 8(x2 − 4x + 8)
Renan Lima 265

Eliminando o denominador, temos que

8Bx + 8C = −x + 4.
1 4
Logo, B = − e C = . Temos, portanto, que
8 8
 
1 1 1 −x + 4
= + .
x(x2 − 4x + 8) 8 x x2 − 4x + 8

Daí,
Z 
−x + 4
Z Z
dx 1 dx
= + dx
x(x2 − 4x + 8) 8 x x2 − 4x + 8
 
−x + 4
Z
1
= ln |x| + dx .
8 x2 − 4x + 8

Para a última integral, observe que o vértice da parábola é o ponto (2, 4) e, façamos a
substituição u = x − 2 e du = dx. Temos que

−x + 4 −u + 2
Z Z Z Z
u du 2 du
2
dx = 2
du = − 2 + .
x − 4x + 8 u +4 u +4 u2 + 4

A primeira integral é resolvida fazendo a substituição y = u2 + 4 e dy = 2u du. Daí,

ln |y| ln(u2 + 4)
Z Z
u du dy
− 2 =− =− + C1 = − + C1 .
u +4 2y 2 2

A segunda integral é resolvida utilizando a substituição u = 2y e du = 2 dy. Temos


que
Z Z Z
2 du 4 dy dy
= =
u2 + 4 4y 2 + 4 y2 + 1
u
= arctg y + C2 = arctg + C2 .
2
Lembrando que u = x − 2, temos, finalmente, que
" #
ln x2 − 4x + 8
 
x−2
Z
dx 1
= ln |x| − + arctg + C.
x(x2 − 4x + 8) 8 2 2

Ax + B
O caso para m 6= 1 é ainda mais complicado, mas é possível resolver
(x2
+ ax + b)m
com uma fórmula de recorrência ou também via substituição trigonométrica que será um
dos temas da seção 8.4. A fórmula e os passos da fórmula serão deixados como exercício
desta seção.
O último caso que falta é quando o grau do numerador é maior que o grau do deno-
minador.

Teorema 8.3.8: Caso Grau do Numerador maior que o do Denominador

Se grau(P ) ≥ Q(x), existem polinômios S(x) e r(x), com grau(r) < grau(Q) tais que

P (x) r(x)
= S(x) + .
Q(x) Q(x)
266 Matemática Universitária

Apesar de o livro ter relatado como teorema, é apenas uma consequência direta da
divisão Euclidiana para polinômios. Recomendamos a videoaula [Revisão] - Divisão de
dois Polinômios para lembrarmos como fazemos a divisão e também a nossa videoaula
Frações Parciais - Caso grau do Numerador é maior ou igual ao do Denominador.
O algoritmo de divisão diz que é possível encontrar, de forma única, polinômios S(x)
e r(x) com grau(r) < grau(Q) tais que

P (x) = S(x)Q(x) + r(x).

Chamamos de r(x) de resto da divisão. Dividimos a equação acima por Q(x), temos que

P (x) S(x)Q(x) + r(x) r(x)


= = S(x) + .
Q(x) Q(x) Q(x)

Vamos aplicar o procedimento acima em um exemplo.


x3
Z
Exemplo 8.3.9: Vamos calcular dx. Utilizando o algoritmo de divisão
(x − 1)(x − 2)
entre x3 e x2 − 3x + 2, temos que

x3 = (x + 3)(x2 − 3x + 2) + (7x − 6).

x3 7x − 6
Logo 2
= x+3+ 2 . Utilizando a técnica de frações parciais, temos
x − 3x + 2 x − 3x + 2
7x − 6 7x − 6 A B
= = + ,
x2 − 3x + 2 (x − 1)(x − 2) x−1 x−2
7x − 6 7x − 6
em que A = lim = −1 e B = lim = 8 e, portanto,
x→1 x − 2 x→2 x − 1

x3
Z  
−1
Z Z
8
dx = (x + 3) dx + + dx
(x − 1)(x − 2) x−1 x−2
x2
= + 3x − ln |x − 1| + 8 ln |x − 2| + C.
2

Para o leitor interessado, a demonstração desses resultados de frações parciais se en-


contram na videoaula Demonstração das Frações Parciais. A demonstração é bem algé-
brica, mas usa apenas o algoritmo de divisão de polinômios. Faremos uma demonstração
alternativa na seção 8.5.
Renan Lima 267

Exercícios

1. Calcule as integrais.
Z Z
dx x
a) 2
b) dx
x −x x2 − 5x + 6
Z 2
x − 3x + 1
Z
1
c) dx d) dx
x3 − x x3 − x2
Z Z
1 1
e) dx f) dx
x3 (x − 1) x2 (x − 1)2
Z Z
1 4x
g) dx h) dx
x(x − 1)2 (x − 2)2 (x + 1)(x2 + 1)
Z Z
4x 2x + 3
i) dx j) dx
(x + 1)2 (x2 + 1) x4 + x2
Z Z
x x
k) dx l) dx
(x + 1)(x2 + 4) (x + 1)(x2− 4x + 5)
x3
Z Z
1
m) dx n) dx
(x2 + 1)(x2 − 4x + 5) (x − 1)(x + 3)
x4 + 1 x4 + 1
Z Z
o) dx p) dx
x(x2 + 1) x4 + x2

Z
Ax + B
2. O objetivo deste exercício é integrarmos funções da forma dx
(x2 + bx + c)m
para m ≥ 2 em que ∆ = b2 − 4c < 0.

a) Fazendo
Z uma substituição linear,
Z conforme feito no exemplo 8.3.7, transforme a
Ax + B Eu + F
integral dx em du, com E, F ∈ R.
(x2 + ax + b)m (u2 + 1)m
Z
x
b) Integre, com uma substituição simples, a função dx.
(x + 1)m
2

1 (1 + x2 ) − x2 1 x2
c) Considere = = − .
(x2 + 1)m (x2 + 1)m (x2 + 1)m−1 (x2 + 1)m

x2 dx
Z
x
Integre 2 m
por partes, considerando f (x) = x e g 0 (x) = 2 .
(x + 1) (x + 1)m
Z
dx
Se Im = , conclua a fórmula de recorrência
(x2 + 1)m
x 2m − 3
Im = 2 m−1
+ · Im−1 .
2(m − 1)(x + 1) 2m − 2

3. Integre as funções abaixo.


Z Z
x+1 1
a) 2 3
dx b) dx
(x + 1) (x − 1)(x − 2x + 5)2
2
268 Matemática Universitária

Respostas

Exercício 1

a) ln |x − 1| − ln |x| + C

b) 3 ln |x − 3| − 2 ln |x − 2| + C
5 ln |x + 1| ln |x − 1|
c) − − ln |x| + C
2 2
1
d) ln |x − 1| − ln |x| + +C
x
1 1
e) ln |x − 1| − ln |x| + + 2 +C
x 2x
1 1
f) 2 ln |x| − 2 ln |x − 1| − − +C
x x−1
ln |x| 5 ln |x − 2| 1 1
g) + ln |x − 1| − − − +C
4 4 x − 1 2(x − 2)

h) −2 ln(x + 1) + ln(x2 + 1) + 2 arctg x + C


2
i) + 2 arctg(x) + C
x+1
3
j) − ln(x2 + 1) + 2 ln |x| − − 3 arctg(x) + C
x
ln(x2 + 4) ln |x + 1| 2 x
k) − + arctg +C
10 5 5 2
1
ln(x2 − 4x + 5) − 2 ln |x + 1| + 14 arctg(x − 2) + C

l)
20
ln(x2 + 1) − ln(x2 − 4x + 5) arctg x + arctg(x − 2)
m) + +C
16 8
x2 − 4x ln |x − 1| + 27 ln |x + 3|
n) + +C
2 4
x2
o) − ln(x2 + 1) + ln |x| + C
2
1
p) x − − 2 arctg(x) + C
x

Exercício 3
3x3 + 5x − 2 3 arctg x
a) + +C
8(x2 + 1)2 8
1 ln |x − 1| ln(x2 − 2x + 5)
b) + − +C
8(x2 − 2x + 5) 16 32
Renan Lima 269

8.4 Substituições Especiais e as Funções Hiperbólicas

Para encontrarmos a área do círculo de


Z praio R, utilizando integrais, essencialmente,
devemos resolver uma integral da forma R2 − x2 dx. É uma integral razoavelmente
mais complicada e, para resolvermos, é importante utilizarmos a substituição x = R sen θ
e, portanto, dx = R cos θ dθ e vemos a mágica
p p p
R2 − x2 = R2 − R2 sen2 θ = R 1 − sen2 θ = R| cos θ|.
π π
Além disso, se θ varia de − até , então x varia de −R até R, que é o domínio da
√ 2 2
função R2 − x2 . Note que cos θ ≥ 0 e, portanto, | cos θ| = cos θ. Em resumo, temos que
Z p Z Z
R − x dx = R cos θ · (R cos θ) dθ = R2 cos2 θ dθ.
2 2

Temos uma pequena Z sutileza no processo acima, por exemplo, se, por algum motivo,
p
desejamos calcular x R2 − x2 dx, faríamos a substituição u = R2 − x2 e, portanto,
Z p Z √
2 2
u
du = −2x dx. Daí, x R − x dx = − du.
2
Note a diferença da substituição u = R2 − x2 (u = u(x)) e x = R sen θ (x = x(θ)). Em
geral, é possível fazer uma substituição da forma x = g(t), desde que g seja uma função
bijetiva e faremos a substituição inversa
Z Z
f (x) dx = f (g(t))g 0 (t) dt.

Nesta seção, trataremos de três substituições especiais: a substituição trigonométrica,


a substituição universal e a substituição hiperbólica. Para a substituição trigonométrica,
devemos escolher uma das três substituições: x = sen θ, x = tg θ e x = sec θ. A es-
colha depende da expressão do integrando e exige um tempo de atenção do estudante.
Sugerimos que assista à videoaula Introdução à Substituição Trigonométrica.

Expressão Identidade trigonométrica Substituição


π π
R 2 − x2 cos2 θ = 1 − sen2 θ x = R sen θ, −
≤x≤
2 2
π π
R 2 + x2 sec2 θ = 1 + tg2 θ x = R tg θ, − < x <
2 2
π 3π
x2 − R 2 tg2 θ = sec2 θ − 1 x = R sec θ, 0 ≤ θ < ou π ≤ θ <
2 2
Z
1
Exemplo 8.4.1: Vamos calcular a primitiva imediata dx utilizando a substi-
1 + x2
tuição trigonométrica. Para tanto, considere x = tg θ e dx = sec2 θ dθ. Daí,

sec2 θ dθ sec2 θ dθ
Z Z Z Z
dx
= = = dθ = θ + C.
1 + x2 1 + tg2 θ sec2 θ
Como x = tg θ, temos que θ = arctg x e, portanto,
Z
dx
= arctg x + C.
1 + x2
270 Matemática Universitária

A escolha dos intervalos de θ em cada


p uma das substituições
√ acima, é para sumir o
módulo na 2 2
 raiz
π π
quadrada. Por exemplo, 1 + tg θ = sec θ = sec θ, pois sec θ > 0 para
todo θ ∈ − , . Vamos ao exemplo do início da seção.
2 2
Z p
Exemplo 8.4.2: Para calcular R2 − x2 dx, façamos a substituição x = R sen θ e,
portanto, dx = R cos θ dθ e daí,
Z p Z Z  
2 2 2 2 2 cos 2θ + 1
R − x dx = R cos θ dθ = R dθ
2
   
2 sen 2θ θ 2 sen(2 arcsen x) arcsen x
=R + +C =R + + C.
4 2 4 2

É possível melhorar (e muito!) a expressão √ sen(2 arcsen√x) = sen 2θ. Para isso, observe
que sen 2θ = 2 sen θ cos θ e que cos θ = 1 − sen 2θ = 1 − x2 , pois cos θ ≥ 0. Logo,

sen 2θ = 2x 1 − x2 e, portanto,

2 x 1 − x2 + arcsen x

R
Z p
2 2
R − x dx = + C.
2

Para encontrarmos a inversa, utilizamos o artifício de desenhar um triângulo auxi-


liar. Por exemplo, se x = tg θ, então olhando o triângulo auxiliar do meio da figura 8.4,
1
então cos θ = √ . Para ajudar na logica da construção de cada um dos triângulos,
1 + x2
sugerimos a videoaula Substituição Trigonométrica - O Triângulo Auxiliar.

√ √
x R x R 2 + x2 x2 − R 2 x

θ θ θ

R 2 − x2 R R
(a) x = R sen θ. (b) x = R tg θ. (c) x = R sec θ.

Figura 8.4: O triângulo auxiliar para cada uma das substituições.

Z
1
Exemplo 8.4.3: Vamos calcular √
dx. Para tanto, faremos a substituição
x2
4 + x2
trigonométrica x = 2 tg θ e, portanto, dx = 2 sec2 θ dθ. Daí,
Z Z
1 1
√ dx = p · (2 sec2 θ) dθ
2
x 4+x 2 2
4 tg θ 4 + 4 tg θ 2

sec2 θ
Z Z Z
sec θ cos θ
= 2 dθ = 2 dθ = dθ.
4 tg θ sec θ 4 tg θ 4 sen2 θ

Fazendo a substituição u = sen θ, temos que


Z Z
cos θ du 1 1
2
dθ = 2
=− +C =− + C.
4 sen θ 4u 4u 4 sen θ
Renan Lima 271

Utilizando o triângulo auxiliar, temos que


x
sen θ = √ e, portanto,
4 + x2 √
x 4 + x2

4 + x2
Z
dx
√ =− + C.
x2 4 + x2 4x θ

Para mais exemplos, sugerimos a videoaula Exemplos com Substituição Trigonomé-


tricas não tão Diretas. Algumas vezes é necessário completar quadrado e sugerimos a
nossa videoaula Substituição Trigonométrica - Completamento de Quadrados. Façamos
um exemplo para entendermos o procedimento.
Z p
Exemplo 8.4.4: Vamos calcular x2 − 6x + 8 dx. O vértice da parábola se encontra
no ponto (3, −1) e, portanto, considere a substituição u = x − 3 e du = dx e, portanto,
Z p Z p
2
x − 6x + 8 dx = u2 − 1 du.

Fazendo a substituição u = sec θ, temos que du = sec θ tg θ dθ e, daí,


Z p Z Z
u − 1 du = tg θ · tg θ sec θ dθ = tg2 θ sec θ dθ
2

Z
Utilizando a igualdade tg2 θ = sec2 θ − 1 e a fórmula encontrada para sec3 x dx no
exemplo 7.6.7, temos que
Z Z Z Z
2 3 3
sec θ tg θ dθ = (sec θ − sec θ) dθ = sec θ dθ − sec θ dθ

sec θ · tg θ 1
Z Z
= + sec θ dθ − sec θ dθ
2 2

sec θ · tg θ ln | sec θ + tg θ|
= − + C.
2 2
Passando para a variável u e utilizando o triângulo auxiliar, temos que

sec θ · tg θ ln | sec θ + tg θ|
Z p
u2 − 1 du = − +C
2 2

u2 − 1 u
√ √
u u2 − 1 ln |u + u2 − 1|
= − + C. θ
2 2
1
Lembrando que u = x − 3, temos, finalmente que
√ √
− 2 − 6x + 8 ln x − 3 + x2 − 6x + 8
Z p
(x 3) x
x2 − 6x + 8 dx = − + C.
2 2

Em geral, a substituição trigonométrica transforma frações de polinômios em inte-


grais trigonométricas. O interessante que também é possível transformar integrais tri-
gonométricas em frações de polinômios. Por exemplo, supomos que desejamos integrar
272 Matemática Universitária

Z
sen x
dx. Um método, bastante engenhoso, descoberto por Weierstrass é
3 cos x + 4 sen x x
fazer a substituição u = tg .
2
A ideia é notar que
x x x   x 
cos x = cos2 − sen2 = cos2 1 − tg2
2  2 x 2 2
2 x 2
1 − tg 1 − tg 2
= x 2 = 2 = 1 − u .
x
sec2 1 + tg2 1 + u2
2 2
Analogamente, temos que
x
x x x x 2 tg 2u
sen x = 2 sen cos = 2 tg cos2 =  2x  = .
2 2 2 2 sec2 1 + u2
2
Além disso, note que
x
sec2 1 + u2 2 du
du = 2 dx = dx ⇒ dx = .
2 2 1 + u2
x
A substituição u = tg é também conhecida como substituição universal.
2
Z
2
Exemplo 8.4.5: Vamos calcular dx. Para isso, usaremos a substi-
x 2 − cos x + 2 sen x
tuição u = tg . Temos que
2
Z Z
1 1 2du
dx = · 2
2 − cos x + 2 sen x 1 − u2 2u u +1
2− 2 +2· 2
u +1 u +1
Z Z
2 du 2 du
= =
2u2 + 2 − 1 + u2 + 4u 3u2 + 4u + 1
Z
2 du
=
(3u + 1)(u + 1)
Z  
3 1
= − du (por frações parciais)
3u + 1 u + 1
= ln |3u + 1| − ln |u + 1| + C
x x
= ln 3 tg + 1 − ln tg + 1 + C.
2 2

A última substituição especial que pretendemos falar nesta seção é a que chamamos
substituição hiperbólica. A ideia dessa substituição é transformar frações de polinômios
em funções exponenciais e, de certa forma, imita bastante as integrações de funções tri-
gonométricas.
Sugerimos a videoaula Funções Hiperbólicas - Por que o Nome Hiperbólicas? para o
leitor interessado na nomenclatura de funções hiperbólicas.
Renan Lima 273

Definição 8.4.6: Funções Hiperbólicas

As funções seno hiperbólico, cosseno hiperbólico, tangente hiperbólico e secante hi-


perbólico são definidas por

ex − e−x senh x ex − e−x


senh x = , tanh x = = x ,
2 cosh x e + e−x
ex + e−x 1 2
cosh x = , sech x = = x .
2 cosh x e + e−x

y y y

x x x

−1

(a) Gráfico de senh x. (b) Gráfico de cosh x. (c) Gráfico de tanh x.

Figura 8.5: Gráficos de algumas funções hiperbólicas.

As fórmulas algébricas das funções hiperbólicas são bem parecidas com as fórmulas
das funções trigonométricas. Vamos citar algumas delas.

Teorema 8.4.7: Algumas Identidades de Funções Hiperbólicas

Valem as seguintes identidades.


• cosh x + senh x = ex ,
• (cosh x)0 = senh x,
• cosh x − senh x = e−x ,
• (tanh x)0 = sech2 x,
2 2
• cosh x − senh x = 1,
• senh(x + y) = senh x · cosh y + senh y · cosh x,
• sech2 x = 1 − tanh2 x,
• cosh(x + y) = cosh x · cosh y + senh x · senh y.
• (senh x)0 = cosh x,

Demonstração:
É deixada como exercício para o leitor.
Z
Exemplo 8.4.8: Vamos calcular tanh x dx. A resolução é bem parecida com a de
Z
tan x dx do exemplo 7.4.10. Basta fazer u = cosh x e, portanto, du = senh x dx, daí,
Z Z Z
senh x du
tanh x dx = dx = = ln |u| + C
cosh x u
= ln | cosh x| + C = ln(cosh x) + C. (pois cosh x ≥ 0, ∀x ∈ R.)
274 Matemática Universitária

Como a função cosh : [0, +∞) → [1, +∞) é bijetora, então possui inversa, que deno-
tamos por arccosh x. Vamos organizar tudo em uma definição.

Definição 8.4.9: Funções Hiperbólicas Inversas

• Definimos arcsenh : R → R como a inversa de senh x.

• Definimos arccosh : [1, +∞) → [0, +∞) como a inversa de cosh x.

• Definimos arctanh : (−1, 1) → R como a inversa de tanh x.

Temos expressões fechadas e interessantes das funções arco hiperbólicas.

Teorema 8.4.10: Fórmulas das Funções Hiperbólicas Inversas

Valem as seguintes relações para todo x no respectivo domínio da função


p
arcsenh x = ln(x + x2 + 1),
p
arccosh x = ln(x + x2 − 1),
 
1 1+x
arctanh x = · ln .
2 1−x

Demonstração:
Vamos provar apenas a fórmula do arcsenh x e deixamos o restante como exercício.
ey − e−y
Seja y = arcsenh x, então x = senh y = . Daí,
2
ey − 2x − e−y = 0.

Multiplicando a expressão por ey , temos que

e2y − 2xey − 1 = 0.

Façamos u = ey , temos, portanto, a equação quadrática

u2 − 2xu − 1 = 0.

Daí, pela fórmula quadrática, temos



y 2x ± 4x2 + 4 p
e =u= = x ± x2 + 1.
2

Como x − x2 + 1 < 0 e ey > 0, concluímos que
p
ey = x + x2 + 1.

Aplicando o logaritmo natural na equação acima, obtemos


p
y = ln ey = ln x + x2 + 1 .

Renan Lima 275

Todas as integrais resolvíveis via substituição trigonométrica podem ser resolvidas


via substituição por funções hiperbólicas.
Z
dx
Exemplo 8.4.11: A integral √ pode ser resolvida via substituição x = tg θ,
1 + x2

dx = sec2 θ dθ e também, sec θ = 1 + x2 . Daí,

sec2 θ dθ
Z Z Z
1
√ dx = = sec θ dθ
1 + x2 sec θ
p 
= ln | sec θ + tan θ| + C = ln x + 1 + x2 + C.

Outra forma
p é utilizando x = senh u e, portanto, dx = cosh u du e, lembrando que
cosh u = 1 + senh2 u, temos
Z Z
1 cosh u du p 
√ dx = = u + C = arcsenh x + C = ln x + 1 + x2 + C.
1 + x2 cosh u
Z p
Exemplo 8.4.12: Considere a integral x2 − 1 dx com restrição para x ≥ 1.

Com a substituição trigonométrica, vimos a sua resolução no exemplo 8.4.4, após mu-
dar para a variável u. Temos que
Z p
xp 2 1 p
x2 − 1 dx = x − 1 − ln |x + x2 − 1| + C
2 2
x p 1 p 
= x2 − 1 − ln x + x2 − 1 + C. (pois x ≥ 1)
2 2

√ das funções hiperbólicas, façamos x = cosh u, u ≥ 0, então


Utilizando as identidades
dx = senh u du e, como x2 − 1 = senh u, temos
2
e − e−u
Z p Z Z  u
x2 − 1 dx = senh2 u du = du
2
Z
1 1
= (e2u − 2 + e−2u ) du = (e2u − 4u − e−2u ) + C.
4 8

Como cosh u + senh u = eu e cosh u − senh u = e−u , temos que

1 2u 1
(e − 4u − e−2u ) = (senh u + cosh u)2 − 4u − (cosh u − senh u)2

8 8
1  senh u cosh u u
= 4 senh u cosh u − 4u = − .
8 2 2
Concluímos que

x x2 − 1 1
Z p
2
x −1= − arccosh x + C
2 2

2
x x −1 1 p
= − ln(x + x2 − 1) + C.
2 2
276 Matemática Universitária

Exercícios

1. Calcule as integrais abaixo.


x2 dx x2 dx
Z Z Z
dx
a) b) √ c)
(1 + x2 )3/2 1 − x2 (x2 + 4)2
Z Z Z
dx dx dx
d) e) √ f) √
(x − 1)3/2
2
x2 − 9 9x2 + 4
Z Z Z p
x dx dx
g) √ h) i) x2 − 4x + 8 dx
x2 − 2x + 5 x(x2 + 4)
Z Z Z
dx 5 dx
j) k) l) sec x dx
3 − cos x 3 sen x + 4 cos x

2. Faça a substituição x = y n para n adequado.


Z Z Z √
dx dx x
a) √ b) √ √ c) √ dx
1+ 3x 4
x+ x 1+ 3
x

Respostas

Exercício 1

p x arcsen x − x 1 − x2
a) ln(x + x2 + 1) − √ +C b) +C
2
x +1 2
  x 
1 2x x
c) + arctg +C d) − √ +C
16 x2 + 4 2 x2 − 1
 
p 1 3x
e) ln |x + x2 − 9| + C f) arcsenh +C
3 2
ln |x| ln(x2 + 4)
 
p
2
x−1
g) x − 2x + 5 + arcsenh +C h) − +C
2 4 8
√ √ √
(x − 2) x2 − 4x + 8
 
x−2 2  x 
i) + 2 arcsenh +C j) · arctg 2 tg +C
2 2 2 2
x
x x tg +1
k) ln 1 + 2 tg − ln tg −2 +C l) ln 2
x +C
2 2 tg −1
2
Exercício 2

3x2/3 √ √
a) − 3 3 x + 3 ln | 3 x + 1| + C
2
√ √ √
b) 2 x − 4 4 x + 4 ln( 4 x + 1) + C
√ √6
6x 6 x 6 x5 √ √ √
c) − + 2 x − 6 6 x + 6 arctg( 6 x) + C
7 5
Renan Lima 277

8.5 O Teorema de Liouville para Funções Elementares

Com as técnicas de integração desenvolvidas nas seções anteriores, o leitor deve ter
reparado alguns pequenos padrões na resposta final, tais como, se integrarmos uma fun-
ção do tipo P (x)ex , com P polinômio, então espera-se que a resposta final deve ser da
forma Q(x).ex + C, em que Q(x) é outro polinômio. Da mesma forma, se integrarmos
funções que aparecem senos e cossenos, espera-se que a integral também tenha senos e
cossenos na sua expressão. Vimos no exemplo 7.5.6 que
−e2x cos x + 2e2x sen x
Z
e2x sen x dx = + C.
5

Vamos fazer mais um exemplo e de certa forma verificar que temos algum padrão na
fórmula de integral.
Z
Exemplo 8.5.1: Vamos calcular x sen(ln x) dx. Considere a substituição u = ln x,
1
então du = dx e, portanto, dx = x du = eu du. Daí,
x
Z Z Z
x sen(ln x) dx = eu (sen u) eu du = e2u sen u du

−e2u cos u + 2e2u sen u


= +C
5
−x2 cos(ln x) + 2x2 sen(ln x)
= + C.
5

Note que na fórmula final aparecem as expressões trigonométricas, com o mesmo


argumento ln x, e multiplicadas por polinômios. Note ainda que a resolução da integral
acima não é óbvia, onde utilizamos uma substituição mágica. Avisamos que também é
possível resolver o exemplo acima utilizando apenas integral por partes.
Antes de continuar a leitura, propomos que o leitor tente resolver dois exercícios de
integração, a saber.
Z  
x−1 x
Z
2
1. e−x dx, 2. e dx.
x2

O primeiro exemplo é uma pequena adaptação da Integral Gaussiana, que também


é conhecida como a Integral de Euler-Poisson. Esta integral aparece com frequência
na área de estatística e probabilidade e, portanto, é bastante aplicada na Mecânica
Quântica e Mecânica Estatística.
O segundo exemplo é artificial e está sendo usado apenas para fins didáticos.

Recomendamos a nossa videoaula Funções que não possuem Primitivas Elementa-


res. Neste vídeo, há uma pequena imprecisão para os objetivos desta seção, pois funções
definidas por partes não serão consideradas funções elementares.
Uma função é dita racional se ela pode ser escrita como fração de polinômios. Dize-
mos que uma função possui expressão algébrica se ela pode ser obtida via operações de
soma, subtração, multiplicação, divisão, composição e raízes enésimas de polinômios.
Por exemplo, todas as funções abaixo possuem expressões algébricas.

p x2 + 3x − 2 2
p3 x+1
2
f (x) = x + 1, f (x) = , 3
f (x) = x − 3 + x − 1 , √
f (x) = 3 .
x4 + 2 x3 + 2
278 Matemática Universitária

Sabemos que se f (x) admite expressão algébrica, então a sua derivada f 0 (x) possui
expressão algébrica, mas não vale a recíproca. Por exemplo,
ln(x2 + 1)
Z
x
dx = + C.
x2 + 1 2

Uma função é dita ter expressão elementar se ela pode ser obtida via adição, multi-
plicação, divisão e composição de funções algébricas, trigonométricas e suas inversas,
exponenciais e logarítmicas. São exemplos de funções com expressão elementar

ln x 4
x cos xesen x
f (x) = arctg(ln x), f (x) = , f (x) = √ .
sen2 (ex ) 3
x2 + 1

O enunciado geral do teorema de Liouville está fora do escopo do livro e enuncia-


remos um caso particular. Como a demonstração utiliza estruturas algébricas tais como
extensão de corpos, a demonstração deste teorema será omitida neste livro.

Teorema 8.5.2: Teorema de Liouville

Seja f (x) = P (x)eQ(x) , em que P e Q são funções racionais. Se f (x) é uma função que
possui primitiva elementar, então existe R(x) função racional tal que
Z
P (x)eQ(x) dx = R(x)eQ(x) + C.

Para aplicar o teorema 8.5.2, precisaremos, extensivamente, do algoritmo de divisão


de polinômios. Faremos uma breve revisão de polinômios e recomendamos assistir à
nossa videoaula [Revisão] - Divisão de dois Polinômios.
Um polinômio P (x) de grau n é dado pela expressão
P (x) = an xn + an−1 xn−1 + . . . + a1 x + a0 , em que an 6= 0.
Dizemos que P (x) é um polinômio mônico se an = 1.

Teorema de D’Alembert

Se P (x) um polinômio de grau n e α é raiz do de P (x), isto é, P (α) = 0, então existe


um polinômio Q(x) de grau n − 1 tal que P (x) = (x − α) · Q(x).

O teorema de D’Alembert é um teorema de álgebra/algoritmo de computação, então


é válido para α ∈ C, mas exige apenas que Q(x) possua coeficientes complexos. Se P (x)
é polinômio com coeficientes reais e α ∈ C − R é raiz de P (x), então α é raiz de P (x). Ao
aplicarmos duas vezes o teorema de D’Alembert, obtemos P (x) = (x − α)(x − α)Q(x).

Escreva α = a+bi com a, b ∈ R e i = −1 a unidade imaginária. Temos que α = a−bi,
e, portanto,
P (x) = (x − α)(x − α)Q(x) = x2 − 2ax + (a2 + b2 ) Q(x).


Mais ainda, pelo algoritmo de divisão, temos que Q(x) tem coeficientes reais.
Seja α ∈ C raiz de P (x). Dizemos que α é raiz de multiplicidade r se existe um
polinômio Q(x), com Q(α) 6= 0 tal que P (x) = (x − α)r Q(x). O teorema fundamental da
álgebra diz que se P (x) tem grau n, então P (x) admite exatamente n raízes complexas,
contadas com multiplicidade. Vamos precisar de alguns resultados básicos.
Renan Lima 279

Teorema 8.5.3: Consequências da Divisão de Polinômios

Sejam P (x) e Q(x) polinômios com coeficientes reais e α ∈ C uma raiz de multiplici-
dade r do polinômio P (x), então

  
1. grau P (x) · Q(x) = grau P (x) + grau Q(x) .

2. α é raiz de multiplicidade de r − 1 do polinômio P 0 (x).

3. Existem R(x) e S(x) polinômios com coeficientes reais, sem raízes em comum,
P (x) R(x)
com S(x) mônico, tais que = .
Q(x) S(x)

Demonstração:
1. Escreva P (x) = an xn +an−1 xn−1 +. . .+a1 x+a0 e Q(x) = bm xm +bm−1 xm−1 +· · ·+b0
com an , bm 6= 0. Multiplicando os dois polinômios, temos que

P (x) · Q(x) = an bm xn+m + termos de grau ≤ n + m − 1 .




  
Como an bm 6= 0, temos que grau P (x) · Q(x) = n + m = grau P (x) + grau Q(x) .

2. Seja α raiz de multiplicidade r de P (x). Então, por definição, existe R(x) polinômio
com R(α) 6= 0 tal que P (x) = (x − α)r R(x). Derivando, utilizando a regra do
produto, temos

P 0 (x) = r(x − α)r−1 R(x) + (x − α)r R0 (x)


= (x − α)r−1 rR(x) + (x − α)R0 (x)


= (x − α)r−1 S(x),

onde S(x) = rR(x) + (x − α)R0 (x). Note que S(α) = rR(α) 6= 0 e isso mostra que
P 0 (x) possui α com raiz de multiplicidade r − 1.

3. Suponha que P (x) e Q(x) possuem uma raiz em comum α. Se α é real, podemos
P (x) P1 (x)
escrever P (x) = (x − α)P1 (x) e Q(x) = (x − α)Q1 (x). Logo = . Se α for
Q(x) Q1 (x)
complexa não real, então P (x) = (x − α)(x − α)P1 (x), Q(x) = (x − α)(x − α)Q1 (x)
P (x) P1 (x)
e temos que = . Em ambos os casos, construímos polinômios P1 e Q1
Q(x) Q1 (x)
P (x) P1 (x)
com coeficientes reais e com grau menor que P e Q tais que = .
Q(x) Q1 (x)
Se P1 (x) e Q1 (x) não possuem raiz em comum, então finalizamos o algoritmo. Caso
contrário, repetimos o argumento do parágrafo anterior e encontramos polinômios
P2 (x) e Q2 (x) de graus menores que P1 e Q1 , respectivamente, e com coeficientes
P1 (x) P2 (x)
reais tais que = . Como o número de raízes em comum dos polinômios
Q1 (x) Q2 (x)
é finito, em algum momento o algoritmo termina e encontramos polinômios R1 (x)
P (x) R1 (x)
e S1 (x) tais que = .
Q(x) S1 (x)
Escolha um número real k tal que S(x) = kS1 (x) seja um polinômio mônico e con-
P (x) R(x)
sidere R(x) = kR1 (x). Temos, portanto, = .
Q(x) S(x)
280 Matemática Universitária

O objetivo do próximo exemplo é para que o leitor verifique que a solução da inte-
gral se torna praticamente um algoritmo. Fazer as devidas comparações com grau de
polinômio costuma ser uma tarefa tediosa e é fácil errar alguma conta.
Z  
x−1 x
Exemplo 8.5.4: Vamos calcular e dx. Pelo teorema de Liouville, caso a
x2
integral possua primitiva elementar, então, pelo teorema 8.5.3, existem P (x) e Q(x)
polinômios sem raízes em comum, com Q(x) mônico, tais que
0
P 0 (x)Q(x) − P (x)Q0 (x) x P (x) x
  
x−1 x P (x) x
e = e = ·e + ·e
x2 Q(x) (Q(x))2 Q(x)

P 0 (x)Q(x) − P (x)Q0 (x) + P (x)Q(x) x


= ·e .
(Q(x))2

Logo, temos que

(x − 1)Q2 (x) = x2 (P 0 (x)Q(x) − P (x)Q0 (x) + P (x)Q(x)).

Passando as expressões com Q(x) para o lado esquerdo da equação acima, obtemos

Q(x) (x − 1)Q(x) − x2 P 0 (x) − x2 P (x) = −x2 P (x)Q0 (x).



(8.1)

Suponha que Q(x) admita uma raiz α ∈ C tal que α 6= 0 e seja r sua multiplicidade.
Então α é raiz com multiplicidade pelo menos r do polinômio do lado esquerdo da
equação 8.1. Pelo item 2 do teorema 8.5.3 e, pelo fato de P (α) 6= 0, temos que α é raiz
de multiplicidade r−1 de −x2 P (x)Q0 (x), que é o lado direito da equação 8.1. Absurdo!
Isto mostra que α = 0 é o único candidato a raiz de Q(x). Pelo fato de Q(x) ser mônico,
temos que Q(x) = xn para algum n ≥ 0. Substituindo na equação 8.1, temos

xn (x − 1)xn − x2 P 0 (x) − x2 P (x) = −nxn+1 P (x).




Portanto,
(x − 1)xn − x2 P 0 (x) − x2 P (x) = −nxP (x). (8.2)

Como P (0) 6= 0, α = 0 é raiz de −xP (x) com multiplicidade 1. Olhando a parte


esquerda da equação 8.2, concluímos imediatamente que n = 1.
Finalmente, dividindo a equação 8.1 por x, temos

x − 1 − xP 0 (x) − xP (x) = −P (x).

Daí,
P (x)(x − 1) = x − 1 − xP 0 (x). (8.3)
Suponha que grau(P (x)) = n ≥ 1, então o lado esquerdo da equação 8.3 tem grau
n + 1 e o lado direito tem grau n. Um absurdo.
Logo P (x) tem grau 0 e, portanto, é constante igual a k. Substituindo P (x) = k na
equação 8.3, temos k(x − 1) = x − 1 e, portanto, k = 1. Provamos que P (x) = 1,
Q(x) = x e, daí,
ex
Z  
x−1 x
e dx = + C.
x2 x

Sugerimos o leitor utilizar softwares para o cálculo da integral acima e, caso o soft-
ware permita, solicite a solução passo a passo.
Renan Lima 281

Teorema 8.5.5
Z
Seja p(x) um polinômio de grau ≥ 2, então ep(x) dx não possui expressão elementar.

Demonstração:
Z
Suponha que ep(x) dx possua expressão elementar, então, pelo teorema de Liouville,
existem polinômios R(x) e S(x), sem raízes em comum e S(x) mônico tais que
 0
p(x) R(x) p(x)
e = e .
S(x)

Derivando a expressão da direita, temos que

R0 (x)S(x) − R(x)S 0 (x) p(x) R(x) 0


ep(x) = e + · p (x)ep(x) .
S 2 (x) S(x)

Eliminando o termo de ep(x) e desenvolvendo as contas, temos que

S 2 (x) = R0 (x)S(x) − R(x)S 0 (x) + R(x)S(x)p0 (x).

Reorganizando os termos que aparece S(x) em um lado, temos que

S(x) · R0 (x) + R(x)p0 (x) − S(x) = R(x)S 0 (x).



(8.4)

Suponha que grau(S(x)) > 0, então, pelo teorema fundamental da álgebra, S(x) possui
raiz α ∈ C de multiplicidade r > 0. Por outro lado, α não é raiz R(x) e α é raiz de S 0 (x)
de multiplicidade r − 1. Analisando a equação 8.4, concluímos que α é raiz do polinômio
à direita da igualdade com multiplicidade r − 1 e α é raiz com multiplicidade pelo menos
r do lado esquerdo da igualdade.
Isso mostra que grau (S(x)) = 0 e, portanto, S(x) é uma função constante. Como S(x) é
mônico, então S(x) = 1 para todo x. Substituindo na equação 8.4, temos que

R(x)p0 (x) = −1 − R0 (x).

E a igualdade é impossível, pois

grau(R(x)p0 (x)) = grau(R(x)) + grau (p0 (x)) > grau(1 − R0 (x)).

Na última desigualdade, precisamos utilizar que grau p0 (x) ≥ 1 para evitar o caso em


que Z
R(x) é constante. Temos, portanto, uma contradição. Logo, a única possibilidade é
que ep(x) dx não é uma função com expressão elementar!

Z x
2
Em particular, não existe expressão elementar para a Integral Gaussiana e−t dt.
0

A função Integral Gaussiana está bem definida! Ela é a função área sob a curva da fun-
2
ção f (t) = e−t . O que foi provado é que esta função não possui expressão elementar.
Em outras palavras, é uma nova fórmula!
282 Matemática Universitária

O teorema de Liouville (caso geral) é importante para a implementação de sistema de


computação simbólica para a resolução de integrais. O resultado mais robusto que temos
hoje é o método de Risch, que é um algoritmo de tomada de decisão se uma determinada
função possui (ou não) primitiva elementar e fornece a resposta final.
A implementação deste método é bastante complicada e é usado em vários aplicati-
vos, tais como Wolfram, Maple, WxMaxima, Sage (com o pacote Simpy). Todos encon-
ex
Z 
x−1 x
traram em poucos segundos que e dx = + C.
x2 x
É possível ainda enganar o computador com substituições complicadas. Dependendo
do software utilizado, ele pode não resolver
Z p
(x cos x + sen x) 1 + (x sen x)2 dx,

tal integral é resolvida com a substituição u = x sen x.


Reiteramos que o teorema de Liouville é muito mais geral que contado aqui e é um
resultado que utiliza argumentos
√ algébricos e, portanto, é interessante que trabalhe em
C ao invés de R. Seja i = −1 a unidade imaginária, então para todo x ∈ R, temos as
seguintes identidades, descobertas por Euler:

eix − e−ix
eix = sen x + i cos x, sen x = ,
2i
eix + e−ix
 
1 1 + ix
cos x = , arctg x = ln .
2 2i 1 − ix
1 1 1
Note que 2
= + , e, portanto, a fórmula abaixo nos fornece algum
1+x 2(1 + ix) 2(1 − ix)
padrão que não pode ser visto se olharmos apenas para o conjunto dos números reais.

ln(1 + x2 )
Z
arctg x dx = x arctg x − + C.
2


Z Z
Pensando em i = −1 como constante, temos if (x) dx = i f (x) dx.
Z
Exemplo 8.5.6: Vamos calcular e2x sen x dx com as fórmulas de Euler. Temos

eix − e−ix
Z Z Z
2x 2x 1
e(2+i)x − e(2−i)x dx

e sen x dx = e · dx =
2i 2i
!
1 e(2+i)x e(2−i)x e2x (2 − i)eix − (2 + i)e−ix
 
= − +C = +C
2i 2+i 2−i 2i 5

e2x  ix
· 2(e − e−ix ) − i(eix + e−ix ) + C

=
10i
e2x 2e2x sen x − e2x cos x
= · [4i sen x − 2i cos x] + C = + C.
10i 5

Esperamos que o leitor note a similaridade entre as funções hiperbólicas vistas na


seção 8.4 e as funções trigonométricas. Finalizamos a seção aproveitando o teorema 8.5.3
e provamos o teorema das frações parciais.
Renan Lima 283

Teorema 8.5.7: Frações Parciais

Sejam P (x) e Q1 (x) polinômios com coeficientes complexos e α ∈ C satisfazendo


Q1 (α) 6= 0. Então existem A1 , · · · , Am ∈ C e um polinômio P1 (x) tais que

P (x) A1 Am P1 (x)
m
= + ··· + m
+ . (8.5)
(x − α) Q1 (x) x−α (x − α) Q1 (x)

Caso os polinômios P e Q tenham coeficientes reais e α ∈ R, então Ai ∈ R e P1 (x)


tem coeficientes reais.

Demonstração:
A demonstração do resultado geral se encontra na videoaula Demonstração das Frações
P (α)
Parciais. Vamos fazer uma demonstração alternativa. Seja Am = e defina
Q1 (α)

F (x) = P (x) − Am · Q1 (x).

Temos que F (α) = 0 e pelo teorema de D’Alembert, existe um polinômio Pm (x) tal que
F (x) = Pm (x).(x − α). Daí,

P (x) = Am · Q1 (x) + F (x) = Am · Q1 (x) + Pm (x)(x − α).

Daí,

P (x) Am Q1 (x) Pm (x)(x − α) Am Pm (x)


= + = + .
(x − α)m Q1 (x) (x − α)m Q1 (x) (x − α)m Q1 (x) (x − α)m (x − α)m−1 Q1 (x)

Note que se P (x), Q1 (x) possuem coeficientes reais e se α ∈ R, então Am ∈ R e Pm (x)


possui coeficientes reais.
Pm (x)
Utilizando o mesmo argumento para a fração , encontramos Am−1 ∈ C
(x − α)m−1 Q1 (x)
e um polinômio Pm−1 (x) tais que

Pm (x) Am−1 Pm−1 (x)


= + .
(x − α)m−1 Q1 (x) (x − α)m−1 (x − α)m−2 Q1 (x)

Daí,
P (x) Am−1 Am Pm−1 (x)
= + + .
(x − α)m Q1 (x) (x − α)m−1 (x − α)m (x − α)m−2 Q1 (x)
Novamente, se tudo estiver no domínio dos reais, então Am−1 ∈ R e Pm−1 (x) possui coe-
ficientes reais. Argumentando, indutivamente, encontramos A1 , · · · , Am e um polinômio
P1 (x) tais que

P (x) A1 Am P1 (x)
= + ··· + + .
(x − α)m Q1 (x) x−α (x − α)m Q1 (x)

Corolário 8.5.8

Na notação do teorema 8.5.7, suponha que grau(P (x)) < m + grau(Q1 (x)), então
grau(P1 (x)) < grau(Q1 (x)).
284 Matemática Universitária

Demonstração:
Se grau(P1 (x)) ≥ grau(Q1 (x)), então multiplicando a equação 8.5 por (x − α)m · Q1 (x),
temos que
P (x) = A1 (x − α)m−1 Q1 (x) + A2 (x − α)m−2 Q1 (x) + . . . + Am .Q1 (x) + (x − α)m P1 (x).

Como grau((x − α)m P1 (x)) ≥ m + grau(Q(x)) e como os outros polinômios que apare-
cem no lado direito do somatório acima tem grau, no máximo, (m − 1) + grau(Q1 (x)),
concluimos que
grau(P (x)) ≥ m + grau(Q1 (x)).
Uma contradição. Logo grau(P1 (x)) < grau(Q1 (x)).

Corolário 8.5.9

Na notação do teorema 8.5.7, se P (x) e Q1 (x) são polinômios com coeficientes reais
e suponha que as duas raízes de x2 + ax + b, com a, b ∈ R sejam raízes complexas e
não reais. Então existem A, B ∈ R e polinômio P1 (x) com coeficientes reais tais que
P (x) Ax + B P1 (x)
= 2 + .
(x2 + ax + b)Q1 (x) (x + ax + b) Q1 (x)

Demonstração:
Escreva x2 + ax + b = (x − α)(x − α), em que α ∈ C − R. Aplicando duas vezes o teorema
8.5.7, existem C, D ∈ C e um polinômio P1 (x) com coeficientes complexos tais que

P (x) C D P1 (x)
= + +
(x2 + ax + b)Q1 (x) (x − α) (x − α) Q1 (x)
C(x − α) + D(x − α) P1 (x)
= 2
+ .
x + ax + b Q1 (x)

Multiplicando a equação acima por (x2 + ax + b)Q1 (x) = (x − α).(x − α)Q1 (x), temos a
seguinte igualdade entre polinômios,
P (x) = C(x − α)Q1 (x) + D(x − α)Q1 (x) + (x2 + ax + b)P1 (x).
P (α) P (α)
Fazendo x = α, temos que C = e, analogamente, D = = C.
(α − α)Q1 (α) (α − α)Q1 (α)
A última igualdade decorre do fato de os polinômios P (x) e Q1 (x) possuírem coeficientes
reais.
Finalmente, tome A = C +C e B = −C ·α−C ·α. Utilizando as propriedades de números
complexos, temos que A = A e B = B. Logo A, B ∈ R e, portanto,

P (x) Ax + B P1 (x)
= 2 + .
(x2 + ax + b)Q1 (x) x + ax + b Q1 (x)

Não é difícil concluir que P1 (x) possui coeficientes reais.

O caso geral, em que o denominador é da forma (x2 + ax + b)m Q1 (x), não é uma
consequência direta do teorema 8.5.7, mas é possível também adaptar a argumentação
da demostração do teorema e provar este caso. Outro jeito é utilizar o resultado da
videoaula Demonstração das Frações Parciais e utilizar a divisão Euclidiana.
Renan Lima 285

Exercícios

1. Encontre a primitiva das funções abaixo.


Z −x
e (−2x2 + x + 6)
Z
x + 1 −x
a) e dx b) dx
x2 x3
2
(−8x3 + 10x2 + 5)e−x
Z Z
−x2 3 2
c) e (−2x − 6x + 3) dx d) dx
x2

(x − k)ex
Z
2. Se k 6= 1, mostre que dx não possui primitiva elementar.
x2

Z
3. Se P (x) e Q(x) são polinômios e se P (x)eQ(x) dx possui expressão elementar, en-
tão ela é da forma R(x)eQ(x) , em que R(x) é polinômio. Conclua que se grau (Q) ≥
grau (P ), então P (x)eQ(x) dx não possui expressão elementar elementar.

ex
Z
4. Se P (x) é um polinômio não constante, mostre que dx não possui primitiva
p(x)
elementar.

Z Z Z
ex dx
5. Mostre que as integrais e dx, e ex ln x dx não possuem primitivas ele-
ln x
mentares.

6. Mostre que existem A1 , B1 , · · · , Am , Bm ∈ R tais que

P (x) A1 x + B1 A2 x + B2 Am x + B m
= 2 + + ... + 2 ,
(x2 + ax + b)m x + ax + b (x2 + ax + b)2 (x + ax + b)m

em que a, b ∈ R e P (x) é polinômio com coeficientes reais e grau P (x) < 2m.

7. Sejam P (x) e Q(x) polinômios com coeficientes reais, a, b ∈ R tais que α ∈ C − R é


raiz de x2 + ax + b. Se Q(α) 6= 0, mostre que existem A, B ∈ R e polinômio P1 (x)
com coeficientes reais, tais que

P (x) Ax + B P1 (x)
= 2 + .
(x2 + ax + b)m Q(x) (x + ax + b)m (x2 + ax + b)m−1 Q(x)
 
Conclua que se grau P (x) < grau Q(x) + 2m, então
 
grau P1 (x) < grau Q(x) + (2m − 2).

Respostas

Sugerimos o uso de softwares para a verificação de suas respostas.


Parte IV

Introdução à Análise na Reta

286
C APÍTULO

9 Um pequeno convite à Análise

9.1 Introdução

Neste capítulo, o objetivo é fornecer uma introdução à análise real. Antes de come-
çarmos a parte matemática, falaremos, nesta introdução, um pouco sobre a história da
matemática voltada para a definição de limites. Esperamos que o relato abaixo justifique
a decisão de colocar a definição formal de limites no último capítulo do livro e também
motive o leitor a pesquisar um pouco sobre a história do cálculo e a contribuição dos
cientistas da época para o seu desenvolvimento.

Na segunda metade do século XVII, Leibniz publicou os primeiros artigos sobre a sua
descoberta do cálculo diferencial e passou a ser usada em larga escala no mundo todo.
Devido ao sucesso do cálculo de Leibniz, Newton se arrependera de não ter publicado
a sua descoberta, que foi feita 10 anos antes, e reivindicou a paternidade do cálculo,
abrindo uma verdadeira batalha política e científica que só foi completamente resolvida
250 anos depois.

Newton utilizava os incrementos infinitesimais no cálculo diferencial apelando para


propriedades da dinâmica. Por valer-se da eliminação de diferenciais de ordens superi-
ores sem justificativa plausível, foi, assim como Leibniz, duramente criticado. Dentre os
críticos, o mais famoso é o bispo anglicano George Berkeley: No calculo diferencial, Leib-
niz e seus seguidores não têm qualquer escrúpulo para, em primeiro lugar, supor e, em seguida,
rejeitar quantidades infinitamente pequenas, com uma clareza de compreensão e uma exatidão de
raciocínio que poderia ser discernida por qualquer homem pensante isento de preconceitos.

Para Berkeley, Leibniz estaria cometendo o mesmo tipo de falácia de Newton, porque,
ao supor uma quantidade infinitamente pequena no cálculo, ela estaria sendo conside-
rada como possuindo alguma magnitude. Porém, ao rejeitá-la, ela passa a ser tratada
como não possuindo tal magnitude. Portanto, eis novamente uma injustificada mudança
de hipótese. Aparentemente, Berkeley acreditava nos resultados do cálculo diferencial,
mas era crítico com a falta de embasamento lógico necessário para justificar as passagens
de algumas contas.

Apesar das críticas e dos debates acalorados, ninguém apresentou formalmente um


exemplo em que o método infinitesimal não funcionava corretamente na prática. Tendo
o cálculo diferencial e integral sobrevivido às críticas e aos ataques iniciais, restava, por-
tanto, a tarefa de consolidá-lo.

No século XVIII, D’Alembert era o único cientista da época que reconheceu explicita-
mente a centralidade do limite no cálculo. Em sua famosa Encyclopédie, ele afirmou que
a definição apropriada ao conceito de derivada requer a compreensão de limite primeira-
mente e formulou, em 1765, a seguinte definição: uma grandeza é o limite de outra grandeza
quando a segunda pode se aproximar da primeira dentro de algum valor dado, tão pequena quanto
podemos supor, sem que a grandeza aproximada exceda para o que está sendo aproximado, tal que
a diferença entre as grandezas e seu limite seja absolutamente indistinguível.
288 Matemática Universitária

Em torno de 1825, com a teoria de limites despontando no horizonte matemático,


Cauchy introduz, em seu livro para o curso de Análise, importantes resultados sobre
continuidade, de diferenciação e de integração, tornando-se, com isso, o percursor do
cálculo diferencial e integral moderno. Apesar dos grandes feitos, Cauchy não definiu
rigorosamente o conceito de limites.
As imprecisões remanescentes dos trabalhos de Cauchy foram finalmente sanadas
por Weierstrass em torno de 1850. Dentre as suas várias contribuições, tem-se a definição
formal de limite (ε, δ) e as correspondentes definições de continuidade e diferenciabili-
dade. Ele introduziu a notação limx→x0 , mas para curiosidade, a notação de limites usada
hoje lim é devido a Godfrey Hardy em 1908.
x→x0

Destacamos que a definição rigorosa de limites pode ser encontrada em um pequeno


livro de Bolzano em 1817, em que ele prova o teorema do valor intermediário. Parece
que, nesta época, Bolzano não estava em contato com os matemáticos e muito de seus
trabalhos foram descobertos em torno de 1876, isto é, 30 anos após a sua morte.
Renan Lima 289

9.2 Definição Formal de Limites e de Continuidade

Nesta seção, faremos, com o devido rigor, a definição do conceito de limite, as suas
propriedades básicas e as suas demonstrações. Sugerimos assistir à nossa videoaula De-
finição Formal de Limites.

Definição 9.2.1: Definição Formal de Limites

Considere f : (a, b) − {x0 } → R uma função real e x0 ∈ (a, b). Escrevemos

lim f (x) = L
x→x0

se, dado ε > 0, existe δ > 0 tal que

se 0 < |x − x0 | < δ então |f (x) − L| < ε.

1. Considere uma função f : (a, b) → R e seja


L
L o candidato a lim f (x).
x→x0

x0

L+ε

L
2. Fixe, arbitrariamente, ε > 0 e analise a faixa
{(x, y) / L − ε < y < L + ε}. L−ε

x0

L+ε
3. Encontre um intervalo (c, d) contendo x0 e
L
considere a faixa {(x, y) / c < x0 < d} e olhe
a interseção desta faixa e com a faixa do item L−ε
anterior.
c x0 d

L+ε

4. Ajuste a faixa vertical de modo que fique si- L


métrico em relação ao ponto x0 .
L−ε

x0
x0 − δ

x0 + δ

5. Para cada x no intervalo (x0 −δ, x0 +δ), temos


L+ε
que o par ordenado (x, f (x)) está na zona de f (x)
interseção das duas faixas. Isso significa que L
|f (x) − L| < ε.
L−ε

x0 x
x0 − δ

x0 + δ
290 Matemática Universitária

L+ε

6. O δ não é único. Pode-se escolher uma faixa L


menor.
L−ε

x0

x0 − δ

x0 + δ
L + ε/2
7. A mesma lógica funciona se diminuirmos o ε. L
L − ε/2
Só temos que fazer um ajuste fino do δ.

x0

x0 − δ

x0 + δ
Teorema 9.2.2: Unicidade do Limite e Propriedade Local do Limite

Sejam f, g : (a, b) → R funções e x0 ∈ (a, b).

1. Se lim f (x) existir, então ele assume um único valor.


x→x0

2. Se f = g para todo x 6= x0 e se lim f (x) = L, então lim g(x) = L.


x→x0 x→x0

Demonstração:
A demonstração se encontra na página 332. A demonstração do item 1 pode ser encon-
trado na nossa videoaula Demonstração da Unicidade do Limite. Provemos o item 2.
Dado ε > 0. Por hipótese, existe δ > 0 tal que

0 < |x − x0 | < δ ⇒ |f (x) − L| < ε.

Note que se 0 < |x − x0 | implica que x 6= x0 e, portanto,

0 < |x − x0 | < δ ⇒ |g(x) − L| = |f (x) − L| < ε.

Exemplo 9.2.3: Considere a função constante f (x) = c. Vamos calcular pela definição
que lim f (x) = c. Dado ε > 0. Tome δ = 1. Se 0 < |x − x0 | < δ, então
x→x0

|f (x) − c| = |c − c| = 0 < ε.

c+ε

c−ε
x
x0
x0 − 1

x0 + 1

Recomendamos a videoaula Calculando Limite de uma Função Afim na Definição.


Renan Lima 291

Exemplo 9.2.4: Seja f (x) = 2x − 1. Vamos calcular na definição que lim f (x) = 3.
x→2

A sugestão é fazer de trás para frente para poder fazer uma boa escolha do δ. Temos
que |f (x) − 3| = |2x − 4| = 2|x − 2|. Queremos que escolher δ > 0 (dependendo de ε)
tal que se |x − 2| < δ então 2|x − 3| < ε. Pensando um pouco, uma escolha apropriada
ε
é tomar δ = . Vamos agora escrever formalmente estas ideias.
2
ε
Dado ε > 0, tome δ = . Então para x satisfazendo 0 < |x − 2| < δ, temos
2
|f (x) − 3| = |2x − 4| = 2|x − 2| < 2δ = ε.

3+ε

3−ε

x
x0
2

2
ε

ε
x0 −

x0 +

Para entendermos as contas com uma escolha de um ε > 0 numérico específico, su-
gerimos a nossa videoaula Pré-aula para Explicar Graficamente um Limite na Definição.
Depois dela, sugerimos a nossa videoaula Calculando Limite de uma Função Quadrática
na Definição.

Teorema 9.2.5: Propriedades Básicas de Limite

Dado c ∈ R e sejam f e g funções definidas próximos de um ponto x0 satisfazendo


lim f (x) = L e lim g(x) = M . Então
x→x0 x→x0

1. lim (f (x) + g(x)) = L + M ; 4. lim f (x) · g(x) = L · M ;


x→x0
x→x0

2. lim (f (x) − g(x)) = L − M ; f (x) L


x→x0 5. lim = , caso M 6= 0;
x→x0 g(x) M
3. lim (cf (x)) = cL; 6. lim x = x0 .
x→x0
x→x0

Demonstração:
1. A demonstração se encontra no item 1 da página 334.

2. Dado ε > 0. Por hipótese, existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que


ε
0 < |x − x0 | < δ1 ⇒ |f (x) − L| < ,
2

ε
0 < |x − x0 | < δ2 ⇒ |g(x) − M | < .
2
292 Matemática Universitária

Tome δ = min{δ1 , δ2 }. Se 0 < |x − x0 | < δ, então, pela desigualdade triangular

|f (x) − g(x) − (L − M )| = |(f (x) − L) + (M − g(x))|


ε ε
≤ |f (x) − L| + |M − g(x)| < + = ε.
2 2

3. Se c = 0, temos que a função cf (x) é constante e foi feita no exemplo 9.2.3. Supo-
mos, portanto, que c 6= 0. Dado ε > 0, então, por hipótese, existe δ > 0 tal que
ε
se 0 < |x − x0 | < δ então |f (x) − L| < .
|c|

Daí, temos
ε
|cf (x) − cL| = |c|.|f (x) − L| < |c|. = ε.
|c|

4. A demonstração se encontra no item 3 da página 334.

5. A demonstração se encontra na página 335.

6. Escreva f (x) = x. Dado ε > 0, tome δ = ε. Temos, portanto,

se 0 < |x − x0 | < δ, então |f (x) − x0 | = |x − x0 | < δ = ε.

Falemos agora sobre o conceito de Limites Laterais. Sugerimos a nossa videoaula


Definição Formal de Limites Laterais.

Definição 9.2.6: Definição Formal de Limites Laterais

1. Considere f : (x0 , b) → R uma função. Escrevemos

lim f (x) = L
x→x+
0

se, dado ε > 0, existe δ > 0 tal que, se 0 < x − x0 < δ, então |f (x) − L| < ε.

2. Considere f : (a, x0 ) → R uma função. Escrevemos

lim f (x) = L
x→x−
0

se, dado ε > 0, existe δ > 0 tal que, se −δ < x − x0 < 0, então |f (x) − L| < ε.


Exemplo 9.2.7: Vamos provar que lim x = 0. Para isso dado ε > 0, queremos
x→0+ √
encontrar δ > 0 tal que se 0 < x − 0 < δ, então | x − 0| < ε. Elevando ao quadrado,
temos que x < ε2 .
Organizando a escrita, tome δ = ε2 , então se 0 < x < δ, temos que
√ √ √ √
| x − 0| = x < δ = ε2 = ε.

n

Exemplo 9.2.8: Dado n ∈ N e x0 ∈ [0, +∞), vamos provar que lim x = n
x0 . O
x→x+
0
argumento é bem parecido com a segunda parte da videoaula Calculando Limite de
uma Função Quadrática na Definição.
Renan Lima 293


> 0 e tome b = ( n x0 + ε)n . Como a função f (x) = xn é crescente e vale
Dado ε √
√ √
n x < n b = n x + ε, temos que x < b Tome δ = b − x > 0, então se 0 < x − x < δ,
0 0 0 0 0
temos que x0 < x < b e, portanto
√ √ √ √ √
n √
| n x − n x0 | = n x − n x0 < b − n x0 = ε.

n

Exemplo 9.2.9: Dado n ∈ N e x0 ∈ (0, +∞), vamos provar que lim x= n
x0 .
x→x−
0

Dado ε > 0. Se n x0 − ε ≤ 0, tome δ = x0 . Daí, se −δ < x − x0 < 0, temos que
0 = x0 − δ < x < x0 e, portanto,
√ √ √ √ √ √ √
| n x − n x0 | = n x0 − n x = ( n x0 − ε) + (ε − n x) ≤ ε − n x < ε.

√ √
Se n x0 − ε > 0, tome a = ( n x0 − ε)n . Como a função f (x) = xn é crescente e vale
√ √ √
n
a = n x0 −ε < n x0 , temos que a < x0 . Tome δ = x0 −a > 0, então se −δ < x−x0 < 0,
temos que a < x < x0 e, portanto
√ √ √ √ √ √
| n x − n x0 | = n x0 − n x < n x0 − n a = ε.

n
Deixamos como exercício mostrar que para n impar, vale lim x = 0.
x→0−

Exemplo 9.2.10: Os resultados do teorema 9.2.5 são válidos também para limites late-
rais. No caso do limite da subtração, se lim f (x) = L e lim g(x) = M , então dado
x→x+
0 x→x+
0
ε > 0, existem, por hipótese, δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que
ε
0 < x − x0 < δ1 ⇒ |f (x) − L| < ,
2
ε
0 < x − x0 < δ2 ⇒ |g(x) − M | < .
2
Tome δ = min{δ1 , δ2 }. Se 0 < x − x0 < δ, então, pela desigualdade triangular

|f (x) − g(x) − (L − M )| = |(f (x) − L) + (M − g(x))|


ε ε
≤ |f (x) − L| + |M − g(x)| < + = ε.
2 2
E, portanto, lim (f (x) − g(x)) = L − M.
x→x+
0

Teorema 9.2.11: Teorema dos Limites Laterais

Seja f : (a, b) − {x0 } → R uma função real.

1. Se lim f (x) = L, então lim f (x) = L e lim f (x) = L.


x→x0 x→x+ x→x−
0 0

2. Se lim f (x) = L e lim f (x) = L, então vale lim f (x) = L.


x→x+ x→x− x→x0
0 0

Demonstração:
A demonstração se encontra na nossa videoaula Definição Formal de Limites Laterais e
a demonstração por escrito se encontra na página 337.
294 Matemática Universitária


n

Exemplo 9.2.12: Pelos exemplos 9.2.8 e 9.2.9, se x0 > 0, temos que lim x= n
x0 ; Se
x→x0
√ √
n é impar, vale lim n x = 0 e se n é par vale lim n x = 0.
x→0 x→0+

Definição 9.2.13: Continuidade

Dada uma função f : [a, b] → R.

1. f é contínua em x0 ∈ (a, b) se lim f (x) = f (x0 ).


x→x0

2. f é contínua em a se lim f (x) = f (a).


x→a+

3. f é contínua em b se lim f (x) = f (b).


x→b−

Dizemos que f é contínua se ela é contínua em todos os pontos do seu domínio.

Exemplo 9.2.14: As funções constantes e lineares são contínuas. Além disso, por um
simples argumento de indução, todas as funções polinomiais são contínuas. Para o
leitor que deseja ver a escrita detalhada do argumento de indução, ver a página 351.
Como divisão de funções contínuas é contínua, então frações de polinômios são contí-
nuas em todo o seu domínio. Em particular, a função f (x) = xm é contínua para todo
m ∈ Z. Note que se m < 0, então x = 0 não está no domínio de f .

Teorema 9.2.15: Continuidade da Composta

Se f e g são funções contínuas, então f ◦ g é contínua.

Demonstração:
A demonstração se encontra na página 346 e também na videoaula Demonstração da
Continuidade da Composta. Fixe x0 no domínio de f ◦ g. Escreva y = g(x), z = f (y) e
g(x0 ) = y0 .
Dado ε > 0. Pela continuidade da f em y0 , existe δ1 > 0, tal que

|y − y0 | < δ1 ⇒ |f (y) − f (y0 )| < ε.

Como g(x0 ) = y0 , então, pela continuidade de g, existe δ > 0 tal que

|x − x0 | < δ ⇒ |g(x) − g(x0 )| < δ1 .

Compondo as duas relações acima, provamos

|x − x0 | < δ ⇒ |g(x) − g(x0 )| < δ1 ⇒ |f (g(x)) − f (g(x0 ))| < ε.

Concluímos que f ◦ g é contínua em x0 .

Exemplo 9.2.16: Pelo exemplo 9.2.12, a função f : [0, +∞) → R é √ contínua. Para
n
n ímpar, considere a função g : (−∞, 0] → R definida por g(x) = x. Temos que

g(x) = −f (−x) e, portanto, g é contínua. Concluímos que a função n x é contínua.
Renan Lima 295

m
Exemplo 9.2.17: Dado p ∈ Q racional e escreva p = , com m ∈ Z e n ∈ N. Tome
√ p
n
m
f (x) = x e g(x) = x. Temos que g ◦ f (x) = x é contínua.
n


Exemplo 9.2.18:
√ Considere as funções contínuas f (x) = x e g(x) = x2 , então a função
f ◦ g(x) = x2 = |x| é contínua.

Teorema 9.2.19: Limite da Raiz é a Raiz dos Limites

Suponha que lim f (x) = L, então


x→x0
p
n

n
lim f (x) = L, se n é par e f (x) ≥ 0 para x próximo de x0 .
x→x0
p √
n
lim n f (x) = L se n é ímpar e L ∈ R.
x→x0

Demonstração:
Considere a função auxiliar

f (x), se x 6= x0 ,
F (x) =
L, se x = x0 .

Como, pelo teorema 9.2.2 item 2, temos que

lim F (x) = lim f (x) = L = F (x0 ),


x→x0 x→x0

logo F é contínua em x0 . Como a função g(x) = n x é contínua e pelo
p teorema 9.2.15,
que diz que composição de funções contínuas é contínua, temos que n F (x) = g ◦ F (x)
é contínua e vale p p √
n
lim n F (x) = n F (x0 ) = L.
x→x0

p
n
p
Como vale f (x) = n F (x) para todo x 6= x0 , então, pelo teorema 9.2.2 item 2,
p p √n
lim n f (x) = lim n F (x) = L.
x→x0 x→x0

Definição 9.2.20: Limites no Infinito

1. Seja f : (a, +∞) → R. Dizemos que

lim f (x) = L
x→+∞

se para todo ε > 0 existe K > 0 tal que se x > K, então |f (x) − L| < ε.

2. Seja f : (−∞, b) → R. Dizemos que

lim f (x) = L
x→−∞

se para todo ε > 0 existe K > 0 tal que se x < −K, então |f (x) − L| < ε.
296 Matemática Universitária

1
Exemplo 9.2.21: Vamos calcular, na definição, lim = 0. Dado ε > 0. Queremos
x→+∞ x
1
encontrar K > 0 tal que se x > K, então < ε. A ultima desigualdade ocorre se e
x
1 1
somente se |x| > . Um bom candidato para a escolha de K é (ver figura abaixo).
ε ε
y

ε
x
−ε K

1 1 1
Vamos formalizar esta escrita. Tome K = . Se x > K > 0, então 0 < < = ε.
ε x K
1 1
Concluímos daí que − 0 = < ε.
x x

Exemplo 9.2.22: Os resultados do teorema 9.2.5 são válidos também para limites no
infinito. Suponha que lim f (x) = L e lim g(x) = M .
x→−∞ x→−∞

Dado ε > 0. Por hipótese, existem K1 > 0 e K2 > 0 tais que


ε
x < −K1 ⇒ |f (x) − L| < ,
2
ε
x < −K2 ⇒ |g(x) − M | < .
2
Tome K = max{K1 , K2 }. Se x < −K, então, pela desigualdade triangular

|f (x) − g(x) − (L − M )| = |(f (x) − L) + (M − g(x))|


ε ε
≤ |f (x) − L| + |M − g(x)| < + = ε.
2 2
E, portanto, lim (f (x) − g(x)) = L − M. Para mais casos, sugerimos a página 338.
x→−∞

Definição 9.2.23: Limites Infinitos

Seja f : (x0 , b) → R uma função.

1. Dizemos que lim f (x) = +∞ se para todo M > 0, existe δ > 0 tal que se
x→x+
0
0 < x − x0 < δ, então f (x) > M .

2. Dizemos que lim f (x) = −∞ se para todo M > 0, existe δ > 0 tal que se
x→x+
0
0 < x − x0 < δ, então f (x) < −M .

As definições são análogas para limites laterais à esquerda que vai para o infinito.
Renan Lima 297

1
Exemplo 9.2.24: Vamos mostrar que lim = +∞.
x→0+ x
1 1 1
Dado M > 0. Tomando δ = , temos que se 0 < x < δ, então > = M.
M x δ

Para as definições formais dos casos limites restantes, tal como lim f (x) = +∞,
x→+∞
recomendamos a nossa videoaula Definição Formal de Limites Infinitos e no Infinito.
Exemplo 9.2.25: Vamos mostrar que lim x2 = +∞.
x→+∞

Dado M > 0. Tomando K = M , temos que se x > K, então x2 > M .

Teorema 9.2.26: Operações do Infinito

Sejam f, g, h : (x0 , b) → R funções tais que lim f (x) = +∞, lim g(x) = +∞ e
x→x+
0 x→x+
0
lim h(x) = L. Então,
x→x+
0

1. lim (f (x) + g(x)) = +∞. 4. lim −f (x) = −∞.


x→x+
x→x+
0
0

2. lim f (x)g(x) = +∞. 5. lim (f (x) + h(x)) = +∞.


x→x+
x→x+
0
0

(
p
3. lim n f (x) = +∞. +∞, se L > 0,
x→x+
6. lim h(x)f (x) =
0 x→x+
0
−∞, se L < 0.


Temos enunciados análogos se trocarmos x → x+
0 por x → x0 , x → +∞ ou x → −∞.

Demonstração:
A demonstração se encontra na página 339. A demonstração está mais enxuta, pois acre-
ditamos que o leitor, após ler esta seção com cuidado, consiga entender a demonstração.

Teorema 9.2.27: Relação entre o Infinito e o Zero

Sejam f, g : (x0 , b) → R tais que lim f (x) = 0 e lim g(x) = +∞, então
x→x+
0 x→x+
0
1
1. lim = 0.
x→x+
0
g(x)
1
2. Se f (x) > 0 quando x > x0 , então lim = +∞.
x→x+
0
f (x)
1
3. Se f (x) < 0 quando x > x0 , então lim = −∞.
x→x+
0
f (x)

Temos enunciados análogos se trocarmos x → x+
0 por x → x0 , x → +∞ ou x → −∞.

Demonstração:
A demonstração se encontra no vídeo Demonstração de Propriedades com o Infinito e o
Zero. A demonstração por escrito se encontra na página 340.
298 Matemática Universitária

Finalizamos a seção indicando uma demonstração precisa que não existe lim sen x.
x→+∞
π 3π
O truque é escolher os pontos an = 2nπ + e bn = 2nπ + para n suficientemente
2 2
1
grande, observar que sen an = 1 e sen bn = −1 para qualquer n e escolher ε = .
2
1
Exemplo 9.2.28: Vamos supor que lim sen x = L para algum L. Dado ε = , temos,
x→+∞ 2
por hipótese, que existe K > 0 tal que para todo x ∈ R satisfazendo x > K, então

1 1
L− < sen x < L + .
2 2
π 3π
Seja n ∈ N tal que n > K e considere an = 2nπ + e bn = 2nπ + . Pela escolha do
2 2
n, temos que an > K e bn > K. Para fixar as ideias, vamos supor que L ≥ 0. A figura
abaixo mostra como vamos proceder para chegarmos a uma contradição.
y

1
L+
2

L
b1 b2 b3 b4 b5
a1 a2 a3 a4 a5 x
1 K
L−
2

Neste caso, como L ≥ 0, temos que para todo x > K.

1 1 1
− ≤ L − < sen x < L + .
2 2 2
1
Em particular, para x = bn , temos que − < sen bn = −1. Uma contradição.
2
Analogamente, se L < 0, temos que, para todo x > K,

1 1
sen x < L + < .
2 2
1
Tomando x = an , temos que 1 = sen an < . Uma contradição.
2
Em resumo, o que fizemos no exemplo acima é supor que existe lim sen x e denota-
x→+∞
1
mos tal limite por L. Se L ≥ 0, chegamos à contradição − < −1. Se L < 0, chegamos
2
1
à contradição > 1. Então, o erro lógico foi supor que existe lim sen x.
2 x→+∞

Deixamos como exercício ao leitor provar que L não pode ser +∞ ou −∞.
Renan Lima 299

Exercícios

1. Mostre na definição os seguintes limites.


1 1
a) lim (5x − 2) = 8 b) lim (x2 + 4x − 1) = 20 c) lim =
x→2 x→3 x→3 x 3
x2 + 1 √
d) lim x3 = −1 e) lim = −2 f) lim 3 x = 2
x→−1 x→−1 x x→8

2. Seja f : (a, b) → R com x0 ∈ (a, b). Mostre que

lim f (x) = 0 ⇐⇒ lim |f (x)| = 0.


x→x0 x→x0

Exiba um exemplo em que f é função descontínua, mas |f | contínua.

3. Mostre, na definição, os seguintes limites.


1 1
a) lim =0 b) lim =0
x→+∞ x+1 x→+∞ x2 + 1
x x2 + 1
c) lim 2 =0 d) lim =1
x→+∞ x + 1 x→+∞ (x + 1)2

4. Resolva o exercício proposto deixado no final do exemplo 9.2.28.

 
1
5. Mostre que não existe lim cos .
x→0 + x


1, se x ∈ Q,
6. Seja f (x) = Mostre que f é descontínua em todos os pontos.
−1, se x ∈
/ Q.


x, se x ∈ Q,
7. Seja f (x) = Mostre que f é contínua apenas em x = 0.
−x, se x ∈
/ Q.

8. Sejam f, g : R → R funções contínuas. Seja



f (x), se x ∈ Q,
h(x) =
g(x), se x ∈/ Q.

Mostre que h é contínua em todos os pontos x0 tais que f (x0 ) = g(x0 ). Mostre
também que se f (x1 ) 6= g(x1 ), então h é descontínua em x1 .

9. Construa um exemplo de uma função f : R → R conforme pedido em cada item.


a) f contínua apenas nos pontos 1, 2 e 3.
b) f contínua apenas no conjunto dos números inteiros.
c) f descontínua apenas no conjunto dos números inteiros.
300 Matemática Universitária

9.3 O Teorema do Confronto

Nesta seção, vamos nos dedicar a dois resultados extremamente importantes e muito
usados em análise, principalmente para cálculo de limites.

Teorema 9.3.1: Teorema do Confronto

Sejam f, g, h : (a, b) − {x0 } → R funções satisfazendo f (x) ≤ g(x) ≤ h(x) para todo
x ∈ (a, b) − {x0 }.

1. Se lim f (x) = lim h(x) = L, então, lim g(x) existe e vale lim g(x) = L.
x→x0 x→x0 x→x0 x→x0

2. Se lim f (x) = +∞, então lim g(x) = +∞.


x→x0 x→x0

3. Se lim h(x) = −∞, então lim g(x) = −∞.


x→x0 x→x0

Enunciados análogos são obtidos ao substituir para x → ±∞ e para limites laterais.

Demonstração:
A demonstração deste teorema se encontra na página 341. Demonstraremos apenas o
item 1, que pode ser encontrada na videoaula Demonstração do Teorema do Confronto.
Dado ε > 0. Por hipótese, existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que

0 < |x − x0 | < δ1 ⇒ |f (x) − L| < ε,


0 < |x − x0 | < δ2 ⇒ |h(x) − L| < ε.

Tome δ = min {δ1 , δ2 }. Reescrevendo a condição |f (x) − L| < ε por L − ε < f (x) < L + ε,
temos para cada x ∈ R satisfazendo 0 < |x − x0 | < δ, então

L − ε < f (x) ≤ g(x) ≤ h(x) < L + ε.

Isso mostra que |g(x) − L| < ε se 0 < |x − x0 | < δ.


y

h(x)
L+ε

L−ε
f (x)
x
x0

Teorema 9.3.2: Mudança de Variáveis no Limite

Seja u : (a, b) → (c, d) uma função estritamente crescente (ou decrescente). Supo-
nha que lim u(x) = u0 . Seja f : (c, d) → R função tal que lim f (u) existe, então
x→x0 u→u0
lim f (u(x)) existe e vale lim f (u(x)) = lim f (u).
x→x0 x→x0 u→u0

O mesmo enunciado é válido se trocarmos por limites laterais e limites no infinito.


Renan Lima 301

Demonstração:
A demonstração se encontra na página 344.

Vamos fazer algumas contas para entendermos a importância deste resultado.



Exemplo 9.3.3: Vamos provar que a função f (x) = n x é contínua
√ se x = 1. Façamos a
n
mudança de variáveis x = h + 1. Queremos provar que lim 1 + h = 1. Para h > 0,
h→0
temos que 1 ≤ (1 + h) ≤ (1 + h)n . E, portanto,

n
1 ≤ 1 + h ≤ 1 + h.

n
Como lim 1 = lim (1 + h) = 1, pelo teorema do confronto, lim 1 + h = 1. Analo-
h→0 + h→0+ h→0 +

n
gamente, mostramos que lim 1 + h = 1 usando a desigualdade
h→0−

1
(1 + h)n ≤ 1 + h ≤ 1 para − < h < 0.
2

n
Para mostrar que x é contínua em x0 > 0, façamos a mudança de variáveis x = x0 +h
e, temos que r
√ p
n √ n h
n
x= x0 + h = n
x0 1+ .
x0
h
Fazendo a mudança de variáveis s = e utilizando o resultado acima, temos
x0
p √ √ √
lim n x0 + h = n x0 lim n 1 + s = n x0 .
h→0 s→0

Exemplo 9.3.4: Para cada x ∈ R considere [[x]] o maior inteiro n tal que n ≤ x. A função
é conhecida como Função maior inteiro ou Função piso. Por exemplo, [[4, 3]] = 4,
[[3]] = 3, [[−2, 1]] = −3. Temos que para todo x ∈ R, vale x − 1 ≤ [[x]] ≤ x ≤ [[x + 1]].
Então vale
1 1 1 1
≤ ≤ ≤ .
[[x + 1]] x [[x]] x−1

1 1 1
Como lim = lim = 0. Pelo teorema do confronto, vale lim = 0.
x→+∞ x x→+∞ x − 1 x→+∞ [[x]]

É comum denotarmos [[x]] = n, quando trabalhamos com resultados de sequências


numéricas e argumentarmos que n ≤ x < n + 1 e fazer n → +∞, implica que x → +∞.
1 n
 
Defina an = 1 + . Na demonstração da página 365, vemos que a sequência an é
n
crescente e limitada. Veremos no teorema 9.4.7 da seção 9.4 que a sequência an converge
e definimos o número de Euler e como o limite desta sequência, isto é, lim an = e.
n→+∞
Além disso, pelo mesmo teorema 9.4.7, temos que an < e para todo n. Como a função
logaritmo é crescente, temos que ln an < ln e = 1. Daí,
1 n
   
1
ln an = ln 1 + = n ln 1 + .
n n
Temos, portanto, a desigualdade
 
1 1
ln 1 + < .
n n
302 Matemática Universitária

Exemplo 9.3.5: Vamos provar que a função ln x é contínua em todos os pontos x0 > 0.
Para x0 = 1. Considere x = 1 + h e calculamos, inicialmente, lim ln(1 + h).
h→0+
 
1 1 1
Seja n = . Temos que n ≤ e, portanto, h ≤ . Daí,
h h n
 
1 1
0 ≤ ln(1 + h) ≤ ln 1 + ≤ .
n n

Como n → +∞, então, pelo teorema do confronto, concluímos que

lim ln x = lim ln(1 + h) = 0.


x→1+ h→0+

Façamos a mudança de variável x = 1 − h. Então, se x → 1− , temos que h → 0+ . Daí,


   
1 h
ln(1 − h) = − ln = − ln 1 + .
1−h 1−h

h
Considere a mudança de variáveis s = , então se h → 0+ , tem-se s → 0+ , daí
1−h

lim x = lim ln(1 − h) = lim − ln(1 + s) = 0.
x→1− h→0+ s→0+

Finalmente, para mostrarmos que ln x é contínua em x0 > 0, considere a mudança de


variável x = h + x0 . Temos que
  
h
lim ln x = lim ln(x0 + h) = lim ln x0 1 +
x→x0 h→0 h→0 x0
 
h
= ln x0 + lim 1 + = ln x0 .
h→0 x0

No campo teórico, o teorema do confronto é uma ferramenta que se deve levar em


consideração para provar resultados de limites. Vamos fazer uma demonstração alterna-
tiva de que o limite do produto é o produto dos limites, mas precisamos de dois resulta-
dos.

Teorema 9.3.6

Suponha que lim f (x) = L, então existe uma vizinhança (a, b) de x0 tal que f é uma
x→x0
função limitada em (a, b).

Demonstração:
Tome ε = 1. Por definição de limite, existe δ > 0 tal que se 0 < |x − x0 | < δ, temos que
|f (x) − L| < 1. Tomemos M = max{|L| + 1, |f (x0 )|} e (a, b) = (x0 − δ, x0 + δ). Afirmamos
que |f (x)| ≤ M para todo x ∈ (a, b).
Dado x ∈ (a, b), então |x − x0 | < δ. Se x = x0 , temos que |f (x)| = |f (x0 )| ≤ M . Se x 6= x0 ,
então 0 < |x − x0 | < δ e, portanto, pela desigualdade triangular

|f (x)| − |L| ≤ |f (x) − L| < 1.

Daí, |f (x)| < |L| + 1 ≤ M .


Renan Lima 303

Teorema 9.3.7: Teorema do Confronto - Função Limitada

Seja g uma função limitada, isto é, existe M ∈ R tal que |g(x)| ≤ M para todo
 x no
domínio de g. Seja f função satisfazendo lim f (x) = 0, então lim f (x)g(x) = 0.
x→x0 x→x0

Demonstração:
A demonstração se encontra na videoaula Demonstração do Teorema do Confronto -
Função Limitada. A parte escrita da prova se encontra na página 342.

Teorema 9.3.8: Limite do Produto

Sejam f e g funções definidas próximos de um ponto x0 tais que lim f (x) = L e


x→x0
lim g(x) = M , então lim f (x)g(x) = L · M.
x→x0 x→x0

Demonstração:
A demonstração padrão de Limite do produto se encontra na página 334. Faremos uma
outra demonstração. Seja (a, b) vizinhança de x0 tal que a função f (x) é limitada. Como
lim (g(x) − M ) = 0, então, pelo Corolário 9.3.7,
x→x0

lim [f (x)(g(x) − M )] = 0.
x→x0

Pelo teorema 9.2.5 item 3, temos que lim (M f (x)) = L · M . Daí, pela propriedade do
x→x0
limite da soma, temos

lim [f (x)g(x)] = lim [f (x)(g(x) − M ) + M f (x)] = lim M f (x) = L · M.


x→x0 x→x0 x→x0

Um dos resultados mais refinados para demonstrar é a 2ª regra de L’Hospital.

Teorema 9.3.9: 2ª Regra de L’Hospital

Sejam f, g : (x0 , b) → R funções deriváveis, tais que lim |f (x)| = lim |g(x)| = +∞
x→x+
0 x→x+
0
f 0 (x)
e que g 0 (x) 6= 0 para x 6= x0 numa vizinhança de x0 . Se lim existe ou vai para
x→x+
0
g 0 (x)
o infinito, então
f (x) f 0 (x)
lim = lim 0 .
x→x+
0
g(x) x→x+ 0
g (x)
O mesmo resultado vale se substituirmos x0 por +∞ ou −∞.

Demonstração:
A demonstração se encontra na videoaula Demonstração da 2ª Regra de L’Hospital e
também se encontra na página 376. Pode ser interessante para o leitor assistir antes a
demonstração feita em Demonstração da 1ª Regra de L’Hospital.
304 Matemática Universitária

Exercícios

1. Sejam f, g, h : (a, +∞) → R funções satisfazendo f (x) ≤ g(x) ≤ h(x) para todo x.
Se lim f (x) = lim h(x) = L, mostre que lim g(x) = L.
x→+∞ x→+∞ x→+∞

2. Seja f uma função real. Mostre que vale a desigualdade. −|f (x)| ≤ f (x) ≤ |f (x)|
para todo x. Conclua então que se lim |f (x)| = 0, então lim f (x) = 0.
x→x0 x→x0

3. Seja f uma função real definida em um intervalo I. Dizemos que f é de Lipschitz


em I se |f (x) − f (y)| ≤ M |x − y| para algum M > 0 e para todo x, y ∈ I.
a) Mostre que f é contínua.
b) Mostre que se f é derivável e vale |f 0 (x)| ≤ M para todo x ∈ I, então f é de
Lipschitz.
c) Conclua que as funções f (x) = sen x e g(x) = cos x são de Lipschitz.

4. Utilizando o teorema do confronto, mostre que se lim f (x) = L, com L 6= 0, então


x→x0
1 1
lim = .
x→x0 f (x) L
Renan Lima 305

9.4 Intervalos Encaixantes e o Axioma do Supremo

Nesta seção, discutiremos a diferença entre o conjunto dos reais e o conjunto dos
racionais. Para entendermos um pouco o quão fina é esta discussão, vamos listar as
propriedades em comum entre os dois. Nos tópicos abaixo, K pode significar Q ou R.

• Dados x, y ∈ K, então x ± y ∈ K e x · y ∈ K.
x
• Se x, y ∈ K e y 6= 0, então ∈ K.
y
• Se x, y ∈ K e x < y, então existe z ∈ K tal que x < z < y.

Com as propriedades acima, é possível construir a definição formal de limites visto


na seção 9.2 para funções definidas apenas no conjunto dos racionais. Mais precisamente,
dado f : Q → Q e dado x0 ∈ Q dizemos que lim f (x) = L ∈ Q se para todo ε > 0, com
x→x0
ε ∈ Q, existe δ ∈ Q, com δ > 0 tal que se x ∈ Q e 0 < |x − x0 | < δ, tem-se |f (x) − L| < ε.
Com a definição acima, as demonstrações de unicidade de limites, as propriedades
da soma, do produto e da divisão, o teorema do confronto, continuam válidas para os
racionais, com pequenas adaptações nas demonstrações.
Teríamos algumas anomalias no domínio de algumas funções naturais, tais como

f (x) = x ou f (x) = sen x. Mas para evitarmos este problema poderíamos apenas traba-
lhar em funções polinomiais. Considere a função f : Q → Q definida por f (x) = x2 − 2.
Esta função é contínua, satisfaz f (0) = −2 e f (2) = 2, mas não existe c ∈ Q tal que
f (c) = 0. Em contrapartida, lembremos o teorema de Bolzano.

Teorema 9.4.1: Teorema de Bolzano

Se f : [a, b] → R é contínua com f (a) < 0 e f (b) > 0. Existe c ∈ (a, b) tal que f (c) = 0.

O leitor já deve ter escutado que a reta real não possui buracos. Mas como justificamos
o trecho, R não possui buracos, então vale o teorema de Bolzano? Para respondermos
a esta pergunta, vamos nos basear em um axioma da geometria euclidiana que diz que
fixado a unidade de medida, todo segmento de reta é medível. Mais precisamente, dados
dois pontos A e B, existe um único d ∈ R tal que o segmento de reta AB possui medida d.
Com este axioma em mente, sugerimos assistir à nossa videoaula Propriedade dos Inter-
valos Encaixantes. Nele, praticamente mostramos que todo número √real possui expansão
por casas decimais, apenas especializamos o argumento para x = 2.
Será necessário a definição de limite de uma sequência (xn ). Para uma introdução de
sequências a nível análise, sugerimos à nossa videoaula Definição de Sequências.

Definição 9.4.2: Limite de uma Sequência

Seja (xn )n∈N sequência de números reais. Dizemos que a sequência converge para
um determinado valor L se, para todo ε > 0, existe n0 ∈ N tal que para todo n > n0 ,
tem-se |xn − L| < ε.
Caso xn converge para L, denotamos por lim xn = L.
n→+∞
306 Matemática Universitária

Propriedade dos Intervalos Encaixantes

Considere os intervalos In = [an , bn ] para n = 0, 1, 2, . . . satisfazendo

I0 ⊇ I1 ⊇ . . . ⊇ In ⊇ . . .

Se lim (bn − an ) = 0, então existe um único c ∈ R tal que c ∈ In para todo n.


n→+∞

Para entendermos um pouco mais da discussão acima, sugerimos à nossa videoaula


Completude do Conjunto dos Reais. Avisamos que esta videoaula faz parte de um pacote
mais avançado de videoaulas de Análise e que, na época que o autor gravou, não tinha
pretensão alguma de mencionar no livro. Deixamos claro que não pretendemos, neste
livro, trazer uma discussão tão aprofundada. Mas esperamos que o vídeo instigue o
leitor a procurar referências caso deseje continuar os estudos.

No vídeo acima, é mencionado a discussão do axioma do supremo, sugerimos à nossa


videoaula Axioma do Supremo para definição e as primeiras discussões.

Definição 9.4.3: Supremo de um Conjunto

Dizemos que um conjunto X ⊆ R é limitado superiormente, se existe r ∈ R tal que


x ≤ r para todo x ∈ X. Dizemos que r é uma cota superior do conjunto X.
Dizemos que b ∈ R é o supremo do conjunto X, se b satisfaz as duas condições

1. b é cota superior de X;

2. Se r é cota superior de X, então b ≤ r.

Pela definição acima, o supremo do conjunto é a menor cota superior de X. Portanto,


caso o supremo exista, ele é único. Costuma-se escrever sup X para denotar o supremo
de X. Note também, pela definição, que r não é cota superior de X se e somente se existe
x ∈ X tal que r < x. Para uma explicação mais detalhada, sugerimos à nossa videoaula
Axioma do Supremo - Revisão de Lógica.
Exemplo 9.4.4: Se X = (−∞, 1). Temos que 1 é uma cota superior de X. Vamos provar
que 1 é o supremo de X.
Seja r cota superior de X. Suponha que r < 1. Tomando a média aritmética entre r e 1
temos que
r+1
r< < 1.
2
r+1
Como ∈ X, temos que r não é cota superior de X. Um absurdo. Concluímos
2
que 1 ≤ r.

Exemplo 9.4.5: Seja X = {x ∈ R / x2 < 2}. Temos que 2 é uma cota


√ superior de X.
Mostramos no final da videoaula Axioma do Supremo que sup X = 2.

Como estamos discutindo conceitualmente os resultados, é comum o texto ter a es-


trutura: teorema, demonstração e algumas observações sobre o resultado.
Renan Lima 307

Teorema 9.4.6: Intervalos Encaixantes e o Axioma do Supremo

Seja X ⊆ R conjunto não-vazio e limitado superiormente. Então X admite supremo.

Demonstração:
A demonstração se encontra na página 329.

Para o leitor se convencer que o axioma do supremo caracteriza o conjunto dos nú-
meros reais, recomendamos a nossa videoaula Todo Número Real Possui Expansão por
Casas Decimais.

Teorema 9.4.7: Sequência Monótona e Limitada

Seja (an )n∈N sequência crescente e limitada. Seja X = {an /n ∈ N} conjunto limitado
e L o supremo de X, então an converge e vale

lim an = L.
n→+∞

Demonstração:
A demonstração se encontra na videoaula Sequências Crescentes e Limitadas Convergem
e também na página 330.

1 n
 
Na página 365, encontra-se uma demonstração que a sequência an = 1 + é
n
crescente e limitada. Portanto, pelo teorema 9.4.7, tal sequência converge. E definimos o
número de Euler como o  limiteda sequência. Em um argumento padrão visto na seção,
x
1
9.3, prova-se que lim 1+ converge para o número de Euler (ver página 366).
x→+∞ x
Se formos bem
 técnico com a lógica matemática, não provamos ainda no livro que
1 x

f (x) = 1 + faz sentido nos reais positivos. Provamos apenas que faz sentido no
x  
1
x ln 1 +
conjunto dos racionais. Note que f (x) = e x e a condição da função f estar
definida nos reais positivos é consequência de a função ex estar definida nos reais e, como
ex = 2x log2 e , basta mostrar que 2x está bem definida nos reais.

Teorema 9.4.8: Existência e Continuidade da Função Exponencial

Pode-se estender de forma única a função crescente f : Q → R definida por f (x) = 2x


para a função F : R → R de modo que F seja função crescente. Mais ainda, a função
F é contínua.

Demonstração:
A demonstração da existência da F se encontra na página 331 e a demonstração da con-
tinuidade da F se encontra na página 353. Sem utilizar o teorema da função inversa,
provamos no exemplo 9.3.5 a continuidade da função logarítmica.
308 Matemática Universitária

Finalmente, vamos provar o teorema de Bolzano e o teorema do valor intermediário.


Precisamos apenas de um resultado técnico para uma prova precisa do resultado.

Teorema 9.4.9: Teorema da Conservação de Sinal

Sejam f : (a, b) → R função e x0 ∈ (a, b) tais que lim f (x) = L > 0. Então, existe
x→x0
δ > 0 tal que f (x) > 0 para todo x satisfazendo 0 < |x − x0 | < δ.

Temos um enunciado análogo para o caso lim f (x) = L < 0.


x→x0

Demonstração:
A demonstração se encontra na página 333.

Teorema 9.4.10: Teorema de Bolzano e o Teorema do Valor Intermediário

Seja f : [a, b] → R contínua.

1. (teorema de Bolzano). Se f (a) · f (b) < 0, então existe c ∈ (a, b) tal que f (c) = 0.

2. (teorema do valor intermediário). Se f (a) < f (b) e d ∈ (f (a), f (b)), então existe
um c ∈ (a, b) tal que f (c) = d. Analogamente, se f (a) > f (b) e d ∈ (f (b), f (a)),
então existe c ∈ (a, b) tal que f (c) = d.

Demonstração:
A demonstração se encontra na página 347. Note que há duas demonstrações distintas
do teorema de Bolzano, uma com o conceito de intervalos encaixantes (no vídeo) e outra
com o conceito do axioma do supremo.

As duas demonstrações apresentadas do teorema de Bolzano são, essencialmente,


iguais. É apenas uma troca de linguagem, mas possui a mesma lógica, pois o axioma
do supremo e a propriedade dos intervalos encaixantes são conceitos equivalentes. Vi-
mos no teorema 9.4.6, a demonstração de uma das implicações. A outra implicação se
encontra na nossa videoaula Axioma do Supremo Implica Intervalos Encaixantes.
Com o teorema do valor intermediário é possível mostrar que funções contínuas e
bijetoras são monótonas e daí a continuidade da Inversa.

Corolário 9.4.11: Funções Injetoras e Contínuas são Monótonas

Seja f : [a, b] → R função contínua e injetora. Então f é monótona, isto é, f é estrita-


mente crescente ou estritamente decrescente.

Demonstração:
A demonstração se encontra na nossa videoaula Demonstração que Funções Contínuas
Bijetoras São Monótonas e também na página 348.
Renan Lima 309

Teorema 9.4.12: Continuidade da Inversa

Seja f : (a, b) → (c, d) função contínua e bijetora, então f −1 : (c, d) → (a, b) é contínua.

Demonstração:
A demonstração se encontra na videoaula Demonstração da Continuidade da Inversa e
também na página 349. As principais ideias utilizadas na demonstração deste resultados
foram feitas na seção 9.2. Mais especificamente nos exemplos 9.2.8 e 9.2.9.

Apesar de a propriedade dos intervalos encaixantes e o axioma do supremo serem


resultados equivalentes, algumas vezes, fica mais fácil trabalhar com a Propriedade dos
intervalos encaixantes e, outras vezes, com o axioma do supremo.
A elegância da demonstração do teorema de Weierstrass é que uma parte da demons-
tração fica mais simples se utilizarmos a propriedade dos intervalos encaixantes e na
outra parte fica mais simples se utilizarmos o axioma do supremo.

Teorema 9.4.13: Teorema de Weierstrass

Seja f : [a, b] → R função contínua. Então f admite pontos de máximo e mínimo


global em [a, b].

Demonstração:
A demonstração se encontra na nossa videoaula Demonstração do Teorema de Weiers-
trass. A demonstração por escrito se encontra na página 350.

Considere uma função contínua f : [a, b] → R. O teorema de Weierstrass afirma que


f admite máximo e mínimo global, que denotamos, respectivamente, por c e d. Logo,
Im f ⊆ [c, d], com c, d ∈ Im f . O teorema do valor intermediário diz que o conjunto ima-
gem da f é um intervalo. Juntando todas as informações, concluímos Im f = [c, d]. Em
outras palavras, funções contínuas levam intervalos fechados e limitados em intervalos
fechados e limitados.
Avisamos que a mesma conclusão não é válida para outros tipos de intervalos. Por
1
exemplo, considere a função f : (0, 1) → (1, +∞) definida por f (x) = . Temos que f é
x
contínua e bijetora, mas a imagem é um conjunto ilimitado de R.
310 Matemática Universitária

Exercícios

1. Em cada um dos itens abaixo, determine o sup X e demonstre que, de fato, tal
elemento é o supremo.
a) X = (3, 6) b) X = (−2, 3] c) X = (1, 2) ∪ {3}
 
1
d) X = (0, π) ∩ Q e) X = (0, π] ∩ Z f) X = − / n ∈ N
n
2. Sejam X e Y subconjuntos não vazios e limitados de R.
a) Mostre sup(X ∩ Y ) ≤ sup X.
b) Mostre que X ∪ Y é um conjunto limitado. Mais ainda, se sup X ≤ sup Y , mostre
que sup(X ∪ Y ) = sup Y .

3. Seja f : [0, 1] → [0, 1] função contínua. Mostre que existe c ∈ [0, 1] tal que f (c) = c.

4. Mostre que existe infinitos valores tais que x sen x = 1000.

5. Mostre que existem uma infinidade de x ∈ R satisfazendo x = tg x.

6. Seja f : R → R função contínua e bijetora. Mostre que se lim f (x) = +∞, então
x→+∞
−1
lim f (x) = +∞.
x→+∞

7. Prove o teorema de Darboux: se f é derivável em [a, b], não necessariamente de


classe C 1 , com f 0 (a) < 0 e f 0 (b) > 0, então existe c ∈ (a, b) tal que f 0 (c) = 0.

Respostas

Exercício 1
a) sup X = 6 b) sup X = 3 c) sup X = 3
d) sup X = π e) sup X = 3 f) sup X = 0
Renan Lima 311

9.5 Integral - o Método de Darboux

Nesta seção, será exposto, de forma a rigorosa, a definição de integral como o limite
de um somatório. Vimos na seção 7.7 uma definição simplificada de Soma de Riemann
em que subdividimos os intervalos em pedaços iguais. É possível desenvolver a teoria
de integração via soma de Riemann, mas vamos abordar um método mais simplificado,
devido a Darboux, sobre a definição de integral. A motivação do método de Darboux
pode ser encontrada na aula Introdução com Física ao Conceito de Integral.
Apesar disso, é bastante provável que o excesso de notação traga bastante dificulda-
des a alunos em primeiro contato com a versão rigorosa de integral e não há problema
algum em entender apenas as duas primeiras páginas e aceitar os resultados básicos desta
seção (por exemplo, integral da soma é a soma da integral). Pode ser interessante também
estudar a seção seguinte, que acreditamos ser mais amigável.
Para evitarmos algumas tecnicalidades, vamos supor que f : [a, b] → R é contínua,
mas deixamos claro que toda parte básica da definição pode ser obtida supondo que f é
uma função limitada e não necessariamente contínua.

Definição 9.5.1: Partição

Uma partição P em n pedaços do intervalo [a, b] é um conjunto de n + 1 pontos, no


qual um deles é o ponto a e o outro deles é o ponto b.

Escrevemos P = {a = x0 , x1 , · · · , xn = b} em que x0 < x1 < . . . < xn e tomamos


∆xi = xi − xi−1 . Note que a partição P define n subintervalos Ri = [xi−1 , xi ] e o com-
primento do intervalo Ri é ∆xi . Dizemos que a partição P de n pedaços é regular se
b−a
∆xi = para todo i = 1, . . . , n.
n
Do ponto de vista teórico, apesar da notação ficar bem mais carregada, é interessante
que a partição não seja necessariamente regular. Por exemplo, dados f : [a, b] → R e
c ∈ (a, b), a igualdade
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx
a a c

fica bem mais simples de ser demonstrada a ponto de valer a pena esse esforço inicial.

Definição 9.5.2: Soma Superior e Soma Inferior

Sejam f : [a, b] → R função contínua e P = {a = x0 , x1 , · · · , xn = b} partição de [a, b].


Para cada intervalo Ri = [xi−1 , xi ], sejam mi e Mi o menor e o maior valor, respecti-
vamente, de f em Ri . A soma superior S(f, P) e a soma inferior s(f, P) são definidas
por
n
X n
X
S(f, P) = Mi ∆xi , s(f, P) = mi ∆xi ,
i=1 i=1

em que ∆xi = xi − xi−1 .


312 Matemática Universitária

Note que o teorema de Weierstrass 7.2.5 garante as existências de Mi e mi . Além


disso, como mi ∆xi ≤ Mi ∆xi para todo i, temos que s(f, P) ≤ S(f, P). Precisaremos de
um refinamento dessa desigualdade.

Teorema 9.5.3

Na notação desta seção, se P ⊆ Q, então

s(f, P) ≤ s(f, Q) e S(f, P) ≥ S(f, Q).

Em particular, se P ⊆ Q, então S(f, Q) − s(f, Q) ≤ S(f, P) − s(f, P).

Demonstração:
Vamos provar que s(f, P) ≤ s(f, Q). A outra desigualdade é análoga. Faremos, inicial-
mente, o caso em que Q contém apenas um ponto a mais e tal ponto esteja entre xk−1 e
xk , isto é,

P = {x0 = a, x1 , · · · , xn },
Q = {x0 = a, x1 , · · · , xk−1 , t, xk , · · · , xn }.

Sejam m0 e m00 o mínimo global de f em [xk−1 , t] e [t, xk ], respectivamente. Como mk é o


mínimo global de [xk−1 , xk ], então, temos que mk ≤ m0 e mk ≤ m00 . Daí,

mk ∆xk = mk (xk − xk−1 ) = mk (xk − t) + mk (t − xk−1 ) ≤ m0 (xk − t) + m00 (t − xk−1 )

Como s(f, Q) − s(f, P) = m0 (xk − t) + m00 (t − xk−1 ) − mk ∆xk ≥ 0, concluímos que


s(f, Q) ≥ s(f, P).
Para o caso geral, supomos que Q − P = {t1 , · · · , tk }, isto é, Q possui k elementos a mais
que P. Defina P1 = P ∪ {t1 }, P2 = P1 ∪ {t2 } e assim sucessivamente, até termos Pk = Q,
logo criamos uma sequência de partições P, P1 , P2 , · · · , Pk = Q em que Pj+1 possui um
ponto a mais de Pj . Pelo que foi provado no item anterior, temos

s(f, P) ≤ s(f, P1 ) ≤ s(f, P2 ) ≤ . . . ≤ s(f, Q).

Para a desigualdade S(f, Q) − s(f, Q) ≤ S(f, P) − s(f, P), basta ver que
    
S(f, P) − s(f, P) − S(f, Q) − s(f, Q) = S(f, P) − S(f, Q) + s(f, Q) − s(f, P) ≥ 0.

A última desigualdade se deve ao fato de os termos dentro dos colchetes serem positivos.

Corolário 9.5.4

Se P e R são duas partições de [a, b], então s(f, P) ≤ S(f, R).

Demonstração:
Seja Q = P ∪ R. Como P ⊆ Q e R ⊆ Q, então, pelo teorema 9.5.3, temos que

s(f, P) ≤ s(f, Q) ≤ S(f, Q) ≤ S(f, R).


Renan Lima 313

Teorema 9.5.5

Sejam f : [a, b] → R função e m, M ∈ R tais que m ≤ f (x) ≤ M para todo x ∈ [a, b].
Se P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} é uma partição de [a, b], então

m(b − a) ≤ s(f, P) ≤ S(f, P) ≤ M (b − a).

Demonstração:
n
X
Escreva s(f, P) = mi ∆xi , onde mi é o menor valor de f em [xi−1 , xi ] e ∆xi = xi −xi−1 .
i=1
Temos, por hipótese que m ≤ mi para todo i e, portanto,
n
X n
X n
X
m(b − a) = m · ∆xi = m∆xi ≤ mi ∆xi = s(f, P).
i=1 i=1 i=1

A demonstração S(f, P) ≤ M (b − a) é análoga e deixamos como exercício.

Considere X = {s(f, P) / P partição de [a, b]}. Pelo teorema 9.5.5, X é um conjunto


limitado superiormente e, portanto, admite o supremo sup X (sugerimos a videoaula
Axioma do Supremo). Analogamente, Y = {S(f, P) / P partição de [a, b]} é limitado
inferiormente e, portanto, existe inf Y . Sugerimos a videoaula Axioma do Ínfimo.

Ao leitor que entendeu a construção, esperamos que fique claro que toda construção
do método de Darboux pode ser feita supondo que f : [a, b] → R seja apenas uma
Xn n
X
função limitada, com S(f, P) = Mi ∆xi e s(f, P) = mi ∆xi , em que
i=1 i−1

Mi = sup{f (x), x ∈ [xi−1 , xi ]},


mi = inf{f (x), x ∈ [xi−1 , xi ]}.

Definição 9.5.6: Funções integráveis


Z b
Seja f : [a, b] → R função limitada. Definimos a integral superior f (x) dx por
a

Z b
f (x) dx = inf{S(f, P) / P partição de [a, b]}
a

Analogamente, a integral inferior é o supremo da soma inferior, isto é,


Z b
f (x) dx = sup{s(f, P) / P partição de [a, b]}
a

Z b Z b
Dizemos que f é integrável se f (x) dx = f (x) dx. Neste caso, denotamos
a a
Z b Z b Z b
f (x) dx = f (x) dx = f (x) dx.
a a a
314 Matemática Universitária

Se f é integrável, então para toda partição P de [a, b], temos


Z b
s(f, P) ≤ f (x) dx ≤ S(f, P),
a
Z b
mais ainda f (x) dx é o único número com tal propriedade.
a
Com a definição de integral superior e integral inferior, as propriedades de integrais
são consequências diretas de estudos iniciais de um curso padrão de análise na reta. Para
alguns exercícios iniciais do Axioma do Supremo, sugerimos a videoaula Exercícios Teó-
ricos do Axioma do Supremo.

Teorema 9.5.7

Sejam X, Y ⊆ R conjuntos limitados não vazios tais que para todo x ∈ X e para todo
y ∈ Y , tem-se x ≤ y, então sup X ≤ inf Y .

Demonstração:
Se provarmos que b = inf Y é uma cota superior do conjunto X, então como sup X é a
menor cota superior, temos que sup X ≤ inf Y .
Supomos que b não é cota superior de X. Então existe x ∈ X tal que b < x. Como
b = inf Y é a maior cota inferior, então x não é conta inferior de Y e, portanto, existe
y ∈ Y tal que y < x. Contrariando a hipótese dos conjuntos X e Y .

Corolário 9.5.8
Z b Z b
Se f : [a, b] → R função limitada, então f (x) dx ≤ f (x) dx.
a a

Demonstração:
Tome X = {s(f, P) / P partição de [a, b]} e Y = {S(f, P) / P partição de [a, b]}, temos
que X e Y são não vazios, o corolário 9.5.4 diz que para todo x ∈ X e y ∈ Y , tem-se x ≤ y
e pelo teorema 9.5.7, temos
Z b Z b
f (x) dx = sup X ≤ inf Y = f (x) dx.
a a

Teorema 9.5.9

Sejam X, Y ⊆ R limitados e não vazios tais que para todo x ∈ X e todo y ∈ Y , tem-se
x ≤ y. São equivalentes

1. sup X = inf Y .

2. Para todo ε > 0, existem x ∈ X e y ∈ Y tais que y − x < ε.


Renan Lima 315

Demonstração:
ε
(1. ⇒ 2.) Supomos que sup X = inf Y = b. Dado ε > 0, então b − não é cota superior
2
ε
de X e, portanto, existe x ∈ X tal que b − < x.
2
ε ε
Analogamente, b + não é cota inferior de X e, portanto, existe y ∈ Y tal que y < b + .
2 2
Logo temos que
ε ε
b− <x≤y <b+ .
2 2
Daí,  ε  ε
y−x< b+ − b− = ε.
2 2

(2. ⇒ 1.) Pelo teorema 9.5.7, tem-se sup X ≤ inf Y . Supomos que sup X < inf Y e tome
ε = inf Y − sup X > 0. Então dados x ∈ X e y ∈ Y , temos que x ≤ sup X < inf Y ≤ y.
Daí, 
y − x ≥ inf Y − sup X = ε,
contrariando a hipótese de 2). Isso mostra que sup X = inf Y .

Corolário 9.5.10: Critério de Darboux para Integrabilidade

Seja f : [a, b] → R função limitada, então f é uma função integrável em [a, b] se e


somente para todo ε > 0, existe uma partição P de [a, b] tal que

S(f, P) − s(f, P) < ε.

Demonstração:
Sejam X = {s(f, P) / P partição de [a, b]} e Y = {S(f, P) / P partição de [a, b]}.
Suponha que f é integrável em [a, b]. Então sup X = inf Y e como x ≤ y para todo x ∈ X
e y ∈ Y , dado ε > 0, então pelo teorema 9.5.9, existem partições Q e R de [a, b] tais que
x = s(f, Q) ∈ X e y = S(f, R) ∈ Y satisfazendo que y − x < ε. Tome P = Q ∪ R, então
Q ⊆ P e R ⊆ P. Pelo teorema 9.5.3, temos que

s(f, Q) ≤ s(f, P) ≤ S(f, P) ≤ S(f, R).

Daí,
S(f, P) − s(f, P) ≤ S(f, R) − s(f, Q) < ε.

Reciprocamente, suponha que para todo ε > 0, existam x = s(f, P) ∈ X e y = S(f, P) ∈


Y tais que y − x < ε. Então, pelo teorema 9.5.9, temos que sup X = inf Y e, portanto, f é
integrável.

Teorema 9.5.11

Se A ⊆ X são conjuntos não vazios e limitados, então inf X ≤ inf A ≤ sup A ≤ sup X.
Além disso, suponha que para todo x ∈ X, exista a ∈ A tal que a ≥ x. Então
sup A = sup X.
Analogamente, se para todo x ∈ x, existe a ∈ A tal que a ≤ x, então inf X = inf Y .
316 Matemática Universitária

Demonstração:
Para demonstrar que inf X ≤ inf A, basta mostrar que β = inf X é cota inferior de A.
Dado a ∈ A. Como A ⊆ X, temos que a ∈ X. Como β é cota inferior de X, temos que
β ≤ a e isso mostra que β é cota inferior de A.
Analogamente, é possível mostrar que sup X é cota superior de A.
Suponha que, além de A ⊆ X, tem-se também que para todo x ∈ X, existe a ∈ A tal que
a ≤ x. Seja β = inf X e dado ε > 0, vamos demonstrar que β + ε não é cota inferior de A.
Como β + ε não é cota inferior de X, existe x ∈ X tal que x < β + ε. Por hipótese, existe
a ∈ A tal que a ≤ x e, portanto, β + ε não é cota inferior de A. Utilizando que β é cota
inferior de A, concluímos, por definição de ínfimo, que β = inf A.

Corolário 9.5.12

Sejam f : [a, b] → R função limitada e c ∈ (a, b). Se X = {s(f, P) /P partição de [a, b]}
e A = {s(f, P) / P partição de [a, b] com c ∈ P}. Então sup A = sup X.
O enunciado é análogo para as somas superiores.

Demonstração:
Claramente temos que A ⊆ X. Além disso, dado x = s(f, P) ∈ X, considere Q = P ∪ {c}
e a = s(f, Q) ∈ A, então, pelo teorema 9.5.3, temos que x < a e, pelo teorema 9.5.11,
concluímos que sup A = sup X.

Teorema 9.5.13

Sejam X, Y ⊆ R limitados e não vazios e defina X + Y = {x + y /x ∈ X e y ∈ Y }.


Então X +Y é limitado e vale sup(X +Y ) = sup X +sup Y e inf(X +Y ) = inf X +inf Y .

Demonstração:
A demonstração pode ser encontrada em Exercício 1 envolvendo o Supremo. Vamos
reproduzi-la aqui.
Seja a = sup X e b = sup Y . Dado z ∈ X + Y , então, pela definção de X + Y , existem
x ∈ X e y ∈ Y tais que z = x + y. Como x ≤ a e y ≤ b, temos que z ≤ a + b e isso mostra
que a + b é cota superior de X + Y . Precisamos provar que a + b é a menor cota superior
ε ε
de X + Y . Dado ε > 0, então a − e b − não são, respectivamente, cotas superios de X
2 2
e Y e, portanto, existem x ∈ X e y ∈ Y tais que
ε
a− < x ≤ a,
2
ε
b − < y ≤ b.
2
Somando as duas, temos que a+b−ε < x+y e, como x+y ∈ X +Y , temos que a+b−ε não
é cota superior. Isso mostra que a+b é o supremo de X +Y , como queríamos demonstrar.
A demonstração que inf(X + Y ) = inf X + inf Y é deixada como exercício.
Renan Lima 317

Corolário 9.5.14

Sejam f : [a, b] → R e c ∈ (a, b). Então f é integrável em [a, b] se e somente se f é


integrável [a, c] e em [c, b]. Mais ainda, vale a seguinte igualdade
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c

Demonstração:
Note que se P1 e P2 são partições de [a, c] e [c, b] respectivamente, então P = P1 ∪ P2 é
partição de [a, b] e vale
s(f, P) = s(f, P1 ) + s(f, P2 )
S(f, P) = S(f, P1 ) + S(f, P2 ).

Sejam X = {s(f, P1 ) / P1 partição de [a, c]}, Y = {s(f, P2 ) / P2 partição de [c, b]}.


Então X + Y = {s(f, P) / P é partição de [a, b] com c ∈ P}. Pelo corolário 9.5.12, temos
Z b
sup(X + Y ) = f (x) dx.
a

Pelo teorema 9.5.13, concluímos que


Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c

Analogamente, temos que


Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c

Suponha que f é integrável em [a, b]. Então, pelas igualdades acimas, temos
Z b Z c Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c a c

Z c Z c Z b Z b
Como f (x) dx ≤ f (x) dx e f (x) dx ≤ f (x) dx, a igualdade acima só é possível
a a c c
se f é integrável em [a, c] e em [c, b], simultaneamente e vale, portanto, a fórmula.
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c

Reciprocamente, se f é integrável em [a, c] e em [c, b], então


Z b Z c Z b Z c Z b Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx = f (x) dx.
a a c a c a

Isto mostra que f é integrável em [a, b].

Por conta deste teorema, é interessante definir


Z a Z b
f (x) dx = − f (x) dx.
b a
318 Matemática Universitária

Z b Z c Z b
Com esta definição, vale a fórmula f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx, mesmo
a a c
para c > b ou c < a, desde que f seja integrável em todos os intervalos considerados.

Teorema 9.5.15

Sejam X ⊆ R conjunto limitado e não vazio, k ∈ R e kX = {kx / x ∈ X}.

• Se k ≥ 0, então inf(kX) = k inf X e sup(kX) = k sup X.

• Se k < 0, então inf kX = k sup X e sup(kX) = k inf X.

Demonstração:
Vamos demonstrar apenas o caso que inf kX = k sup X se k < 0 e deixaremos os outros
como exercício. Seja b = sup X. Vamos mostrar, primeiramente, que kb é cota inferior do
conjunto kX.
Dado y ∈ kX, então existe x ∈ X tal que y = kx. Como b é cota superior de X, tem-se
x ≤ b. Além disso, como k < 0, então y = kx ≥ kb e, portanto, kb é cota inferior de kX.
Dado ε > 0. Vamos mostrar que kb + ε não é cota inferior de kX. Como k < 0, temos
ε ε
que b + < b não é cota superior de X e, portanto, existe x ∈ X tal que b + < x. Daí,
k k
kb + ε > kx e kx ∈ kX.

Corolário 9.5.16

Seja f : [a, b] → R função integrável e k ∈ R, então vale


Z b Z b
kf (x) dx = k f (x) dx.
a a

Demonstração:
Faremos apenas o caso k < 0 e deixaremos o caso k ≥ 0 como exercício.
Seja P = {x0 = a, x1 , · · · , xn−1 , xn = b} partição de [a, b] e mi = inf{f (x) /x ∈ [xi−1 , xi ]}.
Então pelo teorema 9.5.15, temos que kmi = sup{kf (x) / x ∈ [xi−1 , xi ]}. Logo

S(kf, P) = ks(f, P).

Como esta igualdade é válida para qualquer partição P, concluímos, pelo teorema 9.5.15
Z b Z b Z b
kf (x) dx = k f (x) dx = k f (x) dx.
a a a

Z b Z b Z b
Analogamente, temos kf (x) dx = k f (x) dx = k f (x) dx. Logo
a a a

Z b Z b Z b
kf (x) dx = kf (x) dx = k f (x) dx.
a a a
Renan Lima 319

Teorema 9.5.17: Integrabilidade da soma

Sejam f, g : [a, b] → R funções integráveis em [a, b], então f + g é integrável em [a, b]


e vale Z b Z b Z b

f (x) + g(x) dx = f (x) dx + g(x) dx.
a a a

Demonstração:
Seja P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} partição de [a, b] e defina

mi = inf{f (x) + g(x) / xi−1 ≤ x ≤ xi },


m0i = inf{f (x) / xi−1 ≤ x ≤ xi },
m00i = inf{g(x) / xi−1 ≤ x ≤ xi }.

Defina, da mesma forma, os valores de Mi , Mi0 e Mi00 . É fácil se convencer que

mi ≥ m0i + m00i e Mi ≤ Mi0 + Mi00 .

O motivo de não valer necessariamente a igualdade é porque não temos garantia que o
mínimo da f e o da g ocorrem exatamente no mesmo ponto x. Portanto, temos que

s(f, P) + s(g, P) ≤ s(f + g, P),


S(f, P) + S(g, P) ≥ S(f + g, P).

Vamos organizar a escrita para aplicar os resultados anteriores da seção. Defina:

X = {s(f, P) / P partição de [a, b]},


Y = {s(g, P) / P partição de [a, b]},
Z = {s(f + g, P) / P partição de [a, b]}.

Foi provado que para cada a ∈ X + Y , existe um z ∈ Z tal que a ≤ z. É fácil concluir que

sup(X + Y ) ≤ sup Z.

Finalmente, pelo teorema 9.5.13, concluímos


Z b Z b Z b 
f (x) dx + g(x) dx ≤ f (x) + g(x) dx.
a a a

Z b 
Z b Z b
Analogamente, prova-se que f (x) + g(x) dx ≤ f (x) dx + g(x) dx.
a a a
Como f e g são funções integráveis, provamos que
Z b Z b Z b 
Z b 
Z b Z b
f (x) dx + g(x) dx ≤ f (x) + g(x) dx ≤ f (x) + g(x) dx ≤ f (x) dx + g(x) dx.
a a a a a a

Logo,
Z b 
Z b 
Z b Z b
f (x) + g(x) dx = f (x) + g(x) dx = f (x) dx + g(x) dx.
a a a a
320 Matemática Universitária

Exercícios

1. Seja X ⊂ R conjunto limitado superiormente e defina −X = {−x; x ∈ X}. Mostre que


−X é limitado inferiormente e vale sup X = − inf(−X).

2. Seja f : [a, b] → R função c. Mostre na definição que f é integrável e vale


Z b
c dx = c(b − a).
a

3. Mostre que a função 


0, se x ∈ Q
f (x) =
1, se x 6∈ Q
não é integrável em [0, 1].

4. Mostre na definição que a função f (x) = x é integrável em [2, 4] e vale


Z 4
x dx = 6.
2
Renan Lima 321

9.6 Continuidade Uniforme e Integrabilidade por Riemann

Nesta seção, vamos continuar a discussão de funções integráveis. Mostraremos que


toda função contínua é integrável e, além disso, caso a função possua um número finito
de descontinuidades, então ela é integrável. Após isso, definiremos com precisão a soma
de Riemann e a integral via soma de Riemann e provaremos que se a função é contínua,
então o critério de Darboux e o método de Riemann chegam ao mesmo resultado.
Além disso, provaremos o teorema fundamental do cálculo e vários outros resulta-
dos menores, mas interessantes, de integração. O resultado chave que será utilizado é
conhecido como continuidade uniforme.

Teorema 9.6.1: Continuidade Uniforme

Seja f : [a, b] → R função contínua. Então para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que para
todo x, y ∈ [a, b], com |x − y| < δ, tem-se |f (x) − f (y)| < ε.

Demonstração:
Dado ε > 0. Para fixar as ideias, façamos a seguinde definição. Dizemos que f é ε-
admissível no intervalo I, se existe δ > 0 tal que para todo x, y ∈ I,

se |x − y| < δ, então |f (x) − f (y)| < ε.

Considere X = {c ∈ [a, b] / f é ε-admissível em [a, c]}. Claramente X é um conjunto


limitado e a ∈ X. Além disso, note que se c ∈ X e dado c1 com a < c1 < c, então c1 ∈ X.
Em particular, se β = sup X, então β − δ ∈ X para todo δ > 0 com β − δ ≥ a. O objetivo
é demonstrar que β ∈ X e que β = b.
Suponha que β ∈ / X, então, como f é contínua em β, existe δ1 > 0 tal que se |x − β| < δ1 ,
ε
então |f (x) − f (β)| < . Logo, se |x − β| < δ1 e |y − β| < δ1 , então
2
ε ε
|f (x) − f (y)| = |(f (x) − f (β)) − (f (y) − f (β))| ≤ |f (x) − f (β)| + |f (y) − f (β)| < + = ε.
2 2
Portanto, f é ε-admissível em (β − δ1 , β + δ1 ).
   
δ1 δ1
Como f é ε-admissível em a, β − , existe δ2 > 0 tal que se x, y ∈ a, β − e sa-
2 2 
δ1
tisfazem |x − y| < δ2 , então |f (x) − f (y)| < ε. Finalmente, tome δ = min , δ2 e
2
dados x, y ∈ [a, β + δ1 ) com |x − y| < δ. Para fixar as ideias, supomos que y < x. Vamos
demonstrar que |f (x) − f (y)| < ε. Temos duas possibilidades para y.

• Se y ∈ (β − δ1 , β + δ1 ), como x > y, temos que x ∈ (β − δ1 , β + δ1 ) e, portanto, pelo


que foi provado no início, |f (x) − f (y)| < ε.
 
δ1 δ1
• Supomos que y ∈ a, β − ⊆ X. Se x ∈
/ X, então x ≥ β e, como x − y < δ ≤
2 2
δ1
concluímos que y > β − , o que é absurdo. Logo x ∈ X. Como y ∈ X e δ ≤ δ2 ,
2
então |f (x) − f (y)| < ε.
322 Matemática Universitária

δ1
Isso mostra que f é ε-admissível em [a, β + δ1 ) e, em particular, β + ∈ X, o que é
2
absurdo, pois β = sup X.
Falta provar que β = b. Supomos que β < b, então repetindo o argumento anterior, existe
δ
δ > 0, tal que β + δ < b e que f é ε-admissível em [a, β + δ). Em particular, β + ∈ X e
2
contradiz que β é uma cota superior de X.

O conceito de continuidade uniforme é um resultado bem técnico e bem sutil de en-


tender. Esperamos que a demonstração do próximo teorema explique a necessidade do
conceito de continuidade uniforme.

Teorema 9.6.2: Toda função contínua é integrável

Seja f : [a, b] → R função contínua, então f é integrável em [a, b].

Demonstração:
Dado ε > 0. Construiremos uma partição P tal que, na notação da seção anterior, tem-
se S(f, P) − s(f, P) < ε e a integrabilidade é uma consequência direta do critério de
Darboux para integrabilidade, ver corolário 9.5.10.
Pelo teorema 9.6.1, f é uniformemente contínua em [a, b] e, portanto, existe δ > 0 tal
que para todo x, y ∈ [a, b], tem-se
ε
se |x − y| < δ, então |f (x) − f (y)| < .
b−a
1
Seja n ∈ N tal que < δ e considere P = {x0 = a, x1 , · · · , xn } uma partição regular de n
n
pedaços. Pelo teorema de Weierstrass, temos, para cada i, existem αi , βi ∈ [xi−1 , xi ] tais
que f (αi ) = mi e f (βi ) = Mi , em que mi e Mi são, respectivamente, o mínimo e máximo
1
global de f em [xi−1 , xi ]. Note que como xi −xi−1 = < δ, então |αi −βi | < δ e, portanto,
n
n
X n
X
S(f, P) − s(f, P) = (Mi − mi )∆xi = (f (βi ) − f (αi ))∆xi
i=1 i=1
n n
X ε ε X
< ∆xi = ∆xi = ε.
b−a b−a
i=1 i=1

Corolário 9.6.3

Seja f : [a, b] → R função limitada, mas descontínua apenas em b. Então f é integrável


em [a, b]. O mesmo enunciado é válido se f for limitada e descontínua apenas em a.

Demonstração:
Como f é limitada, existem m, M tais que m ≤ f (x) ≤ M para todo x ∈ [a, b]. Dado
ε > 0, suficientemente pequeno, seja P = {x0 = a, x1 , · · · , xn−1 , xn = b} de [a, b]. A ideia
ε
é escolher xn−1 suficientemente próximo de b de modo que (M − m)∆xn < e utilizar o
2
fato de que f é contínua em [a, xn−1 ] e, portanto, integrável em [a, xn−1 ].
Renan Lima 323

ε
Defina, portanto, c = b − e exija que ε é pequeno suficiente de modo que
2(M − m)
c > a. Como f é contínua em [a, c], então pelo teorema 9.6.2, existe uma partição Q =
ε
{x0 = a, x1 , · · · , xn−1 = c} tal que S(f, Q) − s(f, Q) < . Defina P = Q ∪ {b}, então P é
2
partição de [a, b] e vale

S(f, P) − s(f, P) = [S(f, Q) − s(f, Q)] + (Mn − mn )∆xn ,

em que b = xn e Mn e mn são, respectivamente, o supremo e o ínfimo de f em [xn−1 , xn ].


Daí,
ε ε ε
S(f, P) − s(f, P) < + (M − m)(b − c) < + = ε.
2 2 2
Logo, pelo critério de integrabilidade de Darboux, f é integrável em [a, b].

Corolário 9.6.4

Seja f : [a, b] → R função limitada com um número finito de descontinuidades, então


f é integrável em [a, b].

Demonstração:
Sejam ci , com i = 1, · · · , n e ci−1 < ci , os pontos de descontinuidade da f . Pelo corolário
9.6.3, temos que f é integrável em [a, c1 ], [c1 , c2 ], · · · , [cn , b]. Aplicando o corolário 9.5.14
diversas vezes, temos que f é integrável em [a, b].

O resumo da história é que funções descontínuas podem ser integráveis. O próximo


teorema diz que funções definidas por integrais são sempre contínuas. Lembremos que
toda a construção de f ser integrável depende de f ser limitada.

Teorema 9.6.5: Continuidade da Função Definida por Integral


Z x
Seja f : [a, b] → R função integrável e defina F (x) = f (t) dt, então F é contínua.
a

Demonstração:

Seja x0 ∈ (a, b). Devemos provar que lim F (x) − F (x0 ) = 0.
x→x0

Como f é limitada, existem m, M ∈ R tais que m ≤ f (x) ≤ M para todo x ∈ [a, b].
Utilizando a observação após o corolário 9.5.14, temos que
Z x Z x0 Z x
F (x) − F (x0 ) = f (x) dx − f (x) dx = f (x) dx.
a a x0

Pelo teorema 9.5.5, temos

m(x − x0 ) ≤ F (x) − F (x0 ) ≤ M (x − x0 ).

Como lim m(x − x0 ) = lim M (x − x0 ) = 0, o teorema do confronto garante que


x→x0  x→x0
lim F (x) − F (x0 ) = 0.
x→x0

Com uma pequena adaptação da demonstração do teorema 9.6.5, provamos o teo-


rema fundamental do cálculo.
324 Matemática Universitária

Teorema 9.6.6: Teorema Fundamental do Cálculo


Z x
Seja f : [a, b] → R função contínua, então F (x) = f (t) dt é derivável e vale que
a
F 0 (x) = f (x) para todo x ∈ [a, b].

Demonstração:
Fixemos x ∈ [a, b) e seja h > 0, suficientemente pequeno. Vamos estimar o valor de
F (x + h) − F (x)
. Temos que
h
Z x+h Z x
1 x+h

F (x + h) − F (x)
Z
1
= f (t) dt − f (t) dt = f (t) dt.
h h a a h x

Pelo teorema de Weierstrass, f : [x, x + h] → R possui mínimo e máximo global e escre-


vemos f (ch ) = mh e f (Ch ) = Mh , respectivamente, em que ch , Ch ∈ [x, x + h]. Como
mh ≤ f (t) ≤ Mh para todo t ∈ [x, x + h], então pelo teorema 9.5.5,
Z x+h
mh · h ≤ f (t) dt ≤ Mh · h.
x

Daí,
F (x + h) − F (x)
f (ch ) ≤ ≤ f (Ch ).
h
Como f é contínua, temos que lim ch = lim f (Ch ) = f (x) e, pelo teorema do con-
h→0+ h→0+
fronto, concluímos que
x+h
F (x + h) − F (x)
Z
1
lim = lim f (t) dt = f (x).
h→0 + h h→0 + h x

De forma análoga, se x ∈ (a, b], temos que


x
F (x + h) − F (x) −1
Z
lim = lim f (t) dt = f (x).
h→0 − h h→0 − h x+h

Encerraremos a seção falando um pouco da soma de Riemann e um pouco de sua


equivalência com o critério de Darboux na definição de integração e, no final, faremos
uma pequena aplicação teórica do método da demonstração da soma de Riemann. Suge-
rimos que o leitor assista novamente à nossa videoaula Soma de Riemann.

Lembremos que uma partição P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} de [a, b] em n pedaços


não é necessariamente regular, isto é, ∆xi = xi − xi−1 pode depender do i. Neste sentido,
precisaremos medir, de alguma forma, o tamanho dos intervalo para que possamos usar
a expressão a partição P é suficientemente fina.

Definição 9.6.7: Norma de uma Partição

Seja P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} partição do intervalo [a, b]. A norma da parti-


ção P denotada por P é o maior comprimento dos seus subintervalos ∆xi . Mais
precisamente,
P = max{∆x1 , ∆x2 , · · · , ∆xn }
Renan Lima 325

Em particular, temos que P < δ se e somente se ∆xi < δ para todo i.


Seja f : [a, b] → R integrável e P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} partição de [a, b]. Para
todo ci ∈ [xi−1 , xi ], tem-se
n
X
s(f, P) ≤ f (ci )∆xi ≤ S(f, P).
i=1

O interessante de trabalhar com a integral de Riemann é a ideia de que se os tamanhos


dos intervalos forem suficientemente pequenos, então espera-se que tenhamos uma apro-
ximação adequada da integral, independentemente da escolha dos pontos de ci .

Teorema 9.6.8: Riemann integrável

Seja f : [a, b] → R função contínua. Então para todo ε > 0, existe um δ > 0 tal que
para toda partição P = {x0 , x1 , · · · , xn } de [a, b] com P| < δ, tem-se
n
X Z b
f (ci )∆xi − f (x) dx < ε,
i=1 a

independentemente da escolha de ci ∈ [xi−1 , xi ].

Demonstração:
A demonstração é bem semelhante com a do teorema 9.6.2 que diz que toda função con-
tínua é integrável. Dado ε > 0. Pela continuidade uniforme de f em [a, b], existe δ > 0 tal
que para todo x, y ∈ [a, b], temos
ε
se |x − y| < δ, então |f (x) − f (y)| < .
b−a
Considere P = {x0 , x1 , · · · , xn } partição de [a, b] com |P| < δ e seja ci ∈ [xi−1 , xi ]. Pelo
teorema de Weierstrass, temos, para cada i, pontos αi , βi ∈ [xi−1 , xi ] tais que f (αi ) = mi
e f (βi ) = Mi , em que mi e Mi são o mínimo e máximo global, respectivamente, de f em
[xi−1 , xi ]. Como xi − xi−1 < δ, então |αi − βi | < δ e, portanto,
n
X n
X
S(f, P) − s(f, P) = (Mi − mi )∆xi = (f (βi ) − f (αi ))∆xi
i=1 i=1
n n
X ε ε X
< ∆xi = ∆xi = ε.
b−a b−a
i=1 i=1

Como mi ≤ f (ci ) ≤ Mi para todo i, temos que


n
X
s(f, P) ≤ f (ci )∆xi ≤ S(f, P),
i=1
Z b
s(f, P) ≤ f (x) dx ≤ S(f, P).
a

Com as desigualdades acima, temos finalmente que


n
X Z b
f (ci )∆xi − f (x) dx < ε.
i=1 a
326 Matemática Universitária

Na seção 7.7, ao deduzir a fórmula da área lateral de uma superfície de revolução


gerada pelo gráfico da função f de classe C 1 em torno do eixo x e limitada ao intervalo
[a, b] vimos que apareceu uma adaptação da soma de Riemann
n
X p
2π f (di ) 1 + [f 0 (ci )]2 ∆xi ,
i=1

em que ci , di ∈ [xi−1 , xi ] para todo i e fizemos a observação que o somatório acima con-
Z b p
verge, independentemente das escolhas de ci e di , para 2π f (x) 1 + [f 0 (x)]2 dx.
a

Teorema 9.6.9

Sejam f, g : [a, b] → R funções contínuas. Então para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que
para toda partição P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} de [a, b] com |P| < δ e para qualquer
conjuntos de pontos ci , di ∈ [xi−1 , xi ], tem-se
n
X Z b
f (ci )g(di )∆xi − f (x)g(x) dx < ε.
i=1 a

Demonstração:
Dado ε > 0. Como f é contínua, então existe M > 0 tal que |f (x)| ≤ M para todo
x ∈ [a, b]. Como g é uniformemente contínua em [a, b], existe δ1 > 0 tal que para todo
x, y ∈ [a, b], temos que
ε
se |x − y| < δ1 , então |g(x) − g(y)| < .
2M (b − a)

Como f · g é contínua, então pelo teorema 9.6.8, existe δ2 > 0 tal que para toda partição
P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} com |P| < δ2 e para qualquer escolha de ci ∈ [xi−1 , xi ],
n Z b
X ε
tem-se f (ci )g(ci )∆xi − f (x)g(x) dx < . Tome δ = min{δ1 , δ2 }.
a 2
i=1

Seja P = {x0 = a, x1 , . . . , xn = b} partição de [a, b] com |P| < δ e sejam ci , di ∈ [xi−1 , xi ]


temos que
n
X n
X n
X
f (ci )g(ci )∆xi − f (ci )g(di )∆xi ≤ f (ci ) · (g(ci ) − g(di )) ∆xi
i=1 i=1 i=1
n
X ε ε
< M. ∆xi = .
2M (b − a) 2
i=1

n
X n
X Z b
Sejam A = f (ci )g(di ) ∆xi , B = f (ci )g(ci ) ∆xi e C = f (x)g(x)dx. Temos, pela
i=1 i=1 a
desigualdade triangular,
ε ε
|A − C| = |(A − B) + (B − C)| ≤ |A − B| + |B − C| < + = ε.
2 2
Renan Lima 327

Exercícios

1. Seja f : [a, b] → R função limitada integrável e dado c ∈ [a, b]. Suponha que g e
uma função definida em [a, b] tal que f (x) = g(x) se x 6= c. Mostre que g é limitada
e integrável em [a, b] e vale
Z b Z b
f (x) dx = g(x) dx.
a a

2. Seja f : [a, b] → R função limitada e integrável em [a, b] e suponha que g : [a, b] → R


é uma função que coincide com f a menos de um número finito de pontos. Mostre
que g é limitada e integrável em [a, b] e vale
Z b Z b
f (x) dx = g(x) dx.
a a

Z x
3. Seja f : [a, b] → R função integrável e seja F (x) = f (t) dt. Mostre que existe
a
k > 0 tal que para todo x, y ∈ [a, b], tem-se

|F (x) − F (y)| ≤ k|x − y|.

4. Sejam P e Q partições de [a, b] com P ⊆ Q. Mostre que |Q| ≤ |P|.


Z b
5. Seja f : [a, b] → R contínua tal que f (x)g(x) dx = 0 para toda função g : [a, b] →
a
R contínua. Mostre que f é identicamente nula.

6. Se f, g : [a, b] → R integráveis com f (x) ≤ g(x) para todo x ∈ [a, b]. Mostre que
Z b Z b
f (x) dx ≤ g(x) dx.
a a

7. Se f : [a, b] → R é contínua em [a, b) e limitada em [a, b]. Mostre que para todo
ε > 0, existe δ > 0 tal que para toda partição P = {x0 , x1 , · · · , xn } de [a, b] com
P| < δ, tem-se
n
X Z b
f (ci )∆xi − f (x) dx < ε,
i=1 a

independentemente da escolha de ci ∈ [xi−1 , xi ].


A PÊNDICE

As Demonstrações do Cálculo
Diferencial

A.1 Objetivos do Apêndice

Como dito no prefácio deste livro, o apêndice tem como objetivo formar uma espécie
de enciclopédia de demonstrações dos resultados do cálculo em que o leitor encontre,
com alguma facilidade, as demonstrações dos resultados.
Tomei o cuidado para que a demonstração de cada teorema ficasse em uma única
página, priorizando a ordenação lógica dos resultados. Por exemplo, na demonstração
do teorema da página 374, só posso utilizar os resultados da página 328 até a página 373.
Na maioria dos teoremas, há também um link de vídeos para ajudar na compreensão da
demonstração.
O problema de priorizar a ordenação lógica é que as primeiras demonstrações es-
tão entre as mais difíceis do cálculo e, provavelmente, demandarão muito tempo para
entendê-las completamente. Para o leitor que está começando o curso e possui a curio-
sidade natural em aprender as demonstrações, não desanime se tiver com dificuldades e
comece pela parte principal do texto.
No final da maioria das demonstrações, existe um botão escrito Voltar para a página.
Este botão tem dois objetivos: o primeiro é que existiam, nos capítulos principais do livro,
demonstrações que omiti e apenas direcionei para a página e, por conforto, coloquei um
link para voltar. O segundo objetivo é voltado para o leitor que esteja lendo o apêndice
e esteja com dificuldades em entender a demonstração. Este botão pode ser um recurso
interessante para direcionar o leitor ao corpo principal do texto e aumentar a base mate-
mática para que ajude no entendimento da demonstração do resultado.
Há páginas que não têm o botão Voltar para página e nem um link direcionando para
vídeos. Aviso que não foi esquecimento do autor. Foram resultados que não utilizei no
corpo principal do texto e também não vi necessidade de produzir um vídeo específico.
Dividi este apêndice em algumas seções e, caso deseje ler alguma demonstração de
um teorema específico, acredito que fique fácil folhear e encontrar a demonstração. Torço
que esta organização instigue o estudante a apreciar uma demonstração matemática.
Renan Lima 329

A.2 Resultados Estruturantes da Reta

Teorema A.2.1: Intervalos Encaixantes e o Axioma do Supremo

Seja X ⊆ R conjunto não-vazio e limitado superiormente. Então X admite supremo,


isto é, existe um número b ∈ R tal que

1. x ≤ b para todo x ∈ X.

2. Se y ∈ R satisfaz x ≤ y para todo x ∈ X, então b ≤ y.

Demonstração:
A demonstração pode ser encontrada em Demonstração da Existência do Supremo. Va-
mos reproduzi-la aqui.

Fixe a0 ∈ X. Se a0 é cota superior de X, é fácil ver que a0 é o supremo de X. Supomos,


portanto, que a0 não é cota superior de X. Sejam b0 uma cota superior de X, I0 o intervalo
[a0 , b0 ] e y1 o ponto médio de I0 . Temos duas possibilidades:

1. Se y1 é cota superior de X, tome a1 = a0 e b1 = y1 e defina I1 = [a1 , b1 ].

2. Se y1 não é cota superior de X, tome a1 = y1 e b1 = b0 e defina I1 = [a1 , b1 ].

Em ambos os casos, temos que a1 não é cota superior de X, b1 é cota superior de X e que
o tamanho do intervalo I1 é a metade de tamanho do intervalo I0 .
Suponha que construimos o intervalo In = [an , bn ] em que an não é cota superior de X,
bn é cota superior de X e que o tamanho do intervalo de In é a metade do tamanho do
intervalo In−1 . Seja y o ponto médio de In . Temos duas possibilidades:

1. Se y é cota superior de X, tome an+1 = an e bn+1 = y e defina In+1 = [an+1 , bn+1 ].

2. Se y não é cota superior de X, tome an+1 = y e bn+1 = bn e In+1 = [an+1 , bn+1 ].

Em ambos os casos, temos que an+1 não é cota superior de X, bn+1 é cota superior de X
e que o tamanho do intervalo In+1 é a metade de tamanho do intervalo In .
Pela propriedade dos intervalos encaixantes, existe um único b ∈ R tal que b ∈ In para
todo n natural. Afirmamos que b é o supremo do conjunto X.
b é cota superior de X pois, caso contrário, existe x ∈ X tal que b < x. Como b é o único
elemento em todos In , existe n ∈ N tal que x ∈ / In = [an , bn ]. Como bn é cota superior de
X, então x ≤ bn e, como x ∈/ [an , bn ], temos que x < an . Como b < x e x < an , concluímos
que b ∈/ In . Um absurdo. Logo b é cota superior de X.
Suponha que exista y ∈ R tal que y é cota superior de X e y < b. Como y 6= b, existe
n ∈ N tal que y ∈
/ In = [an , bn ]. Como an não é cota superior de X, temos que y > an .
Logo y > bn . Como b > y, concluímos que b > bn e, portanto, b ∈
/ In . O que é absurdo.
Provamos então que se y é cota superior de X, então b ≤ y.

Voltar para a página 307.


330 Matemática Universitária

Teorema A.2.2: Sequência Monótona e Limitada

Seja (an )n∈N sequência crescente e limitada. Seja X = {an /n ∈ N} conjunto limitado
e L o supremo de X, então an converge e vale

lim an = L.
n→+∞

Demonstração:
A demonstração se encontra na videoaula Sequências Crescentes e Limitadas Conver-
gem. Vamos reproduzir sua demonstração.
Dado ε > 0. Temos, pela propriedade 2 do teorema A.2.1, que L − ε não é cota superior
de X. Logo existe n0 ∈ N tal que
L − ε < an0 .
Como an ≤ L para todo n ∈ N e a sequência (an )n∈N é crescente, então, se n > n0 , temos

L − ε < an0 ≤ an ≤ L < L + ε para todo n > n0 .

Provamos que
−ε < an − L < ε para todo n > n0 .
Juntando todas as informações, provamos que dado ε > 0, existe n0 ∈ N tal que para
todo n > n0 , tem-se |an − L| < ε, como queríamos demonstrar.

Voltar para a página 307.


Renan Lima 331

Teorema A.2.3: Existência da Função Exponencial

Pode-se estender de forma única a função f : Q → R, definida por f (x) = 2x , para a


função F : R → R de modo que F seja função crescente.

Demonstração:
A demonstração se encontra no vídeo Demonstração da Existência da Função Exponen-
cial. Vamos reproduzi-la aqui.
Seja x ∈ R − Q. Se x > 0, considere a sua expansão por casas decimais,

x = x0 , x1 x2 . . . xn . . . .

Mais precisamente, sejam x0 ∈ Z+ e xn ∈ {0, 1, . . . , 9} para todo n ≥ 1 e tome


x1 x2 xn
x = x0 + + 2 + ... + n + ....
10 10 10
Considere a sequência
x1 x2 xn
cn = x0 + + 2 + ... + n,
10 10 10
para todo n ≥ 0. Temos que (cn ) é uma sequência crescente e cn ∈ Q. Defina a sequência
decrescente dn = cn + 10−n e considere

an = 2cn e bn = 2dn .

Como a função f (x) = 2x é crescente, temos que an < an+1 < bn+1 < bn para todo n ≥ 0.
Seja In = [an , bn ]. Pelo que foi dito acima, temos que In é uma sequência de intervalos
encaixantes, isto é, In ⊆ In+1 para todo n ≥ 0. Vamos provar que bn − an → 0.
n0 ε
Dado ε > 0. Seja n0 ∈ N tal que 2 < 1 + . Utilizando binômio de Newton, observe
b0
 n0
ε n0 ε 10
  
n0 ε
que 1 + ≤ 1+ < 1+ e, portanto, para todo n ≥ n0 , temos
b0 b0 b0
   
−n −n0
dn cn
bn − an = 2 − 2 = 2 .(2 cn dn −cn cn
− 1) = 2 . 2 10 d0
−1 <2 . 2 10 −1

 −n0 
10−n0 10n0 !10
 
 
n0 ε ε
< b0  1 + − 1 < b0  1+ − 1
 
b0 b0
 
ε
= b0 1+ −1 = ε.
b0

Pela propriedade dos intervalos encaixantes, existe um único c ∈ In para todo n ∈ N.


Defina F (x) = c. Note que para F ser crescente, é necessário que F (cn ) < F (x) < F (dn )
para todo n ≥ 0 e o único candidato é tomar F (x) = c. Isso prova a unicidade da F .
Para provar que F é crescente, sejam x, y ∈ R com 0 < x < y. Por expansão por casas
decimais, existem a, b ∈ Q tais que x < a < b < y. Pela construção da F , temos que
F (x) < F (a) = f (a) < f (b) = F (b) < F (y).
A construção de F (x) para x < 0 é análoga e deixamos como exercício para o leitor.

Voltar para a página 307.


332 Matemática Universitária

A.3 Propriedades de Limites

Teorema A.3.1: Unicidade do Limite e Propriedade Local do Limite

Sejam f, g : (a, b) → R funções e x0 ∈ (a, b).

1. Se lim f (x) existir, então ele assume um único valor.


x→x0

2. Se f = g para todo x 6= x0 e lim f (x) = L, então lim g(x) = L.


x→x0 x→x0

Demonstração:
A demonstração do item 1. se encontra em Demonstração da Unicidade do Limite. Va-
mos apenas transcrevê-la aqui.

1. Suponha que não é único, isto é, existem dois valores L e M , com L 6= M , tal que
|L − M |
lim f (x) = L e lim f (x) = M . Tome ε = .
x→x0 x→x0 2
Pela definição de limite, existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que

|L − M |
0 < |x − x0 | < δ1 ⇒ |f (x) − L| < ,
2
|L − M |
0 < |x − x0 | < δ2 ⇒ |f (x) − M | < .
2
Tome δ = min{δ1 , δ2 } e fixe um valor X satisfazendo 0 < |X − x0 | < δ. Então, como
0 < |X − x0 | < δ ≤ δ1 e 0 < |X − x0 | < δ ≤ δ2 temos que

|L − M | |L − M |
|f (X) − L| < e |f (X) − M | < .
2 2
Pela desigualdade triangular, temos

|L − M | = |L − f (X) + f (X) − M |
≤ |L − f (X)| + |f (X) − M |
= |f (X) − L| + |f (X) − M |
|L − M | |L − M |
< +
2 2
= |L − M |.

Logo |L − M | < |L − M |. O que é um absurdo. Portanto, L = M .

2. Dado ε > 0. Por hipótese, existe δ > 0 tal que

0 < |x − x0 | < δ ⇒ |f (x) − L| < ε.

Note que se 0 < |x − x0 | implica que x 6= x0 e, portanto,

0 < |x − x0 | < δ ⇒ |g(x) − L| = |f (x) − L| < ε.

Voltar para a página 290.


Renan Lima 333

Teorema A.3.2: Teorema da Conservação de Sinal

Sejam f : (a, b) → R função e x0 ∈ (a, b) tais que lim f (x) = L > 0. Então, existe
x→x0
δ > 0 tal que f (x) > 0 para todo x satisfazendo 0 < |x − x0 | < δ.

Temos um enunciado análogo para o caso lim f (x) = L < 0.


x→x0

Demonstração:
Uma demonstração pode ser encontrada na nossa videoaula Demonstração do Teorema
da Conservação de Sinal. Na videoaula, é especializado o resultado para funções con-
tínuas, mas a demonstração é igual se substituirmos f (x0 ) por L. Vamos reproduzi-la
aqui.
Para fixar as ideias, suponha que L > 0 e tome ε = L. Por hipótese, existe δ > 0 tal que

0 < |x − x0 | < δ ⇒ |f (x) − L| < ε = L.

Note que |f (x) − L| < L é equivalente a

−L < f (x) − L < L.

Somando L nas desigualdades acima, temos

0 < f (x) < 2L

e, em particular, f (x) > 0 para todo x satisfazendo 0 < |x − x0 | < δ.

Voltar para a página 308.


334 Matemática Universitária

Teorema A.3.3: Limite da Soma, da Subtração e do Produto

Sejam f e g funções definidas próximo de um ponto x0 tais que lim f (x) = L e


x→x0
lim g(x) = M , então
x→x0

1. lim (f (x) + g(x)) = L + M. 3. lim f (x) · g(x) = L · M .


x→x0 x→x0

2. lim (f (x) − g(x)) = L − M.


x→x0

Demonstração:
1. A demonstração se encontra no vídeo Demonstração do Limite da Soma. Vamos
reproduzi-la aqui. Dado ε > 0. Por hipótese, existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que
ε
0 < |x − x0 | < δ1 ⇒ |f (x) − L| < ,
2
ε
0 < |x − x0 | < δ2 ⇒ |g(x) − M | < .
2
Tome δ = min{δ1 , δ2 }. Se 0 < |x − x0 | < δ, então, pela desigualdade triangular

|f (x) + g(x) − (L + M )| = |(f (x) − L) + (g(x) − M )|


ε ε
≤ |f (x) − L| + |g(x) − M | < + = ε.
2 2

2. A demonstração se encontra na página 291.

3. A demonstração se encontra no vídeo Demonstração do Limite do Produto. Vamos


reproduzi-la aqui. Dado ε > 0. Por hipótese, existem δ1 > 0, δ2 > 0 e δ3 > 0 tais
que
ε
0 < |x − x0 | < δ1 ⇒ |f (x) − L| < ,
2(|M | + 1)
ε
0 < |x − x0 | < δ2 ⇒ |g(x) − M | < ,
2(|L| + 1)
0 < |x − x0 | < δ3 ⇒ |f (x) − L| < 1.

A última desigualdade implica que se 0 < |x − x0 | < δ3 , então

|f (x)| = |f (x) − L + L| ≤ |f (x) − L| + |L| < 1 + |L|.

Tome δ = min{δ1 , δ2 , δ3 }. Se 0 < |x − x0 | < δ, então, pela desigualdade triangular

|f (x) · g(x) − L · M | = |f (x) · g(x) − f (x) · M + f (x) · M − L · M |


= |f (x)(g(x) − M ) + M (f (x) − L)|
≤ |f (x)| |g(x) − M | + |M | |f (x) − L|
≤ (|L| + 1) |g(x) − M | + (|M | + 1) |f (x) − L|
(|L| + 1)ε (|M | + 1)ε
< + = ε.
2(|L| + 1) 2(|M | + 1)

Voltar para a página 291.


Uma demonstração alternativa para o limite do produto se encontra na página 303.
Renan Lima 335

Teorema A.3.4: Limite da Divisão

Sejam f e g funções definidas próximo de um ponto x0 tais que lim f (x) = L e


x→x0
lim g(x) = M , com M 6= 0, então
x→x0

f (x) L
lim = .
x→x0 g(x) M

Demonstração:
A demonstração se encontra na videoaula Demonstração do Limite da Divisão. Vamos
reproduzi-la aqui.
1 1
Começamos com o caso particular que se lim g(x) = M , M 6= 0, então lim = .
x→x0 x→x0 g(x) M
Dado ε > 0. Por hipótese, existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que

|M |2 ε
0 < |x − x0 | < δ1 ⇒ |g(x) − M | < ,
2
|M |
0 < |x − x0 | < δ2 ⇒ |g(x) − M | < .
2
Utilizando a desigualdade triangular |a − b| ≥ |a| − |b|, temos que se 0 < |x − x0 | < δ2 ,
então

|g(x)| = |M + (g(x) − M )|
|M |
≥ |M | − |g(x) − M | > .
2
Daí,
1 2
< .
|g(x)| |M |
Tome δ = min{δ1 , δ2 }. Se 0 < |x − x0 | < δ, temos

1 1 M − g(x) |g(x) − M |
− = =
g(x) M M g(x) |M ||g(x)|
|M |2 ε
2 ε|M | 1
< = · < ε.
|M ||g(x)| 2 |g(x)|

Para o caso geral, basta aplicar a regra do produto.

f (x) 1 1 L
lim = lim f (x) · =L· = .
x→x0 g(x) x→x0 g(x) M M

Voltar para a página 291.


336 Matemática Universitária

Teorema A.3.5: Limite com o Módulo

Seja f função definida próxima de x0 , então

lim f (x) = 0 ⇐⇒ lim |f (x)| = 0.


x→x0 x→x0

Demonstração:
Basta usar a definição de limites e o fato de que |f (x)| = |f (x)|.

lim f (x) = 0 ⇐⇒
x→x0

Para todo ε > 0, existe δ > 0, tal que se 0 < |x − x0 | < δ, então |f (x) − 0| < ε ⇐⇒
Para todo ε > 0, existe δ > 0, tal que se 0 < |x − x0 | < δ, então ||f (x)| − 0| < ε ⇐⇒

lim |f (x)| = 0.
x→x0
Renan Lima 337

Teorema A.3.6: Teorema dos Limites Laterais

Seja f : (a, b) − {x0 } → R uma função real.

1. Se lim f (x) = L, então lim f (x) = L e lim f (x) = L.


x→x0 x→x+ x→x−
0 0

2. Se lim f (x) = L e lim f (x) = L, então vale lim f (x) = L.


x→x+ x→x− x→x0
0 0

Demonstração:
A demonstração se encontra na nossa videoaula Definição Formal de Limites Laterais.
Vamos reproduzi-la aqui.

1. Provaremos apenas que lim f (x) = L. O outro deixamos como exercício.


x→x+
0

Dado ε > 0. Por hipótese, existe δ > 0 tais que 0 < |x − x0 | < δ, temos

|f (x) − L| < ε.

O resultado segue da observação que, se 0 < x − x0 < δ, então 0 < |x − x0 | < δ.


Mais precisamente,

0 < x − x0 < δ ⇒ 0 < |x − x0 | < δ ⇒ |f (x) − L| < ε.

2. Por hipótese, existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que

0 < x − x0 < δ1 ⇒ |f (x) − L| < ε,


0 < −(x − x0 ) < δ2 ⇒ |f (x) − L| < ε.

Tome δ = min{δ1 , δ2 } e x tal que 0 < |x − x0 | < δ. Vamos provar que |f (x) − L| < ε.

Se x > x0 , então |x − x0 | = x − x0 , daí, 0 < x − x0 < δ ≤ δ1 e vale |f (x) − L| < ε.

Se x < x0 , então |x − x0 | = −(x − x0 ), daí, 0 < −(x − x0 ) < δ ≤ δ2 e, portanto,


|f (x) − L| < ε.

Voltar para a página 293.


338 Matemática Universitária

Teorema A.3.7: Propriedades de Limites no Infinito

Dado c ∈ R e sejam f, g : [a, +∞) → R funções definidas próximo de um ponto x0


tais que lim f (x) = L e lim g(x) = M , então
x→+∞ x→+∞


1. lim f (x) + g(x) = L + M. 3. lim f (x) · g(x) = L · M.
x→+∞ x→+∞

2. lim

f (x) − g(x) = L − M. f (x) L
x→+∞
4. lim = , caso M 6= 0.
x→+∞ g(x) M
O mesmo vale se substituirmos +∞ por −∞.

Demonstração:
1. As demonstrações são parecidas com as das propriedades básicas de limites. No
caso, a demonstração do Limite da Soma é feita na videoaula Demonstração das
Propriedades do Limite no Infinito.

2. É provado o caso x → −∞ na página 296.

3. A demonstração é bem parecida com o item 3 do teorema A.3.3. Vamos fazer as


adaptações aqui.
Dado ε > 0. Por hipótese, existem K1 > 0, K2 > 0 e K3 > 0 tais que
ε
x > K1 ⇒ |f (x) − L| < ,
2(|M | + 1)
ε
x > K2 ⇒ |g(x) − M | < ,
2(|L| + 1)
x > K3 ⇒ |f (x) − L| < 1.

A última desigualdade implica que se x > K3 , então

|f (x)| = |f (x) − L + L| ≤ |f (x) − L| + |L| < 1 + |L|.

Tome K = max{K1 , K2 , K3 }. Se x > K, então, pela desigualdade triangular

|f (x) · g(x) − L · M | = |f (x) · g(x) − f (x) · M + f (x) · M − L · M |


= |f (x)(g(x) − M ) + M (f (x) − L)|
≤ |f (x)| |g(x) − M | + |M | |f (x) − L|
≤ (|L| + 1) |g(x) − M | + (|M | + 1) |f (x) − L|
(|L| + 1)ε (|M | + 1)ε
< + = ε.
2(|L| + 1) 2(|M | + 1)

4. A demonstração é bem parecida com A.3.4 e é deixada como exercício para o leitor.

Voltar para a página 296.


Renan Lima 339

Teorema A.3.8: Operações do Infinito

Sejam f, g, h : (x0 , b) → R funções tais que lim f (x) = +∞, lim g(x) = +∞ e
x→x+
0 x→x+
0
lim h(x) = L. Então,
x→x+
0


1. lim

f (x) + g(x) = +∞. 4. lim − f (x) = −∞.
x→x+
x→x+
0
0


2. lim

f (x) · g(x) = +∞. 5. lim f (x) + h(x) = +∞.
x→x+
x→x+
0
0

(
p
3. lim n f (x) = +∞.  +∞, se L > 0,
x→x+
6. lim h(x) · f (x) =
0 x→x+
0
−∞, se L < 0.

Temos enunciados análogos se trocarmos x → x+
0 por x → x0 , x → +∞ ou x → −∞.

Demonstração:
As demonstrações são feitas nas videoaulas Demonstração das Operações com o Infinito
(Parte 1) e Demonstração das Operações com o Infinito (Parte 2). Vamos fazê-las aqui.
Dado M > 0. Temos, por hipótese, que existem δ1 > 0, δ2 > 0 e δ3 > 0 tais que

M √
 
n
0 < x − x0 < δ1 ⇒ f (x) > max M, , M , M , M − L + 1 ,
2

 
M
0 < x − x0 < δ2 ⇒ g(x) > max , M ,
2

0 < x − x0 < δ3 ⇒ L − 1 < h(x) < L + 1.

M M
Tome δ = min{δ1 , δ2 }, daí se 0 < x−x0 < δ, tem-se f (x)+g(x) > + = M e também
√ √ 2 2
que f (x) · g(x) > M · M = M . Isso prova os itens 1 e 2.
p √ p
Tome δ = δ1 , temos que n f (x) > n M n = M e isso prova que lim n f (x) = +∞. Além
x→x+
0
disso, temos que −f (x) < −M e, portanto, lim − f (x)) = −∞.
x→x+
0

Para o item 5, tome δ = min{δ1 , δ3 }, temos que f (x) + h(x) > M − L + 1 + (L − 1) = M .


L
Para o item 6, vamos provar para o caso L > 0. Dado M > 0 e ε = . Temos por hipótese,
2
que existem δ4 > 0 e δ5 > 0 tais que

2M
0 < x − x0 < δ4 ⇒ f (x) > ,
L
L 3L
0 < x − x0 < δ5 ⇒ < h(x) < .
2 2
L 2M
Tome δ = min{δ4 , δ5 }, daí, se 0 < x − x0 < δ, tem-se h(x) · f (x) >
· > M.
2 L
Se L < 0, temos que lim (−h(x))f (x) = +∞ e, pelo item 4, lim h(x)f (x) = −∞.
x→x+
0 x→x+
0

Voltar para a página 297.


340 Matemática Universitária

Teorema A.3.9: Relação entre o Infinito e o Zero

Sejam f, g : (x0 , b) → R tais que lim f (x) = 0 e lim g(x) = +∞, então
x→x+
0 x→x+
0

1
1. lim = 0.
x→x+
0
g(x)

1
2. Se f (x) > 0 quando x > x0 , então lim = +∞.
x→x+
0
f (x)

1
3. Se f (x) < 0 quando x > x0 , então lim = −∞.
x→x+
0
f (x)


Temos enunciados análogos se trocarmos x → x+
0 por x → x0 , x → +∞ ou x → −∞.

Demonstração:
A demonstração se encontra na videoaula Demonstração de Propriedades com o Infinito
e o Zero. Vamos demonstrá-lo aqui.

1. Dado ε > 0. Por hipótese, existe δ > 0 tal que

1
0 < x − x0 < δ ⇒ g(x) > .
ε
1 1
Daí, = < ε.
g(x) g(x)
2. Dado M > 0. Temos, por hipótese, que existe δ > 0 tal que

1
0 < x − x0 < δ ⇒ |f (x)| < .
M
1 1
Como f (x) > 0 em (x0 , b), temos que 0 < f (x) < e, portanto, > M.
M f (x)
3. Considere a função h(x) = −f (x). Temos que lim h(x) = 0 e que h(x) > 0 quando
x→x+
0
x > x0 . Pelo item anterior, temos
1
lim = +∞.
x→x+
0
h(x)

Pelo item 4 do teorema A.3.8, temos que


 
1 1
lim = lim − = −∞.
x→x+0
f (x) x→x+0
h(x)

Voltar para a página 297.


Renan Lima 341

Teorema A.3.10: Teorema do Confronto

Sejam f, g, h : (a, b) − {x0 } → R funções satisfazendo f (x) ≤ g(x) ≤ h(x) para todo
x ∈ (a, b) − {x0 }.

1. Se lim f (x) = lim h(x) = L, então, lim g(x) existe e vale lim g(x) = L.
x→x0 x→x0 x→x0 x→x0

2. Se lim f (x) = +∞, então lim g(x) = +∞.


x→x0 x→x0

3. Se lim h(x) = −∞, então lim g(x) = −∞.


x→x0 x→x0

Enunciados análogos podem ser obtidos ao substituir para x → ±∞ e para limites


laterais.

Demonstração:
A demonstração do item pode ser encontrada na videoaula Demonstração do Teorema
do Confronto. Reproduziremos a demonstração aqui.
Para o item 1, dado ε > 0. Por hipótese, existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que

0 < |x − x0 | < δ1 ⇒ |f (x) − L| < ε,


0 < |x − x0 | < δ2 ⇒ |h(x) − L| < ε.

Tome δ = min {δ1 , δ2 }. Reescrevendo a condição |f (x) − L| < ε por L − ε < f (x) < L + ε
e a condição |h(x) − L| < ε por L − ε < h(x) < L + ε, então para cada x ∈ R satisfazendo
0 < |x − x0 | < δ, temos

L − ε < f (x) ≤ g(x) ≤ h(x) < L + ε.

Isso mostra que |g(x) − L| < ε se 0 < |x − x0 | < δ.

Para o item 2, dado M > 0, então, por hipótese, existe δ > 0 tal que

0 < |x − x0 | < δ ⇒ f (x) > M.

Daí, se 0 < |x − x0 | < δ, então g(x) > f (x) > M e, portanto, lim g(x) = +∞.
x→x0

Para o item 3, dado M > 0, então, por hipótese, existe δ > 0 tal que

0 < |x − x0 | < δ ⇒ h(x) < −M.

Daí, se 0 < |x − x0 | < δ, então g(x) < h(x) < −M e, portanto, lim g(x) = −∞.
x→x0

Voltar para a página 300.


342 Matemática Universitária

Teorema A.3.11: Teorema do Confronto - Função Limitada

Seja g uma função limitada, isto é, existe M ∈ R tal que |g(x)| ≤ M para todo x no
domínio de f .
Seja f função satisfazendo lim f (x) = 0, então
x→x0

lim f (x)g(x) = 0.
x→x0

Enunciados análogos podem ser obtidos ao substituir para x → ±∞ e para limites


laterais.

Demonstração:
A demonstração se encontra na videoaula Demonstração do Teorema do Confronto -
Função Limitada. Façamos a demonstração aqui.

Como 0 ≤ |f (x)g(x)| = |g(x)| · |f (x)| ≤ M |f (x)| e pelo teorema A.3.5, temos que
lim |f (x)| = 0. Logo, pelo teorema do confronto,
x→x0

lim |f (x)g(x)| = 0.
x→x0

Novamente, pelo teorema A.3.5, concluímos que



lim f (x)g(x) = 0.
x→x0

Voltar para a página 128 (capítulo 5).


Voltar para a página 303 (capítulo 9).
Renan Lima 343

Teorema A.3.12: Resultado Técnico para Demonstrações mais Avançadas

Seja f : (a, b) → R e x0 ∈ (a, b) tal que lim f (x) = L. Seja c : (a, b) − {x0 } → R
x→x0
satisfazendo 0 < |c(x) − x0 | < |x − x0 |. Então

lim f (c(x)) = L.
x→x0

Demonstração:
Dado ε > 0. Como lim f (x) = L, existe δ > 0 tal que
x→x0

0 < |x − x0 | < δ ⇒ |f (x) − L| < ε.

Fixe x ∈ (a, b) satisfazendo 0 < |x − x0 | < δ e tome y = c(x). Por hipótese, temos que
0 < |y − x0 | < δ e, portanto,
|f (y) − L| < ε.
Provamos que 0 < |x − x0 | < δ, então 0 < |f (c(x)) − L| < ε. Logo

lim f (c(x)) = L.
x→x0

Neste livro, o resultado técnico é usado na demonstração da 1ª regra de L’Hospital (Ver


a página 375).
344 Matemática Universitária

Teorema A.3.13: Mudança de Variáveis no Limite

Seja u : (a, b) → (c, d) uma função estritamente crescente (ou decrescente). Suponha
que lim u(x) = u0 .
x→x0
Seja f : (c, d) → R função tal que lim f (u) existe, então lim f (u(x)) existe e vale
u→u0 x→x0

lim f (u(x)) = lim f (u).


x→x0 u→u0

O mesmo enunciado é válido se trocarmos por limites laterais e limites no infinito.

Demonstração:
A prova pode ser encontrada na videoaula Demonstração da Mudança de Variáveis no
Limites. Vamos reproduzi-la aqui.
Dado ε > 0. Suponha, para fixarmos as ideias, que u é estritamente crescente e que
lim f (u) = L. Então existe ε1 > 0 tal que
u→u0

0 < |u − u0 | < ε1 ⇒ |f (u) − L| < ε.

Como lim u(x) = u0 , existe δ > 0 tal que


x→x0

0 < |x − x0 | < δ ⇒ |u(x) − u0 | < ε1 .

O fato de u ser estritamente crescente implica que se x 6= x0 , então u(x) 6= u0 . Logo,

0 < |x − x0 | < δ ⇒ 0 < |u(x) − u0 | < ε1


⇒ |f (u) − L| < ε.

Concluímos que lim f (u(x)) = L.


x→x0

Voltar para a página 300.


Renan Lima 345

A.4 Propriedade de Funções Contínuas

Teorema A.4.1: Propriedades Básicas de Funções Contínuas

Se f e g são funções contínuas, então

3. f · g é contínua.
1. f + g é contínua.
f
2. c · f é contínua, em que c ∈ R. 4. é contínua.
g

Demonstração:
Para os itens 1, 2 e 3 a prova é uma só. Dado x0 ∈ R no domínio de f e em g, então pelas
propriedades básicas de limites (ver teoremas A.3.3 e A.3.4), temos

lim (f (x) + g(x)) = lim f (x) + lim g(x) = f (x0 ) + g(x0 ),


x→x0 x→x0 x→x0

lim c · f (x) = cf (x0 ),


x→x0

lim (f (x) · g(x)) = lim f (x) · lim g(x) = f (x0 ) + g(x0 ).


x→x0 x→x0 x→x0

f (x)
O item 4 tem uma tecnicalidade. Seja x0 ∈ R um ponto no domínio de , então, em
g(x)
6 0. Podemos então aplicar que o limite da divisão é a divisão dos
particular, g(x0 ) =
limites
f (x) f (x0 )
lim = .
x→x0 g(x) g(x0 )

Voltar para a página 161.


346 Matemática Universitária

Teorema A.4.2: Continuidade da Composta

Se f e g são funções contínuas, então f ◦ g é contínua.

Demonstração:
A demonstração é encontrada na nossa videoaula Demonstração da Continuidade da
Composta. Vamos reproduzi-la aqui.
Fixe x0 no domínio de f ◦ g. Escreva y = g(x), z = f (y) e g(x0 ) = y0 .
Dado ε > 0. Pela continuidade da f em y0 , existe δ1 > 0, tal que

|y − y0 | < δ1 ⇒ |f (y) − f (y0 )| < ε.

Pela continuidade de g, existe δ > 0 tal que

|x − x0 | < δ ⇒ |g(x) − g(x0 )| < δ1 .

Compondo as duas relações acima, utilizando que y = g(x) e y0 = g(x0 ), temos que

|x − x0 | < δ ⇒ |g(x) − g(x0 )| < δ1 ⇒ |f (g(x)) − f (g(x0 ))| < ε.

Concluímos que f ◦ g é contínua em x0 .

Voltar para a página 294.


Renan Lima 347

Teorema A.4.3: Teorema de Bolzano e Teorema do Valor Intermediário

Seja f : [a, b] → R contínua.

1. (teorema de Bolzano). Se f (a) · f (b) < 0. Então existe c ∈ (a, b) tal que f (c) = 0.

2. (teorema do valor intermediário). Se f (a) < f (b) e d ∈ (f (a), f (b)), então existe
um c ∈ (a, b) tal que f (c) = d. Analogamente, se f (a) > f (b) e d ∈ (f (b), f (a)),
então existe c ∈ (a, b) tal que f (c) = d.

Demonstração:
Para a demonstração em vídeos, recomendamos a nossa videoaula Demonstração do Te-
orema de Bolzano e Demonstração do Teorema do Valor Intermediário.
Faremos aqui uma demonstração alternativa para o teorema de Bolzano. Para fixarmos
as ideias, supomos que f (a) < 0 e f (b) > 0.
Seja X = {t ∈ [a, b]/f (x) ≤ 0 para todo x ∈ [a, t]}.

Temos que a ∈ X e que X é um conjunto limitado. Pelo teorema A.2.1, X admite um


supremo, que denotaremos por c. Como b é cota superior de X e a ∈ X, temos que
c ∈ [a, b]. Vamos provar que f (c) = 0.

Supomos, por absurdo, que f (c) < 0. Pelo teorema da conservação de sinal A.3.2, existe
δ > 0 tal que f (x) < 0 para todo x satisfazendo c − δ < x < c + δ e x ∈ [a, b]. Lembrando
que f (b) > 0, então c < b e escolhemos δ suficientemente pequeno de modo que c + δ < b.
Como c − δ < c, então c − δ não é cota superior de X e, portanto, existe t ∈ X tal que
c − δ < t < c. Pela definição do conjunto X, temos que f (x) ≤ 0 para todo x ∈ [a, t].
Como f (x) < 0 para todo x ∈ (c − δ, c + δ), temos que f (x) ≤ 0 para todo x ∈ [a, c + δ).
δ
Em particular, c + ∈ X, contradizendo que c é cota superior de X. Logo, f (c) ≥ 0.
2

Supomos, por absurdo, que f (c) > 0. Pelo teorema da conservação de sinal , existe δ > 0
tal que f (x) > 0 para todo x satisfazendo c − δ < x < c + δ e x ∈ [a, b]. Como f (a) < 0 e
f (c) > 0, temos que a < c e podemos escolher δ > 0 suficientemente pequeno de modo
δ
que a < c − δ. Tome x0 = c − . Temos que f (x0 ) > 0 e, portanto, x0 ∈ / X.
2
Por outro lado, como x0 < c, temos que x0 não é cota superior de X e, portanto, existe
t ∈ X tal que x0 < t < c. Logo f (x) ≤ 0 para todo x ∈ [a, t] e, como x0 < t, temos que
f (x) ≤ 0 para todo x ∈ [a, x0 ]. Em outras palavras, temos que

x0 ∈ X.

Contradizendo que x0 ∈
/ X e isso mostra que f (c) ≤ 0.

Juntando as informações que f (c) ≤ 0 e f (c) ≥ 0, concluímos que f (c) = 0 e c ∈ (a, b).

Para o teorema do valor intermediário, considere g(x) = f (x)−d. Temos que g é contínua,
com g(a) · g(b) < 0. Pelo teorema de Bolzano, existe c ∈ (a, b) tal que g(c) = 0. Isso mostra
que f (c) = d.

Voltar para a página 308.


348 Matemática Universitária

Teorema A.4.4: Funções Injetoras e Contínuas são Monótonas

Seja f : [a, b] → R função contínua e injetora. Então f é monótona, isto é, f é estrita-


mente crescente ou estritamente decrescente.

Demonstração:
A demonstração pode ser encontrada na nossa videoaula Demonstração que Funções
Contínuas Bijetoras São Monótonas. Vamos escrever de outra forma aqui.
Supomos, para fixar as ideias, que f (a) < f (b). Vamos provar que f é estritamente
crescente.
O primeiro passo é provar que f (a) < f (x) para todo x ∈ (a, b]. Supomos, por absurdo,
que isso não acontece. Então existe x0 ∈ (a, b) tal que f (a) > f (x0 ) (lembremos que se
f (a) = f (x0 ), então a = x0 pela injetividade da f ).
Considere a função f restrita ao intervalo [x0 , b]. Mais precisamente, seja g : [x0 , b] → R
definida por g(x) = f (x) e seja d = f (a). Por hipótese, temos que g(x0 ) < d < g(b).
Pelo teorema do valor intermedário, existe c ∈ (x0 , b) tal que g(c) = d. Provamos que
f (a) = f (c) = d e a < x0 < c e, em particular, f não é injetivo. Um absurdo.
Isso mostra que f (a) < f (x) para todo x ∈ (a, b].

Supomos que f não é estritamente crescente. Então existem x0 , x1 ∈ (a, b] tais que x0 < x1
e satisfaz f (x0 ) > f (x1 ). Considere

f (x0 ) + f (x1 )
d= .
2
Temos que d ∈ (f (x1 ), f (x0 )). Como f (a) < f (x1 ), temos que d ∈ (f (a), f (x0 )).
Pelo teorema do valor intermediário, existem c1 ∈ (a, x0 ) e c2 ∈ (x0 , x1 ) satisfazendo

f (c1 ) = d = f (c2 ),

contrariando a injetividade de f .
Isso mostra que f é estritamente crescente.

Voltar para a página 308.


Renan Lima 349

Teorema A.4.5: Continuidade da Inversa

Seja f : (a, b) → (c, d) função contínua e bijetora, então f −1 : (c, d) → (a, b) é contínua.

Demonstração:
A demonstração se encontra na videoaula Demonstração da Continuidade da Inversa.
Vamos reproduzi-la aqui.
Pelo teorema A.4.4, f é monótona. Para fixarmos as ideias, supomos que f é estritamente
crescente e denotamos g = f −1 .

Seja x0 ∈ (c, d)e y0 = g(x 0 ). Dado ε > 0 satisfazendo (y0 − ε, y0 + ε) ⊆ (a, b). Sejam
ε ε
x 1 = f y0 − e x 2 = f y0 + .
2 2
Como f é uma função crescente, temos x1 < x0 < x2 . Tome δ = min{x0 − x1 , x2 − x0 }.
Afirmamos que se |x − x0 | < δ, então |g(x) − g(x0 )| < ε.
Dado x satisfazendo |x − x0 | < δ. Como x1 ≤ x0 − δ < x < x0 + δ ≤ x2 e sabendo que
inversa de uma função crescente é crescente, temos que g(x1 ) < g(x) < g(x2 ). Note que
  ε  ε
g(x1 ) = g f y0 − = y0 − ,
2  2
  ε ε
g(x2 ) = g f y0 + = y0 + .
2 2
ε ε
Portanto, y0 − < g(x) < y0 + . Lembrando que y0 = g(x0 ), temos que
2 2
ε
|g(x) − g(x0 )| < < ε.
2

Voltar para a página 309.


350 Matemática Universitária

Teorema A.4.6: Teorema de Weierstrass

Seja f : [a, b] → R função contínua. Então f admite pontos de máximo e mínimo


global em [a, b].

Demonstração:
A demonstração se encontra na nossa videoaula Demonstração do Teorema de Weiers-
trass. Vamos reproduzi-la aqui.
Primeiramente, vamos mostrar que toda função contínua h : [a, b] → R é limitada. Su-
ponha que não acontece, então h é ilimitada em [a, b]. Seja y ponto médio de I0 = [a, b].
Temos então duas possibilidades:

1. Se h é ilimitada em [a, y], tome a1 = a e b1 = y e defina I1 = [a1 , b1 ].

2. Se h é limitada em [a, y], tome a1 = y e b1 = b e defina I1 = [a1 , b1 ].

Como h é ilimitada em [a, b], então h não pode ser limitada simultaneamente nos inter-
valos [a, y] e [y, b]. Temos, portanto, em ambas possibilidades, que h é ilimitada em I1 e
que o tamanho do intervalo I1 é a metade de tamanho do intervalo I0 .
Supomos que construimos o intervalo In = [an , bn ] em que h é ilimitada em In e que o
tamanho do intervalo de In é a metade do tamanho do intervalo In−1 . Seja y o ponto
médio de In . Temos duas possibilidades:

1. Se h é ilimitada em [an , y], tome an+1 = an e bn+1 = y e defina In+1 = [an+1 , bn+1 ].

2. Se h é limitada em [an , y], tome an+1 = y e bn+1 = bn e defina In+1 = [an+1 , bn+1 ].

Em ambos os casos, temos que h é ilimitada em In+1 e que o tamanho do intervalo In+1 é
a metade de tamanho do intervalo In . Pela propriedade dos intervalos encaixantes, existe
um único c ∈ R tal que c ∈ In para todo n.
Como h é contínua em c, existe δ > 0 tal que se |x − c| < δ, então |h(x) − h(c)| < 1. Em
particular, a função h é limitada em (c − δ, c + δ). Por outro lado, existe n ∈ N tal que
δ δ
c− ∈ / In e c + ∈ / In e, portanto, In ⊆ (c − δ, c + δ).
2 2
Chegamos a uma contradição, pois h é ilimitada em In , mas é limitada em (c − δ, c + δ).
Logo toda função contínua h : [a, b] → R é limitada.

Estamos em condições de mostrar que f admite ponto de máximo global. Como Im(f ) é
limitado superiormente, então, pelo teorema A.2.1, Im(f ) admite supremo, que denota-
remos por M . Suponha que não existe xM ∈ [a, b] tal que f (xM ) = M .
1 1
Defina h : [a, b] → R por h(x) = . Dado n ∈ N, temos que M − não é cota su-
M − f (x) n
1
perior de Im f . Logo existe xn ∈ [a, b] satisfazendo M − < f (xn ) < M . Daí, h(xn ) > n.
n
Temos que h é contínua e ilimitada. Uma contradição.
Existe, portanto, xM ∈ [a, b] tal que f (xM ) = M e xM é ponto de máximo global da f .

Para a existência do mínimo global, considere a função h(x) = −f (x). Seja xm ponto de
máximo global de h. Então, xm é ponto de mínimo global da f .

Voltar para a página 309.


Renan Lima 351

A.5 Reconhecendo Funções Contínuas

Teorema A.5.1: Funções Polinomiais

As funções polinomiais são contínuas.

Demonstração:
Devemos provar, primeiramente, que a função constante f (x) = c e a função g(x) =
x são contínuas e, depois, argumentamos por indução sobre o grau do polinômio. A
demonstração que função constante é contínua é feita no final da nossa videoaula Defi-
nição Formal de Limites. Vamos demonstrar tudo aqui.
Comecemos demonstrando que f (x) = c é contínua. Dado x0 ∈ R e dado ε > 0. Tome-
mos δ = 1. Daí,
|x − x0 | < δ ⇒ |f (x) − f (x0 )| = |c − c| < ε.
Para demonstramos que a função linear g(x) = x é contínua, façamos pela definição.
Dado x0 ∈ R e dado ε > 0, tome δ = ε. Então

|x − x0 | < δ ⇒ |g(x) − g(x0 )| = |x − x0 | < δ = ε.

Pelo teorema A.4.1, temos que as funções afim f (x) = ax + b são contínuas.

Supomos por indução que os polinômios de grau ≤ k são contínuas e considere

p(x) = ak+1 xk+1 + ak xk + . . . + a1 x + a0

polinômio de grau k + 1. Tome então q(x) = ak xk + . . . + a1 x + a0 . Por hipótese de


indução, q(x) é contínua.
Além disso, pela hipótese de indução, as funções g(x) = ak+1 x e f (x) = xk são contínuas,
então, pelo teorema A.4.1, h(x) = ak+1 xk+1 = (ak+1 x).xk é contínua. Daí, a função

p(x) = ak+1 xk+1 + q(x)

é contínua. Isso conclui o argumento de indução.

Voltar para a página 294.


352 Matemática Universitária

Teorema A.5.2: Continuidade das Funções Trigonométricas

Todas as Funções Trigonométricas são contínuas.

Demonstração:
Para as funções seno e cosseno, sugerimos a nossa videoaula Demonstração da Continui-
dade das Funções Seno e Cosseno. Vamos reescrevê-la aqui.

Vamos provar primeiramente que a função seno é contínua. Para isso, temos que mostrar
 π
que | sen x−sen x0 | ≤ |x−x0 |. Começaremos provando para x0 = 0. Para cada x ∈ 0, ,
2
y

P
sen x

x
x
O R
1

sen x
temos, pela figura acima, que a área do triângulo OP R é e a área do setor circular
2
x sen x x  π  π 
OP R é . Logo, ≤ para todo x ∈ 0, . Por outro lado, para x ∈ − , 0 ,
2 2 2 2 2
temos que
| sen x| = | − sen(−x)| = | sen(−x)| ≤ | − x| = |x|.
 π π
Concluímos que | sen x| ≤ |x| para todo x ∈ − , .
2 2
 π π
Fixemos x0 ∈ R, então, para x ∈ x0 − , x0 + , temos pela fórmula de prostaférese,
2 2
   
x − x0 x + x0
| sen x − sen x0 | = 2 sen cos
2 2
 
x − x0 x − x0
≤ 2 sen ≤2 = |x − x0 |.
2 2

Pela continuidade de polinômios e pelo teorema A.3.5, temos que lim |x−x0 | = 0. Como
x→x0
0 ≤ | sen x − sen x0 | ≤ |x − x0 |, pelo teorema do confronto, vale lim | sen x − sen x0 | = 0.
x→x0
Pelo teorema A.3.5, temos que lim (sen x − sen x0 ) = 0. Daí,
x→x0

lim sen x = lim (sen x − sen x0 + sen x0 ) = lim (sen x − sen x0 ) + lim sen x0 = sen x0 .
x→x0 x→x0 x→x0 x→x0

Portanto, sen x é uma função contínua.


π 
A continuidade da função cosseno se deve à fórmula cos x = sen e ao teo- −x
2
rema A.4.2. A continuidade das funções tangente, cotangente, secante e cossecante é
consequência do teorema A.4.1, que diz que divisão de funções contínuas é contínua.

Voltar para a página 130.


Renan Lima 353

Teorema A.5.3: Continuidade das Funções Exponenciais e Logarítmicas

Para todo a ∈ (0, +∞), a 6= 1, as funções f (x) = ax e g(x) = loga x são contínuas.

Demonstração:
A demonstração se encontra na nossa videoaula Demonstração da Continuidade da Fun-
ção Exponencial. Vamos reproduzi-la aqui, com algumas pequenas mudanças.
Comecemos provando que a função F (x) = 2x é contínua. Vamos provar, primeiramente,
que lim 21/n = 1. Para isso, dado ε > 0, existe n0 ∈ N tal que 2 < 1 + n0 ε, daí, para
n→+∞
todo n ≥ n0 e pela desigualdade (1 + nε) ≤ (1 + ε)n , temos

|21/n − 1| = 21/n − 1 ≤ (1 + n0 ε)1/n − 1 ≤ (1 + nε)1/n − 1


≤ [(1 + ε)n ]1/n − 1 = 1 + ε − 1 = ε.

O próximo passo é mostrar que lim 2x = 1. Dado ε > 0, então, como lim 21/n = 1,
x→0+ n→+∞
1 1
existe n ∈ N tal que 21/n− 1 < ε. Tome δ = . Se 0 < x < , então como a função
n n
F (x) = 2x é crescente (ver teorema A.2.3), temos

|2x − 1| = 2x − 1 < 21/n − 1 < ε.

Fazendo a mudança de variável u = −x, temos que se x → 0− então u → 0+ , daí,

1
lim 2x = lim 2−u = lim = 1.
x→0− u→0+ u→0+ 2u
Logo F (x) = 2x é contínua em x = 0. Para x0 arbitrário, façamos a mudança de variável
u = x − x0 , daí

lim 2x = lim 2u+x0 = lim 2x0 · 2u = 2x0 · lim 2u = 2x0 .


x→x0 u→0 u→0 u→0

Para mostrar que a função f (x) = ax é contínua, escreva k = log2 a. Temos que k é
constante (não depende de x) e vale ax = 2kx e pelo teorema A.4.2, temos que f (x) = ax
é contínua.
Finalmente, como a função g(x) = loga x é a inversa da função f (x) = ax , então, pelo
teorema A.4.5, a função g(x) = loga x é contínua.

Voltar para a página 307.


Uma demonstração alternativa da continuidade do logaritmo se encontra na página 302.
354 Matemática Universitária

Teorema A.5.4: Continuidade das Funções Restantes

1. As funções trigonométricas inversas são contínuas.

2. As funções da forma f (x) = xp , com p ∈ R são contínuas.

3. A função g(x) = |x| é contínua.

Demonstração:
1. A demonstração que as funções trigonométricas inversas são contínuas é uma con-
sequência direta do fato de Funções Trigonométricas serem contínuas (ver teorema
A.5.2) e do teorema A.4.5, que diz que inversas de funções contínuas são contínuas.

2. Para x0 > 0, basta utilizar a identidade xp = 2p log2 x e usar que a continuidade das
funções exponenciais e logarítmicas (ver teorema A.5.3) e o teorema A.4.2 que diz
que composição de funções contínuas é contínua.
Se quisermos provar a continuidade para x0 < 0, primeiramente, deve-se ter que a
parte negativa esteja no domínio de f (x) = xp e isso só acontece para alguns valores
1 1
racionais de p, por exemplo, isso não ocorre para p = , mas ocorre para p = .
2 3
Caso a parte negativa esteja no domínio, usamos a relação xp = (−1)p (−x)p e, to-
mando g : (−∞, 0) → R definida por g(x) = −x. Temos que g é contínua e g(x) > 0
para todo x < 0. Como (−x)p = g(x)p , então (−x)p é contínua pelo fato de compo-
sição de funções contínuas serem contínuas. Como a função constante h(x) = (−1)p
é contínua, temos que xp = (−1)p (−x)p é uma multiplicação de funções contínuas
e, portanto, é contínua.
Finalmente, para mostrar a continuidade em x0 = 0, deve-se ter, necessariamente,
p > 0 e, portanto, a função f (x) = xp é crescente para x > 0. Provaremos a conti-
nuidade em x0 = 0 na definição.
Dado ε > 0 e tome δ = ε1/p . Daí,

|x − 0| < δ ⇒ |f (x) − f (0)| = |xp | = |x|p < (δ)p = ε.



3. Se deve ao fato de que |x| = x2 = (x2 )1/2 , do fato de que f (x) = xp é contínua
para todo p ∈ R e também pelo teorema A.4.2 sobre a continuidade da composta.

Voltar para a página 162.


Renan Lima 355

A.6 Regras de Derivação

Teorema A.6.1: Soma, Subtração e Multiplicação por Escalar de Derivadas

Sejam f e g deriváveis em x0 e c ∈ R, então

1. (f + g)0 (x0 ) = f 0 (x0 ) + g 0 (x0 ).

2. (f − g)0 (x0 ) = f 0 (x0 ) − g 0 (x0 ).

3. (cf )0 (x0 ) = cf 0 (x0 ).

Demonstração:
1. É provado com precisão no vídeo Demonstração da Derivada da Soma.

2. É uma breve adaptação do item 1. Vamos provar aqui por completude.

(f − g)(x0 + h) − (f − g)(x0 ) f (x0 + h) − g(x0 + h) − f (x0 ) + g(x0 )


lim = lim
h→0 h h→0
 h 
f (x0 + h) − f (x0 ) g(x0 + h) − g(x0 )
= lim −
h→0 h h
0 0
= f (x0 ) − g (x0 ).

3. Repetimos a demonstração acima, com as devidas adaptações.

(cf )(x0 + h) − (cf )(x0 ) cf (x0 + h) − cf (x0 )


lim = lim
h→0 h h→0
 h 
f (x0 + h) − f (x0 )
= lim c
h→0 h
0
= cf (x0 ).

Voltar para a página 71.


356 Matemática Universitária

Teorema A.6.2: Derivada e Continuidade e Algumas Fórmulas

Seja f função derivável em x0 , valem as seguintes fórmulas.

1. lim f (x0 + h) = f (x0 ).


h→0

2. Se g(x) = (f (x))2 , então g 0 (x0 ) = 2f (x0 )f 0 (x0 ).


1 f 0 (x0 )
3. Se f (x0 ) 6= 0 e g(x) = , então g 0 (x0 ) = − .
f (x) (f (x0 ))2

Demonstração:
1. É apenas uma manipulação algébrica,
 
f (x0 + h) − f (x0 )
lim (f (x0 + h) − f (x0 )) = lim ·h
h→0 h→0 h
f (x0 + h) − f (x0 )
= lim · lim h = 0.
h→0 h h→0

Daí,

lim f (x0 + h) = lim f (x0 + h) − f (x0 ) + f (x0 ) = 0 + lim f (x0 ) = f (x0 ).
h→0 h→0 h→0

2. Dado x0 ∈ R, então

g(x0 + h) − g(x0 ) (f (x0 + h))2 − (f (x0 ))2


lim = lim
h→0 h h→0 h
(f (x0 + h) + f (x0 )) (f (x0 + h) − f (x0 ))
= lim
h→0 h 
f (x0 + h) − f (x0 )
= lim (f (x0 + h) + f (x0 ))
h→0 h
 
f (x0 + h) − f (x0 )
= lim (f (x0 + h) + f (x0 )) lim
h→0 h→0 h
0
= 2f (x0 )f (x0 ).

Logo, g 0 (x0 ) = 2f (x0 )f 0 (x0 ).

3. Dado x0 ∈ R com f (x0 ) 6= 0, então


1 1

g(x0 + h) − g(x0 ) f (x0 + h) f (x0 )
lim = lim
h→0 h h→0
 h 
f (x0 ) − f (x0 + h) 1
= lim ·
h→0 f (x0 )f (x0 + h) h
 
f (x0 + h) − f (x0 ) 1
= lim − ·
h→0 h f (x0 )f (x0 + h)
0
f (x0 )
=− .
(f (x0 ))2

Voltar para a página 72.


Renan Lima 357

Teorema A.6.3: Regra do Produto e do Quociente

Sejam f, g funções deriváveis em x0 , então

1. f · g é derivável em x0 e vale

(f · g)0 (x0 ) = f 0 (x0 )g(x0 ) + f (x0 )g 0 (x0 ).

f
2. Se g(x0 ) 6= 0, então é derivável em x0 e vale
g
 0
f f 0 (x0 )g(x0 ) − f (x0 )g 0 (x0 )
= .
g (g(x0 ))2

Demonstração:
As demonstrações se encontram nas videoaulas Demonstração da Regra do Produto e
Demonstração da Regra do Quociente. Vamos fazer uma demonstração alternativa destes
resultados. Para o item 1, o truque é utilizar a igualdade

1 (f (x))2 (g(x))2
f · g(x) = (f (x) + g(x))2 − − .
2 2 2
Como a expressão à direita é derivável (Ver teorema A.6.2 e usar que derivada da soma é
a soma das derivadas diversas vezes), logo f · g é derivável em x0 e vale

(f · g)0 (x0 ) =[f (x0 ) + g(x0 )][f 0 (x0 ) + g 0 (x0 )] − f (x0 )f 0 (x0 ) − g(x)g 0 (x0 )

=[f (x0 )f 0 (x0 ) + f (x0 )g 0 (x0 ) + g(x0 )f 0 (x0 ) + g(x0 )g 0 (x0 )]


− f (x0 )f 0 (x0 ) − g(x)g 0 (x0 )

=f (x0 )g 0 (x0 ) + f 0 (x0 )g(x0 ).


 0
1 g 0 (x0 ) f 1
Para o item 2, como (x0 ) = − 2
, então, pelo item 1, temos que = f · é
g (g(x0 )) g g
derivável e, pela regra do produto, vale
 0
1 0
   0 
f 0 1 −g (x0 )
(x0 ) = f · (x0 ) = f (x0 ) · + f (x0 ) ·
g g g(x0 ) (g(x0 ))2
f 0 (x0 )g(x0 ) − f (x0 )g 0 (x0 )
= .
(g(x0 ))2

Voltar para a página 87.


Uma demonstração alternativa da regra do produto se encontra na página 185.
358 Matemática Universitária

Teorema A.6.4: Diferenciabilidade é Equivalente a Derivabilidade

Sejam f : I → R função, I intervalo aberto e x0 ∈ I. Então f é diferenciável em x0 se


e somente se f é derivável em x0 .

Demonstração:
A demonstração se encontra no vídeo Demonstração que Diferenciável é Equivalente a
Derivável. Vamos reproduzir a demonstração aqui.
Suponha que f é derivável em x0 . Então

f (x) − f (x0 ) − f 0 (x0 )(x − x0 )


 
f (x) − f (x0 )
lim = lim − f 0 (x0 )
x→x0 x − x0 x→x0 x − x0

= f 0 (x0 ) − f 0 (x0 ) = 0.

Isso mostra que f é diferenciável em x0 .


Se f é diferenciável em x0 , então existe a ∈ R tal que

f (x) − f (x0 ) − a(x − x0 )


lim = 0.
x→x0 x − x0
Então,

f (x) − f (x0 ) − a(x − x0 )


a = a + lim
x→x0 x − x0
 
f (x) − f (x0 ) − a(x − x0 )
= lim a +
x→x0 x − x0
f (x) − f (x0 )
= lim .
x→x0 x − x0

Isso mostra que f é derivável em x0 . Além disso, tem-se que a = f 0 (x0 ).

Voltar para a página 183.


Renan Lima 359

Teorema A.6.5: Regra da Cadeia

Sejam f : (c, d) → R e g : (a, b) → (c, d) funções deriváveis, então a sua composição


H = f ◦ g : (a, b) → R é derivável e vale

H 0 (x) = f 0 (g(x))g 0 (x).

Demonstração:
A demonstração pode ser encontrada na videoaula Demonstração da Regra da Cadeia.
Vamos transcrevê-la aqui.
Como g é diferenciável em x0 , temos que

∆g = g(x0 + h) − g(x0 ) = g 0 (x0 )h + σ1 (h) · h,

em que σ1 é contínua em h = 0 e vale σ1 (0) = 0.


Tome y0 = g(x0 ) ∈ (c, d). Como f é diferenciável em y0 , temos que

∆f = f (y0 + k) − f (y0 ) = f 0 (y0 )k + σ2 (k) · k,

em que σ2 é contínua em k = 0 e vale σ2 (0) = 0.


Escreva k = g(x0 + h) − g(x0 ), isto é, g(x0 + h) = y0 + k. Fazendo a composição, temos
(colocaremos o "resto"em azul e mais espaçado)

∆H = f ◦ g(x0 + h) − f ◦ g(x0 )
= f (y0 + k) − f (y0 )
= f 0 (y0 )k+ σ2 (k) · k
0
= f (g(x0 ))[g(x0 + h) − g(x0 )]+ σ2 (k) (g(x0 + h) − g(x0 ))
0 0
σ2 (k) g 0 (x0 )h + σ1 (h) · h

= f (g(x0 ))[g (x0 )h + σ1 (h) · h]+
= f 0 (g(x0 ))g 0 (x0 )h+ σ2 (k) g 0 (x0 ) + σ1 (h) + f 0 (g(x0 ))σ1 (h) · h
  

= f 0 (g(x0 ))g 0 (x0 )h+ σ3 (h) · h,

onde

σ3 (h) = σ2 (k) g 0 (x0 ) + σ1 (h) + f 0 (g(x0 ))σ1 (h)




= σ2 (g(x0 + h) − g(x0 )) g 0 (x0 ) + σ1 (h) + f 0 (g(x0 ))σ1 (h).




Para finalizar a demonstração precisamos mostrar que a função σ3 (h) é contínua em h = 0


e vale σ3 (0) = 0.
Como as funções f , g, σ1 e σ2 são contínuas e σ3 é uma combinação de soma, multiplica-
ção e composição de funções contínuas, concluímos que σ3 é contínua em h = 0. Além
disso,
σ3 (0) = σ2 (0) g 0 (x0 ) + σ1 (0) + f 0 (g(x0 ))σ1 (0) = 0.


Voltar para a página 184.


360 Matemática Universitária

Teorema A.6.6: Derivada da Função Inversa

Seja f : (a, b) → (c, d) bijetora e g a função inversa da f . Se f é derivável em x0 com


f 0 (x0 ) 6= 0 e se f (x0 ) = y0 , então g é derivável em y0 e vale
1
g 0 (y0 ) = .
f 0 (x 0)

Demonstração:
A demonstração se encontra na videoaula Demonstração da Derivada da Função Inversa.
Vamos reproduzi-la aqui.
Basta utilizar a definição de limite e fazer a mudança de variáveis. Mais precisamente,

g(y0 + k) − g(y0 )
lim .
k→0 k
Escreva g(y0 ) = x0 e g(y0 + k) − g(y0 ) = h, isto é, g(y0 + k) = x0 + h. Note que, pela
continuidade da g temos que se k → 0, então h → 0, logo, podemos aplicar a mudança
de variáveis de limite, observando que f (x0 ) + k = y0 + k = f ◦ g(y0 + k) = f (x0 + h),

g(y0 + k) − g(y0 ) h
lim = lim
k→0 k h→0 f (x0 + h) − f (x0 )

1
= lim
h→0 f (x0 + h) − f (x0 )
h
1
= .
f 0 (x0 )

Esta última igualdade decorre do fato de f 0 (x0 ) 6= 0 e que limite da divisão é igual a
divisão de limites.

Voltar para a página 132.


Uma demonstração alternativa da derivada da função inversa se encontra na página 185.
Renan Lima 361

A.7 Fórmula de Derivadas das Funções

Teorema A.7.1: Derivada de Polinômios

1. Se f (x) = xn , com n ∈ {0, 1, 2, . . .}, então f 0 (x) = nxn−1 .

2. Se f (x) = an xn + an−1 xn−1 + . . . + a1 x + a0 , então

f 0 (x) = nan xn−1 + (n − 1)an−1 xn−2 + . . . + 2a2 x + a1 .

Demonstração:
1. É provado na videoaula Demonstração da Derivada de xn para n ∈ N. Nesta vi-
deoaula, há duas demonstrações distintas deste resultado. A primeira delas utiliza
fórmula de binômio de Newton e segunda demonstração utiliza a regra do produto
e argumento de indução.
O caso em que n = 0, temos que f ≡ 1. Basta aplicar a definição

f (x + h) − f (x) 1−1
lim = lim = 0.
h→0 h h→0 h
O caso em que n = 1, temos que f (x) = x e utilizamos a definição de derivada.

f (x + h) − f (x) (x + h) − x h
lim = lim = lim = 1.
h→0 h h→0 h h→0 h

Supomos que n ≥ 2. A fórmula do Binômio de Newton diz que para cada x fixado,
       
n n n 0 n n−1 1 n n−k k n 0 n
(x + h) = x h + x h + ... + x h + ... + x h
0 1 k n

= xn + nxn−1 h + h2 · G(h), em que


     
n n−2 0 n n−k k−2 n 0 n−2
G(h) = x h + ... + x h + ... + x h .
2 k n
Portanto,

(x + h)n − xn xn + nxn−1 + h2 · G(h) − xn


lim = lim
h→0 h h→0 h
nxn−1 h + h2 · G(h)
= lim
h→0 h
n−1
= lim (nx + h · G(h)) = nxn−1 .
h→0

2. Aplicando sucessivamente os itens (1) e (3) do teorema A.6.1.

f 0 (x) = (an xn + an−1 xn−1 + . . . + a1 x + a0 )0


= (an xn )0 + (an−1 xn−1 )0 + . . . + (a1 x)0 + (a0 )0
= an (xn )0 + an−1 (xn−1 )0 + . . . + a1 (x)0 + (a0 )0
= nan xn−1 + (n − 1)an−1 xn−2 + . . . + 2a2 x + a1 .

Voltar para a página 71.


362 Matemática Universitária

Teorema A.7.2: Limite Fundamental Trigonométrico

Vale o seguinte limite


sen x
lim = 1.
x→0 x

Demonstração:
A demonstração deste resultado se encontra na nossa videoaula Demonstração do Limite
Fundamental. Vamos reproduzi-la aqui.
y T

P
tg x

sen x
x
x
O R
1

π sen x
Para 0 < x < , temos que a área do triângulo OP R é , a área do setor circular OP R
2 2
x tg x
é e a área do triângulo ORT é . Logo,
2 2
sen x x tg x
≤ ≤ .
2 2 2
Dividindo por sen x, temos

x 1 π
1≤ ≤ , se 0 < x < .
sen x cos x 2
π
Pela desigualdade acima, se − < x < 0, temos
2
−x 1
1≤ ≤ ,
sen(−x) cos(−x)

(−x) x 1 1
Como = e também = , então
sen(−x) sen x cos(−x) cos x
x 1 π
1≤ ≤ , se − < x < 0.
sen x cos x 2
Organizando as contas, concluímos que ‘
sen x π
cos x ≤ ≤ 1 , se x 6= 0 e |x| < .
x 2

Como a função cosseno é contínua (ver teorema A.5.2), lim cos x = 1 e, pelo teorema do
x→0
confronto, temos que
sen x
lim = 1.
x→0 x

Voltar para a página 130.


Renan Lima 363

Teorema A.7.3: Derivada das Função Seno e Cosseno.

As funções seno e cosseno são deriváveis e valem

(sen x)0 = cos x,


(cos x)0 = − sen x.

Demonstração:
A demonstração pode ser encontrada na nossa videoaula Demonstração da Derivada do
Seno e Cosseno. Reproduziremos ela aqui.
Para encontrarmos a derivada da função seno, faremos pela definição de derivada

sen(x + h) − sen x sen x cos h + sen h cos x − sen x


lim = lim
h→0 h h→0
 h 
sen h cos x sen x cos h − sen x
= lim + .
h→0 h h
 
sen h cos x sen h
Como lim = lim · cos x = cos x e também vale que
h→0 h h→0 h
 
sen x cos h − sen x cos h − 1
lim = lim sen x
h→0 h h→0 h
 
cos h − 1 cos h + 1
= lim sen x ·
h→0 h cos h + 1
2
 
cos h − 1
= lim sen x
h→0 h(cos h + 1)

− sen2 h
 
= lim sen x
h→0 h(cos h + 1)
 
sen h − sen h
= lim · sen x = 0,
h→0 h cos h + 1

concluímos que
sen(x + h) − sen x
lim = cos x.
h→0 h
π 
Para a derivada da função cosseno, basta utilizar a fórmula cos x = sen − x e a regra
2
da cadeia. π 
(cos x)0 = − cos − x = − sen x.
2

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364 Matemática Universitária

Teorema A.7.4: Derivada das Funções Trigonométricas

As funções trigonométricas são deriváveis e valem

(tg x)0 = sec2 x,


(sec x)0 = sec x · tg x,
(cotg x)0 = − cossec2 x,
(cossec x)0 = − cossec x · cotg x.

Demonstração:
As derivadas das funções tg, sec, cotg e cossec são deduzidas utilizando a regra da divi-
são e podem ser encontradas na nossa videoaula Derivada das Funções Trigonométricas.
Vamos refazê-las aqui.
Para a função a tangente:
 sen x 0 cos x.(cos x) − sen x.(− sen x)
(tg x)0 = =
cos x cos2 x
cos2 x + sen2 x 1
= = = sec2 x.
cos2 x cos2 x

Para a função secante:


 0
0 1 − sen x
(sec x) = =−
cos x cos2 x
sen x 1
= · = tg x · sec x.
cos x cos x

Para a função cotangente:


 cos x 0 − sen x.(sen x) − cos x.(cos x)
(cotg x)0 = =
sen x sen2 x
sen2 x + cos2 x 1
=− 2
=− = − cossec2 x.
sen x sen2 x

Finalmente, para a função cossecante:


 0
1 cos x
(cossec x)0 = =−
sen x sen2 x
cos x 1
=− · = − cotg x · cossec x.
sen x cos x

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Renan Lima 365

Teorema A.7.5: Número de Euler

1 n
 
A sequência an = 1 + é crescente e limitada.
n

Demonstração:
A demonstração se encontra na nossa videoaula Número de Euler - Limite nos Naturais.
Vamos reproduzi-la aqui. Pelo binômio de Newton, temos
n
1 n
  X n! 1
an = 1 + =1+
n (n − k)!k! nk
k=1
n
X n(n − 1)(n − 2) . . . (n − k + 1)
=1+
k!nk
k=1
n     
X 1 n n−1 n−2 n − (k − 1)
=1+ ...
k! n n n n
k=1
n     
X 1 1 2 k−1
=1+ 1− 1− ... 1 − .
k! n n n
k=1
  n
k−1 X 1
Como 1 − ≤ 1 para todo k inteiro com k ≥ 1, concluímos que an ≤ 1 + .
n k!
k=1
Como k! ≥ 2k−1 para todo k ≥ 1, concluímos que
n +∞
X 1 X 1
an ≤ 1 + ≤1+
2k−1 2k−1
k=1 k=1
 
1 1 1
1 + 1 + + + + . . . = 3.
2 4 8

Isso mostra que an é uma sequência limitada. Vamos mostrar que an é crescente.
n     
X 1 1 2 k−1
an = 1 + 1− 1− ... 1 −
k! n n n
k=1
n     
X 1 1 2 k−1
≤1+ 1− 1− ... 1 −
k! n+1 n+1 n+1
k=1
n       n+1
X 1 1 2 k−1 1
<1+ 1− 1− ... 1 − +
k! n+1 n+1 n+1 n+1
k=1
n
X n(n − 1) . . . (n − k + 2) 1
=1+ +
(n + 1)k−1 k! (n + 1)n+1
k=1
n+1
X  (n + 1)!   n+1
1 1
=1+ (n + 1 − k)!k! = 1+ = an+1 .
· (n + 1)k n+1
k=1

Voltar para a página 139 (capítulo 5).


Voltar para a página 188 (capítulo 6).
Voltar para a página 301 (seção 9.3 do capítulo 9)
Voltar para a página 307 (seção 9.4 do capítulo 9).
366 Matemática Universitária

Teorema A.7.6: Limite Fundamental da Exponencial

Vale que
1 x
 
lim 1+ = e.
x→+∞ x

Demonstração:
A demonstração pode ser encontrada na nossa videoaula Número de Euler - Parte 2.
Vamos reproduzi-la aqui. É importante notar que
 os resultados dos teoremas A.7.5 e de
1 n

A.2.2 garantem que o limite da sequência an = 1 + acima existe e, por definição,
n
o limite desta sequência converge para o numero e. Agora,vamos supor que x cresce
indefinidamente e que x ∈ R.
Considere a função maior inteiro [[x]], definida por

[[x]] = n, onde n é o inteiro satisfazendo n ≤ x < n + 1.

1 1 1
Como [[x]] ≤ x < [[x]] + 1, temos que < ≤ . Daí,
[[x]] + 1 x [[x]]
[[x]]
1 [[x]] 1 x 1 x 1 [[x]]+1
        
1
1+ ≤ 1+ ≤ 1+ ≤ 1+ ≤ 1+
[[x]] + 1 x x [[x]] [[x]]
e, portanto,
 [[x]]+1 " [[x]]  #
1 1 1
lim 1+ = lim 1+ · 1+ = e · 1 = e,
x→+∞ [[x]] x→+∞ [[x]] [[x]]

e também vale que


 [[x]]+1
1
 [[x]] 1+
1 [[x]] + 1 e
lim 1+ = lim   = = e,
x→+∞ [[x]] + 1 x→+∞ 1 1
1+
[[x]] + 1

pelo teorema do confronto A.3.10, temos que

1 x
 
lim 1+ = e.
x→+∞ x

Voltar para a página 139 (capítulo 5).


Voltar para a página 307 (capítulo 9).
Renan Lima 367

Teorema A.7.7: Refinamento do Limite Fundamental da Exponencial

Vale o seguinte limite


lim (1 + h)1/h = e.
h→0

Demonstração:
Mostraremos inicialmente que lim (1 + h)1/h = e.
h→0+
1
Considere a mudança de variável u = . Daí, h → 0+ significa que u → +∞ e, pelo
h
teorema da mudança de variáveis no limite A.3.13, temos

1 u
 
1/h
lim (1 + h) = lim 1+ = e.
h→0+ u→+∞ u

1
Mostraremos que lim (1 + h)1/h = e. Façamos a mudança de variável u = − − 1, então
h→0 − h
u → +∞ e,
 −u−1  −u−1
1/h 1 u
lim (1 + h) = lim 1− = lim
h→0− u→+∞ u+1 u→+∞ u + 1
u+1
1 u+1
  
u+1
= lim = lim 1+
u→+∞ u u→+∞ u
 u  
1 1
= lim 1+ · 1+ = e · 1 = e.
u→+∞ u u

Como lim (1 + h)1/h = lim (1 + h)1/h = e, concluímos que


h→0− h→0+

lim (1 + h)1/h = e.
h→0

Voltar para a página 140.


368 Matemática Universitária

Teorema A.7.8: Derivada da Funções Exponencial e Logaritmo

As funções f (x) = ln x e g(x) = ex são deriváveis e valem as fórmulas


1
(ln x)0 = ,
x
(ex )0 = ex .

Demonstração:
A demonstração deste resultado pode ser encontrada na videoaula Demonstração da De-
rivada da Função Exponencial e Logarítmica. Vamos reescrevê-la aqui.

1. Para cada x ∈ (0, +∞) fixado, temos, pela definição de derivada e pela continui-
dade da função logarítmica (ver teorema A.5.3) que
   
ln(x + h) − ln x 1 x+h 1 h
lim = lim ln = lim ln 1 +
h→0 h h→0 h x h→0 h x
1/h "  #
h 1/h
 
h
= lim ln 1 + = ln lim 1 + .
h→0 x h→0 x

h
Fazendo a mudança de variáveis u = , então h → 0 tem-se u → 0 e lembrando,
x
pelo teorema A.7.7, que lim (1 + h)1/h = e, temos
h→0

ln(x + h) − ln x h i
lim = ln lim (1 + u)1/xu
h→0 h 
u→0
1/x  h i 1
1/u
= ln lim (1 + u) = ln e1/x = .
u→0 x

2. Como a função f (x) = ln x é derivável e f 0 (x) 6= 0 para todo x, então a sua inversa
g(x) = ex é, pelo teorema da função inversa, derivável. Como x = ln g(x), então,
derivando a equação toda e aplicando a regra da cadeia, temos

g 0 (x)
1= .
g(x)

Portanto,
g 0 (x) = g(x) = ex .

Voltar para a página 149.


Renan Lima 369

Teorema A.7.9: Derivada das Funções Trigonométricas Inversas


 π π
A função arctg : R → − , é derivável e vale
2 2
1
(arctg x)0 = .
1 + x2
h π πi
A função arcsen : [−1, 1] → − , é derivável em (−1, 1) e vale
2 2
1
(arcsen x)0 = √ .
1 − x2

Demonstração:
A demonstração se encontra na nossa videoaula Derivada das Funções Trigonométricas
Inversas. Vamos reproduzi-la aqui, começando com a função arco tangente.

 πComo a função f (x) = tg x é derivável e f 0 (x) = sec2 x não se anula para todo x ∈
π 
− , , temos que a sua inversa y = arctg x é derivável. Escreva tg y = x e derivamos
2 2
tudo com respeito a x. Pela regra da cadeia,

dy
sec2 y · = 1.
dx
Utilizando a fórmula trigonométrica sec2 y = tg2 y + 1 e lembrando que tg y = x, temos

dy 1 1 1
= 2
= 2 = .
dx sec y 1 + tg y 1 + x2

Para a função arco seno, procedemos da mesmaforma. Como f (x) = sen x é derivável
π π
e vale f 0 (x) = cos x, que não se anula em x ∈ − , , a sua inversa y = arcsen x é
2 2
derivável em (−1, 1). Escreva sen y = x e derivamos tudo com respeito a x. Pela regra da
cadeia,
dy
cos y · = 1.
dx
 π π
Utilizando a fórmula trigonométrica cos2 y = 1 − sen2 y e como y ∈ − , , temos que
2 2
cos y > 0 e, portanto,

dy 1 1 1
= =p =√ .
dx cos y 1 − sen2 y 1 − x2

Voltar para a página 132.


370 Matemática Universitária

Teorema A.7.10: Derivada das Funções Restantes

Temos as seguintes fórmulas das derivadas.

1. Se f (x) = xp , com p ∈ R, então f 0 (x) = pxp−1 .


x
2. g(x) = |x|, então g 0 (x) = .
|x|

Demonstração:
A demonstração do item 1 é feita construtivamente nas videoaulas.

1. Demonstração da Derivada de xn para n ∈ N.

2. Demonstração da Derivada de xn para n ∈ Z.

3. Demonstração da Derivada de x1/n para n ∈ N.

4. Demonstração da Derivada de xp para p ∈ Q.

5. Demonstração da Derivada de xp para p ∈ R.

Vamos fazer uma outra demonstração deste fato, um pouco mais curta.

Para x ∈ (0, +∞), temos que f (x) = ep ln x e isso mostra que f é derivável. Pela regra da
cadeia, temos
p pxp
f 0 (x) = ep ln x · = = pxp−1 .
x x

Para x ∈ (−∞, 0), é necessário que x esteja no domínio de f e isso é válido apenas para
1
alguns valores de p ∈ Q. Por exemplo, x < 0 está no domínio de f se p = , mas não
3
1
estaria se p = No caso que x < 0 esteja no domínio de f , temos que f (x) = (−1)p (−x)p .
.
2
Como −x > 0, pela fórmula anterior e pela regra da cadeia, temos

f 0 (x) = p(−1)p (−x)p−1 .(−1) = p(−1)p+p−1+1 xp−1 = pxp−1 .

Finalmente, para x = 0, devemos ter, necessariamente, p > 0. Façamos pela definição.



h p  0, se p > 1,
p−1
lim = lim h = 1, se p = 1,
h→0 h h→0
@, se p < 1.

Concluímos que a fórmula f 0 (x) = pxp−1 vale para x = 0 (com alguma discussão de
00 = 1, mas está fora do escopo do livro detalhar esta discussão).

Para o item 2, escreva g(x) = x2 . Pelo item anterior e pela regra da cadeia, temos que

2x x
g 0 (x) = √ = .
2 x 2 |x|

g(h) − g(0) g(h) − g(0)


Como lim 6= lim , g não é derivável em 0.
h→0+ h h→0− h

Voltar para a página 150.


Renan Lima 371

A.8 Teoremas Qualitativos de Derivadas

Teorema A.8.1: Extremante Local Implica Ponto Crítico

Se f é uma função derivável se x0 é ponto de extremante local de f , então f 0 (x0 ) = 0.

Demonstração:
A demonstração se encontra na nossa videoaula Demonstração que Extremante Local Im-
plica Ponto Crítico. Na demonstração, utilizamos um resultado que pode ser encontrado
na videoaula Demonstração dos Intervalos de Crescimentos - Parte Local. Vamos fazer
uma demonstração um pouco mais enxuta aqui.
Para fixar as ideias, supomos que x0 é mínimo local de f , então f (x) − f (x0 ) ≥ 0 para
f (x) − f (x0 )
todo x suficientemente próximo de x0 . Logo, se x > x0 , temos que ≥ 0, daí
x − x0
f (x) − f (x0 ) f (x) − f (x0 )
f 0 (x0 ) = lim = lim ≥ 0.
x→x0 x − x0 x→x0+ x − x0

Esta última desigualdade ocorre pelo teorema da conservação de sinal A.3.2, basta supor,
f (x) − f (x0 )
por absurdo, que < 0.
x − x0
f (x) − f (x0 )
Analogamente, se x < x0 , temos que ≤ 0, daí,
x − x0
f (x) − f (x0 ) f (x) − f (x0 )
f 0 (x0 ) = lim = lim ≤ 0.
x→x0 x − x0 x→x0− x − x0

Como f 0 (x0 ) ≥ 0 e f 0 (x0 ) ≤ 0 ao mesmo tempo, concluímos que f 0 (x0 ) = 0.

Voltar para a página 98.


372 Matemática Universitária

Teorema A.8.2: Teorema de Rolle e Teorema do Valor Médio

Seja f : [a, b] → R contínua em [a, b] e derivável em (a, b).

1. (teorema de Rolle) Se f (a) = f (b), então existe c ∈ R tal que f 0 (c) = 0.

2. (teorema do valor médio) Existe c ∈ R tal que

f (b) − f (a)
f 0 (c) = .
b−a

Demonstração:
A demonstração dois dois resultados se encontra na nossa videoaula Demonstração do
Teorema do Valor Médio. Vamos reproduzi-la aqui.

1. Como f é contínua e definida em um intervalo fechado e limitado, pelo teorema


de Weierstrass A.4.6, f admite um ponto de máximo global e um ponto de mínimo
global, a saber, xm e xM . Daí, f (xm ) ≤ f (x) ≤ f (xM ).

Se f (xm ) = f (xM ), então, pela desigualdade acima, f (x) = f (xM ) = f (xm ) para
todo x ∈ [a, b]. Logo f é função constante e sua derivada é nula.

Se f (xm ) 6= f (xM ), então, como f (a) = f (b), vale um dos dois casos: f (xm ) 6= f (a)
ou f (xM ) 6= f (a).
Digamos que f (xM ) 6= f (a). Então, xM ∈ (a, b). Temos que xM é um ponto máximo
local e, pelo teorema A.8.1, vale f 0 (xM ) = 0.
 
f (b) − f (a)
2. Considere a função auxiliar g(x) = f (x) − (x − a). Temos que
b−a
 
f (b) − f (a)
g(b) − g(a) = f (b) − (b − a) − f (a)
b−a
= f (b) − (f (b) − f (a)) − f (a)
= 0.

Logo g : [a, b] → R satisfaz as hipóteses do teorema de Rolle e, portanto, existe


c ∈ (a, b) tal que g 0 (c) = 0.
f (b) − f (a) f (b) − f (a)
Como g 0 (x) = f 0 (x) − , concluímos que f 0 (c) = .
b−a b−a

Voltar para a página 171.


Renan Lima 373

Teorema A.8.3: Intervalos de Crescimento e Decrescimento de uma Função

Sejam f, g : [a, b] → R funções contínuas em [a, b] e deriváveis em (a, b).

1. Se f 0 (x) > 0 para todo x ∈ (a, b), então f é estritamente crescente em [a, b].

2. Se f 0 (x) < 0 para todo x ∈ (a, b), então f é estritamente decrescente em [a, b].

3. Se f 0 (x) = g 0 (x) para todo x ∈ (a, b), então existe c ∈ R tal que f (x) = g(x) + c
para todo x ∈ [a, b].

Demonstração:
A demonstração deste resultado se encontra em Demonstração do Intervalo de Cresci-
mento e Decrescimento. Vamos reproduzi-la aqui.

1. Dados x0 , y0 ∈ [a, b], com x0 < y0 . Pelo teorema do valor médio, existe c ∈ (x0 , y0 )
tal que
f (y0 ) − f (x0 ) = f 0 (c)(y0 − x0 ).
Como, por hipótese f 0 (c) > 0 e y0 − x0 > 0, concluímos que f (y0 ) − f (x0 ) > 0.

2. A demonstração é análoga ao item 1.

3. Provamos primeiro o caso em que f 0 (x) = 0 para todo x ∈ (a, b).


Fixe x ∈ (a, b]. Pelo teorema do valor médio, existe cx ∈ (a, x) tal que

f (x) − f (a) = f 0 (cx )(x − a).

Por hipótese, f 0 (cx ) = 0 e, portanto, f (x) − f (a) = 0. Escrevendo f (a) = c, prova-


mos que f (x) = c para todo x ∈ [a, b].

Considere a função auxiliar h(x) = f (x) − g(x). Temos que h0 (x) = 0 para todo
x ∈ (a, b) e, pelo resultado anterior, existe c ∈ R tal que h(x) = c para todo x ∈ [a, b].
Concluímos daí que f (x) = g(x) + c para todo x ∈ [a, b].

Voltar para a página 173.


374 Matemática Universitária

Teorema A.8.4: Teorema do Quociente de Cauchy

Sejam f, g : [a, b] → R são funções contínuas em [a, b] e deriváveis em (a, b) tal que
g 0 (x) 6= 0 para todo x ∈ (a, b). Então existe c ∈ (a, b) tal que

f (b) − f (a) f 0 (c)


= 0 .
g(b) − g(a) g (c)

Demonstração:
A demonstração pode ser vista no final da nossa videoaula Demonstração da 1ª Regra
de L’Hospital. Foi provado na mesma videoaula, o teorema de quociente de Cauchy e a
1ª regra de L’Hospital. Mas vamos deixar separado no texto.
Considere a função auxiliar

h(x) = (f (b) − f (a))g(x) − (g(b) − g(a))f (x).

Então, h é contínua em [a, b], derivável em (a, b) e vale h(a) = f (b)g(a) − g(b)f (a) = h(b).
Pelo teorema do valor médio A.8.2, existe c ∈ (a, b) tal que h0 (c) = 0. Como

h0 (x) = (f (b) − f (a))g 0 (x) − (g(b) − g(a))f 0 (x),

então h0 (c) = 0 significa que

(f (b) − f (a))g 0 (c) = (g(b) − g(a))f 0 (c),

daí,
f (b) − f (a) f 0 (c)
= 0 .
g(b) − g(a) g (c)

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Renan Lima 375

Teorema A.8.5: 1ª Regra de L’Hospital

Sejam f, g : (a, b) → R funções deriváveis e x0 ∈ (a, b) tais que f (x0 ) = g(x0 ) = 0


f 0 (x)
e g 0 (x) 6= 0 para x 6= x0 numa vizinhança de x0 . Se lim 0 existe ou vai para o
x→x0 g (x)
infinito, então
f (x) f 0 (x)
lim = lim 0 .
x→x0 g(x) x→x0 g (x)

O mesmo resultado vale se substituirmos as condições acima para limites laterais e


também se substituirmos x0 por +∞ ou −∞.

Demonstração:
A demonstração pode ser encontrada na nossa videoaula Demonstração da 1ª Regra de
L’Hospital. Vamos reproduzi-la aqui.
Para cada x 6= x0 , temos, pelo teorema do quociente de Cauchy A.8.4, que existe c(x),
com 0 < |c(x) − x0 | < |x − x0 | satisfazendo

f (x) f (x) − f (x0 ) f 0 (c(x))


= = 0 .
g(x) g(x) − g(x0 ) g (c(x))

f 0 (x)
Supomos que lim = L (o caso que vai para o infinito é análogo), então pelo resul-
x→x0 g 0 (x)
tado técnico que provamos no teorema A.3.12, temos

f (x) f 0 (c(x))
lim = lim 0 = L.
x→x0 g(x) x→x0 g (c(x))

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376 Matemática Universitária

Teorema A.8.6: 2ª Regra de L’Hospital

Sejam f, g : (x0 , b) → R funções deriváveis, tais que lim |f (x)| = lim |g(x)| = +∞
x→x+
0 x→x+
0
f 0 (x)
e g 0 (x) 6= 0 para x 6= x0 numa vizinhança de x0 . Se lim existe ou vai para o
x→x+
0
g 0 (x)
infinito, então
f (x) f 0 (x)
lim = lim 0 .
x→x+
0
g(x) x→x+ 0
g (x)

O mesmo resultado vale se substituirmos x0 por +∞ ou −∞ e também x → x−


0.

Demonstração:
A demonstração se encontra na videoaula Demonstração da 2ª Regra de L’Hospital. Va-
f 0 (x)
mos reproduzi-la aqui, mas agora supondo que lim 0 = +∞.
x→x+0
g (x)
Dado M > 0. Por hipótese, existe δ1 > 0 tal que se 0 < x − x0 < δ1 , então

f 0 (x)
> 2M.
g 0 (x)

δ1
Tome p = x0 + . Para cada x ∈ (x0 , p), pelo teorema do quociente de Cauchy A.8.4,
2
existe c(x) ∈ (x, p) tal que

f (x) f (p)

g(x) g(x) f (x) − f (p) f 0 (c(x))
= = 0 > 2M.
g(p) g(x) − g(p) g (c(x))
1−
g(x)

A última desigualdade decorre do fato de c(x) ∈ (x0 , x0 + δ).


g(p)
Como lim g(x) = +∞, existe δ2 > 0 com δ2 < δ1 tal que 1 − > 0. Defina
x→x+
0
g(x)
 
g(p) f (p)
H(x) = 2M 1− + .
g(x) g(x)

f (x)
Por construção, temos que > H(x). Como lim (H(x) − M ) = M , pelo teorema da
g(x) x→+∞
conservação de sinal A.3.2, existe δ > 0, com δ < δ2 , satisfazendo (H(x) − M ) > 0 para
todo x ∈ (x0 , x0 + δ).
Mostramos que dado M > 0, existe δ > 0 tal que

f (x)
0 < x − x0 < δ ⇒ > H(x) > M.
g(x)

f (x)
Isso mostra que lim = +∞.
x→x+
0
g(x)

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Renan Lima 377

Teorema A.8.7: Teste da Primeira Derivada

Seja f uma função derivável e x0 ponto crítico da f , então

1. Se f 0 (x0 ) > 0 para todo x < x0 suficientemente próximo de x0 e f 0 (x0 ) < 0 para
todo x > x0 suficientemente próximo de x0 , então x0 é um ponto de máximo
local.

2. Se f 0 (x0 ) < 0 para todo x < x0 suficientemente próximo de x0 e f 0 (x0 ) > 0 para
todo x > x0 suficientemente próximo de x0 , então x0 é um ponto de mínimo
local.

3. Se f 0 (x0 ) não muda de sinal em pontos próximos de x0 , então x0 é ponto de


inflexão de f .

Demonstração:
1. Seja (a, b) intervalo tal que f 0 (x) < 0 para x ∈ (a, x0 ) e f 0 (x) > 0 para x ∈ (x0 , b).
Então, f é decrescente em (a, x0 ] e, portanto, f (x0 ) < f (x) para todo x ∈ (a, x0 ).
Analogamente, f é crescente em [x0 , b) e, portanto, f (x0 ) < f (x) para todo x ∈
(x0 , b).
Juntando as duas informações, concluímos que f (x0 ) ≤ f (x) para todo x ∈ (a, b).
Isso prova que x0 é ponto de mínimo local de f .

2. Análogo ao item 1.

3. Como f 0 (x0 ) = 0, temos que a reta tangente é dada por y = f (x0 ). Para mostrar
que x0 é ponto de inflexão ao gráfico de f , precisamos mostrar que existem pontos
x e y suficientemente próximos de x0 tais que f (x) < f (x0 ) < f (y).
Supomos, sem perda de generalidade, que f 0 (x) ≥ 0 em (a, b) com x0 ∈ (a, b).
Então, f é crescente e, portanto, se x < x0 , temos que f (x) < f (x0 ) e para y > x0
vale que f (y) > f (x0 ). Isso mostra que x0 é ponto de inflexão de f .

Voltar para a página 99.


378 Matemática Universitária

Teorema A.8.8: Teste da Concavidade

Seja f : (a, b) → R função duas vezes derivável.

1. Se f 00 (x) > 0 para todo x, o gráfico de f possui concavidade para cima.

2. Se f 00 (x) < 0 para todo x, o gráfico de f possui concavidade para baixo.

3. Se x0 ∈ (a, b) é ponto de inflexão de f , então f 00 (x0 ) = 0.

Demonstração:
A demonstração se encontra na nossa videoaula Demonstração da Relação entre Conca-
vidade e a Segunda Derivada. Mas a reproduziremos aqui.

1. Fixe x0 em (a, b) e considere a função auxiliar G(x) = f (x) − f (x0 ) − f 0 (x0 )(x − x0 ).
Temos que G é duas vezes derivável e vale G0 (x) = f 0 (x) − f 0 (x0 ) e G00 (x) = f 00 (x).
Como f 00 (x) > 0 em (a, b), temos que G0 (x) é crescente em (a, b).
Como G0 (x0 ) = 0, temos que G0 (x) < 0 em (a, x0 ) e G0 (x) > 0 para x ∈ (x0 , b).

+ G′
x0

x0
G

Logo G é decrescente em (a, x0 ) e G é crescente em (x0 , b). Como G(x0 ) = 0, con-


cluímos que G(x) > 0 para todo x 6= x0 , isto é, f (x) > f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ) para
x 6= x0 . Como queríamos demonstrar.

2. É análogo ao item 1 e deixamos como exercício.

3. A prova será por duplo absurdo. Supomos que f 00 (x0 ) > 0. Pelo teorema A.8.7,
existe uma vizinhança de x0 tal que o gráfico de f possui concavidade para cima.
Logo a reta tangente está abaixo do gráfico de f em uma vizinhança de x0 . Uma
contradição, pois supomos que x0 é ponto de inflexão ao gráfico de f .
Se f 00 (x0 ) < 0 então, por um argumento análogo ao parágrafo anterior, provaríamos
que f possui concavidade para baixo em uma vizinhança de x0 , o que contraria a
hipótese de x0 ser ponto de inflexão ao gráfico de f .
Concluímos então que f 00 (x0 ) = 0.

Voltar para a página 112.


Renan Lima 379

Teorema A.8.9: Resto de Lagrange

Seja f : I → R função de classe C k+1 , I intervalo aberto e x0 ∈ I. Para cada x ∈ I,


existe cx nos intervalos abertos de extremos x e x0 tal que

f (k+1) (cx )
f (x) = Pk (x) + (x − x0 )k+1 ,
(k + 1)!

onde Pk (x) é o Polinômio de Taylor de ordem k centrado em x0 .

Demonstração:
Tem-se uma demonstração, utilizando integração, na nossa videoaula Demonstração do
Resto de Lagrange. A demonstração do vídeo é mais intuitiva. Aqui, vamos fazer a
demonstração direta, sugerindo ao leitor, após aprender integração, retornar ao vídeo.
Supomos que x > x0 . Definimos as funções F, G : [x0 , x] → R por

f (k) (t) (x − t)k+1


F (t) = f (x) − f (t) − f 0 (t)(x − t) − . . . − (x − t)k e G(t) = .
k! (k + 1)!

Observe que F é derivável em I. Vamos calcular F 0 (t), em que escreveremos em duas


linhas para facilitar a compreensão dos cálculos,
0
(x − t)2

F 0 (t) = − f 0 (t) − [f 0 (t)(x − t)]0 − f 00 (t) − ...−
2!
0 
(x − t)k−1 (x − t)k
 
(k−1) (k) .
− f (t) − f (t)
(k − 1)! k!

Pela regra do produto, temos que

(x − t)2
 
0 0 00 0 000 00
F (t) = −f (t) − [f (t)(x − t) − f (t)] − f (t) − f (t)(x − t) − . . . −
2!
(x − t)k−1 (x − t)k−2 (x − t)k (x − t)k−1
   
(k) (k−1) (k+1) (k)
− f (t) −f (t) − f (t) − f (t)
(k − 1)! (k − 2)! k! (k − 1)!

(x − t)k
= −f (k+1) (t) .
k!
(x − x0 )k+1
Note que F (x) = 0 = G(x), G(x0 ) = e que F (x0 ) = f (x) − Pk (x). Daí,
(k + 1)!
F (x) − F (x0 ) (k + 1)![f (x) − Pk (x)]
= . Como F e G são contínuas em [x0 , x] e deriváveis
G(x) − G(x0 ) (x − x0 )k+1
em (x0 , x), então pelo teorema do quociente de Cauchy A.8.4, existe cx ∈ (x0 , x) tal que

(k + 1)![f (x) − Pk (x)] F (x) − F (x0 ) F 0 (cx )


= = = f (k+1) (cx ).
(x − x0 )k+1 G(x) − G(x0 ) G0 (cx )

f (k+1) (cx )
E, portanto, f (x) = Pk (x) + (x − x0 )k+1 .
(k + 1)!

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Índice Remissivo

aplicação de integral arco tangente, 132


área, 40 Bessel de ordem 0, 257
área lateal de sólido de revolução, 228 classe C k , 186
centro de massa, 235 composta, 16
comprimento de arco, 225 contínua, 161
massa, 233 cossecante, 123
movimento retilíneo, 39 cosseno, 117
trabalho, 231 cotangente, 123
volume de sólido de revolução, 223 definida por partes, 11
Arquimedes, 26 diferenciável, 183
axioma do supremo, 306 elementar, 278
erro, 256
centro exponencial, 135, 256
de gravidade, 234 gama, 258
de massa, 234 hiperbólica, 273
geométrico, 236 hiperbólica inversa, 274
centroide, 236 logaritmo, 144
concavidade, 111, 156 logaritmo natural, 146, 254
continuidade, 195 secante, 123
continuidade uniforme, 321 seno, 117
tangente, 117
derivada transcendental, 116
da composta, 88
da divisão, 87 integral
da função inversa, 90, 185 imprópria, 242
da soma, 71 Darboux, 313
definição, 70
indefinida, 38, 205
do produto, 87
Riemann, 221, 325
função arco seno, 132
intervalo
função arco tangente, 132
de crescimento, 22, 94
função exponencial, 149
encaixantes, 306
função logaritmo, 149
função polinomial, 71
Lei
funções trigonométricas, 131
de Newton, 113
diferencibilidade, 183
de Snell, 103
energia limite
cinêtica, 232 da divisão, 50, 291
mecânica, 233 da multiplicação, 50
potencial, 232 da soma, 50, 291
estimativa da subtração, 50
de π, 181 de sequências, 167
do número e, 187 definição formal, 289
Euler, 253 do produto, 291
infinito, 63, 296
fórmula de recorrência lateral, 56, 292
cosseno, 220 mudança de variáveis, 53, 140, 300
secante, 218 no infinito, 61, 295
seno, 216
tangente, 219 método de Newton, 164
Fermat, 45 Mercator, 253
função
afim, 10, 82 número de Euler, 139, 255
algébrica, 116, 277
arco seno, 132 otimização, 101, 171
Renan Lima 381

partição frações parciais, 262, 283


definição, 311 partes, 211
norma, 325 substituição, 207
polinômio substituição hiperbólica, 275
de Maclaurin, 186 substituição trigonométrica, 269
de Taylor, 186 substituição universal, 272
ponto taxa
crítico, 96 de variação instantânea, 21
de inflexão, 99, 112 de variação média, 21
de máximo global, 101, 170 relacionada, 107
de máximo local, 98 teorema
de mínimo global, 101, 170 1º fundamental do cálculo, 202, 324
de mínimo local, 98 valor intermediário, 196
primitiva de uma função, 37, 202 2º fundamental do cálculo, 202
princípio valor médio, 198
da indução finita, 178 Weierstrass, 196
de Fermat, 103 Bolzano, 162, 305
D’Alembert, 52, 278
regra decomposição em frações parciais, 283
da cadeia, 88, 184 do confronto, 128, 300
do tombo, 71, 150 do valor médio, 171
L’Hospital, 76, 152, 174, 303 Liouville, 278
Resto de Lagrange, 187 Pappus, 239
sequência quociente de Cauchy, 174
limite, 305 Rolle, 171
soma valor intermediário, 164
de Riemann, 221 Weierstrass, 170, 309
inferior, 311 transformada de Laplace, 249
superior, 311 translação de gráficos
somatório, 28 horizontal, 17
vertical, 13
técnica de integração trompete de Gabriel, 249

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